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DESCRIÇÃO
Os direitos fundamentais e seu papel no Estado Democrático de Direito.
PROPÓSITO
Entender o conceito de direito fundamental, quais são os direitos colocados nessa categoria pela
Constituição Federal e de que forma a sua compreensão é importante para a boa atuação no setor
público e para a defesa da democracia.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Compreender o conceito de direito fundamental e as suas classificações
MÓDULO 2
Reconhecer o tratamento dado pela Constituição Federal aos direitos fundamentais
PREPARAÇÃO
É importante que, ao longo do estudo, você tenha em mãos a Constituição Federal de 1988.
 
Fonte: ErenMotion/Shutterstock
INTRODUÇÃO
O Brasil é um Estado Democrático de Direito, conforme expresso no art. 1º da Constituição Federal de
1988. Isso significa, em primeiro lugar, que em nosso país vigora a ideia de governo da maioria, como
decorrência da soberania popular. É por isso que ocorrem eleições periódicas, por meio das quais se
escolhem os representantes do povo de acordo com a vontade da maioria manifestada nas urnas.
Entretanto, o Estado Democrático de Direito também possui outro requisito essencial: a existência de
uma Constituição que, além de definir a estrutura básica do Estado, protege os direitos fundamentais. É
justamente esse o objetivo principal buscado pela Constituição Brasileira de 1988.
Isso nos mostra que a estruturação e a atuação do Poder Público estão intimamente ligadas aos direitos
fundamentais que se busca proteger. Afinal, o fim último do Estado, por meio das suas instituições, é
promover a proteção e concretização dos direitos fundamentais. Compreendê-los, portanto, é
indispensável para uma boa gestão pública e atuação do poder público no exercício das suas mais
variadas competências.
Estudar os direitos fundamentais elencados na Constituição, a partir da sua conceituação e com a
análise dos direitos em espécie, permitirá uma melhor compreensão da nossa democracia, dos direitos
que o cidadão possui em face do Estado e de que modo a Administração Pública pode repensar a sua
gestão para atuar cada vez melhor na concretização desses direitos tão importantes.
MÓDULO 1
 Compreender o conceito de direitos fundamentais e as suas classificações.
BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Ao longo das sociedades antigas e da história, observamos períodos em que são reconhecidos direitos
pontuais a determinados grupos ou categoria de indivíduos. Vejamos:

 
Fonte: Wikipédia
 Ciro II e os hebreus
É o caso do decreto do rei persa Ciro II, permitindo que os povos exilados na Babilônia retornassem a
suas terras de origem, ou a restrição de penas corporais no Império Romano.
A primeira declaração moderna de direitos fundamentais é de 1776: a Declaração de Direitos do Bom
Povo de Virgínia, uma das treze colônias inglesas na América, à qual se seguiu a Constituição dos
Estados Unidos da América, aprovada na Convenção de Filadélfia de 1787, e que foi objeto de diversas
emendas garantidoras de importantes direitos fundamentais, como a liberdade de religião, o direito de
propriedade etc.
 
Fonte: Wikipédia
 Convenção de Filadélfia


 
Fonte: Wikipédia
 Revolução Francesa
Outro marco importantíssimo nesse processo histórico foi a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, de 1789, fruto da Revolução Francesa e da sua luta contra o absolutismo.
Tivemos também a Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral
das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, reconhecendo diversos direitos, como a
dignidade da pessoa humana, o direito à vida, à liberdade etc.
 
Fonte: Wikipédia
 Sede da Assembleia Geral

A partir desse processo histórico, podemos falar em três gerações de direitos fundamentais que
surgiram ao longo do tempo:
PRIMEIRA GERAÇÃO
É formada por direitos individuais que buscavam proteger o indivíduo perante os excessos e abusos do
Estado. São direitos ligados sobretudo às liberdades. Ex.: liberdade de reunião, direito 
de ir e vir etc.
SEGUNDA GERAÇÃO
Surge no século XX e caracteriza-se por direitos que exigem uma prestação do Estado. Não basta que o
Estado se abstenha de cometer abusos e violar os direitos individuais. É preciso mais: ele deve atuar
para consolidar direitos sociais e culturais. Essa é a geração dos direitos sociais e coletivos. 
Ex.: direito à saúde, direitos da seguridade social.
TERCEIRA GERAÇÃO
Surge na segunda metade do século XX e está associada aos ideais de solidariedade e fraternidade. É
nesse momento que surgem os direitos difusos, como o direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225 da
Constituição).
 ATENÇÃO
Já existem defensores de uma quarta geração de direitos fundamentais, que seriam aqueles
relacionados ao desenvolvimento tecnológico e biológico. São discussões delicadas em torno de
assuntos jurídica e moralmente controvertidos, como clonagem, eutanásia etc.
Observamos que a consolidação dos direitos fundamentais em diferentes sociedades e ordenamentos
jurídicos é fruto de um longo e complexo processo histórico, que se acentuou especialmente após a
Segunda Guerra Mundial. Os horrores causados pela guerra e pelos regimes totalitários deixaram clara
a necessidade de se reconhecer direitos inatos a todos os seres humanos, de modo a protegê-los de
abusos e autoritarismos. É nesse contexto que os diferentes Estados modernos começam a se
preocupar em elaborar um catálogo de direitos fundamentais que não seja meramente uma declaração
política, mas também uma fonte para a sua aplicação concreta à realidade.
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre as gerações dos direitos fundamentais.
CONCEITO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS
A Constituição de um Estado democrático, como é o caso do Brasil, possui, dentre as suas funções
principais, a proteção de direitos fundamentais. A própria topografia dos dispositivos constitucionais que
os preveem já indica a sua importância, tendo em vista que o catálogo de direitos fundamentais se
encontra no início do texto constitucional.
Tradicionalmente, as Constituições brasileiras começavam tratando da estrutura do Estado e no final
versavam sobre os direitos fundamentais. A Constituição de 1988 inverteu isso: os primeiros artigos
tratam de direitos. Essa mudança topográfica transmite a ideia de que o mais importante são os direitos.
O Estado existe em boa parte para protegê-los, promovê-los e assegurar que a pessoa humana seja
respeitada.
 
Fonte: Rafapress/Shutterstock
O constituinte entendeu que os direitos são parte integrante da própria essência da Constituição,
alçando-os à categoria de cláusulas pétreas, de modo que nem mesmo uma emenda pode suprimi-los
(art. 60, §4º).
Conceituá-los, porém, não é tarefa fácil. Além de o seu conteúdo ter variado ao longo da história e dos
diferentes contextos políticos e culturais, a sua nomenclatura muitas vezes se confunde com outras.
Vamos, aqui, pontuar as principais diferenças entre as nomenclaturas mais comuns a fim de facilitar a
compreensão da extensão e do conteúdo dos direitos fundamentais:
DIREITOS HUMANOS
São tratados no âmbito do 
direito internacional e se referem genericamente a todos os seres humanos, sem considerar as
peculiaridades de cada país ou comunidade, como religião, etnia etc.
Possuem a pretensão de serem atemporais e universais, aplicáveis a todos os povos e em todos os
tempos.

DIREITOS FUNDAMENTAIS
São tratados de maneira diferente por cada Estado, de acordo com as suas próprias Constituições.
Como cada ordenamento jurídico dispõe diferentemente acerca do rol de direitos fundamentais, eles
nem sempre correspondem ao rol de direitos humanos.
São apenas aqueles estabelecidos pelo Estado, conforme o seu Direito Positivo interno.
Reconhecendo a dificuldade de se estabelecer um conceito preciso de direitos fundamentais, José
Afonso da Silva (2020) prefere utilizar a expressão “direitos fundamentais do homem”. O autor
explica:

NO QUALITATIVO FUNDAMENTAIS, ACHA-SE A INDICAÇÃODE QUE SE TRATA DE SITUAÇÕES JURÍDICAS SEM AS
QUAIS A PESSOA HUMANA NÃO SE REALIZA, NÃO
CONVIVE E, ÀS VEZES, NEM MESMO SOBREVIVE;
FUNDAMENTAIS DO HOMEM NO SENTIDO DE QUE A
TODOS, POR IGUAL, DEVEM SER, NÃO APENAS
FORMALMENTE RECONHECIDOS, MAS CONCRETA E
MATERIALMENTE EFETIVADOS. DO HOMEM, NÃO COMO
MACHO DA ESPÉCIE, MAS NO SENTIDO DE PESSOA
HUMANA. DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM
SIGNIFICA DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA
HUMANA OU DIREITOS FUNDAMENTAIS. É COM ESSE
CONTEÚDO QUE A EXPRESSÃO “DIREITOS
FUNDAMENTAIS” ENCABEÇA O TÍTULO II DA
CONSTITUIÇÃO, QUE SE COMPLETA, COMO DIREITOS
FUNDAMENTAIS DA PESSOA HUMANA, EXPRESSAMENTE,
NO ART. 17.
(SILVA, 2020)
É possível apontar também a diferença entre direitos e garantias fundamentais. Enquanto os direitos
fundamentais são os enunciados que estabelecem o conteúdo de um direito (ex.: direito à vida, à
liberdade religiosa), as garantias fundamentais são instrumentos previstos na Constituição para a
defesa e proteção daqueles direitos (ex.: habeas corpus , que busca proteger o direito à liberdade de
locomoção).
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Estudaremos a seguir as principais características dos direitos fundamentais apontadas pela
doutrina:
UNIVERSALIDADE
Significa que os direitos são de todos. O que faz alguém ser titular de um direito? Ser pessoa humana. A
sua titularidade independe de sexo, categoria ou qualquer tipo de classe ou segmentação. Todos os
seres humanos possuem igual dignidade.
A partir dessa premissa, o caput do artigo 5º da Constituição pode suscitar algumas dúvidas. Vejamos
a sua redação:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade [...] (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
As primeiras perguntas que surgem são: o estrangeiro que não reside no país não tem direitos
fundamentais? O turista não tem direito à vida, por exemplo?
O entendimento majoritário é de que, apesar da redação do dispositivo constitucional, o estrangeiro não
residente no país também é titular de direitos fundamentais desde que compatíveis com a sua condição,
pois a universalidade não impede a existência de alguns direitos específicos de determinados grupos.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que o réu estrangeiro sem domicílio no Brasil deve
ter assegurados:
“Os direitos básicos que resultam do postulado do devido processo legal, notadamente as
prerrogativas inerentes à garantia da ampla defesa, à garantia do contraditório, à igualdade entre
as partes perante o juiz natural e à garantia de imparcialidade do magistrado processante” (HC
94.016, rel. min. Celso de Mello, j. 16-9-2008, 2ª T, DJE de 27-2-2009).
Em que pese afirmarmos a universalidade como uma característica dos direitos fundamentais, há
direitos que pressupõem certos requisitos como, por exemplo, a nacionalidade no caso dos direitos
políticos. Há outros que são específicos para determinados grupos, como o direito fundamental
garantido às presidiárias.
RELATIVIDADE
Significa dizer que não há direitos absolutos. Eles podem sofrer restrições. Se o direito de propriedade
fosse absoluto, como ficaria a proteção do meio ambiente, por exemplo? Ou no caso da liberdade de
expressão, que é um direito que frequentemente se choca com outros, como ficaria a proteção da
intimidade?
Muitas vezes, a lei impõe uma restrição a um direito fundamental. É o caso das leis ambientais, que
restringem o direito de propriedade e exigem o cumprimento de uma série de regras que visa à proteção
do meio ambiente. Um exemplo é o Código Florestal (Lei n° 12.651), que possui diversas regras
restritivas ao direito de propriedade.
O legislador, entretanto, não consegue prever nem solucionar todos os possíveis conflitos entre direitos
fundamentais. Assim, muitas vezes, no caso concreto, é preciso que o Judiciário resolva essa colisão
restringindo um direito em prol de outro, buscando, um equilíbrio. Um exemplo famoso é o caso
Ellwanger, julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Nesse julgamento, o Tribunal entendeu que a
liberdade de expressão, apesar de ser um direito fundamental importantíssimo, não é um direito
absoluto. Dessa maneira, ela não protege o discurso de ódio, o racismo nem a publicação de livros
antissemitas.
Há um princípio de interpretação constitucional que norteia o intérprete diante desses casos difíceis de
conflitos entre direitos e normas constitucionais, chamado princípio da concordância prática:
"Consiste, essencialmente, numa recomendação para que o aplicador das normas constitucionais,
deparando-se com situações de concorrência entre bens constitucionalmente protegidos, adote a
solução que otimize a realização de todos eles, mas ao mesmo tempo não acarrete a negação de
nenhum." (MENDES; COELHO; BRANCO; 2007)
Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto nos dão um exemplo do emprego da concordância
prática pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do Habeas Corpus 80.240 (STF, HC
80240, Relator(a): Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/2001, publicado no DJ 14-10-
2005). Trata-se do caso de um líder indígena intimado para depor em uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI). Diante das normas constitucionais que garantem os poderes da CPI e os direitos dos
indígenas à sua cultura, o Tribunal, para conciliar as normas em conflito no caso, decidiu que o
depoimento poderia ser feito, mas apenas no interior das terras indígenas e na presença de antropólogo
e de representante da FUNAI.
Ou seja, considerando a relatividade dos direitos fundamentais e os seus possíveis conflitos em um caso
concreto, deve-se buscar sempre uma solução que leve ao equilíbrio entre eles.
HISTORICIDADE
Os direitos fundamentais foram conquistados historicamente e as mudanças na sociedade influenciam a
leitura que se faz deles.
Os direitos não são realidades metafísicas e sim realidades históricas e concretas. Eles foram
conquistados e ampliados ao longo da história, surgindo em diferentes etapas.
INALIENABILIDADE
Não possuem conteúdo econômico e não podem ser negociados ou transferidos:
“Se a ordem constitucional os confere a todos, deles não se pode desfazer, porque são
indisponíveis.” (SILVA, 2020)
IMPRESCRITIBILIDADE
Os direitos fundamentais não se extinguem pelo decurso do tempo e o seu exercício não se sujeita a
qualquer prazo.
IRRENUNCIABILIDADE
Não se pode renunciar aos direitos fundamentais. O titular do direito pode até não o exercer, mas isso
não implica a renúncia ao direito.
APLICABILIDADE IMEDIATA
A Constituição Federal, no art. 5º, §1º, dispõe expressamente que:
“As normas definidoras dos direitos e das garantias fundamentais têm aplicação imediata”.
Houve aqui uma preocupação do constituinte em dar plena efetivação aos direitos fundamentais,
evitando o que acontecera sob a égide de Constituições pretéritas, em que os direitos previstos na
Constituição, muitas vezes, eram apenas retórica, uma simples proclamação política, sem qualquer
aplicação concreta.
A ideia da aplicabilidade imediata é a de que os direitos valem imediatamente e independem de
concretização legislativa, de regulamentação, para surtirem seus efeitos. O titular dos direitos pode
invocá-los com base apenas na Constituição.
NÃO EXAUSTIVIDADE OU ATIPICIDADE
Um direito não precisa estar positivado na Constituição para ser considerado fundamental. Vejamos a
redação do art.5º, §2º da Constituição:
"Os direitos e as garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte". (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
Isso significa que é possível ter direitos fundamentais fora do catálogo formal previsto na Constituição.
Eles podem estar em tratados internacionais de direitos humanos, por exemplo. Qual é o principal
critériopara apontar direito fundamental fora do catálogo? O princípio da dignidade da pessoa humana.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar a ADI 939 (STF, ADI 939, Relator Sidney
Sanches, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/1993, publ. DJ 18/03/1994), decidiu que o princípio da
anterioridade tributária, apesar de não estar no rol dos direitos fundamentais elencados pela
Constituição, e sim no capítulo referente à tributação, é um direito fundamental.
CLASSIFICAÇÕES
Existem inúmeras classificações que variam conforme o autor e o critério adotado. Uma delas, por
exemplo, divide os direitos fundamentais de acordo com o conteúdo:
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM-INDIVÍDUO
Reconhecem autonomia aos particulares e se identificam com os direitos individuais. Ex.: liberdade,
igualdade e propriedade.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM-NACIONAL
São aqueles que definem a nacionalidade.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM-CIDADÃO
São os direitos políticos como, 
por exemplo, o direito de eleger e de ser eleito.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM-SOCIAL
São os direitos “assegurados ao homem em suas relações sociais e culturais”, como o direito à saúde e
à educação.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM MEMBRO DE UMA
COLETIVIDADE
São os direitos coletivos. Incluem-se aqui o direito de petição (art. 5º, XXXIV, a) e o direito de greve (art.
9º e 37, VII).
DIREITOS FUNDAMENTAIS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU DO
HOMEM-SOLIDÁRIO
Trata-se de uma classe mais recente de direitos, como o direito ao meio ambiente, à paz e ao
desenvolvimento.
 
Fonte: Chinnapong/Shutterstock
Vejamos outra classificação, com base no texto da Constituição Federal de 1988:
DIREITOS INDIVIDUAIS 
(ART. 5º).
DIREITOS À NACIONALIDADE 
(ART. 12).
DIREITOS POLÍTICOS 
(ARTIGOS 14 A 17).
DIREITOS SOCIAIS 
(ARTIGOS 6º E 193).
DIREITOS COLETIVOS 
(ART. 5º).
DIREITOS SOLIDÁRIOS 
(ARTIGOS 3º E 225).
 ATENÇÃO
Há também os direitos econômicos, previstos na Constituição no Título da Ordem Econômica e
Financeira (artigos 170 e seguintes).
EFICÁCIAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Além da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, eles também suscitam importantes
questionamentos a respeito da sua eficácia.
Tradicionalmente, os direitos fundamentais eram aplicados à relação entre o indivíduo e o Estado,
verticalmente. Isso se explica até mesmo pela primeira geração de direitos fundamentais, criados para a
defesa do indivíduo contra o poder absoluto do Estado.
Essa noção, contudo, foi mudando ao longo do tempo, pois notou-se a existência de lesões a direitos
que não provêm somente do Estado, mas podem se originar de relações entre patrão e empresa, entre
loja e comprador, entre pai e filho, por exemplo. São relações muito variadas nas quais nem sempre o
Estado está presente.
Surge, então, a ideia da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (em contraposição à eficácia
vertical), que significa a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas. Mas, é
importante ressaltar, há o risco de comprometer a liberdade individual e a espontaneidade das relações
sociais.
Vejamos um exemplo dessa problemática:
Vamos supor que alguém pertença a uma associação. A associação, de maneira discriminatória, resolve
expulsar os sócios. Isso é possível? Até que ponto a liberdade e a autonomia privada protegem esse
tipo de conduta?
EXPLICAÇÃO
EXPLICAÇÃO
O Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de analisar um caso parecido (o Recurso
Extraordinário 158.215), envolvendo a expulsão do membro de uma cooperativa sem que lhe fosse
dado o direito de defesa. A Corte entendeu que “na hipótese de exclusão de associado decorrente
de conduta contrária aos estatutos, impõe-se a observância ao devido processo legal, viabilizado o
exercício amplo da defesa” (STF, RE 158215, Relator Marco Aurélio, Segunda Turma, julgado em
30/04/1996, publ. DJ 07/06/1996).
 
Fonte: Cacio Murilo/Shutterstock
Vejamos outro exemplo de um caso também enfrentado pelo Supremo Tribunal Federal:
Uma empresa francesa que estabelecia vantagens exclusivas para empregados franceses, criando uma
discriminação em relação a funcionários de outras nacionalidades. O fato de ser uma empresa privada,
à qual se aplica a autonomia e a livre iniciativa, protege esse tipo de conduta?
EXPLICAÇÃO
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EXPLICAÇÃO
Mais uma vez, a Corte Suprema entendeu que os direitos fundamentais também devem ser
aplicados às relações privadas, declarando inconstitucional a discriminação perpetrada pela
empresa:
“(...) Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil,
não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja
aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princípio da
igualdade: C.F., 1967, art. 153, §1º; C.F., 1988, art. 5º, caput .
II – A discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca do
indivíduo, como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso etc., é inconstitucional. (...)”
(STF, RE 161243, Relator Carlos Velloso, Segunda Turma, julgado em 29/10/1996, publ. DJ
19/12/1997)
Existe controvérsia em torno da maneira de aplicar os direitos fundamentais às relações privadas.
 
Fonte: Lemon.key/shutterstock
TEORIA DA EFICÁCIA INDIRETA OU MEDIATA
Um primeiro entendimento defende que essa aplicação deve ser feita pelo legislador. E se a lei, ao tratar
de direito privado, violar direitos fundamentais ou não os proteger adequadamente, será inconstitucional.
Ou seja, os direitos fundamentais não devem ser automaticamente aplicados às relações entre
particulares.


 
Fonte: Banderlog/shutterstock
TEORIA DA EFICÁCIA DIRETA OU IMEDIATA
Um segundo entendimento defende que essa aplicação deve ser feita diretamente pelo juiz,
independentemente da atuação do legislador. Este, ao julgar as causas, deve levar em consideração os
direitos fundamentais, mesmo que sejam causas privadas.
A principal porta de entrada dos direitos fundamentais na atividade jurisdicional são as cláusulas gerais
de direito privado. Ex.: bons costumes, boa-fé, ordem pública. Elas devem ser concretizadas, devem ser
lidas de uma maneira que protejam e promovam os direitos fundamentais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A RESPEITO DAS DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA:
A) Os direitos de primeira geração são tipicamente de cunho social.
B) O direito ao meio ambiente equilibrado foi um dos primeiros direitos fundamentais a serem
protegidos.
C) Os direitos difusos são típicos da terceira geração de direitos fundamentais, marcada especialmente
pelo ideal de solidariedade.
D) O direito à liberdade só começa a ser protegido na segunda metade do século XX.
2. “OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PODEM SOFRER RESTRIÇÕES E NÃO SE
SUJEITAM A QUALQUER PRAZO PARA SEREM EXERCIDOS”. 
A AFIRMAÇÃO ACIMA SE REFERE A QUAIS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS?
A) Irrenunciabilidade e aplicabilidade imediata.
B) Relatividade e imprescritibilidade.
C) Historicidade e indisponibilidade.
D) Atipicidade e eficácia horizontal.
GABARITO
1. A respeito das dimensões dos direitos fundamentais, assinale a alternativa correta:
A alternativa "C " está correta.
 
A letra C está correta, pois a terceira geração de direitos fundamentais se caracteriza pelo surgimento
dos direitos difusos, como é o caso do direito ao meio ambiente, previsto no art. 225 da Constituição.
2. “Os direitos fundamentais podem sofrer restrições e não se sujeitam a qualquer prazo para
serem exercidos”. 
A afirmação acima se refere a quais características dos direitos fundamentais?
A alternativa "B " está correta.
 
A afirmativa B está correta, uma vez que, ao dizer que os direitos fundamentais podem ser restringidos,
refere-se expressamente à relatividade dos direitos fundamentais, que não são absolutos. Em seguida,
ao dizer que o seu exercício não se sujeita a prazo, faz-se clara referênciaà imprescritibilidade dos
direitos fundamentais.
MÓDULO 2
 Reconhecer o tratamento dado pela Constituição Federal aos direitos fundamentais.
DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS
CONSAGRADOS NA CONSTITUIÇÃO
Os direitos individuais estão previstos no artigo 5º e respectivos incisos da Constituição Federal. Podem
ser conceituados, conforme ensina José Afonso da Silva (2020), como aqueles que reconhecem
autonomia aos particulares, garantindo a iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais
membros da sociedade política e do próprio Estado.
 
Fonte: Zolnierek/Shutterstock
EM RELAÇÃO AOS DESTINATÁRIOS, SERÁ QUE
ELES SE APLICAM TAMBÉM ÀS PESSOAS
JURÍDICAS OU APENAS ÀS PESSOAS FÍSICAS?
RESPOSTA
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No tópico relativo às características dos direitos fundamentais, nós também já vimos a controvérsia
provocada pela redação do caput do art. 5º da Constituição, que aparentemente exclui o estrangeiro
não residente no país da titularidade dos direitos fundamentais ali elencados.
Naquela oportunidade, vimos que o entendimento amplamente majoritário, inclusive agasalhado pelo
Supremo Tribunal Federal, é o de que a Constituição não excluiu os direitos fundamentais do estrangeiro
não residente no país.
 ATENÇÃO
No processo de elaboração constitucional, cogitou-se colocar os direitos coletivos em capítulo especial.
Tal proposta, porém, foi rejeitada, mantendo-se o capítulo intitulado “Dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos”.
Eles são, na verdade, direitos cuja titularidade é individual, mas cujo exercício requer a participação
conjunta de diversas pessoas. Incluem-se nessa categoria os direitos de reunião, de associação, dentre
outros.
O rol de direitos elencados no art. 5º é extenso e, por isso, estudaremos mais detidamente a seguir
aqueles que são mais relevantes e que suscitam maior controvérsia:
DIREITO DE PROPRIEDADE
Está previsto nos seguintes incisos do artigo 5º:
XXII – é garantido o direito de propriedade;
XXIII – a propriedade atenderá à sua função social.
Existem também outros dispositivos constitucionais com previsões específicas acerca do direito de
propriedade ao longo de toda a Constituição (ex.: artigos 5º, XXIV; 182 etc.).
A partir dos dispositivos citados, vemos que a própria Constituição já define um limite para o
direito de propriedade, ao exigir que ela atenda à sua função social. Essa decisão do constituinte
supera a antiga ideia de que a propriedade é absoluta.
Uma questão que se põe diz respeito ao conceito de função social. O artigo 1228 do Código Civil
fixa alguns parâmetros:
§1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade
com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das
águas.
§2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
A Constituição também fixa requisitos para o atendimento da propriedade rural:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
Atenção! 
Seguindo essa linha, o Supremo Tribunal Federal já afirmou expressamente que o direito de propriedade
não se revela absoluto, estando relativizado pela Constituição.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Está prevista no art. 5º, IV: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
É vital para uma democracia, que pressupõe debate público, amplo acesso a ideias e pontos de
vista divergentes. Em qualquer espaço, pressupõe-se que cada pessoa, para poder decidir sobre
algo, deva ter acesso às informações mais variadas.
A ideia subjacente a esse direito fundamental é de que a democracia exige um espaço público de
discussão robusto, plural, dinâmico no qual diferentes pontos de vista possam ser devidamente
debatidos sem a tirania de uma única ideia.
Tem por fim a autonomia, a realização pessoal de cada indivíduo, na medida em que o homem,
como um ser social, tem a necessidade de se comunicar, moldando a sua personalidade conforme
interage com os outros do seu meio.
A necessidade de se proteger a liberdade de expressão como corolário da própria democracia tem
sido reiterado pelo Supremo Tribunal Federal em diversos julgados:
“A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde a liberdade de
expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao pluralismo de ideias, que
por sua vez é um valor estruturante para o salutar funcionamento do sistema democrático.
A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão interligados
com a liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e
ideias, mas também opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes
públicos, no sentido de garantir a real participação dos cidadãos na vida coletiva. São
inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida finalidade de controlar ou
mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático” (STF,
ADI 4451, Relator Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, julgado em 21/06/2018, publ. DJ
06/03/2019).
Atenção! 
Conforme visto no tópico relativo às características dos direitos fundamentais, o Supremo Tribunal
Federal não inclui discursos de ódio ou racistas no âmbito de proteção da liberdade de expressão.
LIBERDADE RELIGIOSA
Liberdade de religião não é apenas o direito de professar publicamente determinada religião, mas
também o direito de não ter nenhuma.
Tema mais polêmico diz respeito à possibilidade de, com base na liberdade religiosa, tentar
converter outras pessoas e atrair fiéis para determinada seita religiosa.
O Supremo Tribunal Federal já se debruçou sobre o tema e entendeu que essas atitudes estão
protegidas pela liberdade de religião:
“A liberdade religiosa não é exercível apenas em privado, mas também no espaço público, e
inclui o direito de tentar convencer os outros, por meio do ensinamento, a mudar de
religião. O discurso proselitista é, pois, inerente à liberdade de expressão religiosa. (...) A
liberdade política pressupõe a livre manifestação do pensamento e a formulação de
discurso persuasivo e o uso dos argumentos críticos. Consenso e debate público
informado pressupõem a livre troca de ideias e não apenas a divulgação de informações.
(...) (STF, ADI 2.566, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, julgado em 16/05/2018, publ. DJ
23/10/2018).
Outro ponto polêmico relacionado a esse direito envolve a discussão em torno da admissibilidade
ou não do sacrifício de animais como manifestação religiosa. Como se sabe, essa é uma prática
cultural presente em diversas religiões, especialmente nas de matriz africana. O debate nos coloca
um conflito entre dois direitos fundamentais: a liberdade religiosa e a proteção ao meio ambiente.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal também já se manifestou sobre o assunto ao analisar uma
lei, do Rio Grande do Sul, que permitia o sacrifício de animais em ritos religiosos. A Corte fixou a
seguinte tese:
“É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa,
permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana”.
Dessa maneira, entendeu que a prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são patrimônio
cultural imaterial e constituem os modos de criar, fazer e viver de várias comunidades religiosas,
devendo taldireito ser protegido (STF, RE 494601, Relator Edson Fachin, Tribunal Pleno, julgado em
28/03/2019, publ. DJ 19/11/2019).
LIBERDADE DE REUNIÃO
Está prevista no art. 5º, XVI:
“Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente”.
Da leitura do dispositivo, concluímos que se exige apenas o mero aviso à autoridade competente. Não
cabe à autoridade definir o local, nem tomar medidas para dificultar a reunião. A Constituição, porém,
ressalta que não se pode atrapalhar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local. Busca-
se, assim, evitar o abuso de direito que vise atrapalhar outras reuniões, além de se evitar eventuais
conflitos que coloquem em risco a ordem pública.
Na lição de José Afonso da Silva (2020), reunião é qualquer agrupamento formado em certo
momento com o objetivo comum de trocar ideias ou de receber manifestação de pensamento
político, filosófico, religioso, científico ou artístico. Ela protege passeatas e manifestações nos
logradouros públicos.
Note-se que a liberdade de reunião tem grande relevância, pois, por meio dela, é possível exercer outras
liberdades, como as de expressão e de locomoção. Assim, tal direito fundamental é instrumento para
proteção de outros direitos fundamentais.
DIREITOS SOCIAIS
Os direitos sociais são aqueles ligados à igualdade. Trata-se de prestações positivas a serem oferecidas
direta ou indiretamente pelo Estado a fim de conceder melhores condições de vida àqueles que não
possuem uma situação social digna.
Conforme vimos no módulo 1, os direitos sociais surgem na segunda geração de direitos fundamentais,
caracterizados por exigirem uma prestação positiva do Estado para atender às necessidades dos
indivíduos. Não é mais suficiente que o Estado se abstenha de violar direitos; é preciso que ele atue
para protegê-los e concretizá-los.
O artigo 6º da Constituição enumera como direitos sociais:
EDUCAÇÃO
SAÚDE
ALIMENTAÇÃO
TRABALHO
MORADIA
TRANSPORTE
LAZER
SEGURANÇA
PREVIDÊNCIA SOCIAL
PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA
ASSISTÊNCIA AOS DESAMPARADOS
Todos os direitos mencionados exigem uma prestação positiva do Estado, ou seja, uma política pública
para garanti-los, o que gera custos. Assim, os direitos sociais trazem o desafio de qual será a parcela
desse direito que será exigível do Estado.
 
Janews/Fonte: Shutterstock
Dentre eles, o direito à saúde merece uma análise mais detida. A Constituição deixa claro que a saúde
é um direito de todos e dever do Estado. Ela é tratada com mais detalhes nos artigos 196 e seguintes da
Constituição, onde também há regras de competências dos entes federados para a implementação de
políticas públicas de saúde.
A consagração do direito à saúde tem provocado inúmeros debates em torno da extensão desse direito
e dos limites da interferência do Judiciário na sua aplicação. Se a Constituição garante o direito à saúde,
então é possível requerer judicialmente qualquer tratamento médico ou remédio em face do Poder
Público? Esse é um tema que tem desafiado todos os entes federados no país, que recebem
diariamente milhares de ações judiciais com demandas dessa natureza.
O STF (Supremo Tribunal Federal) , sempre que provocado, tenta estabelecer parâmetros para a
interferência do Judiciário na concretização desse direito. A Corte Suprema já entendeu que, em regra, o
Estado não é obrigado a fornecer medicamentos de alto custo solicitados judicialmente quando não
estiverem previstos na relação do Programa de Dispensação de Medicamentos em Caráter Excepcional,
do Sistema Único de Saúde (SUS).
O direito à alimentação e à moradia buscam consagrar o direito à saúde e a uma vida digna, tendo
servido de esteio para diversos programas sociais de renda mínima e de crédito à moradia
implementados nas últimas décadas. Em 2020, eles voltaram a ter destaque nacional com o auxílio
emergencial implementado pelo governo federal diante dos impactos econômicos e sociais da pandemia
de COVID-19.
Com base no direito à moradia, os tribunais, inclusive o Supremo Tribunal Federal, têm entendido que,
no caso de construções irregulares, ainda que se reconheça o poder-dever do poder público de demoli-
las, ele é obrigado a implementar medidas para mitigar os efeitos sobre as famílias que ali se
encontram. É muito comum que o poder público, em especial o município, seja obrigado a oferecer
alguma opção de moradia ou algum benefício assistencial antes de retirar as pessoas que ocupam
áreas irregulares ou de risco.
O artigo 7º da Constituição também estabelece uma série de outros direitos sociais aos trabalhadores
urbanos e rurais, como por exemplo:
Irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
Décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno.
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre a extensão da exigibilidade do direito fundamental à
saúde.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A RESPEITO DA LIBERDADE RELIGIOSA, MARQUE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) Ela não está prevista expressamente na Constituição Brasileira de 1988.
B) Estabelece que todo cidadão obrigatoriamente precisa escolher uma religião.
C) O indivíduo é livre para escolher a sua religião, mas o Estado estabelece uma religião oficial.
D) A liberdade religiosa permite a prática de cultos religiosos, ainda que envolvam o sacrifício de
animais.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A RESPEITO DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988:
A) O direito de propriedade, desde que atenda à sua função social, é absoluto.
B) O direito à saúde autoriza que o brasileiro ou estrangeiro residente no país requeira judicialmente
qualquer tipo de medicamento, desde que possua receita médica.
C) O direito à moradia está no rol dos direitos sociais e exige que o poder público atue para garanti-lo.
D) O discurso racista está protegido pela Constituição, mas não o discurso de ódio.
GABARITO
1. A respeito da liberdade religiosa, marque a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
 
A letra D é a correta, porque a liberdade religiosa garante a prática livre e pública de todas as seitas
religiosas e, conforme já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, é constitucional a lei que permite o
sacrifício de animais para fins religiosos.
2. Assinale a alternativa correta a respeito dos direitos fundamentais previstos na Constituição
Federal de 1988:
A alternativa "C " está correta.
 
A letra C é a correta, pois o direito à moradia foi expressamente previsto no art. 6º da Constituição como
direito social. E como tal, o Poder Público é obrigado a atuar, por meio de políticas públicas, para
garanti-lo.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do nosso estudo, vimos a trajetória de surgimento e consolidação dos direitos fundamentais e
as sucessivas gerações de direitos que ganharam espaço nas Constituições dos diferentes Estados ao
redor do mundo.
Dos direitos individuais aos difusos, passando pelos direitos sociais, nós pudemos compreender melhor
as características definidoras dos direitos fundamentais e por que eles possuem um lugar de destaque
no ordenamento jurídico, estando inclusive no rol das cláusulas pétreas.
Analisamos também as dificuldades e controvérsias que desafiam a aplicação desses direitos e vimos
alguns direitos em espécie cuja relevância exige um estudo mais aprofundado.
Tudo isso nos permite entender melhor o que podemos esperar do Estado como cidadãos e analisar
criticamente o papel que o poder público vem desempenhando na concretização dos direitos previstos
na Constituição.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BARROSO, L. R. Curso de direito constitucional contemporâneo:os conceitos fundamentais e a
construção de um novo modelo. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
MENDES, G. F.; COELHO, I. M.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Saraiva, 2007.
SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 43. ed. São Paulo: Malheiros, 2020.
SOUZA NETO, C. P.; SARMENTO, D. Direito Constitucional: teoria, história e métodos de trabalho. 2.
ed. Belo Horizonte: Fórum, 2017.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os direitos fundamentais, leia o artigo O conteúdo essencial dos direitos
fundamentais e a eficácia das normas constitucionais , do professor Virgílio Afonso da Silva,
disponível no repositório da USP.
Confira o artigo sobre os direitos sociais, O reconhecimento dos direitos sociais como
fundamentais no Brasil , de autoria de José Carlos Bortoloti e Guilherme Pavan Machado,
disponível no Portal de Publicações Eletrônicas da UERJ.
CONTEUDISTA
Elias Suzano Mendes
 CURRÍCULO LATTES
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DEFINIÇÃO
Apresentação das questões ambientais, sociais e de governança corporativa, envolvendo
investimentos responsáveis e finanças sustentáveis.
PROPÓSITO
Promover a reflexão sobre como a sustentabilidade pode impactar não somente as atividades
das empresas, mas também a forma como os investidores tomam suas decisões financeiras.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever a evolução da sustentabilidade no mercado de investimentos e os conceitos de
investimento sustentável
MÓDULO 2
Identificar os principais índices sustentáveis e tendências regulatórias no tema
MÓDULO 3
Definir caminhos possíveis para a integração da sustentabilidade nas decisões de
investimentos, seus desafios e tendências
INTRODUÇÃO
A maioria das pessoas já ouviu falar em sustentabilidade e muitas empresas, além de
investidores, têm se preocupado com esse tópico nos últimos anos.
Inicialmente, podemos pensar que isso tem apenas uma motivação ética ou de reputação,
mas, na verdade, o assunto tem ganhado mais força no mercado financeiro em função dos
impactos que as questões ambientais, sociais e de governança corporativa (ASG) podem
ter sobre vários aspectos, inclusive sobre a rentabilidade das empresas que estes agentes
investem. É por isso que a agenda saiu das mesas dos ambientalistas e foi parar no centro da
discussão do setor financeiro.
Neste tema, vamos tratar com atenção de cada uma dessas dimensões. Primeiramente, vamos
estudar sobre a evolução da sustentabilidade ao longo do tempo e os mais recentes
investimentos sustentáveis. Depois, vamos aprender sobre os índices de sustentabilidade,
aspectos da indústria e a regulação. Por fim, vamos elencar as principais tendências e desafios
do setor.
MÓDULO 1
 Descrever a evolução da sustentabilidade no mercado de investimentos e apresentar
conceitos de investimento sustentável
EVOLUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE
Entre as três dimensões das questões ASG — ambientais, sociais e de governança corporativa
—, a última foi a primeira a ser incorporada pelos investidores. Fica claro quando entendemos
que as ações de governança são aquelas que influenciam como os conselheiros, diretores e
demais executivos orientam as decisões da empresa.
 
Fonte: Monkey Business Images/Shutterstock
Uma instituição com boas práticas de governança corporativa tem, portanto, uma melhor
capacidade de gestão e, por isso, espera-se que ela gere melhores resultados e maior valor
para os seus acionistas (IBGC, 2015).
Hoje, podemos dizer que boa parte dos investidores institucionais, ou seja, organizações
especializadas na gestão de investimentos, já analisa a governança corporativa como parte
das questões essenciais para a escolha de empresas que vão compor, por exemplo, as suas
carteiras de ações.
 COMENTÁRIO
De alguns anos para cá, especialmente a partir da década de 1990, as questões ambientais
também entraram na pauta. Os desafios ambientais, como o aumento da poluição e do
desmatamento, as mudanças climáticas e até mesmo desastres — como o que ocorreu
recentemente em Brumadinho — chamam a atenção para os riscos que as questões
ambientais podem representar para todos, mas especialmente, neste caso, para a operação de
uma empresa.
Finalmente, vários fatores levaram os temas sociais a serem considerados muito relevantes
para as empresas, como, por exemplo: o aumento do uso de mídias sociais até o
envelhecimento da população e a entrada de uma nova geração, os millenials, no mercado de
trabalho.
As questões sociais dizem respeito à maneira como essas organizações vão lidar com os seus
colaboradores, fornecedores, clientes etc. Afinal, uma empresa não é uma bolha fechada em si
mesma.
Embora a sustentabilidade esteja só agora entrando nos debates financeiros, os conceitos
ligados ao desenvolvimento sustentável não são exatamente novos. Foi em 1987, há 33 anos,
que se definiu em uma conferência das Nações Unidas o conceito oficial de desenvolvimento
sustentável, que é:
AQUELE QUE ATENDE ÀS NECESSIDADES DO
PRESENTE, SEM COMPROMETER A CAPACIDADE
DAS GERAÇÕES FUTURAS DE ATENDER ÀS SUAS
NECESSIDADES”.
(UNITED NATIONS, 1987, tradução livre)
Trazendo esse conceito para o universo financeiro, isso significa que, se usarmos mais
recursos do que o nosso planeta é capaz de regenerar, entraremos no “cheque especial” do
nosso ecossistema.
Podemos pensar, inicialmente, que o conceito de desenvolvimento sustentável estaria na
contramão do que estudamos nos modelos econômicos tradicionais. De fato, existem algumas
contradições.
Na economia, em muitos casos, consideramos as questões ambientais e sociais como
variáveis externas aos modelos, ou seja, que não têm relação com as projeções e análises
(PENTEADO, 2010). Este, no entanto, é um falso dilema.
A atenção para com o meio ambiente é fundamental para que tenhamos recursos, como água
e matérias-primas, destinados à produção, assim como os recursos sociais (mão de obra)
impactam a produção e o crescimento da economia.
A Universidade de Cambridge (CISL, 2015) estabeleceu um modelo que ilustra a lógica entre
essas dimensões e seus participantes, bem como as trocas que acontecem entre elas. Na
Figura 1, podemos observar que, para o funcionamento adequado e o crescimento da
economia, precisamos dos insumos ambientais e dos recursos sociais.
É aí que, em um olhar de longo prazo, começamos a discutir a sustentabilidade como uma
forma de garantir a perenidade das empresas.
 
Fonte:Shutterstock
 Figura 1 ‒ A lógica das relações entre meio ambiente, sociedade e economia. Fonte: CISL,
2015, tradução livre.
As relações entre as áreas ambiental, social e econômica não dizem respeito apenas ao
fornecimento de insumos para a produção de bens e serviços. O resultado dessa produção
também gera o que chamamos de externalidades para a sociedade e o meio ambiente.
A poluição, as mudanças climáticas e outros fatores são exemplos dessas externalidades, que
podem gerar acidentes, prejuízos à saúde da população ou até mesmo mudanças estruturais
que prejudiquem a economia em longo prazo.
 EXEMPLO
Podemos trazer como exemplo o agronegócio, com o apoio de alguns relatórios de instituições,
como a Embrapa, que buscam medir o efeito potencial das mudanças climáticas na agricultura
brasileira.
De acordo com a pesquisa, boa parte dos cultivos analisados apresenta um potencial de queda
na produção, dependendo do cenário de aumento médio de temperatura e o horizonte de
tempo (EMBRAPA, 2008).
Em um país como o Brasil, que tem uma boa parte do PIB ligado ao agronegócio, os impactos
das mudanças climáticas podem representar uma queda no crescimento econômico.
Ao analisar esses impactos potenciais, os investidores entendem que as questões ASG podem
representar riscos à rentabilidade das suas carteiras e, por isso, aumentam a busca por
informações que permitam que estes profissionais consigam incorporar, também, estes riscos
aos seus processos de análise de empresas edecisão de alocação em carteira.
O aumento da demanda por informações ASG das empresas é crescente, segundo pesquisas
de mercado como a da Ernst & Young (EY), que aponta que cerca de 90% dos investidores
acredita que estas informações podem ser importantes no ajuste do valor atribuído às
empresas (EY, 2018).
Esse movimento, que passou a tratar de temas ASG entre os investidores, ficou mais
conhecido como investimentos responsáveis. Nas próximas seções, abordaremos os
principais conceitos, iniciativas e práticas do mercado brasileiro e internacional sobre esta
agenda.
INVESTIMENTOS RESPONSÁVEIS
Assista ao vídeo e saiba mais sobre investimentos responsáveis.
O conceito é mais amplo do que uma responsabilidade moral, já que também trata do dever
que os investidores institucionais têm com os seus clientes, de analisar de forma adequada os
riscos das empresas e outros ativos em que investem.
ATIVOS
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Consideramos ativos os bens que o investidor possui em carteira. São considerados
exemplos dessa classe: ações, títulos públicos do governo, dívidas de empresas (ex.:
debêntures), cotas de fundos de investimento, moedas, entre outras modalidades
possíveis.
Se essas questões podem, de fato, impactar a capacidade das empresas de gerar resultados,
é dever desses profissionais considerá-las nas suas decisões. A esta responsabilidade, damos
o nome de dever fiduciário.
A seguir, discutiremos um pouco mais sobre como cada um desses fatores impacta o mercado
de investimentos, em seus diversos aspectos.
RELEVÂNCIA: QUAIS QUESTÕES ASG SÃO
MAIS IMPORTANTES?
Existem várias iniciativas que listam questões ambientais, sociais e de governança corporativa
a serem analisadas em um processo de investimento. Entre elas, podemos selecionar como
exemplo a do próprio PRI, adequada por se tratar de uma iniciativa orientada especificamente
para este mercado.
A Tabela 1, a seguir, mostra uma lista de alguns destes fatores, que não devem ser vistos
como exclusivos. O tópico é complexo, mas podemos considerar este como um bom ponto de
partida.
Ambiental Social Governança
Mudanças climáticas
Direitos
humanos
Suborno e corrupção
Esgotamento de
recursos naturais
Escravidão
moderna
Remuneração de executivos
Gestão de resíduos Trabalho Diversidade e estrutura do Conselho
infantil de Administração
Poluição
Condições de
trabalho
Lobby e doações políticas
Desmatamento
Relações
trabalhistas
Estratégia tributária
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Tabela 1 - Exemplos de Fatores ASG. Fonte: PRI, 2020, tradução livre.
Diversos fatores ASG devem ser considerados, mas eles vão depender, basicamente, do que
estamos analisando. As questões mais relevantes no setor de petróleo, por exemplo, que têm
impactos significativos sobre o meio ambiente, não são as mesmas do setor de educação, com
um impacto muito maior sobre os aspectos sociais.
Chamamos de materialidade esse olhar setorial específico sobre as atividades de cada
empresa para determinar a relevância das questões ASG.
 EXEMPLO
Vamos analisar uma empresa do setor de varejo: as Lojas Renner. Entre as questões
ambientais, as mais relevantes talvez sejam, por exemplo, o uso de energia nas lojas ou as
emissões de gases de efeito estufa (GEE) da sua operação logística, como o transporte das
mercadorias por caminhões a diesel, altamente poluentes. No entanto, ao analisarmos os seus
aspectos sociais, alguns pontos chamam a atenção.
Em primeiro lugar, o relacionamento com os fornecedores. Sabemos que a cadeia de
confecção está altamente exposta a riscos de trabalho degradante ou análogo ao escravo.
Como compradora, a Renner possui a corresponsabilidade por estes fornecedores.
Outro público relevante para a empresa é, evidentemente, o cliente. Qualquer empresa no
setor de varejo que lida diretamente com o consumidor final precisa estar atenta às suas
demandas, necessidades e satisfação, para garantir e aumentar sua participação no mercado.
Entre as questões de governança corporativa, embora todas sejam relevantes, pode-se dar
atenção extra à forma como a empresa remunera seus executivos (se por metas
exclusivamente de curto prazo ou considerando aspectos mais estratégicos e de longo prazo) e
seus programas de diversidade, especialmente considerando a diversidade de gênero e classe
social de seus consumidores.
Neste caso, ter representantes de diferentes públicos apoiando a elaboração da estratégia
pode ser um bom negócio para a companhia!
MAPEAR E CONTROLAR ESSES ASPECTOS
PODE REPRESENTAR UM CUSTO ADICIONAL
ÀS EMPRESAS, CERTO?
Sim, é verdade. E é justamente por isso que vários profissionais acreditam que a
sustentabilidade reduz os resultados das empresas. Esse é um dos principais mitos do
investimento responsável e já existem várias evidências contrárias a esse dilema.
Tomemos o exemplo citado há pouco, das Lojas Renner. O investimento em eficiência
energética — troca de iluminação por lâmpadas mais econômicas e regulação do ar
condicionado — não traz benefício apenas para o meio ambiente, mas reduz o custo de
manutenção das lojas.
Projetos como este, muitas vezes, se pagam em um curto espaço de tempo e podem ser
vantajosos para as empresas.
Outra questão que podemos analisar, no mesmo exemplo, é a gestão de fornecedores. Não
podemos negociar o aspecto ético de remuneração e condições de trabalho dignas dos
funcionários do setor de confecção. Esse é um custo que sequer deveria ser discutido.
Independente disso, o controle sobre os fornecedores reduz a chance de a empresa se
envolver em um escândalo sobre trabalho análogo ao escravo, como já vimos em algumas
organizações do setor. Além de pagar multas e indenizações, os danos à marca podem custar
a fidelidade de clientes e a receita da empresa.
A gestão da sustentabilidade, portanto, tem duas vantagens:
Preservar o valor das empresas, evitando riscos que podem prejudicar a receita, a reputação e
gerar passivos trabalhistas e em outras esferas cíveis e judiciais.
Pode antecipar tendências e aumentar a geração de valor para os colaboradores, clientes,
cadeia de fornecedores e, por consequência, os acionistas.
É isso que vários estudos têm demonstrado estatisticamente. Uma pesquisa de Harvard aponta
que as empresas com boas práticas em sustentabilidade apresentam nível mais baixo de
endividamento, maior fidelidade de clientes e maiores indicadores de retorno (ECCLES, 2012).
No mesmo estudo, a avaliação de duas carteiras de ações, uma com as melhores e outra com
as piores empresas em sustentabilidade, demonstrou que o desempenho das ações também
pode ter relação com as questões ASG.
A Figura 3, a seguir, mostra o que teria acontecido se uma pessoa investisse um dólar em uma
carteira de ações com as melhores empresas em sustentabilidade versus a mesma quantia nas
piores empresas nesse quesito.
 
