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Concepção e Formação do Ser Humano Thais M. Souto Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO PROBLEMA 1 SISTEMAS REPRODUTORES FEMININOS E MASCULINO ➔ANATOMIA DO APARELHO REPRODUTOR MASCULINO TESTÍCULOS Os testículos são conhecidos como as gônadas sexuais masculinas. Consiste em um par de glândulas reprodutivas, de formato ovoide, responsável por produzir os espermatozóides e hormônios masculinos, como a testosterona. São glândulas que ficam suspensas no escroto, seguras pelos funículos espermáticos. Geralmente o testículo esquerdo encontra-se em posição mais baixa do que o direito. Cada testículo é circundado parcialmente pela túnica vaginal, que consiste em um saco peritoneal fechado, remanescente da parte distal cega do processo vaginal embrionário. Além disso, eles possuem uma face externa fibrosa e resistente, chamada de túnica albugínea, que se espessa em uma crista sobre a face interna posterior do testículo como o mediastino testicular. EPIDÍDIMO O epidídimo consiste em uma estrutura alongada localizada na face posterior do testículo. é formado por minúsculas alças (ou ductos) extremamente compactado. Os espermatozoides recentes sintetizados pelo testículo chegam ao epidídimo através dos ductos eferentes e desaguam na cabeça do epidídimo, de onde seguem curso lento e progressivo ductal em direção ao corpo e por fim a cauda. Nesse trajeto, os espermatozoides são armazenados e amadurecem, até serem expelidos da cauda do epidídimo para o ducto deferente. DUCTO DEFERENTE O ducto deferente é a continuação do ducto do epidídimo, a porção final por onde são liberados os espermatozoides maduros que estavam armazenados. O ducto deferente tem paredes musculares relativamente espessas e um lúmen muito pequeno, o que confere a ele firmeza semelhante à de um cordão. Ascende posteriormente ao testículo e medialmente ao epidídimo, sendo o principal componente do funículo espermático (junto com vasos e nervos). Penetra a parede abdominal anterior através do canal inguinal e cruza sobre os vasos ilíacos externos, ao adentrar a pelve. Em seu trajeto, segue ao longo da parede lateral da pelve, onde se situa externamente ao peritônio parietal e termina dilatando-se na ampola do ducto deferente, antes de se unir ao ducto da glândula seminal para formar o ducto ejaculatório. GLÂNDULAS SEMINAIS O ser humano possui um par de glândulas seminais. São estruturas alongadas (tem cerca de 5 cm de comprimento, algumas vezes bem mais curta) situada entre o fundo da bexiga e o reto. Encontram- se em posição oblíqua superiormente à próstata e não armazenam espermatozoides. São responsáveis por secretar um líquido alcalino espesso com frutose (futura fonte de energia para os espermatozoides) e um agente coagulante que se mistura aos espermatozoides no seu trajeto para os ductos ejaculatórios e a uretra. Seu ducto une-se ao ducto deferente para formar o ducto ejaculatório. DUCTOS EJACULATÓRIOS Ducto curto (aproximadamente 2,5cm), de paredes delgadas que se origina no colo da bexiga e atravessa a parte posterior da próstata. Embora atravessem a porção glandular da próstata, seguem sem contato com a secreção produzida nesta glândula, mantendo o líquido seminal inalterado em todo percurso até seu término, na porção prostática da uretra. PRÓSTATA A próstata tem aproximadamente 3 cm de comprimento e é a maior glândula acessória do sistema genital masculino. Apresenta consistência firme, do tamanho de uma noz e circunda a parte prostática da uretra. Sua porção glandular representa cerca de dois terços do órgão, sendo o outro terço de característica fibromuscular. É firmemente revestida por uma cápsula fibrosa, densa e neurovascular, que incorpora os plexos prostáticos de veias e nervos. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Tudo isso é circundado pela fáscia visceral da pelve, que forma uma bainha prostática fibrosa. A próstata divide-se em lobos direito e esquerdo, separados anteriormente pelo istmo e posteriormente por um sulco longitudinal central e pouco profundo. Além disso, possui cerca de 30 ductos que se abrem nos seios prostáticos, na parte prostática da uretra. O líquido prostático é fino e leitoso, representa aproximadamente 20% do volume do sêmen (uma mistura de secreções produzidas pelos testículos, glândulas seminais, próstata e glândulas bulbouretrais que constitui o veículo no qual os espermatozoides são transportados) e participa intrinsecamente da ativação dos espermatozoides. GLÂNDULAS BULBOURETRAIS Também podem ser chamadas de glândulas de Cowper e tem o tamanho de uma ervilha cada. Ficam localizadas posterolateralmente à parte membranácea da uretra. São glândulas exócrinas que liberam uma secreção mucosa na uretra, durante a excitação sexual como forma de limpar e lubrificar a uretra, por onde os espermatozoides passarão. URETRA A uretra masculina é um tubo muscular que mede 18 a 22cm e que conduz urina do óstio interno da uretra na bexiga urinária até o óstio externo da uretra, localizado na extremidade da glande do pênis em homens. Como mencionado, a uretra também é a via de saída do sêmen durante a ejaculação. Para fins descritivos, a uretra é dividida em quatro partes: 1. Intramural (0,5 a 1,5cm): localiza entre a camada muscular lisa da bexiga; 2. Prostática (3 a 4cm): atravessa essa glândula e possui a crista uretral, via de saída do colículo seminal, através dos quais as secreções prostáticas juntam-se ao líquido seminal e aos espermatozoides. É o ponto anatômico onde o sistema urinário e sexual se interseccionam. 3. Membranácea (1 a 1,5cm): porção estreita e menos distensível. 4. Esponjosa (15 cm): porção mais longa, móvel e dilatada da uretra. Atravessa o corpo esponjoso do pênis e recebe conteúdo das glândulas bulbouretrais. Alarga-se na fossa navicular (localizada na glande do pênis) PÊNIS Consiste no órgão mascuilino responsável pela cópula. É atravessado pela uretra e fornece via de saída comum para a urina e para o sêmen. É formado por três corpos cilíndricos de tecido erétil: dois corpos cavernosos (dorsalmente) e um corpo esponjoso (ventralmente). ESCROTO Consiste em um saco fibromuscular, revestido por tecido cutâneo fino que reveste e protege os testículos e as estruturas a ele associadas. Localiza- se posteroinferiormente ao pênis e abaixo da sínfise púbica. Mantém uma rafe mediana que remonta a formação embrionária bilateral, sendo contínua com a rafe do pênis e a rafe do períneo. ANATOMIA DO APARELHO REPRODUTOR FEMININO Os órgãos genitais internos femininos e a parte terminal dos sistemas urinário e digestivo estão localizados na cavidade osteomuscular e fascial, chamada de bacia ou pelve. ÚTERO, TUBAS UTERINAS E OVÁRIOS →O útero é um órgão muscular com formato de pera e paredes espessas, medindo 7 a 8 cm de comprimento, 5 a 7 cm de largura na sua porção superior, e 2 a 3 cm de espessura da parede. Ele é formado por duas porções principais: o corpo, que compreende os dois terços superiores, e o colo, o terço inferior com aspecto cilíndrico. O corpo do útero estreita-se desde o fundo, a porção superior arredondada do corpo, até o istmo, a região estreita Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO de 1 cm de comprimento entre o corpo e o colo. O colo do útero é a porção terminal vaginal, de formato cilíndrico. O lúmen do colo, o canal do colo uterino, possui uma abertura estreita em cada extremidade. O óstio interno comunica-se com a cavidade do corpo uterino, o óstio externo comunica-se com a vagina. As paredes do corpo do útero são constituídas por três camadas: • O perimétrio; a fina camada externa. • O miométrio; a espessa camada de músculo liso. • O endométrio; a fina camada interna. O perimétrio é uma camada peritoneal firmemente aderida ao miométrio. Durante a faselútea (secretora) do ciclo menstrual, distinguem-se, microscopicamente, três camadas do endométrio. • Uma fina camada compacta formada de tecido conjuntivo disposto densamente em torno dos colos das glândulas uterinas. • Uma espessa camada esponjosa composta de tecido conjuntivo edematoso (com grande quantidade de fluido), formada pelas porções tortuosas e dilatadas das glândulas uterinas. • Uma delgada camada basal, formada pelo fundo cego das glândulas uterinas. No pico do desenvolvimento, o endométrio tem 4 a 5 mm de espessura. A camada basal do endométrio possui seu próprio suprimento sanguíneo e não se desintegra durante a menstruação. As camadas compacta e esponjosa, conhecidas coletivamente como camada funcional, desintegram-se e descamam durante a menstruação e após o parto. TUBAS UTERINAS As tubas uterinas, com aproximadamente 10 cm de comprimento e 1 cm de diâmetro, estendem-se lateralmente a partir dos cornos uterinos. Cada tuba se abre na sua porção distal dentro da cavidade peritoneal. Para fins descritivos, a tuba uterina é dividida em quatro porções: infundíbulo, ampola, istmo e porção uterina. Uma das tubas conduz um oócito de um dos ovários; as tubas também conduzem os espermatozoides que entram pelo útero para alcançar o local de fecundação, na ampola (Figs. 2-6B e 2-20). A tuba uterina também conduz o zigoto em clivagem para a cavidade uterina. OVÁRIOS Os ovários são glândulas reprodutivas em formato de amêndoa, localizados próximos às paredes pélvicas laterais, de cada lado do útero. Os ovários produzem os oócitos; estrogênio e progesterona, os hormônios responsáveis pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias e pela regulação da gestação. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO PUBERAL NA ADOLESCENCIA A puberdade é um período da adolescência que se caracteriza pelas mudanças biológicas que ocorrem nessa fase da vida. Com duração de cerca de dois a quatro anos, ela é marcada por: crescimento esquelético linear; alteração da forma e composição corporal; desenvolvimento de órgãos e sistemas e desenvolvimento de gônadas e caracteres sexuais secundários. A adolescência compreende a faixa etária situada entre os dez e vinte anos incompletos, segundo a Organização Mundial de Saúde, e se constitui como uma fase crítica do processo de crescimento e desenvolvimento humano, marcada por numerosas transformações relacionadas aos aspectos físicos, psíquicos e sociais do indivíduo. Sabe-se que a ativação puberal, se inicia após a reativação de neurônios hipotalâmicos, que secretam, de uma maneira pulsátil bastante específica, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). A secreção desse resulta na consequente liberação também pulsátil dos hormônios luteinizante (LH) e folículo- estimulante (FSH) pela glândula hipófise. Isso ocorre inicialmente durante o sono e, mais tarde, estabelece-se em ciclo circadiano. Fatores climáticos, socioeconômicos, hormonais, psicossociais e, sobretudo, nutricionais são alguns dos interferentes do processo de crescimento e desenvolvimento. Nas pessoas com menor nível socioeconômico o desenvolvimento sexual é mais tardio. CRESCIMENTO ESQUÉLETICO LINEAR Se faz necessária a analise da curva de velocidade de crescimento. Nessa fase da vida, o adolescente apresenta grande aquisição pôndero- Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO estatural, ganhando cerca de 50% do seu peso adulto e 20% de sua estatura final. A observação da curva de velocidade de crescimento permite a identificação de três momentos fundamentais do crescimento humano: • FASE 1- Lactância • FASE 2 – Infância propriamente dita • FASE 3 – Puberdade O estirão de crescimento ou estirão puberal é composto, portanto, pelo período de aceleração da velocidade de crescimento (VC), até atingir um valor de pico (PVC), e subsequente desaceleração até o término do crescimento. O PVC no sexo masculino pode chegar a valores de 10-12 cm/ano e, no sexo feminino, de 8-10 cm/ano; ALTERAÇÃO DA FORMA E DA COMPOSIÇÃO CORPORAL A forma do corpo de um bebê ou de uma criança não permite a diferenciação masculino/ feminino, aspecto que se torna nítido durante a puberdade. O depósito de gordura nas meninas ocorre principalmente na região das mamas e dos quadris, e confere um aspecto característico do corpo feminino. Nos homens, o crescimento do diâmetro biacromial (entre ombros), conferindo relação biacromial/bi-ilíaco elevada, associado ao desenvolvimento muscular na região da cintura escapular, define a forma masculina. DESENVOLVIMENTO DE TODOS OS ÓRGÃOS E SISTEMAS Com exceção do tecido linfoide, que apresenta involução progressiva a partir da adolescência, e do tecido nervoso (praticamente com todo o seu crescimento já estabelecido), todos os órgãos e sistemas se desenvolvem durante a puberdade, sobretudo os sistemas cardiocirculatório e respiratório. DESENVOLVIMENTO GONADAL E DAS CARACTERÍSTICAS SEXUAIS SECUNDÁRIAS Nota-se a influência de fatores hereditários nos eventos puberais, sobretudo no tocante à variabilidade de tais fenômenos e à sua magnitude, a exemplo das características de pilosidade, tamanho das mamas e idade de ocorrência da primeira menstruação (menarca). No sexo feminino se inicia sempre antes as modificações. A primeira manifestação puberal nas meninas é o desenvolvimento do broto ou botão mamário, fenômeno denominado de TELARCA. No sexo masculino, o início clínico da puberdade é marcado pelo aumento do volume testicular, ao atingir quatro centímetros cúbicos (mililitros), o que é raramente percebido pelo próprio adolescente. O desenvolvimento gonadal é marcante nesse período e culmina com o desenvolvimento da capacidade reprodutiva completa do adolescente. A sequência do desenvolvimento das características sexuais secundárias no adolescente foi sistematizada por Tanner, em 1962. Considerando-se o desenvolvimento mamário (M) e a pilosidade pubiana (P) para o sexo feminino, e o desenvolvimento da genitália externa (G) e da pilosidade pubiana (P) para o sexo masculino. DESENVOLVIMENTO MAMÁRIO – SEXO FEMININO M1 - Mama infantil, com elevação somente da papila. M2 - Broto mamário. Forma-se uma saliência pela elevação da aréola e da papila. O diâmetro da aréola aumenta e há modificação na sua textura. Há pequeno desenvolvimento glandular subareolar. M3 - Maior aumento da mama e da aréola, sem separação dos seus contornos. O tecido mamário extrapola os limites da aréola. M4 - Maior crescimento da mama e da aréola, sendo que esta forma uma segunda saliência acima do contorno da mama (duplo contorno). M5 - Mama de aspecto adulto, em que o contorno areolar novamente é incorporado ao contorno da mama. DESENVOLVIMENTO GENITAL – SEXO MASCULINO G1 - Testículos, escroto e pênis de tamanho e proporções infantis. G2 - Aumento inicial do volume testicular (3-4 ml). Pele do escroto muda de textura e torna-se avermelhada. Aumento do pênis pequeno ou ausente. G3 - Crescimento do pênis em comprimento. Maior aumento dos testículos e do escroto. G4 - Aumento do pênis, principalmente em diâmetro e desenvolvimento da glande. Maior crescimento de testículos e escroto, cuja pele torna-se mais enrugada e pigmentada. G5 - Desenvolvimento completo da genitália, que assume características adultas. PILOSIDADE PUBIANA – SEXOS FEMININO E MASCULINO P1 - Ausência de pelos pubianos. Pode haver uma leve penugem, semelhante à observada na parede abdominal. P2 - Aparecimento de pelos longos e finos, levemente pigmentados, lisos ou pouco encaracolados, ao longo dos grandes lábios e na base do pênis. Concepção e Formaçãodo Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO P3 - Maior quantidade de pelos, agora mais grossos, escuros e encaracolados, espalhando-se esparsamente na região pubiana. P4 - Pelos do tipo adulto, cobrindo mais densamente a região pubiana, mas sem atingir a face interna das coxas. P5 - Pilosidade pubiana igual à do adulto, em quantidade e distribuição, invadindo a face interna da coxa. Obs. Algumas pessoas apresentam extensão dos pelos pela linha alba, acima da região pubiana, constituindo-se o estágio P6. GAMETOGÊNESE A gametogênese (formação dos gametas) é o processo de formação e desenvolvimento das células germinativas especializadas, os gametas (oócitos/espermatozoides) a partir de células precursoras bipotentes. Esse processo, que envolve os cromossomos e o citoplasma dos gametas, prepara essas células para a fecundação. Um cromossomo é definido pela presença de um centrômero, uma constrição de uma porção do cromossomo. Antes da replicação do DNA na fase S do ciclo celular, os cromossomos existem como cromossomos de cromátide única. Uma cromátide consiste em filamentos paralelos de DNA. Após a replicação do DNA, os cromossomos tornam-se cromossomos de cromátides duplas. →GAMETOGÊNESE NORMAL: conversão de células germinativas em gametas (células sexuais). Os esquemas comparam a espermatogênese e a oogênese. Note que: (1) Após duas divisões meióticas, o número diploide de cromossomos, 46, é reduzido a número haploide, 23. (2) Quatro espermatozoides se formam a partir de um espermatócito primário, enquanto apenas um oócito maduro resulta da maturação de um oócito primário. (3) O citoplasma é conservado durante a oogênese para formar uma célula grande, o oócito maduro. Os corpos polares são células pequenas não funcionais que se degeneram. →"Tanto a espermatogênese quanto a ovogênese envolvem processos de mitose e meiose (processos de divisão celular). →A meiose, processo que reduz a quantidade de material genético, é fundamental para a manutenção da quantidade adequada de cromossomos da espécie. MEIOSE • Possibilita a constância do número cromossômico de geração a geração pela redução do número cromossômico de diploide para haploide, produzindo, assim, gametas haploides. • Permite o arranjo aleatório dos cromossomos materno e paterno entre os gametas. • Reposiciona os segmentos dos cromossomos materno e paterno, por meio de cruzamento de segmentos cromossômicos, que “embaralham” os Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO genes, produzindo a recombinação do material genético. →GAMETOGENESE ANORMAL: Distúrbios da meiose durante a gametogênese, tais como a não disjunção, resultam na formação de gametas anormais cromossomicamente. Se envolvidos na fecundação, esses gametas com anormalidades cromossômicas numéricas causam um desenvolvimento anormal, como ocorre em crianças com a síndrome de Down. ESPERMATOGÊNESE A espermatogênese é a sequência de eventos pelos quais as espermatogônias (células germinativas primordiais) são transformadas em espermatozoides maduros; esse processo começa na puberdade. As espermatogônias permanecem quiescentes nos túbulos seminíferos dos testículos durante os períodos fetal e pós-natal. Elas aumentam em número durante a puberdade. Após várias divisões mitóticas, as espermatogônias crescem e sofrem modificações. As espermatogônias são transformadas em espermatócitos primários, as maiores células germinativas nos túbulos seminíferos dos testículos. Cada espermatócito primário sofre, em seguida, uma divisão reducional – a primeira divisão meiótica – para formar dois espermatócitos secundários haploides, que possuem aproximadamente metade do tamanho do espermatócito primário. Em seguida, os espermatócitos secundários sofrem a segunda divisão meiótica para formar quatro espermátides haploides, que são aproximadamente a metade do tamanho dos espermatócitos secundários. As espermátides (células em estágio avançado de desenvolvimento) são transformadas gradualmente em quatro espermatozoides maduros pelo processo conhecido como espermiogênese. O processo completo, incluindo a espermiogênese, demora cerca de dois meses para acontecer. →Quando a espermiogênese é completada, os espermatozoides entram na luz dos túbulos seminíferos. ➔As células de Sertoli revestem os túbulos seminíferos, sustentam e participam da nutrição das células germinativas (espermatozoides/oócito) e estão envolvidas na regulação da espermatogênese. Os espermatozoides são transportados passivamente dos túbulos seminíferos para o epidídimo, onde são armazenados e tornam-se funcionalmente maduros durante a puberdade. O epidídimo é um ducto longo e espiralado. No seguimento do epidídimo vem o ducto deferente, que transporta os espermatozoides para a uretra. Os espermatozoides maduros são células ativamente móveis, que nadam livremente, constituídos por uma cabeça e uma cauda. O colo do espermatozoide é a junção entre a cabeça e a cauda. A cabeça do espermatozoide forma a maior parte dele e, é onde se localiza o núcleo. Os dois terços anteriores da cabeça são cobertos pelo ACROSSOMA, uma organela sacular em forma de capuz que contém várias enzimas. Quando liberadas, as enzimas facilitam a dispersão das células foliculares da corona radiata e a penetração do espermatozoide na zona pelúcida durante a fecundação. ➔A cauda do espermatozoide consiste em três segmentos: a peça intermediária, a peça principal e a peça terminal. →A peça intermediária da cauda contém mitocôndrias que fornecem o trifosfato de adenosina (ATP), necessário para fornecer energia requerida para a motilidade do espermatozoide. OOGÊNESE A oogênese é a sequência de eventos pelos quais as oogônias (células germinativas primordiais) são transformadas em oócitos maduros. Todas as oogônias se desenvolvem em oócitos primários antes do nascimento; nenhuma oogônia se desenvolve após o nascimento. A oogênese continua até a menopausa, que é a interrupção permanente do ciclo menstrual. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO MATURAÇÃO PRÉ-NATAL DOS OÓCITOS Durante a vida fetal inicial, as oogônias proliferam por mitose (duplicação das células), um tipo especial de divisão celular. As oogônias (células sexuais primordiais) crescem e se tornam os oócitos primários antes do nascimento; por essa razão. Assim que o oócito primário se forma, células do tecido conjuntivo o circundam e formam uma única camada de células achatadas, as células foliculares. O oócito primário circundado por essa camada de células foliculares, constitui o folículo primário. Conforme o oócito primário cresce durante a puberdade, as células foliculares se tornam cúbicas e depois cilíndricas, formando, assim, o folículo primário. O oócito primário é logo envolvido por um material glicoproteico acelular e amorfo, a zona pelúcida. A microscopia eletrônica de varredura da superfície da zona pelúcida revela um aspecto regular de trama com fenestrações intrincadas. Os oócitos primários iniciam a primeira divisão meiótica antes do nascimento, mas o término da prófase não ocorre até a adolescência (começando com a puberdade). As células foliculares que envolvem o oócito primário secretam uma substância, conhecida como inibidor da maturação do oócito, que mantém estacionado o processo meiótico do oócito. MATURAÇÃO PÓS-NATAL DOS OÓCITOS Esta etapa se inicia na puberdade, quando geralmente um folículo ovariano amadurece a cada mês e ocorre a ovulação (liberação do oócito do folículo ovariano), exceto quando contraceptivos orais são utilizados. A longa duração da primeira divisão meiótica (até 45 anos) pode ser responsável, em parte, pela alta frequência de erros meióticos, tais como a não disjunção (falha na separação das cromátides irmãs de um cromossomo), que ocorre com o aumento da idade materna. Os oócitos primáriosna prófase suspensa (dictióteno) são vulneráveis aos agentes ambientais como a radiação. Nenhum oócito primário se forma após o nascimento, o que contrasta com a produção contínua de espermatócitos primários. Os oócitos primários permanecem em repouso nos folículos ovarianos até a puberdade. Quando um folículo matura, o oócito primário aumenta de tamanho e, imediatamente, antes da ovulação, completa a primeira divisão meiótica para dar origem ao oócito secundário e ao primeiro corpo polar. Diferentemente do estágio correspondente na espermatogênese, a divisão do citoplasma é desigual. O oócito secundário recebe quase todo o citoplasma e o primeiro corpo polar recebe muito pouco. O corpo polar é uma célula minúscula destinada à degeneração. Na ovulação, o núcleo do oócito secundário inicia a segunda divisão meiótica, mas ela progride somente até a metáfase, quando a divisão é interrompida. Se um espermatozoide penetra o oócito secundário, a segunda divisão meiótica é completada, e a maior parte do citoplasma é novamente mantida em uma célula: o oócito fecundado. A outra célula, o segundo corpo polar, também é formada e irá se degenerar. Assim que os corpos polares são expelidos, a maturação do oócito está completa. Existem cerca de 2 milhões de oócitos primários nos ovários de uma menina recém- nascida, mas a maioria deles se degeneram durante a infância, de modo que na adolescência restam não mais que 40.000 oócitos primários. Destes, somente cerca de 400 se tornam oócitos secundários e são liberados na ovulação durante o período reprodutivo. Somente alguns desses oócitos, se algum, tornam- se maduros e são fecundados. O número de oócitos liberados é bastante reduzido em mulheres que tomam contraceptivos orais porque os hormônios contidos neles impedem a ovulação. → A idade biológica materna considerada ideal para a reprodução é geralmente entre 18 e 35 anos. CICLOS REPRODUTIVOS FEMININOS Iniciando-se na puberdade (10 a 13 anos de idade), as mulheres passam por ciclos reprodutivos (ciclos sexuais), que envolvem a atividade do hipotálamo do encéfalo, da glândula hipófise, dos ovários, do útero, das tubas uterinas, da vagina e das glândulas mamárias. Esses ciclos mensais preparam o sistema genital para a gestação. O hormônio liberador de gonadotrofina é sintetizado pelas células Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO neurossecretoras do hipotálamo. Esse hormônio é transportado pela rede de capilares da circulação porta hipofisária (sistema porta hipofisário), para o lobo anterior da glândula hipófise. O hormônio estimula a liberação de dois hormônios hipofisários produzidos por essa glândula e que atuam nos ovários: • O hormônio folículo-estimulante (FSH) estimula o desenvolvimento dos folículos ovarianos e a produção de estrogênio pelas células foliculares. • O hormônio luteinizante (LH) age como um “disparador” da ovulação (liberação do oócito secundário) e estimula as células foliculares e o corpo lúteo a produzirem progesterona. • Esses hormônios também induzem o crescimento dos folículos ovarianos e do endométrio. NO PERÍODO GERMINATIVO, NA ESPERMATOGÊNESE E NA OOGÊNESE, OCORREM APENAS MITOSES DE CÉLULAS DIPLOIDES! PRIMEIRO SÃO DIPLOIDES E SE DIVIDEM EM HAPLOIDES E APÓS VOLTAM AO NÚMERO 46 DE CROMOSSOMOS DIPLOIDES! Ao final de cada gametogêneses, cada oogônia gera um oocito e cada espermatogônia 4 espermátozoides. CICLO OVARIANO O FSH e o LH produzem mudanças cíclicas nos ovários – o ciclo ovariano – o desenvolvimento dos folículos, a ovulação (liberação de um oócito de um folículo maduro) e a formação do corpo lúteo. Durante cada ciclo, o FSH estimula o desenvolvimento de vários folículos primários em 5 a 12 folículos primários; entretanto, somente um folículo primário normalmente chega ao estágio de folículo maduro e se rompe na superfície ovariana, expelindo seu oócito. DESENVOLVIMENTO FOLICULAR O desenvolvimento de um folículo ovariano caracterizado por: • Crescimento e diferenciação de um oócito primário. • Proliferação das células foliculares. • Formação da zona pelúcida. • Desenvolvimento das tecas foliculares. OVULAÇÃO Por volta da metade do ciclo ovariano, o folículo ovariano, sob influência do FSH e do LH, sofre um repentino surto de crescimento, produzindo uma dilatação cística ou uma saliência na superfície ovariana. Um pequeno ponto avascular, o estigma, logo aparece nessa saliência. Antes da ovulação, o oócito secundário e algumas células do cumulus oophorus se desprendem do interior do folículo distendido. A ovulação é disparada por uma onda de produção de LH. Normalmente, a ovulação acontece de 12 a 24 horas após o pico de LH. A elevação nos níveis de LH, induzida pela alta concentração de estrogênio no sangue, parece causar a tumefação do estigma, formando uma vesícula. O estigma logo se rompe expelindo o oócito secundário junto com o líquido folicular. A expulsão do oócito é o resultado da pressão intrafolicular e possivelmente da contração da musculatura lisa da teca externa (capsular), estimulada pelas prostaglandinas. O oócito secundário expelido está circundado pela zona pelúcida e uma ou mais camadas de células foliculares, organizadas radialmente como uma corona radiata, formando o complexo oócito- cumulus. Os altos níveis de LH também parecem ser responsáveis por induzir o término da primeira divisão meiótica do oócito primário. Portanto, os folículos ovarianos maduros contêm oócitos secundários. A zona pelúcida é composta por três glicoproteínas (ZPA, ZPB, e ZPC), que normalmente formam uma rede de filamentos com múltiplos poros. A ligação do espermatozoide com a zona pelúcida (interação espermatozoide oócito) é um evento complexo e crítico durante a fecundação. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO CORPO LÚTEO Logo após a ovulação, as paredes do folículo ovariano e da teca folicular colapsam e se tornam pregueadas. Sob a influência do LH, elas formam uma estrutura glandular, o corpo lúteo, que secreta progesterona e alguma quantidade de estrogênio, o que leva as glândulas endometriais a secretarem e, assim, o endométrio se prepara para a implantação do blastocisto. Se o oócito é fecundado, o corpo lúteo cresce e forma o corpo lúteo gestacional e aumenta a produção de hormônios. A degeneração do corpo lúteo é impedida pela ação da gonadotrofina coriônica humana, um hormônio secretado pelo sinciciotrofoblasto do blastocisto. O corpo lúteo gestacional permanece funcionalmente ativo durante as primeiras 20 semanas de gestação. Nesse momento, a placenta assume a produção de estrogênio e de progesterona necessária para a manutenção da gestação. Se o oócito não é fecundado, o corpo lúteo involui e se degenera 10 a 12 dias após a ovulação. Ele é, então, chamado corpo lúteo menstrual. O corpo lúteo, em seguida, se torna uma cicatriz branca no tecido ovariano, denominada corpo albicans. Os ciclos ovarianos cessam na menopausa, a suspensão permanente da menstruação devido à falência dos ovários. A menopausa normalmente ocorre entre os 48 e os 55 anos de idade. As alterações endócrinas, somáticas (corporais) e psicológicas que ocorrem ao término do período reprodutivo são denominadas de climatéricas. CICLO MENSTRUAL O ciclo menstrual é o período durante o qual o oócito amadurece, é ovulado e entra na tuba uterina. Os hormônios produzidos pelos folículos ovarianos e pelos corpos lúteos (estrogênio e progesterona) produzem mudanças cíclicas no endométrio. Essas mudanças mensais na camada interna do útero constituem o ciclo endometrial, mais comumente chamado de ciclo (período) menstrual, porque a menstruação (fluxo sanguíneo do útero) é evidente. O endométrio é um “espelho” do ciclo ovariano porque ele responde de maneira consistente às flutuações de concentrações de hormônios gonadotróficos e ovarianos. O tempomédio do ciclo menstrual é de 28 dias, sendo o primeiro dia do ciclo determinado quando se inicia o fluxo menstrual. Os ciclos menstruais normalmente variam em extensão por vários dias. Em 90% das mulheres, a duração do ciclo varia entre 23 e 35 dias. Quase todas essas variações resultam de alterações na duração da fase proliferativa do ciclo menstrual. FASES DO CICLO MENSTRUAL As alterações nos níveis de estrogênio e progesterona causam mudanças cíclicas na estrutura do sistema genital feminino, notadamente no endométrio. O ciclo menstrual é um processo contínuo; cada fase passa gradualmente para a fase seguinte. FASE MENSTRUAL A camada funcional da parede uterina desintegra-se e é expelida no fluxo menstrual ou menstruação (sangramento mensal), que normalmente dura 4 a 5 dias. O sangue descartado pela vagina está misturado a pequenos fragmentos de tecido endometrial. Após a menstruação, o endométrio erodido fica delgado. FASE PROLIFERATIVA Esta fase, que dura aproximadamente 9 dias, coincide com o crescimento dos folículos ovarianos e é controlada pelo estrogênio secretado pelos folículos. Nesta fase de reparo e proliferação ocorre um aumento de duas a três vezes na espessura do endométrio e no seu conteúdo de água. No início desta fase, a superfície do epitélio se refaz e recobre o endométrio. As glândulas aumentam em número e comprimento e as artérias espiraladas se alongam. FASE SECRETORA OU LÚTEA A fase secretora ou fase lútea, dura aproximadamente 13 dias e coincide com a formação, o funcionamento e o crescimento do corpo lúteo. A progesterona produzida pelo corpo lúteo estimula o epitélio glandular a secretar um material Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO rico em glicogênio. As glândulas se tornam grandes, tortuosas e saculares, e o endométrio se espessa devido à influência da progesterona e do estrogênio produzidos pelo corpo lúteo e também por causa do aumento de fluido no tecido conjuntivo. Conforme as artérias espiraladas crescem na camada compacta superficial, elas se tornam mais tortuosas. A rede venosa torna-se mais complexa e ocorre o desenvolvimento de grandes lacunas (espaços venosos). As anastomoses arteriovenosas são características importantes desse estágio. Se a fecundação não ocorrer: • O corpo lúteo se degenera. • Os níveis de estrogênio e progesterona diminuem e o endométrio secretor entra na fase isquêmica. • Ocorre a menstruação. FASE ISQUÊMICA A fase isquêmica ocorre quando o oócito não é fecundado; as artérias espiraladas se contraem, dando ao endométrio uma aparência pálida. Essa constrição é resultado da diminuição da secreção de hormônios, principalmente a progesterona, devido à degradação do corpo lúteo. Além das alterações vasculares, a queda hormonal provoca a parada da secreção glandular, a perda de fluido intersticial e um importante adelgaçamento do endométrio. No fim da fase isquêmica, as artérias espiraladas se contraem por longos períodos, isso provoca estase venosa (congestão e diminuição da circulação venosa) e necrose isquêmica (morte) dos tecidos superficiais. Finalmente, ocorre a ruptura das paredes dos vasos lesionados e o sangue penetra o tecido conjuntivo adjacente. Pequenas lacunas de sangue se formam e se rompem na superfície endometrial, resultando em sangramento para a cavidade uterina e através da vagina. À medida que pequenos fragmentos de endométrio se destacam e caem dentro da cavidade uterina, as extremidades das artérias sangram para a cavidade, levando à perda de 20 a 80 mL de sangue. Por fim, 3 a 5 dias depois, toda a camada compacta e a maior parte da camada esponjosa do endométrio são eliminadas na menstruação. Os remanescentes das camadas esponjosa e basal permanecem para que se regenerem durante a fase proliferativa subsequente do endométrio. Torna-se óbvio, por meio das descrições anteriores, que a atividade hormonal cíclica do ovário está intimamente ligada às mudanças histológicas do endométrio. EIXO HIPOTÁLAMO HIPÓFISE GONADAL A maior parte do controle das funções sexuais começa com a secreção do hormônio liberador de gonadotrofina GnRH, pelo hipotálamo esse hormônio estimula a adeno-hipófise a secretar o hormônio luteinizante LH e o hormônio folículoestimulante FSH. O GnRH é secretado pelos neurónios cujo cujos corpos celulares estão localizados no núcleo arqueado do hipotálamo, essas terminações encontram-se na eminência mediana do hipotálamo e é liberado no sistema vascular portal hipotalâmico hipofisário. ➔A testosterona apresenta mecanismo de feedback negativo sobre o hipotálamo diminuindo a secreção de GnRH, o que posteriormente diminui a secreção de LH e FSH pela hipófise. SISTEMA MASCULINO LH: estímulo primário para a secreção de testosterona pelos testículos em ponto, FSH: estimula a espermatogênese; Testosterona: aumento do tamanho do pênis, escroto e testículos, estimula os folículos pilosos e glândulas sebáceas, aumento da massa muscular, ampliam a laringe, mudança na voz, desenvolvimento fetal; A testosterona é secretada pela células de Leyding nos testículos, mas apenas quando estimuladas pelo LH; Assim sempre que a secreção de testosterona eleva se, existe o efeito automático de feedback negativo, esperando por meio do hipotálamo e da hipófise anterior, reduz a secreção de testosterona para os níveis desejados →O FSH liga-se aos receptores específicos as células de sertoli nos túbulos seminíferos que estimula o crescimento celular e a secreção de várias substâncias espermatogênicas; Simultaneamente, a testosterona difundida nas células de leydig nos espaços intersticiais também tem efeito trófico intenso na espermatogênese. →Quando os túbulos seminíferos deixam de produzir espermatozoides, a secreção de FSH pela adeno hipófise aumenta acentuadamente; A causa desse feedback negativo na hipófise anterior seja a secreção de INIBINA Pelas células de sertoli QUE tem ação de inibidor direto intenso na hipótese anterior. A INIBINA produzida nas células de sertoli diminui a secreção de FSH pela hipófise anterior através de feedback negativo, regulando a espermatogênese e a secreção da testosterona; SISTEMA FEMININO Múltiplos centros neuronais no sistema límbico transmite sinais aos núcleos arqueados para modificar tanto a intensidade da liberação de gn RH quanto a frequência dos pulsos, oferecendo assim Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO uma explicação parcial para o fato de fatores psíquicos modificarem a função feminina sexual. Em pequenas quantidades o estrógenio tem forte efeito de inibir a produção de LH e FSH. Esses efeitos de feedback parecem operar basicamente na hipófise anterior de modo direto mas também esperam em menor extensão no hipotálamo, diminuindo a secreção de GnRH em especial alterando a frequência dos pulsos de GnRH. 1- Secreção pós-ovulatória de estrogênio e progesterona e depressão de LH e FSH: entre a ovulação e o início da menstruação o corpo lúteo secreta aumento de progesterona e estrogênio e inibina, que ocasionan um feedback negativo causando supressão de LH e FSH cerca de 3 a 4 dias antes da menstruação reduzindo aos seus níveis mais baixos; 2- Fase de crescimento folicular: após a menstruação, a secreção folicular de FSH começa novamente a aumentar em seguida após dias do início da menstruação a secreção de LH aumenta rapidamente; FSH e LH inicia um crescimento de novos folículos ovarianos atingindo um pico de estrogênio; Durante o crescimento folicular 11-12 dias a secreção de FSH e LH cai ligeiramente devido ao feedback negativo especialmente do estrogênio; Em seguida há aumento de LH subitamente acentuado e em menor extensão de FSH; seria o pico pré- ovulatório de LH e FSH que é seguido pela ovulação. 3- Pico pré-ovulatório de LH e FSH causa a ovulação: após o pico pré-ovulatório o declínio da secreção de FSHe LH chega ao seu fim súbito; devido o aumento de estrogênio nesse momento há um efeito estimulador de feedback positivo na adenohipófise, levando ao grande pico de LH. -O grande excesso de LH leva a ovulação e ao desenvolvimento subsequente do corpo luta o quanto a sua secreção. ELUCIDAR SOBRE O PROCESSO DE FECUNDAÇÃO A fecundação normalmente ocorre na ampola da tuba uterina, embora ela possa ocorrer em outras partes desta tuba. Os oocitos (células germinativas femininas), junto com as células foliculares circundantes secretam sinais químicos que atraem e guiam os espermatozóides capacitados em direção ao oocito. No corpo do útero não ocorre fecundação. Sabe-se que a fecundação é um processo complexo que respeita a ocorrência de eventos sequenciais e coordenados inicialmente com o contato entre um espermatozóide e um óocito e termina com a mistura dos cromossomos maternos e paternos na metáfase da primeira divisão mitótica do zigoto, esse processo de fecundação dura 24 horas. Passagem do espermatozóide através da corona radiata → durante esse processo uma enzima tem um papel muito importante à hialuronidase liberada pela vesícula acrossômica do espermatozóide que tem como função causar dispersão das células foliculares da corona radiada. Além disso, algumas enzimas da mucosa da tuba uterina também parecem auxiliar nesse processo. Os movimentos da cauda do espermatozóide também são importantes durante a apresentação da corona. Penetração da zona Pelúcida→ a formação dessa passagem também é resultado da ação de enzimas acrossómica: acrosina, esterases e neuraminidase. A acrosina é a mais importante, mais sendo o principal responsável pela dissolução da zona pelúcida. Reação zonal →após a penetração do espermatozóide na zona pelúcida, ocorre alterações nas propriedades da zona pelúcida tornando-a impermeável a outros espermatozóides. Chamado assim reação zonal. Fusão das membranas plasmáticas do oocito e do espermatozoide→ essas membranas se fundem permitindo que a cabeça e a cauda do espermatozóide entre no citoplasma do oocito. A membrana celular espermática e as mitocôndrias ficam para trás. Término da segunda divisão meiótica do ovócito e formação do pronúcleo feminino→ após a penetração do espermatozoide o ovócito é ativado e termina a segunda divisão meiótica, formando oocito maduro e um segundo corpo polar. Dando segmento os cromossomos maternos são descondensados e o núcleo do oocito se torna o pronúcleo feminino. Formação do pronúcleo masculino→ o núcleo do espermatozóide dentro do citoplasma do oocito, aumenta seu tamanho para formar o pronúcleo masculino. A cauda do espermatozoide é degenerada nessa fase. Durante o crescimento dos pronúcleos eles replicam seu DNA haploide com 2 cromátides, neste contexto o oocito contendo 2 pronúcleos haplóides é denominado oótide. Fusão dos pró núcleos→ quando esse evento acontece forma-se um único agregado diplóide de cromossomos e a oótide se torna um zigoto os cromossomos se organizam em um fuso de clivagem, em preparação para as divisões futuras. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →O sexo cromossômico do embrião é determinado na hora da fecundação e depende do tipo do espermatozóide que fecunda oócito. O espermatozóide que carrega o cromossomo x do zigoto XX -feminino mas quando é um cromossomo y reproduz um zigoto XY -masculino. FECUNDAÇÃO: • Estimula oócito a completar a segunda divisão meiótica; • Restaurar o número diplóide normal dos cromossomos 46 no ZIGOTO; • Resulta na variação da espécie humana; • Determina o sexo cromossômico do embrião; • Causa ativação metabólica da oótide de inicia clivagem do zigoto; Tecnologia de reprodução assistida→ a fertilização in vitro FIV de oócitos e a transferência de zigoto em clivagem para o útero oferece uma oportunidade para mulheres estéreis da à luz. SEGMENTAÇÃO O zigoto formado sofrerá divisões mitóticas repetidas, resultando em um aumento rápido do número de células -blastômeros. A clivagem ocorre conforme o zigoto passa pela tuba uterina e as células vão se tornando menores a cada divisão. A divisão do zigoto em blastômeros se inicia aproximadamente 30 horas após a fecundação após atingirem o número de 8 células, ocorrem mudanças na forma dos blastômeros, sendo agrupadas uns aos outros para formar uma bola compacta de células. Esse fenômeno é conhecido como compactação, é mediado por glicoproteínas de adesão de superfície celular. Sabe se que a compactação é um evento necessário para que ocorra a separação das células internas, que formam o embrioblasto uma massa interna do blastócisto. Quando a divisão chega a 12 -32 blastômeros o embrião em desenvolvimento é chamado de mórula. A formação da mórula se inicia cerca de 3 dias após a fecundação e é nesse estágio que o embrião chega ao útero. Formação do blastócito→ após a mórula alcançar a cavidade uterina, cerca de 4 dias após a fecundação, surge no seu interior um espaço preenchido por líquido, a cavidade blastocistica. Esse líquido é proveniente da cavidade uterina, passando pela zona pelúcida para formar esse espaço. Observa-se a importância desse líquido pois conforme ele aumenta na cavidade blastocistica, há a separação do blastômeros em 2 partes (trofoblasto e embrioblasto ). Uma proteína imunossupressora secretária pelas células trofoblásticas, o fator de gestação inicial, aparece no soro materno com 24 48 horas após a implantação ponto sendo esse fator, a base do teste de gravidez nos primeiros dias de desenvolvimento bom Durante este estágio de desenvolvimento, conhecido como blastogênese, o concepto é chamado de blastocisto. diante disso após 2 dias da formação do blastócisto a zona pelúcida é degenerada e desaparece gradualmente .Cerca de 6 dias após a fecundação o blastócisto se adere ao epitélio endometrial, quando o trofoblasto se prolífera Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO rapidamente e se diferencia em 2 camadas interna- citotrofoblasto e externa- sincíciotrofoblasto. EXPLICAR OS TIPOS DE METODOS CONTRACEPTIVOS E SUAS INDICAÇÕES E CONTRA INDICAÇÕES A anticoncepção é um conjunto de métodos e técnicas utilizadas com o intuito de impedir a gravidez. A partir da década de 1996 pela Lei n. 9263, o planejamento familiar foi oficialmente empregado no Brasil. O planejamento familiar corresponde ao recurso que permite ao casal a decisão do número de filhos e intervalo entre as gestações que desejam, de maneira programada e consciente. A maioria desses métodos são oferecidos pelo- Sistema Único de Saúde (SUS), difundindo assim o emprego planejamento familiar. Os métodos contraceptivos podem ser agrupados de diferentes maneiras, como o tipo de método, o potencial de reversibilidade e de acordo com a sua efetividade. Quando se considera a efetividade do método, podemos dividi-lo em: • métodos de primeira linha que são mais efetivos, no qual não é necessário a motivação de uso pela paciente; • métodos de segunda linha, muito efetivos, no qual precisam de atenção da paciente em relação ao uso correto; • métodos de terceira linha que são efetivos e incluem os métodos de barreira e percepção das mudanças corporais; • e os métodos de quarta linha que são menos efetivos, onde se encontram os espermicidas e o coito interrompido. METODOS COMPORTAMENTAIS São eles: • Tabelinha (OGINO-KNAUS) • Temperatura basal • Billings (muco cervical) • Sinto térmico • Coito interrompido CRITERIOS DE ELEGIBILIDADE- OMS MÉTODOS DE BARREIRA São métodos que formam uma barreira entre os espermatozoides e a cavidade uterina, impedindo a fecundação. O nível de eficiência desses métodos varia entre 2 a 6%, a depender se seu uso é correto. Todos os métodos de barreira, além do efeito contraceptivo, também reduzem a transmissão de ISTs.PRESERVATIVOS (CAMISINHA) Dentre os métodos de barreira os preservativos são os mais utilizados. Existem preservativos masculinos e femininos que podem ser feitos de látex ou poliuretrano. Sua taxa de falha geralmente está ligada ao uso incorreto. Além do efeito contra- ceptivo, é o método mais eficaz de prevenção de ISTs. Além disso, está associado a redução de neoplasias do colo do útero pela diminuição da transmissão do papilomavírus humano (HPV). Por isso, é indicado o seu uso em associação com outros métodos. O preservativo feminino é feito de poliuretano ou látex sintético e tem um anel flexível em cada extremidade. O anel aberto fica fora do canal vaginal e o anel fechado interno é colocado no espaço entre a sínfise e o colo uterino. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO DIAFRAGMA O diafragma é um disco de borracha ou látex, colocado na vagina, recobrindo colo do útero para impedir a entrada de espermatozoides. Possui vários tamanhos, por isso, antes do início do uso, é necessária uma consulta com o ginecologista para ser indicado o tamanho mais adequado para a paciente. ESPERMICIDA Os espermicidas são substâncias em forma de tabletes de espuma, geleia ou creme que provocam a ruptura da membrana das células dos espermatozoides matando-os ou retardando sua passagem pelo canal cervical. É recomendado o seu uso apenas em associação com outros métodos contraceptivos, como o diafragma. No entanto, não deve ser usada com preservativos masculinos, pois pode aumentar o risco de contaminação pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS (DIUS) Os DIUs, junto com o implante de etonogestrel, faz parte dos LARCs (Long acting reversible contraceptives) que são os contraceptivos de longa duração. Consistem em um objeto de formato variável que é inserido na cavidade uterina. Eles são amplamente difundidos como métodos contraceptivos reversíveis, possuem pequenas axas de falha e descontinuidade, poucas contraindicações e têm um ótimo custo-benefício. No Brasil, os dois DIUs utilizados são o dispositivo intrauterino de cobre (DIU-Cu) e o sistema intrauterino liberador de levonogestrel (SIU de levonogestrel). DIU DE COBRE O DIU-Cu é o dispositivo mais utilizado no Brasil, sendo o único LARC fornecido pelo SUS no Brasil. Tem formato de T, é feito de um fio de prata corado com cobre e pode ser eficaz de 10 a 12 anos a depender da literatura. O DIU-Cu age por meio da indução de uma reação de corpo estranho, levando à inflamação, visto que o cobre induz a liberação de interleucinas e citocinas que têm ação espermicida. Além disso, leva a mudanças bioquímicas e morfológicas no endométrio, além de produzir modificações no muco cervical e alterar a espermomigração e transporte do óvulo. SIU DE LEVONORGESTREL (SIU- LNG) - DIU DE PROGESTERONA O SIU- LNG, também conhecido pelo nome comercial Mirena, é um dispositivo de poliuretrano em forma de T que libera 20 mcg levonorgestrel por dia. Tem validade de cerca de 5 anos, apesar de alguns estudos admitirem até 7 anos. Funciona levando ao efeito a atrofia do endométrio, tornando o muco cervical espesso e dificultando a espermo migração e motilidade tubária. Além disso, provoca a reação inflamatória de corpo estranho, como o DIU de cobre. Possui o benefício: de reduzir a dismenorreia e causar amenorreia em alguns casos. No entanto, em algumas pacientes pode levar a cefaleia, mastalgia, acne, depressão, cisto ovarianos funcionais e spotting (sangramento uterino irregular). Além de ter as mesmas contraindicações do DIU de cobre (ver em quadro acima), →o SIU-LNG não é recomendado em mulheres com câncer de mama atual ou prévio, tumor hepático, trombose venosa profunda ou tromboembolismo pulmonar atual, lúpus eritematoso sistêmico com anticorpo antifosfolipídeo positivo ou desconhecido. Além disso, não é indicada a continuidade do uso em pacientes que iniciaram quadro de enxaqueca com aura. Apesar de raro, pode levar à expulsão, dor ou sangramento, perfuração uterina, infecção e gravidez ectópica. →O melhor momento para ser inserido é durante a menstruação, pois nesse período o colo do útero está mais pérvio, facilitando a inserção. A contracepção é imediata e pode ser colocado em qualquer idade, inclusive em pacientes sem prole constituída. CONTRACEPÇÃO HORMONAL Os contraceptivos hormonais são métodos extremamente difundidos e eficazes. No entanto, seu índice de sucesso depende fundamentalmente da paciente. Com isso, na prática seu índice de falhas aumenta consideravelmente decorrente do Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO uso incorreto, chegando a taxas de gravidez no primeiro ano de uso entre 3 e 9 por 100 usuárias. Dentre esses contraceptivos os mais conhecidos são: contraceptivos orais combinados (COCs), contraceptivos contendo apenas progestogênio (COPs) e contraceptivos com estrogênios e/ou progestogênios de uso sistêmico por injeção, adesivo transdérmico ou anel intravaginal. CONTRACEPTIVOS HORMONAIS COMBINADOS (CHCS) Os CHCs possuem a combinação de um estrogênio e um progestogênio no mesmo método. Desse grupo fazem parte as pílulas contraceptivas de uso oral, o injetável mensal, o adesivo transdérmico e o anel intravaginal. →O mecanismo de ação dos CHCs ocorre pela inibição da ovulação. Vamos relembrar, no ciclo menstrual o hormônio folículo estimulante (FSH) é responsável pelo recrutamento e desenvolvimento folicular. Já o hormônio luteinizante (LH) é o responsável pela ovulação. O componente de estrogênio dos CHCs inibe o FSH, enquanto que o progestogênio age inibindo o LH. Ora, se esses dois hormônios estão bloqueados, não pode ocorrer recrutamento folicular, amadurecimento do folículo dominante e nem ovulação. Além disso, a progesterona presente nesses contraceptivos torna o muco cervical espesso, dificultando a espermomigração, reduz a motilidade tubária e ainda tem efeito antiproliferativo no endométrio. Já o estrogênio contido na formulação estabiliza o endométrio, reduzindo os sangramentos e aumenta a produção hepática da globulina carreadora de hormônios sexuais (SHBG), reduzindo a fração livre de testosterona. Sabendo disso, fica fácil elencar vários benéficos dos CHCs: INJETÁVEL MENSAL Os anticoncepcionais hormonais combinado injetável são utilizados mensalmente. Os mais utilizados são o de valerato de estradiol com enantato de noretisterona, e o cipionato de estradiol com acetato de medroxiprogesterona. É indicado para pacientes que possuem dificuldade de aderir pílula anticoncepcional. ANEL VAGINAL Esse método contraceptivo combinado que possui o formato de um anel transparente e flexível e contém 2,7 mg de etinilestradiol e 11,7 mg de etonogestrel. O anel vaginal libera cerca de 15 μg de etinilestradiol/dia e 120 μg de etonogestrel/dia. Deve ser colocado em forma de “8” no fundo vaginal entre o primeiro e o quinto dia do ciclo menstrual. O dispositivo permanece por três semanas consecutivas, faz-se uma pausa de sete dias, quando ocorre o sangramento e recoloca um novo dispositivo ao final da pausa. ADESIVO TRANSDÉRMICO O adesivo transdérmico contém uma camada interna hormonal e uma camada externa resistente à água. Ele libera diariamente 30 μg de EE e 150 μg de norel- gestromina, que, após metabolismo hepático, se transforma em levonorgestrel. O adesivo deve ser Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO aplicado na pele limpa, podendo ser colocado nas nádegas, parte externa do braço, abdome inferior ou região superior do dorso, evitando as mamas. CONTRACEPTIVOS APENAS DE PROGESTOGÊNIO (COPS) Esses contraceptivos possuem como hormônio apenas a progesterona. Dentro desse grupo está a pílula de progesterona isolada, o injetável trimestral, o implante subdérmico e o SIU de levonorgestrel. As principais contraindicações desse métodoestão descritas no quadro abaixo. PÍLULA DE PROGESTERONA ISOLADA Esses contraceptivos podem ser compostos por desogestrel, acetato de noretindrona e levonorgestrel. Minipílula: Os contraceptivos compostos por acetato de noretindrona e levonorgestrel são também conhecidos como minipílulas e podem ser utilizados em pacientes em aleitamento e na perimenopausa. Essas medicações promovem efeito contraceptivo através do espessamento do muco cervical e inibição da implantação do embrião no endométrio. Não possuem efeitos anovulatórios. Nesse caso, o uso de minipílulas é contínuo e devem ser prescritas no puerpério de mulheres que amamentam seis semanas após o parto. O seu uso deve ser rigoroso, pois após 27 horas da injesta do último comprimido já pode perder o seu efeito. →Uma contraindicação relativa ao uso de anticoncepcionais com progestágeno isolado é o diabetes mellitus gestacional prévio, pois está relacionado ao desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 nos primeiros dois anos após o parto. DESOGESTREL: Esse contraceptivo é composto por 75 μg de desogestrel e tem a capacidade de inibir a ovulação, por isso, é mais eficaz que as minipílulas. Além disso, torna o muco cervical espesso, dificultando a ascensão dos espermatozoides. Também pode ser indicado durante a amamentação e tem a vantagem de poder ser tomado com atraso de até 12 horas, sem comprometer a sua eficácia. INJETÁVEL TRIMESTRAL O contraceptivo injetável trimestral geralmente é utilizado em pacientes que possuem contraindicação ao uso de estrogênios. Ele bloqueia a ovulação através da inibição do LH, também levando à alteração nas características do muco e atrofia endometrial. Além disso, pode levar à amenorreia e redução da dismenorreia, TPM e câncer endometrial. Como efeitos adversos, pode estar presente o sangramento intermenstrual, edema, ganho de peso, acne, náuseas, mastalgia, cefaleia, alterações do humor e redução da densidade mineral óssea. É aplicado via intramuscular na nádega ou músculo deltoide a cada três meses. IMPLANTE SUBDÉRMICO O implante subdérmico é composto contendo progestágenos como o etonogestrel (Implanon) e o levonorgestrel (Norplant). O primeiro tem duração de 3 anos, enquanto que o segundo dura até 5 anos. Esse dispositivo é implantado na parte subdérmica do antebraço, entre os músculos bíceps e tríceps. Para ser retirado, é preciso pequena incisão sob anestesia local. O implante de levonorgestrel atua inibindo a ação do LH, impedindo a ovulação. Além disso, leva à atrofia endometrial e alteração do muco cervical. Por não apresentar um componente estrogênico que estabiliza o endométrio, pode ocorrer como efeito adverso o spotting. Já o implante de levonorgestrel previne a gestação por meio da ação sobre o muco cervical que se torna impenetrável aos espermatozoides. Também está associado a cefaleia, mastalgia, acne e ganho de peso. Após a remoção do implante, o retorno à fertilidade é rápido, podendo variar em média de 1 a 18 semanas. O implante de etonogestrel tem uso seguro durante a amamentação. CONTRACEPÇÃO CIRÚRGICA A contracepção cirúrgica consiste em método considerado irreversível ou definitivo, podendo ser masculina com a vasectomia ou feminina com a ligadura tubária (LT). Tem grande efetividade com índice de Pearl variando de 0,1 a 0,3 por 100 mulheres/ano. A Lei 9263 de 12/01/1996, também conhecida como Lei do planejamento familiar, regulamenta o seu uso no Brasil, sendo indicado somente nas seguintes situações: • Homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de 25 anos de idade OU, pelo menos, com dois filhos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO • Risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, desde que tenha relatório escrito e assinado por dois médicos. Além disso, é vedado a esterilização cirúrgica durante o parto, aborto ou até 42 dias após o parto (ou aborto), exceto nos casos de comprovada necessidade, como: • Cesárias sucessivas anteriores (no mínimo 2); • Doença de base com risco à saúde. → Para fazer a esterilização é necessário o registro da expressa manifestação da vontade da paciente em documento escrito e firmado. Caso seja casada, deve também ter o consentimento do cônjuge e se for incapaz, deve ter a autorização judicial. →Na vasectomia se faz a ligadura do ducto deferente, podendo ser realizado apenas com anestesia local. Lembrem-se que esse procedimento não altera o aspecto do sêmen e não afeta o desempenho sexual. →Na ligadura tubária realiza-se a obstrução do lúmen tubário, principalmente o istmo, seja com fio cirúrgico e/ou secção da trompa, eletrocoagulação ou obstrução mecânica com clips ou anéis. Com isso, se impede o transporte do óvulo e o encontro dos gametas femininos e masculinos. Pode ser realizado tanto por via laparotômica, laparoscópica, vaginal ou histeroscópica. CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA A contracepção de emergência é um método que visa prevenir uma gestação inoportuna após relação sexual. Pode ser indicada no ato sexual desprotegido, falha ou uso inadequado do método contraceptivo em uso ou violência sexual. Os contraceptivos de emergência atuais geralmente são efetivos e seguros, apresentando poucos efeitos adversos. Com isso, reduz a quantidade de abortamentos inseguros e garante o planejamento familiar. O mecanismo de ação desses métodos varia de acordo com o período do ciclo menstrual no qual é utilizado. Se o uso ocorre na primeira fase do ciclo, antes do pico do LH (hormônio luteinizante), ele altera o desenvolvimento folicular, impedindo ou retardando a ovulação. Já quando é usado na segunda fase do ciclo menstrual, ou seja, após a ovulação, ele modifica as características do muco cervical, deixando-o mais viscoso e com isso alteração o transporte dos espermatozoides. Atualmente estão disponíveis vários métodos contraceptivos de emergência. Os mais utilizados são o método Yuzpe e o contraceptivo de levonorgestrel isolado, ambos são igualmente eficazes, podendo ser utilizado até 5 dias após o ato sexual desprotegido. Entretanto, sua eficácia é inversamente proporcional ao tempo decorrido desde a atividade sexual, sendo recomendado o uso até 72 horas após o ato. Pela comodidade posológica e menos efeitos colaterais, o método de levonorgestrel é o mais indicado. • MÉTODO YUZPE: É um contraceptivo combinado que consiste no uso de duas doses de 100 mcg de etinilestradiol e 500 mcg de levonorgestrel, com intervalo de 12 horas; sendo que a primeira deve ser tomada o mais próximo possível da atividade sexual desprotegida e até 72 horas depois. • CONTRACEPTIVO DE LEVONOGESTREL ISOLADO: Nesse método deve-se ingerir o levonorgestrel na dose de 1,5 mg em dose única ou fracionada em duas tomadas, com intervalo de 12 horas. Ambas as formas de uso são igualmente eficazes. Podem ocorrer alguns efeitos adversos como náuseas, vômitos, cefaleia e aumento da sensibilidade mamária. No entanto, não há nenhuma evidência de que os contraceptivos de emergência exerçam abortamento. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO VIOLENCIA SEXUAL NA CRIANÇA E ADOLESCENTE -É de notificação compulsória. -O boletim de ocorrência não é obrigado para o atendimento médico; -Comunicar o Conselho Tutelar- Vara da Infância→ Obrigatório! Até os 18 anos! - Oferecer a contracepção de emergência. -HIV- medicações recomendadas -HEP B- Vacinação + medicação - ISTS- Medicação O atendimento inicial à vítima de violência sexual nas unidades de saúde e hospitais deve incluir entrevista, registro da história, exame clínico e ginecológico, exames complementares e acompanhamento psicológico. A Ficha de Notificação e Investigação de ViolênciaDoméstica, Sexual e/ou outras Violências é composta por um conjunto de variáveis e categorias que retratam, minimamente, o perfil das violências perpetradas contra as mulheres e os adolescentes, a caracterização das pessoas que sofreram violências e dos (as) prováveis autores (as) de agressão. →Quando se tratar de notificação de violência contra crianças e adolescentes um ficha deve ser encaminhada para o Conselho Tutelar. • Em crianças e adolescentes menores de 18 anos de idade, a suspeita ou confirmação de abuso sexual deve, obrigatoriamente, ser comunicada ao Conselho Tutelar ou à Vara da Infância e da Juventude. Na falta destes, comunicar à Vara de Justiça existente no local ou à Delegacia. O abuso sexual pode ser classificado em EXTRA E INTRAFAMILIAR. EXTRA- fora do ambiente familiar INTRA- dentro do ambiente familiar VIOLENCIA AGUDA- acometida 1 ou poucas vezes VIOLENCIA CRONICA- acometida diversas vezes PROTOCOLO DE ATENDIMENTO Acolhimento e escuta qualificada O acolhimento e a escuta qualificada são elementos importantes para uma atenção humanizada às pessoas em situação de violência sexual. O acolhimento engloba o tratamento digno e respeitoso, a escuta, o reconhecimento e a aceitação das diferenças, o respeito ao direito de decidir de mulheres e homens, assim como o acesso a resolutividade da assistência. Exame Físico O exame físico deve ser precedido de explicação, a vítima, sobre a necessidade de sua realização, sobre os locais do corpo a serem tocados, esclarecendo os procedimentos que serão realizados e os materiais que serão coletados. Havendo recusa, a decisão e autonomia da pessoa devem ser respeitadas. O exame deverá ser realizado pelo médico com a presença de outro profissional de saúde também habilitado para o atendimento integral às pessoas em situação de violência sexual. Coleta de Vestígios • Secreção Vaginal; • Secreção anal; • Sêmen, secreções e/ou fluidos depositados na pele ou em outra regiões do corpo; • Vestígio Subungueal; • Cabelo e Pelo; • Vestes e objetos com possível presença de sêmen e/ou fluidos biológicos; • Células de mucosa oral; ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA O método anticonceptivo pode prevenir a gravidez forçada e indesejada utilizando composto hormonais concentrados e por curto período de tempo. →Tratando-se de adolescente, o direito à confidencialidade e ao sigilo sobre a atividade sexual e sobre a prescrição de métodos anticonceptivos deve ser igualmente preservado, segundo os artigos 11, 102 e 103 do Código de Ética Médica, reiterados pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). PROFILAXIA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS NÃO VIRAIS Doenças como gonorreia, sífilis, infeção por clamídia, tricomoníase e cancro mole podem ser prevenidas com o uso de medicamentos de reconhecida eficácia. Esquema profilático para crianças Crianças apresentam maior vulnerabilidade às IST devido a imaturidade anatômica e fisiológica da mucosa vaginal, além de outros fatores. O diagnóstico de uma IST em crianças pode ser o primeiro sinal de abuso sexual. PROFILAXIA CONTRA INFECÇÃO PELO HIV O esquema de profilaxia para crianças e adolescentes é orientado de acordo a faixa etária. Veja na tabela abaixo. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →Os adolescentes têm direito à PEP mesmo sem a presença dos pais ou responsáveis. Nesses casos, como previsto no ECA e pela Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, deve-se avaliar a capacidade de discernimento do adolescente, com exceção das situações de violência. PROFILAXIA PARA TÉTANO PROBLEMA 2 ELUCIDAR AS MUDANÇAS FISIOLÓGICAS ATRAVÉS DE SINAIS E SINTOMAS DA GRAVIDEZ O organismo feminino sofre mudanças anatômicas e funcionais durante a gestação, adaptando-se para a presença do feto em desenvolvimento. SISTEMA CIRCULATÓRIO O volume sanguíneo materno aumenta consideravelmente durante a gestação, atingindo valores 30 a 50% maiores do que os níveis pré- gestacionais. A hipervolemia no organismo materno está relacionada com a necessidade de suprimento sanguíneo nos órgãos genitais, principalmente no território uterino, cuja vascularização encontra- se aumentada na gestação. Há também um aumento na concentração das células vermelhas em cerca de 30%, estabelecendo um estado de hemodiluição, uma vez que o aumento não acompanha o aumento do volume sanguíneo total. Dessa forma, há uma diminuição da viscosidade plasmática, diminuindo também o trabalho cardíaco. O sistema renina-angiotensina-aldosterona tem maior atividade na gestação para suplantar a ação dos mecanismos excretores, como o aumento da filtração glomerular e do peptídeo atrial natriurético. A concentração de hemoglobina está levemente diminuída durante a gestação (“anemia fisiológica”) devido à hemodiluição e, por isso, valores de hemoglobina até 11g/dl são aceitos. Em relação aos glóbulos brancos, a leucocitose pode estar presente na gravidez normal, com valores de leucócitos totais entre 5.000 e 14.000/ mm³. Durante o parto e o puerpério imediato, os valores de leucócitos podem chegar a 29.000/mm³, possivelmente relacionados à atividade das adrenais no momento de estresse. Os níveis plaquetários estão discretamente reduzidos na gravidez normal, em parte devido à hemodiluição, e em parte relacionado ao consumo de plaquetas e à coagulação intravascular no leito uteroplacentário. Considera-se plaquetopenia na gestação uma contagem de plaquetas inferior ou igual a 100.000/mm³. A contagem de plaquetas volta a aumentar logo depois do parto e atinge valores basais após 4 semanas, aproximadamente. Praticamente todos os fatores de coagulação Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO apresentam-se elevados na gestação, com exceção dos fatores XI e XIII. Fibrinogênio e dímero D têm seus níveis elevados em até 50% durante a gestação. As necessidades de ferro durante o ciclo gravídico- puerperal aumentam consideravelmente devido ao consumo e à perda que ocorrem nessa fase. Por esse motivo, a maioria das gestantes apresentará anemia ferropriva, a não ser que haja uma suplementação adequada. Há um aumento no débito cardíaco (DC), devido ao aumento da frequência cardíaca (em torno de 15 a 20 bpm) e à elevação do volume sistólico. Esse processo se inicia por volta da 5ª semana, se estabiliza por volta de 24 semanas e atinge seu ápice no pós-parto imediato, com aumento de 80% no DC. Observa-se uma redução da resistência vascular periférica extremamente acentuada, devido à vasodilatação periférica e ao surgimento da circulação uteroplacentária (de baixa resistência). Devido a isso, há uma queda também na pressão arterial sistêmica, apesar do aumento do DC. O sopro cardíaco sistólico é comum devido à redução da viscosidade sanguínea e do aumento do DC. Cerca de 90% das gestantes apresentam sopro sistólico leve, 20% apresentam sopro diastólico e 10% apresentam sopro contínuo, consequente à hipervascularização das mamas. Por fim, devido às modificações anatômicas e funcionais do coração, pode haver alterações fisiológicas eletrocardiográficas nas ondas T e Q, no segmento ST e desvio do eixo cardíaco para a esquerda 15 a 20°. SISTEMA ENDÓCRINO E METABOLISMO: As alterações endócrinas e metabólicas do organismo materno visam garantir o aporte nutricional para o desenvolvimento do feto. Para que isso ocorra, várias transformações funcionais das glândulas maternas coexistirão com a placenta – novo órgão que apresenta importante função endócrina. Com relação às demandas energéticas, o ganho de peso materno decorre, em grande parte, do acúmulo de componente hídrico intra e extravascular, e em menor proporção, do acúmulo de componentes energéticos e estruturais (carboidratos, lipídios e proteínas). O ganho de pesoadequado varia conforme o peso da mulher no início da gestação de acordo com seu Índice de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional. PELE E ANEXOS: A produção placentária de estrógenos leva à proliferação da microvasculatura de todo o tegumento (angiogênese). Devido ao estado hiperprogestogênico, ocorre vasodilatação de toda a periferia do organismo, levando a eventos vasculares da pele e anexos como eritema palmar, teleangectasias, aumento da secreção sebácea e da sudorese, entre outros. A alopecia é rara, mas pode ocorrer em decorrência das alterações hormonais. A hiperpigmentação da pele da gestante também está relacionada aos altos níveis de progesterona, que parecem aumentar a produção e secreção do hormônio melanotrófico da hipófise. Este hormônio induz a produção excessiva de melanina, levando ao aparecimento de máculas hipercrômicas, conhecidas como cloasma ou melasma. Os locais de maior incidência são: face, fronte, projeção cutânea da linha alba (que passa a ser chamada de linha nigra), aréola mamária e regiões de dobra. Podem piorar com a exposição solar e costumam desaparecer após a gestação. A distensão da pele do abdome, das mamas e do quadril pode provocar o aparecimento de estrias nestas regiões. Os fatores de risco são história Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO familiar e, principalmente, ganho de peso excessivo na gestação. SISTEMA ESQUELÉTICO: As articulações, de modo geral, sofrem um processo de relaxamento durante a gravidez. As articulações da bacia óssea (sínfise púbica, sacrococcígea e sinostoses sacroilíacas) se apresentam com maior elasticidade, aumentando a capacidade pélvica e modificando a postura e a deambulação da gestante, preparando-a para o parto. O aumento do volume abdominal e das mamas desvia anteriormente o centro de gravidade materno. De forma instintiva, a gestante direciona o corpo posteriormente, com intuito de compensar e encontrar um novo eixo de equilíbrio. Como consequência, surgem hiperlordose e hipercifose da coluna vertebral, aumento da base de sustentação, com afastamento dos pés e diminuição da amplitude dos passos durante a deambulação (marcha anserina). O aumento da flexão cervical causa compressão das raízes dos nervos ulnar e mediano, levando a fadiga muscular, dores lombares e cervicais e parestesias de extremidades. SISTEMA DIGESTÓRIO: Náuseas e vômitos são ocorrências muito prevalentes no primeiro trimestre de gestação devido aos altos níveis de HCG. Além disso, muitas gestantes se queixam de alterações no apetite e sede, essa alteração parece ocorrer devido resistência à ação da leptina e às mudanças na secreção de ADH. A progesterona tem uma potente ação relaxante sobre as fibras musculares lisa levando a uma série de alterações no sistema digestório como: relaxamento do esfíncter esofágico inferior, redução do peristaltismo, diminuição da contratilidade da musculatura lisa do intestino. Como consequência, são frequentes as queixas de pirose e constipação durante a gestação. As alterações hepáticas e pancreáticas observadas na gestação são eminentemente funcionais e relacionadas ao metabolismo energético. Com o aumento do volume uterino, ocorrem alterações anatômicas que desviam o estômago e o apêndice para cima e para a direita e os intestinos para a esquerda. O apêndice cecal pode ocupar o flanco direito, dificultando o diagnóstico clínico de apendicite na gravidez. SISTEMA RESPIRATÓRIO: As vias aéreas superiores apresentam modificações significativas durante a gestação. Ocorre ingurgitamento e edema da mucosa nasal, que leva a um aumento das obstruções nasais, sangramentos e rinite durante a gestação. O edema da mucosa também acomete a laringe e a faringe, diminuindo o lúmen dessas vias e podendo, inclusive, representar maior dificuldade para intubações orotraqueais nessas pacientes. Alterações anatômicas da caixa torácica podem ser notadas já no início da gestação. Observa-se elevação do diafragma de aproximadamente 4 cm e maior capacidade de excursão do mesmo, em torno de 2 cm. A caixa torácica apresenta aumento de 5 a 7 cm em sua circunferência e 2 cm em seu diâmetro anteroposterior, com consequente ampliação dos ângulos costofrênicos, de até 35°. A amplitude do movimento do diafragma se reduz ao longo da gestação devido ao aumento do volume abdominal que ocorre com o crescimento uterino. A capacidade pulmonar total está reduzida em aproximadamente 200 mL devido à elevação do diafragma em razão da redução do volume residual. SISTEMA RENAL/URINÁRIO: O aumento da volemia, em associação com a redução da resistência vascular periférica, provoca elevação do fluxo plasmático glomerular, com consequente aceleração do ritmo de filtração glomerular. O fluxo plasmático glomerular pode ter um acréscimo de 50 a 80%, enquanto o ritmo de filtração glomerular aumenta entre 40 e 50% já no final do primeiro trimestre de gestação. A osmolaridade plasmática também se modifica na gravidez devido à ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona e da redução do limiar para secreção de ADH. A liberação de ADH e o mecanismo da sede são, portanto, desencadeados por menores níveis osmóticos. As grávidas, em geral, filtram maiores quantidades de sódio e água no glomérulo, o que é compensado por maior reabsorção tubular Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO desses elementos, resultado da ação da aldosterona e do ADH. ÊMESE E HIPERÊMESE GRAVIDICA A êmese gravídica, vômitos simples do início da gestação, e a hiperêmese gravídica, vômitos incoercíveis da gravidez, diferem apenas na intensidade e na repercussão clínica de seus efeitos. Trata-se do mesmo processo, no entanto, a hiperêmese configura a forma grave. Náuseas e vômitos da gravidez são condições comuns que afetam 70 a 85% das grávidas. Em 60% dos casos, cessam ao fim do 1º trimestre; em 90% dos casos, com 20 semanas. Do ponto de vista epidemiológico, a hiperêmese gravídica é cada vez mais rara, e ocorre em 0,5 a 2% das gestações. Não há definição única para a hiperêmese gravídica, sendo a mais aceita aquela que considera a perda ponderal de, no mínimo, 5% do peso pré- gravídico; anormalidades como desidratação e desnutrição (cetonúria) costumam estar presentes. →A hiperêmese gravídica é a segunda causa mais frequente de internação hospitalar, após o parto pré-termo. →O vômito ou êmese é a expulsão do conteúdo gástrico pela boca, causada por contração forte e sustentada da musculatura da parede torácica e abdominal. →A náusea é a sensação desagradável da necessidade de vomitar, acompanhada de sudorese fria, sialorreia, hipotonia gástrica e refluxo do conteúdo intestinal para o estomago. A evolução do quadro de NVG (náuseas e vômitos na gestação), com necessidade de tratamento farmacológico situa-se em torno de 10% das gestações. Por sua vez, os quadros mais graves de vômitos nas gestantes, denominados de hiperêmese gravídica, respondem por 1,1% de todos os quadros de NVG. ETIOLOGIA Entre os vários fatores e as diversas teorias apontadas como responsáveis pelo aparecimento das NVG, as que possuem maior embasamento epidemiológico e fisiológico são as seguintes: TEORIA ENDÓCRINA O aparecimento da gonadotrofina coriônica e o aumento do estrogênio e da progesterona durante a gravidez apresentam potencialidades diretas ou indiretas responsáveis por causarem Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO náuseas lideram as justificativas neste sentido. Considerar que a gonodotrofina coriônica (GC) seja a responsável etiológica pelo aparecimento das NVG, tem sua base lógica na relação temporal entre a concentração máxima de produção da GC e o pico de ocorrência das NVG, os quais ocorrem em média entre a 7ª a 10ª semana. Além disso, as NVG são mais frequentes e mais graves entre gestantesque apresentam situações com aumento das concentrações de GC, a exemplo da gestação múltipla, doença trofoblástica gestacional, gestantes com fetos do sexo feminino e de gestantes com fetos portadores da síndrome de Down. A GC apresenta diferentes isoformas, por isso se explica que não aparece em todas as gravidas os sinais de NVG. →A progesterona e o estrogênio reduzem o tônus da musculatura lisa e a atividade peristáltica de todo o trato gastrointestinal. A distensão intestinal, que ocorre em resposta a estas adaptações funcionais do organismo materno à gravidez, ativa alguns mecanismos biomoleculares que são envolvidos na geração dos estímulos eméticos. →O aumento da concentração de estrogênios e da progesterona reúne atributos para ser arrolado como um dos fatores que se associam à gênese das NVG, mas que, isoladamente, não consegue explicar todos os casos desta doença. Com base nos achados laboratoriais, verifica-se que existe associação entre o aumento dos hormônios tireoidianos provocando hipertireoidismo transitório e o desenvolvimento das NVG. Recentemente, foi proposto que o hormônio leptina pudesse ter um papel sobre a gênese das NVG tendo como base a observação de concentrações mais 6 elevadas deste hormônio em gestantes portadoras da NVG quando comparadas a gestantes sem a doença. No entanto, estas alterações não foram confirmadas. TEORIA DA INFECÇÃO PELO HELICOBACTER PYLORI Vários autores têm demonstrado padrões mais elevados de infecção por Helicobacter pylori (HP) em mulheres com NVG. Foi observado que 95% dos exames histológicos das mucosas das gestantes com NVG são positivas para este agente contra 50% do grupo controle. Além disso, constatou-se também clara associação entre a carga bacteriana e a intensidade dos sintomas. Alguns anos depois, estudo norueguês observou que a infecção materna pelo HP incidiu 3,3 vezes mais em gestantes com NVG. Apesar da intrigante associação entre NVG com a infecção materna pelo HP, o número de gestantes que são portadoras da infecção e não apresentam NVG indica que o HP também não consegue, isoladamente, explicar todos os casos de NVG. TEORIA GENÉTICA O risco de uma gestante desenvolver NVG é de três vezes mais se sua mãe também apresentou esta complicação. No entanto, a falta de estudos que identifiquem quais são os genes responsáveis por esta alteração e em que parte do genoma estas alterações podem ser identificadas são fatores limitantes para se desenhar abordagens mais específicas de controle da doença. TEORIA PSICOGÊNICA Historicamente, já foi especulado que as NVG poderiam ser a manifestação de uma doença psicossomática na qual o processo emético seria a forma de exteriorizar estes conflitos intrapsíquicos, o que poderia conferir a esta teoria importante papel na composição etiológica das NVG. Entre as variáveis situacionais que compõem esta teoria, já foi postulado que as NVG seriam a manifestação subconsciente da gestante rejeitar uma gravidez não desejada. No entanto, esta teoria não é aceita universalmente. Em estudo desenvolvido na Noruega, mostrou que a angústia e a depressão seriam mais efeitos do que causa da NVG. Os eventos adversos ou estressantes na vida da gestante com seu meio social que poderiam estar associados com NVG são a gravidez não programada, rejeição à maternidade, a rejeição ao pai, a imaturidade emocional, o temor do ganho de peso, as situações de violência, a pobreza, a busca de compensações, a insegurança, as limitações financeiras e a estabilidade no emprego, entre outras. PROGNÓSTICO E DIAGNÓSTICO A preocupação e o incômodo das náuseas impactam negativamente a qualidade de vida. Como não há nenhum sinal no início do processo que indique ou forneça alguma informação semiológica para prospecção dos casos graves, a orientação é o cuidado supervisionado e a adoção de cuidados não invasivos precocemente, evitando que o processo evolua rumo à gravidade. Importante determinar se existe algum fator predisponente das náuseas, a exemplo da insuficiência da cárdia, do hipertireoidismo e da dispepsia, entre outros. Determinadas doenças do trato digestivo precisam ser tratadas concomitantemente com as NVG, sob o preço de retardar a resolução do problema e deixar Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO a gestante numa situação de vulnerabilidade para evoluir rumo a piores prognósticos. A gravidade dos vômitos na gravidez tem influência no comprometimento sistêmico, com reflexo direto sobre as funções hepáticas e renais, subsidiando na prática a necessidade de avaliar o impacto do processo emético sobre estes órgãos. Com a piora dos vômitos e sem correções dos desvios metabólicos já instalados, corre-se o risco de que o comprometimento afete o sistema cardiovascular (arritmias) e o sistema nervoso central. A espoliação vitamínica e de aminoácidos, precursores da formação dos neuromediadores, predispõe o aparecimento de alterações comportamentais e neurológicas de intensidades variadas, até mesmo o aparecimento da síndrome de Wernicke. Considerando o embrião-feto nos casos de NVG, os estudos não conseguem estabelecer uma relação de causa e efeito nos casos de náuseas e vômitos de moderada intensidade. No entanto, nas hipóteses de hiperêmese gravídica, observa-se prolongamento do período de exposição da placenta e do feto aos efeitos nocivos dos desequilíbrios hidroeletrolíticos e metabólicos decorrentes destes agravos, podendo prejudicar a evolução da gravidez elevando as taxas de trabalho de parto pré-termo, de crianças pequenas para a idade gestacional e de baixo peso ao nascer. Além disto, estes distúrbios metabólicos são arrolados também como fatores que interferem negativamente sobre o neurodesenvolvimento embrionário e fetal. ANAMNESE Cuidado especial deve ser dispensado à intensidade das náuseas, pois, mesmo não havendo vômitos espoliativos, a presença de náuseas significa redução do aporte alimentar (aminoácidos, ácidos graxos e glicose) e da ingesta de água, com efeitos negativos sobre a gravidez. Nos casos mais graves, pode haver a informação de perda de peso e redução do volume urinário. O início das náuseas após o primeiro trimestre indica atenção redobrada, pois aumentam as possibilidades de que a causa não seja decorrente da gravidez e sim de outras doenças orgânicas. Do ponto de vista obstétrico, deve ser perguntado sobre sangramento genital e aumento uterino além do esperado para a idade gestacional, visto que o diagnóstico diferencial com a neoplasia trofoblástica e com gestação múltipla deve ser lembrado. Estas situações frequentemente associam-se ao aumento das NVG. Ainda, na anamnese, é de fundamental importância avaliar dados epidemiológicos familiares (principalmente mães e irmãs com o mesmo problema) e pessoais da gestante, como seus hábitos, vacinação prévia, estilo de vida, estabilidade conjugal, independência financeira e histórico de violência. EXAME FÍSICO No exame físico de uma gestante referindo náuseas, as alterações serão difíceis de detecção nos casos de menor gravidade. Independente da gravidade dos vômitos, alguns casos são acompanhados de excesso da salivação. Nos casos de média ou maior intensidade, o exame físico pode identificar sinais de desidratação e até redução do peso. No exame genital e na palpação abdominal é necessário avaliar sangramento genital e aumento do volume uterino incompatível com idade gestacional e verificar eventual eliminação de vesículas. Estes passos são obrigatórios na tentativa de identificar clinicamente sinais de doença trofoblástica gestacional. EXAMES LABORATORIAIS Sugere-se avaliar inicialmente (náuseas de menor gravidade) o hemograma, sódio e potássio, sorologias para não vacinadas (teste para sífilis, HIV, toxoplasmose, rubéola e hepatites A,B e C), testes de função renal, testes de função hepática, amilase, TSH/T4livre, sumário de urina e urocultura. A ultrassonografia está indicada para descartar casos de doença trofoboblástica, principalmente se há história de sangramento genital ou aumento do volume uterino acima do esperado para a idade gestacional. Igualmente, pode identificar gestação gemelar, situação em que as NVG são mais frequentes. Será útil também a pesquisa de aneuploidias (síndrome de Down), utilizando o sangue materno ou o líquido amniótico. Nos casos sem remissão ou melhora das NVG, apesar da terapia instalada, é indicada a repetição das funções hepática e renal como também é imprescindível a realização da esofagogastroduodenoscopia. Concomitantemente ao exame endoscópico, é aconselhável, também, a pesquisa da infecção pelo HP, justamente pela falta de remissão do quadro emético. O exame sorológico para detectar esta infecção por esta bactéria não distingue entre infecção ativa e infecção passada e as manifestações clínicas são diferentes nas duas formas. →A busca diagnóstica da infecção pelo HP deve se restringir aos casos refratários ao manejo convencional, principalmente aqueles que se estendem ao segundo trimestre gestacional. Sem melhoras, apesar dos cuidados corretos, pode ser necessária a avaliação do neurologista. Os Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO recursos utilizados vão desde a punção liquórica para afastar infecções e hemorragias até o estudo por imagens (tomografia ou ressonância magnética). Estas avaliações não são apenas para avaliação diagnóstica de eventuais alterações infecciosas ou expansivas do encéfalo, mas também para verificar o risco de evolução para a síndrome de Wernicke. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Geralmente é diagnóstico de exclusão, e sintomas associados como febre, dor abdominal, cefaléia, bócio, sintomas neurológicos, diarréia, constipação ou hipertensão arterial sugerem outros diagnósticos como: • Neoplasia trofoblástica gestacional • Colecistite • Apendicite • Hepatite • Pancreatite • Gastroenterite e úlcera gástrica • Obstrução intestinal • Hérnia de hiato • Litíase biliar ou urinária • Infecção urinária • Neuropatias • Intoxicações exógenas • Hipertensão intracraniana • Síndromes paraneoplásicas CONDUTA E CUIDADOS GERAIS • Internação. • Suspender alimentação nas primeiras 24 horas (ou por mais tempo, a depender da evolução do quadro clínico). • Controle diário de peso e diurese. • Após estabilização do quadro, introduzir dieta líquida, com evolução progressiva para sólida/ branda, pobre em lipídios e rica em carboidratos, conforme aceitação da paciente. • Avaliar a necessidade de nutrição parenteral nos casos prolongados, rebeldes à terapêutica instituída. • Evitar medicamentos à base de ferro • Esclarecer a paciente e familiares sobre o caráter transitório dos sintomas, e da necessidade da gestante de atenção e apoio. • Psicoterapia pode ser indicada CLASSIFICAÇÃO O Escore PUQE foi preliminarmente idealizado para que o tempo de avaliação fosse de 12 horas, mas também apresentou excelente performance com avaliações de 6 horas e 24 horas. Ele funciona como uma Escala Likert com 5 opções, respondendo a 3 perguntas básicas referentes às NVG, de acordo com o tempo de corte escolhido (6, 12 e 24 horas), conforme quadro 1. A utilização do tempo mais curto de 6 horas é melhor quando o escore é utilizado para avaliar o efeito terapêutico de alguma intervenção. Quando é para diagnóstico da intensidade das NVG, o tempo mais prolongado de 24 horas de avaliação tem sido mais utilizado, diante dos bons resultados citados na literatura e um tempo maior de avaliação no momento do diagnóstico. TRATAMENTO Dependendo da intensidade do quadro, a grande maioria dos casos é tratada em regime ambulatorial. As possibilidades de tratamento para mulheres portadoras de NVG podem ser divididas em farmacológicas e não farmacológicas. A – ABORDAGEM NÃO FARMACOLÓGICA 1. Apoio psicoemocional: Fundamental em todos os casos, pois sabemos que o medo e a ansiedade são componentes que por si sós podem resultar no aparecimento do quadro. A mulher depois de se definir como gestante inicia toda uma trajetória de ambivalência afetiva, de dúvidas na nova estruturação familiar e incertezas quanto ao futuro do novo desenho familiar que o filho em evolução irá definir. Este apoio será familiar e profissional; inicialmente, pelo próprio obstetra e, em casos de maior complexidade, com o apoio de psicólogo afeito a este tipo de situação clínica. 2. Medidas alimentares e mudanças nutricionais: Todas as gestantes devem receber este tipo de orientação, independente de apresentarem qualquer sintoma de NVG. O maior tempo de esvaziamento gástrico, menor produção e escoamento biliar, menor tolerância ao jejum prolongado e muitas outras alterações levam a gestante a ter que adotar dietas mais leves, menos gordurosas e em intervalos menores, como também evitar ingestão de líquidos nas primeiras duas horas do dia. 3. Terapias não convencionais ou complementares: O grupo que melhor se beneficia deste conjunto de terapias são gestantes que se situam na forma LEVE (<6) na classificação de PUQE. As gestantes com náuseas matinais e episódios esporádicos de vômitos são candidatas a medidas como a acupressão (pressão em ponto específico das mãos), aromaterapia (utilizando os florais de Bach), acupuntura realizada por profissional adequadamente preparado, hidroginástica e outras atividades físicas de baixo impacto articular, uso de vitaminas com ação antináuseas como a piridoxina (Vitamina B6) e ingestão do gengibre que possui leve ação antiemética. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Tratamento Alternativo: • Psicoterapia • Hipnose • Técnicas de relaxamento • Meditação • Acupuntura • Homeopatia • Estimulação elétrica • Quiropraxia • Acupressão • Massoterapia B – ABORDAGEM FARMACOLÓGICA Terapia com antieméticos: Em razão da elevada prevalência do quadro de NVG, é compreensível que mais de 30% de todas as gestações tenham em algum momento sido exposta ao uso deste grupo farmacológico. 1. Ondansetrona: Todos os estudos comparativos entre os antieméticos mostram uma superioridade de ação da ondansetrona tanto nos casos mais leves como nos mais graves sobre os demais grupos farmacológicos. Por ser um bloqueador seletivo dos receptores da serotonina (5-HT3), evita o bloqueio adicional sobre receptores de outros neurotransmissores (dopamina, acetilcolina, histamina). Em vista destas características farmacológicas, a ondansetrona apresenta baixa incidência de efeitos colaterais. Um aspecto que se tornou relevante nos últimos anos se refere à segurança da ondansetrona em não intervir no neurodesenvolvimento de crianças expostas ao fármaco durante a embriogênese e a neurogênese. →O principal efeito colateral da ondansetrona é flush facial, mas há relatos raros de constipação intestinal em gestantes com uso prolongado e, quando é usado em doses elevadas (> 30 mg/dia), é prudente afastar-se a possibilidade de prolongamento do intervalo Q-T. 2. Metoclopramida: Trata-se de um procinético que promove o bloqueio dos receptores de dopamina e de serotonina (5-HT2). Com este conjunto de propriedades farmacológicas ela acaba sendo antiemética. Em estudos recentes, verifica-se sua melhor ação entre os casos de média intensidade. A sua maior limitação de uso se refere aos efeitos, principalmente às manifestações de ações extra- piramidais (tremores de extremidade e desequilíbrio postural). 