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,[_PJab � - pditorn 7ª Edição
TEORIA
E PRÁTICAEM
PSICOMOTRICIDADE JOGOS, ATIVIDADES LÚDICAS, EXPRESSÃO CORPORAL E
BRINCADEIRAS INFANTIS GERALDO PEÇANHA DE ALMEIDA (CAPA VERMELHAS COM
PINTURA DE DOIS ADULTOS COM CRIANÇAS BRINCANDO COM UMA BOLA
COLORIDA EM UM CAMPO VERDE SOB UM POR DO SOL ESTILO TÁRSILA DO
AMARAL ANTROPOFAGISMO. E NAS PARTES SUPERIOR E INFERIOR DA CAPA DUAS
BORBOLETAS AMARELAS. EDITORA DO LIVRO WAK, SÉTIMA EDIÇÃO PUBLICADA.
Rio de Janeiro
2014
© 2006 by Geraldo Peçanha de Almeida
Gerente Editorial: Alan Kardec Pereira
Editor: Waldir Pedro
Revisão Gramatical: Lucíola Medeiros Brasil
Projeto G ráfico: Wak Editora
Dados Internacionais de C atalogação na Publicação (C IP)
A447t
Ah11eida, Geraldo Peçanha de,
Teoria e prática em psicomorricidade: jogos, atividades lúd icas,
expressão corporal e brincadeiras infantis/
Geraldo Peçanha deAlmeida. - 7 ed. - R): Wak Editora, 2014.
160p.: 21cm
Inclui bibliografia
1SBN 978-85-88081-43-7
l. Psicomotricidade. 2.Capacidade motora nas crianças. 3. Educação
pelo movimento. 4. Educação de crianças.
l. Tirulo
06-1395 coo 152.3 CDU 159.943.2
2014
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Os infrato res serão processados na forma da lei.
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www.wakeditora.com.br
Para
Fernando, Jai r, Paulo Henrique,
Paulo Rota e Márcio, os meninos
que brincam com o corpo para
encontrar o prazer da alma.
I
SUMÁRIO
Apresentação . .. .. .. .. .. .. . . .. .. . . . . ... . . .. ... . .. . .. . . .. . . . .. .. . . . .. .. 15
Teorias e Conceitos............................................... 17
O que é Psicomotricidade?.................................. 19
Quem é psicomotricista?.... ........... .... .. ..... .. .... . .... 19
Q · - , d tu - ? 19 ua1s sao suas areas e a açao ....................... .
Qual é a clientela atendida pelo psicomotricista? 20
Em que mercado de trabalho o psicomotricista
atua? ................................. .... ........................... 20
A construção de ambientes educativos na
multiplicidade dos espaços . . . . . . . . .. .. .. . . .. . . .. . . . .. .... . .. .. 20
Formação do Psicomotricista Escolar.. .............. 33
O bicho papão de nossos dias: reflexões sobre o
medo nas relações educacionais . .. .. . .. . . .... .. . .. . . . . . . . . 35
Coordenação Motora Ampla .. .. . .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. . 43
Definição......... ........ ......... ................................... .. 45
Atividades que auxiliam o desenvolvimento
da coordenação motora global . . . .. . . . . . .. . . .. . .. . .. .. . . . .. 45
Em papel... ........................................................ 45
Com tintas..................................................... ..... 46
Com sucatas....................................................... 46
Com brincadeiras infantis.... .. ............................. 4 7
Com bolas.......................................................... 48
Coordenação Motora Fina . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. . .. .. . 49
Definição... ............................................................ 51
Atividades que auxiliam o desenvolvimento
da coordenação motora fina.................................. 52
Em papel. ....................... .................................... 52
Exercícios práticos para desenvolvimento da
coordenação visório-motora. .. . . . . . ... . ... . . .... ... . . ... . . 53
Com tintas.......................................................... 54
Com sucatas............................. ..... ..................... 55
Brincadeiras infantis que auxiliam o
desenvolvimento da coordenação motora fina .. 56
Com bolas.......................................................... 56
Massa de modelar para atividades que auxiliam
o desenvolvimento da coordenação motora fina... 57
Brincadeiras que auxiliam o desenvolvimento
da coordenação visório-motora ............................. 59
Lateralidade . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . 61
Definição.... .................................... ..... .................. 63
Atividades que auxiliam o desenvolvimento
da lateralidade . .. . . . . .. . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . 64
Em papel................................................ ........... 64
Com tintas......................................................... 65
Com sucatas . .. . .. . . . . . . .. .. .. .. . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .. . . . . . . 65
Com brincadeiras infantis . . .. .. .. .. . . . . .. .. . . . . .. .. .. .. .. .. 66
Desenvolvimento da Percepção Musical ........... 67
Definição............................................................... 69
Tipos de música que podem ser trabalhadas
na escola............................. ... ............................... 71
Instrumentos que podem ser construídos com
sucata ........... ........................................................ 72
Atividades que podem ser desenvolvidas a
partir da música .. . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . .. .. . . . . .. .. . . .. 73
Desenvolvimento de Percepção Olfativa .......... 75
Definição............................................................... 77
Atividades que auxiliam o desenvolvimento
da percepção olfativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Desenvolvimento de Percepçao Gustativa ....... 81
Definição . . . . . ... .. .. . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .... . .. . . . .. . . . . . . . . 83
Atividades que auxiliam o desenvolvimento
da percepção gustativa .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Desenvolvimento de Percepção Espacial . . . . . . . . . 85
Definição .............................................................. 87
Atividades que auxiliam o desenvolvimento
da percepção espacial . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . .. . .. . . .. 89
As brincadeiras infantis que são ricas em
conteúdos relacionados ao espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 90
Desenvolvimento de Percepção Temporal . . . . . . .. 93
Definiçao . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 95
Atividades que auxiliam o desenvolvimento
da percepção temporal . . . . . . . . .. . . . .. . .. . . . . . . .. . . . . . . . . . .. . . . . 97
Desenvolvimento da Percepção Corporal . . . ... . .. 99
Definição ............................................................... 101
Atividades lúdicas e brincadeiras infantis
que auxiliam o desenvolvimento da
percepçao corporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Seriação e Classificação .. . . . . . . . .. . . .. . .. . . .. . . . .. . . . . .. . . .. 107
Definição .............................................................. 109
Atividades que auxiliam o desenvolvimento
da seriação ........................................................... 109
Brincadeiras e Jogos Infantis .. . . . .. .. . . .. . . . . .. . . . . . . . . . 111
Trabalhar a ansiedade . . . .. . . . . .. .. . . . .. .. .. . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . 115
Rever os limites . . . . .. .. .. . . . . . . . . . . .. .. .. ... . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . .. 115
Reduzir a descrença na autocapacidade .............. 116
Diminuir a dependência e possibilitar a autonomia .. 116
Aprimorar as coordenações motoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 11 7
Melhorar o controle segmentar.............................. 117
Desenvolver percepção deritmo . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . 118
Aumentar a atenção e a concentração ....... .......... .
Desenvolver antecipação e estratégia ................... .
Ampliar o raciocínio lógico ................................ .. .
Desenvolver a criatividade ..... .............................. .
Perceber a socialização e a coletividade
Expressão corporal e teatro para
séries finais e ensino médio .... .......................... .
Definição ............................................................ . .
Atividade que auxilia o desenvolvimento da
expressão corporal ............................................... .
O teatrinho escolar: um sério problema a
ser superado ........................................................ .
Projeto:
118
119
119
119
120
123
125
126
128
vagamundeando pelos textos dramáticos .. .. .. .. 145
Apresentação do projeto ........................................ 147
Justificativa e delimitação do projeto a ser
executado na escola, na sala de aula . .. . . . . . . .. . . . . . . . . . 14 7
Nível de aproximação ........................................... 149
Nível de estruturação . . .. . .. .. .. . . .. .. .. .. . . . . . . . . .. . .. . .. . .. . .. . 150
Nível de criação . .. . . .. . . . . . . .. . . .. . . .. . . .. .. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . .. . 150
Nível de experimentação . . . . .. . . . .. . .. . . . . . . .. .. . .. . . . . . . . . .. . 150
Nível de forma e conteúdo ....... ................. ............ 151
Por onde devemos começar o trabalho com
textos dramáticos na sala de aula? ........................ 151
Cenário ...................................................... ........ 152
A biografia do autor .......................................... 152
A linha filosófica/política da época da produção . 153
Quais são os elementos essenciais de um
texto dramático? . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
rubrica . . . .. .. .. .. . .. . . .. . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . .. . . . 154
Intensidade das falas ou falta delas . . . . . . . . . .. . .. . . . . 154
Caracterização das personagens . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . 154
El~rmmtus c~nicos ... .......................................... 155
Há divisões, fases, diferenças e outros aspectos a
serem previamente considerados antes do início
do trabalho com textos dramáticos? .. ... ................. 155
Exemplos de atividades que podem ser
desenvolvidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
O argumento ............................... ............. ......... 156
O roteiro .................. ............................. .... ......... 157
A construção da tessitura ............ ...................... 157
Exercícios de construção textual............................. 158
Referências . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. .. .. . . . . . . . . . 159
MONÓLOGO DO CORPO
Pulsa
Pulsa
Pulsa ...
Dispara, tremeleia, incendeia
Acena
Acena
Sem
a
O palco agora é o espaço,
O parque de diversões
Onde é possível brincar
de deus
de diabo
de anjo
Os olhos são cegos
nada vêem
os ouvidos são surdos
nada ouvem
mas a boca
essa grita
E os olhos que eram cegos tremem
E os ouvidos que eram surdos pulsam
E o corpo que não tinha nada com isso
Se transforma
O espaço então é tomado por ele
Os olhos então são dirigidos por ele
Os ouvidos então são apurados por ele
O espaço agora não existe mais
Agora é o meu momento
Eis a glória do corpo.
APRESENTAÇÃO
"O corpo n ão mente."
Todo livro que se propõe apresentar práticas para
execução diárias na sala de aula corre o risco de ser mal
interpretado, de ser tido como receituário e , portanto,
fechado demais haja vista a diversidade de realidades
país afora.
Tomando todos os cuidados para não nivelar por
baixo essas realidades, estou propondo uma prática em
psicomotricidade, seja ela elaborada em clínicas, centros
de formação e de reequilíbrio corporal e principalmente
sala de aula, que tem somente a intenção de ser uma
referência, não uma fórmula. Assim, quando o profissional
tomá-lo, deve ter ele em mente que as propostas aqui
apresentadas podem ser adaptadas, reformuladas ou
justapostas a outras tantas formas de trabalho e também
outras maneiras de pensar e de construir dinâmicas de
elaboração psicomotora.
Procurei aliar minhas experiências como professor
regente de educação infantil, de séries iniciais e também de
ensino médio para deixar o livro o mais próximo possível
da realidade de nosso trabalho.
Ao se falar em Psicomotricidade, estamos falando
de humanização, de relações afetivas, de envolvimento do
homem com os ambientes, com os fatos e com as outras
pessoas. Desta forma, proponho ao final do livro um projeto
de Psicomotricidade de uma forma transdisciplinar, em
que várias disciplinas escolares podem ser trabalhadas ao
mesmo tempo sem se perderem os conteúdos e os ideais
15
de um homem integrado à sua sociedade e a seu corpo,
bem como sua forma de estar no mundo.
Este projeto tenta mostrar que, mesmo nas séries
mais avançadas, como é o caso do ensino fundamental e
do ensino médio, pode-se (e deve-se) pensar no homem
completo, construir o homem integral e viver as dimensões
da multiplicidade e da biodiversidade.
Reconhecer o próprio corpo é a melhor maneira de
encontrar o outro.
16
Bom trabalho
Geraldo Peçanha de Almeida Teorias e conceitos
O que é Psicomotricidade?1
É a ciência que tem como objeto de estudo o homem
por meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu
mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de
perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo
mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde
o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e
orgânicas. (S.B.P.1999)
Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado
para uma concepção de movimento organizado e
integrado, em função das experiências vividas pelo
sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua
linguagem e sua socialização.
Que m é psicomotricista?2
Por ser uma ciência ainda em busca de bases mais
sólidas, o psicomotricista ainda não tem todos os seus
papéis definidos. Sabemos que ele pode atuar em conjunto
com outras especificidades, mas também percebe-se sua
atuação clínica e institucional. Já é possível compreender
que psicomotricista é o profissional da área de saúde e
educação que pesquisa, ajuda, previne e cuida do homem
na aquisição, no desenvolvimento e nos distúrbios da
integração somapsíquica.
Quais são suas áreas de atuação?3
Educação, Clínica (Reeducação, Terapia), Consultoria
e Supervisão.
'SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRlClDADE, versão 011-li11e , crédi to ao final,
nas referências.
' Idem
' Idem
19
Qual a clientela atendida pelo psicomotricista?4
Crianças em fase de desenvolvimento; bebês de
alto risco; crianças com dificuldades/atrasos no desen-
volvimento global; pessoas portadoras de necessidades
especiais: deficiências sensoriais, motoras, mentais e
psíquicas; pessoas que apresentam distúrbios sensoriais,
perceptivos, motores e relacionais em consequência de
lesões neurológicas; família e pessoas da terceira idade.
Em que mercado de trabalho o psicomotricista
atua?5
Creches, escolas, escolas espec1a1s, clínicas
multidisciplinares, consultórios, clínicas geriátricas, postos
de saúde, hospitais e empresas.
A CONSTRUÇÃO DE AMBIENTES EDUCATIVOS NA
MULTIPLICIDADE DOS ESPAÇOS
A razão dos insucessos de muitas experiências
educacionais pode estar na dificuldade de a escola construir
ambientes educativos com as características peculiares de
seu corpo docente, com as estruturas apresentadas por suas
localidades e com os recortes de cada método ou teoriade
ensino em prol de sua escola. É urgente que profissionais
de educação descubram a importância e as diferenças
entre espaços de educação formal e ambientes educativos
(formais e informais).
Tem-se difundido enormemente a ideia de que os
recursos e os insumos precisam chegar cada vez mais
' Idem
5 idem
20
e , em grandes quantidades, à escola. Isto é importante.
No entanto, é importante lembrar que recursos físicos
não se educam sozinhos. Por trás dos recursos, por
trás dos materiais, é preciso ter um grande profissional.
Profissional este capaz de usá-los, de explorá-los e de
interferir nas práticas diárias, fazendo uso destes recursos
todos, sempre pensando e buscando o desenvolvimento
global das crianças.
É muito preocupante o que temos visto em relação
a este comportamento. Para piorar esta situação, a
Psicomotricidade necessita de um mínimo de objetos para
que as intervenções possam ser desencadeadas. Isto por
si só já causa uma reflexão primária naquele professor
que necessita desenvolver os trabalhos psicomotores nos
espaços de educação infantil e nas séries iniciais. Para ele, se
não houver materiais, se não houver recursos, não poderá
haver trabalho psicomotor, e isso não é verdade.
Um bom trabalho de Psicomotricidade na escola
básica precisa de uma junção de fatores: concepção,
comportamento, compromisso, materiais e espaços.
A - con cepção : todo e qualquer trabalho precisa
primeiramente ser planejado. O não planejamento do
trabalho leva o executor a sérios problemas de condução,
de direcionamento das práticas e principalmente de
perda do foco. Se não houver objetivos claros, se não
houver uma linha de pensamento para seguir, o professor
poderá começar a pegar tudo que aparece e assim
acabar perdendo efetivamente a direção e os objetivos
que deveriam ser propostos. O resultado disso é quase
sempre caótico: o professor não consegue avaliar se o
trabalho que ele executou foi bom ou não, se as ações
que ele desencadeou valeram ou não a pena e se deve ou
não uma prática ou outra. Toda esta problemática surge
e acaba levando fatalmente o professor ao desânimo.
21
Afinal, como ele não percebe nenhuma modificação de
comportamento, sobra-lhe somente desqualificar a teoria
e a técnica que advêm dali.
Outro problema considerável neste caso é a busca
exagerada do professor por técnicas. Técnicas sozinhas não
transformam. Além disso, as técnicas usadas mecanicamente
acabam por se esgotar e, neste caso, o professor volta
desesperado à fonte querendo mais uma novidade. Esta
prática vira um saco sem fundo. Todos os dias, o professor
quer uma ideia inovadora, uma técnica diferente, mas sua
concepção não foi transformada, tampouco constituída.
É imprescindível que construamos concepções,
estas sim são perenes e verdadeiras. Quando existe uma
concepção na cabeça do professor, ele sempre irá encontrar
no seu cotidiano uma forma de executar seu trabalho diante
daquela realidade. É como se o olhar daquele professor
estivesse tão comprometido que as respostas vão surgindo
nestes encontros. Desta dinâmica perfeita, é que surge a
verdadeira construção do professor, aquele observador,
que já possui a cabeça dentro da concepção, faltando-lhe
apenas que suas mãos comecem a executar. No entanto,
o contrário é sempre mais triste. O professor, apenas com
suas mãos comprometidas, executa muito, mas sem a menor
concepção do que está fazendo.
B - comportamento: o comportamento de um professor
que quer trabalhar com Psicomotricidade é sempre de
um observador, afinal, é nas atividades diárias que este
profissional vai introduzindo práticas com objetivos
psicomotores. Não se podem dissociar as execuções.
Motricidade deve estar ao lado de afetividade. São estes
dois aspectos que se juntam para formar uma concepção
maior que chamamos de trabalho psicomotor. Portanto,
o comportamento é uma atitude de o professor não
22
desqualificar as relações vividas pelos alunos nos ambientes
educativos. Pelo contrário, é fazer com que cada ação, por
mais simples que seja, possa ser percebida pelo aluno na
sua complexidade e na sua essência.
Jamais devemos privilegiar os aspectos mecânicos
em detrimento dos aspectos mais relacionais. Qualquer que
seja o movimento realizado pelas crianças, eles acontecem
em um espaço específico, com pessoas específicas e de um
jeito também específico. Desta maneira, jamais podemos
deixar toda esta riqueza de lado.
O aluno precisa encontrar o outro aluno nas relações
diárias. É este encontro que possibilitará a socialização e a
humanização das relações. Para isto acontecer e para que
o aluno possa viver os problemas e as conquistas destes
atos, é imprescindível que o comportamento do professor
seja de um observador/interventor, nunca de um bedel,
que policia e castiga. O observador chama a atenção,
provoca a intervenção e continua a observação. Se houver
necessidade de repreensão, ela se dará naquele contexto,
com as especificidades daquele clima e, portanto, será
sempre melhor absorvida por todos.
O comportamento é o combustível que move
as relações diárias de um professor que quer construir
coletividade na multiplicidade dos seres com as diferenças
de cada um.
C - compromisso: o compromisso é sempre muito
questionável. Alguns acham que ele trabalhado demais
vira opressão, uma maneira de forçar o trabalho acima
daquilo que se considera ad_equado. No entanto, dada
as atuais situações da escola infantil e da escola primária,
precisamos relembrar que, até bem pouco tempo, escassas
eram as atitudes verdadeiramente brasileiras aplicadas
nos ambientes educativos. Muitas ideias eram colagem de
23
experiências vindas de um país distante, de uma realidade
distante e para objetivos mais longínquos ainda.
Hoje, tendo em vista a enorme diferença das
qualificações do professor do passado (por mais que
ainda tenhamos de melhorar, hoje já somos muito
melhores que no passado), faz-se mister prever que este
compromisso pensado por nós está no sentido de que,
quando ele existe, o profissional não tem desserviço,
mas sim um total aproveitamento do tempo de
trabalho. Isso vai acontecer porque a operacionalidade
estará diariamente nas práticas executadas pela escola
e pelo professor.
Quando se racionaliza, planeja e operacionaliza, as
ações se tornam mais claras fazendo com que o compromisso
do professor se torne também mais limpo e mais consciente.
Do contrário, ficamos todos perdidos sem rumo. É desta
confusão que poderá surgir o descompromisso.
D - materiais: os materiais são sempre parte importante
em uma prática docente. Eles ampliam nossas ações, eles
possibilitam que as crianças possam intervir e se relacionar
com objetos concretos, tornando o processo educativo mais
próprio, mais próximo e mais pertinente. No entanto, não
devemos condicionar a realização do trabalho à existência
do recurso. É importante que tenhamos a concepção do
trabalho a ser realizado, que tenhamos as concepções
da teoria e do método que iremos seguir porque esta
fortaleza que estas duas dimensões nos oferece acabará
por apontar outras saídas de execução do mesmo trabalho
em outra dimensão e, neste caso, lá o material pode existir,
ou lá poderemos recriar as mesmas dinâmicas a partir
de outras matérias agora existentes. Quando não se têm
concepções acerca do que executar, só se faz o trabalho
com o material.
