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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2 ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO: LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO, PENSAMENTO,
EXPRESSÃO, SOCIEDADE E CULTURA .................................................................. 5
2.1 Mediação Simbólica e Comunicação ................................................................ 6
2.2 Linguagem e Pensamento ................................................................................ 7
2.3 O modelo mais aceito dentro da linguística escolar .......................................... 9
2.4 O biológico e o cultural: os desdobramentos dos pensamentos de Vygotsky 11
2 FALA E A ESCRITA, MODALIDADES DA LÍNGUA .............................................. 13
2.1 Modalidades de linguagem: Fala e escrita ...................................................... 17
2.2 Linguagem social ............................................................................................ 20
3 INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL ...................................................... 22
4 TIPOLOGIA TEXTUAL .......................................................................................... 27
4.1 Tipo ................................................................................................................. 29
4.2 Subtipo ............................................................................................................ 33
4.3 Gênero ............................................................................................................ 34
4.4 Espécie ........................................................................................................... 35
5 ESTRUTURA E PRODUÇÃO DE PARÁGRAFOS ............................................... 37
5.1 Estrutura e características de um parágrafo ................................................... 38
5.2 Estrutura textual .............................................................................................. 42
5.3 Elementos textuais ......................................................................................... 45
6 GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA........................................................... 46
6.1 Ortografia e pontuação ................................................................................... 50
6.2 Concordância nominal e verbal ...................................................................... 52
7 ESTUDOS DE GRAMÁTICA: FLEXÃO ................................................................ 54
7.1 O ensino de flexão verbal ............................................................................... 56
7.2 Regência verbal .............................................................................................. 57
3
7.3 Regência nominal ........................................................................................... 59
7.4 Pronomes ....................................................................................................... 60
8 REDAÇÃO EMPRESARIAL .................................................................................. 63
8.1 Princípio básico do texto comercial ................................................................ 65
8.2 Eficiência do texto ........................................................................................... 66
8.2 Características dos textos empresariais modernos ............................................. 67
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 71
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO: LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO,
PENSAMENTO, EXPRESSÃO, SOCIEDADE E CULTURA
No início da existência humana, as pessoas já tinham algumas necessidades
internas: linguagem, comunicação e pensamento. A linguagem surge da necessidade
de comunicar. A comunicação vem do processo de linguagem, seja verbal ou não
verbal. Assim, podemos dizer que a linguagem e a comunicação são um dos
processos psicológicos básicos mais importantes e necessários para a existência
humana. Sem esses processos, a convivência social não seria possível.
Segundo o dicionário Aurélio (2014), comunicação significa a capacidade de
trocar pensamentos ou discutir, dialogar, conversar visando alcançar um bom
entendimento mútuo entre as pessoas e também a convivência. A comunicação é um
processo complexo que pode ser alcançado de diferentes maneiras. A linguagem, a
comunicação e o pensamento ocorrem nesses processos mencionados. A aquisição
da linguagem é um marco no desenvolvimento humano (REGO, 2013). Esses
processos psicológicos superiores distinguem o ser humano do animal não humano.
Discutir o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem requer um
conhecimento prévio dos processos de pensamento (MIRANDA; SENRA, 2012).
Argumentando que a linguagem consiste em um sistema simbólico que faz a
mediação entre o sujeito e seu objeto de conhecimento, o autor afirma que as palavras
que veiculam signos da relação de um indivíduo com o mundo são generalizações.
Cada palavra refere-se a uma categoria de objetos, formando um signo a partir dessas
categorias e conceitos.
Segundo os autores supracitados, os conceitos são estruturas culturais nas
quais os indivíduos adentram durante o processo de desenvolvimento e que se
definem no mundo real, no universo cultural, a partir das propriedades dos elementos
localizados e selecionados. Nesse conceito, os significados são dados pela cultura
em que o sujeito se desenvolve, permitindo que o indivíduo organize a realidade em
categorias e conceitos (VYGOTSKY, 2017) com um olhar crítico, resultante da criação
do conhecimento, da penetração do entendimento e compreensão para se adaptar de
forma independente aos fenômenos sociais que prevalecem na sociedade.
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2.1 Mediação Simbólica e Comunicação
Vygotsky dedicou-se ao estudo das chamadas funções psicológicas
superiores, ou processos mentais, consideradas complexas e "superiores" porque se
referem a mecanismos intencionais, ação conscientemente guiada, processos
voluntários que permitem ao indivíduo ser independente (REGO, 2017).
Vygotsky entendia a linguagem em todos os grupos humanos como um sistema
simbólico fundamental desenvolvido ao longo da história social, que organiza os
signos em estruturas complexas e desempenha um papel importante na formação das
características psicológicas humanas. Isso também é confirmado pelo autor,
enfatizando que os processos não são inatos, eles surgem das relações entre os
indivíduos e se desenvolvem no processo interno do comportamento cultural. Os
processos elementaressão biológicos, enquanto os superiores são a maturação.
Vygotsky distingue dois elementos responsáveis pela transmissão simbólica: o
instrumento que regula a atividade entre os objetos e o signo que regula a atividade
na psique humana (REGO, 2017). Os sistemas simbólicos são entendidos como
representações da realidade, funcionam como elementos mediadores que
possibilitam a comunicação entre os indivíduos e formam significados a serem
compartilhados entre interações sociais de grupos culturais. Para Vygotsky, o
processo de atividade mental seria assegurado pela cultura e pela mediação
simbólica. A mediação simbólica é importante na teoria de Vygotsky sobre a atividade
psicológica, pois para ele, a interação humana com o mundo não é direta, mas
mediada pelo estímulo que promove aquela atividade, a presença de elementos
mediadores traz conexão com o restante do organismo ambientais, tornando-as mais
complexas.
Em resumo, existem dois tipos de elementos mediadores na teoria de Vygotsky,
quais sejam: instrumentos e signos; embora haja analogia entre esses dois tipos de
intermediários, eles possuem características bastante distintas, pois o instrumento é
o objeto social da ação humana e o intermediário da relação do indivíduo com o
mundo, já o signo, está relacionado as ações que irão controlar e ou auxiliar o homem
em algumas atividades que exigem memória e escolha. O homem pode criar seus
próprios instrumentos para fins específicos, de comunicar sua metodologia
operacional e construtiva a outros membros de um grupo social.
Os símbolos são ferramentas da atividade mental que funcionam como
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ferramentas de trabalho, ou seja; os marcadores ajudam nossos cérebros a se
tornarem mais sofisticados, permitindo maior controle sobre o comportamento, e uma
maior atividade mental nos dá a capacidade de pensar, lembrar e raciocinar. “Um
símbolo em sua forma mais simples é um signo externo que ajuda as pessoas a
realizar tarefas que requerem memória ou atenção” (VYGOTSKY, 2009). Portanto,
além de demonstrar a importância das relações sociais entre os indivíduos, acredita-
se que a combinação dessas duas ferramentas seja essencial para o desenvolvimento
dos processos psicológicos globais.
2.2 Linguagem e Pensamento
Para Vygotsky, existe uma troca social: o homem cria e usa sistemas de
linguagem para se comunicar com seu semelhante. Para possibilitar uma
comunicação mais complexa, essa comunicação requer uma segunda função da
linguagem: a síntese de ideias. Essas são as marcas da simplificação e generalização
da experiência vivida, permitindo que ela seja transmitida a outros (OLIVEIRA, 1993).
A linguagem é um veículo para pensamento, emoção e expressão emocional, mas o
mais importante, um veículo para comunicação social (NOVAES, 1962).
Assim, a linguagem fornece ao sujeito um meio para expressar o pensamento.
A linguagem será então um conjunto de signos usados conscientemente na
comunicação interpessoal. Por meio da linguagem, interesses, crenças,
conhecimentos, aspirações e ideais comuns são comunicados entre os indivíduos e
as gerações futuras. A linguagem pode ser vista como uma forma de adaptação dos
indivíduos ao meio ambiente, a função social da linguagem. A linguagem e a
comunicação estão intimamente relacionadas e constituem um processo único que
envolve a expressão dos aspectos mais complexos e diversos da personalidade
humana.
A linguagem enriquece o pensamento integrando-se no processo evolutivo do
indivíduo. Acreditamos que a linguagem desempenha um papel importante nos
processos cognitivos que moldam a mente. Mas não acreditamos, assim como
Novaes, visto que a linguagem se limita a transmitir ideias pré-existentes, pode
também transmitir, moldar e comunicar ideias.
Inicialmente, a linguística aplicada a documentos escritos (enciclopédias) era o
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conhecimento básico e obrigatório de múltiplas línguas. Saussure (2017) argumenta
que esse molde se quebrou ao usar uma linguagem e uma voz estrutural e
independente. Nesse caso, os signos linguísticos são o resultado da semântica
(imagens sonoras ou palavras) e dos significados (conceitos, imagens). Essa
abordagem oferece uma maneira de entender o presente sem as regras do bem e do
mal, sem ter que recorrer à história.
Na pesquisa do linguista Bakhtin (2011), a construção do sujeito se dá por meio
de suas relações sociais a partir do estudo do materialismo. A linguagem é necessária
para a comunicação entre as pessoas e será a aquisição da cultura. Nestes aspectos,
a ideia do autor mencionado difere de Saussure, que entendia a linguagem falada e
escrita como a mesma coisa. A linguagem é um complexo processo de formação
mediado pela interação dialógica entre as pessoas por meio da qual se materializa em
palavras com múltiplos significados no contexto de jogos retóricos que as envolvem
na vida cotidiana. A fala é uma espécie de ponte entre mim e os outros. Se por um
lado depende de mim, por outro, depende do meu interlocutor (BAKHTIN, 2006).
Para Berwick e Chomsky (2017), que se debruçaram sobre a pesquisa
cognitiva, a linguagem fará parte da herança genética humana (gramática interna),
pois desconhecemos sua estrutura, e o desempenho linguístico, dependerá dos
estímulos do ambiente linguístico e de como a humanidade usa as estruturas básicas
da linguagem comum. Ele se concentra na gramática e nas estruturas abstratas,
examinando os aspectos corretos e incorretos da linguagem. Para este autor, não é
preciso conhecer sua história para falar o idioma, é importante conhecer sua
gramática. Chomsky desenvolveu a teoria do aparelho de aquisição de linguagem,
segundo a qual temos uma tendência inata de encontrar conformidade com as regras
de fala aceitas (DAVIDOFF, 2001).
Por outro lado, Vygotsky estava interessado em entender a relação entre as
ideias que as pessoas geram e o que elas dizem ou escrevem. “A estrutura da
linguagem falada por uma pessoa influencia sua percepção do universo” (VYGOTSKI,
2017). Uma palavra que não representa uma ideia é uma coisa morta, assim como
uma ideia que não está incorporada em uma palavra é um remanescente.
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2.3 O modelo mais aceito dentro da linguística escolar
Podemos nos comunicar de maneiras diferentes, e usamos a linguagem para
fazer isso. Uma linguagem é uma codificação usada, escrita ou falada por palavras,
ou seja, podemos nos comunicar verbalmente e nos ajudar por meio de textos não
verbais e expressões faciais. As palavras simbolizam texto falado ou escrito e
imagens. Dito de outra forma, uma linguagem nada mais é do que um conjunto
estruturado de códigos destinados a transmitir informações.
Símbolos e conjuntos estruturados de códigos são sinônimos que transmitem
significados. O ser humano precisa viver em grupos; logo, eles precisam se
comunicar; a comunicação nos leva à uma terceira necessidade, que é desenvolver
sistemas de comunicação e chamar de linguagens. Todos os conjuntos de código
estruturado que transmitem informações, se tratam então de linguagem (SANTOS
OLIVEIRA; SOUZA.; BATISTA, 2020).
Uma linguagem pode ser escrita, ou falada, ou não-verbal, sendo esta, a que
transmite intencionalmente uma mensagem que não é falada nem escrita, como a
pantomima. Compreendemos o mundo que nos rodeia através da linguagem e é assim
que formamos as ideias que temos sobre o mundo. Através da linguagem
expressamos nossos pensamentos. A linguagem é social e cultural, a linguagem é
universal.
O modelo mostrado abaixo é ensinado nas escolas regulares. Cada um
desempenha um papel em relação aos elementos presentes na comunicação
(emissor, receptor, mensagem, código, canal e contexto). Desta forma, eles
determinam o propósito do ato comunicativo. As funções de linguagem e comunicação
são as formas pelas quais cada indivíduo se expressa. Isso exige que um remetente
receba a mensagem e um destinatárioreceba essa informação (NICOLA; TERRA,
2004).
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Figura 1 – O Processo de Comunicação
Fonte: shre.ink/1jSJ
Como elemento de comunicação, alguém (emissor) transmite algo (código de
mensagem) para outra pessoa (receptor) por algum meio (canal) em um determinado
ambiente, e observa a reação para obter o efeito da comunicação. Os recursos de
linguagem ainda estão presentes no modelo escolar. Este modelo mostra seis
características da fala. Os recursos de linguagem ainda estão presentes no modelo
escolar. Este modelo oferece seis funções para fala (Figura 2).
Figura 2 – Seis Funções da Linguagem
Fonte: shre.ink/1jSG
A função emocional ou expressiva é quando a linguagem se concentra no
remetente e revela suas emoções, já o recurso ou função conativa, é quando o
remetente organiza a mensagem para influenciar o destinatário.
Na função referencial ou descritiva, a intenção do emissor é falar objetivamente
sobre o contexto real, sendo uma linguagem com caráter informativo.
Na função metalinguística, a linguagem deve falar por si e explicar as próprias
palavras.
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A função fática é uma função que confirma por voz se a estação de transmissão
pode ser realmente ouvida.
Finalmente, a função poética, que reside no fato de que a linguagem presta
atenção especial ao ritmo das frases, aos sons das palavras e ao jogo das ideias
(SANTOS OLIVEIRA; SOUZA.; BATISTA, 2020).
2.4 O biológico e o cultural: os desdobramentos dos pensamentos de
Vygotsky
Aspectos Biológicos
A questão do pensamento e da linguagem tem sido menos discutida, e mais
obscura em relação ao pensamento e a palavra (VYGOTSKY, 2009). A função do
pensamento continua a ser um tema controverso hoje. Isso se deve, em parte, à
confusão de terminologia que o cerca. Apesar de tudo, a ideia mais aceita é que sua
finalidade é atuar como um mecanismo de controle nas situações que nos
apresentam. Um dos instrumentos centrais inventados pela humanidade é a
linguagem, e Vygotsky deu à linguagem um lugar muito importante na organização e
desenvolvimento dos processos de pensamento (LURIA, 2018).
Alexander Romanovich Luria foi um pesquisador importante para a
neurociência e neuropsicologia, uma vez que o mesmo conseguiu aprimorar e integrar
modelos já existentes. "A abordagem que Vygotsky deu ao estudo da afasia, tornou-
se um modelo para todas as pesquisas futuras no campo da neuropsicologia." (LURIA,
2018).
Como já dito, os seres humanos são criaturas sociais, e a linguagem é um
processo que nos permite comunicar com os outros. No caso humano, essa
comunicação é feita por meio de símbolos complexos, fala ou linguagem. A linguagem
é um processo muito complexo, considerado na psicologia responsável por
transformar a informação, organizá-la e dar-lhe significado. No trabalho de Simis et al.
(2014), podemos ver várias áreas de uso da linguagem.
A linguagem é a capacidade que um indivíduo tem de transformar o
pensamento em algo tangível. Segundo o autor, o ser humano nasce com uma
estrutura cerebral que pode desenvolver a capacidade de perceber, codificar e
produzir o som por meio da estrutura dos órgãos vocais. Mas as ferramentas de vida
sozinhas não são suficientes, gatilhos ambientais são necessários.
