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Apresentação 
 
Módulo 1 - Introdução ao estudo da neurociência aplicada à educação: a 
neuroeducação 
 
Professor(a), a Neurociência é um campo de estudo multidisciplinar do conhecimento que busca investigar o 
funcionamento do sistema nervoso a fim de compreender as bases biológicas do comportamento. Interessa-se por 
questões que perpassam o desenvolvimento deste sistema nervoso, suas principais estruturas e a forma pela qual é 
possível relacionar tais aspectos com a expressão dos nossos comportamentos e emoções, nosso funcionamento 
cognitivo, tanto em condições normais quanto em condições patológicas. 
O sistema nervoso central (SNC), em especial, nosso cérebro, representa uma das estruturas que mais fascina e intriga 
os neurocientistas e pesquisadores da área. Desvendar questões relacionadas a como o cérebro funciona, se 
desenvolve e se organiza a fim de possibilitar processos cognitivos complexos e expressões emocionais e 
comportamentais ainda representa um dos grandes mistérios da atualidade. Considera-se, assim, que uma das últimas 
fronteiras no campo das Neurociências a serem superadas refere-se às investigações do cérebro, desde seus aspectos 
estruturais e funcionais até os processos que perpassam o funcionamento da mente humana. 
Tudo isso nos leva, consequentemente, a uma melhor compreensão acerca da manifestação dos nossos 
comportamentos e, entre eles, o desenvolvimento das nossas aprendizagens, tornando possível ligar o que ocorre em 
níveis genéticos e biológicos com aquilo que fazemos, sentimos, pensamos ou aprendemos. A denominada “genética 
do comportamento” apresenta-se como uma das revoluções da Neurociência moderna. 
A chamada Neuroeducação é um subcampo das neurociências que irá buscar integrar tais conhecimentos a fim de 
melhor compreender os processos que perpassam o aprendizado, a memória e o próprio neurodesenvolvimento. 
Diferentes áreas do conhecimento contribuem para o campo da Neuroeducação, como a Psicologia, a Pedagogia, a 
Psicopedagogia, a Educação e a própria Neurociência. Portanto, um dos principais objetivos a serem alcançados por 
esta área de estudo é o de proporcionar conhecimento e base científica aos educadores para que possam desenvolver 
métodos de ensino e aprendizagem, assim como estruturar planos pedagógicos e currículos mais eficientes e capazes 
de estimular as potencialidades dos indivíduos, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos. Isso inclui indivíduos com 
condições típicas e atípicas do desenvolvimento do cérebro. 
Neste sentido, a interface que se constrói entre a neurociência e a Educação oferece fundamentos para as práticas 
pedagógicas, incentivando investigações e proposições de estratégias de ensino-aprendizagem que possam ser mais 
eficientes de acordo com a maneira pela qual o nosso cérebro funciona e aprende. Como aprendizagem, podemos 
entender todos os processos pelos quais competências, habilidades e conhecimentos, comportamentos e valores são 
adquiridos ou modificados como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação. 
Podemos considerar que o processo educacional perpassa aquilo que ocorre em nosso cérebro, mais especificamente, 
nos nossos neurônios, os quais representam o principal componente do SNC. São os processos e o funcionamento dos 
nossos neurônios que dão base para o aprendizado, a memória e as capacidades de raciocínio, resolução de problemas 
e tomada de decisão. Essa representa uma das descobertas mais fascinantes do campo das neurociências aplicadas 
aos diferentes contextos, como a educação. A forma como alterações bioquímicas que ocorrem internamente nos 
nossos neurônios estão associadas à aprendizagem e ao armazenamento. Segundo o pesquisador Eric Kandel, 
vencedor do prêmio Nobel de Medicina, no livro de referência de sua coautoria, “Principles of Neural Science” 
([1981]2021) 
 
A última fronteira das ciências biológicas é compreender as bases biológicas da consciência e 
dos processos mentais como agir, aprender e lembrar (...) O passo mais desafiador é unificar os 
processos biológicos com o estudo do comportamento – ciências da mente – e a ciência 
neural, a ciência do cérebro (KANDEL, 2021, p. 6, tradução nossa). 
 
Isto nos leva a pensar que estamos diante de um momento importante de avanço dos conhecimentos sobre o cérebro 
humano que permite repensarmos práticas aplicadas à educação. O avanço científico e tecnológico da área tem 
tornado possível estabelecer relações entre processos biológicos e a expressão dos nossos comportamentos, sendo 
capaz, inclusive, de explicar as origens dos transtornos neuropsiquiátricos e do seu desenvolvimento por meio de 
atividades intrínsecas ou de base genética, compreendendo sua interação com experiências e influências ambientais. 
 
Sabe-se que, para a Neurociência, o ambiente possui um papel importante para a estimulação e o desenvolvimento 
dos indivíduos. A interação das nossas bases genética e biológica, ou seja, aquilo que é programado e esperado para 
manifestarmos com base no nosso DNA, em combinação com estímulos ambientais e experiências ao longo da vida 
revela-se determinante para a nossa trajetória de desenvolvimento. Fatores como experiências parentais, 
educacionais, nutricionais e sociais são sugeridos como fortes preditores de um adequado desenvolvimento do 
cérebro. 
A falha ou o não atendimento de necessidades básicas em períodos iniciais do desenvolvimento — como por exemplo 
afeto, carinho, segurança e estabilidade — pode reprogramar o curso e os processos de formação do nosso cérebro 
(alterando estruturas e seu funcionamento) e conduzir a prejuízos psicológicos e cognitivos significativos. Evidências 
já indicam que exposição a experiências adversas e estressoras na infância e, também, na adolescência estão 
associadas a baixos níveis de inteligência (avaliado através de testes de QI), problemas escolares de aprendizagem e 
desempenho, além de aumentarem o risco de manifestação de distúrbios emocionais e comportamentais. Vamos ter 
a oportunidade de aprender um pouco mais sobre isso quando falarmos em estresse e neurodesenvolvimento, 
abordando de que forma tal relação interfere nos processos de aprendizagem e memória. 
Neste sentido, dentro de uma perspectiva da Neuroeducação, podemos considerar que vocês, educadores, formam 
um dos pilares ambientais mais importantes para o desenvolvimento humano. Isto faz com que se apresente uma 
crescente demanda de integração do conhecimento a fim de planejar estratégias pedagógicas que possam estar 
alinhadas com as experiências e a trajetória de vida dos indivíduos ao longo do seu processo de formação e 
desenvolvimento. 
Possuímos um papel central para este cérebro em desenvolvimento, especialmente durante os primeiros anos de vida. 
Para que isso ocorra, precisamos pensar que as nossas práticas do futuro devem ser capazes de construir estratégias 
que se alinhem ao funcionamento do cérebro na busca de melhores resultados. 
No entanto, vocês devem estar se perguntando: 
Como é possível que nossas aprendizagens tenham como base o funcionamento dos nossos neurônios? 
Será que é possível que nossas memórias estejam armazenadas em padrões de atividade neuronal? 
O que faz com que crianças e adolescentes tenham diferenças em relação à facilidade com que aprendem certos 
conteúdos em comparação com outros, para os quais apresentam maiores dificuldades? 
Quais seriam as estratégias de aprendizagem adequadas a fim de facilitar os processos de ensino e aprendizagem, 
considerando-se o funcionamento do cérebro? 
Qual é a influência de fatores psicossociais e parentais em tais processos, para além da atuação do educador? 
Estas são algumas questões da rotina do professor em sala de aula, várias delas ainda sem, necessariamente, uma 
resposta única ou concreta. Porém, o caminho do conhecimento para a busca de tais entendimentos está sendo cada 
vez mais bem explorado pelo campo da Neurociência.Denota-se uma grande necessidade do estabelecimento de uma 
via de mão dupla na comunicação entre neurocientistas e educadores, pois os primeiros possuem um conhecimento 
sobre o funcionamento do cérebro e os mecanismos subjacentes aos processos cognitivos, enquanto os últimos estão 
envolvidos nos problemas práticos do dia a dia que se relacionam diretamente com os processos de ensino-
aprendizagem. Isso tem atraído diversos educadores a buscarem formações continuadas na área das Neurociências. 
Percebe-se um crescente interesse por parte deste público e uma maior participação em cursos da área, incluindo 
formações de extensão e pós-graduação. 
A proposta deste curso formativo é exatamente esta: ser capaz de conduzir os educadores de diferentes etapas do 
ensino básico nacional (Ensino Infantil, Fundamental I e II, Médio e Educação de Jovens e Adultos) na aquisição de 
conhecimentos sobre o funcionamento do SNC e das diferentes regiões que o compõem e, finalmente, no 
reconhecimento de como os processos cognitivos que permitem o desenvolvimento das nossas aprendizagens podem 
ser aplicados em condições reais do cotidiano a fim de alinhar novas estratégias e práticas educacionais. Assim, espera-
se que tais respostas possam ser, ao menos em parte, respondidas ao longo do curso, ainda que se saiba, hoje, que 
nem mesmo a Neurociência é capaz de oferecer todas as respostas. 
Muitos questionamentos acerca do funcionamento do cérebro humano ainda precisam ser respondidos. Isso demanda 
um maior número de pesquisas nas diferentes áreas de estudo do cérebro, assim como na própria educação. O papel 
do educador em levantar questionamentos e elucidar demandas e problemas práticos de sala de aula, a partir de suas 
observações empíricas no campo, torna-se essencial para o desenvolvimento das pesquisas que buscam melhor 
compreender como nossos cérebros se organizam e respondem aos estímulos e desafios apresentados, contribuindo 
na construção das nossas aprendizagens. 
Para iniciarmos nossa reflexão sobre a importância de conhecermos mais sobre a relação entre neurociência e 
Educação, sugerimos que você assista a dois vídeos. O primeiro deles da neuroeducadora belga Veerle Ponnet 
apresenta e traz algumas considerações a respeito de como o conhecimento básico da Neurociência aplicada à 
Educação deve fazer parte de todas as etapas do desenvolvimento escolar e educacional. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=NmAuawoYnUk 
 
https://www.youtube.com/watch?v=jetBAJdYe8I 
 
É importante considerar que este não é um curso com o intuito de responder de forma única e concreta todos os 
questionamentos levantados pela área da Educação e nem de oferecer respostas prontas e limitadas apenas a 
determinadas estratégias de aplicação, no que se refere às práticas de sala de aula. Isso porque vamos passar a 
compreender que os nossos cérebros são únicos e distintos, ou seja, nem sempre estratégias que se mostrem 
eficientes para alguns cérebros em desenvolvimento serão para os demais. 
Desenvolver uma visão ampliada, que contemple mais que os aspectos que envolvem a aprendizagem e aquisição de 
conhecimentos nas diferentes disciplinas, torna-se fundamental para o adequado desenvolvimento psicossocial das 
crianças e adolescentes, minimizando possíveis desfechos negativos na vida adulta. Cada vez mais se mostra 
importante atentar para aspectos emocionais que podem interferir significativamente no curso das aprendizagens nos 
anos escolares. 
O conteúdo aqui apresentado, portanto, irá introduzir você, educador(a), em conceitos básicos da área da 
Neurociência a partir de evidências científicas de estudos nacionais e internacionais que contribuem para estimular 
reflexões sobre as práticas educacionais em nosso país. A formação integral do indivíduo é parte das responsabilidades 
e objetivos que a escola possui, não estando limitada apenas ao ensino e desenvolvimento de conhecimentos de 
materiais como língua portuguesa, matemática, história e geografia. 
A própria Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) sugere que possam ser trabalhados na educação aspectos 
cognitivos, emocionais e sociais. Aliás, muito se fala hoje no desenvolvimento das capacidades socioemocionais das 
crianças e adolescentes. Fazer com que a educação contribua para além da aquisição de conhecimentos a partir das 
disciplinas básicas passa a ser uma das missões de professores e educadores. Formar jovens cidadãos com habilidades 
sociais, inteligência emocional, pensamento criativo, educação financeira, capacidade de raciocínio, resolução de 
problemas e tomada de decisão passa a ser um dos grandes desafios da educação na contemporaneidade. 
Para atender estas demandas, preocupamo-nos com a formação dos educadores e em prepará-los para melhor 
compreender e lidar com as necessidades das crianças e adolescentes. É importante retornarmos a propostas e ideias 
https://www.youtube.com/watch?v=NmAuawoYnUk
https://www.youtube.com/watch?v=jetBAJdYe8I
de autores expoentes e estudiosos do desenvolvimento humano que, em suas teorias e propostas, contribuíram 
significativamente para a formação das práticas educacionais. 
Pode-se citar aqui Piaget, Montessori, Steiner, Erikson, Dewey, Elkind, Freud, Gardner, entre outros. As proposições 
teóricas e práticas de tais autores, aliadas ao entendimento de como o cérebro funciona e se desenvolve ao longo da 
infância e adolescência, serão fundamentais para a renovação de discursos e práticas educacionais. Prestar uma maior 
atenção nas necessidades básicas dos indivíduos ao longo de sua formação e considerar diferenças existentes entre 
os aspectos biopsicossociais das crianças, adolescentes, jovens e adultos conduzirá a adequação de práticas 
educacionais mais sensíveis e eficazes. 
1 
MÓDULO 1 
Introdução ao estudo da neurociência aplicada à educação: a neuroeducação 
 
