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ROTINAS E CÁLCULOS TRABALHISTAS AULA 1 Profª Viviane Aparecida Corrêa 2 CONVERSA INICIAL Nesta área de conhecimento, estudaremos as principais práticas das rotinas e dos cálculos trabalhistas. Nesta etapa, examinaremos os conceitos, fontes, princípios do direito do trabalho e iniciaremos a abordagem das relações de trabalho, já, nas próximas, passaremos pela análise dos contratos, das jornadas, dos principais direitos, da remuneração dos trabalhadores e de seus respectivos cálculos e finalizaremos com o estudo do aviso-prévio e da extinção do contrato de trabalho. Esses conhecimentos são necessários aos profissionais responsáveis pela gestão dos recursos humanos de uma instituição, já que estão diretamente ligados ao alinhamento dos objetivos da empresa com os interesses dos seus trabalhadores. Desejamos um excelente estudo e um ótimo aprendizado. CONTEXTUALIZANDO Apesar da existência de um amplo ordenamento jurídico-trabalhista brasileiro, algumas empresas ainda descumprem certas determinações legais, seja pelo desconhecimento da existência da norma, seja por sua interpretação incorreta, seja ainda pela falta de orientação preventiva ou pelo desconhecimento das consequências desses descumprimentos. Em razão disso, no decorrer de nossos estudos, identificaremos todo o ordenamento jurídico aplicável às relações de trabalho (constitucional e infraconstitucional), estudaremos a forma correta de interpretá-lo e, principalmente, de aplicá-lo no dia a dia das empresas. Qualquer pessoa, física ou jurídica, que contrate trabalhadores precisa conhecer, mesmo que genericamente, as pautas apresentadas nos nossos conteúdos. Também carecem desse conhecimento os profissionais de recursos humanos, que, por serem considerados o coração da empresa, precisam detê- lo não de forma superficial, mas sim de um modo mais robusto e aprofundado, já que disso depende o sucesso das relações trabalhistas. TEMA 1 – DIREITO DO TRABALHO A palavra trabalho, no passado, tinha uma conotação de algo desagradável, como um castigo, uma tortura, a imposição de sofrimento e dor. Hoje, o trabalho consiste na atividade física e/ou intelectual empregada pelo 3 homem, em favor de terceiros, com uma finalidade produtiva (Cassar, 2016, p. 3). Com base nessa definição, o direito do trabalho, para Vólia Bomfim Cassar (2016, p. 3), constitui: [...] um sistema jurídico permeado por institutos, valores, regras e princípios dirigidos aos trabalhadores subordinados e assemelhados, aos empregadores, empresas coligadas, tomadores de serviço, para a tutela do contrato mínimo de trabalho, das obrigações decorrentes das relações de trabalho, das medidas que visam à proteção da sociedade trabalhadora, sempre norteadas pelos princípios constitucionais, principalmente o da dignidade da pessoa humana. Também é recheado de normas destinadas aos sindicatos e associações representativas: à atenuação e forma de solução dos conflitos individuais, coletivos e difusos, existentes entre capital e trabalho; à estabilização da economia social e à melhoria da condição social de todos os relacionados. A mesma compreensão do conceito tem Sérgio Pinto Martins (2001, p. 45), Maurício Godinho Delgado (2002, p. 48) e Arnaldo Süssekind (1999, p. 58). TEMA 2 – FONTES DO DIREITO DO TRABALHO Em linhas gerais, o termo fonte significa o lugar onde nasce algo. No direito do trabalho, segundo Renato Saraiva (2012, p. 23), fonte “[...] significa o manancial, o início ou o princípio do qual surge o Direito. Em outras palavras, fonte seria a expressão utilizada para designar a origem das normas jurídicas”. No direito do trabalho, as fontes dividem-se em: fonte material e fonte formal, que pode ser autônoma ou heterônoma. As fontes materiais representam o momento pré-jurídico, que antecede a criação da norma, ou seja, trata-se da pressão exercida pelos trabalhadores em face do Estado, em busca de melhores condições de trabalho. A greve é um dos exemplos de fonte material de que surge o direito do trabalho (Saraiva, 2012, p. 23). A fonte formal é a exteriorização do direito, é a norma já construída. Ela pode ser autônoma, quando elaborada pelos seus destinatários, que são os empregados e os empregadores, por exemplo a convenção coletiva e o acordo coletivo; e pode ser também heterônoma, quando possui origem estatal, como a Constituição Federal, as leis e os decretos (Saraiva, 2012, p. 24). Para o direito do trabalho, não existe hierarquia entre essas normas, pois será utilizada a norma mais favorável aos trabalhadores. 