24
É claro que, quando se têm a concepção e o material,
as coisas só podem funcionar, mas, se elas não coexistem,
temos de usar de nosso discernimento para chegar a uma
outra saída.
O professor sozinho pode tornar um espaço, ainda
que pobre de recursos, em um rico ambiente educativo; no
entanto, um rico espaço pode ser também um paupérrimo
ambiente educativo. Material sozinho não funciona. Ele
precisa ser humanizado. Ele precisa vir para dentro da vida
do conhecimento que se busca.
E - espaços: os espaços são compostos de estrutura física:
salas, cadeiras,mesas, armários, livros, quadros e todos os
outros recursos físicos que podem existir em um espaço, seja
ele de educação formal (escola) ou de educação não formal
(igreja, partido político, clube, comunidade etc.).
Desta forma, os espaços podem estar recheados
de recursos se eles não emanarem vida, se neles não se
executarem trabalhos, se neles não houver ações, eles serão
sempre espaços, lugares onde as relações não se dão. Mas
a partir do momento que eu tenho ali fatos, passo a ter um
ambiente educativo.
Os ambientes educativos podem então ser construídos
em qualquer espaço físico. Um supermercado pode ser
um excelente ambiente educativo caso o professor saiba
explorar toda a riqueza existente ali. Mas, caso não, ele será
sempre um espaço.
Assim, os espaços são aquelas estruturas onde nada
existe interligado, onde as coisas são sempre dissociadas,
onde o professor traz as atividades que nada têm de
relação com a vida e com as percepções das crianças. A
Psicomotricidade não pode ser desenvolvida em espaços
como estes. Ela precisa de toda a força que emana do
ambiente para se construir. Desta forma, privilegiam-se
25
as relações e como elas se dão. E, para isto, as atividades
motoras podem cumprir um papel de estimulação e
desencadeamento ininterruptos.
Assim, tendo como princípio resgatar, absorver e
compor estes novos posicionamentos, a Psicomotricidade
tem seu lugar garantido. Os projetos, a multiplicidade de
linguagens e o homem para o bem serão os alicerces para
tornar o trabalho cada vez mais forte e , consequentemente,
mais próprio da escola que se quer transformar.
Os ambientes psicomotores educativos são aqueles
em que se busca explorar cada ação acontecida ali. Toda e
qualquer relação humana tem de ser considerada porque
a criança está em pleno momento de construção de
referências para ela e para o mundo. É neste momento em
que a criança está elaborando e apurando sua forma de
olhar para o mundo e sua forma de o conceber. Também
é neste momento em que a criança está buscando qual é
o lugar dela no meio dos adultos e como os adultos vão
abrindo espaços para que ela possa ocupar.
Neste instante, o corpo toma uma posição muito
observadora, afinal, as castrações, os cerceamentos, as
negações e todas as formas de opressão e não liberação
começam a tomar mais vida e tendem a ficar bem mais
clara para a criança. É a partir de então que ela começa
a perceber o quanto o mundo tem de papéis a serem
desempenhados e o quanto de papéis não liberados.
Também é neste momento em que o corpo está em
pleno desenvolvimento orgânico. A criança já anda, já fala
e, portanto, já pode executar movimentos que até então
eram somente observados.
Para que este desenvolvimento tome a concepção
mais lúdica que aqui estamos propondo, é a brincadeira
infantil, é a expressão corporal, é o movimento que fazem
com que a criança chegue até o seu pleno vigor de uma
26
forma muito mais prazerosa, no entanto, sabido é que nem
sempre as coisas se dão desta maneira.
A criança vai encontrar uma porção de obstáculos
pelo caminho. Estes obstáculos são bons momentos para
que elas possam desenvolver mecanismos e ferramentas
de inserção social. Mas nem só de perda, de problemas
e de dores se constrói um homem forte. A alegria, a
brincadeira e a ludicidade também fazem parte da
construção do homem.
Pensando nisso, o ambiente educativo é aquele que
vai proporcionar toda uma exploração por parte da criança.
É neste ambiente educativo em que a criança poderá se
expressar sem amarras. É neste ambiente educativo em que
a criança poderá viver uma porção de faz de contas que lhe
serão importantes fonte de percepções. É neste ambiente
educativo em que uma criança poderá experimentar, testar,
errar e concluir. Tudo porque ali se constrói enquanto se vive
todas aquelas dimensões, com todos os recursos disponíveis.
Mas, a riqueza e a beleza daquele ambiente não podem ser
reduzidas à aparência daquele espaço.
Ambiente educativo é um espaço humanizado.
Espaço humanizado é um ambiente educativo.
Para isto acontecer, é preciso lembrar que ambientes
são compostos por: recursos, ações, pessoas, relações
sociais e exploração coletiva.
O acontecimento de exploração poderá ocorrer
em salas com alunos regulares ou não. Alunos mais
jovens, alunos adultos, alunos em processos de inclusão,
alunos em salas especiais, todos podem aproveitar-se dos
ambientes educativos para que_as concepções do trabalho
psicomotor possam ser ampliadas a fim de transformar
realidades mais pobres de ações e de execuções em
ambientes ricos de pressupostos educativos:
27
No momento em que a criança descobre estas
interações e quando a escola e o professor não deixam que
elas se dissolvam nos ambientes educativos, todos acabam
ganhando muito mais, pois as diferenças devem ser recebidas
como riquezas que ainda não temos ou não sabemos, mas
que agora estamos descobrindo e recolhendo para nós.
A Psícomotricidade leva em consideração todas estas
diferenças porque são elas que constroem crianças com
percepções sobre si mesmas e sobre os outros.
Os aspectos emocionais que envolvem as execuções
mecânicas precisam ser alinhados e fundamentados em
práticas de socialização e humanização.
Quanto mais a criança tiver boa imagem de si,
quanto mais a criança se reconhecer como única no
meio da multiplicidade das diferenças, mais ela terá
condições de perceber o outro, que afinal também será
dlferente. E se todos nós somos diferentes, nas nossas
diferenças, nós nos encontramos. Esta dinâmica e esta
percepção, segundo Le Boulch, favorecem por demais
o nosso desenvolvimento psicológico:
28
t
Le Boulch (1982) afirma que a imagem do corpo
é uma "forma de equilíbrio entre as funções
psicomotoras e a sua maturidade, Ela não
corresponde só a uma função, mas sim a um
conjunto funcional cuja finalidade é favorecer o
desenvolvimento
Se esta educação tem muita importância, devemos
zelar por ela enquanto a criança tem plenas condições
de desenvolvimento. O difícil é perceber que o trabalho
psicomotor ainda encontra muitas resistências nos espaços de
educação infantil. Muitos profissionais, muitas escolas e muitos
materiais usados nas escolas deixam a Psicomotricidade para
um segundo plano ou às vezes simplesmente ignoram-na.
Com isto, a criança acaba perdendo o momento certo para
desenvolver suas coordenações motoras, suas percepções
temporais, suas percepções espaciais, sua lateralidade e,
principalmente, acaba sendo pouco estimulada para a
música, para a dança, para a pintura, para os sabores que
compõem a natureza, para os perfumes que exalam das mais
variadas formas. E também para o encontro com o outro,
que é, sem dúvida, a perda maior.
Le Boulch (1982) defende que a educação
psicomotora deve ser considerada como uma fase
de base da escola primária. Ela condiciona todos
os aprendizados pré-escolares e escolares, levando
a criança a tomar consciência do seu corpo, da
lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o
tempo, a adquirir habilmente a coordenação de
seus gestos e movimentos. A educação
psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra
idade, conduzida com perseverança, pois permite
prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já
estão estruturadas.
A defesa que Le Boulch faz da educação motora na
mais tenra idade já é a defesa de muitos outros teóricos da
Educação Infantil e. portanto, também da educação básica,
seja ela escola regular ou escola especial. No entanto, ainda
se percebe uma grande resistência dos profissionais de
educação no que se refere a esta prática diária nos contextos
escolares_ Há, sem dúvida, ainda pouca informação a
respeito das teorias e das práticas e, como não dizer, das
distorções acerca dela.
29
Le Boulch (1982) afirma que a educação psicomotora
concerne uma formação de base indispensável a toda a
criança que seja normal ou com problemas. Ela ainda
responde, segundo ele,por uma dupla finalidade:
assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta
possibilidades da criança e ajuda sua afetividade a
expandir-se e a equilibrar-se por meio do intercâmbio
com o ambiente humano.
Realizar atividades de alinhavo, perfurar papel ,
fazer bolinhas de papel para montar mosaicos não é
rn=!cessariamente uma atividade psicomotora, mas é, quase
sempre, apenas uma atividade motora, uma execução
mecânica, descontextualizada da vida da criança e o que
é pior, sem ser considerado o espaço onde a criança está
inserida, o que leva automaticamente a não construção
do ambiente educativo, aquele que só existe a partir das
relações que se têm nos espaços.
Le Boulch (1982) salienta que os movimentos
espontâneos, mesmo não sendo pensados, dependem das
experiências vividas anteriormente; não se trata de uma
memória intelectual, mas sim de uma verdadeira memória
corporal, toda ela carregada de afeto e orientada por ele.
O corpo não está simplesmente dotado de eficácia; ele
está presente no mundo como uma unidade
fundamentalmente original, como "corpo próprio".
Segundo Le Boulch ( 1982), as cr ianças que
apresentam um bom desenvolvimento psicomotor e uma
gama considerável de gestuais exercem grande domínio
sobre as outras crianças e ambientes onde não encontram
concorrentes. No período maternal, é bastante fácil perceber
estas práticas. Crianças que lideram as demais para qualquer
tipo de atividade, mesmo que seja uma "estripulia" ou, como
dizemos, "só para aprontar" mais uma. Essa capacidade
está ligada às possibilidades reais apresentadas pela própria
criança, capacidades estas ainda meio sem definições ou
especificidades. Aí entram os educadores para canalizar
todas essas potencialidades apresentadas pela criança. A
primeira opção será desenvolver nela o lado afetivo, que
me parece neste momento importantíssimo. Por meio deste
trabalho, o educador poderá levar a criança a perceber o
infinito de complexidade na relação com o outro e com o
30
meio. Será uma oportunidade ímpar da criança perceber o
quanto ela irá precisar do outro, do meio e principalmente
de suas prúprias ações desencadeadas.
A noção de perigo, de limite e de estratégia pode
chegar cedo, ou melhor, na hora certa, e isso fará a criança
seguramente melhor, mais preparada para agir no mundo. A
segunda possibilidade que o educador tem é desenvolver a
competência técnica da criança: entendendo a competência
técnica como um conjunto de recursos físicos e intelectuais
descobertos e/ou elaborados pela criança. Esses recursos,
uma vez descobertos, darão à criança uma ampliação
das possibilidades de explorar o mundo à sua volta. Por
exemplo, uma criança que já se cansou de brincar no
chão e de engatinhar-se para lá e para cá, a descoberta da
posição ereta dará a ela a condição de, por exemplo, subir
nos móveis, puxar a toalha da mesa para descobrir o que
tem em cima dela e assim por diante.
Este é o momento em que o mundo começa a se
ampliar e, portanto. os perigos também. Agora a família, o
educador e os adultos que convivem com ela passam a ter
papéis fundamentais na conquista do mundo ampliado. Há
aqui uma observação singular: essas pessoas só não podem,
de maneira nenhuma, tomar o mundo da criança asséptico a
ponto de ela não encontrar nenhum obstáculo pela frente.
Por exemplo, será melhor tirar tudo de cima da mesa para
que a criança, ao puxar a toalha, não venha se ferir, ou
trabalhar com ela essa nova dimensão do quotidiano?
Muitas vezes. deixamos de considerar as histórias
da mãe e da família da criança e passamos apenas a
interferir isoladamente neste tipo de acontecimento ou em
outros tipos também. No entanto, é urgente que saibamos
que uma criança pode estar· sob influência de outros
quadros apresentados organicamente nas constituições
das famílias.
31
Le Boulch (1982) descreve que as condições
patológicas, como uma má circulação placentária e
as enfermidades da mãe, têm uma ação evidente
sobre o feto. Outros fatores também podem influir,
como, por exemplo, a desnutrição da mãe, o tabaco,
as diferentes drogas e o café, agindo sobre o
metabolismo nervoso da criança. As descobertas
recentes dos mediadores químicos secretados pelo
hipotálamo permitem-nos afirmar que o estado de
uma mãe angustiada pode ter incidência sobre o
psiquismo futuro da criança.
Fatores como poucas horas de sono. má alimentação,
nascimento de irmãos, separação dos pais. mudança de
local de dormir. chegada de visitas, retirada de chupetas,
mudanças de alimentação. ambientes familiares agressivos
e tantos outros devem ser considerados para que os
trabalhos de percepção dos ambientes educativos, com
atividades psicomotoras. sejam realmente verdadeiros e
ricos. Não se podem dissociar estes aspectos das realizações
e dos planejamentos diários das atividades.
32
Formação do
psicomotricista
escolar
O BICHO PAPÃO DE NOSSOS DIAS:
REFLEXÕES SOBRE O MEDO NAS RELAÇÕES
EDUCACIONAIS
"Transportai um punhado de
terra todos os dias e farás uma
montanha."
Precisamos admitir: o medo é um dos maiores
empecilhos do mundo. Não é só o homem que sofre pelo
medo ou com o medo. Os animais irracionais, como todos
nós, os racionais, sofrem deste mesmo mal. Mal que muitos,
por vezes, acham saudável. Mas, vamos por parte.
Partiremos do pressuposto de que os animais
necessitam se impor de alguma maneira, provocando o
medo. Ao animal irracional, resta instaurar o medo para
garantir a sua subsistência. É sabido que alguns animais
babam para demarcar seu território; outros urinam, outros
defecam, outros esparramam folhas e outros ainda ecoam
seus gritos: alguns, dos mais poderosos da cadeia, gozam
do privilégio de serem também aqueles que detêm maior
força nos "gritos".
De uma forma ou de outra, há, para cada um, uma
boa maneira de afugentar o inimigo pelo medo provocado
ou despertado, ainda que para alguns dessa cadeia a saída
nos pareça um tanto covarde. Não consigo afirmar quem
é o responsável e espero sinceramente um dia encontrar
alguém que explique isso: quem foi o responsável por
munir uns animais irracionais tão bem de recursos e outros
pouco ou mal.
Alguns desses animais receberam uma maravilhosa
ferramenta, chamada instinto por uns, sistema natural
35
de defeso por outros e ainda habilidades por tantos. Não
importa aqui o que é, o importante é saber que, para se
opor ao medo, todos receberam ou desenvolveram uma
ferramenta, sejam animais racionais ou irracionais. Partindo
dessa afirmação, quantificar o poder de cada um deles
seria no mínimo ignorância de nossa parte, uma vez que
sabido é que o elefante, embora seja um dos maiores em
peso e tamanho, não se caracteriza como o mais feroz,
o invencível ou o estratégico da natureza. Posso até me
lembrar dos incontáveis cães enormes e ferozes que já
presenciei, fugindo de inofensivos gatinhos. Chegamos ao
primeiro ponto da nossa reflexão: o resultado e a eficácia
da ferramenta irão depender do modo como o usuário der
ação a ela . Podem-se conseguir resultados absolutamente
fantásticos usando apenas recursos simples, discretos, leves
ou aparentemente inofensivos.
Os animais irracionais fogem do medo não sabendo
teoricamente administrá-lo, ou não podendo efetivamente
enfrentá-lo. Parece algo mágico, mas é possível observar, e
isso não raramente, o quanto alguns evitam o conflito. Às
vezes se escondem, às vezes se disfarçam, às vezes mudam
de cor, às vezes exalam odores e outras tantas saídas ainda
possuídas. Todas essas ferramentas são usadas na tentativa
desesperada de fugir do medo e, às vezes, são estratégias
de não chegar ao conflito, quem sabe prevendo a sua
impotência diante da magnitude do adversário. Isso só nos
mostra o quanto o medo pode e interfere na capacidade
de se viver livre. Chegamos ao segundo ponto de nossa
reflexão: O medo é imprescindível nas relações humanas?
O que tenho visto nas escolas, principalmente de
EducaçãoInfantil e das séries iniciais do ensino fundamental,
tem me feito refletir sobre essas dinâmicas e gostaria de
afirmar o contrário do que farei aqui, muito embora eu já
perceba desde já não haver outra saída se não aceitar a
36
verdade. A escola tem pasteurizado a construção do medo,
embora não o tenha abandonado.
A professora e o professor que, no passado, tomava
a lição e, diante do insucesso do aluno, atacava-o com
tapas, castigos, pontapés e palmatória, possivelmente não
exista mais, porém não pensemos que essas práticas estão
totalmente esquecidas, que desapareceram, que foram
substituídas por práticas mais verdadeiras, legítimas, que
levam o aluno à reflexão sobre seus atos, que o cobra
por atitudes mais maduras, de acordo com o senso moral
da coletividade.
Ainda há, e muito, violência dentro da sala de
aula e porque não dizer dentro da escola. Vamos
lembrar que o artigo primeiro da Lei de Introdução ao
Código Civil afirma que nenhum indivíduo pode alegar
desconhecimento da le i mediante o não cumprimento
dela, quando diante de ato ilícito, for-lhe tomado. Dessa
forma, qualquer outro cidadão, que não esteja ligado
formalmente ao processo educativo, pode ser lembrado
do que é um processo legítimo de inserção e condução
de uma criança no meio social, seja ela delinquente ou
não. Mas, pensar que os professores e toda a equipe
pedagógica tenham de ser lembrados ainda pelo mesmo,
é inaceitáve l.
Parto de outro pressuposto que todos nós temos
formação para lidar com a escola e com os indivíduos que
a constituem. Somos formados, capacitados e passamos
por atualizações constantes, referentes àquilo que sempre
está nas transformações sociais e , consequentemente,
no âmbito da escola. Mesmo que estas formações não
aconteçam, temos a condição de buscá-las porque elas
estão aí, acessíveis a qualquer que seja o cidadão.
Não podemos falhar, mas falhamos. Não podemos
ser violentos, mas acabamos sendo. O resultado disto é, às
37
vezes, desastroso. O professor se apodera do jargão errar é
humano e sai. quase sempre, ileso da situação. E a criança?
Essa, se houver alguém que a defenda, que lute por seus
parcos direitos, terá o mínimo de retratação. O problema é
que nem sempre há retratação moral. Essa, quase sempre,
torna-se ineficaz, paliativa ou impossível. Impossível porque
ninguém pode mensurar o tamanho do ferimento no outro.
E o que é pior, uma vez causada a ferida, quem irá localizá-
la? Quem irá restaurá-la? Quem pode reconduzir o aluno
à coragem, ao sonho, à alegria, à infância, à bravura e à
liberdade? Convém lembrar que algumas feridas, mesmo
depois de tratadas, deixam marcas eternas.
Quando o professor ou a professora compara a
letra maravilhosa da Camila: aluna da primeira fila que
possui um caderno exemplar, apetrechos no cabelo e
um doce olhar na face; com o caderno do Fernando:
aluno do fundão, mal vestido, cheiro desagradável, letra
ilegível e caderno quase preto de tanto apagar; eles não
estão fazendo senão o que aqui estamos condenando e
explanando com ato violento. Violento, porque podemos
perceber que o ato agora realizado foi realizado diariamente
nos últimos seis meses.
Nesse período, o professor sequer pôde perceber as
outras competências do Fernando. Pelo contrário, continuou
apresentando a ele aquilo que não era possível ser realizado,
por ele, com esmero. A agressão, ou não aceitação do
caderno do Fernando, o detrimento e a desqualificação do
trabalho dele , colocados em cheque perante a perfeição do
caderno da amiga, só fará piorar ainda mais a situação. As
diferenças de condições e de desenvolvimentos certamente
não foram consideradas pelos profissionais e, então, tem-
se o parâmetro da excelência para que todos consigam
atingi-la. Cada vez que o professor ou a professora se
aproximar do Fernando, ele fatalmente irá começar a
38
apagar o caderno, em uma (re}ação antecipada e anterior
à repressão do professor ou da professora, deixando claro
sua própria recusa pelo trabalho executado.
