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LEIS ESQUEMATIZADAS Lei n. 8.112/1990 Diogo Surdi SUMÁRIO Lei n. 8.112/1990 Comentada .............................................................6 1. Disposições Preliminares .................................................................6 2. Provimento, Vacância, Remoção, Redistribuição e Substituição ........... 11 2.1. Provimento ..............................................................................11 2.1.1. Disposições Gerais ..................................................................12 2.1.2. Nomeação .............................................................................15 2.1.3. Concurso Público ....................................................................16 2.1.4. Posse ....................................................................................20 2.1.5. Exercício ...............................................................................23 2.1.6. Estágio Probatório ..................................................................26 2.1.7. Estabilidade ...........................................................................29 2.1.8. Readaptação ..........................................................................31 2.1.9. Reversão ...............................................................................32 2.1.10. Reintegração ........................................................................34 2.1.11. Recondução .........................................................................35 2.1.12. Disponibilidade e Aproveitamento ...........................................36 2.2. Vacância ..................................................................................37 2.3. Remoção .................................................................................40 2.4. Redistribuição ...........................................................................43 2.5. Substituição .............................................................................45 3. Direitos e Vantagens ....................................................................47 3.1. Vencimento e remuneração ........................................................47 3.2. Vantagens ................................................................................55 3.2.1. Indenizações .........................................................................57 3.2.1.1. Ajuda de custo ....................................................................58 3.2.1.2. Diárias ...............................................................................61 3.2.1.3. Indenização de transporte ....................................................63 3.2.1.4. Auxílio-moradia ...................................................................64 3.2.2. Gratificações e adicionais ........................................................67 3.2.2.1. Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e assessoramento ..............................................................................68 3.2.2.2. Gratificação Natalina ............................................................69 3.2.2.3. Adicionais de Insalubridade, Periculosidade e de Atividades Penosas .........................................................................................71 3.2.2.4. Adicional por Serviço Extraordinário .......................................73 3.2.2.5. Adicional noturno ................................................................73 3.2.2.6. Adicional de férias ...............................................................74 3.2.2.7. Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso .......................75 3.3. Férias ......................................................................................78 3.4. Licenças ..................................................................................81 3.4.1. Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família ...................82 3.4.2. Licença por Motivo de Afastamento do Cônjuge ..........................84 3.4.3. Licença para o Serviço Militar ...................................................85 3.4.4. Licença para Atividade Política ..................................................86 3.4.5. Licença para Capacitação ........................................................87 3.4.6. Licença para Tratar de Interesses Particulares ............................87 3.4.7. Licença para o Desempenho de Mandato Classista ......................88 3.5. Afastamentos ...........................................................................89 3.5.1. Afastamento para Servir a Outro Órgão ou Entidade ...................89 3.5.2. Afastamento para Exercício de Mandato Eletivo ..........................93 3.5.3. Afastamento para Estudo ou Missão no Exterior ..........................94 3.5.4. Afastamento para servir em organismo internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere ................................................95 3.5.5. Afastamento para Participação em Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu no País .......................................................................96 3.6. Concessões ..............................................................................99 3.7. Tempo de serviço .................................................................... 101 3.8. Direito de petição .................................................................... 106 4. Regime Disciplinar ..................................................................... 110 4.1. Introdução ............................................................................. 110 4.2. Deveres ................................................................................. 110 4.3. Proibições .............................................................................. 113 4.4. Acumulação ........................................................................... 120 4.5. Responsabilidades ................................................................... 123 4.6. Penalidades ............................................................................ 127 5. Processo Administrativo .............................................................. 138 5.1. Disposições gerais ................................................................... 138 5.2. Sindicância ............................................................................. 141 5.3. Afastamento preventivo ........................................................... 143 5.4. Processo disciplinar ................................................................. 143 5.4.1. Revisão do processo ............................................................. 165 5.5. Processo administrativo sumário ............................................... 169 6. Seguridade Social do Servidor ..................................................... 174 6.1. Disposições gerais ................................................................... 174 6.2. Benefícios .............................................................................. 180 6.2.1. Aposentadoria ...................................................................... 180 6.2.2. Auxílio-Natalidade ................................................................ 188 6.2.3. Salário-Família ..................................................................... 189 6.2.4. Licença para Tratamento de Saúde ......................................... 191 6.2.5. Licença à Gestante, à Adotante e Licença-Paternidade ............... 194 6.2.6. Licença por Acidente em Serviço ............................................ 196 6.2.7. Pensão ................................................................................ 198 6.2.8. Auxílio-funeral ..................................................................... 208 6.2.9. Auxílio-reclusão ................................................................... 209 6.3. Assistência à Saúde ................................................................. 