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Autores: Prof. Fernando Gorni Neto Profa. Solimar Garcia Colaboradores: Prof. José Carlos Roncolato da Frota Prof. Mauro Kiehn Administração do Varejo Professores conteudistas: Fernando Gorni Neto / Solimar Garcia Fernando Gorni Neto Graduado e pós-graduado (2004) em Marketing pela Universidade Nove de Julho – Uninove. Pós-graduado (2006) em Agronegócios pela Universidade Federal do Paraná – UFPR e em Formação em Educação a Distância (2015) pela Universidade Paulista – UNIP. Mestrando em Engenharia de Produção pela UNIP. Também atuou como professor da UNIP. Possui mais de trinta anos de experiência em comércio internacional nas áreas de desembaraço aduaneiro de importação e exportação, tráfego marítimo internacional de granéis tramp, tráfego marítimo de navios liners, distribuição de produtos por via rodoviária, ferroviária e marítima de cabotagem e em business intelligence center. Solimar Garcia É pós-doutoranda e doutora em Engenharia da Produção, mestre em Comunicação, tem MBA em Comunicação e Marketing pela ESPM e possui três especializações: Educação, Ensino Superior e Ensino a Distância. Jornalista e publicitária pela Fundação Cásper Líbero há mais de vinte anos, passou por diversos órgãos de imprensa, como o jornal O Estado de S. Paulo e Agência Estado e revistas especializadas. Atuou em várias empresas na área de comunicação e marketing. Atualmente, é docente presencial e a distância na UNIP e na Fundação Getulio Vargas nos cursos de graduação e pós-graduação. É empreendedora da área de comunicação e marketing, dedicando-se a atividades jornalísticas, publicações (informativos, jornais empresariais, revistas segmentadas e outros) e assessoria de imprensa, de marketing, projetos culturais e sociais. Como bolsista da Capes, estudou um ano em Valência, na Espanha, na Universitat Politècnica de València, para conclusão de seu doutorado. Na área acadêmica, a autora possui vasta produção em publicações nacionais e internacionais, além de diversos livros e capítulos de livros. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. U512.64 – 21 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G671a Gorni Neto, Fernando. Administração do Varejo. / Fernando Gorni Neto, Solimar Garcia. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 216 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Administração do varejo. 2. Localização do ponto. 3. Criação de promoções. I. Garcia, Solimar. II. Título. CDU 658.87 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Bruna Baldez Sumário Administração do Varejo APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO ........................................................................................................................... 11 1.1 Formas de distribuição ....................................................................................................................... 12 1.2 Funções dos intermediários na distribuição dos produtos.................................................. 14 1.3 Conceito de varejo ............................................................................................................................... 16 1.4 Varejo e suas relações econômicas ............................................................................................... 18 1.5 Ondas de serviços ................................................................................................................................ 20 1.6 História do varejo ................................................................................................................................. 23 1.7 História do varejo brasileiro ............................................................................................................. 25 1.8 Funções e tipos de varejo .................................................................................................................. 28 1.9 Tipos de operações em varejo ......................................................................................................... 30 1.9.1 Autosserviço .............................................................................................................................................. 31 1.10 Shopping centers ............................................................................................................................... 32 1.10.1 Tipos de lojas em shoppings ............................................................................................................ 36 1.11 Vendas diretas ...................................................................................................................................... 37 2 OUTROS TIPOS DE VAREJO .......................................................................................................................... 40 2.1 Varejo eletrônico ................................................................................................................................... 40 2.2 Franquias .................................................................................................................................................. 44 2.2.1 Estrutura das franquias ........................................................................................................................ 46 2.2.2 Vantagens do franchising .................................................................................................................... 47 2.2.3 Desvantagens do franchising............................................................................................................. 48 Unidade II 3 CADEIA DE ABASTECIMENTO NO VAREJO ............................................................................................. 54 3.1 Objetivos da gestão da cadeia de abastecimento ................................................................... 55 3.1.1 Atividades primárias .............................................................................................................................. 55 3.1.2 Atividades secundárias ........................................................................................................................ 56 3.2 Desafios em supply chain ................................................................................................................. 60 3.3 Processos .................................................................................................................................................. 61 3.4 Tecnologias para o varejo e a gestão de supply chain .......................................................... 64 3.5 Supply chain management no e-commerce .............................................................................67 3.6 Gerenciamento por categorias de produtos ............................................................................ 68 4 ETAPAS DO GERENCIAMENTO POR CATEGORIAS .............................................................................. 73 4.1 Definição, papel e avaliação da categoria .................................................................................. 74 4.2 Estratégias da categoria .................................................................................................................... 77 4.3 Definição de táticas ........................................................................................................................... 77 4.4 Resposta eficiente ao consumidor (ECR) .................................................................................. 78 4.5 Estratégias básicas do ECR ............................................................................................................... 82 4.5.1 Áreas de foco ............................................................................................................................................ 84 4.5.2 Abastecimento eficiente ..................................................................................................................... 85 4.6 Desafios da gestão por categoria de produtos ....................................................................... 86 Unidade III 5 MARKETING DE VAREJO ............................................................................................................................... 92 5.1 Definição de marketing ..................................................................................................................... 92 5.2 Mercado ................................................................................................................................................... 93 5.3 Os 4 Ps de marketing .......................................................................................................................... 95 5.4 Os 6 Ps de marketing .......................................................................................................................... 96 5.5 Os 7 Ps de marketing de serviços .................................................................................................. 96 5.6 Os 8 Ps de marketing de serviços .................................................................................................. 97 5.7 Os 6 Ps do marketing de varejo ...................................................................................................... 98 5.8 O composto de marketing no varejo – produto ...................................................................... 99 5.8.1 Dimensões do produto .......................................................................................................................100 5.9 Diferença entre produto e serviço ...............................................................................................103 5.10 O composto de marketing no varejo – pessoas ..................................................................104 5.11 O composto de marketing no varejo – preço .......................................................................108 5.11.1 Métodos baseados em custos ........................................................................................................ 110 5.11.2 Método baseado na demanda .......................................................................................................114 5.11.3 Método baseado na concorrência ..............................................................................................114 5.12 Preço e valor ......................................................................................................................................115 5.13 Tipos de preços .................................................................................................................................116 5.14 O conceito de elasticidade ...........................................................................................................119 5.15 A diferença entre preços de varejo e atacado ....................................................................119 6 GEOMARKETING E LOCALIZAÇÃO DO PONTO – PRAÇA ................................................................120 6.1 Conhecendo o geomarketing ........................................................................................................120 6.2 Aplicações de geomarketing ..........................................................................................................122 6.3 Segmentação de mercado pelo geomarketing ......................................................................125 6.4 Big data e o geomarketing .............................................................................................................128 6.5 Aplicações de geomarketing na comunicação .......................................................................129 6.6 Composto de marketing no varejo – localização do ponto ..............................................131 6.6.1 Fachada .................................................................................................................................................... 134 Unidade IV 7 MARKETING DE VAREJO E O COMPOSTO PROMOCIONAL ............................................................141 7.1 Composto de marketing no varejo – apresentação .............................................................141 7.2 Layout .....................................................................................................................................................141 7.3 A atmosfera ..........................................................................................................................................143 7.3.1 Climatização .......................................................................................................................................... 145 7.3.2 Aromas ..................................................................................................................................................... 145 7.3.3 Sons ........................................................................................................................................................... 146 7.3.4 Iluminação .............................................................................................................................................. 146 7.3.5 Cores ......................................................................................................................................................... 147 7.4 O composto de marketing no varejo – promoção ................................................................151 7.5 Propaganda ...........................................................................................................................................151 7.6 Vendas pessoais ...................................................................................................................................152 7.7 Relações públicas ...............................................................................................................................153 7.7.1 Prosumer ................................................................................................................................................. 154 7.7.2 Ações institucionais – eventos ...................................................................................................... 154 7.8 Trade marketing ..................................................................................................................................156 7.9 Merchandising .....................................................................................................................................158 7.9.1 Funções do merchandising .............................................................................................................160 7.10 Comunicação no ponto de venda (PDV) ................................................................................162 7.10.1 Exibitécnica .......................................................................................................................................... 162 7.10.2 Disposição dos produtos ................................................................................................................ 162 7.11 As gôndolas e o planograma .......................................................................................................164 7.12 Marketing sensorial e experiências ..........................................................................................167 7.13 Promoção ............................................................................................................................................168 7.13.1 Promoções planejadas ................................................................................................................... 168 7.13.2 Promoções de produtos obsoletos ............................................................................................ 169 7.14 Promoções de vendas ...................................................................................................................170 7.14.1 Tipos de promoções de vendas .....................................................................................................171 7.14.2 Proibições na realização das promoções ................................................................................. 173 7.15 Marketing de relacionamento – programas de fidelização de clientes.....................174 8 INTERNET, ATENDIMENTO E EXPERIÊNCIAS........................................................................................174 8.1 Comunicação na internet e o marketing digital ...................................................................174 8.2 Marcas .....................................................................................................................................................176 8.3 Posicionamento de marca .............................................................................................................177 8.4 Matriz de posicionamento do varejo .........................................................................................178 8.5 Marcas próprias .................................................................................................................................180 8.6 Atendimento ao cliente no varejo ...............................................................................................184 8.6.1 No momento da compra ................................................................................................................. 187 8.6.2 Surpreenda o cliente .......................................................................................................................... 187 8.6.3 Conquiste novos clientes .................................................................................................................. 188 8.7 O valor do cliente para as organizações ...................................................................................189 8.8 O gestor do varejo ..............................................................................................................................191 8.9 A utilização de indicadores de desempenho ...........................................................................193 8.10 Desafios da administração do varejo .......................................................................................195 8.11 Estratégias omnichannel ...............................................................................................................199 8.12 Evolução do varejo ..........................................................................................................................200 8.13 Varejo, cliente e experiência ........................................................................................................202 9 APRESENTAÇÃO Este livro-texto propõe-se a conscientizar o aluno dos problemas que o varejo enfrenta diante da necessidade de atender o consumidor. O objetivo traçado para esta disciplina é o de proporcionar meios ao aluno para que a sua consciência seja despertada em relação à administração do varejo, principalmente no mercado brasileiro. É muito importante que o aluno entenda que o espaço brasileiro, nos últimos cinquenta anos, passou por várias transformações, com significativos efeitos sobre a economia brasileira. Essas mudanças estão atreladas ao projeto de modernização do varejo, em especial à modernização da estrutura de vendas, que se constituiu em impactos socioeconômicos. O livro-texto analisa os aspectos e os tipos de varejo no mercado brasileiro e o e-commerce; a importância do atendimento ao cliente e a comunicação no varejo envolvendo as ferramentas de marketing, geomarketing, localização e apresentação do varejo, sobretudo no que se refere às transformações em períodos mais recentes. Tais transformações ocorrem desde o início dos anos 1980, com a introdução de novas tecnologias e novos produtos. O aluno terá contato com temas como gestão por categoria de produtos, composto promocional no varejo e os 6 Ps do marketing de varejo. Assim, perceberá o quão desafiador é esse segmento, cheio de oportunidades e novidades constantes, como a integração dos canais por meio do varejo omnichannel. Esta disciplina fornece elementos para a criação de conhecimentos e habilidades para a administração do varejo. Ao estudar o conteúdo deste livro-texto, é possível analisar e agir fazendo julgamentos precisos, com olhar crítico para a tomada da melhor decisão. INTRODUÇÃO O destino de grande parte da produção industrial brasileira é o varejo, que busca atender às necessidades de seu público consumidor. Nesse contexto, vamos abordar os setores que movem o Brasil: o varejo e o mercado consumidor brasileiro. Elimine de sua mente a ideia de que temas avançados ligados ao varejo, como custos, logística, tecnologia, gestão e planejamento, são “coisa para grandes empresas, que têm muito dinheiro para gastar com gestão”. Também precisamos de tecnologia de gestão e inovação para pequenas e médias empresas, que são as que mais necessitam desse conhecimento para enfrentar os mercados extremamente competitivos e, não raramente, hostis. Nesses tempos de tecnologia, a experiência do cliente conta demais, e é essa meta que devemos buscar no varejo. As experiências de compra podem ser variadas: posso pesquisar o produto em meu computador ou no smartphone e conhecê-lo na loja física. Ao chegar lá, posso decidir não fazer a compra, por exemplo, por ter encontrado uma oferta melhor em meu celular. Durante um passeio em um shopping, é possível encontrar o produto desejado e comprá-lo imediatamente ou não. Há várias possibilidades. 10 Mesmo que o cliente compre pela internet, ele terá contato com a marca. Entende-se por pontos de contato os meios pelos quais o cliente faz a compra, e a ideia é que o cliente tenha sempre a mesma experiência, por isso muitas organizações adotaram o varejo omnichannel – todos os canais interligados pela tecnologia e com as mesmas informações sobre o cliente. Não se trata de um só canal de vendas, mas um canal único de informações. Assim, se o cliente comprar nas lojas físicas ou pela internet, poderá vivenciar a marca do mesmo modo. Há inúmeras possibilidades de varejo, por isso é preciso ter a mente aberta para as novidades. No ponto de venda acontece o tête-à-tête com o cliente, ali é a arena de disputa das marcas e do cliente pelo melhor produto e pelo melhor preço. Na unidade I deste livro-texto, são apresentados os canais de distribuição, os diversos tipos de varejos, incluindo o e-commerce e as franquias. A unidade II traz as informações sobre a forma de gerenciamento de cadeias de suprimentos, ou fornecedores, e introduzas etapas do gerenciamento por categorias de produtos. Na unidade III vamos conhecer o gerenciamento do marketing em varejo e o geomarketing e seus usos para encontrar o cliente e o melhor ponto comercial. Destacam-se as principais informações que devem ser consideradas quanto ao detalhamento do produto, preço e praça. Por fim, na unidade IV são detalhadas as condições de promoção, que formam os Ps do varejo, e as ferramentas de comunicação utilizadas nos pontos comerciais: apresentação, merchandising, promoção de vendas e relacionamento com o cliente. Também são estudados os principais desafios para a gestão de varejo moderna, na qual a experiência do cliente é mais importante do que qualquer outro agente nessa modalidade de comércio. Bons estudos! 11 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Unidade I 1 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO Antes de começarmos a falar sobre varejo, vamos conhecer primeiro a estrutura dos canais de distribuição. Canal de distribuição é uma estrutura de negócios e de organizações interdependentes que vai desde o ponto da origem do produto até o consumidor. Um canal de distribuição é formado por pessoas e companhias que intervêm na transferência da propriedade de um produto, à medida que ela passa do fabricante ao consumidor final ou ao usuário industrial. O canal de um produto estende-se só à última pessoa ou organização que o compra, sem introduzir mudanças importantes em sua forma. Quando se modifica a forma e nasce outro produto, entra em jogo um novo canal. Existem outras instituições que intervêm no processo de distribuição, como bancos, companhias de seguros, de armazenamento e transportadoras. Todavia, como elas não têm a propriedade dos produtos nem participam ativamente nas atividades de compra ou de venda, não se incluem formalmente nos canais de distribuição. O varejo é dependente dos sistemas de distribuição. Assim, deve-se compreender que em muitos casos é um dos principais gargalos no oferecimento de serviços de qualidade ao cliente – quando há problemas com as entregas, isso interfere diretamente na satisfação do consumidor. Companhias semelhantes às vezes possuem diferentes canais de distribuição. Uma companhia quer um canal de distribuição que não só satisfaça às necessidades dos clientes, mas que também lhes dê uma vantagem competitiva; ela precisa de um método organizado para desenhar canais que satisfaçam aos clientes e superem a concorrência. Nesse contexto, destacam-se quatro decisões: Quadro 1 Especificar a função da distribuição Uma estratégia de canais deve ser desenhada dentro do contexto da visão global de marketing Repassam-se os objetivos de marketing Selecionar o tipo de canal Uma vez especificada a função da distribuição no programa global de marketing, escolhe-se o canal mais adequado para o produto da companhia Deve ser decidido se serão utilizados intermediários no canal e que tipos de intermediários 12 Unidade I Determinar a intensidade da distribuição Define-se o número de intermediários que participarão nos níveis de venda no varejo ou por atacado em um território Selecionar membros específicos do canal Consiste em escolher determinadas companhias para que distribuam o produto, já que costuma haver numerosas empresas para escolher Quando o fabricante seleciona determinadas empresas para que façam parte de um canal de distribuição, deverá avaliar os fatores que se relacionam com o mercado, o produto, sua própria empresa e os intermediários. Os fatores são dois: se o intermediário vende ao mercado o que o fabricante deseja atingir e se a mistura de produtos do intermediário, sua estrutura de preços, a promoção e o serviço ao cliente são compatíveis com as necessidades dos fabricantes. 1.1 Formas de distribuição Existem três formas básicas de distribuição: exclusiva, seletiva e intensiva. A escolha de um canal de distribuição eficiente é uma importante etapa do marketing, pois é por meio dela que a empresa atingirá seu público-alvo. Sistema de distribuição exclusiva O próprio fabricante escolhe seus revendedores, autorizando-os a distribuir de forma exclusiva os produtos e controlando grande parte das atividades desses revendedores. Nesse caso, o fabricante deve vender por meio de um ou de poucos intermediários. Sistema de distribuição seletiva Ocorre quando o fabricante vende por meio de um grupo selecionado de intermediários. É utilizado quando a natureza do negócio precisa de valorização. Com isso, entende-se que os intermediários escolhidos são considerados os melhores para vender os produtos com base em sua localização, reputação, carteira de clientes e outros pontos fortes. Sistema de distribuição intensiva Aplica a lógica de “quanto mais, melhor”. O fabricante vende por meio de tantos intermediários quanto forem possíveis. É utilizado quando é preciso ter grande disponibilidade do produto em um grande número de pontos de venda. Essa popularização é saudável para produtos de alto consumo e pouco valor agregado. Um ótimo exemplo são os produtos de higiene e os alimentícios. Exemplo de aplicação O sistema de distribuição intensiva visa colocar o produto no maior número possível de pontos de venda e é adequado para mercadorias de alto consumo, de compra frequente e preços unitários relativamente baixos. Disponibilizá-las onde os consumidores esperam encontrá-las é fundamental 13 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO para bens de conveniência, pois é muito comum o consumidor trocar de marca caso não encontre a desejada. Os pontos de venda podem ser atingidos por equipes de venda dos próprios fabricantes, por representantes comerciais ou atacadistas distribuidores. Muitas organizações utilizam equipes próprias para atender grandes varejistas, como hipermercados e redes de supermercados. Por exemplo, a Coca-Cola, a PepsiCo, a Unilever e a Souza Cruz utilizam esse sistema de distribuição. Reflita a respeito desse tipo de distribuição na estrutura da empresa. As empresas podem recorrer aos canais já existentes ou a outros novos para dar um melhor serviço aos clientes atuais ou chegar a outros mercados. Ao selecionar seus canais, as empresas tratam de conseguir uma vantagem diferencial. • Distribuição direta: canal formado só pelo produtor e pelo consumidor final. • Distribuição indireta: canal constituído pelo produtor, o consumidor final e ao menos por um nível de intermediários. Nessa opção, o produtor deverá escolher o tipo de intermediário que melhor satisfaça a suas necessidades. Assim, o fluxo entre a indústria e o consumidor está dividido em estruturas de canal de distribuição: • Estrutura de canal nível 0: sem intermediários, venda direta, fabricante e consumidor. Na estrutura de canal de nível 0, as empresas conversam diretamente com o consumidor, excluindo distribuidoras, atacados ou mesmo varejo. Esse nível de canal é utilizado com o canal de distribuição, é do tipo híbrido. Algumas empresas defendem esse nível de canal dizendo que assim elas ficam mais próximas de seu cliente. Contudo, não avaliam o alto custo de manutenção, levando em consideração que o mix de produtos oferecidos tem de ser grande para se manter competitivo e arcar com custos de marketing, armazenagem e venda. • Estrutura de nível 1: um único intermediário, fabricante, varejista e consumidor. Nessa estrutura, o grande distribuidor passa a fazer a parte de distribuição e venda e, nesse caso, pode vender não só como atacado, mas como varejo, pois a fábrica vende o seu produto e a propriedade passa a ser do distribuidor, que vai escolher os seus clientes. Uma tendência crescente são os “atacarejos”, que atendem tanto atacadistas quanto varejistas. • Estrutura de nível 2: dois intermediários, fabricante, atacadista, varejista e consumidor. Nessa estrutura, a indústria repassa o produto aos seus distribuidores, que irão repassá-lo exclusivamente para o varejo, que, por sua vez, atende ao cliente final. Nesse caso, os direitos do produto também são repassados ao distribuidor, mas elepoderá apenas vender para o varejo para fazer a distribuição. Vale salientar que os custeios de promoção de vendas desse produto também passam a ser responsabilidade tanto do distribuidor como do varejista, e este, como detém a propriedade do produto, passa a ter interesse em vendê-lo o mais rápido possível, já que estoque é dinheiro parado. 14 Unidade I • Estrutura de nível 3: três intermediários, fabricante, agente, atacadista, varejista e consumidor. Essa estrutura é o canal mais tradicional de todos, pois envolve distribuidor, representante, varejo e cliente. Assim, as responsabilidades de vendas e distribuição (como também o marketing) são divididas pelos membros do canal, o que faz com que esse custo seja embutido no produto; muitas vezes, chega a corresponder a 25% do produto. Varejista Varejista Atacadista Atacadista Distribuidor Produtor Produtor Varejista Produtor Produtor Consumidor Consumidor Consumidor Consumidor Figura 1 – Níveis de canais Adaptada de: Kotler e Keller (2018). A utilização de canais depende da uma decisão da empresa. Muitas delas utilizam canais múltiplos de distribuição para conseguir uma abrangência ampla do mercado ou não depender totalmente de uma só estrutura, por isso usam canais múltiplos de distribuição. Às vezes, os canais múltiplos também são chamados de distribuição dual; emprega-se em situações em que a empresa vende as mesmas linhas de produtos por meio de canais paralelos que atendam ao mesmo mercado. Observação Canais de distribuição desempenham algumas tarefas para o negócio, como oferta de produtos complementares, assistência técnica, pós-venda e logística. O objetivo é garantir a disponibilidade do produto para os clientes. Os “atacarejos” têm se aproveitado da importância de suas marcas, geralmente ligadas a grandes varejistas, e vendido aos consumidores finais também. 1.2 Funções dos intermediários na distribuição dos produtos Alguns exemplos dos principais intermediários atuantes em um canal de distribuição são: 15 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Quadro 2 – Funções dos intermediários Varejista Realiza a venda de bens e/ou serviços diretamente ao cliente final Por exemplo: supermercado, papelaria, farmácia, bazar, loja de calçados etc. Atacadista Compra e revende mercadorias para varejistas, outros comerciantes, estabelecimentos industriais, institucionais e comerciais Não vende em pequenas quantidades para clientes finais Por exemplo: atacadista farmacêutico, que vende apenas para farmácias Distribuidor Vende, armazena e dá assistência técnica em uma área geográfica de limitada atuação e, na maioria das vezes, busca atender demandas mais regionalizadas Por exemplo: distribuidora de vinhos Agentes (relações de longo prazo) e corretores (relações de curto prazo) Pessoas jurídicas comissionadas contratadas para vender produtos de uma empresa Por exemplo: representantes de venda, corretores imobiliários, corretores de seguros etc. Por que utilizar intermediários? Os fabricantes repassam aos distribuidores os investimentos necessários em infraestrutura para o atendimento do consumidor. Às vezes, podemos suprimir os intermediários nos canais, mas nem sempre se consegue diminuir os custos. Os intermediários levam a cabo as atividades de distribuição com mais eficiência ou com um custo mais baixo que os fabricantes ou consumidores. Raras vezes convém que o fabricante trate diretamente com os consumidores finais. Como as principais funções dos intermediários na distribuição dos produtos, temos: • reunir informações sobre os clientes; • desenvolver programa de comunicação apropriado ao mercado de atuação; • estabelecer acordos de preço e de formas de pagamento condizentes com o fluxo de mercadorias e o mercado; • obter recursos para o financiamento de estoques em diferentes níveis do canal de marketing; • investir e gerenciar estruturas de abastecimento e estoques. A existência de intermediários entre o produtor ou fabricante e o consumidor deve agregar valor para o cliente. A presença de mais ou menos intermediários está relacionada com o tipo de produto ou serviço. Em geral, a razão da existência dos canais de marketing é: 16 Unidade I • Para o fabricante ou produtor: devido à necessidade de padronização das transações, precisamos reduzir o número de contatos, já que, para a grande maioria dos fabricantes ou produtores, seria inviável atender diretamente a todos, dependendo do produto. • Para o consumidor: a facilidade da busca, pois, em um só lugar, ele poderá encontrar vários produtos desejados, já que os fabricantes produzem em grande quantidade, e os consumidores compram em pequenas quantidades. 1.3 Conceito de varejo Afinal, do que se trata o varejo? Em meados da década de 1950, dizia-se que varejo consistia no processo de compra de produtos em quantidade relativamente grande dos produtores atacadistas (distribuidores) e outros fornecedores para revenda em quantidades menores ao consumidor final. O varejo engloba todas as atividades envolvidas na venda de bens ou serviços diretamente aos consumidores finais para uso pessoal. Assim, qualquer organização que utiliza esse sistema de venda, seja ela fabricante, atacadista ou varejista, está praticando varejo. Primeiro, podemos conceituar varejo como o comércio que vende pequenas quantidades para o consumidor final e com o preço final mais acessível aos consumidores. Para Kotler e Keller (2018, p. 482): O varejo inclui todas as atividades relativas à venda de bens e serviços diretamente ao consumidor final, para uso pessoal e não comercial. Um varejista ou loja de varejo é qualquer empreendimento comercial cujo volume de vendas provenha principalmente do varejo. Qualquer organização que venda para consumidores finais – seja ela um fabricante, atacadista ou varejista – está envolvida em varejo. Não importa como os bens ou serviços são vendidos (pessoalmente, pelo correio, pelo telefone, por máquinas de venda automática ou pela internet) ou onde eles são vendidos (em uma loja, na rua ou na casa do consumidor). Já Las Casas (2013, p. 17) afirma que: “Independentemente da forma com que as definições varejistas são apresentadas, a essência é que se trata de comercialização, a venda no varejo apresenta certas características diferentes da venda de serviços”. Independentemente da forma pela qual as definições varejistas sejam apresentadas, um aspecto importante a salientar é que se trata de comercialização a consumidores finais. Um comércio varejista que vende por meio de lojas é chamado de varejo lojista, e aquele em que se vende diretamente é o não lojista. Muitas empresas atuam em venda de atacado e varejo. Consideram-se estabelecimentos varejistas aquelas empresas em que mais de 50% de suas operações sejam decorrentes de vendas a varejo. Para venda a consumidores finais, há várias funções desempenhadas: um varejista compra mercadorias, vende, financia, além de executar várias outras funções próprias de um intermediário. 17 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Las Casas (2013) ainda defende a afirmação de que uma das vantagens que o varejo proporciona é uma redução do número de contatos. Isso representa redução dos custos dos fabricantes ou atacadistas, que teriam de assumir os custos desse tipo de distribuição caso não houvesse esses intermediários. Jerome McCarthy (1978), autor norte-americano criador dos quatro Ps (produto, preço, praça e promoção) que compõem o chamado composto de marketing, enfatiza que o varejo trata das vendas de produtos de consumo final a famílias, e não de mercadorias industriais ou de mercadorias vendidas por atacadistas a pequenos comerciantes. Segundo Levy e Weitz (2000, p. 26), “varejista é um negociante que vende produtos e serviços de uso pessoal ou familiar aos consumidores”. Um dos mais respeitados estudiosos do Brasil sobre o assunto, o professor Juracy Parente (2000, p. 22), define que “varejo consiste em todas as atividades que englobam o processode venda de produtos e serviços para atender a uma necessidade pessoal do consumidor final”. Fortalecendo essa ideia, o varejo está localizado estrategicamente entre os fornecedores e os consumidores, o que lhe confere um papel vital como intermediador na cadeia de suprimentos, sendo responsável por todas as atividades que englobem o processo de venda de produtos e serviços para atender a uma necessidade pessoal do consumidor final: facilitar o acesso dos consumidores aos produtos e serviços que desejam adquirir, fornecendo condições de armazená-los e entregá-los; dividir os lotes, permitindo que os fabricantes vendam grandes quantidades e que os consumidores tenham acesso aos produtos em lotes menores, o que atende melhor às necessidades de ambas as partes; garantir o fornecimento de uma variedade de serviços e produtos, inclusive de marcas concorrentes, para facilitar a comparação e a escolha por parte dos consumidores; e, por fim, esclarecer as dúvidas dos consumidores com relação a um determinado produto ou serviço. Lembrete O varejo consiste em todas as atividades que englobam o processo de venda de produtos e serviços para atender a uma necessidade pessoal do consumidor final. Figura 2 Disponível em: https://bit.ly/3iAOhGm. Acesso em: 21 jul. 2021. 18 Unidade I 1.4 Varejo e suas relações econômicas O varejo é o tipo de empresa ou negócio que tem como uma das principais características estar relacionado diretamente ao cotidiano das pessoas, das comunidades, das regiões, enfim, da sociedade brasileira. Em todas as localidades do país existe algum estabelecimento de comércio que vende bens e serviços ao consumidor final e que, normalmente, tem uma ligação íntima com uma região e com a própria cultura local. O varejo também tem uma íntima relação com a política econômica do governo, sendo responsável por uma carga tributária na ordem de 35,42%. O setor é extremamente sensível às oscilações do mercado. Normalmente, as vendas respondem de maneira muito rápida às alterações na conjuntura macroeconômica e no poder aquisitivo dos consumidores. Na atual conjuntura econômica e social, tem se reforçado a necessidade de as empresas incorporarem características que lhes permitam maior grau de flexibilidade e adaptação ao ambiente onde atuam. De modo geral, essa afirmação tem sido observada, basicamente, pela ocorrência de alguns fatores: alto grau de competição entre as empresas; uso intensivo de tecnologia de informação, possibilitando, inclusive, o surgimento de novos produtos, impossíveis sem o uso da informática e abertura do mercado para novos participantes e produtos. Além desses fatores, a globalização da economia, o processo de privatização e a própria estabilização da moeda deram origem a um novo perfil de empresas, que buscam adequar-se à nova realidade econômica. Do ponto de vista da gestão empresarial, nesse ambiente de turbulências e de grande competição entre as empresas, são fundamentais: o planejamento cuidadoso de suas ações; a implementação adequada de seus planos e a avaliação sistemática do desempenho realizado em relação aos planos traçados. Esses aspectos evidenciam a necessidade de as empresas terem um processo de gestão estruturado na forma do ciclo planejamento, execução e controle. Na fase do planejamento, para a implementação das transformações necessárias, a empresa necessita antecipar cenários, identificando oportunidades e ameaças e confeccionando estratégias e políticas de atuação, ou seja, ela precisa de um planejamento estratégico. Desde os anos 1940, o PIB de serviços e comércio se sobressai no Brasil em relação à indústria e ao agronegócio. No comércio de produtos existem empresas de diversos tipos de atividade econômica. Conheça algumas delas: • serviços; • comércio; • indústria; • agronegócio; 19 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO • financeiro; • serviços públicos. No comércio de produtos, temos ainda as seguintes quantidades de empresas ativas por atividade econômica: Tabela 1 – Número de empresas ativas por atividade econômica do varejo Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios 1.041.916 Comércio varejista de mercado em geral, com predominância de produtos 491.801 Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares 447.199 Restaurantes e similares 688.578 Comércio varejista de outros produtos não especificados anteriormente 225.051 Adaptada de: IBGE (2019). Uma das facilitações do varejo, tanto na hora da compra como na hora do pagamento, é que os consumidores têm a facilidade de escolher o seu produto em pequenas quantidades e têm à disposição a variedade de produtos e profissionais capacitados para atendê-los da melhor maneira. Como há muitas promoções, quando o consumidor final efetuar o pagamento das compras realizadas no varejista mais próximo de sua região, terá à disposição muitas formas de pagamento. Observação O autosserviço no Brasil encontra resistência de muitos clientes, que, acostumados a escolher pessoalmente frutas, verduras e legumes, pegando uma a uma, não se sentem confortáveis comprando produtos previamente embalados. Nesse contexto, também são incluídas as compras pela internet. Apesar de alguns consumidores ainda serem um pouco resistentes a essa nova modalidade, a maioria tem feito suas compras por meio de sites de vendas e os preços, na maioria das vezes, têm se tornado um grande atrativo. A visibilidade e a importância do varejo na economia são indiscutíveis, por isso é necessário ter um olhar direcionado para esse setor varejista, de forma que ele possa suprir novas demandas dos consumidores. No entanto, o varejo tem encontrado problemas, principalmente as micro e pequenas empresas. De acordo com o relatório de 2016 da Serasa Experian Falências, recuperações judiciais e concordatas, foram 994 falências requeridas em 2016 para as micro e pequenas empresas, sendo 492 decretadas; 426 falências requeridas para as médias empresas, sendo 161 decretadas, o que demonstra certa fragilidade das pequenas e médias empresas (PEDIDOS..., 2017). 20 Unidade I 1.5 Ondas de serviços Segundo Gouvêa (2012): Há cinco anos havíamos identificado cinco ondas de serviços oferecidos pelo varejo global, sendo que as quatro últimas sinalizavam a busca de alternativas para melhoria direta de receitas e resultados e se destacava o crescimento do interesse pela expansão dessas alternativas. A primeira das cinco ondas foi aquela dos serviços oferecidos nas lojas, usualmente terceirizados, que visavam tornar mais fácil a vida dos clientes como câmbio, embalagens para presentes, assistência técnica para alguns produtos etc. Na segunda onda o varejo avança disponibilizando serviços com sua marca, integrados com os produtos comercializados e visando o aumento das receitas de vendas, a melhoria da rentabilidade e a busca da diferenciação, com cobrança direta ou indireta. Estão nesse grupo as instalações de produtos, os projetos de decoração ou móveis modulados e a assistência técnica especializada para produtos eletrônicos, como feito pela Best Buy através de sua operação Geek Squad nos Estados Unidos ou Fnac, na França. A terceira onda é característica dos serviços financeiros oferecidos pelo varejo e inclui todas as alternativas, que vão dos seguros e extensão de garantia e podem chegar até a operação de serviços bancários com a marca do varejo, como feito por Falabella, no Chile; Carrefour, Walmart e Tesco em diversos países do mundo onde atuam; o Banco Azteca da Elektra, no México; Marisa, Riachuelo, Renner, Magazine Luiza ou Pão de Açúcar, no Brasil; ou nas diversas redes de lojas da Loblaws, no Canadá, usando a marca própria de seus produtos, President’s Choice, para integrar seu posicionamento nas duas frentes. Inclui-se nessa onda o forte crescimento da oferta e uso dos gift cards com a marca do varejo, comercializados inclusive fora dos pontos de vendas próprios. Interessante notar que nos mercados emergentes se destaca essa práticapela inovação na incorporação de serviços financeiros no varejo e pela necessidade de financiar e desenvolver novas oportunidades para consumidores com menor poder aquisitivo e um sistema bancário menos desenvolvido. Na quarta onda o varejo avança para serviços pagos que estão fora de seu ambiente original de atuação, aproveitando as informações disponíveis sobre o perfil de consumo de seus clientes, em especial através do cartão de crédito próprio, para atender demandas e oportunidades identificadas, além de ampliar as oportunidades de relacionamento mais direto, aumentando o share of pocket da marca nos dispêndios dos clientes. Bons exemplos são as operações de agências de viagem feitas pelo El Corte Inglés, na Espanha; 21 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Tchibo, na Alemanha; Tesco, na Inglaterra; Auchan, Leader Price ou Carrefour, na França; REI ou Costco, nos Estados Unidos. A quinta onda é aquela em que os serviços pagos que foram incubados dentro dos pontos de venda das redes, por sua crescente importância nos negócios dos conglomerados varejistas, ganham vida própria e passam a ser oferecidos em pontos próprios exclusivos. São exemplos desse movimento as agências bancárias ou de financiamento de redes como Falabella ou Almacenes Paris, no Chile, as agências de viagem do El Corte Inglês ou da Tchibo e as unidades de serviços financeiros como as da rede Ibi que a C&A operou durante algum tempo no Brasil, sendo posteriormente transferidas para o Bradesco. Mas nos últimos anos, dois novos movimentos começaram a se tornar mais claros, permitindo antever a caracterização de duas novas ondas que ser tornarão ainda mais relevantes. A sexta onda, que já se firmou e só tenderá a crescer de importância, é a dos serviços digitais oferecidos por varejistas, como o download de livros, jogos, músicas e filmes, feitos nos sites das empresas varejistas, pure players ou multicanais, que podem substituir ou complementar a venda dos produtos físicos nas lojas ou na própria internet. Os exemplos são inúmeros e incluem tudo que a Amazon tem feito de forma precursora, seguido por Tesco e muitos outros [...] no Brasil, [esse movimento] tem sido acompanhado [pela] Livraria Cultura, Saraiva ou [pelas] diversas marcas da B2W [Americanas. com, Submarino, Shoptime, Submarino Finance e SouBarato]. A venda digital de serviços pelos varejistas é um dos campos mais férteis e de expansão do e-commerce e parte de um processo natural na curva de aprendizagem dos consumidores, agindo como elemento promotor e como reforço positivo do comportamento a partir de experiências bem-sucedidas. A sétima onda é aquela marcada pelo avanço da indústria fornecedora de produtos para a atuação no varejo com integração de serviços para atender demandas emergentes, criar novas oportunidades de negócios, gerar maior visibilidade para as marcas e desenvolver um relacionamento direto com o consumidor final. São exemplos desse movimento as operações da Nestlé com seus quiosques de café e sorvetes, das sorveterias da Haagen Darz ou Parmalat, as unidades da Danone, na Espanha, ou mesmo as unidades da Nativa Spa de O Boticário, no Brasil, onde são aplicados e comercializados produtos com venda integrada de serviços. Um reforço muito positivo desse comportamento vem do avanço da Procter & Gamble com a implantação nos Estados Unidos de redes de lava-rápido 22 Unidade I e de lavanderias [...] ou mesmo com a aquisição da operação The Art of Shaving, depois de também ter comprado a Gillete. Interessante observar que a expansão desses conceitos de serviços integrados com venda de produtos pelos fabricantes e detentores das marcas tem sido feita, de forma habitual, através do modelo de negócios de franquias, buscando crescer rapidamente, incorporar experiências, reduzir o capital investido e diluir os riscos envolvidos. Essas duas novas ondas identificadas apenas confirmam a crescente importância dos serviços pagos no varejo como resposta ao amadurecimento e desenvolvimento dos mercados e sinalizam oportunidades ainda maiores para o crescimento da importância estratégica do varejo, o que agora é mais bem percebido e incorporado pela indústria, em especial por sua ação na sétima onda (GOUVÊA, 2012). Observação Cada vez que realizamos uma tarefa que já tínhamos realizado, a tendência é que a façamos com mais facilidade. Esse processo é chamado de curva de aprendizagem. Interessante observar que a expansão desses conceitos de serviços integrados com venda de produtos pelos fabricantes e detentores das marcas tem sido feita por meio de franquias, buscando crescer rapidamente, incorporar experiências, reduzir o capital investido e diluir os riscos envolvidos entre franqueador e franqueado. Por isso, os principais players do setor investem em parcerias com bancos e seguradoras para fornecerem aos clientes, além dos seus produtos físicos, um leque de serviços, como seguro, pacotes de viagem, garantias de crédito e sistemas de pontuação promocionais. Exemplo de que essa tendência vem crescendo no setor é o Magazine Luiza, da empresária Luiza Trajano, em parceria com o BNP Paribas Cardif, que entrou no mercado de seguro automotivo e já oferece ao consumidor muitos outros serviços financeiros, como crédito e financiamento. A empresa já oferecia aos seus clientes seguro prestamista, de garantias, de vida, hospitalar, residencial e odontológico. É uma forma de manter o cliente dentro da loja oferecendo-lhe todo o tipo de serviços possíveis. Do outro lado, as empresas de serviços (bancos, seguradoras, por exemplo) também ganham com as parcerias com varejistas, já que se aproveitam da alta circulação de clientes nas lojas para lhes oferecer seus produtos. As novas formas de produção do século XIX impulsionaram os sistemas de comunicação e transporte ferroviário com utilização da locomotiva a vapor na sociedade, favorecendo a circulação de pessoas e mercadorias e, consequentemente, ampliando o comércio varejista, iniciando uma mudança das necessidades de consumo da população à medida que novas mercadorias foram sendo produzidas. Nesse novo cenário, começaram a surgir novos formatos de comércio. 