Pode acontecer também de o Fernando desenvolver
uma prática e desaprovar antecipadamente tudo que faça,
desenvolvendo assim uma baixa aceitação sobre suas
produções. Ou pode, ainda, o Fernando se desesperar
diante da imponência do professor ou da professora, e seus
reflexos de atuação sofrerem bloqueio, travarem e nada
ser possível a partir de então. Só de perceber a vinda da
professora ou do professor para sua proximidade, dá-se o
bloque io. Qualquer que seja o acontecido com ele, todos
serão maléficos. Para Wallon (apud GALVÃO, 1995),6 os
gestos precedem a palavra. Ele chama isto de mentalidade
projetiva, que ainda frágil, o ato mental projeta-se em
atos motores.
Há maneiras e maneiras de verificar com o aluno a
qualidade de seu trabalho, e essa tão sonhada receita de
como fazer não existe. Ela será construída quando o respeito,
a afetividade e a ligação pela confiança se estabelecerem
nas práticas diárias de sala de aula.
Wallon (1971) se ocupou em estudar o medo e
suas consequências à educação ou ao desenvolvimento
da criança. É um dos mais importantes trabalhos
publicados na área.Wallon fez isso com maestria porque
vivenciou parte do que descreveu. Fez isso e , mais
ainda, apresentou-nos a possibilidade de trabalhar com
o afetivo no lugar do medo, substituindo o medo pela
confiança, pelo respeito e pela ligação entre educador
e educando. No entanto, -resta-nos responder algumas
questões que sempre permeiam o nosso relacionamento
em sala de aula. O que estamos descobrindo hoje é que
• GALVÃO, lz.abel. Henri Wallon: ""'" co11cepçâo 1lialéliet1 ,lo dese11volvime11to i11f1111til.
Pclrópolis/RJ: Vozes, 1995.
39
muito se deixou de fazer para humanizar as salas de aula.
Coisificamos nossa relação pedagógica.
Niio é raro encontrar pessoas absolutamente
desmotivadas e infelizes com a profissão de educador.
Uma pesquisa da Universidade de Brasília, realizada com
um milhão e meio de profissionais da educação, sob a
coordenação do professor Wanderley Codo, 7 apresentou
resultados a larmantes sobre isso. Segundo a pesquisa,
quando os critérios são de perda de equilíbrio emocional,
falta de personalidade e falta de envolvimento no trabalho,
é o professor, dentre os profissionais da escola, um dos mais
frágeis, necessitador de reequilíbrio urgente.
Penso que qualquer profissão exija do sujeito o
compromisso, e isso só virá a partir de sua efetiva paixão
pelo trabalho executado. Alguns trabalhos exigem e, não
vamos reinventar a roda. que o sujeito tenha, além da
dedicação exclusiva à tarefa, um sabor especial na execução
dela. Não há aura divina no trabalho do professor ou da
professora, mas há sim necessidades especiais de trato,
de condução, de execução e de encaminhamento que só
se encontram nesta profissão. Ser educador é ser aquele
que gosta de repetir as coisas, às vezes até a exaustão; é
ser aquele que não exclui a sua vida da sala de aula. Ele
é capaz de encontrar o limite de sua vida pessoal e social
e repassá-las, usar suas experiências, sejam elas boas ou
ruins, na formação de outros.
Saber discernir quando um fato pode e deve ser usado
como troca de experiência é saber o significado da palavra
sabedoria, que só vem com a vivência e, quase sempre ,
de fora da sala de aula. Saber encontrar em cada um dos
alunos algo que o faça especial e, portanto único, é também
o dever daqueles que estão na condução desse processo.
7 CODO, \Vanckrlcy. Edut.'a('c'"io: carinho e trahatlw. Petrópolis/RJ, Edi1ora Vozes 1999.
40
Penso que os insucessos e as falhas de relacionamento
interpessoais devem ser trabalhados pela escola , afinal
ignorá-los seria infantilidade, pintá-los de Lurn; irreais. Mas
lembrar que a escola não é e não deve ser nunca o lugar
da excelência, eis nossa missão mais sublime.
Os limites, as potencia lidades e as infinitas
competências de cada um de nós é o que nos resta de
importante e é aquilo que jamais nos deve sernegado. E
se isso acontecer, e o medo ainda por cima tomar conta de
nossos ambientes educativos, eis a nossa desgraça.
O mundo moderno, fragmentado, apostilado,
compartimentalizado nos leva à pressa, a pressa nos leva
ao desespero e o desespero nos tira do centro. Saindo do
centro, não somos mais o navegador, somos o náufrago. Os
alunos com os quais trabalhamos não podem ser culpados
por nossos fracassos. Muitas vezes, projetamos nos alunos
coisas que jamais foram desencadeadas por eles. Em alguns
momentos, predeterminamos coisas que estão no campo
de nossas limitações de aceitação, como seres imperfeitos
que somos. Tantas vezes, cobramos de nossos alunos coisas
que jamais fomos capazes de realizá-las.
Sabemos de antemão todas essas questões, mas
seguimos em frente como se o mundo a nós pertencesse, e
esquecemos o princípio da escola: só ensinamos o possível,
não o todo, o verdadeiro.
Todas estas indagações nos são muito caras quando o
assunto passa a ser Psicomotricidade. O trabalho psicomotor
nos ambientes educativos necessita desta percepção muito
mais aguçada, po is, nestes ambientes, as percepções e as
diferenças serão tantas que se o professor ou a professora
não estiverem preparados, perder-se-á toda a possibilidade
de o trabalho ser mais próprio.
A Psicomotricidade tem de se ocupar destes
problemas reais, vividos e vivenciados pelos alunos. Ela
41
pode nos chamar atenção para as mordidas constantes que
os alunos dão nos colegas, ela pode nos mostrar por que
andamos curvados, ela pode nos fazer entender por que
não nos movimentamos e o nosso corpo está sempre duro,
ela pode nos ajudar a entender o porquê do meu corpo
baixo, magro, gordo, a lto e assim por diante. Quer dizer, a
Psicomotricidade, além de trabalhar todas as habilidades
motoras, ela pode perfeitamente nos levar a entender as
razões do medo e da existência dele em espaços.
Também será possível com um excelente trabalho
de Psicomotricidade nas escolas tornar as crianças muito
mais conscientes a respeito de como lidar ou encarar estas
situações de medo.
Que o medo é uma condição da vida humana, não
se discute, agora que ele seja usado para persuadir, para
impor, para cercear, para delimitar e oprimir, isto não pode
ser aceitável ou administrável nos ambientes educativos.
Os recursos e as ferramentas que podem ser
percebidos pela criança lhe serão muito importantes
para garantir suas inserções sociais, sua socialização e
sua interação com o mundo real, porém que eles não
sejam desenvolvidos apenas como defesa do medo,
mas sobretudo, como mecanismos de entendimento
do medo, aqueles elaborados pelos ambientes, como
forma de controle.
42
Coordenação
motora ampla
DEFINIÇÃO
As atividades que estão envolvidas nestas práticas
dizem respeito à organização geral do ritmo, ao desenvol-
vimento e às percepções gera is da criança. A coordenação
motora global é a condição que deve ser desenvolvida
primeiramente no espaço infantil.
É o trabalho que vai apurar os movimentos dos
membros superiores (braços, ombros, pescoço, cabeça)
e, também, os membros inferiores (pernas, pés, quadris
etc.). Assim, uma grande organização corporal deve ser
construída a partir do trabalho de coordenação motora
geral. Danças, expressões corporais, exercícios combinados
e dissociados são os melhores trabalhos para que a criança
possa ter um bom desenvolvimento.
Se a criança conseguir acompanhar uma dança
trabalhada pelo professor, se a criança conseguir acompa-
nhar uma atividade física com movimentos associados e
dissociados, se a criança tiver um certo ritmo, se a criança
possuir equilíbrio, poderemos dizer que ela apresentará
uma coordenação motora global satisfatória.
ATIVIDADES QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO
MOTORA GLOBAL
Em papel
• Fazer maquetes em papel.
• Dobrar pedaços grandes de papel e transformá-los em
imagens de bichos e pessoas. ·
• Fazer dobraduras gigantes.
• Montar quebra-cabeça gigante no chão.
45
46
• Fazer imagem do corpo humano em tamanho natural,
recortar e montar no chão.
• Fazer um tabuleiro grande para jogar trilha com pessoas.
• Montar prédios com desenhos recortados no chão.
• Fazer roupas de papel e usá-las para uma dança ou
expressão corporal.
Com tintas
• Fazer pinturas no corpo com o pincel.
• Fazer pinturas no corpo com o dedo.
• Fazer pintura no corpo com canetas.
• Colar pedaços de retalhos de papel em roupas para
expressão corporal.
• Colar pedaços de tecidos em roupas para expres-
são corporal.
Com sucatas
• Brincar com fitas coloridas.
• Girar as fitas coloridas ao redor da cabeça.
• Pular em cima das fitas.
• Dobras as fitas e soltá-las no ar.
• Correr com as fitas sem deixá-las tocar o chão.
• Jogar bolas em um cesto colocado a três metros de
distância.
• Jogar bolas de ar (bexigas) para o a lto e não de ixá-las
tocar o chão.
• Fazer danças com as bolas de ar esparramadas e não
de ixá-las cair.
• Entrar em caixas de papelão grandes.
• Entrar em caixas de papelão pequenas.
• Entrar em caixas de papelão médias.
• Fazer um circuito de barnbolês para as crianças
passarem por dentro.
• Colocar urna fileira de garrafas PET para que as crian-
ças possam correr entre elas sem tocá-las.
• Colocar cartelas de ovos vazias a cinco metros de dis-
tância para que as crianças possam enchê-las pegando
bolinhas ou grãos que estão distantes.
• Colocar jornais esparramados para que elas possam
confeccionar roupas de papel.
• Fazer danças e movimentos com as roupas de papel
sem deixá-las rasgar.
• Brincadeiras com malabares, muito em moda hoje em
dia: fitas, laranjas, garrafas plásticas e outros objetos.
Quando a criança não souber saltar, entrar em caixas,
dançar, movimentar, poderemos auxiliá-la. Este trabalho
vai exigir do professor, ou do responsável, uma dinâmica
dupla. De um lado, ele deverá se preocupar com os aspectos
motores: se a criança tem massa muscular para tal, se o peso
da superfície de onde ela vai projetar o salto é suficiente
para suportar o peso da criança, se não há obstáculo muito
maior que a capacidade e o desenvolvimento da criança
que ela pode superar ou suportar e assim por diante. Mas,
por outro lado, o mesmo profissional deverá tomar muito
cuidado com os aspectos psicológicos da criança. Não se
trata de ficar apenas motivando a criança, dizendo "Vamos
lá , você consegue" etc. Trata-se de respeitar a opção feita
por ela. O trauma, o medo e a insegurança podem ser
simplesmente acirrados ao invés de solucionados. Muito
cuidado com estas duas dimensões.
Com brincadeiras infantis
• amarelinha
• futebol
• rodar pneu de borracha
• deslizar com câmaras de ar no leito do rio
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48
• queima
• duro ou mole
• morto ou vivo
• estátua
• passara bola
• bimborão da cruz
• esconde-esconde
• passar anel
• cirandas
• cantigas de roda
• moicanos
• estilingue
Com bolas
• Passar a bola por cima da cabeça.
• Passar a bola por baixo das pernas.
• Jogar a bola a três metros de distância dentro de um
balde.
• Jogar a bola cheia de água dentro do mesmo balde.
• Pegar a bola, colocar debaixo do corpo e tentar deslizar
sem que ela saia.
• Sentar em cima da bola e andar deslizando com ela.
• Massagear o corpo com movimentos circulares da
bola.
• Pressionar a bola em todo o corpo com a ajuda de
um amigo.
• Chutar a bola para que ela passe por um arco, pode
ser o buraco de um pneu.
• Saltar com a bola em cima da cabeça.
• Andar com a bola em cima da cabeça.
Coordenação
motora fina
DEFINIÇÃO
Esta coordenação diz respeito aos trabalhos mais
finos, aqueles que podem ser executados com o auxílio das
mãos e dos dedos, especificamente aqueles com grande
importância entre mãos e olhos. Quando uma criança
começa a desenvolver uma boa coordenação motora
fina, será comum observar que ela também apresentará
uma boa tonicidade muscular nos membros superiores
e inferiores. Ela poderá apanhar copos de plásticos comágua sem derramar, poderá apanhar objetos delicados sem
amassá-los, poderá pintar e colorir sem muita força, poderá
equilibrar a força necessária para colorir desenhos nas mais
diferentes texturas e superfícies e assim por diante.
Também poderemos observar que é a coordenação
motora fina quem vai garantir um bom traçado de letra.
A escrita da criança irá depender muito do trabalho e
do desenvolvimento da coordenação motora fina que a
criança estará apresentando. Para isto, é necessário que
o professor possa desenvolver atividades motoras que
possibilitem este desenvolvimento, no entanto jamais
poderemos desenvolver estas atividades dissociadas dos
aspectos socioemocionais que as envolve.
Uma criança precisa ser motivada, precisa ser
encorajada, precisa ser levada à possibilidade da tentativa.
Para isso, faz-se necessário que ela esteja preparada para
o erro, para a perda e, principalmente, para lidar com a
situação que, porventura, possa.surgir dali. Assim, jamais
podemos deixar de lado os aspectos psicológicos que
envolvem urna atividade lúdica ou motora para apreciar
somente o lado técnico dela. É a junção destes dois
universos que dará um resultado infinitamente melhor.
51
ATIVIDADES QUE AUXJUAM O
DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO
MOTORA FINA
52
Em papel
• Recorte tiras de papel de revista com o dedo.
• Recorte quadrados em folhas de revista com o dedo.
• Recorte bolas em folhas de revista com o dedo.
• Recorte triângulos em folhas de revista com o dedo.
• Recorte retângulos em folhas de revista com o dedo.
• Recorte as mesmas figuras acima em folhas de revistas
com o dedo, só que em tamanho um pouco maior e cole
em uma folha de papel bobina ou manilha.
• Recorte as mesmas figuras acima em folhas de revista,
só que menores que todas as já cortadas, cole-as em
baixo das já recortadas para fazer as comparações.
• Depois recorte todas estas formas com o uso das
tesouras de corte reto e em zigue-zague.
• Cole grãos em fileiras desenhadas no papel. Pegue um a
um dos grãos, cole-os em cima de uma reta feita de cola
no pi:lpel. Pegue cada um dos grãos com umél pinça da
mão. Pegue o grão na ordem crescente ou decrescente
em relação ao tamanho. Depois inverta a ordem para
que todas as pinças possam ser trabalhadas. Coloque
os diferentes grãos (milho, grão-de-bico, feijão, dentre
outros) dentro de um patinho para facilitar a criança.
• Se preferir, você poderá fazer esta atividade acima
usando fita dupla face, pois a criança poderá colar as
sementes instantaneamente .
• Faça com que a criança cole uma fileira inteira com
a mão direita. Depois a mesma coisa com a mão
esquerda.
• Depois que a criança já fizer isto em linhas retas, tenha
o mesmo procedimento com as linhas curvas .
• Aproveite a técnica do papel para fazer mosaicos.
• Os mosaicos podem ser de: grãos, pedaços de papel
rasgados pelas crianças, restos de furadores, retalhos de
tecidos, gravetos, botões, cacos de cerâmicas e azulejos.
EXERCÍCIOS PRÁTICOS PARA O
DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO
VISÓRIO-MOTORA
Materiais necessários
···• Canudos de jornal
·"• Fita crepe
53
Le Boulch (1982), a coordenação visório-manual e o
aperfeiçoamento da motricidade fina da mão e os dedos se
dá a partir da organização das reações combinadas dos
olhos e da mão dominante. Ela começa no primeiro ano e só
se completa no final a escolaridade primária. No período
pré-escolar, o desenvolvimento global desta forma de
coordenação far-se-á durante as atividades práxicas
escolhidas ara desenvolver a destreza e a coordenação fina;
por elo da prática de expressão gráfica e do desenho,
desenvolve-se, ao mesmo tempo, a função simbólica.
Atividade
Primeiramente, faça centenas de canudos de jornal
com as crianças. A melhor maneira de fazer canudos
é enroland o-os das quinas em d ireção ao centro.
Primeiro, faça uma pequena orelha no papel para que a
coordenação motora seja melhor trabalhada. É necessário
que os canudos fiquem bem fininhos e que a firmeza deles
os deixem parecidos com varas de madeira. Para isto,
basta apertar bem na hora de enrolar e , também, não
deixar que as mãos deem espaços para eles desenrolarem
enquanto são feitos.
Depois de os canudos feitos, faça grandes esculturas
tendo sempre um tema gerador. Por exemplo, o tema é
florestas. Se este for o tema escolhido, cada grupo de cinco
crianças deve montar uma escultura que reproduza ou que
lembre uma floresta.
Depois de a escultura pronta, faça uma exposição,
explique e exponha toda a plasticidade dela e assim por
diante. Porém, o mais importante é fazer com que as crianças,
usando todos os colegas de sala, consigam reproduzir, com
pessoas, a mesma forma executada em papel.
Neste momento, o corpo, o movimento, as percepções
e a organização geral do grupo irão contar muito, pois, para
se chegar a uma boa forma, será necessário o trabalho
conjunto.
Com tintas
• Pinte pequenas formas geométricas usando a técnica
de pontilhismo com o dedo.
• Pinte formas geométricas usando a técn ica de
pontilhismo com lápis, com pincéis ou com giz.
54
• Faça desenho, pinturas em vidros com pincéis ou com
giz-de-cera.
• Faça coloração de tecidos ou papéis com sumo das
plantas.
• Reproduza obras de grandes pintores com outras
técnicas.
• Faça releituras de pinturas de artistas brasileiros usando
cores inversas a do autor.
• Pinte murais na escola, aproveitando muros, corredores
e salas de aula.
• Pinte panos de pratos, guardanapos e outros tecidos
usados pela criança.
• Pinte bichos, usando o próprio rosto como fundo, em
dias de festas, com tintas atóxicas próprias.
Com sucatas
• Faça figuras geométricas usando barbante colado no
papel.
• Faça entalhes de figuras geométricas em barras de
sabão, frutas verdes ou em barras de argila.
• Faça figuras geométricas em desenho a dedo na areia
do parque.
• Coloque grãos dentro de vasilhas de vidro, de
uma forma harmônica, para confecção de objetos de
decoração.
• Faça maquetes com sucatas de caixas de papel.
• Construa prédios, casas, lojas, carros, usando caixas
de remédios vazias.
• Faça brinquedos usando potes de iogurtes, caixas,
tampas, colas e barbantes.
55
BRINCADEIRAS INFANTIS QUE AUXILIAM
O DESENVOLVIMENl'O DA COORDENAÇÃO
MOTORA FINA
• bola de gude
• aboleta
• cartas de baralho
• dominós
• colecionar figurinhas
• vídeo game
• teclado do computador
• cinco-marias (também conhecidas corno bugalha)
• beliches
• bolas de chiclete
• fazer roupas para bonecas
Com bolas
• Pegue a bola de gude da mesa usando apenas a pinça
de cada dedo.
• Pegue a bola de gude da mesa usando a pinça e faça-a
girar entre os dedos, sem deixá-la cair.
• Siga girando a bola entre os dedos e vá passando ela
de um dedo para outro.
• Faça bolinhas de papel crepom ou de argilas, ou com
massa de modelar com cada pinça do dedo.
• Faça bolas de ar, com balões, de vários tamanhos.
• Tente modelar as bolas de ar (balões) em formatos de
animais e pessoas.
56
• Coloque bolas, de vários tamanhos, em uma bacia
com água morna para que a criança manipule.
• Depois de manipular os vários tamanhns, dê a ela um
giz ou um pincel e peça para ela reproduzir as circunferências
se aproximando o máximo do tamanho natural.
• Quando ela terminar, coloque o original em cima do
desenho e faça as comparações.
• Pode-se também realizar esta atividade com as outras
formas geométricas.
MASSA DE MODELAR PARA ATIVIDADES
QUE AUXILIAM O DESENVOLVIMENTO DA
COORDENAÇÃO MOTORA FINA
RECEITA
INGREDIENTES
1 kg de farinha de trigo
1 kg de sal
água
corante
MODO DE FAZER
Coloque todos os ingredientes em urna bacia, ainda
secos, misture tudo e vá colocando água aos poucos até
dar ponto de liga. Quando estiver pronta a massa, pode
ser guardada em geladeira, envolta em um saco plástico
por até uma semana.
57
DICA
Varie as cores da massa depois de pronta. Faça uma
massa básica e dê cores diversasno final. Corantes podem
ser tintas, sucos naturais, sumo de folhas e muitos outros.