 Figura 3 - Desempenho de uma carteira teórica de ações com alto nível de sustentabilidade
(high) 
e baixo nível de sustentabilidade (low). Fonte: ECCLES, 2012.
Com o tempo, as questões ASG passaram a ser vistas pelos investidores como uma forma de
avaliar a gestão das companhias. Aquelas que estão preocupadas com a satisfação dos seus
colaboradores, a gestão adequada de fornecedores, o olhar para o meio ambiente e para a
governança corporativa tendem a realizar uma gestão mais madura de suas atividades.
Com isso, tendem a apresentar um desempenho melhor que seus concorrentes. É simples:
empresa que está no vermelho não pensa no verde!
DEMANDA DOS CLIENTES: QUAL É O TAMANHO
DO MERCADO ASG?
Conforme o mercado conhece melhor as questões ASG e seus impactos, começa a surgir a
demanda por produtos que incluam essa agenda em seus processos de escolha de empresas
e de alocação de recursos.
Globalmente, surge um mercado de investimentos socialmente responsáveis, ou SRI (da
sigla em inglês socially responsible investments). Os primeiros fundos dessa natureza surgiram
ainda nos anos 1970e 1980, mas foi na década de 1990 que os investimentos responsáveis
ganharam a primeira referência de mercado, por meio de um índice de sustentabilidade.
Em 1999, foi lançado na bolsa de Nova Iorque o Dow Jones Sustainability Index (PRI, 2020).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUAL DAS ALTERNATIVAS REPRESENTA MELHOR O FALSO DILEMA
ENTRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E OS MODELOS
ECONÔMICOS TRADICIONAIS?
A) O de que variáveis ambientais não têm relação direta com o desenvolvimento econômico.
B) O de que variáveis ambientais não são sequer consideradas como propulsoras do
desenvolvimento econômico.
C) O de que variáveis ambientais desempenham um papel maior do que deveriam nos
modelos econômicos.
D) O de que modelos econômicos são completamente incapazes de incorporar os fatores
ambientais.
2. DE QUE MANEIRA A GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE PODE
PRESERVAR O VALOR DE UMA EMPRESA?
A) Criando novas estratégias de marketing ambiental.
B) Fidelizando mais os clientes.
C) Trabalhando ativamente para gerar valor por meio de políticas ambientais.
D) Evitando os riscos associados a fatores ASG que prejudiquem receitas, reputação e
condições de trabalho.
GABARITO
1. Qual das alternativas representa melhor o falso dilema entre o desenvolvimento
sustentável e os modelos econômicos tradicionais?
A alternativa "A " está correta.
 
Modelos econômicos tradicionais incorporavam as variáveis sociais e ambientais como
externas (exógenas) ao desenvolvimento econômico, de modo que não tinham impacto direto
na economia.
2. De que maneira a gestão da sustentabilidade pode preservar o valor de uma empresa?
A alternativa "D " está correta.
 
A preservação de valor ocorre por meio da redução dos riscos associados aos fatores ASG.
MÓDULO 2
 Identificar os principais índices sustentáveis e tendências regulatórias no tema
OS ÍNDICES DE SUSTENTABILIDADE
Índices de ações são a principal referência para sabermos a média de desempenho deste tipo
de investimento em um determinado mercado. No Brasil, por exemplo, o principal índice de
ações é o IBOVESPA, que vemos anunciado todos os dias nos jornais e publicações do
mercado financeiro.
Quando ouvimos que um índice subiu ou caiu, isso significa que, em média, suas ações se
valorizaram ou desvalorizaram, respectivamente.
 
Fonte: rafapress/Shutterstock
A criação de um índice de sustentabilidade tem como principal objetivo conferir a tese que
apresentamos neste documento. Se as ações de empresas com boas práticas em
sustentabilidade tendem a ter uma rentabilidade maior, poderia se esperar que um índice
composto dessas empresas se valorizasse mais do que os tradicionais do mercado.
Foi com esta intenção que surgiram os índices de sustentabilidade, que são carteiras teóricas
de ações escolhidas por suas iniciativas e indicadores ASG.
MAS AFINAL, PARA QUE SERVE UM ÍNDICE?
A partir desta referência teórica, gestores de investimentos podem espelhar ou se referenciar
nessa carteira e criar fundos de investimento compostos por estas ações.
Assim, pessoas físicas ou grandes investidores institucionais que queiram investir em
empresas mais sustentáveis podem alocar seus recursos nesses fundos de investimento.
 
Fonte: metamorworks/Shutterstock
Além do Dow Jones Sustainability Index, outros índices foram criados em diversos países do
mundo, inclusive no Brasil. A B3 lançou em 2005, ainda como Bovespa, o índice de
sustentabilidade empresarial (ISE), que há 15 anos avalia as empresas listadas no mercado
brasileiro em diversos aspectos da sustentabilidade. O processo de construção do ISE segue
as seguintes etapas:
As empresas listadas na B3 são convidadas a participarem do processo de seleção da carteira
do ISE.
Para as que aceitam, é enviado um questionário que avalia as práticas da empresa em sete
dimensões (B3, 2020).
Após a consolidação das notas, as empresas são submetidas à aprovação do conselho
deliberativo do ISE, CISE, composto por profissionais que representam as associações de
empresas, de instituições financeiras e da sociedade civil.
A carteira teórica é definida e divulgada ao público. Ela vale por um ano, de janeiro a
dezembro.
A B3 monitora e divulga diariamente a valorização do índice, calculado com base no preço das
ações que compõem a carteira.
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SETE DIMENSÕES
Dimensão Definição
Geral
Compromissos com o desenvolvimento sustentável, alinhamento
às boas práticas de sustentabilidade, transparência das
informações corporativas e práticas de combate à corrupção.
Natureza do
produto
Impactos pessoais e difusos (para toda a sociedade e o meio
ambiente) dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas,
adoção do princípio da precaução e disponibilização de
informações ao consumidor.
Governança
corporativa
Relacionamento entre sócios, estrutura e gestão do conselho de
administração, processos de auditoria e fiscalização, práticas
relacionadas à conduta e a conflito de interesses.
Econômico-
financeira
Políticas corporativas (normas e procedimentos internos), gestão
(iniciativas e processos), desempenho (indicadores e metas) e
cumprimento legal.
Ambiental
Social
Mudança
do clima
Política corporativa, gestão, desempenho e nível de abertura das
informações sobre o tema (quanto a empresa divulga ao
mercado sobre as suas iniciativas e como mede a sua exposição
a questões climáticas).
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Tabela 2 - Dimensões do ISE. Fonte: B3, 2020.
Além do ISE, a B3 também possui um índice que olha exclusivamente para as questões
climáticas. É o índice carbono eficiente (ICO2), que compõe a sua carteira teórica a partir de
um cálculo que usa como referência as emissões de gases de efeito estufa das empresas.
Outros índices no mercado internacional possuem características distintas. Na bolsa de
Londres, por exemplo, o FTSE4GOOD é um índice de sustentabilidade que avalia não somente
as iniciativas das empresas, mas as classifica de acordo com o risco setorial em relação às
questões de sustentabilidade (FTSE, 2013).
É uma outra forma de olhar a materialidade, usada na composição de um índice. A Tabela 3
apresenta, como exemplo, a classificação de riscos ASG usada no Reino Unido.
3. Alto 2. Médio 1. Baixo
Agricultura
Construção Do It Yourself
(DIY)
Tecnologia de
informação
Transporte aéreo
Equipamentos elétricos e
eletrônicos
Mídia
Aeroportos
Distribuição de energia e
combustíveis
Financiamento ao
consumo
Materiais de construção
Engenharia e equipamentos
pesados
Investidores em
propriedade
Químicos e
farmacêuticos
Indústria financeira
Pesquisa e
desenvolvimento
Construção Hotelaria, catering e facilities Atividades de lazer e
esporte
Engenharia de grandes
sistemas
Indústria manufatureira Serviços de suporte
Cadeias de fastfood Portos Telecom
Alimentos, bebidas e
tabaco
Impressão e publicação de
jornais
Distribuidores
atacadistas
Florestas, papel e
celulose
Incorporadoras
Mineração e metais Varejistas
Petróleo e gás Aluguel de veículos
Geração de energia Transporte público
Logística terrestre e
marítima
Supermercados
Produção
automobilística
Gestão de resíduos
Água
Controle de pragas
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Tabela 3 - Classificação de nível de impacto ASG do índice FTSE4Good. Fonte: FTSE, 2013,
tradução livre.
Os índices são uma alternativa para o desenvolvimento de produtos de investimento. Em todo
o mundo, aumenta significativamente o número de investidores e o volume de recursos que
adota o olhar para os riscos e oportunidades ASG, entre as suas práticas de investimento.
Esses investimentos não acontecem somente no mercado de ações, e são adotados até
mesmo por investidores globais na compra de títulos públicos, comparando as políticas
públicas de sustentabilidade entre os países em que podem investir.
 ATENÇÃO
É importante analisarmos esse mercado para entender os riscos, bem como as oportunidades
de negóciosque surgem da integração ASG.
A INDÚSTRIA DE INVESTIMENTOS
RESPONSÁVEIS NO MUNDO
Aqui, vamos dar um passo importante para entender não apenas o que são investimentos
responsáveis, mas como investidores usam informações ASG para decidir em quais ativos
investir.
Embora falamos bastante sobre mercado de ações, estes processos de investimento podem
valer para diferentes modalidades de investimento.
 
Fonte: PopTika/Shutterstock
À semelhança dos mercados tradicionais, cada investidor tem o seu jeito de escolher os ativos
que compõem a sua carteira. Alguns mais conservadores, outros mais arriscados, com
diferentes prazos e critérios de escolha. Isso vale para as questões ASG.
Para entender como o mercado vem crescendo, é importante entender as diferentes
estratégias de investimentos responsáveis (BUOSI, 2017).
Assista ao vídeo e saiba mais sobre as estratégias de investimento sustentável.
Em todo o mundo, crescem anualmente os recursos direcionados a essas estratégias de
investimento. A Global Sustainable Investment Alliance (GSIA) aponta para um crescimento de
34% do volume de recursos que adotam estratégias de investimento responsáveis em regiões
desenvolvidas, como apresentado na Tabela 4.
Na mesma publicação, são apresentados aumentos expressivos nas estratégias de produtos
temáticos (+269%), best in class (+125%), investimento de impacto (+79%) e integração
(+69%), todas avaliadas entre os anos de 2016 e 2018.
Região
Ativos (em US$ bilhões)
2016 2018 Cresc. %
Europa $12.040 $14.075 16,90%
EUA $8.723 $11.995 37,51%
Japão $474 $2.180 359,92%
Canadá $1.086 $1.699 56,45%
Austrália/ NZ $516 $734 42,25%
TOTAL $22.839 $30.683 34,34%
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Tabela 4 - Volume de ativos que adotam estratégias ASG. Fonte: GSIA, 2018.
No Brasil, ainda temos poucas opções para os investidores que desejam direcionar seus
recursos para a sustentabilidade. Na pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), os gestores dizem que as principais estratégias
adotadas são o best in class, por 30%, e as exclusões, por cerca de 27% das instituições
(ANBIMA, 2018).
Para que a agenda avance no Brasil, assim como em outras regiões no mundo, é preciso que o
mercado de investimento inove, tanto nos processos de análise como na criação de novos
produtos de investimento.
Como este é um assunto relativamente novo, a cooperação entre os vários agentes do
mercado é fundamental. No mundo, diversos grupos de trabalho, iniciativas colaborativas e
acordos voluntários debatem a agenda ASG, mas uma em especial é orientada para o
mercado de investimentos: o PRI.
OS PRINCÍPIOS PARA O INVESTIMENTO
RESPONSÁVEL (PRI)
O PRI foi uma iniciativa que já começou grande. Lançado oficialmente em 2006, na Bolsa de
Valores de Nova Iorque, os princípios foram apoiados pelas Nações Unidas, na época
representadas pelo secretário-geral Koffi Annan, e contaram com a organização de 20 dos
maiores investidores globais.
A ideia desses investidores foi lançar um conjunto de princípios voluntários, mas que
trouxessem o compromisso dessas instituições com a agenda ASG.
Os seis princípios falam da consideração de questões ASG na decisão de investimento, da
influência na adoção de melhores práticas pelas empresas, do trabalho colaborativo entre
investidores e da transparência ao mercado.
Princípio
1
Incorporaremos as questões ASG às análises e aos processos de decisão
de investimentos.
Princípio Seremos proprietários ativos e incorporaremos os temas de ASG às
2 nossas políticas e práticas de detenção de ativos.
Princípio
3
Buscaremos a transparência adequada nas entidades em que investimos
quanto às questões ASG.
Princípio
4
Promoveremos a aceitação de implementação dos princípios dentro da
indústria de investimentos.
Princípio
5
Trabalharemos em conjunto para ampliar a eficácia na implementação dos
princípios.
Princípio
6
Reportaremos nossas atividades e progresso em relação à
implementação dos princípios.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Tabela 5 - Os princípios para o investimento responsável. Fonte: PRI, 2020a.
PROPRIETÁRIOS DE ATIVOS
Nesta categoria, em geral, estamos falando de grandes investidores institucionais, como
fundos de pensão — públicos ou privados —, fundações, famílias com grandes fortunas e
outras instituições que são detentoras de recursos de investimentos.
GESTORES DE ATIVOS
Nesta categoria, encaixam-se instituições especializadas na gestão de recursos de terceiros.
Esses gestores podem, inclusive, administrar fundos ou produtos que recebam os recursos dos
proprietários de ativos. Mas, também, podem criar produtos para o mercado de varejo,
recebendo investimentos diretos de pessoas físicas, por exemplo.
PRESTADORES DE SERVIÇOS FINANCEIROS
Consultorias, agências de informação, bolsas de valores e outras instituições ligadas ao
mercado de investimentos podem aderir ao PRI nesta categoria.
E POR QUE O PRI É TÃO IMPORTANTE?
Além de ter sido um dos primeiros acordos voltados para o setor financeiro, a força dos
investidores institucionais que o apoiaram gerou um movimento positivo que ampliou
rapidamente o número de signatários do acordo e o volume de recursos que passou a se
comprometer com a agenda ASG.
Em 2020, o PRI atingiu a marca de 3 mil signatários, que respondem por cerca de US$90
trilhões em ativos sob gestão.
No mercado brasileiro, o PRI ganhou força desde o início do acordo. Tendo a Previ — fundo de
pensão dos funcionários do Banco do Brasil — como um dos 20 apoiadores iniciais, o Brasil foi
o primeiro a estruturar uma rede local de signatários do PRI, em 2007.
O modelo brasileiro espelhou a criação de nove outras redes locais, para que investidores
possam considerar as particularidades de seus mercados no processo de debate e integração
ASG. Atualmente, o Brasil possui 65 signatários do PRI.
REGULAÇÃO: COMO O ASG SAIU DO
VOLUNTÁRIO PARA O REGULATÓRIO
Quando investidores trazem novos temas para a mesa, é natural que os reguladores queiram
se informar sobre a situação. É assim com diversos temas, e com o ASG não foi diferente. No
mundo todo, bancos centrais e comissões de valores mobiliários, os principais órgãos que
regulam as operações financeiras, articulam-se para entender melhor a agenda ASG e trazê-la
para os seus instrumentos de supervisão do sistema financeiro.
 
Fonte: kan_chana/Shutterstock
Um estudo das Nações Unidas afirma que as regulações do sistema financeiro que abordam
as questões ASG dobraram entre 2013 e 2017 (UNEP-FI, 2018). O PRI, da mesma forma,
observa um aumento expressivo destas regulações, orientado especificamente para o mercado
de investimentos, como apresentado na Figura 4 a seguir:
 
 Figura 4 - Número cumulativo de intervenções regulatórias em relação às questões ASG. 
Fonte: PRI, 2020.
A tendência de aumento da regulação sobre o tema não deve ser modificada nos próximos
anos. Em diversas regiões, o debate já faz parte das agendas do setor público e,
especialmente, do setor financeiro. Em 2017, foi estabelecida uma rede internacional de
Bancos Centrais e Supervisores, a NGFS (da sigla em inglês Network for Greening the
Financial System, ou Rede para um Sistema Financeiro mais Verde, em tradução livre).
A iniciativa já conta com 54 membros dos cinco continentes, que representam mais de 57% do
PIB Global. O Banco Central do Brasil aderiu ao NGFS em 2020.
Uma vez que essas iniciativas se traduzam em novas regulações, aumentará o controle sobre
os gestores de recursos e, esperamos, sobre as empresas investidas. Até este momento, a
maior parte das regulações é orientativa, ou seja, indica de forma ampla e sem critérios
específicos que os investidores devem atentar para os riscos ASG na sua estratégia de
investimentos.
A evolução dessa tendência é definir quais são os temas e indicadores a serem monitorados e
reportados aos supervisorese ao mercado.
No mercado local, existem algumas regulações no âmbito do Sistema Financeiro Nacional que
devem ser destacadas:
RESOLUÇÃO 4.327/2014 DO CONSELHO MONETÁRIO
NACIONAL (CMN)
É aplicável a todas as instituições que reportam ao Banco Central, desde os grandes bancos
até cooperativas de crédito, bancos de investimento, corretoras de valores etc.
É a principal regulação do Sistema Financeiro Nacional sobre o tema, traz a necessidade de as
instituições possuírem uma Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) e um sistema
de gerenciamento do risco socioambiental.
INSTRUÇÃO CVM 552
Orientada às companhias listadas na B3, coloca entre os itens a serem divulgados em seus
documentos regulatórios, especialmente o formulário de referência, questões relacionadas
aos riscos socioambientais das companhias, atendimento a regulação socioambiental e
instrumentos usados para a divulgação de informações ASG ao mercado.
RESOLUÇÃO 4.661/2018 DO CMN
Orientada às entidades fechadas de previdência complementar (EFPC), ou fundos de pensão,
como são conhecidos no mercado, a resolução orienta que, sempre que possível, as entidades
observem as questões ASG em seus processos de investimento.
INSTRUÇÃO 6/2018 DA PREVIC
javascript:void(0)
A superintendência nacional de previdência complementar, responsável pela supervisão das
EFPC, emitiu, em complemento à Resolução 4.661/2018, uma instrução que orienta a adoção
das questões ASG pelos fundos de pensão, sugerindo que estas adotem um olhar setorial para
os riscos desta natureza.
FORMULÁRIO DE REFERÊNCIA
O formulário de referência é um documento de divulgação obrigatória, exigido pela
comissão de valores mobiliários (CVM), no qual a empresa divulga as principais
informações sobre suas práticas de gestão, resultados financeiros, fatores de risco,
atendimento à regulação e outras políticas relevantes.
O recado é claro: aos investidores que ainda não consideram os temas ASG de forma
estratégica, a questão está, cada vez mais, migrando para uma agenda obrigatória. Antecipar a
regulação costuma custar menos às instituições, que têm mais tempo para implementar
estratégias, processos e controles.
Além disso, quem já possui experiência no tema consegue, inclusive, debater com o regulador
para dizer o que de fato funciona e o que torna inviável o processo de investimento. De
qualquer forma, o processo parece ser cada vez mais inevitável.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APONTA O PRINCIPAL OBJETIVO DA
ELABORAÇÃO DE UM ÍNDICE DE EMPRESAS SUSTENTÁVEIS:
A) Criação de um fundo de empresas sustentáveis.
B) A previsão de que um índice composto dessas empresas se valorizasse mais do que os
índices tradicionais do mercado.
C) A previsão de que um índice composto dessas empresas se valorizasse menos do que os
tradicionais do mercado.
D) O fato de servir apenas para pesquisas na área de sustentabilidade.
2. NO QUE CONSISTE A ESTRATÉGIA DE INVESTIMENTOS
RESPONSÁVEIS DE IMPACTO?
A) Consiste na avaliação da performance financeira e dos indicadores ASG.
B) Consiste em utilizar o poder de acionista ou investidor institucional para influenciar boas
práticas.
C) Consiste em definir as melhores empresas do setor de sustentabilidade.
D) Consiste em direcionar recursos exclusivamente para setores ou empresas sustentáveis.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que aponta o principal objetivo da elaboração de um índice de
empresas sustentáveis:
A alternativa "B " está correta.
 
Destacamos que eles foram criados para indicar a valorização de empresas que respeitam as
ASG.
2. No que consiste a estratégia de investimentos responsáveis de impacto?
A alternativa "C " está correta.
 
Existem diversas estratégias de desenvolvimento de investimento responsável. Uma delas é a
estratégia de impacto, que envolve a avaliação não só da performance financeira, mas dos
indicadores ASG — como emprego, renda e redução de emissões de GEE.
MÓDULO 3
 Definir caminhos possíveis para a integração da sustentabilidade nas decisões de
investimentos, seus desafios e tendências
TENDÊNCIAS DAS QUESTÕES ASG
Embora tudo que dissemos até agora mostre que já avançamos no entendimento da
sustentabilidade pelas empresas e pelos investidores, ainda há muito a ser feito. Este é um
tema em constante evolução, influenciado pelo aumento do conhecimento científico e pelas
mudanças da nossa sociedade.
Com isso, surgem novos olhares para o ASG, que buscam orientar as políticas públicas, as
práticas das empresas e, por consequência, as decisões financeiras. Alguns desses tópicos
são explicados neste módulo, mas não concentram todo o debate em torno da
sustentabilidade, que é muito mais complexo.
OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL (ODS)
Assista ao vídeo e conheça os objetivos do desenvolvimento sustentável.
AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A TCFD
Entre todos os temas das questões ASG, as mudanças climáticas — sem dúvida — têm
chamado mais atenção, especialmente no setor financeiro e em países desenvolvidos.
 
Fonte: ParabolStudio/Shutterstock
Podemos considerar algumas razões para isso. Em primeiro lugar, as economias
desenvolvidas estão menos expostas às questões sociais que atingem outros países, como o
Brasil, e, dessa forma, acabam direcionando suas atenções para as questões ambientais.
Além disso, os efeitos das mudanças climáticas podem impactar severamente não apenas o
meio ambiente, como a própria sociedade. Eventos climáticos, como furacões e enchentes,
tendem a atingir mais regiões, impactando populações e gerando prejuízos à economia.
O principal grupo de debate sobre as mudanças climáticas é o Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês que significa Intergovernamental Pannel on
Climate Change).
Esse grupo de cientistas de todo o mundo realiza estudos para avaliar em que nível estamos
em relação ao aumento médio de temperatura no planeta, quais as perspectivas para as
próximas décadas e os efeitos adversos desse aumento.
Quando falamos de um aumento médio de 2 oC de temperatura, podemos achar que é pouca
coisa, certo? Mas vamos fazer um paralelo: o que acontece com o seu corpo se a sua
temperatura aumentar em 2 oC?
Você fica com febre. Agora, imagine se esse aumento for de 4 oC? Você precisa correr para o
hospital! O mesmo ocorre com o nosso planeta. Os efeitos de um aumento de temperatura
média, ainda que pequeno, podem ser desastrosos para muitos países.
Para entender como esses riscos podem impactar a economia, o Financial Stability
Board (FSB), responsável pela regulação do sistema financeiro internacional, criou uma
força-tarefa para desenvolver recomendações para empresas e para o setor financeiro
avaliarem e divulgarem os seus riscos climáticos.
 
Fonte: Piotr Swat/Shutterstock
A Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas às Mudanças Climáticas vem da
sigla TCFD, em inglês, que significa Task-Force for Climate-related Financial Disclosures. No
mercado, a TCFD é chamada apenas pela sigla.
A importância da TCFD foi levar para o setor financeiro um conjunto de recomendações que
permitem às empresas avaliarem sua exposição aos riscos climáticos, mas também
identificarem oportunidades de negócios relacionadas ao tema.
As recomendações se organizam em 4 dimensões: a governança das instituições, ou seja,
como as lideranças estão olhando para as questões climáticas; a forma como os impactos
reais são considerados na estratégia; os processos de análise e gestão de riscos climáticos;
e as métricas e metas estabelecidas para a redução da exposição a estes riscos (TCFD,
2020).
 
 Figura 6 - Riscos, oportunidades e impactos financeiros relacionados às mudanças
climáticas. Fonte: TCFD, 2020.
Como podemos observar na Figura 6, a TCFD esclarece os potenciais riscos e as
oportunidades que advêm da preocupação com a questão climática. Com isso, bancos,
investidores e seguradoras podem analisar mais detalhadamente esses riscos em suas
operaçõesfinanceiras.
A partir das recomendações da TCFD, muitos investidores passaram a fazer análises dos
possíveis prejuízos que suas empresas investidas teriam com o aumento dos impactos das
mudanças climáticas, por exemplo.
O tema tomou uma proporção tão grande que, hoje, até mesmo os bancos centrais já estudam
uma forma de inserir essa agenda nas suas próximas regulações.
OS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE E
COMO ENFRENTÁ-LOS
Afinal, se tudo que apresentamos é tão importante, por que ainda temos tanta polêmica quando
falamos em sustentabilidade? Por que governos, empresas e instituições financeiras ainda têm
dúvidas sobre a relevância deste tema?
Podemos começar pelo fato de que é difícil medir a sustentabilidade. Especialmente em um
modelo econômico tradicional, em que tudo é medido e priorizado pelo seu impacto na forma
de cálculos, essas questões ainda são um pouco abstratas para os líderes empresariais e
financeiros.
Conforme avançamos no debate, vamos desenvolvendo conhecimento, fazendo contas e
chegando aos resultados que ajudam a convencer essas lideranças, mas ainda estamos
trilhando esse caminho.
 COMENTÁRIO
Outra dificuldade é que este não é um tema para o qual podemos prescrever uma receita
única, que se aplique a todos os setores e empresas. A sustentabilidade exige uma reflexão
para encontrar a materialidade e os riscos específicos de cada organização, o que é mais
complicado quando ainda não existe tanto conhecimento sobre o tema.
Além do desafio em estabelecer essa materialidade, temos que considerar também que os
investidores precisam tomar decisões que exigem que os dados e informações analisados
sejam comparáveis. Nas demonstrações financeiras, isso ocorre com alguma facilidade, mas
este não é o caso das informações ASG.
Indicadores não são padronizados e não existe uma regulação específica que diga exatamente
o que as empresas devem informar sobre suas iniciativas e resultados nas questões de
sustentabilidade.
Alguns movimentos tentam endereçar esses desafios e já promovem bons avanços. É o caso
das iniciativas de relatórios de sustentabilidade, que criam padrões para apoiar as empresas
nessa divulgação.
 
Fonte: Stokkete/Shutterstock
Os próprios reguladores têm se articulado para aumentar a padronização de dados ASG nas
empresas, facilitando a vida de analistas e gestores de investimentos.
O fundamental é ter consciência de que este é um caminho sem volta. Para atingirmos
patamares mais sustentáveis em nossa sociedade, precisamos, em primeiro lugar, nos informar
sobre este tema e debater a respeito nas universidades, empresas e no setor financeiro.
Os impactos da sustentabilidade não ocorrem em outro lugar, distantes de nós. É uma
discussão que nos envolve diretamente e precisa da colaboração de todos para mudarmos o
tom dessa conversa.
Ainda há muito caminho a ser percorrido, mas estamos na direção está correta. Precisamos
apenas aumentar a velocidade, e isso se faz com conhecimento e colaboração.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ENTRE TODOS OS TEMAS DAS QUESTÕES ASG, QUAL ASPECTO TEM
SIDO MAIS DEBATIDO E CHAMADO MAIS A ATENÇÃO DE GOVERNOS E
INVESTIDORES DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS NOS ÚLTIMOS ANOS?
A) O aspecto ambiental.
B) O aspecto social.
C) O aspecto de governança corporativa.
D) O aspecto das grandes empresas.
2. QUAL DESSAS DIFICULDADES NÃO ESTÁ ASSOCIADA AOS
DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE?
A) A sustentabilidade é difícil de ser medida.
B) Não há uma forma única de dimensionar a sustentabilidade.
C) É difícil comparar políticas sustentáveis.
D) A sustentabilidade depende do ponto de vista.
GABARITO
1. Entre todos os temas das questões ASG, qual aspecto tem sido mais debatido e
chamado mais a atenção de governos e investidores dos países desenvolvidos nos
últimos anos?
A alternativa "A " está correta.
 
Conforme falamos, o aspecto ambiental chama mais a atenção de diferentes atores, pois, entre
outros fatores, países desenvolvidos apresentam questões sociais menos urgentes, de modo
que podem focar em políticas ambientais.
2. Qual dessas dificuldades NÃO está associada aos desafios da sustentabilidade?
A alternativa "D " está correta.
 
Durante o tema, estabelecemos que as principais dificuldades enfrentadas pelos defensores de
uma agenda sustentável concernem à medição e à comparação de medidas.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, trouxemos o debate das questões ambientais, sociais e de governança corporativa
(ASG).
No primeiro módulo, destacamos como ocorreu a evolução da sustentabilidade como a
conhecemos hoje e definimos os investimentos responsáveis. Com isso, trouxemos uma visão
ampla sobre a relação entre finanças e sustentabilidade.
No segundo módulo, abordamos os diferentes índices de sustentabilidade e das suas principais
funções, e falamos sobre a importância do papel regulatório para o setor. Por fim, trouxemos os
principais desafios e tendências das questões ASG, adequando o debate aos dias atuais.
Esperamos que você tenha compreendido a importância de aprofundarmos o debate de
sustentabilidade, baseados nos aspectos econômicos e financeiros que regem as economias
dos países contemporâneos.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS ENTIDADES DOS MERCADOS FINANCEIROS E DE
CAPITAIS – ANBIMA. 2ª Pesquisa de sustentabilidade: engajamento de questões
ambientais, sociais e de governança na análise de investimento de gestores de recursos. São
Paulo: ANBIMA, 2018.
B3. ISE: processo de seleção. Consultado em meio eletrônico em: 5 jul. 2020.
BUOSI, M. E. Integração ASG (questões ambientais, sociais e de governança) à análise
de investimentos. In: COMISSÃO de Valores – CVM & Associação de Analistas e
Profissionais de Investimentos no Mercado de Capitais ‒ APIMEC. Livro TOP análise de
investimentos. Rio de Janeiro: CVM, 2017.
CISL. Rewiring the economy. Cambridge: University of Cambridge Institute for Sustainable
Leadership, 2015.
ECCLES, R. G. et al. The impact of a corporate culture of sustainability on corporate
behavior and performance. Working Paper, Harvard Business School, 2011.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Aquecimento
global e a nova geografia da produção agrícola no Brasil. São Paulo: Cepagri/Unicamp,
2008.
ERNEST & YOUNG ‒ EY. Does your nonfinancial reporting tell your value creation story?
2018.
FINANCIAL TIMES STOCK EXCHANGE SUSTAINABILITY INDEX – FTSE4GOOD.
FTSE4Good index inclusion criteria: thematic criteria and scoring Framework. FTSE, 2013.
GLOBAL SUSTAINABLE INVESTMENT ALLIANCE – GSIA. Global Sustainable Investment
Review, 2018.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA ‒ IBGC. Código de melhores
práticas de governança corporativa. 5. ed. São Paulo: IBGC, 2015.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. 17 Objetivos para Transformar Nosso
Mundo, 2020. Consultado em meio eletrônico em: 6 jul. 2020.
PENTEADO, H. Ecoeconomia — uma nova abordagem. São Paulo: Lazuli, 2010.
PRINCIPLES FOR RESPONSIBLE INVESTMENT – PRI. What is responsible investment?
2020a. Consultado em meio eletrônico em: 5 jul. 2020.
PRINCIPLES FOR RESPONSIBLE INVESTMENT – PRI. What are the principles for
responsible investment? 2020b. Consultado em meio eletrônico em: 5 jul. 2020.
TASK-FORCE FOR CLIMATE-RELATED FINANCIAL DISCLOSURE – TCFD.
Recomendações da força-tarefa para divulgações financeiras relacionadas às mudanças
climáticas. Tradução das recomendações internacionais, Brasil, 2020.
THE CENTRAL BANKS AND SUPERVISORS NETWORK FOR GREENING THE FINANCIAL
SYSTEM – NGFS. In: NGFS Annual Report 2019, 2020.
UNITED NATIONS. Our common future. Genebra: United Nations, 1987.
UNITED NATIONS ENVIROMENTAL PROGRAM-FINANCIAL INITIATIVE – UNEP-FI. Making
waves: aligning the financial system with sustainable development. Genebra: UNEP-FI, 2018a.
UNITED NATIONS ENVIROMENTAL PROGRAM-FINANCIAL INITIATIVE – UNEP-FI..
Rethinking Impact to Finance the SGDs. Genebra: UNEP-FI, 2018b.
EXPLORE+
Acesse o site do Pacto Global – Rede Brasil,para se aprofundar ainda mais sobre as
questões discutidas.
Pesquise sobre os princípios para o investimento responsável, no site da associação.
Pesquise na Internet artigos sobre a iniciativa econômica voltada para o meio ambiente.
CONTEUDISTA
Maria Eugênia dos Santos Buosi
 CURRÍCULO LATTES
javascript:void(0);
DESCRIÇÃO
A fundamentação histórica dos Direitos Humanos e sua estruturação e efetivação no cenário nacional e
internacional.
PROPÓSITO
Compreender o que são os Direitos Humanos e quais são seus objetivos para uma formação
profissional plena que respeita os indivíduos permitirá que sua atuação contribua para a manutenção do
bem-estar social.
PREPARAÇÃO
Para esse módulo, o uso de um dicionário jurídico facilitará o entendimento de termos específico da
área.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer as características e a evolução dos Direitos Humanos
MÓDULO 2
Identificar os argumentos teóricos e as críticas aos Direitos Humanos
MÓDULO 3
Contrastar a diversidade das culturas aos Direitos Humanos
MÓDULO 4
Analisar a estruturação dos Direitos Humanos no Brasil
INTRODUÇÃO
Os Direitos Humanos são um conjunto de direitos considerados essenciais para que qualquer ser
humano, independentemente de sua condição, origem, seu credo, sua raça ou orientação política, viva
com dignidade. A existência desse conjunto é de conhecimento geral e não é raro vermos referências
aos Direitos Humanos em reportagens ou conversas cotidianas. No entanto, ainda não são
compreendidos pelas pessoas.
Poucos entendem o que eles representam realmente e o que procuram fazer. Diversas informações
equivocadas sobre o assunto circulam e, muitas vezes, a mensagem tem distorções propositais para
questionar a importância dos Direitos Humanos e fazer que eles sejam negados a um determinado
grupo de pessoas.
A Ciência prega que um profissional entenda do assunto para além do senso comum e que tenha o
conhecimento suficiente para utilizar de forma correta a informação.
Este conteúdo tem o objetivo de propor um debate sobre os Direitos Humanos, dividindo o assunto em
quatro módulos, que abordarão a construção ética e histórica do conceito, procurando definir quais são
esses direitos e como eles foram moldados; as críticas e atualizações sobre seus preceitos básicos; a
discussão sobre seu caráter universal e a necessidade de que ele atenda a diferentes grupos; sua
formação jurídica e, finalmente, seu desenvolvimento no Brasil. Com esse debate, poderemos
compreender seus fundamentos, suas críticas e sua funcionalidade no Brasil e no mundo.
GLOSSÁRIO
Vamos conceituar alguns termos que serão abordados ao longo do tema.
MÓDULO 1
 Reconhecer as características e a evolução dos Direitos Humanos
CONSTRUÇÃO ÉTICA E HISTÓRICA DOS
DIREITOS HUMANOS
 
Imagem: Shutterstock.com
Direitos Humanos são direitos básicos que devem ser garantidos a todo ser humano independentemente
de sua condição. O significado parece simples, mas definir o que são condições mínimas para que
qualquer ser humano, em qualquer lugar do planeta, viva de forma digna é uma tarefa complexa, mais
ainda se pensarmos que essas condições se modificam ao longo do tempo.
Geralmente, quando falamos desse assunto, nos referimos aos Direitos Humanos criados recentemente
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, escrita em 1948, pela Organização das Nações
Unidas, popularmente conhecida como ONU.
 ATENÇÃO
Não se pode ignorar que, antes dessa declaração ser escrita, existiu um longo caminho de construção
de direitos básicos, com interesses que se modificam com o passar do tempo. Para compreendermos o
que são os Direitos Humanos, no século XXI, precisamos observar o desenvolvimento das necessidades
dos seres humanos ao longo do tempo e as lutas que foram travadas para desenvolver esse conceito.
É certo que, se observarmos cada sociedade, desde os primeiros povos, veremos que cada um teve as
suas urgências e que, em alguns momentos, foi preciso estabelecer um conjunto de leis, de regras ou
de ideias para garantir o mínimo de dignidade e condições de sobrevivência para todos.
Ao longo do tempo, as guerras aconteceram e deixaram alguns grupos mais interessados em garantir a
sua integridade do que outros, tecnologias foram sendo criadas e vistas como fundamentais para uma
condição digna de vida.
À medida em que o tempo passa e fatos acontecem, outras dificuldades aparecerão e nos farão
repensar o que consideramos essencial para viver.
 EXEMPLO
Após a pandemia de coronavírus, é possível que o acesso universal à vacinação seja muito mais
valorizado como um direito básico e reivindicado do que em outros tempos.
CADA ÉPOCA TEM SUAS NECESSIDADES BÁSICAS, QUE
SURGEM EM UM DETERMINADO CONTEXTO.
PRIMEIRAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS
As primeiras referências ao termo Direitos Humanos datam dos séculos XVII e XVIII, na Europa
Ocidental, quando se vivia a chamada crise do absolutismo, ou seja, no momento em que a ideia de um
governante soberano com todos os direitos concentrados em suas mãos perdia força.
 SAIBA MAIS
A historiadora Lynn Hunt afirma que, em um primeiro momento, a expressão não tinha o mesmo
conteúdo político e legal que conhecemos atualmente e que, naquele tempo, “direitos humanos” era
uma expressão usada apenas como um contraponto aos direitos divinos. (HUNT, 2009)
Sobre o assunto, o filósofo Norberto Bobbio afirmou que esse período pode ser conhecido também
como “era dos direitos”, pois foi naquele tempo que as ideias dos filósofos do Iluminismo inspiraram
os liberais a lutarem contra os absolutistas, criando um “Estado de direito”, ou seja, um Estado que
tinha sua organização determinada pelo uso das leis (BOBBIO, 1992).
ILUMINISMO
Movimento intelectual do século XVIII que questionou os princípios políticos e religiosos da época.
Ainda segundo Hunt, foi o Iluminismo que materializou a noção de direitos básicos para todos,
principalmente por meio de dois documentos que vamos analisar a partir de agora: a Declaração de
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Independência, dos Estados Unidos; e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita
durante a Revolução Francesa.
DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS
UNIDOS
Esse documento foi resultado da insatisfação dos estadunidenses, naquele momento conhecidos como
as Treze Colônias Inglesas da América, com a metrópole Inglaterra.
Na época, os colonos viviam com uma relativa independência política e econômica até que foram
convocados pela Inglaterra a se envolver numa guerra contra os franceses, a Guerra dos Sete Anos.
Mesmo indo à batalha e garantindo a vitória inglesa no conflito, os americanos se viram, ao final da
Guerra dos Sete Anos, obrigados a pagar dívidas inglesas e a obedecer a ordens autoritárias da
metrópole.
Insatisfeitos, os colonos se reuniram e escreveram uma carta ao rei e ao parlamento inglês em que
declaravam sua fidelidade à Inglaterra, mas reclamavam das medidas adotadas. A carta não teve a
resposta esperada e, em 1776, os colonos americanos voltaram a se reunir no Segundo Congresso da
Filadélfia, onde redigiram a Declaração de Independência, na qual informavam à metrópole os motivos
pelos quais os colonos estavam rompendo com a Inglaterra e não fariam mais parte do reino inglês.
 
Imagem: Independence Hall/ Wikimedia Commons/ Domínio Público.
 O congresso votando pela independência.
Essa declaração americana anuncia que todos os homens são criados iguais por Deus e que recebem
Dele direitos que não lhes deveriam ser retirados: a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Esses
direitos são vistos pelos autores do documento como verdades “autoevidentes”, ou seja, direitos que são
natos a todos os seres humanos e que, caso não sejam respeitados pelo governo, o povo tem o direito e
o dever de substituir o governante ou de mudar as regras da política até que possa ser possível
desfrutar dos direitos com segurança.
O que podemos entender a partir dessa declaração é que a finalidade do documento não era
estabelecerdireitos básicos, até porque eles são autoevidentes e estariam naturalmente disponíveis em
uma nação justa, mas que esses direitos são citados para argumentar a necessidade de rompimento
com a metrópole pela falta de respeito a eles, criando as bases da nova nação que iria surgir.
Com isso, a declaração demonstrou as intenções daquele momento, mas ainda não estava tornando
oficiais esses direitos, isso só iria acontecer posteriormente, em 1787, quando foi assinada a
Constituição dos Estados Unidos.
Neste novo documento, nota-se que alguns daqueles direitos autoevidentes não foram respeitados: as
leis estadunidenses, por exemplo, permitiam que a escravidão permanecesse legal nos Estados Unidos,
recusando-se aos trabalhadores escravizados ao menos dois dos três direitos básicos apresentados na
Declaração de Independência, como a liberdade e a busca pela felicidade.
 
Imagem: explorepahistory/ Wikimedia Commons/ Domínio Público.
 Pintura mostrando o massacre de Wyoming por militantes 
lealistas e indígenas contra cidadãos americanos da fronteira, 
Alonzo Chappel, 1778.
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO
CIDADÃO
Esse documento também foi resultado de um conflito que teve início com a insatisfação do povo com o
seu governante. Dessa vez, o descontentamento era dos franceses com o rei absolutista Luís XVI.
Após o envolvimento da França para apoiar os americanos na Guerra de Independência dos Estados
Unidos, o monarca francês tentou controlar uma crise econômica aumentando os impostos cobrados da
população, mas manteve as classes privilegiadas isentas de contribuição.
Inspirados também pelos valores iluministas, o povo se rebelou e se proclamou, em Assembleia
Nacional, para subordinar o rei a uma constituição. Assistindo as movimentações nas ruas e sem
conseguir controlar a situação, o rei reconheceu a legitimidade da Assembleia e orientou que os grupos
privilegiados também fossem cobrados.
Em 1789, com todas as classes reunidas, a Assembleia francesa aprovou a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão.
 
Imagem: Grands Salles des Menus-Plaisirs em Versalhes/Wikimedia Commons/ Domínio Público.
 Abertura da Assembleia dos Estados Gerais, 
Isidore-Stanislaus Helman e Charles Monnet, 1789.
O documento francês defendeu que a ignorância, a negligência ou o menosprezo aos direitos dos
homens eram a razão da difícil situação em que o povo se encontrava e que, para mudar a situação, era
necessário defender de forma solene os direitos considerados naturais, inalienáveis e sagrados do
homem.
 ATENÇÃO
Aqui, podemos observar que, apesar de acreditar que existem direitos que são naturais aos homens,
diferentemente da ideia americana, eles não são evidentes por si só e precisam ser ditos e defendidos.
Como confirmação, podemos indicar o primeiro direito da declaração francesa, que afirma que os
homens não só nascem, como devem permanecer livres e iguais, ou seja, não é uma condição
provisória que pode ser retirada em algum momento, mas inerente ao ser humano.
Se compararmos as duas declarações, vamos encontrar outras diferenças importantes.
 
Imagem: Shutterstock.com
DECLARAÇÃO FRANCESA
Foi escrita para listar e defender os direitos considerados essenciais.
Documento legal escrito por uma Assembleia reconhecida pelo Estado, base da Constituição que seria
aprovada posteriormente e que repercutiu em direitos legais que tiveram atuação real.

 
Imagem: Shutterstock.com
DECLARAÇÃO AMERICANA
Apontou para a existência de alguns direitos básicos para defender um outro propósito, a
independência.
Documento no qual um comitê, representando as Treze Colônias, localizadas na América do Norte, foi
nomeado pelo Congresso para redigir a declaração.
Essas duas declarações alimentaram o início de um debate sobre os Direitos Humanos e serviram
de exemplo durante todo o século XIX para a criação de novos regimes políticos, incentivando os
processos de independência das colônias americanas, criando um novo mundo.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS
No século XX, os valores do mundo se transformaram mais uma vez, agora não por meio de processos
revolucionários, mas por duas conhecidas guerras que se iniciaram na Europa, envolveram países de
todos os continentes e deixaram um rastro de barbárie e mortes.
 
Foto: Everett Collection / Shutterstock.com
 Primeira Guerra Mundial – Batalha de Verdun (abril – junho, 1916).
Vamos acompanhar como as duas guerras mundiais influenciaram a criação dos direitos humanos como
existem atualmente e como essa declaração foi criada.
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Em janeiro de 1919, pouco depois de acabar a Primeira Guerra Mundial, as nações vitoriosas se
reuniram na Conferência de Paz de Paris e assinaram o Tratado de Versalhes que, entre outras
decisões, criou a Liga das Nações, um órgão internacional que tinha como objetivo interceder pela paz.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Apesar dos esforços dessa organização, poucos anos depois, ou como descreve a Carta das Nações
Unidas “no espaço de uma vida humana”, um novo conflito de proporções ainda maiores viria acontecer,
a Segunda Guerra Mundial. O mundo se chocou ao viver o horror do uso de novas tecnologias de
guerra, de campos de concentração e de extermínio em massa, pelos dois lados do conflito.
Assim como na Primeira, no final desta Guerra, em 1945, os países vitoriosos se reuniram e assinaram
acordos para restabelecer a paz no mundo. Entre as decisões tomadas, criou-se uma organização
internacional neutra para substituir a Liga das Nações, a chamada Organização das Nações Unidas
(ONU).
O objetivo desse novo órgão foi descrito na Carta das Nações Unidas, produzida e assinada na cidade
de São Francisco, nos Estados Unidos, ainda no ano de 1945. Nesse documento, determina-se que a
ONU representa um pacto entre as nações que devem se observar e procurar juntas mediar as ações e
decisões tomadas por todos, a fim de “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra” e reafirmar
a “fé nos direitos fundamentais do homem e no valor da pessoa humana; na igualdade de direitos dos
homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas”. Também eram objetivos desse
documento manter a justiça, o respeito, promover o progresso social, melhores condições de vida e a
liberdade. Para alcançar esses objetivos, três anos depois, em 1948, a ONU produziu a Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
 
Imagem: Clam15/Wikimedia Commons/ Domínio Público.
 A ONU em 1945. Em azul claro, os membros fundadores. Em azul escuro, os protetorados e
territórios dos membros fundadores.
A Assembleia Geral da ONU desejava que essa Declaração fosse um ideal comum a ser buscado por
todos os povos e nações e anunciou trinta artigos que compreendem direitos como a proteção e
segurança pessoal, a abominação à escravatura ou servidão, à tortura, ao reconhecimento de todos os
indivíduos como seres jurídicos, ao casamento e ao fim dele, ao trabalho e ao repouso, entre outros.
Esse documento tornou-se extremamente importante na busca pelos direitos básicos, pois ele não foi
um documento regional, como as declarações americana e francesa, mas um tratado internacional, que
trabalhou e ainda atua para que esses direitos estejam mais perto de todos os seres humanos.
Nela são reconhecidos como direitos inalienáveis a liberdade, a justiça e a paz e é criado um conceito
importante para envolver todos os seres humanos em um patamar de igualdade, a ideia de que todos
fazemos parte de uma mesma família, a família humana. Essa ideia declara que não há diferença entre
os seres humanos, pois todos os indivíduos são parentes e têm a mesma origem, trazendo um
sentimento de afeto para reforçar que devemos respeitar o próximo e ter empatia por ele.
 
Foto: Neptuul/Wikimedia Commons/ CC BY 3.0.
 Nobel da Paz de 2001 – diploma na entrada da Sede da ONU 
em Nova York.
 SAIBA MAIS
A Declaração das Nações Unidas de 1948 é o maior documento legal de direitos humanos produzidoe,
para chegar a todos os seres humanos, essa declaração se tornou o texto mais traduzido no mundo.
Com sua grande tradução para vários idiomas e com um grande esforço de circulação, a declaração foi
e é analisada e estudada intensivamente por juristas de todas as nacionalidades, que identificam três
características que se tornam seus três pilares fundamentais.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS
HUMANOS
 
Foto: Shutterstock.com
UNIVERSALIDADE
A primeira característica desses direitos é que eles são universais, como indica o próprio nome. Isso
significa dizer que eles devem estar disponíveis ao acesso de todos os membros da família humana
igualmente, não podendo ser restringidos a ninguém.
Por essa condição, se alguém não puder gozar de algum desses direitos, todos os demais membros da
família humana estão ameaçados, pois eles não estão em pleno funcionamento. Assim, não é permitido
que algum direito seja aplicado a apenas uma pessoa ou grupo.
 EXEMPLO
Vamos pensar no direito à liberdade: se em algum lugar do mundo for permitido que algum ser humano
seja submetido a condições de trabalho escravo, isso significa que todos os outros seres humanos
correm o mesmo risco. Se vale para um, vale para todos.
INTERDEPENDÊNCIA
Outra característica é que esses direitos são interdependentes, ou seja, um direito complementa o
outro, a existência de um está condicionada à existência de todos os demais. Aqui entendemos que
nenhum direito é mais importante do que os demais. Eles se apoiam, como em um castelo de cartas. Se
um for ameaçado, todo o conjunto pode ruir.
 EXEMPLO
Se alguém estiver passando fome, ou seja, se tiver o seu direito de ter uma alimentação adequada
ameaçado, é possível que essa pessoa não consiga exercer a seu direito à liberdade, pois a essa
pessoa nada mais interessará, e todos os seus esforços estarão focados em alimentar-se, e ela pode
acabar aceitando qualquer condição imposta. Sua liberdade dependerá do acesso à alimentação. Assim,
podemos dizer que um direito só funciona se o outro também funcionar.
INDIVISIBILIDADE
A última característica é a indivisibilidade, que significa que não pode haver uma divisão desses
direitos em categorias. É preciso entender e respeitá-los como um todo, enxergando que os direitos
individuais, políticos, sociais e econômicos interagem e não podem ser afastados uns dos outros.
 EXEMPLO
Não é possível que uma nação mova esforços para garantir apenas os direitos políticos da sua
população sem garantir os direitos individuais dela, pois esses dois direitos não estão separados.
Vamos pensar nos primeiros anos da República no Brasil, no final do século XIX e o início do século XX.
Naquele momento, novos direitos políticos foram criados, permitindo que alguns homens votassem e
escolhessem seus governantes. No entanto não foram criadas condições para que o direito individual
fosse respeitado e, assim, esses eleitores eram ameaçados para que o voto fosse dado a um candidato
específico.
AMEAÇADOS
A essa prática de manipulação eleitoral demos o nome de voto de cabresto. Aqui entendemos que
o direito político e o direito individual não estão divididos e separados, ou seja, um direito não
existe sem o outro.
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FASES DOS DIREITOS HUMANOS
Agora, destacaremos os principais eventos que marcaram os Direitos Humanos.
Ao acompanhar a trajetória dos Direitos Humanos, entendemos que seus objetivos e suas
características foram construídas ao longo do tempo.