4 TEMA 3 – PRINCÍPIOS Henrique Correia (2018, p. 105) explica que “os princípios representam a base do ordenamento jurídico” e possuem três funções: 1. função interpretativa, quando o princípio é utilizado para a correta interpretação de uma norma; 2. função inspiradora, quando ele orienta os legisladores na elaboração de uma norma; 3. função integrativa, quando o princípio é usado para suprir lacuna, omissão ou obscuridade presente numa lei. No direito do trabalho, existem princípios próprios que orientam as relações trabalhistas e que serão abordados a seguir. 3.1 Princípio da proteção O princípio da proteção é considerado a espinha dorsal do direito do trabalho, tendo em vista que, entre o empregado e o empregador, há uma desigualdade socioeconômica, pela qual aquele é a parte economicamente fraca (hipossuficiente) e que, por isso, carece de uma proteção capaz de estabelecer um equilíbrio jurídico entre eles. Esse princípio se desmembra em outros três princípios: da condição mais benéfica ao trabalhador, da norma mais favorável ao trabalhador e do in dubio pro operario. 3.1.1 Princípio da condição mais benéfica ao trabalhador De acordo com Henrique Correia (2018, p. 111), o princípio da condição mais benéfica “[...] assegura ao empregado as vantagens conquistadas durante o contrato de trabalho, conforme previsto no art. 468 da CLT. Diante disso, essas conquistas não poderão ser alteradas para pior”, ou seja, toda condição que for mais benéfica ao empregado, via de regra, vai aderir ao contrato de trabalho e sem poder ser retirada posteriormente. Esse princípio, contudo, sofreu uma relativização, uma flexibilização relevante por conta da Súmula n. 51/2005 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), em que se define que: 5 I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. (Brasil, 2005, grifos nossos) 3.1.2 Princípio da norma mais favorável ao trabalhador É possível existir mais de uma norma a ser aplicada em um caso, no que deverá ser aplicada a norma mais favorável ao empregado. Nesse sentido, estabelece a Súmula n. 202/2003 do TST que: “Existindo, ao mesmo tempo, gratificação por tempo de serviço outorgada pelo empregador e outra: da mesma natureza prevista em acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa, o empregado tem direito a receber, exclusivamente, a que lhe seja mais benéfica” (Brasil, 2003a). Porém, para se escolher a norma mais favorável ao empregado, precisa- se analisar duas teorias: a teoria da acumulação e a teoria do conglobamento. Pela teoria da acumulação, possuindo-se duas ou mais normas aplicáveis a um dado caso concreto, ambas serão aplicadas, e será levada em consideração somente a parte delas que for favorável ao empregado, e desprezado o restante. Já segundo a teoria do conglobamento, havendo duas ou mais normas aplicáveis a um dado caso concreto, será aplicada aquela que, no seu conjunto e na sua totalidade, for a mais favorável ao empregado. Existe tambéma teoria do conglobamento mitigado, pela qual quando, existindo duas ou mais normas acerca de determinado assunto, todas podem ser consideradas, no entanto devem ser aplicadas por instituto, ou seja, por matéria. Exemplo: pode-se aplicar o instituto inteiro de férias de uma norma e o de horas extras de outra. 3.1.3 Princípio do in dubio pro operario/in dubio pro misero De acordo com o princípio do in dubio pro operario, sempre que houver várias interpretações de uma norma de direito material, deve-se interpretá-la de forma que ela favoreça o empregado, para resguardar o direito da parte economicamente fraca, que é o vulnerável, o hipossuficiente, o empregado (Correia, 2018). 6 3.2 Princípio da primazia da realidade A realidade se sobrepõe à forma, ou seja, no direito do trabalho, prevalece o que realmente acontece na prática, independentemente de uma previsão formal de uma dada aplicação. Como exemplo, citamos o pagamento de salário por fora, de horas extras não anotadas no cartão de ponto etc. 3.3 Princípio da inalterabilidade contratual quando lesiva ao empregado De acordo com o art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), “[...] nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. (Brasil, 1943)”. Isso implica dizer que alterações contratuais não terão validade quando forem lesivas ao empregado, ainda que haja a concordância deste para a mudança. Importa destacar que não será considerada alteração unilateral a determinação do empregador para que um empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de confiança. Nesse caso, não será assegurado ao empregado o direito à manutenção do pagamento da gratificação correspondente, que também não será incorporada ao salário, independentemente do tempo de exercício da respectiva função, conforme art. 468, parágrafos 1º e 2º, da CLT (Brasil, 1943). 