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LOGÍSTICA EMPRESARIAL AULA 3 Profª Rafaela Aparecida de Almeida CONVERSA INICIAL O objetivo desta aula é avançar um pouco mais na logística de suprimentos. Para isso, serão estudados os conceitos de suprimentos e as atividades que compõem a função de compras. Em seguida, identificaremos as etapas do fluxo de suprimentos. Abordaremos ainda a análise dos fatores básicos que influenciam a escolha do fornecedor decorrente da ótima da parceria entre comprador e vendedor. Por fim, coordenaremos o conhecimento a respeito da introdução à gestão de estoques, passando por seus objetivos e principais características como tipos e classificações. Portanto, neste encontro, vamos conversar sobre os seguintes temas: 1. Definição de suprimentos; 2. Ciclo de suprimentos; 3. Fatores básicos que influenciam a escolha do fornecedor; 4. Introdução a gestão de estoques; 5. Características dos estoques. Então, siga comigo para aprender mais sobre estes tópicos! CONTEXTUALIZANDO A Terceira Revolução Industrial, conhecida como Revolução Tecnológica, iniciada a partir da década de 1950, trouxe profundas mudanças em todo o sistema produtivo. O advento da internet e das novas tecnologias desenvolvidas, em especial a partir da década de 1990, possibilitaram que as informações fossem transmitidas rapidamente, romperam barreiras físicas e propiciaram o fenômeno chamado de globalização. A partir desse momento, as empresas passaram a compreender que não detinham mais a exclusividade de mercado e que seus clientes passavam a ter acesso a qualquer tipo de insumo, serviço ou tecnologia em qualquer parte do mundo e, portanto, que não poderiam mais realizar esforços isolados para atingir altos níveis de competitividade. Como consequência, as empresas passaram a ter uma nova visão de gestão, baseada no estabelecimento e gerenciamento de relacionamentos adequados com as empresas da cadeia de suprimentos, na ampliação de suas opções de suprimentos e no alcance de expressivas economias efetivas e melhores condições para o atendimento das necessidades de produção e estoque, o que seria essencial para obtenção de diferenciais competitivos. Com isso, a gestão de compras passou a ser tratada estrategicamente, como um fator que pode afetar a lucratividade, garantir o abastecimento e gerir riscos de fornecimento de insumos, enfim, gerar valor para as organizações. Neste momento, você deve estar se perguntando: será que todas as empresas, nos dias de hoje, possuem esse entendimento da importância da correta gestão de suprimentos? A resposta é não! Na maioria das empresas, a gestão de compras ainda é tratada de forma secundária e operacional, por razões culturais, por falta de tecnologia, mas principalmente pela falta de conhecimento sobre o que fazer e como fazer, na prática, a gestão estratégica de compras. É por essa razão que nesta aula abordaremos os conceitos de suprimentos, a nova visão de compras e da parceria com fornecedores, chegando à gestão de estoques. Esse conhecimento irá possibilitar a você uma visão mais ampla e analítica da logística de suprimentos. TEMA 1 – DEFINIÇÃO DE SUPRIMENTOS A logística de suprimentos é a fase que dá início ao ciclo da cadeia logística com base na análise das demandas provenientes dos clientes. Nessa fase, o principal elemento são os fornecedores que abastecem a manufatura com matérias-primas e componentes (Figura 1). Figura 1 – Cadeia de suprimentos Ballou (2012) destaca que as atividades identificadas no canal de suprimentos podem ser consideradas fundamentais para a administração de materiais e possui como principais tarefas a inicialização e a transmissão de pedidos de compras; transporte dos materiais até a manufatura e manutenção de estoques nas fábricas, com vistas à satisfação das necessidades do sistema de operações. De acordo com Martins (2019, p. 118), o subsistema de suprimentos tem por função prover o material certo, no local de operação certo, no instante correto e com o mínimo de custo possível. Fazem parte deste sistema: a obtenção dos materiais e componentes e a gestão de estoques de materiais e matérias-primas em geral. Martins (2019) destaca como processos típicos de suprimentos: O desenvolvimento de estratégias de terceirização; O esclarecimento das exigências de compras; O planejamento do fluxo de recebimento de materiais; O planejamento e aquisição de recursos; Identificação, avaliação e desenvolvimento de fornecedores; Identificação da capacidade crítica de materiais e fornecedores; Colaboração com fornecedores e fabricantes; Negociação e gerenciamento de contratos; Operações de armazenagem. Portanto, a logística de suprimentos está relacionada à função de compras, responsável pela aquisição de matérias-primas, insumos, serviços e equipamentos que serão utilizados no sistema produtivo da organização. 