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HISTÓRIA ANTIGA 
 
 
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INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................4 
AULA 1: CIVILIZAÇÕES MESOPOTÂMICAS .....................................................................................7 
AULA 2: O EGITO ANTIGO ...........................................................................................................10 
AULA 3: HEBREUS E PERSAS .......................................................................................................13 
AULA 4: GRÉCIA ANTIGA.............................................................................................................16 
AULA 5: ROMA ANTIGA ..............................................................................................................19 
AULA 6: O LEGADO DA ANTIGUIDADE ........................................................................................22 
AULA 7: BNCC E HISTÓRIA ANTIGA .............................................................................................25 
AULA 8: REFERENCIAIS TEÓRICOS ..............................................................................................28 
Eric Hobsbawm ..........................................................................................................................28 
Martin Bernal .............................................................................................................................29 
Moses Finley ..............................................................................................................................30 
CONCLUSÃO ...............................................................................................................................33 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................36 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
A História Antiga é um campo fascinante que cobre um extenso período 
cronológico, iniciado por volta de 3.500 a.C., com o surgimento da escrita na 
Mesopotâmia, e encerrado em 476 d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente. 
Esse intervalo milenar testemunhou o nascimento das primeiras grandes civilizações 
humanas, responsáveis por profundas inovações políticas, sociais, religiosas e culturais. O 
estudo desse passado remoto é fundamental para a compreensão da trajetória da 
humanidade e da construção das sociedades atuais. 
As civilizações antigas, como os sumérios, egípcios, babilônios, hebreus, persas, 
gregos e romanos, desenvolveram estruturas complexas e duradouras. Através da escrita, 
instituíram leis, organizaram economias, criaram formas de governo e estabeleceram 
tradições religiosas. Essas contribuições se tornaram alicerces do mundo ocidental, 
deixando marcas indeléveis que ainda influenciam nosso modo de viver e pensar. 
A reconstituição histórica desse período é possível graças a fontes diversas, como 
documentos escritos, achados arqueológicos e representações iconográficas. Tais 
registros permitem aos historiadores compreender os modos de vida, os conflitos, as 
crenças e os sistemas de organização coletiva dessas sociedades. Ao interpretar essas 
fontes, os estudiosos constroem uma narrativa que vai além dos fatos, buscando o 
significado das ações humanas em seu contexto original. 
Estudar a História Antiga é também reconhecer que o passado não é algo 
estático ou isolado. Pelo contrário, ele se manifesta no presente por meio de instituições, 
valores, línguas, ideias filosóficas e concepções de justiça e cidadania que nasceram na 
Antiguidade. Como afirmam pensadores como Eric Hobsbawm, Martin Bernal e Moses 
Finley, entender esse passado é compreender parte da nossa própria identidade. 
Autores contemporâneos destacam que o estudo da Antiguidade não deve se 
limitar à exaltação das glórias de impérios ou heróis. É essencial adotar uma abordagem 
crítica, que reconheça as contradições, exclusões e desigualdades presentes nas 
sociedades antigas. A escravidão, o patriarcalismo, a guerra e o colonialismo estavam 
entrelaçados à formação desses mundos, e sua análise nos permite refletir criticamente 
sobre a herança histórica que recebemos. 
 
 
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Nesta apostila, optamos por organizar o conteúdo em seis tópicos centrais: 
civilizações mesopotâmicas, Egito Antigo, Hebreus e Persas, Grécia Antiga, Roma Antiga e 
o Legado da Antiguidade. Cada capítulo abordará aspectos essenciais dessas culturas, 
desde sua organização política até suas expressões artísticas e religiosas, passando por 
sua economia, suas estruturas sociais e suas contribuições para o pensamento humano. 
O capítulo sobre as civilizações mesopotâmicas explorará povos como os 
sumérios, acádios, babilônios e assírios, evidenciando suas invenções tecnológicas, seus 
códigos legais, como o de Hamurábi, e suas formas de governo teocrático. Já o Egito 
Antigo será analisado em sua singularidade, com sua cosmovisão marcada pela 
religiosidade, pela monumentalidade arquitetônica e pela centralização do poder na 
figura do faraó. 
Na sequência, o estudo dos hebreus e dos persas nos permitirá compreender 
dois caminhos distintos de organização social e espiritual. Os hebreus, com sua tradição 
monoteísta e seus textos sagrados, moldaram profundamente as bases éticas e religiosas 
do Ocidente. Os persas, por sua vez, construíram um dos maiores impérios da 
Antiguidade, destacando-se por sua administração eficiente e por uma política 
relativamente tolerante com os povos conquistados. 
O capítulo dedicado à Grécia Antiga abordará desde o surgimento das cidades-
Estado até os legados filosófico, artístico e democrático. Atenas e Esparta, por exemplo, 
representam modelos distintos de organização política e social. Além disso, a filosofia 
grega, com pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles, continua sendo referência 
para o pensamento ocidental até os dias de hoje. 
Em seguida, a Roma Antiga será explorada em sua longa trajetória, da monarquia 
à república, culminando no Império. Sua estrutura jurídica, o conceito de cidadania, a 
engenharia, a literatura e a organização militar, serão analisados como pilares 
fundamentais de sua influência histórica. A queda de Roma em 476 d.C. marcou uma 
transição profunda na história da Europa, dando início ao que se convencionou chamar 
de Idade Média. 
Por fim, o capítulo sobre o Legado da Antiguidade propõe uma reflexão sobre o 
que permanece vivo das civilizações antigas em nossas instituições, práticas e valores 
contemporâneos. Muitas das nossas ideias sobre democracia, justiça, ciência, arte e 
 
 
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religião têm raízes profundas nesse passado. Compreender esse legado é fundamental 
para desenvolver uma visão crítica e contextualizada da sociedade atual. 
Assim, esta apostila busca oferecer uma introdução clara, acessível e 
fundamentada ao estudo da História Antiga. Utilizando fontes primárias, pesquisas 
arqueológicas e contribuições da historiografia moderna, o leitor será convidado a refletir 
sobre as origens da civilização humana, os desafios enfrentados por essas sociedades e 
os ensinamentos que elas ainda nos oferecem. Ao final, espera-se que o leitor reconheça 
que o passado antigo continua a viver em nós, moldando nossas ideias, valores e 
instituições. 
 
 
 
 
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AULA 1: CIVILIZAÇÕES MESOPOTÂMICAS 
 