3.4 Princípio da irrenunciabilidade e da indisponibilidade do direito Em regra, os direitos trabalhistas são irrenunciáveis e sua recusa, indisponível, ou seja, o empregado a eles não pode renunciar, deles não pode abrir mão. Existem exceções a isso que envolvem a participação dos sindicatos, em acordos ou convenções coletivas de trabalho. 3.5 Princípio da irredutibilidade salarial Em regra, o salário do empregado é irredutível. Porém, excepcionalmente, essa redução é possível se for realizada por meio de uma convenção ou de um acordo coletivo. Nesses casos, a redução é temporária. Nesse sentido, dispõem, respectivamente, a Constituição Federal e a CLT que: 7 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo [...] (Brasil, 1988) Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: [...] § 3o Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo. (Brasil, 1943) Exemplo: uma empresa não está bem financeiramente e, ao invés de dispensar todos os seus empregados, ela negocia com o sindicato da categoria, faz um acordo coletivo de trabalho para a redução da jornada de trabalho e, consequentemente, a redução dos salários dos empregados, durante a sua crise financeira. Quando, depois, tudo voltar ao normal, restitui-se a carga horária e o salário normal de todos. Com esse acordo ou convenção de caráter provisório, os empregados não poderão ser dispensados sem justa causa durante a vigência do instrumento coletivo. 3.6 Princípio da intangibilidade salarial Via de regra, o salário do empregado é intangível, ou seja, não pode sofrer nenhum desconto, excetuando-se o que prevê o art. 462 da CLT, pelo qual são permitidos os seguintes descontos: por adiantamento, dispositivo de lei ou convenção coletiva de trabalho (Brasil, 1943). Ainda se aplica o que dispõe a Súmula n. 342/2003 do TST: Descontos salariais efetuados pelo empregador, com a autorização prévia e por escrito do empregado, para ser integrado em planos de assistência odontológica, médico-hospitalar, de seguro, de previdência privada, ou de entidade cooperativa, cultural ou recreativo-associativa de seus trabalhadores, em seu benefício e de seus dependentes, não afrontam o disposto no art. 462 da CLT, salvo se ficar demonstrada a existência de coação ou de outro defeito que vicie o ato jurídico. (Brasil, 2003b) Assim, se houver autorização expressa e por escrito do empregado, poderão ser descontados do seu salário valores relativos a contribuições a planos de assistência odontológica e médico-hospitalar, seguros, planos de previdência privada ou de associação a entidade cooperativa, cultural ou recreativo-associativa, em seu benefício e no de seus dependentes. 8 Em relação aos descontos decorrentes de danos causados pelo empregado ao empregador, deve-se observar o disposto no art. 462 da CLT: “§ 1º - Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado” (Brasil, 1943). Nesse caso, precisamos sempre analisar se houve culpa ou dolo do empregado: há culpa quando o empregado não teve a intenção de causar o prejuízo e, nesse caso, o desconto só será lícito se houver sobre o assunto previsão contratual; e caracteriza-se o dolo quando o empregado teve a intenção de causar o prejuízo e, nesse caso, o desconto sempre será lícito. TEMA 4 – RELAÇÃO DE TRABALHO A relação jurídica constituída entre as partes envolvidas num contrato de trabalho se denominar relação de trabalho (Ferreira, 2021). A relação de trabalho é um gênero que comporta algumas espécies como: trabalho autônomo, avulso, voluntário, estágio e emprego. Para Vólia Bomfim Cassar (2016, p. 276), “autônomo é o trabalhador que explora seu ofício ou profissão com habitualidade por conta e risco próprio”. O trabalhador avulso, conforme art. 9º, inciso VI, do Decreto n. 3.048/1999, é aquele que: a) sindicalizado ou não, preste serviço de natureza urbana ou rural a diversas empresas, ou equiparados, sem vínculo empregatício, com intermediação obrigatória do órgão gestor de mão de obra, nos termos do disposto na Lei nº 12.815, de 5 de junho de 2013, ou do sindicato da categoria, assim considerados: 1. o trabalhador que exerça atividade portuária de capatazia, estiva, conferência e conserto de carga e vigilância de embarcação e bloco; 2. o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvão e minério; 3. o trabalhador em alvarenga (embarcação para carga e descarga de navios); 4. o amarrador de embarcação; 5. o ensacador de café, cacau, sal e similares; 6. o trabalhador na indústria de extração de sal; 7. o carregador de bagagem em porto; 8. o prático de barra em porto; 9. o guindasteiro; e 10. o classificador, o movimentador e o empacotador de mercadorias em portos; e b) exerça atividade de movimentação de mercadorias em geral, nos termos do disposto na Lei nº 12.023, de 27 de agosto de 2009, em áreas urbanas ou rurais, sem vínculo empregatício, com intermediação obrigatória do sindicato da categoria, por meio de acordo ou convenção coletiva de trabalho, nas atividades de: 1. cargas e descargas de mercadorias a granel e ensacados, costura, pesagem, embalagem, enlonamento, ensaque, arrasto, posicionamento, acomodação, reordenamento, reparação de carga, 9 amostragem, arrumação, remoção, classificação,empilhamento, transporte com empilhadeiras, paletização, ova e desova de vagões, carga e descarga em feiras livres e abastecimento de lenha em secadores e caldeiras; 2. operação de equipamentos de carga e descarga; e 3. pré-limpeza e limpeza em locais necessários às operações ou à sua continuidade [...]