Com esta massa , o professor pode realizar uma
porção de atividades lúdicas com o objetivo de estimular
o desenvolvimento da coordenação motora fina ou da
coordenação visório-motora. Uma boa atividade é a
seguinte:
• Faça a massa de modelar.
• Coloque-a em uma sacola plástica de supermercado.
• Amarre a sacola, mas deixe uma boa folga entre a
sacola e a massa.
• Coloque a massa sobre uma mesa ou carteira.
• Peça para que a criança manuseie a massa.
• Depois peça que ela tente introduzir o dedo na massa,
sem furar a sacola.
• Repita várias vezes o mesmo procedimento, sempre
encorajando a criança a tentar e a descobrir o quanto de
força se necessita para tal.
• Se houver argila, substitua a massa por argila.
A coordenação visório-motora é uma parte da
coordenação motora fina. Ela envolve o olho e as mãos
executando a atividade ao mesmo tempo. Uma ótima
dinâmica para realizar a estimulação deste campo é sem
dúvida as brincadeiras infantis, porém, dardos, quebra-
cabeça, ampliação e redução de figuras, legos, blocos
lógicos, cartas de baralho para empilhar, dominós para
organizar, sem derrubar, constituem os melhores exercícios
58
porque, além de apresentarem todas estas características,
podem ser muito lúdicos, desencadear as socializações, os
conflitos e , ainda, trabalhar muito a ansiedade.
BRINCADEIRAS QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO
VISÓRIO-MOTORA
• dardos
• baralhos
• coleção de figurinhas
• legas
• montagem de maquetes
• amarelinha
• esconde-esconde
• ladrão e assassino
• gato e rato
• bambolê
• pular corda
• girar no carrossel
• pesca em barracas de festa junina
• quebra-cabeça
• alinhavo
• modelagem em argila
• jogo de argolas
• blocos lógicos
59
• bola de gude
• bonecos feitos de areia
• corrida de ovo na colher
• queda de dominós
• futebol de botão
• ioiô
• pebolim / totó
• tênis de mesa ou pingue-pongue
Lateralidade
60
DEFINIÇÃO
A capacidade de a criança poder olhar e agir para
todas as direções, com equilíbrio, com coordenação mínima
corporal e com noções de espaço, é a condição do trabalho
de lateralidade. A lateralidade é uma condição que a criança
irá descobrindo aos poucos. Ela poderá perceber que será
muito útil à sua própria vida poder executar dois ou mais
movimentos simultaneamente e em lados opostos.
Quanto mais forte for a referência e o treino, mais
desenvolvidas serão as diferentes partes que compõem
o todo. No entanto, devemos trabalhar com muita calma
para respeitar o tempo das crianças. Já é sabido que a
criança destra ou sinistra não é obrigatoriamente, ou
necessariamente, somente destra ou sinistra. Ao longo d<;>
processo escolar, uma criança poderá "mudar de mão", da
esquerda para a direita ou da direita para a esquerda como
algo normal. Quando isto acontece é porque a criança está
testando suas próprias condições internas.
O professor pode auxiliar nestas trocas e nestas
tentativas, mas jamais deve impor à criança com que
mão ela deverá escrever. Esta deve ser uma liberdade de
escolha da própria criança. Senão, o professor irá impor
algo à criança e, na verdade, isso não corresponderá ao
que efetivamente ela quer e pode.
ATIVIDADES QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA LATERALIDADE
Em papel
• Faça maquetes de cidades com caixas e sucatas de
papel.
• Coloque a criança com um boneco em qualquer rua
desta cidade.
• Dê comandos de esquerda e de d ireita para ela
seguir.
• Exemplo: ande duas quadras e vire à direita.
• Peça para ela andar livremente pela cidade de papel.
• Peça- lhe localizações de praça, de igreja , de
supermercado, conforme sua maquete.
• Faça desenhos em papel grande sob comando do
professor.
• Peça para a criança desenhar no centro do papel uma
piscina.
• Depois peça-lhe que desenhe à esquerda da piscina
uma árvore.
• Agora peça que ela desenhe à dire ita uma barraca.
• Peça a ela que desenhe dentro da piscina uma boia.
• Ao lado direito da árvore, peça que ela desenhe uma
bicicleta.
• Do lado esquerdo da barraca, desenhe uma bola no chão.
• Acima da piscina, desenhe um gramado.
• Abaixo, desenhe pedrinhas no chão.
• Entre a árvore e a piscina, coloque uma planta.
• Acima da piscina, uma mesa.
• Quando o desenho estiver pronto, peça que ela
reproduza suas localizações pela oralidade.
• Se houver erros, reconstrua com a criança os
acontecidos, sempre motivando-a.
64
Com tintas
• Varie a mesma atividade acima, usando tintas para
colorir.
Com sucatas
• Faça desenhos no chão da escola, no pátio, com as
mesmas indicações de uma cidade: igreja, supermercado,
praças, lojas, ruas.
• Coloque placas de trânsito: vire à esquerda, direita
proibida, siga em frente.
• Peça que a criança siga andando com se fosse o
motorista.
• Também podemos fazer um passeio pelo bairro da
escola resgatando estas placas no ambiente social da
criança.
• Use bolas de meias, ou de papel, para que elas peguem,
ao serem jogadas, somente com a mão direita.
• Não deixe as bolas caírem no chão, tocando nelas
somente com a mão direita, depois com a esquerda.
• Faça canudos de papel, em folhas de jornal, com a
mão direita, depois com a esquerda.
• Com estes canudos, construa esculturas.
• Depois de as esculturas prontas, junte os alunos e
peça que eles reproduzam as esculturas usando somente
o corpo.
• Se para reproduzir a escultura a criança precisar de
mais de um colega, sugira que assim seja feito.
• Faça corridas com materiais para serem equilibrados
com a mão direita e com a esquerda.
• Coloque uma porção de chave em um molho e peça
que a criança abra uma fechadura usando a mão direita ,
depois a esquerda.
65
•
• Peça-lhe que faça recortes de papel, para colagem,
usando a mão direita e depois a esquerda .
• Peça-lhe que faça desenhos com uma mão e depois
reproduza o mesmo desenho, do mesmo tamanho, com a
outra mão.
Com brincade iras infantis
• baralhos
• corrida do ovo na colher
• cordas
• dardo
• dobraduras
• futebol de botão
• rodas/cirandas
• palitos para colagem
• tiro ao alvo
• morto-vivo
• basquete
• bexigas/balões
• blocos lógicos
• bolas
• marchas
• movimentos alternados
• "onde está a cenoura do coelho?" - atividades em
revistinhas onde há uma figura em busca de outra e, para
tal, é necessário traçar um caminho
66
Desenvolvimento de
percepção musical
DEFINIÇÃO
Quando se fala em desenvolvimento de percepções, é
importante que o professor saiba que estas atividades não têm
como objetivo desenvolver excelência, mais sim talentos. É um
trabalho sobretudo de estimulação e, como tal, busca-se, a
partir dele, criar uma referência no universo infantil para as
questões que envolvem a musicalização ou a vocalização.
Estes trabalhos com as percepções musicais podem
ser desenvolvidos a fim de que a criança apure a audição
para o reconhecimento e a prática da fala , mas também
para criar uma audição seletiva para a musicalização que
envolve cada ambiente, seja ele educacional ou não.
Dessa forma, todo tipo de trabalho que envolve
a sonorização é bem-vindo à escola. Cantiga de roda,
brincadeiras de trava-línguas, músicas das mais diversas
origens e orientações, poesias e reproduções sonoras
são algumas das infinitas atividades que podem ser
desenvolvidas no espaço escolar.
Uma das maiores preocupações mundiais hoje é o
modo como as crianças têm acesso aos conhecimentos
e, portanto, às variadas formas de estruturação do saber.
Teóricos, pais e profissionais das mais diversas áreas, buscando
aprimorar e desenvolver um modelo capaz de cotejar um
desenvolvimento amplo; na visão de alguns holísticos, que
dê conta de uma gama muito maior de habilidades, chegam
facilmente a uma das respostas: a música está sim nesta base
sobre a qual desenvolverá as competências nos indivíduos.
A escola, porsua vez, tem total condições de fomentar este
trabalho, visto que para tal não há necessidade de grandes
investimentos físicos, mas sobretudo intelectual.
Competências transversais, as quais já mencionamos,
podem ser desenvolvidas com o auxílio de materiais
69
abso lutamente fáce is, econo micamente baratos e
pedagogicamente corretos. A música será ma is um meio
pelo qua l atingiremos o pleno desenvolvimento dos
indivíduos, dos atores escolares, nesta fase da vida. A
apuração do ouvido, o conhecimento a que se submete
a criança e as novas estruturas desencadeadas a partir de
então formam um invejável leque de possibilidades que,
por sua vez, possibilitará novas e outras estruturações ou
(re)estruturação dos conhecimentos desenvolvidos.
É difícil alguém que não se relacione com música, de um
ou de outro modo: ouvindo, cantando, dançando ou tocando
um instrumento. Cada um tem uma forma de relacionamento
com ela. Chegamos, às vezes, a pensar que exista algo inato
nesta nossa predileção humana pelos sons. O fato de sermos
educados ouvindo um e outro som, o fato de observarmos na
cultura brasileira uma enorme quantidade de variedades tão ricas,
faz-nos elementos carentes cada vez mais de tais manifestações
artísticas. Assim, nosso corpo não só está necessitado desse
trabalho como também nossas atividades cotidianas. É ai que
entra o trabalho de estimulação, de convivência e de percepção,
bem ao gosto da Psicomotricidade .
Como linguagem artística, a música, além de ser uma
área de conhecimento, é um agente capaz de atingir
o ser humano profundamente, nele provocando
profundas mudanças; reações, que se manifestam em
seu próprio ser, envolvendo corpo, sentimentos, mente
e esptrito. O praz.er que se tem pela música é o que
chaniainos de qualidade estética, isto é, a capacidade
de ex>nbecer, fruir, eensibilizarr imaginar e fazer ~
Em. uma ~ qu, se pauta, em grande parte,
p!lo uso~o da tecnologia, pela espoliaçlo
do1í1êio ~ e pela busca prioritária do lutro, ê
lír,pot...,dilllj ~ indivfduo para outtos valores,
~~~-ª
8 PIR ES, Maria Cristina Fonseca. Projeto Trn11sfor111nso11s, SEE/SP, 2001.
70
Se hoje usamos musicas para adormecer, pa ra
despertar, para dançar, para chorar, para re la xa r,
para o rar e para uma série de outras atividades que
realizamos diariamente, porque não poderemos usá-la
para o desenvolvimento das expressões corpora is as quais
deveremos trabalhar com as crianças?
Há muitas formas de sons espalhadas pela escola,
pelas famílias, pelo d ia a dia da criança. É importa nte
que o professor também resgate o reconhecimento delas
e a percepção para as coisas maiores. Os sons mais
intensos e mais sensíveis podem ser facilitados enquanto
reconhecimento. Mesmo que a criança não venha a gostar
deste ou daquele som, é importante que ela tenha contato
com a multiplicidade deles, pois somente assim estaremos
garantindo que ela tenha opções para a sua escolha ser
mais verdadeira .
Para J.e. Boukh (1981), na funçlo 811ditivii, bi
~sãooeetUmuloe...,.E,dete~.N/laçlo
estreita entre a intensidade do estfmulo e á tepQtta ...
A inlensidade do som também tem importlncia: •
tu~• produzem prefe•temente por 10D$
de baixa frequência (graves) e. p~ ao• de ~u..
fr~aênda (agudOf). A 'u.i~a ~a-se muttô
~-~d'aau~edtrimi~
avftdente.-lt'~
Tipos de músicas que podem ser trabalhadas na
escola9
• Músicas folclóricas
• Sons bucais
• Sons da natureza (vento, chuva, trovão, raio e mar)
9 idem
71
• Risadas
• Choro
• Sons de pássaros
• Sons de objetos variados
• Sons produzidos por instrumentos fabricados para tal
Instrumentos que podem ser construídos com
s ucatas
• Assobios (com pedaços de madeira oca, com pedaços
de canudinhos de refrigerantes, com tampinhas de canetas,
com garrafas plásticas)
• Apitos (com papel de bala)
• Chocalhos (com garrafas plásticas, com lata de leite
em pó e com latas de refrigerantes)
• Pandeiros (com latas de goiabada e tampinhas de
refrigerantes, com embalagens de queijo e tampinhas de
refrigerante)
• Pratos ( com tampas de panelas, com tampas de latas
de tintas e com latas de goiabada)
• Reco-recos (pedaços de madeira e uma colher, com
pedaços de bambu e um pedaço de madeira roliço de 30cm)
• Bumbos (com latas de tintas)
• Tambores (com embalagens de papelão usadas para
acomodar tintas especiais ou colas especiais)
• Pau de chuva (com pedaços de bambu, com rolo que
se usa para organizar tecidos em lojas e com pedaços de
cano de plástico)
• Artigos para percussão (bolas de gude, pedaços
de madeira, copos e quaisquer outros elementos que
produzam sons)
72
Atividades que podem ser desenvolvidas a partir
da música10
• Atividade para reconhecer sons (pode ser realizado
em sala de aula se o profissional puder dispor de uma
boa quantidade de sons diferenciados, mas pode ser
também realizado externamente, a í quem ganha é o
aluno que pode sair da escola para ouvir um concerto,
por exemplo, assistir a uma apresentação na praça da
cidade e até mesmo receber, na escola , uma dessas
apresentações didáticas) .
• Atividades para definir sons (um convidado que
tenha formação e repertório para tal seria o melhor,
mas na falta dele o profissional da educação, com
um pouco de primor aliado à sua competência, pode
perfeitamente dar conta de tudo. Recolha entre os
alunos materiais que e les possam ter, e sem_pre terão
alguns, e junte aos seus).
• Atividades para harmonizar sons (depois de ter
construído alguns instrumentos com os a lunos, já se
utilizando as atividades para desenvolvimento da
coordenação motora, você pode partir para o terreno da
organização. Um pouco de bom senso será capaz de levar os
alunos às percepções necessárias: ritmo, harmonia, timbre
e composição) .
• Atividades para criar sons coletivos (neste
momento, é impor tante o uso de uma sér ie de
instrumentos, construídos pelos próprios a lunos, ou
trazidos por eles para a escola. Aqui é importante
lembrar que há uma possíb ilidade muito além do
trabalho com som , é a impla ntação da noção de
trabalho em grupo ou em conjunto).
10 idem
73
• Atividades para explorar sons do próprio corpo
(usando pés, mãos, estalando dedos, batendo dedo no
peito, palmas, separadamente ou em conjunto).
• Atividades para movimentar-se a partir de sons (a
música não deve ser usada somente para fazer relaxamento,
ela tem outras utilidades nobres).
74
Desenvolvimento de
percepção olfativa
DEFINIÇÃO
Com as mesmas orientações da percepção anterior,
esta percepção tem um papel muito importante no
cotidiano da criança. É a percepção que irá auxiliar a
criança no reconhecimento do mundo dos perfumes e
dos sabores.
Muitas vezes, condenamos a criança por ela não
comer ou não gostar deste ou daquele aroma. Claro
que isto é possível e , acima de tudo, é legal, pois
afinal somos livres para nossas escolhas. No entanto,
é importante lembrar que muitas destas escolhas não
podem ser feitas por nossos alunos simplesmente porque
eles não conhecem, nunca sentiram aquelas sensações
antes e , portanto, como reconhecer, ou se reconhecer
dentro delas?
Assim, antes de cobrar que a criança goste ou não
deste ou daquele aroma, ou sabor, faz-se necessário
iniciá-la no mundo que exala perfumes e que é
impregnado deles.
Para um trabalho a contento, a postura do professor
também deve ser de descoberta, uma vez que dificilmente
há uma formação mais específica neste sentido. As
descobertas coletivas podem enriquecer muito as atividades
pedagógicas e facilitam a convivência do grupo.
77
ATIVIDADES QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO
OLFATIVA
• Peça às crianças para trazerem plantas aromáticas
de casa.
• Coloque estas plantas em caixas de sapato.
• Macere estas plantas para que soltem seu cheiro.
• Peça para que todos se sentem no chão em círculo.
• Passe pelo círculo, para que cada criança sinta o cheiro
de uma planta por vez.
• Diga o nome e o quepode ser feito com aquela
planta .
• Em seguida, passe sempre mais dois ou três destes
aromas.
• Depois misture os três aromas e cubra-os, para que
a criança não veja as folhas, e peça-lhe que diferencie um
cheiro do outro.
• Quando a criança reconhecer, passe para outros
perfumes.
• Podem-se colocar em pequenas caixas cheiros do
cotidiano mas que a criança, às vezes, demore um pouco
para percebê-los.
• Cenoura tem cheiro, pó de café tem cheiro, chocolate
tem cheiro. Use todos eles para despertar esta estimulação
nas crianças.
• Leve os alunos à cozinha da escola ou faça uma visita
a uma feira livre a fim de fazer um grande reconhecimento
de perfumes que exalam da natureza.
• Há formas de colocar perfume em pedaços de
papel.
78
• Pegue um punhado de folhas de eucalipto, mergulhe
ou ferva em um pouco de água. Depois coloque pequenos
sachês feitos com as crianças, a partir de filtro de café,
cheios de algodão.
• Embeba os sachês na mistura, espere secar e terá o
perfume do eucalipto no sachê.
• Faça isto com outros perfumes.
• É possível fazer papel reciclado com perfumes.
• Para isto, coloque as folhas de revista em água de
eucalipto ou outro aromatizante natural.
• Deixe as folhas da revista de molho por 15 dias.
• Depois bata no liquidificador as folhas da revista com
um pouco de folhas aromatizantes.
• Despeje a mistura em formas de madeira, com telas
usadas para segurar moscas em janelas.
• Assim a mistura vai escorrer e irá ficar apenas a mistura
de folhas aromáticas com as folhas derretidas.
• Esparrame bem esta mistura por estas formas.
• Deixe secar por três dias.
• Estes papéis ficarão lindos, com perfumes, e podem
ser usados, como cartões de natal, de páscoa, de dia das
mães ou para convites especiais.
• Pegue sachês de perfumes, com lenços umedecidos,
peça para que as crianças fechem os olhos.
• Depois passe os lenços umedecidos nos perfumes nas
mãos das crianças. Use, se possível, uma tolha umedecida
em água morna, para elas pegarem antes da atividade. lsso
ajuda a ampliar as percepções.
79
Desenvolvimento de
percepção gustativa
DEFINIÇÃO
Como nos trabalhos anteriores, a importância
da percepção gustativa é também grande. No entanto,
vale ressaltar que, neste caso, todo o trabalho já se re-
aliza em tempo real, ou seja, enquanto a criança segue
descobrindo sabores, vão também incluindo-o no seu
cardápio diário, constituindo assim uma nova ou uma
boa referência em alimentação.
O cuidado primordial agora deve ser para que a
criança tenha contato com os alimentos reais. Quanto
menos estes alimentos forem processados, melhor. As-
sim, nunca bater, liquidificar, cozinhar, amassar coisas do
gênero, caso o alimento possa ser consumido cru ou em
sua forma natural.
Quando a criança tem contato apenas com ali-
mentos "disfarçados", do tipo empanado, frito, cozido
demais e assim por diante, fica muito difícil para ela
reconhecer os cheiros, o gosto e as texturas de cada
alimento. Dessa forma , a repulsa ou a não aceitação
é latente, uma vez que ela só está habituada com ali-
mentos que tenham aquelas mesmas características de
quase toda a sua alimentação: muito condimento, muito
tempero, muita gordura ou muito açúcar, o que não é
bom em qualquer dieta.
Introduzir alimentos diferentes, novos a cada dia,
diversos em suas texturas, sabores, consistências e carac-
terísticas constitui uma ótima atividade no processo de
desenvolvimento das percepções gustativas, e isso é um
grande trabalho que a escola pode desenvolver ao lado ou
em parceria com a família.
83
ATIVIDADES QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO
GUSTATIVA
• Leve alimentos exóticos para serem provados em sala
de aula.
• Encoraje a criança a provar aquilo que ela só diz que
não gosta , mas nunca provou.
• Descubra quais são as coisas que elas gostariam de
provar por curiosidade e que nunca disseram.
• A cozinha da escola é uma tentação, um laboratório,
assim, experimente fazer a lgo para que todos possam
provar.
• Faça atividades de degustação com os olhos fechados.