23 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Observação O varejo familiar e as lojas de bairro foram a primeira onda do varejo; vendas por catálogo, a segunda onda; megalojas e as lojas de departamentos, com uma infinidade de produtos e preços baixos, a terceira; lojas virtuais, que mudaram nossa maneira de comprar, a quarta. Figura 3 – Dinamismo do varejo: das lojas físicas ao e-commerce Disponível em: https://bit.ly/3xWq43W. Acesso em: 21 jul. 2021. 1.6 História do varejo Precisar o período em que as atividades comerciais foram inventadas é uma tarefa impossível de ser cumprida. Talvez possamos dizer que as primeiras formas de civilização surgiram em torno de 5000 anos a.C. Ao longo desse processo, o comércio também foi evoluindo. Os primeiros registros da atividade do varejo no mundo são da Antiguidade, na época em que Atenas era uma das principais cidades-estado da Grécia, durante o grande período da civilização grega. Em Roma, cuja história abrange mais de dois mil e quinhentos anos desde a sua fundação lendária, em 753 a.C., existiram grandes áreas comerciais. O varejo é uma das atividades pioneiras que a humanidade conhece. Depois que o homem deixou de ser nômade, fixou-se em um determinado local para explorar a agricultura e a criação de animais. Sabe-se que a prática de escambo surgiu na Pré-História, durante o período neolítico 24 Unidade I (há cerca de 10 mil anos). Foi o surgimento da agricultura e da criação de gado que favoreceu a troca de trabalho por produtos nesse período. Depois, com a Revolução Comercial, que representa um grande período de transformações ocorridas na Europa entre o século XVI e XVIII e que envolvia as primeiras trocas monetárias, a moeda entrou em cena e assumiu a posição de elemento fundamental da economia. Encerram-se as relaçõesde subsistência e iniciam-se as relações de produção e troca, que passaram a acontecer nos mercados das cidades, até chegar às formas de comercialização de hoje, com a utilização de dinheiro, talões de cheques, cartões de créditos, transações eletrônicas, entre outras. Durante a Idade Média, conhecida também como Idade das Trevas, a cultura era controlada pela Igreja Católica. Praticamente não ocorreu desenvolvimento técnico e científico, pois a Igreja impedia esses avanços ao colocar a fé como único caminho a seguir, por isso há poucas evidências de que os formatos de varejo tenham evoluído. Contudo, grandes mercadores promoviam a importação e exportação de mercadorias de todas as partes do mundo. Europeus, árabes e asiáticos comercializavam seus produtos uns com os outros e isso abastecia os comércios locais com produtos importados. No final da Idade Média, houve o período das grandes descobertas marítimas e, consequentemente, a expansão do comércio para os países orientais, como a Índia, a China, o Japão etc. Com a invenção do navio a vapor, as trocas tornaram-se mais rápidas, mesmo entre comerciantes distantes. Havia rotas globais para determinadas mercadorias e ao longo delas foram surgindo grandes mercados que impulsionavam o crescimento das cidades onde se localizavam. Até hoje é possível identificar o crescimento de cidades devido a sua localização estratégica nas rotas de mercadorias. Uma das mais conhecidas da história são as rotas da seda, uma série de rotas interconectadas através do sul da Ásia usadas no comércio da seda entre o Oriente e a Europa. Os meios de transporte que rodeavam tais rotas eram as caravanas e embarcações oceânicas, as quais faziam a ligação entre o Oriente e a Europa. No início, a rota ligava a cidade de Chang’na, na China, até Antióquia, na Ásia Menor. Depois, sua influência aumentou, chegando até a Coreia e o Japão, formando a maior rede comercial do mundo antigo. Tais atividades não foram importantes somente para o crescimento e o desenvolvimento de regiões e de grandes civilizações como o Egito Antigo, a Mesopotâmia, a China, a Pérsia, a Índia e Roma; elas foram importantes também para fundamentar o início do mundo moderno. Na Europa, houve um crescimento das atividades de comércio que contribuiu na transferência de poder das classes aristocráticas para as burguesas. O crescimento dessa classe reconfigurou principalmente o cenário da Europa medieval. Observação O movimento das Cruzadas trouxe o crescimento das rotas comerciais entre o Oriente e o Ocidente pelo mar Mediterrâneo. A atividade comercial, por sua vez, favoreceu o desenvolvimento das cidades. 25 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Um grande marco dessas mudanças foi a Revolução Burguesa, marcada por movimentos sociopolíticos ocorridos entre 1640 e 1850 nos quais a sociedade aristocrática, caracterizada pela monarquia absoluta, foi transformada em uma sociedade capitalista dominada pela produção mercantil liberal. Tais movimentos foram protagonizados pela classe burguesa, ligada ao comércio e às finanças, e esses eventos foram vitais para que várias sociedades europeias superassem o sistema absolutista. Nesse contexto, ocorreram importantes transformações políticas, sociais e econômicas. Outro grande marco para o comércio varejista foi a Revolução Industrial (século XIX), que foi a transição para os novos processos de manufatura no período entre 1760 a 1840. Essa transição de métodos de produção artesanais para a produção por máquinas foi caracterizada pela fabricação de novos produtos químicos, processos de produção de ferro, uso crescente da energia a vapor e desenvolvimento das máquinas-ferramentas, além da substituição da madeira pelo carvão. Figura 4 – As trocas, que culminaram com a possibilidade de comprar e vender produtos, talvez sejam uma das primeiras atividades humanas Disponível em: https://bit.ly/3eFyoxn. Acesso em: 21 jul. 2021. Lembrete O varejo é uma das atividades pioneiras que a humanidade conhece. Depois que o homem deixou de ser nômade, fixou-se em um determinado local para explorar a agricultura e a criação de animais. 1.7 História do varejo brasileiro O varejo brasileiro tem suas raízes nas primeiras comercializações feitas ainda no Brasil colônia, época em que a relação de dependência com Portugal era muito grande. Existiam as chamadas Companhias de Comércio, que foram criadas para atingir certa economia de escala. Em 1649, a coroa portuguesa criou a Companhia Geral do Comércio do Brasil, que durou até 1720 e passou a monopolizar a venda 26 Unidade I de vinhos, azeites, farinhas e bacalhau. Era também responsável por organizar e escoltar as frotas comerciais que partiam do Rio de Janeiro e Salvador com produtos brasileiros destinados a Portugal. O ano de 1808 marcou uma mudança profunda nos rumos da Colônia e do comércio. Até então, o comércio dentro da Colônia era bastante limitado e a produção existente era basicamente de subsistência, à exceção das culturas de exportação. A vinda da família real portuguesa para o Brasil – fugindo de Napoleão Bonaparte na Europa – e a abertura dos portos causaram uma intensa movimentação de navios e mercadorias em cidades portuárias como Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, Recife e Belém. Alguns comerciantes europeus vieram instalar-se no Brasil, o que promoveu a criação de muitas lojas nas ruas próximas aos portos. Só para o Rio de Janeiro vieram cerca de 15 mil pessoas, alterando significativamente o perfil do comércio local. Essa nova realidade aumentou a procura por moradias, serviços e bens diversos, atraindo para o Rio de Janeiro mercadorias e pessoas de outras regiões, o que intensificou o comércio e o surgimento do primeiro jornal brasileiro: a Gazeta do Rio de Janeiro. Após a Independência, por volta de 1850, com a proibição do tráfico de escravos, muitos capitais foram redirecionados para a importação de produtos semiduráveis, duráveis e supérfluos da Europa e dos EUA. Nesse período, ainda de reduzida e remota influência norte-americana, a maior referência vinha da França, que influenciava as ideias, a cultura e a música. Nessa época também ocorreu um grande aumento nas importações de pianos e de papel de parede, que se tornaram uma verdadeira “coqueluche”, sendo vendidos em lojas especializadas na cidade do Rio de Janeiro. Por volta de 1870, o café já havia se tornado o principal produto de exportação do país, e a expansão das plantações, pela então Província de São Paulo, foi o motor de inúmeras transformações da sociedade brasileira. Observação Com a expansão do café, as atividades comerciais se tornaram mais dinâmicas, os transportes se tornaram mais modernos e houve a erradicação do trabalho escravo, substituído pelo trabalho assalariado. O processo de industrialização foi acompanhado pela crescente urbanização, com o grande crescimento das cidades, principalmente São Paulo. Em virtude do expressivo aumento demográfico e da carência de alimentos, que ainda eram, em sua grande maioria, importados, foram instaladas as primeiras feiras livres, estruturas de distribuição que permitiam o acesso mais barato aos gêneros de primeira necessidade, reduzindo o número de intermediários. Além das feiras livres, os paulistanos se abasteciam nos mercados, que vendiam a produção dos arredores e o excedente produzido em outras cidades da região. Existiam também nos bairros os armazéns 27 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO de secos e molhados e os vendedores ambulantes. Eram compostos predominantemente de italianos, que ofereciam frutas, hortaliças e peixes frescos de porta em porta. É dessa década o surgimento do Mappin, a primeira grande loja de departamentos de São Paulo, e o processo de expansão da Casas Pernambucanas, então especializada na venda de tecidos. Esta, fundada em 1908, contava no final da década de 1920 com mais de duzentas lojas espalhadas pelo Brasil. No final da Segunda Guerra, o varejo de alimentos brasileiro ainda era compostobasicamente de armazéns, empórios e mercearias. Havia as cadernetas, tradicional modo de crédito desenvolvido pelo comércio, além dos açougues e vendedores ambulantes de verduras, batatas, peixes etc. Em outros segmentos, o varejo se modernizava. Na virada da década de 1940, surgiu em São Paulo a Sears, loja de departamentos que dispunha de lanchonete e estacionamento, pioneira na utilização do self-selection (traduzido literalmente como autosseleção), modalidade de autosserviço em que o cliente escolhe a mercadoria e a venda é finalizada por vendedores especializados em cada departamento. Em meados da década de 1940, surgiram as lojas especializadas em roupas, que começaram a se utilizar de vitrines para exposição de produtos, propagandas em rádios e jornais e lançamento de promoções aproveitando datas como Natal, Carnaval e festas juninas, estabelecendo, em 1948, o Dia das Mães. São dessa época lojas como Exposição, O Camiseiro, Esplanada, Casa Tavares e Segadaes, no Rio de Janeiro, e Mappin, Garbo, Casa José Silva, Everest, Colombo e Ducal, em São Paulo. Esse período marcou o nascimento do crediário, que passou a ser amplamente utilizado por tais lojas. Nos EUA e na Europa do século XIX e início do século XX, fervilhavam novas formas de comércio. Na década de 1920, na América do Norte, surgiu o primeiro shopping center: para alguns, o primeiro foi o Country Club Plaza, em Kansas City, fundado em 1922; para outros, o verdadeiro pioneiro é o Market Square, em Chicago, que abriu as portas seis anos antes. Fatores como segurança, controle climático, crescimento urbano, conforto e praticidade favoreceram o crescimento desse formato de varejo. O varejo de rua também cresceu muito após a Revolução Industrial. Os formatos de varejo evoluem paralelamente às transformações de nossas sociedades. Apesar do crescimento do comércio varejista, o poder de barganha ficou até o início do século XX nas mãos de fabricantes e atacadistas. Com a formação das grandes redes varejistas, o poder de barganha dos varejistas aumentou. O crescimento do varejo no Brasil pode ser dividido em quatro fases, conforme quadro a seguir. 28 Unidade I Quadro 3 Fase 1: até os anos 1950 – concentrado na faixa litorânea das grandes cidades Faltam bens industrializados O comércio era basicamente constituído de feiras e mercados de vizinhança As classes dominantes eram agrícolas e comerciais Fase 2: anos 1970 (localização) – consumo de produtos massificados Surgem os primeiros shopping centers Em 1974, o primeiro hipermercado é inaugurado no Brasil: o Carrefour O setor do varejo cresce e a expansão ocorre de forma regional e orgânica As áreas e ferramentas de tecnologia da informação (TI) começam a atuar na gestão de retaguarda Mappin, Mesbla, Americanas, Arapuã e Pernambucanas começam a dominar o mercado Fase 3: anos 1980 (produto) – consumo de marcas em alta No cenário econômico, a hiperinflação e a recessão estão presentes, porém ocorrem ganhos financeiros A pressão da indústria ocasiona conflitos com o varejo Os modelos em crescimento são os hipermercados, inaugurando as lojas de fábrica A expansão do comércio varejista ocorre por fusão e aquisição de concorrentes “quebrados” Carrefour, Eldorado, Paes Mendonça, Bompreço, Jumbo, Pão de Açúcar, Sears, Sandiz, O Boticário, Forum, Zoomp, McDonald’s, KFC e Bob’s dão seus primeiros passos no território brasileiro Fase 4: anos 1990 (consumidor) – o presidente Fernando Collor de Mello proporciona a abertura do mercado Fase de grande inflação e perda de poder de compra Posteriormente, o Plano Real traz estabilidade aos preços Ocorre o acirramento da concorrência com investimentos estrangeiros Grande pressão do varejo em busca de ganhos operacionais, produtividade e eficiência Foco nas estruturas enxutas, exigindo qualificação de pessoal, mais foco em serviços e pressão por rentabilidade O crescimento ocorre por aquisições As empresas se estruturam em multiformatos e megastores A TI se volta para facilitar a vida do consumidor Ocorre a entrada de grandes empresas estrangeiras: Walmart, Sonae, Ahold, Jerónimo Martins, Leroy e Fnac Exemplo de aplicação Vários sites apresentam a história e a evolução do varejo brasileiro. Pesquise alguns deles e verifique se as informações condizem com a realidade que você conhece. Você passou por essas fases? A internet veio para ficar? Qual será o futuro dessa atividade? 1.8 Funções e tipos de varejo Temos como principais tipos de varejistas: lojas de especialidades, lojas de departamentos, supermercados, lojas de conveniência, lojas de desconto, varejistas off-prices (de liquidação), superlojas e showrooms de vendas por catálogo. Vejamos como definir cada um deles. 29 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Lojas de especialidade Comercializam uma linha estreita de produtos com um profundo sortimento dentro dessa linha, como: roupas, materiais esportivos, móveis, floriculturas e livrarias. Lojas de departamentos Vendem várias linhas de produtos, tipicamente roupas, móveis e utilidades domésticas, e cada linha é gerenciada como um departamento separado, administrado por compradores especializados etc. Supermercados Relativamente grandes, operam com um custo baixo, margem pequena, volume elevado, autosserviço projetado para atender às necessidades totais dos consumidores em termos de alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza e produtos para a manutenção do lar. Lojas de conveniências Ocupam espaços relativamente pequenos, localizando-se próximo de áreas residenciais, permanecendo abertas além do horário normal e sete dias por semana. Vendem uma linha limitada de produtos de conveniência de alta rotatividade. Como essas lojas possuem um horário de atendimento estendido e produtos complementares para compras de última hora, costumam ter preços elevados. Lojas de descontos Vendem mercadorias padronizadas a preços mais baixos porque trabalham com pequenas margens e com grande volume. O uso de descontos ocasionais não caracteriza uma loja de descontos. Esta vende regularmente suas mercadorias a preços baixos, oferecendo, majoritariamente, marcas nacionais e produtos não inferiores. Varejistas off-prices (de liquidação) Compram a preços abaixo de atacado e transferem parte da vantagem aos consumidores. Trabalham com sortimento variável e mutante de produtos de alta qualidade. Utilizam-se muitas vezes de pontas de estoque, números e modelos esparsos obtidos a preços reduzidos de fabricantes ou de outros varejistas. Nessa mesma categoria, surgem os outlets de fábrica. Estes são operados pelos próprios fabricantes, que normalmente vendem sobras de mercadorias descontinuadas ou irregulares. Temos ainda os chamados clubes de atacadistas, que vendem uma seleção limitada de produtos alimentícios de marcas conhecidas, eletrodomésticos, roupas e uma miscelânea de outros bens com grandes descontos aos associados, que pagam taxas de anuidades. Superlojas Visam atender à necessidade total dos consumidores para compras rotineiras de alimentos e de itens não alimentícios. Geralmente oferecem uma gama variada de serviços, como: lavanderias, sapateiros, caixas 30 Unidade I eletrônicos de bancos etc. Nessa categoria, existem as lojas mistas, que representam uma diversificação do supermercado para o promissor campo de medicamentos vendidos sob prescrição médica. Há também os hipermercados, que cominam os princípios do supermercado, das lojas de descontos e dos varejos de fábrica. Seu sortimento de produtos vai além de bens comprados rotineiramente, incluindo móveis, eletrodomésticos grandes e pequenos, itens de vestuário e muitos outros produtos. A abordagem básica desse tipo de varejo é a exposição de grandes volumes de produtos, com mínima manipulação por parte dos funcionários. Showroom de vendas por catálogos Vendem uma seleção ampla de bens de marcas conhecidas, que, por meio de catálogos, permitem margens altas, giro rápido e descontos nos preços. O sortimento oferecidoinclui joias, ferramentas elétricas, câmeras fotográficas, malas de viagem, pequenos eletrodomésticos, brinquedos e materiais esportivos. Os consumidores escolhem os produtos nos catálogos, que depois são retirados na área de expedição do showroom. 1.9 Tipos de operações em varejo Novos tipos de lojas surgem para atender às preferências variadas em relação a diferentes níveis e tipos de serviços. Os varejistas da maioria das categorias de produtos podem posicionar-se ao oferecer um entre quatro níveis de serviços, os quais serão destacados a seguir. Varejo de autosserviço Usado em muitas operações varejistas, especialmente para oferecer bens de conveniência e, em alguma extensão, bens de compra comparada. Muitos consumidores estão dispostos a assumir seu próprio processo de localizar, comparar e selecionar produtos para economizar dinheiro. Varejo de autosseleção Envolve consumidores à procura de bens, com alguma assistência de vendedores. Esse tipo de varejo tem custos operacionais mais elevados do que os varejos de autosserviço, pois exige maior número de funcionários. Varejo de serviço limitado Fornece mais assistência de venda porque possui maior número de produtos de compra comparada, os quais demandam informação de vendedores. Lojas desse tipo oferecem privilégios de crédito e de devolução de mercadorias, o que não é comumente encontrado em lojas que oferecem poucos serviços. Com isso, os varejos de serviço limitado possuem custos operacionais ainda mais elevados. Varejo de serviço completo É composto de lojas que possuem vendedores preparados para orientar o consumidor em todas as fases do processo de localização, comparação e seleção de compra. Os consumidores que gostam de ser atendidos preferem esse tipo de loja. Devido ao grande número de serviços diferenciados, esse tipo de varejo apresenta um custo extremamente elevado. 31 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 1.9.1 Autosserviço No Brasil, as primeiras experiências com conceito de autosserviço ou self-service surgiram em 1947 com o Frigorífico Wilson, em São Paulo, que vendia os tradicionais produtos de mercearia por meio do sistema de autosserviço e as carnes em um balcão frigorífico fechado e com atendimento pessoal. Em 1949, surgiu outro estabelecimento, também em São Paulo, o Depósito Popular, que trabalhava com alimentos no sistema de autosserviço. Ambos não tiveram sucesso, mas contribuíram para lançar as bases do novo modelo varejista no país. No entanto, aquele considerado efetivamente o primeiro supermercado do Brasil foi instalado em 24 de agosto de 1953, na Rua da Consolação, entre a Avenida Paulista e a Alameda Santos. Os supermercados Sirva-se S.A. foram os primeiros a utilizar layout e equipamentos similares aos norte-americanos. Com 800 m2 de área de vendas, a loja apresentava as características dos supermercados modernos, como as divisões por seções, espaços para propagandas de produtos e utilização das pontas de gôndolas para promoção de produtos. Foi o pioneiro a vender, no mesmo local, carne, frutas e verduras, além da linha de mercearia. A partir do Sirva-se, surgiram outras lojas, como o Peg-Pag, em 1954, que veio a se tornar o padrão dos supermercados em termos de formatação de loja, atendimento e treinamento de funcionários. Nos anos seguintes, abriram-se várias lojas de supermercados em São Paulo, como o Mapps, em 1957, pertencente ao Mappin, e o Pão de Açúcar, em 1959, originado de uma doçaria fundada onze anos antes. O primeiro shopping brasileiro, o Iguatemi, de São Paulo, fundado em 1966, foi o pioneiro não só no Brasil, mas na América Latina. O início dos anos de 1970 marcou o período do chamado milagre econômico e trouxe, em sua esteira, um novo formato de loja para o setor supermercadista. Surgiram os primeiros hipermercados, que passaram a ocupar áreas superiores a 3 mil m2, incorporando alimentos, eletrodomésticos, roupas e artigos para presentes, além de restaurantes e lanchonetes, oferecendo estacionamentos amplos, instalações sofisticadas e grande variedade de itens. Em 1973, foi inaugurado o primeiro atacado de autosserviço, o Makro, e, em 1975, o Carrefour, pertencente à maior cadeia de supermercados da França, se instalou em São Paulo. Nos anos 1980, e principalmente nos anos 1990, ocorreu um grande processo de reestruturação e concentração no mercado supermercadista. O grupo Pão de Açúcar, depois de profunda crise, voltou a liderar o setor. Grupos tradicionais como Paes Mendonça e Eldorado foram incorporados por outros, e novas bandeiras internacionais passaram a atuar no país, como o grupo Ahold, que adquiriu o Bom Preço, o grupo Casino, que se associou ao Pão de Açúcar, e o gigante Wal-Mart, em 1995. Nos anos 1990, houve o grande aumento na automatização das lojas e o surgimento do intercâmbio eletrônico de dados (EDI – electronic data interchange), da resposta eficiente ao consumidor (ECR – efficient consumer response) e dos códigos de barra. Novas categorias de produtos também ganharam espaço nas gôndolas, como hortifrutigranjeiros, flores, plantas, pratos prontos, material fotográfico, CDs e perfumaria. 32 Unidade I Com o advento da internet, nasceram as lojas virtuais, permitindo que os clientes, por meio do computador, fizessem compras e recebessem os produtos sem sair de casa. Hoje o setor ainda continua o processo de concentração: o Wal-Mart incorporou as operações da Ahold/Bom Preço e do Sonae no Brasil. Contudo, foi constatada uma reação do pequeno varejo, que tem se estruturado e se qualificado, sendo atualmente o segmento que mais cresce no setor. Houve também o surgimento de novos modelos de lojas, mais despojados, com mix reduzido e voltados principalmente para o público de baixa renda. Figura 5 – Das pequenas lojas de bairro aos grandes shopping centers Disponível em: https://bit.ly/3zoyNvR. Acesso em: 21 jul. 2021. 1.10 Shopping centers Com o passar dos anos, características como comodidade, segurança e facilidade de estacionamento começaram a ganhar a preferência do consumidor e os shopping centers conquistaram seu espaço. Atualmente, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), em informações de janeiro de 2017, o setor conta com 558 shoppings. A área total bruta implantada ocupa espaço superior a 35 milhões m2, compreendendo cerca de 99.990 mil estabelecimentos; destes, 70.738 são lojas satélites, 2.381 megalojas e 3.403 lojas âncora (ABRASCE, 2017). Saiba mais Os filmes a seguir podem propiciar uma inter-relação com os conteúdos apresentados: REBOBINE, por favor. Direção: Michel Gondry. Reino Unido: New Line Cinema, 2008. 102 min. SEXO, rock e confusão. Direção: Allan Moyle. EUA: Monarchy Enterprises B. V., 1995. 90 min. 33 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Uma vez que estamos na época do home banking, do computador, do comércio eletrônico e de uma imensidão de muitos outros produtos que visam racionalizar o tempo e a energia do consumidor, o shopping center aparece como o centro atual de consumo, tendo como particularidade básica a multiplicidade. A maioria das lojas hoje se agrupa para ampliar sua capacidade de atrair consumidores (formando clusters) e oferecer-lhes a conveniência de um único local para as compras. O centro comercial e o shopping center são os principais tipos de agrupamento de lojas. Há três tipos de locais básicos que os varejistas podem escolher: uma região central de comércio, um shopping center ou um local isolado. Existe também a opção de escolher caminhos, quiosques, espaço unitário extra ou display de parede, que são espaços de vendas da parte interna de um shopping center. Em virtude do crescimento das cidades, da lentidão do trânsito, dos problemas de segurança e da menor disponibilidade de tempo para fazer as compras, os shopping centers têm como objetivo facilitar a vida dos consumidores, propiciando que o cliente encontre bens e serviços num único complexo varejista, sem precisar percorrer toda a área urbana. Os shoppingcenters se originaram por meio do desenvolvimento de lojas de departamentos, por exemplo, o Mappin, em São Paulo, e elas semearam a ideia de diferentes lojas sob o mesmo teto. Seguindo a tendência da população, buscaram se localizar de forma conveniente, fora dos congestionamentos corriqueiros nas áreas centrais de comércio. Com intenção de se ajustar ao lazer de conveniência da população, passaram a incluir também esses serviços em sua estrutura e hoje dispõem de uma enorme variedade de serviços. Saiba mais Caso queira conhecer os números apresentados pelo segmento de shopping centers, recomendamos que você acesse o site da Abrasce: Disponível em: http://abrasce.com.br/. Acesso em: 21 jul. 2021. Para implantação e implementação de um shopping center, é necessário conhecimento da dimensão da demanda da região e das necessidades dos clientes-alvo do shopping para obter êxito. Será imprescindível realizar pesquisas com o público-alvo para avaliar claramente quais são suas expectativas e necessidades antes de iniciar qualquer investimento, por exemplo, configurar como será o shopping, definir seu tamanho, o mix de lojas e a oferta de divertimentos. Tais questões envolvem uma ampla gama do perfil da cidade: potencial da região, área de influência, PIB, perfil do consumidor e concorrência. Normalmente, os shopping centers pertencem apenas a um proprietário (que não é uma pessoa física única, mas pode ser um único conglomerado financeiro), que efetua contrato de utilização de 34 Unidade I suas lojas com os lojistas e é responsável pelo comando do seu negócio e, de acordo com as condições estabelecidas em contrato, pode ter maior ou menor autonomia em seu próprio negócio. Mesmo em casos em que os lojistas têm grande autonomia, são realizadas auditorias sobre o funcionamento das lojas e das informações regularmente fornecidas pelo lojista sobre as vendas realizadas, fazendo com que o proprietário do shopping ainda mantenha o controle sobre o negócio. A administração do shopping atua como síndico e as lojas são os condôminos ou locatários. O condomínio é dirigido por meio de normas e regimentos internos, associados ao contrato de locação; em caso de descumprimento, podem ocasionar punições às lojas. Como são proprietários das lojas, os administradores têm maior poder de decisão e controle da gestão em relação aos lojistas, já que seu lucro depende do desempenho comercial de todos. É comum realizarem um acompanhamento mensal dos lojistas quanto ao desempenho comercial e à adequação visual e operacional das lojas de acordo com os padrões preestabelecidos. Saiba mais Recomenda-se a leitura da obra a seguir: GELMAN, J. J.; PARENTE, J. Varejo socialmente responsável. Porto Alegre: Artmed, 2008. Figura 6 – A era dos grandes shoppings com integração de centro de compras e lazer Disponível em: https://bit.ly/3hSzAPS. Acesso em: 21 jul. 2021. Dessa maneira, a troca de informações entre lojistas e a administração do shopping center, por meio de auxílio recíproco, guiará as lojas e a administração para enfrentarem os desafios apresentados pelos ambientes externo e interno e pelas inovações, fazendo com que estejam preparados para obter resultados satisfatórios. 35 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Contudo, o shopping center não vive apenas do comércio varejista, é necessário um equilíbrio entre mix de lazer, serviços e lojas de vendas; trata-se de algo fundamental para determinar o público/consumidor que vai àquele shopping. O mix ajuda a segmentar o público de um shopping. A diferenciação entre os shopping centers também é feita por meio da oferta de lojas, por isso é preciso compor o mix com as lojas de preferência do público-alvo. Não ter um mix de lojas focado nas preferências do público-alvo pode ser crucial para a sobrevivência e para o sucesso de um shopping. A localização do shopping e de suas lojas, assim como a localização de restaurantes, sanitários, postos de informações, salas de cinema, estacionamento e outros serviços oferecidos pelo shopping, constitui atributo que pode auxiliar para a conveniência dos clientes, o que representa uma grande importância na criação de valor para inúmeros consumidores. A solução está em dar ênfase à conveniência e ao atendimento ao cliente. Se os novos formatos de entretenimento obtiverem sucesso, determinarão as principais tendências dos shopping centers. Observe tais aspectos a seguir. Excepcional personalização e conexão com o consumidor Os shopping centers usarão, de forma crescente, a tecnologia para criar experiências customizadas e melhorar as iniciativas de serviço para os clientes, além de criar ambientes agradáveis em seu interior. Os avanços tecnológicos vão desde o uso de beacons (sinalizadores) até a oferta de Wi-Fi. Todas essas tecnologias serão dirigidas principalmente aos dispositivos móveis, especialmente os smartphones. Criação de formatos flexíveis A criação de formatos que atendam às necessidades dos clientes e dos varejistas apoia a distribuição direta ao consumidor, com a implantação do varejo omnichannel. Isso implicará investimento para melhorar o ambiente digital e a criação de diversos serviços pessoais para ampliar o leque de atendimento aos clientes, tais como: salas para concertos, centros de arte, academias de ginástica, barbearias, salões de beleza etc. Melhor colaboração entre investidores imobiliários e varejistas Para criar o máximo engajamento com os consumidores, os investidores imobiliários precisarão colaborar de forma mais estreita com os varejistas, por meio de parcerias para compartilhar recursos, informações e tecnologias. Cada vez mais as grandes cidades apresentam problemas de locomoção, portanto seria desejável que os shopping centers estivessem próximos de comunidades locais e que o acesso a eles pudesse ser feito a pé. Fusão de lojas físicas e e-commerce Os shopping centers precisarão combinar a venda na loja física com a venda digital (e-commerce) e adaptar os canais digitais a um espaço físico renovado, além de desenvolver uma estratégia integrada de mídia social, para atrair novos clientes, por meio de diversas iniciativas de marketing, como promoções especiais. 36 Unidade I Reavaliação de um novo modelo de aluguel Efetiva-se principalmente por meio da criação de formas para relacionar as vendas reais com o sistema de aluguel das lojas, por meio de um sistema flexível, que leve em consideração as vendas on-line e as das lojas físicas. Desejo de que o frequentador passe mais tempo no shopping O desafio é encontrar maneiras inovadoras de fazer com que o frequentador passe mais tempo no local. Investidores de shopping centers esperam que as atividades de lazer levem negócios adicionais a esses centros, tornando-os um destino para o dia inteiro da família. A maneira como essas atividades de lazer interagem e se conectam às lojas, às atrações e aos restaurantes será crucial para proporcionar um resultado lucrativo para todos os interessados. Shoppings como comunidades Envolve a evolução do que era um “espaço para comprar produtos” para verdadeiros centros de consumo e entretenimento, com total integração com a região onde são encontrados. Agora os shoppings são considerados locais de utilidade mista, pois podem ter hotéis, escritórios e apartamentos com diversas opções de entretenimento como restaurantes, cinemas, academias e spas. Engajamento de millenials A população jovem é considerada como a maior geração em número de pessoas em diversos países, a exemplo dos EUA. Para esse público, não existem barreiras entre o on-line e o off-line e, para atendê-lo melhor, os shoppings estão se baseando nos conceitos de personalização, customização e sustentabilidade, pois estudos mostram que a maioria dos millennials prefere comprar em lojas, mas passa uma grande parte do dia on-line pesquisando os produtos desejados. O consumidor visita um shopping por diversos motivos, entre eles alimentação, segurança, lazer, comunicação e ostentação.Por essa razão, os shopping centers modernos procuram oferecer cada vez mais opções para agradar e satisfazer ao consumidor. De agora em diante, o desafio do marketing é procurar por novas maneiras de impulsionar a experiência de compras de uma forma positiva e em sintonia com as mutáveis necessidades dos clientes. 1.10.1 Tipos de lojas em shoppings Segundo a Abrasce (2016), os shoppings podem ser tradicionais ou especializados, envolvendo outlets, life stile ou shoppings temáticos. Nos dois modelos podem ser pequenos, médios, regionais ou mega, conforme a metragem que ocupam no espaço. Assim, destacamos a seguir a definição das lojas e os segmentos contemplados. 37 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Lojas âncora A delimitação de uma operação nessa categoria se deve à área locada (normalmente mais de 1.000 m2) e ao fluxo de pessoas que ela atrai para o shopping center. Megalojas Podem ser consideradas lojas desse gênero aquelas especializadas em determinada linha de mercadoria, em grande escala, com ampla variedade de produtos, usando superfície de loja entre 500 m2 e 999 m2. Lojas satélites São menores que 500 m2, enquadradas nos segmentos que vendem itens do vestuário e acessórios, lojas que vendem calçados de marca própria ou não, que vendem tapetes, utensílios para copa, cozinha e banheiro, iluminação, galeria de arte/antiquário, vidros, molduras etc. Conveniência/serviços Compreendem os segmentos que vendem vinhos, queijos/frios, laticínios/bebidas, alimentos especiais (congelados/dietéticos/naturais), farmácia/drogaria/farmácias especiais (homeopatia/manipulação/vitaminas), tabacaria, jornaleiro etc. (ABRASCE, 2017). 1.11 Vendas diretas Você acha que as vendas diretas também são um tipo de varejo? Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABVED): “a venda direta é um sistema de comercialização de bens de consumo e serviços baseado no contato pessoal entre vendedores e compradores fora de um estabelecimento comercial fixo” (ABVED, 2012). Ou seja, fora dos pontos comerciais. Podemos dizer que é uma força de vendas e conta com mais de 4,5 milhões de empreendedores, porém não se enquadra em nossa categoria específica dos varejos tradicionais (ABVED, 2012). Observe o excerto a seguir: As modalidades mais praticadas de venda direta são: – Door to door ou porta a porta: o revendedor vai até a residência ou local de trabalho do consumidor para demonstrar e vender os produtos. – Catálogo: o revendedor deixa o catálogo ou folheto na residência do consumidor e depois passa para retirar o pedido. – Party plan: o revendedor promove um chá na casa de uma consumidora para ela e suas amigas para demonstrar e revender os produtos. 38 Unidade I Os revendedores podem lucrar de duas maneiras: – Sistema mononível: o revendedor compra o produto e o revende com uma margem de lucro média de 30%. – Sistema multinível: além da margem de lucro, o revendedor que indicar outros revendedores ganha uma porcentagem sobre essas vendas. Nesse sistema, os ganhos são proporcionais ao esforço empregado (ABVED, 2012). Saiba mais Os filmes a seguir podem propiciar uma inter-relação com os conteúdos deste livro-texto como exemplo de empreendedorismo: JOY: o nome do sucesso. Direção: David O. Russell. EUA: Fox 2000 Pictures, 2016. 124 min. O AMOR e outras drogas. Direção: Albert Maysles. EUA: Fox Film do Brasil, 2014. 83 min. A REDE social. Direção: David Fincher. EUA: Sony Pictures, 2010. 121 min. O sistema de venda direta oferece vantagens para todos os envolvidos: Quadro 4 Para os revendedores Ótima fonte alternativa de renda, aberta a qualquer pessoa, independentemente de sexo, idade, escolaridade ou experiência anterior Os revendedores também têm o benefício de trabalhar em horários flexíveis, ganhar conforme a dedicação e se desenvolver pessoal e profissionalmente A atividade do revendedor é conhecida pelo espírito empreendedor Para as empresas A venda direta envolve os mais diversos setores da economia – de cosméticos e produtos de limpeza a recipientes plásticos para alimentos e suplementos nutricionais Uma das grandes vantagens para as empresas é o potencial de expandir o alcance geográfico de seus produtos Para o consumidor A venda direta representa um atendimento personalizado que não existe no varejo tradicional Para a sociedade É uma forma de contribuir para minimizar o problema do desemprego, permitindo a complementação da renda familiar e gerando mais riqueza para o país 39 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO A Enciclopédia Britânica foi uma das primeiras empresas a adotar a venda direta no mundo, no final do século XVIII, com os vendedores levando exemplares em papel de casa em casa, e que teve sua última versão impressa em papel lançada em 2010, apresentando um conjunto de 32 volumes que pesava 129 quilos. Observe a seguir a trajetória desse sistema de comercialização: Quadro 5 – Breve história da venda direta No mundo Fim do século XVIII Na Inglaterra, aparecem os primeiros registros oficiais sobre a venda direta, quando a editora da Enciclopédia Britânica adota a prática de vender, de porta em porta, suas coleções 1886 Em Nova York, o vendedor de livros a domicílio David McConnell passa a oferecer perfumes como brinde para quem compra seus produtos. Logo percebe que as pessoas compram os livros para ganhar as fragrâncias e então decide vender cosméticos de porta em porta 1887 Com uma equipe de 12 vendedoras, McConnell funda a Perfumes Califórnia 1897 A Perfumes Califórnia lança seu primeiro catálogo de ofertas, com perfumes e outros produtos de beleza Década de 1930 No Japão, por conta de um surto de infecções intestinais que provoca um aumento do índice de mortalidade infantil, o pesquisador Minoru Shirota desenvolve o leite fermentado Yakult, que inibe bactérias nocivas e equilibra a flora intestinal. O produto é distribuído por sistema de entrega domiciliar 1939 A Perfumes Califórnia, com distribuidores em quarenta estados americanos, muda seu nome para Avon 1946 O engenheiro americano Earl Tupper lança uma linha de utensílios plásticos para cozinha, a Tupperware, e o sistema de reuniões domiciliares 1959 Os jovens empreendedores Jay Van Andel e Rich DeVos fundam a Amway e desenvolvem o método de oferecer aos vendedores condições de montar sua própria rede de negócio na distribuição de uma variada linha de produtos 1963 A texana Mary Kay Ash funda a empresa que leva seu nome, com o objetivo de estimular mulheres a montar seu próprio negócio No Brasil 1942 A empresa brasileira Hermes começa a desenvolver no país o conceito de venda direta, por meio do reembolso postal 1959 A Avon inaugura sua fábrica em São Paulo. Sua primeira produção foi o batom Fashion, na cor clear red 1966 A Yakult desembarca no Brasil, apresentando seu sistema de vendas aos consumidores locais 1968 A Yakult constrói uma fábrica em São Bernardo do Campo 1969 Com um laboratório para produzir cosméticos e uma pequena loja em São Paulo, é criada a Natura 1974 A Natura inicia o sistema de venda direta, o ponto de partida para o crescimento da empresa 1976 A Tupperware chega ao Brasil com seu método de reuniões domiciliares 1980 A Natura entra no mercado de maquiagem e perfumaria e inicia operações no Chile 1984 É a vez da Nu Skin Enterprises iniciar suas atividades no Brasil Década de 1990 Com o sucesso da venda direta no país, chegam empresas como Amway, Nature’s Sunshine, Herbalife, Mary Kay e Fibrative Fonte: ABEVD (2012). Nesse contexto, podemos citar ainda o varejo eletrônico (e-commerces) e as franquias, que vamos conhecer na sequência. 40 Unidade I 2 OUTROS TIPOS DE VAREJO O varejo brasileiro é maduro e competitivo. A presença e relevância de operadores e investidores internacionais, penetração de shopping centers e franquias, somadas aos recentes ciclos de evolução, moldaram um mercado complexo e desafiador. Os aspectos que fizeram o varejo brasileiro amadurecer são: aumento da formalidade,aberturas de capital, melhora nos graus de transparência, controle e governança. 2.1 Varejo eletrônico A participação do comércio eletrônico no varejo brasileiro aproxima-se de 3%, contra quase 8% nos EUA e 12% no Reino Unido. Isso revela a oportunidade de crescimento e penetração dos canais digitais. A Black Friday, que ocorre em uma sexta-feira no mês de novembro, foi introduzida no Brasil a fim de oferecer produtos com desconto. Os resultados reforçam as rápidas mudanças de hábito por parte dos consumidores e a integração crescente entre canais físicos e digitais em seus processos de compras. Mais do que um agente de comunicação, informação e relacionamento, a internet se tornou o principal modo de fazer negócios. Além de permitir a troca de mensagens e a consulta a informações valiosas sem sair de casa ou do escritório, a internet vem abrindo oportunidades de compra e venda de qualquer tipo de produto ou de serviços. Como ela é democrática, permite a pequenas empresas estarem lado a lado com as grandes corporações de cada setor e também ampliarem suas fronteiras geográficas. O componente de interatividade e via de mão dupla que a internet apresenta aponta para uma revolução no relacionamento das empresas com seus consumidores, e as empresas que desejam permanecer nesse novo mercado têm o desafio de conhecer, dialogar e atender melhor aos seus clientes, só assim poderão construir uma relação lucrativa e de longo prazo com seus consumidores. A comodidade que a internet oferece – permitindo que os consumidores comparem preços e produtos em diversas lojas e façam compras sem precisar sair de casa – é um dos maiores atrativos para os novos consumidores. A criação de um site para negócios não fornece à empresa acesso instantâneo a um universo de clientes. O que o meio oferece é uma forma de municiar seus clientes de um serviço de informações e uma nova possibilidade de comercializar seus produtos. Para isso, a empresa deve ter bem claro que o consumidor deverá ser sempre o foco de suas ações, ou seja, deve desenvolver soluções relevantes para seus clientes. A gestão de uma loja eletrônica se assemelha em muito à gestão de uma loja física. A loja eletrônica é o ponto de contato entre varejista e consumidor, em que a homepage é a apresentação externa e, portanto, é o primeiro elemento que irá chamar a atenção do cliente e permitir a ele navegar pela loja, ou seja, circular pela área de vendas. Segundo Parente (2000, p. 36): “[...] da mesma forma que facilidades nas vias de acesso favorecem uma loja, quanto mais links ela tiver em outros endereços da internet, tanto maior será o número de consumidores que navegarão em seu site”. 41 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Entre os tipos de transações realizados no chamado e-commerce, o varejo eletrônico está inserido como um dos principais vetores desse mercado, e a crescente utilização da internet tem contribuído muito para esse cenário. O comércio eletrônico é caracterizado pelo uso de meios eletrônicos para a condução de transações comerciais entre empresas, governo e consumidores. Para que essas transações sejam possíveis, temos os servidores de comércio eletrônico, que seriam os sistemas compostos de hardware e software que implementam um conjunto de serviços de comércio eletrônico (localização de produtos, elaboração de pedidos, efetivação de pagamentos e atendimento ao consumidor). Saiba mais Para se aprofundar no assunto, leia os livros indicados a seguir: KING, D.; TURBAM, E. Comércio eletrônico, estratégia e gestão. Tradução: Arlete S. Marques. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. GEBER, C. O. Varejo digital. Curitiba: Cotentus, 2020. O comércio eletrônico é formado por diversas modalidades: • Business to business (B2B): é o comércio realizado de empresa para empresa, por exemplo, a loja de varejo Ricardo Eletro, com quase mil lojas espalhadas pelo Brasil, faz seus pedidos via sistema para a Consul entregar seus refrigeradores. • Business to consumer ou business to customer (B2C): ocorre entre as empresas e o consumidor final, por exemplo, a compra de pneus pelo consumidor no sistema de vendas do Extra.com. • Consumer to consumer (C2C): é a comercialização de bens ou serviços entre consumidores finais, sem intermediários; o Mercado Livre é um dos principais exemplos. • Government to consumers (G2C): ocorre entre governos e consumidores, por exemplo, o pagamento de impostos, multas e tarifas públicas. • Government to business (G2B): ocorre entre governo e empresas, por exemplo, as compras pelo Estado na internet por meio de licitações, tomada de preços etc. A comodidade de poder comprar um produto sem a necessidade de deslocamento é considerada pela maioria dos consumidores como fator preponderante para a decisão de compra virtual. Além disso, fatores como facilidade e rapidez de navegação, acesso a produtos não encontrados no mercado, presença de ferramentas de segurança, qualidade e variedade dos produtos ofertados, entrega no prazo 42 Unidade I previsto, presença de um canal de serviço e preço inferior às outras formas de comércio devem ser considerados como vitais para a decisão de compra no e-commerce. Todavia, o varejo eletrônico possui vantagens e desvantagens em relação ao varejo tradicional. Vantagens para o consumidor: • disponibilidade de acesso à loja 24 horas por dia; • mais informações sobre produto e empresa; • preço do produto/serviço potencialmente menor; • comodidade na hora da compra e no recebimento. Vantagens para o varejista: • sem qualquer importância da localização e tamanho do pedido; • custos de operação baixos; • amplo alcance do público-alvo; • perfil mais elevado de renda dos consumidores; • loja aberta a todo instante; • maior oportunidade de realização de gestão de relacionamento com o cliente (CRM – Customer Relationship Management). Desvantagens para o consumidor: • impossibilidade de contato com o produto antes da compra; • tempo de espera para o recebimento de um produto, já que na loja física ele compra e leva na hora (o que ocorre com a dos produtos). Desvantagens para o varejista: • know-how de gerenciamento ainda baixo; • logística mais complexa; • baixo índice de compras por impulso; 43 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO • legislação incipiente; • não adaptabilidade de perícia do varejo tradicional; • pressão nas margens de preços das lojas; • pós-venda mais difícil (principalmente para vendas internacionais). Muitos consumidores acreditam que a internet propicia preços inferiores ao comércio tradicional, devido aos menores custos de infraestrutura que os sites possuem. O fato de os custos para entrega não serem apresentados no preço de venda do produto não impede os consumidores de se sentirem motivados a comprar pela web, haja vista que acreditam estar obtendo descontos no preço total pago pelo produto. Embora a taxa de entrega seja à parte, o consumidor pode observar o seu custo colocando o CEP de sua residência e verificar o valor no próprio site, fazendo comparações entre as várias lojas onde encontrou o produto desejado. Apesar de várias estratégias de marketing terem sido direcionadas para o e-commerce, muitas delas representam apenas novas versões de temas familiares no processo do marketing tradicional. O conceito tradicional não é adequado para conhecer as demandas atuais dos clientes e o ambiente competitivo do mercado virtual. O ambiente de negócios na internet, em rápida transformação, pede um método mais amplo de gerência de marketing. As empresas do varejo eletrônico devem planejar e executar o composto de marketing visando à criação e à manutenção de relacionamentos de longo prazo com os clientes como a principal preocupação. Para tal, elas devem buscar uma orientação para o mercado por meio de comunicação e diálogo com os clientes. Figura 7 – Vendas on-line Disponível em: https://bit.ly/36RJET2. Acesso em: 21 jul. 2021. 44 Unidade I 2.2 Franquias De acordo com o textoda Lei de Franquia Empresarial – Lei n. 8.955, de 15 de dezembro de 1994 – (BRASIL, 1994), franquia ou franchising é uma estratégia utilizada em administração que tem como propósito um sistema de venda de licença em que o franqueador (detentor da marca) cede ao franqueado (autorizado a explorar a marca) o direito do uso de sua patente ou marca e o direito de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços. Trata-se de um modelo empresarial baseado na venda de licença de uso de um negócio com marca, know-how, estruturas, rotinas e produtos/serviços desenvolvidos por um franqueador. É uma estratégia de mercado para aqueles que desejam iniciar um novo projeto já com bases mais consolidadas, aplicações testadas e certo reconhecimento pelo público-alvo. Quem adquire esses direitos torna-se um franqueado. As franquias são um fenômeno relativamente recente. Ao longo dos últimos anos, esse sistema alcançou um lugar de destaque na vida econômica do Brasil. De acordo com números divulgados pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), a atividade foi responsável por 2,1% do PIB brasileiro, com um faturamento anual de R$ 186,755 bilhões (ABF, 2015) e 160.958 operações – 2.918 redes de franquias, que empregam mais de 1,3 milhão de trabalhadores (FRANCHISING..., 2020). Apesar de grandes redes franqueadoras serem um símbolo do sucesso dos negócios de iniciativa privada, a origem do sistema provavelmente aconteceu por meio da concessão do governo americano para que empresas privadas pudessem explorar serviços públicos. Embora a concessão desses direitos implique alguma forma de controle público sobre o funcionamento desses serviços, o direito exclusivo de exploração pelo franqueado, na condição de um incentivo privado para as empresas franqueadas, estimulou a realização de investimentos para a melhoria desses serviços. O sistema de franchising, em sua concepção atual, teve sua origem registrada nos EUA durante o século XIX. Em 1862, a empresa I. M Singer & Co, que atuava no mercado de fabricação de máquinas de costura, começou a conceder o direito de uso de sua marca e de comercialização de suas máquinas para comerciantes locais, sem nenhuma ligação com a empresa. Acredita-se que a mais antiga rede de franquias de serviços tenha sido a Harper Cabeleireiro, instituída pela americana Martha Matilda Harper em 1891. Ela acreditava que outras mulheres poderiam ter um negócio próspero como o seu se fossem bem orientadas, principalmente mulheres pobres, como ela também havia sido. Assim, elaborou um treinamento focado em negócio e no seu método e os aprovados poderiam explorar determinada área. Chegou a ter mais de quinhentas unidades. A partir daí, grandes corporações como a General Motors e a Coca-Cola instituíram os seus sistemas de franquia, o que proporcionou uma grande expansão territorial de seus negócios, assim como um grande crescimento econômico. Em meados da década de 1930, as companhias de petróleo começaram a franquear postos de gasolina. A indústria de refrigerantes também seguiu o mesmo caminho. Observe que o modelo 45 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO de franquia industrial, que algumas vezes é divulgado como uma inovação, já existia no início do século passado. O franqueado recebia um xarope e o direito de produzir refrigerante seguindo uma fórmula rigorosa, identificando-o com a marca do produtor do xarope e explorando de maneira exclusiva determinada região. Ainda no início do século passado, nos anos 1920 a 1930 nos EUA, surgiram redes formadas por empresários independentes, como redes de farmácias e lojas de utilidades. O sistema de franchising chegou ao setor de food service na década de 1930, quando Howard Johnson estabeleceu suas primeiras franquias. Ele tinha um restaurante de sucesso e, para ajudar um amigo, concordou em estruturar e supervisionar outro restaurante; em troca, ele venderia os suprimentos necessários. Com o êxito do negócio, abriu outras unidades seguindo esse modelo e, em 1940, havia mais de cem restaurantes Howard Johnson. Muitos deles eram de propriedade de franqueados que não tinham nenhuma experiência prévia no ramo de restaurantes. Figura 8 – Uma das franquias mais conhecidas é o McDonald’s Disponível em: https://bit.ly/3kMme9X. Acesso em: 21 jul. 2021. Após a Segunda Guerra Mundial, em meados do século XX, o sistema de franquia atingiu o seu ápice nos EUA, notadamente pela abertura de diversos negócios por soldados americanos que retornaram do campo de batalha desempregados. Na década de 1950, houve a explosão do franchising nos EUA, e franquias de fast-food, como McDonald’s e Kentucky Fried Chicken (KFC), proliferaram durante esses anos. Lavanderia e limpeza, serviços e lojas de conveniência de supermercado estavam entre as outras empresas que experimentaram um crescimento significativo por meio de franchising durante esse período. Redes de hotel, motel, viagem, lazer e até empresas de acampamentos eram ofertadas a uma população cada vez mais móvel. Holiday Inn, por exemplo, desenvolveu uma rede de quase 1.400 empresas em menos de vinte anos. 46 Unidade I Até a década de 1950, a utilização do franchising era quase que exclusivamente uma prática norte-americana. No Brasil, o sistema começou a funcionar na década de 1960, com destaque para escolas de idiomas como Yázigi e CCAA, que introduziram a modalidade de negócio no país. A expansão do setor pelo Brasil ocorre em quase todas as cidades, mesmo nas menores, atendendo à demanda dos empresários que nele encontram motivação para iniciar seus negócios. O crescimento do número de franquias é fato notório no mercado brasileiro. Segundo a ABF (2015), o segmento de franquias do Brasil encerrou o ano de 2015 com um crescimento de 10,1% em relação ao ano anterior em número de unidades. 2.2.1 Estrutura das franquias A franquia segue um modelo padrão de negócio já desenvolvido e testado, podendo ser replicado em sua totalidade ou em partes. O sistema é padronizado: arquitetura; comunicação visual; marketing integrado; serviços; condições comerciais; preços; recursos humanos; sistema de gestão etc. O objetivo do franqueado é representar a marca e desenvolver o negócio na totalidade em sua região de atuação, desenvolvendo com maior rapidez e atingindo melhor desempenho, comparando-se à gestão própria. As redes de franquias têm características que lhes são próprias. Durante o processo de análise, esses pontos devem ser observados com atenção. Tempo de contrato Os contratos de franquia têm prazo definido, podendo ser renovados ou não a critério do franqueador. É fundamental que o prazo do contrato exceda o tempo estimado para o retorno do capital investido pelo franqueado. Know-how A transferência de know-how, ponto fundamental nas franquias, só é possível se o franqueador tiver, de fato, experimentado o modelo. É recomendável que o negócio seja franqueado após um período mínimo de um ou dois anos de experiência e do alcance do ponto de equilíbrio, em unidades-piloto, para que o franqueado adquira uma franquia testada no mercado. Treinamentos O know-how deve ser transmitido por meio de treinamentos e ser descrito em manuais para que o franqueado possa aplicá-lo no dia a dia do negócio. O plano de treinamentos deverá atender às necessidades de capacitação identificadas pela franquia, e os cursos deverão ser divididos em um 47 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO período predefinido para que possam ser viabilizados. O plano abrangerá os cursos a serem ministrados aos franqueados e seus funcionários, mas também aqueles que serão dados à equipe da franqueadora. Pagamento de taxas Para fazer parte de uma rede de franquias, o candidato a franqueado deve estar ciente de que deverá arcar com o pagamento de taxas, como royalties e contribuição para o fundo de propaganda. Padrões Todo franqueado deverá manter os padrões exigidos pela franquia, dando livre acesso ao supervisor de campo para que ele possa conferir se a unidade estáoperando de acordo com as determinações da franquia. Ponto comercial Para o comércio, a escolha do ponto representa um fator crítico para o sucesso do negócio. E a experiência da franqueadora é vital para auxiliar os franqueados a abrirem suas unidades nos locais onde o esforço de marketing seja menor e onde as características do ponto sejam mais adequadas ao perfil de seus clientes potenciais. Atualmente, para facilitar a visualização dos melhores pontos para seus modelos de negócio, as franquias, após definirem o público-alvo para seus produtos e serviços, têm a sua disposição ferramentas de geomarketing que disponibilizam informações segmentadas sobre o mercado em forma de mapas digitais. Esse levantamento, que pode ser feito pela própria franqueadora ou terceirizado para empresas especializadas no uso dessas ferramentas, servirá para indicar os melhores locais para a abertura das unidades. Layout A previsão de alteração de layout e as regras para atualização da marca e do projeto arquitetônico costumam ser previstas no contrato de franquia, e a melhor maneira de apresentar isso é por meio de um Manual de Identidade Visual. Uma das garantias de sucesso de uma rede de franquias relaciona-se a sua capacidade de manutenção dos padrões que ela determinou para atendimento ao cliente, layout das lojas, postura dos atendentes, qualidade dos produtos e qualquer outro fator que mantenha a cultura da empresa e os valores que ela deseja que sejam percebidos por seus clientes. 2.2.2 Vantagens do franchising Abrir um empreendimento no setor de franquias tem grandes vantagens, as quais serão detalhadas a seguir. • Marca reconhecida no mercado: o franqueado tem a possibilidade de aproveitar-se da vantagem competitiva de seu franqueador, pois seus serviços e/ou produtos já são utilizados no mercado. Ele pode também utilizar-se dos descontos nos preços, prazos mais longos e pagamentos com condições especiais, pois possui um cadastro financeiro respeitável. 48 Unidade I • Aumento nas chances de sucesso: as chances de um franqueador obter sucesso em um sistema de franquia são bem maiores do que uma pessoa que constrói um negócio independente. O franqueador abre um negócio com uma marca que já possui estabilidade e sucesso após vários testes de seus produtos em uma rede de distribuição própria. • Existência de um plano de negócio: normalmente o pequeno empreendedor independente não prevê fatos político-sociais e econômicos que possam afetar seu negócio, e é por isso que o empreendedor de franchising corre menos risco financeiro, pois conta com o apoio de um franqueador competente. • Maior garantia de mercado: o franqueado tem a garantia da vantagem competitiva do franqueador, que já testou os produtos e marcas no mercado, já planejou a sua expansão e possui informações sobre seus tipos de clientes. • Melhor planejamento dos custos de instalação: a franquia é formatada, por isso o franqueador calculará e informará o custo a ser rateado com os outros franqueados; a franquia fornecerá o projeto arquitetônico e as plantas de engenharia de construção. Normalmente, em um negócio independente, os custos fogem completamente à previsão, causando problemas de fluxo de caixa ao empreendedor. • Economia de escala: com a verba destinada aos custos de propaganda, quem toma conta são os franqueadores da rede, o que promove redução nos investimentos e mais qualidade da propaganda. Além disso, há vantagens com preços obtidos por uma central de compras da rede e investimento nos ativos fixos, como máquinas, equipamentos e instalações, o que também reduz custos. • Independência jurídica e financeira: apesar de não ser total, o franqueado possui uma independência jurídica e financeira em relação ao franqueador. A organização do franqueado terá sua própria razão social, sendo uma pessoa jurídica distinta, e todas as operações financeiras são de responsabilidade dessa empresa. • Possibilidade de pesquisa e desenvolvimento: o custo com pesquisas e desenvolvimento de produtos novos ou aperfeiçoamento dos já existentes é de responsabilidade do franqueador, que testará primeiro em sua unidade para depois lançá-los nas outras franquias. 2.2.3 Desvantagens do franchising Obviamente, abrir um investimento no setor de franquias também tem suas desvantagens. • Pouca flexibilidade oferecida: no sistema de franchising, é formatado o sistema operacional do franqueado, que é permanente. O franqueado deve estar ciente de que a condição fundamental para o desenvolvimento da franquia é a independência mútua e que ambas as partes vão dividir tudo, ou seja, até mesmo fracassos e derrotas. 49 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO • Risco de ocorrência de falhas no sistema: o franqueado sempre está correndo o risco de haver falhas nos sistemas. Quando ele escolhe um sistema problemático, o risco de ele estar fazendo um mau negócio é grande e pode acarretar problemas futuros. Pode haver descumprimentos nas cláusulas contratuais, como atraso na entrega de equipamento e produtos, perda de qualidade ou pouca inovação nos produtos por ele comercializados. • Localização forçada: mesmo que o franqueado tenha ótimas sugestões de lugar para a abertura do negócio, o fato de o franqueador ter a palavra final sobre a localização faz com que o ponto seja sempre decidido por este. Considerando o exposto, verifica-se claramente que o sistema de franquias tem demonstrado grande crescimento no mercado brasileiro. O referido sistema está envolto em uma estrutura complexa, agregada por valores de ordem jurídica que são vitais para o sucesso da franquia. A evolução de franchising no Brasil leva a uma mudança de postura por parte de franqueados e franqueadores. Pelo lado do franqueador, entende-se cada vez mais que é preciso ser criterioso na análise de perfil dos candidatos, buscando parceiros, não apenas investidores. Pelo lado dos franqueados, percebe-se que muitos têm buscado mais informações e capacitações para gerir a empresa, por compreenderem que a gestão é uma responsabilidade sua. Um dos aspectos mais importantes de uma rede de franquias é o estabelecimento dos territórios de atuação de cada unidade e da franqueadora, definindo limites, preferência ou exclusividade sobre eles. Um território pode ser limitado a um quiosque ou a uma loja dentro de um shopping e se expandir até outras regiões, como ocorre com os contratos de masters franqueados. Saiba mais Para ler na íntegra a Lei n. 8.955, consulte a referência a seguir: BRASIL. Lei n. 8.955, de 15 de dezembro de 1994. Dispõe sobre o contrato de franquia empresarial (franchising) e dá outras providências. Brasília, 1994. Disponível em: https://bit.ly/3ropUzM. Acesso em: 21 jul. 2021. Podemos entender, ao falar sobre o varejo, que ele é um canal de distribuição e que as cadeias de fornecimento são temas bem sensíveis para o segmento. 50 Unidade I Resumo Destacamos nesta unidade o histórico e a evolução do varejo no Brasil, o autosserviço, a constituição dos shopping centers, a venda direta, o varejo eletrônico e as franquias. Buscamos levantar um breve histórico do varejo de forma geral e, especificamente, o brasileiro, principalmente pela importância do setor no cenário econômico do país, que vem sendo cada vez mais reconhecido e destacado, além de gerador do maior número de empregos formais no Brasil. Ao estudar as funções e os tipos de varejo, acentuamos os canais de distribuição integrados e não integrados. Devido à grande variedade de canais existentes hoje no mercado, escolher o melhor meio de divulgação e distribuição pode ser um desafio, pois uma escolha errada poderá comprometer todo um planejamento de marketing efetuado pela empresa. Os profissionais das empresas de varejo ou indústrias que reabastecem o varejo não podem ignorar as operações ligadas à obtenção de matérias-primas para produzir os itens necessários para os pedidos dos clientes. O processo de distribuição, por meio dos canais até asprateleiras dos varejistas, ou ainda o comportamento do consumidor na tomada de decisões de compra nos pontos de vendas (PDVs), são operações que influenciam a maneira de se fazer negócios nas empresas. Também vimos que é vital observar fatores como inovação, foco no cliente, transparência, inteligência operacional, planejamento, desempenho e agilidade na tomada de decisões e resolução dos problemas. A estrutura de franquia é um importante segmento do varejo brasileiro, principalmente por entendermos que a evolução de franchising no Brasil tem crescido muito e tem se sobressaído na economia nacional. Por fim, ilustramos os canais de distribuição e as funções dos intermediários na distribuição dos produtos. 51 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Exercícios Questão 1. Imagine que uma fábrica tenha de entregar os produtos vendidos a três varejistas, indicados por A, B e C. Para isso, os responsáveis pelo setor de logística devem optar pelo modelo M1 ou pelo modelo M2, os quais são apresentados na figura a seguir. Intermediário Varejista B Varejista A Varejista C Fábrica Modelo M1 Fábrica Varejista B Varejista A Varejista C Modelo M2 Figura 9 Com base na situação exposta e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas. I – No modelo M1, temos uma rede de distribuição de produtos direta, com a presença de intermediário. II – No modelo M2, temos uma rede de distribuição de produtos indireta, sem a presença de intermediário. III – A disposição geográfica das instalações, a alocação dos produtos nas instalações e o gerenciamento da rede de distribuição são fatores secundários para a minimização de custos se comparados à definição do modelo de distribuição escolhido por uma fábrica. Com base no exposto e nos seus conhecimentos, assinale a alternativa correta. A) Apenas a afirmativa I é correta. B) Apenas a afirmativa II é correta. C) Apenas a afirmativa III é correta. D) Todas as afirmativas são corretas. E) Nenhuma afirmativa é correta. Resposta correta: alternativa E. 52 Unidade I Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: no modelo M1, temos uma rede de distribuição de produtos indireta, com a presença de intermediário. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: no modelo M2, temos uma rede de distribuição de produtos direta, sem a presença de intermediário. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: a disposição geográfica das instalações, a alocação dos produtos nas instalações e o gerenciamento da rede de distribuição são fatores decisivos, assim como a definição do modelo de distribuição escolhido por uma fábrica, para que a empresa apresente o melhor desempenho associado ao menor custo possível. Questão 2. (Enade 2015) Leia o texto a seguir. Os números do franchising no Brasil indicam que o segmento está em crescimento exponencial. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), havia no país, em 2003, apenas 678 empresas franqueadoras. Uma década depois, chegamos a impressionantes 2.700 organizações que seguem esse modelo de negócio. No que diz respeito ao faturamento, a mesma pesquisa mostra que a receita das redes saltou de R$ 29 bilhões para R$ 115 bilhões. Disponível em: https://endeavor.org.br. Acesso em: 2 ago. 2015 (com adaptações). Considerando o contexto das franquias, avalie as afirmativas. I – Uma franquia é um sistema de negócio em que o franqueador cede o direito de utilização da marca e da distribuição exclusiva de seus produtos e serviços ao franqueado no padrão de gestão do franqueador. II – Contextos e formatos de franquia e filial são similares, pois ambas recebem recursos financeiros da matriz, o que lhes assegura autonomia mínima. III – A franqueadora deve conhecer de modo preciso o perfil a ser exigido dos candidatos, para que alcancem sucesso na gestão da franquia. IV – A padronização nos processos internos, na qualidade de atendimento e nas estratégias de apresentação do produto pode ser prejudicial ao sucesso do franqueador. 53 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO É correto apenas o que se afirma em: A) I e III. B) I e IV. C) II e III. D) I, II e IV. E) II, III e IV. Resposta correta: alternativa A. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: o sistema de franquia é uma estratégia de expansão de negócio. Nesse modelo, o detentor de uma marca (ou aquele com conhecimento na prestação de serviços) licencia, por meio de remuneração, o uso desses bens a terceiros, que são os franqueados. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: uma franquia não é uma filial. A franquia é uma cessão de direitos de uso de marca ou de modelo de negócio, que será remunerada pelo franqueado ao franqueador. Franqueado e franqueador têm identidades jurídicas próprias. Já uma filial tem a mesma razão social da matriz e deve pertencer ao mesmo dono. III – Afirmativa correta. Justificativa: o franqueador, como conhecedor do modelo de negócio a ser explorado, deve seguir regras claras e objetivas para a seleção de um franqueado. Esse tipo de atitude diminui o risco do negócio e permite que franqueador e franqueado tenham maiores chances de sucesso em seus objetivos. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: a expertise do franqueador, ao ser cedida para o franqueado, é um fator de sucesso. 54 Unidade II Unidade II 3 CADEIA DE ABASTECIMENTO NO VAREJO A compreensão do conceito de cadeia de abastecimento no varejo passa pelo entendimento de quais são os processos-chave de negócios realizados pelas empresas pertencentes a uma determinada cadeia. A definição de gerenciamento de cadeia de suprimentos inclui o planejamento e gestão de todas as atividades que tratam de abastecimento, aquisição e logística, coordenando e colaborando ainda com os canais de distribuição (intermediários) e fornecedores. A gestão da cadeia de abastecimento, ou suprimentos, representa uma estratégia organizacional que busca a vantagem competitiva, melhorando e maximizando os relacionamentos entre as companhias, cujo objetivo final é atender da melhor maneira e encantar o consumidor final. Com o objetivo de reduzir os custos, obter agilidade no processo e, por consequência, maior competitividade, a otimização da cadeia de suprimentos é uma proposta de reorganização do ambiente empresarial, desde os fornecedores até a distribuição física, baseada na ideia da eliminação de desperdícios, sempre buscando o melhoramento contínuo dos processos de produção. Na figura a seguir, temos um entendimento dos componentes da cadeia: Fornecedores de matérias-primas Fabricantes de componentes Indústria principal Atacadistas e distribuidores Varejistas Consumidor final Figura 10 – Cadeia de suprimentos Bowersox e Closs (2009) esclarecem que a gestão dessa cadeia de suprimentos compreende as empresas que colaboram para alavancar posicionamento estratégico e para melhorar a eficiência das operações, criando um arranjo estratégico de canal baseado na conexão entre esses parceiros comerciais que transpõem a fronteira organizacional. 55 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 3.1 Objetivos da gestão da cadeia de abastecimento O principal objetivo da gestão da cadeia de abastecimento é diminuir o total de recursos necessários para proporcionar o nível exigido de serviço ao cliente em qualquer segmento. Entre suas atividades, destacam-se: • Coordenação das necessidades do cliente com o fluxo de materiais dos fornecedores, reduzindo investimentos em estoques na cadeia, aumentando o serviço ao cliente, gerando vantagem competitiva e valor para a cadeia de abastecimento. • Colaboração entre varejistas e fabricantes no desenvolvimento de novos produtos. • Colaboração em aperfeiçoamento de processos. • Redução de custos administrativos em geral. Dentro da cadeia de suprimentos (em inglês, supply chain), temos a logística, que é um processo de gerenciamento estratégico de aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças e produtos. É parte do processo da cadeia de suprimentos, que planeja, implementae controla o fluxo e o armazenamento eficiente dos bens e serviços, desde o ponto de origem até o local de consumo, garantindo a integridade e a qualidade dos produtos. Observação A visão do supply chain recai sobre todo o processo de geração de produtos e serviços, desde a entrada da matéria-prima até a entrega do produto ao cliente, monitorando processos. Para o estudo da cadeia logística, classificam-se as atividades em primárias e secundárias. 3.1.1 Atividades primárias Destacamos a seguir as atividades primárias na cadeia logística: • Transporte: é o fluxo de bens, desde o ponto de origem até o ponto de consumo. Dessa forma, o transporte, um dos principais pontos da logística, é o evento que consiste em se movimentar cargas – que podem ser mercadorias, produtos, insumos etc. e também pessoas e animais – de um ponto inicial para um destino final. Inclui também a logística reversa, no caso de devoluções de produtos, embalagens retornáveis, sucatas etc. Os transportes representam entre 60% a 65% do custo logístico total da empresa. O transporte é dividido em modais, que podem ser de cinco tipos diferentes: rodoviário (caminhões, ônibus, motocicletas); ferroviário (trens); aquaviário (barcos, navios); dutoviário (dutos); e, por fim, aéreo (aviões). 56 Unidade II Figura 11 – Transporte rodoviário Disponível em: https://bit.ly/3rya05S. Acesso em: 21 jul. 2021. • Processamento de pedidos: envolve o tempo decorrente entre a colocação do pedido e a entrega do produto. Trata-se de um dos principais indicadores de desempenho medidos pelas empresas de classe mundial, conhecido como order cycle time. É o tempo entre a colocação de um pedido até o seu recebimento, incluindo tempo de transmissão, processamento, preparação e embarque. Também é conhecido como lead time total. • Manutenção de estoques: o controle do estoque, ou gerenciamentos dos estoques, é importante para: ―— Manter níveis adequados de estoques de matérias-primas, material em processo, produtos acabados e peças de reposição para atender às necessidades dos clientes internos e externos, sem que se incorra em custos desnecessários (dinheiro investido em estoques é dinheiro indisponível para outros fins). —― Garantir a acuracidade dos estoques e sua real disponibilidade. O planejamento do estoque atende aos aspectos essenciais na sua concepção, por exemplo, quando fazer o pedido de reabastecimento, quanto manter em estoques de segurança e quanto pedir. 3.1.2 Atividades secundárias São designadas como atividades secundárias as seguintes: • Manuseio de materiais e armazenagem: o manuseio refere-se à movimentação dos produtos no local de armazenagem e compreende desde o processo de recebimento do item, incluindo a sua movimentação interna dentro do armazém, até o momento de sua saída (expedição). A armazenagem corresponde à administração de espaço físico, pessoas, equipamentos e sistemas necessários para a manutenção dos inventários e de outras atividades que agregam valor ao produto final. Manuseio e armazenagem também envolvem decisões estratégicas, como localização de 57 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO armazéns, sua quantidade, layout, funcionalidade etc. Movimentação e armazenagem respondem por cerca de 30% a 35% do custo logístico total da empresa. • Embalagem: esta desempenha, basicamente, duas funções: —― Marketing: age como uma forma de propaganda ou promoção e precisa chamar a atenção no ponto de venda, informar as características e atributos do produto. Figura 12 – A embalagem é uma forma de propaganda Disponível em: https://bit.ly/3kFFXYE. Acesso em: 21 jul. 2021. —― Logística: protege o produto contra avarias na movimentação e estocagem, facilita o empilhamento e a movimentação do produto (ergonomia). Na função logística, os produtos e as peças são embalados geralmente em caixas de papelão ou madeira, sacos, barris, para maior eficiência no manuseio, e são também chamadas de embalagens secundárias. Figura 13 – Caixa de papelão protege o produto contra avarias Disponível em: https://bit.ly/3x5liQm. Acesso em: 21 jul. 2021. 58 Unidade II • Suprimentos: a área de suprimentos adquire materiais e serviços necessários para o adequado funcionamento das atividades produtivas e de vendas e para as atividades de suporte. A atividade abrange: —― seleção e desenvolvimento de fornecedores; —― especificação do material ou serviço, inclusive padrões de qualidade; —― negociação de preços e serviços; —― follow-up com os fornecedores; —― avaliação dos fornecedores; —― controle da qualidade dos materiais. Observação É importante nunca confundir suprimento com matéria-prima, pois a matéria-prima é um dos tipos existentes de suprimentos. Outro problema se refere ao conceito de prazo logístico: quanto tempo leva-se para converter um produto acabado, quanto tempo o pedido leva até chegar ao cliente e quanto tempo até finalizar a venda ao consumidor final. Os problemas causados por essas atividades podem resultar de uma má coordenação entre as decisões de fornecimento e as necessidades do mercado. Fabricantes de componentes Indústria principal Atacadistas e distribuidores Varejistas Consumidor final Fornecedores de matérias-primas Produto acabado Figura 14 – Cadeia de abastecimento típica Adaptada de: Novaes (2001). 59 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Lembrete Na logística, as atividades primárias envolvem o transporte, o processamento de pedidos e a manutenção de estoques. Já as atividades secundárias compreendem o manuseio de materiais e armazenagem, a embalagem, os suprimentos e os sistemas de informação. Ainda é preciso se atentar para as diferenças entre cadeia de abastecimento e cadeia de valor. O conceito de cadeia de valor formulado por Porter (1989) destaca a agregação de valor por meio da realização de atividades primárias e secundárias. Para esse autor, não é possível entender a vantagem competitiva sem analisar a empresa como um todo. A análise da cadeia de valor busca enxergar a empresa como um conjunto de atividades inter-relacionadas, que buscam agregar valor específico ao cliente. As atividades de valor podem ser divididas em primárias e de apoio. As primeiras são as envolvidas na criação física do produto e na sua venda e transferência para o comprador, bem como na assistência pós-venda (logística interna, operações, logística externa, marketing, vendas e serviço). As atividades de apoio sustentam as atividades primárias e a si mesmas, fornecendo insumos adquiridos, tecnologia, recursos humanos e várias funções no âmbito da empresa. Por outro lado, a cadeia de abastecimento é um conjunto de ações e processos que possibilita que o produto chegue ao consumidor final e que possa agregar valor ao produto. Esses processos devem ser integrados com todos os outros, tais como: localização da organização; distribuição física; administração de estoque; modais de transporte; fluxo de informações; relacionamentos, ou seja, comprar, produzir e distribuir. Também há a diferença entre a cadeia de abastecimento e logística, pois a logística centra-se no transporte com o frete de entrada e saída, de armazenagem de mercadorias, o transporte reverso, as comunicações durante o transporte e a entrega de bens. Dependendo da empresa, as duas áreas podem ser agrupadas como uma só, e a mesma pessoa pode gerenciar tanto a cadeia de suprimentos como a de logística. Como o foco de atenção é a cadeia de abastecimento, é preciso que os membros dessa cadeia atuem de modo integrado, reduzindo os custos totais do sistema e dos estoques, ao mesmo tempo que devem permitir ao consumidor a possibilidade de escolher produtos de melhor qualidade. A cadeia de abastecimento liga os parceiros da cadeia ou do canal de abastecimento de uma organização. Eles são, ou podem ser, via de regra, fornecedores, intermediários, prestadores de serviços, logísticos e clientes. Nesse conceito, os parceiros da cadeia de abastecimento trabalham de forma integrada, visandoà satisfação do consumidor e à maximização da eficiência dos negócios. O foco está na eficiência da cadeia como um todo, e não na eficiência individual das partes, que se posicionam a montante ou a jusante da organização, e que permitem entregar valor superior ao cliente final a um custo menor para todos os intervenientes da cadeia de abastecimento, possibilitando a redução dos custos, dos estoques e disponibilizando produtos com melhor qualidade. 60 Unidade II 3.2 Desafios em supply chain Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas empresas no gerenciamento da cadeia de suprimentos estão a relação entre fornecedor e comprador, as dificuldades na avaliação dos fornecedores, os erros dos fornecedores e a má qualidade do produto. Ainda podem ser destacados os seguintes aspectos: • Falta de conhecimento dos custos da empresa. • Incompatibilidade de processos entre os integrantes da cadeia, os quais estão relacionados à falta de integração entre os membros da cadeia de suprimentos. • Diferentes sistemas de informação, pois as empresas adotam softwares sem um modelo padrão definido. • Aplicação e tempo necessários para a implementação, o que gera certo desgaste para os futuros utilizadores. • Promessas irreais com relação aos softwares a serem adotados. • Estrutura organizacional, que envolve a forma pela qual as atividades desenvolvidas por uma organização são divididas e como são ordenados os relacionamentos de autoridade, a qual controla as tarefas. Assim, as pessoas coordenam suas ações e usam os recursos para atingir os objetivos organizacionais, incluindo os aspectos físicos, humanos, financeiros, jurídicos e administrativos. Destaca-se que nem sempre esses aspectos estão devidamente administrados. • Cultura organizacional, que significa o conjunto de valores, crenças, rituais e normas adotado por uma determinada organização. Pode ser constatado também que diferentes culturas e atitudes organizacionais acabam gerando conflitos entre os membros da cadeia de suprimentos, dificultando sua integração. As medidas de desempenho e os critérios de avaliação e remuneração envolvem o estabelecimento de coleta de dados, fórmula, duração do ciclo de controle e definição dos responsáveis pela coleta e análise dos dados. Esse processo deve compreender a identificação clara dos indicadores e a análise de sua relevância, pois é necessário tornar evidente para as pessoas envolvidas com o processo de medição quais os vínculos entre o que está sendo medido e a finalidade do indicador. Segundo Bowersox e Closs (2009), a integração das atividades logísticas se dá em quatro níveis funcionais: • sistema transacional com capacidade de controle gerencial e apoio às negociações de serviços contratados; • controle gerencial que se preocupa com a avaliação dos sistemas de medição de desempenho e que controla as operações; 61 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO • apoio à decisão que foca na análise e na avaliação de atividades que melhorem a eficácia da organização; • planejamento estratégico que visa decisões que envolvem alto risco, tendo grande número de alternativas para escolha. Com uma cadeia de suprimentos integrada, o fluxo de produtos e de informação ocorre de forma mais fácil e rápida. Etapas como planejamento de operações e produção, finanças, custos orçamentários, fluxo de caixa e investimentos devem estar asseguradas e dispostas para os responsáveis, pois somente com informações claras e de fácil acesso é possível ser eficiente e ágil, assegurando o plano de funcionamento. Figura 15 Disponível em: https://bit.ly/36RVWLe. Acesso em: 21 jul. 2021. O princípio básico da gestão da cadeia de abastecimento (supply chain management) é medir o desempenho em toda a cadeia para aferir o sucesso coletivo quanto ao atendimento eficaz ao usuário final. Aquilo que não se mede não se gerencia e não se melhora, e tudo isso é feito por meio da gestão de diversos processos envolvidos na atividade. 3.3 Processos Em primeiro lugar, deve-se entender que atuar com a administração de varejo e toda a cadeia de fornecimento e as categorias de produtos compõe um processo. Assim, os processos podem ser entendidos como elementos centrais da operação de qualquer empresa. O processo é qualquer produção de bens ou serviços, com inputs, que são transformados e entregam outputs. Assim, qualquer atividade que recebe uma entrada (input) agrega-lhe valor (processamento) e gera uma saída (output) para um cliente interno ou externo. 62 Unidade II Recursos transformados: - Materiais - Informações - Clientes Valor agregado para os clientes Processo de transformação Recursos de transformação: - Instalações - Funcionários Recursos de input Output de produtos e serviços Figura 16 – Esquema da produção e processos Adaptada de: Tagliaferro (s.d.). Uma vez identificados e mapeados os processos, é importante decidir quais processos-chave precisam ser reformulados e em que ordem devem ser atacados, tendo em vista que nenhuma empresa consegue reformular, simultaneamente, todos os seus processos-chave. Também é preciso considerar os subprocessos, que são conjuntos de atividades necessárias e suficientes para a execução dos processos. A quantidade de subprocessos depende da complexidade de cada um. Em um nível mais detalhado, as atividades de um subprocesso são desmembradas em tarefas, que compreendem a sequência de passos para realizar uma determinada atividade. Assim, é interessante separar os processos de produção dos bens e serviços oferecidos dos demais processos que ocorrem na organização, como os processos relacionados com a gestão da organização e os de apoio aos processos produtivos (HARRINGTON, 1993). Davenport (1994) salienta que a reengenharia de processos é um meio fundamental para a implementação de estratégias de redução de custo, velocidade e satisfação do cliente, tornando-se importante fonte de vantagem competitiva para as organizações. Porter (1989) classifica o conjunto das atividades de uma empresa em duas categorias, as atividades primárias e as atividades de apoio. Na primeira categoria encontram-se as atividades primárias, que são aquelas relacionadas com a criação física do produto, venda e transferência para o comprador e com a assistência pós-venda. Segundo o autor, tais atividades abrangem: logística interna – recebimento, armazenagem, gestão de estoques de materiais, fornecimento à produção e gestão da frota interna de veículos; operações – atividades ligadas à transformação dos insumos no produto final; logística externa – coleta, armazenagem 63 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO e entrega do produto final, gestão da frota de veículos externos e processamento de pedidos; marketing e vendas – propaganda, promoção, administração da força de vendas, definição de preços e canais de distribuição; serviço – atividades relacionadas à assistência técnica ao cliente (PORTER, 1989). Na segunda categoria estão as atividades de apoio, que dão suporte ao funcionamento das atividades primárias e a si mesmas. Elas englobam: aquisição – atividades ligadas à função de compra dos insumos utilizados na empresa; desenvolvimento de tecnologia – atividades ligadas ao aperfeiçoamento do produto e dos processos da organização; gerência de recursos humanos – atividades de recrutamento, seleção, admissão, desenvolvimento, motivação e remuneração do pessoal, as quais não estão restritas ao departamento de Recursos Humanos, mas fazem parte também das atividades dos gerentes; infraestrutura da empresa – abrange atividades de planejamento, gestão financeira, contabilidade, sistemas de informações gerenciais, solução de problemas jurídicos, gestão da qualidade e relações públicas (PORTER, 1989). Figura 17 – Um processo é uma atividade que agrega valor: é o trabalho executado pelo qual o cliente está disposto a pagar Disponível em: https://bit.ly/2UVAceB. Acesso em: 21 jul. 2021. Saiba mais Os filmes a seguir podem propiciar uma visãodo processo e mercado abordados nesta unidade: FOME de poder (The Founder). Direção: John Lee Hancock. EUA: FilmNation Entertainment, 2016. 115 min. CHEF. Direção: Jon Favreau. EUA: Open Road Films, 2014. 114 min. 64 Unidade II 3.4 Tecnologias para o varejo e a gestão de supply chain As tecnologias de informação e comunicação (TICs) passaram a andar ao lado dos processos logísticos, e assim foram desenvolvidos vários sistemas de informação para auxiliar na tomada de decisão logística. As empresas dependem de informações precisas e cada vez mais on-line com o fluxo de materiais, sejam matérias-primas, sejam produtos acabados. No varejo físico ou no e-commerce, as lojas dependem muito dos sistemas logísticos, uma vez que o produto chegar ao cliente no prazo prometido, de preferência antes de ele se esgotar, agrega muito valor à marca. Afinal, não “tem preço” comprar um produto na internet à noite e já recebê-lo na manhã seguinte. As empresas comerciais têm que tomar decisões sobre centenas ou milhares de tipos de produtos, além de negociar com vários fornecedores. Se essas transações não tiverem certa organização, isso poderá causar graves consequências financeiras. Nesse caso, a adoção de um sistema de gestão integrado (ERP – enterprise resource planning) pode ajudar a resolver esses problemas. Como as cadeias de suprimentos se tornam cada vez mais complexas, pode-se usar práticas que auxiliem as trocas de informações e conhecimentos para uma melhor eficiência e eficácia da cadeia. Vamos conhecer algumas delas e sua definição, conforme Seabra e Paula (s.d.). • EDI: documento oficial, padronizado e estruturado mundialmente, com regras entre os parceiros para ser utilizado para troca de informações em tempo real – computador a computador. Fundamental para as compras globais, que permitem troca de documentos antes da chegada dos produtos. • Outsourcing: terceirização de serviços de tecnologia. Como a internet não é uma rede segura, medidas especiais de segurança devem ser tomadas para proteger as informações sensíveis. • Sistema de gerenciamento de armazéns (WMS – warehouse management system): softwares para automatizar e gerenciar todas as atividades de um armazém, como os recebimentos, o endereçamento, os espaços e até a aplicação de técnicas de armazenagem. • Sistema de gerenciamento de transportes (TMS – transportation management system): softwares de acompanhamento e controle dos percursos e dos meios de transporte, podendo ser instalados em caminhões, trens, carros, ônibus e motocicletas. Trata-se de um GPS com rastreador e transmissor por satélite ou telefonia, que pode ainda ter um sistema de roteirização. Esse dispositivo pode ainda desligar ou travar o veículo, identificar reduções de velocidade e paradas, trancar portas e abrir e fechar baús. • Localização automática do veículo (AVL – automatic vehicle location): sistemas de posicionamento e comunicação que permitem o conhecimento da posição de um veículo. 65 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO • Roteirizadores: softwares para traçar as melhores rotas na ordem de entrega automaticamente, podendo ser incluídos critérios como segurança e urgência. • Código de barras: já utilizado desde os anos 1970 nos EUA, é importante para o controle de produtos e sua distribuição, bem como verificação de problemas, pois permite sua identificação e localização, o que é feito por meio de leitura ótica, captura e processamento dos dados codificados na barra. • QR code: esse elemento é a evolução do código de barras e promove um número maior de informações, a exemplo do direcionamento para endereços na internet. Esse dispositivo tem sido utilizado nos mais diversos setores, como alimentos, entretenimento, museus, exposições, preenchimento de formulários de presença, de pesquisa etc. • Identificação por radiofrequência (RFID – radio frequency identification): dispositivo eletrônico – um chipe com antena microscópica – capaz de receber e transmitir muito mais informações do que as existentes no código de barras. São as tags adesivas, em forma de etiqueta, que utilizam um sensor de radiofrequência. • Gestão de estoque de varejo (RMI – retail managed inventory): verifica as necessidades de estoque e as envia diretamente ao fornecedor para reposição automática. • Estoque gerenciado pelo fornecedor (VMI – vendor managed inventory): ao contrário do RMI, é a reposição automática feita no varejo a partir do fornecedor, ou seja, o fabricante passa a controlar o estoque. O VMI também é conhecido como um programa de reposição contínua (CRP – continuous replenishment program). • Reabastecimento contínuo (CR – continuos replenishment): deu origem ao dispositivo denominado planejamento colaborativo, previsão e reabastecimento (CFRP – collaborative planning, forecasting and replenishment), que prevê uma estrutura de ECR e uma parceria sólida entre os players para gerenciamento de informações. Na prática, busca a troca de informações para atender previsões de vendas, pois o varejo faz atividades de divulgação que o fabricante desconhece. • ECR: varejista, atacadista e fornecedor trabalham muito próximos para eliminar custos excedentes da cadeia de abastecimento e servir melhor o consumidor final, integrando os processos logísticos e comerciais ao longo de toda a cadeia de abastecimento, obtendo benefícios significativos quanto à diminuição dos custos operacionais e administrativos, à redução dos custos de manutenção dos estoques, à otimização da produção, ao incremento em vendas e às melhorias na relação indústria/varejo/atacado. O ECR e a gestão por categoria de produtos serão estudados mais adiante. 