A Mesopotâmia, situada na região do crescente fértil entre os rios Tigre e 
Eufrates, é amplamente reconhecida como o berço da civilização ocidental. Seu nome, de 
origem grega, significa “terra entre rios”, e essa localização privilegiada foi essencial para 
o florescimento de algumas das sociedades mais antigas e sofisticadas da Antiguidade. 
Por volta de 3.500 a.C., povos como os sumérios, acádios, babilônios e assírios 
desenvolveram ali as primeiras formas de vida urbana, criando as bases para o que 
conhecemoshoje como civilização. 
Os sumérios foram os pioneiros na construção de cidades-estado como Ur, Uruk, 
Eridu e Lagash, que possuíam estruturas organizadas de governo, templos monumentais 
e uma elite sacerdotal influente. Eles também foram os criadores da escrita cuneiforme, 
um sistema que utilizava sinais gravados em tabuletas de argila com um estilete em forma 
de cunha. Essa inovação marcou o início da história escrita, permitindo o registro de 
informações essenciais para a administração, a religião e a cultura. 
A escrita cuneiforme representou um enorme salto na capacidade de gestão das 
sociedades mesopotâmicas. Com ela, foi possível organizar registros fiscais, controlar 
estoques agrícolas, elaborar tratados diplomáticos e transmitir mitos e conhecimentos. A 
célebre Epopéia de Gilgamesh, considerada uma das obras literárias mais antigas da 
humanidade, é um exemplo notável desse legado. Além disso, a escrita era utilizada para 
legitimar o poder dos reis, documentando suas conquistas e alianças divinas. 
Entre os maiores legados da Mesopotâmia está o Código de Hamurábi, criado 
por volta de 1.750 a.C. na Babilônia. Essa compilação de leis apresenta uma estrutura 
jurídica baseada na retribuição, expressa pelo princípio de “olho por olho, dente por 
dente”. Apesar de parecer severo aos olhos contemporâneos, o código reflete uma 
tentativa de estabelecer ordem e justiça em uma sociedade complexa e hierarquizada. 
Ele abrange temas como propriedade, comércio, família, trabalho e punições criminais. 
A religião mesopotâmica era politeísta e profundamente enraizada na vida 
cotidiana. Os deuses eram associados a elementos da natureza e a forças cósmicas, sendo 
adorados em templos chamados zigurates. Cada cidade-estado tinha sua divindade 
protetora, e os reis eram vistos como escolhidos dos deuses ou seus intermediários. Os 
 
 
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rituais religiosos, incluindo sacrifícios e oferendas, visavam garantir a proteção divina e a 
estabilidade da ordem social. 
Além dos aspectos espirituais, os zigurates também desempenhavam funções 
administrativas e econômicas. Nesses templos, armazenavam-se alimentos, redigiam-se 
documentos e realizavam-se transações comerciais. A religião e o poder político eram 
inseparáveis, e os sacerdotes detinham grande influência, atuando tanto como 
intérpretes da vontade divina quanto como gestores das riquezas dos templos. 
A economia da Mesopotâmia baseava-se na agricultura irrigada, favorecida pelos 
sedimentos férteis deixados pelos rios. As cheias anuais, embora imprevisíveis, permitiam 
colheitas abundantes, especialmente de cereais como trigo e cevada. Para controlar a 
irrigação, os mesopotâmicos construíram canais, diques e reservatórios, demonstrando 
um notável conhecimento de engenharia hidráulica. 
A criação de animais, como ovelhas, cabras e bois, complementava a atividade 
agrícola, fornecendo leite, lã, couro e força de tração. O comércio também desempenhava 
papel central na vida econômica, com caravanas e embarcações transportando bens 
como metais, pedras preciosas, madeira e tecidos entre a Mesopotâmia e outras regiões, 
como a Anatólia, o Vale do Indo e o Egito. 
Os mesopotâmicos também se destacaram em áreas como matemática, 
astronomia e medicina. Desenvolveram sistemas numéricos baseados no sexagesimal 
(base 60), que influenciaram a contagem do tempo e a divisão dos círculos em graus. Seus 
conhecimentos astronômicos permitiram a criação de calendários e a observação 
sistemática dos astros, o que influenciava decisões agrícolas e religiosas. 
A organização política da Mesopotâmia era, em geral, centrada nas cidades-
estado, que funcionavam como unidades autônomas sob o comando de reis-sacerdotes. 
Com o tempo, impérios mais amplos surgiram, como o Império Acádio de Sargão, o 
Império Babilônico de Hamurábi e o Império Assírio, conhecidos por sua capacidade 
administrativa, militar e por seus projetos de unificação territorial. 
Autores como Samuel Noah Kramer e Jean Bottéro ressaltam a complexidade e 
a sofisticação das sociedades mesopotâmicas, apontando que suas contribuições vão 
muito além da escrita e da legislação. Essas civilizações foram pioneiras na criação de um 
aparato estatal eficiente, com burocracia, exércitos permanentes, diplomacia e 
 
 
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mecanismos de controle social que influenciaram profundamente os modelos 
administrativos posteriores. 
Por fim, o legado mesopotâmico não desapareceu com o declínio de suas 
cidades. Muitos de seus avanços foram assimilados por civilizações vizinhas, como os 
persas e os gregos, e continuam presentes em diversos aspectos da vida moderna, como 
a contagem do tempo, o estudo dos astros, a administração pública e o direito. Estudar a 
Mesopotâmia é, portanto, voltar-se às origens de muitos elementos fundamentais da 
cultura ocidental. 
 
 
 
 
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AULA 2: O EGITO ANTIGO 
 
O Egito Antigo desenvolveu-se às margens do rio Nilo, cuja fertilidade cíclica e 
previsível foi essencial para o florescimento de uma das civilizações mais duradouras da 
história. As cheias anuais do Nilo depositavam camadas de húmus fértil nas margens, 
permitindo colheitas regulares e garantindo a subsistência da população. A relação entre 
o rio e a civilização era tão profunda que os egípcios viam o Nilo como uma dádiva divina 
e base de toda a vida. 
A história do Egito Antigo é comumente dividida em três grandes períodos: o 
Antigo Império (c. 2.700–2.200 a.C.), o Médio Império (c. 2.050–1.800 a.C.) e o Novo 
Império (c. 1.570–1.070 a.C.). Cada um desses períodos foi caracterizado por 
centralização política, estabilidade interna e grande produção cultural e arquitetônica. 
Entre eles, ocorreram fases intermediárias marcadas por crises, invasões e fragmentação 
do poder. 
A unificação do Alto e Baixo Egito, ocorrida por volta de 3.100 a.C., é atribuída 
ao lendário faraó Menés (ou Narmer), e representou o início do período dinástico. Essa 
fusão deu origem ao Estado egípcio centralizado e marcou o começo de uma linhagem 
de faraós que governariam por milênios. O símbolo dessa unificação foi a coroa dupla, 
combinando os emblemas das duas regiões. 
O faraó ocupava o centro da estrutura política e religiosa do Egito. Considerado 
uma encarnação dos deuses na Terra, o faraó não era apenas um governante, mas 
também um intermediário entre os homens e o mundo divino. Sua autoridade era 
absoluta e considerada sagrada, o que justificava sua posição de comando nas esferas 
militar, administrativa e espiritual. 
A administração egípcia era altamente hierarquizada. Escriturários (ou escribas) 
desempenhavam um papel crucial no registro e controle da burocracia estatal. Os 
sacerdotes administravam os templos e organizavam os cultos religiosos, enquanto os 
nomarcas (governadores das províncias) cuidavam da arrecadação de impostos e da 
manutenção da ordem nas regiões. Essa organização complexa possibilitou a construção 
de grandes obras públicas e o controle eficaz do território. 
A religião egípcia era politeísta e profundamente ritualística. O panteão era 
composto por deuses associados à natureza, ao cosmos e à vida humana. Deuses como 
 
