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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 ENVELHECIMENTO ................................................................................... 4 
3 O IDOSO E O ENVELHECIMENTO, PROCESSO DE TRANSIÇÃO 
DENTRO DO CONTEXTO PSICANALITICO .............................................................. 5 
4 O ENVELHECIMENTO É DIVIDIDO EM BIOLÓGICO E PSÍQUICO ....... 11 
5 Hipóteses para o envelhecimento do Sistema Nervoso (SN) ................... 26 
6 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO .... 31 
7 PRINCIPAIS DE DEMÊNCIAS NA FASE DE ENVELHECIMENTO ......... 35 
8 FRAGILIDADE FÍSICA E O ENVELHECIMENTO .................................... 64 
8.1 Aspectos neuropsicológicos do envelhecimento ................................ 66 
8.2 Pseudodemência depressiva ............................................................. 68 
8.3 Aspectos Neurobiológicos da Depressão ........................................... 69 
8.4 Depressão e funções cognitivas ......................................................... 71 
9 ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA ........................................ 71 
9.1 Envelhecimento e envelhecimento ativo ............................................ 74 
9.2 Qualidade de vida: física, psicológica, social e ambiental .................. 77 
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 79 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 ENVELHECIMENTO 
Para Moraes & Lima (2010 apud DANI A; 2012), o envelhecimento representa 
o conjunto de consequências ou os efeitos da passagem do tempo. Todos os sistemas 
fisiológicos principais são afetados biologicamente, podendo ser considerado como a 
involução morfofuncional. Entretanto, esta involução não impede que a pessoa se 
mantenha ativa, independente e feliz. Do ponto de vista psíquico, representa a 
conquista da sabedoria e da compreensão plena do sentido da vida. 
Este processo do envelhecimento humano se dá em três níveis diferentes: 
biológico, psicológico e social. O envelhecimento biológico envolve 
mudanças fisiológicas, anatômicas, bioquímicas e hormonais, 
acompanhadas de gradual declínio das capacidades do organismo, 
causando mais fragilidades no organismo às agressões externas e internas. 
Há evidências de que o envelhecimento é de natureza multifatorial e ligada à 
programação genética e das alterações que ocorrem em nível celular-
molecular (Moraes et al.; 2010 apud DANI A; 2012). 
No processo do envelhecer, tanto normal quanto patológico, as funções 
executivas tendem a ficar prejudicadas. As alterações destas funções ocorrem de 
modo gradual e lento até os 60 anos, sendo considerado normal, tornando-se mais 
aceleradas a partir dos 70 anos. Segundo Ramos et al., (1993 apud DANI A; 2012), 
embora a grande maioria dos idosos, pelo menos uma doença crônica, não são todos 
que ficam limitados por essas doenças, e muitos levam vida perfeitamente normal, 
com as suas enfermidades controladas. 
Moraes e Lima (2010 apud DANI A; 2012) consideram que as deficiências 
funcionais vão surgindo de maneira insidiosa no decorrer da vida, sendo apontada por 
senescência, sem comprometer as decisões, a organização e o planejamento de 
atividades rotineiras, não devendo ser considerado patologia. 
O envelhecimento psicológico transparece pelos comportamentos das pessoas 
em relação a si próprias ou aos outros, ligados a mudanças de atitude e limitações 
das capacidades em geral, levando a inadequações, readaptações e reajustamentos 
dos repertórios comportamentais, face às exigências da vida. O envelhecimento social 
está associado às normas ou eventos sociais que é regido, por um critério de idade, 
como casamento e aposentadoria, conforme DANI A; (2012). 
 
 
5 
 
Estes três níveis de envelhecimento não tem uma ordem exata quanto ao seu 
aparecimento. Kristensen 2006 apud DANI A; (2012) coloca que entender o 
envelhecimento a partir da sexta década de vida como atribuiu a O.M.S. seria um 
equívoco; porque ele está se processando durante a existência da pessoa. Por conta 
deste processo, enquanto um adolescente está maturando, paralelamente está 
ocorrendo o envelhecimento de certos sistemas do seu corpo, envelhecimento este 
que só irá parar com a morte, conforme DANI A; (2012). 
3 O IDOSO E O ENVELHECIMENTO, PROCESSO DE TRANSIÇÃO DENTRO DO 
CONTEXTO PSICANALITICO 
 
Fonte: homecareidosos.com 
O desenvolvimento humano é um processo que dura à vida toda e que está 
sempre em constante evolução e este, continuará até o fim da vida. Desta forma, 
Papalia (2012 apud ROQUE C; 2017) apresenta oito períodos do desenvolvimento 
humano que são: período pré-natal (da concepção ao nascimento); primeira infância 
(do nascimento aos 03 anos); segunda infância (03 a 06 anos); terceira infância (06 a 
11 anos); adolescência (11 aproximadamente a 20 anos); início da idade adulta (20 a 
40 anos); vida adulta (40 a 65 anos) e a vida adulta tardia (65 anos em diante). 
Sendo assim, é possível dizer que o desenvolvimento humano se dá de forma 
diferente de pessoa para pessoa e que, nesse contexto, considera-se as várias 
características herdadas, os fatores ambientais ou experiências que afetam ou que 
vêm ajudar no desenvolvimento, principalmente, quando se tratam do contexto 
familiar, vizinhança, nível socioeconômico, cultura e raça, entre outros fatores. O 
 
6 
 
envelhecimento é um fenômeno comum aos seres vivos, ou seja, é um processo 
natural da vida, que traz ao longo dos anos alterações sofridas pelo organismo sendo 
normal para esta fase e esse processo vai do nascimento até a morte, conforme 
ROQUE C; (2017). 
 Papalia diz que, o envelhecimento é caracterizado como sendo um processo 
dinâmico, gradual, progressivo e inevitável, no qual interagem múltiplos 
fatores biológicos, psíquicos e sociais. Portanto, é possível dizer que esses 
fatores são visivelmente identificados, isso pelo declínio da saúde e das 
capacidades da pessoa, afetando aspectos funcionais, tais como: a memória, 
inteligência, fatores sensoriais que acarretam em alguns problemas físicos, 
psíquicos. (Papalia 2012, apud Roque Candice; 2017). 
Entretanto, o idoso busca alternativas para compensar esses problemas que 
os enfrentam, com o objetivo de aproveitar mais e melhor o seu tempo, visam 
estratégias para enfrentar perdas pessoais e não cair em adoecimento, tentam 
relações mais carinhosas e tentam encontrar apoio nas relações familiares e com 
amigos para superar essa etapa. Neste sentido, é oportuno pontuar a origem da 
palavra idoso, conforme ROQUE C; (2017). 
Esta vem do latim “vetulus” e que significa “remoto, antigo, idoso, antiquado, 
gasto pelo uso”. No Dicionário Escolar: língua portuguesa (2015 apud ROQUE C; 
2017), a palavra idoso quer dizer, que tem muitos anos, senil, velho. Assim, a palavra 
envelhecernos mostra: tornar velho, aparentar velhice ou fazer que pareça velho, 
tornar-se arcaico ou inútil, apagar-se, obliterar-se. 
Na visão de Perestrello (2004 apud ROQUE C; 2017), o significado da palavra 
velho, envelhecer, envelhecimento veio sofrendo alterações e, além dos sentidos 
preconceituosos esse termo também devido essas alterações teve os ganhos. A 
palavra velho vem a ser substituída pela palavra ancião que se entende por uma 
pessoa de sabedoria. Dessa forma, a palavra envelhecimento passa a ser um 
processo. 
Já a Organização Mundial da Saúde (OMS), (2002 apud ROQUE C; 2017) 
define idoso como aquele indivíduo com 60 anos de idade ou mais. Limite este, válido 
para os países em desenvolvimento como o Brasil, pois nos países desenvolvidos 
admite-se um ponto de corte de 65 anos de idade. Sendo assim, Papalia (2012 apud 
ROQUE C; 2017) destaca que o envelhecimento também é conceituado como um 
processo progressivo, onde ocorrem modificações funcionais, morfológicas, 
bioquímicas e psicológicas, determinando a perda da capacidade de adaptação do 
 
7 
 
sujeito e o meio-ambiente. Sua marca principal é o declínio, geralmente físico, levando 
a alterações sociais e psicológicas. 
A velhice ou envelhecimento é um processo natural. Segundo a mesma autora, 
pode-se definir que com a chegada da velhice observa-se que muitas mudanças 
ocorrem no corpo físico. Essas mudanças como: lentidão, fraqueza, diminuição do 
tamanho e outras situações e funções podem causar certo impacto nas pessoas. 
Essas transformações são praticamente inevitáveis. Elas têm grande influência 
quando relacionadas ao trabalho, vida pessoal, no lar, na saúde, tornando-se uma 
preocupação central em termos de inquietação, tempo e dinheiro. É importante dizer 
que envelhecer é um processo de mais uma etapa da vida, uma vez que, em cada 
fase/etapa da vida tem-se algo para vivenciar, aprender e desenvolver e assim acabar 
por elaborar as diversas formas de encarar os problemas, questões e experiências 
vivenciadas, conforme ROQUE C; (2017). 
Portanto, o sujeito acaba agindo por repetição na maioria das vezes, uma 
lembrança que está associada ao esquecimento, não estando relacionada 
exatamente com o fato. Assim “[...] repetir e recordar não são formas de reprodução” 
afirma (MUCIDA, 2017 apud ROQUE C; 2017). Existe uma insistência por parte da 
repetição e que o inconsciente não resiste, tentando passar pelo recalque. Entretanto, 
como essa reprodução está barrada pelo recalque, ela guarda uma cota do fracasso. 
Isto é, uma satisfação pulsional. 
Ela traz algo de diferente e de igual, traçando formas de recordações, traços, 
determinando a forma de gozar. Seja a repetição da ordem da falta, algo que está por 
trás do que se repete uma perda do gozo, ou seja, o destino de uma pessoa se repete 
pela sua própria escolha, que ela mesma arranja e que se determina pelas influências 
infantis. No idoso, essa repetição coloca-se através do passado e que busca retornar, 
seja na sua infância ou seu passado, a busca por algo do que recorda, conforme 
ROQUE C; (2017). 
Dessa forma, o idoso envelhece da sua maneira e que não é um 
envelhecimento natural e passa a ser bastante particular, onde cada um inscreverá a 
sua forma de gozar. Conforme Golfarb (2009 apud ROQUE C; 2017), quando o idoso 
sofre com as mudanças advindas do tempo cronológico, mudanças como: rugas, 
cabelos brancos, doenças degenerativas, entre outras, são muito significativas e que 
vem a questionar a imagem narcísica de potência. Por isso, quando o idoso fala do 
 
8 
 
seu corpo, nesse sentido, ele está falando de sofrimento, de um corpo que igualmente 
continua vivo, desejante, porém, um corpo que não o serve mais de instrumento. 
Ainda conforme Golfarb (2009 apud ROQUE C; 2017), a constituição do Eu, ou 
confirmação de identidade é a primeira experiência do espelho positivo como ponto 
importante para o sujeito. Já no espelho negativo, as perdas físicas, a velhice e finitude 
confirmam-se nesse instante. Então, assiste-se à aproximação da velhice nessa 
forma. Assim, o psiquismo deverá trabalhar mecanismos para elaboração de 
aceitação desse novo corpo em forma avançada. No entanto, entende-se que o tempo 
de vida se dá entre o nascimento e a morte. 
De acordo ROQUE C; (2017), esses tempos medidos ou cronológicos quase 
não se têm a ver com o que foi vivido ou subjetivo, mas aí se encontra o sujeito que 
envelhece, que começa a contar e relatar o que resta para viver e ainda consegue 
planejar com o que está ou pode vir. Essa percepção de passagem da vida e que se 
sujeita a mudanças entende-se por tempo psicológico. Como o estádio do espelho é 
um momento de reconhecimento do sujeito, é através do espelho também que o idoso 
não se reconhece. Dessa forma: 
A velhice é um território desconhecido e particular a cada um. O homem 
vivencia a passagem do tempo com espanto, surpresa, desconcerto. É uma 
experiência inédita. Ele não reconhece em si as metamorfoses advindas, 
passo a passo, com a senescência. Reconhece-as no outro, é o outro que 
envelhece. Mas, com surpresa, não mais que de repente, ele vê sua velhice 
no olhar do outro, que tal como um espelho lhe retorna aquele “estrangeiro” 
em que se tornou. (PERES, 2004, apud ROQUE CANDICE; 2017). 
Devido a esses contrastes entre passado e presente, tornar-se-ia insuportável 
para alguns idosos o fato dessas subtrações como a falência do corpo, a imagem, 
confiança, desinteresse. Então, essa relação narcísica como pontuada por Peres 
(2004 apud ROQUE CANDICE; 2017): “ ama-se a si mesmo, a seu corpo ou sente 
repulsa e desgosto pela atual imagem”. Consequentemente, o idoso que não aceita o 
envelhecimento, vai evitar o contato com o espelho que irá lhe devolver a imagem de 
um corpo que não quer. 
Sobre as mudanças na velhice, pode-se dizer que não somente as doenças 
acometem os idosos, mas, alguns buscam por envelhecer de forma mais saudável, 
assim vivem suas vidas de forma positiva, buscando manter-se em constante vida 
ativa. De acordo com Papalia (2012 apud ROQUE CANDICE; 2017), estudos revelam 
que, atualmente, a expectativa de vida das pessoas é de 75 anos, isso porque os 
 
9 
 
idosos vêm tendo um padrão de vida muito melhor e foram muitas as vitórias sobre as 
doenças infecciosas com as medicações e vacinas. 
Com isso, a expectativa de vida sendo maior, tem-se um impacto sobre a 
sociedade. Com o aumento da percentagem de idosos na população, aumenta-se a 
necessidade de serviços para essa categoria, como cuidados médicos, seguro social, 
habitação, lazer e assim por diante. A expectativa de vida se entende por idade 
máxima que a pessoa possivelmente aproxima-se, considerando sua saúde e idade 
atual. Baseia-se na média de longevidade, ou no tempo de vida de certa população, 
conforme ROQUE C; (2017). 
De acordo com ROQUE C; (2017), por conseguinte, idosos têm culturas 
diferentes e, assim sendo, seria necessário pensar em como trabalhar esse 
envelhecimento para que o idoso tenha acesso e disponibilidade para usufruir da vida 
já que está aumentando a expectativa. É nesse sentido que, devido à expectativa de 
vida, precisa-se pensar em formas de lazer entre outras atividades que possibilitem 
ao idoso acesso a uma melhor promoção de envelhecimento saudável e nesta 
perspectiva: 
Os cientistas sociais especialistas em envelhecimento dizem ter três grupos 
de idosos, o “idoso jovem”, o “idoso, idoso” e o “idoso mais velho”. 
Cronologicamente, os idosos jovens são pessoas entre 65 e 74 anos que, em 
geral, são ativas, animadas e vigorosas. O idoso, idoso, pessoas entre 75 e 
84 anos, e o idoso mais velho, pessoas de 85 anos em diante, estão mais 
propensos a uma condição de fragilidade e doença. (PAPALIA, 2012, apud 
ROQUE CANDICE; 2017). 
No século XIX surgiram instituições que visavam à reincorporação dos idosos 
na sociedade, atribuindo ao idoso um novo local de moradia, asilos e/ou hospitais.A 
partir desse isolamento, a velhice veio a ser encarada como uma doença social 
passando então, a ser pensada no século XX como uma imagem altamente 
desvalorizada desse sujeito e, consequentemente, os idosos foram rotulados como 
incapazes e improdutivos. Esses discursos e rotulações aos idosos perduraram até 
os anos 80, juntamente com situações de pobrezas, isolamento social, solidão, 
doenças, essa era a vida dessas pessoas neste período. A palavra velhice era 
associada à imagem de saúde precária, conforme ROQUE C; (2017). 
 
 
 
10 
 
Conforme Papalia (2012 apud ROQUE CANDICE; 2017), sessenta anos é o 
marco que define a entrada na velhice nos países em desenvolvimento, sendo ela 
aceita como padrão para que a pessoa se defina como idosa. Já nos países 
desenvolvidos o marco se dá aos 65 anos de idade. No Brasil, os índices de 
envelhecimento têm aumentado consideravelmente, mas é um mito pensar que a 
população idosa foi mais bem acolhida e tratada antigamente, conforme ROQUE C; 
(2017). 
Na mesma linha de pensamento, a mesma autora aponta que o Brasil, também 
apresenta uma mudança na estrutura demográfica e fala que até 2025 será o sexto a 
ocupar a posição em população de idosos, uma vez que, a expectativa de vida tem 
aumentado, até dobrado durante o século XX. Esses dados são de suma importância, 
pois envolvem a discussão e construção de políticas públicas, previdência social, 
assistência médica, por exemplo. Buscar alternativas para que o envelhecimento seja 
não só de abandono ou solidão, e sim, buscar programas específicos para essa faixa 
etária, coloca-se como um desafio para os governantes, conforme ROQUE C; (2017). 
Entende-se que velhice não somente é a disfunção motora, mas também se 
torna aparente o envelhecimento psíquico e físico do sujeito acarretando em várias 
formas o adoecimento do idoso. Em contrapartida, faz-se necessário falar também 
daquele idoso que não envelhece, o sujeito que, inconscientemente, não envelhece, 
pois se sabe que o inconsciente é atemporal, e assim, os idosos, em parte, acabam 
tendo uma vida normal, sem problemas de saúde, física ou psicologicamente falando, 
conforme ROQUE C; (2017). 
Assim, pode-se pensar que a figura social e cultural da velhice vem sendo 
construída diferentemente ao longo dos anos, pois a pessoa idosa era muito 
desvalorizada, rejeitada e que cumpria somente o destino biológico/ reprodutor. 
Dessa maneira, entendia-se que as escolhas e o destino eram arranjos das próprias 
pessoas e determinadas pelas influências infantis. Na questão cultural, verifica-se que 
os idosos têm mais condições de uma vida melhor nas sociedades ricas. Porém, 
existem outros fatores importantes a serem analisados. Uma sociedade em que a 
organização é complexa, por exemplo, o papel do idoso é diferenciado, conforme 
ROQUE C; (2017). 
 
11 
 
O idoso tem um reconhecimento no que diz respeito à experiência. Contudo, 
para algumas pessoas, isso se torna desnecessário, pois acreditam que o idoso não 
tem mais razão. 
Se, para algumas culturas e, em outras formas de organização social, o 
suposto saber da experiência era um traço identificatório para o idoso, 
demarcando certo lugar social, hoje o suposto saber encontra-se fora dele, 
nas faces diversas e irreconhecíveis do Outro, que dita as regras de 
envelhecer bem ou, de modo geral, de não envelhecer. (MUCIDA, 2017; apud 
Roque Candice; 2017). 
A partir disso, o idoso tem um papel importante em algumas sociedades, sendo 
ele o suposto saber de experiências de vida, um saber a se aproveitar. Já em outras, 
esse saber não interessa, assim o idoso acaba por ser abandonado ou deixado de 
lado, não representando ou “agregando” nada nessas sociedades, uma vez que este 
não produz mais, o que nos dias de hoje é o que parece representar ser mais 
importante, conforme ROQUE C; (2017). 
 O corpo real do idoso que se transforma marcado por uma imagem, imagem 
esta, que nem sempre é fácil de suportar. Portanto, na sequência, será tratado de 
assuntos que nos mostram um pouco sobre esse sujeito idoso, esse que envelhece 
somente a imagem real, mas que, inconscientemente não. Assuntos da ordem do 
sujeito em sua forma física, psíquica, biológica, conforme ROQUE C; (2017). 
4 O ENVELHECIMENTO É DIVIDIDO EM BIOLÓGICO E PSÍQUICO 
 Envelhecimento biológico: 
 
O envelhecimento biológico é implacável, ativo e irreversível, causando mais 
vulnerabilidade do organismo às agressões externas e internas. Existem evidências 
de que o processo de envelhecimento é de natureza multifatorial e dependente da 
programação genética e das alterações que ocorrem em nível celular-molecular. 
Pode haver, consequentemente, diminuição da capacidade funcional das áreas 
afetadas e sobrecarga dos mecanismos de controle homeostático, que passam a 
servir como substrato fisiológico para influência da idade na apresentação da doença, 
da resposta ao tratamento proposto e das complicações que se seguem, conforme 
MOARES E; et al., (2010). 
 