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A capacidade de armazenar, recordar e combinar símbolos em uma
interminável troca de expressões possibilita o processamento mental. A habilidade de
linguagem está relacionada a outras habilidades cognitivas, mas é uma habilidade
relativamente independente. Muito do que se sabe sobre a função da linguagem, vem
de estudos de comprometimento da linguagem induzido por lesão cerebral
conduzidos, entre outros, por Broca (1824-1880) e Wernicke (1848-1905) (ZANÃO,
2006).
Para a maioria das pessoas, especialmente as destras, as funções da
linguagem estão no hemisfério esquerdo do cérebro, enquanto nos canhotos, as
funções da linguagem provavelmente estão mais no hemisfério direito. A linguagem
simbólica é uma das características únicas humanas, capaz de diferenciar os
humanos, de outras espécies. A linguagem é uma das habilidades que permite ao ser
humano transmitir o conhecimento de uma geração para a outra, seja oralmente ou
por escrito, e o conhecimento adquirido não se perde (SANTOS OLIVEIRA; SOUZA;
BATISTA, 2020).
Aspectos Sócios Culturais
Em sua relação com o meio físico e social, mediada pelas ferramentas e
símbolos desenvolvidos na vida social, o homem cria e modifica sua forma de agir no
mundo. Essa visão da função mental é o que fundamenta o pensamento de Vygotsky
sobre a função cerebral. Se a história social objetiva desempenha um papel decisivo
no desenvolvimento mental, ela não pode ser procurada nas características normais
do sistema nervoso. Isso significa que o cérebro é um sistema aberto que interage
constantemente com seu ambiente, alterando sua estrutura e mecanismos funcionais
no processo.
Em termos de desenvolvimento psicológico, isso significa que o organismo
humano nasce muito ‘’ pouco pronto’’, isto é, com muitas características em
aberto, a serem desenvolvidas no contato com o mundo externo e,
particularmente, com os outros membros da mesma espécie. Essa
maturidade dos organismos no momento do nascimento e a imensa
plasticidade do sistema nervoso central do homem estão fortemente
relacionadas com a importância da história das espécies do desenvolvimento
psicológico: o cérebro pode se adaptar a diferentes necessidades, servindo a
diversas funções, estabelecidas a história do homem (Vygotsky, 2017, p. 84).
Vygotsky (2009) afirma que as ferramentas e códigos socialmente construídos
determinam quais das infinitas possibilidades de funcionamento do cérebro serão
desenvolvidas e mobilizadas na execução de tarefas específicas. Em outras palavras,
as pessoas que vivem em grupos culturais sem a habilidade de escrever nunca serão
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alfabetizadas. Em outras palavras, enquanto os humanos têm a possibilidade física
de aprender a ler e escrever, essa possibilidade só se desenvolve como um padrão
de funcionamento mental em pessoas que vivem em sociedades letradas.
Deve-se ressaltar que essa diferença funcional não se reflete em diferenças
físicas no cérebro humano, pois o cérebro está preparado para desempenhar funções
variadas, de acordo com a forma que uma pessoa se apresenta ao mundo. Já a ideia
de plasticidade cerebral de Vygotsky não implica a ausência de uma estrutura, mas,
ao contrário, implica a existência de uma estrutura básica na qual nasce cada membro
da espécie e da qual nascem os padrões funcionais (VYGOTSKY, 2009).
2 FALA E A ESCRITA, MODALIDADES DA LÍNGUA
A fala é o primeiro sinal do desenvolvimento humano, uma das primeiras
habilidades importantes que uma pessoa adquire fora da educação formal. A escrita,
tal como aparece na cultura da nossa sociedade, muitas vezes surge através da
educação institucional.
Segundo Fávero, Andrade e Aquino (2000), a escrita e a fala são geralmente
vistas da seguinte forma: a escrita é como complexamente estruturada, formal e
abstrata, enquanto a fala, uma estrutura simples ou não estruturada, vista como
informal, concreto e dependente do contexto, que os homens podem expressar de
duas maneiras: falando e escrevendo. São duas formas de uma só linguagem, duas
formas de apresentar as ideias e os pensamentos produzidos (MASSINI-CAGLIARI,
1997).
Partindo do princípio que a linguagem é historicamente mais antiga que a
escrita, descobrimos que muitos teóricos, como Câmara Jr., caracterizam a escrita
como uma representação da linguagem, ou que a escrita existe apenas como um
resultado dela.
A rigor, a linguagem escrita não passa de um sucedâneo, de um ersatz da
fala. Esta é que abrange a comunicação linguística em sua totalidade,
pressupondo, além da significação dos vocábulos e das frases, o timbre de
voz, a entoação [...]. Por isso, para bemse compreender a natureza da
linguagem humana, é preciso partir da apreciação da linguagem oral e
examinar em seguida a escrita como uma espécie de linguagem mutilada,
cuja eficiência depende da maneira porque conseguimos obviar à falta
inevitável de determinados elementos expressivos (CÂMARA JÚNIOR.,
1986, p.16)
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No entanto, segundo Massini-Cagliari (1997), reconhecemos que, embora
possamos traduzir o que é dito em palavras, não fazemos transcrição fonética, caso
contrário, cada um teria uma representação diferente da mesma palavra, de acordo
com as nuances de sua pronúncia. Na verdade, quase tudo que criamos com som,
tem uma forma escrita real. Porém, segundo Fávero, Andrade e Aquino (2000), a
escrita, assim como a fala, tem suas características expressivas e organizacionais que
se destacam primeiro como paradigma.
Nesse ponto, a grafia desempenha um papel fundamental na linguagem:
neutralização e padronização. Sendo a ortografia uma característica única da
modalidade escrita, ela é responsável por tornar a língua inteligível a todos, além de
"esconder" muitos aspectos das aparentes diferenças linguísticas da língua. Dessa
forma, também são introduzidas frases fixas e, ao expressar palavras com pronúncias
diferentes, todos podem entender (MASSINI-CAGLIARI, 1997).
Para melhor validar as diferenças entre essas duas modalidades, tomamos
algumas citações de alguns autores, começando por Câmara Júnior (1986, p.15):
De maneira geral, podemos dizer que a primeira [fala] se comunica pelo
ouvido, e a segunda [escrita] pela visão. Ou em outros termos: na
comunicação escrita, os sons que essencialmente constituem a linguagem
humana passam a ser apenas evocados mentalmente por meio de símbolos.
Em sua obra, “Oralidade e escrita: perspectiva para o ensino de língua
materna”, Fávero, Andrade e Aquino afirmam que (2000, pp. 69 e 113):
De modo geral, discute-se que ambas [fala e escrita] apresentam distinções
porque diferem nos seus modos de aquisição; nas suas condições de
produção, transmissão e recepção, nos meios através dos quais os
elementos de estrutura são organizados.
No texto falado, a seleção lexical se efetiva por meio de construções mais
informais, já que se trata de um texto produzido espontaneamente. Por outro
lado, no texto escrito o interlocutor dispõe de tempo para planejamento e
construção do texto, tendo, portanto, a possibilidade de fazer escolhas mais
sutis e também podendo editorá-lo.
Distinção entre modalidades orais e escritas das referidas obras em um quadro
didático característico da dicotomia (Quadro 1):
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Quadro 1 – Fala x escrita
Fonte: Fávero, Andrade, Aquino (2000)
Tal distinção se aplica não apenas à teoria, mas também às mentes da maioria
das pessoas que cresceram pensando dessa maneira. Essa dicotomia também pode
ser vista em Koch (1995):
• A fala possui as seguintes características essenciais: predominância de
frases curtas, simples ou coesas com desorganização, fragmentação,
incompleta, pouca elaboração e pouco uso da voz passiva.
• A escrita se caracteriza pelo: planejamento, falta de fragmentação,
completude, sofisticação, predominância de frases complexas com
subordinação suficiente e uso frequente da voz passiva.
No entanto, como refere Koch (1995), sabemos que há um discurso muito
próximo da escrita informal e um discurso muito próximo da escrita formal, pelo que
não fazem jus à distinção acima. Assim, o grau de formalidade na interação verbal
dependerá do contexto em que ela ocorre, pois a cada momento da comunicação
utilizamos uma das variáveis existentes entre a série de comunicação formal e a série
de fala informal.
Outro teórico que une essa dualidade é Luiz Antônio Marcuschi, que define
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linguagem como:
Um fenômeno heterogêneo (com múltiplas formas de manifestação), variável
(dinâmico, suscetível a mudanças), histórico social (fruto de práticas sociais
e históricas), indeterminado sob ponto de vista semântico e sintático
(submetido às condições de produção) e que se manifesta em situações de
uso concretas como texto ou discurso (MARCUSCHI, 2007, p.43).
A partir dessa perspectiva linguística, os autores analisam as diferenças entre
fonemas e escrita em termos de uso e não de sistemas. Isso significa que o uso do
código é considerado, não o código em si. Sugere-se, portanto, que as diferenças
sejam graduais e numéricas, e não estritamente dicotômicas.
Além disso, Marcuschi (2007) apontou que as semelhanças entre as formas
orais e escritas se sobrepõem às diferenças na comunicação oral e social. Muitas das
diferenças produzidas por um desses métodos são, na verdade, parte de recursos
linguísticos, como contexto/descontexto e particípio/distância. Além disso, não há
assinaturas que sejam reconhecidas apenas de uma maneira e não de outra. Isso
ocorre porque as notas não são apenas para falar ou escrever.
Portanto, a estrita estrutura dicotômica foi fortemente criticada pelo autor
(Quadro 2):
Quadro 2 – Dicotomias estritas.
Fonte: Marcuschi (2007)
Assim, Marcuschi aponta que as modalidades da linguagem falada são
espontâneas, sujeitas a hesitações, repetições etc., e, portanto, é falsa a afirmação
de que não obedecem a nenhuma regra. Caso contrário, a comunicação não será
estabelecida. A fala usa gestos, expressões faciais, entonação, etc. Além do uso de
símbolos, a fala usa letras de várias formas, cores e tamanhos, um elemento
iconográfico que se expressa (MARCUSCHI, 2007).
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Também é importante para este autor que as distinções entre linguagem e
escrita devem ser vistas não apenas em termos de tópicos geralmente considerados
essenciais, mas também em termos de diferenças típicas nos gêneros textuais
envolvidos (MARCUSCHI, 2007).
Portanto, segundo o autor, a fala não é lugar para o traço informal, nem a escrita
formal, pois traços como formal/informal, tenso/expansivo, controlado/livre,
inclusivo/fluente são as formas de uso da língua em vez de seus atributos ou mesmo
qualquer um de seus termos.
Assim, caracterizar textos falados ou escritos como formais ou informais,
simples ou complexos é uma escolha que fazemos ao preparar um discurso, a
situação em que nos encontramos e com quem falamos. Esta é também a razão pela
qual a linguagem é inesgotável, pois em cada situação de interação ocorre uma nova
recriação da linguagem, que pode ser decifrada não apenas pelo significado literal das
palavras, mas também pelo contexto a ser compreendido. Além disso, a linguagem é
fundamentalmente um fenômeno sociocultural, definido por relações interacionais,
que contribui crucialmente para a criação de novos mundos e o que nos torna
verdadeiramente humanos (MARCUSCHI, 2007).
2.1 Modalidades de linguagem: Fala e escrita
Existem três concepções de linguagem, segundo Koch (1995, p.9):
a. Como representação (“espelho”) do mundo e do pensamento;
b. Como instrumento (“ferramenta”) de comunicação;
c. Como forma (“lugar”) de ação e interação.
Dentre esses conceitos, Ingedore Koch, em seu livro, A inter-ação pela
linguagem, revê os mecanismos que o ser humano utiliza ao interagir com seus pares,
e muitos linguistas, principalmente os que falam francês, alemão e inglês, cooperam
com a ideia de que a linguagem é uma atividade através do qual uma relação é criada
entre os usuários da língua. Daí surgiu uma linguística que lidava com as condições
reais de representação da linguagem, ou seja, nas situações e contextos que as
pessoas precisamente vivem, o que o autor chama de “linguística do discurso” (KOCH,
1995).
18
Segundo o mesmo autor, a interação se manifesta justamente nos atos de fala,
nos quais cada pessoa adquire a língua até que seu interlocutor receba a mensagem
desejada. Para tanto, o locutor utiliza meios para um fim, para transmitir certa força
em sua fala para produzir certo efeito.Mas também é necessário que o interlocutor
tenha as ferramentas necessárias para entender o que lhe é transmitido, sob pena de
não atingir o objetivo da ação.
Assim, segundo Koch (1995), uma vez que nenhum texto, seja falado ou
escrito, possui de forma inequívoca todas as informações necessárias à sua
compreensão, é necessário que o destinatário da mensagem estabeleça uma relação
entre o texto e o contexto, bem como recriar os elementos armazenados em sua
memória para captar a mensagem corretamente. Sem ter essas ferramentas que nos
permitem pensar em textos, podemos imaginar o quanto temos a dizer ou escrever,
por mais simples que seja o assunto.
Assim, Koch (1995) afirma que a característica essencial da linguagem é a
dialética, pois a cada momento de interação adquirimos e excluímos certas ideias a
fim de controlar nossa fala por meio de “determinada força argumentativa”. Nos
discursos, palavras consideradas "bobagens" são alguns dos artifícios mais utilizados,
como então, né, mas, também, pois é, etc., que costumam ser responsáveis pela
"força argumentativa" do texto.
Para Koch (1995, p.104) o diálogo:
Tem de ser localmente planejada: as mudanças de posição e as negociações
se sucedem ininterruptamente e os parceiros precisam ter “jogo de cintura”
para levar a interação a bom termo. A cada mudança de “cena” ou de posição,
exigem-se mudanças correspondentes na linguagem.
Koch descreve a interação face a face como o início de um jogo em que cada
participante se reveza jogando. Portanto, por ser de natureza interativa, a fala é criada
no momento do planejamento, e as palavras devem ser escolhidas antes que a fala
seja articulada. Muitas vezes essas coisas não conseguem expressar o que
queremos, então as substituímos por outras no momento da comunicação.
O discurso revela assim a sua estrutura, dando a impressão de um texto
descontínuo e fragmentado, no entanto, a sintaxe da língua é preservada es ajustada
às necessidades da modalidade falada. Ou seja, por estarem inseridos em atos de
fala, os textos orais não temem erros, frases curtas, hesitações ou repetições (KOCH,
1995).
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Também são utilizadas as chamadas "estratégias conversacionais" que,
segundo Koch, caracterizam a linguagem falada como essencialmente descontínua,
pois implicam que não é necessário continuar falando quando o interlocutor já
compreende o que o falante está pensando; se o interlocutor não entender o que foi
dito, você deve interromper, repetir a ligação ou tentar outras estratégias; se o orador
sentir que a estrutura está incompleta ou inadequada, ele deve corrigi-la de imediato.
Digressões e inserções são normais na fala, e parecem causar pausas no
desenvolvimento das interações porque interrompem um sujeito para inserir outro. A
notação usada para isso são: “a propósito, por falar nisso, abrindo um parêntese,
antes que eu me esqueça, desculpe interromper, mas, etc.” (KOCH, 1995). Mas
mesmo que essas formas pareçam interromper a interação, elas ajudam a torná-la
mais satisfatória.
Além disso, a presença de repetições, inserções ou paráfrases é comum a
muitos textos falados, altamente desenvolvidos e escritos com fluência. Com efeito,
estes elementos revelam, confirmam e reforçam ideias e contribuem para uma melhor
compreensão do texto. Segundo Koch (1995), essas características são comuns no
discurso político, publicitário e pedagógico justamente porque devem atingir o público-
alvo.