. (Brasil, 1999) O trabalho voluntário consiste na “[...] atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa”, não gerando vínculo empregatício, de acordo com a Lei n. 9.608/1998, art. 1º, parágrafo único (Brasil, 1998). O estágio é regulamentado pela Lei n. 11.788/2008, que sobre aquele fornece o seguinte conceito: Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. (Brasil, 2008) Por fim, há a relação de emprego, que será estudada no próximo tópico. TEMA 5 – RELAÇÃO DE EMPREGO A relação de emprego, para Priscila Ferreira (2021, p. 21), caracteriza-se “[...] por ter a figura do empregado, parte hipossuficiente desta relação, e o empregador, além dos requisitos caracterizadores dos arts. 2º e 3º da CLT, quais sejam: subordinação, habitualidade (ou continuidade), onerosidade (ou remuneração), pessoalidade e pessoa física.” Se observarmos o art. 3º da CLT, vamos notar que é considerada empregada toda pessoa física que prestar serviços a empregador de forma não eventual, sob a dependência deste e mediante salário. Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Parágrafo único - Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual. 10 5.1 Requisitos Para que se caracterize o vínculo empregatício, são necessários alguns requisitos, dos quais citamos: subordinação, não eventualidade, onerosidade, pessoalidade, pessoa física, alteridade. A subordinação que existe entre o empregado e o empregador é jurídica, ou seja, é a lei que diz que o empregado é dependente, subordinado ao empregador. É o empregador que tem o poder de mando, direção, controle, organização, fiscalização, poder regulamentar e disciplinar. De outro lado, o empregado deve prestar os serviços da forma que o empregador quiser, pois a prestação dos serviços é subordinada. Tanto é que essa subordinação é jurídica, pois é a prestação dos serviços que é subordinada, não é a pessoa do empregado que é subordinada. Dispõe assim a CLT: “Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço” (Brasil, 1943). Sobre a não eventualidade, leciona Priscila Ferreira (2021, p. 42) que: O requisito da habitualidade, também conhecido como não eventualidade, traz a ideia de que o trabalho realizado não pode se dar de forma eventual ou ocasional; logo, o empregado sempre deverá ter uma expectativa de retorno, caso contrário poderá ser considerado como um autônomo ou eventual. Acerca da onerosidade, destaca-se que na relação de emprego deve haver uma contraprestação financeira pelo trabalho realizado, do contrário, não estaríamos diante de uma relação de emprego, mas, sim, de um trabalho voluntário. Sobre o requisito da pessoalidade, implica dizer que o empregado pessoa física “[...] não poderá se fazer substituir por outro nos seus afazeres laborais, já que contratado, como regra, por suas características pessoais, [...] salvo autorização do empregador para que o empregado se faça substituir em uma situação excepcional” (Ferreira, 2021, p. 42). Priscila Ferreira (2021, p. 41) esclarece ainda que somente a pessoa física pode ser empregada, podendo, no entanto, o empregador ser pessoa física ou jurídica. A autora prossegue, em seu raciocínio: Por vezes, verificamos alguns empregados detentores de CNPJ, e, portanto, prestando serviços como pessoa jurídica, o que no direito do trabalho chamamos por “pejotização” e pelo qual é rechaçado, por ser 11 a forma que o empregador usa para se esquivar de suas obrigações trabalhistas, taxando este empregado como um mero prestador de serviços, quando, na realidade, atende a todos os requisitos caracterizadores do vínculo empregatício, presentes nos arts. 22e 3º da CLT. No Brasil, o instituto chamado de pejotização não é legalmente aceito. O risco da atividade econômica, também conhecido como alteridade, consiste em dizer que os riscos do negócio sempre serão suportados pelo empregador, nunca pelo empregado, ou seja: a empresa tendo ou não lucro, o empregado irá receber o seu salário, por exemplo. Importa destacar que a exclusividade não é requisito essencial para a caracterização do vínculo empregatício. TROCANDO IDEIAS Sobre esta etapa, sugerimos, para