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Hipotiroidismo
Celestino Neves
Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.
Centro Hospitalar Universitário de São João.
Faculdade de Medicina. Universidade do Porto.
GLÂNDULA TIROIDEIA
T4 – tiroxina
T3 – tri-iodotironina
Células foliculares
Calcitonina
Células C
Copyright ©2005 The Endocrine Society
Surks, M. I. et al. J Clin Endocrinol Metab 2005;90:5489-5496
Data for a new subgroup from NHANES III without risk factors for thyroid dysfunction (DF-RF)
Copyright ©2005 The Endocrine Society
Wartofsky, L. et al. J Clin Endocrinol Metab 2005;90:5483-5488
Comparison of proposed new TSH ranges and clinical correlations
Manifestações Clínicas Hipotiroidismo
Fadiga
Aumento peso
Pele seca e intolerância ao
frio
Pele amarelada
Perda cabelo
Rouquidão
Bócio
Atraso relaxamento
reflexos tendinosos
Ataxia
HTA
• Obstipação
• Alterações mentais e da
memória
• Diminuição concentração
• Depressão
• Irregularidades menstruais
e infertilidade
• Mialgias
• Hiperlipidemia
• Bradicardia, hipotermia
• Mixedema
Bócio
Tiróide normal
Bócio
Qualquer aumento do volume da glândula
Classificação do Bócio – OMS
Grau 0A – Invisível, palpável mas de tamanho e consistência normal
Grau 0B – Invisível mesmo com o pescoço distendido; palpável e
ligeiramente aumentada
Grau 1 - Visível com o pescoço distendido, palpável e aumentado
Grau 2 – Visível à inspecção directa com o pescoço em posição normal,
palpação necessária apenas para confirmar a origem tiroideia da
tumefação
Grau 3 – Bócio volumoso que pode ser reconhecido à distância
Classificação do Bócio – OMS
Grau 3 Grau 2 Grau 1 Grau 0
Manifestações Clínicas
Reumatologista
Ginecologista
Oftalmologista
O. R. L.
Neurologista
Dermatologista
Psiquiatra
Cardiologista
Gastroenterologista
Ortopedista
Cirurgião
Hematologista
Nefrologista
dores, artrites
menorragia
edema ocular
surdez, rouquidão
polinevrite, alterações cerebelosas
alopecia, pele seca
perturbações mentais, psicose
isquemia, bradicardia, insuf. cardíaca
obstipação
síndrome de canal cárpico
bócio
anemia
edema dos membros e da face
Hipotiroidismo
Pele seca
Aspecto edemaciado
Rarefacção das
sobrancelhas
Mixedema periorbital.
Cabelo quebradiço.
Biondi, B. et al. Endocr Rev 2008;29:76-131
HIPOTIROIDISMO E CORAÇÃO
Sinais e sintomas de disfunção cardiovascular no hipotiroidismo
Bradicardia
Pulso de amplitude diminuída
Pele fria e pálida
Dispneia de esforço
Diminuição da tolerância ao esforço
Astenia
Apagamento dos sons cardíacos
Edemas
Derrame pericárdico / Cardiomegalia
Agravamento de doença cardíaca prévia
Causas de Hipotiroidismo
Hipotiroidismo Primário
Tiroidite crónica autoimune
Iatrogénica - Tiroidectomia, Terap. C/ Iodo131, radioterapia
ext.
Deficiência ou Excesso de Iodo
Fármacos - tionamidas, lítio, amiodarona, interferão-alfa,
interleucina-2, perclorato
Doenças Infiltrativas - tiroidite fibrosa, hemocromatose,
sarcoidose
Hipotiroidismo transitório
Hipot. congénito - agenesia, disgenesia ou def. da hormog.
Hipotiroidismo Central - Deficiência de TSH e TRH
Resistência generalizada às hormonas tiroideias
Tiroidite subaguda
A tiroidite subaguda é a principal causa de dor
tiroideia.
A sua etiologia é, provavelmente, viral.
O doente apresenta-se com astenia, febre baixa,
mialgias, faringite, edema e dor cervical severa.
A tiróide é firme, nodular e dolorosa à palpação.
Em até metade dos doentes ocorrem sintomas de
tirotoxicose.
