Logo Passei Direto
Buscar
LiveAo vivo
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

Prévia do material em texto

Filosofia
Scyla Pinto Costa Pimenta
Carmen Verusca Oliveira Santos Pereira
Presidente Prudente
Unoeste - Universidade do Oeste Paulista
2016
Pimenta, Scyla Pinto Costa.
 Filosofia. / Scyla Pinto Costa Pimenta, Carmem 
Verusca Oliveira Santos Pereira. - Presidente Prudente: 
Unoeste - Universidade do Oeste Paulista, 2016.
 142 p.: il.
 Bibliografia.
 ISBN: 978-85-88755-09-3
 1. Filosofia. 2. Organização. 3. Verdade. I. Pereira, 
Carmem Verusca Oliveira Santos. II. Título.
CDD\22ª.ed 100
© Copyright 2016 Unoeste - Todos os direitos reservados
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou 
por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer 
outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Universidade do Oeste Paulista.
Filosofia
Scyla Pinto Costa Pimenta
Carmem Verusca Oliveira Santos Pereira
Reitora: Ana Cristina de Oliveira Lima
Vice-Reitor: Brunno de Oliveira Lima Aneas
Pró-Reitor Acadêmico: José Eduardo Creste
Pró-Reitor Administrativo: Guilherme de Oliveira Lima Carapeba
Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Adilson Eduardo Guelfi
Diretor Geral: Augusto Cesar de Oliveira Lima
Núcleo de Educação a Distância: Dayene Miralha de Carvalho Sano, Marcelo Vinícius Creres 
Rosa, Maria Eliza Nigro Jorge, Mário Augusto Pazoti e Sonia Sanae Sato
Coordenação Tecnológica e de Produção: Mário Augusto Pazoti
Projeto Gráfico: Luciana da Mata Crema
Diagramação: Aline Miyamura Takehana e Luciana da Mata Crema
Ilustração e Arte: Antônio Sérgio Alves de Oliveira, Fernanda Sutkus de Oliveira Mello e Luciana 
da Mata Crema
Revisão: Renata Rodrigues dos Santos
Colaboração: Vanessa Nogueira Bocal
Direitos exclusivos cedidos à Associação Prudentina de Educação e Cultura (APEC), 
mantenerora da Universidade do Oeste Paulista
Rua José Bongiovani, 700 - Cidade Universitária
CEP: 19050-920 - Presidente Prudente - SP
(18) 3229-3260 | www.eadunoeste.com.br
P644f
Catalogação na fonte: Rede de Bibliotecas Unoeste
Scyla Pinto Costa Pimenta
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (2008). Possui licen-
ciatura em Filosofia pela Universidade Católica do Salvador (1996) e bacharelado em 
Sociologia pela Universidade Federal da Bahia (2002), onde foi bolsista do CNPQ/PIBIC, 
pelo ECSAS (Núcleo de Estudos em Ciências Sociais e Saúde). Atua como professora 
temporária da Universidade Federal do Vale do Rio São Francisco (UNIVASF).
Carmen Verusca Oliveira Santos Pereira
Bacharel em Filosofia pela Universidade Católica do Salvador (1998), especialista em 
Gestão Governamental pela Universidade do Estado da Bahia (2005). Atualmente, presta 
consultoria ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), nos estados da 
Bahia e Sergipe, na área de promoção comercial, organização de feiras, eventos nacio-
nais e internacionais.
Sobre as autoras
Carta ao aluno
O ensino passa por diversas e constantes transformações. São mudanças 
importantes e necessárias frente aos avanços da sociedade na qual está inserido. A 
Educação a Distância (EAD) é uma das alternativas de estudo, que ganha cada vez mais 
espaço, por comprovadamente garantir bons referenciais de qualidade na formação pro-
fissional. Nesse processo, o aluno também é agente, pois organiza o seu tempo confor-
me suas atividades e disponibilidade. 
Maior universidade do oeste paulista, a Unoeste forma milhares de profissio-
nais todos os anos, nas várias áreas do conhecimento. São 40 anos de história, sendo 
responsável pelo amadurecimento e crescimento de diferentes gerações. É com esse 
mesmo compromisso e seriedade que a instituição iniciou seus trabalhos na EAD em 
2000, primeiramente com a oferta de cursos de extensão. Hoje, a estrutura do Nead 
(Núcleo de Educação a Distância) disponibiliza totais condições para você obter os co-
nhecimentos na sua área de interesse. Toda a infraestrutura, corpo docente titulado e 
materiais disponibilizados nessa modalidade favorecem a formação em plenitude. E o 
mercado precisa e busca sempre profissionais capacitados e que estejam antenados às 
novas tecnologias.
Agradecemos a confiança e escolha pela Unoeste e estamos certos de que 
suas expectativas serão atendidas, pois você está em uma universidade reconhecida 
pelo MEC, que oportuniza o desenvolvimento constante de Ensino, Pesquisa e Extensão. 
Aqui, além de graduação, existe pós-graduação lato e stricto sensu, com mestrados e 
doutorado recomendados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de 
Nível Superior), prêmios conquistados em âmbito nacional por suas ações extensivas e 
pesquisas que colaboram com o desenvolvimento da cidade, região, estado e país; en-
fim, são inúmeros os referenciais de qualidade.
Com o fortalecimento da EAD, a Unoeste reforça ainda mais a sua missão 
que é “desenvolver a educação num ambiente inovador e crítico-reflexivo, pelo exercício 
das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão nas diversas áreas do conhecimento cien-
tífico, humanístico e tecnológico, contribuindo para a formação de profissionais cidadãos 
comprometidos com a responsabilidade social e ambiental”.
Seja bem-vindo e tenha bons estudos!
Reitoria
Sumário
Capítulo 1
A FilosoFiA e umA NovA leiturA do muNdo
Um Novo Olhar sobre o Mundo .....................................................................................12
Filosofia – Atitude e Reflexão ........................................................................................22
O Nascimento da Filosofia .............................................................................................26
Um Rápido Olhar sobre os Clássicos ..............................................................................30
Os Sofistas ..............................................................................................................30
Os Três Filósofos Clássicos – Sócrates, Platão e Aristóteles .........................................31
Capítulo 2
o ser HumANo, um ANimAl que PeNsA e ArgumeNtA
O Ser Humano – Uma Análise Antropológica ..................................................................43
O Ser Humano Também é um Ser Cultural .....................................................................45
As Influências da Cultura ..........................................................................................48
A Linguagem como Fundamentadora do Ser Pensante ....................................................52
A Linguagem Humana ..............................................................................................54
A Argumentação Filosófica ............................................................................................55
A Democracia na Grécia Antiga e a Argumentação .....................................................58
Capítulo 3
CoNHeCimeNto e suAs diFereNtes FormAs de ComPreeNsão dA reAlidAde
O que Significa Conhecer? ............................................................................................66
Diferentes Formas de Conhecimento .........................................................................69
A História do Pensamento Moderno ...........................................................................72
A Palavra .....................................................................................................................81
Trabalho como Atividade Humana .................................................................................84
Conceito e Perspectivas das Organizações .................................................................84
As Modernas Organizações e a Comunicação .............................................................86
Capítulo 4
As orgANizAções moderNAs - ANálise FilosóFiCA
Alguns Conceitos de Administração – A Escola Clássica ...................................................95
A Administração e as Novas Estruturas de Emprego .................................................102
Discussão dos Múltiplos Usos da Ética – Na Profissão, nas Organizações e na Sociedade . 104
Capítulo 5
A vAlidAção dAs Asserções ou o ProblemA dA verdAde
Questões sobre a Verdade .......................................................................................... 114
Conceituando o nosso Conhecimento sobre a Verdade .................................................. 115
A Verdade – Pensando junto com Sócrates .................................................................. 116
As Possibilidades do Conhecimento da Verdade ............................................................ 120
Husserl – O Conhecimento do Mundo como Relação ................................................. 122
Concepções de Verdade .............................................................................................. 123
Do Dogmatismo à Atitude Crítica ................................................................................. 126
Referências................................................................................................................ 134
Estudos Complementares ........................................................................................... 140
9
Amor ao saber – a palavra filosofia tem origem grega e é composta de duas ou-
tras: philo, que deriva de philia e significa amor fraterno, amizade, respeito entre os 
iguais; sophia significa sabedoria e vem dela a palavra sopho, sábio.
Apresentação
Normalmente, a Filosofia é vista como algo distante da vida das pessoas 
comuns, interessando apenas aos intelectuais. A partir desse entendimento, há quem 
questione: para que serve a Filosofia? Esse conhecimento tem função prática na vida das 
pessoas? Por que estudar a disciplina de Filosofia no curso de Administração? Essas são 
algumas das respostas que alcançaremos ao final da nossa jornada! 
De imediato, devemos compreender que a Filosofia nos convida ao saber, ao 
bem usar dos argumentos e dos conceitos comuns em nossa vida prática e que exatamen-
te por isso são pouco refletidos por nós. A Filosofia não pretende ser prática, entretanto 
aparece como ferramenta que pode ser utilizada para ajudar a resolver vários problemas 
cotidianos e organizacionais.
 
O objetivo deste livro não é fazer uma história da Filosofia, e sim, por meio de 
um passeio pelos temas filosóficos, aprender caminhos para pensar a organização moderna 
a partir do conhecimento milenar da Filosofia e dissolver o entendimento equivocado sobre 
esta disciplina, que é uma procura amorosa da verdade, um amor ao saber.
Este livro contém cinco capítulos, assim distribuídos:
No primeiro capítulo, intitulado “A filosofia e uma nova leitura do mundo”, será 
realizada a apresentação da disciplina ao pensar filosófico, mostrando também seu conceito 
e os principais elementos constitutivos. As questões filosóficas que nos acompanharão nesse 
primeiro momento serão: o que é a Filosofia e qual a atitude do filosofar.
O segundo capítulo, “O ser humano, um animal que pensa e argumenta”, cen-
traliza uma discussão que tem um pouco de aspecto antropológico, pois está focada no ser 
humano. Quem é esse ser que questiona o mundo e a si mesmo? Discutiremos como a 
linguagem e a cultura se tornaram importantes para a diferenciação do animal humano no 
mundo.
Já o capítulo 3, “Conhecimento e suas diferentes formas de compreensão da 
realidade”, coloca a discussão em torno das dimensões da linguagem, direcionada para a 
realização do trabalho e das organizações modernas. 
10
O capítulo 4, “As organizações modernas – análise filosófica”, traz uma discussão 
sobre as organizações.
O capítulo 5, “A validação das asserções ou o problema da verdade”, trata da 
verdade como um valor e um ponto chave para o conhecimento. A discussão será sobre 
a diferença entre ignorância, incerteza e insegurança, como elementos diferenciados na 
busca do conhecimento verdadeiro e também serão apresentadas algumas teorias sobre 
a verdade.
Convidamos você a embarcar conosco nessa aventura rumo ao conhecimento 
filosófico, que a cada porto nos abrirá novos horizontes! 
Bons estudos!
11
A FilosoFiA e umA NovA leiturA do muNdo
Capítulo 1
12
Enquanto nos arrumamos para nossa viagem, iremos também tratar de um 
tema que constitui a base do pensamento filosófico: a habilidade de pensar e argumen-
tar – uma ocupação da Filosofia.
Ao fim do capítulo, você será capaz de:
• identificar a origem e as características do pensamento filosófico;
• interpretar a atitude filosófica como reflexão radical, totalizante e neces-
sária acerca da realidade.
O homem pode ser, ou treinado, disciplinado, instruído mecanicamente, ou ser 
em verdade ilustrado. Treinam-se os cães e os cavalos; e também os homens 
podem ser treinados. Entretanto, não é suficiente treinar as crianças; urge que 
aprendam a pensar (KANT, 2004, p. 27).
Introdução
Um Novo Olhar sobre o Mundo
Quem faz Filosofia é filósofo. Mas o que você imagina quando ouve falar do 
filósofo? É comum a imagem de um homem distraído, muitas vezes deselegantemente, 
sem atenção às coisas cotidianas e que anda pela rua abordando transeuntes com per-
guntas pouco práticas. Essa imagem do filósofo pode ser atribuída à história de dois de 
seus primeiros representantes: Tales de Mileto e Sócrates.
O primeiro, Tales de Mileto, viveu no século VI a.C., seu interesse era o 
estudo das estrelas. Conta a lenda que um dia, olhando para o céu, tropeçou e caiu em 
uma vala. Como poderia ele conhecer o céu, se nem via o que estava a sua frente, per-
guntou o serviçal que o acompanhava. 
Já o filósofo ateniense Sócrates, mais conhecido pela sua famosa frase “Só 
sei que nada sei!”, é descrito como um homem nada bonito, que andava amarrotado 
e despreocupado com as modas locais. Passeava vagarosamente pelas ruas da cidade 
abordando as pessoas e juntando jovens sedentos de saber. Sócrates buscava entender 
Tales – filósofo pré-socrático, nascido em Mileto, considerado um dos primeiros 
cientistas da história ocidental porque tentava compreender o mundo sem invocar 
os deuses. Entre seus feitos previu um eclipse solar, sabia medir a altura de grandes 
monumentos, como uma pirâmide, pelo comprimento da sobra e a altura do sol no 
horizonte. Também foi o primeiro a elaborar teoremas matemáticos.
13
sobre o homem, sobre o que ele era e o que poderia tornar-se. Questionava suas cren-
ças. Questionava sobre a verdade, a mentira, o tempo, a razão, o belo e tantas outras 
palavras abstratas, perguntando “o que é isso?”.
Saiba Mais
FIGURA 1 – Pitágoras representado na 
Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, a 
qual reúne sábios de diferentes épocas 
como se fossem colegas de uma mesma 
academia.
Lembra-se de Pitágoras? Aquele do teorema 
que leva seu nome, bastante estudado na Ma-
temática? Lembra sim, o teorema que diz que 
em um triângulo retângulo, a soma do qua-
drado dos catetos é igual ao quadrado da hi-
potenusa. Pois bem, Pitágoras de Samos (séc. 
VI a.C.) foi o primeiro filósofo a usar a palavra 
Filosofia como procura amorosa da verdade 
(philos-sophia), quando afirmou que a sabe-
doria plena e completa pertence apenas aos 
deuses, mas que os homens podem desejá-la 
ou amá-la, tornando-se amantes do saber.
Fonte: Wikimedia Commons (2012). 
Sócrates – foi o primeiro dos três filósofos clássicos do pensamento ocidental (os 
outros foram Platão e Aristóteles). Conduziu a transição do pensamento do perí-
odo cosmológico (reflexão sobre o universo) para o antropológico (preocupação 
com a ética e a existência humana). O seu lema era “Conhece-te a ti mesmo”.
De que maneira essa imagem do filósofo pode nos ajudar em nosso curso? 
De imediato, ela nos conduz a duas observações:
A primeira é que ela distorce a imagem da Filosofia, já que se imagina o filó-
sofo como aquele que se retém ao mundo contemplativo. O seu saber, decorrente dessa 
sua contemplação, é um saber distante e nada prático, ou seja, não serve para nada.
A segunda é que a própria atitude do filósofo, que contempla e questionaas 
questões abstratas, modifica essa primeira impressão, pois são essas reflexões sobre as 
palavras abstratas que permitem o progresso científico.
14
Ora, tais ideias, como a de verdade, do pensamento racional, do co-
nhecimento obtido por meio de métodos racionais, assim como a ideia 
de que há crescimento do saber graças ao acúmulo progressivo de 
conhecimentos, não são ideias científicas, e, sim filosóficas. Em outras 
palavras, os fundamentos teóricos das ciências não são científicos, mas 
filosóficos, e, sem a Filosofia, as ciências não seriam possíveis.
Atenção
A importância da Filosofia não para por aí! Ela também reflete sobre as paixões, os ví-
cios, a liberdade, a vontade, os desejos, a honestidade, a justiça e as condutas morais ou 
éticas. A Filosofia também pode ser uma orientação para a virtude que é o princípio do 
bem viver! Essas questões são importantíssimas para a gestão em organizações, vamos 
observá-las mais de perto no Capítulo 3.
Vamos retornar a nossa análise do filósofo como aquele que contempla a 
realidade e a critica. Será, então, que podemos dizer que a Filosofia nos convida a fazer 
uma nova leitura do mundo? Vamos investigar!
Para entender melhor essa afirmação vamos pensar nas nossas relações co-
tidianas simples, os cheiros que reconhecemos, o movimento de sentar em uma cadeira 
ou abrir uma porta, a resposta ao cumprimento de um amigo ou de alguém desconhe-
cido. Aprendemos ao decorrer de nossas vidas a atribuir significados a algumas ações, 
cheiros, ruídos e responder adequadamente a elas.
Se um cachorro vem para perto de nós balançando o rabinho, lemos o signi-
ficado desse ato como uma demonstração de felicidade ou demonstração do seu afeto. 
Se, em outra situação, ele late e mostra os dentes, damos o significado de raiva e nervo-
sismo. Já o ganido ou uivo do cão são interpretados como dor, lamento ou fome.
Ler, interpretar ou significar o mundo são sinônimos e são os nossos sentidos 
(olfato, visão, paladar, audição, tato e a cinestesia) que nos orientam nessa atividade.
Cinestesia – capacidade que temos de sentir e compreender o espaço 
em nossa volta por meio dos nossos movimentos e não pela visão.
Ninguém duvida que a ciência é um conhecimento verdadeiro, conseguido 
por meio do rigor e método, que busca agir sobre a realidade. O que quase ninguém ob-
serva é que o progresso científico, que permite esse conhecimento verdadeiro, tem como 
base questões que se fundamentam em um solo filosófico. É a Filosofia que pergunta o 
que é verdade, o que é certo, o que é vida ou viver! Assim, é ela que dá as bases para a 
análise científica, como bem observa a filósofa Marilena Chaui (2010, p.11):
15
QUADRO 1 – Diferenças no cotidiano do campo e da cidade
Leite
Vida Urbana Vida Rural
O leite chega embalado, pasteurizado e 
pronto para o consumo.
O leite precisa ser retirado, tem bastan-
te nata e precisa ser fervido para não 
estragar.
É associado ao consumo e à industrialização.
É associado ao trabalho de ordenha da 
vaca, à relação de amamentação do 
bezerro.
Fonte: Acervo NEAD/Unoeste (2012).
Nesse primeiro exemplo, podemos ver como o local onde se vive em um 
mesmo país pode orientar as vivências cotidianas e suas significações. Na zona urbana, o 
leite embalado simboliza a praticidade que o corre-corre desses ambientes nos conduz. É 
possível que uma criança urbana nem perceba a relação do leite que bebe com a relação 
de aleitamento entre a vaca e o bezerro, o que é improvável para uma criança da zona 
rural que comumente acompanha a ordenha.
No segundo exemplo, vamos observar a bicicleta. No Brasil, a bicicleta é 
normalmente pensada como meio de recreação ou de esportes. Quando pequenos an-
siamos por conseguir nos equilibrar sobre as suas duas rodas e poder passear, mas não 
a usamos, ou apenas ocasionalmente, como um meio de transporte. 
Observando a Figura 2, veremos o exemplo da cidade de Barcelona, na Es-
panha. Lá, e também em outros lugares do mundo, a bicicleta não apenas é um meio de 
transporte utilizado por grande parte da população, ela é um meio de transporte público. 
Os cidadãos pagam uma taxa anual e podem utilizar as bicicletas para se locomover pela 
cidade.
Além dos sentidos, a nossa leitura do mundo é feita a partir das experiências 
cotidianas, essas vivências dependem de vários condicionantes: a nossa idade, o lugar 
onde moramos, o nosso sexo e a nossa identidade sexual, o país e a época em que vi-
vemos, também a nossa classe social e os grupos culturais dos quais fazemos parte. As 
nossas leituras são orientadas pelas nossas histórias de vida!
Vamos observar dois exemplos com objetos presentes em nossa vida cotidiana.
16
A vivência que eles têm do espaço público, da dinâmica do trânsito, do 
respeito ao ciclista é construído baseado nessa relação do seu dia a dia com a bicicleta 
como meio de transporte. As pessoas vão ao trabalho de terno e gravata, de saltos e 
vestidos em suas bicicletas ou nas bicicletas públicas, deixando seus carros na garagem 
para os fins de semana e dias de passeio. Nessas cidades seria impossível imaginar um 
motorista jogando seu carro contra vários ciclistas como ocorreu aqui no Brasil.
Grupo de ciclistas é atropelado em Porto Alegre
A Delegacia de Delitos de Trânsito de Porto Alegre investiga o atropelamento de um gru-
po de ciclistas ocorrido na noite de sexta-feira. Nove pessoas foram levadas ao Hospital 
de Pronto Socorro. Todas foram liberadas sem ferimentos graves, segundo o hospital.
O atropelamento ocorreu por volta das 19h30 na esquina das ruas José do Patrocínio 
e Luiz Afonso, no bairro Cidade Baixa. O motorista fugiu do local. Inconformados, os 
ciclistas chegaram a fechar a avenida. Mais de 100 ciclistas participavam do evento pro-
movido pelo movimento Massa Crítica quando um carro entrou no meio do comboio 
derrubando dezenas de participantes. Para o grupo, que publicou em seu blog vídeos 
com depoimento dos ciclistas e imagens das bicicletas destruídas, o atropelamento foi 
considerado um crime e não um acidente.
[...]. Segundo a delegada Laura Rodrigues Lopes, a Brigada Militar localizou um automóvel 
Golf de cor preta abandonado cuja placa é a mesma identificada por testemunhas do atro-
pelamento. De acordo com ela, as circunstâncias do atropelamento precisam ser investi-
gadas. “O primeiro passo é apurar a autoria, mas antes de colher todos os depoimentos 
não dá para dizer o que provocou o atropelamento”, disse.
Fonte: G1 (2011).
FIGURA 2 – Ponto de bicicleta em Barcelona
A placa indica as paradas existentes na cidade
Na parada das bicicletas, com a carteirinha, 
os cidadãos liberam as bicicletas e podem uti-
lizar por duas horas, podendo ser devolvidas 
na parada mais próxima.
Fonte: Quatro cantos do mundo (2012).
17
Na maior parte de nossas vidas não ficamos procurando significado sobre as 
coisas do mundo, as nossas vivências cotidianas, que nos dão a lente para enxergar o 
mundo e para alcançar várias de suas interpretações, nos permite viver confiantes. Esse 
modo de estar no mundo é chamado de atitude natural e ele nos orienta a uma forma 
específica de conhecimento que é o senso comum. Esse conhecimento, por ser resul-
tado de uma vivência prática, muitas vezes faz com que a leitura do mundo torne-se um 
pouco mecânica e passamos a aceitar as primeiras evidências que nos são apresentadas.
Senso comum – conjunto de crenças, hábitos, opiniões e valores que herdamos e par-
tilhamos do nosso grupo social (família, escola, trabalho, meios de comunicação, etc.). É 
um saber que não resulta apenas do aprendizado social, mas também das experiências 
individuais, e que aceitamos como verdadeiro, sem questionamento.
Aceitamos os saberes do senso comum porque neles somos socializados e 
eles nos ajudam na resolução dos problemas práticos da vida cotidiana. Por ser um saber 
que resulta de nosso aprendizado social, temos a tendência de naturalizá-los e afirmá-
-los como verdadeiros para todas as épocas, lugares e povos.
Observe que senso comumé uma forma de conhecimento, mas é um saber 
empírico e imediato adquirido nas vivências práticas cotidianas, ou seja, é diferente do 
saber das ciências, porque a ciência se baseia em alguns critérios básicos, que podem 
ser descritos como: necessidade de verificação, técnicas de explicação e renúncia de 
juízos de valor.
FIGURA 3 – O pôr do sol
Fonte: Wikimedia Commons - Paul Charbonneau (2012).
Quando falamos que o sol se põe, 
estamos lidando com o conheci-
mento do senso comum, pois todos 
nós sabemos que é a Terra que gira 
em torno do sol.
Naturalizar – é dizer que algo vem da natureza. Na sociedade humana quase nada é 
natural. O homem é um animal social e organiza as sociedades por meio de acordos fir-
mados para o bem viver, de modo que as suas verdades são sociais e culturais. Quando 
damos uma crença como naturalizada, estamos dizendo que ela faz parte da natureza 
humana, e não que ela foi criada por ele.
18
Saiba Mais
Caracterização do senso comum
O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se dis-
tingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto 
conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do 
“conhecer”.
[...] pode-se dizer que o conhecimento vulgar ou popular, latu sensu, é o modo comum, 
corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os 
seres humanos: “é o saber que preenche a nossa vida diária e que se possui sem o haver 
procurado ou estudado, sem a aplicação de um método e sem haver refletido sobre 
algo” (BABINI, 1957, p. 21).
O conhecimento popular caracteriza-se por ser predominantemente:
• superficial, isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode compro-
var simplesmente estando junto das coisas: expressa-se por frases como “porque o vi”, 
“porque o senti”, “porque o disseram”, “porque todo mundo diz”;
• sensitivo, ou seja, referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária;
• subjetivo, pois é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos, 
tanto os que adquire por vivência própria quanto os “por ouvir dizer”;
• assistemático, pois esta “organização” das experiências não visa a uma sistematiza-
ção das ideias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las;
• acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam 
não se manifesta sempre de uma forma crítica.
Fonte: Lakatos; Marconi (1991, p. 76,77).
O senso comum se impõe a todos do grupo por meio da educação e na-
quelas horas em que precisamos resolver as coisas da vida cotidiana. Por isso, ele não 
é refletido e se impõe sem críticas ao grupo. É um saber irrefletido que se impõe sem 
crítica fazendo com que os valores e atitudes adotados sejam, muitas vezes, incoerentes 
e sustentadores de preconceitos.
O senso comum, ao se constituir desse cotidiano compartilhado, forma um 
conjunto de saberes e opiniões que orienta de modo prático as pessoas de um dado grupo 
social. Normalmente esse saber é desqualificado, mas ele constitui uma herança cultural 
que tem a função de orientador nas atividades ligadas à sobrevivência imediata, tais como 
as formas de comer, as relações com a segurança, com os valores e também aos senti-
mentos. Dessa forma, o senso comum é um conhecimento que orienta de modo prático 
as decisões cotidianas.
19
As ações diárias têm como base esse conhecimento que nós adquirimos pela 
família ou pela tradição do lugar onde vivemos, por isso não passam por uma reflexão 
crítica, nem por métodos e investigação. Porém, o senso comum, como boa forma de 
conhecimento e de coerência das verdades, tem um limite, que é quando as nossas 
crenças se chocam com o resultado de diferentes experiências que as contradizem.
Preconceito – de modo geral, são conceitos ou opiniões formados antecipadamente. 
Para a Filosofia, são aquelas opiniões aceitas sem discussão ou análise prévia, que orien-
tam o modo de agir e considerar as coisas. Normalmente, são internalizadas sem que as 
pessoas se deem conta disso.
Saiba Mais
Aparência e realidade
Na vida cotidiana admitimos como certas muitas coisas que, depois de um exame mais 
minucioso, nos parecem tão cheias de contradições que só um grande esforço de pen-
samento nos permite saber em que realmente acreditar. Na busca da certeza é natural 
começar pelas nossas experiências presentes e, num certo sentido, não há dúvida de 
que o conhecimento deriva delas. É possível, no entanto, que qualquer afirmação acerca 
do que nossas experiências imediatas nos permitem conhecer esteja errada. Parece-me 
que estou agora sentado numa cadeira, diante de uma mesa de determinada forma, so-
bre a qual vejo folhas de papel manuscritas ou impressas. Se virar a cabeça observarei, 
pela janela, edifícios, nuvens e o Sol. Creio que o Sol está a uns cento e cinquenta mi-
lhões de quilômetros da Terra; que é um globo incandescente, muitas vezes maior que 
a Terra; que, devido à rotação terrestre, nasce todas as manhãs, e continuará fazendo o 
mesmo no futuro, durante um tempo indeterminado. Creio que, se qualquer outra pes-
soa normal entrar em meus aposentos verá as mesmas cadeiras, mesas, livros e papéis 
que eu vejo, e que a mesa que vejo é a mesma mesa que sinto pressionada contra meu 
braço. Tudo isso parece tão evidente que nem vale a pena ser mencionado, a não ser em 
resposta a quem duvide de que conheço alguma coisa. Não obstante, tudo isto pode ser 
posto em dúvida de um modo razoável, e requer em sua totalidade uma discussão mui-
to cuidadosa antes que possamos estar seguros de que o expressamos de uma forma 
que é completamente verdadeira.
Para tornar evidentes estas dificuldades, concentremos a atenção na mesa. Para a vista 
a mesa é retangular, escura e brilhante, enquanto que para o tato ela é lisa, fria e dura; 
quando a percuto, produz um som de madeira. Qualquer pessoa que a veja, sinta e ouça 
o seu som, estará de acordo com esta descrição, de tal modo que parece que não existe 
aqui dificuldade alguma; porém, a partir do momento em que tentarmos ser mais pre-
cisos, começarão os nossos problemas. Embora eu acredite que a mesa é “realmente” 
da mesma cor em toda sua extensão, as partes que refletem a luz parecem muito mais 
20
Apesar de nossas crenças cotidianas serem normalmente sustentadas pelo 
senso comum, temos também crenças filosóficas. Ah, você duvida? Então observe! 
Você acredita que as coisas que aprendeu no passado podem te ajudar em 
atividades futuras? A maioria das pessoas acredita. E mesmo que você não acredite, 
concorda com a existência do tempo e sua divisão em passado, presente e futuro? Essa 
é uma crença filosófica. Assim como acreditar na existência de almas imortais que ani-
mam nossos corpos, que são finitos (tem fim). Também a existência ou não de Deus, o 
que é certo ou o que é errado, as condutas éticas e os vícios, a realidade do mundo em 
nossa volta, são questões filosóficas.
Essas crenças que têm sua base filosófica se misturam com as crenças do 
senso comum, porque nós não refletimos sobre elas assumindo as verdades dadas pelo 
nosso aprendizado cotidiano. Mas quando o filósofo nos convida a fazer outra leitura do 
mundo, ele está nos chamando para fazer uma análise dessas nossas crenças cotidianas 
aprendidas desse saber que é o senso comum. O filósofo nos convida a olhar o mundo 
duvidando das nossas primeiras interpretações, nos convida a olhar o mundo com outros 
olhos, com olhos de criança.
Fonte: Russel (2005).
brilhantes que as outras partes, e algumas partes, devido ao reflexo, parecem brancas. 
Sei que, se me deslocar, as partes que refletirão a luz não serão as mesmas, de modo 
que a distribuição aparente das cores na superfície da mesa mudará. Por conseguinte, 
se várias pessoas contemplarem a mesa no mesmo momento, nenhuma delas verá exa-
tamente a mesma distribuição de cores, porque nenhuma delas pode vê-la exatamente 
do mesmo ponto de vista, e qualquer mudança de ponto de vistaproduz uma mudança 
na forma como a luz é refletida.
Para a maioria de nossos objetivos práticos estas diferenças não têm importância algu-
ma, mas para o pintor são muito importantes. O pintor tem de perder o hábito de pen-
sar que as coisas parecem ter a cor que o senso comum afirma que “realmente” têm, e 
habituar-se, ao invés disso, a ver as coisas tal como aparecem. Eis aqui a origem de uma 
das distinções que mais causam dificuldades na filosofia: a distinção entre “aparência” e 
“realidade”, entre o que as coisas parecem ser e o que elas são. O pintor deseja saber o 
que as coisas parecem ser, enquanto o homem prático e o filósofo desejam saber o que 
são. Contudo, o filósofo deseja este conhecimento com muito mais intensidade do que 
o homem prático, e sente-se muito mais perturbado pelo conhecimento das dificulda-
des que existem para responder a este problema.
21
Pare e Reflita
Como exemplo do nosso conhecimento do senso comum, convido você a analisar um 
assunto muito importante que é a ideia de raça como algo real. Essa ideia construída 
para justificar um momento histórico ainda é forte em algumas discussões, causando 
separações e problema na vida de muitas pessoas!
Todo mundo fala em raça negra, ariana, branca, amarela ou vermelha. Mas você já pa-
rou para pensar sobre isso? 
Vimos que o conjunto das crenças do senso comum não é igual para todos os grupos 
sociais. No entanto, algumas ideias do senso comum podem ser amplamente difundi-
das, causando prejuízo a muitas pessoas. Vejamos, por exemplo, a formação do senso 
comum sobre raça. Ela começa após a Revolução Industrial (fim do século XVIII até fim 
do século XIX), quando os europeus buscavam explicar e descrever os habitantes e o 
mundo que estavam sendo “descobertos” com as grandes navegações.
A noção que orientava tal explicação do mundo era chamada de evolucionismo. Na 
concepção do evolucionismo todas as sociedades humanas passavam por uma estrada 
de desenvolvimento em sua organização social e cultural, que partia de uma forma sim-
ples (chamada “estado de natureza”) até alcançar uma forma mais complexa (a “civili-
zação”). O parâmetro principal dessa avaliação era o desenvolvimento das suas técnicas 
materiais.
Você tem dúvida de quem os europeus colocaram como os mais civilizados? Eles pró-
prios, obviamente! Assim, o evolucionismo foi rapidamente utilizado para tentar provar 
a evolução da espécie humana e justificar as relações de poder por meio de uma hie-
rarquia de tipos humanos, fazendo surgir duas ideias que sustentam até hoje o senso 
comum sobre a raça: o racialismo e o racismo. O racialismo é a ideia de que a humani-
dade está dividida em raças com características fenotípicas e psicológicas distintas. E 
o racismo é a ideia de que essas supostas raças são diferentes porque tem capacidades e 
potencialidades também diferentes.
Características fenotípicas – referem-se à aparência dos indivíduos, ou seja, a 
cor da pele, textura dos cabelos, formato do nariz, etc.
O desenvolvimento das ideias racistas resultou na discriminação racial que significa na 
prática o tratamento desigual entre povos ou grupos fenotipicamente distintos.
22
Filosofia – Atitude e Reflexão
Vamos iniciar este tópico com uma reflexão de Chaui (1995, p. 12): “Pergun-
taram, certa vez, a um filósofo: ‘Para que a Filosofia?’. E ele respondeu: ‘Para não darmos 
nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações.’” 