1.1 A FUNÇÃO DE COMPRAS Figura 2 – Ordem de compras Crédito: Rawpixel.com/Shutterstock. De acordo com Morais (2015), a função de compras é primordial para garantir a continuidade dos processos produtivos da empresa, sendo responsável pela aquisição, no mercado fornecedor, de materiais e serviços que a empresa não tenha condições ou interesse de produzir internamente. O objetivo da área de compras está “em atender às necessidades da empresa quanto a materiais e/ou serviços, adquirindo-os na quantidade certa, na qualidade desejada e ao menor custo e disponibilizando-o no momento requerido e no local indicado” (Morais, 2015, p. 220). Dessa forma, podemos citar como atividades básicas desenvolvidas pela área de compras: Seleção de fornecedores; Colocação de pedidos junto a fornecedores; Compra de insumos e contratação de serviços aos menores preços; Obtenção de fluxo contínuo de suprimentos na quantidade suficiente para atender às necessidades da empresa sem gerar estoques em excesso; Acompanhamento dos pedidos; Negociação de melhores condições de pagamento junto a fornecedores; Avaliação de fornecedores; Portanto, concluímos que os objetivos básicos da função de compras são a aquisição de materiais e serviços ao menor preço, garantindo a qualidade e quantidades esperadas no momento certo para o abastecimento da cadeia produtiva. No entanto, Martins (2019) destaca que compras não é mais apenas uma função responsável pelo abastecimento, mas sim uma peça-chave no planejamento estratégico empresarial e no alcance dos seus objetivos de minimização de custos e maximização de diferencial competitivo. Nesse sentido, Morais (2015) destaca que, além da aquisição de produtos e contratação de serviços, a área de compras é responsável pelas seguintes atividades: Pesquisa e estudo de mercado: relacionado à busca de informações sobre mudanças no mercado fornecedor; Estudo de materiais: busca por materiais alternativos; Análise de custos: avaliação dos custos de itens que a empresa pretende adquirir; Novas fontes de fornecimento: busca de novos fornecedores para estabelecer parcerias ou ampliação do quadro existente; Desenvolvimento de fornecedores: auxiliando fornecedores a desenvolver soluções ou processos que melhorem ou ampliem a capacidade de fornecimento; Decisão entre contratos ou mercado: diz respeito à análise entre firmar contratos de fornecimento ou a realização de concorrências de acordo com a necessidade de comprar certo item; Negociação de contratos: definição junto a fornecedores das condições de fornecimento de longo prazo ou com foco em determinado projeto; Acompanhamento do recebimento de materiais: verificação se os materiais recebidos estão de acordo com o solicitado; Estimativa de custos: levantamento de custos para novos projetos. Vale destacar que o departamento de compras também interage com outras áreas da empresa – por exemplo, produção, engenharia, planejamento e controle da produção (PCP), o departamento financeiro e a contabilidade. Além disso, essa área adquiriu responsabilidades muito mais abrangentes, sendo vista comparte estratégica do processo logístico. TEMA 2 – CICLO DE SUPRIMENTOS Vimos que a função de compras ou de suprimentos se tornou uma área estratégica dentro das organizações, no entanto nem sempre foi assim. Antes da década de 1990, na qual tivemos o advento da internet e passamos a utilizar as tecnologias de informação, as empresas trabalham com fornecedores mais próximos fisicamente. Muitas vezes as cotações eram realizadas de acordo com a demanda, com diferentes fornecedores e sem técnica alguma, ou seja, a cada nova demanda eram realizadas diferentes cotações e ganhava o fornecedor que tivesse o melhor preço. Atualmente as organizações, em sua maioria, trabalham com um número reduzido de fornecedores, que possam atender a seus requisitos de qualidade e suas demandas a qualquer tempo. Da mesma forma, passaram a implementar um fluxo de compras a fim de padronizar seus processos de suprimentos, o qual pode variar de uma organização para outra, envolvendo mais ou menos etapas. 