210 Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 5 A Lei n. 8.112/1990é a norma responsável por estabelecer o regime ju- rídico dos servidores públicos civis da União. Consequentemente, seu estudo é imprescindível para todos aqueles que almejam a aprovação em um cargo público no âmbito federal. Sendo assim, como forma de facilitar a compreensão dos inúmeros artigos que, em conjunto, formam o regime funcional dos servidores federais, todo o texto da lei foi comentado e detalhado. O objetivo do presente material, dessa forma, é auxiliar na preparação, proporcionando condições para que todos possam gabaritar questões rela- cionadas com a Lei n. 8.112/1990. Boa leitura a todos e ótimos estudos! Diogo Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 6 LEI N. 8.112/1990 COMENTADA 1. Disposições Preliminares Art. 1º- Esta Lei institui o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias, inclusive as em regime especial, e das fundações públicas federais. A Lei n. 8.112/1990 institui o regime jurídico dos servidores públicos ci- vis da União, das autarquias federais (inclusive as em regime especial) e das fundações públicas federais. Você já se questionou qual a importância de um regime jurídico para determinada classe de servidores? É por meio do regime jurídico que os servidores, regidos pela norma, en- contram todos os direitos e garantias que têm direito, bem como os requisitos para o exercício do cargo público. No entanto, as disposições da Lei n. 8.112/1990 não se aplicam a todos os agentes públicos, mas sim apenas aos servidores públicos civis federais, o que implica em dizer que os empregados públicos federais, regidos pela CLT, não estão compreendidos dentro do campo de atuação do estatuto federal. Da mesma forma, a norma não se aplica aos servidores públicos estatutá- rios dos demais entes federativos, tal como os Estados e os Municípios. Ainda que estes servidores sejam regidos por um estatuto, caberá ao respectivo ente federativo, por meio de lei, a sua edição. A Lei n. 8.112/1990 é aplicada A Lei n. 8.112/1990 não é aplicada aos servidores estatutários da administração direta federal aos empregados públicos federais, que são regidos pelas disposições da CLT aos servidores das autarquias (inclusive as em regime especial) federais aos servidores públicos dos Estados, do Dis- trito Federal e dos Municípios aos servidores das fundações públicas federais aos militares Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 7 Nota-se, dessa forma, que não são todos os agentes públicos da Admi- nistração Indireta federal que estão abrangidos pelas disposições da Lei n. 8.112/1990. E isso ocorre na medida em que as empresas públicas e as socieda- des de economia mista são pessoas jurídicas de direito privado, de forma que os seus agentes não são considerados servidores públicos em sen- tido restrito, mas sim empregados públicos, regidos pelas disposições da CLT. Em sentido oposto, as autarquias e as fundações públicas são pessoas jurídicas de direito público. Seus agentes são servidores públicos, regidos, consequentemente, pelas disposições do regime estatutário. Autarquias e Fundações Públicas Federais • São pessoas jurídicas de direito público • Agentes regidos pelas disposições da Lei n. 8.112/1990 Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista Federais • São pessoas jurídicas de direito privado • Agentes regidos pelas disposições da CLT Art. 2º Para os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa legalmente investida em cargo público. Importante destacar que a expressão “servidores públicos” pode ser ana- lisada tanto em sentido amplo quanto em sentido restrito. Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, servidores públicos, em sentido amplo, “são as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades da Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remunera- ção paga pelos cofres públicos”. Temos, dessa forma, que o conceito de servidor público em sentido amplo abrange três categorias distintas: a) Estatutários ou servidor público em sentido estrito b) Empregados públicos c) Temporários Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 8 Em sentido restrito, a expressão “servidores públicos” compreende os agentes públicos que estão sendo regidos por um estatuto funcional. Observa-se que o sentido da expressão, no texto da Lei n. 8.112/1990, é o de servidor público em sentido estrito. Dessa forma, sempre que a expressão for utilizada pela mencionada nor- ma, abrangerá apenas as pessoas que estejam ligadas à Administração Públi- ca federal por meio de um vínculo estatutário. Tal vínculo, na esfera federal, é disciplinado pela Lei n. 8.112/1990. Art. 3º Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilida- des previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor. Parágrafo único. Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasi- leiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão. Os cargos públicos podem ser conceituados como o conjunto de atribui- ções, responsabilidades, direitos e obrigações que são atribuídas aos servido- res públicos para o desempenho das suas atividades funcionais. Ressalta-se que a criação de cargos públicos deverá ser feita por inter- médio de lei, sendo que a iniciativa para propor a norma caberá ao chefe do respectivo Poder em que os cargos estão sendo criados. Os cargos públicos podem ser divididos em cargos isolados, em cargos de carreira e em cargos em comissão. Os cargos isolados são aqueles que são formados apenas por uma clas- se, sendo que o seu ocupante, com o passar do tempo, não possui o direito de progredir na carreira. Os cargos em carreira, em sentido oposto, são aqueles que são organi- zados em classes, de forma que os servidores ocupantes, após um intervalo de tempo e desde que atendidas as demais condições previstas em lei, pro- gridem na carreira. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 9 COMENTárIO:� Exemplificando Se tomarmos como exemplo a estrutura de cargos do Poder Judiciário da União, veremos que estes são organizados em três classes (A, B e C), sendo que cada classe é composta por diversos padrões. Representam os padrões, dessa forma, uma subdivisão das classes. No âmbito do Poder Judiciário da União, as Classes A e B possuem 5 padrões e a Classe C, 3 padrões. Assim, ao entrar em exercício, o servidor público pertence à Classe A e ao padrão 1. Após o intervalo de um ano, passará ele, desde que atendidos todos os requisitos legais, ao padrão 2, mas ainda estará dentro da mesma classe. O processo de mudança de padrão é chamado de progressão. Quando o servidor chegar ao último padrão da Classe A (A5), passará ele, após o período de 1 ano, para o primeiro padrão de uma nova Classe (no caso, a B). Nessa hipótese, não ocorre a progressão, mas sim a promoção do servidor. Os cargos em comissão são aqueles destinados às funções de direção, chefia e assessoramento. Em virtude dessa condição, são considerados de livre nomeação e exoneração por parte da autoridade competente, o que implica em dizer que a sua nomeação independe da realização de concurso público, requisito imprescindível para a admissão dos servidores estatutários e dos empregados públicos. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 10 De acordo com a Constituição Federal (art. 37, V), os cargos em comissão podem ser providos tanto por servidores já ocupantes da carreira funcional (e que foram aprovados em concurso público) quanto por terceiros que ainda não possuam vínculo funcional com o respectivo Poder Público. Entretanto, como forma de evitar que todo os cargos de direção, chefia e assessoramento fossem providos exclusivamente por pessoas alheias ao ser- viço público, a Constituição Federal estabeleceu que as leis organizadoras de cada carreira deverão determinar que seja observado um percentual mínimo de servidores de carreira para as nomeaçõesdestinadas aos cargos em comissão. COMENTárIO:� Exemplificando Caso um parlamentar resolva nomear um assessor para chefiar o respectivo gabinete, poderá ele optar entre realizar a nomeação de um servidor de car- reira ou de um terceiro que não possua vínculo com o órgão público. No entanto, o total geral das nomeações para cargos em comissão deverá observar um percentual mínimo de servidores de carreira. Tal percentual deverá constar na lei que regulamenta a carreira dos servidores. Art. 4º É proibida a prestação de serviços gratuitos, salvo os casos previstos em lei. Como regra, é vedada a prestação de serviços, por parte os agentes es- tatais, de forma gratuita. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 11 Em caráter de exceção, e apenas nas hipóteses em que a lei prever, é que poderá haver o desempenho de atribuições em favor do Poder Público sem o recebimento pecuniário pela sua prestação. 2. Provimento, Vacância, Remoção, Redistribuição e Substituição 2.1. Provimento Ainda que a Lei n. 8.112/1990 não apresente uma ordem cronológica de fatos, é possível identificar, pela leitura da norma, uma série sucessiva de acontecimentos relacionados com a vida funcional do servidor público. A linha do tempo do serviço público, dessa forma, é uma forma de compreendermos todo o processo de ingresso, desenvolvimento e saída de um respectivo servidor no serviço público. Por meio de sua análise, nos será permitido ter uma visão global de todas as etapas e facilitará a compreensão dos diversos institutos aos quais os servidores federais estão sujeitos. Assim, a linha do tempo do serviço público compreende, basicamente, as seguintes fases: a) concurso, b) provimento, c) posse, d) exercício, e) estágio probatório, f) estabilidade e g) vacância. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 12 2.1.1. Disposições Gerais Art. 5º São requisitos básicos para investidura em cargo público: I – a nacionalidade brasileira; II – o gozo dos direitos políticos; III – a quitação com as obrigações militares e eleitorais; IV – o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo; V – a idade mínima de dezoito anos; VI – aptidão física e mental. § 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros requisitos estabelecidos em lei. De acordo com o artigo 5º da norma federal, uma série de requisitos deve ser observada para que o particular possa investir-se em cargo público. Tra- ta-se, como não poderia deixar de ser, de uma lista meramente exempli- ficativa, de forma que, a depender das atribuições do cargo público, outros requisitos possam ser exigidos como condição para a posse. Merece destaque, dos requisitos apresentados, a questão da nacionalidade brasileira. Isso porque a Emenda Constitucional n. 19, de 1998, possibilitou que os estrangeiros também passem a ocupar cargos públicos nas hipóteses previstas em lei. Mas e qual é o momento em que tais requisitos devem ser atendidos? De acordo com a norma, os requisitos elencados apenas devem ser aten- didos no momento da posse. Dessa forma, caso o particular não atenda a um dos requisitos apresen- tados, ainda assim poderá prestar concurso público para o cargo desejado. Tendo o procedimento sido homologado, a Administração Pública realizará a nomeação do candidato, que deverá tomar posse no prazo de 30 dias. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 13 É neste momento (na posse no cargo público) que todos os requisitos de- vem ser atendidos mediante a apresentação da documentação comprobatória respectiva. COMENTárIO:� Exemplificando Rafael, de 17 anos, possui o desejo de exercer o cargo de Técnico Judiciário em um Tribunal Regional do Trabalho. Para alcançar seu objetivo, ele estuda, diariamente, por aproximadamente 4 horas. Com a publicação do edital, poderá Rafael prestar o concurso, mesmo não tendo atingido a idade legalmente exigida para o exercício de cargo público? Certamente que sim! E isso porque todos os requisitos exigidos apenas devem ser comprovados no momento da posse. Quando esta ocorrer, Rafael já deverá ter completado a idade de 18 anos, sob pena de não ser possível o seu ingresso como agente estatal. § 2º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direi- to de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. § 3º As universidades e instituições de pesquisa científica e tecnoló- gica federais poderão prover seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os procedi- mentos desta Lei. Estabelece o princípio da isonomia que as pessoas iguais devem ser trata- das de forma igualitária. Ao mesmo passo, os desiguais devem ser tratados de forma desigual, na medida de suas desigualdades. Com base na isonomia, e objetivando incluir as pessoas portadoras de de- ficiência nos quadros funcionais do Estado é que o Poder Público tem o dever Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 14 de assegurar, em cada concurso realizado, um percentual de vagas para os portadores de deficiência. Importante frisar, contudo, que a Lei n. 8.112/1990 não estabeleceu um percentual fixo de vagas que devem ser destinadas às pessoas com deficiência, apenas asseverando que tal percentual deve ser de até 20%. Art. 6º O provimento dos cargos públicos far-se-á mediante ato da autoridade competente de cada Poder. Art. 7º A investidura em cargo público ocorrerá com a posse. Art. 8º São formas de provimento de cargo público: I – nomeação; II – promoção; V – readaptação; VI – reversão; VII – aproveitamento; VIII – reintegração; IX – recondução. A Lei n. 8.112/1990 estabelece diversas formas de provimento de cargo público, sendo elas a nomeação, a promoção, a readaptação, a reversão, o aproveitamento, a reintegração e a recondução. Destas, apenas a nomeação é considerada forma originária de pro- vimento, sendo que todas as demais são classificadas como forma de pro- vimento derivadas. De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, as formas de provimento derivado previstas no estatuto federal podem ser classificadas em vertical, horizontal ou por reingresso. Nesta classificação, a forma de provimento derivado vertical seria aquela em que o servidor, já atuando na Administração Pública, passa para um cargo de nível mais elevado na carreira. Trata-se, em nosso ordenamento, da pro- moção. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 15 O provimento derivado horizontal, por sua vez, ocorre quando o servidor não ascende nem é rebaixado profissionalmente, mas sim posicionado em um cargo com as mesmas atribuições e responsabilidades do anteriormente ocu- pado. Das hipóteses da Lei n. 8.112/1990, apenas a readaptação se enquadra em tal classificação. Por fim, temos as formas de provimento derivado por reingresso, que são aquelas em que o servidor retorna para o serviço público após ter sido dele desligado. São classificadas nesta categoria a reversão, a recondução, a rein- tegração e o aproveitamento. 2.1.2. Nomeação Art. 9º A nomeação far-se-á: I – em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado de provi- mento efetivo ou de carreira; II – em comissão, inclusive na condição de interino, para cargos de confiança vagos. Parágrafo único. O servidor ocupante de cargo em comissão ou de natureza especial poderá ser nomeado para ter exercício, interi- namente, em outro cargo de confiança, sem prejuízo das atribui- ções do que atualmente ocupa, hipótese em que deverá optar pela remuneração de um deles durante o período da interinidade. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 16 Art. 10. A nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado de pro- vimento efetivo depende de prévia habilitação em concurso público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de classifica- ção eo prazo de sua validade. Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso e o desenvol- vimento do servidor na carreira, mediante promoção, serão esta- belecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira na Administração Pública federal e seus regulamentos. Trata-se a nomeação do modo clássico de prover o servidor no cargo pú- blico, podendo ocorrer tanto para os cargos efetivos quanto para os cargos em comissão. No caso dos cargos efetivos, também chamados de cargo isolado de pro- vimento efetivo ou cargo de carreira, a nomeação, necessariamente, precisa de aprovação em concurso público anteriormente realizado. Para os cargos em comissão, uma vez que são considerados como de livre nomeação e exoneração, tal característica nem sempre está presente. E isso ocorre porque os cargos em comissão são destinados às funções de direção, chefia e assessoramento, podendo, por isso mesmo, ser li- vremente escolhidos pela autoridade nomeante, que pode optar por provê-los com um servidor de carreira ou com uma pessoa até então estranha aos qua- dros funcionais do serviço público. 2.1.3. Concurso Público Art. 11. O concurso será de provas ou de provas e títulos, podendo ser realizado em duas etapas, conforme dispuserem a lei e o regu- lamento do respectivo plano de carreira, condicionada a inscrição do candidato ao pagamento do valor fixado no edital, quando indis- pensável ao seu custeio, e ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente previstas. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 17 Art. 12. O concurso público terá validade de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado uma única vez, por igual período. § 1º O prazo de validade do concurso e as condições de sua reali- zação serão fixados em edital, que será publicado no Diário Oficial da União e em jornal diário de grande circulação. § 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato apro- vado em concurso anterior com prazo de validade não expirado. O concurso público pode ser entendido como o procedimento adminis- trativo instaurado pelo Poder Público com o objetivo de selecionar os candidatos mais aptos para o exercício de cargos e empregos públicos. E qual o fundamento para a realização de concurso público? O fundamento está na vedação às contratações pautadas em critérios sub- jetivos, tal como o apadrinhamento e a nomeação de pessoas conhecidas em troca de benefícios escusos. Identifica-se, assim, que a realização de concurso público está pautada na observância dos princípios da impessoalidade, da moralidade, da isonomia e da legalidade. A regra geral é que todas as pessoas possam participar do concurso públi- co, que deverá ser amplamente divulgado como forma de encontrar interes- sados. Nesse ponto, merece destaque o fato da publicidade oficial do edital de concurso público ser condição imprescindível para a produção de efeitos perante terceiros. No entanto, não é de qualquer forma que tal processo pode ser realizado. Caso assim o fosse, seria muito fácil para administradores mal-intencionados fraudar as regras previstas e conceder certos favorecimentos para determina- dos candidatos, desrespeitando gravemente a impessoalidade, princípio basi- lar de toda a atividade administrativa. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 18 Por isso mesmo é que a Lei n. 8.112/1990 se preocupou em estabelecer diversas regras a serem observadas pela Administração Pública quando da rea- lização de concurso público. Tais regras, salienta-se, devem observar as dispo- sições constitucionais sobre a forma de realização dos concursos públicos, dis- posições estas de observância obrigatória para toda a Administração Pública. Percebam que o concurso público poderá ser de provas ou de provas e tí- tulos, mas nunca, para os servidores regidos pela Lei n. 8.112/1990, poderá ser exclusivamente de títulos. Da mesma forma, o concurso terá validade de até dois anos, e a sua prorrogação, que poderá ocorrer uma única vez, deverá ser pelo mesmo pra- zo inicialmente previsto para a validade do certame. COMENTárIO:� Exemplificando Poderá a administração, por exemplo, realizar concurso com prazo de valida- de de 1 ano, estabelecendo no edital que o prazo ali estabelecido poderá ser prorrogado uma única vez, por igual período. Assim, vencido o prazo do concurso, pode a administração (trata-se de uma faculdade) prorrogar a validade do mesmo por mais 1 ano ou realizar um novo concurso. E poderá a administração publicar edital de concurso com o prazo de validade de 2 anos, improrrogáveis? Perfeitamente, pois nenhuma regra foi desrespeitada. O que houve apenas foi que a administração, discricionariamente, optou por não estabelecer a possi- bilidade de prorrogação. E se fosse publicado um edital com prazo de 1 ano, estabelecendo a possibilidade de prorrogação por 3 vezes e estando, por isso mesmo, com prazo total inferior a 4 anos, seria válido? Ainda que o prazo total de 4 anos não tenha sido superado (2 + 2), foi desres- peitada a regra de uma única prorrogação, devendo o edital ser considerado nulo neste aspecto. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 19 E se tivemos um edital regulamentando um concurso e estabelecendo como prazo de validade 2 anos, com a possibilidade de prorrogação por 1 ano. Estaria a administração, nessa situação, respeitando a Lei n. 8.112/1990? Aqui, temos uma situação interessante: uma única prorrogação e o prazo total respeitado. No entanto, além dessas regras, não podemos nos esque- cer de que a prorrogação, em todos os casos, deve ser pelo mesmo período inicialmente previsto no edital: 1 ano + 1 ano, 2 anos + 2 anos, 6 meses + 6 meses. Questão bastante interessante é a possibilidade de aplicação de exame psicotécnico ou avaliação psicológica como etapa eliminatória do concurso. Durante muito tempo, tivemos diversos impasses nas decisões dos tribunais superiores, até que o STF, no julgamento do AI 758.533/MG, estabeleceu que “O exame psicotécnico pode ser estabelecido para concurso público desde que por lei, tendo por base critérios objetivos de reconhecido caráter científico, devendo existir, inclusive, a possibilidade de ree- xame”. Posteriormente, o entendimento foi sedimentado por meio da Súmula 686, de seguinte teor: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 20 Nota-se, dessa forma, que é plenamente possível o estabelecimento de exame psicotécnico como uma das fases do concurso público. Para isso, a previsão deverá estar expressa em lei, não sendo possível a sua determinação, exclusivamente, por meio da edição de ato administrativo. Além disso, deverá a administração pautar a avaliação por critérios objetivos, bem como possibilitar ao particular o reexame da avaliação. 2.1.4. Posse Art. 13. A posse dar-se-á pela assinatura do respectivo termo, no qual deverão constar as atribuições, os deveres, as responsabilida- des e os direitos inerentes ao cargo ocupado, que não poderão ser alterados unilateralmente, por qualquer das partes, ressalvados os atos de ofício previstos em lei. § 1º A posse ocorrerá no prazo de trinta dias contados da publica- ção do ato de provimento. § 2º Em se tratando de servidor, que esteja na data de publicação do ato de provimento, em licença prevista nos incisos I, III e V do art. 81, ou afastado nas hipóteses dos incisos I, IV, VI, VIII, alíneas “a”, “b”, “d”, “e” e “f”, IX e X do art. 102, o prazo será contado do término do impedimento. § 3º A posse poderá dar-se mediante procuração específica. § 4º Só haverá posse nos casos de provimento de cargo por nomeação. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 21 § 5º No ato da posse, o servidor apresentará declaração de bens e valores que constituem seu patrimônio e declaração quanto ao exercício ou não de outro cargo, emprego ou função pública. § 6º Será tornado sem efeito o atode provimento se a posse não ocorrer no prazo previsto no § 1º deste artigo. Art. 14. A posse em cargo público dependerá de prévia inspeção médica oficial. Parágrafo único. Só poderá ser empossado aquele que for julgado apto física e mentalmente para o exercício do cargo. Ocorrendo a nomeação, que deve ser publicada no Diário Oficial da União, o nomeado tem o prazo de 30 dias para tomar posse. Caso não tome posse no prazo legal, o ato de nomeação será declarado sem efeito, uma vez que a pessoa nomeada ainda não é considerada servidor público, fato que apenas ocorre com a posse. Constitui a posse, dessa forma, o momento em que os candidatos aprova- dos e anteriormente nomeados têm o primeiro contato com a administração pública, passando, a partir de então, à condição de servidores públicos e es- tando legalmente investidos em cargo público. A posse é materializada pela assinatura de um documento, que deve apre- sentar, dentre outros aspectos, as atribuições, os deveres, os direitos e as responsabilidades do futuro servidor. A assinatura do termo de posse poderá ser feita por intermédio de pro- curador, com a ressalva de que a procuração deve ser específica e com po- deres para tanto. No entanto, a participação do procurador legalmente constituído pelo futuro servidor limita-se à assinatura do respectivo termo, não ensejando nenhum tipo de direito relacionado com as atribuições do cargo público. Como anteriormente apresentado, diversas são as formas de provimento de cargo público na órbita federal. Destas, apenas a nomeação, que é a única Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 22 forma de provimento originário, é que admite a posse. Nas demais formas de provimento, já existe um vínculo do particular com o Poder Público, não havendo motivos para a utilização da posse. COMENTárIO:� Exemplificando Márcio é nomeado Analista Tributário da Receita Federal do Brasil. Dentro do prazo de 30 dias, deve tomar posse, sob pena do ato de nomeação ser tor- nado sem efeito. Nesse caso, como não havia vínculo entre Thiago e o Poder Público, é neces- sário que haja a assinatura de um termo de posse. Caso, posteriormente, Márcio sofra uma limitação em sua capacidade física ou mental, deverá ele ser readaptado em um cargo de atribuições e respon- sabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido. Nessa hipótese, como Márcio já era servidor público, é notório que já havia um vínculo estabelecido entre ele e o Poder Público, não havendo, como con- sequência, necessidade de uma nova posse quando da ocorrência da readap- tação (forma de provimento derivado). Como forma de evitar a ocorrência de possíveis atos de improbidade admi- nistrativa, a Lei n. 8.112/1990 determina que, no momento da posse, o servidor apresente uma declaração de bens e valores que constituem o seu patrimônio. Anualmente, a declaração de bens deverá ser renovada, possibilitando que o Poder Público verifique se a soma dos valores recebidos, pelo servidor, a título de remuneração dos cofres públicos, é compatível com o novo patri- mônio apresentado. COMENTárIO:� Exemplificando Caio toma posse em cargo público, oportunidade em que apresenta sua decla- ração de bens e valores no valor total de R$ 30 mil. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 23 Se considerarmos que o total dos valores recebidos, no primeiro ano de exer- cício de Caio, totaliza R$ 60 mil, bem como que a declaração apresentada por ele, após o término do primeiro ano de exercício funcional, totaliza R$ 500 mil, é inegável (a menos que algum fato estranho devidamente comprovado tenha ocorrido) que a evolução patrimonial de Caio não é condizente com a remuneração por ele recebida dos cofres públicos. 2.1.5. Exercício Art. 15. Exercício é o efetivo desempenho das atribuições do cargo público ou da função de confiança. § 1º É de quinze dias o prazo para o servidor empossado em cargo público entrar em exercício, contados da data da posse. § 2º O servidor será exonerado do cargo ou será tornado sem efeito o ato de sua designação para função de confiança, se não entrar em exercício nos prazos previstos neste artigo, observado o disposto no art. 18. § 3º À autoridade competente do órgão ou entidade para onde for nomeado ou designado o servidor compete dar-lhe exercício. § 4º O início do exercício de função de confiança coincidirá com a data de publicação do ato de designação, salvo quando o servidor estiver em licença ou afastado por qualquer outro motivo legal, hipótese em que recairá no primeiro dia útil após o término do impedimento, que não poderá exceder a trinta dias da publicação. Ocorrendo a posse, temos a investidura de mais um servidor para os qua- dros funcionais da Administração Pública federal. E como forma do servidor conhecer o local da repartição para onde foi nomeado e se organizar-se me- lhor com relação a mudanças, hospedagem e demais procedimentos, a Lei n. 8.112/1990 faculta ao servidor o prazo de 15 dias, contados da posse, para a entrada em exercício. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 24 Caso o servidor anteriormente empossado não entre em exercício no pra- zo legal, teremos, ao contrário do que ocorre com a nomeação, a exoneração do servidor, uma vez que, conforme anteriormente mencionado, a posse é o momento em que o particular passa a constar nos assentamentos funcionais da administração, sendo considerado, a partir de então, servidor público. Constitui o exercício o efetivo desempenho do cargo público ou da função de confiança. É durante o exercício do servidor que todos os demais institutos se fazem presentes, de forma que passa ele a contar com uma série de direitos e de obrigações, submetendo-se a um período de estágio probatório e adquirindo, caso cumpra os requisitos previstos em lei, a estabilidade. Art. 16. O início, a suspensão, a interrupção e o reinício do exercí- cio serão registrados no assentamento individual do servidor. Parágrafo único. Ao entrar em exercício, o servidor apresentará ao órgão competente os elementos necessários ao seu assenta- mento individual. Art. 17. A promoção não interrompe o tempo de exercício, que é contado no novo posicionamento na carreira a partir da data de publicação do ato que promover o servidor. Art. 18. O servidor que deva ter exercício em outro município em razão de ter sido removido, redistribuído, requisitado, cedido ou posto em exercício provisório terá, no mínimo, dez e, no máximo, trinta dias de prazo, contados da publicação do ato, para a retoma- da do efetivo desempenho das atribuições do cargo, incluído nesse prazo o tempo necessário para o deslocamento para a nova sede. § 1º Na hipótese de o servidor encontrar-se em licença ou afastado legalmente, o prazo a que se refere este artigo será contado a partir do término do impedimento. § 2º É facultado ao servidor declinar dos prazos estabelecidos no caput. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 25 Todas as movimentações do servidor serão registradas nos seus assenta- mentos funcionais, que nada mais é do que o registro de todas as eventuais funções desempenhadas pelo agente. Importante questão refere-se ao servidor que tiver que desempenhar suas atividades em outro município em razão de ter sido removido, redis- tribuído, requisitado, cedido ou posto em exercício provisório. Nesse caso, será concedido a ele um período de tempo de, no mínimo, 10 dias, e de, no máximo, 30 dias para a retomada das atividades. Caso ele se encontre, quando da informação da necessidade de exercício em outro município, no gozo de alguma licença ou afastamento, os prazos mínimo e máximo apenas terão início após o término do impedimento, sendo facultado ao servidor declinar desses prazos e retomar o desempenho de suas atividades, no novo município, antes do período de tempo a ele assegurado. Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições pertinentes aosrespectivos cargos, respei- tada a duração máxima do trabalho semanal de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias, respectivamente. § 1º O ocupante de cargo em comissão ou função de confiança submete-se a regime de integral dedicação ao serviço, observado o disposto no art. 120, podendo ser convocado sempre que houver interesse da Administração. § 2º O disposto neste artigo não se aplica a duração de trabalho estabelecida em leis especiais. A jornada de trabalho do servidor público federal é de 40 horas semanais, observados os limites mínimo e máximo de 6 e 8 horas diárias. Tal limite não se aplica, contudo, ao servidor ocupante de cargo em comissão ou função de confiança. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 26 Para tais agentes, e considerando que estes recebem um adicional pelo desem- penho de suas atribuições, o regime de serviço é de integral dedicação, podendo ser convocado, nos termos legais, sempre que houver interesse da Administração. Os limites de jornada estabelecidos pela norma não se aplicam aos servi- dores públicos que trabalham sob condições diferenciadas, tais como os mé- dicos de saúde pública e os médicos do trabalho. 2.1.6. Estágio Probatório Art. 20. Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para cargo de provimento efetivo ficará sujeito a estágio probatório por perí- odo de 24 (vinte e quatro) meses, durante o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto de avaliação para o desempenho do cargo, observados os seguintes fatores: I – assiduidade; II – disciplina; III – capacidade de iniciativa; IV – produtividade; V – responsabilidade. § 1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do estágio proba- tório, será submetida à homologação da autoridade competente a avaliação do desempenho do servidor, realizada por comissão cons- tituída para essa finalidade, de acordo com o que dispuser a lei ou o regulamento da respectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da con- tinuidade de apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V do caput deste artigo. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 27 § 2º O servidor não aprovado no estágio probatório será exonera- do ou, se estável, reconduzido ao cargo anteriormente ocupado, observado o disposto no parágrafo único do art. 29. § 3º O servidor em estágio probatório poderá exercer quaisquer cargos de provimento em comissão ou funções de direção, chefia ou assessoramento no órgão ou entidade de lotação, e somente poderá ser cedido a outro órgão ou entidade para ocupar cargos de Natureza Especial, cargos de provimento em comissão do Grupo- -Direção e Assessoramento Superiores – DAS, de níveis 6, 5 e 4, ou equivalentes. A partir da data em que entra em exercício, inicia-se, para o servidor ocu- pante de cargo efetivo, o estágio probatório, período de avaliação em que diversos fatores são levados em conta para a verificação da aptidão e da ca- pacidade do agente público. O instituto do estágio probatório está intimamente ligado ao princípio da eficiência, sendo um dos momentos em que a administração pode verificar se o servidor atende às condições por ela exigidas. Tais condições, de acordo com a Lei n. 8.112/1990, são as seguintes: a) assiduidade; b) disciplina; c) capacidade de iniciativa; d) produtivida- de; e) responsabilidade. Ainda que o texto da Lei n. 8.112/1990 afirme que o período de estágio probatório é de 24 meses, deve-se ressaltar que, com a entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 19, ocorrida em 1998, o período para aquisição da es- tabilidade (e, consequentemente, de estágio probatório) passou a ser de 3 anos. A avaliação do servidor que se encontra em estágio probatório deve ser periódica e de acordo com a periodicidade prevista em regulamento de cada órgão. Quatro meses antes de findo o período do estágio, a avaliação de desempenho do servidor, que será realizada por comissão constituída para esta finalidade, será submetida à homologação da autoridade competente. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 28 Tendo o servidor sido aprovado no estágio probatório, passa a adquirir a estabilidade, que, ressalta-se, vale para todo o serviço público, e não apenas para o cargo público que o servidor eventualmente ocupa. Caso não seja aprovado, os efeitos, para o servidor, poderão ser dois: a) caso o servidor já seja estável, terá ele direito de retornar ao cargo anteriormente ocupado. Nessa hipótese, caso o cargo anteriormente ocupado já esteja preenchido por outra pessoa, o servidor inabilitado será aproveitado em outro, a critério da administração. b) caso o servidor não seja estável, a inabilitação no estágio probatório acarreta a exoneração do cargo público, oportunidade em que o vínculo com o Poder Público é rompido. § 4º Ao servidor em estágio probatório somente poderão ser con- cedidas as licenças e os afastamentos previstos nos arts. 81, inci- sos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afastamento para participar de curso de formação decorrente de aprovação em concurso para outro cargo na Administração Pública federal. § 5º O estágio probatório ficará suspenso durante as licenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, § 1º, 86 e 96, bem assim na hipótese de participação em curso de formação, e será retomado a partir do término do impedimento. Será que o servidor em estágio probatório tem direito a usufruir de todas as licenças e afastamentos previstos no estatuto funcional? Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 29 De acordo com a lei, durante o estágio probatório, o servidor faz jus a uma grande quantidade de direitos, licenças e afastamentos. No entanto, não são todas as licenças e afastamentos que podem ser usufruídos pelos servidores em estágio. Vejamos, dessa forma, quais as licenças e os afastamentos que podem ou não ser usufruídos pelos servidores públicos federais que se encontrem em estágio probatório. Licenças e afastamentos passíveis de utilização no estágio probatório Licenças e afastamentos que não podem ser utilizados no estágio probatório Licença por motivo de doença em pessoa da família Licença para capacitação Licença por motivo de afastamento do côn- juge ou companheiro Licença para tratar de interesses particulares Licença para o serviço militar Licença para desempenho de mandato clas- sista Licença para atividade política Afastamento para exercício de mandato ele- tivo Afastamento para estudo ou missão no exte- rior Afastamento para servir em organismo inter- nacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere Uma forma bastante conhecida de memorizar as situações apresentadas é por meio das licenças e afastamentos que não podem ser concedidos ao servidor, que, em conjunto, formam o mnemônico “MA-TRA-CA”, ou seja, mandato classista, tratamento de interesses particulares e capacitação. 