Você já reparou como as crianças perguntam e questionam sobre tudo? É 
um tal de “por que?” para lá e para cá! Os adultos, às vezes, se aborrecem, pois estão 
fazendo outras coisas e precisam parar para responder a tantas questões. Os gregos 
antigos chamavam esse questionamento de thauma e é a isso que eles nos convidam!
Quando a criança questiona “o que é?”, ela busca entender aquilo que ela 
está vivendo ou sentindo. Como o mundo ainda é novo para ela, tudo se torna motivo de 
questionamento e é a isso que a Filosofia nos convida. A esse espanto que, na verdade, 
é um distanciamento diante da vida que nos faz refletir sobre ela e sobre nós mesmos.
Thauma – é o espanto, o assombro diante das coisas da vida, que leva o indivíduo a 
querer saber mais. É aquele estado de perplexidade que nos conduz à dúvida e a uma 
nova forma de pensar.
Lembre-se
Recorda quando falamos do senso comum? Junto com a orientação prática para as coisas 
da vida, o senso comum nos oferece uma sensação de familiaridade com o mundo. Essa 
sensação que nos põe em uma relação ingênua com o mundo, pois torna tudo familiar, 
evidente e inquestionável é a atitude natural. O thauma rompe essa relação naturalizada e 
familiar com as coisas, nos levando a estranhar o cotidiano e, assim, fazendo surgir o ques-
tionamento filosófico. Por isso, para Aristóteles, o thauma é a origem e a raiz do filosofar. 
FIGURA 4 – Aristóteles
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
Aristóteles – filósofo conhecido como o fundador da 
lógica e por suas discussões sobre a ética. Para ele, o 
objetivo da ética era a felicidade e ser feliz era ter uma 
vida digna. A virtude era uma atividade prática que se 
aprendia na vida social. Foi um pensador importan-
te em várias áreas do conhecimento, como biologia, 
física, história natural, poética, além das áreas filosó-
ficas, como ética, teoria política, estética e metafísica.
Contribuiu tanto para a Filosofia quanto para outras 
áreas do conhecimento.
23
Vamos falar um pouco da atitude filosófica? Segundo acabamos de dizer, 
quando a Filosofia nos convida para olhar o mundo de um jeito novo, ela nos convida 
ao espanto diante das coisas comuns do nosso cotidiano, que foi exemplificado com a 
perguntinha das crianças: “por que”?
A Filosofia é uma atitude de não aceitar como óbvia as situações cotidianas 
da vida, por isso dizemos que a primeira característica da atitude filosófica é negativa, 
ao questionar o nosso mundo cotidiano dizemos não ao senso comum, às suas crenças 
e opiniões impensadas. Observe que a ideia não é jogar fora todos os valores, opiniões 
e crenças que aprendemos em nossa vida, mas colocarmos todos eles em suspenso, ou 
em parênteses, para poder compreender melhor suas causas e sentido.
Já a segunda característica é positiva! É o questionamento sobre o que, o 
porquê e o como das coisas.
Saiba Mais
Primeiro a Filosofia questiona as crenças e os preconceitos. Depois ela os coloca sobre 
a mesa para um exame atencioso e criterioso. O que a Filosofia quer é esse questionar!
A atitude filosófica é essencialmente indagação, e é nesse momento de inda-
gação sobre a origem e a causa do mundo das coisas e dos homens que surge a postura 
crítica.
Crítica – vem do verbo grego krisein (o mesmo que leva à palavra crise) e significa entre 
outras coisas capacidade de julgar e decidir corretamente; exame das coisas sem pre-
conceito ou prejulgamento; atividade de avaliar detalhadamente alguma coisa.
A crítica da atitude filosófica se constrói baseada no susto inicial, na dúvida 
e no rigor de análise. Observe no quadro a seguir:
Saiba Mais
Vejamos o vocábulo crítica no Dicionário Escolar de Filosofia on-line da editora portu-
guesa Plátano:
Crítica
O ato de examinar cuidadosamente uma obra, teoria ou opinião, procurando determi-
nar se são boas ou verdadeiras e avaliando os argumentos ou ideias em que se apoiam. 
A filosofia é uma atividade crítica, pois procura-se sempre determinar se as ideias, teo-
rias ou opiniões filosóficas propostas são verdadeiras e se se apoiam em bons argumen-
tos. Para o filósofo, uma opinião que não seja sustentada por bons argumentos, ainda 
24
Mas o que é refletir? Essa palavra vem do latim reflectere, refere-se a um 
voltar atrás, questionar o que já é conhecido. A filósofa brasileira Marilena Chaui observa 
que a reflexão acontece como um movimento de retorno em volta de si mesmo, pois ele 
inicia interrogando a própria forma de pensar, como é possível o próprio pensamento 
(CHAUI, 2010, p. 21).
Assim, refletir é algo como repensar o pensamento, é colocaro pensamento 
como objeto de análise. E refletir é importante para termos autonomia, condição para a 
crítica e a responsabilidade como ser social.
FIGURA 5 – Reflexão filosófica
Para ser filosófica, a reflexão precisa ser 
radical, rigorosa e de conjunto.
Fonte: Acervo NEAD/Unoeste (2012).
que seja verdadeira, não passa de um preconceito. A crítica não tem de ser negativa. 
Podemos ser críticos concordando com as opiniões dos outros, desde que encontremos 
boas razões para concordar com elas. Mas ser crítico implica também ter abertura de 
espírito para discutir racionalmente as nossas próprias ideias e até para as abandonar, 
caso não existam boas razões a seu favor. A atitude da pessoa crítica opõe-se à atitude 
da pessoa dogmática (AIRES, 2003).
Atenção
Quando se fala em atitude filosófica a gente deve lembrar que:
• essa atitude se inicia com o thauma, ou seja, na estranheza e espanto que os homens 
sentem diante do desconhecido;
• é preciso duvidar das verdades do senso comum e problematizar o que é natural e 
familiar;
• esse questionamento tem que ser radical (ir até a raiz) e rigoroso (não deve admitir 
ambiguidades, ideias contraditórias ou termos imprecisos);
• as questões inicialmente se dirigem ao mundo e à relação que mantemos com ele, 
mas percebemos que na verdade elas dizem respeito a nossa capacidade de pensar. 
Como se volta sobre si, torna-se reflexão!
25
Observe que a reflexão filosófica não é aquilo que chamamos de “achismos” 
ou baseada apenas nos gostos pessoais, ela é um pensamento sistemático, ou seja, 
opera um raciocínio com ideias e enunciados precisos e encadeados de forma lógica, 
buscando comprovar o que se diz. Esse encadeamento lógico é que permite que o ques-
tionamento do senso comum não caia em uma elaboração preconceituosa e também 
baseada em experiências cotidianas individuais.
Saiba Mais
A reflexão filosófica é diferente da reflexão que fazemos no dia a dia? Sim, é diferente 
por um motivo claro: a reflexão filosófica precisa ser radical, rigorosa e de conjunto. 
Veja transcrição, a seguir, sobre esse assunto:
Características da reflexão filosófica, conforme Dermeval Saviani (apud ARANHA; 
MARTINS, 1995, p. 89-90):
Radical: a palavra latina radix, radicis, significa “raiz” e, no sentido figurado, “funda-
mento, base”. Portanto, a Filosofia é radical não no sentido corriqueiro de ser inflexível 
(nesse caso seria a antifilosofia!), mas na medida em que busca explicitar os conceitos 
fundamentais usados em todos os campos de pensar e do agir. Por exemplo, a filosofia 
das ciências examina os pressupostos do saber científico, do mesmo modo que, diante 
da decisão de um vereador em aprovar determinado projeto, a filosofia política inves-
tiga as raízes (os princípios políticos) que orientam a sua ação.
Rigorosa: enquanto a “filosofia de vida” não leva as conclusões até as últimas consequên-
cias, nem sempre examinando os fundamentos delas, o filósofo deve dispor de um mé-
todo claramente explicitado a fim de proceder com rigor. Assim os filósofos inovam nos 
seus caminhos de reflexão [...]. São inúmeros os métodos filosóficos em que se apoiam os 
filósofos para desenvolver um pensamento rigoroso, fundamentado a partir de argumen-
tação, coerente em suas diversas partes e, portanto, sistemático.
De conjunto: a filosofia é globalizante, porque examina os problemas sob a perspectiva 
de conjunto, relacionando os diversos aspectos entre si. Neste sentido a filosofia visa 
ao todo, à totalidade. Mais ainda, o objeto da filosofia é tudo, porque nada escapa a seu 
interesse. Daí sua função de interdisciplinaridade, ao estabelecer o elo entre as diver-
sas formas de saber e agir humanos.
Enquanto a atitude filosófica é um questionamento rumo a um saber sobre a 
realidade exterior, a reflexão filosófica volta-se para os seres humanos, sobre a realida-
de interior a eles e suas relações, para o próprio pensamento (o que é pensar), para a 
linguagem (o que é falar?) e para a ação (o que é agir?). Podemos, então, afirmar que a 
Filosofia (embora seja teórica) é uma reflexão sobre a totalidade da experiência vivida, 
e como tal nunca termina, porque ela é sempre uma busca:
26
A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser verdadeiro 
segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui significado e 
substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e de-
finitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito (JASPERS, 
1965, p. 101).
Atenção
Grandes questões da Filosofia
De onde viemos? Para onde vamos? O que é o homem? Qual a atitude correta?
Na Filosofia nenhuma dessas questões está encerrada, todas podem ser retomadas e 
discutidas a partir de outros olhares e perspectivas. 
A principal finalidade no ensino da Filosofia é auxiliar e estimular o pensamento crítico 
e metódico sobre as coisas da vida e do próprio homem.
O Nascimento da Filosofia
É consenso que a Filosofia nasceu na Grécia com os filósofos anteriores a 
Sócrates, mais notadamente Tales de Mileto, embora tenha sido o seu contemporâneo 
Pitágoras que tenha cunhado o nome Filosofia. Nós já falamos sobre isso, mas não pa-
ramos para refletir como nasceu a Filosofia, ou seja, como surgiu esse modo de pensar 
que sai do conhecimento vulgar e cotidiano, que passa pelos dois momentos da reflexão 
e se coloca frente à realidade de uma maneira crítica? Como surgiu esse modo de pensar 
que é também uma postura crítica frente ao mundo?
Será que a Filosofia surgiu como um milagre na Grécia? Ou será que, por 
serem comerciantes, os gregos copiaram o conhecimento de outros lugares? Na história 
de como surgiu a Filosofia, essas duas ideias têm um fundo de verdade, porém não de-
vem ser vistas como causas únicas. Vamos observar mais de perto tanto as contribuições 
do saber que foram recebidas de outros grupos, principalmente os orientais, quanto o 
chamado milagre na forma de pensar ocorrida pelos próprios gregos.
Inicialmente, essas duas ideias sobre o nascimento da Filosofia eram fortes 
e se contradiziam, porém com o aprofundamento de estudos arqueológicos, históricos, 
linguísticos, ocorridos no século XIX, essas questões foram reanalisadas.
A ideia de que os gregos absorveram o conhecimento dos povos, principal-
mente os do oriente, foi afirmada na Antiguidade Clássica como uma forma de agregar 
valor ao conhecimento oriental ligado à cultura dos judeus na época. Embora coerente, 
já que os gregos em suas atividades comerciais tiveram contato com a sabedoria des-
ses povos (como a agrimensura dos egípcios, a astrologia dos caldeus e babilônicos, a 
27
genealogia dos persas), essa ideia não se justifica por si só, pois outros grupos também 
fizeram esses contatos comerciais e culturais e não desenvolveram a Filosofia.
Vamos observar agora o “milagre grego”, assim chamado devido à ideia de 
que a Filosofia tinha surgido do nada, simplesmente porque os gregos eram um povo 
excepcional. Aqui está o maior erro dessa ideia, o milagre não deve ser entendido como 
um salto, um click, fruto da superioridade grega. A diferença ou o milagre que deu a 
possibilidade do nascimento da Filosofia na Grécia foi o modo como os seus sábios se 
apropriaram do conhecimento apreendido nos outros lugares, aliando-os aos conheci-
mentos dos povos que já viviam no território que veio a se tornar a Grécia.
Na busca de explicação para as coisas do mundo, os gregos inicialmente con-
tavam com personagens e figuras mitológicas: heróis, ninfas, titãs habitavam o mundo 
junto com os humanos e influenciavam as suas vidas e a ordem do mundo. A natureza 
também indicava os acontecimentos vindouros e esses poderiam ser previstos a partir da 
sua observação pela pitonisa (uma espécie de oráculo ou adivinhação).
Um exemplo fornecido pela professora Chaui (1995), que é bastante sig-
nificativo em relação aos mitos, é que os sábios gregos aproveitaram as histórias mi-
tológicas de outros povos, porém retiraram deles os aspectos apavorantes. Os deuses 
tornaram-se mais próximosdos humanos e a narrativa pôde ser mais racionalizada. A 
narrativa mítica grega ao trazer seres humanizados foi reformulando e racionalizando 
as histórias sobre as origens do mundo baseadas em geração divinas (cosmogonia), 
permitindo o surgimento da Filosofia como cosmologia.
Mito – narrativa sagrada que explica o surgimento do mundo e a existência da humanidade.
Cosmogonia – é formada por duas palavras gregas: cosmo - mundo ordenado; gonia - 
nascimento, geração. São narrações míticas sobre a origem ou geração do mundo, por 
meio da união dos deuses e, às vezes, de deuses e humanos (são genealogias).
Cosmologia – logia/logos: pensamento racional. Assim, cosmologia significa teoria ou 
busca racional da ordem do mundo.
Assim, as novidades foram apropriadas, e não apenas repetidas em outro 
território. Também as modificações históricas pelas quais a Grécia passava foram im-
portantes orientações para o surgimento da Filosofia. Algumas transformações sociais e 
históricas foram de grande importância na modificação nas formas de pensamento.
Para Vernant (1994), antropólogo e pesquisador da Grécia antiga, o surgi-
mento da polis e da vida urbana foi decisivo. Ele observa que a língua, a divisão de po-
deres e o surgimento da cidade (polis) foram as modificações sociais que influenciaram 
decisivamente o modo de pensar grego, abrindo espaço para o pensamento filosófico.
28
As transformações linguísticas estão relacionadas com a ruptura de conceitos 
gregos, pois muitos desapareceram ou tiveram o seu sentido modificado. Como exem-
plo, podemos ver a supressão da figura do rei, antes soberano que unificava e ordenava 
os diversos elementos do reino, quase divino e que reunia em si todo poder que era ma-
nifesto e todos os planos do social. Sua queda fez aparecer duas forças sociais: as comu-
nidades aldeãs e a aristocracia guerreira, cujas famílias também detinham monopólios 
religiosos. A existência recente dessas duas forças sociais opostas causou um período de 
desordem, mas que direcionou a uma série de reflexões morais e especulações políticas 
que fez surgir uma primeira forma de sabedoria atrelada à figura dos sábios, os quais 
tinham o objetivo de discutir e alertar sobre o mundo dos homens, seu entendimento e 
o fim dos conflitos.
Observe que com a queda do rei soberano a realeza também se modificou. 
Surgiu o basileu, que não tinha funções militares nem políticas. A noção política – sus-
tentada na palavra grega arché que significa “comando” – tornou-se independente do 
poder real e religioso e deu ao poder uma concepção humana, pois ele tornou-se re-
sultado de uma escolha que envolvia confronto e discussão. O basileu ficou restrito ao 
poder religioso, ele passou a realizar algumas funções sacerdotais.
A pergunta era: como, no plano social, a vida em comum pode se sustentar 
no conflito? Para resolvê-la, surgiram duas entidades divinas: Eris (poder de conflito) 
e Philia (poder de união), as quais afirmam os dois lados dessa discussão, que apesar 
de serem opostos são forças complementares. A política tornou-se o poder do combate 
codificado e sujeito a regras, ou seja, uma disputa oratória. A praça pública (ágora) 
virou o lugar dos combates de argumentos realizados pelos seus habitantes, chamados 
de iguais. Surgiu a cidade (polis) tendo como centro a ágora, espaço público, central e 
comum.
O aparecimento da polis foi muito importante para a história do pensamento 
grego, pois deu uma nova forma à vida social e às relações entre os homens. São três 
as características que possibilitaram a polis tais modificações sociais.
A primeira característica é que a palavra tornou-se preeminente sobre todos 
os outros instrumentos de poder. A palavra estava relacionada à divindade Peithó, que 
é a força da persuasão, e, desse modo, foi remetida a palavra dos rituais mágicos e aos 
ditos do rei (ánax). Com a mesma força, a palavra tornou-se o debate contraditório, a 
discussão. Enquanto isso, a argumentação da palavra pressupõe um público para quem 
ela se dirige. Para esse público ela se expõe, e o público como um juiz decide, escolhe 
sobre os dois discursos apresentados pelos oradores. O comando, antes sob o poder do 
rei, agora se encontrava submetido à arte da oratória.
A publicidade das manifestações sociais é a segunda característica da polis. 
Na polis o domínio público fixa-se em seus dois sentidos: como setor de interesse co-
mum que se opõe a assuntos privados, e como práticas abertas e realizadas à luz do dia, 
29
em oposição aos processos secretos. A necessidade da publicidade coloca os processos 
e a conduta dos basileus sob o olhar e questionamento de todos. Há polis porque há 
domínio público.
A divulgação e a democratização de todos os atos geram uma modificação 
social importante, pois interfere nas questões espirituais. Antes, os mistérios eram posse 
dos sacerdotes e famílias tradicionais, garantindo-lhes poder. Quando passaram a ser 
discutidos perderam tal áurea mágica, já não existia mais a imposição pela força de um 
prestígio familiar ou religioso.
A publicidade também gera a divulgação da cultura e das leis entre os gre-
gos, isso porque a escrita deixa de ser um saber especializado, tornando-se um bem 
comum a todo cidadão. As leis passam a ser escritas, podendo ser conhecidas, o que 
lhes assegura permanência e fixidez. O direito também se torna bem comum, uma regra 
geral que deverá ser aplicada a todos da mesma maneira.
A terceira característica é a semelhança, que dá a polis uma unidade, por 
mais que sejam diferentes as suas classes, origens e funções, isso porque os cidadãos 
se concebem no plano político, cuja norma é a igualdade. Ao invés das relações hierár-
quicas, instala-se um vínculo de união, tornando-se iguais (isoi). A polis será o lugar da 
isonomia, onde todos os cidadãos exercem igual poder, porque todos estão submetidos 
às mesmas leis, que é na realidade quem detém o poder.
Nesse diálogo, Chaui (1995) acrescenta alguns detalhes aos tópicos apresen-
tados por Vernant (1994) quanto às condições históricas que possibilitaram o surgimento 
da Filosofia. São elas: as viagens marítimas permitiram o conhecimento de lugares que an-
tes eram vistos como moradia dos deuses e que gerou a constatação de que, na verdade, 
eram habitados por outros seres humanos, levando a um desencantamento ou desmistifi-
cação do mundo, de modo que o mito já não podia oferecer mais todas as explicações. Ob-
serva também que a invenção do calendário, da moeda, assim como a escrita alfabética, 
permitiu essa nova forma de abstração que abriu o pensamento filosófico.
Esse foi o caldeirão de modificações sociais que possibilitou o nascimento da 
Filosofia. A Filosofia nasceu, então, como cosmologia e corresponde ao período dos pré-
socráticos (final do século VII ao final do século V a.C.), quando os primeiros filósofos 
buscavam um princípio originário e racional como origem e causa das transformações 
das coisas do mundo.
A explicação era racional e sistemática. Negavam que o mundo tivesse sido 
criado ou surgido do nada, formularam a noção de physis, que é a natureza eterna, a 
qual dá origem a todos os seres e que está em permanente mutação, que é o movimento 
(devir). Todos os filósofos pré-socráticos buscavam encontrar na natureza o que seria 
esse princípio primordial.
30
Um Rápido Olhar sobre os Clássicos
Foram três os principais pensadores do período clássico: Sócrates, Platão e 
Aristóteles.
Com os acontecimentos desencadeados pelo surgimento da polis, a oratória 
e as artes da controvérsia tornam-se indispensáveis na educação dos jovens. Vimos 
que a ágora tornou-se o lugar para opinar e votar nas assembleias públicas. Foi preciso, 
então, ensinar aos jovens como se comportar na ágora. Apareceram novos professores, 
entre eles Sócrates e os sofistas.
Os Sofistas
“O bom orador é capaz de convencer qualquer pessoa sobre qualquer coisa” 
Górgias
Os sofistas apareceram nesse cenário como os novos responsáveis por dar 
aos jovens uma educaçãoque os preparassem para os debates políticos, distanciando 
da educação tradicional dada pelos antigos poetas. Um jovem bem educado era o bom 
orador, que soubesse falar em público e convencer na ágora. 
Entre os sofistas mais importantes temos Protágoras e Górgias. Apresenta-
vam-se como mestres da retórica e da oratória, afirmavam serem importantíssimas para 
a vida na polis. Como andavam por diversas cidades e países tinham conhecimento de 
várias “verdades sociais” e as utilizavam em seus argumentos para vencer as disputas e 
discussões sobre política. Para os sofistas o que interessava era a conquista do parecer 
favorável dos ouvintes, pois tinham compromisso com a vitória nos embates argumen-
tativos, e não com a verdade.
Os grupos sociais que visitavam tinham diferentes formas de organização 
(familiar, política, jurídica, etc.), por isso criticavam a ideia de verdade universal e os 
princípios abstratos da justiça, e ainda ensinavam a inexistência de uma natureza social 
humana. O Estado deveria se apoiar em uma base individualista e artificial, pois a auto-
ridade política seria de caráter egoísta.
Ao destruírem velhos dogmas que sustentavam o pensamento grego, os so-
fistas foram importantes para preparar o caminho das doutrinas posteriores.
Para Tales de Mileto, a physis, esse princípio eterno e imutável que origina 
as transformações, era a água. Outros filósofos do período pensavam diferente, vejamos 
alguns: para Anaximandro era o ilimitado, para Anaxímenes era o ar, para Heráclito era 
o fogo, para Demócrito eram os átomos.
31
Os Três Filósofos Clássicos – Sócrates, Platão e Aristóteles
Sócrates (470-399 a.C.), nascido em Atenas, também era um filósofo itine-
rante. No entanto, criticava e se opunha aos sofistas, acusando-os de não terem amor 
pelo saber e que ao defenderem qualquer ideia corrompiam o espírito dos jovens. Porém, 
concordava com a crítica a antiga educação pautada no ideal do guerreiro bom e belo.
Importante
O que nos propunha Sócrates?
O estudo do homem e o que ele pode vir a se tornar! Daí usar o lema que estava gravado 
no pórtico do templo de Apolo, patrono da sabedoria: Conhece-te a ti mesmo!
Como método, Sócrates usava o diálogo (ou maiêutica, que significa “trazer 
à luz”), dizia que as pessoas deveriam chegar à verdade interrogando a elas mesmas. 
Antes de quererem persuadir os outros, era necessário conhecer a si próprios, condição 
de possibilidade aos outros conhecimentos. O filósofo deveria apenas indicar o caminho 
a seguir, como a parteira que orienta e assiste o parto, mas deixa que a mulher dê à 
luz. Assim, fazia perguntas sobre valores e ideias. Se alguém falava em coragem, ele 
perguntava “o que é isso?”. Alguns se aborreciam porque esperavam que ele desse as 
respostas, mas ele apenas respondia: “só sei que nada sei”.
Ao fazer essas questões, Sócrates levantava dúvidas sobre a crença e os 
valores dos atenienses, já tão abalada pelos sofistas.
Parada Obrigatória
A condenação de Sócrates
Sócrates fazia as pessoas, principalmente os jovens, pensarem sobre a vida na polis e 
isso não era bom para os poderosos de Atenas. Tornou-se um perigo. Foi acusado de 
corromper os jovens, difundir ideias contrárias a religião tradicional e violar as leis.
Deram para ele duas opções: o exílio ou a morte. 
32
FIGURA 6 – “A morte de Sócrates”, de David – 1787
Sócrates toma a taça de 
cicuta e continua falando 
aos seus amigos.
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
Levado à praça pública, Sócrates não se defendeu, pois defender-se seria 
aceitar as acusações. Ele preferia a morte a renunciar aos seus pensamentos. Foi conde-
nado a morrer bebendo cicuta. Seu julgamento é relatado por Platão, seu discípulo, na 
obra Apologia de Sócrates, em que seus discípulos o defendem contra Atenas.
Platão (428-347 a.C.) era filho da aristocracia ateniense, criado no conforto 
e participando dos jogos sociais. A partir do encontro com o mestre, quando tinha 20 
anos, apaixonou-se pelo jogo do debate e da discussão filosófica. Em 387 a.C. fundou 
sua escola, a Academia, consagrada a deusa Atena. Seus interesses eram os estudos 
da Filosofia especulativa, da política e da matemática. Na entrada da Academia, que era 
situada em um jardim, tinha escrito a frase de Pitágoras “Não entre quem não saiba 
geometria”. As mulheres também podiam frequentar a Academia, o que não era comum 
naquela época.
Aos 28 anos, Platão participou ao lado de Sócrates da injustiça que o mestre 
sofreu, o que causou um enorme desprezo pela democracia e pelas massas, mais forte 
do que a sua posição aristocrática poderia produzir. Para ele, tornara-se necessário des-
truir a democracia e substituí-la por um governo dos mais sábios e melhores; porém, 
como tinha aprendido com Sócrates, era necessário fundamentar os seus argumentos 
em conceitos claros e seguros.
Após a morte de Sócrates, Platão saiu de Atenas por pouco mais de 10 anos, 
conhecendo vários lugares, suas culturas e seus saberes. Foi o discípulo que primeiro 
levou o método da conversação para a forma literária, ao retratar as discussões socráti-
cas. Também é famosa a sua Apologia de Sócrates, obra em que narra as circunstâncias 
da morte do mestre e se coloca em sua defesa.
33
Observa-se nos discursos platônicos dois impulsos que podem ser resumidos 
como uma vontade rumo ao conhecimento (aspiração ao saber/ciência) e uma concepção 
racional e objetiva do mundo do homem. Para Platão, a Filosofia deveria ser realizada 
como uma cultura ativa, uma sabedoria que se mistura com a atividade concreta da vida, 
tanto ciência quanto vida cotidiana, tanto teoria quanto prática.
Além da defesa ao seu mestre, Platão escreveu três obras de grande impor-
tância política: A República, O Político, e As Leis. Suas teorias e conceitos éticos são desen-
volvidos sustentados em um sistema metafísico e moral, em que a política aparece como 
a arte de tornar os homens mais justos e virtuosos.
A República, obra mais importante de Platão, trata de muitos assuntos que 
ainda hoje são debatidos, tais como: comunismo, socialismo, feminismo, controle da na-
talidade, educação e psicanálise. Nessa obra, o autor busca restabelecer uma concepção 
filosófica de justiça sustentada em um Estado ideal, que é considerado uma individuali-
dade suprema, embora só exista pelos indivíduos que o integram. Assim, o Estado surge 
dos desejos e necessidades humanas e decorre da cooperação entre seus membros para 
alcançarem esse fim.
FIGURA 7 – Platão e Aristóteles, 
detalhe de “A Escola de Atenas”, de 
Rafael Sanzio.
Fonte: Wikimedia Commons (2012). 
Aristóteles (384-322 a.C.) foi o principal 
discípulo de Platão, entrou na Academia com 17 anos. 
Tornou-se o instrutor dos reis dos reis, Alexandre da 
Macedônia. Já com mais de 50 anos fundou a sua 
escola, o Liceu, que diferenciava da escola do seu 
mestre porque se direcionava mais à biologia e às 
ciências naturais.
Discordou em vários pontos das teorias 
platônica, principalmente no que se refere ao sistema 
político, que é desassociada de uma ética, já que a 
política é entendida como uma ciência independente. 
Fundou o sistema base dos estudos de lógica, que 
utiliza o silogismo, como em: “Todos os homens são 
mortais; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal”.
A sua obra A Política foi escrita após um 
minucioso trabalho de pesquisa dos governos mais 
importantes do seu tempo e das constituições que a sustentavam, o que lhe dá o caráter 
de um tratado sobre a arte do governo. 
Nessa obra, afirmava que o fim último da política é o bem coletivo. O go-
verno que ele descreve não é fixo a todas as polis gregas, mas deve ser adaptado às 
necessidades de cada povo. Assim, desde a sua origem, o Estado estaria direcionado à 
busca da satisfação dos desejos e necessidades dos indivíduos, sendo a única forma de 
alcançá-las. Isso porque, a vida do homem seria eminentemente uma vida política.
34
Saiba Mais
O que é ser um animal político?
O homem difere dos outros animais por ser racional, isso significaque ele pode utilizar a 
linguagem e o sentimento de associação para conviver com os seus semelhantes. Assim, 
o homem é naturalmente um animal político, só alcançando o bem coletivo por meio do 
Estado. Sem o Estado e a vida social, o homem é apenas uma besta. O Estado está antes 
do indivíduo e é a sua influência que tira o homem dessa condição bestial e o eleva a uma 
categoria superior, pois é ele quem permite a satisfação intelectual e moral dos homens.
Para alcançar o bem-estar dos cidadãos, o Estado deveria tratá-los como in-
divíduos, pois concebia que as diferenças entre os homens geravam diferentes aptidões 
e necessidades. O alcance e a sua satisfação exigiam certo grau de liberdade. Assim, a 
melhor forma de governo era a que melhor correspondesse às necessidades de cada povo.
Importante
“Aristóteles definiu o Estado como uma organização coletiva de cidadãos, e definiu este 
(cidadão) como o indivíduo que tem direito de participar do governo. Acreditava que 
o traço característico da cidadania consistia na participação dos indivíduos nas assem-
bleias, no exercício ativo dos direitos políticos. A cidadania determina a capacidade de 
governar e ser governado.” (DIAS, 2008, p. 25).
O que é era ser cidadão para Aristóteles?
Nem todos os que habitavam a polis eram cidadãos. Para ser cidadão era preciso ser 
administrador, guerreiro ou sacerdote, possuir terra e ter tempo para cumprir seus de-
veres junto ao Estado.
Dicas
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1995.
MACHADO, Fernando Luís. Os novos nomes do racismo: especificação ou inflação con-
ceptual?. Sociologia, Problemas e Práticas [online]. Oeiras, n.33, p. 9-44, set. 2000. 
ISSN 0873-6529. 
Doze homens e uma sentença (Twelve Angry Men). Diretor: Sidney Lumet. Duração: 
96 min. Gênero: Policial, drama. Ano: 1957.
35
Sintetize
Para que as ideias estudadas se tornem um conhecimento filosófico é preciso refletir so-
bre elas. Faça seus resumos respondendo as perguntas sugeridas e torne-se um amante 
do saber!
1. A Filosofia é um convite para contemplar o mundo diferente, fale um pouco sobre as 
duas partes da reflexão filosófica.
2. Anote duas ou três diferenças entre o senso comum e a Filosofia.
3. Como surgiu a Filosofia? Escreva em poucas palavras o que você entendeu sobre esse 
momento.
Resumo
Neste capítulo, conhecemos um pouco a história do nascimento da Filoso-
fia, na Grécia, e fomos apresentados aos seus três clássicos antigos: Sócrates, Platão e 
Aristóteles. Aprendemos a diferenciar o senso comum do pensamento filosófico, que é 
reflexivo e se apoia na atitude filosófica e nos convida a conhecer o mundo.
Anotações
36
Textos Complementares
Nascimento da Filosofia
A Filosofia nasceu quando alguns gregos, admirados e espantados com a 
realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição (os mitos religiosos) lhes dera, 
começaram a fazer perguntas e buscar respostas, demonstrando que o mundo e os seres 
humanos, os acontecimentos naturais e as coisas da Natureza, os acontecimentos hu-
manos e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana, e que 
a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.
Em suma, a Filosofia surgiu quando alguns pensadores gregos se deram 
conta de que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso que 
precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas, ao contrário, podia ser 
conhecida por todos, por meio das operações mentais de raciocínio, que são as mesmas 
em todos os seres humanos. O nascimento se deu, portanto, quando aqueles pensado-
res compreenderam que o conhecimento depende apenas do uso correto da razão ou 
do exercício correto do pensamento, permitindo que a verdade possa ser conhecida por 
todos. Esses pensadores descobriram também que a linguagem respeita as exigências 
do pensamento e que, por esse mesmo motivo, os conhecimentos verdadeiros podem 
ser publicamente transmitidos e ensinados a todos.
Fonte: Chaui (2010, p. 40-41).
Filosofia como busca da verdade
O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o 
mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz.
E a verdade o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas signifi-
cações do ser verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui o 
significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, 
mas movimento incessante, que penetra no infinito.
No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva esse confli-
to ao extremo, porém o despe de violência. Em suas relações com tudo quanto existe, o 
filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensa-
dores e ao processo que o torna transparente a si mesmo.
37
Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele 
diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, 
com seus concidadãos, do destino comum da humanidade.
Eis por que a filosofia não se transforma em credo. Está em contínua pugna 
consigo mesma.
Fonte: Jaspers (1965, p. 101).
O valor da Filosofia
Devemos procurar o valor da filosofia, de fato, em grande medida na sua 
própria incerteza. O homem sem rudimentos de filosofia passa pela vida preso a pre-
conceitos derivados do senso comum, a crenças costumeiras da sua época ou da sua na-
ção, e a convicções que cresceram na sua mente sem a cooperação ou o consentimento 
da sua razão deliberativa. Para tal homem o mundo tende a tornar-se definitivo, finito, 
óbvio; os objetos comuns não levantam questões, e as possibilidades incomuns são re-
jeitadas com desdém. Pelo contrário, mal começamos a filosofar, descobrimos, [...], que 
mesmo as coisas mais cotidianas levam a problemas aos quais só se podem dar respos-
tas muito incompletas. A filosofia, apesar de não poder dizer-nos com certeza qual é a 
resposta verdadeira às dúvidas que levanta, é capaz de sugerir muitas possibilidades 
que alargam os nossos pensamentos e os libertam da tirania do costume. Assim, apesar 
de diminuir a nossa sensação de certeza quanto ao que as coisas são, aumenta em muito 
o nosso conhecimento quanto ao que podem ser; remove o dogmatismo algo arrogante 
de quem nunca viajou pela região da dúvida libertadora, e mantém vivo o nosso sentido 
de admiração ao mostrar coisas comuns a uma luz incomum.
