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Apostila Pessoal – Direito Interno Normas jurídicas. As normas jurídicas existem com o objetivo de guiar a condução da vida social; o homem – na visão aristotélica tido como um ser sociável, necessita de normas e limites que estabeleçam a boa convivência na vida em sociedade. As normas seguem a evolução dos costumes e da cultura do grupo; Para Hans Kelsen, “as normas jurídicas são aquelas provenientes dos costumes (práticas e condutas reiteradas ao longo do tempo e em um determinado local) da sociedade, e que, por interesse desta, foram formalmente oficializadas, seguindo uma autorização e um procedimento previamente determinado pela Constituição”. As normas não jurídicas, positivadas no ordenamento jurídico (ou seja, são respeitadas), não foram oficialmente determinadas – ou seja, não são parte de nenhuma Constituição ou documento legal. Cada país, como Estado de Direito, ao formular sua Constituição, cria um sistema de ordenamento jurídico, contendo uma hierarquia predeterminada de ordens jurídicas. “As normas jurídicas diferenciam-se das demais por serem formalmente constituídas por meio de atos legislativos constitucionalmente previstos, por possuírem aplicação e sujeição compulsória a todos os indivíduos daquela determinada sociedade, e por preverem uma sanção predeterminada a ser aplicada àqueles que não agem dentro de seu termo de conformidade” (TÁVORA, DIREITO INTERNO – COLEÇÃO DIPLOMATA). Ou seja, as normas jurídicas se diferem das não-jurídicas por se encontrarem formalizadas na constituição, através de um processo legislativo predeterminado, e por serem aplicadas a todos os indivíduos, sendo sua transgressão passível de punição. Características básicas das normas jurídicas 1. Imperatividade As normas estabelecem o procedimento padrão a ser estabelecido, e a sua transgressão é considerada ilegal. Elas estabelecem direitos e deveres. As proposições normativas podem se apresentar nos seguintes formatos: ✓ Permissão: a norma permite que um comportamento seja adotado. ✓ Proibição: a norma proíbe que um comportamento seja adotado. Prevê punição para a transgressão; “tudo o que não é proibido é permitido”. ✓ Obrigação: a norma determina diretamente a forma de um comportamento. 2. Coercibilidade A coercibilidade decorre da imperatividade da norma; é o fator psicológico dos efeitos da norma. A coerção age no sentido de forçá-lo ao máximo a cumprir a determinação legal – a coação, entretanto, é uma força que obriga o cumprimento da determinação. 3. Abstratividade A norma se desenvolve no campo das hipóteses – ela deve prever o acontecimento de situações hipotéticas, podendo ser usada para situações reais. 4. Bilateralidade O direito tem como objetivo regrar relações – portanto, os sujeitos da norma devem ser ao menos dois – um polo ativo, portador do direito subjetivo, e um polo passivo, que possui deveres diante da relação. Esses sujeitos podem ser entes públicos ou privados (Ex: o indivíduo e o Estado). 5. Generalidade A norma possui um caráter coletivo; é obrigatória a TODOS. Daí se extrai o princípio da igualdade: “todos são iguais perante a lei”. Atributos das normas jurídicas 1. Validade Por meio desse atributo verifica-se se a norma teve ação legislativa regular, seguindo os procedimentos previstos pela Constituição, e se ela está de acordo com as outras normas já existentes. Não é qualquer pessoa, órgão ou instituição que pode simplesmente criar normas. Há um processo a ser seguido, para que as normas tenham validade. Validade formal: diz respeito a quais autoridades e órgãos legais são aptos para a função de legislar; se o legislador possui competência para legislar sobre tal questão. A Constituição Brasileira estabelece quem tem competência para legislar sobre o quê, e todas as outras questões que envolvem o processo legislativo, como quórum para votação, aprovação, etc. Os artigos 65, 66 e 67 da Constituição versam sobre o processo legislativo. Validade material: as normas obedecem à uma hierarquia dentro da Constituição – além disso, a Constituição possui algumas cláusulas pétreas, que não podem ser violadas. Portanto, toda e qualquer norma criada deve respeitar o conteúdo das cláusulas pétreas e a hierarquia de normas dentro do ordenamento jurídico. Uma norma municipal não pode ferir uma norma estadual, que por sua vez não pode ferir uma norma federal. Nenhuma dessas normas pode ferir as cláusulas pétreas da Constituição. Deve haver uma compatibilidade vertical entre as normas. 2. Vigência Uma norma entra em vigor quando iniciam seus efeitos de imperatividade – a vigência pode ser determinada (a norma pode ter uma duração temporal/espacial pré-estabelecida) ou indeterminada (vigente em todo o território por tempo indeterminado). Uma norma com vigência indeterminada só será revogada com a criação de uma norma posterior que estabeleça essa revogação. Quanto ao território, é bastante óbvio que uma lei federal terá vigência em todo o território do país, enquanto uma lei estadual/municipal só terá vigência naquele território. Toda lei no Brasil começa a vigorar quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. A esses quarenta e cinco dias denominamos vacatio legis – vacância da lei. A revogação de uma lei – através de lei posterior, pode ser feita de maneira total, chamada de ab-rogação (suspensão total da norma), ou parcial, chamada de derrogação (suspensão de apenas uma parte da norma). 