Conceitos básicos em Neurociência: a estrutura do Sistema Nervoso Central (SNC) e 
seu funcionamento 
Professor(a), para iniciarmos nosso processo de formação nas Neurociências, precisamos entender melhor como 
nosso cérebro funciona e como, a partir disso, torna-se possível a ocorrência dos nossos comportamentos e 
aprendizagens. Assim, iniciaremos esse subtópico do Módulo I com uma visão geral do nosso cérebro, suas divisões 
e respectivas funções e, por fim, aumentaremos o “zoom” a fim de visualizarmos e compreendermos as 
propriedades dos nossos neurônios, a unidade básica do sistema nervoso central. Além disso, iremos entender de 
que forma nossos neurônios se comunicam e integram toda a informação que é processada em nosso cérebro. 
Nossa viagem na história do estudo do cérebro parte da descoberta do neurônio, na metade final do século XIX, 
principalmente a partir dos trabalhos de dois importantes nomes para a Neurociência: Camillo Golgi e Santiago 
Ramón y Cajal. Ambos tinham em comum o interesse em estudar a célula nervosa e, por meio do desenvolvimento e 
utilização de uma técnica específica — coloração por nitrato de prata —, foram capazes de representar nossos 
neurônios, bem como ilustrar como seriam formadas as redes neurais. 
Figura 1. À direita, duas células piramidais do córtex cerebral de um gato, coradas pelo método de Golgi; à esquerda, células 
piramidais corticais coradas pelo azul de metileno, usado por Cajal para demonstrar a presença das espinhas dendríticas 
 
Fonte: Sallet (2009). 
Golgi, inicialmente, identificou que os neurônios são constituídos de pelo menos duas partes: da região 
central (corpo celular) e de prolongamentos que irradiam a partir desta, os neuritos. Em suas 
representações, Golgi defendia que os neurônios se comunicavam continuamente, formando uma rede 
nervosa, o que ficou conhecido como Teoria Reticular. Santiago Ramón y Cajal, embora fizesse uso da técnica 
de coloração de Golgi para estudar o neurônio, defendia algumas ideias um pouco diferentes. Ele concordava 
em relação à constituição geral dos neurônios,porém acreditava que a maneira como os neurônios se 
organizavam era distinta. Defendia que não havia ligações contínuas, mas que os neurônios deveriam se 
comunicar através de um contato descontínuo, ficando esta ideia conhecida como Doutrina Neuronal. De 
toda forma, ainda que ambos discordassem no que diz respeito à sua visão da estrutura do sistema nervoso 
central, foram agraciados com o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1906 por suas descobertas. 
Algum tempo depois, outro estudioso, Sherrington, foi capaz de desvendar o motivo de desacordo entre 
ambos os pesquisadores, sugerindo que o espaço vazio existente entre os neurônios se referia à sinapse, 
que seria uma espécie de separação funcional contribuindo para o funcionamento e comunicação dos 
neurônios, exercendo atividades regulatórias para o processo de transmissão de estímulos no sistema 
nervoso. Foi também Sherrington que propôs que as sinapses poderiam apresentar funções excitatórias ou 
inibitórias, o que discutiremos em mais detalhes mais adiante neste módulo. 
Percorrendo essa contextualização histórica acerca da descoberta dos neurônios e de suas divisões 
anatômicas e funcionais, chegamos aos dias de hoje. Atualmente, entende-se que os neurônios 
correspondem à unidade básica do SNC. São células excitáveis de comunicação, com propriedades químicas 
e elétricas. Possuem diferentes formatos e tamanhos e estão localizados em diferentes regiões do nosso 
cérebro. Essas características distintas definem suas funções, bem como representam importantes aspectos 
a serem considerados para o entendimento dos nossos comportamentos, como, por exemplo, a maneira 
como nossas aprendizagens e memórias são formadas ou como controlamos nossos movimentos e ações. A 
seguir, você pode visualizar uma representação geral de um neurônio. 
Figura 2. Representação geral de um neurônio 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
Como vocês podem observar na Figura 2, existem três regiões principais nas quais podemos dividir o 
neurônio: os dendritos, o corpo celular (ou soma) e o axônio. Os dendritos juntamente ao corpo celular 
compõem a chamada zona somatodendrítica, que possui a função de receber a informação ou o estímulo 
neuroquímico. Na zona somática, logo abaixo, temos o corpo celular ou soma, o qual é responsável por 
integrar e codificar os sinais neuroquímicos, processo que ocorre principalmente no núcleo da célula do 
neurônio, onde está localizado o DNA da célula. Por fim, a zona axônica representa a região na qual ocorre 
a codificação, propagação e vazão do sinal eletroquímico. 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
O NEURÔNIO 
São células excitáveis do SNC responsáveis por receber e transmitir estímulos (impulsos nervosos) por meio de 
modificações entre os potenciais elétricos da membrana celular. São capazes de estabelecer conexões entre si, 
formando redes neurais. Estima-se que cada neurônio é capaz de estabelecer entre cem e dez mil conexões. Os 
neurônios caracterizam-se por uma divisão estrutural composta por três principais partes: os dendritos, o soma e o 
axônio. A célula do neurônio é separada do meio externo por meio de uma membrana, chamada de membrana 
neuronal. Cada uma das regiões apresenta funções especificas que se encontram descritas abaixo: 
 
Dendritos: compreendem a região do neurônio que possui função de recepção do estímulo, como uma espécie de 
antena receptora. Os dendritos recebem sinais de outros neurônios, processando e codificando estas informações 
para, então, serem conduzidas até o corpo celular. Formam verdadeiras árvores dendríticas, pois apresentam várias 
ramificações, sendo cobertos por espinhos dendríticos que funcionam como uma espécie de ponto de recepção e 
contato do neurônio. Interessantemente, esses espinhos respondem aos estímulos ambientais, podendo aparecer ou 
desaparecer, conforme a intensidade da atividade naquela região. Isso confere uma capacidade neuroplástica (que 
discutiremos mais à frente) a esta região, tornando-a responsiva às influências ambientais, como por exemplo os 
estímulos e desafios gerados durante os processos de aprendizagem. 
 
Soma: refere-se à região central do corpo celular, sendo composta pelo citosol e envolta pela membrana neuronal. É 
no soma que se encontram as estruturas denominadas de organelas, sendo a principal delas — e de maior interesse 
para os estudos no campo da Neurociência — o núcleo. No núcleo é que está localizado o material genético — o DNA 
— da célula do neurônio. É nessa região que ocorrem diversos processos biomoleculares que envolvem a transcrição 
da informação gênica que, posteriormente, será utilizada para a síntese e produção de proteínas. 
 
O axônio: compreende a região do neurônio que possui a função de propagação e transmissão do impulso nervoso, 
ou seja, é o local onde ocorre a transferência da informação. O axônio inicia-se no chamado cone de implantação, 
localizado na sequência do soma. Assemelha-se a um fio (como uma espécie de prolongamento) condutor, 
percorrendo, em alguns casos, longas distâncias no sistema nervoso. Ele possui ramificações, formando os 
denominados colaterais axonais. Nas suas terminações, os axônios formam a região pré-sináptica, conectando-se a 
outros neurônios (ou outras células que não nervosas). Nesta região são liberados os neurotransmissores, os quais se 
ligam a receptores específicos localizados nos neurônios ou células adjacentes. 
 
O formato do neurônio, finalmente, é definido pelo seu citoesqueleto. O citoesqueleto tem função de manter a 
estrutura do neurônio, além de ser responsável por mediar o trânsito intracelular das substâncias existentes ou 
produzidas pelo próprio neurônio. O citoesqueleto é composto por proteínas filamentosas: os microtúbulos, a actina 
e os neurofilamentos. A degeneração ou perda desta estrutura é capaz de causar danos irreparáveis no funcionamento 
dos neurônios, como ocorre nos processos neurodegenerativos, a exemplo das demências, tais qual a doença de 
Alzheimer. 
O local onde ocorre o ponto de contato entre dois neurônios chama-se sinapse (Figura 3). É na sinapse que serão 
liberadas as substâncias também conhecidas como neurotransmissores. Esses neurotransmissores são produzidos e 
sintetizados pelos próprios neurônios, por meio da atividade genética que ocorre a partir da ativação e desativação 
dos nossos genes em resposta aos estímulos gerados. Vamos discutir mais sobre o que ocorre nas sinapses e, também, 
conhecer mais a respeito dos neurotransmissores a seguir. 
Figura 3. Representação da sinapse 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
A sinapse refere-se ao ponto de ligação — contato — entre dois neurônios. É nesta região que ocorre a chamada 
transmissão sináptica, que nada mais é do que a propagação do estímulo (impulso) nervoso de uma célula para outra. 
Esta comunicação ocorre através de processos eletroquímicos. Existem pontos de comunicação entre os neurônios 
que são estritamente elétricos, porém a grande maioria das sinapses são químicas, uma vez que liberam substâncias 
químicas, os neurotransmissores. 
Vale destacar aqui que a atividade do SNC é algo complexo e que requer o adequado funcionamento de inúmeras 
proteínas e moléculas. Qualquer problema ou disfunção na atividade destas proteínas e moléculas pode interferir 
significativamente nos processos de neurotransmissão, resultando em manifestações de distúrbios emocionais, 
comportamentais e, até mesmo, de aprendizagem. 
 
3 
 
 
A SINAPSE 
A sinapse caracteriza-se por ser o ponto de contato entre dois tipos de neurônios, os chamados neurônio pré-sináptico 
e neurônio pós-sináptico. Eles são assim denominados porque normalmente o fluxo de propagação do impulso 
nervoso, ou seja, a transferência dos estímulos, ocorre unidirecionalmente, na direção anterógrada. A direção, 
portanto, é do neurônio pré-sináptico para o neurônio pós-sináptico. 
Algumas poucas exceções nesse direcionamento referem-se às neurotransmissõesretrógradas, nas quais a direção da 
transmissão dos sinais se dá no sentido contrário, ou seja, do neurônio pós-sináptico para o neurônio pré-sináptico. A 
região pré-sináptica consiste no terminal axônico, enquanto a região pós-sináptica consiste, predominantemente, nos 
dendritos do outro neurônio. 
Considerando a forma como ocorre todo o processo, o sinal elétrico propagado pelo neurônio percorre todo 
prolongamento axônico, até o terminal, onde então é convertido em sinal químico. A liberação deste sinal químico, 
composto pelos neurotransmissores, se dá através do rompimento de vesículas que contêm as substâncias químicas 
junto à parede da membrana do neurônio pré-sináptico. 
Ao serem liberados na fenda sináptica, os neurotransmissores vão se ligar aos receptores conforme sua afinidade. 
Esses receptores se encontram presentes nas membranas dos neurônios pós-sinápticos. Os neurotransmissores que 
tiverem sido liberados em excesso, por sua vez, serão recaptados por meio de transportadores que ativamente 
recuperam as substâncias excedentes, em uma espécie de reciclagem, a fim de serem novamente utilizadas pelo 
neurônio pré-sináptico em uma transmissão futura. 
Figura 4. Representações de sinapses a) elétrica e b) química 
 
