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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3 2 OBJETIVOS DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO .................................... 4 2.1 Critérios científicos e histórico-culturais da categoria pessoa em desenvolvimento...........................................................................................................6 3 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA .................................................................... 10 3.1 Desenvolvimento biopsicossocial de crianças de 0 a 2 anos .............................. 12 3.2 O desenvolvimento biopsicossocial na faixa etária de 3 a 6 anos de idade ........ 16 3.3 Desenvolvimento biopsicossocial e cognitivo na 3ª infância (7-11 anos) ............ 20 4 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO....................................................................... 24 4.1 Primeira fase: a descrição dos processos de desenvolvimento na adolescência...............................................................................................................36 4.2 Segunda fase: a visão contextualista do desenvolvimento do adolescente ........ 38 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 40 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 OBJETIVOS DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO A psicologia do desenvolvimento é o estudo dos diferentes aspectos humano, desde a vida uterina até o envelhecimento. Esta é uma área do conhecimento que busca entender os fatores como tempo, genética, fisiologia, experiências de aprendizagem e diferentes contextos (por exemplo, cultura, história e sociedade). Entre os outros aspectos que afetam os seres humano. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002 apud CORTINAZ, 2016). Devido ao alcance da dimensão do desenvolvimento humano da pesquisa em psicologia, a disciplina tem interação com outras áreas do conhecimento como biologia, pedagogia, sociologia, etc. A psicologia do desenvolvimento visa alcançar três objetivos principais. O primeiro objetivo pode ser resumido como: as origens dos aspectos emocionais, cognitivos, motores e sociais da estrutura humana. O segundo alvo abrangente é identificar as causas do surgimento e mudança nos aspectos emocionais, cognitivos, motores e sociais do progresso humano. O terceiro e último propósito é distinguir uma fase ou estágios da evolução humana, um período específico do ciclo de vida, no qual um conjunto específico dos aspectos emocionais, cognitivos, motores e sociais do alcance humano que se manifestam e permanecem mais ou menos estáveis (CAMPOS, 2001 apud CORTINAZ, 2016). É possível estabelecer alguns princípios gerais do desenvolvimento humano. A primeira é que o progresso humano é causado por diferentes estágios/etapas/fases, cada um com seu próprio conjunto de características. Embora a definição de estágios de crescimento e o período em que ocorrem possam variar de acordo com os métodos de pesquisas, sendo assim novos padrões surgem repetidamente em diferentes métodos de pesquisas. O desenvolvimento é estruturado e consolidado por padrões que são estáveis em estágios iniciais. Outro princípio relacionado ao anterior é que a evolução é contínua e resultado de mudanças estruturais nos aspectos emocionais, cognitivos, físicos e sociais de um indivíduo. Um exemplo muito ilustrativo do segundo princípio é que as crianças começam engatinhando, em seguida, caminha, e, por fim, consegue correr com destreza, (CORTINAZ, 2016). Um terceiro princípio que pode ser enfatizado, é dos aspectos gerais para os aspectos específicos. Por exemplo, primeiro a criança desenvolve habilidades motoras (mover pernas, braços, mãos, sentar, andar, correr, etc.) e depois promover 5 as habilidades motoras finas (coordenar mãos e olhos em tarefas específicas) como pintar, recortar, ler, escrever, etc.) (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004 apud CORTINAZ, 2016). Por fim, pode-se enfatizar que, embora os estágios de desenvolvimento sejam constantes em diversos métodos de pesquisa, o desenvolvimento pode ocorrer em variados ritmos/velocidades e em diferentes indivíduos. Podemos dizer que há uma consistência desde da estrutura física (por exemplo, crescimento da cabeça, tronco e extremidades superiores e inferiores) até o desdobramento de habilidades cognitivas (como habilidades de raciocínio lógico indutivo/dedutivo), mas é impossível determinar uma idade com precisão absoluta, todos os indivíduos atingem um certo nível de crescimento. A psicologia do desenvolvimento contribui para uma melhor compreensão dos aspectos psicológicos do conhecimento humano, assumindo diferentes estágios. Portanto, a psicologia do desenvolvimento, tornou-se uma disciplina específica dentro do campo da psicologia. Um dos objetivos mais comuns da psicologia do desenvolvimento é o estudo das mudanças que ocorrem durante o processo humano. Já o desenvolvimento humano, enfatiza a relevância das relações sociais e emocionais para a aprendizagem. (CORTINAZ, 2017). Uma definição possível de desenvolvimento humano é “[...] o estudo científico de como as pessoas mudam ou como elas ficam iguais, desde a concepção até a morte [...]” (PAPALIA; OLDS, 2000, p. 25 apud CORTINAZ, 2017). Essa primeira definição é bastante geral e diferentes pesquisas, a partir de diferentes abordagens teóricas e metodológicas, aprofundam-se na compreensão de quais mudanças ocorrem, como essas mudanças ocorrem, quando ocorrem e por quê. Dessa forma, podemos ver o desenvolvimento humano como um marcador de transformação social, refletindo a organização das estruturas sociais, ao mesmo tempo em que integra as características cognitivas, afetivas e comportamentais do sujeito no processo de constituição mútua. O ser humano progrediu. Muito além da composição orgânica madura do corpo e também passou pela evolução relacional do sujeito. Portanto, é um processo que abrange os estágios de maturidade da aquisição do conhecimento, (DUARTE, 2017). Por meio de desenvolvimento física, pode-se alcançar o desenvolvimento da linguagem, o acesso à fala e à comunicação, o desenvolvimento cognitivo advém da elaboração de percepções de seu funcionamento físico e de seu papel no meio 6 ambiente, o desenvolvimento emocional, por outro lado, acompanha suas emoções nos relacionamentos e ocorre como um conceito que também afeta o progresso social, no qual o sujeito percebe sua relação com o contexto social, (DUARTE, 2017). Com base nisso, o desenvolvimento humano é um assunto de grande interesse para diversos conceitos teóricos da ciência psicológica e é objeto de pesquisas em psicanálise, cognitivismo,behaviorismo, teoria humanista, etc. (BEE, 1997 apud DUARTE, 2017). Cada linha teórica aborda o desenvolvimento humano a partir de seu foco de pesquisa. A teoria psicanalítica, fundada pelo fisiologista Sigmund Freud, tenta entender o desenvolvimento em termos de um grande quadro de expressão inconsciente na construção da personalidade. Dessa maneira, o desenvolvimento decorre da elaboração dos processos que compõem toda a trajetória de vida, mas tem um fundamento mais profundo na primeira etapa da vida humana, a infância. A teoria cognitiva, estabelecida pelo teórico suíço Jean Piaget, entende o desenvolvimento como um compositor construtivo que existe ao longo da vida. Assim, a maneira como pensam, se comportam e se comunicam afeta seu desenvolvimento. Além disso, marcos como linguagem, habilidades motoras e percepção sensorial estão diretamente relacionados ao desenvolvimento da fluência, (DUARTE, 2017). As teorias comportamentalistas ou teoria behaviorista foi originalmente instituídas pelas pesquisas de Watson, Skinner e Pavlov, cada um com suas próprias técnicas. Eles veem o comportamento humano como uma influência no desenvolvimento, que depende do próprio comportamento para acontecer os estímulos ambientais. A teoria humanista foi desenvolvida pela primeira vez por Abraham Maslow e depois por Carl Rogers. Eles acreditam que o homem é a base para a compreensão de seu próprio desenvolvimento, entendendo cada existência ele próprio contém uma força que pode impulsionar ou dificultar o seu, processo que, na visão do humanismo, perpassa todo o curso da vida (DUARTE, 2017). 