PRIMEIRA GERAÇÃO
As declarações americana e francesa integram a primeira geração, que buscou a liberdade ao rejeitar o
controle do Estado absolutista e procurar limitar poderes autoritários, já que esses interferiam
diretamente no livre arbítrio de decisões individuais.
SEGUNDA GERAÇÃO
A segunda geração, no século XX, com as declarações e os tratados internacionais das Nações Unidas,
reafirmou a liberdade da primeira geração e buscou a igualdade, criando a ideia de família humana, em
que todos os seres humanos foram postos no mesmo patamar.


TERCEIRA GERAÇÃO
A partir dos anos de 1960, a última geração avançou sobre os direitos coletivos e difusos, ou seja, os
direitos que representam os indivíduos, mas que são do interesse de todos e que só podem ser exigidos
por todos juntos.
Enfatizou-se a defesa de interesses como a preservação do meio ambiente, o direito à paz e o
compartilhamento de conhecimento, tecnologia e cultura. Para entendermos melhor, vamos observar o
exemplo da preservação da Floresta Amazônica, que é uma preocupação coletiva e só pode ser exigida
em nome de todos.
Para concluir, podemos entender que a questão dos direitos demanda atualização e esforço por sua
manutenção. Apesar da intenção de colaborar com a criação de direitos básicos, nenhuma das três
declarações citadas teve valor constitucional, isto é, nenhuma teve valor de lei, foi capaz de garantir os
direitos universais ou de impedir regressos.
 SAIBA MAIS
Pouco depois da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a França voltou a ter um rei no
poder e depois da produção da Declaração dos Direitos Humanos, o mundo voltou a vivenciar diversas
guerras, genocídios e ditaduras.
Entendemos que esses direitos não são garantias, e, sim, um trabalho em progresso. Por isso,
precisamos estar sempre vigilantes para não retrocedermos em nenhuma conquista.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AO ACOMPANHAR A HISTÓRIA DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS
PRODUZIDAS AO LONGO DO TEMPO COMPREENDEMOS QUE:
A) A Declaração de Direitos Humanos da ONU superou todas as demais declarações, pois todos os
direitos defendidos eram inéditos na história.
B) O conjunto de Direitos Humanos que compreendemos atualmente é fruto de uma construção histórica
que se expandiu por vários países e está em constante evolução.
C) As declarações dos Direitos Humanos são documentos criados espontaneamente por cada
sociedade quando seus regimes estão estáveis e maduros.
D) As declarações de direitos ganharam visibilidade mundial, pois conseguiram transformar as
necessidades do povo em leis universais.
E) A Declaração de Independência foi uma vitória dos americanos, pois, a partir do seu processo de
independência, teve início o poder americano no mundo.
2. OS DIREITOS HUMANOS POSSUEM ALGUMAS CARACTERÍSTICAS QUE OS
AJUDAM A SE FORTALECER E SER GARANTIDOS POR UM TODO. SOBRE
ESSAS CARACTERÍSTICAS, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Todos os direitos são independentes, ou seja, cada um tem sua importância e são debatidos isolados.
B) Todos os direitos são indiscutíveis, ou seja, sua importância é tão grande que eles deveriam ser
compreendidos por si só.
C) Todos os direitos são capacitistas, ou seja, determinam que os seres humanos devem ser exaltados
pelas suas melhores habilidades.
D) Todos os direitos são indivisíveis, ou seja, precisam ser respeitados como um todo.
E) Todos os direitos são jurídicos, a serem discutidos em espaços das leis, sem foco social.
GABARITO
1. Ao acompanhar a história das declarações de direitos produzidas ao longo do tempo
compreendemos que:
A alternativa "B " está correta.
 
A Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU reuniu alguns direitos que já haviam sido
debatidos em outras declarações com o objetivo de defender todos os integrantes da família humana.
2. Os Direitos Humanos possuem algumas características que os ajudam a se fortalecer e ser
garantidos por um todo. Sobre essas características, é correto afirmar que:
A alternativa "D " está correta.
 
Os direitos são indivisíveis, pois nenhum é mais importante que o outro ou pode ser interpretado
sozinho.
MÓDULO 2
 Identificar os argumentos teóricos e as críticas aos Direitos Humanos
FUNDAMENTAÇÃO E RECONSTRUÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS
 
Foto: Shutterstock.com
Ao acompanhar a trajetória dos Direitos Humanos, entendemos que eles são frutos de um processo
histórico que combinou ideias, pensamentos e necessidades de muitos momentos e grupos.
Atualmente, rejeitamos as ideias de umrei com todo o poder concentrado em suas mãos e de uma
sociedade que define nosso lugar social desde o nascimento sem chances de definirmos nossas
próprias vidas, mas nem sempre foi assim.
Para que direitos como a limitação de poder e o princípio de igualdade se efetivassem como tratados ou
leis, foi preciso construir uma grande argumentação teórica baseada em tradicionais correntes jurídicas
filosóficas.
Para entender a sustentação teórica dos Direitos Humanos, vamos analisar essas correntes e entender
sua argumentação e suas críticas. Os Direitos Humanos podem ser justificados por, pelo menos, três
correntes filosóficas: jusnaturalista, positivista e moral.
JUSNATURALISMO
No jusnaturalismo, o direito é visto como algo intrínseco e natural ao ser humano e às leis, como
resultados desse pensamento, funcionando antes mesmo de serem legalizadas pelas constituições ou
pelo Estado.
Na Antiguidade, os direitos jusnaturalistas foram interpretados como direitos de origem divina e,
posteriormente, na Modernidade, foram entendidos pelo uso da razão humana e vistos como direitos
naturais.
Segundo essa corrente, eles existem, pois haveria uma demanda natural da sociedade por certos
princípios, sendo os direitos uma consequência natural da organização dos homens e mulheres,
existindo independentemente de qualquer constituição ou diploma legal.
 EXEMPLO
Para compreensão do pensamento jusnatural temos o direito à vida. Os jusnaturalistas acreditavam que
se as pessoas têm naturalmente a ideia de que tirar a vida de outro ser humano é um ato injusto, seria
desnecessário uma lei para impedir que as pessoas se matem.
 ATENÇÃO
O uso do argumento jusnatural para defender os Direitos Humanos, no entanto, sofre uma crítica, pois,
acompanhando o seu desenvolvimento histórico, entende-se que os Direitos Humanos não são pré-
existentes ou uma necessidade natural da vida em sociedade.
Como nos mostra a história, os Direitos Humanos seriam fruto da evolução, da necessidade e do
entendimento de um grupo. Na crítica ao fundamento jusnaturalista, podemos ressaltar o
questionamento feito pela professora Lynn Hunt sobre a natureza “autoevidente”, definida pela
Declaração de Independência dos Estados Unidos; se esses são direitos tão óbvios por que eles
precisam ser reafirmados de tempos em tempos?
 
Foto: Shutterstock.com
POSITIVISMO
A corrente jurídica do positivismo entende que os direitos não são elementos naturais numa
sociedade. Eles seriam o resultado de discussões e entendimentos do Estado, que decide pela
oficialização e pela legalização de uma certa norma.
Segundo essa corrente, o direito só existe por determinação legal, ou seja, os Direitos Humanos só
passam a existir quando são institucionalizados e recebem o reconhecimento em forma de lei, em
constituições ou em tratados internacionais.
Para os positivistas não existem direitos como ideias, e os Direitos Humanos são apenas o que a lei
determina que são Direitos Humanos. Se estão representados apenas por declarações, eles não
existem e ninguém tem a obrigação de segui-los.
 
Imagem: Autor desconhecido/ Wikimedia Commons/ Domínio Público.
 Auguste Comte, formulador do positivismo.
 ATENÇÃO
A crítica acusa que a interpretação literal do que é um direito enfraquece a proteção dos Direitos
Humanos, pois deixa de fora uma série de direitos de grande importância, que são reconhecidos pela
comunidade ou que ainda estão sendo discutidos, antes de ser inscritos em alguma legislação.
Considerar apenas o que está previsto em lei implica numa redução de direitos.
MORALISMO
A corrente moralista, como a jusnaturalista, defende que os direitos são normas que não precisam
da sua oficialização em leis e constituições para ter validade; sua importância está diretamente
relacionada às necessidades e aos valores da sociedade em que estão inseridos. Mas, diferentemente
do jusnaturalismo, o direito moral não acontece naturalmente na sociedade, ele se baseia nas
necessidades e nos valores específicos morais e éticos de um determinado grupo.
 EXEMPLO
Não há uma lei que obrigue que as pessoas precisam respeitar uma fila que tenha se formado, ninguém
será preso por furar uma fila. Em algumas culturas, essa regra é importantíssima, e você pode até
mesmo se ausentar da fila por algum motivo que, ao retornar terá seu lugar garantido, enquanto, em
outros grupos, passar à frente de uma pessoa que estava desatenta não é um grande problema, e é até
normal.
 ATENÇÃO
A crítica a essa corrente aponta também para uma limitação que põe em risco os direitos, pois, se
cada sociedade possui seu próprio conjunto de valores e tem um entendimento moral, vários direitos
humanos diferentes seriam reivindicados pelo mundo, e o conjunto se enfraqueceria como um direito
universal.
CONSTRUÇÃO TEÓRICA DOS DIREITOS
HUMANOS
Apesar das diferenças evidentes, essas três teorias não se contradizem nem disputam entre si, elas se
complementam e colaboram para que os direitos humanos tenham sustentação e atuação mais forte na
sociedade.
É importante lembrar que a Declaração Universal de Direitos Humanos e os demais tratados da ONU
são declarações de intenção, ou seja, não são leis válidas por si só. Eles estão baseados nas teorias
moral e jusnatural e precisam do esforço e das estruturas legais dos países inscritos nas Nações Unidas
para que se positivem, ou seja, que se tornem legais e, de fato, possam ser acessados com mais
efetividade por todos.
Entretanto, sem o entendimento jusnatural e sem uma base moral e os esforços das Nações Unidas, os
defensores desses direitos não têm argumentos no debate, a fim de conseguir valor legal em todos os
lugares do mundo e, assim, alcançar toda a família humana.
Para refletirmos, se os direitos humanos fossem somente de natureza jusnatural, sem apoio moral, ou
seja, se não estivessem de acordo com os valores da sociedade, não haveria um entendimento da sua
urgência e eles não teriam aplicação prática na sociedade. Da mesma forma, se os direitos humanos
não tivessem uma argumentação baseada nos valores morais da sociedade, dificilmente eles
conseguiriam se transformar em discussões e, posteriormente, em leis, e não seriam positivados.
Vejamos o direito defendido pelo artigo 5º da declaração de 1945, que diz que “ninguém será submetido
à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes”. Pela doutrina jusnatural,
ninguém deveria ser submetido à tortura, pois isso é um direito autoevidente, é um entendimento natural
que isso não deve acontecer, mas, se o ato não for ilegal naquela nação, ou se aquele valor não estiver
inscrito também na moral daquela sociedade em questão, corre-se o risco de que se ignore o senso
comum e a tortura, de fato, aconteça.
 
Foto: Shutterstock.com
 
Foto: Raymond D’Addario/Wikimedia Commons/Domínio Público.
 Banco dos réus no tribunal de Nuremberg.
Para entendermos a complexidade dessas correntes, também podemos pensar nas discussões do
Tribunal de Nuremberg, uma corte internacional formada ao final da Segunda Guerra Mundial para julgar
os oficiais de alta patente do regime nazista alemão pela acusação dos crimes contra a humanidade.
Na ocasião, a defesa dos militares nazistas foi montada sob o argumento de que seus atos eram legais
dentro do sistema de leis alemãs vigente no momento das ações, ou seja, quando os crimes foram
cometidos, nos locais em que foram cometidos, eles não infringiram nenhuma lei.
Nesta argumentação, pela corrente jusnaturalista, deve-se descartar o argumento da legalidade e se
condenar os atos como crimes, por se tratar de atitudes que deveriam ser naturalmente rejeitadas por
todos. Por outro lado, a ideologia positivista alega legitimidade dos atos dentro do sistema legal da
nação onde ocorreram.
 
Foto: Departamento de defesa/Wikimedia Commons/Domínio Público.
 Prisioneiros do campo de concentração de Wöbbelin.
Essa corrente ficou abalada e foi amplamente questionada por ter dado respaldolegal a ações dessa
natureza, legitimando atuações com indiferença aos valores éticos.
RUPTURA E RECONSTRUÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS
Além do debate sobre a legalidade, as políticas dos regimes fascistas foram um marco para as
discussões sobre violação de direitos e a responsabilidade da comunidade internacional em situações
como essa.
A filósofa alemã Hannah Arendt produziu importantes reflexões sobre o tema já que parecia que, apesar
do debate político e teórico que havia sobre direitos universais até a primeira metade do século XX, todo
o esforço político e filosófico não produzira efeitos práticos na sociedade.
Analisando os acontecimentos daquela época, Arendt, que escreveu seus estudos na metade do século
XX, propôs que havia acontecido uma ruptura nos Direitos Humanos, não somente por parte dos
regimes totalitários, de direita ou de esquerda – incluindo-se o regime stalinista na União Soviética -,
mas também por conta das políticas imperialistas praticadas naquela época, quando alguns países
impuseram políticas racistas de exploração e domínio sobre diversos povos africanos e asiáticos.
 
Foto: Dmitry Borko/Wikimedia Commons/ CC BY-SA 4.0.
 “Muro das lamentações” na primeira exposição das vítimas 
do stalinismo em Moscou, 19 de novembro de 1988.
Se, após anos de debate sobre o assunto, o mundo vivenciou tais políticas bárbaras de desrespeito à
vida, era necessário refletir e criar novas condições para uma reconstrução dos direitos universais.
Segundo a filósofa, uma questão para se reconstruir esses direitos era dar atenção aos homens e
mulheres que perderam seu lugar na sociedade e na política, sejam por eles serem minorias ou por
terem tido necessidade de sair de seu local de origem, tornando-se apátridas ou refugiados.
Esse foi o problema fundamental que se agravou no período entreguerras. Após a dissolução dos
impérios ao final da Primeira Guerra Mundial, alguns grupos, como os armênios, os húngaros e os
romenos, perderam sua nacionalidade e se tornaram apátridas.
Outros grupos tiveram de sair e se refugiar em outros países, como milhares de judeus alemães, que
fugiram das políticas antissemitas do regime nazista (neste grupo encontra-se a própria Hannah Arendt
e seus familiares). Houve, ainda, aqueles que sofreram perseguições por suas escolhas religiosas, de
afetividade ou por convicções políticas, como os anarquistas e os comunistas.
Houve, nesse período, um grande deslocamento geográfico de pessoas pela Europa. Ao fugir de suas
terras, elas entraram como imigrantes em outros países, perdendo a proteção legal do Estado.
 
Foto: German Federal Archive/ Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0 DE.
 Judeus polacos expulsos da Alemanha em outubro de 1938.
Para Arendt, o grupo dos apátridas foi o que teve a situação mais angustiante e o que mais precisava de
atenção, pois, além de terem perdido seus direitos, eles não eram reconhecidos como iguais perante a
lei, já que a lei nem existia mais para eles.
Ao ser expulso da sua comunidade, o apátrida se vê isolado e destituído da sua humanidade. Com
tantas pessoas sem proteção de um Estado, surge a necessidade de uma política internacional que
garanta o atendimento dos direitos a essas pessoas independentemente da sua situação.
A ideia central de Hannah Arendt para a reconstrução dos direitos humanos é a de que o primeiro direito
a ser defendido tem de ser o direito a se ter direitos. Se há lugares no mundo onde indivíduos não têm
acesso a nenhum direito ou lhes é negado até mesmo o direito a participar dos debates políticos; não
tendo acesso a todo esse sistema internacional, ele está excluído.
ESTA NOVA SITUAÇÃO, NA QUAL A HUMANIDADE
ASSUMIU ANTES UM PAPEL ATRIBUÍDO À NATUREZA, OU
À HISTÓRIA, SIGNIFICARIA NESSE CONTEXTO QUE O
DIREITO A TER DIREITO, OU O DIREITO DE CADA
INDIVÍDUO A PERTENCER À HUMANIDADE DEVERIA SER
GARANTIDO PELA PRÓPRIA HUMANIDADE.
(ARENDT, 2004, p. 332)
Em outras palavras, seria necessário garantir que todos os homens e mulheres sem condições ou
exceções obtenham proteção jurídica na mesma medida que todos os demais. O indivíduo deveria ser
reconhecido como cidadão do mundo ou, como foi dito na declaração da ONU, integrante da família
humana, sem diferença entre nativo e estrangeiro.
Se o indivíduo precisa ter direitos acima do Estado, ele também necessita de um Estado para
transformar o princípio dos Direitos Humanos em lei na sociedade onde vive.
Os Direitos Humanos são progressivamente conquistados e devem ser continuamente defendidos,
baseando-se em argumentos bem construídos, a partir de suporte teórico e ações positivas. Observando
as rupturas sofridas, entendemos que seu estabelecimento não é definitivo e precisa ser questionado e
redefinido de tempos em tempos.
PRINCIPAIS OLHARES SOBRE OS DIREITOS
HUMANOS
Neste vídeo, vamos recuperar os principais olhares sobre os Direitos Humanos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SEGUNDO A FILÓSOFA HANNAH ARENDT, APESAR DOS ESFORÇOS PARA A
CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, ALGUNS ACONTECIMENTOS DO
FINAL DO SÉCULO XIX E DO INÍCIO DO SÉCULO XX CAUSARAM UMA RUPTURA
DESSES DIREITOS E, POR CONTA DISSO, A AUTORA DEFENDE UMA
RECONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. SOBRE O ASSUNTO, ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA:
A) O ponto-chave na teoria da autora é a luta pelo direito a se ter direitos, pois muitas pessoas se
encontram totalmente desprotegidas e sem possibilidade de recorrer a ajuda de nenhum Estado.
B) O período mais tenso que a humanidade já passou foi durante a Guerra Fria, quando a iminência de
uma nova guerra mundial fragilizou a constituição dos países e muitos indivíduos ficaram sem
assistência jurídica.
C) A teoria da autora sofre diversas críticas internacionais, pois, ao apontar os problemas enfrentados
pelos Direitos Humanos sem indicar soluções, a filósofa estaria fragilizando a fundamentação dos
direitos.
D) A teoria de Hannah Arendt encontra-se totalmente superada nas discussões jurídicas, pois os
problemas apontados pela filósofa foram resolvidos ao final da Guerra Fria, quando os países socialistas
aceitaram fazer parte das Nações Unidas.
E) O argumento de Arendt, judia que viveu os horrores da Guerra, é considerado literário e emocional,
sendo adaptado pelos intelectuais, à lógica da defesa dos Direitos Humanos do cidadão.
2. PARA SE CONSOLIDAREM OS DIREITOS HUMANOS, FOI PRECISO BASEAR
SUA ARGUMENTAÇÃO EM DIVERSAS CORRENTES FILOSÓFICAS JURÍDICAS.
SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, PODEMOS AFIRMAR
QUE:
A) O jusnaturalismo é a corrente filosófica que possui menos reconhecimento no mundo jurídico, pois
seus argumentos são baseados em regras locais que não são aceitas por todos os grupos.
B) O positivismo é a corrente mais importante para a consolidação dos Direitos Humanos, pois somente
essa corrente defende que o direito se transforma em lei e passa a ter validade.
C) A corrente moralista é a corrente que menos recebe críticas, pois baseia-se na moral que é um
conceito universal e compreendido por todos os seres humanos.
D) Não há como determinar que corrente teórica é mais importante para a consolidação dos Direitos
Humanos, pois todos os argumentos reforçam a importância desses direitos.
E) A corrente educacional dos Direitos Humanos defende que a única possibilidade é pensar o direito
das crianças. Para os adultos já não teria mais sentido.
GABARITO
1. Segundo a filósofa Hannah Arendt, apesar dos esforços para a construção dos direitos
humanos, alguns acontecimentos do final do século XIX e do início do século XX causaram uma
ruptura desses direitos e, por conta disso, a autora defende uma reconstrução dos Direitos
Humanos. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta:
A alternativa "A " está correta.
 
Segundo Hannah Arendt, na primeira metade do século XX, muitos indivíduos ficaram desprotegidos
judicialmente e os Direitos Humanos deveriam ocupar justamente esse espaço e servir a todos
independentemente da ação dos Estados.
2. Para se consolidarem os Direitos Humanos,foi preciso basear sua argumentação em diversas
correntes filosóficas jurídicas. Sobre a fundamentação dos direitos humanos, podemos afirmar
que:
A alternativa "D " está correta.
 
Todas as argumentações teóricas possuem o mesmo peso, pois todas recebem críticas e juntas elas se
complementam.
MÓDULO 3
 Contrastar a diversidade das culturas aos Direitos Humanos
FUNDAMENTOS DO UNIVERSALISMO VERSUS
MULTICULTURALISMO
 
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O ano de 1948 se tornou um marco na história dos Direitos Humanos Naquele ano, as Nações Unidas
proclamaram sua declaração, propondo que este recurso estivesse à disposição de todas as pessoas da
família humana.
Esta declaração pretendia servir de base para a garantia de direitos em todos os lugares do mundo. No
entanto, não foi denominada como uma declaração internacional, mas autointitulada de declaração
universal.
A escolha do seu nome atendia à ideia de que esses direitos deviam estar acima de um ou outro país e
proclamava que esses direitos pertencem a todo mundo sem nenhuma condição ou exceção.
Ao pensar sobre a universalidade, surgiu um novo questionamento: seria possível criar um direito básico
que atendesse a todas as demandas, independentemente do gênero, da religião, da nacionalidade ou
qualquer outra característica da pessoa? Os Direitos Humanos deviam ou podiam ser universais?
A ideia de ser um recurso legal básico disponível para o mundo inteiro parecia ideal e irrecusável. Se
direitos são vistos como benefícios, não haveria razão para ser rejeitada por alguém, mas, apesar da
boa intenção, a ideia não foi aceita unanimemente.
 SAIBA MAIS
Há anos, a questão vinha sendo discutida e a universalidade desses direitos vinha sendo contestada,
principalmente pelos países não europeus, que não concordavam que essa declaração atendesse a
todas as culturas. Eles enxergavam que a proposta foi produzida a partir dos princípios ocidentais, com
fortes tendências eurocêntricas, e que ela impôs o que devia ser acolhido por todos, sem levar em
consideração que, em outras partes do globo, existem culturas diferentes, outras demandas sociais,
outras religiões além do cristianismo e de outras formas de organização política.
CRÍTICAS AO UNIVERSALISMO
Para os críticos da universalidade dos Direitos Humanos, a ideia de se criar um conjunto de direitos
básicos capazes de atender a todos se mostra até mesmo soberba, se levarmos em consideração que
ela foi escrita por um grupo, e não por todas as nações.
A partir dessa ideia, poderia ser criada a noção de que existe um grupo que é capaz de entender
sozinho as necessidades de todo o mundo e que pode decidir por todos o que é necessário para se ter
uma vida digna sem consultar aqueles que irão usufruir desse modo de vida.
Dessa maneira, reforça-se a ideia de hierarquia e desigualdade, segundo a qual um grupo ou uma
cultura é superior a outro e que pode ter a tutela do mundo.
Por esse ponto, surge também uma acusação de que, ao se fazer dessa declaração universal, pode-se
chegar ao efeito de uma prática imperialista, pois são impostas políticas de um grupo sobre os demais.
Pensar a universalidade dos Direitos Humanos como uma prática imperialista é um ponto
especificamente interessante, pois, segundo Hannah Arendt, foram justamente as políticas imperialistas
praticadas pela Europa no final do século XIX que romperam os Direitos Humanos no passado e deram
origem aos grandes conflitos do século XX. Assim, a universalidade acabou tornando-se um objetivo
contraditório, pois, ao mesmo tempo em que procura garantir direitos a todos, acaba ocasionando sua
própria ruptura.
 
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Respondendo à acusação de ser uma declaração imperialista e imposta ao mundo, os defensores do
caráter universal da carta argumentam que, após a elaboração da Declaração, diversos países, de todos
os continentes e das mais variadas culturas, aderiram voluntariamente ao documento.
Assim, a legitimidade do caráter universal da Declaração mostrou-se naturalmente, na medida em que
os países se preocupam em adaptar suas constituições a esses valores, esquecendo-se de que uma
das principais características dessa Declaração é que ela é um objeto histórico, fruto do seu tempo,
resultado das necessidades de uma época, que procura atender às demandas de uma parte da
sociedade, geralmente a que a produziu, e que está em constante mudança e adaptação e nunca se
tornará definitiva, sempre havendo o que melhorar.
MULTICULTURALISMO
Diante de tantas críticas, surge o multiculturalismo, uma corrente em contestação à visão universalista e
que amplia as possibilidades de inclusão desses direitos em todo o mundo. Essa corrente tem como um
de seus principais apoiadores o sociólogo Boaventura de Souza Santos que, apesar de ser português,
critica a visão eurocêntrica da Declaração e procura discutir as diferenças culturais existentes no mundo
para contribuir com uma declaração mais plural.
O sociólogo afirma que é natural que todas as culturas enxerguem os seus princípios como os valores
mais corretos, que deveriam ser adotados pelos demais — ou não cultivariam aqueles hábitos. A
questão é que os ocidentais são os únicos que ultrapassam os limites, buscando se expandir e
se impor a todo o restante do mundo.
Ele diz que quando se assume a ideia da universalidade dos Direitos Humanos, tenta-se impor as
vontades locais ao todo, e que a solução para tal problema seria aceitar as diferenças existentes no
mundo e mudar a qualificação desses direitos, de universais para multiculturais. Caso contrário, a
Declaração acaba se tornando um instrumento que põe as civilizações em choque umas com as outras.
 ATENÇÃO
É importante reconhecer esses problemas para não cairmos na armadilha de relativizar todas as
atitudes em nome dos valores locais. Boaventura combate a ideia de relativizar as culturas ao extremo e
justificar todas as ações cometidas sem questioná-las.
O que dizer de se assistir a uma sociedade que provoca o mutilamento genital de meninas e mulheres
sem questionar, permitindo que atrocidades sejam cometidas em nome da cultura? Assumir as
imperfeições e os limites da cultura é o melhor caminho para a construção de direitos humanos
multiculturais.
Para Santos, o multiculturalismo representa o equilíbrio entre a competência global e a legitimidade
local, ou seja, entre aquilo que precisa ser um ponto em comum entre todos e o respeito das
características de cada comunidade. Antes de tudo, é necessário criar um conjunto de direitos que
promova a igualdade ao mesmo tempo que são respeitadas as diferenças culturais das diversas
comunidades.
 
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[...] TEMOS O DIREITO A SER IGUAIS QUANDO A NOSSA
DIFERENÇA NOS INFERIORIZA; E TEMOS O DIREITO A SER
DIFERENTES QUANDO A NOSSA IGUALDADE NOS
DESCARACTERIZA. DAÍ A NECESSIDADE DE UMA
IGUALDADE QUE RECONHEÇA AS DIFERENÇAS E DE UMA
DIFERENÇA QUE NÃO PRODUZA, ALIMENTE OU
REPRODUZA AS DESIGUALDADES.
(SANTOS, 2003: 56)
Devemos reconhecer as diferenças entre os seres humanos, mas essa diferença não pode provocar
nem desigualdade e tampouco uma hierarquia, definindo pessoas em condições superiores ou inferiores
umas às outras, ou determinando quem deve mandar e quem deve obedecer, quem deve ser respeitado
e quem deve se submeter.
DIVERSIDADE CULTURAL
É preciso procurar, por meio do diálogo intercultural, atitudes que possam ser assumidas em diversos
grupos ou que sejam praticadas de formas diferentes, mas que tenham o mesmo objetivo de não
inferiorizar o outro.
 ATENÇÃO
Nunca se deve assumir um valor que classifique uma cultura ou um grupo como mais correto que outro.
Sobre essa relação de diferença e igualdade, podemos pensar no seguinte exemplo: homens e
mulheres são diferentes, mas isso não é, ou não deveria ser, motivo de tratamento desigual pela
sociedade.
As doutrinas cristã e judaica oferecem visões religiosas distintas, mas, para a sociedade, essa questão
não deveria ser hierarquizante nemgerar disputa entre seus praticantes.
Outro ponto que deve ficar claro a respeito das culturas é que elas são dinâmicas e que igualdade não é
sinônimo de uniformidade: apesar de serem originários do mesmo continente, norte-americanos,
brasileiros e argentino têm características bastante diferentes.
As versões de uma mesma cultura precisam ser também avaliadas e entendidas separadamente para
não se criar falsas generalizações.
 
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Dentro do grupo dos islâmicos, existem os xiitas, os sunitas e outras correntes. As ideias de cada um
desses grupos podem ser iguais em certo aspecto e radicalmente contrastantes em outros. Todas as
diferenças devem ser aceitas pela sociedade desde que nenhum valor inferiorize ou ameace o
outro. A burca utilizada pelas mulheres mulçumanas deve ser compreendida como um hábito cultural,
mas debatida quando mulheres que não a desejam, sejam obrigadas a vesti-la.
A aceitação das diferenças é importante até mesmo para que se garanta que os Direitos Humanos
sejam atendidos. Em cada sociedade, um direito irá repercutir de uma maneira. Um princípio contrário
às práticas cotidianas locais pode levar ao descumprimento contínuo de um direito, seja ou não seja lei.
Sem aceitação da comunidade, o direito não tem efetividade.
É preciso lembrar que os Direitos Humanos estão em constante debate e evolução e que, há anos, as
Nações Unidas assumem a missão de mediar os interesses de todos e promover debates acerca do
assunto para reorganizar os direitos universais.
Mesmo admitindo a existência de críticas, é preciso reconhecer o esforço da Declaração Universal e de
tantos outros tratados e documento redigidos pela ONU, ainda que alguns posicionamentos sejam
questionáveis é pelo trabalho que se faz uma movimentação global por um debate que visa promover os
sistemas jurídicos dos países em busca de uma situação confortável para todos.
A sociedade deve seguir aprendendo a tratar todas as pessoas com igualdade e a compreender
as diferenças da família humana.
 
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DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A ORDEM
JURÍDICA
Se em um primeiro momento as declarações de direitos essenciais preocuparam-se com a garantia da
liberdade e da igualdade, no século XX, outro conceito passou também a ser considerado fundamental:
o respeito à dignidade da pessoa humana.
O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas assinado em 1948
afirma: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
O Brasil, que participa da ONU e que firmou o compromisso de garantir os direitos humanos a seus
indivíduos, positivou essa ideia na Constituição de 1988, que está em vigor.
Também no primeiro artigo da nossa Carta Magna, registra-se que a “República Federativa do Brasil (...)
tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana”.
A importância da dignidade é tratada em outros momentos, como no Artigo 170, no qual consta que toda
ação econômica tem como finalidade garantir uma existência digna. O artigo 230 define que é dever da
família, da sociedade e do Estado defender a dignidade das pessoas idosas.
A seguir, veremos o conceito de dignidade da pessoa humana.
 
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DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Dignidade da pessoa humana são as condições mínimas necessárias para que uma pessoa viva uma
vida justa, em condições adequadas e sem depreciação. Este é um valor absoluto, regulador de todos
os objetivos do ser humano, pois nada é mais importante do que a garantia das condições vitais para a
sobrevivência nesse mundo.
É uma noção incomensurável, insubstituível e que não permite equivalente, ou seja, é um valor que não
tem como ser medido de forma quantitativa ou qualitativa. A dignidade humana não pode ser trocada por
nenhuma outra coisa, possui um valor que não é comparável a nenhum outro.
Não há uma definição legal única que determine que condições são essas, pois elas variam em cada
cultura ou sociedade. Veja os dois exemplos a seguir:
 
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Para um homem europeu, ateu e inserido no mundo capitalista, essa noção pode estar completamente
baseada nas conquistas financeiras e na possibilidade de desenvolvimento da sua carreira ou do seu
negócio.

 
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Já uma mulher, árabe e praticante do islamismo pode ter essa noção amparada na possibilidade de
constituir uma família e de criar seus filhos dentro dos princípios da sua religião.
Seja como for, mesmo variando, é certo que todos os grupos e culturas nutrem valores básicos que
formam seu conceito de dignidade humana.
Nas sociedades ocidentais, podemos reconhecer as condições da dignidade da pessoa humana como
as que foram trazidas na Declaração dos Direitos Humanos da ONU, pois, se a declaração foi escrita
por representantes da cultura ocidental como os valores mínimos necessários para todas as pessoas, é
lá que estão descritos os seus pilares. Porém, apesar de serem direitos universais, eles não refletem as
condições da dignidade humana em todas as culturas do mundo.
 COMENTÁRIO
Segundo o sociólogo Boaventura de Souza Santos, para que os direitos humanos alcancem o maior
número de pessoas da família humana e se tornem multiculturais, é fundamental ter clareza de que
todas as culturas possuam sua concepção de dignidade da pessoa humana e que nem todas
enxergarão a sua noção de dignidade contemplada nos termos da declaração das Nações Unidas.
Para o melhor consenso, já que nem todas as concepções de dignidade humana conseguirão ser
contempladas, por serem opostas ou contraditórias, uma solução seria procurar atender ao maior
número possível de seres humanos, buscando uma versão mais aberta do conceito, ou seja, a visão da
dignidade humana que melhor será aceita dentro das particularidades das outras culturas.
 ATENÇÃO
Dentro de uma mesma cultura, pode haver diversas correntes, umas mais conversadoras que outras e
nenhuma concepção de direitos humanos seria capaz de agradar a todas elas. Dentro dos regimes
políticos ocidentais, por exemplo, há regimes democráticos e autoritários, e mais inflexíveis e o diálogo é
sempre bem-vindo.
CONCEITOS E SUAS TRANSFORMAÇÕES
Neste vídeo, vamos entender os conceitos e transformações pelos quais os direitos humanos passaram.
TRANSFORMAÇÕES NO CONCEITO
Também é necessário compreendermos que, assim como os direitos humanos são um conceito
construído a partir das demandas históricas que se modificam na medida em que novos acontecimentos
surgem, a noção de dignidade da pessoa humana de cada grupo e de cada época também é mutável.
Uma significativa transformação desse conceito aconteceu no momento após a Segunda Guerra
Mundial, quando houve a chamada “virada kantiana”, que rejeitou qualquer espécie de coisificação e
instrumentalização dos homens e mulheres. A dignidade da pessoa humana passou a ser considerada
um fim para a humanidade e não um meio para a construção do mundo.
Atualmente, não são mais as pessoas que precisam se esforçar para construírem uma sociedade
agradável, mas o contrário, o mundo é que precisa ser agradável para que as pessoas possam viver em
plenitude, seguras e felizes.
ESTRUTURAÇÃO DOS DIREITOS UNIVERSAIS
É quando se inverte a lógica e se assume que a sociedade deve acolher as pessoas, e não o contrário,
que a carta de Direitos Humanos universais das Nações Unidas é escrita.
A partir daquele momento, segundo o professor Fernando Quintana (1999), podemos separar os
esforços da ONU com os Direitos Humanos Universais em três fases de composição:
PRIMEIRA FASE
SEGUNDA FASE
TERCEIRA FASE
PRIMEIRA FASE
Seria a burocrática, a fase da definição dos Direitos Humanos.
SEGUNDA FASE
Período de promoção e estabelecimento desses direitos pelo mundo, quando foram realizados
congressos, publicações e diversos debates e estudos.
TERCEIRA FASE
A atual fase de proteção, em que é necessário observar e controlar o estabelecimentoe o cumprimento
desses direitos. Foram criados comitês e grupos para fiscalizar e denunciar violações dos Direitos
Humanos em todos os países que aceitaram integrar ou não as Nações Unidas.
Para garantir o sucesso dessa declaração e o acesso aos direitos fundamentais a toda a “família
humana”, também foi necessário comprometer os países, fazendo com que assumissem compromissos
e tratados e construíssem um sistema que possibilitasse seu funcionamento.
Dessa forma, desde 1966 até os dias atuais, já foram assinados nove tratados que devem ser
observados e implementados pelos países membros e que levam em consideração temas específicos
como a tortura, os imigrantes, as crianças, as pessoas com deficiências e a discriminação racial e contra
a mulher, entre outros.
 
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Além disso, constituiu-se uma estrutura chamada Sistema Internacional de Proteção dos Direitos
Humanos, por órgãos como os comitês regionais; o Sistema Interamericano de Direitos Humanos; o
Sistema Europeu de Direitos Humanos e o Sistema Africano de Direitos Humanos.
Esses sistemas regionais acompanham diretamente os países integrantes e se responsabilizam pelos
demais países que não fazem parte de nenhum comitê regional, não ficando estes excluídos de acionar
os direitos internacionais.
É papel dos comitês regionais se responsabilizar pela proteção de pessoas cujos países não têm um
órgão similar. Ou seja, cabe a esses comitês ultrapassarem sua esfera e prestarem auxílio a países e
cidadãos de países sem comitê regional que necessitem de acolhimento e de proteção, fazendo valer o
princípio de que antes de o indivíduo ser pertencente a um país, ele é integrante da família humana.
VAMOS DEBATER O CONCEITO DE DIREITOS
HUMANOS
Vamos ouvir o professor Rodrigo Rainha sobre esse processo e as dificuldades em situar a
fundamentação destes conceitos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A UNIVERSALIDADE É UMA CARACTERÍSTICA QUE LEVANTA UM AMPLO
DEBATE SOBRE A FORMA COMO OS DIREITOS HUMANOS SE APRESENTAM
AO MUNDO. SENDO ASSIM, É CORRETO AFIRMAR QUE A UNIVERSALIDADE
DOS DIREITOS HUMANOS:
A) Visa atender a todos os seres humanos sem nenhum critério de distinção, mas recebe críticas pois
não abre espaço para as diferenças culturais.
B) É a forma mais correta de se criar direitos humanos, impondo que sejam aceitos por todas as
culturas, pois algumas são extremamente fechadas e não garantem direitos aos indivíduos.
C) É um conceito ultrapassado que foi levantado durante a Revolução Francesa, mas que atualmente foi
substituído pelo relativismo cultural.
D) Visa fazer uma campanha mundial para que todos os países encontrem um ponto em comum das
suas culturas e reduzam o relativismo cultural.
E) Defende a unidade do mundo, criando uma ideia de igualdade em uma grande aldeia global.
2. SOBRE A ESTRUTURA CRIADA PELAS NAÇÕES UNIDAS PARA DEBATER,
FISCALIZAR E GARANTIR O ACESSO DOS DIREITOS HUMANOS A TODOS OS
MEMBROS DA FAMÍLIA HUMANA, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Apesar de toda a estrutura criada pela ONU, o continente africano encontra-se sem nenhuma
fiscalização dos Direitos Humanos e, por isso, existem graves violações.
B) Foram criados diversos comitês para defender os Direitos Humanos, mas eles ainda não cobrem
todos os continentes, entretanto, isso não significa que aquelas pessoas estão desassistidas.
C) A ONU possui atualmente uma estrutura em remodelação já que, após o fim da Guerra Fria, as
estruturas políticas mundiais se transformaram.
D) Não há uma estrutura permanente para a defesa dos Direitos Humanos pela ONU. As Assembleias
para a discussão de novas pautas são convocadas de acordo com a necessidade e, a cada nova
reunião, um novo país se apresenta como sede.
E) As Nações Unidas assumem uma função política, redistribuindo para a Unesco e outras agências os
debates de Direitos Humanos.
GABARITO
1. A universalidade é uma característica que levanta um amplo debate sobre a forma como os
direitos humanos se apresentam ao mundo. Sendo assim, é correto afirmar que a universalidade
dos direitos humanos:
A alternativa "A " está correta.
 
Críticos defendem que não há possibilidades de um direito ser aplicável a todas as culturas, a única
forma de se fazer isso é entendendo as diferenças e criando um direito multicultural.
2. Sobre a estrutura criada pelas Nações Unidas para debater, fiscalizar e garantir o acesso dos
Direitos Humanos a todos os membros da família humana, é correto afirmar que:
A alternativa "B " está correta.
 
Apesar da Ásia e da Oceania não terem comitês regionais, isso não significa que os cidadãos daqueles
países estão desassistidos pois, em uma situação de violação de direitos, todos os comitês precisam
romper seu caráter regional e garantir a proteção dos seus vizinhos.
MÓDULO 4
 Analisar a estruturação dos Direitos Humanos no Brasil
LINHA DO TEMPO DOS DIREITOS HUMANOS
NO BRASIL
Vamos iniciar o módulo com uma linha do tempo que mostra a estruturação dos Direitos Humanos no
Brasil.
BRASIL E O CONTEXTO DA PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS
 
Foto: Dado Photos / Shutterstock.com
Se a Segunda Guerra Mundial foi o fator-chave para que, ainda na primeira metade do século XX, a
Europa Ocidental e a América do Norte começassem a pensar na atual ideia de direitos humanos, o
Brasil, que não teve participação direta no conflito e tem outra história, outra sociedade com outros
problemas e outras questões sociais, percorreu um caminho diferente na construção e na garantia
desses direitos.
Participamos do esforço inicial das Nações Unidas, mas suspendemos nossos trabalhos por algumas
décadas e, só no final dos anos de 1980, conseguimos positivá-los em nossa Constituição de 1988.
Consequentemente, se aderimos aos Direitos Humanos mais tarde, isso significa que ainda estamos
trabalhando no seu desenvolvimento e, pensando na situação atual do país e da população brasileira,
ainda teremos muitos desafios para consolidá-los. Muitos questionamentos podemos fazer:
Como desenvolver leis que tenham por princípio que todas as pessoas são iguais em um país de
extrema desigualdade?
 
Conseguiremos superar nosso passado de atraso?
 
Em qual estado nos encontramos e quais são nossas perspectivas?
FORMAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL
O Brasil é um país consideravelmente jovem e em pleno desenvolvimento político. Da nossa trajetória
histórica, costumávamos conhecer e contar apenas uma parte, a partir da chegada dos europeus neste
território. A seguir, confira o processo de desenvolvimento político e social:
 
Imagem: Acervo do Museu Histórico Nacional/ Wikimedia Commons/Domínio Público.
 Desembarque de Cabral em Porto Seguro, Oscar Pereira da Silva, 1904.
O ano de 1500 foi marcante para os povos que aqui habitavam, pois, depois do primeiro contato dos
nativos com os portugueses, não demorou muito para que os interesses dos europeus dominassem a
dinâmica local e se sobrepusessem às necessidades dos povos indígenas.
 
Imagem: Museu Nacional de Belas Artes, RJ/ Wikimedia Commons/ Domínio Público.
 Batalha dos Gurararapes, Victor Meirelles, 1879.
A partir daquele momento, houve silenciamento e uma brutal transformação cultural, política e social.
Por bastante tempo, fomos colônia de Portugal. Inicialmente, houve pouco interesse da metrópole em
explorar nosso território. As primeiras políticas implementadas aqui tiveram o objetivo de ocupar as
terras para que não fossem tomadas por franceses e holandeses.
 
Imagem: Acervo Artístico do Ministério das Relações Exteriores - Palácio Itamaraty/ Wikimedia
Commons/ Domínio Público.
 Engenho de Pernambuco, Frans Post (século XVII).
A intensa produção de açúcar tinha como estrutura uma pequena elite administrando os engenhos e
bastante uso de mão-de-obra escrava indígena e africana trabalhando arduamente nas engrenagens.
Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, a população cresceu, mas a sociedade continuou dividida
entre uma pequena elite que enriquecia e trabalhadores escravizados que suavam nas minas.Imagem: Museu Paulista/ Wikimedia Commons/ Domínio Público.
 Independência ou Morte, Pedro Américo, 1888.
Em 1822, o Brasil se torna oficialmente independente de Portugal, mas continua com boa parte da
estrutura colonial. Ao contrário de outros países, o presidencialismo não substituiu a monarquia,
tampouco o trabalho escravo foi interrompido.
 
Foto: Antônio Luiz Ferreira/Wikimedia Commons/Domínio Público.
 Sessão do Senado em que se aprovou a Lei Áurea, a 12 de maio de 1888.
O governo imperial retardou a abolição da escravidão até quando não foi mais possível, e o Brasil
acabou sendo o último país a assinar a abolição da escravatura. Quando a Lei Áurea libertou os
escravizados, nenhuma política foi criada para dar assistência aos libertos, que abandonados pelo poder
público, encontraram muitas dificuldades para sobreviver.
 
Imagem: Arquivo Nacional/Wikimedia Commons/Domínio Público.
 Capa do Diário Popular do dia 16 de novembro de 1889 noticiando a Proclamação da República.
Um ano depois da abolição, em 1889, foi proclamada a República no Brasil. Nos primeiros anos, a
participação política se manteve limitada a uma pequena parcela da sociedade. Somente ao longo do
tempo que conseguimos conquistar a ampliação dos direitos políticos para todos.
 
Foto: Arquivo Nacional/Wikimedia Commons/Domínio Público.
 Primeiras eleitoras do Brasil, Natal, Rio Grande do Norte, 1928.
Nas primeiras décadas desse regime, mulheres, indígenas e analfabetos não podiam votar para eleger
um representante e tampouco se candidatar para lutar pelos seus direitos.
 
Foto: Arquivo da Agência Brasil/Wikimedia Commons/ CC BY 3.0 BR.
 Manifestação das Diretas Já em Brasília, diante do Congresso Nacional.
A nossa República é considerada um regime político muito frágil. Ao longo dos anos, passamos por
alguns processos de impeachment e por dois longos períodos de ditadura em que o Congresso Nacional
foi fechado, a Constituição deixou de ter poder legal e o povo teve uma série de direitos suspensos.
 
Foto: Agência Brasil/Wikimedia Commons/CC BY 3.0 BR.
Promulgação da Constituição de 1988.
Foi somente em 1988, ao final do regime militar, que conquistamos uma nova Constituição, garantindo
amplos direitos para o povo, em vigor até os dias atuais. Pela grande quantidade de direitos garantidos
ao povo, essa Constituição recebeu o apelido de Constituição Cidadã.
CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição de 1988 é a oitava Constituição escrita no nosso país, um número considerado muito
alto. Alguns países, como os Estados Unidos, usam a mesma Constituição desde o início de sua
formação jurídica, ou precisaram passar por poucas renovações.
 ATENÇÃO
A necessidade de reescrever a Constituição várias vezes demonstra nossa instabilidade política e como,
no passado, o nosso conjunto de leis não era adequado para garantir direitos a todos nem atendia às
demandas da nossa sociedade.
A nossa atual Constituição foi escrita para superar a suspensão de direitos que passamos durante o
regime militar, para restabelecer a democracia no país e para caminhar para uma redução da
desigualdade social e o combate à corrupção.
A elaboração dessa Carta foi discutida por mais de um ano e meio por deputados e senadores eleitos
democraticamente em 1986. É importante destacar que, dos mais de 500 congressistas participantes,
menos de 30 eram mulheres, sendo que nenhuma delas ocupava uma cadeira do Senado Federal, o
que mostra ainda a gritante desigualdade de gênero na representação dos brasileiros no setor
legislativo.
Nessa Carta, foram garantidos os princípios fundamentais do Brasil como a igualdade em direitos e
obrigações dos homens e mulheres na sociedade, a liberdade de expressão e a divisão de poderes, que
garante que não teremos um poder concentrado nas mãos de uma única pessoa, como nos regimes
absolutistas. Também foram assegurados uma série de direitos sociais, como o acesso permanente à
educação, à saúde, ao trabalho e ao lazer.
 
Foto: Shutterstock.com
 Forte em Saint Tropez ao por do sol
Além de ampliar os direitos dos brasileiros, essa Constituição também se compromete com os direitos
em nível universal e, logo nos primeiros artigos, determina que o Brasil deve prezar nas relações
internacionais pelo predomínio dos direitos humanos.
 SAIBA MAIS
É compromisso da nação fazer parte de tribunais internacionais que discutam tais direitos. Determinou-
se, também, que a Defensoria Pública tem a função de promover e defender os direitos humanos em
todo o país.
É importante destacarmos que apesar de termos uma Constituição escrita de forma democrática e que
prevê muitos direitos sociais para o povo, somente ela não é suficiente para garantir uma vida digna
aos brasileiros. As determinações nela feitas preveem princípios que devem ser implementados no
país, mas, para que isso aconteça, é preciso que uma série de políticas e dispositivos sejam feitas para
que funcione.
Os poderes Executivo e Legislativo precisam trabalhar juntos. Por exemplo, não basta que a
Constituição determine que as pessoas tenham acesso gratuito à saúde, pois, se o poder Executivo não
planejar uma estrutura de hospitais e médicos para o atendimento de todos esses direitos, a
Constituição passa a ser mero documento de intenção.
 
Foto: Fabio Venni/Wikimedia Commons/CC BY-SA 2.0.
 Detalhe da favela da Rocinha, a maior do Brasil.
BRASIL NA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
O Brasil foi um dos países fundadores das Nações Unidas em 1945, mas, apesar da contribuição com a
elaboração da Declaração Universal no início da década de 1960, o país interrompeu a consolidação
desses direitos quando atravessou duas décadas em um regime militar que suspendeu a Constituição e
boa parte de direitos civis e políticos.
Atualmente, com os direitos restabelecidos, retomamos o processo de consolidação dos Direitos
Humanos e fazemos parte do Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos e do Sistema
Interamericano de Direitos Humanos, que visa garantir a efetivação desses direitos em nível regional e
dar apoio aos cidadãos de país que se encontram desassistidos pelo Estado.
Possuímos compromisso ratificado com oito tratados internacionais da ONU:
Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial;
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos;
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;
Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher;
Convenção contra a Tortura;
Convenção sobre os Direitos da Criança;
Convenção para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados;
Convenção sobre os Direitos de Pessoas com Deficiência.
 