Fonte: Purves et al. (2010). 
A imagem ilustrada acima representa duas sinapses, uma denominada de sinapse elétrica e a outra, de sinapse 
química. A sinapse elétrica não possui ação de nenhum tipo de neurotransmissão: a propagação da informação através 
do impulso nervoso ocorre apenas pelo fluxo de íons (cargas elétricas) por um espaço quase invisível, chamado de 
junção comunicante. Neste tipo de sinapse, percebe-se que os neurônios se encontram praticamente conectados, 
como se não houvesse uma separação física entre ambos. A transmissão ocorre de maneira mais rápida em 
comparação às sinapses químicas e não há possibilidade de bloqueio ou inibição da atividade. 
Já nas sinapses químicas, percebe-se a existência de um espaço vazio entre os neurônios pré e pós-sinápticos, 
denominado de fenda sináptica. É na fenda sináptica que ocorre a liberação dos neurotransmissores e, 
consequentemente, sua ação sobre receptores específicos que se encontram na membrana do neurônio pós-
sináptico. Por esta razão, estas sinapses tendem a ter uma transferência de informações mais lenta em comparação 
às sinapses elétricas. 
Os neurotransmissores são os elementos-chave do processo de comunicação neuronal. Eles podem ser de diferentes 
tipos, como nos casos das aminas, dos aminoácidos e dos neuropeptídeos. Os neurotransmissores mais clássicos e 
reconhecidos por sua atuação na regulação de processos emocionais, comportamentais e cognitivos são os do grupo 
das aminas, como, por exemplo, a serotonina, a noradrenalina, a dopamina e a acetilcolina. Além desses, o glutamato 
e o Ácido gama-aminobutírico (Gaba) também são importantes mediadores das atividades neuronais, refletindo seus 
efeitos nos nossos comportamentos e ações. 
A ação dos neurotransmissores ocorre através da sua difusão na fenda sináptica. Ao serem liberados, eles se ligam a 
receptores específicos na membrana neuronal pós-sináptica. A ligação dos neurotransmissores causa uma mudança 
na conformidade deste, ou seja, faz com que canais localizados na membrana pós-sináptica se abram ou se fechem, 
possibilitando ou não o livre fluxo das cargas elétricas que orbitam os espaços extracelulares. Desta forma, os 
receptores, ao serem estimulados pelos neurotransmissores, alteram sua permeabilidade, ocasionando um efeito que 
pode ser excitatório ou inibitório, dependendo do tipo de canal e de sua permeabilidade a determinado íon. 
Assim, por meio da estimulação dos receptores pelos neurotransmissores, tem início uma sequência de eventos 
moleculares dentro da célula do neurônio pós-sináptico, a fim de ativar ou inativar o funcionamento dos nossos genes. 
Neste sentido, para que uma neurotransmissão química ocorra, necessariamente precisamos de: um sinal molecular, 
transmitindo a informação de uma célula neuronal para outra; uma molécula receptora para traduzir a informação 
sinalizada; e uma molécula-alvo, que irá eliciar a resposta celular final. 
A importância do adequado funcionamento de todos os processos referidos já é reconhecida, devido ao fato de que, 
cada vez mais, se tem clareza de que qualquer alteração ou desregulação nestes processos pode interferir na forma 
como nossos genes se expressam e, consequentemente, resultar na manifestação de transtornos neuropsiquiátricos 
ou transtornos relacionados ao desenvolvimento. 
4 
 
 
NEUROTRANSMISSORES 
Neurotransmissores são substâncias químicas endógenas, produzidas e sintetizadas no sistema nervoso central e que 
possuem a função de atuar como mensageiros do processo de transmissão sináptica. Estima-se que existam mais de 
100 substâncias que possuem propriedades de neurotransmissores. Os neurotransmissores podem ser classificados 
em duas amplas categorias: as moléculas pequenas e os neuropeptídeos. Eles podem ser da classe das aminas, dos 
aminoácidos ou dos neuropeptídeos. 
É importante explicar que, para que uma determinada molécula seja considerada um neurotransmissor, é preciso que 
esta: 
• esteja presente no interior do neurônio pré-sináptico; 
• seja liberada em resposta à despolarização do neurônio pré-sináptico, em outras palavras, que ela possa 
responder aos estímulos propagados pelo neurônio; e 
• possua afinidade com receptores específicos localizados na membrana pós-sináptica. 
Apesar de serem produzidos endogenamente, os neurotransmissores podem ser induzidos de forma exógena, ou seja, 
através do uso de diferentes substâncias que têm como função modificarem o funcionamento do sistema nervoso 
central. Exemplos destas substâncias poderiam ser os medicamentos psicofármacos, utilizados no tratamento de 
disfunções de ordem emocional, cognitiva ou comportamental, ou também as drogas (como álcool, tabaco, maconha 
e cocaína). Independente de qual tipo de substância estamos falando, elas são capazes de interferir no funcionamento 
do nosso cérebro, provocando alterações nas concentrações dos neurotransmissores ou na ação destes sobre os 
receptores. 
Tais modificações influenciam e alteram o funcionamento dos neurônios e, por consequência, induzem mudanças 
emocionais, cognitivas e comportamentais. Podemos citar alguns exemplos de neurotransmissores clássicos que são 
alvo da ação de vários psicofármacos, muitos deles utilizados em crianças e adolescentes a fim de tratar diferentes 
questões de aprendizagem, comportamento e regulação emocional. Entre eles, destacam-se a serotonina, a 
noradrenalina, a dopamina, o glutamato e o Gaba. Estes últimos, glutamato e Gaba, representam os principais 
neurotransmissores excitatórios e inibitórios do nosso sistema nervoso. 
 
5 
 
Conceitos básicos em Neurociência: neurodesenvolvimento e neuroplasticidade 
O processo do neurodesenvolvimento inicia-se desde as primeiras semanas de gestação, estendendo-se até a idade 
adulta. Diversos processos neuroquímicos coordenados pela expressão de nossos genes ocorrem durante o curso 
desse desenvolvimento, sendo estes genes os responsáveis por desenvolver, diferenciar e maturar as estruturas 
cerebrais que compõem nosso SNC. Somente a partir do término destes processos é que podemos dizer que há uma 
adequada formação estrutural e funcional das diferentes regiões do nosso cérebro. Isso contribui para o surgimento 
e para variabilidade e diferenciação entre os indivíduos no que se refere aos seus repertórios comportamentais, ao 
seu funcionamento cognitivo e à expressão de suas respostas emocionais. 
As etapas do neurodesenvolvimento, no entanto, ocorrem de modo progressivo e conforme cada região do nosso 
cérebro. Sendo assim, a etapa que abrange desde o período gestacional até a adultez é considerada crítica, 
promovendo as mais distintas mudanças nos indivíduos, sejam elas físicas, comportamentaisou emocionais. O 
processo de desenvolvimento do nosso cérebro é único, porém, durante sua formação, os neurônios necessariamente 
passam por algumas etapas antes de terem sua estrutura e função completas. 
Neurogênese 
O processo de diferenciação dos neurônios tem início a partir do desenvolvimento do tubo 
neural. Novas células-tronco dão origem às chamadas células nervosas imaturas. Estas células 
irão se diferenciar e formar os primeiros neurônios. Esse processo é conhecido como 
neurogênese e refere-se ao nascimento de novos neurônios a partir de células-tronco 
embrionárias. Interessante comentar que por muito tempo se acreditou que o nascimento de 
novos neurônios era restrito às fases iniciais do neurodesenvolvimento; entretanto, atualmente 
se reconhece que novos neurônios continuam a ser gerados ao longo da vida, ainda que de forma 
mais lenta e restrita a algumas regiões do nosso cérebro. 
Seleção neuronal 
Após o nascimento, os neurônios são selecionados em uma etapa que é denominada 
seleção neuronal. A seleção neuronal é responsável por eliminar parte excedente dos 
neurônios gerados. Os neurônios que não estão envolvidos em vias neurais são eliminados 
por um processo programado chamado de apoptose. 
 
Migração neuronal 
Aqueles neurônios que forem selecionados terão como destino regiões específicas do cérebro 
onde atuarão. Este processo chama-se migração neuronal e leva distintas classes de neurônios 
em conjunto, de forma que estes possam interagir até sua posição final. A localização final do 
neurônio, portanto, é essencial para sua adequada funcionalidade, uma vez que esta será 
dependente do estabelecimento de conexões precisas entre os neurônios e seus alvos. Assim, 
o neurônio, durante o processo do neurodesenvolvimento, precisa estar no local certo e no 
momento certo, a fim de que ele possa se integrar a uma rede neuronal funcional. 
 
Diferenciação e Sinaptogênese 
A partir do momento em que os neurônios se estabelecem em suas regiões-alvo, iniciam-se dois 
processos, chamados de diferenciação e sinaptogênese. A diferenciação celular refere-se ao 
momento em que a célula neuronal assume sua aparência e suas características finais, de modo 
que a arquitetura dos dendritos e do axônio depende deste processo. A sinaptogênese, por sua 
vez, é o processo seguinte, no qual os neurônios encontram seus alvos apropriados e passam a 
estabelecer conexões. Imagine um neurônio já diferenciado brotando, através do cone de 
crescimento, formando contato com seus alvos, estabelecendo sítios de ligação (sinapses) e 
consolidando sua adequada função. 
 
 
Embora tais processos sejam em sua maioria geneticamente determinados, conforme comentado, reconhece-se que 
algumas destas conexões respondem às influências do ambiente no qual os indivíduos estão inseridos. Mesmo que os 
processos do neurodesenvolvimento tenham atingido seu estágio final, ou seja, ainda que conexões tenham sido 
estabelecidas, os padrões de atividade neuronal é que moldarão os circuitos sinápticos. 
Em outras palavras, é a atividade neuronal, em resposta aos estímulos e à interação com o ambiente, que possibilita 
a estruturação e o funcionamento dos nossos circuitos cerebrais. Assim, a estimulação adequada desde os primeiros 
anos de vida pode ser responsável por reforçar e promover a formação de novas conexões. Em contrapartida, a 
ausência ou a inadequação dessa estimulação seriam responsáveis por empobrecer e causar prejuízos nesta formação, 
podendo, inclusive, interromper ou eliminar o estabelecimento de determinadas conexões, seja por falta de uso, 
ausência de estímulo ou exposição a estímulos excessivos. 
 
6 
 
Justamente por se estenderem por diferentes períodos da trajetória do nosso desenvolvimento é que tais processos 
tornam-se suscetíveis às influências, positivas ou negativas, do ambiente. Determinadas estruturas cerebrais possuem 
um desenvolvimento mais acelerado, já em períodos gestacionais ou logo cedo nos primeiros meses de vida, atingindo 
sua maturação durante a primeira infância. Um exemplo de região que possui tal característica em sua trajetória de 
desenvolvimento é o hipocampo. Outras regiões cerebrais, como por exemplo o córtex pré-frontal e a amígdala, 
apresentam um desenvolvimento mais lento e progressivo, estendendo-se ao longo de toda a infância e adolescência. 
Discute-se que sua possível maturação somente esteja completa no início da vida adulta. 
 
Para além da formação e maturação destas regiões, aspectos 
funcionais também se diferem no curso do desenvolvimento. A 
função exercida por cada uma das regiões do cérebro possui 
relação com as necessidades e demandas daquele período do desenvolvimento. 
Portanto, funções motoras tendem a se desenvolver mais precocemente em 
comparação às regiões responsáveis por funções cognitivas complexas, a 
exemplo de planejamento, controle inibitório, flexibilidade cognitiva, 
regulação emocional etc. 
 
Até aqui fomos capazes de identificar que nosso cérebro passa por múltiplos processos durante seu desenvolvimento 
e reflete as experiências vividas por cada indivíduo ao longo de sua trajetória de desenvolvimento. Portanto, podemos 
considerar que o SNC é adaptável, sofrendo influência do ambiente e passando por mudanças e transformações. Esta 
capacidade de se modificar por meio das experiências é denominada de neuroplasticidade. 
A neuroplasticidade refere-se à propriedade que o sistema nervoso central tem de alterar sua função ou estrutura em 
resposta às influências ambientais ou demandas internas do organismo. Isto é, nossos neurônios possuem a 
capacidade de formar ou restabelecer conexões entre eles a partir das constantes interações com o ambiente, como 
uma espécie de resposta e mudança neuronal frente aos estímulos ambientais aos quais os indivíduos são expostos 
durante sua vida. Neste sentido, entende-se que as nossas aprendizagens são uma das consequências destas 
capacidades de modificação das estruturas e conexões dos neurônios. 
Professor(a), desde o início do período pós-natal, denota-se uma responsividade do cérebro por estímulos, os quais 
serão determinantes para todo desenvolvimento cognitivo subsequente. Muitas das mudanças, portanto, ocorrerão 
na infância a partir das experiências que este cérebro em desenvolvimento terá com seu ambiente. Este representa o 
primeiro período de modificações plásticas, sendo responsável por organizar e estruturar a arquitetura do nosso 
cérebro. A partir disso, torna-se mais difícil a ocorrência de mudanças significativas nesse cérebro no futuro, uma vez 
que as conexões já estão mais bem consolidadas e estabelecidas (o que não significa que não seja possível existirem 
tais modificações na vida adulta). 
A adolescência, também, representa um período de transformações, sejam elas biológicas, hormonais ou 
comportamentais. O cérebro adolescente, neste sentido, passa por uma reorganização, aproximando-se da sua forma 
adulta. Ambos os períodos, da infância e da adolescência, são tidos como críticos em razão das diversas 
transformações que estão ocorrendo no cérebro, aumentando a potencialidade do desenvolvimento e do 
aprendizado, mas, ao mesmo tempo, conferindo riscos a partir da influência de estressores. 
 
Compreendemos agora que o cérebro é uma estrutura em constante construção e mudança, assim como percebemos 
que os indivíduos aprendem diferentes comportamentos e expressam suas emoções de formas distintas ao longo de 
sua vida. Diversas evidências científicas sugerem que tal variabilidade no repertório comportamental e nas expressões 
emocionais se deva aos fenômenos plásticos do SNC. A aquisição de conhecimentos e aprendizagens também é fruto 
destas mudanças cerebrais, através de alterações bioquímicas que ocorrem nos nossos neurônios e nas suas conexões. 
Reconhecer e explorar tais capacidades do nosso cérebro e os momentos em que as aprendizagens e modificações 
são favorecidastorna-se fundamental, não só para neurocientistas e profissionais da saúde, como também para vocês, 
educadores, que compartilham boa parte dessa trajetória de desenvolvimento do cérebro em sala de aula com seus 
respectivos alunos. 
 