2.1 FLUXO DO PROCESSO DE SUPRIMENTOS O fluxo de um processo de suprimentos ou de compras se inicia muito antes da inclusão do pedido junto ao fornecedor, com a análise e planejamento dos materiais que deverão ser comprados e finaliza somente quando os itens são liberados para a entrada no estoque ou alimentação da linha de produção. Vejamos a seguir um modelo de ciclo de suprimentos (Figura 2): Figura 3 – Ciclo de suprimentos Preparação do pedido: envolve todas as atividades relacionadas com o levantamento de informações acerca dos produtos ou serviços que serão adquiridos, tais como: planejamento técnico: envolve a análise da demanda, de quantidades, tipos de produtos e especificações técnicas; realização de cotação: solicitação de cotação aos fornecedores cadastrados para o fornecimento do item (ou itens) demandados; análise das cotações: análise da proposta que atenda a demanda, nas condições solicitadas e ao menor custo; negociação: ajuste das condições de fornecimento, quantidades, prazo de entrega e condições de pagamento, por exemplo. Emissão e transmissão do pedido: após validada a proposta do fornecedor, é emitido o pedido de compra, que pode ocorrer manualmente e ser enviado por e-mail ou via sistema, por meio de EDI - Electronic Data Interchange, em português troca eletrônica de dados. A transmissão e o aceite do pedido por parte do fornecedor formaliza o processo e tem poder de contrato entre as partes; Acompanhamento do pedido: esta etapa visa manter os clientes informados a respeito do status e da localização do pedido, bem como previsão de entrega e de possíveis atrasos. Vale ressaltar que munir o cliente de informações não é mais um diferencial, mas um item básico e indispensável por parte dos fornecedores; Recebimento das mercadorias: trata-se da conferência realizada na entrada dos produtos adquiridos na empresa e é dividida em dois momentos: Conferência fiscal: verifica se os as informações constantes na nota fiscal eletrônica (NFE) estão de acordo com o pedido; Conferência física: qualitativa, na qual são avaliados quesitos como integridade da embalagem, aspecto visual do produto, prazo de validade, especificações técnicas e quantitativa para validar se as quantidades recebidas estão de acordo com a nota fiscal. Após as conferências, se tudo estiver de acordo, os produtos serão liberados para estocagem ou linha de produção; do contrário, passará pelo processo de recusa e devolução. Aprovação das faturas e autorização de pagamento: realizadas as devidas conferências e todos os quesitos do pedido tendo sido aprovados, será autorizado o pagamento das faturas de compra. Ballou (2012) destaca que a boa administração de materiais significa coordenar a movimentação de suprimentos com as exigências da operação, de modo a prover o material certo, no local de operação certo, no instante preciso e em condições utilizáveis, com o menor custo possível. TEMA 3 – FATORES BÁSICOS QUE INFLUENCIAM A ESCOLHA DO FORNECEDOR Figura 4 – Fornecedor Crédito: Zouls/Shutterstock. A seleção e a gestão dos fornecedores são algumas das principais atividades da área de compras. A correta escolha dos parceiros da cadeia de suprimentos pode representar e garantir o sucesso da organização, no entanto os critérios de seleção irão depender do segmento ou ramo de atividade da contratante. Durante muito tempo, a relação entre compradores e fornecedores estava mais para uma disputa entre as partes envolvidas do que uma relação de cooperação. Atualmente, as empresas têm entendido que estabelecer uma relação de parceria pode trazer benefícios importantes, como relacionamentos qualitativamente superiores, economia de escala, dada pelo maior volume de compras e a redução do risco de suprimento, pois o fornecimento é amparado por contrato estabelecido entre as partes. As empresas têm trabalhado com um número reduzido de fornecedores, e suas relações são formalizadas por meio de contratos que regem as regras de conduta entre comprador e vendedor. Dessa forma, o desenvolvimento de fornecedores demanda a análise de diversos critérios que vão muito além de preço e prazo de entrega. 