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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA CONTEUDISTA João Rudini Sturm Zevir Anibal Cipriano Júnior REVISÃO TÉCNICA Alexandre Coelho Boggi REVISÃO ORTOGRÁFICA Vivianne Oliveira Rodrigues PRODUÇÃO (APOIO) Maria de Fátima de Souza Moreno Danilo Bruno Moreira Gislene Barros Silva REVISÃO PEDAGÓGICA Daniele Rosendo dos Santos Márcio Raphael Nascimento Maia COORDENAÇÃO DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA APLICADA PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO Renato Antunes dos Santos Vinícius Alves de Sousa DESIGNER Renato Antunes dos Santos Zulmiro José Machado Filho DESIGNER INSTRUCIONAL Vinícius Alves de Sousa SUMÁRIO MÓDULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS INCÊNDIOS FLORESTAIS AULA 1: TEORIA BÁSICA DO FOGO 1.1 - Triângulo do fogo 1.2 Combustão do material florestal 1.3 Morfologia do incêndio florestal 1.4 Métodos de extinção AULA 2: CLASSIFICAÇÃO E CONSEQUÊNCIAS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS 2.1 Classificação 2.2 Consequências AULA 3: PROPAGAÇÃO E COMPORTAMENTO DO FOGO 3.1 Transferência de calor 3.2 Evolução de um incêndio florestal 3.3 Variação da propagação 3.4 Velocidade de propagação 3.5 Intensidade do fogo 3.6 Fatores que influenciam na propagação 3.6.1 Combustíveis 3.6.1.1 Classificação dos combustíveis 3.6.1.2 Umidade do combustível 3. 6.1.3 Continuidade horizontal e vertical 3. 6.2 Condições climáticas 3. 6.3 Topografia MÓDULO 2 - INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS AULA 1: INTRODUÇÃO À INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS DE INCÊNDIOS FLORESTAIS AULA 2: METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO 2.1 Isolamento da área 2.2 Descrição e análise da área 2 .3 Geoprocessamento da área 2. 4 Definição da estratégia de investigação 2. 5 Entrevistas e coletas de informações de pessoas envolvidas 2. 6 Identificação da zona de origem (ZO) 2. 7 Fracionamento da ZO 2. 8 Coleta e estudo de materiais e vestígios encontrados na ZO 2. 9 Determinação das causas 2. 10 Planimetria e croqui 2.11 Fotografias 2.12 Liberação do local. AULA 3: INDICADORES DE QUEIMA 3.1 Indicadores de queima simples 3.1.1 Grau de queima 3.1.2 Ângulo de carbonização 3.1.3 Congelamento de galhos 3.1.4 Combustíveis protegidos 3.1.5 Queima profunda 3.1.6 Coloração e deposição de fuligens 3.2 Indicadores de queima complexos 3.2.1 Padrão em “V” 3.2.2 Talos de gramíneas 3.2.3 Depósito de cinzas 3.2.4 Spalling (desplacamento ou escamação) AULA 4: CLASSIFICAÇÃO DAS CAUSAS 4.1 Descargas atmosféricas (raios) 4.2 Fogueiras de acampamento 4.3 Fumantes (cigarros) 4.4 Queimas para limpeza 4.5 Incendiário 4.6 Uso de equipamentos 4.7 Estradas de ferro 4.8 Crianças 4.9 Operações agrícolas e florestais 4.10 Fogos de recreação 4.11 Balões 4.12 Armas de fogo 4.13 Refração ou reflexão de luz solar 4.14 Reação biológica ou química exotérmica 4.15 Redes elétricas 4.16 Outros MÓDULO 3 - MATERIAIS E DOCUMENTOS PARA A INVESTIGAÇÃO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS AULA 1: MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA A INVESTIGAÇÃO 1.1 Equipamentos de Proteção Individual (EPI) 1.2 Prancheta, papel, lápis, borracha, régua 1.3 GPS - Sistema de Posicionamento por Satélite 1.4 RPA (drone) - Remotely Piloted Aircraft 1.5 Trena de 50 metros ou eletrônica 1.6 Recipientes limpos para acondicionar materiais para exames 1.7 Barbante ou cordelete (rolo) 1.8 Bandeirolas de sinalização grandes 1.9 Faca 1.10 Celular ou máquina fotográfica 1.11 Fita de isolamento de local 1.12 Veículo para acesso ao local AULA 2: CROQUI 2.1 Esboço 2.2 Simbologia 2.3 Croqui AULA 3: LAUDO OU RELATÓRIO TÉCNICO DE INVESTIGAÇÃO 3.1 Qualificação 3.2 Informações técnicas 3.3 Informações complementares APRESENTAÇÃO DO CURSO No Brasil, a maior parte dos incêndios florestais tem como causa uma ação humana direta, exceções apenas aos raios, que representam, no máximo, 3% das ocorrências de incêndios no Brasil. Conhecer essas causas é importante e fundamental para se traçar os planos preventivos, pois é sobre as causas que devem repousar as ações (SOARES; BATISTA; SANTOS, 2005). A investigação da causa de um incêndio florestal tem como objetivo localizar sua origem para determinar que tipo de ação o provocou, desse modo, poderão ser identificadas as situações de risco e aplicadas as medidas preventivas eficazes, além de instruídos os processos decorrentes de crimes ambientais (IBAMA, 2011). Para que o aluno possa atingir o objetivo proposto acima, o curso estará organizado da seguinte forma: primeiramente abordar-se-á, de forma sequencial, os conceitos básicos como fogo, combustão e incêndio, permitindo ao aluno uma melhor compreensão de como os incêndios se propagam e dos fatores que influenciam seus comportamentos. Em sequência, de posse do conhecimento geral, apresentar-se-ão ao aluno a investigação das causas dos incêndios florestais, a introdução sobre o tema, uma noção geral sobre a metodologia de investigação, os indicadores de queima e uma abordagem generalizada sobre as diversas categorias de causas adotadas por algumas instituições e as orientações importantes para as equipes que combaterão os incêndios florestais. Para finalizar, será dado destaque aos equipamentos e aos documentos pertinentes à investigação. É importante destacar que o tema proposto se trata de um conhecimento amplo e que, como tal, exige dedicação, estudo e treinamento. Estudos teóricos complementares são importantes e esperados, bem como a realização de treinamentos operacionais para uma plena capacitação do aluno. Bons estudos! OBJETIVO DO CURSO Proporcionar aos alunos o conhecimento básico e o desenvolvimento das habilidades e das atitudes indispensáveis para atuar, com segurança, em operações de investigação das causas de um incêndio florestal. ESTRUTURA DO CURSO O curso possui 30 horas e está dividido em 3 módulos de aprendizagem: Módulo 1 - Considerações gerais sobre os incêndios florestais: Aula 1: Teoria Básica do Fogo; Aula 2: Classificação e Consequências dos Incêndios Florestais; Aula 3: Propagação e Comportamento do Fogo; Módulo 2 - Investigação das causas dos incêndios florestais: Aula 1 – Introdução à investigação das causas de incêndios florestais; Aula 2 — Metodologia de investigação; Aula 3 — Indicadores de queima; Aula 4 — Classificação das Causas dos Incêndios Florestais Módulo 3 - Materiais e documentos para a investigação dos incêndios florestais: Aula 1 — Materiais para investigação; Aula 2 — Croqui; Aula 3 — Laudo ou relatório técnico de investigação. MÓDULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS INCÊNDIOS FLORESTAIS Apresentação Neste módulo, você estudará sobre os aspectos gerais dos incêndios florestais, a teoria básica do fogo e a definição de incêndio florestal e suas características. Serão estudados ainda as fases da combustão, as partes de um incêndio florestal, sua classificação e suas consequências. Dessa forma, você compreenderá como o incêndio inicia e os fatores que irão influenciar na sua propagação e em seu comportamento, sendo esse conhecimento fundamental para a compreensão do módulo seguinte. Objetivos • Conceituar Incêndio Florestal (IF); • Citar e explicar os elementos que compõem o triângulo do fogo; • Diferenciar as fases da combustão do material florestal; • Definir a morfologia do incêndio florestal; • Explicar os métodos de extinção. • Classificar os tipos dos incêndios florestais; e • Compreenderas consequências dos incêndios florestais. Estrutura do Módulo O módulo possui 3 aulas: Aula 1 — Teoria básica do fogo; Aula 2 — Classificação e consequências dos Incêndios Florestais; Aula 3 — Propagação e comportamento do fogo. Aula 1 — Teoria básica do fogo Ao iniciarmos o estudo da primeira aula, é importante avançar pelas definições dos elementos básicos que permitirão o aprofundamento das lições, entre eles: combustão, fogo, incêndio e incêndio florestal. Você poderá observar a definição de cada um deles, a seguir: Combustão: é uma reação química exotérmica entre um combustível e um comburente, em que os gases resultantes dessa mistura se inflamam, resultando na liberação de energia, que se manifesta sob a forma de luz e calor. Fogo: é o resultado da rápida combinação entre combustível, comburente (oxigênio) e uma fonte de calor. Floresta: espaço natural com área superior a 0,5 hectare, com árvores cujas alturas sejam maiores que 0,5 metro e coberturas de copa superiores a 10%, ou que tenha árvores capazes de alcançar esses parâmetros in situ (no local). Incêndio: é o fogo fora de controle. Incêndio Florestal: o fogo sem controle em florestas e demais formas de vegetação. 1.1 Triângulo do fogo O fogo somente ocorre quando, no ambiente, temos a presença de três elementos: o calor, o comburente e o combustível, os quais são chamados triângulo do fogo. Veja abaixo a definição de cada um desses elementos: Calor: é tecnicamente denominado energia de ativação. Combustível: é todo e qualquer material suscetível à combustão. Comburente: é a substância capaz de reagir com os produtos combustíveis para transformar-se em energia. Além dos três elementos que formam o triângulo do fogo, é importante destacar que, para que o fogo se sustente, a energia liberada deve ser suficiente para desencadear a sequência de outras reações. Essa ação é chamada reação em cadeia. Alguns estudos apontam que ela seria o quarto elemento, compondo, portanto, um tetraedro do fogo. Para extinguir o fogo, é necessário realizar uma intervenção em qualquer um dos elementos do triângulo do fogo, ou mesmo na quebra da reação em cadeia. 1.2 Combustão do material florestal Entender o fenômeno da combustão nos incêndios florestais é importante para poder manejá-lo com maior eficiência. A combustão do material florestal compreende três fases distintas: Pré-aquecimento: o combustível, sob a influência de uma fonte de calor, parcialmente se destila, mas não há existência de chamas. O vapor d’água começa a ser eliminado do combustível, que permanece a aquecer até a temperatura de ignição, que fica entre 260 e 400 graus, para a maioria do material florestal. Destilação ou combustão dos gases: os gases são liberados, acendem e queimam (pirólise), produzindo chamas e temperaturas que podem atingir 1250 graus. Incandescência ou consumo do carvão: ocorre uma intensa produção de fumaça, o calor gerado é intenso, mas já não existem chamas e o combustível é consumido, restando apenas cinzas. Nos incêndios florestais, é importante saber que as três fases ocorrem simultaneamente. Figura 1: Fases da combustão de material florestal Fonte: CBMSC (2019). 1.3 Morfologia do incêndio florestal Para melhor compreender o desenvolvimento dos incêndios florestais, as partes são divididas na forma que segue: Cabeça (frente ou linha de fogo): é a área que mostra a direção em que o fogo se propaga. Cauda (base ou retaguarda): é a parte que se propaga em direção oposta de forma mais lenta. Flancos: é a parte que se propaga perpendicularmente na cabeça do incêndio ou na lateral do incêndio, ligando esse a cauda. podem ter fogo ativo, mas não tão quente quanto a cabeça. Dedos: área que queima longe da parte principal do incêndio, que geralmente é uma faixa estreita. Bolsas (bolsos): área não queimada entre a cabeça e os dedos. Ilhas: são áreas de combustível não queimado dentro do perímetro do fogo. Zona/ponto de origem: é o local em que se iniciou o fogo. Figura 2: Morfologia de um incêndio florestal Fonte: ENB (2006). 1.4 Métodos de extinção Os principais métodos de extinção de um incêndio florestal são: resfriamento, abafamento, quebra da reação em cadeia e retirada do material combustível. Segue, abaixo, a definição de cada um deles: Resfriamento: consiste em reduzir a temperatura do material em combustão, inibindo a transferência do calor. Ex.: água aplicada sobre o fogo. Abafamento: consiste em cessar/inibir a oferta do comburente. Ex.: utilização de abafadores e/ou batedores. Quebra da reação química em cadeia: interferência direta na combinação dos gases quentes e inflamáveis com o comburente. Ex.: utilização de produtos químicos aplicados no combustível. Retirada do material combustível: objetiva retirar/afastar o material combustível que se encontra próximo ao incêndio ou em direção a este. Ex.: construção de aceiros/linhas de defesa. Aula 2 — Classificação e consequências dos Incêndios Florestais Os incêndios florestais podem ser classificados sob vários aspectos e de acordo com cada instituição. A tabela 01, utilizada pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC), apresenta a classificação dos IFs quanto as suas proporções, quanto a origem das causas, quanto a sua propagação e quanto aos seus locais. 