• Coloque pedaços de alimentos na boca da criança
e peça-lhe que o saboreie e, em seguida, diga o que está
comendo.
• Resgate se e la sabe diferenciar o doce do salgado,
o azedo do doce, o quente do morno, o picante do
condimentado.
• O soro caseiro e a água de coco possuem um gosto
bem peculiar, experimente com eles e reflita sobre a com-
posição.
• As frutas muitas vezes são conhecidas pelas crianças
em formas elaboradas ou industrializadas. Procure consumir
alimentos ao natural com elas.
84
Desenvolvimento de
percepção espacial
DEFINIÇÃO
O espaço é na infância e, também, na vida adulta um
grande desafio. O espaço requer pleno domínio do sujeito
para a perfeita integração do ser ao ambiente.
O espaço constitui muito mais que uma dimensão
física: paredes, portas, janelas, ruas, casas, prédios,
entradas e saídas. Há nos espaços as mais diferentes
ações que o constitui como tal. Assim, ter condições de
reconhecer, interferir e agir sobre estes espaços e dentro
deles passa a ser um dos maiores desafios do trabalho de
Psicomotricidade escolar.
A escola tem de proporcionar esta condição
primeiramente em suas próprias atividades. Uma criança
tem de desenvolver plena autonomia de movimento no
espaço escolar. Ir ao banheiro, ir à cozinha, entrar e sair de
depósitos, ginásio, piscinas, jardins e salas administrativas
é a primeira forma de desenvolver as noções espaciais na
criança em idade pré-escolar.
Nunca será possível conseguir todo o desenvolvimento
das noções espaciais trabalhando apenas com papel ou com
atividade em quadra. É necessário pensar e aceitar que
é, no espaço social, o desenvolvimento mais fértil e mais
consistente em relação a esta idade.
Fazer passeios com as crianças em shopping, ir
ao cinema, tomar um ônibus no terminal pode parecer
desafiador quando se têm crianças de quatro ou cinco
anos em suas mãos, mas, se avaliarmos o benefício
destas atividades, tomaremos certamente mais cuidado e
não as deixaremos de realizar, pois os benefícios sempre
serão maiores.
87
Para l.e Boukh (1982), a percepção do espaço se dá a partir
das .relações de vizinhança, isto é, a proximidade dos
elementos percebidos no mesmo campo. F.m um primeiro
momento, 06 elementos devem ser vizinhos para poder
integrá-los em um mesmo conjunto, depois a vizinhança
poderá estender-se a áreas mais afastadas. A separação
é a segunda relação espacial elementar: dois elementos
vizinhos podem interpenetrar-se, confundindo-se em
parte. A poss1bilidade de considerá-lo como distintos
possibilita estabelecer uma relação de separação.
Uma outra observação importante é que esta
percepção não é desenvolvida assim tão uniforme ou tão
rapidamente. Isto faz com que os profissionais que estejam
trabalhando com a cria nça tenham a percepção de realizá-
las mais de uma vez, sempre interferindo com dificuldades
mais acentuadas e levando a criança a perceber e a
descobrir outros mecanismos de relação no espaço. Caso
contrário, a criança ficará muito abaixo da regularidade que
se espera para o bom desenvolvimento dela.
A falta de uma boa dominância espacial leva a
criança a ter problemas de localização na escola , na cidade
onde vive, em um passeio qualquer. Também tem sempre
problemas de localização nos desenhos, nos mapas e, às
vezes. pode até trocar letras de lado (letras espelhadas)
porque não relaciona o traço à direção dele.
88
Le Boukh (1982) afirma que a construção do espaço
na criança ocorre entre 18 meses e três anos de idade.
A construção do espaço se faz a partir de intuições
muito elementares. A relação mais elementar é aquela
da vizinhança, isto é, a proximidade dos elementos
percebidos no mesmo campo. Em um primeiro
momento, os elementos devem ser vizinhos para
poder integrá-los em um mesmo conjunto, depois a
vizinhança poderá estender-se a áreas mais afastadas. A
separaçãoé uma segunda relação espacial elementar: ----
dois elementos vizinhos podem-.in.h!rpenetrar-se,
confundtndo-eeem parte. A possibilidade dê considerá:.
los como distintos faz com que se estabeleça uma
relação de separação. A experiência da manipulação e
do deslocamento de um dos elementos em relação ao
outro está determinada, neste aspecto, pela percepção
do espaço.
ATIVIDADES QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO
ESPACIAL
• Todas as atividades já descritas para o trabalho de
la teralidade também devem ser aplicadas com o objetivo
de estimular a criança para as percepções do espaço.
• Além das atividades descritas acima, o trabalho com
mapas é o melhor.
• Dê a criança caça-palavras para encontrar.
• Dê a criança labirintos em papel impresso para que
ela encontre a saída, ou para que e la leve o coelho à
cenoura.
• Depois dê a ela mapas mais simples, de uma determinada
iona da cidade. e peça que ela faça reflexões. encontre ruas,
~ncontre parque e coisas mais substanciais ali .
• Como são crianças de seis, sete ou o ito anos, você
pode também trabalhar com mapas rodoviários, resgatando
ns rodovias e suas especificidades.
• Trabalhe também com mapas celestes, com posição
de sol. de lua, de estrelas.
• Trabalhe os pontos cardeais e a localização norte.
• Se houver, trabalhe com uma bússola.
• Construa com as crianças um relógio de sol.
89
AS BRINCADEIRAS INFANTIS QUE SÃO RICAS
EM CONTEÚDOS RELACIONADOS AO ESPAÇO
90
• corrida do ovo na colher
• brincar de casinha
• pneu
• câmara de ar
• peteca
• cordas
• dama
• trilha
• dardo
• dominó
• materiais para encaixe
• dobraduras
• futebol de botão
• geleias/melecas
• modulação em gesso
• jogo da velha
• rodas/cirandas
• linhas, fios e cordões
• desenho em lousa
• madeira, pregos e martelinho - construções e
marcenaria
• palitos para colagem
• pesca
• tiro ao alvo
• bola pula-pula
• quebra-cabeça
• retalhos - montagem de roupas
• trilha
• morto-vivo
• pular cordas
• xadrez
• cinco-marias
• betes
• cabra-cega
• gato e rato
• adoleta
• areia
• argila
• agulhas
• amarelinha
• aquaplay
• argolas
• basquete
• bexigas/balões
• blocos lógicos
• bolas
91
Desenvolvimento de
percepção temporal
DEFINIÇÃO
O tempo é uma das mais difíceis habilidades para
se trabalhar na escola infantil, dada a d ificuldade de se
distinguir, por parte da criança, o tempo real do tempo
ficcional. As histórias que ela ouve se passam em um tempo,
as cobranças que ela escuta se passam em um outro muito
mais real, e o dia tem uma organização temporal que ainda
não é de domínio ou de aceitação ou de reconhecimento
por parte dela. Dessa forma, devemos ter todo um cuidado
de nos preparar para a paciência, que também é uma
questão de tempo, para que nunca desistamos de realizar
este tipo de trabalho.
As noções e o domínio do tempo irá auxiliar a criança
na construção do fio narrativo no momento em que ela
ouve histórias. Também é a noção de tempo que leva a
criança a desenvolver os hábitos do cotidiano: dormir,
acordar, tomar banho, almoçar, jantar, ir a escola e muitas
outras atividades rotineira acontecem em função do tempo,
embora muitas crianças tenham grandes dificuldades de
perceber esta condição.
Mais tarde, quando ela precisar se comunicar com
mais destreza, é o tempo que irá costurar suas narrativas e
suas percepções do mundo que a cerca. Assim, desenvolver
um bom trabalho de percepção temporal é uma premissa
para que a criança na idade pré-escolar possa se incluir
cada vez mais no universo em que vive.
A noção de tempo, por exemplo, é basta nte
complicada para que uma criança assimile. Quantos pais
quase enlouquecem quando percebem que seus filhos
não lhes obedecem. Chamar ou avisar uma criança que
está no quarto brincando pode dar conta do que estamos
95
falando: a mãe grita da cozinha para a criança que está no
quarto (Filha, em 10 minutos sairemos para a escolinha.
Arrume suas coisas e pegue sua mochila) . Parece uma
tarefa trivial para os adultos, porque para a criança essa
pode ser uma das mais complexas tarefas a ser executada
ou compreendida por ela. Imagine que, para dar voz à
autoridade da mãe, a criança tem de parar de brincar, tem
de saber o quanto são 10 minutos, saber que este tempo
deverá ser suficiente para arrumar urna mochila, mas, afinal,
o que é arrumar uma mochila? Etc. etc. etc.
A noção de tempo para a criança, no primeiro
momento, só acontece de duas formas: o agora e o muito
depois. Portanto, o agora é aquilo que ela está vivendo
e o muito depois é aquilo que pode acontecer, mas este
acontecimento não dependerá de absolutamente nada da
parte dela. Ela apenas continuará a executar aquilo que
está executando até que a mãe, brava e sem paciência,
possa entrar no quarto e ajudá-la a executar tudo aquilo
que há 10 minutos solicitou. Aos poucos, a criança vai
percebendo que o tempo antes, durante e depois são coisas
interligadas e que muitas, ou quase todas as nossas ações,
são dependentes dele e , para tanto, ela deverá também se
sujeitar a tal.
É uma tarefa das mais difíceis e que requer um esforço
muito grande de pais e educadores, senão a noção interna
de tempo e de responsabilidade pode passar despercebida
pela criança, e desenvolver estas mais tarde pode ser uma
missão quase impossível.
%
ATIVIDADES QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO
TEMPORAL
• Coloque uma garrafa PET com água e espete na
garrafa uma agulha de injeção.
• Observe que isto irá se transformar em um conta-gotas.
• Comece a contar com as crianças quantas gotas caem
em um espaço de tempo.
• Marque em um despertador ou um temporizador
quantas gotas caem em um minuto.
• Depois repita a mesma contagem em três minutos e
assim por diante.
• Marque em um calendário ou em uma agenda,
na sala de aula, as atividades nos respectivos dias da
semana.
• Sempre resgate o que aconteceu ontem.
• Faça ligações entre o ontem e o anteontem.
• Projete as coisas que serão realizadas amanhã e depois
de amanhã.
• Conte histórias e reconte história e depois faça as
perguntas dos fatos que a história narrou. Veja se a
criança consegue distinguir entre um acontecimento e sua
sucessão.
• Faça desenhos de cada parte da história em cartolina,
coloque na lousa e peça que a criança reconte a história
usando os desenhos como referências .
• Depois retire os desenhos e veja se ela consegue dar
a mesma sequência nos fatos.
• Faça desenhos da mesma história e os coloque em
ordem alterada e peça à criança que monte-a na sequência
dos fatos que você irá ler para ela ouvir. Assim, ela vai
ouvindo e fazendo os ajustes.
97
• Faça relógios de sol no pátio da escola para que as
crianças acompanhem a mudança da direção do sol e a
passagem do tempu.
• Use relógios com algarismos arábicos e, ao mesmo
tempo, relógios digitais para que eles percebam as diferenças
de contagem de um mesmo tempo.
98
Desenvolvimento da
percepção corporal
DEFINIÇÃO
O nosso corpo possui características que são so-
mente nossa, embora sejamos muito semelhantes. Cada
corpo irá desenvolver urna ou várias características que
lhe serão particulares. O prazer, a dor, a sensação e a
percepção sempre irão acontecer com todos, no entanto,
a intensidade de cada um destes aspectos vai depender
de questões ora orgânicas, ora sociais e muitas vezes
emocionais pelas quais todos nós nos constituímos.
Por outro lado, o corpo é formado de tantas
partes, de tantas especificidades que uma criança se sur-
preende todos os dias com tais descobertas. Assim, de-
vemos proporcionar a cada criança que viva plenamente
estas descobertas. As castrações, os impedimentos, os
preconceitos e as limitações sempre são e serão atitudes
condenáveis em qualquer universo, principalmente na
infância, onde as crianças ainda estão se descobrindo,
e as experiências são muito significativas para a vidaque segue.
O trabalho do professor deve ser para reconhecer e
perceber questões estruturais do corpo, mas, acima de tudo,
ele deve desenvolver atividades onde a criança possa se
reconhecer, descobrir seus próprios sabores, suas próprias
condições e, portanto, seus limites de exploração, uso e
ações corporais.
101
A busca d4> a~envolvimento de capaddade
~ e bablltdades motoras, de forma ~
utilizando uni~ critérios de desempenho e
produtividade, ignorando a globalidade do hcmtem.
&e'I• wna educação física alienada, que ajuda a
~~a~ dtc~ d'~ e e&,J.>frlto ~
·libàiedl conl\;mt,bt~.11 ·
Que as práticas escolares desenvolvidas no seio da
escola reproduzem, em muitas vezes, aquilo que a sociedade
apresenta como característica intrínseca, já não é surpresa
para ninguém, no entanto nos causa espanto perceber que
ainda hoje, mesmo depois de tudo que já foi apresentado e
discutido, encontramos facilmente por aí aulas de educação
física absolutamente dispensáveis. As práticas escolares da
educação física trazem a marca da cultura e das conotações
sociais do seio em que essas acontecem.
Há inúmeras formas, ou fórmulas, desenvolvidas pelos
profissionais. É claro que não estamos falando dos bons
profissionais, estamos falando daqueles que se preocupam
somente com a excelência ou com as regra, principalmente
se ela estiver ligada ao controle e a disciplinar o corpo. Há
uma busca constante de desenvolvimento na criança, dos
conceitos de excelência, quando, na verdade, o oposto é
que se faz verdadeiro. Um dos objetivos da educação física
seria tão somente buscar, por meio do corpo infantil, uma
conduta capaz de valorizar os movimentos involuntários,
livres e "expressionais" em relação aos objetos. às coisas
e ao meio dele.
A aprendizagem da técnica, sem levar em consideração
as possib ilidades do corpo, não só vai complicar o
desenvolvimento corpóreo da criança como também todas
" Maria Augusta Salin Gonçalves. Sentir, pensar e agi r-corporeidade e educação.
Campinas, SP: Papirus, 1994.
102
as questões de aprendizagem que partirão dela, sobretudo,
pelas características dos conteúdos e dos métodos de ensino,
que colocam o indivíduo em um mundo diferente daquele
no qual ele vive, ou quer viver, e pensar com seu corpo.
Todo o sistema de ensino vai se caracterizando com
uma grande preparação para o futuro. Que educação
pode ser verdadeira pensando no indivíduo para o futuro
em detrimento das conotações da vida presente? Onde
fica o prazer e a realização do aluno no desenvolvimento
de tais práticas do quotidiano? Quando os objetivos
motores, das práticas em educação física escolar, estão
voltados somente para a formação de excelência, pode se
perceber facilmente a (des)importância das experiências
mais substâncias no presente da criança, razão maior de
nosso compromisso com a educação. Uma sala de aula
organizada em fileiras, o pequeno espaço para locomoção
entre as fileiras em virtude de um número muito grande
de alunos, a falta de condições climáticas em muitas delas,
a colocação da mesa do professor estrategicamente na
frente, no centro da sala , mais alta e mais confortável
que a do a luno e a soma de muitos outros fatores vão
desenhando um código de comportamento que oprime a
liberdade de movimento da criança.
Se, nas aulas externas de educação física, este mes-
mo aluno encontra um professor que pede para que ele
faça 1 O vezes o percurso do quarteirão da escola correndo
e, na volta, há uma série de 100 polichinelos a serem
executados, sua apreciação corpórea estará totalmente
comprometida. O tônus tem de ser desenvolvido, mas há
inúmeras outras maneiras e muito mais prazerosa de se
rea lizar esses trabalhos.
O conhecimento do corpo feito de forma fragmentada,
abstrata, restrita e levando-se em consideração somente
o quantitativo pode simplesmente tornar a prática da
103
educação física na idade infantil em apenas uma atividade
com finalidade de mensurar quantitativamente, de avaliar
talentos e , sobretudo, de evitar os quesitos sensoriais
de elaboração de experiências próprias de cada a luno.
A busca obsessiva por rendimento absorve o professor
com medidas e avaliações e privilegia aqueles alunos
que possuem as melhores aptidões, deixando para
trás os outros que, não tendo nenhuma delas, não são
merecedores de mais nada.
ATIVIDADES LÚDICAS E BRINCADEIRAS
INFANTIS QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO
CORPORAL
• cinco-marias
• queima
• betes
• cabra-cega
• gato e rato
• adoleta
• areia
• argila
• bonecas
• bonecos de histórias infantis
• bonecos de desenhos da TV
• bumbo
• bambolê
• peteca
• dama
104
• dobraduras
• fantasias / figurinos
• fantoches
• geleias/melecas
• modulação em gesso
• ioiô
• pega varetas
• morto-vivo
• estátua
• duro-mole
• pega-pega
• moicanos (uma espécie de gincana onde há uma
senha para cada nova fase de acesso. Esta dada por
um moicano, mediante a descoberta da senha que o
desperta)
• pular cordas
• andar sobre cordas
• danças folclóricas
• danças circulares
• danças de rua
• danças livres
• ritmos que podem ser feitos a partir de sons mecânicos,
ou de sons produzidos pelas crianças ou ainda de um
convidado para tocar
105
Seriação e
classificação
DEFINIÇÃO
Esta é uma das atividades mais comuns do dia-a-dia
da escola infantil, pois é ela quem irá garantir que as crianças
reconheçam o mundo onde vivem.
Também chamada de classificação, é uma atividade
que desencadeia o reconhecimento de todos os materiais,
as texturas, as formas e os conceitos que envolvem o espaço
social onde a criança está envolvida.
Um bom trabalho de seriação deve ser feito no am-
biente real, aquele de verdade. Assim, textura se ensina
passando a mão na parede, pegando nos objetos, indo às
feiras livres, visitando casas, museus, saindo às ruas e assim
por diante. Claro que o professor poderá trazer materiais
para serem explorados na sala de aula. Mas, é imprescin-
dível que a criança tenha os dois tipos de trabalho. Mesclar
atividades, mas sempre priorizar atividades em ambientes
reais. Esta é sem dúvida uma boa atitude pedagógica do
educador infantil.
ATIVIDADES QUE AUXILIAM O
DESENVOLVIMENTO DA SERIAÇÃO
• Coloque uma vela acesa no centro de uma roda de
crianças.
• Coloque todos os materiais que você encontrar dispos-
tos ao redor do fogo: papel, plástico, isopor, ferro, madeira,
vidro, acrílico, algodão etc.
• Coloque cada um dos materiais na mão da criança
para que ela possa manipular.
109
• Depois de manipular, resgate as características e as
diferenças que cada um possui.
• Retome se há ou não diferenças e semelhanças entre
os materiais, como plástico e celofane, por exemplo.
• Depois coloque cada um dos materiais sobre o fogo e
observe as reações da criança.
• Explique a elas que existem materiais que o fogo der-
rete, desfaz e o torna cinza.
• Você também pode colocar cada um dos materiais na
água para que as crianças observem o comportamento de
cada um deles também na água.
• Exponha o perigo que está impregnado em cada um
destes materiais. Exemplo: o fogo pode queimar e ferir. A
água dissolve o papel, mas não nos fere.
• Veja a reação deles quando duas matérias se encontram.
• Observe a colocação do celofane sobre o fogo. Eles po-
dem acreditar que o celofane irá pingar como o plástico.
• Resgate o perigo destes materiais no dia a dia de cada
um deles.
• Coloque os cacos de vidros para que eles possam
manuseá-los, mas antes não esqueça de prepará-los para
o perigo, assim eles estarão mais preparados para a vida.
• Não exclua agulhas ou tesouras com ponta de sua
sala de aula. É mais importante a criança reconhecer estes
materiais e seus perigos que não conhecê-los.
• Depois faça caixas com identificação de cada material
e peça que as crianças separem todas aquelas sucatas do
meio da sala de aula nas respectivas caixas.
• Faça um passeio comeles pela escola tentando loca-
lizar todos estes materiais e depois faça cartazes com as
respectivas separações.
110
Brincadeiras e
jogos infantis
Os jogos podem ser classificados de várias formas,
no entanto a melhor maneira de concebê-los é encarando-
os como forma de crescimento psicossocial. O jogo pode
ser descrito de três grandes formas: jogos afetivos, jogos
cognitivos e jogos corporais (LOPES, 2001).
A - OS JOGOS AFETIVOS: são aqueles que possi-
bilitam que as crianças tenham trocas afetivas intensas
durante a sua realização. A princípio, todos os jogos po-
dem desencadear estas concepções, no entanto há jogos
em que estes aspectos estão bem mais presentes.
