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TOXICOLOGIA TOXICOLOGIAToxicologiaRaquel Vaz Hara Jardim Raquel Vaz Hara Jardim Maria Tereza Pamplona Silva Maria Tereza Pamplona Silva GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro Nessa disciplina, percorreremos uma trajetória pelo universo da Toxicologia, que está totalmente alinhada ao exercício da pro� ssão em suas diversas abordagens. De modo geral, a Toxicologia estuda os efeitos tóxicos causados pelas substâncias químicas ao interagirem com organismos vivos, além de envolver diferentes áreas do conheci- mento, tais como: toxicocinética, toxicodinâmica, avaliação da toxicidade, elaboração de laudos periciais, monitorização ambiental e biológica, entre outras. É esperado que os conteúdos dessa disciplina ajudem na compreensão da relação dos sistemas biológicos com os diversos grupos de substâncias tóxicas, destacando a importância de caracterizar as propriedades de cada toxicante. Sendo assim, vamos conhecer cada grupo de intoxicantes metais (arsênio, chumbo e mercúrio), solventes orgânicos (metanol, benzeno, tolueno etc.), inalantes, compostos metemoglobini- zantes diretos e indiretos (anilina, entre outros), contaminantes ambientais, estimu- lantes (anfetaminas, nicotina/tabaco, cocaína e derivados e anfetaminas), depresso- res, alucinógenos, perturbadores do humor, medicamentos e canabinoides. Por � m, você estará apto para identi� car a toxicidade das principais substâncias quí- micas, bem como o seu impacto na saúde e no meio ambiente. Esse conhecimento é essencial para propor métodos de análise toxicológica e para traçar condutas clínicas e estratégias de prevenção. SER_FARMA_TOXICO_CAPA.indd 1,3 04/02/2021 14:05:01 © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Raquel Vaz Hara Jardim Maria Tereza Pamplona Silva DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 2 04/02/2021 12:46:54 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 3 04/02/2021 12:46:54 Unidade 1 - Introdução às análises toxicológicas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 13 Introdução à Toxicologia .................................................................................................... 14 Elementos básicos da Toxicologia ................................................................................ 17 Classificação dos agentes tóxicos e seus efeitos ..................................................... 17 Fases da intoxicação ...................................................................................................... 18 Características de exposição ........................................................................................ 20 Toxicocinética ...................................................................................................................... 21 Absorção ........................................................................................................................... 22 Distribuição ...................................................................................................................... 24 Biotransformação ............................................................................................................ 26 Excreção ........................................................................................................................... 28 Toxicodinâmica .................................................................................................................... 30 Mecanismos de ação dos agentes tóxicos ................................................................ 31 Fatores determinantes da intoxicação ........................................................................ 33 Avaliação da toxicidade ................................................................................................. 33 Desintoxicação ................................................................................................................ 35 Toxicidade ocupacional ...................................................................................................... 38 Monitorização ambiental e limites de exposição ...................................................... 39 Monitorização biológica e limites biológicos ............................................................. 40 Sintetizando ........................................................................................................................... 43 Referências bibliográficas ................................................................................................. 44 Sumário SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 4 04/02/2021 12:46:54 Sumário Unidade 2 - Agentes tóxicos: metais pesados, solventes orgânicos e agentes metemoglobinizantes Objetivos da unidade ........................................................................................................... 46 Metais pesados..................................................................................................................... 47 Arsênio .............................................................................................................................. 48 Mercúrio ........................................................................................................................... 50 Chumbo ............................................................................................................................. 52 Tratamento e antidotização dos metais pesado ........................................................ 55 Solventes orgânicos ............................................................................................................ 57 Benzeno ............................................................................................................................ 59 Tolueno .............................................................................................................................. 61 Xileno ................................................................................................................................. 64 Agentes metemoglobinizantes .......................................................................................... 66 Anilina ................................................................................................................................67 Nitrobenzeno .................................................................................................................... 68 Sintetizando ........................................................................................................................... 70 Referências bibliográficas ................................................................................................. 72 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 5 04/02/2021 12:46:54 Sumário Unidade 3 - Toxicologia social Objetivos da unidade ........................................................................................................... 74 Metanol .................................................................................................................................. 75 Toxicocinética .................................................................................................................. 77 Toxicodinâmica ................................................................................................................ 78 Sinais e sintomas ............................................................................................................. 79 Tratamento e antidotização ........................................................................................... 80 Toxicologia social e medicamentos ................................................................................. 80 Classificação das drogas que causam dependência ............................................... 81 Dependência, tolerância e síndrome de abstinência ............................................... 81 Estimulantes ..................................................................................................................... 83 Depressores do SNC ....................................................................................................... 88 Opiáceos e opioides ............................................................................................................ 92 Mecanismo de toxicidade .............................................................................................. 93 Sinais e sintomas ............................................................................................................. 96 Tratamento ........................................................................................................................ 97 Etanol e inalantes ................................................................................................................. 97 Mecanismo de toxicidade .............................................................................................. 99 Tratamento ...................................................................................................................... 101 Sintetizando ......................................................................................................................... 103 Referências bibliográficas ............................................................................................... 104 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 6 04/02/2021 12:46:54 Sumário Unidade 4 - Drogas de abuso e cromatografia Objetivos da unidade ......................................................................................................... 107 Tabaco .................................................................................................................................. 108 Mecanismo de toxicidade ............................................................................................ 110 Sinais e sintomas ........................................................................................................... 113 Tratamento ...................................................................................................................... 113 Cannabis............................................................................................................................... 113 Mecanismo de toxicidade ............................................................................................ 116 Sinais e sintomas ........................................................................................................... 119 Tratamento ...................................................................................................................... 119 Derivados da cocaína ........................................................................................................ 119 Mecanismo de toxicidade ............................................................................................ 122 Sinais e sintomas ........................................................................................................... 124 Tratamento ...................................................................................................................... 124 Cromatografia...................................................................................................................... 125 Cromatografia da Cannabis sativa e estimulantes .................................................. 126 Cromatografia e identificação de venenos ............................................................... 129 Sintetizando ......................................................................................................................... 131 Referências bibliográficas ............................................................................................... 132 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 7 04/02/2021 12:46:54 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 8 04/02/2021 12:46:54 Nessa disciplina, percorreremos uma trajetória pelo universo da Toxicolo- gia, que está totalmente alinhada ao exercício da profi ssão em suas diversas abordagens. De modo geral, a Toxicologia estuda os efeitos tóxicos causados pelas substâncias químicas ao interagirem com organismos vivos, além de en- volver diferentes áreas do conhecimento, tais como: toxicocinética, toxicodinâ- mica, avaliação da toxicidade, elaboração de laudos periciais, monitorização ambiental e biológica, entre outras. É esperado que os conteúdos dessa disciplina ajudem na compreensão da relação dos sistemas biológicos com os diversos grupos de substâncias tóxicas, destacando a importância de caracterizar as propriedades de cada toxicante. Sendo assim, vamos conhecer cada grupo de intoxicantes metais (arsênio, chumbo e mercúrio), solventes orgânicos (metanol, benzeno, tolueno etc.), ina- lantes, compostos metemoglobinizantes diretos e indiretos (anilina, entre ou- tros), contaminantes ambientais, estimulantes (anfetaminas, nicotina/tabaco, cocaína e derivados e anfetaminas), depressores, alucinógenos, perturbadores do humor, medicamentos e canabinoides. Por fi m, você estará apto para identifi car a toxicidade das principais subs- tâncias químicas, bem como o seu impacto na saúde e no meio ambiente. Esse conhecimento é essencial para propor métodos de análise toxicológica e para traçar condutas clínicas e estratégias de prevenção. TOXICOLOGIA 9 Apresentação SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 9 04/02/2021 12:46:54 Dedico a todos que, assim como eu, acreditam na importância do conhecimento e da ciência. “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina” (Cora Coralina). A professora Raquel Vaz Hara Jardim é doutora em Biologia Celular e Mole- cular pela Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho – UNESP (2016). Mestre em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho – UNESP (2012). Graduada em Biomedicina pelo Centro Universitário Filadélfi a – UNIFIL (2009). É professora conteudista desde 2018. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2697823505608748 TOXICOLOGIA 10 A autora SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 10 04/02/2021 12:46:55 TOXICOLOGIA 11 Dedico este material a todos aqueles que buscam no ensino o conhecimento como instrumento para alcançar seus sonhos. “A educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimentoposta em prática” (Paulo Freire). A professora Maria Tereza Pamplona Silva é doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista – UNESP (2017), tem mestrado em Ciên- cias Biológicas pela UNESP (2013) e é graduada em Biomedicina pelo Centro Universitário Filadélfi a – UNIFIL (2009). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3377333918279412 A autora SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 11 04/02/2021 12:46:55 INTRODUÇÃO ÀS ANÁLISES TOXICOLÓGICAS 1 UNIDADE SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 12 04/02/2021 12:47:12 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender os principais eventos históricos da Toxicologia; Entender os conceitos básicos relacionados às substâncias tóxicas, divisão e áreas da Toxicologia; Compreender as características das diferentes fases da intoxicação; Identificar os processos toxicocinéticos e os fatores que interferem em cada fase; Assimilar os conceitos relacionados à toxicodinâmica e compreender os vários tipos de mecanismos de ação; Compreender a monitorização ambiental e biológica, bem como conhecer os limites de tolerância. Introdução à Toxicologia Elementos básicos da Toxico- logia Classificação dos agentes tóxi- cos e seus efeitos Fases da intoxicação Características de exposição Toxicocinética Absorção Distribuição Biotransformação Excreção Toxicodinâmica Mecanismos de ação dos agen- tes tóxicos Fatores determinantes da into- xicação Avaliação da toxicidade Desintoxicação Toxicidade ocupacional Monitorização ambiental e limites de exposição Monitorização biológica e limi- tes biológicos TOXICOLOGIA 13 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 13 04/02/2021 12:47:13 Introdução à Toxicologia A Toxicologia é uma das ciências mais antigas, cuja história acompanha o processo evolutivo humano. Desde os primórdios da civilização, o homem pos- sui conhecimento sobre os efeitos tóxicos provocados por venenos de animais peçonhentos e de plantas tóxicas. Os acontecimentos mais importantes da his- tória da Toxicologia são: • Papiro de Ebers (1500 a.C.): é um documento que apresenta cerca de 800 substâncias ativas, como por exemplo, chumbo, cobre, venenos de animais e plantas tóxicas; • Sócrates (470-399 a.C.): foi o caso mais conhecido pelo uso de veneno, devido à sua sentença de morte pela ingestão de extrato de cicuta; • Mitrídates (120-63 a.C.): provavelmente foi o responsável pelas primei- ras experiências toxicológicas. Ele testava vários tipos de venenos para encon- trar seus antídotos; • Dioscórides (40 a 90 d.C.): realizou a primeira classifi cação de venenos, dividida em animais, vegetais e minerais; • Avicena (980-1037): estudou o mecanismo de ação de venenos, incluindo neurotoxicidade e efeitos metabólicos; • Paracelsus (1493-1541): foi o responsável por diversos estudos e ideias envolvendo a Farmacologia, a Toxicologia e a Terapêutica. Seus princípios ainda são aplicados na Toxicologia, principalmente, seu postulado mais conhecido: “todas as substâncias são venenos; não há nenhuma que não seja um veneno. A dose correta diferencia o veneno do remédio”; • Bernard Rognetta (1800-1857): estudou os mecanismos de ação de vá- rias substâncias químicas, inclusive do arsênio; • Joseph Jacob Plenck (1739-1807): foi responsável pela introdução de al- gumas técnicas analíticas na Toxicologia, com o objetivo de identifi car e quanti- fi car os compostos tóxicos nos tecidos; • Friedrich Accum (1769-1838): utilizou a química analítica para detectar a presença de determinadas substâncias em alimentos e preparações far- macêuticas; • Mathieu Orfi la (1787-1853): foi o primeiro toxicologista que usou a com- binação da Toxicologia forense, clínica e química analítica. TOXICOLOGIA 14 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 14 04/02/2021 12:47:13 Como se pode observar, a Toxicologia se consolidou e passou por avanços importantes ao longo dos anos. Atualmente, é considerada uma verdadeira ciência social, cuja proposta é estudar as formas seguras de se expor às subs- tâncias químicas, ajudando o homem a se beneficiar dos avanços tecnológicos. No estudo da Toxicologia, é impor- tante definir e contextualizar alguns termos frequentemente utilizados. Os agentes tóxicos ou toxicantes são compostos de origem natural (animal, mineral ou vegetal) ou sinté- tica (produzida pelo homem) capazes de provocar danos a um organismo vivo, podendo resultar em alterações funcionais ou levar à morte. O termo veneno é usado para às substâncias químicas que causam intoxicação ou morte, mesmo em doses relati- vamente baixas. Além disso, alguns autores denominam como veneno as substâncias secretadas por animais peçonhentos e que estão relacionadas à sua autodefesa ou predação, como, por exemplo, o veneno de cobra. Em Toxicologia, as substâncias químicas estranhas ao organismo e que não pos- suem papel fisiológico conhecido são denominadas de xenobióticos. Os fármacos são substâncias de estrutura química definida, utilizados para proporcionar efeitos benéficos ao organismo por meio da sua capaci- dade de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou o estado patológico. Por outro lado, o termo droga é utilizado para substâncias com composição indefinida, podendo ser utilizadas com ou sem a intenção de promover be- nefícios para o organismo. Para a melhor compreensão da diferença entre fármaco e droga, considera-se alguns exemplos: a maconha (Cannabis sativa) é uma droga e seu principal princípio ativo (tetra-hidrocanabinol – THC) é um fármaco. O ópio é uma droga de abuso que contém morfina, uma substância de estrutura definida utilizada para combater dores intensas, portanto, é con- siderado um fármaco. TOXICOLOGIA 15 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 15 04/02/2021 12:47:18 Em geral, a Toxicologia compreende o estudo dos efeitos tóxicos provo- cados por substâncias químicas em organismos vivos envolvendo diversas áreas de aplicação. Essas áreas são definidas de acordo com as característi- cas do agente tóxico ou pelo seu modo de interação com o sistema biológi- co. As principais áreas da Toxicologia, incluem: • Toxicologia ambiental: é o ramo que estuda os efeitos tóxicos dos po- luentes ambientais (água, sedimento, solo e ar) nos organismos vivos; • Toxicologia ocupacional: é a área da Toxicologia que estuda os efeitos tóxicos em indivíduos expostos às substâncias químicas presentes no ambiente de trabalho; • Toxicologia de alimentos: dedica-se ao estudo dos efeitos tóxicos provo- cados por agentes químicos encontrados nos alimentos. Essa área é extrema- mente importante para garantir que os alimentos ingeridos não causem danos ao organismo humano; • Toxicologia de medicamentos e cosméticos: realiza a análise dos efeitos tóxicos provocados pelo uso inadequado de medicamentos ou cosméticos nos organismos vivos; • Toxicologia social: estuda os efeitos tóxicos decorrentes do uso de drogas de abuso (por exemplo, cocaína e Cannabis sativa) ou do uso não médico de fár- macos, que podem acarretar problemas sérios ao próprio usuário e à sociedade; • Toxicologia forense: busca detectar e identificar agentes tóxicos envolvi- dos em mortes (post mortem), representando uma área importante para solu- cionar diversos crimes. A Toxicologia abrange diferentes campos de trabalho e pode ser dividida em: Toxicologia analítica ou química, Toxicologia clínica ou médica e Toxicologia ex- perimental. A Toxicologia analítica engloba um conjunto de métodos precisos e sensíveis que investigam a presença de agentes tóxicos ou algum parâmetro re- lacionado à sua exposição (por exemplo, alterações bioquímicas) em diferentes tipos de amostras, como fluidos orgânicos, alimentos, água, entre outros. Os profissionais relacionados à área de Toxicologia clínica buscam compreen- der o quadro clínico do paciente exposto ao agente tóxico ou intoxicado para esta- belecer as medidas de prevenção, o diagnóstico e a terapêutica das intoxicações. Já a Toxicologia experimentalé responsável pelos estudos que fornecem informações elucidativas sobre os mecanismos de ação dos agentes tóxicos sobre os organismos vivos, além de avaliar os efeitos resultantes dessa ação. TOXICOLOGIA 16 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 16 04/02/2021 12:47:18 Elementos básicos da Toxicologia A Toxicologia é uma ciência multidisciplinar que se baseia em três elemen- tos básicos: • A existência de uma substância química (agente tóxico) capaz de induzir um efeito; • A identifi cação do sistema biológico (organismo) que pode interagir com a substância química; • Uma resposta por meio do efeito tóxico (sinais e sintomas) sobre o siste- ma biológico. O objetivo principal da Toxicologia é compreender os efeitos tóxicos e os mecanismos de ação das substâncias para evitar impactos na saúde e no meio ambiente. Além disso, a Toxicologia utiliza diferentes métodos para identifi - car e quantifi car os agentes tóxicos presentes em amostras biológicas (sangue, urina, saliva etc.). Todas essas informações são necessárias para estabelecer medidas terapêuticas seguras que possam contribuir para a prevenção de en- venenamentos e intoxicações. Classificação dos agentes tóxicos e seus efeitos Os agentes tóxicos podem ser classifi cados de diferentes modos, podendo considerar sua origem, seus órgãos-alvo, uso, efeito, estado físico, estrutura química, potencial de intoxicação, entre outros. Vale ressaltar que os critérios de classifi cação são defi nidos conforme o interesse e necessidade do classifi ca- dor. Alguns exemplos de classifi cação dos agentes tóxicos são: • Órgão de ação: de acordo com os efeitos do agente tóxico sobre os ór- gãos-alvo, como neurotóxico (ação no sistema nervoso central), hepatotóxico (ação no fígado), entre outros; • Estrutura química: a estrutura química também pode determinar a toxi- cidade, como as aminas aromáticas e os hidrocarbonetos halogenados; • Estado físico: os agentes tóxicos podem apresentar toxicidade diferente conforme o seu estado físico (gás, líquido e sólido), como o chumbo, que pode ser inofensivo em sua forma sólida, mas pode apresentar toxicidade moderada como poeira e ser altamente tóxico como fumo metálico; TOXICOLOGIA 17 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 17 04/02/2021 12:47:19 • Mecanismo de ação: causador de metemoglobinizante (asfi xiantes quími- cos – induzem a oxidação do ferro da hemoglobina), anticolinesterásico (inibem a enzima anticolinesterase), entre outros; • Efeitos clínicos: podem ser classifi cados de acordo com o aparecimento dos efeitos em imediatos, como irritantes que causam lesão na pele, ou tar- dios, como carcinógenos químicos; também podem ser classifi cados pela re- versibilidade dos efeitos (tóxicos reversíveis ou irreversíveis). O Comitê de Carcinógenos Ambientais da IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer) classifi ca os agentes tóxicos com base no potencial car- cinogênico para seres humanos e animais em: • Grupo 1: considerados carcinógenos humanos; • Grupo 2A: indica que o agente é provavelmente carcinogênico; • Grupo 2B: indica que o agente é possivelmente carcinogênico; • Grupo 3: não podem ser classifi cados em relação ao seu potencial carcino- gênico, pois os dados são insufi cientes. Fases da intoxicação Por defi nição, pode-se dizer que a intoxicação é um processo patológico causado por substâncias endógenas ou exógenas. Essas substâncias são capa- zes de provocar alterações bioquímicas no organismo exposto, levando a um desequilíbrio fi siológico. A intoxicação envolve uma série de eventos que começam com a exposição do organismo ao agente tóxico e vão até o surgimento de sinais e sintomas. Desse modo, a intoxicação pode ser dividida em quatro fases: • Fase I – exposição: é a fase em que o organismo entra em contato com a substância tóxica. Existem vários fatores que infl uenciam a disponibilidade da substância para a absorção, como por exemplo, a dose ou concentração do agente tóxico, a via de introdução, a duração e a frequência da exposi- ção, as propriedades físico-químicas das substân- cias e a suscetibilidade do indivíduo; TOXICOLOGIA 18 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 18 04/02/2021 12:47:19 • Fase II – toxicocinética: essa fase inclui os processos que promovem o movimento da substância química pelo organismo. Tais processos incluem a absorção, distribuição, armazenamento, biotransformação e a excreção de substâncias químicas. Alguns fatores, como as propriedades físico-químicas dos agentes tóxicos, determinam a biodisponibilidade da substância química para interagir com o órgão-alvo e a velocidade de excreção; • Fase III – toxicodinâmica: está relacionada ao processo de interação do agente tóxico com o receptor do seu sítio de ação. Essa interação promove al- terações morfológicas e funcionais, resultando em um desequilíbrio homeos- tático no organismo exposto; • Fase IV – clínica: essa fase engloba os sinais e sintomas dos efeitos pro- vocados pela ação tóxica de uma substância química, evidenciando um quadro de intoxicação. Além disso, os efeitos da interação do agente tóxico com o or- ganismo também podem ser evidenciados por meio da detecção de alterações patológicas observadas na análise laboratorial. Portanto é importante entender que os efeitos da intoxicação começam quan- do o agente tóxico alcança o órgão-alvo em quantidade suficiente para provocar alterações estruturais e funcionais. No entanto, todos esses processos podem so- frer influência dos fatores de suscetibilidade de cada organismo (Diagrama 1). Fonte: DORTA et al., 2018, p. 80. (Adaptado). Toxicocinética Toxicodinâmica Exposição Dose efetiva Fatores de susceptibilidade Efeitos biológicos precoces Alterações de estrutura e função Intoxicação DIAGRAMA 1. RELAÇÃO ENTRE A TOXICOCINÉTICA E A TOXICODINÂMICA TOXICOLOGIA 19 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 19 04/02/2021 12:47:19 Características de exposição Em um sistema biológico, a resposta tóxica de uma substância química depende de alguns fatores, incluindo as condições de exposição. As principais vias de introdução de agentes tóxicos são: • Via sistema trato gastrintestinal (ingestão por via oral); • Via pulmonar (inalação); • Via cutânea (absorção pela pele); • Outras vias parenterais (diferentes da via intestinal). A Figura 1 ilustra as principais vias de introdução de agentes químicos no organismo humano. Inalação Injeção Ingestão Absorção pela pele Figura 1. Vias de exposição a substâncias tóxicas. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016, p. 631. (Adaptado). A intensidade do efeito e o tempo de resposta variam de acordo com a via de exposição. Sendo assim, a efi cácia das vias, em ordem decrescente, deve ser: inalação, in- traperitoneal, subcutânea, intramuscular, intradérmica, oral e dérmica. TOXICOLOGIA 20 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 20 04/02/2021 12:47:29 Toxicocinética A toxicocinética é responsável pelo estudo do comportamento de uma substância nos diferentes compartimentos do organismo, ou seja, por meio dela é possível estudar os movimentos da substância no organismo. Em geral, a toxicocinética pode ser dividida em quatro mecanismos que de- terminam o início, a intensidade e a duração da ação da substância química (Diagrama 2). Esses processos são: • Absorção: permite a entrada da substância química no plasma; • Distribuição: a substância química pode sair da circulação sanguínea e se distribuir nos líquidos intersticial e intracelular; • Biotransformação: a substância química pode ser biotransformada no fígado e em outros tecidos; • Eliminação: a substância química e seus metabólitos são eliminadas do organismo por meio da urina, da bile ou das fezes. Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 8. (Adaptado). DIAGRAMA 2. FASES DA TOXICOCINÉTICA Xenobiótico livre Xenobiótico ligado Metabólitos Biotransformação Absorção Excreção Sangue Local de ação Ligado Livre Tecidos de depósito Livre LigadoTOXICOLOGIA 21 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 21 04/02/2021 12:47:29 Cada indivíduo pode apresentar efeitos diferentes mesmo que expostos a concentrações similares. Essas diferenças podem ocorrer devido aos fatores que interferem nos processos toxicocinéticos, como, por exemplo, as modifi ca- ções genéticas e fatores fi siológicos (idade ou sexo). Além disso, podem ocorrer modifi cações na capacidade de metabolizar substâncias, pois as enzimas po- dem estar induzidas ou inibidas. No período gestacional, são observadas muitas alterações toxicocinéticas devido à ação hormonal, como indução da metabolização de compostos, alte- ração no volume de distribuição, entre outros efeitos. A obesidade também é um fator que altera a toxicocinética, principalmente, das substâncias lipofílicas. Nesse caso, ocorre a distribuição das substâncias lipofílicas para os tecidos de armazenamento, diminuindo a toxicidade dessas substâncias no obeso. Absorção A absorção é um processo pelo qual as substâncias químicas passam do local de contato por meio da membrana celular e entram na corrente circula- tória. Os principais locais de absorção são a pele (via dérmica), os pulmões (via respiratória) e o trato gastrintestinal (via oral). A absorção dérmica ocorre quando o agente tóxico consegue atravessar as múltiplas camadas celulares da pele. Basicamente, a pele é formada por duas camadas principais: • Camada externa (epiderme): contém o estrato córneo que representa uma barreira limitante, ou seja, é ela que determina a quantidade de substân- cia química que será absorvida. Vale ressaltar que a permeabilidade da pele de- pende da espessura do estrato córneo, que varia conforme a região do corpo; • Camada interna (derme): é composta por tecido gorduroso, conjuntivo, irrigado por capilares e vasos sanguíneos e os anexos da pele (glândulas su- doríparas e folículos pilosos). Essa camada é uma barreira inferior ao estrato córneo, pois não é seletiva. De modo geral, a pele é uma barreira relativamente impermeável à maio- ria dos íons e soluções aquosas, entretanto, algumas substâncias químicas conseguem ser absorvidas pela pele em quantidades sufi cientes para indu- TOXICOLOGIA 22 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 22 04/02/2021 12:47:29 zir efeitos tóxicos. O principal mecanismo de absorção é a difusão passiva e, por isso, as substâncias lipossolúveis (polares) são mais bem absorvidas do que as hidrossolúveis (apolares). Algumas substâncias possuem ação diretamente sobre a pele, causando danos à epiderme, como corrosão e sensibilização. Os ácidos e bases são subs- tâncias químicas que podem causar efeitos locais. Diversos fatores podem exercer influência na absorção dérmica por meio do aumento da permeabilidade dos agentes tóxicos, tais como: • Comprometimento da integridade do estrato córneo; • Nível de hidratação do estrato córneo aumentado; • Aumento da temperatura do ambiente, que aumenta o fluxo sanguíneo capilar; • Baixa solubilidade do agente toxicante no veículo; • Substâncias de tamanho pequeno. A via respiratória é uma importante via de entrada de substâncias quí- micas, que passam pelos órgãos do sistema respiratório até alcançar a circu- lação sanguínea. Existem diferentes tipos de compostos tóxicos que podem ser absorvidos pelos pulmões, incluindo gases, vapores, líquidos voláteis e material particulado. Os gases e vapores são inalados pelos pulmões e se difundem dos al- véolos pulmonares para a corrente sanguínea, onde são dissolvidos para que possam chegar até os tecidos. Todo esse processo ocorre até atingir um equilíbrio entre a concentração das moléculas no sangue e no espaço alveolar. Essa relação de equilíbrio entre os dois meios é chamada de coefi- ciente de partição sangue/gás e é única para cada tipo de gás. Portanto, a taxa de absorção de gases pela via respiratória pode variar de acordo com a solubilidade do agente tóxico no sangue. CITANDO Segundo Oga, Camargo e Batistuzzo (2014), substâncias com alto coefi- ciente de partição sangue/ar, como clorofórmio, passam facilmente do ar para o sangue. Já em substâncias de baixo coeficiente de partição, como o etileno, somente uma pequena quantidade é difundida para o sangue, devido à sua rápida saturação. TOXICOLOGIA 23 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 23 04/02/2021 12:47:29 O Quadro 1 apresenta algumas características que infl uenciam na absorção de material particulado (aerossóis e partículas) pela via respiratória. Vale res- saltar que a exposição humana a esses poluentes atmosféricos pode causar infl amação e irritação das vias aéreas superiores. QUADRO 1. CARACTERÍSTICAS DA ABSORÇÃO DAS PARTÍCULAS SUSPENSAS NO AR Tamanho das partículas Local de deposição Destino < 1 μm Alvéolos pulmonares Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. 2 a 5 μm Traqueobronquial Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. > 5 μm Nasofaríngea Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 9. (Adaptado). A absorção oral é uma via relevante para os diferentes grupos de agentes tóxicos, uma vez que está relacionada à ingestão de água ou alimentos con- taminados ou a situações de tentativa de suicídio (ingestão de drogas ou fár- macos de abuso). A absorção pode ocorrer ao longo de todo o trato gastrin- testinal, sendo que as regiões mais comuns são o estômago e o intestino. Os fatores que infl uenciam na absorção de cada compartimento incluem o pH, ir- rigação, características anatômicas e propriedades físico-químicas do agente tóxico. Vale ressaltar que as microvilosidades intestinais são estruturas que intensifi cam a irrigação sanguínea e proporcionam uma maior superfície de contato, favorecendo a absorção dos agentes tóxicos. Outra característica im- portante é que as substâncias lipossolúveis são absorvidas mais rapidamente do que as substâncias hidrossolúveis. Distribuição A distribuição dos agentes tóxicos ocorre por meio do sangue e da lin- fa até atingir diversos tecidos do organismo. De modo geral, a distribuição depende do fl uxo sanguíneo e linfático e de outros fatores relacionados às propriedades físico-químicas da substância (por exemplo, pH, coefi ciente < 1 μm< 1 μm 2 a 5 μm2 a 5 μm Alvéolos pulmonares 2 a 5 μm > 5 μm Alvéolos pulmonares > 5 μm Alvéolos pulmonares > 5 μm Alvéolos pulmonares Traqueobronquial Alvéolos pulmonares Traqueobronquial Alvéolos pulmonares Traqueobronquial Alvéolos pulmonares Traqueobronquial Nasofaríngea Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o Traqueobronquial Nasofaríngea Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Traqueobronquial Nasofaríngea Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Nasofaríngea Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitosepor macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares. Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Absorção sistêmica; absorção pelo sistema linfá- tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o Remoção com o muco, por meio de movimentos ciliares; fagocitose por macrófagos. Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. tico; fagocitose por macrófagos; remoção com o Remoção com o muco, por meio de movimentos Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Remoção com o muco, por meio de movimentos Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. Remoção com o muco, por meio de movimentos Eliminação por assopro, espirro ou limpeza.Eliminação por assopro, espirro ou limpeza. TOXICOLOGIA 24 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 24 04/02/2021 12:47:30 óleo/água e ligação com as proteínas plasmáticas). Destaca-se ainda que a distribuição ocorre mais facilmente em tecidos altamente irrigados (cora- ção, cérebro e fígado) do que em tecidos pouco irrigados (tecido adiposo, ossos, unhas e dentes). O Diagrama 3 mostra que somente as substâncias livres conseguem al- cançar o sítio de ação, enquanto as substâncias que se ligam às proteínas plasmáticas, como a albumina, as lipoproteínas e as globulinas, são elimina- das. Além disso, as substâncias distribuídas pelo organismo chegam ao sítio de ação de modo mais eficiente no estado lipossolúvel. Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 11. (Adaptado). DIAGRAMA 3. ESQUEMA DA DISTRIBUIÇÃO DE UM AGENTE TÓXICO ATÉ SEU SÍTIO-ALVO A extensão da distribuição de uma substância ao longo do corpo humano pode ser avaliada por meio de um parâmetro toxicocinético, chamado volume de distribuição. Desse modo, é possível obter informações sobre a quantida- Introdução do xenobiótico na circulação Xenobiótico ligado às proteínas Líquido intersticial Células-alvo Xenobiótico ligado às proteínas Xenobiótico ligado a sítios inertes Complexo xenobiótico-alvo Intensidade do efeito tóxico Xenobiótico livre Xenobiótico livre Eliminação Xenobiótico livre Fora do organismo Plasma TOXICOLOGIA 25 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 25 04/02/2021 12:47:30 de de substâncias tóxicas existente no organismo e a quantidade presente no plasma. Substâncias que apresentam grande volume de distribuição tendem a ser distribuídas para o corpo inteiro, sendo que somente uma pequena porção permanece no plasma. Por outro lado, pequenos volumes de distribuição indi- cam que a maior fração da substância permanece no plasma, possivelmente devido à ligação entre a substância química e as proteínas plasmáticas. Assim, a distribuição pode ser afetada pela ligação das substâncias tóxicas às proteínas plasmáticas, uma vez que se tornam incapazes de atravessar as membranas. A albumina é a proteína mais abundante e com maior afi nidade com substâncias tóxicas. Além disso, as β-globulinas e as lipoproteínas tam- bém são proteínas importantes que podem se ligar a um amplo número de substâncias químicas. As barreiras biológicas difi cultam a passagem de substâncias dissolvidas no sangue para os tecidos, sendo que as mais importantes são: barreira he- matoencefálica (protege o sistema nervoso central) e a barreira placentária (protege o feto). Além disso, a ação tóxica de algumas substâncias químicas pode ser pro- longada devido ao seu acúmulo em reservatórios teciduais. Por exemplo, o chumbo é um metal tóxico que pode se acumular durante anos nos ossos e ser liberado tardiamente. Biotransformação Para compreender a biotransformação, é importante lembrar que o com- portamento toxicocinético das substâncias químicas dependem de suas pro- priedades físico-químicas. Normalmente, as substâncias lipofílicas são ab- sorvidas de modo mais efi ciente, entretanto, não são facilmente excretadas e tendem a se acumular no organismo. Por outro lado, as substâncias hidrofílicas possuem outro comportamento, uma vez que sua absorção é mais difícil e sua excreção ocorre mais facilmente. Desse modo, a biotransformação é um mecanismo que altera a estrutura química das substâncias lipofílicas, facilitando a sua excreção. Em outras pala- vras, pode-se dizer que esse processo transforma substâncias polares e lipos- solúveis em metabólitos mais polares e hidrossolúveis. TOXICOLOGIA 26 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 26 04/02/2021 12:47:30 As reações de biotransformação são divididas em dois grupos: • Fase I (não sintética): são reações que conferem polaridade às substâncias tóxicas, aumentando a sua hidrofi licidade. Para isso, ocorre uma exposição ou inserção de grupamentos de funcionais polares, como grupos sulfi drilas (-SH), hidroxilas (-OH), amina (-NH2) ou carboxila (-COOH). Os produtos (metabólitos) dessas reações podem ser mais tóxicos que a substância original, devido ao processo de bioativação; • Fase II (sintética): alguns produtos da fase I precisam sofrer modifi cações adicionais para serem excretados. Desse modo, passam pela fase II, que serve para adicionar cofatores endógenos às moléculas provenientes da fase I por meio de ligação de grupos hidrofílicos (como o ácido glicurônico), criando con- jugados mais polares. Nessa fase, estão envolvidas duas enzimas: sintetase (síntese de cofatores) e transferase (transferência dos cofatores). O Quadro 2 mostra as principais reações de biotransformação. QUADRO 2. REAÇÕES DE BIOTRANSFORMAÇÃO Fase I Fase II • Oxidação; • Hidrólise; • Redução. • Glicuronidação; • Sulfotransferase; • Metilação; • Acetilação; • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. As enzimas que catalisam a biotransformação das substâncias tóxicas es- tão distribuídas pelo organismo, nos pulmões, rins, adrenais, pele, mucosa gas- trintestinal e, principalmente, no fígado. Alguns fatores podem inferir no mecanismo de biotransformação, sendo classifi cados em internos e externos. Os fatores internos estão relacionados ao próprio sistema biológico, como por exemplo, espécie/raça, fatores genéticos, gênero, idade e estado patológico. Entre os fatores externos estão as substân- cias que podem ativar ou inibir os sistemas enzimáticos. O Quadro 3 apresenta alguns exemplos de substâncias que podem atuar sobre o citocromo (CYP) P450, uma importante enzima responsável pelas reações de oxidação de inú- meras substâncias tóxicas. • Oxidação;• Oxidação; • Hidrólise; • Oxidação; • Hidrólise; • Redução. • Oxidação; • Hidrólise; • Redução. • Hidrólise; • Redução.• Glicuronidação; • Sulfotransferase; • Glicuronidação; • Sulfotransferase; • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. • Glicuronidação; • Sulfotransferase; • Metilação; • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. • Glicuronidação; • Sulfotransferase; • Metilação; • Acetilação; • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. • Glicuronidação; • Sulfotransferase; • Metilação; • Acetilação; • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. • Sulfotransferase; • Metilação; • Acetilação; • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. • Acetilação; • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos. • Conjugação com a glutationa; • Conjugação com aminoácidos.• Conjugação com aminoácidos. TOXICOLOGIA 27 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 27 04/02/2021 12:47:30 QUADRO 3. REAÇÕES DE BIOTRANSFORMAÇÃO Citocromo P450 Indutores Inibidores CYP1A HPAs; Benzopireno; Rifampicina. Fluvoxamina; Furafi lina. CYP2D Etanol;Isoniazida. Dissulfi ram. CYP3A Barbitúricos; Carbamazepina; Fenitoína; Rifampicina. Cetoconazol; Itraconazol; Eritromicina. Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, p. 17. (Adaptado). Excreção As substâncias químicas são eliminadas do organismo por um processo de- nominado excreção. Muitas vezes, as substâncias são biotransformadas em produtos mais hidrossolúveis, o que as tornam mais compatíveis para serem eliminadas do organismo. Os órgãos excretores mais representativos são os rins (via urinária), o trato digestivo (via fecal) e os pulmões (via pulmonar). É importante compreender que a urina excreta substâncias hidrossolúveis, enquanto as fezes eliminam substâncias não absorvidas no trato digestivo e que são excretadas pela bile. Já os pulmões são necessários para excreção de voláteis e gases. A excreção renal é um processo efi ciente para eliminar substâncias polares e hidrossolúveis pela urina. Basicamente, a formação da urina e excreção de substâncias envolve os seguintes mecanismos (Figura 2): • Filtração glomerular: as substâncias químicas são fi ltradas no glomé- rulo renal; • Secreção tubular: consiste na passagem de substâncias tóxicas do san- gue diretamente para a urina, nos túbulos proximais, por mecanismos de transporte ativo; • Reabsorção tubular: as substâncias lipossolúveis são reabsorvidas a partir do lúmen tubular (túbulo proximal) e transportadas de volta à circulação sistêmica. CYP1ACYP1ACYP1A CYP2DCYP2DCYP2D CYP3ACYP3A Benzopireno; CYP3A HPAs; Benzopireno; Rifampicina. HPAs; Benzopireno; Rifampicina. Benzopireno; Rifampicina. Benzopireno; Rifampicina. Etanol; Isoniazida. Rifampicina. Etanol; Isoniazida. Barbitúricos; Etanol; Isoniazida. Barbitúricos; Carbamazepina; Isoniazida. Barbitúricos; Carbamazepina; Fenitoína; Barbitúricos; Carbamazepina; Fenitoína; Rifampicina. Barbitúricos; Carbamazepina; Fenitoína; Rifampicina. Fluvoxamina; Carbamazepina; Fenitoína; Rifampicina. Fluvoxamina; Furafi lina. Carbamazepina; Rifampicina. Fluvoxamina; Furafi lina. Rifampicina. Fluvoxamina; Furafi lina. Dissulfi ram. Fluvoxamina; Furafi lina. Dissulfi ram.Dissulfi ram. Cetoconazol; Dissulfi ram. Cetoconazol; Itraconazol; Dissulfi ram. Cetoconazol; Itraconazol; Eritromicina. Cetoconazol; Itraconazol; Eritromicina. Cetoconazol; Itraconazol; Eritromicina. Itraconazol; Eritromicina.Eritromicina. TOXICOLOGIA 28 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 28 04/02/2021 12:47:31 Capilar peritubular Secreção tubular Túbulo proximal Filtração glomerular Arteríola aferente Reabsorção tubular Arteríola eferente Fármaco no sangue Urina 4 3 2 1 Figura 2. Etapas da excreção urinária. Fonte: GOLAN et al. 2018, p. 36. (Adaptado). A excreção pelo trato digestivo também é uma via importante de elimina- ção de substâncias químicas no organismo. Alguns agentes tóxicos passam pelo canal alimentar sem serem absorvidos e acabam sendo excretados pelas fezes, como o paraquat e o curare, que são produtos de biotransformação de diversas substâncias. Além disso, a excreção biliar envolve a eliminação de substâncias biotransformadas pelo fígado e que ingressam no intestino pela bile. Assim, o destino dessas substâncias tóxicas e de seus metabólitos, dependendo de suas propriedades físico-químicas, pode ser a excreção pelas fezes ou a reabsorção por meio de um processo chamado circulação êntero-hepática. TOXICOLOGIA 29 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 29 04/02/2021 12:47:32 A excreção pulmonar é responsável pela eliminação de substâncias gaso- sas e voláteis pelos pulmões, por meio de difusão simples. Em geral, a excre- ção de gases é inversamente proporcional à quantidade de sua solubilidade no sangue (taxa de absorção), ou seja, quanto menor o coefi ciente de solubilidade, mais rápida é a excreção pelos pulmões. Do mesmo modo, as substâncias pou- co solúveis no sangue devem ter a secreção limitada pela perfusão (circulação), enquanto as substâncias altamente solúveis devem ter a excreção limitada pela ventilação (respiração). EXEMPLIFICANDO O bafômetro, utilizado para a determinar a quantidade de etanol presente no plasma, é uma aplicação do princípio da proporcionalidade entre a quantidade de etanol eliminada e a sua pressão de vapor. As substâncias tóxicas também podem ser excretadas por outras vias, como pelo leite materno, saliva, suor e pelo fl uido cerebrospi- nal. A eliminação de toxicantes por essas vias dependem de alguns fatores, como a diferença de pH entre o plasma e as glândulas/tecidos, o pKa das substâncias, a lipossolubilida- de e a presença de transportes ativos. Toxicodinâmica A toxicodinâmica estuda os mecanismos da ação tóxica, ou seja, descreve o que a substância química faz no sistema biológico com base nos aspectos bioquímicos e moleculares. Desse modo, os dados obtidos são fundamentais para auxiliar na avaliação de risco e no desenvolvimento de produtos especí- fi cos, além de contribuir para o desenvolvimento de procedimentos preventi- vos e estratégias de tratamento. Além disso, os dados podem auxiliar na com- preensão sobre as substâncias tóxicas utilizadas em pesquisas científi cas. Assim como existem vários tipos de substâncias químicas com potencial tó- xico, existem também diversos mecanismos de ação. Basicamente, a substân- cia tóxica ou seu metabólito precisa atingir seu sítio de ação (ou tecido-alvo) em concentração adequada para provocar o efeito tóxico. As alterações provoca- das pelo efeito tóxico podem ser corrigidas por meio de mecanismos de reparo TOXICOLOGIA 30 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 30 04/02/2021 12:47:32 que atuam em nível molecular, celular e tecidual. Entretanto, podem ocorrer falhas no reparo, contribuindo para o aparecimento da toxicidade. O Diagrama 4 apresenta as etapas da toxicodinâmica no desenvolvimento da toxicidade. Fonte: DORTA et al., 2018, p. 80. (Adaptado). DIAGRAMA 4. ETAPAS DA TOXICODINÂMICA Agente tóxico Alcance do tecido-alvo Disfunção celular/injúria Interação com a molécula-alvo Alteração do ambiente biológico Falhas no reparo Dano Toxidade Mecanismo de ação dos agentes tóxicos Como visto, é muito importante conhecer os mecanismos moleculares e bioquímicos das substâncias tóxicas, bem como o seu sítio de ação, pois por meio dessas informações é possível defi nir as medidas preventivas e terapêu- ticas da intoxicação. Os mecanismos de ação mais conhecidos são: • Interação da substância tóxica com receptores: os receptores são cons- tituídos por macromoléculas ou partes delas que atuam como um elemento de comunicação para coordenar as funções celulares no organismo. Estão presen- TOXICOLOGIA 31 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 31 04/02/2021 12:47:32 tes nas membranas celulares, no citoplasma ou no núcleo. Algumas substân- cias tóxicas (S) se ligam aesses receptores (R) para desencadear seus efeitos tóxicos, mas, em geral, essa ligação é reversível, ou seja: (R + S ⇆ RS) (1) Como exemplo, os fármacos do tipo atropina se ligam ao receptor musca- rínico no sistema nervoso autônomo e central, bloqueando a ação do neuro- transmissor acetilcolina; • Interferências nas funções de membranas excitáveis: as substâncias tóxicas podem interferir na manutenção e na estabilidade das membranas ex- citáveis, alterando a sua função. Existem vários meios pelos quais as substân- cias tóxicas podem agir nas membranas, por exemplo, bloqueando os canais de íons, aumentando a sua permeabilidade ou alterando a sua fluidez; • Inibição da fosforilação oxidativa: algumas substâncias tóxicas interferem na oxidação de carboidratos na síntese de adenosina trifosfato (ATP) e, assim, provocam seus efeitos tóxicos. Normalmente, esse mecanismo ocorre devido ao bloqueio do fluxo de oxigênio para os tecidos. A diminuição do ATP compromete a integridade da membrana, o funcionamento de bombas iônicas e a síntese de proteínas. E a diminuição da energia leva à perda das funções celulares; • Complexação com componentes enzimáticos: muitas substâncias quí- micas agem como inibidores enzimáticos, como os inseticidas fosforados (ini- bem as colinesterases), o cianeto (age sobre as enzimas envolvidas na respira- ção celular), o cádmio (inibe o citocromo P450), o monóxido de carbono (age no citocromo oxidase), entre outros; • Complexação com proteínas: algumas substâncias e seus metabólitos podem interagir covalentemente com os sítios nucleofílicos das proteínas, como a aflatoxina B1, o paracetamol, tetracloreto de carbono, entre outros; • Complexação com lipídios: a peroxidação lipídica é um mecanismo de morte celular provocado por substâncias tóxicas. Em geral, o processo de peroxidação lipídica promove a deterioração oxidativa dos ácidos graxos poli-insaturados e, consequentemente, pode ocorrer a ruptura das estruturas celulares; TOXICOLOGIA 32 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 32 04/02/2021 12:47:32 • Complexação com ácidos nucleicos: as substâncias tóxicas (agentes ele- trofílicos) podem interagir com o DNA se ligando aos sítios nucleofílicos e, as- sim, alterar a expressão de produtos gênicos necessários para a sobrevivência das células. Além disso, algumas substâncias tóxicas também podem interagir covalentemente com os sítios nucleofílicos do RNA, comprometendo o proces- so de síntese proteica. Fatores determinantes da intoxicação Os efeitos tóxicos causados pelas substâncias químicas são consequências das alterações fi siológicas e bioquímicas normais dos órgãos. Assim, a exten- são da lesão é diretamente proporcional às concentrações do agente tóxico, podendo acarretar uma intoxicação mais leve, severa ou até mesmo não sofrer nenhuma alteração. A severidade dos efeitos tóxicos também pode variar de acordo com o ór- gão afetado, ou seja, os efeitos podem ser mais graves quando afetam órgãos vitais. Além disso, alguns órgãos são capazes de se regenerar (fígado), enquan- to outros não se regeneram (sistema nervoso). Em resumo, os fatores determinantes da intoxicação incluem: • Fatores relacionados à exposição: dose ou concentração da substância, a via de introdução e a frequência de exposição; • Fatores relacionados às propriedades físico-químicas da substância: solubilidade, estado físico, grau de ionização etc.; • Fatores relacionados ao organismo: espécie, fatores genéticos, idade, sexo, estado hormonal, estado patológico, entre outros; • Fatores relacionados ao ambiente: temperatura, pressão, radiações, umidade, entre outros. Avaliação da toxicidade A avaliação toxicológica das substâncias químicas envolve um conjunto de testes padronizados aceitos por agências regulamentadoras para investigar seus possíveis efeitos tóxicos em humanos. Normalmente, esses testes utili- zam animais de laboratório sob condições previamente estabelecidas. Entre- TOXICOLOGIA 33 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 33 04/02/2021 12:47:32 tanto, alguns métodos alternativos, que utilizam quantidades reduzidas de ani- mais ou modelos in vitro, também têm apresentado resultados toxicológicos semelhantes aos observados em estudos in vivo. É importante entender que os testes toxicológicos possuem o objetivo de caracterizar os efeitos tóxicos produzidos por uma substância química, toda- via, não demonstram a segurança da substância-teste. Os testes utilizados para a avaliação da toxicidade são: • Toxicidade aguda: a substância-teste é administrada em uma ou mais do- ses em um período de 24 horas. Após a administração, os animais são observa- dos por até 14 dias. Os resultados a partir dos estudados de toxicidade aguda fornecem informações importantes sobre o mecanismo de ação da substância, além de identificar órgãos ou sistemas sensíveis. Além disso, também permi- tem determinar se os efeitos tóxicos causados pela substância são reversíveis; • Toxicidade subcrônica: é um estudo realizado para obter informações sobre a toxicidade de uma substância química após exposições repetidas. O tempo desse teste é de pelo menos 21 dias, mas, normalmente, é realizado em 90 dias. Esse estudo é importante para estabelecer os níveis nos quais não se observam os efeitos tóxicos, identificar os órgãos afetados e deter- minar a severidade após as exposições repetidas. A observação dos animais após o período de tratamento é importante para determinar se efeitos ocor- reram devido ao acúmulo da substância ou não, bem como para estabelecer se os efeitos são reversíveis; • Toxicidade crônica: é um estudo realizado para determinar os efeitos tó- xicos da substância-teste após exposições repetidas, cujo tempo de duração deve ser superior a três meses; • Estudo dos efeitos locais sobre a pele e olhos: esses testes avaliam a irritação provocada por substâncias químicas sobre a pele e os olhos. Os parâ- metros utilizados para avaliar a irritação da pele são eritema, escaras, edema e corrosão. Já os parâmetros observados nos olhos, incluem as alterações da conjuntiva, córnea, íris e cristalino. Os testes de irritação podem ser: irritação local ou aguda (reposta de uma exposição única); irritação cumulativa (respos- ta de exposição repetida); irritação induzida fotoquimicamente (resposta pri- mária resultante de luz). É importante frisar que a irritação não reversível é aquela que persiste por mais de 14 dias após a exposição; TOXICOLOGIA 34 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 34 04/02/2021 12:47:32 • Sensibilização cutânea: esse teste é usado quando há possibilidade de contatos repetidos da substância com a pele; • Mutagênese: é um estudo usado para avaliar a capacidade de uma subs- tância química de induzir lesões (mutações) no material genético das células. Essas mutações podem afetar o indivíduo exposto, mas também podem ser transmitidas para as gerações futuras (transferência hereditária); • Carcinogênese: esses testes de carcinogenicidade são empregados para avaliar a capacidade de uma substância química de gerar câncer ou tumores. Algumas substâncias já são reconhecidas como carcinogênicas para o homem, como as aflatoxinas (micotoxina), benzeno, cloreto de vini- la, entre outros. Algumas substâncias vêm sendo estudadas e são classi- ficadas como provavelmente carcinogênicas, como o formaldeído, a sílica cristalina etc.; • Teratogênese: estuda a capacidade de uma substância causar alterações durante o desenvolvimento embrionário, ou seja, entre a concepção e o nas- cimento. Vale ressaltar que os efeitos dessas substâncias dependem de qual fase do desenvolvimento ocorreu a exposição. Desintoxicação A desintoxicação ou descontaminação é um processo que pode ser reali- zado em pacientes estabilizados. No entanto, os métodos e os procedimentos devem ser escolhidos de acordo com cada quadro de intoxicação, conside- rando as características da substância tóxica, a viade exposição e o quadro clínico do paciente. O primeiro passo da desintoxicação é interromper o processo de absorção da substância tóxica. Em muitos casos, é necessário realizar a descontami- nação de superfície por meio da lavagem dos olhos (exposições oculares) e da pele (exposições cutâneas). Essas lavagens devem ser feitas com solução salina ou água tépida até obter pH neutro. A descontaminação gastrintestinal (DGI) envolve um conjunto de méto- dos utilizados para prevenir ou reduzir a absorção da substância após ter sido ingerida. O Quadro 4 apresenta as principais estratégias para a DGI, suas indicações, contraindicações e procedimentos. TOXICOLOGIA 35 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 35 04/02/2021 12:47:32 QUADRO 4. MÉTODOS DE DESCONTAMINAÇÃO GASTRINTESTINAL Método Indicações Contraindicações Procedimentos Carvão ativado (CA) Casos de ingestão de substâncias bem adsorvidas pelo CA. Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias áreas desprotegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG. Crianças até 1 ano: 0,5 a 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças 1 a 12 anos: 1 g/ kg de peso (25 a 50 g); Adolescentes e adultos: 50 a 100 g/dose. Catárticos (CAT) Não há indicação formal. Crianças pequenas, idosos e pessoas debilitadas; Depleção de líquido e desequilíbrio eletrolítico; Íleo adinâmico; Obstrução e perfuração intestinal. Sulfato de magnésio: recomenda-se dose única no caso de não haver trânsito intestinal adequado com o uso de múltiplas doses de CA; Não misturar com o CA. Crianças: 2,5 mL/kg de solução a 10%; Adultos: 150 mL de solução a 10%. Lavagem gástrica (LG) Em situação excepcional, que evolve grande quantidade de agente comprovadamente tóxico ou com toxicidade potencializada por associação entre agentes. Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias aéreas não protegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG; Ingestão de ácidos e bases fortes. Lavagem via sonda orogástrica várias vezes até obter retorno de líquido claro, sem resíduos. Crianças: 10 mL/Kg de soro fi siológico (SF) morno por vez. Adultos: 200-300 mL de SF morno ou água morna por vez. Êmese ou indução de vômito com ipeca (IP) Deve ser evitada tanto no local quanto no serviço médico de emergência (SME). Ipeca pode atrasar a administração ou reduzir a efi cácia do CA e de antídotos por via oral, assim como da IC. Procedimento não recomendado. Irrigação intestinal completa (IC) Doses tóxicas de agentes pouco adsorvidos pelo CA. Vias aéreas não protegidas; Íleo adinâmico; Obstrução ou perfuração gastrintestinal; Vômitos incontroláveis; Instabilidade hemodinâmica. Administração de soluções eletrolíticas de polietilenoglicol até obter efl uente renal claro. Crianças de 1 a 6 anos: 500 mL/hora; Crianças de 6 a 12 anos: 1000 mL/hora; Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/hora. Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, n. p. (Adaptado). Carvão ativado (CA) Carvão ativado (CA) Carvão ativado (CA)ativado (CA) Casos de ingestão de substâncias bem Casos de ingestão de substâncias bem adsorvidas pelo CA. Casos de ingestão de substâncias bem adsorvidas pelo CA. Casos de ingestão de substâncias bem adsorvidas pelo CA. Catárticos Casos de ingestão de substâncias bem adsorvidas pelo CA. Catárticos (CAT) de substâncias bem adsorvidas pelo CA. Risco de aspiração do Catárticos (CAT) adsorvidas pelo CA. Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias áreas desprotegidas; Não há indicação Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias áreas desprotegidas; Risco de sangramento Não há indicação Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias áreas desprotegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG. Não há indicação formal. Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias áreas desprotegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG. Não há indicação formal. conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias áreas desprotegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG. Não há indicação doentes com depressão neurológica e vias áreas desprotegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG. Crianças até 1 ano: 0,5 a Crianças pequenas, áreas desprotegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG. Crianças até 1 ano: 0,5 a 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças pequenas, idosos e pessoas Risco de sangramento e perfusão do TDG. Crianças até 1 ano: 0,5 a 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças 1 a 12 anos: 1 g/ Crianças pequenas, idosos e pessoas debilitadas; Depleção de líquido Em situação Crianças até 1 ano: 0,5 a 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças 1 a 12 anos: 1 g/ kg de peso (25 a 50 g); Adolescentes e adultos: Crianças pequenas, idosos e pessoas debilitadas; Depleção de líquido e desequilíbrio Em situação Crianças até 1 ano: 0,5 a 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças 1 a 12 anos: 1 g/ kg de peso (25 a 50 g); Adolescentes e adultos: Crianças pequenas, idosos e pessoas debilitadas; Depleção de líquido e desequilíbrio eletrolítico; Íleo adinâmico; Obstrução e perfuração Em situação Crianças até 1 ano: 0,5 a 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças 1 a 12 anos: 1 g/ kg de peso (25 a 50 g); Adolescentes e adultos: 50 a 100 g/dose. Crianças pequenas, idosos e pessoas debilitadas; Depleção de líquido e desequilíbrio eletrolítico; Íleo adinâmico; Obstrução e perfuração Crianças até 1 ano: 0,5 a 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças 1 a 12 anos: 1 g/ kg de peso (25 a 50 g); Adolescentes e adultos: 50 a 100 g/dose. Depleção de líquido e desequilíbrio eletrolítico; Íleo adinâmico; Obstrução e perfuração Crianças até 1 ano: 0,5 a 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças 1 a 12 anos: 1 g/ kg de peso (25 a 50 g); Adolescentes e adultos: 50 a 100 g/dose. Depleção de líquido e desequilíbrio eletrolítico; Íleo adinâmico; Obstrução e perfuração intestinal. Sulfato de magnésio: 1 g/kg de peso (10 a 25 g); Crianças 1 a 12 anos: 1 g/ kg de peso (25 a 50 g); Adolescentes e adultos: 50 a 100 g/dose. Íleo adinâmico; Obstrução e perfuração intestinal. Sulfato de magnésio: recomenda-se dose única no caso de não haver trânsito intestinal Risco de aspiração kg de peso (25 a 50 g); Adolescentes e adultos: 50 a 100 g/dose. Obstrução e perfuração intestinal. Sulfato de magnésio: recomenda-se dose única no caso de não haver trânsito intestinal adequado com o uso de Risco de aspiração Obstrução e perfuração Sulfato de magnésio: recomenda-se dose única no caso de não haver trânsito intestinal adequado com o uso de múltiplas doses de CA; Risco de aspiração Sulfato de magnésio: recomenda-se dose única no caso de não haver trânsito intestinal adequado com o uso de múltiplas doses de CA; Não misturar com o CA. Crianças: 2,5 mL/kg de Risco de aspiração Sulfato de magnésio: recomenda-se dose única no caso de não haver trânsito intestinal adequado com o uso de múltiplas doses de CA; Não misturar com o CA. Crianças: 2,5 mL/kg de Risco de aspiração recomenda-se dose única no caso de não haver trânsito intestinal adequado com o uso de múltiplas doses de CA; Não misturar com o CA. Crianças: 2,5 mL/kg de solução a 10%; Adultos: 150 mL de Risco de aspiração única no caso de não haver trânsito intestinal adequado com o uso de múltiplas doses de CA; Não misturar com o CA. Crianças: 2,5 mL/kg de solução a 10%; Adultos: 150 mL de haver trânsito intestinal adequado com o uso de múltiplas doses de CA; Não misturar com o CA. Crianças: 2,5 mL/kg de soluçãoa 10%; Adultos: 150 mL de solução a 10%. múltiplas doses de CA; Não misturar com o CA. Crianças: 2,5 mL/kg de solução a 10%; Adultos: 150 mL de solução a 10%. Lavagem via sonda Não misturar com o CA. Crianças: 2,5 mL/kg de solução a 10%; Adultos: 150 mL de solução a 10%. Lavagem via sonda Adultos: 150 mL de solução a 10%. Lavagem via sonda Lavagem via sonda Lavagem via sonda Lavagem via sonda Lavagem gástrica (LG) Lavagem gástrica (LG) Lavagem gástrica (LG)gástrica (LG) Em situação excepcional, que quantidade de agente Em situação excepcional, que evolve grande quantidade de agente Em situação excepcional, que evolve grande quantidade de agente comprovadamente Em situação excepcional, que evolve grande quantidade de agente comprovadamente tóxico ou com Êmese ou indução de excepcional, que evolve grande quantidade de agente comprovadamente tóxico ou com toxicidade potencializada por Êmese ou indução de vômito com quantidade de agente comprovadamente tóxico ou com toxicidade potencializada por associação entre Êmese ou indução de vômito com ipeca (IP) quantidade de agente comprovadamente tóxico ou com toxicidade potencializada por associação entre indução de vômito com ipeca (IP) comprovadamente toxicidade potencializada por associação entre agentes. Risco de aspiração do conteúdo gástrico vômito com ipeca (IP) Deve ser evitada tanto potencializada por associação entre agentes. Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica Deve ser evitada tanto potencializada por associação entre agentes. Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias aéreas não Deve ser evitada tanto no local quanto no serviço médico de Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias aéreas não Risco de sangramento Deve ser evitada tanto no local quanto no serviço médico de emergência (SME). Irrigação Risco de aspiração do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias aéreas não protegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG; Deve ser evitada tanto no local quanto no serviço médico de emergência (SME). Irrigação intestinal do conteúdo gástrico em doentes com depressão neurológica e vias aéreas não protegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG; Ingestão de ácidos e Deve ser evitada tanto no local quanto no serviço médico de emergência (SME). Irrigação intestinal depressão neurológica e vias aéreas não protegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG; Ingestão de ácidos e Deve ser evitada tanto no local quanto no serviço médico de emergência (SME). depressão neurológica e vias aéreas não protegidas; Risco de sangramento e perfusão do TDG; Ingestão de ácidos e bases fortes. serviço médico de emergência (SME). Risco de sangramento e perfusão do TDG; Ingestão de ácidos e bases fortes. orogástrica várias vezes até obter retorno emergência (SME). Ipeca pode atrasar Doses tóxicas de Risco de sangramento e perfusão do TDG; Ingestão de ácidos e bases fortes. orogástrica várias vezes até obter retorno de líquido claro, sem Ipeca pode atrasar a administração ou reduzir a efi cácia do CA Doses tóxicas de agentes pouco Ingestão de ácidos e bases fortes. orogástrica várias vezes até obter retorno de líquido claro, sem Crianças: 10 mL/Kg de Ipeca pode atrasar a administração ou reduzir a efi cácia do CA e de antídotos por via oral, assim como da IC. Doses tóxicas de agentes pouco orogástrica várias vezes até obter retorno de líquido claro, sem resíduos. Crianças: 10 mL/Kg de soro fi siológico (SF) Ipeca pode atrasar a administração ou reduzir a efi cácia do CA e de antídotos por via oral, assim como da IC. Doses tóxicas de agentes pouco orogástrica várias vezes até obter retorno de líquido claro, sem resíduos. Crianças: 10 mL/Kg de soro fi siológico (SF) Adultos: 200-300 mL de SF morno ou água morna Ipeca pode atrasar a administração ou reduzir a efi cácia do CA e de antídotos por via oral, assim como da IC. Doses tóxicas de agentes pouco vezes até obter retorno de líquido claro, sem resíduos. Crianças: 10 mL/Kg de soro fi siológico (SF) morno por vez. Adultos: 200-300 mL de SF morno ou água morna Ipeca pode atrasar a administração ou reduzir a efi cácia do CA e de antídotos por via oral, assim como da IC. vezes até obter retorno de líquido claro, sem Crianças: 10 mL/Kg de soro fi siológico (SF) morno por vez. Adultos: 200-300 mL de SF morno ou água morna a administração ou reduzir a efi cácia do CA e de antídotos por via oral, assim como da IC. Vias aéreas não Crianças: 10 mL/Kg de soro fi siológico (SF) morno por vez. Adultos: 200-300 mL de SF morno ou água morna reduzir a efi cácia do CA e de antídotos por via oral, assim como da IC. Vias aéreas não protegidas; Íleo adinâmico; Crianças: 10 mL/Kg de soro fi siológico (SF) morno por vez. Adultos: 200-300 mL de SF morno ou água morna por vez. e de antídotos por via oral, assim como da IC. Vias aéreas não protegidas; Íleo adinâmico; Obstrução ou Adultos: 200-300 mL de SF morno ou água morna por vez. Procedimento não Vias aéreas não protegidas; Íleo adinâmico; Obstrução ou perfuração Adultos: 200-300 mL de SF morno ou água morna Procedimento não recomendado. Vias aéreas não protegidas; Íleo adinâmico; Obstrução ou perfuração SF morno ou água morna Procedimento não recomendado. Íleo adinâmico; Obstrução ou perfuração Procedimento não recomendado. Obstrução ou perfuração Procedimento não recomendado. Administração de soluções eletrolíticas de polietilenoglicol até obter Procedimento não recomendado. Administração de soluções eletrolíticas de polietilenoglicol até obter Administração de soluções eletrolíticas de polietilenoglicol até obter efl uente renal claro. Crianças de 1 a 6 anos: Administração de soluções eletrolíticas de polietilenoglicol até obter efl uente renal claro. Crianças de 1 a 6 anos: Administração de soluções eletrolíticas de polietilenoglicol até obter efl uente renal claro. Crianças de 1 a 6 anos: Administração de soluções eletrolíticas de polietilenoglicol até obter efl uente renal claro. Crianças de 1 a 6 anos: soluções eletrolíticas de polietilenoglicol até obter efl uente renal claro. Crianças de 1 a 6 anos: polietilenoglicol até obter efl uente renal claro. Crianças de 1 a 6 anos: Crianças de 1 a 6 anos: intestinal completa (IC) intestinal completa (IC) intestinal completa (IC)completa (IC) agentes pouco adsorvidos pelo CA. agentes pouco adsorvidos pelo CA. agentes pouco adsorvidos pelo CA. agentes pouco adsorvidos pelo CA. agentes pouco adsorvidos pelo CA. adsorvidos pelo CA. perfuração gastrintestinal; Vômitos incontroláveis; perfuração gastrintestinal; Vômitos incontroláveis; perfuração gastrintestinal; Vômitos incontroláveis; Instabilidade hemodinâmica. perfuração gastrintestinal; Vômitos incontroláveis; Instabilidade hemodinâmica. gastrintestinal; Vômitos incontroláveis; Instabilidade hemodinâmica. Vômitos incontroláveis; Instabilidade hemodinâmica. Vômitos incontroláveis; hemodinâmica. Crianças de 1 a 6 anos: Crianças de 6 a 12 anos: Crianças de 1 a 6 anos: 500 mL/hora; Crianças de 6 a 12 anos: Crianças de 1 a 6 anos: 500 mL/hora; Crianças de 6 a 12 anos: 1000 mL/hora; Adolescentes e adultos: Crianças de 1 a 6 anos: 500 mL/hora; Crianças de 6 a 12 anos: 1000 mL/hora; Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/hora. Crianças de 1 a 6 anos: 500 mL/hora; Crianças de 6 a 12 anos: 1000 mL/hora; Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/hora. Crianças de 1 a 6 anos: Crianças de 6 a 12 anos: 1000 mL/hora; Adolescentes e adultos: 1500 a 2000mL/hora. Crianças de 6 a 12 anos: 1000 mL/hora; Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/hora. Crianças de 6 a 12 anos: Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/hora. Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/hora. TOXICOLOGIA 36 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 36 04/02/2021 12:47:33 Os efeitos nocivos de algumas substâncias tóxicas podem ser reduzidos pelo uso de métodos que aceleram a sua eliminação do organismo. Entre os métodos mais utilizados para esses fi ns, considera-se: • Hemodiálise: esse método pode ser usado para acelerar a eliminação de substâncias tóxicas, desde que sejam atendidos alguns critérios, como baixa ligação a proteínas, pequeno volume de distribuição, baixa massa molecular e hidrossolubilidade da substância. Exemplos: metanol, fenobarbital e lítio; • Alcalinização urinária: esse método consiste em aumentar o pH da urina com o uso de bicarbonato de sódio que, quando administrado intravenosa- mente, é capaz de ionizar a substância tóxica para ser eliminada pela urina. O objetivo desse método é um pH urinário de 7,5 a 8. A desintoxicação também pode ser realizada com o uso de antídotos, que promovem o antagonismo ou a inati- vação química de uma substância química após a sua absorção. O Quadro 5 apresenta alguns antídotos e suas respectivas indicações. QUADRO 5. MÉTODOS DE DESCONTAMINAÇÃO GASTRINTESTINAL Antídoto Intoxicação por Acetilcisteína Paracetamol. Atropina, sulfato Pesticidas organofosforadose carbamatos. Azul de metileno Metemoglobinemia. Dimercaprol (BAL) Chumbo, mercúrio e arsênio. Fumazenil Benzodiazepínicos. Naloxona, cloridrato Opioides. Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, n. p. (Adaptado). AcetilcisteínaAcetilcisteínaAcetilcisteína Atropina, sulfato Acetilcisteína Atropina, sulfatoAtropina, sulfatoAtropina, sulfato Azul de metileno Atropina, sulfato Azul de metileno Atropina, sulfato Azul de metileno Dimercaprol (BAL) Azul de metileno Dimercaprol (BAL) Azul de metileno Dimercaprol (BAL)Dimercaprol (BAL)Dimercaprol (BAL) Fumazenil Dimercaprol (BAL) Fumazenil Naloxona, cloridrato Fumazenil Naloxona, cloridrato Paracetamol. Pesticidas organofosforados Naloxona, cloridrato Paracetamol. Pesticidas organofosforados Naloxona, cloridrato Paracetamol. Pesticidas organofosforados Naloxona, cloridrato Paracetamol. Pesticidas organofosforados e carbamatos. Naloxona, cloridrato Paracetamol. Pesticidas organofosforados e carbamatos. Metemoglobinemia. Pesticidas organofosforados e carbamatos. Metemoglobinemia. Pesticidas organofosforados e carbamatos. Metemoglobinemia. Chumbo, mercúrio e arsênio. Pesticidas organofosforados e carbamatos. Metemoglobinemia. Chumbo, mercúrio e arsênio. Pesticidas organofosforados Metemoglobinemia. Chumbo, mercúrio e arsênio. Metemoglobinemia. Chumbo, mercúrio e arsênio. Metemoglobinemia. Chumbo, mercúrio e arsênio. Benzodiazepínicos. Chumbo, mercúrio e arsênio. Benzodiazepínicos. Chumbo, mercúrio e arsênio. Benzodiazepínicos. Chumbo, mercúrio e arsênio. Benzodiazepínicos. Chumbo, mercúrio e arsênio. Benzodiazepínicos. Opioides. Benzodiazepínicos. Opioides.Opioides. TOXICOLOGIA 37 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 37 04/02/2021 12:47:34 Toxicidade ocupacional Os riscos ocupacionais podem ser provocados por uma grande diversidade de agentes químicos (material particulado, líquidos, gases e vapores), físicos (ruído, radiação ionizante e calor) e biológicos (vírus e bactérias) encontrados no ambien- te de trabalho que podem comprometer a saúde e o bem-estar do trabalhador. Com isso, surgiu a Toxicologia ocupacional, que estuda a toxicidade de vá- rios grupos de substâncias químicas presentes em processos produtivos, bem como os riscos que podem causar à saúde do trabalhador. Tais substâncias químicas incluem metais, agrotóxicos, solventes, gases e vapores irritantes e asfi xiantes. Além disso, considera-se os riscos das exposições a misturas com- plexas que são consideradas muito perigosas. Geralmente, as doenças relacionadas ao ambiente de trabalho estão en- volvidas com três vias de intoxicação: inalação, ingestão ou absorção térmica. O monitoramento da exposição ocupacional é uma importante ferramenta utilizada pelos programas que buscam a prevenção dos riscos à saúde do tra- balhador. Esse tipo de monitoramento é padronizado pela Norma Regulamen- tadora N. 9 (NR-9), do Ministério do Trabalho (1978), que estabelece diretrizes e parâmetros mínimos para avaliação da exposição ocupacional aos diferentes tipos de agentes tóxicos. No entanto, é necessário associar essa atividade com outros tipos de monitoramento, conforme apresentado no Diagrama 5. DIAGRAMA 5. ETAPAS DA TOXICODINÂMICA Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014, n. p. (Adaptado). Dose interna Efeitos Exposição ao xenobiótico Monitoramento ambiental Monitoramento biológico Monitoramento biológico e de efeito TOXICOLOGIA 38 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 38 04/02/2021 12:47:34 Monitorização ambiental e limites de exposição O monitoramento de exposição ocupacional é conhecido como monitoriza- ção ambiental, que se diferencia da monitorização biológica por realizar a obser- vação, medição e avaliação dos agentes tóxicos fora do organismo. Assim, o obje- tivo da monitorização ambiental consiste em identifi car e quantifi car a presença de substâncias tóxicas decorrentes da atividade profi ssional em seu ambiente de trabalho, comparando os resultados obtidos com referências apropriadas. Para a monitorização ambiental, é muito importante que a amostragem seja realizada de modo aleatório e sistemático ao longo do tempo, evitando medidas de exposição com erros de desvio. Os limites de exposição ocupacional (LEO) representam níveis aceitáveis de concentração ambiental de um agente tóxico ou de seus metabólitos. Esses parâ- metros costumam ser estabelecidos por agências regulatórias, mas também po- dem ser determinados por grupos de pesquisa ou organizações privadas, como a Occupational Safety and Health Administration (OSHA), que estabelece os padrões legais, nos Estados Unidos, conhecidos como Permissible Exposure Limits (PELs). A ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) é uma organização privada norte-americana que publica periodicamente os TVL (Thre- shold Limits Values – valores limites limiares), referentes às concentrações das substâncias químicas dispersas no ar. De modo geral, os TVL estabelecem suas diretrizes com base nos efeitos de sensibilização respiratória, irritação sensorial, narcose e asfi xia. A lista de TLV é considerada o melhor guia de referência disponível mundial- mente, entretanto, não são padrões impostos legalmente. A Associação Brasilei- ra de Higienistas Ocupacionais (ABHO) é responsável pela tradução e divulgação desses parâmetros para todos os países de língua portuguesa. Existem diferen- tes tipos de TLV, tais como: • TLV-TWA (Time Weighted Average – Média ponderada pelo tempo): esta- belece limites para substâncias que produzem efeitos a médio e longo prazo em uma jornada normal de 8 h/dia ou 40 h/semana; • TLV-STEL (Short Term Expouse Limit – Limite de exposição de curto perío- do): estabelece os limites para exposição a curto período, sem causar irritação, lesão tecidual crônica ou irreversível e narcose (inconsciência) que comprometa TOXICOLOGIA 39 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 39 04/02/2021 12:47:34 a segurança. A exposição pode ser de 15 minutos, quatro vezes ao dia, com inter- valo de pelo menos 60 minutos; • TLV-C (Ceiling – Teto): se refere a concentrações que não devem ser excedi- das durante a jornada de trabalho, pois são substâncias de elevada toxicidade ou risco e podem causar efeitos tóxicos em um curto período de exposição. No Brasil, a Norma Regulamentadora N. 15 (NR-15), do Ministério do Traba- lho (1978), estabelece os limites de tolerância para caracterizar o grau de insalu- bridade decorrente da atividade profi ssional.Desse modo, o trabalhador deve receber um salário adicional (10, 20 ou 30% do salário-mínimo) se a exposição ocupacional ultrapassar esses valores. Vale ressaltar que a NR-15 se baseou nos limites da ACGIH, dos Estados Unidos, todavia, foi feita uma adaptação para a jornada de trabalho brasileira referente a 8 h/dia ou 48 h/semana, reduzindo 78% de todos os valores. Os níveis de ação (NA) se refere ao limite de concentração ambiental a par- tir do qual o trabalhador é considerado exposto a uma determinada substância química. De modo geral, esse nível é de 50% do limite de exposição ocupacional, ou seja: NA = LEO 2 (2) Monitorização biológica e limites biológicos O monitoramento biológico (biomonitoramento) consiste em determi- nar a quantidade de agentes tóxicos e/ou de seus metabólitos nos tecidos, nas secreções, no ar expirado dos indivíduos expostos, bem como avaliar os riscos à saúde. Nesses estudos, as análises podem ser feitas em matrizes biológicas, como por exemplo, urina, sangue, fezes, cabelo, unhas, leite materno etc. CITANDO “O ‘ensaio do cometa’ e a avaliação de troca de cromátides irmãs são testes que têm sido utilizados, no monitoramento biológico, para avaliar os riscos decorrentes da exposição às substâncias químicas genotóxicas e podem ser ferramentas úteis na aplicação de medidas contra o risco carcinogênico no ambiente de trabalho” (OGA; CAMAR- GO; BATISTUZZO, 2014, p. 260). TOXICOLOGIA 40 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 40 04/02/2021 12:47:34 As avaliações biológicas são definidas como indicadores biológicos, bioin- dicadores ou biomarcadores, cujo principal objetivo é detectar alterações biológicas a nível bioquímico, genético e/ou molecular. Os parâmetros medi- dos no monitoramento biológico estão diretamente relacionados aos efeitos adversos à saúde, permitindo uma melhor avaliação dos riscos do que a de- terminada pelo monitoramento ambiental. Além disso, esse monitoramento pode ser realizado para avaliar a eficiência das medidas de proteção indivi- dual, como o uso de luvas e máscaras. No entanto, o monitoramento biológico tem algumas desvantagens, sen- do uma delas relacionada ao elevado número de substâncias químicas no se- tor industrial que acaba limitando número de indicadores disponíveis devido à escassez de informações importantes para esses estudos, como as caracte- rísticas toxicocinéticas e toxicodinâmicas das substâncias. Os indicadores biológicos são parâmetros utilizados para acompanhar a evolução dos eventos relacionados à exposição ao agente tóxico no orga- nismo que, muitas vezes, pode ser útil para detectar doenças precocemente. Vale ressaltar que os indicadores biológicos não devem ser usados como um único parâmetro para o diagnóstico de intoxicações, pois esse deve ser feito por um médico do trabalho que deve correlacionar os dados do bioindicador com as manifestações clínicas do paciente. Existem três tipos de indicadores biológicos: • Indicadores biológicos de dose interna: usados para medir, de modo indireto, a concentração de uma substância química no seu sítio de ação, ou seja, no local dentro do organismo que ocorre o efeito. Esses parâmetros po- dem ser um indicativo de uma simples exposição a uma substância química, do seu acúmulo (exposição acumulativa) ou da dose interna “real” (substân- cias biologicamente ativas). Para essa categoria de bioindicadores é muito importante conhecer os aspectos toxicocinéticos da substância em questão, uma vez que muitas delas são produtos do processo de biotransformação que são excretados na urina dos trabalhadores; • Indicadores biológicos de efeito: é útil para prevenção de intoxicações decorrentes da exposição ocupacional, pois servem para mostrar os efeitos ainda não nocivos, ou seja, que não estão associados às alterações da função celular. Seu uso é feito com base nos aspectos toxicodinâmicos da substância TOXICOLOGIA 41 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 41 04/02/2021 12:47:34 estudada, todavia, a utilização é limitada devido às incertezas sobre essas características. Existem dois subtipos de bioindicadores de efeito: • Indicadores de efeito crítico (alterações reversíveis ou irreversíveis em órgãos críticos); • Indicadores de efeito pré-clínico (alterações ainda reversíveis no órgão- -alvo seguida de manifestações clínicas); • Indicadores biológicos de suscetibilidade: demonstram as alterações na absorção, na distribuição e nas interações como macromoléculas, além de evidenciar a capacidade de produzir modificações no organismo. No Brasil, os limites biológicos de exposição são definidos como valor de referência (VR) e índice biológico máximo permitido (IBMP). A Norma Re- gulamentadora N. 7 (NR-07), do Ministério do Trabalho (1978), apresenta uma lista de parâmetros referente às substâncias químicas que os trabalhadores estão ocupacionalmente expostos, além de recomendar os indicadores bioló- gicos, o valor do IBMP, o método analítico e os dados para sua interpretação. Os valores de referência são fundamentais para o monitoramento biológi- co, uma vez que as concentrações das substâncias químicas estão presentes no material biológico independente da exposição ocupacional. Sendo assim, os dados obtidos pela avaliação dos indivíduos expostos devem ser compara- dos com os valores de referência, pois são considerados normais. TOXICOLOGIA 42 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 42 04/02/2021 12:47:34 Sintetizando Nessa unidade, vimos que a Toxicologia é uma ciência que evoluiu acom- panhando a história da civilização e passou por muitos acontecimentos e avanços tecnológicos. Assim, podemos dizer que a Toxicologia é uma ciência multidisciplinar que estuda os efeitos tóxicos causados por substâncias quí- micas sobre os organismos vivos. Além disso, abrange várias áreas de apli- cação, como Toxicologia ambiental, Toxicologia de alimentos, Toxicologia de medicamentos, Toxicologia social e Toxicologia ocupacional. As substâncias tóxicas podem ser classificadas com base em suas carac- terísticas químicas, ação tóxica, estado físico etc. Já os eventos envolvidos na intoxicação são divididos em quatro fases: exposição, toxicocinética, toxico- dinâmica e clínica. Como vimos, a toxicocinética estuda o comportamento do agente tóxico dentro dos organismos, relacionando os processos de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação. A toxicodinâmica estuda os mecanismos de ação das substâncias tóxicas sobre o sistema biológico. Os mecanismos de ação mais conhecidos estão re- lacionados à interação da substância tóxica com receptores, às interferências nas membranas excitáveis, à inibição da fosforilação oxidativa e à complexa- ção com biomoléculas. Os procedimentos de desintoxicação podem ajudar na recuperação de pa- cientes intoxicados com substâncias tóxicas. Os métodos mais utilizados são: descontaminação de superfície, descontaminação gastrintestinal, aceleração da eliminação e uso de antídotos adequados. Por fim, abordamos a toxicidade ocupacional, que estuda as substâncias químicas que estão presentes em ambientes de trabalho, cujas informações contribuem para os programas de controle e prevenção de riscos à saúde do trabalhador. TOXICOLOGIA 43 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 43 04/02/2021 12:47:34 Referências bibliográficas AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS – ACGIH. Threshold limit values for chemical substances and physical agents and bio- logical exposure indices. Cincinnati: ACGIH, 2006. BRASIL. Ministério do Trabalho. Escola Nacional de Inspeção do Trabalho – ENIT. NR-7: Programa de controle médico de saúde ocupacional. 08 jun. 1978. Dispo- nível em: <https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR- 07.pdf>. Acesso em: 10 set. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho. Escola Nacional de Inspeção do Trabalho – ENIT. NR-9: Avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos,quí- micos e biológicos. 08 jun. 1978. Disponível em: <https://enit.trabalho.gov.br/ portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf>. Acesso em: 10 set. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho. Escola Nacional de Inspeção do Trabalho – ENIT. NR-15: Atividades e operações insalubres. 08 jun. 1978. Disponível em: <ht- tps://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-15-atualiza- da-2019.pdf>. Acesso em: 10 set. 2020. BRUNTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLL, B. As bases farmacológicas da te- rapêutica de Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019. DORTA, D. J. et al. Toxicologia forense. São Paulo: Blucher, 2018. GOLAN, D. E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farma- cologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. KLAASSEN, C. D.; WATKINS III, J. B. Fundamentos em Toxicologia de Casarett e Doull. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. LADOU, J.; HARRISON, R. J. (Orgs.). CURRENT medicina ocupacional e ambien- tal: diagnóstico e tratamento. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2006. MOREAU, R. L. M.; SIQUEIRA, M. E. P. B. Ciências farmacêuticas: Toxicologia ana- lítica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. OGA, S.; CAMARGO, M. M. A.; BATISTUZZO, J. A. O. Fundamentos de Toxicologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu São Paulo, 2014. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. TOXICOLOGIA 44 SER_FARMA_TOXICO_UNID1.indd 44 04/02/2021 12:47:34 AGENTES TÓXICOS: METAIS PESADOS, SOLVENTES ORGÂNICOS E AGENTES METEMOGLOBINIZANTES 2 UNIDADE SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 45 04/02/2021 11:20:34 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender a ação tóxica dos metais tóxicos: arsênio, chumbo e mercúrio; Conhecer os principais métodos de tratamento para exposição a metais; Entender os efeitos nocivos associados aos solventes orgânicos; Compreender a toxicocinética e a toxicodinâmica do benzeno, tolueno e xileno, bem como as manifestações clínicas e as formas de tratamento; Compreender o mecanismo de intoxicação dos agentes metemoglobinizantes, como a anilina e o nitrobenzeno. Metais pesados Arsênio Mercúrio Chumbo Tratamento e antidotização dos metais pesados Solventes orgânicos Benzeno Tolueno Xileno Agentes metemoglobinizantes Anilina Nitrobenzeno TOXICOLOGIA 46 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 46 04/02/2021 11:20:34 Metais pesados Os principais metais tóxicos ambientais e ocupacionais são o arsênio (As), chumbo (Pb), mercúrio (Hg), cádmio (Cd), cromo hexavalente (Cr+6), berílio (Be), cobalto (Co) e níquel (Ni), cujas principais características estão descritas no Quadro 1. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, do inglês Centers for Disease Control and Prevention) destaca o arsênio, o mercúrio e o chumbo como os três metais mais preocupantes, com base nos seus efeitos tóxicos e nos níveis de exposição humana. Fonte: BRUNTON et al., 2019. (Adaptado). Metal Fonte comum de exposição Sistemas de órgãos mais sensíveis à toxicidade Classifi cação da IARC As Água potável. Cardiovascular (CV), pele, vários outros. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Pb Tintas, solo. SNC, sangue, CV, renal. Grupo 2A, provavelmente carcinogênico. Hg Ar, alimentos. SNC, renal. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico (MeHg+); grupo 3, não classifi cável (Hg0, Hg2+). Cd Ocupacional, alimentos, fumo. Renal, respiratório. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Cr+6 Ocupacional. Respiratório. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Be Ocupacional, água. Respiratório. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Co Ocupacional, alimento, água. Respiratório, CV. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico. Ni Ocupacional. Respiratório, pele (alergia). Grupo 1, carcinogênico (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. Vale ressaltar que alguns metais são essenciais para o organismo humano, porém podem ser tóxicos em condições de super- dosagem. Como exemplo, podemos citar os efeitos tóxi- cos do cobre e do ferro, que atingem o fígado por meio da formação de radicais livres (ROS, espécies reativas de oxigênio). QUADRO 1. METAIS TÓXICOS COM EXPOSIÇÃO AMBIENTAL E OCUPACIONAL FREQUENTE As Pb Água potável.Água potável. Hg Água potável. Tintas, solo. Hg Água potável. Tintas, solo.Tintas, solo. Ar, alimentos. Cd Cardiovascular (CV), pele, Tintas, solo. Ar, alimentos. Cr Cardiovascular (CV), pele, Ar, alimentos. Ocupacional, alimentos, fumo. +6 Cardiovascular (CV), pele, vários outros. SNC, sangue, CV, renal. Ar, alimentos. Ocupacional, alimentos, fumo. Be Cardiovascular (CV), pele, vários outros. SNC, sangue, CV, renal. Ocupacional, alimentos, fumo. Ocupacional. Cardiovascular (CV), pele, vários outros. SNC, sangue, CV, renal. Ocupacional, alimentos, fumo. Ocupacional. Ocupacional, Co Cardiovascular (CV), pele, vários outros. SNC, sangue, CV, renal. alimentos, fumo. Ocupacional. Ocupacional, Cardiovascular (CV), pele, vários outros. SNC, sangue, CV, renal. SNC, renal. Ocupacional. Ocupacional, água. Ocupacional, Cardiovascular (CV), pele, SNC, sangue, CV, renal. SNC, renal. Renal, respiratório. Ocupacional, água. Ocupacional, alimento, água. Ni Grupo 1, carcinogênico para seres SNC, sangue, CV, renal. SNC, renal. Renal, respiratório. Ocupacional, Ocupacional, alimento, água. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. SNC, renal. Renal, respiratório. Ocupacional, alimento, água. Ocupacional. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Renal, respiratório. Respiratório. Ocupacional, alimento, água. Ocupacional. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2A, provavelmente Renal, respiratório. Respiratório. alimento, água. Ocupacional. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2A, provavelmente Renal, respiratório. Respiratório. Respiratório. Ocupacional. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2A, provavelmente Grupo 2B, possivelmente carcinogênico (MeHg Respiratório. Respiratório. Respiratório, CV. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2A, provavelmente carcinogênico. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico (MeHg não classifi cável (Hg Respiratório. Respiratório, CV. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2A, provavelmente carcinogênico. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico (MeHg não classifi cável (Hg Grupo 1, carcinogênico para Respiratório. Respiratório, CV. Respiratório, pele Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2A, provavelmente carcinogênico. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico (MeHg não classifi cável (Hg Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Respiratório, CV. Respiratório, pele Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2A, provavelmente carcinogênico. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico (MeHg não classifi cável (Hg Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para Respiratório, CV. Respiratório, pele (alergia). Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2A, provavelmente Grupo 2B, possivelmente carcinogênico (MeHg não classifi cável (Hg Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Respiratório, pele (alergia). humanos – fígado, bexiga e pulmões. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico (MeHg ); grupo 3, não classifi cável (Hg Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para Respiratório, pele (alergia).Grupo 2B, possivelmente ); grupo 3, não classifi cável (Hg , Hg Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Respiratório, pele ); grupo 3, , Hg2+ Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 2B, possivelmente ); grupo 3, ). Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 2B, possivelmente (compostos Ni solúveis); grupo 2B, Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico. Grupo 1, carcinogênico (compostos Ni solúveis); grupo 2B, Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico. Grupo 1, carcinogênico (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico. Grupo 1, carcinogênico (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. Grupo 1, carcinogênico para seres humanos – pulmões. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico. Grupo 1, carcinogênico (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. seres humanos – pulmões. Grupo 2B, possivelmente carcinogênico. Grupo 1, carcinogênico (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. Grupo 2B, possivelmente Grupo 1, carcinogênico (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. Grupo 1, carcinogênico (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. (compostos Ni solúveis); grupo 2B, possivelmente carcinogênico (Ni metálico) – pulmões. TOXICOLOGIA 47 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 47 04/02/2021 11:20:35 Arsênio O arsênio (As) é um metaloide que pode ser encon- trado na forma orgânica ou inorgânica. De modo geral, os compostos inorgânicos são os mais preo- cupantes para o homem, principalmente como pentavalentes (As5+ ou arsenato) e trivalentes (As3+ ou arsenito). A forma gasosa do arsênio, denominada arsina (AsH3), é um agente hemolítico de alta potência. Vale considerar que a exposição aos compostos inorgânicos de arsênio pode ocorrer devido à ingestão de água potável e alimentos (frutos do mar) contaminados. A exposição ocupacional ao arsênio, no entanto, ocorre na fa- bricação de produtos agrícolas, como herbicidas e praguicidas. Além disso, o arsênio também pode ser produzido pela queima de carvão e pela mineração. Dessa forma, o arsênio pode ser absorvido pelas vias pulmonar, gastrin- testinal e dérmica. Uma vez absorvido, ele passa para a corrente sanguínea e atinge diversos órgãos, principalmente o fígado, rins, músculos e cérebro. Também capaz de se acumular na pele, cabelos e unhas, o arsênio se liga aos grupos sulfi drilas (-SH) presentes nos tecidos queratinizados. Seu me- tabolismo ocorre por metilação, principalmente no fígado, resultando na produção de dois metabólitos, o ácido monometilarsênico (AMM) e o áci- do dimetilarsênico (ADM). Esses metabólitos, juntamente com o arsênio residual, são eliminados pela urina. Os compostos arseniacais exercem seus efeitos tóxicos por meio de múl- tiplos mecanismos. O mecanismo de toxicidade do As5+ está relacionado à substituição do fosfato pelo arsenato na bomba de sódio e no sistema de transporte de íons dos eritrócitos humanos. Assim, o arsênio exerce seus efeitos tóxicos por meio de várias vias metabólicas. Ressalta-se ainda que a arsenólise, um mecanismo caracterizado pela diminuição da síntese de ATP, é causada pela interação entre o arsênio e a enzima gliceraldeído-3-fosfato. Além disso, o arsênio pode induzir estresse oxidativo e alterações na expres- são gênica e na comunicação celular. Já o mecanismo de toxicidade do As3+ acontece por sua interação com grupos funcionais específi cos em enzimas, receptores ou coenzimas, tais como tióis ou sulfi drilas. TOXICOLOGIA 48 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 48 04/02/2021 11:20:35 A intoxicação aguda ocorre após a ingestão acidental, suicida ou deliberada. Minutos a horas após a exposição a altas doses de arsênio, pode surgir uma série de sinais e sintomas que afetam muitos sistemas. Os efeitos gastrintesti- nais mais comuns são náuseas, vômito, diarreia e dor abdominal. Sabe-se que o derrame capilar difuso e a perda gastrintestinal de líquidos podem provocar gastrenterite hemorrágica, hipotensão, taquicardia, choque e morte. Já os efei- tos cardiopulmonares, como a miocardiopatia congestiva, edema pulmonar car- diogênico ou não cardiogênico, arritmias e intervalo de QT prolongado, podem aparecer imediatamente ou após algumas semanas. Além disso, a acidose me- tabólica e rabdomiólise são efeitos cardiovasculares que também podem estar presentes. Em relação ao estado mental, é possível observar letargia, agitação ou delírio. No entanto, o efeito neurológico mais comum é a neuropatia senso- rimotora periférica, que pode levar à fraqueza muscular, paralisia e, em casos graves, à insuficiência respiratória neuromuscular. O primeiro efeito hematológi- co é a pancitopenia (leucopenia e anemia), seguido pelo surgimento de pontilha- dos basofílicos de eritrócitos. O surgimento das linhas de Aldrich-Mee (estrias brancas e transversais nas unhas) é um sinal clássico da intoxicação aguda, que avança ao longo das semanas e meses. A intoxicação crônica também pode resultar em sinais e sintomas mul- tissistêmicos, cujos efeitos incluem fadiga, indisposição, perda de peso, gas- trenterite, anemia (ocasionalmente megaloblástica) e leucopenia, neuropatia sensorimotora periférica, elevação das transaminases hepáticas e insuficiência vascular periférica. Dentre as lesões cutâneas mais características estão a hi- perpigmentação (“pingos de chuva”) e hiperacetose, envolvendo mãos e pés. De acordo com a classificação da Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC), o arsênio é um agente carcinogênico humano conhecido (Grupo 1) tanto por ingestão quanto por inalação. Desse modo, o arsênio está associado ao desenvolvimento de câncer de pulmão, bexiga, pele (por exemplo, carcinomas basocelulares e carcinomas de células escamosas) e até em outras localizações. O tratamento da intoxicação aguda por arsênio se baseia na descontamina- ção intestinal e medidas de suporte para controlar a hipotensão, a perda de flui- dos, a acidose metabólica e outros distúrbios cardiovasculares. A quelação apre- senta maior eficiência se for realizada minutos após a exposição, utilizando 3 a 5 mg/kg de unitiol ou dimercaprol (BAL) por via intramuscular a cada quatro a seis TOXICOLOGIA 49 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 49 04/02/2021 11:20:35 horas (KATZUNG; TREVOR, 2017). Já na intoxicação crônica, a melhor abordagem é a interrupção da exposição, seguida pelos cuidados inespecífi cos de suporte. Mercúrio O mercúrio (Hg) é um metal que permanece no estado líquido à temperatu- ra ambiente. Ele é convertido em três formas primárias: mercúrio elementar (mercúrio metálico, Hg0), sais de mercúrio inorgânico (por exemplo, cloreto de mercúrio, HgCl2) e mercúrio orgânico (por exemplo, metilmercúrio). A Figura 1 mostra o movimento do mercúrio no ambiente. De modo geral, o mercúrio metálicoé liberado na atmosfera por fontes naturais (por exemplo, vulcões) e atividades humanas (por exemplo, queima de combustíveis fósseis). Na atmosfera, ele é foto-oxidado a mercúrio inorgânico. Desse modo, as águas da chuva capturam o mercúrio oxidado e depositam o elemento no ambiente aquático, que é absorvido e biometilado (MeHg2+) pelos organismos marinhos. Esses organismos contaminados entram na cadeia alimentar, resultando no acúmulo de mercúrio em animais e em seres humanos. Figura 1. Movimentação do mercúrio no ambiente. Fonte: BRUNTON et al., 2019, p. 1606. (Adaptado). Vaporização (natural ou industrial) Micro-organismos Hg0 O2, luz MeHg2+ MeHg2+Hg2+ Hg2+ Chuva Hg0 TOXICOLOGIA 50 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 50 04/02/2021 11:20:35 CITANDO “Duas epidemias sérias de envenenamento por mercúrio orgânico ocorre- ram devido à contaminação ambiental de fontes alimentares. O vazamento de resíduos de mercúrio em uma planta química localizada na baía de Minamata, no Japão, provocou o acúmulo de mercúrio metílico em peixes e frutos do mar. A doença de Minamata resultou em alterações neuro- lógicas e defeitos de nascimento em milhares de pessoas que residiam na área afetada. Da mesma forma, a distribuição de grãos contaminados com fungicidas de mercúrio orgânico envenenou aproximadamente 50 mil pessoas no Iraque” (LADOU; HARRISON, 2016, p. 476). O mecanismo de toxicidade do mercúrio está relacionado a sua alta afinidade por grupos sulfidrilas de proteínas nas células, que provocam inibição enzimática e alterações patológicas em suas membranas. Os principais sinais e sintomas da intoxicação por mercúrio dependem em grande parte, da forma química do metal, bem como da via e da intensidade de exposição. • Mercúrio elementar: a inalação aguda pode causar tosse, pneumonite inters- ticial e edema pulmonar não cardiogênico. Os sintomas iniciais incluem fraqueza, calafrios, gosto metálico, náuseas, vômitos, êmese, diarreia e dispneia. A exposição aguda e crônica apresentam efeitos no SNC similares, como tremores, labilidade emocional (irritabilidade, timidez, nervosismo), insônia, perda de memória, atrofia muscular, parestesia e déficit cognitivo. Na exposição crônica também é comum ocorrer lesão renal, taquicardia, pulso fraco, salivação intensa e gengivoestomatite. • Sais inorgânicos de mercúrio: a ingestão pode provocar êmese, diarreia e dor abdominal. Na exposição aguda pode ocorrer gastrenterite hemorrágica corrosiva, necrose tubular renal, proteinúria e insuficiência renal (oligúria). A exposição crônica pode levar à toxicidade renal e no SNC. • Mercúrio orgânico: o SNC é o alvo primário da ação tóxica do metilmercúrio (MeHg+), cujos sintomas incluem déficit cognitivo, tremor muscular, distúrbios do movimento, ataxia, fala arrastada, parestesias, espasticidade (rigidez do músculo), distúrbios visuais e perda de audição. Os efeitos no sistema nervoso são progres- sivos e podem resultar em paralisia e morte. Em alguns casos, podem ocorrer eri- trodermia (dermatite esfoliativa), descamação e outras erupções cutâneas. O me- tilmercúrio tem como principal alvo o SNC e pode atravessar a barreira placentária, acumulando-se no feto. TOXICOLOGIA 51 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 51 04/02/2021 11:20:35 De modo geral, o tratamento da intoxicação por mercúrio é rea- lizado por cuidados de suporte intensivos e quelação imediata. Os agentes quelantes mais indicados são unitiol (via oral ou intravenosa), dimercaprol (via intramuscular) e succí- mero (via oral). Vale ressaltar que tanto a exposição aguda quanto a exposição crônica por esse metal podem responder às terapias com agentes quelantes. Figura 2. Efeitos tóxicos relacionados com as concentrações de mercúrio no ar e na urina. Fonte: BRUNTON et al., 2019, p. 1607. (Adaptado). A Figura 2 relaciona os efeitos tóxicos de acordo com os níveis de mercúrio no ar e na urina. Chumbo O chumbo (Pb) é um metal tóxico relacionado à exposição ocupacional em atividades de fundição, mineração, soldagem e produção de baterias e cerâmi- cas. Para crianças, a principal fonte de exposição está relacionada com inges- tão de lascas de tinta à base de chumbo das casas antigas. Concentração de mercúrio Órgão-alvo Ar (μg/m3) Urina (μg/L) Efeitos Efeitos agudos: pneumonite Eretismo; tremores grosseiros Gengivite Síndrome nefrótica Mercurialentis Diminuição dos escores de inteligência verbal Alterações do EEG (respostas menores e atenuadas) Faixa superior dos níveis urinários normais Enzimúria Tremor Neuropatia periférica Sistema nervoso Tecidos orais Rins Cristalino Sistema nervoso e rins Pulmão 1100 500 200 100 50 25 5 TOXICOLOGIA 52 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 52 04/02/2021 11:20:35 A exposição ao chumbo ocorre pela ingestão (via gastrointestinal) ou inalação (via pulmonar). Vale res- saltar que as crianças absorvem uma quantidade muito maior de chumbo ingerido (± 40%) do que os adultos (< 20%). Após a absorção, o chumbo se liga de forma estável à hemoglobina e, inicialmente, se distribui aos tecidos moles (epitélio tubular renal e fígado). Em seguida, ele é redistribuído e pode se acumular em compartimentos, como os ossos, dentes e cabelos. Além disso, pode atravessar facilmente as barreiras biológicas, principalmente a placenta. A excreção do chumbo ocorre principalmente pela urina, embora também possa ser excretado pela bile, fezes, leite e suor. A toxicidade do chumbo pode ser mediada por diversos mecanismos de ação, tais como: ina- tivação ou alteração de enzimas e outras macro- moléculas, interação com cátions essenciais (cálcio, ferro e zinco), inibição de enzimas envolvidas na síntese da heme, alteração do sistema neurotransmis- sor no cérebro (colinérgico, dopaminérgico e glutamatérgico), geração de radi- cais livres (estresse oxidativo), alteração na expressão gênica e na sinalização celular e rompimento de membranas celulares. De modo geral, o chumbo é considerado um agente tóxico inespecífico, pois pode afetar vários sistemas, como o nervoso, hematológico (anemias e ponti- lhados basofílicos nas hemácias), cardiovascular (hipertensão) e renal (fibrose intersticial crônica, hiperuricemia e gota). O Quadro 2 apresenta os principais efeitos tóxicos do chumbo, de acordo com nível de chumbo no sangue (NCS) em crianças e adultos. É importante ressaltar que a toxicidade do chumbo va- ria de acordo com a idade, uma vez que as crianças são mais sensíveis a efeitos neurológicos e em adultos são observadas neuropatias periféricas, nefropatia crônica e hipertensão. O chumbo atravessa facilmente a barreira placentária, podendo causar aborto e danos ao SNC do feto. TOXICOLOGIA 53 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 53 04/02/2021 11:20:36 NCS (μg/dL) Efeitos na saúde Crianças < 10 Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). .> 10 Efeitos imunológicos (aumento de IgE). > 15 Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. > 30 Depressão da velocidade de condução em nervos. > 40 Anemia. > 45 Justifi cado o tratamento por quelação. > 60 Cólicas. > 70 Encefalopatia. Adultos < 10 Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. > 20 Aumento da protoporfi na eritrocitária. > 30 Perda de audição; enzimúria/proteinúria. > 40 Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. > 50 Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. > 60 Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. > 100 Encefalopatia. QUADRO 2. EFEITOS DO CHUMBO DE ACORDO COM A CONCENTRAÇÃO NO SANGUE DE CRIANÇAS E ADULTOS < 10 .> 10.> 10 Inibição do desenvolvimentoneural; perda de audição; aumento da pressão > 15 Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; > 30 Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; > 40 Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; > 40 > 45 Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. > 45 > 60 Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. > 60 > 70 Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. > 70 Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Anemia. Justifi cado o tratamento por quelação. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Anemia. Justifi cado o tratamento por quelação. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; atraso na maturação sexual (meninas). Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Cólicas. Encefalopatia. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; Efeitos imunológicos (aumento de IgE). Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Cólicas. Encefalopatia. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Cólicas. Encefalopatia. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Encefalopatia. Inibição do desenvolvimento neural; perda de audição; aumento da pressão arterial; baixa estatura; inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Encefalopatia. Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. Depressão da velocidade de condução em nervos. Justifi cado o tratamento por quelação. Aumento da protoporfi rina eritrocitária; diminuição da vitamina D. < 10< 10 > 20 > 30 Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de > 40 Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de > 50 Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de > 50 Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); > 60 Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos > 100 Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular.Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Encefalopatia. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de hemoglobina; diminuição da fi ltração glomerular. Aumento da protoporfi na eritrocitária. Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Encefalopatia. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de Perda de audição; enzimúria/proteinúria. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Encefalopatia. Aumento da pressão arterial; Inibição das enzimas de síntese de Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos níveis de hormônios tireoidianos. Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Encefalopatia. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Encefalopatia. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. Neuropatia periférica (desmielinização segmental e degeneração axonal); diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Anemia; nefropatia tubular proximal e glomerulosclerose. Cólicas; justifi cado o tratamento por quelação. diminuição da fertilidade; efeitos neurocomportamentais; alteração dos Fonte: BRUNTON et al., 2019. (Adaptado). Para o tratamento, é importante remover a fonte de exposição e reali- zar as medidas de apoio para aliviar os sintomas. O uso de agentes quelado- res (succímero e unitiol) é recomenda- do em casos de sintomas agudos por intoxicação por chumbo, bem como em crianças e adultoscom NCS muito elevado (> 45 μg/dL e > 60 μg/dL, respectivamente) (BRUTON, 2019). Os agentes quelantes reduzem a concentração de chumbo no sangue e em determinados tecidos, além de aumentar sua excreção urinária. TOXICOLOGIA 54 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 54 04/02/2021 11:20:37 Tratamento e antidotização dos metais pesado As primeiras medidas de tratamento da intoxicação por metais pesados envolvem a remoção da fonte, métodos de descontaminação e medidas de su- porte para os sintomas. Além disso, podem ser utilizados os agentes quelan- tes, que são substâncias capazes de formar complexos (quelados) com os me- tais, normalmente como anéis de cinco ou seis membros. A formação desses complexos impede ou reverte a ligação dos metais aos constituintes celulares. Para obter um tratamento efi ciente, é necessário que o quelante apresente algumas características importantes, tais como: ser hidrossolúvel; resistente à biotransfomação; alcançar o local de armazenamento do metal; formar um complexo estável e atóxico com o metal tóxico; ser facilmente excretável, como complexo quelante-metal; e baixa afi nidade pelos metais essenciais, como, por exemplo, cálcio e zinco. Vale ressaltar que o tratamento com quelantes é indicado somente em casos de intoxicações agudas, uma vez que pode ocorrer a redução da toxicidade dos metais. Entretanto, o uso de quelantes após a exposição crônica não apresenta vantagens clínicas, podendo até prejudicar o estado de saúde do paciente. O ácido etilenodiaminotetracético dissódico cálcico (CaNa2EDTA) é um quelante usado no tratamento de intoxicação aguda por chumbo, sendo mais efi caz quando associado com o outro agente quelador, conhecido como di- mercaprol. No entanto, o CaNa2EDTA não é efi caz para o tratamento de intoxi- cação causada por mercúrio ou arsênico. A administração de CaNa2EDTA por via intramuscular (IM) apresenta boa absorção, mas pode ocorrer dor no local da aplicação. Outra opção é a administração de CaNa2EDTA diluído em 5% de glicose ou 0,9% de soro fi siológico pela via intravenosa (IV), sendo que essa di- luição é importante para evitar trombofl ebite. Vale ressaltar que o uso de CaNa2EDTA pode causar vários efeitos adversos, como mal-estar, fadiga, mialgia, cefaleia frontal, anorexia, entre outros. Entretanto, o uso repetido de altas doses de CaNa2EDTA pode provocar degene- ração das células renais (túbulo proximal), em consequência da quelação de metais essenciais como o zinco, o manganês e o ferro. TOXICOLOGIA 55 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 55 04/02/2021 11:20:37 O dimercaprol, também conhecido como BAL (do inglês, British anti-Lewisite), é um agente quelante capaz de formar complexos entre seus grupos sulfidrila e os metais que podem, então, ser excretados pela urina e pela bile. O dimercaprol é administrado por via parenteral (IM) para tratar de intoxicações agudas por arsênio, chumbo, ouro e mercúrio. No entanto, esse quelante não é indicado em casos de intoxicação por ferro, cádmio ou selênio, uma vez que seus complexos metálicos são mais tóxicos do que o próprio metal livre no organismo. Os efeitos adversos do dimercaprol incluem aumento da pressão arterial, taquicardia, ansiedade, cefaleia, rinorreia, salivação, conjunti- vite, sensação de queimação na boca e garganta, entre outros. O succímero (ácido 2,3-dimercaptossuccínico) é um quelante muito utili- zado no tratamento de crianças com plumbemia, isto é, quando os níveis de chumbo no sangue estão acima de 45 μg/dL. Além disso, o succímero tem sido utilizado para o tratamento de adultos intoxicados com chumbo, arsênio e mercúrio, mesmo não havendo estudos clínicos que comprovem a eficiên- cia dessas aplicações. Ele é eficaz pela via oral, não forma complexos com metais essenciais e sua natureza hidrofílica impede que os metais alcancem o cérebro e entrem nas células. Dessa forma, o succímero apresenta várias propriedades mais favoráveis, além de ser muito menos tóxico do que os ou- tros quelantes. A penicilamina é um quelante indicado para o tratamento da intoxicação por cobre devido à doença de Wilson, além de ser usada em outras intoxica- ções por metais pesados. No entanto, a ela não é a primeira opção para o tra- tamento de chumbo, mercúrio ou arsênio, devido a sua maior toxicidade e por ser menos potente e seletiva do que as outras opções. A dose habitual de pe- nicilamina é de 1 a 1,5 g/dia, dividida em 4 doses administradas por via oral. Seu uso pode causar lesões cutâneas, desidratação, reações hematológicas (leucopenia, anemia aplásica e agranulocitose), nefrotoxicidade (proteinúria e hematúria reversíveis), entre outros. A desferroxamina é uma substância natural isolada da bactéria Streptomyces pilosus, que possui afinidade pelo ferro férrico. No entanto, a des- ferroxamina não elimina o ferro da hemoglobina e dos citocromos. O Quadro 3 reúne algumas informações importantes para o uso de quelan- tes no tratamento de intoxicações por metais pesados. TOXICOLOGIA 56 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 56 04/02/2021 11:20:37 Solventes orgânicos Os solventes orgânicos fazem par- te de um grupo de compostos quími- cos orgânicos, formados por átomos de carbono e hidrogênio, cuja princi- pal propriedade está relacionada à capacidade de solubilizar, dispersar e diluir outras substâncias em seu meio. Diante dessas propriedades, os solventes orgânicos passaram a ser muito utilizados no meio ocupa- cional, representando um risco para a saúde dos trabalhadores. Os solventes orgânicos são divididos em classes químicas para facilitar os estudos toxicológicos, como está apresentado no Quadro 4. Quelante Metais primários quelados Orientações Dimercaprol Chumbo (Pb) Mercúrio (Hg) Arsênio (As) Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. EDTA Chumbo (Pb) Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Desferrozamina Ferro (Fe) Alumínio (Al) Administração por via parenteral. Penicilamina Cobre, adjuvante para Pb, Hg Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Succímero Chumbo, adjuvante para Hg, As Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. QUADRO 3. QUELANTES DE METAL PESADO DimercaprolDimercaprolDimercaprolDimercaprol Chumbo (Pb) EDTA Chumbo (Pb) Mercúrio (Hg) EDTA Chumbo (Pb) Mercúrio (Hg) Arsênio (As) Desferrozamina Chumbo (Pb) Mercúrio (Hg) Arsênio (As) Desferrozamina Mercúrio (Hg) Arsênio (As) Desferrozamina Arsênio (As) Desferrozamina Penicilamina Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; Chumbo (Pb) Desferrozamina Penicilamina Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois Chumbo (Pb) Penicilamina Succímero Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização Chumbo (Pb) Penicilamina Succímero Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergiaao amendoim, já que é Chumbo (Pb) Ferro (Fe) Succímero Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é Ferro (Fe) Alumínio (Al) Cobre, adjuvante para Succímero Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento Ferro (Fe) Alumínio (Al) Cobre, adjuvante para Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso Ferro (Fe) Alumínio (Al) Cobre, adjuvante para Chumbo, adjuvante Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do Alumínio (Al) Cobre, adjuvante para Pb, Hg Chumbo, adjuvante Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar Cobre, adjuvante para Pb, Hg Chumbo, adjuvante para Hg, As Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar Cobre, adjuvante para Chumbo, adjuvante para Hg, As Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar Cobre, adjuvante para Chumbo, adjuvante para Hg, As Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administrado por via oral; utilizado para quelar Chumbo, adjuvante para Hg, As Administrado por via parenteral; evitar em intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode Chumbo, adjuvante intoxicação por ferro ou cádmio, considerando que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode que o complexo é extremamente hepatotóxico; evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode Administrado por via oral, causa distúrbios evitar em intoxicação por metilmercúrio, pois facilita a entrada no SNC. Evitar a utilização em pessoas com alergia ao amendoim, já que é dissolvido em óleo de amendoim. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios em pessoas com alergia ao amendoim, já que é Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinaise erupções. Administrado por via parenteral; o tratamento crônico requer períodos “desligados” para possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar os níveis de chumbo no SNC. Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. possibilitar a redistribuição fora do osso. O uso isolado após dimercaprol remove o chumbo do compartimento extracelular e pode aumentar Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. compartimento extracelular e pode aumentar Administração por via parenteral. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode resultar em reações alérgicas. Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. Administrado por via oral; utilizado para quelar excesso de cobre na doença de Wilson; pode Administrado por via oral, causa distúrbios gastrintestinais e erupções. Administrado por via oral, causa distúrbios Administrado por via oral, causa distúrbios Fonte: TOY et al., 2015. (Adaptado). TOXICOLOGIA 57 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 57 04/02/2021 11:20:38 Classe química Exemplos Hidrocarbonetos alifáticos N-hexano, benzina. Hidrocarbonetos aromáticos Benzeno, tolueno, xileno. Hidrocarbonetos halogenados Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro-benzeno, cloreto de metileno. Álcoois Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Cetonas Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éteres Éter isopropílico, éter etílico. QUADRO 4. CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DOS SOLVENTES ORGÂNICOS Hidrocarbonetos alifáticosHidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos halogenados Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos halogenados Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos halogenados Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos halogenados Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos halogenados Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos halogenados Álcoois Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos halogenados Álcoois Cetonas Hidrocarbonetos aromáticos Hidrocarbonetos halogenados Álcoois Cetonas Hidrocarbonetos halogenados Cetonas Éteres Hidrocarbonetos halogenados Éteres Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro-Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro-Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro-Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. N-hexano, benzina. Benzeno, tolueno, xileno. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. N-hexano, benzina. Benzeno, tolueno, xileno. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. N-hexano, benzina. Benzeno, tolueno, xileno. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. N-hexano, benzina. Benzeno, tolueno, xileno. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. N-hexano, benzina. Benzeno, tolueno, xileno. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. N-hexano, benzina. Benzeno, tolueno, xileno. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Benzeno, tolueno, xileno. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Benzeno, tolueno, xileno. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- benzeno, cloreto de metileno. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Dicloretileno, tricloretileno, tetracloretileno, monocloro- Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Éter isopropílico, éter etílico. Metanol, etanol, isopropanol, butanol, álcool amílico. Metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona. Fonte: OGA, 2014, p. 279. (Adaptado). Os efeitos tóxicos causados pelos solventes orgânicos podem ser bastante variáveis, dependendo das propriedades físico-químicas e dos fatores que po- dem alterar as fases de intoxicação (exposição, toxicocinética, toxicodinâmica e clínica). As propriedades físico-químicas que podem infl uenciar a intensidade da exposição e as fases toxicocinéticas dos solventes orgânicos são: lipossolu- bilidade, coefi ciente de partição óleo/água, grau de ionização, ponto de ebuli- ção, densidade e velocidade de evaporação. A absorção (via pulmonar ou cutânea)e a distribuição dos solventes orgâ- nicos podem sofrer alterações por fatores ambientais, como, por exemplo, a temperatura, e por fatores individuais, como a dieta e ingestão de bebidas al- coólicas. A toxicidade dos solventes orgânicos está relacionada a sua biotrans- formação, que ocorre principalmente no fígado, mas também pode ocorrer nos pulmões, rins, medula óssea, dentre outros locais. Vale ressaltar que o princi- pal sistema enzimático envolvido na biotransformação dos solventes orgânicos é o sistema citocromo P-450. Por fi m, a excreção dos solventes pode ocorrer pela urina, na forma inalterada ou como metabólitos. • Segundo Macedo (2012), as características comuns na toxicidade dos sol- ventes orgânicos são: • Efeitos dérmicos devido à extração dos lipídeos da derme; • Efeitos hepatotóxicos, como a hepatite química, cirrose (na recuperação) e metabolismo reduzido de outras substâncias químicas; • Efeitos nefrotóxicos, como necrose tubular aguda e glomerulonefrite crônica; • Efeitos neurotóxicos, que podem ser divididos em agudos e crônicos. Os efeitos agudos incluem narcose, euforia, agitação, incoordenação motora, ataxia, disartria. TOXICOLOGIA 58 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 58 04/02/2021 11:20:38 E os efeitos de forma crônica podem estar relacionados à ocorrência de depres- são, desempenho psicomotor retardado, alteração da personalidade e défi cit de memória recente; • Toxicidade periférica, podendo causar neuropatia axonal dista associada a parestesias sensoriais precoces, como, por exemplo, dormências, perda da capacidade de receber estímulos dos músculos e tendões. Benzeno O benzeno (Figura 3) é usado como solvente e como intermediário na sín- tese de outros produtos químicos, como, por exemplo, a gasolina. Ele também é um agente químico empregado em diversas atividades industriais, como pe- troquímicas e siderúrgicas, que utilizam carvão mineral. Vale ressaltar que, no Brasil, o uso do benzeno como solvente industrial foi diminuindo progressiva- mente, devido à proibição do seu uso pela Portaria Interministerial n. 3 dos Ministérios da Saúde e do Trabalho, publicada em 1982. Figura 3. Estrutura química do benzeno. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/12/2020. O benzeno pode ser absorvido rapidamente por inalação (via pulmonar) ou ingestão (via oral). Parte do benzeno absorvido é excretado na forma inalterada pelo ar expirado e uma pequena parte é eliminada pela urina. A metabolização do benzeno ocorre principalmente a nível hepático e, em menor proporção, na medula óssea. Os metabólitos excretos pela urina são o ácido fenilmercaptúri- co (AFM), ácido trans, trans-mucônico (ATTM), catecol e hidroquinona. Benzeno C6H6 TOXICOLOGIA 59 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 59 04/02/2021 11:20:39 CITANDO “Em dezembro de 2001, por recomendação da Comissão Nacional Perma- nente do Benzeno (CNP-Bz), o governo brasileiro decidiu indicar a de- terminação do ácido trans, trans-mucônico urinário como biomarcador a ser utilizado no País, quando da realização da monitorização biológica da exposição ocupacional ao benzeno” (OGA, 2014, p. 285). Os principais efeitos tóxicos relacionados ao benzeno são: • Intoxicação aguda: depressão do SNC; exposição a 7500 ppm por 30 mi- nutos que pode ser letal; acima de 3000 ppm pode causar euforia, náuseas, problemas locomotores e coma; entre 250 e 500 ppm pode causar vertigem, tontura, cefaleia e náuseas. A ação irritante do benzeno pode levar ao desen- volvimento de edema pulmonar e hemorragias locais; • Intoxicação crônica: os sintomas iniciais incluem fadiga, palidez, cefa- leia, perda de apetite e irritabilidade. Lesão da medula óssea (ação mielotó- xica) e distúrbios hematológicos, como anemia aplástica, leucopenia, panci- topenia e trombocitopenia e leucemia (doença de Hodgkin, hemoglobinúria paroxística noturna, leucemia linfoide crônica, leucemia mieloide crônica e mieloma múltiplo). É importante entender que não existe tratamento específico para as intoxi- cações agudas ou crônicas com o benzeno. Sendo assim, o tratamento é ape- nas sintomático, como: • Lavagem gástrica, sem provocar o vômito, e administração de laxantes, em casos de ingestão acidental; • Se houver depressão respiratória, é recomendado promover respiração artificial e oxigenoterapia. Também pode ser administrado cafeína e benzoato de sódio para a estimulação dos centros respiratórios; • Se houver contato com o solvente, é necessário lavar o local contaminado com água em abundância; • Em intoxicações crônicas, são indicadas administração de anti-hemorrági- co, transfusão de sangue ou transplante de medula. Os métodos utilizados para avaliar a exposição ambiental e ocupacional do benzeno buscam determinar a concentração dessa substância química ou de seus metabólitos em amostras biológicas. O Quadro 1 mostra as vantagens e desvanta- gens dos biomarcadores utilizados para avaliar a exposição ao benzeno. TOXICOLOGIA 60 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 60 04/02/2021 11:20:39 Fonte: SANTOS et al., 2017. (Adaptado). Biomarcador Vantagens Desvantagens Benzeno no ar Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Amostra não homogênea. Benzeno no sangue Biomarcador específi co e sensível. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Benzeno urinário Biomarcador específi co e sensível. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Fenol urinário Biomarcador sensível. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. Ácido trans, trans-mucônico urinário Apresenta boa correlação com benzeno no ar; biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. Ácido fenilmercaptúrico urinário Biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Apresenta uma baixa concentração na urina; tabagismo como fator de confundimento. QUADRO 5. VANTAGENS E DESVANTAGENS DE BIOMARCADORES DE EXPOSIÇÃO AO BENZENO Específi co e sensível a baixas Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Biomarcador específi co Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Biomarcador específi co Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Biomarcador específi co Biomarcador específi co Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Biomarcador específi co e sensível. Biomarcador específi co Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Biomarcador específi co e sensível. Biomarcador específi co e sensível. Específi co e sensível a baixas concentrações no ambiente. Biomarcador específi co e sensível. Biomarcador específi co e sensível. Biomarcador sensível. concentrações no ambiente. Biomarcador específi co Biomarcador específi co e sensível. Biomarcador sensível. Apresenta boa correlação Biomarcador específi co Biomarcador específi co e sensível. Biomarcador sensível. Apresenta boa correlação Amostra não homogênea. Biomarcador específi co Biomarcador sensível. Apresenta boa correlação com benzeno no ar; biomarcador sensível e específi co da exposição a Amostra não homogênea. Amostra muito heterogênea; Biomarcador sensível. Apresenta boa correlação com benzeno no ar; biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Amostra não homogênea. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Biomarcador sensível. Apresenta boa correlação com benzeno no ar; biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. específi co da exposição a baixos Amostra não homogênea. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Apresentado na urina em uma Biomarcador sensível. Apresenta boa correlação com benzeno no ar;biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos Amostra não homogênea. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Apresenta boa correlação com benzeno no ar; biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos Amostra não homogênea. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Apresenta boa correlação com benzeno no ar; biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Amostra não homogênea. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Amostra não homogênea. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Amostra não homogênea. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. baixos níveis de benzeno. Ácido sórbico e tabagismo como Biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. Ácido sórbico e tabagismo como Biomarcador sensível e específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Amostra muito heterogênea; processo invasivo de coleta. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. específi co da exposição a baixos níveis de benzeno. Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. específi co da exposição a baixos Apresentado na urina em uma pequena fração inalterada. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. Ingestão de determinadas substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. Apresenta uma baixa concentração na urina; substâncias podem alterar as concentrações de fenol da urina. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. Apresenta uma baixa concentração na urina; tabagismo como fator concentrações de fenol da urina. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. Apresenta uma baixa concentração na urina; tabagismo como fator de confundimento. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. Apresenta uma baixa concentração na urina; tabagismo como fator de confundimento. Ácido sórbico e tabagismo como fatores de confundimento. Apresenta uma baixa concentração na urina; tabagismo como fator de confundimento. Apresenta uma baixa concentração na urina; tabagismo como fator de confundimento. Apresenta uma baixa concentração na urina; tabagismo como fator de confundimento. concentração na urina; tabagismo como fator de confundimento. Tolueno O tolueno (Figura 4), também co- nhecido como fenilmetano, metilben- zeno, monometilbenzeno e toluol, é um solvente aromático encontrado em agentes de limpeza, colas, coran- tes, desengraxantes, diluentes, la- queadores, pesticidas, removedores de tintas, tintas de parede e vernizes. As principais fontes de exposição ocu- pacional ao tolueno decorrem da pro- dução de gasolina e da fabricação de coque a partir do carvão. Outras expo- sições podem ocorrer devido ao uso do tolueno como solvente para óleos, borracha natural e sintética, resinas, carvão, piche, betume e acetilcelulose. TOXICOLOGIA 61 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 61 04/02/2021 11:20:40 Figura 4. Estrutura química do tolueno. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/12/2020. A absorção do tolueno ocorre principalmente pela via pulmonar (inalação), sendo rapidamente absorvido nos primeiros 10 a 15 minutos de exposição. Também é possível ocorrer absorção do tolueno pelo trato gastrintestinal, como, por exemplo, em casos de ingestão em acidentes de trabalho. A distribuição do tolueno no organismo é bastante rápida e pode se acumu- lar em vários tecidos, como cérebro, fígado, medula óssea, tecido adiposo, rins e sangue. O tolueno é capaz de atravessar a barreira placentária, atingindo o feto, e pode ser excretado pelo leite. A saída do tolueno da corrente sanguínea pode ser dividida em três fases: • Fase inicial ou α: saída do solvente para os tecidos ricamente vasculariza- dos e apresenta uma t1/2 em torno de 3 minutos; • Fase rápida ou β: passagem do solvente para os tecidos moles (por exem- plo, músculo) e apresenta uma t1/2 em torno de 40 minutos; • Fase lenta ou γ: distribuição do solvente para o tecido adiposo e medula óssea e apresenta uma t1/2 em torno de 738 minutos. Em torno de 80% do tolueno absorvido é metabolizado pelo sistema mi- crossomal hepático citocromo P-450. A principal via de biotransformação do tolueno é a oxidação do grupamento metila, que segue os seguintes passos: 1. Formação do álcool benzílico pela ação do sistema citocromo P-450; 2. Oxidação pela ação do álcool desidrogenase e aldeído desidrogenase com a formação do ácido benzoico; Tolueno Hidrogênio Carbono C7H8 CH3 CH3 TOXICOLOGIA 62 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 62 04/02/2021 11:20:41 3. O ácido benzoico se conjuga com a glicina e em menor proporção com o ácido glicurônico, produzindo o ácido hipúrico e benzoilglicuronatos, respectivamente. O tolueno pode ser excretado inalterado pelo ar exalado (7–14%) ou na for- ma de ácido hipúrico pela urina (31–80%). Vale ressaltar que a presença de ácido hipúrico na urina representa um importante indicador biológico da ex- posição ao tolueno. O tolueno é um agente que produz efeitos neurotóxicos e irritantes na pele e nas mucosas. Em altas concentrações, também apresenta ações nefrotóxica e hepatotóxica. O Quadro 6 resume os principais sinais e sintomas observados em exposições agudas e crônicas ao tolueno. Exposição aguda Sinais e sintomas iniciais Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea e pressão forte no peito. Severos Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Casos mais graves Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar o indivíduo à morte. Exposição crônica SNC Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Outros Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. QUADRO 6. SINAIS E SINTOMAS DA EXPOSIÇÃO AO TOLUENO Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, Dor de cabeça, euforia, fadiga,fraqueza, náusea Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea e pressão forte no peito. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea e pressão forte no peito. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea e pressão forte no peito. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar Demência, encefalopatia crônica, alterações das Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea e pressão forte no peito. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar Demência, encefalopatia crônica, alterações das Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea e pressão forte no peito. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar Demência, encefalopatia crônica, alterações das Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea e pressão forte no peito. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar o indivíduo à morte. Demência, encefalopatia crônica, alterações das Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea e pressão forte no peito. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar o indivíduo à morte. Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar o indivíduo à morte. Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar o indivíduo à morte. Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Dor de cabeça, euforia, fadiga, fraqueza, náusea Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar o indivíduo à morte. Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar o indivíduo à morte. Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, distúrbio de visão, paralisia e tremor. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar o indivíduo à morte. Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Andar cambaleante, confusão mental, convulsão, Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Arritmia cardíaca, asfi xia, depressão do SNC e insufi ciências hepática e renal, que podem levar Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. insufi ciências hepática e renal, que podem levar Demência, encefalopatia crônica, alterações das funções neurodegenerativas. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Demência, encefalopatia crônica, alterações das Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Demência, encefalopatia crônica, alterações das Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Albuminúria, anorexia, astenia, hematúria, uremia, acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. acidose tubular renal, desequilíbrios acidobásico e de eletrólitos, hepatite, hipocalemia e miopatia. Fonte: OGA, 2014. (Adaptado). De modo geral, o tratamento da intoxicação por tolueno é sintomático, sen- do indicado realizar lavagem gástrica, sem induzir vômito em caso de ingestão, e lavagem do local, sem usar sabão, se houver contato com a pele. O ácido hipúrico na urina é um biomarcador usado para avaliar a exposi- ção ocupacional ao tolueno. Normalmente, as amostras de urina devem ser coletadas no fi nal da jornada de trabalho. Vários métodos podem ser usados para analisar os ácidos hipúrico, como a cromatografi a líquida de alta efi ciência com detector ultravioleta/visível (CLAE-UV/Vis) e a cromatografi a gasosa com detector de ionização de chama (CG-DIC). Os valores de referência (VR) na urina são de até 1,5 g/g de creatinina e o índice máximo biológico (IBMP) é de 2,5 g/g de creatinina. TOXICOLOGIA 63 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 63 04/02/2021 11:20:41 Xileno O xileno (dimetilbenzeno) é usado como solvente em vários processos in- dústrias, como na indústria de couros, fi bras sintéticas, química, papéis, plás- ticos e tecidos. Esse solventetambém é usado como agente de limpeza, de- sengordurante e como thinner para lacas e tintas. A composição do solvente é formada a partir da proporção dos isômeros orto, meta e para-xileno (Figura 5), cuja composição é de, aproximadamente, 10 a 20% de ortoxileno; 70% de me- taxileno; e 20% de paraxileno. Xileno Hidrogênio Ortoxileno Metaxileno Paraxileno Carbono Figura 5. Estrutura química dos isômeros do xileno. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/12/2020. O xileno é absorvido principalmente pela via pulmonar, sendo considerada a de maior importância do ponto de vista ocupacional. No entanto, o xileno tam- bém pode ser absorvido pela via cutânea, porém em uma velocidade e exten- são menor, quando comparada com a absorção pulmonar. Vale ressaltar que a absorção do xileno pela pele aumenta cerca de três vezes, se ela estiver lesada. CITANDO “A absorção pulmonar é rápida e infl uenciada pela atividade física. Dados obtidos em indivíduos em repouso, expostos ao solvente, revelam que a concentração no ar alveolar atinge o equilíbrio cerca de 10 minutos após o início da exposição” (OGA, 2014, p. 291). TOXICOLOGIA 64 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 64 04/02/2021 11:20:42 Após absorção, o xileno é distribuído rapidamente pelo organismo, acu- mulando-se naqueles que apresentam maior teor de lipídeos (por exemplo, cérebro e tecido adiposo) e nos órgãos mais irrigados (por exemplo, fígado e rins). Assim como os outros solventes aromáticos, o xileno também é capaz de atravessar a barreira placentária e pode estar presente no leite materno. A biotransformação consiste na oxidação dos grupamentos metilas para formar álcoois metilbenzílicos e, posteriormente, ácidos orto, meta e parame- tilbenzóicos, que, por sua vez, conjugam-se com a glicina para originar o ácido metil-hipúrico, excretado pela via urinária. A ação dos vapores de xileno causa irritação nos olhos, na pele e nas muco- sas, sobretudo das vias aéreas superiores. No entanto, a principal ação do xile- no ocorre sobre o SNC, caracterizando o seu potencial neutrotóxico. Segundo Oga (2014), os mecanismos de ação neurotóxica do xileno ainda não estão bem elucidados, mas algumas hipóteses têm sido discutidas, tais como: • Ação sobre a membrana das células nervosas, alterando as suas proprie- dades e a transmissão de impulso nervoso; • Alteração nos níveis de neurotransmissores e da composição lipídica de várias regiões do cérebro; • Inibição da transmissão gabaminérgica no cérebro. Em exposições a altas concentrações de xileno, pode ocorrer ação hepato- tóxica, caracterizada pela presença de vacuolização hepatocelular e aumento dos níveis séricos de transaminases. Os principais sintomas provocados pela exposição ao xileno incluem: • Exposição dérmica: dermatite e eczema; • Intoxicação crônica: cefaleia, conjuntivite, desconforto epigástrico, disp- neia, distúrbio cardiovascular, fadiga, fotofobia, hemorragia nasal, náusea, so- nolência, vertigem e vômito; • Intoxicação grave: coma, confusão mental, morte e narcose. O tratamento das intoxicações por xileno também é sintomático. Desse modo, em caso de contato com o solvente, é recomen- dado lavar o local contaminado com água e sabão, uma vez que o xileno é altamente lipossolúvel, o que dificulta a sua retirada apenas com água abundante. Em caso de inges- tão, é realizada lavagem gástrica sem provocar vômito. TOXICOLOGIA 65 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 65 04/02/2021 11:20:42 Para detectar a exposição ocupacional ao xileno, podem ser realizados os mesmos métodos descritos para a determinação do ácido hipúrico (tolueno). Nesse caso, o biomarcador é o ácido metil-hipúrico, que também pode estar presente na urina das pessoas expostas ao xileno. O valor estabelecido para o índice biológico máximo permitido é de 1,5 g/g de creatinina. Agentes metemoglobinizantes Os agentes metemoglobinizantes são substâncias que induzem a oxidação de um dos átomos de ferro do grupamento heme presen- te na hemoglobina, do estado ferroso (Fe2+) para férrico (Fe3+), resultando na metemoglobina (MHb). É impor- tante entender que a MHb não possui afi nidade pelo oxigênio, gás carbono e monóxido de carbono, po- rém apresenta grande afi nidade por ânions (por exem- plo, fl uoreto, cloreto e cianeto). Assim, a metemoglobina é incapaz de transpor- tar oxigênio, induzindo uma anemia funcional e agravando a hipóxia celular. Os agentes metemoglobinizantes podem ser divididos em dois grupos: • Oxidantes diretos: reagem diretamente com a hemoglobina para formar MHb. • Oxidantes indiretos: reagem com o oxigênio ou água, formando o radical superóxido ou peróxido de hidrogênio, respectivamente. O Quadro 7 apresenta alguns exemplos de agentes metemoglobinizantes e alguns de seus usos. Substância Uso industrial Anilina Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Cloratos Fogos de artifício. Dimetilanilina Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Dinitrobenzeno Corantes, celuloides, explosivos. Nitrobenzeno Derivados da celulose, paracetamol. Óxido nítrico Ácido nítrico, presente em gases de solda. QUADRO 7. ALGUNS AGENTES METEMOGLOBINIZANTES E SEUS USOS INDUSTRIAIS AnilinaAnilinaAnilina Cloratos Dimetilanilina Cloratos Dimetilanilina Dinitrobenzeno Cloratos Dimetilanilina Dinitrobenzeno Dimetilanilina Dinitrobenzeno Nitrobenzeno Dimetilanilina Dinitrobenzeno Nitrobenzeno Óxido nítrico Dinitrobenzeno Nitrobenzeno Óxido nítrico Nitrobenzeno Óxido nítrico Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Óxido nítrico Corantes, fármacos, praguicidas, borracha.Corantes, fármacos, praguicidas, borracha.Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fogos de artifício. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fogos de artifício. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fogos de artifício. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fogos de artifício. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fogos de artifício. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fogos de artifício. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Corantes, fármacos, praguicidas, borracha. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Fibra de vidro, antibióticos, vanilina, corantes. Corantes, celuloides, explosivos. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Fibra devidro, antibióticos, vanilina, corantes. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda. Derivados da celulose, paracetamol. Ácido nítrico, presente em gases de solda.Ácido nítrico, presente em gases de solda.Ácido nítrico, presente em gases de solda. Fonte: OGA, 2014. (Adaptado). TOXICOLOGIA 66 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 66 04/02/2021 11:20:42 De modo geral, os sinais e sintomas se correlacionam com os níveis de me- temoglobina encontrados no sangue. A apresentação clínica causada pela re- dução de oxigênio sanguíneo e hipóxia celular inclui dor de cabeça, tontura e náuseas. Em casos mais graves, pode progredir para um quadro de dispneia, confusão, convulsão e coma. Por outro lado, níveis mais baixos de metemoglobina (< 15 a 20%) não cau- sam comprometimento relevante para o paciente e costumam se resolver espontaneamente. O Quadro 8 descreve alguns sinais e sintomas, conforme o nível de metemoglobina. Nível de metemoglobina* Sintomas típicos < 15% Normalmente assintomático. 15–20% Cianose, sintomas brandos. 20–45% Cianose marcada, sintomas moderados. 45–70% Cianose grave, sintomas graves. > 70% Normalmente letal. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia proporcional inferior. QUADRO 8. NÍVEIS DE METEMOGLOBINA < 15%< 15% 15–20% *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia 15–20% 20–45% *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia 20–45% 45–70% *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia 20–45% 45–70% *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia 45–70% > 70% *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia > 70% *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia Normalmente assintomático. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia Normalmente assintomático. Cianose marcada, sintomas moderados. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia Normalmente assintomático. Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia proporcional inferior. Normalmente assintomático. Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia proporcional inferior. Normalmente assintomático. Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia proporcional inferior. Normalmente assintomático. Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia proporcional inferior. Normalmente assintomático. Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia proporcional inferior. Normalmente assintomático. Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. Normalmente letal. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia proporcional inferior. Normalmente assintomático. Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. Normalmente letal. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia proporcional inferior. Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. Normalmente letal. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia Cianose, sintomas brandos. Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. Normalmente letal. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. Normalmente letal. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. Normalmente letal. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia Cianose marcada, sintomas moderados. Cianose grave, sintomas graves. *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia *Essas porcentagens representam concentrações de hemoglobina total na faixa normal. A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia A anemia concomitante poderá levar a sintomas mais graves no caso de metemoglobinemia Fonte: OLSON, 2014, p. 320. (Adaptado). Anilina A anilina é um líquido oleoso utilizado como matéria-prima no processo de fabricação de muitos compostos,como, por exemplo, corantes, fármacos, pro- dutos oxidantes e aceleradores para indústria da borracha, produtos químicos para fotografi a e pesticidas (fungicidas e herbicidas). A anilina pode ser absorvida pelas vias gastrintestinal, cutânea e pulmonar. Na exposição ocupacional, a absorção ocorre prin- cipalmente pela pele (75%), por meio da penetração dos vapores ou do contato com o líquido. Vale ressaltar que a umidade e a temperatura são fatores que podem in- fl uenciar na absorção cutânea. TOXICOLOGIA 67 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 67 04/02/2021 11:20:43 A biotransformação da anilina ocorre no fígado, e os mecanismos podem ser variados, como: • Hidroxilação do anel aromático: produz aminofenóis que se conjugam com sulfato e glicuronídeo para serem eliminados na urina; • N-oxidação pelo citocromo P-450: produz fenilidroxilamina, que é captada pelos eritrócitos, é oxidada a nitrosobenzeno, com formação concomitante de MHb. A eliminação da anilina pode ocorrer na forma inalterada e em pequenas quantidades, pelo ar exalado e na forma de p-aminofenol na urina. A toxicidade da anilina está relacionada com a fenilidroxilamina, uma vez que o processo de oxidação promove a geração de radicais livres capazes de reagir com o oxigênio, gerando espécies ativas que oxidam o ferro e formam a MHb. Os principais efeitos tóxicos da exposição à anilina são: • Exposição aguda: cefaleia, fraqueza, tontura, ataxia, dispneia de esforço, vômito e irritação ocular; • Exposição crônica: cirrose hepática, atrofi a hepática e depressão do sis- tema nervoso central. O tratamento pode ser realizado com fármacos específi cos e antídotos. Em ca- sos com níveis de metemoglobina superiores a 20% é indicado administrar azul de metileno, 1 a 2 mg/kg, por alguns minutos. No entanto, o azul de metileno pode ser contraindicado ou não ser efi ciente, sendo necessária a realização de transfusão de reposição. Além disso, também é possível utilizar ácido ascórbico para reverter a metemoglobina, porém é pouco utilizado em casos agudos devido a sua ação lenta. CITANDO “O azul de metileno poderá piorar ligeiramente a metemoglobinemia quando administrado em quantidades excessivas; em pacientes com defi ciência de G6PD, ele poderá agravar a metemoglobinemia por meio de via metabólica” (OLSON, 2014, p. 321). Nitrobenzeno O nitrobenzeno é um líquido oleoso utilizado na produção de ésteres e ace- tatos de celulose, além de ser um intermediário na síntese do paracetamol. TOXICOLOGIA 68 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 68 04/02/2021 11:20:43 A absorção do nitrobenzeno ocorre principalmente pelas vias respiratórias e dérmicas. Nesse caso, a via dérmica não sofre influência da temperatura, porém a umidade relativa do ar pode facilitar a absorção. Os processos envol- vidos na biotransformação dos nitrobenzenos são: • Hidroxilação aromática direta com produção de dinitrofenóis; • Redução da anilina, por meio das nitrorredutases, resultando na produção de aminofenóis. O nitrobenzeno é excretado na forma de produtos da biotransformação pela urina, ou seja, na forma de p-nitrofenol (15% da quantidade absorvida) e p-aminofenol (menos de 10%). Vale ressaltar que o nitrobenzeno pode se acu- mular no organismo após exposições repetidas. Em relação à toxicidade, o nitrobenzeno é mais potente para produzir mete- moglobinemia e anemia, quando comparado com os efeitos adversos da expo- sição à anilina. Já na exposição ocupacional, pode ocorrer anemia associada a efeitos neurotóxicos (vertigem, cefaleia e náuseas), hepatotóxicos (bilirrubina e hepatomegalia), irritação nos olhos, dermatite de contato e metemoglobinemia. TOXICOLOGIA 69 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 69 04/02/2021 11:20:43 Sintetizando Como visto nessa unidade, os metais pesados podem representar diferen- tes riscos à saúde. Esses riscos dependem de uma série de fatores relacionados à concentração, ao tempo de exposição e à via de introdução. Em um desastre ambiental, como o rompimento da barragem de uma mi- neradora, é possível que a população fique exposta a vários tipos de metais pesados ao mesmo tempo. Sendo assim, os efeitos tóxicos podem variar desde lesões cutâneas até alterações neurológicas e respiratórias. A maior preocupação para o homem é o arsênio no estado da oxidação pentavalente (As5+) e trivalente (As3+). As fontes de exposição podem ser pela água de consumo contaminada, alimentos, atividades ocupacionais, dentre outros. A exposição ao arsênio está relacionada com o aumento do risco de câncer e com outras patologias, que incluem doenças cutâneas, alterações he- matológicas e neuropáticas periféricas. O mercúrio é um metal pesado que pode apresentar-se em formas inorgâ- nicas e orgânicas. Sua ingestão pode ocorrer por pescados contaminados por metilmercúrio, que é uma das formas mais tóxicas do mercúrio. O consumo de metilmercúrio pode causar, principalmente, danos no SNC que afetam as áreas sensoriais e de coordenação. O chumbo é um metal não essencial altamente tóxico, sendo que a sua dis- tribuição no meio ambiente está relacionada às atividades humanas, como, por exemplo, a exploração mineira de combustíveis fósseis. A exposição ao chumbo pode causar toxicidade em vários sistemas biológicos, provocando alterações gastrintestinais, neurológicas, cardiovasculares, hematológicas e nefrotóxicas. Geralmente, o tratamento e antidotização da intoxicação por metais pesa- dos necessita do uso de quelantes, que são substâncias que formam comple- xos estáveis com os metais. Os quelantes mais utilizados são o ácido etilenodiaminotetracético, demiercaprol, succímero, penicilamina, entre outros. Os solventes orgânicos são substâncias químicas orgânicas, classificadas em: hidrocarbonetos alifáti- cos, hidrocarbonetos aromáticos, hidrocarbonetos halogenados, álcoois, cetonas e ésteres. TOXICOLOGIA 70 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 70 04/02/2021 11:20:43 Alguns solventes orgânicos podem desencadear uma série de efeitos tó- xicos ao organismo exposto. O benzeno causa efeitos relevantes no sistema hematopoiético, como anemia aplástica e indução de leucemia. O tolueno é um depressor do SNC e causa desordem cognitiva crônica. O xileno é um irritante das membranas mucosas, principalmente dos olhos e pele (dermatite). Por fim, vimos que os agentes metemoglobinizantes são substâncias que promovem a oxidação do ferro na hemoglobina. Assim, a formação de MHb por substâncias químicas pode causar diversos efeitos tóxicos. Geralmente, o quadro agudo é caracterizado por cefaleia, dor de cabeça, tontura e náuseas. Em casos mais graves, pode ocorrer dispneia, confusão, convulsão e coma. A anilina é um composto orgânico utilizado na síntese de corantes, fárma- cos, praguicidas e borracha. A ação tóxica da anilina é atribuída ao fenilidroxi- lamina, que é o produto da sua N-oxidação. Os sinais e sintomas que podem aparecer incluem cefaleia, fraqueza, tontura, ataxia, dispneia de esforço, vômi- to e irritação ocular. Já o tratamento pode ser realizado com a administração de azul de metileno e ácido ascórbico. Contudo, vale ressaltar que o nitrobenze- no é um agente metemoglobinizante considerado mais potente para provocar anemia e metemoglobinemia do que a anilina. TOXICOLOGIA 71 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 71 04/02/2021 11:20:43 Referências bibliográficas ANDRADE FILHO, A.; CAMPOLINA, D.; DIAS, M. B. Toxicologia na prática clíni- ca. Belo Horizonte: Folium, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério do Trabalho. Portaria interministerial n. 3, de 28 de abril de 1982. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 abr. 1982. Dis- ponível em: <https://www.gov.br/trabalho/pt-br/inspecao/seguranca-e-saude- -no-trabalho/sst-portarias/1982/portaria_interministerial_03_proibe_benzeno. pdf>. Acesso em: 01 fev. 2021. BRUNTON, L. L. et al. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.COSTA, K. N. S. et al. Avaliação dos riscos associados ao uso do xilol em la- boratórios de anatomia patológica e citologia. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 32, n. 116, p. 50–56, jul./dez. 2007. Disponível em: <https://doi. org/10.1590/S0303-76572007000200007>. Acesso em: 18 dez. 2020. KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. KLAASSEN; C; D.; WATKINS III, J. B. Fundamentos em Toxicologia de Casarett e Doull. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. LADOU, J.; HARRISON, R. Current medicina ocupacional e ambiental: diag- nóstico e tratamento. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. MACEDO, R. B. Segurança, saúde, higiene e medicina do trabalho. Curitiba: IESDE Brasil, 2012. OGA, S. Fundamentos de Toxicologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2014. OLSON, K. R. Manual de Toxicologia clínica. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. SANTOS, M. V. C. et al. Aspectos toxicológicos do benzeno, biomarcadores de exposição e conflitos de interesse. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 42, n. 1, 2017. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/2317-6369nota00017>. Acesso em: 18 dez. 2020. TOY, E. C. et al. Casos clínicos em Farmacologia. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. TOXICOLOGIA 72 SER_FARMA_TOXICO_UNID2.indd 72 04/02/2021 11:20:43 TOXICOLOGIA SOCIAL 3 UNIDADE SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 73 04/02/2021 12:32:28 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o conceito da toxicologia social; Definir conceitos básicos e mecanismos de ação das drogas de abuso; Entender a toxicocinética do metanol, dos opiáceos e opioides e do etanol e inalantes; Entender a toxicodinâmica do metanol, dos opiáceos e opioides e do etanol e inalantes; Conhecer sinais e sintomas de intoxicação por drogas de abuso; Entender formas de tratamento à intoxicação. Metanol Toxicocinética Toxicodinâmica Sinais e sintomas Tratamento e antidotização Toxicologia social e medica- mentos Classificação das drogas que causam dependência Dependência, tolerância e síndrome de abstinência Estimulantes Depressores do SNC Opiáceos e opioides Mecanismo de toxicidade Sinais e sintomas Tratamento Etanol e inalantes Mecanismo de toxicidade Tratamento TOXICOLOGIA 74 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 74 04/02/2021 12:32:28 Metanol O metanol é um álcool muito utilizado pela indústria como matéria-prima para a produção de diversos produtos que fazem parte do nosso cotidiano, como pesticidas, solventes e combus- tíveis. Por muito tempo, ele foi obtido pela destilação da madeira, conheci- do, por isso, como álcool da madeira. Foi descoberto no século XVII e, com o tempo, passou a ser considerado uma das matérias-primas mais utilizadas na indústria química. Como a destilação da madeira tor- nou-se fi nanceiramente inviável, fo- ram desenvolvidas outras formas de obter o metanol, e atualmente esse ál- cool é obtido a partir do gás de síntese produzido do gás natural. Conhecido, também, como álcool metílico ou hi- drato de metilo, sua fórmula química é representada por CH3OH. É um líquido em temperatura ambiente, incolor, muito volátil e com odor leve, considerado, portanto, parte do grupo de sol- ventes orgânicos. De acordo com órgãos ambientais, o metanol é o solvente orgânico mais liberado no ambiente. Pode ser produzido por reações naturais ou até mesmo por meio do metabolismo de substâncias ingeridas pelo ser humano. O metanol pode ser absorvido pelas mais diversas vias (oral, respiratória e cutânea) e depois é biotrans- formado (Diagrama 1). A maior parte que se mantém biodisponível é oxidada e gera, como metabólitos, formaldeído e ácido fórmico, que são considerados os responsáveis pela sua toxicidade. TOXICOLOGIA 75 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 75 04/02/2021 12:32:31 Os efeitos tóxicos causados por esses metabólitos são, principalmente, atri- buídos ao ácido fórmico, que, em níveis elevados, causa acidose metabólica. Já o formaldeído pode reagir causando degradação de proteínas, membranas e ácidos nucleicos. Esses efeitos exercidos sobre o sistema nervoso central (SNC), especifica- mente nos nervos ópticos, são atribuídos à neurite óptica, seguida de atrofia do nervo óptico, que ocorre pelo acúmulo de formato na retina e humor vítreo. Outros efeitos encontrados são a irritação das mucosas e, em contato com a pele, o ressecamento. Os sinais e sintomas atribuídos à exposição ao metanol variam de irrita- ção da pele, dor de cabeça, fadiga, náuseas e vômitos, em exposição aguda; à eritema e lesões no nervo óptico que podem levar à perda total da visão, em exposição crônica. Aldeído desidrogenase Álcool desidrogenase Ácido fórmico (CH2O2) Formaldeído (CH2O) Álcool metílico (CH3OH) DIAGRAMA 1. BIOTRANSFORMAÇÃO DO METANOL NO CORPO HUMANO TOXICOLOGIA 76 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 76 04/02/2021 12:32:31 A intoxicação por metanol é considerada uma emergência médica. Antiga- mente, era tratada em casa com a ingestão de grandes quantidades de bebidas alcoólicas, pois o álcool etílico liga-se facilmente ao ácido fórmico, facilitando a excreção do metabólito pela urina. No entanto, atualmente, o tratamento é realizado em unidade de saúde por meio de injeção de antagonistas competiti- vos da desidrogenase, que se ligam ao metanol e aos seus metabólitos, garan- tindo que não ocorra a biotransformação. Toxicocinética A absorção do metanol pode ocorrer por ingestão, por via respiratória e via trans- dérmica. Qualquer que seja a via de exposição, a toxicidade será a mesma, desde que os níveis tóxicos sejam alcançados. A diferença está no tempo de absorção, pois en- quanto o processo através do trato gastrointestinal ocorre rapidamente, alcançando o nível sérico de 30 a 60 minutos após a ingestão, a absorção pelas outras vias é um processo muito mais lento. Após a absorção, a distribuição do álcool no corpo acontece de forma uniforme, de acordo com a quantidade de água presente em cada órgão. O metabolismo do metanol ocorre principalmente no fígado e, em raras vezes, no pulmão. Quando entra no corpo humano, o álcool metílico sofre oxidação, gerando os metabólitos metanal e ácido metanoico (ácido fórmico), de acordo com a reação mostrada na Figura 1: 1º etapa: oxidação do álcool e aldeído (metanol e matanal) Metanol Diol gêmino (instável) Metanal Água H HH H H H HOH O [o] O OO H H δ-1 δ-1δ-2 δ-2δ+1 δ+1 H H c c c 2º etapa: oxidação do metanal e ácido metanoico [o] KMnO4 /H3O+ HOH(ℓ) O O H H H OH C C Figura 1. Reação de oxidação do metanol em ácido metanoico. Fonte: FOGAÇA, s. d. (Adaptado). TOXICOLOGIA 77 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 77 04/02/2021 12:32:31 No fígado, o metanol sofre a ação da enzima álcool desidrogenase (ADH), que gera o formaldeído. Este, por sua vez, sofre a ação da enzima aldeído desidrogenase e é convertido em ácido fórmico, que sob ação do tetra-hidrofolato (THF) será transfor- mado em CO2 e H2O, para assim ser excretado (ZAMBON, 2013). DIAGRAMA 2. ESQUEMATIZAÇÃO DA REAÇÃO DE BIOTRANSFORMAÇÃO ATÉ A EXCREÇÃO DO METANOL CH3O Metanol Formaldeído CH2O Ácido fórmico CH2OH2ADH ADH TH CH2 + H2O Toxicodinâmica De acordo com o que foi visto anteriormente, sabemos que os responsáveis pela ação tóxica do álcool metílico são o formaldeído e o ácido fórmico. O pri- meiro é responsável por reagir com proteínas da retina, causando toxicidade ocular; e o segundo interfere na respiração celular por meio da inibição da enzi- ma citocromo oxidase, que aumenta a respiração anaeróbica, desencadeando a acidose metabólica. Toxicidade aguda A reação à exposição aguda ao metanol pode ocorrer por inalação de con- centrações acima de 2000 ppm de vapores do álcool, o que provoca irritação das membranas, distúrbios neurológicos e distúrbios digestivos. Já a exposição a concentrações maiores que 25.000 ppm pode ser imediatamente fatal. A forma mais comum de intoxicação é pelain- gestão, que é a forma de absorção mais rápida pelo trato gastrointestinal, causando os distúr- bios digestivos, neuropsíquicos e hemodinâmi- cos. Doses acima de 30 mL podem ser fatais. Em casos mais raros, ocorre a intoxicação por contato com a pele e, absorvido o metanol, há desengordu- ramento e dermatite. TOXICOLOGIA 78 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 78 04/02/2021 12:32:31 Sinais e sintomas O sinal inicial clássico da intoxicação por álcool metílico é a depressão do SNC, semelhante ao que ocorre na intoxicação por etanol. Posteriormente, ocorre um período de latência, que é inversamente proporcional à quantidade de metanol ingerido e pode durar de dez a 30 horas. Após o período de latência, o paciente desenvolve sintomas digestivos e respiratórios: náuseas, vômitos, dores abdominais, adinamia e difi culdade res- piratória. Com esses primeiros sintomas, surgem também alterações visuais, como alucinações visuais, visão turva, dor ocular, fotofobia, diminuição da acui- dade visual e perda total da visão. As alterações visuais são acompanhadas da acidose metabólica, que é ca- racterizada pela hiperventilação e maior depressão do SNC e pode levar ao coma e até à morte. Toxicidade crônica Após exposições prolongadas ao metanol, por diversas vias, começam a surgir efeitos tóxicos no sistema nervoso central, o que leva a lesões no nervo óptico que podem ocasionar cegueira, alterações elétricas cerebrais, ateroscle- rose cerebral e lesões no fígado e no pâncreas. TOXICOLOGIA 79 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 79 04/02/2021 12:32:35 Tratamento e antidotização O tratamento efetivo da intoxicação por metanol tem relação direta com a quantidade de álcool a que o indivíduo foi exposto e à rapidez na procura por au- xílio médico, pois existem antídotos e tratamentos mais agressivos que viabilizam a sobrevivência. Existem medidas de suporte que devem ser tomadas de início, como corrigir a acidose metabólica com bicarbonato de sódio intravenoso e realizar descontami- nação por lavagem gástrica. Em casos graves, pode-se realizar a hemo- diálise combinada com o uso do antídoto (HERNANDEZ; RODRIGUES; TORRES, 2017). O etanol e o fomepizol são antídotos indicados. O etanol ain- da é o mais utilizado no Brasil. A utilização do etanol é indicada para saturar a enzima ADH, prevenindo que se formem os metabólitos tóxicos e permitindo a eliminação renal do álcool metílico inalterado. CURIOSIDADE O fomepizol é o antídoto mais indicado para a utilização nesses casos, porém como ele não é comercializado no Brasil e necessita ser importado, o etanol é a alternativa mais viável. Toxicologia social e medicamentos O uso não médico e não terapêutico de drogas e fármacos são a causa de inúmeros efeitos danosos à saúde, e a área que estuda esses efeitos é a toxi- cologia social. É considerado uso não médico de fármacos, os prescritos que sejam utilizados por período diferente do indicado na prescrição, ou por outra pessoa, podendo, dessa maneira, causar dependência e outros graves proble- mas tanto ao indivíduo quanto à sociedade. Historicamente, o uso desses fármacos/ drogas pelo ser humano é ligado à busca pela fuga da realidade. Primeiramente, foram utilizados em rituais reli- giosos (plantas alucinógenas) e, posteriormente, para fi ns recreativos ou medi- cinais (drogas/ fármacos sintéticos). TOXICOLOGIA 80 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 80 04/02/2021 12:32:35 Inúmeros fármacos e drogas são abordados dentro da toxicologia social, e os efeitos causados por eles são extremamente variados e atingem pessoas de todas as idades. Além dos danos à saúde e da dependência, o uso desenfreado desses fármacos está relacionado à criminalidade e à violência. Classificação das drogas que causam dependência As drogas que causam dependência são chamadas, também, de drogas de abu- so. Apesar da cultura popular utilizar a palavra drogas para designar substâncias ilícitas, existem algumas substâncias consideradas lícitas, como a cafeína, etanol e o tabaco, que também fazem parte dessa classifi cação. As drogas de abuso têm uma característica principal que justifi ca a presença de- las nesse grupo: todas têm potencial de causar dependência. São classifi cadas em: • Opiáceos: heroína, morfi na, codeína; • Estimulantes: cocaína, anfetamina, cafeína; • Depressores do SNC: barbitúricos, benzodiazepínicos, etanol e inalantes; • Tabaco: nicotina; • Cannabis· ∆9-THC; • Psicodélicos (alucinógenos): LSD, psilocibina, mescalina. Dependência, tolerância e síndrome de abstinência Nas últimas décadas, vem acontecendo um aumento signifi cativo da auto- medicação e do uso de drogas recreativas, e isso se tem tornado um grande problema de saúde pública, pois, com esse aumento, também cresce o número de pessoas dependentes farmacológicas. A dependência é uma doença que leva à busca frequente do prazer ou alí- vio de tensões por meio de drogas, de forma impulsiva, compulsiva e repetitiva, caracterizada por alterações psicológicas (mal-estar, aumento da ansiedade e depressão) e fi siológicas (sintomas físicos, como a crise de abstinência). Um indivíduo dependente perde a capacidade voluntária de controlar o consumo da droga. De maneira geral, a maioria das pessoas que fazem uso experimental (por curiosidade) de drogas não se torna dependente, porém não existe uma forma de saber quem se tornará ou não dependente. TOXICOLOGIA 81 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 81 04/02/2021 12:32:36 De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem alguns cri- térios diagnósticos utilizados para definir a dependência. Se o indivíduo pos- suir três ou mais critérios, a qualquer momento, no período de 12 meses, pode ser considerado dependente. Critérios diagnósticos para definir a dependência Desejo extremo ou compulsão para consumo da droga. Dificuldade para controlar o comportamento de consumo (início, término ou dose). Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso; e aumento do tempo necessário para obter, consumir ou recuperar-se de seu efeito. Persistência do uso a despeito de clara evidência de consequências nocivas. Estado de abstinência, ou consumo de fármaco/ droga para alívio dos sintomas de abstinência. Evidência de tolerância. QUADRO 1. CRITÉRIOS DEFINIDOS SEGUNDO A CID-10 (CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS COM A SAÚDE), CLASSIFICAÇÃO BASE DA FAMÍLIA INTERNACIONAL DE CLASSIFICAÇÕES DA OMS (WHO-FIC). Fonte: WHO, 1993, n.p. O consumo constante de fármacos/ drogas faz o organismo adaptar-se, pro- duzindo uma série de modificações no cérebro que dificultam a ação das dro- gas. Assim, o organismo entende a necessidade de aprimorar o metabolismo e excreção da substância. Essas adaptações levam o organismo a apresentar sinais e sintomas na au- sência das drogas, o que faz com que desenvolva a capacidade de adaptar-se à presença das drogas e manter o funcionamento relativamente normal. Dessa maneira, uma concentração maior de fármaco será necessária para causar os efeitos que eram obtidos nas primeiras exposições. Essa resposta é conhecida como tolerância. A tolerância é uma adaptação do organismo, tão intensa, que o corpo passa a não funcionar normalmente na ausência da droga, o que resul- ta na síndrome de abstinência. TOXICOLOGIA 82 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 82 04/02/2021 12:32:36 As mesmas alterações que levaram à tolerância resultam na hiperexcitabi- lidade do organismo (um sistema rebote, que causa tremores, irritabilidade, sonolência e até alucinações e convulsões). As características da síndrome de abstinência dependem da farmacologia de cada droga, ou seja, podem apre- sentar-se de diferentes formas para diferentes drogas. É necessário destacar que a tolerância e a síndrome de abstinência não têm relação direta com a dependência, pois um indivíduo pode desenvolver as duas e não ser dependente, ou ser dependentee não apresentar tolerância ou abstinência. Estimulantes Os estimulantes são as drogas que são capazes de induzir estados alte- rados de consciência, causando euforia por meio da estimulação do sistema nervoso central (SNC). Entre os fármacos considerados estimulantes, existem alguns que, apesar de terem essas características, não são usados, necessa- riamente, com essa fi nalidade. Por isso, nessa categoria, destacam-se a cocaí- na e os anfetamínicos. Cocaína A cocaína é extraída da planta do gênero Erytroxylum, vulgarmente conhecida como coca. Duas espécies dessa planta são utilizadas na pro- dução de fármacos, sendo a novogranatense produzida legalmente para a produção de anestésico local e chás. Já a coca é cultivada ilegalmen- te para a produção de pasta de coca, que é utilizada para tráfi co e, poste- riormente, produção de cloridrato de cocaína – esta substância é uma amina terciária, éster de ácido benzoico e ecgonina, uma base aminoálcool. A cocaína, na forma de pó, é preparada dissolvendo o alcaloide em ácido hidroclórico, formando o hidrocloreto de cocaína (COC.HCl), que é um sal hidrossolúvel e pode ser ingerido, aspirado ou diluído em água. Na forma de pasta, sulfato de cocaína, a droga pode ser fumada. Existe, ainda, o crack, que é extraído do hidrocloreto de cocaína com o uso do éter, e é também fumado. TOXICOLOGIA 83 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 83 04/02/2021 12:32:36 Toxicocinética da cocaína As principais vias de introdução da cocaína são: intranasal, oral, intrave- nosa e respiratória. As vias de introdução são fundamentais para entender a velocidade de absorção e os níveis plasmáticos da droga. O crack e a pasta de cocaína são fumados, e a velocidade de absorção, pico de concentração, duração e intensidade dos efeitos são semelhantes à administração intravenosa, pois alcança a corrente sanguínea de forma mui- to rápida por meio da absorção pelos alvéolos pulmonares. Tanto a via intravenosa quanto a respiratória têm cinéticas muito seme- lhantes, e a diferença entre o início dos efeitos entre as duas varia em ques- tão de dois segundos a cinco minutos. Na via inalatória, chega-se a levar 15 minutos para aparecerem os primeiros efeitos. Quando absorvida, a cocaína liga-se às proteínas plasmáticas. A substân- cia tem mais afinidade pela α-1-glicoproteína ácida, e menor afinidade pela albumina. Após a absorção, o complexo cocaína-proteína é acumulado no fígado, afinidade esta que pode ocorrer devido à presença de receptores he- páticos específicos. Por seu caráter lipofílico, atravessa facilmente a barreira hematoencefálica e pode também ser sequestrada por adipócitos (Figura 2). Colinesterases Carboxilesterases Éster metilecgonina Éster metilanidroecgonina Butirilcolinesterase Éster etilanidroecgonina Cocaetileno Norcocaína n-hidroxinorcocaína Anidroecgonina Citocromo P-450 Ecgonina Benzoilecgonina Colinesterases Pirólise Etanol Etanol Cocaína N CH3 COOH OH N CH3 COOCH3 OH N CH3 COOC2H5 N CH3 COOC2H5 Oco N CH3 COOCH3 N CH3 COOH N CH3 COOH Oco N CH3 COOCH3 Oco N CH3 Oco N H COOCH3 Oco Figura 2. Produtos da biotransformação, pirólise e transesterificação da cocaína. Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 359. TOXICOLOGIA 84 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 84 04/02/2021 12:32:36 Primeiramente, a cocaína é metabolizada em éster metilecgonina e ben- zoilecgonina, o que representa, em média, 75 a 90 % do metabolismo des- sa droga, substâncias estas eliminadas basicamente pelos rins. Em menor quantidade, são formados os metabólitos ecgonina e norcocaína. Enquanto a benzoilecgonina é formada por hidrólise não enzimática, a éster metilecgoni- na sofre a ação das colinesterases (enzimas hepáticas e séricas), e, por meio do sistema oxidase de função mista hepática, a cocaína sofre desmetilação, formando norcocaína. Toxicodinâmica da cocaína O uso da cocaína gera um aumento temporário das concentrações de dopamina e de norepinefrina. No SNC ocorre a ligação da cocaína aos sítios transportadores de dopamina, o que acarreta um bloqueio da receptação da dopamina nas fendas sinápticas. Existem duas famílias de receptores dopaminérgicos ativos na toxicodinâ- mica da cocaína. Em uma família enquadra-se o tipo 2 (D2), que causa euforia; e, em outra, o tipo 1 (D1), que inibe esse efeito. Com o uso crônico da droga ocorre, no cérebro, um aumento significativo de receptores D1 e redução de D2, o que passa a dificultar a ação de euforia da cocaína, levando ao aumento da dose para aumento da sensação. Sinais e sintomas ligados à cocaína Os sinais e sintomas da intoxicação aguda por cocaína incluem psicoses, convulsões, arritmias ventriculares, hiperpirexia severa e distúrbios respira- tórios. Na intoxicação crônica, observam-se sinais como distúrbios psiquiátri- cos, respiratórios e cardiovasculares. Entre os distúrbios psiquiátricos, destaca-se a euforia, hipervigilância, energia e autoconfiança. É comum, também, o comportamento imprudente, agressivo e senso de poder. Tratamento ligado à cocaína A intoxicação por cocaína é tratada com o aparecimento dos sintomas, porém, inicialmente, é necessário realizar procedimentos de suporte, como oxigenação e proteção de vias aéreas. Após o procedimento de suporte, de- ve-se lidar com as complicações conforme ocorrerem. Indivíduos com sin- tomas psicóticos ou excesso de agitação podem ser tratados com benzodia- zepínicos. TOXICOLOGIA 85 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 85 04/02/2021 12:32:36 Anfetamínicos O grupo de fármacos formados pela anfetamina e seus derivados é co- nhecido como anfetamínicos, quimicamente representados pelo esqueleto básico da β-fenetilamina (Figura 3). Figura 3. Esqueleto básico da β-fenetilamina e seus derivados. Fonte: SEBBEN, 2007, p. 15. Os anfetamínicos são conhecidas drogas de abuso, principalmente no ambiente de trabalho. No Brasil, são muito utilizadas por caminhoneiros para enfrentar longas viagens mesmo cansados. As anfetaminas permitem um maior desempenho mental e a manutenção da vigília prolongada. Apre- sentam uma vantagem sobre a cocaína: o efeito de estimulação do SNC por mais tempo. TOXICOLOGIA 86 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 86 04/02/2021 12:32:37 O estímulo do SNC leva ao aumento da atividade motora, melhoria do hu- mor e aumento do limiar de fadiga. Outro efeito causado por anfetaminas é a ação anorexígena, o que acarreta o uso para controle da obesidade, e, assim, há o aumento no abuso dessa droga. Toxicocinética dos anfetamínicos O uso da anfetamina pode ser realizado por via oral, intranasal, pulmonar ou injetado. A absorção da anfetamina ocorre rapidamente pelo trato gas- trointestinal. Após a ingestão de aproximadamente 15 mg, os níveis séricos são alcançados em até duas horas. A distribuição ocorre de forma generaliza- da, mas existem estudos que indicam que ocorre rapidamente no cérebro, e as altas concentrações no cérebro estariam ligadas ao transporte diferencia- do pela barreira hematoencefálica. Durante a biotransformação (Figura 4), a maioria dos anfetamínicos é transformada em anfetamina e metanfetamina, e isso ocorre principalmente no fígado. As principais vias de biotransformação são a hidroxilação aromáti- ca, β-hidroxilação na cadeia lateral, desaminação oxidativa, N-desalquilação, N-oxidação e conjugação com átomo de nitrogênio. Metanfetamina Anfetamina Fenilpropanolamina Femproporex Dietilproprina Efedrina Figura 4. Biotransformação das anfetaminas. Fonte: PANTALEÃO, 2012, p. 30. TOXICOLOGIA 87 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 87 04/02/2021 12:32:39 Toxicodinâmica dos anfetamínicos O mecanismo de ação dos anfetamínicos é um pouco controverso, pois há estudos que conferem os efeitos à semelhança estrutural com a norepi- nefrina e a dopamina, agindo os anfetamínicos como falsos neurotransmis- sores. O mecanismo mais provável, porém, é o aumento da liberação direta dos neurotransmissorese a inibição da recaptação deles, o que resulta em sua alta concentração sináptica. Outra ação conhecida dos anfetamínicos é a capacidade de inibir a MAO, enzima responsável pela oxidação da norepine- frina e da serotonina. Após a liberação das catecolaminas, acontece a estimulação tanto do SNC quanto dos receptores adrenérgicos, o que resulta em aumento da atividade locomotora, aumento das pressões sistólica e diastólica, redução da fadiga e aumento do efeito anorexígeno. Sinais e sintomas ligados aos anfetamínicos Os sintomas agudos da intoxicação por anfetamínicos são muito seme- lhantes aos causados pela cocaína. Ocorre a estimulação do SNC e do siste- ma cardiovascular, e podem ocorrer hipertermia, hemorragia intracraniana e colapso cardiovascular. Também se apresentam sudorese abundante, com taquipneia, e pode ocorrer colapso renal por defi cit circulatório. Tratamento ligado aos anfetamínicos A intoxicação por anfetaminas é tratada de forma muito semelhante à in- toxicação por cocaína. Podem ser utilizados sedativos, medicamentos para manutenção da pressão arterial e resfriamento em casos de hipertermia. Depressores do SNC Entre os depressores do SNC, destacam-se os barbitúricos, benzodia- zepínicos, etanol e inalantes. Os dois últimos serão tratados em outro tópico nesta unidade. Barbitúricos Os barbitúricos começaram a ser utilizados como sedativos, em substi- tuição ao etanol, em 1903. Após muitos anos, na década de 1970, o índice de mortes por superdoses desse fármaco chegou a superar as mortes por todos os outros fármacos, o que levou à sua substituição pelos benzodiazepínicos. TOXICOLOGIA 88 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 88 04/02/2021 12:32:39 Ainda hoje, no entanto, utilizam-se alguns barbitúricos para tratamento de convulsões. Eles são separados pelo tempo de ação: de ação curta e interme- diária, há o pentobarbital, secobarbital, amobarbital e butobarbital. Já os mais conhecidos, fenobarbital e metilfenobarbital, representam os de ação longa. Toxicocinética dos barbitúricos A absorção dos barbitúricos ocorre, principalmente, no intestino delgado, de forma rápida e completa. Após a absorção, a distribuição dos barbitúricos ocorre de maneira generalizada, e eles são capazes de ultrapassar todas as barreiras do organismo. Alguns barbitúricos de ação ultracurta são muito lipossolúveis, o que leva a ação rápida no cérebro, já o fenobarbital penetra bem mais lentamente no cé- rebro e permanece por mais tempo no organismo. A biotransformação desse fármaco ocorre principalmente no fígado. No entanto existem outros órgãos em que pode ocorrer a transformação: rim, baço, cérebro, coração, intestino e músculo. Esse processo se dá por oxidação da cadeia lateral, que resulta, nos bar- bitúricos de ação curta, em compostos mais polares e inativos, como álcool, cetonas, fenóis e ácidos carboxílicos. No processo dos fármacos de ação in- termediária, é formado um metabólito que tem um terço da ação do produto original. Os barbitúricos de longa ação não são totalmente biotransformados pela hidroxilação, e esse processo ocorre por ação enzimática da CYP P2C9. A elimi- nação dos produtos dessa reação ocorre de forma rápida e pH dependente, ou seja, acontece mais rapidamente em urina alcalina. Toxicodinâmica dos barbitúricos De maneira geral, os barbitúricos são absorvidos rapidamente pelo trato gastrointestinal. Os sintomas são iniciados 30 minutos após o uso. Quando al- cança o nível sérico, o fármaco liga-se a proteínas plasmáticas (quanto menor a lipossolubilidade, menor o potencial de ligação com as proteínas). Os efeitos sedativos dos barbitúricos ocorrem por potencialização do GABA no receptor GABAA, o que gera efeitos depressores, como sedação ou até coma profundo. Os efeitos tóxicos desses fármacos estão diretamente ligados ao tempo de ação, sendo que os de curta ação são mais potentes e mais tóxicos que os de ação prolongada. TOXICOLOGIA 89 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 89 04/02/2021 12:32:39 Existem estudos que classificam os efeitos do fármaco no sistema nervoso central em quatro estágios: (1) o indivíduo apresenta estupor, mas responde a comandos; (2) não responde aos estímulos, mas seus sinais e reflexos vitais permanecem intactos; (3) não responde a estímulos nem reflexos, mas man- tém os sinais vitais intactos; e (4) não responde a estímulos ou reflexos, e os sinais vitais são instáveis. Sinais e sintomas ligados aos barbitúricos Os sinais e sintomas da intoxicação por barbitúricos incluem letargia, fala arrastada, nistagmo, ataxia, miose e insuficiência respiratória. Em alguns indi- víduos, observa-se a reação de intensa agitação, que é seguida por sonolência e até coma profundo. Tratamento ligado aos barbitúricos O tratamento para intoxicação por barbitúricos não conta com antídotos, apenas utiliza-se o suporte vital. Em caso de ingestão excessiva, pode-se reali- zar a lavagem estomacal em até 24 horas, pois acontece o retardo do esvazia- mento gástrico. Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos vieram como substitutos dos barbitúricos, por serem menos perigosos em relação ao abuso e à dependência. Hoje, eles são os fár- macos mais receitados e utilizados do mundo todo. Estão entre eles ansiolíti- cos, anticonvulsivantes, relaxantes musculares e hipnóticos. Todos os fárma- cos dessa classe têm os efeitos citados em maior ou menor intensidade. O nome refere-se à estrutura química formada por um anel benzênico e um anel diazepínico. Essa base pode sofrer variações que resultam em novas substâncias dessa mesma classe. Toxicocinética dos benzodiazepínicos A absorção dos benzodiazepínicos ocorre, de maneira geral, de forma rápida no trato gastrointestinal. A distribuição acon- tece em todos os tecidos do corpo, e a solubilidade lipídica permite que a droga aja diretamente no cérebro. Após atingir o nível sérico, os benzodia- zepínicos têm alta capacidade de ligar-se às pro- teínas plasmáticas, sendo que, no máximo, 15 % mantém-se livre e inalterado. TOXICOLOGIA 90 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 90 04/02/2021 12:32:39 A biotransformação ocorre no fígado, em um extenso metabolismo de pri- meira passagem pelas enzimas hepáticas, por vias oxidativas ou não oxida- tivas, e resulta em outros representantes da mesma classe. Por exemplo: o diazepam metaboliza-se em nordiazepam, que se transforma em oxazepam. As drogas de ação ultracurta e prolongada geralmente sofrem ação oxida- tiva, enquanto as de ação curta e intermediária são biotransformadas por via oxidativa. A eliminação dos metabólitos ocorre por via urinária, em sua maio- ria, e, em menor concentração, pelas fezes. Uma porcentagem muito pequena da droga inalterada pode ser eliminada na urina. Toxicodinâmica dos benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos interagem diretamente com os receptores do SNC e agem potencializando a ação dos receptores GABA, o que leva ao aumento da abertura dos canais de cloreto e inibe a excitação celular. A segurança no uso dos benzodiazepínicos é garantida pelo fato de essa ação ocorrer induzindo a atuação dos receptores GABA sobre os canais de clo- reto, e não agindo diretamente nos canais, ao contrário da ação dos barbitúri- cos, que atuam diretamente no fluxo de cloreto. Sinais e sintomas ligados aos benzodiazepínicos A intoxicação por benzodiazepínicos isolados não é comum (apenas quan- do injetados muito rapidamente). Os casos de intoxicação têm mais relação com o uso concomitante com outro depressor do SNC, como etanol ou bar- bitúricos. O uso associado de depressores do SNC com os benzodiazepínicos tende a potencializar os SEUS efeitos, como letargia, deficit motor e diminuição no tempo de reação. Além desses, se associados a barbitúricos, pode haver uma depressão severa do sistema respiratório. Tratamento ligados aos benzodiazepínicos Hoje, existe um antídoto para intoxicação aguda por benzodiazepínicos, porém ele só pode serutilizado com certeza de que a intoxi- cação ocorreu exclusivamente por esses fárma- cos. O flumazenil é um inibidor seletivo do receptor GABA, e não é indicado para o uso em pessoas com aumento de pressão intracraniana e epilepsia. TOXICOLOGIA 91 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 91 04/02/2021 12:32:39 Opiáceos e opioides As substâncias extraídas da planta Papaver somniferum, popularmente conhe- cida como papoula, recebem o nome de opiáceos, que são as substâncias naturais presentes no ópio, como a morfi na, codeína, tebaína e alguns semissintéticos. Já os opioides são considerados uma denominação mais ampla, que diz respeito tan- to aos compostos naturais do ópio quanto àqueles que são sintéticos. Os opioides são compostos muito importantes na medicina, principalmente no manejo da dor; porém, infelizmente, o uso indiscriminado desses medicamen- tos pode levar à toxicidade aguda. Geralmente, os efeitos tóxicos agudos estão relacionados ao uso terapêutico, overdose acidental e até tentativa de suicídio. Opioides naturais; Opioides semissintéticos; Opioides sintéticos; Antagonistas mistos; Antagonistas Ópio, morfi na, codeína, tebaína; Heroína, oxicodona, hidrocodona, Oximorfona, hidromorfona; Metadona, meperidina, fentanil, Levo-a-acetilmetadol ou levometadil; (LAAM), propoxifena; Buprenorfi na, nalbufi na, pentazocina, nalbufi na; Naltrexona, naloxona QUADRO 2. CLASSIFICAÇÃO DOS OPIOIDES Fonte: BALTIERI et al., 2004, n. p. (Adaptado). No Brasil, temos um controle maior com relação ao uso dessas substâncias no meio médico, e a morfi na e codeína somente são receitadas em casos de dor excessiva. Nos EUA, porém, a sociedade sofre com muitos casos de dependentes. Estimam-se que são mais de 2 milhões de indivíduos. O primeiro contato com os opioides ocorre principalmente por duas formas: o indivíduo sofre uma lesão ou dor crônica, e o médico receita o medicamento opioide, porém após o fi m do tratamento, o indivíduo continua a afi rmar a neces- sidade de continuar e, com o uso prolongado, vem a tolerância, a dependência e até a síndrome de abstinência. A segunda forma de primeiro contato seria pelo uso recreativo de heroína, que pode causar dependência desde o primeiro uso. TOXICOLOGIA 92 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 92 04/02/2021 12:32:39 As vias de administração do fármaco/ droga são: oral, intravenosa, inalatória, intramuscular e subcutânea. No entan- to, a via oral não é a melhor forma de administração, pois sofre metabolismo de primeira passagem e não tem a ab- sorção desejada. Para permitir essa via, faz-se necessário que as drogas sejam manipuladas de forma a terem um me- tabolismo e absorção mais lentos. Após a absorção, acontece a intera- ção dos opioides com receptores espe- cífi cos, promovendo efeitos no SNC, res- piratório, cardiovascular e gastrointestinal. Como o metabolismo desse fármaco ocorre principalmente no fígado, se o indivíduo tiver problemas hepáticos, pode levar a uma intoxicação mais rápida e por doses menores. Mecanismo de toxicidade Toxicocinética dos opioides A absorção dos opioides depende de alguns fatores, como via de administra- ção e o meio em que será absorvido. Se em meio ácido, como o estômago, há baixa absorção. Em meio básico, como o intestino, há alta absorção. Os opioides são uma classe de fármacos com diferença na absorção entre os seus representantes. Por exemplo, a morfi na, por via subcutânea e intramuscu- lar, após 30 minutos de administração, 50 % da quantidade injetada já se encon- tra biodisponível no sangue. No entanto, por via oral, essa biodisponibilidade cai para 25 %. Já a codeína apresenta uma melhor biodisponibilidade por via oral. A heroína tem sua melhor absorção via intravenosa, alcançando pico plas- mático em um minuto. Para se evitar, porém, o uso de agulhas, pode-se também utilizar por inalação, e o pico é alcançado em cinco minutos. Após alcançar os níveis séricos, os fármacos atraem-se rapidamente para os tecidos com maior perfusão, como o cérebro, os pulmões, o fígado, os rins e o baço. De maneira geral, os opioides são metabolizados no fígado em duas fases: reação de fase I (modifi cação) e fase II (conjugação). São eliminados nos rins. TOXICOLOGIA 93 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 93 04/02/2021 12:32:46 M6G M3G H3C H3C H3C H3C CH3 CH3 CH3 CH3 O O O OO O O O O O O O O O O N H H O H H H H H H HO HO Codeína N-desmetilação CYP3A4 Norcodeína Norcodeína-6-glucuronido Codeína-6-glucuronido Normorfina Morfina-3-glucuronido Morfina-6-glucuronido O-desmetilação CYP2D6 Morfina Conjugação Hidrólise 6- acetilmorfina (6-AM) Desacetilação Heronína HO HO HO HO HO OH OH OHO O O O H H H H N HO OH H HO N N N N H Figura 5. Biotransformação de opioides. Fonte: NEVES, 2016, p. 11. O metabolismo hepático da codeína ocorre por ação da isoenzima P450 CYP2D6, que resulta na desmetilação em morfina, que é, então, conjugada. Já a heroína passa por uma hidrólise rápida, induzida por esterases, biotransfor- mando-se em monoacetilmorfina, que, por fim, hidrolisa-se em morfina, que é conjugada posteriormente. A morfina tem radicais hidroxilas livres e é conjugada em morfina-3-glicuro- nídeo (M3G) em sua maioria, e cerca de apenas 10 % da morfina é conjugada em morfina-6-glicuronídeo (M6G). Esses conjugados de morfina e glicuronídeos são excretados principalmente na urina. No entanto pequenas quantidades também são encontradas na bile e apenas uma quantidade reduzida dos fármacos não biotransformados também é encontrada na urina. Como a excreção dos metabólitos é principalmente realizada pelos rins, an- tes da administração de opioides, deve-se verificar o histórico de comprometi- mento renal dos pacientes. TOXICOLOGIA 94 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 94 04/02/2021 12:32:46 Toxicodinâmica dos opioides Hoje, sabe-se que, no cérebro, existem peptídeos que agem como neuro- transmissores em células portadoras dos receptores específicos. São conheci- dos os opioides endógenos, encefalinas e endorfinas, e é a interação das drogas com esses receptores que produz os efeitos atribuídos a eles. Nome convencional Nome IUPHAR Efeitos clínicos μ1 OP3a Analgesia supraespinal analgesia periférica, sedação, euforia, libertação prolactina, obstipação μ2 OP3b Analgesia espinal, depressão respiratória, dependência física, alterações GI (motilidade GI reduzida), prurido, bradicardia, miose e euforia K1 OP2a Analgesia espinal, miose, diurese (inibe libertação de hormona antidiurética), sedação K2 OP2b Psicomimese, disforia K3 OP2b Analgesia supraespinal, redução da inflamação δ OP1 Analgesia supraespinal e espinal, disforia, alucinações, modulação da função do receptor μ, inibição da libertação de dopamina Nocicetina/orfanina OP4 Analgesia, ansiolítico QUADRO 3. RECEPTORES E SEUS EFEITOS CLÍNICOS IUPHAR: International Union of Basic and Clinical Pharmacology Fonte: NEVES, 2016, p. 14. Com o conhecimento dos receptores e da reação das drogas quando ligadas a eles, os opioides são utilizados para fins medicinais e podem ser considerados muito seguros e extremamente eficazes, se aplicados da forma correta. Entre- tanto o uso prolongado e de doses maiores que o necessário pode causar efeitos tóxicos graves. Esses efeitos são influenciados pelo metabolismo e pela via de administração. Toxicidade aguda dos opioides Os principais efeitos causados na intoxicação aguda por opioides são a eufo- ria e a sonolência, porém existem também efeitos relacionados aos mastócitos que são comuns, como o rubor e a coceira. Já no trato gastrointestinal, os efei- tos conhecidos são náuseas, vômitos, diminuição do funcionamento intestinal e consequentemente constipação intestinal. TOXICOLOGIA 95 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 95 04/02/2021 12:32:46 Sinais e sintomas A intoxicação por opioides pode estar relacionada a doses normais minis- tradas a indivíduos com problemashepáticos, ou por doses altas em indivíduos normais. O uso tóxico desses fármacos tem como principal efeito a diminuição da frequência e profundidade respiratória, que pode progredir para apneia. Os outros sintomas, que podem inclusive levar à morte, estão ligados primaria- mente à hipóxia. Outros efeitos observados são as pupilas mióticas, delírio, hipotensão, bradicardia, diminuição corporal e retenção urinária. Pode ocorrer, também, a síndrome serotoninérgica, quando há a mistura de opioides, como fentanil, meperidina, tramadol, metadona, codeína ou oxicodona, com drogas de efei- to serotoninérgicos como inibidores de monoaminoxidase, o que resulta em hipertonia, tremores e hiper-refl exia, clônus ocular espontâneo ou induzido, diaforese, instabilidade autonômica, agitação e temperatura elevada. A abstinência também ocorre com o uso, mesmo que por pouco tempo, de opioides, causando sinais e sintomas como hiperatividade do SNC, o que re- sulta na ansiedade e fi ssura pela droga e aumento da frequência respiratória, tremores, calafrios, anorexia, náuseas e diarreia. Toxicidade crônica dos opioides Os efeitos da toxicidade crônica dos opioides são mais relacionados à tole- rância desenvolvida rapidamente, o que resulta na necessidade do aumento da dose. Essa tolerância se desenvolve de forma diferente para cada tipo de opioide, sendo que os usuários podem tornar-se tolerantes à euforia e não à constipação intestinal. A longo prazo, os efeitos são constipação intestinal crônica, sudorese excessiva, edema periférico, sonolência e diminuição da libido. ASSISTA Os opioides são considerados psicofármacos por suas ações de excitação do SNC. Para entender mais afundo as ações farmacológicas dessas drogas de forma didáti- ca, assista ao vídeo Aula: psicofarmacologia - opioides #1 - aspectos farmacológicos | farmacologia médica, posta- do pelo canal Teoria da Medicina. TOXICOLOGIA 96 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 96 04/02/2021 12:32:46 Tratamento O tratamento inicial para intoxicação por esses fármacos é estabilizar o indivíduo, principalmente, fornecendo o suporte respiratório necessário para a manutenção da vida. Posteriormente (se intoxicação por via oral), são realizadas medidas de descon- taminação por lavagem gástrica. Se o indivíduo já se apre- senta em coma, o uso de um antagonista como a naloxona reverte radicalmente esse estado. Etanol e inalantes Há pelo menos 8 mil anos, o álcool etílico tem papel importante na história. Primeiramente, como alternativa à água, que era associada a doenças. Posteriormente, o consumo de bebidas alcoólicas passou a ter o mesmo propósito que atualmente: droga recreativa socialmente aceitável. Nos dias de hoje, o etanol é consumido por grande parte da popula- ção adulta e, apesar de em pequenas quantidades aliviar a ansiedade e promover sensação de bem-estar, também é a droga com maior índice de consumo abusivo no mundo. Desde o começo, seu efeito de alterar a consciência já era muito co- nhecido, e, depois de um tempo, começou a ter seu uso restringido por idade, locais e até horário de consumo. Até hoje, temos algumas dessas restrições em alguns países. Atualmente, além de ser encontrado nas bebidas alcoólicas, o etanol também é utilizado como combustível, alternativo aos fósseis, para auto- móveis. O álcool etílico, cuja fórmula química é CH3CH2OH, é um álcool alifático, hidrossolúvel, rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal. Sua via de metabolização principal é a via da enzima álcool desidrogenase. Os inalantes, ao contrário da maioria das drogas tratadas nesta uni- dade, englobam um grande número de substâncias químicas que tem o objetivo de causar um estado psíquico alterado. Geralmente, são produtos que contêm substâncias voláteis, podendo, assim, serem administradas por inalação. TOXICOLOGIA 97 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 97 04/02/2021 12:32:46 Essas drogas são preferência de crianças e adolescentes, principalmente pela facilidade de obtenção, já que qualquer produto que tenha compostos voláteis pode ser utilizado para a inalação, mas os mais usados são aqueles com maior concentração de voláteis, baixo custo e fácil obtenção (Quadro 4). Inalantes Componentes tóxicos Aerossóis e propelentes Hidrocarbonetos halogenados, propano, isobutano Produtos de limpeza Hidrocarbonetos alifáticos (gasolina) e halogenados Colas e adesivos Touleno, acetona, benzeno, acetatos, alifáticos, n-hexano, ciclohexano, halocarbonetos, xileno, álcool butílico, metiletilcetona, metiletilisobutilcetona, clorofórmio, etanol, triortocresilfosfato, hidrocarbonetos isopropanol, glicol Fluido de isqueiro Hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos Removedor de esmalte Acetona, acetatos alifáticos, benzeno, álcool Botijões de gás Butano, propano Corretivos líquidos Tricloroetano, tricloroetileno Gás natural Metano, propano, etano, butano Canetas marcadoras Touleno, xileno Tintas, tiner e fixadores Touleno, benzeno, etano, acetatos alifáticos, diclorometano Petróleo Hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, tolueno, xileno, chumbo tetraetila Gás de ampola de chantily Óxido nitroso Anestésicos Óxido nitroso, éter dietilico, halotano, clorofórmio, enflurano, isoflurano, tricloroetileno Desodorizadores de ambiente Nitritos de amila, butila, isobutila Solventes Metiletilcetona, tetracloreto de carbono, clorofórmio, éter dietílico, n-hexano, metilisobutilcetona QUADRO 4. INALANTES E SEUS COMPONENTES TÓXICOS Fonte: SOUZA; PANIZZA; MAGALHÃES, 2016, n. p. TOXICOLOGIA 98 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 98 04/02/2021 12:32:46 Mecanismo de toxicidade Etanol A toxicocinética do álcool é considerada complexa devido a suas caracterís- ticas físico-químicas e a sua distribuição pelos tecidos, que depende de inúme- ros fatores. A absorção do etanol dá-se, principalmente, no estômago, e uma parte importante é biotransformada no fígado. No entanto o álcool etílico é uma das poucas drogas que sofrem com a cinética de saturação: não importa a quantidade de droga livre, o metabolismo será constante. Assim, se absorção do etanol for rápida e a concentração no fígado for ele- vada, a maior parte vai para a circulação, causando os efeitos tóxicos atribuídos à ingestão excessiva. No entanto se a absorção for mais lenta, o metabolismo hepático consegue biotransformar 90 %, e apenas 5 a 10 % é eliminado, inalte- rado, pelo ar expirado e pela urina. Por causa desse processo, existe a crença popular de beber de estômago cheio, pois, assim, a absorção é mais lenta, pos- sibilitando a biotransformação quase completa pelo fígado. Etanol CH3CH2OH Acetaldeído CH3CHO Acetato CH3COO- Álcool-desidrogenase Aldeído desidrogenase MEOS NAD+ NAD+ NADH NADH NADPH + O2 NADP+ + H2O Dissulfi ram Fomepizol Figura 6. Biotransformação do etanol. Fonte: KATZUNG; TREVOR, 2017, p. 385. TOXICOLOGIA 99 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 99 04/02/2021 12:32:46 A biotransformação do álcool etílico ocorre pela ação da enzima ADH, que transforma o álcool em aldeído. Posteriormente, a aldeído desidrogenase o transforma em acetato, que pode ser transformado em CO2 + H2O ou ser utilizado para a formação de acetil-CoA. Essa biotransformação ocorre dessa forma em todos os organismos, porém existem fatores genéticos que podem intervir nesse processo, reduzindo a eficácia. Toxicodinâmica do etanol Nas intoxicações agudas por álcool, o SNC é muito afetado, causando, ini- cialmente, sedação e alívio da ansiedade. Já em concentrações elevadas temos comportamento desinibido, ataxia e fala arrastada. Quando consumido em al- tas concentrações, mesmo que de forma aguda, pode levar ao coma. O etanol eleva a ação do GABA nos receptores de GABAA, sendo capaz de intensificar muitos dos efeitos do álcool. No consumo agudo, também acontece a inibição da capacidade do glutamato de abrir os canais catiônicos associados ao NMDA, o que está relacionado a aspectos cognitivos comoaprendizagem e memória. CITANDO “Os blecautes (blackouts) – períodos de perda da memória que ocorrem com níveis elevados de álcool – podem resultar da inibição da ativação dos receptores de NMDA” (sic) (KATZUNG; TREVOR, 2017, n. p.). Inalantes Os inalantes apresentam seus primeiros efeitos segundos após o uso, e es- ses efeitos duram de 15 a 45 minutos. Algumas das substâncias mais utilizadas são voláteis e lipossolúveis, o que facilita a ação no SNC, por serem rapidamen- te transportadas pela barreira hematoencefálica. A ação dos inalantes sobre o SNC é muito se- melhante à ação observada no etanol, pois as substâncias também agem sobre os receptores NMDA e GABA. Essa interação resulta em inibi- ção dos receptores excitatórios dos neurônios e estimulação dos receptores inibitórios, causando uma depressão do SNC. TOXICOLOGIA 100 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 100 04/02/2021 12:32:47 Toxicodinâmica dos inalantes O consumo agudo dos inalantes resulta em concentrações elevadas dos compostos em períodos curtos. A reação do corpo à intoxicação é muito seme- lhante às apresentadas na intoxicação por etanol. Entre eles, estão a euforia e desinibição inicial e sonolência, e, em concentrações maiores, ataxia, alucina- ções, desorientações, hipóxia e coma. Toxicidade crônica dos inalantes O uso crônico de inalantes é relacionado a distúrbios no coração, pulmão, rins, fígado e cérebro. A ação prolongada sobre o SNC pode levar a disfunções cerebrais devido ao acúmulo das substâncias nos neurônios. Após a utilização prolongada, o indivíduo pode apresentar sintomas relacio- nados à parte cognitiva e psicomotoras, o que pode ter relação principalmente com danos na matéria branca cerebral. Também é possível que o consumo crônico de inalantes possa levar ao de- senvolvimento de transtornos psiquiátricos e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla. Tratamento O tratamento da intoxicação aguda por etanol tem como objetivo impedir a depressão respiratória grave e aspiração de vômito. Durante esse tratamento, é necessário corrigir a hipoglicemia, a cetoacidose e o desequilíbrio de eletró- litos, por meio da administração de lí- quidos com eletrólitos e glicose. No caso de pessoas em crise de abstinência, o principal objetivo é pre- venir convulsões, delírios e arritmias. Então, deve-se estabilizar o potássio, o magnésio e o fosfato. Em todos os casos, utiliza-se o tratamento com a tiamina, e, em casos mais graves, exis- te a necessidade de substituir o álcool por um fármaco sedativo-hipnótico de longa duração. TOXICOLOGIA 101 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 101 04/02/2021 12:32:53 A longo prazo, após a desintoxicação, é necessária a terapia psicossocial em programas especializados, principalmente para evitar a recaída. O tratamento no caso de intoxicação aguda por inalantes depende dos sintomas apresenta- dos. Nas intoxicações graves, os sintomas podem agravar-se, sendo necessário o atendimento médico de emergência para conter a depressão respiratória, arritmias cardíacas, convulsões e coma. Assim como caso de abuso por eta- nol, sugere-se a busca por terapia psicossocial. TOXICOLOGIA 102 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 102 04/02/2021 12:32:53 Sintetizando A toxicologia social é um tema muito atual, principalmente quando se refere às drogas de abuso. A cada ano que passa, mais fácil fica o acesso e mais jo- vens passam a consumir essas drogas, o que transforma esse consumo em um problema de saúde pública. Dessa maneira, a toxicologia social é o estudo dos efeitos tóxicos causados por essas drogas. Muitos fármacos surgem para uso médico e terapêutico, porém como seus efeitos são relaxantes ou de fuga da realidade, eles acabam tornando-se dro- gas recreativas. Entre esses fármacos com grande potencial de causar depen- dência, destacam-se: os opiáceos, os estimulantes, os depressores do SNC, o tabaco, a Cannabis e os psicodélicos. Uma característica comum às drogas de abuso é a capacidade de o usuário desenvolver tolerância, dependência e síndrome de abstinência. Todas as dro- gas estudadas nesta unidade têm ação sobre o SNC, e sua biotransformação interfere diretamente na forma em que os efeitos tóxicos se apresentarão. A ação desses fármacos sobre o SNC pode apresentar-se em forma de de- pressão à hiperatividade do sistema, podendo causar aumento ou diminuição da frequência respiratória. Então, pode-se concluir que essas drogas podem afetar de uma ponta a outra, causando efeitos totalmente contrários. TOXICOLOGIA 103 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 103 04/02/2021 12:32:53 Referências bibliográficas AULA: psicofarmacologia - opioides #1 - aspectos farmacológicos | farmacolo- gia médica. Postado por Teoria da Medicina. (17 min. 11 s.). son. color. port. Dis- ponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Xx7XF7o-qcc>. Acesso em: 15 jan. 2021. BALTIERI, D. A. et al. Diretrizes para o tratamento de pacientes com síndrome de dependência de opioides no Brasil. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 26, n. 4, p. 259-269, 2004. 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TOXICOLOGIA 105 SER_FARMA_TOXICO_UNID3.indd 105 04/02/2021 12:32:53 DROGAS DE ABUSO E CROMATOGRAFIA 4 UNIDADE SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd106 04/02/2021 13:48:09 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Definir conceitos básicos e mecanismos de ação das drogas de abuso; Entender a toxicocinética do tabaco, da Cannabis sativa e dos derivados da cocaína; Conhecer sinais e sintomas de intoxicação por drogas de abuso; Entender formas de tratamento para a intoxicação por drogas de abuso; Compreender o uso da cromatografia no estudo da composição das drogas de abuso. Tabaco Mecanismo de toxicidade Sinais e sintomas Tratamento Cannabis Mecanismo de toxicidade Sinais e sintomas Tratamento Derivados da cocaína Mecanismo de toxicidade Sinais e sintomas Tratamento Cromatografia Cromatografia da Cannabis sativa e estimulantes Cromatografia e identificação de venenos TOXICOLOGIA 107 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 107 04/02/2021 13:48:09 Tabaco O hábito de plantar, mastigar e fu- mar o tabaco já era tradição no conti- nente americano e na Austrália antes da invasão dos povos europeus, que se apropriaram dessa cultura, levan- do-a para seus próprios países. Até a década de 1990, a indústria do tabaco (cigarro) investia intensa- mente em propagandas positivas de seu produto. Ela faturou bilhões levando os consumidores a acredi- tarem em uma imagem romantizada do consumo de cigarros, em que o consumidor da droga era viril e tinha um estilo de vida glamoroso. Na atualidade, a ciência já relacionou o uso do tabaco com inúmeras doen- ças, e até o garoto-propaganda de uma popular marca de cigarros, que se fan- tasiava de cowboy nos comerciais, faleceu em decorrência do uso do cigarro. Fatos como esses geraram questionamentos sobre a segurança do consumo do cigarro, o que deu origem a leis mais rigorosas com relação à propaganda e à venda desses produtos. No Brasil, as propagandas na mídia televisiva e escrita passaram a ser proi- bidas e as embalagens passaram a conter imagens impactantes do Ministério da Saúde indicando os males que podem ser causados pelo uso da droga. Ape- sar disso, ainda existem algumas estratégias usadas pela indústria do tabaco para atrair jovens ao uso, como incluir essências e sabores atrativos em seus produtos, como menta, cereja, chocolate etc. Em contrapartida, maiores restrições têm sido implementadas para di- fi cultar o consumo do tabaco, como as proibições de fumar em lugares fe- chados e públicos, o que pode ter ajudado na redução do uso por jovens em festas fechadas. O tabaco é uma planta conhecida pelo nome científico de Nicotiana tabacum, é cultivada em diversos países e sua produção é anual. Apesar TOXICOLOGIA 108 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 108 04/02/2021 13:48:10 de poder ser utilizado de várias formas, o tabaco é bem mais consumido na forma de cigarro, sendo assim, é necessário que se entenda as reações que acontecem no processo do consumo dessa droga, considerando o fumo do cigarro. A combustão incompleta do tabaco resulta na fumaça do cigarro. Uma com- bustão completa só pode ser observada na brasa (ocorre a 850 ºC). A reação de combustão do tabaco ocorre por meio de reações simultâneas de pirólise, pirossíntese e destilação: • Pirólise: é a ocorrência de uma decomposição térmica em que as substân- cias do tabaco são fracionadas em pequenas moléculas devido às altas tempe- raturas, à oxigenação do fogo e à atmosfera rica em hidrogênio; • Pirossíntese: é quando o calor gera a síntese de novos compostos, o que ocorre pela recombinação dos elementos que foram decompostos na pirólise. Os elementos formados não estavam, originalmente, presentes no tabaco; • Destilação: é a passagem de substâncias para a fase gasosa. Ocorre com a nicotina que, pela alta temperatura, é destilada na combustão do tabaco. Na fumaça do cigarro, duas fases fundamentais das substâncias podem ser diferenciadas: a fase gasosa e a fase particulada. As substâncias são distribuí- das nessas fases de acordo com suas características físico-químicas. Na fase gasosa estão presentes os gases e os vapores que são gerados pela combustão (na pirólise e na pirossíntese). As substâncias mais tóxicas dessa fase são: o monóxido de carbono, o óxido de nitrogênio, a amônia, os aldeídos, as nitrosaminas voláteis e as nitrilas. Na fase particulada, des- tacam-se substâncias como o alcatrão, a nicotina e a água. Ela é constituí- da por um aerossol, em que estão partículas que não são absorvidas pelo filtro do cigarro. O princípio ativo do tabaco é a nicotina, que é amplamente conhecida por seus efeitos tóxicos. A folha do tabaco pode conter aproximadamente 500 constituintes co- nhecidos, porém, quando queimada, já foram iden- tificadas 4720 substâncias. Dessas substâncias, a mais ativa conhecida é a nicotina, que é um alcaloi- de básico do grupo das aminas heterocíclicas. É ex- TOXICOLOGIA 109 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 109 04/02/2021 13:48:10 Farmacologicamente, a nicotina é a substância mais ativa da fumaça do cigar- ro, por isso, quando falamos de toxicologia do tabaco, o enfoque maior é nela. Mecanismo de toxicidade Toxicocinética A introdução da nicotina no corpo pode ser feita por via oral, pulmonar ou dérmica, sendo que a absorção da substância depende da fonte de nicotina uti- lizada. No charuto e no cachimbo, a absorção é mais rápida por via oral devido ao pH ácido da fumaça. No cigarro, a fumaça é básica, promovendo uma ab- sorção mais lenta da nicotina pela via oral, sendo que ela é mais bem absorvida nos alvéolos pulmonares. CURIOSIDADE A diferença na via de absorção entre charutos, cachimbos e cigarros é tida como a explicação para a maior incidência de câncer de cavidade oral em fumantes de charutos e cachimbos, enquanto nos fumantes de cigarro a maior incidência é de câncer de pulmão. Figura 1. Fórmula química da Nicotina. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 26/01/2021. (Adaptado). traída da folha de tabaco e, em temperatura ambiente, é liquida, oleaginosa e incolor, escurecendo em contato com o ar por uma reação de oxidação. TOXICOLOGIA 110 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 110 04/02/2021 13:48:10 Fonte: RITTER et al., 2015, p. 608. GRÁFICO 1. COMPARAÇÃO DO TEMPO DO PICO PLASMÁTICO DE NICOTINA NAS FORMAS DE EXPOSIÇÃO Após a absorção, mesmo alcançando os níveis séricos rapidamente, a nico- tina é transportada em sua forma livre, por não se ligar às proteínas plasmáti- cas, e, em seguida, é distribuída de forma rápida nos órgãos e tecidos. A biotransformação de 90 % da nicotina absorvida ocorre no fígado, pela ação de enzimas microssomais. O principal produto desse metabolismo é a cotinina. Esta substância possui uma meia-vida biológica maior, e a cotinina é biotransformada por oxidação, primeiramente, em trans- 3’-hidroxicoti- nina, seguida por uma N-oxidação e a conjugação com ácido glicurônico, Após a administração oral, a nicotina não é muito absorvida no estomago, por conta do pH ácido, mas é mais bem absorvida no intestino, onde o pH é mais básico. Dos 20 a 25 % de nicotina que entram no corpo, 90 % é absorvido, e como a absorção pulmonar é muito rápida, os níveis séricos são atingidos em 10 minutos. Co nc en tra çã o pl as m át ica d e ni co tin a (n m ol /l) Minutos após a tragada 0 100 0 20 40 60 80 100 200 Cigarro Charuto Cachimbo TOXICOLOGIA 111 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 111 04/02/2021 13:48:10 Fonte: RITTER et al., 2015, p. 608. DIAGRAMA 1. BIOTRANSFORMAÇÃO DA NICOTINA Toxicodinâmica O consumo da nicotina gera alterações complexas no organismo. Elas ocor- rem devido à ação dessa substância sob os sítios neuroefetores e quimiosen- síveis e à ação de estimulação e dessensibilização de receptores específicos. A nicotina se liga aos receptores colinérgicos nicotínicos (nACH), presentes nos gânglios autonômicos, junção neuromuscular e sistema nervoso central (SNC), causando a liberação de vários neurotransmissores, principalmente a dopamina, o que estimula o centro do prazer, levando à dependência. sendoeste conjugado excretado pela urina. Assim como na absorção, a ve- locidade de excreção depende do pH da urina, sendo que em pH alcalino a velocidade diminui. Nicotina 5’Hidroxinicotina Aldeído oxidase Nicotina N-oxido Cotinina Trans 3’-Hidroxicotinina γ (3-Piridil) γ-oxi-N-Metil butiramida AC γ (3-Piridil) γ-oxibutírico Cotinina N-Oxido Íon Nicotina TOXICOLOGIA 112 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 112 04/02/2021 13:48:11 Sinais e sintomas A intoxicação aguda por nicotina leva ao aumento da frequência cardíaca, leve hipertensão e aumento da frequência respiratória. Pode gerar a sensa- ção de excitação, maior concentração, sensação de prazer e menor tensão e ansiedade. Na primeira exposição à nicotina, pode ocorrer náuseas e dimi- nuição de apetite. A intoxicação grave por nicotina leva à dois tipos de sintomas, primeiramen- te, excitatórios e, posteriormente, inibitórios. Os sintomas excitatórios podem se manifestar, no indivíduo, na forma de salivação, náuseas, aumento das se- creções brônquicas, taquicardia, hipertensão, ansiedade, espasmos muscula- res e convulsões. Na fase inibitória, os sintomas se apresentam na forma de dispneia, bradicardia, hipotensão, letargia e paralisia. Tratamento O tratamento para intoxicação aguda por nicotina deve ser realizado de acordo com os sintomas que aparecerem. Já em intoxicações graves, deve-se realizar tratamento por suporte. Não é aconselhado realizar lavagem gástrica ou administração de carvão vegetal. No caso de intoxicações graves, pode ser necessário a proteção das vias respiratórias e suporte ventilatório para pacientes com grande aumento de se- creção respiratória ou com fraqueza muscular. Os pacientes em choque devem receber hidratação venosa e, se necessário, aminas vasopressoras. Em pacien- tes com bradicardia grave aconselha-se o uso de atropina. Cannabis A Cannabis sativa é uma planta antiga, com registros que datam de 2800 a.C., e com diversos usos, inclusive medicinais. Ela é cultivada no mundo todo, e no Brasil parece ter sido introduzida no consumo da população na época das capitanias hereditárias, além de ter sido utilizada na produção de fi bras e tecidos. Apesar disso, a planta parece ter sido utilizada há mais tempo por indivíduos escravizados, para fi ns hipnóticos. TOXICOLOGIA 113 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 113 04/02/2021 13:48:11 O cânhamo, como também é conhecida a Cannabis, foi muito utilizado na medicina oriental, na antiguidade, porém seu uso voltou a estar em foco em 1964 com a identificação do composto ∆9-tetra-hidrocanabiol (THC). Dentre os principais compostos da planta estão o THC, o canabidiol, seu precursor, e o canabiol que é um produto da decomposição do THC. Apesar de o canabidiol e o canabiol não possuírem características psi- coativas, apresentam ações anticonvulsivantes e indutoras do metabolismo hepático de medicamentos. CURIOSIDADE O uso de medicamentos com base de canabidiol, no Brasil, foi liberado com prescrição médica. Eles são usados no tratamento de convulsões, dor crônica, autismo, mal de Parkinson e transtorno de ansiedade. Mesmo com a venda prescrita liberada, a Cannabis sativa ainda não pode ser produzida no país. O caule dessa planta possui fibras muito fortes e duráveis, que podem ser usadas na produção de papéis, corda e fios para confecção de tecidos. As se- mentes são utilizadas para a extração de óleo, que por sua vez é utilizado na produção de tintas, sabão e até de óleo comestível. O THC é a substância considerada psicoativa na Cannabis sativa, e está pre- sente em todas as partes da planta. Entretanto, sua maior concentração en- contra-se nas flores e resina, de onde pode-se extrair duas drogas ilícitas: a maconha, a mais utilizada, e o haxixe. A maconha é produzida da mistura de folhas e flores secas da Cannabis, e pode ser usada na forma de fumo ou ingerida. Seus efeitos, quando fumada, podem ser sentidos em poucos segun- dos. Já na ingestão, leva-se até 60 mi- nutos para se sentir os efeitos. O haxixe é muito mais forte que a maconha, principalmente por apre- sentar maior concentração de THC. Isso se deve ao fato de ele ser extraí- do da resina de flores e folhas, que seria um extrato superconcentrado TOXICOLOGIA 114 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 114 04/02/2021 13:48:12 de THC. O seu uso também é na forma de fumo (podendo ser misturado ao tabaco) ou ingestão. A Cannabis sativa é composta por 70 compostos considerados canabinoides, e que estão entre os 489 compostos químicos naturais presentes na planta. A preparação da planta para uso pode variar de acordo com as partes utili- zadas, o teor de THC e a forma como ela será consumida. O Quadro 1 mostra a defi nição do nome dado a cada preparação: QUADRO 1. PRINCIPAIS PREPARAÇÕES DA CANNABIS Preparação Composição Teor de Δ9-THC Modo de uso Maconha (Brasil); Marijuana, grass (EUA); Kit (Marrocos); Dagga (África do Sul). Planta inteira, com proporções variáveis de folhas, infl orescên- cias, caules e frutos. 