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~ SUMÁRIO FEBRE E INFLAMAÇÃO .............................................................................................................. 1 FEBRE ............................................................................................................................................................... 7 PERGUNTAS REALIZADAS AO PACIENTE COM FEBRE: ............................................................................. 10 HIPOTERMIA ................................................................................................................................................... 14 INFLAMAÇÃO .................................................................................................................................................. 15 PERGUNTAS REALIZADAS AO PACIENTE COM INFLAMAÇÃO ................................................................... 20 EDEMA, DISPNÉIA E CIANOSE ................................................................................................ 21 EDEMA ............................................................................................................................................................ 23 DISPNEIA ........................................................................................................................................................ 36 CIANOSE ......................................................................................................................................................... 40 SÍNDROMES HEPÁTICAS ......................................................................................................... 44 SÍNDROME ICTÉRICA..................................................................................................................................... 47 ANAMNESE DO PACIENTE COM INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA ...................................................................... 58 SEMIOLOGIA DA DOR .............................................................................................................. 61 LESÕES ELEMENTARES .......................................................................................................... 66 SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E PERDA SÚBITA DE CONSCIÊNCIA ........... 85 SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA .................................................................................................. 85 PERDA SÚBITA DE CONSCIÊNCIA ................................................................................................................ 96 SÍNDROMES PLEURO-PULMONARES .................................................................................. 103 SÍNDROMES RENAIS .............................................................................................................. 121 ANAMNESE .............................................................................................................................. 132 ELEMENTOS DA ANAMNESE ....................................................................................................................... 134 EXAME FÍSICO GERAL E DE CABEÇA E PESCOÇO........................................................... 136 EXAME FÍSICO GERAL ................................................................................................................................. 138 EXAME FÍSICO DE CABEÇA E PESCOÇO ................................................................................................... 144 EXAME FÍSICO DE TÓRAX ..................................................................................................... 147 EXAME FÍSICO DE ABDOME .................................................................................................. 156 EXAME FÍSICO CARDIOVASCULAR ..................................................................................... 169 EXAME FÍSICO DO CORAÇÃO ..................................................................................................................... 171 SÍNDROMES DISPÉPTICA, DIARREICA E DISFÁGICA........................................................ 185 SÍNDROME DIARREICA ................................................................................................................................ 185 SÍNDROME ANÊMICA ............................................................................................................. 193 DOR TORÁCICA....................................................................................................................... 204 AVALIAÇÃO E EXAME OSTEOMUSCULAR ......................................................................... 215 SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA ............................................................................................... 226 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS .............................................................................................. 239 AVISOS 1- É recomendado que esse resumo seja impresso colorido, principalmente a parte de lesões elementares. 2- Os códigos QR ao longo do resumo são de vídeos do YouTube relacionados ao tema abordado. Para usá-los, use o aplicativo de câmera do celular (caso ele ofereça suporte) ou baixe um aplicativo de leitura de QR Code na Google Play/App Store (obrigada Nelore ♥). 3- A ordem das aulas podem variar de semestre para semestre, leve isso em conta ao encadernar o resumo ou numerar as páginas. 4- As referências usadas no resumo foram as aulas, o Porto de Semiologia e o Moore de Anatomia. 5- Podem avisar a Medusinha caso encontrem qualquer erro ou algo do tipo ao longo do resumo. Bons estudos amorecos. ♥ 1 FEBRE E INFLAMAÇÃO Medusa – 86 Os seres humanos, por serem animais endotérmicos, apresentam controle interno da temperatura corporal. Este controle é importante para que os processos bioquímicos e celulares sejam mantidos e realizados da melhor forma possível. Para que isso ocorra, há uma região cerebral (controle central) que, em associação com o hipotálamo e a hipófise, formam o centro termorregulador. O centro termorregulador é dividido em duas regiões: um centro de dissipação de calor e um centro de produção de calor. Estes dois centros funcionam em anfotonia (quando dois sistemas antagônicos atuam um sobre o outro, se auto-regulando – como ocorre no SNA -, ex.: quando o centro de dissipação é ativado, o centro de produção é desativado, e vice-versa). Como existe uma regulação anfótona dos dois centros, existe uma temperatura em torno da qual o organismo vai se manter, sendo chamada de ponto térmico marcado. A temperatura corporal permanece quase constante, em uma variação fisiológica de no máximo 0,6 ºC (indo de 36,6ºC a 37,2ºC). Em alguns momentos, é normal (alteração fisiológica) que a temperatura aumente, como após refeições e realização de exercícios físicos. Soma-se a essa alteração fisiológica do corpo uma alteração circadiana que ocorre também na temperatura, variando em até 1,5ºC. Portanto, a variação de temperatura normal vai de 36,6ºC a 37,2ºC, mais a variação circadiana. É possível chegar até 38,2ºC sem que seja patológico. Desta forma, só é realmente considerando um aumento da temperatura patológico acima de 38,2ºC. Hipertermia: Qualquer elevação da temperatura corpórea, acima de 38,2ºC. 2 Existem fatores tanto para a produção de calor quanto para a dissipação de calor, podendo ser citados: Fatores de produção de calor: Calor ambiental Atividade metabólica: Para alguns indivíduos, substâncias como a cafeína podem promover aumento da atividade metabólica. Exercício físico: Até mesmo a atividade física local (exemplo: realizar a flexão e extensão de apenas um braço) é capaz de causar um aumento da temperatura na região. Alimentação: Certos alimentos produzem mais calor do que outros, visto que alguns demandam mais energia para serem metabolizados. Isso explica a busca por alimentosmais calóricos durante dias mais frios (o corpo busca obter mais energia para suprir a sua nova necessidade: produzir mais calor para regular a temperatura interna em relação à externa). Atividade dos hormônios tiroideanos: A tiroxina (principalmente) aumenta a atividade metabólica celular, produzindo mais energia Contração muscular Vasoconstricção periférica: É uma maneira de reter a energia térmica, já que se diminui a superfície de perda de calor do sangue para o meio externo. Isso explica o aspecto pálido dos indivíduos em um dia mais frio. Fatores de dissipação de calor: Sudorese: É o mecanismo de perda de calor mais efetivo dos mamíferos. Taquipneia: Forma de perder calor efetiva nos mamíferos menores (ex.: cão) Vasodilatação: Ocorre para tentar aumentar a superfície de troca de calor do sangue no vaso. Causa vermelhidão na pessoa (especialmente nas bochechas). 3 Importâncias do aumento da temperatura corpórea O aumento da temperatura corpórea é importante para garantir a sobrevida em casos de infecção. O aumento da temperatura corpórea ativa a capacidade fagocítica dos glóbulos brancos, de modo que eles tenham mais avidez por realizar a fagocitose dos agentes infecciosos. Além disso, os efeitos citotóxicos das células são maiores também sobre os agentes agressores. Soma-se a estes fatores o fato de que o aumento da temperatura pode fazer diminuir o crescimento do agente infeccioso, além de diminuir a sua virulência (capacidade que o agente infeccioso possui de agredir o seu hospedeiro – quanto mais virulento, mais agressivo). O aumento da temperatura causa também maior consumo de oxigênio e, com isso, há um aumento da necessidade hídrica e calórica. A temperatura maior do que 37,8ºC em um feto dobra a chance de defeito no tubo neural. Devido a isso, mulheres cujos fetos estão no período embrionário (até 8ª semana) devem se manter atentas à ocorrência de processos infecciosos e inflamatórios e às variações de temperatura. Condições de hipertermia Há 3 condições onde ocorrem aumentos na temperatura corpórea, sendo elas: Insolação: o organismo aumenta a sua temperatura devido à recepção de energia irradiada (ex.: insolação solar – o indivíduo, à noite, relata 4 quadros de febre: possui uma hipertermia devido à energia solar irradiada) Intermação: o organismo aumenta a sua temperatura devido à energia proveniente por convecção Fármacos: substâncias termogênicas, como os barbitúricos (substâncias anticonvulsivantes que atuam no sistema nervoso central, como o fenobarbital - gardenal), as anfetaminas (substâncias que aumentam a temperatura corpórea, causam taquicardia, como LSD e ecstasy). o Apesar de por vezes substâncias termogênicas serem utilizadas com a finalidade de auxiliar na perda de peso durante a realização de atividades físicas, o seu efeito para essa finalidade é muito pequeno. Ocorre, ao invés disso, uma sobrecarga da atividade cardiovascular (que passa a funcionar mais do que seria necessário para a realização da atividade). É importante ressaltar que todo aumento de temperatura muito acentuado causa alteração das proteínas do citoplasma, desnaturando-as e evoluindo para um quadro de óbito. Regulação da temperatura Quando ocorre o aumento da temperatura por qualquer motivo, há no centro termorregulador a ativação do centro de dissipação de calor, e o desligamento do centro de produção de calor. Quando ocorre a ativação do centro de dissipação de calor, este envia estímulos para que ocorra a vasodilatação periférica (que deixa no indivíduo a sensação de calor), levando à perda de calor. Quando o centro de dissipação de calor é ativado, há uma ativação da sudorese, que promove uma dissipação de água para a perda de calor. Além disso, as glândulas sudoríparas, ao serem ativadas, liberam também bradicinina, que contribui ainda mais com a vasodilatação periférica. A sensação de calor provocada pela vasodilatação periférica faz com que o indivíduo evite permanecer em um lugar quente e manter situações que lhe tragam aumento da temperatura, de modo que ele passe, involuntariamente, a adotar ações que auxiliem na diminuição da temperatura corpórea, como a retirada de uma blusa de frio ou a busca por um local mais fresco para se posicionar (medida que também auxilia no controle da temperatura). Estas ações acontecem devido a uma ativação do sistema límbico. 5 O contrário ocorre se há uma diminuição da temperatura: passa a haver uma ativação do centro de produção de calor. Para haver esta produção de calor, há uma ativação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático, que causa um aumento do tônus muscular (o que explica porque o ser humano fica mais arrepiado durante o frio e muito mais tenso, contraído), de modo que ela pode ser tão intensa que chegue a causar calafrios (tremores). A função do calafrio é realizar uma contração muscular que produza calor para alcançar a temperatura objetivada pelo ponto térmico marcado. A ativação simpática causa também a liberação de neurotransmissores (epinefrina e norepinefrina) que aumentam a atividade metabólica (e, com isso, aumentam a temperatura). Ao contrário do que ocorre no aumento da temperatura, ocorre uma vasoconstrição periférica durante a diminuição da temperatura (visando reduzir as trocar de calor com o meio externo), de modo que a pessoa possua a sua ruborização da face reduzida e apresente certa palidez 6 7 FEBRE Define-se como febre uma elevação anormal da temperatura corpórea devido a uma alteração do centro termorregulador, levando a um aumento do ponto térmico marcado. Ao acontecer esta alteração do ponto térmico marcado, o organismo passa a entender que a temperatura ideal objetivada não é mais 36ºC, mas sim 39ºC (por exemplo). Com isso, se durante esta alteração o indivíduo se apresentar com uma temperatura de 37ºC, o centro termorregulador vai entender que a temperatura está mais baixa do que o esperado (39ºC), ativando o centro de produção de calor e todos os mecanismos que ocorrem em um cenário de diminuição de calor (vasoconstricção periférica, calafrios, busca por mais vestes, etc). A diferença entre a hipertermia e a febre é que a primeira NÃO altera o ponto térmico marcado, enquanto a segunda ALTERA. Isto explica por que o aumento da temperatura realizado durante a prática de um exercício físico não é caracterizado como febre, mas sim como um aumento fisiológico da temperatura. Fisiopatologia da febre Para compreender a fisiopatologia da febra, é necessário compreender o que é um Pirógeno Endógeno (PE). Um PE consiste em um sinal emitido pelas próprias células imunitárias do organismo frente ao contato com um corpo estranho. 8 Para que a febre ocorra, o PE circula pela corrente sanguínea, ativando as demais células imunitárias e promovendo respostas específicas no organismo frente ao quadro (é importante ressaltar que quem faz todo esse processo de sinalização da infecção não é o agente invasor em si, mas sim um intermédio produzido pelo próprio organismo – o PE). Exemplo disso é quando há um estímulo (ex.: bactéria) que entra em contato com o organismo. Este agente é non-self (visto que ele não faz parte do organismo humano naturalmente), sendo classificado como um antígeno. A presença dos antígenos desencadeia a cascata imunológica, que envia para o local uma célula capaz de reconhecer o antígeno e fagocitá-lo. Após a fagocitose, a célula elimina parte do DNA do antígeno, de modo que esta célula, do momento em diante, passa a ser chamada de apresentador de antígeno. Este apresentador de antígeno apresenta o antígeno para outras células (ex.: leucócitos), causando uma resposta inflamatória contra todos os demais antígenos circulantes. Todavia, para que essa “apresentaçãodo antígeno” ocorra, é necessário a liberação de algumas substâncias (pelo apresentador de antígeno) para que as demais células sejam atraídas. Estas substâncias liberadas são chamadas de citocinas. Existem diversos tipos de citocinas (ex.: interleucinas, interferons, fator de necrose tumoral – TNF. Quando a sua liberação não é efetiva, não há a devida sinalização da mitose incorreta para que as células alteradas sejam destruídas, de modo que elas continuam a se dividir e dão origem a um câncer). As citocinas são um exemplo de PE, visto que elas atravessam a barreira hemato-encefálica e, ao chegarem ao cérebro, ativam a liberação de prostaglandinas. As prostaglandinas, por consequência, alteram o hipotálamo, mudando a sua conformação habitual e fazendo com que o ponto de temperatura marcado seja aumentado. 9 Portanto, não é o antígeno em si (ex.: vírus/bactéria) que causa a alteração do ponto térmico marcado, mas sim todo o contexto da produção de um fator interno frente à presença do antígeno, que leva à produção de prostaglandinas que mudam o PTM. A febre é uma síndrome clínica A febre pode ser um sinal (se ao se utilizar o termômetro, observar a elevação da temperatura), ou sintoma (se o paciente referir que anteriormente apresentou febre), mas é mais comumente classificada como uma síndrome clínica, visto que ela envolve uma série de sinais clínicos. O paciente febril geralmente não se apresenta em bom estado geral, mas sim com os seguintes sinais clínicos e sintomas: Astenia: Sintoma que quer dizer que a pessoa está indisposta. Isso ocorre pois a circulação de citocinas leva à sensação de mal-estar. Taquicardia: O aumento da temperatura corpórea está diretamente relacionado com o aumento da temperatura sanguínea. A despolarização do nó sinusal é facilitada se o sangue que chega a ele está com uma temperatura maior, o que leva a uma taquicardia. Cefaleia: Sintoma. Uma das formas de dissipação de calor (que é objetivada em um quadro de controle da febre) é a vasodilatação. Ao ocorrer nas Aa. Cerebrais, a vasodilatação causa cefaleia (esta é a fisiopatologia da enxaqueca). Taquisfigmia: É definida como um aumento da frequência de pulso. O aumento da frequência cardíaca pode ser refletido em um aumento da pressão de pulso (percebida ao se palpar a A. Radial, por exemplo). Oligúria: A vasodilatação global acomete também as arteríola aferente e eferente do glomérulo. A queda de pressão nas arteríolas leva a uma menor pressão intraglomerular, levando a uma menor TFG. Com a redução desta, há uma menor produção de urina. Mialgia: As citocinas circulantes agridem as células musculares. Calafrios: São consequência do processo de subir a temperatura (objetivado pela febre, já que o PTM foi elevado). Sudorese: Devido à vasodilatação realizada pelo organismo para tentar abaixar a temperatura para controlar a febre. Náuseas e vômitos: As citocinas, ao atravessarem a barreira hemato- encefálica, ativam o centro de náusea e vômito. O indivíduo também pode perder a vontade de se alimentar, causando a hiporexia. 10 PERGUNTAS REALIZADAS AO PACIENTE COM FEBRE: 1. DURAÇÃO: Há quanto tempo apresenta o quadro de febre? De poucos dias: Se for há poucos dias, pode ser uma febre característica de doenças infecciosas. Prolongada: Pacientes com febre prolongada há mais de 14 dias necessitam de uma investigação diagnóstica. o Quadros de inflamações crônicas (como em quadros de Lúpus ou Artrite Reumatóide) ou neoplasias podem causar também febre, sendo mais prolongadas. 2. DEFERVESCÊNCIA: Como foi a queda da temperatura? Todo quadro febril possui um período de ascensão da temperatura e um período de queda da temperatura (que pode ser espontânea ou devido ao uso de antitérmicos). O período de queda de temperatura é chamado de defervescência. Em crise: Quando a queda da temperatura é súbita, não dando tempo para o organismo se acomodar à queda (ex.: O PTM está em 40ºC, e ao se tomar o antitérmico ele cai bruscamente para 35,6ºC. Com isso, o corpo passa a apresentar os diversos mecanismos para se diminuir a temperatura (já que está mais elevada – 40ºC – do que o novo PTM – 35,6ºC), como vasodilatação e sudorese.) Em lise: A temperatura vai caindo lentamente, de modo que o organismo tenha tempo de se acomodar com esta diminuição (Ex.: A febre cai de 40ºC, para 39,8ºC, 39,6ºC...). Desta forma, não causa sintomas de queda temperatura como a em crise (sudorese e vasodilatação) 11 3. MODO DE EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA: Como a temperatura foi mudando? A maneira pela qual a temperatura vai decrescendo (ou aumentando) é registrada por meio de uma curva térmica (um gráfico das temperaturas). Há diversos tipos de evolução da febre, expostas a seguir: Febre contínua/Platô Febril: Variações de até 1ºC, sempre acima do normal. Febre intermitente: Há períodos em que o paciente apresenta apirexia (não possui febre) e períodos de febre, com variações muito grandes da temperatura (maior que 1ºC). Se a variação entre os períodos de ausência e presença de febre ocorre de maneira cíclica, ela pode ser chamada de febre terçã, quartã ou diária (ex.: Tuberculose – uma febre diária vespertina), dependendo da sua frequência de oscilações. Febre remitente: Não há períodos de apirexia (está sempre febril), mas há uma grande variação da temperatura (mais do que 1ºC) 12 Febre irregular ou séptica: A curva apresenta picos muito altos intercalados com temperaturas baixas ou apirexia, sem caráter cíclico ou qualquer regularidade (totalmente imprevisível) Febre recorrente ou ondulante: Há uma fase em que o paciente apresenta febre, desaparecendo em seguida durante um período prolongado, e retornando posteriormente. Se ela ocorre em um paciente com linfoma, é chamada de febre de Pel-Ebstein. DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA FEBRE Para realizar o diagnóstico clínico da síndrome febril, é necessário realizar a aferição da temperatura, procedimento feito com a utilização de um termômetro clínico. A aferição da temperatura do paciente pode ser: Termometria direta: Insere-se um sensor no interior da veia do paciente, levando-o até à desembocadura das Vv. Cavas (para que seja medida a temperatura central do paciente; do átrio direito). Por ser um procedimento invasivo, normalmente ele não é realizado (a não ser que o paciente já esteja invadido – com um cateter central). Indireta: É avaliada através de um termômetro clínico em determinados locais: o Bucal o Axilar o Retal 13 Devem ser tomados alguns cuidados com a aferição da temperatura (para que não seja medida uma temperatura fictícia), como deixar o termômetro sob luz solar; medir no local adequado e pelo tempo adequado. INVESTIGAÇÃO SEMIOLÓGICA DA FEBRE 1. Houve aferição de temperatura? É sempre a primeira coisa a ser questionada ao paciente que relatou febre como sintoma. Se sim, questionar qual a temperatura encontrada (visto que por vezes a temperatura encontrada não é classificada como febre – ex.: 36,5) 2. Qual a intensidade? Quanto deu no termômetro? 3. Qual a duração? Há quanto tempo ela vem ocorrendo? 4. Qual a evolução? Ex.: aparecia a cada 12 horas e passava espontaneamente; aparecia e só desaparecia quando tomava antitérmico, etc 5. Como foi o término da febre? Como foi a defervescência (perguntar com que velocidade passava e se sentia algo enquanto isso acontecia – sinais da defervescência em crise). 6. Qual a periodicidade? Quantos picos aconteceram ao longo do dia? 7. Quais os fatores que acompanhavam a febre? Como calafrios, mialgias, mal-estar, vômitos, astenia etc. 8. Houve uso de medicamentos? Se sim, quais e em qual quantidade? É importante obter estes dados para saber sobre a possível influência de fármacos sobre a curvatérmica (ex.: antitérmicos, corticoides, drogas para o SNC (como anticonvulsivantes) ou drogas que possam produzir febre – ex.: cápsula de cafeína). 9. Viajou recentemente? Foi para algum lugar onde estava circulando algum vírus em específico? A presença de viagens na história clínica pode auxiliar a detectar doenças infecciosas de determinada região (ex.: praias ou Amazônia). Deve-se notar também se o relato é recente (condizente com o tempo de transmissão da doença). Sinal de Lenander: Há um aumento da temperatura retal (maior em 1ºC do que a axilar). É indicatório de um processo inflamatório intra- abdominal (como acontece na apendicite). Sinal de Faget: Casos em que o paciente tem febre, mas não apresenta taquicardia (há essa dissociação). É clássica na febre amarela (em sua segunda fase) e na febre tifoide. 14 HIPOTERMIA É o oposto da hipertermia, ocorrendo quando há uma temperatura inferior a 35ºC. Ela pode ser primária ou secundária; aguda, subaguda ou crônica: Primária: Há alteração neurológica causando queda do ponto térmico marcado (exemplo disso é que a maior parte das hipotermias é causada por traumas com lesões cerebrais) Secundária: Quando se está perdendo calor para o meio externo. Hipotermia aguda: Há uma rápida queda da temperatura, sem proporcionar um tempo adequado para que o corpo se adapte. Ex.: Pessoa que cai em lago muito gelado (pode levar a uma parada cardíaca também) Hipotermia subaguda: Quando demora algumas horas para acontecer. Ex.: Ficar ao relento em uma noite muito fria Hipotermia crônica: Geralmente devido a alguma doença. Sinais da Hipotermia Os sinais da hipotermia são os sinais de resposta ao frio: são visíveis no início uma vasoconstricção, tremores e taquicardia. A hipotermia pode também ser classificada de acordo com a faixa de temperatura na qual se encontra: Hipotermia leve: De 36ºC a 33ºC. Apresenta as características descritas acima, mais letargia motora, espasmos musculares e cianose (este último devido à vasoconstricção) Hipotermia moderada: De 33ºC a 30ºC. A musculatura passa a ficar rígida, inicia-se uma vasoconstricção, uma bradipnéia (na tentativa de reter calor) e um aumento da sonolência (desligamento do SNC para poupar energia). Hipotermia grave: Menos do que 30ºC. Sonolência evolui para o coma e é dificilmente revertida. Tratamento da hipotermia O tratamento da hipotermia é baseado em aquecimento e ministração de soro fisiológico morno. 15 INFLAMAÇÃO É um termo para designar uma reação nos locais vascularizados frente qualquer agente agressor, na qual há perda de líquido e de células do sangue para o interstício. A perda de líquido para o interstício é responsável pela formação de edema. Processo inflamatório 1 - Para que a inflamação ocorra, algum agente causador de agressão (microorganismos, parasitos, agentes físicos ou químicos ou mesmo reações imunológicas) causam a liberação de mediadores inflamatórios locais, como as citocinas já citadas anteriormente ou o óxido nítrico. O óxido nítrico causa uma potente vasodilatação nos vasos, levando a uma alteração na sua permeabilidade. A maior permeabilidade leva à saída de plasma e células para o interstício (causando o edema). 2 - Com a eliminação do agente inflamatório, há uma redução da liberação dos mediadores inflamatórios, levando a uma redução do edema. A inflamação é controlada por um balanço entre a produção de substâncias anti-inflamatórias e pró-inflamatórias. 16 A partir do momento em que o agente entra no organismo (ex.: bactéria adentrando por uma lesão de pele) (1), há a ativação de um macrófago para tentar fagocitá-lo (2). O macrófago inicia então a produção de citocinas (3), as quais alteram a permeabilidade do vaso (4), levando a uma liberação de plasma e de células (como neutrófilos) para o tecido (5). Os neutrófilos liberados auxiliarão no processo de agressão do agente infeccioso (no exemplo, as bactérias) (6). Todavia, se um número excedente de neutrófilos for liberado, terá início então uma agressão do próprio tecido (além da bactéria). Portanto, a inflamação pode ser tanto boa ou ruim: a mesma inflamação que pode ser benéfica para limitar um processo inflamatório, causar aumento da sobrevida e levar à restauração e recuperação do tecido atingido, se realizada de forma muito acentuada e sem controle, pode começar a atacar o próprio órgão. Este fenômeno é observado nas doenças inflamatórias crônicas, como a Lúpus (em que há uma atividade inflamatória muito exacerbada, de modo a produzir anticorpos contra seus próprios órgãos), a artrite reumatoide, AVEs e esclerose múltipla. 17 Sinais e sintomas da inflamação No processo inflamatório é possível notar a presença de 4 sinais e sintomas clássicos (que podem evoluir para 5, se não tratado o quadro): Inchaço: Devido à alteração da permeabilidade vascular supracitada, é possível observar a presença de edema. O edema pode ocorrer de duas formas, sendo que uma delas em específico está relacionada com processos inflamatórios: o Transudato: Quando o edema ocorre devido a um aumento da pressão hidrostática, não retornando para o interior do vaso. Este edema é chamado de edema frio, pois não está acompanhado de um processo inflamatório. Ex.: Paciente com Insuficiência Cardíaca Congestiva Direita – o ventrículo direito não bombeia adequadamente, fazendo com que o sangue fique acumulado na câmara (e por consequência, no átrio direito também). Com isso, o sangue proveniente das Vv. Cavas não consegue fluir para dentro do coração, ficando acumulado dentro das veias do corpo (incluindo as de médio e pequeno calibre), levando a um aumento da pressão hidrostática dentro destes vasos. Com este aumento da pressão hidrostática, ocorre edema (de membros inferiores principalmente). Este edema, portanto, não é inflamatório, mas sim um transudato. o Exsudato: Ocorre quando, por algum motivo, há uma agressão na permeabilidade vascular, fazendo com que as proteínas e células sanguíneas migrem do interior do vaso para seu exterior. À medida que elas se concentram no interstício, tem início uma atração de líquido para o local por osmose (o que leva ao aparecimento do edema). Devido á diminuição das proteínas no sangue, o plasma tem dificuldade de retornar para dentro do vaso. Este edema é chamado de edema quente, visto que é inflamatório. Geralmente apresenta-se brilhante. 18 Calor: No sítio onde ocorra a atividade é inflamatória é possível observar uma atividade metabólica mais exacerbada, levando a um aumento da temperatura local. Rubor: Devido à vasodilatação que acontece com a liberação de óxido nítrico, é possível observar a região mais avermelhada. A região da pele mais avermelhada é chamada de eritema. Dor: A presença de líquido e células do sistema imune no interstício faz com que terminações nervosas periféricas relativas a dor sejam ativadas, fazendo com que o paciente refira dor na área infeccionada. Perda da função: Se o quadro de infecção não for controlado, os agentes inflamatórios passam a realizar agressões no tecido, levando à 19 perda da função do órgão/membro. É o que ocorre, por exemplo, na sepse (uma perda da função orgânica devido a um processo inflamatório não controlado causado por uma infecção). 20 PERGUNTAS REALIZADAS AO PACIENTE COM INFLAMAÇÃO 1. Há quanto tempo a inflamação vem ocorrendo? Esta informação é importante pois ela é capaz de informar se o quadro observado é uma inflamação aguda ou crônica. a. Aguda: Acontece há poucos dias, geralmente devido a um agente pouco patogênico (agentes mais patogênicos causariam uma inflamação mais prolongada), com uma agressão leve e em menor intensidade. O processo agudo geralmente cicatrizano final, não levando à perda de função do órgão/tecido. b. Crônica: O processo perdura vários dias, sendo o agente resistente e causando uma inflamação em grande intensidade. Pode ocorrer devido a um contato persistente (exemplo: a pessoa ser alérgica a um produto químico e estar sempre exposta a ele), podendo levar à perda da função do tecido devido a um processo de fibrose que não pode mais ser reparado. Exemplo desta perda de função devido à inflamação ocorre em um quadro crônico da Doença de Chagas, no qual o coração passa constantemente por um processo de inflamação devido à presença do Trypanosoma cruzi. Devido a isso, os cardiomiócitos passam a ser destruídos e, visando à reparação do tecido, o organismo passa a depositar colágeno no lugar das células. Todavia, o colágeno depositado não confere a elasticidade necessária às contrações cardíacas, o que leva o coração a perder parte de sua função. Além dos cardiomiócitos, pode ser destruído também o sistema de condução do coração, dando origem a arritmias. Alguns exemplos de inflamação: Terçol (acompanhando de ptose palpebral – queda da pálpebra) Espinhas (pústulas) Artrite reumatoide (produção de anticorpos contra a sinóvia. Processo irreversível em que estão presentes os sinais: dedo em boutonniere/de costureira) Amigdalites Utilização de equipamentos não esterilizados em cirurgias podem causar infecções (por microbactéria de crescimento rápido). 21 EDEMA, DISPNÉIA E CIANOSE Medusa – 86 (Primeiramente, algumas considerações que o professor fez no começo da aula) Fáscies Ao realizar a anamnese, a primeira coisa ao se observar no paciente é a sua expressão facial (denominada fácies). Ela geralmente transpassa o estado psicológico e/ou físico do paciente. Determinadas patologias possuem uma fáscie característica, como por exemplo: Fácies cunshingóide: Característica da Doença de Cushing, na qual o rosto se apresenta em meia-lua com o terço inferior arredondado Fácies renal: Característica de quando há comprometimento renal, no qual o rosto fica edemaciado bilateralmente. 22 Estado geral O estado geral do paciente pode ser classificado em bom, regular ou mau. É ele quem define, por exemplo, o agravamento de um quadro clínico. Exemplo disso é observar que, mesmo apresentando a mesma doença, dois indivíduos podem se localizar em diferentes estados gerais, de modo que um possua mais urgência no tratamento do que o outro. 