Imagem: Shutterstock.com
 Logo das Nações Unidas.
Nos últimos anos, tornamo-nos bastante ativos na participação das Nações Unidas. Além de retificar
tratados, acompanhamos a agenda de debates, integramos, por algumas vezes, o Conselho de
Segurança da ONU, e, atualmente, temos participação permanente na Assembleia Geral. Em 2011,
nossa então presidenta Dilma Rousseff foi a primeira mulher da história a abrir os debates dessa
reunião.
APLICAÇÕES E DESAFIOS DOS DIREITOS HUMANOS
NO BRASIL
A Constituição e as políticas públicas são as principais ferramentas para a aplicação dos Direitos
Humanos dentro de uma nação. Se essas estruturas não estiverem sendo suficientes para garantir os
direitos básicos e a dignidade da pessoa humana, qualquer pessoa ou organização pode e deve cobrar
do governo a fiscalização e a execução deles.
Entenda o processo:
 
Foto: athosvieira / Shutterstock.com

O ESTADO NÃO ATENDE
Uma vez que o Estado não atenda aos seus cidadãos temos ainda a possibilidade de acionar os
sistemas internacionais de proteção dos Direitos Humanos. No caso do Brasil, podemos recorrer ao
Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
ACIONAMENTO DOS ÓRGÃOS COMPETENTES
No momento em que forem acionados, os órgãos competentes irão investigar e podem condenar o paíspor violação dos Direitos Humanos. Essas condenações acontecem quando se identifica que os direitos
foram fortemente descumpridos e que somente uma decisão judicial ou uma indenização não seria
suficiente para reparar aquele problema.


PRESSÃO SOBRE O ESTADO
Quando uma sentença internacional é dada, ela tem como objetivo pressionar o Estado a debater o
problema, revisar os sistemas que estejam provocando essas violações e desenvolver leis e políticas
públicas que evitem novas violações dos Direitos Humanos.
Em nossa história, o Brasil foi condenado por oito vezes pela Corte Interamericana. Uma dessas
condenações foi sobre o caso conhecido como Maria da Penha. Em 1983, Maria da Penha sofreu uma
tentativa de homicídio pelo seu marido e o processo que deveria condená-lo foi tão extenso e
inconclusivo que se passaram 15 anos sem que o culpado fosse preso.
O caso foi levado à Comissão Interamericana que, em 2001, quase 20 anos depois, responsabilizou o
Estado brasileiro por negligência, omissão e tolerância à violência contra as mulheres. O caso repercutiu
na nossa sociedade e, atualmente, temos uma lei com o nome da vítima, cujo objetivo é estipular
punição adequada e coibir a violência contra as mulheres.
 
Foto: Antonio Cruz/ABr/Wikimedia Commons/ CC BY 3.0 BR.
 A farmacêutica Maria da Penha, 
que dá nome à lei contra a violência doméstica.
Na nossa sociedade, é comum vermos pessoas relativizando o uso dos Direitos Humanos e
desacreditando de sua importância. Isso é prova de que vivemos em um Estado de constante violação
dos direitos humanos, onde o desrespeito por direitos básicos é comum e pouco se faz para que seja
garantida a dignidade da pessoa humana.
No cenário atual do país, ainda é preciso reforçar as instituições democráticas, produzir muito debate,
criar políticas públicas e buscar a conscientização popular para que esse conjunto de direitos seja
respeitado e a nossa comunidade possa viver com mais dignidade e menos desigualdade.
ATIVIDADE
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA É UM DOS
DIREITOS GARANTIDOS PELA CONSTITUIÇÃO
BRASILEIRA, A ELA TAMBÉM HÁ REFERÊNCIA NA
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DA ONU. SOBRE ESSE
CONCEITO, PODEMOS AFIRMAR QUE, A DIGNIDADE
DA PESSOA HUMANA É:
RESPOSTA
O conjunto de condições mínimas que devem ser garantidas a uma pessoa que varia de uma cultura para
outra.
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Comentário:
Cada cultura possui seu conjunto de características culturais que considera essencial para a manutenção de
uma vida digna, e a preservação dessas condições é o principal objetivo dos Direitos Humanos.
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA.
Neste vídeo, o professor Rodrigo Rainha aprofundará o conceito de dignidade da pessoa humana, tendo
como base a Constituição brasileira.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. DEPOIS DA CRIAÇÃO DA DECLARAÇÃO DOS DIREITOS UNIVERSAIS DA
ONU, O BRASIL PASSOU POR UM LONGO PERÍODO DE SUSPENSÃO DOS
DIREITOS HUMANOS. APÓS A SUPERAÇÃO DO REGIME MILITAR, QUE
SUSPENDEU A CONSTITUIÇÃO, FOI NECESSÁRIO CRIAR UM CONJUNTO DE
LEIS PARA O PAÍS. SOBRE A CONSTITUIÇÃO DE 1988, ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA:
A) É considerada uma constituição fraca, pois, apesar de apresentar a preocupação com muitos Direitos
Humanos, não conseguiu se estruturar na nossa sociedade e um novo projeto já é pensado para
substituí-la.
B) Preocupa-se em observar vários Direitos Humanos, mas ainda é considerada incompleta, pois
impede que o Brasil se comprometa com órgãos internacionais nos deixando isolados e sem estrutura
para defesa dos direitos universais.
C) Se tornou um exemplo mundial a ser seguido, pois observou os Direitos Humanos sugeridos pela
ONU e criou a sua própria Declaração de Direitos Humanos que já é seguida por vários países da
América Latina.
D) Ficou marcada pela quantidade de direitos garantidos à população e por positivar diversos, além de
criar estruturas para a sua promoção.
E) Foi marcada pela ausência de normativas acerca da supressão e ameaça aos Direitos Humanos.
2. APÓS O RESTABELECIMENTO DOS DIREITOS NO BRASIL COM A
CONSTITUIÇÃO DE 1988, RETOMAMOS NOSSA PARTICIPAÇÃO NA ONU.
SOBRE NOSSO COMPROMETIMENTO ATUAL COM OS DIREITOS HUMANOS E
OS DEMAIS TRATADOS DAS NAÇÕES UNIDAS, ASSINALE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) Desde a criação da Constituição de 1988, estamos pleiteando uma vaga na cúpula da ONU, porém
os índices de desigualdade no país nos impedem de ocupar algumas cadeiras no conselho das Nações
Unidas.
B) Temos uma ampla participação na ONU, ratificamos a maior parte dos tratados e integramos o
Sistema de Internacional de Proteção dos Direitos Humanos, mas, apesar disso, ainda estamos em
processo de consolidação dos direitos universais no nosso país.
C) Apesar dos esforços para cumprir a Declaração Universal na nossa Constituição, as constantes
violações de Direitos Humanos no país nos fizeram perder espaço dentro das Nações Unidas e,
atualmente, estamos suspensos pelo grande número de processos que respondemos.
D) O Brasil se tornou exemplo de superação de desigualdades e, com uma Constituição exemplar,
atualmente, ocupamos as principais cadeiras na diretoria da ONU, tendo recebido o título de país
modelo da América Latina.
E) Não tem sido de interesse do Estado brasileiro e dos sucessivos governos instalados no controle do
Estado a participação sistemática na ONU.
GABARITO
1. Depois da criação da Declaração dos Direitos Universais da ONU, o Brasil passou por um
longo período de suspensão dos Direitos Humanos. Após a superação do regime militar, que
suspendeu a Constituição, foi necessário criar um conjunto de leis para o país. Sobre a
Constituição de 1988, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
 
Conhecida também como Constituição Cidadã, é um exemplo na garantia de direitos e está em exercício
até os dias atuais, apesar de que mesmo depois de 30 anos ainda observamos alguns direitos que não
são observados pelo Governo.
2. Após o restabelecimento dos direitos no Brasil com a Constituição de 1988, retomamos nossa
participação na ONU. Sobre nosso comprometimento atual com os Direitos Humanos e os
demais tratados das Nações Unidas, assinale a alternativa correta:
A alternativa "B " está correta.
 
Apesar de participar de diversas estruturas da ONU, nossa sociedade ainda se mantém com muitas
desigualdades e, constantemente, observamos a violação de Direitos Humanos no país.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos reforçando a ideia de que os Direitos Humanos se constituem em um constante processo de
aperfeiçoamento e de descoberta de novas necessidades. Ao longo da história, muitas vezes, os direitos
básicos não foram respeitados e o mundo precisou sair em defesa daqueles que não tinham sua
dignidade humana considerada.
A Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU é um dos documentos mais importantes para se
garantir o debate e a defesa desses direitos, mas esse documento não é unânime e sofre diversas
críticas que reforçam que esse documento nunca estará concluído.
No Brasil, tivemos uma história marcada pela escravidão que enraizou uma sociedade extremamente
desigual e com diversos problemas sociais. Apesar de fazermos parte das Nações Unidas desde os
primórdios e termos colaborado com a constituição da declaração universal, passamos por um bom
período de interrupção de garantia desses direitos no país.
Foi somente no final da década de 1980 que conseguimos garantir a responsabilidade do Estado no
cumprimento desses direitos. E, se a nossa adesão a esses direitos aconteceu tardiamente, isso
significa que temos uma estrutura menos firme para sua manutenção, uma adesão menor pela
sociedade e maiores desafios para concretizá-los. Nossa organização política ainda é recente e frágil, e
o comprometimento da atual Constituição com os Direitos Humanos é uma conquista para a garantia
dos direitos dos brasileiros.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das letras,2004.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
CARVALHO, Jose Sérgio (Org.). Educação, Cidadania e Direitos Humanos. Petrópolis: Vozes, 2004.
DANTAS, João Marcelo B. R. Ruptura e reconstrução dos Direitos Humanos em Hannah Arendt.
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 24, n. 5671. Consultado na internet em: abril 2021. Teresina, 2021.
HUNT, Lynn. A invenção dos Direitos Humanos. São Paulo: Companhia das letras, 2009.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Uma concepção multicultural de Direitos Humanos. Lua Nova
[online], 1997, nº 39, p. 105-124.
EXPLORE+
Que tal conhecer um pouco mais dos documentos:
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Declaração Universal das Crianças e dos Adolescentes
Constituição Brasileira de 1988
Livro que você precisa ler:
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
CONTEUDISTA
Marina Contin Ramos
 CURRÍCULO LATTES
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DESCRIÇÃO
Apresentação de pressupostos e contexto do surgimento da Sociologia como ciência, seu
desenvolvimento no Brasil e no mundo, as escolas de pensamento, e a contribuição histórica e
atual, com objetos e temáticas de estudo.
PROPÓSITO
Possibilitar uma visão crítica da realidade concreta, das relações sociais e do mundo em que
estamos inseridos, com a Sociologia como uma ferramenta para a percepção de que somos
sujeitos da história, capazes de ações coletivas do cotidiano.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever de que forma o pensamento social foi historicamente estruturado até o surgimento
da Sociologia como ciência
MÓDULO 2
Identificar os pressupostos históricos, políticos, sociais, econômicos e culturais que
fundamentaram o surgimento da Sociologia
MÓDULO 3
Reconhecer as distintas abordagens metodológicas do campo sociológico, bem como os seus
objetos de estudo, suas temáticas e escolas de pensamento
INTRODUÇÃO
Antes de tudo, para compreendermos a Sociologia, devemos refletir sobre sua origem. A
definição da Sociologia como uma ciência para entender a sociedade, em geral, vem
acompanhada do pensamento: “Aprender Sociologia deve ser muito complicado!”.
Mas o que pretendemos demonstrar aqui é que não! Não é — nem deve ser — difícil
compreender essa ciência e seu papel fundamental tanto para a vida em sociedade quanto
para a sua formação profissional.
De que modo essa ciência pode nos ajudar na compreensão desse mundo marcado por
mudança, diversas divisões sociais, conflitos étnicos e relações sociais rápidas e
fragmentadas?
Como a Sociologia pode ser uma ferramenta para analisar as transformações que a tecnologia
tem promovido radicalmente na natureza?
A Sociologia pode contribuir na análise desta era de incertezas e crises, por meio de suas
escolas de pensamento e metodologias diversas?
Para todas essas questões, cada um de vocês tem algumas explicações particulares, tem suas
opiniões sobre tecnologia, desigualdade, crises, não é mesmo?
Mas a Sociologia apresenta uma forma diferenciada de ver todas essas questões e pensar
sobre elas.
A Sociologia busca fazer uma interconexão de um problema, seja ele qual for, com o contexto
social.
Ou seja: é uma ciência que parte da ideia de que não se trata apenas de um problema
individual, mas sim social.
Portanto, a Sociologia está preocupada com os aspectos sociais, e não individuais.
SOCIOLOGIA? NÃO QUERO! VAMOS
ENTENDER POR QUE VOCÊ PRECISA
URGENTEMENTE REVER OS SEUS
CONCEITOS SOBRE A SOCIOLOGIA
Neste vídeo, o especialista falará sobre a Sociologia e sua importância.
MÓDULO 1
 Descrever de que forma o pensamento social foi historicamente estruturado até o
surgimento da Sociologia como ciência
UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER A
SOCIEDADE
Começaremos nosso percurso para conhecermos um pouco mais sobre o surgimento dessa
ciência que busca entender a sociedade, apresentando o que caracteriza o pensamento
científico. Isto é, para compreendermos como a Sociologia se tornou uma ciência, precisamos,
primeiramente, de uma rápida definição sobre o que é ciência.
Para isso, partiremos da noção de que o ser humano está buscando explicações sobre os fatos
que observa em seu cotidiano, o tempo todo. Podemos dizer que, ao longo de nossa história,
as necessidades de encontrar justificativas e de entender os fenômenos da natureza e da vida
sempre estiveram presentes.
 
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COMO A NATUREZA PRODUZ CERTOS EVENTOS?
POR QUE O SER HUMANO SE COMPORTA DE
DETERMINADO MODO?
DE QUE MANEIRA ALGUNS ACONTECIMENTOS
OCORRERAM?
Essas são algumas das questões que indivíduos como nós, oriundos das mais diversas
culturas e tempos, sempre tentaram responder. Saiba que isso é possível a partir de diferentes
formas de conhecimento.
Uma das mais utilizadas é o senso comum, expressão que designa um conjunto de saberes e
opiniões que determinada comunidade humana acumulou no decorrer do seu desenvolvimento.
Desenvolvendo ainda mais, podemos dizer que é produto das experiências vividas por um
povo ou por um grupo social.
Esse saber comum constitui um patrimônio que herdamos das gerações anteriores e que
partilhamos com todos os indivíduos da comunidade a que pertencemos.
 
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O senso comum é aquele pensamento mais imediato, superficial, cheio de sentimentos, que,
em geral, passamos de geração a geração, por meio das nossas redes familiares, afetivas e de
convivência mais direta. Esse tipo de conhecimento se caracteriza por abranger um conjunto
de saberes simples, pouco elaborados e que resultam da experiência de vida.
Nessa forma de conhecimento, você já deve ter percebido que reproduzimos comportamentos
e valores a partir de uma experiência natural. E fazemos desse modo quase sempre sem
refletirmos, apenas passando adiante o que nossa rede de confiança e afeto nos trouxe.
Assim, esse tipo de saber, muitas vezes, se manifesta por meio de ditos populares e pode vir
carregado de preconceitos.
Quem nunca ouviu que cortar os cabelos durante a lua crescente faz com que os cabelos
cresçam mais rápido ou que esfregar uma aliança de ouro até esquentar e pôr em cima do
terçol acaba com ele?
Ou ainda frases, como: “Em time que está ganhando não se mexe.” e “Brasileiro gosta de
samba, churrasco e futebol”? Há ditos, pensamentos e ensinamentos que são extremamente
presentes em nossas vidas e que em algum momento já reproduzimos.
MAS, REFLETINDO BREVEMENTE SOBRE ELES,
SERÁ QUE PODEMOS COMPROVAR ESSAS
INFORMAÇÕES? QUAIS AS TEORIAS, OS
DADOS E AS EXPERIÊNCIAS UTILIZADOS PARA
PRODUZIR ESSAS AFIRMATIVAS?
RESPOSTA
RESPOSTA
No senso comum, não é necessário que se comprove o que é dito. Ele é um saber
informal que se origina de opiniões de determinado indivíduo ou grupo que é avaliado
conforme o efeito que produz nas pessoas.
Essa é uma das principais diferenças entre senso comum e conhecimento científico, que tem a
sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação. Isso quer dizer que a
característica da verificabilidade das afirmações ( hipóteses) é um elemento central para a
ciência.
HIPÓTESES
Entenderemos “hipóteses” como construção de ideias, teses sobre um assunto ou
questão. Não se propõem definitivas, mas está posto como algo que precisa de uma
análise para que apoie ou refute sua construção.
Esse tipo de conhecimento não é definitivo, absoluto ou final.
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Sempre está aberto a novas proposições e ao desenvolvimento de técnicas que podem
reformular o acervo de teoria existente. A refutação de teses, hipóteses e o questionamento
são bases desse tipo de conhecimento.
A ciência, por meio de seus métodos, teorias e conceitos, é uma forma mais aprofundada de
entendimento e explicação dos fenômenos que, como anunciamos no início, os indivíduos
buscam explicar. Para isso, conta com métodos rigorosos, como:
1
 
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OBSERVAÇÃO
PERGUNTA
 
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2
3
PESQUISA
HIPÓTESE
4
5
EXPERIMENTAÇÃO
ANÁLISE DE DADOS
 
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6
7CONCLUSÃO
Importante dizermos que um conhecimento não anula o outro. Mas cumprem funções e
objetivos distintos; o pensamento científico, por todo seu rigor, sua característica de
verificabilidade, e pela possibilidade de crítica e questionamento, apresenta-se como o tipo de
conhecimento que deve acompanhar, por exemplo, nossa formação acadêmica.
Senso Comum Científico
Superficial
Conforma-se com a aparência.
Elaborado
Baseia-se em fatos, teorias e metodologias
para fazer afirmações.
Sensitivo
Referente a vivências, estados de
ânimo e emoções da vida diária.
Racional
Precisa ter uma coerência racional.
Subjetivo
É o próprio sujeito que organiza suas
experiências e conhecimentos.
Objetivo
Busca a proposição de modelos gerais.
Acrítico
Verdadeiros ou não, a pretensão de
que esses conhecimentos o sejam não
se manifesta sempre de uma forma
crítica.
Crítico
Experiências empíricas e
questionamentos.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
SOCIOLOGIA É CIÊNCIA?
Ainda sobre o pensamento e o fazer científico, vale dizer que é muito comum associá-lo a
certas áreas de conhecimento, como as que chamamos de ciências exatas, biológicas e da
natureza.
Ou seja, quase sempre quando pedimos o exemplo de uma ciência recebemos como resposta:
Matemática, Biologia, Física. Ciências, em geral, que investigam fenômenos da natureza.
E a Sociologia? Como vai aparecer nessa conversa?
Ela desponta na explicação dos fenômenos sociais.
Iremos, aqui, nos debruçar sobre a ciência que investiga os problemas que o homem enfrenta
na vida em sociedade. Aquela que parte sempre da desnaturalização e do estranhamento.
Em outras palavras, a que procura questionar tudo aquilo que, no comportamento humano,
parece “natural” e imutável, e negar a atitude “isso sempre foi assim, e vai continuar assim para
sempre”.
O olhar sociológico observa a realidade com distanciamento e objetividade, buscando
desenvolver um ponto de vista questionador e a explicação das razões de determinados
fenômenos sociais.
A Sociologia procura construir suas análises sem deixar que preconceitos e pré-julgamentos
morais interfiram. Por ser uma ciência, ela parte de teorias, hipóteses e experimentações para
embasar seus argumentos e afirmações. “Eu acho que...”, “Na minha opinião” ou “Fiquei
sabendo!”, formas de argumentação tão presentes no senso comum, são rejeitadas pela
Sociologia.
Vejamos agora um exemplo:
SOCIOLOGIA X SENSO COMUM
Se alguém nos perguntasse sobre desigualdade social, nós poderíamos — pelo nosso
conhecimento de senso comum, nossa vivência e nossa trajetória — emitir nossa opinião, o
que achamos e pensamos sobre o tema. Mas, por meio da Sociologia, podemos dar uma
resposta com dados, demonstrações e teses que comprovam de muitas formas o problema da
desigualdade social.
Ainda mais detalhadamente: com base em senso comum, alguém afirma que “prostituição é
uma vida fácil”. Sobre esse tema, no trabalho Identidade e política: a prostituição e o
reconhecimento de um métier no Brasil, Soraya Silveira Simões analisa a mobilização das
prostitutas no Rio de Janeiro pelo reconhecimento de uma identidade profissional.
 
Fonte: Koca Vehbi/Shutterstock.com
Trabalho muito importante que traz o foco na formação das associações de prostitutas no
Brasil, a partir dos anos 1980, na participação efetiva no movimento de prevenção da AIDS e
na interlocução com o Ministério da Saúde na conquista do almejado registro da prostituição na
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Ministério de Trabalho.
Como já falamos, o senso comum não deve ser rejeitado. O que estamos propondo é que
você pode ir além desse conhecimento, neste caso, sobre a sociedade. A exemplo do
fenômeno da desigualdade social, existem muitas outras coisas que acontecem na sociedade
que nos atingem diretamente e que a Sociologia pode contribuir — e muito — em sua
compreensão.
Modo costumeiro de pensar A contribuição da Sociologia
O indivíduo é capaz de escolhas
autônomas e individuais sobre suas
preferências.
O indivíduo é fortemente condicionado
pelo contexto no qual está inserido.
O que move a ação humana são as
necessidades e os interesses materiais.
Toda ação parte de um cálculo racional
sobre benefícios e custos, visando à
otimização dos resultados.
As relações sociais são marcadas,
principalmente, pela liberdade.
O processo de socialização é fundamental
para as relações entre os indivíduos.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Neste módulo inicial, apresentamos brevemente o que caracteriza o pensamento e o fazer
científico, destacando a Sociologia como a ciência que pode nos ajudar a entender a
sociedade, bem como os problemas que a constituem.
Pois bem, antes de nos aprofundarmos na dinâmica do pensamento sociológico, objetivos e
contribuições, buscaremos conhecer como a Sociologia surgiu. Para isso, faremos um passeio
pela história para encontrarmos suas bases.
Em síntese, podemos dizer que Sociologia aponta a necessidade de assumirmos uma visão
mais ampla sobre o que somos, além de rompermos com a nossa forma de ver o mundo a
partir de características familiares às nossas próprias vidas.
Entender como essas influências se constituem fazendo com que nossas vidas individuais
reflitam os contextos de nossa experiência social é fundamental para a abordagem sociológica.
Aí, você se pergunta: e como ela faz isso?
 RESPOSTA
Mostrando que aquilo que encaramos como natural, inevitável, imutável ou uma verdade
absoluta pode não ser bem assim. A Sociologia revela e explicita que diversos aspectos das
nossas vidas são diretamente influenciados por forças históricas e sociais.
Além disso, é importante destacarmos que a Sociologia é uma ciência ainda em construção,
bem jovem, mas que, desde o seu início, em meados do século XIX, procura explicar as
estruturas e os processos sociais, políticos, econômicos e culturais das sociedades.
Saiba que é este um dos objetivos deste material: apresentar como surgiu esta ciência, em que
contexto e a partir de quais bases teóricas. Para isso, privilegiamos a discussão sobre o senso
comum versus o conhecimento científico, a relação entre o sujeito e o objeto, os paradigmas e
a reflexão sociológica.
A “GÊNESE SOCIOLÓGICA”: COMO TUDO
COMEÇOU
Apesar de a ciência sociológica ser considerada nova, pois ela se consolidou por volta do
século XIX, a busca por se entender as sociedades, por sua vez, não é tão nova assim.
Encontramos o desejo por conhecer mais sobre os fenômenos sociais ainda na Grécia Antiga,
com os sofistas — filósofos que se debruçaram sobre os problemas sociais e políticos daquela
época.
Então, podemos dizer que os gregos criaram a Sociologia? Não.
Mas o pensamento crítico filosófico desenvolvido por eles foi fundamental para o rompimento
com explicações místicas acerca dos acontecimentos da sociedade, impulsionando o que hoje
chamamos de ciência.
Tanto é assim que o pensamento filosófico grego permaneceu sendo essencial para o
desenvolvimento da ciência séculos mais tarde. Vocês devem já ter estudado quando o mundo
mergulhou em um período de “trevas” durante parte da Idade Média (476 a 1453) e as
explicações sobre os fenômenos sociais e da natureza foram hegemonizadas pelo campo
religioso, correto?
Durante séculos, a fé e o misticismo se apresentavam como as únicas explicações possíveis
para os fatos do mundo. Isso se deu de tal forma que as tentativas de explicações mais
racionais sobre a sociedade eram perseguidas e asfixiadas.
 
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Como, por exemplo, as teorias sobre a Terra ser redonda e não ser o centro do universo, que
geraram perseguição e morte. Mas você deve estar se perguntando qual seria a relação da
Filosofia grega com tudo isso.
Vejamos... Se até meados do século XV houve esse predomínio dos princípios religiosos na
organização e nas explicações das relações sociais, foi a partir da Filosofia e da basedo
pensamento grego que esse predomínio começou a ser desfeito. Iniciava-se uma renovação
cultural, que ficou conhecida como Renascimento.
Os adeptos desse movimento ficaram conhecidos como renascentistas. Eles rejeitavam as
explicações aos moldes da Igreja Católica e questionavam estruturas, valores e afirmativas
místicas ou teológicas, sem reflexão ou criticidade.
O movimento renascentista floresceu por muitas partes da Europa e suas percepções racional,
crítica e científica contaram com representantes na:
ARTE
CIÊNCIA
LITERATURA
FILOSOFIA
Esse configura-se como um dos momentos históricos de extrema relevância para o futuro
surgimento da Sociologia.
Lembre-se de que foi durante o Renascimento que a doutrina do antropocentrismo influenciou
pensadores, como Nicolau Maquiavel (1469-1527) e Francis Bacon (1561-1626), que com suas
obras impulsionaram os tempos de domínio da ciência que se iniciavam.
Segundo esse sistema filosófico, os homens passavam a ser vistos como o centro de tudo,
inclusive do poder de inventar e transformar o mundo pelas suas ações.
O ILUMINISMO E A SOCIOLOGIA
Contudo, com tudo o que vimos até aqui, é importante destacarmos que, mesmo com a ciência
ganhando espaço, deixando de ser perseguida para ser reconhecida, ela não passou a ser a
única forma de se explicar e entender o mundo, sobretudo o social.
Muitas pessoas mantiveram as explicações a respeito da realidade que eram baseadas na
tradição, em mitos antigos ou em explicações religiosas como sendo suas referências.
Mas o essencial é que, com o Renascimento, iniciou-se a valorização da ciência e abriu-se
espaço para o rompimento com uma única forma de conhecimento e de explicações para os
fenômenos.
E esse processo seguiu em curso no século seguinte, no período conhecido como Iluminismo.
Aqui, houve a valorização da ciência e da racionalidade no entendimento da vida social. Nesse
momento, o combate ao absolutismo e à ideia de que os monarcas e a realeza eram frutos de
escolhas divinas e sobrenaturais eram centrais.
Desse modo, fica óbvio que a ciência se apresentava como forma de conhecimento e
pensamento que se contrapunha a essas ideias. Portanto, reflexões importantes sobre a
estrutura social da época foram produzidas por autores, como:
 
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VOLTAIRE (1694-1778)
Estudos sobre a razão.
 
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JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)
Escritos sobre democracia e desigualdade.
 
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MONTESQUIEU (1689-1755)
Crítica ao absolutismo e defesa precursora de poderes separados (Legislativo, Judiciário e
Executivo) para o Estado.
Observe que um novo marco para o contexto de desenvolvimento da Sociologia surgiu na
França, com inspiração nas ideias de pensadores iluministas. A Revolução Francesa foi ciclo
revolucionário motivado pela situação de crise que aquele país vivia que aconteceu entre 1789
e 1799.
Além disso, ela trouxe uma nova forma de se pensar o Estado e o governo, alterando a lógica
social e governamental.
QUAIS TRANSFORMAÇÕES PROFUNDAS
FORAM RESULTADO DESSE EPISÓDIO
HISTÓRICO?
RESPOSTA 1 RESPOSTA 2 RESPOSTA 3
RESPOSTA 1
Marcou o início da queda do absolutismo na Europa.
RESPOSTA 2
Inspirou os movimentos de independência na América.
RESPOSTA 3
Popularizou a república como forma de governo, bem como a ideia de separação dos
poderes.
Desse modo, podemos dizer que o pensamento iluminista contribuiu para a ideia da existência
de uma ciência que pudesse ajudar a interpretar os movimentos da própria sociedade.

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Fonte: Naci Yavuz/shutterstock.com
ILUMINISMO: Movimento intelectual que surgiu na Europa durante o século XVIII
IDEAIS: - Liberdade - Igualdade – Fraternidade
 
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

APOIO: Como os pensadores e os burgueses tinham interesses em comum, o Iluminismo
tinha o apoio da burguesia.
John Locke é tido como o pai do Iluminismo.

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COMBATE: Para combater a fé na Igreja o movimento se utilizou da razão e para combater o
poder centralizado da monarquia utilizou da ideia de liberdade.
DEFENDIA: A razão (luz) contra as trevas do antigo regime. Pregava maior liberdade
econômica e política
 
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
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AS CRÍTICAS DO MOVIMENTO AO REGIME ANTIGO: - Mercantilismo - Absolutismo
monárquico – O poder da Igreja e as verdades reveladas pela fé
ANTROPOCENTRISMO: O homem como o centro – O avanço da ciência e da razão


LIBERDADE ECONÔMICA: O Estado não intervém na economia
Podemos perceber que a Sociologia não surgiu de repente, fruto de mágica ou da reflexão de
algum autor. Mas teve origem em uma série de acontecimentos e movimentos, que se
desenvolveram a partir do século XV, quando ocorreram grandes mudanças decorrentes da
transformação da sociedade.
Essas transformações incluem, entre outras coisas,
 
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O impacto de acontecimentos como a expansão marítima.
 
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As reformas protestantes.
 
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A formação dos Estados nacionais e do desenvolvimento científico e tecnológico.
Essa mudanças podem ser consideradas alicerces para a alteração nas formas de explicar a
natureza e a sociedade; elas não podem ser analisadas ou compreendidas de modo isolado,
mas como parte de um processo único de constituição, consolidação e desenvolvimento da
sociedade moderna sob o qual a Sociologia irá se debruçar.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1) AS RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA E SENSO COMUM SEMPRE FORAM POLÊMICAS,
SEJA PORQUE SE BUSCOU VER NA PRIMEIRA A EVOLUÇÃO DO SEGUNDO; SEJA
PORQUE FORAM DEFINIDOS COMO FORMAS DE CONHECIMENTO EXCLUDENTES
ENTRE SI. TENDO EM VISTA ESSAS CORRELAÇÕES, É CORRETO AFIRMAR QUE O
CONHECIMENTO CIENTÍFICO (FGV- SEDUC/SP- 2013):
A) Estabelece uma ruptura com o senso comum, ao exigir constante crítica do passado.
B) Supera o senso comum, quando alcança resultados indubitavelmente provados.
C) Concorda com o senso comum, ao basear suas afirmações no registro direto dos dados
sensoriais.
D) Tem o poder de explicar tudo, face às dúvidas e crendices do senso comum.
E) Elimina a especulação pela comprovação e transforma o discurso do senso comum em fato
observável.
2) A CONFIANÇA NA RAZÃO E NA CAPACIDADE DE O CONHECIMENTO COMO FORMA
DE LEVAR A HUMANIDADE A UM PATAMAR MAIS ALTO DE PROGRESSO ERA A PARTE
DA CRÍTICA ILUMINISTA. ESSE MOVIMENTO DE IDEIAS TEVE UM IMPACTO DECISIVO
NA FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA. SÃO ASPECTOS DESSE DEBATE, EXCETO:
A) A ideia de liberdade passou a ser associada à conquista de direitos e à autonomia frente às
instituições.
B) Na busca de explicações sobre os rumos que tomariam as sociedades em meio
transformações em curso, emergiram vários temas que passaram a compor o campo de
estudos da Sociologia.
C) No século XVIII, consolidou-se a ideia de que o progresso era inevitável e isso influenciou
diretamente o pensamento dos primeiros teóricos da Sociologia.
D) Parcela importante da Europa letrada acreditava nesse momento que a preservação das
tradições traria ordem ao mundo.
E) O combate ao absolutismo e à ideia de que os monarcas, como frutos de escolhas divinas e
sobrenaturais, foram determinantes para o pensamento o pensamento iluminista.
GABARITO
1) As relações entre ciência e senso comum sempre foram polêmicas, seja porque se
buscou ver na primeira a evolução do segundo; seja porque foram definidos como
formas de conhecimento excludentes entre si. Tendo em vista essas correlações, é
correto afirmar que o conhecimento científico (FGV- SEDUC/SP- 2013):
A alternativa "E " está correta.
Uma das principais diferenças entre senso comum e conhecimento científico é que o segundo
tem a sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentação. Isso quer dizer que
a característica da verificabilidade das afirmações (hipóteses) é um elemento central para a
ciência.
2) A confiança na razão e na capacidade de o conhecimento como forma de levar a
humanidadea um patamar mais alto de progresso era a parte da crítica iluminista. Esse
movimento de ideias teve um impacto decisivo na formação da Sociologia. São aspectos
desse debate, exceto:
A alternativa "D " está correta.
O Iluminismo, com seu enfoque na racionalidade e na valorização da ciência para o
entendimento da vida social, pôs em questão as bases da tradição.
MÓDULO 2
 Identificar os pressupostos históricos, políticos, sociais, econômicos e culturais que
fundamentaram o surgimento da Sociologia
 Governadores da Guilda de São Lucas por Jan de Bray - 1675
SURGIMENTO DO ESTADO MODERNO
Conforme vimos no módulo anterior, o Estado Moderno nasce a partir de todas as
transformações econômicas, políticas, sociais e culturais já estudadas. Ele é fruto dessas
mudanças, mas também irá proporcionar inúmeras outras.
Durante esse período, ocorreu a expansão das atividades econômicas, ampliando-se a forma
de produção como as frentes, que agora passam a incluir:
 
Fonte: Shutterstock.com
ÁREA TÊXTIL
 
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MINERAÇÃO
 
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SIDERURGIA
 
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COMÉRCIO INTERNO E EXTERNO
Em grande parte da Europa, constituiu-se uma classe social formada majoritariamente por
comerciantes e banqueiros, a burguesia local.
Devido à conformação desse novo Estado e de suas principais atividades econômicas, essa
camada social passou a ter muito prestígio e poder.
Essa classe comprava e vendia mercadorias em todo o mundo e levava, também, o modo de
vida, a religião, os costumes e as crenças europeus para os continentes e países colonizados.
Já em meados do século XVII, outro ramo de atividade passou gradativamente a se organizar e
a ganhar espaço nessa nova composição do Estado: a produção manufatureira. Essa forma
de produção e seu desenvolvimento geraram a necessidade constante de aperfeiçoamento das
técnicas de produção. Isto é: como produzir mais com menos gente, aumentando
significativamente os lucros.
Para isso, passou a haver um grande investimento em tecnologia, em aparatos e máquinas
que pudessem ser inseridos no processo produtivo a fim de potencializá-lo. Esse investimento
na criação de máquinas e “inventos” significou, também, o fortalecimento do conhecimento
científico.
O resultado desse processo foi o fenômeno chamado de maquinofatura.
O trabalho que antes os homens realizavam com as mãos ou com ferramentas passou a ser
feito por meio de máquinas, elevando muito o volume da produção de mercadorias.
Você já deve ter estudado que, nesse período, por exemplo, foram criadas as máquinas de
tecer e de descaroçar algodão; também teve início o uso da máquina a vapor. Esta última, em
especial, foi determinante para o desenvolvimento industrial, já que ela possibilitava o uso de
outras tantas máquinas.
 
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A máquina a vapor incentivava o surgimento da indústria construtora de máquinas. Como
consequência, incentivava toda a indústria voltada para a produção de ferro e, posteriormente,
de aço.
Todas essas mudanças econômicas precisam ser analisadas em conjunto com as demais
transformações que estavam em curso, tanto no campo político, como no cultural e no
científico. Conforme já mencionamos anteriormente, todas como parte de um único processo.
Você pode entender que as mudanças na esfera de produção e a emergência de novas formas
de organização política e cultural constituíram a base para o surgimento de um novo sistema: o
capitalismo. Sim, este mesmo que você já conhece.
O capitalismo, a partir do século XVIII até os dias de hoje, constitui a base hegemônica da vida
em sociedade. Nele, no bojo das transformações que promoveu, a Sociologia emerge
institucionalmente.
 
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SOCIOLOGIA: UMA CIÊNCIA DO MUNDO
MODERNO
Vimos, até aqui, as profundas transformações e revoluções pelas quais o mundo passou a
partir do século XV. Uma das principais alterações ocorreu nos processos produtivos dessas
sociedades, com a introdução de novas máquinas e equipamentos.
Foram tantas as modificações:
NA FORMA DE PRODUÇÃO
NA ECONOMIA
NA ORGANIZAÇÃO SOCIAL
NA CULTURA E EM TODOS OS ASPECTOS DA VIDA
Era o desenvolvimento de um novo sistema político, econômico e social em curso. E como bem
sabemos, foi nesse contexto, de consolidação do sistema capitalista na Europa em meados do
século XVIII, que encontramos as heranças intelectuais que colaboraram para o surgimento da
Sociologia como ciência.
A Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo são fatos históricos determinantes para
compreendermos como a Sociologia se desenvolveu.
 
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Você está se perguntando a relação desses fatos com a nossa ciência da sociedade?
Essa é fácil!
Podemos dizer que o processo de Revolução Industrial, iniciado na Inglaterra, ocasionou
grandes alterações no estilo de vida das pessoas, sobretudo nas das que viviam no campo ou
do artesanato.
1
Isso ocorreu porque, até aquele momento, o trabalho manufatureiro acontecia com vários
artesãos, em locais separados e dirigidos por um comerciante que dava a eles a matéria-prima
e as ferramentas.
A industrialização que se iniciou e o desenvolvimento das máquinas possibilitou organizar a
produção em um único lugar, com divisão de funções; o antigo artesão agora operava apenas
parte da produção.
2
3
A industrialização representou um aumento expressivo na produção das mercadorias,
diminuindo o tempo que se levava para isso. Significou, também, aberturas de novos mercados
e expansão dos lucros.
O quadro que se desenhou a seguir foi o de superação do sistema feudal da Europa Ocidental,
que já não conseguia suprir as necessidades dos novos mercados que se abriam, além do
estabelecimento de um sistema baseado na propriedade privada, no lucro e na acumulação de
capital.
4
É bem provável que você ainda deva estar buscando a relação desse processo com a
edificação da Sociologia como ciência.
O fato é que, a partir da Revolução Industrial que mencionamos de forma breve, as cidades da
Europa Ocidental começaram a se transformar em grandes centros urbanos comerciais e,
posteriormente, industriais. Esses novos centros vieram acompanhados de uma expressiva
mudança no estilo de vida das pessoas.
 
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VAMOS IMAGINAR...
Pense nos camponeses que criavam ovelhas e forneciam lã e foram expulsos pelos senhores
das terras para criar as fábricas de tecidos. Ou na massa de indivíduos que saíram do campo,
incluindo mulheres e crianças, para buscar uma oportunidade nessas fábricas.
Agora, imagine ainda que tais famílias, que antes criavam seus filhos enquanto trabalhavam no
campo, passavam seus dias no interior de uma fábrica. A forma de produzir se transformou
rapidamente com o desenvolvimento das máquinas, mas a vida das pessoas também.
Novas demandas sociais passaram a existir:
MORADIA
LUGAR PARA DEIXAR AS CRIANÇAS, AQUELAS QUE
AINDA NÃO TINHAM IDADE PARA TRABALHAR.
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HOSPITAL
TRANSPORTE PARA IR PARA O TRABALHO E
VOLTAR.
SEGURANÇA
Essas e muitas outras necessidades se tornaram elementos significativos da vida em
sociedade. Esses temas despertavam o interesse de críticos e pensadores da época.
Essas mudanças profundas na sociedade europeia vieram acompanhadas da necessidade de
alterar e expandir, também, o campo das ideias, do pensamento.
Era preciso uma ferramenta que pudesse auxiliar na interpretação desse novo mundo que se
apresentava.
Uma ciência que possibilitasse investigar e refletir sobre os novos problemas sociais oriundos
da industrialização, que buscasse a compreensão da nova estrutura social e das relações. E foi
esse o quadro que culminou com o reconhecimento da Sociologia como ciência, como a
ferramenta de olhar para a sociedade.
Em resumo, podemos dizer que a consolidação do sistema capitalista e as transformações
profundas provocadas por ele foram acompanhadas pela valorização da ciência se
contrapondo às explicações míticasou de senso comum a respeito do mundo.
A abertura de mercados mundiais, os conflitos derivados das condições de vida dos, agora,
operários e a nova forma de organização do Estado eram elementos que suscitavam
compreensão.
A Sociologia começou a se apresentar, então, como uma ciência capaz de dar respostas mais
elaboradas sobre os novos problemas sociais que emergiam.
Você pode perceber que o desenvolvimento da Sociologia como ciência ocorreu de forma
gradual e a partir de inúmeras transformações sociais e fatos históricos. E isso culminou com o
seu reconhecimento e as suas teorias como ferramentas analíticas e de reflexão sobre a
sociedade industrial e científica que surgia.
Desde então, passamos a contar com uma ciência que nos ajuda a entender nossos problemas
sociais e nos permite encontrar soluções para eles. A Sociologia surgiu para desvendar e
explicar os dilemas fundamentais do novo mundo que se constituía.
Podemos dizer, então, que a Sociologia é resultado desse mundo moderno.
O QUE FIZEMOS ATÉ AQUI?
Um dos nossos objetivos com este material consiste em fornecer a base teórica e metodológica
das principais teorias sociológicas. Para alcançar esse objetivo, apresentamos determinados
temas, as chamadas escolas de pensamento sociológico e suas principais referências e
influências.
Também buscamos, aqui, evidenciar as múltiplas abordagens possíveis por essa ciência e
suas metodologias.
Pretendemos provocar o aprofundamento de questões relacionadas à compreensão da
realidade social em que vivemos, para nortear a nossa prática social como sujeitos críticos e
politicamente comprometidos com a transformação social.
Você aprendeu um pouco até aqui sobre as palavras-chave e corriqueiras do campo da
Sociologia, para começar a perceber porque é importante conhecê-la. Seu passo seguinte foi
saber que ela tem uma história, que ela está no mundo, não que seja uma descoberta.
CRIANÇAS
Desde a época rural, anterior à Revolução Industrial, as crianças já ajudavam suas
famílias nas tarefas do campo, mas nada que se comparasse à exploração do trabalho
infantil que se deu então. Ao se deslocarem para a cidade, a vida de todos foi modificada.
As crianças trabalhavam por longas horas, em atividades repetitivas e perdiam toda a sua
infância. O trabalho infantil era permitido a partir dos seis anos de idade e, em média,
trabalhavam 14 horas por dia.
Fonte: (ELGELS, 1986)
A Sociologia é um exercício de despertar, o homem sempre viveu em sociedade e pensou
sobre o que isso significa.
Chegou, então, o momento de despertar: por que preciso de uma ciência para conhecer a
sociedade? Por que isso fica tão importante no século XIX? Você descobre que a Sociologia
tem um ambiente de criação, marcado por:
CONDIÇÕES MATERIAIS
CONDIÇÕES POLÍTICAS
ASPECTOS REGIONAIS
Os primeiros conceitos crescem e começa a aparecer a necessidade de novas definições: país,
povo, Estado... A sistematização dessas noções não é tarefa fácil. Não há caracterizações
simples e rápidas sobre essas noções com as quais convivemos durante toda a vida, sem
torná-las um conhecimento organizado.
Agora, podemos dar o próximo passo.
REVENDO OS CONCEITOS SOBRE A
SOCIOLOGIA
Neste vídeo, o especialista fará uma entrevista com um convidado tratando sobre os principais
tópicos apresentados até aqui.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1) LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO AS MUDANÇAS SOCIAIS QUE OCORRERAM E
ALTERARAM PROFUNDAMENTE A ORGANIZAÇÃO SOCIAL E OS ASPECTOS
CULTURAIS QUE PERDURAM ATÉ OS DIAS ATUAIS, MARQUE A ALTERNATIVA
CORRETA SOBRE O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E AS QUESTÕES QUE ESTA
PRETENDE ANALISAR
A) A ampliação da produção industrial gerou o fortalecimento da vida no campo.
B) Os desenvolvimentos tecnológico e das máquinas levaram ao crescimento das cidades
rurais.
C) O trabalho nas fábricas era semelhante ao manufatureiro, sem divisão do trabalho e sem
mudanças para o trabalhador.
D) As ciências sociais surgiram em um contexto de preservação de tradições.
E) A Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo trouxeram a necessidade de reflexão
sobre os novos problemas sociais e a nova estrutura social vigente.
2) UMA SÉRIE DE MUDANÇAS POLÍTICAS E ECONÔMICAS OCORREU NA EUROPA A
PARTIR DO FIM DA IDADE MÉDIA. SOBRE A LIGAÇÃO ENTRE ESTAS MUDANÇAS E O
SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA, É CORRETO AFIRMAR:
A) A sociedade moderna se constituiu em oposição ao desenvolvimento industrial.
B) O desenvolvimento tecnológico e as novas demandas sociais colaboraram com o interesse
pelo entendimento da vida social.
C) A consolidação do capitalismo e o advento do Estado moderno geraram a busca por
explicações nos textos sagrados e no misticismo em detrimento da ciência.
D) As explicações de senso comum e religiosa ganharam cada vez mais espaço na sociedade
capitalista em desenvolvimento.
E) Renascentismo, Iluminismo e Revolução Industrial não representam marcos históricos para
o surgimento da Sociologia.
GABARITO
1) Levando em consideração as mudanças sociais que ocorreram e alteraram
profundamente a organização social e os aspectos culturais que perduram até os dias
atuais, marque a alternativa correta sobre o surgimento da Sociologia e as questões que
esta pretende analisar
A alternativa "E " está correta.
As mudanças profundas na sociedade europeia trouxeram, também, a necessidade de alterar e
expandir o campo das ideias. Era preciso uma ciência que possibilitasse investigar e refletir
sobre os novos problemas sociais que se apresentavam em decorrência das mudanças.
2) Uma série de mudanças políticas e econômicas ocorreu na Europa a partir do fim da
Idade Média. Sobre a ligação entre estas mudanças e o surgimento da Sociologia, é
correto afirmar:
A alternativa "B " está correta.
As mudanças na esfera de produção, a emergência de novas formas de organização política e
cultural e de grandes centros urbanos comerciais foram acompanhadas por uma expressiva
mudança no estilo de vida das pessoas e da busca por explicações para este novo mundo.
MÓDULO 3
 Reconhecer as distintas abordagens metodológicas do campo sociológico, bem
como os seus objetos de estudo, suas temáticas e escolas de pensamento
ESCOLAS PIONEIRAS
Neste módulo, iremos abordar os principais pensadores que contribuíram com a
institucionalização da Sociologia como ciência e que, até hoje, têm suas teorias embasando as
chamadas escolas de pensamento sociológico.
E você, certamente, deve estar se perguntando se falaremos das ideias e propostas de todos
os fundadores da Sociologia e como esses debates realizados no passado podem trazer
contribuições ao presente.
 
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Como é que eu posso pensar o meu mundo hoje a partir de quem só viu o passado? É
possível?
 RESPOSTA
A resposta a este questionamento é: não temos a pretensão de abordar todos os teóricos,
mesmo porque seria praticamente impossível em nosso “espaço”.
Mas destacaremos os marcos que definiram as principais linhas e tendências de visão da
sociedade que esses pensadores cunharam, bem como os objetos e as metodologias
utilizados por eles, que prevalecem até os dias de hoje.
E não pense que isso é só história! É extremamente relevante conhecermos as discussões e
teorias sociológicas anteriores ao nosso tempo. Afinal, identificar os erros e acertos do passado
nos ajuda com as análises do presente.
Além disso, durante muito tempo, a visão e a leitura sobre os fenômenos sociais foram
predominantemente realizadas pelas elites políticas, econômicas e sociais. Elas serviam como
forma de impor à população uma visão ideológica conservadora dominante. Portanto, novas
leituras são urgentes e necessárias.
Começaremos esse nosso breve resgate sobre os principais pensadores da Sociologia pela
França. Não poderia ser diferente, pois foi onde se desenvolveu uma das mais significativas
vertentes da Sociologia contemporânea: o positivismo funcionalista.
POSITIVISTA
Para falar da escola positivista, que ainda encontra adeptos até os diasde hoje, é preciso
recuperar a trajetória de Auguste Comte (1798-1857), pois foi ele quem criou o termo
“Sociologia”.
AUGUSTE COMTE
A proposta de Comte era produzir uma síntese da produção científica a partir do que já havia
sido acumulado pelas ciências existentes, como a Matemática, a Física e a Biologia.
 
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A ideia principal defendida por ele era de que a física social, ou seja, a Sociologia, se
apropriasse dos métodos utilizados nessas ciências que já haviam alcançado um status de
positivo.
Além disso, Comte acreditava na superioridade da ciência para as explicações dos fenômenos.
 
Fonte: Shutterstock.com
Ainda de acordo com a visão desse pioneiro da Sociologia, a sociedade estaria adoecida,
vivenciando o estado de caos e desordem.
Vale lembrar que quando Comte estava produzindo suas teorias, o mundo vivenciava a
transição do sistema feudal para o capitalista. Sendo assim, você já imagina que estavam
ocorrendo o avanço da tecnologia e da industrialização, a consolidação do mundo moderno e
todas as questões sociais que emanavam desse processo.
Assim, Comte defendia que a ciência deveria ser utilizada para organizar a ordem social, uma
ordem positivista, instaurando a disciplina e a ordem. Essa seria uma das principais funções da
Sociologia para a escola de pensamento positivista.
EMILE DURKHEIM
Um segundo teórico considerado fundador da Sociologia também teve origem na escola
francesa de pensamento positivista: Emile Durkheim. Foi a partir dele, que a Sociologia
adquiriu métodos próprios, como o funcionalista, e ganhou status de ciência.
 
Fonte: Autor desconhecido/Wikipedia
 Émile Durkheim
Apesar do avanço em relação à metodologia proposta, Durkheim ainda atuou sob muita
influência positivista. Nesse sentido, propôs regras de observação e de procedimentos de
investigação que permitissem à Sociologia estudar os acontecimentos sociais de maneira
semelhante ao que faziam outras ciências, como a Biologia.
 