Vale salientar, que a linguagem não pode ser estudada simplesmente como um
símbolo para enviar e receber mensagens, ou como um sistema formal abstrato para
a construção de sentenças, muito menos como uma linguagem capaz de existir sem
contexto. Em vez disso, as línguas expressas pelos humanos são nomeadas de
acordo com as interações sociais que seus povos têm com eles, os papéis que
desempenham e o que negociam nas ações comunicativas. Portanto, devemos ver a
linguagem não apenas como uma ferramenta para representar ou comunicar o mundo
e as ideias, mas, mais importante, como uma forma de interação social (KOCH, 1995).
Seguindo essa linha de pensamento, Ilari e Basso (2007) defendem que a
diferença entre falar e escrever não se limita à diferença entre escrever para um lado
e falar para outro, mas sim problemas de planejamento que surgem entre métodos
muito diferentes. Sendo assim, os autores dizem que na língua falada:
- As reformulações resultam do fato de que a fala é planejada e executada
“em tempo real”, isto é, ao mesmo tempo em que é produzida; por sua vez, o
ouvinte sabe que as informações trazidas por enunciados sucessivos de um
texto falado precisam ser processadas cumulativamente;
- Partículas como né e viu são uma forma de monitorar a atenção do
interlocutor à medida que o diálogo se desenrola, garantindo, por assim dizer,
20
que ele não“ desligou”. Têm a mesma função que, numa conversação
telefônica, seria reservada a perguntas como “você está aí? ” Você está me
ouvindo? ” (tecnicamente, esse controle de que “a ligação não caiu” é
conhecida como “função fática”);
- Expressões intercaladas como bom ou agora [...] anunciam uma mudança
de tópico e nesse sentido têm um papel que corresponde, na escrita, ao recuo
da linha;
- Usando expressões como eu acho ou sei lá, a informante procura evitar que
suas opiniões sejam tomadas como excessivamente categóricas, ou
inegociáveis, o que poderia ser interpretado como uma forma de arrogância,
passando uma imagem negativa de quem fala;
- Quanto às repetições, [...] elas evitam um silêncio que poderia ser
interpretado pelo interlocutor como final de turno: recorrendo a elas, a
informante consegue “segurar” o turno, que de outro modo seria facilmente
“capturado” por um interlocutor mais interessado e afoito” (ILARI, BASSO,
2007, p.184-185).
Assim, os indivíduos parecem saber utilizar os recursos da linguagem falada
da forma que lhes convém. Para muitos tradicionalistas, esta linguagem pode parecer
um lugar desconcertante, mas sabemos que tudo tem uma razão de ser.
2.2 Linguagem social
Segundo Sapir (1954, p.34):
A linguagem é uma herança imensamente antiga da raça humana, sejam ou
não sejam os seus variantes desdobramentos históricos de uma única e
prístina forma. É duvidoso que outra qualquer aquisição cultural do homem,
seja ela a arte de acender fogo ou a de lascar pedra, possa proclamar maior
vetustez. Inclino-me a crer que precedeu até os aspectos mais rasteiros da
cultura material, e que eles, na realidade, não foram estritamente possíveis
até o momento em que se delineou a linguagem, instrumento da expressão
significativa.
A linguagem não é definida apenas por fatores formais que influenciam a
estrutura. O aspecto social da linguagem também se tornou muito relevante, porque
através da linguagem aprendemos sobre as relações entre as pessoas e as
comunidades como um todo. A linguagem é, portanto, não apenas o contexto da
conversa, mas também o contexto da interação, e neste último constitui o lugar da
linguagem e a razão de ser dos sistemas linguísticos (MASSINI-CAGLIARI,1997).
Por meio de nossas interações pessoais, chegamos à conclusão de que todos
usam a linguagem ou canais de comunicação, de maneiras específicas. Mesmo que
duas pessoas morem no mesmo lugar, estejam na mesma situação social e convivam
diariamente, podemos ver que seus estilos de fala têm muitas características
diferentes.
Segundo Massini-Cagliari (1997), as pessoas são tão diversas quanto as
línguas. Segundo Bagno (2007) a língua é uma atividade social, uma ação coletiva
21
que todos os falantes realizam sempre que começam a interagir por meio da fala ou
da escrita.
Como esta é uma atividade que todas as pessoas fazem, observamos que cada
falante é capaz de controlar seu comportamento verbal, ou seja, seu uso da
linguagem, independentemente de seu nível de escolaridade, da classe socialou
idade. O fato de o ser humano adquirir o domínio da voz desde a infância deve-se ao
convívio social em que os indivíduos vivem. Assim, os sociolinguistas afirmam que
todos podem mudar a maneira como falam e que “não existe falante de estilo único”
(BAGNO, 2007).
Por outro lado, a forma de escrever é diferente porque depende do nível
educacional do usuário da língua, ou seja, do nível de sua capacidade de escrever.
Quanto mais exposição uma pessoa tiver à leitura e à escrita, melhor será sua
habilidade, desempenho e proficiência na escrita. No entanto, essa habilidade
também garante que os textos orais daqueles treinados na escrita se tornem mais
refinados e controlados, dando à forma oral uma identidade mais formal em relação à
forma escrita.
Da mesma forma, para Bagno (2007), há um continuum entre oralidade-
letramento, ou fala/escrita, que indica se a atividade oral em um determinado momento
de interação está mais próxima da prática oral ou escrita. Ele dá o exemplo de uma
professora em sala de aula: quando ela se dirige aos alunos para revelar o que não é
assunto de seu curso, percebemos que suas palavras assumem características
próprias de sua cultura, e quando ela está pronta para explicar ou ao ler uma
passagem, sua fala se aproxima do padrão da escrita.
Por isso, cada um adapta o seu texto, falado ou escrito, à situação em que se
encontra. Assim como indivíduos altamente escolarizados podem, na ausência de
orientação, produzir estruturas consideradas agramaticais pela gramática formal,
indivíduos menos escolarizados podem, em condições gramaticais mais formais,
gerar textos mais elaborados apesar de apresentarem alguns "erros".
Para Fávero, Andrade e Aquino (2000), o que chamam de pares adjacentes
ocorre em uma interação conversacional, ou seja, responder a perguntas; aceitar ou
recusar um convite; solicitação de aprovação ou negação e saudações. Para os
autores, é difícil manter uma conversa sem um parceiro, por isso eles veem o parceiro
como a base da interação.
22
No entanto, algumas características tornam o texto mais ou menos
compreensível. Tudo vai depender da interação e engajamento geral entre quem fala
e quem ouve, que são corresponsáveis por manter uma comunicação coerente e
consistente. Portanto, para se comunicar bem, mais importante do que falar o
português "correto", ou seja, dominar as regras da gramática, é saber construir um
texto coerente, que normalmente se distingue pela organização lexical, pela sintaxe e
semântica (FEGADOLLI, 2011).
3 INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL
A compreensão da linguagem que expressamos compreende uma forma de
interação e diálogo (VOLÓCHINOV, 2017). Para o autor, a linguagem surge apenas
por meio da interação verbal, e a comunicação é concebida como um processo
interativo e ininterrupto. Para o autor, a linguagem não é um dom de Deus, nem um
dom da natureza, é um produto da atividade humana coletiva, tanto da organização
econômica quanto sociopolítica da sociedade que a produziu (VOLOCHÍNOV, 2013).
Em outras palavras, a realidade efetiva da linguagem não é um sistema
abstrato de formas linguísticas, nem enunciados monológicos isolados, nem os atos
psicofisiológicos, mas sim as interações discursivas que ocorrem por meio de um ou
mais enunciados. É um acontecimento social. A interação discursiva é, portanto, uma
realidade fundamental da linguagem (VOLÓCHINOV, 2017).
Segundo o filósofo russo, a linguagem se presta à interação entre sujeitos
socialmente estabelecidos e aqueles que organizam a fala de acordo com suas
intenções e o contexto sócio histórico em que estão inseridos. Logicamente, sem
interação não há linguagem.
Um dos aspectos mais inovadores da produção do “Círculo de Bakhtin” vê a
linguagem não apenas como um sistema autônomo, mas como um processo interativo
mediado pelo diálogo constante. De acordo com esse conceito, a linguagem existe
apenas em função do uso dela mesma, pelo falante (aquele que fala ou escreve) e
pelo interlocutor (aquele que lê ou escuta) em situações comunicativas (informais ou
formais). Ensinar, aprender e usar a linguagem passa inevitavelmente por sujeitos que
atuam como portadores das relações sociais, responsáveis pela formação e estilo do
discurso.
23
Nessa concepção, como enfatiza Geraldi (1984), os sujeitos utilizam a
linguagem, um conjunto de sinais sociais e ideológicos para agir, além de expressar
pensamentos e comunicar conhecimentos.
Portanto, a interação é a base existencial da linguagem, uma vez que seu uso
é sempre através da fala. Conforme BAKHTIN (1992), um enunciado é uma unidade
adequada de comunicação discursiva, pois facilita o diálogo. Através da fala, olhamos
para os outros e esperamos respostas, ou seja, usamos palavras para estabelecer e
incorporar contato com os outros.
Esses enunciados são diretamente determinados pelo contexto em que
ocorrem: o contexto em que ocorre a interação, o status social dos interlocutores e as
condições de produção que influenciam o que dizemos/escrevemos algo. Segundo
Bakhtin (1992), quando nos comunicamos com os outros, os enunciados que
geramos, ou seja, as palavras que usamos, não são nossos enunciados porque nos
apropriamos do que já foi criado e dito. Bakhtin comentou sobre este trabalho criativo,
dizendo que a fala nunca é um simples reflexo, e sim uma expressão do que já existe.
O que é criado, é sempre criado a partir do que nos é dado (BAKHTIN, 1992).
Para compreender a linguagem como forma de interação oral, é necessário
definir sua relação com o texto. No artigo "O problema do texto na Linguística, na
Filologia e em outras ciências humanas" (BAKHTIN, 1992), Bakhtin argumenta que
um texto deve ser considerado um enunciado quando faz parte de uma série de
comunicações discursivas. Nas palavras do autor:
O texto como enunciado incluído na comunicação discursiva (na cadeia texto
lógica) de dado campo. O texto como nômada original, que reflete todos os
textos (no limite) de um dado campo de sentido. A concatenação de todos os
sentidos (uma vez que se realizam no enunciado) (BAKHTIN, 1992[1979], p.
309).
A expressão texto-enunciado faz parte do encadeamento de diálogo de um
idioma, porque reflete outras expressões de texto-enunciado que ocorreram. Segundo
os autores, sua composição é baseada em dois extremos: por um lado, temos as
formas linguísticas de um sistema geralmente aceito (BAKHTIN, 1992). Por um lado,
temos uma relação diretamente ligada ao contexto, revelando-se apenas em
situações interativas e sequências textuais; ligado a relações de diálogo específicos.
Bakhtin explica a composição do texto desta forma:
[...] por trás de cada texto está o sistema da linguagem. A esse sistema
corresponde no texto tudo o que é repetido e reproduzido, tudo o que pode
ser dado fora do texto (o dado). [...] cada texto (como enunciado) é algo
individual, único, singular, e nisso reside todo o seu sentido (sua intenção em
24
prol da qual foi criado). É aquilo que nele em relação com a verdade, com a
bondade, com a beleza, com a história. (BAKHTIN, 1992, p. 310).
O conceito de discurso de gênero está relacionado ao conceito de discurso
textual. Por serem construídas a partir da necessidade de dizer, essas frases são
classificadas em tipos específicos de discurso de acordo com seu fim retórico. Essa
afirmação é corroborada pelas palavras de Bakhtin, cada discurso particular é
independente, mas cada área de uso linguístico expressa tipos de fala relativamente
estáveis, que chamamos de tipos de fala (BAKHTIN, 1992).
Nesse sentido, os sujeitos utilizam a linguagem em cada uma de suas
atividades e, conforme o interesse, a intenção e a finalidade específica de cada ação,
produzirão sentenças de linguagem organizadas de diversas formas, expressas em
palavras. Nessa orientação teórica, os tipos de discursos estão relacionados àsrealidades sociais das interações reveladas nos discursos que respondem a
necessidades específicas da atividade humana. Eles são constituídos como dados e
organizados em um tipo que os promove socialmente.
Essa organização é resultado da fusão de três dimensões básicas, conforme
indicado por Bakhtin (1992):
i) conteúdo temático, que se refere ao tópico mencionado no discurso e está
relacionado ao estado da comunicação;
ii) o estilo, que corresponde à palavra, à frase, à escolha do modo de falar, cujo
entendimento é determinado pelo gênero;
iii) estrutura sintática, que se refere à organização dos transcritos em uma
determinada espécie.
Diante de tudo isso, assumir uma compreensão dos tipos de discurso como um
mecanismo disponível de interação, significa adotar uma visão interacionista da
linguagem que prevalece sobre os aspectos sociais e históricos. Nesse contexto, a
produção da escrita de um texto é entendida como um processo de interação social
entre interlocutores, e depende do que se quer dizer (tema a ser discutido,
interlocutores, status social ocupado por esses interlocutores, conhecimento), e isso
pode ser realizado sistematicamente de forma mais formal ou informal. O "como
dizer", é um processo que requer a escolha de um tipo de fala, pois "a vontade do
locutor no discurso é primeiramente realizada pela escolha de um determinado tipo
de fala" (BAKHTIN, 1992).
25
Geraldi (1997) concorda não haver uso de linguagem sem função, eixos ou
conteúdo, ou seja, falar com a linguagem significa ir além da sua estrutura e da sua
forma, deve-se considerar também o estado de articulação (VOLÓCHINOV, 2017).
Isso requer, ao apresentar um enunciado textual, considerar "o quadro de
condições específicas necessárias para a produção do texto" (GERALDI, 1997, p.
160), ou seja, as condições que devem ser observadas. Isso constitui o ato de fala
com base nos estudos do Círculo de Bakhtin, Geraldi sistematiza o que ele mesmo
chama de relações de produção, a saber:
a) se tenha o que dizer;
b) se tenha uma razão para se dizer o que se tem a dizer;
c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer;
d) o locutor se constitui como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para
quem diz [...];
e) se escolhem as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d) (GERALDI, 1997,
p. 160).
Geraldi (1997) propõe utilizar o trabalho de produção escrita como ponto de
partida para a realização das atividades que antecedem o exercício da escrita, as
chamadas pré atividades, visando auxiliar os alunos a desenvolverem uma
consciência crítica a partir dessas atividades.
Sercundes alerta para a importância de dar ao aluno um conhecimento prévio
do tema que pretende escrever, que as atividades anteriores são o ponto de partida
para o lançamento da proposta de redação e as atividades anteriores são, de fato, um
suporte para todo o processo produtivo (SERCUNDES, 1997).
Tais afirmações não apenas confirmam a importância de ajudar o aluno a ter
algo a dizer em seu texto, mas também mostram a necessidade de dar ao produtor
do texto a oportunidade de responder ativamente, à interpelação do enunciado projeto
(VOLÓCHINOV, 2017).
Outro aspecto importante no ensino da escrita, que também é considerado nos
cenários de produção, é que o aluno tenha uma razão para dizer o que diz (GERALDI,
1997).
Tal argumento considera o caráter artificial das atividades de produção textual
em sala de aula, que, segundo o modelo tradicional de ensino, têm se mostrado
ineficazes na formação de roteiristas habilidosos. A esse respeito, Brito comenta: "A
artificialidade dessa situação (da escrita) rege todo o processo de escrita e é fator
determinante no seu resultado" (BRITO,1984).
26
Portanto, para obter melhores resultados dos alunos na redação de textos, o
desafio é apresentar a eles um objetivo mais específico possível, uma razão para
escrever, convencê-lo de que a tarefa de criar um texto não pode estar vinculada
apenas para tirar uma nota ou preencher o tempo de aula, etc. (SERCUNDES,1997).
A este propósito, afirma Antunes: escrever sem saber desde o início a quem se
destina é uma tarefa difícil, dolorosa e, em última instância, ineficaz, pois não há
referência ao que o texto deva responder (ANTUNES, 2006).