Posteriormente pode ocorrer hipotiroidismo; contudo
em cerca de 95% dos doentes ocorre normalização da
função tiroideia.
Tiroidite subaguda
Frequentemente, a dor irradia para o ouvido,
mandíbula, tórax e região occipital.
A dor pode ser exacerbada pela mudança de posição da
cabeça, deglutição ou tosse.
Pode ocorrer parésia transitória das cordas vocais.
Em até 50% dos doentes existem sintomas de
tirotoxicose.
Esta fase tirotóxica é devida à libertação de hormonas
tiroideias dos tirócitos destruídos pelos linfócitos T
citotóxicos e é autolimitada, normalmente
prolongando-se por 2-10 semanas.
Tiroidite subaguda
O tratamento da tiroidite subaguda é sintomático.
Os anti-inflamatórios não esteróides ou salicilatos estão
indicados para controlar a dor tiroideia ligeira.
Para a dor tiroideia mais severa, doses elevadas de
glicocorticóides (ex: 40mg de prednisolona por dia
fornece alívio imediato).
As doses devem ser reduzidas após um período de 4 – 6
semanas.
Em até 20% dos doentes há recorrência da dor tiroideia
com a interrupção dos corticóides, pelo que o desmame
da corticoterapia deve ser efectuado de modo
progressivo
Tiroidite subaguda
Os bloqueadores ß controlam os sintomas de
tirotoxicose.
Os anti-tiroideus de síntese não são eficazes e
não devem ser administrados porque não existe
aumento na síntese de hormonas tiroideias.
O prognóstico a longo prazo é excelente.
O hipotiroidismo permanente é a sequela mais
importante da tiroidite subaguda,
desenvolvendo-se em menos de 10% dos
doentes.
Tiroidite granulomatosa subaguda (Quervain)
Citologia: Células gigantes multinucleadas com colóide e infiltrado
inflamatório
Tiroidite granulomatosa subaguda (Quervain)
Histologia: grande ampliação de célula multinuclear
Tiroidite subaguda
Cintigrafia ausência de captação cervical
Tiroidite de Radiação
Clínica
Dor e sensibilidade 5 a 10 dias após terapêutica com
131I
Sintomatologia - ligeira e recuperção espontânea num
período de alguns dias a uma semana
Etiologia
Necrose e inflamação das células foliculares induzida
pela radiação
Tiroidite Traumática
Clínica
Dor e tirotoxicose transitória
Etiologia
palpação vigorosa
manipulação da glândula durante a biópsia
traumatismo produzido pelo cinto de segurança
Tiroidite linfocítica subaguda
Clínica
Tirotoxicose Hipotiroidismo Recuperação “ab
initio”
1 a 10% dos casos de tirotoxicose
pode resultar de D. Auto-imune da T., interferão ,
interleucina -2
tirotoxicose de curta duração ( < 2 meses), bócio
discreto sem oftalmopatia
Diagnóstico - curva de fixação
reduzida tiroidite; elevada D. de Graves
Davies TF et al. Pathogenesis of Graves’disease. In Uptodate
Tiroidite subaguda
Evolução Clínica
F.Tirotoxicose Eutiroi
dismo
Hipoti
roidismo
F. de recuperação
Eutiroidismo
meses 2 4 6 8
T 4 e T3
T 4 e T3
Curva de Fixação
Curva de Fixação
TSH
TSH
Amiodarona
Fármaco antiarrítmico com 35% de iodo
Pode induzir 2 tipos de tirotoxicose
tipo 1 - Iodo-Basedow - bócio nodular, captação às 2 4 horas
normal ou alta; as alterações aparecem nos 1ºs meses de
terapêutica; eco-doppler tiroideu com sinal de
hipervascularização; tiroglobulina normal
tipo 2 - tiroidite - tiróide pouco aumentada; captação diminuída;
a tirotoxicose aparece mais tarde; eco-doppler com
hipovascularização, tiroglobulina e interleucina 6 elevada
Pode induzir hipotiroidismo através da acção anti-
tiroideia do Iodo
Inibe a conversão periférica de T4 em T3
Tiroidite induzida por fármacos
Tiroidite de Riedel
Este tipo de tiroidite é muito raro.
Ocorre principalmente em mulheres (F:M 3.1:1) entre os
30 e os 60 anos.
