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a diáspora africana 47 Contudo, o acordo dividiu os palmarinos e, nas lutas que se seguiram no quilombo, Ganga Zumba foi enve- nenado pelos dissidentes. Com sua morte, o controle de Palmares passou para as mãos de Zumbi. Após diversos cercos malsucedidos, uma expe- dição sob contrato realizada em 1694 e liderada pelo bandeirante da região de São Paulo Domingos Jorge Velho destruiu o que restava do quilombo. Zumbi re- organizou a luta com os que haviam conseguido fugir, mas foi preso e morto em 20 de novembro de 1695. No Brasil essa data é, atualmente, consagrada como Dia da Consciência Negra. M u s e u A n tô n io P a rr e ir a s /N it e ró i, R J . Zumbi, óleo de antônio parreiras, século XiX. ele é considera- do o herói da luta dos africanos contra a dominação escravista no Brasil. foi opositor ao acordo de 1678, assinado por Ganga Zumba, pois esse acordo concedia direitos de liberdade a ape- nas parte dos palmarinos. Zumbi rejeitou diversos outros acor- dos similares propostos pelas autoridades metropolitanas. P projeto mercantilista escravidão familiar escravidão como negócio feitorias tráfico negreiro agricultura colonial escravidão colonial lucros lucros Metrópole • inadequação do trabalho livre • extermínio indígena demanda por mão de obra europeus na África resistência à escravidão: quilombos CoMunidades afriCanas PArA rEcOrdAr: A escravidão africana na América ATIVIdAdE • responda às questões propostas com base no esquema-resumo e no que você estudou ao longo do capítulo. a) explique as razões do predomínio da mão de obra escrava africana. b) aponte os mecanismos de obtenção e fornecimento de escravos africanos para a colônia portuguesa. HGB_v2_PNLD2015_041a049_u1c03.indd 47 3/21/13 3:26 PM 48 europa, o centro do mundo Nesta sexta-feira, 20 de novembro, celebramos o Dia da Consciência Negra. A data é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasi- leira e relembra o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, que atuou como um símbolo da resistência do negro à escravidão. Não se sabe muito sobre a história de Zumbi, pois muitos dos registros a res- peito dele foram feitos por portugueses que colonizaram o Brasil e podem ter sido distorcidos. Os africanos chegaram ao Brasil para trabalhar como escravos a partir da metade do século XVI. A influência cultural dos negros no Brasil também é motivo de discussões nessa data. Um exemplo desse sincretismo é a Bahia, onde são usadas cerca de 5 mil palavras de origem africana. Histórico: entenda o significado do Dia da Consciência Negra. Disponível em: <www.abril.com.br/noticias/brasil/ historico-entenda-significado-importancia-dia-consciencia-negra-513108.shtml>. Acesso em: 4 set. 2012. M u s e u A n tô n io P a rr e ir a s /N it e ró i, R J . 1 leitura e reflexão Leia o texto a seguir, que faz um relato sobre a escravidão na África de 1500. EXErcícIOs dE hIsTórIA Muito pouco se sabe sobre as várias formas e roupagens com que se apresentava a escravidão, no con- texto de diferentes estruturas sociais, na África de 1500. A instituição tinha uma longa história no conti- nente, uma história que se alongaria até o século XX [...]. É muito provável que prevalecessem na maior parte da África – uma África rural e pouco urbanizada, com uma profusão de diminutas cidades-Estado e de vilarejos regidos por formas desconcentradas de mando – os tipos de escravidão que tinham por principais objetivos aumentar o número de dependentes de cada linhagem e favorecer a fome de honra, de prestígio e de poder dos chefes de família, em sociedades de competição extremamente aberta, por nelas não se terem ainda cristalizado classes e grupos de status. Nesses sistemas, o escravo vivia, em geral, com a família do dono e labutava ao seu lado, cumprindo as mesmas tarefas, e ao lado dos filhos, das mulheres, das filhas e das noras do senhor, pois, sendo escra- vo, nele não se distinguia o sexo na divisão de trabalho. Seu destino era corrigir a escassez de mão de obra e ampliar o número de dependentes de seu amo. Era estimulado a ter filhos. Estes, fossem de casais escravos ou oriundos do matrimônio ou da concubinagem entre homem livre e mulher cativa, pertenciam ao senhor, mas, tal qual uma pessoa escravizada em criança, quase nunca eram vendidos. Seus rebentos ou netos ou bisnetos acabavam por ser assimilados à linhagem do dono, perdendo, assim, com o tempo, a condição servil. COSTA E SILVA, Alberto. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 667. a) Segundo o texto, podemos afirmar que o escravo na África acabava de certa forma por se integrar à família de seu senhor? Explique sua resposta e justifique-a com passagens do texto. b) Com base no texto acima e no que você estudou no capítulo, explique o que mudou nas características da escravidão existente na África depois da chegada dos europeus. 2 construção de um herói brasileiro Foi na segunda metade do século XIX, com os abolicionistas, que Zumbi ga- nhou a versão de herói da causa negra no Brasil. Leia o texto e responda às questões: HGB_v2_PNLD2015_041a049_u1c03.indd 48 3/21/13 3:26 PM A diásporA AfricAnA 49 a) Considerando a história da escravidão na América e o que você estudou ao longo deste capítulo, qual a importância da celebração do Dia da Consciência Negra no Brasil? b) Por que os relatos que possuímos a respeito de Zumbi podem ter chegado até nós de maneira distorcida? c) Você considera que a herança cultural dos negros africanos foi absorvida no cotidiano cultural brasilei- ro? Se sim, em que aspectos? 3 Análise da imagem e texto O texto abaixo é um fragmento de um estudo sobre a cultura material das sociedades africanas. Leia-o, observe a imagem e responda às questões propostas. [...] a vida dos povos africanos é tida como muito mais ritualizada que no mundo cristão. O mundo ma- terial e o espiritual são concebidos juntos, quase que inseparáveis, o que implica em modelos de culto e religião completamente diferentes do que se adotou no Ocidente, que por sua vez serviu de modelo para outros povos formados na modernidade, como é o caso brasileiro. Os candomblés (são várias as formas como essa religião brasileira de origem africana se apresenta) conservam formas de culto muito próximas às de cultos tradicionais da África ocidental (sobretudo dos fon e dos ioruba), adotando emblemas, nomes e outras características de suas divindades (e, às vezes, das divindades dos povos de línguas bantu, ..., da África central) […]. SALUM, Marta Heloísa Leuba. África: culturas e sociedades. Disponível em: <www.arteafricana.usp.br/codigos/tex- tos_didaticos/002/africa_culturas_e_sociedades.html>. Acesso em: 4 set. 2012. p devotos saúdam imagem de iemanjá na praia de copacabana, no rio de Janeiro, às vésperas do Ano-novo. foto de dezembro de 2010. B u d a M en d es /L at in C o n te n t/ G et ty Im ag es a) Segundo o texto de Marta Salum, qual a relação entre os candomblés e os cultos tradicionais da África ocidental? b) A estátua representa a imagem de Iemanjá. Descreva: suas vestimentas, acessórios, posição corporal, etc. c) Faça uma pesquisa sobre a associação de entidades africanas a santos católicos. Escreva em seu ca- derno algumas das correspondências encontradas. HGB_v2_PNLD2015_041a049_u1c03.indd 49 25/03/2013 15:59 50 europa, o centro do mundo Arte e tecnologia4 CapítUlo p desenho de leonardo da Vinci, de cerca de 1508. R e p ro d u ç ã o /G a le ri a N a c io n a l, P a rm a , It á li a . Cultura, arte e tecnologia Você já parou para pensar no que é arte? E tecnologia? Se usarmos um conceito amplo de cultura, tanto a arte quanto a tecnologia expressam a cultura de um povo ou de um conjunto de povos. Antes do processo de integração do mundo pelas navegações e pelo comércio mundial europeu, as sociedades mais ou menos isoladasentre si desenvolveram arte e tecnologia de forma paralela. De maneira simplifi cada, tecnologia é o conjunto de conhecimentos práticos sobre como utilizar os ambientes físicos e seus recursos mate- riais (plantar, colher, fabricar ferramentas, da pedra lascada ao aço, da canoa à estação orbital). Para se adaptar ao meio ambiente, o ser humano busca tecnologias específi cas e necessárias em diferentes regiões e dife- rentes épocas. Além de produzir bens de utilidade evidente, o ser humano também busca expressar no que produz seus sentimentos diante da vida. E aí se destaca a arte, que, como já se disse, é a tradução da beleza, ou o que vai além dela. Temos a arte que busca reproduzir a aparência do visível (a grega, por exemplo) e a arte que interpreta e representa o que se capta do mundo como sua essência (alguns grupos étnicos africanos e nativos americanos, por exemplo). Todas as culturas possuem tecnologia e arte, e expressam caracte- rísticas próprias de sua época e sociedade. Pense em alguns exemplos de arte e tecnologia de diferentes povos, em diferentes épocas. PARA PENSAR HISTORICAMENTE HGB_v2_PNLD2015_050a060_u1c04.indd 50 3/21/13 3:27 PM arte e tecnologia 51 A efervescênciA culturAl