É durante eles que a criança é testada a colocar
em prática ações, em que o amadurecimento é mostrado.
Neles, podemos perceber o quanto há de imaturidade
o u maturidade nas ações do indivíduo. Cabe ao
professor intervir, quando necessário, nestes jogos,
buscando possibilitar à criança práticas psicossociais
próximas das atividades naturais de desenvolvimento.
Estes jogos podem ser atividades em duplas, trios ou
pequenos grupos. No entanto, é importante que o
professor tenha em mente que as crianças possuem
uma certa "natura lidade" que não pode e não deve ser
destruída: crianças brigam, crianças mordem, crianças
se defendem.
Essa natura lidade deve ser observada a fim
de possibilitar que as crianças desenvolvam recursos
próprios de defesa e de ligação com outros seres. Assim,
cabe ao professor sempre dialogar, colocar questões,
mas nunca tornar o ambiente asséptico do ponto de
vista dos conflitos emocionais e afetivos. Pinturas em
grupos, quebra-cabeças, tangrans, !egos, construções
de maquetes em grupos são excelentes jogos para o
desenvolvimento desta habilidade pessoal.
113
Com o jogo, busca-se que a criança possa desen-
volver a noção do ser a partir da ideia do fazer e nunca
a ideia do ser a partir do ter. Esse princípio da posse é
quase sempre muito prejudicial à criança nesta idade. É
necessário desenvolver a percepção do outro, da perda,
da divisão e da partilha. O crescimento pode também vir
das perdas, e estas também possibilitam o crescimento e
a maturidade.
B - OS JOGOS COGNITIVOS: são aqueles que estão
mais voltados ao desenvolvimento do raciocínio lógico-
matemático. Nestes jogos, o aluno irá testar e compor um
raciocínio capaz de enfrentar todo o tipo de situações do
dia a dia. São estes jogos que ampliarão a percepção e o
cálculo mental, condições primárias de uma aprendizagem
satisfatória. Estes jogos são práticas que requerem grandes
períodos de atenção e de concentração e, por isso, são
excelentes exercícios para as crianças desenvolverem esses
comportamentos tão imprescindíveis à atividade acadêmica.
O xadrez, as trilhas, as damas, os jogos com baralho,
principalmente 21, 31 e pife-pafe, são ótimos exemplos de
jogos que podem desenvolver estas habilidades.
C - JÁ OS JOGOS CORPORAIS: são aqueles que
cobram uma boa dose de atividade motora. Para E;!Stes, é
necessário que a criança coloque seu corpo à disposição
da atividade que está sendo desenvolvida. Crianças com
bons desenvolvimentos motores costumam figurar entre
as lideranças das turmas ou dos grupos sociais a que
pertencem.
A atividade corporal, como já dissemos, desenvolve
múltiplas perspectivas da criança em relação ao mundo
e ao outro parceiro de descobertas e de realizações. Para
isso, é necessário que estes jogos cobrem não excelência,
virtuosismo, mas verdade de gestos e de linguagem
114
corporal. Estátua, duro e mole, mímica, expressão corporal,
teatro, cirandas e danças são atividades que não podem
faltar nestas práticas.
No mais, segundo Lopes (2001) , os jogos podem
desenvolver outras características que apreciamos no
trabalho diário da educação, a saber:
TRABALHAR A ANSIEDADE
É durante o jogo que a criança é muita cobrada sobre
o equilíbrio emocional. É durante o jogo, onde a atividade
é quase sempre muito intensa, que a criança se vê sem
recursos emocionais para lidar com a pressão incondicional
imposta pela ação de jogar. Sendo assim, é ali que podem-se
desenvolver ótimas percepções sobre a ansiedade e como
lidar com ela. É a prática da ação que leva o indivíduo
à elaboração própria de mecanismos regulares para o
enfrentamento e a superação.
REVER OS LIMITES
Durante os jogos, é comum uma criança se
comportar como se fosse o centro da prática e que ,
portanto, a vit?ria ou o sucesso do grupo diz respeito
somente a ela. E também possível perceber que as crianças
nesta condição possuem uma dificuldade muito forte em
aceitar as derrotas.
A noção da fragilidade, da perda e do fracasso é
constantemente evitada por algumas crianças. Assim, o jogo
pode, naturalmente ou não, possibilitar que esta percepção
se plasme diante da criança. Ter a noção de limite é muito
saudável para as crianças, pois as coloca em uma posição
de aprendizes, papel salutar na infância.
115
REDUZIR A DESCRENÇA NA
AUTOCAPACIDADE
É pouco, mas não menos importante dizer que há
crianças que acreditam que todas as soluções podem ser
elaboradas por elas mesmas. Agindo, dessa forma, a criança
começa a desenvolver uma grande repulsa em aceitar ajuda
e opiniões alheias, o que não é bom, afinal, daí podem surgir
outros problemas, incluindo transtornos mais acentuados.
O jogo pode mostrar que, muitas vezes, precisamos do
ensinamento prévio, da receita para depois reconstruir, ao
nosso modo, novos mecanismos de ação.
DIMINUIR A DEPENDÊNCIA E POSSIBILITAR A
AUTONOMIA
Crianças são, como já vimos, seres dependentes
dos adultos. É uma questão básica de sobrevivência
depender de alguém que pode nos saciar a fome, dando-
nos leite, que pode nos saciar o medo e o choro, dando-
nos colo e assim por diante. Toda esta dependência é
condição para que nos posicionemos no mundo e , aos
poucos, vamos descobrindo-o.
Mas, chega o momento de romper com estas ligações,
para desenvolver a autonomia, e a criança tem de estar
preparada para tal. Muitos pais exageram na dependência e
desencadeiam uma limitação muito séria nos filhos. Eles, os
filhos, não conseguem superar barreiras psicossociais mais
elementares. Não podem, porque não possuem recursos,
enfrentam intrigas pessoais e, portanto, desitem e passam
a viver da imposição ou da negação.
Nas atividades de jogos, estão bons momentos para
o professor trabalhar com esta ação. Durante o jogo, é
importante, para se alcançar sucesso, que o indivíduo
elabore respostas pessoais, estratégias próprias para
prosseguir no grupo. Estas práticas podem levar o aluno a
desenvolver autonomia intelectual e, portanto, autonomia
em outras áreas do comportamento humano.
APRIMORAR AS COORDENAÇÕES MOTORAS
Cada jogo com movimento exige uma destreza
corpórea do jogador. Assim, se é necessário tê-las para que
o resultado das ações possa ser melhor, é possível pensar
que é o jogo e seu desenrolar que também encaminham
estas habilidades motoras.
Os movimentos com os membros superiores e
com os membros inferiores são atividades motoras que
ajudam não só o desenvolvimento biológico da criança,
mas acima de tudo o desenvolvimento afetivo, pois é
ali onde as trocas afetivas e as negociações emocionais
acontecem, intensificando enormemente cada relação. O
movimento de pinça de todos os dedos, o círculo, o girar,
o encolher, o alongar são exemplos de atividades possíveis
a partir do jogo.
MELHORAR O CONTROLE SEGMENTAR
O controle segmentar é a expressão usada para
designar a capacidade de a criança "quebrar" o movimento
dos membros superiores e inferiores. É quando há perfeita
sincronia entre um e outro movimento do braço, do
antebraço, da mão e dos dedos.
Estas partes do membro devem funcionar
harmonicamente, porém independentes para que uma
criança possa, por exemplo, escrever com destreza. É
117
essa capacidade que faz com que as crianças alcancem
mobilidades importantes para o seu desenvolvimento.Danças de rua , soldadinho, estátua e duro e mole são
exemplos de brincadeiras que podem ajudar este quesito.
DESENVOLVER PERCEPÇÃO DE RITMO
Quem nunca viu uma criança sem ritmo e sem
coordenação nos movimentos? É realmente um quadro
que precisamos mudar. Crianças necessitam de trabalho de
percepção e de estimulação para que possam desenvolver
sintonia com sons e com movimentos mais elaborados.
Assim, é possível usar jogos e atividades lúdicas que
possuem estas características para que o resultado da
formação motora da criança esteja cada vez mais próximo
do satisfatório.
AUMENTAR A ATENÇÃO E A CONCENTRAÇÃO
O xadrez é o campeão disparado nesta categoria.
Nenhum outro jogo é capaz de desenvolver tanto estas
características como este. Os blocos lógicos e os )egos
também são ótimos jogos, mas o xadrez possui características
ímpares. Ele é capaz de cobrar uma atenção do tipo mais
intenso. A atenção é condição de uma aprendizagem e,
no entanto, poucos conseguem perceber que ela também
pode ser estimulada. Neste caso, é o jogo um dos maiores
responsáveis por esta habilidade.
118
DESENVOLVER ANTECIPAÇÃO E ESTRATÉGIA
Outra das mais importantes características que o jogo
pode ajudar a desenvolver nas crianças é a capacidade de
antecipar, de prever e de se preparar para jogada do outro.
É essa habilidade que demonstra o quanto de raciocínio
lógico a criança possui, pois, para antever, ela precisa cuidar
do próprio jogo enquanto não descuida da tentativa de
revelar os critérios do jogo que o adversário está usando.
É aí que mora uma das mais salutares condições que só o
jogo pode desencadear.
AMPLIAR O RACIOCÍNIO LÓGICO
Como já dissemos anteriormente, o raciocínio é algo
que nunca podemos deixar atrofiar. Ele é uma condição
neural, com pontos de participação da memória, da
filosofia, da matemática e de outros ramos do conhecimento.
É importante saber que, como tal, ele precisa estar
constantemente sendo instigado, provocado e alimentado
para que não se atrofie. Atividades de jogos podem ser
bastante interessantes quando o assunto for este.
DESENVOLVER A CRIATIVIDADE
Atividades de criatividade é uma das mais interessantes
em jogos que exigem individualidade, estilo próprio do
jogador. Entre essas atividades, estão as personalizações
das casas conquistadas na amarelinha. Também são ótimas
atividades de criatividade as cinco-marias, )egos e projetos
a serem montados. Baralhos, dominós, trilhas e barbantes,
119
sem deixar de se lembrar dos elásticos, são excelentes
exercícios de criatividade.
PERCEBER A SOCIALIZAÇÃO E A
COLETIVIDADE
É a busca da autonomia um dos maiores desafios da
escola. Tornar a criança um indivíduo capaz de perceber
seus atos e as consequências deles no meio em que vive tem
sido a tarefa mais sublime da educação infantil. A criança
precisa do outro. Ela precisa estar e ser do mundo, mas
nunca se pode esquecer de que ela está em um mundo que
pertence a todos, inclusive a ela, mas não só dela.
Os jogos coletivos, do tipo futebol, vôlei e tantos
outros esportes coletivos, ajudam a construir este espírito
de coletividade e, também, ajudam a desenvolver
questionamentos e aceitação de regras morais da
comum(unidade).
Observação importante
As brincadeiras infantis e os jogos infantis precisam
ganhar objetivo. Para isto, estamos apresentando uma
estrutura para auxiliar o professor na percepção do que
uma brincadeira pode trazer aos seus alunos. Com esta
dinâmica de planejamento, o professor pode pensar
na brincadeira, pensar nas condições que ela oferece
e propor, antecipadamente, algumas modificações
ou intervenções. Para tal, é necessário entender uma
brincadeira na sua amplitude total. Brincar requer também
um bom planejamento. Veja o que uma brincadeira pode
trabalhar e como podemos enriquecer um planejamento
diário com elas.
120
Materiais:
- Crianças
- Cad eiras
- Música agitad a e an im ada
Como Brin car?
- Fo rma-se um grand e círcu lo de crianças no cent ro d e
u ma sa la de au la . Cada c riança deve se sentar em u ma
das cadeiras. O professor então solta a música enquanto
todo mundo dan ça . Em um momento qualquer da
música, o professor pára o som. N este momento, as
crian ças precisam se sentar, cada uma em uma cad eira.
Para que o jogo comece pra valer, o professor tem d e
deixar, a partir de agora, sempre uma cadeira a menos
que o número d e crianças. Assim, quando ele parar a
música e as crianças encontrarem os seus lugares,
certamen te u m a fica rá se m. O que ficar sem a cade ira
sai do jogo. As rodad as con tinuam até que apenas um
fique sen tado na últim a cadeira da roda.
Idade Adequada:
- Acima de q uatro anos.
Objetivos psicomotores e psicopedagógicos da
atividade:
- D esenvo lve a coordenação motora.
- Trabalha a a nsied ade.
- Ajuda o desenvolvimento do raciocín io lógico.
- D esencadeia a socia lização.
- Ajuda a constru ção da atenção e da concentração.
- Desenvolve as noções do m ovimento corp oral e
o rgan ização espacia l.
- Estimula a percepção do ritmo.
121
Expressão corporal
e teatro para séries
finais e ensino médio
DEFINIÇÃO
A expressão corporal é uma atividade de complemen-
tação das atividades de percepção corporal. Aqui a criança
já é levada a um tipo de trabalho mais dinâmico, com uso
de reações e sentimentos primeiramente provocados e
depois espontâneos.
O objetivo deste tipo de trabalho é que a criança
se reconheça como humana, dotada de limitações e de
reações ora imperceptíveis para ela, mas perceptível para
o outro com o qual ela convive. Assim, o trabalho de
expressão corporal requer muita atenção do professor
para perceber o que a criança traz, o que ela deixa no
grupo e, principalmente, como se dão as relações dela
no espaço coletivo.
125
ATIVIDADE QUE AUXILIA O
DESENVOLVIMENTO DA EXPRESSÃO
CORPORAL
Materiais necessários
Sucatas, pedaços de papel, objetos diversos: lenços ...
bolas, lápis, cartões de cores, velas, lanternas, frutas ...
Atividade
Coloque as crianças todas, sem calçados, esparra-
madas por uma sala bem arejada e limpa. Peça a elas que
caminhem livremente, sem direção determinada, e , em
seguida, peça-lhes que acelerem um pouco o passo. Essa
atividade irá também ajudar a autoestima e a confiança
da criança. Quando os passos estiveram bem rápidos, di-
minua um pouco o ritmo e repita essa variação umas três
ou quatro vezes.
Agora peça que elas escolham um dos objetos que
você colocou no centro da sala (garrafas de plástico, bolas,
velas, lanternas, pedaços de papel, frutas e tantos outros).
Com este objeto, a criança terá de se relacionar de agora em
diante. Primeiro, peça que elas imitem o ato de fabricação
do objeto, sem parar de andar, e, agora, lentamente ao som
de uma música tranquila e relaxante.
No caso de uma fruta, o aluno pode imitar o proces-
so de colheita, de lavagem e de transporte dela. Quando
você se certificar de que todos estão realizando os gestos,
peça para que eles comecem a utilizar o objeto para uma
ação qualquer; por exemplo , ele pode começar a descas-
car a fruta, em gestos, pode fazer da fruta uma bola de
jogo, pode imitar com a bola que está jogando vôlei com
126
alguém e assim por diante. O importante é fazer a criança
reproduzir atos e gestos que estão ligados às utilidades
reais dos objetos.
Lembre sempre que é uma atividade de imitação e
quanto mais lento a criança fizer isto, melhor serão os resul-
tados, pois assim ela estará se conscientizando da prática e
da sequência dos atos. A câmera lenta, aquele recurso da
televisão, é maravilhoso neste momento. Inclusive você
pode pedir um "congelamento" da ação que está sendo
executada de momentos em momentos. Agora peça que
os alunos troquem os objetos por outros que estão sendo
utilizados por outros colegas e repita a mesma dinâmica.
Neste momento, você terá chegado à parte mais
importante desta atividade. Sem deixar que eles parem
de executar a atividadeque estão fazendo, peça para que
todos andem apenas em uma das pernas e movimente o
corpo apenas para trás.
Vai parecer uma grande confusão, porém é assim
mesmo. No começo, eles terão dificuldades de realizar
movimentos combinados, mas depois isso vai melhorando.
Vá acrescentando outras dificuldades ao longo dos exercí-
cios, por exemplo: sem executar os primeiros movimentos
com os objetos escolhidos ( estes podem ser abandonados
nesta altura da atividade), peça aos alunos que andem para
frente e , ao mesmo tempo, movimente o braço esquerdo
em círculo e o direito para cima e para baixo.
Quando este movimento estiver bom, coloque linhas
retas e curvas no chão ( com o apoio de um giz ou de uma
fita adesiva) e peça-lhes que repitam a mesma operação
só que desta vez em cima do percurso delimitado. Pode
também pedir que eles penteiem o cabelo andando em
cima da linha, mas sem deixar de movimentar um dos
braços, por exemplo. Com lenços, é possível vendar os
olhos e realizar uma série de movimentos alternados. Para
127
isso, você pode colocar obstáculos no meio da sala para
que eles aprendam também a localizá-los espacialmente.
Com lenços, ainda é possível realizar atividades aéreas do
tipu cureugrafias sincronizadas.
Você pode inclusive ensaiar uma apresentação para
uma festa da escola somente com os movimentos de lenços.
Para isto, faça coreografias com cinco ou seis lenços colori-
dos por aluno e crie com eles movimentos dos mais variados
possíveis, inclusive pensando na alternância das cores, na
direção dos movimentos e na harmonia dos ritmos. Isso
fará com que os alunos possam interessar muito mais pelas
atividades de coordenação motora viso-espacial.
O TEATRINHO ESCOLAR: UM SÉRIO
PROBLEMA A SER SUPERADO
"O tea tro é o melhor meio de fazer gente
gostar de gente."
Desde o primeiro momento que eu comecei a pensar
no teatro e suas aplicações na sala da aula, a ideia que eu
queria superar era aquela que dava ao teatro uma espécie
de fim catequético. O uso com a finalidade de ensinar
dogmas, de reproduzir conceitos, de reafirmar paradigmas
sempre me pareceu pequeno demais para o teatro, com
todo o respeito do teatro usado em catequese. Também o
fiz, mas é preciso saber que, nas igrejas, tem uma finalidade
e, na sua especificidade, ele cumpre muito bem o papel.
Mas, no caso da escola , suas especificidades são outras.
Não diria maiores, mas, no mínimo, distintas.
Para se pensar em algo que possa diferenciar toda
a história do teatro dentro do âmbito escolar, é preciso
primeiro fazer uma varredura na cabeça daqueles que vão
128
coordenar ou dirigir os processos, e isso para mim não era
o problema: acabado de sair da Universidade Estadual
Paulista, meu desejo, como o de muitos nessa situação, era
o de mudar o mundo. Com a imaturidade e a inexperiência
típicas dessa fase, sempre pensei que fosse possível fazer
do meu jeito que, fosse possível executar de uma forma
absolutamente inovadora e , como tal, capaz de resolver
todos os problemas, absolutamente todos, ligados à área.
Ao me deparar com uma realidade primeira, o mercado de
trabalho, fui começando a perceber o que eu tinha como
desafio pela frente.
A escola não estava preparada para me receber.
Não porque eu fosse bom ou ruim demais no trabalho
com educação. A escola não tinha um espaço físico para
que eu pudesse ocupar. Estou me referindo ao fato de que
eu, aos 25 anos, formado em Educação Infantil, do sexo
masculino, não encontrei nenhum outro referencial para
que o meu trabalho ou as minhas vontades pudessem ser
orientadas. Não havia um só homem atuando em salas de
pré-escolar na rede particular no Município de Curitiba.
As escolas não me reconheciam como um profissional
habilitado para tal trabalho.
A pré-escola era, se me permitam ainda dizer, é,
um território basicamente feminino. É o lugar onde ainda
reina a ideia de que é o papel de mãe-educadora o perfil
mais desejado de um profissional para a atuação diária. A
condução do dia a dia de crianças de três, quatro ou cinco
anos não podia, e ainda em muitas escolas não pode, ser
tarefa de um professor, mas sim de uma mãe ou de uma tia.
É muito triste perceber que poucos são os estabelecimentos
de ensino que se aventuram a dar essas oportunidades aos
professores do sexo masculino. O máximo que podemos
encontrar são professores de educação física, que não
cabem aqui no tipo e na orientação de trabalho que nos
129
propomos. Eles ocupam uma outra esfera da escola. A
esfera do professor regente é singular.
Ainda esperam que os profissiom1is. portanto a.s
professoras e em alguns casos ainda "tias", façam o trabalho
de higiene pessoal, o aparato emocional e tantos outros
papéis perfeitamente possíveis também aos homens. A pré-
escola é sim feita dessas e de outras tarefas. todas de grandes
importâncias ao desenvolvimento global dos alunos. No
entanto, negar que estas capacidades possam ser também
do universo masculino e. ainda por cima, profissionais, é
no mínimo ridículo.