66 Unidade II Observação Outra inovação importante que os varejistas têm implantado são os aplicativos. É raro uma marca não possuir seu próprio app para fazer suas vendas aos consumidores diretamente. A época na qual o consumidor visitava o site para fazer suas compras está no passado. Hoje ele pode acessar as lojas preferidas por meio de aplicativos, que rapidamente resolvem seu problema e recebem seus pedidos. Exemplo de aplicação No processo de reposição automática, baseado no ECR, o comprador e o fornecedor estabelecem os parâmetros de reposição dos estoques (estoque máximo, estoque mínimo e o ponto de reposição). É necessário saber o quê, quando e quanto deve ser reposto no estoque, controlando o que sai e o que sobra de material estocado, de maneira que a demanda possa ser suprida. Esse tipo de levantamento se chama inventário, que é a organização de todos os itens do estoque feita por meio da contagem das mercadorias, relacionando seu valor unitário e também o valor total. O estoque mínimo é a quantidade mínima de mercadoria nas prateleiras para garantir a venda normal de pelo menos um dia. O ponto de reposição (ou chamada) é a quantidade que dispara a ordem de reabastecimento (respeitando o faturamento mínimo para a loja). O parâmetro depende basicamente do prazo de entrega fixado pelo fornecedor e da demanda. O estoque máximo é a quantidade máxima de uma mercadoria que a empresa deve estocar. Nesse caso, é importante saber os seguintes aspectos: o espaço disponível de seu estoque; o custo financeiro do estoque; os lotes que demandam muito tempo para serem consumidos e os produtos que requerem cuidados especiais de armazenamento. Deve ser estabelecido com base no ciclo de reposição ideal do fornecedor (semanal, quinzenal etc.). Após a definição desses parâmetros, o comprador envia ao fornecedor diariamente os dados de estoque de cada produto em cada loja. O fornecedor passa a realizar a comparação do estoque com os parâmetros, efetuando automaticamente o faturamento dos produtos com estoque próximo do ponto de reposição. A seguir, o fornecedor envia ao comprador uma nota fiscal eletrônica para a loja onde foi gerado o faturamento (via EDI), e por meio dessa informação o sistema do comprador gera também automaticamente um número de pedido de compra. Com a nota fiscaleletrônica, os dados já estarão no sistema de recebimento de mercadorias do comprador, o que facilita e gera rapidez no processo de conferência dos produtos que estão sendo entregues pelo fornecedor, eliminando a digitação dos dados da nota fiscal recebida. Reflita sobre o impacto desse processo na redução de custos administrativos. 3.5 Supply chain management no e-commerce 67 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Criar um e-commerce para vender eletronicamente produtos e serviços é uma tarefa simples hoje em dia, pois há diversas plataformas disponíveis, nas quais montar uma loja e começar a vender é uma questão de poucas horas de trabalho. Divulgar o site também se tornou algo menos complexo, graças às possibilidades abertas com as mídias sociais e o marketing digital. Os desafios operacionais começam após o site estar no ar. O primeiro obstáculo é a conversão de vendas, que significa o número de vendas dividido pelo total de visitas ao site. Para melhorar esse índice, alguns sites têm usado tecnologias para resgatar o carrinho abandonado (o cliente verifica um produto, coloca no carrinho do site e não termina a compra). Por meio do monitoramento das atividades no site, é possível retomar o contato com o cliente, por diferentes canais, e instigar um retorno deste consumidor ao carrinho para viabilizar a venda. Saiba mais Os livros a seguir podem propiciar uma visão do e-commerce: TURCHI, S. R. Estratégias de marketing digital e e-commerce. São Paulo: Atlas, 2012. TEIXEIRA, T. Comércio eletrônico: conforme o marco civil da internet e a regulamentação do e-commerce no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2015. Com a venda realizada, a logística passa a ter um papel fundamental, não apenas pela questão dos custos de transporte, que impactam diretamente a margem daquela venda, mas também pela perspectiva do atendimento às expectativas do seu cliente, que é receber o produto certo no tempo certo. Um consumidor satisfeito tende a se tornar recorrente, aumentando os seus índices de conversão, ao passo que um cliente insatisfeito dificilmente voltará a comprar naquele site. No comércio eletrônico, as encomendas são quase sempre de pequenos volumes (principalmente de celulares, livros, notebooks), mas o envio dessas ordens é algo complexo, portanto o sistema de logística é muito maior, e o serviço é diretamente fornecido ao cliente final, que sempre exige entrega rápida. No entanto, ponderando o custo dos investimentos em recrutamento e treinamento de pessoal, dos gastos para a aquisição e manutenção dos ativos e sistemas, assim como da gestão de tudo isso, as empresas consideram que a terceirização é a maneira mais eficaz e razoável de cumprir o serviço de logística para todos os clientes. Destaca-se que adotar a terceirização não deve ser uma decisão simples, como um “sim” ou “não”, pois exige competência e conhecimento sobre o assunto; competência essa focada em entender e acompanhar o provedor desse serviço e garantir a sua parte para que o desempenho cumpra as necessidades do negócio. 68 Unidade II Atualmente, existem vários serviços populares de gerenciamento de informações e sistemas, e um deles é o sistema ERP, que pode ajudar a coordenar vários departamentos da empresa, integrar o seu sistema de informação, além de adicionar outros módulos para satisfazer novos requisitos. O sistema ERP é flexível, preciso e conveniente. A logística geralmente exige que se disponha de ordem, contrato, entrega e retorno de mercadorias. Também deve contar com compartilhamento de dados em tempo real, integração do fluxo de parcela, fluxo de capital e fluxo de informação, controle remoto e várias estratégias de gerenciamento. Nas empresas varejistas, a decisão sobre o que comprar e em quais quantidades é uma tarefa vital, cujo objetivo final é obter um retorno adequado sobre essa operação. 3.6 Gerenciamento por categorias de produtos O gerenciamento por categorias é [...] um processo de uma parceria entre varejista e fornecedor para definir as categorias de produtos em cada ponto de venda conforme a necessidade que atendam (exemplo: matinais, beleza, limpeza) e gerenciá-las como se fossem unidades estratégicas de negócios. O método tem como objetivo aumentar as vendas e a lucratividade através de esforços para agregar maior valor ao consumidor final (O QUE..., 2017). O gerenciamento por categorias é uma ferramenta de gestão cujos benefícios são reconhecidos por varejistas, fabricantes e consumidores em todo o mundo. Na última década, ele foi responsável por significativas mudanças nos pontos de venda de lojas dos mais variados formatos. Em essência, o gerenciamento por categorias oferece soluções para as necessidades do consumidor agrupando os produtos por afinidade de uso ou categoria. Exemplo de aplicação Vejamos um exemplo de gerenciamento de categoria: os produtos de uso na lavanderia podem ser agrupados em uma categoria denominada “cuidados com as roupas”. Assim, em um mesmo espaço de venda, estarão todos os produtos para lavar (sabão em barra, sabão em pó, amaciante, baldes, escovas etc.), secar (varais, pregadores), passar (tábuas de passar, ferro elétrico) e guardar roupas (cabides, protetores plásticos, sachês perfumados, antimofo, antitraças etc.). Reflita a respeito de outras possibilidades de gerenciamento de categorias. Brian Harris (PhD em Marketing pela Universidade do Estado de Michigan) é internacionalmente conhecido pela paternidade do gerenciamento por categoria, um conceito que introduziu em vários países em 1989. 69 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO O processo de gerenciamento por categorias foi desenvolvido quando a economia teve muitas e importantes mudanças a partir da década de 1990, ocasião em que surgiram novos consumidores, mais exigentes e com maior poder de compra. Assim, o gerenciamento por categorias surge como uma ferramenta para suprir as necessidades do cliente no ponto de venda e criar sinergia e uma experiência de compras agradável, que motive o cliente a comprar mais. A estrutura do negócio por produtos é a base para a implementação desse processo. Essa estrutura organiza os produtos vendidos em departamento, grupo e linha dentro da loja, e, a partir daí, deve definir o papel de cada categoria dentro do seu negócio. Categoria é um grupo administrável e único de produtos ou serviços que os consumidores percebem como inter-relacionados e/ou substituíveis para satisfazer suas necessidades. O gerenciamento por categorias é uma ferramenta da ECR, sendo utilizado para gerenciar as categorias como unidades estratégicas de negócio, visando à parceria entre fornecedor (fabricante) e varejo, com a finalidade de atender às necessidades do consumidor. É evidente que a definição de um grupo de produtos que os consumidores percebem como inter-relacionados e/ou substituíveis entre si na satisfação de suas necessidades resulta no grupo de produtos que deverão compor esse espaço de venda. É importante salientar que essa definição se baseia no gosto e na necessidade do cliente. Observe a figura esquemática desenvolvida pela ECR Brasil (1998). 1 Definição da categoria 2 Papel da categoria 3 Avaliação da categoria 4 Cartão de metas da categoria 5 Estratégias da categoria 6 Táticas da categoria 7 Implementação da categoria 8 R ev is ão d a ca te go ria O que é cada etapa: Define os itens que formarão a categoria Define a estrutura e segmentação da categoria Define a prioridade e importância da categoria na estratégia da empresa Analisa o desempenho da categoria Identifica a oportunidade de vendas, o lucro e o retorno Define os objetivos a serem atingidos pelo fornecedor e pelo varejista Define o plano para cumprir o papel e as metas da categoria Determina as ações específicas para atingir os resultados previstos na estratégia Desenvolve um plano específico e atribui responsabilidades Figura 18 – Revisão de categoria Adaptada de: ECR Brasil (1998). 70 Unidade II SegundoPereira e Barros (2017), é função da área de gerenciamento de categorias: • desenvolver um sortimento de produtos para atingir os objetivos do negócio e agradar aos consumidores de acordo com suas necessidades; • determinar os preços que serão cobrados do consumidor pelos produtos de cada categoria; • definir as promoções a serem realizadas e os meios a serem utilizados; • determinar como a categoria será apresentada, sua localização, seu layout e o nível de serviço agregado ao produto. Saiba mais Consulte a referência a seguir para ler na íntegra o Manual de gerenciamento por categorias. ECR BRASIL. Manual de gerenciamento por categorias: metodologia simplificada. Associação ECR Brasil, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3eUbHFN. Acesso em: 23 jul. 2021. Lembrete Um consumidor satisfeito tende a se tornar recorrente, aumentando os seus índices de conversão, ao passo que um cliente insatisfeito dificilmente voltará a comprar naquele site. Para que o processo de gerenciamento por categorias seja viável, é necessário que o varejo e os fornecedores passem a trabalhar as categorias dos produtos, enxergando-as da mesma forma que o consumidor faz. O processo requer investimento em tempo e em tecnologia da informação. Os métodos utilizados não são novos, mas exigem organização e foco específicos. Buscando um maior entendimento do consumidor, o gerenciamento por categorias possibilita oportunidades para satisfazer às necessidades do consumidor e, ao mesmo tempo, estabelecer as vantagens competitivas a custos mais baixos, por meio de maior eficiência no processo de parceria. Existem, em média, 460 itens por categoria de produtos. O setor de produtos de consumo de massa se tornou mais dinâmico, os mercados estão mais competitivos, com crescente concorrência e a tecnologia se desenvolvendo rapidamente. É uma estratégia na qual o varejista, o distribuidor e a indústria trabalham juntos, com o foco: na eficiência da cadeia de abastecimento como um todo; na eliminação de custos excedentes do sistema e na criação de um tráfego mais eficiente de produtos baseado na demanda dos compradores. 71 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO O gerenciamento por categorias considera que o consumidor utiliza um produto/marca por influência dos canais de mídia e experiência de uso do produto, bem como pelas influências variáveis no ponto de venda. Canal de mídia é como a mensagem chegará ao alvo e como ela irá para o canal eletrônico, canal impresso, canal interno e externo etc. Meio é o tipo, é uma especificação do canal, por exemplo, no canal eletrônico, temos a TV, a rádio, o cinema; no canal impresso, a revista, o jornal. Veículo é a empresa propriamente dita: no meio TV, temos os veículos Globo, Record, SBT, Bandeirantes etc.; no meio rádio, temos Jovem Pan, CBN, BandNews. Figura 19 – Mídia, meio e veículo Disponível em: https://bit.ly/3rnTky9; Disponível em: https://bit.ly/3kEtwfN. Acesso em: 21 jul. 2021. O gerenciamento por categorias busca a satisfação do consumidor, trazendo benefícios como a facilidade e agilidade nas compras, um ambiente mais agradável, a redução de itens em falta com um sortimento adequado etc. O objetivo é trazer também benefícios para o varejo, como: alavancagem da categoria; otimização da gôndola e promoções; conhecimento das categorias e compradores; melhor administração da rentabilidade, estoque e mix de produtos; contribuição clara das categorias para a loja; melhor alocação de recursos e retorno sobre o investimento. As características de produtos semelhantes têm suas categorias. Por exemplo, a seção de arroz é composta de diferentes produtos, tais como: arroz parabolizado, branco polido, arbóreo, cateto ou japonês, basmati ou indiano, vermelho, negro e integral, e também possui várias marcas. Esse composto de diferentes produtos e marcas é o que constitui uma categoria. Outro exemplo seriam os produtos para um churrasco: churrasqueira, carnes bovinas, linguiças e de aves, espetos, carvão, acendedores, fósforos, guardanapos etc. Lembrete As categorias de produtos são compostas de diferentes itens de um grupo de produtos que os consumidores percebem como inter-relacionados para satisfazer suas necessidades. 72 Unidade II Entre os principais benefícios da implementação do gerenciamento por categoria, podemos destacar: • Relação entre cliente e produto: ajuda no entendimento do que o cliente busca, quer e precisa comprar, além de analisar o fluxo de clientes na loja e auxiliar na tomada de decisão sobre a linha de produtos. • Gestão do espaço e disposição de loja: fundamental no processo, melhorando a departamentalização e a distribuição dos produtos nas gôndolas e nas prateleiras, reduzindo custos com quebras e perdas em loja, excessos ou rupturas de estoque. • Gestão do merchandising: permite analisar o impacto da propaganda dentro da loja sobre o volume de negócios de determinado produto ou categoria, além de ajudar a definir os recursos de propaganda e merchandising mais adequados aos consumidores que frequentam a loja. Fomenta as vendas por meio da melhoria da visibilidade das categorias e produtos estratégicos, favorecendo a venda por impulso. • Gestão de margens e preços: o gerenciamento por categorias tem sua importância na análise de margens de contribuição das categorias, auxiliando a examinar a rentabilidade do produto em uma categoria. Permite ainda saber a real contribuição (venda e lucro) de cada marca para o negócio e a verificação do resultado final da margem resultante. • Gestão da cadeia de suprimentos (supply chain): favorece a melhor análise da cadeia de suprimentos, orientando compras e garantindo a segurança do estoque. Auxilia também no planejamento e na operação logística. Assim, estabelece parceria com fornecedor, proporcionando respostas importantes para a indústria ou para o lojista. O gerenciamento por categorias leva o varejista a olhar os detalhes de seu negócio, buscando produtividade e rentabilidade, e, principalmente, estabelecendo uma diferenciação de seu concorrente, o que permitirá um crescimento sustentável. Outro ponto que se deve destacar na implementação do processo de gestão por categorias está no fato de que é preciso controlar e supervisionar tudo que ocorre na operação da loja para melhorar sempre a prestação de serviço ao cliente, lembrando que o que não é medido não é gerenciado. É importante acentuar que em tempos de crise é preciso vender mais para os clientes existentes, trabalhando com foco no atendimento e nas pessoas. Obviamente, deve-se ter paixão pelo que se faz. É evidente que a definição da categoria resulta no grupo de produtos que deverão compor esse espaço de venda. Essa definição baseia-se no gosto e na necessidade do cliente. A árvore de decisão é um mapa dos possíveis resultados de uma série de escolhas relacionadas pelo consumidor. Isso permite que um indivíduo ou uma organização compare possíveis ações com base em seus custos, probabilidades e benefícios, atribuindo um valor a cada resultado possível. As decisões dos clientes estão ligadas diretamente ao sortimento da loja, portanto dependem de seu tamanho e formato, das soluções (categorias) que pretende oferecer e do papel da categoria na loja. As árvores de decisão são ferramentas que podem ser utilizadas para dar às pessoas a capacidade de aprender, bem como para tomar decisões. 73 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Necessidade Necessidade Produtos que atendem à necessidade Organização dos produtos Categoria Árvore de decisão Figura 20 – Entender as necessidades do consumidor As organizações utilizam três critérios para ajudá-las na definição das categorias: • o primeiro é o grau de disfunção: que processos são mais problemáticos? • o segundo é a importância: que processos exercem maior impacto sobre os clientes da empresa? • o terceiro é a exequibilidade: quais os processos da empresa que são, no momento, mais suscetíveis de serem redefinidos com sucesso? 4ETAPAS DO GERENCIAMENTO POR CATEGORIAS Uma vez que já se tem o conhecimento do consumidor nas principais categorias, não faz sentido repetir o investimento e o esforço no processo de gerenciamento por categoria simplificado. O que pode ser feito, se desejado, é uma pesquisa simplificada para obter alguns dados sobre os clientes específicos do local onde está sendo aplicado o gerenciamento por categoria, comparando os resultados locais com as informações gerais existentes. O modelo simplificado, portanto, segue os conceitos gerais do tradicional processo de oito passos, simplificando-o para quatro passos. Observe o processo tradicional a seguir. Quadro 6 – Modelo completo de gerenciamento por categoria (oito passos) Re vi sã o da c at eg or ia Definição da categoria Define os itens que formarão a categoria Define a estrutura e a segmentação da categoria Foco: comprador/ consumidorPapel da categoria Define a prioridade e a importância da categoria na estratégia da loja Avaliação da categoria Analisa o desempenho da categoria Identifica oportunidades de vendas, lucro e retorno Foco: definição e implementação do plano da categoria Cartão de metas Define os objetivos a serem atingidos pelo fornecedor e pelo varejista Estratégias da categoria Define o plano para cumprir o papel e as metas da categoria Táticas da categoria Determina as ações específicas para atingir os resultados previstos na estratégia Implementação Desenvolve um plano específico e atribui responsabilidades Retorno É feita uma revisão e mensuração do progresso do plano, por meio do papel da categoria e das medidas de desempenho para modificar o plano, caso seja apropriado 74 Unidade II Quadro 7 – Modelo simplificado de gerenciamento por categoria (quatro passos) Avaliação Pré-requisitos para varejo e indústria Mapeamento de oportunidades Qualitativo e quantitativo Táticas Define a prioridade e a importância da categoria na estratégia da loja Recomendação Recomendação das táticas para o lojista Sortimento e exposição (planograma) Envolvimento dos tomadores de decisão Ajustes na recomendação Implementação Envolvimento e treinamento do pessoal da loja Garantia de condições ideais para implementação do processo Implementação de gerenciamento por categoria na loja Monitoramento Monitoramento dos resultados do processo na loja Qualitativo e quantitativo Apresentação de resultados Revisão das premissas e ajustes (se necessário) Revisão e apresentação periódica de resultados 4.1 Definição, papel e avaliação da categoria Observe a seguir a definição de gerenciamento por categorias: é um processo de uma parceria entre varejista e fornecedor para definir as categorias de produtos em cada ponto de venda conforme a necessidade que atendam (exemplo: matinais, beleza, limpeza) e gerenciá-las como se fossem unidades estratégicas de negócios. O método tem como objetivo aumentar as vendas e a lucratividade através de esforços para agregar maior valor ao consumidor final (O QUE..., 2017). Existem quatro papéis de categorias, conforme veremos a seguir. Destino Compreende as categorias pelas quais a loja é lembrada como o melhor local para adquirir o produto. Isso não significa oferecê-lo pelo menor preço, mas ter o melhor valor percebido, composto de sortimento, preço, ambientação e serviço, sendo uma referência. Uma loja que é considerada a melhor naquela categoria. Como exemplo, temos a categoria frutas e verduras, vinhos e bebidas refrigeradas, pães e cereais, carnes, comida pronta, congelados. Quando perguntam “onde você compra material escolar?”, nós temos uma referência, uma loja que consideramos a melhor nessa categoria, que engloba 5% a 7% das categorias de produtos. 75 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Rotina Envolve as categorias que determinam o varejista como loja preferida pelo fornecimento de valor consistente e competitivo no atendimento das necessidades de rotina do consumidor. Respondem por aproximadamente 60% das categorias. Por exemplo, em higiene pessoal, temos creme dental, papel higiênico, sabonetes e xampus. Os produtos de rotina são bastante semelhantes aos produtos de conveniência. Rotina diz respeito à categoria de produtos, e não a uma marca específica: as pessoas compram frequentemente creme dental como um produto em supermercado; entretanto, podem variar de marca. Ocasional ou sazonal Engloba as categorias que reforçam a imagem do varejista como loja preferida pelo fornecimento de valor competitivo e oportuno ao consumidor-alvo para compras sazonais (Páscoa, Natal, verão, Dia das Mães, Dia das Crianças etc.). São produtos que não fazem parte da rotina de compra dos consumidores, são adquiridos de forma esporádica e, em geral, não são de primeira necessidade. Representam 20% das categorias e incluem itens típicos de datas comemorativas: chocolates (Páscoa), bronzeadores (verão), panetone (Natal). Como esses produtos são vendidos numa única época, o objetivo é ser o canal de compra mais importante para o público-alvo. Conveniência Abrange as categorias que reforçam a imagem do varejista como loja completa pelo fornecimento do valor adequado ao consumidor no atendimento de suas necessidades de reposição planejadas ou não planejadas. A aquisição dos produtos dessa categoria pode se dar de três formas: por impulso, quando o consumidor já está dentro da loja (pode comprar um iogurte que foi lançado e ainda não provou); por emergência, quando o cliente tem a necessidade de adquirir determinado produto por qualquer motivo de urgência (pilhas, por exemplo), num prazo de tempo específico; de primeira necessidade, quando o cliente necessita comprar determinado produto para satisfazer uma necessidade básica (como alimentos). É importante que o varejista gerencie as categorias de produtos como se fossem unidades estratégicas de negócio, ou seja, como se fossem pequenos negócios dentro do negócio maior chamado varejo. Para que o varejista possa tirar todo proveito desse gerenciamento, deve seguir os seguintes passos, com a definição de um cronograma para realizar o acompanhamento da execução do plano de implantação a ser definido: • Definição: aqui são definidos os itens que farão parte de cada categoria, a estrutura e segmentação da categoria de produtos. • Papel: são definidas as prioridades, quais categorias serão gerenciadas inicialmente e qual o papel de cada uma delas dentro da estratégia da empresa. 76 Unidade II • Avaliação e acompanhamento: analisar o desempenho de cada categoria, identificando as oportunidades de vendas, lucro e fidelização de cada uma delas, efetuando uma avaliação e acompanhamento, a rentabilidade e a participação de cada item e categoria no faturamento da loja. • Metas: definir os objetivos a serem atingidos em cada uma das categorias, tais como mix, preço, espaço de área de vendas, tipo de exposição, agrupamento, localização, volume de vendas e lucros, tanto pelo varejista quanto pelo fornecedor, fazendo uma análise comparativa do antes e depois dos indicadores definidos e revisando os resultados após alguns meses. • Estratégia: definir plano para o papel e as metas de cada categoria definindo o layout da loja, altura dos equipamentos de exposição, comunicação visual. • Táticas: determinar as ações específicas de cada categoria para atingir os resultados previstos nas estratégias definindo seus limites e, dessa forma, fixar objetivos específicos; mix de produtos; sortimento e variedade; promoção; exposição dos produtos; definição da localização; definição do espaço; precificação da categoria ou subcategoria. • Implantação do plano: desenvolver um plano de ação específico para cada categoria de produto, atribuindo responsabilidades e datas limites de execução. Ele pode ser voltado para uma categoria, um produto específico ou serviço oferecido pela empresa. • Revisão: revisar o papel, as metas de vendas e o desempenho de cada uma das categorias, rentabilidade, precificação, mix deprodutos, localização, espaço e periodicamente. A definição dos itens que devem integrar uma categoria, um departamento e suas metas deve considerar dados do mercado, dados internos de vendas e de pesquisas com os consumidores. Lembre-se ainda de que o consumidor-alvo é a parcela da sociedade consumidora para quem sua empresa direciona os produtos/serviços. É essa parte da sociedade que vai comprar suas mercadorias e, assim, permitir que seu negócio caminhe, amealhando lucros. Cada empresa oferece uma combinação dos tipos de categoria de produtos, principalmente, em função do perfil sociodemográfico e do nível de qualidade de vida do seu público. Assim, uma mesma categoria pode ter diferentes papéis, dependendo da descrição de quem compra na loja, do entendimento de suas necessidades, de motivações e do processo decisório de quem compra. O perfil sociodemográfico compreende o estilo e a fase da vida de seus consumidores para descobrir onde vivem, se fazem compras e socializam, bem como aquilo que compram. Essas decisões constituem o início da implementação do gerenciamento por categorias na loja. Para tal, uma das questões mais importantes é o arranjo da loja. A exposição deve ser organizada de maneira que o fluxo de circulação da loja conduza a atenção do consumidor a todas as categorias oferecidas. O ideal é que cada centro de soluções seja planejado buscando a melhor forma de ambientação e exposição dos produtos, considerando o processo decisório do cliente, conhecido como árvore de decisão. 77 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 4.2 Estratégias da categoria Há diversas estratégias que podem ser adotadas para cada categoria. A escolha de uma estratégia, somada ao papel definido pela categoria, terá impacto nas decisões que serão tomadas posteriormente em relação ao mix de marketing, como qual o produto, a precificação e a promoção. Não necessariamente todas as subcategorias que pertencem à categoria devem seguir a mesma estratégia, pode haver casos em que determinada subcategoria tenha uma estratégia de gerar lucro, enquanto as outras de gerar tráfego. O que se pode fazer quando se deseja ter uma visão mais consolidada é classificar as categorias em núcleo e secundários ou outras variáveis que você desejar, permitindo ter uma visão distinta de um agrupamento de categorias-chave para um agrupamento de categorias secundárias. Depois da definição do papel e da estratégia por categoria e subcategoria, a maior dificuldade dos gestores é conseguir definir uma estratégia de sortimento, precificação, merchandising, promoção e abastecimento coerente, pois é o que vai assegurar que a execução esteja alinhada com a estratégia. São essas ações que farão com que o cliente tenha a percepção do negócio. Figura 21 – Após definir os produtos e os subprodutos na categoria, deve-se colocá-los à mostra nas prateleiras e nas gôndolas Disponível em: https://bit.ly/3wXSWaF. Acesso em: 21 jul. 2021. 4.3 Definição de táticas As táticas da categoria abrangem: • Sortimento: desenvolver um sortimento para atingir os objetivos do negócio e agradar aos consumidores. Aqui, o varejista já possui as principais análises necessárias, efetuadas na etapa de avaliação de categorias, e todas as diretrizes definidas de papel, estratégias e objetivos e/ou metas. É preciso aprofundar e desdobrar as análises já existentes nos níveis de categoria e subcategorias 78 Unidade II e tomar as melhores decisões de sortimento, considerando as eliminações de produtos e entrada de novos produtos. Para tal, deve-se fundamentar na amplitude, que é a quantidade e variedade de produtos oferecidos pela empresa; a extensão sobre o número de itens de produtos que cada linha possui; a profundidade que trata da divisão de tamanhos; e a consistência, que envolve tratar produtos com a mesma imagem de marca. • Preços: determinar os preços ao consumidor dos produtos dessa categoria. A precificação trata de conseguir identificar os preços dos principais produtos por categoria, dos concorrentes diretos ao negócio e coletar as impressões dos compradores utilizando o conceito de precificação baseada no conceito de percepção de valor do cliente. O preço é quanto o seu produto ou serviço vale para o consumidor. • Promoção: definir as promoções a serem realizadas e os veículos a serem aplicados é uma maneira eficiente para tornar conhecidos seus produtos ou serviços, os veículos a serem utilizados, os tipos de negociações com fornecedores, as verbas, os produtos da categoria, os espaços que serão concedidos, bem como o tempo de duração para despertar em seus clientes ou potenciais clientes a necessidade de determinado produto ou serviço. • Apresentação na gôndola: determinar como a categoria será apresentada, a localização, o layout, o planograma, o nível de serviço, o merchandising, o cartazeamento, o tipo de precificação e o nível de serviço. A gôndola é o espaço básico em que você exibe e gira o inventário de sua empresa. As funções das gôndolas são: atrair a atenção de clientes e compradores, facilitar a seleção e venda dos produtos e, por fim, causar a ação de compra. Exemplo de aplicação Em 1999, a empresa Parmalat comercializava seis linhas de produtos (amplitude). Na mesma época, possuía sete itens na linha de leite (extensão), oferecendo aos consumidores três tamanhos de embalagens (profundidade) e os produtos quanto à matéria-prima, ao processo de produção, aos canais de distribuição e ao padrão de qualidade da imagem de marca. Como expor todos esses produtos na categoria? Você se lembra de algum outro exemplo? 4.4 Resposta eficiente ao consumidor (ECR) A ECR Brasil é uma associação integrada a um movimento global. Nela, indústria e comércio, junto de integrantes da cadeia de abastecimento (operadores logísticos, bancos, fabricantes de equipamentos e veículos, empresas de informática etc.), trabalham para buscar padrões comuns e processos eficientes que permitam minimizar os custos e aperfeiçoar a produtividade em suas relações. 79 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Conforme Parente (2000, p. 239): ECR tem por objetivo melhorar o desempenho de toda a cadeia de abastecimento, reduzindo os custos ao mesmo tempo em que busca agregar valor para o consumidor mediante melhores serviços e produtos. O conceito do ECR consiste em um esforço conjunto entre fabricantes e varejistas para identificar oportunidades de melhoria nas práticas comerciais e no uso de novas tecnologias. Esse conceito permitiu uma evolução no supply chain management, pois surgiu exatamente por meio dos esforços entre a indústria de bens de consumo de massa e o comércio para tornar a cadeia de abastecimento mais integrada e ágil, iniciando uma revolução nas relações entre fornecedores e clientes. Com o objetivo de integrar a logística entre o atacadista/varejista e a indústria (fornecedor), uma das técnicas do ECR é a reposição automática de estoques, conhecida como estoque gerenciado pelo fornecedor ou indústria (VMI – vendor managed inventory), cujos estoques dos clientes (atacadistas e varejistas) são controlados por seus fabricantes, que passam a decidir o momento e as quantidades a serem repostas, ou seja, disponibilizando a mercadoria no tempo certo e na quantidade certa. Essas técnicas permitem que os atacadistas e varejistas tenham seus estoques apropriados, tanto na quantidade como no tempo de chegada em suas unidades. De outra forma, os fornecedores podem possuir todas as informações para realizar o gerenciamento do estoque, além de contar com informações do desempenho de seus produtos nos mercados em que atuam. No caso de empresas atacadistas e varejistas, a gestão de estoques tem se tornado confusa, pois a cada ano as redes incorporam novas lojas em regiões diferentes do Brasil. Além disso, há o problema do aumento crescente de lançamento de novos produtos, o que faz com que um supermercado de porte médio tenha que operar com cerca de 10 a 20 mil itens e, nos hipermercados, entre 30 e 50 militens (PARENTE, 2000). Observação A unidade de manutenção de estoque (SKU – stock keeping unit) está ligada à logística de armazém e designa os diferentes itens do estoque associado a um código identificador. Parente (2000) ainda afirma que as ferramentas desenvolvidas pelo ECR, no caso, a reposição automática, trazem uma melhoria na diminuição da falta de produtos em estoque, o que ocasiona perda de vendas e desperdício de capital, em virtude dos excessos de produtos investidos em estoque. Na realidade, o ECR é mais um aspecto dos negócios. Por meio dele, as empresas se dispõem a compartilhar dificuldades e informações, implantando em conjunto as melhores soluções possíveis 80 Unidade II dentro de sua conjuntura operacional e estratégica. O ECR visa disponibilizar o produto desejado sempre que seja buscado no ponto de venda, com a maior validade possível, por preço justo e com a melhor experiência de compra e de uso. Alguns resultados dos esforços de ECR incluem: • a criação de um palete padrão (um estrado de madeira, metal ou plástico que é utilizado para movimentação de cargas) para o mercado; • a determinação de padrões globais de identificação de produtos (sistema EAN/UCC desenvolvido especificamente para leitura no ponto de venda, por meio de um código de barras para o produto, o qual deve conter 13 dígitos, devido à agilidade propiciada na captura da informação); • o estabelecimento de uma linguagem comum para a comunicação de dados via computador; • práticas de agendamento de entrega; • técnicas de gerenciamento de categorias; • ferramentas de mensuração de custos que permitam a comparação de dados entre diferentes empresas e muitos outros assuntos. Procura-se, dessa forma, a melhoria de processos, que elimine as ineficiências e os retrabalhos, trazendo competitividade ao setor. Segundo Gomes e Ribeiro (2013, p. 13), os projetos realizados entre indústrias e supermercados no Brasil constataram os seguintes dados: – redução de custos da ordem de 6% a 10% do volume total de negócios da cadeia de abastecimento; – redução de estoques de 25 para 15 dias, acompanhada de diminuição de faltas de produtos de 15% para 4%; – a aplicação do EDI (troca eletrônica de dados) reduziu o número de visitas, erros e tempo de espera e conferência; – com o uso da entrega programada noturna, quando as entregas são pré-agendadas entre indústria e varejo, foi possível reduzir o tempo de carregamento em 69% e aumentar a produtividade palete/ homem/hora em 80%. 81 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO E não se ganha apenas na padronização e na redução de custos, pois os processos permitem a diminuição de estoques e prazos, liberando espaços de estocagem (ou reduzindo a necessidade de grandes espaços), assegurando menores índices de ruptura e possibilitando trabalhar com menores preços devido aos menores custos dos estoques ao longo da cadeia. Por conseguinte, promove-se benefício ao consumidor. Para o varejista, nada é mais frustrante do que ficar com a gôndola vazia, sem atender às demandas do consumidor e tendo as vendas prejudicadas. Identificar com precisão a origem da falta de produtos é essencial, a fim de que os esforços para solucionar o problema sejam bem direcionados. Os sistemas integrados de gestão permitem extrair os relatórios de estoque e venda, e, a partir deles, medir a ruptura em gôndola. E isso é possível medindo a ruptura, o giro do produto, do histórico de vendas e da demanda diária e sazonal, além da contagem no ponto de venda, obedecendo à divisão de setores e categorias. Veja a seguir alguns indicadores de índice de ruptura sobre os itens que devem entrar na medição: Quadro 8 – Cálculos de indicadores de índice de ruptura Produto Cálculo de ruptura Itens sazonais Entram no cálculo. Fazem parte do sortimento, mas podem não estar presentes o ano todo, não devendo impactar o índice geral de rupturas nos períodos em que não são vendidos. Exemplo: itens natalinos, ovos de páscoa etc. Itens que estão saindo de linha ou foram descontinuados Não entram no cálculo, porque, em geral, ainda há um saldo de estoque durante certo tempo. Há vendas, mas não reposição Importados eventuais Não entram no cálculo. Exemplo: itens comprados por oportunidade (sem regularidade) Itens com compras temporariamente suspensas e importados de venda contínua Entram no cálculo. Exemplo: renegociação comercial Lançamentos e novos itens cadastrados Entram no cálculo a partir da primeira venda em loja Observação O índice de ruptura é um indicador que mostra a falta de um produto em relação ao total de itens da loja. Por meio desse índice, é possível conhecer os produtos mais consumidos e garantir a cobertura de estoque da loja. 82 Unidade II O problema da falta de produtos nas lojas para atender à promoção “Pode ser uma Pepsi em dobro”, no último final de semana, levou o Procon-SP a notificar a Pepsico do Brasil. O órgão de defesa do consumidor solicita à empresa esclarecimentos sobre a ação, que prometia um refrigerante de graça na compra de uma unidade de Pepsi. De acordo com nota divulgada pelo Procon-SP, a companhia precisará informar qual a quantidade de produtos distribuídos e como pretende atender os consumidores que não conseguiram fazer a compra nos termos da promoção. A Pepsico pode ser multada em até R$ 6,33 milhões. O valor desse tipo de multa depende do porte da companhia e da comprovação se ela agiu de maneira irregular. Segundo a Pepsico, nos dias 10 e 11 de setembro, período em que vigorou a promoção, foi distribuído o equivalente a mais de um mês de vendas de refrigerante. Fonte: Madureira (2011). Exemplo de aplicação O excerto anterior é um exemplo da possibilidade de ruptura. Você pode encontrar outros exemplos? 4.5 Estratégias básicas do ECR O ECR definiu uma estratégia básica conhecida como reposição contínua. Assim, propõe a alteração da cadeia de logística de abastecimento levando-a partir de um sistema de empurrar (a produção em uma empresa começa antes da ocorrência da demanda pelo produto) para um sistema de puxar (a demanda gerada pelo cliente é que dá o início da produção), a fim de atender à demanda do consumidor final. Seu objetivo é minimizar o tempo, os inventários e os custos ao longo da cadeia de abastecimento. O modelo de reposição contínua integra os ciclos de reposição diferentes em um programa, colocando o consumidor como o primeiro agente da cadeia. A integração da cadeia de abastecimento requer o uso intensivo do sistema de código EAN/UPC, desenvolvido especificamente para leitura no ponto de venda, devido à agilidade propiciada na captura da informação. O código de barras do produto e a embalagem tornam-se um elemento fundamental de identificação em toda a cadeia, pois esse padrão auxilia na identificação de itens comerciais por meio do uso de estrutura numérica do código (figura a seguir). O EANCOM® padrão para o intercâmbio eletrônico de documentos permite que o fluxo de informações seja sem documentos em papel. 83 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Figura 22 Disponível em: https://bit.ly/36Q9Opd. Acesso em: 21 jul. 2021. Figura 23 – Uma evolução do código de barras e que ainda há muito por explorar tanto na logística quanto na comunicação é o QR code Disponível em: https://bit.ly/3BoacJz. Acesso em: 21 jul. 2021. Há quatro estratégias básicas do ECR: • Reabastecimento eficiente: o modelo de reabastecimento eficiente visa apenas fornecer o produto certo, no lugar certo, na quantidade certa e tão eficientemente quanto possível. Ou seja, gera um fluxo de informações únicas, exatas e na hora em toda a cadeia de abastecimento. Isso permite uma redução: da falta de produtos para vendas; de inventário na cadeia de abastecimento; de custos de obsolescência; dos custos de gestão, armazenamento, manuseio e transporte por encurtamento da cadeia de abastecimento. • Sortimento eficiente: o varejista deve ter a variedade de produtos para satisfazer às necessidades doconsumidor. Isso é importante para o uso eficiente do local e da gôndola, oferecendo aos consumidores produtos que realmente exigem, permitindo o aumento das receitas e margens por metro quadrado, bem como a disponibilidade do produto para o consumidor final. • Promoção/preço eficiente: essa estratégia define procedimentos para as promoções atingirem os resultados esperados. As ações de cada categoria são projetadas e adaptadas para cada local de vendas, obtendo maior lucratividade. Desse modo, traz as seguintes vantagens: aumento de 84 Unidade II vendas por segmento de mercado, forma e tempo da promoção; redução dos custos de produção, armazenamento e distribuição por sazonalidade; e redução dos custos de gerenciamento e controle das promoções. • Lançamentos eficientes: tem como estratégia otimizar os investimentos em desenvolvimento e lançamento de novos produtos que melhor atendam às necessidades dos consumidores, reduzindo a quantidade de lançamentos falhos ao mercado. Para esses objetivos de negócio, a implementação da gestão por categoria de produtos é essencial para alcançar o sucesso. Envolve a seleção ou escolha de categorias de produtos, que são gerenciados como unidades estratégicas de negócios. Isso inclui marketing, armazenamento, abastecimento, determinação do preço, variedade e introdução de novos produtos, para que se maximize o potencial de cada categoria. Por sua vez, essas ações exigem o uso de dados de ponto de venda para desenvolver planos estratégicos, espaços para rastreamento de produtos e medição do desempenho da categoria. O sistema permite às empresas se concentrarem em categorias que oferecem o melhor retorno para aumentar suas vendas por metro quadrado, que é uma das formas de se gerir e medir o desempenho do negócio. Esse é um dos modos de se efetuar o comparativo de resultados, pois ele permite avaliar a produtividade da loja, seu desempenho comparativo interno e externo, detalhando os espaços e as categorias dos produtos. 4.5.1 Áreas de foco Com o objetivo de integrar os processos logísticos e comerciais ao longo de toda a cadeia de abastecimento, em vez da influência individual das partes, pode-se obter benefícios significativos quanto à diminuição dos custos operacionais e administrativos, à redução dos níveis e dos custos de manutenção dos estoques, à otimização da produção, ao incremento em vendas e às melhorias na relação indústria/varejo/atacado. De acordo com Lambert e Stock (2000), há cinco princípios básicos que guiam o ECR: • manutenção de foco constante em prover maior valor ao consumidor, por exemplo, ter melhor qualidade e sortimento; • comprometimento dos líderes de negócios na mudança do paradigma de ganha/perde nas relações comerciais para o de parcerias de negócios mutuamente lucrativas, de ganha/ganha; • informações precisas e no tempo certo para dar apoio às tomadas de decisões; • os produtos devem fluir com a maximização dos processos de valor agregado, desde o fim da produção até o consumidor, assegurando que o produto certo esteja disponível na hora certa; • criação de métricas de desempenho de uso comum que focam a efetividade e os benefícios de todo o sistema. 85 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Para alcançar esses princípios, é necessário centrar-se na tecnologia da informação: hardware (scanners, pontos de vendas, computadores) e software (padrões de identificação de produtos, código de barras e troca de documentos e intercâmbio de informações por troca eletrônica de dados, ou EDI – electronic data interchange). 4.5.2 Abastecimento eficiente À medida que as atividades de compras adquirem um papel mais relevante dentro das organizações, a estratégia das atividades de compras também evolui para atender à necessidade de alcançar uma economia constante nas aquisições. No varejo e no atacado, a estratégia de compras é considerada uma estratégia competitiva, pois seus profissionais estão em contato permanente com o mercado fornecedor. Assim, o departamento de compras é um dos maiores responsáveis pelo sucesso ou fracasso de uma empresa do setor varejista, pois é essa área que mantém contato com o mercado fornecedor, discutindo as estratégias de vendas. Para vender bem, é necessário comprar bem, e isso significa adquirir produtos a um preço competitivo, na quantidade desejada para um período determinado para venda do produto e, consequentemente, influenciar positivamente nas vendas da empresa. Exemplo de aplicação Para auxiliar em seu entendimento, a seguir temos um exemplo de uma empresa para a implantação do gerenciamento por categorias: Categoria: laticínios. Subcategoria: leite. Motivo da definição da categoria: reclamações recorrentes dos clientes. Segmentos da categoria: integral, desnatado, semidesnatado, zero lactose, padronizado, fortificados (leites que podem ser ricos por acréscimo de zinco, ferro e vitaminas D, A, C e E, complexo B, B5, B6, B12, e ácido fólico), de soja. Objetivo: ampliar as vendas da categoria como um todo e popularizar a subcategoria de leites fortificados (margens mais altas). Estratégia: o mix de produtos deve ser reavaliado (sortimento) e os produtos organizados com o objetivo de fazer o cliente percorrer toda a gôndola (exposição). A principal alteração deve ser abandonar o agrupamento de marcas na vertical. Elas passarão a ser expostas na horizontal, com as subcategorias dispostas verticalmente na gôndola. Também é preciso investir na troca de expositores, para garantir maior visibilidade aos produtos. 86 Unidade II Pelas categorias de vendas no varejo, deve-se analisar as categorias e subcategorias dos produtos. Pelas subcategorias de produtos, é possível trabalhar os SKUs, que são os produtos em suas variáveis de embalagens, sabores etc. Por exemplo, um estoque que mantém 100 caixas de leite gordo e 50 caixas de leite magro; logo, estoca dois SKUs. Veja se você pode criar, por exemplo, as seguintes categorias: papéis; cadernos e agendas. Dentro de cada categoria, tente limitar-se a dois subníveis – e não mais do que isso. Por exemplo, dentro de “cadernos e agendas”, você pode ter as subcategorias “cadernos” e “agendas”. Dentro de agendas, então, teremos “agendas diárias”, “agendas semanais”, “agendas escolares” e assim por diante. 4.6 Desafios da gestão por categoria de produtos Aqui se destacam alguns problemas comuns na implementação da administração por categorias de produtos. Falhas de comunicação Uma grande dificuldade para implementar a gestão por categorias de produtos são as falhas de comunicação. É importante sempre informar os colaboradores da organização dos planos e benefícios envolvidos. A comunicação adequada incentiva o empenho e o comprometimento de toda a equipe e, ainda, combate o medo da mudança. Falta de patrocínio da alta administração Esse é um problema clássico. Sabe-se que a falta de apoio da alta administração influencia de forma direta o comprometimento, a união e a cooperação dos colaboradores de diferentes áreas envolvidas nas iniciativas de administração por categorias de produtos. Quando o nível estratégico da organização não demonstra de forma explícita apoio aos projetos de administração por categorias de produtos, os demais níveis organizacionais resistem em destinar esforços e tempo para contribuírem. Essa resistência tem diversas origens, desde falta de conhecimento sobre o assunto, questões políticas e medo da mudança, por não acreditarem no retorno do investimento ou não se sentirem beneficiados. A solução mais usual é o agendamento de reuniões estratégicas para traçar planos, demonstrando os benefícios da administração por categorias de produtos e seu impacto no crescimento e no lucro do negócio. Deixar de gerenciar o desempenho dos processos Muitas organizações ainda desconhecem ou não possuem um bom controle sobre o funcionamento de seus processos. O resultado disso é a criação de indicadores de desempenho que refletem resultados pontuais de departamentos, definidospor uma gestão funcional focada em uma visão vertical. Assim, as medidas e a avaliação do desempenho ficam centradas no desempenho das áreas e dos indivíduos, quando deveriam focar os resultados do processo. A medição é utilizada para controlar o desempenho financeiro e de áreas funcionais, porém a medição centrada em processos requer um foco abrangente da organização, com indicadores atrelados à estratégia e que reflitam os resultados dos processos. 