Um projeto narrativo não deve surgir por acaso, deve ser planejado e
trabalhado. Nesse sentido, a referência antes da elaboração de um texto escrito deve,
no mínimo, mencionar os elementos que organizam a discussão e responder às
seguintes questões, conforme a Figura 1:
Figura 1- Elementos que encaminham uma proposta de produção de texto para
interação
Fonte: Costa-Hübes (2012, p. 11).
A produção do texto deve incluir elementos que garantam a interação da
linguagem, pois entendemos que a linguagem só acontece por meio da interação, ou
seja, quando nos comunicamos com o outro por alguma necessidade. Com esse
pensamento, introduzimos um gênero segundo o qual organizamos nossa discussão,
considerando a esfera humana de atividade em que atuamos (escola, família,
27
universidade, etc.), entendendo com quem estamos falando/escrevendo, quando,
onde, por que, etc.
Segundo Ferrarezi Jr. e Carvalho (2015), além desses aspectos relacionados
às condições de produção, o professor deve ensinar a escrita para que o aluno a
domine. Escrever é uma competência e, para aprender a escrever, certas habilidades
devem ser dominadas.
Muito mais do que dizer aos alunos para escrever isto ou aquilo, os professores
devem ensiná-los a fazê-lo; ensinar habilidades especiais de escrita, preparar e
organizar um tema, capacidade de expandir ideias em um texto, resumir e selecionar
informações, avançar em parágrafos, sentir os aspectos de coerência, continuidade,
adequação de vocabulário, etc. Mas é certo que esses aspectos não podem ser feitos
isoladamente uns dos outros de forma mecânica e repetitiva, e não devemos esquecer
que essas habilidades nos ajudam a nos comunicar verbalmente com os outros; a
natureza interativa da linguagem deve iluminar todos os aspectos da produção de um
texto escrito.
Além desses aspectos teóricos e metodológicos da escrita, é importante ter em
mente as diretrizes do currículo de língua portuguesa, pois muitas vezes os
documentos dos professores regulam e direcionam a prática docente.
4 TIPOLOGIA TEXTUAL
Uma "tipologia de texto" especifica uma classe de textos com características
particulares. Um conjunto de características comuns em termos de conteúdo,
estrutura organizacional, estilo (características linguísticas), função/finalidade,
condições de produção, entre outros (TRAVAGLIA 1991, 2007a, 2007b e 2009).
Exemplos de tipos de texto encontrados em nossa sociedade e cultura
brasileira são: relato, descrição, comentário, tese, comando, argumentativo "stricto
sensu", artigo, reportagem, apresentação, pedido, profecia, novela, conto, parábola,
haicai, ditirambo, incidente, ata, notícia, comédia, farsa, anedota, tese, mito, lenda,
testemunho, depoimento, ofício, soneto, ode, acróstico, epitalamia, oração, tragédia,
etc.
Diferentes categorias de texto podem compartilhar características comuns e,
como todos os tipos de narrativa (Quadro 1), compartilharão características narrativas
28
comuns, mesmo que sejam interpretadas de maneira diferente. Explorar esse fato no
ensino é fundamental e muito produtivo porque quando se trabalha com diferentes
espécies que compartilham uma característica em comum, o que se aprende pode ser
transferido e ensinado a todas as pessoas que compartilham a mesma característica.
No entanto, sempre haverá características distintas do gênero, como romances
de contos, fábula de uma parábola, etc. Essa distinção pode ser feita por vários
critérios diferentes, mas principalmente pelo comportamento social e pelo papel que
o gênero desempenha no uso da linguagem e na construçãodo significado social.
Criar esses agrupamentos é importante para o ensino. No Quadro 1, logo
abaixo, temos alguns exemplos de espécies que compartilham características
comuns, pois consistem necessariamente em um tipo dominante.
Quadro 1 – Gêneros necessariamente compostos por um tipo
Fonte: Travaglia, (2018)
29
O segundo termo, cujo conceito é importante para registro, é o termo
"tipelemento", pelo qual uma categoria de texto é definida com base nas classes de
categorias de texto de natureza diferente. Os tipelemento de nível superior mantêm
relações específicas entre si, o que deve ser considerado na hora de construir e propor
padrões para não colocar elementos de natureza diferente no mesmo nível,
importante no ensino/aprendizagem de línguas.
Foi identificado por Travaglia (2007; 2009) a existência de quatro elementos
clímax, que ele chamou de tipo, subtipo, gênero e espécie. Isso significa que as
categorias de texto podem ter quatro níveis diferentes.
4.1 Tipo
Definir e caracterizar paradigmas estabelecendo um estilo de interação, um
estilo de diálogo de acordo com possíveis diferentes pontos de vista, que constituem
os critérios para a criação de diferentes paradigmas. Travaglia identificou oito tipos.
Tipologia 1: Estes quatro tipos de texto são apresentados do ponto de vista da
ação/passagem ou conhecimento/saber do roteirista sobre o que diz, e se está
inserido no tempo e/ou no espaço (TRAVAGLIA, 1991). Essa classificação é muito
importante no ensino porque todos os textos analisados de qualquer tipo consistem
em um ou mais desses tipos.
No Quadro 2, tenta-se resumir as principais características desses tipos para
poder diferenciá-los.
Quadro 2 – Características essenciais de descrição, dissertação, injunção e
narração:
30
Fonte: Travaglia, (2018)
Tipologia 2: texto argumentativo stricto sensu e não-stricto sensu. Ambos os
tipos de texto surgem do ponto de vista do criador do texto, ou seja, sua impressão
sobre a concordância ou não do destinatário. Quando ele achar que o entrevistador
não concorda, ele tentará fazer o que se chama de discurso de mudança. Neste caso,
cria textos argumentativos “stricto sensu” em que explicitamente mobiliza recursos
para persuadir o interlocutor, tentando levar o destinatário do texto a seguir uma ideia,
sugerir uma ação ou aumentar a sua adesão.
31
Se o criador de textos vê o interlocutor como alguém com quem concorda,
então está falando de cumplicidade. Nesse caso, nosso texto não é dialético “stricto
sensu” (TRAVAGLIA, 1991). Portanto, podemos dizer que qualquer texto é discutível,
seja no “lato sensu” seja no “stricto sensu”, pois sempre deve alcançar um objetivo.
A linguística estudou e trabalhou em muitos aspectos da dialética. Assim, o
conhecimento linguístico atual dos argumentos se estende a uma ampla gama de
tópicos: o que é o texto argumentativo e suas propriedades; elementos importantes
de uma argumentação, conclusões ou tese. As categorias de argumentos são
medidas que registram até que ponto alguns argumentos suportam uns, mais do que
outros; o locutor e público em discussão; o ponto de partida do acordo ou argumento;
pontos de discussão; tipo de argumento e utilização de diversos recursos linguísticos,
como, por exemplo: fatores de enredo, pressupostos, números, método,
estabelecimento de relações (causalidade, contradição, afirmação, conjunção,
concordância, etc.) repetição, pausas, silêncios, etc.
Todo esse conhecimento obriga o professor a lidar com a língua e lançar as
bases para ela. Como lidar com ensaios argumentativos e com que tipo de textos, é
uma grande questão que professores e linguistas aplicados costumam fazer.
Tipologia 3: texto preditivo e não preditivo. Os textos preditivos surgem da
perspectiva do produtor antecipado, o que ele disse antes que se torne realidade, ou
seja, expectativa (texto preditivo) ou não (texto não preditivo) (TRAVAGLIA, 1991).
Tipologia 4: texto que explica, narra o mundo. Os dois tipos identificados por
Weinrich (1968), enquadram-se na perspectiva apresentada pelo observador contra a
posição não comunicativa. Em um texto mundial anotado, o falante se concentra no
que ele disse, enquanto em um texto mundial narrado, ele não o faz. Por exemplo,
esta é a diferença entre descrições em sentenças declarativas presentes (comentando
o mundo) e sentenças declarativas incompletas (narrando o mundo).
Tipologia 5: texto lírico e épico/narrativo e dramático. A lírica é um gênero
porque se apresenta por meio da criação de um modo de interação caracterizado por
recorrer ao próprio ponto de vista para contemplar as “confissões”, com pouca
preocupação com os outros, e o destinatário portanto, é uma visão altamente subjetiva
de si mesmo ou das coisas fora de si, um ponto de vista que surge do mundo interior
e busca o mesmo (MOISÉS, 1973).
32
A perspectiva de buscar admiração pelo que aconteceu no mundo exterior é
tão grande que a complexidade que permite perguntar "qual é o significado?", é
decisivo. Seria o gênero épico ou narrativo da teoria literária (que seria o mesmo tipo
de história mencionado acima, mas com uma perspectiva diferente que a inclui a partir
de outra perspectiva, que difere daquela classificação da teoria literária) e a
perspectiva do mundo exterior, no caso das relações entre seres, dá um tipo dramático
(o gênero dramático da teoria literária).
Tipologia 6: texto humorístico e não humorístico. O ponto de vista aqui é se o
locutor está se comunicando com o receptor de maneira confiável (texto não
humorístico) ou comunicação não confiável (texto humorístico). A insegurança da
comunicação em um texto humorístico sempre vem do fato de que o locutor parece
estar falando sobre algo, formando um determinado mundo textual ou quadro de
referência com determinados tópicos de discussão, e de repente o destinatário fica
surpreso porque se vê “jogado” em outro mundo, geralmente chamado de "gatilho" na
teoria do humor. Geralmente, esse tipo é mesclado com outros tipos em gêneros
humorísticos.
Tipologia 7: texto literário e não literário. Embora seja difícil definir o que é e o
que não é um texto literário, todos reconhecem que ele existe, e há inúmeros textos
na sociedade e na cultura assim classificados. Para qualificar os textos como literários,
nos limitaremos a dizer que os textos literários recebem as perspectivas de produtores
e receptores, traduzindo em estética o que o texto (os produtores) tem ou realiza (os
receptores). As obras literárias são geralmente consideradas romances, contos,
poemas de todos os tipos, crônicas, épicos, peças teatrais, etc.
Tipologia 8: texto realista e ficcional. Este é o ponto de vista, seja o conteúdo
do texto visto como algo real, que realmente aconteceu, ou algo criado pela
imaginação das pessoas. Por exemplo, biografias são consideradas fatos, enquanto
romances e contos são ficção, mesmo aqueles históricos ou autobiográficos, que
misturam eventos reais com elementos de ficção.
33
4.2 Subtipo
O subtipo é um tipelemento que distingue e pode ser reconhecido como uma
classe de texto que é realmente um tipo, criando assim uma forma ou interação. Se
trata de uma variação de outro que lhe é superordenado e que se caracteriza por uma
perspectiva única, que se enquadra no subtipo.
Os subtipos do tipo diferem entre si com base em alguns fatores, como na
observação em pesquisas. Os fatores e as características distintivas dos subtipos nem
sempre são os mesmos. Existem dois tipos: o injuntivo e o dissertativo.
Subtipos do injuntivo
No texto injuntivo há enunciados na perspectiva de fazer um enunciado após
outro, a finalidade é dizer uma ação necessária e desejável, dizer o que e/ou como
fazer; encoraja a compreensão da situação. Portanto, o interlocutor é aquele que faz
o que se exige, o quese ordena ou o que se deseja que seja feito. Quanto ao tempo
de referência (o tempo em que o mundo real se passa em sua ordem cronológica), a
ordem se caracteriza pela indiferença à simultaneidade ou não das situações, e o
tempo do enunciado (o momento da criação/recepção, que pode ou não coincidir com
o referente) é sempre anterior ao tempo de atraso para a realização da situação, ou
seja, todas as formas verbais basicamente têm o futuro. Todos os subtipos têm essas
características. O injuntivo inclui as seguintes variedades ou subtipos: ordem,
solicitação, solicitação, conselho, prescrição e alternativa.
Subtipos do dissertativo
Na dissertação, o conferencista está na perspectiva da
consciência/conhecimento, desprendimento de tempo e espaço, cuja finalidade é
refletir, explicar, avaliar, conceituar, revelar ideias, compartilhar, informar, relacionar
análises e sínteses de apresentações. Portanto, o interlocutor é como um ser
pensante que raciocina. Quanto ao tempo de referência, o dissertativo se caracteriza
pela simultaneidade das situações expressas no texto, podendo o tempo de leitura ser
posterior ao fato, simultaneamente ou antes. Em quase todos os textos dissertativos,
o tempo de enunciado é o mesmo da referência.
Apesar disso, devido à abstração de tempo e espaço inerente à dissertação, o
momento presente não é considerado tempo verbal, mas universal, pois as situações
34
se apresentam como válidas a qualquer momento. A dissertação apresenta as
seguintes variantes ou subtipos: o expositivo e o explicativo.
O expositivo funciona apresentando os textos de várias formas de
conhecimento sem oposição (o que levaria à argumentação, sustentação, refutação e
negociação de posições) e não como um problema (ocorrendo no explicativo) (DOLZ;
SCHNEUWLY, 2004).
No expositivo, segundo Fávero e Koch (1987), a análise e/ou síntese de
representações conceituais em uma ordem lógica, às quais podemos ou não
acrescentar alguns julgamentos, organiza reflexões sobre um ponto conhecido por
meio de generalização e categorias de generalização e especificação, que pode
ocorrer em um modelo dedutivo (generalização-especificação), indutivo
(especificação-generalização) ou dedutivo-indutivo (generalização-especificação-
generalização). Portanto, a exposição apresenta informações de forma coerente e
lógica.
4.3 Gênero
A terceira natureza das categorias de texto, ou o terceiro elemento principal, é
um gênero reconhecido e caracterizado pela realização de uma certa tarefa social
comunicativa, a satisfação das necessidades de uma comunidade comunicativa ou
esfera social de atividade. Gênero é um instrumento linguístico de atividade social,
criado ao longo da história por grupos sociais, usualmente chamados de
“comunidades discursivas”, como, por exemplo, comunidades religiosas, jornalísticas,
industriais e empresariais, de entretenimento, militares, policiais, acadêmica científica,
legal/forense, educação escolar, arte-literária, etc.
Os membros dessas sociedades sabem e entendem como as espécies tendem
a participar socialmente por meio da linguagem em diferentes áreas de atividade
social. Assim, os gêneros são convenções prévias sobre como a linguagem é usada
para funções sociais, e o conhecimento delas é importante para os membros das
sociedades e culturas. Gêneros são a essência de categorias de textos já existentes
e difundidas em sociedades e culturas, os tipos, os subtipos e as espécies constituem
os gêneros e só ocorrem dentro deles.
35
4.4 Espécie
A espécie, o quarto tipelemento, é identificada e caracterizada pelos aspectos
formais da estrutura e pela superfície linguística e/ou aspectos de conteúdo. Uma
espécie pode ser associada a um tipo ou a um gênero. São exemplos de espécies:
a) história e não-história (espécies do tipo narrativo). Uma narrativa histórica
consiste em episódios de conflito conectados por relações causais e temporais que
se movem em direção à resolução e ao resultado. Já uma narrativa não histórica
contém uma série de episódios sem conflitos, que se movem em direção a uma
resolução;
b) textos em prosa e em verso;
c) históricos, indianistas, fantásticos, psicológicos, regionalistas, de capa e
espada, de ficção científica, policiais, autobiográficos, eróticos, etc. (para contos ou
romances);
d) memorando, telegrama, carta, bilhete, ofício, etc. (espécies do gênero
epistolar/correspondência);
e) acróstico, balada, epitalâmio, ditirambo, écloga, idílio, soneto, haicai, elegia
(espécies do tipo lírico).
Caracterização das categorias de texto
As categorias de texto são caracterizadas principalmente por cinco critérios:
conteúdo do assunto; estrutura composicional; estilo; propriedades linguísticas da
superfície do texto; propósito ou função e condições de produção.