23 EDEMA O edema é caracterizado pelo excesso de líquido no espaço intersticial. Este líquido pode se acumular no interior das cavidades corporais, como por exemplo no interior da cavidade peritoneal (causando a ascite) ou na cavidade pleural. A presença de líquido nas cavidades faz com que o seu som, ao ser percutido, seja submaciço. FORMAÇÃO DO EDEMA Para a formação do edema, é necessário que ocorra um desequilíbrio entre a relação de forças da pressão hidrostática e da pressão oncótica. A pressão hidrostática é aquela exercida na parede do vaso sanguíneo pela quantidade de líquido (sangue) em seu interior, sendo que ela constantemente impulsiona o plasma em direção ao interstício (de dentro para fora do vaso). A pressão oncótica é aquela exercida pela composição química do sangue, principalmente por proteínas como a albumina (que, devido à osmose, atraem o plasma que extravasa para o interstício para o interior do vaso sanguíneo novamente – evitando o acúmulo de líquido no interstício). É importante que estas duas pressões estabeleçam uma constância em sua relação, para que assim seja evitada a formação do edema. O mecanismo que normalmente ocorre (evitando a formação do edema) se dá da seguinte maneira: quando o sangue chega à transição entre o nível arteriolar e o nível capilar, o sangue possui uma pressão hidrostática (Pc) maior que a pressão oncótica (πc) (mostrado em 1), o que leva a uma migração do plasma do interior do capilar para o interstício (1.1). Todavia, ao avançar pelo leito capilar Tipos de sons que podem ser obtidos com percussões: Som maciço: Se obtém ao percutir regiões desprovidas de ar (ex.: músculo da coxa, fígado, baço, rins e coração) Som submaciço: Se obtém quando há a presença de ar em uma quantidade restrita (ex.: pulmões com edema – parte da região que deveria estar preenchida com ar somente contém agora líquido também) Som timpânico: Se obtém ao percutir qualquer área que contenha ar e seja recoberta por uma membrana flexível (ex.: intestinos ou fundo do estômago – espaço de Traube) Som claro pulmonar: Se obtém ao se percutir um tórax normal. Depende da presença de ar dentro dos alvéolos 24 e atingir a extremidade venular, a relação entre a prevalência das pressões vai sendo alterada: a pressão hidrostática (Pc) torna-se inferior à pressão oncótica (πc) (2), invertendo assim a direção do fluxo e fazendo com que o plasma que extravasou no primeiro terço do trajeto retorne para o interior do vaso (2.1). Todavia, este retorno não ocorre totalmente (não é 100% efetivo), visto que resta no interstício 1ml dos 10 que foram filtrados (reabsorve-se apenas 9). Este 1ml é retirado do interstício por meio do sistema linfático, que integra o sistema venoso na junção entre a V. Subclávia e a V. Jugular em ambos os lados do corpo, fazendo com que o plasma retorne à corrente sanguínea. Todavia, se acontece uma alteração nos fatores que mantém essa constância (pressão hidrostática, pressão oncótica e sistema linfático), há acúmulo de líquido no interstício, levando à formação do edema. As alterações podem ocorrer das seguintes formas: 1. Alteração na pressão hidrostática: Acometimento renal: O acometimento renal pode causar dois tipos de edema, tanto devido à alteração da pressão hidrostática quando à alteração da pressão oncótica: o Retenção hidrossalina devido à insuficiência renal: Decorre da morte de glomérulos. Com a morte dos glomérulos, o sangue deixa de ser filtrado em sua totalidade e, portanto, não há a eliminação dos íons na urina. O acúmulo dos íons leva a uma retenção hidrossalina, causando uma hipervolemia. Por consequência há o aumento da pressão hidrostática, levando ao extravasamento de plasma para o interstício 25 o Albuminúria devido a glomerulopatias: Decorre da lesão da membrana basal, permitindo a passagem de albumina para a urina, causando portanto uma alteração na pressão oncótica do sangue. o De forma clássica, o edema causado pelo acometimento renal é facial bipalpebral, causando a fácies descrita anteriormente (fáscies renal). Além de edemaciado, o rosto do indivíduo fica também pálido. Hipervolemia Estase venosa: Como ocorre nos casos de Insuficiência Cardíaca Direita ou Esquerda. o IC Direita: Neste caso, o sangue não consegue ser bombeado adequadamente para o Tronco Pulmonar, ficando acumulado no VD, o que leva a ele se acumular no AD também. Como está acumulado no AD, o sangue das Veias Cavas não consegue fluir para dentro do coração, ficando acumulado em todo o sistema venoso do organismo. Este acúmulo de sangue nas veias faz com que a pressão hidrostática aumente em todo corpo, causando um edema generalizado, denominado anasarca. Este edema é ascendente (tem início nos membros inferiores e vai subindo), e geralmente o paciente relata que este se acentua no período da tarde (vespertino). Vem acompanhado de hepatomegalia pois o acúmulo de sangue em todos os vasos que direcionam o seu fluxo para a V. Porta acomete também os sinusoides hepáticos, de modo que eles fiquem congestionados como acúmulo de sangue venoso em seu interior (fazendo com que o fígado aumente de tamanho). o IC Esquerda: Já nesta situação, a dificuldade no bombeamento ocorre no lado esquerdo, de modo que o sangue não consegue fluir para a Aorta e seacumula no VE, e, por consequência, no AE. Como grande parte do sangue permanece no AE, o fluxo proveniente das Vv. Pulmonares não consegue chegar a seu destino, ficando acumulado nestas e também nos capilares presentes no parênquima pulmonar. O aumento de sangue nos capilares pulmonares causa aumento da pressão hidrostática na parede dos vasos, levando ao extravasamento de plasma e à presença do edema pulmonar. Bloqueadores de canais de cálcio (medicamento para hipertensão e arritmias): Estes medicamentos atuam sobre a membrana dos cardiomiócitos, inibindo a entrada de Ca+² na célula e assim diminuindo a sua excitabilidade (efeito para as arritmias) e sua contratibilidade (efeito para a hipertensão). O período de relaxamento é prolongado, o que leva à diminuição da frequência cardíaca e diminuição velocidade da condução do estímulo eléctrico fisiológico pelo nó AV e https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Nodo_AV&action=edit&redlink=1 26 secundariamente por todo o miocárdio (efeito para as arritmias). Todavia, este medicamento pode causar também vasodilatação (a contração do músculo liso das arteríolas ocorre devido ao cálcio externo que entra na célula; desta forma, com o bloqueio de sua entrada, há menos cálcio disponível e há uma redução da contratilidade que mantém o tônus da arteríola, de modo que o vaso fique mais dilatado). Esta vasodilatação leva a um acúmulo do sangue dentro das arteríolas e aumenta a pressão hidrostática na parede destes vasos, causando a uma maior extravasamento do plasma. (só pra lembrar rs) 2. Alterações na pressão oncótica: Estão normalmente relacionadas a alterações na concentração de albumina no sangue, a principal proteína responsável por exercer a pressão oncótica. Desnutrição: Uma dieta baseada em uma baixa ingestão de proteínas leva à presença de edema, principalmente na região do abdome. Isso explica o motivo pelo qual os indivíduos em locais assolados pela desnutrição apresentam geralmente membros finos (pouca massa muscular), mas um abdome globoso (devido à ascite ocasionada pelo acúmulo de linfa na cavidade abdominal) https://pt.wikipedia.org/wiki/Mioc%C3%A1rdio 27 Problemas na absorção: Estão relacionados à uma ingestão adequada de proteínas, mas à incapacidade de absorvê-las. Entre suas causas, estão: o Tumores o Síndromes de má-absorção o Cirurgias do aparelho gastrointestinal o Verminoses Hepatopatias: Como a albumina é produzida no fígado, doenças que acometem o seu funcionamento (ex.: cirrose hepática) levam a um comprometimento da síntese da albumina, levando a um quadro de edema generalizado, principalmente na cavidade abdominal. Isso se explica pela maior pressão do sistema porta. Todavia, ainda assim é possível observar edema de membros inferiores. o Os pacientes com edema de origem hepática geralmente se apresentam com membros finos com pouca massa muscular e um volumoso abdome devido à ascite 28 Glomerulopatias: Há casos em que a ingestão e a absorção de proteínas estão adequadas, assim como a produção de albumina. Todavia, a membrana basal dos capilares glomerulares encontra-se lesionada, de modo que a albumina é capaz de atravessá-la e ser eliminada na urina (albuminúria). 3. Obstrução no sistema linfático: O sistema linfático é outro componente importante no processo de se evitar formar o edema, visto que ele é o responsável por drenar o 1ml/min restante no interstício. As principais interrupções no seu funcionamento são: Filariose: Devido à obstrução do vaso pelo verme e morte dos linfonodos adjacentes, não é possível ocorrer a drenagem, levando a um quadro de edema crônico que distende toda a pele do indivíduo e torna-a grossa e dura, como a de um elefante. Retirada de linfonodos: Ocorre principalmente nas cirurgias de retirada de mama. A retirada dos linfonodos compromete a drenagem na linfa e o seu destino aos grandes ductos do sistema linfático, de modo que o líquido se acumule no membro e ele fique edemaciado. 29 Mixedema: Tipo específico de edema que acontece devido ao hipotireoidismo. Decorre do acúmulo de polissacarídeos no espaço intersticial abaixo da pele, de modo a atrair líquido para o local, tornando-o edemaciado. Edema alérgico: Ocorre principalmente devido a uma alteração da permeabilidade capilar. Da reação antígeno-anticorpo surgem diferentes substâncias, como a histaminas e cininas que, agindo a nível capilar, alteram a sua permeabilidade. Esta alteração permite a passagem de água para o interstício entre as células. SINAIS TÍPICOS DO EDEMA O edema apresenta alguns sinais que permitem caracterizá-lo, sendo eles: Alteração do contorno do membro (aumento do seu tamanho). Pode ser notado principalmente na região dos tornozelos (perimaleolar) quando acomete o membro inferior. Pele lisa e brilhante: O estiramento da pele pela presença da linfa excedente não drenada faz com que seja percebido este sinal, principalmente em edemas que ocorrem há pouco tempo 30 Sinal do Cacifo/de Godet: O edema pode ser duro (como o da filariose) ou mole, como a maioria dos casos. Nestas ocasiões, ao se pressionar a região edemaciada e retirar o dedo, é possível observar que a área em questão apresenta a forma de uma depressão (permanece afundada), demorando um intervalo de tempo para retornar ao seu aspecto original. INVESTIGAÇÃO SEMIOLÓGICA DO EDEMA Deve-se investigar na avaliação semiológica as seguintes características do edema: Tempo de duração Acontece há pouco tempo ou o edema já é crônico? Localização e distribuição O edema é localizado ou generalizado? O edema localizado é segmentar: acomete um segmento apenas de apenas um membro. Se o edema ocorrer no mesmo segmento, mas em ambos os membros, é caracterizado como generalizado. O edema localizado está normalmente relacionado a alterações na circulação local (ex.: torção do tornozelo ao realizar atividade física). Dentre as principais causas de edema localizado, pode-se citar as varizes, flebites e trombose venosa, processos inflamatórios, afecção dos vasos linfáticos e postura. 31 Geralmente o edema generalizado está relacionado a uma condição sistêmica (ex.: condição renal, cardíaca ou hepática). Para que este último ocorra, é necessário que aconteça a retenção de mais de 2 litros de linfa. Este acúmulo de líquido faz com que o membro pese, dificultando a realização das atividades diárias do paciente (como caminhar, por exemplo). Geralmente os MI são as regiões mais acometidas. Todavia, também é necessário se investigar a face (principalmente as regiões subpalpebrais) e a região pré-sacra, visto que elas também podem apresentar edemas. Evolução O edema sempre esteve naquele aspecto? Iniciou-se restrito a uma região e depois se espalhou para as demais? Houve aumento progressivo do diâmetro da área edemaciada? Intensidade É medida ao se pressionar a região edemaciada (em direção a uma estrutura dura, como os ossos) com a polpa digital e observar a profundidade da fóvea que ficou no local da compressão. A intensidade é graduada em cruzes (+ a ++++). Pode-se avaliar também a amplitude do edema por meio da pesagem do paciente 1x ao dia (pela manhã ou pela noite), e notar se houve alguma variação muito grande no peso (que pode ser traduzida na retenção ou eliminação de água. Nos casos de edema nos MI, medir o perímetro da região edemaciada em dias sucessivos e ir comparando com o membro não edemaciado é uma outra forma de avaliar a intensidade o edema. 32 Consistência Também utiliza-se a manobra da compressão com a polpa digital (utilizada para mensurar diversas características), mas agora se avalia qual a resistência encontrada ao se comprimir a região edemaciada. Pode ser classificado em: Edemamole: Facilmente depressível. Retenção de duração não muito longa Edema duro: Maior resistência para a formação da fóvea. Acontece devido à proliferação de fibroblastos que ocorre em edemas de longa duração, ou se acompanharem repetidos surtos inflamatórios. Elasticidade É avaliada conjuntamente à consistência, observada pela volta da pele á posição primitiva quando se termina a compressão. O edema pode ser classificado em: Edema elástico: A pele retorna imediatamente à situação normal (fóvea perdura pouco tempo). Característico de edemas inflamatórios. Edema inelástico: A pele comprimida demora para voltar à posição primitiva (depressão persiste por mais tempo) Temperatura da pele circunjacente Utiliza-se normalmente o dorso dos dedos ou as costas das mãos para medi-la, podendo-se notar: Pele de temperatura normal: Sem significado especial Pele quente: Característica de edema inflamatório Pele fria: Significa comprometimento da irrigação sanguínea do local. Sensibilidade da pele circunjacente Se o paciente referir dor ao ser realizada a digitopressão, o edema em questão é inflamatório. Coloração da pele circunjacente Pode ser notada: Palidez: geralmente acontece nos edemas que acompanham distúrbios de irrigação sanguínea Cianose: indicativa de perturbação venosa localizada (mas pode ser parte de uma cianose central ou mista) Vermelhidão: indica processo inflamatório 33 Textura e espessura da pele: Pele lisa e brilhante: Acompanha o edema recente e intenso Pele espessa: Vista em pacientes com edema de longa duração Pele enrugada: aparece quando o edema está sendo eliminado SINAIS PARA IDENTIFICAÇÃO DE CADA TIPO DE EDEMA: Edema renal: É observado nos quadros de síndrome nefrítica, síndrome nefrótica e pieolonefrite. Apresenta algumas características em específico: Edema generalizado, predominante facial, se acumulando nas regiões subpalpebrais Mais evidente no período matutino É mais intenso na síndrome nefrótica (intenso) do que na síndrome nefrítica ou pielonefrite (discreto a moderado) Edema mole, inelástico, indolor e com pele de temperatura normal Edema da ICC/ICD Generalizado e predominante nos MMII Vespertino (devido ao fato de o paciente já ter se mantido de pé por diversas horas) Varia em intensidade, é mole, inelástico, indolor, com pele lisa e brilhante. 34 Edema da cirrose Generalizado, quase sempre discreto (+ a ++), predominando MMII Ascite concomitante Mole, inelástico e indolor Edema da desnutrição proteica (carencial): Generalizado, predominante nos MMII Mole, inelástico, indolor e não costuma ser de grande intensidade Mixedema: Depressível, inelástico, pouco intenso Pele apresenta as alterações próprias da hipofunção tireoidiana Edema alérgico: Pode ser generalizado, mas costuma a restringir-se a determinadas áreas, principalmente a face Acontece de modo súbito e rápido Pele torna-se lisa e brilhante A temperatura pode estar aumentada e a coloração avermelhada. Edema mole e elástico 35 Edema inflamatório: Localizado, intensidade leve a mediana, elástico, doloroso Pele adjacente se apresentando lisa, brilhante, vermelha e quente Edemas e corpo feminino É comum aparecer edema durante a gravidez, principalmente em MI. Em casos de toxemias gravídicas, o edema torna-se mais intenso (devido a nefropatias gravídicas e às alterações hormonais da gravidez). Há também o edema pré-menstrual (na semana que antecede a menstruação) e o que acompanha o climatério. Ascite É definida como acúmulo de líquido na cavidade abdominal. A cirrose é a causa mais comum para que ocorra. A ascite pode ser identificada através do Sinal de Piparote (ou Sinal de Onda Líquida). Para realizar o procedimento, pede-se para o paciente (ou outra pessoa) posicionar a mão na linha mediana do abdômen (apoiar com certa firmeza - não apoiando a palma, mas sim a lateral da mão esticada na linha mediana) e o médico localiza sua mão esquerda sobre o flanco esquerdo do paciente. Com a mão direita, o médico realiza então a percussão no lado direito do abdômen (dá-se um piparote). Se observada que há transmissão de onda de líquido para o lado esquerdo (de modo que o médico seja capaz de sentir a movimentação em sua mão esquerda), o sinal é considerado positivo. 36 DISPNEIA A dispneia é definida como a dificuldade para respirar, podendo o paciente ter ou não consciência desse estado. Ela pode ser subjetiva, se for percebida apenas pelo paciente, ou objetiva, se for perceptível ao exame físico também. Ela é relacionada à atividade física, sendo classificada em: Aos grandes esforços: Percebida ao realizar exercícios mais intensos (como correr e subir vários lances de escada). Aos médios esforços: Realizar atividades mais intensas que as diárias (como andar apressadamente no plano, subir um lance de escada) Aos pequenos esforços: Quando se realiza atividades diárias (como andar ou banhar-se) Dispneia de repouso é aquela em que o paciente, mesmo em repouso, apresenta a dificuldade em respirar. A dispneia pode estar acompanhada de taquipneia (frequência respiratória aumentada) ou hiperpneia (amplitude aumentada). Ortopneia é a dispneia na qual o paciente sente a dificuldade respiratória ao estar deitado, obrigando-o a se sentar ou a ficar de pé para obter alívio. Trepopneia é a dispneia que é aparente no decúbito lateral (ex.: pacientes com derrame pleural que se deitam sobre o lado são). Platipneia é sentida na posição ortostática, sendo aliviada com o decúbito. Causas As causas da dispneia podem ser divididas em: Atmosféricas: Quando a composição da atmosfera é pobre em oxigênio, impossibilitando a respiração. O organismo reage com taquipneia Obstrutivas: Ocorre pois as vias respiratórias (da faringe aos bronquíolos) podem sofrer redução de calibre. Estas obstruções podem ser devido a reações biológicas ou à presença de um corpo estranho. Parenquimatosas: Todas as afecções que possam reduzir a área de hematose de modo intenso Toracopulmonares: Alterações que reduzem a elasticidade e a movimentação toracopulmonar, provocando assimetria entre os hemitórax e causando dispneia (ex.: fraturas dos arcos costais). 37 Diafragmaticas: Toda afecção que interfira no seu funcionamento causa a dispneia, já que ele é responsável por mais de 50% da ventilação pulmonar (ex.: hérnias diafragmáticas) Pleurais: Qualquer irritação na pleura provoca dor no paciente ao inspirar. Devido a isso, frente a essas alterações na estrutura, o paciente tende a limitar ao máximo seus movimentos respiratórios (o que causa a dispneia). Além disso, grandes derrames pleurais reduzem a expansão pulmonar e por isso também causam dispneia Cardíacas: Ocorrem devido ao mal funcionamento do coração (evidente à congestão passiva do pulmão) Tecidual: A intensificação do exercício físico faz com que o consumo celular de oxigênio aumente, levando à necessidade de obtenção de oxigênio mais rapidamente. Ligadas ao sistema nervoso: Pode ser causada por alterações neurológicas no ritmo respiratório (ex.: hipertensão craniana) e de origem psicogênica (dispneia suspirosa). As dispneias psicogênicas graves (síndrome da hiperventilação) se acompanham de modificações somáticas decorrentes da alcalose respiratória provocada pela intensa retirada de CO2 do organismo (como espasmos musculares e dormências) Ritmo respiratório Normalmente, o ritmo respiratório é marcado por uma inspiração que dura quase o mesmo tempo que a expiração, possuindo a mesma amplitude dos movimentos e sendo intercalados por uma leve pausa. Quando isso não ocorre, é possível observar os ritmos respiratórios anormais: Respiração de Cheyne-Stokes: Causada principalmentepor insuficiência cardíaca, hipertensão intracraniana, AVCs e traumatismos cranoencefálicos. Possui uma fase de apneia seguida de inspirações mais profundas até atingir um máximo, para depois decrescer até a nova pausa. É melhor ouvida do que vista. Respiração de Biot: As causas são as mesmas da respiração de Chayne- Stokes, podendo quase sempre significar um grave comprometimento cerebral. 38 Há primeiro uma apneia, seguida de movimentos inspiratórios e expiratórios diversos (anárquicos) quanto ao ritmo e à amplitude Respiração de Kussmaul: Causada principalmente pela acidose diabética. Possui 4 fases: Inspirações profundas alternadas com inspirações rápidas e de pequena amplitude Apneia na inspiração Expirações profundas alternadas com expirações rápidas e de pequena amplitude Apneia em expiração Respiração suspirosa: Ocorre durante a tensão emocional e a ansiedade. Movimentos respiratórios são interrompidos por suspiros. Ou ainda, o paciente pode apresentar movimentos inspiratórios de amplitude crescente seguidos por expirações breves e rápidas. 39 Dispneia: movimentos respiratórios amplos e rápidos Tiragem É caracterizada como o esforço muscular a ser realizado em um indivíduo com dificuldades respiratórias. Devido à atelectasia de um determinado segmento do pulmão, por exemplo, a pressão exercida pela caixa torácica deve ser ainda mais negativa para que os alvéolos se encham de ar. Devido a isso, os músculos passam a realizar maiores contrações, sendo mais visíveis durante a inspiração. A tiragem pode ser difusa ou localizada (ex.: supraclavicular, infraclavicular, intercostal ou epigástrica) Exemplo de tiragem intercostal: 40 CIANOSE A cianose é definida como cor azulada da pele e das mucosas, ocorrendo devido ao aumento da hemoglobina reduzida nos capilares. Há três tipos de cianose: Central: Acomete todas as extremidades do corpo. Pode ocorrer devido a: o Falta de disponibilidade de O2 no ambiente (ex.: altas altitudes) o Acometimento da ventilação pulmonar (ex.: obstrução das vias respiratórias por corpos estranhos) o Por aumento da resistência das vias respiratórias (ex.: enfisema), o Depressão do centro respiratório o Paralisia dos músculos respiratórios (fármacos) o Pleurites (levam a uma respiração dolorosa superficial) o Transtornos da difusão (aumento da espessura da membrana alveolocapilar) o Transtornos de perfusão devido a cardiopatias congênitas (ex.: comunicação entre as câmaras cardíacas – leva à mistura de sangue, ocasionando uma condução de sangue pouco oxigenado com sangue bastante oxigenado) Periférica: O sangue não circula, ficando acumulado no tecido e tendo o seu oxigênio consumido, adquirindo uma cor azulada. Pode ser devido a estases venosas ou à diminuição funcional ou orgânica do calibre dos vasos da microcirculação. Este tipo de cianose geralmente se concentra em áreas distas (MI) e com pele fria. A causa mais comum é a vasoconstricção generalizada devido à exposição ao ar ou à água fria. Mista: É assim chamada quando se associam os mecanismos responsáveis pela cianose do tipo central com os do tipo periférico: o ICC à direita: há uma falha no bombeamento do coração (causa central), levando a um acúmulo de sangue nas extremidades do organismo, o qual vai tendo o seu oxigênio progressivamente consumido e, por consequência, vai se tornando azulado (causa periférica). Por alterações de hemoglobina: Relacionadas a alterações bioquímicas que impedem a fixação do oxigênio pelo pigmento. Exemplo disso é a presença da meta-hemoglobina. 41 A cianose é um importante sinal de doenças cardíacas, principalmente na infância. As regiões observadas no exame físico do paciente para a detecção da cianose são os lábios, a ponta do nariz, a região malar (bochechas), os lóbulos das orelhas, a língua, o palato, a faringe e as extremidades das mãos e dos pés. Casos de impregnação da pele (ex.: icterícia) podem mascarar a cianose. Ela pode ser classificada em leve, moderada e grave, mas não há parâmetros para estabelecer o grau da cianose. INVESTIGAÇÃO SEMIOLÓGICA DA CIANOSE Qual a duração da cianose? Se estiver presente desde o nascimento, provavelmente é devido a uma doença cardíaca congênita Há a presença de hipocratismo digital? Consiste na deformidade dos dedos com aumento de volume, tornando-se globosos em formato de baqueta e com unhas convexas (como vidro de relógio). Quando está associado à cianose, o baqueteamento é sinal de algumas cardiopatias congênitas e doenças pulmonares. Fenômeno de Reynauld: Pode ser natural (devido à exposição ao frio ou alterações emocionais) ou devido a doenças como lúpus e artrite reumatoide. Ocorre um espasmo das arteríolas das extremidades no corpo, de modo que elas se fechem e o aporte de sangue para o local deixe de acontecer. Acontece em 3 etapas (podendo acontecer apenas em 2 também): 42 1: Em consequência do estreitamento das arteríolas, o suporte de sangue para o membro vai diminuindo e este vai se tornando pálido. 2: Após um tempo, os capilares vão tentando extrair do sangue ainda presente a maior quantidade de oxigênio possível (já que não está havendo irrigação), tornando o sangue (que ainda existia no local) azulado, caracterizando a cianose 3: Depois disso, a arteríola se abre e permite a passagem do sangue novamente, de modo que o membro/dedo fique bem avermelhado. 43 OBS.: Pacientes intensamente anêmicos não apresentam cianose. Isso acontece pois, para se alcançar a cianose, uma determinada quantidade de hemoglobina deve estar reduzida no capilar. Como a pessoa intensamente anêmica possui uma quantidade de hemoglobina já muito restrita, ela nunca conseguirá ser reduzida em tanta quantidade para que a cianose seja percebida. 44 SÍNDROMES HEPÁTICAS Medusa – 86 O fígado é a maior glândula do corpo humano e possui diversas funções (sendo a metabólica a principal delas). O tecido hepático é formado principalmente por hepatócitos, sinusoides e por uma importante estrutura: o espaço porta. O espaço porta localiza-se em cada vértice de um lóbulo hepático, sendo formado por um ramo da V. Porta, um ramo da A. Hepática e um canalículo biliar. O espaço porta possui comunicação com a V. centrolobular. Para que estas duas estruturas se comuniquem, o sangue passa pelos sinusoides hepáticos: capilares descontínuos que possuem contato com os hepatócitos, com as Células de Kupffer (os macrófagos do fígado). É necessário que os hepatócitos e sinusoides sejam mantidos intactos, para que assim o metabolismo do fígado possa ocorrer de maneira correta e o fluxo possa correr adequadamente. Há alterações intra-hepáticas que alteram essa dinâmica do fígado. Exemplo disso é que os lóbulos e os ácinos hepáticos podem ficar isolados se houver o estímulo para que alguns sinusoides passem a produzir colágeno, que vai se depositando e formando uma fibrose hepática. Quando este evento acontece, há a formação de lóbulos hepáticos (os quais podem ser percebidos – palpados - durante um exame físico). O fígado é um órgão normalmente palpável no exame físico a 2 cm abaixo do rebordo costal. Todavia, em casos de hepatomegalia, é possível palpar o fígado em locais mais baixos em relação ao rebordo costal. 45 O fígado pode também ser dividido em segmentos, característica que é necessária ao se considerar procedimentos cirúrgicos. Por exemplo: se houver uma neoplasia que se desenvolva no segmento III, é possível realizar uma segmentectomia. Todavia, se esta neoplasia ocorre no segmento IV, não é possível realizar apenas uma segmentectomia (devido ao seu difícil acesso), sendo necessário realizar uma lobectomia. É importante lembrar que mesmo após estes procedimentosinvasivos, o fígado é capaz de regenerar a sua região retirada. O fígado é o órgão metabolicamente mais complexo. Isso se explica devido às suas funções realizadas: Formação e excreção da bile Regulação da homeostase dos carboidratos (formação de glicogênio e mecanismos que evitam a hipoglicemia – glicogenólise e gliconeogênese), Síntese de lipídeos e formação de proteínas carreadoras dos lipídeos Metabolismo do colesterol 46 Formação da uréia Formação da albumina sérica (responsável por manter a pressão oncótica dos vasos e por carrear algumas substâncias) Formação dos fatores de coagulação da via extrínseca Formação de várias enzimas e proteínas sanguíneas Desintoxicação de qualquer substância que o organismo entra em contato (drogas, medicamentos e outras substâncias). Durante o processo de desintoxicação, é causada uma alteração da função hepática. O fígado realiza essa desintoxicação através de dois processos: a indução enzimática e a inibição enzimática o Indução enzimática: A droga em questão promove a produção de mais enzimas pelo fígado, fazendo com que a metabolização de outras substâncias seja acelerada, diminuindo a concentração destas no organismo. o Inibição enzimática: A substância que causa inibição enzimática atua sobre as enzimas hepáticas que neutralizariam outras substâncias, fazendo com que a metabolização delas pelo fígado seja diminuída. Desta forma, a estas substâncias terão a sua concentração plasmática aumentada. 47 SÍNDROME ICTÉRICA Icterícia é a coloração amarelada da pele e das mucosas devido à impregnação da bilirrubina. Quanto mais clara a pessoa, mais visível essa impregnação. Os níveis totais normais de bilirrubina sérica são em torno de 1,4 md/dl, de modo que níveis acima deste padrão já são classificados como uma hiperbilirrubinemia. Todavia, a impregnação da bilirrubina na pele e nas mucosas só acontece se os níveis plasmáticos estiverem acima de 2,0 mg/dl. A melhor maneira de observar um paciente ictérico é sob a luz natural (visto que a luz fluorescente já deixa a pessoa levemente esverdeada). É importante ressaltar que a icterícia é visível também em mucosas, sendo percebida principalmente nas escleras, no palato e no frênulo da língua (sendo que este último auxilia muito no diagnóstico em pacientes pardos e negros, visto que por vezes a icterícia não é percebida na pele destes indivíduos). Utilizar a coloração da mão do examinador é um bom padrão para observar se a pele do indivíduo encontra-se ictérica ou não. Pacientes com hiperbetacarotenemia (consumo excessivo de alimentos ricos em betacaroteno) também apresentam uma coloração de pele amarelada. Todavia, as suas mucosas não se apresentam coradas como na icterícia (fator que diferencia os dois quadros clínicos). 48 Metabolismo das bilirrubinas Origem: Cerca de 70% da bilirrubina é proveniente da destruição das hemácias senis quando elas passam pelo sistema retículo-endotelial. 10 a 20% pode ser proveniente de eritrócitos jovens que sofrem hemólise, ou mesmo a partir de uma hemólise intravascular. 10% das bilirrubinas provêm de proteínas sanguíneas (não relacionadas com hemácias). Desta forma, um paciente que apresenta-se ictérico pode estar com algum distúrbio relacionado com a destruição das suas hemácias – uma anemia hemolítica. É o que ocorre, por exemplo, na anemia falciforme. Metabolismo: 49 Após a lise da hemácia e liberação da hemoglobina, a segunda passa a sofrer uma redução no sistema retículo-endotelial (do baço principalmente), se transformando em biliverdina. A biliverdina é reduzida ainda no sistema retículo-endotelial a bilirrubina. A bilirrubina sai então do baço ligada à albumina, sendo transportada até o fígado. A bilirrubina ligada à albumina é chamada de bilirrubina não conjugada (indireta) (1). No hepatócito há proteínas carreadoras de bilirrubina (proteínas X e Y), que trazem a bilirrubina para dentro da célula e desprendem- na da albumina, deixando esta última livre na circulação. No interior da célula, a bilirrubina se direciona ao sistema retículo-endotelial do hepatócito, onde será conjugada. Para que isso ocorra, a bilirrubina recebe primeiramente apenas uma molécula de ácido glicurônico, recebendo, em seguida, outra molécula deste mesmo ácido. Após este processo, a bilirrubina passa então a ser chamada de bilirrubina conjugada (direta) (2). 50 Depois que a bilirrubina é conjugada, ela é excretada pelo hepatócito, caindo no canalículo biliar. Para que este processo ocorra, há consumo de energia em forma de ATP. Tal peculiaridade é importante, visto que, se o hepatócito estiver passando por qualquer tipo de sofrimento, ele para de gastar energia e deixa de excretar a bilirrubina. Se a bilirrubina conjugada passa a se acumular no interior do hepatócito, ela começa a voltar para a corrente sanguínea. Isso explica porque pacientes com hepatite viral passam a apresentar maiores concentrações de bilirrubina conjugada sérica: como esta doença é uma doença hepatocelular, o hepatócito está passando por sofrimento, deixando de realizar o transporte ativo para a excreção da bilirrubina e fazendo com que esta se acumule no interior do hepatócito e reflua novamente para a corrente sanguínea. Voltando a descrever o funcionamento normal: após a bilirrubina ser excretada no canalículo biliar, ela flui pelo ducto biliar até alcançar a vesícula biliar, onde fica armazenada. Quando há um estímulo da digestão, a vesícula biliar se contrai e excreta a bile no duodeno (3), onde ela emulsificará os lipídeos ali presentes. Após a absorção dos lipídeos, há também a absorção de parte da bilirrubina, de modo que ela passa por um ciclo entero-sanguíneo (4), podendo possuir dois destinos: Ser reaproveitada para formar mais bilirrubina (4.1) Ser filtrada no rim: é o que promove a coloração amarelada à urina (4.2). Entretanto, outra parte da bilirrubina presente no TGI continua no trato mesmo após a emulsificação dos lipídeos. Esta bilirrubina acompanhará as fezes em seu trajeto, sofrendo um processo de oxidação e se transformando em urobilinogênio (que dá a cor acastanhada às fezes) (5) Causas da icterícia A icterícia pode ocorrer tanto devido a doenças congênitas quanto devido a doenças adquiridas. É necessário avaliar em que etapa está ocorrendo a alteração, visto que ela acarreta diretamente no tipo de icterícia que está sendo apresentada (se é devido ao acúmulo de bilirrubina direta ou indireta). A alteração pode ser: Icterícia pré-hepática/hemolítica: É chamada assim visto que a alteração ocorre antes de a bilirrubina entrar no hepatócito. Decorre de um aumento na produção de bilirrubina: Este caso é observado nos processos de hemólise, como na anemia falciforme. Icterícia hepática/hepatocelular: A alteração ocorre já no interior do hepatócito Decorre de uma alteração no metabolismo das bilirrubinas. As alterações podem ser deficiências na captação da bilirrubina pelo hepatócito, alterações no processo de conjugação, ou mesmo deficiências no processo de excreção intra-hepática 51 Icterícia pós-hepática/obstrutiva: Ocorre alteração na excreção da bilirrubina ou no seu processo de chegar até à vesícula biliar. Colestase é definida como a dificuldade da bile chegar ao duodeno. É qualquer evento que ocorre entre o hepatócito e a Ampola de Vater. Em um paciente com colestase, a bile não consegue alcançar o duodeno, permanecendo nas vias biliares e refluindo em direção ao fígado novamente. Esta volta da bile ao fígado causa uma hepatomegalia, além de tornar o fígado esverdeado devido à impregnação por bilirrubina. Soma-se a este quadro clínico o fígado rombo: não é possível palpar os bordos hepáticos devido ao crescimento do órgão, os bordos hepáticos(que eram bem finos) tornam-se roliços. Microscopicamente, é possível observar em um paciente com colestase a presença de bilirrubina no interior das células de Kupffer (devido á estase de bile nos canalículos) e um espessamento das células que formam os ductos biliares. 52 Dentre as principais causas para as colestases estão as colelitíases (presença de cálculos na vesícula) e as colédocolitíases (presença de cálculos no ducto colédoco). Cirrose hepática Colecistite: inflamação da vesícula biliar Colelitíase: cálculo na vesícula biliar Colédocolitíase: cálculo no ducto colédoco Colangite: inflamação das vias biliares 53 Ocorre quando há uma inflamação crônica do tecido hepático, levando ao aumento da produção de colágeno e à formação de septos fibrosos. Com isso, ao longo do tempo, o fibrosamento vai interferindo na viabilidade do tecido hepático, de modo que ele vá progressivamente morrendo. Devido à alta capacidade do fígado de se auto-regenerar, o efeito deste fibrosamento geralmente demora a acontecer. Há diversos fatores que podem levar à cirrose, sendo eles: Hepatite C (principal causa) Hepatite B o Hepatite Delta (vírus incompleto – só ocorre em associação com o vírus da hepatite B; comum na Amazônia) Doenças autoimunes: Produção de anticorpos contra o fígado Doenças vasculares: se houver uma alteração na vascularização hepática (não permitindo que o sangue chegue aos hepatócitos ou não permitindo que o sangue saia deles) o Doença de Budd-Chiari o Trombose da V. Porta (formada pela V. Esplênica, V. Gástrica Esquerda e V. Mesentérica Superior) Doenças biliares Doenças metabólicas 54 o NASH – Esteatose hepática não alcoólica (paciente com síndrome metabólica ou colesterol elevado) Drogas o Álcool o Paracetamol (tão tóxico que, se grande quantidade, pode causar uma insuficiência hepática aguda) o Uso crônico de anti-inflamatório HIV: causa alteração renal, hepática e óssea. Causa uma ativação imunológica tão grande que o sistema imunológico se envelhece (causando um envelhecimento precoce do organismo). Se acontece uma fibrose muito grande no fígado, o sangue terá dificuldade para passar por esse órgão. Com isso, o fluxo na V. Porta fica diminuído (o que pode ser percebido por meio de um ultrassom com Doppler), de modo que o sangue começa a refluir novamente para as veias que a formam: o V. gástrica esquerda: A v. gástrica esquerda se liga com o sistema ázigos, que é responsável por drenar o esôfago. O aumento da pressão venosa em todos estes vasos causa como consequência varizes esofagianas. A principal complicação das varizes esofagianas são hemorragias digestivas altas, percebidas pela hematêmese (vômito com sangue vermelho). Este sangue pode também ser deglutido, seguindo o fluxo normal do alimento e sendo oxidado, para posteriormente ser liberado nas fezes, apresentando um aspecto escuro e com odor fortemente desagradável, caracterizando uma melena. OBS.: Melena é a presença de sangue digerido nas fezes, resultante de uma hemorragia digestiva alta. É diferente de uma enterorragia, quando o paciente evacua sangue vivo, sem ser digerido (resultando de uma hemorragia digestiva baixa). Há também a hematoquezia, que consiste na evacuação de fezes com rajas de sangue, característico de doenças orificiais (ex.: hemorróidas). o V. esplênica: Baço passa a receber muito sangue, causando esplenomegalia (aumento do tamanho do baço) e hiperesplenismo (maior funcionamento do baço – leva a uma hemocaterese mais acentuada), resultando em anemia, plaquetopenia (redução do número de plaquetas) e, por consequência, facilidade de sangramento. São as primeiras manifestações quando há um quadro de estenose de sangue da V. Porta, devido à facilidade de o fluxo ir mais para a V. esplênica. 