3.1 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES Ao selecionar um fornecedor, é desejável que ele seja confiável, com boa reputação no mercado, financeiramente sólido e principalmente com capacidade técnica para atender às especificações dos materiais fornecidos, com o menor número possível de defeitos, ao menor tempo e com os melhores preços. Vejamos a seguir quais são os fatores básicos que devem influenciar a escolha de fornecedores: 3.1.1 CAPACIDADE TÉCNICA OU PRODUTIVA Habilidade técnica para produzir ou fornecer o produto desejado; Layout fabril, maquinários, equipamentos e recursos humanos adequados; Capacidade da unidade fabril; Capacidade de desenvolvimento do fornecedor; Velocidade no desenvolvimento do fornecedor; Disponibilidade de materiais/serviços para testes; Capacidade tecnológica e sistemas de gerenciamento; Prazos de entrega; Localização geográfica. 3.1.2 CAPACIDADE FINANCEIRA Condições econômicas; Estabilidade financeira; Preços competitivos. 3.1.3 CRITÉRIOS DE QUALIDADE E CONFIANÇA Reputação ilibada (bons antecedentes e boa referência no mercado em que atua); Histórico de bons serviços prestados; Boa carteira de clientes; Qualidade dos produtos; Certificação de qualidade; Pontualidade nas entregas; Cumprimento dos prazos de entrega; Informação no acompanhamento dos produtos e bom serviço de pós-venda. A correta seleção dos fornecedores permite uma relação estratégica de parceria, que atenda aos interesses comuns entre as partes, de modo que possam construir juntos uma vantagem competitiva que faça frente aos seus concorrentes. TEMA 4 – INTRODUÇÃO À GESTÃO DE ESTOQUES Reduzir ou manter estoques? Eis a questão! Este talvez seja um dos maiores dilemas dos gestores logísticos, uma vez que manter estoque pode representar dinheiro parado ou materiais obsoletos e por outro lado, a falta de materiais pode comprometer o atendimento tendo como consequência a perda de clientes para a concorrência. Morais (2015, p. 164) conceitua estoques como “qualquer acúmulo de materiais de suprimentos que uma empresa ou instituição mantém para alimentar o seu processo produtivo”. Portanto, estoque pode ser considerado qualquer material, seja ele matéria-prima, em transformação ou produto acabado que as empresas irão utilizar em seus sistemas produtivos ou para distribuição física à clientes e consumidores. A gestão de estoques, por sua vez, envolve toda a administração desses materiais contemplando: a responsabilidade pelos valores e quantidades armazenados, as políticas de estoque, as definições dos tempos de ressuprimento e o controle das entradas, saídas e do salto disponível. Nogueira (2012, p. 100) destaca como principais atividades da gestão de estoques: Figura 5 – Principais atividades da gestão de estoques A gestão de estoques envolve, portanto,o planejamento do estoque, a gestão da demanda com base nas informações provenientes do ambiente interno e externo, por meio da classificação dos materiais, o controle com base nos inventários e a partir das etapas anteriores, a sua avaliação, de forma que o planejamento seja mantido ou reavaliado nos casos de falhas, rupturas ou baixa acuracidade. 4.1 OBJETIVOS DO ESTOQUE Ballou (2012) e Morais (2015) destacam os principais objetivos dos estoques: Prevenção de incertezas: pautada na previsão de vendas futuras e na estimativa dos tempos de ressuprimento (desde o ponto de colocação do pedido até a entrega do material), visa prevenir incertezas e garantir que em caso de aumentos de demanda ou atrasos por parte de fornecedores exista material em estoque para dar continuidade às operações ou vendas; Controle de custos: visa encontrar o equilíbrio e balancear os custos de manutenção de estoques, de aquisição e de faltas; Previsão de demanda e de sazonalidades: busca prever a quantidade de produtos que serão absorvidos pelo mercado consumidor servindo de base para o planejamento empresarial ou antecipar-se a um aumento de demanda em determinados períodos, como Páscoa e dia das mães, por exemplo; Compensação de restrições produtivas: trata-se de compensar a diferença entre a capacidade produtiva e a demanda, quando esta for maior, de forma que seja garantida a disponibilidade de material necessário à produção no período em que se aguarda a chegada do ressuprimento. Com base nos objetivos propostos pelos autores, vamos responder à pergunta inicial do nosso tema, avaliando quando devemos e quando não devemos manter estoques. Morais (2015) destaca cinco razões para manter