2.1 Critérios científicos e histórico-culturais da categoria pessoa em desenvolvimento O homem em desenvolvimento é um conceito científico e cultural ocidental que constrói as etapas da vida humana que repercutiu amplamente em todo o mundo, especialmente ao longo do século XX, para ser utilizado como parâmetro hegemônico 7 de demarcação. A instrumentalização das classes biológicas intergeracionais e das instituições sociais capazes de lidar com elas, legitimadas por sistemas jurídicos que incorporam as estruturas epistemológicas sociais de desenvolvimento de pessoas para perfilar a natureza dos destinatários e as características, teórico-conceituais dos direitos, (OLIVEIRA, 2014). Basta observar os primeiros artigos da (CDC: O Código de Defesa do Consumidor e do ECA: O Estatuto da Criança e do Adolescente), estipula o período para crianças e adolescentes até os 18 anos, reconhecer que o desenvolvimento da criança e do adolescente é definido por lógica da psicologia, que envolve a construção de um processo de maturidade e biopsicossocial, fundamentado por meio de estágios temporais. De acordo com Prout e James (1997 apud OLIVEIRA, 2014), o paradigma do desenvolvimento infantil é baseado no conceito de crescimento biológico, como regra universal da humanidade, sua medida e classificação pode ser padronizada. Este é um modelo autossustentável, onde as etapas do permitem que as crianças racionalizem gradativamente, visto que, apenas o grau de racionalidade pode ser determinado fase adulta. O modelo da evolução infantil se torna dominante, o pensamento ocidental também está ligado, socializando com o biológico: atividades infantis - sua linguagem, jogos e interação, vista como um sinal simbólico de progresso. Uma redução da "irracionalidade" das brincadeiras infantis, desse modo, uma criança é considerada evoluída, ou amadurecida medida em que a evolução é substituída por ideias complexas. (PROUT; JAMES, 1997, apud OLIVEIRA, 2014). Esse conhecimento científico está próximo das mudanças psicológicas humanas em que o homem sofre em sua vida, o que significa levar em conta desenvolvimento físico, cognitivo e social em cada estágio prescrito, sem envolver o isolamento entre as etapas, devido ao impacto anterior e a estrutura atual. A maturidade humana é então organizada em estágios ou idades da vida e propõe uma ligação entre a idade mental e a cronológica, no contexto específico das crianças em ordem cronológica, (OLIVEIRA, 2014). Segundo Baggio (1985 apud OLIVEIRA, 2014) e Trindade (2007 apud OLIVEIRA, 2014), a psicologia do desenvolvimento estuda as mudanças de comportamento no decorrer do tempo e não o tempo em si, mas eventos ao longo da vida que podem causar e explicar a transformação humana. 8 O tempo torna-se uma medida conveniente na qual o comportamento e a alterações marcadas com a idade cronológica não podem ser consideradas determinista, mas simultâneo, no sentido de definir mudanças comportamentais desenvolvido como resultado, dentro de organismos vivos e processos ambientais no decorrer da temporalidade. Portanto, cada estágio de desenvolvimento inclui um período da vida, definido pelo encontro de uma série de características físicas, emocionais, intelectuais e sociais. (OLIVEIRA, 2014). Uma das classificações mais usadas pelos teóricos da psicologia moderna do desenvolvimento foi estabelecida por Holmes, Bee e Tyson apud Trindade (2007 apud OLIVEIRA 2014), dividida em e atribuir as etapas do desenvolvimento humano em termos de vida como um processo completo: Estágio pré-natal (concepção até nascimento): são formações das estruturas: e órgãos corporais que são chamados de básicos. Nessa fase, o crescimento físico acontece de maneira mais rápida do que os outros períodos, e é altamente suscetível a influências ambientais (OLIVEIRA, 2014). Primeira infância (nascimento até 3 anos): nessa fase o recém-nascido é literalmente dependente, porém competente. Todos os sentidos funcionam desde o nascimento, desenvolvimento físico e até os de habilidades motoras. É também voltada para ao apego aos pais e demais pessoas que se tornaram-se fundamentais, dessa forma, a autoconsciência é construída em torno dos familiares e se estabelecem no segundo ano. Posteriormente, os interesses por outras crianças aumentam (OLIVEIRA, 2014). Segunda infância (3 a 6 anos): as forças e as habilidades motoras, nessa fase são simples e ao mesmo tempo complexas. Enquanto a compressão do ponto de vista do outro aumenta gradualmente, o comportamento perdura em grande parte egocêntrico e a família permanece no centro da vida. Nessa etapa a independência, o autocontrole e o autocuidado aumentam (OLIVEIRA, 2014). Terceira infância (6 a 12 anos): o crescimento da aptidão física não é tão intenso quanto no período anterior, mas o ganho da capacidade física aumenta e melhora. O egocentrismo diminui, e de acordo com isso o pensamento se organiza de maneira mais lógica, embora ainda seja principalmente concreto. As habilidades de memória e linguagem são aperfeiçoadas (OLIVEIRA, 2014). 9 Adolescência (12 a 20 anos): a maturidade reprodutiva foi alcançada nesta etapa. O pensamento abstrato e a capacidade de usar o pensamento cientificamente são desenvolvidos. Neste passo a busca da identidade constitui um fator original que justifica a vida em grupos iguais, conforme a adoção de modelos e comportamentos padronizados, que facilitem caminhos de identificação (OLIVEIRA, 2014). Qual é a contribuição desse traço de desenvolvimento humano? Em primeiro lugar, os pressupostos científicos permitem a integração (e disseminação global) das crianças e da adolescência como representações culturais para definir contextos sociais. Grupos sociais específicos e períodos da vida, expressos em seus próprios traços identitários, no contexto de diferentes seres que, direta ou indiretamente, afirmam estar associados aos adultos (OLIVEIRA, 2014). Por outro lado, ser fixado como criança e adolescente representa generalização, condições de vulnerabilidade intergeracional, no sentido de tê-los como sujeitos de fragilidades a eventos externos que podem produzir prejuízos biopsicossociais associados a trajetória do desenvolvimento humano, e écomplementada por a "dependência natural" dos adultos que é um elemento intrínseco do processo inicial da vida, e indicam que os grupos intergeracionais estão em risco coletivo a um grau de privilégio, o que exigiu e, ao mesmo tempo a legitimação da institucionalização do tratamento estatal partir da criação e/ou modificação de aparelhos comunitários, como escolas e famílias, além de garantir que tenham atenção legal e especial para prevenir múltiplas formas de violência e promover condições globais que melhorem a qualidade de vida (OLIVEIRA, 2014). Concomitante, do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento, fica evidente a correlação entre tempo e marcadores de atributos de crianças e adolescentes e marcadores legais de traços da criança/adolescência, tanto em relação ao momento final, quando as crianças começam a ser consideradas adultas, portanto, a ideia de incapacidade civil, como tradução jurídica de imaturidade e o desenvolvimento infantil como construído pela psicologia, as exigências inerentes à cidadania infantil, por (suposta) imaturidade biopsicossocial ou racional, têm Limitado seu potencial para exercer seus direitos, da mesma maneira em que eles são tratados pelo Estado de forma diferente dos adultos (OLIVEIRA, 2014). 10 A identidade e o foco sociojurídico permitem a criação e a circulação da ideologia do modelo ideal de criança e adolescente citada nos critérios de avaliação, dessa maneira, o eurocentrismo justifica a homogeneização representacional e a negligência e a supressão de valores diferenciais que são considerados a viés, como os encontrados nas aulas populares entre os povos etnicamente e culturalmente diversos, permitindo a entrada no campo jurídico, sociais e políticos ocidentais dos marcadores morais hierárquicos superior, e comprova ( e ainda justificam) a exclusão social e tentativas de forçar ou padronizar voluntariamente a infância e a adolescência (OLIVEIRA, 2014). A adequação do indivíduo em progresso, pela lógica da psicologia do desenvolvimento, revelando a construção social norteadora do desenvolvimento humano, mostra que o ser humano leva a entender a possibilidade dessa pessoa, que tem efeitos e sinais positivos com marcadores identitários e vulnerabilidades, dessa maneira existir nas categorias intergeracionais das sociedades ocidentais, e a construção simbólica negativa, difundida "infância/adolescência civilizada", não pretendia equiparar diversidade com crianças e adolescentes, em vez disso, são medidos e classificados de acordo com um único parâmetro ideal, ou idealizados como regulações universais que escondem novas desigualdades ao tratá-los de acordo com padrão universal que hierarquiza e discrimina a pluralidade de modos de representações e de socialização da infância/adolescência existentes no mundo (OLIVEIRA, 2014). 3 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA A primeira infância é uma etapa muito importante e deve ser tratada como tal, pois é a base do desenvolvimento global do indivíduo. A curiosidade é essencial para as crianças, o que as mantém em busca de respostas. À medida que desenvolvem as habilidades linguísticas, passam a se expressar de outras formas e, nesse momento, habilidades físicas, emocional e social são uma coisa só e propiciam o desenvolvimento cognitivo, portanto, os espaços escolares devem fornecer condições, meios e oportunidades para que as crianças usem seus conhecimentos anteriores e constroem novos aprendizados (GOMES, et al., 2018). 