2.1 Classificação Tabela 1: Classificação dos incêndios florestais. Fonte: CBMSC (2019). A classificação, aqui adotada, levará em consideração os extratos combustíveis em uma floresta. Dividem-se em superficiais, de copa e subterrâneos. Incêndios superficiais: propagam-se na superfície do piso da floresta, queimando os restos vegetais não decompostos, tais como folhas e galhos caídos, gramíneas, arbustos, enfim, todo material combustível (figura 03). Características: propagação relativamente rápida; abundância de chamas; muito calor; e, normalmente, o combate é mais fácil. Porém podem dar origem a outros tipos de incêndios. Figura 3: Ocorrência de incêndio superficial Fonte: CBMSC (2019). Incêndios de copa: propagam-se nas copas das árvores, em que a velocidade e a intensidade do fogo são maiores e mais rápidas, devido à grande circulação do vento (figura 04). São assim classificados independentemente de o fogo ser considerado superficial. Características: toda folhagem do estrato arbóreo é consumida pelo fogo; libera grande quantidade de calor; em sua grande maioria, são originados por incêndios de superfície (com exceção dos causados por descargas elétricas); e são favorecidos pela continuidade vertical do material combustível e por correntes de convecção quando em locais de grande inclinação. Figura 4: Ocorrência de incêndio de copa Fonte: CBMSC (2019). Incêndios subterrâneos: propagam-se pelas camadas de húmus ou turfa existentes sobre o solo mineral e abaixo do piso da floresta. Esses combustíveis são de textura fina, isolados da atmosfera e relativamente compactados (figura 05). Características: devido ao seu isolamento com a camada atmosférica (pouco oxigênio disponível), o fogo nesse tipo de incêndio se propaga com maior lentidão; sem presença de chamas; geralmente com pouca fumaça; difícil detecção; intensidade de calor elevada; e causam a morte das raízes. Figura 5: Ocorrência de incêndio subterrâneo Fonte: CBMSC (2019). 2.2 Consequências É preciso compreender os efeitos decorrentes dos incêndios florestais para que se possa dimensionar a importância da prevenção. É importante objetivar que os incêndios não ocorram, sem deixar de atuar na resposta a esse desastre, por meio de um combate eficiente. Na maioria dos casos, os danos são causados em: florestas, parques, unidades deconservação, solo, patrimônio (casas, empresas, prédios públicos etc.), ar atmosférico, economia e, principalmente, vidas humanas. Se os danos são tão expressivos, por quais motivos os incêndios ainda ocorrem? A resposta nem sempre é tão simples: cerca de 85% dos incêndios, na América do Sul, têm origem nas ações do ser humano, como algumas práticas de origem antiga que podem responder aos motivos do homem atear fogo no meio rural, entre elas: limpeza de terreno, destruição de animais nocivos, melhora da composição química do solo, redução do combustível da floresta, melhora da condição de penetração (sementes e pessoas). Infelizmente, os incêndios criminosos também ocorrem. Os danos indiretos, como o assoreamento dos rios, redução do fluxo de água, inundações, erosões, perdas em turismo e recreação, desemprego, extinção de espécies, entre outros, podem resultar em prejuízos financeiros e ambientais relevantes, dependendo da severidade do incêndio florestal. Aula 3 — Propagação e comportamento do fogo O comportamento do fogo durante os incêndios florestais será definido por um conjunto de variáveis, de forma que é correto afirmar que os incêndios se comportarão, quase que na sua totalidade, de maneiras distintas entre si. O estudo do comportamento do fogo permitirá ao aluno prever o provável caminho que o incêndio tomará, a partir de uma análise das variáveis que influenciarão nessa trajetória. 3.1 Transferência de calor Quando se inicia o fogo, o calor é transferido da zona de combustão para os combustíveis próximos para que o incêndio tenha continuidade. O calor pode ser propagado nos combustíveis vegetais por quatro diferentes meios: Condução: é a transferência do calor em corpos sólidos, de molécula a molécula, sem que haja a transferência de matéria durante o processo (figura 06). Ocorre em menor escala nos incêndios florestais; Figura 6: Exemplo de transferência de calor por condução Fonte: CBMSC (2019). Radiação: é a transferência de calor por ondas eletromagnéticas sem que haja a necessidade da presença de matéria (sólida, líquida ou gasosa); Convecção: é a transferência de calor por meio do movimento circular ascendente de massas de ar aquecidas (figura 07); Figura 7: Exemplo de transferência de calor por convecção Fonte: CBMSC (2019). Projeção de partículas incandescentes: Incêndios de grande intensidade produzem um alto número de fagulhas que podem se deslocar por longas distâncias, produzindo novos focos de incêndio (figura 08). Figura 8: Projeção de partículas Fonte: CBMSC (2019). Você sabia que todas as formas de propagação de calor geralmente atuam simultaneamente nos incêndios florestais? Figura 9: Exemplo de propagação combinada Fonte: CBMSC (2019). 3.2 Evolução de um incêndio florestal Você sabia que um incêndio superficial sempre tem início por um pequeno foco? Sim, essa afirmativa é verdadeira. Inicialmente, o incêndio tende a se propagar para todos os lados de forma circular (figura 10). Figura 10: Forma inicial de propagação Fonte: CBMSC (2019). O vento é considerado o principal elemento que dá forma e direção de propagação à maioria dos incêndios. Outros elementos também influenciam, entre eles, os combustíveis e a topografia. 3.3 Variação da propagação Os incêndios possuem variação diferente no decorrer do dia, pois a intensidade do fogo e a velocidade de propagação reagem às variações meteorológicas diurnas ou noturnas de forma diferenciada, conforme figura 11. Figura 11: Variação do incêndio ao longo do dia Fonte: CBMSC (2019). Por meio da variação da propagação pode-se observar que existem horas do dia mais propícias para o combate, como as da madrugada, em que os incêndios são mais facilmente combatidos. 3.4 Velocidade de propagação A propagação é o termo usado para descrever a taxa segundo a qual o fogo aumenta, tanto em área quanto linearmente. Em estudos de comportamento do fogo, um dos mais importantes parâmetros é a velocidade de propagação. Em termos práticos, a velocidade de propagação do fogo pode também ser medida diretamente em qualquer incêndio. Basta ter um cronômetro e marcar no terreno distâncias preestabelecidas, cronometrando o tempo que o fogo leva para percorrer essas distâncias. Estima-se facilmente a velocidade de propagação em qualquer unidade desejada. Apesar de ser um dos parâmetros mais fácil de medir em um incêndio, a velocidade de propagação é muito importante na previsão do comportamento do fogo. 3.5 Intensidade do fogo Um dos parâmetros mais importantes do comportamento do fogo é a intensidade: quanto maior, mais difícil se torna a aproximação do combatente às chamas. Apenas incêndios de baixa intensidade permitem o combate direto. A intensidade pode também ser associada ao comprimento médio das chamas. Dada a dificuldade na obtenção da medida da intensidade, sugere-se identificá-la através da carbonização na casca das árvores. 3.6 Fatores que influenciam na propagação Os principais fatores que influenciam na propagação dos incêndios florestais são: combustível, condições meteorológicas e topografia. 3.6.1 Combustíveis O combustível é o principal elemento dos incêndios florestais, porque sobre ele é que se tem maior facilidade de se auferir modificações. 3.6.1.1 Classificação dos combustíveis Perigoso: é aquele de combustão rápida, constitui-se principalmente de materiais leves e finos, como folhas, pequenos galhos, acículas mortas, capim seco e pequenos arbustos. Por serem finos, perdem umidade mais facilmente e absorvem calor com mais facilidade, o que implica ignição rápida e combustão rápidas, acelerando a propagação. Semiperigoso: constitui-se de materiais mais espessos que os perigosos. São materiais lenhosos, húmus e turfa. Possuem a característica de queima lenta. Apresentam risco de reignição do incêndio, dado que desenvolvem intenso calor. Verde: é todo o material vivo, que apresenta um alto teor de água. Nota-se que, uma vez submetido a intensas fontes de calor, tornam-se inflamáveis e de difícil extinção. Por vezes, são responsáveis pela reignição dos focos de incêndio, quando o rescaldo não é realizado da forma adequada. 3.6.1.2 Umidade do combustível A umidade no combustível é determinada em razão do porcentual de água em relação ao peso seco. A presença ou não de água e a quantidade disponível no material combustível são fatores decisivos do processo de combustão. Caso o material combustível esteja úmido, a combustão só irá ocorrer após a evaporação da água. Para isso, é preciso que haja fonte de calor suficiente e contínua agindo sobre o material combustível — com isso, parte da energia que seria utilizada para desencadear o processo de combustão e interagir no processo de pré- aquecimento acaba sendo consumida para o processo de evaporação de umidade. 3. 6.1.3 Continuidade horizontal e vertical Define-se continuidade pela disposição de material combustível na linha do solo, ou seja, horizontalmente ou em direção a copa das árvores, neste caso, verticalmente. Não há necessidade do contato direto entre os combustíveis, bastando estar próximo, na área de combustão do material contíguo (figura 12). Figura 12: Continuidade horizontal e vertical Fonte: CBMSC (2019). A combinação da disposição contínua horizontal com a disposição contínua vertical tem relevante influência na propagação dos incêndios. Ocorrendo descontinuidade vertical, os incêndios de copa serão dispersos. Ocorrendo descontinuidade horizontal, os incêndios não deverão se propagar. 3.6.2 Condições climáticas São importantes na propagação dos incêndios, sendo elas: Temperatura do ar: influencia diretamentena combustão e na propagação dos incêndios. A temperatura de ignição depende da temperatura inicial do combustível e da temperatura do ar em volta do combustível. A temperatura do ar age também sobre os outros fatores que atuam na propagação do fogo, como os ventos e a estabilidade atmosférica. Umidade relativa do ar: o teor da umidade do material combustível em floresta é controlado, em grande parte, pela umidade atmosférica. A umidade relativa do ar é também um elemento importante na avaliação do grau de dificuldade de combate aos incêndios, pois, quando a umidade relativa do ar desce ao nível de 30% ou menos, torna-se extremamente difícil combater um incêndio. Vento: influencia na propagação dos incêndios de várias maneiras: desloca o ar úmido do interior da floresta, aumentando a evaporação e favorecendo a secagem do material combustível; quando suave, ajuda na ignição do material combustível; e constitui-se em um dos principais fatores de direcionamento do incêndio, já que inclina as chamas (influenciando na fase de pré-aquecimento) e projeta fagulhas a longas distâncias. Precipitação: as condições de inflamabilidade podem ser revertidas pelas chuvas e o contrário também acontece, pois em longos períodos de estiagem, aumenta-se o potencial de propagação do fogo, já que a secagem progressiva do material morto afeta o teor de umidade da vegetação verde, aumentando a probabilidade de ignição e a facilidade de propagação do incêndio. 3.6.3 Topografia Exerce grande influência sobre o clima e na vegetação. A influência da topografia nos incêndios pode ser mais bem compreendida por meio da análise de três fatores básicos: elevação, exposição e inclinação. Elevação: altas elevações na superfície da terra apresentam ar mais rarefeito e temperaturas mais baixas. Baixas elevações possuem a tendência de apresentar estações de risco de incêndio mais longas do que altas elevações. Exposição: é a direção do lado da montanha relacionada aos pontos cardeais. Ao sul do Equador, os raios solares incidem mais diretamente sobre as faces voltadas para o norte e, consequentemente, transmitem mais calor para essa exposição que para qualquer outra. A face oeste é a segunda a receber a maior quantidade de energia, seguida depois pela face leste. Inclinação: o fogo se propaga mais rapidamente nos aclives e lentamente nos declives, uma vez que a vegetação que será queimada está mais perto das chamas, sendo afetada pelo contato direto com o fogo e pelo pré-aquecimento, que ocorre a partir das nuvens de convecção. Conheça um modelo de Manual de Prevenção e Combate de Incêndios Florestais clicando aqui. É importante frisar que todo esse conhecimento deverá ser conjugado na prática, quando você iniciar o processo de investigação das causas de um incêndio florestal, assunto esse que será estudado no módulo seguinte. https://www.cemig.com.br/wp-content/uploads/2021/03/manual-prevencao-combate-incendios-florestais.pdf REVISÃO DO MÓDULO 1 Neste módulo, você estudou: 1 Os elementos que formam o triângulo do fogo e que esse conhecimento facilitará a atuação sobre qualquer um dos seus elementos de modo a extinguir o incêndio. 