7 
 
Conceitos básicos em Neurociência: como se divide nosso sistema nervoso e quais as funções das diferentes regiões 
cerebrais 
Nosso sistema nervoso é dividido, de forma geral, no SNC e no Sistema Nervoso Periférico (SNP). O SNC é composto 
pelo encéfalo, nosso cérebro, e pela medula espinhal, enquanto o SNP é subdividido em SNP Somático e SNP 
Autônomo, este último correspondendo aos sistemas simpáticos e parassimpáticos, coordenando as respostas dos 
indivíduos aos diferentes estímulos ambientais. 
O SNP é composto por nervos e gânglios, os quais têm a função de conectar o SNC ao restante do corpo. Os nervos 
são formados por dendritos e axônios que se projetam pelo corpo, recebendo e conduzindo informações para as 
diferentes partes. Esses nervos podem ser classificados como nervos sensoriais ou motores. Já os gânglios são 
formados por pequenas dilatações contendo grupos de corpos celulares de neurônios, no caso deste sistema dos 
nervos que se projetam pelo corpo. 
Figura 05. Representação da divisão do sistema nervoso 
 
Fonte: Adaptada de Bear, Connors e Paradiso (2017). 
É importante saber que esta divisão mais geral do SNP pode ser definida a partir do que se denomina divisão sensitiva 
(ou aferente) e divisão motora (ou eferente). 
 
Divisão sensitiva 
A divisão sensitiva é composta por vias sensitivas somáticas e por vias sensitivas viscerais. As vias 
somáticas respondem, de forma geral, a toque, dor, vibrações, temperatura e propriocepção da pele, 
parede corporal e membros; e, de forma específica, aos estímulos auditivos e visuais. Já as vias 
viscerais correspondem aos estímulos viscerais, a exemplo de quaisquer alterações ou sensações 
percebidas em nossos órgãos internos do corpo. 
 
Divisão motora 
A divisão motora é composta pela parte somática, que corresponde a toda inervação motora dos 
nossos músculos esqueléticos, responsáveis pelo movimento; e pela parte autônoma (visceral), a qual 
se refere a toda inervação motora dos músculos lisos, músculo cardíaco e glândulas. A parte 
autônoma, por fim, ainda se divide nos referidos sistemas simpático e parassimpático. 
O sistema nervoso somático é responsável pelo primeiro estágio de processamento das informações sensoriais que 
chegam ao nosso corpo. É este sistema que integra e ativa os comandos para que os diferentes tipos de músculos 
(esqueléticos, lisos viscerais e glandulares) presentes em nosso corpo respondam frente à estimulação. 
As respostas coordenadas podem ser desde simples reflexos, comandados pela medula, como, por exemplo, o reflexo 
de flexão do joelho frente ao toque de um martelo neurológico (Figura 6); até respostas mais complexas coordenadas 
por diferentes regiões do nosso cérebro. Assim, nem todas as informações necessariamente precisam chegar até nosso 
cérebro para serem processadas e haver uma resposta motora. Tal mecanismo mostra-se adaptativo a fim de conferir 
rápidas respostas dos organismos, auxiliando na nossa sobrevivência. 
 
 
Figura 06. Representação ilustrativa do reflexo patelar 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
O sistema nervoso autônomo consiste nas projeções neuronais que inervam órgãos internos, vasos sanguíneos e 
glândulas secretoras. Refere-se a um sistema que não é de controle voluntário do indivíduo, sendo suas respostas 
regulatórias automáticas, razão pela qual também é conhecido como sistema vegetativo. Esse sistema é, portanto, o 
responsável por dar início a uma série de respostas fisiológicas (como aumento da frequência cardíaca e pressão 
arterial, aumento da atividade metabólica, dilatação da pupila, secreção de suor ou secreção de hormônios como 
adrenalina e noradrenalina). 
A partir de uma resposta simpática, esse mesmo sistema procura restabelecer o equilíbrio e a homeostase do 
organismo, estimulando a ativação das funções da outra divisão, parassimpática, o que faz com que todas as mudanças 
fisiológicas transitórias anteriores se restabeleçam. Desta forma, o sistema nervoso autônomo funciona mediante um 
balanço entre excitação e inibição sináptica, a fim de manter a homeostase do organismo. 
Para além das divisões detalhadas acima, podemos compreender nosso cérebro através de algumas proposições de 
divisões anatômicas bem como através das funções associadas a cada uma destas regiões. Embora tais afirmações 
possam remeter a paradigmas localizacionistas sobre o entendimento do funcionamento do cérebro, não mais 
vigentes em nossa compreensão atual, sabemos que existem regiões que são centrais para determinados processos 
cognitivos. 
Nosso cérebro apresenta dobraduras chamadas de giros e separadas por fissuras, também conhecidas como sulcos. 
Acredita-se que o nosso cérebro, em seu formato atual, tenha sido fruto de um crescimento exponencial no número 
de células durante a evolução, tendo este crescimento superado a capacidade de crescimento evolutivo da caixa 
craniana, o que fez com que houvesse a necessidade da presença de dobras, os giros e sulcos. 
 
Figura 07. Representação ilustrativa do cérebro humano 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
A primeira divisão, mais geral, é a hemisférica, que separa o cérebro em dois hemisférios, esquerdo e direito. Os dois 
hemisférios estão integrados por uma região chamada de corpo caloso. Algumas funções podem ser consideradas 
lateralizadas, ou seja, determinada função presente em um hemisfério não é compartilhada pelo outro. Desta forma, 
sugere-se que o hemisfério esquerdo tenha um papel predominante para análise linear de raciocínio lógico e 
matemático e para tarefas que envolvam símbolos abstratos, especialmente aqueles relacionados ao pensamento 
verbal; enquanto o hemisfério direito parece estar mais relacionado à análise holística (percepção de estruturas e 
formas globais), ao pensamento intuitivo, à orientação espacial e à expressão não verbal. 
 
Figura 08. Divisão hemisférica do cérebro 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
8 
 
Pode-se também adotar uma classificação embriológica que segue o processo de neurodesenvolvimento desde o 
período gestacional. Esta divisão estabelece uma divisão encefálica em: telencéfalo (região cortical), diencéfalo (região 
subcortical), tronco encefálico (composto pelo mesencéfalo, ponte e o bulbo), cerebelo e a medula espinhal. Nos 
aprofundaremos mais sobre as funções do telencéfalo e do diencéfalo ao longo do curso, uma vez que são nestas 
regiões que a maioria das nossas funções cognitivas têm seu processamento, assim como nossas aprendizagens, 
linguagem e emoções. 
Figura 9. Divisão encefálica 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
Aqui, apenas como informação complementar, cabe destacar que o tronco encefálico corresponde ao pequeno talo 
que liga a medula ao SNC. Praticamente todas as projeções sensoriais passam por esta região, que é uma espécie de 
ponte de ligação entre o cérebro e a medula. Entre suas funções, podemos dizer que o tronco encefálico é responsável 
pelo controle da atividade elétrica cortical, pela regulação do ciclo sono-vigília, pelo controle de sensibilidade à dor, 
pelo controle do sistema nervoso autônomo, pelo controle endócrino e pela integração de reflexos, como nos centros 
respiratórios e vasomotores. 
É também no tronco encefálico que estão localizados núcleos formados por conglomerados de neurônios, como os 
núcleos da rafe, o locus coeruleus e a área tegmental ventral, com a importante função de síntese e produção dos 
principais neurotransmissores, a exemplo da serotonina, noradrenalina e dopamina. Lesões profundas na região do 
tronco encefálico podem ocasionar sérias complicações e até levar a óbito, uma vez que nesta região se encontram 
aglomerados de neurônios que regulam batimentos cardíacos, respiraçãoe várias outras funções vitais do nosso 
organismo. 
O cerebelo é outra região referida da qual, até pouco tempo atrás, se conhecia pouco a respeito, mas que vem sendo 
cada vez mais foco das investigações nos estudos do cérebro. Participa do controle dos movimentos voluntários, que 
envolvem planejamento, controle do tônus muscular, equilíbrio e postura, além de ter uma importante função nas 
aprendizagens motoras (referidas como aprendizagens e memórias implícitas, em outras palavras, as aprendizagens 
de “como” fazer). Ele recebe informações dos neurônios envolvidos com funcionamento motor, na parte anterior, 
vindos da medula espinhal e, em sua parte posterior, do córtex cerebral motor. 
Outra divisão importante, bastante referida nos livros de Neurociência e Neuropsicologia e que nos ajuda muito a 
entender a relação de diferentes porções do nosso cérebro com os processos cognitivos e com os comportamentos 
associados é a divisão em lobos. Esta divisão, mostrada na Figura 10, compreende os lobos frontal, temporal, parietal 
e occipital; além dos córtex motor e sensório (os dois últimos correspondentes às funções de integração e 
processamento das informações relacionadas a movimentos e sensações). 
 
Figura 10. Divisão dos lobos cerebrais 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
LOBO FRONTAL - O lobo frontal possui como principais funções associadas: o pensamento, o planejamento, a 
organização, a resolução de problemas, a tomada de decisão, o controle inibitório e a regulação dos impulsos e das 
emoções. 
LOBO TEMPORAL - O lobo temporal é a região que corresponde às funções de aprendizagem, memória, expressão e 
compreensão da linguagem e das emoções. 
LOBO OCCIPITAL - O lobo occipital é reconhecido principalmente por sua participação no processamento dos 
estímulos visuais. 
LOBO PARIETAL - O lobo parietal refere-se ao processamento de estímulos perceptuais, significação de mundo, além 
de ser importante para o processamento de informações aritméticas e para a grafia. 
Uma última divisão que nos auxilia a “navegar” pelo nosso cérebro é aquela baseada na direcionalidade. Esta 
subdivisão separa o cérebro em suas porções anterior (rostral) e posterior (caudal), as quais podemos chamar 
leigamente de porção “da frente” e “de trás” a partir de uma perspectiva de visão frontal do encéfalo; superior (dorsal) 
e inferior (ventral), ou seja, considerando a mesma visão frontal, a “parte de cima” e a “parte de baixo”; e lateral e 
medial, que se referem às partes mais externas e às mais internas, respectivamente. 
Esses eixos tornam-se importantes quando analisamos imagens do cérebro com cortes em diferentes sentidos, como 
cortes sagitais (dividindo o corpo em lados esquerdo e direito), cortes coronais (dividindo o corpo em partes da frente 
e de trás) e cortes transversais (dividindo o corpo em porções superiores e inferiores). 
Figura 11. Planos anatômicos 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
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Conceitos básicos em Neurociência: as principais regiões do cérebro responsáveis pelas funções cognitivas, 
aprendizagens e expressão dos comportamentos 
Caro(a) Professor(a), neste subtópico do Módulo I, vamos detalhar as principais regiões do nosso cérebro que são 
responsáveis pela expressão dos nossos comportamentos, pensamentos e emoções. O funcionamento destas regiões, 
por exemplo, contribui diretamente para que nossas aprendizagens ocorram e, também, para que nossas memórias 
sejam formadas, servindo de base para a construção do nosso conhecimento ao longo da vida. 
Você, educador(a), ao conhecer melhor as respectivas funções associadas à atividade de cada uma destas regiões, vai 
ser capaz de não somente melhor entender como nosso cérebro processa todas as informações que chegam até ele, 
como também de compreender que, em casos de desenvolvimento atípico, a exemplo das síndromes e dos 
transtornos do neurodesenvolvimento, podemos ter um comprometimento importante de seu funcionamento e, 
consequentemente, observamos alterações significativas nas capacidades de aprendizagens, habilidades de leitura e 
escrita, habilidades matemáticas, habilidades sociais e habilidades de regulação emocional. 
Começaremos discutindo uma das regiões-chave para os processos de aprendizagem e memória: o hipocampo. Trata-
se da estrutura bilateral que está localizada nos lobos temporais, com formato similar ao de um cavalo marinho (Figura 
12). 
Figura 12. Representação de um cérebro humano com o hipocampo em destaque, comparado a um cavalo marinho 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
O hipocampo possui papel específico nos processos de aquisição e consolidação das nossas memórias, embora tal 
participação seja de certo modo complexa de se compreender, considerando todos os processos de base biológica 
envolvidos. 
O hipocampo contribui para a transferência de informações da nossa chamada memória de curto prazo para a 
memória de longo prazo. Também é a região responsável por criar um mapa cognitivo do nosso ambiente, 
relacionando características visuais com características espaciais, o que possibilita a adequação das nossas respostas 
conforme variações do ambiente. 
Mais especificamente, em sua porção posterior, o hipocampo está envolvido nos processos cognitivos da 
aprendizagem e memória, particularmente naqueles associados ao desenvolvimento da capacidade de orientação, 
exploração do ambiente e locomoção. Já em sua porção anterior, ele tem envolvimento com as emoções e o 
comportamento motivado. Lesões no hipocampo podem trazer significativos prejuízos em nossa memória, resultando 
em amnésias anterógradas, ou seja, na perda da capacidade de armazenar e reter novas informações a partir de um 
evento. Esse tipo de prejuízo indica a participação do hipocampo na formação das memórias declarativas e tem como 
um exemplo clássico dos estudos da Neurociência o caso do paciente Henry Molaison, mais conhecido como H. M. 
 