 
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Rá (sol), Osíris (vida após a morte), Ísis (maternidade e magia) e Anúbis 
(embalsamamento) desempenhavam papéis fundamentais. A crença na imortalidade da 
alma influenciava profundamente os costumes sociais e culturais do Egito. 
A vida após a morte era vista como uma continuidade da existência terrena. Para 
garantir uma boa passagem para o além, os egípcios desenvolveram rituais funerários 
elaborados, incluindo a mumificação, que preservava o corpo para a eternidade. Os 
túmulos, especialmente as pirâmides, eram projetados como moradas eternas para os 
mortos. A construção das pirâmides de Gizé, durante o Antigo Império, representa um 
dos maiores feitos da engenharia antiga. 
A escrita hieroglífica surgiu como uma ferramenta essencial para a 
administração,a religião e a preservação da cultura. Gravada em templos, tumbas e 
papiros, essa escrita era complexa e simbólica. Além dos hieróglifos, os egípcios também 
usaram formas mais simplificadas, como o hierático e o demótico, para documentos do 
cotidiano. A redescoberta da leitura dos hieróglifos só foi possível no século XIX com a 
decifração da Pedra de Roseta por Champollion. 
No campo do conhecimento, os egípcios alcançaram avanços notáveis em áreas 
como matemática, medicina e astronomia. Utilizavam sistemas de medição para a 
construção de monumentos, tratavam doenças com remédios à base de plantas e 
praticavam cirurgias rudimentares. Sua observação dos astros permitiu a criação de um 
calendário agrícola preciso, baseado nos ciclos do Nilo e das estrelas. 
A sociedade egípcia era estratificada, mas não completamente fechada. No topo 
encontravam-se o faraó e a nobreza, seguidos por sacerdotes, escribas e militares. Abaixo 
estavam os artesãos, comerciantes, camponeses e servos. Apesar da rigidez social, a 
educação e o mérito podiam proporcionar ascensão, especialmente para os escribas, cuja 
formação era valorizada e reconhecida. 
Mulheres egípcias desfrutavam de alguns direitos incomuns em outras 
sociedades da Antiguidade, como o direito à propriedade, ao divórcio e à herança. 
Embora o poder político fosse predominantemente masculino, algumas mulheres 
alcançaram posição de destaque, como Hatshepsut, que governou como faraó durante o 
Novo Império. Esses exemplos mostram que, apesar das limitações, havia certa fluidez 
social e reconhecimento de capacidades individuais. 
 
 
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Estudiosos como Jacques Pirenne e Christiane Desroches Noblecourt destacam 
a originalidade e a longevidade da cultura egípcia. Por mais de três mil anos, o Egito Antigo 
manteve uma identidade cultural coesa, resistindo a invasões, mudanças dinásticas e 
pressões externas. Seu legado atravessou os séculos e influenciou profundamente a 
cultura greco-romana, o cristianismo e o imaginário moderno. Estudar o Egito é, portanto, 
mergulhar em uma das mais ricas e influentes civilizações da Antiguidade. 
 
 
 
 
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AULA 3: HEBREUS E PERSAS 
 
Os hebreus foram um povo semita cuja trajetória histórica se entrelaça 
profundamente com a tradição religiosa do judaísmo. Segundo os relatos bíblicos, sua 
origem remonta à figura de Abraão, que teria migrado da cidade de Ur, na Mesopotâmia, 
em direção à terra de Canaã, localizada na região da Palestina. Essa jornada, conhecida 
como a "chamada de Abraão", simboliza o início de uma história marcada pela fé, pelas 
promessas divinas e pelos desafios da sobrevivência em um mundo dominado por 
impérios poderosos. 
A história hebraica passou por diversas fases: o período patriarcal, a escravidão 
no Egito, o êxodo liderado por Moisés, a conquista da Terra Prometida, a formação das 
doze tribos, a unificação sob os reis Saul, Davi e Salomão, a divisão do reino em Israel e 
Judá, e, posteriormente, o exílio na Babilônia. Esses eventos foram registrados e 
reinterpretados ao longo dos séculos, constituindo a base do Antigo Testamento, um dos 
pilares da tradição judaico-cristã. 
Uma das maiores contribuições dos hebreus à história da humanidade foi o 
desenvolvimento do monoteísmo ético. Em meio a sociedades marcadas pelo culto a 
múltiplas divindades, os hebreus passaram a adorar exclusivamente a Javé (ou Yahweh), 
deus único e transcendente. Essa crença não se limitava ao aspecto religioso, mas 
implicava uma moralidade universal, baseada em justiça, compaixão e responsabilidade 
individual. 
A Torá, composta pelos cinco primeiros livros da Bíblia hebraica, é tanto um texto 
religioso quanto um documento histórico e jurídico. Nela estão descritas leis, práticas 
rituais, narrativas míticas e registros históricos. Além de guiar a vida espiritual dos 
hebreus, a Torá organizava a sociedade, regulando desde questões familiares até os 
deveres sociais e o culto religioso. 
O exílio na Babilônia, no século VI a.C., foi um marco na identidade hebraica. 
Durante esse período, muitos elementos da tradição judaica foram consolidados, como a 
centralidade da Torá, a importância da sinagoga como espaço de culto e ensino, e a 
valorização da escrita como forma de preservar a identidade coletiva. Após o retorno a 
Jerusalém, autorizado pelos persas, os hebreus reconstruíram o templo e reafirmaram 
sua fé. 
 
 
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Enquanto os hebreus viviam momentos de dispersão e reconstrução, os persas 
emergiam como uma potência imperial no Oriente Próximo. Sob a liderança de Ciro, o 
Grande, o Império Persa foi fundado no século VI a.C. e logo se expandiu, conquistando 
territórios que iam da Ásia Central até o Egito. Ciro destacou-se por sua política de 
tolerância e respeito às tradições locais, sendo inclusive citado na Bíblia como o libertador 
dos hebreus exilados na Babilônia. 
A administração persa era altamente organizada. O império foi dividido em 
satrapias, regiões governadas por sátrapas que exerciam autoridade local sob supervisão 
direta do imperador. Essa estrutura permitia um controle eficiente de vastos territórios e 
assegurava certa autonomia às culturas dominadas, o que favorecia a estabilidade e a 
coesão interna do império. 
No campo religioso, os persas adotaram o zoroastrismo, religião fundada pelo 
profeta Zaratustra (ou Zoroastro). Essa crença se baseava no dualismo entre o bem, 
representado por Ahura Mazda, e o mal, representado por Ahriman. O zoroastrismo 
introduziu conceitos como livre-arbítrio, julgamento após a morte e a responsabilidade 
moral do indivíduo — ideias que influenciaram posteriormente as religiões abraâmicas. 
O zoroastrismo não era apenas uma doutrina religiosa, mas também um 
instrumento de coesão e identidade para os persas. Embora o império tenha abrigado 
múltiplas crenças, o zoroastrismo fornecia uma cosmovisão moral que unificava as elites 
governantes. A prática religiosa incluía rituais de purificação, respeito ao fogo como 
símbolo do bem e a preservação da ordem cósmica. 
Os persas também investiram significativamente em infraestrutura, conectando 
regiões distantes por meio de estradas, pontes, canais e centros administrativos. A 
Estrada Real, que ligava Susa a Sardes, com cerca de 2.500 km, tornou-se um símbolo da 
capacidade logística persa. Essa rede facilitava a circulação de exércitos, comerciantes, 
correios e funcionários imperiais, tornando o império altamente funcional. 
Além do comércio, os persas incentivaram a circulação de ideias, bens e culturas. 
Cidades como Persépolis, Pasárgada e Babilônia tornaram-se centros multiculturais, onde 
conviviam diversas línguas, crenças e saberes. Essa integração contribuiu para a 
disseminação de técnicas agrícolas, conhecimentos médicos, textos religiosos e práticas 
políticas por vastas regiões. 
 