2 Aprendeu a conceituar corretamente incêndio florestal, a perceber as fases da combustão no material florestal, a classificar os incêndios, a nominar as partes de um incêndio florestal e a conhecer as consequências dos incêndios. 3 Os fatores que influenciam na propagação do incêndio, sendo eles os combustíveis, as variáveis climáticas e a topografia. Esses fatores influenciarão diretamente na ignição do foco de calor, na direção do incêndio, na sua propagação, na sua velocidade e na sua intensidade. MÓDULO 2 — INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS Apresentação Neste módulo, você estudará sobre as peculiaridades da investigação dos incêndios florestais, obtendo conhecimentos básicos específicos acerca da metodologia para uma investigação — os indicadores de queima. Tais indicadores mostram o caminho seguido pelas chamas, o que auxilia no descobrimento da origem do fogo, para que o(a) investigador(a) possa chegar a sua causa, bem como às principais causas dos incêndios florestais no Brasil. Objetivos • Apresentar um panorama geral sobre a atividade de investigação das causas dos incêndios florestais no brasil. • Compreender o passo a passo para uma investigação de incêndios; e • Citar as etapas para uma investigação. • Citar os principais indicadores de queima deixados pela combustão de vegetação; • Reconhecer o sentido de propagação do fogo a partir das marcas deixadas no local de incêndio; e • Relacionar os diversos indicadores, a fim de indicar a origem do fogo. • Conceituar as diversas causas de incêndios florestais; • Descrever as causas elencadas por diversas agências ao redor do mundo; e • Definir a causa de um incêndio com base nas evidências obtidas. Estrutura do Módulo O módulo possui 4 aulas: Aula 1 — Introdução à investigação das causas de incêndios florestais; Aula 2 — Metodologia de investigação; Aula 3 — Indicadores de queima; Aula 4 — Classificação das Causas dos Incêndios Florestais. Aula 1 — Introdução à investigação das causas dos Incêndios Florestais Como já vimos, os incêndios representam a maior ameaça que os estratos florestais enfrentam. O fogo sempre esteve associado à atividade humana, mas, nos dias atuais, os incêndios florestais atingem índices preocupantes, porque ameaçam a manutenção da biodiversidade, das estruturas econômicas, das cidades, dos bens e até de vidas humanas (PARIZOTTO, 2006). A investigação de incêndios florestais envolve técnicas, práticas, equipamentos e terminologias especializadas. Embora os princípios básicos da ciência do fogo sejam os mesmos dos incêndios estruturais, em um cenário de fogo na natureza, o desenvolvimento e a propagação do fogo são influenciados por diferentes fatores (NFPA, 2014). Muito mais que localizar sua origem para determinar que tipo de ação o provocou, a investigação tem por objetivo subsidiar a adoção de medidas preventivas eficazes, além de instruir os processos decorrentes de crimes ambientais (IBAMA, 2011) É comum ouvir, ver e ler notícias informando sobre a existência de milhares de focos de incêndio no país. Entretanto, quando se pergunta o número de incêndios e a superfície queimada anualmente no país, ninguém consegue informar, em razão de não haver estatísticas confiáveis sobre ocorrências de incêndios florestais no país (SOARES; BATISTA; NUNES, 2008). No Brasil, temos diversas instituições relacionadas aos incêndios e à investigação, e essa diversidade não permite que o Brasil tenha um padrão estatístico único, com dados e informações uniformes, que contribuam para a evolução dos serviços prestados pelas instituições e que possam ser aproveitados em estudos científicos que poderiam colaborar para o aprimoramento dos processos (CIPRIANO JR, 2021). Diante dessa problemática, a investigação deve ser estudada e, na medida do possível, padronizada; mantendo-se, no entanto, as especificidades de cada instituição e de cada região, preservando os objetivos da investigação para cada órgão e sua identidade, de forma a possibilitar a compreensão independente do leitor(a) e a construir um banco de dados nacional único. Aula 2 — Metodologia de investigação A investigação das causas dos incêndios florestais deve seguir uma metodologia para que seja aplicado o mesmo critério sempre que o procedimento for realizado. Para isso, faz-se necessário implementar o checklist, para auxiliar os peritos a organizarem a atividade de modo geral, bem como fornecer subsídios para que haja um padrão a ser seguido (STURM, 2015). A investigação tem como objetivo buscar a solução para cada caso, em diferentescircunstâncias. O início da investigação deve fundamentar-se nas perguntas: “Quem fez?”; e “O que foi feito?”, com o objetivo de estabelecer uma relação entre o(a) autor(a) e as causas de sua ação. O procedimento deve basear-se em um trabalho metódico, sequencial e dirigido à finalidade de reconstituir os acontecimentos, reunindo provas para encontrar o autor (IBAMA, 2011). A ordem das ações desenvolvidas durante a perícia/investigação das causas seguirá o seguinte roteiro, conforme ilustra a figura 13: Figura 13: Fluxograma da metodologia para investigação das causas dos IF Fonte: CIPRIANO JR. (2021). 2.1 Isolamento da área; 2.2 Descrição e análise da área; 2.3 Geoprocessamento da área; 2.4 Definição da estratégia de investigação; 2.5 Entrevistas e coletas de informações de pessoas envolvidas; 2.6 Identificação da zona de origem (ZO); 2.7 Fracionamento da ZO; 2.8 Coleta e estudo de materiais e vestígios encontrados na ZO; 2.9 Determinação das causas; 2.10 Planimetria e croqui; 2.11 Fotografias; e 2.12 Liberação do local. 2.1 Isolamento da área O isolamento da área é a primeira das ações a serem realizadas na cena de um incêndio florestal, de forma presencial e pelas equipes que terminaram o combate, antes mesmo do(a) investigador(a) chegar ao local. O isolamento se faz necessário para impedir a entrada de pessoas alheias à investigação no local. Essa delimitação do isolamento deverá ser feita utilizando fita zebrada, ou com o auxílio de cones, quando necessário. Outro fator importante são as orientações a serem repassadas pelas equipes de investigação às equipes de combate, pois, caso estas últimas realizem o trabalho sem a observância de alguns detalhes simples, todo o trabalho de investigação das causas poderá ser comprometido; portanto, há de se observar alguns detalhes durante o combate: • Caso o incêndio seja pequeno e as equipes tenham acesso a água para o combate, direcionar os esguichos apenas para o local onde há chamas; • Atentar para não modificar detalhes da cena que não foram comprometidos pelo incêndio; • Prestar a atenção nos detalhes do incêndio e, caso identificar algum material ou vestígio, evitar ao máximo se aproximar, para que, durante o combate, não acabe destruindo alguma dessas evidências; • Repassar informações sobre o combate para os investigadores; e • Caso seja necessário, acionar a autoridade policial para guardar a área do incêndio até a chegada dos investigadores. Figura 14: Isolamento da área de um IF Fonte: dos Autores (2021). 2.2 Descrição e análise da área Ao receber a informação do incêndio florestal que irá investigar, o(a) profissional responsável deve fazer uma pesquisa minuciosa sobre o local da ocorrência, levantando informações imprescindíveis para a investigação, como as condições meteorológicas do dia, a topografia do local, a existência de dados históricos de incêndios e suas possíveis causas, os costumes locais relacionados ao uso do fogo, o fluxo de pessoas, os acessos, se há estradas, atalhos, rodovias, ferrovias próximos ao local, e qualquer outra informação que, por ventura, achar conveniente para sua pesquisa. Para Lemos (2004), deve ser realizado um levantamento detalhado da área atingida, contendo todos os dados relevantes para a sua caracterização, por exemplo: a localização da área queimada, a sua situação legal, o perfil climatológico da região, os recursos hídricos disponíveis na região, a topografia, a especificação da fauna e flora característica daquela área, se a área é de interesse histórico ou cultural ou ainda de preservação ambiental. Ainda deve ser efetuado um diagnóstico do uso dado àquela área. Conforme Sturm (2015), é nesse momento que será identificada a área, com sua denominação e todas as informações relevantes para sua delimitação formal, como o nome do proprietário e a sua qualificação. O emprego recente das Aeronaves Remotamente Pilotadas (RPA) ou drones surgiu como uma inovação tecnológica eficiente e de baixo custo, que acabou facilitando o trabalho de levantamento da área queimada. Os incêndios florestais, em determinados casos, atingem grandes áreas, o que dificulta a investigação, a delimitação da área estudada e, consequentemente, a determinação da zona de origem. Além disso, percorrer o incêndio seria dispendioso, uma vez que é preciso estabelecer o perímetro de incêndio, principalmente para se ter uma noção da área estudada. Uma das maneiras para facilitar a investigação, diminuir seu tempo e determinar a dimensão da área incendiada é realizar aerolevantamento com a utilização de uma RPA, com o intuito de gerar ortomosaicos para posterior análise (CUNHA, 2019). Figura 15: Descrição e análise da área Fonte: dos Autores (2021). 2.3. Geoprocessamento da área O geoprocessamento é uma ferramenta que permite a junção de várias tecnologias, que podem ser utilizadas para o estudo de eventos ambientais e urbanos; entre essas tecnologias, destaca-se o Sistema de Informação Geográfica (SIG), que contém maior capacidade de processamento e análise de dados espaciais. O SIG permite, por exemplo, a integração de dados de topografia, de fotogrametria, de bancos de dados geográficos, de sensoriamento remoto, de GPS, de cartografia e de vários outros tipos de dados. Portanto, todo este trabalho de levantamento da área, de tipos de vegetação, de dados climáticos, de características topográficas, de densidade demográfica, de uso do solo, de histórico de incêndio florestal e de várias outras informações estão acessíveis a(o) investigador(a) que domina o geoprocessamento; facilitando e, sobretudo, proporcionando mais qualidade à investigação das causas dos incêndios florestais, o que resulta em um laudo também de maior qualidade. Figura 16: Investigador fazendo o georreferenciamento da área do incêndio Fonte: dos Autores (2021). 2.4 Definição da estratégia de investigação Planejar a investigação consiste não só no planejamento necessário para o atendimento do caso específico, mas também na preparação da atividade em geral, de forma a garantir que, no momento em que ocorrer um sinistro, a investigação seja implementada de forma plena (STURM, 2015). Ao definir a estratégia que vai usar para investigar o incêndio florestal, o(a) investigador(a) começa a: pensar sobre a ocorrência; definir sua linha de ação; organizar seus materiais e equipamentos; revisar a doutrina; e colher as informações preliminares sobre as condições meteorológicas, o local do ocorrido, os aspectos do combate realizado pelas equipes e os danos causados, e, sobretudo, tudo que possa ser necessário para o sucesso do trabalho. Figura 17: Organização e conferência dos materiais Fonte: dos Autores (2021). Conforme ensina Sturm (2015), o maior objetivo do planejamento é evitar que o perito, por não ter previsto a sua necessidade com antecedência, deixe de realizar ou precise de muitas diligências para realizar algum procedimento importante no local. O quê? Onde? Quando? Como? Quem? Por quê? São questões fundamentais para a correta realização de uma análise e estão elencadas na tabela abaixo. Tabela 2: Questões fundamentais para a investigação Fonte: IBAMA (2011). As respostas a essas perguntas proporcionarão um conhecimento detalhado do fato, podendo ser aplicadas tantas vezes quanto necessárias, até que se obtenha uma resposta conclusiva (IBAMA, 2011). 