3. Anti-histaminicos (dimenidrato, meclizina, prometazina): Constitui um grupo farmacológico que atua realizando o bloqueio do receptor H1 da histamina. Promove eficiente efeito antiemético nas formas moderadas de NVG. Tem como efeito colateral mais evidente a sonolência. Nas formas leves das náuseas e vômitos da gestante (≤ 6 do escore de PUQE), as medidas não farmacológicase farmacológicas por via oral apresentam bons resultados rapidamente e o tratamento deve ser ambulatorial. HIPERÊMESE GRAVÍDICA O reconhecimento da hiperêmese gravídica (HG) é fundamental para evitar a elevada morbidade associada ao atraso do tratamento. O diagnóstico é eminentemente clínico, baseado na queixa de vômitos incoercíveis e no exame físico, que permite avaliar o nível de comprometimento da gestante, o grau de desidratação e desnutrição. AVALIAR OS SEGUINTES EXAMES: A HG apresenta uma evolução nítida de comprometimento materno, como se segue: • Fase de desidratação: Náusea e ptialismo intensos, vômitos fortes levando a um quadro de desidratação. A paciente apresenta-se com diminuição do turgor e da elasticidade da pele, olhos encovados, mucosas secas e pegajosas, língua áspera, taquicardia, hipotensão e hipotermia. Distúrbios hidroeletrolíticos podem estar presentes (dosagem de sódio alta, cloro e potássio um pouco diminuídos). O hematócrito encontra-se um pouco aumentado. • Fase metabólica: Ao quadro clínico anterior, somam-se distúrbios nutricionais (perda de peso maior que 5%); alterações da função hepática com elevação de enzimas e bilirrubinas (icterícia discreta); cetoacidose e cetonúria 2 ou 3 +; hipoalbuminemia; hiponatremia; e hipopotassemia. Hipoglicemia já ocorre nessa fase. Pode ocorrer hipotermia e torpor Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO • Fase neurológica: Os achados anteriores somados a um quadro de comprometimento oftálmico com lesões retinianas e alterações neurológicas iniciais com hiporreflexia e dor à palpação das panturrilhas e coxas. Esse quadro é muito importante, pois antecede o acometimento encefálico, que é irreversível, em uma semana. Esse intervalo é chamado de “Interstício crítico de Briquet” e a interrupção da gravidez deve ser feita imediatamente. • Fase da psicose de Wernicke-Korsakoff: Trata- se de uma encefalopatia amoniacal, caracterizada por instabilidade hemodinâmica de difícil controle, alucinações e coma. Este quadro é irreversível na maioria das vezes. EXPLICAR OS DIFERENTES TESTES PARA CONFIRMAÇÃO DA GRAVIDEZ, COM ENFASE NO B-HCG FISIOLOGIA DA GESTAÇÃO O ciclo menstrual é dividido em duas fases principais: fase folicular e fase lútea. No final da fase folicular, ocorre a ovulação, processo no qual o oócito secundário do folículo ovarino é liberado e captado pelas fímbrias tubárias para ser transportado ao infundíbulo da tuba uterina. Este transporte da trompa em direção ao útero leva, em média, de três a quatro dias. A fertilização do óvulo por um espermatozoide ocorre na ampola da tuba uterina e evita a degeneração do corpo lúteo. A gonadotrofina coriônica humana (hCG) produzida pelas células trofoblásticas do embrião inibe a luteólise, mantendo o corpo lúteo funcionante. O corpo lúteo, por sua vez, sintetiza a progesterona, responsável pela manutenção da gestação nas primeiras 8 semanas. No final do período embrionário, o corpo lúteo atinge seu pico de vascularização e suas células apresentam-se hiperplasiadas e hipertrofiadas. Após 8 semanas de gestação, a placenta assume a produção de progesterona e o decaimento na produção de hCG leva à involução do corpo lúteo. A placenta produz esteroides em grande quantidade, tendo inúmeras e importantes funções para o desenvolvimento da gestação e adaptação do organismo materno ao concepto. Na prática clínica, é muito importante o diagnóstico precoce da gravidez, o que tantas vezes coloca em risco o prestígio do médico. Esse diagnóstico pode ser clínico, hormonal ou ultrassônico. DIAGNÓSTICO CLÍNICO O Ministério da Saúde orienta que toda mulher com história de atraso menstrual de mais de 15 dias deve ser orientada pela equipe de saúde a realizar o teste rápido de gravidez. No entanto, se o atraso menstrual for superior a 12 semanas, o diagnóstico da gestação pode ser clínico, através dos sinais, sintomas e do exame físico. Os principais sintomas que levam essas pacientes a procurar uma unidade de saúde são: atraso menstrual, fadiga, mastalgia, aumento da frequência urinária e náuseas/vômitos matinais. No exame físico, várias alterações estão presentes e uma série de sinais podem ser observados durante a inspeção, palpação, toque vaginal e ausculta. Para fins práticos, os principais sinais observados no corpo materno que podem ser úteis para a investigação da gestação são divididos em: sinais Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO de presunção, sinais de probabilidade e sinais de certeza. SINAIS DE PRESUNÇÃO Atraso menstrual: superior a 10- 14 dias; sinal cardinal da gestação precoce. AMENORREIA Alterações clínicas: náuseas, vômitos, tonturas, sialorreia, alteração no apetite, aumento da frequência urinária e fadiga. Modificações mamárias: aumento do volume das mamas, hipersensibilidade mamária, tubérculos de Montgomery (glândulas sebáceas hipertrofiadas que surgem nas aréolas primárias), saída de colostro pelas mamas, aparecimento da rede venosa de Haller (aumento da vascularização mamária), sinal de Hunter (aumento da pigmentação do mamilo, levando à perda da definição areolar). Alterações Cutâneas: estrias, melasma, linha nigra, sinal de Halban (aumento da lanugem nos limites do couro cabeludo). Aumento do volume abdominal SINAIS DE PROBABILIDADE Sinal de Piskacek: crescimento assimétrico do útero (perceptível durante a palpação abdominal). Sinal de Jacquemier: hipervascularização da vulva (coloração violácea vulvar) Sinal de Kluge: hipervascularização da vagina e colo uterino (cianose vaginal e cervical) Sinal de Osiander: pulsação da artéria vaginal (perceptível ao toque vaginal) Sinal de Hegar: amolecimento do istmo cervical Sinal de Nobile-Budin: preenchimento do fundo de saco pelo útero gravídico (perceptível ao toque bimanual); Regra de Godel: amolecimento do colo uterino (perceptível ao toque vaginal) SINAIS DE CERTEZA Sinal de Puzos: rechaço uterino ao toque vaginal Ausculta de batimento cardíaco fetal (BCF): detectados pelo sonar a partir da 12ª semana e pelo Pinard a partir da 20ª semana de gestação. DIAGNÓSTICO HORMONAL Constitui, atualmente, o melhor parâmetro para o diagnóstico de gravidez incipiente, de acordo com sua precocidade e exatidão. Apoia-se na produção Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO de gonadotrofina coriônica humana (hCG) pelo ovo. →Uma semana após a fertilização, o trofoblasto, implantado no endométrio, começa a produzir a hCG em quantidades crescentes, que podem ser encontradas no plasma ou na urina maternos. Há basicamente três tipos de testes para a identificação de hCG: imunológico, radioimunológico (RIA) e enzima-imunoensaio (ELISA). TESTES IMUNOLÓGICOS O hCG é uma proteína e, como tal, induz à formação de anticorpos (antissoro) em outros animais (p. ex., coelho). O antissoro é utilizado para identificar hormônios na urina a ser examinada, embora seja necessário tornar visível a reação; isso é possível, basicamente, com hemácias ou partículas de látex. É necessário observar se a urina está bastante concentrada, a fim de melhorar a sensibilidade dos testes. Prova de inibição da aglutinação do látex Denominada teste de lâmina, é de leitura rápida, com duração de poucos minutos. Apresenta dois inconvenientes: a imagem do resultado pode ser discutível e a sensibilidade é menor (1.500 a 3.500 UI/ℓ). Prova de inibição da hemaglutinação. Chamada teste de tubo, oferece leituras em 2 h, raramente de interpretação duvidosa, e com mais sensibilidade (750 a 1.000 UI/ℓ). Recentemente, foi lançada uma variante, na qual o antissoro (e não as hemácias) tem o hCG ligado, o que inverte a imagem dos resultados. Denomina-se hemaglutinação passiva reversa, utiliza dois anticorpos monoclonais (camundongo) e oferece sensibilidade desdeo nível de 75 UI/ℓ. Na prática, para que o exame seja realizado, aconselha-se que o atraso menstrual ultrapasse 10 a 14 dias. Assim, a prova de inibição da hemaglutinação oferece sensibilidade de 97 a 99%. Com a nova modalidade, afirma-se que o mesmo pode ser obtido com 1 a 3 dias de amenorreia. Medicamentos psicotrópicos, proteinúria e mulheres no climatério (reação cruzada com o LH, neste caso, em teor bem mais elevado) podem determinar resultados falso- positivos; os falso-negativos ocorrem em urinas de baixa densidade (grandes volumes nicteméricos, acima de 2 ℓ), na primeira ou na segunda semana do atraso menstrual e, ocasionalmente, durante o segundo trimestre, quando é mais baixo o limite inferior dos níveis de hCG. TESTES RADIOIMUNOLÓGICOS Testes radioimunológicos consistem na dosagem de hCG por método radioimunológico (RIA), com base na competição do hormônio em questão com traçador adequado (o próprio hormônio marcado com radioiodo), conforme a quantidade fixa de antissoro. A dificuldade nesse procedimento é a reação cruzada com LH hipofisário, que é corrigida ao se fazer a dosagem da subunidade beta do hCG, mais específica e, atualmente, a única de uso corrente (Vaitukaitis et al., 1972). A dosagem de β- hCG tem sensibilidade de 5 mUI/mℓ. Os resultados são obtidos em aproximadamente 4 h, o que torna possível aos laboratórios especializados o fornecimento de duas séries por dia. TESTE ELISA O enzima-imunoensaio (ELISA) apresenta a mesma base teórica do RIA; contudo, substitui o hormônio marcado com radioisótopo por enzima, capaz de atuar sobre um substrato incolor e originar produto colorido. A intensidade da cor obtida é proporcional à quantidade de hormônio. Sua principal vantagem é o maior tempo de vida útil, pois não contém radioisótopos (de atividade limitada). Para dosar o α- hCG, sua sensibilidade é de 25 mUI/mℓ. Sangue versus urina Com a urina (teste de farmácia), espera-se diagnóstico positivo pelo menos 1 dia antes da amenorreia; com o sangue, pelo menos 7. A dosagem do hCG na urina é apenas qualitativa. →Aconselha-se que o teste de farmácia seja realizado utilizando-se a primeira urina da manhã. DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO Com 4 a 5 semanas, na parte superior do útero, começa a aparecer formação arredondada, anelar, de contornos nítidos, que corresponde à estrutura ovular, denominada, em ultrassonografia, saco gestacional (SG). A partir de 5 semanas, é possível visualizar a vesícula vitelina (VV) e, com 6 semanas, o eco embrionário e a sua pulsação cardíaca (BCF). Em torno de 10 a 12 semanas, nota-se espessamento no SG, que representa a placenta em desenvolvimento e seu local de implantação no útero. Com 12 semanas, a placenta pode ser facilmente identificada e apresenta estrutura definida com 16 semanas. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →O diagnóstico laboratorial da gestação é, basicamente, realizado pela identificação da gonadotrofina coriônica humana (β-hCG). Essa identificação pode ser feita através de teste urinário ou exame de sangue da paciente, sendo que este último representa, atualmente, o exame padrão-ouro para confirmar a ocorrência da gravidez. O teste urinário avalia a presença ou não da β-hCG na urina da mulher, ou seja, oferece um resultado qualitativo (positivo ou negativo). Possui baixa taxa de resultados falso positivo, mas uma elevada taxa de falso negativo e, devido a isso, esse teste não é o mais indicado para o diagnóstico, uma vez que pode levar a atrasos no início do pré-natal. O exame do sangue periférico consiste na dosagem quantitativa de β-hCG no plasma sanguíneo e pode ser obtido entre 8 a 11 dias após a concepção. Os níveis plasmáticos de β-hCG aumentam rapidamente até atingir o pico entre 60 e 90 dias de gravidez. A variação dos níveis plasmáticos de β- hCG no decorrer da gestação pode ser observada na tabela 2. Na prática, níveis menores que 5mUI/mL são considerados negativos e acima de 25mUI/mL são considerados positivos. →O Ministério da Saúde, através do Programa Rede Cegonha, instituiu o teste rápido de gravidez que pode ser realizado nas Unidades de Saúde como forma de acelerar o diagnóstico de gravidez e, consequentemente, o início do pré- natal. APRESENTAR DADOS EPIDEMIOLOGICOS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCENCIA E SEUS PRINCIPAIS FATORES Os adolescentes – indivíduos com idades entre 10 e 20 anos incompletos – representam entre 20% e 30% da população mundial; estima-se que no Brasil essa proporção alcance 23%. Dentre os problemas de saúde nessa faixa etária, a gravidez se sobressai em quase todos os países e, em especial, nos países em desenvolvimento. Segundo a Organização Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Mundial de Saúde (OMS), a gestação nesta fase é uma condição que eleva a prevalência de complicações para a mãe, para o feto e para o recém-nascido, além de agravar problemas socioeconômicos já existentes. A taxa de gestação na adolescência no Brasil é alta, com 400 mil casos/ano. Quanto à faixa etária, os dados revelam que em 2014 nasceram 28.244 filhos de meninas entre 10 e 14 anos e 534.364 crianças de mães com idade entre 15 e 19 anos. Esses dados são significativos e requerem medidas urgentes. Diversos fatores concorrem para a gestação na adolescência. No entanto, a desinformação sobre sexualidade e direitos sexuais e reprodutivos é o principal motivo. Questões emocionais, psicossociais e contextuais também contribuem, inclusive para a falta de acesso à proteção social e ao sistema de saúde, englobando o uso inadequado de contraceptivos. GRAVIDEZ NA ADOLESCENCIA Gravidez na adolescência é aquela consignada entre 10 e 19 anos, considerando-se a idade da paciente por ocasião do parto. Enquanto a grande maioria das estatísticas ressalta a gravidez na adolescência no grupo entre 15 e 19 anos, este evento pode ser ainda mais precoce, manifestando-se entre mulheres de 10 a 14 anos. Este grupo de especial interesse merecerá análise pormenorizada por apresentar particularidades clínicas. No Brasil, país de escassos estudos epidemiológicos, Pinto & Silva (1998) mostram-nos que cerca de 15 a 25% dos partos feitos na rede pública de saúde são de pacientes adolescentes, estimando a Organização Mundial da Saúde o índice de fecundidade nas brasileiras entre 15 e 19 anos de 71 por 1.000 adolescentes (WHO, 1999). FATORES PREDISPONENTES Etnia: Negras americanas têm um risco relativo 7 vezes maior do que as brancas para engravidar no grupo entre 10 e 14 anos, bem como apresentam maior probabilidade de conceber novamente na adolescência. Pobreza: Condição social desfavorável é elemento claro da gravidez na adolescência. Mulheres sem perspectivas de vida, que vivem em condições habitacionais precárias, excluídas do sistema preventivo de saúde e sem acesso a métodos contraceptivos são extremamente vulneráveis para gravidez. Escolaridade: Mulheres com menor grau de escolaridade são mais propensas a engravidar na adolescência. Demonstrou-se que adolescentes que estudaram menos de 12 anos têm cerca de 6 vezes mais risco de engravidar do que as com mais anos de estudo. Demais, quanto maior o número de anos dedicados ao estudo, maiores são as oportunidades de trabalho e é inevitável a postergação da maternidade para o momento mais oportuno na vida profissional. Urbanização: a urbanização trouxe consigo melhor assistência à saúde, acesso a informações e métodos contraceptivos, condições de trabalho mais favoráveis e oportunidade de continuar os estudos, diminuindo a incidência de gravidez na adolescência. Entre as mulheres de áreas rurais, 24% das grávidas são adolescentes; já nas áreas urbanas este percentual diminui para 16%. Estado marital: Enquanto nos países desenvolvidos poucas são as mulheres que se casam ou experimentam algum tipo de união com menos de 18 anos, nos países em desenvolvimentoestas práticas são muito comuns. Se por um lado cerca de 50% das adolescentes da África Subsaariana casam-se com menos de 18 anos, 20 a 40% casam-se na América Latina e no Caribe na mesma idade, entre 10 e 15% nos EUA e apenas 3 a 4% na Alemanha e Polônia. Nas culturas em que o casamento ou a união entre adolescentes são incentivados, observa-se maior índice de fecundidade nesta população. Todavia, mesmo nos países em que a união entre adolescentes não é socialmente aceita, a gravidez neste período representa problema grave. Idade da primeira relação sexual: Cada vez mais cedo se tem dado o primeiro intercurso sexual, o que representa risco de gravidez se associado ao sexo desprotegido, combinação que poderá resultar em evento infeliz para nossas adolescentes. Intercurso sexual sem contracepção: Há pensamento mítico, muito prevalente, de que não se engravidaria no coito inicial. Este evento ainda é cercado de tabus que dificultam postura afirmativa no que se refere ao uso de contracepção na primícia sexual. Não se pode olvidar neste mister de que não apenas a gravidez na adolescência está em pauta, como também o risco de adquirir doenças sexualmente transmissíveis, mais um elemento a fragilizar a população adolescente. Violência Sexual: Coito forçado tem sido incriminado como causa de gravidez na adolescência. No Brasil, o abuso sexual ainda é tema velado. Sob a chancela do medo, muitas vezes protegendo familiares, cria-se uma cortina de fumaça para encobrir casos de violência sexual. Não são raros os relatos de adolescentes após a menarca serem forçadas ao coito por familiares, “prima noche”, notadamente nas periferias e em comunidades de baixo nível socioeconômico. Ainda que a legislação brasileira permita o abortamento Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO nestes casos, diversas são as barreiras que as mulheres têm de enfrentar para fazer valer este direito. Muitas delegacias de polícia ainda são insensíveis ao drama dessas mulheres. Tratando-se de adolescentes vítimas de violência sexual, em muito vigora o princípio machista de que a jovem fora sensual e recebera o que merecia; poucas são as delegacias de proteção às mulheres; nossas maternidades ainda não estão todas capacitadas para prestar os primeiros atendimentos às pacientes que sofreram abuso sexual, e o abortamento legal é incipiente nos casos de estupro. Muitos são os desafios nesta área. Uso de Substâncias Tóxicas: O uso de entorpecentes foi arrolado como fator de risco para gravidez na adolescência. Como são substâncias que afetam o nível de consciência e a capacidade de julgamento, não seria desarrazoado supor o envolvimento de drogas (lícitas e ilícitas) na gênese da gravidez na adolescência. Infelizmente, as repercussões da drogadição estendem-se durante a gravidez, vez que as usuárias continuam a fazer uso destas substâncias tóxicas, culminando com resultados obstétricos e perinatais desfavoráveis: cocaína – descolamento prematuro de placenta; álcool – síndrome alcoólica fetal; cigarro – restrição de crescimento intrauterino e morte perinatal; maconha – ainda que os resultados não sejam uniformes, parece haver aumento na probabilidade de conceptos pequenos para a idade gestacional. Desejo Reprodutivo: Os que militam na Obstetrícia não estranharão a assertiva de que muitas adolescentes querem engravidar. Partir dessa premissa é importante para se aceitar que nem toda gravidez na adolescência é indesejada. Devemos entender a mensagem das adolescentes que dizem – e elas muitas vezes dizem – que quiseram engravidar. Fatores que aumentam os riscos da gestação na adolescência: -idade menor que 16 anos ou ocorrência da primeira menstruação há menos de 2 anos (fenômeno do duplo anabolismo: competição biológica entre mãe e feto pelos mesmos nutrientes); - altura da adolescente inferior a 150 cm ou peso menor que 45kg; - adolescente usuária de álcool ou de outras drogas lícitas ou ilícitas (cocaína/crack ou medicamentos sem prescrição médica); - gestação decorrente de abuso/estupro ou outro ato violento/ameaça de violência sexual; – existência de atitudes negativas quanto à gestação ou rejeição ao feto; – tentativa de interromper a gestação por quaisquer meios; – dificuldades de acesso e acompanhamento aos serviços de pré-natal; – não realização do pré-natal ou menos do que seis visitas de rotina; – presença de doenças crônicas: diabetes, doenças cardíacas ou renais; infecções sexualmente transmissíveis; sífilis, HIV, hepatite B ou C; hipertensão arterial; – presença de doenças agudas e emergentes: dengue, zika, toxoplasmose, outras doenças virais; – ocorrência de pré-eclâmpsia ou desproporção pélvica-fetal, gravidez de gêmeos, complicações obstétricas durante o parto, inclusive cesariana de urgência; – falta de apoio familiar à adolescente. PREVENÇÃO DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA Um dos mais importantes fatores de prevenção é a educação. Educação sexual integrada e compreensiva faz parte da promoção do bem-estar de adolescentes e jovens ao realçar a importância do comportamento sexual responsável, o respeito pelo/a outro/a, a igualdade e equidade de gênero, assim como a proteção da gravidez inoportuna, a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis/HIV, a defesa contra violência sexual incestuosa, bem como outras violências e abusos. Organizações internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) orientam que os guias metodológicos e operacionais sejam fundamentados em princípios e valores dos direitos humanos e sexuais, sem distinção étnica, de gênero, religiosa, econômica ou social, com o uso de informações exatas e cuidadosas, cientificamente comprovadas. A garantia de desenvolvimento integral na adolescência e juventude é uma responsabilidade coletiva que precisa unir família, escola e sociedade para articular-se com órgãos e instituições, públicas e privadas na formulação de políticas públicas de atenção integral à saúde em todos os níveis de complexidade, embasando-se em situações epidemiológicas, indicadores e demandas sociais, respeitando os princípios do Sistema Único de Saúde. Fatores que aumentam os riscos para o recém- nascido (RN) ou lactente até o primeiro ano de vida, quando nascido de mãe adolescente: Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO – RN prematuro, pequeno para idade gestacional ou com baixo peso (retardo intrauterino); – RN com menos do que 48 cm ou com peso menor do que 2.500 g; – nota inferior a 5 na Classificação de Apgar (escala que avalia as condições de vitalidade do RN), na sala de parto ou se o parto ocorreu em situações desfavoráveis; – RN com anomalias ou síndromes congênitas (Síndrome de Down, defeitos do tubo neural ou outras); – RN com circunferências craniana, torácica ou abdominal incompatíveis; – RN com infecções de transmissão vertical ou placentária: sífilis, herpes, toxoplasmose, hepatites B ou C, zika, HIV/AIDS e outras; – RN que necessita de cuidados intensivos em UTI neonatal; – RN com dificuldades na sucção e na amamentação; – RN que passe por problemas de higiene e cuidados no domicílio ou no contexto familiar, com negligência ou abandono; – falta de acompanhamento médico pediátrico em visitas regulares e falhas no esquema de vacinação. PROBLEMA 2 INTERMEDIARIA ELUCIDAR SOBRE A EMBRIOLOGIA DA PRIMEIRA SEMANA ATÉ A QUARTA SEMANA DE GESTAÇÃO 1ªSEMANA: Eventos importantes: ➢ Clivagem do zigoto; ➢ Formação do Blastocisto; ➢ Inicio da implantação. O início da primeira semana é marcado pela CLIVAGEM DO ZIGOTO, que é uma sequência de divisões mitótico que o zigoto percorre a caminho do útero, que vai resultar no rápido aumento no número de células. O zigoto é envolvido pela zona pelúcia e é uma célula diploide com 46 cromossomos, sendo23 da mãe e 23 do pai. A clivagem ela começa em cerca de 30 horas após a fecundação. Essa clivagem vai ser dividia em: ➢ Estágio de 2 células; ➢ Estágio de 4 células; ➢ Estágio de 8 células; →No estágio de 12 a 32 células será chamado de MÓRULA. →A mórula quando chega no útero se transforma em BLASTOCISTO, que será a reorganização das células. Essa reorganização vai acontecer por conta da entrada do liquido presente no útero. →Assim, conforme o líquido entra temos uma separação de células em 2 partes: uma camada delgada celular externa - Trofoblasto que formará parte embrionária da placenta. E o embrioblasto que formará o embrião. Formando uma cavidade preenchida pelo liquido (BLASTOCELE), além disso nessa etapa a zona pelúcia vai desaparecendo. Aproximadamente no sétimo dia, o blastocisto vai se conectar superficialmente na parede do útero (endométrio), pois o blastocisto só consegue se desenvolver se ele estiver dentro do útero. Esse Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO processo é chamado de INICIO DA IMPLANTAÇÃO. OBSERVAÇÃO: Erros pode acontecer durante a clivagem, o mais comum é a não disjunção, que irá gerar 2 células com o número de cromossomos diferente, condição chamada de MOSAICISMO. Essa condição pode acontecer também durante a gametogênese. 2ªSEMANA: Eventos importantes: ➢ Diferenciação do trofoblasto; ➢ Diferenciação do embrioblasto; ➢ Término da implantação. O evento da segunda semana do desenvolvimento embrionário é a implantação do blastocisto. Ela ocorre durante a segunda semana, em um período restrito, entre o 6º e o 10º dia após a ovulação. Na segunda semana as células do trofoblasto começam a invadir o endométrio formando uma camada de células chamadas de SINCICIOTROFOBLASTO e a camada que restou passa a ser chamada de CITOTROFOBLASTO. →As células do sinciciotrofoblasto é responsável pela secreção do hormônio HCG. 10º dia! →Conforme o blastócitos implanta mais o trofoblasto se diferencia assim o sincíciotrofoblasto que é o erosivo invade o tecido conjuntivo endometrial incorporando o blastocisto no endométrio essas alterações endometriais são chamadas de REAÇÃO DECIDUAL, onde as células do sinciciotrofoblasto que as engloba servem como fonte de nutrientes para o embrião, e o cintotrofoblasto forma novas células que migram para a massa crescente do sinciciotrofoblasto. • O embrioblasto também irá se diferenciar em duas camadas; uma camada superior (EPIBLASTO) e camada inferior (HIPOBLASTO). →No epiblasto forma-se uma cavidade chamada de CAVIDADE AMNIÓTICA essa cavidade vai ser revertida por células AMNIONBLASTOS que irão produzir o LIQUIDO AMNIÓTICO. →O epiblasto e o hipoblasto irão formar o DISCO EMBRIONÁRIO BILAMINAR. Outra mudança será a formação do SACO VITELÍNICO PRIMITIVO. →O hipoblasto e a membrana exocelômica revestem a vesícula vitelina primária; →As células do endoderma da vesícula produzem uma camada de tecido conjuntivo, o mesoderma extraembrionário que envolve o âmnio e a vesícula umbilical. →Quando se forma o âmnio, o disco embrionário e a vesícula umbilical, o sincíciotrofoblasto desenvolve as lacunas, onde circula sangue materno que fornece material nutritivo ao embrião, estabelecendo a CIRCULAÇÃO ÚTERO PLACENTÁRIA PRIMITIVA onde os nutrientes e o oxigênio é passado de célula a células por difusão. ➢ O sangue oxigenado passa pelas lacunas a partir das artérias endometriais espiraladas -células NK, e o sangue pouco oxigenando é removido pelas veias endometriais; ➢ No 10º DIA o concepto está completamente implantado ocorrendo o tampão; ➢ Com a formação do celoma extraembrionario, a vesícula umbilical diminui de tamanho e se forma uma pequena vesícula umbilical secundária; ➢ O celoma extraembrionário divide o mesoderma extraembrionário em: MESODERMA SOMÁTICO EXTRAEMBRIONÁRIO que reveste o trofoblasto e cobre o âmnion, e em MESODERMA EXPLANEMICO EXTRAEMBRIONÁRIO que envolve a vesícula umbilical. O MESODERMA SOMÁTICO e as 2 camadas do trofoblasto formam o: corion (membrana fetal mais externa) que forma a parede do saco coriônico; O embrião, o saco amniótico e a vesícula umbilical estão suspensos dentro do saco coriônico pelo pedículo do de conexão; →Existe também o MESODERMA EXTRAEMBRIONARIO que formam diversas cavidades até da origem a CAVIDADE CORIÔNICA envolto por uma parede chamada de PLACA CORIÔNICA que da origem a PLACENTA e PEDÍCULO DE EMBRIÃO, futuramente vai da origem ao CORDÃO UMBILICAL. ➔AO final da segunda semana, o embrião tem a forma de um disco bilaminar constituído pelo ectoderma e pelo endoderma embrionário, havendo a formação das cavidades amniótica e coriônica; LEMBRETE: 4º dia: a mórula ainda estava solta na cavidade uterina. 5º dia: zona pelúcida se degenera e o blastocisto cresce. 6º dia: blastocisto adere ao endométrio. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO 7º dia: o trofoblasto sobre uma transformação e vira o citotrofoblasto e sincíciotrofoblasto. 8º dia: o sincíciotrofoblasto penetra no endométrio, causando a reação decidual. 9º dia: a reação decidual dá origem às lacunas. 10º e 11º dias: As lacunas precisam ser tamponadas, senão o sangue vai extravasar e tanto a mãe quanto o feto serão prejudicados. Então surge o tampão e, com isso as redes lacunares se formam. 11º e 12º dias: ocorre a formação da circulação úteroplacentária. 13º e 14º dias: As vilosidades coriônicas são formadas, conferindo assim uma barreira hematoplacentária, que tem uma maior capacidade e eficiência na hora de conduzir os nutrientes da mãe para o embrião. 3ªSEMANA: Eventos importantes: ➢ Gastrulação; ➢ Formação da notocorda; ➢ Neurulação; ➢ Formação dos somitos do alantoide; ➢ Desenvolvimento do sistema cardiovascular. GASTRULAÇÃO Que irá estabelecer as 3 camadas germinativas; ECTODERME, MESODERME E ENDODERME. →GASTRULAÇÃO! ➢ Durante a gastrulação o disco embrionário bilaminar é de ver convertido em um disco embrionário trilaminar; →O ECTODERME da origem a epiderme, ao sistema nervoso central, sistema nervoso periférico, olhos e ouvidos , a células da crista neural e tecidos conjuntivos da cabeça; →O MESODERMA da origem aos músculos esqueléticos, células sanguíneas, revestimento dos vasos sanguíneos, musculatura lisa visceral, ductos e órgãos tema do sistema genital e escritor, no tronco forma ossos, cartilagens, tendões, ligamentos; →O ENDODERMA é a fonte de revestimento epitelial do sistema respiratório e digestivo, incluindo glândulas e células glandulares do sistema digestório como fígado e pâncreas; Na 3ª semana temos o aparecimento da linha primitiva e desenvolvimento da notocorda; →Conforme a linha primitiva se alonga, a extremidade cranial prolífera para a formação do nó primitivo; →Após o aparecimento da linha primitiva as células migram de sua superfície profunda para formar o MESÊNQUIMA, um tecido conjuntivo embrionário que forma os tecidos de sustentação do embrião e se diferenciar se diferenciará em mesoblasto (Mesoderma indiferenciado) que forma o MESODERMA INTRAEMBRIONÁRIO; →As células do epiblasto deslocamento o hipoblasto formando o ENDODERMA EMBRIONÁRIO no teto da vesícula umbilical, e as células do epiblasto formam o ECTODERMA EMBRIONÁRIO; →As células mesênquimais se diferenciam em FIBROBLASTOS, CONDROBLASTOS E OSTEOBLASTOS; PROCESSO NOTOCORDAL Durante o processo de gastrulação há a formação da linha primitiva: resultado da proliferação e migração de células do epiblasto para o plano mediano do disco embrionário. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Na sua extremidade cefálica SURGE O NÓ PRIMITIVO, com uma pequena depressão no centro chamado fosseta primitiva e ao longo da linha forma-se o SULCO PRIMITIVO. Diante disso, essas células migram cefalicamente do nó e da fosseta primitiva, formandoum cordão celular mediano, o chamado PROCESSO NOTOCORDAL. →Logo após a sua formação, esse processo adquire um lúmen, O CANAL NOTOCORDAL; →O processo notocordal então irá crescer cranialmente entre o ectoderma e o endoderma até alcançar uma estrutura chamada DE PLACA PRÉ- CORDAL (pequena área circular de células endodérmicas cilíndricas no qual o ectoderma e o endoderma se fundem). →A placa pré-cordal dá origem ao endoderma da membrana orofaríngea, que se localiza no futuro local da cavidade oral. Ademais, essa placa funciona como um centro sinalizador para o controle do desenvolvimento das estruturas cranianas, incluindo o prosencéfalo e os olhos. →Outra estrutura importante é o mesoderma pré- cordal, uma população mesenquimal que tem origem na crista neural da notocorda; →A notocorda define o eixo longitudinal primordial do embrião e dá a ele alguma rigidez; →Além de fornecer sinais necessários para o desenvolvimento das estruturas musculoesqueléticas axiais e do sistema nervoso central, além de também contribuir para a formação dos discos intervertebrais; Sabe-se que após o surgimento do canal notocordal e com o desenvolvimento do processo notocordal, ele se torna um tubo celular, que se estende cranialmente a partir do nó primitivo até a placa pré-cordal. Dando seguimento ao desenvolvimento, o assoalho do processo notocordal se funde com o endoderma embrionário subjacente, que se degeneram gradualmente, favorecendo a formação de aberturas no assoalho do processo notocordal, o que permite uma comunicação entre esse canal e a vesícula umbilical. Conforme essas aberturas confluem, o assoalho do canal notocordal desaparece e o restante do processo notocordal forma uma estrutura conhecida como PLACA NOTOCORDAL. →A região proximal do canal notocordal persiste por um tempo, sendo chamado de canal neuroentérico, formando uma comunicação entre a cavidade amniótica e a vesícula umbilical. Mas, com o desenvolvimento completo da notocorda, esse canal, normalmente, se fecha. Na extremidade cranial, as células da placa notocordal começam a se proliferar e sofrem um dobramento, que forma a notocorda. →A notocorda tem como função ser um indutor primário no embrião inicial. Ela induz o ectoderma a se espessar e formar a placa neural, o primórdio do sistema nervoso central (SNC). NEURULAÇÃO →Processo de formação da placa neural e das pregas neurais, além do fechamento dessas pregas, para formar o tubo neural. Ela está completa até o final da 4ª semana de gestação, quando ocorre o fechamento do neuroporo caudal. A placa neural é o primórdio do SNC. Diante disso, sabe-se que o neuroectoderma dessa placa dá origem ao SNC, o encéfalo e a medula espinhal, além de ser fonte de várias outras estruturas como, por exemplo, a retina. Ademais, observa-se que, aproximadamente, no 18ª dia, a placa neural se invagina ao longo do seu eixo central, formando o sulco neural mediano longitudinal, com pregas neurais em ambos os lados, sendo a proeminência delas na extremidade cranial do embrião o primeiro sinal do desenvolvimento do encéfalo. →Ao final da 3ª semana essas pregas se fundem e transformam a placa neural em um tubo neural, primórdio da medula espinhal. A neurulação se completa durante a 4ª semana. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →À medida que as pregas neurais se fundem para formar o tubo neural, o tubo neural se separa do ectoderma superficial, e as células da crista neural formam uma massa achatada e irregular, a chamada crista neural, situada entre o tubo neural e o ectoderma superficial acima. Logo após sua formação, ela se separa em porções (direita e esquerda), que se deslocam para os aspectos dorsolaterais do tubo neural, onde dão origem aos gânglios sensoriais dos nervos espinhais e cranianos. →Os gânglios dos nervos cranianos (V, VII, IX e X) são parcialmente derivados das células da crista neural. Além disso, a crista neural contribui para a formação das leptomeninges (aracnoide e pia- máter). DESENVOLVIMENTO DOS SOMITOS DO ALANTOIDE Além da notocorda, as células derivadas do nó primitivo formam o mesoderma para-axial. Próximo ao nó primitivo, essa população celular aparece como uma coluna espessa e longitudinal de células. Ao final da 3ª semana, o mesoderma paraxial se diferencia, se condensa e começa a se dividir em corpos cuboides pareados, OS SOMITOS. Esses blocos de mesoderma estão localizados em cada lado do tubo neural em desenvolvimento. Cerca de 38 pares de somitos se formam entre 20 e 30 dias após o início do desenvolvimento do embrião. →Ao final da quinta semana, 42 a 44 pares de somitos estão presentes. Eles formam elevações na superfície do embrião e são um pouco triangulares em secções transversais. Inicialmente, os somitos surgem na futura região occipital da cabeça do embrião e logo se desenvolvem crânio-caudalmente. Dão origem à maior parte do esqueleto axial e à musculatura associada, assim como à derme da pele adjacente. →Como os somitos são bem proeminentes durante a quarta e a quinta semanas, eles são utilizados como um dos vários critérios para a determinação da idade do embrião através da ultrassonografia. ALANTÓIDE Surge no 16º dia por meio de uma evaginação na região caudal que cresce em direção ao pedículo do embrião, formando uma membrana com a função da formação de ligamento, artérias e veias umbilicais, que serviram a placenta; DESENVOLVIMENTO DO CELOMA INTRAEMBRIONÁRIO →O celoma intraembrionário é a cavidade do corpo do embrião e surge como espaços celômicos isolados no mesoderma intraembrionário lateral e no mesoderma cardiogênico; →Esses espaços logo se unem para formar uma única cavidade em formato de ferradura, o celoma intra-embrionário, que divide o mesoderma lateral em duas camadas: camada somática ou parietal e camada esplâncnica ou visceral. →O mesoderma somático e o ectoderma embrionário acima deste formam a parede do corpo do embrião ou somatopleura, enquanto o mesoderma esplâncnico e o endoderma embrionário Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO abaixo deste formam o intestino embrionário ou esplancnopleura. SISTEMA CARDIOVASCULAR PRIMITIVO →Composto por vasos sanguíneos e pelo coração; VASCULOGÊNESE E ANGIOGÊNESE →A formação do sistema vascular embrionário envolve dois processos, a vasculogênese e a angiogênese. → A vasculogênese é a formação de novos canais vasculares pela união de precursores individuais celulares (angioblastos). →A angiogênese é a formação de novos vasos pelo brotamento e ramificação de vasos pre-existentes. →A formação de vasos sanguíneos no embrião e nas membranas extraembrionárias, durante a terceira semana, começa quando as células mesenquimais se diferenciam em precursores das células endoteliais, ou angioblastos (células formadoras de vasos). Os angioblastos se agregam para formar aglomerados célulares angiogênicos isolados, as ilhotas sanguíneas, que apresentam pequenas cavidades em seu interior. Os angioblastos se achatam para formar as células endoteliais ao redor das cavidades das ilhotas sanguíneas, dando origem ao endotélio. Muitas dessas cavidades revestidas por endotélio se fusionam e formam uma rede de canais endoteliais (vasculogênese). →Vasos se ramificam nas áreas adjacentes por meio do brotamento endotelial (angiogênese) e se fundem com outros vasos. As células mesenquimais ao redor dos vasos sanguíneos endoteliais primitivos se diferenciam nos elementos de tecido muscular e tecido conjuntivo da parede dos vasos sanguíneos. →As células sanguíneas se desenvolvem a partir de células endoteliais especializadas dos próprios vasos e depois em locais especializados ao longo da aorta dorsal. →Células sanguíneas progenitoras também se originam diretamente de células-tronco hematopoiéticas. A hematogênese não começa no embrião até a quinta semana. Primeiro,ela ocorre ao longo da aorta e, depois, em várias regiões do mesênquima embrionário, principalmente no fígado e no baço, na medula óssea e nos linfonodos. 4ª à 8ª SEMANA: Período marcado pela formação dos órgãos do embrião, localização correta desses órgão e aonde o embrião irá assumir um formato humano e passará a ser chamado de FETO. OBSERVAÇÃO: É um período muito perigoso também, pois o feto fica susceptível a teratogênese, que é qualquer agente capaz de interferir no desenvolvimento do embrião como; álcool, drogas, vírus… Podendo causar deformações. Esse período será dividido em 3 fases: ➢ Crescimento: divisão celular; ➢ Morfogênese: desenvolvimento da forma, tamanho e outras características; ➢ Diferenciação: As células assumem suas funções no tecido. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Evento importante: Dobramento do embrião- DOBRAMENTO DO DISCO EMBRIONÁRIO TRILAMINAR que se dobra para formar um estrutura semelhante a um ser, ao mesmo tempo o ectoderma vai se espessando próximo a região do crânio formando 2 pregas; uma PREGA CEFÁLICA e uma PREGA CALDAL que irão invadindo a vesícula umbilical que formará um canal chamado de Intestino, o INTESTINO ANTERIOR origina o esôfago, laringe e faringe; INTESTINO MÉDIO que origina o estômago e o intestino, INTESTINO POSTERIOR que origina o anus e alguns órgãos do trato urinário. Outra estrutura que se destaca é o CORAÇÃO que ao passar dos dias ele vai migrando para seu local fixo e criando volume. 4ª SEMANA: ➢ Presença de somitos; ➢ Finalização do tubo neural; ➢ Formação do arco faríngeo; ➢ Surgimento do futuro local do olho e nariz; ➢ Inicio dos MMI e MMS. →É onde o disco trilaminar sofre um processo de desdobramento; →No início o embrião é quase reto e possui de 4 a 12 somitos que produzem elevações visíveis na superfície; →O tubo neural é formado em frente ao somitos, mas é amplamente aberto nos neuroporo rostral e caudal; → Com 24 dias, os primeiros Arcos faríngeos estão visíveis. O primeiro arco faríngeo -- arco mandibular está nítido;→ origina a mandíbula e a extensão rostral do arco, a proeminência maxilar, contribui com a formação da maxila superior; →O embrião está levemente curvado em formação das pregas cefálica e caudal; →O coração forma uma grande proeminência cardíaca ventral e bombeiros sangue; →O neuroporo rostral está fechado; →O prosencéfalo produz uma elevação proeminente na cabeça e o dobramento do embrião lhe causa uma curvatura em forma de C; →Os brotos dos membros superiores (pequena dilatação na parte ventral lateral do corpo), as fossetas ópticas, (primórdio das orelhas internas) e os espessamentos ectodérmicos (placóides cristalinos) são visíveis; → uma longa eminência caudal é a característica típica; EXPLICAR O MECANISMO DE AÇÃO DO ACIDO FOLICO E SUA IMPORTANCIA NA GRAVIDEZ OL-metilfolato, por se tratar da forma ativa da vitamina, não necessita de metabolização. Pode ser utilizado, com boa eficácia, para a prevenção de defeitos do tubo neural (DTNs) em mulheres sabidamente portadoras de polimorfismo, bem como naquelas que desconhecem essa condição, quando comparado às demais formas de folato e ácido fólico. A recomendação quanto à ingestão diária adequada de folato para todas as mulheres em idade fértil, a fim de reduzir o risco de defeitos congênitos do tubo neural, teve início na década de 1990, sob orientação do Serviço de Saúde Pública americano, após estudos relacionarem o aumento das concentrações de homocisteína à presença dessas malformações congênitas. A incidência dos DTNs está em torno de 1:1.000 nascimentos. A anencefalia e a espinha bífida têm prevalência semelhante, representando 95% dos casos, enquanto a encefalocele é responsável por 5% dos DTNs. Atualmente, a suplementação periconcepcional com folato é universalmente aceita por diminuir a ocorrência e a recorrência de defeitos abertos do tubo neural. É recomendada para todas as mulheres durante a menacme, incluindo as que planejam gravidez e aquelas que não fazem uso de métodos contraceptivos. Essa ampla recomendação baseia- se no grande número de gestações não planejadas, e no fato de o fechamento do tubo neural acontecer antes que muitas mulheres tenham a confirmação diagnóstica da sua gestação. A orientação pré-concepcional sobre a necessidade e a importância da suplementação deve ser abordada durante a consulta médica, pois muitas mulheres Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO desconhecem essa recomendação ou não a seguem pelo custo ou inconveniência. O folato, ou vitamina B9, faz parte do grupo de vitaminas essenciais. O folato alimentar é um nutriente natural e pode ser encontrado em folhas verdes, legumes, gema de ovo, fígado, leite e frutas cítricas. O ácido fólico é um suplemento dietético, sintético e hidrossolúvel presente em alimentos enriquecidos artificialmente e em suplementos vitamínicos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução RDC nº 344, estabeleceu a fortificação de farinhas de trigo e de milho e seus subprodutos com ácido fólico, devendo cada 100 g do produto fornecer uma quantidade mínima de 150 mcg da vitamina. O folato e o ácido fólico devem passar por processos enzimáticos necessários à metabolização para a forma ativa L-5- metiltetrahidrofolato (L-metilfolato, 5-MTHF), que circula no plasma e está envolvida nos processos biológicos. Esse processo é fundamental para fornecer 5-MTHF para as reações de transferência de carbonos, necessárias para a síntese de purina e pirimidina durante a síntese de ácido desoxirribonucleico (DNA) e de ácido ribonucleico (RNA), para a metilação do DNA e para regular o metabolismo da homocisteína. A deficiência de folato pode ser observada em situações em que há ingestão alimentar insuficiente, dificuldade de absorção e aumento da necessidade, da excreção e da destruição. O erro alimentar responde pela baixa ingestão de folato, condição também comum na população idosa, nos adolescentes e nos usuários de drogas. Mulheres e crianças são os grupos mais vulneráveis para a deficiência dessa vitamina. Durante a gestação, há aumento da demanda de folato, e sua deficiência pode levar a defeitos graves na formação do tubo neural. Alguns fármacos interferem na síntese de DNA por interferirem na absorção, metabolização e utilização do folato no organismo. A principal droga antagonista do folato é o metotrexato, que atua como potente inibidor da DHFR. A inibição dessa enzima leva a defeitos de metilação que comprometem a síntese de DNA, acarretando eritropoiese ineficaz. Outros inibidores dessa enzima são a pentamidina, a trimetoprima, o triantereno e a pirimetamina. Os anticonvulsivantes, tais como fenitoína, fenobarbital e primidona, competem com o folato por receptores intestinais, cerebrais e de outras superfícies celulares, estando associados ao desenvolvimento de macrocitose em até 40% dos usuários. A sulfassalazina provoca diminuição na absorção de folato. O uso excessivo de álcool frequentemente torna os usuários deficientes em folato, tendo em vista que o álcool interfere no seu metabolismo. Outras condições médicas ou cirúrgicas associadas à má absorção incluem doença inflamatória intestinal, cirurgia bariátrica, ressecção intestinal importante ou circulação extracorpórea; condições menos comuns incluem doença celíaca documentada, doença hepática significativa e insuficiência renal que requer diálise. CONCLUSÃO: A suplementação Peri concepcional de folato protege contra anomalias estruturais fetais, incluindo DTNs. Mulheres em idade reprodutiva, portadoras ou não de polimorfismo genético nos genes que regulam o metabolismo do folato, podem se beneficiar da suplementação com L-metilfolato, forma ativa do ácido fólico. A suplementação deve ser iniciada ao menos 30 dias antes da provável concepçãoe mantida até o final do primeiro trimestre da gestação. →O método mais eficaz de prevenção de DTN é o uso do ácido fólico Peri concepcional, isto é, deve ser iniciado ao menos um mês antes da concepção e mantido até o final do primeiro trimestre da gestação. A ingestão diária de ácido fólico para gestantes mais preconizada é de 400 mcg ou 0,4 mg diários para casos de baixo risco e dez vezes mais (4 mg por dia) para as mulheres com alto risco de DTN. DISCORRER SOBRE ULTRASSOM, DUM, E IDADE GESTACIONAL ÚLTIMA MENSTRUAÇÃO A gravidez é datada do 1º dia do último período menstrual. A duração média da gestação é de 280 dias (40 semanas), e isso fornece a data provável do parto, assumindo que: O ciclo é de 28 dias. A ovulação ocorreu geralmente no 14 o dia do ciclo. O ciclo foi normal, ou seja, não ocorreu imediatamente após a parada de contracepção oral ou após gravidez anterior. Na prática usa-se a regra de Nägele, que consiste em adicionar à data da última menstruação + 7 dias e mais 9 meses (ou menos 3 meses, quando se faz o cálculo retrógrado). Por exemplo, se a última menstruação foi em 10 de novembro (mês 11), temos 10 + 7 = 17, e 11 – 3 = 8, portanto, 17 de agosto (mês 8) será a data provável do parto. Aparentemente, a gravidez, assim avaliada, não teria os 280 dias de duração média que lhe foram atribuídos (9 × 30 = 270 + 7 = 277). No entanto, há correspondência perfeita: no decurso de 9 meses, como norma, 3 ou 4têm 31 dias e essa diferença (de 1 dia) torna a regra de Nägele a mais aproximada dos referidos 280 dias. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO MOVIMENTOS FETAIS Aproximadamente com 18 semanas de gravidez, indistintamente, primíparas e multíparas começam aperceber os movimentos fetais (MF), que constituem, na ausência de informações sobre a última menstruação, outro elemento clínico para o cálculo da idade da gravidez. AUMENTO DO VOLUME UTERINO O útero pode ser palpado no abdome, a partir de 12 semanas. À medida que a gestação avança, o fundo uterino mostra-se gradativamente mais alto, distanciando-se da sínfise púbica. Na primeira metade da gestação, a mensuração do fundo de útero é bom indicador para o cálculo da idade da gravidez. Na segunda metade, embora ele cresça cerca de 4 cm/mês, as variações são maiores e os erros, mais comuns. Com 16 semanas, o fundo de útero estará a meia distância entre a sínfise púbica e o umbigo; com 20 semanas, nesse, e ao termo, próximo das rebordas costais. Nas primíparas, 2 semanas antes do parto, em decorrência da queda do ventre, pela insinuação da cabeça fetal, o fundo baixa cerca de 2 cm, sendo um indício de que o parto deverá iniciar-se nos próximos 15 dias. Com isso, ocorrem melhores condições para a gestante, que respira mais facilmente, embora reapareçam as queixas urinárias do 1 o trimestre. AUSCULTA FETAL A ausculta com o estetoscópio de Pinard pode ser feita a partir de 20 semanas de gravidez; contudo, essa prática foi substituída pelos procedimentos eletrônicos. O sonar-Doppler identifica o pulso fetal desde 10 a 12 semanas. É excepcional a escuta antes dessa idade gestacional. ULTRASSONOGRAFIA Cerca de 40% das mulheres que realizam ultrassonografia (US) no 1º trimestre têm sua idade gestacional estimada ajustada, em virtude de discrepância de mais de 5 dias entre este exame e a data da última menstruação (DUM). Nesses casos, só o exame ultrassonográfico possibilita estimar, com precisão, a idade gestacional. ULTRASSONOGRAFIA DE 1º TRIMESTRE Até 13 +6 semanas, a idade da gravidez avaliada pela medida do comprimento cabeça-nádega (CCN) tem uma acurácia de ± 5-7 dias. Se a US realizada nesse período tiver uma discrepância > 7 dias, a data da gravidez estimada pela última menstruação deve ser trocada pela idade sonográfica. Antes de 9 semanas uma discrepância maior que 9 dias é apropriada para alterar a data estimada da gravidez. →Se a gravidez resultou de fertilização in vitro (FIV), a idade gestacional dever ser aquela fornecida pela reprodução assistida (dia da transferência do embrião). ESTRUTURAS AVALIADAS: -embriao; -atividade cardiaca; -utero- miomas; -anexos- corpo lúteo; SACO GESTACIONAL- 5 SEMANAS VESICULA VITELINA-5,5 SEMANAS ECO FETAL COM BCF- 6 SEMANAS CABEÇA FETAL- 11-12 SEMANAS PLACENTA- 12 SEMANAS ULTRASSONOGRAFIA DE 2º TRIMESTRE A idade da gravidez pela US de 2 o trimestre é fornecida pelo diâmetro biparietal (DBP) ou pelo comprimento do fêmur (CF). Entre 14 e 21 +6 semanas a acurácia é de ± 10 a 14 dias. A idade da gravidez estimada pela US deste período não deve ser trocada se diferir daquela referida pela US de 1º trimestre. ULTRASSONOGRAFIA DE 3º TRIMESTRE A idade da gravidez estimada pela ultrassom de 3º trimestre (28 semanas em diante), também avaliada pelo DBP ou pelo CF, é a mais imprecisa, com acurácia de ± 21 a 30 dias. → Em suma, se houver diferença entre a idade da gravidez obtida pela última menstruação e a avaliada pela ultrassonografia, prevalece a estimada pela sonografia. Avalia PIG- PEQUENO PARA IDADE GESTACIONAL, E GIG- GRANDE PARA IDADE GESTACIONAL BIOMETRIAL FETAL: Parâmetro analisado na 1ª e 2ª ecografia da gravidez, avalia medidas da cabeça, corpo, osso da coxa com vista no desenvolvimento do bebe; Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO PROBLEMA 3 ELUCIDAR SOBRE O DESENVOLVIMENTO EMBRIONARIO DA 5ª A 8ª SEMANA DE GESTACÃO; 5ª SEMANA: ➢ Embrião mais curvado; ➢ Grande desenvolvimento craniano e encefálico. →As mudanças na forma do corpo do embrião são pequenas na quinta semana quando comparadas àquelas ocorridas durante a quarta semana, mas o crescimento da cabeça excede o de outras regiões. →O alargamento da cabeça resulta principalmente do rápido desenvolvimento do encéfalo e das proeminências faciais. →A face logo faz contato com a proeminência cardíaca. →O rápido crescimento do segundo arco faríngeo se sobrepõe aos terceiro e quarto arcos, formando uma depressão lateral de cada lado, → SEIO CERVICAL. →As cristas mesonéfricas indicam o local do desenvolvimento dos rins mesonéfricos, que em humanos, são órgãos excretores provisórios. →Podemos visualizar o Saco Gestacional; 6ª SEMANA: ➢ Formação do olho primitivo, nariz e orelha; ➢ Formação dos MMS (mãos com raios digitais) e MMI. →Embriões na sexta semana mostram movimentos espontâneos, tais como, contrações no tronco e nos membros em desenvolvimento. →Tem sido relatado que embriões nesse estágio apresentam respostas reflexas ao toque. →Os membros superiores começam a mostrar uma diferenciação regional, tais como o desenvolvimento do cotovelo e das grandes placas nas mãos. → Os primórdios dos dígitos (dedos), ou raios digitais, iniciam seu desenvolvimento nas placas das mãos. →O desenvolvimento dos membros inferiores ocorre durante a sexta semana, 4 a 5 dias após o desenvolvimento dos membros superiores. →Várias pequenas intumescências, as saliências auriculares, se desenvolvem ao redor do sulco ou fenda faríngea entre os primeiros dois arcos faríngeos; Esse sulco torna-se o meato acústico externo (canal da orelha externa). →As saliências auriculares contribuem para a formação da aurícula (pavilhão), a parte em forma de concha da orelha externa. →Os olhos são agora notáveis, em grande parte pela formação do pigmento da retina. →A cabeça é agora relativamente muito maior do que o tronco e está dobrada sobre a proeminência cardíaca. →A posição da cabeça resulta da flexão da região cervical (pescoço). O tronco e o pescoço começam a endireitar-se e o intestino penetra no celoma extraembrionário na parte proximal do cordão umbilical. →Essa herniação umbilical é um evento normal. Ocorre porque a cavidade abdominal é muito pequena nesta idade para acomodar o rápido crescimento do intestino. 