55 o V. mesentérica superior: Causa o aumento do fluxo venoso em todo o percurso intestinal, causando varizes no intestino. Pode atingir o plexo hemorroidário. O sinal clínico característico é o aumento da expressão das veias na parede abdominal O quadro de cirrose pode se apresentar de diversas maneiras: o Fase compensada: Quando o paciente ainda não percebe que possui a cirrose e não apresenta os sintomas o Fase descompensada: Quando há os sintomas e sinais, como a ascite (o fígado comprometido diminui a produção de albumina, diminuindo a pressão oncótica e aumentando o extravasamento do plasma), hemorragia digestiva alta, icterícia, alteração de fluxo para o rim (levando a uma diminuição da função renal – síndrome hepato-renal), maior número de infecções bacterianas (devido ao acometimento do baço – diminuição da efetividade do sistema imune; é o que geralmente leva o paciente cirrótico a óbito) e encefalopatias (fígado perde a capacidade de depurar substâncias e, com isso, as substâncias passam a ultrapassar a barreira hemato-encefálica, interferindo no funcionamento do encéfalo) Insuficiência Hepática Aguda O paciente com insuficiência hepática aguda apresenta uma perda abrupta da função hepática. O paciente apresenta distúrbio na coagulação (devido à não produção dos fatores de coagulação) e alterações no Sistema Nervoso, resultando em encefalopatias (visto que as substâncias nitrogenadas não são depuradas pelo fígado), podendo levar o paciente ao coma. 56 Um sinal clínico da encefalopatia por acúmulo de amônia é o flapping/asterixis. Este sinal clínico é um sinal extrapiramidal, visto que não acomete as sinapses da camada piramidal do córtex cerebral, a qual é responsável pela movimentação voluntária – portanto, este sinal percebido acomete as sinapses de comando involuntário. Para que este sinal seja percebido, o paciente deve estar com seu pulso estendido e o examinador deve realizar uma hiperextensão do pulso, aproximando a mão do paciente ao antebraço. Se ao se soltar a mão do paciente, ele persistir movimentando-a rapidamente em curtos movimentos de flexão e extensão, o teste é dado como positivo. Sinais crônicos da insuficiência hepática Ascite: É perceptível uma macicez móvel devido ao acúmulo de líquido na cavidade abdominal Teleangiectasias: aumento dos vasos da pele. 57 Eritema palmar: vermelhidão na mão Ginecomastia: Desenvolvimento das mamas em homens. Ocorre aumento na produção de hormônios sexuais, já que o fígado não está metabolizando algumas substâncias Atrofia testicular: Também ocorre devido à alteração hormonal 58 ANAMNESE DO PACIENTE COM INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA Qual a idade e quando se iniciaram as alterações? A idade do paciente e o tempo de persistência dos sinais e sintomas é extremamente importante para a definição da causa do problema o Exemplos: Recém-nascido com icterícia: pode ser devido a uma atresia das vias biliares; Criança com icterícia: está sofrendo uma intensa hemólise devido à incompatibilidade do Rh; Pacientes mais velhos: são mais frequentes e característicos casos de hepatite, cirrose ou cálculos nas vias biliares Qual a profissão do indivíduo? Algumas profissões propiciam mais certas patologias Há quanto tempo a icterícia se manifesta? Em quadros mais agudos, pode-se pensar em obstruções por cálculos ou hepatites. Em quadros mais crônicos (icterícia mais prolongada), é provável que o quadro aconteça devido a cirrose ou a neoplasias Verificar sintomas associados. o A icterícia veio acompanhada de dor? o Houve perda de peso acompanhando o quadro? o Houve coceira - prurido (ocorre nos casos de impregnação por bilirrubina direta na pele)? o Houve febre (comum em casos de inflamações das vibras biliares – colangites)? Qual o aspecto das fezes e da urina do paciente? Geralmente essas alterações são observadas em casos de aumento de bilirrubina conjugada:o Acolia fecal = perder a cor das fezes. Com a obstrução das vias biliares, a bilirrubina não cai no duodeno, não sendo metabolizada a urobilinogênio, que traz a cor escura. o Colúria = urina torna-se mais escura devido à maior presença de bilirrubina no sangue 59 Avaliar histórico familiar o Síndrome de Gilbert: Indivíduo apresenta certa dificuldade na conjugação da bilirrubina, apresentando-se ictérico. Ocorre principalmente devido ao estresse e é uma doença benigna. Avaliar a intensidade da icterícia. Quão intensa é a alteração da cor Avaliar a cor da icterícia: o Icterícia flavínica: Paciente se encontra mais amarelado, em um tom pálido. É característico de doenças hemolíticas, sendo devido ao acúmulo da bilirrubina indireta o Icterícia verdínica: Ocorre devido ao aumento da bilirrubina direta, como nos casos colestase. É bem mais intensa o Icterícia rubínica: O paciente além de possuir uma icterícia devido à bilirrubina indireta, há também uma vasodilatação. Aspecto alaranjado. Característico dos quadros de leptospirose. 60 Avaliar algumas alterações no exame físico o Anel de Kayser-Fleischer: Ocorre no paciente que apresenta Doença de Wilson (que consiste no acúmulo de cobre em todo o corpo devido a erros no processo de mobilização da ceruloplasmina – proteína plasmática produzida pelo fígado responsável por transportar de 70 a 90% do cobre do organismo) Diferenciar o paciente com acúmulo de bilirrubina direta do paciente com acúmulo de bilirrubina indireta. o Icterícia por acúmulo de bilirrubina direta: leva à colúria e à acolia fecal (na maioria das vezes), prurido (em níveis altos) e a icterícia é um pouco mais acentuada do que nos casos da bilirrubina indireta – o paciente da direta apresenta icterícia verdínica. As mucosas são ictéricas. o Icterícia por acúmulo de bilirrubina indireta: Aparenta-se pálido (apresentando uma icterícia não tão intensa, e de tipo flavínica). As mucosas são descoradas. Não existem drogas capazes de prevenir danos ao fígado (“protetores hepáticos”). 61 SEMIOLOGIA DA DOR Medusa – 86 A dor é um dos sintomas mais comuns encontrados nos pacientes. A dor possui componentes sensoriais, cognitivos e afetivo-motivacionais, devendo ser interpretada em todos eles durante o diagnóstico. A dor é também um mecanismo de defesa do ser contra agentes agressores, tais como calor e pressão. É ela que motiva o afastamento do indivíduo do estímulo doloroso, evitando a lesão. Indivíduos com síndrome de ausência de dor raramente sobrevivem após a adolescência, devido à ausência de um mecanismo protetivo. A dor pode ser definida como uma experiência sensorial emocional desagradável, associada a uma lesão efetiva ou em potencial dos tecidos. É sempre subjetiva, visto que cada indivíduo aprende com experiências dolorosas desde a vida intrauterina. A percepção é tão subjetiva e atrelada ao emocional que, um mesmo estímulo que cause o mesmo grau de lesão tecidual pode causar mais ou menos dor para um mesmo indivíduo, dependendo da etapa emocional da vida pela qual o ser está passando. A dor total pode ser definida como uma dor que abrange as dimensões: Fisiológico-sensoriais: devido à ativação de tratos, nervos, reações de inflamação local, etc. Psicológicas Cognitivas Culturais Emocionais-afetivas Sociais/familiares Econômicas Dor aguda e dor crônica Dor aguda pode ser definida como uma dor que ocorre devido a uma lesão tecidual, e, a partir do momento em que é retirada a fonte da dor, ela cessa (desaparece com a remoção do fator causal e resolução do processo patológico). O paciente com uma dor aguda apresenta-se agitado e ansioso. Já a dor crônica é definida como aquela que persiste por um período superior àquele necessário para a cura do processo. É comum em doenças crônicas ou doenças neuropáticas. Exemplo disso é o Herpes-Zóster, já que 62 mesmo com o desaparecimento das bolhas e cura da pele do local, a região ainda permanece dolorida. O paciente com uma dor crônica apresenta-se geralmente depressivo. Dor nociceptiva, dor neuropática e dor psicogênica A dor nociceptiva é aquela que ativa sensores nociceptivos devido a uma agressão externa (quadro clássico de lesão tecidual). A dor neuropática é proveniente diretamente do sistema nervoso central ou periférico. Exemplos dela são a herpes, a dor do membro fantasma (mesmo sem o membro – amputado – o paciente continua a sentir o membro e a dor nele) e dores pós AVEs (lesa a região do cérebro que percebe a dor: sente a dor, mas ao observar o membro, vê que ele está realmente ileso). Geralmente esse tipo de dor é relatada como sensação de choque, queimação ou formigamento. Uma dor mista consiste em quando há a presença tanto de uma dor nociceptiva quanto de uma dor neuropática. A dor psicogênica é a dor que possui um componente emocional associado, não havendo um substrato orgânico que a origine. Exemplo é a tortura psicológica. Dor somática, dor visceral, dor surda, dor referida e dor irradiada A dor somática pode ser dividida em dor somática superficial e dor somática profunda. Enquanto a superficial decorre de estímulos dos nociceptores do tegumento e é bem localizada, a dor somática profunda pode atingir nociceptores de estruturas internas, como músculos, fáscias, tendões e pleuras, sendo mais difusa que a dor somática superficial. A dor visceral é a mais profunda de todas. É ativada por meio dos nociceptores viscerais. É de difícil localização, podendo ser acentuada com a atividade da víscera que acomete. Dor surda é uma dor profunda e que não pode ser explicada pelo paciente (mal definida, vaga, contínua). Dor referida: É uma dor que é sentida em um local diferente do qual está sendo lesionado (ex.: face medial do braço e IAM). É uma dor que caminha 63 A dor irradiada é uma dor que irradia para outros locais, seguindo o trajeto de um nervo, por exemplo (é o que ocorre na dor da compressão do N. isquiático, que é uma dor irradiada). Também é uma dor que caminha. Alodinia e Hiperalgesia Alodinia é definida como uma dor provocada por uma sensação tátil que geralmente não gera dor. Já hiperalgesia pode ser definida como uma resposta exagerada a um estímulo que normalmente não causa dor naquele limiar (mas em limiares maiores, causaria). Estruturas pouco sensíveis Existem estruturas que, quando lesionadas, causam pequena ou quase nenhuma dor. São elas: Ossos (a dor que por vezes sentimos e referimos no osso é proveniente de lesão no periósteo) Pericárdio visceral Pleura visceral Peritônio Tecido hepático (a dor referida em casos de lesões hepáticas e hepatomegalias são devido ao estiramento da cápsula hepática – e não devido ao tecido hepático em si) Tecido renal (a dor referida em casos de lesões renais e cálculos renais são devido ao estiramento da cápsula renal – e não ao tecido renal em si) Tecido nervoso (o que traz a dor são as meninges) 64 Estruturas muito sensíveis Pele Dentina Polpa dentária Pleura parietal Pericárdio parietal Peritônio parietal Músculo cardíaco (angina) Meninges Características semiológicas da dor: 1. Qual a localização da dor? Há irradiação? Qual o trajeto que a dor segue? Ex.: ardor da angina (indo do peito para o braço, se espalhando) 2. Como foi o início da dor? a. Há quanto tempo ela vem discorrendo? b. O início foi abrupto ou progressivo? 3. Qual a qualidade/caráter da dor? Com o que se parece? Queima, aperta, é em pontada, lateja, etc. 4. Qual a intensidade da dor? Escalada pelo próprio paciente. A dor depende se o paciente está em evolução ou se a dor está melhorando ou não. A escala definida é dividida em leve, moderada, intensa ou mais do que intensa 5. Quala duração da dor? a. Contínua ou cíclica? 65 6. Qual a evolução? Como começou e como está agora? A intensidade variou? 7. Quais os fatores desencadeantes ou agravantes? Esta dor apareceu após algum evento em específico? O que piora esta dor (ex.: dor coronariana piora ao fazer exercício)? 8. Quais os fatores atenuantes? O que melhora esta dor (ex.: remédio, temperatura, posição, nada)? 9. Quais as manifestações concomitantes? Junto com a dor, o que mais é sentido? Ex.: febre, falta de ar, diarreia, anúria, polaciúria, oligúria etc. 10. Qual a relação da dor com funções orgânicas? O que de estruturas anatômicas podem estar acometidas (podendo ser identificada quando o paciente refere a dor em um local específico – Que estruturas anatômicas estão lá?) Que atividades do cotidiano o paciente sente que influenciou (ex.: tomar café e já sentir dor/ dói quando respira?). OBS.: Deve-se tomar alguns cuidados com o paciente idoso. Isso ocorre pois com o envelhecimento, o limiar de dor do indivíduo aumenta, de modo que ele pode sentir menos dor. Todavia, isto pode se converter em um problema: o paciente pode sofrer uma obstrução coronariana ou outras lesões e não sofrer dor. Mesmo assim, a partir do momento em que este paciente passa a ter dor, a sua tolerância frente a ela é muito baixa. Exemplo: Queixa principal: (Nas palavras do paciente sempre) Dor na barriga Duração: Há 7h História da doença: Paciente relata estar com dor no quadrante superior direito (localização) de moderada intensidade (intensidade), latejante (qualidade), contínua (duração) que iniciou há 7 horas (início; há pouco tempo: dor aguda) após ingestão de alimentos gordurosos (fator desencadeante). A dor irradiou-se para escápula direita (irradiação) há cerca de uma hora, aí permanecendo (evolução). Paciente refere também anoerexia (pouco apetite), náuseas e episódios de vômitos, além de febre baixa (sintomas concomitantes e função orgânica), relata ainda que havia observado alguns episódios de dor no QSD após refeições, mas que duravam 1 hora e resolviam espontaneamente, sem procurar atendimento médico (evolução) O que deveria ser perguntado ainda: Vomitou quantas vezes? O que? Qual era o aspecto? o De estômago vazio: secreção gástrica, incolor o Sangue (hematêmese) o Etc Diagnóstico: infecção devido a cálculo biliar. 66 LESÕES ELEMENTARES Medusa – 86 As lesões elementares na dermatologia podem ser divididas em primárias e secundárias: Primárias: Acontecem sobre a pele sã (sem alguma lesão além daquela que surgiu) Secundárias: Acontecem sobre a pele já com uma alteração dermatológica prévia (em decorrência de alguma outra alteração) LESÕES PRIMÁRIAS Lesões primárias com conteúdo líquido: 1. Vesículas São pequenas cavidades que se localizam na camada subcórnea (no interior da epiderme), abaixo da camada subcórnea (mas ainda dentro da epiderme) ou abaixo da epiderme. São elevadas, circunscritas e podem ter superfícies esféricas, pontiagudas, alongadas ou com uma depressão central. As vesículas medem menos do que 1 cm e possuem em seu interior um conteúdo claro (hialino), o qual pode se tornar mais turvo com o passar do tempo. 2. Bolha Também é uma elevação circunscrita, situada geralmente ou dentro da epiderme ou abaixo da epiderme (na divisão entre epiderme e derme). Quando 67 a bolha se localiza no interior da epiderme, ela é mais flácida e se rompe mais facilmente, se tornando uma escoriação. Todavia, quando a bolha está na interface entre a epiderme e derme (é mais profunda), a sua tendência é se manter íntegra na pele do paciente Seu conteúdo normalmente é inicialmente seroso, mas pode ser também hemorrágico ou purulento. Diferencia-se de uma vesícula pelo seu tamanho: a bolha é maior, medindo no mínimo 1cm. A bolha causada por uma queimadura é chamada de flictena. A bolha pode tanto ter origem devido a agressões físicas externas (ex.: sapatos apertados ou queimaduras) ou devido a doenças (ex.: pênfigo). 3. Pústula É uma lesão elevada, circunscrita, localizada na epiderme. Seu aspecto é semelhante à vesícula, mas o seu conteúdo ao invés de ser translúcido é francamente purulento (o conteúdo da vesícula pode se turvar, mas nunca é totalmente purulento). A pústula pode ser séptica (contaminada por bactérias) ou formada apenas por células de defesa, sem nenhuma bactéria/microrganismo contaminando-a. São geralmente inferiores a 1 cm. 68 4. Abscesso É uma coleção purulenta profunda que normalmente é causada por infecções, inflamações ou degeneração do tecido. Localiza-se mais profundamente, como no interior da derme ou do tecido celular subcutâneo. O abscesso possui sinais inflamatórios associados, deixando a pele ao redor eritematosa, edemaciada, dolorida e com maior temperatura em relação à pele adjacente. 5. Hematoma É uma coleção de sangue originada por um trauma prévio, sendo que a lesão fica normalmente restrita à área de trauma. A lesão forma um abaulamento neste local da pele. Localiza-se no interior da derme ou no tecido celular subcutâneo. 69 6. Cisto É uma cavidade revestida por epitélio glandular ou queratinizado, podendo apresentar diversos tipos de conteúdo (líquido, pastoso ou mais sólido). Normalmente, se localiza em áreas com aglomerações de folículos pilosos (ex.: couro cabeludo e tórax). O cisto pode ser único ou múltiplo. É móvel em relação à pele. Possui um orifício de saída de secreção. Devido à presença de uma cápsula de epitélio, é necessário que ela também seja totalmente retirada durante as incisões, já que o cisto pode voltar a se desenvolver se a cápsula ali permanecer. Na maioria das vezes, os cistos são formados na tentativa de retirar pústulas na pele: ao mesmo tempo em que é exercida uma pressão para cima para expulsar o pus, é realizada uma grande pressão para baixo, especialmente sobre a glândula presente na derme. Com isso, a glândula vai acumulando secreção e aumentando de tamanho e, por consequência, forma um cisto. Lesões planas São chamadas de manchas/máculas. Consistem em alterações na coloração da pele, sem mudança de relevo ou consistência (ao se palpar a área com os olhos fechados, não é possível notar diferença alguma). Podem ser de origem pigmentar (se a alteração ocorre em algum pigmento em específico) ou de origem vásculo-sanguínea. 70 Lesões pigmentares: 7. Hipercromia Consiste em regiões mais escuras do que o tom natural da pele do paciente. Ocorre devido a depósito de pigmentos na região, sendo o principal deles a melanina. Todavia, outros pigmentos, tais como hemossiderina (proveniente da degradação de hemácias), podem também se acumular, causando alteração na coloração local. Essa pigmentação pode ser tanto generalizada quanto local. 8. Leucodermia Sendo o contrário da hipercromia, a leucodermia consiste em uma região mais clara do que o tom natural da pele do paciente. Pode ser dividida em: Hipocromia: quando a diminuição é para um tom mais claro do que o natural 71 Acromia: há uma ausência total de pigmentos na região, deixando-a branca; Exemplo: vitiligo. Lesões vásculo-sanguíneas 9. Eritema É uma mancha de coloração vermelha causada pela vasodilatação dos vasos da pele. Este tipo de lesão desaparece à digitopressão. Pode assumir diversos tons e padrões. O eritema nas mucosas se chama enantema. Eritema agudo generalizado: acomete normalmente todo o corpo o Eritrodermia: Acomete mais de 90% da pele, associado a descamações 72 Exantema morbiliforme: O eritema é permeado por áreas de pele sã (é possível ver áreas menos acometidas). Exantema escarlatiniforme: O eritema atua na pele de forma mais homogênea, sendo difícil de diferenciar áreassem acometimento. 10. Púrpuras Púrpuras são manchas violáceas formadas por extravasamento de sangue para fora dos vasos, sendo visível a olho nu. A púrpura não desaparece frente à digitopressão. Podem se apresentar tanto como equimoses quanto como petéquias, diferenciando-se pelo tamanho: as equimoses excedem 1cm, enquanto as petéquias são inferiores a este valor. 73 11. Teleangiectasias São dilatações vasculares de capilares, arteríolas ou vênulas. Estes vasos se localizam na derme em sua porção mais superficial (o explica a sua fácil visibilidade). Eles possuem configurações estreladas, sinuosas, lineares ou puntiformes, que variam de acordo com o trajeto deste vaso. 12. Mancha angiomatosa É decorrente de uma má formação vascular da derme devido ao aumento do número de capilares. Regride à digitopressão, mas não desaparece como o eritema. 74 13. Mancha anêmica Decorre de uma diminuição ou ausência de vascularização no local. Pode ser devido a uma hipogenesia vascular ou devido a uma hiper-reatividade das aminas vasoconstrictoras, que geram uma vasoconstricção dos vasos sanguíneos do local (o que causa a perda da coloração). Lesões primárias com conteúdo sólido: 14. Pápula É uma lesão circunscrita, elevada e com menos de 1 cm de diâmetro. Possui localização diversa, podendo se localizar dentro da epiderme, dentro da derme, ou dentro de ambas simultaneamente. 15. Placa Possui as mesmas características da pápula, mas é maior do que 1 cm. Pode ser constituída através da confluência de pápulas ou de máculas (neste último caso, vão se ajuntando e adquirindo relevo). 75 16. Nódulo É um infiltrado celular sólido, circunscrito, bem delimitado e persistente, podendo possuir localização dérmica (sendo mais superficial, e, portanto, elevado) ou hipodérmica (quando possui esta localização profunda, ele é mais palpável do que visível). Mede de 1 a 3 cm de diâmetro. Se for maior do que 3 cm, é chamado de tumor. 17. Goma É um nódulo ou tumor que possui material liquefeito no centro. Este material é drenado ou por fistulização. A substância líquida no centro varia conforme a substância de gerou a goma. Exemplo: sífilis terciária 76 18. Urtica É uma lesão em relevo, edematosa, circunscrita, efêmera (durando menos do que 24 horas). Sua coloração varia entre vermelho, rosa ou branco porcelana. É circundada por um halo eritematoso ou anêmico. O edema ocasionado ocorre na derme, sendo portanto uma lesão elevada. 19. Vegetação É uma pápula elevada, com superfície irregular e que ocasionalmente pode ser sangrante. Pode ser tanto pedunculada (quando o maior diâmetro é superior ao da base da lesão) quanto séssil (quando o diâmetro da base é o maior em toda a lesão). 77 LESÕES SECUNDÁRIAS Enquanto as lesões elementares primárias ocorrem sobre a pele sã, as lesões secundárias ocorrem sobre a pele que passa por algum acometimento. 20. Atrofia Decorre da diminuição dos elementos constituintes dos tecidos normais da pele. A pele vai se adelgaçando, de modo que se enruga, se eleva ou realiza uma elevação em relação aos planos circunjacentes. É possível notar, ao toque, leves depressões na área lesionada. Esta lesão pode ser secundária a processos inflamatórios e infecciosos, ou ser idiopática. O maior exemplo das atrofias são as estrias. Se as estrias são recentes, possuem aspecto róseo e são chamadas de violáceas. Se são mais antigas, brancas ou da mesma cor da pele, são chamadas de nacaradas. 21. Cicatriz É uma lesão destituída de anexos cutâneos, sendo consequência de uma reparação de tecidos destruídos por uma doença, cirurgia ou trauma. É uma 78 lesão brilhante, que pode ser elevada ou plana, ou mesmo deprimida. São notados 2 quadros de alterações das cicatrizes: Queloide: É uma proliferação excessiva e fibrosa do tecido. Estende-se além da margem da ferida, não mantendo os seus contornos originais. Não possui regressão espontânea. O fator hereditário pode influenciar em uma maior tendência à formação de queloides. Cicatriz Hipertrófica: É uma lesão que se limita aos contornos da cicatriz. Tende a apresentar uma regressão espontânea com o passar do tempo. Sempre que as lesões são profundas (pegando a camada basal), há o aparecimento de cicatrizes após a eliminação da lesão. 22. Edema Consiste em um acúmulo de líquido extravasado dos vasos sanguíneos que se deposita na derme ou na hipoderme. A coloração da pele edemaciada pode tanto estar inalterada quanto apresentar-se eritematosa. 79 23. Esclerose Consiste em uma alteração na consistência da pele (espessamento da pele), de modo que ela passa a se tornar rígida e a perder o pregueamento que naturalmente apresenta. A pele adquire então uma superfície lisa, brilhante e podendo, por vezes, apresentar alterações de coloração. A resistência à distensão e ao enrugamento são bem visíveis. 24. Liquenificação É um espessamento da pele com acentuação dos sulcos cutâneos presentes na epiderme (que naturalmente existem, mas em menor profundidade) ou do quadriculado natural da pele. É decorrente do hábito de se coçar (características de doenças nas quais o paciente apresenta prurido incontrolável). Normalmente, essa lesão persiste sempre na mesma região da pele. A coloração pode chegar (ou não) a se alterar em relação ao restante da pele, sendo mais escura. 80 25. Queratose É um espessamento da camada córnea da pele, apresentando consistência endurecida. Pode ter coloração pardacenta, amarelada ou esbranquiçada. Pode assumir também aspecto de vecurrosidade. 26. Crosta Envolve uma área de perda tecidual após dessecamento de pus, sangue ou serosidade, juntamento com restos epiteliais. Possui cores variáveis dependendo do tipo de secreção: Crosta hemática: Vermelha escura Crosta sero-hemática: Vermelho um pouco mais claro que o vermelho hemático Purulenta: Crosta amarelo-esverdeada 81 Melicérica: Crosta típica de impetigo. Coloração de mel. 27. Escamas São resultado do acúmulo de queratinóctios devido a algum distúrbio na queratinização. Há então a formação de uma massa laminar, com aspectos e dimensões variáveis, sendo usualmente acompanhada por um eritema abaixo da descamação. A forma mais comum da descamação ocorrer é chamada de furfuráceas (na qual a pele descama sob aspecto de farinha). Há também as escamas lamelares, que não descamam como uma farinha, mas sim em forma de camadas (pedaços maiores) 82 28. Erosão/Exulceração Consiste em uma perda parcial da epiderme, sendo bem superficial (diferentemente da úlcera). Surge secundariamente à ruptura de uma bolha intraepidérmica. A exulceração não deixa cicatrizes ao final do processo de reparação tecidual. Quando esse rompimento da bolha intraepidérmica é causado por um trauma, recebe o nome de escoriação. 29. Úlcera/Ulceração É uma perda circunscrita da epiderme e da derme (sendo, portanto, mais profunda que a exulceração – pode atingir até mesmo a hipoderme ou tecidos mais profundos). Quando o quadro é agudo, tende a ser chamado de ulceração; quando é crônico, é chamado de úlcera. 83 30. Escara Área de necrose tecidual, geralmente com coloração negra, que evolui para uma úlcera quando é eliminada. É comum a formação de escaras por pressão em pacientes que precisam ficar muito tempo em decúbito dorsal e em cadeirantes. 31. Fissuras Sulcos estreitos e profundos que se formam quando a pele se torna quebradiça ou lacerada, de modo que ela sofre uma perda da flexibilidade. É mais visível em áreas marcadas pelo constante movimento (lábios, dobras, interdigitos das mãos e dos pés e os calcanhares) 8432. Fístulas Pertuito da pele, pelo qual ocorre a drenagem de algum material proveniente de um foco mais profundo (necrótico, por exemplo). Interliga uma superfície interna com a pele, levando a secreção ao meio externo. 85 SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E PERDA SÚBITA DE CONSCIÊNCIA Medusa – 86 SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA O problema da insuficiência cardíaca pode residir em dois pontos: O coração não consegue bombear o sangue em quantidade necessária para o corpo. o “Problemas para trás”: O sangue se acumula nas câmaras esquerdas e por consequência nos pulmões. O sangue acumulado neste órgão realiza aumento da pressão hidrostática no interior dos vasos e leva a um edema pulmonar e consequente dispneia (no caso do lado E ser o acometido) o “Problemas para frente”: Se o coração não consegue bombear, o resto do corpo passa a sentir falta de oxigênio. O rim, ao perceber diminuição do fluxo, interpreta-a como uma falta de líquido e passa a ativar o sistema renina-angiotensina e a reter sal e água. (no caso do lado E ser o acometido) O coração não consegue relaxar suficientemente para receber o sangue durante a diástole. Além disso, ambos os quadros podem estar combinados. Expressões clínicas da insuficiência cardíaca: IC do Ventrículo Esquerdo: Pode ocorrer devido a lesões valvulares, situações pós IAM. São percebidos principalmente aumento de pressão no pulmão e sintomas dispneicos. IC do Ventrículo Direito: Indivíduo cianótico, ascítico e edemaciado 86 Os problemas de insuficiência cardíaca podem ocorrer tanto em um coração com câmaras dilatadas, mas cujo músculo não consegue contrair tão bem (disfunção da máquina sistólica) quanto em corações com músculo muito desenvolvido e um pequeno espaço das câmaras em si (insuficiência diastólica, típica da hipertensão arterial, estenose aórtica) Classificações São utilizadas para descrever os pacientes NYHA (New York Heart Association) NYHA 1 – Presença de doença, mas sem disfunção e sem restrição aos esforços (sem clínica importante - tem a doença, mas consegue levar a sua vida normalmente) NYHA 2 – Presença da doença e com sintomas aos grandes esforços. NYHA 3 – Presença da doença e com sintomas aos médios esforços. NYHA 4 – Presença de doença e com sintomas aos pequenos esforços (ou até mesmo ao repouso é possível notar edema e dispneia) CLASSIFICAÇÃO ICC A – Não há insuficiência cardíaca, mas sim doenças que podem levar ao desenvolvimento da insuficiência cardíaca, sendo elas: HAS, doença coronariana, diabetes mellitus, alcoolismo, febre reumática e histórico familiar de miocardiopatia. 87 B – Quando já há a doença, mas não há os sinais clínicos da doença evidentes (como no NYHA 2). Acontece quando são constatáveis sinais como a hipertrofia do VE, dilatação do VE, fração de ejeção do VE (FEVE) inferior a 40% da capacidade total, valvopatias assintomáticas e IAM prévio C – Quando há a doença, e também a clínica relativa a ela já está presente, como: dispnéia/fadiga por disfunção do VE D – Há a doença e um comprometimento grave do seu quadro de sinais e sintomas. Evidencias deste nível são hospitalizações frequentes, contando com administração de inotrópicos endovenosos, suporte ventricular mecânico ou mesmo podendo estar aguardando transplante. Anamnese – O que inquerir quando se desconfiar da ICC? - Episódio de IAM prévio - Presença de HAS - Se houver epidemiologia para a Doença de Chagas, perguntar sobre a presença da doença, sobre as condições de moradia do indivíduo, se há algum familiar com a doença e se foi realizada transfusão sanguínea há pouco tempo. - Se há uso crônico de álcool (afeta o coração após longo tempo de vício) - Se há uso de medicações anti-neoplásicas (especialmente as antraciclinas, utilizadas para tratamento de câncer de mama - que são tóxicas ao coração, podendo levar a uma síndrome de ICC em até 10% dos casos). - Episódio prévio de febre reumática (infecção por estreptococos do grupo B, que leva a uma reação cruzada no coração e à presença de valvopatias; envolvida também em uma poliartirte migratória) e presença de valvopatias - Se há a presença de algum problema congênito (ex.: nascer com sopro. A mais comum é a comunicação interatrial ou a comunicação interventricular) - Se há a presença de alguma doença pulmonar (DPOC principalmente), se é fumante, se o ambiente de trabalho envolve fumaça (ex.: cozinhar em fogão a lenha). Enfisema pulmonar e bronquite crônica levam, ao passar do tempo, a um aumento de pressão no ventrículo direito, causando um comprometimento do funcionamento do mesmo e desenvolvimento da ICC. 88 PRINCIPAIS SINTOMAS DA ICC Dispneia: É típico da dispneia de origem cardíaca (mas não exclusivo a ela) o aparecimento de dispneia aos esforços (desde os grandes esforços ao repouso). Ortopneia: Dispneia sentida ao se deitar, que melhora quando o paciente se senta. Perguntar ao paciente se ele dorme deitado, se precisa inclinar o apoio para conseguir dormir (ex.: empilhar travesseiros) ou se só consegue dormir se estiver sentado (quadros mais graves) Dispneia paroxística noturna: Neste tipo de dispneia, a pessoa se deita para dormir e não sente falta de ar imediatamente, como na ortopneia. Todavia, este indivíduo possui líquido que se acumulou nas pernas durante o dia (edema de MI), o qual se distribui para o restante do corpo quando a pessoa está deitada. Com isso, há um aumento da pressão hidrostática nos vasos pulmonares e extravasamento de plasma para o interior dos alvéolos. Como consequência, a pessoa acorda no meio da noite com intensa falta de ar, se levantando em seguida. A partir do momento em que a pessoa se levanta, a gravidade passa a puxar o líquido para a periferia do corpo novamente, retirando o acúmulo de líquido dos vasos pulmonares e melhorando a dispneia do indivíduo após vários minutos, de modo que ele volte então a dormir. Tosse noturna: Ocorre da mesma maneira que a dispneia paroxística noturna, mas além da dispneia é apresentado também o quadro de tosse. Ocorre devido ao aumento da pressão hidrostática nos pulmões. Edema agudo de pulmão: É o quadro máximo de dispneia que uma pessoa pode apresentar. Decorre de uma falência súbita do coração (ex.: crise hipertensiva ou um IAM), que leva a uma dificuldade de o coração bombear sangue para a Aorta, fazendo com que este se acumule no pulmão, aumentando a pressão hidrostática e causando extravasamento de plasma, passando a encher os pulmões de líquido (progressivamente, indo dos segmentos inferiores em direção aos superiores). O paciente sente, desta forma, a sensação semelhante a um afogamento (mas que acontece do interior do seu corpo para fora). Neste quadro, é comum o paciente vomitar uma secreção em aspecto de gosma rosa (sendo uma mistura de plasma com sangue que se encontra nestes alvéolos). Este quadro é uma emergência: deve-se atuar prontamente, ou o paciente pode vir a óbito. Noctúria: Necessidade de urinar durante a noite. Devido ao mesmo motivo da dispnéia paroxística noturna: durante a noite, o líquido é reabsorvido dos MI e integra a circulação sanguínea novamente, causando uma hipervolemia. Para contrabalancear este volume, o rim passa a atuar mais, visando a eliminação 89 de parte deste volume. Como consequência, a pessoa acorda durante a noite sentindo a necessidade de urinar. Edema: O edema não é um diagnóstico exclusivo de IC. Todavia, há o edema típico da IC: inicia-se nos MIs, na região perimaleolar, sendo vespertino. À medida que a IC vai se acentuando, o edema avança para o restante do MI (joelhos, raiz da coxa), bolsa escrotal, parede abdominal, até acometer todo o corpo. É um edema frio, mole, com cacifo positivo. Ascite: O acúmulo de sangue no interior dos vasos abdominaisdurante o avanço do edema da IC causa o extravasamento de plasma para a cavidade abdominal. Derrame Pleural: Assim como acontece na ascite, decorre do aumento da pressão no sistema de drenagem da parede torácica, levando ao acúmulo de líquido no espaço pleural. Ao realizar a percussão, é perceptível a alteração do som do pulmão com derrame (deixa de ser claro pulmonar), assim como a sua ausculta: o som de murmúrio vesicular torna-se ausente na área. Desconforto abdominal: Como o coração não consegue bombear o sangue para frente, há um acúmulo deste no interior das veias do organismo. O acúmulo de sangue e consequente distensão da Veia Cava Inferior causam o 90 acúmulo de sangue dentro do fígado e o estiramento da cápsula hepática, a qual é responsável pelo aparecimento de dor abdominal. Reflexo hepato-jugular: Enquanto o fígado drena o seu sangue para a VCI, a V. Jugular drena o seu sangue para a VCS. Em casos de IC direita e acúmulo de sangue no sistema venoso de ambas as Vv. Cavas, é possível observar o reflexo hepato-jugular: ao se pressionar o fígado (que está cheio de sangue em seu interior), este expulsa parte do sangue excedente para o sistema venoso das cavas. O aumento do volume de sangue neste sistema é mostrado pela saliência da V. Jugular, que se enche com este sangue expulso do fígado. O paciente deve estar levemente inclinado (30º) para que o reflexo seja visível. Turgência jugular: É normal que os indivíduos, quando em decúbito dorsal, apresentem por vezes a turgência jugular. Todavia, é indicativo da IC quando este sinal permanece evidente mesmo se o indivíduo for inclinado de 30º-45º. 91 Derrame pericárdico: Identificável por raio-X. Líquido na cavidade pericárdica (mesma fisiopatologia da ascite e do derrame pleural). Geralmente acontece em estágios avançados de insuficiência cardíaca. Taquicardia: Se o coração não consegue contrair suficientemente para suprir a necessidade de sangue do corpo, ele aumenta a sua frequência de batimentos (visando manter um débito cardíaco adequado por meio da equação DC=VSxFC – se o volume sistólico está comprometido, aumentar a frequência cardíaca manterá o débito). 110-120 bpm. Palidez: em ICs mais graves, como o aporte de sangue para o corpo já está deficiente, este passa a priorizar o destino do sangue para os órgãos mais dependentes de sangue: o próprio coração e o cérebro. Acontece, portanto, uma vasodilatação para estes órgãos e uma vasoconstrição para os demais, levando ao aspecto pálido da pele. Tempo de enchimento capilar: esta característica é analisada ao se apertar a base da unha do dedo da mão, de modo que a região inferior ao sítio de pressão se torne mais clara. Um reenchimento adequado ocorre em até 3s após soltar-se o dedo e reestabelecer o fluxo. 