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A Hérnia é o surgimento de um orifício não natural ou alargamento de um orifício natural de parede abdominal. Ex: Existe uma cicatriz natural umbilical quando esse orifício está aumentado de tamanho e permite que uma víscera intra-abdominal entre nesse orifício, isso é considerado hérnia. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY Transcrição por: Aminadá Neto Professor: Anderson Dantas Data da aula: 03/05/2023 http://www.bjorl.org/pt-clinical-characteristics-for-conservative-therapy-avance-S2530053920300250 https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/ As hérnias de parede ocorrem por uma fragilidade da parede abdominal acarretando uma protusão de órgãos. Contido por peritônio (vai empurrando o peritônio que é uma falha da camada aponeurótica ou muscular. OBS: TODA HÉRNIA QUE VEM DE DENTRO DA PAREDE ABDOMINAL TEM SACO HERNIÁRIO. A eventração é quando no pós operatório o conteúdo abdominal abre, mas sai da parede abdominal e durante o esforço a sutura da parede abdominal se rasga ou abre só que esse conteúdo que foi aberto é contido pela camada da pele. Não é uma urgência, mas pode virar uma hérnia pós operatória chamada de hérnia incisional (não dependem da técnica cirúrgica e sim da cicatrização da cirurgia do paciente), essa sim precisa operar em um segundo momento (2 a 3 meses). OBS: UMA EVENTRAÇÃO PODE EVOLUIR PARA UMA EVISCERAÇÃO. A evisceração é quando você faz uma cirurgia abdominal e no pós operatório o conteúdo abdominal sai para fora da pele (de dentro para fora). Ocorre a saída de vísceras. Ex: Alça de intestino. É uma urgência médica e precisa operar novamente. Não pode deixar exposto pelo risco de infecção. Você acabou de se formar e está em um plantão, o paciente chega e diz que fez uma cirurgia com o Dr. Anderson há 5 dias, estava tudo bem em casa, mas apareceu um pedaço de alça para fora. Isso eu chamo de evisceração. As técnicas de fechamento são as mesmas, mas tudo depende do pós operatório, principalmente da cicatrização do paciente. Qual é o paciente que cicatriza bem? É o paciente que não tem infecção, o paciente que fez uma terapia nutricional pré-operatória adequada. Então são vários fatores que contribuem para a formação das hérnias. Uma das complicações da hérnia é a isquemia. Na imagem acima estão os vários tipos de hérnia e as mais frequentes são as hérnias da parede abdominal. O tratamento é sempre cirúrgico e é importante considerar o risco cirúrgico. A hérnia mais frequente de todas é a hérnia inguinal e também ela é a mais difícil, é a que precisamos mais um pouco de tempo para falar sobre ela. Vamos falar rapidamente sobre a anatomia da parede abdominal. As linhas que dividem o abdômen são: linha da parede abdominal anterior e a linha do canal inguinal. Então, na parede abdominal a gente tem 4 músculos principais: transverso abdominal, oblíquo interno, oblíquo externo e reto abdominal (parte medial). A anatomia na região superior é diferente da anatomia na região inferior. Então, gera uma certa diferença. No canal inguinal existe essas varginidades (orifícios naturais) que acontece pelo alargamento de um orifício natural causada que fragilidade da parede, por conta desse canal é que existe muitas hérnias inguinais. O anel herniário é um defeito na parede. tem a linha alba é a junção dos músculos reto abdominais direito e esquerdo, bem na linha média, que não tem músculo, por isso é a incisão mais utilizada na laparotomia, sangra menos e dói menos no pós operatório. As camadas afetadas na linha média: Pele, TSC, linha alba, peritônio e cavidade abdominal. Então, temos poucas camadas para adentrar. Se você faz uma incisão transversa ou oblíqua você pega o músculo oblíquo externo e interno, músculo transverso e músculo reto. A linha semilunar também conhecida como linha de Spieghel, corresponde a uma linha curva (lembra uma meia lua), de concavidade medial que marca a zona de transição do músculo transverso do abdome para a sua