À parte a sua utilidade ao mostrar possibilidades insuspeitas, a filosofia tem 
valor – talvez o seu principal valor – por via da grandeza dos objetos que contempla, e 
da libertação de objetivos limitados e pessoais que resulta desta contemplação. A vida 
do homem instintivo está fechada no círculo dos seus interesses privados: a família e os 
amigos podem ser incluídos, mas o mundo exterior não é tido em consideração exceto 
na medida em que possa ajudar ou prejudicar o que pertence ao círculo dos desejos 
instintivos. Em tal vida há algo de febril e limitado, em comparação com a qual a vida 
filosófica é calma e livre. O mundo privado dos interesses instintivos é pequeno, locali-
zando-se no seio de um mundo grande e poderoso que, mais cedo ou mais tarde, terá de 
deixar o nosso mundo privado em ruínas. A menos que possamos alargar de tal modo 
os nossos interesses que incluam todo o mundo exterior, somos como uma guarnição 
numa fortaleza sitiada, sabendo que o inimigo impede a fuga e que a rendição última é 
inevitável. Em tal vida não há paz, mas antes um conflito constante entre a insistência 
do desejo e a impotência da vontade. Temos de escapar desta prisão e deste conflito, de 
um modo ou de outro, para a nossa vida ser grandiosa e livre.
Fonte: Russel (2005).
38
A virtude é uma prática
[…] em relação a todas as faculdades que nos vêm por natureza recebemos 
primeiro a potencialidade, e, somente mais tarde exibimos a atividade (isto é claro no 
caso dos sentidos, pois não foi por ver repetidamente ou repetidamente ouvir que ad-
quirimos estessentidos; ao contrário, já os tínhamos antes de começar a usufruí-los, e 
não passamos a tê-los por usufruí-los); quanto às várias formas de excelência moral, 
todavia, adquirimo-las por havê-las efetivamente praticado, tal como fazemos com as 
artes. As coisas que temos de aprender antes de fazer, aprendemo-las fazendo-as – por 
exemplo, os homens se tornam construtores construindo, e se tornam citaristas tocando 
cítara; da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, moderados agindo 
moderadamente, e corajosos agindo corajosamente. Essa asserção é confirmada pelo 
que acontece nas cidades, pois os legisladores formam os cidadãos habituando-os a fa-
zerem o bem; esta é a intenção de todos os legisladores; os que não a põem corretamen-
te em prática falham em seu objetivo, e é sob este aspecto que a boa constituição difere 
da má. 
Fonte: Aristóteles (2001, p. 35-36).
Anotações
39
Atividades
1. Leia a afirmação e reflita sobre a importância do conhecimento filosófico. Anote sua 
reflexão em seu portfólio. “Em outras palavras, os fundamentos teóricos das ciências 
não são científicos, mas filosóficos, e, sem a Filosofia, as ciências não seriam possíveis.” 
(CHAUI, 2010, p. 11).
2. Vimos no capítulo 1 que a nossa primeira forma de estar no mundo é o senso comum. 
Escreva uma síntese sobre essa forma de vivenciar e naturalizar o mundo. 
3. Escreva em seu portfólio um pequeno resumo sobre as características positiva e ne-
gativa da atitude filosófica.
4. Alguns teóricos observam que a atitude filosófica é radical, rigorosa e de conjunto. 
Releia o seu livro e escreva com suas palavras o que essas características significam.
5. Leia o trecho abaixo sobre o nascimento da Filosofia e faça uma análise crítica em seu 
portfólio. 
Existem duas teorias que explicam o porquê da filosofia ter nascido na Grécia. A primeira 
delas afirma que o aparecimento da filosofia se deu através de influências da sabedoria 
oriental, com a qual os gregos tiveram contato em suas viagens. A outra teoria diz que 
o povo grego foi tão excepcional, que foram capazes de criar a filosofia de forma espon-
tânea e única.
40
Anotações
41
o ser HumANo, um ANimAl que PeNsA e ArgumeNtA
Capítulo 2
42
Tudo aquilo que vamos tratar neste capítulo são as nossas vivências cotidia-
nas, pois iremos filosofar sobre nós, seres humanos! Você já parou para pensar o que 
nos possibilitou essa magnífica capacidade de pensar e interferir sobre o mundo? O ser 
humano é o único animal que consegue significar o que vê e vivencia. Vamos olhar isso 
mais de perto.
Ao fim do capítulo, você será capaz de:
• reconhecer o ser humano como biológico e cultural;
• perceber a linguagem como fundamentadora do ser pensante; 
• identificar a capacidade de argumentar como própria do ser humano;
• identificar a importância da cultura na análise filosófica;
• compreender a necessidade da abstração para o pensar reflexivo.
Sim, agora já sabemos o que é a Filosofia, como ela começou e seus três 
principais autores da Grécia antiga. Sabemos que a Filosofia é um convite a ver o mundo 
de uma nova forma, repensando o nosso senso comum e construindo uma avaliação 
crítica sobre o que nos rodeia.
Também vimos no capítulo anterior que a Filosofia faz grandes questões 
que, como é próprio desse tipo de pensamento, nunca estão completamente respon-
didas. São elas: de onde viemos? para onde vamos? o que é o homem? qual a atitude 
correta?
Introdução
Neste capítulo, vamos nos ater mais profundamente à questão sobre o que 
é o homem. Você lembra que questão nasce do momento em que a reflexão filosófica 
volta-se sobre si e questiona sobre quem é esse ser que pensa, o que o distingue dos 
outros seres, se ele teria ou não uma essência diferenciada?
O que é o ser humano? O que é o homem? Essa que é a principal questão 
filosófica surge de uma reflexão sobre o próprio homem e sua relação com os outros, 
sobre o que somos e/ou podemos nos tornar. A sua importância está no fato de que 
qualquer outra questão, formas de pensar e de agir será sustentada pela concepção do 
que é o ser humano.
Grandes questões – você poderá encontrar alguns textos falando apenas das três pri-
meiras questões, porém a questão sobre “qual a atitude correta” permeia os textos dos 
grandes clássicos e dos modernos filósofos. Esse tema que discute a questão ética vai ser 
discutido no capítulo 4 e é de extrema importância para o trabalho do administrador.
43
A reflexão filosófica se sustenta na figura do ser humano que questiona 
e busca explicar o mundo e a si mesmo. A habilidade de pensar e argumentar é uma 
característica essencial do ser humano, assim como a possibilidade de conhecer e agir 
sobre o mundo que está ao seu redor.
Observe que a pergunta sobre o homem é essencialmente uma questão an-
tropológica, visto que é essa a ciência que investiga a humanidade e suas relações com 
outros no mundo, em todo tempo e lugar.
O Ser Humano – Uma Análise Antropológica
Muitos filósofos e pensadores buscaram solução para a questão da natureza 
humana. Será que o ser humano tem uma natureza diferente dos outros animais? O ho-
mem é um animal primata, o único que habita ou é capaz de habitar todas as regiões 
do planeta, por que será? O senso comum nos mostra muitas diferenças, mas sabemos 
que o filósofo não se atém apenas ao que pensa e diz o senso comum, vamos então 
colocar nossas lentes para ver o mundo mais nítido e investigar. Vamos filosofar!
Primata - grupo de mamíferos com um provável ancestral comum. Compre-
ende lêmures, lóris, társios, macacos, símios e homens.
Como já foi dito que essa é essencialmente uma questão antropológica, nada 
melhor do que outra pergunta antropológica para começar: você sabia que o aumento 
do cérebro humano coincide com o período das primeiras ferramentas de pedra? Pois 
é, isso aconteceu há 2,5 milhões de anos e foi quando surgiu o gênero homo.
Ferramenta – qualquer objeto usado para facilitar uma tarefa. Observe que quando 
chimpanzés usam varetas para cutucar uma fruta ou para pescar estão usando ferra-
mentas.
Homo – gênero de mamíferos bípedes, no qual se inclui o ser humano (Homo sa-
piens), único representante sobrevivente da família dos Hominídeos.
44
Saiba Mais
Paleoantropólogos (são aqueles que estudam a origem e a evolução da atual espécie 
humana) encontraram pegadas de três homens que passearam sobre as cinzas de um 
vulcão, na Tanzânia, há 36 milhões de anos. O estudo do peso e distância dos passos 
não deixam dúvidas que já eram passos do homem.
A segunda característica em importância é o crescimento do cérebro, que 
como já vimos está atrelado ao uso das mãos para a manufatura e a utilização de instru-
mentos. Construir instrumentos só pode ser possível porque os hominídeos estão com 
as mãos livres tanto para carregar comida quanto para se proteger utilizando galhos e 
pedras.
FIGURA 8 – Homo sapiens
Então, se o aumento do cére-
bro humano tem a ver com o fabrico das 
primeiras ferramentas de pedra fica fácil 
imaginar que o uso do trabalho nos dá 
pistas na busca que estamos procurando 
entender. Observe que para o homem po-
der usar as mãos carregando ferramentas 
é necessário que ele não as utilize como 
meios de locomoção, ou seja, eles precisa-
vam se locomover utilizando apenas dois 
pés, e não pés e mãos. Os primeiros ho-
minídeos viviam em savanas e para buscar 
alimentos, sem se tornar um, era necessá-
rio que se modificassem. Essas mudanças 
foram graduais e duraram tantos e tantos anos, gerando modificações anatômicas dos 
pés a cabeça dos primeiros humanos. O bipedalismo torna, assim, uma facilidade e 
uma possibilidade de preservação.
O bipedalismo é considerado a primeira característica importante na nossa 
busca pela distinção do ser humano. Note que os seres humanos não são os únicos que 
possuem essa capacidade, mas são os únicos que desenvolveram mudanças significati-
vas a partir dela.
Fonte: Acervo NEAD/Unoeste (2012).
Bipedalismo – forma especial de locomoção sobre os doispés. Para alguns an-
tropólogos, o bipedalismo começou a se desenvolver ainda quando os hominí-
deos habitavam as florestas.
45
Antropoide – do grego, antropos (homem) + éidos (forma), é uma classificação 
dos primatas com base em semelhanças morfológicas. Fazem parte os macacos 
(babuínos), os símios (orangotangos, gorilas, chimpanzés) e os seres humanos.
Os macacos e os símios aprendem e adotam o comportamento e tradições 
do seu grupo social, tais como forma de organização em comunidade, hierarquia de 
dominação, formas distintas de caçar e em relação à limpeza. Esse modo de viver e a 
variação que eles realizam a partir dela permite falar que esses animais têm uma forma 
de cultura, porque são aprendidas e não dadas geneticamente.
Podemos dizer que se comunicam, já que eles executam uma forma variada 
de gritos, acompanhados de movimentos de face e de corpo, visando à transmissão de 
mensagens, como as de ameaça e de defesa do grupo. As comunicações de carinho, 
como beijos e abraços, também são encontradas entre esses animais.
Embora os outros antropoides tenham uma forma de linguagem e cultura, 
são exatamente essas duas características as mais importantes para passarmos dessa 
análise um tanto biológica e antropológica para uma reflexão mais filosófica. Vamos 
examiná-las mais atentamente.
Outra característica importante é que os seres humanos necessitam viver em 
grupo. Sabemos que quando nasce um bebê humano, ele precisa incessantemente da 
mãe para permanecer vivo. Assim também acontece com outros animais, principalmen-
te os mamíferos, entretanto em períodos bem menores que os da nossa espécie. Essa 
característica, embora não seja exclusividade nossa quando relacionada com as outras 
características já citadas, conduz ao aparecimento da cultura e da linguagem como for-
mas de comunicação e interação.
Outros primatas, principalmente os antropoides, também vivem em grupo 
e são animais sociais, muitos deles passam por um período de adolescência, quando 
modificam as suas relações com o grupo e migram para outros grupos sociais.
O Ser Humano Também é um Ser Cultural
“Existir é um modo de vida que é próprio do ser capaz de transformar, de 
produzir, de decidir, de criar, de recriar, de comunicar”.
FREIRE (1982, p. 66).
Para começarmos a nossa reflexão eminentemente filosófica vamos recordar 
o que diz o senso comum sobre o ser humano. Com certeza você já ouviu alguém falar 
em natureza humana, como quando diante de algum problema dizemos que “errar é 
humano”, ou quando querendo acalmar alguma pequena rixa entre as crianças dizemos: 
“não faça isso com a coleguinha, pois as mulheres são mais frágeis que os homens”!
46
Após essa reflexão, fica clara a 
falácia dessas e de outras afirmações do 
senso comum que se referem ao ser hu-
mano como tendo uma natureza única, 
universal e invariável no tempo e no espa-
ço. Se pensarmos outras afirmações desse 
tipo, encontraremos inclusive algumas que 
se contradizem:
Falácia – é um argumento inválido 
que parece válido. Dizer que uma de-
finição ou afirmação é falaciosa é di-
zer que ela é enganadora. 
A ação instintiva é regida por leis biológicas, idênticas na espécie e 
invariáveis de indivíduo para indivíduo. A rigidez dá a ilusão da perfei-
ção quando o animal, especializado em determinados atos, os executa 
com extrema habilidade. Não há quem não tenha ainda observado 
com atenção e pasmo o ‘trabalho’ paciente da aranha tecendo a teia. 
Mas esses atos não têm história, não se renovam e são os mesmos 
em todos os tempos, salvo as modificações determinadas pela evo-
lução das espécies e as decorrentes de mutações genéticas. E mes-
mo quando há tais modificações, elas continuam valendo para todos 
os indivíduos da espécie e não permitem inovações, passando a ser 
transmitidas hereditariamente.
[…] 
O ato humano voluntário, em contrapartida, é consciente da finalidade, 
isto é, o ato existe antes como pensamento, como uma possibilidade, e 
a execução é o resultado da escolha dos meios necessários para atingir 
os fins propostos. Quando há interferências externas no processo, os 
planos também são modificados para se adequarem à nova situação 
(ARANHA; MARTINS, 1993, p. 2-3).
Instinto – estímulo ou tendências regidas por leis biológicas, logo herdadas da 
espécie que orienta a execução de certos atos e necessidades fundamentais. 
Observe que no primeiro exemplo atribuímos o erro à natureza humana. É 
o mesmo quando afirmamos que tal coisa “ocorre desde que o homem é homem”. O 
que podemos observar é uma natureza humana imutável, igual em todos os tempos e 
lugares. Errar é humano, é da natureza humana, logo se sou humano, não só posso, mas 
vou errar em algum momento! Uma questão de lógica!
Quando falamos de natureza humana como algo universal a todos os ho-
mens nos aproximamos do pensamento sobre os instintos dos animais, pois falar em 
natureza é dizer que uma coisa existe de forma necessária e universal e não depende da 
vontade ou ação dos homens.
Assim, ao falarmos em instintos e natureza, estamos falando em universal, 
invariável, perfeitos e sem história. Veja a observação que Aranha e Martins (1993) fa-
zem sobre esse assunto:
47
QUADRO 2 – Afirmações do senso comum
1 “É natural chorar na tristeza” “Homem não chora”
2 “É da natureza do homem ter medo do desconhecido” “Ela é corajosa, não tem medo de nada”
Fonte: Adaptado de Chaui (1995, p. 288).
Vamos analisar as afirmações acima e observarmos os seus equívocos e con-
tradições. Na primeira linha, afirma-se que chorar na tristeza é próprio do ser humano, 
na sequência afirma-se que homem não chora, mas de onde podemos pensar que os 
homens, ou não ficam tristes, ou mesmo tristes não irão chorar, caso chorem não são 
humanos. Na segunda linha ocorre semelhante, pois o medo do desconhecido aparece 
como algo natural, a segunda afirmação diz que nós admiramos quem é destemido, ou 
seja, nós admiramos aquele que se contrapõe a natureza, aquele que não é humano. 
Nesse caso, acho que estamos assistindo a muitos filmes de super-heróis!
Como não são fundamentadas na realidade, algumas das afirmações do sen-
so comum podem se referir também a diferenças de natureza entre mulheres e homens, 
entre pobres e ricos, e ainda entre povos de grupos culturais distintos, como se fosse pos-
sível ser natureza humana e, ao mesmo tempo, se diferenciar por gênero, grupos sociais, 
étnicos, etc. 
Os pesquisadores sobre cultura nos mostram que as crenças e conhecimen-
tos do senso comum derivam de arranjos diferenciados para organização das sociedades 
em um determinado tempo e condições e que por isso podem estar carregadas de teor 
preconceituoso. Como são resultados de vivências de grupo, de seus acordos sociais em 
um tempo e espaço específico, e se alargam para outros grupos maiores sem terem sido 
analisadas ou reinterpretadas, tornam-se um dever ser que é repetido e sentido, mas 
que não deveriam nunca ser afirmados como verdades universais (retomaremos isso no 
capítulo 5).
 
Vamos ver um exemplo da Chaui que, ao analisar uma parte da história do 
Brasil, desconstrói o senso comum da “indolência dos negros”:
Os historiadores brasileiros mostram que, por razões econômicas, a elite 
dominante do século XIX considerou mais lucrativo realizar a abolição 
da escravatura e substituir os escravos pelos imigrantes europeus. Essa 
decisão fez com que o mercado de trabalho fosse ocupado pelos tra-
balhadores brancos imigrantes e que a maioria dos escravos libertados 
ficasse no desemprego, sem habitação, sem alimentação e sem direito 
social, econômico e político.
Em outras palavras, foram impedidos de trabalhar e foram mantidos sem 
direitos, tais como viviam quando estavam no cativeiro. Além disso, sa-
be-se que quando os colonizadores instituíram a escravidão e trouxeram 
os africanos para as terras da América, fizeram tal escolha por conside-
rarem que os negros possuíam grande força física, grande capacidade de 
trabalho e muita inteligência para realizar tarefas com objetivostécnicos 
48
Cultura – ideias, valores, percepções e modos de vida de uma sociedade que são 
transmitidas e compartilhadas socialmente entre seus membros.
Dizer que o ser humano é um ser cultural porque produz cultura, significa 
dizer que nenhum ato humano é unicamente biológico. Você ainda não acredita? Então 
pense em uma atividade bem cotidiana e ligada ao biológico. Por exemplo: o simples ato 
de comer! Ninguém consegue sobreviver se não se alimentar, não é mesmo?
Mas você já pensou que as pessoas comem de jeito e formas diferentes? Já 
analisou que o que é alimento para um grupo pode não ser para outro? Que as horas das 
refeições podem ser realizadas em diferentes momentos e com invariáveis propósitos? 
Agora fica fácil analisar as frases do senso comum sobre a natureza humana 
sem cair nas pegadinhas que elas nos levam! Os homens se diferenciam pela sua classe 
social, sua condição histórica e econômica, de acordo com a política do seu país, uma 
das razões pode ser porque o homem perdeu muito do seu instinto e quando age ele 
determina o seu ser, o seu agir e pensar. Sempre que você se encontrar diante de um 
comportamento humano naturalizado é preciso parar para pensar, pois o homem, em 
seu processo de evolução, foi se distanciando da vida natural e criando outro mundo, o 
mundo cultural.
Já vimos, então, que a noção de natureza humana não se sustenta, nos se-
res humanos o que guia os comportamentos não é a existência de uma natureza única, 
e sim os acordos sociais realizados na vida em comunidade, pois os seres humanos são 
seres culturais.
QUADRO 3 – Cultura
Define a relação entre os 
indivíduos e deles com o 
mundo ao seu redor.
Conjunto de conhecimentos 
acumulados, transmitidos de 
uma geração a outra pelo 
aprendizado.
A transmissão é realizada por 
meio da linguagem.
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2010).
As Influências da Cultura
Uma das diferenças do ser humano e dos outros animais, até mesmo dos 
outros antropoides, é que ele possui uma forma específica de cultura. Inicialmente, 
vamos entender exatamente o que é cultura e depois voltaremos para analisar essas di-
ferenças que nos permitem dizer que o ser humano é um ser cultural, mas que os outros 
antropoides apenas possuem cultura.
como o engenho de açúcar. Se assim é, se a escravidão foi instituída por 
causa da grande capacidade de inteligência dos africanos para o trabalho 
da agricultura, se a abolição foi realizada por ser mais lucrativo o uso da 
mão de obra imigrante para um certo tipo de agricultura (o café) e para 
a indústria, como fica a afirmação de que a Natureza fez os africanos 
indolentes, preguiçosos e malandros? (CHAUI, 1995, p. 289, 290).
49
Nessas imagens percebe-se que cada grupo humano utiliza a natureza exis-
tente ao seu redor e a adapta ao seu modo de viver. Podemos dizer mais! Hoje, com o 
processo de expansão das comunicações, o ser humano pode escolher o modo e a forma 
como quer viver. É possível encontrar no Brasil pessoas que adotam o estilo de vida dos 
japoneses, se vestem e se alimentam como eles, sem ao menos terem uma descendên-
cia que sirva como justificativa, a não ser o mero desejo e vontade de ser como eles.
Isso não acontece apenas com o comer, todos os atos humanos são costura-
dos por orientações culturais, sendo, portanto, biológicos e culturais. Não se engane, os 
atos mais biológicos, como o nascer e o morrer, por exemplo, são os que mais carregam 
significados e rituais.
FIGURA 9 – Atos biológicos e culturais
Fonte: Acervo NEAD/Unoeste (2012).
Dizer que o ser humano é um ser cultural significa afirmar que ele reflete e 
adapta o mundo às suas necessidades de sobrevivência. Observe as imagens a seguir:
Saiba Mais
Os Yanomamis, em seu ritual de morte, colocam o corpo em um jirau e penduram em 
árvores. Quando o corpo estiver decomposto, os ossos serão recolhidos e cremados. 
Nos rituais familiares, as cinzas são misturadas a um mingau de banana e os parentes 
tomam. O restante é enterrado no mesmo lugar onde fizeram o fogo. Todos os perten-
ces do morto são queimados.
50
O homem como ser cultural aparece quando desenvolve a capacidade de 
comunicação oral e de fabricação de instrumentos direcionados a dar maior eficiência 
ao seu próprio corpo frágil. Dessa forma, a cultura é tudo o que é criado pelo homem, 
mas as necessidades dessa criação vêm de dentro do próprio homem e se voltam com 
força sobre o homem, é por isso que a cultura e o ser humano se desenvolveram juntos.
Observe que apesar de ser criada pelo homem, a cultura também interfere 
e orienta a sua visão do mundo. Se a cultura é esse apanhado de conhecimento que o 
ser humano utiliza em sua vida cotidiana, o senso comum faz parte da cultura. Sendo 
Atenção
Podemos afirmar que o ato humano é totalmente biológico e cultural:
Totalmente biológico: porque somos primatas e mamíferos, somos animais como os ou-
tros e sofremos os limites do nosso corpo e atendemos a nossas necessidades fisiológicas. 
Totalmente cultural: porque todo ato do homem é culturalizado, pois ele é um ser social.
Fonte: Adaptado de Morin (1982).
O equipamento físico humano é muito pobre: o homem não tem muita agi-
lidade, nem força, nem acuidade visual, em contrapartida foi dotado de uma grande 
capacidade de adaptação. Foi essa diferente forma de adaptação que, segundo o profes-
sor Roque Laraia (2009), estudioso do tema cultura, permitiu ao homem se separar da 
natureza e expandir como espécie em todas as partes da Terra: com a cultura o homem 
não se modifica, ele modifica o meio, cria, inventa e reinterpreta até o que já foi criado 
por outros. Tudo isso porque ele consegue aprender e adaptar esse aprendizado às no-
vas necessidades e dificuldades.
O homem é biológico, mas a sua ação é permeada pelo cultural, e não pela 
orientação natural. Quando interfere no seu ambiente e nas suas relações sociais o que 
o orienta não são os reflexos ou instintos hereditários, e sim a aprendizagem e a refle-
xão sobre as experiências vividas e compartilhadas, visando melhorar a sua capacidade 
no ambiente. O homem reproduz e inventa técnicas e modos de viver em comunidade.
Cultura é apenas aprendizagem, não tem nada a ver com genética!
O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é 
herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimen-
to e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antece-
deram. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural 
permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto 
da ação isolada de um gênio, mas resultado do esforço de toda uma 
comunidade (LARAIA, 2009, p. 45).
51
Agora você percebe a diferença entre a cultura dos homens e a dos antro-
poides? Houve um tempo em que era comum a visão de que a cultura dos não humanos 
era considerada como “elementar” e “concreta”, ou seja, respondiam apenas a proble-
mas imediatos, podiam ser aprendidos, mas não necessariamente ensinados. Cientistas 
relatavam experiências em que chimpanzés aprendiam brincadeiras, que eram copiadas 
por todo o grupo, mas sempre terminavam com o esquecimento, após o cansaço e a 
passagem da moda.
 
Estudos recentes, no entanto, afirmam que não só os antropoides, mas a 
maioria dos mamíferos, aprendem com os adultos do seu grupo ou em contato com es-
tímulos novos (membros de fora do grupo ou dificuldades do ambiente), inclusive cons-
troem ferramentas para executar algumas atividades como as varas para a pesca, ou 
para conseguir alimento em formigueiros, ou utilizam pedras como martelo para quebrar 
certos tipos de noz. Tais características aprendidas não são incorporadas de modo rápido 
e podem demorar mais de uma geração para se tornar um padrão.
parte e resultado da ação cultural nada pode ser dito como imutável (que não poder ser 
modificado), devemos, portanto, ter atenção nas afirmações preconceituosas do senso 
comum em relação a pessoas que se comportam diferente dos nossos padrões. 
Fica claro perceber que as ações do homem sãopermeadas de cultura quan-
do notamos a semelhança ou a diferença de certos comportamentos entre indivíduos 
de diferentes épocas, grupos ou condições sociais diferentes, já que tais diferenças são 
em grande parte explicáveis devido às orientações culturais do grupo a que pertencem.
Importante
O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes 
comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma 
herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura (LARAIA, 
2009, p. 68). 
Saiba Mais
Chimpanzés jovens aprendem a construir ferramentas 
para caça de pequenos insetos com galhos de árvores. 
As folhas são retiradas e o galho bem limpo é coloca-
do dentro do ninho de formigas e de cupins, depois de 
alguns minutos de espera o galho é retirado para um 
bom lanche!
Fonte: Acervo NEAD/Unoeste (2012).
52
O aspecto simbólico mais importante de uma cultura é a língua, ela expressa 
o modo de vida de um grupo, refletindo na sua forma de ser, de viver e na sua identidade.
A linguagem nos permite transmitir informações e compartilhar experiências 
individuais e coletivas, por meio da tradução de preocupações, crenças, percepções e 
símbolos que podem ser interpretados por outros. Também é pela linguagem abstrata 
que o homem antecipa uma situação futura e pode criar instrumentos para se adaptar a 
ela. Veja a explicação de Aranha e Martins sobre o elemento simbólico:
Então, agora eu faço uma boa pergunta: o que falta na cultura dos outros 
animais, mas que existe na cultura do homem e que faz tanta diferença? 
Falta a possibilidade de abstração. O homem utiliza da linguagem simbólica 
para produzir sua cultura do nível e detalhamento que produz. Pois só a linguagem sim-
bólica permite a elaboração de ideias abstratas que possibilita representar o que não está 
presente.
A Linguagem como Fundamentadora do Ser Pensante
O homem é um animal simbólico, que se comunica com seus semelhan-
tes através de símbolos - dos quais o mais importante é a linguagem. 
O conhecimento da ação humana exige a decifração e a interpretação 
destes símbolos, cuja significação é quase sempre incerta, às vezes des-
conhecida, e apenas passível de ser reconstruída por conjeturas – línguas 
mortas ou primitivas (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 168).
A possibilidade para a cultura no ser humano se aperfeiçoa com a capaci-
dade de abstração da inteligência humana, pela qual se pode superar o aqui e o agora 
e existir de forma única no tempo. Essa capacidade de abstração da mente humana 
permite a criação de símbolos que fazem parte de todos os aspectos da cultura.
Abstração – tudo aquilo que está situado no domínio do pensamento, e não da exis-
tência real. É por meio do processo de abstração (abstrahere: arrancar, desligar) que o 
homem cria conceitos e representa o real.
Símbolo – signo, som, emblema que estão arbitrariamente ligados a algo e que o repre-
senta de forma significativa.
Importante
Você já reparou que quando conhecemos alguém perguntamos logo de onde ela é? Bus-
camos essa identidade de grupo para esse primeiro contato.
53
Os símbolos permitem o distanciamento do mundo concreto e a elabo-
ração de ideias abstratas: com o signo ‘casa’, por exemplo, designamos 
não só determinada casa, mas qualquer casa. Além disso, com a lin-
guagem simbólica o homem não está apenas presente no mundo, mas 
é capaz de representá-lo: isto é, o homem torna presente aquilo que 
está ausente. A linguagem introduz o homem no tempo, porque permi-
te que ele relembre o passado e antecipe o futuro pelo pensamento. Ao 
fazer uso da linguagem simbólica, o homem torna possível o desenvol-
vimento da técnica e, portanto, do trabalho humano, enquanto forma 
sempre renovada de intervenção na natureza. Ao reproduzir as técnicas 
já utilizadas pelos ancestrais e ao inventar outras novas – lembrando 
o passado e projetando o futuro – o homem trabalha (ARANHA; MAR-
TINS, 1992, p. 29).
É por meio da linguagem, esse fator de mediação para tudo o que foi viven-
ciado e realizado, que o homem consegue trazer o passado e o futuro para o presente. 
Imagine contar como foi as suas férias na praia sem a linguagem? Nesse caso, a lingua-
gem pode ser a fala, um desenho, uma dança. Mas todas essas possibilidades são uma 
forma de abstração, ou seja, uma representação do real, e não ele mesmo.
Assim, o fato mais importante ligado à capacidade de falar é que o ser huma-
no pode, a partir desse momento, contar fatos acontecidos que outros não vivenciaram, 
além de projetar coisas para fazer no futuro.
Essa separação em passado (coisas que foram vividas), presente (o agora) e 
futuro (projetos, sonhos), nem sempre foram ditas ou sentidas como uma divisão tem-
poral, mas o que é certo é que o ser humano conseguiu isso quando pôde, a partir das 
palavras, separar o que ele via e vivia e o que ele podia ou queria contar sobre aquilo. 
Portanto, quando conseguiu fazer abstrações. Assim, a linguagem é parte da cultura, 
mas a cultura só existe porque o homem desenvolveu a comunicação oral.
Saiba Mais
Deixamos nossa marca no mundo em que vivemos porque nós, seres humanos, somos:
• sapiens – podemos refletir e saber
• loquens – temos linguagem articulada
• faber – fabricamos artefatos e instrumentos
• symbolicus – criamos e utilizamos símbolos
• ludens – podemos usar nossa criatividade e imaginário
54
Saiba Mais
A cultura é baseada em símbolos
Grande parte do comportamento humano envolve símbolos – signos, sons, emblemas 
e outros elementos que se relacionam a algo e o representam de forma significativa. 
Como, geralmente, não há relação inerente ou necessária entre um objeto e a sua re-
presentação, os símbolos são arbitrários, adquirindo significados específicos quando as 
pessoas concordam em usá-los em sua comunicação.
[…] O aspecto simbólico mais importante da cultura é a língua, o uso de palavras para 
representar objetos e ideias. Por meio da língua, os homens conseguem transmitir a 
cultura de uma geração para outra. Em particular, a língua possibilita o aprendizado 
acumulativo de experiência compartilhada. Sem ela, uma pessoa não poderia transmi-
tir informações sobre eventos, emoções e outras experiências a pessoas que deles não 
participam.
Fonte: Adaptado de Haviland et al. (2011, p. 196-197).
A Linguagem Humana
Os gregos antigos se preocuparam em entender a linguagem. Aristóteles 
inicia a sua obra A Política afirmando que só o homem é um animal político, porque ele 
é dotado de linguagem. O interesse era saber se a linguagem seria algo da natureza 
humana (olha ela aqui mais uma vez!) ou um acordo realizado pelos próprios homens. 
Perceba que os gregos procuravam saber se as coisas tinham sentido próprio, em si 
mesmas, ou se elas eram arbitrárias, criações dos homens.
Após muitas discussões, tornou-se consenso que a capacidade de comuni-
cação pela linguagem nos seres humanos é fundamentada em uma formação biológica, 
sendo, portanto, natural. Nascemos com uma “programação” biológica (aparelhagem 
física, anatômica, nervosa e cerebral) que nos permite emitir sons, transmitir gestos e 
nos expressarmos pela palavra.
Mas como vamos nos expressar, quais combinações de letras, sons e pala-
vras expressam sentido? Isso é resultado de uma convenção. Assim, todas as línguas 
são aprendidas, logo arbitrárias, porque estão ligadas às condições históricas e resultam 
de acordos sociais. Mas, como se tornam sistemas, as línguas funcionam como se fos-
sem naturais, ninguém fica pensando em análise morfossintática quando fala em uma 
conversa com os amigos.
Na linguagem é consenso entre os estudiosos que a única forma não apren-
dida é o choro dos bebês. Esse é o momento em que o homem utiliza muito do seu 
aspecto biológico, pois ainda não aprendeu nada da sua cultura.
55
QUADRO 4 – Possibilidades de respostas sobre a origem da linguagem
Por imitação de sons
(onomatopeia)
Por imitação de 
gestos
(pantomima)
Para satisfazer neces-
sidadeDas emoções
(linguagem figurada)
Os humanos imita-
riam os sons da na-
tureza (dos animais, 
do trovão, do vulcão, 
etc.).
Os humanos deram 
inicialmente sentido 
aos gestos.
As palavras haviam 
surgido em respostas 
a várias necessida-
des, principalmente 
de abrigo e proteção.