92 Cardiomegalia: a grande maioria das pessoas que apresentam IC apresentam também cardiomegalia. Normalmente, o ictus cordis está na linha hemiclavicular, no 5º espaço intercostal, encostando em 1 a 2 polpas digitais. Todavia, quando há uma cardiomegalia, o ictus se desvia para a esquerda e para baixo (passa para a linha axilar anterior) e aumenta a sua superfície (sendo necessário mais dedos ou mesmo toda a mão para sentir o ictus na área). OBS1: Em pessoas que é mais difícil de palpar o ictus em posição ortostática, posicioná-las em decúbito lateral esquerdo e tentar palpar. Essa mudança da posição faz com que ocorra uma aproximação do coração à caixa torácica, fazendo com que seja possível palpar o ictus. OBS 2: Tudo o que foi comentado sobre o ictus até então é relativo ao ictus do ventrículo esquerdo. O ictus de ventrículo direito não é fisiologicamente palpável, sendo percebido em alterações que sobrecarreguem o funcionamento do VD (ex.: estenose do Tronco Pulmonar). É notado na linha média, acima do processo xifoide. Aumento da área cardíaca no raio-x de tórax: É uma das maneiras de perceber a cardiomegalia. 93 Principais alterações na ausculta cardíaca: Quando há uma ICC, pode haver comprometimento sistólico, comprometimento diastólico, ou ambos (o que normalmente ocorre). No momento em que o sangue que estava acumulado no átrio cai dentro dos ventrículos, essa ação é feita em uma grande velocidade. Se há uma deficiência do coração em receber este sangue (deficiência diastólica), é percebida a 3ª bulha. A 3ª bulha é um som que se posiciona após a 2ª bulha (tum-tata tum-tata). Devido a este ritmo, a B3 é conhecida também como ritmo de galope. É muito típica de insuficiência cardíaca. Também é possível que crianças e adolescentes apresentem 3ª bulha fisiologicamente. Sintomas da ICC de baixo débito: São sintomas de várias outras síndromes, incluindo a ICC. Fadiga: Chega baixa quantidade de oxigênio aos tecidos periféricos, levando à dificuldade em realizar atividades. Tonteira Pulso alternante: O coração com IC contrai com a força de ejeção alterando a cada batida (uma vez com mais força, uma vez com menos força...). Deste modo, ao se palpar qualquer pulso, é possível senti-lo variando em força (ora mais fraco, ora mais forte). Sonolência Obnubilação Extremidades frias Oligúria Relembrando: 1ª bulha (tum): É fisiológica. Ocorre devido ao fechamento das válvulas atrioventriculares (principalmente da mitral) 2ª bulha (ta): É fisiológica. Ocorre devido ao fechamento das válvulas aórtico-pulmonares Ritmo normal: tum-ta tum-ta tum-ta 94 Baixa pressão de pulso: a pressão máxima encontra-se próxima à mínima, sendo assim considerada em valores inferiores ou iguais a 20 mmHg (relembrando: pressão de pulso = pressão máxima – pressão mínima). Critérios de Framingham para diagnóstico de IC Considera os sinais de maior especificidade e menor especificade (sinais gerais, comuns em várias outras síndromes) para o diagnóstico da IC. Para que exista o diagnóstico, é necessária a presença de 2 sinais maiores ou 1 maior e 2 menores. Perfil hemodinâmico dos pacientes com ICC Não é um critério para definir o diagnóstico de ICC ou não, mas sim uma forma de analisar os diferentes modos que os pacientes com ICC se apresentam na inspeção do exame físico. Para cada tipo (A, B, L, C) o tratamento do paciente com ICC é diferente: A = 70% dos pacientes. Pacientes que possuem ICC, mas estão compensados (sem apresentar complicações na perfusão e na congestão) 95 L = Há comprometimento da perfusão: há baixo débito periférico. É possível notar baixo tempo de perfusão, oligúria, alteração de consciência C = Há tanto o baixo débito periférico quanto a congestão. É o tipo mais grave. Alguns sintomas congestivos são: edema, estertores pulmonares e estar úmido (termo mais relativo ao paciente edemaciado, e não à umidade da pele em si). 96 PERDA SÚBITA DE CONSCIÊNCIA Antigamente, perda súbita de consciência era sinônimo de síncope. Todavia, hoje esta última palavra refere-se apenas a um tipo de perda súbita de consciência. A perda súbita de consciência é um quadro frequente, correspondendo de 1 a 6% das internações hospitalares e a 3% dos atendimentos dos serviços de emergência. Apesar de acontecer em todas as idades, é mais frequente em pessoas acima de 65 anos (80%) e em mulheres. Este quadro pode ser dividido em síncope e em não síncope: Síncope É quando a perda de consciência decorre da hipoperfusão cerebral global. Se a perda de consciência não ocorre devido a isso, não é uma síncope. É caracterizada por início rápido, curta duração e recuperação espontânea. A síncope pode possuir diversas causas, como descrito a seguir: Causas vasculares: Nestes casos, a pessoa não possui doença cardíaca! Hipotensão ortostática: Pessoa desmaia ao se levantar. Comum em idosos. É uma queda súbita da pressão arterial sistólica de 20 a 40mmHg. Pode vir acompanhada de tontura, tremores, fraqueza, palpitações, diaforese, visão borrada e pré-síncope. Normalmente ocorre devido a uma disfunção dos barorreceptores, que não são capazes de perceber a diminuição do retorno venoso pela queda da pressão arterial (o que levaria estes receptores a dispararem o sistema simpático para a manutenção da pressão sanguínea). As principais causas da hipotensão ortostática são: o Alteração do sistema nervoso autônomo (degeneração da função com a idade) o Idiopática o Depleção de volume (ex.: desidratação causada por dengue) o Induzida por fármacos e álcool Roubo de Subclávia: Ocorre quando a subclávia esquerda fica obstruída com um coágulo, levando o sangue a adotar uma via alternativa de circulação por meio do Polígono de Willis. 97 Hipersensibilidade do seio carotídeo: Em alguns indivíduos, ao se estimular o seio carotídeo com um dedo ou qualquer outro tipo de pressão externa, esta estrutura possui uma sensibilidade excessiva que os faz interpretar a pressão externa como um grande aumento da pressão arterial, de modo que o seio carotídeo emite uma resposta parassimpática exagerada visando diminuir essa PA que acredita estar elevada. Essa resposta pode causar até mesmo assistolias (como mostrada no ECG abaixo) e levar à síncope (3 segundos de assistolias levam a este desmaio). Síncope neuromediada (vaso-vagal): É a causa mais frequente de síncopes (80%), ocorrendo devido ao reflexo de Bezold-Jarish. Normalmente, ao se levantar, um grande volume de sangue (800ml a 1,2L) é destinado às pernas, de modo que pouco sangue chegue aos barorreceptores. Com isso, estes percebem esta ação como uma queda da pressão, disparando uma descarga simpática que leva à vasoconstricção periférica e a um aumento discreto da frequência cardíaca para que o fluxo sanguíneo retorne à normalidade. Todavia, em 98 alguns indivíduos, esta descarga simpática é exagerada, ocasionando um aumento da FC e da vasoconstricção exagerados. Em seguida a esta grande descarga simpática, há o rebote parassimpático para controlar este quadro, que também é muito intenso: a pessoa passa então para uma hipotensão, que ocasiona uma assistolia e a síncope. o Os gatilhos desta síncope são o estresse ortostático, estresse emocional e temperatura elevada. o Pode ser acompanhada de pródromos (sensação prévia de que se está passando mal), tontura, salivação, fraqueza, bradicardia, hipotensão, sudorese, visão borrada e pré-síncope (a visão ficar escura mas não chegar a desmaiar). o O público para esse quadro são em sua maioria jovens, do sexo feminino e sem cardiopatia. o Teste de inclinação para diagnóstico de síncope neuromediada: A pessoa permanece deitada durante 15 minutos, quando a maca começa a se inclinar e a medida da PA e da FC da pessoa ficam sendo monitoradas. Em casos positivos, a pessoa desmaia com a inclinação, sendo visíveis as assistolias em seu ECG: Síncope situacional: Ocorre frente a algum estímulo/situação na qual a pessoa é colocada (ex.: se ver sangue, desmaia) o Gatilhos: micção, defecação, tosse, deglutição, ver alguns animais, ver pessoas mortas, etc. o Fatores predisponentes: manobra de Valsalva (expiração forçada), uso de medicação (próstata), álcool, fadiga, jejum – todos estes estímulos são vagais. Causas cardíacas: neste caso, há doença cardíaca. É mais difícil de ser tratado do que as síncopes sem doença cardíaca (as cardíacas são mais graves). A síncope cardíaca possui como característica ocorrer frente a um esforço. São mais raras (2 a 3% das síncopes). Síncopes de origem cardíaca possuem alguns sinais e sintomas específicos (não falou qual rs) 99 Estenose aórtica: é um dos casos que pode levar à síncope de origem cardiogênica. Qualquer paciente que possua uma síncope devido à estenose aórtica possui indicação cirúrgica (se não for operado, possui de 3 a 5 anos de expectativa de vida). Miocardiopatia hipertrófica: É a maior causa de morte súbita em jovens, especialmente em atletas. É uma hipertrofia intrínseca do músculo. 100 Embolia pulmonar: Síncope que ocorre devido a uma obstrução súbita da artéria pulmonar. Normalmente, este quadro é consequência de um trombo que foi formado nos MI (devido a uma trombose venosa profunda), que se soltou e subiu. Pode ser que este coágulo possua origem também no interior do próprio ventrículo. Esta pessoa normalmente se apresenta no pronto-socorro com mal estado, chocada e dispneia. Mixoma atrial: Tumor dentro do átrio esquerdo, que acaba por impossibilitar a passagem de sangue para o ventrículo esquerdo (e com isso compromete o suprimento de sangue para todo o corpo). Mais raro. Arritmias: É uma causa comum de síncopes cardíacas, sendo ou devido ao coração bater muito lentamente (e com isso o sangue não chegar ao cérebro); ou devido ao coração bater muito rapidamente, de modo a não dar um tempo de diástole suficiente para que o coração se encha de sangue (ex.: FC de 200, 250 bpm). Mais comum em idosos, sendo associada a risco de morte súbita. Mais frequente em homens. Não Síncope Causas neurológicas e Metabólicas Convulsões: Ocorre devido a uma despolarização dos neurônios de maneira desordenada. Mais comum em pessoas com idade inferior a 45 anos, sem fator desencadeante, presença de aura auditiva, gustativa e visual, longa duração, mordedura da língua (perde controle muscular), 101 ser precedida de grito, incontinência urinária fecal, desvio horizontal do olhar, recuperação prolongada e sintomas residuais (cefaleia, desorientação e dor muscular) (estas características sublinhadas são típicas de quadros de NÃO síncope!) o As principais causas das convulsões são hipertermia, intoxicações, epilepsias, meningoencefalite, traumatismos crânio- encefálicos, tumores, tétano, AVE ou acidente transitório, hipoglicemia (ficar atento principalmente em paciente diabético) Psicogênica: É muito comum, principalmente em mulheres (mais de 90% dos casos). Normalmente ocorre quando estão próximas a outro indivíduo, sendo com vários episódios recorrentes, com ausência de pródromos, ausência de gatilho ou alterações na FC e na PA. Há uma duração prolongada (chega sem consciência na sala de emergência). o Realizar teste de soltar a mão elevada em direção ao rosto: se houver desvio da mão em direção para longe da face, é positivo para síndrome psicogênica. Sinais de gravidade do paciente com perda súbita de consciência Síncope com trauma (ex.: cair de altura muito alta) Síncope de esforço: entra em caso cardíaco (maior gravidade) Idade maior de 65 anos Cardiopatia estrutural e/ou doenças perceptíveis apenas por ECG Ausência de pródromo (especialmente em idosos ou pessoas com os itens acima) O que não fazer em um paciente com perda súbita de consciência: Não dar comida ou líquidos para a vítima logo que ela recuperar a consciência, para evitar engasgos Não faça a vítima levantar-se rapidamente (pode ocasionar novos desmaios, já que muitos são de origem ortostática) Não permita que a vítima caminhe sozinha, pois ela pode sofrer outra perda súbita de consciência Não jogue água no rosto da vítima Não bata no rosto da vítima O que fazer: deitar a pessoa no chão e levantar a sua perna 102 O que fazer com um paciente que está tendo uma crise convulsiva: Afastar qualquer coisa do alcance da pessoa que possa machucá-la Colocar algo macio sob sua cabeça para amortecer o impacto contra o chão Não tentar segurar a pessoa Não puxar a sua língua Quando ela terminar de convulsionar, virá-la de lado para evitar broncoaspiração, fazendo também uma extensão do pescoço para que possa se desobstruir as vias aéreas Em 18% a 25% das perdas súbitas de consciência,não se é possível determinar a sua causa. 103 SÍNDROMES PLEURO-PULMONARES Medusa – 86 As síndromes pleuro-pulmonares podem ser divididas em: Síndromes brônquicas: doenças das vias aéreas. Principal sintoma: tosse/secreção Síndromes pulmonares: do parênquima pulmonar. Principal sintoma: dispneia Síndromes pleurais: acomete as pleuras. Síndromes Brônquicas Asma brônquica É uma doença inflamatória das vias aéreas que ocorre devido a uma hiper-reatividade das paredes dos brônquios, levando a um aumento de sua espessura e consequente diminuição da sua luz. Há também na asma espasmos brônquicos (contração dos músculos dos brônquios, que também contribuem com a diminuição da luz). Essa luz estreitada faz com que os pacientes possuam dificuldade na respiração, sendo este o principal sinal clínico. Os espasmos presentes na asma podem ocorrer em surtos (aparecem de maneira súbita e depois desaparecem). Podem acontecer em reação a estímulos externos, como mudança do clima. Como o paciente possui dificuldade em respirar, além da dispneia, pode ocorrer também uma sensação de opressão torácica (sentir que há um peso sobre o peito, impedindo que o ar entre), sibilos (som produzido conforme o ar passa pela luz estreitada), tosse (devido à inflamação, há a tosse, que é um estímulo para liberar a via aérea), a qual pode ser seca ou produtiva (se há maior produção de muco). As crises asmáticas normalmente regridem espontaneamente após algum tempo, só sendo persistentes em quadros mais graves (que podem chegar até mesmo a uma insuficiência respiratória). Há também a asma intermitente aguda, quadro no qual o indivíduo desenvolve apenas alguns episódios de forma isolada durante a vida (na infância, por exemplo), não havendo mais casos após isso. 104 Por meio de um exame de broncofibroscopia, é possível observar como a via área de um paciente asmático é bem mais inflamada (ao se comparar com a coloração e os contornos de brônquios normais). Normalmente, os pacientes asmáticos possuem como sintomas: Fáscies de sofrimento agudo (já que o paciente possui a sensação de ser privado de respirar, como ao estar no interior de um aquário) Ansiedade Palidez (por estar ansioso, ativa o SNA simpático, causando vasoconstricção periférica) Sudorese fria (mesma explicação acima) Tosse seca ou com expectoração mucoide (secreção transparente; se está amarelo-esverdeada, é uma secreção purulenta) Ao se observar uma radiografia de um paciente asmático, é possível notar uma hiperaeração (hiperinsuflação), de modo que o pulmão é visto com aspecto mais longilíneo. Bronquites As bronquites podem ser agudas ou crônicas: As bronquites agudas normalmente são quadros infecciosos devido principalmente à ação de vírus (principalmente ao se tratar de crianças). O paciente neste quadro apresenta: o Febre (devido à infecção) 105 o Cefaleia (devido à liberação de citocinas durante a infecção, as quais causam vasodilatação – inclusive nas artérias cerebrais) o Desconforto retroesternal o Rouquidão (se a infecção se expandir superiormente e atingir a laringe também) o Tosse normalmente seca (se for infecção viral – se for bacteriana, a tosse torna-se produtiva, podendo ser com secreção mucoide ou purulenta) A bronquite crônica é marcada por um excesso de secreção na árvore brônquica. Neste quadro, o brônquio possui também paredes mais espessadas devido às inflamações repetidas (fator que, combinado com a secreção, diminui significativamente a luz do brônquio). Paciente possui como sinais: o Tosse: principal sinal referido pelo paciente com bronquite crônica. É importante saber há quanto tempo o paciente apresenta este quadro de tosse (visto que ele pode se instalar durante meses). Normalmente a tosse é produtiva. Pode passar por momentos de melhora e piora (devido a infecções, tabaco e poluição) o Estertores grossos disseminados, roncos e sibilos frequentes (sons da ausculta) o “Blue Bloater”/Tossidor azul: perfil típico de pacientes que possuem bronquite crônica, principalmente tabagistas de longa data. Possuem intensa tosse, expectoração, dispneia (mesmo em repouso), chiado (devido à diminuição da luz; assim como na asma, o ar sai assoviando na expiração) e exacerbações frequentes (devido à maior propensão a infecções). São geralmente obesos. O diâmetro anteroposterior do tórax destes pacientes é aumentado devido aos esforços para a respiração. Pode haver roncos e estertores. 106 Bronquiectasia (“ectasia” = dilatação) São as dilatações irreversíveis dos brônquios e bronquíolos, que ocorrem devido a uma destruição de suas paredes, formando sáculos em sua extensão. Pode ocorrer apenas em alguns segmentos do pulmão ou pode ser difusa. Pode ser tanto genética (devido à deficiência de alfa-1-antitripsina) quanto adquirida (por exemplo, devido a pneumonias de repetição ou a bronquites crônicas prolongadas). Nas regiões de saculação, o movimento ciliar das células é comprometido, o que leva este paciente a acumular mais muco neste local. Este fato faz com que o paciente apresente uma tosse produtiva. Ao dormir, o indivíduo diminui o seu reflexo de tosse, o que leva este muco a se acumular e ter que ser liberado apenas ao acordar, de modo que o paciente apresente intensa tosse ao acordar. Já que a parede está mais afinada, há uma maior facilidade de ocorrer lesões em sua estrutura durante a tosse, o que pode levar à presença de sangue na secreção liberada ao tossir (hemoptise). É possível observar alterações tanto na radiografia (com granulações grosseiras) quanto na tomografia computadorizada (na qual são visíveis os septos, que na imagem abaixo estão tão aumentados e evidentes que formam bolhas). Casos em que as saculações estão muito aumentadas possuem maior gravidade, visto que podem ter como principal complicação o seu rompimento (causando um pneumotórax). 107 Síndromes Pulmonares Síndrome de Consolidação Há uma ocupação dos espaços alveolares por alguma coisa, podendo ser: Secreções purulentas: são exsudativas (secreções que contém pus e células), como em uma pneumonia. OBS: se a secreção for transudativa (contém apenas líquido), o quadro não é consolidação, mas sim congestão pulmonar Células: como em neoplasias. Necrose pulmonar: se o segmento possuiu seu aporte de sangue comprometido (infarto pulmonar) A principal manifestação clínica é a dispneia, que ocorre devido à dificuldade em se realizar trocas gasosas já que a parede alveolar que realizaria este processo está tampada por alguma coisa. Ex: pneumonia lobar Consolidações de ápice são comuns nos quadros de tuberculose. Em casos de pneumonias aspirativas (devido a algo que a pessoa aspirou, comum em casos de rebaixamento do nível de consciência), é comum que ocorra o acometimento maior do lado direito do pulmão (devido à anatomia do brônquio direito ser mais verticalizada). Em relação à ausculta, é possível perceber estertores finos em casos de pneumonia, enquanto no caso de neoplasias os ruídos estão abolidos no local do tumor. 108 Atelectasia Há ausência do ar nos alvéolos, levando a um colapso pulmonar (ou de parte dele). Normalmente, ocorre devido a uma oclusão da luz dos brônquios. Pode ocorrer devido a: Neoplasias atingindo uma via aérea, impossibilitando que o ar chegue aos alvéolos e causando o seu colapso Corpo estranho obstruindo a via aérea Secreção espessa (“rolhas”): em pacientes que estão produzindo muita secreção, pode ser que esta se acumule em um local e entupa um brônquio/bronquíolo. O desaparecimento destas rolhas é obtido através de manobras fisioterápicas de compressão e descompressão. A obstrução pode ser segmentar (se obstrui alguma ramificaçãodos brônquios principais) ou até mesmo total (se algo está obstruindo todo o brônquio principal). O principal sintoma é a dispneia. Só há secreção se a atelectasia decorre de uma bronquite intensa que causou a formação de uma rolha (uma síndrome brônquica pode levar a uma síndrome de consolidação por atelectasia!). 109 Enfisema pulmonar Há uma dilatação dos alvéolos (não confundir com bronquiectasia, que é a dilatação dos brônquios e bronquíolos!). Um tabagista crônico pode apresentar bronquiectasia e evoluir também para uma destruição alveolar, ocasionando um prejuízo na troca gasosa: ocasiona a queixa de dispneia. Devido a essa diminuição da capacidade respiratória, esse tipo de paciente pode precisar de oxigênio suplementar em quadros muito avançados. O enfisema pode ser segmentar ou generalizado, sendo normalmente ocasionado devido a uma exposição prolongada a alguma substância tóxica durante a vida do paciente. O enfisema faz parte das doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC). Como ocorre a destruição das paredes alveolares: As substâncias tóxicas se depositam nas paredes dos brônquios e dos alvéolos, sendo então fagocitadas. Quando fagocitado, o fagócito libera citocinas, que atraem macrófagos para a área, os quais expõem o antígeno identificado para os linfócitos, os quais desenvolvem uma resposta imunológica para proteger o corpo contra futuras agressões devido ao mesmo agente. Na próxima vez em que a substância entrar no organismo, ocorrerá a liberação das citocinas durante a resposta imunológica, de modo que diversas células podem ser atraídas para o local. Dentre estas células, estão os matadores naturais (natural killers), os quais causam uma destruição local e destroem as paredes alveolares. 110 A destruição das paredes leva também ao comprometimento do movimento ciliar das células, facilitando o acúmulo de secreções e a ocorrência de infecções. Este quadro ocasiona a presença de exsudato. Devido à dificuldade respiratória, é visível um grande aumento do diâmetro anteroposterior deste paciente (como tentativa de recompensar a perda respiratória). Diferentemente do presenciado na bronquite crônica, este sinal clínico aparece mais precocemente em pacientes diagnosticados com enfisema. Outro sinal comum em pacientes com baixa oxigenação é o comprometimento de estruturas periféricas. A falta de oxigênio na periferia causa uma hiperproliferação celular, levando ao baqueteamento digital (os dedos se parecem com baquetas de tambor) e à unha em aspecto de vidro de relógio (tornam-se curvas e ovaladas). Estas alterações são visíveis a longo prazo, sendo a alteração nas unhas a primeira a ocorrer. 111 Pink Puffer/Soprador rosado: Assim como o blue bloater, é um perfil característico de um paciente com determinado quadro clínico. É um paciente emagrecido, longilíneo, com dispneia aos esforços, com presença de tiragem intercostal (é visível o esforço respiratório no movimento entre suas costelas). Paciente normalmente está cansado, de modo que está quase sempre escorado em algum local. Expiração prolongada e diminuição do som pulmonar normal (a não ser que exista alguma secreção). No raio-x deste paciente, é possível notar uma hiperinsuflação pulmonar (como se destrói o alvéolo, ele hiperinsufla os pulmões para tentar compensar a dificuldade de trocas gasosas aumentando a área pulmonar) 112 Congestão Pulmonar Há acúmulo de transudato (e não exsudato!) no pulmão. Ocorre devido a uma falência ventricular esquerda: se ele não funciona corretamente, o sangue se acumula, causando acúmulo de sangue no átrio esquerdo e consequente acúmulo de sangue nas veias pulmonares. O aumento da pressão hidrostática nas veias pulmonares e em suas ramificações causa extravasamento de plasma para o interior dos alvéolos. O principal sinal clínico é a dispneia. Se este quadro acontecer em grandes proporções, o paciente entra em um quadro de edema agudo de pulmão (uma doença no pulmão, mas de origem cardíaca). Além da insuficiência cardíaca esquerda, outra causa que pode levar a este quadro é a insuficiência/falência de válvula mitral (já que ela causa o acúmulo de sangue no átrio esquerdo da mesma maneira). Além da dispneia, este paciente apresenta também tosse seca (não é produtiva pois não há secreção). Se o quadro já estiver mais avançado, o paciente libera uma secreção espumosa rosada junto da tosse (devido ao grande enchimento dos alvéolos com líquido, o qual pode conter algumas hemácias que passaram junto do plasma para o interior do alvéolo, conferindo- lhe a coloração rósea). OBS: Há 3 maneiras de identificar que um indivíduo está com dificuldade de respirar: tiragem intercostal, utilização do esternocleidomastóideo como músculo auxiliar da respiração e batimento de asa de nariz (este último visível apenas em crianças). 113 Cavitação pulmonar Ocorre quando há uma destruição do parênquima em uma região que foi combatida pelo sistema imunológico, formando uma cavidade, chamada de caverna (não há dilatação do alvéolo, mas sim uma destruição completa!). As principais causa de cavitação são: Tuberculose (principal) Abscessos pulmonares: paciente broncoaspira um agente anaeróbico, que se prolifera e produz gases e causa uma grande destruição na área. Pode causar necrose. Neoplasias que necrosam a área, causando uma cavitação 114 . Infecções fúngicas: acontecem por meio da inspiração de fungos (normalmente Aspergillus) que colonizam as cavernas já pré-existentes, mas que não estavam acometidas por nenhuma doença (chamadas de cavernas saneadas – exemplo: a caverna remanescente após uma tuberculose que já foi tratada). Como nestes locais o sistema imune possui menos efetividade (devido à destruição das paredes), o fungo é capaz de colonizar a área e formar uma bola fúngica no interior da caverna. Ao se realizar radiografias do paciente em diferentes posições, é possível notar a movimentação desta bola fúngica. O tratamento é a ressecção do segmento. O paciente com cavitação, diferentemente dos demais quadros de acometimento do parênquima pulmonar, não possui como principal sinal clínico a dispneia, mas sim a tosse. 115 Se a área necrosada (normalmente devido a um abscesso) deixar de ficar isolada no parênquima e alcançar uma via aérea e nela se romper, há a liberação de maneira abrupta desta substância necrótica do parênquima pulmonar, de intenso odor pútrido, chamada de vômica. Muitas vezes os pacientes apresentam cavernas saneadas (não infectadas por nenhum agente), como a caverna remanescente após uma tuberculose tratada. Neste caso, as cavernas se apresentam como um contorno radiopaco com preenchimento radiotransparente (já que está vazia; se estivesse com algo em seu interior, estaria radiopaca também) Síndromes Pleurais Pleurites São inflamações dos folhetos das pleuras, que podem acontecer devido a: Reação inflamatória local Pneumonia próxima ao folheto visceral da pleura, acometendo-o também. Tuberculose: pode acometer diretamente a pleura (tuberculose pleural), causando febre e dor. Colagenoses: doenças inflamatórias gerais, como o lúpus (se é produzido anticorpos contra a pleura) Neoplasias de pleura ou de pulmão Quando a pleura inflama, ela começa a descamar, causando o acúmulo de descamação entre os dois folhetos e a formação de pus. O pus entre os folhetos pleurais é chamado de empiema. 116 O principal sintoma das pleurites é a dor ao respirar (dor ventilatório- dependente). A dor é localizada. As pleurites podem ser agudas ou crônicas: Pleurite aguda: Acometimento rápido, seca (sem produzir tanta secreção), sendo a principal queixa a dor pleurítica. Pode haver tosse seca, dispneia (devidoà dor ou se houver algum acometimento parenquimatoso associado) e febre. Pleurite crônica: Quando a inflamação vai se perpetuando, levando ao espessamento da pleura. O principal sintoma deixa de ser a dor pleurítica (já que os folhetos não conseguem mais deslizar tanto), passando a ser a dispneia aos grandes esforços. 117 Derrame Pleural Ocorre acúmulo de líquido entre os folhetos da pleura. Pode ocorrer devido a: Pleurites (em sua fase inicial) Pneumonias (principalmente em crianças) Neoplasias Colagenoses Síndromes nefróticas: diminuem a quantidade de proteínas plasmáticas, levando a uma diminuição da pressão oncótica dentro dos vasos e propiciando o extravasamento de líquido para fora dos capilares, de modo que este se acumule entre os dois folhetos das pleuras. Doenças pleurais Insuficiência cardíaca 118 Como o derrame pleural acaba por pressionar o pulmão, o paciente pode apresentar dispneia devido a esta redução da área pulmonar. No início do derrame pleural, há a presença de dor, a qual vai progressivamente desaparecendo conforme o derrame aumenta (já que vai impossibilitando que as pleuras se encostem). A irritação da pleura pode causar também tosse seca. O líquido impede a passagem do raio-x, de modo que os derrames pleurais são sempre opacos nas radiografias. Ao se realizar o raio-x de Laurell (método em que a pessoa fica em decúbito lateral e os raios incidem horizontalmente), é possível ver a movimentação do derrame, espalhando-se. 119 A localização do local acometido pelo derrame é encontrado através da percussão (que não apresenta som claro pulmonar, mas sim um som maciço), indicando a região onde deve ser realizada a punção para a drenagem do líquido. Pneumotórax Quando há acúmulo de ar entre os folhetos da pleura, realizando uma comunicação ou com a via aérea ou com o meio externo. Suas principais causas são: Lesão traumática: ou por acidente externo ou por iatrogenia (ex.: romper a pleura ao se realizar uma punção de subclávia) Ruptura de bolha subpleural: todos os indivíduos possuem bolhas nos pulmões, as quais podem, espontaneamente, se romper Afecções pulmonares: todas que podem ocasionar a destruição de via aérea, como tuberculose, pneumoconiose e neoplasias com necrose A principal manifestação clínica é a dispneia, visto que os alvéolos tendem a sofrer atelectasias devido à pressão exercida pelo ar na cavidade pleural. O paciente pode também apresentar tosse seca e sentir dor no momento em que o pneumotórax se inicia. A radiografia de um pneumotórax difere-se da de um pulmão normal na medida que a primeira apresenta uma área totalmente translúcida, sinalizando a ausência do pulmão na região. Em uma radiografia de um pulmão normal, é possível notar pequenos traços opacos em meio à região translúcida, os quais são sinais da presença de vasos no local. 120 O pneumotórax pode ser identificado pela alteração da percussão, obtendo um som timpânico, e não um som claro pulmonar. Na ausculta, há ausência de murmúrios vesiculares na região. Não é possível notar a expansão da caixa torácica na inspiração do lado em que se encontra o pneumotórax. 121 SÍNDROMES RENAIS Medusa – 86 Funções do rim Apesar de parecer ter a sua função limitada à filtração (por eliminar as substâncias indesejáveis e reter as boas), o rim é também um órgão que exerce diversas tarefas no organismo. Muitas delas estão relacionadas à função endócrina, como: Produção de eritropoetina (essencial para estimular a produção de hemácias na medula óssea). Isto explica porque pacientes com insuficiência renal passam a ter anemia, influenciando tanto no funcionamento renal quanto no cardíaco. Produz vitamina D (a qual atua no metabolismo do cálcio (reabsorvendo-o no intestino) e do ferro) Produz renina (controle da pressão arterial) Produz endotelinas e prostaglandinas (ajudam a regular a PA também). É um órgão que consegue ser substituído durante vários anos (há pacientes que chegam a fazer hemodiálise por 20 anos). Há sempre mistura de sangue purificado (proveniente da V. Renal) ao sangue não purificado (ao se juntar à V. Porta). Unidade funcional do rim: néfron 122 O néfron é composto pelo glomérulo e pelos túbulos. O glomérulo possui sua membrana como a responsável pela realização da filtração. Cada rim possui 1,8 milhões de glomérulos, filtrando de 120 a 180 litros de plasma por dia. Além das substâncias que são nocivas para o organismo, são também filtradas substâncias interessantes para o corpo, as quais são absorvidas em seguida (assim como parte da água). A maioria das grandes proteínas (ex.: albumina e gama globulinas) não consegue ser filtrada devido à barreira física presente no glomérulo. Todavia, há pequenas proteínas que conseguem ser filtradas, mas em seguida retornam à corrente sanguínea pela absorção tubular. São filtrados íons (como sódio, potássio, cálcio), água, ureia e pequenas proteínas. Parte destes compostos são reabsorvidos nos túbulos. A grande maioria destes compostos é absorvida no túbulo contorcido proximal. O túbulo proximal possui também um mecanismo de secreção, o qual auxilia na eliminação de substâncias que não foram filtradas. Após passar pelo TCP, o filtrado segue para a Alça de Henle, onde é realizada principalmente a absorção de água. O túbulo contorcido distal realiza os ajustes finais da absorção de água e sódio. 123 Glomérulo: Enovelado de capilares presente no espaço de Bowman, o qual é envolto pela cápsula de Bowman. A barreira de filtração glomerular é formada pelo endotélio dos capilares e por uma membrana basal, sendo que esta é envolta externamente pelos podócitos, prolongamentos em forma de tentáculos da célula epitelial. O podócito possui função semelhante à de um diafragma, abrindo ou fechando (e com isso deixando passar moléculas maiores ou menores). Desta forma, a célula epitelial exerce uma função de barreira física. A membrana basal e o endotélio do capilar exercem uma barreira química, já que são carregadas de cargas negativas, de modo a repelir substâncias com carga negativa (como a albumina). Os capilares glomerulares são envolvidos pelo mesângio, células responsáveis por ancorar as primeiras. Barreira de filtração glomerular: endotélio capilar + membrana basal + podócitos 124 . Modulação da PA realizada pelo rim O rim possui papel fundamental no processo de regulação da PA. A baixa quantidade de sangue que chega pela A. Renal é interpretada como uma baixa na PA, ativando o sistema renina-angiotensina. Esta baixa é percebida pelo aparelho justaglomerular, incentivando a produção de renina. A renina converte angiotensinogênio em angiotensina 1. A enzima conversora de angiotensina (ECA) converte a angiotensina 1 em angiotensina 2, a qual causa vasoconstricção nas artérias do organismo, levando a um aumento da resistência periférica e com isso um aumento da pós-carga, ocasionando a elevação da PA. O efeito imediato é que a vasoconstricção da arteríola eferente acaba por aumentar a pressão de filtração no interior do glomérulo, fazendo com que filtre mais e produza mais urina. 