Fonte: Shutterstock.com
É importante dizer que Durkheim, da mesma forma que Comte, presenciou inúmeras
transformações sociais, a consolidação do Estado moderno e do capitalismo, tendo sido
diretamente influenciada por este contexto.
Desse modo, Durkheim defendia que os entraves presentes na sociedade moderna estavam
conectados aos problemas de ordem social. Por isso, grande parte de sua obra na Sociologia
se debruçou sobre esse ponto.
Veremos agora um esquema que explica o surgimento da Sociologia:
 
Fonte: jonezin/storyboardthat.com
No século XVIII, com a Revolução Industrial e Francesa, que mudaram o mundo, surgiu a
Sociologia, que foi uma nova ciência baseada por Émile Durkheim e Auguste Comte
 
Fonte: jonezin/storyboardthat.com
Com a Revolução Industrial, surgiram os proletários, trabalhadores das indústrias, que
necessitavam que esposas e filhos trabalhassem para conseguir sobreviver
 
Fonte: jonezin/storyboardthat.com
A Revolução Francesa mudou a famosa pirâmide, com a alteração da estrutura social daquela
época
 
Fonte: jonezin/storyboardthat.com
Pensando nisso, Durkheim e Comte começaram a repensar os aspectos da sociedade,
diferenciando do senso comum
 
Fonte: jonezin/storyboardthat.com
Para formar os ideais base da Sociologia, os dois juntaram seus estudos e pensamentos
 
Fonte: jonezin/storyboardthat.com
A sociedade estava mudando, e mudaria muito mais. As revoluções, foram importantes para a
evolução social, mesmo com todo sofrimento envolvido
SOCIOLOGIA COMPREENSIVA
O pensamento do sociólogo que estudaremos a seguir vai em direção diferente ao que vimos
até agora. E faz parte da escola sociológica alemã.
Sobre essa teoria, é fundamental dizermos que, diferentemente do processo na França, a
Alemanha e seus primeiros estudiosos da Sociologia não voltaram sua preocupação para a
definição do estatuto científico da Sociologia nesse primeiro momento.
Portanto, é muito comum identificar os estudos sociológicos alemães desse período mesclados
com estudos da Filosofia e da História. Assim sendo, podemos dizer que a escola alemã se
desenvolveu em outra direção em relação à da França.
Encontramos um exemplo importante dessa distinção no fato de que os teóricos alemães
defendiam uma discussão metodológica que privilegiasse a diferenciação entre as ciências
naturais e as histórico-sociais, questionando a visão positivista sobre a ciência.
MAX WEBER
Foi nessa escola que o pensamento e a obra de Max Weber (1864-1920) se desenvolveram.
Weber, ao contrário de Durkheim e Comte, defendeu que a interpretação da sociedade deveria
partir — não dos fatos sociais já consolidados e suas características externas, tais como as leis
e as instituições —, mas do indivíduo.
 
Fonte: Autor desconhecido/Wikipedia
 Max Weber
A teoria de Weber primava pela ideia de que a Sociologia deveria iniciar suas investigações
pela verificação das:
INTENÇÕES
MOTIVAÇÕES
VALORES
EXPECTATIVAS
Que orientam as ações do indivíduo na sociedade. Tinha início, assim, a chamada Sociologia
compreensiva e, com ela, as teorias que buscam entender a sociedade a partir dos motivos
identificados nas ações dos indivíduos.
KARL MARX
Outro teórico importante da escola alemã foi o filósofo e economista Karl Marx (1818-1883).
Marx é um dos pensadores mais conhecidos de todos os tempos e circulou por diferentes
campos de conhecimento em suas obras, entre eles, a Sociologia, com sua crítica ao sistema
capitalista.
 
Fonte: John Jabez Edwin Mayal/Wikipedia
 Karl Marx
Assim como os demais pensadores que apresentamos aqui, Marx experimentou as mudanças
que emanavam com o novo sistema. Ele propôs uma discussão crítica sobre a sociedade
capitalista e a origem dos problemas sociais que esse tipo de organização social ocasionava.
Sua extensa obra parte sempre da concepção de que “as histórias de todas as sociedades têm
sido a história da luta de classes”. Ou seja, para ele, nas sociedades de tipo capitalista, sempre
haverá o conflito entre suas duas classes sociais fundamentais:
BURGUESIA

PROLETARIADO
Nesse sentido, Marx defendia que seus estudos e sua obra deveriam contribuir para ajudar a
classe proletária a se organizar. Uma escola sociológica precursora e distinta das demais,
contrária à ideia da Sociologia como uma ciência neutra, isenta, que apenas produzisse
estudos que revelassem as estruturas sociais.
Para a escola marxista de pensamento, teoria e prática caminham conjuntamente, em uma
relação dialética.
Vale lembrar que apesar das inúmeras diferenças presentes em todas essas escolas de
pensamento sociológicas mencionadas, seus representantes foram e são referências para o
pensamento sociológico desenvolvido em todo o mundo.
ESCOLA AMERICANA
Uma escola bastante influenciada pelas produções francesa e alemã foi a dos Estados Unidos
da América, em que vários pensadores seguiram algumas vertentes desses pensamentos
sociológicos.
Ressaltamos que nos Estados Unidos, diferentemente de como ocorreu na França e na
Alemanha, não há um ou dois personagens marcantes ou hegemônicos, mas vários. E a
escola americana também representa hoje uma grande influência em quase todo o mundo para
o pensamento sociológico.
E além...
A SOCIOLOGIA DO SÉCULO XX
Você acha que a Sociologia parou no século XIX?
Esse foi somente o início. É absolutamente impossível pensar a Sociologia sem ser tributário
em alguma medida a essas escolas que destacamos anteriormente.
É essencial para aqueles que desejem debater sobre a sociedade em termos científicos
conhecer essas teorias. A qualidade das formulações, a construção de conceitos e sua
operacionalização fazem com que sejam de estudo obrigatório, independentemente de suas
correntes políticas e sociais.
Podemos citar alguns importantes sociólogos:
THEODOR ADORNO
Membro da escola de Frankfurt e um dos continuadores/críticos do pensamento marxista.
KARL MANNHEIM E ROBERT K. MERTON
Inauguradores da Sociologia do conhecimento.
WILLIAM JAMES E HERBERT MEADCom o interacionismo da escola de Chicago e as limitações do indivíduo.
TALCOTT PARSONS E PITIRIM SOROKIN
Com teorias sociais que visavam a reabilitar e rediscutir o funcionalismo.
ANTHONY GIDDENS
Com a reintrodução do estruturalismo na Sociologia.
PIERRE BOURDIEU
Com a teoria da ação, em que remonta o arcabouço teórico, mas sem romper com as
influências dos teóricos que formam a própria Sociologia.
Não tome esses nomes como uma mera curiosidade, mas pontos de partida para buscas e
reflexões. Recentemente, novos debates sociológicos têm trazido importantes mudanças nos
objetos de pesquisa da Sociologia.
Afinal, nomes como Simone de Beauvoir e Michel Foucault trouxeram da Filosofia importantes
debates que redimensionam os estudos da Sociologia.
1
SIMONE DE BEAUVOIR
Ao escrever sobre o segundo sexo.
2
MICHEL FOUCAULT
Ao trazer para o debate questões sobre o discurso, a violência e o sexo.
Ambos provocam um quadro de importantes mudanças na construção de objetos.
Na Sociologia, esses debates serão acompanhados por Christine Delphy, Françoise Battagliola
e Nancy Fraser, sem renunciar à influência da História, com Joan Scott; e da Filosofia com
Judith Butler.
Entenda que toda essa discussão é válida, pois transforma os novos debates em campos
interdisciplinares. Buscam entender, por exemplo, a dinâmica das questões de gênero em uma
sociedade.
Mas todos os debates ainda partem do conhecimento e das influências dos principais autores
da formação da Sociologia.
Agora que estudamos um pouco sobre as escolas de pensamento sociológicas pioneiras e
suas principais referências, você deve estar se perguntando: mas e o Brasil?
E O BRASIL?
Podemos dizer que a história da Sociologia brasileira teve início a partir da década de 1930,
quando as primeiras obras que apontavam algum interesse na compreensão da sociedade
brasileira quanto à sua formação e estrutura foram desenvolvidas.
 
Fonte: Shutterstock.com
Não estamos, contudo, afirmando que antes disso não houve nenhum pensamento ou autor
que tenha buscado com seus estudos entender nossa sociedade.
Porém, estamos apenas ressaltando que as produções que eram apresentadas até esse
momento não se dedicavam diretamente a uma tentativa de explicação da formação e a
estrutura da sociedade brasileira.
Nesse sentido, a produção sociológica brasileira — contendo um caráter mais investigativo e
explicativo — nasce com movimentos que estimulavam uma postura mais crítica sobre o que
acontecia em nossa sociedade neste momento.
Estamos falando de movimentos como:
MODERNISMO
FORMAÇÃO DE PARTIDOS (SOBRETUDO O PARTIDO
COMUNISTA)
MOVIMENTOS QUE PROPUNHAM MUDANÇAS
SOCIAIS
Esses movimentos impulsionaram pensadores e intelectuais brasileiros a refletirem sobre a
própria sociedade. Assim, contribuíram para a constituição de uma Sociologia brasileira,
mesmo que bastante influenciada por teorias sociológicas importadas.
Como exemplo desses pensadores, podemos citar: Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio
Buarque de Holanda, Fernando de Azevedo, Nelson Werneck Sodré, Raymundo Faoro, entre
outros.
Na década seguinte, uma nova geração de sociólogos inaugurou, no país, estilos mais
independentes de fazer Sociologia. Surgiram, naquele momento, diferentes escolas de
Sociologia em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte.
Foi um período extremamente fértil para o desenvolvimento do pensamento sociológico
brasileiro e momento em que autores, como Oliveira Viana, Florestan Fernandes e Guerreiro
Ramos, despontavam no cenário nacional.
“A Sociologia brasileira é em grande parte uma ‘Sociologia enlatada’, mas é preciso constituir
uma consciência crítica da realidade nacional.”
(GUERREIRO RAMOS apud PEIXOTO; VIANA, 2011)
 
Fonte: Gabriel Siqueira/Irradiandoluz.com.br/CC BY-NC-SA 3.0
 Alberto Guerreiro Ramos
De toda forma, é preciso dizer que, até as últimas décadas do século XX, a Sociologia
brasileira permaneceu fortemente marcada pelas teorias internacionais e, com poucas
exceções, por análises e discussões sobre temas nacionais.
Destacamos, também, que esta Sociologia sempre manteve uma estreita relação com as
grandes vertentes do pensamento sociológico tradicional:
Marxista
Histórico-estrutural
Durkheimiana
Funcionalista
Weberiana
Compreensiva
Linha norte-americana
Em suas variadas ramificações
Nas últimas décadas, estamos vivenciando transformações importantes na Sociologia
brasileira. Pois ela tem trabalhado com novas formas de investigação e privilegiando temas e
objetos como:
A DIVERSIDADE CULTURAL BRASILEIRA
A CIDADANIA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS
O TRABALHO E GÊNERO
REVENDO MAIS CONCEITOS SOBRE A
SOCIOLOGIA
Neste vídeo, o especialista fará uma entrevista com um convidado tratando sobre os principais
tópicos apresentados até aqui.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1) (UECE, 2019) RELACIONE CORRETAMENTE OS PENSADORES APRESENTADOS, A
SEGUIR, COM SEUS RESPECTIVOS PENSAMENTOS OU ATRIBUTOS, NUMERANDO A
COLUNA II DE ACORDO COM A I.
1. MAX WEBER
2. KARL MAX
3. EMILE DURKHEIM
4. AUGUSTO COMTE
( ) CONSIDERA FATOS SOCIAIS COMO COISAS.
( ) SÃO CONCEITOS-CHAVE DE SUA TEORIA: AÇÃO SOCIAL; TIPO IDEAL;
BUROCRACIA.
( ) CONSIDERADO O PAI DA SOCIOLOGIA MODERNA, CRIOU A DISCIPLINA
ACADÊMICA DA SOCIOLOGIA.
( ) DEFENDE A IDEIA DE QUE INTERESSES ENTRE O CAPITAL E O TRABALHO SÃO
IRRECONCILIÁVEIS.
A) 1, 2, 3 e 4.
B) 3, 1, 4 e 2.
C) 3, 2, 4 e 1.
D) 4, 3, 2 e 1
E) 4, 1, 3 e 2.
2) TENDO COMO BASE AS INFORMAÇÕES SOBRE A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
ABORDADAS NESTE MÓDULO, É INCORRETO AFIRMAR QUE:
A) A Sociologia brasileira sempre se configurou como uma tradição científica forte no país e
que sofria pouca influência internacional.
B) Os primeiros estudos sociológicos estavam voltados às relações raciais e ao mundo rural
brasileiro, sem um direcionamento para a estrutura e organização da sociedade.
C) A Sociologia passou a se institucionalizar no país a partir da década de 1930.
D) Na década de 1940, foram inauguradas escolas de Sociologia em diversos estados do país,
como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
E) A Sociologia brasileira atual privilegia estudos que expliquem os problemas sociais do País.
GABARITO
1) (UECE, 2019) Relacione corretamente os pensadores apresentados, a seguir, com
seus respectivos pensamentos ou atributos, numerando a coluna II de acordo com a I.
1. Max Weber
2. Karl Max
3. Emile Durkheim
4. Augusto Comte
( ) Considera fatos sociais como coisas.
( ) São conceitos-chave de sua teoria: ação social; tipo ideal; burocracia.
( ) Considerado o pai da Sociologia moderna, criou a disciplina acadêmica da
Sociologia.
( ) Defende a ideia de que interesses entre o capital e o trabalho são irreconciliáveis.
A alternativa "B " está correta.
O principal objeto de estudo de Durkheim foram os fatos sociais; Weber estudou os tipos ideais
e as ações sociais; Comte é considerado pai da Sociologia, por causa do positivismo; e Marx
explorou em sua obra os conflitos entre as classes sociais.
2) Tendo como base as informações sobre a Sociologia brasileira abordadas neste
módulo, é incorreto afirmar que:
A alternativa "A " está correta.
A produção sociológica brasileira, contendo um caráter mais investigativo e explicativo,
somente se desenvolveu com os movimentos que estimulavam uma postura mais crítica sobre
o que acontecia em nossa sociedade. Mas manteve, sempre, bastante influência em teorias
sociológicas importadas.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste tema, dividido em três módulos, apresentamos os pressupostos e o contexto
do surgimento da Sociologia como ciência, bem como seu desenvolvimento no Brasil e no
mundo por meio de suas escolas de pensamento. Além disso, vimos ainda sua contribuição
histórica e atual com seus objetos e temáticas de estudo.
No módulo 1, descrevemos a origem histórica do pensamento social, a diferenciação entre as
diferentes formas de conhecimento, especialmente entre senso comum e ciência,
determinantespara pensarmos sobre a origem da Sociologia.
No módulo 2, identificamos os pressupostos históricos, políticos, sociais, econômicos e
culturais que fundamentaram o surgimento da Sociologia. Verificamos, inclusive, que o
surgimento da Sociologia tem relação com uma série de eventos históricos, processos
revolucionários e transformações sociais que ocorreram em todo o mundo.
No módulo 3, reconhecemos as diversas abordagens metodológicas do campo sociológico,
bem como os seus objetos de estudo, suas temáticas e escolas de pensamento. E, com isso,
pudemos conhecer um pouco mais sobre os primórdios dessa ciência e os principais
pensadores que compõem os fundamentos do que viria a ser a conhecido hoje como
Sociologia.
Além disso, identificamos que as razões para a emergência dessa ciência social estão
conectadas à necessidade de explicar os fenômenos sociais que surgem com o Estado
moderno e o sistema capitalista.
Por fim, acompanhamos brevemente quando e de que forma esse processo de
institucionalização de uma ciência para pensar e compreender a sociedade ocorreu no Brasil.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, F. Princípios de Sociologia: pequena introdução ao estudo da Sociologia geral.
11. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1973.
CASTRO, A. M.; DIAS, E. F. Contexto histórico do aparecimento da Sociologia. In: CASTRO, A.
M.; DIAS, E. F. (Orgs.). Introdução ao pensamento sociológico. São Paulo: Centauro, 2001.
COMTE, A. Sociologia. Organização e tradução de Evaristo de Morais Filho. São Paulo: Ática,
1978.
DURKHEIM, É. Sociologia. Organizador da coletânea: Albertino Rodrigues. São Paulo: Ática,
1978.
ELGELS, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global, 1986.
FERNANDES, F. Fundamentos da explicação sociológica. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1978.
IANNI, O. Sociologia da Sociologia — o pensamento sociológico brasileiro. 3. ed. São Paulo:
Ática, 1989.
MARX, K. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
PEIXOTO, M. A.; VIANA, N. A formação da Sociologia brasileira. Informe e Crítica, 2011.
SELL, C. E. Émile Durkheim. In: SELL, C. E. Sociologia clássica: Durkheim, Weber e Marx. 3.
ed. Itajaí: Univali, 2002.
SIMÕES, Soraya S. Identidade e política: a prostituição e o reconhecimento de um métier
no Brasil. Revista R@u, v. 2, p. 24-46, 2010.
WEBER, M. Sociologia. Organizador da coletânea: Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 1979.
EXPLORE+
Leia o texto A Sociologia no Brasil, em que Antônio Cândido analisa o processo de
formação da Sociologia brasileira, desde o fim do século XIX até a década de 1950, para
aprofundar seus conhecimentos.
Pesquise o estudo A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios, de Enno Liedke
Filho, com foco na história da Sociologia no Brasil e as influências de tradições
sociológicas europeias e norte-americana, para expandir seu aprendizado.
Leia A recepção da Sociologia alemã no Brasil. Notas para uma discussão, de Gláucia
Villas Bôas, para estudar a influência dessa escola.
Pesquise as entrevistas com Antonio Candido concedidas a Gilberto Velho e Yonne Leite
(Museu Nacional, UFRJ), publicadas em junho de 1993, no Canal Ciências; e concedidas
a Heloisa Pontes, publicada em 2001, na Revista Brasileira de Ciências Sociais, para
conhecer mais sobre um grande nome da Sociologia no Brasil.
Assista aos filmes:
Daens: um grito de justiça (1992), de Stijn Coninx, que discute o contexto da segunda
metade do século XIX, em especial a consolidação do sistema de produção capitalista.
Eles não usam Black-tie (1981), de Leon Hirszman, em que é possível entrever as teorias
de Engels e Marx, para aprofundar seu conhecimento acerca dessas teorias.
Vida de Inseto (1998), de John Lasseter, narrativa que aponta o controle social dos
indivíduos, a função social, entre outros aspectos, para entender as ideias de Durkheim,
Marx e Weber.
CONTEUDISTA
Amanda André de Mendonça
 CURRÍCULO LATTES
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<
DESCRIÇÃO
A construção da Antropologia como campo científico, seu objeto e suas abordagens nas
ciências humanas.
PROPÓSITO
Compreender a construção da Antropologia como área e a cultura como seu objeto principal,
identificando o percurso histórico e as teorias cunhadas nesse campo científico. Conhecer uma
abordagem antropológica aplicada à cultura brasileira contemporânea.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar o percurso histórico da construção da Antropologia como campo científico,
destacando a importância de alguns teóricos
MÓDULO 2
Caracterizar correntes teóricas da Antropologia durante o século XX
MÓDULO 3
Analisar, a partir de um olhar antropológico, a cultura brasileira contemporânea por meio do
estudo de caso do corpo e da convivência conjugal
INTRODUÇÃO
O que é Antropologia?
De uma forma bem simples, podemos dizer que Antropologia é a ciência cuja finalidade é, por
meio do método comparativo, descrever e analisar as características culturais do homem. A
Antropologia, portanto, estuda a cultura.
Mas, afinal, o que é a cultura, objeto privilegiado da ciência antropológica?
Existem incontáveis definições de cultura, mas aqui adotaremos uma bem ampla e
compreensível para todos.
A CULTURA É UMA LENTE ATRAVÉS DA QUAL SE VÊ O
MUNDO. AS PESSOAS NÃO SOBREVIVEM SIMPLESMENTE.
ELAS SOBREVIVEM DE UMA MANEIRA ESPECÍFICA, DE
ACORDO COM A CULTURA EM QUE VIVEM.
A cultura é um complexo de padrões de linguagem, costumes, comportamentos, crenças,
instituições e outros valores simbólicos e materiais transmitidos coletivamente e característicos
de uma sociedade.
 
Fonte: Shutterstock.com
Pode ser simbolizada como um mapa, um receituário, um código segundo o qual os nativos de
um grupo social pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmos. É
justamente porque compartilham de parcelas importantes desse código, que um conjunto de
seres humanos com interesses e capacidades distintas e até mesmo opostas transformam-se
em um grupo e podem viver juntos, sentindo-se parte de uma mesma totalidade.
Vamos entender os caminhos que a ciência antropológica percorreu e desenvolveu para
compreender a cultura.
MÓDULO 1
 Identificar o percurso histórico da construção da Antropologia como campo
científico, destacando a importância de alguns teóricos
A ANTROPOLOGIA E O TRABALHO DE
CAMPO
No final do século XIX e início do século XX, os estudos dos antropólogos nas chamadas
sociedades “primitivas” foram determinantes para o desenvolvimento das técnicas de pesquisa
que permitem recolher diretamente observações e informações sobre a cultura nativa. Esses
sujeitos, também conhecidos como antropólogos de gabinete, pensavam o mundo pelo olhar
de suas sociedades, como algo estranho.
 
Fonte: Shutterstock.com
As sociedades estudadas diretamente por esses antropólogos eram sociedades sem escrita,
longínquas, isoladas, de pequenas dimensões, com reduzida especialização das atividades
sociais, sendo classificadas como “simples” ou “primitivas” em contraste com a organização
“complexa” das sociedades dos pesquisadores.
Foram os trabalhos de campo de Franz Boas (1858-1942) entre 1883 e 1902 e,
particularmente, a expedição de Bronislaw Malinowski (1884-1942) às ilhas Trobriand, que
consagraram a ideia de que os antropólogos deveriam passar um longo período na sociedade
que estivessem estudando para encontrar e interpretar seus próprios dados, em vez de
depender dos relatos dos viajantes, como faziam os “antropólogos de gabinete”.
 
Fonte: Kimsaka/ Wikimedia Commons/ Foto Pública.
FRANZ BOAS
Antropólogo americano que inaugura a construção do entendimento da cultura do outro e seu
espelho para quem analisa.
 
Fonte: FlickreviewR/ Wikimedia Commons/ Foto Pública.
BRONISLAW MALINOWSKI
Antropólogo polonês radicado em Londres que fundamenta a atuação do antropólogo atuando
no campo.
Nos primeiros trinta anos do século XX, o trabalho de campo passou a orientar as pesquisas
antropológicas. Franz Boas, um geógrafo de formação, crítico radical dos antropólogos
evolucionistas,ensinou que no campo tudo deveria ser anotado meticulosamente e que um
costume só tem significado se estiver relacionado ao seu contexto particular. Ensinou também
que, no “relativismo cultural”, o pesquisador deveria estudar as culturas com um mínimo de
preconceitos etnocêntricos.
Para Boas, o que constitui o “gênio próprio” de um povo é o que se dá nas experiências
individuais e, portanto, o objetivo do pesquisador é compreender a vida do indivíduo dentro da
própria sociedade em que vive.
 SAIBA MAIS
Boas foi o grande mestre da antropologia americana na primeira metade do século XX. Formou
uma geração de antropólogos, como Ralph Linton, Ruth Benedict e Margaret Mead,
considerados representantes da antropologia cultural americana, caracterizada por métodos e
técnicas de pesquisa qualitativa somados a modelos conceituais próximos da Psicologia e da
Psicanálise.
A primeira experiência de campo de Malinowski foi em 1914, entre os mailu na Melanésia.
Impedido de voltar à Inglaterra no início da Primeira Guerra Mundial, ele começou sua
pesquisa nas ilhas Trobriand, de 1915 a 1916, retornando em 1917 para uma estada de mais
um ano.
Essa longa convivência com os nativos teve uma influência decisiva na inovação do método de
pesquisa antropológica. Os argonautas do Pacífico Ocidental, publicado em 1922, é um
verdadeiro tratado sobre o trabalho de campo.
 
Fonte: Racconish/ Wikimedia Commons/ Foto Pública.
 Malinowski com os nativos nas ilhas Trobriand, 
London School of Economics Library Collections, 1918.
A convivência íntima com os nativos passou a ser considerada o melhor instrumento de que o
antropólogo dispunha para compreender “de dentro” o significado das lógicas particulares
características de cada cultura. Malinowski demonstrou que o comportamento nativo não é
irracional, mas se explica por uma lógica própria que precisa ser descoberta pelo pesquisador.
Colocou em prática a observação participante, criando um modelo do que deve ser o trabalho
de campo:
O PESQUISADOR, POR MEIO DE UMA ESTADA DE LONGA
DURAÇÃO, DEVE MERGULHAR PROFUNDAMENTE NA
CULTURA NATIVA, IMPREGNANDO‐SE DA MENTALIDADE
NATIVA. DEVE VIVER, FALAR, PENSAR E SENTIR COMO OS
NATIVOS.
Malinowski é considerado o pai do funcionalismo, pois acreditava que cada cultura tem como
função a satisfação das necessidades básicas dos indivíduos que a compõem, criando
instituições capazes de responder a essas necessidades. A conduta de observação
etnográfica, assim como a apresentação dos resultados sob a forma monográfica, obedece aos
pressupostos do método funcional.
 SAIBA MAIS
A análise funcional consiste em analisar todo fato social do ponto de vista das relações de
interdependência que ele mantém, sincronicamente, com outros fatos sociais no interior de
uma totalidade.
Grande parte da renovação das ciências sociais se deve às influências diretas ou indiretas dos
métodos de pesquisa de Malinowski. Os argonautas do Pacífico Ocidental, uma obra seminal,
provocou uma verdadeira ruptura metodológica na Antropologia, priorizando a observação
direta e a experiência pessoal do pesquisador no campo.
Malinowski sugeriu três questões para o trabalho de campo:
O que os nativos dizem sobre o que fazem? (os discursos)
O que realmente fazem? (os comportamentos e as práticas)
O que pensam a respeito do que fazem? (os valores e os pensamentos)
Por meio do contato íntimo com a vida nativa, exaustivamente registrado no diário de campo,
Malinowski buscou as respostas para essas questões preocupando‐se em compreender o
ponto de vista nativo.
A Antropologia seria, portanto, o estudo segundo o qual, compreendendo melhor as
chamadas sociedades “primitivas”, poderíamos chegar a compreender melhor a nós
mesmos. A rica experiência de campo de Malinowski, assim como suas propostas
metodológicas, influenciou decisivamente a aplicação de técnicas e métodos de pesquisa
qualitativa na Antropologia e nas ciências sociais.
Vamos assistir ao vídeo em que a professora Miriam Goldenberg, autora de diversos livros de
Antropologia, explica um pouco mais sobre isso.
A ANTROPOLOGIA DAS SOCIEDADES
COMPLEXAS
Na década de 1970, surge nos Estados Unidos, inspirada na ideia weberiana de que a
observação dos fatos sociais deve levar à compreensão (e não a um conjunto de leis), a
antropologia interpretativa.
Um dos principais representantes da abordagem interpretativa é Clifford Geertz, que propôs um
modelo de análise cultural hermenêutico:
WEBERIANA
Weber (1864-1920) foi um intelectual alemão que figura entre os fundadores da
Sociologia. Seu trabalho abordou particularmente a relação entre capitalismo,
protestantismo e burocracia, sendo a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo,
de 1904, um livro seminal para as ciências sociais.
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HERMENÊUTICO
Hermenêutica é a filosofia que estuda a interpretação dos textos.
Fonte: dicio
O ANTROPÓLOGO DEVE FAZER UMA DESCRIÇÃO EM
PROFUNDIDADE (“DESCRIÇÃO DENSA”) DAS CULTURAS
COMO “TEXTOS” VIVIDOS, COMO “TEIAS DE SIGNIFICADOS”
QUE DEVEM SER INTERPRETADOS.
 
Fonte: IAS.
DE ACORDO COM GEERTZ OS “TEXTOS” ANTROPOLÓGICOS
SÃO INTERPRETAÇÕES SOBRE AS INTERPRETAÇÕES
NATIVAS, JÁ QUE OS NATIVOS PRODUZEM INTERPRETAÇÕES
DE SUA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA. TAIS TEXTOS SÃO
“CONSTRUÍDOS” – NÃO FALSOS OU INVENTADOS.
Essa perspectiva se traduz em um permanente questionamento do antropólogo a respeito dos
limites de sua capacidade de conhecer o grupo que estuda e na necessidade de expor, em seu
texto, suas dúvidas, perplexidades e os caminhos que levaram à sua interpretação, percebida
sempre como parcial e provisória. Geertz inspirou a chamada:
ANTROPOLOGIA REFLEXIVA
Conhecida também como pós‐interpretativa, ela propõe uma autorreflexão a respeito do
trabalho de campo nos seus aspectos morais e epistemológicos. Essa antropologia questiona a
autoridade do texto antropológico e propõe que o resultado da pesquisa não seja fruto da
observação pura e simples, mas de um diálogo e de uma negociação de pontos de vista entre
pesquisador e pesquisados.
Um elemento importante para o desenvolvimento da pesquisa antropológica nas sociedades
complexas foi a chamada:
ESCOLA DE CHICAGO
Em 1930, o termo Escola de Chicago foi utilizado pela primeira vez por Luther Bernard, em
Schools of Sociology. Por esse termo, designa‐se um conjunto de pesquisas realizadas, a partir
da perspectiva interacionista, particularmente depois de 1915 na cidade de Chicago. Um de
seus traços marcantes é a orientação multidisciplinar, envolvendo, principalmente, a Sociologia,
a Antropologia, a Ciência Política, a Psicologia e a Filosofia.
A Universidade de Chicago surgiu em 1892 e, em 1910, o seu departamento de Sociologia e
Antropologia tornou‐se o principal centro de estudos e de pesquisas sociológicas dos EUA. O
departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade de Chicago esteve unido até 1929,
o que sugere que as pesquisas etnográficas contribuíram para dar legitimidade às técnicas e
aos métodos qualitativos na pesquisa sociológica em grandes centros urbanos, o que viria a se
tornar dominante nos EUA, e a sociologia qualitativa.
 
Fonte: Shutterstock.com
Já desde o final do século XIX, o interacionismo simbólico exercia uma profunda influência
sobre a sociologia de Chicago pela presença de George Herbert Mead e do filósofo americano
John Dewey, o qual lecionou em Chicago de 1894 até 1904 e trouxe para o interacionismo o
pragmatismo, uma filosofia de intervenção social que postula que o pesquisador deve estar
envolvido com a vida de sua cidade e se interessar por sua transformação social.
Mead, considerado o arquiteto da perspectiva interacionista, lecionou na Universidade de
Chicago até 1931. Sua perspectiva teórica, fortemente marcada pela influência da psicologia
social e de Georg Simmel, que trouxe para a Sociologia a filosofia de Kant, é apresentada em
Mente, Self e Sociedade, de 1934.
 
Fonte: Finnrind/ Wikimedia Commons/ Foto Pública.PARA MEAD, A ASSOCIAÇÃO HUMANA SURGE APENAS
QUANDO CADA INDIVÍDUO PERCEBE A INTENÇÃO DOS ATOS
DOS OUTROS E, ENTÃO, CONSTRÓI SUA PRÓPRIA
RESPOSTA EM FUNÇÃO DELA. AS INTENÇÕES SÃO
TRANSMITIDAS POR MEIO DE GESTOS QUE SE TORNAM
SIMBÓLICOS, OU SEJA, PASSÍVEIS DE SEREM
INTERPRETADOS.
A sociedade humana se funda em sentidos compartilhados sob a forma de compreensões e
expectativas comuns. O componente significativo de um ato acontece por meio do role‐taking:
o indivíduo deve se colocar no lugar de outro. Ao afirmar que o indivíduo possui um self,
Mead enfatiza que, da mesma forma que interage socialmente com outros indivíduos, ele
interage consigo mesmo.
Enfatizando a natureza simbólica da vida social, Mead aponta que são as atividades interativas
dos indivíduos que produzem as significações sociais.
ROLE‐TAKING
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A teoria do role-taking trata da capacidade do indivíduo de coordenar múltiplos pontos de
vista em meio à comunicação social (CHAPUT, 2008).
SELF
O self representa o outro incorporado ao indivíduo. É formado por meio das definições
feitas por outros que servirão de referencial para que o indivíduo possa ver a si mesmo.
 ATENÇÃO
Uma consequência importante disso é que o pesquisador só pode ter acesso a esses
fenômenos particulares, que são as produções sociais significantes dos indivíduos, quando
participa do mundo que se propõe a estudar.
O interacionismo simbólico, ao contrário da concepção durkheimiana, que defende que as
manifestações subjetivas não pertencem ao domínio da Sociologia, afirma ser a concepção
que os indivíduos têm do mundo social o que constitui o objeto essencial da pesquisa
sociológica.
DURKHEIMIANA
Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês considerado um dos fundadores da
Sociologia como ciência. Suas análises resultaram numa abordagem que ficou conhecida
como “A teoria dos fatos sociais”, a qual entende que um conjunto de formas de agir
marcam as sociedades como leis gerais. Sua obra mais conhecida é Da Divisão do
Trabalho Social, de 1893.
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Interacionismo simbólico

Teoria dos fatos sociais
ESTRUTURALISMO E OLHAR DE LÉVI-
STRAUSS
 
Fonte: Peripitus/ Wikimedia Commons/ CC BY 3.0.
 Claude Lévi-Strauss, UNESCO/Michel Ravassard, 2005.
Sobre os primeiros autores a debaterem e geraram importantes avanços no campo da
antropologia cultural, não poderíamos deixar de citar o francês Lévi-Strauss. O olhar do
antropólogo dialoga com a construção de novas dinâmicas sociais.
Enquanto os principais debates buscavam compreender o papel dos códigos culturais ou suas
dinâmicas de compreensão, Strauss vai no sentido de reaproximá-lo da Sociologia; não à toa o
autor é classificado como inaugurador ou principal nome da antropologia estrutural.
Toda sociedade é composta por “prédios”, composições próprias e singulares. O olhar de Lévi-
Strauss, mais do que perceber o papel da cultura, percebe a cultura como um elemento imerso
na estrutura, sendo ora interpretativo, ora representativo ou ainda legitimador de determinados
fenômenos sociais. A tensão entre a proposta da antropologia estrutural e da antropologia
cultural reside no entendimento da relação entre natureza e cultura.
Enquanto no cerne do estruturalismo a solidez de reproduções e as marcas do meio criam
condições, no simbolismo representativo da cultura ela é construída e composta pelos
"acordos" e "trocas" entre os sujeitos. Strauss propõe não apenas uma diferenciação entre os
processos, mas sim uma inerente relação.
Natureza

Cultura
 ATENÇÃO
Lévi-Strauss insistia em demonstrar o peso inerente da natureza, mas de forma alguma a
automatização de suas interpretações. O fenômeno natural pode ser o mesmo, e a
interpretação e a instrumentalização serem completamente diversas. Ou seja,
simultaneamente, mesmo percepções de regramentos aparentemente universais podem ter
sínteses originárias da passagem da natureza para cultura e por isso terem um processo
“natural” de interpretação (ainda que não mandatório). Isso é recorrente por ser da espécie
humana, mas só se torna cultura porque se expressa numa norma, variável em suas
formulações, mas não no seu princípio.
Para Lévi-Strauss, essa é a base da própria ideia de vida social, e exemplifica com a proibição
do incesto, que marca uma obrigação da troca das mulheres e expressa a passagem do fato
natural da consanguinidade para o fato cultural da aliança (DESCOLA, 2011).
 RESUMINDO
Qual a síntese do debate que aprendemos até aqui?
Cultura é parte importante de sociedades humanas. Sempre foi objeto de interesse das
pessoas, no entanto, a partir do século XX, ela passou por um processo de organização como
campo de pesquisa e conhecimento. Esse processo gerou debate de autores, ajudando-nos a
perceber que lidar com cultura, antropologia e sociedade não tem nada de fácil ou automático.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUAL FOI A MAIOR CONTRIBUIÇÃO DE MALINOWSKI PARA A
ANTROPOLOGIA?
A) Provar que as pesquisas quantitativas estavam erradas.
B) Mostrar a importância do trabalho de campo.
C) Revelar que as sociedades ocidentais são superiores.
D) Demonstrar a inferioridade dos povos primitivos.
E) Generalizar as diferenças culturais.
2. DENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO, MARQUE VERDADEIRO (V) OU
FALSO (F) SOBRE A ABORDAGEM INTERPRETATIVA: 
 
( ) CLIFFORD GEERTZ É UM DOS PRINCIPAIS EXPOENTES DA
ABORDAGEM INTERPRETATIVA E CUNHOU UM MODELO
ANTROPOLÓGICO BASEADO NA DESCRIÇÃO EM PROFUNDIDADE DAS
CULTURAS, COMO UMA “DESCRIÇÃO DENSA”. 
( ) PARA GEERTZ, OS “TEXTOS” ERAM SOMENTE AS
INTERPRETAÇÕES PRODUZIDAS PELOS OS NATIVOS. 
( ) GEERTZ INSPIROU A TEORIA DA ANTROPOLOGIA REFLEXIVA. 
 
ASSINALE:
A) F- V - V
B) V- F- F
C) F - F- V
D) V- V- F
E) V- F - V
GABARITO
1. Qual foi a maior contribuição de Malinowski para a Antropologia?
A alternativa "B " está correta.
 
A experiência de campo de Malinowski entre os mailu na Melanésia e a longa convivência
com os nativos influenciou o método de pesquisa antropológica e passou a ser considerada a
melhor abordagem para o antropólogo: compreender “de dentro”.
2. Dentre as alternativas abaixo, marque verdadeiro (v) ou falso (f) sobre a abordagem
interpretativa: 
 
( ) Clifford Geertz é um dos principais expoentes da abordagem interpretativa e cunhou
um modelo antropológico baseado na descrição em profundidade das culturas, como
uma “descrição densa”. 
( ) Para Geertz, os “textos” eram somente as interpretações produzidas pelos os
nativos. 
( ) Geertz inspirou a teoria da antropologia reflexiva. 
 
Assinale:
A alternativa "E " está correta.
 
Geertz é um dos principais representantes da corrente interpretativa. Sua abordagem
considera que os textos antropológicos são aqueles produzidos pelos antropólogos a respeito
das comunidades, visto que os nativos já produzem interpretações sobre sua cultura. Esses
textos não são “ficções”, mas sim construções da cultura. Geertz inspirou a chamada
antropologia reflexiva, também chamada de pós‐interpretativa.
MÓDULO 2
 Caracterizar correntes teóricas da Antropologia durante o século XX
Para abrir o módulo, vamos recuperar algumas ideias que perpassaram o que vimos até aqui.
Afinal, essas ideias são importantes para não perdermos de vista alguns conceitos-chaves que
trataremos mais daqui por diante:
ETNOCENTRISMO
RELATIVISMO
ETNOCENTRISMO
Quando acreditamos que existe uma forma correta, uma cultura correta, baseada em nossas
experiências e todas as outras ou são “estranhas” ou “erradas”.
RELATIVISMO
Quando buscamos entender a formulação de uma outra lógica, ou outra cultura, entendendo
que podem adotar referenciais diferentes. Isso, no entanto, não deve servir para apagar
qualquer comportamento.
Vamos assistir ao vídeo em que a professora Miriam Goldenberg, autora de diversos livros de
Antropologia, explica um pouco mais sobre isso.
O INTERACIONISMO SIMBÓLICO: 
OS PROBLEMAS SOCIAIS E A
ANTROPOLOGIA URBANA
O interacionismo simbólicodestaca a importância do indivíduo como intérprete do mundo
que o cerca e, consequentemente, desenvolve métodos de pesquisa que priorizam os pontos
de vista dos indivíduos com o propósito de compreender as significações que os próprios
indivíduos põem em prática para construir seu mundo social.
 
Fonte: The Encyclopedia of Chicago.
 Moradias precárias em Chicago, University of Illinois at Chicago (Jane Addams Memorial
Collection, JAMC neg. 1054),1910.
Como a realidade social só aparece sob a forma de como os indivíduos veem este mundo, o
meio mais adequado para captar a realidade é aquele que propicia ao pesquisador ver o
mundo “através dos olhos dos pesquisados”.
A pesquisa da Escola de Chicago tem a marca do desejo de produzir conhecimentos úteis para
a solução de problemas sociais concretos que enfrentava a cidade de Chicago.
Grande parte de seus estudos refere‐se aos problemas da imigração e da integração dos
imigrantes à sociedade americana, bem como delinquência, criminalidade, desemprego,
pobreza, minorias e relações raciais.
 
Fonte: Infrogmation/ Wikimedia Commons/ Foto Pública.
 Al Capone, famoso gângster de Chicago, 
United States Bureau of Prisons, 1931.
Devido à sua forte preocupação empírica, uma das contribuições mais importantes da Escola
de Chicago foi o desenvolvimento de métodos originais de pesquisa qualitativa: a utilização
científica de documentos pessoais, como cartas e diários íntimos, a exploração de diversas
fontes documentais e o desenvolvimento do trabalho de campo sistemático na cidade –
antropologia urbana.
 EXEMPLO
O estudo de W. I. Thomas e F. Znaniecki sobre a vida social dos camponeses poloneses nos
EUA é um ótimo exemplo da sociologia praticada pela Escola de Chicago. O camponês
polonês na Europa e na América, 1918‐1920, é um estudo da imigração de camponeses
poloneses e dos seus problemas de assimilação nos EUA. Os dois pesquisadores reuniram
dados coletados na Polônia e nos Estados Unidos: artigos de jornais diários, arquivos de
tribunais e de associações americano‐polonesas, fichários de associações de assistência
social, cartas trocadas entre famílias que viviam nos Estados Unidos e na Polônia, além do
longo relato autobiográfico de um imigrante polonês.
Thomas e Znaniecki dedicaram todo um volume da obra a uma autobiografia escrita por um
imigrante polonês em Chicago. Essa autobiografia foi cotejada com outras fontes, como cartas
familiares, jornais diários e arquivos. Aplicando um dos princípios do interacionismo simbólico,
os dois pesquisadores acreditavam que por meio do registro da vida de um imigrante poderiam
penetrar e compreender “por dentro” o seu mundo.
Grande parte da produção da Escola de Chicago foi orientada por Robert Park, que, antes de
se tornar professor de Sociologia em Chicago de 1914 a 1933, foi jornalista durante vários
anos, atividade que influenciou seus métodos de pesquisa e de seus discípulos. Park
considerava a cidade como o laboratório de pesquisas sociológicas por excelência.
 
Fonte: Zaccarias/ Wikimedia Commons/ Foto Pública.
 Cinturão Negro em Chicago, Russell Lee, 1941.
Muitas pesquisas de Chicago voltaram‐se para um problema candente nos EUA: os conflitos
étnicos e as tensões raciais. Pesquisas sobre as comunidades de imigrantes, sobre os
conflitos raciais entre brancos e negros, sobre criminalidade, desvio e delinquência juvenil,
tornaram a sociologia de Chicago famosa em todo o mundo.
Vamos a alguns exemplos de pesquisa e que mudam o campo da Antropologia com o seu
olhar para as novas relações humanas.
FREDERIC THRASHER
JOHN LANDESCO
CLIFFORD SHAW
EDWIN SUTHERLAND
FREDERIC THRASHER
Sociólogo americano, membro da Escola de Chicago, que inaugura uma nova linha de objetos
antropológicos pensando em algo muito perto de seu cotidiano. Publicou, em 1923, sua tese de
doutorado sobre as gangues de Chicago.
JOHN LANDESCO
Sociólogo americano que continua a apropriar os olhares trabalhados com um forte destaque
para a metodologia a ser desenvolvida e que muda a história da Ciência. Publicou, em 1929,
uma obra com vasta pesquisa sobre a criminalidade de Chicago a partir de histórias de vida de
gângsteres.
CLIFFORD SHAW
Uma das obras mais famosas da Escola de Chicago, The Jack‐Roller: A delinquent boy’s own
story (O Jack-Roller: um garoto delinquente e sua história) , publicada em 1930, é baseada na
história de vida de um jovem delinquente de dezesseis anos, Stanley, que Clifford Shaw
acompanhou durante seis anos, dentro e fora da prisão. Logo depois, em 1931, Shaw publicou
The natural history of a delinquent career (A história natural da carreira de um delinquente) ,
sobre um adolescente acusado de estupro.
EDWIN SUTHERLAND
Em 1937, Edwin Sutherland publicou um estudo, baseado no relato autobiográfico de um
ladrão profissional, sobre sua vida cotidiana e suas diferentes práticas (roubo, estelionato,
fraude, extorsão etc.).
Esses estudos demonstram a preocupação dos pesquisadores de Chicago em analisar os
graves problemas enfrentados pela cidade a partir do ponto de vista dos indivíduos, que
são vistos socialmente como os principais responsáveis.
A PESQUISA QUANTITATIVA E A ESCOLA
DE CHICAGO
O camponês polonês na Europa e na América, 1918‐1920, inaugurou o período mais
expressivo da sociologia qualitativa de Chicago, que, em 1949, com a publicação de The
american soldier (O soldado americano.) , de Samuel Stouffer, deu lugar a um período de
crescente utilização de técnicas de pesquisa quantitativa na sociologia norte-americana.
Stouffer, desde 1930, defendia a estatística como um método de pesquisa mais eficaz e mais
científico do que a história de vida ou o estudo de caso.
Apesar da importância e originalidade das pesquisas qualitativas da Escola de Chicago, não se
pode deixar de lado suas pesquisas quantitativas. Em 1929, Shaw e outros pesquisadores
publicaram uma obra sobre a delinquência urbana em que recensearam cerca de 60 mil
domicílios de “vagabundos, criminosos e delinquentes” de Chicago para demonstrar as taxas
de criminalidade em diferentes bairros.
E. Burgess, um dos nomes mais representativos da Escola de Chicago, apontava, em 1927,
que os métodos da estatística e dos estudos de caso não são conflitivos, mas mutuamente
complementares, e que a interação dos dois métodos poderia ser muito fecunda. Afirmava que
as comparações estatísticas poderiam sugerir pistas para a pesquisa feita com estudos de
caso, e que estes poderiam, trazendo à luz os processos sociais, conduzir a indicadores
estatísticos mais adequados.
 ATENÇÃO
É preciso destacar que a sociologia da Escola de Chicago abriu caminhos para a Sociologia
como um todo, principalmente no que diz respeito à utilização de métodos e técnicas de
pesquisa qualitativa. O trabalho de campo tornou‐se uma prática de pesquisa corrente também
na Sociologia e não apenas na Antropologia, além de proporcionar vários temas de pesquisa à
sociologia contemporânea e desenvolver novas correntes teóricas, como as teorias do rótulo e
do desvio.
Dentre os estudos mais representativos dessa corrente estão:
HOWARD BECKER
ERVING GOFFMAN
HOWARD BECKER
Outsiders: estudos de sociologia do desvio (1963), sobre músicos profissionais fumantes de
maconha, discute os processos pelos quais os desviantes são definidos como tais pela
sociedade que os cerca, mais do que pela natureza do ato que praticam.
ERVING GOFFMAN
A representação do Eu na vida cotidiana (1959), de Goffman, analisa os “desempenhos
teatrais” dos atores sociais em suas ações do dia a dia.
ESCOLA DE CHICAGO E A TEORIA DA
ECOLOGIA CRIMINAL
O desenvolvimento das pesquisas da Escola de Chicago está intimamente ligado ao
desenvolvimento demográfico urbano do início do século XX, inicialmente da cidade de
Chicago nos EUA, e a problemas sociais criados com a sociedade de consumo e o capitalismo.
 
Fonte: US National Archives bot/ Wikimedia Commons/ Foto Pública.
 Fila de desempregados em frente a um restaurantepopular em Chicago, 
U.S. National Archives and Records Administration, 1931.
Os processos migratórios, as relações raciais, os problemas de classe e miséria e as
demandas disruptivas já mencionadas caracterizaram-se como objeto principal dessa
corrente antropológica. Essencialmente urbana, a Escola de Chicago escolheu a via
criminológica para abordar a cidade. E é para esse ponto que a maioria das críticas se
direcionam.
DEMANDAS DISRUPTIVAS
Esses aspectos são: a criminalidade, a delinquência juvenil, as gangues, a pobreza e o
desemprego, além da formação de guetos – comunidades segregadas.
 ATENÇÃO
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Há de se notar, também, que o Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago
recebeu financiamento de magnatas do período, como John Davison Rockefeller, conhecido
empresário do petróleo. A Escola de Chicago foi delimitada como um laboratório de pesquisa
social que defendia uma ideia de cidade.
Mas que cidade seria essa?
E, em especial, a quem servia esse projeto?
O direcionamento da pesquisa sobre delinquência e marginalidade que caracteriza a corrente
também orientou uma leitura desses grupos sociais que, segundo seus críticos, reforçou a
tendência de exclusão e estabeleceu uma teoria que naturaliza a noção de “crime” e
“criminalidade”.
Robert Erza Park em A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no
meio urbano, de 1915, analisou a cidade por meio da ideia de ecologia humana encarada
como uma competição pelo espaço, pela via sociológica, na denominada:
 
Fonte: Ранко Николић / Wikimedia Commons/ Foto Pública.
 Robert Erza Park, autor desconhecido, séc. XX.
TEORIA DA ECOLOGIA CRIMINAL
Baseada na ideia de seleção natural de Charles Darwin, entendia que os grupos marginais e o
crime seriam resultados da estrutura desorganizada das cidades.
Isso serviu de base para uma metodologia criminológica em que:
1
Possibilitava definir as disfunções sociais por uma ideia de “desorganização social”.
2
Era aplicável para identificação e sanção aos grupos marginalizados.
A crítica principal à corrente é que sua metodologia de identificação, mapeamento e
caracterização desses grupos foi direcionada ao aprofundamento da noção de criminalização e
exclusão de grupos sociais dentro das cidades.
FENOMENOLOGIA SOCIOLÓGICA E A
ETNOMETODOLOGIA: 
OUTRAS POSSIBILIDADES
A Escola de Chicago abriu caminho para correntes teóricas que, mesmo não podendo ser
diretamente associadas a ela, não deixam de apresentar certa influência de sua abordagem
metodológica, como a fenomenologia sociológica e a etnometodologia.
Veja mais sobre elas a seguir:
FENOMENOLOGIA SOCIOLÓGICA
Busca sua fundamentação na filosofia de Husserl, que faz uma crítica radical ao objetivismo da
ciência. Seu argumento é o mesmo de W. Dilthey e Max Weber: os atos sociais envolvem uma
propriedade – o significado – que não está presente em outros setores do universo abarcados
pelas ciências naturais. Proceder a uma análise fenomenológica é substituir as construções
explicativas pela descrição do que se passa efetivamente do ponto de vista daquele que vive a
situação concreta.
W. DILTHEY
Wilhelm Dilthey foi um filósofo alemão caracterizado com a corrente historicista. Uma de
suas obras mais conhecidas é Vida de Schleiermacher, de 1883, em que advoga pela
independência do método para as ciências humanas em distinção às ciências naturais.
A fenomenologia quer atingir a essência dos fenômenos, ultrapassando suas aparências
imediatas.
 