estoques e cinco razões para não manter estoques: Figura 6 – Razões para manter e para não manter pos estoques De acordo com Nogueira (2012), as empresas mantêm estoques devido a algumas causas, que, se eliminadas, eliminam também a necessidade de ter estoque, dentre as quais se destacam: Incertezas; Flutuações de ofertas; Erros nas previsões e expectativas; Políticas de gestão de estoques ultrapassadas; Falta de conhecimento, como conceitos e técnicas de gestão de estoques; Falta de informações ocasionadas por sistemas precários e falta de confiabilidade nos dados. Para Nogueira (2012), quando as causas não são tratadas, trazem consequências para a empresa tais como: Cria necessidade de maior espaço físico; Implica maiores custos operacionais (pessoas, equipamentos); Provoca falta de liquidez financeira (pois há alto valor financeiro empregado nos estoques; Pode causar perdas por avarias ou obsolescência; Implica maior custo com seguro dos materiais; Produz mais despesas administrativas decorrentes da maior necessidade de planejamento, controle, manuseio, inventários; Pode causar perdas por desvalorização das mercadorias. Portanto, aqui vale a máxima: quanto menos melhor! A correta gestão de estoques irá auxiliar a organização a encontrar o equilíbrio entre o atendimento ao cliente no tempo certo e a redução dos estoques ao longo da cadeia de suprimentos. 4.2 INVENTÁRIO Pelas razões que vimos anteriormente, as empresas têm trabalhado com estoques cada vez mais enxutos, o que demanda maior atenção quanto à sua acuracidade. Imagine a seguinte situação: um e-commerce recebe um pedido de cinco pares de sapatos diferentes. De acordo com o sistema, todos esses pares estão disponíveis em estoque. No momento da separação dos itens, o colaborador responsável constata que, para um dos modelos, o produto não está disponível fisicamente e, para um segundo item, a cor encontrada é diferente da solicitada. O que fazer nesse caso? A empresa deverá enviar o pedido parcial ao consumidor ou checar a disponibilidade dos produtos em outras unidades, atrasando o envio, ou ainda realizar a devolução do pagamento. Independentemente do que esse e-commerce faça nesse momento, o mais provável é que haverá um cliente insatisfeito e um prejuízo financeiro e de imagem para a empresa. A grande prioridade da gestão de estoque é garantir que as entregas sejam realizadas conforme seus pedidos. Nogueira (2012, p. 119) destaca que “acompanhar os saldos de materiais em estoque é de grande importância para bons resultados do nível de serviço”. Sendo o inventário “uma ferramenta poderosa para acompanhar e manter o bom nível de acuracidade dos itens em estoque” (Nogueira, 2012, p.119). Figura 7 – Inventário Crédito: Ivector/Shutterstock. Existem dois tipos fundamentais de inventários: 4.2.1 INVENTÁRIO GERAL Usualmente realizado no fechamento contábil do exercício. A contagem é realizada a portas fechadas, com muitas pessoas envolvidas. Nesse modelo, são contados todos os itens e, portanto, sua duração é longa, consumindo vários dias de trabalho. Devido ao grande volume, os ajustes e a identificação das causas de discrepâncias assim como ajustes e conciliações se tornam mais difíceis (Morais, 2015). 4.2.2 INVENTÁRIO ROTATIVO OU CÍCLICO Trata-se da contagem física contínua dos itens com base numa frequência predeterminada (diária, semanal ou mensal) organizadas em ciclos e períodos em função da quantidade e das categorias dos materiais (classificação ABC e XYZ). Indicado para empresas que possuem um maior controle de seus estoques e atuam proativamente nas causas das divergências identificadas (Nogueira, 2012). O importante é que cada organização identifique o melhor método para a gestão de seus estoques. Vale lembrar que a disponibilidade do item ao consumidor final representa a largada na frente entre os seus concorrentes. Saiba mais COMO FAZER UM INVENTÁRIO? 5 erros mais comuns no controle de estoque! Ser Logístico, 11 out. 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iKNPIiL0KtQ>. Acesso em: 14 jan. 2021. TEMA 5 – CARACTERÍSTICAS DOS ESTOQUES Você já parou para pensar na quantidade de itens que uma mesma empresa pode ter estocado? E como diferenciá-los entre si ou ainda, como saber quais itens demandam maior prioridade na gestão dos inventários? https://www.youtube.com/watch?v=iKNPIiL0KtQ A partir de agora, vamos conhecer os principais tipos e classificações dos estoques. 