Do grito (medo, 
surpresa ou alegria), 
do choro (dor, medo, 
compaixão), e do riso 
(prazer, bem-estar, 
felicidade).
Fonte: Chaui (1995, p. 140).
Chaui (1995) observa que essas teorias não são excludentes e que é grande 
a possibilidade de a língua ter se formado da junção dessas quatro ideias e modos de 
expressão. A filósofa continua:
Uma linguagem se constitui quando passa dos meios de expressão aos 
de significação, ou quando passa do expressivo ao significativo. Um 
gesto ou um grito exprimem, por exemplo, medo; palavras, frases e 
enunciados significam o que é sentir medo, dão conteúdo ao medo 
(CHAUI, 1995. p. 141).
É certo que muitos outros seres possuem mecanismos de comunicação, mas 
o homem possui uma linguagem articulada. A língua é, provavelmente, nas sociedades 
humanas, o que melhor pode transmitir uma cultura, tanto oral quanto escrita, pois per-
mite um aprendizado acumulativo da experiência compartilhada, principalmente no que 
diz respeito às emoções e às experiências que os individualizam. É pela linguagem que 
temos acesso ao mundo e ao pensamento.
A Argumentação Filosófica
Todo mundo em algum momento utiliza essa ferramenta própria do filosofar, 
que é a argumentação. Você sabe o que é isso? 
Quando estamos debatendo com um amigo sobre algum tema buscamos em 
nossas experiências pessoais, em nossas leituras e informações algo que justifique e sus-
tente as nossas opiniões. Partimos de um conhecimento mais simples e mais conhecido e 
vamos elaborando a questão, chegando a novas certezas a fim de convencer as pessoas 
com quem estamos conversando. Isso é argumentar!
A argumentação tanto pode ser utilizada para afirmar uma opinião como 
para negá-la, a sua função é convencer e para isso ela precisa de uma lógica.
Argumentar – é um tipo de raciocínio que busca expor de forma ordenada um conjun-
to de ideias, razões e provas que justifiquem uma opinião ou ponto de vista.
56
QUADRO 5 – Passo a passo do argumento
1º Passo
As premissas são o ponto de 
partida e nascem da nossa 
observação do mundo.
2º Passo Ao relacionar as premissas obte-mos a conclusão.
Fonte: Adaptado de Savian Filho (2010).
Nós afirmamos, no capítulo anterior, que indagar é a atitude própria da re-
flexão filosófica. Mas a Filosofia não se restringe apenas a reflexão e questionamentos 
pessoais, muitas vezes tais análises precisam ser compartilhadas, de forma que é preciso 
defender e sustentar as ideias com argumentos. 
Na verdade, isso não acontece apenas na Filosofia, a necessidade de con-
vencer acontece sempre quando falamos sobre algum assunto e queremos demonstrar 
que a nossa análise ou reflexão é a correta. Então, para convencer, buscamos explicitar 
os caminhos e as evidências que usamos para alcançar aquele pensamento.
Claro que não vamos confundir argumentação com persuasão! Podemos afir-
mar que toda argumentação é um discurso persuasivo, porém nem toda persuasão é 
uma argumentação, já que a persuasão está fundamentada na sedução e apelos poucos 
racionais ou falsas crenças.
O que na vida cotidiana chamamos de opinião, nas áreas acadêmicas são 
denominadas de conhecimento científico ou conhecimento objetivo, pois eles buscam 
responder sobre uma verdade a que nos relacionamos ou estudamos. 
A Filosofia tem na argumentação um forte aliado na busca para defender 
as suas reflexões sobre o mundo. Vimos que essas reflexões da Filosofia se orientam, 
inicialmente, contra as indicações do senso comum, não podendo, por isso, se sustentar 
apenas em conhecimentos individuais. A argumentação como instrumento da Filosofia 
precisa estar baseada em um raciocínio sólido, que a justifique e prove. Quando o argu-
mento é mais que uma opinião bem defendida ele é chamado de demonstração.
O ponto de partida do argumento é sempre as nossas vivências cotidianas 
e já vimos que o caminho é feito por uma análise crítica delas. O argumento tem assim 
dois passos fundamentais: as premissas, questões feitas a partir da observação do mun-
do cotidiano, que podem ser verdadeiras ou falsas; e a conclusão, alcançada a partir da 
relação entre as premissas.
Importante
Uma pessoa que saiba argumentar bem se baseia em todas as suas informações e leitu-
ras para poder discutir vários pontos de vista. Assim, saber argumentar agrega valor e 
aumenta a habilidade de relacionamento interpessoal muito valorizada no mercado de 
trabalho (SUAREZ, 2001).
57
Precisamos aprender a ouvir o que nos dizem, para saber se são premissas, 
ou não. Para ser um argumento, as premissas precisam ter relação entre si. Vamos ana-
lisar esse exemplo clássico:
 Todos os homens são mortais.
 Sócrates é homem.
 Logo, Sócrates é mortal.
Esse é um argumento válido, pois todas as premissas são verdadeiras e a 
conclusão também. Mas quase nunca encontraremos no dia a dia, no trabalho ou na 
conversa com amigos e familiares, uma argumentação assim arrumadinha. Muitas vezes, 
uma das premissas estará escondida em alguma afirmação que compartilhamos; essa 
premissa implícita recebe o nome de pressuposto. Observe o exemplo: Ana ama a filha, 
porque cuida bem dela. Se desmembrarmos faltará uma premissa. Fica implícita a pre-
missa (pressuposto) de que “quem ama cuida bem”. Assim, bem arrumado, o raciocínio 
apareceria assim:
 
 Quem ama cuida bem (pressuposto)
 Ana cuida bem da filha (premissa)
 Ana ama a filha (conclusão)
A parte da Filosofia que estuda a argumentação é a lógica, que pode ser 
entendida como a ciência da prova, da reflexão ou da argumentação.
Parada Obrigatória
Falamos que a Filosofia em seu início tinha preocupação com a origem de tudo, o devir 
(permanente mutação, movimento) e que todos os filósofos pré-socráticos buscavam 
encontrar na natureza o que seria esse princípio primordial. O aparecimento da lógica 
está ligado a essa discussão.
Foi a discussão sobre o devir que gerou uma oposição bastante forte entre dois filóso-
fos, Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eleia. Para Heráclito, apenas o devir era real, de 
modo que o mundo era um constante fluxo, onde tudo se transformaria ao seu contrá-
rio, embora fosse possível “perceber” algumas coisas como permanentes.
Parmênides discordava desse pensamento e dizia que o devir era uma aparência, o 
ser era idêntico a si mesmo, não mudava. Porém, nossas sensações, percepções e lem-
branças nos levam ao erro. O que existe de real não muda nunca, é permanente, é a 
identidade.
Esse problema resistiu por muito tempo, até o apogeu da Filosofia quando retorna com 
Platão e Aristóteles. Para Platão (com a sua dualidade entre mundo sensível e mundo 
58
das ideias), nessa discussão, o Heráclito estava com a razão em relação ao mundo real 
ou físico, das sensações e percepções. Mas, de acordo com as suas ideias, esse mundo 
era uma aparência, uma mera sombra do mundo verdadeiro.
O mundo das ideias era para Platão o mundo verdadeiro, de essências imutáveis, sem 
contradições, onde nada se transformava, logo sobre esse assunto quem tinha razão 
era Parmênides. Para explicar essa dualidade Platão recorreu ao Mito da Caverna, onde 
concluiu que a dialética, por meio de opiniões opostas e da argumentação, permite a 
passagem das imagens contraditórias do vivido aos conceitos que serão idênticos a 
todos os homens. Aristóteles era discípulo de Platão, mas tinha ideias próprias, acre-
ditando que essência e aparência coexistiam em um mesmo mundo. Observava que 
alguns seres tinham como essência a mudança e outros a permanência, o que para ele 
não era uma contradição, já que no seu ponto de vista a modificação era a realização da 
potência do ser. Assim, Parmênides tinha razão, pois o pensamento exige identidade, 
mas também Heráclito tinha razão, porque as coisas mudam quando se potencializam.No entanto, ambos erraram por ver identidade e mudança como algo contraditório.
Partindo para o debate com Platão, Aristóteles discordava de que a dialética fosse a 
forma segura para orientar o pensamento filosófico e científico. Afirmava que o debate 
não era suficiente para se alcançar a essência das coisas. Tornava necessário um con-
junto de regras e procedimentos de demonstração e prova. Assim surgia a Lógica (que 
inicialmente era chamada analítica), um instrumento que, antecedendo o exercício do 
pensamento e da linguagem, nos fornece meios para realizar o conhecimento.
Fonte: Adaptada de Chaui (1995, p. 180-182).
A Democracia na Grécia Antiga e a Argumentação
Você sabia que o aparecimento da democracia na antiguidade grega (fim do 
século V e todo século VI a.C.) fez com que a argumentação ganhasse grande importân-
cia na vida dos seus cidadãos? O poder de argumentação se tornou tão importante que 
passou a fazer parte da educação grega. Vamos ver como isso aconteceu.
Quando falamos de democracia e de seu nascimento, pensamos em Atenas, 
cidade grega, afinal foi lá que ela começou a se desenvolver do jeito que nós conhece-
mos. Mas, mesmo na Hélade (ou Grécia), nem sempre as coisas foram como são hoje. 
Houve um tempo em que as funções políticas, mesmo as mais simples, como a opinião 
sobre um fato da vida da cidade, ou as mais complexas, como a escolha ou o voto dos 
governantes, não faziam parte da vida dos cidadãos, até porque ainda não havia cida-
dão. Foi a chegada da democracia que possibilitou seu surgimento e o desenvolvimento 
da política.
59
Cidadão – nessa época só tinha cidadania aqueles que tinham igualdade perante a lei 
(isonomia) e poder de fala nas discussões públicas (isogoria), ou seja, a democracia gre-
ga era apenas para os homens adultos e livres. As mulheres, velhos, crianças e escravos 
estavam fora dessa festa democrática, assim como os estrangeiros.
Parada Obrigatória
Sobre a democracia ateniense:
Democracia é, em grego, a palavra que significa o governo do povo; e a democracia 
ateniense era um exemplo muito fiel de tal regime. Atenas não era como uma demo-
cracia moderna, na qual os cidadãos elegem representantes que formam um governo. 
Ao invés disso, cada cidadão tinha o direito de participar em pessoa no governo, com-
parecendo numa assembleia geral onde podia ouvir os discursos dos líderes políticos e 
depois dar o seu voto. 
Para ver o que isso significaria em termos atuais, imagine os membros do governo e da 
oposição falando na televisão durante duas horas, após a apresentação seria tomada 
a decisão com base nos votos fornecidos por cada espectador ao clicar ou o botão do 
«sim», ou o botão do «não» do televisor. Para tornar o paralelo rigoroso, teria de acres-
centar-se que apenas aos cidadãos do sexo masculino, com mais de 20 anos, seria per-
mitido clicar o botão, mas não às mulheres, nem às crianças, escravos ou estrangeiros.
Fonte: Adaptado de Kenny (2003, p. 46).
Com a democracia, a eleição tornou-se direta e os cidadãos passaram a se 
autorrepresentar nas decisões públicas que aconteciam nas assembleias da ágora. Todos 
os cidadãos tinham o direito de exprimir, discutir e defender as suas opiniões, mas para 
isso eles precisavam argumentar e conseguir persuadir a maioria dos presentes. 
A necessidade de ser um bom argumentador fez mudar a educação, que 
antes era baseada no ideal aristocrático do guerreiro belo e bom. Na nova Atenas, os 
Saiba Mais
Atenas foi a cidade grega que concentrou o ideal da democracia. Centrada nos estudos, 
era uma cidade aberta para o mar (península Ática), por isso recebeu muitas influências 
externas, principalmente relacionadas ao desenvolvimento artístico e cultural. A litera-
tura, a arquitetura e a oratória eram atividades bastante desenvolvidas, mas que apenas 
eram possíveis para as famílias de posses, pois se desenvolvia com a dedicação ao ócio.
60
Retórica – arte de falar em público de forma eficaz e persuasiva.
jovens precisavam ser bons oradores, ou seja, precisam saber falar bem em público e 
persuadir os seus antagonistas na política, fazendo surgir a retórica, a partir da palavra 
o orador designava o cidadão que iria falar em praça pública.
Dica de Vídeo
O Enigma de Kaspar Hauser (Jeder für Sich und Gott Gegen Alle), filme ale-
mão de 1974.
Diretor: Werner Herzog
Duração: 110 min.
Gênero: Drama, histórico, biografia.
Ágora – essa palavra grega deriva de comércio, mas também de reunião. Era a prin-
cipal praça onde ocorriam as feiras e mercados das cidades gregas da Antiguidade 
clássica. Por ser um lugar que reunia muita gente, era lá que as discussões sobre os 
assuntos importantes aconteciam.
Se antes os jovens eram educados pelos poetas e poemas, agora surgia a 
figura dos sofistas prontos para ensinar a retórica. Os sofistas você já conheceu, pois 
vimos no capítulo 1, lembra-se? O discurso retórico visava à ação na cidade e, por isso, 
teve como proposta convencer os que os escutavam, o que permitiu aos sofistas se 
apoiarem na simples opinião, e não no conhecimento verdadeiro. Como arte de bem 
falar, para os gregos, a retórica era o bom uso do argumento no discurso para ganhar 
uma causa, mas também era o uso das técnicas de persuasão e manipulação do dito. 
Como o filosofar inicialmente era realizado na ágora, por meio do diálogo, a arte de bem 
argumentar e demonstrar era uma ferramenta importantíssima.
Hoje, a arte da boa argumentação está presente em todos os âmbitos da 
nossa vida, principalmente no trabalho. Um administrador vai utilizá-la em muitas situa-
ções em seu trabalho para comunicar informações ou para motivar sua equipe. Lembran-
do que argumentar não é discutir com os colaboradores nem com os clientes, mas sim 
chamá-los a conhecer melhor o assunto que você apresenta, é gerenciar a informação 
que você tem a oferecer pelas demonstrações e provas.
61
Resumo
Este capítulo mostrou como a Filosofia está bem envolvida com a vida co-
tidiana, pois está relacionada com a questão sobre o que é o homem. Analisamos com 
a reflexão filosófica o que é o ser humano. Vimos que o ser humano, além de ser um 
animal, é também um ser cultural. Estudamos ainda o importante papel da linguagem 
para a formação do pensamento abstrato, simbólico. Observamos como a habilidade de 
pensar e argumentar é uma característica essencial do ser humano, assim como a pos-
sibilidade de conhecer e agir sobre o mundo que está ao seu redor. 
Sintetize
Vamos refletir um pouco sobre o assunto estudado neste capítulo.
1. Faça suas considerações sobre a seguinte frase: “Podemos afirmar que o ato humano 
é totalmente biológico e cultural”. 
2. Com suas palavras, diferencie o ser humano como biológico e como cultura.
3. Escreva um texto crítico sobre o papel da linguagem na constituição do ser humano.
4. Desenvolva uma análise sobre a frase: “O homem é um animal simbólico”. 
Textos Complementares
O que é a arte da persuasão?
Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, que apren-
diam a defender a posição ou opinião A, depois a posição ou opinião contrária, não-A, 
de modo que, numa assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra 
uma opinião e ganhassem a discussão.
Fonte: Chaui (1995, p. 37).
62
Natureza Humana
Mas será pertinente falar em “natureza humana”? O filósofo Renato Janine 
Ribeiro, da Universidade de São Paulo (USP), acredita que não: a diversidade de com-
portamentos e valores que encontramos em diferentes sociedades desmentiria a ideia 
de uma natureza única e imutável. Ele afirma que mesmo características tidas como 
universais sofrem alterações ao longo da história. O amor aos filhos é um exemplo: em 
Esparta, a prática do infanticídio era comum. O filósofo Luiz Felipe Pondé, professor da 
Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e pesquisador convidado da Uni-
versidade de Marburg, Alemanha, discorda: “Natureza humana, como todo conceito, 
pode sofrer alterações, mas acredito que uma certa permanência de comportamentohumano possa ser confirmada. Mesmo acerca do relativismo antropológico, ainda que 
mudem os valores, o animal humano permanece um animal moral, o que significa que 
faz parte da sua natureza a percepção do mundo ao seu redor via estabelecimento de 
valores”. No entanto, Edson Souza diz que, do ponto de vista da psicanálise, o homem 
é o ser mais desprovido em termos naturais. O bebê depende por mais tempo da mãe: 
“Nossa dependência em relação ao outro está inscrita no nosso corpo. E essa relação é 
mediada pela palavra, pela linguagem. As inscrições do código genético não são sufi-
cientes para a construção do objeto em que investimos o nosso afeto”, afirma. 
Como se vê, há uma grande pluralidade na abordagem do assunto. De acordo 
com Pinker, porém, a visão relativista tornou-se o paradigma predominante das ciências 
humanas. O modelo corrente – que ele acredita remontar à obra do filósofo inglês John 
Locke (1632-1704) – seria o da tábula rasa: o ser humano não traz nenhuma característica 
inata. Nasce como uma folha em branco, na qual a sociedade vai imprimir seus valores 
básicos. Dessa visão fundamental surgiriam duas convicções subsidiárias: a ideia de que o 
homem em estado natural é bom e a sociedade o perverte, cuja formulação mais conhe-
cida é o “bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). A outra é o chamado 
dualismo filosófico, de René Descartes (1596-1650): a crença de que corpo e alma são 
entidades distintas.
Fonte: Teixeira (2003).
63
Abstrato/concreto
Muitas pessoas utilizam o termo “abstrato” para referir algo impreciso, 
vago, sem conexão com a realidade e sem objetividade. Mas isso é incorreto. Um termo 
refere algo abstrato se aquilo que é referido por esse termo não tem existência espaço-
temporal, isto é, se não existe num lugar qualquer nem num determinado momento. 
Por exemplo, a justiça é uma entidade abstrata, pois não tem localização espaço-tem-
poral, não se podendo confundir com os casos concretos de situações justas, que têm 
localização espaço-temporal. As propriedades são, pois, exemplos típicos de “coisas” 
abstratas; a propriedade de ser árvore, por exemplo, não se confunde com as próprias 
árvores. Cada árvore em particular é concreta, dado que existe no espaço e no tempo; 
mas a própria propriedade de ser árvore é abstrata dado que não existe no espaço nem 
no tempo. Supostamente, os números e as proposições também não têm existência 
espaço-temporal, pelo que são exemplos comuns de entidades abstratas. Por sua vez, 
diz-se que uma entidade é concreta se tem uma existência espaço-temporal, ou seja, 
se existe ou existiu numa dada ocasião, num certo sítio. Assim, a árvore que está nes-
te momento à entrada do portão principal da minha escola é uma entidade concreta. 
Exemplos de entidades concretas são também a dor de dentes que tive hoje à tarde, o 
suspiro de Pedro ao ver Inês, a ponte Vasco da Gama, a Marisa Cruz, etc. Esta distinção 
nem sempre é pacífica: os nominalistas, por exemplo, rejeitam a existência de entidades 
abstratas.
Fonte: Aires (2003).
Linguagem
[...] Muito mais do que um meio, a linguagem é algo como um ser, e é por 
isso que consegue tão bem tornar alguém presente para nós: a palavra de um amigo 
no telefone nos dá ele próprio, como se estivesse inteiro nessa maneira de interpelar e 
de despedir-se, de começar e terminar as frases, de caminhar pelas coisas não-ditas. O 
sentido é o movimento total da palavra, e é por isso que nosso pensamento demora-se 
na linguagem. Por isso também a transpõe como o gesto ultrapassa os seus pontos de 
passagem. No próprio momento em que a linguagem enche nossa mente até as bordas, 
sem deixar o menor espaço para um pensamento que não esteja preso em sua vibração, 
e exatamente na medida em que nos abandonamos a ela, a linguagem vai além dos 
“signos” rumo ao sentido deles. E nada mais nos separa desse sentido: a linguagem não 
pressupõe a sua tabela de correspondência, ela mesma desvela seus segredos, ensina-
-os a toda criança que vem ao mundo, e inteiramente mostração. Sua opacidade, sua 
obstinada referência a si própria, suas retrospecções e seus fechamentos em si mesma 
são justamente o que faz dela um poder espiritual: pois torna-se por sua vez algo como 
um universo capaz de alojar em si as próprias coisas - depois de as ter transformado em 
sentido das coisas.
Fonte: Merleau-Ponty (1991, p. 45).
64
Atividades
1. Após realizar uma leitura atenta do capítulo 2, analise a afirmação a seguir e anote as 
conclusões no seu portfólio: “O homem é um ser eminentemente sociocultural”.
2. Cite dois exemplos de atitudes ou realizações humanas que parecem naturais, mas 
que são diferentes de uma cultura ou grupo para outro, e explique o por quê.
3. Reflita atentamente sobre a afirmação a seguir e disserte sobre o papel da abstração 
na vida humana: “É por meio da linguagem e do trabalho que o homem dá sentido ao 
mundo”.
4. A linguagem é natural ao ser humano ou uma convenção social? Responda a questão 
tendo como base as leituras sobre o tema linguagem e cultura.
5. Com base nas leituras realizadas durante o capítulo 2, explique o que significa dizer 
que temos e somos linguagem?
Anotações
65
CoNHeCimeNto e suAs diFereNtes FormAs de ComPreeNsão dA reAlidAde
Capítulo 3
66
Neste capítulo, já familiarizado com alguns conceitos filosóficos, além dos 
conceitos de sociedade, cultura, antropologia e linguagem, iremos esboçar em linhas 
gerais as diferentes formas de conhecimentos ou como construímos o conhecimento.
Ao fim do capítulo, você será capaz de:
• explicar o que significa conhecer;
• identificar formas diferentes de conhecimento;
• reconhecer de que maneira construímos os nossos conhecimentos sobre 
o mundo;
• compreender o trabalho enquanto atividade humana;
• identificar o que é uma organização;
• reconhecer a importância do conhecimento e da comunicação nas 
organizações.
Introdução
O que Significa Conhecer?
E então: quem diz o que se diz? Sem dúvida, cada um de nós; mas 
dizemos o que dizemos como o guarda nos impede o passo; dizemo-
lo, não por conta própria, mas por conta desse sujeito impossível de 
capturar, indeterminado e irresponsável que é a gente, a sociedade, a 
coletividade. Na medida em que penso e falo - não por própria e indi-
vidual evidência, mas repetindo isso que se diz e que se opina - minha 
vida deixa de ser minha, deixo de ser personagem individualíssimo que 
sou e atuo por conta da sociedade: sou um autônomo social, estou 
socializado (GASSET, 1960, p. 206-207).
Você já pensou sobre o que é o conhecimento? Ou como ele acontece? Neste 
capítulo, vamos tratar um pouco sobre esse tema instigante!
O conhecimento ou o que podemos definir enquanto conhecimento relacio-
na-se às informações que recebemos ao longo da vida por meio das experiências formais 
ou informais, ou seja, informações que nos chegaram pela escola, família, sociedade, 
etc. Mais precisamente o conhecimento está relacionado ao conteúdo de sentido que 
damos às nossas experiências cotidianas. Assim, podemos afirmar que construímos o 
conhecimento de mundo dando significado às ideias e conceitos que recebemos durante 
toda a nossa existência.
67
Atenção
A intenção neste capítulo é fornecer de forma geral e ampla os caminhos para a compre-
ensão da dimensão do processo do conhecimento. Esperamos que, ao final, você esteja 
em condições de pensar e refletir numa perspectiva crítica sobre como adquirimos co-
nhecimento e sua importância para a condução das nossas ações.
Gabriel, o Pensador O Pensador, de Auguste Rodin
O conhecimento é a construção de significados que as pessoas e a 
sociedade fazem sobre o mundo, a partir de experiências da vida coti-
diana. Podemos dizer que é a compreensão da realidade, ou seja, das 
ideias que construímos, é o resultado da nossa relação com o mundo 
(ALECRIM, 2010, p. 39).
No capítulo anterior, discutimos sobre o ser humano como um ser biológico e 
cultural. Vimos ainda que a linguagem tem um papel fundamental para o pensar e,desse 
modo, para a possibilidade de filosofar. A linguagem é a característica essencial do ser 
humano, ela nos torna capazes de conhecer e agir sobre o mundo.
A importância da linguagem aparece, neste capítulo, relacionada à cons-
trução do conhecimento, pois somos seres sociais e, como tais, necessitamos nos co-
municar, transmitir informações sobre o que sentimos, o que pensamos e para tanto 
utilizamos a linguagem. Assim, podemos afirmar que é por meio da linguagem que 
conhecemos e pensamos o mundo. 
Existem duas formas de nos expressarmos pela linguagem: a escrita e a ora-
lidade. A comunicação é mais fácil quando utilizamos a linguagem oral, já que é comum 
nesses momentos, principalmente na comunicação face a face, usarmos recursos corpo-
rais, tais como as expressões faciais, os gestos com as mãos, entre outros. São os recursos 
extratextuais.
Fonte: Acervo NEAD/Unoeste (2012).
68
A outra forma de linguagem é a escrita, mais difícil que a oral, pois neces-
sitamos ter conhecimento das regras da gramática normativa, morfossintáticas, para 
construirmos argumentos textuais que expressem nossas ideias e conceitos. 
Conhecemos o mundo por meio da leitura que fazemos ou como nos colo-
cou Freire (1982, p. 08): “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a 
leitura desta implica a continuidade da leitura daquela”. Podemos concluir, então, que 
aquilo que nos é apresentado tanto pela linguagem oral quanto pela escrita é o que vai 
construir o nosso conhecimento. Mas essa leitura de mundo, como é colocada por Freire 
(1982), não deve se dar sem uma reflexão, não somos sujeitos passivos diante do co-
nhecimento que nos é apresentado. No entanto, devemos ficar atentos porque nem todo 
contato com o mundo gera ou pode gerar conhecimento.
Atenção
No campo filosófico, o conhecimento pode ser estudado sob dois ângulos: como ação 
humana sobre algo a ser conhecido e como bem da humanidade, construído individual 
e coletivamente (ALECRIM, 2010, p. 39).
Há diferença de falar em conhecimento como uma ação humana, pratica-
mente uma relação individual entre um sujeito que conhece e um objeto a ser conheci-
do, e falar em conhecimento como um conjunto de entendimento humano sobre o mun-
do, o resultado cultural da interpretação do mundo (ALECRIM, 2010, p. 39). Observe as 
análises desses dois sentidos da possibilidade do conhecimento realizada a seguir:
Embora usemos no dia a dia o termo ‘conhecer’ para qualquer situ-
ação de contato do sujeito com o mundo, não podemos usá-lo sem 
refletir. Às vezes, não chegamos a conhecer algo totalmente; apenas 
o percebemos ou sentimos. Conhecer é algo mais complexo do que 
imaginamos.
No primeiro sentido, conhecer é trazer para o sujeito algo que se põe 
como objeto. É o processo pelo qual o sujeito leva para sua consciência 
algo que está fora dela. Podemos afirmar que o conhecimento se mani-
festa na tradução cerebral de um objeto na medida em que o renasci-
mento do objeto conhecido em novas condições passa existir dentro do 
sujeito conhecedor (ALECRIM, 2010, p. 39).
Devemos lembrar que na comunicação utilizamos os termos emissor e re-
ceptor para se referir aos integrantes da interação.
Emissor – que emite, codifica a mensagem.
Receptor – que recebe, decodifica a mensagem.
69
Pare e Reflita
Já ouviu falar em Francis Bacon? Muito provavelmente sim. Bacon viveu entre 1561 e 
1626, foi filósofo e ensaísta inglês, considerado o fundador da ciência moderna. É dele 
a máxima que diz que “saber é poder”. Vamos refletir a partir das considerações feitas 
por ele a seguir:
Meu elogio será dedicado à própria mente. A mente é o homem, e o conhecimento é a 
mente; um homem é apenas aquilo que ele sabe [...] Não são os prazeres das afeições 
maiores do que os prazeres dos sentidos, e não são os prazeres do intelecto maiores do 
que os prazeres das afeições? Não se trata, apenas, de um verdadeiro e natural prazer 
do qual não há saciedade? Não é só esse conhecimento que livra a mente de todas as 
perturbações? Quantas coisas existem que imaginamos não existirem? Quantas coi-
sas estimamos e valorizamos mais do que são? Essas vãs imaginações, essas avalia-
ções desproporcionadas, são as nuvens do erro que se transformam nas tempestades 
das perturbações. Existirá, então, felicidade igual à possibilidade da mente do homem 
elevar-se acima da confusão das coisas de onde ele possa ter uma atenção especial para 
com a ordem da natureza e o erro dos homens? Existirá apenas uma ideia de deleite, 
e não de descoberta? De contentamento e não de benefício? Será que não devemos 
perceber tanto a riqueza do armazém da natureza quanto a beleza de sua loja? Será 
estéril a verdade? Não podemos, através dela, produzir efeitos dignos e dotar a vida do 
homem com uma infinidade de coisas úteis?
Fonte: Durant (1996, p. 88).
Diferentes Formas de Conhecimento
O conhecimento está atrelado à extrema curiosidade do ser humano, essa 
curiosidade tem por objetivo interferir, modificar ou explicar o mundo. Outras vezes, o 
conhecimento pode ser apenas resultado de repetições de vivências. Essas várias pos-
sibilidades de se relacionar com o mundo fornecerão muitas formas de conhecimento.
Vamos começar nossa investigação com o tema: o conhecimento filosófico. 
Das formas de conhecer existentes, o conhecimento filosófico se volta para o entendi-
mento das essências das coisas, ou seja, busca a verdade última das coisas.
Um exemplo ajudará a nossa compreensão. Imagine que aconteceu um aci-
dente de avião. Considerado a forma mais segura de transporte, acidentes assim não são 
frequentes, mas a cada acidente aumenta o receio da maioria das pessoas em usar esse 
meio de transporte. Um filósofo vai buscar entender o que é um acidente de avião, o que 
pode derrubar um avião em pleno voo. Sabendo que estatisticamente um acidente aéreo 
70
possui diferentes causas, o filósofo não se deixará levar por um pensamento do senso 
comum, que acredita que voar é perigoso, e sim de que maneira um acidente com um 
meio de transporte tão seguro pode ocorrer e quais as consequências desse acidente.
O conhecimento filosófico busca refletir os conceitos, não aceita como verda-
de uma premissa sem questioná-la, sem refletir sobre como determinado argumento foi 
construído, tenta ir além da primeira impressão do objeto apresentado ao conhecimento.
Senso comum – primeira impressão que temos do mundo e que não segue uma aná-
lise sistemática e crítica. Também chamado de conhecimento vulgar. Resulta de nos-
sas vivências práticas do cotidiano.
Premissa – ponto de partida para formar um raciocínio lógico, informação inicial que 
sustenta um raciocínio ou um estudo.
O conhecimento religioso é outra forma de ver as coisas, de buscar explica-
ções para o mundo. Nessa forma de conhecimento, que foi a primeira encontrada pelo 
homem para explicar os fenômenos naturais, as explicações passam pelo divino.
Por exemplo, em muitas religiões existe a crença de que quem criou o mun-
do e todas as coisas foi um único ser, e ele está presente em tudo que acontece no 
mundo humano. Dependendo da fé que se comungue, pode ter diferentes leituras de 
mundo, dependendo dos dogmas de cada religião.
Dogma – princípios fundamentais que regem uma religião, por esse motivo é visto 
como um fato certo e indiscutível.
Os religiosos buscam as respostas para os questionamentos dos fenômenos 
humanos no divino, para eles a palavra está escrita nos livros sagrados de cada religião 
(Bíblia, Alcorão, Torá). Esses livros funcionam como guia para entender a realidade. Do 
ponto de vista do conhecimento filosófico é preciso realizar uma interpretação herme-
nêutica da realidade.
Hermenêutica – é uma palavra de origem grega que significa interpretar. Assim, 
sempre está relacionada a uma teoria da interpretação de sinais e símbolos de deter-
minada cultura. Quando se volta sobre a leitura das escrituras sagradas, a hermenêu-
tica se refere ao estudo da interpretação da palavra de Deus.
O mundo também pode ser conhecidode uma forma mais simples pelo 
senso comum. Esse tipo de conhecimento não busca explicações mais profundas dos 
fenômenos, passa de geração em geração, na maioria das vezes de forma oral, e grosso 
modo explica os nossos problemas de uma forma prática. 
71
Muitas vezes, nos serve de conforto para aquilo que não conseguimos expli-
car. Usamos esse conhecimento durante toda a nossa existência, pois a sua origem está 
relacionada ao nosso aprendizado familiar e prático do mundo. Assim, é um conheci-
mento que adquirimos de forma espontânea, pela educação, a partir da nossa cultura, 
da história da nossa família, do convívio com os amigos e atualmente pelas redes sociais.
Por último, falaremos do conhecimento científico que é uma forma de conhe-
cer criteriosa e rigorosa, com interesse em explicar o mundo e as coisas do mundo por 
meio da observação e da pesquisa. O conhecimento científico busca, pela análise, cons-
truir um sistema coerente de teorias e hipóteses, assim como descobrir leis objetivas que 
expliquem os fenômenos da natureza.
Sobre essas formas de conhecer é preciso ficar atento, pois, embora o senso 
comum nos dê uma sensação de conforto, ele sempre nos oferece um conhecimento 
simples, resultado do nosso cotidiano e, portanto, passível ao erro. Por isso que as ra-
zões utilizadas pelo senso comum, de maneira geral, não devem ser confundidas com a 
racionalidade filosófica.
Cabe ressaltar que mesmo as pessoas com menos sabedoria intelectual têm 
condições de organizar as ideias e se expressar. Lembre-se que falar que o senso comum 
é uma forma simples de interpretar o mundo, não é afirmar que é um conhecimento 
menor ou menos importante. 
Até hoje afirmamos que o sol nasce mesmo sabendo cientificamente que 
ele está parado e que é a Terra que se move. Mas é o “nascer do sol” que nos permite 
interação na nossa vida cotidiana.
Dessa forma, não podemos cair no lugar comum do maniqueísmo, que um 
é bom e o outro é mau ou simplório, são formas diferentes de apreender os fenômenos, 
algumas vezes complementares e outras não, mas sempre importantes para podermos 
ir além do que nos foi apresentado.