Conteúdo temático é o que pode e costuma ser dito em uma categoria textual,
que geralmente nos dá o tipo de informação que um tipo/subtipo, gênero ou espécie
costuma veicular, ou transmitir.
São básicos os quatro tipos na composição dos textos:
a) na narração, organizar fatos ou eventos em episódios, que contenham
indicações e detalhes (muitas vezes em forma de descrição) de lugares, tempos,
participantes/atores/personagens e eventos (ações, eventos ou fenômenos
ocorridos);
b) na descrição, o conteúdo é sempre sobre a localização do objeto (opcional),
com suas propriedades (cor, forma, tamanho, textura, etc.), seus componentes ou
partes;
36
c) na dissertação, o que é contado e apresentado como informação são as
entidades, enunciados e as relações entre eles, em particular modalidade,
causalidade, oposição, adição (ou conjunção), disjunção,
especificação/apêndices/ilustrações, provas, etc.
d) na injunção indica sempre o que fazer e/ou como fazer.
Quando falamos de gêneros, alguns exemplos de conteúdos temáticos são:
a) convite, intimação, convocação, aviso destinado a solicitar a presença de
alguém. Sempre inclui uma solicitação para um local e/ou evento (comemoração,
festa, show/apresentação, encontro, reunião, etc.) e finalidade (divertir-se, aprender,
decidir as coisas, desempenhar um papel específico em processos judiciais, etc.)
(TRAVAGLIA, 2002).
Alguns itens de conteúdo aparecem em todos os quatro tipos, como: quem
solicitou a participação, quando e onde você participa, do que você participa:
cerimônia, festa, forma de apresentação (atuação, conferência, etc.), curso, realizar
algo, aula, etc. O chamado pode configurar engajamento (reunião, declaração,
compromisso) ou não engajamento (convite), dependendo de quem está participando,
e está relacionado às condições de produção. Dependendo da espécie, mais detalhes
sobre o conteúdo de alguns gêneros podem ser observados na caracterização. Por
exemplo, para convites, dependendo do programa para o qual é convidado, definir o
tipo de convite que afeta o conteúdo: casamento, aniversário, apresentações, cursos,
eventos, etc.
Os convites de casamento caracterizam-se, por exemplo, por um número
mínimo de referências: quem vai casar, local e data do casamento e se haverá
recepção cerimonial após um evento religioso ou civil. Por outro lado, um convite para
palestra deve conter algum outro tipo de informação: tipo de apresentação
(apresentação, conferência, etc.), conteúdo/tema/assunto (se aplicável) (por exemplo,
conferência, curso), orador, se o evento irá ser pago ou não.
b) Tavares (1974), procurando distinguir e diferenciar a epopeia ou poema
heroico, utilizou o critério do conteúdo, afirmando que uma epopeia é "uma narrativa
de um grande acontecimento heroico de interesse nacional". Portanto, um fato
histórico ou mítico que capturou o imaginário popular, embora de importância
secundária, caracterizando o critério, é qual conteúdo é dito e sua relevância para a
nação.
37
Em relação ao conteúdo dos gêneros,podemos citar alguns exemplos.
Vejamos:
a) as narrações do tipo história contêm episódios que parecem estar
conectados e se movem em direção a resultados ou soluções, enquanto as narrações
do tipo não história têm texto justaposto, contendo episódios desconexos que levam
a histórias, resoluções e resultados;
b) descrições estáticas envolvem descrever o que são objetos e seres, e
caracterizá-los enquanto descrições dinâmicas e eventos (danças, tempestades,
festivais);
c) no caso dos tipos líricos de poesia, alguns desses tipos diferem em ambos
os conteúdos:
a) o ditirambo é um poema que celebra a alegria da mesa, principalmente ao
brindar de forma alegre e exuberante;
b) as elegias contêm composições de luto e tristeza;
c) epitalâmio é uma composição destinada a celebrar casamentos e bodas;
d) os poemas bucólicos descrevem o caráter da vida rural e podem ser divididos
em idílio (que é monológico) e écloga (que é dialógica);
e) o genetlíaco comemora o nascimento e aniversários.
5 ESTRUTURA E PRODUÇÃO DE PARÁGRAFOS
O parágrafo é uma unidade relacionada à estrutura textual e também
responsável por conferir unidade de sentido ao texto. Do ponto de vista de Adam
(2018), o parágrafo pode ser definido como um segmento gráfico intermediário de
estruturação, isto é, ele tanto está ligado à textura microtextual, inter e transfrástica
quanto à macroestrutura hierarquizante dos planos de texto.
De acordo com o linguista, além da noção de unidade temática, é na escala de
uma sequência de parágrafos que a continuidade e a progressão temática fazem
sentido, ou seja, é na relação com outras porções de texto, como proposições e
sequências, que o todo textual se organiza (ADAM, 2018). Os parágrafos são um dos
elementos mais importantes de qualquer texto e têm uma função específica. Uma má
compreensão da formação do parágrafo não afetará apenas a estrutura superficial do
texto, mas também sua consistência e coerência, que são outros dois elementos
38
essenciais.
Fonte: mundoeducacao.uol.com.br
5.1 Estrutura e características de um parágrafo
Para compor um parágrafo, é primordial compreender que ele é composto por
uma ou mais frases. Assim, a união dos períodos, sejam eles simples ou composto
formam um parágrafo. Por exemplo, em um parágrafo de um texto argumentativo, um
período simples (também chamado de tópico frasal) é proposto primeiro com a ideia
central do texto e, em seguida, com uma série de períodos compostos com
argumentos. Dessa forma, o parágrafo fica da seguinte forma:
ATENÇÃO ao resumo dos parágrafos
39
Fonte: mundoeducacao.uol.com.br
Antes de ser um bom escritor, é preciso ser um bom leitor. Sabemos que a
leitura nos permite realmente entender como a linguagem funciona, e que quando nos
tornamos leitores ávidos, as regras da gramática são internalizadas. É um processo
que proporciona aprendizagem organizada. Além da leitura, é sempre útil conhecer
algumas técnicas de texto estruturado, tema que ainda gera muitas dúvidas na hora
de escrever.
Em relação à extensão dos parágrafos, vale ressaltar que não se trata de uma
receita pronta, pois a habilidade do escritor determinará o tempo de deslocamento de
uma posição para outra, para a compreensão total do discurso, podemos então dizer
que, um parágrafo é um pequeno texto dentro do texto. Nestes termos, temos:
Fonte: adaptada de portugues.com.br
Tópico frasal (ideia central - período simples) + argumentos (períodos
compostos - coordenação e subordinação)
Introdução – também denominada de tópico frasal, constitui-se pela apresentação
da ideia principal, feita de maneira sintética e definida pelos objetivos aos quais o
emissor se propõe.
Desenvolvimento – fundamenta-se na ampliação do tópico frasal, atribuído
pelas ideias secundárias, reconhecidas na exposição dos argumentos com
vistas a reforçar e conferir credibilidade ora em discussão.
Conclusão – caracteriza-se pela retomada da ideia central associando-a aos
pressupostos mencionados no desenvolvimento, procurando arrematá-los de
forma plausível. Pode, na maioria das vezes, constar-se de uma solução por
parte do emissor no que se refere ao instaurar dos fatos.
40
Quanto aos textos narrativos, os parágrafos são frequentemente
caracterizados por uma predominância de verbos de ação que descrevem a situação
dos personagens ao longo do desenvolvimento do enredo, bem como indicações de
elementos ambientais relevantes para a trama: quando, por que, com quem ocorreu,
o fato etc. Nesta modalidade também é atribuído à transcrição do discurso direto,
especialmente nas falas dos personagens.
Já referência aos textos descritivos, seu uso está associado a uma
apresentação detalhada dos objetos descritos, como pessoas, animais, lugares, obras
de arte, etc., para permitir que o leitor crie a cena em sua mente. Além dessas
apresentações, são usados propósitos retóricos destinados a descrever as
características de algo, há a preponderância de verbos de ligação e uso de adjetivos.
Quanto aos tipos de parágrafo, eles variam de acordo com a finalidade do texto,
podendo ser:
Argumentativo: parágrafos de texto em que predomina a tipologia
argumentativa, isto é, a defesa de uma tese/ponto de vista acerca de um tema.
Fonte: brainly.com.br
Narrativo: presente em textos predominantemente narrativos, como a crônica,
o conto e o romance. Nele, prevalecem as características da narração e fazem-se
presentes os elementos da narrativa (narrador, tempo, espaço, personagem e
enredo).
41
Fonte: mesadeestudo.com
Descritivo: prevalece a descrição de características ou coisas, parágrafos
repletos de adjetivos, verbos de ligação e orações coordenadas, dos quais
apresentam uma descrição e/ou apreciação de objeto, pessoa, lugar, acontecimento,
dentre outros.
Fonte: mesadeestudo.com
Ainda dependendo da dimensão e do tipo de texto, os parágrafos são
classificados em:
Longos: muito utilizado em textos acadêmicos, monografias, teses e artigos,
pois apresentam conceituações, definições e exemplificações.
42
Fonte: SILVA (2018).
Médios: normalmente encontrado nos meios de comunicação como revistas e
jornais. Esse tipo de parágrafo prende a atenção do leitor, uma vez que suas ideias
são apresentadas de maneira menos extensa.
Fonte: mesadeestudo.com
Curtos: encontrados nos textos infantis ou publicidades. Constituídos por
poucas palavras e, no caso de publicidades, uso de frases de destaque.
Fonte: mesadeestudo.com
5.2 Estrutura textual
Segundo Galeano (2001), a palavra “texto” vem da palavra latina textum e
significa “tecido”. Isso significa que, quando alguém escreve, ele tece pensamentos
com palavras. Ele procura evitar falhas e distorções para que seu propósito
comunicativo seja totalmente completo. Pode até parecer um tanto complexo, mas um
texto pode ter uma ou milhares de palavras, porque ele varia em estilo e tamanho.
Pode ser oral ou escrito, verbal ou não verbal; pode ser formal ou coloquial; ou quem
sabe uma imagem. Além disso, existem vários tipos de texto: literário, técnico, oficial,
comercial, jornalístico, filosófico, didático, etc.
Em todos os tipos, porém, deve ser apresentado um significado completo para
formar um sentido claro. Tal unidade pode ser alcançada através do uso de duas
dimensões do texto: clareza e concisão. Além disso, todos os tipos possuem uma
estrutura básica que os mantém organizados para que sejam imediatamente
43
compreendidos e reconhecidos como texto. Essa estrutura é dividida em introdução,
desenvolvimento e conclusão. Seja ele escrito ou não.
A primeira parte do texto, a introdução, conduz o leitor ao tema em discussão.
Nesse ponto,é importante dar uma visão geral do assunto para revelar brevemente
as ideias que serão desenvolvidas nos parágrafos seguintes. É um momento de
encantar o leitor. O tema deve ser desenvolvido de modo que desperte a curiosidade
e o desejo de prosseguir com a leitura.
É importante salientar que a introdução é variável, ela está associada ao gênero
textual. Por exemplo, em textos informativos a introdução é mais curta em relação a
textos acadêmicos como dissertações e teses, nesses casos a introdução é mais
longa, introduz a complexidade do texto e específica o que é abordado no artigo.
Em textos jornalísticos, a introdução é mais direta. Como explicam Squarisi e
Salvador (2015), é importante ir direto ao ponto. Como o público-alvo do autor é
variado, o desafio é atingir o maior número possível de leitores. Para fazer isso, o
escritor deve usar uma linguagem objetiva e clara, informações precisas e um estilo
atraente.
Isso não significa que em textos acadêmicos a introdução não seja atraente;
pelo contrário, deve também manter fluidez, coerência e coesão. O objetivo é
entrelaçar e apresentar ideias de forma que o leitor fique com vontade de descobrir o
que as próximas linhas de pesquisas trarão para o avanço do conhecimento. Assim,
cada gênero textual tem características próprias, mas todos compartilham questões
em comuns.
Consideremos, por exemplo, o texto informativo do Ministério da Saúde, cujo
objetivo é informar a população sobre algo importante relacionado à prevenção de
doenças. Esse texto também deve chamar a atenção na introdução, certo? A
linguagem deve ser considerada e utilizada de forma que a informação afete o grupo-
alvo.
Machado (2017), traz a segunda etapa da estrutura do texto, o
desenvolvimento. O tema apresentado na introdução deve ser continuado e
detalhado. Aparentemente, o grau de desenvolvimento depende do tipo de texto. Se
você observar os mesmos exemplos anteriores (textos de revistas e dissertações),
verá que ambos desenvolveram características únicas. Uma tese, por exemplo,
apresenta o referencial teórico, material de pesquisa e análise dos dados. Já em um
44
texto jornalístico, esses elementos também podem ser apresentados, porém
diretamente, de forma mais simples, pois, um texto impresso em um jornal tem um
limite de caracteres que deve ser respeitado. No poema, por exemplo, também há
desenvolvimento, mas o contexto, o assunto (ou assuntos) com o qual o diálogo é
conduzido e os meios de comunicação, influenciam diretamente nas formas de
apresentação.
Finalmente, a estrutura do texto termina com uma conclusão. Após expor um
ponto de vista durante o desenvolvimento, podendo ou não, apresentar ponto e
contraponto, o autor expõe a conclusão do seu pensamento. Os tipos de conclusões
podem variar de acordo com o gênero textual.
No caso de textos acadêmicos, a conclusão indica se as hipóteses de pesquisa
foram confirmadas ou rejeitadas e aponta para possíveis pesquisas futuras. No caso
de um conto, por exemplo, a conclusão é o último momento da história, é o resultado
final. Em geral, a conclusão conclui a ideia, responde à pergunta da introdução e
oferece uma solução para o problema.
Portanto, a divisão básica do texto inclui introdução, desenvolvimento e
conclusão. O que não quer dizer que um texto seja formado exclusivamente por três
parágrafos. Um texto pode apresentar todos esses elementos em apenas um
parágrafo, assim como uma tese com mais de duzentas páginas não deixa de ser um
texto e também apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão, a lógica
estrutural tanto de um quanto do outro é a mesma.
Segundo Antunes (2010), todo enunciado com função comunicativa tem as
propriedades de textualidade ou correspondência com o texto. Em outras palavras,
em toda língua, as situações interativas, sejam elas quais forem, são marcadas pela
textualidade como forma de manifestação. Portanto, há gênero textual. Assim, o autor
conclui que não há ação na língua fora da textualidade. Se existe comunicação, existe
um formato de texto.
Isso mostra que é errado dizer que primeiro você aprende as palavras, depois
as frases e por fim o texto. Afinal, todos os eventos comunicativos, desde as primeiras
tentativas de fala da criança, podem ser entendidos como parte de um todo
denominado “texto”, onde existe a textualidade. Segundo Antunes (2010, p. 30), a
questão aqui é “[...] assumir a textualidade como princípio que manifesta e regula as
atividades linguísticas [...]”.
45
Os elementos textuais mencionados nos parágrafos anteriores aparecem em
diferentes gêneros textuais, formados de acordo com o contexto do texto. No entanto,
as noções de textualidade e evento comunicativo são assumidas em todos os casos.
5.3 Elementos textuais
Muitas dúvidas podem surgir quanto a quais elementos do texto devem ser
analisados, contudo, se o texto é toda ocasião comunicativa da língua, então tudo
pode ser analisado. O problema é que nem todos os textos vão apresentar elementos
linguísticos de uma determinada língua e todos os aspectos relacionados à
funcionalidade da interação sociocomunicativa. Segundo Antunes (2010), os textos
são campos naturais para que se possa analisar os fenômenos da comunicação
humana. Portanto, é no texto que se observam aspectos relacionados ao fazer e ao
receber uma apresentação verbal em uma língua específica.