3. Eficácia e legitimidade As normas devem possuir um objetivo e serem cumpridas efetivamente pelos indivíduos. Seu caráter de imperatividade deve ser válido e aplicável. Elas não são geradas ao acaso e devem ser aplicáveis à realidade social. Hierarquia das normas jurídicas brasileiras 1. Constituição Federal: norma máxima. Os comandos e princípios estabelecidos na Constituição devem ser seguidos por todas as outras normas. 2. Emendas Constitucionais: são alterações realizadas no corpo da Constituição. Seu poder de alteração é extremamente limitado, e segue um protocolo legislativo diferenciado. Algumas partes, as Cláusulas Pétreas, não podem ser modificadas. Não podem ser propostas por iniciativo popular. Art. 60 da CF/88. 3. Leis complementares: são leis criadas para tratar de assuntos específicos, determinados pela própria Constituição. A Constituição estabelece quais são as matérias sobre as quais será legislado de maneira complementar. Podem ser propostas, assim como as leis ordinárias, por qualquer membro da comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, pelo Presidente da República, pelo STF, Tribunais Superiores, Procurador-Geral da República e pelos cidadãos, conforme disposto no art. 61 da CF/88. 4. Leis ordinárias federais: são as leis normais, aprovadas pelo Congresso Nacional. Tratam das mais diversas matérias, e podem ser propostas POR QUALQUER PESSOA. 5. Medidas provisórias: são atos normativos emitidos pelo Presidente da República em situações de relevância/urgência. Entram em vigor imediatamente e, caso não seja votada pelo Congresso Nacional num prazo de sessenta dias, perde a validade (esse prazo pode ser prorrogado por mais 60 dias). 6. Leis delegadas: também são emitidas pelo Presidente da República, mas precisam passar pelo crivo do Poder Legislativo. 7. Decretos Legislativos: são atos normativos privativos do Poder Legislativo. 8. Resoluções: possuem função de estabelecer normas de procedimento interno dos órgãos públicos. Detalham o funcionamento, regras para compra, Regimento Interno, etc. 9. Tratados Internacionais: são acordos internacionais firmados pelo Estado Brasileiro com outros Estados. É um ato de competência do Presidente da República, e devem passar pela aprovação do Congresso Nacional (os artigos 49 e 84 da Constituição versam sobre essa matéria). 10. Constituições e Leis Estaduais: previsto pelo artigo 25 da ConstituiçãoFederal, os Estados devem organizar suas próprias normas jurídicas – respeitando a hierarquia do ordenamento jurídico. 11. Leis Municipais: previsto nos artigos 29 e 30, versam sobre assuntos locais. 12. Decretos e Regulamentos do Executivo: é o chamado poder regulamentar do Executivo – o Presidente pode emitir decretos pormenorizando os detalhes de execução de alguma lei. Além disso, o aparato jurídico entende como normas de conduta válidas e eficazes os contratos particulares, uma sentença proferida pelo Judiciário como fonte de coercibilidade, atos administrativos (portarias e resoluções). A norma constitucional e suas emendas estão em condição de supremacia em relação a todas as outras – os tratados internacionais incorporados à legislação brasileira que versam sobre assuntos de direitos humanos também; as leis complementares, ordinárias, delegadas, os demais tratados internacionais e as medidas provisórias estão no mesmo patamar de hierarquia. Quanto às leis federais, estaduais e municipais: quando há repartição de matérias (competência concorrente), têm hierarquia horizontal; quando há apenas suplementação (competência suplementar), se encaixam na hierarquia vertical. Competência legislativa ✓ Competência privativa: a legislação é de competência de algum órgão, mas pode ser delegada (art 22) ✓ Competência concorrente: à União compete estabelecer normas gerais sobre a matéria, e aos entes federativos, normas especiais (art 24) ✓ Competência suplementar: ✓ Competência reservada: Fatos e atos jurídicos Fato é qualquer evento ou acontecimento, que será considerado jurídico a partir de sua previsão no ordenamento jurídico; logo, um fato qualificado, com relevância para o Estado, para a sociedade e para as relações intersubjetivas. A doutrina moderna conceitua o fato jurídico como “qualquer acontecimento natural ou ação humana que produza consequências jurídicas”. ✓ fato jurídico em sentido estrito: origina-se de um acontecimento natural, sem a intervenção humana. ✓ ato-fato jurídico: caracteriza-se por um ato humano que independe da vontade; assim, o direito não leva em consideração a intenção do agente de produzir o resultado, e contenta-se apenas com a conduta. ✓ ato jurídico: o elemento subjetivo (vontade) é fundamental para configurar um ato jurídico em sentido amplo. É necessário exteriorizar uma vontade consciente dirigida a uma finalidade desejada. Subdivide-se em: Ato jurídico em sentido estrito: é a autonomia da vontade sem possibilidade de se manipular os efeitos jurídicos, pois os efeitos já estão previstos na lei. Ex: reconhecimento de paternidade. Negócio jurídico: é decorrente da autonomia da vontade com poder de manipulação dos efeitos jurídicos, nos quais se faz possível a autorregulação dos interesses nos limites dados pelo ordenamento. Ex: testamento.