Agora, vamos fazer os percursos históricos do pensamento humano, reto-
mando conceitos já trabalhados e relacionando-os com a história. Enfatizar os temas 
é importante para a correlação com os fatos históricos e para uma melhor fixação dos 
conceitos.
Importante
A busca para compreender a realidade faz parte da natureza humana e existiu em todo 
lugar onde um grupo humano se reuniu, porém, para nós, ocidentais, os questionamen-
tos do mundo grego é que são de enorme importância.
72
O coração, se pudesse pensar, pararia
“Considero a vida uma estalagem
onde tenho que me demorar
até que chegue a diligência do abismo.
Não sei onde me levará, porque não sei nada. 
Poderia considerar esta estalagem uma prisão,
porque estou compelido a aguardar nela;
poderia considerá-la um lugar de sociáveis,
porque aqui me encontro com outros. 
Não sou, porém, nem impaciente nem comum.
Deixo ao que são os que se fecham no quarto,
deitados moles na cama onde esperam sem sono;
deixo ao que fazem os que conversam nas salas,
de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até 
mim. 
Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos
nas cores e nos sons da paisagem,
e canto lento, para mim só,
vagos cantos que componho enquanto espero. 
Para todos nós descerá a noite 
e chegará a diligência. 
Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não 
interrogo mais nem procuro. 
Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder,
relido um dia por outros, entretê-los
também na passagem, será bem. Se não o lerem,
nem se entretiverem, será bem também”.
Fernando Pessoa (2006, p. 40-42).
A História do Pensamento Moderno
Para falar do desenvolvimento do pensamento moderno torna-se necessária 
uma breve análise do contexto histórico, vamos começar amarrando todas essas ideias 
com o que já aprendemos.
Vimos no capítulo anterior que com o surgimento da Filosofia na Grécia anti-
ga, no século V a.C., a história do pensamento humano tomou um novo rumo, pois, an-
tes de o conhecimento filosófico surgir, os homens buscavam na mitologia a explicação 
para a existência humana e o aparecimento dos fenômenos naturais, os deuses orienta-
vam todos os aspectos das nossas vidas. Mesmo após o surgimento do que chamamos 
de Filosofia até o período da Idade Média, o homem se dividia entre a fé e a razão.
73
Nos séculos XIV e XV surgem novas formas de organização social, pro-
vocando uma crise que culmina com a contestação de velhas tradições 
e o rompimento da ciência com a religião. O pensamento renascentista 
apregoa que o homem é capaz de decidir por si, sente-se livre e coloca-
se na posição de centro do Universo, buscando objetividade nas suas 
experiências.
A explicação para os fenômenos naturais e o mundo deixa de ser deter-
minada pelo sagrado e este se torna um objeto de uso para o próprio 
homem, embora a crença em Deus permanecesse. O trabalho intelec-
tual, a partir desse período, torna-se mais intenso e individualizado e a 
religiosidade, uma decisão íntima (ALECRIM, 2010, p. 40).
Ao fim da Idade Média, a Europa sofreu grandes transformações em função 
das duas grandes revoluções burguesas (a Industrial e a Francesa). Tais mudanças, 
decorrentes das vontades e ações do homem, colocaram em pauta uma nova forma 
de analisar o mundo. Se antes todas as explicações eram teológicas e dogmáticas, as 
transformações fizeram o homem moderno se ver como centro da discussão, gerando a 
mudança de paradigmas no pensamento Ocidental. Novas respostas surgiram também 
para explicar o que é ciência e como ela influencia na sociedade.
A religião era o pilar do pensamento humano durante quase toda a Idade 
Média, o que não quer dizer, como erroneamente pensamos muitas vezes, que não se 
avançou no conhecimento. Importante é ter em mente que o Ocidente, nessa época, 
tinha como poder central a Igreja e que por muito tempo ela deteve o poder de decisões 
sobre o que o homem podia pensar enquanto respostas para todas as suas questões, 
fato que sem dúvida impedia o questionamento humano de ir além dos ditames da fé e 
da religião. O homem não era senhor de suas ações, muito menos do seu destino.
Vários fatores influenciaram nessa mudança: o mercantilismo, as grandes 
navegações do século XIV, o descobrimento de novos continentes e o contato com outras 
formas de culturas, a decadência do sistema feudal, a modificação tecnológica. Essas 
novidades geraram novas leituras de mundo, de compreensão da realidade por meio da 
razão, transformando a visão do homem frente esse novo mundo que se apresentava. A 
razão, e não mais a fé, é que passava a explicar o real.
Outro importante aspecto que deve ser destacado é o fortalecimento do 
Estado laico. A separação entre a Igreja e o Estado teve papel fundamental para a ra-
cionalização não só dos processos produtivos, mas também na transformação do pen-
samento humano, pois a fé e a Filosofia não mais davam conta das respostas cada vez 
mais complexas sobre a condição e o mundo humano.
Paradigma – princípio que orienta um sistema teórico; referência, algo que serve de 
exemplo geral ou modelo; padrão.
74
Olhando essas mudanças mais de perto, podemos perceber que a complexi-
dade dos fenômenos naturais e sociais, e mesmo dos próprios indivíduos, nos faz enten-
der que os questionamentos filosóficos se manifestam em cada época como problemas 
históricos. Há sempre um novo aspecto que ainda não foi desvelado, uma nova questão 
a ser respondida, novos caminhos a serem percorridos e possíveis respostas a serem 
alcançadas nesse constante ciclo que se renova a cada avanço do pensamento humano.
Vamos olhar mais de perto o que motivava as análises e as instigações nes-
ses dois períodos (Idade Média e Renascimento).
Na Idade Média, o pensamento cristão dominava o conhecimento humano, já 
que era a esfera divina que governava e orientava o mundo humano. Um dos temas mais 
constanteseram as possíveis provas da existência de Deus e da alma, isto é, tentava-se 
mostrar de forma racional a existência do infinito criador e do espírito humano imortal. 
A religião buscou na filosofia grega elementos para justificar a sua fé, e 
dois padres tornaram-se expoentes nesse tipo de análise: Tomás de Aquino, que se 
inspirou na filosofia de Aristóteles, e Santo Agostinho, que apoiava sua compreensão da 
verdade no mundo nas ideias de Platão.
Tomás de Aquino – viveu entre 1227-1274, na Itália. Discutiu o método das ciências 
teóricas e pensou uma filosofia (conhecimento evidente, racional) distinta da teologia 
(conhecimento revelado). Sua teoria previa o conhecimento humano em dois mo-
mentos: sensível (de apreensão sensível do objeto) e intelectual (processo de trans-
cendência para alcançar a essência das coisas).
Para Santo Agostinho, os sentidos, assim como o intelecto, são fontes de 
conhecimento; no entanto, a razão só chegaria ao conhecimento por um processo de 
iluminação divina. Faz uma relação com as ideias platônicas de modo que essa luz espiri-
tual é a verdade de Deus, e é ela que oferece as verdades eternas, os princípios formais 
de todas as coisas que serão representadas na vida terrena.
Santo Agostinho – viveu no período 354-430. Filho de mãe cristã e pai pagão, ape-
nas aos 20 anos se converteu ao catolicismo. Seu livro mais famoso é Cidade de Deus, 
retratando de forma filosófica a história universal. Nessa obra de forte teor moral, o 
autor discute sobre a criação, o pecado original e a redenção, oferecendo as bases 
cristãs da história humana.
Importante
Mesmo muitos séculos depois das descobertas científicas em todos os campos do saber, 
ainda não é possível concluir sobre a existência de uma forma única de compreender e 
experimentar o mundo.
75
No renascimento, a religião e a filosofia passaram a ter uma mesma fonte e 
juntas poderiam levar à verdade, propondo uma síntese entre a revelação (aquilo que se 
encontra nas sagradas escrituras, a Bíblia), a magia e a razão. 
Não se deve esquecer que a afirmação de Galileu quase o levou a ser 
queimado na fogueira durante a inquisição, pois o novo conhecimento contido em suas 
teorias contrapunha aos dogmas religiosos.
FIGURA 10 – Galileu Galilei, conside-
rado um dos principais representan-
tes do Renascimento Científico
Fonte: Wikimedia Commons (2012). Fonte: Acervo NEAD/Unoeste (2012).
FIGURA 11 – A Terra gira em torno do Sol, teoria 
heliocêntrica de Copérnico, reafirmada por Galileu
Galileu Galilei (1564-1642) – físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano. Teve 
papel preponderante na chamada Revolução Científica. Foi perseguido pela inquisi-
ção por suas ideias que afirmavam a teoria heliocêntrica do sistema solar, de Copérni-
co. Essa teoria dizia que a Terra e os demais planetas giravam em torno do sol (helio, 
em grego), que era o centro do Universo, e se opunha a teoria geocêntrica, defendida 
pela Igreja Católica, que afirmava que a Terra era o centro de um Universo finito.
Saiba Mais
Inquisição – a palavra vem de inquerir, pesquisar. No sentido histórico, refere-se a um 
tribunal investigativo, surgido na Idade Média, em defesa da fé católica. Diz respeito ao 
esforço da Igreja Católica de identificar e punir as pessoas que professavam crenças e 
práticas de outras religiões, os chamados hereges. O medo de que as ideias inovadoras 
gerassem dispersão do ideal católico fez com que cientistas e artistas fossem alvos de 
censura e perseguição.
76
FIGURA 12 – Obra de Caravaggio
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
Caravaggio refugiou-se na Sicília para fugir da 
inquisição.
Na chamada modernidade, o homem foi colocado como sujeito da história e 
fundamento para o domínio racional da natureza. A filosofia moderna engloba os pensa-
mentos filosóficos do final da Idade Média até o século XIX e é comum ser dividida em 
filosofia da Renascença e Moderna. A filosofia da Renascença aconteceu com a retomada 
de valores clássicos anteriores àqueles construídos durante a Idade Média. A filosofia 
moderna abarcava o Iluminismo com o predomínio da razão e valorização da ciência 
e da técnica. Outra característica é a “queda” do teocentrismo, que perdeu lugar para o 
antropocentrismo.
Iluminismo – movimento surgido na França durante o século XVII, defendia o domí-
nio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média.
Saiba Mais
Vamos compartilhar com você trechos interessantes de um artigo sobre o Iluminismo.
[...] Teve seu apogeu no século XVIII, e passou a ser conhecido como Século das Luzes. O 
Iluminismo foi mais intenso na França, onde influenciou a Revolução Francesa através 
de seu lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Também teve influência em outros 
movimentos sociais como a independência das colônias inglesas na América do Norte e 
na Inconfidência Mineira, ocorrida no Brasil.
Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém era corrompido 
pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de 
uma sociedade justa, com direitos iguais a todos, a felicidade comum seria alcançada. 
Por esta razão, eles eram contra as imposições de caráter religioso, contra as práticas 
mercantilistas, contrários ao absolutismo do rei, além dos privilégios dados à nobreza e 
ao clero.
[...]
77
Atenção
O pensamento científico moderno só foi possível porque alguns pensadores contes-
taram o senso comum e os dogmas que orientavam o pensamento religioso da época. 
A busca era por investigar os fenômenos, saber por que eles aconteciam e como acon-
teciam, ou seja, o desejo era superar as impressões cotidianas respondidas pelo senso 
comum e tentar desvendar os mistérios da natureza e da vida social.
O uso do método racional (conhecimento indutivo, por meio da observação e da re-
petição do evento para confirmá-lo) construiu as bases para a revolução tecnológica 
ocorrida no início da modernidade.
Entre os filósofos expoentes do Iluminismo destacamos René Descartes, 
considerado pai da filosofia moderna. Juntando-se com Galileu e outros, foram os res-
ponsáveis pela revolução intelectual do século XVIII, por terem articulado alguns dos 
pressupostos centrais daquilo que hoje denominamos perfil científico moderno.
Os principais filósofos do iluminismo foram: John Locke (1632-1704); Voltaire (1694-
1778); Jean-Jacques Rousseau (1712-1778); Montesquieu (1689-1755), além de Jean 
Le Rond d’Alembert (1717-1783) e Denis Diderot (1717-1784), que juntos organiza-
ram uma enciclopédia que reunia todo o pensamento filosófico da época.
Fonte: Sua Pesquisa (2011).
Descartes foi o criador do método que serviu de base para ciência contempo-
rânea, a sua teoria oferecia uma visão dualista do homem: a mente separada do corpo. 
Apaixonado pela matemática, que para ele era a única ciência que permitia a evidência 
do raciocínio, buscava elaborar uma teoria que afirmasse a eficácia da razão e garantisse 
uma verdade universal. Assim, no Discurso sobre o Método, obra na qual fundamentou 
seu pensamento, utilizou o raciocínio matemático para buscar a prova da existência de 
Deus e da primazia da alma sobre o corpo.
FIGURA 13 – René Descartes
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
Considerado o precursor da filosofia moderna.
78
Saiba Mais
Cogito ergo sum “Penso, logo existo.” A célebre frase, talvez a mais famosa da história 
da filosofia, aparece primeiro em francês – je pense donc je suis – na Parte IV do Dis-
curso (1637): “Notei que, enquanto tentava pensar que tudo era falso, eu, que assim o 
pensava, era algo. E observando que essa verdade – Penso, logo existo – continha em 
si tamanha certeza e firmeza que resistia incólume às mais extravagantes suposições 
dos céticos, julguei que poderia aceitá-la, sem escrúpulos, como princípio da filosofia 
que procurava” (AT VI 32: CSM I 127). A formulação em latim aparece nos Princípios 
da Filosofia (1644), onde se descreve o enunciado cogito ergo sum como “a primeira e 
mais segura descobertaque pode ocorrer àquele que filosofa de modo ordenado” (Parte 
I, art.7).
A frase canônica não aparece no lugar em que Descartes trata de sua metafísica da ma-
neira mais completa, isto é, nas Meditações; é neste trabalho, no entanto, que Descartes 
oferece a explicação mais clara de por que o conhecimento da própria existência deve 
ser o primeiro e mais seguro passo no caminho para o conhecimento das demais coisas.
Fonte: Cottingham (1995, p. 37).
Apesar de toda a crítica, a filosofia e a ciência não conseguiram substituir 
a religião, nem muito menos eliminá-la da cultura. O homem contemporâneo percebeu 
que não é contraditório conhecer por meio da razão e também ter fé. Ao longo da his-
tória do pensamento humano, a filosofia e a fé estiveram juntas em certas ocasiões; em 
outras, ocuparam lados completamente opostos. 
As mudanças decorrentes das revoluções ocorridas na modernidade geraram 
a necessidade de um método que certifique e garanta o conhecimento. “A razão não tem 
mais no que se apoiar a não ser nela mesma, e por isso precisa criar um método seguro.” 
(ABRÃO, 2004, p. 185).
79
Parada Obrigatória
O Método
Não sei se deva falar-vos das primeiras meditações que aí realizei: pois são tão meta-
físicas e tão pouco comuns, que não serão, talvez, do gosto de todos. E, todavia, a fim 
de que se possa julgar se os fundamentos que escolhi são bastante firmes, vejo-me, de 
alguma forma, compelido a falar-vos delas. De há muito observava que, quanto aos 
costumes, é necessário às vezes seguir opiniões, que sabemos serem muito incertas, 
tal como fossem indubitáveis, como já foi dito acima; mas, por desejar então ocupar-
-me somente com a pesquisa da verdade, pensei que era necessário agir exatamente ao 
contrário, e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar 
a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito, que fos-
se inteiramente indubitável. Assim, porque os nossos sentidos nos enganam às vezes, 
quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos fazem imaginar. E, 
porque há homens que se equivocam ao raciocinar, mesmo no tocante às mais simples 
matérias de Geometria, e cometem aí paralogismos, rejeitei como falsas, julgando que 
estava sujeito a falhar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então 
por demonstrações. E enfim, considerando que todos os mesmos pensamentos que te-
mos quando despertos nos podem também ocorrer quando dormimos, sem que haja 
nenhum, nesse caso, que seja verdadeiro, resolvi fazer de conta que todas as coisas que 
até então haviam entrado no meu espírito não eram mais verdadeiras que as ilusões 
de meus sonhos. Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar 
que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. 
E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas 
as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalar, julguei que 
podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava. 
Fonte: Adaptado de Descartes (1985).
No capítulo anterior, estudamos que o ser humano participa do mundo de 
modo ambíguo, não é apenas animal, já que a cultura o coloca em outro espaço, o social. 
As autoras Aranha e Martins (1995) observam que tal ambiguidade também deriva do 
fato do homem nunca se acomodar ao seu ambiente social, ao mesmo tempo em que 
cria a cultura e a tradição, coloca-se na iminência de rompê-las. Ao buscar o conheci-
mento o homem modifica a natureza, cria as sociedades e a ciência.
Todo conhecimento manifesta-se por meio de pensamento. Pensar é 
articular signos, ou seja, é ligar ou unir as representações em cadeias.
Por muito tempo, considerou-se que o pensamento só poderia se efeti-
var através da linguagem verbal. Kant, filósofo alemão do século XVIII, 
na Crítica da razão pura, diz: ‘Pensar é conhecer através de conceitos’. 
Nos Prolegômenos a qualquer metafísica futura que possa vir a ser 
80
Parada Obrigatória
As Palavras e as Coisas
Graças à mesma necessidade, esse saber devia acolher, ao mesmo tempo e no mes-
mo plano, magia e erudição. Afigura-se-nos que os conhecimentos do século XVI eram 
constituídos por uma mistura instável de saber racional, de noções derivadas das prá-
ticas da magia e de toda uma herança cultural, cujos poderes de autoridade a redes-
coberta de textos antigos havia multiplicado. Assim concebida, a ciência dessa época 
aparece dotada de uma estrutura frágil; ela não seria mais do que o lugar liberal de um 
afrontamento entre a fidelidade aos antigos, o gosto pelo maravilhoso e uma atenção já 
despertada para essa soberana racionalidade na qual nos reconhecemos. E essa época 
trilobada se refletiria no espelho de cada obra e de cada espírito dividido. De fato, não é 
de uma insuficiência de estrutura que sofre o saber do século XVI. Vimos, ao contrário, 
quão meticulosas são as configurações que definem seu espaço. É esse rigor que impõe 
a relação com a magia e com a erudição – não conteúdos aceitos, mas formas reque-
ridas. O mundo é coberto de signos que é preciso decifrar, e estes signos, que revelam 
semelhanças e afinidades, não passam, eles próprios, de formas da similitude. Conhecer 
será, pois, interpretar: ir da marca visível ao que se diz através dela e, sem ela, permane-
ceria palavra muda, adormecida nas coisas. “Nós, homens, descobrimos tudo o que está 
oculto nas montanhas por meio de sinais e correspondências exteriores; e é assim que 
encontramos todas as propriedades das ervas e tudo o que está nas pedras. Nada há nas 
profundezas dos mares, nada nas alturas do firmamento que o homem não seja capaz 
de descobrir. Não há montanha bastante vasta para ocultar ao olhar do homem o que 
nela existe; isso lhe é revelado por sinais correspondentes” (p. 44). 
A adivinhação não é uma forma concorrente do conhecimento; incorpora-se ao próprio 
conhecimento. Ora, esses signos que se interpretam só designam o oculto na medida em 
que se lhe assemelham; e não se atuará sobre as marcas sem operar ao mesmo tempo 
sobre o que é, por elas, secretamente indicado. Eis por que as plantas que representam 
a cabeça, ou os olhos, ou o coração, ou o fígado, terão eficácia sobre um órgão; eis por 
que os próprios animais são sensíveis às marcas que os designam. “Dize-me pois”, per-
gunta Paracelso, “por que a serpente na Helvécia, na Argólida, na Suécia, compreende as 
palavras gregas Osy, Osya, Osy... Em que academias aprenderam, já que, ao escutarem 
considerada como ciência, ele vai mais longe: ‘Pensar é unir as repre-
sentações na consciência [...]. A união das representações em uma 
consciência é o juízo. Pensar, portanto, é julgar.’ 
Ao identificar pensamento com formação de conceitos e juízos, Kant 
liga imediatamente pensamento e linguagem verbal. Vejamos por quê.
A linguagem verbal é um sistema simbólico, isto é, um sistema de 
signos arbitrários com relação ao objeto que representam e, por isso 
mesmo, convencionais e dependentes da aceitação social (ARANHA; 
MARTINS, 1995, p. 32).
81
A Palavra
Palavra, o que é a palavra? Nós enquanto falantes temos intuitivamente a 
noção de que são sequências contínuas de sons que emitimos expressando um pensa-
mento. E para nós, não linguistas, é uma tarefa complicada encontrar uma única defini-
ção válida que dê conta da universalidade do seu significado.
a palavra, viram em seguida sua cauda, a fim de não escutá-la de novo? Não obstante 
sua natureza e seu espírito, basta escutarem a palavra para permanecerem imóveis e 
não envenenarem ninguém com sua ferida venenosa.” E não se diga que isso é somente 
o efeito do ruído das palavras pronunciadas: [...] O projeto das “Magias naturais”, que 
ocupa um amplo lugar no final do século XVI e se alonga ainda até plenos meados do 
século XVII, não é um efeito residual na consciência europeia; ele foi ressuscitado – 
como o diz expressamente Campanella 28 – e por razões contemporâneas: porque aconfiguração fundamental do saber remetia umas às outras as marcas e as similitudes. 
A forma mágica era inerente à maneira de conhecer.
Fonte: Foucault (2000, p. 48-49).
Importante
O nome, ou palavra, é o símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das enti-
dades abstratas que só existem no nosso pensamento e imaginação. Fixa na nossa me-
mória, enquanto ideia, aquilo que já não está ao alcance dos nossos sentidos, criando 
mundo estável de representações que nos permitem falar do passado e fazer projetos 
para o futuro. A palavra, portanto, transcende, vai além da situação concreta do vivido. 
A palavra já é uma abstração e com ela elaboramos conceitos e emitimos julgamentos. 
É bom frisar, no entanto, que as linguagens não-verbais nos permitem pensar, pois são 
articuláveis em signos. O tipo de pensamento, porém, é diferente, uma vez que essas 
linguagens não operam conceitos nem emitem juízos (ARANHA; MARTINS, 1992).
Em um processo comum a todas as sociedades, quando criança, o indivíduo 
recebe a tradição cultural, mediada por outros homens, aprende os símbolos linguísticos 
da sua cultura, que são ferramentas para torná-lo capaz de agir, compreender e se co-
municar com os outros e com o mundo. 
A linguagem e o trabalho distinguem o homem dos outros animais, pois a 
consciência que ele tem de si próprio o orienta em suas escolhas e a manter o controle 
em diversas situações diferentes dos animais que agem por instinto.
82
Importante
O homem interfere na natureza e, desse modo, produz cultura. Um dos elementos mais 
importantes é a linguagem simbólica, pois pelos símbolos é possível lidar abstratamen-
te com o mundo que o cerca, é possível sair do aqui e agora. Os símbolos possibilitam 
a abstração, mas precisam que haja uma convenção, ou seja, que eles sejam aceitos e 
entendidos por todos do grupo.
Com a linguagem simbólica o homem não está apenas presente no mundo, 
mas é capaz de representá-lo; bem como de modificá-lo com o seu trabalho. 
A linguagem é necessária a qualquer ação humana, aqui cabe ressaltar não 
só a oral e a escrita, as extratextuais, como os gestos, as expressões faciais, para que 
o homem se alimente, caminhe, etc. Até as suas escolhas mais pessoais são permeadas 
pela cultura, já que somos sujeitos, isto é, construídos na linguagem e na cultura.
O homem, enquanto ser consciente das suas ações, transforma a sua reali-
dade com o trabalho e com o seu agir e refletir. Com os seus atos, o homem altera o seu 
mundo e o mundo ao seu redor.
Pare e Reflita
Construção
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
83
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague
Composição: Chico Buarque
84
Trabalho como Atividade Humana
Chego sempre à hora certa, contam comigo, não falho, pois adoro o meu 
emprego: o que detesto é o trabalho. 
Millôr Fernandes, Revista Pif-Paf.
O homem ao pensar e agir interfere no meio ambiente com o seu trabalho, 
modifica seu entorno para melhor ter controle não só da natureza, bem como ressigni-
ficar o seu lugar no mundo.
As transformações das técnicas alteram as relações sociais. Enquanto 
o mundo agrícola e artesanal é marcado pela tradição, e fixa o homem 
ao campo, o advento das fábricas no século XVII estimula o aperfeiço-
amento das máquinas e acelera o crescimento das cidades. Estabele-
cem-se novas relações de produção com o aparecimento da classe ope-
rária assalariada e dos capitalistas detentores dos meios de produção 
(ARANHA; MARTINS, 1992, p. 39).
Podemos observar que as mudanças ocorridas ao longo da história do ho-
mem – a sua relação com o trabalho, a busca por novas tecnologias e métodos para 
melhorar a qualidade de vida, e o controle do seu meio ambiente – geraram não só 
consequências socioeconômicas, mas humanas, pois alterou a sua forma de pensar e 
agir no mundo.
Conceito e Perspectivas das Organizações
Falar de organizações nos coloca em contato com um fenômeno com o qual 
convivemos no cotidiano e ao longo de toda a nossa vida. Nas sociedades contemporâ-
neas a sua presença é disseminada e a nossa vida é afetada pelos processos, a maioria 
de nós nasceu em hospitais, conviveu em creches e passou por algumas escolas até 
chegar à universidade.
A Revolução Industrial que ocorreu, sobretudo na Inglaterra do século XIX, 
alterou não só as características dos países industrializados, dentro de uma nova forma 
de produção de bens em grande escala, alterou também a forma do homem pensar e 
agir diante dessas novas tecnologias, mecanização e racionalização do mundo. O homem 
que até pouco tempo lidava de forma artesanal com o trabalho foi para a linha de pro-
dução semiqualificado.
Fique esperto! Hoje, o que é mais importante é a informação, já que o mais 
comum no nosso dia a dia é o consumo de serviços (setor terciário).
Os tempos modernos surgiram marcados pelo ideal da racionalidade 
que culminou no Iluminismo do século XVIII. Superando a concepção 
medieval, centrada na tradição e na visão religiosa do mundo, a mo-
dernidade se torna laica (não-religiosa) e busca na razão a possibilida-
de da autonomia do homem. O desenvolvimento técnico-científico é a 
expressão do racionalismo dos tempos modernos (ARANHA; MARTINS, 
1992, p. 39).
85
No dia a dia fazemos compras em supermercados e shoppings, entramos em 
contato com órgãos públicos, consumimos produtos de diferentes empresas, entre ou-
tras situações. No geral, desejamos ser bem atendidos e comprar produtos de qualidade. 
Também nos sentimos parte de um grupo e queremos preservar o meio ambiente, dimi-
nuir os índices de violência, enfim, tudo isso envolve o que chamamos de organizações 
e delas queremos respostas adequadas.
Para quem tem alguma experiência de trabalho, já possui um pouco desse 
conhecimento sobre organizações. Mas, mesmo como estudantes, fazemos parte de 
uma organização educacional e sabemos como a nossa vida é diretamente afetada, no 
presente e no futuro, pela qualidadedessas organizações que escolhemos para nossa 
educação.
Quando recorremos ao dicionário para verificarmos o uso do termo organiza-
ção no nosso cotidiano vemos que ele aparece associado a diferentes significados:
FIGURA 14 – As organizações fazem parte do cotidiano
Organização pode ser definida como estrutura, associação ou instituição com objeti-
vos definidos.
Fonte: Acervo NEAD/Unoeste (2012).
Por meio das organizações, a comunidade tem 
acesso a bens e serviços.
Organizar reporta-se sempre a ações. Assim, usamos o termo organização 
tanto para designar ações de construir algo quanto para descrever as características ou 
qualidades desse algo construído.
A ideia de um objetivo comum é bastante disseminada, sobretudo no senso 
comum, como base para definir a ação coletiva. Porém, não é tarefa simples definir exa-
tamente o objetivo de uma organização.
Como exposto nos parágrafos anteriores, o ato de conhecer, saber as dife-
rentes formas de conhecimento, a importância da utilização correta da linguagem e do 
raciocínio, tudo isso é fundamental para uma melhor relação com o mundo que cerca o 
homem e também para as organizações.
86
As Modernas Organizações e a Comunicação
Agora, vamos falar um pouco sobre a comunicação nas modernas organizações. 
Cabe ressaltar o valor e a importância das comunicações nas organizações, 
que tanto abarca as relações internas quanto externas, e que aparece na forma de cul-
tura organizacional.
Por isso, devemos estar atentos não só as regras normativas da linguagem 
oral e escrita, como também as regras de comunicação interna das empresas, quer dizer 
as regras de comunicação da organização a qual estamos prestando serviço, pois um 
erro de comunicação, muitas vezes, pode causar problemas em toda cadeia produtiva.
Mas isso não é tudo, pode também prejudicar a autoestima do colaborador 
enquanto sujeito da ação, gerando, inclusive, danos psicológicos tão comuns na contem-
poraneidade. As barreiras da linguagem podem impedir o seu desenvolvimento como in-
divíduo, não só nas organizações no seu trabalho, mas refletir diretamente na sua forma 
de conhecer e representar o mundo.
A atenção com o que está sendo dito, principalmente no ambiente de traba-
lho, nos leva a evitar o emprego de mensagens subjetivas que podem gerar duplicidade 
de sentido. O feedback, ou seja, o retorno da mensagem que foi transmitida, também é 
muito importante, pois garante que o sentido da mensagem passada do emissor para o 
receptor foi mantida.
A capacidade de interpretação e comunicação em todos os setores da vida 
das pessoas é muito importante, cada um dos elementos que fazem parte do processo 
de comunicação – o emissor, o receptor, o canal de transmissão oral ou escrito, verbal 
ou não verbal – é um diferencial nas relações humanas.
A comunicação clara e funcional é um indício de boa capacidade para lidar 
com dificuldades e diferenças. Uma das maiores causas de desentendimento entre as 
pessoas é a dificuldade de comunicação, porque a falta de clareza em uma mensagem 
pode abrir brechas para interpretações equivocadas e com consequências indesejáveis. 
A habilidade de se expressar bem evita que suas opiniões e desejos sejam erroneamente 
interpretados, pois equívocos podem gerar problemas e conflitos. A importância disso 
nas organizações está no fato de que a comunicação que se produz em seu interior varia 
de modalidade e é utilizada como instrumento de veiculação e distribuição de funções.
87
Dicas de Vídeo
Em nome da rosa (The name of the rose). Diretor: Jean Jacques Annaud. Duração: 130 
min. Gênero: Drama, policial, suspense. Ano: 1986.
Obrigado por fumar (Thank you for smoking). Diretor: Jason Reitman. Duração: 92 
min. Gênero: Comédia. Ano: 2005.
Queime depois de ler (Burn After Reading) Diretor: Joel Coen e Ethan Coen. Duração: 
96 min. Gênero: Comédia, policial. Ano: 2008.
Resumo
Neste capítulo, estudamos o que é o conhecimento ou o que podemos definir 
enquanto conhecimento, assim como as diferentes formas de adquiri-lo. Apresentamos o 
conhecimento filosófico, o religioso, o senso comum e o científico, que podem ser com-
plementares ou não, tentando não dar juízo de valor nem apresentar um conhecimento 
como superior ao outro.
Demonstramos ao longo do capítulo a importância de entender essas di-
ferentes formas de compreensão do mundo e refletir a importância da linguagem na 
construção do conhecimento, pois somos seres sociais, isto é, vivemos em sociedade e 
necessitamos nos comunicar.
Sintetize
Vamos refletir sobre o assunto estudado neste capítulo. 
1. Desenvolva uma análise sobre a seguinte frase: “Toda ação humana procede do pen-
samento, e todo o pensamento é construído a partir da ação.” (ARANHA; MARTINS, 
1992, p. 30).
2. Com as suas palavras e com base nos conceitos estudados no capítulo, analise as 
diferentes formas de adquirir conhecimento.
3. Escreva um texto crítico sobre como a falta de uma boa comunicação é uma das prin-
cipais fontes de conflito no ambiente de trabalho. 
4. Faça uma análise da frase: “pensar é articular signos” (ARANHA; MARTINS, 1992, p. 49).
88
O conhecimento
Tornemos ao ponto de partida. Através da operação filosófica funda-
mental, o conhecimento fundamental nos dá consciência da possibilidade de nossa 
realidade manifestar-se no tempo. E isso tem consequências para uma constitui-
ção interior.
O mundo real (Realität) é manifestação da realidade e não a realida-
de (Wirklichkeit) como tal. Somos lançados a esse mundo (reale Welt), onde nos 
orientamos com o auxílio do conhecimento (Erkennen) científico universalmente 
válido, que, entretanto, nada nos diz acerca do que esteja para além de seus 
limites. Só o conhecimento (Einsicht) filosófico nos pode liberar da prisão neste 
mundo.
O conhecimento filosófico deve, antes de tudo, ser capaz de surpre-
ender-se com o óbvio: qual a significação do fato de que, pensando nós sejamos 
sujeitos que se dirigem a objetos e dessa dicotomia vejamos residir a clareza? A 
partir desse espanto em relação ao que está presente a todo instante, ao que até 
agora era evidente e não levantava dificuldade, ao que não merecia atenção mais 
demorada, a partir desse espanto, dizíamos, chegamos a outros problemas.
Esta vida no mundo dos fenômenos é como que um despertar após o 
sono, que nos retira do obscuro de um inconsciente inimaginável? É essa clareza a 
única possível? Ou a vida, na dicotomia sujeito-objeto, é comparável a um sonho? 
Não será a clareza, em verdade, um obscurecimento do ser e de mim mesmo? A 
resposta a essas indagações não brota de conhecimento, mas, por estranho que 
pareça é uma decisão.
Textos Complementares
Mais adiante tratamos de apresentar, de forma geral, a história do pensamen-
to humano, a partir do surgimento da filosofia na antiga Grécia, quando o pensamento 
mítico não mais respondia as questões da existência humana, da origem dos fenômenos 
naturais. Ressaltamos também que a influência do aspecto divino não desapareceu, o 
homem continua se dividindo entre fé e razão até os dias de hoje.