2.5 Entrevistas e coletas de informações de pessoas envolvidas A entrevista e a coleta de dados são uma parte muito importante para a elucidação da investigação das causas de um incêndio florestal. Como a maioria desses sinistros são oriundos da ação humana, torna-se imprescindível o(a) investigador(a) dominar algumastécnicas de entrevista e ser muito criterioso(a) ao coletar as informações relativas às pessoas que estejam envolvidas no processo. O(A) perito(a) entrevistador(a) deve considerar alguns aspectos igualmente importantes para o sucesso da entrevista; por exemplo, recolher informação sobre o sinistro e realizar uma avaliação inicial do que pode ter acontecido, definir os objetivos da entrevista e avaliar qual o melhor momento para entrevistar a testemunha, além de utilizar de linguagem simples (sem conceitos complexos, como termos legais) para não dificultar a compreensão da pessoa entrevistada (ALVES, 2015). Muitos incêndios se iniciam devido à ação humana, esse é também um motivo para manter o discernimento e não ser induzido pela testemunha, que pode, inclusive, tentar fazer parecer que o incêndio tenha uma causa diferente da verdadeira (STURM, 2015). Durante todo o trabalho com as testemunhas, os investigadores não emitirão opiniões nem demonstrarão expressões emotivas, que possam revelar qualquer entusiasmo ou reprovação diante das declarações das testemunhas. Sua postura terá que ser a mais imparcial possível. Também não se deixarão influenciar por impressões sobre pessoas ou objetos vistos na área de investigação, que podem estar relacionados com o incêndio (IBAMA, 2011). Alves (2015) ensina ainda que o(a) investigador(a) que realiza a entrevista deve possuir habilidades no trato com pessoas, pois faz-se necessário que haja autocontrole de suas emoções para não se perder em seu objetivo, que é chegar à verdade. Figura 18: Entrevistas e coleta de informações Fonte: dos Autores (2021). 2.6 Identificação da zona de origem A zona de origem (ZO) pode ser definida simplesmente como o local onde se iniciou o incêndio. Muitas vezes, o(a) investigador(a) terá dificuldades para encontrá- la em um sinistro. Entretanto, é importante sempre conjugar os conhecimentos adquiridos referentes à teoria básica do fogo e ao comportamento e a propagação dos incêndios florestais com os indicadores de queima que a cena oferecerá. Outro detalhe importante é que, ao adentrar na cena do IF, para investigação, recomenda- se fazer o caminho contrário à propagação das chamas, em zigue-zague até encontrar a zona de confusão. Na figura 19, podemos identificar todos os elementos contidos na dinâmica usada por um(a) investigador(a) para encontrar a origem do IF, sendo: Figura 19: Identificação da ZO Fonte: dos Autores (2021). • linha amarela: caminho que o(a) investigador(a) fez até a origem do IF; • linhas verdes: sentido de propagação do fogo a favor do vento; • linhas azuis: sentido de propagação do fogo contra o vento; • círculo vermelho: zona de confusão; e • círculo preto: zona de origem. Indicadores de queima são características de queima do material combustível florestal ou não, que indicam a direção do fogo e podem trazer outros elementos importantes para que o(a) investigador(a) encontre a ZO de um incêndio florestal. Esses indicadores devem convergir inicialmente para a zona de origem. Ao se aproximar dessa, os indicadores ficam confusos. Diante disso, deve-se parar, demarcar essa área e considerá-la uma possível zona de origem, não adentrando nela ainda (STURM, 2015). Outro aspecto importante é que, inevitavelmente, a ZO de um incêndio florestal estará contida num determinado local, o qual os investigadores chamam de zona de confusão, que é uma área do incêndio florestal com forma aproximadamente circular, de delineamento imaginário, onde o incêndio começou; tendo como principal particularidade que as suas características de queima são iguais em todas as direções, sendo uma queima fraca e incompleta, conforme ilustra a figura 20. Figura 20: Zona de confusão Fonte: dos Autores (2021). A National Fire Protection Association (NFPA) destaca que encontrar a ZO de um incêndio florestal é o primeiro grande objetivo de uma investigação de incêndio, devendo ser considerados os fatores de vento, de topografia e de combustíveis. A origem é normalmente localizada perto da cauda ou retaguarda do fogo. (NFPA, 2014) 2.7 Fracionamento da zona de origem Ao encontrar a ZO de um incêndio florestal, o(a) investigador(a) deve fazer o fracionamento da área, para que a investigação realizada seja mais detalhada e efetiva, visando, com esse procedimento, encontrar vestígios que possam fornecer subsídios para a formação de sua convicção dentro da lógica traçada na fase de definição de estratégia e visando também oferecer um melhor embasamento teórico em seu laudo. O fracionamento é a divisão de uma determinada área, durante a investigação, em pequenas porções iguais, geralmente de 60 cm por 60 cm, admitindo outras medidas a critério do investigador, de forma a organizar e potencializar a tarefa minuciosa de encontrar evidências na ZO, inclusive podendo utilizar alguns equipamentos, ferramentas e materiais para facilitar essa tarefa. A doutrina difundida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) preconiza que o(a) investigador(a), usando um barbante, deve circundar a zona de confusão e seccionar a área em segmentos paralelos com largura de 60 centímetros, apenas o suficiente para uma pessoa analisar. A investigação, em cada segmento, será feita por apenas um(a) investigador(a), utilizando bandeirolas de menor tamanho e uma régua ou vara da largura do segmento, para orientar a progressão do trabalho, conforme ilustra a figura 21. (IBAMA, 2011). Figura 21: Fracionamento da zona de origem. Fonte: dos Autores (2021). Uma vez que a camada superficial foi examinada, devem-se remover detritos leves e cinzas pela escovação ou sopro, e continuar a localização e a marcação dos indicadores, com algum tipo de marcação na linha pesquisada. Mesmo após encontrar o ponto de origem, é importante que seja continuada a busca nas linhas subsequentes, pois podem surgir novos elementos para subsidiar a causa do incêndio e para corroborar ou não com a conclusão (NFPA, 2014). 2.8 Coleta e estudo de materiais e vestígios encontrados na zona de origem A coleta e o posterior estudo de materiais encontrados na ZO de um incêndio florestal é ainda um desafio, pois, em grande parte do país, os investigadores não têm à disposição técnicos e laboratórios devidamente equipados para auxiliar nessa tarefa. Esse trabalho é de suma importância, e sua realização acrescenta maior credibilidade e profissionalismo ao laudo, pois a coleta de materiais e vestígios no local, quando possível de ser identificada e realizada, é um trabalho minucioso que visa a comprovação da presença de compostos capazes de deflagrar o incêndio florestal, que, ao serem coletados e armazenados de maneira correta, constituirão uma amostra passível de ser analisada por técnicos em laboratórios, para a emissão de um parecer. Esse estudo tem por objetivo verificar qual a relação dos materiais presentes na zona de origem com o incêndio; se simplesmente foram consumidos por esse ou se deram causa a ele (STURM, 2015). Na busca por dispositivos de ignição, o(a) investigador(a), muitas vezes terá apenas uma oportunidade, pois a fragilidade de certos dispositivos depois da queima não admite descuidos; portanto, paciência e cuidados rigorosos na investigação da zona de confusão são condições inquestionáveis (IBAMA, 2011). Figura 22: Coleta e estudo de materiais e vestígios Fonte: dos Autores (2021). 2.9 Determinação das causas Entende-se como causa de um incêndio florestal a relação entre o agente gerador do fogo, o combustível que alimentou primeiramente a combustão e as circunstâncias que propiciaram o contato entre ambos. O CBMSC utiliza, segundo Sturm (2015), um rol maior de causas intitulados de dispositivosde ignição, sendo eles: raios, fogueiras de acampamento, fumantes (cigarros), queimas para limpeza, incendiários, uso de equipamentos, estradas de ferro, crianças, operações florestais, fogos de recreação, armas de fogo, refração ou reflexão de luz solar, reações biológicas ou químicas exotérmicas, rede elétrica e outros. Será feito menção sobre as causas utilizadas por outras instituições na aula 4 deste módulo, bem como, uma explicação mais detalhada das causas dos incêndios florestais mais usuais. Figura 23: Mosaico com as principais causas do CBMSC Fonte: dos Autores (2021). 2.10 Planimetria e croqui A planimetria é o conjunto de métodos e técnicas que visam detalhar a superfície terrestre sobre um plano horizontal de referência e o croqui é um esboço de algo que se quer representar; ambos são importantes para a investigação das causas dos incêndios florestais, porque vão detalhar o terreno em que houve a ocorrência, facilitando o entendimento para quem irá ler o laudo. Para Sturm (2015), o croqui deve ser claro, conciso e de fácil entendimento, e sua escala sugerida é de 1:10.000. Ele ainda pode englobar as imagens de satélite sobre a poligonal do incêndio, a fim de demonstrar a vegetação existente naquela área. A altimetria é mais complexa, mas no caso de incêndios florestais, pode ser determinante, pois as cotas altimétricas não são desprezíveis e influenciam na propagação do incêndio. A ferramenta RPA poderá auxiliar o investigador para a confecção do croqui da área atingida pelo incêndio florestal por meio do levantamento aéreo, que também servirá para o reconhecimento da área e como uma das ferramentas para medição da área queimada. Figura 24: Exemplo de croqui Fonte: dos Autores (2021). 2.11 Fotografias As fotografias são fundamentais para a qualidade do laudo, pois elas registram fatos e facilitam a descrição dada pelo(a) investigador(a), ajudando o(a) leitor(a) a se situar no contexto do ocorrido durante o incêndio florestal. A NFPA (2014) ensina que a fotografia de investigação de incêndio não é simples, porque normalmente se dá em ambientes com objetos enegrecidos e escuros. É necessário ampliar a entrada de luz e adicionar iluminação externa para uma fotografia de qualidade. Analogamente ao olho humano, que, nesse caso, dilataria a pupila, a câmara precisa de uma maior abertura do diafragma, além de utilizar luz extra. É necessário que as fotografias, para possuírem validade legal, sejam autenticadas ou por identificação de testemunha ou por uma cadeia de custódia. Se autenticado por cadeia de custódia, fica a cargo do(a) próprio(a) investigador(a) o armazenamento do material que comprova a veracidade do registro fotográfico (NFPA, 2014). As perícias do Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina (IGP-SC) e de instituições internacionais de investigação de incêndio apresentam as fotografias no corpo do texto, quando são mencionados os fatos. Essa é a forma de exposição ideal, desobrigando os investigadores a fazerem legendas desnecessárias e deixando de induzir somente a observação dos anexos dos laudos ou informes (PIVA, 2015). O RPA é uma ferramenta que poderá ser usada para capturar imagens da área incendiada feitas por meio do levantamento aéreo, proporcionando materiais mais ricos para a elaboração dos laudos e para a identificação das marcas deixadas pela combustão, valorizando ainda mais o trabalho do(a) perito(a), além de facilitar o serviço e reduzir o tempo de trabalho (CUNHA, 2019). Figura 25: Fotografias Fonte: dos Autores (2021). 2.12 Liberação do local O local onde ocorreu um incêndio florestal pode ser considerado um potencial local de crime, pois, seja como crime contra a incolumidade pública, prevista no artigo 250 e seguintes do Código Penal, ou seja, como crime ambiental previsto no artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais, causar incêndio é considerado um crime para a legislação brasileira. No caso de incêndio florestal, destaca-se que nem sempre a liberação do local, efetuada pelo(a) perito(a), representa autorização para manejo da área, pois, como citado anteriormente, há áreas que demandam licenças ambientais para utilização ou, caso haja indícios de crime ambiental, que dependem de liberação dos órgãos ambientais competentes (STURM, 2015). Ao finalizar todo trabalho de investigação na área atingida pelo incêndio florestal, o(a) investigador(a) deverá liberar o local ao proprietário da área, caso seja propriedade particular (fazendas, sítios etc.) ou ao administrador público, caso seja um bem público (unidades de conservação federais, estaduais ou municipais), informando sobre o trabalho realizado e sobre o laudo ou relatório técnico que será produzido, bem como o prazo para conclusão do documento. Importante ressaltar que pode haver mais instituições com procedimentos em andamento, as quais também devem estar cientes e de acordo para a liberação total do local. Figura 26: Liberação do local Fonte: dos Autores (2021). Aula 3 — Indicadores de queima Os indicadores de queima são os sinais deixados pelo fogo que nos possibilitam identificar o sentido de sua propagação, para podermos seguir no sentido inverso até chegarmos a sua origem. Os indicadores são encontrados em toda a área do incêndio, mas deve-se, inicialmente, buscá-los na frente do fogo e, em seguida, na área queimada (IBAMA, 2011). A indicação do sentido de propagação de um incêndio é deixada em combustíveis parcialmente queimados e objetos não combustíveis. Esses efeitos de fogo podem incluir danos diferentes, padrões de carbonização, descoloração, coloração de carvão, forma, localização e condição do combustível não queimado residual (NFPA, 2014). Assim, buscando subsidiar a investigação, veremos a seguir algumas marcas deixadas pelo fogo que podem auxiliar o(a) investigador(a) a definir a origem do incêndio. Essas marcas podem ser classificadas em duas categorias, conforme a facilidade de identificá-las no local queimado. Sendo as simples, as que são facilmente visualizadas, e as complexas, as que somente ocorrerão ou serão percebidas em casos específicos ou mediante criteriosa observação. 