Trata-se de uma tiroidite esclerosante crónica que evolui
para a destruição completa da tiróide e frequentemente
causa sintomas de compressão a nível cervical.
Raramente, a tiroidite de Riedel está associada a
processos fibroescleróticos em diversos locais (glândulas
lacrimais, órbitas, parótidas, mediastino, pulmão,
miocárdio, retroperitoneu, ductos biliares).
Tiroidite de Riedel
O tratamento com corticóides é eficaz em muitos
casos, provavelmente naqueles em que existe
inflamação activa.
Nos doentes que não respondemà corticoterapia
ou que recidivam após a sua suspensão, o
tamoxifeno pode ser uma opção.
O tamoxifeno actua inibindo a proliferação de
fibroblastos.
A terapêutica combinada (prednisolona e
tamoxifeno) tambem é eficaz.
As doenças autoimunes da tiroide – doença de Graves e
tiroidite de Hashimoto – são caracterizadas pela reatividades
para autoantigénios, originando destruição inflamatória ou
estimulação auto-imune do recetor da TSH (thyroid-
stimulating hormone).
Davies TF et al. Pathogenesis of Graves’disease. In Uptodate
Tiroidite de Hashimoto
A tiroidite de Hashimoto é a
doença autoimune específica de
órgão mais frequente.
Pode surgir como tireoidite auto-
imune com bócio ou tiroidite auto-
imune atrófica.
Há perda gradual de 5% da
função da tiroide por ano, com
evolução para hipotiroidismo.
Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams Textbook of
Endocrinology
Tiroidite de Hashimoto
Infecções, fármacos, ou outros factores podem activar os
linfócitos T helper auto-reactivos.
A expressão de Fas nas células da tiróide pode originar
apoptose pela expressão de Fas-L nas próprias células ou a
apoptose pode resultar do ataque dos linfócitos Th1 armados
com Fas-L.
O resultado é a destruição dos folículos da tiróide e
proliferação dos linfócitos T.
Tiroidite de Hashimoto
Aproximadamente 10% das mulheres e 5%
dos homens com função tireoideia normal
têm anticorpos anti-TPO ou anti-Tg.
Embora alguns destes indivíduos
desenvolvam destruição dos folículos
tireoideus e hipotireoidismo, a maioria
permanece com função tireoideia normal.
Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams Textbook of Endocrinology
Tiroidite de Hashimoto
A tireoidite de
Hashimoto é
caracterizada por
infiltração
linfocítica da
tiróide, produção
de anti-TPO
(peroxídase) e
antitiroglobulina
(anti-Tg) e
destruição auto-
imune da tiróide.
Specimen of Thyroid Obtained by Fine-Needle Aspiration
Biopsy in a Patient with Chronic Autoimmune Thyroiditis,
Showing a Clump of Oxyphilic Thyroid Follicular Cells
Surrounded by Lymphocytes (Papanicolaou's Stain, x600)
•Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams Textbook of
Endocrinology; 2008
Tiroidite Autoimune
Infiltração
linfocítica da
tiroide por células
B e células T
citotóxicas, com
formação de
centros germinais
linfoides.
Tiroidite de Linfocítica (Hashimoto)
Tiróide de tamanho normal ligeiramente hipoecogénica e de aspecto heterogéneo
Tiroidite Linfocítica
Cintigrafia : bócio difuso com captação diminuída
Hipotiroidismo subclínico
TSH moderadamente elevado (outras causas de TSH elevado
excluídas)
T4 e/ou T4 L Normal
Sem sintomas de hipotiroidismo
Alterações ligeiras dos lípidos plasmáticos
Risco de progressão de hipotiroidismo subclínico
a hipotiroidismo clínico
Anticorpos antitiroideus positivos
>> TSH
Os doentes podem permanecer
assintomáticos durante muitos anos,
podendo desenvolver sintomas de
hipotiroidismo somente após destruição
avançada da tiróide.
Biondi, B. et al. Endocr Rev 2008;29:76-131
Terapêutica
Hipotiroidismo clínico confirmado
bioquimicamente
Tiroidite linfocítica crónica
Tratamento com levotiroxina 1-2μg/kg
Início da levotiroxina: gradual
Tiroidite Pós-Parto
No período pós-parto as alterações imunes associadas à
regulação diferencial das respostas Th1 e Th2
favorecem a resposta Th1, que está associada à recidiva
de várias doenças autoimunes.