11 As crianças aprendem por meio de desafios em um ambiente envolvente, dinâmico e organizado. Quando desafiadas, adquirem novas formas de pensar, estimulam a imaginação, a sensibilidade e constroem o conhecimento. O convívio com outras pessoas é outra questão primordial, pois proporcionará aprendizado sobre diversidade e interação social. Podemos observar quatro áreas do desenvolvimento de uma criança, que são: físico, cognitivo, emocional e social. Essas áreas requerem ajustes e necessidades e carecem de desenvolver em proporções iguais. Henri Wallon (1942 apud GOMES, et al., 2018) afirma que: O ser humano é organicamente social. Isso porque está na força da emotividade humana e em seu caráter contagioso e epidêmico as condições para que seja mediada pela cultura, interpretada pelo adulto e, a partir de então, do desenvolvimento cognitivo da criança (WALLON 1942, p. 37 apud GOMES, et al., 2018). O conceito de infância é a definição mais recente na história humana. As crianças não participavam da vida social até o século XII. Quando se trata desse tema, vale destacar a contribuição de Perrenoud, que acredita que cada criança é única e tem seu próprio ritmo de desenvolvimento e aprendizado. Para garantir que as crianças se desenvolvam de forma saudável, além de seu desenvolvimento físico e fisiológico, é preciso atentar para sua interação e integração dentro e fora do ambiente escolar, apesar da infância ser relativamente nova. As crianças expostas à cultura começam a interpretar o mundo e a vê-lo de forma diferente. A cultura molda as experiências e o trabalho das crianças e as tentativas transculturais de estudar o processo pelo qual essas influências ocorrem (GOMES, et al., 2018). Segundo Gomes et al., (2018) a cultura também desempenha um papel socioemocional, incentivando e desencorajando certos comportamentos nas crianças. O empoderamento cultural pode melhorar a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, bem como sua saúde física e mental. Para Perrenoud, é fundamental garantir que todos os alunos sejam expostos e aclimatados a essa cultura e dela se apropriem, é imprescindível. Pois, para uma criança que é exposta a uma cultura desde cedo, ela aprende conceitos que vivenciará na vida adulta. Diante da situação acima é mencionado, Perrenoud (1999) evidencia que: Os alunos, numa mesma classe, vivenciam a mesma história de formação, sendo aparentemente idênticas. Constroem-se as experiências subjetivas, diferenciadas nas várias situações, os seus meios intelectuais, o seu capital 12 cultural, os seus interesses, os seus projetos, as suas atitudes, as suas energias, as suas estratégias e os seus desafios do momento (PERRENOUD 1999, p. 115 apud GOMES, et al., 2018). Sobre os problemas a serem resolvidos na infância: o corpo e a arte vão muito além da observação do conceito de infância e além do social, de consumo, distorcido e cheio de fantasia, que atingem em cheio os relacionamentos entre adultos e crianças. As relações entre pais e filhos, professores e alunos hoje, moldam os adultos de amanhã, imersos nas impressões da infância. A infância é, de fato, uma fase delicada na vida humana (GOMES, et al., 2018). 3.1 Desenvolvimento biopsicossocial de crianças de 0 a 2 anos Se há um período do crescimento em que notamos mudanças rápidas, é a primeira infância, que corresponde ao período 0 a 2 anos. Por exemplo, se você já teve a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de um familiar, amigo ou filho de um vizinho, verá como é incrível. Este desenvolvimento, não é apenas uma impressão. O crescimento nos dois primeiros anos foi expressivo, nesse processo evolutivo, existem fatores biológicos, físicos e psíquicos. (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2004, p. 55 apud LIMA, 2014): Desde o momento da concepção, como qualquer outro ser vivo, o organismo humano tem uma "lógica biológica", que é a organização de calendários maturativos. Por outro lado, como nosso organismo biológico é a infraestrutura na qual nossos processos mentais se baseiam, a psicologia e a evolução sendo inseparáveis da consideração de desenvolvimento físico, que continuam a abrir possibilidades evolutivas e impor limites às mudanças que podem ocorrer a qualquer momento, (LIMA, 2014). Assim, observamos que a maturação envolve processos complexos e interligados, do ponto de vista biológico e físico,elementos internos e externos, são socialmente construídos. Para que esse desenvolvimento ocorra de forma saudável, o cuidado nutricional (começando pela forma, como a mãe se alimenta e no momento em que amamenta) é de fundamental importância. 13 Fonte: bit.ly/3zsY5MO. (O aleitamento materno não é apenas fonte de nutrientes para o bebê, mas também é uma importante forma de desenvolver o vínculo afetivo). Para Lima (2014), a primeira fonte de nutrição de um bebê é a amamentação. Comer é um ato físico e emocional, o contato físico desenvolve o vínculo emocional entre mãe e filho. Fonte: euapoioleitematerno.com 14 Pode-se observar que o leite materno previne inúmeras doenças, protege o bebê de infecções e proporciona benefícios biológicos, cognitivos e psicológicos incentivando o estímulo da conexão do vínculo afetivo. Também vale a pena discutir a relação entre o cérebro e os reflexos apresentados pelo recém-nascido, como uma noz gigante enrugada, é a maior parte do encéfalo, e é dividido em duas metades, o hemisfério esquerdo e direito, cada um com funções especializadas, (LIMA, 2014). O hemisfério esquerdo é o centro da linguagem e do pensamento lógico. O hemisfério direito processa informações visuais e espaciais, possibilitando ao acesso aos mapas ou desenhos. Quando se conecta os dois hemisférios perceptível uma faixa rígida de tecido chamada corpo caloso. Em uma vista lateral da metade do cérebro humano, o corpo caloso parece uma seção transversal da coroa do cogumelo. O corpo caloso age como um interruptor de fibra óptica gigante que conecta os hemisférios cerebrais, permitindo que ambas as partes compartilhem informações e coordenem comandos. Cresce dramaticamente durante a infância, atingindo o tamanho adulto por volta dos dez anos (MARTORELL, 2014). Fonte: bit.ly/3zw12ft - O cérebro humano Considerando algumas das principais partes e suas funções especificadas em Martorell (2014) ilustrada na figura acima, é importante destacar que, devido à sua plasticidade, a estrutura do cérebro está em constante mudança através da experiência do indivíduo com o ambiente, levando a um efeito de curto e a longo prazo, 15 dependendo de como essas informações podem ser aprendidas e armazenadas. Já outras funções cerebrais, envolvem habilidades sensoriais. Essas áreas, responsáveis por esse desenvolvimento, crescem rapidamente nos primeiros meses, favorecendo os sentidos do tato, visão, olfato e paladar possibilitando aos bebês a percepção do mundo ao seu redor. Desde o nascimento, é possível ver, ouvir, sentir o toque, reconhecer sabores, cheiros e realizar movimentos, embora esses órgãos tenham um longo período de desenvolvimento antes de amadurecerem completamente, ou seja, até a maturação completa. Em relação a outras habilidades, este tempo é menor porque o sistema de percepção atinge nível muito próximo do nível adulto, (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2004 apud LIMA, 2014). De acordo com Lima (2014), por volta dos 9 meses, o feto compartilha emoções com a mãe e, ao nascer, começa a perceber o mundo ao seu redor, trazendo essas experiências e vivenciando novas. O desenvolvimento social das crianças de 0 a 2 anos é relativamente padronizado, como mostra a figura abaixo: Fonte: bit.ly/3zw12ft O desenvolvimento psicossocial dos bebês revela até que ponto eles percebem e interagem com seu ambiente, e essas experiências terão o impacto no comportamento subsequente que requer uma observação cuidadosa e sensível de cada estágio do desenvolvimento da criança. No que se refere à interação social no ambiente escolar ao ingressar na creche, é preciso ter uma perspectiva integrada 16 sobre o cuidado das crianças, promovendo situações que respeitem a individualidade e a diversidade, a capacidade de desenvolver e ampliar seu autoconhecimento e consciência do mundo ao seu redor. Portanto, cabe ao espaço educacional planejar atividades, organizar o ambiente e o tempo para estimular os processos de desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e social das crianças (LIMA, 2014). 3.2 O desenvolvimento biopsicossocial na faixa etária de 3 a 6 anos de idade Durante os dois primeiros anos de vida, ocorrem significativamente as mais diversas alterações biológicas, psicológicas, sociais, motoras e cognitivas das crianças. Entre os 3 e os 6 anos, passamos por um período marcado pela aquisição de novas competências enquanto outras melhoram. Segundo Papalia e Feldman, nesta nova fase, podemos observar claramente mudanças físicas e biológicas nas seguintes áreas (LIMA, 2017). Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 246 apud LIMA, 2017) as crianças crescem rapidamente entre os 3 e 6 anos de idade, mas num ritmo diferente. Com aproximadamente 3 anos, as crianças normalmente começam a perder a forma roliça característica dos bebês e assumem a aparência mais esguia e atlética da infância. À medida que os músculos abdominais se desenvolvem, a barriga grande da criança entre 1 e 3 anos se fortalece. O tronco, os braços e as pernas ficam mais longos. A cabeça ainda é relativamente grande, mas as outras partes do corpo continuam a se amoldar à medida que as proporções corporais se tornam gradualmente mais similares às de um adulto. Além das características de crescimento destacadas acima, outras biotransformações ocorrem por meio do desenvolvimento muscular e esquelético e fortalecimento dessas estruturas. O cérebro torna-se mais maduro, expandindo as capacidades neurológicas, respiratórias, imunológicas, circulatórias e motoras. Dos 3 aos 6 anos, a área do cérebro que mais cresce é o lobo frontal, responsável pelo planejamento e organização das ações. (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). Quanto ao desenvolvimento social, a criança deve encontrar no ambiente familiar e no espaço educacional, uma estrutura que atenda, ambas as necessidades. A organização espaço-temporal na educação infantil deve ser considerada a partir da indissociabilidade do cuidado e do comportamento educativo (LIMA, 2017). Segundo (FRISON, 2008, p. 169 apud LIMA, 2017) os espaços são concebidos como componentes ativos do processo educacional e neles são refletidas as concepções de educação assumidas pelo educador e pela 17 escola. É importante que a sala de aula seja um lugar motivador, em que se acolham as diferentes formas de ser e agir, contempladas nos projetos de trabalho, nos quais as crianças vivenciam experiências e descobertas. [...] O espalho físico pode ser transformado em espaço educativo dependendo da atividade que nele acontece. Portanto, observamos a partir do segmento anterior que, além de recursos, é importante que esses espaços sejam repletos de experiências que promovam uma convivência respeitando a diversidade e a individualidade, pautando o objetivo de construir conhecimento. Cada criança faz uma atividade com uma variedade de materiais para exercitar sua criatividade (LIMA, 2017). É importante ressaltar que os profissionais da educação, entendam que as crianças têm o direito de escolha e liberdade e, o mais importante, entendem que organizar espaços mais que apenas equipamentos, um ambiente com uma variedade de brinquedos, mas também com flexibilidade e respeito às escolhas feitas - dando às crianças a oportunidade de se empoderarem como: falar, notar e expressar seus sentimentos (MACHADO, 2004 apud LIMA, 2017). Veja a figura abaixo: Fonte: bit.ly/3zw12ft O desenvolvimento cognitivo de crianças na segunda infância tem sido tema de muitos pesquisadores e psicólogos. Uma importante contribuição para essa etapa foi dada pela pesquisa de Jean Piaget, que dividiu o desenvolvimento infantil em várias etapas. O estágio que engloba o pré-operatório, inclui as seguintes etapas de desenvolvimento: a capacidade de pensar simbolicamente que é expandida, mas a 18 criança ainda não está suficientementedesenvolvida para usar a lógica para operar, (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). Para identificar os avanços cognitivos referentes à faixa etária de 3 a 6 anos, repare os quadros a seguir, adaptados de Papalia e Feldman (2013, p. 259 apud LIMA, 2017). Fonte: bit.ly/3zw12ft (tabela 1) 19 Fonte: bit.ly/3zw12ft (tabela 2) Fonte: bit.ly/3zw12ft (tabela 2) 20 Como pode ser visto, na tabela 1, explica os avanços cognitivos, uma descrição de como eles ocorrem e exemplos que os ilustram. Na tabela 2, vemos limitações, descrições e exemplos da imaturidade pré-operatória de Piaget para compreender o desenvolvimento da causalidade, identidade, taxonomia e estudos numéricos. Em relação ao desenvolvimento da memória na faixa etária de 3 a 6 anos, durante a segunda infância, as habilidades de atenção e processamento de informações das crianças melhoram e elas começam a adquirir a capacidade de formar memórias de longo prazo (LIMA, 2017). Embora as crianças mais novas tenham menos memória do que as crianças mais velhas, elas podem se concentrar nos detalhes precisos dos eventos, enquanto os adultos tendem a se concentrar mais na essência dos eventos. Por terem menos experiência do que os adultos nessa fase, as crianças conseguem perceber aspectos relevantes, que ajudam a reativar essas lembranças posteriormente (LIMA, 2017). 3.3 Desenvolvimento biopsicossocial e cognitivo na 3ª infância (7-11 anos) Se você já percorreu um espaço social educacional coletivo que reúne crianças do ensino fundamental, verá quantas diferenças físicas, biológicas e sociais existem. Alguns são mais altos, outros mais magros, extrovertidos ou introspectivos; a lista continua marcando um importante período de desenvolvimento, incluindo as idades de 7 a 11 anos. Para determinar as mudanças no desenvolvimento físico durante este período, veja a tabela abaixo (MCDOWELL apud PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). Fonte: bit.ly/3zw12ft. 21 Como pode-se observar na tabela acima, ao final desse período, as crianças tinham cerca de duas vezes o seu peso. Quanto ao desenvolvimento do cérebro, isso é alcançado através da genética e questões ambientais (Papalia; Feldman, 2013 apud LIMA, 2017). Durante a infância, as regiões do cérebro se especializam em tarefas específicas, aumentando a velocidade e a eficiência e expandindo a capacidade de descartar informações irrelevantes (AMSO; CASEY, 2006 apud MARTORELL, 2014 apud LIMA, 2017). Em relação às alterações na espessura cortical, Toga et al. (apud Papalia, 2006; Feldman, 2013, p. 318 apud LIMA, 2017) afirma que os pesquisadores observaram espessamento cortical nas regiões temporal e frontal entre as idades de 5 e 11 anos. Ao mesmo tempo, houve um afinamento da parte posterior do córtex frontal e parietal no hemisfério esquerdo do cérebro. Essa mudança foi associada a um melhor desempenho na parte de vocabulário do teste de inteligência. Além das transições descritas acima, uma porção dos gânglios da base também é responsável por controlar o movimento e o tônus muscular, além de regular a função cognitiva emocional superior, a atenção e o estado emocional. (LENROOT; GIEDD, 2006 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). Nesse contexto, também é importante ressaltar, sobre algumas questões relacionadas à saúde, condição física e segurança das crianças de 7 a 11 anos. Por exemplo, como mostra a figura abaixo, a obesidade é um dos problemas mais visto no mundo da saúde, crianças com excesso de peso são propensas a doenças crônicas. Por outro lado, questões que envolvem as imagens corporais podem levar as crianças a tentarem perder peso e desenvolver distúrbios alimentares inadequadamente, especialmente à medida que se aproximam da puberdade, ou seja, período da adolescência (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). 22 Fonte: bit.ly/3zw12ft - cuidados com a saúde. Como causas da obesidade, podemos citar fatores genéticos, combinados com pouco exercício, excesso de alimentação e/ou inadequação de alimentos. As crianças que têm pais ou outros parentes, têm uma tendência maior a estar acima do peso. (AAP COMMITTEE ON NUTRITION, 2003; CHEN et al., 2004 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). Comer fora de casa também é uma das principais causas da obesidade. (COUNCIL ON SPORTS MEDICINE AND FITNESS & COUNCIL ON SCHOOL HEALTH, 2006 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA; 2017). Estima-se que as crianças que comem fora de casa tenham o hábito de comer lanches ricos em gordura, carboidratos, açúcar e aditivos. (BOWMAN et al., 2004 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). A obesidade infantil é uma preocupação porque os efeitos na saúde das crianças são semelhantes aos dos adultos. Há consequências significativas, como problemas comportamentais, físicos, depressivos e problemas relacionados à baixa autoestima. (AAP COMMITTEE ON NUTRITION, 2003; DATAR; STURM, 2004a; MUSTILLO et al., 2003 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). Com tantos riscos para a saúde física e mental, o recomendado é evitar o ganho de peso, sendo a forma mais eficaz (CENTER FOR WEIGHT AND HEALTH, 2001; COUNCIL ON SPORTS MEDICINE AND FITNESS AND COUNCIL ON SCHOOL HEALTH, 2006 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). Os pais são responsáveis por compreenderem os hábitos e atividades alimentares de seus filhos, conscientizando-os da relevância de uma alimentação balanceada 23 e vinculando essas questões à saúde, muito além das questões e padrões estéticos construído pela sociedade. Idealizado por Jean Piaget, psicólogo dedicado ao estudo do desenvolvimento infantil, com cerca de 7 anos, chega-se a um terceiro estágio, chamado de operatório- concreto, que envolve a capacidade de realizar manipulações mentais para resolver problemas. Nesta fase, as crianças adquirem a capacidade de pensar logicamente, levando em consideração diferentes aspectos dos fatos. Veja a figura a seguir (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 320 apud LIMA, 2017). - Avanços em capacidades cognitivas selecionadas durante a terceira infância: Fonte: bit.ly/3zw12ft. 24 Conforme mostrado na figura acima, as crianças no estágio operacional concreto têm habilidades aprimoradas em conceitos espaciais, casualidade, categorização, raciocínio indutivo e redutivo, conservação e números. Outras teorias propostas por Piaget envolvem a influência do neurodesenvolvimento, cultura e escolaridade. Piaget acredita que o raciocínio flexível e lógico das crianças mais velhas está relacionado ao neurodesenvolvimento e à experiência ambiental. Segundo Piaget, a transição do pensamento rígido e ilógico das crianças pequenas para o pensamento flexível e lógico das crianças maiores depende, em simultâneo, do desenvolvimento neurológico e das experiências de adaptação ao ambiente. As crianças tendem a pensar mais logicamente sobre as coisas sobre as quais elas têm algum conhecimento (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud LIMA, 2017). 