Estudamos ainda a palavra, os sons que emitimos, a construção da lingua-
gem, assim como a compreensão do trabalho como atividade humana. Com esse estudo, 
podemos concluir que saber nos comunicar, conhecer o ambiente que trabalhamos e 
irmos além, nesse mundo globalizado, é muito importante num ambiente corporativo.
89
Quero que o mundo real me seja indiferente. Aceitá-lo simplesmente, 
sem agir sobre ele? Não ser responsável por nada? Quero viver como se não exis-
tisse? Foi esse o caminho tomado por algumas escolas asiáticas de pensamento: 
a fórmula “o ser é a aparência e a aparência é o ser” figura num romance tauísta, 
onde se afirma que a vida humana com seu encanto perturbador, na beleza, sua 
inutilidade, com o bem e o mal, ilusões e desilusões, em suma, com sua falta de 
sentido, é um jogo vão. Fórmulas tais dão expressão a uma disposição íntima 
onde tudo se desvanece como fumaça tocada pelo vento.
Posso, diversamente, querer– pela realidade de minha vida, respon-
sabilidade e conhecimento – atingir a clareza neste mundo fenomenal, consi-
derando-a caminho único para alcançar possível iluminação que venha de mais 
além. Neste caso, o fenômeno não é, para nós, mais do que aparência, a vida 
não é sonho. Não percamos, porém, de vista que todo nosso conhecimento finito 
corresponde sempre a um estado de servidão. A indagação que se coloca é a se-
guinte: podemos nós, valendo-nos do pensamento, encontrar, por assim dizer, um 
lugar exterior a nosso conhecimento e a partir do qual esse conhecimento se tor-
nasse inteiramente visível por transparência? Dali, eu não divisaria conhecimento 
novo, não perceberia novas finalidades no mundo, mas poderia metamorfosear 
minha consciência e, por essa via, metamorfosear-me a mim mesmo.
Cogitando desses problemas, não fazemos senão reconhecer a rea-
lidade (Wirklichkeit) que transportamos conosco durante todo o tempo, mas em 
que não havíamos pensado porque nos encontrávamos prisioneiros das realida-
des (Realitäten) manifestas.
Fonte: Jaspers (1965, p. 31).
Produzir é Ser
Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela reli-
gião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se diferenciar dos 
animais tão logo começam a produzir seus meios de vida, passo este que é condi-
cionado por sua organização corporal. Produzindo seus meios de vida, os homens 
produzem, indiretamente, sua própria vida material.
O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida depen-
de, antes de tudo, da natureza dos meios de vida já encontrados e que têm de 
reproduzir. Não se deve considerar tal modo de produção da existência física dos 
indivíduos. Trata-se, muito mais, de uma determinada forma de atividade dos in-
divíduos, determinada forma de manifestar sua vida, determinado modo de vida 
90
O mito da ciência
O saber especializado desperta a admiração temerosa por parte da-
queles que o ignoram. Há todo um respeito admirativo em relação à linguagem 
científica, dotada de uma universalidade de direito, habilmente restringida aos 
iniciados. Seu esoterismo protege o segredo, sobretudo pela matematização e pela 
formalização. O poder de dominar a matéria e de fazer coisas, da ciência, acarre-
ta, nos não iniciados, uma atitude de submissão. É por isso que ela exerce sobre 
muitos um poder quase mágico, um “poder dogmático”. E é por isso, igualmente, 
que muitos veem nos cientistas os detentores do “magistério da realidade”: só que 
eles estão habilitados a dizer o sentido, a propor a verdade para todos, como se 
fossem taumaturgos ou verdadeiros alquimistas. O que se pede a eles, através das 
vulgarizações, é muito menos um complemento de informações do que a forma 
presente das questões últimas, pois as respostas teológicas foram desprestigia-
das. Os cientistas são vistos como se fossem os proprietários exclusivos do saber, 
devendo fechar todas as “cicatrizes do não saber” e fornecer os bálsamos para as 
angústias individuais e sociais.
Essa imagem mítica do cientista ignora que ele faz parte de uma estru-
tura bem real do mundo que o cerca. O mundo científico nada tem de ideal, não é 
uma terra de inocência, livre de todo conflito e submetida apenas à lei da verdade 
universal, isto é, de uma verdade testável e verificável em toda parte, através do 
respeito aos procedimentos de rigor e aos protocolos da experimentação. Como se 
o cientista pudesse ser o detentor de uma verdade una que, uma vez formulada 
em sua coerência, estaria isenta da discussão; e como se ele pudesse guardar 
para sempre a imagem de um indivíduo sempre íntegro e rigoroso, jamais sujeito 
à incoerência das paixões.
Fonte: Japiassu (1975, p. 116).
dos mesmos. Tal como os indivíduos manifestam sua vida, assim são eles. O que 
eles são coincide, portanto, com sua produção, tanto com o que produzem como o 
modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições 
materiais de sua produção.
Fonte: Marx (1985, p. 27).
91
Clima Organizacional
As mudanças que se processam nas organizações, em busca da quali-
dade e produtividade, agilidade e flexibilidade, tem-se caracterizado por um con-
tínuo repensar de estruturas, processos e qualificações e, finalmente, chegam à 
gestão de recursos humanos.
A constatação de que o diferencial competitivo de uma organização, 
num ambiente de maior disponibilidade de técnicas e tecnologias, ocorrerá a partir 
do comprometimento das pessoas, torna o conhecimento de expectativas, moti-
vações, necessidades e níveis de satisfação dos indivíduos, perante a organização, 
estratégico para a eficácia organizacional.
Referindo-se a necessidade de acompanhar as mudanças, Basil e Cook 
consideram que as organizações requerem flexibilidade em sua estrutura e estra-
tégias adequadas, se quiserem sobreviver e serem viáveis nas próximas décadas. 
Assim, os governos, as instituições e a coordenação internacional devem criar o 
meio ambiente apropriado, para permitir que os indivíduos e as organizações pros-
perem e criem os frutos da civilização.
O modelo antigo de empresas, com hierarquia de comando e controle 
que teve origem, séculos atrás, já não funciona nada, nesse novo ambiente. Hoje, 
necessitamos de modelos muito diferentes, intercomunicantes, que levem à cria-
ção de comunidades de negócios e nos quais haja cooperação, gerenciamento do 
conhecimento, trabalho em equipe, busca de alto desempenho.
Os chefes que agem segundo o paradigma antigo, frequentemente 
são os últimos a compreender essa diferença. Um dos maiores desafios que as 
organizações encontram é o de abandonar seus velhos sistemas de pensamento e 
começar a construir uma nova visão.
Fonte: Graça (1999, p. 07-08).
92
Atividades
1. Leia a consideração abaixo e reflita sobre as ideias nela contida. Tome uma posição 
em relação ao problema lançado, redigindo uma dissertação no seu portfólio.
[...] assim, porque os nossos sentidos nos enganam às vezes, quis 
supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos fazem 
imaginar. E, porque há homens que se equivocam ao raciocinar, mesmo 
no tocante às mais simples matérias (DESCARTES, 1985). 
2. Agora leia a afirmação abaixo e reflita relacionando com a reflexão de Descartes aci-
ma. Redija uma dissertação no seu portfólio.
Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a ex-
periência; do contrário, por meio do que a faculdade de conhecimento 
deveria ser despertada para o exercício senão através dos objetos que 
tocam nossos sentidos (KANT apud ARANHA; MARTINS, 1992, p. 97).
3. Afirmar que não há saber sem sujeito cognoscente significa que todo o saber é um 
ato, uma atividade, e não uma essência. O saber não subsiste a título de entidade inde-
pendente, só por contaminação é que se fala do saber contido nos livros. Essencialmen-
te, o saber é uma certa relação do homem ao seu mundo, uma certa aptidão e atitude 
cognitiva. É sobre o homem considerado como sujeito cognoscente que aqui se põe toda 
a insistência, na medida em que se considera que a situação cognitiva, com que ela 
implica de verbalidade, de possibilidade autônoma de progresso, de espontaneidade, de 
troca, é uma situação especificamente humana, pelo menos no estado atual de saber 
(SCHLAMGER, 1989, p. 34-35). 
A partir da leitura do texto complementar de Jacques Schlamger responda:
a) O que o autor quer dizer quando se refere ao homem como sujeito cognoscente?
b) O conhecimento é especificamente humano, por quê?
4. Leia a consideração apresentada a seguir e reflita sobre a ideia nela contida, redigindo 
uma pequena dissertação em seu portfólio: a ciência pode estabelecer limites quanto ao 
conhecimento, mas não quanto à imaginação.
5. A partir do que você acabou de estudar neste capítulo, argumente sobre as diferentes 
formas de compreensão da realidade por meio do conhecimento.
93
As orgANizAções moderNAs - ANálise FilosóFiCA
Capítulo 4
94
No presente capítulo, analisaremos as modernas organizações do ponto de 
vista daFilosofia, buscando uma leitura crítica das organizações modernas. 
Ao fim do capítulo, você será capaz de:
• conhecer, em linhas gerais, como surgiram as organizações modernas – a 
Escola Clássica;
• desenvolver uma visão crítica em relação às organizações;
• compreender a importância do comportamento ético.
Introdução
Oração ao Tempo
És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...
Caetano Veloso, 1979.
95
Alguns Conceitos de Administração – A Escola Clássica
Inicialmente, iremos estudar os conceitos básicos de administração clássica 
compreendida sob uma perspectiva filosófica, identificando suas demandas e condutas 
no atual estágio das organizações modernas. Pois pensar filosoficamente as modernas 
organizações significa fazer uma reflexão criteriosa delas, possibilitando uma visão mais 
crítica. Não cabe nesse momento um exame minucioso de todas as correntes e teóricos 
da administração clássica, que você vai estudar de forma aprofundada ao longo de todo 
o curso, e sim fazer um leve esboço de alguns teóricos dentro de uma leitura filosófica.
No início do século XX surgiram os pioneiros da teoria da administração que 
com “suas ideias bastante semelhantes, ficaram conhecidos como os fundadores da Es-
cola Clássica.” (MOTTA PRESTES, 2001, p. 9). Esses fundadores construíram a imagem 
do que seria um bom administrador, na medida em que planejavam cuidadosamente o 
passa a passo do processo, além do comando e controle do desempenho e, principal-
mente, o controle do tempo.
A respeito do processo de trabalho, esses pioneiros buscavam conhecer de 
perto as dificuldades das execuções das tarefas e o tempo gasto para tanto. Numa socie-
dade que valoriza o tempo, ele foi transformado em mercadoria e até o horário destinado 
ao lazer tornou-se um problema.
Um dos principais teóricos no tratamento dado a questão da produção do 
trabalho foi Frederick Taylor, que criou o método de organização científica do trabalho, 
conhecido como Taylorismo ou Organização Científica do Trabalho, que gerou intensifica-
ção do trabalho em um menor espaço de tempo. Foi o primeiro teórico da administração, 
de modo que, de uma forma ou de outra, as teorias das organizações que se seguiram 
fundamentaram-se no seu trabalho ou dialogam com suas ideias.
FIGURA 15 – Frederick Taylor
Fonte: Wikimedia Commons (2012).
Buscava aumentar a eficiência da empresa pelo aumento da efici-
ência do operário.
Frederick Taylor (1856-1915) – americano, técnico em 
mecânica, tornou-se engenheiro e, posteriormente, foi 
considerado o “Pai da Administração Científica”, devido 
ao seu método de buscar o maior desempenho por meio 
do controle inflexível e mecanicista das atividades dentro 
das empresas e fábricas.
96
Teve um alcance bastante amplo para além dos muros das fábricas, mas 
se os donos das empresas e fábricas adoraram tal prática entre trabalho e produção, o 
mesmo não se pode afirmar dos trabalhadores, que ofereceram resistência em todos os 
países onde foi introduzido. A insatisfação pode ser entendida quando pensamos que ao 
racionalizar o tempo e os movimentos, Taylor institui o tempo-padrão de realização das 
atividades, o que gerava uma exaustão no trabalhador. Para ele o trabalho deveria ser 
executado em uma sequência e com um tempo determinado para não haver desperdício 
operacional.
Saiba Mais
O filme Tempos Modernos retrata o taylorismo em uma cena clássica, quando Charles 
Chaplin (ator e diretor) ao sair da mesa de produção continua com os movimentos uti-
lizados para apertar porcas e parafusos, demonstrando a exaustão do corpo para acom-
panhar o ritmo da máquina em produção de tempo-padrão.
O taylorismo introduziu na sociedade a noção de tempo útil. Quantas vezes 
temos a sensação de perder tempo em determinada atividade? Que o ócio é prejudicial 
e que não temos tempo a perder! 
Essa noção de tempo útil está atrelada ao método criado por Taylor, o da 
racionalização do trabalho. Em sua obra, percebemos que ele teve uma noção específica 
de natureza humana, a ideia de que o homem é um ser racional. Dessa forma, acredita-
va que o homem era um agente capaz de maximizar as suas decisões e ações. Até esse 
momento, moralmente, o homem era visto como um ser que procurava ganhar muito 
com o mínimo de esforço.
No entanto, Taylor entendia que para cada atividade a ser realizada só existia 
uma única maneira certa de se realizar um trabalho, não existiam variáveis. Uma vez 
descoberta tal maneira, ela maximizaria a eficiência.
Parada Obrigatória
O tempo do trabalho 
Em uma época em que numerosos estudos e debates giraram, legitimamente, em torno 
da questão do tempo do trabalho, parece-nos interessante deslocar o debate acerca do 
tempo do trabalho para o aspecto de uma dupla interrogação sobre:
- como o tempo penetra o trabalho do interior: ele não se reduz, desde há muito, a ser 
um simples ajuste de horários e o estabelecimento negociado de uma duração legal;
- como o trabalho penetra no tempo.
97
Interessa-nos trazer à luz essa interioridade recíproca entre o tempo e o trabalho. Esta 
discussão prolonga uma interrogação que desenvolvemos de longa data sobre a ques-
tão: o que se pode entender por “produtividade do trabalho”? Mas interrogar-se sobre 
essa interioridade recíproca nada tem de evidente, tanto no plano conceitual como no 
empírico.
Pode-se dizer que somos, em nossas sociedades modernas, muito menos “pós-indus-
triais” do que se afirma, colocados sob o enorme projetor do tempo medido, calculado, 
aquele dos relógios e doravante dos computadores, esse tempo que Bergson qualificava 
como “espacializado”, a tal ponto que dele saímos cegados. Não enxergamos mais que 
podem existir outras abordagens e referentes temporais além do desenrolar quantitati-
vo e quantificado dos segundos, minutos, dias, semanas, meses, anos...
Para sair dessa cegueira, pareceu-nos necessário fazer um desvio conceitual sociológico 
pelo território filosófico. Esperamos que esse desvio nos permita retornar à questão do 
tempo do trabalho munidos de um novo olhar.
O enfrentamento entre duas concepções do tempo
Dentre as numerosas concepções filosóficas do tempo, duas perspectivas sobressaem 
na medida em que possuem um impacto social significativo. Elas já estavam presentes 
nos debates da Grécia antiga: o tempo Chronos frente ao Aiôn. Gilles Deleuze relem-
brou-nos notavelmente a diferença entre eles: “Chronos é o presente que existe e que 
faz do passado e do futuro suas duas dimensões sempre dirigidas, tais que se vai do 
passado ao futuro, mas à medida que os presentes se sucedem nos mundos ou nos sis-
temas parciais. Aiôn é o passado-futuro em uma subdivisão infinita do momento abs-
trato, que não cessa de decompor-se nos dois sentidos de uma só vez, esquivando para 
sempre todo presente” (DELEUZE, 1997, p. 95).
Fonte: Zarifian (2002).
É importante pensar a relação entre tempo e trabalho, para compreender o 
que esses teóricos entendiam por produtividade, como analisam os autores abaixo:
A autoimagem que o discurso taylorista construiu perpetuou-se até os 
nossos dias mesmo onde tenha provado sua ineficácia na luta contra 
a resistência operária. Ainda hoje no meio operário mantém-se a re-
presentação ideológica de que o avanço técnico é positivo, necessário 
e indispensável apesar do desemprego que gera e de que a divisão do 
trabalho, a parcialização das funções, a cronometragem do tempo de 
trabalho sejam as maneiras mais eficazes de aumentar a produtividade 
do trabalho. Ou seja, a ideia de racionalidade veiculada pelo taylorismo 
mantém-se intacta, mesmo para aqueles que questionam sua utilização 
social: ele é válido desde que não vise à exploração capitalista do traba-lho, segundo esta lógica (RAGO; MOREIRA, 2003, p. 28).
98
FIGURA 16 – Elton Mayo
Sua teoria centrava-se nas relações humanas do trabalho.
Fonte: Trahair; Zaleznik (2009).
Elton Mayo – australiano, migrado para os EUA, 
via a conduta do homem social pautada na tradição. 
Para ele, o bem-estar social poderia ser adquirido 
pela cooperação, pois quando ocorre essa coopera-
ção, os objetivos individuais e coletivos são integra-
dos. Tem como base para sua teoria o aumento da 
produtividade por meio da motivação do trabalha-
dor individual.
Pode-se afirmar que somos, em nossas sociedades modernas, disciplinados 
pelo tempo como símbolo social, no qual se exerce uma autodisciplina do tempo. Um bom 
exemplo disso é o uso universal do relógio, que serve para medir o tempo, quantificá-lo: 
introduzimos ao cálculo e à computação do tempo. Podemos dizer que foi ou será neces-
sário tanto tempo para a execução de determinada tarefa. Para orientar a sociedade e para 
que nos orientemos em seu seio, permitindo a previsão, medimos o tempo.
É possível também falar sobre o que será o futuro, definindo o futuro como 
um deslocamento ao longo do tempo. O futuro não é outra coisa que a maneira pela qual 
nos projetamos mentalmente em um instante (o presente) escolhido no desenvolvimento 
espacial do tempo. Na realidade, para a promoção plena dessas funções, é preciso acres-
cer ao tempo mostrado o processo de datação no calendário. A datação permite construir 
referenciais temporais comuns a uma vasta comunidade humana e permite que nos situ-
armos como indivíduos nesse tempo comum.
Nas análises de Taylor percebemos que falta um olhar para o trabalhador, já 
que toda análise está voltada para o tempo de trabalho e a produtividade, ou seja, a sua 
ênfase era somente nas tarefas. Mas será que motivações e boas relações entre os mem-
bros de uma empresa não seriam importantes para gerar benefícios para a própria em-
presa? A Teoria das Relações Humanas, de Elton Mayo, tenta dar conta dessa discussão.
Assim, Mayo fundamenta-se em um modelo de natureza humana que pode-
mos chamar de “homo social”. Nesse modelo, o homem é entendido como um ser cujo 
comportamento não pode ser reduzido a esquemas mecanicistas, como no modelo de 
Taylor, e sim um ser condicionado por demandas biológicas e sociais.
O homem, nessa teoria, seria movido por necessidades: de segurança, apro-
vação, afeto, prestígio e autorrealização. É dele também a noção de que a administração 
lideraria grupos bem formados de indivíduos, e não uma massa desforme e desorganiza-
da de indivíduos, daí a necessidade de conhecê-los por meio de técnicas de observação.
99
A partir dos resultados dos trabalhos de Mayo e de outros teóricos da admi-
nistração, chegava-se a algumas conclusões, entre elas de que o trabalho é uma ativida-
de grupal. O mundo dos adultos se pauta, na maioria das vezes, por seu trabalho, pois 
serve de identidade pertencer a um grupo, como dos profissionais de administração, de 
direito, operários, professores, etc. 
A necessidade de segurança e o senso de pertencer a um grupo são tão 
importantes para o profissional que refletiria mais na sua produtividade do que as con-
dições físicas de trabalho. A corrente baseada nesse consenso tornou-se conhecida com 
o nome de relações humanas.
A referência a esses dois teóricos clássicos, Taylor e Mayo, é ressaltar duas 
correntes importantes da administração, demonstrando a passagem do científico taylo-
rismo para o humanismo, quando há um deslocamento da atenção formal para o infor-
mal das relações humanas numa certa “psicologização” das relações de trabalho.
Saiba Mais
Experiência de Mayo na Westerm Electric Company, em 1927
A teoria de Mayo teve como base uma experiência realizada na Westerm Electric Com-
pany, uma fábrica de equipamentos telefônicos, bastante avançada na época por ofe-
recer uma série de benefícios aos seus operários. Em torno de 1927, a fábrica passou 
por problemas de produtividade e de falta de contentamento dos seus funcionários e 
tentando resolvê-los pediu ajuda a Harvard University, que enviou uma equipe e Mayo 
era um dos participantes. 
 
A primeira impressão levava a crer que os problemas decorriam de má iluminação. Rea-
lizaram uma experiência com dois grupos de mulheres operárias, em que um mantinha 
a iluminação defeituosa e outro uma boa iluminação, para surpresa de todos nos dois 
grupos a produtividade aumentou.
Uma segunda experiência foi realizada e Mayo pediu para que duas mulheres criassem 
equipes com tarefas definidas, inclusive podendo modificar os horários de chegada e 
saída, além de criar pausas para lanches. A jornada diminuiu, porém a produtividade au-
mentou, levando Mayo a questionar a ideia vigente de que o ser humano seria egoísta e 
movido apenas por motivos financeiros.
100
Parada Obrigatória
A referência ao “valor-trabalho”, que marcou fortemente a emergência do capitalismo 
industrial, mas do qual se deve notar a permanência, tendo em vista o ressurgimento 
nos debates mais recentes em torno da noção de “trabalho efetivo”, significa uma coisa 
simples: como se pode controlar e comparar de uma só vez os trabalhos concretamen-
te heterogêneos, relacionando-os a uma mesma medida social: o dispêndio de tempo 
trabalho? E como marcar nele o controle de tempo operário, fonte de valor econômico?
A existência socialmente estabelecida de um tempo espacializado homogêneo oferece 
o terreno para a resposta. É suficiente relacionar esses trabalhos heterogêneos a um 
mesmo “cálculo de minutos” e fazer desse dispêndio de tempo o referente central do 
valor econômico mercadológico de bens produzidos e trocados. É isso que é indicado, 
de maneira muito precisa, pelo conceito de “valor-trabalho”.
Disso deduz-se o conceito clássico de produtividade do trabalho: uma diminuição do 
tempo socialmente necessário para produzir uma unidade de mercadoria, conceito 
operacionalizado nos instrumentos de medida do débito ou de rendimento de cada 
posto. A influência dessa abordagem foi direta na construção (tardia) da compatibilida-
de analítica industrial, para qual Taylor participou ativamente.
É necessário evidentemente explicar seu impacto concreto: é adequado dizer que a me-
dida normatizada do tempo (o tempo operatório que o operário deve respeitar, a saber, 
diminuir) incorpora-se nos atos de trabalho. E a palavra “incorporar” tem um sentido 
perfeitamente preciso: o tempo penetra nos gestos e movimentos operários até o ponto 
que escapa ao operário a definição do movimento de seu próprio corpo.
Fonte: Zarifian (2002).
A importância de analisar essas teorias clássicas dentro de um viés filosófico 
é de crítica, mas não apenas a crítica pela crítica, e sim lançar um olhar mais aprofunda-
do a essas teorias, entendendo o seu percurso e influência na história da administração 
e seus impactos no presente.
101
Saiba Mais
Influência dos filósofos
Desde os tempos da antiguidade a Administração recebeu influência da Filosofia. Antes 
de Cristo, o filósofo grego Sócrates, em sua discussão com Nicomaquis, expõe o seu 
ponto de vista sobre a Administração:
“Sobre qualquer coisa que um homem possa presidir, ele será, se souber do que precisa e 
se for capaz de provê-lo, um bom presidente, quer tenha a direção de um coro, uma famí-
lia, uma cidade ou um exército. Não é também uma tarefa punir os maus e honrar os bons? 
Portanto, Nicomaquis, não desprezeis homens hábeis em administrar seus haveres.”
Platão (429 a 347 a.C.) também se preocupou profundamente com os problemas po-
líticos inerentes ao desenvolvimento social e cultural do povo grego. Em sua obra A 
República expõe o seu ponto de vista sobre a forma democrática de governo e de admi-
nistração dos negócios públicos.
Aristóteles (384 a 322 a.C.) deu enorme impulso à Filosofia, principalmente à Cos-
mologia, Nosologia, Metafísica e Ciências Naturais, abrindo as perspectivas do conhe-
cimento humano na sua época. Foi o criador da Lógica. No seu livro A Política estuda 
a organizaçãodo Estado e distingue três formas de administração pública: monarquia, 
aristocracia e democracia.
Francis Bacon (1561-1626), filósofo e estadista inglês, considerado o fundador da Lógica 
Moderna, baseada no método experimental e indutivo. Antecipou-se ao princípio conhe-
cido em Administração como “princípio da prevalência do principal sobre o acessório”.
René Descartes (1596-1650), filósofo, matemático e físico francês, considerado o fun-
dador da filosofia moderna. Em seu livro O Discurso do Método, no qual descreve os 
preceitos do seu método filosófico, denominado de método cartesiano, serviu de fun-
damento para a tradição científica do Ocidente, inclusive influenciando alguns princí-
pios da moderna administração, tais como divisão do trabalho, ordem e controle. 
Karl Marx (1818-1883) e seu parceiro Friedrich Engels (1820-1895) propõem uma 
teoria da origem econômica do Estado. O surgimento do poder político e do Estado 
nada mais é do que o fruto da dominação econômica do homem pelo homem. Com 
o surgimento da Filosofia Moderna, deixa a Administração de receber contribuições e 
influências, uma vez que o campo de estudo filosófico afasta-se enormemente dos pro-
blemas organizacionais.
102
Influência da Igreja Católica através dos séculos, as normas administrativas e princí-
pios de organização pública foram se transferindo das instituições dos Estados para as 
instituições da nascente Igreja Católica e para as organizações militares.
Ao longo dos séculos, a Igreja Católica foi estruturando sua organização, sua hierarquia 
de autoridade, seu estado-maior (assessoria) e sua coordenação funcional. Hoje, a Igre-
ja tem uma organização hierárquica tão simples e eficiente que a sua enorme organiza-
ção mundial pode operar satisfatoriamente sob o comando de uma só cabeça executiva. 
De qualquer forma, a estrutura da organização eclesiástica serviu de modelo para mui-
tas organizações que, ávidas de experiências bem sucedidas, passaram a incorporar 
uma infinidade de princípios e normas administrativas utilizadas na Igreja Católica.
Fonte: Oliveira (2011).
Sossego
Ora bolas, não me amole
Com esse papo, de emprego
Não está vendo, não estou nessa
O que eu quero?
Sossego, eu quero sossego
Tim Maia, 2007.
A Administração e as Novas Estruturas de Emprego
Após uma breve análise dos conceitos clássicos de administração, aborda-
remos, de forma geral, a administração e as novas estruturas de emprego, esses dois 
pontos que parecem bem distantes, não só na história da administração como também 
em sua ação, servem para termos uma perspectiva geral do assunto. As novas estruturas 
de emprego no capitalismo atual já não podem mais prometer solidez alguma para citar 
aqui uma ideia recorrente de Bauman (2005).
Construiu-se, na maioria das vezes, uma carreira administrativa, a partir de 
uma ideia de carreira que não condiz com a realidade atual das novas organizações, na 
qual o emprego para uma vida toda em uma empresa é coisa do passado. 
Com o constante avanço da tecnologia e das informações nos últimos anos, 
é preciso entender os profissionais que saem para o mercado dentro de um novo con-
texto social. Faz-se necessário identificar as bases e condições que esses profissionais 
que vão entrar nesse novo mercado capitalista, seus sistemas de valores, seus critérios 
de condução de vida.
103
É necessário compreender aquilo que define, que disciplina a prática e o pen-
samento do administrador, por meio do entendimento da relação do indivíduo com seu 
trabalho, com sua rotina, ou seja, por meio daquilo que disciplina e orienta sua conduta 
junto à organização.
Pare e Reflita
Um dos diagnósticos mais comuns é o desemprego. Em particular, as baixas expecta-
tivas de trabalho para os recém-saídos da escola que ingressam sem experiência num 
mercado preocupado em aumentar os lucros, cortando os custos com mão de obra e se 
desfazendo dos ativos, ao invés de criar novos empregos e construir novos ativos.
Um dos remédios mais considerados são os subsídios estatais, que tornariam a contra-
tação de jovens um bom negócio (pelo tempo que durasse o subsídio).
Enquanto isso, uma das recomendações oferecidas com mais frequência aos jovens é 
serem flexíveis e não muito seletivos, não esperarem demais de seus empregos, aceitá-
-los como são, sem fazer muitas perguntas, tratá-los como uma oportunidade a ser usu-
fruída de imediato, enquanto dure, e não como o capítulo introdutório de um “projeto 
de vida”, uma questão de autoestima e autodefinição, ou uma garantia de segurança a 
longo prazo.
O prefixo “des” indica anomalia. “Desemprego” é o nome de uma condição claramente 
temporária e anormal, e, assim, a natureza transitória e curável da doença é patente. A 
noção de “desemprego” herdou sua carga semântica da autoconsciência desejável de 
uma sociedade que costumava classificar seus integrantes, antes de tudo, como produ-
tores, que também acreditava no pleno emprego, não apenas como condição desejável 
e atingível, mas também como seu derradeiro destino.
Fonte: Adaptado de Bauman (2005).
É neste contexto que a alteração drástica na complexidade das re-
lações de trabalho, seja por um processo inovador, ou anterior, mas 
certamente acelerado, leva à necessidade de se criar novas categorias 
teóricas de pensamento (independentemente da anulação ou não das 
categorias anteriores) que permitam vislumbrar o destino para onde 
nos levamos, ou que, ao menos possam explicar, com alguma dose de 
aproximação, os trilhos sobre os quais estamos andando. [...] Esse pro-
fissional é parte ativa nessa sociedade e faz uso de todos os recursos 
informacionais e tecnológicos à sua disposição para dar conta dessa 
nova realidade, buscando informar-se e interferir sobre ela, ao mesmo 
tempo sendo impactado e conformado por ela (MENEZES, 2007, p. 13).
104
Discussão dos Múltiplos Usos da Ética – Na Profissão, 
nas Organizações e na Sociedade
Analisaremos a condução de inter-relacionamento entre Filosofia e Ética. A Fi-
losofia enquanto essência ou causa última das coisas em si, concepção do humano e da 
práxis.
Na atualidade, houve-se falar muito em ética. Mas como definir, o que é 
ética? Sabemos que a palavra ética tem sua origem na palavra grega “ethos” que sig-
nifica “modo de ser” e também pode ser representada por “caráter” ou como o homem 
se comporta na vida que constrói ou conquista. Ainda pode ser definida como conjunto 
de conhecimentos racionais e objetivos a respeito do comportamento humano (SOUZA, 
2006).
Atribuir valor as coisas é uma experiência humana que se encontra no cen-
tro de todas as escolhas da vida. Neste momento do nosso livro escolhemos analisar os 
aspectos éticos da conduta do indivíduo em sua profissão, nas organizações e na socie-
dade, ou seja, o seu modo de ser, de se comportar no seu meio social.
A palavra ética tem sua origem na Grécia antiga. A princípio, com o filósofo 
grego Aristóteles, que escreveu sobre a ética. Para Aristóteles, a ética se ocupa daquilo 
que é mais essencial ao homem, a sua conduta.
Importante
Cumpre advertir, antes de tudo, que a história da ética como disciplina filosófica é mais li-
mitada no tempo e no material tratado do que a história das ideias morais da humanidade. 
Esta última história compreende o estudo de todas as normas que regularam a conduta 
humana desde os tempos pré-históricos até os nossos dias (FERREIRA et al., 2000).
Nos nossos debates cotidianos, baseados no senso comum, é normal que a éti-
ca se confunda com a moral; todavia, deve-se deixar claro que são duas coisas diferentes, 
considerando-se que ética significa a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens 
em sociedade, enquanto que moral, que está relacionada ao costume, quer dizer conjunto 
de normas ou regras adquiridas com o passar do tempo.
Assim sendo, não devemos confundir moral e ética. Observe a análise feita a 
seguir:
Práxis (do grego prâksis), em seu sentido amplo, é a atividade humana em sociedade 
e na natureza.
105
A moral é a regulaçãodos valores e comportamentos considerados legítimos por uma 
determinada sociedade, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural etc. Há mo-
rais específicas também em grupos sociais mais restritos: uma instituição, um partido 
político. Há, portanto, muitas e diversas morais. Isto significa dizer que uma moral é 
um fenômeno social particular, que não tem compromisso com a universalidade, isto é, 
com o que é válido e de direito para todos os homens.
[...]
A ética é uma reflexão crítica sobre a moralidade. Mas ela não é puramente teoria. A 
ética é um conjunto de princípios [...], cujo objetivo é balizar as ações humanas. A ética 
existe como uma referência para os seres humanos em sociedade, de modo tal que a 
sociedade possa se tornar cada vez mais humana. A ética pode e deve ser incorporada 
pelos indivíduos, sob a forma de uma atitude diante da vida cotidiana, capaz de julgar 
criticamente os apelos a-críticos da moral vigente. Mas a ética, tanto quanto a moral, 
não é um conjunto de verdades fixas, imutáveis. A ética se move, historicamente, se 
amplia e se adensa. Para entendermos como isso acontece na história da humanidade, 
basta lembrarmos que, um dia, a escravidão foi considerada “natural”. Entre a moral e 
a ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justi-
ficação crítica universal, e a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância crítica 
sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la. 
[...]
A ética também estuda a responsabilidade do ato moral, ou seja, a decisão de agir numa 
situação concreta é um problema prático-moral, mas investigar se a pessoa pôde es-
colher entre duas ou mais alternativas de ação e agir de acordo com sua decisão é um 
problema teórico-ético, pois verifica a liberdade ou o determinismo ao qual nossos atos 
estão sujeitos. Se o determinismo é total, então não há mais espaço para a ética, pois se 
ela se refere às ações humanas e se essas ações estão totalmente determinadas de fora 
para dentro, não há qualquer espaço à liberdade, para a autodeterminação e, conse-
quentemente, para a ética.