3.1 Indicadores de queima simples 3.1.1 Grau de queima O grau de queima indica a intensidade do fogo em cada ponto. Próximo a origem, essa intensidade é menor e vai aumentando conforme o fogo avança sobre o estrato vegetal. Esse efeito típico começa na origem e se move para fora, lentamente aumentando o calor e velocidade. No ponto de origem, o fogo ainda não é tão quente, os combustíveis de superfície são queimados, mas a copa da árvore é deixada quase inteiramente intacta. Mais distante do ponto de origem, o fogo se torna mais intenso e as copas das árvores também são queimadas. (NFPA, 2014). Figura 27: Grau de dano de incêndio florestal Fonte: IBAMA (2011). 3.1.2 Ângulo de carbonização Os combustíveis grossos são queimados com um ângulo que corresponde ao ângulo de chama, com a altura associada à área de progressão do fogo. A confiabilidade é geralmente maior em espécimes individuais e em configurações de dossel aberto. Em combustíveis verticais do tipo grosso, um vórtice de Foucault cria uma prisão para a chama no lado oposto do fogo que se aproxima, deixando um ângulo característico de carvão. Sobre os incêndios contra o vento ou morro abaixo, o ângulo de carbonização será paralelo ao ângulo de inclinação do solo (NFPA, 2014). Figura 28: Ângulo de carbonização a favor e contra o vento Fonte: NFPA 921(2014) /dos Autores (2021). Sobre vórtices, assista ao vídeo “Vórtice de fogo”, da e-USP, clicando aqui, e compreenda como a ação do ar em superfícies tubulares afeta as chamas. 3.1.3 Congelamento de galhos Os mecanismosde transmissão de calor do tipo convecção e radiação amolecem as folhas e os galhos finos fazendo com que vergam no mesmo sentido do vento. Depois que o fogo passa, os galhos permanecem ainda sob ação do vento e resfriam recobrando a rigidez. Com isso, eles mantêm-se curvados para o sentido que o vento sopra, que é, geralmente, o sentido de progressão do incêndio (IBAMA, 2011). Esse indicador é quase sempre um reflexo preciso da direção do vento naquele ponto preciso, porém nem sempre coincide com a direção do fogo. Deve-se validar o congelamento de galhos com outras categorias de indicadores nas proximidades para confirmar a direção do fogo (NFPA, 2014). Figura 29: Congelamento de galhos Fonte: IBAMA (2011). http://eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=22153 Figura 30: Congelamento de galho Fonte: dos Autores (2021). 3.1.4 Combustíveis protegidos Esse indicador fica mais evidente ao ser formado por chamas de baixa a média intensidades, em combustíveis com um mínimo de vigor vegetativo que possam ter uma resistência inicial à queima total. Podem ser encontrados com mais facilidade na zona de origem, mas também podem ser encontrados detrás de um material não combustível (IBAMA, 2011). Figura 31: Combustíveis protegidos Fonte: IBAMA (2011). Figuras 32: Combustíveis protegidos Fonte: NWCG (2016). O material que protege apresentará uma queima homogênea e com cinzas mais claras na face voltada ao vento e uma queima heterogênea, incompleta, e com cinzas mais escuras na parte protegida do vento (IBAMA,2011). Um objeto não-combustível ou o próprio combustível protegem o lado não exposto de um combustível dos danos causados pelo calor. Combustíveis não serão queimados ou apresentam menos danos no lado protegido da propagação do incêndio. Objetos que descansam sobre combustíveis subterrâneos e superficiais irão proteger os combustíveis do lado não exposto. Eles exibem uma linha de combustão limpa no lado exposto e no lado protegido aparecerão irregulares e desiguais (NFPA 2011). Figura 33: Combustível protegido Fonte: dos Autores (2021). 3.1.5 Queima profunda A incidência de chamas empurradas pelo vento sobre um material combustível grosso costuma causar uma queima profunda do lado em que a chama se aproxima. Essa queima cria marcas do tipo “pele de jacaré”, que podem permanecer por muito tempo e serão mais profundas na face voltada para o fogo (IBAMA, 2011). Figura 34: Queima profunda Fonte: IBAMA (2011) /dos Autores (2021). 3.1.6 Coloração e deposição de fuligens A coloração deixada nos objetos, principalmente nos não-combustíveis, é causada pelos gases quentes, de condensação de resinas e de óleos. A fuligem de carbono é causada pela combustão incompleta em alguma vegetação. A fuligem de carbono é, tipicamente, mais fortemente, depositada sobre o lado voltado para o sentido de onde o fogo veio. Ela pode ser detectada nos fios da cerca voltados para a origem, por meio da esfregação dos dedos nesses fios, bem como em objetos maiores, como cupins e pedras (NFPA, 2011). Figura 35: Deposição de fuligens Fonte: NWCG (2016). Esse indicador é simples de ser identificado, mas nem sempre ele estará presente. Depende muito do tipo de incêndio e dos materiais queimados e, consequentemente, da quantidade de fumo produzido e depositado. 3.2 Indicadores de queima complexos 3.2.1 Padrão em “V” Padrão em “V” nada mais é do que uma marca deixada sob o solo, quando visto de cima, que apresenta padrões horizontais de queimas superficiais que lembram um “V”. Esse padrão ocorre devido à influência do vento e da topografia, e, conforme a frente de fogo se afasta da origem do incêndio, as pernas do “V” vão se alargando. Dessa forma, a origem, geralmente, é encontrada próxima à parte mais estreita do padrão de queima (NFPA, 2014). Figura 36: Padrão em “V” Fonte: NFPA 921 (2014). É importante avaliar outros fatores que podem fazer com que o fogo deixe marcas semelhantes e, com isso, evitar ser induzido a erro, como o relevo, as barreiras, que podem ser desde uma estrada, trilha ou curso d’água, até diferentes tipos de vegetação, que por apresentarem dificuldade maior em queimar, acabam limitando a propagação do fogo e podem acabar fazendo surgir um padrão semelhante ao “V”. Figura 37: Padrão em “V” Fonte: dos Autores (2021). Esse padrão, para ser observado melhor, necessita de um recurso adicional, pois é melhor visualizado do alto. Assim, caso o(a) investigador(a) tenha a disponibilidade, o uso de aeronaves ou drones é fundamental para obter a clareza do referido padrão e, por esse motivo, esse padrão é classificado como complexo. 3.2.2 Talos de gramíneas Os talos de gramíneas agem de forma diferente quando queimados a favor do vento ou contra o vento. Quando a chama se aproxima da gramínea contra o sentido do vento, o calor enfraquece o lado voltado para ele (devido a lentidão de propagação) e os talos se vergam na direção do fogo (forçados pelo vento). Esse fator é observável, portanto, na retaguarda e nos flancos do incêndio (IBAMA, 2011). Figura 38: Talos de gramíneas Fonte: IBAMA (2011). Ao se definir a propagação do incêndio, os talos de gramíneas deixam marcas mais oblíquas quando queimados pela chama a favor do vento, bem como deixam marcas mais arredondadas nas queimas contra o vento. (IBAMA, 2011). Figura 39: Marcas deixadas nos talos de gramíneas Fonte: IBAMA (2011). Da mesma forma, a queima contra o vento possibilita à investigação encontrar talos de gramíneas caídas sobre as cinzas parcialmente preservadas, ao passo que no incêndio a favor do vento, restam apenas as talas da base das gramíneas. Esses indicadores estão classificados como complexos, pois demandam um poder de observação do(a) investigador(a) muito minucioso. Figura 40: Ângulo de queima Fonte: NWCG (2016). 3.2.3 Depósito de cinzas A cinza também pode ser usada para indicar a direção da propagação do fogo. Os Combustíveis de frente para avanço do fogo aparecem mais claros no lado voltado para o fogo que se aproxima e mais escuros no lado oposto ao sentido que o fogo veio. Esses indicadores degradam rapidamente e perdem a confiabilidade depois de apenas algumas horas ou quando expostos à umidade ou aos ventos fortes. Os depósitos de cinzas brancas em troncos de árvores estarão no lado voltado para a direção em que o incêndio veio. Dessa forma, o lado oposto aparenta ser mais escuro, enquanto o lado exposto ao fogo apresenta-se mais claro, devido ao depósito de cinza branca (NFPA, 2014). Figura 41: Depósito de cinza branca Fonte: IBAMA (2011). Figura 42: Depósito de cinza branca Fonte: NWCG (2016). Esse indicador é extremamente complexo e difícil de visualizar, pois se degrada rapidamente e indica, principalmente, o sentido do vento e do fogo. Em gramados também pode se perceber esse efeito; se olharmos a partir da origem, veremos a área mais esbranquiçada, ao passo que se olharmos para a origem, o gramado aparentar-se-á mais escuro. Figura 43: Coloração da grama Fonte: NWCG (2016). 3.2.4 Spalling (desplacamento ou escamação) O desplacamento ou escamação consiste no rompimento de lascas de cores claras e superficiais em pedras e rochas. Esse efeito é causado por uma ruptura na resistência à tensão de superfície da pedra que foi exposta ao calor. A fragmentação é geralmente associada com o avanço do fogo e irá aparecer no lado da rocha exposta às chamas (NFPA, 2014). Figura 44: Efeito do Spalling em pedra de granito Fonte: Nature Communications (Nat Commun) ISSN 2041-1723 (online). Porconta da necessidade de temperaturas maiores para a presença de tal fenômeno, esse indicador é mais difícil de ser visualizado. Aula 4 — Classificação das Causas dos Incêndios Florestais As causas dos incêndios florestais são classificadas de diversas formas na literatura mundial, sendo também chamadas de dispositivos de ignição, caracterizam- se por serem as ações ou elementos capazes de provocar os incêndios florestais. Geralmente, os Corpos de Bombeiros Brasileiros adotam como padrão uma adaptação da NFPA. O CBMSC utiliza um rol de causas, chamadas, segundo Sturm (2015), de “dispositivos de ignição”, sendo eles: raios, fogueiras de acampamento, fumantes (cigarros), queimas para limpeza, incendiários, uso de equipamentos, estradas de ferro, crianças, operações florestais, fogos de recreação, armas de fogo, refração ou reflexão de luz solar, reações biológicas ou químicas exotérmicas, rede elétrica e outros. A Food and Agriculture Organization (FAO), da Organização das Nações Unidas (ONU), sugere, para fins estatísticos e de parametrização, a adoção de diferentes causas para os incêndios florestais, entre elas: acampamento, ou atividade recreativa, apicultura, atividade ferroviária, balão de festa junina, caça de animais, crianças, foguete sinalizador, combustão espontânea, fumantes, fogos de artifício, incendiário, linha de transmissão de energia elétrica de alta tensão, munição incendiária, queima de resíduos agrícolas, queima de lixo, raio, queima em trabalhos rurais, rituais religiosos. A NFPA (2014) prevê as seguintes classes de causas: raios, combustão espontânea, causa humana (não intencional), incendiários, fumantes, combustão de resíduos, perfurações de solo para buscar petróleo e gás, redes elétricas, serviços públicos, fogos de artifício, brincadeiras (crianças), trilhos de trem, veículos de serviço, refração ou reflexão de luz solar, armas de fogo e incêndios permitidos (queima controlada). A US Forest Service (USFS), Serviço Florestal dos Estados Unidos da América, desenvolveu também uma classificação dividida em oito grupos, conforme se extrai de SOARES; TETTO; WENDLING (2020): raios, incendiários, queimas para limpeza, fumantes, operações florestais, fogos de recreação, estradas de ferro e diversos. A NWCG (2016) adota os seguintes: raios, fogueiras de acampamento, fumantes, queima de lixo, incendiários, uso de equipamentos, ferrovias, crianças, múltiplos, que englobam linhas de transmissão, trabalhos de combate a incêndio, serviços de funilaria (soldagem e esmerilhamento), armas de fogo, explosivos, estruturas, refração e reflexão solar, combustão espontânea e chaminés. O IBAMA (2011), em seu manual de perícia, adota a classificação a seguir: acampamento ou atividade recreativa, apicultura, atividade ferroviária, balão de festa junina, caça, crianças, foguete sinalizador, fumantes, fogos de artifício, incendiários, linhas de transmissão de alta tensão, munição incendiária, queima de resíduos agrícolas, queima de lixo, raio e queima em trabalhos rurais. Como vimos, as principais causas de incêndios são, grosso modo, as mesmas em praticamente todos os institutos; dessa forma, analisaremos as seguintes, que, podemos dizer, são um apanhado dessas diversas classificações: raios, fogueiras de acampamento, fumantes (cigarros), queimas para limpeza, incendiários, uso de equipamentos, estradas de ferro, crianças, operações florestais, fogos de recreação, armas de fogo, refração ou reflexão de luz solar, balões, reações biológicas ou químicas exotérmicas, rede elétrica e outros. 