A MEMÓRIA DE H. M. 
Henry Molaison, cientificamente conhecido como H. M., foi um jovem de 27 anos que sofria de epilepsia grave. Tinha 
várias crises convulsivas em um mesmo dia, impossibilitando-o de ter funcionalidade na vida. Os tratamentos da época 
se mostraram ineficazes para conter as crises e permitir que H. M. vivesse uma vida normal. As crises tinham origem 
em uma região do cérebro localizada nos lobos temporais e se espalhavam ao longo do cérebro. 
Um dos tratamentos para casos refratários e graves de epilepsia, à época, era através da cirurgia de remoção da região 
de origem das crises. Considerando a gravidade do caso, decidiu-se na época que a intervenção cirúrgica era o mais 
adequado para H. M. Assim, cirurgicamente, foram removidas partes da região de seu lobo temporal medial, incluindo 
uma região denominada hipocampo. Aparentemente a cirurgia havia sido um sucesso, uma vez que H. M. se recuperou 
bem e, ao que parecia, havia parado de ter crises convulsivas recorrentes. 
Figura 13. Comparação entre um cérebro comum e o cérebro de H. M. (hipocampo removido) 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
No entanto, com o passar dos dias, descobriu-se um efeito inesperado do procedimento cirúrgico realizado. H. M. era 
incapaz de se lembrar das informações a ele apresentadas por períodos superiores a alguns minutos. Apesar de ser 
capaz de lembrar de episódios de sua vida anteriores à cirurgia, ter um funcionamento cognitivo global preservado e 
acima da média, com habilidade de raciocínio lógico também preservada, H. M. parecia não reter mais quaisquer 
informações que lhe fossem apresentadas. Ele fora acompanhado ao longo de muitos anos por alguns pesquisadores, 
entre eles uma psicóloga, Branda Milner, a fim de se obter um entendimento do que lhe havia ocorrido a partir da 
remoção cirúrgica daquela região. 
Para H. M., todos os dias eram novidade, ele apresentava um caso clássico de amnesia anterógrada, ou seja, não era 
capaz de recordar nenhuma informação após um evento, passado um período curto de tempo.Porém, todo restante 
das suas capacidades cognitivas parecia preservado e, ainda, descobriu-se que H. M. era capaz de aprender novas 
tarefas motoras, mesmo sem ter consciência ou a lembrança de que havia sido exposto ao estímulo. Por exemplo, H. 
M. conseguiu melhorar seu desempenho em uma tarefa na qual era requerido que se traçasse o contorno de uma 
estrela, observando apenas sua mão em um espelho. Esta é uma tarefa que requer treino e prática, sendo o 
desempenho dependente da repetição. O desempenho de H. M. foi capaz de evoluir ao longo dos dias de treino, 
sugerindo que ele estava retendo informações sobre o desenvolvimento da tarefa, muito embora ele fosse incapaz de 
recordar que havia realizado a tarefa anteriormente. Tais descobertas permitiram posteriormente compreender o 
funcionamento da memória dividido em dois sistemas distintos: as memórias declarativas e as memórias de 
procedimento. 
Figura 14. Representação da atividade prescrita para o jovem H. M. 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
10 
 
Sabemos ainda que ao longo da vida o hipocampo é uma região que pode ser afetada pelos processos do 
envelhecimento. Embora tanto no envelhecimento típico como no envelhecimento atípico exista uma perda de 
neurônios no hipocampo, nos processos neurodegenerativos, como na doença de Alzheimer, ocorre a perda 
acentuada e acelerada dos neurônios na formação hipocampal, provocando os esquecimentos e a diminuição da 
capacidade de aprendizagem de novas informações. 
 
 
 
 
 
 
Figura 15. Principais regiões do cérebro que são responsáveis pela expressão dos nossos comportamentos, 
pensamentos e emoções 
 
Fonte: Purves et al. (2010). 
A amígdala é outra região que faz parte do chamado sistema límbico, assim como o hipocampo, e que tem 
participação no armazenamento de nossas memórias com conteúdos emocionais, especialmente as memórias 
relacionadas ao medo. 
Sua principal função, no entanto, envolve o processamento dos estímulos ameaçadores, sendo responsável por 
integrar as informações que chegam ao nosso cérebro e mediar as respostas do organismo. Exerce um papel primário 
na avaliação do ambiente, analisando perigos em potencial, ou seja, dando significado emocional aos estímulos 
externos. Além disso, a amígdala foi reconhecida como uma região importante no processamento de faces e sinais 
sociais, auxiliando na identificação de determinadas expressões emocionais. 
Lesões na amígdala podem causar grandes prejuízos aos indivíduos, como por exemplo a incapacidade de reconhecer 
faces ameaçadoras, não confiáveis ou que expressem medo. É comum que indivíduos com lesão na amígdala 
apresentem comportamentos impulsivos e de risco, tendo dificuldade de modular respostas de medo frente a 
situações potencialmente perigosas. A síndrome de Kluver e Bucy (Figura 16), por exemplo, é uma condição em que 
disfunções na amígdala levam a uma desconexão entre processos sensoriais e emocionais. 
 
 
 
Figura 16. Representação ilustrativa dos principais sintomas da síndrome de Kluver e Bucy. 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
O hipotálamo é um importante centro do nosso cérebro que conecta nosso SNC a diferentes outros sistemas 
biológicos do corpo, como o sistema endócrino. Embora represente uma parcela muito pequena do nosso cérebro, 
menos de 1% do volume total, integra diversos circuitos neuronais e que regulam funções vitais do organismo. 
É a região que regula as respostas do sistema nervoso autônomo por meio do controle das ativações simpáticas e 
parassimpáticas. Sabe-se que o organismo procura manter sua constância (homeostase) equilibrando as variações 
internas e adequando as respostas às demandas externas. Os mecanismos responsáveis por tal manutenção estão 
localizados no hipotálamo, incluindo os sistemas responsáveis por dar início às cascatas de liberação de hormônios 
que irão atuar em diferentes órgãos e sistemas do nosso corpo. O hormônio cortisol, que é liberado a partir da resposta 
do organismo a um estímulo estressor, é um exemplo da atividade regulatória que busca preparar o organismo para 
responder frente às demandas do ambiente. Para além destas funções, o hipotálamo participa da regulação da 
temperatura corporal, do ciclo sono-vigília, da ingestão de alimentos e água, da diurese e de ritmos circadianos. 
11 
 
O córtex frontal, especificamente a região denominada de pré-frontal, é uma parte importante do nosso cérebro, 
sendo uma das últimas a serem completamente formadas durante o curso do neurodesenvolvimento. 
O córtex pré-frontal é comumente subdividido em pequenas porções, especialmente por suas distintas funções, sendo 
as sub-regiões mais importantes para o nosso conhecimento: 
• o córtex pré-frontal dorsolateral; 
• o córtex pré-frontal orbitofrontal; 
• o córtex pré-frontal medial; e 
• o córtex cingulado anterior. 
Cada uma dessas regiões desempenha um papel importante para nosso funcionamento cognitivo, expressão dos 
nossos comportamentos e regulação de respostas emocionais e motivacionais. 
É na região do córtex pré-frontal que estão localizadas as chamadas Funções Executivas (que aprofundaremos melhor 
nos módulos aplicados). Tais funções cerebrais controlam a atenção, as nossas emoções e os nossos comportamentos 
direcionados a objetivos e metas. Essas funções são responsáveis pelo controle cognitivo, pela autorregulação e pela 
iniciação do comportamento. É importante destacar que tais funções possuem um desenvolvimento lento e 
progressivo, com maior influência no início dos anos pré-escolares e somente com uma completa formação no início 
da vida adulta. 
Figura 17. Representação ilustrativa do córtex pré-frontal 
 
Fonte: Adaptada de Ferreira (2021). 
O córtex pré-frontal dorsolateral está envolvido no planejamento de ações e comportamentos, sendo responsável 
pela nossa capacidade de flexibilidade cognitiva, ou seja, por conseguirmos analisar e ponderar situações a partir de 
diferentes perspectivas ou, ainda, modificar uma ação ou comportamento frente a mudanças nas demandas do 
ambiente. Ele ainda participa do processo de aquisição de informações, necessário, por exemplo, para que os 
indivíduos mantenham uma sequência de informações a fim de adequar respostas para alcançar determinado 
objetivo. Essa relação revela a importante participação da porção dorsolateral na memória de trabalho. 
A sub-região do córtex pré-frontal orbitofrontal, por sua vez, possui importante função na representação de nossas 
emoções e sentidos e no valor da recompensa para tomada de decisão. É a região responsável por codificar os valores, 
avaliando riscos e benefícios frente à necessidade de uma tomada de decisão. Por possuir conexões com a amígdala, 
a região também é reconhecida por sua participação na inibição de impulsos e regulação das respostas emocionais. 
Está envolvida na aprendizagem de mudanças nas contingências ambientais, auxiliando a adequar os comportamentos 
ao contexto. 
A sub-região medial, que compreende o córtex pré-frontal ventromedial, possui uma distinção ainda não tão bem 
estabelecida com a sub-região orbitofrontal, porém é reconhecida também por desempenhar funções de regulação 
das respostas emocionais e na adequada tomada de decisão. Revela-se como importante para o automonitoramento 
das ações ou respostas e para a correção de erros durante os processos de tomada de decisão, ou seja, para a 
aprendizagem pela experiência e a partir do feedback do contexto. Portanto, essa região mostra-se importante para 
a capacidade decisória, nos comportamentos perseverativos, e, também, para a interação social, através da 
adequação das respostas às normas de conduta social e da capacidade de uso da nossa cognição social, inclusive sendo 
sugerida como envolvida na função de avaliação moral. 
 
12 
 
 
O CURIOSO CASO PHINEAS GAGE 
Phineas Gage era um jovem rapaz que trabalhava na construção de ferrovias no século XIX, em Vermont. Entre suas 
tarefas diáriasconvencionais estava a explosão de rochas a fim de assentar os trilhos da ferrovia. A tarefa, embora 
simples, necessitava destreza e atenção para sua execução, pois o modo de causar tal explosão na época requeria 
socar pólvora dentro de um buraco com uma barra de ferro. 
Em um fatídico dia, em 1948, ao realizar sua tarefa, Gage, por descuido, acabou criando uma faísca ao socar a barra 
de ferro contra a rocha, o que causou uma explosão e arremessou, como um projétil, a barra de ferro em sua direção. 
A barra atravessou de baixo para cima o olho esquerdo de Gage, saindo pela parte superior do seu crânio. O acidente 
levou à destruição de parte do seu lobo frontal esquerdo, ainda que Gage não tenha perdido sua consciência. 
Gage levou vários meses para se recuperar do acidente, ao menos de forma aparente. Ao se recuperar, Gage parecia 
ter se transformado: pessoas próximas a ele tinham dificuldade de o reconhecer como o “mesmo” Gage. 
Gage, que antes era responsável, trabalhador e moderado, agora apresentava-se instável, agressivo, inadequado e de 
difícil convívio social. Sua personalidade mudara, dificultando que Gage se relacionasse e retomasse suas atividades 
laborais. 
 
Ele viveu mais 12 anos e, ao falecer, seu crânio e a barra de ferro foram preservados na Escola de Medicina de Harvard. 
Hanna e Antonio Damásio, em 1994, usaram técnicas modernas para estudar o crânio e reconstituir as regiões que 
haviam sido afetadas pelo acidente. A passagem da barra de ferro causou uma lesão grave e extensa sobre o córtex 
pré-frontal nos dois hemisférios. Essas regiões frontais são hoje reconhecidas pela sua participação em funções 
cognitivas relacionadas ao planejamento, controle dos impulsos e à adequação de comportamento às normais sociais, 
o que, na época, explicava sua significativa e abrupta mudança de personalidade. 
Duas outras regiões, por fim, que são merecedoras de destaque se referem às áreas de Broca e Wernicke. Ambas as 
regiões foram descobertas a partir de casos clínicos de pacientes que haviam perdido suas capacidades de expressão 
ou compreensão da linguagem, sem que isso necessariamente estivesse implicado em perda de capacidades cognitivas 
ou motoras para mover músculos utilizados na fala. 
Estas regiões, portanto, relacionam-se com a expressão da linguagem (área de Broca), ou seja, com a capacidade do 
indivíduo comunicar-se verbalmente; e com a compreensão da linguagem (área de Wernicke), capacidade dos 
indivíduos entenderem a partir de estímulos e da linguagem falada. 
 