Fonte: Shutterstock.com
O pensamento fenomenológico traz para o campo de estudo da sociedade o mundo da vida
cotidiana, em que o homem se situa com suas angústias e preocupações. A etnometodologia
apoia‐se nos métodos fenomenológicos e hermenêuticos com o objetivo de compreender o
dia a dia do homem comum na sociedade complexa.
A Sociologia e a Antropologia, ao abandonarem o campo do estranho e seguirem para uma
metodologia mais perto das demandas, dos campos, do cotidiano, inaugura desafios intensos.
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Harold Garfinkel, americano vinculado à Universidade da Califórnia, inaugura, na academia
americana, o debate de etnicidades e a metodologia para estudar etnias. Estabeleceu as bases
metodológicas e o quadro conceitual da etnometodologia em Studies in
Ethnomethodology (Estudos em Etnometodologia) , publicado em 1967 nos EUA.
ETNOMETODOLOGIA
A teoria aborda uma forma de compreender a prática artesanal da vida cotidiana, interpretada
já numa primeira instância pelos atores sociais. Ela procura descobrir as práticas e
representações segundo as quais as pessoas negociam, cotidianamente, a sua inserção nos
grupos. A sociologia de Garfinkel repousa sobre o reconhecimento da capacidade reflexiva e
interpretativa de todo ator social.
 RESUMINDO
Essas duas escolas, a fenomenologia e a etnometodologia, inserem‐se na tradição
metodológica qualitativa ao tentar ver o mundo através dos olhos dos atores sociais e dos
sentidos que eles atribuem aos objetos e às ações sociais que desenvolvem.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ACERCA DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO, ANALISE AS
ALTERNATIVAS: 
 
ANALISA SOMENTE OS PROBLEMAS SOCIAIS PELA PERSPECTIVA DA
ANTROPOLOGIA URBANA.
DESTACA A IMPORTÂNCIA DO INDIVÍDUO COMO INTÉRPRETE DO
MUNDO.
SEUS MÉTODOS VISAM A COMPREENDER AS SIGNIFICAÇÕES QUE OS
PRÓPRIOS INDIVÍDUOS EMPREGAM PARA CONSTRUIR SEU MUNDO
SOCIAL.
 
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) Somente a sentença I é correta.
B) As sentenças I e II são corretas.
C) Somente a sentença III é correta.
D) As sentenças II e III são corretas
E) Somente a sentença II é correta.
2. SOBRE A ESCOLA DE CHICAGO, SEU PRINCIPAL OBJETO OU
ABORDAGEM, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) A Escola de Chicago concentrou seus estudos na abordagem de campo em sociedades
“primitivas”.
B) Essa corrente teórica é resultado do êxodo rural europeu.
C) Os objetos principais da Escola de Chicago durante o século XX foram os problemas sociais
criados pelos processos migratórios, as relações raciais e demandas de classe.
D) Os antropólogos vinculados à Escola de Chicago tenderam a uma análise coletivista das
comunidades.
E) As críticas direcionas a essa corrente teórica foram baseadas em sua abordagem orientada
pelo materialismo histórico.
GABARITO
1. Acerca do interacionismo simbólico, analise as alternativas: 
 
Analisa somente os problemas sociais pela perspectiva da antropologia
urbana.
Destaca a importância do indivíduo como intérprete do mundo.
Seus métodos visam a compreender as significações que os próprios
indivíduos empregam para construir seu mundo social.
 
Assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
 
Na perspectiva do interacionismo simbólico, a realidade social só aparece por meio da maneira
que os indivíduos entendem o mundo. Nesse sentido o pesquisador deve empregar uma
abordagem “dos olhos dos pesquisados” para analisar sua cultura.
2. Sobre a Escola de Chicago, seu principal objeto ou abordagem, assinale a alternativa
correta.
A alternativa "C " está correta.
 
A Escola de Chicago privilegiou os problemas sociais resultados do aumento demográfico,
demandas da sociedade de consumo e relações de poder e classe. Sua metodologia
relacionou tanto a perspectiva quantitativa como qualitativa aplicada à antropologia urbana. As
críticas feitas a essa teoria se deram especialmente à abordagem de identificação e
mapeamento de elementos marginais e problemas sociais pela perspectiva da criminalidade.
MÓDULO 3
 Analisar, a partir de um olhar antropológico, a cultura brasileira contemporânea por
meio do estudo de caso do corpo e da convivência conjugal
A Antropologia muda quando entra no campo do capital consolidado, isto é, a realidade
urbana modifica as relações sociais quando o mundo passa a ser entendido como um
campo de objetos que podem ser comprados – inclusive o corpo, seja como força de
trabalho ou objeto.
Mais longe, dentro de realidades urbanas, grupos que eramtremendamente limitados a um,
dois ou três espaços de interações passam a estar multiplicados de sentidos e meios. Cada um
hierarquizado e marcado por novos conjuntos culturais.
Como lidar, como entender mundos e sociedades tão complexas?
Vamos ouvir a professora Mirian Goldenberg sobre esses ambientes de abordagem
antropológica que conhecemos também como nosso cotidiano, nossas principais relações.
CONTEXTUALIZANDO NOSSO LUGAR
Nos dois primeiros módulos, tivemos um intenso processo de busca e entendimento sobre o
que é Antropologia, como ela nos ajuda a observar a sociedade em nossas posições. No
entanto, devemos ter consciência de que há um lugar, uma sociedade, um conjunto de trocas e
dinâmicas sociais que nos marcam.
Não são dinâmicas determinantes, mas aspectos em que estamos imersos de forma tão
profunda que simplesmente não conseguimos perceber que as chaves, os debates
antropológicos aqui apresentados estão dialogando com a nossa condição de sujeito e os
objetos dessa análise somos nós. Para que isso fique mais claro, passamos a pensar sobre
olhares da Antropologia brasileira e como ela tem aberto debates fundamentais para você.
UM ESTUDO PARA COMPREENDER A
CULTURA BRASILEIRA
A Antropologia aplicada ao estudo da cultura brasileira tem sido foco de pesquisas desde a
segunda metade do século XX. Como exemplo das contribuições para a reflexão de questões
essenciais da nossa cultura, vamos focar na importância do corpo e comportamento no
Brasil.
Como afirmou Marcel Mauss (1974), é através da “imitação prestigiosa” que os indivíduos de
cada cultura constroem seus corpos e comportamentos. Para Mauss:
IMITAÇÃO PRESTIGIOSA
Os indivíduos imitam atos, comportamentos e corpos que obtiveram êxito e poder.
 
Fonte: Ctac / Wikimedia Commons/ Foto Pública.
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O CONJUNTO DE HÁBITOS, COSTUMES, CRENÇAS E
TRADIÇÕES QUE CARACTERIZAM UMA CULTURA TAMBÉM
SE REFERE AO CORPO. ASSIM, HÁ UMA CONSTRUÇÃO
CULTURAL DO CORPO, COM UMA VALORIZAÇÃO DE CERTOS
ATRIBUTOS E COMPORTAMENTOS EM DETRIMENTO DE
OUTROS, FAZENDO COM QUE HAJA UM CORPO TÍPICO PARA
CADA SOCIEDADE. ESSE CORPO, QUE PODE VARIAR DE
ACORDO COM O CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL, É
ADQUIRIDO PELOS MEMBROS DA SOCIEDADE POR MEIO DA
"IMITAÇÃO PRESTIGIOSA".
Se o corpo é a imagem da sociedade, que sociedade é essa que está representada nos corpos
dos brasileiros?
Qual modelo de corpo tem prestígio em nossa cultura?
Qual é o corpo que é imitado (ou desejado) pelas mulheres e, também, pelos homens?
Em Nu & Vestido (2002), Goldenberg reuniu resultados de uma ampla pesquisa realizada com
1.279 moradores da cidade do Rio de Janeiro, analisando seus valores e comportamentos; e
analisa os arranjos conjugais em nossa sociedade por meio da categoria de corpo.
No Brasil, e mais particularmente no Rio de Janeiro, o corpo trabalhado, cuidado, sem marcas
indesejáveis (rugas, estrias, celulites, manchas) e sem excessos (gordura, flacidez) é o único
que, mesmo sem roupas, está decentemente vestido.
 
Fonte: Shutterstock.com
Pode-se pensar, assim, que, além do corpo ser muito mais importante do que a roupa, ele é a
verdadeira roupa:
É O CORPO QUE DEVE SER EXIBIDO, MOLDADO,
MANIPULADO, TRABALHADO, COSTURADO, ENFEITADO,
ESCOLHIDO, CONSTRUÍDO, PRODUZIDO, IMITADO. É O
CORPO QUE ENTRA E SAI DA MODA. A ROUPA, NESSE CASO,
É APENAS UM ACESSÓRIO PARA A VALORIZAÇÃO E
EXPOSIÇÃO DESSE CORPO DA MODA.
Na pesquisa realizada com homens e mulheres das camadas médias cariocas no início do
século XXI, ao perguntar:
“O que você mais inveja em uma mulher?”
As respostas femininas foram:
A beleza
O corpo
A inteligência

“O que você mais inveja em um homem?”
As respostas masculinas foram:
A inteligência
O poder econômico
A beleza
O corpo
Na questão sobre a inveja, é interessante destacar as diferenças de gênero presentes. Parece,
para os pesquisados, que é muito melhor ser homem do que ser mulher, pois quando
perguntado:
 
Fonte: Shutterstock.com
“O QUE VOCÊ MAIS INVEJA EM UM HOMEM?”
Grande parte das mulheres respondeu “liberdade” e inúmeras outras características
masculinas associadas a um comportamento mais livre do que o feminino;
Já cerca de 40% dos homens pesquisados disseram não invejar “nada” nas mulheres;
Os poucos homens que disseram invejar algo apontaram maternidade, capacidade de
engravidar e sensibilidade.
Respostas que reafirmam as representações associadas a uma suposta “natureza” masculina
e feminina em nossa cultura.
Também com relação à atração entre os sexos, o corpo tem um papel fundamental. Ao
perguntar:
“O que mais te atrai em um homem?”
As respostas femininas foram:
A inteligência
O corpo
O olhar

“O que mais te atrai em uma mulher?”
As respostas masculinas foram:
A beleza
A inteligência
O corpo
Quando a atração é sexual, o corpo ganha um destaque ainda maior. Na pergunta:
“O que mais te atrai sexualmente em um homem?”
As respostas femininas foram:
O tórax
O corpo
As pernas

“O que mais te atrai sexualmente em uma mulher?”
As respostas masculinas foram:
A bunda
O corpo
Os seios
Só quando proposto aos pesquisados que escrevessem um anúncio com o objetivo de
encontrar um parceiro é que esse corpo aparece seguido de alguns adjetivos, como:
“bonito”
“forte”
“definido”
“malhado”
“trabalhado”
“sarado”
“saudável”
“atlético”
Pode-se resumir os anúncios típicos femininos e masculinos da seguinte maneira:
 
Fonte: Shutterstock.com
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“Eu sou magra, jovem, cabelos louros, longos e lisos, bunda e seios grandes, linda, sensual e
carinhosa”

 
Fonte: Shutterstock.com
“Eu sou alto, forte, bem dotado, rico, inteligente e romântico”
A “DOMINAÇÃO MASCULINA” E A
CONJUGALIDADE
Em uma pesquisa cujo objetivo principal era compreender a convivência, muitas vezes
conflituosa, de novas e tradicionais formas de conjugalidade, é de certa forma surpreendente a
centralidade que a categoria corpo adquiriu para determinado segmento social. Tanto nas
respostas sobre inveja, admiração e atração, como nas que procuravam um parceiro amoroso,
o corpo aparece como um valor fundamental.
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Fonte: Shutterstock.com
Ao responder o que inveja, atrai ou admira, o corpo aparece sem nenhum adjetivo, é
simplesmente “O corpo”. Ele só passa a ser adjetivado nas respostas dos anúncios. Só então
ficamos sabendo de que tipo de corpo está se falando quando os pesquisados se referem
abstratamente ao corpo. Não é um corpo indistinto dado pela natureza, mas trabalhado,
paradoxalmente uma “natureza cultivada”, uma cultura tornada natureza.
Segundo Bourdieu (1988), a cultura da beleza e aparência física, a partir de determinadas
práticas, transforma o corpo “natural” em um corpo distintivo: O Corpo.

A CULTURA DITA NORMAS EM RELAÇÃO AO CORPO;
NORMAS A QUE O INDIVÍDUO TENDERÁ, À CUSTA DE
CASTIGOS E RECOMPENSAS, A SE CONFORMAR, ATÉ
O PONTO DE ESSES PADRÕES DE COMPORTAMENTO
SE LHE APRESENTAREM COMO TÃO NATURAIS
QUANTO O DESENVOLVIMENTO DOS SERES VIVOS, A
SUCESSÃO DAS ESTAÇÕES OU O MOVIMENTO DO
NASCER E DO PÔR DO SOL. ENTRETANTO, MESMO
ASSUMINDO PARA NÓS ESSE CARÁTER “NATURAL”
E “UNIVERSAL”, A MAIS SIMPLES OBSERVAÇÃO EM
TORNO DE NÓS PODERÁ DEMONSTRAR QUE O
CORPO HUMANO COMO SISTEMA BIOLÓGICO É
AFETADO PELA RELIGIÃO, PELA OCUPAÇÃO, PELO
GRUPO FAMILIAR, PELA CLASSE E OUTROS
INTERVENIENTES SOCIAIS E CULTURAIS.
(RODRIGUES, 1979)
Desde o início deste século, os dados mostram que a brasileira é campeã na busca de um
corpo perfeito.
 EXEMPLO
A revista Time chamou a atenção para esse fato na capa que trouxe Carla Perez com a
seguinte legenda: “The plastic surgery craze: latin american women are sculping their bodies as
never before – along California lines. Is this cultural imperialism? (A mania da cirurgia plástica:
as mulheres latino-americanas estão esculpindo seus corpos como nunca – nos moldes da
Califórnia. Isso é imperialismo cultural?) ”. A Veja confirmou com a capa “De cara nova: com
operações mais baratas, alternativas de conserto paraquase tudo e grandes médicos em
atividade, o Brasil passa a ser o primeiro do mundo em cirurgia plástica”.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o brasileiro, especialmente a mulher
brasileira, tornou-se, logo após o norte-americano, o povo que mais faz plástica no mundo.
 
Fonte: Shutterstock.com
O que torna o Brasil especial nessa área é o ímpeto com que as pessoas decidem operar-se e
a rapidez com que a decisão é tomada. São três as principais motivações para fazer uma
plástica:
Atenuar os efeitos do envelhecimento
Corrigir aspectos considerados defeitos físicos
Esculpir um corpo considerado perfeito
No Brasil, esta última motivação é a que mais cresce: a busca de um corpo perfeito.
O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1999) criticou a “dominação masculina”, que estipula:
Homens são obrigados a serem fortes, potentes e viris
Daí a ênfase com que os homens pesquisados falam da altura, da força física, do tamanho do
tórax e do pênis.

Mulheres são obrigadas a serem delicadas, submissas, apagadas
O que corresponde ao modelo de mulher magra que predomina atualmente.
Uma das causas da anorexia e da bulimia, segundo especialistas, é a “mania de emagrecer”.
Por problemas psicológicos, mas também pressionadas pela sociedade, as adolescentes
passam dos frequentes regimes alimentares a uma rejeição incontrolável pela comida e a fazer
exercícios físicos de forma exagerada, tentando compensar a baixa autoestima.
 
Fonte: Shutterstock.com
 ATENÇÃO
A anorexia parece ter evoluído da condição de patologia para a categoria de “estilo de vida”.
Inúmeras páginas pessoais na internet divulgam dicas para aquelas que desejam aderir a um
estilo de vida que tem a magreza como modelo a ser seguido.
Bourdieu (1999) afirmou que:
Homens tendem a se mostrar insatisfeitos com as partes de seu corpo que consideram
“pequenas demais”.

Mulheres dirigem suas críticas às regiões de seu corpo que lhe parecem “grandes demais”.
Bourdieu acreditava que a dominação masculina, que constitui as mulheres como objetos
simbólicos, tem por efeito colocá-las em permanente estado de insegurança corporal, ou
melhor, de dependência simbólica:
Elas existem primeiro pelo, e para, o olhar dos outros, como objetos receptivos, atraentes,
disponíveis. Delas se espera que sejam “femininas”, ou seja, sorridentes, simpáticas,
atenciosas, submissas, discretas, contidas ou até mesmo apagadas. Nesse caso, ser magra
contribui para esta concepção de “ser mulher”.
 
Fonte: Shutterstock.com
Sob o olhar dos outros, as mulheres se sentem obrigadas a experimentar constantemente a
distância entre o corpo real, a que estão presas, e o corpo ideal, o qual procuram
infatigavelmente alcançar.
NO ENTANTO, PARA BOURDIEU, A ESTRUTURA IMPÕE SUAS
PRESSÕES AOS DOIS TERMOS DA RELAÇÃO DE
DOMINAÇÃO; PORTANTO, OS PRÓPRIOS DOMINANTES SÃO
“DOMINADOS POR SUA DOMINAÇÃO”, TODO HOMEM TEM
QUE FAZER UM ESFORÇO, MESMO INCONSCIENTEMENTE,
PARA ESTAR À ALTURA DE SUA IDEIA DE HOMEM.
 EXEMPLO
A preocupação com a altura, força física, potência, poder, virilidade e, particularmente, com o
tamanho do pênis, pode ser vista como exemplo dessa dominação que o dominante também
sofre.
A FEBRE DA “BELEZA-MAGREZA-
JUVENTUDE” E O CASO BRASILEIRO
Gilles Lipovetsky (2000) analisou a febre da “beleza-magreza-juventude” que exerce uma
“tirania implacável sobre a condição das mulheres”.

A OBSESSÃO DA MAGREZA, A MULTIPLICAÇÃO DOS
REGIMES E DAS ATIVIDADES DE MODELAGEM DO
CORPO [...] TESTEMUNHAM O PODER
NORMALIZADOR DOS MODELOS, UM DESEJO MAIOR
DE CONFORMIDADE ESTÉTICA QUE SE CHOCA
FRONTALMENTE COM O IDEAL INDIVIDUALISTA E
SUA EXIGÊNCIA DE PERSONALIZAÇÃO DOS
SUJEITOS.
(LIPOVETSKY, 2000)
Lipovetsky acrescentou, ainda, que, de forma contraditória, quanto mais se impõe o ideal de
autonomia individual, mais se aumenta a exigência de conformidade aos modelos sociais de
corpo.
É interessante a ideia de “contrários em equilíbrio” ou “equilíbrio de antagonismos” de
Gilberto Freyre (2002). O antropólogo dizia que no Brasil encontra-se o equilíbrio entre
realidades tradicionais e profundas:
 
Fonte:Shutterstock
Sadistas
Senhores
Doutores
Indivíduos de cultura predominantemente europeia

 
Fonte: SINTER-MG.
Masoquistas
Escravos
Analfabetos
Outros de cultura principalmente africana e ameríndia

TALVEZ EM PARTE ALGUMA [...] SE ESTEJA
VERIFICANDO COM IGUAL LIBERDADE O ENCONTRO,
A INTERCOMUNICAÇÃO E ATÉ A FUSÃO
HARMONIOSA DE TRADIÇÕES DIVERSAS, OU ANTES,
ANTAGÔNICAS, DE CULTURA, COMO NO BRASIL.
(FREYRE, 2002)
Pode-se enxergar melhor o paradoxo apontado por Lipovetsky com a ideia de “contrários em
equilíbrio” de Gilberto Freyre. No Brasil, o desenvolvimento do individualismo e a intensificação
das pressões sociais das normas do corpo caminham juntas.
 
Fonte: Shutterstock.com
De um lado, o corpo da brasileira se emancipou amplamente de suas antigas servidões –
sexuais, procriadoras ou indumentárias.

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Fonte: Shutterstock.com
De outro, encontra-se, atualmente, submetido a coerções estéticas mais regulares, mais
imperativas e mais geradoras de ansiedade do que antigamente.
 RESUMINDO
A antropologia, vista de forma aplicada, pode expor possibilidades de diversas de
entendimento e reflexão social.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. COM BASE NO CASO APRESENTADO EM NU & VESTIDO (2002), DE
GOLDENBERG, ANALISE AS ALTERNATIVAS:
É CORRETO AFIRMAR QUE A CATEGORIA DE CORPO UTILIZADO PARA A
ANÁLISE DA CULTURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA É EMPREGADA
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NO OLHAR ANTROPOLÓGICO DA AUTORA SOBRE AS RELAÇÕES
CONJUGAIS.
HOMENS E MULHERES REFLETEM, EM SUAS RESPOSTAS, ELEMENTOS
DA “DOMINAÇÃO MASCULINA” DE MANEIRA IGUAL.
HOMENS E MULHERES SÃO ATINGIDOS E BUSCAM UMA NOÇÃO DE
“CORPO PERFEITO” DE MANEIRAS DIFERENTES, MAS DIRECIONADOS
PELA “DOMINAÇÃO MASCULINA”, O QUE RESULTA EM DIFERENTES
MANEIRAS DE SEREM AFETADOS.
 
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) Somente I e II.
B) Somente I e III.
C) Apenas III.
D) Apenas II e III
E) Somente I.
2. MARQUE VERDADEIRO (V) OU FALSO (F) EM RELAÇÃO ÀS
CONSIDERAÇÕES DE GILLES LIPOVETSKY SOBRE A FEBRE DA
“BELEZA-MAGREZA-JUVENTUDE” E SUA RELAÇÃO COM O CASO
BRASILEIRO. 
 
( ) GILLES LIPOVETSKY APONTA QUE A TENDÊNCIA DE
VALORIZAÇÃO DO BINÔMIO MAGREZA-JUVENTUDE INCIDE DE
MANEIRA IMPLACÁVEL A MULHERES. 
( ) A OBSESSÃO PELA A MAGREZA É RESULTADO DO PODER
NORMALIZADOR DOS MODELOS E VINCULADO A UM DESEJO DE
CONFORMIDADE ESTÉTICA QUE VAI DE ENCONTRO COM O IDEAL
INDIVIDUALISTA E SUA EXIGÊNCIA DE PERSONALIZAÇÃO DOS
SUJEITOS. 
( ) O IDEAL DE AUTONOMIA INDIVIDUAL NÃO INCIDE SOBRE A
EXIGÊNCIA DE CONFORMIDADE AOS MODELOS SOCIAIS DE CORPO. 
 
ASSINALE A OPÇÃO CORRETA:
A) F- V - V
B) V- F- F
C) F - F- V
D) V- V- F
E) V- F - V
GABARITO
1. Com base no caso apresentado em Nu & Vestido (2002), de Goldenberg, analise as
alternativas:
É correto afirmar que a categoria de corpo utilizado para a análise da
cultura brasileira contemporânea é empregada no olhar antropológico da
autora sobre as relações conjugais.
Homens e mulheres refletem, em suas respostas, elementos da “dominação
masculina” de maneira igual.
Homens e mulheres são atingidos e buscam uma noção de “corpo perfeito”
de maneiras diferentes, mas direcionados pela “dominação masculina”, o
que resulta em diferentes maneiras de serem afetados.
 
Assinale a alternativa correta.
A alternativa "B " está correta.
 
Pierre Bourdieu (1999) apontou que as relações entre homens e mulheres estabelecem uma
dominação masculina. Mesmo que as mulheres assumam uma posição dominada nas relações
de poder, o sociólogo considera que homens também são influenciados por esses papeis
sociais. De acordo com Bourdieu, homens criticam seu o corpo as considerando algumas
partes “pequenas demais”. Já as mulheres tendem a estar insatisfeitas às regiões de seu corpo
que lhe parecem “grandes demais”. Entretanto, nessa relação de dominação, as mulheres
assumem uma função de objetos simbólicos,e a ideia de “pequeno demais” se relaciona ao
objetivo de colocá-las em permanente estado de dependência simbólica.
2. Marque verdadeiro (V) ou falso (F) em relação às considerações de Gilles Lipovetsky
sobre a febre da “beleza-magreza-juventude” e sua relação com o caso brasileiro. 
 
( ) Gilles Lipovetsky aponta que a tendência de valorização do binômio magreza-
juventude incide de maneira implacável a mulheres. 
( ) A obsessão pela a magreza é resultado do poder normalizador dos modelos e
vinculado a um desejo de conformidade estética que vai de encontro com o ideal
individualista e sua exigência de personalização dos sujeitos. 
( ) O ideal de autonomia individual não incide sobre a exigência de conformidade aos
modelos sociais de corpo. 
 
Assinale a opção correta:
A alternativa "D " está correta.
 
Lipovetsky considera que o ideal de beleza ligado à magreza-juventude atua fortemente sobre
as mulheres. E é expressão do paradoxo entre individualidade dos sujeitos e a busca por
conformação e normalização dos corpos do período contemporâneo. Essa exigência dos
modelos aumenta em relação aos papeis sociais do corpo. A partir da ideia de “contrários em
equilíbrio” ou “equilíbrio de antagonismos”, de Gilberto Freyre (2002), é possível considerar que
na cultura brasileira vivemos em um dos momentos de maior independência e liberdade
femininas, mas que também resulta em um alto grau de controle em relação ao corpo e à
aparência.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que a Antropologia pode ensinar sobre a nossa cultura?
A Antropologia é de fundamental importância para compreender a cultura em que vivemos e
outras culturas diferentes da nossa, sem preconceitos e sem julgamentos, sem a ideia de que
uma cultura é superior ou melhor do que a outra. Por meio da observação participante, do
método comparativo, de entrevistas em profundidade e de outros métodos e técnicas de
pesquisa antropológica podemos fazer um mergulho em profundidade para compreender o
mundo nativo.
A Antropologia nos permite compreender o que é etnocentrismo, a atitude na qual a visão ou
avaliação de um grupo é baseada nos valores adotados pelo seu grupo, como referência, como
padrão de valor. Trata-se de uma atitude discriminatória e preconceituosa. Não existem
grupos superiores ou inferiores, mas grupos diferentes.
A tendência do homem nas sociedades é de repudiar ou negar tudo que lhe é estranho ou não
está de acordo com seus costume e hábitos. O estudo da Antropologia ajuda a relativizar os
nossos próprios valores, criar o hábito de se colocar no lugar dos outros, de compreender de
dentro o mundo nativo. É a postura de “esquecer” a própria cultura, de perceber que ela não é
o centro do universo, de entender que cada grupo e indivíduo tem uma cultura própria,
diferente da nossa, com comportamentos, valores, crenças e linguagens diferentes.
Como escreveu Malinowski, a Antropologia é a ciência que pode propiciar uma maior
compreensão dos nativos e assim ajudar a compreender melhor a nossa própria cultura.
Neste tema, abordamos a importância de comparar, compreender, observar e relativizar os
valores da nossa cultura e aprender a respeitar as diferenças e diversidades culturais que
existem no Brasil.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. O. A influência dos pressupostos da teoria da ecologia criminal da Escola
de Chicago para a elaboração das ações de segurança pública para o Centro Histórico
de Salvador. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Direito,
Salvador, Bahia. 2013.
BERNARD, L. L. Schools of Sociology. In: The Southwestern Political and Social Science
Quarterly, v. 11, n. 2, p. 117-134. Washington University, 1930.
BOURDIEU, P. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
CHAPUT, M. Analyser la discussion politique en ligne: de l’idéal délibératif à la
reconstruction des pratiques argumentatives. In: Réseaux, n. 150, p. 83-106, 2008.
DESCOLA, P. As duas naturezas de Lévi-Strauss. In: Sociologia & Antropologia, v. 1, n. 2, p.
35-51, 2011.
FREYRE, G. Casa-grande e senzala. Rio de Janeiro: Record, 2002.
FREYRE, G. Modos de homem, modas de mulher. Rio de Janeiro: Record, 1987.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008
GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. In: A representação do eu na vida
cotidiana. 2011. p. 231-231.
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1997.
GOLDENBERG, M.; RAMOS, M. S. A civilização das formas: o corpo como valor. In: Nu &
Vestido. Rio de Janeiro: Record, 2002.
HERITAGE, J. Garfinkel and ethnomethodology. John Wiley & Sons, 2013.
LIPOVETSKY, G. A terceira mulher. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
MALINOWSKI, B. Argonautas Do Pacífico Ocidental. Um Relato do empreendimento e da
aventura aos nativos nos Arquipélagos a Nova Guiné, Melanésia. Coleção Os Pensadores.
2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
MALINOWSKI, B. Uma Teoria científica da Cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
MAUSS, M. As técnicas corporais. Sociologia e antropologia. São Paulo: EPU/EDUSP,
1974.
RODRIGUES, J. C. Tabu do Corpo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1979.
EXPLORE+
Algumas sugestões de livros:
Antropologia Cultural, de Franz Boas.
Aprender Antropologia, de Francis Laplantine.
Manual de Antropologia Cultural, de Angel Espina Barrio.
Algumas sugestões de artigos:
Ensino de antropologia no Brasil, de Miriam Pillar Grossi, Antonella Tassinari e Carmen Rial.
Mulheres e Envelhecimentos na Cultura Brasileira, de Mirian Goldenberg.
Exu do brasil, tropos de uma identidade afro-brasileira nos trópicos, de Vagner Gonçalves da
Silva.
A tese de doutorado de Douglas Mansur Silva, cujo nome é Intelectuais Portugueses Exilados
no Brasil. Formação e transferência Cultural, Século XX.
Sugestões de filmes:
O Fim e o Princípio (2006), direção de Eduardo Coutinho.
O documentário registra o cotidiano e as histórias dos moradores da pequena São João do Rio
do Peixe, na Paraíba. Através de depoimentos, o filme retrata o sentimento de uma população
humilde que esbanja alegria e esperança, além de apresentar as nuances de um nordeste de
alma densa e fecunda.
Dead Birds (1964), direção de Robert Gardner.
Documentário de 1964 sobre o povo Dani da Nova Guiné. Weyak e sua família, membros de
uma tribo, lutam para sobreviver e proteger seu território ainda não colonizado pelos europeus.
Os Mestres Loucos (1955).
Curta-metragem de 1955, dirigido por Jean Rouch, um conhecido diretor de cinema e etnólogo
francês. É uma docuficção, sua primeira etnoficção, um gênero que ele considera ter criado.
CONTEUDISTA
Mirian Goldenberg
 CURRÍCULO LATTES
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DEFINIÇÃO
Modernidade sólida e modernidade líquida, novos paradigmas de trabalho e poder, e suas consequências nas esferas macro e micro dos novos
arranjos e relações sociais.
PROPÓSITO
Refletir sobre a vida contemporânea a partir de um olhar sobre o mundo sólido e o mundo líquido para investigar os diversos aspectos da chamada
pós-modernidade.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
 
Compreender os conceitos da modernidade líquida e da modernidade sólida
MÓDULO 2
 
Reconhecer os mecanismos do processo de individualização
 
MÓDULO 3
 
Identificar influências de Zygmunt Bauman em autores brasileiros
 
 Objetivo1
 
 
 
Fonte: Shutterstock
INTRODUÇÃO
Modernidade líquida é o termo cunhado por Zygmunt Bauman no final do século XX para definir os novos arranjos socioculturais vigentes no mundo
contemporâneo. É uma época marcada, segundo o sociólogo, por fragilidade, imprevisibilidade e incerteza, em que nada é feito para durar.
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Tem sido comum se referir a Zygmunt Bauman como um teórico da pós-modernidade, entretanto o autor é crítico a tal conceito, tendo o substituído
gradualmente em sua obra pelo termo modernidade líquida. Isso pode ser explicado pelo fato de ele não compreender a contemporaneidade comouma ruptura do período moderno, apenas como uma continuação com aspectos e estruturas diferentes.
Zygmunt Bauman (1925-2017), sociólogo e filósofo polonês, professor emérito de Sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia. Bauman
se manteve próximo à ortodoxia marxista, mas se tornou crescentemente crítico ao governo comunista da Polônia. Aproximou-se, então, cada
vez mais, de uma concepção humanista do marxismo.
 
Fonte: ShutterstockZygmunt Bauman | Por: andersphoto (Fonte: Shutterstock).
O TERMO LÍQUIDO É UTILIZADO COMO UMA METÁFORA PARA
EXEMPLIFICAR UM ESTADO DE FLUIDEZ OU LIQUIDEZ, EM QUE A
FORMA DAS COISAS NÃO RESISTE COM O TEMPO.
DIFERENTEMENTE DOS SÓLIDOS, OS LÍQUIDOS NÃO MANTÊM SUA
FORMA COM FACILIDADE.
OS FLUIDOS SE MOVEM FACILMENTE. ELES FLUEM, ESCORREM, ESVAEM-SE,
RESPINGAM, TRANSBORDAM, VAZAM, INUNDAM, BORRIFAM, PINGAM; SÃO
FILTRADOS, DESTILADOS; DIFERENTEMENTE DOS SÓLIDOS, NÃO SÃO FACILMENTE
CONTIDOS (...) DO ENCONTRO COM SÓLIDOS EMERGEM INTACTOS, ENQUANTO OS
SÓLIDOS QUE ENCONTRARAM, SE PERMANECEM SÓLIDOS, SÃO ALTERADOS –
FICAM MOLHADOS OU ENCHARCADOS.
(BAUMAN, 2001, p. 8)
MODERNIDADE SÓLIDA X MODERNIDADE LÍQUIDA
Tal conceituação é fundamental para compreender a ruptura e substituição de determinados valores culturais, sobretudo na passagem para o século
XXI.
 
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A modernidade sólida caracterizava-se por princípios orientados pela ordem, em que os indivíduos se conformavam aos modelos de conduta e
experimentavam determinado grau de segurança em seus vínculos.
 
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Bauman cita o emprego e os relacionamentos contemporâneos como aspectos cada vez mais marcados pela transitoriedade e facilmente revogáveis.
PERGUNTE-SE O QUE É REALMENTE UMA FAMÍLIA HOJE EM DIA? O QUE SIGNIFICA?
É CLARO QUE HÁ CRIANÇAS, MEUS FILHOS, NOSSOS FILHOS. MAS, MESMO A
PATERNIDADE E A MATERNIDADE, O NÚCLEO DA VIDA FAMILIAR, ESTÃO
COMEÇANDO A SE DESINTEGRAR NO DIVÓRCIO... AVÓS E AVÔS SÃO INCLUÍDOS E
EXCLUÍDOS SEM MEIOS DE PARTICIPAR NAS DECISÕES DE SEUS FILHOS E FILHAS.
DO PONTO DE VISTA DE SEUS NETOS, O SIGNIFICADO DAS AVÓS E DOS AVÔS TEM
QUE SER DETERMINADO POR DECISÕES E ESCOLHAS INDIVIDUAIS.
(BAUMAN, 2001, p. 13.)
INSTITUIÇÕES ZUMBI
Citando Ulrich Beck, o autor designa tais aspectos como instituições zumbi (Bauman, 2001, p. 12), pois se configuram em uma espécie de sobrevida
na atualidade. Embora existam fisicamente, já perderam grande parte de suas funções sociais anteriores. São exemplos de tais instituições a família, a
classe e o bairro.
DERRETIMENTO DOS SÓLIDOS
Para compreender melhor o conceito de derretimento dos sólidos, vamos retomar a uma das obras mais importantes do século XIX, o Manifesto
Comunista. Uma das emblemáticas frases de Karl Marx e Friedrich Engels , utilizada para definir o que seria a transição para o estágio moderno da
sociedade, trata da dissolução das antigas e cristalizadas relações sociais.
Karl Marx (1818-1883), nascido na Prússia (atual Alemanha) investigou as relações socioeconômicas de seu tempo e formulou algumas das
ideias e teorias de maior impacto e repercussão nos séculos XIX, XX e XXI. Os mecanismos do capitalismo, a luta de classes e o papel do
Estado foram alguns dos pontos pensados e debatidos por Marx.
Friedrich Engels (1820-1895), também prussiano, foi fundador, junto a Marx, do chamado socialismo científico. Trabalhou por alguns anos na
fábrica têxtil de sua família na Inglaterra e, nesse período, conheceu e se impressionou com a pobreza dos trabalhadores. A partir de então,
começa a estudar e publicar sobre relações econômicas e sociais. Sua parceria com Karl Marx foi fundamental para o desenvolvimento da teoria
marxista.
PARA OS TEÓRICOS, NA NOVA ERA:
TUDO QUE ERA SÓLIDO E ESTÁVEL SE DESMANCHA NO AR, TUDO QUE ERA
SAGRADO É PROFANADO E OS HOMENS SÃO OBRIGADOS FINALMENTE A ENCARAR
SEM ILUSÕES SUA POSIÇÃO SOCIAL E AS SUAS RELAÇÕES COM OS OUTROS
HOMENS.
(MARX; ENGELS, 2005, p. 43.)
Inicialmente, derreter os sólidos simbolizava eliminar a antiga ordem tradicional defeituosa que constituía um passado insatisfatório, com estruturas em
que não se podia confiar. De acordo com Bauman (2001), os tempos modernos encontraram os sólidos pré-modernos em um estado avançado de
desintegração. E, um dos principais motivos da urgência em derretê-los era o desejo de inventar sólidos de solidez duradoura, nos quais seria possível
confiar e que tornariam o mundo previsível e, portanto, administrável.
Para compreender melhor a diferença entre as duas modernidades, veja o quadro a seguir:
MODERNIDADE SÓLIDA MODERNIDADE LÍQUIDA
Sociedade de produtores (papel central do trabalho) Sociedade de consumidores (papel central do consumo)
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MODERNIDADE SÓLIDA MODERNIDADE LÍQUIDA
Totalitarismo Democracia 
Vigilância panóptica Vigilância pós-panóptica 
Liberalismo Neoliberalismo
Burocracia e controle “Liberdade”
Tradição e liberdade Possibilidade de escolhas
Comunidade Individualidade
 SAIBA MAIS
Vigilância panóptica: A ideia de panóptico ficou conhecida a partir dos escritos de Michel Foucault, que se inspirou na idealização de Jeremy
Bentham de uma penitenciária ideal, onde os encarcerados podiam ser vistos sem verem o vigilante, portanto, nunca sabendo quando e se eram ou
não vigiados. O panóptico era o nome dado à estrutura arquitetônica desse projeto penitenciário.
Vigilância pós-panóptica: A vigilância pós-panóptica é conceituada por Bauman como um novo momento em que não há mais necessidade de olhar
centralizador (no papel daquele único vigilante). Não se conhece os pontos de vigilância e, aliás, deixar-se vigiar vira condição de segurança de cada
um.
Um dos principais aspectos da obra de Bauman, sobretudo em seu livro Modernidade Líquida, são suas contribuições acerca dos novos arranjos do
trabalho e as diferenciações que ocorreram na transição da modernidade sólida para a líquida.
 
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A conquista do espaço, através de máquinas mais velozes, marca o início da era moderna. Retomando o conceito de racionalidade instrumental de
Max Weber , vemos que um dos princípios que operavam na civilização moderna se centrava no modo de preencher espaços, ou seja, eliminar
espaços vazios ociosos.
Max Weber (1864-1920), jurista e economista prussiano, considerado um dos pais da Sociologia. A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo e Economia e Sociedade são suas obras mais importantes.
 SAIBA MAIS
A racionalidade instrumental é um conceito que considera a razão e o conhecimento humano como meios para se obter fins específicos. É neutra,
formal e lógico-matemática. Possui caráter objetivo.
Aliás, o limiar da era moderna vem de René Descartes, com a definição da materialidade, isto é, aquilo que é material, físico, palpável, como
espacialidade res extensa.
 COMENTÁRIO
O termo res extensa (coisa extensa, com o sentido de extensão, isso é, tamanho, volume, existência física, material) se contrapõe a res cogitans
(coisa pensante). Foi nessa suposta divisão entre corpo/físico e pensamento/abstrato que Descartes baseou sua filosofia e fundamentou grande parte
do pensamento moderno.
A MODERNIDADE CARACTERIZOU A DIFERENÇA ENTRE FORTES E
FRACOS COMO A DIFERENÇA ENTRE TERRITÓRIOS ESTRITAMENTE
CONTROLADOS (OS FORTES) E TERRITÓRIOS ABERTOS À INVASÃO
(OS FRACOS). MAS ESSA É UMA PARTE DA HISTÓRIA QUE
TERMINOU.
Zygmunt Bauman a nomeia era do hardware ou modernidade pesada (que virá a ser substituída pela era do software).
 
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A MODERNIDADE PESADA FOI A ERA DA CONQUISTA TERRITORIAL. A RIQUEZA E O
PODER ESTAVAM FIRMEMENTE ENRAIZADAS OU DEPOSITADAS DENTRO DA TERRA
– VOLUMOSOS, FORTES E INAMOVÍVEIS COMO OS LEITOS DE MINÉRIO DE FERRO E
DE CARVÃO. OS IMPÉRIOS SE ESPALHAVAM, PREENCHENDO TODAS AS FISSURAS
DO GLOBO: APENAS OUTROS IMPÉRIOS DE FORÇA IGUAL OU SUPERIOR PUNHAM
LIMITES À SUA EXPANSÃO. O QUE QUER QUE FICASSE ENTRE OS POSTOS
AVANÇADOS DOS DOMÍNIOS IMPERIAIS EM COMPETIÇÃO ERA VISTO COMO TERRADE NINGUÉM, SEM DONO E, PORTANTO, COMO UM ESPAÇO VAZIO – E O ESPAÇO
VAZIO ERA UM DESAFIO À AÇÃO E UMA CENSURA À PREGUIÇA.
(BAUMAN, 2001, p. 132)
Os exploradores foram os heróis da modernidade. A riqueza e o poder eram conceitos geográficos ou propriedades territoriais. Assim, as lógicas de
poder e de controle passam a se basear na separação entre dentro e fora e numa defesa constante dessa separação. A todo momento, busca-se
definir e apontar o que é dentro e o que é fora, o que é certo e errado, central e periférico, incluído e excluído, visível e invisível etc. A união da lógica
do poder com a lógica do controle envolveu a lógica do tamanho.
O PODERIO BÉLICO, ECONÔMICO E POLÍTICO DITAVA O CONTROLE
DAS RELAÇÕES, MAS AINDA COM UM REFERENCIAL À EXPANSÃO
TERRITORIAL, CONQUISTA DE TERRAS E DOMÍNIO DE SEUS
RECURSOS FÍSICOS SOBRETUDO.
 
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Na versão pesada da modernidade, o progresso significava tamanho crescente e expansão espacial. (BAUMAN, 2001, p.133)
A domesticação e a colonização do espaço exigiam um tempo rígido,
uniforme e inflexível. Durante este processo, o tempo era rotinizado e,
acima de tudo, deveria encolher. O tempo medido pelo modelo do espaço
podia ser fatiado em medidas semelhantes e arranjado em sequências
monótonas e inalteráveis.
 
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A MODERNIDADE PESADA TEVE COMO MODELO A FÁBRICA
FORDISTA, QUE PROMOVEU O ENCONTRO DO CAPITAL COM O
TRABALHO. AS FÁBRICAS ILUSTRAVAM AQUELA REALIDADE COM
AS SUAS MAQUINARIAS PESADAS ATADAS AO SOLO E O TEMPO
CONGELADO DA ROTINA, COM SUAS IRRUPÇÕES DE GREVES E
CONFRONTOS.
 VOCÊ SABIA
O fordismo foi o sistema de produção criado por Henry Ford para gerenciar a montagem dos automóveis de sua fábrica. Uma de suas características
mais marcantes é a linha de produção, em que um operário realiza exaustivamente uma única tarefa – movimento brilhantemente captado em seu
mecanismo e suas consequências por Charles Chaplin em seu filme Tempos Modernos.
Para exemplificar o que mudou na passagem da modernidade hardware para a software, vejamos a frase do economista da Sorbonne Daniel Cohen: 
QUEM COMEÇA UMA CARREIRA NA MICROSOFT NÃO TEM A MÍNIMA IDEIA DE ONDE
ELA TERMINARÁ. QUEM COMEÇAVA NA FORD OU NA RENAULT PODIA ESTAR QUASE
CERTO DE TERMINAR NO MESMO LUGAR.
(Cohen apud BAUMAN, 2001, p.135).
No universo software o espaço pode ser atravessado em tempo nenhum, pois cancela-se a diferença entre longe e aqui. O espaço não impõe mais
limites à ação e o seu efeito estratégico quase não conta, já que o tempo não confere valor ao espaço. O tempo sem substância do mundo software é
a consequência lógica da irrelevância do espaço. A modernidade leve (soft) pretende atingir a leveza e a infinita volatilidade e flexibilidade da
capacidade humana.
Já na era hardware da modernidade, era da racionalidade instrumental, o tempo precisava ser administrado prudentemente para que o uso do espaço
pudesse ser maximizado.
 
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O trabalho hardware necessitava ser supervisionado e administrado no seu processo (por isso o empenho dos empregadores em vigiar o processo de
trabalho para controlar os trabalhadores).
 
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A era do software não mais amarra o capital. Ela descorporifica o trabalho anunciando a ausência de peso do capital, rompendo a dependência mútua
trabalhador-capital.
O CAPITAL HOJE PODE VIAJAR RÁPIDO E LEVE; E OS
CAPITALISTAS TENDEM A SE LIVRAR DA ONEROSA TAREFA DE
ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO DE UMA EQUIPE GRANDE.
O capitalismo software vai unir as estratégias de redução às de fusão. Ambas somadas vão oferecer poder financeiro e espaço para mover-se
rapidamente.
 
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Se a ciência da administração do capitalismo pesado se centrava em conservar a mão de obra e forçá-la ou suborná-la a permanecer de prontidão e
trabalhar segundo os prazos, a arte da administração na era do capitalismo leve consiste em manter afastada a mão de obra humana. (BAUMAN,
2001, p. 141)
As características vão além do mundo do trabalho. A instantaneidade da modernidade leve e líquida reside na anulação da resistência do espaço e na
liquefação da materialidade dos objetos.
 
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O mundo do hardware é o do longo prazo e dos objetos duráveis.
 
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O mundo do software é o do curto prazo e dos objetos perecíveis, transitórios.
A modernidade líquida também é marcada pela obsolescência programada, em que a infinidade de possibilidades esvaziou a infinitude de tempo.
 VOCÊ SABIA
A obsolescência programada é uma forma de manter o consumo ininterrupto. Atribui-se sua ideia à presidência da General Motors (GM) ainda no início
do século XX. Ela consiste em fazer com que o produto seja constantemente considerado ultrapassado, de modo que o consumidor sempre buscará
acessórios ou substituições melhores. Outra faceta da obsolescência programada é a deliberação quanto à diminuição da vida útil dos produtos, de
forma que, de tempos em tempos, eles deixem de funcionar e tenham de ser comprados novamente.
A nova instantaneidade do tempo muda radicalmente as modalidades do convívio humano. Trata-se de uma cultura indiferente à eternidade e que
evita a durabilidade. Os homens e as mulheres de hoje se distinguem de seus pais, vivem num presente que quer esquecer o passado e não parecem
acreditar no futuro.
DA FÁBRICA FORDISTA À RACIONALIDADE NÔMADE
Neste vídeo, iremos ver como ocorreu essa mudança em relação ao trabalho
Como vimos no vídeo, a ideia de progresso sofreu rachaduras na modernidade líquida, mas não desapareceu, só se tornou menos familiar. O
progresso segue hoje outros parâmetros, foi individualizado, desregulado e privatizado: a questão do aperfeiçoamento não é mais ideal coletivo, mas
individual.
SÃO OS HOMENS E MULHERES INDIVIDUAIS QUE A SUAS PRÓPRIAS CUSTAS
DEVERÃO USAR, INDIVIDUALMENTE, SEU PRÓPRIO JUÍZO, RECURSOS E INDÚSTRIA
PARA ELEVAR-SE A UMA CONDIÇÃO MAIS SATISFATÓRIA.
(BAUMAN, 2001, p.155)
Na modernidade líquida, para a maioria das pessoas, o presente é, na melhor das hipóteses, instável. Aprendemos à nossa própria custa, que os
planos, mesmo os mais cuidadosamente elaborados, têm a desagradável tendência de produzirem resultados distantes do esperado. No campo da
ciência, saímos da crença determinística de que Deus não joga dados e mergulhamos na ciência atual que pretende pensar uma ordem a partir do
acaso, do caos.
 
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Na modernidade sólida, uma das virtudes que fizeram do trabalho um valor foi a sua capacidade de dar forma ao informe. O trabalho era atividade em
que se supunha que a humanidade como um todo estava envolvida, um esforço coletivo de que cada membro da espécie humana tinha que participar.
Junto a ele, surgiu a ambição de aparelhar e colonizar o futuro.
 
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A modernidade líquida é a derrota da razão pura em nome de uma racionalidade nômade, labiríntica. Nesse mundo labiríntico, o trabalho se divide em
episódios isolados como o resto da vida humana. Ele foi retirado do universo da construção da ordem e do controle do futuro e foi lançado na direção
do reino do jogo.
O QUE CONTA AGORA SÃO AS ESTRATÉGIAS, OS EFEITOS
IMEDIATOS DE CADA MOVIMENTO. CADA OBSTÁCULO DEVE SER
NEGOCIADO QUANDO CHEGAR A SUA VEZ. OS CAMINHOS DA VIDA
NÃO SÃO MAIS RETAS A SEREM TRILHADAS.
O trabalho, conforme Bauman (2001), perdeu a sua missão universalmente partilhada, não nos fornece mais um eixo seguro com identidades e
projetos de vida. Tornou-se uma atividade estética, que visa a atender, não tanto à vocação ética do criador e produtor, mas as necessidades e desejos
do consumidor.
A VERSÃO LIQUEFEITA DO TRABALHO
Na modernidade leve, a do capitalismo flutuante, ocorre um enfraquecimento dos laços que uniam capital e trabalho. O capital rompeu sua
dependência para com o trabalho. Fez-se extraterritorial, leve e desembaraçado de um modo sem precedentes.
Nos dias atuais, a política é um cabo de guerra numa batalha em que os governos e as instituições locais tendem aperder. O capital força o
desmantelamento de leis e estatutos restritivos às empresas, força a baixa de impostos, impondo menos regras e acima de tudo um mercado de
trabalho flexível.
TENDO SE LIVRADO DO ENTULHO DO MAQUINÁRIO PESADO E DAS ENORMES
EQUIPES DE FÁBRICA, O CAPITAL VIAJA LEVE, APENAS COM A BAGAGEM DE MÃO,
PASTA, COMPUTADOR PORTÁTIL E TELEFONE CELULAR.
(BAUMAN, 2001, p. 173)
O capitalismo se tornou um mestre nas habilidades de fuga, nas estratégias de desvios e numa nova política de desengajamento e
descomprometimento com o social. Além disso, como aponta o sociólogo polonês, as principais fontes de lucro, “dos grandes lucros em
especial e, portanto, do capital de amanhã, tendem a ser, numa escala sempre em expansão, ideias e não objetos materiais” (BAUMAN, 2001,
p. 173).
OS EMPRESÁRIOS, NA MODERNIDADE LÍQUIDA, CONSIDERARAM A
INSTABILIDADE COMO UM IMPERATIVO, ACEITAM A
DESORIENTAÇÃO, TOMAM AS NOVIDADES COMO BOAS E O
PRECÁRIO COMO UM VALOR: O HOMEM DO CAPITAL QUER VIVER
FORA DO ESPAÇO E DO TEMPO.
Há, na modernidade leve, algumas mudanças importantes:
 
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Na administração das empresas, as pessoas passam a ser remotamente controladas.
 