4 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Para uma compreensão mais ampla de como as crianças aprendem, vale a pena olhar para Piaget (1974, p.16 apud SILVEIRA, 2013), que argumenta a cognição como uma forma específica de adaptação biológica de um organismo complexo a um ambiente complexo. Ao construir sua teoria do desenvolvimento cognitivo, Piaget olhou diretamente para as crianças como sua fonte original mais próxima à realidade vivenciada por ele. Para tanto, concentrou-se em diversos ramos da ciência, observando que os sistemas cognitivos selecionam e interpretam ativamente as informações ambientais à medida que constroem seu próprio conhecimento. Neste contexto, o pensador 25 entende que a mente sempre reconstrói e reinterpreta o ambiente para se adequar à sua estrutura mental existente. Estágios de desenvolvimento cognitivo: Através de uma investigaçãominuciosa, Jean Piaget a conduziu inicialmente com seus próprios filhos, argumentando que "a inteligência, como o nome sugere, é a adaptação a situações ao novo e a construção contínua de estruturas. ” Esta é uma das muitas atividades em que um organismo interage com seu ambiente, em que a inteligência continua a expandir o seu nível de equilíbrio entre as trocas assimiladoras e acumuladoras. (PIAGET In: BERINGUIER, p. 61 (45); SEBER, 1997, p.79 apud SILVEIRA, 2013). Neste contexto, o desenvolvimento cognitivo é pensado como um processo contínuo de construção e reconstrução que ocorre sequencialmente a partir das ações mentais. Assim, novos dados podem ser integrados em esquemas existentes ao longo do processo de desenvolvimento. Segundo Piaget (s.d), [...] A acomodação é determinada pelo objeto, enquanto a assimilação é determinada pelo indivíduo. Então, assim como não há acomodação sem assimilação, já que é sempre a acomodação de alguma coisa que é assimilada [...] de igual modo não pode haver assimilação sem acomodação. Porque na adaptação você tem sempre dois polos: você tem um polo do indivíduo e o polo do objeto – acomodação [...] (PIAGET In: BERINGUIER, p. 61 (45); SEBER, 1997, p.79 apud SILVEIRA, 2013). Nessa compreensão, a partir desse ciclo de desenvolvimento cognitivo, incluindo adaptação, assimilação e equilíbrio constante, para entender o problema do conhecimento, Piaget estabeleceu conexões entre a biologia e a evolução do conhecimento através de processos funcionais, e percebeu que a assimilação era feita de maneira fisiológica (centrada no organismo) e a racional (que se revela no julgamento). Assim, segundo Seber (1997, p. 54 apud SILVEIRA, 2013), pode-se entender que "a adaptação cognitiva, também se refere ao equilíbrio da comunicação entre a criança e o mundo exterior, entre a assimilação e acomodação”. Todo o processo de desenvolvimento de acomodação assimilação e equilíbrio (equlibração, de acordo com Piaget), ocorre em diferentes estágios em crianças de diversas idades e qualidades. O desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo, sem interrupção, por etapas, o desenvolvimento cognitivo, então, é um processo 26 contínuo, sem pausas, passando por etapas, e a criança passa por todas elas, mas isso não significa que todas sejam iguais, a maneira como a criança se desenvolve acontece de acordo com seu tempo e modo. Conforme Moro (1987, p. 20 apud SILVEIRA, 2013), a proposta de Piaget era que "as construções estruturais da inteligência humana passam a ser universais" e seguem sempre a mesma ordem em que aparecem. No entanto, a idade real das crianças que se referem às manifestações dessas estruturas varia por disciplina e por grupo. De acordo com Piaget (1963 apud SILVEIRA, 2013), as etapas são: sensório- motora, pré-operatória, operações concretas e operações formais. A seguir, vamos nos concentrar brevemente cada um desses. Estágio sensório motor (0-2 Anos) O estágio sensório-motor é o estágio que inclui a inteligência real de bebês desde o recém-nascido até os dois anos de idade, com base nas sensações e nos movimentos executados. Durante esse período, o mundo do bebê é aquele em que ele interage vendo, ouvindo e sentindo. Até os oito meses, as crianças interagem por meio de uma série de imagens desconexas. Uma vez que a criança perde o contato com qualquer coisa, ela deixa de existir. É como se o mundo não fosse feito de objetos. A partir dos 8 meses, os bebês adquirem o conceito de que os objetos estão permanentemente presentes e continuam existindo apesar de não estarem mais em contato com eles mesmos (SILVEIRA, 2013). Gradualmente, os bebês nesta fase, tornam-se capazes de agir de forma consciente e cada vez mais coordenada para atingir o propósito pretendido. Como exemplo, citamos a forma como os bebês desenvolvem a aquisição de objetos, para os quais eles não apenas usam seus próprios corpos como antes, mas agora usam outros objetos para atingir seus objetivos. No final desta etapa, emergem as habilidades sensório-motoras, de representação mentais e simbólicas, começa a conhecer objetos e suas relações entre esses objetos. Assim, a inteligência centrada na ação dá lugar a pensamentos que internalizam a ação (SILVEIRA, 2013). 27 Estágio pré-operatório (2-7 Anos) Esta fase, dos 2 aos 7 anos é a fase pré-operatória, quando a criança desenvolve a capacidade de expressar mentalmente e simbolizar, assim chamada de função simbólica. Essa é a etapa do egocentrismo intelectual, quando a criança acredita que o mundo lhe pertence, e acaba não percebendo a forma do outro ver as coisas, ou seja, seu próprio ponto de vista, para ela todos pensam e sentem da mesma forma. Durante a fase do animismo, acontece algo que faz com que o egocentrismo se estenda para outros objetos e seres vivos. Durante esse período, as crianças já lhe atribuem as intenções, pensamentos, emoções e ações de cada pessoa, (SILVEIRA, 2013). O pensamento mágico de que a realidade para a criança são seus sonhos e desejos, acontece durante o estágio pré-operatório, pois, ainda estão interpretando tudo a partir de sua imaginação sem levar em conta a lógica. Nesse período, a criança está mais interessada no resultado real, vendo suas próprias percepções como verdade absoluta, independentemente da possível existência de outros pontos de vista. Desta forma, acaba valorizando suas percepções subjetivas, e despreza as relações objetivas, não percebendo a diferença entre mudanças reais e aparentes, e reagindo em sua percepção, acreditando que a aparência é real. Para maior clareza, mostramos um experimento de Piaget com crianças (1963 apud SILVEIRA, 2013) São apresentados à criança dois copos iguais com a mesma quantidade de água. À sua frente, verte-se a água de um copo deles para um copo, alto e fino. A criança afirma que agora este copo alto e fino tem mais água do que o outro. Não compreende que a quantidade de água permanece a mesma, independentemente do recipiente em que é colocada. Ou seja, responde com base na aparência (como o segundo copo parece maior, porque é mais alto, a criança pensa que tem mais água) (PIAGET: 1963-Estagios apud SILVEIRA, 2013). Nesta fase de desenvolvimento, a criança não alcança as operações mentais, ou seja, não conseguem executá-las. No exemplo acima, ela não percebe que há algo que não muda do primeiro copo de água para o segundo (que é alto e fino), a quantidade de água permanece sempre a mesma. Naquele momento, ela também não percebeu que a mudança na aparência é sempre reversível quando a água passa 28 do copo baixo para o copo alto. Então, pode, logo após, colocar a água do copo alto e fino no copo mais baixo, (SILVEIRA, 2013). Estágio das operações concretas (7-11/12 anos) Neste momento, quando a criança atinge o estágio de operações concretas e pensamento lógico, em princípio, ela já possui a capacidade de realizar operações mentais. Durante seu desenvolvimento cognitivo, ele aprendeu que existem ações reversíveis, ou seja, pode perceber que é possível mudar o estado de um, mas não trocá-lo inteiramente. Além disso, a criança vai descobrindo que, após reverter essa alteração, o objeto retorna ao seu estado inicial. Primeiro, a criança precisa realizar a ação de maneira física e só depois adquire a capacidade de combinar experimentos, e por fim, conseguira alcançar a capacidade de incorporar experimentações em seu pensamento, (SILVEIRA, 2013). O que leva à evolução do pensamento pela internalização do que foi obtido pela ação, transformando em operações. Essas ações são combinadas em várias formas de pensar, com capacidade de reversão, pois essas combinações são móveis e reversíveis, para esse processo, conforme o Seber (1997, p.164 apud SILVEIRA, 2013) apresenta o que Piaget chama de operações e as definem em termos de trêsaspectos inter-relacionados: Interiorizadas, pois quando executadas fisicamente não deixam de ser ações pensadas; reversíveis, se desenrolam nos dois sentidos, ou seja, comportam a possibilidade de ação direta, assim como a adição tem seu inverso na subtração; coordenadas umas com as outras, isto é, formam sistemas de conjunto, apresentam propriedades combinatórias que atingem todo o conjunto. “E que, [...] é preciso tempo para interiorizar as ações em pensamento, porque é muito mais difícil representar o desenrolar da ação e dos seus resultados em termos de pensamento do que limitar-se a execução material [...] A interiorização das ações supõe, assim a sua reconstrução sobre um novo plano...