Em relação a analise, Antunes (2010), diz que o mais importante é não reduzir
o texto a um mero campo de amostras gramaticais e não se limitar a uma construção
relacionada apenas ao vocabulário e aos recursos gramaticais. Pelo contrário, o texto
deve ser o centro em si.
O objeto de pesquisa, análise e descrição, é o texto em sua multiplicidade
(estrutura do parágrafo, linguagem utilizada, objetivo comunicativo, mensagem, ideias
secundárias e fatores extratextuais como contexto social e histórico). Por exemplo, a
gramática está lá, mas como um componente essencial que não pode ser substituído.
Sem gramática não há texto dentro de parâmetros definidos; regras de
compatibilidade, regência, pontuação, etc., mas esta não é a única consideração a ser
analisada em um texto. Nesse sentido, é possível estudar o texto como um todo ou
selecionar partes a serem analisadas. De uma dimensão ampla, podem ser
observados os seguintes elementos no eixo dessa coerência (ANTUNES, 2010):
46
Fonte: Antunes (2010).
Esses são apenas alguns elementos que ilustram a estrutura e a análise do
texto. No caso de surgirem dúvidas sobre como identificar esses elementos no texto,
considere fazer uma comparação entre textos biográficos (biografias de pessoas
importantes de um determinado país), romances, e ficção.
Ao fazer essa comparação, você vai perceber que o escopo relevante é
especificado para cada um desses textos. No primeiro caso, se refere a lugares
existentes, pessoas e situações reais, histórias verídicas, origem social real do lugar
da história, etc., no entanto, no caso de romances e fantasia, você pode encontrar
seres fictícios, lugares imaginários, épocas diferentes, etc.
Como vimos até aqui, o texto é algo abundante e complexo, composto por
diversos elementos, que vão além de sua estrutura sintática básica. Além disso, o
texto existe em qualquer contexto, comunicação e interação em um determinado
idioma.
6 GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Originalmente a gramática foi aprendida pelos gregos, uma vez que eles
- Universo de relevância a que
remete o texto ('real ou fictício);
- Campo de circulação do discurso
(acadêmico-científico, jurídico,
jornalístico, político, de
informação, informal, literário,
entretenimento, etc.);
- Ideia central;
- Função comunicativa;
- Critério de subdivisão da
estrutura (parágrafos);
- Direcionamento argumentativo;
- Representações de mundo
(explícitas ou implícitas);
- Intertextualidade e
hipertextualidade(ou seja, relação
com outros textos).
47
queriam preservar a língua clássica, porque eram considerados a identidade de seu
povo e temiam que o vernáculo a afetasse.
Para Bagno (2007):
Quando o estudo da gramática surgiu, no entanto, na Antiguidade
clássica, seu objetivo declarado era investigar as regras da língua
escrita para poder preservar as formas consideradas mais “corretas” e
“elegantes” da língua literária. Aliás, a palavra gramática, em grego,
significa exatamente “a arte de escrever” (BAGNO, 2007, p. 56).
Assim, o termo “gramática'', que corresponde à criação de normas capazes de
assimilar a língua de um povo, adquiriu uma nova definição e seu estudo foi sendo
refinado ao longo do tempo sem perder sua essência. No Brasil, a língua materna
também é supervalorizada e, como afirma Antunes (2009), ela é uma identidade
nacional:
Língua, cultura, identidade, povo; na verdade, todas irremediavelmente
indissociáveis. O povo tem uma identidade, que resulta dos traços
manifestados em sua cultura, a qual, por sua vez, se forja e se
expressa pela mediação das linguagens, sobretudo da linguagem
verbal (ANTUNES, p. 19, 2009).
Compreende-se, portanto, o valor inegável de se ter conhecimento da
gramática, responsável por moldar, organizar e padronizar o uso da Língua
Portuguesa (LP), que não é uma língua morta e sofreu muitas alterações ao longo do
tempo.
Aprender toda a gramática de uma linguagem padrão, ou mais precisamente,
criar condições para o aprendizado, é um dos objetivos do ensino de gramática nos
cursos de LP. Qualquer outra suposição é um erro político e pedagógico (POSSENTI,
1996). Para isso, professores contam com o ensino da “gramática normativa”. Mas
devemos lembrar que esse não é o único problema gramatical que existe. Travaglia
(2009) analisa conceitos gramaticais e lista os tipos mais comuns de gramática em
seu livro “Gramática e Interação: Uma Proposta para o Ensino de Gramática”
conforme quadro 1 abaixo:
48
Quadro 1 – Tipos de gramática
Fonte: Adaptado de Travaglia (p. 30-33, 2009)
Além desses três tipos, o autor propõe mais três tipos relacionados aos
mecanismos estruturais e funcionais da linguagem, de acordo com o quadro a seguir.
Fonte: Adaptado de Travaglia (p. 33, 2009)
As últimas cinco gramáticas mencionadas são definidas em termos de
propósitos de pesquisa e objetivos de ensino. Vale observar que os tipos 7, 8 e 9 são
síncronos e os tipos 10 e 11 são assíncronos, como observado no quadro a seguir.
49
Fonte: Adaptado de Travaglia (p. 35-36, 2009)
Essas informações permitem que se entenda como os idiomas são
padronizados. O acordo ortográfico da LP é responsável por estabelecer as regras
gramaticais acima, padronizando assim a ortografia.
Como observado acima, a gramática ensinada nas escolas é prescritiva e, de
acordo com Travaglia (2009), é por meio dela que os alunos substituem seus próprios
padrões de atividade linguística que são considerados errados/inaceitáveis por outros
considerados correto/aceitável. Em termos de lidar com a diversidade literária, não
atende ao objetivo de ensinar os alunos a serem suficientemente competentes.
Portanto, o autor ainda enfatiza dois tipos de ensino:
O ensino descritivo objetivo mostra como a linguagem funciona e como
determinada língua em particular funciona. Fala de habilidades já
adquiridas sem procurar alterá-las, porem mostrando como podem ser
utilizadas. [...] O ensino produtivo objetivo ensinar novas habilidades
linguísticas. Quer ajudar o aluno a estender o uso de sua língua
materna de maneira mais eficiente (TRAVAGLIA, p. 39, 2009,).
A instrução descritiva e produtiva está ligada à gramática prescritiva, bem como
à gramática descritiva e internalizada, sendo mais produtiva em termos de melhoria
das habilidades de comunicação pessoal. Como afirma Travaglia (2009), esses dois
últimos são muito úteis, mas não têm sido abordados nas aulas de língua nativa devido
à supervalorização do prescritivo.
50
6.1 Ortografia e pontuação
Entre as competências desenvolvidas no âmbito do ensino/aprendizagem da
PL, destacam-se as relacionadas com a ortografia e o uso da pontuação, que são
essenciais em qualquer escrita.
➢ A ortografia é a base da decifração. Sem saber escrever, muitas vezes os
alunos têm dificuldade em ler as palavras corretamente. Erros ortográficos
podem obscurecer o significado de uma frase, afetando assim a compreensão
da leitura;
➢ A pontuação também afeta a leitura, principalmente quando feita oralmente
(ou seja, em voz alta), pois envolve pausas de leitura, ritmo e entonação. Também
afeta a compreensão da leitura, pois demonstra uma atitude que muda o significado
do que é lido (por exemplo, terminar as frases com ponto final, ponto de exclamação
ou ponto de interrogação não é indiferente).
Em suma, a ortografia e a pontuação deficientes podem afetar logicamente o
desempenho da leitura (compreensão) e da escrita (expressão/produção), justificando
a intervenção do professor no ensino:
➢ Explícito, informando os alunos sobre ortografia e pontuação em LP;
➢ Contextualizado, que lhes permitirá compreender a necessidade em seguir
as regras de ortografia e pontuação para uma boa escrita e leitura de textos.
Princípios didáticos devem ser seguidos no ensino/aprendizagem da ortografia
e pontuação e também considerados na avaliação. Portanto, deve-se implementar
uma educação ortográfica sistemática que capacite os alunos a adotar as normas que
orientam o sistema ortográfico de sua língua e, assim, escrever corretamente com
base em sua compreensão. O ensino sistemático e o uso de estratégias didáticas
cuidadosamente selecionadas também se beneficiam de uma boa pontuação.
A escrita impecável não vem apenas do registro das palavras relevantes, mas
do pensamento sobre a língua, sobre o escrito (DUARTE, 2013). Além disso, não
basta escrever muito para aprender a usar a pontuação corretamente. É necessário
considerar sua natureza e funções, que estão logicamente relacionadas entre si.
O sistema ortográfico do português é bastante complexo e os alunos
apresentam muitas dificuldades em aprendê-lo, por isso os professores devem utilizar
algumas estratégias para promover a aprendizagem dos alunos e o desenvolvimento
das habilidades ortográficas (DUARTE, 2013). Ao ensinar o uso da pontuação,
51
também deve-se contar com estratégias cuidadosamente escolhidas.
Barbeiro (2007) afirma que nas estratégias protegidas no ensino da ortografia
se pode supor: uma tendência correta baseada na indução, ou seja, apresentar regras
ortográficas visando memorizá-las; orientação antecipatória, quando o aluno é
solicitado a criar uma regra de ortografia com base no raciocínio por meio da
visualização de palavras.
Para ultrapassar a artificialidade que a prática da ortografia tende a assumir,
são apresentadas várias estratégias que visam combinar duas vertentes do ensino da
ortografia: corretiva e preventiva:
➢ Incentivar os alunos a escrever e orientá-los a produzir textos que não ativem
demais os limites de coesão e coerência do ponto de vista da criação de conteúdo, e
que, do ponto de vista estrutural, enfatizem a estrutura e também a poesia. Essas
estratégias combinam o desenvolvimento de habilidades de ortografia e
correspondência (BARBEIRO, 2007).
➢ Estratégias metalinguísticas, que envolvem o uso e observação de modelos
de palavras para desenvolver uma consciência de como os fundamentos ortográficos
funcionam; o uso dessas estratégias também promove a construção do conhecimento
sobre as funções da linguagem e a capacidade de usar conscientemente suas
entidades e propriedades, em vez de apenas usar uma linguagem metálica que nem
sempre está presente (BARBEIRO, 2007).
Essas estratégias também ajudam a ensinar e aprender pontuação:
➢ Orientar o aluno a escrever o texto(isso os obriga no uso da pontuação) e o
ler em voz alta para verificação se foi usada a pontuação (mesmo que a pontuação
esteja incorreta). Em seguida, descrever as regras de uso da pontuação, analisar o
texto e fazer a correções;
➢ Pode-se também fazer com que os alunos escrevam textos (isso os obriga
a usar a pontuação no contexto) e dar-lhes uma verificação para analisar o que é
correto ou incorreto e fazerem a correção.
É importante ainda, reconhecer a relação entre a ortografia e a comunicação
oral. Isto é possível quando os alunos compreendem que a comunicação escrita
corresponde à componente oral.
O ensino e aprendizagem do uso de pontuação também envolve reconhecer a
uma relação entre a linguagem falada e a escrita. Finalmente, os sinais de pontuação
52
ajudam a restaurar o dinamismo da linguagem falada (por exemplo, ao escrever um
diálogo) e adicionam dinamismo à apresentação oral da linguagem escrita (por
exemplo, lendo em voz alta). Uma maneira de envolver os alunos no desenvolvimento
de habilidades de ortografia é fazer com que eles assumam um papel ativo na
identificação e compreensão de seus erros. Por outro lado, esta atitude também tem
um efeito positivo na aprendizagem. Porque uma forma de melhorar ou eliminar os
erros é pensar antes de escrever. Essa também é a "regra de ouro" para o ensino e
aprendizagem da pontuação (SÁ, 2015).
6.2 Concordância nominal e verbal
Para Bechara (2009), concordância significa combinar palavras de definição
com tipos específicos de palavras, números e pessoas em uma frase. Se usar uma
gramática prescritiva, deve seguir as regras do modelo. Ou seja, se um texto é escrito
em ambiente formal, seja ele acadêmico ou profissional, a escrita deve seguir a
variante urbana mais respeitada.
Segundo Cunha e Cintra (1985), a variedade do verbo deve corresponder ao
número e à pessoa do sujeito, de modo que, quando o verbo mudar, o sujeito do qual
faz parte a frase, deve concordar com ele, evitando confusão sobre o assunto e a
repetição. Conforme definido no dicionário linguístico de Bechara (2009), o consenso
é um princípio linguístico válido em muitas línguas, pois a definição e a designação se
aplicam a categorias e regras gramaticais.
A concordância, seja verbal ou nominal, ocorre quando os adjetivos diferem no
gênero e no número de substantivos a eles ligados (concordância nominal), e os
verbos diferem no número e na pessoa de seus sujeitos (concordância verbal). No
entanto, existem alguns casos especiais que se aplicam em situações questionáveis.
As questões de concordância verbal incluem verbos relacionados ao sujeito: o
primeiro deve concordar com o segundo em número (singular ou plural) e pessoa (1ª,
2ª, 3ª).
Consiste a concordância em dar a certas palavras flexionáveis as
formas de gênero, número ou pessoa correspondentes à palavra que
no discurso se referem. É a prática decorrente da própria flexiologia.
Desde que de um vocábulo se oferecem várias formas à escolha, e o
dito vocábulo vem determinar, esclarecer ou informar alguma coisa a
respeito de outro, escolheremos naturalmente aquela forma que se
harmonizar com outro termo (ALI, p. 205, 2001,).
53
No entanto, isso não é tão regular, e sabemos que existem muitas variações,
principalmente na linguagem oral. Há vários anos, linguistas realizam pesquisas sobre
a variabilidade do consentimento verbal. Embora pesquisas sejam motivadas por
questões diferentes, elas compartilham ideias comuns, como diversidade de padrões
culturais, rotulados como não padronizados, populares e folclóricos. A pesquisa sobre
a aplicação/não aplicação do princípio da concordância verbal no português atípico foi
realizada por Cunha e Cintra (1985), entre outros.
No Brasil, alguns linguistas e sociolinguistas estão estudando esses elementos.
Na linguística em particular, esses elementos são frequentemente considerados
recursos morfológicos e sintáticos. É considerado um morfema, pois tem valor
semântico próprio, com radicais para compor formas substantivas ou verbais. Por
atuarem como símbolos da relação gramatical entre dois elementos, no caso de
concordância verbal entre o sujeito e o verbo, e no caso de concordância nominal
entre o substantivo e o determinante, são considerados mecanismos sintáticos.
Assim, a concordância verbal é estruturada como morfossintática. A morfologia
refrativa lida com morfemas flexíveis. Em geral, os substantivos indicam as categorias
de gênero, número e caso, enquanto os verbos indicam as categorias de aspecto,
tempo, modo, número e pessoa.
Bechara (2009) afirma que a flexão é um mecanismo gramatical, no qual indica
que determinados termos estão abertos a novos usos e podem expressar diferentes
categorias gramaticais. Bechara (2009) assume, assim, a forma de fragmentos
fonéticos convertidos em radicais, comumente chamados de sufixos ou terminações.
Portanto, segundo Mattoso Câmara (1975, apud SALOMÃO-CONCHALO,
2015), há uma diferença fundamental entre eles: enquanto os sufixos flexionais são
"obrigatórios", os sufixos derivacionais não são, e as terminações derivacionais não
são organizadas em paradigmas coerentes chamados de "derivação voluntária", que
se refere ao sinal aleatório e à saída harmônica, derivados do processo. Por outro
lado, a flexão recebeu o nome de derywatio naturalis, porque a natureza da expressão
impõe essa condição. Ao contrário dos morfemas derivacionais, os morfemas
flexionais são construídos sobre paradigmas coerentes, com pouca possibilidade de
variação, de modo que as flexões verbais e substantivas são obrigatórias.