12 
 
Os sinais de deficiências funcionais vão aparecendo de maneira discreta no 
decorrer da vida, sendo chamados de senescência, sem comprometer as relações e 
a gerência de decisões. Esse processo não pode ser considerado doença. Em 
condições basais, o idoso não apresenta alterações no funcionamento ao ser 
comparado com o jovem. A diferença manifesta-se nas situações nas quais se torna 
necessária a utilização das reservas homeostáticas, que, no idoso, são mais fracas, 
conforme MOARES E; et al., (2010). 
Além disso, todos os órgãos ou sistemas envelhecem de forma diferenciada, 
tornando a variabilidade cada vez maior diante desse processo: EVELHECIMENTO = 
VULNERABILIDADE+ VARIABILIDADE + IRREVERSIBILIDADE. O sistema 
nervoso central (SNC), embora tenha evoluído filogeneticamente há milhões de anos, 
só recentemente adquiriu propriedades anatômicas e moleculares altamente 
especializadas. Os neurônios, unidades formadoras desse sistema, possuem 
estabilidade e estrutura, atributo este que é pré-requisito para a cognição, conforme 
MOARES E; et al., (2010). 
Essa propriedade torna o SNC apto ao acúmulo de informações do presente, à 
lembrança do passado e à formulação de novos conceitos. O SNC é incapaz de 
realizar reparos nas alterações morfológicas adquiridas com o envelhecimento. O 
envelhecimento cerebral normal evidencia, a partir da segunda década de vida, um 
declínio ponderal discreto, lento e progressivo, que culmina com a diminuição do seu 
volume, conforme MOARES E; et al., (2010). 
O estudo microscópico dos neurônios revela mudanças caracterizadas por: 
diminuição do RNA citoplasmático e da substância de Nissl, acúmulo de lipofuscina; 
depósito amiloide nos vasos sanguíneos e células e de placa senil; e, menos 
frequentemente, emaranhado neurofibrilar - característico da demência de Alzheimer, 
que pode, entretanto, ser observado em cérebros de idosos sem indícios de demência 
e que resulta em atrofia neuronal reduzindo a quantidade de células nervosas. Essa 
perda celular não atinge as regiões corticais igualmente, pois neurônios da mesma 
região têm fenótipos moleculares únicos e, portanto, diferentes vulnerabilidades aos 
processos deletérios (córtex pré-frontal e é mais sensível às mudanças do 
envelhecimento), conforme MOARES E; et al., (2010). 
 
 
13 
 
O envelhecimento normal associa-se, além das alterações microscópicas dos 
neurônios, as mudanças nos sistemas de neurotransmissores. Os sistemas 
dopaminérgicos e colinérgicos apresentam ações diminuídas. O declínio de memória 
não necessita, necessariamente, associar-se à lesão estrutural, podendo ocorrer 
devido à disfunção fisiológica e não à perda neuronal, conforme MOARES E; et al., 
(2010) 
O SNC, apesar de não ser capaz de recuperar seus neurônios, tem 
propriedades que podem diminuir o impacto das alterações do envelhecimento, como: 
redundância (existem muito mais neurônios no cérebroque o necessário); 
mecanismos compensadores (surgem em situações de lesão cerebral e são mais 
hábeis conforme o centro atingido); plasticidade (habilidade de neurônios maduros, 
com sua rede de dendritos, desenvolverem e formarem novas sinapses, levando à 
formação de novos circuitos sinápticos), conforme MOARES E; et al., (2010). 
 
 Aspectos neuropsicológicos do envelhecimento 
 
O desenvolvimento de estudos de Psicologia e psiquiátricos no idoso 
proporcionou mudança no paradigma do envelhecer psíquico. Durante a velhice, não 
é comum o aparecimento de alterações na funcionalidade mental do idoso, ou seja, 
os idosos saudáveis, sem limitações físicas, podem ser bastante produtivos. A 
definição de quais e como as funções psíquicas se modificam no decorrer dos anos 
permitiu a consideração de que o idoso não seja tratado como um ser limitado 
cognitivamente, mas que requer a adaptação de estímulos ambientais para possuir 
funcionalidade comparável à de adultos jovens, conforme MOARES E; et al., (2010). 
O conhecimento sobre o envelhecimento neuropsicológico ajuda a 
fundamentar as mudanças exigidas pela sociedade para que os idosos sejam 
adequadamente valorizados em nosso meio. O termo cognição corresponde à faixa 
de funcionamento intelectual humano, incluindo percepção, atenção, memória, 
raciocínio, tomada de decisões, solução de problemas e formação de estruturas 
complexas do conhecimento. A grande dificuldade acerca do envelhecimento é o 
limite entre alterações cognitivas normais e patogênicas, conforme MOARES E; et al., 
(2010). 
 
14 
 
O desenvolvimento do conhecimento sobre os vários tipos de demências, o 
avanço dos métodos de neuroimagem e estudos científicos apropriados permitiram o 
julgamento sobre o limite entre saúde e doença no idoso. Algumas das habilidades 
cognitivas se modificam em relação ao tempo, enquanto outras permanecem 
inalteradas. O conhecimento da evolução neuropsicológica permite aferir se alguma 
função cognitiva prejudicada significa doença, conforme MOARES E; et al., (2010). 
As habilidades que sofrem declínio com a idade são: memória de trabalho, 
velocidade de pensamento e habilidades visuoespaciais, enquanto as que se mantêm 
inalteradas são: inteligência verbal, atenção básica, habilidade de cálculo e a maioria 
das habilidades de linguagem, conforme MOARES E; et al., (2010). 
As repercussões funcionais do envelhecimento fisiológico (senescência) do 
SNC são controversas e não afetam significativamente as funções cognitivas. 
Observa-se redução de: peso do encéfalo (10%), fluxo sanguíneo cerebral (15-20%), 
volume ventricular exvacuo, número de neurônios e depósito neuronal de lipofuscina. 
Surgem degeneração vascular amiloide, placas senis e degeneração 
neurofibrilar com comprometimento da neurotransmissão dopaminérgica e 
colinérgica, e lentificação da velocidade da condução nervosa. As regiões mais 
sensíveis às alterações do envelhecimento localizam-se no lobo frontal e, 
possivelmente, no lobo temporal medial. As alterações dos órgãos dos sentidos 
(visão, audição, etc.) dificultam o acesso às informações e o aprendizado, conforme 
MOARES E; et al., (2010). 
O lobo frontal não apresenta mudanças na sua porção ventromedial, 
responsável pela regulação do comportamento social e emocional. A porção 
dorsolateral da região pré-frontal, entretanto, possui alterações anatômicas e 
funcionais mais proeminentes, percebidas em sua dificuldade aumentada na 
realização de tarefas dependentes da função executiva e da memória de trabalho, 
conforme MOARES E; et al., (2010). 
Há mais comprometimento na atenção (registro) e resgate das informações 
previamente estocadas, tarefas dependentes da memória de trabalho e também na 
consolidação de informações recentes (memória episódica recente, por exemplo, 
localização de objetos, recados, etc.). Não há alteração da memória semântica. 
Observam-se, clinicamente, lentificação no processamento cognitivo, redução da 
atenção (déficit atentivo), mais dificuldade no resgate das informações aprendidas 
 
15 
 
(memória de trabalho) e redução da memória prospectiva (“lembrar-se de lembrar”) e 
da memória contextual (dificuldades com detalhes), conforme MOARES E; et al., 
(2010). 
As informações estocadas (memória de longo prazo intermediária e remota) 
não são afetadas, e sim a análise e comparação (memória de trabalho) das 
informações que chegam constantemente ao cérebro, com as memórias explícitas e 
implícitas estocadas no neocórtex posterior. Essas alterações não trazem prejuízo 
significativo na execução das tarefas do cotidiano, não promovem limitação das 
atividades, nem restrição da participação social. A influência do tempo sobre a 
cognição também amplifica as diferenças entre os sexos, isto é, os homens mais 
velhos mostram mais facilidades nos cálculos matemáticos, enquanto as mulheres 
nas habilidades executivas, conforme MOARES E; et al., (2010). 
O processo de atenção representa grupo complexo de comportamentos, em 
que o indivíduo pode selecionar informações e ignorar outras; sustentar a 
concentração em uma informação por um período de tempo; dividir a atenção entre 
dois ou mais aspectos ao mesmo tempo; e mudar o foco da atenção quando for 
necessário. A capacidade do idoso de dividir atenção entre vários estímulos para 
apreender uma situação é extremamente prejudicada. Outras funções da atenção não 
se modificam com o envelhecer, conforme MOARES E; et al., (2010). 
Função executiva se refere à capacidade de resolução de problemas, 
planejamento, inibição de resposta, abstração, processamento de informações. As 
capacidades cristalizadas ou os conhecimentos adquiridos no curso do processo de 
socialização tendem a permanecer estáveis. As capacidades fluidas, isto é, envolvidas 
na solução de novos problemas, tendem a declinar gradualmente. A velocidade na 
qual a informação é processada representa a alteração mais evidente do idoso. A 
lentidão cognitiva influencia todas as outras funções e pode ser responsável pelo 
déficit cognitivo em idosos, conforme MOARES E; et al., (2010). 
 A lentidão no processamento de informações é observada em idosos em sua 
dificuldade em compreender textos, necessidade de explicações mais ricas e 
extensas e de mais tempo para executar cálculos. A presbiacusia prejudica a 
compreensão da fala, entretanto, o déficit periférico pode ser compensado pelos 
recursos e experiências cognitivas. O vocabulário e expressão verbal podem 
 
16 
 
aumentar durante a vida toda. A linguagem espontânea pode se tornar menos precisa 
e mais repetitiva com o passar do tempo, conforme MOARES E; et al., (2010). 
A capacidade dos idosos em reconhecerem formas, objetos, dimensões e a 
distância não é prejudicada quando avaliada de forma simples. Os idosos, quando 
avaliados em testes mais complexos, entretanto, apresentam habilidades 
visuoespaciais e visuoperceptivas inferiores às dos de jovens, conforme MOARES E; 
et al., (2010). 
 
 Aspectos gerais do envelhecimento 
 
A senescência é o processo natural do envelhecimento, o qual compromete 
progressivamente aspectos físicos e cognitivos. Segundo a OMS, a terceira idade tem 
início entre os 60 e 65 anos. No entanto, esta é uma idade instituída para efeitos de 
pesquisa, já que o processo de envelhecimento depende de três classes de fatores 
principais: biológicos, psíquicos e sociais. São estes fatores que podem preconizar a 
velhice, acelerando ou retardando o aparecimento e a instalação de doenças e de 
sintomas característicos da idade madura, conforme CANCELA D; (2007). 
De acordo com CANCELA D; (2007), o envelhecimento fisiológico compreende 
uma série de alterações nas funções orgânicas e mentais devido exclusivamente aos 
efeitos da idade avançada sobre o organismo, fazendo com que o mesmo perca a 
capacidade de manter o equilíbrio homeostático e que todas as funções fisiológicas 
gradualmente comecem a declinar.Tais alterações têm por característica principal a 
diminuição progressiva da reserva funcional. 
 Ou seja, um organismo envelhecido, em condições normais, poderá 
sobreviver adequadamente, porém, quando submetido a situações de stress 
físico, emocional, etc., pode apresentar dificuldades em manter sua 
homeostase e, desta forma, manifestar sobrecarga funcional, a qual pode 
culminar em processos patológicos, uma vez que há o comprometimento dos 
sistemas endócrino, nervoso e imunológico (Firmino, 2006 apud GOMES 
CANCELA 2008). 
De acordo com CANCELA D; (2007), o envelhecimento do ponto de vista 
fisiológico depende significativamente do estilo de vida que a pessoa assume desde 
a infância ou adolescência. O organismo envelhece como um todo, enquanto que os 
seus órgãos, tecidos, células e estruturas subcelulares têm envelhecimentos 
 
17 
 
diferenciados. Com o envelhecimento, ocorrem alterações de vários aspectos 
perceptíveis do organismo. Destacam-se a: 
 Diminuição do fluxo sanguíneo para os rins, fígado e o cérebro, 
CANCELA D; (2007), 
 Diminuição da capacidade dos rins para eliminar toxinas e 
medicamentos, CANCELA D; (2007), 
 Diminuição da capacidade do fígado para eliminar toxinas e metabolizar 
a maioria dos medicamentos, CANCELA D; (2007), 
 Diminuição da frequência cardíaca máxima, mas sem alteração da 
frequência cardíaca em repouso, CANCELA D; (2007), 
 Diminuição do débito cardíaco (saída de sangue do coração) máximo, 
CANCELA D; (2007), 
 Diminuição da tolerância à glicose, CANCELA D; (2007), 
 Diminuição da capacidade pulmonar de mobilização do ar, CANCELA D; 
(2007), 
 Aumento da quantidade de ar retido nos pulmões depois de uma 
expiração, CANCELA D; (2007), 
 Diminuição da função celular de combate às infecções, CANCELA D; 
(2007). 
 
 O envelhecimento e as sensações e percepções 
Fonte: psicologia.pt 
O envelhecimento perceptivo é muito diferenciado. Algumas modalidades 
sensoriais, como o olfato, o gosto ou a cinestesia, são pouco afetadas pela idade, ao 
passo que outras, como a audição, a visão e o equilíbrio, são gravemente afetadas. 
 
18 
 
De todas estas modalidades perceptivas, o envelhecimento afeta de forma mais 
significativa o equilíbrio, audição e visão, sendo que isto acarreta consequências 
importante, e por vezes graves, a nível psicológico e social, conforme CANCELA D; 
(2007). Por outro lado, os défices sensoriais de natureza auditiva e visual parecem 
causas importantes de declínio geral no funcionamento das atividades intelectuais 
(Fontaine, 2000 apud GOMES CANCELA 2007). 
 
 Envelhecimento psicológico 
 
O envelhecimento psíquico ou amadurecimento não é naturalmente 
progressivo nem ocorre inexoravelmente, como efeito da passagem de tempo. 
Depende também da passagem do tempo, mas, sobretudo, do esforço pessoal 
contínuo na busca do autoconhecimento e do sentido da vida, conforme MOARES E; 
et al., (2010). 
O autoconhecimento, o estudo da estrutura e dinâmica do psiquismo e a 
superação dos conflitos do cotidiano são indispensáveis para que se possa atingir a 
independência psíquica, condição indispensável para a sabedoria. O 
amadurecimento é conquista individual e se traduz pela modificação dos valores de 
vida ou pela aquisição da consciência (para que vivemos?). “Só é consciente a pessoa 
que se conhece, que conhece os reais motivos do seu viver, sua capacidade de 
controle desses motivos e de organização desse controle”. É a personalização do 
indivíduo, harmonizando-o consigo mesmo e com o mundo, conforme MOARES E; et 
al., (2010). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
Envelhecimento psíquico 
 
Fonte: observatorionacionaldoidoso.id 
Com o envelhecimento psíquico há, portanto, redução da vulnerabilidade. A 
pessoa idosa torna-se suficientemente sábia para aceitar a realidade, tolerar a dor ou 
a perda da independência biológica, pois seus dispositivos de segurança são cada 
vez mais eficazes na relação com o mundo. É a liberdade plena ou independência 
psíquica, pois compreende o sentido da vida (para quê). Os valores que regem a sua 
vida (filosofia de vida) são cada vez mais elevados, racionais, inteligentes, enfim, 
conscientes, conforme MOARES E; et al., (2010). 
De acordo com MOARES E; et al., (2010), o idoso “entrega-se à existência com 
a pureza das crianças, mas sem a sua ingenuidade, com o vigor do adolescente, mas 
sem a sua pugnacidade, com a sensatez do homem maduro, mas sem o seu orgulho. 
Torna-se cidadão do Universo com a astúcia da raposa e a malícia da serpente, o que 
faz dele um sábio”. A vida é uma grande viagem em busca da máxima felicidade ou 
êxtase místico. Para tanto, faz-se necessário o aproveitamento de todas as fases da 
vida, superando-se os conflitos inerentes a cada ciclo, na busca de um equilíbrio cada 
vez maior. (Figura abaixo). 
 
 
 
20 
 
Ciclos da vida 
 
Fonte: observatorionacionaldoidoso.id 
A infância psíquica é a fase inicial de preparação para a vida, na qual o 
indivíduo começa a se criar, isto é, instruir, disciplinar. Tem início no nascimento e 
perdura até os 12 anos, quando, usualmente, ocorre a instalação da sexualidade 
genital, com a primeira menstruação da menina e a primeira ejaculação do menino. 
Inicialmente, o comportamento da criança é regido pelo instinto (zero a nove meses), 
pois não se pode falar ainda em inteligência, que é a capacidade de resolver os 
problemas, nem em consciência, que é a compreensão do sentido da conduta 
(conhecimento da finalidade), conforme MOARES E; et al., (2010). 
É a fase de máxima dependência física e psíquica do indivíduo. Com o 
desenvolvimento, a criança alcança níveis mais sofisticados de percepção e atuação 
no mundo, passando pela angústia (zero a nove meses), medo (nove a 18 meses), 
obsessão (18 meses a três anos), farsa (três a seis anos) e praticidade (seis a 12 
anos), quando surge a razão e a criança adquire a capacidade de reflexão. O indivíduo 
vai se tornando cada vez mais independente do adulto, capaz de atuar no mundo de 
forma prática ou ponderada. É capaz de compreender o que ocorreu para as coisas 
serem como estão sendo e o que ocorreria se o que foi feito pudesse ser desfeito e 
outra conduta tivesse tido lugar, conforme MOARES E; et al., (2010). 
Está, assim, preparada a base sobre a qual vai assentar-se a construção 
progressiva do ser humano, que visa sempre a assimilar o mundo exterior, conquistar 
as coisas e a si próprio. Tem início, então, a adolescência (12 a 18 anos), quando o 
indivíduo se encontra no auge da preparação para a existência. Dois eventos 
modificam radicalmente a vida da criança, a puberdade e o raciocínio abstrato. Aos 
 
21 
 
poucos, vai-se avolumando todo um caudal de modificações interiores, que deflagra 
uma série de atitudes novas, inusitadas, trazendo perplexidade para o indivíduo e para 
aqueles que o rodeiam, conforme MOARES E; et al., (2010). 
 A criança latente, aparentemente equilibrada e madura (ser prático), torna-se 
um ser fisicamente desproporcional e com atitudes psíquicas desproporcionais aos 
eventos. A pré-adolescência (12 aos 15 anos) vive, mais uma vez, a angústia do 
desconhecido, sente fobia do seu novo corpo, raiva da liberdade e histeria do 
chamamento de papéis que não sabe ainda representar, conforme MOARES E; et al., 
(2010). 
Capaz de abstração, começa a questionar filosoficamente as diretrizes de vida 
que lhe vinham sendo impostas desde sempre. Ele retoma a dúvida do obsessivo, já 
agora pondo em questão não apenas os hábitos culturais, mas também, e 
principalmente, posições políticas, religiosas e filosóficas, em geral. Revolta-se contra 
a dependência infantil primitiva. Em seguida, na adolescência propriamente dita (15 a 
18 anos), vive um período de acomodação e relativa acalmia, conforme MOARES E; 
et al., (2010). 
Procura considerar, sob um novo ângulo, sua sensação de angústia diante do 
desconhecido. Percebe que nem sempreos argumentos aguerridos levam ao 
resultado desejado. Percebe a sua independência psíquica, mas reconhece a sua 
dependência afetiva. Buscando a solução dos conflitos em um clima de reflexão sobre 
a noção da existência de uma mecânica da vida, passa a suspeitar da possibilidade 
de que essa mecânica tenha mais amplitude do que imaginava e obedeça a um 
direcionamento preestabelecido, conforme MOARES E; et al., (2010). 
Necessita, ainda, de muitas informações sobre a vida, principalmente sobre as 
regras do amor em geral. Percebe mais claramente que o bem e o mal podem ser 
complementares e que há uma “engrenagem” mais capaz de explicar as contradições 
da vida. Está, assim, consolidada a base sobre a qual se vinha assentando a 
construção progressiva do ser humano, que visa sempre a assimilar o mundo exterior, 
conquistar as coisas e a si próprio, conforme MOARES E; et al., (2010). 
O período seguinte é o da adultez. A adultez é o período de realização da vida, 
em que o indivíduo adquire cada vez mais equilíbrio, atingindo estabilidade duradoura, 
propiciando o mergulho em profundidade que leva ao alargamento da consciência de 
si e de si mesmo no mundo. As etapas do período adulto são a adultez jovem (18 aos 
 
22 
 
30 anos), a adultez propriamente dita (30 aos 60 anos) e a adultez velha (acima de 60 
anos). Adulto é o ser humano que se encontra preparado para existir, conforme 
MOARES E; et al., (2010). 
O indivíduo necessita, cada vez mais, para sobreviver, conhecer e se conhecer. 
O adulto jovem (18 aos 30 anos) é aquele que completa e efetiva os seus movimentos 
no sentido de garantir a sua sobrevivência e compreende as atitudes adequadas para 
atingir os seus fins. Tais fins incluem, necessariamente, os interesses da coletividade 
à qual está insofismavelmente ligado, conforme MOARES E; et al., (2010). 
Constata que não adianta tentar convencer as pessoas das suas verdades se 
elas não forem capazes de desenvolver conceitos próprios sobre o que se deseja que 
elas compreendam. É independente física e psiquicamente, sendo, assim, capaz de 
amar, devotar-se, sem criar problemas, sem deixar-se levar pelos conflitos inerentes 
às idades anteriores. Surge o interesse fraterno, em busca do bem comum, conforme 
MOARES E; et al., (2010). 
O adulto propriamente dito é aquele que, garantida sua sobrevivência, vive com 
mais empenho a busca pela compreensão, organização e interiorização, no sentido 
de cada vez mais personalização. Capaz de entender o mecanismo único que controla 
a “engrenagem” da vida e a lei geral que rege o movimento do universo como um todo, 
passa a suspeitar de que as percepções são ilusões que o afastam da verdade, do 
mergulho na visão direta no absoluto, conforme MOARES E; et al., (2010). 
Compreende a necessidade de adequar sua dependência afetiva aos 
interesses da humanidade como um todo. O amor retoma o seu ápice no sentido de 
ampliar seus benefícios além das fronteiras dos grupos dos quais participa. Pode ele 
experimentar o amor humanístico, sabendo que, sendo compreendido ou não, 
recebendo retribuição ou não, sua afetividade só se satisfaz na sua devoção ao bem-
estar de todos os seus semelhantes. Sabe que não é o centro estático do mundo, mas 
fator na sua evolução, conforme MOARES E; et al., (2010). 
Percebe que o seu conhecimento não pode abarcar a verdade em si, mas 
apenas a do observador que é. Seu estilo de vida estando definido, participa, a seu 
modo, do processo evolutivo, seu e dos grupos dos quais é membro, sempre em 
direção à integração pessoal e coletiva. A adultez velha (acima de 60 anos) ou velhice 
é a grande fase da vida, na qual o indivíduo, agora pessoa, atinge o grau máximo de 
 
23 
 
compreensão do mistério da vida (consciência do absoluto) e do seu papel na 
unificação do universo, conforme MOARES E; et al., (2010). 
 Vive a liberdade plena, permitindo-lhe compreender o lugar e a parte que 
cabem ao mal em um mundo em evolução. O sentido ético da sua existência permite 
a superação dos preconceitos e a participação ativa na evolução das pessoas e dos 
grupos aos quais esteja ligado. Está, assim, cumprido o destino do ser humano adulto, 
cuja fé em si mesmo e no destino do mundo o faz viver em um permanente comungar 
e servir, conforme MOARES E; et al., (2010). 
 