Adams KM, Nelson JL. JAMA 291:1127-1131, 2004.
Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams Textbook of Endocrinology
Autoimunidade tiroideia na gravidez
Tiroidite Pós-Parto (TPP)
A TPP é caracterizada pelo
desenvolvimento de
disfunção da tiroide
hipertiroidismo,
hipotiroidismo, ou ambos
no período pós-parto, em
mais de 50% das 10% de
mulheres que têm
anticorpos anti-TPO no
início da gravidez.
As restantes 50% de
mulheres com anticorpos
anti-TPO permanecem
eutiroideias no pós-parto.
Rotondi, M. et al. Endocr Rev 2007;28:492-520
Clínica da TPP
Em cerca de um terço das doentes com TPP surge o
padrão trifásico clássico de disfunção tiroideia
tirotoxicose, hipotiroidismo e recuperação.
O hipotireoidismo pós-parto ocorre em 10% das
mulheres com TPP.
Pearce EN, N Engl J Med 348: 2646-2655, 2003.
Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams Textbook of Endocrinology
Evolução Clínica da TPP
Há uma probabilidade de
70% de recorrência
numa gravidez
subsequente.
Em 25-50% das mulheres
com TPP, pode surgir
hipotiroidismo
permanente no intervalo
de 5-7 anos após o parto.
Premawardhana LD, et al. J Clin
Endocrinol Metab 85: 71-75, 2000
Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams
Textbook of Endocrinology; 2008
Evolução Clínica da TPP
As doentes que
recuperam a normalidade
da função tireoideia
devem ser avisadas, que,
após um primeiro
episódio de TPP, há uma
probabilidade de 70% de
recorrência numa
gravidez subsequente.
Premawardhana LD, et al. J Clin
Endocrinol Metab 85: 71-75, 2000
Brent GA, et al. In Kronenberg :
Williams Textbook of Endocrinology
Consequências Adversas nos
Descendentes
Hipotiroidismo na
gravidez ligeiro a
moderado afeta
adversamente o
desenvolvimento
neuropsicológico do
recém-nascido.
Morreale de Escobar G, et al. J
Clin Endocrinol Metab 85:
3975–3987, 2000.
Brent GA, et al. In Kronenberg :
Williams Textbook of Endocrinology
Causas de Hipotiroidismo Congénito e
frequência aproximada
Causa
Agenesia da Tiróide - ectopia, aplasia ou hipoplasia
Erros inatos da síntese da tiroxina (disormonogénese)
Hipotiroidismo mediado por Atc maternos
Hipotiroidismo Central
Hipotiroidismo transitório
Europa - carência de Iodo
América do Norte - Tiroidite auto-imune, excesso Iodo
Deficiência de TBG - causa T4 sérico baixo sem hipotiroidismo
Frequência
1:4.500
1:30.000
1:25. a 1:100.
1:25. a 1:100.
1: 100
1:50.000
1: 4300
Agenesia da tiroide
Pequeno grupo de células dipersas na
gordura pré-traqueal ( imunocitoquímica
para calcitonina)
Recém-nascido com agenesia da tiroide
Hipotiroidismo congénito
A prevalência do
hipotiroidismo congénito
em Portugal é de 1/3200
recém nascidos.
O diagnóstico tardio da
doença conduz a atraso
mental grave
irrecuperável e a
alterações neurológicas
irreversíveis.
Hipotiroidismo congénito
O prognóstico mental
depende da idade de
início da terapêutica,
sendo mais grave em
crianças com agenesia
da tiróide que
representa 15% dos
casos totais de
hipotiroidismo
congénito.
Tratamento do Hipotiroidismo
Levotiroxina sódica
Dose inicial no adulto: ~ 0,05 mg/dia; aumente
0,025 mg/dia com intervalos de algumas
semanas
Dose de manutenção habitual: 0,2 mg/dia: má
resposta a 0,3 mg/dia falta de adesão
Dose pediátrica recomendada: 0-6 m de idade:
0,008 -0,01; 6-12 m: 0,006-0,008; 1-5 a. 0,005-
0,006; 6-12 a. : 0,004-0,005 mg/Kg/dia
Coma Mixedematoso
O diagnóstico e tratamento de
doenças da tiroide em situações de
emergência pode ser
extremamente difícil.