4.1 Descargas atmosféricas (raios) Raios são uma causa bem conhecida de incêndios florestais, pois quando atingem árvores, linhas de energia e afloramentos rochosos eles podem dar início à combustão da vegetação em contato. (NFPA, 2014). Ao suspeitar de ocorrência de raio em um determinado local, pode-se georreferenciar, para buscar nos serviços de monitoramento, se houve registros de raios naquela data e local (NFPA, 2014). No entanto, de acordo com a FAO (2007), apenas 3% dos incêndios florestais são causados por raios. Figura 45: Efeito de raio em árvore Fonte: G1.com (2021). Relâmpagos que atingem vegetação geralmente resultam em lascas; às vezes toda a copa da árvore é “explodida”. Raios que caem diretamente no solo podem resultar em bolhas e formação de fulgurite. Fulgurite ocorre em terrenos arenosos onde o calor funde a areia (NWCG, 2016). 4.2 Fogueiras de acampamento As causas de incêndio relacionadas com fogueiras de acampamento geralmente estão associadas à falha em apagar adequadamente a fogueira após o uso, à falta de limpeza do local em volta da fogueira, ao descarte inadequado do carvão e das cinzas, ao uso inadvertido de acelerantes, às brincadeiras com o fogo e ao mau funcionamento dos fogões de acampamento (NWCG, 2016). Os indícios de uso de fogueiras vão desde círculos de pedra amontoadas até marcas de atividade humana, como restos de comida, marcas de pneus, geralmente em local bem sombreado e sob árvores frondosas. Os horários de incêndio são comuns pela parte da tarde e início do anoitecer, coincidindo com os horários em que as fogueiras normalmente são acesas (IBAMA, 2011). Figura 46: Incêndio causado por fogueira de acampamento Fonte: NWCG (2016). 4.3 Fumantes (cigarros) Não é impossível que o descarte de bitucas de cigarro cause incêndios. Se acontecer, as evidências dessas ignições podem permanecer no ponto de origem. A cinza e o filtro de um cigarro ou um fósforo queimado podem ser identificados durante a avaliação da zona de origem (NFPA, 2014). São características de incêndios causados por cigarros: área de origem do incêndio com muito combustível leve, seco e morto, geralmente em acostamentos de estradas, apresentando pegadas nas proximidades. Importante destacar que se o cigarro estiver no chão, ele apresentará a parte voltada para o solo, que não é totalmente queimada, manchada pelo fumo. Caso o cigarro tenha sido jogado sobre o fogo, ou deixado para queimar sobre o material combustível, ele terá uma aparência de explodido (IBAMA, 2011). Figura 47: Restos de cigarro Fonte: NWCG (2016) /dos Autores (2021). 4.4 Queimas para limpeza As queimas para limpeza estão entre as principais causas de incêndios florestais, podendo ser limpezas residenciais, industriais, de operação de desmatamento e até mesmo de combate a incêndios. A perda de controle ocorre de forma similar aos casos de fogueiras de acampamentos, onde fagulhas ou brasas escapam e caem em áreas com combustível em condições propícias (NWCG, 2016). De acordo com o IBAMA (2011), os indícios para este tipo de atividade são: queimas em locais costumeiramente utilizados para esse fim; continuidade de combustível entre o lixo e a vegetação incendiada; resíduos de plásticos derretidos; resíduos em combustão lenta; fumaça espessa; entre outros. 4.5 Incendiário O incendiário é aquele cidadão que, deliberadamente ou de forma maliciosa, provoca incêndio para causar dano ou fraude (NWCG, 2016). No caso de ação de incendiário, poderão ou não ser encontrados os dispositivos de ignição ou os sistemas de ignição retardada. Poderão usar aceleradores e, em muitos casos, provocarão vários focos de incêndio (IBAMA, 2011). Figura 48: Vestígios de incendiário Fonte: NWCG (2016) /dos Autores (2021). 4.6 Uso de equipamentos Esses equipamentos variam desde veículos pesados até pequenos motores portáteis que poderão causar incêndios por conta de um dos seguintes fatores: emissão de partículas do sistema de escape; fricção ou faíscas de peças móveis; vazamento de fluídos combustíveis; mau funcionamento ou avaria mecânica; e transferência de calor por condução ou radiação(NWCG, 2016). As partículas do sistema de escape são originárias da câmara de combustão onde as temperaturas são geralmente 1600 graus, caindo para 870 graus na saída do escapamento. Geralmente, os indícios de incêndios iniciados por partículas de escape estarão muito mais próximos da fonte, ou seja, das estradas (NWCG, 2016). Qualquer equipamento motorizado que usa a eletricidade ou produtos inflamáveis no seu funcionamento ou que cria temperaturas de ignição no seu funcionamento é capaz de iniciar um incêndio ao ser operado sobre ou próximo à vegetação combustível (NFPA, 2014). 4.7 Estradas de ferro A emissão de objetos igníferos relacionados com estradas de ferro decorre do esforço da locomotiva em locais de declive acentuado e em curvas que exigem muito dos freios, os quais superaquecem e, ao desprenderem fragmentos de sapata incandescentes, provocam o fogo. Geralmente, a origem é na margem da ferrovia, a menos de dois metros de distância dos trilhos (IBAMA, 2011). Figura 49: Estradas de ferro Fonte: NWCG(2016). 4.8 Crianças A maioria das crianças desenvolvem um fascínio especial pelo fogo desde cedo. Caso elas causem um incêndio, as origens do fogo podem ser muitas e estarão próximas de locais habitados, em áreas onde as crianças costumam frequentar. É normal encontrar o dispositivo de queima que, no caso de fósforos, poderão ser muitos palitos (IBAMA, 2011). Esses incêndios são muitas vezes motivados pela curiosidade normal e pelo uso do fogo de forma experimental ou como jogo. Fósforos ou isqueiro são a fonte de ignição mais frequente. Esses casos geralmente envolvem várias crianças, e ocorrem mais comumente em torno de residências, escolas, parques infantis, parques de campismo e áreas arborizadas. (NFPA, 2014). Figura 50: Criança brincando com fogo Fonte: dos Autores (2021). 4.9 Operações agrícolas e florestais Em condições de vento, brasas ou cinzas quentes podem ser soprados para longe e iniciar um incêndio a alguma distância. Pilhas de detritos podem acumular calor por muito tempo até seja disperso por uma condição de vento, podendo atingir combustíveis secos. Testemunhas são frequentemente úteis em determinar se a queima decorrente de operações agrícolas foi a causa do incêndio. Um incêndio controlado é aquele que é permitido de acordo com planos aprovados, e que pode fugir do controle (NFPA, 2014). As atividades agrícolas também entram nesse item, pois a limpeza (queima controlada) de um determinado campo pode fugir do controle e atingir outras áreas adjacentes. Figura 51: Operação florestal e agrícola Fonte: dos Autores (2021). 4.10 Fogos de recreação Fogos de artifício fornecem os meios de ignição por meio de suas faíscas e de seus detritos em chamas. As bombinhas são um perigo menor, mas podem inflamar grama seca ou outros combustíveis. A maioria dos fogos de artifício incluem um metal (de arame) ou núcleo de madeira que podem ser encontrados no, ou próximo do, ponto de origem do fogo. Os restos de fogos de artifício ou suas embalagens podem ser encontrados perto da área de origem. Se estourarem próximo ao solo, é natural que formem uma pequena depressão (NFPA, 2014). Os fogos de artifício são conhecidos por causar grandes danos às propriedades anualmente, causando tanto incêndio estrutural quanto florestal. Usado de maneira insegura, fogos de artifício podem descarregar material em chamas em vegetação inflamável (NWCG, 2016). Figura 52: Fogos de artifício Fonte: dos Autores (2021). Podem ser correlacionados com incêndios que ocorrem concomitantemente com romarias, festividades juninas, comemorações especiais (IBAMA, 2011). 4.11 Balões Em determinadas regiões, o balonismo é ainda muito arraigado na cultura popular brasileira e é, dessa forma, uma das possíveis causas de incêndio florestal. Por conta disso, o simples fato de soltar ou participar da soltura de balões se enquadra como crime ambiental, conforme o artigo 42, da Lei de Crimes Ambientais: Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano: Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente (BRASIL, 1998). Os incêndios relacionados a essa causa podem ser definidos ao se associarem algumas das seguintes circunstâncias: o local da origem do incêndio; e a presença de partes metálicas ou de tecido associados ao período do ano condizente aos festejos juninos. Figura 53: Balões Fonte: diáriodorio.com (2021). Os indícios possíveis de serem encontrados vão desde peças de metal utilizados na armação, partes de tecido ou até marcas de pegadas no local; uma vez que os balonistas costumam tentar recuperar as peças metálicas para novos lançamentos. 4.12 Armas de fogo O uso de armas de fogo de pólvora preta e de armas de fogo modernas com sistemas traçantes, incendiários ou de munição de núcleo de aço também podem causar incêndios. Os incêndios causados por pólvora preta são frequentemente o resultado de queima de material usado para o fechamento do cartucho. Os compostos químicos que queimam contidos dentro do projétil traçante e de munição incendiárias podem inflamar combustíveis florestais. Munições com núcleos de aço podem causar incêndios quando o núcleo de aço atinge uma rocha ou outro material com força suficiente para causar faíscas (NFPA, 2014). Figura 54: Munições traçantes Fonte: NWCG (2016). Vários tipos de munição são capazes de causar incêndios florestais por meio da descarga de materiais quentes ou faíscas mecânicas causada quando uma bala atinge um objeto duro ou fragmentos, criando partículas que aterram nos combustíveis secos (NWCG, 2016). Podem ser indicativos desse tipo de causa, se, nas proximidades, forem encontrados danos causados em animais silvestres, placas de “proibido caçar” depredadas, cartuchos de arma de fogo encontrados no solo, trilhas de caça e lascas de rochas causadas pelo impacto de projéteis de grandes dimensões (IBAMA, 2011). 4.13 Refração ou reflexão de luz solar Raios do sol podem ser focalizados em um ponto de calor intenso se concentrados ou focados por meio de um objeto transparente, esférico ou cilíndrico em sua seção transversal ou por uma superfície côncava altamente reflexiva. Esse processo é semelhante ao que ocorre com o uso de uma lupa ou espelho. Incêndios iniciados por esses itens são ocorrências muito raras, no entanto, os objetos que possuem estas características podem ser recuperados a partir da área de origem e devem ser cuidadosamente examinados (NFPA, 2014). Figura 55: Refração solar Fonte: dos Autores (2021). 4.14 Reação biológica ou química exotérmica Alguns tipos de combustíveis podem inflamar espontaneamente pelo aquecimento interno causado pela ação biológica ou química. Esta ação é mais provável de ocorrer em dias quentes e úmidos na decomposição de pilhas de material orgânico, como feno, grãos, alimentos, estrume, serragem, pilhas de aparas de madeira colhidas e empilhados e turfa (NFPA, 2014). Figura 56: Combustão espontânea Fonte: NWCG (2016). Essa ação é mais provável de ocorrer após períodos de dias quentes e úmidos em decomposição de pilhas de material orgânico, como feno, grãos, rações, estrume, serragem, pilhas de aparas de madeira e musgo de turfa (NWCG, 2016). Algumas instituições, ao classificarem as causas em naturais ou humanas, classificam a referida acima em naturais, mas é importante avaliar a forma como esses materiais foram ali depositados, alguns podem ter sido depositados intencionalmente para armazenagem, classificando-se, portanto, como causa humana.4.15 Redes elétricas Linhas elétricas aéreas podem causar incêndios quando as árvores entram em contato com um condutor. Esse contato pode danificar parte da árvore e criar uma marca de buraco ou de flash no condutor de energia. Após a ignição, porções queimadas da árvore podem cair no chão e inflamar combustíveis da superfície. Condutores também podem ser soprados uns contra os outros (fase a fase) durante uma tempestade, criando um glóbulo de metal quente que cai no chão. Condutores e transformadores podem falhar e cair em chamas, ou quentes, no chão (NFPA, 2014). Incêndios de linhas de alta tensão normalmente resultam de falha do condutor ou do isolante, podem resultar também da ação de pássaros, de pequenos animais e de balões. Outros fatores como limpeza deficiente e falta de manutenção do equipamento podem contribuir para a falha dos equipamentos (NWCG, 2016). Figura 57: Redes elétricas Fonte: dos Autores (2021). 