5.1 TIPOS DE ESTOQUE Os estoques podem ser classificados em diversos tipos. Nogueira (2012) e Morais (2015) os classificam de acordo com sua natureza, relevância e utilização em: Matéria-prima: refere-se aos materiais que requerem processamento para serem transformados em produto acabado. Sua quantidade será definida em função das distâncias entre os fornecedores e a operação, tempo de entrega e quantidade de elos da cadeia. Exemplo: aço, alumínio, madeira; Produtos em processo: correspondem a todos os materiais que passaram por algum tipo de transformação, porém não atingiram a forma final do produto a ser comercializando e que estão aguardando o próximo estágio de produção. Exemplo: chapas dobradas e suportes; Produto acabado: trata-se dos produtos que finalizaram seu processo de transformação e estão prontos para serem comercializados. Exemplo: sapatos, eletrônicos, equipamentos; Materiais de embalagem: correspondem a recipientes utilizados para embalar ou transportar produtos. Exemplo: caixa de papelão, caixa de madeira e tambores; Componentes: contemplam materiais essenciais no processo produtivo e que sua falta poderá ocasionar uma parada de linha de montagem. Exemplo: porca, parafusos e arruelas. Pode haver ainda estoques de especulação quando há a intenção de ganhos financeiros, por parte da organização seja pela valorização ou possível escassez do produto. 5.2 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTOQUES: CURVA ABC E XYZ Ao longo de uma cadeia de suprimentos, diferentes tipos de materiais são utilizados, com maior ou menor frequência, com alto valor agregado ou itens de valores mais irrisórios. Nesse sentido, é importante a classificação dos estoques para manter um melhor controle e redução de custos, sem comprometer o nível de atendimento. Vamos dar um exemplo, quando você vai ao supermercado,é muito provável que evite comprar e fazer estoques de itens de alto valor, pois isso poderia comprometer uma boa fatia de sua renda. Por outro lado, é provável que você adquira maiores quantidades de itens de menor valor e que utilize com maior frequência. A lógica é a mesma dentro de uma organização. Nesse sentido, Nogueira (2012, p. 104) destaca que “se não soubermos quais são os itens de maior ou menor valor em nosso estoque, corremos o risco de comprar o desnecessário para aquele momento, ou termos falta de material, elevando de forma significativa o valor do nosso estoque”. Um dos métodos mais conhecidos para a classificação de estoques é a curva ABC, baseada no diagrama de Pareto, na qual os itens são separados em três classes: Classe A: itens que possuem alto valor de demanda ou consumo anual. Estima-se que 20% dos itens em estoque representam 80% do valor em estoque. Por se tratar de materiais com maior valor econômico demandam maior prioridade e atenção por parte dos gestores; Classe B: itens que possuem um valor de demanda ou consumo anual intermediário, mas ainda com necessidade de atenção. Nessa classe 30% dos itens em estoque correspondem a 15% do valor em estoque; Classe C: itens que possuem um valor de demanda ou consumo anual baixo. Nessa classe, o impacto econômico, no caso do estoque é menor, uma vez que, 50% dos itens em estoque correspondem a 5% do valor em estoque. A tabela a seguir representa o percentual da classificação ABC dos itens em estoque de acordo com o diagrama de Pareto. Figura 8 – Diagrama de Pareto Classificação ABC Quantidade em estoque (%) Valor em estoque (%) A 20% 80% B 30% 15% C 50% 5% Vale ressaltar que nessa classificação os itens de classe A receberão maior atenção, por sua representatividade financeira, pois quanto maior a quantidade destes itens em estoque, maior será o investimento financeiro necessário. Outra classificação que vem sendo adotada pelas organizações é a XYZ, na qual os itens são classificados de acordo com o critério de criticidade: Classe X - itens de baixa criticidade (não prioritários ou ordinários) : sua falta pode até comprometer o atendimento, mas não implica maiores consequências, como paradas de linha de produção, riscos de segurança ou danos ao patrimônio. São caracterizados por itens que possuem alternativas de materiais substitutos e por um fornecimento facilitado e rápido; Classe Y – itens de criticidade média (intermediários ou intercambiáveis): itens cuja falta causa um transtorno razoável