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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
CURSO: Direito 
DISCIPLINA: Filosofia (ARA0099) – 2022.2 
PROFESSOR: Danilo Mariano Pereira 
UNIDADE II: Filosofia Política na Modernidade (Teorias do Contrato Social) 
AULA VII: Thomas Hobbes: o Absolutismo Moderno 
Temas de Aprendizagem 
- Teorias do Contrato Social: um debate sobre a origem da vida social 
- O contrato social na visão de Thomas Hobbes: o absolutismo moderno 
Situação-Problema 
Uma das grandes mudanças introduzidas na teoria política moderna foi a concepção de que, 
na história da humanidade, a vida social, isto é, o Estado, a sociedade, as instituições, as leis etc., não 
surgiu naturalmente, mas sim como uma ação racional e deliberada da parte dos homens. Em outras 
palavras, a vida em sociedade é uma escolha, uma decisão, uma opção que os homens fizeram em 
dado momento de sua história. Hoje, certamente, não temos mais a opção de viver isoladamente, 
individualmente, sem compromissos ou obrigações para com o coletivo. Mas, segundo os modernos, 
no passado, essa escolha era possível e os homens renunciaram a ela para viver em sociedade. 
Pergunta-se: Qual é a origem da vida social? Como se deu a passagem da vida individual para 
a vida social? Se os homens escolheram viver em sociedade, quais foram suas motivações para isso? 
Referências 
MASCARO, Alysson Leandro. “A Filosofia do Direito Moderna - I”; “A Filosofia do Direito 
Moderna - II”. In: Filosofia do Direito. 6ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2018. 
RIBEIRO, Renato Janine. “Hobbes: o medo e a esperança”. In: WEFFORT, Francisco (org.) 
Os clássicos da política – Vol. 01. 14ª Edição. São Paulo: Editora Ática, 2011. 
Atividade Verificadora da Aprendizagem 
Se o Estado e a sociedade são escolhas, quais devem ser suas funções? O que devemos esperar 
que o Estado e a sociedade nos proporcionem, já que nós optamos por viver sob seu ordenamento? 
 
Teorias do Contrato Social: um debate sobre a origem da vida social 
Na Modernidade, filósofos e teóricos da política passaram a se indagar sobre a origem da vida 
social, perguntando-se: por que vivemos em sociedade e não individualmente? Por que construímos 
instituições, como o Estado, as leis, a religião, a moral etc.? 
Quando os modernos tratam a respeito das origens da vida social, perguntam-se 
sobre os fundamentos que fazem com que a vida em sociedade deva ser respeitada, indagam-
se sobre que espécie de ordem social é melhor, quem a governa, a quais interesses atenderá 
a sociedade, e, no fundo, se os homens quiseram viver em sociedade ou não, se tal condição 
se lhes foi imposta, se a vida social é natural, se é racional, e como a vida em sociedade deve 
ser regulada. (Mascaro, 2018, p. 148). 
Para os antigos gregos, essa pergunta não se colocava, pois, para eles, a vida social, o Estado, 
as leis etc. surgem naturalmente. Aristóteles, sintetizando a visão de seu tempo, afirmava que é da 
natureza humana viver em sociedade, assim como o ato de formar família. 
Os gregos (...) durante muitos séculos foram os responsáveis pelas explicações 
filosóficas mais tradicionais e recorrentes sobre a sociedade e o Estado. Aristóteles, o mais 
importante filósofo grego nesse tema, observava a sociedade e o Estado como uma família 
ampliada. As famílias, núcleos originários de convivência, se somadas, constituíam vilas, e 
estas, cidades, e estas, províncias, e estas, Estados. Era a ideia da sociedade como resultado 
da natureza humana, do homem como ser naturalmente político. Essa visão, orgânica, do 
Estado como família ampliada ou da família como o Estado reduzido, imperou até a entrada 
na modernidade. Os primeiros filósofos a mudarem o paradigma de explicação da sociedade 
e do Estado foram os modernos. (Mascaro, 2018, p. 148). 