125 Durante um processo inflamatório, as prostaglandinas agem abrindo a arteríola aferente. Anti-inflamatórios agem inibindo a produção de prostaglandinas, fechando a arteríola aferente. Estes medicamentos são contra-indicados para pacientes com insuficiência renal aguda. Patogênese Normalmente relacionada à lesão da barreira de filtração. Pode ser devido a: Lesões imunológicas: na maioria dos casos, devido a auto-imunidade. É a primeira maior causa para as lesões. Diabetes: a glicosilação causa uma inflamação na membrana basal, levando à sua degeneração e espessamento. Éa segunda maior causa. Hipertensão: leva a um aumento da pressão intraglomerular, causando a necrose do glomérulo. É terceira maior causa. Mutações genéticas: Como por exemplo: o Deficiência na produção de colágeno tipo IV, que está presente na membrana basal (levando à sua fragilidade e maior passagem de substâncias) o Doença da membrana fina Infecções: normalmente glomerulonefrite pós-estreptocócica: surge após uma infecção nas vias aéreas superiores, que causa a formação de imunocomplexos que se depositam no mesângio, causando infecções no local Toxinas (como algumas ervas) As inflamações que ocorrem primeiramente no mesângio acabam por acometer secundariamente a membrana basal e a barreira de filtração. A quantidade de proteína perdida e se haverá insuficiência renal é o que define as síndromes em nefrítica, nefrótica e insuficiência renal. SÍNDROME NEFRÓTICA Nesta síndrome, a membrana basal é degradada. Mesmo assim, o glomérulo possui sua função de filtração preservada, não afetando na TFG (não apresentando, desta forma, oligúria). Não são visíveis muitas mudanças no aspecto histopatológico do glomérulo, sendo desta forma uma alteração mais leve. Possui início insidioso. A síndrome nefrótica pode ocorrer devido ao acometimento tanto do endotélio do capilar, quanto da membrana basal ou dos podócitos. Diferentes doenças são responsáveis por afetar diferentes estruturas, podendo afetar 126 mais do que uma simultaneamente. A quantidade de estruturas acometidas está diretamente relacionada com o prognóstico da doença. A degradação da membrana basal faz com que uma grande quantidade de proteínas que antes não atravessavam a barreira agora sejam capazes de fazê-lo, causando uma proteinúria. A ureia continua a ser filtrada normalmente visto que não há insuficiência renal. A homeostase ocorre normalmente, mas ocorre uma perda significativa de proteínas, sendo a albumina a principal. Seus principais sinais e sintomas são: Hipoalbuminemia: É importante ressaltar que a ingestão de dietas hiperproteicas podem piorar o acometimento renal (visto que vão intensificar a proteinúria, a qual é lesiva ao rim). Anasarca acentuada: ocorre devido a uma intensa proteinúria (acima de 3 mg/dia – sendo que o normal é 0,15 mg/dia). Ocorre alteração da pressão oncótica do sangue. Anasarca extremamente acentuada, se destacando o edema periférico (pés e mãos), MI, periorbitário e edema central (derrame pericárdico, derrame pleural e ascite). Hiperlipidemia: Não se sabe ao certo a razão para isso, mas o fígado passa a produzir lipoproteínas quando percebe que a produção de albumina não está sendo suficiente para manter a pressão oncótica, no intuito de mantê-la. Todavia, este mecanismo causa apenas um pequeno aumento na pressão oncótica. Causa uma dislipidemia incontrolável e também lipidúria. o Possui alto potencial aterogênico. Há perda urinária de HDL e aumento de síntese de LDL e VLDL. Hipercoagulabilidade sanguínea: A mesma síntese hepática exacerbada supracitada ocorre com os fatores de coagulação, que podem passar a ser mais produzidos (havendo um aumento dos pró- trombóticos predominantemente). Há também uma perda de fatores anticoagulantes e plasminogênio (não há explicação para isso também – socorro @Deus!). Há o potencial de se desenvolver TVP. PA normal ou baixa: Mesmo com as altas concentrações de renina circulante, a falta de albumina no sangue faz com que o volume de sangue no interior dos vasos seja insuficiente para manter uma PA adequada. o Com o evoluir da doença (pode evoluir em diferentes intervalos de tempo, indo desde 6 meses até 20 anos), acaba havendo um acometimento e morte dos glomérulos, fazendo com que este paciente chegue a desenvolver uma insuficiência renal. Como resultado, há uma menor TFG e com isso um aumento da PA. Normalmente, os pacientes com síndrome nefrótica não possuem oligúria, e somente passam a apresenta-la quando chegam neste quadro de lesão renal definitiva. Desnutrição: ocasionada pela intensa perda de proteínas. 127 Maior suscetibilidade a infecções: A lesão da barreira de filtração pode ser seletiva ou não, de modo que além da albumina podem ser liberadas também outras proteínas, como as imunoglobulinas Aumento da concentração de sódio no sangue: a grande liberação de renina estimula a liberação de aldosterona (veja na última imagem o esquema), proporcionando a retenção de sódio. A importância deste mecanismo é que o acúmulo de Na+ funciona como um meio de tentar manter um pouco da pressão oncótica no interior dos vasos, mesmo com a diminuição da albumina. o Esta tentativa de manter a pressão oncótica por meio do sódio não é tão efetiva, visto que ele não é tão oncoticamente ativo quanto a albumina para manter o plasma no interior dos capilares. Exemplo disso é que a administrações de soro fisiológico (com Na+ em sua composição) para evitar desidratações é capaz de evitar o extravasamento de plasma dos vasos por apenas 6 horas aproximadamente. Devido a isso, em alguns países é utilizado também soluções de albumina 4% em pacientes politraumatizados com grande perda volêmica. o Este aumento de sódio plasmático provoca, além da maior produção de ADH para reter água, o aumento da sede. o Ele ocorre quando o SRAA é ativado, de modo que é uma manifestação clínica que normalmente precede os quadros de anasarca (é uma das reações imediatas frente à hipoalbuminemia) Apesar de haver estes diversos mecanismos compensatórios, o corpo não é capaz de manter a água no interior dos vasos sem a presença da albumina. Portanto, os pacientes com síndrome nefrótica são marcados por excesso de líquido intersticial (edema), baixo volume intravascular, excesso de sódio. Além da anasarca relatada, o paciente pode apresentar também edema de cavidades, como derrame pleural (mais frequente), derrame pericárdico e ascite (estes dois sendo menos frequentes e bem discretos). As principais causas de síndrome nefrótica (sendo as mais comuns as primeiras duas): Glomerulopatia membranosa (comum em idoso), podendo cursar com CA. Doença de lesão mínima: comum em jovens (cursa com proteinúria muito acentuada). Glomeruloesclerose segmentar e focal: tende a ser mais agressiva, com maior acometimento renal em menor tempo Nefropatia diabética 128 SÍNDROME NEFRÍTICA Decorre de uma inflamação aguda de mais de 50% dos capilares glomerulares. Este quadro faz com que ocorra uma diminuição da taxa de filtração glomerular. Possui um início abrupto, sendo visíveis os seguintes sinais e sintomas: Edema: devido ao aumento da pressão hidrostática, mas é menor do que na síndrome nefrótica Hematúria: devido à lesão do endotélio dos capilares, possibilitando a passagem de hemácias o Podem estar presentes outras células sanguíneas na urina também, como linfócitos e leucócitos o As hemácias, ao passarem pelo glomérulo alterado, acabam modificando a sua forma. Desta maneira, a hematúria de origem de uma síndrome nefrítica apresenta dismorfismo eritrocitário (diferentemente de hematúrias provocadas por lesões nas vias urinárias, como devido a acometimento da bexiga urinária). o A hematúria da síndrome nefrítica não causa anemia. Cilíndros hemáticos Hipertensão Arterial: Como não ocorre a filtração do sangue e eliminação de parte do plasma na formação da urina, há uma hipervolemia, causando aumento da PA. Oligúria: devido à diminuição da TFG. Insuficiência renal: Qualquer doença que acometa os glomérulos pode evoluir com esclerose glomerular e doença renal crônica progressiva. Proteinúria pouco intensa (inferior a 3-3,5 mg/dia). Isto ocorre porque, apesar de a parede do capilar glomerular estar lesionada e permitir a passagem das proteínas para o filtrado, elas são parcialmente barradas pelamembrana basal que não está tão degradada quanto na síndrome nefrótica (de modo que apenas as pequenas proteínas consigam passar, e não as grandes como a albumina). Além disso, outro fator importante para este resultado é que quase não chega sangue aos glomérulos devido á inflamação, e com isso não tem como muitas proteínas serem filtradas e aparecerem na urina. Dispneia: O aumento do volume intracapilar durante a síndrome nefrítica e o consequente aumento da pressão hidrostática no interior dos vasos faz com que, ao se chegar ao pulmão, aconteça o extravasamento de plasma para o interior dos alvéolos, causando um quadro de congestão ou início de um quadro de edema agudo de pulmão (que possui como principal manifestação clínica a dispneia) o A dispneia também pode estar presente na síndrome nefrótica, mas em menor intensidade. Quando ela ocorre, é devido ao derrame pleural ocasionado pela baixa pressão oncótica dos vasos. Pode também ocorrer derrame pleural na síndrome 129 nefrítica, mas a sua característica mais marcante é provocar congestão pulmonar. Síndrome Nefrítica x Síndrome Nefrótica O início de sd nefrótica pode demorar meses a anos (por isso é insidioso). Pode ser devido a infecções esteptocócicas devido a IVAs. 130 OBS: Enquanto a síndrome nefrótica normalmente cursa durante longo prazo, causando progressiva lesão renal e culminando em uma insuficiência renal, geralmente a síndrome nefrítica é um quadro transitório, possuindo recuperação após um certo período de tempo (não chegando a causar lesões permanentes). Todavia, se não tratada e curada, a síndrome nefrítica pode culminar também em uma insuficiência renal devido à lesão glomerular. Mesmo durante a sua manifestação transitória, pode ser que a Síndrome Nefrítica seja tão agressiva que faça com que o paciente tenha que passar por hemodiálise durante um intervalo de tempo. Dependendo do quadro, ambas podem evoluir para a necessidade de transplante renal. DOENÇA RENAL CRÔNICA É definida como uma anormalidade estrutural ou funcional do rim, evidenciado por exames clínicos, laboratoriais e de imagem. Possui os seguintes sinais e sintomas: Hipervolemia: devido à diminuição da TFG. Redução da imunidade Anorexia Proteinúria Osteodistrofia renal: ocorre devido à redução da produção de vitamina D. Distúrbio hidroeletrolítico: é percebida uma acidose devido a: o Queda na excreção renal de H+ devido à queda na produção de amônia o Hipercalemia devido à incapacidade de excreção de K+ 131 o Retenção progressiva de água e incapacidade de regulação de sódio Hipertensão arterial sistêmica: ocorre devido a: o Retenção de água e sódio o Níveis inapropriadamente altos de renina Anemia: decorrente da diminuição da produção de eritropoetina Sintomas neurológicos 132 ANAMNESE Medusa – 86 A anamnese consiste na história clínica do paciente, sendo o conjunto de informações obtidas pelo médico por meio de entrevista previamente esquematizada. Cerca de 70-80% dos diagnósticos podem ser obtidos através da anamnese. É o momento de criação de vínculo com o paciente. É importante analisar a epidemiologia: ao saber de onde o paciente é proveniente ou por onde passou nos últimos dias/meses, é possível se apontar hipóteses de diagnóstico de doenças endêmicas. É realizada desde a Grécia Antiga, quando as doenças eram interpretadas como resultados da existência de um desequilíbrio entre a bile amarela, a bile negra, o sangue e a fleuma. Hipócrates iniciou as técnicas de inspeção e palpação. Os maiores avanços na medicina e no ensino à beira do leito foram desenvolvidos por Sir William Osler (avanços na fisiologia, patologia, farmacologia e microbiologia). Método Clínico A coleta de dados consiste em saber o que o paciente apresenta de distúrbio e o que ele procura, recordando sinais e sintomas. Deve ser redigida segundo ordem cronológica (para entender o encadeamento e relação entre os sintomas e sinais). Em seguida, é realizado o exame físico, se utilizando as 4 semiotécnicas básicas: Inspeção: olhar o paciente Palpação: tocá-lo Percussão: perceber sons próprios que cada órgão pode apresentar Ausculta: realizada com estetoscópio, para se ouvir os sons característicos de cada órgão Após os exame físico, se necessário, podem ser requeridos exames complementares para auxiliar no diagnóstico diferencial. Estas três etapas fazem parte da propedêutica, que consiste na investigação do caso clínico, que é seguida pela terapêutica (administração de um tratamento). Sempre explicar tudo o que for se realizar com o paciente. Manter o sigilo médico, a não ser alguns crimes em específico (ex.: violência sexual). Considerar o perfil do paciente (ex.: verborreico, agitado, deprimido, surdo, hipocondríaco, etc) e o estresse da consulta. Assegure privacidade e sossego. 133 Caso a conversa com o paciente fuja dos rumos da anamnese, retomar a atenção do paciente para o assunto da consulta. Deve-se definir se o paciente é casual, com doença aguda ou crônica. 134 ELEMENTOS DA ANAMNESE Identificação: Nome, idade, cor (relacionado a perfil epidemiológico-racial), estado civil, naturalidade, procedência (ajuda a elaborar pensamento epidemiológico-endêmico), profissão (há algumas doenças relacionadas a determinadas profissões) e religião (há algumas que não permitem realizar determinados procedimentos). Queixa principal e duração: Queixa que leva o paciente a procurar assistência médica. Deve ser escrita na maneira que o paciente relata (ex.: Dor nas costas há duas semanas). História pregressa da Moléstia Atual: Consiste em uma ampliação da queixa principal, redigindo os relatos do paciente de forma cronológica. Relatar início dos sintomas, quais os fatores desencadeantes, qual a duração da queixa (se é contínua ou se cessou), a intensidade dela, se há fatores de melhora ou piora, se há fatores acompanhantes ou condições clínicas associadas, se já presenciou períodos de sensação semelhante anteriormente, se há repercussão em outros sistemas, nas condições psicológicas do paciente e na sua vida como um todo, e se já houve tratamentos prévios realizados (e quais foram seus resultados). Exemplo: “Paciente refere que há 3 dias iniciou tosse produtiva com expectoração inicialmente esbranquiçada, que se tornou amarelada, abundante e fétida. A tosse melhora com “chás caseiros” e piora com o tempo de frio. Relata febre diária (não aferida), que cede com antitérmico, porém retorna após 6 horas. Nega calafrios. Durante o momento da febre apresenta astenia. Com o uso do antitérmico apresenta sudorese intensa sendo necessário trocar de roupa. Queixa-se ainda de dor torácica difusa associada. Nega dispnéia. Refere que os sintomas pioraram há 1 dia e que não consegue trabalhar.” ISDA – Interrogatório Sistemático dos Demais Aparelhos: São examinados cada um dos aparelhos do paciente, observando se não há alteração em nenhum deles. Estas alterações NÃO se incluem no MOTIVO que fez com que o indivíduo procurasse o atendimento, mas é importante saber sobre as demais alterações que o paciente apresenta. Os tópicos a serem analisados são: Sintomas gerais Pele e fâneros Cabeça e pescoço Aparelho Respiratório Aparelho Cardiovascular Aparelho Digestório Aparelho genito-urinário Sistema Nervoso Sistema endócrino-metabólico 135 Sistema osteomuscular Psiquismo Antecedentes Mórbidos Pessoais: São as doenças que o paciente possui e que apresentam maior repercussão clínica, podendo afetar outros sistemas: como a diabetes e a HAS. Colocar os medicamentos que o paciente faz uso também. Inserir antecedentes ginecológicos e obstétricos (com que idade foi a menarca, se ainda menstrua, se o ciclo é regular, se utiliza anticoncepcional, gestações (G),partos (P) e abortos (A)). Perguntar também se houve alguma viagem recentemente (a qual poderia possibilitar a contração de alguma doença). Antecedentes familiares: Perguntar se os pais são vivos (se não, questionar a causa da morte: pode haver correlação hereditária), se há irmãos e quais as doenças que cada um possui (causa dos óbitos e doenças em parentes de 1º grau). Se houve algum evento cardiovascular nestes indivíduos, questionar a idade em que ocorreu. Hábitos e condições de vida: Questionar acerca da alimentação, ocupação atual e ocupações anteriores, atividades físicas, hábitos, bebidas alcóolicas e drogas (quantidade e frequência; se utiliza drogas, saber se é inalável ou injetável), condições de habitação (zona rural ou urbana; se há esgoto tratado), condições socioeconômicas, condições culturais, vida conjugal e questionamento familiar. (sic) = segundo informações colhidas – instrumento redigido quando não se há certeza sobre o relatado. 136 EXAME FÍSICO GERAL E DE CABEÇA E PESCOÇO Medusa – 86 O exame físico é dividido em geral e segmentar (avaliando segmentos específicos do corpo, como cabeça e pescoço, tórax, abdome, coração, sistema nervoso, etc). Tudo o que será examinado no exame físico será feito por meio dos 4 métodos propedêuticos: inspeção, palpação, percussão e ausculta. Em alguns exames segmentares, algum método predominará sobre outro (ex.: no cardíaco, predomina a ausculta; no abdominal, a palpação). Inspeção geral: Observar lesões elementares, icterícia, estado nutricional, etc. Palpação: Existem diversas técnicas, sendo que cada uma pode ser utilizada com uma finalidade e em um local diferente. Pode ser feita: o Bimanual com as mãos espalmadas: utilizada no exame de abdome o Em pinça: avaliar o turgor da pele o Puntipressão (através de um objeto puntiforme, como uma agulha): avaliar sensibilidade neurológica o Bimanual com uma mão sobre a outra o Digitopressão: avaliar edema o Vitropressão: avaliar se a lesão eritematosa desaparece com a pressão – diferencia se é um eritema ou se há hemorragia no local. 137 Percussão: Há técnica própria. Apoia-se o terceiro de dedo da mão esquerda sobre a pele do paciente (sem apoiar os demais), o qual é chamado de plexor. O terceiro dedo da mão direita é o plexímetro, sendo portanto o dedo que percutirá na articulação interfalangiana distal ou na falange distal do plexor. Devem ser aplicados dois golpes rápidos e fortes a cada vez. A percussão é feita com a movimentação do punho, e não do cotovelo. o Há também outras formas de percussão, como a punho- percussão, a percussão com a borda da mão (sendo estas duas últimas utilizadas para avaliar rechaço renal – se há dor quando é realizada este tipo de palpação, mas não há dor durante a palpação muscular, é um sinal positivo para acometimento renal) e a percussão por piparote (identificação de ascite). Ausculta: Sons característicos de cada órgão, podendo possuir focos específicos para cada um deles. 138 EXAME FÍSICO GERAL 1. Estado geral: bom estado geral, regular estado geral ou mau estado geral 2. Sinais vitais: a. Pressão arterial b. Temperatura: normalmente medida em região axilar. Normal é de 35,5ºC a 37ºC. Abaixo: hipotermia; acima, hipertermia. i. As temperaturas retal e bucal são em média 0,5ºC superiores à axilar, sendo mais fiéis à temperatura central. c. Frequência de pulso: normalmente palpado na a. radial. Taquisfigmia: acima de 100, bradisfigmia: abaixo de 60. Avaliar também o ritmo (rítmico ou arrítmico) e a amplitude (se é tênue, ampla ou variante). d. Frequência respiratória: medir, avaliar ritmo (mostrados no resumo de dispneia) e verificar se há esforço respiratório. Eupneia: 12-20 mrm. i. Taquipneia: Maior do que 20. Causada por esforço físico, emoções, febre, doenças pulmonares e cardíacas ii. Bradipneia: Menor que 12. Causada por sono, atletas, hipertensão intracraniana e intoxicações exógenas iii. Dispneia: Avaliar se há esforço para respiração (ex.: utilização de musculatura auxiliar e batimento de asa de nariz) iv. Apneia: parada respiratória 3. Dados antropométricos a. Peso b. Estatura c. Envergadura: Avalia biotipo - longilíneo, normolíneo ou brevilíneo d. Circunferência abdominal e. Calcular IMC. Se há obesidade andróide (central, com maior acúmulo de gordura visceral e maior risco cardíaco) ou ginecoide 139 4. Nível de consciência: avaliar se está perceptivo, reativo, possui capacidade de deglutição e se os reflexos estão ativos. A partir disso, pode ser classificado em: alerta, sonolência, torpor, coma superficial e coma profundo. 5. Estado de hidratação e nutrição: avaliar olhos (esclera úmida), mucosas (corada e úmida), pele (turgor e elasticidade identificados pela pinça), urina (débito urinário) e peso. Avaliar queixa de sede também. a. Eutrófico, desnutrido e obeso. 6. Fáscies: expressões faciais características de determinadas condições. a. Fáscies atípica: normal b. Fáscies hipocrática: desnutrido. Olhos fundos e é ressaltado o arco zigomático c. Fáscies parkinsoniana: perde capacidade de mímica facial d. Fáscies basedowiana: olhos saltados. Doença de Gravis e. Fáscies acromegálica: fronte proeminente, aumento do queixo, nariz e orelhas f. Fáscies renal: edema periorbital g. Fáscies leonina: infiltração da pele em vários locais, madarose, nariz em sela. Hanseníase h. Fáscies cushingóide: devido a reposição externa ou produção interna de corticoides. Aumento das bochechas e eritema malar. i. Fáscies da paralisia facial periférica: incapacidade de fechar o olho e desvio de rima labial. 140 7. Atitude, postura decúbito preferido: Posição adotada pelo paciente no leito (ou fora dele) para encontrar maior conforto, hábito ou alívio de dor. Pode ser voluntária ou involuntária a. Atitude ortopneica: Mais elevado para melhorar condição respiratória b. Atitude parkinsoniana: rígido, desvio do tronco para frente, com passos curtos c. Atitude de cócoras d. Atitude genupeitoral: presente na pericardite (dor na região precordial) e. Opistótono: contratura muscular presente no tétano f. Decúbito lateral 8. Mucosas, pele e anexos: Avaliar pele espessa e não espessa; mucosa do olho e mucosa oral. Observar: a. Coloração i. Palidez ii. Vermelhidão iii. Cianose 1. Central 2. Periférica 3. Mista iv. Icterícia b. Hidratação i. Integridade ii. Espessura: trófica, a trófica ou hipertrófica iii. Elasticidade/Mobilidade iv. Turgor: avaliado por pinça 9. Linfonodos: Realizar palpação das cadeias linfonodais superficias. O normal é não haver linfonodos palpáveis, mas eles podem ser palpáveis em condições que não apresentam patologias (quando o aspecto é móvel, fibroelástico, com tamanho de 0,5 a 1 cm). Todavia, os patológicos são maiores, pétreos e aderidos a planos profundos. As cadeias analisadas são: a. Occiptais b. Auriculares posteriores (aumentam na caxumba) c. Parotidianos d. Submandibulares e. Submentonianos f. Cervicais (em relação ao ECM) i. Cadeia anterior ii. Cadeia posterior g. Supraclaviculares (normalmente patológicos) h. Axilares i. Infraclaviculares, laterais, posteriores, centrais i. Inguinais superficiais 141 10. Edema: a. Localização: generalizado ou localizado b. Intensidade: relacionado ao tamanho da fóvea encontrada ao realizar o Sinal do Cacifo, classificando de + a ++++ c. Consistência: mole (afunda quando aperta) ou duro d. Temperatura e sinais inflamatórios (ex.: eritema, descamação, alterações de textura ou lesões elementares) e. Sensibilidade: se há queixa de dor durante a digitopressão 11. Marcha: Deve ser observada assim que o paciente se encaminha ao atendimento. Fornecer anteparo para o paciente caso ele se desequilibrea. Marcha hemiplégica: após AVC. Há atrofia muscular com contratura unilateral: não contrai a perna, apenas a arrasta b. Marcha parkinsoniana: rígida, com tronco deslocado para frente e passos curtos c. Marcha cerebelar: Base alargada (relacionada ao alcoolismo) d. Marcha tabética: Devido a uma lesão da medula chamada de tabes dorsalis. Perda da capacidade de propriocepção (ex.: não entende a altura e consistência do chão abaixo dos seus pés). Levanta a perna e solta no chão com força. e. Marcha vestibular: desloca para o lado em que há uma lesão f. Marcha claudicante: visível em hérnias de disco ou compressões do N. isquiático. Paciente manca para um dos lados. g. Marcha ceifante: Há lesão em nervos periféricos (ex.: N. fibular), de modo que o paciente fica com o pé caído. Faz movimento de foice para deslocá-lo. 142 12. Movimentos anormais: Podem ocorrer devido a lesões neurológicas a. Tremores: de atitude, de ação, vibratório ou de repouso b. Movimentos atestósicos: movimentos lentos, similares a tentáculos de um polvo c. Hemibalismo: movimentos de grande amplitude d. Movimentos coreicos: não tão súbito quanto hemibalismo, não tão lento quanto atetose e. Mioclonias: contrações musculares rítmicas de pequenos segmentos musculares (choques) 143 f. Asterix (flapping): sinal específico da insuficiência hepática. Mão faz movimento similar a bater de asas após segurá-la, o paciente fazer força e então soltá-la. g. Tiques: movimentos repetitivos de determinados grupos musculares h. Convulsões: movimentos musculares súbitos generalizados ou não 144 EXAME FÍSICO DE CABEÇA E PESCOÇO O exame físico de cabeça e pescoço é dividido em crânio, face e pescoço. CRÂNIO Inspeção: Tamanho e formato: classificado em normocrania, macrocrania, microcrania. Simétrico ou assimétrico Deformidades Cicatrizes Cabelo e couro cabeludo (se há alopecia) Posição da cabeça em relação ao pescoço Se está íntegro (traumatismos) Palpação Se é indolor Deformidades o Microcefalia o Macrocefalia Protrusões ósseas Tumefações/abaulamentos Depressões Lesões elementares FACE Inspeção: Avaliar fáscies Coloração Simetria Movimentos involuntários Edemas Massas Integridades de pele Olhos o Estruturas oculares: externas e internas Avaliar hidratação e coloração Pálpebras (avaliar ptoses), conjuntiva, esclerótica, córnea (se está espessada) e pupilas 145 Estrabismo: esotropia (estrabismo convergente) e exotropia (estrabismo divergente) Ectrópio (pálpebra inferior inferiorizada, deixando a mucosa visível) e entrópio (pálpebra inferior entra pra dentro, inclusive com os cílios) o Acuidade visual/campo visual (avaliado no exame físico neurológico): se consegue observar dedo do examinador mexendo na periferia; se o paciente consegue acompanhar o trajeto de um dedo com o movimento ocular sem mexer a cabeça (para cima, para baixo, para direita, esquerda e diagonais) o Movimentos extra-oculares – nistagmo (avaliado no exame físico neurológico) Nariz: o Externo: simetria, deformidades, inflamação, batimento da asa do nariz o Interno: narinas, integridade nasal, vascularização, secreções, obstruções e coanas Seios paranasais: realizar palpação (seios frontais e maxilares) e transiluminação (coloca uma lanterna e encosta) Orelha: cor, forma, posição, tamanho, traumatismo, disfunção mecânica, lesão elementar, otorragia (sangue), otorréia (outros tipos – secreção purulenta/líquor), o Exame externo: se há algum sinal inflamatório, manobras para identificar se a otite é interna ou externa (se tracionar a orelha para cima e doer, é externa; se doer quando se palpa próximo ao processo mastoide, é interna), avaliar acuidade auditiva (teste do sussurro ou diapasão) e avaliar a membrana timpânica com o otoscópio (deve estar intacta, translúcida e com cor cinza perolada) Boca: Avalia abrindo a boca e com o auxílio de uma espátula. A língua deve estar relaxada e não se deve inserir demasiadamente a espátula para não provocar o reflexo do vômito o Lábios: coloração, deformidade (ex.: lábio leporino), simetria, integridade, umidade e movimentação o Gengiva: integridade, coloração, edema, hemorragia, processos inflamatórios e infecciosos o Dentes: número, coloração, conservação o Língua: tamanho, coloração, higiene, integridade, sangramentos, movimentação e simetria. o Palato duro e mole, úvula e amigdalas: integridade, fenda palatina e coloração o Faringe o Amigdalas o Parede posterior da faringe o Glândulas salivares o Assoalho da boca 146 PESCOÇO Inspeção: Coloração Simetria Tamanho Linfonodos Musculatura (ver se há musculatura acessória sendo utilizada) Abaulamentos (ex.: nódulos, cisto tireoglosso) e depressões Pulsações (carotídeo) Turgência jugular acima de 45º (insuficiência cardíaca) Tireoide: palpável, visível, dor, cor, consistência, presença de nodulações. Normalmente não palpável. o Técnica posterior (mais utilizada): fica atrás do paciente, posicionar as duas mãos sobre o pescoço e empurrar levemente a traqueia para a direita. Identificar as cartilagens tireoide e cricóide e pedir para o paciente engolir (será sentida a movimentação do istmo da tireoide). Palpar a glândula nas laterais da traqueia. o Técnica anterior: fica anterior ao paciente e palpa com o polegar o lado esquerdo (do examinador). Desloca com a mão direita a traquéia para a esquerda. Pedir para deglutir para sentir a glândula 147 EXAME FÍSICO DE TÓRAX Medusa – 86 São utilizadas todas as 4 semiotécnicas: INSPEÇÃO Assegurar que o paciente está com o tórax descoberto (sem camisa). Inspeção estática: análise da caixa torácica, sem notar os movimentos respiratórios. Observar: Simetria (assimetrias podem ser congênitas ou devido a traumas). Há diferentes formas: o Normal o Tórax em barril: diâmetro antero-posterior aumentado. Característico de pacientes com enfisema pulmonar. o Cifoescoliótico: curvatura posterior do tórax. Visível em osteoporose e em artrite. o Tórax em funil (pectus escavatum): diâmetro antero-posterior do tórax é reduzido em relação ao do abdome. Presente no raquitismo e em doenças congênitas. o Tórax de pombo (pectus carinatum): esterno projetado anteriormente, resultando em aumento do diâmetro AP. Doenças congênitas, hiperatividade física, asma e raquisitsmo levam a este quadro. 148 Realizar medidas se houver uma fita métrica Presença de abaulamentos e retrações (ex.: tumorações de pele, massas intratorácicas que promovem alterações na forma do tórax, tórax escavado (como na retirada do esterno)) Condições da pele Classificação de acordo com o ângulo do rebordo costal em normolíneo (90º), longilíneo (inferior a 90º) e brevilíneo (superior a 90º). Inspeção dinâmica: São observados os movimentos respiratórios. Deve ser contada a frequência respiratória (ou em 30s ou em 1 min). Normal é de 12 a 24 rpm (sendo mais aumentada nas crianças). Observar a amplitude: se o tórax realmente se movimenta durante a respiração, apresentando aumento da caixa torácica (ou se as movimentações são muito profundas para compensar dispneia) Observar o ritmo: relação entre inspiração e expiração (tempo de 1:2). Observar uso de musculatura acessória o Tiragem intercostal: observar se o paciente possui contração da musculatura intercostal durante a respiração o Utilização de esternocleidomastóide Observar se há a presença de ritmos respiratórios (descritos no resumo de dispneia) o Kussmaul: pausa inspiratória e pausa expiratória. Visível em doenças metabólicas (ex.: cetoacidose diabética). o Suspiroso: Forma de diminuir atelectasia. Inspiração profunda intercalada.o Cheyne-Stokes: Aumento progressivo da amplitude inspiratória seguido por uma diminuição progressiva, até atingir uma pausa expiratória prolongada. Visível em doenças metabólicas (ex.: cetoacidose diabética) ou lesão de SNC. o Biot: anárquica. Lesão de SNC. Sinal de Lemos Torres: é visto um abaulamento intercostal da parede torácica quando o paciente expira. Ocorre em casos de grandes derrames pleurais. 149 PALPAÇÃO Observar desvios de dor, palpar abaulamentos e retrações (para identificar a sua causa). Realizar também: Palpação de linfonodos (normalmente realizada no exame físico geral) o Cervicais o Supra-claviculares o Axilares Palpação da traqueia (realizada no exame físico de pescoço) o Observar se há algum desvio (ex.: devido a massas cervicais, devido a linfoadenopatias frequentes ou a hematomas por punções de jugular inadequadas (pega a. carótida ao invés da v. jugular)) Excursão respiratória: Avalia a expansibilidade torácica conforme a pessoa vai respirando. É possível estima-la ao se observar o movimento que as mãos posicionadas sobre o corpo apresentam. Posicionar as mãos espalmadas bimanualmente e pedir para o paciente inspirar. Realizada nas seguintes posições: o Manobra de Ruault: Mãos sobre os ombros formando um ângulo com o polegar. Observa-se o distanciamento dos polegares. Se em um dos lados abrir menos: expansibilidade diminuída à direita/esquerda o Manobra de Laségue: Mãos sobre o dorso na parte inferior do tórax, direcionadas no sentido de se encontrarem na parte anterior do tórax o Palpação anterior: Mãos sobre a parte ínfero-anterior do tórax, próximas a rebordo costal, direcionadas no sentindo de se encontrarem na parte posterior do tórax Frêmito toraco-vocal: Sentir as vibrações da caixa torácica pela fala do paciente. Se houver secreção abundante na via aérea, é possível sentir vibração MAIS FORTE nas palmas das mãos (normalmente sempre vibra um pouco). Pedir para o paciente falar “trinta e três”. Comparar os dois lados do tórax para ver se está realmente alterado. 150 o Frêmito toraco-vocal diminuído: Em qualquer situação que afaste o pulmão da caixa torácica ou em qualquer obstrução brônquica (ex.: derrame pleural, pneumotórax, consolidações intensas (hepatização pulmonar), obstrução na via aérea e atelectasia) o Frêmito toraco-vocal aumentado: Presença de secreção (ex.: bronquite crônica, edema agudo de pulmão) PERCUSSÃO O pulmão é um órgão que contém os alvéolos e ar em seu interior. Isto justifica o seu som próprio e particular obtido na percussão, o som claro pulmonar. Percutir no espaço intercostal (desviar dos ossos). Sempre percutir em ambos os lados para comparar. 151 Se houver pneumonia ou derrame pleural, pode haver uma submacicez (pulmão está consolidado) (OBS.: Macicez é um termo apenas para vísceras maciças). O aumento do som (hipersonordiade – não é timpanismo pois a víscera não é oca) pode ser observado em um enfisema. Se houver pneumotórax (ar entre as pleuras faz com que a região fique oca: há timpanismo). Sinal de Signorelli: Quando há um som maciço no espaço intervertebral (percutindo do 7º ao 11º espaço intervertebral) devido a um derrame pleural. AUSCULTA É percebido o som do fluxo de ar passando pelas estruturas da árvore brônquica, que vão se modificando até chegar no alvéolo. 152 Som traqueal: Colocar o estetoscópio lateral ou anteriormente na traqueia. É auscultado um som mais alto (de maior volume), sendo a inspiração de igual duração à expiração) Som brônquico: Na região esternal. O som inspiratório é menor que o som expiratório Som broncovesicular: Na região dos bronquíolos. No meio do tórax (região mamilar). A inspiração possui igual duração à expiração Som vesicular: Na região dos alvéolos. Na periferia do tórax (já que lá há apenas alvéolos). A inspiração é maior que a expiração o O som normal dos alvéolos é chamado de murmúrio vesicular É aumentado nas situações que permitem mais fluxo de ar (como em inspirações profundas) É diminuído em situações que impeçam o ar de chegar no alvéolo ou diminuam o seu fluxo (ex.: consolidação de pulmão devido a pneumonia ou tumores, enfisma; pneumotórax impedindo a expansão) e que afastem o pulmão da caixa torácica (derrames pleurais) 153 Sons anormais na ausculta: Sons contínuos Sibilos: Presente em contrações do brônquio (broncoconstrição), como na asma. Semelhante a um apito (agudo e contínuo). Ocorre de forma difusa. Ronco: Ao invés de haver constrição, os brônquios passam a apresentar secreções (hipersecreção brônquica). Som grosso na inspiração e na expiração. Auscultado na região brônquica. Pode desaparecer com a tosse. Normalmente acompanhado de frêmitos. Sons descontínuos Estertores finos: ocorrem devido à presença de líquido no interior do alvéolo (ex.: pneumonia ou início de edema agudo de pulmão). Ar entra e faz bolhas no líquido. Som semelhante a um velcro. Ocorre no final da inspiração. Estertores grossos: ocorrem devido a secreção aumentada no alvéolo (ex.: edema agudo de pulmão). Ar entra e faz grandes bolhas 154 no líquido. Presente na inspiração e na expiração. Auscultado na região de murmúrio vesicular. Podem ser modificados com a tosse. Ausculta da voz: Ressonância vocal Encosta-se o estetoscópio e pede para o paciente falar trinta e três. Normalmente ausculta-se pior do que se ouve uma palavra qualquer emitida pelo paciente. Quanto mais baixo o ponto, pior o som. Não há focos, se auscultando em qualquer ponto torácico. Pectorilóquia fônica: Quando a ausculta se parece com o som normal da voz. Em pacientes com consolidação pulmonar (ex.: pneumonia), há uma diminuição da reverberação, de modo que é possível passar a se auscultar o som semelhante ao normal. Pode-se pedir também para o paciente sussurrar trinta e três, de modo que no exame sem alterações não se ausculta nada. Pectorilóiquia áfona: Se houver uma consolidação, o som é transmitido, sendo possível ouvir a voz cochichada. Egofonia: Presente na ausculta do paciente com derrame pleural. Ao paciente se sentar, o derrame desce. Ao se posicionar o estetoscópio na transição entre a parte normal e o derrame (limite superior do derrame pleural), a voz fica anasalada e com tendência caprina. Pede-se para o paciente falar a vogal i continuamente durante o exame. 155 Atrito pleural: Presente em pleurites (e não em derrame pleural! Nele não se ausculta nada). Som de quando uma pleura raspa na outra, sendo um som semelhante a couro passando em couro. 156 EXAME FÍSICO DE ABDOME Medusa – 86 Divisões do abdome: Divisão em quadrantes: Feita se traçando uma linha mediana e uma linha perpendicular que passa pela cicatriz umbilical. É utilizada para se descrever quando uma alteração se estende para mais do que uma das 9 regiões abaixo descritas. Divisão do abdome em 9 regiões: Para esta divisão, são traçadas as linhas hemiclaviculares direita e esquerda, uma linha horizontal sobre o rebordo costal e uma quarta linha horizontal sobre as cristas ilíacas OBS: A região mesogástrica é chamada também de periumbilical; a região hipogástrica é chamada também de supra-púbica; 7 e 9 são as regiões inguinais direita e esquerda. Referências posteriores: Ao se analisar o dorso, na região do fim das costelas estão localizados os rins, sendo este o sítio onde se é aplicado o Sinal de Giordano quando há a suspeita de um acometimento renal. 