4.16 Outros Existem algumas causas de incêndios que não podem ser adequadamente classificadas nos outros agrupamentos de causas, elas são geralmente classificadas como outros. Isso porque tentar incluir de forma categórica todas as possíveis causas que podem originar os incêndios florestais seria inviável. Assim, aquelas causas que não podem ser classificadas dentro das causas padronizadas por instituições particulares ou por órgãos públicos que possuem competência para investigar as causas são classificadas como outros. Como, por exemplo, a causa de incêndio provocado por falha em turbinas eólicas, que não são comuns em todos os locais e que, por isso, não possuem uma classificação específica, mas que devido à evolução, futuramente poderão vir a serem classificadas individualmente. REVISÃO DO MÓDULO 2 Neste módulo, você estudou: 1. As peculiaridades da investigação dos incêndios florestais, obtendo conhecimentos básicos acerca da metodologia para uma investigação. E para uma melhor organização da atividade investigatória, ela foi subdividida em: 2. Isolamento da área, fase em que as equipes de combate ou o (a) investigador(a) verificam a integridade do isolamento da área ou procedem com o isolamento de porções específicas; 3. Definição da estratégia de investigação, em que o(a) investigador(a) define a forma como desenvolverá a investigação; 4. Descrição e análise da área, em que o(a) investigador(a) descreve e delimita a área onde será realizada a investigação, bem como a sua qualificação; 5. Geoprocessamento da área, uma fase em que o(a) investigador(a) georreferencia todos os pontos de interesse, limites, marcas etc.; 6. Entrevistas e coletas de informações de pessoas envolvidas; 6. Identificação da zona de origem (ZO), fase em que o(a) investigador(a) descreve a zona de origem do fogo e como a definiu; 7. Fracionamento da ZO, procedimento adotado para realizar o esquadrinhamento da área para busca minuciosa; 8. Coleta e estudo de materiais e vestígios encontrados na ZO; 9. Determinação das causas; 9. Planimetria e croqui; 10. Fotografias; e 11. Liberação do local, ocorre quando, encerrado o serviço de investigação, informa-se que a área não será mais objeto de investigação pelo órgão que o(a) investigador(a) representa (pode ser que outras agências ainda precisem que o local se mantenha isolado). 12. Indicadores de queima, que mostram o caminho seguido pelas chamas e que auxiliam o(a) investigador(a) a chegar à origem do incêndio. Também se esclareceu que esses indicadores podem ser simples ou complexos de se observar, como, por exemplo, o padrão em “V”, que para ser observado precisa de apoio aéreo, talos de gramínea, galhos congelados, ângulo de carbonização e outros sinais que mostram o caminho percorrido pelas chamas. 13. Principais causas dos incêndios florestais no Brasil, comparando a classificação de causas das mais diversas agências que tratam do assunto em nível nacional e internacional, como FAO, IBAMA, Corpos de Bombeiros, NFPA e NWCG. MÓDULO 3 — MATERIAIS E DOCUMENTOS PARA A INVESTIGAÇÃO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS Apresentação Neste módulo, você estudará os materiais mínimos indicados para a realização de uma investigação e sobre a elaboração de laudo e croquis, de modo a expressar a forma como a investigação foi realizada e quais os resultados obtidos, fazendo com que a informação seja facilmente compreendida pelos leitores. Objetivos • Citar os equipamentos de proteção individual necessários para uma investigação; e • Relacionar os materiais e equipamentos necessários para a investigação. • Citar os elementos necessários na confecção do croqui; e • Descrever o objetivo do croqui na investigação. • Apresentar a importância do laudo ou relatório técnico de investigação; e • Elencar os elementos fundamentais que devem estar presentes no laudo ou relatório técnico de investigação. Estrutura do Módulo O módulo possui 3 aulas: Aula 1 — Materiais para investigação; Aula 2 — Croqui; Aula 3 — Laudo ou relatório técnico de investigação. Aula 1 — Materiais para investigação Para a realização da investigação das causas dos incêndios florestais, recomenda-se ao investigador trazer consigo alguns materiais e equipamentos que serão úteis para a realização do trabalho. Há uma grande variedade e, aqui, listamos alguns entre os quais julgamos necessários, contudo, fica a critério de cada investigador(a) adicionar ou subtrair qualquer equipamento ou material em sua lista de equipamentos. 1.1 Equipamentos de Proteção Individual (EPI) São equipamentos para garantir a segurança do(a) investigador(a): roupa apropriada de mangas longas e que apresentam resistência mecânica a rasgos; luvas; calçado com resistência a perfuração e cano alto; máscara de proteção contra gases e particulados (pois dependendo do tempo após o incêndio, ainda pode haver produção de fumos), entre outros. A utilização de perneiras e protetor solar também devem ser considerados. Em termos de equipamento de proteção individual, o Ministério do Trabalho (MT), assim, define, na NR-06: Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora - NR, considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. (BRASIL, 2011) Em 1998, um estudo, do National Institute of Occupational Safety and Health (NIOSH), identificou vários subprodutos da combustão: (pó de carvão em suspensão, hidrocarbonetos alifáticos, acetona, ácido acético, acetato de etilo isopropanol, benzeno, estireno e tolueno). De acordo com a NFPA (2014), isso ressalta a necessidade de proteção respiratória em ambientes incendiados. Silva (2015) relacionou e sugeriu os equipamentos mínimos necessários, conforme a tabela 3: Tabela 3: Sugestão de EPI Fonte: Silva (2015). 1.2 Prancheta, papel, lápis, borracha, régua Esses materiais auxiliam na realização de anotações, de coleta de depoimentos, e de confecção de um croqui preliminar, a fim de demonstrar a localização dos indicadores, o caminho efetuado pelo(a) investigador(a) etc. Figura 58: Prancheta com papel Fonte: dos Autores (2021). Atualmente, com o crescimento da indústria tecnológica e de tecnologia da informação, há equipamentos modernos tanto para o monitoramento e mapeamento de incêndios florestais (softwares), quanto para a escrita de relatórios e laudos (computador, notebook, tablet, e até mesmo o aparelho de telefone celular). 1.3 Sistema de Posicionamento por Satélite - GPS O GPS auxilia de forma precisa na confecção do croqui, seja utilizando a função que salva o trajeto percorrido, em que pode ser contornada a área queimadapara delimitação da área, seja para anotar com precisão a localização de pontos de interesse. Figura 59: GPS Fonte: dos Autores (2021). 1.4 Remotely Piloted Aircraft - RPA (drone) Assim como o GPS, o RPA pode ser usado para a delimitação da área queimada, com a vantagem de que não será necessário o(a) investigador(a) percorrer toda a borda. Da mesma forma, torna-se muito útil para se ter uma visão aérea da área, possibilitando identificar alguns indicadores de queima, como o padrão em “V”. Lembrando que o RPA funciona utilizando o posicionamento GPS. Cunha (2019), ao relacionar a investigação dos incêndios florestais e o uso de drones, demonstrou que é importante verificar a aplicabilidade da RPA, de maneira a obter maiores informações sobre o incêndio florestal, como o dimensionamento do local, as marcas de combustão deixadas e a visualização de locais de difícil acesso para a(o) perito(a). Além disso, deve-se considerar as limitações dessa ferramenta e como ela pode influenciar na investigação, quando utilizada no combate ao incêndio. Figura 60: Drone Fonte: Cunha (2019). Para aprender mais sobre o Remotely Piloted Aircraft - RPA clique aqui. 1.5 Trena de 50 metros ou eletrônica A trena, embora rudimentar, pode auxiliar no processo de delimitação de áreas para busca minuciosa, destacando-se na metodologia como esquadrinhamento de área. Em se tratando da atividade de campo, tanto a trena tradicional quanto a eletrônica precisarão de duas pessoas para melhores resultados. A eletrônica necessita de pelo menos um anteparo plano para que possa mensurar a distância de forma adequada. https://ajuda.decea.mil.br/base-de-conhecimento/qual-a-diferenca-entre-drone-vant-e-rpas/ Figura 61: Trena em fita e eletrônica Fonte: dos Autores (2021). 1.6 Recipientes limpos para acondicionar materiais para exames Por vezes, faz-se necessária a análise laboratorial de determinados vestígios, a fim de determinar sua relação ou não com o local do incêndio e a causa deste. Silva (2015) elenca uma série de possíveis materiais, desde sacos plásticos, peças de acrílico, latas e frascos de via l, conforme podemos observar na tabela abaixo. Tabela 4: Materiais para coleta Fonte: Silva (2015). 1.7 Barbante ou cordelete (rolo) Também necessário para o esquadrinhamento da área do foco inicial, utiliza- se como forma de evitar que a varredura possa deixar pontos sem serem analisados, atribuindo critério e confiabilidade ao processo de busca minuciosa. Figura 62: Barbante e cordelete Fonte: dos Autores (2021). 1.8 Bandeirolas de sinalização grandes Servem para identificar os locais de interesse, sejam indicadores de queima, sejam vestígios do local, para subsidiar o relatório/laudo da investigação. Auxiliam os leitores a identificarem aquilo que o investigador quer demonstrar. Devem ser usados para marcar esses indicadores ou vestígios, para realização do levantamento fotográfico. Figura 63: Bandeirolas de sinalização Fonte: dos Autores (2021). 1.9 Faca Usada para fabricar estacas (na falta de pré-fabricadas), para cortar barbante ou cordeletes nas medidas necessárias e para diversos outros fins. Figura 64: Faca Fonte: dos Autores (2021). 1.10 Celular ou máquina fotográfica Com a qualidade cada vez melhor dos aparelhos celulares, as máquinas fotográficas estão perdendo cada vez mais espaço; ainda assim, possuem funções que os aparelhos celulares ainda não conseguem superar, principalmente para fotografias em macro, com ampliação óptica etc. A vantagem dos celulares está na sua gama de funções, utilizando inclusive o sistema de posicionamento global, agregado a diversos aplicativos que possibilitam realizar diversas funções. Figura 65: Máquina fotográfica Fonte: dos Autores (2021). 1.11 Fita de isolamento de local O isolamento de área de sinistro é uma regra que deveria ser seguida desde o combate. Em se tratando de incêndios florestais, isso nem sempre é viável. Mesmo assim, deve-se utilizar as fitas de isolamento naqueles locais em que o acesso ao local do incêndio é facilitado (estradas, trilhas etc.), a fim de demonstrar a proibição de entrada naquela área. Figura 66: Fita zebrada Fonte: dos Autores (2021). 1.12 Veículo para acesso ao local Um veículo com características off road é bem-vindo, pois garante acesso aos locais, facilitando, agilizando e transportando a carga necessária para que o investigador possa realizar seu trabalho. Figura 67: Veículo 4x4 Fonte: dos Autores (2021). Aula 2 — Croqui O croqui tem por objetivo ilustrar as informações que subsidiaram o(a) investigador(a) a chegar na origem do fogo. Dessa forma, deve ser composto por uma série de símbolos que orientam e indicam tal origem, como as marcas de combustão, os indicadores de queima, as ações de combate etc. Também servem para facilitar a compreensão do laudo pelo(a) leitor(a). Além do croqui, podemos usar também os esboços, que visam primeiramente auxiliar o(a) próprio(a) investigador(a) e, em segundo plano, podem ser usados para subsidiar a confecção do croqui. Assim, vamos apresentar aqui duas sugestões para o(a) investigador(a): o esboço e o croqui. 2.1 Esboço De acordo com a NWCG (2016), os esboços são indicados para auxiliar o(a) investigador(a) a compreender o desenvolvimento do fogo e para ajudar a refrescar a memória do(a) investigador(a) no escritório, quando na elaboração do laudo/relatório da investigação. O esboço não é um desenho único, ele pode ser fragmentado para indicar várias etapas da investigação para que não haja superlotação em um único esboço. A NWCG (2016) recomenda que a complexidade do incêndio defina a quantidade de esboços a serem utilizados, podendo ser, inclusive, feito esboço a partir do depoimento de pessoas relacionadas; nesse caso devendo ficar em anexo. Figura 68: Exemplo de esboço indicando posição dos indicadores de queima Fonte: dos Autores (2021). Sugestão: fazer um esboço para os indicadores de queima, um para retratar a progressão do incêndio, outro para localizar as fotografias no campo, também um para demonstrar a área geral do incêndio e outro para indicar a área específica. 