Nos doentes com hipotiroidismo
primário (o coma mixedematoso
constitui a apresentação extrema) é
de esperar que os níveis de T4 e T3
estejam baixos e as concentrações
de TSH estejam elevadas.
Todavia, nas situações de doença
grave não tiroideia, o aumento de
TSH pode estar ausente.
http://www.endocrinetext.com
Coma Mixedematoso
Tratamento com hormonas da
tiroide e.v.
dose de 300 a 500 μg e.v. de T4
para restaurar cerca de 50% dos
níveis circulantes, seguida de 50 a
100 μg e.v., até iniciar a medicação
oral.
http://www.endocrinetext.com
Hipertiroidismo
Celestino Neves.
Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.
Centro Hospitalar Universitário de São João.
Faculdade de Medicina.
Universidade do Porto.
• Asdoenças autoimunes da tiroide – doença de Graves e
tiroidite de Hashimoto – são caracterizadas pela reatividades
para autoantigénios, originando destruição inflamatória ou
estimulação autoimune do recetor da TSH (thyroid-stimulating
hormone).
• John H. Lazarus. In De Groot. Endocrinology, 6th Edition, Chapter 83 -
Chronic (Hashimoto's) Thyroiditis, 2011
• A doença de Graves é caracterizada pela produção de
TRAb (antibody against receptor for TSH), que
– estimula o recetor da TSH,
– origina hipertiroidismo e bócio.
Doença de Graves
• Robert Graves, 1835
• Doença autoimune
– hipertiroidismo
– bócio
– oftalmopatia
– dermopatia (mixedema pré-tibial ou localizado)
• 60-80% dos casos de hipertiroidismo
• Davies TF et al. Pathogenesis of Graves’disease. In Uptodate.
• A autoimunidade para o recetor pode ser causada por
antigénios víricos com homologia para o recetor da TSH
(mimetismo molecular).
• Autoanticorpos atuam como agonistas da TSH,
estimulando a produção de T3 e T4.
Doença de Graves
• Incidência de 4/10.000 por ano.
• Mais frequente no sexo
feminino (7:1).
• Concordância de 20-35% em
gémeos monozigóticos e de 2–
7% nos dizigóticos.
• O risco está aumentado 11,6
vezes em familiares directos.
• Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams
Textbook of Endocrinology
• A susceptibilidade genética da doença de Graves está associada ao
HLA-DR3, com um odds ratio de 2–3.
• Esta susceptibilidade é conferida pela presença de arginina na posição
74 da cadeia ß1do HLA-DR.
• Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams Textbook of Endocrinology
• Na presença de um meio imunogenético permissivo e com um estímulo ambiental
apropriado, os linfócitos autorreactivos atacam antigénios da tiroide.
• A tiroide liberta antigénios, como o TSHR (thyroid-stimulating hormone receptor), a
TG (tiroglobulina) e a TPO (thyroid peroxidase).
• A libertação de antigénios amplia a ativação de linfócitos autorreactivos,
aumentando a resposta imune celular e humoral contra os antigénios da tiróide.
• Davies TF et al. Pathogenesis of Graves’disease. In Uptodate.
Model of the Initiation of Thyrotropin-Receptor Autoimmunity in
Graves' Ophthalmopathy and Its Consequences.
• A failure of T cells to tolerate the
thyrotropin receptor, for unknown
reasons, allows for the
development of autoimmunity
directed against this receptor.
• The thyrotropin receptor is
internalized and degraded by
antigen-presenting cells that
present thyrotropin-receptor
peptides, in association with major
histocompatibility complex
(MHC) class II antigens, to helper
T cells.
Bahn R. N Engl J Med 2010;362:726-738
Model of Interactions between Orbital Fibroblasts and the Autoimmune Process
Leading to the Tissue Changes Characteristic of Graves' Ophthalmopathy
• When activated by anti-thyrotropin-receptor
antibodies, a subgroup of orbital fibroblasts
(termed preadipocytes) begins to differentiate
into adipocytes with increased thyrotropin-
receptor expression, while others bearing the
antigen Thy-1 are stimulated by cytokines,
including interferon-{gamma} and tumor
necrosis factor (TNF), to increase their
production of hyaluronan.