157 Exame físico A sequência adotada no exame físico de abdome é diferente, sendo: 1. Inspeção (estática e dinâmica) 2. Ausculta 3. Percussão 4. Palpação INSPEÇÃO Inspeção estática: O paciente deve ser posicionado na posição ortostática e no decúbito dorsal(para diferentes avaliações). Forma e volume: o Simetrias, saliências, retrações, cicatrizes, diástase abdominal, pele e anexos, turgências venosas, lesões elementares o Assim como no tórax, há tipos específicos de abdome: Típico/Plano: normal Globoso Em ventre de batráquio Pendular/Ptótico Em avental (importante sempre examinar abaixo de todas as dobras para procurar lesões elementares) Escavado Gravídico Ondas de Kussmaul: sinal de obstrução abdominal (abdome rígido + peristaltismo visível) 158 Inspeção dinâmica: Respiração: Avaliar a presença da respiração toraco-abdominal, que ocorre predominantemente no gênero masculino. Hérnias (sejam elas umbilicais ou incisionais). Sua presença é ressaltada ao se realizar a Manobra de Valsalva. Presença de diástase do m. reto abdominal Presença de visceromegalias Movimentos peristálticos (normais e patológicos) Pulsações (normais, como a pulsação normal da aorta (aortismo) e patológicos, como nos aneurismas de aorta) Gestações Abaulamentos e retrações: fazer a inspeção, a percussão e a palpação. o As alterações mais encontradas são visceromegalias, abdome gravídico, tumores, aneurismas, tumores na bexiga, fecalomas e hepatomegalias. o As principais causas para abdomes protuberantes são: Acúmulo de gordura Gás (possuem timpanismos ao serem percutidos) Tumores (maciços, tendo região timpânica ao redor – as próprias alças intestinais) Gravidez (também é maciço no centro e timpânico ao redor) Ascite o As principais causas para abaulamentos localizados são: Hérnias umbilicais Hérnia incisional Hérnia epigástrica Diástase de reto abdominal (afastamento dos músculos) Lipomas 159 Presença de circulação colateral: se estiver presente, pressionar a veia para ver em que direção o seu fluxo está indo, para assim saber se há um comprometimento do Sistema Porta ou do Sistema Cava. o Se as veias seguem em um fluxo ascendente, há um comprometimento da V. Cava Inferior (ex.: devido a uma trombose) o Se as veias possuem uma posição centrífuga em relação ao umbigo, há uma obstrução da V. Porta e de seus ramos intra- hepáticos. Sinal de “Cabeça de Medusa” (hehe ♥) 160 AUSCULTA Ausculta-se o ruído provocado pela peristalse, chamado de ruído hidroaéreo. A ausculta é realizada antes da percussão e da palpação, visto que a realização destas duas semiotécnicas podem estimular o aumento da peristalse. Deve-se auscultar durante cerca de 2 minutos, variando os locais de colocação do estetoscópio. Não há um foco em específico, podendo posicioná- lo difusamente. Inicia-se a contagem de um minuto a partir do primeiro ruído, sendo que a quantidade de ruídos por minutos varia muito, podendo ir de 5 a 35 ruídos por minuto. Ausculta da Aorta É possível auscultar também sopros da Aorta (à esquerda da linha mediana), das Aa. Renais, das Aa. Ilíacas (abaixo da cicatriz umbilical, à direita ou à esquerda) e por vezes das Aa. Femorais. O normal é não se auscultar nada, visto que o fluxo é laminar. Todavia, quando há aneurismas, pode haver turbilhonamentos audíveis na ausculta. Ruídos anormais Existem também ruídos hidroaéreos anormais, como: Tintilhar de Moedas: são ruídos metálicos, presentes em obstruções. Vascolejo: ruídos de líquidos sacolejando (balançando). Suspeita de estase pilórica ou de atonia do estômago. Para identifica-los, utiliza-se a técnica da patinhação, na qual se repousa-se a mão no epigástrio e executam-se rápidos movimentos compressivos com a face ventral dos dedos e polpas digitais, enquanto se tenta auscultar os ruídos. Som é semelhante a bater em água com pequenos tapas. Quando há aumento de ruídos hidroaéreos: gastroenterite, hemorragia digestiva e início de obstrução Quando há diminuição ou ausência dos ruídos aéreos: peritonite, pós operatório, algumas substâncias, drogas, íleo paralítico. Timbre metálico pode ser presente na obstrução de delgado 161 PERCUSSÃO A percussão deve ser feita em toda a região anterior do abdome, podendo ser feita por quadrantes. Deve-se atentar aos sons típicos: Fígado: sempre maciço. É necessário sempre realizar a percussão do fígado antes da sua palpação, visto que com esse método é possível realizar a hepatimetria (mensuração do seu tamanho). Para isso, percute-se de cima para baixo na linha hemiclavicular direita, partindo do fim da base pulmonar (onde o som passa de claro pulmonar para sub- maciço, até se tornar totalmente maciço). A hepatimetria normal do lobo direito vai até cerca de 12 cm de comprimento. Pequenos aumentos no seu tamanho não significam necessariamente a presença de um quadro patológico o Sinal de Jobert: presença de timpanismo na loja hepática. Quando há pneumoperitônio (escape de gás de uma alça) o Sinal de Chilaiditi/Pseudo-Jobert: Quando uma alça colônica tampa o fígado, fazendo ele parecer timpânico e não maciço Alças intestinais: timpânico. o Casos de distensão abdominal gasosa podem fazer com que seja apresentado um hipertimpanismo. Espaço de traube: Normalmente timpânico. É um espaço semilunar que vai do 6º EIC ao rebordo costal, e da linha axilar anterior ao processo xifoide. o Quando não está timpânico, é normalmente devido a uma esplenomegalia, que torna-o maciço. Sinal de Giordano: Percussão específica para detectar acometimento renal. Neste sinal, é realizada uma punho-percussão ou uma percussão com a borda lateral da mão na área: se for doloroso frente a estes estímulos, o sinal é positivo. Não precisa fazer forte demais. Verifica a distensão da capsula renal: causa dor. Pode ser devido a um tumor, pedra renal, pielonefrite, etc. 162 Ascite: A ascite é um sinal clínico caracterizado pelo extravasamento de líquido no interior da cavidade abdominal. Pode ser identificada por diferentes técnicas, a depender da sua gravidade: Pequenas ascites (menos de 500 ml): identificáveis apenas por ultrassom. Médias ascites (até 2-3L): Semicírculo de Skoda: é realizada uma percussão em raio. O som obtido é timpânico em toda percussão, até chegar no final dela, onde é maciço próximo à região inguinal e pélvica. A presença da ascite pode ser confirmada por meio do teste da macicez móvel: posiciona-se o paciente em decúbito lateral, de modo que o líquido se acumule mais anteriormente e as vísceras se posicionem mais dorsalmente. Ao realizar a percussão, é possível notar a macicez presente apenas na região mais proeminente. 163 Grandes ascites: Pode ser realizado o piparote. Para realizar o Sinal do Piparote pede-se para o paciente (ou outra pessoa) posicionar a mão na linha mediana do abdômen (apoiar com certa firmeza - não apoiando a palma, mas sim a lateral da mão esticada na linha mediana) e o médico localiza sua mão esquerda sobre o flanco esquerdo do paciente. Com a mão direita, o médico realiza então a percussão no lado direito do abdômen (dá-se um piparote). Se observada que há transmissão de onda de líquido para o lado esquerdo (de modo que o médico seja capaz de sentir a movimentação em sua mão esquerda), o sinal é considerado positivo. 164 PALPAÇÃO Para realizar este método, é necessário que o paciente esteja com seu abdome relaxado e com as pernas descruzadas. Deve-se aproveitar a expiração para palpar. Deve ser realizada com a mão espalmada e se apoiando a polpa digital. Nunca se deve começar a percussão ou a palpação a partir do local doloroso inicial: deve-se começar longe dele e ir se aproximando. Existem órgãos que não são palpados a não ser em casos patológicos, como a bexiga, a vesícula biliar, útero, baço, apêndice e flexura do cólon. Deve-se sempre iniciar o exame pela palpação superficial, sendo feita bimanualmente ou apenas com uma mão. Sentir sehá nodulações, alguma região dolorosa ou alguma resistência em algum ponto. Em seguida é realizada a palpação profunda, que pode se iniciar no epigástrio e ir descendo (palpação profunda deslizante). É realizada com as duas mãos. Em pacientes mais idosos, pode-se realizar a manobra de “dar pele” ao final da palpação profunda (permitir que a pele retorne ao seu sítio normal). Fígado Possui técnica de palpação específica. É importante recordar que, antes de palpar, é necessário fazer sempre a hepatimetria primeiramente para saber onde deve se procurar o fígado. Há duas técnicas principais para realizar esta palpação: Técnica de Lemos-Torres/Chauffard: É uma técnica bimanual que começa na região inguinal direita e vai ascendendo, até encontrar a borda hepática Técnica de Mathieu: são posicionadas ambas as mãos em forma de garra, vindo em direção ao local do fígado. É boa para a palpação de grandes hepatomegalias. 165 É preciso analisar as seguintes características do fígado palpado: Tamanho Borda: o normal possui bordas lisas, o alterado possui bordas rombas Superfície: o normal é liso, o alterado pode ser irregular Consistência: o normal é mole, o alterado é endurecido Sensibilidade (dói?) Quando a hepatomegalia ocorre devido à congestão, é possível sentir o fígado pulsando (pulso hepático verdadeiro). Baço É importante lembrar que também deve se realizar a sua percussão para a sua identificação. Posiciona-se lateralmente ao espaço de traube, de modo que cresce indo em sua direção e inferiormente. A esplenomegalia é a responsável por alterar o som do espaço de traube de timpânico para maciço. Sempre que ocorre a palpação do baço é porque ele está aumentado (patológico). Para que isso seja feito, existe uma posição especial: Posição de Schuster (paciente em decúbito lateral direito, em 30º e com MIE flexionado – é realizada uma palpação na técnica de Mathieu). Deve ser sempre palpado na expiração. Posição de Schuster e técnica de Mathieu na palpação: 166 Rim Com difícil palpação, sendo mais fácil ser identificado o rim direito (por ser mais inferior) utilizando os seguintes métodos: Método de Guyon: Bimanual em decúbito dorsal Método de Israel: Bimanual em decúbito lateral esquerdo Método de Goelet: em pé com joelho direito apoiado em uma cadeira em 90º. Pâncreas: Não é possível realizar a sua palpação em condições normais, apenas quando ele apresenta tumorações ou cistos pancreáticos. Sinal de Grey-Turner: caracterizado por equimoses nos flancos e prediz um quadro agudo de pancreatite aguda. Sinal de Cullen: caracterizado por equimoses periumbilicais e presente também em eventos de pancreatite aguda ou hemorragia retroperitoneal 167 Vesícula Biliar Normalmente não palpável, só quando há grande aumento de volume. É palpada no ponto cístico/biliar/de Murphy: obtido ao se traçar uma linha entre o meio do rebordo costal e a cicatriz umbilical, sendo o ponto referido no terço proximal desta linha. É palpável em colecistite. Sinal de Murphy: paciente não consegue completar a inspiração enquanto se pressiona o ponto cístico devido à intensa dor. Sinal de Courvoisier-Terrier: apesar de o paciente estar ictérico e com a vesícula grande e palpável, a palpação é indolor. Este quadro é sugestivo de tumor de cabeça de pâncreas. Aorta Normalmente não acessível à palpação, sendo apenas palpada em aneurismas – identificados como massas pulsáteis indolores. Demais palpações Palpação de ceco no QID, podendo fazer patinhação. Palpação do cólon sigmoide na fossa ilíaca esquerda. Se houver a presença de fecaloma, há o sinal de Gersuny (a massa palpável se molda com a pressão). Pontos do abdome: Epigástrico Mc Burney (crista ilíaca até umbigo: terço proximal à crista ilíaca) Murphy Ureterais superiores e inferiores 168 Lista de todos os sinais de abdome: Sinal de Blumberg e Descompressão brusca dolorosa: ocorre quando há irritação peritoneal, sendo clássico de apendicite (o de Blumberg! A descompressão dolorosa pode ser feito em outros locais que não o ponto de McBurney, mas também indiciando irritação peritoneal). Comprime com a mão espalmada e solta bruscamente em seguida, causando intensa dor Sinal de Lapinsky/Psoas: Flexionar o joelho em decúbito dorsal ou esticar a perna em decúbito lateral esquerdo e com isso referir dor (apendicite) Sinal de Rovsing: descompressão dolorosa referida. Comprime quadrante inferior esquerdo e sente dor em quadrante inferior direito (apendicite) Sinal de Obturador: Ao realizar a flexão e rotação interna da coxa direita, é referida dor (apendicite) Sinal de Murphy: vesícula dolorosa à palpação que não deixa completar inspiração Sinal de Courvosier-Terrier: sinais de icterícia e vesícula palpável e indolor Sinal de Giordano: acometimento renal com resposta exacerbada relativa à dor. Se a resposta for pequena, pode dizer apenas “punho- percussão dolorosa” Sinal de Torres-Homem: Há dor ao percutir a loja hepática devido a um abscesso hepático. Sinal de Jobert: timpanismo na loja hepática (ex.: pneumoperitôneo) o Sinal de Chilaiditi/Pseudo-Jobert: Quando uma alça colônica tampa o fígado, fazendo ele parecer timpânico e não maciço Sinal do rechaço hepático: Utilizado para se palpar o fígado em grandes ascites. Realiza-se compressões no hipocôndrio direito do paciente, até se encontrar o fígado. Em seguida, o médico o comprime e o solta, sentindo o fígado retornar contra a sua mão. Sinal de Grey-Turner: equimoses no flanco Sinal de Cullen: Equimose periumbilical Sinal de Gersuny: palpação de fecaloma Sinal do Piparote: Percussão com peteleco em um dos flancos que é sentida no outro devido à movimentação da água da ascite. 169 EXAME FÍSICO CARDIOVASCULAR Medusa – 86 Ciclo Cardíaco Tudo o que ocorre no coração é devido a alterações de pressão no interior das câmaras. O ciclo cardíaco consiste na sequência de eventos cardíacos entre cada batida, sendo uma sequência entre a contração (sístole) e a dilatação (diástole) do coração. Os termos sístole e diástole sempre se referem à contração e à dilatação dos ventrículos (quando não especificados). Sístole É o processo de contração dos cardiomiócitos, que resulta na expulsão de sangue para os grandes vasos (Tronco Pulmonar e Aorta). A sístole é dividida em duas fases: 1ª fase – Contração Isovolumétrica: Já se fecharam as válvulas atrioventriculares (tricúspide e mitral), enquanto as válvulas semilunares (da Aorta e do Tronco Pulmonar) ainda estão fechadas também. O coração inicia a sua contração, e como as 4 válvulas estão fechadas, o volume no interior da cavidade não muda (por isso isovolumétrica). Após cerca de 0,02-0,03s, os ventrículos geram pressão suficiente para a abertura das válvulas semilunares. 2ª fase – Período de Ejeção: Momento em que a pressão interna dos ventrículos se tornou tão grande que superou as pressões da Aorta e do Tronco Pulmonar, abrindo as suas válvulas e ejetando o sangue. 70% do sangue é ejetado nos 2/3 iniciais deste período (ejeção rápida). Os demais 30% são ejetados mais lentamente no 1/3 final do processo (ejeção lenta). 170 Diástole Há um relaxamento isovolumétrico após a contração: o ventrículo começa a relaxar e, com isso, a pressão em seu interior vai decrescendo e a quantidade de volume nele é a mesma, visto que as válvulas semilunares se fecham (devido ao peso exercido pelo sangue sobre suas estruturas) e as válvulas atrioventriculares ainda não se abriram (já que apesar de estar caindo, a pressão nos ventrículos ainda é maior que a dos átrios). A partir do momento em que a pressão ventricular fica inferior à dos átrios, o sangue flui então destes parao interior daqueles. A diástole é dividida em 3 partes: Enchimento rápido: Após as válvulas atrioventriculares se abrirem, o sangue despenca para o interior dos ventrículos durante o primeiro 1/3 da diástole. Enchimento lento (diástase): 1/3 médio da diástole. É proveniente do sangue que vai refluindo das vv. Pulmonares ou das vv. Cavas e vai caindo no interior do átrio aberto, seguindo então para o ventrículo Contração Atrial: A sístole atrial impulsiona cerca de 25% de sangue para o interior do ventrículo. Pacientes que não apresentam a contração atrial não possuem grandes repercussões no débito cardíaco. 171 EXAME FÍSICO DO CORAÇÃO Diferentemente dos demais órgãos, o coração não possui em seu exame físico todas as semiotécnicas: são aplicadas somente a inspeção, palpação e a ausculta. A percussão não é realizada pois é sempre obtido um som submaciço ao percutí-lo (sem alterações). INSPEÇÃO É realizada conjuntamente à inspeção de tórax (visto que está na mesma região). É chamada de precórdio é toda a região anterior ao coração. Devem ser analisados: Abaulamentos: Podem ser: o Intrínsecos: abaulamento do próprio coração (devido a uma hipertrofia e/ou dilatação do coração). Mais evidentemente vista em jovens. o Extrínsecos: São alterações feitas fora do coração, estando além da estrutura do miocárdio (ex.: derrame pericárdico e aneurismas de Aorta). Deformidades: podem ser visíveis em pacientes que passaram por cirurgias cardíacas e contraíram infecções no esterno (osteomielite). Observar cicatrizes também. Batimentos e pulsações: o Normais: pulsação epigástrica em pessoas magras (transmissão do batimento da Aorta) e pulsação da fúrcula (a qual pode estar presente também em pacientes hipertensos – pode ser patológica também) Ictus Cordis: É a ponta do ventrículo esquerdo, cujo batimento pode ser por vezes observado quando ele se choca contra a parede torácica. Observar: o Se é visível o Normalmente se localiza na linha hemiclavicular, no 4º/5º EIC. 172 o Deve-se descrever a sua localização, sua extensão (em polpas digitais), mobilidade (normalmente se move, sendo deslocado quando o paciente se posiciona em decúbito lateral esquerdo), intensidade, ritmo e frequência. PALPAÇÃO Ictus Cordis Tamanho: Posiciona-se a palma da mão na localização esperada do ictus cordis, tentando sentir o batimento (se possível sentir: ictus cordis palpável). Após palpá-lo, medi-lo (normalmente possui 2 polpas digitais de extensão). Se estiver maior do que este tamanho, diz-se que é um ictus globoso/difuso. Localização: Dilatações do ventrículo esquerdo podem alterar a posição do ictus cordis, de modo a deslocá-lo lateralmente para a esquerda e para baixo. Em pacientes com aumento do ventrículo direito, o ictus é deslocado apenas horizontalmente para a esquerda (mas não para baixo). Intensidade: Caso o ictus bata mais fortemente na parede torácica, diz- se que ele é um ictus propulsivo (também característico de hipertrofia). Ausência: O ictus não ser palpável não é um quadro patológico. Frêmito Cardiovascular O frêmito é uma sensação tátil das vibrações produzidas no coração e nos grandes vasos. Por vezes, ao invés de se sentir o ictus batendo, é possível senti-lo vibrando. É possível perceber o frêmito (vibração) em outros locais do sistema cardiovascular além do coração, como nas fístulas arterio-venosas de pacientes em tratamento de hemodiálise. 173 É possível sentir frêmitos em sopros avançados. É mais raro. É necessário se determinar sua localização, situação no ciclo cardíaco e a sua intensidade (+ a ++++). AUSCULTA Para realizar a ausculta, o paciente deve estar sentado, deitado ou em decúbito lateral esquerdo (decúbito de Pachon). Durante a ausculta, deve-se sempre observar: As bulhas cardíacas O ritmo (regular ou irregular, com presença de extra-sístoles ou não) Frequência cardíaca Sons acessórios (cliques e estalidos) Sopros (deixam a sístole e a diástole “suja”) Ruídos de pericardite Atrito pericárdico (som semelhante a couro raspando em couro – quando o pericárdio visceral raspa no pericárdio parietal) Manobras para auxiliar a ausculta: Flexão de tronco: Com o paciente sentado, inclinar o tronco para frente (joga o coração pra frente: aproxima da caixa torácica). Manobra de Valsalva: Paciente realiza uma expiração forçada com a glote fechada/sobre a mão fechada. Nesta manobra, há uma diminuição da pressão intratorácica com a saída do ar e aumento das câmaras cardíacas, causando aumento do retorno venoso. Com o aumento do retorno venoso, alguns sopros se tornam mais altos. Manobra de Rivero-Carvalho: Realiza-se uma apneia inspiratória com expiração forçada. Pontos de ausculta para o coração: Há focos específicos a serem analisados, sendo eles o local de transmissão de cada aparelho valvar: Foco Mitral: 5º EIC, na linha hemiclavicular. Onde o ictus estiver localizado. Foco Tricúspide: No processo xifoide. Foco Aórtico: No 2º EIC à direita, próximo ao rebordo esternal Foco Pulmonar: No 2º EIC à esquerda, próximo ao rebordo esternal o Foco Aórtico acessório: Abaixo do foco pulmonar 174 Há também os focos de irradiação, sendo pontos para onde o som pode ser transmitido em situações específicas. Axila esquerda: há transmissão dos sons da válvula mitral Região infraclavicular direita, carótida e fúrcula: há transmissão dos sons da válvula aórtica Região infraclavicular esquerda: há transmissão dos sons da válvula pulmonar Bulhas cardíacas As bulhas cardíacas decorrem da transmissão da vibração que existe nas válvulas quando o sangue passa por elas. Há 2 bulhas principais (B1 e B2) e 2 bulhas que podem vir a aparecer, as bulhas acessórias (B3 e B4). 175 Bulhas principais Primeira bulha (B1): gerada pelas alterações (fechamento) das válvulas atrioventriculares. Normalmente coincide com o pulso carotídeo ou com o ictus. Melhor lugar de ausculta: foco mitral e tricuspídeo. Som de TUM (grave e longo) Segunda bulha (B2): gerada pelas alterações (fechamento) das válvulas aorticopulmonares. Melhor lugar para auscultar: foco aórtico e pulmonar. Som de TA (seco e agudo) Desta forma, entre B1 e B2 há uma sístole, e entre B2 e B1 há uma diástole. TUM (sístole) TA (diástole) TUM (sístole) TA (diástole) Pode acontecer de ocorrer um leve atraso entre a contração de um ventrículo e outro (ex.: se chega mais sangue em um ventrículo do que no outro (sobrecarga), demora mais tempo para fazer a ejeção, atrasando uma bulha). Quando se ausculta as bulhas não sincronizadas, é audível um desdobramento de bulhas (ex.: ausculta primeiro o componente aórtico e depois o pulmonar, e não de maneira conjunta). Desdobramento de B1: Normalmente ocorre devido a uma sobrecarga ventricular. Não é fisiológico. É auscultado o som de TRUM TA TRUM TA Desdobramento de B2: Pode ser fisiológico. Comum em adultos e idosos, sendo mutável com o ciclo respiratório. Mais audível durante a inspiração (volta mais sangue para o ventrículo direito, ele enche mais, demora mais para a ejeção e há um atraso no fechamento) É auscultado o som TUM TRA TUM TRA. o Se este desdobramento for fixo (presente na inspiração e na expiração), é patológico. Pode ser decorrente de uma comunicação interatrial, de um bloqueio de ramo direito ou de um bloqueio de ramo esquerdo. 176 Bulhas acessórias Terceira bulha (B3): corresponde a um enchimento rápido ventricular. Ao se abrir as válvulas atrioventriculares, o sangue despenca na parede do coração, fazendo um som ao colidir na parede dos ventrículos. O som ocorre no começo da diástole (assim que abre as válvulas atrioventriculares, o sangue desce) (protodiastólico). Pode estar relacionadoa uma sobrecarga do ventrículo esquerdo ou à insuficiência da válvula mitral. Pode ser fisiológica em adultos e crianças. É mais grave e com um som mais baixo: utiliza-se campânula para ausculta-la. o Som semelhante a um galope: TUM TATA TUM TATA Quarta bulha (B4): ocorre devido a uma contração atrial. O som é obtido pois esse sangue liberado bate na quantidade de sangue que já estava presente no ventrículo. Está relacionado com a sobrecarga de pressão (Hipertensão arterial sistêmica e estenose aórtica). Como ocorre no fim da diástole, é um som telediastólico. Vem antes de B1, podendo ser confundido com seu desdobramento. É um som grave e de baixa intensidade. o TUTUM TA TUTUM TA 177 Alterações das bulhas: intensidade É normal as bulhas apresentarem determinada intensidade (normofonese), podendo também ser aumentadas (hiperfonese), que pode acontecer em ambas as bulhas principais. Elas também podem ser diminuídas (hipofonese), como em pacientes obesos ou em derrames pericárdicos (é mais difícil, em ambos os casos, de o som chegar até a parede torácica vibrando). Se junto ao abafamento de bulhas houver também turgência jugular e hipotensão arterial, há uma Tríade de Beck (característica de tamponamento cardíaco devido a derrame pericárdico – aliviada pela Punção de Marfan). Sopros As válvulas cardíacas podem ter dois problemas: Insuficiências: Incapacidade de fechar adequadamente Estenoses: Incapacidade de abrir adequadamente Os sopros são sempre iguais nas válvulas de mesma função (atrioventriculares/aorticopulmores), só mudando o seu ponto de ausculta para identificação de sua origem. Exemplo: O sopro de uma insuficiência mitral é idêntico ao de uma insuficiência tricúspide (já que ambas as válvulas abrem e fecham no mesmo momento do ciclo), sendo percebida a diferença nos distintos focos de ausculta. O sopro de uma estenose mitral é o mesmo que o de uma estenose tricúspide; O sopro de uma estenose aórtica é o mesmo que o de uma estenose pulmonar; O sopro de uma insuficiência aórtica é o mesmo de uma insuficiência pulmonar. As doenças mais comuns são as da válvula mitral e da válvula aórtica, sendo a insuficiência mitral e a estenose aórtica as mais prevalentes. Insuficiência Mitral É a doença mais comum. A válvula mitral não fecha durante a sístole como deveria ficar. Devido a isso, o sopro da insuficiência mitral ocorre na sístole: é um sopro sistólico. Ocorre em todas as sístoles (holosistólico) e encobre a primeira bulha. É mais audível no foco mitral. Possui irradiações para a axila. Se é mais audível no foco tricúspide, é uma insuficiência tricúspide SHH TA SHH TA SHH TA 178 Obs.: Quando a intensidade é mantida, a representação do sopro é uma barra. Estenose Aórtica É uma válvula que não abre quando deveria abrir na sístole. Há um turbilhonamento quando o sangue tenta sair: é um sopro sistólico. É um sopro em crescente e decrescente (não é constante durante o ciclo como o da insuficiência mitral ou da insuficiência tricúspide). Isso ocorre pois no início da sístole a ejeção de sangue é mais intensa, diminuindo a sua velocidade conforme ela vai acontecendo. Mais audível no foco aórtico. Este sopro NÃO ENCOBRE B1. Se for mais audível no foco pulmonar, é uma estenose pulmonar. TUM SHHhhh TA TUM SHHhhh TA Obs.: a representação no desenho deste sopro é de um diamante (aumenta a intensidade e depois diminui), sendo devido a isso chamado de sopro em diamante. 179 Estenose Mitral A válvula mitral não abre durante a diástole quando deveria abrir. Portanto, o sopro é diastólico. A sua intensidade é contrária à do sopro em diamante: é alto no começo, vai diminuindo e depois começa a aumentar novamente com a contração do átrio. O som é semelhante a um ruflar de tambor: ruflar diastólico. Normalmente é secundária à doença reumática (depósito de anticorpos na válvula mitral deixa-a dura). A estenose de tricúspide é rara. TUM TA TRrrRM TUM TA TRrrRM Insuficiência Aórtica A válvula aórtica não fecha durante a diástole como deveria fechar. Como durante a diástole a pressão do ventrículo vai caindo (para que assim seja possível se encher do sangue dos átrios), a pressão da Aorta é grande se comparada à ventricular, de modo que se ela não se fechar totalmente, o sangue voltará para os ventrículos. Conforme o ventrículo vai recebendo o sangue dos átrios, a sua pressão vai aumentando e a diferença de pressão entre ele e a Aorta (que é o que motivava o refluxo do sangue da Aorta para o VE) vai sendo diminuída, de modo a motivar cada vez menos este refluxo. Com isso, este sopro apresenta a característica de possuir uma intensidade que começa alta e vai decrescendo. Como o ventrículo “puxa” o sangue da Aorta para ele, esse som é chamado de aspirativo. Pode encobrir a segunda bulha. A dilatação ventricular provocada pela insuficiência aórtica PODE fazer com que a pressão do ventrículo fique tão grande que ele passe a provocar também uma insuficiência mitral (secundária à insuficiência aórtica), de modo a existir tanto um sopro sistólico (insuficiência mitral) quanto um diastólico (insuficiência aórtica) TUM SHhh TUM SHhh 180 A insuficiência aórtica é a doença que mais possui sinais clássicos clínicos, que ocorrem devido a essa alteração na pressão dentro da Aorta. Exemplos: Pulso em martelo d’água: pulso palpado muito forte Sinal de Muller: oscilação da úvula no ritmo do batimento cardíaco Sinal de Musset: oscilações da cabeça no ritmo do batimento cardíaco Sinal de Quincke: Capilar ungueal pulsa também (0:30 do vídeo acima) Sinal de Corrigan: dança das carótidas (1:52 do vídeo acima) Pistol shot/Sinal de Traube: Ao se colocar o estetoscópio na A. Femoral, ela faz um som semelhante a um tiro de pistola. Prolapso da válvula mitral Consiste em uma válvula mais “mole”, com mais mobilidade, que, ao se fechar, pode possibilitar a passagem de uma pequena quantidade de sangue de volta para o Átrio (e assim provocar uma insuficiência mitral). Leva a um aumento da pressão atrial, visto que a válvula entra para o interior do átrio. Normalmente, é benigno, mas em alguns casos pode trazer alterações. 181 Síndrome do prolapso de mitral (Síndrome de Barlow): estes pacientes podem apresentar sintomas devido às alterações hemodinâmicas, sendo eles dor pré cordial, tontura, dispneia e taquicardia. Seu sopro pode aparecer de duas formas: TUM shhhh (encobrir segunda bulha) TUM TCshhhTA (com clique na sístole) Como realizar a ausculta de um sopro: Procurar o foco de maior intensidade (provável origem) Observar se encobre B1 (insuficiência mitral) Identificar irradiação (para onde vai) Avaliar manobras: o “Hand grip”: pedir para o paciente fechar as mãos em punho com força, para assim aumentar a resistência periférica. Deixa o sopro da estenose aórtica mais baixo (há mais dificuldade de sair o sangue: com isso sai menos, havendo menos sangue passando pela válvula e assim obtendo um ruído mais baixo) e o da insuficiência mitral mais forte (há mais sangue dentro do ventrículo: aumenta o refluxo para o átrio). o Manobra de Rivera-Carvalho: Pede-se para o paciente inspirar profundamente, forçar para sair (aumenta retorno venoso: chega mais sangue no ventrículo direito – se o paciente possui uma insuficiência tricúspide, há aumento do sopro (reflui mais para seu interior)). Manobra utilizada para diferenciar sopro da tricúspide do sopro da mitral. o Manobra de Valsalva: Aumenta todos os sopros 182 Classificação do sopro – Classificação de Levine +: deixa dúvida se existe ou não. Faz manobra de Valsalva para confirmar. ++: semelhante ao som obtido ao se fechar a mão sobre o estetoscópio e passar um dedo sobre ela +++:é um sopro alto, mas sem frêmito ++++: com frêmito, encosta e é possível ouvir o som +++++: com frêmito, encosta apenas a borda do estetoscópio e já é possível ouvir o som ++++++: com frêmito, não precisa se encostar o estetoscópio para se ouvir o som Sons acessórios Se o som for presente na sístole, ele é chamado de clique. Se for presente na diástole, é chamado de estalido. Estenose Aórtica: pode ser que antes do sopro em diamante, exista um clique acessório Prolapso Mitral: Também há clique Estenose Mitral: Pode haver estalido antes de começar o sopro em ruflar. Encobre a B2. Mais difícil de ser ouvido. Pulsos Arteriais: Sempre comparar ambos os lados. Se acomete todos os pulsos, pode ser um problema cardíaco. Se acomete apenas um, pode ser uma insuficiência arterial. Outros fatores para diferenciar são a temperatura e a dor (mais baixa na insuficiência arterial). Avaliar sempre ritmo, frequência e amplitude. Radial Cubital Carotídeo Femoral Poplíteo Tibial posterior Pedioso O pulso possui a seguinte conformação: 183 Alterações: Venoso: Mais visível do que palpável. O principal é o Jugular. Se for visível, é visto como se estivesse vibrando (corresponde a várias ondas de pulso). Colocado em 45º. É uma manifestação da transmissão do átrio direito. É mais alternante. A turgência jugular é um sinal de comprometimento do ventrículo direito. Exame Cardiológico – Complementações da Prática (Zé Ferreira) Sempre que for abordado um paciente com sintomas cardiológicos, perguntar acerca de 7 aspectos: 1. Dispneia: a dispneia de origem cardíaca é presente aos esforços, melhorando com o repouso. É comum a queixa de ortopneia (paciente refere como colocando mais travesseiros na cama) ou de dispneia paroxística noturna. 2. Dor no peito: A classificação de uma dor definitivamente anginosa consta com as características abaixo listadas: a. Retroesternal b. Em constricção (aperto) c. Sinal de Levine d. Desencadeada por esforço e com melhora ao repouso e. Acompanhada de náusea, palpitação ou tontura f. Irradiada (região medial do braço, mandíbula, dorso e região epigástrica) 3. Edema de Membros Inferiores: O de origem cardíaca é vespertino e vai ascendendo até chegar na anasarca. É frio, mole e com cacifo positivo. 4. Palpitação: Pessoa refere sentir o coração bater fora dos momentos usuais (raiva/emoção). Sente as batidas acelerarem ou fora de ritmo. 5. Síncope: Na presença de doença cardíaca é mais grave 184 6. Tonturas 7. Cansaço Questionar também acerca dos fatores de risco: HAS, diabetes, tabagismo e dislipidemia. Questionar sobre a presença de alcoolismo (3-4 doses/dia por mais de 5 anos), doença de Chagas, histórico precoce de doença coronariana na família. 185 SÍNDROMES DISPÉPTICA, DIARREICA E DISFÁGICA Medusa – 86 SÍNDROME DIARREICA Hábito intestinal normal É muito variado de indivíduo para indivíduo, sendo principalmente influenciado pela alimentação (e pela quantidade de fibras ingeridas). Um hábito intestinal normal pode ir desde 3 evacuações ao dia até 1 vez a cada 3 dias. Perguntar durante a anamnese se a pessoa vai regularmente ao banheiro e a periodicidade deste evento. As características das fezes normalmente são cilíndricas, moldadas e aglutinadas, cor castanho claro ou escuro (visíveis em dietas muito ricas em ferro) e sem restos alimentares a olho nu (se estes estiverem presentes sinaliza que a digestão não está adequada – seja devido a alterações na peristalse, na liberação de enzimas ou na absorção. Pode influenciar no quadro nutricional do paciente, principalmente relacionado à absorção de macronutrientes, podendo levar até mesmo a uma desnutrição). Obstipação Definida por duas características: Quadro de alteração das fezes em que elas aparecem duras, fragmentadas, ressecadas ou em formas caprinas (pequenas esferas) Quadro marcado pela ausência de evacuação com intervalo superior a 3 dias. Pode ocorrer: Insatisfação (vai ao banheiro, evacua, mas ainda assim sente que precisaria defecar mais); Esforço (pode levar a doenças orificiais, como hemorroidas, fístulas e fissuras anais – a lesão pode levar à hematoquezia: saída de rajas de sangue nas fezes), Dor Desconforto abdominal, anorretal ou perineal (provocadas pela higienização) Necessidade de pressão abdominal para que ocorra a evacuação 186 Necessidade de remoção digital com quebras manual das fezes: presente em pacientes com megacólon (remoção de fecaloma) Síndrome Diarreica Caracteriza-se pelo aumento do número e do volume das evacuações, geralmente acompanhadas pela diminuição da consistência das fezes (que se tornam pastosas ou liquefeitas). Como não ocorre o tempo adequado para a digestão dos alimentos, pode ocorrer a liberação de restos alimentares (principalmente de alimentos com fibras). O indivíduo normal elimina de 150 a 200g de fezes ao dia, as quais possuem 70% de água. Na diarreia, esta porcentagem pode chegar a 90%. Disenteria Neste quadro, há presença de muco (semelhante a um catarro) ou sangue nas fezes. Há aumento do volume ou do número de evacuações associado. Há presença de tenesmo: sensação dolorosa retal como quando há vontade de evacuar, mesmo que o reto esteja vazio. Está normalmente relacionada a lesões orgânicas do reto ou cólon distal: Shigellose (shigella é uma bactéria invasiva da mucosa intestinal) Amebíase Retocolite ulcerativa (nas regiões finais do TGI – produção de auto- anticorpos contra a mucosa intestinal, inflamando-a e causando a produção de secreção e sangramentos. Está relacionada à presença de úlceras) Proctites Doença de Crohn (mucosa forma grandes nódulos) Retitie actínica (pacientes que recebem radioterapia pélvica e afetam o reto) Efeito dos laxantes irritativos (Lactopurga): causa irritação da mucosa intestinal, impedindo a absorção e causando a liberação das fezes. Desregula toda a mucosa intestinal. Para reverter o quadro de obstipação, ingerir óleo mineral/ azeite, que lubrifica o intestino, junto com alimentos ricos em fibras. Evitar alimentos adstringentes (prendem o intestino). 