 Envelhecimento psicológico e social 
 
Cançado e Horta (2002 apud FECHINE B; et al., 2012) não encontram 
dificuldade para relacionar deficiências cognitivas associadas ao envelhecimento com 
deficiências colinérgicas. O envelhecimento normal reúne um declínio gradual nas 
funções cognitivas (CANINEU E BASTOS, 2002 apud FECHINE B; et al., 2012). A 
capacidade intelectual do indivíduo idoso pode ser mantida sem dano cerebral até os 
80 anos. No entanto, dificuldades de aprendizagens e esquecimento sem importância 
podem ser incluídos, juntamente com algumas alterações subtis que normalmente 
ocorrem em idosos com idade até 70 anos (CANÇADO E HORTA, 2002 apud 
FECHINE B; et al., 2012). 
Para Shephard (2003 apud FECHINE B; et al., 2012) dificuldades com a 
cognição, aprendizagem de novas tarefas e memória de curto prazo são devido ao 
envelhecimento do cérebro. Shephard (2003 apud FECHINE B; et al., 2012) expressa 
que “o ritmo de aprendizado torna-se mais lento em uma pessoa idosa e uma 
abordagem mais simples leva a uma redução no aprendizado dos elementos 
periféricos de uma tarefa. E a extensão da perda funcional pode ser ilustrada por 
mensurações, tais com o desempenho de grandes mestres de xadrez, que 
comumente atingem o seu máximo por volta dos 35 anos. ” 
Dificuldades para recordar nomes, números de telefones e objetos guardados 
são as recordações de memória que mais chamam a atenção das pessoas idosas, 
pois estas temem que as perdas possam evoluir para um possível quadro demencial 
(CANINEU E BASTOS, 2002 apud FECHINE B; et al., 2012). 
 
24 
 
O declínio cognitivo com o envelhecimento varia quanto ao início e progressão, 
pois depende de fatores como educações, saúde, personalidade, nível intelectual 
global, capacidade mental específica, entre outros. Para Zimerman (2000 apud 
FECHINE B; et al., 2012), o ser humano apresenta uma série de mudanças 
psicológicas com o envelhecimento, as quais resultam da dificuldade de adaptações 
a novos papéis sociais, falta de motivações, baixa-estima, autoimagem baixa, 
dificuldade de mudanças rápidas, perdas orgânicas e afetivas, suicídios, 
somatizações, paranoia, hipocondria, depressão. 
Assis (2004 apud FECHINE B; et al., 2012) afirma que a prática regular de 
exercício físico no idoso contribui para o controle da depressão e diminuição da 
ansiedade, possibilitando a esta maior familiaridade com o seu corpo e funções. Desta 
maneira, a atividade física em qualquer idade pode reduzir os riscos de depressão e 
declínio cognitivo (SPIRDUSO E CRONIN, 2001 apud FECHINE B; et al., 2012). Na 
perspectiva de Cress et al. (1999 apud FECHINE B; et al., 2012), idosos que ao longo 
da vida se mantêm ativo apresentam ganhos para a sua saúde, beneficiando-se com 
melhoras no campo do bem-estar psicológico e da qualidade de vida. 
Motta (2004 apud FECHINE B; et al., 2012) afirma que o envelhecimento é 
reflexo de inter-relações sociais e individuais, oriundas da educações, trabalho e 
experiência de vida. A cada idade a sociedade determina certas funções, adequando 
o indivíduo a certos papéis sociais (estudante, marido, trabalhador, aposentado, etc.) 
que este deve desempenhar. Já na compreensão de Zimerman (2000 apud FECHINE 
B; et al., 2012), o envelhecimento social da população modifica o status do idoso e a 
sua forma de se relacionar com as pessoas. Estas modificações ocorrem em função 
de uma: 
 Crise de identidade – perda da autoestima, ocasionada pela ausência de papel 
social, conforme FECHINE B; et al., (2012). 
 Mudanças de papéis – adequações a novos papéis decorrentes do aumento 
do seu tempo de vida.Essas mudanças ocorrem no trabalho, na família e na 
sociedade, conforme FECHINE B; et al., (2012). 
 Aposentadoria (reforma) – os idosos devem estar preparados para não ficarem 
isolados, deprimidos e sem rumo, conforme FECHINE B; et al., (2012). 
 
25 
 
 Perdas diversas – aqui se incluem perdas no campo aquisitivo, na autonomia, 
na independência, no poder de decisão, e na perda de parentes e amigos, 
conforme FECHINE B; et al., (2012). 
 Diminuição dos contatos sociais – esta redução decorre de suas possibilidades, 
conforme FECHINE B; et al., (2012). 
Teixeira (2004 apud FECHINE B; et al., 2012) reputa como uma das maiores 
dificuldades que acompanham o idoso a angústia relacionada com os processos de 
prejuízos e declínio físicos, e das reflexões sobre a própria vida acerca da própria 
morte. Zimerman (2000 apud FECHINE B; et al., 2012) pensa que, ao envelhecer, é 
necessário aprender um estilo de vida novo, com o único objetivo de promover a 
minimizações das perdas que estes idosos apresentam na sociedade. 
Para Assis e Araújo (2004 apud FECHINE B; et al., 2012), as mudanças 
fisiológicas do envelhecimento, combinadas com a inatividade física, ocasionam 
processos patológicos que podem levar o idoso a uma perda progressiva de 
autonomia e independência. Assim, idosos que se mantêm ativo ao longo da vida 
apresentam ganhos na saúde, com maior autonomia e independência (CRESS ET 
AL., 1999 apud FECHINE B; et al., 2012). Na compreensão de Shephard (2003 apud 
FECHINE B; et al., 2012), atividades físicas regulares além de influenciar 
beneficamente as capacidades funcionais e a qualidade de vida do indivíduo, também 
influenciam a saúde mental dos idosos. 
Este mesmo autor constata que a atividade física regular pode aumentar de 6 
a 10 anos a expectativa de vida, aliada à qualidade. Assim, aumento na qualidade de 
vida refletirá também maior bem-estar, melhor autoestima, sensações de auto 
eficácia, redução do risco de ansiedade e depressão. No entendimento de Assis (2004 
apud FECHINE B; et al., 2012), o envelhecimento e suas alterações de saúde levam 
o idoso ao estreitamento da sua inserção social. As alterações físicas, como perdas 
sensoriais (déficit auditivo e visual), déficits cognitivos, problemas osteoarticulares, 
sequelas ou descontrole de doenças crônicas, são fatores que limitam a mobilidade e 
a independência do idoso, prejudicando sua sociabilidade, atividades diárias e bem-
estar. Desta maneira, um estado de saúde satisfatório permite ao ser humano usufruir 
do potencial de realização e desenvolvimento pessoal em todos os momentos da vida. 
 
 
26 
 
É importante também destacar o fato de que questões sociais que permeiam o 
envelhecimento são enraizadas pelas ideologias e valores de determinado contexto 
histórico e cultural. Teixeira (2004 apud FECHINE B; et al., 2012) expressa que as 
condições de vida e as oportunidades que os sujeitos desempenham ao longo da vida 
influenciam diretamente o envelhecimento saudável do idoso, pois, para este, velhice 
é fruto da trajetória social exercida pelo indivíduo desde o nascimento. 
Afirma, assim, que os sofrimentos físicos, econômicos e psicológicos muitas 
vezes intrínsecos ao ser humano são produtos estruturais da sociedade, possuindo 
influência negativa nas condições de vida daqueles que envelhecem. Assis e Araújo 
(2004 apud FECHINE B; et al., 2012) acentuam que o exercício físico possui 
importante papel de integrador social, pois a atividade física permite ao indivíduo 
manter-se ativa, aumentando suas disposições para atividades diárias. 
Shephard (2003 apud FECHINE B; et al., 2012) destaca que “há relativamente 
poucas informações sobre interações entre atividade física e o funcionamento social. 
Entretanto, é amplamente reconhecido que muitas pessoas idosas vivem muito 
solitárias e têm vidas isoladas. Uma razão para esse isolamento social é que os idosos 
frágeis não têm a força física necessária para dirigir-se à comunidade, encontrar as 
pessoas e participar de eventos. Uma melhoria na condição física poderia obviamente 
auxiliar a preencher essas necessidades e, se a atividade tomar a forma de um 
programa de grupo, ela também fornece uma fonte mais direta de apoio e interações 
social”. 
5 HIPÓTESES PARA O ENVELHECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO (SN) 
Diante das alterações sofridas pelo sistema nervoso, em virtude do processo 
de envelhecimento, algumas hipóteses de possíveis causadores de tais mudanças 
são descritas na literatura. Uma das correntes destas hipóteses centra-se na ideia de 
que o envelhecimento é resultado do acúmulo passivo de alterações nos ácidos 
nucléicos das células (MORA e PORRAS, 1998 apud CARDOSO A; et al., 2008). 
 
 
 
 
27 
 
Um dos principais processos para estas alterações no DNA seria a acumulação 
de moléculas danificadas por radicais livres (MORA e PORRAS, 1998 apud 
CARDOSO A; et al., 2008), os quais são formados através de complexas reações 
químicas que quebram as moléculas livres de oxigênio (O2) formando moléculas 
simples deste elemento químico (O2) que são altamente reativas e tendem a ligar-se 
com quaisquer outras moléculas que encontrem (HAYFLICK, 1997 apud CARDOSO 
A; et al., 2008), o que é prejudicial ao sistema nervoso, pois segundo conclusão do 
estudo de Giovannelli et al. (2003 apud CARDOSO A; et al., 2008), este sistema é 
altamente vulnerável ao dano oxidativo. 
O aumento no número de radicais livres nas células do sistema nervoso pode 
ocorrer em função vários fatores, dos quais, segundo Bernhardi M. (2005 apud 
CARDOSO A; et al., 2008), destacam-se: o alto consumo de oxigênio pelo cérebro 
(cerca de 20% de todo oxigênio consumido, segundo Hayflick (1997 apud CARDOSO 
A; et al., 2008), a dependência do metabolismo aeróbio de carboidratos, a complexa 
formação lipídica em suas membranas e a diminuição da capacidade de eliminar 
estas moléculas de radicais livres, ou seja, a diminuição dos mecanismos 
antioxidantes, à qual é talvez um dos fatores mais influentes (MORA e PORRAS, 1998 
apud CARDOSO A; et al., 2008). 
O acúmulo de radicais livres é ainda responsável pela aglomeração de 
pigmentos (lipofucsina) nas células, pela formação de placas neuríticas, e responsável 
por determinadas ligações cruzadas capazes de afetar o DNA (HAYFLICK, 1997 apud 
CARDOSO A; et al., 2008). Estas ligações cruzadas com o processo de 
envelhecimento tendem a aumentar seu número, afetando a ligação entre algumas 
proteínas, dentre elas o colágeno, impedindo processos metabólicos através da 
obstrução da passagem de nutrientes e resíduos para dentro e fora da célula. 
Contudo, as ligações cruzadas são, provavelmente, mudanças bioquímicas 
relacionadas à idade, e não parecem ser o fator mais contribuinte para este processo 
(HAYFLICK, 1997 apud CARDOSO A; et al., 2008). 
O acúmulo de erros no DNA pode se dar não somente pela ação dos radicais 
livres, mas também em virtude da transcrição do DNA em RNA não ocorrer com total 
confiabilidade, gerando assim certos erros que dão lugar a proteínas não funcionais. 
Apesar dos níveis de erro nesta transcrição parecerem não aumentar com a idade 
(MORA e PORRAS, 1998 apud CARDOSO A; et al., 2008), Lent (2001 apud 
 
28 
 
CARDOSO A; et al., 2008), relata que essas sucessivas mutações, espontâneas ou 
provocadas ao longo da vida, acabariam por esgotar os genes redundantes a 
determinados fenótipos, gerando assim a degeneração morfofuncional do sistema 
nervoso interligada ao envelhecimento. 
Esse princípio parte de uma teoria onde é postulada a redundância gênica, que 
aponta a existência de múltiplos genes para cada fenótipo, sendo alguns redundantes 
para tal. Todavia as alterações no DNA decorrentes deste processo tendem a se 
acumular e reproduzir através das clonagens posteriores (BERNHARDI M., 2005 apud 
CARDOSO A; et al., 2008). Derivada da ideia das alterações no DNA, Mora e Porras 
(1998 apud CARDOSO A;et al., 2008) relatam a teoria do encurtamento dos 
telómeros, que induz a ideia de que em cada divisão celular poderia ocorrer uma perda 
de certa parte do DNA. No entanto, ainda não está clara a sua associação com o 
envelhecimento. 
A outra corrente das hipóteses sobre o envelhecimento do sistema nervoso 
centra-se na ideia de que o envelhecimento é resultado de um programa genético 
(MORA e PORRAS,1998). Lent (2001 apud CARDOSO A; et al., 2008) cita um 
experimento de Hayflick, onde em placas de cultura de tecidos, foi contado o número 
de vezes que os fibroblastos conseguiam se dividir. 
 Foram então comparados os fibroblastos de diferentes espécies e verificou-
se que os de camundongos se dividiam menos que os de humanos e, que 
estes por sua vez, se dividiam menos que os de tartaruga (sabe-se que as 
tartarugas vivem mais que os homens e estes por sua vez mais que os 
camundongos). Através deste experimento Hayflick sugeriu a existência de 
um relógio biológico que controlaria o tempo de vida das células, não sendo 
a idade cronológica totalmente responsável por este, conforme CARDOSO 
A; et al., (2008). 
Para Mora e Porras (1998 apud CARDOSO A; et al., 2008), esta teoria é 
baseada nos exemplos de morte celular programada, que ocorrem durante todo 
processo de desenvolvimento. Este fenômeno de morte celular ocorre em todo o 
sistema nervoso, não sendo exclusivo dos humanos. A este fenômeno é dado o nome 
de apoptose, ou seja, um processo ativo de “suicídio” celular, que se dá através da 
síntese de proteínas cuja função é matar a célula (LENT, 2001 apud CARDOSO A; et 
al., 2008). 
 
 
29 
 
Segundo Mora e Porras (1998 apud CARDOSO A; et al., 2008), têm-se 
proposto mecanismos moleculares do envelhecimento que reúnem diversas 
hipóteses, aceitando-se que este processo está, em parte, programado 
geneticamente, porém, este “programa” é susceptível a modificações. 
 
 Alterações Neurofisiológicas durante o envelhecimento 
 
O envelhecimento fisiológico compreende uma série de alterações nas funções 
orgânicas e mentais devido exclusivamente aos efeitos da idade avançada sobre o 
organismo, fazendo com que o organismo perca a capacidade de manter o equilíbrio 
homeostático e que todas as funções fisiológicas gradualmente comecem a declinar 
(Straub et al., 2001; Leite, 1990 apud PEREIRA A; et al., 2004). 
Tais alterações têm por característica principal a diminuição progressiva da 
reserva funcional. Isto significa dizer que um organismo envelhecido, em condições 
normais, poderá sobreviver adequadamente, porém, quando submetido as situações 
de estresse físico, emocional, etc. pode apresentar dificuldades em manter sua 
homeostase e, desta forma, manifestar sobrecarga funcional, a qual pode culminar 
em processos patológicos, uma vez que há o comprometimento dos sistemas 
endócrino, nervoso e imunológico (Straub et al., 2001; Jacob et al., 1994 apud 
PEREIRA A; et al., 2004). 
O envelhecer, sob um ponto de vista fisiológico, depende significativamente do 
estilo de vida que a pessoa assume desde a infância ou adolescência, tais como fumar 
cigarros, praticar regularmente exercícios físicos ou esportes, ingerir alimentos 
saudáveis, tipo de atividade ocupacional, etc. (Leite, 1990 apud PEREIRA A; et al., 
2004). Hoje, sabe-se que o processo de envelhecimento não é uniforme. O organismo 
envelhece como um todo, enquanto que seus órgãos, tecidos, células e estruturas 
subcelulares têm envelhecimentos diferenciados, parecendo este fenômeno ser 
determinado, basicamente, pela hereditariedade (Weineck, 1991 apud PEREIRA A; et 
al., 2004). 
 
 
 
 
30 
 
Durante o envelhecimento vários processos fisiológicos se modificam. Por 
exemplo, no sistema nervoso, ocorre uma diminuição do seu volume do sistema 
nervoso central (perda de neurônios e outras substâncias) e as fibras nervosas 
perdem a sua mielina - responsável pela velocidade de condução do estimulo nervoso 
(Straub et al., 2001; Berger e Mailloux-Poirier, 1995 apud PEREIRA A; et al., 2004). 
As funções intelectuais também se alteram, como por exemplo: dificuldade nos 
processos de aprendizagem e de memorização, o que provavelmente está 
relacionado com as alterações químicas, neurológicas e circulatórias que afetam a 
função cerebral, diminuição da eficácia da oxigenação e nutrição celular e diminuição 
na aprendizagem associada às deficiências nas sinapses e na disponibilidade de 
determinados neurotransmissores (Braver e Brach, 2002 apud PEREIRA A; et al., 
2004). 
Por conseguinte, há uma assimilação mais lenta de conhecimento, refletindo 
significativamente na formação de memória de curto prazo (imediata) apesar da 
conservação da memória de longo prazo (fixação), dificuldade na organização e 
utilização das informações armazenadas e diminuição da memória visual e auditiva 
de curto prazo (Braver e Brach, 2002; Berger e Mailloux-Poirier, 1995 apud PEREIRA 
A; et al., 2004). Entretanto, em relação à inteligência, não se pode afirmar que haja 
declínio acentuado com o avançar da idade, o que ocorre é fadiga mental, 
desinteresse, diminuição da atenção e concentração, fatores estes que geralmente 
estão associadas ao declínio da inteligência. 
Tem sido relatada também a existência de uma ligeira perda nas aptidões 
psicomotoras, em especial naquelas relacionadas à coordenação, à agilidade mental 
e aos sentidos (visão e audição) levando os idosos a um desempenho menos 
satisfatório quando submetidos a alguns testes que exigem rapidez de execução ou 
longa duração. (Braver e Brach, 2002; Berger e Mailloux-Poirier, 1995 apud PEREIRA 
A; et al., 2004). Além disso, ocorre uma diminuição na velocidade dos reflexos e da 
execução de gestos e um aumento do tempo de reação devido à diminuição da 
resposta motora a um estímulo sensorial (Berger e Mailloux-Poirier, 1995 apud 
PEREIRA A; et al., 2004). 
 
 
 
31 
 
Outro aspecto importante a se relacionar envolve as mudanças no sono e na 
vigília: diminuição do número de horas de sono requeridas, diminuição de 50 % do 
sono do tipo REM (diretamente relacionado aos períodos de sonhos de um indivíduo), 
maior facilidade em acordar e maior dificuldade em adormecer (Braver e Brach, 2002; 
Ruiperez e Llorente, 1998 apud PEREIRA A; et al., 2004). 
6 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO 
Existem uma série de fatores que parecem influenciar o grau de alteração 
cognitiva que as pessoas manifestam com a idade. São eles (Spar e La Rue, 2005 
apud CANCELA D; 2007): 
Fatores genéticos - Cerca de 50% da variabilidade cognitiva na terceira- idade 
pode ser devida a fatores genéticos, conforme CANCELA D; (2007). 
Saúde: Idosos de ótima saúde ultrapassam em muitos testes cognitivos os que 
não tem doenças do foro médico, conforme CANCELA D; (2007). 
Instrução: A instrução explica até 30% da variabilidade cognitiva na terceira 
idade, conforme CANCELA D; (2007). 
Atividade mental: Atividades mentalmente estimulantes estão com correlação 
com melhor desempenho cognitivo e menor declínio longitudinal, conforme CANCELA 
D; (2007). 
Conhecimentos especializados: Especialistas a envelhecer podem 
desenvolver estratégias compensadoras para manterem um alto nível de 
desempenho, apesar de certa erosão das capacidades cognitivas subjacentes, 
conforme CANCELA D; (2007). 
Personalidade e humor: A depressão está em correlação com insuficiência 
autopercebida da memória e com défices do desempenho se os sintomas são graves, 
Meio social e cultura: Os lapsos quotidianos da memória poderão ser julgados 
mais severamente quando experimentados por idosos do que por adultos jovens, 
conforme CANCELA D; (2007). 
Treino cognitivo: idosos cognitivamente intactos beneficiam da prática e do 
treino em capacidades cognitivas específicas, conforme CANCELA D; (2007). 
Diferenças entre os sexos: as tendências cognitivas no envelhecimento são 
semelhantes nos dois sexos, mas em mulheres podem revelardéfices em tarefas 
 
32 
 
espaciais numa idade inferior à dos homens e estes podem mostrar défices em tarefas 
verbais numa idade inferior à das mulheres, conforme CANCELA D; (2007). 
Diferenças raciais e étnicas: Foram descritas em alguns testes cognitivos 
diferenças no desempenho a favor dos idosos brancos, mas quando o grau de 
instrução está equiparado entre os grupos estas diferenças são menores, conforme 
CANCELA D; (2007). 
 