[...] (PIAGET, p.39 Apud SEBER, 1997, p.164 apud SILVEIRA, 2013). Durante o estágio de pensamento lógico, as crianças entendem conceitos, o que significa que as características não mudam com os objetos, eles existem fora deles. Esses instrumentos podem ser usados de muitas outras formas em novas situações, diferentemente da associação apresentada inicialmente. Se a experiência acima for dada a uma criança em um estágio operacional concreto, ela será capaz de perceber a água é uma propriedade que não varia de acordo com o copo em que é 29 colocada. Sua percepção não é mais direta, ele começa a entender a existência de características preservadas, qualquer que seja sua aparência, (SILVEIRA, 2013). Dessa forma, no processo de desenvolvimento cognitivo, as crianças ganham o conhecimento de matéria sólida, ou mais tarde matéria líquida, este exemplo citado acima foi realizado por Piaget e as crianças, da constância e conservação da qualidade de água, depois o peso e, finalmente, o volume. Assim, as existências de conceitos fazem com que as crianças entendam, por haver, uma relação que faz parte do todo, permitindo que os objetos sejam categorizados e agrupados de acordo com alguma característica comum, abstraindo suas diferenças, (SILVEIRA, 2013). Para Silveira (2013), em relação às séries, ou seja, ordenar objetos de acordo com características específicas, mas em graus variados, as crianças abstraem aqui semelhanças e ainda percebem a conservação dos números, significando classificação e ordenação harmonizadas. Todo o processo de desenvolvimento cognitivo é gradual. Além da internalização, também requer uma nova reorganização para formar uma organização relacionada a cognição, portanto, a organização cognitiva permite que a criança coordene as operações no sentido da reversibilidade, que segundo Piaget é o mecanismo do raciocínio operacional, que se manifesta nas crianças de 7 a 8 anos, sendo a expressão das ações em operações. Contudo, processo é lento, conforme o que afirma Seber: [...] sem uma efetividade material, são diminutas as chances de combinações interiores e, consequentemente, a inteligência verbal ou refletida pode acrescentar um desenvolvimento mais lento. Se as interiorizações já são demoradas, mesmo sendo estimuladas as atividades práticas, bem mais vagarosa serão no caso de crianças submetidas a procedimentos verbalistas e aos treinos característicos dos manuais de ensino comumente encontrados na grande maioria das escolas (SEBER; 1997, p.164 apud SILVEIRA; 2013). Nessa perspectiva, podemos perceber que, na maioria das vezes, as escolas seguem essa forma de linguagem, enquanto as crianças que sempre sofreram, limitadas a copiar, 'lembrar', ainda vivem em estresse e medo. Além de não aprender e se conter a passar de ano em ano, não recebendo o estímulo necessário para despertar sua sabedoria, Seber enfatizou a partir de sua experiência escolar: [...] percebemos que essa irreversibilidade é comumente registrada nas crianças submetidas a treinos verbalistas. Em vez de aprender agindo sobre objetos materiais, elas são colocadas como ouvintes e, assim, muitos ouvem, porém pouco aprendem, visto que não entenderam o que lhes é imposto. [...] é certo que, submetidas aos condicionamentos e às pressões externas, quando chegam as provas, acabam dando aquelas respostas que seus 30 professores as condicionaram a dar e que elas decoraram de tanto repetir, de modo que passam de ano (SEBER; 1997, p.169 apud SILVEIRA; 2013). Vale notar que na escola observada surge esse sistema irreversível de raciocínio, pois as relações lógicas que só são compreensíveis na linguagem não são respeitadas se forem constituídas primeiramente por ações e sua respectiva coordenação geral. Infelizmente, este sistema é do ponto de vista pedagógico, o governo continua a perpetuar este desenvolvimento progressivo, natural e lógico imposto nos seus cargos superiores. Isso nos leva a crer que a natureza humana se desenvolve gradativamente lentamente, forjado ao custo de um enorme muro invisível que embota a genialidade que nos é própria (SILVEIRA, 2013). No entanto, em nossa breve experiência sem planejamento prévio, isso aconteceu por vários fatores, primeiramente a curiosidade e a falta de espontaneidade desde o momento da presença da professora titular que levou ao que relato aqui: Peguei uma velha mala preta, mais parecida com uma caixa, com parafusos e alças, que pertencia ao meu irmão, um piloto cuja profissão as crianças já conheciam pelas histórias que contamos. Uma coisa tão simples, mas que levou os alunos a passarem envoltos na novidade. Todos queriam abrir os ferrolhos da dita mala, de maneira abrupta, utilizando uma caneta como instrumento de alavanca, e um alvoroço, sendo necessário fazê-los dar um passo atrás e pensar nas possibilidades que já foram tentadas e nas possibilidades que ainda podem tentar. Isso permite que uma menina a acompanhe lentamente com um aceno da mãozinha, de repente, a maçaneta da fechadura foi liberada e todos começaram a repetir o mesmo gesto. (SEBER; 1997, p.169 apud SILVEIRA, 2013). Logo depois, outra menina sentada à mesa virou a alavanca que fecha a fechadura da mala em uma catapulta e jogou um pedaço de giz. Percebe-se que essas crianças têm reversibilidade na construção do desenvolvimento cognitivo, além de pensarem como seria se abrir, também atingiram um estágio de assimilação, a acomodação e equilibração, e podem dar um passo adiante na próxima fase e concluírem as novas construções, por eles mesmo, sem a nossa intervenção ou de qualquer outra pessoa adulto (SILVEIRA, 2013). Estágio das operações formais (12-16 anos) Conforme Silveira, (2013), nesta fase, a criança consegue realizar ações específicas e formais. Como os exemplos das experiências de Piaget, mostramos um problema: 31 Três pessoas A B e C estão sentadas num banco de jardim. Quantas hipóteses existem relativamente à ordem em que estão sentadas? Neste estágio, já é possível resolver este problema usando o pensamento abstrato (operação formal): consegue-se colocar mentalmente todas as hipóteses. No estádio operatório-concreto, a criança não conseguia abstrair: só seria capaz de resolver este problema se tivesse três pessoas sentadas num banco e se pudesse posicioná-las em todas as sequências possíveis. Resposta ao problema: seis hipóteses - ABC, ACB, BAC, CAB e CBA. (PIAGET, 1963 – Estágios; apud SILVEIRA, 2013). O pensamento abstrato é capaz de se desvincular da realidade e do raciocínio sem depender de fatos, não precisa manipular e mover toda a realidade para obter conclusões. O raciocínio hipotético-dedutivo coloca hipóteses e, desta forma, formulará mentalmente, todo um conjunto de possíveis explicações. Direcionado para este sentido, especificamente a esta fase, a criança compreende que existem diferentes formas de perceber a realidade e que sua percepção é apenas uma de uma grande variedade de possibilidades (SILVEIRA, 2013). Portanto, segundo Pinheiro, s.d, esse período é relacionado ao chamado adolescência, que quer dizer crescer ou se desenvolver-se de forma biológica, e marca o início da puberdade e o términoda capacidade reprodutiva. O emocional que estabelece o começo da individuação em relação aos pais e o fim do desenvolvimento de senso de identidade, e por fim, o cognitivo que introduz o início da emergência das operações formais e o final da consolidação das operações formais até a maturidade (PINHEIRO, s.d,). Por muitos séculos, o termo adolescência foi caracterizado quase inteiramente por expressões de seus aspectos biológicos. Juventude e a puberdade são sinônimos. Hoje, no entanto, a juventude não é mais um conceito puramente biológico, mas antes de tudo tem conotações psicossociais. Portanto, foi definida em termos sociológicos, psicológicos e cronológicos. Cronologicamente, pelo menos na cultura ocidental, a juventude é o período da vida humana, desde os doze ou treze anos até cerca dos vinte e dois ou vinte e quatro anos, permitindo uma variação considerável. Tanto de forma pessoal/individual e, principalmente, de ordem cultural, (PINHEIRO, s.d,). Sociologicamente falando, a adolescência é o estado de ser dependente de seu mundo maior sob condições autônomas e, mais importante, neste estado, os indivíduos começam a assumir certos papéis e responsabilidades que são exclusivos do mundo adulto. Do ponto de vista psicológico, a adolescência é um período crítico 32 na determinação da identidade de um indivíduo. Sujeita a consequências que podem ser graves, conforme as repercussões para o indivíduo e a sociedade. Vale destacar a discrepância entre os termos puberdade, pubescência e adolescência. A puberdade é a fase do estágio evolutivo em que um indivíduo atinge a maturidade sexual. A data exata da maturidade sexual humana, varia com base em fatores