Pois bem, tentei de várias formas conseguir meu
primeiro trabalho como professor de Educação Infantil.
Inútil tentativa. Não consegui. Voltei-me temporariamente
a outras atividades para garantir a minha sobrevivência,
porém sempre tentando, de uma forma ou de outra,
conseguir meu primeiro trabalho.
Às vezes, a única lembrança que eu tinha que pudesse
corroborar com a minha ideia em relação às minhas
possibilidades de atuação na sala de aula da Educação
Infantil era a voz terna e tranquila da professora Marli na
Unesp/SP Por ter sido a minha professora de estágio, o
papel dela foi fundamental na minha formação. Um dia
quando fomos apresentar a nossa primeira aula para que
ela pudesse me avaliar em uma turma do Jardim 111, de
escola municipal de Vera Cruz, no interior Paulista, ela
me deu uma luz de como seria a minha trajetória dali em
diante. Ao chegar à sala de aula , percebi pela primeira vez
o quanto seria difícil conduzir aquele trabalho, ainda mais
sob a avaliação de pessoa tão competente. O conteúdo de
matemática havia sido separado pela referida professora e
preparado por mim para aquele momento. Havia muitos
alunos em sala. Digo, muitos mesmo. mais de 40. Alunos
que nunca haviam tido um professor naquela situação. Para
130
piorar a experiência, os estagiários são sempre vistos como
aqueles que ainda não sabem fazer, que estão aprendendo
como se faz. Se o medo fez parte dos m eus primeiros
gaguejas das palavras, foi a vontade de acertar que me
acompanhou nos momentos que se seguiram.
Procurei forças em todas as leituras que eu tivera ,
arregacei as mangas e comecei a mexer com as coisas
de uma forma como nunca havia feito. O resultado? A
professora nos passou uma semana depois. A ficha de
avaliação do estágio apresentava a firmeza e a destreza
com as quais a professora Mar li assinara meu processo
de avaliação pedagógico: " ... o Geraldo tentou levantar
o ânimo dos alunos, tentou prender a atenção deles, e
conseguiu". Não me bastava mais nada naquele momento
para que eu pudesse sair dali com a certeza, repito, a inda
que imatura, de que eu poderia guiar minhas práticas. Era
essa a única boa lembrança e, portanto, o único meio para
que eu pudesse acreditar em mim e tentar colocar o meu
trabalho em prática.
Depois de meses de tentativa, uma escola, Escola
Atuação, chamou-me para uma entrevista. Fui até lá,
conversei com a orientadora, conversei com a diretora e,
então, alguém me deu a primeira oportunidade de trabalho
na Educação Infantil. Na verdade, eu não sabia direito
naquele momento qual seria o meu papel na escola. Algo
meio parecido com auxiliar, às vezes algo parecido como
professor substituto. Mas o importante era que eu estava,
pela primeira vez, tendo a oportunidade que me faltava:
eu começava o meu trabalho na Educação. Eu iniciava um
grande namoro com a Educação Infantil.
Os primeiros meses foram de observação. Às vezes
um professor faltava porqueestava em curso, outras vezes
um outro professor faltava porque estava doente e , nessas
faltas, eu entrava em aula para suprir a necessidade da
escola. Aos poucos, fu i impondo um perfil de trabalho,
131
uma característica pessoal de ver, de analisar e de executar
as coisas, até que um dia o diretor da escola me deu as
turmas de Educação Infantil para que eu pudesse trabalhar
com teatro no contra turno. roi então que tudo começou a
mudar no meu fazer da sala de aula.
Concomitantemente recebi uma turminha de 22
alunos de quarta série para conduzir. O meu trabalho de
professor substituto havia terminado.
Começar um trabalho com teatro em uma escola
de regime integral, com crianças de todas as idades, sem
a menor experiência naquilo e com muitos desafios a
serem vencidos, tornava-se uma tarefa que me deixava
muito motivado.
Eu queria desenvolver um trabalho com o corpo. Eu
não queria que minhas aulas de teatro fossem simplesmente
aulas onde os alunos fossem para decorar ou representar
textos. Isso definitivamente não era o meu objetivo.
Primeiro, não poderia ser porque eu estava lidando com
crianças de três a dez anos ao mesmo tempo. Dificilmente
eu tinha crianças de uma mesma idade para que pudesse
trabalhar. Segundo, eu queria colocar um pouco da minha
experiência em pesquisa e, neste caso, a minha experiência
como bailarino era a coisa mais forte que eu tinha em
relação ao corpo. Era a formação mais prática, aquela que
poderia ser colocada em curso. No entanto, eu não estava
ali para dar aulas de dança, mas de teatro.
Logo a primeira vista, isto me assustou, mas não
demorou e eu percebi que, na verdade, tinha uma coisa
muito fértil a meu dispor - as diferenças entre eles. Se
todas as crianças eram diferentes, cabia a mim unir as
diferenças e trabalhá-las. O enriquecimento e o resultado
não demoraram aparecer.
Se por um lado eu não poderia dar aulas de dança,
ninguém me impediu de usar o corpo como forma de
132
expressão. Foi então que comecei a unir o corpo e o faz
de conta. Aproveitei as diferentes idades, as dúvidas, os
sonhos, as questões típicas desta fase e me lancei, sem
medo, ao universo do psicomotor.
Inicia lmente eu percebia que as crianças tinham
vontade de fazer algo com o corpo, mas poucos sabiam o
que fazer ou o que poderiam fazer com ele. Tentativas não
me faltaram para começar a estruturar um trabalho. Tentei
de várias maneiras: fiz mímica, fiz pantomima, fiz exercícios
físicos, fiz dança, mas parei no corpo que se movimenta e
diz o que quer. Foi quando eu percebi que tinha encontrado
uma possibilidade de trabalhar com o corpo da criança a
partir daquilo que lhe era mais significativo, sua expressão,
que me encontrei no universo infantil.
As poucos, fui levando as crianças a experimentar e a
testar. Fiz com que elas possibilitassem que seus pequenos
corpos fossem capazes de aprender a falar. Elas às vezes
me deixavam perplexo quando, no momento de rolar ou
de deslizar sobre o chão, por exemplo, detinham-se em
falar, não com voz ou com as expressões da mímica ou da
pantomima, mas com toda a massa corporal que era objeto
do ser de cada um.
Era fantástico perceber que elas eram "traídas" por
uma vontade interior que se plasmava e se edificava a
cada aula. Um dia havia a minha tentativa, no outro uma
experimentação mais delas, mais livre e, em pouco tempo,
era comum perceber criações próprias. Desejos e vontades
individuais sendo representados.
O universo se abria, e eu podia ver em cada
instante o quanto aquele trabalho tinha condições de se
edificar, de se tornar uma prática de desenvolvimento,
de possibilidades infinitas em relação ao corpo, para que
as crianças pudessem se perceber, relacionar-se com elas
mesmas e com os outros e , acima de tudo, comunicar-
133
se com os mundos que compõem os seres humanos em
sua plenitude.
Para a professora Beatriz Ângela Vieira Cabral, no
documento que embasa os pressupostos teóricos para o
ensino de teatro no Estado de Santa Catarina, há uma
verdade no trabalho com teatro na escola, e é essa verdade
que o professor deve perseguir:
Desenvolver a capac idad e do a luno entender e
sentir teatro exige mais do que simplesmente pedir
que e le expresse seus sentimentos a respeito do que
viu. Embora a percepção de um evento seja pessoal,
a recepção do que vemos e ouvimos se baseia em
formas de significação cu lturais. As inovações são
reconhecidas na medida em que se diferenciam dos
modelos tradicionais; portanto, para reconhecer algo
como original, precisamos perceber como ele rompe u
com os padrões que conhecemos.12
Assim eu iniciei a minha proposta. Eu queria que os
meus alunos pudessem construir uma referência própria
em relação ao corpo. Eu queria que eles se percebessem
como seres delicados e especiais. Para isso, não era
possível começar por moldes já prontos. Era necessário
começar pelas percepções pessoais. E foi exatamente
isso que eu fiz. Com a ideia de "brincar" na cabeça, fui
possibilitando espaços e ações em que as crianças não
pudessem se desvincular da minha objetividade. Brincar
com o corpo era o maior objetivo. Era o simbólico e o
lúdico que se encontravam no meu espaço de ensino-
aprendizagem para dar forma a uma proposta de educação
corporal para a infância.
u Secretaria de Educação. Prefeitura Municipal de Florianópolis.Consultora: Profa.
Ora. BealTiz Ângela Vieira Cabral. Teatro e Pressupostos Curricwares, em versão 011-
line, acesso em 2(Vl?/2004.
134
Eu sempre começava as atividades com um
aquecimento muscular. Sempre achei e continuo achando
muito importante preparar o corpo para as atividades. O
organismo é uma máquina, que pode se tornar preguiçosa
na medida em que as atividades físicas vão lhe faltando. Para
isso, eu providenciava muitas músicas, muitos movimentos
populares e muita descontração. Estes momentos iniciais de
aquecimento sempre me mostravam coisas interessantes.
Sempre havia uma ou outra criança que não tinha a menor
noção de como o corpo se estruturava.
Era possível perceber isso quando lhe eram solicitados
movimentos, e esta não via a menor possibilidade de executá-
los. Era como se o corpo não possuísse articulações. Essa era
a maior dificuldade que se apresentava para mim.
Para superar este problema, resolvi usar as próprias
mãos das crianças para que elas, ao tocar no corpo do outro,
pudessem perceber com clareza o que era um órgão, um
osso, uma articulação, um movimento e uma respiração.
No começo, foi muito difícil. Mesmo as crianças observando
como o corpo dos outros se movia, era como se aquilo
pudesse acontecer somente no outro, nunca nele próprio.
Quando um amigo executava um movimento, elas não se
julgavam capazes de executá-lo também.
Eu queria que elas não só percebessem o quanto o
corpo pode brincar, pode se movimentar, mas acima de tudo
o quanto o corpo pode ser governado por nós mesmos.
Eu parava as atividades sempre que uma impossibilidade
dessas acontecia, tomava as mãos das crianças e fazia com
que elas percebessem, com o tato e com o ouvido, o que
era o corpo do outro primeiramente. Assim, logo depois
da visualização, eu procedia à execução nelas mesmas,
dos mesmos movimentos observados anteriormente. Era
lindo de se ver. Ao conseguir executar, ao descobrir o que
o corpo era capaz, elas queriam ficar repetindo, por varias
135
vezes, o mesmo movimento. Aquela tentativa me parecia
uma vontade enorme de dizer a todos o quanto era feliz
descobrir o corpo que a cada uma pertencia e , muito
mais que isso, o quanto era interessante poder brincar de
conhecer o próprio ser.
Depois destes aquecimentos, propunha uma
ação. Essas ações eram sempre de observação. Muitas
vezes, eu construía uma situação e pedia para que eles a
explorassem da maneira como achavam que aquilo poderia
se desenrolar. Para que essa atividade pudesse despertar
interesse, sempre disponibilizava roupas, que serviam de
fantasia, de figurino aos personagensque, muitas vezes,
eles, sozinhos, encarnavam. Percebia que algumas crianças
nunca mudavam os personagens que interpretavam ou que
assumiam com tais figurinos. Isso foi me abrindo um outro
horizonte de expectativa.
Havia criança que, em qualquer que fosse a situação
proposta, lá estava ela com o mesmo personagem fazendo
a adaptação necessária e seguindo com a participação
na atividade do grupo. Nestes momentos, eu interferia
fazendo perguntas sobre o que realmente a criança queria
com aquilo. Sempre tomei o cuidado de deixar claro que
a decisão deveria partir da criança. Era ela que deveria ou
não mudar ou seguir com o personagem, mas, antes, eu me
certificava se aquilo era simplesmente uma falta de referência
de outros papéis, se era uma forte e unívoca referência de
um papel muito dominador em sua memória ou se estava
ligado a uma intriga que precisava ser trabalhada.
Em uma destas situações, lembro-me claramente
de uma aluna que sempre era, nestas ações, a patroa, a
professora, a policial, a diretora da escola ou qualquer outra
posição que representava para ela um cargo de mando. Essa
foi talvez uma das situações mais difíceis que encontrei no
trabalho. Ao me deparar primeiramente com a dinâmica
136
da aluna, comecei a observar e a trabalhar com situações
onde ela possuía sempre várias possibilidades de escolha,
no entanto, não era a falta de escolhas que a levava a
optar por tais papéis, era a falta de possibilidades, recursos
emocionais próprios, recursos de relação não elaborados
que a impediam fortemente de caminhar.
Quando tentei intervir, provocando o questionamento
dela em relação às escolhas, ela se sentiu pressionada e,
em casa, recorreu à mãe. Pediu que a mãe falasse comigo
e com os demais amigos das aulas de teatro para que ela
pudesse continuar desempenhado os mesmos papéis ou
fosse excluída das aulas. O pior, neste caso, ainda estava
por vir. Quando a mãe veio até a escola para fazer as
solicitações, que eram na verdade reclamações, a mãe
deixou claro que a filha não gostava de executar tais papéis
e que assim continuaria a ser. A mãe ainda afirmou que ela,
como mantenedora da filha na escola, não aceitaria que
a filha fosse "forçada" (o que jamais acontecia porque as
atividades eram jogos livres} a executar nenhuma atividade
que não fosse escolhida por ela. Resultado, sem o apoio da
família, sem a participação da própria criança, ficou muito
difícil continuar o trabalho, afinal, nenhuma atividade desta
natureza se plasma sem que o outro se responsabilize e se
comprometa com tal e, neste caso, o outro era a criança
e seu outro, seu par, era a mãe, da natureza acabada
de ser descrita. No entanto, fazer com que a criança se
comprometesse era a tarefa mais complicada porque ela
poderia se sentir novamente pressionada e aí o ciclo se
repetiria, com pioras é claro.
Não desisti, mas mudei a abordagem, comecei a
propor que a aluna desse as orientações das atividades que
gostaria de executar. Ela aceitou. Claro que inicialmente ela
sempre se reservava os mesmos papéis, aqueles já descritos,
mas, aos poucos, as coisas foram se fechando e ela teve de
137
repensar nas suas práticas. Um exemplo bem interessante
foi quando ela , após propor a todos os seus papéis, e
reservar o seu como era de costume, foi ao armário para
pegar o figurino. Como ela era gordinha, o figurino não lhe
serviu, assim, automaticamente ela ficou sem uma atitude
nova para tomar diante daquiJo. Os amigos a pressionaram
dizendo que ela não poderia fazer o ta] personagem porque
o figurino não lhe servia, enquanto isso outros amigos
já manifestavam a desaprovação em relação à possível
mudança de personagem que ela acenava em operar, afina]
eles já estavam quase prontos. Diante de tantas objeções,
ela falhou.
Ela não conseguiria resolver, sem ajuda, o que
se desencadeava ali diante dela. Foi aí que os alunos
propuseram que e la não participasse. Pediram-na que
ficasse de fora e que, na outra vez, ela participaria. Este
reaJmente foi um momento muito rico, pois, do lado de
fora das brincadeiras, ela foi percebendo o quanto era
desagradável. desconfortável a exclusão. Ela começou a
perceber que o interessante da brincadeira não eram os
papéis que se desempenhavam, mas a efetiva participação
na brincadeira. Surpresa foi a minha quando, de súbito,
ela disse que queria participar. Ao dizer isso, pensei que
ela fosse impor um ou outro papel, mas imediatamente
a turma retrucou que não dava, que todos os papéis já
estavam sendo ocupados. Mas ela, em uma ação brilhante
e nova, propôs a mudança nas personagens. Ela acabava
de aceitar ser uma personagem qualquer e dava à amiga a
possibilidade da direção do trabalho.
Com ações e com muita paciência, fui deixando
que o tempo e a própria percepção da aluna fossem
ajudando ela a perceber os outros, o meio e a necessidade
de se estar em harmonia com eles. Aos poucos, ela foi,
na interação com os amigos, percebendo o quanto era
138
importante estar junto deles e brincando com eles. Para
isto, foi necessário que ela mudasse e mudar não era
tão difícil assim, afinaJ, a alegria viria a ser muito maior
com a mudança.
Durante muito tempo, as atividades eram sempre
assim, os alunos realizavam jogos livres, a partir de
sugestões minha ou a partir de colocações deles, nunca
havia imposição de temas ou de ações. Eu sempre tinha
objetivos com as atividades, mas sempre deixei claro
que elas poderiam acontecer de várias maneiras. Em
algumas aulas, propunha o silêncio total. Os alunos
deitavam no chão e não realizavam nada, apenas ouvia
o corpo, percebia o corpo, sentia o corpo e observava
as reações dele. Nestas ocasiões, eu procurava despertar
nos a lunos percepções de coisas que d ificilmente eram
possíveis sem estes momentos. Perfumes, texturas e até
mesmo sensações emocionais das mais diversas eram
sempre muito recorrentes nestas atividades. Era uma
espécie de silêncio inicial, quebrada por percepções que
o corpo fazia ao longo das práticas. Muitas vezes, os
alunos nunca tinham sentido tais sensações antes, e aí
nós trabalhávamos o que aquilo simbolizava ou o que
aquilo tinha de novo para cada um. Em outras situações, a
percepção já era conhecida, mas a intensidade dela nunca
havia sido experimentada. Quer dizer, de uma forma ou
de outra era sempre muito interessante fazer com que as
crianças pudessem experimentá-las.
Aos poucos, este traba]ho foi tomando formas mais
elaboradas e começamos a perceber que ele já estava
possibilitando uma linguagem diferente, nova para nós. Era
uma união de dança, de teatro e de terapia infantil coletiva
que se edificava. Era uma atividade que as crianças diziam
por todas as partes da escola que gostavam de participar.
Várias vezes, os professores regentes de saJa de aula vinham
139
até mim para dizer que os alunos só queriam vir para as
aulas de teatro. Eles ficavam o tempo todo dizendo que
queriam ir para as aulas de teatro.
Essas colocações me fizeram intensificar os trabalhos
já que os resultados eram sempre muito positivos. As
crianças haviam melhorado muito os relacionamentos.
Elas brincavam mais com elas mesmas e com os outros.
Havia um comportamento de descoberta que era muito
salutar de se ver e , acima de tudo, havia o interesse
deles em continuar a descobrir os mistérios do corpo e
dos movimentos. Toda esta realidade me deu a ideia
de começar a montar espetáculos com os resultados
destas investigações.
Surgida a ideia, tinha de operacionalizar. Primeira-
mente, precisava definir que tipo de trabalho era possível
ser realizado ali, afinal o meu maior objetivo ainda era a
condução e o caminhar com as crianças e não o palco.
Então não poderia perder tudo aquilo que estava elaborado
só para trabalhar com a excelência. Eu queria uma proposta
de trabalho que pudesse ter vida própria e que desse a cada
urna novas aberturas de vida em coletividade. Não queria
perder a idéia de drama, mas a ideiade fazer pantomima
não era o meu objetivo, e ser construída uma proposta
dessa sem a perda das ações que já havíamos construído
era muito difícil. Foi aí que me surgiu a ideia do teatro
sem a palavra, mas que não fosse mímica. O teatro sem a
palavra saída pela boca, mas com a palavra que emanava
do corpo e dos movimentos.
Comecei a propor temas para que as crianças me
dessem pistas, não funcionou. Propus des-construcões,
não funcionou. Foi aí que a diretora da escola nos propôs
a leitura de um livro, este deu certo. Lemos um livro,
" AZEVEDO, Jo. HUZA K, lolanda. PORTO, C ristina. Sera.fina e a criança que trabalha.
2" ed. São Paulo: Ática, 1996.
140
Serafina e a criança que trabalha13 e dessa leitura as crianças
começaram a me dar pistas do que era o trabalho que estava
na minha cabeça e como ele poderia ser desenvolvido.
Nós queríamos mostrar, por intermédio do corpo,
alguma coisa mais substancial e ainda não tínhamos a
resposta. Quando a temática do livro nos apareceu, tudo
foi se esclarecendo.
O livro trata do trabalho escravo de muitas crianças
pelo Brasil afora. A mensagem era muito forte , e eu pensei
que as crianças não fossem se interessar ou que não fossem
ser capazes de realizar o que estava imaginando, mas o
resultado é que o livro tinha despertado nelas a solidão, o
abandono, a retirada do prazer de brincar e de ser criança,
e isso elas já haviam, de alguma forma, experimentado nas
próprias aulas de teatro. Elas já haviam percebido isto em
suas famílias, em alguns casos.