 Desempenho cognitivo e envelhecimento 
 
Os efeitos do envelhecimento cognitivo são observados mais intensamente 
entre os 50 e 60 anos de idade e se intensificam a partir da sétima década de vida. 
As alterações mais frequentes englobam alguns componentes da memória e funções 
executivas, havendo maior dificuldade para realizar novas aprendizagens e lentidão 
no processamento das informações, conforme MENEZES V; (2013) 
As mudanças cognitivas na velhice também podem ser decorrentes do 
envelhecimento cerebral. Variações morfofuncionais compatíveis com a idade são 
caracterizadas por alterações como redução gradual do peso e volume de massa 
encefálica. Dessa forma, o desempenho cerebral já não apresenta as mesmas 
potencialidades de um cérebro jovem. Algumas das mudanças são atribuíveis ao 
próprio processo de envelhecimento, enquanto outras são manifestações de doenças 
relacionadas à idade, incluindo as demências, conforme MENEZES V; (2013). 
O desenvolvimento da cognição, ao longo da vida, sofre influências fisiológicas, 
das predisposições genéticas e fatores ambientais. As alterações fisiológicas e o fator 
genético podem gerar declínio no funcionamento sensorial e diminuição na velocidade 
de processamento da informação, associados a alterações neurológicas típicas do 
envelhecimento, conforme MENEZES V; (2013). 
Os fatores ambientais determinam o desenvolvimento e a manutenção das 
capacidades dependentes da experiência, e podem ter uma ação compensatória em 
relação às perdas decorrentes do envelhecimento biológico. Para Proust-Lima et al., 
o declínio cognitivo é diretamente proporcional à idade e inversamente proporcional 
ao nível educacional, conforme MENEZES V; (2013). 
 
 
33 
 
Alterações cognitivas decorrentes do envelhecimento são preocupantes para o 
indivíduo que deseja permanecer independente pelo maior tempo possível e para a 
família que se preocupa com o bem-estar do idoso. Adultos mais velhos queixam-se, 
frequentemente, de uma redução em sua capacidade para manter a atenção em 
eventos específicos por longos períodos de tempo, especialmente em face à 
distração. Entre elas, funções como memória, linguagem, funções executivas e 
habilidades visuoespaciais podem sofrer alterações, conforme MENEZES V; (2013). 
 De acordo com MENEZES V; (2013), a memória corresponde à capacidade de 
armazenar informações para serem utilizadas em um dado momento. A memorização 
envolve três procedimentos: 
 Registro de informações através da percepção sensorial, conforme 
MENEZES V; (2013). 
 Armazenamento, conforme MENEZES V; (2013). 
 Resgate da informação, conforme MENEZES V; (2013). 
A capacidade de se comunicar através da linguagem permanece inalterada em 
toda a vida adulta. No entanto, os idosos têm maior dificuldade em compreender 
mensagens longas ou complexas. Na velhice, a capacidade em recuperar e reproduzir 
nomes ou termos específicos é mais lento. O discurso tende também a ser mais 
repetitivo. A função executiva (FE) é entendida como a capacidade de resolução de 
problemas, planejamento de ações sequenciais, inibição de respostas, abstração e 
processamento de informações. São esperadas alterações significativas nestas 
funções, conforme MENEZES V; (2013). 
No que diz respeito às aptidões visuoespaciais, no envelhecimento cognitivo 
normal a capacidade de reconhecer lugares, rostos e objetos permanecem 
inalteradas. No entanto, verifica-se um declínio na capacidade de reconhecer e 
reproduzir configurações complexas ou que não são familiares. Normalmente, as 
funções que permanecem inalteradas com o envelhecimento são: habilidade 
comunicativa, vocabulário, atenção sustentada e habilidade de percepção visual. Por 
outro lado, a memória de trabalho e memória episódica, atenção seletiva, orientação 
temporal, nomeação de objetos, fluência verbal, e a velocidade perceptual são 
competências que tendem a declinar na velhice. Constatam-se diferenças entre os 
gêneros, níveis de escolaridade e saúde percebida no desempenho cognitivo na 
velhice, conforme MENEZES V; (2013). 
 
34 
 
A tabela abaixo, resume achados gerais sobre o impacto do envelhecimento 
para áreas específicas da cognição. Nesta tabela, as alterações cognitivas associadas 
ao envelhecimento normal podem ser classificadas como leve e moderada, enquanto 
outras áreas mantêm o desempenho estável ou melhoram. 
 
 
Efeitos do envelhecimento no desempenho cognitivo Conteúdo adaptado de Spar & La Rue, 2006 
apud MENEZES V; 2013 - (fonte: unicamp.br). 
 
 
 
35 
 
As funções que parecem ser mais resistentes ao envelhecimento competem às 
habilidades motoras, informações autobiográficas, conhecimento semântico e 
habilidade de recordar informações por pré ativação na memória implícita. De acordo 
com Reuter-Lorenz e Park, os idosos apresentam estratégias para compensar as 
perdas cognitivas. Para manter a função cognitiva, em idades mais avançadas, os 
indivíduos apresentam padrões de superativação, principalmente do córtex frontal, 
mas podem incluir áreas do lobo parietal, médio-temporal, e região occipital. Nas 
décadas de 1980 e 1990, as abordagens comportamentais a respeito do 
envelhecimento cognitivo documentaram declínio em quatro domínios principais: 
memória operacional, controle inibitório, velocidade de processamento e memória de 
longo prazo, conforme MENEZES V; (2013). 
Alguns autores sugerem que a memória operacional é particularmente mais 
afetada pelo envelhecimento. Outros pesquisadores argumentam que com o 
envelhecimento é mais difícil inibir ou controlar estímulos dispersores da atenção. De 
acordo com Xavier et al., a diminuição na velocidade de processamento da informação 
é a alteração cognitiva mais evidente no idoso. A lentificação no processamento de 
informações pode ser observada na dificuldade que o idoso apresenta em 
compreender textos, necessidade de explicações mais detalhadas e significativas, 
necessitando de mais tempo para executar cálculos. O autor conclui que esta 
lentificação pode comprometer todas as outras funções cognitivas em idosos, 
conforme MENEZES V; (2013). 
Os déficits das habilidades cognitivas geram preocupação aos idosos e seus 
familiares. Dessa forma é necessário identificar precocemente se há declínio 
patológico ou se o estado do indivíduo é compatível com envelhecimento cognitivo 
normal, conforme MENEZES V; (2013). 
7 PRINCIPAIS DE DEMÊNCIAS NA FASE DE ENVELHECIMENTO 
 Demência: introdução e conceito 
Atualmente, define-se demência como condição na qual ocorre decréscimo 
cognitivo comparado a um nível prévio do indivíduo, com comprometimento de suas 
funções sociais e funcionais. Há várias propostas para a definição a ser adotada de 
demência, entre elas a do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM 
 
36 
 
IV), na qual o comprometimento de memória é exigido necessariamente na 
apresentação, ademais deverá haver declínio em relação a um padrão prévio 
cognitivo e não poderá haver delirium concomitante durante a avaliação, conforme 
PARMERA J; et al., (2015). 
 Outras, como a do Grupo de Trabalho do National Institute on Aging (NIA) e 
Alzheimer’s Association (AA), propõem novos critérios que não exigem 
comprometimento de memória inicialmente, possibilitando sua aplicação para várias 
etiologias de demência. Esses últimos são, portanto, os critérios recomendados para 
a aplicação no Brasil pela Academia Brasileira de Neurologia. Na avaliação inicial dos 
pacientes, idealmente,seria interessante comparar longitudinalmente suas 
performances cognitivas para se realizar com acurácia tal diagnóstico, contudo, como 
esses dados são de difícil obtenção no âmbito prático, determina-se o diagnóstico 
através de exames cognitivos com escore e resultados padronizados para a média da 
população, conforme PARMERA J; et al., (2015). 
Considerando a crescente prevalência populacional, as demências tornam-se 
uma questão primordial em saúde pública, ocasionando gastos diretos e indiretos, 
com aposentadorias, internações, assim como repercussões em trabalhadores ativos 
por acometimento de familiares que requerem seus cuidados. Medidas públicas de 
saúde e conscientização tornam-se urgentes para o cuidado e atendimento dessa 
parcela da sociedade em ascensão demográfica comparativa aos outros grupos 
etários, conforme PARMERA J; et al., (2015). 
Podem-se dividir as demências em categorias diversas para estudos e 
pesquisas direcionadas, a exemplo das divisões em degenerativas e não 
degenerativas, corticais e subcorticais, com início precoce (ou pré-senil – antes dos 
65 anos de idade) e tardio (a partir dos 65 anos), reversíveis ou irreversíveis, e 
rapidamente ou lentamente progressivas. Em sua maior parte, as demências têm 
início insidioso e evolução lenta, entretanto as mais diversas formas de apresentação 
se fazem possíveis e uma acurada suspeição diagnóstica em relação às diversas 
formas de apresentação das síndromes demenciais é imprescindível para evitar erros 
ou atraso no diagnóstico de doenças potencialmente tratáveis, conforme PARMERA 
J; et al., (2015). 
 
 
 
37 
 
 Doença de Alzheimer 
A doença de Alzheimer (DA) foi descoberta em meados de 1907 pelo alemão 
Alois Alzeimer o qual era neuropatologista e psiquiatra (NETO et al., 2014 apud 
ARAÚJO T; 2019) DA é uma doença crônica degenerativa, a união de demências 
junto ao envelhecimento é uma realidade para os seguintes anos (GUTIERREZ et al., 
2014). No Brasil aumentou a população idosa, devido a transição demográfica, essa 
mudança exige modificações governamentais para assegurar os idosos (TEXEIRA et 
al., 2015 apud ARAÚJO T; 2019). 
O envelhecimento é a degradação vagarosa do organismo, provocando 
debilitação, fragilidade, vulnerabilidade, contribuindo com o surgimento de diversas 
enfermidades por modificações fisiológicas e ambientais (MEDEIROS et al., 2016 
apud ARAÚJO T; 2019). No Brasil, são considerados idosos aqueles com mais de 60 
anos, parâmetro tal usado como delimitador pela Organização Mundial da Saúde 
(OMS, 2017 apud ARAÚJO T; 2019). 
Existe uma maior expressão epidemiológica da doença de Alzheimer em 
mulheres, estudos mostram e justificam que o sexo masculino habitualmente chega a 
óbito por outros fatores, um grande exemplo são os problemas cardiovasculares, em 
contrapartida, as mulheres são menos propensas a essa patologia, sendo reféns mais 
facilmente das demências, em especial a DA (TEXEIRA et al., 2015 apud ARAÚJO T; 
2019 apud ARAÚJO T; 2019). 
Além dos danos pessoais ocasionados aos pacientes, existe os gastos 
governamentais, uma sobrecarga para a sociedade e saúde pública, suas 
principais despesas são voltadas aos fármacos distribuídos amplamente em 
território nacional (CAUWENBERHGE; BROECKHVEN; SLEEGERS, 2015 
apud ARAÚJO T; 2019). 
A doença de Alzheimer é a mais comum demência relacionada ao 
envelhecimento, como consequência existe a modificação cognitiva e 
comportamental, o tratamento para DA é paliativo e não é detectada precocemente 
em exames, a memória de fatos passados é mais fixa e, geralmente o paciente têm 
falhas e perca inicialmente na memória de curto prazo, as lembranças mais recentes 
(FAGUNDES et al., 2019 apud ARAÚJO T; 2019). A DA que ataca cerca de 36 milhões 
de pessoas em todo o mundo, é geralmente considerada como uma doença 
neurodegenerativa relacionada com a idade, quase uma doença exclusiva do idoso 
(LOPES et al., 2018 apud ARAÚJO T; 2019). 
 
38 
 
Demência é uma síndrome identificada por redução constante da memória, 
linguagens e outras zonas da cognição, que modificam o comportamento habitual no 
meio social e familiar, prejudicando assim a qualidade de vida dos idosos. Se sabe 
que a demência e DA é resultante de fatores ambientais e genéticos (RODRÍGUEZ; 
HERRERA, 2014 apud ARAÚJO T; 2019). Todavia, os pacientes com demência 
possuem suas atividades limitadas, sua mobilidade é diminuída e os mesmos correm 
maiores riscos de acidentes domésticos, quedas acidentais, as quais podem se 
caracterizar em fraturas ósseas, complicando ainda mais o quadro de saúde do 
paciente. A redução cognitiva e perca do equilíbrio são frutos da demência e de 
alterações que modificam o estilo de vida de idosos (LIMA et al., 2016 apud ARAÚJO 
T; 2019). 
Ainda não se sabe a cura para DA, apesar de inúmeras pesquisas ao longo 
dos anos. Mas, a ciência sempre está em busca de uma melhor qualidade 
para os pacientes portadores buscando e pesquisando a fim de estabelecer 
os sintomas para melhorar a qualidade de vida desses indivíduos 
(CAETANO; SILVA; SILVEIRA, 2017 apud ARAÚJO T; 2019). Segundo 
Teixeira et al. (2015 apud ARAÚJO T; 2019) o Alzheimer em 2009, foi 
responsável por cerca de 65% da causa de morte em mulheres e 51,1% entre 
os homens, na sua pesquisa epidemiológica. 
Dentre as várias demências que prejudicam os idosos, a DA é a mais 
dominante delas. Atualmente, 54% dos idosos com demências têm DA e os casos 
desse mal crescem. No ano de 2010, um milhão de idosos no Brasil tinham Alzheimer. 
Estima-se que em 2020 serão 1,6 milhão. No Sistema Único de Saúde (SUS), 
somente o Alzheimer, realizou 38,13 milhões de serviços ambulatoriais no ano de 
2015 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER, 2016 apud ARAÚJO T; 2019). 
Na doença de Alzheimer existem três estágios evolutivos: leve, moderado e 
grave. Em casos de demência leve o idoso ainda possui sua independência em suas 
tarefas básicas, mas com dificuldade em linguagem e inicia-se a perca evolutiva da 
memória, em casos estágios moderados se caracteriza com a perca mais efetiva da 
memória, em estágios graves idosos com demência mostraram dependência 
completa (WAJMAN et al., 2014 apud ARAÚJO T; 2019). 
 
 
 
 
39 
 
A doença é silenciosa e continua podendo levar de 2 a 15 anos, para seu 
desenvolvimento e manifestações por completo, em casos terminas que acontecem 
em 8 a 15 anos, todas as partes e funções exercidas pelo cérebro são modificadas e 
atacadas pela demência (XIMENES; RICO; PEDREIRA, 2014 apud ARAÚJO T; 
2019). 
 Localização dentro das demências 
 
As formas mais comuns da demência são: a Doença de Alzheimer (DA), a 
demência pré-senil e a demência senil. Alguns neurologistas consideram a DA como 
uma entidade independente, já outros afirmam que forma uma parte do quadro geral 
da demência senil idiopática. Ambos processos são patologicamente análogos, 
contudo, a DA começa antes e tem um curso clínico mais rápido e grave. Sua 
manifestação clínica é uma perda lenta e progressiva da capacidade do pensamento 
abstrato, da possibilidade de assimilar novos conhecimentos e da habilidade de se 
expressar com claridade, conforme RIBEIRO C; (2010). 
 
 Os fatores que explicam a involução cerebral 
 
O envelhecimento prematuro do cérebro e a degeneração neurofibrilar dos 
neurônios: Desde a descrição de Alois Alzheimer em 1907, pensou-se que havia uma 
destruição acelerada das células do cérebro e que se acumulavam muitas proteínas 
dentro e fora dos neurônios. Esses processos podem aparecer debilmente em 
anciãos, mas são intensos na DA. Tenta-se impedir o desenvolvimento do processo 
de involução celular e da formação de placas, já que é muito lento (superior a 30 anos) 
e poderia realizar-se um bom trabalho de prevenção obtendo resultados na 
investigação em andamento (Correa, 1996 apud RIBEIRO C; 2010). 
As alterações metabólicas: Já foram descritas muitas alterações metabólicasna DA, tanto de glucídios, lipídios e prótidos, como da respiração. A redução da 
entrada sanguínea tem como consequência uma diminuição da entrada do oxigênio e 
da glicose, que são elementos indispensáveis para o bom funcionamento das células 
cerebrais, conforme RIBEIRO C; (2010). 
As alterações dos neurotransmissores: Em certas regiões do cérebro, foi-se 
constatada uma diminuição da concentração de acetilcolina, redução de uma enzima 
 
40 
 
indispensável para a síntese da acetilcolina e uma perda de neurônicos colinérgicos. 
Parece que os neurônicos colinérgicos de certas regiões reguladores do cérebro 
sofrem uma evolução seletiva que desencadeia uma séria de alteração nos neurônios 
do córtex cerebral, conforme RIBEIRO C; (2010). 
Sua disfunção origina a aparição dos sintomas da DA. Essa teoria colinérgica 
deu origem aos fármacos cujo mecanismo de ação é prolongar a vida da acetilcolina 
(Correa, 1996; apud RIBEIRO C; 2010). A vulnerabilidade celular: Certos autores 
assinalam a existência de células cerebrais de “alto risco” que sofrem mais que outras 
e que são de alguma forma frágeis”, conforme RIBEIRO C; (2010). 
Entre essas células figurariam os neurônios colinérgicos e algumas regiões do 
córtex cerebral. Os desequilíbrios dos “fatores de crescimento” e os “fatores de 
envelhecimento” no sistema nervoso central: nos últimos anos foram encontradas uma 
série de substâncias que se produzem uma pequena quantidade, mas mantém a sua 
função, defendem as células e faz com que se adaptem as sobreviventes para 
suplantar a função dos neurônios que morrem (“fatores de crescimento”) (Correa, 
1996 apud RIBEIRO C; 2010). Quando não se formam esses fatores, não se 
produzem as mudanças adaptativas próprias da fase adulta e da senil, trazendo a 
degeneração dos neurônios e a demência. Ao mesmo tempo, outros “fatores de 
envelhecimento” ou “morte neuronal” torna-se mais agudo o processo involutivo. 
 A perda de fatores tróficos e o aumento de fatores de envelhecimento são, 
atualmente, as características mais definitórias da DA, assim como a linha 
mais importante para o desenvolvimento de novos fármacos. É uma doença 
progressiva e variável, podendo ser caracterizada em estágios degenerativos 
classificados em: leve, moderado e severo, mesmo considerando as 
diferenças individuais que possam existir (Luzardo et al., 2006; Ximenes, 
2014 apud RIBEIRO C; 2010). O estágio leve tem duração de dois a três 
anos, com sintomas vagos e difusos, em que há perda de memória episódica 
e grande dificuldade de aprendizagem de novos eventos (Gallucci, Tamelini, 
& Forlenza, 2005 apud RIBEIRO C; 2010). 
Enfim, a DA é caracterizada por prejuízos de funções neuropsiquiátricas e 
cognitivas superiores com manifestações de alterações de comportamento e de 
personalidade, interferindo nas habilidades do indivíduo em desempenhar suas 
atividades normais do dia a dia e, somente nos estágios finais da doença, ele se torna 
apático, apresentando sua função motora inteiramente prejudicada (Daily, 2004 apud 
RIBEIRO C; 2010). 
 
 
41 
 
 Cuidador familiar 
A família é indispensável para dar o apoio e cuidados necessários ao idoso, 
para a constituição Federal e o Estatuto do Idoso; a família, a sociedade e o Estado 
têm a obrigação de amparar a pessoa idosa, assegurando o bem-estar e o direito à 
vida (GOMES, 2009 apud TELES R; 2015). De acordo com Petrilli (1997 apud TELES 
R; 2015) apud CRUZ; HAMDAN (2008 apud TELES R; 2015) a função de cuidador 
está internamente relacionada ao responsável pelos cuidados. Nos cuidados 
destinados ao idoso dependente, na sua percepção geralmente quem faz tal função é 
a esposa (o), um dos filhos, ou outro parente, ou uma pessoa contratada para essa 
função. 
Segundo Kawasaki e Diogo (2001 apud TELES R; 2015) quando o idoso requer 
cuidados especiais ou alguém para ajudar na sua vida diária torna-se um indivíduo 
dependente e de certa forma pode se angustiar ao necessitar de uma pessoa para 
ajudá-lo. 
Nessa condição, aparece a figura do cuidador, designado para ajudar o idoso 
em suas dificuldades e necessidades e nas realizações das tarefas do dia a dia e pode 
ser um parente mais próximo, que já vive com o idoso e que não trabalhe fora, esse 
cuidado ainda pode ser assumido de maneira inesperada por não ter outra pessoa 
disponível para exercer essa função de cuidador ou destinar pequenos cuidados ao 
idoso, com isso, o familiar acaba se envolvendo com os cuidados gerais. 
Frequentemente o cuidador em execução é definido dentro do seio familiar (TAUB et 
al, 2004 apud CRUZ; HAMDAN, 2008 apud TELES R; 2015). 
De acordo com Gonçalves et al (2006 apud TELES R; 2015) diversas situações 
colaboram para que uma pessoa se torne cuidadora principal, destacando a obrigação 
moral, os aspectos culturais e religiosos; esposo ou esposa; a falta de outras pessoas 
para a tarefa do cuidar. A obrigação de cuidar de um idoso origina-se de uma 
obrigação circunstancial mais do que de uma preferência. O indivíduo que ajuda o 
idoso nem sempre fez essa escolha de ser o cuidador por si mesmo, muitas vezes 
são escolhidos pela família ou até mesmo pelo idoso. 
 