aponeurose. É comum gerar hérnia lateral. É uma área de falha. Agora é parte mais difícil que é a anatomia da região inguinal. A região inguinal é formada pelo triângulo: crista ilíaca anterosuperior, borda lateral do músculo reto abdominal e ligamento inguinal. OBS: TUDO QUE ESTÁ ACIMA DO LIGAMENTO INGUINAL É REGIÃO INGUINAL E TUDO QUE ESTÁ ABAIXO É REGIÃO FEMORAL. Dentro desse triângulo, temos um cordão tubular que é chamado canal inguinal, que é uma estrutura tubular que sai de dentro para fora da barriga e possui 2 limites extremos (anel inguinal externo ou superficial - fora e anel inguinal interno ou profundo - dentro). OBS1: O EXTERNO É O QUE COLOCAMOS O DEDO DENTRO NO EXAME FÍSICO DESSA REGIÃO. OBS2: ESSE ANEL TEM O TAMANHO CERTO PARA PASSAR ARTÉRIAS E VEIAS, MAS QUANDO PASSA GORDURA OU ÓRGÃOS TEMOS A HÉRNIA. É uma região de anatomia bem complexa. O músculo oblíquo interno fica no bordo superior do canal inguinal e origina as fibras do Músculo Cremaster (é um músculo pareado da pelve e do períneo e é desenvolvido completamente apenas na genitália externa dos homens). Durante a sua contração, o músculo cremaster traciona os testículos superiormente (retração) em direção ao canal inguinal. Esta ação protege os testículos e as células espermáticas de fatores negativos do meio ambiente Ex: Mudanças extremas de temperatura. A face medial da aponeurose do oblíquo interno + aponeurose do transverso abdominal = tendão conjunto. Aqui a gente vai apresentar as camadas que já discutimos anteriormente. Primeiro temos a pele. Segundo o TCSC que é envolto por 2 fáscias: • Fáscia de camper que é mais superficial; • Scarpa que é mais profunda (às vezes não conseguimos diferenciar). https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/pelve-e-perineo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/canal-inguinal Terceiro o músculo oblíquo externo que é a primeira camada da aponeurose. Passando isso, achamos: • O anel inguinal externo e superficial; • O ligamento inguinal é o ponto de fixação da tela. OBS: O LIGAMENTO INGUINAL É UMA “DOBRA” DA APONEUROSE DO MÚSCULO OBLÍQUO EXTERNO PRÓXIMO A REGIÃO DO PUBES, A ABERTURA DESSE LIGAMENTO É JUSTAMENTE O ANEL INGUINAL EXTERNO. Quarto abaixo do músculo oblíquo externo tenho: • Funículo espermático (no homem) ou anel inguinal (na mulher); • Músculo oblíquo interno e transverso que é o tendão conjunto (junção do músculo oblíquo interno e o transverso – outro ponto de reparo usado na cirurgia); • Vasos epigástricos inferiores; • Nervos (3 principais): nervo iliohipogástrico, nervo ilioinguinal e ramo genital do nervo genitofemoral (dentro do funículo). OBS: TODOS ESSES NERVOS SÃO SENSITIVOS (CAUSAM DOR CRÔNICA) E TODOS SÃO ORIGINADOS DO PLEXO LOMBAR). • Fáscia transversalis: Localizada abaixo do músculo transverso do abdômen, limite lateral do canal inguinal. OBS: É UMA ÁREA FRÁGIL, ELA É A QUE MAIS SE ABULA NAS HÉRNIAS, NELA QUE COLOCAMOS A TELA CIRÚRGIA. • Anel inguinal interno ou profundo. QUESTÃO DE PROVA: Os elementos do funículo espermático (no homem): 1. Músculo que reveste todas as estruturas (Cremaster), tem a função de proteção e de termorregulação (contração e relaxamento do testículo); 2. Ramo genital do nervo genito-femoral é o único que está dentro do funículo; 3. Ducto deferente; 4. Artéria testicular (ramo direto da aorta); 5. Plexo venoso pampiniforme. Na mulher só tem uma estrutura que é o ligamento redondo. QUESTÃO DE PROVA: Após a abertura da aponeurose do músculo oblíquo externo, eu vou abrir e encontrar no conteúdo da região inguinal: Músculo oblíquo interno/transverso (tendão conjunto – que é a junção do músculo oblíquo interno com o transverso. É outro ponto de reparo que se usa para operar a hérnia inguinal. Quais são os dois pontosde reparo que uso na cirurgia de hérnia inguinal? Resposta: Tendão conjunto e ligamento inguinal. OBS: LEMBRAR QUE NUNCA É EM MÚSCULOS. Os principais nervos que inervam do conteúdo da região inguinal: Nervo iliohipogástrico; nervo ilioinguinal