87 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Falta de visão do processo ponta a ponta Tem relação com a limitada visão sobre os processos interfuncionais da empresa. Um dos principais fatores é quando os participantes tendem a ver seus processos de forma departamental, cuja análise foca problemas pontuais, gerando problemas de integração das áreas, como: a cultura de encontrar culpados, responsabilidades mal definidas, indicadores, objetivos e metas voltados ao departamento, dificuldade de visualizar o cliente, entre outros. Esse problema pode ser solucionado por meio de capacitação e formação de especialistas, definindo objetivos e metas para os processos, focando no cliente etc. Falta de medições financeiras A falta de controle e mensuração dos ganhos financeiros tem sido outro fator complicador para o comprometimento da organização em administração por categorias de produtos. A identificação dessas informações é importantíssima, pois esses ganhos financeiros justificam o investimento e conquistam o apoio da alta administração. Existe uma série de dificuldades para a maior disseminação do ECR, tais como: resistência por parte das empresas em trocar informações, o relacionamento existente é focado nos interesses individuais e a maior satisfação do consumidor é vista como uma consequência da eficiência das operações de negócio, e não tida como um objetivo primordial dos esforços despendidos. É necessário que as empresas reavaliem suas metas com a implementação do ECR e o papel de cada parceiro nas ações conjuntas entre empresas. Essas são algumas dificuldades para implementar a administração por categorias de produtos, mas existem muitas outras, que precisam ser observadas e mitigadas, como: falta de priorização na melhoria; falta de alinhamento dos processos à estratégia competitiva da organização; falta de definição dos responsáveis pelos processos; falha na definição de gestor da alta gerência; falta de recursos direcionados ao projeto; falhas na identificação de pessoas-chave para participar das discussões; falta de incorporação das práticas de gestão de processo na rotina de trabalho de todos. Para entender outros problemas na administração por categorias, recomenda-se estudar algumas matrizes de análise de produtos que podem auxiliá-lo na categorização de produto. Essas matrizes podem ser usadas pelos fabricantes dos produtos e pela gestão do varejo para a tomada de decisão de manutenção de produtos para oferta no varejo, bem como para sua ampliação ou retirada. 88 Unidade II Resumo Atualmente, é imprescindível que profissionais de diversos segmentos de negócios tenham conhecimentos básicos sobre planejamento, execução e controle das operações logísticas devido à importância e abrangência da logística empresarial. A logística tem papel essencial na cadeia do varejo e na expansão da parcela de mercado de bens e serviços oferecidos. Para que todas as etapas do processo sejam cumpridas e se obtenha um resultado eficaz, é importante observar os processos-chave, como movimentação de materiais, qualidade e agilidade das informações, tempo de produção, tempo de entrega e custo. O supply chain management (SCM) permite às empresas alcançar melhores padrões de competitividade. O sistema inclui processos logísticos que abrangem desde a entrada de pedidos de clientes até a entrega do produto no seu destino, envolvendo-se aí o relacionamento entre documentos, matérias-primas, equipamentos, informações, insumos, pessoas, meios de transporte, organizações etc. Esse tipo de processo reduz o tempo, proporciona o compartilhamento de previsões de vendas, a diminuição de custos, agiliza as entregas, otimiza a produtividade e visualiza melhor o processo da eficiência da cadeia logística. Os temas apresentados em gerenciamento por categoria de produtos mostram que investir em tecnologia e logística significa aplicar em dois dos principais pilares estruturais necessários para o alcance desse nível de excelência na experiência de compra, da consequente fidelização do cliente e do aumento das vendas. Pode-se dizer que o ECR é uma estratégia de gestão que envolve diversos conceitos de eficiência de negócios no que tange à redução de custos e estoques e ao ganho de eficiência nas operações no canal de distribuição. No entanto, embora a teoria do ECR enfatize o consumidor como sendo o elemento fundamental dos esforços das empresas, percebe-se que, na prática, um dos maiores benefícios obtidos com a introdução do ECR foi o ganho em eficiência na reposição de produtos, o que possibilitou reduzir, principalmente, estoques e custos operacionais. Aos poucos, as empresas estão se conscientizando da necessidade de ganhar eficiência e competitividade, e o ECR é uma estratégia de gestão focada nesses ganhos. 89 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Exercícios Questão 1. (Enade 2015) Leia o texto a seguir. As decisões de localização de instalação exercem um impacto de longo prazo sobre o desempenho das cadeias de suprimentos. À medida que as organizações crescem, é necessário revisar as decisões do projeto da rede. Nesse sentido, um grande desafio que as organizações enfrentam está relacionado à inovação nas cadeias de suprimentos. CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operação. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010 (com adaptações). Considerando esse contexto, avalie as afirmativas a seguir e a relação proposta entre elas. I – Externalidades positivas levam os concorrentes a se localizarem próximos uns aos outros. Porque II – São consideradas externalidades positivas casos em que a vizinhança de múltiplas empresas produz benefício a todas elas. A respeito dessas afirmativas, avalie a alternativa correta. A) As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I. B) As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, e a II não é justifica a I. C) A afirmativa I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A afirmativa I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E) As afirmativas I e II são proposições falsas. Resposta correta: alternativa A. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: as externalidades positivas levam os concorrentes a terem localizações próximas entre si, pois, assim, eles conseguem obter benefícios comuns. 90 Unidade II II – Afirmativa correta. Justificativa: os benefícios compartilhados pelos concorrentes causam sua aproximação. Análise da questão As duas afirmativas são corretas e a segunda é uma justificativa da primeira. Vale destacar que, como acentuado, quando as empresas concorrentes apresentam localizações próximas, elas o fazem para poder usufruir de benefícios comuns. Um exemplo é a isenção de impostos oferecida por algumas regiões para a implantação de alguns tipos de indústria. Questão 2. (Enade 2012, adaptada) Os sistemas de tecnologia de informação (TI) são imprescindíveis em todo o estágio da cadeia de suprimento, pois permitem que as empresas reúnam e analisem informações. Os sistemas de TI podem ser segmentados de acordo com os estágios da cadeia de suprimento nos quais se concentram e com a fase de decisões da cadeia de suprimento para as quais serão utilizados. Essas duas segmentações podem ser usadas para criar uma matriz em que qualquer sistema de TI utilizado na cadeia de suprimento possa ser mapeado. Estratégia Planejamento Operação Fornecedor Fabricante Distribuidor Varejista Cliente Figura 24 CHOPRA, S.; MEINDL, P.Gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operação. São Paulo: Prentice Hall, 2003. p. 345-346 (com adaptações). Considerando essas informações, conclui-se que a matriz indica que: I – O eixo horizontal define o escopo de um sistema de TI. II – Existem sistemas de TI distribuídos pela cadeia de suprimento inteira. III – As decisões estratégicas, no nível vertical, tratam da operacionalização de processos. IV – O eixo vertical define a fase de decisão da cadeia de suprimento para a qual é utilizado um sistema de TI. 91 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO É correto apenas o que se afirma em: A) I e III. B) I e II. C) II, III, IV. D) III e IV. E) I, II e IV. Resposta correta: alternativa E. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: o eixo horizontal mostra os estágios existentes em uma cadeia de suprimentos típica. II – Afirmativa correta. Justificativa: os estágios de uma cadeia de suprimentos devem ser permeados pela tecnologia de informação. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: a operacionalização do processo é uma das fases de decisão de uma cadeia de suprimentos. IV – Afirmativa correta. Justificativa: o eixo vertical apresenta as três fases de decisão de uma cadeia de suprimentos: projeto da cadeia de suprimentos, planejamento da cadeia de suprimentos e operação da cadeia de suprimentos. 92 Unidade III Unidade III 5 MARKETING DE VAREJO O marketing tem o papel de planejar e executar estratégias para que o processo de troca de dinheiro por bens ou serviços beneficie quem o procura e também satisfaça a necessidade ou desejo de alcançar metas da organização que o oferta. Agora, mais do que nunca, devemos estar atentos às tendências de mercado, já que elas indicam o que provavelmente irá acontecer, a curto, médio ou longo prazo. À medida que analisamos o desenvolvimento do mercado, vamos constatando se aquilo que foi indicado como tendência está efetivamente ocorrendo e, dessa forma, poderemos estabelecer estratégias para a nossa empresa de modo adequado. O marketing vem sofrendo ajustes em sua área de atuação. Trata-se de adaptações derivadas das mudanças ocorridas no mercado e nos cenários mundiais, as quais trazem uma nova interpretação e adaptação dos princípios mercadológicos. Desse modo, já no novo século, várias mudanças foram previstas para acontecer e outras muitas virão com o passar dos anos. 5.1 Definição de marketing Segundo a American Marketing Association (Associação Americana de Marketing), a definição de marketing, aprovada em julho de 2013, é a seguinte: “o marketing é a atividade, o conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que têm valor para clientes, parceiros e sociedade em geral” (AMA, 2017, tradução nossa). Segundo Kotler e Keller (2018), o marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais, sendo definido, de uma maneira simplista pelos autores, como uma forma de suprir necessidades lucrativamente. Após destacarmos várias definições de marketing, vamos entender agora o composto de marketing. O composto de marketing foi formulado por E. Jerome McCarthy (1978), autor norte-americano criador dos 4 Ps: produto, preço, praça e promoção, que compõem o composto de marketing ou ainda como mix de marketing. O conceito foi depois bem divulgado por Philip Kotler. Kotler e Armstrong (2015, p. 32) definem: “o mix de marketing é o conjunto de táticas da empresa para criar um forte posicionamento nos mercados-alvo”. 93 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 5.2 Mercado Para satisfazer suas necessidades, o cliente deve se dirigir ao mercado, que é o ambiente social ou virtual propício às condições para a troca de bens e serviços. Conforme Kotler e Keller (2018, p. 101), um mercado consiste de todos os consumidores potenciais que compartilham de uma necessidade ou desejo específicos, dispostos e habilitados para fazer uma troca que satisfaça essa necessidade ou desejo. Assim, o tamanho do mercado depende do número de pessoas que mostram a necessidade ou desejo, que têm recursos que interessam a outros e estão dispostos e em condição de oferecer esses recursos em troca do que desejam. Figura 25 – O que é o mercado, afinal? Para as empresas, o mercado é um conjunto de pessoas com características semelhantes e dispostas a consumir Disponível em: https://bit.ly/3xY1cIS. Acesso em: 21 jul. 2021. Contudo, não basta haver o interesse por parte dos consumidores. É importante que haja também renda acrescida ao acesso à oferta. Assim, temos as seguintes definições de mercado: • Mercado total: “um mercado é o conjunto de todos os compradores, efetivos e potenciais, de uma oferta ao mercado” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 140). São todos os compradores reais e potenciais de um produto. • Mercado potencial: “é o conjunto de consumidores que demonstram um nível de interesse suficiente para uma oferta ao mercado. [...] Consumidores potenciais devem possuir renda suficiente e devem ter acesso à oferta” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 141). São os consumidores que manifestam nível de interesse suficiente por uma oferta definida. • Mercado disponível: “o mercado disponível é o conjunto de consumidores que possuem renda, interesse e acesso a uma determinada oferta” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 141). 94 Unidade III • Mercado disponível qualificado: consumidores que têm interesse, renda, acesso e qualificação para determinada oferta. • Mercado atendido (alvo): é parte do mercado disponível qualificado que a empresa pretende atingir. “O mercado-alvo (também chamado de mercado servido) é a parte do mercado disponível qualificado – o conjunto de consumidores que possuem renda, interesse, acesso e qualificações para a oferta ao mercado” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 141). • Mercado penetrado: “o mercado penetrado é o conjunto de consumidores que estão comprando o produto da empresa” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 141). Entendido o que foi visto em mercado, como ele é direcionado aos consumidores, é necessário verificar o processo de compra. Na visão de Kotler e Keller (2018), o processo de compra ou aquisição de produtos e serviços tem cinco estágios: • Provocação da necessidade: ocorre quando a pessoa começa a sentir uma necessidade para satisfazer suas necessidades. • Reunião de informações: os consumidores variam entre captar e recuperar os dados e informações, indo daqueles que vão direto à decisão (compra por impulso) até outros que passam meses coletando-as antes de tomar decisão. • Avaliação da decisão: por meio do processo de coleta de informações, o consumidor forma um quadro das escolhas disponíveis, iniciando um processo de afunilamento de escolha, que o levará a buscar informações ou até mesmo a outro produto concorrente ou similar. • Execução da decisão: o estágio de avaliação leva o consumidor a formar um conjunto de preferências entre os produtos alternativos do conjunto de escolha; após avaliar as opções encontradas na busca, o consumidor deve selecionar apenas uma delas. • Avaliação pós-decisão: após decidir onde comprar, o consumidor poderá experimentar algum nível de satisfação ou insatisfação que influenciará seu comportamento. Cabe à empresa ajudá-lo a sentir-se bem com a escolha. Reconhecimento do problema Quais são as alternativas Avaliação das alternativas Processo de compra Resultado da compra Qual a necessidade a ser suprida Fontes de informação Critérios de comparação Escolha entre as alternativas Avaliação da compra Figura 26 A administração da cadeia de suprimentos foi bastante beneficiada pelo avanço da tecnologia e de programas específicos que gerenciam todas as fases dos processos. 95 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 5.3 Os 4 Ps de marketing Trata-se de ferramentas utilizadas pelos administradores de marketing para satisfazer as necessidades e desejos dos clientes, bem como auxiliar a empresa a alcançar os seus objetivos estabelecidos (KOTLER; KELLER,2018). Observe a seguir a descrição de Kotler e Keller (2018) sobre os 4 Ps. Produto O produto pode ser definido como tudo o que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou um desejo, ou seja, bens físicos, serviços, experiências, eventos, pessoas, lugares, propriedades, organizações, informações e ideias. O produto serve para a empresa entender e definir quais os atributos e as características do que é oferecido. Essa área engloba uma série de atividades: produtos de diferentes tipos de design, características, diferenciais em relação à concorrência, marca, especificações, política de garantia e embalagem. Promoção O marketing moderno é muito mais do que apenas criar bons produtos e disponibilizá-los ao mercado consumidor, é indispensável nesse processo a comunicação com os clientes. Conforme Kotler e Keller (2018), as principais ferramentas do composto promocional são: propaganda, promoção de vendas, venda pessoal e relações públicas. Tem o sentido de promover a marca e soluções, fazer com que a mensagem da marca chegue aos ouvidos do consumidor. Essa área se encarrega de atividades como propaganda, publicidade, relações públicas, trade marketing e promoções. Preço O preço é o único elemento do composto de marketing que produz receita, os demais produzem custo. Por meio da determinação do preço, uma empresa pode buscar objetivos que definam estratégias de sobrevivência, maximização do lucro atual, maximização da participação de mercado ou liderança de qualidade de produto. Os itens restantes que tangem o composto preço para os quais estão previstos descontos, concessões, condições e prazos de pagamento são igualmente importantes, mas devem levar em consideração o momento e a circunstância da venda, baseados também em uma realidade de mercado imposta pela concorrência, com o intuito de igualar-se ou criar diferencial competitivo. O preço é, na verdade, o valor que será cobrado pela solução que a empresa oferece. Essa área engloba as atividades de financiamentos, condições de pagamento, prazo médio, número de prestações, descontos e crediário. Ponto de vendas (praça) A distribuição pode referir-se ao canal de marketing, que corresponde a um sistema de organização pelo qual o produto, os recursos ou as informações passam de produtores a consumidores, ou pode estar relacionada à distribuição física, que é a movimentação de produtos ou serviços, com local, quantidade e prazos determinados e que, se feita corretamente, prioriza a manutenção e otimização de custos. O ponto de vendas ou praça pode ser entendido como a combinação de agentes por meio dos quais o produto 96 Unidade III flui, desde o vendedor inicial (geralmente o fabricante) até o consumidor final. Uma empresa pode, dependendo da logística planejada, utilizar-se do atacadista, do distribuidor, do varejista, do correio, de loja própria, de loja virtual, de e-commerce ou de qualquer outro canal para distribuir seus produtos na praça. Esse composto é responsável, especificamente, por como o cliente chega até a empresa, aos seus produtos e serviços, ou ainda, onde seus produtos são colocados no mercado. Também fazem parte as atividades dos pontos de venda, lojas, canais de distribuição, logística, armazenamento e distribuição. 5.4 Os 6 Ps de marketing Para os 6 Ps de marketing, além dos quatro iniciais, agregaram-se mais: • Pesquisa: pesquisa de mercado, responsável pelos levantamentos indispensáveis para toda e qualquer análise de ação diante de uma marca, um produto ou serviço a ser trabalhado. A necessidade de obter o maior número de dados a respeito do mercado de atuação vai ao encontro das definições básicas de primeira necessidade, pois enxergar o mercado de forma analítica traz inúmeras observações e oportunidades em relação ao que se almeja. • Público-alvo: deve-se ao fato de que qualquer produto ou serviço é destinado a públicos distintos, mesmo que muitas vezes agregue um grande número de classes socioeconômicas, faixas etárias e sexo. A definição do target é importante para nortear as ações de marketing dentro de um contexto, isso porque há necessidade de trabalhar nichos de mercado, o que só poderá ser identificado a partir de uma definição clara de qual tipo de consumidor será atingido. Saiba mais Leia a obra indicada a seguir: GARCIA, J. L. (org.). Marketing de serviços e de varejo. São Paulo: Pearson, 2015. 5.5 Os 7 Ps de marketing de serviços Para Kotler e Keller (2018), as empresas de serviços podem diferenciar a prestação de serviços de três maneiras: por meio de funcionários, ambiente físico e processo. Essas três características se referem aos chamados 3 Ps de marketing de serviços, definidos inicialmente por Booms e Bitner (apud KOTLER; KELLER, 2018), que se somaram aos 4 Ps: • Pessoas: o nível de desenvolvimento das pessoas que prestam o serviço como fator fundamental de diferenciação, o que deve ser alcançado por meio de treinamento e motivação. • Prova/ponto físico: relacionado ao estilo ou modo de tratamento destinado aos clientes em sua experiência de compra, à aparência do local e das pessoas, à velocidade do atendimento ou da prestação do serviço, bem como à limpeza das instalações. 97 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO • Processo: relacionado ao método utilizado para a prestação do serviço padronizado ou customizado, por meio de self-service ou atendimento direto. 5.6 Os 8 Ps de marketing de serviços O marketing de serviços é trabalhado de forma distinta do marketing de bens, isso porque os serviços não podem ser vistos, sentidos, ouvidos, cheirados ou provados (KOTLER; KELLER, 2018). Por ter essas características diferenciadas, o mix de serviços recebe, além dos 4 Ps propostos no marketing de bens, outros quatro elementos táticos: pessoas, processos, perfil e produtividade. A teoria é a mesma utilizada para o marketing utilizado por empresas que comercializam produtos. Porém, os serviços caracterizam um mercado mais dinâmico e, por isso, alguns pontos do composto de marketing precisam ser avaliados de acordo com sua ótica. Observe o exposto a seguir: • Produto: produtos e serviços têm a mesma finalidade, isto é, satisfazem um desejo ou necessidade dos consumidores, gerando satisfação e valor. No caso da prestação dos serviços, o produto é considerado um componente intangível. • Preço: são grandes as diferenças de percepção de preço entre produtos e serviços. Em primeiro lugar, em serviços, existe uma incidência maior de custos fixos do que de custos variáveis. Depois, a grande diferença está no que chamamos de poder de comparação, em que um produto pode ser facilmente comparado a outro, já um serviço precisa ser analisado com mais detalhes. • Praça: a distribuição de serviços requer a disponibilidade no momento em que o cliente precisar, visto que os serviços não são estocáveis, por isso exigem um planejamento mais apurado. • Promoção: as comunicações em serviços costumam ser pessoais e interativas, com alto predomínio da indicação e da venda pessoal. Mesmo nos casos de comunicação de massa, tem-se uma forte presença de pessoas e é por isso que se diz que a comunicação tem o papel de tangibilizar os serviços. • Pessoas: quando falamos em pessoas, estamos nos referindo a todos os envolvidos, direta ou indiretamente, na prestação do serviço em si. No caso dos serviços, diferentemente dos produtos, a mão de obra é a matéria-prima para a produção dos serviços, portanto, a preocupação com as pessoas envolvidas é vital. Assim, o gestor precisa pensar em treinar e capacitar seus funcionários, criando neles a ideia de que os clientes precisam ser bem tratados, sendo o foco do atendimento. • Processos: processos representam todos os fluxos de trabalho, procedimentos e metodologias utilizados na prestação de um serviço. O gestor precisa entender os seus processos e otimizá-los para garantir o sucesso da prestação do serviço e, consequentemente, a fidelização do cliente. • Produtividade e qualidade:não é segredo que produtividade e qualidade são fatores-chave de sucesso em qualquer empresa. Por isso, é necessário ter atenção especial a esses aspectos no marketing de serviços. É preciso assegurar a produtividade dos colaboradores e manter a qualidade na prestação do serviço, desde seu planejamento até o momento da entrega ao cliente. 98 Unidade III • Perfil – evidência física (physical evidence): quando falamos em perfil, estamos falando no local onde o serviço é prestado. Falamos sobre as evidências físicas da prestação de serviço, como: layout do escritório, atendimento, cartão de visitas, equipamentos, instalações etc. É preciso pensar em onde e como os serviços são prestados e como isso pode ser maximizado para que a experiência de consumo do cliente possa ser a melhor possível. 5.7 Os 6 Ps do marketing de varejo O chamado composto de marketing varejista (em inglês, retail marketing mix), é o conceito básico de marketing de varejo. Essas variáveis são conhecidas como os 6 Ps do varejo, originada de seus nomes em inglês (product, price, place, presentation, promotion, people). Assim, vamos conhecer cada um deles. Esses 6 Ps constituem-se nas variáveis mais importantes que um varejista deve pensar para se diferenciar e posicionar o seu negócio no mercado. Na mente de seus consumidores, ocorre uma comparação entre diferentes lojas baseada nessas variáveis, obviamente que de uma maneira tênue e até inconsciente. O consumidor faz a comparação para a sua decisão de compra, e é nessa decisão que o empresário varejista deseja influir, visando gerar clientes para o seu negócio. Vamos conhecê-los, conforme nos apresenta Parente (2000, p. 124). Variedade - amplitude e profundidade Qualidade de produtos, exclusividade de estilo e design Produtos - Product Proximidade e facilidade de acesso Complementaridade com outras lojas Ponto e localização - Place Layout, departamentalização e planograma Decoração e atmosfera Comunicação visual e sinalização Conforto Apresentação - Presentation Preço dos produtos Benefícios e custos do produto Prazo e formas de pagamento Preço - Price Propaganda Promoções no ponto de venda Programas de fidelização Promoção - Promotion Rapidez, interesse e cortesia no atendimento Qualificação técnica no atendimento Serviços oferecidos Pessoal - People Figura 27 Na sequência, vamos conhecer cada um desses elementos do composto do varejo. 99 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 5.8 O composto de marketing no varejo – produto O produto para o varejo envolve toda a linha que o estabelecimento possa oferecer, o que dá, de certo modo, o caráter da loja (por exemplo: “esta é uma loja com produtos finos ou populares?”). Sortimento É um conceito utilizado para determinar qualquer tipo de produto que seja comercializado em uma loja e pode ser dividido em categorias, que nada mais são do que um agrupamento de itens relacionados (por exemplo: xampu e condicionadores). “O sortimento de produtos de um varejista deve estar de acordo com as expectativas de compra do mercado-alvo. O varejista precisa decidir sobre a amplitude e a profundidade do sortimento de produtos” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 546). Segundo Kotler e Keller (2018, p. 374), “as decisões de composto de produtos têm quatro dimensões: amplitude, extensão, profundidade e consistência”. A amplitude do composto de produtos refere-se ao número de linhas de produtos da empresa. Por exemplo, em 2017, a Itambé comercializava no Brasil 13 linhas: bebida láctea fermentada, coalhadas, composto lácteo, creme de leite, doce de leite, iogurtes, leites, leite condensado, leite em pó, leite fermentado, manteiga, petit suisse e requeijão. A extensão de linha engloba o número de itens de produto em cada linha. Por exemplo, em 2017, a linha de leites da Itambé possuía sete itens de produto: leite Itambé integral, semidesnatado, desnatado, fortificado, light, com zero lactose e com vitaminas. A profundidade envolve o número de versões de produtos. Por exemplo, uma bolacha, com quatro tamanhos de embalagem (50 gramas, 100 gramas, 200 gramas e 400 gramas) e quatro sabores (baunilha, morango, chocolate e limão), terá profundidade de 16 (4 tamanhos x 4 sabores). Por sua vez, a consistência do composto de produtos refere-se ao nível de semelhança entre as linhas e os produtos quanto à matéria-prima, ao processo de produção, aos canais de distribuição, ao padrão de qualidade e à imagem de marca. Fique atento às percepções e à experiência vivida pelo cliente dentro de seu estabelecimento. O cuidado com a limpeza, a organização e o conforto do ponto de venda é compensado com um maior volume de vendas, pois, quanto mais tempo o cliente fica dentro da loja, mais ele compra. Grandes lojas de departamento ainda atraem muitos consumidores por oferecerem uma combinação forte entre essas duas decisões, pois apresentam grande amplitude com inúmeras seções de loja, e com grande profundidade, com muitos itens de produtos e opções de compra em cada seção. 100 Unidade III Ampliando o conceito de produto, devemos também pensar nos serviços adicionais que possam ser acrescentados e oferecidos, como uma entrega a domicílio, ou uma venda expressa, um serviço de empacotamento e assim por diante. Para Kotler e Keller (2018), quando se vai fazer um planejamento da oferta de um produto ao mercado, devem ser analisados cinco níveis de produtos. Cada nível agrega mais valor para o cliente, e a junção dos cinco constitui a hierarquia de valor para o cliente. 5.8.1 Dimensões do produto Os produtos podem ser classificados em três grupos de acordo com a durabilidade e a tangibilidade: • Bens não duráveis: são bens tangíveis e usados poucas vezes, e a estratégia apropriada é torná-los disponíveis em muitos locais, ter um lucro pequeno no varejo e anunciar maciçamente para induzir e ganhar o consumidor. Por exemplo: sabão, bebidas, alimentos. • Bens duráveis: são bens tangíveis usados durante certo período. Os produtos duráveis exigem venda pessoal e serviços, trabalham com uma margem mais alta e requerem mais garantias do fabricante. Por exemplo: eletrodomésticos, eletroeletrônicos, automóveis, ferramentas, imóveis. • Serviços: são produtos intangíveis, inseparáveis e perecíveis. Eles exigem mais controle de qualidade, credibilidade do fornecedor e adaptabilidade. Por exemplo: serviços automotivos, assessoria jurídica, serviços de reparos, serviços de limpeza. Ao planejar sua oferta no mercado, o profissional precisa pensar em cinco níveis de produto e, a cada nível, como agregar mais valor para o cliente, sendo que os cinco formam uma hierarquia. Esses níveis são chamados de “hierarquia de valor para o cliente”, sendo eles: • Benefício central: é o nível mais fundamental, é o serviço ou benefício que o cliente está realmente comprando. Representa o benefício primordial que levou o consumidor a comprar determinado produto ou serviço. O benefício central está diretamente relacionado com a necessidade que o consumidor quer suprir. Exemplos: um hóspede de hotel está comprando uma boa noite de sono; o comprador de uma furadeira está comprando “furos”. • Produto básico: representa o benefício central ampliado para um benefício básico, como a infraestrutura básica que permite ao consumidor ter uma boa noite de sono, como cama e banheiro. • Produto esperado: nessa fase, entram uma série de atributos que são esperados para um melhor aproveitamento do serviço adquirido pelo consumidor. Ele espera que a cama esteja arrumada e com lençóis limpos, que o banheiro tenha toalhas limpas e água quente, bem como um relativo grau de tranquilidade. 101 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO • Produto ampliado: a partir desse nível de benefício, o consumidor pode ser surpreendido com a entrega de benefícios e outros fatores que as pessoas valorizam. Considerando o exemplo de hotel, pode-se incluir televisor de alta definição com canais via satélite, alta qualidade das refeições, rápido atendimento das solicitaçõesdos hóspedes, check-in e check-out rápidos etc. • Produto potencial: as empresas procuram novas maneiras de satisfazer os clientes e diferenciar sua oferta. O produto potencial representa os benefícios que o negócio já oferece ou pode oferecer e que possam exceder todas as expectativas do consumidor. Tais benefícios estão vinculados com o benefício central que o levou a comprar aquele serviço, que é uma boa noite de sono. Alguns exemplos são uma lavadora e secadora de roupas expressa instalada no quarto, colchão com massageador e DVDs de filmes que o hóspede gostaria de ver, informação obtida no check-in ou no momento da reserva do quarto. Produto central Produto básico Produto esperado Produto ampliado Produto potencial Figura 28 – Os níveis de produto Esses conceitos são fundamentais na diferenciação de produtos e a sua promoção no mercado para a conquista de mais clientes. Para as dimensões do produto, de acordo com Kotler e Armstrong (2015), os produtos podem ser classificados em produtos de consumo e organizacionais. Comecemos pela classificação dos produtos de consumo, que são distribuídos em quatro tipos: • Produtos de conveniência: são comprados com frequência, imediatamente e com o mínimo de comparação e esforço. Em geral, possuem preço baixo e são altamente disponíveis. Subdividem-se em produtos de primeira necessidade, de impulso e de emergência. Os produtos de primeira necessidade são aqueles comprados com regularidade (arroz, feijão, óleo de soja, por exemplo). Os produtos de impulso são os que implicam pouco planejamento ou procura antes da compra e são altamente disponíveis (revistas e guloseimas). Os produtos de emergência são comprados quando os consumidores têm urgência deles (guarda-chuvas ou medicamentos). 102 Unidade III • Produtos de compra comparada: são produtos de consumo comprados com menor frequência e cujas características de adequabilidade, preço, qualidade e estilo são comparados cuidadosamente pelo comprador. Fazem parte desse grupo os produtos que são mais caros que os de conveniência. Ao adquirir esses produtos, os consumidores gastam muito tempo e esforço na busca por informações e fazendo comparações. Neles, as consequências do erro na compra são maiores do que com os produtos de conveniência. Por exemplo: eletrodomésticos, como geladeira, fogão e micro-ondas; aparelhos de DVD, escola dos filhos. • Produtos de especialidade: são artigos de consumo com características singulares ou identificação de marca pelos quais um significativo grupo de compradores está disposto a fazer um esforço especial de compra. Eles representam os produtos caros, que, de alguma forma, passam ao consumidor a característica de serem únicos. São consumidos com pouca frequência e os consumidores fazem muito esforço para comprar aquela marca específica. Por exemplo: carros exclusivos, iates, apartamento. • Produtos não procurados: são produtos de consumo que o comprador não conhece e, se conhece, normalmente não pensa em comprá-lo, a menos que se conscientize de sua existência por meio da propaganda. Existem vários produtos e serviços que, se não forem oferecidos, raramente são comprados. Esses produtos requerem normalmente grande esforço de venda. Por exemplo: seguros de vida, exames de detecção de câncer, jazigo (local onde alguém é enterrado ou sepultado) etc. Já os produtos organizacionais são os comprados para processamento posterior ou para uso na gestão de um negócio. Assim, a distinção entre o produto de consumo e o organizacional é fundamentada na finalidade para a qual o produto é comprado. O que diferencia o produto de consumo de um produto organizacional é o uso. Por exemplo, se uma pessoa compra um cortador de grama para uso doméstico, considera-se produto de consumo. Contudo, se compra um cortador de grama para uso em sua empresa de paisagismo, ele é considerado produto organizacional. É possível categorizar o mercado organizacional de acordo com a funcionalidade dada aos produtos ou serviços adquiridos: mercado industrial, comércio e governo. Kotler e Armstrong (2015) também denominam o mercado organizacional como mercado empresarial, que compreende todas as organizações que compram bens e serviços para utilizar na produção de outros produtos, e também os varejistas e atacadistas, que adquirem bens com o propósito de revendê-los e, assim, obter lucro. Observe a seguir suas características. • Mercado industrial: é composto de indivíduos e organizações que compram produtos e serviços para serem usados, de forma direta ou indireta, na transformação e na produção de outros produtos e serviços que são vendidos, alugados ou fornecidos a terceiros. Fazem parte desse mercado as empresas de manutenção, os agricultores, as empreiteiras etc. Esse é o maior e mais diversificado mercado agregado ao mercado organizacional. • Comércio: é o mercado formado pelo conjunto de atacadistas e varejistas, que compram produtos para revender ou alugar. Algumas vezes, são produtos acabados (eletrodomésticos, por exemplo) comercializados diretamente com os consumidores; em outras ocasiões, pode ocorrer apenas 103 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO um processamento ou reembalagem de produtos, como no caso de uma loja de materiais de construção, que elabora a tinta de acordo com a cor desejada pelo cliente. • Governo: visando atingir os governos das três esferas (municipal, estadual e federal) por meio do fornecimento de produtos e serviços que convenham com as necessidades da comunidade, muitas empresas vendem seus produtos e serviços por meio de licitações e/ou pregões eletrônicos a esses governos geralmente por preços baixos. Destaca-se que essas licitações são determinadas por critérios econômicos e/ou políticos. 5.9 Diferença entre produto e serviço Adota-se aqui a definição de serviço de Kotler e Keller (2018, p. 397): “serviço é qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na propriedade de nada”. Uma empresa deve considerar cinco características especiais do serviço ao elaborar seus programas de marketing, como intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade, perecibilidade e propriedade. Intangibilidade É a principal diferença entre produto e serviço, pois quando se trata da venda de um produto estamos falando de algo físico, você consegue mensurá-lo, pode tocá-lo, cheirá-lo, vê-lo. No serviço, significa que eles não podem ser vistos, provados ou sentidos, não é algo palpável, não pode ser mexido, por isso cabe ao prestador de serviços fornecer evidências tangíveis dos serviços de uma ou de várias maneiras. Inseparabilidade Trata da simultaneidade entre produção e consumo, envolve a participação do cliente no processo de execução e na sua influência com os prestadores em relação ao resultado final. Isso significa que estes não podem ser separados de seus fornecedores, sejam eles pessoas, sejam máquinas; se um colaborador é quem fornece o serviço, então ele é parte do serviço. Como o cliente também está presente quando o serviço é executado, a interação entre prestador de serviços e cliente é uma característica especial do marketing de serviços, além do fato de o cliente consumir o serviço no momento de sua execução. Ambos afetam o resultado do serviço. Enquanto os produtos são produzidos, entregues e consumidos em diferentes etapas, o serviço acontece com a presença do cliente no ato de prestação. Para itens não materiais, como softwares e acesso a sites, a presença em questão não é necessariamente física. Isso aumenta ainda mais os desafios da marca em promover a satisfação imediata para o cliente, fundamental para uma boa avaliação da prestação do serviço. Variabilidade Significa que a qualidade do serviço depende de quem o fornece, bem como quando, onde e como é fornecido. Um exemplo comum é de funcionários de uma empresa: um pode ser alegre e eficiente, ao passo que o outro, que está apenas a alguns metros de distância, pode serdesagradável e lento. 104 Unidade III A variabilidade também é chamada de heterogeneidade, no sentido de ser adaptada de cliente para cliente, dependendo da relação deste com o fornecedor, envolvendo o fator humano. Um serviço nunca se repete exatamente da mesma forma e pode apresentar diferentes resultados de acordo com o perfil do contratante, tempo de execução, recursos utilizados, entre outras influências. E isso pode afetar o grau de satisfação do cliente. Perecibilidade Significa que os serviços não podem ser armazenados para venda ou uso posterior. A perecibilidade não é um problema quando a demanda for estável, contudo, quando houver flutuação de demanda, as empresas prestadoras de serviços frequentemente se veem diante de difíceis problemas, devendo planejar estratégias para conseguir um ajuste melhor entre demanda e oferta. Produtos podem ser armazenados, ocupando espaço em estoques e com necessidade constante de girar, esgotando-se e perdendo prazos de validade. Já no serviço isso não acontece, pois o valor é gerado simultaneamente à prestação e ao consumo. Propriedade Essa questão é decisiva. Ao comprar um serviço, diferentemente do que acontece ao comprar um produto, a propriedade não é transferida para o cliente final. Quando você compra um carro, ele passa a ser seu, mas ao alugar um veículo, a propriedade permanece da empresa responsável pela locação – apenas o direito de uso é cedido. Outro exemplo simples, mas bastante claro, é a compra de um bilhete para viajar de avião. Ao contratar um serviço de viagem por meio de uma companhia aérea, quando um consumidor compra uma passagem, evidentemente, não adquire a companhia aérea. As empresas prestadoras de serviços que prezam por uma boa imagem ou por um bom posicionamento no mercado de serviços precisam seguir um modelo de roteiro como citado anteriormente, para poder dar e receber um feedback. 5.10 O composto de marketing no varejo – pessoas O varejo se caracteriza pela venda pessoal, na qual o cliente entra em contato diretamente com o vendedor, que vai lhe prestar o serviço efetivo de venda das mercadorias desejadas. Um bom atendimento deve ser atencioso, gentil, e, principalmente, não focado apenas no “vender a qualquer custo”, mas sim orientado a satisfazer as necessidades reais do cliente. É preferível perder uma venda imediata a “empurrar” um produto indesejado para o cliente, que poderá se arrepender da compra e culpar o estabelecimento por isso. Ao contrário, se o cliente for bem atendido, mesmo não comprando, ele criará uma imagem positiva do negócio, o que certamente o trará de volta no futuro. Iniciamos com a citação de Chiavenato (2014, p. 8): “gestão de pessoas ou ARH [administração de recursos humanos] é o conjunto de decisões integradas sobre as relações de emprego que influenciam a eficácia dos funcionários e das organizações”. 105 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO A ARH refere-se às práticas e políticas necessárias para conduzir os aspectos relacionados com as pessoas que trabalham em determinada organização. Podem-se destacar três objetivos centrais da ARH: • identificar e atrair pessoal qualificado e competente; • adaptar os trabalhadores à entidade e desenvolver todo o seu potencial; • manter os funcionários comprometidos e satisfeitos com a entidade. O contexto de gestão de pessoas é formado por grupo de pessoas e organizações. Os grupos podem ser divididos por vários fatores: cor, raça; gênero, religião; orientação sexual; idade ou habilidades. Independentemente da geração a que o profissional pertença, o objetivo principal de uma empresa é obter lucro. Para essa finalidade, não existe uma receita, mas ela exige um requisito básico dos colaboradores envolvidos, que é a capacidade de trabalhar em equipe. Em qualquer organização, nenhum profissional é dotado de todas as competências necessárias, nem tem conhecimento de todos os seus processos, que vão desde o atendimento até a produção. A evolução profissional individual sempre depende do aprendizado, que, por sua vez, depende da troca de experiências, quando as gerações trabalham em conjunto, e os conflitos são naturais. Segundo Chiavenato (2014, p. 4): As pessoas passam boa parte de suas vidas trabalhando dentro de organizações, e estas dependem daquelas para poderem funcionar e alcançar sucesso. De um lado, o trabalho toma considerável tempo de vida e de esforço das pessoas, que dele dependem para sua subsistência e sucesso pessoal. Separar o trabalho da existência das pessoas é muito difícil, quase impossível, em face da importância e impacto que nelas provoca. De outro lado, as organizações dependem diretamente das pessoas para operar, produzir seus bens e serviços, atender seus clientes, competir nos mercados e atingir seus objetivos estratégicos. As organizações jamais existiriam sem as pessoas, que lhe dão vida, dinâmica, impulso, criatividade e racionalidade. Na verdade, cada uma das partes depende da outra. Uma relação de mútua dependência na qual há benefícios recíprocos. Uma relação de duradoura simbiose entre pessoas e organizações (CHIAVENATO, 2014, p. 5). Nesse contexto, fica difícil estabelecer uma separação entre o comportamento das pessoas e o das organizações. Há pouco tempo, as pessoas eram tratadas como objetos e como recursos produtivos – quase da mesma forma como se fossem máquinas ou equipamentos de trabalho, como meros agentes 106 Unidade III passivos da administração. O relacionamento entre pessoas e organizações era considerado antagônico e conflitante. Acreditava-se que os objetivos das organizações – como lucro, produtividade, eficácia, maximização da aplicação de recursos físicos e financeiros, redução de custos – eram incompatíveis com os objetivos das pessoas – como melhores salários e benefícios, conforto no trabalho, lazer, segurança no trabalho e no emprego, desenvolvimento e progresso pessoal (CHIAVENATO, 2014, p. 5). Em resumo, as organizações são constituídas de pessoas e dependem delas para atingir seus objetivos e cumprir suas missões. A gestão de pessoas é uma área muito sensível à mentalidade que predomina nas organizações. Ela é contingencial e situacional, pois depende de vários aspectos, como a cultura que existe em cada organização, a estrutura organizacional adotada, as características do contexto ambiental, os processos internos e uma infinidade de outras variáveis importantes (CHIAVENATO, 2014, p. 6). Portanto, a gestão de pessoas nas organizações é a função que permite a colaboração eficaz das pessoas – empregado, funcionários, recursos humanos ou qualquer denominação utilizada – para alcançar os objetivos organizacionais e individuais. As pessoas podem ampliar ou limitar as forças e fraquezas de uma organização, dependendo da maneira como elas são tratadas. Para que os objetivos da gestão de pessoas sejam alcançados, é necessário que os gerentes tratem as pessoas como elementos básicos para a eficácia organizacional (CHIAVENATO, 2014, p. 9). Figura 29 – A gestão de pessoas é uma área sensível para o varejo Disponível em: https://bit.ly/3rrTlkl. Acesso em: 21 jul. 2021. 107 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Segundo Chiavenato (2014), existem seis processos básicos da gestão de pessoas: • Processo de agregar pessoas: utilizado para incluir novas pessoas na empresa. Este processo inclui recrutamento e seleção de pessoal. • Processo de aplicar pessoas: usado para desenhar as atividades que as pessoas irão desempenhar na empresa, com a descrição do cargo e salário, orientar e acompanhar seu desempenho. • Processo de recompensar pessoas: adotado para incentivar as pessoas e satisfazer suas necessidades individuais. • Processo de desenvolver pessoas: utilizado para capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pessoal. Incluem treinamento e desenvolvimento das pessoas. • Processo de manter pessoas: aplicado para criar condições ambientais e psicológicas satisfatórias para as atividades das pessoas,por meio de administração da disciplina, higiene, segurança e qualidade. • Processo de monitorar pessoas: adotado para acompanhar e controlar as atividades das pessoas e verificar resultados. Aqui podem ser considerados os processos de avaliação. No entanto, Chiavenato (2014, p. 172) alerta que a cultura organizacional é o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos através de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhadas por todos os membros da organização. A cultura espelha a mentalidade que predomina em uma organização. O autor cita ainda: que alguns aspectos de cultura são percebidos, outros são menos visíveis, aspectos formais são facilmente perceptíveis (políticas e diretrizes, métodos e procedimentos, objetivos, estrutura organizacional, tecnologia adotada), ocultando outras informais (percepções, sentimentos, atitudes, valores, interações informais, normas grupais etc.) (CHIAVENATO, 2014, p. 173). Na era da informação, as organizações requerem agilidade, mobilidade, inovação e mudanças necessárias para enfrentar as novas ameaças e oportunidades em um ambiente de intensa mudança e turbulência. As mudanças que ocorrem na empresa não são somente estruturais; são, sobretudo, mudanças culturais e comportamentais transformando o papel das pessoas que delas participam. 108 Unidade III O varejo, por conta de seu dinamismo e pouca previsibilidade, demanda constante ingerência das pessoas, que precisam ser bem selecionadas, motivadas e capacitadas, já que constituem uma importante conexão com consumidores. O comportamento das pessoas dentro da organização é complexo e depende de fatores internos, “decorrentes de suas características de personalidade, como capacidade de aprendizagem, motivação, percepção do ambiente interno e externo, atitudes, emoções, valores etc.” (CHIAVENATO, 2014, p. 72) e fatores internos, decorrentes do ambiente que as envolve, das características organizacionais, como sistemas de recompensas e punições, fatores sociais, políticas, coesão grupal existente etc. Destaca-se que o comportamento do funcionário pode gerar conflitos de diferentes gerações no contexto profissional. Antes uma geração era definida a cada 25 anos, agora especialistas apontam que uma nova geração surge a cada dez anos. Cada vez mais as organizações têm pessoas de diferentes idades e perfis em seu quadro de colaboradores, ou seja, de gerações de pessoas de diferentes idades e costumes vivendo em um mesmo ambiente de trabalho, o que acaba gerando conflitos internos na organização. Nas empresas, isso implica trocar experiências e gerenciar conflitos em períodos cada vez mais constantes. As organizações estão começando a incorporar a chamada geração Y, que não é fiel à empresas onde trabalha; quando não se sente confortável, muda de emprego. É a geração da individualidade, velocidade e tecnologia, com tendências a postergar os compromissos e as responsabilidades. Essa geração é a responsável pelo elevado turn over (rotatividade de funcionários), que representa um significativo custo para o varejista, principalmente se considerarmos que esse custo é composto de custos diretos (como treinamento e rescisões) e indiretos (como perda de cultura e relacionamento com clientes). Saiba mais Consulte a referência a seguir. SEBRAE. Saiba como identificar os pontos fortes e fracos de sua empresa. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3y6aoeB. Acesso em: 23 jul. 2021. 5.11 O composto de marketing no varejo – preço Nessa variável, consideramos não só o preço em si de cada item, mas também a política de preços da empresa, o que inclui financiamento, descontos, aceitação de cartões de crédito e de débito, cheques pré-datados etc. Aqui forma-se um dos aspectos importantes da imagem de um varejo, em relação ao comportamento de compra do consumidor, já que ocorre o conflito: loja careira versus loja barateira. Ambas as possibilidades são válidas, dependendo do tipo de negócio em questão. Nenhum lojista gosta da imagem de careiro, mas pode ser até muito boa uma política de preços altos para uma butique de luxo, pois esses preços denotam requinte e exclusividade. 109 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Preço é o valor monetário aplicado ao produto conforme a percepção de valor que o consumidor lhe atribui. Quanto maior o benefício percebido do produto para a satisfação de sua necessidade, maior o preço que o consumidor estará disposto a pagar por ele. O valor que o consumidor atribui ao produto é a relação entre seu custo e o benefício percebido. Observe a seguir a definição de preço, de acordo com Mattar (2019, p. 450): Preço é o valor monetário pelo qual vendedor e comprador estão dispostos a realizar uma troca comercial. Ponto de vista do comprador é o valor monetário que está disposto a pagar, em troca do conjunto de benefícios que espera receber ao adquirir um produto/serviço do vendedor. Ponto de vista do vendedor é o valor monetário que está disposto a receber pela venda de seu produto/serviço ao comprador, de forma que cubra todos os custos incorridos para a sua produção e disponibilização e atenda aos objetivos de lucro. Preço de varejo significa simplesmente o preço de bens ou serviços que são vendidos por um varejista para o consumidor. Representa o preço de compra que você paga sempre que comprar um produto de uma loja de varejo. As vendas no varejo são projetadas para o consumo, e não para revenda de bens ou serviços prestados. Figura 30 – Qual preço? Disponível em: https://bit.ly/2Tp5gD1. Acesso em: 21 jul. 2021. De acordo com Santos (1990, p. 173), “a formação dos preços está ligada às condições de mercado [...] e à remuneração do capital investido (lucro)”. O cálculo do preço de venda deve levar a um valor que proporcione a maximização dos lucros da empresa e, para atingir esse objetivo, devem-se observar as características existentes no mercado, o volume de vendas, as condições de entrega, a relação custo/ volume/lucro e demais aspectos econômicos e financeiros da empresa. 110 Unidade III Para calcular o preço de venda de uma mercadoria, precisamos saber: • o valor do custo dessa mercadoria; • o regime tributário da empresa, para cálculo das alíquotas de impostos; • como funciona o pagamento de comissões sobre a venda; • a participação dos custos fixos (despesas operacionais) em relação às vendas; • a margem de lucro líquido esperada. As empresas definem sua política de preços com base em três principais métodos utilizados no mercado. Cada um desses três tipos prioriza um determinado tipo de produto ou segmento. 5.11.1 Métodos baseados em custos O primeiro aspecto desse método revela uma preocupação com os custos do produto ou serviço como determinante do preço de venda. Em alguns casos, é assim mesmo que deve ser. Tome-se, por exemplo, a construção de uma usina hidrelétrica. É difícil imaginar considerações acerca do tipo de concorrência e impulsores do comprador como determinante do preço a ser cobrado pela obra. No caso de alguns produtos de uso geral, é comum fazer um apreçamento a partir do custo de aquisição de matérias-primas, componentes, mão de obra direta e outros insumos de produção. Mais presente em mercados concentrados ou com grandes barreiras à entrada, nesse método, os preços dos produtos são definidos conforme os seus custos, utilizando como critério o acréscimo ao custo, o ponto de equilíbrio ou a taxa de retorno. Acréscimo ao custo Nesse método, a loja determina o preço acrescendo uma margem de lucro ao custo, dando menos peso ao preço praticado pela concorrência, o que diminui a competitividade da empresa caso seus custos sejam superiores à média de mercado. É conhecido pelo termo mark-up (do inglês “marcar para cima”) e é usado para determinar o percentual de custos e despesas incidente sobre vendas, os tributos sobre o lucro, bem como outras variáveis que incidem sobre o preço de venda; assim, o mark-up contribuirá para que as entidades possam visualizar os custos eas despesas gerais que influenciam na formação do preço ideal. A estruturação formal é simplificada, bastando a definição de um mark-up (taxa de marcação). Dessa forma, quando os preços de venda utilizam o custo como base de sua formação, o objetivo passa a ser a definição de um mark-up divisor ou multiplicador. Supondo a seguinte estrutura de preço de venda, de forma percentual, tem-se o cálculo a seguir: 111 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Tabela 2 – Formação percentual do preço de venda Preço de venda 100% ICMS da venda 17% PIS/Cofins 3,65% Despesas 10% Lucro antes dos tributos 15% Total 45,65% O mark-up divisor será: 100% - 45,65% = 0,5435 100 O mark-up multiplicador será: 1 = 1,8399264 0,5435 Como exemplo, tem-se o valor de $ 100,00 como custo unitário e o preço de venda, utilizando o mark-up divisor, será $ 183,99, e pelo mark-up multiplicador, também será de $ 183,99, resultando em lucro de $ 27,60, ou seja, 15% do preço de venda. Análise do ponto de equilíbrio O ponto de equilíbrio se dá quando as receitas totais são iguais aos custos totais e mostra o quanto é necessário vender para que as receitas se igualem às despesas e os custos. Essa análise determina o número mínimo de unidades que devem ser comercializadas a determinado preço, a fim de que as receitas cubram os custos fixos e variáveis do período. Matematicamente, teríamos: Receita Total = Custo Total RT = CT O ponto de equilíbrio (PE) é um indicador de segurança do negócio, pois mostra o quanto é necessário vender para que as receitas se igualem aos custos. Ele indica em que momento, a partir das projeções de vendas do empreendedor, a empresa estará igualando suas receitas e seus custos. Com isso, é eliminada a possibilidade de prejuízo em sua operação. É, em geral, calculado sob a forma de percentual da receita projetada. 112 Unidade III Fórmula: PE = Custo Fixo / IMC (índice da margem de contribuição) Índice percentual em relação a vendas Onde: MC = Preço de Venda – Custo da Mercadoria Vendida – Despesas Variáveis Vamos utilizar um exemplo para o cálculo do ponto de equilíbrio. Vamos supor que a empresa XYZ pague: I – R$ 120,00 por mês com conta telefônica (custo fixo). II – R$ 2.400,00 com aluguel (custo fixo). III – Ela possui um produto para a venda cuja matéria-prima tem o valor de R$ 50,00 (custo variável). IV – O custo de mão de obra direto é de R$ 20,00 (custo variável). V – O preço do produto no mercado está avaliado em R$ 130,00. Então: • os custos fixos somam R$ 2.520,00 (2.400,00 + 120,00); • o custo variável aumenta R$ 70,00 (50,00 + 20,00) por unidade. A receita total (nível de atividade) aumenta R$ 130,00 por unidade. O ponto de equilíbrio é de 42 unidades. Veja o cálculo: PE = CF/ (Preço – CVU) PE = 2520 / (130 – 70) = 2.520 / (60) = 42 Isso quer dizer que, para pagar suas contas, a empresa XYZ deve vender 42 unidades de seu produto ou faturar R$ 5.460,00 em vendas (42 x R$ 130,00). A lógica do ponto de equilíbrio mostra que, quanto mais baixo for o indicador, menos arriscado é o negócio. 113 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Taxa de retorno Consiste em definir os preços com base na taxa de retorno exigida para o investimento. Desse modo, os preços cobrados não poderão ficar abaixo de um determinado patamar, garantindo o retorno mínimo aos investidores sobre o investimento. Caso o preço de mercado para o posicionamento atual do produto esteja abaixo do mínimo exigido, caberá à empresa buscar um reposicionamento do produto a fim de elevar seu preço, o que será feito com base em percentual previamente estabelecido no planejamento. Para calcular o preço de venda, é necessário conhecer os seguintes elementos: • custos e despesas totais padronizados para o período; • identificação do total investido para o período. Utilizando esses elementos, temos a fórmula de cálculo: Despesas + (% Retorno x Capital Investido) Custo Total Usando exemplos de valores: • Despesas: $ 400.000,00 • Capital investido: $ 4.000.000,00 • Retorno esperado: 20% • Custo total: $ 1.500.000,00 Então: 400.000,00 + (20% x 4.000.000,00) = 0,80, ou 80% 1.500.000,00 Multiplicando 1,80 sobre os custos totais, temos: • Vendas: (+) $ 2.700.000,00 = (1.500.000,00 x 1,80) • Custos: (–) $ 1.500.000,00 • Despesas: (–) $ 400.000,00 • Lucro: (=) $ 800.000,00, ou seja: —; 20% de $ 4.000.000,00 (capital investido), ou ainda —; 29,62% de $ 2.700.000,00 (das vendas). 114 Unidade III 5.11.2 Método baseado na demanda Nesse método, os preços dos produtos são definidos conforme o nível e as características da demanda de mercado e sua elasticidade. A demanda é elástica quando uma pequena variação no preço acarreta uma grande variação na quantidade de produtos demandada, ao passo que a demanda é chamada inelástica quando não se verificam grandes variações na quantidade demandada, mesmo havendo significativas variações nos preços. 5.11.3 Método baseado na concorrência Nesse método, mais comum em todos os mercados, os preços são definidos e alterados de acordo com as estratégias da concorrência, visto que o consumidor analisa a relação custo-benefício de todas as opções de compra e já tem traçado um preço mínimo e máximo para os quais está disposto a pagar. Estoques de matérias-primas Estoques de produtos em elaboração Estoques de produtos acabados Receita bruta Impostos Custo dos produtos vendidos Despesas operacionais Lucro (prejuízo) operacional Baixa de estoque Fluxo de bens e serviços Compra de matérias-primas MOD CIFs Requisição de material para fabricação Conclusão de fabricação Despesas de vendas e Despesas administrativas Vendas (–) (–) (–) (=) Resultado das operaçõesOperações Baixa de estoque pela transferência de propriedade ao cliente Figura 31 – Fluxo de atividades de uma empresa Na figura anterior, temos um exemplo de uma empresa industrial que adquire matérias-primas, fabrica o produto e o estoca, dando baixa no estoque quando há a venda do produto. Em suas operações, para montar seu custo, ela tem a compra da matéria-prima, o custo da mão de obra direta (MOD) e os custos fixos de fabricação (CIFs) até a colocação de seu produto para venda. Nos resultados, ela tem a receita total (ou receita bruta, que é dada pela multiplicação da quantidade vendida (Q) de determinado produto ou serviço pelo seu respectivo preço de venda (P)), com a fórmula representada por: RT = P x Q Da sua receita total, a empresa deduz impostos, o custo dos produtos vendidos e as despesas operacionais, chegando ao lucro ou prejuízo da operação. 115 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO No varejo, ocorre o mesmo processo, destacando-se que não há um custo de fabricação, mas de aquisição de produtos para revenda, os demais itens são aplicados sem problemas de apuração. Saiba mais Leia a obra a seguir: YANASE, J. Custos e formação de preços: importante ferramenta para tomada de decisões. São Paulo: Trevisan, 2018. 5.12 Preço e valor O preço é o que se paga e valor o que se leva. Quando quiser fazer uma relação entre preço e valor, utilize a seguinte fórmula: Valor = Percepção de Benefícios/(Preço + Expectativas) Considere dois bens que podem ser vendidos pelo mesmo preço, mas têm valores diferentes; também podem possuir o mesmo valor e serem vendidos por preços diferentes. Para Churchill Júnior e Peter (2012, p. 21): O valor para o cliente é a diferença entre as percepções do cliente quanto aos benefícios e quanto aos custos de compra. Os benefícios típicos para o cliente são funcionais, sociais, pessoais e experimentais. Os custos típicos para os clientes são monetários, temporais, psicológicos e comportamentais. Exemplo de aplicação Dois veículos podem ser avaliados, por critérios técnicos (suas especificações, marca, modelo), pelo mesmo preço de venda, mas podem apresentar valores completamente diferentes na percepção de quem vai comprá-los em razão das expectativas de cada comprador. Seguindo o mesmoraciocínio, um comprador pode atribuir o mesmo valor a bens oferecidos a preços muito diferentes. Pense em você e em um taxista: o que cada um busca na aquisição de um veículo? O fator crucial para a procura de determinado bem ou serviço deixou de ser o preço, pois ele sofre alterações por causa de qualquer desequilíbrio entre a oferta e a procura. Dessa forma, pode-se dizer que o preço de algo é definido pelo próprio consumidor, pois quando passa a buscar um produto qualquer, o produtor eleva o seu preço, fazendo com que o consumidor pague 116 Unidade III mais se desejar adquiri-lo. Em contrapartida, quando um produto não é mais procurado, o produtor é estimulado ou a deixar de produzi-lo para que não tenha despesas em relação à oferta sem demanda ou a reduzir o preço cobrado para estimular a demanda. O preço de um bem ou serviço é fixado levando em consideração a relação entre a procura e a necessidade do consumidor final e, ainda, os custos gerados na fabricação e o tempo gasto em sua produção. Lembrete Os fatores que influenciam o consumidor final a procurar um produto são as necessidades em relação ao poder de compra, a concorrência, a qualidade, a satisfação do cliente etc. 5.13 Tipos de preços Ponderando esses métodos de definição de preços, as empresas aliam estratégias de preço que construam a melhor forma de atingir o mercado. A seguir, vamos acentuar dez principais estratégias de definição de preços. Premium pricing (preço premium) Utilizado quando a empresa possui algum aspecto de exclusividade em seus produtos ou serviços ou diferenciais muito significativos, que incentivem os clientes a pagar um valor adicional por encontrar benefícios acima do esperado, como no mercado de luxo. Preços baixos (everyday low prices) Estratégia aplicada em mercados com grande escala e produtos de menor valor agregado, aliado a baixo nível de serviço e investimento. Estratégia geralmente seguida por grandes redes atacadistas e varejistas e para commodities agrícolas, por exemplo. Preços para entrar no mercado (ou ganhar mercado) Estratégia adotada para entrar em mercados maduros ou oligopolizados, a estratégia é elaborada a fim de conquistar participação de mercado ou para entrar em um novo mercado. A prática de preços abaixo da concorrência, quando não vinculada a inovações ou custos reduzidos em relação à concorrência, tende a diminuir as margens de ganho. Portanto, é uma política de preços com prazo para acabar. Um exemplo foi a JAC Motors, da China, que entrou no mercado brasileiro com um veículo (modelo J3) equipado com ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos, faróis de milha, sensor de ré e direção hidráulica a preço inferior aos veículos de fabricação brasileira e bem menos equipados. Seu objetivo era entrar no mercado brasileiro. 117 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Nata de preços (ou desnatamento do mercado) Envolve políticas de preços que normalmente são aplicadas no lançamento de um novo produto e no momento em que o nível da concorrência é significativamente menor. A empresa tende a sustentar uma política de preços superiores, que atrai concorrentes, quando a empresa reduz os preços periodicamente até o ponto de equilíbrio do mercado. Um exemplo foi o lançamento do IPod pela Apple, MP3 player portátil mais famoso do mundo, com capacidade para armazenar centenas de músicas, e que não tinha concorrentes no seu lançamento, estreou no mercado com o modelo Classic em outubro de 2001. A empresa cobrou bem caro pelo seu lançamento. Preços psicológicos Encontrada mais comumente em lojas varejistas, essa política visa incentivar a compra por impulso, pois os preços psicológicos que iniciam ou terminam com o número nove e expostos com números grandes levam as pessoas a acreditar que estão comprando um produto em oferta. Por outro lado, uma comunicação de preço sem esses apelos é geralmente vinculada a produtos de maior qualidade. Hoje é comum essa estratégia ser adotada por quase todo o varejo, com produtos com valores fixados, por exemplo, cadeira de escritório giratória modelo Diretor de 799,99 reais por R$ 399,99 reais. O comprador associa o produto a menos que 400,00 reais, o que não deixa de ser verdade, mas percentualmente a diferença é de apenas R$ 0,01 (um centavo) ou 0,0025%. Preços para uma linha de produtos Essa estratégia estabelece que haja uma coerência de preços em uma linha de produtos, em virtude da facilidade de percepção de valor em uma mesma linha. Mesmo salientando que embalagens maiores tendem a ter preço médio inferior, uma bebida com embalagem tamanho família, por exemplo, deve ter um preço por mililitro próximo de uma embalagem individual. É o caso do refrigerante Coca-Cola garrafa 600 ml, que tem seu preço no valor de R$ 1,79 (0,002983 real por ml) e a garrafa 2,5 litros fixado em R$ 7,49 (R$ 0,002996 por ml). O preço por ml está muito próximo. Esse cálculo é apenas um exemplo. Note ainda que, nesse exemplo, estamos utilizando o preço psicológico. Preços opcionais Implantada na venda de produtos que possuem uma versão básica a preço promocional, cujos clientes são induzidos a acrescentar melhorias que tornem os produtos melhores e, consequentemente, mais caros. A venda de automóveis é um exemplo bem conhecido dessa tática, em que a colocação de itens opcionais pode levar o carro a atingir um preço total consideravelmente superior e muitas vezes mais alto do que um modelo superior da mesma categoria. Preços de captura Aplicados em segmentos cuja relação com a empresa não cessa a partir da venda do produto ou serviço, seja para sua manutenção, seja para a continuidade de seu uso. Nesse caso, as empresas tendem a cobrar preços inferiores pelo equipamento para aumentar o faturamento em vendas futuras. 118 Unidade III Exemplo clássico é o segmento de impressoras, em que a venda do aparelho representa uma fração do faturamento potencial que a venda de cartuchos de tinta pode atingir ao longo da vida útil do produto. Outro exemplo é o do aparelho de barbear recarregável com preço de 16,90 reais, cuja carga com duas lâminas pode custar 26,90 reais. Destaca-se novamente que esse cálculo é apenas um exemplo. Preços por pacotes São implementados seguidamente por empresas que comercializam muitos produtos, em que poucos deles representam a maior parte do faturamento. Desse modo, é possível desenvolver pacotes promocionais, unindo produtos de alto giro com outros de baixo giro a um preço promocional, beneficiando o segundo no giro e no avanço sobre concorrentes. É um tipo muito utilizado por empresas e agências de turismo, cujo pacote de viagem aérea mais estadia em hotel custa menos do que adquiridos separadamente. Preços por geografia No Brasil, por causa de seu tamanho e das variações dos índices de impostos e custos logísticos, estratégias de preço diferenciadas por estado ou região podem ser justificadas. Essa estratégia representa uma maneira de manter as margens de lucro cobrando preços diferentes para um mesmo produto ou serviço. A diferença de custo, muitas vezes, é causada pelo custo de transporte. Outros tipos de preços que contrastam com preços de varejo são: os preços de promoções, como os encontrados durante as vendas de Natal, queimas de estoque ou vendas de liquidação. Outras considerações, como os custos gerais, contribuem para a formulação de preços de varejo: um varejista não pode obter lucro se estiver gastando mais em itens como salários, aluguel, eletricidade, aquecimento e empregados. Dessa forma, os varejistas com baixos custos, como sites sem loja física, são capazes de fornecer preços muito baixos. É por isso que muitas vezes você vai encontrar ofertas on-line que são muito melhores das encontradas nas lojas. Um termo comum é a relação de preço sugerido pelo fabricante de varejo. Esse preço é determinado por um fabricante de bens com uma diretriz para o preço que deve ser usado por varejistas na venda de um produto para o consumidor.Esse preço é normalmente o mais alto que será visto nas mercadorias vendidas, mas os varejistas podem optar por ajustar o seu preço de venda abaixo do preço sugerido, a fim de competir com outros vendedores e atrair negócios. Como exemplo, até algum tempo atrás, o minirrefrigerante Coca-Cola, lata 250 ml, tinha como preço sugerido pelo fabricante 1,75 real estampado na lata. Muitas vezes os preços de varejo e preço sugeridos pelo fabricante são projetados para serem maiores do que eles precisam ser para gerar lucro, permitindo que o varejista ofereça descontos que pareçam um grande negócio, mas na verdade apenas refletem a elevada margem de lucro. 119 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 5.14 O conceito de elasticidade A elasticidade é a relação entre as diferentes quantidades de oferta e procura de certas mercadorias em função das alterações verificadas em seus respectivos preços, e cada produto tem uma sensibilidade específica com relação às variações dos preços e da renda dos consumidores. De modo genérico, a elasticidade é capaz de refletir o grau de reação de uma variável quando ocorrem alterações em outra variável. Seguindo esse conceito, as mercadorias podem ser classificadas em bens de demanda elástica ou inelástica: • Os bens de demanda elástica são aqueles que não são indispensáveis à subsistência do consumidor. Geralmente, são os bens de luxo. • Os bens de demanda inelástica são os de primeira necessidade, indispensáveis à subsistência do consumidor. Alguns fatores que influenciam a elasticidade da demanda seriam a existência de substitutos ao bem, a variedade de usos desse bem, o seu preço em relação ao uso global dos consumidores e o preço do bem em relação à renda dos consumidores. Para um vendedor, faz realmente muita diferença o fato de ser elástica ou não a demanda com a qual ele se defronta. Se a demanda for elástica e ele reduzir o preço, obterá mais receita. Por outro lado, se a demanda for inelástica e ele reduzir o preço, obterá menos receita. 5.15 A diferença entre preços de varejo e atacado Ir às compras é uma atividade necessária ao ser humano, afinal, ele não pode ficar sem alimento, produtos de limpeza, roupas e outros utensílios. Para satisfazer essas necessidades, existem dois tipos de comércios: • Atacado: vende produtos diretamente das fábricas e em grandes quantidades, geralmente para o varejo. Alguns atacados solicitam até mesmo o CNPJ da empresa compradora e não vendem para pessoas físicas, somente jurídicas. O preço é bem menor se comparado ao do varejo, pois o lucro do atacado está na venda em quantidades altas. • Varejo: vende em quantidades menores, e a compra é fracionada e direcionada ao consumidor final. Os preços no atacado também variam de acordo com as condições do mercado e da disponibilidade de itens. Quanto mais escasso um produto, mais o varejista terá que pagar por ele, assim, maior será o preço de varejo para cobrir as despesas. Embora os preços no atacado e no varejo sejam muito diferentes, eles afetam um ao outro diretamente. Flutuações em um acabarão por traduzir-se em flutuações no outro. 120 Unidade III Os preços de varejo não estão definidos, eles são limitados pelo que o mercado permite cobrar por aquele produto. Por exemplo, se o preço de venda de um determinado produto é de 25,00 reais e o preço médio de mercado do mesmo produto em outros estabelecimentos é de 16,00 reais, o varejista não venderá todos os itens, pois os consumidores procurarão locais com preços melhores. 6 GEOMARKETING E LOCALIZAÇÃO DO PONTO – PRAÇA O ponto (place) é uma das variáveis mais importantes em varejo, pois o ponto define muito do sucesso ou fracasso de um negócio em atrair a sua clientela. Observe ainda o uso do geomarketing para encontrar a melhor localização do ponto comercial. A decisão de localização é importante, pois define não só o público que se vai atingir, como também o total de potenciais clientes que terão acesso à loja. Deve-se considerar sempre a área de influência inerente a cada ponto. A elevação do nível de competição no mercado varejista e de prestação de serviços, proporcionado em grande parte pela estabilidade econômica em meados da década de 1990, fez surgirem no país inúmeras empresas atuantes no mesmo ramo de atividade. Nesse cenário, a busca por novas ofertas de serviços ou produtos passa a ser uma garantia de sobrevivência, sendo a localização do ponto de venda um fator crítico para o sucesso do negócio. 6.1 Conhecendo o geomarketing O geomarketing é o nome dado à área de gerenciamento de informação que incorpora as dimensões espaciais para auxílio à tomada de decisões dentro do domínio específico de mercado, o que permite levantar as características de uma determinada região e analisar seu potencial socioeconômico. Iniciado no Brasil no começo dos anos 1990, o geomarketing é uma técnica de estudo de mercado cuja principal característica é utilizar informações associadas a mapas digitais. Essa visão é muito importante para empresas cujo negócio consiste em atender pessoas ou marcas numa região ou território definido. Por exemplo, tanto uma sapataria quanto uma empresa de telefonia celular atendem um determinado território, e seu faturamento está diretamente relacionado ao potencial de consumo em determinada área de atuação. A principal vantagem da adoção de geomarketing é a análise de informação de marketing na forma de mapas, proporcionando uma melhor eficácia na tomada de decisões e uma análise mais rápida, intuitiva e prática de informações complexas. Um mapa para estudo de mercado normalmente possui as informações do censo do IBGE, que apresenta o número de habitantes por sexo, idade, renda do chefe e grau de instrução, entre muitas outras informações. Na maior parte dos casos, tal mapa precisa contar também com o potencial de consumo da população que trabalha ou apenas transita pela região. Isso significa que o desenvolvimento de estudos e serviços específicos são totalmente personalizados, combinando a informação com dados de população, de mercado e econômicos, utilizando mapas digitais para gerar inteligência com significância. 121 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO O resultado desse estudo é capaz de predizer o faturamento de uma loja antes de ela ser construída ou de classificar as regiões ao redor de um negócio já existente segundo o seu potencial de consumo. Portanto, se você possui comércio, comece posicionando num mapa o seu ponto de venda e os seus concorrentes e procure entender qual a sua área de atuação. Os seus concorrentes podem estar mais afastados de seu ponto comercial, o que caracteriza uma divisão territorial, ou podem estar na mesma rua que você, aumentando a competição dentro da área de atuação, o que também aumenta o tamanho dessa área. Isso ocorre porque o local fica conhecido por ter um número maior de opções e, assim, atrai pessoas que vivem em locais mais afastados. Algumas áreas de atuação possuem particularidades. Por exemplo: grande parte do faturamento de um posto de gasolina vem dos carros que passam a sua frente e seus concorrentes acabam sendo os outros postos ao longo da mesma via. Não se trata só de fronteiras e divisões territoriais, e sim de se ter dados corretos sobre seu público para que seja feita uma divisão territorial de acordo com padrões de consumo da forma mais refinada possível, o que é cada vez mais acessível com o desenvolvimento do geomarketing. Por sua vez, os restaurantes e bares precisam fazer parte da seleção de preferidos dos seus clientes, pois normalmente os consumidores variam sua escolha segundo estilo e gostos, e não apenas pela localização do ponto. Caso você possua o endereço de seus clientes, poderá mapeá-los e descobrir os locais que concentram mais e menos clientes. Isso é importante para entender melhor qual a sua área de atuação, ou seja, de onde vêm seus clientes atuais e onde buscar novos. Figura 32 – Georreferenciamento: campos de agricultura da Ásia Disponível em: https://bit.ly/36SVkop.Acesso em: 21 jul. 2021. A distribuição espacial dos consumidores e a concorrência têm sido fatores impulsionadores na diversificação de estratégias, e, no setor de varejo, esse cenário não é diferente. Empresários têm tido dificuldades crescentes com relação à definição da localização de seus estabelecimentos para poder criar diferenciais competitivos aos consumidores. Nesse sentido, o geomarketing permite não apenas estudos de mercados e análises de mercado e concorrência, mas também a decisão da instalação das empresas. Também é possível encontrar áreas de influência, simulações de rede de lojas, otimização de rotas etc. 122 Unidade III Assim, as empresas necessitam dispor de ferramentas adequadas que permitam extrair informações estratégicas do mercado em que atuam, visando à maximização dos lucros por meio da expansão de suas redes de comercialização, ofertas de novos produtos, serviços e confiabilidade nas estimativas de demandas. Atualmente, as análises estatísticas e de mercado evoluíram com a incorporação das dimensões espaciais para a solução de problemas. A estratégia passa a ser direcionada a segmentos de clientes associados a informações geográficas, como a localização e a concentração dos consumidores e concorrentes, a proximidade com canais de distribuição e até mesmo a topografia do terreno. A solução para esses tipos de problemas se adapta aos objetivos de uma aplicação de geomarketing. Além do projeto de rede, o geomarketing pode ser usado, por exemplo, para a identificação e expansão da base de clientes. O conhecimento do perfil do consumidor em determinada região fornece indicativos para a criação de novos serviços, associado a um melhor atendimento ao cliente. Com todo avanço tecnológico, é possível usar modelos dentro de um contexto real para problemas de escolha da melhor localização de um ponto comercial. Cerca de 80% das informações necessárias em um negócio possuem uma localização geográfica que precisa ser considerada na gestão da organização. Mesmo que tenha ocorrido o desenvolvimento de técnicas quantitativas e qualitativas de estudo e avaliação da influência do tempo nos negócios, elas não foram empregadas no campo do espaço. Assim, é necessário enfocar a dimensão espaço nas análises de decisões de negócios, mais precisamente no campo da definição de áreas de localização de pontos de vendas e serviços. Saiba mais Para compreender melhor o assunto, recomenda-se a leitura a seguir: MATTAR, F. N. Administração de varejo. 2. ed. São Paulo: Elsevier, 2019. 6.2 Aplicações de geomarketing Geomarketing é uma técnica de marketing que considera a visualização (mapas) e análise de dados como componentes no processo de tomada de decisões na gestão de vendas, trade e marketing. A origem do geomarketing baseia-se na ideia de que a localização geográfica dos clientes e prospects é peça fundamental para a condução dos negócios. Assim, temos a transação comercial entre empresa e consumidor (B2C – business to commerce) por meio de uma plataforma de e-commerce, e transações comerciais entre empresas (B2B – business to business). A partir dessa visão, informações ganham nova dimensão de análise e visualização, passando a levar em consideração o contexto e as especificidades regionais de cada mercado. Sua aplicação 123 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO permite identificar com maior objetividade o tamanho do mercado, o perfil do público-alvo, o posicionamento da concorrência, o comportamento de compra e cobertura de vendas em estados, cidades, bairros e ruas, proporcionando suporte a decisões mais claras, com redução de riscos, otimização de investimentos e melhores resultados comerciais. Lembrete Geomarketing é uma técnica de marketing que considera a visualização (mapas) e análise de dados como componentes no processo de tomada de decisões na gestão de vendas, trade e marketing. A evolução de seu conceito migrou do marketing geográfico, com foco na localização de pontos de venda, para o marketing and geo intelligence (marketing em mapas inteligentes), proporcionando integração de todo o marketing mix (o composto de marketing) e auxiliando a entender, planejar, estruturar e implementar estratégias e táticas relacionadas ao consumo no território. Nesse contexto, você deve fazer questionamentos: qual a sua necessidade? Melhorar sua eficiência comercial? Medir os resultados em ações de trade? Identificar e monitorar a concorrência? Otimizar seu canal de distribuição? Compreender a dinâmica de consumo? Seu produto está presente nos pontos de venda ideais? Em que canais de venda ou regiões há maior quebra? O posicionamento dele está adequado aos canais de venda em que está presente? Deve-se buscar soluções somente depois de formular o problema que você quer resolver. Na elaboração dos mapas, lembre-se de que uma imagem vale mais do que mil palavras. A interpretação de um mapa estimula o lado intuitivo do cérebro, ativando decisões mais rapidamente do que ocorre em apenas analisar números e tabelas, torna-se mais claro identificar tendências e padrões de consumo em regiões geograficamente próximas por meio de mapas temáticos (por cores, símbolos ou texturas). Na elaboração de mapas, temos de analisar a amostra geográfica, que é o conjunto de elementos (população, consumidores, concorrência, marcas e produtos) que representa o comportamento e características de um universo, levando em consideração a localização geográfica e a caracterização do entorno. A aplicação de mapas em pesquisas de mercado, dimensionamento de demanda, auditoria da concorrência e segmentação de produtos gera maior assertividade e eficácia nos resultados. Também é considerada a área de influência. A área de influência de um estabelecimento comercial é delimitada pelo seu poder de atração (distância média que um cliente potencial se predispõe a se deslocar para comprar seu produto/serviço). Conhecer o perfil dessa área (moradores, população economicamente ativa, número de empresas concorrentes etc.) é determinante para a definição de mix de serviços/ produtos, preços, giro de estoque e o potencial de vendas do ponto. 124 Unidade III Outro ponto relevante são os indicadores-chave de desempenho (KPIs – key performance indicators), que fornecem visibilidade sobre o desempenho de métricas com maior potencial de impacto em sua empresa, e o uso de geomarketing serve como incentivo ao proporcionar a visualização das métricas por região. Um sistema de informações geográficas (GIS ou SIG) é uma composição do gerenciamento de informações que possibilita os seguintes aspectos: • coletar, armazenar e recuperar informações baseadas em sua localização espacial; • identificar locais dentro de um ambiente-alvo de acordo com determinado critério; • explorar relações entre conjunto de dados dentro desse ambiente; • analisar dados relacionados espacialmente para auxílio na tomada de decisão sobre esse ambiente; • mostrar o ambiente gráfico e analítico antes e depois de uma análise qualquer; • facilitar a seleção e a passagem de dados para modelos de simulação capazes de avaliar o impacto de alternativas no ambiente escolhido; • mapear a aceitação do produto dentro de uma área estabelecida; • controlar a relação dos preços com o consumo, verificando onde é possível trabalhar com preços maiores ou menores de acordo com as características locais; • desenvolver peças publicitárias que falem diretamente ao público de determinado local, tendo uma maior efetividade; • uma melhor logística de distribuição ao se ter conhecimentos específicos sobre a demanda de cada local determinado, melhor distribuição dos pontos de venda, depósitos e centrais de distribuição e rotas de atendimento ao cliente. Saiba mais O site da GeoFusion apresenta diversas aplicações de geomarketing em empresas espalhadas pelo Brasil. Conheça algumas delas e reflita se poderia ser utilizada em seu ramo de atuação. Disponível em: https://www.geofusion.com.br/. Acessoem: 26 jul. 2021. 125 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 6.3 Segmentação de mercado pelo geomarketing Fazer um trabalho de segmentação de mercado pode parecer princípio fundamental para o lançamento de um produto, serviço ou ponto de venda. Contudo, apesar da importância de um estudo aprofundado a respeito de cada região, ainda são poucas as empresas que usam o conceito de geomarketing no Brasil. O macroambiente vive em constantes modificações e em altas velocidades, as quais incluem forças sociais maiores que afetam direta ou indiretamente o microambiente, tais como: forças demográficas, econômicas, naturais, tecnológicas, políticas e socioculturais. Para Kotler (2007, p. 76), “essas forças representam fatores não controláveis que a empresa precisa monitorar e aos quais precisa reagir”. Las Casas (2019) justifica que é preciso um monitoramento sistêmico e contínuo dessas variáveis ambientais para que os profissionais de marketing possam canalizar as estratégias da empresa na direção correta, minimizando as ameaças e potencializando possíveis oportunidades. Segundo Simpson (2001, p. 196): mercado é qualquer indivíduo, grupo de indivíduos ou organizações que queiram, estejam habilitados ou sejam capazes de adquirir o produto de uma empresa. Cada uma das divisões do mercado, ou segmentos de mercado, que uma empresa seleciona para atingir com os seus esforços de marketing é um mercado-alvo seu. Uma das grandes facilidades proporcionadas pelo geomarketing é a segmentação de mercados. A princípio, parece uma tarefa fácil segmentar um mercado, mas na realidade existem muitas dificuldades. A empresa deve pensar sempre numa forma de atuação. Ao pensarmos em mercado, primeiro devemos traçar uma definição do que são esses mercados. A empresa conseguirá vender seus produtos aos consumidores se houver alguns requisitos básicos: • deve existir alguma pessoa com necessidade que seja satisfeita com a compra do produto; • o consumidor deve ter o poder aquisitivo para comprar o produto; • o consumidor deve ter condições para efetuar a compra. Ao decidir segmentar o mercado, a empresa dispõe de poucas variáveis sob o controle do administrador de marketing. Segundo Richers e Lima (1991, p. 22), a empresa deve enfocar suas opções de segmentação sob quatro ângulos distintos: 126 Unidade III • setor, que é problema de concorrência; • segmentos, que é problema de oportunidade; • produtos, que é problema de adaptação; • distribuição e comunicação, que é problema de escolha. Dessas quatro variáveis, somente as duas últimas se prestam à manipulação e devem, portanto, ser priorizadas. Observação É fundamental investir tempo na definição das dimensões de segmentação. Isso deve ser feito antes mesmo do levantamento de variáveis. Las Casas (2017) ressalta que podem ser desenvolvidas ações para mercados segmentados e concentrados, com ênfase em um tipo único de cliente, ou para mercados segmentados e diferenciados, com ações diversas para mercados variados. A escolha de um mercado único pode significar uma vantagem para empresas de pequeno porte, mas pode impedir o desenvolvimento de ações para outros segmentos ainda não atendidos. Segmentar um mercado significa escolher um grupo de consumidores, com necessidades homogêneas, para o qual a empresa poderá fazer uma oferta mercadológica. O processo de segmentação requer que sejam identificados os fatores que afetam as decisões de compras dos consumidores. Os requisitos para a segmentação são: ser identificável, mensurável, acessível, rentável e estável. Não é possível para uma empresa satisfazer todos os consumidores de um dado mercado ou, pelo menos, da mesma maneira. Um único composto de marketing raramente é adequado para atender às necessidades e desejos de todo o mercado de um produto. Portanto, as organizações estão segmentando seus mercados para atender seus consumidores de maneira mais eficaz. Elas segmentam seus mercados, escolhem um ou mais segmentos e desenvolvem produtos sob medida para esses segmentos melhores que os de seus concorrentes, pois é uma estratégia mais eficiente no mundo competitivo onde vivemos. Antes mesmo que uma empresa possa efetivamente comercializar os produtos dela com os consumidores, ela deve entender plenamente o que o consumidor quer e necessita daquele determinado produto. E esse trabalho não é fácil, é o grande desafio para os profissionais de marketing. Contudo, o que se deseja de um produto não é o mesmo para todos em um mercado, existem diferenças reais entre as preferências do consumidor de determinado produto. Portanto, as empresas devem estar atentas para os detalhes da diversidade dos desejos do comprador. Estamos falando sobre segmentação de mercado, mas o que realmente isso significa? Para Churchill Júnior e Peter (2012), é dividir um mercado em grupos de compradores potenciais que tenham semelhantes necessidades e desejos, percepções de valores ou comportamentos de compra. 127 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Os mercados se diferem de várias formas, quanto aos desejos, recursos, localidades, atitudes de compra e práticas de compra, enfim, os mercados podem ser segmentados de várias maneiras. Quando uma empresa segmenta o mercado, torna-se mais fácil satisfazer suas necessidades e desejos, pois o composto de marketing será desenvolvido para as necessidades específicas daquele segmento. A motivação do consumidor também é importante. Clientes entusiasmados com algum produto dão menos importância ao preço. Destaca-se que, para manter a motivação dos clientes, a organização deve oferecer benefícios (descontos, crediários) a fim de conquistá-los e induzi-los a comprar mais (LAS CASAS, 2013). Quando se tratar de desenvolver um composto dirigido a grandes mercados, formado por consumidores com diferentes necessidades, a análise ficará mais difícil. É por essa razão que a segmentação do mercado cria facilidades para a empresa desenvolver e comercializar produtos que se aproximem mais da satisfação das necessidades de seus consumidores. Com a segmentação, a empresa poderá obter muitas vantagens. Poderá desenvolver melhor o trabalho frente à concorrência, dedicando-se a fatias de mercado que ela tenha melhores condições de atender. Para tanto, é preciso estimar o tamanho atual do mercado, identificar os concorrentes e as respectivas participações, bem como o potencial de crescimento desse mercado. Em seguida, é preciso separar os consumidores em grupos, de tal forma que a necessidade genérica a ser atendida tenha matizes específicos, que são semelhantes para os que pertencem ao mesmo grupo e são diferentes dos demais grupos. Essa divisão pode ocorrer segundo critérios geográficos, demográficos, psicográficos ou comportamentais. Os segmentos resultantes dessa divisão devem ser avaliados segundo o tamanho, o potencial de crescimento e a atratividade em relação aos objetivos e recursos da empresa. Finalmente, são escolhidos um ou mais segmentos a serem atendidos – o mercado-alvo, ou target –, que serão objeto de estudos, planos e ações de marketing, envolvendo o posicionamento da oferta na mente do consumidor em relação aos concorrentes. Figura 33 – Livraria: um segmento de mercado Disponível em: https://bit.ly/3rpIg3g. Acesso em: 21 jul. 2021. 128 Unidade III 6.4 Big data e o geomarketing A expressão big data refere-se a enormes conjuntos de dados caracterizados por grandes volumes (por ordem de magnitude), de grande variedade, dados que se originam de diversas fontes de dados e que são gerados em alta velocidade, pois podem ser obtidos ao mesmo tempo em que se originam. Essas três características principais são descritas como os três Vs do big data (volumes, variedade, velocidade). Quando se fala de big data, sob o ponto de vista empresarial, a grande oportunidade que as empresas têm é extrair efetiva inteligência de negócios a partir desses dados. Ferramentas de análise específicas, também conhecidas como analytics, permitemimplementar estratégias para conhecer e fidelizar melhor seus clientes, reduzir custos operacionais pela melhor escolha do ponto de venda e melhorar seus produtos. Empresas do setor de varejo buscam seus pontos de venda usando ferramentas que correlacionam dados complexos de demografia, fluxo de pessoas e consumo setorial. Atualmente, o varejo é um dos principais segmentos a empregar o conceito em suas estratégias. Setores que também se destacam são os de telecomunicação, financeiro, imobiliário e de turismo. Contudo, de forma geral, todos podem se beneficiar do geomarketing, também conhecido como georreferenciamento. O estudo pode ser aplicado na produção, na estratégia de relacionamento, na abertura de lojas, na parceria com grandes marcas e até como forma de medir o retorno das ações de marketing. O conceito é uma forma de segmentar geograficamente, encontrando perfis específicos de consumidores em determinadas regiões com diferenças comportamentais, culturais, socioeconômicas, religiosas, entre outras. O geomarketing é a divisão geográfica das estratégias de marketing. Trata-se de segmentar e desdobrar relacionamento, preço, produto e promoção a partir de reconhecimento geográfico para saber qual é a melhor região onde atuar. O geomarketing é essencial para que a companhia enxergue o seu público-alvo. É necessário contextualizar os consumidores para se diferenciar no mercado. Deve-se saber onde eles estão, qual a taxa de desenvolvimento urbano da cidade, quais são suas necessidades. O estudo de segmentação permite também que sejam encontrados futuros consumidores. Além de aprofundar o conhecimento a respeito dos clientes, o geomarketing é uma poderosa ferramenta para o reconhecimento de prospects. O histórico contém informações de um cliente que já está na carteira da empresa. Para aplicar o conceito, é necessário unir informações à divisão geográfica. O grande diferencial é relacionar as informações públicas com o mapeamento. No Brasil, o processo torna-se mais fácil quando o país é dividido geograficamente em estado, município, bairro, rua e CEP. A partir daí, é possível estabelecer microrregiões e determinar sua capacidade de consumo. Entender cada segmentação serve como ponto de partida para o lançamento e desenvolvimento de produtos. Quase tudo se aplica ao geomarketing. Não adianta comprar uma base de mercado sobre a qual não se tem informações. Antes de qualquer coisa, é necessário segmentar geograficamente a base 129 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO encontrando prospects de acordo com perfis sociocomportamentais que estejam mais relacionados com o produto. Deve-se descobrir qual região é mais adequada para o teste de determinado produto, serviço ou ponto de venda, que podem variar de acordo com o objetivo de cada empresa. Ao contrário do que muitos pensam, não é possível estabelecer uma cidade-teste. Apesar de municípios como Curitiba, por exemplo, serem associados a testes, é necessário selecionar cidades compatíveis com a estratégia. Os mais indicados são lugares que consumam e representam o máximo possível o público-alvo que a companhia deseja atingir. É importante encontrar um mercado a partir de dados que destaquem o potencial de cada região para o produto. A função do geomarketing é descobrir cidades que sejam representativas para o negócio. O geomarketing diz respeito à identidade visual construída como uma ponte entre a marca e o cliente; refere-se a todo o cenário que será criado para proporcionar uma experiência de prazer no consumo. Saiba mais Consulte a referência a seguir. SOCIEDADE BRASILEIRA DE VAREJO E CONSUMO (SBVC). Estudo transformação digital no varejo brasileiro. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3xWT1Nb. Acesso em: 21 jul. 2021. 