 
 
 
42 
 
Segundo Camargo (2010 apud TELES R; 2015) as tarefas efetuadas pelo 
cuidador são: escutar, estar atento e ser solidário com o indivíduo, auxiliar nos 
cuidados de higiene, alimentação, locomoção, atividades físicas, estimular atividades 
de lazer e ocupacionais, mudar de posição na cama e na cadeira e fazer massagens 
de conforto. Assim como também são tarefas do cuidador auxiliar o idoso na 
administração dos medicamentos de acordo com a prescrição e orientação médica, e 
comunicar sobre as mudanças no estado de saúde, dentre outras. 
O cuidador familiar é um membro da família que assume o compromisso dos 
cuidados fornecido para o idoso com demência de Alzheimer (DA). E se 
responsabilizar pelos cuidados deste idoso com demência de longa duração é uma 
tarefa muito difícil, pois tratar-se de um transtorno que tem efeitos intensos podendo 
ter diversas consequências emocionais para o cuidador familiar (BARLOW, 2008 apud 
TELES R; 2015). 
Para Oliveira et al (2012 apud TELES R; 2015) o ato de cuidar é uma função 
socialmente atribuída às mulheres e são desempenhadas exclusivamente por elas, 
uma vez que os homens não estariam preparados para exercer essa função, mesmo 
que o quisessem. Assim a figura da mulher enquanto cuidadora é normatizada pela 
sociedade, portanto o cuidar de idoso é mais um papel realizado pela mulher dentro 
do lar, trabalhando ou não fora de casa (BAPTISTA et al, 2012 apud TELES R; 2015). 
Para Mendes (1995 apud TELES R; 2015) quem mais assume essa 
responsabilidade são as mulheres e por muitas vezes por obrigação. Ainda 
relata que maioria dos casos, são os familiares que assumem a 
responsabilidade dos cuidados do dependente, mais especificamente a 
mulher é que se demonstra como a “grande cuidadora” (seja ela mãe, esposa 
ou filha). Essa relação pode ser entendida culturalmente e socialmente bem 
como pela via religiosa, pois perpassa a relação matrimonial. É esperado que 
o casal cuide um do outro “até que a morte os separe”, sendo esta a condição 
que muitas vezes define quem irá cuidar se o cônjuge puder ou não realizar 
tal ação. Sendo assim na maioria das vezes, num casal de idosos quem 
assume o cuidado é a esposa, e quando ela não consegue cuidar sozinha ou 
não tem essa disponibilidade o cuidado é assumido pelas filhas (MENDES, 
1995 apud BERWANGER, 2012, p. 59-60 apud TELES R; 2015). 
Os cuidados oferecidos ao idoso com demência se esbarram com o desafio de 
auxiliar um indivíduo com dificuldade. Esses cuidadores enfrentam uma rotina que 
varia muito em virtude da demência, já que num dia o idoso pode estar agitado e em 
outro não, sendo necessário aprender a lidar da melhor forma possível com uma 
pessoa idosa com demência de Alzheimer (VIEIRA; FIALHO et al, 2011 apud TELES 
R; 2015).43 
 
De acordo com Pavarini; Melo (2008 apud TELES R; 2015) a doença de 
Alzheimer se caracteriza como um dos transtornos mentais que tem uma violenta 
consequência negativa na vida do idoso e da família, devido às incapacidades que 
este transtorno produz, segundo os mesmos autores: 
Uma demência que se caracteriza pelo comprometimento cognitivo e que traz 
como consequência a perda da capacidade funcional, aumentando a 
demanda por cuidados, que geralmente são cada vez mais complexos. 
Causa um ônus crescente sobre o idoso e a família e um enorme custo 
financeiro para o sistema de saúde. (PAVARINI; MELO, et al, 2008 apud 
TELES R; 2015). 
Segundo Luzarda; Gorini; Silva (2006 apud TELES R; 2015) com o 
aparecimento da demência, várias necessidades surgem e tornam a função do 
cuidador complicada, pois o idoso com demência precisará de cuidados contínuos e 
cada dia mais complexos, aumentando as responsabilidades nos cuidados destinados 
ao idoso com demência. Fica para o cuidador o compromisso de realizar as funções 
que o idoso com a demência não tem mais capacidade de efetuar sozinho; funções 
que vão desde a higiene pessoal até o controle financeiro da família. 
O cuidar de um idoso com demência necessita de dedicação total, sempre que 
isso é realizado exclusivamente por um cuidador, o mesmo fica sobrecarregado 
devido ao estresse físico e psíquico advindo do cuidar, afetando dessa forma a 
qualidade dos cuidados destinados ao idoso, já que esta atividade se torna um serviço 
repetitivo e sem pausa. (DOMINGUES; SANTOS; QUINTANS, 2009 apud TELES R; 
2015). 
Para a ABRAZ (apud DUARTE, 2002 apud TELES R; 2015) na fase moderada 
o avanço da demência é identificado por uma diminuição das agilidades mentais e 
físicas e pelo aparecimento de mudanças no comportamento como agitação e 
perambulação, exigindo maior cuidado. Esta fase é a que os cuidadores têm mais 
dificuldades, pois se torna muito estressante até mesmo para os próprios idosos. Em 
decorrência de acontecimentos de estresse o idoso pode não querer fazer 
determinadas tarefas, por exemplo, tomar banho ou trocar de roupa, nesse caso 
apresenta características e sentimentos de irritabilidade com o cuidador, ou talvez, 
pode optar por tirar a roupa em lugar impróprio sem ter noção das suas ações. 
 
 
 
44 
 
Segundo o mesmo autor, o idoso pode apresentar também os seguintes 
sintomas, Perda de memória mais acentuada; confusão mental; dificuldade em manter 
a atenção; problemas no reconhecimento de amigos e familiares; dificuldade com 
linguagem; problemas com leitura e com números; dificuldade em se organizar e 
pensar com lógica; incapacidade de aprender novas coisas ou de lidar com situações 
inesperadas; agitação, dificuldade em repousar; medo e ansiedade, especialmente ao 
entardecer; alucinações, ilusões, irritabilidade, desconfiança ou paranoia; perda de 
controle dos impulsos (uso de linguagem vulgar, despir-se em locais e momentos 
inadequados, utilizar modos não aceitos socialmente); dificuldade de percepção 
espacial como, por exemplo, dificuldade em se levantar da cadeira ou se posicionar 
na mesa (ABRAS, apud DUARTE, 2002, p. 143 apud TELES R; 2015). 
Com esses sintomas que são gradativos, essa tarefa pode gerar um abalo 
emocional, afetivo e um desgaste físico para os cuidadores, uma vez que o idoso se 
torna dependente. Esta condição aumenta com o aparecimento dessas perturbações 
provocando grande sofrimento tanto para o idoso quanto para seus cuidadores 
familiares, conforme TELES R; (2015). 
Nesse caso, são forçados a se reorganizarem para proporcionar os cuidados 
ao idoso que tende a ficar adoecido. Em muitos casos, esse familiar que assume a 
função de cuidador passa a viver em função do idoso e esquece a sua própria vida. 
Isso pode ocorrer devido ao fato deles ficarem atarefados, angustiados, ansiosos, 
insatisfeitos e preocupados, com problemas originados por brigas entre os integrantes 
da família e por ser uma demência degenerativa e não ter cura, a tarefa de cuidador 
torna-se cada vez mais complicada (PAVARINI, et al, 2008 apud TELES R; 2015). 
Segundo Cerqueira (2009 apud TELES R; 2015) na fase severa, o idoso passa 
a ter demência grave. As funções cognitivas morrem por inteiro e o idoso perde a 
capacidade de falar e entender, perde a prática de andar, sentar, sorrir e engolir 
ficando absolutamente dependente. Nesse caso, complica cada vez mais a tarefa do 
cuidador, onde se torna muito cansativo e estressante. A doença de Alzheimer muda 
totalmente a rotina do cuidador, fazendo-o sentir-se como um desconhecido em seu 
mundo. 
 
 
 
45 
 
Esta alteração origina-se em uma situação angustiante e de fragilidade pois ele 
passa por vários problemas exaustivos, pelo fardo de cuidar sozinho e não ter um 
revezamento com outros cuidadores ou familiares, a vida desses cuidadores fica 
totalmente comprometida, no qual apresenta uma queda do autocuidado e qualidade 
de vida; diminuição do tempo de lazer, vida social, vida familiar e afetiva (VALIM et al, 
2010 apud TELES R; 2015). 
De acordo com Pavarini et al, (2008 apud TELES R; 2015) outras demandas 
podem surgir no ambiente familiar, além dos cuidados necessários ao idoso com 
demência, problemas com filhos e irmãos e outras doenças que podem se apresentar 
em outro membro da família, somando-se à sobrecarga do cuidador, incluindo o seu 
próprio adoecer. 
 
 Demência vascular 
 
É reconhecido hoje o fato de a doença vascular tratar-se do fator de risco mais 
identificável para demência, ao lado da idade, e de ser passível de controle. 
Atualmente, o critério para demência vascular mais aceito é o do National Institute of 
Neurological Disorders and Stroke – Association Internationale pour la reserche et 
L’enseignement en Neurosciences (NINDS-AIREN), no qual constam que deve haver 
demência, associada a doença cerebrovascular - esta, por sua vez, definida pela 
presença de alterações ao exame neurológico ou através de exames de imagem e 
uma relação estabelecida entre ambos, conforme PARMERA J; et al., (2015). 
 Esta relação pode ser, por exemplo, por início de uma síndrome demencial 
dentro de três meses após um AVC reconhecido, ou por uma deterioração abrupta 
das funções cognitivas, ou por déficits cognitivos com aparecimento em “degraus”. 
Algumas características reforçam o diagnóstico, como presença precoce de 
distúrbios da marcha, tais como marcha em petit-pas ou apraxia, relato de 
desequilíbrio, paralisia pseudobulbar e urgência urinária precoce, além de mudanças 
na personalidade ou humor. A presença de déficit amnéstico precoce e progressivo, 
assim como ausência de lesões vasculares em exames de imagem ou ausência de 
sinais neurológicos focais tornam o diagnóstico menos provável, conforme PARMERA 
J; et al., (2015). 
 
46 
 
A fisiopatologia no comprometimento cognitivo vascular (CCV), termo bastante 
utilizado atualmente, envolve alterações em vasos cerebrais pequenos, acometendo 
a substância branca cerebral, chamada de leucoaraiose, assim como infartos 
pequenos estratégicos ou extensos, e lesões subcorticais extensas, com 
comprometimento de redes neurais, conforme PARMERA J; et al., (2015). 
Os sintomas são bastante variáveis, dependendo do território vascular afetado, 
e a velocidade de progressão também varia entre os acometidos. Nos infartos 
subcorticais predominam alterações de funções executivas, podendo também estar 
presentes alterações de memória, linguagem, praxias, entre outros, como 
alucinações, delírios, alterações da marcha e esfincterianas, conforme PARMERA J; 
et al., (2015). 
Os principais fatores de risco para doença vascular cerebral são hipertensão 
arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e tabagismo. Estudos epidemiológicos têm 
demonstrado que estes também são fatores de risco para DA, e estudos 
neuropatológicos mais atuais demonstram que a associação de alterações vasculares 
cerebrais e doençade Alzheimer é muito frequente. Ainda é incerto, entretanto, se os 
fatores de risco para doença vascular aumentam o risco de DA ou agravam e 
antecipam as manifestações clínicas da DA devido à presença concomitante de 
lesões vasculares, conforme PARMERA J; et al., (2015). 
A taxa de progressão também é variável, e pode progredir mais devagar do que 
a DA. A taxa de mortalidade, entretanto, é mais alta, embora com o advento de 
melhores terapêuticas para o AVC e para os fatores de risco tal constatação venha a 
ser mudada nos próximos anos, conforme PARMERA J; et al., (2015). 
 
 Demência frontotemporal 
 
As demências frontotemporais (DFT) apresentam quadro clínico característico, 
com alterações precoces de personalidade e de comportamento, além de alterações 
de linguagem (redução da fluência verbal, estereotipias e ecolalia), de início insidioso 
e caráter progressivo. A memória e as habilidades visuo espaciais encontram-se 
relativamente preservadas. As alterações de comportamento podem se apresentar 
como isolamento social, apatia, perda de crítica, desinibição, impulsividade, 
 
47 
 
irritabilidade, inflexibilidade mental, sinais de hiperoralidade e descuido da higiene 
pessoal (GALLUCCI,2005 apud SANTOS L; et al., 2014). 
Sintomas depressivos, preocupações somáticas bizarras e estereotipias 
motoras também podem ocorrer. Esses sintomas podem preceder as alterações 
intelectuais, e alguns testes neuropsicológicos de rastreio, como o mini exame do 
estado mental, podem estar normais no início, alterando-se com a evolução da doença 
(BAZARELLA,2012 apud SANTOS L; et al., 2014). 
Desse grupo de demências fazem parte a doença de Pick, a degeneração dos 
lobos frontais e a demência associada à doença do neurônio motor (esclerose lateral 
amiotrófica). Pode também ser incluída a demência semântica, também denominada 
como variante temporal das DFTs. Esse grupo de condições ocorre mais 
frequentemente na faixa pré-senil (antes dos 65 anos), com presença de história 
familiar em parentes de primeiro grau em cerca de 30% dos casos, com padrão de 
herança sugestivo de transmissão autossômica dominante (BAZARELLA,2012 apud 
SANTOS L; et al., 2014). 
Os pacientes com DFT apresentam reflexos primitivos, em especial sinais de 
frontalização (reflexos de preensão palmar, de sucção e de projeção tônica dos 
lábios), ao exame neurológico. Sinais de descoordenação motora e comportamentos 
de utilização (exploração incontrolável de objetos no ambiente) também são 
frequentes (DOURADO,2011 apud SANTOS L; et al., 2014). 
Eventualmente podem apresentar sinais parkinsonianos, particularmente 
evidentes em alguns casos de ocorrência familiar. Com relação à apresentação 
clínica, as já referidas alterações da afetividade e do comportamento social decorrem 
do predomínio frontal da atrofia cerebral. No caso da demência semântica, no entanto, 
como o processo degenerativo afeta principalmente os lobos temporais (sobretudo à 
esquerda), o quadro clínico se caracteriza por déficit de memória semântica. Com a 
evolução, podem ocorrer extensão das alterações neuropatológicas para os lobos 
frontais e consequente aparecimento das alterações de comportamento descritas 
(DOURADO,2011 apud SANTOS L; et al., 2014). 
 
 
 
 
 
48 
 
 Demência com corpos de lewy 
 
A história natural da Demência dos Corpos de Lewy (DCL) é tipicamente 
marcada pelo transtorno neurocognitivo desde o seu início, em seguida, havendo 
manifestação de sintomas extrapiramidais. As alterações motoras do tipo 
parkinsonismo espontâneo costumam ser simétricas e a bradicinesia e a alteração da 
marcha são mais frequentes que o tremor de repouso, sendo importante que estes 
sejam diferenciados de sinais extrapiramidais secundários ao uso de neurolépticos. 
Em contraste com os pacientes com Doença de Parkinson (DP), que apresentam 
benefício sustentado ao uso de agonistas dopaminérgicos, tais fármacos têm menor 
impacto na atenuação dos sintomas extrapiramidais dos pacientes com DCL 
(GOMPERTS, 2016; MUELLER et al., 2017 apud SILVA A; 2019). 
Um importante aspecto da (DCL- Demência dos Corpos de Lewy) são as 
recorrentes alucinações visuais complexas que, em geral, fazem parte do cortejo do 
quadro desde o início, frequentemente, envolvem membros vivos ou falecidos da 
família, pequenos animais e, usualmente, não são acompanhadas de alucinações que 
envolvam os outros sentidos, conforme SILVA A; (2019). 
Embora a memória possa ser comprometida, outros aspectos também são 
frequentes, como a habilidade visoespacial e a atenção. Outro aspecto importante é 
a flutuação do estado de alerta, podendo variar em um mesmo dia de episódios de 
agitação a frequentes episódios de sonolência e cochilos diurnos, o que pode se 
assemelhar a Delirium, mas sem que uma causa subjacente seja encontrada 
(COUTO, 2013 apud SILVA A; 2019). 
Outra característica importante da DCL é a sensibilidade aumentada aos 
antipsicóticos, que pode ser explicada pela diminuição dos transportadores de 
dopamina, e pode se manifestar como exacerbação dos sintomas extrapiramidais, 
piora da cognição, ocorrência da síndrome neuroléptica maligna e até aumento do 
risco de mortalidade, sendo fundamental um diagnóstico preciso para um 
planejamento seguro do tratamento (GOMPERTS, 2016 apud SILVA A; 2019). 
 
 
 
 
49 
 
Sintomas semelhantes são a anosmia, constipação e distúrbio do sono REM, 
podendo anteceder a doença por anos. Também há diversas manifestações 
características da disfunção autonômica, como hipotensão ortostática e suas 
complicações com quedas, síncopes, bexiga neurogênica e incontinência urinária 
(MUELLER et al., 2017 apud SILVA A; 2019). 
Segundo o DSM-5, para diagnóstico de DCL, são atendidos os critérios para 
TNC menor ou maior, tendo surgimento insidioso e progressão gradual e perturbação 
não explicada por doença vascular cerebral, outra doença neurodegenerativa, efeitos 
de uma substância ou outro transtorno mental, neurológico ou sistêmico. Ainda 
conforme o DSM-5, para o diagnóstico de provável DCL, o indivíduo deverá 
apresentar duas características centrais ou uma sugestiva com um ou mais aspectos 
principais. Para possível DCL, o indivíduo tem apenas uma característica central ou 
um ou mais aspectos sugestivos, conforme SILVA A; (2019). 
Pelos protocolos do DSM-5, as características diagnósticas centrais são: a- 
Cognição oscilante, com variações acentuadas na atenção e no estado de alerta; b- 
Alucinações visuais recorrentes, bem formadas e detalhadas; c- Características 
espontâneas de parkinsonismo, com aparecimento subsequente ao desenvolvimento 
do declínio cognitivo. Ratificando o DSM-5, as características diagnósticas sugestivas 
são: a- Atende a critérios de transtorno comportamental do sono REM; b- 
Sensibilidade neuroléptica grave. É importante o aspecto de que na DCL os déficits 
cognitivos maiores antecedem os sintomas motores de parkinsonismo espontâneo 
em, no mínimo, um ano, por convenção, conforme SILVA A; (2019). 
Consecutivo ao DSM-5, são características associadas que apoiam o 
diagnóstico: as quedas repetidas e síncopes, episódios passageiros de perda de 
consciência sem explicação, disfunção autonômica manifestada por hipotensão 
ortostática e incontinência urinária e alucinações auditivas, delírios sistematizados. Os 
estudos apontam que os critérios diagnósticos são de alta especificidade, mas baixa 
sensibilidade. Por isso, a avaliação de exames complementares também pode ser 
importante no diagnóstico (THOMAS et al., 2018; ZUPANCIC; MAHAJAN; HANDA, 
2011 apud SILVA A; 2019). 
 
 
 
50 
 
O prognóstico dos pacientes com DCL costuma ser menos favorável em 
relação aos pacientes com DA, por exemplo, devido à maior progressividade do 
declínio cognitivo, à grande incidência dos sintomas psiquiátricos, ao desafio 
diagnóstico que a DCL representa, aos maiores custos relacionados ao cuidado, ao 
maior prejuízoda qualidade de vida e até mesmo à maior sobrecarga do cuidador. A 
duração média da sobrevida do paciente com DCL é de 5 a 7 anos (MORRIN et al., 
2018; MUELLER et al., 2017 apud SILVA A; 2019). 
 Tipos de demências menos comuns 
 
 Doença de Parkinson 
 
A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais 
comum depois da Doença de Alzheimer, afetando cerca de 1% da população acima 
de 60 anos (SPRENGER; POEWE, 2013 apud CARMO M; 2015). No Brasil, a 
prevalência é estimada em cerca de 3,3% em pessoas com idade acima de 65 anos 
(BARBOSA et al., 2006 apud CARMO M; 2015). 
Como a prevalência da doença de Parkinson aumenta com a idade, um 
aumento global dos casos da doença é esperado nas próximas décadas. Baseado em 
estudos de prevalência publicados, um importante estudo fez uma projeção para os 
próximos anos, do número de indivíduos com DP nos cinco países mais populosos da 
Europa Ocidental e nos 10 países mais populosos do mundo, incluindo o Brasil. Foi 
demonstrado que o número de indivíduos com DP acima de 50 anos que nesses 
países estava em torno de 4,1 e 4,6 milhões em 2005, irá dobrar para números entre 
8,7 e 9,3 milhões de pessoas em 2030 (DORSEY et al., 2007 apud CARMO M; 2015). 
Embora a DP seja uma doença que atinge ambos os sexos, os estudos 
epidemiológicos demonstram uma maior frequência da doença no sexo masculino. Os 
fatores levados em consideração que podem contribuir para isso vão desde o estilo 
de vida, à exposição a fatores ambientais, e até uma possível ação neuroprotetora 
dos estrogênios (WOOTEN et al., 2004). Estudos recentes acerca da incidência da 
doença apontam que ela atinge mais indivíduos brancos que negros que habitam 
grandes cidades nos Estados Unidos (WILLIS et al., 2011 apud CARMO M; 2015). 
 