Para os modernos, ao contrário, a vida social não surge naturalmente, mas sim de uma decisão 
racional tomada pelos homens. Antes de haver sociedade, havia indivíduos isolados, vivendo 
naturalmente. Em dado momento da história, os homens decidiram abandonar essa vida individual e 
construir uma vida coletiva, unindo-se para criar as instituições, como o Estado, as leis, as regras etc. 
É característica do pensamento moderno a consideração de que, antes que uma 
ampliação dos laços familiares e grupais, a sociedade seria, no fundo, a reunião de indivíduos 
que se apresentavam, inicialmente, como isolados. (...). para os modernos, a sociedade é 
apenas uma união de indivíduos. Essa posição, individualista, tem por pressuposto a ficção 
de que, em princípio, havia seres humanos que viviam isolados, e que, em um momento 
posterior, passam a viver em sociedade. (Mascaro, 2018, p. 148). 
A vida humana antes do surgimento da sociedade é chamada de estado de natureza. Nela, os 
homens vivem como animais na selva. Não existem leis, regras ou valores morais que limitem o 
comportamento humano, pois não existe vida social, nem instituições, como Estado, direito etc. Logo, 
os homens são livres para fazer o que querem, exatamente como os animais são livres na natureza. 
Ainda segundo os modernos, o problema é que, sem leis, regras, Estado, instituições etc., os 
homens não conseguem usufruir plenamente dessa liberdade, pois não existe ordem. Os homens estão 
constantemente em risco de entrar em conflitos e disputas, o que os leva a apelar para a violência. É 
por isso que os homens decidem criar a sociedade, ou seja, instituir uma vida coletiva, que estabeleça 
regras, mantenha a ordem e, assim, proteja os interesses dos indivíduos. Na visão dos modernos, é 
assim que surgem a sociedade civil e as instituições como o Estado. Dessa forma, o homem deixa de 
viver em estado de natureza e passa a viver em estado de civilização. 
Portanto, segundo essa ficção filosófica, a criação da sociedade e do Estado ocorre por meio 
de um pacto, um acordo racional estabelecido entre os homens. Esse pacto recebe o nome de contrato 
social. E as teorias que abordam esse tema são chamadas de Teorias do Contrato Social. 
A condição primeira dos indivíduos na história, antes da vida social, na qual os 
homens são livres, os modernos a denominam estado de natureza. (...). Estando os homens 
em estado natural, lá encontram liberdade sem controles, mas tal liberdade é pouco apreciada, 
segundo o pensamento filosófico dos modernos, porque não há garantia de seu exercício 
racional e nem de salvaguarda dos direitos naturais. Por isso, como meio de instituir uma 
ordem capaz de garantir seus interesses e direitos, os indivíduos, dando vazão à sua vontade 
livre, dispõem-se a viver em sociedade. Como tal vida social é artificial, gerada que foi por 
um contrato e não por um dado natural, impõe-se um respeito mútuo às regras acordadas. 
Não se pode, então, viver sob a independência total do estado natural, onde cada indivíduo 
era seu soberano. É preciso que haja uma instância política que unifique as vontades 
individuais. (Mascaro, 2018, p. 149-150). 
Dois aspectos devem ser destacados sobre as Teorias do Contrato Social. 
1. Elas foram fundamentais para a consolidação do Estado Moderno, pois foi, possivelmente, 
a primeira teoria política a defender que o poder do Estado emana do povo e não de Deus. Afinal, se 
o Estado é criado por meio de um contrato estabelecido entre os homens, a fim de proteger seus 
interesses, então o que legitima esse Estado é a própria vontade dos homens, e não a vontade de Deus. 