 
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Estudiosos como Paul Johnson e Pierre Briant destacam a importância tanto dos 
hebreus quanto dos persas na formação do pensamento ocidental. Os hebreus, com sua 
ética monoteísta e valorização da palavra escrita, influenciaram profundamente as 
religiões e filosofias do Ocidente. Já os persas, com sua visão administrativa e 
multicultural, deixaram um modelo duradouro de império eficiente, tolerante e inovador. 
 
 
 
 
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AULA 4: GRÉCIA ANTIGA 
 
A Grécia Antiga foi uma civilização marcada por sua fragmentação política e 
unidade cultural. Em vez de formar um império unificado, os gregos organizaram-se em 
cidades-estado independentes chamadas pólis. Cada pólis possuía seu próprio governo, 
leis, exército e divindades protetoras, embora compartilhassem uma mesma língua, 
tradições religiosas e práticas culturais. Entre as principais pólis destacam-se Atenas, 
Esparta, Tebas, Delfos e Corinto. 
Apesar da autonomia política, havia entre os gregos uma forte identidade 
cultural comum. Os deuses do panteão olímpico eram cultuados em todas as cidades, e 
eventoscomo os Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia a cada quatro anos, reforçavam 
essa unidade simbólica. Nessas competições, suspensões temporárias de guerras 
permitiam que atletas de diferentes pólis competissem em honra a Zeus, fortalecendo 
laços pan-helênicos. 
O chamado período clássico (séculos V e IV a.C.) representa o auge cultural da 
Grécia Antiga. Esse momento histórico foi marcado por intensos debates políticos, 
avanços filosóficos, produção artística refinada e importantes transformações sociais. 
Atenas despontou como centro cultural e político, especialmente após sua vitória nas 
Guerras Médicas contra os persas. Sob o governo de Péricles, a cidade viveu sua chamada 
“era de ouro”. 
A democracia ateniense foi uma experiência inédita de participação política 
direta dos cidadãos. As decisões eram tomadas na Ekklesia (Assembleia), onde qualquer 
cidadão masculino livre e ateniense poderia discursar e votar. Contudo, essa democracia 
era restrita: mulheres, estrangeiros (metecos) e escravizados não tinham direitos 
políticos. Mesmo assim, foi uma referência para os ideais de cidadania que influenciaram 
profundamente a cultura política ocidental. 
Filósofos como Aristóteles refletiram sobre as formas de governo e os limites da 
democracia. Em sua obra Política, Aristóteles classificou os regimes segundo quem 
detinha o poder e com qual finalidade: a monarquia, a aristocracia e a politéia (governo 
misto) seriam as formas legítimas, enquanto a tirania, a oligarquia e a democracia seriam 
suas corrupções — sendo esta última vista com ambivalência por ele, pois poderia se 
degenerar em demagogia. 
 
 
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Esparta, diferentemente de Atenas, era uma pólis com uma rígida estrutura 
militar e oligárquica. Os espartanos priorizavam a disciplina, a obediência e a força física 
desde a infância. A educação, conhecida como agogê, era voltada para o treinamento 
militar. A sociedade espartana baseava-se na manutenção do poder de uma minoria de 
cidadãos guerreiros sobre uma grande massa de servos — os hilotas, que viviam sob forte 
opressão. 
A filosofia grega, nascida nos séculos VI e V a.C., provocou uma verdadeira 
revolução intelectual. Sócrates foi o primeiro a colocar o ser humano no centro da reflexão 
filosófica, utilizando o método dialético para questionar valores e verdades estabelecidas. 
Platão, seu discípulo, criou um sistema filosófico abrangente, fundando a Academia e 
propondo a existência de um mundo das ideias. Aristóteles, por sua vez, fundou o Liceu 
e desenvolveu estudos em lógica, ética, política e ciência natural. 
Na arte, os gregos buscavam expressar a beleza ideal por meio da harmonia e da 
proporção. A escultura grega representa o corpo humano em sua perfeição formal e 
movimento natural. Na arquitetura, o templo era a principal construção religiosa e 
artística, sendo o Partenon, em Atenas, o exemplo mais notável, dedicado à deusa Atena 
e símbolo da sofisticação arquitetônica da época. 
O teatro também floresceu na Grécia, especialmente em Atenas. Tragédias e 
comédias eram apresentadas em festivais religiosos em homenagem a Dionísio. Autores 
como Ésquilo, Sófocles e Eurípedes exploraram dilemas morais, paixões humanas e 
conflitos políticos em suas tragédias. Já Aristófanes, nas comédias, criticava figuras 
públicas e costumes da sociedade ateniense com humor ácido e sátira. 
Do ponto de vista político e militar, a Grécia foi marcada por grandes conflitos. 
As Guerras Médicas, travadas contra os persas, fortaleceram o prestígio de Atenas, que 
liderou a Liga de Delos. No entanto, o crescente poderio ateniense gerou tensões com 
Esparta, culminando na Guerra do Peloponeso (431–404 a.C.). Essa guerra debilitou as 
pólis gregas, facilitando posteriormente a ascensão da Macedônia. 
Alexandre, o Grande, rei da Macedônia e discípulo de Aristóteles, promoveu uma 
das maiores expansões territoriais da Antiguidade. Em poucos anos, conquistou o Império 
Persa e avançou até a Índia, difundindo a cultura grega por todo o mundo conhecido. Esse 
processo deu origem ao período helenístico, caracterizado pela fusão entre os elementos 
gregos e orientais e pela criação de centros culturais como Alexandria. 
 
 
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Estudiosos como Jean-Pierre Vernant, Moses Finley e Jacqueline de Romilly 
destacam a importância da Grécia Antiga na formação dos valores ocidentais. Apesar das 
contradições, como a escravidão e a exclusão política de grande parte da população, a 
experiência grega lançou as bases da reflexão filosófica, da participação política e da 
valorização da razão. O legado grego permanece vivo nas ideias de cidadania, liberdade e 
busca pela verdade. 
 
 
 
 
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AULA 5: ROMA ANTIGA 
 
A história de Roma é uma das mais marcantes da Antiguidade, caracterizada por 
uma impressionante evolução política e territorial. Segundo a tradição, a cidade foi 
fundada em 753 a.C. por Rômulo e Remo, dois irmãos criados por uma loba e 
descendentes de Eneias, herói troiano. Embora lendária, essa narrativa revela o esforço 
dos romanos em associar sua origem a uma herança heroica e sagrada. De pequena aldeia 
às margens do rio Tibre, Roma tornou-se um dos maiores impérios da história antiga, 
dominando vastas áreas da Europa, Ásia e África. 
A trajetória política romana é dividida em três fases principais: monarquia (753–
509 a.C.), república (509–27 a.C.) e império (27 a.C.–476 d.C. no Ocidente). Durante a 
monarquia, Roma foi governada por reis, sendo o último deles, Tarquínio, o Soberbo, 
deposto após abusos de poder. Esse evento deu início à república, um sistema em que o 
poder era exercido coletivamente por magistrados eleitos e pelo Senado. 
A República Romana foi marcada por um constante equilíbrio (e conflito) entre 
os interesses dos patrícios — membros da aristocracia tradicional — e os plebeus — 
cidadãos comuns. As instituições republicanas incluíam o Senado, os Cônsules, os 
Magistrados e os Tribunos da Plebe, estes últimos criados para proteger os interesses 
populares. Lutas como a "questão da terra" e a "lei agrária" evidenciam a tensão social 
que atravessava a sociedade romana. 
No campo jurídico, os romanos desenvolveram um sistema de leis que deixou 
um legado profundo para o mundo ocidental. A Lei das Doze Tábuas, promulgada no 
século V a.C., foi o primeiro corpo legal romano escrito, garantindo que as normas fossem 
conhecidas por todos. Mais tarde, já no Império Bizantino, o imperador Justiniano 
compilaria o Corpus Juris Civilis, um dos fundamentos do direito moderno, influenciando 
o sistema jurídico de vários países europeus. 
A expansão territorial romana foi um dos pilares de sua história. Inicialmente, 
Roma lutou para controlar a península Itálica, enfrentando etruscos, latinos e samnitas. 
Posteriormente, conquistou Cartago nas Guerras Púnicas, e, gradativamente, foi 
anexando territórios na Grécia, Egito, Gália, Hispânia, Palestina, Britânia e além. Com isso, 
Roma tornou-se uma potência multicultural e multiétnica, governando milhões de 
pessoas sob um sistema unificado. 
 