Mattoso Câmara (1975) também afirma que a concordância é um traço
característico dos morfemas flexionais, que os verbos possuem sufixos flexionais e
54
agregam conceitos de tempo e modo (indicativo, subjuntivo e imperativo) e, no caso
do pretérito, acumula o conceito de aspecto. Por outro lado, as flexões gramaticais de
pessoa implicam automaticamente a forma singular ou plural do sujeito e da pessoa.
Bagno (2012) afirma que a concordância nominal em sua “Gramática
Pedagógica do Português Brasileiro” não é universal em todas as línguas, sendo
abundante em algumas e escassa em outras.
Segundo Bagno (2012):
A concordância nominal e a verbal são um mesmo fenômeno
gramatical que se verifica, não por acaso, somente nessas duas
classes fundamentais lembrando que sob o rótulo nome incluímos os
substantivos, os adjetivos, os pronomes, e os determinantes, que
funcionam como adjetivos. Uma vez que nome e verbo representam os
dois polos da gramática, a concordância permite uma coesão maior
entre eles, uma solidariedade semântica (BAGNO, p.702, 2012).
Para Bagno (2012), a repetição da concordância, seja verbal ou nominal, é uma
ferramenta discriminadora para falantes com poucos sinais de concordância. Para ele,
é importante ressaltar que os eventos ocorrem devido a fatores sociais cognitivos, e
não por desconhecimento, preguiça ou negligência.
Prova disso é a linguagem que se assemelha às regras do PB, que são menos
fiscalizadas. Também se sabe que ninguém faz todas as concordâncias gramaticais
normativas. O que percebemos é que, os que possuem maior nível de escolaridade
fazem mais concordância dos que tem um menor nível de escolaridade.
Como manter a ideia de número é importante, as marcas continuam no
elemento que dá início ao Sintagma Nominal (SN), ou seja, os determinantes. Esse
fenômeno ocorre em língua como haitiano, francês dentre outras.
7 ESTUDOS DE GRAMÁTICA: FLEXÃO
Para definir flexão, devemos nos pautar em características definidoras do
processo (GONÇALVES, 2011; VIVAS et al., 2019). Acredita-se que no ensino e
aprendizagem, o professor deve se guiar por alguns critérios fundamentais dentre os
muitos apresentados na literatura, para que o aluno possa compreender o processo,
como: a flexão não cria palavras (pintar→pintaremos, pintavam); não há mudança de
classe (pintar - verbo → pintaremos e pintavam - verbos); mostra o significado
constante no uso do afixo (re - “futuro que irá ocorrer”, va -“passado habitual”, mos –
“primeira pessoa do plural”, m/N/-“terceira pessoa do plural”); e o uso da tradução no
55
uso cultural geralmente para cumprir um contrato (nós pintamos).
É necessário mostrar que cada afixo tem significado e acrescenta substância à
palavra. Pode-se apresentar as diferenças no significado dos tempos verbais e a
relação entre eles, pessoa-número (NP), falantes, etc. Em gramáticas e livros
didáticos tradicionais, o arranjo geralmente é formal apenas quando se trata de
recursos flexionais. Se os professores considerarem o significado ao ensinar
morfologia, as aulas podem ser mais interessantes e significativas para os alunos.
Ele não apenas examina a relação entre morfologia e semântica, mas também
destaca as diferenças entre o uso de pessoas no idioma e o que é descrito na
gramática tradicional e nos livros didáticos. Conforme mostrado na Quadro 1, a
conjugação de verbos em livros didáticos e livros de gramática alinha-se com o que é
geralmente feito em expressões idiomáticas do português brasileiro.
Vale ressaltar que se o objetivo é revelar todas as conjugações verbais em
português, existem muitas formas de se fazer isso. Há diversidade de interpretações
culturais orais ou escritas da língua portuguesa na maior parte do território brasileiro.
Pensando nisso, o professor deve revelar essas discrepâncias entre o que a tradição
revela e o que é feito pelo menos na cidade/estado de seus alunos. Se não for
mostrado isso, o ensino da flexão se afastará da situação real de cada aluno.
Quadro 1 - Conjugação verbal presente nos livros escolares e gramaticais
Fonte: Moura Vivas; Morais, 2021.
Demonstrando relações léxicas/semânticas, observando o uso e definindo
flexões em relação aos padrões, conseguimos despertar o olhar científico. Os
56
educadores devem despertar essa visão e moldá-la conforme os padrões. Conforme
explicam Basso; Pires de Oliveira (2012) e Franchi (2006), é fundamental desenvolver
um perfil de pesquisa nos alunos.
Os cursos de morfologia geralmente priorizam a definição de formas, nomes de
processos, formação de palavras, sufixos (muitas vezes ausentes) e formas de
conjugação. Nessas disciplinas, a visão puramente formal de desempenho é apoiada
por descrições encontradas em livros didáticos e gramáticas. Nas definições e
exercícios, é dada prioridade à identificação de marcas e nomes conceituais que
atendam às especificações da norma.
Essa abordagem inadequada e sem contexto, é talvez a principal razão pela
qual os alunos acham o estudo de verbos tedioso, isso pode levar a deficiências no
seu uso, principalmente em textos mais formais. É importante lembrar que devemos
saber mudar as formas verbais para criar coerência textual; para melhorar o
aprendizado dos tempos e dos estados verbais, os professores podem se oferecer
para refletir sobre o uso de verbos no texto.
7.1 O ensino de flexão verbal
A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) publicada atualmente, enfatiza a
instrução contextual, variando tipos de textos falados, escritos, multimídia, leitura
lúcida, geração de texto e análise de linguagem. Embora esses documentos oficiais
possam ser criticados, muitas vezes eles são produzidos sem considerar a totalidade
do ensino e pesquisa de línguas que ocorre no Brasil.
Nessa perspectiva, o ensino se expressou em torno do conceito de gênero à
medida que a prática da linguagem se tornou mais importante. Sua composição inclui
aspectos temáticos (o que pode ser dito), estilísticos (elementos lexicais e
gramaticais) e compositivos (estruturação tipológica e formal). Os gêneros são
difundidos em diversos meios de comunicação (MARCUCCI, 2008): jornais, revistas,
murais, etc., portanto, na análise da flexão portuguesa deve ser considerada seu papel
discursivo-textual no texto em que se encontra, papel que pode variar conforme o tipo
de texto (notícia, artigo de crítica, etc.).
De acordo com Santos e Teixeira (p. 427, 2017):
57
[...] atualmente, o texto é entendido como uma manifestação verbal que
permite aos indivíduos não apenas a depreensão de conteúdos semânticos,
devido à ativação de estratégias e processos cognitivos, mas também a
interação (ou atuação) de acordo com práticas socioculturais. Em sala de
aula, essa concepção de texto reflete em um ensino de língua contextualizado
e produtivo, que vai além de classificações e regras.
Portanto, o ensino de linguagens a partir de um trabalho textual, diferente da
perspectiva sociocognitiva e interacional da língua, aborda dados como a flexão,
baseada não apenas na categorização, mas sobretudo no sentido criado no texto.
Apresentar aos alunos os diferentes significados dos títulos em diferentes discursos
abordados ao nível textual, é também um trabalho textual que enfoca as metáforas
nas palavras. Segundo Vieira (2017), é inegável que os elementos formais associados
a diferentes níveis gramaticais são essenciais para a tomada de sentido ao nível micro
ou macroestrutural.
7.2 Regência verbal
É definido como regência, uma relação de dependência entre dois termos
classificados como regentes ou regidos; os primeiros exigem a existência dos
segundos, que os completam. Se o termo regente for um verbo, a relação é chamada
de regência verbal, e se for um substantivo (nome), é chamada de regência nominal.
(FARACO; MOURA; MARUXO JR., 2006).
Sabendo que alguns verbos requerem uma preposição e outros não, você
precisa saber quando usá-los e os diferentes significados que cada relação verbo-
preposição cria. A questão é que os padrões gramaticais ditam um estilo, e o uso
comum às vezes se desvia dele. Os autores questionaram e enfatizaram que só
consultando um dicionário profissional pode resolver satisfatoriamente o problema da
regência verbal (FARACO; MOURA; MARUXO JR., 2006).
A seguir, estão listados alguns dos verbos que são problemáticos, com
explicações e notas detalhadas sobre o uso comum. Por exemplo, os verbos: chegar,
preferir e aspirar.
Chegar é um verbo intransitivo “no sentido de atingir o termo de movimento de
ida ou vinda” e de “atingir certo lugar” (p. 468 2006). Se a posição for especificada,
deve-se usar a preposição “a”.
(1) a. A hora da verdade chegou.
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b. Evite chegar a Belo Horizonte no horário de maior movimento (Estado de
Minas apud FARACO, MOURA e MARUXO JR., p. 468, 2006)
A preposição a também controla o transitivo indireto, que significa aumentar,
atingir.
(2) Sua conta chegou a dez mil reais! Um absurdo.
Faraco, Moura e Maruxo Jr. observam ser bastante comum utilizar a preposição
em quando o sentido é “atingir algum lugar”. Ele cita como exemplo o jornal Estado
de Minas, lembrando que até mesmo a imprensa recorre a essa construção.
(3) Ao chegar no trevo de Oliveira, a 140 km de Belo Horizonte, o motorista é
obrigado a fazer um desvio que aumenta a viagem em 42 km.
Preferir é transitivo direto e indireto porque algo é preferido a outra coisa, e
esse segundo objeto é regido pela preposição a, mas é comum substituir a preposição
pela expressão do que.
(4) a. Prefiro os filmes românticos aos de ação (Veja apud FARACO; MOURA;
MARUXO JR., p. 470, 2006)
b. Preferiria entrar pelo caminho do mar, se suicidar numa noite no cais, do
que trabalhar... (Jorge Amado apud FARACO, MOURA; MARUXO JR., p. 470, 2006).
Aspirar é um exemplo daquele cujo significado muda quando o sujeito é
mudado, uma preposição é retirada ou adicionada. Como transitivo direto, significa
sorver, tragar.
(5) Agora mesmo, enquanto aspira o cheiro do vinho, as lágrimas vêm aos
seus olhos (AGUALUSA, 2002).
Se denota pretender, desejar, é transitivo indireto.
(6) Aspiravaa uma promoção na empresa.
Os gramáticos apontam que quando há pronomes relativos ou interrogativos e
advérbios interrogativos, eles devem ser precedidos por uma preposição.
(7) São pessoas com quem simpatizo.
Não é dado a verbos o complemento de diferentes regências; a frase deve ser
desenvolvida, pois se o verbo exigir uma preposição e o outro não, então um deles
não recebe sua regência na frase, ou ainda seria considerado um transitivo indireto,
que, na verdade, é um transitivo direto, considerado incorreto segundo a gramática.
(8) Vi o filme e gostei dele.
59
7.3 Regência nominal
Alguns substantivos aceitam mais de uma preposição, o que dificulta para
quem deseja utilizá-los. Para reiterar a necessidade de um dicionário estruturado, o
autor fornece uma lista de substantivos, especialmente adjetivos, cujas relações de
gestão são ilustradas pela publicação informativa, o autor e outras tangentes que ele
cria. A seguir analisaremos os adjetivos aflito, avesso e preferível.
Aflito acolhe quatro preposições: em, para, com, por.
(1) a. “A curto prazo, o jurista brasileiro estará aflito com o aprimoramento de
nossa Constituição” (O Globo apud FARACO, MOURA e MARUXO JR., p. 475, 2006).
b. Apesar da idade, o jovem não ficou aflito em sua estreia, já que ele tinha um
“treinamento” próprio.
c. “Estava aflito para saber quais eram os preços”, disse o CEO da empresa,
Jorge Saquy Neto (FELIPPE, 2016).
d. Fiquei muito aflito por receber tal notícia.
Avesso rege apenas a preposição “a”:
(2) Assim como toda a família, ele é avesso a eventos sociais, evita entrevistas
e fotos (Exame apud FARACO, MOURA; MARUXO JR., p. 476, 2006).
Preferível também estabelece unicamente a preposição a, mas, atualmente, é
comum utilizá-lo com a expressão do que, à semelhança do que ocorre com o verbo
preferir:
(3) É sempre preferível deixar em liberdade um culpado do que mandar para o
cárcere um inocente (CINTRA, Ernando Ulhoa apud FARACO, MOURA; MARUXO
JR., p. 477, 2006).
Na seção “Fatos de Discurso”, Faraco, Moura e Maruxo Jr. (2006), afirmam que
os falantes usam preposições para expressar uma posição específica no espaço,
mesmo com desvios da norma. Eles dividiram as preposições em abordagens de
aproximação e afastamento.
Consideremos as preposições a, em e para, para a primeira categoria.
a) Maria vai ao cinema.
b) Maria vai no cinema.
c) Maria vai para os Estados Unidos.
Em a), o sentido está no caminho, no ato de ir. Em b), há uma ideia de que o
centro é o objeto da ação, e que esse lugar tem um interior, cercado de limites. Embora
60
considerado incorreto na gramática tradicional, é comumente usado. Em c), a
preposição remete ao sentido de permanência do lugar (FARACO; MOURA;
MARUXO JR., 2006).
Autores apresentam as preposições de, desde e a locução a partir de, na
segunda categoria.
d) Maria foi de sua casa até o cinema.
e) Desde a Praça da Matriz, caminhamos sob chuva forte.
f) A partir do quilômetro 45, a rodovia está congestionada.
Em d), é destacado o ponto de partida. De outro lado, em e), o sentido é de
deslocamento, o verbo é intransitivo e a preposição introduz o adjunto adverbial de
lugar, sendo a praça da Matriz. A oração em f), a locução a partir de, que introduz um
adjunto adverbial de lugar: o quilômetro 45, e apresenta um verbo de ligação, que não
rege preposição.
Segundo os autores, o significado das preposições fica claro quando existem
alternativas não descritas em manuais, dicionários ou gramáticas. Um exemplo
utilizado é o verbo pousar, que neste caso é um verbo intransitivo e pode ser seguido
da preposição em ou sobre. Eles são colocados antes de sufixos adverbiais de lugar
(FARACO; MOURA; MARUXO JR., 2006).
(4) a. O avião pousou numa pista escorregadia.
b. O avião pousou sobre uma pista escorregadia.
Observe que na segunda frase a posição de pouso é especial, então a
preposição tem seu próprio significado: estar por cima da pista. Alguns verbos
permitem que o falante use essa preposição diferente, como o verbo ir explicado
acima, embora em alguns casos o uso seja contrário às normas cultas.
7.4 Pronomes
Na Gramática Descritiva do Português, Perini (1995) afirma que:
O grupo de itens que a gramática tradicional denomina ‘pronomes’ não
mostra traços comuns, nem sintáticos, nem semânticos, que nos autorizem a
colocá-los em uma classe única” (PERINI, p. 329, 1995).
Portanto, o autor sugere abandonar a categoria pronominal tradicional e
substituí-la por outras categorias.
Além disso, as definições de pronomes nos livros didáticos e na gramática
tradicional não especificam o alcance das disciplinas relacionadas. O conceito de
61
substituição de palavras não é tão claro quanto em "Ela não gosta de gelatina", onde
"substitui" um elemento do substantivo (por exemplo, Danielle). No entanto, o
substantivo Danielle pode ser substituído por outros itens que não podem ser
considerados pronomes, como essa menina ou Dani.
Perini (1995) questiona, então, por que meninas e Dani não podem ser
chamados de pronomes. O autor afirma que já respondeu que Dani é um substantivo
e não pode ser um pronome. Também é inadequada a noção de acompanhamento;
em “Meu velho chapéu preto”, o pronome meu acompanha o substantivo chapéu.
Contudo, velho e preto estão igualmente acompanhando o substantivo chapéu, e não
são pronomes.