Fonte: Ferreira et al. (2000).
A aplicação da ética no trabalho é, atualmente, um fator complicado, pois 
foge aos ditames da conduta normalmente aplicada em outras áreas do comportamento 
dos indivíduos. Por isso, os profissionais e os teóricos da administração dão preferência 
aos estudos sobre essas questões no ambiente do exercício profissional.
106
Dicas de Vídeo
Beleza Americana (American Beauty). Diretor: Sam Mendes. Duração: 122 min. Gêne-
ro: Drama. Ano: 1999.
Como Enlouquecer Seu Chefe (Office Space). Diretor: Mike Judge. Duração: 92 min. 
Gênero: Comédia, policial. Ano: 1999.
Metrópolis (Metropolis). Diretor: Fritz Lang. Duração: 153 min. Gênero: Drama, ficção 
científica. Ano: 1927.
Tempos Modernos (Modern Times). Diretor: Charles Chaplin. Duração: 87 min. Gêne-
ro: Comédia, drama, romance. Ano: 1936.
Saiba Mais
A lógica alimentadora desse processo não é idealista nem “cor de rosa”. É lógica do capi-
tal que, para poder sobreviver, tem que ser mais ético, evitando cair na barbárie e auto-
destruição. São os próprios pressupostos da disputa empresarial que forçam a adoção 
de um modelo mais ético.
A ética profissional estudaria e regularia o relacionamento do profissional com sua 
clientela, visando à dignidade humana e à construção do bem-estar no contexto socio-
cultural onde exerce sua profissão. Quando falamos de ética profissional estamos nos 
referindo ao caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a 
partir de estudos e códigos específicos.
Fonte: Ferreira et al. (2000).
107
Resumo
Neste capítulo, desenvolvemos um olhar filosófico sobre as organizações, 
conhecemos o contexto histórico do surgimento das diferentes teorias da administração: 
primeiro a escola clássica, tratando a importância do tempo para melhorar a produção, e 
depois, com Mayo, o entendimento de que o trabalho é uma ação humana.
Interessante lembrar que para Mayo o homem é um ser cujo comportamen-
to não pode ser reduzido a esquemas mecanicistas como no modelo de Taylor. Nesse 
percurso, de análise das teorias, aprendemos a importância de lançar um olhar crítico, 
mais aprofundado, filosófico, buscando compreender o processo e influência na história 
da administração, assim como seus impactos no presente. 
Também olhamos de modo crítico o mundo contemporâneo e as mudanças 
das relações de trabalho, os avanços tecnológicos e, consequentemente, o surgimento 
das novas estruturas de empregos na contemporaneidade. 
Mas adiante demos uma leve pincelada sobre o que é ética. Como surgiu, 
como se diferencia da moral e como é importante compreendê-la para as relações de 
trabalho no mundo corporativo.
Sintetize
1. Escreva o que entende sobre a seguinte frase: “O trabalho humano é uma ação trans-
formadora da realidade, dirigida por finalidades conscientes.” (ARANHA; MARTINS, 
1993, p. 24).
2. Com base nos conceitos dos teóricos da administração clássica estudados neste capí-
tulo, compare e ressalte as diferenças e similaridades entre as duas principais correntes.
3. Escreva um texto crítico sobre a importância do comportamento ético no ambiente 
de trabalho.
4. Analise a seguinte frase: “todo trabalho é digno.” Elabore um texto com suas considerações.
108
É a Vaidade e não o Prazer que nos Interessa
Qual a finalidade da avareza e da ambição, da busca de riqueza, poder 
e preeminência? Será para suprir as necessidades da natureza? O salário do mais 
pobre trabalhador pode supri-las. Vemos que esse salário lhe permite ter comida 
e roupas, o conforto de uma casa e de uma família. Se examinássemos a sua eco-
nomia com rigor, constataríamos que ele gasta grande parte do que ganha com 
conveniências que podem ser consideradas supérfluas. [...] Qual é, então, a causa 
da nossa aversão à sua situação, e por que os que foram educados nas camadas 
mais elevadas consideram pior que a morte serem reduzidos a viver, mesmo sem 
trabalhar, compartilhando com ele a mesma comida simples, a habitar o mesmo 
teto modesto e a vestir-se com os mesmos trajes humildes? Por acaso imaginam 
que têm um estômago superior ou que dormem melhor num palácio do que numa 
cabana? [...] De onde, portanto, nasce a emulação que permeia todas as dife-
rentes classes de homens, e quais são as vantagens que pretendemos com esse 
grande propósito da vida humana a que chamamos melhorar nossa condição? Ser 
notado, ser ouvido, ser tratado com simpatia e afabilidade e ser visto com aprova-
ção são todas as vantagens que se pode pretender obter com isso. É a vaidade, e 
não a tranquilidade ou o prazer, que nos interessa. Mas a vaidade sempre tem por 
base a convicção de sermos objeto de atenção e aprovação. O homem rico deleita-
se com as suas riquezas por julgar que elas naturalmente lhe atraem a atenção do 
mundo e que os homens estão dispostos a acompanhá-lo em todas as agradáveis 
emoções que as vantagens da sua situação tão prontamente inspiram a ele. Quan-
do tal pensamento lhe ocorre, o seu coração parece crescer e dilatar-se dentro do 
peito, e ele aprecia a sua riqueza mais por esse motivo do que por todas as outras 
vantagens que ela lhe traz.
Fonte: Smith (1971, p. 38).
Textos Complementares
109
Valores morais e não-morais
Os objetos valiosos podem ser naturais, isto é, como aqueles que exis-
tem originariamente à margem ou independentemente do trabalho humano (o ar, 
a água ou uma planta silvestre), ou artificiais, produzidos ou criados pelo homem 
(como as coisas úteis ou as obras de arte). Mas, desses dois tipos de objetos, não 
se pode dizer que sejam bons de um ponto de vista moral; os valores que encar-
nam ou realizam são, em casos distintos, os da utilidade ou da beleza. Às vezes 
se costuma falar da ‘bondade’ desses objetos e, por essa razão, empregam-se 
expressões como as seguintes: “este é um bom relógio”, “a água que agora esta-
mos bebendo é boa”, “X escreveu um bom poema” etc. Mas o uso de “bom” emsemelhantes expressões não possui nenhum significado moral. Um “bom” relógio 
é um relógio que realiza positivamente o valor correspondente: o da utilidade, ou 
seja, que cumpre satisfatoriamente a necessidade humana concreta à qual serve. 
Um “bom” relógio é objeto “útil”. E algo análogo podemos dizer da água quando 
a qualificamos como “boa”; com isso, queremos dizer que satisfaz positivamente, 
do ponto de vista de nossa saúde, a necessidade orgânica que deve satisfazer. 
[...] Em todos esses casos, também, a palavra “bom” tem o significado axiológico 
positivo – com a relação ao valor “utilidade” ou ao valor “beleza” -, mas não tem 
significado moral algum.
[...] Podemos falar da “bondade” de uma faca enquanto cumpre positi-
vamente a função para a qual foi fabricada. Mas a faca – e a função relativa – pode 
estar a serviço de diferentes fins; pode ser utilizada, por exemplo, para realizar 
um ato mau sob o ângulo moral, como é o assassinato de uma pessoa. Desde o 
ponto de vista de sua utilidade ou funcionalidade, a faca não deixará de ser “boa” 
por ter servido para realizar um ato repreensível. Pelo contrário, continua sendo 
“boa” e tanto mais quanto mais eficiente tiver servido ao assassino, mas essa 
“bondade” instrumental ou funcional está alheia a qualquer qualificação moral, 
apesar de servido de meio ou instrumento para realizar um ato moralmente mau. 
A qualificação moral recai aqui no ato de assassinar, para o qual a faca serviu. Não 
é a faca – eticamente neutra, como o são em geral os instrumentos, as máquinas 
ou a técnica em geral – que pode ser qualificada de um ponto de vista moral, mas 
o seu uso; isto é, os atos humanos de utilização de determinados fins, interesses 
ou necessidades. 
Vê-se, então, que os objetos úteis, ainda que se trate de objetos pro-
duzidos pelo homem, não encarnam valores morais, embora possam encontrar-se 
numa relação instrumental com esses valores (como vimos no exemplo anterior 
da faca). [...]
110
Os valores morais existem unicamente em atos ou produtos humanos. 
Tão somente o que tem um significado humano pode ser avaliado moralmente, 
mas, por sua vez, tão somente os atos ou produtos que os homens podem reco-
nhecer como seus, isto é, os realizados consciente e livremente, e pelos quais se 
lhes pode atribuir uma responsabilidade moral. Nesse sentido, podemos qualificar 
moralmente o comportamento dos indivíduos ou de grupos sociais, as intenções 
de seus atos e seus resultados e consequências, as atividades das instituições 
sociais etc. Ora, um mesmo produto humano pode assumir vários valores, embora 
um deles seja o determinante. Assim, por exemplo, uma obra de arte pode ter não 
só o valor estético, mas também político ou moral. É inteiramente legítimo abstrair 
um valor dessa constelação de valores, mas com a condição de não reduzir um 
valor ao outro. 
Posso julgar uma obra de arte pelo seu valor religioso ou político, mas 
sempre com a condição de nunca pretender deduzir desses valores o seu valor 
propriamente estético. Quem condena uma obra de arte sob o ponto de vista mo-
ral nada diz sobre o seu valor estético; simplesmente esta afirmando que, nessa 
obra, não se realiza o valor moral que ele julga que nela deveria realizar-se. Por 
conseguinte, um mesmo ato ou produto humano pode ser avaliado a partir de 
diversos ângulos, podendo encarnar ou realizar diferentes valores. Mas, ainda que 
os valores se juntem num mesmo objeto, não devem ser confundidos.
Fonte: Sanches Vásquez (1970, p. 127-129).
Vidas despedaçadas
As preocupações da Geração X – preocupações quanto à redundância 
– diferem dos problemas vivenciados e registrados pelas gerações anteriores, e 
são sofridas e enfrentadas à sua maneira própria e singular. No entanto, não lhes 
faltam precedentes.
Desde o início dos tempos modernos, cada geração sucessiva tem tido 
seus naufrágios no vácuo social: as “baixas colaterais” do progresso. Enquanto 
muitos conseguiram pular para dentro do veículo em alta velocidade e aprovei-
tar profundamente a viagem, muitos outros – menos sagazes, hábeis, espertos, 
musculosos, ou aventureiros – ficaram para trás ou tiveram negado o acesso ao 
veículo superlotado, se é que não foram esmagados sob suas rodas. No carro do 
progresso, o número de assentos e de lugares em pé não é, em regra, suficiente 
para acomodar todos os passageiros potenciais, e a admissão sempre foi seletiva. 
Talvez por isso o sonho de se juntar a essa viagem fosse tão doce para tantos. O 
progresso era apregoado sob o slogan de mais felicidade para um número maior 
de pessoas. Mas talvez o progresso, marca registrada da era moderna, tivesse a 
111
Taylorismo e Fordismo na Indústria Paulista
A seu ver, fordismo seria o processo de trabalho que, juntamente com 
o taylorismo, teria predominado ao longo do século XX. O consenso a respeito das 
características básicas do chamado taylorismo/fordismo é vasto. Listar todas as 
obras que nele se incluem afigura-se-nos obra tão hercúlea quanto ociosa, uma 
vez que o fato é de conhecimento geral, assumindo feições de verdadeiro para-
digma no campo das Ciências Humanas. Nota-se, que, nessa linha de interpreta-
ção, taylorismo e fordismo são, não apenas compatíveis, mas complementares e 
correspondem a fenômenos que independem em grande medida das concepções 
e práticas daqueles dos quais emprestaram seus nomes. As duas denominações 
indicam traços gerais da organização do trabalho vigente na grande indústria. Em 
múltiplas formulações acadêmicas, “taylorismo” e “fordismo” aparecem associa-
dos. [...] 
O tema de um taylorismo-fordismo é partilhado amplamente em for-
mulações acadêmicas construídas no mundo industrializado (fundamentalmente, 
Europa e Estados Unidos). Extensa e respeitável bibliografia poderia ser citada a 
respeito.
Fonte: Zanetti; Vargas (2007, p. 9-10).
ver, em última instância, com a necessidade de menos (e cada vez menos) pes-
soas para manter o movimento, acelerar e atingir o topo, que antes exigiria uma 
massa bem maior para negociar, invadir e conquistar. A esse respeito, a Geração 
X não é a primeira a ter boas razões para sofrer de depressão. Mas o que torna 
a sua condição peculiar é, para início de conversa, o fato de que uma parcela de 
amplitude pouco comum dessa coorte caiu do veículo e foi deixada para trás – ou 
pelo menos é assim que se sente.
Peculiar também é o difundido sentimento de confusão, desorienta-
ção e perplexidade. Não obstante todas as similaridades, nossos contemporâneos 
sentem intuitivamente que o problema atual é diferente daqueles que afligiram 
as gerações anteriores, embora elas também tenham tido sua dose completa de 
miséria. Talvez, e mais importante, hoje em dia tenhamos a tendência a sentir que 
o remédio patenteado e herdado do passado não funciona mais. Não importa a 
habilidade que possamos ter na arte de gerenciar crises, na verdade não sabemos 
como enfrentar esse problema. Talvez nos faltem até mesmo as ferramentas para 
imaginar formas razoáveis de enfrentá-lo. 
Fonte: Bauman (2005, p. 23-24).
112
Atividades
1. A partir do que você acabou de estudar no capítulo 4, responda o que é ser um bom 
administrador segundo a teoria clássica? 
2. Neste capítulo, você estudou que desde a antiguidade a Administração sofreu influên-
cia da Filosofia. Cite duas influências significativas.
3. Entre os filósofos que influenciaram a administração, vimos que Descartes, e o mé-
todo cartesiano, influenciou a teoria clássica de Taylor. Redigindo uma curta dissertação 
em seu portfólio, correlacione o método de Taylor e a influência do método cartesiano.
4. Com base no conceito estudado de ética, faça uma curta dissertação sobre o compor-
tamento ético e a imagem da malandragem do dito “jeitinho brasileiro” que nos acom-
panha até os dias atuais.
5. Com relação à expressão “o futuro não é mais como era antigamente”, baseando-se 
também no que foi estudado neste capítulo sobre as novas estruturas de emprego, ou 
o que Bauman chama de modernidade líquida, façauma curta dissertação sobre o seu 
entendimento dessas novas estruturas de emprego.
Anotações
113
A vAlidAção dAs Asserções ou o ProblemA dA verdAde
Capítulo 5
114
Neste capítulo, vamos ver como a Filosofia é uma busca pela verdade e que 
isso decorre de seu amor pela sabedoria, pois em qualquer questão colocada pelos filó-
sofos está escondida a tentativa de conhecer a verdade das coisas.
Ao fim do capítulo, você será capaz de:
• compreender o conceito de verdade para a Filosofia;
• reconhecer quatro concepções de verdade;
• identificar o pensamento de Descartes sobre o conhecimento e a verdade;
• compreender a discussão entre empiristas e racionalistas, assim como a 
síntese kantiana, na Teoria do Conhecimento;
• diferenciar dogmatismo e ceticismo.
Introdução
Questões sobre a Verdade
Neste último capítulo, iremos retornar a um tema que já foi mencionado 
nessa e em outras discussões, a questão da verdade. A Filosofia tem como finalidade 
conhecer os primeiros princípios da realidade, a essência das coisas; assim, quando os 
primeiros filósofos procuravam saber o que causava o movimento das coisas do mundo, 
buscavam saber qual a verdade das coisas da vida. Também quando falamos da cultura, 
vimos que cada povo expressa pela linguagem um conjunto de simbologias que tradu-
zem a sua forma de ver a realidade.
Lembra que os primeiros filósofos, os pré-socráticos, buscavam saber qual 
era o movimento da vida, do devir? Quando eles procuravam o devir será que eles não 
procuravam a verdade sobre esse movimento? E Sócrates, ele criticava os sofistas por-
que eles não se atinham à verdade das coisas, eles estavam apenas interessados em 
ganhar a disputa oratória. Quando falamos que a Filosofia é amor e busca pelo saber, 
então, podemos afirmar que a Filosofia é a busca da verdade?
Quem nunca questionou um amigo ou texto com a dúvida se aquilo que 
ouvia ou lia correspondia exatamente a verdade dos fatos? Na história da Filosofia, as 
questões e análises sobre a verdade perpassam muitas áreas, da lógica à teoria do conhe-
cimento, e foram formulados vários tipos de questões para tentar entendê-la. As questões 
feitas sobre a verdade podem ser assim organizadas:
• O que é a verdade? Essa questão se funda na busca da essência da coisa 
(pergunta metafísica), já que o que se pretende saber é a natureza da verdade. Busca-se 
quais são as condições (necessárias e suficientes) para que uma coisa seja ela e não outra 
coisa.
115
Conceituando o nosso Conhecimento sobre a Verdade
O que é a verdade? Para respondermos essa e outras questões, vamos pri-
meiro conhecer as bases dessa palavrinha, ou seja, como nossa ideia de verdade e do 
verdadeiro se formou e chegou até nós. De acordo com Chaui (1995), o conceito de 
verdade, tal como usamos hoje, está baseado em algumas ideias diferentes sobre a 
verdade.
A ideia grega: aletheia (a = partícula de negação; lethe = esquecimento)
Os gregos quando falavam em verdade se referiam ao que estava visível, 
ao que se manifestava aos olhos ou ao espírito, o que era visível à razão. Aletheia era, 
dessa forma, o que não estava oculto, era o que existia. A verdade estava nas coisas, 
na própria qualidade das coisas, como o próprio nome diz, em grego, a verdade era o 
oposto do que era esquecido, mas para vê-la ela precisava se revelar, se mostrar. Já o 
seu oposto, a falsidade, necessitava que as qualidades se escondessem, se fizessem 
esquecer, se encobrissem. 
Dessa ideia é que surgem questões sobre como é possível o erro, o falso e a 
mentira, pois o ser e a sua verdade são evidentes aos olhos.
Evidente – o que se impõe de modo direto e imediato. 
• Podemos conhecer a verdade? Essa questão se funda na possibilidade do 
conhecimento (pergunta epistemológica), busca saber se é possível ao ser humano alcan-
çar o conhecimento da verdade em seres iguais (outros homens) e em essências diferen-
tes (as outras coisas do mundo).
• Qual é o significado da palavra verdade? Aqui a questão se funda na busca 
do significado ou definição da palavra verdade (pergunta semiótica). 
As questões e análises que veremos neste capítulo trarão à tona as discussões 
feitas desde a antiguidade grega na tentativa de alcançar respostas a essas questões.
A ideia latina: veritas
Para os latinos, a verdade se referia à precisão, à exatidão e à realidade dos 
detalhes de um relato. O que era verdadeiro era a narrativa do acontecido, pois ela não 
existia nas coisas ou por si só, ela dependia da veracidade, da memória e da qualidade 
de percepção de quem contava um acontecido. Ela está no âmbito da linguagem, do 
enunciado. Seu oposto é a mentira.
116
A Verdade – Pensando junto com Sócrates
A análise sobre o que é a verdade está atrelada às discussões sobre o conhe-
cimento, enquanto meio termo entre o sujeito (aquele que conhece) e o objeto (o que se 
quer conhecer). Veremos isso no próximo tópico.
Lembra que conhecimento foi definido como uma construção de significados, 
edificados socialmente a partir de uma vivência no mundo? Compreendemos a realidade a 
partir de nossas experiências cotidianas. Vimos como a linguagem é importante nesse pro-
cesso de busca, sendo a forma que expressamos o nosso conhecer. Um bailarino quando 
apresenta uma coreografia está revelando a sua forma de ver o mundo. Assim também um 
A ideia hebraica: emunah
Para os hebreus, a verdade estava relacionada à realização do prometido, 
estava relacionada ao cumprimento de um pacto feito, à palavra dada. Funda-se na 
crença e na confiança, não está nas coisas nem no dito, mas em Deus e nas pessoas. 
A forma mais elevada de verdade era vista como a revelação divina e sua forma mais 
perfeita como a profecia.
QUADRO 6 - Três conceitos de verdade
A ideia grega Aletheia A verdade estava na essência das coisas.
A ideia latina Veritas A verdade estava associada aos detalhes de um ato enunciado.
A ideia hebraica Emunah A verdade estava relacionada com a promessa, a palavra dada, revelação.
Fonte: Adaptado de Chaui (1995).
A filósofa Chaui (1995) afirma que construímos a nossa ideia de verdade 
como uma síntese dessas três concepções e salienta a diferença entre essas formas de 
compreender a verdade: aletheia se refere ao que as coisas são, veritas ao que os fatos 
foram, emunah ao que as ações e coisas serão.
A nossa concepção de verdade é uma síntese dessas três fontes e por 
isso se refere às coisas presentes (como na aletheia), aos fatos pas-
sados e à linguagem (como na veritas) e às coisas futuras (como na 
emunah). Também se refere à própria realidade (como aletheia), à lin-
guagem (como na veritas) e à confiança-esperança (como na emunah).
Palavras como ‘averiguar’ e ‘verificar’ indicam buscar a verdade; ‘ve-
redito’ é pronunciar um julgamento verdadeiro, dizer um juízo veraz; 
‘verossímil’ e ‘verossimilhante’ significa: ser parecido com a verdade, 
ter traços semelhantes aos de algo verdadeiro (CHAUI, 1995, p. 99).
Latino (ou lácio) – povo indo-europeu que habitou parte da península itálica 
e que em seu processo de ocupação expandiu sua língua e costume ao mesmo 
tempo que permitiu o intercâmbio cultural nas cidades que ocupava. Sua mais 
importante contribuição foi o Direito.
117
Nada nos irrita mais quando em uma conversa alguém nos chama de igno-
rante, não é verdade? Usada dessa forma essa palavra indica que a outra pessoa não 
tem instrução ou modos para conviver com os que ali estão. Essa concepção tão usual se 
distancia um pouco do significado original da palavra, algo normal já que as línguas são 
vivas e podem ganhar novos sentidos na vivência cotidiana, como é o caso das gírias.
Voltemos à palavra ignorante, nos dicionários ignorar significa não ter co-
nhecimento sobre algo, desconhecer alguma coisa ou assunto. Isso não é exatamente 
uma ofensa, pois todos nós somos, de certa forma, ignorantes em alguns assuntos em 
nossas vidas, não é mesmo? 
Normalmente usada para insultar pessoas, ignorante é uma palavrinha muito 
amiga do nosso já conhecido filósofo Sócrates,cuja divisa era “Só sei que nada sei!”. 
Sócrates teria dito isso em reação à afirmação feita pelo Oráculo de Delfos, de que ele 
era o homem mais sábio. Porém, Sócrates entendia que o verdadeiro filósofo deveria 
assumir a sua ignorância e buscar o conhecimento e a verdade das coisas.
Assim, o que o pensador queria dizer é que o filósofo e também todo cida-
dão deveria ter consciência de que vivia em estado de ignorância, ou seja, submetido às 
crenças e opiniões do senso comum próprios da comunidade em que ele havia nascido. 
Ao participar dessas crenças nos sentimos seguro diante do mundo e achamos que sa-
bemos tudo o que existe, mas para esse filósofo as pessoas não podem se acomodar 
nessa situação de ignorância.
O lema socrático conduz a um estado de incerteza diante do mundo, pois a 
única certeza é que não se sabe nada sobre o mundo. Essa incerteza leva a pessoa a 
pensar, a questionar, a querer saber e assim sair desse estado de insegurança. A supe-
ração desse momento é o caminho em busca da verdade.
Você sabe a diferença entre conhecer e ignorar?
ator quando encena, ou ainda uma fotografia, ou expressão final das obras de um pintor 
ou escultor.
118
Saiba Mais
O método socrático de busca da verdade:
O método socrático envolve duas fases. A primeira, chamada ironia, consiste em fazer 
perguntas ao interlocutor que o obriguem a justificar, sempre com maior profundidade, 
seu ponto de vista, até que ele perceba que seus argumentos não se sustentam. Esta é a 
fase destrutiva, pois leva as pessoas a admitir a própria ignorância a respeito do assun-
to. São destruídas as opiniões do senso comum e o conhecimento espontâneo, muitas 
vezes baseados em estereótipos e preconceitos. A segunda parte, chamada maiêutica 
(parto), é a construção de novos conceitos baseados em argumentação racional. Assim, 
Sócrates, com suas perguntas, demole o saber constituído para, depois, ainda através de 
perguntas e da contraposição de ideias, reconstruí-lo a partir de uma base mais sólida e 
de um raciocínio coerente e rigoroso.
Fonte: Aranha; Martins (1992, p. 80).
Os adultos se desiludem ou se decepcionam quando enfrentam situ-
ações para as quais o saber adquirido, as opiniões estabelecidas e as 
crenças enraizadas em suas consciências não são suficientes para que 
compreendam o que se passa nem para que possam agir ou fazer al-
guma coisa.
Ou ainda a uma decisão pessoal, consciente, de não aceitar as crenças e “ver-
dades” dadas (os “tem que ser assim”), sem antes refletir e tentar explicá-las e significá-
las. Essa é a busca pela verdade realizada pela Filosofia, é a busca da verdade da atitude 
filosófica.
Mas dizer que a busca da verdade aparece do susto, ou da desilusão, ou da 
desconfiança nas crenças que você compartilha com a sua família e comunidade, não é 
dizer o que é a verdade. Ainda não respondemos a questão sobre como conhecemos o 
real e a verdade.
A discussão sobre a verdade pode ser didaticamente organizada de várias 
formas, alguns autores fazem um mapa histórico do pensamento sobre a verdade dos 
antigos aos atuais; outros organizam a sua análise tendo como base a resposta (sim ou 
não) para a pergunta “a verdade tem uma natureza?”; é possível ainda dividir a análise 
em teorias tradicionais e contemporâneas.
As desconfianças e inseguranças que nos fazem duvidar nos orientam para a 
procura da verdade. Um dos caminhos dessa busca pode ser a própria crítica das crenças 
e conhecimentos compartilhados pelo grupo.
Segundo Chaui (1995, p. 91), a busca da verdade está ligada a uma decep-
ção, desilusão ou insegurança:
119
Parada Obrigatória
Descartes e a atitude filosófica
Vimos no capítulo 3 que Descartes (1596-1650), considerado o pai da Filosofia moder-
na, criou um método que serviu de base para ciência contemporânea, em seu conheci-
do livro Discurso do Método, de 1637.
Na época de Descartes a ciência e a busca da verdade estavam baseadas nas leituras de 
textos antigos, principalmente os de Aristóteles e nos princípios bíblicos. Ele, um cien-
tista, posteriormente considerado o pai do racionalismo moderno, discordava disso 
e resolveu verificar. Assim, nesse livro, que foi escrito como um prefácio, com o nome 
de “Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro 
da ciência”, procurou estabelecer um fundamento seguro para alcançar uma verdade 
inquestionável.
Ele queria uma verdade que pudesse confiar e começou examinando, colocando em 
dúvida, tudo que conhecia e logo concluiu que as coisas que ele aprendeu pela experi-
ência (pelos sentidos) conduziam a erros e ilusões. Disso o que restava era a capacidade 
de pensar: ele continuava pensando sobre as coisas e questionando a sua verdade. Daí 
surge a sua divisa: “penso, logo existo”.
O que ele queria dizer? Após submeter todo o conhecimento à dúvida metódica, a úni-
ca verdade indubitável era que ele existia e estava ali, pensando. Ele não podia duvidar 
da sua capacidade de pensar, do seu pensamento que duvida da sua existência, da sua 
capacidade de ser pensante. Pois mesmo se duvidasse de sua existência, ainda assim, 
ele estaria pensando. Com essa afirmação, cria um dualismo entre corpo e mente, pois o 
que ele afirma como indubitável é a existência do seu ser pensante, que é colocado em 
oposição ao corpo.
Racionalismo – posição filosófica que admite a razão como única forma de co-
nhecimento válido.
Dúvida metódica – método elaborado por Descartes para alcançar o conheci-
mento seguro.
Com a dúvida metódica, Descartes queria garantir: 1) que as coisas fossem representa-
das sem risco de erro; 2) que houvesse controle das etapas das operações intelectuais; 
e 3) que fossem possíveis deduções seguras que levassem ao crescimento da ciência.
Fontes: Aires (2003); Aranha, Martins (1997); Chaui (1995).
120
As Possibilidades do Conhecimento da Verdade
Na introdução falamos que uma das abordagens sobre a verdade questiona-
va se ela era alcançada pelo sujeito que conhece ou era dada pelo próprio objeto a ser 
conhecido. Essas discussões geraram algumas concepções sobre a verdade que veremos 
no próximo tópico. Esse questionamento está sustentado por uma dicotomia entre sujei-
to e objeto e gerou várias análises e críticas.
Desde os filósofos pré-socráticos que a discussão se desenrola entre empi-
ristas e racionalistas. Os racionalistas afirmavam a existência de princípios racionais e 
de ideias verdadeiras e inatas, que constituiriam o modo de entendimento; enquanto 
os empiristas, embora não negassem o papel da razão, afirmavam o contrário, que o 
conhecimento sempre seria apreendido na experiência dos sentidos.
QUADRO 7 – Esquema básico da dicotomia empirismo-racionalismo
Pré-socráticos
Parmênides e 
Pitagóricos
Existe o conhecimento empírico e o racional, porém só o 
segundo tem valor absoluto, alcança a verdade dos seres.
Protágoras e 
Górgias Só o conhecimento sensível tem valor.
Clássicos
Platão
O conhecimento pela experiência não é confiável, para che-
gar à verdade é preciso ultrapassá-lo e alcançar o “mundo 
da ideia”, que permite o verdadeiro conhecimento.
Aristóteles A atividade básica para poder entender o mundo é a obser-vação da natureza.
Modernos
René Descartes O conhecimento verdadeiro encontra-se na alma e só pode ser alcançado por meio de análise racional.
John Locke e 
David Hume
O conhecimento sempre vem das experiências sensoriais. 
Devem ser acompanhadas de um método que possibilite 
inferências científicas.
Fonte: Elaboração própria (2011).
Representante dos racionalistas modernos, René Descartes propõe ao sujei-
to três tipos de ideias diferentes:
• As ideias adventícias (que são representações dos objetos sensoriais e 
originam de nossas sensações, percepções e lembranças).
• As ideias fictícias (que criamos por nossa imaginação, sendo, portanto, 
sempre falsas).
Este tema fundamental na Filosofia não tem uma definição única nem sim-
ples. Para a Filosofia clássica e moderna, a verdade estava relacionada a algo perene, 
ela existiriamesmo se não fosse conhecida, ela permaneceria a despeito de qualquer 
acontecimento histórico. A dúvida estava em como conhecê-la, quais os métodos que 
devemos utilizar para alcançá-la? Outros ainda questionavam, a verdade é alcançada 
pelo sujeito que conhece ou é dada pelo próprio objeto a ser conhecido? Alcançaremos 
a verdadeira essência das coisas (o que eles realmente são) ou apenas a sua aparência 
(para que elas servem, como as utilizamos, etc.)?
121
• As ideias inatas (não decorrem de nossa experiência sensorial por serem 
inteiramente racionais, só podem existir porque já nascemos com elas).
Em seus livros, esse autor observa que as ideias inatas são as que nos foram 
dadas por Deus, que nos permitem conhecer se uma coisa é verdadeira ou falsa (inclu-
sive julgar os outros dois tipos de ideias).
Para Descartes (1985), tudo o que é conhecido pode decorrer de ideias 
falsas; assim, no Discurso do Método, ele relata como chegou a sua ilustre ideia inata: 
“Penso, logo existo”. Ao colocar tudo em dúvida, percebe que só resta ao ato de duvidar 
a certeza de sua existência, ou seja, o sujeito e a razão. Contrapondo essa ideia, o empi-
rismo postula que o conhecimento é decorrente dos sentidos e que, antes da experiên-
cia, nossa razão é como uma folha em branco. Só a experiência possibilitaria “preencher” 
a razão com conhecimentos verdadeiros.
Procurando responder os problemas sobre a possibilidade de conhecer a 
verdade das coisas, gerados por essas duas linhas de análise, Kant (1985) coloca a 
questão: qual o fundamento ou limite do conhecimento? Ao tentar resolvê-la instaura 
uma nova linha de pensamento com a construção das categorias a-priori do entendi-
mento humano.
Kant (1985) realizou uma síntese das duas linhas teóricas mostrando que 
ambas estavam erradas: a razão, tal como diriam os empiristas, seria uma estrutura 
vazia (sem conteúdos) e universal (a mesma para todos os seres humanos); no en-
tanto, essa estrutura seria inata e não dependeria da experiência, como afirmavam os 
racionalistas. Ou seja, a razão é inata, mas precisa do conteúdo que é adquirido pela 
experiência.
Assim, a experiência forneceria a matéria do conhecimento para a razão, 
enquanto a razão possibilitaria o conhecimento por meio das formas a-priori. Essas for-
mas de conhecer vêm antes da experiência (que é aposteriori) e não dependem dela, o 
conhecimento seria uma síntese, realizada pela razão, entre essa forma universal inata 
e um conteúdo particular dado pela experiência. Conhecemos, então, a partir do sujeito 
do conhecimento, pois a razão não está nas coisas, e sim no sujeito. Para esse autor, o 
conhecimento é racional e verdadeiro.
Ao fazer essa análise, Kant (1985) criticou racionalistas e empiristas que su-
punham o alcance da realidade em si, observando que sobre a realidade nada se pode 
dizer. Pode-se afirmar apenas sobre a razão humana que organiza a realidade para o 
nosso entendimento.
Immanuel Kant (1724-1804) – filósofo alemão que primeiro tentou elaborar uma 
síntese entre o racionalismo e o empirismo. 
122
Saiba Mais
Na Crítica da Razão Pura, escrita em 1781, Kant observa que “as intuições sem concei-
tos são cegas, enquanto que os conceitos sem intuições são vazios” (KANT, 1985, p. 
89). Observe esse breve resumo de como ele concebia o conhecimento como algo que 
surgia nas experiências sensoriais e se consolidava na razão.