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O acesso à informação converteu-se num direito humano.
 
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A liderança foi substituída pelo espetáculo.
Cultura do entretenimento
 
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O bem-estar na população passou a ser medido pelo acesso às tecnologias da comunicação.
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A vida útil das informações tornou-se muito reduzida.
O CAPITALISMO SEM O ADIAMENTO DA SATISFAÇÃO
Bauman (2001) retorna a Max Weber para pensar um adiamento da satisfação. Essa procrastinação teve um papel importante na acumulação
do capital e no enraizamento da ética do trabalho. De certo modo, o ainda não caracteriza a vida do homem moderno. É nítido como o autor
relê essa questão do adiamento a partir da Psicanálise, em que libido e Tânatos competem entre si em cada ato de adiamento. Cada ato de
adiamento é a vitória da libido sobre Tânatos.
Libido significa em latim vontade, desejo. É postulada por Freud como substrato da pulsão sexual quanto ao objeto, quanto ao alvo e
quanto à fonte de excitações.
Tânatos é o termo grego que significa morte. Foi utilizado por Freud para designar as pulsões de morte, por simetria com Eros, pulsão
de vida. Eros e Tânatos constituem um dos dualismos pulsionais na Psicanálise.
O DESEJO ESTIMULA O ESFORÇO PELA ESPERANÇA DE SATISFAÇÃO, MAS O
ESTÍMULO RETÉM SUA FORÇA ENQUANTO A SATISFAÇÃO DESEJADA PERMANECER
UMA ESPERANÇA. TODO O PODER MOTIVADOR DO DESEJO É INVESTIDO EM SUA
REALIZAÇÃO. NO FIM, PARA PERMANECER VIVO, O DESEJO TEM QUE DESEJAR
APENAS SUA PRÓPRIA SOBREVIVÊNCIA.
(BAUMAN, 2001, p.181)
A precariedade é marca da modernidade líquida. As palavras que mais nos definem no capitalismo atual são: falta de garantias, incerteza e
insegurança.
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O CAPITALISMO LEVE É O MUNDO DO DESEMPREGO ESTRUTURAL,
NELE NINGUÉM PODE SE SENTIR VERDADEIRAMENTE SEGURO. NA
FALTA TOTAL DE SEGURANÇA NÃO HÁ MAIS POR QUE ADIAR A
SATISFAÇÃO IMEDIATA, QUE PASSA A PARECER UMA ESTRATÉGIA
RAZOÁVEL. O QUE QUER QUE A VIDA OFEREÇA É PARA AQUI E
AGORA. O ADIAMENTO DA SATISFAÇÃO PERDEU O SEU FASCÍNIO.
No capitalismo leve, modas vão e vêm com velocidades cada vez maiores. O que hoje é chique amanhã pode ser ridículo. De certo modo,
isso explica o cinismo que marca os homens e mulheres de nosso tempo. Os mecânicos atualmente não consertam, jogam peças fora.
Segundo Bauman (2001), na mecânica ou na vida em geral, as peças se tornaram substituíveis. No capitalismo leve tudo pode ser jogado
fora e substituído por outro acessório. Tal é a base do cinismo da vida software.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. "OS MEDOS, ANSIEDADES E ANGÚSTIAS CONTEMPORÂNEOS SÃO FEITOS PARA SEREM SOFRIDOS EM
SOLIDÃO. NÃO SE SOMAM, NÃO SE ACUMULAM NUMA CAUSA COMUM E NÃO SÃO ÓBVIOS”. QUAL DOS
FATORES ABAIXO NÃO É CITADO POR ZYGMUNT BAUMAN COMO CONSTITUINTE DA ANGÚSTIA
CONTEMPORÂNEA:
A) Perda de padrões, códigos e regras para orientar o comportamento na contemporaneidade.
B) Infelicidade dos consumidores que advém do excesso e não da falta de escolha.
C) Perda da autonomia com estabilidade das divisões de classes.
D) Individualismo das problemáticas e projetos.
2. UMA DAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA MODERNIDADE SÓLIDA É QUE SEUS HORIZONTES SE
CONSTITUEM EM UM PROJETO DE LONGO PRAZO. TAL MODERNIDADE CARACTERIZAVA-SE PELA
TERRITORIALIDADE E PELO PAPEL CENTRAL DO TRABALHO. AS ALTERNATIVAS ABAIXO REPRESENTAM
CARACTERÍSTICAS DA MODERNIDADE SÓLIDA, EXCETO:
A) Limitação da liberdade, vida composta através da rotina e esforço dirigido às demandas da comunidade.
B) Engajamento e dependência entre capital e trabalho.
C) Concepção de trabalho como fundamento ético e sua ausência como anormalidade.
D) A crença no progresso como principal meta, que deve ser alcançado através do aperfeiçoamento individual.
GABARITO
1. "Os medos, ansiedades e angústias contemporâneos são feitos para serem sofridos em solidão. Não se somam, não se acumulam numa
causa comum e não são óbvios”. Qual dos fatores abaixo não é citado por Zygmunt Bauman como constituinte da angústia contemporânea:
A alternativa "C " está correta.
 
A modernidade líquida atribuiu ao ser humano uma maior capacidade de autonomia e de liberdade, mesmo que esta seja uma liberdade
questionável. Já as divisões de classes foram outro fator que se tornou fluido e instável em relação ao seu precedente, a modernidade
sólida.
2. Uma das principais características da modernidade sólida é que seus horizontes se constituem em um projeto de longo prazo. Tal
modernidade caracterizava-se pela territorialidade e pelo papel central do trabalho. As alternativas abaixo representam características da
modernidade sólida, exceto:
A alternativa "D " está correta.
 
O ideal de progresso constitui, de fato, um dos pressupostos da modernidade sólida. Entretanto, ele surge como parte da agenda coletiva de
responsabilidades e não individual. A integridade da comunidade era um pressuposto importante na modernidade sólida. Já os ideais de
aperfeiçoamento individuais e de extrema competitividade são reflexos da modernidade líquida.
 Objetivo2
MUNDO LÍQUIDO
Uma vez derretido o mundo sólido, veio à tona a impossibilidade de
controlá-lo ou de restituí-lo ao seu estado anterior. Os fluidos
mostraram sua natureza incontrolável, dando vez a um campo aberto
imprevisível e permeado por incertezas. Velocidade, fuga e
passividade configuram as técnicas que permitem a manutenção das
relações de poder, pois a ausência de solidez não demonstra uma
perda dessas relações, apenas significa uma reformulação em como
se opera na sociedade.
As novas tecnologias de controle são cada vez mais móveis e
transitórias. Para que o poder tenha liberdade de fluir, o mundo deve
estar livre de cercas e fronteiras. A crescente flexibilização,
liberalização e descontrole do mercado financeiro, imobiliário e de
trabalho permite o desengajamento do sistema e das revoluções
sistêmicas. O projeto revolucionário facilmente perde sua força como
massa concisa devido a esse caráter desterritorializado. Bauman
(2001, p. 154) cita a afirmação de Guy Debord de que o centro do
controle tornou-se oculto e nunca mais será ocupado por um líder
conhecido ou uma ideologia clara. Os mecanismos de poder,
portanto, encontram-se em redes além do alcance.
SE O TEMPO DAS REVOLUÇÕES SISTÊMICAS PASSOU, É PORQUE NÃO HÁ
EDIFÍCIOS QUE ALOJEM AS MESAS DE CONTROLE DO SISTEMA, QUE PODERIAM
SER ATACADOS E CAPTURADOS PELOS REVOLUCIONÁRIOS.
(BAUMAN, 2001, p. 12)
LIBERDADE:
LIBERTAR-
SE X
SENTIR-SE
LIVRE
A desterritorialização é
uma das principais
características que
permeia o século XXI.
Para Zygmunt Bauman,
a tomada do poder
como extraterritorial
tornou o tempo como a
única dependência
humana.
Perda da
importância do
território, da
materialidade, da
realidadefísica,
corporal, em
diversos níveis
sociais:
profissional,
econômico,
político,
psíquico/individual
etc. 
Hoje, as relações
humanas são
facilmente mediadas
pelo uso de celulares,
computadores e
televisões. Fixar-se ao
solo não é mais tão
importante. Através da
internet, por exemplo,
infinitos mundos
podem ser alcançados
─ e abandonados ─
imediatamente, mesmo
que não
presencialmente.
Fonte: Shutterstock
Nesse
sentido, pode-
se dizer que
as reflexões
acerca da
liberdade
também
configuram
um dos
principais
aspectos da
obra de
Bauman. O
capítulo
introdutório
de
Modernidade
Líquida é
intitulado
Emancipação.
Nele, o autor
retorna à obra
de Herbert
Marcuse para
analisar a
compreensão
de que a
sociedade
deveria
emancipar-se,
buscar uma
libertação dos
totalitarismos.
Entretanto, à
medida que a
sociedade
capitalista
cumpre o que
promete, mais
as pessoas se
acomodam e
menos se
dispõem a
agir.
Há uma
grande
Fonte: Shutte
Libertar-se
Refere-se, lite
alguma corren
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diferença,
porém, entre:
O SER HUMANO, PORTANTO, TEM UMA TRAJETÓRIA MARCADA
POR RENÚNCIAS FORÇADAS EM NOME DE UM BEM MAIOR, A VIDA
EM SOCIEDADE. 
E, QUANTO MAIS SE ABRE MÃO DE UM BEM MAIOR, MAIOR É A
ANGÚSTIA DO SER.
A mensagem freudiana, de acordo com Bauman (1998), é de que se
ganha alguma coisa, mas habitualmente perde-se outra. Quanto mais
ordem, portanto, maior é o mal-estar na modernidade sólida.
Atualmente, o cenário é o da desregulamentação. No final do século
XX, para explicar as mudanças sociais decorridas entre as décadas
que permearam o século, Bauman lançou a obra O Mal-Estar na Pós-
Modernidade. Segundo o autor, se o mal-estar moderno provinha da
rigidez, o mal-estar pós-moderno surge justamente na inconsistência.
ENGANOU-SE QUEM IMAGINOU QUE A REMOÇÃO DAS CELAS
SERIA O SUFICIENTE PARA ELIMINAR OS PROBLEMAS. A
LIBERDADE TAMBÉM CARREGA O CAOS.
Sendo assim, para Bauman, os projetos de vida individuais não
encontram terreno estável na contemporaneidade.
O mundo pós-
moderno
prepara a vida
para uma
condição de
incerteza,
homens e
mulheres
contemporâneos
encontram-se
em uma vivência
permanente de
um “problema
de identidade
não resolvido”
(BAUMAN, 2001,
p.38). Há uma
crise que
impossibilita a
construção de
uma identidade
sólida que
persista pela
vida, o que
ocasiona
angústia e uma
Fonte: Shutterstock
Outro valor que
não se
manteve inerte
no
derretimento
contemporâneo
foi o da
comunidade.
Fonte: Shutterstock
Na modernidade sólida, comunidade era um v
importância. Viajantes, nômades, eram malvis
cidadania andava de mãos dadas com o ende
incerteza
irredutível.
Ainda sobre a
liberdade e a
ilusão
provocada por
tal conceito no
mundo
contemporâneo,
os padrões de
comportamento
não são mais
dados e o
indivíduo não é
guiado apenas
pela imaginação
para construir
sua identidade e
estilo de vida a
partir do zero. A
construção
individual seria
subdeterminada,
passando por
certos grupos
de referência. A
angústia
contemporânea,
portanto, parte
da ausência de
perspectivas
dadas e de não
conseguir se
estabelecer em
uma sociedade
de incertezas.
 VOCÊ SABIA
Bauman usa o termo cruzadas, remetendo a movimentos armados que buscavam levar a fé e a dominação territorial cristã para a Terra
Santa. Apesar de não serem militares, essas novas cruzadas pensadas por Bauman trazem a ideia de movimento de expansão de apenas um
tipo cultural. 
CONSUMO
O mundo líquido é um modo de vida compulsivo, obsessivo, contínuo,
irrefreável e sempre insaciável. Ser moderno traz consigo a
impossibilidade de parar ou ficar parado. Para Max Weber, a
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impossibilidade de satisfação é que move o homem, e o nosso
horizonte de satisfação se moveria rápido demais.
Que não se consegue refrear ou reprimir.
Fonte: Dicionário online Português.
O CONSUMO EXCESSIVO TEM COMO UM DOS PRESSUPOSTOS
FABRICAR UMA SOCIEDADE ETERNAMENTE DESEJANTE, QUE
PERSEGUE SEMPRE NOVOS ANSEIOS.
O indivíduo,
entretanto, é
capturado por um
engodo. Isso
porque colapsa a
antiga ilusão
moderna de que
haveria um fim, um
destino alcançável
no caminho que
percorremos, como
um estado de
perfeição a ser
atingido amanhã,
no próximo ano ou,
conforme
acreditava-se no
século XX, no
próximo milênio.
Além da
desregulamentação,
outra característica
da modernidade
líquida é a
privatização das
tarefas
modernizantes. As
atividades
tornaram-se cada
vez mais
fragmentadas e
administradas pelos
próprios indivíduos.
É nesse contexto
também que ocorre
a ênfase na
autoafirmação do
Fonte: Shutterstock
Consumo
É uma condição e um aspecto irremovível, presente em todos os
momentos históricos do ser humano e que tem raízes antigas em
diferentes formas de vida.
Fonte: Shutterstock
Consumismo
Caracteriza-se como um atributo da sociedade líquida e su
o consumo assume o papel-chave que na sociedade de pr
era exercido pelo trabalho.
indivíduo, e não na
sociedade como um
todo.
Bauman estabelece
como um dos
principais aspectos
de sua obra Vida
para Consumo
(2008) a diferença
entre consumismo
e consumo.
UM DOS PRESSUPOSTOS DA SOCIEDADE DE CONSUMO É QUE O
SER HUMANO PASSA A VENDER A SI MESMO COMO UM PRODUTO
A SER CONSUMIDO.
As pessoas são os próprios
produtos que devem ser
colocados no mercado e,
consequentemente, promovidos. A
preocupação estética na
sociedade líquida surge como
resultado dessa demanda e
preocupação existencial: por medo
de tornarem-se obsoletos, os
indivíduos sacrificam-se em rituais
de beleza para permanecerem no
mercado, sempre prontos para
serem consumidos.
Fonte: Shutterstock
Ao longo de sua obra, Zygmunt
Bauman faz o uso do termo
cunhado por Norbert Elias
Sociedade de indivíduos para
descrever a essência do arranjo
social no qual a individualidade
demonstra-se um imperativo
universal e a única estratégia de
vida. Segundo o autor, a marca
registrada da formação
contemporânea do ser é a
demanda da individualidade como
autenticidade e da obtenção de
destaque. Entretanto, tal
perspectiva está intrinsecamente
ligada aos ideais de consumo,
influenciado pelas propagandas e
por uma espécie de compra de
identidade.
SENDO ESSE O CASO, A INDIVIDUALIDADE É E DEVERÁ CONTINUAR SENDO POR
MUITO TEMPO UM PRIVILÉGIO. UM PRIVILÉGIO DENTRO DE CADA UMA DAS
SOCIEDADES, QUASE AUTÔNOMAS, EM QUE O JOGO DA AUTOAFIRMAÇÃO É
LEVADO À FRENTE POR MEIO DA SEPARAÇÃO ENTRE OS CONSUMIDORES
EMANCIPADOS, PLENAMENTE DESENVOLVIDOS — LUTANDO PARA COMPOR E
RECOMPOR SUAS INDIVIDUALIDADES SINGULARES A PARTIR DAS EDIÇÕES
LIMITADAS DOS ÚLTIMOS MODELOS DA ALTA-COSTURA —, E A MASSA SEM ROSTO
DOS QUE ESTÃO PRESOS E FIXOS A UMA IDENTIDADE SEM ESCOLHA, ATRIBUÍDA
OU IMPOSTA, SEM PERGUNTAS, MAS EM TODO CASO SUPERDETERMINADA.
(BAUMAN, 2007, P.39)
Em relação à venda de si mesmo como produto, Bauman (2008) cita
Eugène Enriquez, e o esfacelamento dos limites entre o público e o
privado, sobretudo em uma sociedade mediada pela informação a
todo o momento na internet. Números de likes, de views, de
compartilhamentos, amigos, fãs viram uma nova métrica e um novo
valor nesse consumo de indivíduos por indivíduos.
QUANTO MAIOR A EXPOSIÇÃO, MELHOR PARA O DESTAQUE DO
INDIVÍDUO E SUA VENDA COMO MERCADORIA A SER CONSUMIDA
NAS REDES.
Conforme Enriquez (2004 apud BAUMAN, 2008), aqueles que zelam
por sua invisibilidade tendem a ser rejeitados, colocados de lado ou
considerados suspeitos de um crime. A nudez física, social e psíquica
está na ordem do dia.
AMOR LÍQUIDO
 
Fonte: Shutterstock
Todas essas questões fazem parte
de como grande parte das relações
são encaradas na época da
modernidade líquida que Bauman
chama de amor líquido. Vamos
conhecer um pouco mais sobre
esse termo.
O conceito de amor líquido é o
grande norteador dessa nova face
da modernidade. Na
contemporaneidade, os
relacionamentos configuram-se por
sua ambivalência, podendo ser uma
bênção ou umpesadelo, devido ao
comprometimento que exigem em
um mundo de temporalidades
efêmeras. Bauman dedicou uma
obra inteira ao tema, denominada
Amor Líquido: Sobre a Fragilidade
dos Laços Humanos. Nela, discorre
sobre como se caracteriza esse
aspecto tão importante da vida
humana na sociedade fluida.
 
Fonte: Shutterstock
Les Amants. René Magritte, 1928.
PARA O SOCIÓLOGO, NA SIMBOLOGIA CONTEMPORÂNEA, AS
PESSOAS NÃO SE RELACIONAM MAIS: ELAS SE CONECTAM.
Surgem cada vez mais o que ele chama de relacionamentos de bolso,
nos quais o indivíduo pode dispor do outro sempre que necessário e
depois tornar a guardá-lo em sua lista de contatos. Os
relacionamentos abertos são outro aspecto do amor líquido, também
cada vez mais comuns. Casais de longo prazo permitem a quebra do
contrato conjunto de fidelidade para a experimentação extraconjugal.
O compromisso em longo prazo é considerado como um esforço e
uma armadilha, pois ao se comprometer é necessário levar em conta
que possibilidades românticas talvez mais satisfatórias e completas
podem estar sendo desconsideradas.
NUMA VIDA GUIADA PELO PRECEITO DE FLEXIBILIDADE, AS ESTRATÉGIAS E
PLANOS DE VIDA SÓ PODEM SER DE CURTO PRAZO.
(BAUMAN, 2001, p. 158)
As relações virtuais, portanto,
rebatizadas de conexões, possuem
a vantagem de serem facilmente
deletadas. A definição romântica
de até que a morte nos separe está
fora de moda; e, ao invés de haver
mais pessoas atingindo os
elevados padrões do amor, esses
Desejo
É a vontade de consumir o objeto
Amor
É a vontade de cuidar e preservar
o objeto.
Na concepção de Bauman (2011),
ambos se encontram em campos
opostos, considerando-se o amor
como algo projetado para a
eternidade, enquanto o desejo
acaba com sua satisfação.
Bauman utiliza como exemplo as
conclusões do psicoterapeuta
padrões foram rebaixados. Se
surgem problemas em um
relacionamento, frequentemente
acredita-se que o próximo
relacionamento será uma
experiência melhor que a anterior.
Há, também, a grande distinção
entre o desejo e o amor, sobretudo
em uma sociedade que estimula a
todo custo o desejo.
Phillip Hodson acerca da cultura
da gratificação instantânea para
definir os aspectos do desejo e
satisfação. Segundo ele, na
contemporaneidade, as pessoas
podem eletronicamente se
relacionar em uma só noite com
mais gente do que seus pais
teriam se relacionado por toda
vida. Entretanto, a satisfação
obtida diminui a cada nova dose
da droga, pois ganha-se em
quantidade e perde-se em
qualidade. O sociólogo alemão
Georg Simmel já teorizava que a
medida de valor das coisas
constitui-se a partir do sacrifício
necessário para obtê-las.
Georg Simmel (1858-1918) foi
um dos pais da Sociologia e
precursor de muitos dos
temas que seriam tratados
por essa ciência mais tarde,
tais como a relação
indivíduo-sociedade, relações
de trabalho e econômicas,
conflitos e cooperação,
subordinação, urbanidade e
muitos outros. 
UM NÚMERO MAIOR DE PESSOAS PODE FAZER SEXO COM MAIOR FREQUÊNCIA.
PORÉM, PARALELAMENTE A ISSO, CRESCE O NÚMERO DOS QUE VIVEM SOZINHOS,
SE SENTEM SOLITÁRIOS E SOFREM DE AGUDOS SENTIMENTOS DE ABANDONO.
(BAUMAN, 2011).
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NESTE VÍDEO, IREMOS VER COMO OS RELACIONAMENTOS
MUDARAM COM A MODERNIDADE LÍQUIDA.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. BAUMAN, CITANDO ARTHUR SCHOPENHAUER, TRAZ CONTRIBUIÇÕES ACERCA DA PERCEPÇÃO DA
LIBERDADE HUMANA E DA CAPACIDADE DE ATINGIR O EQUILÍBRIO DE ACORDO COM OS DESEJOS, A
IMAGINAÇÃO E A CAPACIDADE DE AGIR. SEGUNDO O AUTOR, O EQUILÍBRIO É ATINGIDO NA MEDIDA EM QUE A
IMAGINAÇÃO NÃO VAI MAIS LONGE QUE NOSSOS DESEJOS E O EQUILÍBRIO PODE SER ALCANÇADO DE DUAS
MANEIRAS DIFERENTES: OU REDUZINDO OS DESEJOS E/OU A IMAGINAÇÃO, OU AMPLIANDO NOSSA
CAPACIDADE DE AÇÃO. DE ACORDO COM O QUE VOCÊ APRENDEU SOBRE O PENSAMENTO DE BAUMAN SOBRE
A LIBERDADE, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA:
A) Libertar-se e sentir-se livre constituem aspectos diferentes da liberdade. Enquanto o primeiro diz respeito a remover alguma amarra
social ou impedimento, o segundo está relacionado a não sentir nenhuma obstrução aparente que impeça a ação.
B) A liberdade não pode ser ganha contra a sociedade.
C) A crença de que a liberdade é uma maldição designa que largar o homem com seus próprios recursos pode provocar um medo
paralisante devido aos riscos do fracasso e da falta de limites.
D) Dentre as demandas do século XXI, o indivíduo tem como desafio a libertação das amarras sociais, marcada pela construção de uma
identidade coletivizada.
2. EM SUA OBRA AMOR LÍQUIDO , BAUMAN DISSERTA A RESPEITO DOS RELACIONAMENTOS
CONTEMPORÂNEOS E SUAS AMBIVALÊNCIAS NO MUNDO LÍQUIDO MODERNO. O AUTOR REBATIZA AS
RELAÇÕES DE CONEXÕES E APONTA AS DIFERENTES POSSIBILIDADES DO CONTATO HUMANO NA ATUALIDADE.
ANALISE AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR E ASSINALE A ALTERNATIVA COM AS OPÇÕES CORRETAS: 
I. O QUE SE GANHA EM QUANTIDADE NOS RELACIONAMENTOS, PERDE-SE EM QUALIDADE E PROFUNDIDADE. 
II. A FACILIDADE DE ROMPIMENTO A QUALQUER HORA REDUZ OS RISCOS EMOCIONAIS DO SUJEITO QUE SE VÊ
EM UMA PERSPECTIVA DE LIBERDADE, LIVRE DAS ANGÚSTIAS DOS RELACIONAMENTOS SÓLIDOS. 
III. AS EXPERIÊNCIAS ÀS QUAIS O SER HUMANO SE REFERE COMO AMOR SE EXPANDIRAM MUITO.
ENTRETANTO, AO INVÉS DE HAVER MAIS PESSOAS QUE ATINGEM DE FATO OS ELEVADOS PADRÕES DO AMOR,
ESSES PADRÕES FORAM BAIXADOS. 
IV. DEVIDO ÀS PERSPECTIVAS MERCADOLÓGICAS DOS RELACIONAMENTOS E DA AMPLITUDE NAS OPÇÕES DE
VÍNCULO, A CONTEMPORANEIDADE TROUXE UMA MAIOR POSSIBILIDADE DE QUALIDADE ÀS RELAÇÕES. 
V. EMBORA O AMOR LÍQUIDO ESTEJA RELACIONADO À SUA EFEMERIDADE, AINDA ASSIM DISTINGUE-SE DO
DESEJO NO QUE DIZ RESPEITO AOS IDEAIS DE SATISFAÇÃO. 
A) I, II, IV e V
B) I e V
C) I, II, III e V
D) I, III e V
GABARITO
1. Bauman, citando Arthur Schopenhauer, traz contribuições acerca da percepção da liberdade humana e da capacidade de atingir o
equilíbrio de acordo com os desejos, a imaginação e a capacidade de agir. Segundo o autor, o equilíbrio é atingido na medida em que a
imaginação não vai mais longe que nossos desejos e o equilíbrio pode ser alcançado de duas maneiras diferentes: ou reduzindo os desejos
e/ou a imaginação, ou ampliando nossa capacidade de ação. De acordo com o que você aprendeu sobre o pensamento de Bauman sobre a
liberdade, assinale a alternativa incorreta:
A alternativa "D " está correta.
 
Embora Bauman defenda que a liberdade na modernidade hardware fosse um ideal, ele acredita que essa agenda se esgotou. Segundo o
autor, a liberdade que se pode alcançar já foi alcançada. O problema hoje é sentir-se de fato livre e satisfeito com essa situação. Não saber
como lidar com a liberdade também pode ser um problema.
2. Em sua obra Amor Líquido , Bauman disserta a respeito dos relacionamentos contemporâneos e suas ambivalências no mundo líquido
moderno. O autor rebatiza as relações de conexões e aponta as diferentes possibilidades do contato humano na atualidade. Analise as
afirmações a seguir e assinale a alternativa com as opções corretas: 
I. O que se ganha em quantidade nos relacionamentos, perde-se em qualidade e profundidade. 
II. A facilidade de rompimento a qualquer hora reduz os riscos emocionais do sujeito que se vê em uma perspectiva de liberdade, livre das
angústias dos relacionamentos sólidos. 
III. As experiências às quais o ser humano se refere como amor se expandiram muito. Entretanto, ao invés de haver mais pessoas que
atingem de fato os elevados padrões do amor, esses padrões foram baixados. 
IV. Devido às perspectivas mercadológicas dos relacionamentos e da amplitude nas opções de vínculo, a contemporaneidade trouxe uma
maior possibilidade de qualidade às relações. 
V. Embora o amor líquido esteja relacionado à sua efemeridade, ainda assim distingue-se do desejo no que diz respeito aos ideais de
satisfação. 
A alternativa "D " está correta.
 
Como Bauman exemplifica, a busca incessante por parceiros é uma consequência da insatisfação nos vínculos e não uma consequência de
seu sucesso. Os riscos não foramreduzidos, apenas distribuídos de modos diferentes. Como se é traído pela qualidade, busca-se reforço
na quantidade. Ganha-se de um lado, porém perde-se de outro.
 Objetivo3
BAUMAN NO BRASIL
Ao pensar e analisar a Modernidade, Zygmunt
Bauman tocou em vários temas que
interessam a maior parte das sociedades
ocidentais, como o trabalho, a desigualdade, o
individualismo, as relações humanas de
maneira geral, o consumismo, a ética, a
urbanidade, a vigilância, o medo e a educação.
Para falar a respeito desse último ponto,
Bauman esteve no Brasil em 2015 em uma
palestra.
Muitas de suas reflexões se fizeram
importantes para pensar a sociedade
brasileira. Com uma obra extensa, Bauman
teve mais de 40 títulos publicados no país,
desde 1970, alcançando centenas de milhares
de leitores. Mas algumas de suas reflexões
influenciaram particularmente a academia e os
intelectuais brasileiros.
Em Joinville -SC, por exemplo, funciona o
Núcleo de Estudos sobre Bauman (NESB-
CNPq), coordenado pelo doutor em Ciências
Sociais pela PUC-SP João Nicodemos Martins
Manfio, que se dedica a estudar a obra do
autor polonês.
A Universidade Federal do Maranhão publica a
revista multidisciplinar Cadernos Zygmunt
Bauman, com estudos sobre o autor e artigos
sobre as temáticas trabalhadas por ele.
ENTRE ALGUNS DOS TÓPICOS MAIS RECORRENTES ESTUDADOS
NO BRASIL ESTÃO OS NOVOS ARRANJOS SOCIAIS E FAMILIARES,
OS NOVOS MÉTODOS DE ENSINO E EDUCAÇÃO, ESTUDOS
CULTURAIS E A RESSIGNIFICAÇÃO DO PAPEL DO FEMININO NO
MUNDO LÍQUIDO.
Rotinas milenares, sobretudo os ritos didáticos repetitivos e códigos disciplinares contribuíram, segundo Manfio (2017), para o
envelhecimento da escola e a consequente perda de um sistema rígido. Bauman, em uma entrevista concedida em 2009 a Porcheddu, cita a
privatização e a individualização dos processos de ensino e aprendizagem como uma das características que permeiam a liquidez no mundo
educacional contemporâneo.
ALÉM DISSO, OCORRE, SEGUNDO ELE, UMA MUDANÇA NA
RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO, QUE PASSA A SER
ENCARADA COMO FORNECEDOR-CLIENTE OU ATÉ MESMO
CENTRO COMERCIAL-COMPRADOR.
Em seu livro Sobre educação e juventude (2013), ele fala sobre inclusão escolar, criatividade, desemprego e ainda sobre a busca de uma
verdadeira revolução cultural, além de atacar os meios de comunicação de massa afirmando que despejam sobre os jovens material de má
qualidade. Esses também foram pontos da palestra proferida no Brasil e das entrevistas que concedeu quando estava no país. Uma das
ideias que defendeu foi a de que a educação não servisse como meio de manutenção e reprodução de privilégios sociais.
Outra das principais transformações da sociedade contemporânea e que se encontra no cerne das discussões sobre ensino na
contemporaneidade é a questão da Educação a Distância (EaD). Barônio (2015), em Educação a distância na modernidade líquida: uma
análise descritiva, disserta a respeito dos novos aspectos educacionais, marcados pelo enxugamento de custos estatais, desconfinamento
das populações, predominância do mercado educacional e liquefação dos vínculos afetivos e pessoais.
 COMENTÁRIO
No caso educacional, o desconfinamento significa que não é mais necessário, em alguns casos, sequer desejável, a presença e a
centralização em unidades físicas educacionais. 
Tendo como pressuposto o neoliberalismo como um movimento político-econômico que preza o desaparelhamento do Estado e o
desmanche de instituições da chamada modernidade sólida, os aspectos educacionais não permaneceram imunes às estratégias
contemporâneas de inovações tecnológicas para atingir o mercado.
 VOCÊ SABIA
Desaparelhamento do Estado é a diminuição do aparato estatal, sobretudo em número de funcionários públicos. A política neoliberal
associa o aparelhamento ao uso de cargos públicos em benefício próprio ou a um peso na administração pública. Mas para prestar um
serviço público de qualidade são necessários setores e pessoas trabalhando para isso. A discussão resgata a ideia de Estado mínimo X
presença do Estado no cuidado da sociedade.
No panorama ainda mais atual, pandêmico ou pós-pandêmico, a partir de 2020, as práticas de EaD têm tomado um espaço cada vez maior na
sociedade e as discussões acerca do assunto e da acentuação da desigualdade de oportunidade de acesso aos alunos a tal método de
ensino é um dos compromissos que as políticas educacionais deveriam assumir.
Com a pandemia de coronavírus, jornalistas, pesquisadores e a esfera pública de maneira geral começaram a usar os termos
pandêmico e pós-pandêmico para analisar as novas situações (sociais, econômicas, laborais, educacionais etc.) que daí emergiram. 
SOBRE O
FEMININO
Em uma publicação acerca da
identidade feminina na
modernidade líquida, Santaella
(2008) disserta sobre a
A preocupação estética na
sociedade surge como resultado
dessa demanda e preocupação
existencial: por medo de tornar-se
obsoleto, os indivíduos sacrificam-
se aos rituais de beleza para
permanecerem no mercado,
sempre prontos para serem
consumidos, pois, para a
sociedade de consumidores,
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incorporação do feminino no
mundo do comércio — sobretudo
nos aspectos inerentes à imprensa
— e o papel que a exposição das
mulheres tem na construção de
uma identidade feminina que preza
pelo narcisismo, sensualidade e
perfeição. Como visto, Bauman,
em Vida para Consumo (2008),
defende que para além do próprio
consumo praticado pelo ser em si,
as pessoas são os próprios
produtos que devem ser
colocados no mercado e,
consequentemente, promovidos. Fonte: Shutterstock
segundo Bauman (2008), ninguém
pode se tornar sujeito sem
primeiro virar mercadoria.
Mercadoria essa, que seja
vendável.
Santaella (2008) afirma que, no
atual contexto, cada mulher fica
responsável pela imagem interior e
exterior que constrói de si mesma,
uma afirmação que faz eco ao
pensamento de Bauman de que a
modernidade líquida coloca nas
mãos dos indivíduos a solução
para problemas sociais, o que só
reforça o individualismo, ao
mesmo tempo em que o problema
é fomentado por ele. A situação se
combina com outra característica
da modernidade líquida, explorada
por Souza, Baliscei e Teruya
(2015), o discurso da publicidade.
NELE, A APARÊNCIA IDEAL PODE SE CONCRETIZAR ATRAVÉS DE
MECANISMOS COMO CIRURGIAS ESTÉTICAS, DIETAS, TREINOS EM
ACADEMIA, TRATAMENTOS ARTIFICIAIS, MODA E COSMÉTICOS,
APERFEIÇOANDO-SE CONFORME AS DEMANDAS DO MERCADO DE
CONSUMO.
SOBRE OS ARRANJOS SOCIAIS E FAMILIARES
A ênfase no individualismo, mesmo quando o assunto é família, é tema do estudo de Eduardo Bittar (2007). Ele indica como o indivíduo
desponta em detrimento da unidade familiar, numa nova alteração das estruturas na modernidade líquida, nesse caso.
OS LAÇOS SE AFROUXARAM E HOUVE UMA DEGRADAÇÃO
INTERIOR NA COESÃO FAMILIAR. A REALIZAÇÃO INDIVIDUAL
GANHOU UM PAPEL DE MAIOR RELEVÂNCIA DO QUE OS
OBJETIVOS DO COLETIVO.
A perda da comunidade, citada por Bauman em sua obra Modernidade Líquida (2001), pode ser refletida na esfera micro, afinal, também o
núcleo do lar passou por um processo de liquefação.
Bittar (2007) defende que o capitalismo contemporâneo não tem mais como pressuposto voltar para casa, mas, sim, partir para o mundo. Tal
característica pode ser concebida como um dos reflexos da desterritorialização. A estética do lar não condiz mais com o aspecto
globalizado do mundo líquido, inserido em uma lógica emancipada de espaços. Assim como os relacionamentos de bolso, descritos por
Bauman, há uma tendência para a transformação da família em uma instituição informal.
O autor relata algumas mudanças na perspectiva familiar acerca do casamento. Para ele, há uma cronologia esquematizada por:
 
Fonte: Shutterstock
Citando Antoine Prost, o teórico afirma que a família deixou de ser uma instituição para “se tornar um simples ponto de encontro das vidas
privadas” (BITTAR, 2007, p.599). O lar perdeu seu significado de aconchego e tornou-se uma rota de passagem.A emancipação das mulheres do lar, o questionamento das relações de gênero e a perda da autonomia da figura paterna são alguns dos
aspectos preponderantes para o esfacelamento das relações familiares em sua forma clássica da modernidade sólida.
ENTRETANTO, O DESEJO DE CONSTRUIR UMA FAMÍLIA AINDA É
ALMEJADO SOCIALMENTE COMO STATUS OU ATÉ MESMO
SINÔNIMO DE SUCESSO DE VIDA, COMO SE DESIGNASSE ALGUM
SUPOSTO BEM-ESTAR MORAL OU SOCIAL.
Tal fator pode ser exemplificado pelo conceito de Bauman (inicialmente utilizado por Ulrich Beck) de instituições zumbi, como uma categoria
cujos efeitos ainda reverberam socialmente, mesmo que tenha perdido a vitalidade e força de outrora.
A liquefação da unidade familiar acaba também por provocar um
fenômeno de terceirização de responsabilidades no que diz respeito à
criação dos indivíduos. Conforme descrito por Bittar (2007), o casal
acredita que a babá está criando, a babá acredita que a escola está
criando, e a escola acredita que a família está criando. A
consequência é o jogo de empurra-empurra que, se relacionado às
práticas educacionais cada vez mais individualizadoras, acarreta uma
crise de referências palpáveis do indivíduo, que se volta para a
cultura do entretenimento de massa para encontrar os ideais aos
quais seguir e levar como modelo de conduta. 
Fonte: Shutterstock
VEJA A ANÁLISE DE DOIS ASPECTOS DA LIQUIDEZ NA SOCIEDADE
BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. OS NOVOS ARRANJOS, LÍQUIDOS, EM DIFERENTES ESFERAS DA SOCIEDADE, TROUXERAM MUDANÇAS,
DESDE OS ASPECTOS MACRO ATÉ OS ASPECTOS MICRO. A PARTIR DISSO, CONSIDERA-SE QUE: 
I. A FAMÍLIA ACOMPANHA O FLUXO DO MERCADO E PASSA POR UM PROCESSO DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO. 
II. COM A PERDA DE TAIS ESTRUTURAS, O INDIVÍDUO É CAPAZ DE EXERCER UMA MAIOR AUTONOMIA EM SUAS
RELAÇÕES. 
III. EM RELAÇÃO À BURGUESIA, O CAPITALISMO PERMANECE ATADO À PERSPECTIVA DOMICILIAR. 
IV. O INDIVÍDUO PASSA POR UM PROCESSO DE PERDA DE REFERÊNCIAS QUE SE INICIA COM O
DESMANTELAMENTO DA ORGANIZAÇÃO FAMILIAR E SE ESTENDE ATÉ A REALIDADE ESCOLAR, MEDIADA PELA
LÓGICA DO LUCRO. 
ASSINALE A OPÇÃO COM AS ALTERNATIVAS CORRETAS.
A) I, II e IV
B) I, II, III e IV
C) I e IV.
D) I, III e IV
2. CONSIDERANDO AS INOVAÇÕES NO SISTEMA EDUCACIONAL NA MODERNIDADE LÍQUIDA, ASSINALE A ÚNICA
ALTERNATIVA A EXEMPLIFICAR AS CONSEQUÊNCIAS DOS NOVOS ARRANJOS SOCIOEDUCACIONAIS NOS
PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA CONTEMPORANEIDADE:
A) O Estado manteve-se como principal agente do progresso tecnológico, acentuando sua estratégia de domínio em caráter democrático.
B) Países de terceiro mundo sofreram uma exclusão no mercado educacional e estão atrasados na corrida da globalização, o que justifica a
aprovação automática.
C) O autodidatismo é a melhor saída à defasagem na educação entre ricos e pobres, e cabe a cada um aprender sozinho.
D) O deslocamento da ênfase do ensino à aprendizagem, atribuindo aos alunos a responsabilidade sobre sua própria educação acentua a
individualidade e a competitividade.
GABARITO
1. Os novos arranjos, líquidos, em diferentes esferas da sociedade, trouxeram mudanças, desde os aspectos macro até os aspectos micro.
A partir disso, considera-se que: 
I. A família acompanha o fluxo do mercado e passa por um processo de desinstitucionalização. 
II. Com a perda de tais estruturas, o indivíduo é capaz de exercer uma maior autonomia em suas relações. 
III. Em relação à burguesia, o capitalismo permanece atado à perspectiva domiciliar. 
IV. O indivíduo passa por um processo de perda de referências que se inicia com o desmantelamento da organização familiar e se estende
até a realidade escolar, mediada pela lógica do lucro. 
Assinale a opção com as alternativas corretas.
A alternativa "C " está correta.
 
A crise na família e no amparo psicoafetivo causa uma série de consequências na vida do indivíduo. A formação fica debilitada e este se
sente cada vez mais incapaz de exercer a autonomia. Em relação à perspectiva domiciliar, o capitalismo contemporâneo se afasta cada vez
mais e se insere na lógica da globalização, longe do lar fixo.
2. Considerando as inovações no sistema educacional na modernidade líquida, assinale a única alternativa a exemplificar as consequências
dos novos arranjos socioeducacionais nos processos de aprendizagem na contemporaneidade:
A alternativa "D " está correta.
 
A flexibilização do ensino acentua a responsabilidade do indivíduo sobre sua aprendizagem, em detrimento da mediação pelos professores
e do ambiente escolar, que caem em desuso na modernidade líquida. O Estado renuncia à responsabilidade de fornecer a educação de
qualidade a que cada cidadão tem direito, abrindo margem para a privatização, o que deve ser trabalhado com cautela, afinal, Estado e
mercado têm olhares diferentes para os indivíduos.
VOCÊ CHEGOU AO FINAL DA EXPERIÊNCIA!
E, com isso, você:
 Identificou influências de Zygmunt Bauman em autores brasileiros
 Retornar para o início do módulo 3
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecemos alguns dos principais mecanismos de funcionamento da
chamada modernidade líquida, um conceito capaz de abarcar com
propriedade uma imensa gama de assuntos: relações humanas,
relações de trabalho, relações político-econômicas, relações espaço-
temporais, modelos políticos, escolhas (pessoais e comunitárias),
liberdade, identidade, vigilância, segurança, consumo, educação,
cidadania etc. Grande parte da realidade contemporânea pode ser
pensada a partir desse conceito e das reflexões associadas e que se
desdobram dele.
De inspiração marxista, Zygmunt Bauman parte de um olhar sobre a
realidade do trabalho no mundo sólido e no mundo líquido, para
investigar diversos aspectos da chamada pós-modernidade que, para
o autor, não teria nada de pós, por não romper, apenas alterar os
caminhos dos modelos anteriores. Para Bauman, o funcionamento do
mundo capitalista passa por um refinamento, mas as estruturas de
poder se mantêm. Nessa passagem, o indivíduo precisa de uma nova
consciência para não se descobrir numa situação angustiante e
insatisfatória.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BARÔNIO, Jandira. Educação a distância na modernidade líquida: uma análise descritiva. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade
de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista. São Paulo: Unesp, 2015.
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BAUMAN, Zygmunt. A postmodern grid of the worldmap? An interview with Zygmunt Bauman. [Entrevista cedida a] Milena Yakimova. In:
Eurozine, 2002.
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Família, sociedade e educação: um ensaio sobre individualismo, amor líquido e cultura pós-moderna. In:
Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2007. v. 102. p. 591-610.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. v. XXI. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
MANFIO, João Nicodemos Martins. Zygmunt Bauman: uma bibliografia e possíveis diálogos com a educação. 2017. 197 f. Tese (Doutorado
em Ciências Sociais) - PUC – SP. São Paulo: 2017.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. 4. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005.
PORCHEDDU, Alba. Zygmunt Bauman: entrevista sobre a educação. Desafios pedagógicos e modernidade líquida. In: Cad. Pesquisa. São
Paulo: 2009. v. 39, n. 137, p. 661-684.
SANTAELLA, Lúcia. Mulheres em tempos de modernidade líquida. In: Comunicação & Cultura. PUC São Paulo: 2008.n. 6, p. 105-113.
SOUZA, Michely Calciolari; BALISCEI, João Paulo; TERUYA, Teresa Kazuko. Representações visuais na modernidade líquida: o que os
manequins falam de nós? In: Educação. Santa Maria - RS: 2015. v. 40, n. 2, p. 361-374.
EXPLORE+
Para saber mais sobre este tema, acesse:
Entrevista com Zygmunt Bauman concedida à Alberto Dines.In: Observatório da Imprensa, 2015.
Entrevista com Zygmunt Bauman concedida à Revista Cult.O sociólogo afirma que é preciso acreditar no potencial humano para que
um outro mundo seja possível. In Revista Cult. Consultado em meio eletrônico em: 22 maio. 2020.
Artigo póstumo Retrotopia. PITA, Antônio. Advertência póstuma do filósofo Zygmunt Bauman. Ensaios póstumos do pensador
analisam a busca da utopia em um passado idealizado. In: El País. Publicado em: 24 abr. 2017.
Milênio: A fluidez do mundo líquido de Zygmunt Bauman. In: Youtube. Publicado em: 02 jul. 2017.
CONTEUDISTA
Mário Bruno
 CURRÍCULO LATTES
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DEFINIÇÃO
A história das sociedades humanas, suas relações na Era da Informação.
PROPÓSITO
Apresentar criticamente os caminhos e descaminhos que vieram a constituir o mundo que hoje compartilhamos, mostrando possibilidades de
mudança e de construção de novos futuros.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
 
Fonte: Por Evdoha_spb / Shutterstock
Identificar como as diversas sociedades se constituíram e se relacionaram
 
 
MÓDULO 2
 
Fonte: Por TheVisualsYouNeed / Shutterstock
Reconhecer os problemas e as oportunidades trazidas pela consolidação das Sociedades em Rede no século XX
MÓDULO 3
 
Fonte: Por DisobeyArt / Shutterstock
Relacionar a constituição das chamadas Sociedades em Rede no século XXI
 
Fonte: Por Evdoha_spb / Shutterstock
INTRODUÇÃO
Desde pequenos, nós aprendemos que vivemos em sociedade. Convivemos com nossa família (em suas diferentes composições) e, com ela,
nós:
 
Fonte: Por Yuganov Konstantin / Shutterstock.
Aprendemos a falar; assimilamos nossa língua materna
 
Fonte: Por Monkey Business Images / Shutterstock.
Absorvemos valores; internalizamos gestos e códigos de conduta moral
 
Fonte: Por Monkey Business Images / Shutterstock
Aprendemos a respeitar regras e descobrimos os tipos de comportamento que devemos ter para uma boa convivência social.
O sociólogo alemão Norbert Elias publicou, em meados do século XX,
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Fonte: Imagem:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5f/Norbert_Elias%2C_1987_%28cropped%29.jpg/800px-
Norbert_Elias%2C_1987_%28cropped%29.jpg
um livro chamado O Processo Civilizador, em que analisava como
costumes, gestos e regras de etiqueta são incorporados e transmitidos
culturalmente de geração em geração. Ou seja, se hoje, nas
sociedades ocidentais capitalistas, comemos de garfo e faca e
aprendemos que não é correto falar de boca cheia, é porque esses
gestos são exemplos de construções culturais e coletivas incorporadas
por aqueles que nos criaram e que nos foram transmitidas sem que
nos questionemos.
NORBERT ELIAS (1897-1990)
Foi um autor que ficou anos em ostracismo, sendo reconhecido após sua morte. Ele dedicou seus estudos e sua vida ao entendimento
da dinâmica social. 
 
Fonte: Shutterstock
Ao longo da vida, inicialmente com nosso núcleo familiar e, depois, na escola, até a fase adulta, vamos desenvolvendo uma série de
competências que nos permitem viver e trabalhar coletivamente. Como isso tudo parece um processo natural, dificilmente paramos para nos
perguntar:
O QUE É SOCIEDADE? ISSO QUE CHAMAMOS DE SOCIEDADE EXISTIU DESDE
SEMPRE? É POSSÍVEL VIVERMOS ISOLADOS? DE QUAIS DIFERENTES
MANEIRAS, HISTORICAMENTE, NÓS FOMOS E ESTAMOS CONECTADOS?
O CONCEITO DE SOCIEDADE
De acordo com a definição mais simples, sociedade é um tipo de sistema coletivo que se distingue por características culturais, estruturais e
demográficas / ecológicas. Trata-se de um sistema definido por um espaço geográfico (que pode, ou não, coincidir com as fronteiras dos
Estados-nação), no interior do qual grupos de pessoas compartilham de uma cultura e estilos de vida comuns, com relativa autonomia em
relação a outras sociedades.
Não há, porém, uma definição última e fechada desse conceito – que
pode, também, ser explicado como um espaço familiar no qual se
inscrevem práticas individuais e coletivas (sempre em relação) e todas
as suas representações, ou seja, os imaginários, visões de mundo etc.
As análises sociológicas e antropológicas podem estudar as
sociedades a partir de diferentes níveis de realidade social, ou de
sistema de relações: enfocando o ordenamento político, econômico,
religioso ou, de modo geral, cultural.
Atualmente, a maioria de nós vive no que os antropólogos chamam de
sociedades complexas, isto é, integradas por grandes grupos
populacionais, interligados culturalmente e regidos por normas
compartilhadas, dispondo de técnicas sofisticadas de transporte,
comunicação e produção, além de acentuada divisão do trabalho. Isso
quer dizer que nós estamos efetivamente conectados e somos
totalmente dependentes uns dos outros.
 