6.5 Aplicações de geomarketing na comunicação Como vimos, a coleta incessante de dados traz muitas informações sobre os clientes, e os dados de localização são um deles. Ao entrarmos em qualquer site, ou no smartphone, já nos perguntam se podem saber o local em que estamos. O site precisa ter ferramentas de geolocalização para receber essas informações. De posse desses dados, as ações de marketing passam a ser mais qualificadas e dirigidas ao público de interesse e o conteúdo é enviado sob medida. Como se faz isso? Por meio de tecnologia: plataformas de anúncios on-line, como Google Adwords e Facebook Ads. Destacaremos alguns exemplos a seguir. Geotargeting É uma técnica para dirigir as campanhas na internet diretamente à audiência desejada, conforme sua localização. Uma pizzaria, por exemplo, de posse da geolocalização do seu entorno, pode colocar no ar anúncios com promoções para os moradores da região sem taxa de entrega. O contrário também é possível. Serviços on-line, que não dependem de entrega física, também podem se beneficiar, ao serem 130 Unidade III oferecidos a outras praças, longe da localização da empresa; é possível segmentar por país, estado, cidade e até bairro, em alguns casos, além do raio de distância desejado do seu estabelecimento. Obviamente, esse é um recurso que depende de o usuário aceitar o convite para compartilhar a sua localização. Geomarketing geofencing É uma mensagem personalizada enviada pelo celular ou por e-mail em tempo real. Ela monitora os passos do consumidor. Se você estiver passeando em um shopping, por que não receber uma promoção de uma loja específica, já que você está passando em frente a ela? É a perseguição em nível tecnológico! O geofencing funciona por meio de aplicativos, pois são eles que oferecem a localização em tempo real. Check-ins A ideia é incentivar o cliente a fazer check-in quando entrar em um local, por exemplo, um restaurante, um teatro, e a informação já aparece na rede social. Uma maneira utilizada pelos estabelecimentos para incentivar o check-in e compartilhamento nas redes é condicionar o uso do Wi-Fi gratuito com o check-in no Facebook. Geomarketing geotagging Técnica usada para marcar a localização de usuários em redes sociais quando eles postam fotos ao visitar uma cidade, um local específico, um shopping. Juntamente com as fotos, disponibiliza-se a localização. Geofiltros Trata-se de filtros específicos para as fotos, como nas redes sociais, quando a pessoa fotografa em determinado local ou evento. Outra possibilidade é integrar as informações do geomarketing a outros processos da empresa, como o próprio sistema de CRM, que gerencia o relacionamento com os clientes. Lembrete Um ponto importante é que essas ações dependem de autorização do consumidor. Os sites, os aplicativos e as redes sociais sempre perguntam se podem acessar a sua localização. Então, se você não quiser, não autorize! 131 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 6.6 Composto de marketing no varejo – localização do ponto O ponto comercial é o local onde se encontra o varejista ou empresário. Podemos dizer que o ponto é também chamado de estabelecimento. De acordo com os termos do art. 1.142 do Código Civil: “Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário ou por sociedade empresária” (BRASIL, 2002). Portanto, o estabelecimento comercial é um conjunto de meios destinados ao exercício da atividade comercial que constitui uma universalidade de fato, pois é composto pela reunião de bens não decorrente de determinação legal, mas sim de vontade de seu titular. Os bens que constituem o estabelecimento comercial podem ser corpóreos ou incorpóreos. Tudo aquilo que o empresário ou a sociedade empresária utiliza para exercer a sua atividade comercial, como imóvel, computadores, móveis, estoque, ferramentas, marcas, sinais distintivos, empregados etc., ou seja, faz parte do estabelecimento comercial, são os bens corpóreos. Os bens incorpóreos são chamados também de goodwill, goodwill of trade, fundo de comércio, fundo de empresa ou aviamento. Estão relacionados e representam o conjunto de ativos intangíveis (não podem ser tocados) e não mensuráveisindividualmente, como ocorre com tecnologia, capital intelectual (por exemplo, direitos autorais), localização (ponto comercial), acesso a mercados, fidelização da clientela e detenção de processo de produção técnica e comercial (patentes, incluindo os seus contratos), marcas registradas (um símbolo, um sinal, um emblema, uma insígnia, ou seja, um sinal distintivo cuja finalidade é realmente identificar produtos e serviços). Em suma, o estabelecimento comercial é o conjunto de bens materiais ou não de que o empresário se utiliza para exercer a sua atividade comercial. Por outro lado, o valor desse conjunto de bens é chamado como fundo de comércio. Figura 34 – A localização de um ponto comercial é a primeira decisão para a instalação do varejo Disponível em: https://bit.ly/2V3GIA9. Acesso em: 21 jul. 2021. A loja em si pode se tornar uma oportunidade fértil para diferenciação mercadológica em um ambiente com forte concorrência. Os varejistas podem criar um design de loja com técnicas comerciais inovadoras, para cativar clientes e estimular a compra de forma mais precisa. 132 Unidade III Ao projetar ou reprojetar uma loja, o varejista precisa considerar três objetivos. Primeiro, a atmosfera da loja precisa ser consistente com sua imagem e com sua estratégia geral. O segundo objetivo de um bom projeto de loja é ajudar a influenciar as decisões de compra dos clientes. Finalmente, ao tomar decisões de projetos, os gerentes precisam ter em mente a produtividade do espaço de varejo – quantas vendas podem ser geradas a partir de cada metro quadrado (LEVY; WEITZ, 2000). Parente (2000, p. 325) afirma que “diferentemente de outras variáveis do composto varejista (tais como preço, mix de produtos, promoção, apresentação, atendimento e serviços), que podem ser alteradas ao longo do tempo, a localização de uma loja não pode ser modificada”. A esse respeito, Churchill Júnior e Peter (2012, p. 428) destacam que: uma localização desejável é aquela que atrairá consumidores interessados nos tipos de produtos que estão sendo oferecidos. Dessa forma, para produtos de venda rápida, os varejistas muitas vezes procuram pontos convenientes, de fácil acesso. Para artigos especializados, por outro lado, uma localização conveniente geralmente é menos importante do que o leque de mercadorias. Quando o fundamental são os preços baixos, os varejistas geralmente escolhem locais mais remotos a fim de reduzir seus custos de construção ou de aluguel. Definir o melhor lugar para o negócio não é sempre fácil. O ponto comercial, principalmente quando se trata de comércio varejista, é vital para o bom desempenho das vendas. Se o ponto demonstrar aspectos negativos que possam prejudicá-las, talvez seja oportuno pensar em uma mudança para um ponto melhor, mesmo que ela signifique um esforço de investimento em termos de instalações e propaganda. Observação Para o direito empresarial brasileiro, ponto comercial é um direito incorpóreo que compõe o estabelecimento comercial, considerando que a localização é um dos fatores que determinam o acréscimo de valor da empresa. Ponto de venda é qualquer estabelecimento comercial que exponha serviços ou produtos para a venda aos consumidores. O ponto de venda (PDV) proporciona, de forma subliminar, um conjunto de percepções sensoriais, visuais e olfativas ao consumidor, é o que irá auxiliar a empresa a relacionar compra e prazer do cliente e pender a balança para a decisão de compra. Ao analisar as condições do ponto comercial e, especialmente, a repercussão da escolha da localização no faturamento, é preciso considerar outros fatores, que, isoladamente ou em conjunto, interfiram negativamente nas vendas. 133 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Observação Ponto de venda é um local onde um produto é exposto de forma permanente, independentemente de sazonalidade e por tempo limitado. A maioria dos empreendedores prefere alugar um ponto de venda a comprá-lo, especialmente quando o negócio ainda está em teste, em fase de implantação. A compra só é justificada quando for feita por empresários experientes e com atividades já testadas pelo mercado (e com altíssimas chances de trazerem os resultados planejados). Para ter certeza se o local escolhido pela empresa é ou não um ponto comercial, observe com atenção as dicas a seguir: • Estabeleça o perfil do consumidor que pretende atingir. • Defina o produto a ser oferecido. • Avalie o contrato, as condições de pagamento e o prazo do aluguel. • Verifique se o preço é compatível com sua capacidade de investimento, com o prazo de retorno e o movimento esperado. • Verifique o prazo de retorno, comparado ao investimento realizado. • Observe a facilidade de acesso, a visibilidade, o volume do tráfego, o local para estacionamento e o nível de ruído. • Verifique as condições de higiene e de segurança. • Cheque a proximidade de concorrentes e similares. • Atente para a facilidade de aquisição de matéria-prima e recrutamento de mão de obra, ou seja, verifique a existência de pessoas especializadas nas imediações. • Veja se a área é adequada para o tipo de produtos vendidos na loja. Verifique se o local atende às especificações do projeto, em termos de área adequada à produção e/ou serviços prestados, proximidade com o mercado consumidor e fornecedores e solicite a busca de localização na prefeitura, para verificar possíveis impedimentos em relação à montagem do negócio, considerando o plano diretor urbano do município. • Levante várias alternativas de pontos para poder comparar e definir o melhor lugar para o negócio. 134 Unidade III • Atente para o movimento comercial esperado no ponto, observando o movimento dos locais escolhidos durante vários dias e em horas alternadas. • Fale com os proprietários dos estabelecimentos vizinhos para tentar descobrir qual é o valor médio de compra dos imóveis da região. • Verifique a infraestrutura oferecida – luz, água, telefone – e as facilidades de acesso. • Prefira pontos que tenham estacionamento próprio ou nas proximidades. • Escolha o lado da rua onde faz sombra à tarde, quando o movimento é maior. • Observe a visibilidade do ponto na rua. Dê preferência para lojas no nível da rua e sem recuo, para aumentar a visibilidade. • Procure pontos próximos à entrada principal, às escadas rolantes, à praça de alimentação ou junto de lojas âncora dos shoppings. • Evite lojas em frente a pontos de ônibus, porque a aglomeração compromete a visibilidade. • Fique longe de locais que transmitam sensação de insegurança, como praças mal iluminadas (no caso de lojas de rua). • Evite os últimos andares e corredores sem saída dos shoppings. • Não se assuste com os concorrentes, encontre um diferencial para o seu negócio. • Não limite, por preconceito ou comodidade, sua atenção às áreas consideradas nobres. É preciso aprender a olhar o mapa das cidades em toda a sua amplitude e detectar as principais necessidades locais. • Verifique se há legislação específica em seu município sobre a localização de negócios da natureza que você pretende abrir. 6.6.1 Fachada Definido o que é o ponto comercial e sua localização, deve-se cuidar do ponto de venda e seu layout, que começa já na fachada da loja, convidando o consumidor a entrar e a descobrir as opções ali oferecidas para venda. Segundo Churchill Júnior e Peter (2012), quando se trata da imagem de um ponto de venda, deve-se levar em conta tudo que os consumidores idealizam a respeito de uma loja varejista, pois é preciso criar uma atmosfera que transmita exclusividade, envolvendo arquitetura, layout, iluminação, ruído, 135 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO sortimento, produtos e preços, fatores que contribuem para atrair clientes, fazendo com que fiquem mais tempo em seu interior. Para criar uma boa fachada de loja, temos, de um lado, aqueles que defendem que não se pode julgar um livro pela capa e, de outro lado, aqueles que afirmam que a primeira impressão é a que fica. O clienteque está passando pela loja pela primeira vez tem sim o visual como fator decisivo em sua simpatia (ou antipatia) inicial pela marca, mesmo que de forma inconsciente, portanto a primeira impressão é a que fica. Portanto, não há investimento mais determinante em comunicação visual do que a fachada de um estabelecimento, pois ela representa a primeira relação do cliente com o produto. A fachada nada mais é que a estrutura física que limita a parte externa e interna de uma loja. Esse conjunto físico é um elemento visual importante que demonstra de forma clara aos clientes que tipo de loja é aquela, que tipo de produto é vendido e se ele se sente à vontade para entrar naquele ambiente. É um dos mais importantes elementos da comunicação visual. Portanto, ela deve ter impacto. Utilize cores e materiais que realcem seu conceito e posicionamento. A fachada e o ambiente da loja são os primeiros fatores a serem percebidos pelo consumidor. Para causar um primeiro impacto positivo, é necessário que a fachada esteja de acordo com o perfil do cliente, ser harmoniosa e convidativa, a iluminação deve realçar os produtos da vitrine, as cores devem ser adequadas e os luminosos e letreiros devem identificar claramente a marca. É importante solicitar ajuda de um arquiteto para indicar um bom designer especializado em layout de lojas, ele irá estudar os vários elementos e, de acordo com seus conhecimentos em identidade visual, ajudará a compor uma fachada para o seu estabelecimento utilizando o que é permitido em termos de regras de paisagem urbana na cidade. Muitas cidades brasileiras estão normatizando a inserção de placas e letreiros luminosos para evitar poluição visual. Isso é respeito à legislação. Nem sempre é preciso fazer uma grande reforma na fachada do imóvel alugado ou comprado de segunda mão. Conheça a história do prédio e aproveite as características históricas e arquitetônicas como fonte para a criatividade na hora de pensar a fachada, com certeza haverá elementos arquitetônicos que remetam ao período de construção, permitindo que se faça apenas a restauração da fachada e, talvez, que sejam inseridos elementos modernos, que deem equilíbrio entre o novo e o antigo. A fachada também deve considerar a vitrine, que deve induzir o cliente a entrar na loja em um espaço de tempo bem curto, devendo ser convidativa e estimulante. O ideal é que seja renovada a cada semana e que seja temática: se for uma liquidação, isso deve ficar claro para o pedestre; se for verão, coloque elementos que lembrem o sol e a praia para ambientar as mercadorias – que devem estar em destaque na loja. Observação “Vitrina” é um termo menos usual na língua portuguesa, é uma versão da língua francesa da palavra “vitrine”, que é a forma mais usada no Brasil. 136 Unidade III Você também deve se lembrar de fazer a associação do letreiro externo com a marca da loja, que é a primeira coisa que o consumidor percebe. Ele deve ter forma, cor e iluminação que ajudem a despertar interesse e convidar o consumidor a entrar na loja. Externamente, podem ser utilizados totens para visualização a grande distância. Resumo No composto de marketing, disponibilizamos as informações sobre os principais conceitos, o conjunto de variáveis controláveis que influenciam a forma como os consumidores respondem ao mercado e que consiste naquilo que a empresa pode fazer no sentido de influenciar a procura pelo seu produto, visando alcançar o nível desejado de vendas de seu mercado-alvo. Observamos que diversos autores pontuam o marketing e seus componentes com números variados, como 4 Ps, 6 Ps, 7Ps e 8 Ps. No marketing de serviços são considerados os 6 Ps, os quatro tradicionais: produto, preços, praça e promoção e ainda, pela importância no conhecimento do comportamento do consumidor, a pesquisa e o público-alvo. Todos os elementos relativos aos 4 Ps foram abordados, como as informações relativas ao produto, suas dimensões, seus principais pontos de atenção. Buscamos também conceituar a diferença entre preço e valor, abordando, finalmente, as pessoas que trabalham na organização. Destacamos as possibilidades do geomarketing e do georreferenciamento, o que facilita o entendimento da localização do ponto comercial, assim como as possibilidades de segmentação do mercado consumidor. O uso do geomarketing, também chamado de georreferenciamento, tem sido cada vez mais amplo, principalmente com o avanço da tecnologia. A maioria das pessoas com um smartphone nas mãos estão disponíveis para serem encontradas pelas empresas que utilizam big data, inteligência artificial e outros mecanismos tecnológicos capazes de acessar as informações. 137 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Exercícios Questão 1. O mix (ou composto) de marketing articula estratégias empresariais de diversas ordens e é composto pelos elementos a seguir, conhecidos como 4 Ps, também indicados na figura subsequente. • Produto (product). • Preço (price). • Promoção (promotion). • Praça (place). Mix de marketing Produto Preço Promoção Praça Figura 35 – Variáveis (4 Ps) do mix de marketing Com base no exposto e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas. I – Os elementos do mix de marketing devem satisfazer às necessidades internas da empresa, em detrimento das necessidades dos seus mercados-alvo, e, com isso, cooperar para que a organização alcance seus objetivos. II – A diferenciação, definida pela capacidade de uma empresa ser percebida pelo público como diferente das concorrentes por meio da segmentação de seu mercado, depende, entre outras variáveis, do seu posicionamento e do seu mix de marketing (produto, preço, promoção e ponto de venda/ distribuição). III – Os quatro componentes do mix de marketing de uma organização devem operar de modo inter-relacionado, embora seja notório que decisões relativas a uma área não devem influenciar em ações tomadas por outra área. 138 Unidade III É correto o que se afirma apenas em: A) I. B) II. C) III. D) I e II. E) II e III. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: os quatro componentes do mix de marketing devem satisfazer às necessidades dos mercados-alvo da organização e cooperar para que a empresa alcance suas metas. II – Afirmativa correta. Justificativa: no contexto do marketing, a diferenciação está associada à habilidade de uma organização ser vista pelo público como diferente das concorrentes. Tal característica resulta, entre outros fatores, do posicionamento da empresa no mercado e do seu mix de marketing (produto, preço, promoção e ponto de venda/distribuição). III – Afirmativa incorreta. Justificativa: os quatro elementos do composto de marketing devem trabalhar de maneira inter-relacionada, sendo que decisões relativas a uma área da empresa afetam ações tomadas por outra área. 139 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Questão 2. (Enade 2012, adaptada) Leia o texto a seguir. O marketing, na perspectiva de função empresarial, integra o conjunto de funções desempenhadas em uma empresa. Portanto, a função de marketing engloba a tomada de decisões, a gestão de recursos, a coordenação de processos e a avaliação de recursos como qualquer função empresarial. DIAS, S. R. (coord.). Gestão de marketing. São Paulo: Saraiva, 2003 (com adaptações). Com relação ao tema, avalie as afirmativas. I – Em geral, o gerente de marketing toma decisões relacionadas às variáveis produto, preço, promoção e (ponto de) distribuição. II – A área de marketing tem a função de gerar recursos e resultados que agreguem valor ao processo empresarial como um todo. III – O conjunto de funções de marketing integra produção, finanças, logística, recursos humanos, sistemas de informação, engenharia de produtos e pesquisa tecnológica. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) III, apenas. C) I e II, apenas. D) II e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa E. Análise das afirmativas I – Afirmativacorreta. Justificativa: o mix de marketing é conhecido como os quatro Ps do marketing: produto, preço, praça (lugar) e promoção. Esses quatro elementos referem-se a decisões quanto às características de produto, ao preço pelo qual o produto deve ser comercializado, às estratégias de comunicação e às políticas de distribuição. 140 Unidade III Toda empresa deve desenvolver um marketing mix. Esses quatro fatores, juntos, devem satisfazer às necessidades dos mercados-alvo e, concomitantemente, atingir os objetivos da organização. Ademais, é preciso considerar que esses quatro fatores estão inter-relacionados: decisões em uma área afetam as ações em outra. Os quatro Ps do marketing estão descritos a seguir. • Produto: estratégias necessárias para administrar produtos existentes durante algum tempo, adicionar novos produtos e retirar aqueles que não vendem. As estratégias também devem ser aplicadas à marca, à embalagem e à garantia, enfim, a todas as características de um produto. • Preço: estratégias referentes à flexibilidade de preço, aos possíveis descontos e aos itens relacionados dentro de uma linha de produtos e termos de venda. Devem ser desenvolvidas estratégias de preço especialmente para um produto novo ou para a entrada em um novo mercado. O preço pode ser administrado de acordo com quatro objetivos bem distintos: lucratividade, volume de vendas, concorrência e prestígio ou posicionamento. • Promoção: estratégias necessárias para que sejam combinados métodos, como venda pessoal, publicidade, promoção de vendas etc. As estratégias de promoção devem ser repensadas e rearranjadas quando um produto passa dos estágios iniciais de vida para os finais. As estratégias de promoção também se referem aos métodos individuais de promoção. • Praça: canais por meio dos quais os produtos são transferidos do produtor para o consumidor. Aqui, consideram-se e desenvolvem-se também as estratégias aplicáveis aos intermediários, como atacadistas e varejistas. II – Afirmativa correta. Justificativa: a área de marketing tem a função de gerar recursos e resultados que agreguem valor ao processo empresarial como um todo. III – Afirmativa correta. Justificativa: o conjunto de funções de marketing integra todas as áreas da empresa. 141 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Unidade IV 7 MARKETING DE VAREJO E O COMPOSTO PROMOCIONAL Dando continuidade aos Ps do varejo, vamos começar pelo P de presentation – apresentação. 7.1 Composto de marketing no varejo – apresentação Não basta ter um bom ponto, este deve ter uma apresentação visual eficiente e coerente com a proposta do negócio. Pensamos em decoração, layout de loja, distribuição das mercadorias pelas prateleiras, iluminação, uso ou não de música ambiente, enfim, tudo voltado a criar uma atmosfera agradável e propícia à venda. 7.2 Layout A ambientação do ponto de venda ganha uma nova dimensão, pois ele permite que as lojas se transformem não só em destinos para compras, mas para viver momentos de entretenimento, atrai o consumidor por meio dos estímulos sensoriais, retendo sua atenção, e dirige os seus olhos através das áreas da loja, dos displays, das exposições de produtos e marcas. A nova geração de ponto de venda preocupa-se e já atende essas novas necessidades e demandas do consumidor, por meio de ambientação de produtos e marcas que são percebidas como serviço ao consumidor. Além do ganho de espaço físico gerado em razão da melhor distribuição das mercadorias, observa-se a intenção de obter maior produtividade, envolvendo o consumidor em um ambiente agradável e atrativo como forma de fazê-lo retornar. Dessa forma, vamos estudar a seguir os pontos importantes a serem observados na execução de layouts. Área de transição As pessoas andam depressa e, enquanto andam, a visão periférica diminui, assim, qualquer coisa colocada na entrada da loja será ignorada. Para minimizar esse efeito, sugere-se: iluminação especial demarcando “fora” e “dentro”; colocar uma pessoa saudando ou oferecendo uma cesta ou folheto; fixar um “quebra-molas” (por exemplo: banca de promoções), obrigando as pessoas a diminuírem o ritmo. 142 Unidade IV Taxa de captura Refere-se ao quanto o consumidor vê do que é exposto. A zona confiável vai de um pouco acima dos olhos até a altura dos joelhos. Para o espaço restante, deve-se exibir produtos grandes de fácil visualização (por exemplo: fraldas). Taxa bumerangue Trata-se de quantas vezes o freguês deixa de percorrer totalmente um corredor. Uma maneira de minimizar esse efeito é posicionar produtos mais populares no meio do corredor ou colocar chamarizes em ambas as pontas. Espalhar cestas por toda a loja Muitos clientes entram para comprar um único item e, devido às compras impulsivas, o volume de produtos aumenta, mas acabam não levando porque simplesmente não cabe mais nada em suas mãos. Posicionar as gôndolas ligeiramente inclinadas (não em 90º) As pessoas andam olhando para frente e, nesse formato, a visualização dos produtos é facilitada. O problema é que essa configuração ocupa mais espaço, sendo indicada na exposição de produtos de compra comparada. As mercadorias não devem interromper a linha de visão dos clientes Eles devem conseguir ver não só o que está a sua frente, mas também outras partes da loja. Levar o consumidor ao fundo de loja Para isso, posicionam-se nessa área categorias de destino, que englobam 5% a 7% das categorias no gerenciamento por categorias. Assim, quem procura por esses itens comprará outros na ida e na volta. O varejista é quem elege produtos para transformar em destino e atrair público. Contudo, para utilizar essas estratégias de maneira efetiva, é preciso também conhecer os tipos de layouts que se apresenta na literatura. Existem basicamente quatro tipos de layout de lojas de varejo, que serão apresentados a seguir. Grid (traduz-se como malha) O mais utilizado devido a sua simplicidade. As mercadorias de compra impulsiva devem ser localizadas perto da via principal, os equipamentos ficam dispostos de forma retangular, paralelos e formando um ângulo reto com a fachada e fundo (LAS CASAS, 2013; PARENTE, 2000). Como ponto negativo, o fluxo é direcionado ao longo dos corredores principais, deixando certas partes com menos movimento, por isso 143 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO é indicado localizar as categorias de destino nessas áreas. Lembre-se de que as categorias de destino têm o papel de atrair o público para a loja. Em geral, elas compõem, no máximo, 30% do faturamento total da loja, porque exigem um trabalho com foco em sortimento completo, preço adequado (ou abaixo do mercado) e espaço amplo. Elas são recomendadas para supermercados, hipermercados, farmácias e lojas de descontos. Fluxo livre Trata-se de fixar produtos agrupados mais livremente em diferentes ambientes e expostos em equipamentos baixos, facilitando a visualização e encorajando compras impulsivas (PARENTE, 2000). As compras impulsivas são aquelas em que a decisão de compra é tomada no próprio ponto de venda e que não estavam programadas pelo consumidor. Como desvantagem, encoraja furtos, é confuso para consumidor e dificulta a limpeza. Isso é recomendado para loja de departamentos, loja de presentes ou loja de confecções. Butique Produtos relacionados são agrupados em setores (por exemplo, lojas de móveis, onde se separa por cômodo da casa, como cozinhas, salas, dormitórios), com espaço semisseparado e bem definido, tendo sua própria identidade visual (LAS CASAS, 2013). Tem como desvantagem os custos maiores e é ineficiente no uso dos espaços. É algo recomendado para lojas de móveis e lojas de departamentos sofisticadas. Pista Tem semelhanças com o de fluxo livre e a butique, porém possui um corredor principal no início da loja e faz com que os clientes circulem ao longo dos perímetros dela, incentivando as compras por impulso (PARENTE 2000). Como desvantagem, a pista apresenta altos custos de segurança e custos operacionais mais elevados.É recomendada para lojas de departamentos e lojas especializadas. A vitrine é a peça de comunicação de menor custo se comparado com os recursos financeiros mobilizados para as campanhas de comunicação como catálogos, folders, mídia (televisão, rádio, jornais etc.) ou brindes. O custo da vitrine é muito menor. Para ter uma ideia, ela custa mensalmente menos do que um vendedor, com a diferença responsável por mais de 80% das vendas diretas. A resposta do consumidor é imediata; e uma vitrine atraente é um impulso de compra instantâneo. 7.3 A atmosfera A atmosfera de uma loja é um termo criado inicialmente por Philip Kotler para descrever as qualidades sensoriais especiais dos pontos de vendas, muitas vezes, projetadas para evocar respostas específicas nos consumidores. A atmosfera em uma loja do varejo é composta de uma combinação física e emocional com atributos tangíveis e intangíveis e pode ser considerada como uma característica da imagem da loja, podendo afetar o comportamento do consumidor. 144 Unidade IV Entre os principais fatores que afetam a atmosfera do varejo, temos o ambiente, que envolve os elementos sensoriais (cor, iluminação, temperatura, música ambiente, barulho, qualidade do ar, espaço, equipamentos, móveis, estilo da decoração, disposição de produtos, sinalização e aroma) e os sociais (número de pessoas percorrendo os corredores, ambiente amigável e atenção dos funcionários). Para melhorar o atendimento como um todo, o varejista deve cuidar de seu relacionamento com seus clientes, primando pela melhoria na aparência, na cortesia e na competência, que formam o conjunto de ações que devem ser observadas detalhadamente. A aparência interfere muito na atmosfera do estabelecimento, e esse fator é definido por três tópicos: o primeiro é o estado de conservação e limpeza da loja; o segundo é a apresentação dos produtos; e o terceiro é o asseio pessoal dos funcionários. Em suma, trata-se da apresentação da loja, das mercadorias e dos funcionários. Conservação e limpeza Nunca é demais falar da importância de manter perceptíveis a boa aparência, a ordem e a limpeza de tudo o que contempla o ambiente de sua loja. A limpeza é imprescindível, deve sempre considerar o ponto de vista do cliente. Tais cuidados representam eficiência, qualidade e aquilo que o consumidor mais busca em um varejo: confiança. Manter a loja limpa significa zelar pelas coisas e pelas pessoas dentro de um ambiente sadio. As primeiras providências quanto à limpeza devem ser limpeza da frente da loja (na fachada, manter paredes externas com pinturas novas, ela é um importante cartão de visitas, além de atrair a atenção de consumidores potenciais e transmitir uma imagem positiva ao cliente); limpeza do balcão, dos computadores, do caixa, das peças em exposição e do chão. É fundamental que sejam providenciados vários cestos de lixo e que eles estejam posicionados em locais de fácil acesso, tanto para facilitar o trabalho dos funcionários quanto para oferecer conforto aos clientes, colocando-os em pontos visíveis e, preferencialmente, devem ser padronizados. Apresentação dos produtos Começa-se pelas vitrines, que é a melhor amostra dos produtos e promoções e atenção aos preços e condições expostas; o preço de cada produto deve estar claro e legível, indicado no produto e/ou próximo a ele, destacando os promocionais. Lembre-se de considerar o volume da embalagem e a participação do produto no total de vendas e atentar para os possíveis agrupamentos e para a vizinhança, a fim de manter a devida exposição. Cortesia dos funcionários Envolve a simpatia e o respeito com os clientes, o interesse às suas solicitações e reconhecê-los pelo nome. Finalmente, destaca-se a competência, que é avaliada por seus clientes, como o conhecimento e a habilidade dos funcionários, as repostas às perguntas feitas pelos clientes e a rapidez no atendimento. O pessoal de atendimento deve ser identificado por crachá, uniformizado ou corretamente vestido, mantendo um bom tempo de atendimento. A equipe deve ser prestativa, atenciosa, agradável e ter senso de humor. 145 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Nas políticas do varejo, podemos citar ainda a credibilidade, a moeda que move o comércio. Ela é identificada como um conjunto de ações, sendo definida por políticas de atendimento e garantia de qualidade, pelo suporte das garantias e devoluções oferecidas e pela confiança na qualidade dos produtos e nos preços fixados, ou seja, é necessário demonstrar que aquilo que se vende e por quanto se vende está em equilíbrio com o mercado, nem muito acima nem muito abaixo. Assim, a empresa e seus funcionários devem inspirar e transmitir credibilidade. 7.3.1 Climatização Locais muito quentes ou gelados afugentam os consumidores. O ponto de venda deve ser um ambiente com condições ideais de temperatura, pois não há nada mais desaconselhável que um ambiente frio ou quente demais. Há dois fatores a serem considerados na climatização, e um deles é de armazenagem de produtos que necessitam refrigeração, como carnes e derivados congelados. Se as lojas não possuem nenhum sistema para climatização, as temperaturas de armazenagem são controladas somente por geladeiras, freezers ou câmaras frias. A variedade de alimentos congelados tem aumentado cada vez mais, e esses alimentos geralmente apresentam temperaturas diferentes de armazenagem, e também devem ser considerados os frios e a carne fresca. Seria necessária uma gama enorme de equipamentos de armazenagem, o que inviabilizaria o processo. O segundo ponto importante de perdas referentes a esse setor é o manuseamento dos clientes. Muitos produtos hoje estão diretamente em contato com o cliente, que muitas vezes o manuseia sem o cuidado necessário. E, por tratar-se de produtos alimentícios, quase nunca é possível o reaproveitamento. Outro quesito a ser ponderado é o ambiente da loja. A adoção de ar-condicionado (quente e frio) ou um bom sistema de ventilação é algo necessário para o conforto dos clientes enquanto permanecem na loja. Lembre-se de que eles devem estar nem muito frios e nem muito quentes. Nesse contexto, destaca-se o horário de atendimento. Ao meio-dia, possivelmente o calor chegará ao pico, e deve-se prestar atenção na temperatura do ambiente. 7.3.2 Aromas Ambientes com cheiro agradável sempre deixam uma boa lembrança nos clientes, e algumas empresas passaram a utilizar aromas característicos para fortalecer a personalidade do ambiente e favorecer a sensação de bem-estar dos clientes. Então, compreende-se que a análise do ponto de venda é feita a partir da experiência que o cliente tem com o local, já que a experiência vivida no ambiente de loja tem influência significativa na decisão de compra dos consumidores. Já cheiros desagradáveis podem afugentar os clientes, dando a impressão de falta de higiene. 146 Unidade IV Figura 36 – A odorização pode ser uma ferramenta interessante na composição das lojas Disponível em: https://bit.ly/3eGXVq5. Acesso em: 21 jul. 2021. 7.3.3 Sons Lojas muito silenciosas intimidam os clientes. Uma solução é adotar uma música ambiental para a criação de uma atmosfera de bem-estar, mas é necessário ter cuidado com relação à altura da música e ao gênero musical escolhido. A música precisa ser audível e ao mesmo tempo suave. O tipo de música depende muito do público frequentador. Não deixe a escolha do gênero musical para os funcionários, pois eles tendem a selecionar músicas de gosto pessoal, inclusive de qualidade duvidosa. Também não sintonize rádio, que pode estar fazendo propaganda da concorrência. Recomenda-se, por exemplo, o lounge music (gênero musical que pretende provocar nos ouvintes a sensação de estar em determinado lugar, por exemplo, uma selva, uma ilha paradisíaca, no espaço) e jazz. Músicas leves e românticas predispõem os clientes, que tendem a consumir mais. Lembre-se de que os produtos são tangíveis, os serviços são intangíveis e as experiências inesquecíveis. Torneo ambiente de sua loja uma experiência inesquecível para seus clientes. 7.3.4 Iluminação A escolha da iluminação de uma loja deve ser feita de acordo com a sua identidade, além de ter como objetivo criar uma atmosfera que agrade o cliente. Uma iluminação bem planejada é um fator de diferenciação da concorrência, já que a loja ganha destaque. Iluminar um local não significa apenas colocar certa quantidade de lâmpadas, mas criar condições para que, com a luz, as atividades sejam desenvolvidas do modo mais eficiente e confortável. Com relação aos fatores ambientais, a iluminação é um dos estímulos mais influentes no comportamento de consumo, pois torna possível a criação de atmosferas cada vez mais apelativas, induzindo os clientes a consumir. Para destacar a vitrine, a fachada, os produtos, os expositores, a decoração, enfim, todos os detalhes que tornam uma loja atraente aos olhos do público não são possíveis sem a elaboração de um bom 147 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO projeto de iluminação. A vitrine deve demonstrar os produtos, expondo-os para que as pessoas os vejam facilmente. Independentemente da localização da loja e do produto comercializado, qualquer estabelecimento necessita de efeitos de luz capazes de chamar a atenção do consumidor, o que trará como consequência um incremento nas vendas. Alguns aspectos são fundamentais, e um deles é o conforto visual, tanto para quem está do lado de fora da loja quanto para os funcionários e para os clientes atendidos lá dentro. A intensidade da iluminação deve ser projetada para não haver luz demais nem de menos. Lembre-se de que o excesso de luz poderá provocar um ofuscamento na vista das pessoas, prejudicando a visualização dos produtos. Lojas escuras desestimulam os clientes a entrar e passam uma percepção de desleixo. Então, o ideal é buscar o equilíbrio, criando uma iluminação que permita evidenciar o produto sem, no entanto, incomodar as pessoas. A boa iluminação transmite uma sensação de limpeza, atrai clientes e contribui para que eles permaneçam por mais tempo dentro da loja. Normalmente, na quantidade de lâmpadas ou luminárias e na distribuição ideal pelos ambientes, utilizamos softwares de cálculos luminotécnicos, parametrizados segundo as normas que se aplicam, como o conhecido DIALux, um software de uso livre e muito usado no mundo todo. Saiba mais Para fazer os cálculos luminotécnicos, você pode baixar gratuitamente o software DIAlux: DIAL. Download DIALux and product catalogues. Lüdenscheid, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3zo365U. Acesso em: 21 jul. 2021. 7.3.5 Cores As cores afetam a percepção do ambiente e devem ser utilizadas para comunicar a identidade da loja, e não o seu gosto pessoal. A identidade visual de uma empresa é a combinação de elementos gráficos que proporcionem um exclusivo reconhecimento no mercado pelo qual os produtos e serviços são divulgados, por isso a importância da identidade visual é fundamental para uma corporação. Uma empresa estabelece uma “identidade” em vários aspectos operacionais, que inclui a forma como ela se apresenta, como atua no mercado, como trata seus funcionários e como as pessoas tornam-se capazes de identificá-la e diferenciá-la de seus concorrentes. 148 Unidade IV Uma empresa quer que o público, ao ouvir o seu nome ou ver um elemento visual como sua marca ou logotipo, tenha um reconhecimento imediato associado. Estabelecer uma identidade visual corporativa é uma maneira de a empresa controlar essa parte importante de sua relação com o público. As cores têm forte influência sobre as pessoas, podem animar, relaxar e provocar emoções boas ou más. Observação Logotipo é um símbolo que serve à identificação de uma empresa, instituição, produto, marca etc. e que consiste na estilização de uma letra ou na combinação de grupo de letras com design característico. Certamente, você já deve ter notado que a maioria das lanchonetes abusa do vermelho e do amarelo, porque, quando se fica exposto a uma luz vermelha num ambiente onde essa cor predomina, o ritmo cardíaco aumenta, a respiração se acelera e as secreções glandulares intensificam-se, daí a tendência a sentir fome. As clínicas médicas preferem o branco e os tons de verde para induzir à calma. Esses exemplos já são suficientes para demonstrar que as cores despertam sensações, influenciam comportamentos e estado de espírito. Então não há como negar que o ser humano é atraído pela infinidade de tons e de cores. Nós reagimos de maneira mais emotiva do que racional diante das cores. As cores são utilizadas para estimular, acalmar, afirmar, negar, decidir, curar. Por isso a propaganda se utiliza das cores para despertar sensações, atrair e influenciar o consumo, assim como a sinalização de trânsito ou de segurança, para alertar o que é ou onde está o perigo. Conforme Marini (2009), as cores influenciam na personalidade de acordo com a preferência. A primeira cor de preferência de uma pessoa refere-se aos aspectos da personalidade real dela, ou seja, como ela se mostra para os outros. A segunda cor de preferência refere-se aos objetivos da vida, ou seja, o que se almeja da vida. A cor que a pessoa não gosta refere-se às frustrações da vida. Mas é importante destacar que as cores preferidas mudam de acordo com o momento emocional da pessoa. Por essa razão, nós temos reações e sensações diferentes para cada cor. A cor é assimilada pelo ser humano por meio do sentido da visão. A percepção das cores depende de vários fatores: o modo de vida, a cultura, o ambiente, a faixa etária, o sexo etc. Na China, por exemplo, a cor do luto é azul. Outras culturas associam branco à morte, em outras, como no Brasil, o preto é o sinal de luto. Portanto, dependendo desses fatores, as cores podem ter interpretações e significados diferentes. Vamos observar a seguir algumas associações de cores a significados, mas não devemos ficar presos a elas; bom senso, harmonia e adequação são fatores primordiais na escolha das cores. 149 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Normalmente, as cores transmitem certos sentimentos e significados. É verdade que diferentes culturas apresentam variações nessas interpretações, mas isso não nos impede de destacar algumas dicas e cuidados ao escolher cores para o estabelecimento ou logomarcas: • Azul: pode expressar confiança, reserva, harmonia, afeto, amizade, fidelidade, amor, honestidade, lealdade, responsabilidade e conservadorismo. Sugere uma sensação de tranquilidade. É uma boa cor para um psicólogo ou consultor financeiro. Quando escuro, é ideal para promover um negócio seguro, ambicioso e determinado. • Vermelho: apropriado para empresas de fast-food ou negócios que envolvam velocidade e ação. Transmite também raiva, agressão e vingança. Para usar vermelho, deve ser uma empresa muito confiante. É a cor mais excitante de todas, pode significar paixão, emoção, ação, agressividade, perigo. Vermelho-escuro é apropriado para empresas de profissionais como advogados ou corretores. • Verde: pode expressar natureza, juventude, desejo, descanso, equilíbrio, segurança, riqueza e crescimento. É associado a natureza, meio ambiente, compaixão e carinho. Sugere equilíbrio emocional e harmonia, uma boa opção para empresas de tipo ambiental, jardinagem, golfe, assistentes sociais, conselheiros e trabalhadores da caridade e clínicas médicas. • Laranja: escolhida como sinal de precaução. Pode significar regozijo, festa, prazer, aurora e otimismo. É estimulante para os sentidos e uma boa cor para empresas relacionadas com a alimentação, comunicação e interação social, como restaurantes e grupos comunitários. É aconselhável para empresas de aventura, ginásios ou negócios de alpinismo. • Amarelo: estimulante para a mente. Relaciona-se com a lógica, é a cor da luz e pode significar egoísmo, ciúmes, inveja, ódio, adolescência, riso, prazer, ajuda na tomada de decisão. O amarelo é apropriado para jornalistas, professores, animadores e palhaços. Muito amarelopode produzir ansiedade. • Turquesa: versátil e criativa. Representa a clareza de pensamento e de comunicação, ideal para professores, formadores e oradores, meios de comunicação, indústrias de informática e clínicas de saúde. É uma ótima cor para empresas de produtos aquáticos ou negócios de limpeza. • Roxo ou violeta: despertam imaginação e espiritualidade. Relacionam-se com o futuro, sonhos e fantasia, indica a ausência de tensão. Pode significar calma, autocontrole, dignidade, aristocracia e também violência, engano, agressão premeditada. São boas opções para artistas, poetas e atividades que lidam com o futuro. Criam uma sensação de riqueza, luxo e extravagância. Apropriadas para empresas que oferecem serviços ou produtos de altíssima qualidade. • Rosa: carinho, ingenuidade, bondade, ternura, ausência de toda forma de mal. Uma cor calmante, adequada para empresas do mercado feminino, incluindo cosméticos, moda, salões de beleza e doces. Rosas fortes são utilizadas para o marketing de produtos menos caros e modernos e para o mercado adolescente. 150 Unidade IV • Dourado: caro e elegante. Ouro simboliza qualidade, luxo e opulência. É a cor da vitória e conquista. • Cinza: expressa algo conservador, neutro e reservado. É uma cor segura para usar em muitas aplicações de negócios. Funciona bem como cor de fundo. É a cor que iguala todas as coisas e que permite a cada cor suas próprias características sem interferir nelas; pode expressar desconsolo, passado, velhice, desânimo, indeterminação. É adequada para empresas jurídicas e financeiras para sugerir poder e controle. • Branco: expressa a ideia de inocência, paz, infância, divindade, estabilidade absoluto, calma, harmonia, segurança, conservadorismo. É utilizado pela maioria das empresas como base do seu estacionário. É adequado para a maioria dos mercados-alvo. Se a ideia é se destacar da multidão, branco não é a melhor escolha. • Preto: é a ausência de cor e pode determinar tudo o que está escondido, velado e pode expressar separação, tristeza, morte e noite. Poderoso e sério. Sugere sofisticação e elegância por um lado, e mistério e intimidação por outro. Também possui sensações positivas como seriedade, nobreza e pesar. Figura 37 – A escolha e o equilíbrio no uso das cores devem acompanhar o estilo do ponto comercial Disponível em: https://bit.ly/3kHm1oo. Acesso em: 21 jul. 2021. Associe as cores de acordo com o grau de atenção que você deseja despertar. Por exemplo: se deseja passar seriedade e confiança nos anúncios, use cores sóbrias. Harmonize as cores do anúncio com as cores do produto. Não misture muitas cores, não faça um carnaval colorido, a menos que saiba trabalhar bem a harmonia. Em grandes formatos ou mídias exteriores (outdoors), as cores devem chamar bem a atenção. Utilize contrastes. Na dúvida, deixe o fundo branco e o titulo preto. Não falha nunca, mas corre-se o risco de o anúncio não se diferenciar entre a concorrência. Observe que toda a atenção para os itens que compõem o ponto comercial e a apresentação têm potencial para oferecer as mais variadas experiências aos clientes. Tais aspectos promovem boas possibilidades para que o cliente tenha sempre o melhor acompanhamento e ainda a melhor imagem da marca, do produto, da loja, do site de internet ou do e-commerce. 151 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 7.4 O composto de marketing no varejo – promoção Para uma empresa ser conhecida no mercado, a comunicação (promotion) deve ser benfeita e inclui propaganda, promoções de vendas uma gama de ações que atraia o cliente à loja. A ideia é que, quando o cliente entrar na loja, tais ações facilitem e estimulem a venda. Para muitos varejos segmentados, voltados para públicos específicos, o marketing direto pode também ser utilizado. Mas não basta vender: os varejos que prezam pela excelência procuram manter a sua clientela para sempre, realizando, para isso, um trabalho de pós-venda e de assistência ao cliente na solução de eventuais problemas. O quarto P (promoção) “cobre todas aquelas ferramentas de comunicação que fazem chegar uma mensagem ao público-alvo” (KOTLER; KELLER, 2018, p. 136). A promoção de um produto ou serviço engloba todas as estratégias que as empresas utilizam para que seus produtos sejam os escolhidos pelo consumidor entre todas as opções existentes. A propaganda, a promoção de vendas, o marketing e a exposição dos produtos no ponto de venda e a força de vendas são os principais aspectos de comercialização dos produtos no varejo, envolvem o chamado composto promocional. A comunicação com os consumidores deve ser apropriada e é uma das chaves do sucesso no negócio de varejo. Para comunicar-se com muitos consumidores, a empresa varejista deve desenvolver ações nas áreas de promoções de vendas, promoções de eventos, vendas pessoais, merchandising, comunicação no ponto de venda (PDV) e internet. 7.5 Propaganda A propaganda, como o próprio nome já indica, tem o papel de propagar, divulgar e criar condições para que o mercado conheça o produto ou serviço da empresa. É um dos mais importantes meios de comunicação do composto promocional por definição, pois trata de uma comunicação indireta, por intermédio de mídias diversas, com o pagante identificado. Para que se desenvolva toda a estratégia de comunicação da empresa e sejam elaboradas campanhas, o varejista deve definir claramente com a agência: o público-alvo; o posicionamento de mercado; a imagem que ele deseja construir ou fortalecer; e os diferenciais estratégicos que pretende oferecer para se destacar da concorrência e também aqueles reservados para superar as expectativas dos clientes (que não serão mostrados na propaganda). A propaganda não conta com a vantagem do feedback imediato, como acontece com a venda pessoal, por exemplo. Nesse caso, a medição do retorno ocorre de várias formas, como análise de vendas, pesquisa de recall etc. Mesmo assim, é uma ferramenta promocional com muita influência. Vários são os objetivos principais de propaganda para atividade varejista. Observe os itens a seguir: • Geração de fluxos de clientes: muitas campanhas objetivam ampliar a demanda dos consumidores para visitas à loja. Evidentemente, para esses casos, o estoque deve ser previsto a fim de atender à demanda esperada. 