Lesões ou disfunções nestas regiões ficaram conhecidas como afasias. Na afasia de Broca, afasia motora, percebe-se 
boa capacidade de compreensão, com uma fala não fluente e prejuízos de gramática e de repetição de palavras. Já na 
afasia de Wernick, afasia sensorial, identifica-se fala fluente porém sem sentido, repetição prejudicada (assim como 
na afasia de Broca) e prejuízo acentuado na capacidade de compreensão. 
 
Devido à característica motora da produção da fala, a afasia de Broca passou a ser denominada de afasia motora. Por 
outro lado, a afasia de Wernick consiste na capacidade de produção da fala, embora, por vezes, sem sentido, sugerindo 
assim déficits na forma como processamos os sons e os relacionamos com seus significados, passando ela a ser 
conhecida como afasia sensorial. 
Figura 18. Representação ilustrativa de um cérebro humano com as áreas das afasias de Broca e Wernicke 
destacadas 
 
Fonte: Bear, Connors e Paradiso (2017). 
 
13 
 
Conceitos básicos em Neurociência: as funções cognitivas 
Na seção anterior, foi apresentado e discutido, de forma geral, um pouco sobre cada uma das regiões do nosso cérebro 
responsáveis por mediar processos cognitivos essenciais para o desenvolvimento das nossas aprendizagens e 
desempenho escolar. Agora, conheceremos de forma detalhada mais sobre essas principais funções cognitivas. O 
estudo da Psicologia Cognitiva, um campo de estudo que integra também as chamadas Neurociências, nos auxilia na 
compreensão dos fenômenos que ocorrem “dentro” do nosso cérebro e da relação que eles possuem com nossos 
comportamentos. Busca estudar, por exemplo, como as pessoas percebem, aprendem, sentem, lembram, criam, 
planejam e tomam decisões. Todas essas habilidades devem-se às nossas capacidades cognitivas de sensação e 
percepção; atenção e memória; resolução de problemas; linguagem; e planejamento e tomada de decisão. São esses 
processos ou funções cognitivas que iremos discutir neste subtópico. 
 
A Memória 
 
Iniciaremos falando sobre os processos de memória e como eles possibilitam a aquisição das nossas aprendizagens. 
Sabemos que as informações que são aprendidas passam por um processo no qual ocorre a codificação, o 
armazenamento e, posteriormente, a recuperação deste conteúdo aprendido. Entende-se que as informações — 
ou input sensoriais — primeiramente são codificadas, ou seja, o estímulo ou informação recebidos são processados e 
transformados em um padrão de atividade neuronal. 
Pensem em uma analogia simples do funcionamento de um computador: 
Figura 19. Infográfico da analogia entre o funcionamento do armazenamento de informações por um computador e 
pela memória humana 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
O psicólogo Donald Hebb, um dos pioneiros nos estudos sobre as bases de nossa memória, propôs inicialmente que 
esta resulta das várias alterações em conexões sinápticas, estando nossas memórias armazenadas em diferentes 
regiões do cérebro conforme a especificidade da informação. Por exemplo: nossas memórias espaciais teriam uma 
relação com hipocampo; nossas declarativas dos conhecimentos semânticos e episódicos adquiridos ao longo da vida 
teriam seu armazenamento em sub-regiões do lobo temporal; nossas aprendizagens de medo e a memória emocional 
teriam uma relação com a amígdala; aquelas memórias e aprendizagens motoras estariam ligadas ao funcionamento 
do cerebelo; e a ativação e manipulação das informações em um determinado momento teria relação com a chamada 
memória de trabalho, por meio da atividade do córtex pré-frontal. Estas regiões estariam conectadas formando uma 
rede neural da memória. 
Assim, quando um neurônio responde a determinado estímulo e ativa outro, ocorrem mudanças na conectividade 
entre os dois, resultando em um fortalecimento desta ligação. Em situações futuras, o disparo deste mesmo neurônio 
aumentará a chance de conduzir a uma resposta do segundo neurônio. Essa seria uma reconhecida ideia de que 
neurônios que disparam juntos se tornam mais conectados. 
14 
 
Outra ideia interessante que nos ajuda a compreender como nossa memória funciona refere-se à forma pela qual as 
memórias são reconsolidadas. Karim Nader e Joseph LeDoux propuseram que ao ativarmos uma informação ou uma 
memória, teremos que novamente consolidá-la para que esta seja novamente armazenada. Ou seja, seguindo a 
analogia anterior do computador, ao abrirmos um determinado documento ou arquivo salvo, precisaremos salvá-lo 
novamente. Durante este processo, a nova versão salva daquele documento ou arquivo será distinta da anteriormente 
recuperada. Portanto, quando recuperamos determinadas informações armazenadas, estas serão afetadas e 
modificadas pelas informações que estão sendo processadas naquele momento. Isso influenciará nas características 
desta nova memória a ser reconsolidada (novamente armazenada), que inclusive poderá diferir daquela memória 
original. 
Neste sentido, pode-se dizer que a memória se divide em três sistemas, Memória Sensorial; Memória de Curto 
Prazo e Memória de Longo Prazo, segundo teoria proposta por Atkinson e Shiffrin. 
Figura 20. Representação dos três tipos de memória 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
Existe um sistema de memória denominado sensorial, o qual processa os estímulos sensoriais que recebemos do 
ambiente. Nem todos estes estímulos serão processados pelos demais sistemas, ou seja, a maior parte destasinformações se perde. Algumas informações, no entanto, para as quais direcionamos nosso foco atencional (aqui 
vemos a importância da atenção que falaremos mais adiante para os processos mnemônicos), serão processadas e 
alcançarão o sistema da memória de curto prazo. 
A memória de curto prazo apresenta como características ser um sistema temporário, limitado em relação à sua 
capacidade e consciente. Ela é acessível a nossa consciência, porém o tempo de duração ou armazenamento é de 
apenas segundos ou minutos. Aqui é onde as informações adquirem pela primeira vez um significado. Comumente, 
usamos de recursos para manter o desempenho deste sistema de curto prazo a fim de que as informações fiquem 
disponíveis pelo maior tempo possível e possam ser adequadamente transferidas e armazenadas na memória de longo 
prazo. 
Os principais recursos utilizados são os ensaios para manutenção, aqueles nos quais ficamos mentalmente ou até 
mesmo verbalmente repetindo as informações para melhorar nossa capacidade de retenção. Podemos usar essa 
estratégia de forma simplificada, apenas repetindo a informação; ou podemos elaborar este ensaio através de 
organizações e associações destas informações, por exemplo usando alguma relação lógica, associações a imagens ou 
até mesmo associações a possíveis funções para aquelas informações. Um exemplo disto seria associar itens a serem 
recordados em uma lista de supermercado a determinadas receitas que necessitam de tais itens para sua produção. 
Outra estratégia interessante é o agrupamento das informações em unidades, como quando ao invés de decorarmos 
um número de telefone ou a forma pela qual se escreve determinada palavra utilizando-nos dos itens ou unidades 
isoladas (número a número ou letra por letra), organizamos estas informações em blocos ou sílabas. 
 
Figura 21. Representações de estratégias de memorização 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
15 
 
O último dos três sistemas refere-se à memória de longo prazo, na qual as informações armazenadas são mantidas 
por períodos prolongados de tempo, algumas delas supostamente pela vida toda. Discute-se, inclusive, se tal sistema 
teria uma capacidade ilimitada de armazenamento (como se fosse um disco rígido infinito) ou se existe uma limitação 
desta capacidade. 
A memória de longo prazo, diferentemente da memória de curto prazo, não é consciente, porém, ao ser ativada 
(recuperada), ela passa a se tornar consciente e pode ser utilizada para atender determinada demanda do ambiente. 
Pode-se dizer que este é o processo que ocorre quando se exige que os alunos apliquem seus conhecimentos (como 
utilizar do conhecimento adquirido em determinada matéria) para responderem um exercício ou resolverem um 
problema matemático ou uma prova. 
Figura 22. Representação de estudantes mobilizando memória de longo prazo para responderem avaliações em sala 
de aula 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
Interessante destacar que pesquisas têm indicado que o armazenamento de longo prazo é potencializado quando o 
material codificado possui um significado. Em outras palavras, a codificação semântica é aquela que apresenta melhor 
recordação posteriormente, sugerindo que quanto mais aprofundada for a codificação dos conteúdos, melhor eles 
serão lembrados. Estas pesquisas normalmente comparam processamento semântico com outras estratégias 
utilizadas, como o processamento visual, no qual a estratégia se baseia na recordação pela aparência ou imagem, e o 
processamento acústico, estratégia baseada na rima. 
A nossa memória de longo prazo pode ser compreendida através de uma divisão que define que os conteúdos 
armazenados no longo prazo podem se referir às memórias explícitas ou declarativas e às memórias implícitas ou não 
declarativas. Esta divisão é bem importante para que possamos entender os correlatos neurais, ou seja, as regiões do 
cérebro envolvidas em cada um dos tipos de aprendizagem. 
Memória Explícita 
Memória Implícita 
A memória explícita refere-se ao tipo de memória que necessita de um esforço consciente, intencional, para sua 
recuperação. A maior parte dos conteúdos armazenados neste tipo de memória podem ser recordados e declarados 
verbalmente. Ela subdivide-se em memórias episódicas e memórias semânticas. As memórias episódicas relacionam-
se aos eventos e situações (episódios) experienciados pela própria pessoa, como é o caso da nossa memória 
autobiográfica. Por outro lado, as memórias semânticas referem-se aos fatos e conhecimentos gerais adquiridos ao 
longo das experiências e da vida. Assim, se tomarmos o exemplo de um aluno que relata sua experiência da manhã no 
colégio para seus pais, estamos diante de uma recordação de base episódica. Porém, se este mesmo aluno começar a 
declarar os conteúdos que foram aprendidos numa aula sobre história do Brasil, temos uma recordação de sua 
memória semântica. 
 
A memória implícita tem como característica não requerer um esforço consciente para sua recuperação. Isso significa 
que muitas das aprendizagens armazenadas deste tipo de memória são adquiridas pela repetição de comportamentos 
ou pela associação de estímulos, sem que ao final precisemos estar conscientes de todos os passos envolvidos no 
processo de aquisição. Nossas habilidades e hábitos motores são bons exemplos deste tipo de memória, assim como 
aquelas aprendizagens que temos a partir do condicionamento de estímulos, como o toque do sinal da escola significar 
o final do período. 
 
 
A recuperação é um ato importante para que possamos trazer as informações armazenadas na memória de longo 
prazo novamente para um estado ativo. Quando lembramos de determinada informação, podemos fazer isso através 
de uma recordação livre, ou seja, espontaneamente nos recordamos de uma informação específica e que deve ser 
recuperada frente a uma demanda. Ao realizarmos uma avaliação, por exemplo, pedimos ao aluno que explique 
determinado conceito aprendido e que exemplifique ou relacione este conceito a partir de determinado contexto. 
Esta é uma situação que requer uma recordação livre das informações sobre aquele determinado conceito que foram 
armazenadas durante o processo de aprendizagem. A recordação pode ser facilitada quando se oferece pistas, ou seja, 
conteúdos e informações que sirvam como gatilhos para a busca da informação a ser recuperada. 
Outra estratégia de recuperação de informações armazenadas na memória de longo prazo é através do 
reconhecimento. O reconhecimento ocorre quando somos apresentados a determinado estímulo (informação) e 
precisamos dizer se aquele estímulo é algo a que já fomos expostos, ou seja, se aquela informação já nos foi 
apresentada anteriormente — no caso, se fez parte dos conteúdos que nos foram ensinados. Pode-se fazer o 
reconhecimento, também, por meio da identificação de um estímulo em uma lista de alternativas, como ocorre muitas 
vezes em avaliações objetivas dos conteúdos aprendidos utilizando-se de questões de múltipla escolha. 
 
16 
 
Até o momento, compreendemos melhor como as informações que chegam através dos diferentes estímulos são 
codificadas, armazenadas e retidas em nosso sistema de memória; porém, uma parte importante do processo que nos 
permite aprender e armazenar novos conteúdos refere-se ao esquecimento. O esquecimento é parte do processo e é 
através dele que somos capazes de renovar nossa capacidade de armazenamento. Informações que deixam de ser 
relevantes ou que não são mais utilizadas tendem a se enfraquecerem enquanto traço de memória e serem 
esquecidas. Esse processo é denominado decomposição. 
O esquecimento pode se dar também por uma falha no processo inicial de entrada da informação, a chamada falha 
de codificação, ou seja, quando não há um adequado direcionamento do foco atencional para o material-alvo e, por 
esta razão, a informação não fica disponível tempo suficiente para ser codificada pela nossa memória de curto prazo. 
Ainda, existem alteraçõesna memória, as chamadas amnésias, que conduzem ao esquecimento e perda de 
informações. As amnésias são classificadas em anterógrada e retrógrada. 
A amnésia anterógrada refere-se à perda de informações e ao esquecimento a partir de um determinado momento, 
como no caso descrito do paciente H. M., em que ele, após a cirurgia realizada, perdera a capacidade de reter 
informações que lhe eram apresentadas. Observa-se aqui a presença de uma condição amnésica anterógrada. 
 