2. As Teorias do Contrato Social são consideradas teorias individualistas, pois, ao contrário 
dos antigos, os teóricos do contrato social consideram que o homem tem uma essência individual, 
não social. Segundo esses teóricos, se dependesse exclusivamente de sua própria natureza, os homens 
estariam ainda vivendo como indivíduos isolados, procurando satisfazer apenas seus interesses e 
vontades pessoais, e não como seres coletivos ocupados em promover também os interesses dos 
outros. E essa natureza individual, para eles, nunca muda. Mesmo em sociedade, o homempreserva 
sua essência individualista. Se hoje nós vivemos de forma coletiva, sob a vigência de um Estado, que 
institui e mantém uma ordem social, é pela necessidade de proteger os interesses dos indivíduos. 
Logo, a tarefa essencial desse Estado consiste justamente em atender à vontade dos indivíduos. 
Os teóricos do contrato social mais importantes são Thomas Hobbes, John Locke e Jean-
Jacques Rousseau, cada um com suas especificidades teóricas, políticas e filosóficas. 
Hobbes é o mais vigoroso defensor teórico do Absolutismo que seu tempo viu 
produzir, justamente porque assim o faz já liberto da tradição teológica que fundamentava o 
poder do soberano num direito divino. Hobbes é absolutista mas já com uma visão filosófica 
moderna, racional. Locke, por sua vez, é o mais destacado pensador dos interesses da 
burguesia ascendente na Europa. Seu pensamento, que dá as bases ao liberalismo, é 
totalmente aproveitado pela lógica burguesa. Rousseau, de todos o mais importante e mais 
compromissado com as questões sociais, é aquele que consegue fazer a tensão mais profunda 
na própria filosofia política e do direito moderna. (Mascaro, 2018, p. 161-162). 
O contrato social na filosofia política de Thomas Hobbes: o absolutismo moderno 
Thomas Hobbes (1588-1679) foi um importante filósofo e cientista inglês. Sua principal obra 
é o Leviatã, publicada em 1651. Os anos que antecederam a publicação dessa obra foram marcados 
por uma violenta guerra civil na Inglaterra, iniciada em 1640, que terminou com a derrota e a 
execução do Rei Carlos I, em 1649, pelo exército revolucionário de Oliver Cromwell. Nesse ano, foi 
proclamada a República na Inglaterra. 
Isso deu início a um período de extrema instabilidade política, precisamente pelo medo da 
desordem, da violência e do retorno ao estado de guerra civil. Foi em meio a esse contexto que Hobbes 
publicou sua obra mais importante, tendo em vista dois objetivos: (i) o primeiro, de natureza teórica, 
foi explicar filosoficamente a origem do Estado e da vida social. Assim, ele formulou, possivelmente, 
a primeira teoria do contrato social; e (ii) o segundo objetivo, de natureza política, foi conceber um 
modelo de Estado e de sociedade que fosse capaz de restabelecer a ordem e a segurança em seu país. 
Em sua teoria do contrato social, Hobbes, assim como todos os autores chamados 
contratualistas, fala sobre “homens em estado de natureza”, ou seja, “sem lei, sem rei e sem fé”. 
No entanto, ao contrário de outros contratualistas, esse homem natural, para Hobbes, não é 
um “selvagem”, entendido como primitivo, atrasado ou irracional. Ao contrário, para ele, a natureza 
humana nunca muda. Ela é a mesma entre os homens naturais e os civilizados. 
“O homem natural de Hobbes não é um selvagem. É o mesmo homem que vive em sociedade. 
Melhor dizendo, a natureza do homem não muda conforme o tempo, ou a história, ou a vida social. 
Para Hobbes (...) não existe a história entendida como transformando os homens. Estes não mudam”. 
(Ribeiro, 2011, p. 4). 
Além disso, para Hobbes, os homens são fundamentalmente iguais. Segundo ele, todos os 
homens têm, mais ou menos, as mesmas características e as mesmas capacidades físicas, intelectuais, 
mentais etc. Isso significa que, por mais forte, astuto e corajoso que um homem possa ser, ele nunca 
é capaz de, sozinho, dominar, convencer e impor regras sobre um grande coletivo de homens. 