 
20 
A transição da República para o Império ocorreu após uma série de guerras civis 
e conflitos políticos internos. Júlio César, general e político carismático, acumulou poder 
excessivo e foi assassinado em 44 a.C. Seu herdeiro, Otávio — posteriormente conhecido 
como Augusto — derrotou seus rivais e foi nomeado primeiro imperador em 27 a.C. Com 
ele, teve início a Pax Romana, um período de cerca de dois séculos de relativa estabilidade 
e prosperidade interna. 
Durante a Pax Romana, Roma atingiu seu auge em termos administrativos, 
culturais e territoriais. Imperadores como Trajano, Adriano e Marco Aurélio promoveram 
reformas, construções monumentais e expansão das fronteiras. A construção de estradas, 
aquedutos, pontes e muralhas garantiu a comunicação eficiente entre as províncias e o 
controle do império. A engenharia romana permanece como um dos grandeslegados 
materiais dessa civilização. 
A sociedade romana era altamente hierarquizada. No topo estavam os senadores 
e a elite proprietária, seguidos pelos cavaleiros, plebeus, libertos e, na base, os 
escravizados. A escravidão era uma instituição fundamental à economia e à cultura 
romana. Escravos podiam ser agricultores, professores, escribas ou gladiadores, e embora 
alguns conquistassem a liberdade, a maioria vivia em condições extremamente duras. 
A vida urbana em Roma era vibrante e complexa. Cidades como Roma, 
Alexandria e Cartago possuíam mercados, bibliotecas, teatros, banhos públicos (termas) 
e arenas. O Coliseu, símbolo da engenharia e da cultura de massas romanas, era palco de 
espetáculos grandiosos, como combates de gladiadores e simulações de batalhas navais. 
A cultura do entretenimento estava fortemente associada ao poder imperial e à 
manutenção da ordem social. 
O cristianismo surgiu na província da Judeia, no século I d.C., como um 
movimento religioso entre os judeus. Inicialmente perseguido por desafiar a autoridade 
do imperador e propor uma nova moralidade, o cristianismo se espalhou por todo o 
império. No século IV, o imperador Constantino decretou liberdade religiosa com o Édito 
de Milão. Mais tarde, o imperador Teodósio tornou o cristianismo religião oficial do 
Império, promovendo profundas transformações nos valores e instituições romanas. 
A adoção do cristianismo como religião oficial marcou a transição entre o mundo 
clássico e a Idade Média. As tradições greco-romanas começaram a ser reinterpretadas 
sob uma ótica cristã, influenciando a arte, o direito, a moral e a política das futuras 
 
 
21 
civilizações europeias. Roma deixou de ser apenas uma potência militar e administrativa, 
tornando-se também um centro espiritual e doutrinário. 
Historiadores como Paul Veyne, Mary Beard e Michel Rostovtzeff destacam a 
complexidade de Roma como império. Ela foi, ao mesmo tempo, civilizadora e 
dominadora, integrando povos diversos por meio da força, da lei e da cultura. Seu legado 
permanece visível em nossas instituições, línguas, sistemas políticos e no próprio conceito 
de império. Estudar Roma é compreender as contradições e os alicerces do mundo 
ocidental. 
 
 
 
 
22 
AULA 6: O LEGADO DA ANTIGUIDADE 
 
As civilizações da Antiguidade deixaram marcas profundas que continuam a 
influenciar praticamente todos os aspectos da vida moderna. Embora tenham existido há 
milênios, seus feitos em áreas como ciência, política, religião, arte e organização social 
formam os alicerces de muitas das instituições e valores contemporâneos. Estudar esse 
legado não é apenas uma forma de conhecer o passado, mas também de entender as 
origens do nosso próprio modo de vida. 
Na Mesopotâmia, surgiu a primeira forma de escrita conhecida: a cuneiforme. 
Esse sistema de registro foi fundamental para o desenvolvimento da administração 
pública, da contabilidade e da literatura. Além disso, os mesopotâmicos criaram os 
primeiros códigos legais, como o Código de Hamurábi, e organizaram sistemas de governo 
centralizado que influenciaram modelos posteriores de autoridade e hierarquia. 
O Egito Antigo contribuiu significativamente para a matemática, a medicina e a 
engenharia. O conhecimento técnico necessário para a construção das pirâmides e dos 
templos monumentais revela um grau notável de precisão e planejamento. Os egípcios 
também criaram um calendário solar bastante preciso, utilizado para regular as atividades 
agrícolas e religiosas — uma base para os calendários que usamos até hoje. 
No campo religioso e moral, os hebreus exerceram enorme influência sobre as 
tradições monoteístas do Ocidente. A crença em um único Deus, dotado de justiça e 
misericórdia, a ideia de uma aliança entre o divino e o povo, e a ênfase na moralidade 
individual transformaram profundamente a espiritualidade de diversas culturas. Esses 
elementos moldaram o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, que juntos influenciam 
bilhões de pessoas em todo o mundo. 
A filosofia hebraica também introduziu uma visão ética do tempo e da história 
como processo linear e progressivo — diferente das concepções cíclicas de outras culturas 
antigas. Essa visão contribuiu para a ideia de transformação e redenção, tão presente nas 
filosofias e religiões que marcaram o pensamento ocidental. 
A Grécia Antiga, por sua vez, forneceu à humanidade algumas das mais 
importantes ferramentas do pensamento racional. Filósofos como Sócrates, Platão e 
Aristóteles formularam questões fundamentais sobre a existência, a moral, a política e a 
 