que você possa enriquecer seu aprendizado, a realização de um estudo sobre os princípios do direito do trabalho, com base na seguinte situação: Maria firmou contrato escrito com a empresa X, para ser empregada, exercendo a função de vendedora, de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas, com 2 horas de intervalo intrajornada, percebendo a remuneração de 2 mil reais, assim discriminada na folha de pagamento da empresa, valor que corresponde ao piso da sua categoria. No entanto, no dia a dia, Maria trabalha de segunda a sábado, das 8 às 18 horas, com 1 hora de intervalo intrajornada, e não recebe nenhum adicional por essas horas excedentes de trabalho, em sua remuneração. Analise se houve, nesse caso, afronta a algum princípio do direito do trabalho e explique por quê. NA PRÁTICA Para uma melhor compreensão do conteúdo desta etapa, propomos a você a análise das três seguintes situações hipotéticas: 1. Felipe foi contratado pela empresa Delta como autônomo. Porém, durante a vigência do contrato, configuraram-se requisitos de uma relação de emprego (pessoalidade, habitualidade, onerosidade e subordinação). 2. Alguns trabalhadores exerciam a atividade de cortadores de cana com contrato de estágio, cumprindo jornada de 8 horas diárias, e recebiam ordens do empregador. 12 3. Uma faculdade não possui nenhum professor empregado: todos os professores são pessoas jurídicas. Esses “empresários” eram antigos empregados que constituíram empresas e continuaram exercendo a mesma jornada de trabalho, mesmo salário, recebendo as mesmas ordens etc. *As respostas estão após as Referências. FINALIZANDO Nesta etapa, conhecemos as fontes do direito do trabalho, vimos a importância da observância dos seus princípios, nas relações de trabalho, para a manutenção de uma boa relação entre empregado e empregador. Reconhecemos também as espécies de contrato de trabalho, dando ênfase ao contrato de emprego, analisando as figuras do empregado e do empregador, bem como os requisitos que caracterizam essa relação. 13 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 16 maio 2022. _____. Decreto-Lei n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, 7 maio 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.htm>. Acesso em: 6 maio 2022. _____. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial daUnião, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 6 maio 2022. _____. Lei n. 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, 19 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9608.htm>. Acesso em: 6 maio 2022. _____. Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, 26 set. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm>. Acesso em: 6 maio 2022. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 51, de 5 de abril de 2005. Diário da Justiça, Brasília, 20 abr. 2005. Disponível em: <https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=tst&num=51>. Acesso em: 6 maio 2022. _____. Súmula n. 202, de 28 de outubro de 2003. Diário da Justiça, Brasília, 19 nov. 2003a. Disponível em: <https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_201 _250.html#SUM-202>. Acesso em: 6 maio 2022. _____. Súmula n. 342, de 28 de outubro de 2003. Diário da Justiça, Brasília, 19 nov. 2003b. Disponível em: <https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301 _350.html#SUM-342>. Acesso em: 6 maio 2022. 14 CASSAR, V. B. Direito do trabalho. São Paulo: Método, 2016. CORREIA, H. Direito do trabalho. Salvador: JusPodium, 2018. DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2002. FERREIRA, P. Direito do trabalho. São Paulo: Rideel, 2021. MARTINS, S. P. Direito do trabalho. São Paulo: Atlas, 2001. SARAIVA, R. Direito do trabalho: concursos públicos. São Paulo: Editora Método, 2012. SÜSSEKIND, A. Curso de direito do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. 15 RESPOSTAS 1. Nesse caso, comprovada a situação hipotética, trata-se de uma fraude, pela aplicação do princípio da primazia da realidade, e serão devidas as verbas trabalhistas decorrentes do contrato de emprego. 2. Está presente o principal requisito da relação de emprego, que é a subordinação, somado à carga horária superior à permitida, em lei, em relação ao estágio. Assim, com base no princípio da primazia da realidade, esses contratos de estágio são nulos de pleno direito, devendo ser reconhecido o vínculo empregatício e haver o pagamento de todos os direitos trabalhistas inerentes à relação de emprego existente. 3. Nesse contexto, os professores são, na verdade, empregados da faculdade, diante da prevalência da realidade sobre a forma escrita do contrato estabelecido entre as partes. Contextualizando Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS RESPOSTAS