socioeconômicos e geográficos. Por exemplo, pessoas que vivem em climas temperados e classes sociais mais altas tendem a experimentar a maturidade sexual mais cedo. Em regiões tropicais, também influenciadas por fatores nutricionais, essa maturidade sexual tende a ocorrer um pouco mais tarde (PINHEIRO, s.d,). A pubescência será um período, também conhecido como pré-adolescência, identificado por mudanças biológicas associadas à maturação sexual. É o momento em que o sujeito se encontra em um período de desenvolvimento fisiológico em que a função reprodutiva amadurece, é filogenética, incluindo o aparecimento de características sexuais secundárias e a maturação dos órgãos sexuais primários. Essas transformações acontecem ao longo de um período de cerca de dois anos. A adolescência é um conceito mais extenso que inclui grandes mudanças na estrutura da personalidade e no papel que um indivíduo desempenha na sociedade. Concluindo, o conceito moderno de adolescência não deve ser confundido com a puberdade como fato biológico, nem com a puberdade como fase de transição marcada por grandes mudanças fisiológicas. A adolescência é um conceito psicossocial (PINHEIRO, s.d,). Representa um estágio chave no processo evolutivo onde os indivíduos são chamados a fazer ajustes importantes na ordem pessoal e social. Nesses ajustes, luta-se pela independência financeira e emocional, escolhas de carreira, identidade de gênero, ou seja, a escolha de uma vocação e a própria identidade sexual. Como conceito psicossocial, a juvenilidade não se limita necessariamente a fatores cronológicos. Em algumas sociedades primitivas, ela é bastante curta e termina com rituais individuais de amadurecimento, principalmente os homens que são aceitos no mundo adulto. No entanto, na maioria das culturas ocidentais, a adolescência dura mais tempo, sem dúvida, e sem o rito de passagem torna-se essa fase de transição um período obscuro da vida humana. Contudo, só se pode falar fim da juvenilidade por idade cronológica com base no contexto sociocultural pessoal. Na verdade, o que 33 marca o término da juventude é o ajuste normal do indivíduo às expectativas da sociedade sobre a população adulta (PINHEIRO, s.d,). Na perspectiva do conceito psicossocial, pode-se dizer que é um período de transição na vida humana. O jovem não é mais criança, mas ainda não é adulto. Essa ambiguidade tende a criar confusão na mente desses jovens, do tipo que não sabe exatamente qual o papel que tem na sociedade. Porém, essa confusão começa a desaparecer porque o adolescente define sua identidade psicológica. A juvenilidade é também uma época de grandes mudanças na vida humana (PINHEIRO, s.d,). Há algumas transformações de longo alcance nesta fase. O primeiro deles é um aumento nos tônus emocionais, cuja intensidade depende da rapidez com que as mudanças físicas e psicológicas ocorrem na experiência de um indivíduo. A segunda grande alteração nessa fase se deve à maturidade sexual que decorre quando os estão inseguros sobre si mesmos, suas habilidades e interesses. Os adolescentes nessa fase da vida vivenciam uma sensação de instabilidade, principalmente diante do tratamento muito ambíguo que recebem do mundo exterior. Em terceiro lugar, as transformações que acontecem em seu corpo, fora de seus interesses e funções sociais, criam problemas para eles, porque, muitas vezes não sabem o que os grupos esperam deles. Finalmente, a vida mudou significativamente, há mudanças consideráveis na vida em relação ao sistema de valores (PINHEIRO, s.d,). Muitas coisas que eram importantes para eles, passaram a ser visto como algo secundário, a capacidade intelectual do adolescente pode possibilitar analisar criticamente o sistema de valores que expõe e, até então, respondem de modo mais ou menos automático. Contudo, agora este adolescente está procurando por algo que lhe seja próprio, coisas pelas quais eles podem assumir responsabilidades pessoais. Tendo em vista, que daí então que vem a luta que o ser humano vive nessa etapa da vida, no sentido de definir seus próprios sistemas de valores, seus próprios padrões de conduta moral (PINHEIRO, s.d,). A adolescência também é uma época em que se deve lutar contra os estereótipos sociais e a autoimagem distorcida. As culturas tendem a ver como indivíduos desajeitados e irresponsáveis, propensos a várias formas de comportamento antissocial. Por sua vez, eles desenvolvem uma autoimagem que de alguma forma refletem esse estereótipo social. Essa situação ruim muitas vezes gera conflitos entre pais e filhos, entre adolescentes e escolas, e a sociedade como um 34 todo. Durante a juventude, como em outras fases da vida, devem completar tarefas evolutivas. As principais tarefas evolutivas, são as seguintes: aceitar e aproveitar o próprio corpo; desenvolver relações sociais mais adultas com parceiros de ambos os sexos; tornar-se emocional e pessoalmente independente dos pais e de outros adultos; escolher e preparar-se para uma carreira; preparar-se para noivado e casamento; desenvolvimento cívico; conquista da identidade pessoal, valores e filosofia de vida (PINHEIRO, s.d,). Do ponto de vista cognitivo, segundo Jean Piaget, os adolescentes estão no estágio das operações formais. De acordo com Piaget, o amadurecimento biológico nessa fase da vida, possibilita que ele adquira as operações formais, na qual, representam o ponto máximo do processo de desenvolvimento cognitivo. No entanto, as operações formais, não são a priori, mas dependem das interações do organismo com o meio. A obtenção de operações formais é fundamental, especialmente diante do grande progresso nas ciências naturais do nosso século. Eles também são necessários para todos os processos de ajustamento sociais dos jovens (PINHEIRO, s.d,). Dessa maneira, a capacidade de pensar formalmente não só amplia a habilidade de resolver problemas anteriormente não resolvidos, mas também torna- se o idealismo típico de sua idade. A aptidão de conceituar o mundo muitas vezes leva os jovens a questionar por que o mundo real não corresponde ao ideal subjacente (BRASIL, 2019). Características da cogniçãoformal: Enfoque em conclusões lógicas e não em informação fatual: os adolescentes tendem a abordar os problemas avaliando sua correlação com a realidade, têm o potencial de tirar conclusões lógicas das informações disponíveis, independentemente de sua conformidade com a realidade (BRASIL, 2019). Raciocínio dedutivo-hipotético: o adolescente usa seu método para tirar possíveis conclusões a partir de um conjunto de hipóteses em que há espaço para raciocínio dedutivo. Nesse raciocínio, o indivíduo primeiro estabelece uma hipótese teórica sobre as possíveis maneiras pelas quais os elementos teóricos se relacionam. Se for verdadeira, as seguintes inferências são feitas sobre as 35 observações que serão feitas na realidade. Para determinar a adequação dos pressupostos iniciais, é feita uma comparação entre as observações previstas e as observações reais da realidade. Finalmente, a perspectiva teórica da realidade é reformulada para levar em conta as diferenças entre previsões e observações reais. Os dois primeiros estágios do raciocínio dedutivo são suposições, que envolvem pensar sobre possíveis formas da realidade, então elas requerem pensamento formal. Somente no estágio final o indivíduo tem que enfrentar a realidade (BRASIL, 2019). Geração de todas as combinações potenciais e permutações de eventos: para encontrar o número (a resposta) que soma de 8 a 5 vezes o valor original, o adolescente escolherá um número por sua vez e inserirá cada número na fórmula x + 8 =? Na equação 5x=? Para verificar se as respostas são as mesmas. No entanto, o adolescente conseguiu reestruturar o problema original na fórmula x + 8 = 5x. O adolescente pode então, resolver a equação para obter a resposta. Eles não precisam de tentativa e erro para encontrar soluções para problemas (BRASIL, 2019). Consideração simultânea de mais um aspecto de uma situação e os relacionamentos entre eles: Os adolescentes examinam os eventos em sequência, em vez de explorar as relações existentes ou potenciais entre eles. Exemplo: Um adolescente observa os seguintes eventos: (1) O pai diz que quer que a família seja saudável para que todos possam desfrutar uns dos outros por muitos anos; durante um comercial de televisão mostra que fumar faz mal à saúde e uma pessoa pode morrer mais cedo do que o normal; (3) eles observam os pais fumando. Os adolescentes reagem a cada um desses eventos uma entidade separada. Prevalência do pensamento formal: depende do ambiente em que o adolescente cresce e não requer desenvolvimento cognitivo de cognição operacional formal para seu funcionamento normal. Eles podem não ser capazes de desenvolver a capacidade para esta forma de cognição. Mesmo as pessoas que o desenvolveram, provavelmente não o usarão com muita frequência. Em muitos casos, os processos cognitivos formais, são menos eficazes do que o pensamento operacional concreto. Além disso, como é o caso dos jovens, as motivações e emoções pessoais podem interferir na 36 capacidade do indivíduo de utilizar plenamente suas habilidades cognitivas formais. 