A amnésia retrógrada, por sua vez, refere-se à perda de informações e ao esquecimento de fatos anteriores a 
determinado evento. Se usássemos o mesmo exemplo do paciente H. M., ele, ao invés de não ser capaz de reter novas 
informações a partir da cirurgia, apresentaria uma incapacidade de recordar de eventos e informações anteriores à 
cirurgia, ou seja, de sua história ou de suas aprendizagens até então. 
 
A Memória de Trabalho 
 
O modelo da Memória de Trabalho (MT) foi proposto por Baddeley e Hitch inicialmente na década de 1970, com o 
propósito de substituir o entendimento proposto sobre o funcionamento da memória de curto prazo. No modelo da 
MT, discute-se que este sistema não apenas seria responsável por armazenar temporariamente a informação, como 
também por processá-la de forma ativa, isto é, por manipular os conteúdos durante um período limitado de tempo. A 
ideia da existência de uma MT operacional representa uma mudança de perspectiva quanto à função do sistema de 
memória de curto prazo, passando esta a desempenhar um papel ativo no processamento das informações, 
integrando e manipulando um conjunto limitado de informações, como se fosse uma memória on-line. 
A MT, portanto, refere-se à capacidade de manter as informações em um estado ativo para que possamos 
desempenhar tarefas ao mesmo tempo. Inclui também a capacidade de ativar memórias do sistema de longo prazo a 
fim de integrar experiências anteriores com as demandas atuais. Assim, este sistema de armazenamento retém as 
informações somente durante a execução de determinada atividade. Além disso, o sistema inclui o papel do controle 
atencional como um sistema que desempenha a função de alocar os recursos atencionais para o adequado 
funcionamento da MT. 
No vídeo a seguir, um psicólogo educacional, professor Peter Doolittle, exemplifica de maneira objetiva os conceitos 
relacionados à MT, sugerindo a importância desta função para nossa vida através da compreensão do que ocorre em 
cada momento das experiências. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=UWKvpFZJwcE 
 
Conseguimos compreender, a partir da exposição do professor Peter, como a MT nos possibilita trabalhar com 
conteúdos e informações para alcançar nossos objetivos, incluindo o de aprender. Ele refere como indivíduos com alto 
desempenho de memória de trabalho conseguem obter melhores resultados em diferentes contextos, o que inclui 
habilidades de escrita e raciocínio lógico. O professor fala também de estratégias que podem melhorar o desempenho 
da MT, através da repetição, integração dos novos conhecimentos, estruturação e organização das informações, isto 
é, precisamos processar adequadamente as informações para que consigamos aprender. Esta seria a peça-chave da 
aprendizagem: se utilizar de estratégias que otimizem e possibilitem nosso melhor processamento das informações e 
conteúdos. 
 
17 
 
Em seu modelo atual, a MT divide-se em quatro subcomponentes: Alça Fonológica; Esboço Visuoespacial; Buffer 
Episódico; e Executivo Central. Os dois primeiros subsistemas são responsáveis pelo armazenamento e processamento 
de informações codificadas verbalmente e visualmente, respectivamente. 
 
Alça Fonológica 
A alça fonológica opera como um armazenador ou memória fonológica de curto prazo, 
processando informações verbais (escritas, faladas, números), sejam elas apresentadas por via 
auditiva ou visual. O uso de estratégias de ensaio articulatório subvocal impedem que as 
informações verbais entrem em declínio, mantendo-as ativas nas memórias. 
 
Esboço Visuoespacial 
O esboço visuoespacial opera como um armazenador de manutenção de informações visuais 
e espaciais referente aos objetos e às relações espaciais, sendo importante para a 
manipulação de imagens mentais, para compreensão de sistemas complexos de orientação 
espacial e geográficos e para a leitura. Esta última é possível pela capacidade de retenção das 
palavras lidas na memória, pois apesar de não “gravarmos” na memória todas as palavras que 
lemos, para a compreensão é importante que haja a retenção das últimas palavras lidas em 
uma sentença. 
Uma comparação interessante entre os dois sistemas se refere às suas contribuições. Por 
exemplo, sugere-se que a alça fonológica contribua para aquisição de linguagem, sendo 
plausível supor que, em contraponto, o esboço visuoespacial possui papel na aquisição do 
conhecimento semântico, o qual envolve a aparência, função e operação dos objetos. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=UWKvpFZJwcE
Buffer Episódico 
O buffer episódico é o subcomponente responsável por integrar as informações 
mantidas temporariamente na alça fonológica e no esboço visuoespacial com 
informações provenientes da memória de longo prazo, criando uma espécie de “espaço 
de trabalho” dentro da MT. As memórias de longo prazo, uma vez ativadas, juntam-se 
às informações que estão sendo processadas pela MT em uma representação episódica 
única. É um sistema que permite que a MT opere trabalhando com nossas memórias. 
Além disso, a capacidade do buffer episódico, embora limitada, possibilita o 
gerenciamento de uma grande quantidade de informações, indo além das capacidades 
de armazenamento fonológico e visuoespacial. 
 
Executivo Central 
Por fim, o executivo central é considerado o sistema supervisor da MT, não possuindo 
capacidade de armazenamento de informações, porém sendo sugerido como um 
componente essencial para que a MT opere. Segundo Baddeley, como a atenção é um pré-
requisito para o armazenamento e a manipulação das informações, a MT deveria ser 
dependente da alocação de recursos atencionais, sendo esta a principal função representada 
pelo executivo central. Ainda, sugere-se que o executivo central desempenhe a função de 
controle inibitório, focando os recursos da MT naquilo que é relevante e inibindo informações 
distratoras. Ele é o sistema capaz de executar planos e estratégias, evocar informações da 
memória de longo prazo e coordenar várias atividades cognitivas ao mesmo tempo. 
Em conjunto, os quatro componentes parecem estar implicados nas nossas atividades cognitivas superiores, sendo 
fundamentais para a aquisição das aprendizagens, compreensão da linguagem, leitura, aritmética, resolução de 
problemas e produção da consciência. 
Discute-se atualmente que a MT talvez seja um dos processos cognitivos mais importantes e que nos permite 
responder às várias demandas do ambiente, desempenhando nossas atividades diárias. Sabe-se que a MT possui uma 
relação bastante próxima com as medidas de inteligência, sendo um preditor importante do desempenho escolar e 
acadêmico, assim como, na vida adulta, do desempenho e sucesso profissional. 
 
18 
 
A Atenção 
 
Atenção refere-se a outra função cognitiva importante a ser mais bem compreendida, pois possui relação direta com 
os processos de aprendizagem e memória. Em poucas palavras, a definição de atenção poderia ser resumida a nossa 
capacidade de focar seletivamente em determinados estímulos enquanto somos capazes de evitar outros 
(distratores). Estes estímulos se referem a todas as informações que são capturadas pelos nossos sentidos, nossas 
memórias armazenadas e outros processos cognitivos. Assim, pode ser compreendido também como a capacidade 
que temos de direcionar nossos recursos cognitivos para processar informações que estão sendo recebidas pelo nosso 
cérebro. 
Figura 23. Representação de uma pessoa concentrada 
 
Fonte: Nossa autoria(2023). 
A natureza seletiva da nossa atenção faz com que tenhamos uma capacidade limitada de processamento das 
informações captadas pelos nossos sentidos. Pode-se dizer que a atenção funciona como uma espécie de porta de 
entrada que se abre para aquelas informações mais importantes que chegam ao nosso cérebro enquanto fecha-se 
para informações irrelevantes e que seriam responsáveis por consumir nosso recurso cognitivo sem maior 
necessidade. Considerando isso, sabe-se que existem limites para nossos recursos atencionais. A quantidade de 
informações que precisamos processar é algo que influencia nossa capacidade atencional, representando um destes 
limites. 
A capacidade de foco, ou seja, de reduzir o direcionamento dos nossos recursos atencionais para estímulos, sejam eles 
internos ou externos, aumenta a probabilidade de emitir respostas rápidas, precisas e adequadas frente aos estímulos 
importantes do ambiente. Ainda, os limites do direcionamento dos recursos atencionais fazem com que tenhamos 
uma maior capacidade de recordar e aprender a partir de informações para as quais conseguimos ter sucesso na 
alocação da nossa atenção, ou seja, daquelas informações nas quais estamos prestando atenção. Já se sabe também 
que fatores motivacionais (como interesse específico em determinado conteúdo ou informação), emocionais (como 
ansiedade e humor), além da prática em relação a determinada tarefa que exija nossa atenção são capazes de alterar 
o desempenho da nossa atenção. 
Atenção seletiva 
A atenção pode ser mais bem compreendida através da divisão por suas funções ou tipos de atenção. Uma das mais 
importantes funções se refere à chamada atenção seletiva, que é o direcionamento da atenção para determinado 
estímulo ou informação-alvo. É a capacidade que temos de nos concentrarmos conscientemente em um ou vários 
estímulos, ignorando os demais. Um exemplo disso é quando um aluno em sala de aula é capaz de manter sua atenção 
focada na explicação do educador sem que isso seja prejudicado por distratores ambientais, tais quais os colegas 
conversando ou ruídos externos. 
 
Atenção sustentada 
Alguns autores sugerem que, para além da atenção seletiva, pode-se definir a atenção como um processo sustentado 
(concentrado), denominando-se de atenção sustentada aquela na qual conseguimos manter o foco atencional 
durante um período prolongado. Neste sentido, não somente selecionamos o foco atencional, como somos capazes 
de mantê-lo em um mesmo estímulo. A atenção seletiva ainda é sugerida como uma espécie de filtro, funcionando a 
partir de processos automáticos e rápidos, os chamados processos pré-atencionais, que de forma paralela processam 
características sensoriais físicas da mensagem na qual não se presta atenção, ou seja, da qual não tomamos 
consciência ou significado; e a partir de processos controlados, os chamados processos atentivos. Estes últimos 
requerem um processamento em série e consomem nosso recurso cognitivo atencional a fim de processar em detalhes 
e dar significado aos estímulos. 
 
 
Atenção dividida 
Outra função e tipo de atenção é a chamada atenção dividida, a qual nos permite direcionar nossos recursos 
atencionais para o processamento da informação ou para a realização de duas ou mais tarefas distintas ao mesmo 
tempo. A divisão dos recursos atencionais possibilita, assim, a automatização da execução de tarefas: conseguimos, 
por exemplo, dirigir um carro sem precisar pensar em todas as tarefas necessárias para tal finalidade. Ao dividirmos a 
atenção, no entanto, temos que ter em mente que nosso desempenho sofre algum tipo de prejuízo, ou seja, perdemos 
a capacidade de processar as informações e mantê-las acessíveis à nossa mente. 
 
 
Atenção alternada 
Além das capacidades de selecionar e dividir os recursos atencionais, também somos capazes de alternar tais recursos 
de modo voluntário, usando de recursos de natureza executiva (que discutiremos a seguir), a fim de possibilitar a 
mudança do foco atencional para resolver possíveis conflitos em situações que exijam inibição, flexibilidade e 
alternância. Portanto, a atenção alternada refere-se à nossa capacidade de atender ora um estímulo, ora outro, sendo 
este um processo relacionado a flexibilidade mental. Por fim, pode-se falar das funções de sondagem e vigilância. Estes 
dois processos referem-se à busca ativa de um estímulo em determinado campo visual (ambiente) — sondagem — ou 
à espera para detecção de um estímulo-alvo — vigilância. 
 
 
 
 
19 
 
As Funções Executivas 
 
Nos tópicos anteriores entendemos mais a respeito dos processos que nos permitem direcionar, alternar, manter ou 
dividir o foco atencional e, também, discutimos a respeito do funcionamento da nossa memória e como a memória 
possui relação com a nossa capacidade de aprendizagem. A partir de agora conheceremos mais sobre uma das mais 
debatidas funções cognitivas, as chamadas funções executivas. 
As funções executivas incluem os processos cognitivos mais complexos do nosso cérebro, que são responsáveis pela 
evolução do nosso repertório comportamental e das capacidades humanas. 
Diversos processos são referidos como associados ao funcionamento executivo, mas podemos destacar que os 
principais incluem: 
• a antecipação (previsão); 
• a seleção de objetivos; 
• o planejamento e iniciação das ações; 
• a capacidade de autorregulação e controle dos impulsos e emoções; 
• a flexibilidade mental; 
• a coordenação da atenção e automonitoramento. 
De certo modo, as funções executivas formam um conjunto de ações deliberadas, isto é, controladas pelo próprio 
indivíduo, com objetivo de alterar os resultados futuros. Assim, é através das funções executivas que somos capazes 
de perceber o ambiente, responder de forma adequada e adaptativa e antecipar cenários futuros considerando os 
possíveis desfechos e consequências. 
As funções executivas podem ser vistas como um termo “guarda-chuva” para diferentes processos cognitivos que 
atuam de forma conjunta, como por exemplo: atenção alternada e seletiva, memória de trabalho, flexibilidade 
cognitiva, controle inibitório, julgamento e tomada de decisão, iniciação, organização, autorregulação e resolução de 
problemas. 
No geral, estas funções se desenvolvem nos primeiros anos escolares e estendem-se até a vida adulta, ainda que 
processos como o controle atencional maturem primeiro em comparação às capacidades de flexibilidade cognitiva ou 
de estabelecimento de metas. Aprofundaremos algumas dessas funções que possuem direta relação com o processo 
de aprendizagem e de desenvolvimento da criança ao longo dos anos escolares. 
O controle inibitório envolve a capacidade de resistir ao impulso de alguma ação ou atitude, adequando o 
comportamento ao que é esperado para aquela situação ou ao que é necessário. É a resistência ao agir/reagir por 
impulso. Pensar antes de agir, resistir às tentações ou distrações e evitar tirar conclusões precipitadas frente às 
situações. Envolve também a capacidade de sustentar a atenção no que é importante, apesar das várias distrações 
presentes no ambiente. Entende-se que o controle inibitório é fundamental para termos disciplina frente às demandas 
e desafios do ambiente, persistência mesmo quando a tarefa é tediosa ou complexa e para sermos capazes de 
trabalhar embora a recompensa esteja somente no longo prazo. 
 