Consequentemente, em estado de natureza, o homem vive sempre sob o perigo iminente da desordem, 
pois a ordem, entendida como a imposição e o cumprimento de regras, somente é possível por meio 
de instituições coletivas, ou seja, Estado, leis, direito, costumes, moral, em suma, vida social. 
A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, 
que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de 
espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a 
diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um 
possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal 
como ele. Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais 
forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados 
pelo mesmo perigo. (Hobbes, Leviatã, cap. XIII, p. 74.). 
Em estado de natureza, como não existe essa ordem social e política, garantida por meio do 
Estado e de instituições coletivas, que imponha regras sobre todos os indivíduos, os homens estão 
constantemente em conflito entre si. Nas famosas palavras de Thomas Hobbes, em estado de natureza 
há uma “guerra generalizada de todos contra todos”; e “o homem é o lobo do homem”. 
Cabe ressaltar que esse estado permanente de guerra não se deve à irracionalidade humana. 
Ao contrário, como foi dito, o homem natural é perfeitamente racional, tanto quanto o homem 
civilizado. Afinal, a natureza humana, para Hobbes, nunca muda. 
Essa guerra generalizada de todos contra todos se deve, sim, ao fato de que, pela ausência de 
Estado e instituições coletivas, o homem tem direito a tudo. Aqui nos deparamos com as noções de 
direito natural e lei natural em Hobbes. Para ele, em estado de natureza, o homem pode tudo. Os 
direitos naturais são infinitos. Esse homem natural faz, literalmente, tudo o que está a seu alcance 
para se proteger de outros homens e satisfazer seus interesses. E não há nada que os impeça de exercer 
esses direitos, pois somente instituições coletivas – que não existem na natureza – seriam capazes de 
impor regras e limitar o comportamento natural dos homens. As únicas barreiras que se lhes impõem 
são as leis naturais, ou seja, os limites de suas próprias capacidades física, intelectual e mental. 
O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam jus naturale, é a 
liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a 
preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e consequentemente de fazer tudo 
aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim. 
(Hobbes, Leviatã, cap. XIV, p. 78). 
A racionalidade tanto está presente que é justamente em função dela que o homem passa a 
buscar a paz. Assim, em outra passagem clássica, Hobbes afirma que o homem faz a guerra por 
necessidade, mas, por inteligência, ele busca a paz. 
E é em busca da paz que ele decide, racionalmente, renunciar a seus direitos naturais. Assim, 
é em nome da paz e da ordem que, deliberadamente, esse homem cessa de fazer tudo para promover 
sua segurança e seus interesses e delega essa responsabilidade ao Estado e às instituições coletivas. 
É essa renúncia aos direitos naturais, a fim de conquistar a paz, a ordem e a segurança, que 
enseja a criação do Contrato Social, dando origem ao Estado e às instituições coletivas e fazendo o 
homem sair do estado de natureza e entrar em estado de civilização. 
Por meio desse Contrato, os homens se transformam, então, em súditos, renunciando a seus 
direitos naturais em favor do Estado, chamado então de Soberano, que passa a atuar em seus nomes. 
A partir daí, é o Estado que passa a ter direito a tudo e a fazer de tudo em busca de paz, ordem e 
segurança. Na ficção jurídica e filosófica de Hobbes, o Estado representa a soma de todas as vontades 
individuais, de modo que ninguém pode reclamar ou ressentir-se das ações dele provenientes, pois, 
dessa forma, estaria reclamando e ressentindo-se de suas próprias ações, uma vez que o Soberano 
nada mais faz do que agir em nome de seus súditos. 
Cabe salientar que, embora a renúncia aos direitos naturais que dá origem ao Estado 
seja voluntária, sua manutenção, no longo prazo, não é. A assinatura do Contrato Social não 
é suficiente para fazer valer todos os seus termos. São necessárias as forças armadas. Em 
outras palavras, o Soberano deve estar suficientementearmado para impor seu poder aos 
súditos. Em mais uma passagem clássica, Hobbes afirma que “os pactos sem a espada não 
passam de palavras, sem força para dar qualquer segurança a ninguém”. (Hobbes, Leviatã, 
cap. XVII, p. 103.). 