• Similarly, stimulation of the insulin-like
growth factor receptor (IGF-I receptor)
expressed on orbital fibroblasts results in the
secretion of the chemokines, interleukin-16 and
RANTES (regulated upon activation normal T-
cell expressed and secreted), which enhance
recruitment of activated T cells and other
mononuclear immune cells into the orbit.
Bahn R. N Engl J Med 2010;362:726-738
Oftalmopatia de Graves
• Os antigénios com reatividade cruzada tiroide-olho, como o TSHR,
ativam a resposta imune na órbita.
• Há um infiltrado de células inflamatórias nos músculos
extraoculares e no tecido conjuntivo da órbita, composto
predominantemente por linfócitos T ativados.
• Brent GA, et al. In Kronenberg : Williams Textbook of Endocrinology
Histologic Appearance of Extraocular Muscle in
Graves' Ophthalmopathy (Hematoxylin and Eosin)
• The focal and
perivascular interstitial
inflammatory
mononuclear cell
infiltrate is in close
association with intact
striated extraocular
muscle fibers widely
separated by amorphous
granular material.
Bahn R. N Engl J Med 2010;362:726-738
• Os pré-adipócitos diferenciam-se em adipócitos,
expressando níveis elevados de TSHR.
• As citocinas produzidas activam os fibroblastos,
estimulando a produção de glicosaminoglicanos
(hialuronato e sulfato de condritina) e originando
edema e fibrose.
• Neves C et al. Graves' disease. ARQUIVOS DE MEDICINA 2008, 22(4/5):137-46
Manifestações da Doença de Graves
• Bócio Difuso
palpável (glândula
firme)
– ~ 90% (menos de
50 anos)
– 75% dos idosos
apresentam essa
manifestação
– Fatourechi , et al. . J. Clin. Endocrinol.
Metab. 2002; 87: 5435 - 5441.
Manifestações da doença de Graves
• Oftalmopatia
• Dermopatia
• Acropatia
Oftalmopatia de Graves
• Edema dos músculos oculares
• Proliferação do tecido conjuntivo retro-ocular
• Celestino Neves et al. Graves' disease. ARQUIVOS DE MEDICINA 2008, 22(4/5):137-46
Oftalmopatia de Graves
• Exoftalmia (proptose)
– em até um 1/3 dos
doentes
– diplopia em 5-10%
• Compressão do nervo
óptico no ápex da
órbita e perda visual
Celestino Neves et al. Graves' disease. ARQUIVOS DE MEDICINA 2008, 22(4/5):137-46
Patients with Graves'
Ophthalmopathy
• Panel A shows a 59-year-old woman
with excess proptosis, moderate eyelid
edema, and erythema with moderate
eyelid retraction affecting all four
eyelids.
• Conjunctival chemosis (edema) and
erythema with bilateral edema of the
caruncles, with prolapse of the right
caruncle, are evident.
• Panel B shows a 40-year-old woman
with excess proptosis, minimal bilateral
injection, and chemosis with slight
erythema of the eyelids. She also had
evidence, on slit-lamp examination, of
moderate superior limbic
keratoconjunctivitis.
Bahn R. N Engl J Med 2010;362:726-738
Oftalmopatia de Graves
• Fatores ambientais
– Tabagismo
• Maior produção de glicosaminoglicanos pelos fibroblastos
orbitários quando cultivados em condições hipóxicas.
• Menor concentração do antagonista do recetor da IL-1 em
fumadores com oftalmopatia de Graves relativamente aos não
fumadores.
• Em fumadores os efeitos pró-inflamatórios e fibrogénicos da IL-1
estão menos inibidos.
• Cawood, T. J., et al. (2007). Smoking and Thyroid-Associated Ophthalmopathy: J.
Clin. Endocrinol. Metab. 92: 59-64.
• Menconi, F., et al. (2007). J. Clin. Endocrinol. Metab. 92: 1653-1658.
• Celestino Neves et al. Graves' disease. ARQUIVOS DE MEDICINA 2008,
22(4/5):137-46.