 
51 
 
As principais características fisiopatológicas da DP são a progressiva 
degeneração dos neurônios mielinizados da parte compacta da substância negra 
(SNpc) e a presença de inclusões citoplasmáticas, conhecidas como corpúsculos de 
Lewy, que são formadas principalmente por α-sinucleína e ubiquitina (EMBORG, 2004 
apud CARMO M; 2015). 
A degeneração dos neurônios dopaminérgicos da via nigroestriatal leva a uma 
intensa redução dos níveis de dopamina no estriado, bem como em outros núcleos da 
base (GERLACH; RIEDERER, 1996 apud CARMO M; 2015). Os núcleos ou gânglios 
da base compõem um grupo de núcleos subcorticais que possuem como função 
primordial o controle dos movimentos voluntários, são eles: estriado (caudado e 
putâmen), globo pálido (interno e externo), núcleo subtalâmico, e substância negra 
(parte compacta e reticulada) (BURCH; SHEERIN, 2005). 
 
 Cognição na doença de Parkinson 
 
Um dos déficits causados pelas alterações neuroquímicas e estruturais da DP 
é o cognitivo, estudos revelam comprometimento no sistema colinérgico, atrofia no 
hipocampo esquerdo, diminuição da densidade de substância cinzenta no lobo frontal, 
temporal, parietal, córtex insular e tálamo e aumento de lesões da substância branca 
(SEGURA et al., 2014; CHEN et al., 2016; DELGADO-ALVARADO, 2016; VESELÝ; 
REKTOR, 2016 apud MARTINS N; 2017). Pessoas com DP e demência apresentam 
um número dez vezes maior de corpos de Lewy no córtex e sistema límbico, quando 
comparados com aqueles com DP, porém sem demência (PITELLA et al., 2011 apud 
MARTINS N; 2017). 
Caspell-Garcia et al. (2017 apud MARTINS N; 2017) em um estudo 
longitudinal de 3 anos avaliaram 423 pacientes recém diagnosticados e 
indicaram como biomarcadores independentes de comprometimento 
cognitivo na DP, déficits de dopamina nigrostriatais ou corticais, atrofia 
cortical, placa amilóides (sugerindo co-morbidade com a DA) e fatores 
genéticos (polimorfismo no gene do fator neurotrófico derivado do cérebro e 
no gene da enzima COMT). 
Essas alterações, apesar de determinadas vezes não serem clinicamente 
aparentes, podem causar comprometimento em diversos domínios cognitivos, como: 
função executiva, habilidade visoespacial, memória, linguagem, atenção (PEDERSEN 
et al., 2013; ROBBINS e COOLS, 2014 apud MARTINS N; 2017). 
 
52 
 
Considerando associação com os sintomas motores, há pessoas com DP que 
apresentam maior instabilidade postural ou tremor que outros, e essa predominância 
de um sintoma não interfere apenas no desempenho das atividades do cotidiano, foi 
evidenciado que aqueles que possuem maior instabilidade postural tem pior 
desempenho cognitivo do que os que apresentam o tremor como sintoma dominante 
(VERBANN et al, 2007; HARIZ; FORSGREN, 2011 apud MARTINS N; 2017). 
Os déficits cognitivos também podem se relacionar com os encontrados nos 
motores, como por exemplo: bradifrenia (lentificação cognitiva) e bradicinesia (lentidão 
dos movimentos), pois, acredita-se que ambos são controlados pelo mesmo sistema 
dopaminérgico (DOMELLOF; ELGH; FORSGREN, 2011; ROBBINS; COOLS, 2014 
apud MARTINS N; 2017). Um estudo transversal identificou uma correlação entre 
habilidades de equilíbrio e mobilidade funcional com função executiva, atenção 
dividida e disfunção cognitiva global (VARALTA et al., 2015 apud MARTINS N; 2017). 
Apesar de no início da DP alguns dos déficits não serem diagnosticados e/ou 
não apresentarem consequências negativas para a rotina do indivíduo, há aqueles 
que adquirem CCL- Comprometimento cognitivo leve, e nos estágios mais avançados 
da doença apresentam demência (BARBOSA; FERRAZ, 2013 apud MARTINS N; 
2017). Além disso, estudos apontam que indivíduos com DP possuem um risco de 
demência de cinco a seis vezes superior ao da população geral, e que a partir do 
diagnóstico inicial deve ser realizada, anualmente, alguma forma de avaliação 
cognitiva para acompanhamento do estado cognitivo do paciente (BURN et al., 2014; 
GOUVEIA, 2008 apud MARTINS N; 2017). 
O CCL - Comprometimento cognitivo leve, se caracteriza por alterações de uma 
função cognitiva, se for da memória (CCL amnésico), de outra função cognitiva (CCL 
não-amnésico), ou ainda alteração conjunta de várias funções cognitivas, porém o 
indivíduo não tem uma perda funcional no desempenho das atividades do cotidiano 
(JANVIN et al, 2006; CANINEU; SAMARA; STELLA, 2013 apud MARTINS N; 2017). 
Kalbe e colaboradores (2016 apud MARTINS N; 2017) indicaram que o tipo mais 
frequente de CCL - Comprometimento cognitivo leve, na DP é o não amnésico, sendo 
a função executiva, o domínio mais afetado. 
 
 
 
53 
 
Pessoas com DP e CCL, apresentam um declínio cognitivo mais rápido e 
evolução para demência em um menor tempo se comparados com aqueles apenas 
com DP (AARSLAND; BRØNNICK; FLADBY, 2011 apud MARTINS N; 2017). 
Pedersen et al. (2017 apud MARTINS N; 2017) evidenciaram que 59% dos pacientes 
de DP com CCL - Comprometimento cognitivo leve evoluíram para um quadro 
demencial no período de cinco anos, enquanto que apenas 7% dos pacientes de DP 
sem CCL tiverem demência neste mesmo período. 
No estudo de coorte de Pigott e colaboradores, 2015, todos os casos de CCL 
evoluíram para demência no intervalo de cinco anos. Estudos longitudinais, 
que acompanharam pessoas com CCL e sem doenças neurodegenerativas, 
apontam uma taxa de conversão para demência de 20 a 30% em um período 
de seis a dez anos (MITCHELL; SHIRI-FESHKI, 2008 apud MARTINS N; 
2017). 
Segundo Gasca-Salas e colaboradores (2014 apud MARTINS N; 2017), a 
evolução para o CCL na DP, se caracteriza por déficit na atenção, função executiva e 
memória, já a evolução do CCL para a demência é marcada pelo surgimento de 
déficits na habilidade visoespacial e piora da atenção e função executiva. Em um 
estudo brasileiro, os autores indicaram como preditores para desenvolvimento de 
demência na DP, o estágio da doença, segundo a escala de Hoehn & Yahr (HY) e a 
idade (BALDIVIA et al., 2011 apud MARTINS N; 2017). 
As pesquisas e os ensaios clínicos, com protocolos de tratamento do 
comprometimento cognitivo na DP, revelam o uso de terapias não farmacológicase 
desenvolvimento e teste de drogas, como a: rivastigmina, memantina, rasagilina, 
porém ainda há uma carência de estratégias que retardem ou previnam o declínio 
cognitivo levando em consideração as características degenerativas da doença, e que 
uma piora na cognição é um fator de risco para o aumento de dependência nas 
atividades de vida diária (AVD) em pessoas com DP (GOLDMAN; WEINTRAUB, 2015; 
MACLEOD; COUNSELL, 2016 apud MARTINS N; 2017) 
 
 Doença de Huntington 
 
A doença de Huntington (DH) é uma patologia neurodegenerativa caracterizada 
por alterações motoras progressivas, distúrbio emocional, demência e morte neuronal. 
Classicamente conhecida como coréia de Huntington (‘khoreia’ é a palavra grega para 
dança), foi primeiramente descrita pelo médico norte americano George Huntington, 
 
54 
 
em 1872, que identificou as características clínicas da doença e o padrão de 
transmissão familiar (Bates, 2005 apud COLLE D; 2012). 
Contudo, foi apenas em 1983 que a mutação gênica causadora da DH foi 
localizada no cromosssomo 4 (Gusella et al., 1983 apud COLLE D; 2012) e, 
posteriormente, isolada em 1993 pelo Huntington’s Disease Collaborative Research 
Group. Este grupo identificou uma mutação na porção 5’ do gene IT15 ou “Interesting 
Transcript 15” no braço curto do cromossomo 4, que codifica a proteína Huntingtina. 
Tal mutação resulta numa expansão da sequência de nucleotídeos citosina, adenina 
e guanina (CAG - que codifica o aminoácido glutamina), resultando em uma proteína 
mutante com uma sequência de poliglutaminas (poli-Q) no terminal amínico da 
proteína huntingtina (Huntington’s Disease Collaborative Research Group, 1993 apud 
COLLE D; 2012). 
Geralmente, em indivíduos normais (que não apresentam a doença), a proteína 
huntingtina apresenta menos de 35 repetições. Já nos afetados pela desordem, a 
proteína apresenta acima de 36 resíduos de glutamina na porção N-terminal da cadeia 
polipeptídica (Huntington’s Disease Collaborative Research Group, 1993), sendo essa 
característica utilizada como parâmetro de diagnóstico para a doença (Perez-De La 
Cruz e Santamaria, 2007 apud COLLE D; 2012). 
Uma correlação inversa tem sido descrita entre o comprimento da sequência 
Poli-Q e a idade do desenvolvimento da doença, determinado pela primeira 
manifestação motora (Andrew et al., 1993; Roos, 2010 apud COLLE D; 2012). Quanto 
mais longa essa sequência, mais cedo ocorre o desenvolvimento da doença e mais 
severa é sua progressão (Vonsattel e DiFiglia, 1998 apud COLLE D; 2012). Quando 
a doença inicia antes dos 20 anos de idade, conhecida como Doença de Huntington 
Juvenil (DHJ), a sequência poliglutamínica geralmente excede 55 repetições 
(Wheelock et al., 2003 apud COLLE D; 2012). 
A DH possui herança autossômica dominante, onde o alelo normal transmite-
se de geração em geração segundo as regras de hereditariedade 
Mendeliana. O alelo mutante é instável durante a meiose, alterando o seu 
comprimento na maioria das transmissões entre as gerações, com um 
aumento de 1-4 unidades ou diminuição de 1-2 unidades do triplete CAG (Gil-
Mohapel e Rego, 2011 apud COLLE D; 2012). Em casos raros podem ocorrer 
expansões maiores associadas à transmissão paterna, o que reflete uma 
maior taxa de mutação durante a espermatogênese (Huntington’s Disease 
Collaborative Research Group, 1993 apud COLLE D; 2012). 
 
55 
 
A doença possui prevalência de 5-10 casos para cada 100.000 habitantes na 
Europa e América do Norte (Ho et al., 2001; Vonsattel e DiFiglia, 1998 apud COLLE 
D; 2012). A proteína huntingtina mutante é expressa durante toda a vida, porém, na 
maioria dos casos, o aparecimento dos primeiros sintomas surge apenas na idade 
adulta, entre os 35 e 50 anos de idade (Roos, 2010 apud COLLE D; 2012). A doença 
progride ao longo do tempo, tornando-se fatal entre 15 a 20 anos após o aparecimento 
dos primeiros sintomas (Ho et al., 2001; Ross e Tabrizi, 2011 apud COLLE D; 2012). 
Clinicamente, a DH caracteriza-se por coréia progressiva, declínio cognitivo e 
distúrbios psiquiátricos (Roos, 2010 apud COLLE D; 2012). Os primeiros sinais da 
patologia são sutis e podem variar bastante entre cada indivíduo. Numa fase precoce, 
podem ser observadas alterações moderadas na execução dos movimentos, 
dificuldades na resolução de problemas, irritabilidade e depressão. As alterações 
motoras, associadas à perda de coordenação dos movimentos voluntários, progridem 
de forma lenta. Os movimentos involuntários dos músculos (especialmente membros 
superiores, inferiores e de face) tornam-se mais graves e os pacientes perdem 
gradualmente a capacidade de movimento, fala e deglutição em fases mais 
avançadas da doença (Garcia Ruiz et al., 2000; Roos, 2010; Sanchez-Pernaute et al., 
2000; Thompson et al., 1988 apud COLLE D; 2012). 
Além das alterações motoras, as funções cognitivas são também afetadas nos 
pacientes com DH (Gil-Mohapel e Rego, 2011 apud COLLE D; 2012). O declínio da 
capacidade intelectual e de memória são os principais sinais de déficit cognitivo 
nesses indivíduos (Roos, 2010 apud COLLE D; 2012) e, em alguns casos, podem ser 
detectados décadas antes do aparecimento dos sintomas motores (Gil-Mohapel e 
Rego, 2011 apud COLLE D; 2012). 
As alterações cognitivas tendem a piorar ao longo do tempo, onde os doentes 
em fase tardia podem apresentar demência severa (Folstein et al., 1983 apud COLLE 
D; 2012). Por outro lado, um comportamento maníaco-depressivo, alterações de 
personalidade, tais como irritabilidade, apatia e distúrbios sexuais e depressão fazem 
parte da síndrome psiquiátrica que caracteriza a DH (Dewhurst et al., 1970; van Duijn 
et al., 2007 apud COLLE D; 2012). A morte geralmente ocorre devido a complicações 
respiratórias infecciosas, cardiovasculares ou até mesmo por quedas, engasgos e 
suicídio (Roos, 2010 apud COLLE D; 2012). 
 
56 
 
Considerando as características acima descritas, os critérios usados para o 
diagnóstico da DH incluem: histórico familiar de DH, déficit motor progressivo 
associado à coréia ou rigidez, bem como alterações psiquiátricas com demência 
progressiva, sem outra causa definida (Ross e Tabrizi, 2011 apud COLLE D; 2012). 
Os indivíduos que apresentam estes sintomas são submetidos ao teste genético, de 
forma a avaliar a presença da mutação associada à DH e confirmar o diagnóstico (Gil-
Mohapel e Rego, 2011 apud COLLE D; 2012). 
 
 Manifestações motoras na doença de Huntington 
A DH é caracterizada pela tríade progressiva de sintomas motores, cognitivos 
e psiquiátricos. A idade média de início é aos 45 anos e a média de vida é de 15 a 20 
anos após o início da doença (GHOSH; TABRIZI, 2018 apud CARVALHO P; 2019). A 
coreia é a característica clínica mais marcante na DH. É um movimento hipercinético, 
anormal, involuntário e fluido, com contrações musculares aleatórias e imprevisíveis. 
Surge secundariamente à disfunção nos núcleos da base. 
A distribuição corporal é generalizada. Em adultos, está presente desde o início 
da doença, mas na forma juvenil é menos comum. No início da doença, a coreia é de 
amplitude reduzida, mais distal e em face, pouco perceptível para olhos não treinados, 
ou pode ser interpretada como uma inquietação. Com a progressão clínica, torna-se 
também mais proximal, pronunciada e ampla (TABRIZI et al., 2015 apud CARVALHO 
P; 2019). 
Os pacientes muitas vezes não se queixam da coreia, mas ela pode atrapalhar 
atividades rotineiras, como escrita e alimentação. A coreia e a incoordenação 
contribuem para o comprometimento dos movimentos finos. Objetos podem cair com 
mais frequência das mãos, como copos e pratos, impactando no declínio funcional do 
paciente (FAHN; JANKOVIC; HALLETT, 2011 apud CARVALHO P; 2019). 
O paciente muitas vezes tenta incorporar o movimento coreico a um movimento 
normal, uma maneira de camuflar a coreia com paracinesias, como levar a mão aos 
cabelos ou colocar um cigarro na boca (GILBERT; FRUCHT,2011 apud CARVALHO 
P; 2019). Em estágios moderados a avançados da doença, a coreia atinge um platô 
ou até se reduz. Outros sintomas motores se tornam mais proeminentes, como 
bradicinesia, rigidez e incoordenação (TABRIZI et al., 2015 apud CARVALHO P; 
2019). 
 
57 
 
A DH não se limita à coreia. Há outros sintomas motores e não motores que 
podem causar impacto na funcionalidade do paciente e em suas atividades de vida 
diária. Sintomas motores que contribuem para incapacidade funcional são: 
anormalidades da motilidade ocular, bradicinesia, distonia, mioclonia, tiques, ataxia, 
perda dos reflexos posturais com instabilidade e quedas, disartria, disfagia 
(CARDOSO et al., 2006 apud CARVALHO P; 2019). 
A distonia, em diferentes graus, quase sempre se associa à coreia, mesmo no 
início da doença (ORTH, 2014 apud CARVALHO P; 2019). Por esse motivo, a coreia 
da DH pode não parecer tão “dançante” quanto a coreia de Sydenham, que possui 
muita hipotonia e pouca distonia associada. 
As anormalidades da motilidade ocular estão presentes na grande maioria dos 
pacientes com DH e são muito características. Há dificuldade em manter contato 
visual. O paciente, para iniciar o movimento ocular, necessidade de piscamentos ou 
rotação cefálica para o lado que deseja olhar. Isso pode ser atribuído à apraxia ocular 
e à intrusão de movimentos coreicos (ORTH, 2014 apud CARVALHO P; 2019). Essas 
alterações pioram progressivamente e podem ser mensuradas pela UHDRS. O 
aumento da latência para iniciação de sacadas é um sinal precoce da DH (GILBERT; 
FRUCHT, 2011 apud CARVALHO P; 2019). 
A impersistência motora é outro sintoma característico da DH, apesar de nem 
sempre estar presente. O paciente não é capaz de manter a protusão completa da 
língua por 10 a 20 segundos. Também não consegue segurar a mão do examinador 
por vários segundos, sem soltá-la em alguns momentos, conhecido como o sinal da 
ordenha. A impersistência motora pode ser compreendida como uma “coreia negativa” 
(FAHN; JANKOVIC; HALLET, 2011 apud CARVALHO P; 2019). 
A disartria também progride com a doença, por incoordenação da musculatura 
buco-oro-lingual. No início há apenas dificuldade para articular palavras, mas ainda é 
compreensível. Com o avanço da doença, torna-se cada vez mais difícil de 
compreender as frases do paciente, até o ponto de desenvolver anartria, ou seja, a 
incapacidade completa de articular palavras (GHOSH; TABRIZI, 2018 apud 
CARVALHO P; 2019). 
 
 
 
58 
 
A disfagia é outro sintoma debilitante e afeta a maioria dos pacientes com DH. 
Ocorre incoordenação da musculatura em todas as etapas da deglutição. Em estágios 
moderados a avançados, há dificuldade em deglutir a própria saliva, causando 
sialorreia. Em estágio avançado, o risco de aspiração aumenta a ponto de ser 
necessário a gastrostomia para sonda naso-gástrica (ORTH, 2014 apud CARVALHO 
P; 2019). 
O diagnóstico clínico da DH é baseado em sinais motores inequívocos. Mesmo 
com o diagnóstico genético, o diagnóstico clínico motor ainda é importante, pois é um 
marcador de quando os primeiros sintomas começaram. O nível de convicção 
diagnóstica de um examinador experiente deve ser 4 para que o diagnóstico motor 
seja confirmado (PREDICT-HD, 2013 apud CARVALHO P; 2019). 
Nível de convicção diagnóstica da UHDRS: Escala unificada para 
avaliação da doença de Huntington. 
 
Fonte: teses.usp.br 
Anormalidades motoras sutis podem ser detectadas até 10 anos antes do 
diagnóstico clínico, quando avaliadas por examinadores experientes. Dentre elas: 
aumento da latência para iniciação de sacadas, movimentos coreicos mínimos, 
bradicinesia discreta no teste de batida dos dedos (finger tapping), teste de Luria e 
marcha em tandem levemente alterados (PREDICT-HD, 2009 apud CARVALHO P; 
2019). 
 
 Manifestações cognitivas 
A presença de sinais motores inequívocos, especialmente a coreia, é utilizado 
em pesquisas e em avaliações clínicas para estabelecer o diagnóstico clínico de DH. 
 
59 
 
Contudo, os sintomas não motores – psiquiátricos e cognitivos – frequentemente 
surgem antes dos sintomas motores (GILBERT; FRUCHT, 2011 apud CARVALHO P; 
2019). 
O declínio motor do paciente com DH, gerando comprometimento funcional 
progressivo, está bem caracterizado e estabelecido na história natural da doença, 
principalmente com os estudos no Lago Maracaibo, Venezuela (AVILA-GIRÓN, 1973 
apud CARVALHO P; 2019). Contudo, até pouco tempo, não se sabia a respeito da 
história natural do declínio cognitivo em pacientes com DH. Apesar de muitos estudos 
transversais, não havia coortes com 5, 10 anos de acompanhamento. Com isso, não 
estava bem caracterizado quais os domínios cognitivos afetados na fase prodrômica, 
na fase inicial ou em estágios mais avançados (STOUT et al., 2014 apud CARVALHO 
P; 2019). 
Nos últimos 10 anos, grandes coortes em DH foram finalizadas, permitindo 
montar um fenótipo do declínio cognitivo na DH (PREDICT-HD, 2014; TRACK-HD, 
2013; COHORT, 2012; REGISTRY, 2012 apud CARVALHO P; 2019). Um 
comprometimento cognitivo, inicialmente sutil, pode ser detectado até 10 anos antes 
do diagnóstico clínico motor. Cerca de 40% dos indivíduos com DHPr possuem 
comprometimento cognitivo leve. Essa taxa é maior nas fases que antecedem o 
diagnóstico clínico motor. Os domínios cognitivos mais comumente acometidos na 
DHPr são: velocidade de processamento, função executiva, integração visuomotora e 
reconhecimento de emoções (STOUT et al., 2014 apud CARVALHO P; 2019). 
Dentre esses 4, o domínio cognitivo mais frequentemente afetado na DHPr é a 
velocidade de processamento, relacionada a áreas subcorticais frontais. Uma forma 
comumente utilizada para se avaliar a velocidade de processamento é pelo Symbol 
Digit Modalities Test. Esse teste consiste em associar determinados símbolos a 
números de acordo com uma tabela, em um espaço de tempo fixo (90s). Quanto mais 
associações o indivíduo fizer, maior é a sua pontuação. Verifica-se um declínio linear 
da velocidade de processamento na preDH e na DH,(PAULSEN et al., 2017 apud 
CARVALHO P; 2019). 
 