187 Classificação da Diarreia – Aguda e Crônica Diarreia Aguda Possui início súbito e duração limitada em até 2 semanas. Na maioria dos casos, é causada por infecções intestinais, sendo as mais comuns causados por: Estafilococos aureus: causada por toxina pré-formada nos alimentos contaminados, manifesta-se de 1 a 6 horas após a ingestão Enterobactérias: possuem período de incubação mais longo, por volta de 24h, causando diarreias aquosas devido a uma hipersecreção – acometem frequentemente crianças Shigella sp.: produção de muco, acompanhada de intensas cólicas Salmonella sp.: ocorrem manifestações sistêmicas, havendo queda de estado geral. Bactéria presente principalmente na carne de frango. Certas cepas de E. Coli Excesso alimentar: é uma diarreia osmótica – há muito soluto no alimento, aumentando a osmolaridade do bolo alimentar (fazendo com que mais água migre para lá, tornando as fezes mais líquidas) Alergias alimentares: a lactose e alergia a glúten; (OBS.: doença celíaca: intolerância ao glúten que leva a manifestações sistêmicas) Medicamentos Radioterapia pélvica (retite actínica) Estresse emocional Diarreia persistente Dura de 2 a 4 semanas Diarreia crônica Dura mais de 4 semanas, possuindo início insidioso (não tão abrupta e volumosa, mas persiste por mais tempo). Possui diagnóstico mais difícil (necessidade de excluir causas). Suas principais causas são: Infecciosas e parasitárias: doenças causadas por protozoários e helmintos (ex.: giardíase, amebíase, teníase) e tuberculose intestinal Doenças inflamatórias inespecíficas (doença de Chrone Retocolite ulcerativa) Síndrome de má absorção Colopatias orgânicas (doença diverticular – há vários sáculos na mucosa intestinal) Colopatias funcionais (síndrome do cólon irritado – relação com componente emocional) Vagotomia 188 Diarreias Secundárias (ex.: a Diabetes – causa coloparesia) Classificação da Diarreia – Alta ou Baixa Diarreia Alta Há comprometimento do intestino delgado. Já que ele é grandemente responsável pela absorção de água, se ele não está funcionando adequadamente é possível observar uma diarreia de grande volume (com grande teor líquido). A frequência está aumentada, e pode haver restos alimentares ou presença de gotas de gordura nas fezes (esteatorreia). Possui um forte odor fétido. Ocorre durante dia e durante a noite (expressão: “o cólon dorme à noite” – se fosse de origem baixa, não ocorreria durante a noite). É interrompida quando há jejum. Necessidade de ingerir muita água (mesmo que for eliminar muita), para evitar quadros de desidratação. Ocorre muita produção de gases, sendo visível a distensão abdominal e percebido o timpanismo do abdome durante a percussão. O paciente normalmente apresenta dor periumbilical. Diarreia Baixa Há comprometimento do cólon: ao invés de haver aumento no volume das fezes, há aumento do número de evacuações (não é tão líquida, é mais pastosa). Pode estar acompanhada de muco, pus ou sangue. Acompanhada de “puxo”: cólica forte que desaparece quando evacua. Acompanhada de urgência retal (quando a vontade de evacuar aparece, deve ser feito rapidamente) e pode ser acompanhada de tenesmo. A dor é em cólicas. Não cessa com o jejum. Não se deve cessar a diarreia do paciente! A função dela é eliminar as toxinas (o paciente pode entrar em quadro de choque se parar de eliminar). Maior problema: desidratação (pode até cessar mecanismo de sede) 189 Anamnese Características Semiológicas: Início Padrão: contínua ou com períodos de acalmia Duração: se é aguda ou crônica Características das fezes: aquosas, sanguinolenta, esteatorreia, quantidade, presença de muco, coloração (ex.: acolia fecal devido a colestase). o Sangue ao redor das fezes: doença orificial (hematoquezia); Sangue misturado às fezes (enterorragia); Presença ou ausência de incontinência fecal Presença ou ausência de dor abdominal: em cólica, em aperto, contínua, periumbilical Avaliar fatores que piorem/melhorem/levem à diarreia (ex.: alimentos, estresse) Perda de peso (sinal de alerta: pode estar relacionado ao desenvolvimento de neoplasias) Antecedentes familiares, pessoais e hábitos de vida: Realizou alguma viagem? (infecções locais) Exposição a alimentos/água contaminados Se as pessoas do seu convívio também apresentam o mesmo quadro Fatores iatrogênicos o Medicações o Cirurgias o Radioterapia Diarreia Factícia: provocada pela ingestão de laxante. Avaliar se há desordem alimentar (anorexia, bulimia, etc). Se há alguma doença sistêmica e toma alguma medicação (hipertireoidismo, diabetes, doenças do colágeno, neoplasia, AIDs, doenças inflamatórias) Exame físico Deve ser completo para sugerir o diagnóstico Atentar se está desidratado (sinais: olhos, língua, taquicardia e hipotensão) ou desnutrido (perda de peso, aparecimento da maxila) Presença de febre (indicar infecção) Presença de manchas na pele (hiperpigmentação facial – doença de Adson (insuficiência da adrenal)) e úlceras orais (podem existir no intestino também, como devido ao vírus herpes ou citomegalovírus) Presença de nódulos tireoidianos Alterações na ausculta pulmonar 190 Dores articulares Massas abdominais Presença de ascite e edema (Kwashiorkor – desnutrição proteico- calórica) Exame anorretal SÍNDROME DISFÁGICA Baseada na dificuldade do transporte do bolo alimentar da faringe ao estômago. Não é dor, mas sim dificuldade. É um sintoma que pode indicar uma desordem esofágica, podendo estar relacionado a lesões próprias do órgão ou a lesões extraesofágicas (ex.: massas externas que comprimem o esôfago), ou ainda a um distúrbio funcional do esôfago (acalase). Há dois tipos de Síndromes Disfágicas: orofaríngeas ou esofagianas Orofaríngeas O distúrbio acontece no início da deglutição, de modo que pode ser causado por alterações neuromusculares ou da boca (ex.: fica mastigando e não engole). Nas alterações da faringe, há perda dos movimentos deglutatórios e não é possível passar pelo esfíncter esofágico superior. Pode ocorrer disartria associada (devido à alteração muscular), fraqueza muscular, perda de força e apneia (afetando seu sono). Realizar exame neurológico cuidadoso e exame de boca, laringe e faringe (auxílio da fonoaudiologia). Esofagiana Ocorre dificuldade no transporte no esôfago. Paciente refere sensação de o alimento estar “parado”. Pode haver: Disfagia obstrutiva o Extrínseca: acometimento fora do esôfago impedindo a passagem (ex.: massa cervical ou mediastinal que o comprimem) o Intrínseca (neoplasia esofágica – carcinoma de esôfago); Em pacientes com refluxo, este quadro pode levar a ulcerações da mucosa. A mucosa passa então a mais grossa para se proteger, e esse espessamento provoca o surgimento de uma estenose péptica do esôfago Disfagia motora: ocorre alteração da atividade peristáltica. o Ex.: acalasia, presente no megaesôfago. Ocorre alteração no esfíncter esofágico inferior, causando uma distensão da parede porque o alimento não consegue passar. Este quadro pode levar 191 a regurgitações e broncoaspiração se o paciente se deitar (provocando até mesmo pneumonias de repetição). o Esclerodermia: doença que ataca a musculatura do esôfago (e possui como sinal clínico a alteração de pele, que fica dura e lisa). Sintomas que podem acompanhar a disfagia: Odinofagia (dor à deglutição): ocorre quando há contato do alimento com uma lesão na mucosa. Ocorre nos pacientes com úlcera esofágica Globus: Ocorre sensação de obstrução (mesmo que ela não ocorra). Normalmente quando come algo, melhora. Pode ocorrer com doenças orgânicas (ex.: doença do refluxo) Pirose: “Queimação”. Dor em queimação retroesternal (diferente de azia, que é a sensação de queimação epigástrica). Relacionada a alimentos gordurosos, esofagite, gravidez, cigarro e medicamentos. Anamnese É difícil iniciar o ato de deglutição? A ingestão de sólidos ou líquidos causa refluxo do alimento para o nariz ou tosse imediata? (Síndrome disfágica orofaríngea) O alimento para no seu trajeto para o estômago? (Síndrome disfágica esofagiana) A única dificuldade é na deglutição de sólidos apenas (ex.: pão ou carne)? Consegue mostrar onde o alimento fica parado? Após o alimento parar, ele é deglutido ou você o regurgita? Essa dificuldade vem piorando com o tempo? (Rapidamente progressiva: neoplasia/ lentamente: alterações motoras) Há dor? Ela some durante as alimentações? Sente o alimento enquanto o deglute? Há sensação de algo na garganta ou no pescoço nos intervalos entre as refeições? (Presença de alimentos em divertículo de Meckel) SÍNDROME DISPÉPTICA Dispepsia é um termo de definição complexa, mas é caracterizada pela presença de dor e/ou desconforto persistente ou recorrente, geralmente na região epigástrica Dispepsia Funcional: Sempre afastar demais diagnósticos que possam ser a causa da dificuldade da digestão antes de realizar o diagnóstico de dispepsia funcional. Há 3 critérios que devem estar presentes: 192 Há percepção de alimentos líquidos ou sólidos ao longo do esôfago (disfagia) Falta evidência de que o refluxo é a causa do sintoma (excluí-lo) Ausência de distúrbios da motilidade do esôfago Dispepsia orgânica: Secundária a uma causa específica, como úlcera péptica, colelitíase, esofagite,pancreatite, parasitoses intestinais ou neoplasias. 193 SÍNDROME ANÊMICA Medusa – 86 Anemia é uma síndrome clínica na qual a capacidade de transportar oxigênio (pela hemoglobina) é insuficiente para atender às necessidades fisiológicas, que variam de acordo com sexo, idade, altitude, tabagismo e estado gestacional. Todas essas variáveis interferem na delimitação de uma quantidade padrão de hemoglobina. Devem ser realizadas no mínimo 3 dosagens no estado basal do indivíduo para se saber qual a sua concentração de hemoglobina, e ela deve ser tomada como parâmetro: Ex.: se dosou 3 vezes e viu que a Hb basal de uma mulher adulta é 15: se ela estiver em um quadro em que a contagem seja 12, já é possível se imaginar que existam algumas alterações, como cansaço, dor nas pernas, etc. Hemoglobina É formada pela associação de duas cadeias alfa, duas cadeias beta e um centro de ferro (formando o grupo heme). 194 Para que ela seja produzida, é necessária a presença do cromossomo 16 (que codifica a cadeia alfa) e do cromossomo 11 (codifica a cadeia beta, a gama e as Hb embrionárias). Se há alguma mutação em um dos genes desses cromossomos, há a presença de hemoglobinopatias: a síntese destas cadeias não serão feitas na mesma intensidade, ou serão feitas de maneira alterada. Exemplo é a anemia falciforme, doença na qual há alteração no gene do cromossomo 11 que codifica a cadeia beta, fazendo com que na hora de produzi-la, ocorra uma troca de uma base nitrogenada na 6ª posição da cadeia, realizando a alteração de um aminoácido ácido glutâmico por um aminoácido valina, e produzindo assim uma Hb anômala. O grupo heme é produzido nas mitocôndrias, enquanto que a codificação das cadeias alfa e beta ocorre no ribossomo. Ao se juntarem, há a formação da hemoglobina. Deste modo, é possível identificar que a deficiência das substâncias envolvidas neste processo podem causar anemias de diferentes etiologias: Se faltar ferro, há a produção de Hb com deficiência Se faltar vitamina B6, há a produção de Hb com deficiência Se houver alterações nas cadeias, há a produção de Hb com deficiência 195 Tipos de hemoglobina e períodos de prevalência Período embrionário: há a presença das hemoglobinas Gower, Portland e Gower 2. Elas são produzidas pelo saco vitelínico. Período fetal: há um predomínio da Hb fetal (75%), existindo também a Hb normal (A), em 25%. São produzidas pelo baço e pelo fígado. Adulto (a partir do 6º mês de vida): há 97% de hemoglobina A, 2,5% de hemoglobina A2 e 1% de hemoglobina fetal. Esta virada de Hb acontece por volta do 6º mês de vida - devido a isso, crianças com defeitos na HbA (como na anemia falciforme) não manifestam a doença até os 6 meses de idade. Além disso, nesta mesma época (6 meses de vida), a medula óssea passa a ser o principal sítio produtor de hemoglobina no indivíduo Hematopoiese A hemoglobina se localiza nas hemácias, sendo o principal componente que estas células carregam em seu interior. O corpo humano apresenta uma produção diária de 200 bilhões de hemácias, de modo que estas circulam no sangue periférico durante 90 a 120 dias. O homem possui aproximadamente 5- 5,5 milhões por mm³, e a mulher de 4,5-5 milhões por mm³. O número de hemácias não é critério de anemia, mas sim a quantidade de Hb. As hemácias são produzidas na medula óssea na vida adulta. Durante o período fetal, este processo é realizada pelo fígado e pelo baço. Em situações patológicas, o baço e o fígado podem voltar a assumir essa função hematopoiética. 196 As células reservas (stem cell) dão origem aos progenitores celulares (unidades formadoras de colônias responsáveis pela produção de um determinado tipo de células, como os progenitores mieloides). Há em seguida a diferenciação dos precursores celulares (forma imatura da célula final, como os reticulócitos), os quais se diferenciam nas células maduras em si (como a hemácia). A unidade formadora de colônia (célula progenitora) chamada de célula mielóide fará granulócitos, eritrócitos, monócitos e megacariócitos. As unidades BFU-E em seguida formarão apenas eritrócitos. As células BFU-E e CFU-E não são vistas na microscopia óptica, sendo possível observar nesta técnica apenas a partir do proeritroblasto (seguido pelo eritroblasto, pelo reticulócito e pelo eritrócito). 197 A maturação de pró-eritroblasto até eritrócito leva cerca de 7 dias. Este fato explica porque é importante esperar um pouco para avaliar o sucesso de um tratamento ou a necessidade de repetição de exames em pacientes com anemia, visto que pode ser que a alteração não seja percebida em um exame mais precoce. Além disso, em 48h pode haver o pico eritrocitário, que pode simular a melhora do quadro. Para que ocorra a divisão celular e o processo de diferenciação da hemácia, é necessária a presença do ácido fólico e da vitamina B12. Além disso, a partir do momento em que a Hb passa a ser incorporada ao interior da hemácia, é necessária a presença de ferro e da vitamina B6. A deficiência em cada um destes 4 componentes é uma etiologia da anemia. Em um transplante de medula óssea, são transplantadas apenas as stem-cells (povoarão a medula do receptor e passarão a produzir hemoglobina). A produção do sangue artificial é feita da seguinte maneira: é selecionada uma quantidade de células BFU-E, as quais são colocadas em meio de cultura e estimuladas a se transformarem em hemácias. Este tipo de produção só é possível de ser realizada em laboratórios (e não em larga escala). 198 Influência Hormonal Para que ocorra a produção de hemácias na medula óssea, é também necessária a produção de um hormônio pelos rins: a eritropoetina. Este hormônio é produzido frente à diminuição de oxigênio percebida pelo sangue que chega aos rins. Em situações de migração para lugares com maiores altitudes (onde há rarefação do ar) ou na presença de doenças em que há partes do pulmão que são perfundidas mas não há hematose, os rins podem perceber estes estímulos como diminuição da quantidade de O2, levando a uma maior produção de eritropoetina e a uma consequente poliglobulia. O mesmo acontece na anemia (é percebida uma diminuição da oxigenação do sangue devido à menor quantidade de Hb presente para realizar o transporte de gases, causando um estímulo da produção de eritropoetina para se aumentar o número de hemácias). Remoção das hemácias Após a sua vida de 90-120 dias, as hemácias são removidas no baço pelo sistema reticulo-endotelial. Há condições em que as hemácias possuem períodos de vida encurtados, como nos hiperesplenismos, na presença de anticorpos específicos e na anemia falciforme (de modo que as hemácias passam a viver apenas de 60 a 40 dias). As hemácias senescentes são capturadas pelo sistema retículo- endotelial. No organismo, cerca de 1 a 2 milhões de hemácias são destruídas por hora, gerando 6g de hemoglobina e 300 mg de bilirrubina por dia. Caso ocorra um aumento do processo de hemólise, há também aumento de produção de bilirrubina, de modo a apresentar como manifestação clinica a icterícia. Desta forma, a icterícia é um sinal clínico presente apenas nas anemias hemolíticas. Caso o adulto não possua mais o baço (como em casos de pacientes com anemia falciforme, que após anos podem apresentar auto esplenctomia), a hemólise será realizada pelo fígado. Quando a Hb é quebrada, há a formação de globina e do grupo heme. Seus destinos no organismo são: A globina é quebrada e transformada em aminoácidos, que são reutilizados O grupo heme é fagocitado principalmente no fígado, no baço e na medula óssea. O heme é transformado em bilirrubina, que é carregada pela albumina até o fígado, sendo então conjugada e excretada. O ferro, 199 por sua vez, é carreado pelaferritina na circulação sanguínea, sendo reutilizado. Como descrito acima, ciclo do ferro é praticamente fechado, de modo que este íon é quase sempre reutilizado. Assim, apenas alguns quadros são capazes de ocasionar o aparecimento da anemia ferropriva, sendo os principais: Diversos anos com carência na ingestão de ferro Perda crônica de sangue (ex.: quadros crônicos de hemorroida, hipermenorreias, tumores de TGI). Distúrbios na absorção do ferro (como em cirurgias bariátricas). Alterações durante o estirão do crescimento (aumenta-se o peso, aumentando também a necessidade de sangue – e, por consequência, a necessidade de ferro para mais hemoglobina). Sinais e sintomas da anemia A maioria dos sinais está relacionada com a falta de oxigenação dos tecidos. A intensidade dos sintomas depende da idade, do sexo, do tempo de instalação, da causa, da altitude e da relação com outras doenças. As suas manifestações clínicas são: Vasoconstricção periférica: percebida pela palidez cutânea. O corpo tenta direcionar sangue e Hb para órgãos vitais, deixando a periferia com menor aporte. Sintomas inespecíficos (relativos à hipóxia tecidual – qualquer anemia pode dar isso, não sinalizam a etiologia): Fadiga, dispneia, taquicardia, palpitação, cefaleia, tontura, hipotensão, síncope, irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, pode haver isquemia cerebral transitória ou claudicação intermitente. o Há também os sintomas relacionados com os mecanismos de compensação (ex.: insuficiência cardíaca devido ao maior trabalho cardíaco, aumento da sensibilidade ao frio devido à diminuição do fluxo cutâneo, anorexia, náuseas, irregularidades do trânsito intestinal (menor fluxo no aparelho digestivo)) Sinais: palidez, taquicardia, sopro sistólico de ejeção Sinais de anemia hemolítica: relacionada à esplenomegalia, icterícia, litíase biliar, dores ósseas e úlceras de perna. Pacientes com anemia hemolítica normalmente referem que sempre sentiram estes sintomas. Avaliar palidez: palma da mão, mucosa, conjuntiva do olho e língua (se despapilada: carência de b12 e ácido fólico), alterações de fâneros (unha em colher e com estrias transversais – características de anemia ferropriva). 200 Diagnóstico de anemia Para se realizar o diagnóstico de anemia, deve-se considerar a clínica (sinais inespecíficos + específicos), dados do hemograma (como contagem de reticulócitos, dosagem de bilirrubinas, de haptoglobina, hemossiderina, LDH) e por vezes a realização de mielograma. Classificação: Intensidade: discreta, moderada ou intensa Causa (mecanismo fisiopatológico): hemorragia aguda (só passa a ser notado após 4 horas de perda de sangue), hemólise, falta de produção Resposta medular: reticulocitose (medula libera células imaturas pois a hemácia está tendo tempo de vida menor e a hipóxia está sendo presente) ou reticulocitopenia Morfologia: Tamanho das células: microcitica, normocítica, macrocítica Evolução da instalação da anemia: o Aguda: possui muitos sinais de recompensação cardiovascular o Crônica: causa palidez, mas pouca repercussão sistêmica (ex.: anemia ferropriva com 5-6 anos de instalação vai fazendo com que a pessoa se adapte ao quadro). Classificação fisiopatológica Anemia regenerativa: quando a contagem de reticulócitos está aumentada o Se a anemia ocorre devido à perda hemorrágica ou excesso de destruição, há aumento do número de reticulócitos (medula 201 tenta equilibrar a falta das hemácias liberando mais reticulócitos), sendo classificada como uma anemia regenerativa. Anemia arregenerativa: quando os reticulócitos estão diminuídos o Se a anemia é devido à falta de produção, há uma diminuição dos reticulócitos (não há a “matéria prima” necessária para a produção destes reticulócitos, como na falta de B12, B6, ácido fólico e de ferro) Índices: Volume corpuscular médio O VCM corresponde ao volume médio de uma população de eritrócitos e pode ser calculado por contadores automáticos, que realizam uma média entre os volumes das hemácias (sendo possível existir, portanto, hemácias microcíticas e macrocíticas ao mesmo tempo, mas denotando um VCM normal pois elas se equilibram no cálculo). As hemácias normais devem possuir de 80 a 98 fL (fentolitros). Se ela possui volume menor que isso, é microcítica; se o volume é maior, é macrocítica. Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) É a média da concentração interna (saturação) de Hb em uma população de eritrócitos. Mostra se está mais corada ou não (cromia) Hemoglobina corpuscular média (HCM) 202 É outro índice, sendo a quantidade média de hemoglobina em peso numa população de eritrócitos, se expressando em pictogramas. Valores de referência vão de 27 a 32 pg (pictogramas). Acompanha VCM. RDW – Índice de anisocitose eritrocitária Representa a heterogeneidade de distribuição do tamanho das hemácias, diferenciando as anemias com uma população homogênea de eritrócitos (ex.: talassemia menor e anemia de doença crônica) daquelas que apresentam uma população heterogênea (ex.: ferropriva) Identificação morfológica: auxilia a fazer diagnóstico específico de determinada anemia (ex.: rouleaux está presente em algumas gamopatias monoclonais, como mieloma múltiplo) 203 Diagnósticos etiológicos: Anemia ferropriva Anemia megaloblástica Anemia falciforme Leucemias Agudas Malária 204 DOR TORÁCICA Medusa – 86 A dor torácica aguda pode traduzir risco eminente de morte. Pode ser definida pela anamnese, e por meio dela se define se a dor possui necessidade de cuidado rápido e intenso ou se pode ser levada para uma análise mais prolongada. A dor torácica pode ser ocasionada por diversos motivos, sendo devido ao acometimento de estruturas intratorácicas ou extratorácicas: Intratorácicas: Extratorácicas Lesões cutâneas Lesões no aparelho músculo- esquelético Lesões pleurais Lesões no pericárdio Lesões no músculo cardíaco Lesões em estruturas vasculares ou nervosas Lesões no esôfago Processos gástricos Lesão de capsula do baço Acometimento hepático e de vias biliares. PRINCIPAIS CAUSAS DE DOR TORÁCICA: DOR DE ORIGEM CARDÍACA 205 A dor de origem cardíaca pode ser manifestada em todo o território abrangido entre a cicatriz umbilical e a mandíbula, podendo se manifestar isoladamente em algum ponto ou simultaneamente em mais de um: pode ser só no epigástrio, só na mandíbula, só no ombro esquerdo, só no ombro direito, etc, ou acumulada em mais de um lugar. A típica irradiação para o braço esquerdo/direito relacionada com este tipo de dor pode ser apresentada ou não. Dentre as condições que podem ocasionar dor cardíaca, estão a isquemia miocárdica (apresentando-se como quadros de angina pectoris ou infarto agudo do miocárdio) e a irritação do pericárdio parietal (devido a pericardites ou à distensão dele por hemopericárdio) Dor cardíaca por isquemia miocárdica A falta de aporte de sangue e oxigênio para o músculo cardíaco (que é o que promove a dor nesta categoria), acontece em 90% dos casos devido à obstrução das artérias coronárias, sendo que, dentre estes casos, mais de 98% ocorre devido a doenças ateroscleróticas. Os outros 2% podem ocorrer devido a trombos ou arterites. A isquemia pode ocorrer também devido a uma intensa estenose da válvula aórtica ou em casos de ponte miocárdica (nos quais a coronária mergulha no interior do miocárdio ao invés de ficar apenas coroando-o. Esta alteração causa dor típica de angina). A dor devido à isquemia miocárdica é muitas vezes referida como uma dor inexplicável e irradiada, sendo sinalizada pelo paciente com uma mão em punho/aberta sobre o peito (Sinal de Levine). Há dois tipos principais de dor secundária a um processoobstrutivo levando a isquemia miocárdica: angina pectoris e infarto agudo do miocárdio. 206 Angina pectoris Acontece quando há um processo obstrutivo de pelo menos 70% da luz coronariana. Os 30% restantes normalmente são capazes de nutrir o músculo durante o funcionamento normal do organismo. Todavia, se houver algum esforço físico (e com isso uma maior demanda do aporte sanguíneo), o fluxo disponibilizado não será suficiente para nutrir o coração, causando uma hipóxia e, por consequência, a dor. É por isso que a dor da angina é normalmente desencadeada devido a um aumento do trabalho do músculo cardíaco durante as atividades maiores do que as habituais (grandes esforços) ou de grandes emoções. A dor característica da Angina é uma dor sufocante, não apontada com o dedo (não é localizada, é irradiada), angustiante, pode vir acompanhada de cansaço, suor frio e pode durar de 3 a 20/30 minutos. Nunca é rápida como uma agulhada/raio. Normalmente, se a pessoa fica em repouso, a dor vai melhorando (e piora se repetir o esforço – é uma dor reprodutível). A intensidade é variável para cada indivíduo, mas normalmente atormenta a pessoa, de modo a levá-la a buscar o serviço de saúde. Se o episódio relatado for o primeiro vivenciado pelo paciente, é chamada de angina de recente começo. Neste caso, é uma angina instável: como não houve episódios prévios para se basear como será a evolução do quadro da pessoa com esta dor, a qualquer momento pode evoluir de forma diferente (como a um infarto). Enquanto isso, a angina estável é definida quando são apresentadas as mesmas características da dor após 3 meses ou mais (durante um maior período de tempo). Todavia, se alguma característica da dor for alterada durante esse período, ela passa então a ser instável. 207 Infarto Agudo do Miocárdio Consiste em uma obstrução total da artéria coronariana. Pode ocorrer devido ao rompimento de uma placa aterosclerótica, que causa a formação de um coágulo, o qual pode imediatamente obstruir a passagem de sangue ou ser posteriormente liberado na corrente sanguínea, de modo a obstruir o fluxo para o músculo cardíaco. Devido a isso, pacientes que fazem uso de anticoagulantes possuem menores chances de infartar. A localização e a intensidade da dor é a mesma da angina. Diferentemente da angina, não há necessariamente a presença do esforço como fator desencadeante (mais de 2/3 dos infartos ocorrem das 4:00 às 10:00 da manhã devido ao aumento dos níveis séricos de cortisol: isto causa como consequência aumento da FC, da PA, do nível glicêmico e dos níveis de adrenalina, levando a uma vasoconstricção – e, por consequência, a obstrução do fluxo de sangue ao miocárdio). A dor não passa quando é adotado o repouso como na Angina, persistindo por mais do que 20/30 min (a dor não cessa sem a intervenção! Realizada com trombolítico ou com a colocação de um stent). Podem existir importantes isquemias miocárdicas (ou mesmo um infarto) não acompanhadas de dor. A intensidade da dor depende de fatores como sensibilidade, inervação, duração e contexto subjetivo do paciente. Há condições que podem destruir a capacidade neuronal de identificar dor, como a diabetes, desautonomias obtidas com o envelhecimento ou com o alcoolismo. 208 Em casos em que não há dor, pode haver um equivalente anginoso, como a dispneia, fadiga ou o cansaço. O diagnóstico do infarto é realizado por meio da dor, da análise do ECG e do perfil enzimático. A síncope de origem cardíaca é súbita e de causa elétrica. Como é súbita, não é possível que o paciente se apoie em algum lugar ou sinta que vá desmaiar, como ocorre em outras causas (como na psicogênica ou síndrome vasovagal). A síncope pode ocorrer nos casos supracitados, visto que a isquemia miocárdica pode ser traduzida em alteração elétrica (ex.: pode haver uma taquicardia ventricular secundária a uma angina). Nestes casos, é mais comum a síncope ser ocasionada devido à angina do que ao infarto. A síncope não é um dos principais sintomas do infarto, visto que para que ocorra síncope devido a este fenômeno, é necessário que exista um intervalo de tempo até que a diminuição da contratilidade do coração ocasionada pelo infarto cause consequências como a diminuição do fluxo nas artérias que vão ao cérebro, causando uma diminuição irrigação cerebral. A consequência que normalmente ocorre a curto prazo é o edema agudo de pulmão: a diminuição da contratilidade devido à presença da área infartada causa acúmulo de sangue no interior das câmaras cardíacas do lado esquerdo, levando a um acúmulo de sangue nas vv. Pulmonares e nos pulmões, por consequência. Dor cardíaca por acometimento do pericárdio A dor cardíaca pode ocorrer também quando há algum tipo de lesão no pericárdio parietal. As principais causas são: Hemopericárdio: quando há um extravasamento de sangue no interior da cavidade pericárdica, há um estiramento dos folhetos que delimitam este espaço. O estiramento do pericárdio parietal causa dor (visto que o visceral não é inervado). Normalmente ocorre devido a traumas, lesões iatrogênicas ou aneurismas da Aorta. É um quadro agudo, que provoca um estiramento brusco. 209 Pericardite: inflamação que pode ocorrer devido a vírus ou bactérias. Neste caso, a dor é ocasionada pelo atrito entre os folhetos inflamados. Causa dor retroesternal incomodativa, contínua, associada a febre, de intensidade moderada, podendo estar relacionada com a respiração (se encosta na pleura). Nestes casos, normalmente o paciente procura o serviço de saúde após 2/3 dias de dor (a dor não é tão urgente e angustiante como a da isquemia miocárdica). No exame físico, é perceptível na ausculta do coração o som semelhante ao de couro raspando em couro (atrito pericárdico). Dor cardíaca por Dissecção Aguda de Aorta A Dissecção Aguda da Aorta consiste em um rompimento na camada interna do vaso, promovendo a entrada de sangue e rompimento da parede. Pode ocorrer em qualquer ponto da Aorta (parte ascendente, arco ou parte descendente), mas é mais comum começar a ocorrer em sua porção ascendente. Quando ocorre, há uma dor intensa com as mesmas características da dor devido a isquemia miocárdica. Ocorre devido a uma fragilidade da parede (normalmente devido a doença aterosclerótica), a qual é rompida devido a uma onda de pressão (que pode ocorrer, por exemplo, durante um pico hipertensivo). Também pode ocorrer em doenças genéticas que causam fragilidade da parede da Aorta, como na Síndrome de Marfan. 210 Para diferenciá-la de um quadro de isquemia coronariana, na dissecção aguda da Aorta há a presença de diferença na palpação dos pulsos dos MMSS (se houver diferença, pode sinalizar que parte dela está obstruída) e normalmente não cursa com alteração no ECG (o único caso em que pode cursar é se a dissecção começar na emergência da Aorta e acometer uma coronária, podendo ocasionar um infarto e por consequência alterações no ECG). Apesar de por vezes o infarto apresentar o ECG normal, quando não houver alterações neste, deve-se desconfiar de uma dissecção aguda de Aorta. Pode ser confirmada por um raio X ou ultrassom da Aorta. Os fatores de risco para a dissecção são os mesmos do infarto. DOR DE ORIGEM ESOFÁGICA Dor devido ao Refluxo Gastroesofágico (Doença do Refluxo Gastroesofágico) O refluxo do conteúdo gástrico do estômago para o esôfago pode ocorrer em indivíduos normais, sem grandes repercussões. Todavia, se este refluxo trouxer sintomas, passa a ser patológico, sendo chamado de Doença do Refluxo Gastroesofágico. Está relacionado com o relaxamento do esfíncter esofágico inferior quando não está ocorrendo a deglutição, permitindo que o suco gástrico ascenda, danificando a mucosa esofágica e causando dor. Pode também estar relacionado com hérnia de hiato. A dortípica é a pirose (“azia”), dor na região retroesternal com caráter de queimação, a qual, nos quadros de refluxo gastroesofágico, piora durante a noite enquanto o paciente está deitado. 211 Dor devido ao Espasmo Esofagiano Difuso Consiste em um distúrbio motor do esôfago marcado por contrações involuntárias e irregulares da região inferior do esôfago. Pode ser desencadeado por refluxo gastro-esofágico, excesso de álcool ou alimentos irritativos como chocolate e estresse emocional. A região inferior do esôfago (principalmente o esfíncter esofágico inferior) contrai com a irritação causada por estes agentes, assumindo um aspecto semelhante a um saca-rolhas. A dor simula em tudo a dor de origem cardíaca: é uma dor incomodativa, com a mesma localização e irradiações da cardíaca, referida com a mão espalmada, acompanhada de sudorese fria, náuseas, vômito e muitas vezes presente em pacientes com refluxo gastro-esofágico. Não apresenta alterações no ECG nem nas dosagens enzimáticas (critério para diferenciá-la do IAM). Pode vir acompanhada de disfagia. DOR DEVIDO A HERPES ZOSTER Herpes Zóster é uma infecção viral causada pelo mesmo vírus da Varicela, o Herpes Vírus Humano tipo 3. Causa dor cutânea intensa e incessante ao longo do trajeto de um nervo. Pode acometer tanto nervos espinais quanto o NCV. 212 Dentre os sintomas, estão o aparecimento de vesículas ou pústulas ao longo do trajeto de um nervo. São acompanhadas de dor, prurido, sensação de queimação e parestesia (sensações de frio, calor, formigamento ou pressão sem estímulo causador). Estão relacionadas à dor torácica visto que, se acometem um nervo espinal torácico, a manifestação ocorre sobre a pele do tórax. Várias condições estão associadas ao aparecimento do herpes zoster, como baixa imunidade (visto que é um vírus que reaparece após a 1ª infecção quando a imunidade está baixa), câncer, trauma local, cirurgias da coluna e sinusite frontal. Os idosos mostram uma diminuição da imunidade ao vírus, o que explica sua maior ocorrência após os 50 anos. DOR DEVIDO A CAUSA OSTEO-MUSCULAR A dor torácica devido à origem osteo-muscular é normalmente ocasionada por: Lesões traumáticas Distensão muscular: alongamento excessivo das fibras musculares. Neoplasias ósseas Espondiloartrose cervical e torácica: Espondiloartrose é um tipo de artrose que causa uma série de alterações na coluna lombar, cervical ou torácica, afetando os ossos, ligamentos, disco intervertebral e nervos, o que resulta em dor (a qual melhora com o repouso e pode ser irradiada para MMSS ou MMII) e, muitas vezes, incapacidade. Hérnia de disco Compressões radiculares Neuralgia herpética: devido ao herpes zóster Dorsalgia (termo genérico para dor no nível torácico, podendo possuir diversas causas) 213 DOR DEVIDO A CAUSAS RESPIRATÓRIAS (acometimento de traquéia, brônquios, pulmões e pleuras) As principais são: Pleurites Pneumotórax espontâneo Pneumonias Infarto pulmonar Traqueítes e bronquites Neoplasias Embolia pulmonar Câncer do pulmão Traumatismos torácicos Pleurites Pleurites são inflamações nas pleuras. Neste caso, a dor torácica é aguda, em pontada, intensa, bem localizada pelo paciente, não irradiada, podendo ser referida com um dedo ou realizando a forma de garra sobre as costelas. É acompanhada de tosse de timbre alto (sendo que, ao tossir, a dor normalmente aumenta), podendo ocorrer febre e, em determinada fase da doença, dispneia. Quando a dispneia ocorre, normalmente a dor cessa, mostrando que o derrame pleural foi instalado e com isso as pleuras não atritam mais (e, por consequência, não causam mais dor). Pneumotórax Espontâneo Ocorre o rompimento do parênquima pulmonar de maneira espontânea, normalmente em pacientes sem acometimento pulmonar prévio. A dor causada é súbita, espontânea e intensa, surpreendendo o paciente saudável na maioria das vezes. Normalmente ocorre em jovens, os quais a referem como uma punhalada. É acompanhada de dispneia. Pneumonias alveolares São provocadas pela penetração de um agente infeccioso ou irritante (bactérias, vírus, fungos e por reações alérgicas) no espaço alveolar. Se acomete a periferia dos lobos (que está em contato mais intenso com as pleuras), a dor possui as mesmas características semiológicas que na pleurite. Isso ocorre pois, se há acometimento subpleural, o folheto visceral da pleura passa a produzir uma reação exsudativa, que, em estado mais avançado, se espalha também para o folheto parietal, causando dor. Se o foco da infecção é apical, diafragmático ou mediastinal, a sensação dolorosa é profunda e não localizada. 214 Infarto Pulmonar O infarto pulmonar é quando parte do tecido pulmonar morre devido ao bloqueio do fluxo sanguíneo no pulmão por um êmbolo pulmonar (Embolia é definida como a presença de um êmbolo no vaso, não necessariamente causando a morte tecidual). Provoca dor muito semelhante à das pneumonias e das pleurites. Deve- se observar a concomitância com doenças emboligênicas (como trombose venosa profunda, trombose intracavitária ou distúrbios de coagulação) para auxiliar no diagnóstico do infarto pulmonar. Viroses respiratórias A dor referida nos casos de infecções virais é difusa, normalmente de localização retroesternal, que se exacerba com a tosse, que é seca. Laringotraqueítes e Traqueobronqueítes agudas Localizada na traqueia e na laringe, colocando a mão espalmada sobre o esterno. 