Para acontecer, o conhecimento precisa passar por um ajuste entre o mundo e o nosso 
aparato cognitivo. De acordo com esse autor, o conhecimento acontece em três campos:
• Sensibilidade – conhecimento imediato (intuições). A forma de sensibilidade possi-
bilita o ajuste entre espaço e tempo e fornece imagens ao sujeito (intuição).
• Entendimento – absorve as imagens dadas pela sensibilidade e cria relações de cau-
salidade que faça sentido. As relações de causa-efeito são infinitas e então aparece a 
razão (conceitos relacionados à experiência).
• Razão – cria as ideias para controlar o entendimento (conceitos que não correspon-
dem a nenhum objeto da experiência).
No entanto, para esse autor, não podemos conhecer o noumeno (essência), 
a realidade das coisas e do mundo, pois a razão só pode conhecer o que é aparência, 
ou seja, as formas (cor, tamanho, etc.) das coisas e o que é permitido pelas categorias 
(elementos que organizam o conhecimento). A possibilidade do conhecimento parte do 
sujeito e não das coisas, de modo que o conhecimento racional depende exclusivamente 
do sujeito e das estruturas de sensibilidade e de conhecimento.
Husserl – O Conhecimento do Mundo como Relação
Uma interessante proposta sobre o conhecimento da verdade na contempo-
raneidade foi feita por Husserl e os fenomenólogos.
Edmund Husserl (1859-1938) – filósofo alemão de origem judaica, buscou investigar 
as relações da consciência com o ser. Para ele, todo objeto só pode ser conhecido a partir 
de um movimento duplo, em que o objeto se dá para a consciência ao mesmo tempo em 
que essa se orienta a conhecê-lo, pois toda consciência é sempre “consciência de algo”. 
Esse conceito, a “intencionalidade”, é a base para compreender o que o autor denomina 
fenomenologia.
Nessa análise, o conhecimento é visto como resultado de uma relação entre 
a consciência e o mundo, em que um se oferece ao outro. Observe: quando olhamos um 
jardim e vemos nele uma árvore e os seus frutos caídos na grama, esses elementos não 
são adquiridos pela consciência, mas são dados ao conhecer, ao mesmo tempo em que 
a consciência se dá ao conhecimento, como uma explosão, e não por etapas.
123
Assim, ao colocar a questão de como as coisas aparecem para nós, Husserl 
situa o debate entre as formas de entendimento do mundo como uma relação. Ques-
tiona: há objetos independentes da consciência? A consciência pode visar a um objeto 
independente do objeto? Utilizando a expressão “intencionalidade da consciência”, em 
que a consciência é um voltar-se para as coisas do mundo, esse autor postula uma 
relação entre uma consciência de e os objetos ou coisas de um mundo para. A consci-
ência se volta para o objeto pela intencionalidade e o objeto se dá para ser conhecido, 
visto. A consciência é mundializada, mas não há um mundo-em-si, no entanto o mundo 
não é reduzido à consciência, pois o objeto intencionado é o próprio objeto, e não uma 
representação dada por ela, pois os dois são dados de uma única vez, de modo que o 
conhecimento é resultado de um encontro entre a consciência e o mundo. A experiência 
no mundo é uma experiência pré-reflexiva, ou seja, anterior à representação e a intencio-
nalidade é a expressão da relação de conhecimento.
A intencionalidade só pode ser experienciada dentro de um horizonte de senti-
do, que é o mundo vivido, pois intencionar é voltar-se ao mundo. É o sentido que permite 
que o objeto seja visto em um determinado horizonte, pois as possibilidades de significa-
ção do objeto não estão no sujeito, e sim no próprio objeto.
O sujeito apenas desvela (tira o véu) uma dimensão do objeto dada em um 
horizonte determinado, ele sempre só conhece uma parte da história ou do objeto olhado. 
Sempre tem uma parte, outro ângulo que ele não pode ver. Mas, ao intencionar o objeto, 
o sujeito também aparece como consciência de si, pois ele não precede a experiência do 
mundo, ele se dá na experiência com o mundo. O âmago da discussão fenomenológica, 
desse modo, está nessa correlação que tanto fornece o objeto quanto o próprio senso de 
si do sujeito. Antes das representações sobre o mundo, eu tenho a minha experiência no 
mundo, que não se refere a uma relação de causa e efeito, pois é fundada em um hori-
zonte de sentido.
Concepções de Verdade
Para iniciarmos a nossa análise, vamos tratar de algumas concepções que 
buscam explicar como chegamos à verdade: três análises teóricas e uma análise prática. 
As três concepções teóricas são baseadas nas três ideias (aletheia, veritas e emunah) 
que orientam o conceito ocidental de verdade. A análise prática, como o nome jásugere, 
se orienta a uma aplicação. Dessa forma, as quatro concepções de verdade são: a) a 
verdade como correspondência, b) a verdade como coerência, c) a verdade como con-
formidade a uma regra, d) a verdade como eficiência prática ou como práxis.
I. Verdade como correspondência (ou teoria da evidência): é a concep-
ção do realismo, pois a verdade está nas coisas do real, na correspondência com os fatos 
do mundo e está baseada na ideia de verdade como aletheia, a verdade está nas coisas. 
A proposição é verdadeira, se reflete na realidade, se afirma o que de fato é.
124
II. Verdade como coerência: essa concepção está fundamentada no rigor 
e na precisão, na criação e usos da linguagem. A verdade existe quando há uma coerên-
cia interna entre as ideias e o raciocínio, devido a uma obediência a leis e enunciados. 
Esse é o critério (coerência interna e lógica) para que a verdade seja aceita, pois é ela 
que dá validade aos argumentos.
Decorrente da noção de veritas, a verdade está relacionada à veracidade de 
um relato, não dependendo nem do pensamento, nem das coisas em si, ela é eminen-
temente linguística, depende apenas da vontade de expressá-los. É importante observar 
que aqui, embora a marca seja a validade lógica dos argumentos, ou seja, apesar de a 
base estar localizada na linguagem, existe uma relação com as coisas. Mas o cerne da 
verdade se desloca do objeto e do pensamento para o campo da linguagem e para a 
vontade de dizê-lo.
Na linguagem comum, a coerência entre o enunciado e as coisas pode ser 
imprecisa, sendo mais adequada e rigorosa na linguagem lógica das ciências, pois a ver-
dade está situada na coerência interna da linguagem, já que é o respeito às suas regras 
e postulados que fornecem a verdade ou falsidade do que se anuncia.
III. Verdade como consenso (ou teoria da confiança): é a verdade como 
decorrente da conformidade a um conjunto de regras (métodos e procedimentos) que a 
validam como verdadeira.
Aqui a verdade está fundamentada na ideia de emunah, ou seja, da confian-
ça como base. A verdade resulta de um pacto e consensos criados por meio da discus-
são e avaliação por membros de uma comunidade de investigadores e se define como 
convenção.
Universal e necessária – dizer que uma coisa é universal e necessária é dizer que ela 
não muda a depender do tempo e do lugar.
A questão da verdade está ligada ao ver, ao perceber, mas a verdade é evi-
dente, porque é alcançada pela percepção intelectual e racional. A evidência é, assim, 
a condição para o conhecimento verdadeiro. O critério para a verdade ser aceita é que 
a afirmação do intelecto se adeque à coisa. Esse tipo de verdade é o mais divulgado e, 
talvez, o mais antigo. 
De acordo com essa concepção, a mentira decorre de uma visão superficial 
baseada apenas na aparência das coisas ou dos seres. Por não alcançar a essência, algu-
mas qualidades e propriedades são atribuídas de forma indevida, gerando tal falsidade. 
Dessa forma, a verdade exige o afastamento das aparências das coisas, das opiniões 
formadas e das ilusões dos sentidos. Como alcança a essência do ser, a verdade é sem-
pre universal e necessária.
125
IV. Verdade como eficiência prática (ou pragmatismo): é a concepção do 
empirismo, em que o conhecimento da verdade é dado pelos seus resultados e aplica-
ções práticas. A verdade está subordinada à sua utilidade e existe uma primazia da ação 
sobre o pensamento.
O critério de verdade é ter um resultado prático e eficaz, a sua marca é a 
possibilidade de ser verificada (verificabilidade). Assim, algo será verdadeiro se, em re-
lação à determinada atividade, os resultados satisfatórios forem alcançados. A verdade 
do pragmatismo deve-se, basicamente, ao lógico e o filósofo C. S. Pierce foi seu criador.
Princípios da razão – a Filosofia convencionou que a razão para conhecer segue 
quatro princípios estabelecidos por ela mesma: Princípio da identidade (A é A), Prin-
cípio da não-contradição (A é A, e não pode ser ao mesmo tempo não-A), Princípio 
do terceiro-excluído (ou A é x, ou é y) e o Princípio da razão suficiente (tudo tem uma 
razão ou causa que pode ser conhecida por nós).
QUADRO 8 - Concepções de verdade
Resumindo, X é verdadeiro se...
Teoria da Correspondência ...corresponde a um fato.
Teoria da Coerência ...pertence a um conjunto de crenças coerentes internamente.
Teoria da Convenção …for estabelecido por consenso.
 Teoria Pragmática ...for útil e prático.
Fonte: Adaptado de Chaui (1995).
Essas discussões sobre a verdade foram muito importantes para o desen-
volvimento da Filosofia, levando a várias modificações na teoria do conhecimento e no 
mundo, como vimos no capítulo 3.
No entanto, nem todos os autores concordam com essas concepções sobre 
a verdade, nem todos os pensadores se encaixam nessas análises. Vamos aqui analisar 
outras formas de compreensão da verdade e suas implicações.
A verdade como revelação foi discutida com base empirista ou metafísica. 
Em sua base empirista, a verdade que se revela ao homem é sensação, intuição, fenô-
meno, ou seja, a verdade só pode ser alcançada por meio dos órgãos sensoriais. Já para 
a Filosofia metafísica, a essência das coisas (verdade) se revela por um conhecimento 
excepcional e se dá como manifestação do ser supremo, é uma autoanunciação.
O consenso, que é o seu critério de verdade, é sustentado por três princípios, 
segundo Chaui (1995). São eles: 1) o entendimento de que somos seres racionais e que 
o nosso pensamento obedece aos princípios da razão; 2) somos dotados de lingua-
gem e ela segue regras lógicas convencionadas; 3) as verdades devem ser validadas 
após investigação por um grupo de investigadores.
126
Saiba Mais
Alguns estudiosos falam da Teoria da Eliminação da Verdade. Você concorda?
A Teoria da Eliminação da Verdade é a teoria cunhada por F. P. Ramsey, segundo a qual 
o conceito de verdade não apresenta aspectos teóricos de grande relevância, pois pode 
ser eliminado. Por exemplo, afirmar que ‘A neve é branca’ é verdadeira, equivale, sim-
plesmente, a afirmar: A neve é branca.
A teoria de Ramsey foi muito desenvolvida nos últimos tempos, existindo filósofos e 
linguistas que a têm aplicado nas mais variadas circunstâncias.
Fonte: Abe (1991).
Do Dogmatismo à Atitude Crítica
Falamos que a busca da verdade está ligada a uma desilusão em relação ao 
mundo, ou a uma decisão consciente de não aceitar as verdades da vida cotidiana sem 
ter antes refletido sobre elas. Para a Filosofia, isso significa se afastar do dogmatismo.
Dogmatismo – linha ou doutrina que não admite crítica ou discussão de suas doutri-
nas. Assim, o dogma deve ser aceito de forma impositiva e sem debate.
No nosso cotidiano não refletimos muito sobre as coisas práticas e diárias. 
Vimos que essa vivência na atitude natural nos afasta da atitude crítica própria da Filo-
sofia e pode nos conduzir ao erro e a preconceitos. Conforme aponta Chaui (1995), ao 
discorrer sobre esse assunto, como somos seres práticos e culturais aceitamos o mundo 
como ele nos aparece, visando a uma facilidade nos manejos cotidianos. Facilitamos o 
nosso dia a dia acreditando que o mundo existe como percebemos e como nos foi ensi-
nado. A passagem a seguir esclarece a questão:
Na atitude dogmática, tomamos o mundo como já dado, já feito, já 
pensado, já transformado. A realidade natural, social, política e cultu-
ral forma uma espécie de moldura de um quadro em cujo interior nos 
instalamos e onde existimos. Mesmo quando acontece algo excepcional 
ou extraordinário (uma catástrofe, o aparecimento de um objeto intei-
ramente novo e desconhecido), nossa tendência natural e dogmática 
é a de reduzir o excepcional e extraordinário aos padrões do que já 
conhecemos e sabemos. Mesmo quando descobrimos que alguma coisa 
é diferente do que havíamos suposto, essa descoberta não abala nossa 
crença e nossa confiança na realidade, nem nossa familiaridade com 
ela (CHAUI, 1995, p. 94).
Isso acontece porque as nossas certezas e crenças são históricas, ou seja,são construídas ligadas a um período e lugar, e sempre remetem a um lugar de ob-
servação do mundo que é pautado em nossa cultura familiar ou local. O olhar sobre o 
127
mundo será sempre orientado pela educação e cultura, mas a verdade, como buscavam 
os filósofos clássicos e modernos, a exemplo de Sócrates e Descartes, não deveria ser 
redutível a um acontecimento histórico. No entanto, a nossa razão pode adquirir novas 
formas de análise, a depender de como o ser humano se porta diante do mundo, ou 
seja, de onde ele vive, de seu contato ou não com a tecnologia, com uma educação 
formal, com as artes, etc. 
Na vida prática podemos ver duas formas de dogmatismo: o ingênuo e o 
ideológico. O primeiro pode ser exemplificado como a atitude da criança que acredita em 
tudo que os pais lhe dizem, já o ideológico está sustentado por adesão a certos princí-
pios que devem ser aceitos sem serem discutidos. Exemplos dessa forma são as crenças 
de algumas religiões ou os fundamentos de partidos políticos.
A cultura também pode ser uma fonte de dogmas, como podemos ver na 
ideia da superioridade masculina, infelizmente ainda afirmada por alguns. Essa questão 
torna-se dogma quando é afirmada sem a possibilidade de discussão ou novos acordos. 
Também é exemplo de atitude dogmática aquela assumida por grupos e, às vezes, por 
instituições de trabalho sobre as relações homoafetivas, sem aceitar discussões e afir-
mando uma verdade única sobre o tema, apesar de haver discussões na lei. Observe que 
os dogmas podem andar de mãos dadas com o preconceito.
A atitude dogmática é oposta a atitude do cético, que desconfia de tudo e 
não acredita em nada. Observe que a atitude de Sócrates e de Descartes não era uma 
atitude cética, porque eles acreditavam que havia a possibilidade de conhecimento ver-
dadeiro. Um exemplo de atitude cética é quando estamos em crise, porque as coisas 
não estão bem no trabalho ou nos relacionamentos amorosos e perdemos a esperança, 
nessas circunstâncias é muito comum adotarmos uma atitude cética. É fácil, nesses 
momentos, não acreditarmos em novas verdades e possibilidades, duvidarmos que qual-
quer coisa possa vir a dar certo.
Ceticismo – doutrina filosófica que duvida 
que o conhecimento possa ser alcançado.
O dogmático, em sua oposição, tem as certezas sem questioná-las. Na vida 
cotidiana e no trabalho também podemos encontrar muitas pessoas com atitudes dog-
máticas, como aquele gestor que não aceita discutir posições e afirma que sempre o 
jeito dele é o melhor, mesmo que todo o grupo acredite em outra forma mais prática. 
Dessa maneira, a Filosofia se distancia tanto da atitude dogmática quanto da cética na 
busca pelo conhecimento verdadeiro.
128
Resumo
Neste último capítulo, discutimos um tema importantíssimo: a possibilidade 
de conhecermos a verdade. Começamos investigando as ideias gregas, latinas e hebrai-
cas que nos legaram elementos que hoje usamos nesse conceito, e buscamos compre-
ender as possibilidades de se conhecer verdadeiramente. Acompanhamos Sócrates em 
sua busca ao conhecimento e as suas interrogações sobre o conhecer e o ignorar.
Dicas de Vídeo
Lixo Extraordinário (Waste Land). Diretor: Lucy Walker, João Jardim, Karen Harley. Du-
ração: 90 min. Gênero: Documentário. Ano: 2011.
Os Deuses Devem Estar Loucos (The Gods Must Be Crazy). Diretor: Jamie Uys. Dura-
ção: 108 min. Gênero: Comédia. Ano: 1980. 
Sintetize
1. Faça tópicos do pensamento de Sócrates e Descartes. Construa um gráfico para cada um.
2. Desenvolva uma análise crítica do Quadro 8 – Concepções de verdade.
3. Elabore um mapa conceitual sobre o pensamento racionalista versus empirista, com as 
propostas de síntese que surgiram depois.
129
Alegoria da Caverna
Imagine um grupo de pessoas que habita o interior de uma caverna 
subterrânea, estando todas de costas para a entrada da caverna e acorrentadas 
pelo pescoço e pés, de sorte que tudo o que veem é a parede da caverna. Atrás 
delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas 
humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. 
Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras na 
parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é 
este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, 
elas acham que as sombras que veem são a única coisa que existe. Imagine agora 
que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primei-
ramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede 
da caverna. Depois, consegue se libertar dos grilhões que o prendem. E o que 
acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda do 
muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a 
precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca 
a sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sair 
da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido à abundância de luz. 
Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez 
verá cores e contornos precisos; verá animais e flores de verdade, de que as figu-
ras na parede da caverna não passam de imitações baratas. Suponhamos, então, 
que ele comece a se perguntar de onde vêm os animais e as flores. Ele vê o Sol 
brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos animais da natureza, 
assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver as sombras 
refletidas na parede. Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente 
pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras 
pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E 
por isso ele decide voltar. Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as 
sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém 
acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo 
que veem é tudo o que existe; é a única verdade que existe; é a realidade. Por fim, 
acabam matando aquele que retornou para dizer-lhes um monte de “mentiras”.
Fonte: Adaptado de Duarte [200-?].
Textos Complementares
130
O conhecimento como crença verdadeira justificada
Como poderemos distinguir o conhecimento da mera crença verdadei-
ra? A maior parte dos filósofos, incluindo os céticos, defende que a condição para 
se considerar a crença verdadeira como conhecimento tem a ver com a justificação 
que uma pessoa tem para acreditar naquilo em que acredita. A pessoa que tem a 
crença verdadeira acerca do jogo entre a armada e o exército não tem uma justifi-
cação razoável para acreditar naquilo em que acredita, pois na realidade não tem 
qualquer razão para acreditar que o resultado será um empate 21-21. Por outro 
lado, uma pessoa que assista ao jogo e ouça o apito final tem a sua crença com-
pletamente justificada e sabe, portanto, que o resultado final é um empate a vinte 
e um pontos. Assim, podemos afirmar que uma pessoa não tem conhecimento a 
não ser que possa justificar, e justificar completamente, a sua crença. Além disso, 
o que normalmente determina se uma pessoa tem uma boa justificação para a sua 
crença é a qualidade da evidência em que se baseia essa crença. A evidência da 
pessoa que assiste a todo o jogo é bastante adequada, enquanto que a evidência 
da pessoa que adivinha é profundamente insignificante.
Há uma qualificação adicional que é requerida. Uma pessoa pode ter 
uma boa justificação para aquilo em que acredita apesar de a sua justificação se 
basear nalguma suposição falsa. Por exemplo, se alguém estacionar o seu carro 
num parque público por algumas horas, tem uma boa justificação, quando regres-
sa ao carro e não observa nenhuma alteração, para acreditar que o motor do carro 
continua a estar debaixo da capota. Claro que se o motor foi roubado enquanto o 
dono estava ausente, então a crença deste de que existe um motor porbaixo da 
capota não constitui conhecimento simplesmente porque é falso que o motor lá 
esteja. No entanto, imaginemos que depois de o motor ter sido roubado chegou 
um amigo que, verificando que o motor tinha sido removido, procedeu de modo a 
substitui-lo antes que o dono chegasse para evitar o sofrimento deste se encon-
trasse o carro sem motor. Nesse caso, seria correta a crença do dono de que existia 
um motor debaixo da capota quando regressasse. Além disso, a sua crença seria 
igualmente bem justificada. Todavia, a crença do dono seria baseada numa supo-
sição falsa, a saber, a de que o motor que estava debaixo da capota do seu carro 
quando o deixou continuava a estar lá. Esta suposição falsa leva-o à conclusão 
verdadeira de que há um motor debaixo da capota, mas a única justificação que 
tem para acreditar nisso baseia-se numa suposição falsa. Logo, não podemos dizer 
que essa pessoa sabe que há um motor debaixo da capota do seu carro.
Deve-se requerer não só que alguém tenha uma boa justificação para 
aquilo em que acredita, mas também que essa justificação não dependa essencial-
mente de nenhuma suposição falsa; de outro modo, não se pode considerar que 
essa pessoa conheça. […] Requer-se que alguém tenha uma justificação completa 
131
Deus não pode ser provado pela razão (Kant) 
Seja qualquer e quanto se queira o conteúdo do nosso conceito de um 
objeto, nós sempre temos que sair dele, para conferir existência a esse objeto.
Nos objetos dos sentidos isso acontece mediante a conexão com uma 
das minhas percepções, segundo leis empíricas; mas para os objetos do pensa-
mento puro absolutamente não há meio de conhecer a sua existência, porque esta 
deveria ser conhecida inteiramente a priori.
Mas a nossa consciência de toda existência (ou pela percepção, ime-
diatamente, ou por raciocínios que unem alguma coisa à percepção) pertence em 
tudo e por tudo à unidade da experiência; e se a existência fora desse campo 
certamente não pode ser declarada absolutamente impossível, constitui, porém, 
uma hipótese que não temos como justificar.
O conceito de um Ser supremo é uma ideia útil sob muitos aspectos; 
mas, justamente por ser uma simples ideia, é incapaz, por si só, de ampliar o nos-
so conhecimento a respeito do que existe...
Todo o trabalho e o estudo investido no tão famoso argumento da 
existência de um Ser supremo foram, portanto, perdidos; e um homem, por meio 
de simples ideias, certamente não se enriqueceria de conhecimentos, da mesma 
forma que um mercador não poderia se enriquecer de dinheiro se, para melhorar 
a sua própria condição, acrescentasse alguns zeros em seu livro-caixa. 
Fonte: Kant (2012).
para acreditar em algo de maneira que saiba que aquilo em que acredita é ver-
dade, e também que a sua justificação não possa ser frustrada por qualquer falsa 
suposição.
Fonte: Cornman, Lehrer, Pappas (1983, p. 42-44).
132
Sobre a verdade e a formação dos conceitos
O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, me-
tonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram 
enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo 
uso, parecem, a um povo, sólidas, canônicas e obrigatórias.
Assim como é certo que nunca uma folha é inteiramente igual a outra, 
desenhadas, recortadas, coloridas, frisadas, pintadas, mas por mãos inábeis, de 
tal modo que nenhum exemplar tivesse saído correto e fidedigno, como cópia fiel 
da forma primordial.
Fonte: Nietzsche (2000, p. 37).
Anotações
133
Atividades
1. Sabemos que nossa concepção de verdade se fundamenta em três noções diferentes. 
Faça uma síntese sobre o significado de verdade como aletheia.
2. Faça uma síntese sobre o significado de verdade como veritas.
3. Faça uma síntese sobre o significado de verdade como emunah.
4. Após ler o item sobre as Concepções de verdade em seu livro, disserte sobre as principais 
características das quatro teorias.
5. Releia o seu material e faça uma diferenciação entre dogmatismo e ceticismo. Cite 
exemplos.
134
Referências
ABE, Jair Minoro. Verdade Pragmática. Estudos avançados. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141991000200010&lng=en&nr
m=iso>. Acesso em: 22 maio 2011.
ABRÃO, Bernadette Siqueira. História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural Editora, 
2004. 
AIRES, Almeida (org.). Crítica. In: Dicionário Escolar de Filosofia. Lisboa: Plátano. Dis-
ponível em: <http://www.defnarede.com/c.html>. Acesso em: 30 nov. 2011.
ALECRIM, Cecília Gomes Muraro. Conceitos e Fundamentos Teóricos sobre a Pesquisa Cien-
tífica. In: RAPOSO, Denise Maria dos Santos Paulinelli (org.). Metodologia da Pesquisa e 
da Produção Científica. Brasília: FGF, 2010. p. 39-52.
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena. Filosofando: Introdução à Filoso-
fia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena. Temas de Filosofia. São Paulo: 
Moderna, 1997.
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena. Temas de Filosofia. São Paulo: 
Moderna, 1995.
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena. Temas de Filosofia. São Paulo: 
Moderna, 1992.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. KURY, Mário Gama. 4. ed. Brasília: Universidade 
de Brasília, 2001.
AUROUX, Sylvain. Filosofia da linguagem. São Paulo: Parábola, 2009.
BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Trad. MEDEIROS, Carlos Alberto. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar, 2005.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 
Brasília: Universidade de Brasília, 1998.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 6. ed. São Paulo: Ática, 1995.
135
CHAUI, Marilena. Boas-vindas à Filosofia. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
CORNMAN; LEHRER; PAPPAS. Pilosophical Problems and Arguments: an introduc-
tion. New York: Macmillan Publishing Co., Inc., 1983. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.
br/~wfil/crenca.htm>. Acesso em: 14 dez. 2011.
COTTINGHAM, John. Dicionário de Descartes. Trad. MARTINS, Helena. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 1995.
DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Abril Cultural, 1985.
DIAS, Reinaldo. Ciência política. São Paulo: Atlas, 2008.
DUARTE, Paulo. Alegoria da Caverna. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.
br/~pduarte/caverna.html>. Acesso em: 14 dez. 2011.
DURANT, Will. Os Pensadores: A História da Filosofia. Rio de Janeiro: Nova Cultural, 
1996.
FERREIRA, Danielle et al. Ética. 2000. Monografia (Organização, Sistemas e Métodos). 
Faculdades Integradas Campos Salles. São Paulo. Disponível em: <http://www.maurolaruc-
cia.adm.br/trabalhos/etica.htm>. Acesso em: 14 dez. 2011.
FOCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. 
MUCHAIL, Selma Tannus. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 8. ed. Rio de Janei-
ro: Paz e Terra, 1982.
GASSET, José Ortega Y. O homem e a gente. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 
1960.
GOODNEWS, Decio. A verdade segundo Platão (II). Disponível em: <http://www.
recantodasletras.com.br/artigos/2366446>. Acesso em: 08 jul. 2010.
GRAÇA, Hélio. Clima Organizacional: uma abordagem vivencial. Brasília: FUNADESP, 
1999.
G1. Grupo de ciclistas é atropelado em Porto Alegre. Disponível em: <http://
g1.globo.com/brasil/noticia/2011/02/grupo-de-ciclistas-e-atropelado-em-porto-alegre.
html>. Acesso em: 18 maio 2012.
HAVILAND, Willian A. et al. Princípios de Antropologia. São Paulo: Cengage Learning, 
2011.
136
JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 3. ed. São Paulo: Cultrix. 1965.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Disponível em: <http://vejafilosofia.blogspot.
com/p/conteudo-1-ano-1bim.html>. Acesso em: 31 maio 2012.
KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. Piracicaba: UNIMEP, 2004. 
KENNY, Anthony. História concisa da Filosofia Ocidental. 2. ed.Lisboa: Temas e deba-
tes, 2003. 
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: 
Atlas, 1986.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: 
Atlas, 1991.
LARAIA, Roque Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24. ed. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 2009.
MAIA, Tim. Sossego. In.: Tim Maia in Concert. São Paulo: Sony, 2007, CD.
MARX, Karl. Ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1985.
MENEZES, André Chui. Profissionais da sociedade contemporânea: um estudo sobre 
executivos de modernas organizações capitalistas. 2007. 168f. Dissertação (Mestrado em 
Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São 
Paulo, São Paulo. Disponível em: <http://pandora.cisc.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-
07072008-095130/publico/DISSERTACAO_ANDRE_CHUI_DE_MENEZES.pdf>. Acesso em: 
14 dez. 2011.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 
MEYER, Michel. Questões de Retórica: Linguagem, Razão e Sedução. Lisboa: Edições 70, 
1997. 
MOREIRA, Joaquim Magalhães. A ética empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1999.
MORIN, Edgar. A Unidade do Homem. Vol. III. São Paulo: Cultrix, 1982.
MOTTA PRESTES, Fernando. A teoria das organizações: evolução e crítica. 2. ed. São 
Paulo: Pioneira, 2001.
137
NIETZSCHE, Friedrich. Sobre a verdade e a mentira no sentido extra-moral. In: 
Obras Incompletas. São Paulo: Nova Cultura, 2000. p. 37. 
OLIVEIRA, Cezar. Influências históricas na administração. Disponível em: <www.
professorcezar.adm.br/Textos/InfluenciasHistoricasAdm.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2011.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante 
de guarda-livros na cidade de Lisboa. ZENITH, Richard (org.). São Paulo: Companhia das 
Letras, 2006.
QUATRO cantos do mundo. Disponível em: <http://quatrocantosdomundo. files.wordpress.
com/2011/04/barcelona-093. jpg>. Acesso em: 25 jun. 2012.
RAGO, Luzia Margareth; MOREIRA, Eduardo F. P. O que é taylorismo. São Paulo: Brasi-
liense, 2003.
RIBEIRO, Alessandra. Antropologia cultural e diversidade. Curitiba: Fael, 2010.
RUBIM, Linda (org.). Organização e produção da cultura. Salvador: EDUFBA, 2005. 
RUSSELL, Bertrand. Os Problemas da Filosofia. São Paulo: Edições 70, 2008.
RUSSELL, Bertrand. Os Problemas da Filosofia. Lisboa: Edições 70, 2005. Trad. MUR-
CHO, Desidério. Disponível em: <http://criticanarede.com/filos_cidadania.html>. Acesso 
em: 09 fev. 2012.
RUSSELL, Bertrand. Aparência e Realidade. In: Os Problemas da Filosofia. Trad. CON-
TE, Jaimir. Florianópolis: 2005. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~conte/russell01.
html>. Acesso em: 09 fev. 2012.
SANCHES VÁSQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
SAVIAN FILHO, Juvenal. Argumentação: a ferramenta do pensar. São Paulo: WMF Mar-
tins Fontes, 2010.
SCHLAMGER, Jacques. In: AMADO, João; GAMA, João; MORÃO, Artur. O prazer de pen-
sar. Lisboa: Edições 70, 1989. p. 34-35.
SILVA, Fabiana Cristina da; PENNA, Luciane de Oliveira; LUIZ, Lucilena de. Os sujeitos do 
processo de alfabetização. São Carlos: UFScar, [199-?].
SMITH, Adam. A Teoria dos Sentimentos. 15. ed. São Paulo: Cultrix, 1971.
138
SOUSA, Luiz Gonzaga de. Ética e sociedade. In: Eumed.net: Biblioteca Virtual de De-
recho, Economía y Ciencias Sociales. 2006. Disponível em: <http://www.eumed.net/
libros/2006a/lgs-etic/1t.htm>. Acesso em: 21 mar. 2012.
SUA pesquisa.com. O Iluminismo. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/histo-
ria/iluminismo/>. Acesso em: 12 dez. 2011.
SUAREZ, Antônio Abreu. A arte de argumentar. Cotia: Atelier, 2001. 
TEIXEIRA, Jerônimo. Natureza Humana. Revista Superinteressante. São Paulo, n. 
186, mar., 2003. Disponível em: <http://super.abril.com.br/superarquivo/2003/conteu-
do_275078.shtml>. Acesso em: 30 nov. 2011.
TRAHAIR, Richard C. S.; ZALEZNIK, Abraham. Elton Mayo. The Huma-
nist Temper. New Jersey: Transaction Pub, 2009. Disponível em: <http://books.
google.com.br/books?vid=978-1-4128-0524-7&printsec=frontcover&redir_
esc=y#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 25 jul. 2012.
VELOSO, Caetano. Oração ao tempo. In: Cinema Transcendental. Rio de Janeiro: Poly-
gram, 1979, CD.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 8. ed. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 1994.
WIKIMEDIA COMMONS. A morte de Sócrates. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:David_-_The_Death_of_Socrates.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2012.
WIKIMEDIA COMMONS. Aristóteles. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Aristotle_Altemps_Detail.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2012.
 
WIKIMEDIA COMMONS. Escola de Atenas. Disponível em: <http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Escola_de_atenas_-_vaticano.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 25 jun. 2012.
WIKIMEDIA COMMONS. Frederick Taylor. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Frederick_Winslow_Taylor_crop.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2012.
WIKIMEDIA COMMONS. Galileu Galilei. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Galileo.arp.300pix.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2012.
WIKIMEDIA COMMONS. O pôr do sol. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/
wiki/File:Sunset_at_Kamouraska.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 25 jun. 2012.
WIKIMEDIA COMMONS. Obra de Caravaggio. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Caravaggio_-_Taking_of_Christ_-_Dublin_-_2.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2012.
139
 
WIKIMEDIA COMMONS. René Descartes. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg>. Acesso em: 25 jun. 
2012.
YANOMAMI. O mundo espiritual. Disponível em: <http://yanomami.paginas.sapo.pt/o_
mundo_espiritual.html>. Acesso em: 09 fev. 2012.
ZANETTI, Augusto; VARGAS, João Tristan. Taylorismo e Fordismo na Indústria Pau-
lista: o empresariado e os projetos de organização nacional do trabalho 1920-1940. São 
Paulo: Associação Brasileira de Editoras Universitárias, 2007.
ZARIFIAN, Philippe. O tempo do trabalho: o tempo-devir frente ao tempo espacializado. 
Tempo Social, São Paulo, vol. 14, n. 2, p. 1-18, out. 2002. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702002000200001&lng=en&nrm=i
so>. Acesso em: 13 dez. 2011.
140
Estudos Complementares
Capítulo 1
Leitura Complementar 1 – Os novos nomes do racismo: especificação ou inflação conceptual? 
Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0873-65292000000200002
 
	Capa Filosofia
	Branco
	Filosofia
	Branco
	contra_capa

Mais conteúdos dessa disciplina