Fonte: Shutterstock
Vamos pensar no que é uma troca?
Nossa própria vida também é subdividida em espaços e períodos diversos. Temos o tempo do trabalho, o tempo do lazer, o tempo da família
e, em cada um desses períodos, convivemos com pessoas diferentes.
Mas, ao longo da história humana, nem sempre as coisas funcionaram assim. Como vocês devem saber, a nossa espécie, como todas as
espécies de animais, tem um nome: somos os Homo sapiens sapiens:
HOMO SAPIENS SAPIENS
É o nome usado para denominar a subespécie humana que caracteriza o homem moderno.
O significado de homo sapiens sapiens é homem que sabe o que sabe. Faz referência à sua característica mais marcante: o cérebro
desenvolvido.
 
Fonte: Por Gorodenkoff / Shutterstock
Ao longo do que chamamos, convencionalmente, de Pré-história (aqueles milhares de anos em que a humanidade não tinha desenvolvido
formas de escrita), diversos tipos do gênero homo viveram, inclusive nas mesmas épocas, já que o processo evolutivo nunca foi linear. No
interior desse gênero, a espécie que se perpetuou, a que conseguiu desenvolver mais tecnologias e cujo cérebro mais cresceu foi a nossa,
sapiens sapiens.
 
Fonte: Por Gorodenkoff / Shutterstock
Os primeiros bandos de homo sapiens eram caçadores-coletores, pois ainda não se sabia como plantar alimentos. Segundo Harari (2015), no
livro Sapiens: uma breve história da humanidade, esses bandos eram relativamente pequenos, pois a necessidade de deslocamento
constante em busca de abrigo e alimentos não permitia a articulação e organização de muitas de pessoas. Além disso, a mortalidade era
grande, tanto por doenças e acidentes, quanto por ataques de animais.
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Fonte: Por Gorodenkoff / Shutterstock
Devido a essas circunstâncias, ainda segundo Harari (2015), membros de um mesmo grupo conheciam-se e conviviam sempre intimamente.
Às vezes, era possível desenvolver relações amigáveis com membros de outros bandos, mas, não raramente, os bandos vizinhos competiam
por recursos e até lutavam uns com os outros. Assim sendo, em função dos contínuos deslocamentos (influenciados pela mudança das
estações, pela migração anual de animais e pelo ciclo de crescimento das plantas) e da pouca convivência com outros grupos, uma pessoa
vivia muitos meses sem ver ou ouvir um indivíduo de fora de seu bando e, ao longo de sua vida, encontrava não mais do que algumas
centenas de humanos.
 
Fonte: Por Gorodenkoff / Shutterstock
Essa situação mudaria completamente a partir do desenvolvimento da agricultura e da contínua sedentarização da espécie humana. Depois
de muitas migrações e da povoação de todo o planeta, vários desses grupos foram se assentando, especialmente nas margens de rios e
locais de solos férteis. Ainda de acordo com Harari (2015), atualmente, já se sabe que as práticas agrícolas de variados alimentos começaram
mais ou menos simultaneamente em diversos lugares do mundo, entrediferentes grupos de homo sapiens. No entanto, essa interpretação
difere de outra, mais antiga, que dizia que a agricultura teria começado em um único ponto e, a partir dele, se expandido para outras regiões,
com o conhecimento passado através dos grupos populacionais.
 ATENÇÃO
Importante dizer que, ao contrário do que se imagina, a sedentarização e a agricultura, inicialmente, não representaram uma melhora
significativa na vida dos homens, que passaram a trabalhar mais horas por dia e a ter uma alimentação muito menos variada, totalmente
dependente do produto da estação. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que a sedentarização lançou as sementes do que viria a ser o mundo
atual (em sua maior parte), com o progressivo desenvolvimento da divisão do trabalho, das hierarquias sociais e da exploração de alguns
grupos sobre outros.
A sedentarização também permitiu o gradual desenvolvimento de novas tecnologias, visto que, em alguns grupos foi possível o período do
estudo e da contemplação. O aumento demográfico e o crescimento dos sistemas de troca (posteriormente, do comércio) lançariam as bases
da contínua relação entre os diversos grupos humanos do planeta.
 
Fonte: Por Evdoha_spb / Shutterstock
É preciso lembrar, no entanto, que durante muitos séculos de sedentarização do homo sapiens e de trocas culturais e comerciais entre
populações, não houve internet, telefone, televisão, imprensa ou meios de transporte velozes. Isso quer dizer que, de aproximadamente 5000
anos a.C. até as Grandes Navegações dos séculos XV e XVI (das quais falaremos), as trocas eram, sobretudo, locais, de poucas distâncias, e
o mundo conhecido era aquele que se conseguia percorrer a pé ou fazendo uso de pequenas embarcações, cavalos ou camelos. Os povos
que habitavam o que hoje chamamos continente americano não conheciam as populações da Europa e vice-versa.
 
Fonte: Por Gorodenkoff / Shutterstock
Importante enfatizar, ainda, que as unidades regionais, populacionais e políticas que se relacionavam tinham formas de funcionamento muito
diferentes das nossas. Até, aproximadamente, o século XVI, não havia na Europa a organização (por isso mesmo chamada de moderna) dos
Estados nacionais. O território repartia-se em unidades feudais durante a Idade Média, pequenos reinos sem uma estrutura política forte, ou
cidades-estados. No norte da África e no Oriente Médio, as estruturas também não eram as mesmas que hoje conhecemos. Militares,
comerciantes e religiosos eram categorias profissionais que circulavam bem mais que os outros, em campanhas de conversão, guerras e
trocas (muitas vezes intensas) de produtos.
 
Fonte: Por Michael Rosskothen / Shutterstock
As notícias circulavam de uma região a outra de forma bem lenta. Como veremos, a seguir, a imprensa desenvolve-se na Europa apenas no
século XV, momento a partir do qual cada vez mais papéis e informações começariam a circular pelas diversas regiões do mundo. Aliás, além
da invenção da imprensa, os séculos XV e XVI compõem o período temporal considerado por muitos historiadores como um dos primeiros
momentos da constituição de um mundo globalizado (ainda que, claro, não nos mesmos moldes do século XX). A chegada do europeu,
inicialmente em toda a costa africana e, mais tarde, nas Américas, mudaria o mundo para sempre.
A FORMAÇÃO DO SISTEMA-MUNDO-COLONIAL-MODERNO
Para entendermos as modificações no nível de circulação de pessoas, objetos, papéis e culturas a partir do século XVI, é necessário que nos
recordemos de uma série de mudanças que vinha acontecendo na Europa desde o fim do século XV. A partir, aproximadamente, do século X,
a população europeia começa a aumentar em função do desenvolvimento de técnicas agrícolas e da diminuição da violência do mundo feudal.
No interior do cristianismo, embora o catolicismo ainda seja muito poderoso, agora está em disputa com as vertentes protestantes em diversas
regiões da Europa. Sendo assim, no território europeu, o catolicismo vai, aos poucos, perdendo a hegemonia de visões e explicações do
mundo. As universidades, que já existiam na Europa, desde o século XII, começam a se secularizar – isto é, começam a ser assumidas por
estudiosos que não são, necessariamente, parte da hierarquia eclesiástica.
A educação deixa, aos poucos, de ser monopólio da Igreja Católica. Os estudos feitos no âmbito do que se denominou de Renascimento –
estudos de Física, Química, Astronomia, Anatomia – favorecem o desenvolvimento de novas tecnologias – tecnologias de transporte,
navegação e comunicação, mas, também, abrem caminhos para novas análises botânicas, de fauna, análises médicas, históricas, linguísticas
e antropológicas.
A chegada no novo mundo – já impulsionada e possibilitada pelos estudos mencionados anteriormente – é o encontro com outro clima, com
outras formas de vida, outros tipos de fauna e flora, outras centenas de línguas que os europeus, árabes e orientais não imaginavam existir.
Esse encontro, aliado com as transformações que já vinham acontecendo, fomentará, definitivamente, o desenvolvimento do capitalismo –
especialmente a partir dos processos de colonização das Américas e, posteriormente, do estabelecimento da escravidão africana. A partir do
século XVI, portanto, o mundo se modificaria para sempre, e a circulação de culturas, visões de mundo, pessoas, objetos, comidas, sementes,
animais e saberes se tornaria cada vez mais intensa.
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500.
 
Fonte: Oscar Pereira da Silva. Domínio Público. /
https://pt.wikipedia.org/wiki/Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500#/media/Ficheiro:Oscar_Pereira_da_Silva_-
_Desembarque_de_Pedro_%C3%81lvares_Cabral_em_Porto_Seguro,_1500,_Acervo_do_Museu_Paulista_da_USP.jpg
Alguns historiadores e sociólogos analisaram essa primeira fase da
mundialização. Para eles, o desenvolvimento acelerado do capitalismo
é, sem dúvidas, o processo mais marcante desse período. O sociólogo
e cientista político Immanuel Wallerstein (2011), elaborou a
importante teoria do sistema-mundo moderno. Em obra de quatro
volumes, ele afirma que as origens do atual sistema econômico global
se situam entre finais do século XV e as primeiras décadas do século
XVI. Assim, o mundo todo passaria a ser conectado por suas relações
econômicas, estabelecendo-se uma Divisão Internacional do
Trabalho, caracterizada pela formação de centros, periferias e
semiperiferias.
Fonte: (Wikimedia Commons)
O começo do capitalismo foi marcado pelo comércio com troca de
mercadorias.
IMMANUEL MAURICE WALLERSTEIN (1930-2019)
 
Fonte: Shutterstock
Foi um sociólogo estadunidense, mais conhecido pela sua contribuição fundadora para a teoria do sistema-mundo.
A sua crítica ao capitalismo global e o apoio aos movimentos antissistêmicos espalharam a sua fama e tornaram-no um arauto.
DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
Define-se como a especialização produtiva de países e regiões em fases de intensificação de troca comercial. Essa especialização se
consolida, assim, em momentos de expansão da globalização. 
Nessa divisão, cada região passaria a ocupar uma função na nova ordem capitalista, de modo que os centros passariam a fabricar os
produtos de maior valor agregado (que exigem mais tecnologia) e as periferias e semiperiferias, produtos agrários e matérias-primas, em
geral. A colonização (externa) das Américas, com exploração de produtos e mão de obra pela Europa, bem como a colonização interna na
própria Europa, com a expropriação de terras e marginalização dos mais pobres, permitiu o que se chama de acumulação primitiva de capital,
que serviu ao financiamento da industrialização nesse território. A partir desse momento, portanto, a interdependência entre as diversas
regiões do planeta se acentuaria progressivamente, porém sempre de forma desigual.
CAPITAL
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Acumulação primitiva de capital foi um conceito elaborado por Karl Marx e, até hoje, é largamente utilizadonos estudos sobre o
capitalismo.
Prosseguindo nosso panorama histórico, devemos lembrar da Revolução Industrial na Europa no século XVIII. Mas você pode se perguntar: O
que a Revolução Industrial na Europa tem a ver com o estreitamento de relações e conexões entre todas as partes do mundo? Ora, a história
desse estreitamento de relações está intrinsecamente relacionada com a história do capitalismo. Bom, o que os historiadores chamam de
Revolução Industrial – que se desenrolou, inicialmente, na Inglaterra, e depois se consolidou em diversos países da Europa – foi um conjunto
de transformações especialmente nos processos produtivos e nas relações de trabalho.
O desenvolvimento de novas máquinas acelerou enormemente o ritmo de produção nas fábricas e as relações salariais de trabalho, com a
expropriação de terras dos camponeses foram se generalizando, substituindo outras formas de existência e subsistência. No século XIX, esse
movimento se intensificou, agregando novas tecnologias de comunicação e de transporte (que serviam ao escoamento de produtos e à
circulação de pessoas).
O SÉCULO XIX E A DIFUSÃO DO CAPITALISMO E DA CULTURA
EUROPEIA NO MUNDO
Dois processos de dimensão mundial marcaram o século XIX: o
neocolonialismo (imperialismo) e a independência das antigas colônias
europeias na América Latina. Chamamos neocolonialismo ou
imperialismo a dominação europeia sobre enormes territórios nos
continentes africano e asiático. Muitos fatores podem ser elencados
para explicar esse fluxo, dentre eles:
As inovações da Revolução Industrial e a associação das indústrias
com os bancos, gerando créditos, aumentaram exponencialmente a
produtividade e era preciso, por isso, buscar novos mercados.
Ao longo do século XIX, ganharam força as teorias racialistas, que
julgavam a raça branca superior às demais – que deveriam, portanto,
ser sujeitadas e conduzidas à verdadeira civilização.
 
Fonte: Domínio público.
China - o bolo dos Reis e Imperadores: charge mostrando a Grã-
Bretanha, Alemanha, Rússia, França e Japão dividindo a China. The
Chinese Cake, H. Meyer, 1898. Fonte: Le Petit Journal.
O neocolonialismo marginalizou e desagregou, em grande parte, as
culturas, os idiomas e os modos de vida locais, tanto no continente
africano, quanto no asiático. Evidentemente, houve resistência, mas,
ainda assim, as dominações militar e econômica se impuseram. O
neocolonialismo significou, então, a difusão tanto do capitalismo,
quanto da cultura europeia em grande parte do planeta.
Fonte: Por Everett - Art / Shutterstock
Comércio de Escravos.
Por outro lado, como dito, nas primeiras décadas do século XIX, a maior parte das colônias latino-americanas conquistou sua independência
política, a qual não significou, de modo algum, uma independência econômica e cultural. No interior dos debates decoloniais, autores como
Aníbal Quijano e Ramón Grosfoguel (2007), entre outros, desenvolveram o conceito de colonialidade, para caracterizar um tipo de dominação
diferente da dominação política e territorial do colonialismo. A colonialidade é a nossa colonização enquanto sujeitos, inseridos num mundo
hierarquizado e racializado.
DECOLONIAIS
Os debates decoloniais desenvolveram-se como desdobramento crítico dos debates pós-coloniais – engendrados, por sua vez, por
intelectuais originários de países africanos e asiáticos no período pós-independência política. 
O movimento decolonial denuncia a continuidade da colonialidade do poder, do saber e do ser mesmo após a fase de dominação
política. Além disso, o grupo de intelectuais decoloniais propõe novas formas de análise do mundo a partir do diálogo entre variadas
formas de pensamento (como o pensamento indígena, além do europeu).
O QUE QUER DIZER ISSO?
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 ATENÇÃO
Segundo os estudiosos citados, isso significa que nós fomos formados – nossos hábitos, gestos, gostos, nossas formas de pensar – a partir
da cultura e da racionalidade europeia que, por sua vez, era altamente racista e patriarcal. A colonização e a formação nacional da América
Latina a partir dos parâmetros europeus marginalizou todos os grupos não brancos. Ou seja, de modo geral, todas as formas de vida, culturas
e línguas que não se enquadravam no ideal de homem branco, saudável, chefe de família.
PATRIARCAL
É um conceito que designa uma ordem social centrada na descendência patrilinear e no controle dos homens sobre as mulheres. 
Desse modo, a partir da metade do século XIX, período de expansão do neocolonialismo, até a metade do século XX, o sistema capitalista se
impôs (sempre de forma desigual) no mundo todo, da mesma forma que a cultura europeia se impôs como hegemônica.
ISSO NÃO SIGNIFICA QUE OUTRAS FORMAS CULTURAIS TENHAM DEIXADO DE
EXISTIR, MAS QUE ELAS FORAM SENDO PROGRESSIVAMENTE POSTAS À
MARGEM.
Existe outro processo histórico que acompanha o desenvolvimento do capitalismo e que nos ajuda a compreender as formas de vida e de
relação das sociedades globais: a formação da ideia de indivíduo e da ideia de sociedade como soma de indivíduos.
Diferentemente da vivência comunitária da Europa Medieval, ou das
relações baseadas em núcleos tribais ou de clã, o desenvolvimento da
lógica capitalista centrará cada vez mais no indivíduo a
responsabilidade por si e pelos seus consanguíneos próximos. Assim,
a vida privada separa-se da vida pública e se torna até mais importante
do que ela – ou seja, a busca pela felicidade individual (muitas vezes
representada pela capacidade de consumo) vai se sobrepor,
progressivamente, às preocupações com a vida coletiva e com a
atuação pública, cidadã.
 
Fonte: Por Alex_Maryna / Shutterstock
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. (UESC/BA) ENTRE OS SÉCULOS XVI E XVII, A ECONOMIA EUROPEIA EXPANDIU SUAS FRONTEIRAS POR
MEIO DE:
A) Conquista de terras no norte da África.
B) Exploração das áreas coloniais no Novo Mundo.
C) Alianças entre comerciantes católicos e protestantes.
D) Acordos estabelecidos com comerciantes árabes no Oceano Pacífico.
2. (UEG 2005) AS NAÇÕES IMPERIALISTAS TIVERAM ENORMES LUCROS NA EXPANSÃO COLONIALISTA DO
SÉCULO XIX, SOLUCIONANDO PARCIALMENTE SUAS CRISES DE MERCADO E DE SUPERPOPULAÇÃO E
PROPICIANDO A INTENSIFICAÇÃO DE SEU DESENVOLVIMENTO. 
 
EM RELAÇÃO AO IMPERIALISMO (NEOCOLONIALISMO), ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) A política imperialista era justificada com base na ideia de que os europeus levavam o progresso e, consequentemente, melhores
condições de vida para onde se dirigiam. O ideal de expansão da fé cristã do século XVI foi substituído pela ideia de missão civilizadora do
século XIX.
B) Para as regiões colonizadas, o imperialismo representou a sua desestruturação política e cultural e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento
socioeconômico expressado na educação e industrialização.
C) A dominação imperialista era realizada de forma direta, com a ocupação dos principais cargos governamentais por agentes metropolitanos
que deveriam respeitar as tradições locais. Dessa forma, verificaram-se avanços sociais nos países coloniais.
D) A unificação da Alemanha e da Itália favoreceu um relativo equilíbrio nas disputas imperiais, uma vez que alemães e italianos propunham a
incorporação efetiva dos nativos das colônias como cidadãos plenos.
GABARITO
1. (UESC/BA) Entre os séculos XVI e XVII, a economia europeia expandiu suas fronteiras por meio de:
A alternativa "B " está correta.
 
O processo designado por historiadores e sociólogos como o primeiro movimento de mundialização, teve início no século XVI e foi
caracterizado pela chegada dos europeus no Novo Mundo, com a subsequente colonização dessas terras.
2. (UEG 2005) As nações imperialistas tiveram enormes lucros na expansão colonialista do século XIX, solucionando parcialmente
suas crises de mercado e de superpopulação e propiciando a intensificação de seu desenvolvimento. 
 
Em relação ao imperialismo (neocolonialismo), assinale a alternativa correta:
A alternativa "A " está correta.
 
O imperialismo,ou neocolonialismo do século XIX – que significou a difusão do sistema capitalista e da cultura europeia em todo o mundo –
teve motivações e justificativas econômicas e ideológicas, como, por exemplo, a de levar civilização e progresso para as regiões e povos
dominados, considerados inferiores pelos europeus. No entanto, isso não significou, efetivamente, uma melhoria da qualidade de vida dessas
populações, que tiveram sua força de trabalho explorada e sua cultura desprezada.
 
Fonte: Por TheVisualsYouNeed / Shutterstock
LIMITES E POSSIBILIDADES DAS SOCIEDADES EM REDE NO
SÉCULO XX
Façamos um pequeno resumo das primeiras etapas da mundialização,
antes de chegarmos ao século XX. A construção da interdependência
entre as diversas regiões do globo esteve, desde o século XVI,
intrinsecamente relacionada ao desenvolvimento do sistema
capitalista. As chamadas Grandes Navegações desse período
possibilitaram a ligação entre Américas, África e Europa, a partir do
comércio, da escravidão e da colonização.
 
Fonte: Por peiyang / Shutterstock
O processo de colonização e de espoliação das colônias, por sua vez, acelerou o curso de industrialização no continente europeu, de
modo que, no século XVIII, a Inglaterra passou pela primeira Revolução Industrial, seguida, ao final do século, por outras potências europeias,
tais como França e Alemanha.
COLONIZAÇÃO DE ESPOLIAÇÃO DAS COLÔNIAS
O sistema de colonização tinha como pressuposto lucrar com a colônia. A ideia de desenvolvimento ou continuidade de terra vai surgir
muito mais tarde.
SÉCULO XIX
No século XIX, essas potências europeias competiam entre si por poder e mercados para seus produtos, cada uma delas tentando proteger e
fortalecer a própria economia. Desse modo, os Estados nacionais ainda detinham muito poder e estabeleciam medidas protecionistas para
suas indústrias. É nesse momento, também, que o capital financeiro (dos bancos) se une ao capital industrial na Europa, gerando crédito e
facilitando o aumento acelerado da produção. Por outro lado, a população europeia não tinha condições de consumir tudo que estava sendo
produzido.
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MEDIDAS PROTECIONISTAS
Protecionismo: Sistema que protege a indústria e o comércio de um país, através da criação de leis que não autorizam, ou dificultam, a
importação de certos produtos, geralmente pela aplicação de altas taxas aos produtos estrangeiros. (DICIO, 2020)
 
Fonte: Por Everett Historical / Shutterstock
A necessidade de novos mercados para produtos europeus é um dos fatores que explica o processo de colonização ou neocolonização de
grande parte dos territórios africano e asiático por países europeus. Havia, claro, uma série de outras circunstâncias e motivos
culturais/ideológicos – como a crença na superioridade europeia e o racismo. Assim sendo, é a partir desse momento que as indústrias
começarão a ser transferidas para além do território europeu.
As relações salariais, o modo capitalista de produção e a cultura ocidental vão se impondo em regiões que ainda não haviam sido dominadas
por completo. Ao final do século XIX, o sonho europeu de dominação parecia haver se concretizado, se não fossem as tensões cada vez
maiores entre as diferentes nações. Como se sabe, essas tensões (disputas por poder e territórios) resultarão na Primeira Guerra Mundial em
1914 e, posteriormente, na Segunda Guerra, marcada não apenas pela violência dos combates, mas pelo genocídio nazista na Alemanha.
GENOCÍDIO NAZISTA NA ALEMANHA
O nazismo é um dos temas mais estudados na história do ocidente, e foi representado em uma infinidade de livros, filmes e séries. É
preciso, sempre, relembrar os horrores desse fenômeno, para que não nos acostumemos com a barbárie. 
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Fonte: Por Everett Historical / Shutterstock
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
 
Fonte: Por Ivan Cholakov / Shutterstock
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Com o fim da Segunda Guerra e com o território europeu devastado, teve início um esforço internacional para promoção de um conjunto de
pautas construídas por movimentos políticos e organizações da sociedade civil na Europa e fora dela, visando a um novo contrato de paz
mundial. Em todo o globo buscava-se a criação de um outro modo de estabelecimento das relações internacionais, edificava-se uma crítica
contundente ao racismo e à xenofobia, procurava-se afirmar um mundo de alianças multilaterais e multiculturais.
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Fonte: Por KUCO / Shutterstock
XENOFOBIA
Aversão a pessoas ou coisas provenientes de países estrangeiros: Refugiados sofriam xenofobia em alguns países. (DICIO, 2020)
1948
Em 1948, a recém criada ONU (Organização das Nações Unidas)
aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um
documento de construção coletiva que visava estabelecer prescrições
humanistas a serem respeitadas por todos os países-membros e com
aspiração à universalidade.
 
Fonte: Por CHARTGRAPHIC / Shutterstock
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Segundo a ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é: “Um documento marco na história dos direitos humanos. Elaborada
por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, a Declaração foi proclamada pela
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Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948”. (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2020)
1955
Em 1955, a Conferência de Bandung reuniu 29 países africanos e asiáticos com o objetivo de costurar, para o futuro, uma nova força política
global, terceiro-mundista. Tratava-se de combater o colonialismo e os neocolonialismos, além de reafirmar direitos fundamentais, soberania e
autodeterminação dos povos.
Nesse mesmo período, começou a se pensar e construir as chamadas zonas de livre comércio, como a Comunidade Europeia do Carvão e do
Aço (CECA) e a Comunidade Econômica Europeia (CEE). Esses órgãos deram origem à atual União Europeia (EU) que, além de representar
uma zona de livre comércio com moeda unificada, também facilita a circulação de pessoas entre os países-membros e estabelece legislação
em comum sobre certo número de questões. As zonas de livre comércio e circulação foram fundamentais para o aprofundamento do processo
de internacionalização de empresas e capitais no século XX.
O período situado entre as décadas de 1950 e 1970 foi de grande crescimento econômico em todo mundo, mesmo para os países periféricos,
os quais conheceram um período de maior industrialização e melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores formais. Pelo menos três
fatores podem ser elencados para explicar essa (considerada por muitos) como a Idade de Ouro do capitalismo no Ocidente:
1
O esforço de guerra tanto entre 1914 e 1918, quanto entre 1939 e 1945, com grande parte das indústrias e das pesquisas convertidas para a
fabricação de material bélico, impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias – como, por exemplo, de transporte e comunicação. Essas
tecnologias passaram a ser utilizadas para aumentar a produtividade de fábricas.
2
Outro fator importante foi a grande intervenção econômica dos Estados Nacionais nesse momento, promovendo políticas públicas para
reerguer a Europa – e, tanto na Europa quanto nos EUA, para competir com a URSS. Ao final da Segunda Guerra Mundial, o mundo
conheceu duas novas potências militares e econômicas: os EUA e a URSS. Durante décadas, EUA e URSS disputaram zonas de influência
no mundo, sem que isso desencadeasse uma guerra, efetivamente.
3
Depois da quebra da bolsa de valores norte-americana em 1929 e das Guerras, era preciso construir um capitalismo que permitisse a
interferência do Estado e que desse espaço para a proteção e o aumento da qualidade de vida dos trabalhadores. Desse modo, acreditava-se,
a chance de uma adesão desses trabalhadores ao discurso socialista seria menor.
O Pós-Segunda Guerra seria o momento de ascensão dos EUA sobre a economia e a cultura mundial. Como assim? Após a crise de 1929, os
Estados Unidos estabeleceram um programade recuperação econômica chamado New Deal, que consistia em alto investimento estatal para
mitigar a onda de desemprego e falências. Esse projeto bem sucedido, somado ao fato de que os EUA não sofreram tão fortemente os efeitos
devastadores da Primeira e Segunda Guerras (já que os combates não ocorreram em seu território), favoreceram-no enormemente na
conjuntura pós-guerra.
O país tornou-se o maior credor da reconstrução europeia e estabilizou-se como a principal potência do Ocidente capitalista. Além disso, como
dito anteriormente, o esforço de guerra impulsionou o desenvolvimento de tecnologias que passaram a ser utilizadas não apenas na indústria,
mas na comunicação e na publicidade. É nesse período, a partir dos anos 1950, que o marketing e a publicidade começam a desenvolver-se
como campo autônomo no país, utilizando os recursos da chamada comunicação de massa – rádio, TV, cinema.
Será a partir desses recursos que a cultura de massa no modelo
estadunidense será exportada para todo o mundo – especialmente as
culturas do consumo como forma de realização pessoal, e do Self-
Made Man.
Temos, então, um mundo já conectado pela informação que se difunde
rapidamente via rádio e televisão, e pela publicidade neles veiculada.
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Fonte: Por AXpop / Shutterstock
SELF-MADE MAN
Self-Made Man é uma expressão que designa o homem que constrói a si mesmo, que vence por conta própria, muito associada à ideia
de empreendedorismo e que a prosperidade e a felicidade dependem apenas de nós mesmos. Essa ideia pode ser bastante falaciosa
quando se considera as enormes desigualdades de acesso a recursos materiais, educacionais e culturais entre os diferentes grupos
sociais.
1960
Nos anos de 1960, o professor de Literatura e teórico da comunicação canadense Herbert Marshall McLuhan cunhou, nos textos A galáxia de
Gutenberg e Os meios de comunicação como extensão do homem, o termo Aldeia Global.
Estudando os meios de comunicação de massa, especialmente a televisão, ele afirmava que estávamos sendo retribalizados, ou seja,
caminhávamos para o compartilhamento de uma cultura global, com pessoas, em todo o planeta, desenvolvendo os mesmos hábitos,
comportamentos etc.
ALDEIA GLOBAL
O autor acreditava que, devido à diminuição das distâncias e barreiras geográficas, o planeta se reduziria a uma organização
semelhante a aldeias, onde tudo e todos estariam interconectados. 
1980
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Tendo sido criticado, posteriormente, por atentar mais ao veículo emissor do que às diversas recepções possivelmente criativas dessas
informações e padrões transmitidos pelos meios de comunicação, ele passou a ser relido a partir dos anos 1980, período de ascensão da
internet e do auge da difusão e da propaganda do termo globalização.
 SAIBA MAIS
Há muito material disponível sobre esse período da história norte-americana. Dentre os mais recentes e bem feitos, está a série Mad Men, que
retrata a expansão de uma agência de publicidade nos anos de 1950 e 1960. A série está disponível na Netflix.
Também é interessante conhecer um pouco mais das estratégias de aproximação econômica e cultural dos EUA com a América Latina. Nesse
sentido, a criação do personagem Zé Carioca por Walt Disney, é emblemática. Veja a história do Zé Carioca no DiariodoRio.com.
SOCIEDADES EM REDE EM UM NOVO MUNDO
Em 1973 ocorre a chamada crise do petróleo, que se torna uma crise do capitalismo no mundo todo. Ao mesmo tempo, entra em voga uma
nova doutrina econômica, que ficou conhecida como neoliberalismo, elaborada e discutida por grupos de intelectuais das chamadas Escola
Austríaca e Escola de Chicago. Nesse período, as grandes corporações multinacionais já dominavam o mundo ocidental (e dominarão o
mundo todo a partir de 1989, com a Queda do Muro de Berlim).
Para superar a crise desencadeada pelo aumento dos preços do petróleo em 1973, os organismos internacionais de economia (FMI – Fundo
Monetário Internacional, Banco Mundial, entre outros) criaram uma espécie de cartilha econômica que deveria ser seguida por todos os
países.
As indicações contidas nessa cartilha eram, de modo geral, as seguintes:
• Disciplina fiscal;
• Redução dos gastos públicos;
• Reforma tributária;
• Abertura comercial;
• Investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições;
• Privatização das estatais;
• Desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas).
Essas regras seriam extremamente pesadas principalmente para os países mais pobres, cujos Estados ficaram impedidos de investir em
políticas de assistência social. Ao mesmo tempo, as prescrições facilitavam a instalação de empresas multinacionais nesses países. Ao
instalarem-se nos países periféricos, essas empresas puderam aproveitar os baixos salários e normas trabalhistas e ambientais muito menos
rígidas do que nos países centrais.
A chegada dessas megacorporações significou, muitas vezes, o
desmantelamento das formas de vida locais, das indústrias nacionais e
de pequenos negócios das regiões em que se instalavam. A maior
parte das ações dessas empresas continuavam nas mãos de um
pequeno grupo de pessoas, geralmente dos países de origem da
marca. Muito foi denunciado, desde os anos de 1990, sobre a
exploração do trabalho por essas grandes corporações. Tratava-se de
casos de trabalho infantil, trabalho análogo ao escravo, exploração do
espaço sem respeito a regras de proteção ao meio ambiente, sem
respeito a regras de segurança para os funcionários etc.
 
Fonte: Por Joa Souza / Shutterstock
Polo industrial de Camaçari (BA) – Brasil.
 
Fonte: Por CJ Nattanai / Shutterstock
Polo industrial em Incheon – Coréia do Sul.
 
Fonte: Por May_Lana / Shutterstock
Porto comercial em Singapura.
A transnacionalização das empresas aprofundou a Divisão Internacional do Trabalho, de modo que cada país se especializava na produção
de uma determinada peça de um produto. Sendo assim, atualmente, cada parte de um carro é feita em um lugar, até que ele seja montado. Se
comprarmos uma roupa de marca norte-americana conhecida, veremos que, raramente, ela terá sido feita nos EUA, mas, provavelmente, na
Índia ou na China. Geralmente, a parte do trabalho mais qualificada e com maior uso de tecnologia de ponta, ainda se encontra nos países
centrais.
TRANSNACIONALIZAÇÃO
Transnacional: Que vai além das fronteiras nacionais, sendo comum a vários países, unidos política e economicamente; corporação
transnacional. (DICIO, 2020)
 
Fonte: Por Wachiwit / Brenda Rocha / Shutterstock
Esse processo de difusão das multinacionais e de imposição da
cartilha econômica neoliberal em todo o mundo foi acompanhado de
muita propaganda e de um discurso valorativo, remetendo à
concretização de um mundo sem fronteiras – mesmo que,
concretamente, impedisse os Estados de investir em políticas públicas
e tornasse a vida das populações mais pobres ainda mais difícil e
instável.
O discurso vendido pelos defensores da globalização era o de um mundo unido pelo império da técnica, da circulação de informações e pelo
desenvolvimento de uma espécie de cidadania universal. A ideia de Aldeia Global, interpretada incorretamente, foi utilizada para difundir a
possibilidade de um afrouxamento de fronteiras, para desenhar um mundo de liberdade.
O cientista político canadense Francis Fukuyama, em artigos e livros escritos nos anos 1990, afirmaria que a história seria conduzida por um
embate entre duas ideologias e que após a Queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, teria triunfado um consenso sobre a
democracia liberal como forma política ideal em todo mundo, o que configuraria o fim dos grandes embates da história.
GLOBALIZAÇÃO
Perspectiva social a partir da Nova Ordem Mundial, com o fim da Guerra Fria, em uma sociedade mais integrada. Tem diversas nuances
e explicações, mas como fim, o princípio de redimensionamento das fronteiras políticas e sociais a partir dos fenômenos de integração
mundial.
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FRANCIS FUKUYAMA
Yoshihiro Francis Fukuyama é um filósofo e economista político nipo-estadunidense, que ficou mundialmente conhecido em 1989, ao
lançar um artigo intitulado O Fim da História, transformado em livro em 1992. Para ele, a maior fonte de problemas são os Estados
falidos.
 
Fonte: Por paparazzza / Shutterstock
Foi devido a esse discurso que o geógrafo brasileiro Milton Santos (2001), em sua teoria crítica, falou de uma globalização como fábula, uma
globalização como perversidade e uma globalização como possibilidade.
MILTON ALMEIDA DOS SANTOS (1926-2001)
Foi um geógrafo brasileiro, um dos grandes nomes da renovação da Geografia no Brasil ocorrida na década de 1970. Também se
destacou por seus trabalhos sobre a globalização nos anos 1990. Sua obra caracterizou-se por apresentar um posicionamento crítico ao
sistema capitalista e seus pressupostos teóricos dominantes na Geografia de seu tempo.
GLOBALIZAÇÃO COMO FÁBULA
A fábula, como história narrada oralmente e passada de geração em geração, tende a tornar-se senso comum, parte de um arcabouço cultural
amplamente compartilhado e aceito. Sendo assim, Milton Santos (2001) chama a atenção para o discurso da globalização enquanto fábula ou
ideologia, que se difunde como caminho único e inevitável para todos os povos, mas tende a mascarar as mazelas que produz.

GLOBALIZAÇÃO COMO PERVERSIDADE
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Seria a globalização tal como ela é. De acordo com o autor, o avanço técnico-científico-informacional dominado pelos Estados (enfraquecidos)
e, principalmente, pelas grandes empresas e corporações transnacionais, serviu à propagação de um discurso único, imposto pelos atores
econômicos de maior poder (hegemônicos).
ESSE DISCURSO INCLUÍA, ALÉM DA IDEIA DE UMA SUPOSTA CIDADANIA
UNIVERSAL, A SUPREMACIA DO LIVRE MERCADO (DESREGULAÇÃO ESTATAL E
TRABALHISTA, COMO PREVIA A DOUTRINA NEOLIBERAL) E AS IDEIAS DE
COMPETITIVIDADE E CONSUMO COMO VALORES PRIORITÁRIOS.
 COMENTÁRIO
No entanto, assim como Santos (2001), outros intelectuais críticos da globalização nesses moldes ressaltam que o livre mercado nunca
existiu, já que era monopolizado por um pequeno número de empresas, cujas ações estavam concentradas nas mãos de empresários de um
pequeno número de países (os países centrais).
Uma competitividade nesse contexto, seja entre empresas ou entre indivíduos, por sua vez, torna-se apenas uma fábula, visto que as
disparidades sociais e regionais em termos de escolaridade, saúde, qualidade de vida e acesso a recursos não foram sanadas – ao contrário,
muitas foram aprofundadas com o processo de globalização do capital. Onde chegaram, como dito, as transnacionais desmantelaram
territorialidades representando uma nova dinâmica para as Sociedades em Rede, para além da globalização.
SOCIEDADES EM REDE
Termo que nos remete à estrutura física de uma rede de integração, primeiro remetido a uma rede, como a de pesca, depois ampliado
para redes complexas, como uma teia, e hoje a ideia de rede de computadores, em que é possível que todo o mundo se interconecte.
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Nosso mundo está em constante mudança. Assista ao vídeo e entenda:
O antropólogo Néstor García Canclini (2014), de modo similar a Milton Santos (2001), também atentou para a relação da globalização com o
capitalismo neoliberal e para o aprofundamento das desigualdades advindo desse processo. Ele afirma que, junto às transformações
concretas na vida das pessoas, duras em grande parte, houve, também, uma globalização imaginada – justamente essa que vinha
acompanhada de um discurso sobre fim de fronteiras e cidadania universal. Um ponto particular de sua reflexão, porém, é a análise dos
impactos culturais desse fenômeno. De acordo com ele: 
NÉSTOR GARCÍA CANCLINI
Néstor García Canclini é um antropólogo argentino contemporâneo. O foco de seu trabalho é a pós-modernidade e a cultura a partir de
ponto de vista latino-americano. É considerado um dos maiores investigadores em Comunicação, Estudos Culturais e Sociologia da
América Latina.
O MUNDO GLOBALIZADO NÃO CHEGA A SER HOMOGÊNEO EM TERMOS
CULTURAIS, MAS SE TORNA UM ESPAÇO EM QUE VARIADAS CULTURAS,
FORMAS DE VIDA E VISÕES DE MUNDO ESTÃO EM CONTÍNUA NEGOCIAÇÃO.
Assim como Santos (2001), Canclini (2014) acredita ser possível transformar a globalização em algo melhor, especialmente pelos processos
de hibridação – diálogo contínuo e criativo entre culturas.
Para os dois intelectuais, o mais importante é que os povos sigam buscando criar e recriar seus caminhos e futuros coletivos, não aceitando
que as formas de vida e relações de trabalho atuais sejam as únicas possíveis.
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 SAIBA MAIS
Sobre o neoliberalismo e as mencionadas escolas, leia o texto super didático do historiador Perry Anderson chamado Balanço do
Neoliberalismo.
Desde os anos de 1960, década de fundação da expressão Aldeia Global, até hoje, os países mais ricos jamais deixaram de proteger
suas economias, especialmente nas áreas em que os países periféricos são mais competitivos, como a agricultura. A Divisão
Internacional do Trabalho segue tendo uma estrutura similar à do século XVI, com países periféricos e semiperiféricos produzindo
matérias-primas, e países centrais produzindo objetos de alto valor tecnológico e agregado. A toda essa configuração, que se tornou
impositiva, Milton Santos chamou globaritarismo ou – como dito – globalização perversa.
Para saber mais sobre os efeitos da globalização na América Latina e sobre o pensamento de Milton Santos, recomento o documentário
O mundo global visto do lado de cá, dirigido por Silvio Tendler, disponível no Youtube.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
 ATENÇÃO!
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que você responda corretamente a uma das seguintes questões.
1. (ENEM 2009) CERTO CARRO ESPORTE É DESENHADO NA CALIFÓRNIA, FINANCIADO POR TÓQUIO, O
PROTÓTIPO CRIADO EM WORTHING (INGLATERRA) E A MONTAGEM É FEITA NOS EUA E MÉXICO, COM
COMPONENTES ELETRÔNICOS INVENTADOS EM NOVA JÉRSEI (EUA), FABRICADOS NO JAPÃO. (…). JÁ A
INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO NORTE-AMERICANA, QUANDO INSCREVE EM SEUS PRODUTOS MADE IN USA,
ESQUECE DE MENCIONAR QUE ELES FORAM PRODUZIDOS NO MÉXICO, CARIBE OU FILIPINAS. (RENATO
ORTIZ, MUNDIALIZAÇÃO E CULTURA) 
 
O TEXTO ILUSTRA COMO EM CERTOS PAÍSES PRODUZ-SE TANTO UM CARRO ESPORTE CARO E
SOFISTICADO, QUANTO ROUPAS QUE NEM SEQUER LEVAM UMA ETIQUETA IDENTIFICANDO O PAÍS
PRODUTOR. DE FATO, TAIS ROUPAS COSTUMAM SER FEITAS EM FÁBRICAS — CHAMADAS
MAQUILADORAS — SITUADAS EM ZONAS-FRANCAS, ONDE OS TRABALHADORES NEM SEMPRE TÊM
DIREITOS TRABALHISTAS GARANTIDOS. 
 
A PRODUÇÃO NESSAS CONDIÇÕES INDICARIA UM PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO QUE:
A) Fortalece os Estados Nacionais e diminui as disparidades econômicas entre eles pela aproximação entre um centro rico e uma periferia
pobre.
B) Fortalece igualmente os Estados Nacionais por meio da circulação de bens e capitais e do intercâmbio de tecnologia.
C) Compensa as disparidades econômicas pela socialização de novas tecnologias e pela circulação globalizada da mão de obra.
D) Reafirma as diferenças entre um centro rico e uma periferia pobre, tanto dentro como fora das fronteiras dos Estados Nacionais.
2. (UERJ 2013/2) VEJA A IMAGEM: 
 
 
 
QUADRINHO (FOTO: REPRODUÇÃO/UERJ) 
 
A CRÍTICA FEITA NOS QUADRINHOS SE RELACIONA COM UMA CONTRADIÇÃO DO CAPITALISMO
GLOBALIZADO, O QUAL SE CARACTERIZA SIMULTANEAMENTE POR:
A) Elitização do acesso digital – popularização das mídias alternativas.
B) Requinte dos sistemas produtivos – declínio dos regimes democráticos.
C) Manipulação dos padrões técnicos – simplificação dos métodos de gestão.
D) Consumo de produtos sofisticados – exploração da força de trabalho fabril.
GABARITO
1. (ENEM 2009) Certo carro esporte é desenhado na Califórnia, financiado por Tóquio, o protótipo criado em Worthing (Inglaterra) e a
montagem é feita nos EUA e México, com componentes eletrônicos inventados em Nova Jérsei (EUA), fabricados no Japão. (…). Já a
indústriade confecção norte-americana, quando inscreve em seus produtos Made in USA, esquece de mencionar que eles foram
produzidos no México, Caribe ou Filipinas. (Renato Ortiz, Mundialização e Cultura) 
 
O texto ilustra como em certos países produz-se tanto um carro esporte caro e sofisticado, quanto roupas que nem sequer levam
uma etiqueta identificando o país produtor. De fato, tais roupas costumam ser feitas em fábricas — chamadas maquiladoras —
situadas em zonas-francas, onde os trabalhadores nem sempre têm direitos trabalhistas garantidos. 
 
A produção nessas condições indicaria um processo de globalização que:
A alternativa "D " está correta.
 
O processo de transnacionalização de empresas e de difusão de meios de comunicação em massa não significou uma equalização de
poderes no mundo – ao contrário, reforçou estruturas de centro e periferia que já estavam configuradas desde o século XVI.
2. (UERJ 2013/2) Veja a imagem: 
 
 
 
Quadrinho (Foto: Reprodução/UERJ) 
 
A crítica feita nos quadrinhos se relaciona com uma contradição do capitalismo globalizado, o qual se caracteriza simultaneamente
por:
A alternativa "D " está correta.
 
A globalização foi caracterizada, muitas vezes, por enorme exploração do trabalho nos países periféricos, barateando os custos de produção –
o que, por sua vez, possibilitou que grande parte da população mundial pudesse consumir os novos produtos da tecnologia informacional,
como os smartphones.
 
Fonte: Por DisobeyArt / Shutterstock
INTRODUÇÃO
Em um primeiro momento, vamos compreender de que modos e em que medidas, cada vez mais, esses fluxos de informação definem nossa
atuação no mundo, nossas práticas, nosso consumo, nossa cosmovisão. Em um segundo momento, analisaremos as formas pelas quais
podemos usar esse fluxo de informações e essa conexão pelas redes para difundir material de qualidade sobre temas pertinentes à vida e
para construir redes de solidariedade nas diversas comunidades das quais fazemos parte. Antes, porém, vamos relembrar como chegamos
até aqui.
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COSMOVISÃO
Modo particular de perceber o mundo, geralmente, tendo em conta as relações humanas, buscando entender questões filosóficas
(existência humana, vida após a morte etc.). (DICIO, 2020)
Entre os anos de 1960 e 2000 o planeta passou por um processo de
transnacionalização da economia e de uma certa cultura, com a
migração de grandes corporações para as mais diversas regiões do
mundo e a indústria e comunicação de massa, representadas
especialmente pela televisão e pelo cinema, difundindo e estimulando
padrões europeus/norte-americanos de vida, consumo, atuação e
modelos políticos.
Autores como Milton Santos (2001) e Néstor García Canclini (2014),
foram críticos a essa expressão da globalização que – no lugar de,
efetivamente, conectar os povos e tornar a vida melhor para todos –
jogou populações inteiras na miséria e não mudou as características
desiguais da Divisão Internacional do Trabalho. Ou seja, países que
eram periféricos e semiperiféricos desde o século XVI continuaram
mantendo sua condição de produtores de commodities e matérias-
primas. Além disso, a imposição da cartilha econômica neoliberal em
todo o mundo reduziu a possibilidade de os Estados nacionais
investirem em políticas públicas de industrialização e assistência social
para seus povos.
 
Fonte: Por Maxx-Studio / Shutterstock
COMMODITIES
Tudo aquilo que, se apresentando em seu estado bruto (mineral, vegetal etc.), pode ser produzido em larga escala; geralmente se
destina ao comércio exterior e seu preço deve ser baseado na relação entre oferta e procura. (DICIO, 2020)
Por outro lado, os dois autores também nos chamaram a atenção para as transformações culturais ocasionadas por esse processo. Essas
mudanças, embora tenham tendido à homogeneização e ao compartilhamento global de símbolos e estilos de vida, também possibilitaram
apropriações criativas por parte de grupos sociais diversos, que agora tinham acesso um pouco maior à informação e à tecnologia. Tanto
Santos (2001), quanto Canclini (2014), analisaram algumas dessas apropriações no Brasil e na América Latina, vendo nelas possibilidades de
criação ou invenção de uma outra globalização.
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 ATENÇÃO
Para Santos (2001), era importante que os povos não se deixassem convencer de que o mundo globalizado-hierarquizado-neoliberal e
altamente desigual seria o único caminho possível. Era importante, assim, reinventar a utopia – desacreditada em função dos crimes da União
Soviética e da Queda do Muro de Berlim – em novos moldes.
A ASCENSÃO DAS REDES SOCIAIS NO SÉCULO XXI
 
Fonte: Por Drk_Smith / Shutterstock
 
Fonte: Por Aleksandrs Bondars / Shutterstock
 
Fonte: Por Bumbim; Apinan Unjit; outsideclick / Shutterstock
 
Fonte: / Shutterstock
 
Fonte: Por Avector / Shutterstock
As redes sociais, em especial o Facebook, foram recebidas com entusiasmo em todo o mundo, não apenas pelo seu caráter de
entretenimento, mas, sobretudo, pela percepção de que essas redes poderiam democratizar o acesso à informação e ao
conhecimento, considerando-se que a chamada grande mídia, ou seja, as grandes redes de televisão e jornais em todo o mundo,
sempre foram dominadas por um pequeno número de famílias e grandes corporações.
Além disso, os jornais televisivos, impressos ou digitais, representam uma difusão vertical da informação, com pouca ou nenhuma interação.
Nas redes sociais, por sua vez, não apenas recebemos as informações, mas podemos comentar, compartilhar com textos críticos/analíticos,
debater com outras pessoas, participar de grupos de discussão etc.
Segundo o jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto (2013):
 
Fonte: Por art.em.po / Shutterstock
Com essa fluidez e rapidez, as redes sociais, tornando-se parte fundamental do ciberespaço transformaram-se em um lugar de encontro para
uma grande massa de pessoas que, há muito tempo, não se sentia mais representada pela política institucional. Propaga-se, rapidamente, no
Brasil e no mundo, o chamado ciberativismo.
Ciberativismo é, geralmente, definido como uma forma de utilização da internet por movimentos politicamente motivados. O autor Sándor
Végh, em texto de 2003 denominado Classifying forms of online activism: the case of cyberprotests against the World Bank dividiu o ativismo
digital em três categorias:
A primeira estaria relacionada à promoção e divulgação de uma pauta ou causa política.
A segunda seria o uso da internet para a organização e mobilização de uma ação política.
A terceira seria representada pelo ativismo hacker, com invasão ou congestionamento de sites.
Esse tipo de mobilização pela internet foi fundamental para a estruturação de uma série de movimentos políticos da sociedade civil, em todo o
globo, a partir da primeira década dos anos 2000. Que movimentos foram esses, exatamente?
A ERA DA INFORMAÇÃO E DA PÓS-VERDADE
 
Fonte: Por Carlos Amarillo / Shutterstock
As eleições ocorridas entre 2016 e 2018 expuseram ao mundo o poder das novas tecnologias, em especial das redes sociais, em detrimento
do antigo poder dos grandes veículos de imprensa. O momento posterior à eleição de Trump nos EUA foi permeado por uma série de
investigações em torno do bombardeamento de fake news via redes sociais, e como essas notícias falsas teriam afetado os resultados da
corrida eleitoral. Embora boatos e notícias falsas sempre tenham existido, agora elas passaram a circular em uma velocidade sem
precedentes na história, e atingindo uma massa incalculável de pessoas.
AS INVESTIGAÇÕES INICIADAS NO ESTADOS UNIDOS DESCOBRIRAM QUE ESSE
TIPO DE NOTÍCIA DIFUNDIU-SE MUITO MAIS A PARTIR DE
COMPARTILHAMENTOS, TENDO ALCANÇADO UM NÚMERO MUITO MAIOR DE
PESSOAS DO QUE AS NOTÍCIAS VEICULADAS NOS CANAIS TRADICIONAIS DA
MÍDIA – QUE, POR REPRESENTAREM O JORNALISMO PROFISSIONAL, TÊM UM
COMPROMISSO COM OS FATOS, POR MAIS QUE OS MODOS DE CONSTRUÇÃO
DAS NARRATIVAS, COMO SABEMOS, POSSAM SER BASTANTE TENDENCIOSOS.

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