Dermopatia de Graves
• Dermopathy was
classified into one
of the following
four forms:
– nonpitting edema
accompanied by
typical skin color
changes,
– plaque,
– nodular,
– elephantiasic.
• Schwartz KM, et. al. J.
Clin. Endocrinol. Metab.
2002, 87:438-446
Mixedema pré-tibial
• Caracteriza-se por:
– infiltração linfocítica
na derme
– acumulação de
glicosaminoglicanos
– edema
Celestino Neves et al. Graves' disease. ARQUIVOS DE MEDICINA 2008, 22(4/5):137-46
Mixedema pré-tibial
• Ocorre em 1-2%
• Ratio feminino :
masculino 3,5:1
• Localização pré-tibial
– noutras localizações,
especialmente após
traumatismo
• Quase sempre na presença
de oftalmopatia severa
Acropatia
•Rare thyroid acropachy
in a patient with Graves’
disease.
•The hypermetabolic
state leads to
•axial bone
destruction,
•secondary to
enhanced osteoclast
activity.
Diagnóstico
• Hipertiroidismo
– ↓TSH, ↑T4 livre, ↑T3 livre
– Em fases mais
precoces poderá haver
apenas subida da
triiodotironina (T3) em
associação à TSH
suprimida– Oftalmopatia e
dermopatia confirmam
o diagnóstico
• Outras doenças auto-
imunes associadas à
DG:
– diabetes tipo 1
– doença de Addison
– Vitiligo
– anemia perniciosa
– alopécia areata
– miastenia gravis
– doença celíaca.
Celestino NEVES, Marta ALVES, Luís DELGADO, José Luís MEDINA. Graves' disease. ARQUIVOS DE MEDICINA 2008, 22(4/5):137-46
Marta ALVES, Celestino NEVES, Luís DELGADO, José Luís MEDINA. THYROID ASSOCIATED ORBITOPATHY. Acta Med Port. 2010; 23(5)
Diagnóstico
Anticorpo Antirrecetor da TSH
• Doseamento de anticorpos anti-rTSH (TRAb)
– estimulantes ou bloqueadores
– Hipertiroidismo: o resultado traduzirá a presença de
anti-rTSH estimulantes
• Anti-rTSH estimulantes: quase sempre positivos
– A detecção é diagnóstica para DG
– Concentração sérica é muito baixa e, por isso,
indetectável em alguns indivíduos
• Davies TF et al. Pathogenesis of Graves’disease. In Up to date, 2006.
• Menconi, F., et al. (2007). J. Clin. Endocrinol. Metab. 92: 1653-1658.
• Celestino NEVES, Marta ALVES, Luís DELGADO, José Luís MEDINA. Graves' disease.
ARQUIVOS DE MEDICINA 2008, 22(4/5):137-46.
• Marta ALVES, Celestino NEVES, Luís DELGADO, José Luís MEDINA. THYROID
ASSOCIATED ORBITOPATHY. Acta Med Port. 2010; 23(5).
Diagnóstico
• Cintigrafia tiroideia
– útil na diferenciação das causas
de hipertiroidismo
– captação de iodo difusamente
aumentada na doença de
Graves
• TAC/RMN orbitária
– avaliação da proptose,
particularmente quando
unilateral
• despiste de tumor retrobulbar,
malformação arteriovenosa
ANTITIROIDEUS DE SÍNTESE
Propriedade Metimazol Propiltiouracilo
Potência relativa > 10 1
Via administração p.o. p.o.
Absorção quase completa quase completa
Lig proteínas Negligível 75%
Semi-vida (h) 4-6 1-2
Duração ação (h) >24 12-24
Passagem placenta Baixa Mais baixa
Níveis no leite Baixo Mais baixos
Inib. Desiodinase Não Sim
Cooper D. Antithyroid drugs. NEJM 2005; 352:905-17
ANTITIROIDEUS – efeitos laterais minor
Efeito lateral Frequência
estimada
Comentários
Manifestações cutâneas 4-6% Reacções urticariformes ou maculares
Artralgias 1-5% Pode indiciar artrite mais grave
Ef. gastrintestinais 1-5% Naúseas, intolerância gástrica
Alt. paladar ou cheiro Raro Apenas com o metimazol
Sialadenite Mtº rara Metimazol
Cooper D. Antithyroid drugs. NEJM 2005; 352:905-17
ANTITIROIDEUS – efeitos laterais major
Efeito lateral Frequência Comentários
Poliartrite 1-2% Sindrome artrite de antitiroideus
Vasculite ANCA + Rara + ANCA em doentes com D. Graves não
tratada e medicados com ATS,
especialmente PTU
Agranulocitose 0,1-0,5% Pode ocorrer leucopenia ligeira na D.