 
23 
ciência, construindo os fundamentos do pensamento crítico e da investigação lógica que 
moldam até hoje a filosofia, as ciências humanas e as ciências naturais. 
Além da filosofia, os gregos também deram contribuições relevantes à política, 
especialmente com a experiência democrática de Atenas. Ainda que restrita a uma 
parcela da população, essa forma de governo fundamentada na participação direta dos 
cidadãos inspirou os ideais modernos de república, cidadania e representação. A noção 
de que o poder deve emanar do povo é uma herança direta dessa experiência. 
A literatura, a poesia, o teatro e as artes visuais gregas também são legados 
duradouros. Obras de autores como Homero, Sófocles e Aristófanes continuam a ser lidas 
e encenadas em todo o mundo. Os temas universais que abordam — amor, morte, 
heroísmo, justiça, liberdade — mantêm-se atuais e instigam reflexões sobre a condição 
humana. 
Roma, por sua vez, consolidou muitos dos avanços gregos e acrescentou sua 
própria contribuição decisiva ao mundo ocidental, sobretudo na organização jurídica e 
institucional. O direito romano criou categorias e conceitos fundamentais como contrato, 
cidadania, propriedade e responsabilidade civil, que ainda hoje estruturam os sistemas 
legais de muitos países. 
Além do campo jurídico, a estrutura administrativa e militar de Roma serviu de 
modelo para inúmeros governos posteriores. A ideia de república, com poderes 
separados e codificação de leis, influenciou diretamente as constituições modernas. O 
latim, idioma oficial do Império, deu origem às línguas românicas — como o português, 
espanhol, francês, italiano e romeno — e moldou a terminologia jurídica, científica e 
eclesiástica por séculos. 
O cristianismo, surgido no contexto romano, foi um dos maiores agentes de 
continuidade entre a Antiguidade e a Idade Média. A religião cristã estruturou 
profundamente a cultura ocidental, oferecendo um sistema de valores, organização e 
linguagem simbólica que influenciou desde a arte até o direito canônico. A fusão entre 
elementos romanos, gregos e hebraicos na tradição cristã tornou-se a espinha dorsal da 
civilização europeia. 
Refletir sobre o legado da Antiguidade é também pensar criticamente sobre 
nosso presente. Como afirma o historiador Carlo Ginzburg, compreender o passado exige 
imaginação, investigação e disposição para questionar o que consideramos natural. Ao 
 
 
24 
analisar as realizações e contradições das civilizações antigas, somos levados a reconhecer 
que nossas instituições, valores e práticas são frutos de escolhas históricas — e, portanto, 
passíveis de revisão e transformação. 
 
 
 
 
25 
AULA 7: BNCC E HISTÓRIA ANTIGA 
 
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), instituída como um marco regulador 
da educação básica no Brasil, estabelece diretrizes claras para o desenvolvimento de 
competências e habilidades essenciais em cada etapa da formação escolar. No 
componente curricular de História, a BNCC propõe uma abordagem plural, crítica e 
contextualizada, priorizando a valorização da diversidade cultural e das múltiplas 
temporalidades. A História Antiga, nesse sentido, ocupa um espaço estratégico na 
formação dos estudantes, pois permite o entendimento das raízes de muitas estruturas 
sociais, políticas, econômicas e culturais que aindainfluenciam o mundo contemporâneo. 
No Ensino Fundamental, especialmente nos anos finais (6º ao 9º ano), a História 
Antiga é abordada de maneira transversal e integrada ao conjunto das experiências 
humanas. A BNCC propõe que se vá além da cronologia tradicional, superando visões 
eurocêntricas e incorporando olhares plurais. Assim, não se limita à Grécia e Roma 
antigas, mas inclui também as civilizações do Oriente Próximo, da África e da Ásia, 
ampliando o repertório histórico dos alunos e reforçando a importância da diversidade 
de culturas e saberes. 
A proposta da BNCC visa problematizar os processos históricos, levando os 
estudantes a compreenderem os modos de vida e as dinâmicas sociais dos povos antigos, 
considerando seus valores, crenças e práticas cotidianas. A História Antiga, então, deixa 
de ser apenas uma narrativa de feitos heróicos ou grandes impérios e passa a ser 
explorada em sua complexidade, considerando também os sujeitos invisibilizados e as 
relações de poder que marcaram essas sociedades. 
Ao tratar da Antiguidade, a BNCC enfatiza a compreensão de temas como a 
formação dos primeiros agrupamentos humanos, o surgimento da escrita, os sistemas de 
crenças e mitologias, as formas de organização social e política, as práticas econômicas e 
os conflitos. São questões que permitem traçar paralelos com o presente, ajudando os 
estudantes a perceberem como as estruturas históricas se modificam, mas também 
persistem de diversas formas. 
Um dos grandes méritos da abordagem sugerida pela BNCC é a valorização da 
análise de fontes históricas. Através de documentos, imagens, objetos e vestígios 
arqueológicos, os estudantes são incentivados a construir interpretações próprias sobre 
 
 
26 
o passado, desenvolvendo habilidades investigativas e pensamento crítico. Isso torna o 
estudo da História Antiga mais dinâmico, participativo e conectado com a prática 
historiográfica. 
A BNCC também orienta os professores a integrarem diferentes linguagens e 
suportes no ensino de História, como mapas, textos literários, filmes, documentários e 
artefatos culturais. Ao estudar a Antiguidade por meio dessas linguagens, os alunos 
podem vivenciar o conteúdo de forma mais significativa e perceber que o passado não 
está distante, mas dialoga com o presente em diversos aspectos. 
Outro ponto relevante na abordagem da História Antiga segundo a BNCC é o 
respeito às identidades culturais dos estudantes. Ao incluir civilizações africanas e 
asiáticas, a proposta curricular reconhece a importância de representar as diversas 
matrizes culturais que compõem a sociedade brasileira. Isso fortalece o pertencimento, 
combate o preconceito e valoriza a pluralidade histórica e cultural. 
Além disso, a BNCC articula a História Antiga com o desenvolvimento das 
competências gerais da educação básica, como o pensamento crítico, a argumentação, o 
repertório cultural e a responsabilidade social. Ao estudar civilizações antigas, os alunos 
são levados a refletir sobre temas como justiça, cidadania, direitos, deveres e relações de 
poder, promovendo uma formação mais ética e consciente. 
O currículo sugerido pela BNCC busca romper com abordagens que fragmentam 
o conteúdo e que tratam o conhecimento histórico como algo estanque. A História Antiga, 
portanto, é apresentada em articulação com outras temporalidades e contextos, 
permitindo uma visão mais integrada do processo histórico. Isso prepara os alunos para 
compreenderem as continuidades e rupturas que moldaram o mundo em que vivem. 
A formação do pensamento histórico desde a Antiguidade é, inclusive, um ponto 
de partida para o desenvolvimento de habilidades analíticas. Compreender as 
transformações nas formas de governo, por exemplo, ajuda os estudantes a entenderem 
melhor os desafios das democracias atuais. Do mesmo modo, refletir sobre os sistemas 
econômicos antigos pode iluminar debates contemporâneos sobre desigualdade, 
distribuição de riqueza e sustentabilidade. 
Os professores têm um papel fundamental na implementação da BNCC e na 
mediação do conhecimento histórico. Cabe a eles selecionar estratégias, recursos e 
metodologias que tornem o estudo da História Antiga atraente e relevante. O desafio é 
 
 
27 
promover uma aprendizagem significativa, que dialogue com a realidade dos alunos e os 
estimule a pensar historicamente, reconhecendo a importância do passado para a 
construção do presente e do futuro. 
Por fim, a presença da História Antiga na BNCC não é apenas uma exigência 
curricular, mas uma oportunidade pedagógica valiosa. Ela permite o resgate de saberes, 
a valorização de culturas diversas e a formação de sujeitos críticos, participativos e 
conscientes. Ao promover uma abordagem humanista, investigativa e plural, a BNCC 
transforma o ensino da História Antiga em uma ferramenta potente de cidadania e 
transformação social. 
 