Nesse sentido, a violência, que, em estado de natureza, caracteriza tão fortemente o 
comportamento humano, segue existindo em estado de civilização e com a mesma finalidade, qual 
seja, garantir a paz, a ordem e a segurança. A diferença é que (i) na civilização, a violência se torna 
prerrogativa exclusiva do Soberano. Assim, nasce o conhecido princípio de que o Estado detém o 
monopólio sobre o uso legítimo da força; e (ii) essa violência legítima praticada pelo Estado tem o 
objetivo de proteger não um indivíduo ou sua família, mas todos os indivíduos, ou seja, a ordem. 
No entanto, essa renúncia, o homem faz com uma condição: ela deve ser geral e irrestrita. Isso 
tem dois significados. 
1. Em primeiro lugar, é preciso que todos os homens, sem exceção, abram mãos de seus 
direitos naturais em favor do Estado e das instituições coletivas. Nenhum indivíduo pode romper esse 
Contrato, caso contrário, todos os demais indivíduos, que seguem desprovidos de seus direitos 
naturais, estariam em perigo, sem poder se defender daquele que se rebelou contra o Contrato. Em 
outras palavras, qualquer indivíduo que desvie, questione ou desobedeça as regras instituídas pelo 
Soberano representa um perigo para a ordem social e deve ser exemplarmente reprimido. 
(...) se a maioria, por voto de consentimento, escolher um soberano, os que tiverem 
discordado devem passar a consentir juntamente com os restantes. Ou seja, devem aceitar 
reconhecer todos os atos que ele venha a praticar, ou então serem justamente destruídos pelos 
restantes. Aquele que voluntariamente ingressou na congregação dos que constituíam a 
assembleia declarou suficientemente com esse ato sua vontade (e portanto tacitamente fez 
um pacto) de se conformar ao que a maioria decidir. Portanto, se depois recusar aceitá-la, ou 
protestar contra qualquer de seus decretos, age contrariamente ao pacto, isto é, age 
injustamente. E quer faça parte da congregação, quer não faça, e quer seu consentimento seja 
pedido, quer não seja, ou terá que submeter-se a seus decretos ou será deixado na condição 
de guerra em que antes se encontrava, e na qual pode, sem injustiça, ser destruído por 
qualquer um. (Hobbes, Leviatã, cap. XVIII, p. 107). 
2. Em segundo lugar, é preciso que os homens renunciem a todos os direitos naturais, sem 
exceção. Se, em estado de natureza, esse homem tinha direito a tudo, agora, que ele transitou para o 
estado civil, ele não pode ter direito a nada. Em outras palavras, os homens não podem reivindicar 
qualquer direito individual perante o Estado, pois isso o levaria novamente ao estado de natureza, 
colocando, igualmente, em risco toda a ordem social. 
Assim, essas duas características do pensamento de Hobbes mostram o caráter absolutista e 
totalitário de sua teoria política. O Estado, para ele, deve exercer um poder total e absoluto, sem 
qualquer tipo de discordância ou oposição. As liberdades individuais devem ser totalmente cerceadas 
em benefício do Soberano, o que é visto como necessário para a garantia do bem maior que é a ordem. 