 
 
 
60 
 
Outro domínio cognitivo frequentemente afetado na DHPr é a função executiva, 
secundário à atrofia estriatal-subcortical. Esse domínio envolve a habilidade de tomar 
decisões, organização, planejamento e supervisão. Pode ser avaliado pelo Teste 
Stroop e pela fluência verbal fonêmica. O Teste Stroop avalia a capacidade de nomear 
as cores de palavras com cores diferentes. Por exemplo, a cor da tinta da palavra 
VERDE é VERMELHA. Isso permite avaliar o controle inibitório e função executiva. 
Na fluência verbal fonêmica, solicita-se ao indivíduo que enumere palavras iniciadas 
com determinada letra, em geral as letras F, A e S (STOUT et al., 2014 apud 
CARVALHO P; 2019). 
No dia a dia, os indivíduos com DHPr ou DH manifesta podem se sentir 
sobrecarregados quando lidam com múltiplas tarefas e seu desempenho no trabalho 
pode diminuir, levando à frustração, irritabilidade e depressão (ORTH, 2014 apud 
CARVALHO P; 2019). 
O reconhecimento de emoções também está alterado na DHPr. O indivíduo 
ainda é capaz de compreender e lembrar de emoções, mas tem dificuldade em 
reconhecer se uma expressão facial ou um tom de voz representam medo, tristeza ou 
repugnância (PAULSEN et al., 2017 apud CARVALHO P; 2019). Isso pode implicar 
em dificuldades de relacionamento e piora dos sintomas psiquiátricos. 
Seu mecanismo fisiopatológico e localização anatômica ainda são 
desconhecidos. Contudo, em estudos mais recentes, o comprometimento no 
reconhecimento de emoções tem se associado também a déficits na teoria da mente, 
que é a habilidade de compreender e criar empatia por sentimentos ou situações de 
outrem (PAULSEN et al., 2017 apud CARVALHO P; 2019). 
A integração visuomotora é a capacidade de se utilizar de elementos visuais 
para realizar ações motoras, por exemplo, dirigir e andar de bicicleta. Uma maneirade testá-la é solicitando que o indivíduo trace uma figura geométrica visualizada, mas 
sem olhar para a própria mão que está desenhando. Essa alteração precoce é 
compatível com estudos recentes de volumetria em ressonância magnética, que 
detectaram hipotrofia cortical parietal e occiptal na DHPr. Essa atrofia cortical posterior 
precoce e seu impacto na DH ainda precisa ser melhor compreendida, mas põe em 
dúvida a hipótese de que a atrofia inicial na DH é puramente estriatal-subcortical 
(STOUT et al., 2014 apud CARVALHO P; 2019). 
 
61 
 
Em pacientes com o diagnóstico clínico motor, o declínio cognitivo torna-se 
mais aparente. Nesta fase inicial da DH, os domínios cognitivos afetados aumentam 
em número e gravidade. Entre eles, atenção, memória de trabalho, aprendizado e 
memória episódica. O declínio da memória episódica não é tão pronunciado quanto 
na doença de Alzheimer. Outros domínios como compreensão linguística, orientação 
espacial e memória semântica são relativamente preservados (STOUT et al., 2014 
apud CARVALHO P; 2019). 
Com a evolução da doença, o paciente torna-se cada vez mais autocentrado, 
incapaz de ver outros pontos de vista. Frequentemente se negligencia, não cuidando 
da higiene própria nem se alimentando devidamente. Também negligencia familiares 
e cuidadores, o que pode ser secundário ao déficit de teoria da mente e 
reconhecimento de emoções. Isso pode levar à falta de conexão e perda da empatia 
com familiares e cuidadores, em um momento em que o paciente mais precisa deles, 
pois, com o declínio cognitivo e motor, o indivíduo com DH vai se tornando cada vez 
mais dependente (ORTH, 2014 apud CARVALHO P; 2019). 
A figura abaixo, resume os domínios cognitivos afetados na DH. Domínios 
cognitivos acometidos em diferentes estágios 
 
Fonte: teses.usp.br 
 
 
 
 
62 
 
 Doença de CREUTZFELDT-JAKOB (DCJ) 
 
A doença de Creutzfeldt-Jakob é a encefalopatia espongiforme mais comum 
em humanos. Um estudo feito no Brasil com óbitos por doenças prionicas revelou que 
entre os anos de 2005 a 2010, houve 132 óbitos por DCJ (Cardoso et al., 2015 apud 
PINTO A; et al., 2016). 
A incidência da doença é mundialmente estável, porém, estima-se ser 
subnotificada na maioria dos países, por falta de sistemas de vigilância adequados. 
Segundo a OMS, é de aproximadamente 1 morte para cada 1 milhão de habitantes 
por ano nos países que possuem vigilância nacional da DCJ implantada, como no 
Reino Unido (dados de 2011 apud PINTO A; et al., 2016). No Brasil, varia de 1 a 2 por 
milhão de habitantes ao ano (Brasil, 2006 apud PINTO A; et al., 2016). 
Tipicamente, essa doença se inicia com sintomas prodrômicos como fadiga, 
dor de cabeça, alucinações, alterações comportamentais, sono e falta de apetite, por 
fim, progride para demência com mioclonia e ataxia, sinais piramidais, extrapiramidais 
e cerebelares, com óbito ocorrendo geralmente após um ano do início dos sintomas. 
Pode desenvolver-se em qualquer idade, afetando mais frequentemente pessoas 
entre 50 e 70 anos de idade (80%) (Collins et al., 2004; Eduardo et al., 2008 apud 
PINTO A; et al., 2016). 
Atualmente são descritas 4 variantes da doença de Creutzfeldt-Jakob: a 
esporádica (sDCJ), a familiar (fDCJ), a iatrogenica e a nova variante (vDCJ). Em cerca 
de 85% dos pacientes, a DCJ ocorre como uma doença esporádica, ou seja, sem 
nenhum padrão de transmissão reconhecível. Essa forma sDCJ é a mais conhecida e 
a mais frequente, com incidência de 0,5 a 1,0 casos/ milhão/ano. Ocorre geralmente 
em pessoas com idade entre 50 e 70 anos, sem predileção de gênero. Uma pequena 
proporção de pacientes (10 a 15%) desenvolve DCJ decorrente de mutações 
hereditárias nos genes da proteína do príon, que é a variante familiar. Os demais se 
dividem entre a de origem iatrogênica e a nova variante (Engelhardt et al., 2010 apud 
PINTO A; et al., 2016). 
 
 
 
 
63 
 
O primeiro caso descrito como DCJ iatrogênica foi registrado nos Estados 
Unidos, em 1974, devido a um transplante de córnea. Estudos subsequentes 
mostraram a importância de métodos invasivos no desenvolvimento da DCJ 
iatrogênica, como transplante de dura mater, uso de hormônios do crescimento e 
gonadotrofinas de pituitária cadavérica, além d a contaminação por meio de feridas 
ou em mucosa nasal parece ser de alto risco (Eduardo et al., 2008 apud PINTO A; et 
al., 2016). 
 Outro fator importante é o da possibilidade da transmissão por transfusão 
sanguínea, que implica que, além da doação de sangue, o agente poderia ser 
transmitido também por outros órgãos como coração, fígado, pulmão, rim, etc., além 
dos tecidos nervosos, exigindo critérios mais rígidos nas práticas de transplante de 
órgãos. Até 2002 haviam sido identificados no mundo 300 episódios diagnosticados 
como DCJ iatrogênica no Brasil (Eduardo et al., 2008 apud PINTO A; et al., 2016). 
A nova variante é causada por ingestão de carne bovina contaminada. Essa 
forma está relacionada à epidemia de Encefalite Espongiforme Bovina (EEB ou BSE, 
em inglês) em gado, conhecida como “doença da vaca louca”, que foi primeiramente 
identificada em 1986 na Europa. Em virtude do aparecimento de casos de vDCJ, em 
1990 a OMS e autoridades sanitárias internacionais recomendaram a implantação 
mundial de um sistema de vigilância da DCJ para detecção precoce da doença. No 
Brasil, essa medida foi implantada em 2005, pelos Ministérios da Saúde e da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Cardoso et al., 2015; Brasil et al., 2016 apud 
PINTO A; et al., 2016). 
Variante (vDCJ) afeta predominantemente pessoas jovens, entre 20 e 30 anos, 
com quadro atípico: sinais e sintomas iniciais psiquiátricos ou sensoriais proeminentes 
e com anormalidades neurológicas tardias (cerca de 6 meses a 2 anos após os 
sintomas psiquiátricos), incluindo ataxia, demência e mioclonia tardias. Após o 
aparecimento de sintomas neurológicos a doença progride para um acometimento 
cognitivo global, movimentos involuntários, incontinência urinária, imobilidade 
progressiva, cegueira cortical, disfagia, levando ao aumento da dependência, falta de 
contato e comunicação, entre outras complicações. Até 2002, 139 casos da nova 
variante da DCJ haviam sido registrados no Brasil e 63% apresentavam início de 
sintomas exclusivamente psiquiátricos (Eduardo et al., 2008; Brasil, 2016 apud PINTO 
A; et al., 2016). 
 
64 
 
8 FRAGILIDADE FÍSICA E O ENVELHECIMENTO 
 
Fonte: jornal.usp.br 
Durante a vida adulta, todas as funções fisiológicas gradualmente declinam. A 
capacidade de síntese de proteínas diminui, existe um declínio nas funções 
imunológicas, aumento da massa gorda, perda de força e massa muscular e uma 
diminuição da densidade de cálcio nos ossos (Jacob e Souza, 1994 apud GARCIA A; 
et al., 2006). 
 A maioria dos que alcançam idade avançada irá morrer de problemas 
cardiovasculares, arteriosclerose, câncer ou demência, mas com o aumento do 
número de idosos saudáveis, a perda da força muscular é um fator que limita as 
chances de viver uma vida independente (revisado por Pereira et al., 2004 apud 
GARCIA A; et al., 2006). 
A deficiência da idade é caracterizada por uma fraqueza generalizada, 
mobilidade e equilíbrio debilitados. Na idade avançada, esse estado é 
chamado de fragilidade física, que é definido como "um estado de reservas 
fisiológicas reduzidas associado a um aumento da susceptibilidade para a 
incapacidade" (Jacob e Souza, 1994). Isso ocasiona quedas, fraturas, 
debilidade nas atividades do dia-a-dia e perda da independência (revisado 
por Pereira et al., 2004; Bulcão et al., 2004 apud GARCIA A; et al., 2006). 
 
65 
 
A perda da força muscular é um fator importante no processo de fragilidade. 
Tal fraqueza pode ser causada pelo envelhecimento das fibras musculares e suas 
enervações, osteoartrite e doenças debilitantes em geral. Contudo, um estilo de vida 
sedentário e a diminuição da atividade física também são determinantes(Jacob e 
Souza, 1994 apud GARCIA A; et al., 2006). 
Entretanto, parte do processo de envelhecimento, em ambos os sexos, que 
afeta a composição corporal (perda do tamanho e força muscular, perda óssea, e 
acréscimo de massa gorda) também está relacionado com mudanças no sistema 
endócrino gonadal e extragonadal (Molle et al., 2004; Bulcão et al., 2004 apud 
GARCIA A; et al., 2006). 
No processo de envelhecimento diversas modificações fisiológicas podem ser 
observadas, comprometendo a manutenção do equilíbrio homeostático, gerando 
gradual declínio das funções fisiológicas (Jacob e Souza, 1994 apud GARCIA A; et 
al., 2006). A principal característica dessas mudanças seria a queda progressiva da 
reserva funcional. O envelhecer, sob um ponto de vista fisiológico, depende 
significativamente do estilo de vida que a pessoa assume desde a infância ou 
adolescência, tais como fumar cigarros, praticar regularmente exercícios físicos ou 
esportes, ingerir alimentos saudáveis, tipo de atividade ocupacional, etc. 
 O estilo de vida adotado por uma pessoa desde jovem, como alimentação, 
práticas esportivas e ocupação, influenciará de forma significativa o seu 
envelhecimento fisiológico (Bulcão et al., 2004; Leite, 1990 apud GARCIA A; et al., 
2006). Hoje, sabe-se que o processo de envelhecimento não é uniforme. 
O organismo envelhece como um todo, enquanto que seus órgãos, tecidos, 
células e estruturas subcelulares têm envelhecimentos diferenciados, parecendo este 
fenômeno ser determinado, basicamente, pela hereditarie-dade. Atualmente, sabe-se 
que o processo de envelhecimento ocorre de forma diferenciada, pois apesar de o 
organismo envelhecer como um todo, suas estruturas (órgãos, tecidos, células) 
envelhecem diferenciadamente. Este fato, aparentemente, é determinado pela 
hereditariedade (Weineck, 1991 apud GARCIA A; et al., 2006). 
 
66 
 
8.1 Aspectos neuropsicológicos do envelhecimento 
O desenvolvimento de estudos de Psicologia e psiquiátricos no idoso 
proporcionou mudança no paradigma do envelhecer psíquico. Durante a velhice, não 
é comum o aparecimento de alterações na funcionalidade mental do idoso, ou seja, 
os idosos saudáveis, sem limitações físicas, podem ser bastante produtivos. A 
definição de quais e como as funções psíquicas se modificam no decorrer dos anos 
permitiu a consideração de que o idoso não seja tratado como um ser limitado 
cognitivamente, mas que requer a adaptação de estímulos ambientais para possuir 
funcionalidade comparável à de adultos jovens, conforme MORAES E; et al., (2010). 
 O conhecimento sobre o envelhecimento neuropsicológico ajuda a 
fundamentar as mudanças exigidas pela sociedade para que os idosos sejam 
adequadamente valorizados em nosso meio. O termo cognição corresponde à faixa 
de funcionamento intelectual humano, incluindo percepção, atenção, memória, 
raciocínio, tomada de decisões, solução de problemas e formação de estruturas 
complexas do conhecimento. A grande dificuldade acerca do envelhecimento é o 
limite entre alterações cognitivas normais e patogênicas, conforme MORAES E; et al., 
(2010). 
O desenvolvimento do conhecimento sobre os vários tipos de demências, o 
avanço dos métodos de neuroimagem e estudos científicos apropriados permitiram o 
julgamento sobre o limite entre saúde e doença no idoso. Algumas das habilidades 
cognitivas se modificam em relação ao tempo, enquanto outras permanecem 
inalteradas. O conhecimento da evolução neuropsicológica permite aferir se alguma 
função cognitiva prejudicada significa doença. As habilidades que sofrem declínio com 
a idade são: memória de trabalho, velocidade de pensamento e habilidades 
visuoespaciais, enquanto as que se mantêm inalteradas são: inteligência verbal, 
atenção básica, habilidade de cálculo e a maioria das habilidades de linguagem, 
conforme MORAES E; et al., (2010). 
As repercussões funcionais do envelhecimento fisiológico (senescência) do 
SNC são controversas e não afetam significativamente as funções cognitivas. 
Observa-se redução de: peso do encéfalo (10%), fluxo sanguíneo cerebral (15-20%), 
volume ventricular exvacuo, número de neurônios e depósito neuronal de liposfuscina. 
Surgem degeneração vascular amiloide, placas senis e degeneração neurofibrilar com 
 
67 
 
comprometimento da neurotransmissão dopaminérgica e colinérgica, e lentificação da 
velocidade da condução nervosa, conforme MORAES E; et al., (2010). 
As regiões mais sensíveis às alterações do envelhecimento localizam-se no 
lobo frontal e, possivelmente, no lobo temporal medial. As alterações dos órgãos dos 
sentidos (visão, audição, etc.) dificultam o acesso às informações e o aprendizado, 
conforme MORAES E; et al., (2010). 
O lobo frontal não apresenta mudanças na sua porção ventro-medial, 
responsável pela regulação do comportamento social e emocional. A porção 
dorsolateral da região pré-frontal, entretanto, possui alterações anatômicas e 
funcionais mais proeminentes, percebidas em sua dificuldade aumentada na 
realização de tarefas dependentes da função executiva e da memória de trabalho. Há 
mais comprometimento na atenção (registro) e resgate das informações previamente 
estocadas, tarefas dependentes da memória de trabalho e também na consolidação 
de informações recentes (memória episódica recente, por exemplo, localização de 
objetos, recados, etc.). Não há alteração da memória semântica, conforme MORAES 
E; et al., (2010). 
Observam-se, clinicamente, lentificação no processamento cognitivo, redução 
da atenção (déficit atentivo), mais dificuldade no resgate das informações aprendidas 
(memória de trabalho) e redução da memória prospectiva (“lembrar-se de lembrar”) e 
da memória contextual (dificuldades com detalhes). As informações estocadas 
(memória de longo prazo intermediária e remota) não são afetadas, e sim a análise e 
comparação (memória de trabalho) das informações que chegam constantemente ao 
cérebro, com as memórias explícitas e implícitas estocadas no neocórtex posterior, 
conforme MORAES E; et al., (2010). 
Essas alterações não trazem prejuízo significativo na execução das tarefas do 
cotidiano, não promovem limitação das atividades, nem restrição da participação 
social. A influência do tempo sobre a cognição também amplifica as diferenças entre 
os sexos, isto é, os homens mais velhos mostram mais facilidades nos cálculos 
matemáticos, enquanto as mulheres nas habilidades executivas, conforme MORAES 
E; et al., (2010). 
O processo de atenção representa grupo complexo de comportamentos, em 
que o indivíduo pode selecionar informações e ignorar outras; sustentar a 
concentração em uma informação por um período de tempo; dividir a atenção entre 
 
68 
 
dois ou mais aspectos ao mesmo tempo; e mudar o foco da atenção quando for 
necessário. A capacidade do idoso de dividir atenção entre vários estímulos para 
apreender uma situação é extremamente prejudicada. Outras funções da atenção não 
se modificam com o envelhecer, conforme MORAES E; et al., (2010). 
Função executiva se refere à capacidade de resolução de problemas, 
planejamento, inibição de resposta, abstração, processamento de informações. As 
capacidades cristalizadas ou os conhecimentos adquiridos no curso do processo de 
socialização tendem a permanecer estáveis. As capacidades fluidas, isto é, envolvidas 
na solução de novos problemas, tendem a declinar gradualmente. A velocidade na 
qual a informação é processada representa a alteração mais evidente do idoso. A 
lentidão cognitiva influencia todas as outras funções e pode ser responsável pelo 
déficit cognitivo em idosos. A lentidão no processamento de informações é observada 
em idosos em sua dificuldade em compreender textos, necessidade de explicações 
mais ricas e extensas e de mais tempo para executar cálculos, conforme MORAES E; 
et al., (2010). 
A presbiacusia prejudica a compreensão da fala, entretanto, o déficit periférico 
pode ser compensadopelos recursos e experiências cognitivas. O vocabulário e 
expressão verbal podem aumentar durante a vida toda. A linguagem espontânea pode 
se tornar menos precisa e mais repetitiva com o passar do tempo. A capacidade dos 
idosos em reconhecerem formas, objetos, dimensões e a distância não é prejudicada 
quando avaliada de forma simples. Os idosos, quando avaliados em testes mais 
complexos, entretanto, apresentam habilidades visuoespaciais e visuoperceptivas 
inferiores às dos de jovens, conforme MORAES E; et al., (2010). 
8.2 Pseudodemência depressiva 
A depressão comumente produz um déficit mnemônico, especialmente após os 
40 anos, e esse prejuízo de memória do depressivo pode ser confundido com um 
quadro inicial de demência. Essa confusão depressão-demência pode ser maior 
ainda, levando-se em conta o fato da depressão frequentemente ter características 
atípicas nos idosos, conforme GARCIA A; et al., (2006). 
O termo pseudodemência depressiva pode sugerir, erroneamente, que os 
déficits observados serão reversíveis com o tratamento adequado da depressão. 
 