1 a 3% Fumada por meio de cigarros conhecidos como “fi ninho” ou “ba- seado”. Em média, um cigarro contém entre 0,5 a 1,0 g da erva. Haxixe (Meio-Oeste e Norte da África); Charas (Índia). Exsudato resinoso seco, coletado das infl orescências das plantas cultivadas. 10 a 20% Geralmente fumado por meio de cachimbos. Óleo de haxixe (Can- nabis líquida ou óleo de Cannabis). Produto obtido por meio da extração com solventes orgânicos ou por destilação. Ra- ramente presente no comércio ilícito. 15 a 60% Adicionado a ali- mentos e bebidas ou mesmo ao material vegetal para aumen- tar sua potência. Sissemilla “Seedless marijuana” (Califórnia, EUA). Sumidades fl oridas das plantas femininas que não foram polini- zadas. 5 a 14% Fumada. Ganja (Índia). Massa resinosa composta por folhas pequenas e infl ores- cências de plantas cultivadas. Cerca de 3% Fumada ou adiciona-da a bebidas e doces. Bhang (Índia). Folhas secas e infl o- rescências de plantas não cultivadas. Equivalente à de maconha Normalmente é bebida na forma de decoração. Skunk ou skank. Cultivo em condições controladas de tem- peratura, umidade, nutrientes, luminosi- dade, geralmente em hidroponia. Até 35% Fumada. Maconha (Brasil); Marijuana, grass (EUA); Maconha (Brasil); Marijuana, grass (EUA); Kit (Marrocos); Dagga (África do Sul). Maconha (Brasil); Marijuana, grass (EUA); Kit (Marrocos); Dagga (África do Sul). Haxixe (Meio-Oeste e Marijuana, grass (EUA); Dagga (África do Sul). Haxixe (Meio-Oeste e Norte da África); Charas (Índia). Dagga (África do Sul). Planta inteira, com proporções variáveis Haxixe (Meio-Oeste e Norte da África); Charas (Índia). Planta inteira, com proporções variáveis de folhas, infl orescên- cias, caules e frutos. Haxixe (Meio-Oeste e Norte da África); Charas (Índia). Óleo de haxixe (Can- nabis líquida ou óleo de Cannabis). Planta inteira, com proporções variáveis de folhas, infl orescên- cias, caules e frutos. Exsudato resinoso Óleo de haxixe (Can- nabis líquida ou óleo de Cannabis). proporções variáveis de folhas, infl orescên- cias, caules e frutos. Exsudato resinoso seco, coletado das infl orescências das plantas cultivadas. Óleo de haxixe (Can- nabis líquida ou óleo de Cannabis). Sissemilla “Seedless marijuana” (Califórnia, de folhas, infl orescên- cias, caules e frutos. Exsudato resinoso seco, coletado das infl orescências das plantas cultivadas. nabis líquida ou óleo Produto obtido por Sissemilla “Seedless marijuana” (Califórnia, EUA). 1 a 3% Exsudato resinoso seco, coletado das infl orescências das plantas cultivadas. Produto obtido por meio da extração com solventes orgânicos ou por destilação. Ra- Sissemilla “Seedless marijuana” (Califórnia, Ganja (Índia). plantas cultivadas. Produto obtido por meio da extração com solventes orgânicos ou por destilação. Ra- ramente presente no comércio ilícito. marijuana” (Califórnia,Ganja (Índia). 10 a 20% Produto obtido por meio da extração com solventes orgânicos ou por destilação. Ra- ramente presente no comércio ilícito. Sumidades fl oridas das plantas femininas Ganja (Índia). Bhang (Índia). Fumada por meio de cigarros conhecidos como “fi ninho” ou “ba- 10 a 20% meio da extração com solventes orgânicos ou por destilação. Ra- ramente presente no comércio ilícito. Sumidades fl oridas das plantas femininas que não foram polini- zadas. Bhang (Índia). Fumada por meio de cigarros conhecidos como “fi ninho” ou “ba- seado”. Em média, um cigarro contém entre ramente presente no 15 a 60% Sumidades fl oridas das plantas femininas que não foram polini- Massa resinosa composta por folhas Bhang (Índia). Fumada por meio de cigarros conhecidos como “fi ninho” ou “ba- seado”. Em média, um cigarro contém entre 0,5 a 1,0 g da erva. 15 a 60% das plantas femininas que não foram polini- Massa resinosa composta por folhas pequenas e infl ores- cências de plantas cultivadas. Skunk ou skank. cigarros conhecidos como “fi ninho” ou “ba- seado”. Em média, um cigarro contém entre 0,5 a 1,0 g da erva. Geralmente fumado por meio de cachimbos. que não foram polini- Massa resinosa composta por folhas pequenas e infl ores- cências de plantas cultivadas. Folhas secas e infl o- Skunk ou skank. seado”. Em média, um cigarro contém entre 0,5 a 1,0 g da erva. Geralmente fumado por meio de cachimbos. 5 a 14% composta por folhas pequenas e infl ores- cências de plantas cultivadas. Folhas secas e infl o- rescências de plantas não cultivadas. Skunk ou skank. Geralmente fumado por meio de cachimbos. Adicionado a ali- mentos e bebidas ou mesmo ao material cências de plantas Folhas secas e infl o- rescências de plantas não cultivadas. Cultivo em condições controladas de tem- por meio de cachimbos. Adicionado a ali- mentos e bebidas ou mesmo ao material vegetal para aumen- tar sua potência. Cerca de 3% Folhas secas e infl o- rescências de plantas não cultivadas. Cultivo em condições controladas de tem- peratura, umidade, nutrientes, luminosi- Adicionado a ali- mentos e bebidas ou mesmo ao material vegetal para aumen- tar sua potência. Cerca de 3% rescências de plantas Cultivo em condições controladas de tem- peratura, umidade, nutrientes, luminosi- dade, geralmente em hidroponia. mentos e bebidas ou mesmo ao material vegetal para aumen- tar sua potência. Fumada. Equivalente à de maconha Cultivo em condições controladas de tem- peratura, umidade, nutrientes, luminosi- dade, geralmente em hidroponia. vegetal para aumen- Equivalente à de maconha nutrientes, luminosi- dade, geralmente em Fumada ou adiciona- da a bebidas e doces. Até 35% Fumada ou adiciona- da a bebidas e doces. Normalmente é Até 35% Fumada ou adiciona- da a bebidas e doces. Normalmente é bebida na forma de decoração. da a bebidas e doces. Normalmente é bebida na forma de decoração. bebida na forma de Fumada.Fumada. Fonte: OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008, p. 437. (Adaptado). TOXICOLOGIA 115 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 115 04/02/2021 13:48:12 Figura 2. Fórmulas químicas estruturais dos principais compostos canabinoides. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 26/01/2021. (Adaptado). O THC é um composto de estrutura tricíclica com 21 carbonos, principal responsável pela ação psicoativa da Cannabis sativa. É um óleo viscoso, volátil, insolúvel em água e muito lipofílico, o que facilita a passagem desse composto pela barreira hematoencefálica. A forma como o THC age no organismo não é muito defi nida. Existem duas hi- póteses para explicar o mecanismo de ação desse composto. A primeira seria ba- seada na interação não específi ca do THC com organelas e membranas celulares no cérebro, o que é chamado de mecanismo de perturbação de membranas. A segunda hipótese seria a interação do composto com receptores canabinoides es- pecífi cos. É difícil defi nir, exatamente, qual o mecanismo de ação seguido pelo THC, porém muitos estudos in vivo sugerem que a primeira hipótese seja verdadeira. Mecanismo de toxicidade Toxicocinética As formas de consumo da Cannabis variam de acordo com seu preparo, sen- do que existem duas formas principais de consumo da droga: via fumo ou via ingestão. Sendo assim, existem duas vias de absorção: a pulmonar e a oral. THC CBN CBG THCV CBD CBC Cannabis TOXICOLOGIA 116 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 116 04/02/2021 13:48:12 A absorção alveolar é muito rápida por questões anatômicas, sendo a superfície de absorção e a quantidade de irrigação san- guínea muito grandes. Essa rápida absorção colabora para que em cerca de dez minutos o THC já seja detectado no plasma. A biodisponi- bilidade plasmática do THC varia de acordo com alguns fatores: • A perda de THC durante o ato de fumar: acon- tece por pirólise. Inclusive, a concentração de THC é maior na segunda metade do cigarro; • A forma de fumar: que determina o tempo de manutenção da fumaça no pulmão, a velocidade das tragadas e o intervalo entre elas; • A experiência do fumante: a biodisponibilidade de THC em usuários crô- nicos é bem maior do que em fumantes ocasionais. A absorção por via gastrointestinal é lenta e irregular, conseguindo alcançar os índices plasmáticos após uma ou duas horas da ingestão. Apesar de grande parte ser absorvida na porção superior do intestino delgado, alguns fatores levam à baixa biodisponibilidade do THC em casos de ingestão: • Grande metabolização de primeira passagem no fígado; • Degradação do THC no pH ácido do estomago. Sendo assim, os efeitos demoram mais para aparecer e duram por mais tempo, enquanto na absorção alveolar os efeitos ocorrem em minutos e a du- ração deles é de até metade do tempo da absorção oral. Após a absorção, o THC se liga, em grande parte, às lipoproteínas plasmá- ticas devido ao alto poder lipofílico. Então, ele é rapidamente distribuído pelos tecidos e órgãos muito vascularizados, como cérebro, fígado, coração, rins e pulmões. Em seguida, o THC é redistribuído nos tecidos menos vascularizados, principalmente no tecido adiposo, onde ocorre um maior acúmulo da substân- cia (maior que os níveis plasmáticos). No fígado, o THC sofre hidroxilação por ação das enzimas do citocromo p450, se transformando no metabólito ativo 11-OH-THC, que sofre oxida- ção, originando o metabólito inativo COOH-THC, que é conjugado, princi- palmente, com o ácido glicurônico e posteriormente excretado na urina. TOXICOLOGIA 117 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 117 04/02/2021 13:48:12 Fonte: ALVES, 2015, p. 5. DIAGRAMA 2. BIOTRANSFORMAÇÃO DO THC Acontece que grande parte do que é biotransformado não se conjuga e é liberado em forma de 11- OH-THC nas fezes. Toxicodinâmica Os efeitos causados pelos canabinoides no organismo se dão devido a interações com receptores específicos de canabinoides, ou receptores CB. Esses receptores são comuns no cérebro e nos tecidos periféricos, e são conhecidos como CB1 e CB2. A presença desses receptores foi descoberta entre os anos de 1988 e 1993, sendo que CB1 foram encontrados no cérebro, principalmente em regiões as- sociadas à cognição, memória, sistema de recompensa, percepção sensorial da dor, coordenação motora e função endócrina. O CB2 é encontrado nos tecidos periféricos, como o baço, amigdalas, timo e células sanguíneas. O mecanismo de ação do THC no organismo não é tão conhecido, mas as evi- dências apontam para a ação estimulante da ação dopaminérgica na via meso- límbica, o que desperta o sistema de recompensa e pode levar à dependência. HidroxilaçãoH H H H OH OH O O CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 Δ9 – THC 11-OH-Δ9 – THC Oxidação H H H H OH OH O O O- OHO O CH3 CH3 CH3 CH3 COOH- Δ9 – THC glicuronidado COOH- Δ9 – THC Glicuronídeo Glicuronídeo Glicuronídeo TOXICOLOGIA 118 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 118 04/02/2021 13:48:12 Sinais e sintomas O uso de drogas canabinoidesleva a sinais e sintomas claros, a curto e a longo prazo. A curto prazo, são observados inúmeros sintomas, como um período de euforia e bem-estar (no início), relaxamento, sonolência e de- pressão. Em alguns casos, o consumo pode produzir ansiedade, temor, des- confi ança ou pânico. A coordenação motora é diminuída e a noção de tempo e espaço fi ca com- prometida, o que torna o ato de dirigir veículos muito perigoso. Nesse período, também pode ocorrer perda da memória recente, aumento na sensibilidade a estímulos, taquicardia, hiperemia das conjuntivas, aumento do apetite e secu- ra da boca e garganta. A longo prazo, causa défi cit pulmonar maior que em usuários de tabaco e, devido à combustão completa que ocorre no cigarro de maconha, existe uma maior absorção de CO, levando à diminuição do transporte de oxigênio pelo corpo, principalmente nos pulmões. O uso crônico de maconha também está ligado à deterioração do sistema imunológico e a psicopatologias. Existem estudos que ligam o uso de maconha a crises de esquizofrenia irreversíveis. Tratamento O tratamento para intoxicação por Cannabis sativa é apenas de suporte e ligado ao tratamento de sintomas. Em caso de síndrome de hiperemese cana- binoides, pode ser necessária a realização de hidratação via intravenosa e o uso de antieméticos, como o haloperidol e a capsaicina tópica. O tratamento no caso de dependência é apenas psicológico e comporta- mental, com grupos de apoio e terapias alternativas. Derivados da cocaína A cocaína é um estimulante do sistema nervoso central, que é conhecido por ser usado legalmente como anestésico. Apesar disso, o seu uso mais popu- lar é como droga ilícita estimulante. TOXICOLOGIA 119 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 119 04/02/2021 13:48:13 Os derivados da cocaína também são utilizados como entorpecentes. Po- rém, enquanto o sal é considerado uma droga elitizada, o crack, por exemplo, é uma droga de escolha de usuários de periferia, por seu baixo custo. O crack é uma forma básica da cocaína-COC, também conhecida como base livre ou cocaína alcaloidal, e pode ser obtido por meio da dissolução do pó de cocaína em água e alcalinizante. A mistura de cocaína com água e bicarbonato de sódio ou hidróxido de sódio é aquecida e forma uma fina película oleosa sobrenadante. Essa película é retirada e resfriada em banho de gelo, formando cristais ou pedras, que posteriormente serão aquecidas para serem fumadas. DIAGRAMA 3. ESQUEMA DO PROCESSAMENTO DA FOLHA DE COCA ATÉ O CRACK + água + álcali (CaCO3, Ca(OH)2, bicarbonato) + solvente (querosene, gasolina) + água + base (bicarbonato) + aquecimento + ácido + base + éter/HCl/acetona Crack Folha de coca Fase orgânica Fase orgânica Fase aquosa Pasta de coca Cloridrato de cocaína TOXICOLOGIA 120 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 120 04/02/2021 13:48:13 Devido ao seu baixo ponto de fusão (98 ºC) e à sua alta volatilidade, o crack, quando aquecido, pode ser fumado para se obter efeitos rápidos, equivalen- tes aos apresentados ao se injetar clori- drato de cocaína de forma intravenosa. Durante o fumo, o aquecimento da cocaína base promove a pirólise da cocaína, levando à formação de um composto chamado metilecgonidina, tam- bém conhecido como anidroecgonina metil éster (AEME). A base livre fumada tem maior potencial de causar dependência e abuso do que as formas comuns de consumo da cocaína, como a intravenosa e intrana- sal. Esse fato parece estar ligado à formação do composto AEME, porém pouco se sabe sobre a toxicologia e ação biológica dele. Percebe-se que a forma de administração da cocaína como cloridrato ou em base livre influencia diretamente na dependência, no tempo de duração e tipos dos efeitos causados por essa droga. Existe, também, uma variação mais recente do crack, que parece usar, em seu preparo, gasolina, querosene e cal virgem. É o chamado crack oxidado, oxi- dado ou oxi. Do oxi, também se faz o cocaetileno. EXPLICANDO Existem casos em que se mistura o oxi com o álcool. Essa substância é chamada cocaetileno, e ela é muito tóxica para o fígado. Com pouco tempo de uso, as lesões ao órgão já são muito graves. Inicialmente produzido e consumido na Bolívia e no Peru, o oxi chegou ao Brasil em 2005, mas a primeira apreensão da droga, em São Paulo, foi em mar- ço de 2011. O oxi é consumido misturado no cigarro de tabaco ou maconha e em cachimbos improvisados, assim como o crack. Ele gera uma fumaça densa e escura que deixa resíduos marrons como a ferrugem, por isso o nome oxidado. Como o oxidado é uma mistura muito tóxica, pela presença de combustíveis e até de ácido sulfúrico, os danos à saúde causados por ele são mais intensos e podem levar à óbito com menos de um ano de uso. TOXICOLOGIA 121 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 121 04/02/2021 13:48:13 O grande potencial de dependência destas drogas levou o Brasil, especial- mente São Paulo, a um grande problema de saúde e segurança pública. Por isso, o estudo da toxicologia e das formas de tratamento para a dependência e o abuso no consumo de crack se faz necessário. O tratamento é longo e com alto risco de recaída. Mecanismo de toxicidade Toxicocinética Durante o processo de fumar o crack, o indivíduo absorve instantaneamen- te a base livre e a AEME que é liberada na pirólise, além disso, ainda absorve inúmeras impurezas presentes na pedra. Essa absorção ocorre nos pulmões, por sua alta vascularização e grande superfície para absorção. Como a tempe- ratura infl uencia na quantidade de AEME liberada, durante o ato de fumar, a absorção dos tóxicos vai depender do cachimbo, do tempo de aspiração e da temperatura de queima. Após a absorção rápida pelos alvéolos, os níveis séricos são alcançados ra- pidamente e as substâncias passam a ser distribuídas, primeiramente no sis- tema nervoso central (SNC), sendo que a concentração no cérebro passa a ser equivalente à do sangue. A distribuição ocorre rapidamente devido à alta lipos- solubilidade das substâncias e à alta afi nidade com as proteínas plasmáticas. A biotransformação ocorre, principalmente, no fígado. Tanto a cocaína quanto a AEME possuem vias semelhantes. A cocaína absorvida é transforma- da em éster metilecgonina e benzoilecgonina, sendo que a primeira é o pro- duto da hidrólise mediada por colinesterase plasmáticas e hepáticas do grupo benzoato, e a segunda é resultado da hidrólise espontânea ou de reações cata- lizadoras mediadas por carboxilesterases. Já as reações envolvidas na biotransformação da AEME não são muito conhecidas, sabe-se apenas que ocorrem, princi- palmente, no fígado, porém observa-se reações ocor- rendo nos pulmões, rins e cérebro em menor inten- sidade. Sabe-se, também, que a biotransformação ocorre de forma rápida por processos enzimáticos e não enzimáticos, resultando na excreção, pelos TOXICOLOGIA 122 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 122 04/02/2021 13:48:13 Fonte: GARCIA, 2014, p. 33. DIAGRAMA 4. PRODUTOS DE BIOTRANSFORMAÇÃO DA AEME No Diagrama 4, as setas 1 (hidrólise do grupo éster), 2 (etil transesterifica- ção), 3 (N-desmetilação) e 4 (N-oxidação) correspondem às vias cientificamente comprovadas, enquanto as setas 5 (hidrólise do grupo éster), 6 (N-desmetila- ção) e 7 (etil transesterificação) correspondem às postuladas. Toxicodinâmica O mecanismo de ação da cocaína é bem conhecido, porém o da AEME não. Por isso, utilizamos o mecanismo de ação de uma substância similar para esta- belecer um parâmetro enquanto não existe uma definição científica. A cocaína age na inibição da captura das catecolaminas na fenda sináptica, resultando no acúmulo de noradrenalina e dopamina, causando a euforia. O uso pode gerar muitos efeitos tóxicos, como arritmias, miocardite e acidentes vasculares cerebrais. Como o mecanismo de ação da AEME não foi completamente compreendi- do, postulou-se o uso do mecanismo de duas substâncias como parâmetros: a rins, da anidroecgonina, e queno uso concomitante do álcool etílico, pode-se excretar anidroecgonina etil éster e seu produto metilado. Anidroecgonina metil éster N-óxido O - + CO2CH3H3CN CO2CH3HN CO2CH3H3CN CO2HH3CN CO2C2H5HN CO2C2H5HN 4 2 5 7 1 6 3 Anidronorecgonina metil éster Anidroecgonina etil éster Anidroecgonina etil éster Anidroecgonina etil éster AnidroecgoninaAEME CO2C2H5H3CN TOXICOLOGIA 123 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 123 04/02/2021 13:48:13 Figura 3. Semelhança entre a AEME e as substâncias usadas como parâmetro. Fonte: GARCIA, 2014, p. 34. Baseados nesses antagonistas, alguns estudos sugerem que a AEME cau- sa a diminuição da intensidade dos batimentos cardíacos pela diminuição de cálcio nas células, fato que seria atribuído à estimulação dos receptores muscarínicos. Também se percebeu a reversão desse estado com a adminis- tração de atropina, que é um antagonista inespecífi co de receptores colinér- gicos muscarínicos. Sinais e sintomas Os sintomas mais observados do uso abusivo de crack são semelhantes aos de intoxicação por cocaína, porém há alguns sinais muito particulares do uso da droga: as queimaduras na boca, narinas e mãos. Também é possível observar alterações comportamentais, como excitação, euforia, embotamento afetivo, alterações de personalidade, hipervigilância e ansiedade. No que tange aos sintomas físicos, também temos a bradicardia, a taquicar- dia, a dilatação das pupilas, a transpiração, o calafrio, a alteração da pressão arterial, as náuseas, a agitação, a fraqueza muscular, a depressão respiratória, as arritmias cardíacas, as convulsões e a morte. Tratamento De acordo com as diretrizes gerais médicas para a assistência integral ao crack, deve-se seguir alguns protocolos em caso de intoxicação: arecolina, que é um antagonista de receptores colinérgicos muscarínicos, e a anatoxina-a, que é antagonista de receptores nicotínicos. H3CN CO2CH3 Arecolina H3CN CO2CH3 AEME HN COCH3 Anatoxina-a TOXICOLOGIA 124 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 124 04/02/2021 13:48:13 • Uso de Diazepam em doses fracionadas para acalmar o indivíduo e man- tê-lo levemente sedado. Em casos extremos, podem ser usados antipsicóticos de ação rápida; • Monitoramento de sinais vitais, frequência respiratória e temperatura de duas em duas horas; • Tratamento de suporte, cuidando dos sintomas que aparecerem (como os cardíacos). Após estabilizado, é preciso encaminhar o paciente para tratamen- to de desintoxicação. Cromatografia A metodologia físico-química de separação, identifi cação e/ou quan- tifi cação dos componentes de uma mistura, que tem como princípio a mi- gração diferencial dos componentes entre duas fases imiscíveis (estacioná- ria e móvel), é conhecida como croma- tografi a. Como essa metodologia é de alta confi abilidade e precisão, é muito utilizada para a separação e/ou detecção de quantidades muito pequenas de substâncias. Sendo assim, é um método muito utilizado na toxicologia, a fi m de determi- nar as substâncias presentes em uma droga, ou detectar quantidades peque- nas de metabólitos em fl uidos biológicos. Os tipos de cromatografi as são inúmeros, e a sua classifi cação pode dar-se de acordo com a forma física do sistema: planar ou em coluna. Dentro de cada uma dessas categorias está uma variedade de técnicas: • Cromatografi a planar: • Cromatografi a em camada delgada (CCD); • Cromatografi a em papel (CP); • Cromatografi a por centrifugação (Chromatotron). • Cromatografi a de coluna: • Cromatografi a supercrítica (CSC); • Cromatografi a gasosa (CG); TOXICOLOGIA 125 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 125 04/02/2021 13:48:14 Cromatografia da Cannabis sativa e estimulantes O uso de drogas, como a Can- nabis sativa, a cocaína e as anfeta- minas, e o seu tráfico intenso no mundo todo faz com que seja neces- sário um melhor entendimento da composição química dessas drogas, principalmente para que sejam me- lhor entendidas as suas toxicocinéti- cas e toxicodinâmicas, e como os metabólitos gerados são excretados. A técnica mais usada para o entendimento da composição química desses compostos é a cromatografia. Neste tópico, vamos tratar das principais técnicas de cromatografi a utili- zadas para a análise química da Cannabis sativa, cocaína e anfetaminas. Em primeiro lugar, trataremos da cromatografi a gasosa, que é a mais utilizada na análise das três substâncias. Cromatografi a gasosa Essa categoria de cromatografi a é um método físico-químico de separação dos componentes de uma mistura, que passa por duas fases interligadas: a fase estacionária, que está contida na coluna cromatográfi ca, e a fase móvel, conhecida como gás de arraste, e que percorre a coluna. É nessa fase que estão os analitos a serem separados. Quando os gases de arraste com os analitos passam pela fase estacionária, são distribuídos e retidos de acordo com a sua afi nidade físico-química. Pos- teriormente, eles são eluídos seletivamente em direção ao analisador, o que resulta em migrações diferentes para cada analito. Para que possamos entender melhor esse processo, vamos conhecer as principais partes de um cromatógrafo. Veja a Figura 4: • Cromatografi a gasosa de alta resolução (CGAR); • Cromatografi a líquida clássica (CLC); • Cromatografi a líquida de alta efi ciência (HPLC); • Cromatografi a líquida de ultra efi ciência (U-HPLC). TOXICOLOGIA 126 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 126 04/02/2021 13:48:14 Figura 4. Esquema representativo de um cromatógrafo gasoso acoplado a um espectrômetro de massa. Fonte: BUSTILLOS, 2020, p. 29. Um cromatógrafo a gás é formado basicamente por um injetor, a coluna e o detector (que nesse caso é o espectrômetro de massa). Ele funciona da seguinte forma: a amostra de interesse (líquida, gasosa ou sólida) é introdu- zida no injetor, que, com o uso de temperatura, favorece a vaporização da amostra. O gás de arraste carrega os analitos gasosos para a coluna, que é constituída de sílica fundida com fase estacionária interna (polar ou apolar). A coluna fica em um forno programável, que, de acordo com a programação de temperatura, contribui para a separação dos analitos, de acordo com as características de cada um, como volatilidade, ponto de ebulição, peso mole- cular e estabilidade térmica. Ao fim da coluna, de acordo com o tempo de retenção de cada analito (RT), cada espécie vai seguindo para o detector. Os resultados observados são re- presentados na Gráfico 2: Injetor Bomba de vácuo mecânica Bomba de vácuo turbomolecular Analisador quadrupolo Espectrômetro de massas – MS Fonte de íons Interfase Detector Coluna capilar Cromatógrafo a gás – GC Forno de GC Analisador GC/MS TOXICOLOGIA 127 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 127 04/02/2021 13:48:15 Fonte: LASMAR; LEITE, 2007, p. 226. GRÁFICO 2. CROMATOGRAMA OBTIDO DE CROMATOGRAFIA GASOSA REALIZADA EM COMPRIMIDOS DE ECSTASY PARA DETERMINAR OS SEUS COMPONENTES Cromatografia líquida Um dos principais usos da cromatografia líquida na toxicologia é na análise da composição das drogas de abuso e da presença dessas drogas em fluidos biológicos. A mais popular dessa categoria é a high-performance liquid chroma- tography (HPLC), ou cromatografia líquida de alta eficiência. Ela funciona com um sistema de bombeamento do líquido pressurizado (solvente) onde está presente a amostra, que é passado através de uma coluna preenchida de um material sólido adsorvente. Na coluna, a amostra interage com o material adsorvente, sendo que cada analito presente terá sua taxa de fluxo garantindo a separação dos componen- tes quando saem da coluna. Isso ocorre devido aos diferentes graus de intera- ção entre cada partícula, o solvente e a coluna. Anfetamina Metanfetamina Catina Pseudoefedrina MDA MDMA MBDB Pare TOXICOLOGIA 128 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 128 04/02/2021 13:48:16 O líquido pressurizado que é misturado com a amostra (considerando a fase móvel docromatógrafo) é um solvente, como água, acetonitrila, e/ou metanol, e a interação desse solvente com os compostos é crucial para o processo de separação. O HPLC geralmente é formado por um amostrador, bombas e um detector. O amostrador é responsável pelo transporte da amostra para o fl uxo de fase móvel que, posteriormente, será transferido para a coluna por meio do fl uxo que é garantido pelas bombas. Já o detector gera um sinal que permite uma análise quantitativa dos analitos. GRÁFICO 3. RESULTADO DA CROMATOGRAFIA GASOSA DE EXTRATO DE CANNABIS SATIVA Fonte: CARVALHO, 2020, p. 92. Cromatografia e identificação de venenos A toxicologia utiliza a cromatografi a para diversas identifi cações e quanti- fi cações de substâncias. Além de ser utilizada para quantifi car as drogas de abuso, também é utilizada na identifi cação de venenos. Os venenos são substâncias de origem animal ou vegetal, utilizadas por es- tes seres vivos para autodefesa ou predação. Os venenos podem vir de plantas, abelhas, vespas, cobras, entre outros. 325 Diazepam CBDA CBD CBN THC THCA 325 300 300 275 275 250 250 225 225 200 200 175 175 150 150 125 125 100 100 75 75 50 50 25 25 0 0 -25 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 -25 TOXICOLOGIA 129 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 129 04/02/2021 13:48:16 Normalmente, esses venenos são uma mistura complexa de substâncias biologicamente ativas, formados, em grande parte, por proteínas, compostos orgânicos e inorgânicos. Essa variedade na composição dos venenos impulsio- na estudos para entender as moléculas que são farmacologicamente ativas e, assim, desenvolver novos medicamentos e antídotos. O processo de análise dos venenos inclui o uso de diversas técnicas e equi- pamentos para a separação de seus compostos e análises de vestígios. A utili- zação dessas técnicas na toxicologia resulta no maior conhecimento da atua- ção de cada componente de uma droga, podendo ser essencial em casos de intoxicação e envenenamento acidental ou criminoso. No caso de morte por intoxicação, por exemplo, é realizada a análise toxi- cológica sistemática dos fluidos orgânicos e órgãos da vítima (no caso de não haver suspeita de um veneno específico). Assim, pode-se chegar ao veneno causador da morte e qual a concentração dele no organismo. Para esse tipo de análise, é utilizada a cromatografia líquida ou gasosa em conjunto com a espectrometria de massa. GRÁFICO 4. PERFIL CROMATOGRÁFICO DO FRACIONAMENTO DE SORO DA SERPENTE B. JARARACA Fonte: SILVA, 2017, p. 41. 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 0 10 20 30 40 Tempo (min) Ab so rb ân cia 2 80 n m (m Au ) 50 60 70 80 90 FT D1 D2 TOXICOLOGIA 130 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 130 04/02/2021 13:48:16 Sintetizando As drogas de abuso são aquelas que têm potencial de gerar dependência no usuário. Dentre elas estão o tabaco, a Cannabis sativa e a cocaína e seus derivados. O tabaco, apesar de ser socialmente aceitável, é uma das drogas que mais mata e que tem mais dependentes em diversas faixas etárias. Além de ser usa- do, tradicionalmente, na forma de cigarro, o tabaco também é mastigado, o que leva a uma outra forma de absorção da droga. O tabaco é um composto complexo, e o seu consumo na forma de cigarro libera inúmeras toxinas como a nicotina, que é o princípio ativo da droga. Os sin- tomas da intoxicação por nicotina estão ligados ao sistema cardiorrespiratório, elevando a frequência cardíaca e respiratória. A Cannabis sativa tem seu uso legal e ilegal, sendo o uso medicinal legalizado para o controle de sintomas de algumas doenças, mas o uso recreativo é ilegal. O composto ativo que é tido como responsável pelos efeitos no SNC é o THC, que é considerado o composto psicoativo da planta e é o principal componente da maconha e do haxixe. A cocaína é considerada uma droga com alto potencial de dependência e to- lerância, e ainda existem drogas derivadas dela que têm sido consumidas em grandes quantidades nas ruas, como o crack e o oxi. O crack se tornou um problema de saúde e segurança pública no Brasil, prin- cipalmente por seu alto poder de estímulo do SNC, pelo seu baixo custo, pelo número enorme de pessoas viciadas nas ruas e pela sua rápida capacidade letal. Para determinar a presença, a quantidade e a procedência dessas drogas de abu- so, são utilizados métodos avançados de cromatografia, que se destacam pelo refi- namento de seus resultados, conseguindo separar os componentes de cada droga. Podemos concluir, nesta unidade, que as drogas de abuso são mais perigo- sas do que parecem, tanto para os indivíduos quanto para a sociedade. Muitas pesquisas ainda precisam ser realizadas para que se entenda cada vez mais o mecanismo de ação dessas drogas no organismo, podendo, assim, combater o vício e as intoxicações. TOXICOLOGIA 131 SER_FARMA_TOXICO_UNID4.indd 131 04/02/2021 13:48:16 Referências bibliográficas ALVES, M. N. R. Análise de canabinóides e cocaínicos em amostras de ca- belo e sua correlação com sintomas psiquiátricos. 2015. 164 f. Tese de Dou- torado (Toxicologia) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2015. 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