Graves, pode ser + comum com PTU
Outras alt hematológicas Mt. raras Trombocitopenia; Anemia aplásica
Hepatite imunoalérgica 0,1-0,2% Quase exclusiva com PTU
Colestase Rara Exclusivamente com metimazol
Hipoprotrombinemia Rara Apenas com PTU
Hipoglicemia Rara Apenas com metimazol
Pancreatite Mt rara Apenas 1 caso reportado
Cooper D. Antithyroid drugs. NEJM 2005; 352:905-17
ANTITIROIDEUS DE SÍNTESE
• PTU (Propycil®);
– dose inicial: 100 mg, 3x/d
• MMI (Metibasol ®)
– dose inicial: 15-30mg, 1x/d
• Indicações
– Tx de longa duração em doentes com primeiro
episódio de hipertiroidismo, com expectativa de
remissão longa ou permanente
– Tx de curta duração (1 a 3 meses) prévia a tx
definitiva
– Durante a gravidez ou lactação
– Período neonatal ou infância
D. GRAVES
Fatores que favorecem remissão a longo prazo após tratamento
com ATS
• Toxicose por T3
• Bócio pequeno
• Redução de bócio com tratamento
• Função tiroideia normal e TSH normal.
• TRAbs pouco elevados; normalização.
TERAPÊUTICA COM IODO RADIOATIVO
• Geralmente doses fixas : 5 a 15mCi
• Contraindicado em mulheres grávidas ou a amamentar
• Evitar gravidez nos 6 meses após terapêutica
• Pode agravar oftalmopatia, pp/ em fumadores
• Efeitos laterais
– Hipotiroidismo (10-30% nos 2 anos após a terapêutica com 131I; depois
5% /ano)
– Tiroidite por radiação (doses + altas, bócios grandes)
– Risco de cancro (crianças)
CIRURGIA NA D. GRAVES
• Indicações possíveis
– Bócios de grande volume
– Opção do doente
– Mulheres grávidas com intolerância aos ATS
– Infância e adolescência, em alternativa à terapêutica
médica
• Riscos cirurgia
– Paralisia das cordas vocais
– Hipoparatiroidismo permanente
– Hipotiroidismo permanente
BÓCIO MULTINODULAR TÓXICO
• 2ª causa mais comum de hipertiroidismo
• Causa mais frequente depois dos 60 anos
Cintigrafia tiroideia 131I ou 99mTc
Hipertiroidismo manifesto ou subclínico
Bócio multinodular
FT4 , FT3 TSH
ADENOMA TÓXICO
TRATAMENTO
• Iodo radioativo
– Seguro, barato, eficaz
– Risco hipotiroidismo a longo-prazo
• Cirurgia
– Eficácia
– Riscos cirúrgicos, cicatriz, custo
• Injeção percutânea de etanol
– Eutiroidismo 65-85% 1 ano pós tratº
– Injeções semanais 2-12 x
– Bem tolerado
– Resultados menos favoráveis se volume
nódulo > 15 ml
Adenoma tóxico do L.E.
Cintilograma com Tc 99m
AMIODARONA
Conteúdo em iodo elevado: 37,2%
Fenómeno Jod-Basedow
• Hipertiroidismo induzido por iodo.
• Mais comum em doentes com patologia tiroideia pré-
existente (b. nodular, raramente t. normal).
• Suspeitar: hipertiroidismo após exposição a iodo em
excesso (a fonte pode ser difícil de identificar- meios de
contraste, xaropes …).
• T4 livre mais elevado que a T3 livre.
• Mais frequente em áreas deficientes em iodo com maior
prevalência de bócio nodular.
• Tratamento difícil - grande armazenamento de hormona
pré-formada. Corticoides, perclorato e antitiroideus.