69 
 
Embora isso ocorra em alguns casos, não pode ser considerado como regra geral. 
Boa parte dos pacientes inicialmente diagnosticados como deprimidos 
(pseudodementes) apresentaram, depois de algum tempo, verdadeiros sinais de 
demência, apesar da melhora inicial com o uso de antidepressivos (Satlin e 
Wasserman, 1997; Scalco, 1997 apud GARCIA A; et al., 2006). 
Os próprios estudos de imagem cerebral podem revelar sinais mais 
compatíveis com demência do que da depressão nos pacientes diagnosticados com 
pseudodemência depressiva (Stefanis e Stefanis, 2005 apud GARCIA A; et al., 2006). 
De fato, embora possa haver no idoso um déficit cognitivo compatível com a idade e 
de pequena monta, a presença concomitante de depressão aumenta essa deficiência 
ao ponto de, aos menos avisados, parecer um verdadeiro quadro de denunciação 
pura. 
O benefício de se saber da existência da Pseudodemência Depressiva e de se 
questionar esse diagnóstico está, primeiramente, no fato de minimizar o prejuízo 
cognitivo com o tratamento da depressão. Em segundo, diante da possibilidade de 
melhora, estimular familiares e médicos para o tratamento daquele que se tinha por 
exclusivamente demenciado. Mas, é bom que se tenha em mente, que embora o 
tratamento com antidepressivos traga melhora aos sintomas cognitivos, esses 
pacientes normalmente estão mais comprometidos que seus pares não-deprimidos. 
Embora possa haver comprometimento da disfunção cognitiva pela depressão, isso 
não exclui a presença de demência subjacente. No caso de idosos deprimidos, uma 
das principais características do exame neuropsicológico é a discrepância entre os 
resultados e as queixas apresentadas, conforme GARCIA A; et al., (2006). 
O exame neuropsicológico pode também ser normal em alguns casos de 
demência incipiente, principalmente em indivíduos com elevada escolaridade. Isso 
ocorre porque, embora tenha ocorrido declínio de funções cognitivas, o desempenho 
ainda permanece dentro da faixa de normalidade, conforme GARCIA A; et al., (2006). 
8.3 Aspectos Neurobiológicos da Depressão 
A identificação do início e das condições específicas em que surge um quadro 
depressivo constitui fator de extrema importância para o diagnóstico etiológico da 
depressão e das comorbidades, para o tratamento e prognóstico. Assim, o paciente 
 
70 
 
idoso, cuja depressão tenha tido início em épocas remotas de sua vida e se 
prolongado na velhice, tende a apresentar componente genético significativo. Por 
outro lado, naquela cuja depressão tenha iniciado após os 65 anos, a interferência 
genética tende a ser menos intensa e os fenômenos neurobiológicos tendem a ser 
mais importantes. Obviamente, não se pode excluir a ação de componentes de 
natureza psíquica que se acumulam ao longo da vida, conforme STELLA F; et al., 
(2002). 
Determinados fatores neurobiológicos podem conduzir à depressão de início 
tardio por aumentarem o risco e a vulnerabilidade do idoso à depressão, tais como 
alterações neuroendócrinas (redução da resposta ao hormônio estimulador da 
tireoide), alterações de neurotransmissores (redução da atividade serotoninérgica e 
noradrenérgica), alterações vasculares e processos de degeneração de circuitos 
corticais e subcorticais responsáveis pelo processamento e elaboração da vida afetiva 
e emocional. A produção diminuída de serotonina pelos Núcleos da Rafe e a 
diminuição dos receptores para estes neurotransmissores representam fatores de 
vulnerabilidade à depressão no idoso, conforme STELLA F; et al., (2002). 
Comprometimento dos Núcleos da Base, particularmente do Núcleo Caudado 
e do Tálamo, tem sido associado com depressão de início tardio (Greenwald et al., 
1996; Greenwald et al., 1998 apud STELLA F; et al., 2002). Hipofrontalidade, 
constatada por neuroimagem funcional, como o (SPECT: Cintilografia de Perfusão 
cerebral (Single Photon Emission Computerized Tomography), demonstrando a 
redução da atividade cortical pré-frontal, também tem sido correlacionada com 
depressão de início tardio. 
Na depressão com sintomas psicóticos (delírios e alucinações), os recursos de 
neuroimagem estrutural e funcional podem ser aplicados. Kim et al. (1999 apud 
STELLA F; et al., 2002) desenvolveram estudo comparativo de volumetria de diversas 
estruturas cerebrais, com a utilização de ressonância magnética, entre dois grupos - 
19 idosos com depressão acompanhada de sintomas psicóticos (delírios) e 26 idosos 
com depressão, porém, sem sintomas psicóticos. Eles constataram volumes 
significativamente menores nas regiões corticais préfrontais no grupo de pacientes 
deprimidos com delírios. No idoso, a depressão com sintomas psicóticos, ansiedade, 
irritabilidade e instabilidade emocional tendem a predizer o surgimento de distúrbios 
de comportamento, principalmente agressividade e agitação psicomotora. 
 
71 
 
8.4 Depressão e funções cognitivas 
O aparecimento de transtornos depressivos em idosos tem sido considerado 
um fator de risco para o desenvolvimento posterior de processo demencial. Alguns 
estudos sugerem que 50% dos pacientes com depressão evoluem para quadro 
demencial num período de cinco anos (Rasking, 1998 apud STELLA F; et al., 2002). 
A comorbidade de depressão e demência contribui para o comprometimento de suas 
capacidades funcionais. 
A depressão pode conduzir a alterações das funções cognitivas 
temporariamente, muitas vezes dificultando o diagnóstico diferencial entre este quadro 
e demência. Por outro lado, em muitos pacientes, o início de um processo demencial 
do tipo Alzheimer apresenta-se com sintomas depressivos. Além disso, há associação 
entre sintomas depressivos e comprometimento das funções cognitivas em idosos, 
com ou sem demência. Queixas de memória são comuns em pacientes deprimidos, 
sugerindo, tradicionalmente, o aparecimento do termo “pseudodemência depressiva”. 
De acordo com Stoppe Jr e Louzã Neto (1999 apud STELLA F; et al., 2002), a relação 
recíproca entre depressão e demência manifesta-se da seguinte maneira: 
 Depressão na demência: os sintomas depressivos constituem parte 
integrante do processo demencial, conforme STELLA F; et al., (2002) 
 Demência com depressão: coexistência de ambos os fenômenos, 
sendo que os sintomas depressivos se instalam em um quadro 
demencial preexistente, conforme STELLA F; et al., (2002) 
 Depressão com comprometimento cognitivo: a depressão evolui 
com dificuldades cognitivas, particularmente, de concentração e de 
memória recente; 
 Demência na depressão: onde o comprometimento cognitivo resulta do 
processo depressivo (“pseudodemência depressiva”), conforme 
STELLA F; et al., (2002). 
9 ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA 
A preocupação com a qualidade de vida ganhou importância em função do 
crescimento do número de idosos e do aumento da longevidade. E se envelhecer é 
 
72mudar, tais mudanças devem dirigir para uma melhor qualidade de vida. Assim, 
identificar as condições que permitem envelhecer bem, com boa qualidade de vida é 
tarefa de várias disciplinas no âmbito das ciências biológicas, da psicologia e das 
ciências sociais, que excede os limites da responsabilidade pessoal e passa ser vista 
como um empreendimento de caráter sociocultural (PARENTE, 2006; NERI, 1993 
apud MOTA R; et al., 2017). 
A literatura sugere existir correlações entre qualidade de vida e contato social, 
apoio e longevidade, já que indivíduos que mantém maior contato com amigos e 
familiares, possivelmente, vivam por mais tempo do que aqueles que se abstém 
desses relacionamentos. E repensar a velhice de forma a ressaltar as suas virtudes, 
potencialidades e características é promover a longevidade saudável do idoso 
(AREOSA; BULLA, 2010; ARAÚJO et al., 2006 apud MOTA R; et al., 2017). 
Para Carneiro (2007; BEE, 1997 apud MOTA R; et al., 2017), proporcionar 
suporte físico, social, cultural, econômico e psicológico ao idoso, faz com que o 
mesmo acredite que é querido, amado, estimado e que faz parte de uma rede social. 
Esta crença poderá ter implicações positivas sobre sua saúde. Por outro lado, uma 
relação social pobre é um fator de risco à saúde do idoso, podendo afetar as funções 
físicas e cognitivas na velhice, da mesma forma, idosos mais isolados socialmente 
apresentam um risco maior de doença ou morte. 
Assim, pessoas idosas que possuem personalidades bastante adaptáveis e 
tendem a ser moderadas no consumo e no exercício, existe evidência de que as 
diferenças no envelhecimento podem ser atribuídas à causa genética, às causas 
ambientais e estilo de vida. Desta maneira, o envelhecimento ativo, que é o processo 
de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, tem aumentado 
a qualidade de vida desses indivíduos (HAMILTON, 2002; OMS, 2005; apud MOTA 
R; et al., 2017). 
Avaliar a qualidade de vida na velhice implica na adoção de múltiplos critérios 
de natureza biológica, psicológica e sociocultural. Envelhecer bem significaria estar 
satisfeito com a vida atual e ter expectativas positivas em relação ao futuro. Desta 
forma, vários elementos são apontados como determinantes ou indicadores de bem-
estar na velhice, tendências como (NERI, 1993; apud MOTA R; et al., 2017): 
 
73 
 
 Satisfação, aspecto interno e subjetivo que se trata de um construto 
multidimensional envolvendo a saúde biológica, conforme MOTA R; et 
al., (2017) 
 Interação dentro e fora da família e avaliação que o idoso faz de sua 
situação atual, conforme MOTA R; et al., (2017) 
 Atividade, quanto mais ativo o idoso, maior sua satisfação onde a 
questão não é a quantidade, mas quais, como e quanto os pequenos 
eventos da vida diária estruturam a vida das pessoas idosas, conforme 
MOTA R; et al., (2017) 
 Senso de controle, quanto menor, maiores as possibilidades de 
depressão, preocupação e desamparo, conforme MOTA R; et al., (2017) 
 Mecanismos de autorregulação são responsáveis pela mobilização de 
comportamentos auto orientado pela auto-observação, julgamento e 
auto reação, onde influenciam descobrir significados para a existência 
que é crucial para os idosos, conforme MOTA R; et al., (2017) 
 Processo adaptativo, a capacidade de lidar com eventos estressores, 
conforme MOTA R; et al., (2017). 
Assim, uma velhice satisfatória é largamente medida pela subjetividade, e 
referenciada ao sistema de valores que vigora num período. Deste modo, predomina 
o ponto de vista de que envelhecer satisfatoriamente depende do delicado equilíbrio 
entre as limitações e as potencialidades do indivíduo que lhe possibilitará lidar, em 
diferentes graus de eficácia, com as perdas inevitáveis do envelhecimento (NERI, 
1993; BRAGA, 2011 apud MOTA R; et al., 2017). 
Neste sentido, a qualidade de vida que as pessoas terão quando avós 
dependem não só dos riscos e oportunidades que experimentarem durante a 
vida, mas também da maneira como as gerações posteriores irão oferecer 
ajuda e apoio mútuos, quando necessário (FRAIMAN, 2004 apud MOTA R; 
et al., 2017). 
À medida que o indivíduo envelhece, sua qualidade de vida é fortemente 
determinada por sua habilidade de manter autonomia e independência (OMS, 2005). 
Onde ter uma boa velhice não é atributo ou responsabilidade pessoal, mas da 
interação entre o indivíduo e o seu contexto, ambos em constante transformação 
(NERI, 1993 apud MOTA R; et al., 2017). 
 
74 
 
Longe de ser sufocado, o medo que sentimos de envelhecer é um elemento a 
ser discutido por todos, profissionais e leigos, para que surjam outras possíveis 
soluções sociais. Pessoas e entidades públicas e privadas precisam ser confrontadas 
com seus preconceitos e tabus perante a velhice, reexaminando a grande questão do 
idoso: a atual impossibilidade de participação social ativa, ainda que com as limitações 
provenientes de perdas físicas e afetivas, naturais do processo de viver, amadurecer, 
envelhecer e morrer (FRAIMAN, 2004 apud MOTA R; et al., 2017). 
De acordo com Santana (2012 apud MOTA R; et al., 2017), as ações feitas pelo 
governo e pela sociedade brasileira no sentido de desenvolver políticas públicas de 
assistência ao sujeito idoso têm aumentado, assim como a sociedade civil e demais 
organizações têm voltado suas ações e contribuído enormemente para a mudança 
desse cenário. Essas mudanças apontam para esforços no âmbito da prevenção, 
promoção e assistência à saúde dos idosos e a previdência social para esse público. 
Adotar um estilo de vida saudável, como a prática de atividades físicas, 
alimentação saudáveis, a abstinências do fumo e do álcool e a participação no cuidado 
da própria saúde são importantes em todos os estágios, e que podem prevenir 
doenças e o declínio funcional, aumentar a longevidade e a qualidade de vida do 
indivíduo. Assim, as redes de apoio social e relacionamentos pessoais, estilos de vida 
saudáveis são de grande importância no estágio da velhice (NERI, 1993 apud MOTA 
R; et al., 2017). 
9.1 Envelhecimento e envelhecimento ativo 
O processo de envelhecimento está associado a muitos fatores, como o estilo 
de vida, as escolhas profissionais, a herança genética, dentre outros, que, juntos, 
marcam o corpo e a mente e passam a evidenciar os sinais deixados pelo tempo 
(GONÇALVES, 2015 apud ABREU B; et al., 2018), modificando a relação do idoso 
com o mundo e com ele mesmo. O envelhecimento, contudo, também pode ser 
compreendido como uma fase de transformações positivas, que incluem o 
aperfeiçoamento de habilidades e a busca por mais satisfação de vida. (PEREIRA; 
COUTO, 2015 apud ABREU B; et al., 2018). 
Se por um lado os idosos passam a demandar cuidados e assistência quando 
a autonomia e as capacidades se tornam comprometidas e cujas soluções para o 
 
75 
 
problema incluem custos arcados por toda a sociedade, visto que se trata de uma 
questão de direitos humanos; por outro, a velhice pode ser pensada como ativa, com 
menos grau de dependência e mais inclusão. As mudanças na expectativa de vida 
atribuem a esse público idoso mais visibilidade e o introduz nas agendas políticas de 
forma mais efetiva, conforme ABREU B; et al., (2018). 
Para a OMS (2015 apud ABREU B; et al., 2018), o envelhecimento está 
associado ao desenvolvimento e o destaca como recurso precioso para as famílias, 
para a economia e para a sociedade como um todo, visto que, viver mais, significa 
acumular e repassar experiências e habilidades. Entretanto, a OMS (2015 apud 
ABREU B; et al., 2018) também alerta que a não inclusão dos idosos em estratégias 
de desenvolvimento humano pode levar ao sofrimento deles, podendo resultar em 
processos de exclusão e de abandono. São desafios que se intensificam em países 
menos desenvolvidos, onde o número de idosos aumenta de maneira mais acelerada 
e com as piores condições para se fazer frente a esse fenômeno. 
A novarealidade brasileira e mundial impõe aos gestores públicos o desafio de 
pensar políticas integradas com ações intersetoriais de assistência e de inserção das 
pessoas idosas e também compreender o envelhecimento como um processo que 
ocorre durante toda a vida, tornando necessário investir na prevenção de doenças e 
no cuidado com a saúde. O envelhecimento é um fenômeno complexo, universal, 
multidirecional, gradual e irreversível, que engloba, simultaneamente, aspectos 
fisiológicos, psicológicos e sociais. (GONÇALVES, 2015; ALFAMA; CRUELLS, 2016 
apud ABREU B; et al., 2018). 
Moura citado por Vasconcelos (2007 apud ABREU B; et al., 2018) esclarece 
que, fisiologicamente, durante o período de crescimento do ser humano, a construção 
de tecidos sobrepõe-se às alterações degenerativas. Porém, chegada a maturidade, 
a mudança degenerativa torna-se maior do que a taxa de regeneração celular, 
resultando na diminuição da função orgânica. Isso naturalmente compromete algumas 
capacidades na velhice, capacidades estas que envolvem as áreas físicas e a mental. 
Envelhecer de forma saudável, então, segundo Vasconcelos (2007 apud 
ABREU B; et al., 2018), tem como base “o desenvolvimento das potencialidades 
individuais, a motivação para conhecimentos e atividades sociais, estimulando, dessa 
forma, a capacidade de decisão e controle mental” (p. 440). Por esse motivo, a 
longevidade somente representará um ganho se a qualidade de vida estiver associada 
 
76 
 
à perspectiva de viver mais. Dessa forma, os estudos passam a voltar-se para definir 
políticas que proporcionem esse desenvolvimento saudável e ativo para toda a 
população, valorizando a participação em questões sociais, em atividades físicas 
frequentes e estimulando a capacidade mental para que possa chegar à velhice com 
mais qualidade de vida. 
É hora de pensar nas pessoas idosas como participantes ativos da sociedade, 
contribuintes e beneficiários do desenvolvimento (WORLD HEALTH 
ORGANIZATION, 2005, p. 44 apud ABREU B; et al., 2018). É hora de compreender 
que, além do governo, cabe à família, à sociedade civil, à mídia, ao setor privado, 
assim como à academia oferecer programas que promovam o envelhecimento ativo 
para que se possam dar respostas à resolução da longevidade. Como destacam 
Alfama e Cruells (2016 apud ABREU B; et al., 2018), as próprias pessoas idosas e as 
suas famílias devem assumir esta responsabilidade de preparar para envelhecer bem, 
o que não elimina a responsabilidade da sociedade e das administrações públicas de 
se adaptarem às mudanças naturalmente impostas. 
A OMS (2005 apud ABREU B; et al., 2018) e o ILC (2015 apud ABREU B; et 
al., 2018) apontam a necessidade de implementar programas de 
envelhecimento ativo para a população, sendo este pautado no processo de 
otimização das oportunidades de saúde, aprendizagem ao longo da vida, 
participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à 
medida que as pessoas envelhecem, contribuindo para o bem-estar físico, 
mental e social em todas as idades. 
É importante, aqui, explicitar que a abordagem do envelhecimento ativo, ao 
qual procura- se entender, se baseia no reconhecimento dos direitos humanos dos 
idosos e nos princípios estabelecidos pela Organização das Nações Unidas, que são: 
independência, participação, dignidade, assistência e autorrealização (WORLD 
HEALTH ORGANIZATION, 2005, p. 14 apud ABREU B; et al., 2018). Trata-se de uma 
nova maneira de compreender a pessoa idosa, que deixa de ser considerada como 
sujeito passivo (receptora de cuidados) e passa a ser compreendida como sujeito 
capaz, que deseja e tem potenciais para participar da vida social nos seus diferentes 
âmbitos (CANAL, 2016 apud ABREU B; et al., 2018). 
Ou seja, são pessoas idosas diferentes e, portanto, se fazem necessárias 
políticas públicas adaptadas a esta nova realidade e em consonância com as normas 
legais, tais como o Decreto-Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003 (BRASIL), que 
“dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências’’: O idoso goza de todos 
 
77 
 
os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção 
integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhe, por lei ou por outros meios, todas 
as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu 
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e 
dignidade. (BRASIL, 2003 apud ABREU B; et al., 2018). 
9.2 Qualidade de vida: física, psicológica, social e ambiental 
Muitos são os benefícios que a prática da atividade física proporciona ao 
organismo. A sua prática regular influencia tanto nas variáveis fisiológicas quanto nas 
psicológicas e sociais. O aumento da força muscular, o aprimoramento da flexibilidade 
e amplitude de movimentos, a diminuição do percentual de gordura, a melhora dos 
aspectos neurais, a redução dos fatores que causam quedas, no controle e na 
prevenção de diabetes, a manutenção ou melhora da densidade corporal óssea 
diminuindo, assim, o risco de osteoporose, podem ser considerados alguns dos 
benefícios fisiológicos que a atividade física propicia ao organismo (FORTI, 1999 apud 
MOTA R; 2017). 
Os benefícios relacionados aos aspectos psicológicos podem ser percebidos 
como a satisfação com a aparência, a melhora da autoestima, autoimagem e 
autoconceito, a diminuição da ansiedade, a diminuição de casos de depressão e a 
melhora de alguns aspectos cognitivos (ARAÚJO et al., 2006 apud MOTA R; 2017). 
Quanto à relação social, Santos (2011 apud MOTA R; 2017) diz que a integração 
social possui grande importância para a saúde física e mental dos idosos, a falta 
destes pode ocasionar grandes transtornos na velhice podendo contribuir para a 
formação de um quadro depressivo. Ainda de acordo com o autor, a interação social 
possibilita o fortalecimento aos acessos das fontes de ajuda e contribui também para 
que as relações de suporte possam ser desenvolvidas fora do âmbito familiar. 
Já os fatores ambientais e carga genética, são caracterizados pelo declínio da 
capacidade funcional. Entretanto, o estilo de vida adotado por cada pessoa pode 
diminuir este declínio de suas capacidades, fazendo com que o indivíduo envelheça 
com mais saúde (AREOSA; BULLA, 2010 apud MOTA R; 2017). 
 
 
78 
 
É relevante mencionar que viver mais é importante desde que se consiga 
agregar qualidade aos anos adicionais de vida, quando o processo natural de 
envelhecimento pode acarretar limitações, aumento da prevalência de doenças 
crônicas e incapacitantes. Assim, como consequência do envelhecimento, o declínio 
físico e muitas vezes intelectual, compromete a qualidade de vida na terceira idade e 
continua sendo um grande desafio para a ciência (SANTOS, 2011 apud MOTA R; 
2017). 
Desta forma, autores como (NERI, 1993; PAPALIA et al., 2006; SANTOS, 2011; 
FECHINE, 2012; SANTANA, 2012; FLECK et al., 2000; PEREIRA, 2006; SILVA 2012), 
estudaram a qualidade de vida do idoso, envolvendo os domínios, físico, psicológico, 
social e ambiental. Porém, vários outros como (FORTI, 1999; CARNEIRO, 2007; 
HAMILTON, 2002; AREOSA; BULLA, 2010; SANTOS, 2011; ROLIM; FORTI, 2004; 
apud MOTA R; 2017, entre outros) optaram apenas por um ou dois domínios que 
envolvem a qualidade de vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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