215 AVALIAÇÃO E EXAME OSTEOMUSCULAR Medusa – 86 DESCRIÇÃO DE LESÕES Uma das etapas cruciais do exame osteomuscular é se descrever, com detalhes, a alteração observada (e não necessariamente dar um diagnóstico). Para se descrever uma lesão, deve-se especificar: Tipo de lesão (ex.:amputação traumática (que consiste na retirada de um membro por uma força externa), ferida, lesão aberta) o Se houver também alguma lesão elementar, especificá-la Local (ex.:em terço médio do MI direito, no períneo, no abdome, de flanco a flanco) Se há evisceração (ex.: exposição de alças intestinais) Se há perda de substância (ex.: pele, sangue). Amplitude (ex.: pequena extensão, média extensão, grande extensão) Posição (ex.: se o pé se apoia corretamente no solo, se o membro está em flexão/extensão) Volume (se há aumento ou diminuição, ex.: diminuição da espessura de membro devido à perda muscular pós AVE) Ressalta-se que a descrição deve ser feita de modo a proporcionar uma visão tridimensional (como a lesão está no sentido crânio-caudal, como está no plano transversal e qual a sua profundidade). ELEMENTOS DO APARELHO LOCOMOTOR Ossos Os ossos são formas rígidas e especializadas de tecido conjuntivo que formam a maior parte do esqueleto. Os dois tipos de ossos são o osso compacto e o osso esponjoso, sendo que todos os ossos têm uma camada fina de osso compacto que envolve o esponjoso, exceto nos locais onde há a presença de medula óssea amarela, formando uma cavidade medular no local do osso esponjoso. 216 Classificação dos ossos: De acordo com formato o Osso longo: tubular (ex.: úmero) o Osso curto: cubóideo (encontrados apenas no tarso e no carpo) o Osso plano: função protetora (ex.: ossos do crânio) o Ossos irregulares: formatos diferentes de longo, curto ou plano (ex.: ossos da face) o Ossos sesamoides: protegem alguns tendões contra desgaste excessivo De acordo com o desenvolvimento: o Intramembranosa: diretamente do mesênquima o Endocondral: a partir de um molde cartilaginoso derivado do mesênquima. A ossificação ocorre do meio do osso para a periferia. Cartilagens A cartilagem é uma forma semirrígida e resiliente de tecido conjuntivo que é utilizada em locais onde são necessários maior flexibilidade (ex.:cartilagenscostais, promovendo a movimentação da caixa torácica) e revestem as faces articulares de ossos que participam de articulações sinoviais. 217 Conforme o ser humano envelhece, vai diminuindo a sua quantidade de estruturas cartilaginosas e aumentando a de estruturas ósseas. Articulações As articulações consistem em uniões de 2 ou mais ossos. Há 3 articulações de acordo com a forma ou o tipo de material pelo qual os ossos são unidos. São elas: Articulações sinoviais: ossos são unidos por uma cápsula articular que contém em seu interior o líquido sinovial. Possibilita grande movimentação (ex.: joelho). Possui 6 tipos. o Planas: Permitem apenas deslizamento (ex.: articulação acromioclavicular) o Gínglimos: movimentos apenas em um plano (ex.: flexão e extensão, como no cotovelo) o Selares: movimentos em dois planos perpendiculares (ex.: flexão e extensão, abdução e adução – e com isso, também movimentos circulares, como na articulação carpometacarpal do polegar) 218 o Elipsóideas: também agem em dois planos, mas o movimento é maior em um deles (ex.: articulações metacarpofalangicas, no qual o de flexão e extensão é mais exacerbado) o Esferóideas: movimentam em vários eixos e planos (multiaxiais), ex.: articulação do quadril o Trocóideas: permitem rotação ao redor de um eixo central (multiaxiais), como a rotação que a atlas realiza ao redor do dente da axis na articulação atlantoaxial. Articulações fibrosas: ossos são unidos por tecido fibroso o Suturas: une os ossos do crânio o Sindesmose: Possui mobilidade parcial, unindo os ossos como uma lâmina (ex.: membrana interóssea) o Gonfose: Presente nos ligamentos dento-alveolares 219 Articulações cartilagíneas: as estruturas são unidas por cartilagem hialina ou fibrocartilagem o Sincondroses (Articulações cartilagíneas primárias): ossos são unidos por cartilagem hialina. Normalmente são temporárias (ex.: desenvolvimento de um osso longo) o Sínfises (Articulações cartilagíneas secundárias): unidas por fibrocartilagem, sendo ligeiramente móveis. Ex.: discos intervertebrais. Músculos São as estruturas que promovem a motricidade às articulações. Há 3 tipos de músculo (estriado esquelético, estriado cardíaco e liso), sendo o estriado esquelético o mais avaliado neste exame. 220 EXAME OSTEOMUSCULAR O exame osteomuscular é composto por dois elementos: Anamnese: no caso de um acidente, é importante especificar as condições do ocorrido, como o ambiente em que ocorreu, se o indivíduo estava utilizando aparelhos de segurança, qual a altura da queda, se a pessoa estava dirigindo o veículo, etc. Além disso, deve ser avaliado também se há histórico de lesões/acidentes de mesma natureza prévios. Exame físico objetivo: no exame osteomuscular, utiliza-se principalmente as semiotécnicas de inspeção e palpação, procurando possíveis alterações. 5Ms Há 5 itens que são avaliados durante o exame do aparelho locomotor (5Ms): 1. Medidas: Avalia-se a forma, a simetria e o alinhamento dos membros e da coluna vertebral. Também é avaliada a espessura dos membros (se estão mais grossos ou mais finos), e especificando se esta é regular e uniforme. Para isso, utiliza-se uma fita métrica. Exemplos de alterações nas medidas são os desalinhamentos da coluna vertebral para direita ou para esquerda na escoliose (esta alteração mostra sinais indiretos, além do desvio da coluna, como um ombro mais alto do que o outro, um arco costal mais pronunciado do que outro, uma crista ilíaca mais alta do que outra ou uma escápula mais baixa ou mais pronunciada). A medida do comprimento dos membros pode ser feita da cicatriz umbilical ao maléolo medial ou da espinha ilíaca antero-superior até o maléolo medial. Deve-se observar também se não há alguma alteração no eixo dos membros. Até uma certa angulação, não há prejuízo ou alteração significativa no membro. As variações no plano frontal são: Varo: quando o vértice da angulação se afasta da linha média Valgo: quando o vértice da angulação se aproxima da linha média. o Mulheres tem tendência ao valgismo e os homens ao varismo. 221 As variações no plano sagital são: Recurvato: quando há um desvio para trás (ex.: joelho extendido) Antecurvato: quando há um desvio para frente (ex.: cotovelo extendido). o Mulheres têm tendência à hiperextensão dos cotovelos e joelhos. 2. Movimentação: Avalia-se as articulações e se observa se a mobilidade possui limites dentro do padrão normal, visto que cada articulação possui seus limites de movimentação (ex.: joelho e cotovelo – 0 a 180º) e algumas pessoas ultrapassam e outras fazem menos do que o estabelecido. A movimentação é medida através de graus por um goniômetro: aparelho formado por 2 réguas e que possui uma circunferência graduada na base. Para realizar a medida, coloca-se uma régua em cada local de movimentação (ex.: para medir a movimentação do cotovelo, coloca-se uma régua no braço e uma no antebraço), fazendo o movimento e analisando qual o grau de 222 movimentação da articulação. Na prática, utiliza-se a estimativa de múltiplos de 15 (15º,30º,45º,60º...) quando não se usa o goniômetro. Se existe uma limitação no movimento, é possível dizer que há bloqueio do movimento e em sua angulação (ex.: paciente apresenta bloqueio da flexão do cotovelo em 90º). Quando a articulação não possui movimentação alguma, diz- se que há uma anquilose. Outro aspecto que deve ser observado é a autonomia na realização dos movimentos. Deve-se analisar se o paciente consegue fazer os movimentos sozinho ativamente ou se o examinador consegue realiza-los (se ele não conseguir). Se o examinador conseguir realizar os movimentos no paciente mas ele não, não se trata de um problema articular, mas sim motor (visto que a movimentação é capaz de acontecer, só não é motivada). 3. Músculos Deve-se avaliar se existe a força muscular normal. Realizar teste de força manual, o qual é avaliado pela escala aproximada da função muscular. Em contextos em que há a necessidade de avaliação específica da quantidade de força do músculo (como em atletas), utiliza-se um dinamômetro. Eliminação da gravidade: não vence a gravidade Deve ser avaliada também se a força está simétrica e dentro da normalidade (o que faz o teste ser subjetivo). Durante o teste para mensurar a força, pode ser testada também a sensibilidade. Para isso, pode ser necessário um mapa de dermátomos. 223 4. Manobras especiais São movimentações específicas elaboradas para enfatizar algo relatado na história que deve ser conferido. Ex.: se um paciente tem a queixa de um joelho frouxo, ver se é porque há alguma lesão ligamentar ou se é algum problema de origem muscular. Há manobras específicas para cada ligamento (cruzado, colateral lateral, colateral medial, menisco, etc), as quais devem ser realizadas. Avaliar se a dor relatada é devido a uma ruptura, uma ruptura parcial, a um processo inflamatório, etc. Algumas manobras especiais: Manobra de Thomas: utilizada para identificar anquilose de quadril fletido: quando a pessoa deita, em um quadro normal, ela realiza uma hiperlordose. No indivíduo com anquilose de quadril fletido, esta hiperlordose mascara a alteração, de modo a parecer que os quadris ficam alinhados, como no quadro normal. A manobra consiste em uma correção da lordose, fazendo com que a flexão do quadril fique mais aparente. Para corrigi-la, deve-se então realizar uma flexão da perna contralateral, para assim mostrar que o quadril não consegue realizar a extensão devido à anquilose. Teste para tendão supraespinhoso: Avalia o acometimento do tendão deste mesmo músculo. Pede-se para o paciente realizar uma elevação do ombro, em uma posição específica na qual o m. supraespinhoso é mais exigido– se é doloroso ou não realiza o movimento, o teste é positivo. A posição consiste em uma elevação dos MMSS com uma rotação interna, de modo que o examinador deve realizar força em oposição ao movimento de subida do ombro 224 5. Marcha: Deve-se avaliar se o paciente anda corretamente. A maneira correta de caminhar é composta por uma sequência de movimentos: movimentos quadril, joelho e pé sincronizados. A posição do pé deve estar adequada durante cada momento da marcha. A marcha é estudada em duas fases, a fase de apoio e a fase de balanço. O caminhar ocorre na seguinte sucessão de movimentos: Fase de apoio: nela, o pé está em contato com o solo. É composta pelas seguintes etapas: 1: O início da marcha se dá a partir do primeiro choque do calcanhar no solo. 2: É colocada a parte anterior do pé em contato com o solo. 3: Todo o pé está em contato com o solo 4: É desprendido o calcanhar. 5: O antepé abandona o solo, e por fim, todos os dedos também. Fase de balanço: o pé não está em contato com o solo, sendo composta por 3 etapas: 1: O pé está posteriormente à perna contralateral 2: O pé está no mesmo nível da perna contralateral 3: O pé está imediatamente anterior à perna contralateral, antes de se apoiar o calcanhar novamente no solo. 225 Durante o andar em uma velocidade média, a fase de apoio é 60% da marcha, sendo que a fase de balanço vai aumentando em % conforme se aumenta a velocidade. A marcha é composta por ciclos que se repetem. Na marcha normal, os passos são de mesmo tamanho, e sem se deslocar supero- inferiormente nem latero-lateralmente. Caso o paciente não consiga fazer uma flexão dorsal do pé, e para andar ele apoia primeiro a ponta do pé no chão, a marcha fica irregular (faz movimentos diferentes dos descritos para se locomover, gastando mais energia e demorando mais para chegar ao local). A marcha pode ser avaliada em laboratórios de marcha também, onde são obtidos dados mais específicos (ex.: pressão colocada em cada movimento, gasto de oxigênio, etc). É utilizado em casos neurológicos e para decisão terapêutica, além de avaliar indicação cirúrgica e potenciais lesões em atletas de alta performance. Além disso, há também as marchas típicas, as quais foram descritas em outros resumos (rs) 226 SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA Medusa – 86 A semiotécnica do exame neurológico é dividida da seguinte maneira: Avaliação psiquiátrica (não realizamos) Avaliação cognitiva Avaliação do nível de consciência Avaliação motora (voluntária e involuntária) Avaliação de sensibilidade Avaliação do equilíbrio Avaliação do sistema neurovegetativo Avaliação de nervos cranianos Avaliação meníngea Avaliação do sistema nervoso periférico Avaliação psiquiátrica Realizada através da conversa com o paciente, realizando anamnese direcionada para ver se avaliar: Orientação (orientação auto-psíquica e alo-psíquica). o Alterações no juízo crítico da realidade. Semântica (as alterações são comuns em quadros de demência – não conseguem interpretar sentido figurado ou ditados populares) Avaliação cognitiva Pode ser avaliada pelo instrumento MINI-MENTAL, que avalia diversas habilidades cognitivas: Memória Orientação Praxia: É uma função cognitiva superior, que está relacionada à capacidade de executar movimentos coordenados (ex.: sequência de movimentos necessária para o processo de caminhar). o Apraxia de marcha: dificuldade de executar o movimento de começar a andar. o Pessoas com demência ou alterações cerebelares podem apresentar apraxias Gnosia: também é uma função cognitiva superior, definida como a capacidade de reconhecimento dos objetos por meio de um dos sentidos. Envolve tanto a sensibilidade (conseguir identificar pelos 227 sentidos o objeto) quanto o conhecimento (é necessário se conhecer o objeto para nomeá-lo e identifica-lo). o Grafestesia: Capacidade de nomear que letra foi desenhada na palma de sua mão. Indivíduos analfabetos não são capazes de realizar este exame o Estereognosia: Capacidade de identificar objetos pelo tato com os olhos fechados. Visão espacial Funções executivas Linguagem: suas alterações podem ser devido a: o Alteração inerentemente cognitiva: envolve possuir vocabulário muito restrito, apraxia de linguagem (começa uma fase e não consegue terminá-la) e parafrasias (inventa nomes novos para os objetos, normalmente relacionados à sua função) o Alterações orgânicas Afasia (paciente não fala nada) Disfasia (paciente possui alterações na fala) Disfasia sensitiva: alterações na Área de Wernicke (área sensitiva). Paciente consegue executar a fala, mas possui problemas na captação e interpretação da linguagem recebida (tanto escrita quanto falada). É comum em pacientes com AVCs no lado esquerdo. Disfasia motora: alteração na Área de Brocá (área motora para a fala). Paciente possui os órgãos fonadores normais, mas não consegue executar a fala. Entende a linguagem ouvida, mas não é capaz de emitir uma resposta. Avaliação do nível de consciência Há diversos parâmetros para se avaliar o nível de consciência, como o padrão respiratório, a reatividade pupilar, reflexo óculo-encefálico (“reflexo de olho de boneca”: ao se virar a cabeça do paciente, ele não é capaz de acompanhar a rotação com o movimento ocular, de modo que o olhar permaneça fixo em um ponto), entre outros. Todavia, o mais utilizado é a escala de Glasgow. É uma escala universal que varia de 3 a 15 na pontuação, levando em conta três fatores básicos: Disfasia e afasia: alterações no sistema nervoso central geralmente. A disritmolalia (gagueira) também decorre de alterações no SNC. Disartira: alteração do órgão periférico (ex.: rouquidão/amigdalas). 228 Abertura ocular Resposta motora Resposta verbal Avaliação Motora Sistema motor voluntário (sistema piramidal) Nele, existem apenas dois neurônios: Primeiro neurônio (neurônio motor central): possui o seu corpo celular no giro pré-central. Atravessa o sistema nervoso central por meio do feixe de fibras piramidais (que sofrem uma decussação no bulbo). Descem na medula pelo trato córtico-espinal lateral (contralateral ao seu núcleo no giro pré-central – isso explica porque as lesões no giro pré-central possuem alterações no lado oposto à lesão). Na medula, é realizada a sinapse com o segundo neurônio Segundo neurônio (neurônio motor periférico): Sai da medula e chega até a periferia por meio de um nervo motor periférico. 229 A avaliação do sistema motor voluntário é feita ao se pedir para o paciente realizar movimentos, que devem ser feitos em ambos os lados e simetricamente. Avaliação de força Há manobras sensibilizadoras, como: Manobra do juramento: se há perda de força (paresia), braço cai. O extremo da paresia é a plegia (ausência de força). Normalmente, as lesões de primeiro neurônio acometem um hemicorpo, causando uma hemiparesia. 230 Manobra de Barré e Mingazzini: utilizadas para medir a força dos membros inferiores. Enquanto a de Barré é feita em decúbito ventral e testa a força dos músculos posteriores, a de Mingazzini é feita em decúbito dorsal e testa os músculos anteriores. Manobra de oposição ao movimento: Paciente deve tentar realizar um movimento oposto ao realizado pelo examinador (ex.: se o examinador força uma flexão do pulso, o paciente tem que tentar estendê-lo). Realizado tanto em MS quanto em MI. Graus de perda de força (Pardi falou pra não preocupar): Avaliação de tônus muscular A avaliação do tônus muscular também faz parte da avaliação do sistema motor voluntário. É realizada através da inspeção (se olha o paciente e observa se a musculatura está contraída) e da palpação (realizar movimentaçãodas massas musculares e ver a resistência que elas impõem). 231 A hipertonia presente na síndrome de primeiro neurônio é seletiva: afeta de musculatura extensora para membros inferiores e de flexora para membros superiores (esta hipertonia é espástica – é presente o sinal do canivete: há uma dificuldade de começar movimento, mas depois é mais fácil de movimentar). Já a hipertonia da doença de Parkinson é total (estando presente o sinal da roda denteada/de catraca: há uma hipertonia durante todo o movimento, dificultando a sua realização durante toda a trajetória). (Tempo 0:11 do vídeo acima) As marchas são sinais característicos de perda de força (como a marcha hemiparética/ceifante: há flexão dos membros superiores e extensão dos membros inferiores; há também a marcha escavante: ocorre devido a lesão de nervo periférico, sequela de paralisia infantil, hanseníase ou a neuropatia diabética). Reflexos também avaliam a atividade motora/piramidal, visto que a eferência dos reflexos é uma contração muscular (hiperreflexia, arreflexia, normoreflexia, hiporreflexia). Há reflexos superficias e profundos: Reflexos superficiais: a sua aferência é feita na pele o Cutâneo-plantar: realiza-se um arco com uma espátula na sola do pé do paciente. Em quadros normais, é observada uma contração dos dedos. Sinal de Babinski: ocorre uma extensão do hálux ou abertura dos dedos em leque. É um sinal de liberação piramidal (já que estende ao invés de contrair). É fisiológico em bebês. 232 o Cutâneo-abdominal: Realiza-se um estímulo tátil no abdome, causando como resposta normal a contração da musculatura abdominal. Mais facilmente observado em pessoas magras. Córneo-palpebral: encosta-se um algodão na esclera do paciente, sendo a resposta uma forte piscada do olho em questão. Reflexos profundos: a sua aferência está nos tendões. São obtidos ao se percutir o tendão com o martelo de Buck. São eles: o Reflexo bicceptal o Reflexo tricceptal o Reflexo patelar o Reflexo aquileu o Reflexo estilo-radial o Reflexo flexor profundo dos dedos Sistema motor involuntário (sistema extra-piramidal) Os seus núcleos ficam localizados nos núcleos da base (globo pálido, substância negra, núcleo lentiforme, etc.) e no cerebelo. Não há apenas 2 neurônios, havendo diversas conexões com várias partes do encéfalo. Principais sinais de lesão de primeiro neurônio: hiperreflexia e Babinski 233 A sua avaliação consiste basicamente na observação. Observar se há a presença de tremores (ex.: tremor essencial da doença de Parkinson), coreias, tiques (ex.: síndrome de tourrete), balismos, atetose. As principais síndromes do sistema motor involuntário são a Doença de Parkinson (há hipertonia plástica, tremor, ataxia de marcha, alteração de coordenação) e as coreias. Avaliação da sensibilidade Depende muito da lucidez do paciente. Há a sensibilidade superficial (aferência das terminações nervosas da pele – sensação térmica, tátil e dolorosa) e a sensibilidade profunda (relacionada a tendões, músculos e articulações – sensibilidade vibratória, pressão e propriocepção). Pacientes com alterações da sensibilidade: disestesia (esfraquecimento/alterações), anestesia (ausência) ou parestesia (perversão da sensibilidade, sendo normalmente anormal e desagradável). Para avaliar a sensibilidade superficial, há a necessidade de um mapa de dermátomos para guiar os testes de cada raiz nervosa. O examinador vai passando por eles com um pincel ou algodão, e vendo se o paciente é capaz de senti-lo. É importante realizar este exame em pacientes com trauma raqui- medular (o nível de sensibilidade é uma vértebra acima da alteração encontrada – sensibilidade em T11 - Lesão em T10). A informação sensitiva superficial é carregada pelo corno anterior da medula. A sensibilidade profunda é corno posterior da medula. 234 A avaliação da sensibilidade profunda é realizada em diferentes locais, dependendo de qual a modalidade: Sensibilidade vibratória: normalmente realizada nas extremidades ósseas, que são aonde os receptores estão localizados (ossos). Utiliza-se um diapasão e posiciona-o no paciente, pedindo para que este avise o examinador na hora que parar de vibrar. Em seguida, o examinador deve checar se realmente parou de vibrar ou não. Sensibilidade de pressão: Os receptores de pressão estão localizados nas terminações musculares. É avaliada ao se pedir para o paciente fechar os olhos, apoiar um objeto em ambos os lados dos MMSS ou MMII, mas em um deles aplicando-se mais força Propriocepção (posição segmentar): é avaliada ao se pedir para o paciente fechar os olhos e movimentar seus membros, perguntando a sua orientação (ex.: dedo está para cima ou para baixo?) e por meio da marcha (ex.: se for marcha tabética, não há noção de profundidade). Avaliar se não há lesão em algum dos olhos (a visão binocular é responsável por garantir a sensação de profundidade). Avaliação da coordenação As alterações na coordenação são chamadas de ataxias. É avaliada por meio de: Marcha (se há dificuldade de dar o primeiro passo, como na parkinsoniana) Prova dedo-nariz/dedo-lóbulo: pede-se para o paciente encostar a ponta do seu dedo no dedo do avaliador, e então leva-la à ponta do nariz ou ao lóbulo da orelha 235 Prova calcanhar-joelho: colocar calcanhar sobre joelho e descê-lo apoiando sobre a tíbia) Prova dedo-dedo: semelhante à dedo-nariz Diadococinesia: mede a capacidade de realizar movimentos antagônicos rápidos. Testa-se ao como virar as mãos para cima e para baixo, e ao realizar a variação da posição ponta-calcanhar no MI. Se não há alterações, paciente está eudiadococinético. Se houver, está disdiadococinético/adiadococinético. Avaliação do equilíbrio Avaliado por meio da marcha (alargamento da base). A embriagues afeta cerebelo, afetando o equilíbrio. A marcha ébria/cerebelar é feita desenhando uma estrela no chão. O equilíbrio também pode ser avaliado por meio da Prova de Romberg: paciente ficar em pé, olha para frente e focaliza o olhar em um local. Em seguida, fecha o olho e se avalia se o paciente mantém o equilíbrio. Acontece em doenças que afetam o corno posterior de medula, causando alterações na propriocepção. É necessário sempre permanecer próximo ao paciente (devido ao risco de desequilíbrio e queda). Sinal da turbina: é visível quando há acometimento do labirinto. Com o olho fechado, ao realizar a prova de Romberg, o paciente cai para o lado que está inflamado/afetado o labirinto. 236 Paciente com cerebelo afetado não consegue se manter parado nem de olho aberto, nem de olho fechado. Avaliação do sistema neurovegetativo Observar sinais de alteração simpática ou parassimpática: reatividade pupilar, ereção de pelos, sudorese, incontinência (urinária e fecal), impotência sexual, diarreia, constipação, broncodilatação, broncoconstricção, taquicardia, bradicardia. Avaliação de nervos cranianos Está diretamente relacionada à função de cada par de nervo craniano. Avaliados para saber se há lesão de tronco cerebral (já que a maioria dos NCs saem de lá, podendo ser afetados por uma AVE de tronco cerebral). NC I – N. Olfatório: dar algo para o paciente cheirar (tampa uma narina e examina a contrária de cada vez). Usar cheiros característicos (ex.: álcool, café) NC II – N. Óptico: testar visão (ver se há diplopia, perda aguda da visão). Avaliar campos visuais (representar números com as mãos, abrindo os braços, e perguntando ao paciente quantos dedos há). NC III – N. Oculomotor: mobilidade ocular extrínseca. Inerva os demais músculos além do M. oblíquo superior e o M. reto lateral. Fazer com que o paciente olhe para a direita, esquerda, para baixo, para cima e nas diagonais (acaba que já avaliao NC IV e o NC VI junto). NC IV – N Troclear: mobilidade ocular extrínseca. Inerva m. oblíquo superior (pedir para o paciente olhar para baixo e para o lado). NC V – N. Trigêmio: sensibilidade da face e inervação do masseter (pedir para o paciente mastigar) NC VI – N. Abducente: mobilidade ocular extrínseca. Inerva M. reto lateral (pedir para o paciente olhar para fora). NC VII – N. Facial: realiza mímica da face. Pedir para o paciente franzir a testa, sorrir, assoviar, fechar o olho com força, etc. NC VIII – N. vestíbulo-coclear: avalia equilíbrio (vestíbulo) e a audição (cóclea), a qual é avaliada ao se colocar um relógio ao lado do ouvido do paciente e perguntar se ele escuta o ponteiro se mexendo. Também pode-se avaliar a audição pela manobra de Rinne: identifica se a surdez é devido a problemas na condução pelo conduto auditivo (ex.: cerume) ou se há uma alteração neurossensorial (alteração no NC VIII) – utiliza- se diapasão e coloca-o sobre a cabeça da pessoa. Em caso de estar afetada, e a pessoa sente vibrar mais/apenas do lado que está escutando menos. 237 NC IX – N. Glossofaríngeo: ver se o véu do palato se eleva quando o paciente abre a boca e fala “a”. Caso apenas um lado se levante, há o sinal do véu do palato. NC X – N. Vago: relacionado ao sistema autônomo. Avaliar bradicardia, taquicardia, sialorreia (aumento de secreção salivar). NC XI – N. Acessório: Inerva o m. trapézio e o m. esternocleidomastóideo. Observar se o paciente consegue contrai-los ou realizar oposição ao movimento. NC XII – N. Hipoglosso: inerva músculos da língua (pedir para o paciente movimentá-la). Avaliar sinais meníngeos Qualquer processo irritativo que ocorra com o SNC causa irritação das meninges. A irritação provoca a liberação de substâncias que causam dor: se esticar a meninge do paciente, há a dor. Para esticar as meninges, é necessária a movimentação do pescoço. Se for observada rigidez de nuca, pode ser sinal positivo para meningite. Pode-se realizar as seguintes manobras: Sinal de Brudzinski: colocar o paciente deitado e tentar fletir seu pescoço. É positivo se ocorrer ligeira flexão dos joelhos. Sinal de Kernig: deita-se o paciente em decúbito dorsal, estica-se a sua perna e se flexiona o seu joelho. No sinal positivo, paciente sente dor e dificuldade no movimento (se recolhe). 238 Avaliação do sistema nervoso periférico Ligado a lesões nos nervos periféricos do corpo, seja devido a compressões na sua raiz na coluna vertebral ou mais distalmente. Ex.: se há artrose na panturrilha no local de saída do nervo. Manobra de Lasegue: Utilizada para a avaliação. Vai provocando uma extensão do membro, a qual é acompanhada de dor. Também se avalia as lesões do sistema nervoso periférico quando é feita a avaliação de força. Todavia, são observados sinais de deficiências mais distais: pé caído, mão em garra, etc. É avaliada a lesão do segundo neurônio (síndrome do segundo neurônio). 239 SÍNDROMES NEUROLÓGICAS Medusa – 86 1. Síndromes do sistema motor Sistema motor voluntário Como o sistema motor voluntário é composto por 2 neurônios, pode haver o acometimento de cada um deles, causando diferentes sinais e sintomas: Síndrome do primeiro neurônio/neurônio motor central: ocorre paresia como sintoma básico (podendo ser localizada ou global, proporcionada - se for semelhante para MMSS ou MMII - ou desproporcionada – se não for). Os achados clínicos são: o Alterações de NCs: paralisia facial e paralisia facial central (2/3 inferiores da hemiface acometidos, sendo ipsilateral ao local da lesão. O 1/3 superior provém de inervação contra-lateral – e por isso é preservada. OBS: Paralisia facial periférica: acomete o 2º neurônio (“corta o fio”). É acometida toda hemiface do mesmo lado da lesão o Sintomas de liberação piramidal: Sinal de Babinski (alteração do reflexo cutâneo-plantar) Hipertonia espástica (causa sinal do canivete) e seletiva (flexores nos MMSS e extensores nos MMII) Hiperreflexia profunda Clonus (movimentos repetitivos): não consegue inibir o movimento após iniciado. Sincinesias: são movimentos contrários anormais. Ex.: ao se pedir para um paciente com hemiparesia esquerda apertar a mão direita, ele consegue fazê-lo, mas com um pequeno movimento da mão esquerda também acompanhando a contração. Ocorre devido à perda de processos inibitórios na medula. 240 Síndrome do segundo neurônio: acomete o nervo periférico. Também há queixa de perda de força (paresia), mas ela é mais periférica (e não de hemicorpo como na síndrome do primeiro neurônio). Algumas manifestações comuns desse acometimento periférico são mãos e pés caídos, marcha escavante, etc. (depende do nervo periférico atingido). o Os sintomas motores podem ser também acompanhados de sintomas sensitivos e neurovegetativos. Isto ocorre pois o nervo periférico não carrega apenas informações motoras, mas também sensitivas e relativas ao SNA. Carrega fibras dos plexos simpáticos paravertebrais e também as fibras sensitivas. o Não há sintomas de liberação piramidal, apenas de inibição piramidal. São eles: Hiporreflexia profunda Hipotonia muscular (intensa pois não chega e nem sai nenhum potencial de ação) Paresia Miofasciculações: atividade autônoma da placa neuromuscular. São pequenas contraturas musculares em segmentos. Sistema motor involuntário Paciente normalmente apresenta a queixa de presença de: Movimentos involuntários: como tremores e coreais (sendo que estas normalmente cursam com hipotonias: é uma doença hipercinética hipotônica) Alterações de equilíbrio Tontura Insônia Constipação intestinal Hipertonias: como no caso da Doença de Parkinson – a hipertonia é global (paciente fica como se estivesse congelado). Apenas 30% dos pacientes com Parkinson apresentam o tremor. É uma doença hipocinética hipertônica. 2. Síndrome de Hipertensão Intracraniana Como a calota craniana é um sistema fechado, o aumento de qualquer estrutura em seu interior provoca o aumento da pressão intracraniana. As causas que podem ocasionar este quadro são edema cerebral, tumores, derrames hemorrágicos, hidrocefalias, entre outros. 241 Este quadro se apresenta um pouco diferente nas crianças, visto que elas ainda possuem as fontanelas abertas, permitindo um espaço para que a calota se expanda frente ao aumento das estruturas. Como no adulto não é possível realizar a expansão da calota, acaba por ocorrer uma herniação das estruturas pelo forame magno. Estas herniações causam lesões no tronco cerebral, que possuem grande gravidade. A queixa principal dos pacientes com hipertensão intracraniana é a dor de cabeça. Ela depende muito da velocidade de instalação da hipertensão: Abruptamente: dor de cabeça será aguda, intensa e com duração de horas (como em casos de hemorragia subaracnóidea ou em um derrame hemorrágico) Gradativamente: a dor de cabeça possui a sua intensidade aumentando progressivamente (conforme a pressão vai subindo também). Pode ser causada pelo desenvolvimento de um tumor cerebral. As cefaleias são geralmente matutinas. Além da cefaleia, são apresentados na síndrome de hipertensão intracraniana também vômitos em jato não precedidos por náusea, convulsões (mais vistas em crianças) e rebaixamento do nível de consciência. Há também alterações no fundo de olho (papiledema). Há também os sintomas relacionados às causas específicas do aumento da pressão intracraniana (ex.: se foi devido a um AVC, pode haver hemiparesia e síndrome de primeiro neurônio; se foi devido a uma meningoencefalite, haverá rigidez de nuca). Normalmente, os pacientes que desenvolvem hipertensão intracraniana cursam com hipertensão arterial sistêmica (pode haverTríade/Sinal de Cushing: Hipertensão arterial, cefaleia e bradicardia). Não é recomendado se abaixar demais a PA dos pacientes nestes casos, visto que ela necessita ser um pouco maior para vencer a resistência imposta pela hipertensão intracraniana e assim ser capaz de irrigar o cérebro (a HAS aparece como um mecanismo compensatório). 3. Síndrome de Compressão Medular Existem vários tipos, visto que a manifestação clínica depende da região da medula que é afetada. Normalmente cursa com uma síndrome motora (geralmente de primeiro neurônio) e com alterações sensitivas. Por vezes, o acometimento motor é de um lado e o sensitivo de outro (visto que as fibras sensitivas realizam a decussação no nível da medula em que for emergir o nervo periférico, enquanto as motoras realizam-na no bulbo). 242 Síndrome de Brown-Sequard: É muito comum em traumas Síndrome de cauda equina: além dos sintomas motores, apresenta também sintomas neurovegetativos (incontinência, impotência sexual, alterações na sudorese, na ereção de pelos), devido ao comprometimento do sistema parassimpático pela compressão do plexo sacral. 4. Síndromes Meníngeas Paciente apresenta queixas de dor de cabeça, febre (se for uma meningite) e alterações nos sinais meníngeos (Sinal de Kernig e Brudzinski presentes). Se o acometimento das meninges for devido a uma hemorragia subaracnóidea, é visível a presença de rebaixamento do nível de consciência. As hemorragias subaracnóideas causam sintomas meníngeos pois o sangue é irritativo para as meninges, desencadeando processos inflamatórios. Se ocorrer uma meningoencefalite, o paciente apresentará sinais de hipertensão intracraniana (cérebro edemaciado, dores de cabeça, rebaixamento do nível de consciência e vômitos). 5. Síndromes Cerebelares Cursa com alterações na coordenação e no equilíbrio (como quedas, dificuldades para andar e tonturas). Há a presença de marcha ebriosa. Dentre as causas, estão os AVEs (como os de A. Basilar), tumores cerebelares e tumores no ângulo olivo-ponto-cerebelar. Acompanhadas de dismetria, disdiadococinesia, movimentos entrecortados (tremores grosseiros) e nistagmo (tanto horizontal quanto vertical). 6. Síndromes Demenciais A principal queixa do paciente é o acometimento da memória, o qual é normalmente mais percebido pela família. Cursa também com alterações de 243 comportamento, sintomas psicóticos, alterações na linguagem (não consegue completar uma frase; utilização de parafrasias e repetições). Algumas síndromes demenciais podem cursar com sintomas motores, a depender da causa da demência. As principais são demências vasculares, demências de corpúsculos de Lewy, degeneração de múltiplos sistemas, paralisias bulbares, paralisias supra-nucleares progressivas, etc. A avaliação é feita por meio do MINI-MENTAL para identificar alterações cognitivas. É um instrumento de triagem adaptado à escolaridade do paciente. 7. Síndromes epilépticas A queixa principal do paciente é a presença de convulsões. Relata haver desmaios, sendo importante a presença de um acompanhante que presenciou a convulsão durante a consulta médica. As epilepsias podem ser divididas em primárias e secundárias: Primárias: possuem origem genética. Normalmente relacionadas a alterações de canais de Na+ e Cl- nos neurônios: com essas alterações a carga das células ficam mais próximas ao potencial de ação, de modo que se for desencadeado um estímulo, elas estão mais propensas a provocar a crise. As crises podem ser parciais ou totais: o Crises parciais: quando o Sistema Nervoso consegue barrar a corrente de se espalhar pelo cérebro, de modo que a alteração ocorra apenas em uma região do cérebro. o Crises totais: todo o cérebro está afetado, não sendo possível frear a propagação do sinal Secundárias: ocorrem devido a outros fatores, como uma neurocisticercose e sequelas de AVC. Há três tipos de crise: Tonica: paciente fica extremamente enrijecido e parado. Tonico-clônica: primeiro apresenta um quadro tônico como o acima, e depois começa a se debater. São quadros mais graves. 244 Ausência: são quadros com maiores alterações sensório-motoras. Os indivíduos “sofrem um apagão” durante alguns segundos, retornando em seguida. São menos graves. 245