Quando iniciei os trabalhos, eu queria justamente que
elas percebessem o quanto o corpo poderia brincar, o quanto
a escola poderia ser divertida e o quanto tudo isso nos fazia
bem. Assim, diante do impedimento daquelas crianças, do
livro, em ter tudo isso, elas se colocaram na mesma situação,
embora com registros diferentes. O registro era diferente, mas
o sentimento era o mesmo. Foi maravilhoso descobrir isso.
Daí em diante, o caminho já estava traçado, iríamos realizar
a peça de teatro baseada no livro.
O trabalho seguia e minhas indagações também.
Peguei urna paixão por leitura e por textos de teatro para
que eles me dessem mais substratos ao trabalho. Um
pensamento que me interessou foi o de Roubine, 14para
ele este processo de confronto entre texto, autor, ator e
plateia (grifo nosso) justifica o tratamento do texto. Ele (o
texto} é triturado, remodelado ao sabor das exigências da
" ROUBINE, J. J. A linguagem da encenação teatral 1880-1980. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1980.
141
introspecção e do autodesnudamento empreendidos pelo
ator; ou seja, a partir de uma relação que é estabelecida
entre o mito (experiência coletiva) e a vivência pessoal.
Outra fundamentação interessante a respeito da
contextualização, que agora estávamos operando, veio
da Profa. Ora. Beatriz Ângela Vieira Cabral que define o
universo do trabalho com teatro de uma forma bastante
pertinente e compreensível:
Contextualização: Conhecimentos históricos e teóricos
estão subjacentes ao construir e apreciar; não há como
desenvolver um processo, quer de criação coletiva, quer
de interpretação de um texto dramático sem contextualizar
a prática em termos do sistema de traba lho utilizado e
seu referencial histórico e teórico. Conhecimento da arte
dramática e compreensão de sua diversidade cul tural e
histórica é essencial tanto para construir ou montar textos
teatrais quanto para apreciá-los}5
Ao finalizar suas colocações sobre o universo da
contextualização e das interpretações, Vieira Cabral conclui:
Os atores interpretam seus papéis, os diretores interpretam
o texto dramático e a plateia interpreta o texto teatral. Todos
este níveis de interpretação devem ser levados em conta
para se avaliar a recepção do texto teatral: 16
A proposta seguiu sempre na mesma direção. Foram
produzidos seis espetáculos durante cinco anos de trabalho.
Todos foram premiados em eventos de teatro amador.
O primeiro deles, Serafina e a criança que trabalham,
foi premiado com uma menção honrosa pela expressão
corporal, além de prêmio de melhor espetáculo.
Os jogos teatrais e as atividades de expressão
livre vão se constituir nas mais importantes práticas
" S..,çreta ria de Educação. Prefeitura Municipal de Florianópolis.Consultora: Profa. Ora.
Beatr iz Ângela Vieiia Cabral. Teatro e Pressupostos Currícu laies, em versão 011-/i11e,
acesso em 20/12/2004.
" Idem.
142
pedagógicas neste momento. O teatro porque mexe com
as questões do movimento, com o trabalho de descoberta
do corpo, sobretudo porque, por meio dele, a criança pode
trabalhar com o imaginário e com a fantasia , ingredientes
indispensáveis neste momento. Todas as atividades dessa
natureza poderão ser aplicadas às crianças, mas um
importante compromisso não pode ser esquecido: as
crianças necessitam de liberdade para que o resultado seja
melhor. Não controlar a produção, ajudar. Não perseguir os
passos da criança, segui-los. Não ordenar, apenas sugerir.
Observação importante
foto 1: espetáculo Sobre a brevidade da vida.
foto 2: espetáculo Sobre a brevidade da vida
143
foto 3: espetáculo Work's
foto 4: espetáculo Work's
foto 5: espetáculo Serafma e a criança que trabalha
144
PROJETO
Vagamundeando
pelos textos
dramáticos
APRESENTAÇÃO DO PROJETO
Este trabalho quer desenvolver percepções elementares
para a iniciação da leitura e da produção de textos teatrais,
com atividades para o desenvolvimento de argumento, de
roteiro e construção da tessitura dramática final. O projeto
que será apresentado aqui pretende ajudar os profissionais
que trabalham com a escrita no dia a dia da escola, com
o movimento, com a arte e com a Psicomotricidade, a
executar uma proposta interdisciplinar onde teatro, corpo,
escrita, arte e pessoas estejam em sintonia.
Para contar com mais esta possibilidade na construção
do leitor, do apreciador e do produtor dos textos diversos
e nas possibilidades que se constroem para aqueles que
querem trabalham com o corpo e a mente, é necessário ter
a convicção de que ele é apenas uma referência, não um
modelo. É mais uma ferramenta para o trabalho a partir do
universo das tragédias e das comédias humanas.
É um trabalho muito específico para alunos a partir de
10 anos de idade. Claro que se podem fazer as adaptações
diante de cada uma das realidades, no entanto as crianças
do ensino fundamental , séries finais e os alunos do ensino
médio é que são os alvos deste projeto.
Aqui fica a prova de que a Psicomotricidade pode-se
alinhar, justapor-se a outras ciências na construção de um
homem mais humanizado.
JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO DO PROJETO A
SER EXECUTADO NA ESCOIA, NA SAIA DE AUIA
Esse trabalho focaliza mais uma das linguagens
artísticas: as artes cênicas. Como todas as outras linguagens
da arte , esta também é área de conhecimento, ela é um
147
sistema simbólico de representação, portanto, o ensinar/
aprender/produção de teatro na sala de aula e , como
tal, ela deve garantir aos alunos momentos de produção
cênica, momentos de estruturação do co n hecimento
histórico da dramaturgia, da apreciação da produção
gráfica e estética da obra teatra l e, principalmente,
momentos de descobertas do corpo.
As artes cênicas na escola , especialmente pela
característica de trabalho coletivo, possibilitam aos alunos
melhor capacidade de socialização, de entender o outro,
de compartilhar ideias, tempo e espaço, de dialogar,
argumentar, negociar, tolerar, observar regras de construção
textual, solidarizar-se, comprometer-se e , principalmente,
conviver com as diferenças: o teatro é todo: diferenças.
Interpretando os mais diversos personagens, o aluno
poderá aprender a ver a vida dos mais diversos pontos de
vista, a colocar-se na situação do outro, a viver situações
reais e fictícias, a correr riscos, expor-se, buscar soluções e
pensar na própria vida.
Para que este tipo de trabalho possa realmente ganhar
corpo, serotimizado, operacionalizado em sala de aula, em
qualquer que seja o nível de escolarização, pensamos que há
alguns conceitos que devem ser pensados pelos professores.
Dividimos estes conceitos em níveis e esperamos que eles
aconteçam para cada professor, de uma forma ou de outra,
pois, a partir de então, consideramos que o professor saiba
o que realmente compreende o trabalho com dramaturgia
em sala de aula a partir da aceitação deles. Toda essa
preocupação é para que possamos fugir da velha ideia do
"teatrinho" na escola e entrarmos, de vez, em uma proposta
de trabalho mais consistente, mais pertinente e, portanto,
mais voltada para os ideais da arte.
Marcos Valle, produtor, diretor e artista, diz uma coisa
muito interessante que jamais deve ser esquecida em um
148
trabalho como este: "Eu sempre pensei no teatro como
sendo um grande mágico parque de diversões, cheios de
truques, magias, sensações novas e surpreendentes". Se
assim encararmos o trabalho, e le certamente renderá muitos
frutos, mas é preciso estar de olhos e o;ividos atentos para
saber aproveitar toda esta brincadeira. E preciso aprender a
olhar para ver todas as oportunidades. E preciso aprender
a ouvir para escutar o que o outro e o tempo estão nos
dizendo em cada atividade destas.
Dividimos o trabalho em níveis para faci litar a
compreensão dos professores. No entanto, estes níveis
acontecem muitas vezes ao mesmo tempo, um na rabeira
do outro. Porém, é importante saber que eles existem
para que, em uma situação de desmonte do trabalho, o
professor saiba avaliá-lo e reconstruí-lo passo a passo.
A seguir, demonstraremos alguns conceitos cuja sua
compreensão é imprescindível ao bem andamento de um
projeto desta natureza. Tomamos ~como referência de leitura
o projeto da Profa. Ora. Beatriz Angela Vieira Cabral.
NÍVEL DE APROXIMAÇÃO
Compreende o primeiro momento do trabalho.
Ele é o momento para o professor, para o inteirar-se
do que realmente o espera enquanto fomentador do
trabalho com textos dramáticos em sala de aula e com
os movimentos necessários no desenvolvimento da
prática. Mas, há um segundo momento nesta proposta
que é o da aproximação com os alunos, leitores a serem
conquistados. Este momento talvez tenha de apresentar
um caráter mais leve, mais solto, de busca das impressões
que os alunos possuem do teatro, dos textos, dos artistas
etc. É o momento do namoro, conforme experiência
descrita acima.
149
NÍVEL DE ESIBUTURAÇÃO
Este é o nível da informação mesmo. É o momento
em que o professor irá trabalhar os recursos, as ferramentas,
a composição e a estrurura geral de um texto dramático e de
uma montagem de espetáculo. Para isto, segue um roteiro de
informações essenciais. É aqui também que se aproxima do
aluno textos e informações que lhe servirão de suporte.
NÍVEL DE CRIAÇÃO
Passado o momento de descoberta, passado o
momento de informação, passado o momento das leiruras
e de apreciação, é chegada a hora de levar o aluno à
criação. Como estamos falando de escola, de sala de aula ,
esta criação poderá ter sempre o caráter da coletividade
e de ludicidade. Nestes momentos de criação coletiva,
o diálogo, as trocas e as demais tentativas serão sempre
somadas àquelas outras coisas que chamamos currículo de
formação e objetivos da escola. Não se busca, a partir de
um trabalho como este, formar excelência, mas despertar
leitores, apreciadores do teatro, construtores de experiências,
percepções humanas.
NÍVEL DE EXPERIMENTAÇÃO
Este é um nível mais profundo para aqueles grupos
de a lunos que já possuem uma caminhada na leitura e na
construção, ainda que elementar, de textos dramáticos,
principalmente aqueles que envolve um bom trabalho
de corpo. É um momento para se permitir tentar, usar a
criatividade, relacionar-se com outras linguagens artísticas,
como o desenho, a plástica, a música etc.
]50
NÍVEL DE FORMA E CONTEÚDO
O nível de forma é quanclo o aluno e o professor já
podem contar com uma experimentação mais substancial.
Este é um nível para se trabalhar com grupos pequenos de
alunos que se destacaram nas demais atividades. Este tipo
de trabalho requer um projeto maior, de mais tempo, com
mais aplicabilidade, de mais trabalho coletivo e, portanto,
intensificado nas cobranças.
POR ONDE DEVEMOS COMEÇAR O IBABALHO
COM TEXTOS DRAMÁTICOS NA SAIA DE AULA?
Um texto de teatro possui, antes de qualquer coisa,
diálogos que se entrelaçam, ideias que se sobrepõem e
elementos diversos que caracterizam: as "imagens" que
são observadas, sentidas e percebidas pelo espectador.
Para isso, é necessário que o professor saiba definir, com
os alunos, de quaisquer que sejam as séries, quais são estes
elementos e como eles se confluirão na composição final
do trabalho, chamado de espetáculo.
A simples leitura de um texto dramático é, sem
dúvida, uma experiência muito interessante, mas ela se
tornará indigesta e enfadonha se o aluno não possuir
algumas credencias, sejam elas, percepções desenvolvidas
ou ferramentas adquiridas, que possam lhe garantir, ou
possibilitar acessos. Para isso, o professor precisa saber
que muitos elementos sozinhos não significam nada, mas,
na confluência, todos eles adquirem valores semióticos
imprescindíveis e dão o todo do espetáculo e das ações.
É importante também ter em mente que estes
elementos que serão descritos a seguir são recursos técnicos,
aqueles que são trabalhados apenas para pressupor a
151
entrada dos a lunos no universo da dramaturgia, pois o
mais importante, neste tipo de trabalho, é o valor que
um texto literário dessa natureza pode deixar no leitor e,
principalmente, o desencadear da percepção dos infinitos
tipos humanos: a liberdade para apreciar, para sentir, para
captar e para se emocionar. Cada um deles, sem dúvida,
descobrirá aos poucos, pois é uma tarefa impossível de
se ensinar.
Cenário
Um cenário pode apresentar várias características
importantes para a completude do texto dramático. Será
importante perceber que alguns autores fazem questão de
defini-lo com pormenorizações no início de cada texto. Esses
buscam garantir que os elementos pensados e definidos
estejam efetivamente em cena a fim de garantir certas
leituras por parte da plateia. Assim, um pano pintado,
uma construção arquitetônica pós-moderna ou um simples
monte de folhas jogado pelo chão pode, por vezes, ser uma
solicitação do autor do texto, e não do diretor da peça.
Valerá a pena conferir com os alunos os porquês destas
escolhas em relação ao cenário. Onde estão as bases das
escolhas dos elementos cênicos e assim por diante. Um
exemplo bem interessante é a peça de Brechet, Os fuzis
da Senhora Carrar. Há um forno no palco, onde um pão
é assado durante o espetáculo. O tempo para assá-lo é
justamente o tempo da peça.
A biografia do autor
Não que este elemento seja constante, ou que
podemos fazer uma generalização dele, mas a leitura
prévia de uma biografia, ainda que sucinta do autor do
texto, pode dar pistas dos elementos de sua produção. É
152
sempre importante ter mínimas informações a respeito do
autor, da trajetória dele e da produção elaborada antes
de se fazer um.=i leihira do texto. A percepção de fatos que
se cruzam entre realidade e ficção sempre deixou muitas
indagações no ar. São elas que às vezes explicam, ou
complicam, o entendimento de urna peça. O importante é
saber que sempre valerá recorrer a estas informações a fim
de abastecer a memória, formar uma boa fortuna crítica
para entrar com segurança na análise do texto.
A linha filosófica/política da época da produção
É salutar recorrer aos alunos de mais idade as
informações sociológicas, políticas e filosóficas da época da
produção da leitura, se for o caso. Os fatos e as ocorrências
de um determinado período estão, quase sempre, marcados
e pontuados nas obras artísticas. O teatro não é exceção.
Há toda uma trajetória da produção dramática mundial
marcada por essas transformações ouindagações sociais.
Alguns autores têm sua obra permeada, ou alicerçada, nas
questões sociais; outros já atuam inclusive na militância
e outros, apesar de aparentemente não possuírem estas
conotações, são fortes da mesma forma. Valerá a pena
resgatar os ideais políticos e sociais da época em questão
para sustentar ainda mais a análise do texto e as atividades
de percepções que o professor ou o responsável porventura
queira resgatar.
QUAIS SÃO OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DE UM
TEXTO DRAMÁTICO?
Como já vimos, todos os elementos cênicos possuem
valores na composição final de um espetáculo. Elencamos
agora os mais importantes.
153
Rubrica
É uma espécie de orientação à montagem do lexlo.
Ela sempre é apresentada entre parênteses. Normal-mente,
fica entre o nome da personagem que está falando e o verso
a ser dito. É uma espécie de informação primária a ser
observada para garantir a intenção do autor para aquela fala
da personagem. Em textos, como os de Nelson Rodrigues,
elas são sempre muitas e algumas bastante subjetivas. De
qualquer forma, elas são partes importantes em um texto
dramático e merecem atenção na hora da leitura.
Intensidade das falas ou falta delas
Em alguns casos, mesmo que não seja um
monólogo, as personagens concentram muitas fa las.
Dependendo da intensidade ou das intenções da cena, há
quase que pequenos monólogos no texto. Há também a
ausência da fala de muitas personagens, limitando essas
apenas às rubricas do autor ou similares. É importante
considerar essas falas, suas frequências e intensidades,
diante da intenção da rubrica do texto e da cena. É
o conjunto que fornecerá os elementos necessários à
compreensão da tessitura.
Caracterização das personagens
Embora não seja uma questão recorrente, alguns
textos descrevem, com detalhes, a idade, a preferência
e um certo currículo de vida da personagem. Quando
isto acontece, tem-se um elemento importante para
a análise do texto dramático. Já em outros textos, estas
caracterizações não são apresentadas deixando assim todas
154
e las a critério do d iretor, no caso de uma montagem, ou do
leitor, no caso de uma leitura em sala de aula . No segundo
caso, vale uma boa discussão para verificar se a descrição
ou a caracterização que queremos dar às personagens é
autorizada pelo texto, pela época ou pelo autor.
Elementos cênicos
Os e lementos cênicos podem ser diversos. Além
das questões de cenários, a lgumas peças, quando
apresentadas no palco, ganham elementos que se juntam
à montagem. Esses possuem imagens e representações
d iversas. Nas críticas teatrais, encontradas nos jornais e
em livros especializados, pode-se ter a noção de muitos
desses elementos e como eles funcionaram na montagem.
Normalmente esta é uma interferência que fica muito a
cargo do diretor e do produtor do espetáculo. De qualquer
forma, é importante o aluno ir se acostumando com este
universo de reinvenções ou de releituras, pois é o simbólico
colocado em objetos concretos em cena.
HÁ DIVISÕES, FASES, DIFERENÇAS E
OUTROS ASPECTOS A SEREM PREVIAMENTE
CONSIDERADOS ANTES DO INÍCIO DO
TRABALHO COM TEXTOS DRAMÁTICOS?
Em a lguns textos dramáticos, encontramos a
informação de se tratar de uma peça em dois ou três atos.
Os atos são divisões previstas no texto pelo autor ou podem
ser, dependendo da montagem, uma opção do diretor. De
qualquer forma, quando há atos, normalmente há também
mudanças no cenário, nas personagens etc. Devemos
prestar atenção nestas observações, pois muitas vezes elas
levam a montagem para outra época e assim por diante.
155
EXEMPLOS DE ATIVIDADES QUE PODEM SER
DESENVOLVIDAS
A seguir, damos alguns passos imprescindíveis na
condução do trabalho com alunos produtores de textos.
Deve-se sempre partir das experiências que estejam
próximas à realidade, ainda que subjetiva, dos alunos.
Dê a eles a possibilidade real para desenvolver esta parte
do texto dramático final. Conversar, estabelecer nortes
e dar liberdade para a construção podem ser excelentes
começos.
O argumento
O argumento é a situação-problema que irá gerar
o texto. de onde nós partimos para construir os diálogos.
Normalmente uma peça de teatro já se inicia com o
conflito instaurado. Assim, vale a pena discutir bastante
na oralidade a situação-problema para depois perceber de
onde partiremos para a construção do texto.
Exemplo 1
Dentro de um ônibus, dois amigos se encontram
depois de um longo tempo. Um diz que está morrendo e o
outro, no meio de tumulto, não sabe como se comportar.
Exemplo 2
O patrão e o empregado, o motorista, dentro da
garagem do prédio, discutem quem é o culpado pelos
amassados e pelas batidas que o carro apresenta.
156
Exemplo 3
Seu filho chutou a bola para o quintal do vizinho,
o vizinho não está lá, mas em compensação lá estão dois
pastores alemães e seu filho chora porque quer demais
a bola.
Exemplo 4
O herói de Titanic briga com Macabéa que está tendo
problemas com seu vizinho Paulo Leminski.
O roteiro
O roteiro é uma espécie de predeterminação dos
fatos, dos encontros, das intrigas. É o momento que
vamos colocando sucintamente as ações que se sucedem
uma a outras. É um relacionamento prévio daquilo que
iremos percorrer durante a escrita. Quem irá fazer o quê
e quando essas coisas acontecerão. Precisamos desta
organização até que os alunos se familiarizem com o fio
condutor da tessitura .
A construção da tessitura
Este é o momento da produção propriamente dita. É
aqui que as personagens ganham vida. É aqui que as falas
aparecem. É aqui que as rubricas são definidas e que as
ações ganham formato de narrativa. É importante saber que
sempre é possível voltar e refazer uma ou outra colocação.
Alguns personagens se perdem no meio da narrativa,
outros ganham força demais e outros ainda podem deixar
de existir. É aqui que a presença do autor, do produtor do
texto ganha personificação.
157
EXERCÍCIO DE CONSTRUÇÃO TEXTUAL
O argumento
O enredo
O cenário __________________ _
As personagens
1° ato ____________________ _
158
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