Portanto, o pensamento de Hobbes é radicalmente contrário a alguns dos princípios e valores 
que se tornariam a base do pensamento liberal democrático moderno, como a liberdade (em particular 
as chamadas liberdades individuais) e o direito à propriedade privada. Sobre liberdade, ele diz: 
Liberdade significa, em sentido próprio, a ausência de oposição (entendendo por 
oposição os impedimentos externos do movimento); e não se aplica menos às criaturas 
irracionais e inanimadas do que às racionais. Porque de tudo o que estiver amarrado ou 
envolvido de modo a não poder mover-se senão dentro de um certo espaço, sendo esse espaço 
determinado pela oposição de algum corpo externo, dizemos que não tem liberdade de ir mais 
além. E o mesmo se passa com todas as criaturas vivas, quando se encontram presas ou 
limitadas por paredes ou cadeiras; e também das águas, quando são contidas por diques ou 
canais, e se assim não fosse se espalhariam por um espaço maior, costumamos dizer que não 
têm a liberdade de se mover da maneira que fariam se não fossem esses impedimentos 
externos. Mas quando o que impede o movimento faz parte da constituição da própria coisa 
não costumamos dizer que ela não tem liberdade, mas que lhe falta o poder de se mover; 
como quando uma pedra está parada, ou um homem se encontra amarrado ao leito pela 
doença. Conformemente a este significado próprio e geralmente aceite da palavra, um homem 
livre é aquele que, naquelas coisas que graças a sua força e engenho é capaz de fazer, não é 
impedido de fazer o que tem vontade de fazer. (Hobbes, Leviatã, cap. XXI, p. 130). 
Já a propriedade privada, para Hobbes, deve ser abolida em favor do Estado. Diz ele: 
A distribuição dos materiais dessa nutrição é a constituição do meu, do teu e do seu. 
Isto é, numa palavra, da propriedade. E em todas as espécies de Estado é da competência do 
poder soberano. Porque onde não há Estado, conforme já se mostrou, há uma guerra perpétua 
de cada homem contra seu vizinho, na qual portanto cada coisa é de quem a apanha e conserva 
pela força, o que não é propriedade nem comunidade, mas incerteza. (...).Visto portanto que 
a introdução da propriedade é um efeito do Estado, que nada pode fazer a não ser por 
intermédio da pessoa que o representa, ela só pode ser um ato do soberano, e consiste em leis 
que só podem ser feitas por quem tiver o poder soberano. Bem o sabiam os antigos, que 
chamavam Nómos (quer dizer, distribuição) ao que nós chamamos lei, e definiam a justiça 
como a distribuição a cada um do que é seu. 
Nesta distribuição, a primeira lei diz respeito à distribuição da própria terra, da qual 
o soberano atribui a todos os homens uma porção, conforme o que ele, e não conforme o que 
qualquer súdito, ou qualquer número deles, considerar compatível com a equidade e com o 
bem comum. (...). De onde podemos concluir que a propriedade que um súdito tem em suas 
terras consiste no direito de excluir todos os outros súditos do uso dessas terras, mas não de 
excluir o soberano, quer este seja uma assembleia ou um monarca. Dado que o soberano quer 
dizer o Estado (cuja pessoa ele representa), se entende que nada faz que não seja em vista da 
paz e segurança comuns, essa distribuição das terras deve ser entendida como realizada em 
vista do mesmo. Em consequência, qualquer distribuição que se faça em prejuízo dessa paz 
e dessa segurança é contrária à vontade de todos os súditos, que confiaram a paz e a segurança 
de suas vidas à discrição e consciência do soberano, e assim essa distribuição deve, pela 
vontade de cada um deles, ser considerada nula. (Hobbes, Leviatã, cap. XXIV, p. 150-3.). 
Em síntese, a teoria do contrato social de Hobbes encerra uma aparente contradição. Por um 
lado, ele concebe um Estado absolutista e totalitário. Por essa razão, ele é considerado um dos 
maiores inimigos do liberalismo e do próprio Estado Moderno, tanto quanto a Monarquia Absolutista, 
inspirada no direito divino, vigente na idade média. Por outro lado, no entanto, a filosofia política de 
Hobbes distingue-se da filosofia política medieval, na medida em que, para ele, o poder do Estado 
emana do povo. Mesmo exercendo um poder absoluto, esse Estado é instituído, em sua origem, pela 
vontade livre das pessoas, e não pela vontade de Deus. Ele é, apesar de tudo, um teórico do contrato 
social, que é a primeira grande teoria política moderna.

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