 
 
 
 
 
Figura 24. Crianças em sala de aula tentando resistir às distrações ao seu redor 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
Alguns transtornos globais do neurodesenvolvimento, como o caso do Transtorno de Déficit de Atenção e 
Hiperatividade, são condições em que há um prejuízo significativo na capacidade do indivíduo em exercer o controle 
inibitório. 
Em contrapartida, diversos experimentos já foram realizados para avaliar controle inibitório em crianças pequenas, 
aproximadamente de 4 anos de idade, revelando que a capacidade de postergar gratificaçõese recompensas está 
relacionada com o melhor desenvolvimento do controle inibitório e, futuramente, com desempenho acadêmico e de 
enfrentamento de adversidades. Por exemplo, crianças de 4 anos testadas através da famosa tarefa do marshmallow 
que conseguiram esperar e postergar o ganho da recompensa apresentaram melhor desempenho e sucesso 
acadêmico na adolescência, além de melhor desempenho em tarefas de controle inibitório na idade adulta. 
Figura 25. Criança olhando atentamente para um marshmallow 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
O desenvolvimento do autocontrole é importante para que a criança seja capaz de regular não somente suas respostas 
atencionais e comportamentais, como também seus pensamentos e sentimentos, auxiliando no desenvolvimento da 
autorregulação e da chamada regulação emocional. Por exemplo, o autocontrole auxilia uma criança em sala de aula 
a inibir comportamentos inapropriados para o momento, como falar ou gritar enquanto o professor está passando 
uma explicação para a turma; ou mesmo reações emocionais desproporcionais, como se jogar no chão quando está 
frustrada ou não consegue o que quer. 
 
 
 
 
A flexibilidade cognitiva é a segunda função executiva que se mostra fundamental para o desenvolvimento das 
crianças e adolescentes ao longo do período escolar. Refere-se à capacidade de modificar rapidamente e de maneira 
adequada perspectivas atendendo às demandas e prioridades do ambiente. De pensar em formas alternativas de 
resolver problemas usando o raciocínio. Em resumo, refere-se àquilo que é necessário para nos adaptarmos ao 
ambiente, que se encontra em constante mudança. 
Figura 26. Representação ilustrativa da função executiva flexibilidade cognitiva 
 
Fonte: Nossa autoria (2023). 
A última função a ser destacada (flexibilidade cognitiva) envolve o raciocínio e a resolução de problemas. Ambos se 
referem ao processo mental pelo qual informações são utilizadas para se criar conclusões e tomar decisões. A partir 
dessa função, somos capazes também de cumprir etapas para buscar alguma meta ou objetivo, por meio da resolução 
de problemas ou desafios em potencial. 
O TED Talk a seguir apresenta a pesquisadora Sabine Doebel, cientista cognitiva, descrevendo como podemos 
compreender o funcionamento das funções executivas no nosso dia a dia. Ela destaca resultados de experimentos e 
pesquisas que desenvolve com crianças e o curso do seu desenvolvimento, abordando possíveis fatores contextuais 
que afetem o uso dessas funções e de que forma podemos direcionar nossos esforços executivos para atingir nossos 
objetivos e romper com maus hábitos. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=qAC-5hTK-4c 
 
Como mostrado no vídeo, apesar de existirem tarefas interessantes e que podem ser utilizadas em crianças, desde 
cedo, para estimular o desenvolvimento das funções executivas, o simples fato de treinar não conduzirá 
necessariamente a um melhor funcionamento executivo na “vida real”. Na tarefa de mudança dimensional na seleção 
de cartas, exemplificada no vídeo, é exigido que as crianças separem as cartas apresentadas de uma determinada 
maneira (seguindo uma regra específica), como, por exemplo, através da sua forma. Após separarem e organizarem 
as cartas de determinada maneira, cria-se um hábito. Pede-se, então, que as crianças alterem a forma de separação 
das cartas, como, por exemplo, através da sua cor. Tal tarefa se mostra extremamente difícil para crianças de 3 a 4 
anos. Com o avanço da idade e do desenvolvimento, é esperado uma melhora no desempenho da tarefa, e os erros 
por perseveração de comportamento tendem a diminuir. 
Ainda que o treinamento em tarefas deste tipo leve a uma melhora de desempenho, mesmo em idades mais iniciais, 
isto não significa que a aplicabilidade destas habilidades seja transferida para outras demandas do ambiente, como 
habilidades matemáticas, de raciocínio frente a problemas ou mesmo para reconhecer suas próprias emoções e as de 
https://www.youtube.com/watch?v=qAC-5hTK-4c
outros. Isso nos ajuda a compreender que o contexto é extremamente importante para o uso das nossas funções 
executivas. 
 
21 
 
Conceitos básicos em Neurociência: fatores ambientais e estressores e o impacto sobre o neurodesenvolvimento e 
a aprendizagem 
A influência de fatores ambientais e da exposição a experiências adversas e estressoras durante períodos iniciais e 
sensíveis do neurodesenvolvimento, como a infância e a adolescência, vem sendo uma temática vastamente discutida 
pela literatura científica internacional. Existe um consenso de que fatores ambientais são capazes de moldar diversos 
processos do desenvolvimento do nosso cérebro. As consequências negativas, por exemplo, da exposição a situações 
de maus-tratos e violência têm sido observadas em desfechos comportamentais e cognitivos, como por exemplo nos 
processos de aprendizagem e memória. Tais situações também se mostram associadas à manifestação de problemas 
psicológicos de caráter emocional ou comportamental, como em casos em que se observa o aparecimento de 
transtornos mentais já cedo no desenvolvimento do indivíduo. 
 
Para ilustrar a dimensão dos impactos, dados de pesquisas sugerem, por exemplo, que indivíduos expostos a situações 
de maus-tratos na infância possuem duas vezes mais chance de desenvolverem transtornos de humor e ansiedade, 
enquanto para transtornos por uso de substância, estas estimativas podem chegar a até seis vezes mais chances. 
 
Algumas destas manifestações possuem relação com alterações significativas que ocorrem nos processos de 
desenvolvimento do cérebro, como na formação e maturação das estruturas cerebrais e de sua funcionalidade. Mais 
especificamente, essas alterações afetam regiões importantes do cérebro que se mostram extremamente responsivas 
aos efeitos dos diferentes estímulos ambientais. Várias destas regiões foram anteriormente apresentadas, a exemplo 
do córtex pré-frontal, do hipocampo, da amígdala e do hipotálamo. 
Modelos teóricos consolidados propõem, por exemplo, que interações entre fatores ambientais e parentais adversos 
em combinação com nossa predisposição genética, ao longo de períodos iniciais do desenvolvimento, seriam 
responsáveis por conduzir a modificações significativas na forma como nosso organismo responde ao ambiente e aos 
estressores no futuro, além de prejudicar o desenvolvimento de estruturas cerebrais localizadas no córtex pré-frontal 
e no sistema límbico. Essas alterações estariam associadas ao desenvolvimento de um comprometimento cognitivo e 
psicossocial, uma vez que evidências têm indicado prejuízos de desempenho acadêmico e escolar, baixos níveis de 
coeficiente de inteligência e prejuízos em tarefas neuropsicológicas de avaliação de aprendizagem e memória. 
A exposição a demandas e desafios ambientais durante a trajetória do desenvolvimento representa um processo 
inerente a todos os indivíduos. Em contrapartida, definir exatamente o que pode representar um estressor em 
potencial para um indivíduo é algo que se torna um pouco mais complexo. As demandas do ambiente, supostamente 
estressoras, podem variar em suas características, tanto em relação à sua duração quanto à sua intensidade, ou 
mesmo na própria capacidade do indivíduo em lidar com aquela experiência, com base em fatores internos e 
individuais, como seu temperamento e sua personalidade. 
Ao longo da trajetória do desenvolvimento, o enfrentamento de pequenos desafios e situações potencialmente 
estressoras, controláveis, pode ser considerado benéfico, como uma espécie de estímulo para o desenvolvimento do 
cérebro. 
A oportunidade de lidar com certas demandas e a aprendizagem subsequente tornam-se fundamentais para o 
enfrentamento dos futuros desafios da vida. Por outro lado, se estas demandas e desafios forem além das capacidades 
daquele indivíduo, estando este ainda despreparado em seu desenvolvimento para responder e lidar com elas, os 
efeitos podemser negativos e de longo prazo. 
Precisamos compreender, portanto, que a infância e a adolescência representam janelas de vulnerabilidade e de maior 
responsividade aos estímulos e influências dos ambientes, entre eles o ambiente parental, escolar e social. Ao mesmo 
tempo que representam um maior risco para desfechos negativos sobre o desenvolvimento, tais períodos também 
podem ser compreendidos, positivamente, como “janelas de oportunidade”, caso o ambiente em que o indivíduo está 
inserido seja capaz de proporcionar condições e estímulos adequados para o seu desenvolvimento. 
As influências positivas do ambiente são adaptativas e necessárias para o adequado desenvolvimento do cérebro. 
Ambientes seguros, estáveis e capazes de proporcionar o atendimento das necessidades físicas e emocionais da 
criança, por exemplo, mostram-se protetivos e favoráveis. 
 
 
 
Da mesma forma, como discutido, ambientes estressores e imprevisíveis serão prejudiciais, impossibilitando que a 
criança tenha suas necessidades básicas atendidas e, consequentemente, causando danos significativos e, até mesmo, 
irreparáveis para o desenvolvimento daquele cérebro. 
 
Neste sentido, durante o curso do desenvolvimento do nosso sistema nervoso, ele vai se construindo e se estruturando 
por meio da maturação dos sistemas biológicos de resposta ao estresse, para responder às demandas ambientais e a 
estímulos estressores. Por esta razão a exposição a estressores extremos e recorrentes durante períodos iniciais tende 
a ser mais impactante, pois não há uma resposta regulatória adequada já desenvolvida. 
 
 
 
É sob essa perspectiva que a Neurociência sugere que não somente os pais exercem um papel central na mediação 
dos efeitos do ambiente e dos estressores em potencial sobre os filhos, como também a escola, por meio da figura do 
educador, apresenta-se como um importante ator desta relação. 
 
Sabemos que o estresse pode ter efeitos deletérios sobre o neurodesenvolvimento, acarretando prejuízos cognitivos 
duradouros que podem se manifestar somente mais tarde e prejudicar o desempenho acadêmico. Como destacado, 
os processos de aprendizagem de leitura, escrita e matemática, assim como as nossas capacidades de armazenamento 
e retenção de informações na memória, podem ser afetados. Tais processos são extremamente sensíveis aos efeitos 
da liberação de hormônios, como o cortisol, hormônio liberado frente a qualquer situação que represente um 
estressor ou ameaça para os indivíduos em diferentes idades. As mesmas estruturas cerebrais responsáveis por tais 
processos estão envolvidas também na regulação da resposta ao estresse, tendo seu funcionamento alterado por uma 
demanda excedente às capacidades da criança ou adolescente. 
Discutiremos mais sobre essas relações entre fatores ambientais e estressores e a aprendizagem ao longo dos 
próximos módulos, nos quais aprofundaremos os principais fatores estressores em cada etapa da Educação Básica, 
bem como de que forma tais fatores influenciam e devem ser considerados pelos educadores nos processos de ensino-
aprendizagem. Este é o olhar que a Neurociência se preocupa e se propõe a fazer, articulando com o campo da 
Educação e Pedagogia, a fim de explorar e avançar a educação para além das demandas de conhecimento e 
aprendizagem formal. 
 
MATERIAL COMPLEMENTAR 
Links internacionais interessantes: 
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/17/economia/1487331225_284546.html 
 
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