e ramo genital do nervo genitofemoral (dentro do funículo). Abaixo do anel inguinal profundo estão os vasos epigástricos inferiores, são eles que classificam a hérnia em direta ou indireta. É um ponto anatômico que é usado para diferenciar uma hérnia de outra. As hérnias mediais (é uma falha, não é um alargamento) a esses vasos são as diretas. E as que estão laterais (alargamento) a esses vasos são indiretas. Na criança é uma hérnia indireta e no idoso hérnia direta. Esses slides é o que foi dito acima. Resumo do resumo. O triângulo de Hesselbach é uma área frágil, apenas fáscia transversalis. É um marco anatômico importante para classificação das hérnias e está muito relacionado as hérnias diretas. LEMBRAR QUE: • Abaixo do ligamento inguinal → hérnias femorais. Essa abertura na região do ligamento inguinal por onde passam os vasos femorais, as vezes esse canal femoral se alarga e coisas da barriga descem. • Acima do ligamento inguinal → hérnias inguinais. A hérnia inguinal é classificada em indiretas e diretas. As hérnias indiretas vêm de dentro para fora através do canal inguinal, vai em direção a bolsa escrotal: - Elas são congênitas e geralmente na infância; - Persistência do conduto peritoneovaginal; - Protusão pelo anel inguinal profundo/interno; - Elas são laterais aos vasos epigástricos. As hérnias diretas como elas são uma falha, ela cresce para frente, não vai descer e nunca vai atingir abolsa escrotal: - São hérnias adquiridas e geralmente em idosos; - Abaulamento da parede posterior do canal inguinal; - Área do triângulo de Hesselbach; - Elas são mediais aos vasos epigástricos. Os fatores que aumentam o risco para as hérnias são: • Aumento da PIA: Gravidez, tumores, ascite, obesidade e tosse crônica; • Fragilidade da parede: Doenças do colágeno, idade, tabagismo e DPOC. O que preciso saber de epidemiologia? • Tipo mais comum: Inguinal direita; • Sexo: Masculino; • Lado: Direito; • Hérnia mais comum da mulher: Inguinal; • As femorais são mais comuns em mulheres do que homens (Cai muito em prova); • A hérnia que mais encarcera: Femorais. As queixas principais são: Desconforto local, dor e abaulamento. Em relação ao exame físico, vamos seguir as seguintes etapas: 1. Examinar em ostostate (Paciente em pé sempre); 2. Depois pedimos para deitar e fazemos a manobra de vassalva (tosse, espirro); 3. Vamos fazer a manobra de Landivar: Coloco meu dedo dentro do anel inguinal externo no momento em que ele faz a vassalva que fica a meia distância entre o tubérculo púbico e a espinha ilíaca anterossuperior, se surgir a hérnia é direta, se empurro seu dedo para baixo, é indireta. Nem todo abaulamento em região inguinal é hérnia. Então os diagnósticos diferenciais são: Lipomas, hidrocel (manobra da laterna), testículo ectópico e torção de testículo. A classificação de Nyhus tem pouca aplicabilidade na prática e não cai na prova. O tratamento é sempre cirúrgico (padrão). • Cenário eletivo: - Paciente com desconforto e abaulamento em região inguinal há 5 anos. Tem piorado com o tempo. Ao exame físico: abaulamento redutível em região inguinal D. • Cenário urgente: - Paciente com desconforto e abaulamento em região inguinal há 5 anos. Tem piorado com o tempo. Hoje vem ao pronto socorro com dor, abaulamento, náuseas e vômitos e parada de eliminação de flatos e fezes. Ao exame físico: abaulamento não redutível, muito doloroso em região inguinal D + distensão e hipertimpanismo abdominal. OBS: A ÚNICA EXCEÇÃO DE NÃO OPERAR: É O DESEJO DO PACIENTE OU RISCO CIRÚRGICO MUITO ELEVADO. Existem 3 técnicas cirúrgicas: Bassini, Shouldice e Lichtenstein. 1. Bassini (1884): Uma linha de sutura em ponto puxando o tendão conjunto ao ligamento inguinal. Desvantagem: recidiva em até 10% dos pacientes. 2. Shouldice (1949): Faz quatro linhas de sutura, com reforço de aponeurose e músculos → vemos que é contrassenso, pois não é bom suturar músculo → mas reduzia recidiva. 