4.1 Primeira fase: a descrição dos processos de desenvolvimento na adolescência Durante a primeira fase da pesquisa científica sobre a adolescência, destaca- se o livro de 1904 de G. Stanley Hall intitulado "Adolescência". Hall enfatizou a teoria biológica, baseada no desenvolvimento das espécies (filogenia) e na generalização do desenvolvimento individual (ontogênese), que definiu a adolescência como um período universal e a transição inevitável, considerando-a como um segundo nascimento. Ele também reconheceu a influência da cultura e a ênfase nas diferenças individuais dos adolescentes e suas características de plasticidade (maleabilidade), consideradas inovadoras e provocativas na época, e precursora da teoria contextualista contemporânea (Arnett, 1999). O segundo grupo, de teorias baseadas nos pressupostos psicanalíticos de Sigmund Freud (1856-1939 apud SENNA, 2012), não via a adolescência como uma fase distinta do desenvolvimento, embora a considerasse crucial. Essa visão afirma que o homem é dotado de um conjunto de impulsos biológicos fundamentais que determinam o surgimento de alguns aspectos da sexualidade humana em cada fase do ciclo de vida. Assim, durante a adolescência, a reativação ocorre na forma de maturidade e genitália, a partir dos vários impulsos sexuais e agressivos que as crianças experimentam durante os estágios iniciais de seu desenvolvimento (oral, anal e edípica). A intelectualização é um mecanismo de defesa que os adolescentes empregam em resposta à resistência emocional, levando-os a deslocar seus interesses de questões físicas concretas para outras mais abstratas, não afetadas pelas emoções. Como resultado, o conflito adolescente é considerado normal e até necessário para sua função "adaptativa" em busca de um novo sentido de personalidade e papel social. Com a teoria do desenvolvimento psicossocial, Eric Erikson (1968/1976 apud SENNA, 2012) integrou a psicanálise ao campo da antropologia cultural, enfatizando a interação entre as dimensões intelectual, sociocultural, histórica e biológica (Lopes de Oliveira, 2006 apud SENNA, 2012). Ao afirmar que o desenvolvimento é descrito por uma série de estágios previsíveis, Erikson enfatiza a influência do ambiente e a 37 influência da experiência social ao longo do curso da vida. Nessa perspectiva, em cada estágio do desenvolvimento, as pessoas enfrentam um conflito central, uma crise normal e saudável que precisa ser superada. No caso da adolescência, essa crise é caracterizada pelo desenvolvimento de uma identidade que está em constante mudança, dependendo das experiências e informações que os adolescentes adquirem em suas interações diárias com os outros. Assim, os adolescentes que recebem incentivo e reforço apropriados em sua exploração pessoal, tendem a emergir desse estágio com um senso mais forte de si mesmo e um senso de independência e controle, (SENNA, 2012). Considera-se que um terceiro grupo de teorias do desenvolvimento prioriza os aspectos socioculturais da adolescência e afirma que o comportamento do adolescente é moldado até certo ponto pelo ambiente social imediato (pais e colegas) e pelo ambiente social mais amplo (cultura). Para estudar a difusão das ideias turbulentas atribuíveis à adolescência, antropólogos sociais e culturais, notadamente Margaret Mead, compararam a rebelião da adolescência (estágio universal) contra a autoridade dos pais com os ideais da ideologia da juventude, dependendo do modo de vida e da cultura em que vivem na qual ele está inserido (Mead, 1928/1979 apud SENNA, 2012). Ainda em sua primeira etapa, merece destaque o quarto grupo de teorias da adolescência, de Jean Piaget, pioneiro, focando nos processos cognitivos de desenvolvimento e afirmando que os comportamentos dos adolescentes que preocupam os adultos, têm sua origem na forma de pensar, característica do início desta etapa. À medida que o pensamento formal se desenvolve, por meio da assimilação e adaptação a novas estruturas, os adolescentes revelam suas próprias formas de compreender a realidade e constroem sistemas filosóficos, éticos e políticos para adaptar e mudar o mundo. (Inhelder & Piaget, 1958/1976 apud SENNA, 2012). Percebendo que soluções baseadas apenas no raciocínio lógico não são possíveis, os adolescentes entram na vida adulta por meio da integração social. Embora as teorias clássicas descrevam várias mudanças na adolescência, enfocando diferentes aspectos do indivíduo (sensação, cognição e interação), elas são insuficientes para explicar o desenvolvimento nessa fase da vida. (Goosens, 2006; Lerner & Steinberg, 2009 apud SENNA, 2012). Segundo esses autores, essas teorias se limitam a apresentar dicotomias entre os aspectos maturacionais e 38 genéticos e osaspectos que são unicamente contextuais: herdado x adquirido, contínua e descontínua, estabilidade e mudança, representam o conhecimento dos tempos. À medida que surgem evidências empíricas, surgem novos modelos de relacionamentos de desenvolvimento. Esses modelos reconhecem as características fundamentais e integradoras dos impactos organizacionais em diferentes níveis da ecologia do desenvolvimento humano, criando a necessidade de novas contribuições integrativas que culminam na segunda fase da pesquisa científica. 4.2 Segunda fase: a visão contextualista do desenvolvimento do adolescente O estudo com adolescentes nesta fase, começou na década de 1970, quando a pesquisa empírica rompeu com os modelos teóricos clássicos e surgiram novos modelos e questões sobre o desenvolvimento humano ao longo da vida. Esses modelos refletem uma perspectiva contextualista, enfatizando a relação dinâmica de mão dupla entre o indivíduo e o ambiente, e o papel do tempo e do espaço no desenvolvimento humano, (SENNA, 2012). A interação homem-situação começa a ser vista como um fenômeno psicológico do desenvolvimento, o que significa levar em conta: (a) a pessoa em evolução, devido às constantes mudanças na relação que estabelece com seu meio; (b) desenvolvimento humano caracterizado pela grandeza potencial de mudança do sistema (plasticidade), em qualquer ponto do curso da vida; e (c) o significado do desenvolvimento humano no contexto sócio histórico em que ocorre (Goosens, 2006 apud SENNA, 2012). Na época, um grupo de estudiosos do desenvolvimento se reuniu sob os auspícios de Carolina Consortium (On Human Development – sobre desenvolvimento humano) (CCHD, 1996 apud SENNA, 2012), para organizar uma síntese de diversas disciplinas e teorias sociais, psicológicas e biocomportamentais para orientar a pesquisa em diferentes níveis da organização humana. Seus participantes propõem um modelo abrangente chamado ciência do desenvolvimento, no qual o desenvolvimento se refere a um fenômeno multifacetado que consiste em um conjunto de processos de mudança, estruturais e organizacionais que ocorrem nas interações entre humanos e sistemas biológicos em grupos sociais e ambientes ao longo do 39 tempo (Cairns, Elder & Costello, 1996; Magnusson & Cairns, 1996 apud SENNA, 2012). Para entender o funcionamento desse sistema, é necessário estudar as propriedades estruturais e funcionais do ambiente, das pessoas e dos ambientes, e como eles interagem para produzir constância e mudança no desenvolvimento individual. (Dessen & Costa Junior, 2005 apud SENNA, 2012). Conforme esse contexto, o desenvolvimento de cada indivíduo é influenciado por inúmeros fatores interativos que variam ao longo do tempo, ambiente e processo, e que a cada etapa do processo, novos são criados para a próxima possibilidade a (Sifuentes, Dessen & Lopes de Oliveira, 2007 apud SENNA, 2012). Em outras palavras, o desenvolvimento ocorre por meio de forças internas e externas, chamadas de sinergias, que atuam de forma complementar e bidirecional para adaptar e manter o equilíbrio e harmonia do sistema diante de situações novas ou desfavoráveis (Gottlieb, 1996; van Geert, 2003 apud SENNA, 2012). Os desenvolvimentos subsequentes são vistos como epigenética e probabilidade que representam um grande desafio no campo na medida em que fatores biológicos e ambientais interagem entre si. Como compreender os múltiplos sistemas que influenciam o desenvolvimento individual, dos processos genéticos aos eventos culturais, dos eventos fisiológicos às interações sociais? Como esses sistemas se integram ao longo do tempo para produzir ou não produzir funções saudáveis e adaptativas? Essas questões precisam estar interligadas e integrar disciplinas de diferentes áreas para desvendar os processos complexos que levam ao desenvolvimento dos seres humanos dentro da dinâmica de força que existe em um mundo em mudança. Neste contexto, a perspectiva sistêmica é primordial para o entendimento das questões de investigação sobre o desenvolvimento humano, tanto em termos das inter-relações entre sistemas e componentes do sistema, quanto na evolução de seus padrões ao longo do tempo. Entre as direções teóricas que representam essa visão de desenvolvimento, destacamos a teoria do curso de vida, (SENNA, 2012). 40 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARMO MAGALHÃES SENNA, Sylvia Regina. Contribuições das Teorias do Desenvolvimento Humano para a Concepção Contemporânea da Adolescência. Scielo, [S. l.], p. 1-8, 2012. COSTA NUNES LIMA, Caroline. 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