2.2 Simbologia Alguns símbolos serão empregados de forma costumeira e podem ser padronizados, no entanto, o investigador deve usar uma legenda para identificar cada símbolo usado nos seus esboços ou croquis. Isso deve ser observado principalmente nos croquis, pois eles estarão presentes no laudo ou relatório técnico da investigação, e o(a) leitor(a) nem sempre estará familiarizado com a simbologia. Figura 69: Simbologia para propagação das chamas Fonte: NFPA (2014). Na figura acima, observamos que foram adotados alguns símbolos para identificar a propagação das chamas em relação ao vento, sendo: “U” fogo contra o vento, e “< >” fogo de través ao vento, indicando o fogo a favor do vento e a indicando o caminho percorrido pelo(a) investigador(a). Na figura 70, verificamos que o padrão adotado na NFPA é muito similar ao adotado na NWCG. Figura 70: Simbologia sugerida Fonte: NWCG (2016). Vale lembrar que o esboço não vai necessariamente compor o laudo ou o relatório técnico, ele serve principalmente para o(a) próprio(a) investigador(a). No laudo ou relatório técnico, geralmente se anexa o croqui. 2.3 Croqui O croqui, por sua vez, é utilizado como uma ferramenta visual para auxiliar o(a) leitor(a) do laudo ou do relatório técnico a compreender como e por que o(a) investigador(a) chegou às determinadas conclusões. Podemos dizer que o croqui é um resumo dos esboços que o(a) investigador(a)fez em campo e que, agora, serve para ratificar suas conclusões. Assim sendo, devem constar no croqui, elementos que corroborem com a conclusão. Por exemplo: ao sinalizar, no croqui, o sentido de propagação do fogo, mediante os indicadores de queima deixados no campo, é demonstrado ao leitor(a) que a soma daqueles indicadores levou a determinar a zona de origem do fogo. Para isso, não é necessário que o croqui ou os esboços estejam em escala, pois o objetivo deles é indicar uma visão geral da área (NWCG, 2016). Portanto, ambos irão apresentar informações similares, mas o croqui, além de ajudar o(a) investigador(a) a concluir a sua investigação, será utilizado para auxiliar o(a) leitor(a) do documento final a entender a dinâmica da investigação e os sinais indicativos que levaram o(a) investigador(a) a concluir daquela forma. Seria um reforço gráfico daquilo que estará descrito no laudo/relatório e pode ser elaborado de forma mais artística ou não, depende da informação que se quer passar. Figura 71: Croqui Fonte: IBAMA (2003). Podemos observar, no manual de investigação das causas do IBAMA (2011), outro exemplo de croqui, em que por meio de informações gráficas e da legenda, podemos compreender a propagação do fogo. Figura 72: Croqui Fonte: IBAMA (2011). É perceptível que o objetivo é demonstrar o comportamento do fogo no terreno, podendo (devendo) inclusive ser georreferenciado cada indicador, local de destaque, como as trilhas, as casas, os cursos d'água, o local de origem do fogo etc. Na literatura há vários Manuais publicados e estão disponibilizados. Seguem alguns links para aprofundar os conhecimentos relacionados: 1. COLETÂNEA DE MANUAIS TÉCNICOS DE BOMBEIROS; 2. Manual de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais de Goiás; 3. Manual de Capacitação em Combate a Incêndio Florestal. 1ª Ed. Florianópolis – SC: CBMSC, 2019; 4. Manual para Formação de Brigadistas de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais. Na nossa Plataforma EaD Segen caro discente, você encontrará o Curso de Prevenção e Combate a Incêndios https://www.bombeiros.com.br/imagens/manuais/manual-04.pdf https://www.bombeiros.go.gov.br/wp-content/uploads/2015/12/MOB-FLORESTAL.pdf https://www.bombeiros.go.gov.br/wp-content/uploads/2015/12/MOB-FLORESTAL.pdf https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/servicos/sejaumbrigadista.pdf https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/servicos/sejaumbrigadista.pdf Florestais - EaD, onde encontrará disponível nosso manual, através do Portal do SINESP. https://seguranca.sinesp.gov.br/sinesp-seguranca/login.jsf Aula 3 — Laudo ou relatório técnico de investigação Laudo ou relatório técnico pode ser conceituado como o resultado final do trabalho de investigação das causas de um incêndio florestal, sendo um documento de caráter técnico e especializado que irá fornecer informações que poderão ser utilizadas em trabalhos científicos e pesquisas, processos de indenização por seguradoras e ainda instruir processos judiciais nas ações requeridas em decorrência do incêndio. Dessa forma, ele deve conter alguns elementos que possibilitem ao leitor(a) a compreensão de todo o processo e, finalmente, a causa do incêndio florestal em questão. As informações que estarão nos laudos serão imprescindíveis para subsidiar as autoridades judiciais e podem variar entre os órgãos públicos competentes para o trabalho de investigação, sendo recomendado por este manual constarem as seguintes informações: a) autores da perícia ou investigação; b) histórico do incêndio florestal (local, data, hora do acionamento das equipes de combate, recursos e técnicas empregadas, tempo de combate etc.); c) proprietário da área do incêndio; d) dados meteorológicos do dia; e) caracterização da área do incêndio (área queimada, georreferenciamento, vento, relevo, material combustível, tipo da área, se existia algum sistema preventivo etc.); f) informações sobre a investigação (passo a passo da metodologia e conclusão); e g) anexos (mapas, censo demográfico, imagens, exames laboratoriais, custos da operação de combate, danos e salvados etc.). Lembrando mais uma vez que o laudo ou relatório técnico de investigação é um documento originado pelo(a) investigador(a) em um incêndio, e que, por sua vez, deve possuir competência legal para tal. As informações básicas recomendadas nesse documento podem ser também inseridas em um grupo de três itens: qualificação, informações técnicas e informações complementares, a serem vistos mais detalhadamente em seguida. 3.1 Qualificação A qualificação nada mais é do que o processo de identificação dos participantes do processo. Nesse item, podemos destacar a identificação da instituição que está realizando a investigação, apresentada no timbre do documento, os dados do investigador: nome, cargo, matrícula etc. Aqui também deve ser esclarecido o motivo da investigação, se for requisição judicial, policial, ex ofício da instituição etc. O IBAMA (2011) destaca, logo no início do laudo, como sugestão, essa etapa como “referência: no caso de a perícia ser motivada por decisão judicial, ou solicitada oficialmente por instituição, registrar o documento”. Também é imprescindível que conste no documento, os dados da área: responsável, tipo de vegetação predominante, se de domínio público ou privado (dados dos responsáveis, como nome/razão social, CPF/CNPJ, endereço etc.), uso dado ao local, tamanho da área (sugere-se a adoção de medida em hectares (ha)). Além disso, é importante que se tenha um histórico do incêndio em si, data da ocorrência, tempo de duração, tempo de combate etc., para que o(a) leitor(a) do documento compreenda o todo. Finalmente, para fechar a parte da qualificação, segue-se um histórico da investigação, desde a solicitação até a confecção do relatório ou laudo, passando pelas demais etapas de forma cronológica. O exame de caráter técnico e especializado resulta em informações que poderão instruir processos judiciais nas ações requeridas em função de incêndios florestais. O relatório técnico, denominado laudo pericial, deverá conter todas as informações necessárias que orientem o julgamento da infração ambiental. (IBAMA, 2011) 3.2 Informações técnicas Aqui destacam-se as informações de ordem a subsidiar a investigação, como as informações meteorológicas, usadas para verificar a hipótese de ocorrência de raios no local e data do incêndio. A busca por informações ocorre em bancos de dados de sites de monitoramento, como o Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do INPE. As questões de sentido do vento, do relevo, do tipo de vegetação e da propagação do fogo devem ser esmiuçadas nessa etapa, a fim de fazer o(a) leitor(a) compreender como o fogo se comportou no dia do incêndio, bem como, devem ser descritos, em detalhes, os sinais, os depoimentos e as imagens que levaram o(a) investigador(a) a concluir de determinada forma. A NWCG (2016) orienta que o laudo seja redigido em formato narrativo, em ordem cronológica, citando o contexto do comportamento do fogo no caso específico, elencando quais foram os indicadores de queima considerados e quais evidências de causa foram localizadas ou coletadas. Ainda segundo a NWCG (2016), essa parte do laudo pode ser organizada nos seguintes itens: 1. Chamada e resposta. 2. Chegada ao local. 3. Metodologia / Coleta de dados. 4. Análise e aplicação de dados. 5. Desenvolvimento de hipóteses de trabalho. 6. Teste de hipóteses. 7. Conclusão / Seleção da hipótese final. O IBAMA (2011) sugere, ainda, que seja feita a descrição sobre a origem do incêndio, com georreferenciamento da área de origem do incêndio, acessibilidade (estradas, trilhas, caminhos etc.) e, em seguida, relacionadas todas as evidências encontradas.Com base nesses relatos, evidências, depoimentos, o laudo deve conter a conclusão do(a) perito(a)/investigador(a) sobre a causa do incêndio. A NWCG (2016) lembra que a conclusão é a expressão da convicção do(a) investigador(a) acerca do que, com base nas informações, indícios, evidências, disponíveis naquele momento, ele(a) acredita ser a causa do incêndio. Sendo que é possível incluir nesse local uma declaração de isenção de responsabilidade, para o caso de surgirem novos fatos/evidências: “Eu me reservo o direito de mudar minha opinião ou conclusões com base em quaisquer dados adicionais recebidos.” Cada instituição buscará elencar no seu laudo, as informações que considerar importantes para a produção de conhecimento institucional, assim, o CBMSC, com vistas a retroalimentar o sistema, sugere que no seu laudo contenham, além das já elencadas acima, as seguintes informações: informações da fase passiva, que visa a verificar a questão do adequação das normas de segurança contra incêndios para aquelas áreas passíveis desta fiscalização, como por exemplo, reflorestamentos, assim como se os sistemas pensados cumprem seu papel; informações da fase ativa, que visa avaliar a atividade de combate realizado pelo CBMSC, buscando verificar pontos a melhorar e qualificar mais seu serviço (STURM, 2015). 3.3 Informações complementares Nessa etapa, juntam-se ao laudo, tudo aquilo que visa a subsidiar e corroborar com as informações elencadas nas outras etapas. As fotografias podem, por exemplo, ficar em um anexo, sendo referenciadas no texto a que se referem ou mesmo incluídas diretamente no momento em que são citadas. Já o croqui, geralmente é juntado em forma de anexo. Os depoimentos objetivam a formação da convicção do(a) investigador(a). Não há regra sobre estarem ou não presentes no laudo, cada investigador(a) avaliará essa necessidade. O IBAMA recomenda a inclusão dos depoimentos assinados: Depoimentos originais assinados. Imagens de satélite referentes ao dia em que foi detectado o foco de calor pelo sistema de monitoramento por satélite. Cartas geográficas em escala 1:50.000 ou 1:100.000. Fotografias com referências geográficas ou de construções. (IBAMA, 2011) Essa é uma parte do laudo ou relatório que aceita tudo, deve-se apenas tomar o cuidado de não inserir muitos documentos, pois ao invés de esclarecer, podem gerar mais dúvidas para a(o) leitor(a). Portanto, o laudo deve buscar responder aos objetivos da investigação. Se ele foi confeccionado por requisição judiciária, visará responder apenas ao questionamento do juiz, se for realizado ex officio por uma entidade, esta definirá as informações que julgar pertinentes e a complexidade dos detalhes necessários. REVISÃO DO MÓDULO 3 Neste módulo, você estudou: • Quais os materiais recomendados e mais utilizados na investigação dos incêndios florestais; porém, como também foi estudado, sabemos que existe uma grande variedade de materiais, ficando a critério de cada investigador(a) adicionar ou subtrair qualquer equipamento ou material em sua lista de equipamentos. • Na segunda lição, aprendemos sobre a importância da confecção de um bom croqui, abrangendo seus detalhes como, esboço, simbologia e o croqui propriamente dito, detalhes estes imprescindíveis para a confecção de um laudo ou relatório técnico satisfatório. • Por fim, na terceira e última lição deste módulo, foram elencadas as principais informações que deverão estar contidas nos laudos ou nos relatórios técnicos, documentos que têm por objetivo principal relatar de forma técnica e especializada as informações sobre o incêndio florestal investigado. Referências Bibliográficas • ALVES, D.S.T. 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