3. Lichtenstein (1949): Aqui eu puxo o tendão pro ligamento, mas sem ter tanta tensão → com o uso de telas, faz fibrose local. É o procedimento de escolha atualmente → técnica livre de tensão, recidiva pequena. OBS: É O PROCESIMENTO PADRÃO OURO PARA CORREÇÃO DE HÉRNIAS SEM TENSÃO. Técnica por videolaparoscopia: Técnicas TAAP (trans abdominal) x TEP (extra-peritoneal): Você corrige por dentro do abdômen nessa técnica, serve tanto para direta como indireta. A vantagem da VLP é cobrir todos os orifícios. OBS: AS TÉCNICAS SEM TENSÃO SÃO MELHORES, OCORREM MENOS RECIDIVAS. Existem hérnia inguinal de urgência: • Hérnia encarcerada: São hérnias que não reduzem (a que sai e não consigo reduzir pro abdômen, dor importante. Você pode até tentar o não cirúrgico com analgésico e depois da melhora da dor tento reduzir, se não reduzir faço urgente, se conseguir faço a eletiva; • Hérnia estrangulada: São hérnias que não devo reduzir, já tem isquemia e necrose. No exame físico além da dor já tem sinais flogisticos (dor, rubor, edema e calor). Então devo realizar a cirurgia de emergência (o mais rápido possível). Pode abordar tudo pela região inguinal. As principais complicações das hernioplastias são: dor crônica, seroma, hematoma, infecção (pode retirar a tela ou não e antibiótico por 7 dias) e edema de bolsa escrotal. Outras hérnias que podem cair na prova. • Hérnia por Deslizamento: O saco herniário se confunde com a parede da víscera; • Hérnia de Amiand: O soca herniário contém o apêndice; • Hérnia de Littré: O saco herniário contém um divertículo de Meckel; • Hérnia de Richter: A borda antimesentérica da alça é piçada. Hérnia femoral ou crual: O canal femoral também pode formar outro tipo de hérnia, hérnia femoral no anel femoral: Passa abaixo do ligamento inguinal (a tela fica mais profunda). Sempre lembrar dos limites: • Lateral: Veia femoral; • Anterior: Ligamento iliopubico (de Thompson); • Posterior: Ligamento pectíneo (de Cooper) e fascia transversalis. Ou seja, a cirurgia na hérnia inguinal não previne uma hérnia femoral. Não podemos colocar a tela mais em baixo para “resolver” logo por cuidado com a artéria femoral, se cortar, morreu. Cirurgia: técnica de McVay – Aproximação do trato iliopúbico (tendão conjunto) ao ligamento de cooper. OBS: A FEMORAL É A HÉRNIA QUE MAIS ENCARCERA. A sua principal complicação é a neuropatia isquêmica → sinal de Howship Romber na coxa. É um raro defeito da parede abdominal póstero-lateral que resulta na extrusão de órgãos intra ou extra-peritoneais, como resultado de uma solução de continuidade entre os folhetos da fascia transversalis e as fibras músculo transverso do abdômen. Se apresentam espontaneamente, após trauma ou cirurgia, e menos frequentemente durante a infância (congênitas). Divididas em superior (hérnia de Grynfelt) e inferior (hérnia de Petit). Em crianças são congênitas e muito comuns. Se fecham espontaneamente na maioria dos casos por volta dos 2 anos de idade. Aquelas que persistem até 5 anos de idade são com frequência reparadas por operação, embora complicações relacionadas com essas hérnias em crianças sejam incomuns. Nos adultos são adquiridas. São mais comuns em mulheres e pacientes com condições que resultam em pressão intra abdominal aumentada como gravidez, obesidade, ascite ou distensão abdominal. Estrangulamento é incomum, entretanto pode ocorrer em condições de ascite crônica. Hérnias umbilicais assintomáticas pequenas que só são detectáveis no exame,não precisam de reparo. O tratamento é cirúrgico – Tela em > de 2 a 3 cm. As hérnias incisionais podem ser as mais frustrantes e difíceis de tratar. Ocorrem como resultado de tensão excessiva e cicatrização inadequada de uma incisão prévia, que em geral se associa a infecção do local cirúrgico. Aumentam ao longo do tempo, provocando dor, obstrução intestinal, encarceramento e estrangulamento. Fatores de risco: Doenças crônicas (diabetes mellitus descompensada), desnutrição, uso de corticosteroides, infecção de ferida cirúrgica, obesidade, tabagismo, anemia e tosse crônica. O tratamento é cirúrgico: Sempre com colocação de tela.