Pronomes pessoais
De acordo com Maria Helena de Moura Neves, não limita dizer que a primeira
pessoa é a que fala e que a segunda é aquela a quem se fala; Apolônio Díscolo um
gramático grego, já avaliava insuficiente essas definições (NEVES, 2006).
Para ele [Apolônio Díscolo], [...] é necessário acrescentar que é a respeito
dela que se fala; e a primeira pessoa não é, simplesmente, a que fala, mas a
que fala de si própria. [...]. Assim, eu designa a pessoa que fala, e implica,
ao mesmo tempo, um discurso sobre ela, a partir dela própria, enquanto a 2ª
pessoa é necessariamente referida pela primeira, e não pode ser pensada
fora de uma situação proposta a partir do eu (NEVES, p. 521, 2006).
Neves (2006) examina também as diferenças entre os pronomes pessoais
contemplados pelas tradicionais gramáticas e o uso real da língua.
Em relação ao sistema proposto pelos gramáticos tradicionais, Neves (2006)
afirma que a correspondência bidirecional é mito, pois:
[...] ele é inadequado para o português do Brasil, em que, para nos limitarmos
ao singular, a correspondência foi quebrada há tempos pela adoção, em lugar
de tu, do pronome você que, embora faça referência à pessoa a quem se fala
e seja, portanto, do ponto de vista nocional, um pronome de 2ª pessoa, leva
o verbo para a 3ª, e coocorre com possessivos e pronomes átonos de 3ª
pessoa (NEVES, p. 523, 2006).
62
Percebe-se também a forte concorrência entre nós e a gente, o
desaparecimento completo de vós.
A gramática tradicional sugere que os pronomes possessivos e pronomes
átonos ordenado com você e vocês sejam sempre os da 3ª pessoa. No entanto, essa
exigência pode resultar na perda de dados pessoais, o que já ocorre no uso do:
(i) Reconhecer que te e teu são pronomes oblíquos e possessivos,
respectivamente, correspondente a você;
(ii) Usar o seu apenas como possessivo da 2ª pessoa, e reservar à forma
preposicionada dele as funções de possessivo da 3ª pessoa.
Neves (2006) chama a atenção também para o plural dos pronomes pessoais,
pois é errado, por exemplo, dizer que o plural de eu é nós.
No plural, o mapeamento das pessoas do discurso com os pronomes se
complica pela possibilidade de uma referência simultânea a indivíduos que
desempenham diferentes papéis do ponto de vista do discurso. Ao passo que
eles, elas, os, as, lhes podem ser encarados como autênticos plurais de ele,
ela etc., as formas nós, nos, (co)nos(co), a gente, vocês são mais do que
simples plurais de eu e você; nos pronomes pessoaisde primeira e segunda
pessoa, a passagem do singular para o plural não implica apenas pluralização
(NEVES, p. 527, 2006).
Portanto, a pluralidade de nós/a gente pode ser: 1ª + 2ª pessoa; 1ª + 3ª pessoa;
1ª + 2ª + 3ª pessoa. A pluralidade vocês, pode ser: 2ª + 2ª pessoa; 2ª + 3ª pessoa.
Pronomes possessivos
Tradicionalmente, eles têm sido considerados indicadores da relação de
propriedade entre “possuidor” e um “possuído”, mas tal relação só pode ser
considerada em um sentido mais amplo (NEVES, 2006). Por exemplo, não há o
possessivo nessas frases: “O Flávio Cavalcanti talvez com todas as suas desgraças”,
“vou fazer minha propaganda” e “nós estamos vivendo ainda um problema, então
torna-se um pouco difícil a sua análise”.
Além disso, para Neves (2006), entre possessivos do caso reto e do caso
oblíquo, há pelo menos dois aspectos:
(i) a hipótese de que seja fundamentalmente regional a distribuição de teu e
seu quando relativos ao interlocutor, e
(ii) a frequência relativa de seu e sua e de dele e dela, como possessivos de
terceira pessoa” (NEVES, p. 543, 2006).
Pronomes demonstrativos
Idealmente, os demonstrativos seriam os localizadores de objetos de espaços
em torno da 1ª, 2ª e 3ª pessoa. Usamos para mostrar algo que se aproxima da fala
em 1ª pessoa, este (s), esta (s) e isto; para algo que está próximo de 2ª pessoa, esse
63
(s), essa (s) e isso; e para algo que está próximo à 3ª pessoa, aquele (s), aquela (s) e
aquilo, conforme prescrito pelas gramáticas padrão. No entanto, no uso atual, os
pronomes demonstrativos da 1ª (este, esta, isto) e 2ª pessoa (esse, essa, isso), são
quase indistinguíveis mesmo para falantes educados do português brasileiro.
8 REDAÇÃO EMPRESARIAL
A modernização do estilo e da linguagem da comunicação empresarial
começou em um determinado momento histórico (final dos anos 1970), e é resultado
de condições econômicas que tornaram a competição por participação no mercado
global muito mais intensa.
Uma estratégia usada em todo o mundo tem sido eliminar o excesso de
descrição e a redundância em favor de métodos mais objetivos de descrição de
informações. Há dois fatores que influenciaram muito a mudança na terminologia
corporativa. Uma delas era o controle de qualidade. Isso obrigou as empresas
certificadas a discriminar os procedimentos e padrões utilizados no dia a dia, definidos
em linguagem clara e inequívoca; outro era a necessidade de fortalecer o
relacionamento com clientes externos e idealizá-los. Para isso, precisava de uma
linguagem mais fácil de entender, mais próxima da realidade do cliente e que
permitisse estabelecer uma relação empática (FERRO, 2016).
Em poucas palavras, pode-se afirmar que a objetividade e a clareza são
características fundamentais dos textos a partir da década de 1980, cuja falta afeta
diretamente o trabalho nas empresas e acarreta diversos tipos de problemas.
Por outro lado, cabe mencionar que a excessiva objetividade e brevidade no
uso moderno do WhatsApp, e e-mail via celular também pode ter consequências
devastadoras. Entender que qualquer tipo de mensagem, seja dirigida a colegas
superiores, clientes internos ou externos, deve se pautar pelo princípio de que se trata
de uma informação da empresa, e por isso, deve-se ter cuidado.
A seguir, estão alguns exemplos do que pode acontecer quando documentos
mal escritos são distribuídos.
Diminuição da motivação para ler: quando não se lê mais o texto inteiro, se
lê apenas a "cabeça", ou seja, “passa-se os olhos”. Como resultado, as informações
são interpretadas superficialmente ao invés de serem lidas e absorvidas em suas
64
ideias principais.
Retrabalho: acontece para todos os envolvidos, independente se a mensagem
foi processada ou não. Em uma empresa que me pediu para treinar, houve o caso de
um memorando interno (e-mail hoje) contendo um pedido de reinscrição que causou
tanta confusão que a obra demorou cerca de seis meses para ser concluída, embora
o tempo inicialmente fosse estimado em duas semanas.
Consequência: mais etapas foram adiadas, porque demorou muito tempo para
sua readmissão, que deveria ter sido aproveitada para outros trabalhos.
Falta de credibilidade: a falta de credibilidade das informações prestadas para
os clientes externos pode levar a organização à falência. Por outro lado, se pensar,
liderar e falar de forma errática ou imprecisa sem expressar confiança, também
formará uma cascata de reações negativas.
Aumento da comunicação verbal de informações: muitas pessoas confiam
na linguagem falada por medo de expressá-la incorretamente na forma escrita.
Portanto, não há garantia de que as informações serão transmitidas de forma
confiável. Além disso, as mensagens-chave geralmente não são claras o suficiente.
Conflito interno constante: a falta de clareza pode levar a mal-entendidos e
a graves erros de comunicação, gerando conflitos. Isso contradiz as sinergias
positivas necessárias para o sucesso em um ambiente profissional.
Ineficiência para novos negócios: a capacidade de persuasão do texto pode
interferir diretamente nos lucros da empresa.
A Figura 1 resume problemas potenciais causados por erros em comunicações
escritas.
65
Figura 1 – Problemas em documentos empresariais mal escritos
Fonte: Gold, 2010
É muito provável que os prejuízos causados por erros na transmissão de
informações não sejam mensurados do ponto de vista puramente monetário, mas o
prejuízo econômico causado por esses erros é certamente significativo.
Portanto, pode-se concluir que o investimento em tecnologia da informação
por si só não é suficiente para sobreviver na era dos mercados globais e da
globalização. Também é necessário investir em coisas de valor de troca na sociedade
humana: a comunicação.
Do ponto de vista empresarial, essa comunicação tem um valor bem definido.
A clareza e a objetividade das informações proporcionam e facilitam a credibilidade
da mensagem e a agilidade na tomada de decisões, fonte de sobrevivência e lucro.
Até mesmo o uso do WhatsApp, que está cada vez mais presente para
possibilitar uma comunicação mais rápida entre membros de uma mesma equipe.
8.1 Princípio básico do texto comercial
Por exemplo, ao contrário dos textos jornalísticos ou literários, a comunicação
empresarial tem como princípio básico produzir uma resposta objetiva ao que está
sendo comunicado. Ou seja, desencadeia uma ação (Figura 2).
66
A correspondência comercial é sempre dirigida ao cliente (interno ou externo)
para resposta. Se o cliente respondeu conforme o esperado, o texto foi eficaz. Se não,
deve ser reconsiderado e reescrito.
Imagina-se o caso de uma grande empresa que teve que alertar suas
subsidiárias sobre uma série de mudanças - algumas fundamentais, outras nem tanto.
Ao estruturar a carta de notificação, as informações secundárias foram tão enfatizadas
que os credenciadores não avaliaram as informações primárias. A consequência
imediata desse texto mal redigido foi o cumprimento parcial do solicitado, o que
posteriormente gerou uma extraordinária perda de tempo com telefonemas
explicativos.
Figura 2 – Diferenças entre textos jornalísticos, literários e empresariais
Fonte: Gold, 2010
8.2 Eficiência do texto
A eficiência dos textos de negócios modernos corresponde à força da retórica
clássica. Nos tempos antigos, o discurso retórico tinha uma função expressiva e
67
persuasiva apoiada por um orador. O ambiente empresarial atual investiu
pesadamente em marketing direto e esqueceu de utilizar os recursos textuais como
uma arma valiosa no relacionamento com os clientes.
Há que se perceber, antes que seja tarde demais, que um e-mail simples e
diário pode servir como uma ferramenta de marketing interno que reforça ou dá uma
nova direção à sua cultura corporativa.
O texto escrito deve ser percebidocomo uma ferramenta relacionada às
funções estratégicas do negócio e intervir diretamente em três aspectos principais da
empresa: cultura, aspectos motivacionais e aspectos econômicos.
8.2 Características dos textos empresariais modernos
Que características se enfatiza em redação comercial ao escrever cartas para
clientes, responder perguntas, comunicar informações sobre vários assuntos ou
apoiar tomada de decisões?
O Quadro 1, lista essas características. Marque sim ou não para aqueles que
se considera importantes.
Quadro 1 – Características de um texto empresarial (teste)
Fonte: Gold, 2010
Dos seis itens do Quadro 1, quatro devem ser marcados como "Não", porque
estão na direção oposta do texto comercial moderno, conforme mostrado no Quadro
2.
Quadro 2 – Características de texto empresarial (resultado)
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Fonte: Gold, 2010
Um vocabulário complexo e frases longas não garantem uma rápida
compreensão da mensagem, ao contrário, faz com que o leitor perca tempo,
provocando involuntariamente a rejeição da mensagem.
Não se deve esquecer que as mudanças culturais impostas à linguagem de
comunicação refletem também estilos de vida modernos em que informações valiosas
são mais fáceis de "digerir" - dada a enorme influência da mídia.
Também se percebe que os leitores, por mais inteligentes que sejam, precisam
de tempo para decifrar as palavras, aprender seu significado e aprender as relações
entre as ideias. Portanto, fica claro que quanto menos esforço for gasto na
decodificação do texto, mais o leitor perceberá a mensagem.
Assim, as características de um texto empresarial moderno são ilustradas na
Figura 3.
Figura 3 – Características do texto empresarial moderno
Fonte: Gold, 2010
69
Conceitos de cada característica:
Concisão
Concisão significa expressar o máximo de informação possível, sem repetição
ou ideias redundantes. Para isso, é necessário determinar quais informações são
realmente relevantes e avaliar o significado das palavras utilizadas. Um texto bem
escrito e conciso é aquele em que cada palavra e informação utilizada tem uma função
importante (LÜCKMAN, 2015).
Objetividade
A objetividade refere-se à ideia expressa. Em qualquer situação de
comunicação, a informação é permeada por muitas ideias que estão direta ou
indiretamente relacionadas ao tema.
Mas, para se expressar com objetividade, a ideia principal deve ser exposta de
forma clara ao receptor, devendo ser excluídas as informações redundantes do texto
para que o leitor não perca a atenção sobre o assunto principal.
O principal problema com a objetividade é decidir quais informações relevantes
devem ser transmitidas no momento (FREITAS, 2012).
Clareza
De acordo com os professores Rocha Lima e Barbadino Neto, duas ações são
necessárias no Manual de Redação para alcançar a clareza do texto (GOLD, 2010):
1- Treinar a organização mental;
2- Aprender a interpretar corretamente materiais idiomáticos.
A razão pela qual a clareza é uma das qualidades mais difíceis de alcançar é
porque a mensagem já está clara na mente da pessoa que a envia. Em outras
palavras, o remetente erroneamente acredita que está se expressando com a clareza
necessária porque as ideias que está expressando lhe são familiares.
Essa relação entre pensamento e linguagem leva diretamente à falta de uma
percepção mais precisa da própria pronúncia por parte do remetente, porque sua
leitura permanece associada ao pensamento. Portanto, ele não percebe erros ou
lacunas de significado que possam existir na transferência de pensamentos para seus
corpos materiais, ou seja, para as palavras.
70
Coerência
Coerência inclui as conexões entre as ideias apresentadas no texto. Sem ela,
a frase fica em "falta" e sem lógica.
A palavra conexão vem do latim cohaerentia, que significa:
1. Qualidade, estado ou atitude de coerente.
2. Ligação ou harmonia entre situações, acontecimentos ou ideias; relação
harmônica; conexão, nexo, lógica”.
É claro que não só o roteiro corporativo precisa dessa qualidade: toda
comunicação, em todo momento ou cenário histórico, deve ser coerente. No entanto,
a língua escrita exige um estilo de expressão mais rigoroso que a língua falada,
obrigando o emissor a expressar-se harmoniosamente na relação de sentido entre as
palavras e na ordem dos pensamentos no texto.
Para obter a associação de significado correta entre as palavras, você precisa
se ater ao significado de cada palavra. Por outro lado, a cadeia lógica de um texto
passa principalmente pelo tempo, espaço e causalidade.
Linguagem adequada
Para que a linguagem de qualquer documento comercial seja suficiente, é
preciso considerar quem será o destinatário da carta e o tema a ser tratado.
Visto que o e-mail é hoje utilizado como um canal privilegiado para transmitir
informações de diversos tipos, muito cuidado deve ser tomado para não influenciar a
linguagem por esses canais, o que leva a textos muito informais e desleixados.
O e-mail deve ser entendido como um veículo para que as organizações
agilizem o fluxo de informações. No entanto, como todas as mensagens enviadas são
documentos comerciais, é preferível uma linguagem mais formal. Claro que na
divulgação de informações entre colegas de um departamento, mesmo com o devido
cuidado, o formato é substituído por informal.
Correção gramatical
A linguagem funciona como um espelho da qualidade de um produto ou serviço,
portanto, erros em acordos, uso indevido de verbos, problemas de sotaque e
colocação inadequada de frações e vírgulas podem afetar a imagem de uma empresa.
71
O mesmo tratamento de linguagem se aplica a produtos ou serviços dos quais é
oferecido ao cliente (GOLD, 2010).
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