7ª SEMANA: ➢ Aparência mais próxima de ser humano; ➢ Olho,pálpebras e orelhas formadas; ➢ Raios digitais desaparecem e tem o desenvolvimento dos dedos dos pés e mãos. →Chanfraduras aparecem entre os raios digitais (sulcos e chanfraduras que separam as áreas das placas das mãos e dos pés), que indicam claramente os dedos. →A comunicação entre o intestino primitivo e a vesícula umbilical está agora reduzida. Nesse momento, pedículo vitelino torna-se o DUCTO ONFALOENTÉRICO. →Ao final da sétima semana, a ossificação dos ossos dos membros superiores já iniciou. 8ª SEMANA: ➢ Fim do período embrionário; ➢ Início do período fetal; Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →No início da última semana do período embrionário, os dedos das mãos estão separados porém unidos por uma membrana visível. →As chanfraduras estão também nitidamente visíveis entre os raios digitais dos pés. →A eminência caudal ainda está presente mas é curta. →O plexo vascular do couro cabeludo aparece e forma uma faixa característica ao redor da cabeça. →Ao final da oitava semana, todas as regiões dos membros estão aparentes e os dedos são compridos e completamente separados. →Os primeiros movimentos voluntários dos membros ocorrem durante a oitava semana. →A ossificação primária inicia-se no fêmur (osso longo da coxa). →A eminência caudal desapareceu e tanto as mãos como os pés se aproximam uns dos outros ventralmente. →Ao final da oitava semana, o embrião possui características humanas distintas, entretanto, a cabeça é ainda desproporcionalmente grande, constituindo quase a metade do embrião. → O pescoço está definido e as pálpebras estão mais evidentes. As pálpebras estão se fechando e ao final da oitava semana, elas começam a se unir por fusão epitelial. →Os intestinos ainda estão na porção proximal do cordão umbilical. →Apesar de existirem diferenças sutis entre os sexos na aparência da genitália externa, elas não são distintas o suficiente para permitir uma identificação sexual precisa; ABORTO →TIPOS DE ABORTAMENTO (PRECOSE OU TARDIO, ESPONTANEO OU PROVOCADO, ESPORÁDICO OU HABITUAL, SEGURO E INSEGURO, DE REPETIÇÃO), →FORMAS CLÍNICAS (AMEAÇA DE ABORTO, ABORTO INEVITÁVEL, ABORTO INCOMPLETO, ABORTO COMPLETO, ABORTO INFECTADO, ABORTO RETIDO), ACHADOS USG, COMPLICAÇÕES, CAUSAS E CONDUTAS EM CADA FORMA E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO NO BRASIL. ABORTAMENTO →Aborto é toda interrupção da gravidez antes das 22 semanas de gestação ou em que o feto pesa < 500 g ou mede 16,5 cm. No Brasil, o aborto não é considerado crime em 3 situações: gravidez representa risco de vida para a gestante, quando é resultado de um estupro ou em casos de anencefalia. →É importante ressaltar que, o risco de abortamento é maior em mulheres com idade ≥ 35 anos e, tal risco se eleva se o homem tiver ≥ 40 anos. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO PERFIL EPIDEMIOLOGICO NO BRASIL →No Código Penal Brasileiro, consta que o aborto só não é penalizado em dois casos: aborto necessário (se não há outro meio de salvar a vida da gestante) e aborto humanitário (em gravidez resultante de estupro). Frente a esta situação, os abortos realizados atualmente no Brasil são feitos de forma clandestina, transformando o que seria um procedimento simples e de baixo risco, em uma situação de alto risco para uma parte significativa das mulheres que não podem pagar por uma intervenção em clinicas privadas, onde se tem acesso a abortos mais seguros. →Lembrando que aborto é crime com pena prevista de um a três anos para as mulheres e de um a dez anos para quem executar o procedimento (Cook et al., 2004; Torres, 2012). →O Ministério da saúde criou uma norma técnica denominada "atenção humanizada ao abortamento” onde afirma que o abortamento representa no Brasil um sério problema de saúde pública por se tratar de uns pais em desenvolvimento onde se discutem complexos como, por exemplo: aspectos éticos, legais, morais, religiosos, culturais e até sociais acerca do assunto. Sabe-se que o abortamento é em sua maioria praticado, com o uso de meios diversos acarretando riscos e danos à saúde da mulher, muitas vezes induzidos pela própria ou realizados por profissionais em condições inseguras, sem preparo, capacitação e em geral provocando consequências danosas à saúde, podendo, inclusive, levar à morte (Domingues, 2008; Santos et al., 2013). →A partir dos dados extraídos pelo DataSUS, o mapa exemplifica os casos de aborto entre os anos de 2010 a 2019 no Brasil. De modo que, os estados com maiores índices de aborto nos últimos 10 anos foram São Paulo com o total de 133350 (20.27%), Minas Gerais com 66649 (10.13%) e Rio de Janeiro que teve 66269 (10.07%) casos de abortos (DATASUS, 2021). →Segundo dados coletados no Data SUS, O Brasil chega a registar diariamente 535 internações causadas por aborto. →Verificou-se que em 2019, a cada 100 internações 99 foram causadas por aborto espontâneos do tipo de causas indeterminadas e apenas 1 de aborto previsto em lei, como em casos de estupro ou risco a vida da gestante. →Entre os anos de 2009 a 2018, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou oficialmente 721 mortes de mulheres por aborto em sua maioria negras ou pardas com baixo acesso a informações e cuidados humanizados. A cada 10 mulheres que vinham a óbito, 6 eram pretas ou pardas. Ressalta- se ainda que apenas de 2010 a 2019, o SUS registrou 24,8 mil internações por aborto de meninas de 10 até 14 anos números alarmantes em uns pais em desenvolvimento. Lembra-se que a maioria das ocorrências dos abortos em meninas de 10 até 14 anos acontece no Nordeste por se tratar da região mais pobre do país com baixa acessibilidade a recursos pagos e até mesmo informações acerca do assunto (DATASUS, 2021). CLASSIFICAÇÃO PRECOCE OU TARDIO →O abortamento é considerado precoce se ocorre até a 12ª semana e tardio se ocorre entre a 13ª e 20ª semana. ESPONTÂNEO OU PROVOCADO →O espontâneo ocorre sem nenhum tipo de intervenção externa, podendo ser causado por doenças da mãe ou anormalidades do feto. →O provocado decorre de uma interrupção externa e intencional que acarreta na interrupção da gestação. Esta representa custos altos para o Sistema Único de Saúde em consequência das suas complicações, principalmente, quando há evolução para aborto infectado; ESPORÁDICO OU HABITUAL →A separação em aborto esporádico e habitual nos auxilia na melhor compreensão das etiologias do abortamento. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →Os abortamentos esporádicos têm como principal causa as anormalidades cromossômicas que chegam a abranger 50-80% dos abortamentos esporádicos, sendo as aneuploidias aquelas que representam maior frequência seguidas das triploidias e tetraploidias. Dentre as aneuploidias, a trissomia autossômica possui 52% de frequência e 19% de síndrome de Turner; As alterações cromossômicas fetais são as causas mais comum de abortamento precoce, sendo a trissomia autossômica a mais associada; →Chama-se abortamento habitual aquele que ocorre 3 vezes ou mais na mesma gestante, neste caso, as principais causas são: incompetência istmo cervical e síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF); SEGURO OU INSEGURO →A OMS costuma designar como seguros aqueles realizados por um médico bem treinado, com materiais e ambiente adequados representando risco menor para a saúde da mulher. →E, inseguro é aquele aborto realizado sem os recursos médicos mínimos e/ou sem pessoa capacitada para realizá-lo. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Toda gestante com sangramento vaginal no 1º trimestre deve ser submetida a exame abdominal, exame especular e toque vaginal. Com isso, e associada à coleta de uma boa anamnese, é possível diagnosticar e classificar a mesma dentro de uma das 6 apresentações clínicas. →RETIDO →INCOMPLETO →INFECTADO →INEVITÁVEL →AMEAÇA DE ABORTAMENTO; →COMPLETOAMEAÇA DE ABORTAMENTO →Trata-se de um abortamento em que há chance de reversão do quadro por haver ainda perspectivas de evolução da gravidez. →O sangramento é pouco e a dor, quando presente, diz respeito às contrações uterinas incapazes de produzir modificações cervicais. →Ao exame especular pode-se notar sangramento ativo e na USG transvaginal é possível notar hematoma retroplacentário. →A conduta é expectante mesmo na presença de hematoma e, prescrição de sintomáticos se necessário. →É importante orientar a paciente a evitar relações sexuais em caso de perda sanguínea e retornar ao serviço de saúde em caso de aumento do sangramento. ABORTAMENTO COMPLETO →Consiste no abortamento em que há eliminação total do concepto. →Os sintomas são redução ou parada do sangramento e das cólicas após a expulsão do ovo íntegro. →No entanto, se o episódio aconteceu e o diagnóstico seria dado apenas com o relato colhido na anamnese, o ideal é que seja solicitado um Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO exame de imagem que possibilite a confirmação do diagnóstico. →A conduta é expectante, devendo haver apenas monitoramento da hemorragia. ABORTAMENTO RETIDO →Trata-se de um aborto em que o concepto permaneceu retido na cavidade uterina sem vitalidade. →Há regressão dos sinais gravídicos (redução da altura uterina e da circunferência abdominal, perda da turgescência mamária e dos sinais de presunção de gravidez) e perda dos batimentos cardioembrionários (BCE). →Inicialmente, a conduta é expectante se o mesmo ocorre de forma precoce dentro do 1º trimestre, pois até 3 semanas após o abortamento o ovo costuma ser expulso. →No entanto, é possível nesses casos proceder com esvaziamento uterino por meio da aspiração manual intrauterina (AMIU) ou farmacologicamente com uso do Misoprostol; →Sendo a retenção maior do que 4 semanas é necessário realizar o coagulograma antes de iniciar qualquer terapêutica. →No abortamento retido tardio (no 2º trimestre ou > 12 semanas), a melhor conduta é expulsão imediata do feto com uso de Misoprostol e, em seguida, complementação com curetagem uterina; ABORTAMENTO INCOMPLETO →Esta forma clínica é a mais frequente, sendo decorrente da expulsão do feto, mas permanência da placenta ou restos placentários. →O sangramento é o principal sintoma, ocorre redução uterina em comparação com a idade gestacional (IG) e as dores tipo cólica surgem na tentativa de expulsão do conteúdo intrauterino. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), em seu Protocolo sobre Aborto de 2018, recomenda que a conduta em caso de < 12 semanas seja a realização de Misoprostol ou AMIU, se > 12 semanas orienta a realização da curetagem. Vale ressaltar, que a paciente deve ser internada para estabilização e realização dos procedimentos citados. ABORTAMENTO INFECTADO Esse abortamento resulta da tentativa de esvaziar o útero com uso de instrumentos inadequados e técnicas inseguras, o que leva a infecções polimicrobianas compreendendo microrganismos da flora genital e intestinal. Com isso, a anamnese tem uma importância ainda maior por ser capaz de identificar o episódio causador. →O sangramento costuma ter odor fétido e os demais sintomas variam de acordo com o grau e local de acometimento: • Endométrio e miométrio: cólicas intermitentes, febre 38ºC, dor à mobilização do colo e à palpação abdominal. • Peritônio pélvico: febre 39ºC, dor mais intensa, comprometimento do estado geral, colo aberto com saída de conteúdo purulento, sinais de peritonite que dificultam inclusive a tentativa de mobilização do colo uterino. →O leucograma apresenta perfil de infecção e, na USG em alguns casos nota-se abscesso em fundo de saco. →O tratamento consiste no uso de antibióticos (ATB) e na remoção do foco infeccioso. →O esquema de ATB que deve ser usado é: →Em seguida, realiza-se curetagem para remoção do foco infeccioso. Porém, se as medidas acima não forem suficientes ou se houver suspeita de perfuração uterina/ abscesso pélvico/lesão de alça, deve-se proceder para laparotomia seguida de retirada do foco, inclusive histerectomia se for o caso. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →Recomenda-se profilaxia com antitetânica naqueles casos em que para indução do aborto foram utilizados instrumentos metálicos ou possivelmente suspeitos de levar à infecção com tétano. →Naqueles casos em que foram instituídas todas as medidas acima para tratamento, mas ainda assim a paciente continua apresentando febre deve-se pensar no diagnóstico diferencial de Tromboflebite Pélvica que deve ser tratada com a realização de heparinização plena associada à antibioticoterapia. ABORTAMENTO INEVITÁVEL →Clinicamente traduz-se pela dilatação do colo permitindo a detecção das membranas ovulares ou até mesmo do embrião, logo, apesar de não haver ainda expulsão do concepto, é inevitável que isto ocorra. →Além disso, nota-se sangramento importante que chega a comprometer a hemodinâmica da paciente. →Como o feto ainda não foi expulso da cavidade uterina, a conduta é com Misoprostol + curetagem. →Além disso, é importante internar a paciente para estabilização e cuidados com a mesma. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO →No Brasil, a técnica farmacológica para tratamento do abortamento é o MISOPROSTOL, o qual tem como apresentação comprimidos para uso vaginal de 25, 100 e 200 mcg, devendo ser utilizado apenas em contexto hospitalar. →As vantagens do seu uso são: ausência de possibilidade de perfuração uterina e formação de sinéquias, redução dos riscos decorrentes da dilatação do colo e eliminação do risco anestésico. →Vale ressaltar que o uso do Misoprostol deve ser feito com base no tamanho uterino e não com base na idade gestacional. →Se abortamento no 1º trimestre: 2 a 3 doses de 800 mcg, via vaginal, no intervalo de 3-12h. Observação: A dose utilizada em caso de abortamento incompleto no 1º trimestre é 400 mcg, dose única. Se abortamento no 2º trimestre: 200 mcg, via vaginal, a cada 4-6h, seguida por tratamento cirúrgico combinado. MECÂNICO →A aspiração uterina e a curetagem são os métodos mais utilizados para a remoção do conteúdo residual que ocupa o útero após o ato abortivo, conforme descreve o protocolo da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Ademais, o que determina a eleição da técnica são as condições clínicas e psicossociais da mulher, bem como as condições de cada serviço e o risco/ benefício que cada procedimento oferece (ARAÚJO CP, et al., 2018). → A OMS recomenda que a AMIU seja o método de escolha em relação à curetagem uterina para remoção do conteúdo uterino no 1º trimestre, sendo inclusive uma das estratégias para redução da mortalidade materna. Porém, muitos serviços de saúde no Brasil ainda usam a curetagem como método de escolha para esvaziamento uterino no primeiro trimestre de gestação. →A AMIU é realizada por um vácuo manual produzido por uma seringa, mas é possível realizar a aspiração a vácuo elétrica por meio de uma bomba, técnica esta abreviada como AVE. →Quando o colo encontra-se fechado, recomenda-se o uso de Misoprostol 400 mcg, via vaginal, 3 horas antes do procedimento como forma de facilitar a realização do mesmo. →Recomenda-se também antibiótico profilático, via oral, até 12h antes, em dose única (200 mg doxiciclina, 500 mg-1 g azitromicina ou 500 mg-1 g metronidazol). Ao realizar a AMIU é possível substituir a anestesia geral por analgésicos. →A curetagem consiste inicialmente na dilatação da cérvix e uso de uma cureta metálica para raspar as paredes do útero. →A cureta, por seu material de aço e diâmetro variável, pode ocasionar acidentes como perfuração uterina. →A indicação é para abortamentos incompletos do 2º trimestre, com abortamentos retidos > 12 semanas e inevitáveisapós uso do Misoprostol. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →Como estratégia de redução da mortalidade materna no primeiro trimestre gestacional, o indicado é que as mulheres priorizem a Aspiração Manual Intrauterina (AMIU) em detrimento da curetagem, para o esvaziamento do útero. →Por outro lado, o método farmacológico é preferível no segundo trimestre, em virtude da conformação de ossos fetais. →Após a expulsão do conteúdo biológico, o processo pode ser complementado com outro procedimento, no entanto vai depender das condições clínicas da mulher. Todavia, ressalta-se que a interrupção da gravidez através de microcirurgia deve ser reservada para condições pontuais (FRANCISCHETTO EC, et al., 2021). CAUSAS DE SANGRAMENTO NO 1º TRIMESTRE (ABORTO, GRAVIDEZ ECTÓPICA, DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL, INFECÇÃO, NEOPLASIAS) – ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL ➔O sangramento vaginal na primeira metade da gravidez tem como causas o aborto, gravidez ectópica, lesões cervicais ou vaginais, infecção uterina e doença trofoblástica. ➔A avaliação inicial deve indicar se há instabilidade hemodinâmica e o grau de dor e sangramento. →O aborto pode ser evitável, inevitável completo, incompleto ou retido, e pode ser manejado por conduta expectante, medicamentosa ou cirúrgica. ➔A GRAVIDEZ ECTÓPICA ocorre, em 95%, nas tubas uterinas, mas também pode acometer o colo uterino, a cicatriz de cesariana anterior, o ovário e a cavidade abdominal. A conduta pode ser medicamentosa ou cirúrgica, a depender do tempo de evolução da gravidez e das condições hemodinâmicas maternas. O descolamento prematuro de placenta é causa frequente de óbito fetal e pode evoluir com hemorragia grave e necessidade de intervenções não cirúrgicas e cirúrgicas para preservar a vida materna. Apresenta fatores de risco bem definidos e indica a necessidade de parto imediato por alteração de vitalidade fetal. A RVP também cursa com sofrimento fetal e deve ser imediatamente resolvida. A rotura uterina, que ocorre com maior frequência em mulheres com cicatriz uterina anterior, também configura emergência obstétrica e exige intervenção imediata para preservar a vida do binômio. HEMORRAGIAS DA PRIMEIRA METADE DA GRAVIDEZ O sangramento vaginal no primeiro trimestre da gravidez acomete 20%-40% das mulheres, podendo apresentar diversas características: ser leve ou intenso, intermitente ou constante, indolor ou doloroso. ➔ Tem como principais causas o aborto, a gravidez ectópica, o sangramento por lesões cervicais ou vaginais, a infecção uterina e a doença trofoblástica. ➔O sangramento de implantação, pequeno e que ocorre 10 a 14 dias depois da fertilização do óvulo, é diagnóstico de exclusão. ➔Em casos mais graves, quando a gestante apresenta sangramento intenso com instabilidade hemodinâmica, deve-se pensar em gravidez ectópica rota com grande hemorragia ou aborto incompleto com “choque cervical”(oriundo da presença de fragmentos placentários no canal cervical desencadeando reflexo parassimpático com bradicardia e hipotensão) ou hemorragia maciça devido ao quadro de abortamento. Dessa forma, torna-se essencial estabelecer a localização da gravidez, para que o raciocínio clínico seja rápido e eficaz. HISTÓRIA E EXAME FÍSICO Ao avaliar uma gestante com sangramento vaginal, são fatores importantes na história clínica os antecedentes menstruais e a realização de ultrassonografia precoce para a correta determinação da idade gestacional, presença de coágulos, quantidade da perda sanguínea, saída de fragmentos placentários, dor e lipotimia. →A queixa de dor intensa ou sangramento maior do que o fluxo menstrual habitual é associada a maior risco de perda gestacional; ➔ O exame abdominal revela áreas de sensibilidade, rigidez ou distensão. O ideal é que seja realizada percussão suave antes da palpação. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO A presença de dor em linha média do abdome é consistente com cólicas uterinas da perda gestacional, enquanto a dor localizada em região de fossa ilíaca sugere gravidez ectópica. Sinais de hipovolemia, instabilidade hemodinâmica ou irritação peritoneal tornam a avaliação de emergência imperativa. ➔ A ausculta dos batimentos cardíacos fetais com dispositivo portátil de Doppler é possível a partir de 12 semanas de idade gestacional, variando entre 110 e 160 batimentos por minuto; ABORTAMENTO →Em torno de 80% das gestações são interrompidas até a 12ª semana. Quando é possível escutar os batimentos fetais, a chance de abortamento cai para menos de 10 %. A entidade clínica denominada ameaça de abortamento, caracterizada pelo sangramento vaginal anormal, é uma afecção comum no primeiro trimestre da gravidez, ocorrendo em mais de um terço das gestações. Mesmo na presença de atividade cardíaca fetal, o sangramento entre 7–12 semanas está associado a 5–10% de perda gestacional no primeiro trimestre, principalmente quando ocorre antes da nona semana, e nos casos em que a idade materna é superior a 35 anos. →A ultrassonografia transvaginal é a técnica de escolha para avaliação da viabilidade da gestação; Entre as causas de abortamento temos: →ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS (principal causa - 50 a 80% dos abortamentos espontâneos)→ As aneuploidias são as principais causas (em ordem decrescente de frequencia temos a trissomia do 16,22, 21, 15, 13, 2 e 14). →DESORDEM ANATÔMICA = Incompetência istmo cervical, mioma, malformação uterina (útero unicorno, bicorno ,dilfeto ou septado), sinéquias uterinas (síndrome de Asherman). →DOENÇAS ENDÓCRINAS = Insuficiência lútea (produção insuficiente de progesterona pelo corpo lúteo e, consequentemente, por inadequado desenvolvimento do endométrio), desordem da tireoide, DM insulinodependente, síndrome dos ovários policísticos. →DISTÚRBIOS IMUNOLÓGICOS = entre as principais temos a Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo (SAF - trombofilia autoimune associada a tromboses arteriais e venosas). →Infecções = Rubéola, Parvovirose, Citomegalovirose, Liesteriose, herpes simples, hepatite B, HIV, ITU, Sífilis, Toxoplasmose, Malária. ÓBITO EMBRIONÁRIO PRECOCE Alguns achados ultrassonográficos caracterizam o óbito do embrião na primeira metade do primeiro trimestre, em fases precoces, antes que se possa mensurar o comprimento cabeça-nádegas. Destacam-se os aspectos da vesícula vitelina pequena, hiperecoica, ou hidrópica, aumentada de volume, com diâmetro superior a 7 mm, ou ainda, cavidade amniótica pequena, desproporcional em relação ao tamanho do saco gestacional. Pequenos sacos gestacionais antes da nona semana podem estar associados à aneuploidia GRAVIDEZ ECTÓPICA Implantação do blastocisto “fora do útero” →Gravidez extrauterina (tubária ,ovariana ou abdominal); →Incidência de 1,5 a 2%; → Gravidez abdominal risco para morte materna 7,7 vezes superior ao da tubárica →As tubas uterinas constituem a localização mais frequente de gravidez ectópica: entre 95 a 99% dos casos. →A implantação do ovo pode se dar em qualquer segmento das trompas. Na região ampular acontece em ( 79,6%), pois é a região mais dilatada; na região ístmica (12,3%) ; na fimbrial (6,2%) e na região intersticial (1,9%). →É possível que seja única, gemelar podendo ocorrer dois ovos na mesma trompa ou então um em cada tuba ou ainda heterotópica (um ovo na tromba e um na cavidade uterina). →A evolução da gravidez tubária vai depender do local de implantação do zigoto. Nas regiões mais distais da trompa (fimbrial e ampular) ocorre abortamento tubário. A implantação em regiões mais delgadas pode levar à rotura mais precocemente. São possíveis evoluções da gravidez tubária: • Morte e reabsorção do embrião: pode ocorrer em fase precoce da gestação devido ao suprimento sanguíneo deficiente para o desenvolvimento da gravidez, com danos mínimosa saúde da mãe. • Abortamento tubário: o ovo é eliminado para a cavidade abdominal, principalmente quando a gravidez ocorre nas regiões mais distais da tuba (fimbrial e ampular). Ocorre entre 6-12 semanas. • Rotura tubária: geralmente ocorre entre 12 e 16 semanas o trofoblasto corrói a parede da trompa até sua rotura, o que é mais comum quando a implantação ocorre na porção ístmica da tuba (região mais delgada) – determina quadro de abdome agudo hemorrágico. • Evolução para termo: é muito rara e quando ocorre frequentemente o feto apresenta deformações secundária a compressão extrínseca dos órgãos do abdome materno. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO ANAMNESE QUADRO CLINICO →inicialmente apresenta sintomatologia semelhante a, como náuseas vômitos cansaço e atraso menstrual; →Evolui com dor no baixo ventre persistente, progressiva e unilateral, que ocorre por: multiplicação do ovo distendendo a trompa ou por penetração do trofoblasto na mucosa tubaria provocando irritação local e dor; DOENÇA TROFOBLÁSTICA (BENIGNA X MALIGNA) Mola hidatiforme, Mola invasora, Coriocarcinoma (completa ou parcial) Pode malignizar; →Completa = espermatozoide ‘fecunda” óvulo sem material genético (não há embrião, 20% sofre malignização). →Parcial = 2 espermatozoides “entram” em óvulo normal (tecido fetal, 5 % de malignização). Quadro clínico = sangramento de repetição com sangramento em suco de ameixa (sangramento escuro com bolinhas/vesículas) + útero aumentado + hiperemese. →Pode fazer hipertireoidismo, hipertensão precoce. →B-HCG muito alto (descartar gemelaridade) Diagnóstico = clínico, ultrassonográfico e laboratorial. USG com achados de vesículas (em floco de neve/cachos de uva) Laboratório B-HCG > 200.000 mUI/ml.⇒ →Confirmar suspeita com estudo histopatológico do material intrauterino. Tratamento: ⇒Esvaziamento uterino (prefira vácuo aspiração, cuidado com curetagem) + histopatológico. →Discutir histerectomia (paciente com > 40 anos e prole definida) para evitar metástase. → Acompanhamento com B-HCG (deve ter queda progressiva, dosar semanalmente até negativar, depois dosar + 2 x, por fim acompanhamento mensal por 6 meses). Quando que devemos suspeitar de malignização (Doença trofoblástica - Neoplasia Trofoblástica gestacional) ? →Aumento do B-HCG durante 2 semanas consecutivas (aumento dias 1, 7 e 14) ou 6 meses com B-HCG ainda positivo. Conduta em malignização = Quimioterapia. Classificação de Neoplasia trofoblástica gestacional →Mola invasora (+comum) = 70 a 90% dos casos, manifesta-se com presença de metrorragias persistentes, subinvolução uterina e infecções. →Sendo que curetagens repetidas não reduzem o sangramento e o B-HCG. →Coriocarcinoma = 10 a 30% dos casos, normalmente preenche a cavidade uterina ( invade útero e vasos - provocando hemorragia e necrose. ⇒Tumor Trofoblástico do sítio placentário = Raro - normalmente se desenvolve no local de implantação placentária meses a anos após um abortamento, gestação molar ou gravidez a termo. →A mola hidatiforme parcial oferece maior dificuldade diagnóstica ultrassonográfica. Numa proporção razoável de casos mostra-se como um saco gestacional vazio do tipo gestação anembrionada ou como óbito embrionário; →Apesar das tentativas de se definirem os principais achados ultrassonográficos da doença trofoblástica gestacional, o padrão ouro para o seu diagnóstico é o estudo histopatológico do produto da concepção após esvaziamento cirúrgico. REPERCUSSÕES DO ABORTO INDUZIDO E ESPONTÂNEO NA SAÚDE FÍSICA E MENTAL DA MULHER →No Brasil, entre os anos de 2008 e 2018, cerca de 2.286.876 hospitalizações de gestações que acabaram em aborto, sendo considerada a região de maior incidência o Sudeste (845.023), seguida pelo Nordeste (752.903), Sul (264.892), Norte (248.903) e a de menor incidência o Centro-Oeste (157.829). Já em relação à quantidade de óbitos provocadas em decorrência do aborto por região, foi registrado um total de 797 óbitos, sendo que a região Sudeste (352) apresentou o maior número, seguida pelo Nordeste (212), Norte (96), Centro-Oeste (77) e Sul (60), ficando está com a menor quantidade de óbitos por aborto (CARDOSO BB, et al., 2020). →O abortamento é uma vivência traumática, que desencadeia na mulher inúmeros sentimentos como dor, angústia, medo, vazio, sofrimento físico e existencial. Além de poder levar ao desenvolvimento de sequelas como depressão, diminuição da autoestima e em alguns casos, óbito. Atrelado a isso, surgem outros fatores de Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO risco, tais como: os socioeconômicos; falta de apoio familiar e do parceiro; condições precárias de vida, trabalho e moradia; entre outros que evidenciam a necessidade em se tratar essa problemática a partir de um atendimento especial e humanizado (LAINSCEK FGT, et al., 2019). →O momento da decisão frente a uma gravidez não desejada é um momento solitário e doloroso para uma gestante e pode refletir em inúmeras consequências. A mais recorrente delas é a de cunho psíquico, sobretudo, a depressão, que tem uma associação direta com o aborto, visto que, vários estudos relacionam o ato abortivo com um alto índice de melancolia, sentimento de culpa e diminuição da autoestima das mulheres que o vivenciaram. Assim, o aborto, seja ele espontâneo ou provocado, é capaz de causar vários danos na vida de uma mulher, prejudicando sua saúde mental e psicológica, trazendo medo e insegurança, principalmente em relação a uma possível futura gestação (DELGADO VG, et al., 2020). →As vítimas de aborto revelam sofrer com dor física e emocional após a interrupção da gravidez. Essa angústia, muitas vezes, faz alusão à falta de suporte do companheiro, à carência de acolhimento social, ao contexto de vulnerabilidade que estão inseridas e ao luto que elas não podem expressar. Após superar as respostas emocionais iniciais, surgem preocupações relativas ao ser que foi a óbito, lembranças do momento do aborto, sensações desconexas, sonhos conturbados e devaneios (SILVA LAM e SILVA MTC, 2020) A DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL (DHPN), OU ERITROBLASTOSE FETAL A Doença Hemolítica Perinatal (DHPN), também conhecida como Eritroblastose fetal, ocorre por uma incompatibilidade sanguínea materno-fetal, em que são produzidos anticorpos maternos específicos contra antígenos das hemácias fetais. Em 98% dos casos essa incompatibilidade é atribuída aos sistemas ABO e Rh e nos 2% restantes estão envolvidos anticorpos conhecidos como irregulares. ➔O sistema ABO é responsável pela maioria dos casos de incompatibilidade, no entanto, repercute em uma menor gravidade clínica, muitas vezes passando despercebido. Já a discordância Rh tem uma maior relevância clínica pela sua gravidade, sendo responsável por 80% dos casos de doenças clinicamente detectáveis. ➔O sistema Rh é formado pelos antígenos “D”, “c”, “C”, “e” e “E” que se expressam na superfície das hemácias a partir da 6ª semana de gestação. A presença do antígeno D é o que determina um indivíduo “Rh positivo” e a sua ausência um indivíduo ”Rh negativo”. A DHPN por anticorpos irregulares mais comum é a relacionada ao sistema Kell, que leva a uma anemia por depleção medular. Atualmente não há prevenção possível para essa aloimunização. ➔As manifestações clínicas da Doença Hemolítica Perinatal variam de anemia fetal leve assintomática, hidropsia fetal com anemia grave e icterícia até óbito fetal. ➔ A implementação de programas para profilaxia pré e pós-natal com a imunoglobulina anti-D, desenvolvida em 1968, levou a uma redução significativa na frequência de complicações fetais /neonatais associadas. FISIOPATOLOGIA Para a ocorrência da DHPN é necessário que uma sequência de 4 eventos ocorra: • Incompatibilidade sanguínea materno- fetal; • Aloimunizaçãomaterna; • Passagem de anticorpos da gestante para o feto; • Ação dos anticorpos maternos no feto. INCOMPATIBILIDADE SANGUÍNEA MATERNO- FETAL Para que ocorra a DHPN é necessário que o feto possua um antígeno sanguíneo que está ausente na circulação materna, capaz de imunizá-la, produzindo anticorpos específicos a esse fator. Ou seja, para a aloimunização Rh, é necessário que a mãe seja Rh negativo e filho Rh positivo (portanto pai Rh positivo). ALOIMUNIZAÇÃO MATERNA A aloimunização é causada pela exposição materna a antígenos eritrocitários não Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO compatíveis. Ocorre em casos de transfusão de sangue incompatível, uso de drogas intravesosas e transplante. Porém, a principal causa é a hemorragia feto-materna, que ocorre em aproximadamente 75% das gestações. A frequência e o volume da hemorragia aumentam com a evolução da gestação, ocorrendo em torno de 3% das gestações no primeiro trimestre, 12% no segundo trimestre e 45% no terceiro trimestre. Estima-se que um volume mínimo de 0,25ml é necessário para que ocorra a sensibilização. Após a primeira exposição a antígenos eritrocitários desconhecidos ocorre a sensibilização e produção e anticorpos IgM, que por terem um peso molecular maior, não são capazes de atravessar a barreira placentária. Numa segunda exposição a esse antígeno desconhecido ocorre uma resposta imunológica secundária com a produção de anticorpos IgG, que ultrapassam a barreira placentária, aderindo-se à membrana dos eritrócitos fetais e causando hemólise. Quanto maior a carga antigênica e quanto mais frequente é a exposição, maior é a produção de anticorpos pela mãe, por isso a probabilidade de desenvolver DHPN se intensificam nas gestações sucessivas no caso da aloimunização Rh. ➔ O Coombs indireto é o teste que identifica o anticorpo contra hemácias no sangue materno. Ele é capaz de identificar imunoglobulinas do tipo IgG mas não IgM. Um teste negativo significa que a gestante não foi sensibilizada. Ao contrário do observado na incompatibilidade Rh, na incompatibilidade ABO não existe a necessidade da exposição prévia da mãe a sangue A, B ou AB. Ela já possui anti-A e anti-B no seu organismo em consequência à exposição a bactérias que possuem esses antígenos, ao longo de sua vida. Dessa forma, a DHPN pode ocorrer desde a primeira gestação. A gravidade da incompatibilidade ABO é menor que a Rh porque há um menor número de sítios antigênicos A e B na membrana da hemácia fetal e a maioria dos anti-A e anti-B maternos é IgM, sendo assim, não atravessam a barreira placentária. Além disso, como todos os tecidos expressam antígenos A e B, não só as hemácias, a pequena quantidade de IgG anti-A e anti-B que consegue atravessar placenta se liga a outros sítios teciduais, não causando uma hemólise significativa. PASSAGEM DE ANTICORPOS DA GESTANTE PARA O FETO O anticorpo IgG pode atravessar a placenta por difusão passiva e transporte ativo e na circulação fetal se fixam às hemácias por uma reação antígeno- anticorpo, causando hemólise. AÇÃO DOS ANTICORPOS MATERNOS NO FETO A anemia fetal leva a eritropoese medular e extramedular (principalmente fígado, baço e parede intestinal). Eritrócitos jovens são lançados na circulação periférica originando o termo “eritroblastose fetal”. PREVENÇÃO A prevenção da Doença Hemolítica Perinatal é feita através da administração da imunoglobulina anti-D na gestante Rh negativo. As principais indicações são: • Casos de abortamento, gravidez molar ou ectópica, óbito intrauterino ou sangramentos da gravidez; • Após procedimentos invasivos que envolvam o útero ou traumas abdominais; • Gestantes com 28 semanas com Coombs indireto negativo; • Até 72 horas de pós-parto de recém- nascido Rh positivo. ➔300 μg de imunoglobulina neutralizam 30ml de sangue total e é essa a dose recomendada para uso no pós-parto. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO ➔Se a gestante já foi sensibilizada em outra gestação (Coombs indireto positivo) não tem utilidade o uso da imunoglobulina anti-D, já que o objetivo desta é exatamente evitar a sensibilização PROBLEMA 4 ELUCIDAR SOBRE O CRESCIMENTO EMBRIOLÓGICO DA 9ª A 12ª SEMANA DE GESTAÇÃO O período gestacional é dividido em três trimestres: Eventos marcantes do período fetal: Crescimento corporal, aumento de peso, maturação dos tecidos, órgãos e dos sistemas e significativa mudança na forma e dimensões do corpo; DA NONA A DÉCIMA SEGUNDA SEMANA No início da nona semana a cabeça é quase metade do CR do feto. Em seguida, há uma rápida aceleração do crescimento do corpo e, no final de 12 semanas, o feto já tem o dobro do comprimento. A cabeça para de crescer e isso faz com que proporcionalmente ela “diminua” em relação ao corpo, porém ela ainda está desproporcionalmente grande. A face do feto também muda, pois na 12ª semana, os centros de ossificação primária já aparecem, especialmente no crânio e nos ossos longos. Os membros superiores já alcançam seu comprimento final relativo, enquanto que os membros inferiores ainda não. →A genitália externa de homens e mulheres parece semelhante até o final da nona semana. →A sua forma fetal madura não está estabelecida até a 12ª semana. →Na metade da 10ª semana, as alças intestinais são visíveis na extremidade proximal do cordão umbilical. →Na 11ª semana, o intestino já retorna para o abdome. →Em 9 semanas, o fígado é o local de formação das hemácias (eritropoese), e depois, com 12 semanas, o baço assume essa função. →A formação de urina começa no período de 9 a 12 semanas. Essa urina forma o líquido amniótico, onde o feto reabsorve uma parte e depois degluti. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO ABORDAR SOBRE OS EXAMES SOLICITADOS NO PRÉ-NATAL (FLUXOGRAMA DE ATENÇÃO A GESTANTE DE RISCO) ASSISTENCIA AO PRE- NATAL O pré-natal tem como objetivo promover e manter o bem-estar físico e emocional ao longo do processo de gestação, parto e nascimento, além de trazer informação e orientação sobre a evolução da gestação e do trabalho de parto para a parturiente. Aproveita-se a oportunidade para identificar e tratar doenças pré-existentes da gestante. Em toda primeira consulta do pré-natal, é necessária a estratificação de risco dessa gestante em habitual, moderado ou alto risco e, a partir disso, solicitar os exames necessários, fazer as orientações sobe a gestação, sanando possíveis dúvidas da família. →Quanto ao número de consultas, o Ministério da Saúde prevê um mínimo de 6 consultas no pré- natal de risco habitual, sendo uma no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro, com os seguintes intervalos: mensal até a 28ª semana, quinzenal da 28ª a 36ª semana e semanal da 36ª a 41ª semana. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO A avaliação do risco deve ser realizada em toda consulta, pois uma gestante inicialmente de risco habitual pode virar alto risco. → A triagem é feita pela anamnese, exame físico e exames complementares. Na anamnese, devem ser investigados a idade, a paridade, o intervalo interpartal, a história ginecológica detalhada, etc. RISCO HABITUAL: São gestantes que não apresentam fatores de risco individual, sociodemográficos, de história reprodutiva anterior, de doença ou agravo. RISCO INTERMEDIÁRIO: São gestantes que apresentam fatores de risco relacionados às características individuais (raça, etnia e idade), sociodemográficos (escolaridade) e de história reprodutiva anterior, relacionadas a seguir: • Gestantes negras ou indígenas; • Gestantes analfabetas ou com menos de 3 anos de estudo; • Gestantes com mais de 40 anos; • Gestantes com histórico de óbito em gestação anterior (aborto, natimorto ou óbito). ALTO RISCO: DOENÇAS PRÉVIAS À GESTAÇÃO ATUAL: • Hipertensão arterial em tratamento; • Dependência de drogas ilícitas;• Cardiopatias em tratamento e/ou em acompanhamento; • Pneumopatias em tratamento; • Nefropatias em tratamento e/ou em acompanhamento; • Diabetes; • Hipertireoidismo; • Má-formação útero/vaginal; • Epilepsia; • Hemopatias (exceto anemia leve e moderada, fisiológica da gestação); • Doenças Infecciosas (considerar a situação epidemiológica local, doenças periodontais e seu impacto na gestação); • Doenças autoimunes; • Cirurgia útero/vaginal prévia (fora da gestação); • Hipotireoidismo (T4L alterado ou paciente em tratamento); • Neoplasias; • Obesidade Mórbida; • Cirurgia Bariátrica (com menos de 2 anos pós-operatório); • Psicose e depressão grave; • Dependência de drogas lícitas (tabagismo/ alcoolismo) com intercorrências clínicas ou outro fator de risco materno/fetal; INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS NA GESTAÇÃO ATUAL: • Doenças infectocontagiosas vividas durante a gestação atual (infecção de repetição do trato urinário, doenças do trato respiratório, rubéola, HIV, toxoplasmose, sífilis, infecção por Zika Vírus, gripe por influenza, hepatites virais, outras arboviroses com repercussão fetal); Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO • Síndrome Hipertensiva na gestação atual; • Gestação gemelar; • Isoimunização Rh; • Diabetes mellitus gestacional; • Retardo do crescimento intraútero (peso fetal estimado abaixo do percentil 10); • Trabalho de parto prematuro; • Amniorrexe prematuro (abaixo de 37 semanas de gestação); • Placenta prévia; • Sangramento de origem uterina; • Má-formação fetal; • Mudança abrupta na curva de IMC. SEMIOLOGIA A carteira da gestante deve ser preenchida em todas as consultas, com dados da anamnese, exame físico e exames complementares. Devem ser preenchidos: ➔Cálculo da idade gestacional (IG): deve ser avaliado pela data da última menstruação (DUM) e pela ultrassonografia (USG), preferencialmente de primeiro trimestre em que tenha sido medido o comprimento crânio-calcanhar (CCN); ➔Ganho de peso: avaliar conforme o IMC e a IG; ➔Altura uterina (AU): medir como forma de triagem para possíveis complicações gestacionais, como oligo- ou polidrâmnio. Da 20ª a 32ª semana a AU corresponde a IG, se houver uma diferença de + ou – 3 deve ser solicitada uma USG. No exame físico, sempre avaliar a pressão arterial, os batimentos cardiofetais (BCF) e pesquisar edema. A partir da segunda metade da gestação, é possível identificar situação, posição, apresentação e insinuação fetal pelas manobras de Leopold; EXAMES COMPLEMENTARES Tipagem sanguínea (ABO e Rh): Este exame é de extrema importância para selecionar pacientes com risco de isoimunização Rh. Em gestantes Rh negativo com parceiro Rh positivo, ou em se tratando de um casal que não sabe seu Rh, deve-se solicitar o Coombs indireto. Uma vez que este resultado seja negativo, é necessário repetir o exame a partir de 20 semanas, caso seja positivo, a gestante deve ser encaminhada para o pré-natal de alto risco. Hemograma: Quanto ao eritrograma, considera-se normal valor de hemoglobina (Hb) ≥ 11g/dL, entre 11 e 8 g/dL anemia leve a moderada e, Hb < 8 por ser anemia grave orienta-se o encaminhamento da gestante para o pré-natal de alto risco. O leucograma costuma ser aumentado na segunda metade da gravidez, enquanto as plaquetas apresentam tendência de queda. Glicemia em jejum e Teste Oral de Tolerância à Glicose (75g): Na primeira consulta pré-natal deve ser solicitada a glicemia em jejum para todas as gestantes. Segue abaixo um fluxograma para melhor compreender o seguimento a ser dado para cada gestante, tomando como base o Consenso “Diabetes Gestacional” Atualização 2017: Urina tipo I e Urocultura: O Ministério da Saúde recomenda apenas a solicitação de urina tipo I no Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO pré-natal de baixo risco, resguardando a solicitação de urocultura apenas para situações de piúria, bacteriúria ou hematúria. No entanto, a FEBRASGO recomenda a solicitação da urocultura no intuito de rastrear bacteriúria assintomática, a qual em 30% dos casos evolui para pilonefrite durante a gestação, podendo ser tratada. → Rubéola: Considerando a realidade brasileira em que não há um rastreio de rubéola nas mulheres em período reprodutivo, a orientação é que o rastreio da imunidade da gestante para rubéola no início do pré- natal. Vale ressaltar, que o Ministério da Saúde não considera o rastreamento de rotina da rubéola durante a gravidez. Gestantes com IgG positivo têm risco mínimo de transmissão vertical, no entanto, aquelas que possuem IgG negativo são suscetíveis devendo ser vacinadas após o parto. →Toxoplasmose: Gestantes com IgG e IgM negativos são suscetíveis, devendo ser orientadas quanto à prevenção, devendo repetir o exame trismestralmente. Caso seja IgG positiva e IgM negativa a paciente possui imunidade. Se IgG negativa e IgM positiva, possivelmente trata-se de uma infecção recente, de modo que orienta-se repetir com 15 dias; se o IgG permanecer negativo fala-se em falso positivo, sendo ambos positivos confirma-se a infecção aguda. Sendo IgG e IgM positivas, por se tratar de infecção aguda é importante solicitar teste de avidez para IgG, uma vez que este esteja alto trata-se de infecção antiga, sendo mais baixo fala-se em infecção recente. →Sífilis: O diagnóstico de sífilis no 1º trimestre permite o tratamento até 30 dias antes do parto. O exame mais utilizado para diagnóstico é o VDRL, assim como é possível solicitar testes treponêmicos como FTA-Abs que confirma a infecção. →Citomegalovírus: Não há consenso para solicitação desta sorologia uma vez que o diagnóstico é difícil, bem como a maior parte das infecções ocorre por reativação em mulheres previamente infectadas, além do fato de não haver tratamento que previna a infecção fetal. →Hepatites B e C: Deve-se realizar a dosagem de HBsAg que uma vez negativo deve ser repetido do 3º trimestre, mas se positivo devem ser pesquisados os outros antígenos e anticorpos. O rastreio para o vírus C é reservado para gestante de risco: usuárias de drogas injetáveis, presidiárias, HIV positivas ou com parceiros HIV positivo, expostas a hemoderivados ou que receberam transfusão, gestantes com múltiplos parceiros, tatuadas ou com alteração da função hepática. →HIV: O Ministério da Saúde recomenda rastreio apenas uma sorologia durante o pré-natal, porém a FEBRASGO considera a repetição da sorologia no final da gravidez por considerar que a mulher pode estar na “janela imunológica”. →TSH: O diagnóstico clínico das doenças da tireoide é complicado por muito dos sintomas serem confundidos com alterações comuns na gravidez, porém é importante buscar diagnosticar uma vez que muitas mulheres desenvolvem essas doenças na sua fase reprodutiva. Considera-se TSH <2,0 normal durante a gravidez. →Parasitológico de Fezes: De ser solicitados em pacientes com anemia ou para aquelas que vivem em regiões onde a prevalência de parasitose é alta. →Cultura de Estreptococo do Grupo B (GBS): Este ponto merece atenção redobrada, pois apesar desta bactéria fazer parte da flora vaginal e intestinal a mesma está associada ao aumento de morbimortalidade perinatal, podendo ser transmitida ao recém-nascido levando a pneumonia, septicemia e meningite. O exame deve ser realizado por volta das 35 semanas coletando cultura do introito vaginal e perianal para que seja realizada a profilaxia adequada intraparto. Profilaxia é indicada nas seguintes situações: ➔A antibioticoterapia de escolha é penicilina G cristalina dose de ataque 5 milhões de UI, EV, dose de manutenção 