dentro da organização. Apresentam razoável possibilidade de substituição por outros materiais disponíveis no mercado; Classe Z – itens de máxima criticidade (prioritários ou vitais): considerados imprescindíveis para o andamento dos trabalhos, cuja falta acarreta consequências críticas, tais como interrupção dos processos da empresa, parada das operações e risco para pessoas e ao patrimônio. Trata-se de materiais que não podem ser substituídos por equivalentes e que implicam maior dificuldade de aquisição e maior tempo para ressuprimento. Os dois sistemas de classificações (ABC e XYZ) podem ser utilizados isoladamente ou de forma a se complementarem. Por exemplo, determinado item pode ser consumido em baixos valores, porém pode apresentar alta criticidade ou ainda, materiais com alto valor consumido, mas que possui vários fornecedores ou substitutos, simplificando a gestão de estoques. A correta gestão de estoques permite reduzir custos e melhorar o nível de atendimento aos clientes, tornando as organizações mais competitivas no mercado, portanto, cabe a cada uma estudar e avaliar o sistema que melhor se adapta as suas demandas. TROCANDO IDEIAS Agora, acesse o fórum da disciplina, que está disponível no AVA, e debata com seus colegas de UTA sobre a correta escolha dos fornecedores e quais suas vantagens para as empresas contratantes. Participe e veja o que seus colegas pensam sobre esse tema. NA PRÁTICA Leia o fragmento a seguir a respeito do desenvolvimento de fornecedores pela Volkswagen do Brasil: A complexidade do negócio da Volkswagen do Brasil requer uma ampla base de fornecedores e exige que a empresa mantenha um trabalho contínuo de desenvolvimento – o tópico cadeia de fornecimento sustentável é um dos temas relevantes para a empresa. Ao final de 2016, a base de fornecedores era composta por 3012 empresas, divididas entre fornecedores produtivos, que alimentam o ciclo de produção da Volkswagen do Brasil com o abastecimento de componentes e subconjuntos para a fabricação de motores e veículos e fornecedores de compras gerais, relacionados aos setores de máquinas, equipamentos e serviços. Com parceiros provenientes de todos os continentes, a empresa busca priorizar a contratação de fornecedores do Brasil, desde que se mantenha assegurado o cumprimento de itens como qualidade, preço e prazos de entrega. Outro critério importante é a comprovação de que os parceiros contam com um sistema de gestão ambiental estruturado, em consonância com a ISO 14001 ou outras normas. A estratégia, que estimula o desenvolvimento da cadeia e traz ganhos de eficiência e otimização de recursos para a própria empresa, vem ganhando força no atual movimento da gestão que trabalha para tornar a Volkswagen do Brasil ainda mais ágil, desburocratizada e competitiva (Nosso..., s. d.) Responda às questões a seguir: a. Por que a relação de parceria com fornecedores é importante para as organizações? b. Na sua opinião, quais seriam as razões para a Volkswagen primar por fornecedores brasileiros? FINALIZANDO Nesta aula, você pode aprender mais a respeito da logística de suprimentos, a fase que dá início ao ciclo da cadeia logística, o que permite uma análise do porquê a área de compras passou a ter um papel de destaque nas organizações. Na sequência, compreendemos que cada vez mais as empresas têm estabelecido relações de parceria com os fornecedores e, portanto, que muitos fatores, que vão além do preço e prazo de entrega, devem ser levados em consideração no momento da escolha desses parceiros. Por fim, conseguimos responder à pergunta: “estoques, reduzir ou manter”. Conhecemos ainda os tipos de inventários e os tipos e classificações mais conhecidos de estoques. O conhecimento adquirido nesta aula nos servirá como base para nossa próxima aula, na qual o nosso foco será voltado para a armazenagem. REFERÊNCIAS BALLOU, R. H. Logística empresarial: transporte, administração de materiais, distribuição física. São Paulo: Atlas, 2012. MARTINS, R. S. Gestão da logística e das redes de suprimentos. Curitiba: InterSaberes, 2019. MORAIS, R. R. Logística empresarial. Curitiba: InterSaberes, 2015. NOGUEIRA, A. S. Logística empresarial: uma visão local com pensamento global. São Paulo: Atlas, 2012. NOSSOS fornecedores. Relato Web, S.d. Disponível em: <https://relatoweb.com.br/volkswagen/2016/pt/nossos-fornecedores.html>. Acesso em: 14 jan. 2021.