 
 
 
28 
AULA 8: REFERENCIAIS TEÓRICOS 
 
Eric Hobsbawm 
 
Eric Hobsbawm, embora mais conhecido por suas análises sobre a história 
contemporânea e os séculos XIX e XX, também ofereceu importantes reflexões que 
influenciam a compreensão da História Antiga. Seu olhar marxista sobre os processos 
históricos, centrado na luta de classes, nas transformações econômicas e nos modos de 
produção, proporcionou ferramentas teóricas para reinterpretar sociedades antigas sob 
uma nova ótica. Mesmo não sendo especialista direto na Antiguidade, sua abordagem 
metodológica impactou diversos historiadores que trabalham com esse período. 
Uma das principais contribuições de Hobsbawm foi sua ênfase na análise das 
estruturas sociais e econômicas, o que permite a historiadores da Antiguidade 
problematizar temas como a escravidão, a formação dos impérios e a dominação de 
classe. Sua leitura crítica sobre o papel das elites e da marginalização das classes 
subalternas encontra eco em estudos sobre o Egito, a Grécia e Roma, onde as 
desigualdades sociais eram profundas e institucionalizadas. Ao aplicar a perspectiva 
materialista histórica, ele ajudou a iluminar as raízes econômicas das transformações 
políticas e culturais também nas sociedades antigas. 
Além disso, Hobsbawm valorizava o papel dos “sem voz” na História, 
incentivando uma historiografia que não se limita às elites e aos grandes feitos militares 
e políticos. Esse olhar ampliado inspirou novos enfoques sobre os povos dominados, os 
trabalhadores rurais, os escravizados e os povos periféricos do mundo antigo, oferecendo 
narrativas mais inclusivas e críticas. Dessa maneira, a História Antiga pôde ser repensada 
não apenas do ponto de vista das civilizações centrais, mas também a partir das 
resistências e práticas culturais dos excluídos. 
Outro ponto relevante é que Hobsbawm contribuiu para uma visão de longa 
duração da história, compreendendo os processos históricos como parte de movimentos 
extensos e interconectados. Essa abordagem possibilita que a História Antiga não seja 
vista de forma isolada, mas em diálogo com as etapas posteriores da história humana, 
especialmente na transição do mundo antigo para o feudalismo, tema caro aos estudos 
marxistas. O conceito de "invenção de tradições", desenvolvido por Hobsbawm, também 
 
 
29 
se mostra útil para analisar como sociedades antigas construíam e legitimavam sua 
autoridade por meio de mitos fundadores e práticas simbólicas. 
Por fim, mesmo sem ter se dedicado diretamente à História Antiga em seus livros 
mais famosos, como A Era das Revoluções ou A Era dos Extremos, o legado teórico de Eric 
Hobsbawm permanece fundamental para os estudiosos desse período. Sua contribuição 
está na forma como inspirou uma historiografia crítica, comprometida com a 
compreensão das dinâmicas sociais profundas, dos conflitos de classe e das estruturas de 
poder que moldaram as sociedades antigas. Assim, seu pensamento continua a ecoar nos 
debates sobre a Antiguidade, desafiando os estudiosos a repensaresse passado com mais 
rigor e sensibilidade histórica. 
 
Martin Bernal 
 
Martin Bernal foi um acadêmico britânico que causou grande impacto no campo 
da História Antiga com a publicação de sua obra mais conhecida, Black Athena: The 
Afroasiatic Roots of Classical Civilization. Nesse trabalho, Bernal propôs uma revisão 
profunda da narrativa tradicional sobre as origens da civilização grega, sugerindo que os 
antigos gregos foram fortemente influenciados pelas culturas egípcia e fenícia. Essa tese 
se opunha frontalmente à visão predominante de uma Grécia como o berço "puro" da 
civilização ocidental, isolada de influências externas. Ao defender a presença de raízes 
afroasiáticas na formação da cultura grega, Bernal desafiou séculos de historiografia 
eurocêntrica. 
Uma das principais contribuições de Bernal foi revelar como fatores ideológicos, 
raciais e políticos influenciaram a forma como a história da Antiguidade foi construída ao 
longo do século XIX e XX. Ele argumentou que o apagamento das contribuições africanas 
e asiáticas na formação da civilização grega estava diretamente ligado a interesses 
coloniais e ao racismo científico da modernidade. Para ele, a separação rígida entre 
“Ocidente” e “Oriente” não apenas distorcia a história antiga, como também servia para 
justificar a dominação europeia sobre outros povos. Nesse sentido, Bernal abriu caminho 
para uma crítica historiográfica que ultrapassava a simples análise dos fatos e investigava 
os próprios métodos e pressupostos da História. 
 
 
30 
Outra contribuição importante de Martin Bernal foi a valorização da 
interdisciplinaridade na pesquisa histórica. Em Black Athena, ele recorreu a fontes 
arqueológicas, linguísticas, mitológicas e documentais, tentando mostrar como as 
conexões culturais entre a Grécia, o Egito e o Levante eram mais densas do que se admitia. 
Ainda que muitos especialistas tenham criticado a metodologia de Bernal, apontando 
exageros e generalizações, seu trabalho teve o mérito de reabrir o debate sobre as origens 
culturais da Grécia Antiga e de incentivar o diálogo entre diferentes áreas do 
conhecimento. 
Bernal também contribuiu para um movimento mais amplo dentro da 
historiografia antiga: a desconstrução de narrativas totalizantes e a valorização da 
diversidade cultural do Mediterrâneo antigo. Seu trabalho inspirou pesquisadores a 
revisitar temas como migração, hibridismo cultural, influência mútua entre povos e a 
complexidade dos contatos interregionais na Antiguidade. Em um momento em que os 
estudos clássicos enfrentavam questionamentos sobre sua relevância e seus vieses, Black 
Athena reacendeu o interesse crítico por esses temas, ainda que em meio a intensas 
polêmicas. 
Em resumo, Martin Bernal deixou uma marca profunda na História Antiga ao 
desafiar paradigmas estabelecidos e ao propor uma visão mais inclusiva e plural das 
origens da civilização grega. Sua obra provocou resistências, mas também impulsionou 
novos questionamentos sobre como a história é escrita e para quem ela é escrita. Ao 
colocar em evidência as conexões culturais entre África, Ásia e Europa, Bernal contribuiu 
para uma compreensão mais complexa e crítica do mundo antigo, estimulando reflexões 
que permanecem relevantes na historiografia contemporânea. 
 
Moses Finley 
 
Moses Finley foi um dos historiadores mais influentes do século XX no campo da 
História Antiga, especialmente por sua capacidade de renovar os estudos sobre a Grécia 
e Roma antigas com uma abordagem interdisciplinar. Seu trabalho se destacou pela 
maneira como uniu conceitos da sociologia, da antropologia e da economia à análise das 
sociedades antigas. Finley rompeu com a tradição positivista e descritiva, propondo uma 
 