2,5 milhões UI, EV, 4/4h até o nascimento. Para pacientes alérgicas a penicilina, deve-se usar estearato de eritromicina 500mg 6/6h ou clindamicina 900mg 8/8h. →Rastreamento de cromossomopatia fetal: Este rastreio é feito através do teste de DNA livre fetal, quecorresponde a pesquisa de DNA fetal livre na corrente sanguínea da mãe, devendo ser realizado com pacientes com 10 semanas de gestação ou mais. É possível por meio deste rastreio identificar as síndromes de: Down, Patau e Edwards, além de identificar alterações nos cromossomos sexuais como nas síndromes de Turner e Kleinefelter. →Exames Ultrassonográficos: De acordo com o Ministério da Saúde, não existem estudos que comprovem benefícios que impactem na morbimortalidade da realização de exames ultrassonográficos de rotina durante a gestação, de Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO modo que a não realização dos mesmos não constitui uma omissão ou reduz a qualidade do pré- natal, não constituindo, portanto, um exame obrigatório a ser realizado. Porém, ainda é possível perceber que este exame é solicitado com relativa frequência o que não traz prejuízo algum para a saúde da gestante e do feto. Inclusive, pode- -se lançar mão deste exame em situações específicas para lidar com preocupações como restrição do crescimento fetal, investigação do bem-estar fetal e na avaliação de complicações clínicas. Por isso, será abordado neste resumo alguns pontos relevantes quanto a realização deste exame. →USG inicial: Este, sobretudo quando realizada no 1º trimestre é extremamente confiável para realizar a datação da gravidez, calculando a IG com maior precisão (estimada pelo comprimento da coroa- nádega - CCN). Além disso, é importante para avaliar gestação múltipla e viabilidade fetal. Esta USG é fundamental para a detecção precoce e manejo oportuno das condições que se apresentarem logo no início da gravidez. Quanto as gestações gemelares, quando temos o sinal do T significa que trata-se de gestações gemelares de placenta única, enquanto que o sinal do Lambda significa gestação gemelar com duas placentas. → USG 1º trimestre: Deve ser realizada entre a 11ª e 14ª semana, podendo realizar triagem de cromossomopatias, com avaliação do osso nasal o que eleva o índice de detecção precoce de síndrome de Down em 88%; além disso, também é possível avaliar a translucência nucal e presença do ducto venoso inseridas na avaliação das cromossomopatias. →USG 2º trimestre: Deve ser realizada entre a 20ª e 24ª semana, pois deste modo já e possível avaliar todos os sistemas do feto podendo perceber possíveis malformações. O estudo do fluxo das artérias uterinas materna permite identificar mulheres com risco de desenvolver pré-eclâmpsia, assim como permite identificar fetos que com maior risco de crescimento restrito. Neste momento, é possível também medir o colo da paciente (cervicometria) como forma de estimar o risco de parto prematuro uma vez que um colo < 25mm tem 7,7 vezes mais risco de levar a um parto prematuro, havendo nestes casos indicação de uso de progesterona até as 36 semanas. →USG 3º trimestre (obstétrico): Deve ser realizada entre 34 semanas, com objetivo de avaliar o crescimento fetal, quantidade de líquido amniótico e a placenta. ➔Pode-se oferecer às gestantes alguns testes de rastreio para cromossomopatias que aumentam as chances de acerto na detecção destas doenças para além dos dados obtidos com a USG de 1º trimestre, sobretudo, para a Síndrome de Down. →O teste duplo corresponde a dosagem livre de ẞHCG e da proteína plasmática associada à gravidez (PAPP-A) os quais podem ser feitos entre 11 e 13 semanas de gestação. →O texto triplo contempla a alfafetoproteína (AFP), estriol e dosagem livre de ẞHCG o qual pode ser realizado no 2º trimestre. →O teste quádruplo envolve os marcadores do teste triplo associados à dosagem da Inibina A, de modo que este tem maior chance de detecção das cromossomopatias quando associadas a USG de 1º trimestre. ➔ deve realizar um dos exames invasivos para confirmação da cromossomopatia Biópsia vilo corial, Amniocentese ou Cordocentese. ➔Os métodos invasivos para coleta de células fetais podem provocar o aborto, e por sua segurança, devem ser indicados como métodos de triagem os marcadores sanguíneos e ultrassonografia fetal; ORIENTAÇÕES Recomenda-se fazer uma série de orientações à gestante, principalmente na primeira consulta, sanando todas as suas dúvidas, quanto aos mais variados assuntos. Seguem algumas orientações importantes: ➔Explicar sobre as modificações fisiológicas da gravidez que podem aparecer durante a gestação: o Náuseas, vômitos, pirose, sendo normal até a 18ª semana; o Estrias e “manchas” no rosto (cloasma) e no abdome (linha nigra). Recomenda-se o uso de protetor e cremes hidratantes; o Aumento de volume e ingurgitação das mamas. Recomenda-se uma exposição ao sol diária, de 10 a 15 minutos na região mamilar; o Aumento da frequência miccional; o Dores em baixo ventre e na região lombar; Constipação; o Hemorroidas; o Câimbras; o Intensificação do corrimento vaginal fisiológico; o Edema em membros inferiores. Orientar sobre o aumento do risco de trombose e recomendar o uso de meia elástica, com o objetivo de reduzir o edema e o risco de trombose, principalmente no 3º trimestre); Orientar quando a dieta e ao ganho ideal de peso: reduzir ingesta de lipídeos e carboidratos aumentar a de alimentos ricos em ferro; Orientar sobre a amamentação; Profilaxia para doenças infectocontagiosas: toxoplasmose (ingerir apenas carnes bem cozidas, frutas e verduras lavadas e ter cuidado com gatos desconhecidos), doenças sexualmente Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO transmissíveis (usar preservativos), Zika vírus e dengue (usar repelente 24 horas por dia e evitar áreas de risco); Orientar quanto a alterações patológicas: sangramento vaginal, sintomas urinários, ausência de movimentação fetal e contrações; Evitar: duchas vaginais, exercício físico extenuante e radiação ionizante; Explicar os malefícios e contraindicar o uso de álcool, drogas ilícitas e tabaco; Orientar sobre a atividade sexual durante a gestação, enfatizando que não tem restrições. ➔Uso de ferro na gestação; A partir da 20ª semana recomenda-se a suplementação de ferro ou o tratamento de uma possível anemia vigente, conforme a Tabela x, a quantidade de ferro a ser reposta depende dos níveis de hemoglobina. VACINAS A vacinação como profilaxia para doenças infecciosas é indiscutível para todas as faixas etárias, sobretudo, para as gestantes. Porém, as vacinas que utilizam vírus vivos são contraindicadas pelo risco de transmissão fetal, já as de vírus inativado são consideradas mais seguras após o 4º mês de gestação. →Toxoides como a vacina antitetânica são permitidos e, inclusive a OMS recomenda tal vacina para todas as mulheres grávidas. No Brasil, temos tanto a dT (difteria-tétano), como a DTPa (tríplice bacteriana: difteria+ tétano+coqueluche) que fazem essa prevenção para tétano, mas que precisam de uma atenção durante a gestação quanto as doses das mesmas seguindo orientação do fluxograma abaixo. A vacina tríplice é recomendada, mesmo com histórico prévio de vacinação completa, e deve ser administrada uma dose a partir da 20ª semana; VANTAGENS DO PRÉ-NATAL A assistência do pré-natal bem estruturada pode promover a redução dos partos prematuros e de cesárias desnecessárias, de crianças com baixo peso ao nascer, de complicações de hipertensão arterial na gestação, bem como da transmissão vertical de patologias como o HIV, sífilis e as hepatites. No entanto, para que essa assistência seja efetiva, é importante que abarque os seguintes aspectos: →Captação precoce – quanto antes a gravidez for diagnosticada e a gestante receber os cuidados da equipe perinatal, mais precocemente poderão ser detectados problemas passíveis de controle ou de cura. →Frequência e periodicidade adequadas – é preciso garantir que a gestante receba o atendimento necessário em seis consultas, no mínimo, durante a gravidez. →Extensão de cobertura – é fundamental que a assistência atinja100% das gestantes de uma cidade, de um estado e de todo o País. No entanto, dados oficiais do Ministério da Saúde do Brasil, de 2011, indicam que 4,6% de mulheres grávidas estavam sem assistência de pré-natal. →Qualidade – de nada adianta captar precocemente e oferecer o número adequado de consultas se não houver uma prática que garanta tecnologias atuais, apropriadas e precisas que causem impacto positivo da saúde perinatal, fortalecendo a integralidade. Qualidade do atendimento pré-natal →Para que haja, de fato, um atendimento que promova qualidade de vida à gestante, ao bebê e à família, algumas iniciativas são essenciais. A primeira está relacionada ao formato do atendimento que, para se prestar aos objetivos reais do pré-natal, precisa ser multiprofissional. Isso significa contar com a ação de médicos obstetras e ginecologistas, médicos de família, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, educadores físicos e fisioterapeutas. →Vale ressaltar que, desde 1984, o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), do Ministério da Saúde do Brasil, preconiza esse atendimento multiprofissional. Outro aspecto a ser considerado para o total êxito do pré-natal é o apoio comunitário, intimamente relacionado ao conceito de saúde-doença, reforçando a ideia de que a saúde é produzida nos diferentes espaços. ➔A questão do acolhimento é um dos eixos e diretrizes da Política Nacional de Humanização e de Atenção Obstétrica e Neonatal do Ministério da Saúde do Brasil. ➔O atendimento psicológico (a psicoprofilaxia) à gestante pode ser dar nas consultas individuais e nos grupos de discussão ou educativos propiciados pela equipe de Saúde para envolver a futura mãe, seu parceiro e a família e que devem ser uma estratégia transformadora e apoiadora da família grávida. ➔A Caderneta da Gestante serve como instrumento de apoio para o desenvolvimento das consultas e para a otimização do trabalho; deve ser utilizada por todos os profissionais de saúde, pode auxiliar no diálogo com a gestante, por meio de textos e figuras explicativas, e nas ações de educação em saúde. ➔Inclui um cartão de acompanhamento do pré- natal para registro das consultas clínicas e odontológicas, dos resultados de exames e das vacinas, entre outras informações, contendo todas as informações importantes de interação da gestante com os serviços de saúde. REDE CEGONHA A Rede Cegonha tem como princípios: I -o respeito, a proteção e a realização dos direitos humanos; II - o respeito à diversidade cultural, étnica e racial; III - a promoção da equidade; IV - o enfoque de gênero; V - a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos de mulheres, homens, jovens e adolescentes; VI - a participação e a mobilização social; e VII -a compatibilização com as atividades das redes de atenção à saúde materna e infantil em desenvolvimento nos Estados. Art. 3° São objetivos da Rede Cegonha: I - fomentar a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança de zero aos vinte e quatro meses; II - organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil para que esta garanta acesso, acolhimento e resolutividade; e III - reduzir a mortalidade materna e infantil com ênfase no componente neonatal. Art. 4° A Rede Cegonha deve ser organizada de maneira a possibilitar o provimento contínuo de ações de atenção à saúde materna e infantil para a população de determinado território, mediante a articulação dos distintos pontos de atenção à saúde, do sistema de apoio, do sistema logístico e da governança da rede de atenção à saúde em consonância com a Portaria nº 4.279/GM/MS, de 2010, a partir das seguintes diretrizes: I - garantia do acolhimento com avaliação e classificação de risco e vulnerabilidade, ampliação do acesso e melhoria da qualidade do pré-natal; II - garantia de vinculação da gestante à unidade de referência e ao transporte seguro; III -garantia das boas práticas e segurança na atenção ao parto e nascimento; IV - garantia da atenção à saúde das crianças de zero a vinte e quatro meses com qualidade e resolutividade; e V -garantia de acesso às ações do planejamento reprodutivo. Art. 5° A Rede Cegonha deve ser implementada, gradativamente, em todo território nacional respeitando-se critérios epidemiológicos, tais como taxa de mortalidade infantil, razão de mortalidade materna e densidade populacional. Art. 6° A Rede Cegonha organiza-se a partir de quatro (4) Componentes, quais sejam: I - Pré-Natal II - Parto e Nascimento III - Puerpério e Atenção Integral à Saúde da Criança IV - Sistema Logístico: Transporte Sanitário e Regulação BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO MORTALIDADE MATERNA E INFANTIL MORTE MATERNA: Morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez. É causada por qualquer fator relacionado ou agravado pela gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela. Não é Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO considerada morte materna a que é provocada por fatores acidentais ou incidentais. MORTE MATERNA OBSTÉTRICA: As mortes maternas por causas obstétricas podem ser de dois tipos: as obstétricas diretas e as obstétricas indiretas. ➔A Morte materna obstétrica direta é aquela que ocorre por complicações obstétricas durante gravidez, parto ou puerpério devido a intervenções, omissões, tratamento incorreto ou a uma cadeia de eventos resultantes de qualquer dessas causas. ➔A Morte materna obstétrica indireta é aquela resultante de doenças que existiam antes da gestação ou que se desenvolveram durante esse período, não provocadas por causas obstétricas diretas, mas agravadas pelos efeitos fisiológicos da gravidez. MORTE MATERNA NÃO OBSTÉTRICA: É a resultante de causas incidentais ou acidentais não relacionadas à gravidez e seu manejo. Estes óbitos não são incluídos no cálculo da razão de mortalidade materna. EX: acidentes de transporte, suicídio, feminicídio. RAZÃO DE MORTALIDADE MATERNA: Relaciona as mortes maternas obstétricas diretas e indiretas com o número de nascidos vivos, e é expressa por 100.000 nascidos vivos. Freqüentemente, a razão de mortalidade materna é chamada de “taxa” ou “coeficiente”. Contudo, ela só poderia ser designada assim se o seu denominador fosse o número total de gestações. Na impossibilidade de obtenção desse dado, utiliza-se por aproximação o número de nascidos vivos, o que torna mais adequado o uso da expressão “razão”. TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL: Número de óbitos de menores de um ano de idade, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. PROBLEMA 4- INTERMEDIARIA DESENVOLVIMENTO FETAL DA 13 ª A 16ª SEMANA – ENFASE NO DESENVOLVIMENTO DOS ÓRGÃOS DOS DIFERENTES SISTEMAS 4 MÊS DE GESTAÇÃO -Pele é fina, vasos sanguíneos são facilmente visíveis; -Narinas estão quase formadas; -Olhos foram deslocados para a frente da face; -Pernas são mais compridas que os braços; -Lanugo fino aparece na cabeça; -Unhas dos dedos das mais bem formadas, unhas dos dedos dos pés estão em formação; -Cristas epidérmicas aparecem nos dedos e nas palmas das mãos; -Liquido amniótico suficiente esta presenta para permitir a amniocentese; -Mae pode sentir os movimentos do feto; -Vesícula seminais são formadas; -Sulcos transversais aparecem na superfície dorsal do cerebelo; -Bile é produzida pelo fígado e tinge o mecônio de verde; -Glândulas gástricas brotam das fossetas gástricas; -Tratos piramidais começam a se formar no cérebro; -Hematopoese começa na medula óssea; -Ovários contem folículos primordiais;SISTEMA NERVOSO →O sistema nervoso central (SNC) se desenvolve de um espessamento dorsal do ectoderma (placa neural), que aparece por volta da metade da terceira semana. A placa neural é induzida pela notocorda subjacente e pelo mesênquima paraxial. →A placa neural se curva para formar o sulco neural, que possui pregas neurais de cada lado. Quando as pregas neurais começam a se fundir para formar o início do tubo neural durante a quarta semana, algumas células neuroectodérmicas não são inclusas nele, mas permanecem entre o tubo neural e oectoderma de superfície, a crista neural. Conforme as pregas neurais se fundem para formar o tubo neural, suas extremidades estão abertas. As aberturas nas extremidades de cada lado, os neuroporos rostral e caudal, comunicam-se com a cavidade amniótica adjacente. O fechamento do neuroporo rostral ocorre no 25° dia, e do neuroporo caudal fecha 2 dias depois. → A extremidade cranial do tubo neural forma o encéfalo, que é o primórdio do prosencéfalo, do mesencéfalo e do rombencéfalo. O prosencéfalo origina os hemisférios cerebrais e o diencéfalo. O mesencéfalo se torna o mesencéfalo adulto, e o rombencéfalo origina a ponte, o cerebelo e o bulbo. O remanescente do tubo neural forma a medula espinhal. → O canal neural, que é a luz do tubo neural, torna- se o ventrículo do encéfalo e o canal central do bulbo e da medula metabólicos, uso. As paredes do tubo neural se espessam pela proliferação das células neuroepiteliais. Essas células originam todas Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO os neurônios e as células macrogliais no SNC. A microglia se diferencia das células mesenquimais que entram no SNC com os vasos sanguíneos. • A hipófise se desenvolve de duas partes completamente diferentes: um crescimento superior do ectoderma do estomodeu, o divertículo hipofisário que forma a adeno-hipófise, e um crescimento inferior do ectoderma do diencéfalo, o divertículo neuro-hipofisário que forma a neuro-hipófise. • Células nos gânglios cranianos, espinhais e autonômicos são derivadas das células da crista neural, que se originam na crista neural. As células de Schwann, que fazem a mielinização dos axônios externos à medula metabólicos,uso, também se originam das células da crista neural. De modo similar, a maior parte do SNA e todo tecido cromafim, desenvolvem-se das células da crista neural. • Defeitos congênitos do SNC são comuns (aproximadamente 3 a cada 1.000 nascimentos). Defeitos do tubo neural (DTNs) no fechamento do tubo neural perfazem a maioria dos defeitos graves (p. ex., espinha bífida cística). Alguns defeitos congênitos são causados por fatores genéticos (p. ex., anormalidades numéricas cromossômicas, como a trissomia do 21 [síndrome de Down]). Outras resultam de fatores ambientais como agentes infecciosos, drogas e doença metabólica. Outros defeitos do SNC são causados por uma combinação de fatores genéticos e ambientais (herança multifatorial). • Grandes defeitos congênitos (p. ex., meroencefalia) são incompatíveis com a vida. Defeitos congênitos graves (p. ex., espinha bífida com meningomielocele) causam incapacidade funcional (p. ex., paralisia muscular dos membros inferiores). • Os dois tipos principais de hidrocefalia são a hidrocefalia obstrutiva ou não comunicante (bloqueio do fluxo do LCE no sistema ventricular) e hidrocefalia não obstrutiva ou comunicante (bloqueio do fluxo do LCE no espaço subaracnoide). Na maioria dos casos, a hidrocefalia congênita está associada a espinha bífida com meningomielocele. • Deficiência mental pode resultar de anormalidades cromossômicas que ocorrem durante a gametogênese, distúrbios metabólicos, uso abusivo materno de álcool, ou infecções ocorridas na vida pré-natal. SISTEMA UROGENITAL O sistema urogenital surge do mesoderme intermediário. O sistema urinário surge antes de começar o desenvolvimento gonadal. →O desenvolvimento renal começa com a formação de pares de nefrótomos que se conectam com um par de dutos néfricos primários. Caudalmente aos nefrótomos, pares de túbulos mesonéfricos se formam em uma sequência craniocaudal e se conectam aos dutos néfricos primários, que se tornam os dutos mesonéfricos. Na porção caudal de cada duto mesonéfrico, cresce um broto uretérico, que induz o mesoderme circundante a formar o metanefro. →O crescimento do broto uretérico é estimulado pelo GDNF, produzido pelo mesênquima metanefrogênico. Este sinal indutor está vinculado ao C-RET no broto uretérico. O FGF-2, a BMP-7 e o fator inibidor de leucemia, secretados pelo broto uretérico, estimulam a formação dos túbulos renais no mesênquima metanefrogênico. →Dentro dos metanefros em desenvolvimento, os néfrons (unidades funcionais do rim) se formam a partir de três fontes: o blastema metanefrogênico, o divertículo metanefrogênico e as células endoteliais vasculares residentes. Os néfrons continuam a se formar por toda a vida fetal. A formação dos néfrons envolve induções recíprocas entre os ramos terminais do sistema de dutos coletores (broto uretérico) e o mesoderme metanefrogênico. Muitas interações moleculares mediam estas induções. →Os rins surgem na bacia pélvica. Durante o final do período embrionário e o início do período fetal, os rins migram para a região abdominal, onde eles se associam às glândulas suprarrenais. A bexiga urinária surge da base do alantoide. →O sistema urinário está sujeito a várias malformações. A mais severa é a agenesia renal, que provavelmente é causada pela indução deficiente no período embrionário inicial. A migração anormal pode resultar em rins pélvicos, rins ectópicos ou rim em ferradura. A doença policística renal está associada a cistos em outros órgãos externos. O fechamento deficiente do alantoide resulta em cistos do úraco, seios ou fístulas. A determinação do sexo se inicia na fertilização pela contribuição de um cromossomo X ou Y ao zigoto através do esperma. O embrião inicial é indiferenciado sexualmente. Através da ação do gene Sry, a gônada indiferenciada nos homens se desenvolve nos testículos. Na ausência deste gene, a gônada se torna um ovário. →A diferenciação gonadal começa após a migração das CGPs para as gônadas indiferenciadas. Sob a influência do produto do gene Sry (fator determinante do testículo), os testículos começam a se diferenciar. A presença das células germinativas não é necessária para a diferenciação dos cordões testiculares. Nos testículos embrionários, as células de Leydig secretam testosterona e as células de Sertoli produzem a substância inibidora mülleriana. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Na ausência de expressão do Sry, a gônada se diferencia em um ovário, que apresenta folículos. A diferenciação folicular ovariana não ocorre na ausência das células germinativas. O sistema de dutos sexuais consiste nos dutos mesonéfricos (wolfiano) e paramesonéfricos (mülleriano). →O sistema de dutos é originalmente indiferenciado. No homem, a substância inibidora mülleriana promove a regressão do sistema de dutos paramesonéfricos, e a testosterona provoca um maior desenvolvimento do sistema de dutos mesonéfricos. →Nas mulheres, os dutos mesonéfricos regridem na ausência de testosterona, e os dutos paramesonéfricos persistem na falta da substância inibidora mülleriana. →Nos homens, os dutos mesonéfricos formam o duto deferente e originam as glândulas sexuais acessórias masculinas. Nas mulheres, os dutos paramesonéfricos formam as tubas uterinas, o útero e parte da vagina. →A descida dos testículos da cavidade abdominal para o escroto ocorre posteriormente no desenvolvimento. Os ovários também migram para uma posição mais caudal. A descida deficiente dos testículos resulta em criptorquidismo e está associada à esterilidade e a tumores testiculares. →A genitália externa também se origina de uma condição indiferenciada. Os componentesbásicos da genitália externa são o tubérculo genital, as pregas genitais e as intumescências genitais. Sob a influência da di-hidrotestosterona, o tubérculo genital se alonga em um falo e as pregas genitais se fusionam para formar a uretra peniana. As intumescências genitais formam o escroto. Nas mulheres, o tubérculo genital forma o clitóris, as pregas genitais formam os pequenos lábios e as intumescências genitais formam os grandes lábios. →Se um indivíduo possui somente um cromossomo X (XO), resulta na síndrome de Turner. Tais indivíduos apresentam um fenótipo feminino com gônadas vestigiais. O hermafroditismo verdadeiro ou o pseudo-hermafroditismo pode resultar de várias causas. A feminização testicular é encontrada em homens com deficiência genética nos receptores de testosterona. Tais indivíduos são fenotipicamente femininos. As principais anormalidades dos dutos sexuais são raras, porém, elas podem levar a duplicações ou à ausência do útero nas mulheres. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO . Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO SISTEMA DIGESTORIO • O intestino primitivo se forma a partir da porção dorsal da vesícula umbilical, que é incorporada ao interior do embrião. O endoderma do intestino primitivo dá origem ao revestimento epitelial do trato digestório, exceto nas porções cranial e caudal, que são derivadas do ectoderma do estomodeu e da membrana cloacal, respectivamente. Os componentes de tecido muscular e conjuntivo do trato digestório são derivados do mesênquima esplâncnico que circunda o intestino primitivo. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO • O intestino anterior dá origem à faringe, ao sistema respiratório inferior, ao esôfago, ao estômago, à porção proximal do duodeno, ao fígado, pâncreas e sistema biliar. Como a traqueia e o esôfago possuem uma origem comum, a partir do intestino anterior, a divisão incompleta pelo septo traqueoesofágico resulta em estenoses ou atresias, com ou sem fístulas entre elas. • O divertículo hepático, o primórdio do fígado, da vesícula biliar e do sistema de ductos biliares, é um crescimento do revestimento epitelial endodérmico do intestino anterior. Cordões epiteliais hepáticos se desenvolvem a partir do divertículo hepático e crescem no septo transverso. Entre as camadas do mesentério ventral, derivadas do septo transverso, células primordiais se diferenciam em tecidos hepáticos e nos revestimentos dos ductos do sistema biliar. • A atresia duodenal congênita resulta da falha do processo de vacuolização e recanalização que ocorre após a fase sólida normal de desenvolvimento do duodeno. Normalmente, as células epiteliais se degeneram e o lúmen do duodeno é restaurada. A obstrução do duodeno também pode ser causada por um pâncreas anular ou estenose pilórica. • O pâncreas se desenvolve a partir de brotos pancreáticos que se formam do revestimento endodérmico do intestino anterior. Quando o duodeno gira para a direita, o broto pancreático ventral se move dorsalmente e se funde com o broto pancreático dorsal. O broto pancreático ventral forma a maior parte da cabeça do pâncreas, incluindo o processo uncinado. O broto pancreático dorsal forma o restante do pâncreas. Em alguns fetos, os sistemas de ducto dos dois brotos não se fundem, e se forma um ducto pancreático acessório. • O intestino médio dá origem ao duodeno (a porção distal à entrada do ducto biliar), jejuno, íleo, ceco, apêndice, colo ascendente e à metade direita dois terços do colo transverso. O intestino médio forma uma alça intestinal umbilical em forma de U que hernia-se no cordão umbilical durante a sexta semana porque não há espaço suficiente para ele no abdome. Enquanto no cordão umbilical, a alça do intestino médio gira 90° em sentido anti-horário. Durante a 10ª semana, o intestino retorna ao abdome, girando mais 180°. • As onfaloceles, má rotações e fixações anormais do intestino resultam de falha no retorno ou rotação anormal do intestino. Como o intestino é normalmente ocluído durante a quinta e a sexta semanas, resulta em estenose (obstrução parcial), atresia (obstrução completa) e duplicações se a recanalização não ocorrer ou ocorrer de modo anormal. Remanescentes do ducto onfaloentérico podem persistir. Divertículos ileais são comuns; no entanto, poucos deles se tornam inflamados e produzem dor. • O intestino posterior dá origem ao terço esquerdo da metade do colo transverso, ao colo descente e ao colo sigmoide, o reto e a porção superior do canal anal. A porção inferior do canal anal se desenvolve a partir da fosseta anal. A porção caudal do intestino posterior divide a cloaca no seio urogenital e reto. O seio urogenital dá origem à bexiga urinária e à uretra. O reto e a porção superior do canal anal são separados do exterior pelo tampão epitelial. Essa massa de células epiteliais se decompõe ao final da oitava semana. • A maior parte das anomalias anorretais resulta da septação anormal da cloaca no reto e no canal anal posteriormente e da bexiga urinária e uretra anteriormente. O crescimento detido e/ou o desvio do septo urorretal causam a maior parte as anomalias anorretais, como a atresia retal e fístulas entre o reto e a uretra, a bexiga urinária ou a vagina SISTEMA TEGUMENTAR • A pele e seus anexos se desenvolvem a partir do ectoderma, do mesênquima e das células da crista neural. A epiderme é derivada do ectoderma de superfície e a derme é derivada do mesênquima. Melanócitos são derivados das células da crista neural que migram para a epiderme. • Células que descamam da epiderme misturadas com secreções das glândulas sebáceas formam a vernix caseosa, uma cobertura da pele esbranquiçada e gordurosa que protege a epiderme do feto. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO • Os pelos se desenvolvem a partir de invaginações da epiderme na derme. Na 20ª semana, aproximadamente, o feto está completamente recoberto por uma fina penugem (lanugo). Esses pelos fetais caem ao nascimento ou logo após e são substituídos por pelos mais grossos. • A maioria das glândulas sebáceas se desenvolve como evaginações da parte lateral de folículos pilosos; no entanto, algumas glândulas se desenvolvem como invaginações da epiderme na derme. As glândulas sudoríparas também se desenvolvem a partir de invaginações da epiderme na derme. As glândulas mamárias se desenvolvem de forma similar. • Defeitos congênitos da pele são essencialmente distúrbios de queratinização (ictiose) e de pigmentação (albinismo). O desenvolvimento anormal de vasos sanguíneos resulta em diversos tipos de angiomas. • As unhas podem estar ausentes ou malformadas. Pelos podem estar ausentes ou em excesso. • A ausência de glândulas mamárias é rara, mas mamas ou mamilos supranumerários (polimastia ou politelia, respectivamente) são relativamente comuns. • Os dentes se desenvolvem a partir do ectoderma, do mesoderma e de células da crista neural. O esmalte é produzido pelos ameloblastos, que são derivados do ectoderma oral; todos os outros tecidos dentários são derivados do mesênquima, que, por sua vez, é derivado do mesoderma e das células da crista neural. • São defeitos congênitos comuns nos dentes problemas na formação do esmalte e da dentina, anomalias na forma e variações no número e na posição. • Tetraciclinas são extensamente incorporadas ao esmalte e à dentina de dentes em desenvolvimento, produzindo manchas castanho-amareladas e hipoplasia do esmalte. Elas não devem ser prescritas a mulheres grávidas ou crianças menores de 8 anos de idade. DESENVOLVIMENTOS DOS OLHOS E DAS ESTRUTURAS RELACIONADAS DESENVOLVIMENTO DOS OLHOS • A primeira indicação do desenvolvimento dos olhos são os sulcos ópticos nas pregas neurais na extremidade craniana do embrião.Os sulcos se formam no início da quarta semana e se aprofundam para formar a cavidade das vesículas ópticas que se projetam do prosencéfalo. • As vesículas ópticas entram em contato com o ectoderma de superfície e induzem o desenvolvimento dos placoides do cristalino. • Conforme o placoide do cristalino se espessa para formar a fosseta do cristalino e as vesículas do cristalino, as vesículas ópticas se invaginam para formar o cálice óptico. A retina deriva das duas camadas do cálice óptico. • A retina, as fibras do nervo óptico, os músculos e o epitélio da íris, e o corpo ciliar são derivados do neuroectoderma do prosencéfalo. O esfíncter e o músculo dilatador da íris se desenvolvem a partir do ectoderma da borda do cálice óptico. O ectoderma da superfície dá origem ao cristalino e ao epitélio das glândulas lacrimais, pálpebras, conjuntiva e córnea. O mesênquima forma os músculos do olho, com exceção daqueles da íris, e a todos os tecidos conjuntivos e vasculares na córnea, íris, corpo ciliar, corioide e esclera. • Os olhos são sensíveis a efeitos teratogênicos de agentes infecciosos (p. ex., citomegalovírus). Defeitos de visão podem resultar de infecção de tecidos e órgãos por determinados microrganismos durante o período fetal (p. ex., vírus da rubéola, Treponema pallidum [causador da sífilis]). • A maioria dos defeitos é causada pelo fechamento defeituoso da fissura retiniana durante a sexta semana (p. ex., coloboma da íris). • Catarata e glaucoma congênito podem resultar de infecções intrauterinas, mas a maioria das cataratas congênitas é hereditária DESENVOLVIMENTO DAS ORELHAS • A vesícula ótica se desenvolve a partir do ectoderma da superfície durante a quarta semana. A vesícula desenvolve- se no labirinto membranoso da orelha interna. • A vesícula ótica é dividida em uma parte utricular dorsal, que dá origem ao utrículo, aos ductos semicirculares e ao ducto endolinfático, e uma parte sacular ventral, que dá origem ao sáculo e ao ducto coclear. O ducto coclear origina o órgão espiral. • O labirinto ósseo se desenvolve a partir do mesênquima adjacente ao labirinto membranoso. O epitélio que reveste a cavidade timpânica, o antro mastóideo e a tuba faringotimpânica deriva do endoderma do recesso tubotimpânico, que, por sua vez, se desenvolve a partir da primeira bolsa faríngea. • Os ossículos da audição se desenvolvem das extremidades dorsais da cartilagem presente nos dois primeiros arcos faríngeos. O epitélio do meato acústico externo se origina do ectoderma do primeiro sulco faríngeo. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO • A membrana timpânica tem três fontes de origem: do endoderma da primeira bolsa faríngea, do ectoderma do primeiro sulco faríngeo e do mesênquima situado entre essas duas camadas. • A orelha (pavilhão auricular) tem origem na fusão das seis proeminências auriculares, que se formam a partir de proeminências mesenquimais situadas nas margens do primeiro sulco faríngeo. • A surdez congênita pode resultar de desenvolvimento anormal do labirinto membranoso, do labirinto ósseo ou dos ossículos da audição. A herança recessiva é a causa mais comum de surdez congênita, mas uma infecção por vírus da rubéola próximo ao final do período embrionário é a maior causa de desenvolvimento anormal do órgão espiral e de deficiência auditiva. • Numerosas anomalias de menor importância afetam o pavilhão; no entanto, algumas delas podem alertar os clínicos quanto a possível presença de anomalias associadas de maior relevância (p. ex., defeitos da orelha média). Orelhas severamente malformadas e de baixa implantação estão frequentemente associadas com anormalidades cromossômicas, em particular a trissomia do 13 e a trissomia do 18. DESENVOLVIMENTO DOS MEMBROS Os brotos dos membros aparecem perto do final da quarta semana de gestação como pequenas protuberâncias na parede ventrolateral do corpo. O desenvolvimento dos brotos dos membros superiores inicia-se aproximadamente com 2 dias de vantagem do desenvolvimento dos brotos dos membros inferiores. Os tecidos dos brotos dos membros são derivados de duas fontes principais, mesoderma e ectoderma. • A crista ectodérmica apical (CEA) (crista ectodérmica apical) exerce uma influência indutora no mesênquima do membro, promovendo o crescimento e o desenvolvimento dos membros. Os brotos dos membros se alongam pela proliferação do mesênquima dentro dele. A apoptose é um mecanismo importante no desenvolvimento dos membros; por exemplo, na degeneração do tecido nos sulcos entre os raios digitais. • Os músculos dos membros são derivados de mesênquima (células precursoras miogênicas), originados dos somitos. As células formadoras dos músculos (mioblastos) formam massas musculares dorsal e ventral. Os nervos crescem para os brotos dos membros após as massas musculares estarem formadas. A maioria dos vasos sanguíneos nos brotos dos membros origina-se como brotos das artérias intersegmentares. • Inicialmente, os membros em desenvolvimento são direcionados caudalmente; mais tarde, eles se projetam ventralmente; e finalmente, eles giram em seus eixos longitudinais. Os membros superiores e inferiores giram em direções opostas e em graus diferentes. • A maioria dos defeitos congênitos dos membros é causada por fatores genéticos; entretanto, muitos defeitos resultam provavelmente de uma interação de fatores genéticos e ambientais (herança multifatorial). SISTEMA RESPIRATÓRIO • Na quarta semana, um divertículo laringotraqueal se desenvolve no assoalho da faringe primitiva. • O divertículo laringotraqueal torna-se separado do intestino anterior pelas pregas traqueoesofágicas que se fusionam para formar o septo traqueoesofágico. Esse septo resulta na formação do esôfago e do tubo laringotraqueal. • O endoderma do tubo laringotraqueal origina o epitélio dos órgãos respiratórios inferiores e das glândulas traqueobrônquicas. O mesênquima esplâncnico ao redor do tubo laringotraqueal forma o tecido conjuntivo, a cartilagem, o músculo, os vasos sanguíneos e os vasos linfáticos desses órgãos. • O mesênquima do arco faríngeo contribui para a formação da epiglote e do tecido conjuntivo da laringe. Os músculos da laringe são derivados do mesênquima dos arcos faríngeos caudais. As cartilagens da laringe são derivadas das células da crista neural. • A extremidade distal do divertículo laringotraqueal forma o broto respiratório que se divide em dois brotos brônquicos. Cada broto brônquico logo se expande para formar o brônquio principal e, em seguida, o brônquio principal subdivide-se para formar os ramos brônquicos lobares, segmentares e subsegmentares. • Cada broto brônquico terciário (broto brônquico segmentar), com seu mesênquima ao redor, é o primórdio do segmento broncopulmonar. As ramificações continuam até aproximadamente 17 ordens de ramos serem formadas. Vias respiratórias adicionais são formadas após o nascimento, até aproximadamente 24 ordens de ramos estarem presentes. • O desenvolvimento dos pulmões é dividido em quatro estágios: O pseudoglandular (6 a 16 semanas), o canalicular (16 a 26 semanas), saco terminal (26 semanas ao nascimento) e estágio alveolar (32 semanas até aproximadamente 8 anos de idade). • Por volta da 20ª a 22ª semana, o pneumócito tipo II começa a secretar o surfactante pulmonar. A Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO deficiência do surfactante resulta na SAR ou doença da membrana hialina. • A FTE, que resulta da divisão defeituosa do intestino anterior em esôfago e traqueia, é normalmente associada à atresia esofágica. SEGUENCIA NO PROBLEMA 5 APARELHO FARÍNGEO, FACE E PESCOÇO • A faringe primitiva é limitada lateralmente pelos arcos faríngeos. Cada arco consiste em um núcleo de mesênquima coberto externamente pelo ectoderma e internamente pelo endoderma. O mesênquima originalde cada arco é derivado do mesoderma. Mais tarde, células da crista neural migram para os arcos e são a principal fonte de componentes de tecido conjuntivo, incluindo cartilagem, osso e ligamentos das regiões oral e facial. Cada arco contém uma artéria, uma haste cartilaginosa, nervos e componente muscular. • Externamente, os arcos faríngeos são separados pelos sulcos faríngeos. Internamente, os arcos são separados por evaginações da faringe (bolsas faríngeas). Em que o ectoderma de um sulco entra em contato com o endoderma de uma bolsa, as membranas faríngeas são formadas. • Os sulcos faríngeos desaparecem, exceto para os do primeiro par, que persistem como meato acústico externo. As membranas faríngeas também desaparecem, exceto as do primeiro par, que se tornam as membranas timpânicas. A primeira bolsa faríngea forma a cavidade timpânica, o antro mastoide e a tuba faringotimpânica. A segunda bolsa faríngea está associada ao desenvolvimento da tonsila palatina. • O timo é derivado do terceiro par de bolsas faríngeas, e as glândulas paratireoides são formadas a partir do terceiro e quarto pares de bolsas. • A glândula tireoide desenvolve-se a partir de um crescimento para baixo do assoalho da faringe primitiva na região onde a língua se desenvolve. As células parafoliculares (células C) na glândula tireoide são derivadas de corpos ultimofaríngeos, que são derivados principalmente do quarto par de bolsas faríngeas. • Os cistos, seios e fístulas cervicais podem desenvolver-se de partes do segundo sulco faríngeo, o seio cervical, ou da segunda bolsa faríngea que falha para se obliterar. • Uma glândula tireoide ectópica resulta quando a glândula falha em descer completamente de seu local de origem na língua. O ducto tireoglosso pode persistir, ou os seus remanescentes podem formar cistos do ducto tireoglosso e massas de tecido tireóideo ectópico. Cistos infectados podem perfurar a pele e formar seios do ducto tireoglosso que se abrem anteriormente no plano mediano do pescoço. • Fenda do lábio superior é uma anomalia congênita comum. Embora frequentemente associada à fenda palatina, à fenda labial e à fenda palatina são etiologicamente defeitos distintos, que envolvem diferentes processos do desenvolvimento, que ocorrem em tempos diferentes. A fenda do lábio superior resulta da falha de massas mesenquimais de se fundirem nas proeminências nasais mediais e maxilares, enquanto a fenda palatina resulta da falha de massas mesenquimais nos processos palatinos de se encontrarem e se fundirem. A maior parte dos casos de fenda labial, com ou sem fenda palatina, é causada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais (herança multifatorial; MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Aparelho Faríngeo, Face e Pescoço. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Desenvolvimentos dos olhos e das estruturas relacionadas. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Desenvolvimentos dos membros. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Sistema Respirátorio.In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Placenta e Membranas Fetais. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Sistema Nervoso. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Sistema Urogenital. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Sistema Digestorio. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Sistema Tegumentar. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO PRINCIPAIS DOENÇAS INFECCIOSAS QUE COMPLICAM A GESTAÇÃO (TORSCH, AIDS, CLAMIDIA, HEPATITES VIRAIS, TUBEERCULOSE, ZIKA), COM ENFASE EM SÍFILIS- DIAGNOSTICO, TRATAMENTO DA MÃE (GESTACIONAL E CONGENITA), REPERCUSSOES PARA A GESTAÇÃO E O FETO O termo “infecção congênita” refere- -se as infecções adquiridas intraútero ou durante o trabalho de parto, devido à uma infecção aguda materna ou reativação/ reinfecção materna. Sob o acrônimo TORCHS, foram agrupadas as cinco infecções congênitas mais prevalentes: TRIAGEM PRÉ-NATAL No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda o rastreamento de rotina para SÍFILIS, TOXOPLASMOSE E HIV desde a primeira consulta pré-natal. ➔O rastreamento para RUBÉOLA é indicado apenas se a gestante apresentar sinais sugestivos da doença. ➔A HEPATITE B deve ser rastreada na primeira consulta e no terceiro trimestre. ➔O rastreamento de CMV não é recomendado, pois a evidencia disponível não embasa o rastreamento de rotina, já que a descoberta da infecção não traria benefícios/prevenção para o feto. Vale ressaltar que, apesar de algumas doenças não serem rastreadas, não é incorreto sua solicitação. INFECÇÃO PRÉ-NATAL As relações entre o feto e a mãe são necessariamente feitas pela membrana placentária e a Mini ótica ponto assim, as vias de penetração dos germes são divididas em 2 grupos: via transplacentária e via transamniótica. INFECÇÃO TRANSPLACENTÁRIA: os microrganismos procedentes do sangue materno cruzam a placenta, alcançam a circulação fetal e disseminam se. INFECÇÃO TRANS AMNIÓTICA: os germes da vagina e do colo acometem a cavidade amniótica e o feto. A via trans amniótica é ascendente, geralmente após a ruptura das membranas. INFECÇÃO PARANATAL É adquirida por contato direto com as secreções maternas, no momento da passagem do feto pelo canal do parto. O mesmo ocorre por infecção por HERPES VÍRUS SIMPLES GENITAL, HEPATITE B, STREPTOCOCCUS DO GRUPO B, que condicionam infecção neonatal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Deve-se suspeitar de infecções congênitas em casos de: • Restrição de crescimento intrauterino; • Hepatoesplenomegalia; • Exantema; • Cardiopatias; • Lesões ósseas; • Alterações Sistema Nervoso Central, como: micro/hidrocefalia, calcificações intracranianas; • Alterações oculares: coriorretinite, catarata; • Alterações hematológicas: anemia, plaquetopenia. Algumas manifestações são mais prevalentes e deve-se associar às principais doenças: Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO SÍFILIS O único hospedeiro natural conhecido para o T. pallidum é o ser humano; O T. pallidum penetra rapidamente nas mucosas íntegras ou em escoriações microscópicas da pele e, em poucas horas, alcança os vasos linfáticos e sanguíneos, provocando infecção sistêmica e focos metastáticos muito antes da lesão primária. →A lesão primária aparece no local de inoculação, persiste habitualmente por 4-6 semanas e cicatriza espontaneamente. O exame histopatológico revela infiltração perivascular, principalmente por linfócitos TCD4+ e CD8+, plasmócitos e macrófagos, com proliferação endotelial capilar e obliteração dos pequenos vasos sanguíneos. A infiltração celular exibe um perfil de citocinas do tipo Th1 compatível com a ativação dos macrófagos. →As manifestações generalizadas da sífilis secundária surgem habitualmente cerca de 6-8 semanas após a cicatrização do cancro duro, no entanto, algumas lesões secundárias podem aparecer na presença de cancro persistente, podem surgir vários meses após a cicatrização ou podem não aparecer em nenhum momento, passando para o estágio latente sem a manifestação das lesões secundárias. As características das lesões cutâneas maculo papulosas secundárias consistem em hiperceratose da epiderme, proliferação capilar com tumefação endotelial do cório superficial, papilas dérmicas com transmigraçãode leucócitos polimorfonucleares e, no cório mais profundo, infiltração perivascular por linfócitos T CD8+ e CD4+, macrófagos e plasmócitos. Os treponemas são encontrados em muitos tecidos, como o humor aquoso dos olhos e o líquido cefalorraquidiano (LCR). CLÍNICA SÍFILIS PRIMÁRIA: manifestação clínica depende do número de treponemas inoculados e do estado imunológico do paciente; caracteriza-se pelo surgimento do CANCRO DURO, após um intervalo de 10-90 dias da infecção (média 21 dias); corresponde a uma lesão ulcerada, geralmente única e indolor, medindo 1-2cm, com bordas bem delimitadas, endurecidas e elevadas; geralmente acompanhada de linfadenopatia inguinal, móvel, indolor, sem sinais flogísticos; esse estágios pode durar de 2-6 semanas e desaparecer de forma espontânea, independente do tratamento. SÍFILIS SECUNDÁRIA: quadro clínico geralmente surge entre seis semanas e seis meses após a infecção e duram, em média, entre 4-12 semanas; podem ocorrer erupções cutâneas em forma de máculas (roséolas) e/ou pápulas, principalmente no tronco, lesões eritemato-escamosas palmo- plantares (forte indicação de sífilis secundária), placas eritematosas branco-acinzentadas nas mucosas, lesões pápulo-hipertróficas nas mucosas ou pregas cutâneas (condiloma plano ou lata), alopecia em clareira, madarose, febre, mal- estar, adinamia e mal-estar generalizado; nesse estágio, há presença significativa de resposta imune, com intensa produção de anticorpos contra o treponema. SÍFILIS LATENTE: se caracteriza pela ausência de manifestações clínicas e pode durar de 3 a 20 anos; o diagnóstico só pode ser feito por testes sorológicos; é dividida em recente (evolução < 1ano) e tardia (evolução > 1ano). SÍFILIS TERCIÁRIA: ocorre em, aproximadamente, em 30% das infecções não tratadas, após um longo período de latência, podendo surgir entre 2-40 anos depois do início da infecção; a sífilis nesse estágio se manifesta na forma de inflamação e destruição tecidual. As principais lesões são as seguintes: ➢ Cutâneas: gomosas e nodulares, de caráter destrutivo. ➢ Ósseas: periostite, osteíte gomosa ou esclerosante, artrites, sinovites e nódulos justa- articulares. ➢ Cardiovasculares: aortite sifilítica, aneurisma e estenosa de coronárias. ➢ Neurológicas: meningite aguda, goma do cérebro ou da medula, atrofia do nervo óptico, lesão do VII par, paralisia geral, tabes dorsalis (degeneração lenta dos neurônios sensitivos) e demência. * gomas sifilíticas: tumorações com tendência a liquefação. SÍFILIS CONGÊNITA: A sífilis congênita é adquirida por meio da disseminação do Treponema pallidum da mãe para o feto, principalmente por via transplacentária. O treponema provoca um processo inflamatório, comprometendo todos os órgãos do recém-nascido, com lesões viscerais, ósseas, pele e mucosas, e sistema nervoso central. Além da prematuridade e do baixo peso ao nascimento, as principais manifestações clínicas são Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO hepatomegalia com ou sem esplenomegalia, lesões cutâneas (pênfigo palmoplantar, condiloma plano), periostite, osteíte ou osteocondrite, pseudoparalisia dos membros (pseudoparalisia de Parrot), sofrimento respiratório com ou sem pneumonia, rinite serossanguinolenta, icterícia, anemia e linfadenopatia generalizada. ➔A Sífilis Congênita é o resultado da disseminação hematogênica do Treponema pallidum por via transplacentária, da gestante infectada não tratada ou inadequadamente tratada para o seu concepto. Ocasionalmente, pode ocorrer por contato direto com a lesão no momento do parto. ➔A maioria dos casos acontece porque a mãe não foi testada para sífilis durante o planejamento reprodutivo, no pré-natal ou porque recebeu tratamento não adequado para sífilis antes ou durante a gestação. →Nos últimos meses de gestação, e a infecção esta na fase aguda as chances de transmissão são maiores; Além disso, pode se manifestar tardiamente após o segundo ano de vida (sífilis congênita tardia) em que as principais manifestações são: NEUROSSIFILIS Infecção do sistema nervoso central (SNC) pelo Treponemapallidum, subespécie pallidum ou T.pallidum. A neurossífilis pode ocorrer a qualquer momento após a infecção inicial, mas, caracteristicamente, com aparecimento tardio. Na fase aguda, as formas mais comuns de neurossífilis envolvem líquido cefalorraquidiano (LCR),meninges e vasculatura (meningite assintomática, meningite sintomática e doençameningovascular). Na fase tardia da doença, as formas mais comuns envolvem o parênquima cerebral e a medula espinal. DIAGNÓSTICO SÍFILIS ➔Pesquisa direta: pode ser feita através de microscopia de campo escuro (sensibilidade de 74 a 86%), imunofluorescência direta, exame de material corado, biópsias. ➔ Testes imunológicos: são os mais utilizados na prática; para o diagnóstico devem ser utilizados testes treponêmicos + testes não treponêmicos. ➢ Treponêmicos: detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos do T. pallidum; Exemplos: testes de hemaglutinação e aglutinação passiva (TPHA), teste de imunofluorescência indireta (FTA-Abs), quimioluminescência (EQL), ensaio imunoenzimático indireto (ELISA), testes rápidos. ➢ Não treponêmicos: detectam anticorpos não específicos para os antígenos do T. pallidum; podem ser quantitativos (titulação de anticorpos) ou qualitativos (presença ou ausência de anticorpo). Exemplos: VDRL, RPR (Rapid Test Reagin), TRUST. TRATAMENTO ➔Sífilis primária, secundária e latente recente: Penicilina G benzatina, 2,4milhões UI, IM, dose única (1,2milhão UI em cada glúteo). Alternativa: Doxiciclina 100mg, VO, 2x/dia, por 15 dias (exceto gestantes) OU Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1x/dia, por 8-10 dias. ➔Sífilis latente tardia ou de duração desconhecida e terciária: Penicilina G benzatina, 2,4milhões UI, IM, dose única (1,2milhão UI em cada glúteo), semanal, durante três semanas. (Dose total: 7,2 milhões UI). Alternativa: Doxiciclina 100mg, VO, 2x/dia, por 30 dias (exceto gestantes) OU Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1x/dia, por 8-10 dias. ➔Neurossífilis: Penicilina cristalina, 18-24 milhões UI/dia, IV, administrada em doses de 3-4 milhões a Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO cada 4 horas ou por infusão contínua, durante 14 dias. Alternativa: Ceftriaxona 2g, IV ou IM, 1x/dia, por 10- 14 dias. ➔A primeira escolha para o tratamento da sífilis é a BENZILPENICILINA, administrada por via intramuscular em adultos, adolescentes e gestantes, medicamento altamente eficaz, de alta qualidade, baixo custo, baixa toxicidade, resistência microbiana rara, dose única e sem contraindicação de uso em gestantes (WHO, 2016). ➔único medicamento recomendado para tratamento de sífilis durante a gestação Um estudo realizado com 340 gestantes infectadas com sífilis mostrou que a benzilpenicilina fora eficaz em tratar 99.7% dos casos da doença nas mães, e 98.0% eficaz em prevenir a infecção congênita (Alexander et al., 1999). O tratamento de pacientes com sífilis que apresentam alergia comprovada à penicilina e/ou quando há déficit na produção de benzilpenicilina, limitando sua disponibilidade, podem compor um grande desafio. Fluoroquinolonas, sulfonamidas e aminoglicosídeos não são antimicrobianos eficazes. Assim, a OMS preconiza o uso de doxiciclina, dependendo do estágio da infecção e em mulheres que não estejam gestantes, porém com uma grande preocupação relacionada à não adesão ao tratamento medicamentoso, visto que, apesar de apresentar baixo custo e ser administrada por via oral, o período de uso é prolongado. ➔Para o tratamento da sífilis na gravidez, não existe uma alternativa recomendada para as mulheres com hipersensibilidade à penicilina e, nestes casos, utiliza-se, portanto, a sua dessensibilização. É recomendado o uso de benzilpenicilina aquosa (ou penicilina G cristalina)por via endovenosa ou penicilina G procaína por via intramuscular (WHO, 2016). TOXOPLASMOSE CONGÊNITA O Toxoplasma gondii é um protozoário intracelular obrigatório que afeta cerca de 1/3 da população mundial. Cerca de 40% das gestantes infectadas transmitirão a doença para o feto se não forem tratadas adequadamente. ➔O risco de transmissão aumenta com o avanço da gravidez (já que a permeabilidade da barreira placentária aumenta com a idade gestacional), enquanto que o grau de comprometimento é maior no início da gravidez. ➔A maioria das crianças (70%) serão assintomáticas ao nascimento, porém têm elevadas frequências de prematuridade, retardo do crescimento intrauterino, anormalidades liquóricas e cicatrizes de coriorretinite. ➔Cerca de 10% terão manifestação grave nos primeiros dias de vida. Podem apresentar doença multissistêmica ou isoladamente, afetando o sistema nervoso e/ou a forma ocular. As sequelas neurológicas mais encontradas são hidrocefalia, microcefalia, retardo psicomotor, convulsões, hipertonia muscular, hiperreflexia tendinosa e paralisias. Quanto às complicações oftalmológicas, podem- se observar microftalmia, sinéquia de globo ocular, estrabismo, nistagmo e catarata. PREVENÇÃO: Uma vez que não existem vacinas efetivas para a toxoplasmose, a prevenção primária da doença congênita é baseada na redução do risco de primoinfecção em gestantes suscetíveis. Essas medidas de prevenção incluem políticas públicas sanitárias para diminuir as fontes de contaminação e orientações higiênico-dietéticas às gestantes voltadas para as principais situações de risco; → O rastreamento sorológico da toxoplasmose na rotina do pré-natal permite identificar e orientar gestantes suscetíveis quanto ao risco de infecção e medidas higiênico-dietéticas cabíveis. Em gestantes suscetíveis, o exame sorológico é repetido a cada 2 meses. Diante da soro conversão, institui-se a quimioprolaxia com espiramicina, e avaliam-se os riscos de transmissão e acometimento fetais de acordo com a idade gestacional. Diante da comprovação de infecção fetal, institui-se terapêutica com sulfadiazina e pirimetamina; Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO RUBÉOLA CONGÊNITA Causada pelo vírus RNA do gênero Rubivirus. Pode se apresentar de duas formas: infecção congênita ou síndrome da rubéola congênita (SRC). A transmissão da rubéola se dá por meio das secreções respiratórias. O período de transmissibilidade dos indivíduos infectados se inicia cerca de 1 semana antes do início do quadro clínico, juntamente à viremia, e persiste até 5 a 7 dias após a instalação do exantema. O período de incubação dura em torno de 2 semanas. A infecção engloba os eventos associados à infecção intrauterina pelo vírus, como morte fetal, parto prematuro e defeitos congênitos; enquanto que a SRC refere-se à variedade de defeitos presentes em neonatos filhos de mães que apresentaram infecção pelo vírus da rubéola durante a gestação (deficiência auditiva, catarata, defeitos cardíacos, etc.). As manifestações precoces são: perda auditiva, cardiopatias congênitas, catarata e microcefalia. Já as tardias incluem: perda auditiva, distúrbios endócrinos e panencefalite. ➔ O vírus da rubéola apresenta elevada toxicidade para os tecidos embrionários, podendo acarretar em graves repercussões no feto, inclusive o óbito, sendo esse risco diminuído em estágios avançados da gestação; ➔Acometimento fetal: A tríade clássica da síndrome da rubéola congênita foi descrita originalmente por Gregg,5 em 1941, e é composta por anormalidade cardíaca, catarata e surdez congênitas. ➔Infecção materna: Diagnóstico clínico: A rubéola é caracterizada por um rash cutâneo que se inicia na face e gradualmente evolui para o tronco e as extremidades. Esse quadro em geral é precedido por febre, linfadenopatia, artralgia e queixas respiratórias. Em muitas ocasiões, o quadro clínico é inespecí!co, o que torna o diagnóstico preciso mais difícil. Além disso, cerca de 20 a 50% das infecções são assintomáticas. Complicações raras da doença incluem encefalite e neurites, trombocitopenia hemorrágica e conjuntivite. PREVENÇÃO E TRATAMENTO: VACINAÇÃO → A síndrome da rubéola congênita é doença grave e potencialmente erradicável com a vacinação de mulheres em idade reprodutiva. Os casos de infecção materna durante a primeira metade da gestação, particularmente no primeiro trimestre, embora tenham menor risco de transmissão vertical, apresentam alto risco de acometimento fetal se houver infecção do concepto. HERPES SIMPLES VÍRUS O HSV é vírus DNA membro da família Herpesviridae. Infecta o ser humano através de inoculação oral, genital, mucosa conjuntival ou pele com solução de continuidade. Daí infecta os nervos terminais de onde é transportado, via axônios, até as raízes ganglionares dorsais, onde permanece latente durante toda a vida do hospedeiro. No estado de latência, esses vírus não são suscetíveis às drogas antivirais. Na infecção transmitida por viremia materna predominam sinais de infecção placentária, como infarto, necrose, calcificações e sinais de envolvimento fetal grave como hidropsia. A morte do concepto geralmente ocorre. Os sobreviventes exibem lesões de pele (vesículas, ulcerações ou cicatrizes), lesões oculares e graves anomalias do SNC, como microcefalia e hidranencefalia. CITOMEGALOVÍRUS O citomegalovírus pertence à família Herpesviridae e é considerado um dos principais patógenos da atualidade. Assim como os demais herpes vírus, o CMV estabelece infecção, podendo ocorrer episódios de reativação da infecção ao longo da vida do indivíduo. ➔O citomegalovírus pode ser detectado em secreções da orofaringe, no sêmen, na secreção vaginal, no leite materno, no sangue, na urina e nas lágrimas. A transmissão pode ocorrer por diversas maneiras, sendo as principais: sexual (evidências sugerem alta concentração vaginal de CMV durante a primoinfecção), contato próximo (transmissão por saliva e trato respiratório superior), hemotransfusão, exposição ocupacional e transmissão vertical ➔ Infecção primária ou episódio de reinfecção pode ocorrer em aproximadamente de 1 a 4% das gestantes. ➔ A infecção por citomegalovírus é assintomática e apresenta quadro inespecífico ou mononucleose-símile, o que se traduz em difícil diagnóstico clínico específico para a maioria dos casos. ➔Existe risco de transmissão do citomegalovírus pelo leite materno para lactentes prematuros e imunodeficientes. Os recém-nascidos prematuros citomegalovírus-soronegativos não devem receber Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO leite humano de mães com sorologia positiva (de banco de leite ou da própria mãe). Para o recém- nascido a termo, o leite humano pode ser congelado a -20°C por 7 dias ou pasteurizado, para então ser oferecido ao recém-nascido nas primeiras semanas de vida. A infecção por citomegalovírus leva à progressão da doença em recém-nascidos de mães HIV-1-positivo. ➔ As possibilidades de acometimento fetal incluem restrição do crescimento, microcefalia, hepatoesplenomegalia, petéquias, icterícia, coriorretinite, trombocitopenia, anemia, alças intestinais hiperecogênicas, alterações do sistema nervoso central (SNC) e cardíacas. Também pode ser considerada a infecção congênita por citomegalovírus em casos de óbito fetal sem causa aparente. → A citomegalia é a infecção intrauterina mais comum e incide em até 2,5% dos nascidos vivos. A despeito de sua frequência e de ser causa importante de surdez e déficit neurológico na infância, não se recomenda o rastreamento sorológico de rotina durante a gestação. Quando há comprovação de infecção primária durante a gestação, o risco de acometimento fetal é de cerca de 10%; INVESTIGAÇÃO DIAGNOSTICA PARA TORSCH A investigação será realizada através de alguns exames:Quanto aos exames específicos, temos: • Toxoplasmose: Os testes sorológicos mais usados são a imunofluorescência indireta e o teste imunoenzimático (ELISA) detectando anticorpos da classe IgG, IgM e IgA; • Sífilis: O padrão-ouro é a identificação do agente etiológico por microscopia de campo escuro. A amostra utilizada é o exsudato seroso das lesões ativas. Possui sensibilidade de 74-86% e especificidade de 87%, porém possui técnica complicada, assim, os testes sorológicos são mais aplicados: ◊ Testes treponênicos (utilizam o T. pallidum): São testes que detectam anticorpos específicos contra o T. pallidum, podendo ser utilizados como triagem ou na confirmação de resultados, são eles: FTA-Abs (S: 70-100%/ E: 94-100%*), Hemoaglutinação passiva – TPHA (S: 85-100%/ E: 98- 100%); Ensaio imunoenzimático – ELISA (S: 82-100% / E: 97- 100%). ◊ Testes não treponêmicos (detectam produção de anticorpos IgG e IgM): Utilizados para triagem e monitoramento da infecção, são eles: VDRL (S: 78- 100%/ E: 98-100%) e RPR (S: 86-100%/ E: 93-98%) *S: Sensibilidade/ E: Especificidade. • Rubéola: Pesquisa de anticorpos IgM e IgG; PCR para identificação do RNA viral ou isolamento viral através de secreções da orofaringe. • Herpes simples: A detecção do HSV DNA pela PCR é o mais utilizado. O isolamento do vírus não é muito disponível na prática. • CMV: Detecção realizada através da identificação do DNA viral pela PCR. Testes serológicos de IgM e IgG específicos para CMV. NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA Algumas doenças tratadas devem ser notificadas pelo profissional de saúde: • TOXOPLASMOSE GESTACIONAL E CONGENITA; • SIFILIS GESTACIONAL E CONGENITA; • SRC • VARICELA GRAVE Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO HIV e TRANSMISSAO VERTICAL As gestantes diagnosticadas, a partir de qualquer metodologia de teste, com HIV, deverão ser encaminhadas para o seguimento pré-natal de alto risco ou para um Serviço de Atenção Especializada (SAE) de acordo com a situação clínica. O vínculo com a atenção básica deverá ser mantido. Preconiza-se que seja estabelecido uma boa relação profissional-usuário, utilizando sempre uma linguagem acessível à pessoa para que se explique os aspectos essenciais da infecção causada pelo HIV, assim como a importância do acompanhamento clínico-laboratorial e da terapia anti-retroviral (TARV), contribuindo assim para uma boa adesão ao tratamento e ao seguimento. Na abordagem inicial deve-se: ● Avaliar o nível de conhecimento da gestante sobre a doença e explicar a infecção pelo HIV e sua evolução e os riscos da transmissão vertical ● Enfatizar o impacto positivo do início precoce da TARV para a prevenção da transmissão vertical e para melhora da qualidade de vida ● Identificar alguma condição que necessite intervenção imediata, como sinais sugestivos de infecção oportunista ● Avaliar parcerias sexuais e filhos para possível infecção ● Abordar aspectos da saúde sexual e prevenção No atendimento inicial deve-se coletar informações específicas sobre a infecção pelo HIV, tais como: ● Documentação do teste e tempo provável de soropositividade ● Situações de risco para infecção ● Presença ou história de infecções oportunistas ● Contagem de Linfócitos T-CD4+ (LT-CD4+) e Carga Viral do HIV (CV-HIV), genotipagem e início da TARV ● História de uso anterior de anti-retrovirais ● Cartão de imunizações ● Compreensão sobre a doença ● Incentivo ao uso do preservativo História de sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) ➔Avaliação laboratorial inicial Durante o acompanhamento da gestante infectada pelo HIV, devem ser realizados pelo menos três exames de CV-HIV durante a gestação: ● Na primeira consulta do pré-natal, para conhecer a magnitude da viremia ● Duas a quatro semanas após a introdução da TARV, para avaliar a resposta ao tratamento ● A partir da 34ª semana, para indicação da via de parto INVESTIGAÇÃO DE TB Já que tuberculose é a principal causa de óbito em pacientes portadores de HIV, recomenda-se a pesquisa em todas as consultas quanto à presença de sintomas respiratórios e provável contato íntimo com um sintomático respiratório. TERAPIA ANTIRRETROVIRAL A TARV está indicada para toda gestante infectada pelo HIV, independentemente de critérios clínicos e imunológicos, e não deverá ser suspensa após o parto, independentemente do nível de LT- CD4+ no momento do início do tratamento. MANEJO DA MULHER VIVENDO COM HIV NO PUERPÉRIO A puérpera deverá ser orientada sobre a importância de seu acompanhamento clínico e ginecológico e sobre a importância da continuidade de seu tratamento. O RAL poderá ser trocado para o DTG nas puérperas até 90 dias após o parto, porém a paciente deverá estar com boa adesão à TARV e com CV-HIV indetectável e não deve ter contraindicações ao DTG . ➔Recomenda-se para toda puérpera vivendo com HIV que não amamente, pois o aleitamento materno contribui substancialmente para a TV do HIV. ➔A puérpera deverá ser orientada sobre o direito de receber a fórmula láctea infantil. A inibição farmacológica da lactação deve ser realizada imediatamente após o parto, com cabergolina 1 mg VO, em dose única. Na ausência dos inibidores de lactação farmacológicos, pode ser realizado o enfaixamento das mamas com atadura, imediatamente após o parto, com cuidado para não restringir os movimentos respiratórios, por 10 dias, evitando a manipulação e estimulação das mamas. Esse método deve ser realizado apenas na falta dos inibidores farmacológicos. QUIMIOPROFILAXIA DO RN EXPOSTO AO HIV O RN deverá receber AZT solução oral, preferencialmente na sala de parto, logo após os cuidados imediatos ou nas primeiras quatro horas após o nascimento e o tratamento deverá ser mantido durante as primeiras quatro semanas de vida. Caso a mãe não tenha utilizado ARV durante a Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO gestação independente da carga viral, ou tenha CV- HIV desconhecida ou > 1000 cópias/mL no último trimestre, a nevirapina (NVP) deve ser acrescida ao AZT. ZIKA VIRUS O vírus Zika infecta uma população de células cerebrais em desenvolvimento, incluindo células humanas progenitoras neuronais específicas de prosencéfalo embrionárias, neuroesferas e organoides cerebrais, causando assim maior morte celular, desregulação do ciclo celular e, em última instância, redução do crescimento celular. Com isso, observa-se nas neuroimagens de criança com essa síndrome a calcificação intracraniana, ventriculomegalia e diminuição do volume cerebral. A determinação dos atributos representa a essência do conceito Síndrome Congênita pelo Zika Vírus, pois a calcificação intracraniana, ventriculomegalia e volume cerebral diminuído constituem características comuns a todas as crianças que expressam esse conceito. Para que essa síndrome desenvolva faz-se necessário que ocorram os antecedentes: transmissão via transplacentária de mãe infectada pela picada do mosquito Aedes SSP ou por via sexual. Contudo, mesmo o vírus Zika tendo se espalhado por todo o mundo, ocorreu alta predominância de crianças com microcefalia na região nordeste do Brasil, assim encontra-se em investigação possível agrupamento com fatores ambientais, socioeconômicos ou biológicos, pois se acredita que algo mais do que o vírus está causando a Síndrome Congênita pelo Zika Vírus. ➔O ZIKV pode ser detectado em sangue, urina, sêmen, saliva, secreção vaginal, líquido amniótico e leite materno de pacientes infectados. A principal via de transmissão é por meio da picada do mosquito Aedes aegypti contaminado. Além disso, a transmissão pode ocorrer por relação sexual desprotegida, hemotransfusão e por via vertical O diagnostico pode ser feito por PCR Os pacientes sintomáticos tendem a evoluir com quadro clínico leve e autolimitado, não havendo tratamentoespecífico. Os cuidados incluem sintomáticos para febre e mialgia, além do uso de anti-histamínicos para controle de prurido. Recomendam-se repouso e medidas de proteção individual para evitar a transmissão a contactantes; CLAMÍDIA ➔A infecção é causada pela Chlamydia trachomatis, microrganismo parasita obrigatório intracelular de células epiteliais, que possui membrana com características semelhantes às membranas de microrganismos gram-negativos. →relacionada a uma série de complicações ginecológicas e obstétricas, a saber: infecção inflamatória pélvica, gravidez ectópica, infertilidade e dor pélvica crônica em mulheres em idade reprodutiva. Em homens jovens, esta infecção pode provocar orquiepididimite e, em neonatos, conjuntivite (oftalmia neonatal) e pneumonite, por meio de transmissão vertical. →Por ser infecção de manifestação clínica silenciosa, o diagnóstico muitas vezes só é realizado na vigência de complicações inerentes a essa infecção. ➔O tratamento de escolha na gravidez é realizado com azitromicina, na dose de 1 g, por via oral, em dose única. Como segunda opção, pode ser utilizado o estearato de eritromicina na dose de 500 mg, por via oral, a cada 6 horas, por 7 dias ou a cada 12 horas, por 14 dias. O uso da amoxicilina parece ser eficaz no tratamento de infecções agudas por clamídia, além de apresentar melhor tolerância gastrointestinal se comparado à eritromicina ( dose de 500 mg, por via oral, a cada 8 horas, por 1 semana). No entanto, esse antibiótico não é efetivo na infecção crônica. ➔O parceiro sempre deve ser tratamento. HERPES GENITAL O herpes genital é causado por um DNA-vírus, o herpes--vírus. Existem dois tipos de vírus: o herpes-vírus 1 (HSV-1) e o herpes-vírus 2 (HSV- 2). ➔O HSV-1 está relacionado à maioria dos casos de infecção primária e de lesões não genitais, como herpes labial, gengivoestomatite e ceratoconjuntivite. ➔O HSV-2, por sua vez, é responsável por grande parte das lesões genitais, embora estas também possam ser causadas pelo HSV-1. ➔INFECÇÃO PRIMÁRIA Trata-se da ausência de anticorpos anti-HSV-1 ou anti-HSV-2 no momento em que a paciente adquire a infecção pela primeira vez. O quadro clínico da Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO infecção herpética primária está relacionado com a imunidade do organismo hospedeiro, podendo variar desde infecção assintomática, que evolui para infecção latente, até quadros de meningite e encefalite. O período de incubação do vírus varia de 2 a 20 dias a partir do contato. O quadro clínico mais comum é o de vesículas genitais, que rapidamente evoluem para úlceras bastante dolorosas, com um período de resolução aproximado de 10 a 20 dias. A linfadenomegalia inguinal geralmente acompanha o surgimento das lesões genitais. Outros sintomas como disúria, retenção urinária, proctite e corrimento vaginal podem estar presentes, caso haja acometimento da uretra, do canal anal ou do colo uterino, respectivamente. ➔PRIMEIRO EPISÓDIO NÃO PRIMÁRIO Refere-se à aquisição de um dos tipos de herpes- vírus, na presença de anticorpos do outro tipo de herpes-vírus. Esse estágio da infecção pelo herpes- vírus é caracterizado pelo primeiro episódio clinicamente reconhecido do de infecção genital em paciente que, provavelmente, apresentou infecção primária não genital ou assintomática. O quadro clínico apresenta manifestações sistêmicas leves e lesões genitais menores, menos dolorosas, com resolução mais rápida. ➔INFECÇÃO RECORRENTE Trata-se da reativação do herpes-vírus genital de infecções prévias. O tipo de herpes-vírus recuperado na lesão coincide com o tipo sorológico. O quadro clínico varia de acordo com a paciente e seu status imunológico. Os sintomas locais predominam sobre os sintomas sistêmicos. A excreção viral genital subclínica também se encaixa nessa categoria, pois é fonte de disseminação da doença, apesar de assintomática. ➔HERPES NEONATAL E infecção do recém-nascido resultante da passagem por canal de parto contaminado. O herpes neonatal é uma infecção sistêmica rara, mas potencialmente grave. A maioria dos neonatos adquire a forma leve da doença, que permanece localizada em pele, olhos e boca, e cuja mortalidade é nula. O acometimento do sistema nervoso central e os casos de infecção disseminada apresentam mortalidade que varia de 15 a 57%. ➔PODE SE AMAMENTAR O BEBE! INFECÇÃO INTRAUTERINA É um quadro clínico grave com potencial de causar hidropsia e morte do feto. Os sobreviventes da infecção pelo HSV podem exibir uma tríade característica de vesículas, ulcerações ou cicatrizes na pele; dano ocular; e manifestações graves do sistema nervoso central (SNC), incluindo microcefalia ou hidranencefalia. No entanto, a tríade característica ocorre em menos de um terço dos casos e é necessário um alto índice de suspeita para o diagnóstico. Para diagnóstico é essencial a percepção por imagem ultrassonográfica no pré- natal, falaremos mais aprofundado adiante no tópico diagnóstico INFECÇÃO PLACENTÁRIA Em geral, acompanhando a infecção intrauterina, há também infecção placentária ocasionando regiões de microinfartos, necrose e calcificações. Logo, ao encontrar tais achados é essencial suspeitar de herpes simples intrauterina para seguimento da gestante e do feto objetivando um melhor prognóstico, lembrando que são casos raros e têm potencial de gravidade. Infecção perinatal De maneira geral essa infecção possui três subtipos: Doença localizada em pele, olhos e boca➔ Essa infecção tem início ainda nas duas primeiras semanas de vida, mas pode ocorrer a qualquer momento durante as primeiras seis semanas de vida. A doença cutânea localizada está associada a lesões vesiculares coalescentes ou aglomeradas com uma base eritematosa. As vesículas podem começar ou se aglomerar na parte do corpo que se apresenta, ou em locais de trauma localizado, como no couro cabeludo. As vesículas da pele também podem aparecer tardiamente no curso da doença disseminada A infecção ocular➔ por HSV pode inicialmente parecer assintomática. No recém-nascido, os sinais precoces incluem lacrimejamento excessivo dos olhos, choro por aparente dor ocular e eritema conjuntival. As vesículas da pele periorbital podem ou não estar presentes no momento da apresentação.. A infecção por HSV da orofaringe pode ser inicialmente assintomática, mas também pode ser caracterizada por lesões ulcerativas localizadas da boca, palato e língua. Deve ser diferenciado de outras causas de lesões orais no recém-nascido, como trauma local ou outras infecções virais (por exemplo, enterovírus). A doença neonatal HSV localizada em pele, olhos e boca pode parecer benigna no início da doença, mas está associada a um alto risco de progressão para o SNC ou doença disseminada se não for tratada. DOENÇA LOCALIZADA NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Ocorre entre a segunda e terceira semana de vida e cursa com quadro clínico mais exuberante. Pode ocorrer como resultado da disseminação retrógrada localizada da nasofaringe e dos nervos olfativos para o cérebro ou através da disseminação hematogênica em neonatos com doença disseminada. A criança apresenta letargia, irritabilidade, convulsões, tremores, recusa alimentar e fontanela anterior tensa. Ocorrem também alterações no líquido cefalorraquidiano com presença de maior número de células (pleocitose), em geral mononuclear, diminuição de glicose e elevação de proteínas. Alterações de eletroencefalograma (EEG) também ocorrem, com descargas epileptiformes focais ou multifocais. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) do cérebro podem ser normais no início da doença localizada no SNC. Porém, alguns dias após, os estudos de neuroimagem podem mostrar edema ou atenuaçãocerebral parenquimatosa, hemorragia ou lesões destrutivas envolvendo as regiões temporal, frontal, parietal ou de tronco cerebral do cérebro. DOENÇA DISSEMINADA Tem início ainda na primeira semana de vida, com potencial de gravidade e mortalidade elevada, acima de 80%, além de associação frequente com sequelas em SNC. Os recém-nascidos com HSV disseminado geralmente apresentam-se com sinais e sintomas inespecíficos de sepse neonatal, incluindo desregulação da temperatura (febre ou hipotermia), apneia, irritabilidade, letargia, dificuldade respiratória, distensão abdominal, hepatomegalia e ascites. Raramente, os neonatos com infecção por HSV podem apresentar febre isoladamente. O paciente evolui com septicemia, acometendo múltiplos órgãos e sistemas, por exemplo: • Fígado, incluindo hepatite com transaminases hepáticas elevadas, ascites e hiperbilirrubinemia direta que podem progredir para insuficiência hepática que requer transplante de fígado; • Pulmões, incluindo pneumonia e pneumonia hemorrágica, com ou sem derrame, que podem progredir para insuficiência respiratória, exigindo ventilação mecânica ou suporte de vida extracorpóreo; • O SNC, que está envolvido em 60 a 75% dos casos, geralmente por meio de uma meningoencefalite adquirida hematogenicamente; • Coração, incluindo miocardite e disfunção miocárdica no HSV neonatal disseminado grave.; • Glândulas supra-renais; • Medula óssea e sistema de coagulação, incluindo coagulação intravascular disseminada (CIVD), trombocitopenia e neutropenia; • Rins; • Trato gastrointestinal, incluindo enterocolite necrosante; • Lesões de pele e membranas mucosas, que podem aparecer tardiamente no curso da doença disseminada por HSV; no entanto, 20 a 40% dos neonatos com doença disseminada por HSV não têm vesículas. Os esforços estão focados na identificação de neonatos de alto risco com quadro semelhante à sepse, meningoencefalite, pneumonia progressiva ou hepatite, que devem ser submetidos a testes para HSV e terapia antiviral empírica. Lembre-se, essa é a forma mais grave da infecção perinatal! TRATAMENTO O tratamento é composto por medidas de suporte e terapêutica medicamentosa. As medidas de suporte incluem: analgésicos, banho de assento e gel de lidocaína. O tratamento antiviral deve ser realizado com medicação oral, já que antivirais tópicos não reduzem a dor nem o tempo de doença. As medicações antivirais atravessam a barreira placentária, concentram-se no líquido amniótico e chegam ao plasma fetal em níveis terapêuticos. O tratamento deve ser mantido por 7 a 10 dias, podem do ser prolongado se não houver cura completa das lesões no décimo dia. As opções terapêuticas incluem: • Aciclovir: 400 mg, três vezes por dia. • Valacilovir: 500 mg, duas vezes ao dia ➔O tratamento medicamentoso é realizado com aciclovir endovenoso por 14 a 21 dias, na dose de 60mg/kg de 08/08 horas. A dose de aciclovir deve ser ajustada para neonatos com insuficiência renal. Uma dose mais baixa também é usada para bebês que atingiram três meses de idade. CONDUTA OBSTÉTRICA A cesárea é recomendada para pacientes com lesão ativa no momento do parto, em especial nos casos de primo infecção, pelo alto risco de transmissão vertical. VÍRUS DA HEPATITE B Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO O vírus da hepatite B (VHB) é um vírus DNA da família Hepadnaviridae. A hepatite B é transmitida pelo sangue, por produtos derivados do sangue e por transmissão sexual, e, verticalmente, da mãe para o feto durante a gestação ou parto. A hepatite B aguda pode ser subclínica ou fulminante, com falência hepática em 2% dos casos. Os indivíduos infectados desenvolvem hepatite aguda, clinicamente aparente, com perda do apetite, náusea, vômito, febre, dor abdominal e icterícia. Alguns vão desenvolver a hepatite crônica, que tem como principal complicação a cirrose hepática e o carcinoma hepatocelular. O diagnóstico da infecção pelo VHB é sorológico. Na prática, todos os indivíduos infectados com o VHB, aguda ou cronicamente, vão apresentar no soro o antígeno de superfície do VHB (Ag-HBs). Existe a vacina para hepatite B. A imunoglobulina da hepatite B pode ser administrada por via parenteral, como imunidade passiva, para os indivíduos expostos ao VHB. A transmissão vertical do VHB pode ocorrer durante a gestação ou no parto, principalmente se a infecção ocorrer na segunda metade da gestação, provocando hepatite fetal, que pode se tornar crônica quando o neonato não for tratado. A infecção por VHB na gestação não parece estar relacionada a malformações fetais ou piora do prognóstico fetal. A vacinação contra o VHB na gestação e a utilização de imunoglobulina da hepatite B são procedimentos seguros em relação ao feto. VÍRUS DA HEPATITE C O vírus da hepatite C (VHC) é um vírus RNA da família, Flaviviridae. E transmitido por sangue e hemoderivados. A transmissão vertical é baixa, mas possível, estando mais relacionada à carga viral e proporcional à viremia materna. A taxa de transmissão vertical é estimada em cerca de 4%, sendo maior nas gestantes HIV-positivo com VHC. Aproximadamente 85% dos indivíduos infectados com o VHC se tornam cronicamente infectados. O diagnóstico é feito pela história, sorologia e biópsia de fígado. No momento, não existe vacina para a hepatite C. São raros os estudos que avaliam gestantes com hepatite C aguda, em relação ao prognóstico fetal e gestacional, e os resultados são controversos. Parece que nos recém-nascidos expostos à transmissão vertical, a hepatite C crônica e o estado de portador crônico são raros, uma vez que muitos desses vão se tornar RNA-VHC negativos nos primeiros anos de vida. TUBERCULOSE A lactante com suspeita de tuberculose ativa (escarro positivo) deve ser isolada do contato respiratório após o parto, independentemente do modo de alimentação do neonato. Esse contato coloca os recém-nascidos em risco de infecção. O leite materno, entretanto, não contém o bacilo tuberculoso. Pode, portanto, ser ordenhado e oferecido ao recém-nascido por meio de "copinho" ou seringa. Com o tratamento da mãe, após ser considerada não bacilífera (escarro negativo em aproximadamente 2 semanas de tratamento), a amamentação pode ser reiniciada. O uso profilático de isoniazida (10 mg/kg/dia) para o recém-nascido está indicado, sendo seguro e efetivo em prevenir a infecção por tuberculose. ALCOOL, FUMO E DROGAS (REPERCUSSOES FETAIS) E GRAVIDEZ DROGAS E GESTAÇÃO A gravidez é um momento de diversas modificações no organismo feminino. Nesse período, o uso de medicações deve ser estritamente regulado, já que certas drogas podem trazer graves consequências para o feto. Assim, é fundamental conhecer quais medicações seguras durante este período e quais devem ser evitadas, além de saber classificar as drogas de acordo com sua teratogenicidade. MECANISMOS DE TERATOGENICIDADE Os mecanismos de teratogenicidade estão relacionados tanto a fatores maternos quanto a fatores farmacocinéticos. Algumas alterações maternas sofridas neste período que influenciam o metabolismo das drogas são: as cardiovasculares; fatores placentários, devido a transferência placentária ao feto; e fatores fetais, pois o feto possui dificuldade de eliminar a droga devido a filtração do organismo. O uso de medicações durante o período de aleitamento materno também deve ser regulado, já que a passagem de drogas pelo leite pode causar repercussões no recém- nascido. PERÍODOS DA TERATOGÊNESE O desenvolvimento do concepto ocorre em três períodos distintos bem conhecidos: Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO ➔Período de fertilização e nidação: corresponde às 3 primeiras semanas do desenvolvimento. Está caracterizadopor intensa atividade mitótica com as células funcionando, igualmente, em termos de capacidade totipotencial. Agentes tóxicos nesse período normalmente não determinam efeitos teratogênicos, mas a morte do ovo, com consequente abortamento; é o período chamado de “tudo ou nada” ➔Período embrionário propriamente dito: vai de 4 a 8 semanas do desenvolvimento. É a fase de organogênesee o estágio mais sensível às repercussões teratogênicas, que, quando sucedem, costumam ser morfológicas e de grande vulto. Período extremamente delicado do desenvolvimento humano, vigora quando a mulher tem apenas 1 semana de atraso menstrual, na maior parte das vezes não se apercebendo ainda de sua gestação e, consequentemente, da gravidade em expor-se a agentes teratogênicos. Aqui temos o “horário embriopático” propriamente dito (p. ex., a talidomida ministrada entre 35 e 37 dias determina malformação das orelhas, enquanto a mielia ou focomielia corresponde à exposição entre 41 e 44 dias) ➔Período fetal: balizado a partir de 8 semanas ao termo da gravidez. É a fase de desenvolvimento do concepto, menos exposta aos efeitos teratogênicos que, no entanto, presentes, podem ser morfológicos (de menor monta) ou funcionais. Influências nocivas atuam aqui na quantidade e no tamanho celular. CLASSIFICAÇÃO DE TERATOGENICIDADE A classificação de teratogenicidade foi criada em 1980 pela FDA permitindo uma divisão das drogas em grupos de acordo com estudos científicos. A tabela a seguir demonstra esses grupos: DROGAS MAIS UTILIZADAS DROGAS LÍCITAS Considera-se como drogas lícitas socialmente aceitas em nosso meio: o tabaco, o álcool e a cafeína. São drogas normalmente não terapêuticas, de uso comum, todas legais e disponíveis livremente. TABACO ➔O tabagismo na gravidez aumenta a incidência de complicações maternas –abortamento, ruptura prematura das membranas, descolamento prematuro de placenta, placenta prévia, parto pré-termo – e fetais – natimortalidade, morte neonatal, síndrome da morte súbita infantil, recém-nascido de baixopeso (< 2.500 g). ÁLCOOL ETÍLICO/ETANOL Desde 1973 é relatado o padrão definido de malformações nos filhos de alcoólatras denominado síndrome alcoólica fetal (SAF). A mortalidade nos casos de SAF pode chegar a 17%. A SAF completa consiste em anormalidades em 3 áreas com uma 4 a área frequentemente envolvida: (1ª) dismorfologia craniofacial, (2ª) deficiências de crescimento pré-natal e/ou pós-natal, (3ª) disfunção do sistema nervoso central e (4ª) várias outras anormalidades. ➔A manifestação mais frequente é o crescimento intrauterino restrito, presente mesmo nas formas incompletas. Filhos de mães que bebem moderadamente podem apresentar achados limítrofes da SAF, embora o risco de beber durante Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO a gestação esteja sempre presente. Constata-se também no recém-nascido a síndrome de abstinência materna, podendo chegar ao delirium tremens ou mesmo a convulsões. Seu uso, mesmo que moderadamente, pode estar relacionado com abortamentos espontâneos, alterações do desenvolvimento e coma disfunção comportamental da criança. CAFEÍNA A quantidade de cafeína de uso comum varia muito dependendo da bebida, porém quantidades consumidas de modo moderado, aparentemente, não apresentam maiores problemas para o feto. Em altas doses, porém, poderá estar relacionada com abortamentos espontâneos, maior dificuldade em engravidar e infertilidade. O que se observa na prática clínica é que a ingestão de duas xícaras de café cafeinado por dia não fará mal durante a gestação, desde que não haja associação com outras drogas (tabaco, álcool). ➔O uso de drogas ilícitas, tabaco e álcool por mulheres grávidas ocorre em todo o mundo e vem crescendo nos últimos anos em diversos países, o que o torna um problema bastante relevante para a saúde materno - fetal. São inúmeras as consequências, algumas irreversíveis, que essas substâncias podem causar ao binômio mãe-bebê. Sabe-se ainda que o consumo de drogas que provoca dependências vem atingindo grupos etários mais jovens, de forma que 85% dos consumidores estão em idade fértil - entre 15 e 40 anos - e cerca de 30% são menores de 20 anos de idade (BOING AF, et al., 2021). ➔O tabaco na gravidez é extremamente prejudicial ao feto, diminuindo seu padrão de crescimento. A explicação plausível é que o monóxido de carbono ao se ligar a hemoglobina fetal, impeça sua associação ao oxigênio, diminuindo as trocas gasosas entre mãe e bebê (BAPTISTA FH, et al., 2017). ➔O consumo de álcool na gestação é prejudicial para a mãe e feto. O álcool determina danos ao embrião/feto que são agrupados como o Fetal Alcohol Spectrum Disorders (FASD) e incluem alterações (físicas, mentais, comportamentais ou de aprendizado), que independente da sua reversibilidade, podem levar à dependência química, alterações mentais, atrasos escolares, dificuldade no trabalho, comportamento sexual inadequado e até problemas judiciais. A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), os defeitos congênitos relacionados ao álcool e as desordens de neurodesenvo lvimento relacionadas ao álcool são abrangidos pelo FASD (FALER C, et al., 2013; DUTRA AGR, et al., 2021). ➔A maconha é considerada a droga ilícita mais frequentemente consumida pela população. Seus efeitos alucinógenos são decorrentes do delta-9- tetra-hydrocannabinol (THC), que é lipossolúvel e, por isso, atravessa a barreira placentária. São poucos os dados sobre o efeito da maconha na gestação, mas parece que seu maior problema esteja na associação com outras drogas ilícitas; ➔A cocaína exerce sua ação por meio do bloqueio da recaptação da dopamina, norepinefrina e/ou serotonina permitindo uma estimulação adrenérgica prolongada. Atravessa rapidamente a barreira placentária sem sofrer metabolização, agindo diretamente os vasos fetais e placentários, causando vasoconstrição, insuficiência uteroplacentária, hipoxemia, acidose fetal e morte fetal intraútero (LUCCHESE R, et al., 2016). ➔O crack produto alcalinizado da cocaína atravessa rapidamente a placenta e barreira hematoencefálica, já tendo relato de AVC em fetos (KASSADA DS, et al., 2013). DROGAS ILÍCITAS COCAÍNA: →Assim, relacionamos ao uso da cocaína na gravidez: abortamento espontâneo, crescimento intrauterino restrito (25 a 30%), trabalho de parto pre-termo (25%), ruptura prematura de membranas (20%), descolamento prematuro de placenta (6 a 8%), óbito fetal tardio, crise hipertensiva, confundida com a pré-eclâmpsia, movimentação fetal excessiva e síndrome de abstinência neonatal. São descritas ainda anormalidades congênitas envolvendo sistema geniturinário, coração, membros e face, e por isso, o abuso da cocaína deve ser considerado teratogênico. O mecanismo exato pelo qual a cocaína induzas malformações até o momento é incerto, mas deve estar relacionado à vasoconstrição placentária e à hipoxia fetal produzida pela droga, com rupturas vasculares intermitentes e isquemia causando danos fetais. SUBSTÂNCIAS INALANTES Os três principais tipos de inalantes são: os solventes orgânicos, os nitritos voláteis e o óxido nitroso. Entre as substâncias inalantes, uma das mais comuns é a “cola de sapateiro”. Trata-se de solvente, de uso comum entre os jovens, à base de tolueno, principal substância desses produtos, incriminada pela presença de malformações fetais no sistema nervoso central. Observa-se mortalidade materna e fetal aumentada, alguns com hipopotassemia (alterações renais), hipomagnesemia, hipofosfatemia, diminuição do Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO bicarbonato sérico, retardo de crescimento e microcefalia fetal e na infância; placenta prévia; morte perinatal; e defeitos faciais, semelhantes ao da SAF. Essas substâncias podem ocasionar acidose tubular renal na mãe e também no recém- nascido. ANFETAMINAS O uso por indicações médicasnão acarreta risco significante para o feto, no que diz respeito a anomalias congênitas. O uso ilícito materno, por outro lado, apresenta risco significante para o feto e para o recém-nascido, que incluem crescimento intrauterino restrito, parto prematuro e elevação da morbidade materna, fetal e neonatal. No entanto, como acontece com outras drogas utilizadas de maneira abusiva, devemos levar em consideração outros prováveis fatores, como o uso de múltiplas drogas, estilo de vida e saúde materna debilitada. Foram descritas lesões cerebrais em recém-nascidos, in utero, que parecem diretamente relacionadas às propriedades vasoconstritoras das anfetaminas Dietilamida do ácido lisérgico (LSD) É uma droga alucinógena sintética psicotomimética e não tem indicação legal no Brasil. Experiências mostraram que o LSD puro não causa anomalias cromossômicas, abortamento espontâneo nem malformações congênitas. HEROÍNA A heroína é narcótico analgésico agonista com ação eletiva para o córtex cerebral. É um alcaloide do ópio, assim como a morfina e a codeína. A droga atravessa rapidamente a placenta, atinge o feto em 1 h após a administração e a supressão na mãe causa sintomatologia no feto, podendo ocorrer morte por aspiração de mecônio. É fundamental o diagnóstico precoce para que se instituam cuidados médicos e psicológicos adequados. Entre as complicações obstétricas encontramos crianças de baixo peso, prematuridade, sintomas de abstinência de difícil manuseio, às vezes com óbito materno e/ou fetal. É importante estarmos atentos para a existência concomitante de doenças venéreas, AIDS, hepatites, bem como outras doenças. Portanto, a desintoxicação é possível, desejável, embora difícil. A suspensão é realizada pela substituição com metadona, poderoso narcótico sintético de longa duração, com que seriam minimizados os sinais de privação da mãe e do concepto, e seriam menores os índices de recém- nascidos de baixo peso. →As principais características dos recém-nascidos de mães viciadas são: maturidade hepática acelerada, combaixo índice de icterícia; baixa incidência de membrana hialina após 32 semanas de gestação; índice de Apgar normal; recém-nascido de baixo peso e pequenos para a idade gestacional. Com a privação do uso do narcótico aparecem sintomas em aproximadamente 85% dos casos no espaço de 48 h até 6 dias, cuja incidência está relacionada com a dose diária e com o tempo de vício materno, sendo os sinais mais frequentes: hiperatividade, dificuldade respiratória, febre, diarreia, secreções mucosas, sudorese, convulsões, bocejos e arranhaduras na face. Pode ocorrer presença de mecônio no líquido amniótico, elevação nos níveis fetais de magnésio no soro, aumentando os índices de mortalidade perinatal, que podem superar os 37%. ECSTASY Também conhecido como “pílula do amor”, “love”, “Eva”, o MDMA (3,4- metilenodioximetanfetamina) é um estimulante central. Quimicamente, é membro das classes de drogas pertencentes às anfetaminas. Dentre grávidas que usam ecstasy, mais de 1/3 referiu problemas psiquiátricos e emocionais. Embora não haja informações de passagem pela placenta, sabemos que outras anfetaminas atravessam a placenta humana com rapidez. Além disso, o peso molecular relativamente pequeno (mais ou menos 179 g/mol) sugere que passe para o feto. Estudos com fetos expostos ao ecstasy in útero indicaram que a droga pode estar associada com significativo aumento do risco de defeitos congênitos, entre eles anomalias cardiovasculares (26%) e musculoesqueléticas (36%). ANALGÉSICOS E ANTI-INFLAMATÓRIOS • Não hormonais (classe B): no geral, são bem tolerados se utilizados em baixas doses e por um período curto. No entanto, deve-se evitar seu uso no último trimestre gestacional. Os diclofenacos também devem ser evitados e pacientes que utilizam AINEs de forma contínua devem realizar uma ecocardiografia fetal. • Salicilatos (classe C): está relacionado com o aumento da taxa de abortamento. • Acetaminofen (classe B): é o grupo mais utilizado na gestação, visto que se demonstrou ser seguro em doses terapêuticas e a curto prazo. • Derivados pirazolônicos (classe C): não há total consenso sobre seu uso durante a gestação, pois carece de trabalhos para provar que são medicações seguras. • Opioides (Classe B ou D): não possuem efeito teratogênico, no entanto, podem cursar com depressão respiratória e sindrome de privação do recém-nascido se utilizados por tempo prolongado e próximo ao parto. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO • Anti-inflamatórios hormonais (classe C): em recém-nascidos, parecem estar associados com baixo peso e fendas faciais, no entanto não apresentou efeito teratogênico em fetos humanos. Em animais, foi observado malformações congênitas quando utilizados no primeiro trimestre de gestação, sendo desencorajado seu uso durante este período ANTIBIÓTICOS Penicilinas (classe B): não possuem contraindicação. Apesar atravessarem rapidamente a barreira placentária, não possuem efeito teratogênico. Tetraciclinas (classe D): estão contraindicadas na gestação, podem causar alterações dentárias, inibição do crescimento da fíbula, prematuridade e óbito fetal. Cefalosporinas (classe B): não possuem nenhum efeito teratogênico por isso não há contraindicações ao seu uso. Sulfonamidas (classe B): podem ser utilizadas na gestação, porém devem ser evitadas no terceiro trimestre, devido ao risco de hiperbilirrubinemia neonatal. QUINOLONAS Ciprofloxacino e norfloxacino: devem ser evitadas durante gestação, pois causaram malformações fetais em animais de laboratório. Vancomicina (classe B): sem contraindicações para utilização durante a gestação. Clindamicina (classe B): sem contraindicações para utilização durante a gestação. DROGAS COM AÇÃO CARDIOVASCULAR IECA (classe D): são contraindicados na gestação, pois atravessar a barreira placentária e podem causar retardo de crescimento e óbito intrauterino. Betabloqueadores: não há consenso sobre sua utilização, sendo a maioria entre a classe C e D. O atenolo e propranolol não possuem toxicidade fetal, porém causam restrição do crescimento fetal, baixo peso ao nascer, bradicardia fetal, depressão respiratória, hipoglicemia neonatal e policitemia em altas doses. Já a metildopa e o pindolol são seguros durante a gravidez. Furosemida (classe C): uso seguro na gravidez, porém não pode ser utilizada em casos de pré- eclampsia. Hidroclorotiazida (classe C): uso seguro na gravidez, porém não pode ser utilizada em casos de pré-eclâmpsia. DROGAS PSICOATIVAS Antipsicóticos: ainda há controvérsia sobre seu uso, mas devem evitados sempre que possível. No entanto, os benefícios do seu uso pode superar os riscos em certas situações. Nestes casos, deve- se optar pelos típicos, já que, segundo estudos, há menores fatores adversos associados. Porém, ainda não há certeza sobre a diferenciação dos típicos e atípicos importante ter cautela com efeitos adversos como baixo peso ao nascer abortamento. Benzodiazepínicos: ainda há controvérsia sobre seu uso. Em mulheres que já utilizavam previamente a gestação, é aconselhável a diminuição d dosagem da droga, procurando evitar no neonato efeitos como sedação hipotonia, recusa a sucção, apeia, cianose e distúrbios metabólicos. Antiepiléptico: ácido valproico, carbamazepina, fenitoína, fenobarbital, clonazepam e primidona promovem múltiplas malformações e, por isso devem ser evitadas durante a gestação sempre que possivel. ANTIDIABÉTICOS➔ Os hipoglicemiantes orais acarbose, clorpropamida, glibencamida, glimepirida, glipizida, clorprospamida, repaglinida e rosiglitazona são contraindicados durante a gestação devido seus efeitos adversos. Na gestação, é recomendada a substituição desses hipoglicemiantes por insulina, que mostrou-se mais segura. Mais recentemente, a metformina tem se mostrado uma droga também eficaz mas seu uso ainda nãoé unânime. MORFOFISIOLOGIA DA MEMBRANA PLACENTÁRIA E FETAL- MECANISMO DE TROCA MATERNO-FETAIS Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO FUNÇÕES DA PLACENTA Metabolismo: responsável pela síntese de glicogênio, colesterol e ácidos graxos utilizados pelo feto; Transporte de substâncias: pode ser no sentido feto-materno ou materno-fetal, por meio de difusão simples, difusão facilitada, transporte ativo e pinocitose. As substâncias transportadas são gases (oxigênio e dióxido de carbono), nutrientes (água, glicose, aminoácidos e vitaminas), hormônios, eletrólitos, anticorpos maternos, produtos de excreção, agentes infecciosos, drogas e seus metabólitos; Secreção endócrina: os hormônios produzidos pela placenta são o hCG, lactogênio placentário humano, tireotropina coriônica humana e a corticotropina coriônica humana. O hCG é detectado por um exame denominado beta-hCG para o diagnóstico de gravidez após o sexto dia de gestação. O hCG tem como função de manter a funcionalidade do corpo lúteo (produção de progesterona), impedindo a retomada do ciclo menstrual. Com a formação da placenta, esta assume a síntese de hCG, progesterona e estrogênio. Proteção e Excreção de resíduos fetais; ANATOMIA E FISIOLOGIA A placenta é formada por: • Uma porção fetal, originária do saco coriônico; • Uma porção materna, derivada do endométrio; →A decídua é a camada funcional do endométrio na gestante que se separa do restante do útero ao nascimento. É dividida em 3 regiões: • Decídua basal: parte que fica abaixo do concepto, formando o componente materno da placenta. • Decídua capsular: parte superficial da decídua que recobre o concepto. • Decídua parietal: todas as outras partes restantes da decídua. A placenta é composta por vilosidades coriônicas que crescem do córion para fornecer uma grande área de contato entre as circulações fetal e materna. ➔Na placenta madura, o sangue materno entra no espaço interviloso pelas artérias endometriais Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO (artérias espiraladas) e circula ao redor dos vilos, permitindo a troca gasosa e de nutrientes. ➔ O sangue fetal desoxigenado entra na placenta por duas artérias umbilicais que se ramificam radialmente para formar as artérias coriônicas. ➔As artérias coriônicas se ramificam adicionalmente quando entram nas vilosidades. Nas vilosidades coriônicas, elas formam um sistema capilar, deixando o sangue fetal próximo com o sangue materno. A difusão de gases e nutrientes ocorre pelas células endoteliais dos capilares vilosos e pelo sinciciotrofoblasto e citotrofoblasto. ANEXOS: • Cordão umbilical. • Âmnio e líquido amniótico: o âmnio forma o saco membranoso, cheio de fluido (líquido amniótico), que envolve o embrião e depois o feto. →O líquido amniótico é deglutido pelo feto e absorvido pelos tratos digestivo e respiratório. ➔Funções do líquido amniótico: atua como uma barreira contra infecções; permite o desenvolvimento normal dos pulmões fetais e o crescimento externo simétrico do embrião; impede a aderência do âmnio ao feto; acolchoa o feto contra lesões; auxilia no controle e manutenção da temperatura corporal do embrião; participa da manutenção da homeostasia dos fluidos e eletrólitos; permite uma movimentação livre do feto. Auxilia no processo de trocas gasosas entre o embrião e o ambiente. • Saco vitelino: sofre atrofia a partir da 10ª semana e raramente persiste durante toda a gravidez. Desempenha papel importante no aporte nutricional embrionário nas primeiras semanas de gestação, além de participar da formação do trato digestório e respiratório. • Alantoide: o alantoide é importante para a formação sanguínea inicial que ocorre em suas paredes, seus vasos sanguíneos persistem como as artérias e veias umbilicais, e sua porção intraembrionária passa do umbigo para a bexiga, formando mais tarde o úraco. Após o nascimento, o úraco torna-se um cordão fibroso, o ligamento umbilical mediano, que se estende do ápice da bexiga ao umbigo. • Córion: é o mais externo dos anexos embrionários; envolve não só o embrião, mas todos os outros anexos embrionários, ou seja: âmnio, saco vitelínico e alantoide. Placentas gemelares: Existem três tipos básicos de placentas gemelares: diamnióticas dicoriônicas (que podem ser fundidas), diamnióticas monocoriônicas e monoamnióticas monocoriônicas. ➔Placentas monocoriônicas estão presentes em gêmeos monozigóticos (idênticos), e o momento no qual a divisão ocorre determina se um ou dois âmnios estarão presentes. ➔A placentação dicoriônica pode ocorrer com gêmeos monozigóticos ou dizigóticos e não é específica. Uma complicação da gestação gemelar monocoriônica é a síndrome de transfusão fetofetal. Em todas as placentas gemelares monocoriônicas existem anastomoses vasculares, que conectam as circulações dos gêmeos. Em alguns casos ocorre um compartilhamento anormal das circulações fetais por uma derivação arteriovenosa. Se houver um desequilíbrio no fluxo sanguíneo, uma disparidade acentuada nos volumes sanguíneos fetais pode Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO resultar na síndrome de transfusão fetofetal e na morte de um ou ambos os fetos. FORMAÇÃO DA PLACENTA O desenvolvimento da placenta e do feto é um processo contínuo que se inicia no momento da fertilização. Quatro dias depois da fertilização, a mórula (uma massa sólida de células do blastômero) entra no útero. No quinto dia, a mórula se torna o blastocisto devido ao acúmulo de fluído e polarização celular. O blastocisto tem em sua camada externa de células (trofoblastos) que vão formar a placenta e as membranas fetais e uma massa celular interna em um polo que vai formar o embrião (embrioblasto), e uma cavidade preenchida com líquido que separa estas duas estruturas. Inicialmente, o blastocisto é nutrido pelas secreções uterinas que provêm oxigênio e substratos metabólicos; com o desenvolvimento, essas secreções se tornam inadequadas para o suprimento completo. ➔Após o blastocisto permanecer livre e suspenso nas secreções uterinas por cerca de 2 dias, a zona pelúcida (remanescente na membrana do óvulo) gradualmente se degenera e desaparece. Cerca de seis dias depois da fertilização, o blastocisto se implanta na parede uterina, o que permite o acesso a substratos (células estromais com glicogênio) necessários para o prosseguimento do crescimento. ➔A implantação depende de uma boa localização do blastocisto (normalmente nas paredes anteriores ou posteriores uterinas), adesão e invasão. Assim que o trofoblasto erode a membrana profunda em direção à decídua, vacúolos são formados e confluem originando o espaço lacunar, que posteriormente se torna o espaço interviloso. ➔Logo após aderir ao endométrio o trofoblasto começa a proliferar rapidamente, e gradualmente se diferencia em duas camadas: uma interna de citotrofoblasto, que sofrem divisões assimétricas para gerar células progenitoras que mantêm a quantidade de células no citotrofoblasto, e também a camada externa de sinciciotrofoblasto. ➔É responsável pela regulação das trocas gasosas, de substratos e outros fatores entre a circulação fetal e materna. Além disso, é responsável pela síntese e secreção de várias proteínas, hormônios esteroides e fatores de crescimento, como a gonadotrofina coriônica (hCG) e lactogênio placentário. ➔O sinciciotrofoblasto invade o tecido conjuntivo endometrial e o blastocisto vagarosamente se aprofunda no endométrio. As células sinciciotrofoblásticas deslocam as células endometriais na parte central do sítio de implantação. As células endometriais sofrem morte celular programada, o que facilita a invasão. O mecanismo molecular da implantação envolve a sincronização entre o blastocisto invasor e um endométrio receptor. ➔Conforme o blastocisto vai se implantando aparece um pequenoespaço no embrioblasto que é o primórdio da cavidade amniótica. Logo após as células formadoras de âmnio (amnioblastos) se separam do epiblasto e revestem o âmnio, que envolve a cavidade amniótica. ➔Com a implantação, as células do tecido conjuntivo endometrial sofrem uma transformação - a reação decidual. Há acumulação de glicogênio e lipídios em seu citoplasma, as células ficam intumescidas e são conhecidas como células deciduais. ➔O fim da segunda semana é caracterizado pelo surgimento das vilosidades coriônicas primarias. A proliferação das células citotrofoblásticas produz extensões celulares que crescem para dentro do sinciciotrofoblasto. ➔Nos estágios iniciais da gestação, as células trofoblásticas fetais invadem a parede uterina de forma bem organizada, formando cordões. Ao longo da gestação as artérias espiraladas do leito placentário são remodeladas e deixam de apresentar alta resistência e baixo fluxo, passando a ter diâmetro dilatado, com consequente aumento do fluxo sanguíneo e redução da pressão. Essas alterações ocorrem como resultado da perda de células musculares lisas e da lâmina elástica da parede do vaso. Acredita-se que a invasão trofoblástica ocorre em duas ondas: a primeira onda estende-se da sexta à décima semana da gestação e afeta as artérias espirais desde o seu extremo distal até a união da decídua basal com o miométrio; a segunda onda iniciase entre a 14ª e 16ª semana e se desenvolve durante quatro a seis semanas, alcançando os segmentos miometriais das artérias espirais, incluindo as porções mais distais das artérias radiais. Portanto, tem-se a doença trofoblástica gestacional quando ocorre proliferação trofoblástica anormal. CRESCIMENTO INTRAUTERINO RESTRITO A restrição do crescimento fetal (RCF) ou crescimento intrauterino restrito (CIUR) são termos utilizados para descrever um feto que não atingiu seu potencial de crescimento. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →A origem do problema pode ser fetal, placentária ou materna, com sobreposição significativa entre essas entidades. →A identificação da RCF é importante porque esses fetos têm maior risco de resultados perinatais adversos, e, além disso, apresentam maior associação com doenças crônicas na idade adulta. →O conceito mais aceito na atualidade é o peso fetal abaixo do percentil 10 para a idade gestacional (IG), estimado pela ultrassonografia (USG) obstétrica na 2ª metade da gravidez, com base nas curvas padrão específicas de cada população. →A confirmação diagnóstica é realizada, muitas vezes, apenas após o nascimento, quando o peso do recém-nascido (RN) for inferior ao percentil 10 para a IG e este é classificado como pequeno para a idade gestacional (PIG). É importante salientar que a utilização de percentil para definição da RCF é problemática, porque nem sempre traduz processos patológicos. Alguns fetos são constitucionalmente pequenos. Por outro lado, alguns portadores de RCF podem revelar peso acima do percentil 10, apesar de não terem alcançado seu potencial genético. Diante das dificuldades de definição, a incidência exata da RCF permanece desconhecida, mas é estimada entre 3-10% dos RN. COMPLICAÇÕES - Morbidade e mortalidade perinatais ➔A RCF está associada a substanciais taxas de morbidade e mortalidade perinatais. →A MORBIDADE PERINATAL é cerca de cinco vezes maior, devido à maior frequência de hipóxia, aspiração de mecônio, insuficiência respiratória, hipoglicemia, hipocalcemia, policitemia, hipotermia, hemorragia pulmonar e prejuízo no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). →A MORTALIDADE PERINATAL é cerca de oito vezes maior, sendo o óbito fetal súbito diretamente relacionado ao grau de restrição. Tais complicações ocorrem principalmente no pré-termo, mas também ocorrem no termo. No entanto, os RN PIG associados à prematuridade com frequência apresentam evolução mais desfavorável. →A hipoglicemia neonatal relaciona-se à redução dos estoques de glicogênio hepático e miocárdico, ao decréscimo da neoglicogênese hepática e à redução do tecido adiposo. →A hipocalcemia decorre da prematuridade (pelo atraso na introdução de leite para o RN) e da ocorrência de hipóxia (por sobrecarga de fósforo devido à lesão celular, aumento dos níveis séricos de calcitonina e diminuição do fluxo de cálcio para o líquido extracelular quando se corrige a acidose). →A hipotermia ocorre por causa da perda excessiva de calor por escassez de tecido subcutâneo. →A policitemia é consequência da elevação da eritropoetina fetal decorrente da hipóxia crônica intrauterina. Com a hiperviscosidade sanguínea surgem outras complicações, como insuficiência cardíaca, trombose cerebral e insuficiência respiratória. →Em decorrência da insuficiência placentária, podem surgir ainda outras anomalias hematológicas, como aumento de hemácias nucleadas, plaquetopenia e leucopenia. →Em relação ao DNPM, quando o tecido cerebral é comprometido pela hipóxia e desnutrição antes de 34 semanas, surgem problemas de adaptação, irritação e dificuldade de concentração. Entretanto, quando a agressão é muito precoce (<26 semanas), os distúrbios são mais graves, com comprometimento do aprendizado, da fala e da escrita. Todas as formas de paralisia cerebral são mais frequentes diante da RCF. CONSEQUÊNCIAS EM LONGO PRAZO A maioria dos RN com RCF no termo recupera suas medidas de estatura e peso na 1ª infância. Entretanto, entre aqueles que não se recuperam até 2 anos, cerca de 50% mantêm-se pequenos na idade adulta. O risco de estatura menor é 2,5x maior. →Além disso, há associação com fatores de riscos cardiovasculares na vida adulta, como hipertensão arterial, hipertrigliceridemia, HDL baixo e resistência à insulina. →Segundo a hipótese de Barker, essas doenças crônicas teriam origem na vida fetal, na qual a deficiência de nutrientes, mesmo que temporária, reduziria de maneira irreversível o número de células em alguns órgãos, levando a mudanças na distribuição dos diferentes tipos celulares, no feedback hormonal e na atividade metabólica. Essas alterações estariam relacionadas a doenças crônicas na vida adulta, como hipertensão arterial, hipercolesterolemia, doença coronariana e diabetes mellitus. CLASSIFICAÇÃO Considerando-se o fator causal, a IG em que ocorre a agressão e os órgãos acometidos, a RCF é classificada em: • Simétrica (tipo I, intrínseca, proporcional ou hipoplásica): Corresponde a 20-30% dos casos. Refere-se a um padrão de crescimento em que todos os órgãos fetais estão diminuídos Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO proporcionalmente devido ao comprometimento global da hiperplasia celular no início da gestação. Acredita-se que resulte de processos patológicos que se manifestam precocemente na gestação, como infecções congênitas, alterações genéticas, drogas e radiações ionizantes. →O prognóstico geralmente é ruim, já que se associam a malformações fetais. • Assimétrica (ou tipo II ou desproporcional): Corresponde aos 70-80% restantes. É caracterizada por uma diminuição relativamente maior no tamanho abdominal do que no perímetro cefálico. Acredita-se que seja resultado da capacidade do feto de se adaptar a um ambiente patológico no final da gestação, redistribuindo o fluxo sanguíneo em favor de órgãos vitais, como cérebro, coração e placenta, às custas de órgãos fetais não vitais, como vísceras abdominais, pulmões, pele, rins. →Geralmente decorre de insuficiência placentária. A agressão ocorre desde o início do 3º trimestre da gravidez, na fase de hipertrofia celular, determinando déficit no crescimento celular (hipotrofia). →O diagnóstico precoce e a condução adequada permitem bom prognóstico. • Intermediária (ou tipo III ou mista): trazida por algumas fontes como 5-10% dos casos, sendo consequente a processos de agressão tanto na fase de hiperplasia quanto na de hipertrofia,geralmente no 2º trimestre da gestação. Os principais fatores etiológicos são desnutrição materna e consumo de determinados fármacos, álcool e fumo. →O diagnóstico clínico é difícil, sendo geralmente os RN classificados como tipo I ou II. ARTIGO ➔A restrição de crescimento intrauterino (RCIU) pode ser definida como a falha do feto em atingir seu pleno potencial de crescimento e pode ser causada por fatores placentários, cromossômicos ou ambientais. Essa condição está associada a um mau resultado perinatal, sendo responsável por 50% das mortes intrauterinas; eleva os riscos de sofrimento fetal intraparto, cesariana de emergência, paralisia cerebral e morte perinatal. Portanto, sua detecção e determinação de sua gravidade são de grande relevância para a prática obstétrica e constituem uma oportunidade de intervenção para prevenir resultados perinatais desagradáveis. A insuficiência placentária é o principal fator etiológico responsável pela RCIU, afetando até 15% de todas as gestações. Tal insuficiência provoca alterações significativas na circulação fetal que induzem mecanismos de compensação hemodinâmica. A compreensão desse processo adaptativo de redistribuição vascular é a chave para o manejo adequado da RCIU e explica o papel crucial da doppler velocimetria no estudo dos vasos gestacionais. →Como não há tratamento intrauterino eficaz para RCIU causada por insuficiência placentária, o objetivo do monitoramento fetal Doppler é detectar o momento da descompensação hemodinâmica em que o risco de manter o conceito de ambiente hipóxico deve ser balanceado com os riscos relacionados à prematuridade causada por a interrupção da gestação. RASTREIO E DIAGNÓSTICO O estabelecimento precoce da IG, atenção ao ganho de peso materno e cuidadosas medições do crescimento do fundo uterino ao longo da gravidez ajudam a identificar muitos casos de RCF em Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO gestantes de baixo risco. Nas mulheres com fatores de risco, deve-se considerar a possibilidade de fazer avaliações seriadas com USG. As opções para rastreio são: • Altura do fundo uterino: as medições seriadas representam um método de triagem simples, seguro, barato e razoavelmente acurado para a detecção de fetos PIG. Para a medição, uma fita métrica é aplicada sobre a curvatura abdominal desde a borda superior da sínfise pubiana até a borda superior do fundo uterino, identificado por palpação ou percussão. →Entre 18 e 30 semanas de gestação, a altura em centímetros corresponde a uma faixa de 2 semanas de IG. Assim, sendo a medição feita 2 a 3 cm diferente do esperado, pode-se suspeitar de crescimento fetal inapropriado. • Mensuração ultrassonográfica: a realização universal de rotina da USG é um método alternativo de triagem. Não há consenso sobre o momento ou o número de exames de triagem, mas de forma geral, realiza-se uma USG inicialmente entre 16 – 20 semanas, e repete-se com 32-34 semanas. Na USG, o método mais usado para o diagnóstico é a estimativa do peso fetal, utilizando diversas medidas biométricas fetais (medidas da cabeça, abdome e fêmur). • Mensuração do líquido amniótico: há relação entre RCF e oligodrâmnio, provavelmente pela redução da produção de urina pelo feto causada por hipóxia e diminuição do fluxo sanguíneo renal. • Dopplervelocimetria: a dopplervelocimetria anormal da artéria umbilical, caracterizada por fluxo diastólico final ausente ou reverso, foi associada especificamente à RCF. As anormalidades encontradas permitem distinguir entre a RCF inicial e a grave. As alterações iniciais observadas na RCF de base placentária são detectadas em vasos periféricos, como as artérias umbilical e cerebral média. As alterações tardias caracterizam-se por fluxo anormal no duto venoso, nos tratos eferentes aórtico e pulmonar, assim como fluxo reverso na artéria umbilical. ➔ Quando se detecta RCF em feto anatomicamente normal antes de 34 semanas de gestação, com volume de líquido amniótico e exames de vigilância normais, a recomendação é a observação. Enquanto o crescimento se mantiver, assim como os parâmetros de avaliação da saúde fetal, deverá ser deixada a gravidez seguir seu curso até que o feto atinja a maturidade pulmonar. Nos casos distantes do termo, nenhum tratamento é capaz de melhorar os resultados. ZUGAIB, Marcelo; FRANCISCO, Rossana Pulcineli Vieira. Restrição do Crescimento Fetal. In: Zugaib obstetrícia. 4.ed. Barueri, SP: Manole, 2020. 1406 p ISBN 9788520459881. Ferraz, M. M., Araújo, F. D. V., Carvalho, P. R. N., & Sá, R. A. M. (2020). Aortic Isthmus Doppler Velocimetry in Fetuses with Intrauterine Growth Restriction: A Literature Review. Dopplervelocimetria do istmo aórtico em fetos com crescimento intrauterino restrito: Uma revisão da literatura. Revista brasileira de ginecologia e obstetricia : revista da Federacao Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetricia, 42(5), 289–296. https://doi.org/10.1055/s-0040-1710301 EMBRIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATORIO PERÍODO EMBRIONÁRIO O sistema respiratório deriva do intestino primitivo. →Na quarta semana o sistema respiratório inferior (laringe, traqueia, brônquios e pulmões) começa a se formar na faringe primitiva (porção do intestino anterior) a partir do sulco laringotraqueal, que se forma na endoderme da face ventral da faringe. Esse sulco se aprofunda e sofre modificações dando origem ao tubo laringotraqueal com o broto pulmonar. →Os revestimentos do tubo laringotraqueal se diferenciam dando origem a laringe, traqueia, os brônquios e os pulmões. →Na extremidade do tubo laringotraqueal, desenvolve-se uma dilatação que se divide em dois brotos bronco pulmonares. →O broto direito é mais longo que esquerdo, sendo que na quinta semana no direito se originam dois brotos secundários, e no broto esquerdo, somente um. Depois, cada broto secundário se ramifica diversas vezes. O desenvolvimento dos pulmões é dividido em quatro fases: 1. ESTÁGIO EMBRIONÁRIO (4ª à 7ª semana): ocorre o surgimento do divertículo respiratório até os segmentos bronco pulmonares. 2. PERÍODO PSEUDOGLANDULAR (8ªà 16ª semana): O broto pulmonar se divide em dois brotos brônquicos, que se diferenciam em brônquios e suas ramificações. O pulmão tem aparência de glândula. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO 3. PERÍODO CANALICULAR (da 17ª à 26ª semana): Formam-se os bronquíolos respiratórios, ductos alveolares e poucos alvéolos primordiais. Além disso, o tecido pulmonar fica muito vascularizado. 4. PERÍODO DO SACO TERMINAL (da 26ª ao nascimento): Formam-se muitos sacos terminais com capilares revestidos por células que se diferenciam para realizar trocas gasosas e secretar SURFACTANTE (composto que diminui a tensão do líquido presente nos alvéolos para que ele não comprima em contato com o ar) formando a barreira hematoaérea. Para ocorrer a produção dessa substância, o epitélio alveolar diferencia-se nos pneumócitos tipo I e nos pneumócitos tipo II. 5. PERÍODO PÓS NATAL (do nascimento até os oito anos): há inicialmente um aumento de tecido conjuntivo entre os sacos alveolares, mas depois há uma diminuição, favorecendo as trocas gasosas. As fossetas nasais são formadas no desenvolvimento da face e, ao se aprofundarem, formam os sacos nasais primitivos. Estas estruturas são separadas da cavidade oral por uma membrana que posteriormente se rompe formando coanas primitivas, as quais possibilitam a comunicação entre as cavidades oral e nasal, essa comunicação é interrompida com a formação do palato. As coanas então passam a comunicar a cavidade nasal com a faringe (nasofaringe). →O septo nasal é formado na 9ª semana. Ele separa a cavidade nasal em duas narinas. SURFACTANTE E O AMADURECIMENTO PULMONAR →O pneumócito do tipo I é uma célula com funções principalmente relacionadas ao revestimento alveolar. →Já ospneumócitos tipo II são responsáveis pela produção do surfactante, que é uma substância composta principalmente de fosfolipídios (90%) e proteínas (10%) que reveste a superfície interna dos alvéolos pulmonares. ➔A função principal do surfactante é diminuir a tensão superficial da interfase ar-alvéolo, de modo a mantê-los distendidos e evitar seu colapso ou atelectasia. ➔A falta de surfactante é a causa principal da doença da membrana hialina, que acomete principalmente recém-nascidos prematuros, causando insuficiência respiratória. →A atelectasia causada pela deficiência de surfactante resulta em má ventilação alveolar, o que leva a hipóxia, hipercapnia e acidose. ➔A administração da DEXAMETASONA ou BETAMETASONA no período pré-natal é indicada somente para acelerar a maturação pulmonar fetal. Esta ocorre através do aumento da produção de surfactante, levando a redução na morbi- mortalidade neonatal. CIRCULAÇÃO FETAL A circulação fetal é estruturada para suprir as necessidades de um organismo em crescimento rápido num ambiente de hipóxia relativa. →Os pulmões fetais estão cheios de líquido, oferecendo alta resistência ao fluxo sanguíneo. →O embrião depende da placenta para realizar suas trocas gasosas, pois o pulmão é apenas um órgão secretor no período intra-uterino. →O sangue oxigenado chega da placenta através da veia umbilical. →Ao se aproximar do fígado o sangue passa diretamente para o DUCTO VENOSO, um vaso fetal Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO que comunica a veia umbilical com a veia cava inferior. Percorrendo a veia cava inferior, o sangue chega ao átrio direito e é direcionado através do FORAME OVAL para o átrio esquerdo. →Assim, neste compartimento o sangue com alto teor de oxigênio vindo da veia cava se mistura com o sangue pouco oxigenado vindo das veias pulmonares, já que os pulmões extraem oxigênio e não o fornece. →O DUCTO ARTERIAL, ao desviar o sangue da artéria pulmonar para a artéria aorta, protege os pulmões da sobrecarga e permite que o ventrículo direito se fortaleça para a sua total capacidade funcional ao nascimento. →No nascimento, ocorre o fechamento do ducto arterial, ducto venoso e do forame oval, além da desconexão com os vasos umbilicais. ALTERAÇÕES DO VOLUME DE LIQUIDO AMNIÓTICO O produto conceptual é envolto por líquido amniótico (LA) durante todo o seu desenvolvimento intrauterino. Além de manter a homeostase térmica, o líquido proporciona proteção ao feto contra traumas mecânicos, evita fenômenos compressivos do cordão umbilical e é fundamental para o adequado desenvolvimento do sistema musculoesquelético, permitindo a movimentação corporal. A presença de diversos hormônios, fatores de crescimento, enzimas e outras substâncias denota o importante papel que esse líquido exerce na promoção do crescimento e da diferenciação dos epitélios intestinal e pulmonar, além de participar da manutenção da homeostase fetal e constituir um ambiente estéril favorável ao desenvolvimento do concepto. →Por sua grande importância, as alterações do volume de líquido amniótico, tanto para mais como para menos, estão classicamente associadas a aumento do risco perinatal e complicações no parto e no puerpério. →O volume de líquido amniótico aumenta de cerca de 30 mL com 10 semanas, para 200 mL com 16 semanas, até alcançar cerca de 700 mL na metade do terceiro trimestre. Esse líquido é composto por cerca de 98% de água. →Um feto a termo contém, a grosso modo, 2.800 mL de água, e a placenta contém outros 400 mL, de forma que o útero a termo contém quase 4 L de água. →O volume anormalmente reduzido é denominado OLIGODRÂMNIO, enquanto o aumento no volume do líquido é denominado HIDRÂMNIO OU POLIDRÂMNIO. ➔Com a incorporação dos exames ultrassonográficos na rotina propedêutica do acompanhamento pré-natal, tornaram-se mais fáceis o diagnóstico das alterações do volume de líquido amniótico e o acompanhamento dessas gestações de alto risco. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO FISIOLOGIA DO LIQUÍDO No início da gestação, a cavidade amniótica é preenchida com um líquido muito similar em composição ao líquido extracelular. Durante a primeira metade da gestação, ocorre transferência de água e de outras pequenas moléculas pelo âmnio (fluxo transmembranoso), pelos vasos fetais na superfície placentária (fluxo intramembranoso) e pela pele fetal. A produção fetal de urina inicia-se entre 8 e 11 semanas, mas a urina só passa a ser um componente importante do líquido amniótico a partir do segundo trimestre. O transporte de água pela pele fetal continua até que ocorra a queratinização, com 22 a 25 semanas. →Com a evolução da gestação, quatro vias têm participação importante na regulação do volume do líquido amniótico. ➔A primeira é a urina fetal, que é a principal fonte de líquido amniótico na segunda metade da gravidez. Ao termo, a produção de urina pelo feto pode exceder 1 L por dia e, assim, o volume de líquido amniótico é recirculado diariamente. A osmolalidade da urina fetal é significativamente hipotônica em relação à do plasma materno e fetal e semelhante à do líquido amniótico. Essa hipotonicidade da urina fetal - e consequentemente do líquido amniótico - é responsável pela significativa transferência intramembranosa de líquido através e para o interior dos vasos fetais sobre a superfície placentária e, assim, para o feto. ➔Essa transferência atinge 400 mL por dia e é o segundo regulador do volume do líquido. Em um quadro de desidratação da gestante, o aumento na osmolalidade materna favorece a transferência de líquido do feto para a mãe e, posteriormente, do compartimento do líquido amniótico para o feto. ➔A terceira fonte importante para a regulação do líquido amniótico é o trato respiratório. Cerca de 350 mL de líquido pulmonar são produzidos por dia no final da gestação, e metade desse volume é imediatamente deglutida. Finalmente, a deglutição fetal é o principal mecanismo de reabsorção do líquido amniótico e corresponde à média de 500 a 1.000 mL por dia. O impedimento à deglutição, causado por anormalidade no sistema nervoso central ou por obstrução do trato gastrointestinal, pode resultar em um grau impressionante de polidrâmnio. ➔As outras vias - fluxo transmembranoso e fluxo pela pele fetal - respondem por uma proporção bem menor do transporte de líquido na segunda metade da gestação. AVALIAÇÃO DO LÍQUIDO AMNIÓTICO Atualmente, o exame ultrassonográfico é o método de escolha para o diagnóstico e o acompanhamento das alterações do volume de líquido amniótico. Entretanto, diante de determinados sinais e sintomas, é possível suspeitar da presença dessas anormalidades. Há suspeita de OLIGODRÂMNIO quando o volume uterino é menor que o esperado para a idade gestacional, podendo-se evidenciar a diminuição do líquido amniótico e o fácil reconhecimento das partes fetais pela palpação do abdome materno. A mãe também pode relatar redução na movimentação fetal e/ou história de perda de líquido pela via vaginal. Nos casos de POLIDRÂMNIO, a queixa mais comum da gestante é a dispneia, a altura uterina é maior do que a esperada para a idade gestacional e, além disso, a pele do abdome materno apresenta-se distendida, lisa e brilhante, com presença de estrias extensas. As outras queixas relatadas são decorrentes de fenômenos mecânicos relacionados à sobre distensão uterina e à pressão sobre os órgãos adjacentes. Na palpação, há dificuldade para identificar partes fetais, e em alguns casos o útero pode apresentar hipertonia decorrente do volume excessivo. A ausculta dos batimentos cardíacos fetais é dificultada pelo excesso de movimentação do feto, e observa-se o sinal do “piparote”. Também é comum edema nas porções baixas do ventre materno e nos membros inferiores. Quando o quadro é agudo, precoce e se desenvolve ao longo de poucosdias, podem ser detectadas contrações que caracterizam o trabalho de parto prematuro. AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA Quando houver suspeita clínica, o diagnóstico das alterações do volume de líquido amniótico pode ser confirmado pelo exame ultrassonográfico. Além disso, a avaliação do líquido amniótico é parte de qualquer ultrassonografia realizada no segundo ou no terceiro trimestre. O volume costuma ser avaliado de modo semiquantitativo, com medição de um bolsão único ou do índice de líquido Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO amniótico (ILA). Uma estimativa qualitativa ou subjetiva do volume do líquido amniótico também é considerada aceitável quando realizada por examinador experiente. Entretanto, uma limitação da estimativa subjetiva é não permitir avaliação longitudinal das tendências de variação em sua quantidade ou da adequação do volume. MAIOR BOLSÃO VERTICAL OU BOLSÃO VERTICAL MÁXIMO (MBV) O transdutor de ultrassom é mantido em posição perpendicular ao chão e paralela ao eixo longitudinal da gestante. No plano sagital, identifica-se o maior bolsão vertical de líquido. O bolsão de líquido pode conter partes fetais ou alças do cordão umbilical, mas esses não são incluídos na medição. A variação normal para maior bolsão vertical (MBV) mais comumente usada é entre 2 e 8 cm, com valores abaixo e acima indicando oligoidrâmnio e polidrâmnio, respectivamente. Esses limiares correspondem ao 3° e ao 97° percentil. Outro método menos utilizado para avaliar o volume do líquido amniótico envolve a medição de bolsão único nos planos vertical e transversal. Define-se como adequado o volume de líquido amniótico quando o bolsão tem 2 X 1 cm, 2 X 2 cm ou no mínimo 15 cm2. Ao avaliar gestações de gemelares e outras gestações multifetais, mede-se um MBV em cada saco gestacional, novamente usando 2 a 8 cm como variação normal. ÍNDICE DE LÍQUIDO AMNIÓTICO (ILA) Assim como a medição do MBV, o transdutor do ultrassom é mantido perpendicular ao solo e paralelo ao eixo longitudinal da gestante. O útero é dividido em quatro quadrantes iguais - os quadrantes superiores e inferiores, direito e esquerdo. →O ILA é a soma dos MBVs de todos os quadrantes. O Doppler colorido em geral é usado para confirmar que nenhuma parte do cordão umbilical tenha sido incluída na medição. Isso pode resultar em maior consistência e em redução da variação intra observador. Entretanto, foi relatado que o Doppler colorido usa resultados de medição inferior do ILA e, assim, potencialmente diagnostica de forma exagerada oligoidrâmnios. A variabilidade intraobservador do ILA é de cerca de 1 cm, e a variabilidade interobservadores é de cerca de 2 cm. Há grandes variações quando o volume do líquido amniótico está acima do limite normal. Uma diretriz útil é que o ILA é cerca de três vezes o MBV encontrado. A determinação da normalidade do ILA pode ser baseada em um ponto de corte numérico estatístico ou na variação do percentil específica para a idade gestacional. A variação normal para ILA mais usada é 5 a 24 cm, com valores abaixo e acima indicando, respectivamente, oligodrâmnio e polidrâmnio. POLIDRÂMNIO Trata-se do volume anormalmente aumentado do líquido amniótico, o que complica 1 a 2% das gestações únicas. Em gestações gemelares, é mais comum e ocorre principalmente devido a complicações da placentação monocoriônica. O polidrâmnio (hidrâmnio) está associado a um risco aumentado de vários desfechos adversos na gravidez, incluindo parto prematuro, descolamento de placenta e anomalias fetais. Deve-se suspeitar de polidrâmnio clinicamente quando o tamanho uterino for grande para a idade gestacional (altura do fundo [cm] excedendo as semanas de gestação em > 3). O diagnóstico é feito no pré-natal com base no exame ultrassonográfico que mostra volume excessivo de líquido amniótico por técnica quantitativa não invasiva, como ILA ≥ 24 cm ou MBV ≥ 8 cm. Classificação: ➔O polidrâmnio pode ser classificado de acordo com o grau. Essa categorização tem sido usada em pesquisas para estratificação de risco. • Polidrâmnio leve (mais comum): ILA entre 24- 29,9 cm ou MBV entre 8-11,9 cm; • Polidrâmnio moderado: ILA entre 30-34,9 cm ou MBV entre 12-15,9 cm; • Polidrâmnio grave: ILA ≥ 35 cm ou MBV ≥ 16 cm. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Quando nenhuma etiologia é identificada, o polidrâmnio é denominado idiopático. Trata-se de um diagnóstico de exclusão e uma condição predisponente pode se tornar evidente com o avanço da gestação ou após o parto. Os polidrâmnios idiopáticos são responsáveis por aproximadamente 60 a 70% dos casos. →Muitos casos idiopáticos são resolvidos espontaneamente, principalmente os casos leves. No entanto, o polidrâmnio tem sido associado a um risco aumentado de vários resultados adversos, além dos maus resultados relacionados às anormalidades morfológicas fetais associadas: • Comprometimento respiratório materno; • Ruptura prematura de membranas ovulares; • Trabalho de parto e parto prematuros; • Má posição fetal; • Macrossomia (levando potencialmente à distocia do ombro); • Prolapso do cordão umbilical; • Descolamento prematuro de placenta; • Segunda etapa do trabalho de parto prolongada; • Atonia uterina pós-parto ➔Essas complicações aumentam o risco de parto cesáreo e admissão em uma unidade de terapia intensiva neonatal; ➔O polidrâmnio grave resulta em parto prematuro ou em comprometimento da função respiratória materna. Nesses casos, é possível que haja necessidade de indicar a amniodrenagem - denominada amniorredução. A técnica para inserção da agulha é a mesma para amniocentese. Em geral, retiram-se lentamente 1.000 a 1.500 mL de líquido em cerca de 30 minutos, dependendo do volume do polidrâmnio e da idade gestacional. O objetivo é restaurar o volume do líquido amniótico ao limite superior normal. OLIGODRÂMNIO Trata-se de redução anormal no volume do líquido amniótico. O oligoidrâmnio complica cerca de 1 a 2% das gestações. Diferentemente do polidrâmnio, que com frequência é leve e tem prognóstico benigno na ausência de etiologia subjacente, o oligoidrâmnio causa preocupações. Quando não se identifica qualquer bolsão de líquido amniótico mensurável, utiliza-se o termo anidrâmnio. Pode-se suspeitar de oligoidrâmnio quando o tamanho uterino é menor que o esperado para a idade gestacional ou quando a paciente apresenta ruptura prematura de membranas ovulares. →O diagnóstico ultrassonográfico em geral tem como base um ILA < 5 cm ou um MBV < 2 cm. Também pode ser feito com base em um ILA abaixo dos percentis 5 ou 2,5 determinado por nomograma específico para a idade gestacional. Ou, ainda, pode ser feito com base na avaliação subjetiva de redução no volume do líquido amniótico. Quando se está avaliando a gestação de gemelares para síndrome de transfusão feto-fetal, a detecção de MBV < 2 cm é usada para definir oligodrâmnio. Em geral, nenhum critério é considerado superior aos demais. ➔Primeiro trimestre: O volume reduzido de líquido amniótico no primeiro trimestre é um achado ameaçador e geralmente leva a abortamento. Deve- se aconselhar a paciente quanto ao mau prognóstico e os sinais de aborto. Os exames ultrassonográficos seriados são úteis para acompanhar a evolução do quadro. ➔Segundo trimestre: No segundo trimestre, o prognóstico e o manejo dependem da etiologia subjacente e da magnitude da redução do líquido amniótico. Volume no limite inferior da normalidade: Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO geralmente tem um bom prognóstico. Os exames ultrassonográficos seriados a cada 1-2 semanas são úteis para acompanhar a evolução do quadro, que pode permanecer estável, resolver ou progredir para o desenvolvimento de oligoidrâmnio e/ou restrição do crescimento fetal. Oligodrâmnio: geralmente termina em morte fetalou neonatal. Nos países em que é possível a interrupção legal da gravidez, os pais devem receber aconselhamento multidisciplinar sobre a etiologia suspeita, avaliação adicional, prognóstico em curto e longo prazo e suas opções (ex: interrupção da gravidez, continuação da gravidez, cuidados paliativos neonatais, cuidados neonatais agressivos). Nas gestações em andamento, os riscos e possíveis sequelas de compressão medular, parto prematuro e anormalidades neonatais devem ser discutidos. A compressão do cordão umbilical pode levar a asfixia e morte fetal. O parto prematuro, espontâneo ou indicado por complicações maternas ou fetais, ocorre em mais de 50% dos casos e está associado ao aumento da morbimortalidade. As anormalidades neonatais em consequência do desenvolvimento em um ambiente com líquido amniótico gravemente baixo podem ser estruturais ou funcionais e incluem deformações esqueléticas, contraturas e hipoplasia pulmonar. ➔Terceiro trimestre: Parece haver uma relação inversa entre o volume de líquido amniótico no terceiro trimestre e o resultado adverso da gravidez. Os resultados adversos estão relacionados à compressão do cordão umbilical, insuficiência uteroplacentária e aspiração de mecônio. A duração do oligodrâmnio também é um fator prognóstico. Pacientes que apresentam oligodrâmnio idiopático em idade gestacional precoce têm risco aumentado de resultados perinatais adversos em comparação com aqueles que se apresentam mais tarde na gestação. Os resultados adversos associados incluem: maior frequência de malformações, parto prematuro, parto cesáreo, indução de parto, baixo peso ao nascer, baixo índice de Apgar, internação em unidade de terapia intensiva e hospitalizações neurológicas e gastrointestinais durante a infância. ➔Não há tratamento de oligoidrâmnio que tenha sido comprovadamente eficaz em longo prazo. No entanto, é possível melhorar em curto prazo o volume de líquido amniótico e essa estratégia pode ser considerada em determinadas circunstâncias. ➔Amnioinfusão: a amnioinfusão aumenta temporariamente o volume de líquido amniótico. É usada nas seguintes situações: • Para melhorar a detecção de anomalias fetais: o oligodrâmnio pode limitar a avaliação ideal por ultrassom do feto. • Para facilitar a versão cefálica externa: os dados para essa indicação são de baixa qualidade e discordantes, mas geralmente sugerem que essa estratégia não melhora as taxas de sucesso. • Para prevenção de sequelas fetais do oligodrâmnio. ➔Hidratação materna: nos casos de oligodrâmnio isolado em que o parto não é indicado, a hidratação oral com 1-2 litros de água pode aumentar transitoriamente o volume de líquido amniótico e pode ter algum benefício, principalmente em pacientes hipovolêmicas. Essa abordagem é mais fácil e segura do que a administração de fluidos intravenosos ou amnioinfusão. A hidratação com água parece reduzir a osmolaridade plasmática materna e a concentração de sódio, resultando em fluxo de água materno-fetal conduzido osmoticamente; também melhora a perfusão uteroplacentária. ➔Com exceção dos casos de malformações fetais com prognóstico ominoso, o sucesso na conduta dos casos com diagnóstico de oligoidrâmnio depende do controle rigoroso da vitalidade fetal. Ponderar os riscos da prematuridade e do sofrimento fetal é outra premissa relevante. A resolução da gestação está indicada nos casos de oligodrâmnio com maturidade pulmonar fetal comprovada ou quando as provas de vitalidade fetal estiverem alteradas, independentemente da maturidade fetal, mas após a viabilidade. Ross MG, Beall MH. Physiology of amniotic fluid volume regulation. [Internet]. 2021. [acesso em 23 jun. 2021]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/ physiology-of- amniotic-fluid-volume-regulation. Zugaib M, Francisco RPV. Zugaib Obstetrícia. 3. ed. Barueri: Manole, 2016. Cunninghan FG et al. Obstetrícia de Williams. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO EMBRIOLOGIA DA 17ª AO NASCIMENTO DA DÉCIMA SÉTIMA A VIGÉSIMA SEMANA →O crescimento fica mais lento, mas continua. Os movimentos fetais (pontapés) já conseguem ser percebidos pela mãe. Os pés são cobertos por verniz caseosa (semelhante a um material gorduroso) que protege a pele do bebê da exposição do líquido amniótico. ➔O verniz protege a delicada pele fetal a abrasoes, rachaduras e endurecimento que resultam da exposição ao liquido amniótico; →Com 20 semanas, seu corpo é coberto pelo lanugo (penugem delicada que recobre o corpo todo), que ajuda a manter a verniz caseosa presa na pele. A gordura parda se desenvolve, principalmente na base do pescoço, posterior ao esterno e na área perirrenal; e é o local de produção de calor pela oxidação de ácido graxo. →Com 20 semanas, os testículos começam a descer, mas vão até a parede abdominal posterior ainda. O feto tem 300 g. →Na 18ª semana, o útero fetal é formado e a canalização da vagina se inicia, os folículos primários contendo oogônias também são visíveis; DA VIGÉSIMA PRIMEIRA À VIGÉSIMA QUINTA SEMANA O feto ganha peso, fica com 600 g. A pele fica enrugada e mais translúcida. A cor da pele é de rosa a vermelha em espécimes frescos, pois o sangue é visível nos capilares. →Com 21 semanas, começam os movimentos rápidos dos olhos. →Com 24 semanas, os pneumócitos tipo II dos septos interalveolares do pulmão começam a secretar o surfactante, porém o sistema respiratório ainda é imaturo. Unhas das mãos também se desenvolvem. →Embora um feto de 22 a 25 semanas nascido prematuramente possa sobreviver se receber cuidados intensivos, ainda há uma chance de que possa vir a falecer porque o seu sistema respiratório é imaturo até aquele momento. →O risco de comprometimento do desenvolvimento nervoso (p. ex., deficiência mental) é alto nos fetos nascidos antes de 26 semanas. DA VIGÉSIMA SEXTA À VIGÉSIMA NONA SEMANA →Os pulmões e os vasos pulmonares já possuem capacidade de realizar troca gasosa adequada. →O SNC já amadureceu e consegue controlar movimento respiratório e a temperatura corporal. →O feto começa a dormir 90% do tempo e os outros 10% são marcados pelo reflexo do susto (movimentos de autodefesa) – início do funcionamento do ciclo circadiano. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO →Com 26 semanas, as pálpebras abrem. A gordura subcutânea desenvolve-se, eliminando as rugas. →O baço realiza hematopoese. →Com 28 semanas, a eritropoiese no baço cessa e a medula óssea assume essa função, tornando- se o principal local desse processo. →O feto pesa 1,1 Kg; DA TRIGÉSIMA À TRIGÉSIMA QUARTA SEMANA →Reflexo pupilar →A pele é rosada e lisa. A quantidade de gordura amarela aumenta de 3,5% para 8%, o que dá aos braços uma aparência mais cheia. →O feto pesa 2,2 kg e tem 40 cm. → Fetos com 32 semanas ou mais geralmente sobrevivem se nascidos; DA TRIGÉSIMA QUINTA À TRIGÉSIMA OITAVA SEMANA →Essa é uma fase de “acabamento”. →O SN fica maduro e efetua as funções integrativas. →O crescimento fica mais lento, e geralmente, ganha cerca de 14 g por dia, com a circunferência da cabeça e abdome quase iguais, podendo o do abdome superar posteriormente. →Atinge cerca de 3,4 kg e 50 cm, na 36ª semana. → O comprimento do pé dos fetos costuma ser ligeiramente maior do que o comprimento femoral (osso longo da coxa) na 37ª semana e constitui um parâmetro alternativo para a conformação da idade fetal. Há uma redução da velocidade do crescimento à medida que o momento do parto se aproxima. → A termo (38 semanas), a maior parte dos fetos geralmente atinge um CCN de 360 mm e um peso de, aproximadamente, 3.400 g →A quantidade de gordura amarela é de, aproximadamente, 16% do peso corporal. O tórax é proeminente e as mamas frequentemente se projetam ligeiramente em ambos os sexos. →Os testículosgeralmente estão na bolsa escrotal no recém-nascido a termo do sexo masculino; os neonatos prematuros do sexo masculino comumente exibem ausência da descida testicular; → Os fetos do sexo masculino são maiores e pesam mais ao nascer do que os femininos. BAIXO PESO AO NASCER Nem todos os bebês com baixo peso ao nascer são prematuros. Aproximadamente um terço daqueles com um peso ao nascer de 2.500 g ou menos são realmente pequenos para a idade gestacional. Esses recém-nascidos “pequenos para a idade gestacional” podem estar abaixo do peso devido à insuficiência placentária. As placentas frequentemente são pequenas ou mal fixadas e/ou foram submetidas a alterações degenerativas que progressivamente reduzem o suprimento de oxigênio e a nutrição do feto. → É importante distinguir entre recém-nascidos a pleno termo que apresentam um baixo peso ao nascer devido a RCIU e recém-nascidos pré-termo que estão abaixo do peso devido a um encurtamento da gestação (i.e., prematuros para data). A RCIU pode ser provocada por pré-eclâmpsia (hipertensão), tabagismo ou algumas drogas ilícitas, gestações múltiplas (trigêmeos), doenças infecciosas, defeitos vasculares, nutrição materna inadequada e hormônios maternos e fetais. →Os teratógenos e fatores genéticos também são conhecidos por causarem RCIU. Os recém-nascidos com RCIU exibem uma característica carência de gordura subcutânea e a sua pele é enrugada, sugerindo que a gordura amarela tenha sido perdida de forma aguda NASCIMENTO →Quando a termo, os fetos normais geralmente pesam cerca de 3.400 g e têm medida CR de 360 mm. A quantidade de gordura amarela é de cerca de 16% do peso corporal. →O tórax é saliente e as mamas fazem leve protrusão em ambos os sexos. Normalmente, em fetos masculinos a termo, os testículos estão no escroto; meninos prematuros comumente apresentam testículos que não desceram. Apesar de a cabeça do feto a termo ser bem menor com relação ao resto do corpo quando comparada ao que era no início da vida fetal, ela ainda é uma das maiores partes do feto. MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N; TORCHIA, M.G. Período Fetal: Nona semana ao Parto. In: Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. ~ Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO MODIFICAÇÕES NO ORGANISMO MATERNO CARDIOVASCULARES Na gestante, o aumento no volume plasmático é acompanhado pela redução coloido-osmótica de 10 a 15%, o que aumenta a suscetibilidade ao edema de pulmão. Em condições como a pré-eclâmpsia, na qual os vasos pulmonares estão mais permeáveis, é preciso ter atenção à reposição líquida para evitar o edema de pulmão. Condições cardiovasculares maternas associadas à cianose, à hipoxia ou ao baixo débito cardíaco reduzem a oxigenação do sangue dirigido ao feto, podendo aumentar a incidência de complicações como abortamento, CIR e baixo peso ao nascer. ➔O débito cardíaco aumenta 15% no 1º estágio do parto e 50% no 2º estágio. Imediatamente após o parto, este acréscimo é de 60%. Portanto, mulheres cardiopatas tendem a apresentar maior risco de desenvolverem edema de pulmão no 2º estágio do parto e no pós-parto imediato. →Edema periférico, taquicardia leve, distensão das veias jugulares e deslocamento lateral para a esquerda do ápice ventricular são normais na gravidez. Embora o coração esteja fisiologicamente dilatado nesse período, não há diminuição da fração de ejeção. O 5º som de Korotkoff está mais bem correlacionado com a pressão arterial e deve ser considerado para atestar o nível diastólico em vez do 4º som. →A circulação hemodinâmica da gestante é modificada a partir da 20ª semana. No decúbito dorsal, o útero aumentado comprime a veia cava inferior, impedindo o retorno venoso ao coração. Ao mesmo tempo, a aorta também está significativamente comprimida, reduzindo o débito cardíaco e, consequentemente, a perfusão útero placentária. Em virtude dessa compressão aortocava, a pressão arterial não deve ser aferida com a gestante em decúbito dorsal. →Por apresentar aumento de 30% no volume sanguíneo, a gestante pode perder até 1.500 mℓ de sangue antes de se manifestarem os sinais clínicos de hipovolemia. Na hemorragia obstétrica significativa, o mecanismo compensatório envolve o desvio de sangue do território uteroplacentário, de tal modo que a primeira manifestação da perda sanguínea pode ser o sofrimento fetal refletido na frequência cardíaca fetal (FCF) alterada no monitoramento eletrônico. →O aumento da frequência cardíaca é um mecanismo compensatório inicial para a hipovolemia, contudo, frequência superior a 100 bpm deve suscitar preocupação até prova em contrário. SANGUÍNEAS Há aumento na produção de hemácias estimulado pela maior secreção de eritropoetina pelos rins. Todavia, o aumento de 18 a 25% das hemácias é desproporcional ao acréscimo de 30 a 50% do volume plasmático, configurando a anemia dilucional fisiológica da gravidez. As necessidades maternas de ferro aumentam de 5 a 6 mg/dia; totalizando uma ingesta estimada em 1.000mg durante toda a gravidez. A anemia resultante da inadequada suplementação de ferro pode resultar em complicações obstétricas como abortamento tardio e parto pré-termo. →Contagem de leucócitos de 14 mil/mm3 é normal e pode ser até maior, atingindo 30 mil/mm3 no parto e no puerpério. A gravidez é considerada um estado pro trombótico com aumento de diversos fatores coagulantes, especialmente do fibrinogênio, elevando em quatro vezes o risco de tromboembolismo venoso. Todas essas alterações pro trombóticas, associadas à estase venosa e ao comprometimento do retorno venoso agravado pelo útero grávido, tornam a gestante suscetível ao tromboembolismo, uma das principais causas de morte materna. Por isso, é importante o rastreamento para outros fatores de risco de tromboembolismo na gestante, e, quando apropriado, o início da profilaxia, por exemplo, com heparina de baixo peso molecular ou meias de compressão. URINÁRIAS A partir do 1º trimestre, ocorrem dilatação do sistema coletor urinário, em virtude de uma combinação de efeitos da progesterona na musculatura lisa, e compressão dos ureteres pelo útero na crista ilíaca, resultando na hidronefrose. A hidronefrose é mais comum à direita devido à dextrorrotação uterina. Essa dilatação fisiológica deve ser considerada quando da interpretação dos estudos radiológicos realizados pela suspeita de obstrução do sistema urinário. Essa estase do sistema coletor pela compressão ureteral é a responsável pela elevada incidência de infecção urinária na gravidez, especialmente a pielonefrite. Do mesmo modo, o tônus vesical diminui e a gestante queixa-se de frequência, urgência e incontinência. Esses sintomas agravam-se ao fim da gravidez com a insinuação da cabeça do concepto na pelve materna. →A TFG aumenta de 40 a 50%, elevando a depuração de creatinina em 45% com 9 semanas de gestação. Ao mesmo tempo, a excreção urinária de proteína é maior, tornando complicado o monitoramento de doenças renais. Tolera-se como Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO normal a excreção de, no máximo, 300 mg/dia de proteína. A excreção urinária de glicose também está aumentada em decorrência da elevação da TFG e da menor reabsorção tubular. Portanto, na gravidez, a glicosúria não é sinal de diabetes. É importante salientar que a fisiologia da gestante não reconhece o sistema renal como prioritário. Em situações de comprometimento hemodinâmico, tais como hemorragia massiva, a perfusão renal é reduzida, ocasionando redução do débito urinário e risco elevado de necrose tubular aguda. RESPIRATÓRIAS Há edema nas vias respiratórias superiores envolvendo a faringe e a laringe. Por esse motivo, a intubação na gestante pode ser difícil e sondas endotraqueais menos calibrosas estão indicadas. Além disso, vasos sanguíneos no nariz sofrem vasodilatação, causando ingurgitamentocapilar e, consequentemente, sangramento nasal, congestão e rinite tornam-se comuns. O aumento no consumo de O2 (30%) e a diminuição da capacidade residual funcional (25%) pela elevação de 4 cm do diafragma explicam o porquê da baixa reserva de O2 e a grande suscetibilidade à hipoxia, especialmente em situações de estresse respiratório, como costuma acontecer na pneumonia. A pneumonia costuma ser grave na gestação, evoluindo rapidamente para a síndrome de angústia respiratória aguda (SARA). Por outro lado, o edema das vias respiratórias coloca a gestante em risco de apresentar dificuldades durante a intubação. Pela baixa reserva de O2, recomenda-se adequada pré- oxigenação em grávidas submetidas à anestesia geral. A hiperventilação materna é causada pela ação da progesterona nos centros respiratórios bulbares e dispneia é encontrada em 60 a 70% das gestantes normais por volta de 30 semanas, o que dificulta o diagnóstico de problemas respiratórios. A queda do bicarbonato plasmático diminui a capacidade tampão do sangue, tornando as diabéticas insulinodependentes mais propensas à cetoacidose. DIGESTIVAS O peritônio está estirado, o que o torna dessensibilizado e dificulta o exame abdominal à procura de irritação peritoneal. Níveis elevados de progesterona contribuem para um retardo no trânsito gastrintestinal, assim como relaxam o esfíncter gastresofágico. Esses fatores explicam a elevada incidência (de 50 a 80%) de refluxo e pirose na gestação, assim como o risco aumentado de aspiração, principalmente durante a administração da anestesia geral. ENDÓCRINAS A hipófise anterior aumenta em virtude da hiperplasia das células lactóforas responsáveis pela elevada produção da prolactina, quadro que preocupa mulheres com adenoma de hipófise, que podem experimentar pior anos campos visuais em decorrência da expansão do tumor comprimindo o quiasma óptico. Microprolactinomas (< 10 mm) geralmente não causam transtornos. Por outro lado, macroprolactinomas (> 10 mm) são problemáticos, pois podem causar expansão de 4% em mulheres tratadas e de 15% naquelas não tratadas. Por esse motivo, pacientes com macroprolactinomas são aconselhadas a continuar o tratamento medicamentoso (agonistas da dopamina) durante a gravidez. →A gravidez está associada a um estado de deficiência de iodo resultante do aumento do transporte placentário e da excreção renal. Apesar da maior produção dos hormônios tireoidianos, o aumento da tireoide é discreto e qualquer suspeita de bócio deve ser investigada. →Os níveis de TSH e de T4 livre acrescidos devem ser interpretados com cautela. Embora a resistência periférica à insulina seja elevada na gravidez, há um aumento compensatório na secreção do hormônio. Mulheres com reserva pancreática marginal e obesas com resistência pré- gestacional à insulina apresentam risco elevado de desenvolver diabetes melito gestacional. Em virtude da maior resistência à insulina, gestantes com diabetes pré-gestacional necessitam de doses maiores do hormônio à medida que avança a gestação. PROBLEMA 5 FECHAMENTO GEMELARIDADE A gravidez gemelar é definida pela presença simultânea de dois ou mais fetos dentro do útero ou fora dele, podendo ser classificada como dupla, tripla, quádrupla e assim por diante. Cada produto da gravidez é considerado um gêmeo. →A incidência de gestação múltipla vem aumentando nos últimos anos em decorrência da idade materna avançada e da utilização de técnicas de reprodução assistida. →Está associado à ocorrência de complicações como abortamento, trabalho de parto prematuro, descolamento prematuro de placenta, Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO malformações, morte fetal, aumento da morte neonatal, entre outros desfechos. Por isso é essencial que no acompanhamento pré- natal a paciente seja encaminhada para o pré-natal de alto risco em centro de referência. CLASSIFICAÇÃO A classificação da gravidez baseia-se na: • quantidade de fetos (duplas, triplas, quadruplas...); • quantidade de ovos fertilizados (zigotia); • número de placentas (corionia) e • número de cavidades amnióticas (amnionia). ZIGOTIA Em relação ao número de ovos fertilizados a gravidez pode ser mono ou dizigótica. →Os monozigóticos são também chamados de univitelinos e correspondem a 1/3 dos gemelares. Resultam da fertilização de um óvulo por apenas um espermatozoide. A depender da época de divisão do zigoto pode ocorrer placentação mono ou dicoriônica. →São formados gêmeos com mesmo genótipo, portanto de mesmo sexo, com mesma aparência física e mesmas tendências patológicas. →Os dizigóticos, também chamados bivitelinos ou fraternos, resultam da fertilização de dois óvulos por dois espermatozoides e representam 2/3 dos gemelares. →A placentação é obrigatoriamente dicoriônica e os gêmeos não são idênticos, podendo inclusive ter sexos diferentes. CORIONIA E AMNIONIA: A corionia ou corionicidade é o fator mais importante a ser determinado na gestação gemelar, uma vez que as gestações monocoriônicas apresentam mais complicações e elevada morbimortalidade neonatal. →Os gêmeos dizigóticos são sempre dicoriônicos (duas placentas), ao passo que os monozigóticos podem ser dicoriônicos ou monocoriônicos (uma placenta). →Quando a divisão do zigoto ocorre durante os três primeiros dias após a fertilização, os gêmeos Monozigóticos serão dicoriônicos e diamnióticos. →Se a divisão ocorrer entre o terceiro e o oitavo dia serão monocoriônicos, diamnióticos; → E entre o oitavo e o décimo terceiro dia serão monocoriônicos e monoamnióticos. →Quando a divisão ocorre a partir do décimo terceiro dia não ocorre a separação completa do disco embrionário, resultando em gemelaridade imperfeita (gêmeos unidos). ➔ Os DIZIGÓTICOS serão sempre DICORIÔNICOS e DIAMNIÓTICOS. Já os dicoriônicos e diamnióticos nem sempre serão dizigóticos (podem ser monozigóticos com divisão do ovo antes do terceiro dia!). FATORES DE RISCO A prevalência de gêmeos monozigóticos é relativamente estável em todo o mundo, já a prevalência de gêmeos dizigóticos é influenciada por alguns fatores, entre eles: • Tratamentos para aumentar a fertilidade: fertilização in vitro, indução da ovulação, superovulação e inseminação intra-uterina; • Idade materna: a frequência de gêmeos dizigóticos aumenta de 2 a 3 vezes entre os 15 e os 35 anos; • Raça negra; • Paridade: o aumento da paridade aumenta a probabilidade de gêmeos dizigóticos; • História familiar: presença de gêmeos na família materna; • Peso e altura maternos: mulheres obesas (IMC≥30Kg/m2) e altas (≥ 164cm) têm maior risco de ter gêmeos dizigóticos. DIAGNÓSTICO →A datação da gestação é feita usando a medida do comprimento cabeça-nádega (CCN) no USG e idealmente deve ser feito entre 11 e 13 semanas e 6 dias. →O diagnóstico de zigotia tem menos importância que o de corionia. Pode-se definir uma gestação como dizigótica quando são identificados sexos Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO diferentes dos fetos, ou monozigótica quando é monocoriônica. Não é possível, no entanto, determinar pelo USG a zigotia quando se trata de gestação dicoriônica e dizigótica de fetos do mesmo sexo. →O melhor período para determinação da corionia e amnionia é o primeiro trimestre, antes das 10 semanas. →Cada saco gestacional forma a própria placenta, portanto a presença de 2 sacos gestacionais implica em gravidez dicoriônica e 1 saco gestacional (com 2 batimentos cardiofetais) em gravidez monocoriônica. →A partir de 9 semanas o componente coriônico forma uma projeção entre as membranas amnióticas, formando o “sinal do lambda” ou “twin-peak sign”, característico de gestações dicoriônicas. →Já na gestação monocoriônica pode-se observar o sinal do “T” no final do primeiro trimestre que representa a fusão das membranas amnióticas adjacentes, inseridasna placenta. →É importante identificar cada um dos fetos para acompanhar o crescimento individual. Para isso são usados vários parâmetros como lado direito/ esquerdo da mãe, superior/inferior em relação ao abdome, sexo e localização das placentas. COMPLICAÇÕES MATERNAS Do ponto de vista materno ocorre com maior frequência anemia, hiperêmese gravídica, pré- eclâmpsia, edema de membros inferiores, estrias gravídicas, complicações hemorrágicas da gestação (placenta prévia, descolamento prematuro da placenta), hemorragia pós-parto, rotura prematura das membranas ovulares, infecção puerperal, edema pulmonar e óbito. COMPLICAÇÕES FETAIS →O número de complicações na gestação monocoriônica é muito maior quando comparada à gestação dicoriônica. A taxa de morbimortalidade na monocoriônica antes das 24 semanas chega a ser 9 vezes maior que na dicoriônica. → As gestações trigemelares ou de ordem maior podem ser mono ou polizigóticas, com diversas combinações de corionia e amnionia possíveis. →Os riscos de complicações são ainda mais elevados, principalmente de partos prematuros. PREMATURIDADE A duração média da gestação gemelar é de aproximadamente 35 semanas e para gestações trigemelares 32 semanas. Assim, o parto prematuro ocorre em cerca de 30 a 50% dos casos, sendo a prematuridade a principal causa de morbidade e mortalidade na gestação gemelar. →O risco de parto pré-termo é maior em gestações monocoriônicas. RESTRIÇÃO DE CRESCIMENTO O risco de restrição de crescimento em gestações gemelares é cerca de 10 vezes maior que em gestações únicas. Ocorre em um dos fetos em cerca de 34% das gestações monocoriônicas e em 23% das dicoriônicas. Diante do diagnóstico de restrição do crescimento de um dos fetos é importante investigar possíveis causas e instituir medidas de tratamento específicas, realizando acompanhamento ultrassonográfico para determinar o melhor momento para interrupção da gestação. CRESCIMENTO FETAL DISCORDANTE A taxa de crescimento fetal discordante é de 16%. O diagnóstico de discordância fetal é fundamentado na diferença entre as circunferências abdominais maior que 20mm ou entre os pesos fetais estimados >20% ou ainda diferença de 250 a 300g entre o gêmeo maior e o menor. →Pode ocorrer por diferenças na placentação, anormalidades na inserção do cordão, discordância quanto a malformações congênitas, síndromes genéticas ou infecções. PARADA DO DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO E ABORTAMENTO →O termo “washing twin” é usado nos casos em que o desenvolvimento de um dos embriões é interrompido em fase precoce da gestação. →Assim, a incidência em gestações múltiplas durante o primeiro trimestre é maior que a incidência no parto, devido à maior frequência de abortamentos nesses casos. →O diagnóstico é ultrassonográfico, não tendo na maioria dos casos qualquer manifestação clínica ou repercussão para o feto remanescente. ÓBITO FETAL Nas gestações monocoriônicas em que ocorre óbito de um dos fetos, o risco de óbito, sequelas neurológicas e parto pré-termo do outro gemelar se eleva. →Em gestações dicoriônicas não existem anastomoses vasculares entre as placentas, por isso o desequilíbrio hemodinâmico para o gemelar remanescente é mínimo. Quando ocorre o óbito de ambos os fetos a via de parto preferencial é a vaginal. SÍNDROME DE TRANSFUSÃO FETO-FETAL →Essa síndrome afeta em cerca de 10 a 15% das gestações monocoriônicas e ocorre devido a anastomoses vasculares arteriovenosas com desequilíbrio hemodinâmico entre os fetos. → O gêmeo chamado “doador” apresenta anemia e restrição de crescimento grave, acompanhados de oligúria e oligodrâmnio, enquanto o gemelar Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO chamado “receptor” apresenta sobrecarga circulatória com policitemia e polidrêmnio podendo chegar a hidropsia. →Se não tratada o risco de morte fetal pode chegar a 90%. Os critérios diagnósticos para síndrome de transfusão feto-fetal (STFF) são: monocorionicidade, ausência de malformações estruturais, polidrâmnio na cavidade amniótica do feto receptor, cuja bexiga urinária se apresenta distendida e oligodrâmnio na cavidade do feto doador, cuja bexiga muitas vezes não é identificável. Para classificação da STFF existem os estágios de Quintero: Foram propostas muitas técnicas para o tratamento da STFF, entre elas as principais são a amniodrenagem seriada para o feto receptor e a cirurgia endoscópica intrauterina com laser para coagulação das anastomoses arteriovenosas, realizada antes de 26 semanas. FETO ACÁRDICO Também conhecida como sequência de perfusão arterial reversa do gemelar (TRAP). O gemelar acárdico apresenta diversas malformações além da ausência do coração, entre elas ausência de polo cefálico e alterações de membros superiores. →Esses fetos não sobrevivem após o nascimento. O outro gemelar atua como “bomba” levando sangue para o feto acárdico e dessa forma pode desenvolver insuficiência cardíaca, hidropsia ou morrer (50 a 70% dos casos). O tratamento é a oclusão do fluxo sanguíneo para o gêmeo acárdico através de ligadura endoscópica, coagulação com laser ou embolização dos vasos umbilicais. SEQUÊNCIA ANEMIA-POLICITEMIA DO GEMELAR É caracterizada pela diferença de Hemoglobina entre os fetos ao nascimento (>8g/dl), na ausência de discordância de volume do líquido amniótico. Ocorre devido a pequenas anastomoses vasculares (<1MM) que permitem o fluxo lento entre doador e receptor. A suspeita pode ser feita no pré-natal pelo doppler de artéria cerebral média, que mostra discordância: velocidade sistólica máxima > 1,5 MoM no gêmeo anêmico e < 1,0 MoM no gêmeo policitêmico. →Antes das 30 semanas o tratamento é feito com transfusão intravascular no feto anêmico e depois desse período com a interrupção da gestação. GÊMEOS UNIDOS É raro, acometendo cerca de 1:50.000 gestações. O diagnóstico pode ser feito pela USG. A união pode ocorrer por: • Polo cefálico (craniópagos); • Face anterior do tórax (toracópagos); • Face anterior do abdome (onfalópagos); • Face lateral com união das pelves e sínfise púbica única (parápagos); • Face anterior da região da pelve com dois sacros e duas sínfises púbicas (isquiópagos); • Face posterior da região pélvica (piópagos); • Ápice da cabeça a região umbilical (cefalópagos). A forma mais comum é a toracopagia. →O prognóstico depende do local, órgãos envolvidos e presença de eventuais malformações associadas. Quando o prognóstico é ruim pode-se tentar o parto vaginal (desde que as Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO dimensões dos fetos permitam a passagem), no entanto o mais comum é a realização de cesárea. ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL Não existe um número mínimo de consultas pré- natal definido como ideal para as gestações gemelares. Os exames laboratoriais são os mesmos preconizados para as gestações únicas. →Devido ao maior risco de anemia materna aconselha-se dosar a hemoglobina a cada trimestre. →A pesquisa para o estreptococo do grupo B é realizada entre 30 a 32 semanas devido à menor idade gestacional média no parto das gestações gemelares. Nas gestações monocoriônicas é recomendada a avaliação quinzenal a partir de 16 semanas para investigar o diagnóstico de síndrome de transfusão feto-fetal. PARTO A idade gestacional ideal para a resolução da gestação é controversa. Uma prática comum é recomendar a resolução das gestações monocoriônicas com 36 semanas completas e das dicoriônicas com 38 semanas. As complicações mais comuns são distocias, apresentação fetal anômala, prolapso de cordão, descolamento prematuro de placenta e hemorragia pós-parto. →Para a escolha de via de parto são levados em consideração alguns aspectos, principalmente a viabilidade dos fetos, apresentação, estimativa de peso e paridade e idade gestacional. Para gestações a termo, quando o primeiro gemelar ou ambossão cefálicos, não havendo outras complicações, pode-se optar pela via vaginal. →Em casos em que o primeiro gemelar não é cefálico ou apresenta peso estimado menor que o segundo, com diferença maior ou igual a 500g, opta-se por cesárea. → Para gestações pré-termo em que o peso estimado é menor que 1.500g, assim como nas gestações com 3 ou mais gemelares, a via recomendada também é a cesárea. Durante o parto costuma ser maior a mortalidade do segundo gemelar. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO INFERTILIDADE E ESTERILIDADE A infertilidade, por sua vez, é considerada um problema de saúde pela OMS, e pode ser definida como ausência de gestação após 12 meses de tentativas, sendo tentativa caracterizada por uma vida sexual ativa (relações de 2 a 4 vezes por semana) sem a utilização de quaisquer métodos contraceptivos. →A infertilidade pode ser definida como primária, quando não há gravidez anterior, ou secundária, aquela na qual ocorreu pelo menos uma concepção anterior. Fertilidade= Aptidão para a reprodução x Fecundidade= Capacidade de um casal de conceber em um determinado período. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO A chance de alcançar uma gravidez é de: • 50% em 3 meses; • 60% em 6 meses; • 85% em um ano. Daqueles que não engravidaram no primeiro ano, 92% conceberão no segundo ano. Sabe-se que a mulher apresenta uma queda de aproximadamente 11% da sua fertilidade, para cada ano, após os 30 anos. Diante do exposto, orienta-se iniciar a investigação do casal infértil após, pelo menos, um ano de exposição sexual sem ocorrência de gravidez. →A investigação antes de um ano está justificada nas seguintes situações: • Mulheres com mais de 35 anos; • Ciclos menstruais irregulares; • História de doença inflamatória pélvica (DIP); • Diagnóstico ou suspeita de endometriose; • Cirurgias abdominais anteriores; • Problemas masculinos conhecidos. EPIDEMIOLOGIA Sabe-se que a chance de um casal normal, sem qualquer grau de infertilidade, de gravidez em um mês é de 20%. →De 7 a 15% dos casais em idade reprodutiva, entretanto, podem apresentar infertilidade. →Em um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), foi relatado infertilidade por fator feminino em 37% dos casos, por fator masculino em 8% dos casos e infertilidade por fator masculino e feminino em 35% dos casais avaliados. O restante dos casais foi classificado com infertilidade inexplicável; CAUSAS A infertilidade pode advir de causas femininas, masculinas, uma junção de ambas as causas ou ser uma ISCA (infertilidade sem causa aparente ou infertilidade inexplicável). ➔Dentre todas as causas, as de maior prevalência são: fatores ovarianos (principalmente os ovulatórios) representam 27%, fatores masculinos 25%, fatores tubo peritoneais 22%, ISCA 17% e outros (envolvendo a junção de fatores masculinos e femininos) 9%. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO INVESTIGAÇÃO A investigação deve ser iniciada após 12 meses de tentativa sem sucesso. No entanto, a avaliação pode ser iniciada mais cedo, em mulheres com 35 anos ou mais, mulheres com ciclos menstruais irregulares ou fatores de risco conhecidos para infertilidade, como histórico de DIP ou malformações do trato reprodutivo. ➔ Essa investigação precoce se justifica pela perda de quantidade e qualidade dos óvulos. Devemos sempre lembrar que tempo é quantidade e qualidade de óvulos! Entre os fatores femininos, pode-se listar: • Tubário (14%); • Ovulatório (6%); • Diminuição da reserva ovariana (RO) ou fator ovariano (6%); • Endometriose (7%); • Uterino (1%); • Múltiplas causas (13%). ➔Em se tratando de infertilidade, a investigação é sempre conjugal! Mesmo que o homem já tenha filhos de outras relações, tanto ele como a mulher devem sempre ser investigados. PROPEDÊUTICA BÁSICA DO CASAL A propedêutica básica do casal envolve a anamnese, o exame físico e alguns exames complementares específicos. →Com relação à anamnese voltada para a mulher, os pontos mais importantes são a duração da infertilidade, tratamentos anteriores e seus resultados, se realizados; história menstrual, envolvendo a duração e características do ciclo, de forma a avaliar o status ovulatório; patologias prévias; história cirúrgica e ginecológica, buscando condições, procedimentos ou uso de medicamentos associados à infertilidade (cabe aqui um interrogatório de sintomas que possam direcionar a investigação para alguma causa, como dor pélvica, entre outros); história obstétrica; história sexual, inclusive disfunções sexuais e a frequência de coito; história familiar para infertilidade, defeitos congênitos e mutações genéticas; hábitos de vida e história social, incluindo ocupação, nível de estresse, dieta, atividade física, abuso de substâncias ou qualquer outro fator que possa alterar a fertilidade. →Já para o homem, a anamnese deve ser direcionada para o desenvolvimento sexual e puberal, incluindo a presença de pelos no corpo e a descida testicular; histórico médico, avaliando a ocorrência de doença sistêmica grave crônica, história de traumatismo pélvico, infecções do trato gênito-urinário e IST’s, varicocele, entre outras patologias; história cirúrgica, principalmente de cirurgias envolvendo as áreas inguinal e escrotal, como a vasectomia ou orquiectomia; história de vida e social, abordando o abuso de substâncias, exposições ocupacionais ou mesmo radioterapia ou quimioterapia prévia; história sexual, questionando sobre libido, frequência de relações, além do histórico de fertilidade anterior. ➔ O principal exame complementar utilizado na propedêutica para o homem é o espermograma, além dos exames pré-concepcionais quando pertinentes, como por exemplo sorologias para hepatites. →Já os exames complementares para as mulheres são mais vastos, utilizados na dependência da causa subjacente à infertilidade. Podemos citar a Ultrassonografia Transvaginal (USGTV - para avaliação anatômica uterina), Histerossalpingografia (para avaliação da permeabilidade tubária), avaliação da presença de ciclos ovulatórios ou exames mais específicos para verificá-los, caso não seja possível inferir pela história. Além disso, deve-se solicitar os exames básicos pré-concepcionais (tipagem sanguínea, sorologias – HBV, HCV, HIV, Sífilis, Toxoplasmose e Rubéola – e TSH). FATOR OVARIANO Dentre os fatores ovarianos, podemos citar como causas de infertilidade a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), tireoidopatias (principalmente o hipotireoidismo), hiperprolactinemia e baixa reserva funcional ovariana. Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO ➔A SOP é a principal causa de anovulação crônica, sendo essa a endocrinopatia mais comum das mulheres no menacme, correspondendo a cerca de 80% dos casos de infertilidade por fator ovariano. Menacme: é o período fértil e reprodutivo da mulher, que vai desde a primeira menstruação, na menarca, até a última menstruação, na menopausa. →Trata-se de uma síndrome caracterizada por ciclos anovulatórios ou oligo-ovulação, hiperandrogenismo e múltiplos pequenos cistos ovarianos. Usualmente, a paciente busca atendimento médico por 3 quadros, sendo eles: ciclos anovulatórios (sangramento uterino irregular, oligomenorreia e até amenorreia), hiperandrogenismo (hirsutismo e acne, não sendo comum a virilização) e infertilidade. Além disso, a SOP pode se manifestar com quadros metabólicos como obesidade, resistência periférica à insulina, DM tipo II e dislipidemia, além de cursar com um risco independente aumentado para doenças cardiovasculares, devido ao estado inflamatório característico da doença. A SOP é um diagnósticode exclusão, sendo realizado através dos Critérios de Rotterdam. →O tratamento dessa síndrome envolve modificações do estilo de vida – que individualmente já aumentam o nível de ovulação -, indução de ciclos menstruais regulares e melhora do hirsutismo (através de anticoncepcionais orais, finasterida, espironolactona e tratamentos cosméticos). →As patologias da tireoide, principalmente o hipotireoidismo, estão associadas a alterações no ciclo menstrual, em sua duração e no volume de fluxo. Oligomenorreia e amenorreia são achados frequentes. Ainda que mulheres com hipotireoidismo leve possam ovular e engravidar, o tratamento com tiroxina é importante, auxiliando no retorno para o padrão menstrual normal, bem como aumentando a fertilidade. →Com relação ao achado de hiperprolactinemia, devem ser pesquisadas causas fisiológicas, farmacológicas ou secundárias ao aumento patológico de secreção hormonal. Na ausência de hipotireoidismo ou de causas farmacológicas, os estudos de imagem auxiliam no diagnóstico de tumores hiper produtores de prolactina, como os adenomas hipofisários. O seu tratamento primário será realizado através da administração de agonistas da dopamina. (CABERGOLINA). FATOR TUBO PERITONEAL São fatores que envolvem patologias modificadoras da tuba uterina, podendo cursar com alterações anatômicas e aderências peritoneais, impedindo o movimento normal da tuba, a captura dos óvulos e o transporte desses para o útero, culminando na infertilidade. →Pode-se citar como causas mais comuns: Doença Inflamatória Pélvica (DIP), endometriose, cirurgias prévias e tuberculose prévia, sendo as duas primeiras causas muito mais prevalentes que as demais. →A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma infecção do trato genital feminino superior (acima do orifício interno do colo do útero), envolvendo útero, tubas e ovário. Pode afetar também peritônio e órgãos abdominais adjacentes. Cerca de 85% dos casos são considerados IST’s. É uma infecção polimicrobiana causada por germes que ascendem do colo uterino, sendo os principais a Neisseria gonorrhoeae e a Chlamydia trachomatis. O quadro clínico mais comum envolve dor pélvica, podendo estar associado a corrimento vaginal purulento. O diagnóstico é elaborado a partir de critérios maiores, menores e elaborados. O tratamento com antibioticoterapia deve ser iniciado precocemente, para realizar a prevenção de sequelas, como a infertilidade. O tratamento ambulatorial de primeira linha preconizado pelo Ministério da Saúde (MS) é a Ceftriaxona + Doxiciclina + Metronidazol, de forma a cobrir gonococos, clamídia e germes anaeróbios; ➔A endometriose, por sua vez, é caracterizada pela presença de tecido endometrial ectópico, usualmente na pelve (principalmente no ovário), mas também pode estar presente no intestino, diafragma e até na cavidade pleural. É encontrado em mulheres na menacme, já que é uma doença estrogênio-dependente. O quadro clínico se apresenta, normalmente, de três formas: de forma assintomática, um quadro de dor (dismenorreia, dor pélvica crônica e/ou dispareunia) ou através da infertilidade. Até metade das mulheres com infertilidade podem ter endometriose. Com relação à infertilidade, há uma grande dúvida sobre o que deve ser feito primeiramente: a cirurgia ou a fertilização in-vitro. Sabe-se que a cirurgia pode aumentar as taxas de gestação em pacientes com endometriose, mas também há o risco de diminuir a reserva ovariana caso ocorram abordagens ovarianas. →Algumas cirurgias, principalmente cirurgias abdominopélvicas, como a apendicectomia, possuem como possível complicação a manipulação inadequada de estruturas reprodutivas femininas, podendo vir a gerar a infertilidade. ➔A tuberculose genital é uma forma rara de tuberculose, afetando principalmente as tubas uterinas e em seguida o endométrio. Usualmente Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO o seu quadro clínico já se apresenta através da infertilidade, devendo elevar o grau de suspeição para essa patologia diante de um quadro de infertilidade. Acomentimento raro. FATOR UTERINO Apesar de não ser uma das causas mais comuns de infertilidade, também podem estar associadas a ela. Dentre as causas que geram distorção da cavidade uterina e consequente menor fertilidade, podemos citar: A Síndrome de Asherman, na qual ocorrem sinéquias intrauterinas, ou seja, aderências ou cicatrizes usualmente resultantes de manipulação intrauterina, principalmente na curetagem. Esse quadro gera amenorreia secundária e infertilidade. →Outra causa uterina são os Leiomiomas uterinos, tumores de músculo liso benignos, que podem impedir a implantação do zigoto a depender da sua localização e tamanho, principalmente o mioma submucoso, que gera distorção da cavidade uterina. →Além disso existem os pólipos endometriais e lesões polipoides, tumores presentes na cavidade intrauterina e as anomalias congênitas, principalmente as alterações mullerianas, como útero septado, útero bicorno, útero unicorno, útero didelfo e agenesia uterina. Nesse caso, deve-se avaliar a cavidade uterina em si. Existem alguns exames que podem fazer essa avaliação, dentre eles: A Histeroscopia se caracteriza pela avaliação endoscópica da cavidade intrauterina, sendo o principal método para definir anormalidades no interior do útero. É o exame padrão ouro para tal avaliação e além de diagnóstico pode ser terapêutico, através da excisão de lesões. É um exame simples, apesar de minimamente invasivo, que pode ser realizado até em regime ambulatorial. Utiliza- se algum meio para distensão do orifício interno do colo uterino, permitindo a passagem de uma fibra ótica por ele, possibilitando a visualização da cavidade uterina. →A Histerossalpingografia é menos utilizada, nesse caso. →Por fim, existe a Histerossonografia, um USG com o auxílio da injeção de soro fisiológico na cavidade uterina, permitindo delinear melhor lesões na cavidade uterina, caso existam. Em alguns poucos casos podem-se utilizar também a ressonância magnética. FATOR MASCULINO As causas da infertilidade masculina podem ser divididas em 4 grupos principais, sendo eles os distúrbios endócrinos e sistêmicos (relacionados ao hipogonadismo secundário – hipogonadotrófico), defeitos testiculares na espermatogênese (corresponde de 65 a 80% dos casos de infertilidade masculina, sendo a maioria relacionados à dispermatogênese idiopática), distúrbios no transporte do espermatozoide e a infertilidade masculina idiopática (corresponde a um homem infértil com análise normal do esperma e sem causa aparente de infertilidade). →A infertilidade masculina pode estar relacionada com diversas doenças, como por exemplo a Fibrose Cística, em que há agenesia dos canais deferentes ou epidídimo e a Síndrome de Kallman, em que o indivíduo possui anosmia associada a hipogonadismo hipogonadotrófico. →Pode relacionar-se também com síndromes genéticas, como a de Klinefelter (cariótipo 47, XXY), que pode levar a hipogonadismo hipergonadotrófico, azoospermia e hipodesenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. →A coleta do esperma deve ser realizada em ambiente laboratorial, pois o estudo da amostra deve ser realizado, no máximo, após uma hora de coletada. Cabe ressaltar, ainda que o homem deve respeitar um período de abstinência sexual de 2 a 3 dias antes da análise, visto que períodos menores podem prejudicar a contagem de espermatozoides e maiores podem prejudicar à qualidade (motilidade e morfologia dos espermatozoides). →Nesse exame, devem ser avaliados 5 itens, sendo eles: volume de ejaculação (2-5mL), concentração de espermatozoides (≥15 milhões/mL), motilidade – espermatozoides móveis e progressivos (≥32%), morfologia normal dos espermatozoides (≥4% – Critérios de Kruger e ≥30% - Critérios da OMS) e concentração de leucócitos (<1 milhao). • Baixa motilidade = Astenozoospermia • Ausência de espermatozoide= Azoospermia • Diminuição da concentração de espermatozoides = Oligozoospermia • Morfologia alterada = Teratozoospermia TRATAMENTO Para o tratamento da infertilidade conjugal podem ser empregadas técnicas de baixa complexidade ou técnicas de alta complexidade, que diferem com relação ao nível de tecnologia utilizado. TÉCNICAS DE BAIXA COMPLEXIDADE Existem basicamente duas técnicas de baixa complexidade. →O coito programado nada mais é que a programação de quando o coito deve ser realizado pelo casal, durante a janela fértil da paciente. Para utilizar essa técnica, a paciente deve Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO ter tubas normais e seu parceiro deve possuir um espermograma normal. →A Inseminação intrauterina corresponde, por sua vez, a injeção do sêmen na cavidade uterina, após a seleção dos espermatozoides móveis e morfologicamente normais, ocorrendo a fertilização no próprio organismo da mulher. Deve-se utilizar esse método quando as tubas uterinas forem normais, podendo haver fator masculino e/ ou ovulatório leve. →Nos métodos de baixa complexidade, administra- se o HCG 34-36 horas antes do método, fármaco que mimetiza o pico de LH, gerando a ovulação e possibilitando a fertilização. Além disso, pode-se utilizar fármacos Indutores de Ovulação, sendo o mais comumente utilizado o Clomifeno, administrado do 5º ao 10º dia do ciclo menstrual, principalmente no contexto da SOP. Outros medicamentos que podem ser utilizados são o Letrozol e o FSH. TÉCNICAS DE ALTA COMPLEXIDADE →A principal técnica de alta complexidade é a Fertilização In-Vitro (FIV). Nesse caso, o embrião é formado fora do organismo da paciente e implantado na cavidade uterina. Tem como principais indicações doenças tubárias graves, espermograma ruim, doenças genéticas (pois é uma técnica que possibilita a seleção genética embrionária) e falhas com técnicas de baixa complexidade. →A paciente submetida à FIV utiliza alguns medicamentos para o procedimento, como o FSH (para estimular os folículos ovarianos), análogo ou antagonista de GnRH (evitando o pico endógeno de LH precocemente) e HCG, gerando a ovulação. Esse procedimento segue alguns passos: • Estímulo para a formação de mais folículos que o comum. • Realiza-se a captação dos óvulos antes do rompimento desses. • Fertilização ou Injeção intra-citoplasmática: junção do óvulo com o espermatozoide. A segunda técnica é utilizada quando há fatores masculinos proeminentes. • Transferência do embrião: implante do embrião na cavidade uterina. Pode ser realizado no mesmo ciclo ou em outro, quando se usa o método de congelamento. →Além do tratamento geral da infertilidade, algumas patologias específicas podem demandar tratamentos específicos. Tanto os pólipos endometriais, bem como o mioma submucoso e a síndrome de Asherman podem ser tratados através da histeroscopia cirúrgica. →Com relação à Endometriose, como abordado anteriormente, não existe um consenso em literatura, porém admite-se que a FIV poderia ser realizada antes do procedimento cirúrgico, em alguns casos. Deve-se analisar caso a caso, incluindo a sintomatologia da paciente. Devemos lembrar que a cirurgia pode tanto melhorar a fertilidade como piorar, caso sejam necessárias abordagens ovarianas durante o procedimento. ATEDIMENTO MÉDICO, DIAGNÓSTICO E CONDUTA FRENTE À INFERTILIDADE CONJUGAL Na anamnese, é preciso avaliar: • Idade; • Tempo de infertilidade; • Se a infertilidade é primária ou secundária. Estes três primeiros aspectos estão relacionados ao prognóstico do tratamento. Além destes, também têm importância: • História menstrual (menarca, duração do ciclo, fluxo menstrual, dismenorreia, tensão pré-menstrual, muco); • História de contracepção prévia; • História obstétrica (gestações anteriores, abortamentos, curetagens); • História sexual (disfunções sexuais); • Frequência de coito (ideal: 2 a 3 vezes por semana); • Comorbidades (obesidade, hirsutismo, diabetes, alterações de tireoide, patologias autoimunes, hipertensão arterial, outras); • Cirurgias anteriores (principalmente pélvicas); Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO • História de internações com dor pélvica, DIP e uso regular de medicamentos; • Tabagismo, etilismo, uso de maconha e cocaína (promovem distúrbios na pulsatilidade, liberação dos hormônios e queda da espermatogênese). EXAME FÍSICO O índice da massa corporal (IMC) é um importante parâmetro que deve ser avaliado na mulher que deseja gestar, reduzindo o risco de complicações obstétricas e fetais; EXAME PÉLVICO Deve ser realizado em todas as pacientes (alterações inflamatórias, vulvovaginites, sinais de virilização, hímen íntegro, sinais de DIP). AVALIAÇÃO DO PARCEIRO O parceiro deve ser indagado sobre: • Desenvolvimento puberal; • Presença de alguma disfunção sexual; • Passado de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e/ou infecções geniturinárias; • Histórico de doenças que poderiam cursar com quadros de infertilidade masculina como: caxumba, varicocele, torções testiculares e traumas na região genital, cirurgias pregressas como hernioplastias e vasectomia, presença de infertilidade masculina na família; • Perguntar sobre o uso de anabolizantes e hormônios masculinos, em algum período da vida, devido à frequente associação com alterações seminais; • Perguntar sobre uso de drogas, álcool e tabagismo; • Perguntar se possui filhos e qual a idade do último. Exames complementares A propedêutica básica recomendada considera as principais causas de infertilidade conjugal: FATOR TUBÁRIO • Histerossalpingografia (HSG): deve ser realizada na fase folicular do ciclo menstrual (6º a 11º dia do ciclo). É considerado um teste confiável, sensível e não invasivo. Quando utilizado em mulheres de baixo risco para patologias nas trompas, limita o número de laparoscopias desnecessárias. O exame é solicitado nos níveis secundário e terciário. • Videolaparoscopia (VLP): geralmente, é indicada quando a HSG sugere alteração importante, história de cirurgia pélvica anterior, ISCA, suspeita clínica de endometriose e avaliação para reversão de salpingotripsia. Pode ser solicitado por qualquer médico da atenção primária, através de autorização para internação hospitalar (AIH) cadastrada no centro de saúde (CS). FATOR OVULATÓRIO O ciclo menstrual regular indica que, muito provavelmente, está ocorrendo ovulação. Entretanto, a presença de ovulação pode ser confirmada através do rastreamento de ovulação, com ultrassonografias seriadas. A reserva ovariana (RO) é avaliada através de testes realizados para quantificá-la, porém não se relacionam com a chance de gravidez, nem tampouco com a qualidade oocitária. Fatos estes, diretamente ligados à idade da mulher. Para avaliação dos distúrbios menstruais, pode-se utilizar as dosagens hormonais de hormônio folículo- estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH) e hormônio antimülleriano (HAM). NÍVEIS SÉRICOS BASAIS DE FSH E LH Colhidos no terceiro dia do fluxo menstrual natural, preferencialmente. A relação LH/FSH é importante no diagnóstico etiológico da disfunção, predizendo o tratamento adequado para cada situação. Situações possíveis: • Hipogonadismo hipogonadotrófico (problemas hipotalâmico-hipofisários): FSH e LH são persistentemente baixos, associados, neste caso, a baixos valores de estradiol (menor que 40 pg/mL). • Anovulação: LH elevado e FSH normal, principalmente naquelas pacientes portadoras de hirsutismo, obesidade central e acne, a hipótese mais provável seria de Síndrome dos ovários policísticos (SOP). A SOP também pode estar Concepção e Formação do Ser Humano CONCEPÇÃO- THAIS M. SOUTO presente na relação normal de LH/FSH, constituindo a anovulação normogonadotrófica e, com frequência, associa-se ao aumento da resistência periférica à insulina. • Hipogonadismo