152 Unidade IV • Venda de produtos: o enfoque publicitário é direcionando à venda direta de produtos; nesse caso, é possível fazer promoções, como a venda de produtos selecionados, promoções especiais etc. • Imagem da loja: a propaganda institucional visa à divulgação de uma imagem positiva, institucional, de modo a divulgar a empresa de forma indireta, tornando sua imagem simpática para a comunidade. • Retenção de imagem: também pode ser usada como uma lembrança constante dos negócios. Uma vez estabelecidos os objetivos, deve-se escolher um método para determinar a verba a ser destinada à propaganda. A propaganda promocional visa à venda direta. O foco são os produtos comercializados pela empresa, e um determinado retorno é esperado. O foco pode ser nos preços, em novos produtos etc. Já a propaganda institucional não busca a venda direta, mas a promoção de imagem da empresa. O objetivo é realizar vendas futuras, fazendo o cliente lembrar-se da empresa quando necessitar dos produtos do tipo comercializados pelo anunciante. Por sua vez, a propaganda cooperativa ocorre quando os varejistas dividem as despesas de propaganda entre eles ou quando algum atacadista patrocina uma parte e divide a outra entre os demais anunciantes. Os folhetos de supermercado, cujos produtos lá vendidos são colocados como ofertas, são exemplos de propaganda cooperativa. Muitos varejistas baseiam-se em propagandas promocionais. Por consequência, os clientes passam a esperar as promoções em diferentes épocas do ano. Muitos consumidores aguardam promoções de preço, liquidações de inverno, saldos etc. A propaganda eficaz para o varejo é aquela ligada à conquista de novos públicos, aoaumento do fluxo de consumidores ou do valor da compra, ao fortalecimento da imagem ou, ainda, a um determinado evento, por exemplo, uma liquidação ou alguma data do calendário promocional. 7.6 Vendas pessoais A venda pessoal é entendida como o processo pelo qual o vendedor identifica, realiza a comercialização e satisfaz as necessidades e desejos do comprador, gerando benefícios recíprocos e contínuos, tanto para o vendedor como para o cliente. As vendas se dividem em venda ativa e passiva. Na primeira, o profissional realiza diretamente suas vendas, também conhecida como venda pessoal, ao contrário das vendas passivas, em que o trabalho de prospectar o cliente é feito por meio de ações de marketing, o que atrai o consumidor para o estabelecimento e o leva a fechar sua compra. Vendedor é uma das profissões mais antigas das quais se tem conhecimento. Porém, o perfil do vendedor atual em nada se confunde com os antigos vendedores, conhecidos como mascates ou caixeiros-viajantes. 153 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Hoje, para ter sucesso, os profissionais de venda direta precisam ser muito educados, preparados para tirar as dúvidas dos clientes e, ainda, conseguir manter um relacionamento que vá além do momento da compra. A construção de uma relação mais estendida garantirá o retorno desse cliente; é um investimento de longo prazo. Aumentar as habilidades do vendedor, sejam elas técnicas, sejam elas intelectuais, são boas maneiras de aumentar o número de vendas. Além disso, é importante elevar o número de visitas aos clientes, melhorar a prospecção de novos clientes, a apresentação, desenvolver melhor a fala, aprender a ouvir, ou seja, aprender a ser o consultor de vendas no mundo de hoje. Considera-se a venda pessoal uma ferramenta promocional de grande relevância. Isso porque é compreendida como uma forma de comunicação direta, focalizada diretamente para uma clientela qualificada, e o vendedor é a fonte responsável pela transmissão e pela recepção das mensagens. Por ser uma relação direta com o cliente, essa ferramenta de comunicação apresenta diversas vantagens, como ter condições de realizar a apresentação de vendas. Conforme for a observação do que é importante no momento de contato com o comprador, o vendedor visualiza diretamente o resultado do seu trabalho. Assim, terá condições de realizar correções em tempo hábil e, na venda pessoal, caso ocorram quaisquer objeções por parte do comprador, elas poderão ser sanadas instantaneamente pelo vendedor, o que auxilia e aumenta o desejo dos consumidores em adquirir o produto. Entretanto, também possui desvantagens, pois a venda pessoal apresenta-se como uma estratégia muito dispendiosa frente às demais. Isso ocorre em virtude da extrema necessidade de investir altos valores em treinamento, controle ou gastos com transportes. Já em relação à imagem no mercado, o que torna a estratégia cara é a dificuldade de o fabricante exercer o controle referente à projeção da imagem de sua empresa no mercado, visto que o resultado do trabalho dos vendedores pode ser positivo ou negativo, conforme a personalidade de cada um. 7.7 Relações públicas Atualmente, com a evidência e a importância das marcas, cada vez mais a comunicação passa pela criação de relacionamentos com todos os stakeholders. Falamos então na perspectiva institucional apresentada com o viés imaterial, simbólico e de articulação de discursos e práticas. A empresa precisa dialogar com a sociedade. Para tal, a atenção deve se voltar para a força articuladora das redes de relacionamento com foco na criação de uma reputação, uma imagem positiva e credibilidade na construção da marca. Dessa forma, trata-se de uma função estratégica, e a constituição de canais de diálogo com os diferentes stakeholders deve ser a busca da empresa, pois isso a levará ao diferencial competitivo. 154 Unidade IV 7.7.1 Prosumer O consumidor busca personalização – produtos segmentados e diferenciados – e consome não apenas produtos, mas participa do processo produtivo e entende a informação como produto, sendo o prosumer, termo para designar o consumidor e/ou produtor de mídia e conteúdo. Como o consumidor se orienta pela marca, as oportunidades de comunicação buscam multiplicar as oportunidades de experiência do público com a marca. Dessa forma, os objetivos gerais de comunicação podem ser (MURAD, s.d.): • gerar reposição; • upgrade; • gerar experimentação; • aumentar o recall; • inseri-la no repertório de marcas do consumidor; • reapresentar a marca ao mercado; • tornar a marca mais conhecida para outros públicos; • gerar simpatia e memória positiva; • acrescentar novos valores. 7.7.2 Ações institucionais – eventos A promoção institucional é uma das ferramentas de comunicação mais seguras para que a empresa associada a um determinado evento tenha reforçada a imagem desejada. A promoção institucional pode fazer com que uma marca passe da primeira fase – do desconhecimento para o conhecimento. O planejamento promocional é um importante instrumento de apoio à divulgação e à criação e sustentação da imagem da loja, da marca e do produto. Divide-se em promoção de imagem e promoção social. A promoção de imagem é aquela realizada por meio do patrocínio a eventos culturais ou esportivos, tendo por objetivo associar a imagem da loja a um momento singular de descontração ou desligamento das atividades rotineiras e dos problemas, o que facilita a fixação da marca patrocinadora na mente do consumidor. 155 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO A promoção social está ligada a ações sociais. Essas promoções podem ser: • Promoções dirigidas à comunidade: envolve o espaço de loja para reuniões e convenções ou mesmo para outro evento, e isso é feito pelos varejistas. É um serviço à comunidade local que contribui para a formação de uma imagem favorável e pode consistir no patrocínio de atividades específicas. • Datas especiais: são um leque de oportunidades para essa alternativa promocional. Podem ser eventos conforme o mês em andamento: festas especiais, como aniversários, inaugurações etc. Pode-se promover semanas dedicadas a algum país, como a semana italiana, quando então os produtos desta origem são promovidos. • Shows e desfiles: apresentações de novas linhas ou produtos. É possível combinar beleza estética com som, atores, manequins etc. • Programas educacionais: programas especiais visando ao desenvolvimento cultural, como cursos de vinhos e culinária. • Diversos: concursos realizados para divulgação institucional bem como o patrocínio de clubes de futebol, eventos culturais e doações. Conforme mencionado, no âmbito de promoção de vendas, não há limites para a diversificação. Também é possível classificá-las em promoções planejadas, promoções de oportunidade, sazonais e de produtos obsoletos. Evidentemente, o varejista deve estabelecer uma posição na mente de seus clientes-alvo, e essa posição deve ser singular e passar uma mensagem simples e consistente, destacando uma empresa de suas concorrentes. Esse posicionamento pode ser feito por segmentos: Quadro 9 – Posicionamento por segmentos Segmento Características Produtos Serviços Clientes Superior Exclusivo; tem prestígio; é mercado classe A Marcas caras de alta qualidade Alto poder aquisitivo; são seletivos e personalizados Menor número, mas arcam com preços altos Intermediário Dá muito valor ao dinheiro Possui marcas preferidas, de etiqueta e de boa qualidade Bem diversificados Numerosos, mas empresas brigam por eles Inferior Produtos baratos; quer descontos; popular Não há marca preferida Limitados ao essencial Numerosos, mas limitados ao poder aquisitivo Atenção: o quadro anterior não é segmentação do mercado, mas de posicionamento da empresa no mercado. O desenvolvimento de uma campanha de comunicação de marketing se assenta em dois grandes tipos de estratégias base: estratégia push e pull. 156 Unidade IV Campanhas promocionais Cliente Varejo Manufatura Pu shPu ll VarejoPromoção na lojaCliente Figura 38 O sistema push – empurrar Consiste em investir na força de vendas para promover o produto diretamente no distribuidor; o produtor empurra o seu produto para o consumidor por meio do revendedor; a venda direta é o formato menos complexo dessa estratégia. Exemplo: o produtor de massa de tomate (ou qualquer outro produto) entrega um grande volume de mercadorias ao varejista para que este promova o produto aos clientes. O sistema pull – puxar Consiste em dirigir-se diretamente ao consumidor por meio de campanhas de comunicação, incitando os distribuidores a pedir o produto para satisfazer os seus clientes; o produtor procura puxar o consumidor para o seu produto. Exemplo: a Colgate faz a propaganda de creme dental na televisão dizendo que é a número 1 na recomendação dos dentistas. Essa propaganda faz com que o consumidor busque o produto no varejo. Se não encontrar o produto que ele quer, ele vai adquiri-lo em outro local. Assim, se a procura for intensa, o varejista se vê pressionado a comprar o creme dental da Colgate. Atualmente, as estratégias são combinadas e é muito difícil um fabricante adotar apenas um tipo delas, criando sempre ações para estimular o varejista e o consumidor final. 7.8 Trade marketing Segundo definição de Motta, Santos e Serralvo (2008, p. 48): Trade marketing opera no sentido de adequar a estratégia, a estrutura e a operação da companhia à dinâmica dos canais de distribuição, com o objetivo de atender melhor e mais rentavelmente seus clientes e, por seu intermédio, os consumidores. As mudanças dos últimos trinta anos, com a globalização e a entrada da internet, tornaram as relações entre produtores, varejistas e consumidores finais ainda mais competitivas, críticas e complexas. 157 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO A revolução tecnológica, o surgimento da internet, os impactos da globalização e o aumento da capacidade de troca de informações são alguns indicativos para o nascimento de um comportamento de consumo muito mais crítico, articulado, engajado e, principalmente, com voz ativa nas redes sociais. Se o consumidor muda, já que a ele sempre coube a possibilidade de escolher ou não determinadas marcas no momento exato da compra, as empresas também mudam na estruturação da cadeia de fornecedores e distribuição seus produtos. O termo trade marketing faz referência a um conceito relativamente novo, nascido de prática empresarial recente para se referir à integração das funções de seu departamento de vendas e marketing voltados para estreitar as relações comerciais com seus distribuidores. Conforme Santos (1990, p. 134): O trade marketing situa-se na área de marketing de business to business e, como tal, deve ter como parâmetros três enfoques básicos: • Maximização do valor oferecido aos varejistas – o objetivo de compra dos varejistas é revender o produto com lucratividade. • Assegurar a rentabilidade nos principais clientes individualmente – oferecer maior valor tem forte influência nos custos, e estes variam de acordo com o cliente. • Administrar o grau de concentração de vendas – a característica de concentração de vendas em poucos clientes no mercado de business to business é bastante comum, o que gera dependência e risco nos negócios. Saiba mais Consulte a obra a seguir: ASSOCIAÇÃO DE MARKETING PROFISSIONAL (AMPRO). Guia das melhores práticas em trade marketing. São Paulo: Ampro, 2014. Disponível em: https://bit.ly/2W8a94z. Acesso em: 21 jul. 2021. A área de marketing identifica o consumidor e compreende seu comportamento e tendências de consumo. Também é essa área que define as campanhas publicitárias. Trata-se de “brifar” as agências (em inglês, brief significa sumário, e é uma palavra muito conhecida na área da publicidade) e elaborar os comerciais e anúncios voltados para o consumidor, ampliando a visibilidade de cada produto. 158 Unidade IV A área de vendas é responsável pelo atendimento comercial dos clientes em todos os canais disponibilizados pela empresa. Cabe à área de vendas fazer a gestão dos clientes, assim como desenvolver um planejamento para crescimento a curto, médio e longo prazo. Entre as suas mais diversas atividades, podemos citar o suprimento de mercadorias para exposição no estabelecimento e as negociações de tabloides e/ou pontos de exposição diferenciados. O trade marketing está no meio dessas duas áreas, é por ele que se fala com o consumidor por meio do varejo e cada gerente de categoria de trade se relaciona diretamente com o gerente de categoria do marketing, garantindo que as estratégias fiquem alinhadas, seja na publicidade, seja para o varejista, seja para o consumidor final. As ações fortalecem a relação fabricante-varejista, com o objetivo de criar uma experiência de compra positiva para o consumidor e aumentar as vendas. Ao promover ações de relacionamento com o consumidor, o trade marketing atua incentivando o giro dos produtos. Assim, temos como objetivos do trade marketing: • criar um relacionamento estratégico entre o fornecedor e os estabelecimentos comerciais; • criar uma ligação entre as áreas de marketing e vendas; • planejar canais de venda e clientes-chave; • melhorar o posicionamento das marcas e dos produtos no varejo; • garantir a atuação da marca com os consumidores finais. 7.9 Merchandising Envolve as ações no ponto de venda, o lugar que o consumidor decidirá qual produto realmente irá comprar, mesmo que tenha chegado ao local com uma lista pronta na cabeça. São as ações realizadas no ponto de venda (PDV) que estimularão o impulso final pela compra, induzindo o consumidor a preferir a marca que estiver mais bem exposta. Há uma discussão do que é merchandising – mesmo porque não existe uma tradução ao pé da letra – e, dessa maneira, ele é visto de formas diferentes pelos veículos de comunicação e pelos fabricantes. Palavra de língua inglesa, merchandising é um conceito da área do marketing que indica uma técnica de planejamento e promoção de um produto no local e tempo adequados. Talvez a melhor definição de merchandising seja compará-lo com a propaganda: enquanto esta leva o consumidor até o produto, aquela leva o produto até o consumidor. Segundo Blessa (2010, p. 154): “[...] o merchandising bem feito numa loja traz as seguintes vantagens: aumenta a média geral de vendas e o índice de compra por impulso; desenvolve a fidelidade dos consumidores à loja; atrai novos clientes para a loja; e aumenta os lucros”. 159 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO Assim, o sucesso no varejo passa a depender diariamente do poder de criação no ponto de venda a fim de chamar a atenção dos consumidores e ter êxito nas vendas, mas, de um lado, temos consumidores cada vez mais exigentes e, de outro, a concorrência acirrada, criando e reinventando formas de diferenciação na busca pelo sucesso. Para falar sobre merchandising, primeiramente, é preciso considerar alguns aspectos importantes, como o autosserviço, a compra por impulso e a utilização dos bens de consumo, o que ressalta ainda mais o papel do merchandising. Com o crescimento do autosserviço, assistimos também uma evolução do conceito de merchandising no PDV, que não é diferente quando consideramos produtos de compra por impulso, mas acabam nos seduzindo pela sua colocação estratégica no PDV. Por outro lado, os fabricantes consideram merchandising toda e qualquer atividade realizada no PDV, desde o espaço e posicionamento na gôndola, uma ação de abordagem e/ou degustação, propaganda e assim por diante. Assim, o ambiente do ponto de venda ganha certa atenção por ser neste lugar que as marcas têm um contato direto com o consumidor e onde começam a criar sua identidade. Ao começar a fase de merchandising, temos os centros de soluções, os famosos “espaços dedicados” para um tema central, como exemplo o “Espaço Mundo do Bebê ou Mamãe e Bebê”. Se pensarmos em livrarias, temos o “Espaço Geek” (geek é uma expressão idiomática da língua inglesa,que define pessoas peculiares ou excêntricas obcecadas com tecnologia, eletrônica e jogos eletrônicos). Existe também o “Espaço Kids” (crianças), o “Espaço Disney”, o “Espaço Lego”, em supermercados, poderíamos ter o “Espaço Churrasco ou Eventos Sociais ou Reunindo os Amigos”. Enfim o principal objetivo da solução é conseguir em um espaço agrupar produtos que respondem a uma mesma ocasião de consumo, uma necessidade, um universo. A criação dessas soluções de “espaços dedicados”, além de permitir ao varejista se diferenciar, torna o ato de comprar mais prazeroso ao cliente e permitirá uma melhor performance em vendas, margem, resultados do negócio. Além dos centros de soluções, é nessa fase que o varejista desenha os detalhes do layout da loja, define a disposição das categorias pela loja, elabora o plano de cada categoria e define as diretrizes de abastecimento das categorias para assegurar que os produtos estejam disponíveis em seus PDVs, atendendo ao nível de serviço desejado. O produto deve seduzir seu público, seja pela qualidade, design, características, marca, embalagem e tamanho, e deve estar disponível nos locais que o seu público-alvo normalmente frequenta, ou pretende encontrá-lo. O preço deve ser adequado ao custo do produto e ao mercado. Conforme Kotler (2018, p. 543) “[...] promoção é a relação dos instrumentos que estão à disposição do emitente, cujo papel principal é o da comunicação persuasiva”. 160 Unidade IV Segundo Blessa, (2010, p. 25), “[...] pesquisas mostram que 85% das compras em lojas são realizadas por impulso, isto é, são feitas num súbito desejo, sem prévio planejamento. O consumidor resolve comprar a mercadoria apenas porque a viu exposta”. E é o merchandising que vai chamar atenção desse consumidor. Observação Os veículos de comunicação defendem que merchandising é toda veiculação fora do espaço reservado para a mídia tradicional, que na televisão convencionou-se chamar de break (traduzido como pausa). Portanto, aquela marca de celular que aparece nas cenas da novela, incorporada à trama, é vendida como merchandising. Product placement A mídia nos faz acreditar que o merchandising é a inserção de produtos em novelas, mas, na verdade, essa ferramenta se chama product placement, termo que pode ser definido como a inserção de marcas nas produções de entretenimento, seja por meios audiovisuais, seja por meio de citações, sendo normalmente atrelado a trocas financeiras. No início de sua utilização em filmes e programas televisivos, o product placement era muito empregado para custear as produções. Essas marcas aparecem para reforçar a sua notoriedade ou lançar um novo produto. 7.9.1 Funções do merchandising Murad (s.d.) ensina as principais funções do merchandising: • auxilia o giro do produto para o consumo; • cria o clima ou o ambiente adequado ao consumo utilizando os recursos de exibitécnica; • transforma o canal de vendas em um veículo da promoção; • funciona como estratégia de comunicação realizada no PDV; • dirige-se ao público-final – consumidor ou comprador empresarial; • busca motivar as compras por impulso. O merchandising é considerado a mídia mais rápida e eficaz, pois é a única em que a mensagem conta com os três elementos-chave para concretização de uma venda: o consumidor, o produto e o dinheiro. 161 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO O efeito é maior nos produtos de massa (compra por conveniência) e deve ser explorado em todos os períodos de venda do produto (ciclo de vida), inclusive nas épocas de alta venda (sazonais), para destacar-se mais dos concorrentes. Diferenças de comportamento entre consumidores homens e mulheres sempre intrigaram os pesquisadores de marketing. As reações díspares de cada sexo diante dos comerciais de TV, assim como suas atitudes no PDV, são conhecidas. Estudos recentes revelam que os homens são impacientes e, portanto, mais impulsivos nas lojas do que as mulheres, independentemente da classe social a que pertençam. As mulheres são mais detalhistas e gostam de experimentar e comparar produtos antes de se decidir (MAUTONE, 2005). Assim, as ações de merchandising no ponto de venda sensibilizam muito mais as mulheres do que os homens, pois, para elas, as compras envolvem aspectos psicológicos e emocionais ausentes na maioria dos homens. Os homens andam sempre mais rápido que as mulheres pelos corredores das lojas, despendem menos tempo olhando os produtos e dificilmente se fixam em algo que não têm intenção de comprar. As mulheres são geralmente mais pacientes e indagadoras, sentindo-se completamente à vontade em um ambiente de vendas. Elas gostam de estudar os produtos antes de comprar, sobretudo se for um produto novo no mercado. Assim, as promoções feitas nos pontos de venda devem facilitar ao máximo a ação das mulheres, que se sentem muito mais atraídas pelas ofertas do que os homens. Figura 39 – Promoções nas lojas Disponível em: https://bit.ly/3eJafGi. Acesso em: 21 jul. 2021. Desse modo, as organizações devem usar toda criatividade para surpreender o cliente, explorando nichos e desenvolvendo ações estratégicas de marketing que possibilitem envolver o consumidor no PDV de forma a estimular o processo de compra por meio de técnicas de merchandising. 162 Unidade IV 7.10 Comunicação no ponto de venda (PDV) Todas as ações realizadas no PDV fazem parte da estratégia das empresas na busca de melhorar a experiência do consumidor, independentemente do ponto de contato em que ele estiver. Vamos conhecer a seguir as formas de atuação do merchandising no ponto de venda. 7.10.1 Exibitécnica Conforme a visão de Murad (s.d.), a técnica de exposição dos produtos para aumentar o interesse dos clientes envolve o seguinte: • ser destacado – autosseleção; • ser posicionado em locais de grande fluxo de tráfego; • passar a sensação de vantagem – pechincha; • dar a sensação de grande número de unidades do produto; • irradiar beleza, simpatia e charme; • prender a atenção do consumidor, dando a impressão de que o produto está indo ao encontro dele; • obedecer ao layout da loja; • estar na direção do fluxo de clientes; • ser de fácil acesso e ficar em local amplo de compra, deixar o produto visível e disponível; • ser criativo, causando impacto e fácil memorização; • ser funcional, simples de colocar e retirar. 7.10.2 Disposição dos produtos Você se lembra de ter ido a algum ponto de venda e ter encontrado uma linda ponta de gôndola com seu chocolate preferido? Ou com uma marca de sabão em pó em oferta? Murad (s.d.) nos ensina os tipos de exposição do produto: • gôndola; • expositores, pilhas e ilhas; 163 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO • faixas de gôndola, displays, displays de ponta de gôndola, de parede, de canto; • balcão; • bandejas; • banners, folhetos, cartazetes, posters, carrinho, sanduíche; • móbiles, wobbler, balões infláveis, stoppers, gargantilha; • relógios digitais de parede ou de teto; • dispositivos mecânicos, dispositivos eletrônicos, indicadores e quiosques; • letreiros; • vitrines; • take one – folhetos; • shelf-talkers – minicartazetes; • iluminação; • etiquetas de preço; • fragrâncias e climatizadores; • TVs in-store e mídia in-store – TVS e mídias na loja; • totens, blisters e armações. Observação Shelf-talkers são dispositivos que permitem falar com o consumidor quando ele passa pela gôndola. Podem ser postos jingles, informações sobre a promoção, características do produto e funcionam de forma parecida com os cartões de natal musicais. São aplicáveis em stoppers (expositor promocional), wobblers (informativos), faixas de gôndolas ou quaisquer outros materiais impressos. 164 Unidade IV Exemplo de aplicação A lista de possibilidades de materiais para PDV é bem grande. Faça uma busca na internet para conhecer cada um deles. Visite sites de grandes varejistas, de grandes marcas e poderá encontrar muitos exemplos. 7.11 As gôndolas e o planograma A ferramenta mais conhecida para orientar a exposiçãode produtos nas gôndolas é o planograma, espécie de planta baixa onde se indica exatamente o espaço que deve ser ocupado por cada item da categoria (frentes), conforme seu giro, estoque em gôndola, importância e lucro. A ação dos profissionais de marketing e de trade marketing que estudam a maneira como os produtos devem ser apresentados no ponto de venda é chamada de planograma ou plano de gôndola, que tem como objetivo organizar e mensurar os produtos no ponto de venda, a fim de fomentar vendas, gerenciar rupturas e estimular a comunicação com os clientes. Assim, o planograma nada mais é do que um planejamento de como os produtos de cada categoria devem ser expostos nas prateleiras. No projeto, entram todo tipo de orientação, tais como quantidade de itens em cada gôndola, tipo e altura de empilhamento, além de organização de acordo com marcas, aromas, sabores etc. Um bom planograma reúne o máximo de informações possíveis, traçadas de acordo com estratégias planejadas pela equipe da própria indústria ou do varejista. Entre os objetivos de um planograma está, principalmente, o de melhorar a exposição dos produtos, para que o consumidor se sinta estimulado a comprar mais. Levando em conta que, em média, 80% das decisões de compra são tomadas no ponto de venda, entende-se a importância do planejamento para o aumento das vendas. Figura 40 – Categorias devem ser agrupadas em um planograma 165 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO É a partir desse gerenciamento de exposição dos produtos que são obtidos os resultados para que os profissionais possam desenvolver ações de gerenciamento de categorias. Portanto, um planograma não é um gerenciamento de categorias, mas sim uma ferramenta de trade marketing que auxilia na implantação de ações no ponto de venda. As principais informações a serem consideradas na elaboração de um planograma serão apresentadas a seguir. Produtos de maior lucratividade em evidência Após a captação de todos os dados de categorias e produtos presentes na loja – com avaliações de lucratividade, composição, precificação e nível de vendas de cada um –, o ideal é optar por manter os itens que geram maior lucro em evidência. Essas mercadorias devem estar na altura dos olhos, nas chamadas áreas nobres da gôndola, para que o consumidor as veja com mais facilidade, o que aumenta as chances de compra. Mais vendidos em locais distantes Os produtos mais procurados pelo consumidor podem ser mantidos mais distantes da entrada da loja e não necessitam ocupar espaços nobres nas gôndolas. A estratégia parte da premissa de que tais itens já são buscados naturalmente, portanto facilitar muito o acesso a eles pode diminuir o tempo de permanência do consumidor no ponto de venda. Além disso, no trajeto que o consumidor percorre para chegar aos produtos mais vendidos, é possível que ele visualize outras mercadorias que não estavam em sua lista de compras, mas que podem gerar vendas por impulso ou estar relacionadas às suas eventuais necessidades ou desejos. Promoções em pontos estratégicos Para as promoções, as pontas da gôndola são os locais mais indicados, pois são de fácil visualização. O mesmo vale para as ilhas, aqueles pontos nos corredores centrais das lojas por onde a maioria dos consumidores passa em algum momento. Geralmente, esses espaços são negociados pelo varejista com as marcas, a fim de promover a venda em maior volume de determinado item. Além disso, os produtos em oferta merecem maior destaque, pois podem estar associados à liquidação de itens de baixa rotatividade, com estoque alto ou, ainda, com data de validade próxima do fim. Atenção ao comportamento dos clientes Mesmo com todas essas orientações gerais relacionadas às áreas nobres e à organização da gôndola, é importante estar sempre atento às mudanças no perfil do consumidor. Na elaboração do planograma, é fundamental ouvir a opinião de funcionários ou de promotores da loja. São eles que estão frequentemente em contato com os consumidores e podem identificar comportamentos específicos para cada categoria de produto ou mesmo apontar diferentes hábitos de consumo de acordo com a região geográfica, por exemplo. 166 Unidade IV Observação máxima ao gerenciamento por categoria Entre os itens que devem ser seguidos no planograma está o gerenciamento por categoria. A partir de dados como volume de vendas, valor de varejo e informações de mercado, tais como market share (grau de participação de uma empresa no mercado em termos das vendas de determinado produto; fração do mercado controlada por ela), preço e concorrência, é definido o sortimento ideal de cada loja, dividindo-o por categorias de produtos. Por meio desses indicadores, é possível, por exemplo, diminuir ou excluir itens com pouca saída e aumentar o espaço para as mercadorias que realmente interessam a determinado público, ou seja, que têm mais procura naquele ponto de venda. Portanto, o gerenciamento por categoria é essencial para encontrar novas oportunidades de venda, melhorar a experiência do cliente ou, ainda, fidelizar o canal ou a rede varejista. Ajuste da equipe ao planograma De nada adianta criar diversas estratégias e não manter a equipe de loja capacitada para executar as ações necessárias. Se os colaboradores não forem bem instruídos, seja pela indústria ou pelo varejista, o descumprimento do planograma pode gerar prejuízos tanto na fidelização do cliente como nas vendas. Portanto, as equipes devem ser atualizadas sempre que houver mudanças no planograma ou introdução de novos produtos, para que isso não afete toda a estrutura do projeto. Para aplicar da melhor forma os conceitos do gerenciamento por categorias em cada loja e cadeia de abastecimento, existe um processo de trabalho detalhado. Em seu formato completo, é uma metodologia relativamente complexa para empresas de menor porte, razão pela qual foi desenvolvida essa nova metodologia. Lembrete Planograma é a representação gráfica ou desenhada do posicionamento de um produto, do seu sortimento ou da sua categoria em determinada gôndola, prateleira, expositor etc. Figura 41 – Categorias devem estar agrupadas na loja Disponível em: https://bit.ly/2UFEwyZ. Acesso em: 21 jul. 2021. 167 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 7.12 Marketing sensorial e experiências Uma ferramenta em alta é o chamado marketing sensorial, que utiliza dos sentidos humanos para atrair consumidores e gerar melhoria nos negócios da empresa. Os sentidos podem ser considerados fundamentais para reações que expressam aprovação ou reprovação sobre algum produto ou serviço. Por meio do estímulo dos sentidos, é possível fazer com que as pessoas criem vínculo com a marca. Em teoria, essa forma de marketing nada mais é que a ação de estimular os sentidos – olfato, visão, paladar, audição ou tato – a fim de instigar o consumidor para a compra. Contudo, como trabalhar o marketing sensorial? O segredo é conhecer o produto com o qual você trabalha. Atuando com alimentos, devem-se montar ações com o objetivo de fazer com que os clientes experimentem os seus produtos, para estimular o paladar e, assim, aumentar as vendas. Docerias já atuam dessa forma, oferecendo seus produtos em pequenas porções, o que vai ajudar não apenas na escolha do que comprar, mas no estímulo à compra de um produto que poderíamos até não querer comprar simplesmente porque acreditamos que seu gosto não é tão bom quanto o visual. Essa estratégia também funciona com a venda de salgados e massas e de bebidas em geral. A prova de produtos também é um marketing sensorial e funciona bem em lojas de perfumes e produtos de beleza, onde sempre ficam à mostra alguns itens para serem experimentados. Uma boa saída pode ser oferecer amostras grátis em pequenos frascos, que também é considerada uma atuação de marketing, funcionando bastante, principalmente, em lançamentos de novas marcas ou com um novo produto. Outra ação de comunicação no ponto de venda que se acentua é chamada de cross merchandising,técnica que tem por finalidade cruzar (cross) os produtos no ponto de venda que tenham entre si relação direta de consumo destacando-os entre os demais (merchandising). Essa técnica serve para lembrar o consumidor de um produto exposto (gerar interesse de compra) quando estiver comprando outro item. Para lembrar o consumidor da existência do produto, citam-se dois exemplos: fixar óleo lubrificante junto de ferramentas ou fazer a venda de cerveja e dispor amendoins ou salgadinhos ao lado. Hoje a comunicação no ponto de venda é realizada por meio dos sentidos humanos, capturando a atenção, estimulando a experimentação e concretizando a venda por meio das novas ferramentas de comunicação, as quais utilizam cores, design, comunicação visual, iluminação, som, aromas e texturas unindo-se à arquitetura. Os cenários das lojas cada vez mais precisam encantar os clientes, convencê-los a entrar, a olhar, a se identificar com o ambiente e a consumir. Integrar e gerar a participação do consumidor é a principal abordagem da comunicação no ponto de venda, e tem por objetivo vender e também romper com 168 Unidade IV a crescente imunidade aos apelos da comunicação de massa que o consumidor vem adquirindo nos últimos anos. A comunicação no PDV, por meio de uma forte presença, constante e estimuladora, é hoje um processo irreversível. Estimular o consumidor a experimentar e a criar relações duradouras pode significar a permanência das propostas de produtos e marcas em um mercado cada vez mais competitivo. 7.13 Promoção A ideia que existe no Brasil entre a maioria das pessoas é a de que promoções são apenas vendas de produtos baratos e de baixa qualidade. Isso porque comerciantes realizam promoções de “desova de estoque”, ou seja, de venda de encalhe, associando a promoção de vendas apenas ao aumento de vendas em um curto período, desfazendo-se de produtos encalhados nos estoques. Ao contrário do que muitos varejistas pensam, fazer uma promoção não significa perder dinheiro ou vender mais barato, e sim fazer o estoque girar. Com promoções, você conseguirá se livrar daquele estoque parado há muito tempo, garantir a entrada de recursos no caixa e otimizar o capital de giro. 7.13.1 Promoções planejadas Há diversas formas de fazer promoções que não implicam necessariamente queda de preços, como oferta de amostras grátis, programas de fidelidade ou desoneração de alguma etapa do processo de venda, como entrega grátis ou fazer o orçamento de forma gratuita. Quando a promoção representa um benefício para a imagem da empresa – é preciso conhecer o consumidor e verificar como ele percebe o valor da empresa e de seus produtos –, deve, antes de tudo, ter um objetivo claro, que resolva alguma deficiência do empreendimento. São muitas as vantagens que uma promoção eficientemente planejada e bem desenvolvida pode ocasionar para uma empresa. Engana-se quem acredita que apenas grandes empresas que oferecem produtos de vários segmentos ou marcas já consolidadas no mercado podem investir em ações promocionais. Lojas menores e de nicho também podem fazer uso desse recurso, desde que adaptem a promoção à realidade do negócio. Para ajudar a esvaziar e renovar o estoque, promoções como “pague 3 leve 4” ou, em casos maiores, liquidações, podem ajudar. Por isso, liquidações são mais raras e possuem datas mais precisas: lojas de vestuário liquidam a cada fim de estação e lojas de departamentos liquidam no início do ano, após o Natal. É bem conhecida a promoção planejada da loja Magazines Luiza, no início de janeiro de todo ano. Funciona do seguinte modo: baixam-se os preços, e a loja não entrega o produto, vende-o no estado em que se encontra; pode ser um produto de mostruário, sem embalagem, com pequenos riscos. Os preços são considerados muito bons pelos consumidores. 169 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO 7.13.2 Promoções de produtos obsoletos A promoção de produtos obsoletos é a mais problemática de todas. Seguramente as ações de prevenção e redução de riscos de formação dos estoques obsoletos deveriam ter maior êxito se seguíssemos algumas etapas predefinidas nesse sentido, especificamente se nos dedicássemos a mapear ou desenhar um processo administrativo formal e claro de ativação e desativação de produtos para toda a empresa, preferivelmente em um formato de fluxo de informações interdepartamentais. Esse processo deve servir para orientar passo a passo as atividades necessárias para a desativação eficaz de produtos e deverá conter regras para todas as áreas da empresa a fim de que cada um contribua para o esgotamento pleno de todo o estoque e, sempre que possível, que esse esgotamento seja realizado em perfeita sincronia com a data exata de envio da última remessa do item ao cliente. Por princípio, esse processo deverá ter interfaces com diferentes áreas, principalmente com marketing, logística, fornecedores e clientes. Antes de tudo, é importante lembrar que empresas com gestão ineficiente deixam as mercadorias acumulando poeira no estoque, enquanto boas empresas sempre buscam formas de contornar os prejuízos causados por produtos que não foram vendidos. Por isso, ao constatar que a empresa está com produtos sem giro no estoque, a primeira ação que se deve tomar é analisar todos os itens. É preciso classificá-los por preço, quantidade, espaço ocupado no estoque e data de validade, sobretudo se o seu comércio trabalhar com produtos alimentícios ou outros que têm curto tempo de validade ou que não apresentaram nenhuma movimentação nos últimos 24 meses. Com esses dados em mãos, é necessário reunir-se com a equipe e buscar novas maneiras de vendê-los para o público. Isso certamente evitará que seu comércio perca produtos e que o investimento feito para comprá-los seja totalmente desperdiçado. Os itens candidatos à obsolescência devem ser identificados, principalmente com relação ao ciclo de vida do produto, por exemplo, peças que não apresentam nenhuma movimentação nos últimos 24 meses. Em casos particulares da indústria da moda, apesar de os ciclos serem bem definidos conforme estações do ano, eles são curtos e exigem muitas vezes antecipações de produção, o que implica a necessidade de uma análise de risco e decisão entre perder oportunidade de venda ou formar estoques obsoletos. As ações devem começar assim que o montante estocado passe a prejudicar o andamento e o crescimento do negócio. A empresa deve definir o que fazer com produtos obsoletos e que possam ter uma liquidação. Além de baixar os preços, é preciso criar promoções que induzam o cliente a comprar mais de uma peça. Se mesmo com promoções você ainda não conseguir vender todos os produtos com baixo giro e tem estoque alto, a melhor alternativa será incluí-los como brindes em outras compras. 170 Unidade IV Apesar de a medida não reduzir os prejuízos e não gerar ganhos financeiros, ela poderá ser uma forma de o comércio dizer “obrigado” aos compradores. Isso certamente chamará a atenção do público, o que pode trazer um grande diferencial para o negócio e até estimular novas compras. Lembre-se: para não perder dinheiro, um dos fatores responsáveis pelo sucesso de seu comércio é a gestão correta de seu estoque. Estoque é dinheiro e precisa ter giro, e um dos elementos mais importantes de gestão é a definição de estoque mínimo (estoque de segurança) e máximo. É importante considerar que estoque mínimo é a quantidade mínima de produtos para que ele não falte, pois, na falta, vendas serão perdidas. Consequentemente, o estoque máximo é a quantidade máxima de determinado produto para que não ocorra perda por vencimento de validade ou aconteça o terror dos comerciantes: o encalhe do produto. Observação Quando o varejista foca suas promoções somente em preços, muitas vezes, estará destruindo sua margem e deteriorando a imagem da marca/ negócio. Promoções de cross-selling, que permitem alavancar vendas de produtos complementares, e promoções progressivas, que incentivam o clientea levar maior quantidade, são bons exemplos de promoções feitas na medida certa. No entanto, as promoções de vendas devem ser utilizadas apenas em situações excepcionais, afinal, o produto de uma empresa deve ser vendido em função de seus próprios atributos, e não de benefícios adicionais. Caso o produto só seja vendido se estiver em promoção, é importante prestar mais atenção nele, pois pode estar com problemas mais sérios envolvendo outros elementos do marketing mix, como um preço muito elevado ou com uma qualidade inferior. Dessa forma, a promoção não terá capacidade de solucionar o problema, servindo apenas como uma solução de curto prazo até que a solução definitiva seja encontrada. 7.14 Promoções de vendas Kotler e Keller (2018, p. 616) definem de maneira clara e objetiva a promoção de vendas como “um conjunto de ferramentas de incentivos, a maioria em curto prazo, projetada para estimular a compra mais rápida ou em maior quantidade”. A promoção deve ser usada para gerar valor para o consumidor, dando um incentivo para a compra e levando o consumidor até o produto ou serviço, com o objetivo principal da compra imediata. Promoções de vendas são estratégias de mercado que se encontram ao alcance de qualquer empresa, independentemente de seu porte ou ramo de atuação. Podem apresentar diferentes objetivos, como 171 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO a renovação do estoque, o aumento do número de clientes e a apresentação de novos produtos, e merecem atenção quanto à adequação às necessidades mercadológicas do empreendimento. A realização de promoções sem objetivos definidos é um erro cometido por milhares de empresas: a redução aleatória dos preços ou o simples oferecimento de brindes e prêmios nem sempre trazem os resultados esperados e podem impactar negativamente as finanças do negócio e a imagem da empresa. Assim, algumas táticas de promoção são fundamentais para o sucesso dessas ações. Parente (2000) afirma que as atividades de promoção de vendas ajudam o varejista a se diferenciar de seus concorrentes, pois são excelentes instrumentos para estimular o comportamento do consumidor, conseguindo resultados em curto prazo. Porém, essa técnica pode ser utilizada para outras finalidades, como apresentar um novo produto ao público; oferecer benefícios adicionais (cupons, brindes); ter tempo determinado. As promoções são classificadas em ações de persuasão e ações institucionais. As ações de persuasão são aquelas que buscam a venda de determinado produto, e as institucionais são aquelas que buscam a promoção da imagem de uma pessoa, empresa ou produto. 7.14.1 Tipos de promoções de vendas Promoções sazonais Utilizadas nas comemorações de datas determinadas, por exemplo: Natal, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados, Páscoa, Dia das Crianças, Sete de Setembro, Carnaval etc., para despertar o interesse da massa consumidora. Concursos e sorteios Concurso é o meio de promoção que requer uma participação ativa do receptor. A característica principal do concurso é a de o participante não depender especificamente da sorte, mas da competição para ganhar. Sua intenção é não apenas premiar os participantes, mas também divulgar a empresa ou um de seus produtos. Já o sorteio depende exclusivamente da sorte e geralmente é feito após a distribuição de números entre os participantes. Concursos e sorteios devem respeitar o disposto na Portaria n. 422 do Ministério da Fazenda, de 18 de julho de 2013, publicada no Diário Oficial da União em 22 de julho de 2013. Em seu art. 1º, a lei acentua que é preciso solicitar uma autorização prévia ao Ministério da Fazenda ou à Caixa Econômica Federal (BRASIL, 2013). Prêmios Trata-se de oportunidades concedidas ao consumidor de ganhar dinheiro, mercadorias ou outros incentivos por ter comprado o produto; portanto, o objetivo do prêmio é dar ao consumidor uma razão 172 Unidade IV para comprar determinado produto. Ele pode ser distribuído pelo serviço postal, pelos revendedores, na embalagem do produto (vindo da fábrica) ou ser adicionado ao produto. Cupons Certificados que oferecem um desconto no preço do produto. Normalmente são encontrados em jornais, revistas, publicações de grandes magazines e supermercados. Há casos de cupons impressos ou colocados na embalagem do próprio produto, destinados a oferecer ao consumidor uma redução de preços e incremento nas vendas. Plus Significa pouco mais do produto pelo mesmo preço. Deve-se deixar bem claro que se trata de uma promoção para que o consumidor não confunda com mudança de embalagem, não percebendo, assim, a vantagem. Descontos Esse tipo de promoção consiste em rebaixar o preço de venda. Há, por exemplo, as seguintes formas de desconto: marcados no produto, maior quantidade pelo mesmo preço, preço menor de um produto a partir de certa quantidade, saldos, queimas, liquidações de estações e ofertas especiais por tempo limitado etc. Vale-brinde É uma pequena peça de papel ou outro material colocado no produto, dentro dele ou na embalagem. A pessoa que encontrar o vale-brinde tem direito a receber um prêmio cujo nome deverá estar impresso na própria peça. O vale-brinde ajuda a formação ou fixação da imagem da empresa ou do produto, auxiliando o giro de estoque do produto. Selos O consumidor deve colecionar selos ou embalagens para serem trocados por um prêmio, o que deve ocorrer em lugares pré-determinados. Brindes Fazem parte de uma técnica de promoção de vendas em que se oferece uma mercadoria grátis ou a um preço baixo na compra de um produto ou serviço. Ofertas São vantagens adicionais oferecidas ao consumidor. Ocorrem, por exemplo, quando são vendidas duas unidades pelo preço de uma. Quando isso ocorre, a ação tem para o consumidor o mesmo valor 173 ADMINISTRAÇÃO DO VAREJO promocional que um desconto, mas, para o fabricante, ela pode significar mais economia e, ao mesmo tempo, maior quantidade de venda do produto. Amostra do produto Uma das formas de se induzir um consumidor a usar um produto é oferecer-lhe uma amostra. A intenção é que, por meio dela, o consumidor experimente o produto. Essa amostra pode ser distribuída de porta em porta, ser anexada a outro produto ou à embalagem do próprio produto. Degustações ou demonstrações Nessas ações, são entregues ao consumidoras amostras do produto já preparado para seu uso. Essa atividade é recomendável no caso de produtos desconhecidos do consumidor, sendo ideal para lançamentos, principalmente de produtos alimentícios. Embalagens e folhetos inseridos em embalagens A embalagem, além da proteção e conservação do produto, contribui para sua comunicação e promoção. A inserção de um folheto sobre uso e demonstrações, até mesmo contendo informações e ilustrações sobre outros produtos da mesma linha, constitui ferramenta promocional de grande relevância. 7.14.2 Proibições na realização das promoções Nesse instante, é essencial destacar as informações do que é proibido: • realizar concursos apenas nas redes sociais; • relacionar o concurso/promoção a eventos e datas comemorativas, como campeonatos esportivos, Dia das Mães, Natal, aniversário de estado, de município e demais hipóteses semelhantes; • premiar vencedores com produtos ou serviços da empresa; • exigir preenchimento de cadastro detalhado ou resposta a pesquisas e/ou aceitação de recebimento de material publicitário de qualquer natureza; • propaganda da empresa ou de seus produtos ou serviços, bem como de terceiros, nos materiais de divulgação em qualquer canal ou meio, ressalvada a mera identificação da promotora do concurso; • qualquer identificação da empresa (nome, produto, serviço, atividade ou outro elemento) no material produzido pelo participante ou na mecânica do concurso; • identificação da empresa no nome ou na chamada da promoção/concurso; 174 Unidade IV • qualquer modalidade que envolva risco, adivinhação, sorte ou pagamento pelos participantes, em qualquer fase do concurso; • relacionar