 
31 
leitura mais crítica e estrutural das instituições clássicas. Ele se concentrou especialmente 
nas relações de poder, nas estruturas sociais e na função ideológica das práticas culturais 
do mundo antigo, contribuindo decisivamente para uma compreensão mais profunda e 
contextualizada desses períodos. 
Sua obra mais conhecida, The Ancient Economy (1973), foi um marco na 
historiografia. Nela, Finley contestou a ideia de que as economias da Antiguidade podiam 
ser interpretadas com as mesmas categorias e modelos utilizados para analisar o 
capitalismo moderno. Ele argumentava que, nas sociedades antigas, a economia era 
"embedida", ou seja, estava integrada e subordinada às normas sociais, políticas e 
culturais. Para Finley, as práticas econômicas não seguiam uma lógica de mercado como 
nas sociedades modernas, mas sim uma lógica de status, prestígio e obrigação social. Essa 
tese transformou o modo como historiadores passaram a abordar os temas econômicos 
do passado antigo. 
Outro aspecto essencial das contribuições de Finley foi seu estudo sobre a 
escravidão, a cidadania e as formas de poder. Ele dedicou grande atenção à democracia 
ateniense, aos regimes oligárquicos e à organização das cidades-estado (pólis), buscando 
compreender como essas estruturas políticas estavam vinculadas às relações sociais e 
econômicas. Sua abordagem rejeitava idealizações da democracia grega, por exemplo, ao 
evidenciar as contradições de uma sociedade que exaltava a liberdade cidadã enquanto 
mantinha uma vasta população escravizada. Essa perspectiva crítica foi fundamental para 
repensar os mitos sobre a "pureza" da civilização clássica e para propor leituras mais 
realistas e complexas. 
Finley também teve um papel relevante na difusão de métodos comparativos na 
historiografia antiga. Ele incentivou a análise da Antiguidade em diálogo com outras 
sociedades, passadas e contemporâneas, sempre considerando o papel das estruturas 
sociais e ideológicas. Suas reflexões abriram espaço para novas linhas de investigação, 
como os estudos sobre mobilidade social, exclusão política, relações familiares e sistemas 
jurídicos. Ao tratar os textos clássicos não apenas como registros factuais, mas como 
construções simbólicas e ideológicas, Finley ajudou a aproximar os estudos clássicos das 
correntes mais críticas das ciências humanas. 
Em síntese, Moses Finley revolucionou a maneira de se estudar a História Antiga 
ao introduzir uma visão mais sociológica e crítica das instituições antigas. Ele estimulou 
 
 
32 
uma leitura menos idealizada do mundo greco-romano e mais atenta às desigualdades, 
contradições e dinâmicas de poder dessas sociedades. Seu legado permanece influente 
entre os historiadores, pois ele demonstrou que a Antiguidade deve ser analisada com as 
ferramentas da crítica social e da interdisciplinaridade, e não apenas com base em 
narrativas glorificadas ou modelos anacrônicos. Finley contribuiu, assim, para que a 
História Antiga se tornasse um campo de investigação vivo, relevante e intelectualmente 
desafiador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
CONCLUSÃO 
 
A História Antiga não deve ser entendida apenas como um conjunto de eventos 
distantes no tempo ou como uma cronologia de conquistas militares e governos extintos. 
Ela representa a matriz a partir da qual as sociedades modernas foram construídas. Ao 
investigar esse período, encontramos os fundamentos das nossas instituições, das 
crenças religiosas, das ideias filosóficas e dos sistemas de organização social que ainda 
hoje influenciam o mundo em que vivemos. 
As civilizações antigas não foram homogêneas nem lineares em seus 
desenvolvimentos. Cada uma delas — seja a Mesopotâmia, o Egito, o mundo hebraico, a 
Pérsia, a Grécia ou Roma — apresentou respostas distintas aos desafios da existência 
humana. Essas respostas variaram conforme os contextos geográficos, sociais e culturais, 
revelando uma impressionante diversidade de experiências humanas ao longo da 
Antiguidade. 
Compreender essa diversidade nos permite enxergar que os caminhos da 
humanidade não são únicos nem inevitáveis. O modo como se organizaram as cidades, os 
sistemas legais,os governos e as religiões antigas mostra que sempre houve múltiplas 
possibilidades para a vida em sociedade. Esse reconhecimento pode ampliar nossa 
capacidade de pensar criticamente sobre as escolhas feitas em nossa própria época. 
Estudar a Antiguidade também é uma oportunidade de entender os mecanismos 
do poder. A concentração de autoridade nas mãos de poucos, a marginalização de 
grandes parcelas da população, o uso da religião para legitimar governos, as guerras de 
conquista e dominação — tudo isso já existia naquele tempo. Esses temas continuam 
atuais e, ao revisitá-los sob uma perspectiva histórica, ganhamos instrumentos para 
avaliar criticamente nosso presente. 
As desigualdades sociais, por exemplo, já eram profundas nas sociedades 
antigas, refletidas na divisão entre cidadãos e escravos, entre elites letradas e camadas 
analfabetas, entre homens e mulheres com direitos desiguais. Observar como essas 
estruturas foram construídas e legitimadas ajuda a compreender as raízes de muitas das 
injustiças persistentes em nossos dias e os caminhos possíveis para enfrentá-las. 
O mesmo pode ser dito das guerras e dos impérios. Os conflitos entre pólis 
gregas, as campanhas militares de Roma, as guerras de expansão da Pérsia ou as disputas 
 
 
34 
religiosas do mundo hebraico evidenciam que a violência sempre esteve presente na 
história. No entanto, também surgiram formas de diplomacia, alianças, legislação 
internacional e convivência entre diferentes culturas — práticas que inspiram reflexões 
sobre paz e cooperação no presente. 
A História, como bem lembram autores como Eric Hobsbawm, Mary Beard e 
Jean-Pierre Vernant, não é uma ciência exata, tampouco um relato imutável. Ela é um 
campo vivo, que se renova com cada geração de estudiosos. Novas descobertas 
arqueológicas, novas fontes documentais e novas metodologias interpretativas 
reformulam constantemente a visão que temos sobre a Antiguidade. 
Por isso, o estudo da História Antiga é um convite permanente à reflexão. Não 
basta memorizar datas ou nomes de reis — é preciso mergulhar nas contradições desses 
mundos passados, identificar suas vozes diversas e questionar os discursos que chegaram 
até nós. Cada narrativa histórica é também um espelho dos valores do presente que a 
reconstrói. 
Esta apostila procurou apresentar uma introdução acessível, abrangente e crítica 
ao universo das civilizações antigas. Foram abordados os principais povos, 
acontecimentos, instituições e ideias que moldaram o mundo antigo, com o intuito de 
despertar no leitor não apenas o conhecimento, mas também o interesse e o 
questionamento sobre esse passado tão rico e complexo. 
Ao destacar tanto as contribuições quanto as contradições dessas civilizações, 
buscamos mostrar que a História Antiga não é apenas um patrimônio da humanidade, 
mas um campo de debate. O legado deixado por esses povos influencia até hoje nossas 
instituições, nossos modos de pensar e agir, e nossas disputas sobre o que significa viver 
em sociedade. 
O conhecimento do passado, quando feito com rigor e abertura crítica, amplia 
nossa percepção sobre o presente. Ele nos oferece horizontes mais amplos para pensar o 
futuro. A história não nos dá respostas prontas, mas nos ensina a fazer as perguntas 
certas, a reconhecer padrões, rupturas e permanências ao longo do tempo. 
Que o estudo desta apostila sirva como ponto de partida para aprofundamentos 
futuros, leituras complementares e novos questionamentos. A Antiguidade permanece 
viva não apenas em livros ou ruínas, mas em cada gesto, ideia e valor que herdamos, 
 
 
35 
reinterpretamos e transformamos. Compreendê-la é, em muitos sentidos, compreender 
a nós mesmos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 
BEARD, Mary. SPQR – A História da Roma Antiga. São Paulo: Record, 2017. 
BOTTÉRO, Jean. A Mesopotâmia: panorama de uma civilização. São Paulo: Martins 
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KRAMER, Samuel Noah. A História começa na Suméria. São Paulo: Hemus, 1986. 
PIRÈNNE, Jacques. História do Egito Antigo. Lisboa: Estampa, 1976. 
VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
2007. 
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BRIANT, Pierre. História do Império Persa. São Paulo: Edusp, 2011. 
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