europeiA: o renAscimento Na Europa, a dinamização comercial sustentou- -se no fortalecimento da burguesia, que passou a ter papel cada vez maior na definição dos rumos políticos, religiosos e culturais da Europa. A hegemonia da nobre- za ou da Igreja começou a ser suplantada pelos novos valores a partir dos séculos XV e XVI. A centralização política, a Reforma protestante e o Renascimento ar- tístico e cultural devem ser entendidos nesse contexto. O movimento artístico e cultural que floresceu na Itália a partir do século XIV é conhecido como Re- nascimento ou Renascença. Pode ser caracterizado como uma tendência cultural laica (isto é, não ecle- siástica) que se estendeu até o século XVI. Inspirado na cultura greco-romana, rejeitava os valores feudais a ponto de considerar o período medieval a “Idade das Trevas”. Para os renascentistas, a época obscura seria abolida por um “renascimento” cultural posterior, jus- tamente o momento em que estavam vivendo. O próprio termo Renascimento, com o sentido de fazer “renascer” o mundo antigo, “trazendo de vol- ta” o pensamento e as criações dos antigos gregos e romanos, não foi criado por historiadores posterio- res, mas durante esse movimento artístico cultural. Muitos apontam que o primeiro a registrar a palavra Renascimento com tal sentido tenha sido o pintor e arquiteto italiano Giorgio Vasari (1511-1574). Vale lembrar que, ao contrário da opinião dos renascentistas, o período medieval foi bastante rico culturalmente. Além disso, o Renascimento não foi um completo rompimento com o mundo medieval. Mesmo tomando a Antiguidade Clássica como prin- cipal fonte de inspiração, os renascentistas sofreram influências da própria cultura medieval. Os menes- tréis e os trovadores, por exemplo, figuras populares da Idade Média, foram resgatados no Renascimento. A presença de temas religiosos e as representa- ções de festividades populares no Renascimento tam- bém remetem à Idade Média. Além disso, é preciso observar que o Renasci- mento não foi o simples “renascer” de valores da Anti- guidade Clássica. O resgate da cultura greco-romana e o abandono de determinados elementos medievais acompanhavam os interesses da burguesia ascenden- te, como você verá adiante. A característica central do Renascimento foi o humanismo, no sentido da valorização do ser huma- no, criação privilegiada de Deus. Daí surgiu o antro- pocentrismo renascentista, a ideia de que a humani- dade é o centro do Universo. Opôs-se ao teocentrismo medieval, que tinha Deus como centro de todas as coisas e enxergava o ser humano como ser inferior, corrompido pelo pecado. No período renascentista, valorizava-se o ser hu- mano como ser racional, isto é, dotado de um dom quase divino, a razão, e por isso mesmo capaz de in- terpretar e conhecer a natureza. A aproximação dos seres humanos com Deus se fazia por meio da cria- tividade e da genialidade, atributos que lhe davam a imagem e a semelhança do Criador, possibilitando- -lhes emergir das trevas da sujeição escolástica para exercer sua verdadeira humanidade. O naturalismo, o hedonismo e o neoplatonismo também são características do movimento renascen- tista. O naturalismo prega a volta à natureza; a filosofia hedonista defende o prazer individual como o único bem possível; e o neoplatonismo, por sua vez, defende uma elevação espiritual, uma aproximação com Deus por meio da interiorização, da busca espiritual, em de- trimento de qualquer desejo material. Assim, reafirma- -se a colocação do ser humano no centro do mundo. menestrel: músico e poeta que no período medieval percor ria os povoados levando música e espetáculos diversos. trovador: poeta lírico que compunha textos e canções. os trova dores surgiram no século Xi e floresceram especialmente nas re giões que mais tarde iriam constituir a itália, França e espanha. cidAdes itAliAnAs: origem do renAscimento O Renascimento surgiu e atingiu maior expres- sividade na Itália, justamente o local onde o desen- volvimento comercial foi mais precoce. De fato, não existia, então, Itália como país, e sim como expressão geográfica. A península estava dividida em várias ci- dades e regiões, cuja unidade política só seria alcança- da no século XIX. Na época do Renascimento, as cida- des italianas eram grandes centros mercantis, situa- ção conquistada desde o final da Idade Média, com destaque para os portos de Gênova e Veneza, embora houvesse outras cidades importantes na região, como Florença, Milão e Roma. HGB_v2_PNLD2015_050a060_u1c04.indd 51 3/21/13 3:27 PM