2.1.7. Estabilidade Art. 21. O servidor habilitado em concurso público e empossado em cargo de provimento efetivo adquirirá estabilidade no serviço público ao completar 2 (dois) anos de efetivo exercício. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 30 Art. 22. O servidor estável só perderá o cargo em virtude de sen- tença judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa. A estabilidade constitui uma das principais garantias dos servidores pú- blicos estatutários. Por meio dela, objetiva-se proporcionar que o servidor desempenhe suas atribuições sem a coação das autoridades superiores, que, não fosse a estabilidade, poderiam condicionar determinados comportamen- tos dos servidores à exoneração do cargo público. Não se trata a estabilidade, no entanto, de uma regra absoluta, uma vez que não existem direitos e garantias com essa qualidade. Caso assim o fosse, estaríamos diante de um sério risco de engessamento do serviço público, com a possibilidade surreal de termos servidores praticando faltas graves contra a Administraçãosem a possibilidade de demissão. Além das hipóteses elencadas pela Lei n. 8.112/1990, temos duas outras possibilidades de perda do cargo público para os servidores estáveis. Tais si- tuações são extraídas do texto da Constituição Federal, sendo elas o procedi- mento de avaliação periódica e a redução de despesas quando os entes federativos não observarem o limite máximo de gastos com pessoal. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 31 2.1.8. Readaptação Art. 24. Readaptação é a investidura do servidor em cargo de atri- buições e responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica. § 1º Se julgado incapaz para o serviço público, o readaptando será aposentado. § 2º A readaptação será efetivada em cargo de atribuições afins, respeitada a habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalên- cia de vencimentos e, na hipótese de inexistência de cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ocorrên- cia de vaga. A readaptação ocorre quando o servidor sofre uma limitação em sua ca- pacidade física ou mental, mas ainda pode trabalhar, não sendo o caso de aposentadoria. Como exemplo, podemos citar um acidente no qual o servidor ficou im- possibilitado de digitar. Se, anteriormente, tal servidor era responsável pela confecção das intimações e citações no órgão em que atuava, não há, com a limitação ocorrida, a possibilidade de o servidor continuar exercendo tais atividades. Mas percebam que o servidor não está impossibilitado para o serviço pú- blico, podendo perfeitamente exercer atividades que não exijam o esforço repetitivo de digitação. Nessa situação, a Administração coloca o servidor em um cargo compatí- vel com a limitação sofrida. No entanto, para que isso seja possível, devem ser observadas algumas características: a) as atribuições do novo cargo devem ser afins com o cargo anteriormen- te ocupado; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 32 b) a habilitação exigida e o nível de escolaridade devem ser os mesmos exigidos para a investidura no cargo anteriormente ocupado; c) deve haver equivalência de vencimentos; Caso o servidor seja considerado incapaz para o serviço público, ocorrerá a aposentadoria do respectivo agente público. 2.1.9. Reversão Art. 25. Reversão é o retorno à atividade de servidor aposentado: I – por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsisten- tes os motivos da aposentadoria; ou II – no interesse da administração, desde que: a) tenha solicitado a reversão; b) a aposentadoria tenha sido voluntária; c) estável quando na atividade; d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores à soli- citação; e) haja cargo vago. § 1º A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo resultante de sua transformação. § 2º O tempo em que o servidor estiver em exercício será conside- rado para concessão da aposentadoria. § 3º No caso do inciso I, encontrando-se provido o cargo, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ocorrência de vaga. § 4º O servidor que retornar à atividade por interesse da adminis- tração perceberá, em substituição aos proventos da aposentadoria, a remuneração do cargo que voltar a exercer, inclusive com as van- tagens de natureza pessoal que percebia anteriormente à aposen- tadoria. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 33 § 5º O servidor de que trata o inciso II somente terá os proventos calculados com base nas regras atuais se permanecer pelo menos cinco anos no cargo. § 6º O Poder Executivo regulamentará o disposto neste artigo. Art. 27. Não poderá reverter o aposentado que já tiver completado 70 (setenta) anos de idade. Reversão é o retorno à atividade do servidor anteriormente aposentado, desde que atendidas as regras estabelecidas pelo Poder Executivo e desde que o servidor não tenha atingido a idade de 70 anos. Tal forma de provimento pode ocorrer de duas formas: a) por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos da aposentadoria. b) no interesse da administração, desde que, nesse caso, o servidor obe- deça a uma série de regras: a) tenha solicitado a reversão; b) a aposentadoria tenha sido voluntária; c) estável quando na atividade; d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores à solicitação; e) haja cargo vago; Como não poderia deixar de ser, a reversão será feita para o mesmo car- go anteriormente ocupado pelo servidor, ou então para o cargo resultante de uma possível transformação. Com a reversão, o servidor volta a receber a remuneração que anterior- mente recebia, com todas as vantagens de caráter pessoal eventualmente existentes. No caso de reversão por invalidez, tendo a junta médica declarado que os motivos alegados pelo servidor, para se aposentar, são insubsistentes, deverá ele retornar para o serviço público ainda que não haja cargo vago, em plena sintonia com o princípio da indisponibilidade do interesse público. Nessa situ- ação, deverá o servidor exercer suas atribuições como excedente. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 34 2.1.10. Reintegração Art. 28. A reintegração é a reinvestidura do servidor estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante de sua trans- formação, quando invalidada a sua demissão por decisão adminis- trativa ou judicial, com ressarcimento de todas as vantagens. § 1º Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor ficará em disponibilidade, observado o disposto nos arts. 30 e 31. § 2º Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocupante será reconduzido ao cargo de origem, sem direito à indenização ou apro- veitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponibilidade. A reintegração consiste no retorno do servidor anteriormente demitido ao cargo anteriormente ocupado ou no cargo resultante de sua transformação, com ressarcimento de todas as vantagens. Para isso, a demissão deverá ter sido invalidada por decisão administrativa ou judicial. Grande controvérsia reside nos efeitos da reintegração para o servidor eventualmente ocupante da vaga decorrente de demissão. Isso porque a Lei n. 8.112/1990 determina que “encontrando-se provido o cargo, o seu even- tual ocupante será reconduzido ao cargo de origem, sem direito à indenização ou aproveitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponibilidade”. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 35 2.1.11. Recondução Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo ante- riormente ocupado e decorrerá de: I – inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo; II – reintegração do anterior ocupante. Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor será aproveitado em outro, observado o disposto no art. 30. Recondução é a forma de provimento em que ocorre o retorno do servi- dor ao cargo anteriormente ocupado. Duas são as situações que ensejam a recondução do servidor, sendo que ambas decorrem da estabilidade por ele alcançada no serviço público: I – inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo; II – reintegração do anterior ocupante; Nas duas situações apresentadas, o servidor público federal já é estável no serviço público, de forma que uma possível inabilitação em estágio proba- tório relativo a outro concurso por ele prestado não possui o efeito, por si só, de acarretar a exoneração do servidor. Da mesma forma, caso ele passe a exercer as atribuições de um cargo até então ocupado por um servidor demitido, e este, posteriormente, consiga anular a sua demissão na justiça, sendo reintegrado ao cargo que ocupava, não poderá o servidor estável ser exonerado, devendo ser reconduzido ao cargo onde adquiriu a estabilidade. Ressalta-se que a possibilidade de recondução não é um direito extensí- vel, por analogia, aos servidores estatutários das demais esferas federativas. Dessa forma, para que a recondução seja possível, deverão os entes esta- belecer talprevisão nos respectivos estatutos funcionais de seus servidores, conforme entendeu o STJ no julgamento do RMS 46.438, realizado em 2015: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 36 Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I, da Lei n. 8.112/1990/1990 a servidor público estadual na hipó- tese em que o ordenamento jurídico do estado for omisso acerca desse direi- to. Isso porque a analogia das legislações estaduais e municipais com a Lei n. 8.112/1990/1990 somente é possível se houver omissão no tocante a direito de cunho constitucional autoaplicável que seria necessário para suprir a omissão da legislação estadual, bem como que a situação não dê azo ao aumento de gastos. 2.1.12. Disponibilidade e Aproveitamento Art. 30. O retorno à atividade de servidor em disponibilidade far- -se-á mediante aproveitamento obrigatório em cargo de atribuições e vencimentos compatíveis com o anteriormente ocupado. Art. 31. O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil determinará o imediato aproveitamento de servidor em disponibilidade em vaga que vier a ocorrer nos órgãos ou entidades da Administração Públi- ca federal. Parágrafo único. Na hipótese prevista no § 3º do art. 37, o ser- vidor posto em disponibilidade poderá ser mantido sob responsabi- lidade do órgão central do Sistema de Pessoal Civil da Administra- ção Federal – SIPEC, até o seu adequado aproveitamento em outro órgão ou entidade. Art. 32. Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a dis- ponibilidade se o servidor não entrar em exercício no prazo legal, salvo doença comprovada por junta médica oficial. Caso ocorra a extinção ou a declaração de desnecessidade de um cargo público, o servidor até então ocupante, e desde que já seja estável, será posto em disponibilidade. Como consequência, receberá proventos proporcionais ao tempo de serviço e aguardará, durante esse período, um novo “chamado” da Administração. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 37 Esse chamado acontecerá por intermédio do aproveitamento, que se cons- titui em forma de provimento derivada dos cargos públicos federais. Com o aproveitamento, o servidor até então em disponibilidade deve retornar para as suas atribuições. No entanto, como o cargo anterior foi extinto ou declara- do desnecessário, o aproveitamento deverá ocorrer em cargo de atribuições e vencimentos compatíveis com o até então ocupado. Tendo sido publicado o ato de aproveitamento, o servidor deve entrar em exercício dentro do prazo legalmente previsto. Caso assim não processa, o aproveitamento é tornado sem efeito e a disponibilidade do servidor é cassada. 2.2. Vacância Art. 33. A vacância do cargo público decorrerá de: I – exoneração; II – demissão; III – promoção; VI – readaptação; VII – aposentadoria; VIII – posse em outro cargo inacumulável; IX – falecimento. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 38 As diversas hipóteses de vacância são situações em que o servidor público deixa o cargo público anteriormente ocupado. Tais situações podem ser de caráter definitivo, oportunidade em que o agente estatal rompe o seu vínculo com o Poder Público, ou então tratar-se de hipóteses em que ocorre a simples troca dos cargos ocupados pelo servidor. Art. 34. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do servidor, ou de ofício. Parágrafo único. A exoneração de ofício dar-se-á: I – quando não satisfeitas as condições do estágio probatório; II – quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em exercício no prazo estabelecido. Art. 35. A exoneração de cargo em comissão e a dispensa de função de confiança dar-se-á: I – a juízo da autoridade competente; II – a pedido do próprio servidor. A exoneração não se trata de uma forma de punição do agente público, mas sim do rompimento do vínculo mantido entre o servidor e a Administra- ção Pública federal. Tal forma de vacância pode ocorrer de maneira voluntária ou involuntária. É voluntária quando a exoneração ocorre a pedido do servidor. Tratando- -se de exoneração de ofício, de iniciativa do Poder Público, estaremos diante da exoneração involuntária. De acordo com a Lei n. 8.112/1990, apenas em duas situações teremos a exoneração involuntária (de ofício) do servidor público ocupante de cargo efetivo: a) Quando não satisfeitas as condições do estágio probatório; b) Quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em exercí- cio no prazo estabelecido, que é de 15 dias. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 39 Quando se tratar de cargo em comissão, tendo em vista que este é de livre nomeação e exoneração e possui a característica da transitoriedade, a exone- ração poderá ocorrer, a qualquer tempo, a pedido do servidor (voluntária) ou de ofício, no interesse da administração (involuntária). Vejamos as demais formas de vacância do serviço público fede- ral... Demissão Ao contrário da exoneração, que é a saída não punitiva do servidor, as situa- ções que acarretam a demissão são hipóteses previstas em lei em que o servi- dor comete alguma infração disciplinar ou não observa determinadas normas previstas no estatuto funcional. A depender da gravidade da conduta, conforme será visto oportunamente, a demissão acarretará a impossibilidade de o servidor retornar ao serviço público dentro do prazo de 5 anos ou até mesmo indefinidamente. Aposentadoria Trata-se da forma de vacância natural, em que o servidor, após atender às condições previstas na Constituição Federal, rompe o seu vínculo com o Poder Público, passando a receber proventos decorrentes da inatividade. Falecimento Com o falecimento, ocorre a vacância no cargo público, que será, após a publicação no diário oficial, objeto de preenchimento por novo servidor público. Posse em cargo inacumulável A posse em cargo inacumulável trata-se da hipótese de vacância em que o servidor público deixa de ocupar um cargo público para ingressar, sem quebra de vínculo com o Poder Público, em outro órgão ou entidade do mesmo ente federativo. Como exemplo, podemos apresentar um particular que tenha sido apro- vado para o cargo de Técnico Judiciário de um tribunal do Poder Judici- ário federal. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 40 Posteriormente, o servidor é aprovado para o cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, cargo que, ainda que integrante do Poder Executivo, pertence à mesma esfera federativa. Nessa situação, como forma de não perder o tempo de serviço público prestado como Técnico Judiciário, bem como utilizar os dias trabalhados na contagem de férias e demais verbas acessórias, o servidor solicita vacância no órgão de origem com base em posse em cargo inacumulável. Caso, em sentido oposto, ele apenas tivesse solicitado exoneração, haveria a quebra do vínculo com Poder Público, sujeitando-se o servidor às eventuais regras instituídas antes da sua investidura no novo cargo. Promoção Como vimos nas hipóteses de provimento, com a promoção, o servidor é alçado a uma nova classe na carreira, de forma que o cargo anterior- mente ocupado fica vago. Por isso mesmo, esta é uma das hipóteses em que ocorre, simultanea- mente, um provimento e uma vacância. Readaptação Da mesma forma como ocorre com a promoção, a readaptação é uma forma tanto de provimento quanto de vacância. Vejamos: se o servidor sofreu uma limitação (física ou mental) e tem de ser aproveitado em um cargo compatível com a limitação sofrida, é certo que o cargo anteriormente ocupado pelo servidor ficará vago. Dessa forma, a administração coloca o servidor em um cargo compatí- vel com a limitação sofrida (provimento), ao passo que o cargo anterior- mente ocupado fica vago para ser ocupado por outra pessoa (vacância). Das hipóteses apresentadas pela Lei n. 8.112/1990 como situações de vacância, duas delas constituem, da mesma forma, hipóteses de provimento, sendo elas a readaptação e a promoção. 2.3. Remoção Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou deofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede. Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de remoção: I – de ofício, no interesse da Administração; II – a pedido, a critério da Administração; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 41 III – a pedido, para outra localidade, independentemente do inte- resse da Administração: a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Esta- dos, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no inte- resse da Administração; b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou depen- dente que viva às suas expensas e conste do seu assentamento fun- cional, condicionada à comprovação por junta médica oficial; c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o número de interessados for superior ao número de vagas, de acordo com normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles estejam lotados. A remoção pode ser entendida como o “deslocamento do servidor, a pedi- do ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede”, conforme determinação da Lei n. 8.112/1990. Do conceito legal, nota-se que a remoção (que não é uma forma de provi- mento em cargo público), pode ocorrer tanto por iniciativa do servidor quan- to por iniciativa do Poder Público. Nesse mesmo sentido, poderá a remoção dar-se com ou sem a mudança da sede onde o servidor desempenha suas atribuições. Na remoção de ofício, é o interesse da administração que é levado em conta, sem margem de opção para a análise da vontade do servidor. Na remoção a pedido, em sentido oposto, é a vontade do servidor que é levada em conta, tratando-se de um ato, via de regra, discricionário do Poder Público. Por isso mesmo, a administração deve levar em conta a conveniência e a oportunidade para deferir ou não o pedido de remoção. Em determinadas situações, no entanto, teremos a remoção por iniciativa do servidor sem que possa a administração analisar o mérito da questão, tra- tando-se, por isso mesmo, de um ato vinculado e que deve, obrigatoriamen- te, ser deferido pelo Poder Público. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 42 Três são as situações, de acordo com a Lei n. 8.112/1990 (art. 36, III), que ensejam o deferimento da remoção independente da vontade da admi- nistração: a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no interesse da Administração; b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu assentamento funcional, condicio- nada à comprovação por junta médica oficial; c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o nú- mero de interessados for superior ao número de vagas, de acordo com normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles estejam lotados. Da análise das hipóteses de remoção, verifica-se que, quando a admi- nistração, de ofício, resolve remover o servidor, o que está sendo levado em conta é apenas a vontade do próprio poder estatal, independentemente de o servidor concordar ou não com tal procedimento. Já na remoção a pedido, temos duas possibilidades: o pedido ter sido for- mulado pelo servidor e haver a possibilidade de a Administração aceitar ou não tal situação, com base no interesse desta, e a situação em que o pedido de remoção ocorre por parte do servidor, não restando alternativa para a Ad- ministração Pública que não seja o seu deferimento. Nessa última hipótese, ou seja, quando a Administração se encontra vin- culada ao pedido do servidor público, princípios basilares como a saúde e a manutenção do núcleo familiar são levados em conta. COMENTárIO:� Exemplificando Na hipótese da remoção para acompanhar cônjuge, também servidor, que tenha sido removido no interesse da administração, objetiva-se assegurar a manutenção do núcleo familiar, evitando-se que uma remoção de iniciativa do Poder Público torne inviável a relação até então existente. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 43 2.4. Redistribuição Art. 37. Redistribuição é o deslocamento de cargo de provimento efetivo, ocupado ou vago no âmbito do quadro geral de pessoal, para outro órgão ou entidade do mesmo Poder, com prévia aprecia- ção do órgão central do SIPEC, observados os seguintes preceitos: I – interesse da administração; II – equivalência de vencimentos; III – manutenção da essência das atribuições do cargo; IV – vinculação entre os graus de responsabilidade e complexidade das atividades; V – mesmo nível de escolaridade, especialidade ou habilitação pro- fissional; VI – compatibilidade entre as atribuições do cargo e as finalidades institucionais do órgão ou entidade. § 1º A redistribuição ocorrerá ex officio para ajustamento de lotação e da força de trabalho às necessidades dos serviços, inclusive nos casos de reorganização, extinção ou criação de órgão ou entidade. § 2º A redistribuição de cargos efetivos vagos se dará mediante ato conjunto entre o órgão central do SIPEC e os órgãos e entidades da Administração Pública federal envolvidos. § 3º Nos casos de reorganização ou extinção de órgão ou entidade, extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade no órgão ou enti- dade, o servidor estável que não for redistribuído será colocado em disponibilidade, até seu aproveitamento na forma dos arts. 30 e 31. § 4º O servidor que não for redistribuído ou colocado em disponibi- lidade poderá ser mantido sob responsabilidade do órgão central do SIPEC, e ter exercício provisório, em outro órgão ou entidade, até seu adequado aproveitamento. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 44 A redistribuição é o deslocamento de cargo de provimento efetivo, esteja ou não ele ocupado, e desde que tal deslocamento ocorra para outro órgão ou entidade, mas sempre no âmbito do mesmo Poder. Para que a redistribuição seja feita, faz-se necessário, ainda, que alguns requisitos sejam atendidos, sendo eles: I – interesse da administração; II – equivalência de vencimentos; III – manutenção da essência das atribuições do cargo; IV – vinculação entre os graus de responsabilidade e complexidade das atividades; V – mesmo nível de escolaridade, especialidade ou habilitação profissional; VI – compatibilidade entre as atribuições do cargo e as finalidades institu- cionais do órgão ou entidade; A redistribuição também poderá ocorrer com a finalidade de ajuste de lotação ou nos casos de reorganização e extinção do órgão ou en- tidade. Tratando-se de cargos efetivos que se encontrem vagos, a realização da redistribuição deverá ser realizada em conjunto entre o SIPEC (Sistema de pessoal civil da administração pública) e os órgãos ou entidades envolvidos. Caso, no entanto, ocorra a extinção de um órgão ou entidade e os servido- res não sejam redistribuídos, deverão os mesmos ser mantidos em disponibi- lidade. Caso não sejam colocados em disponibilidade, deverão ser mantidos sob responsabilidade do SIPEC até o seu adequado aproveitamento. Extinção Ocorre a extinção do órgão ou entidade 1º Servidores devem ser redistribuídos 2º Servidores deverão ser postos em disponibilidade 3º Servidores serão mantidos pelo SIPEC Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 45 Tanto nas situações de remoção quanto de redistribuição, quando ocorrer a mudança de Município onde o servidor passe a desempenhar as suas atri- buições, deverá ser a ele assegurado um prazo de trânsito para a entrada em exercício, que, nos termos da Lei n. 8.112/1990, será de no mínimo 10 dias e de no máximo 30 dias. Os institutos da remoção e da redistribuição podem ser diferenciados por meio da seguinte tabela: Remoção Redistribuição Não se trata de uma forma de provimento Não se trata de uma forma de provimentoNão altera o contingente funcional Não altera o contingente funcional Trata-se do deslocamento de servidor Trata-se do deslocamento de cargo Destina-se a assegurar a preservação de valores como a saúde do servidor e o núcleo familiar Trata-se de uma forma de organização da administração pública Quando ocorrer a mudança de Município, deve ser conferido um prazo de 10 a 30 dias para a entrada em exercício Quando ocorrer a mudança de Município, deve ser conferido um prazo de 10 a 30 dias para a entrada em exercício 2.5. Substituição Art. 38. Os servidores investidos em cargo ou função de direção ou chefia e os ocupantes de cargo de Natureza Especial terão substi- tutos indicados no regimento interno ou, no caso de omissão, pre- viamente designados pelo dirigente máximo do órgão ou entidade. § 1º O substituto assumirá automática e cumulativamente, sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício do cargo ou função de direção ou chefia e os de Natureza Especial, nos afastamentos, impedimentos legais ou regulamentares do titular e na vacância do cargo, hipóteses em que deverá optar pela remuneração de um deles durante o respectivo período. § 2º O substituto fará jus à retribuição pelo exercício do cargo ou função de direção ou chefia ou de cargo de Natureza Especial, nos casos dos afastamentos ou impedimentos legais do titular, superio- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 46 res a trinta dias consecutivos, paga na proporção dos dias de efeti- va substituição, que excederem o referido período. Art. 39. O disposto no artigo anterior aplica-se aos titulares de uni- dades administrativas organizadas em nível de assessoria. A substituição trata-se de instituto decorrente do princípio da continuida- de dos serviços públicos. Com ela, objetiva-se que o serviço não seja inter- rompido em razão da ausência do titular da função. Caso assim não fosse, a coletividade usuária do serviço prestado é que seria prejudicada pela sua interrupção. Todos os órgãos ou entidades possuem cargos de chefia e funções de di- reção, sendo que os servidores que ocupam tais funções, além de receber um adicional pelo exercício desempenhado, exercem atividades que exigem um maior nível de responsabilidade. Assim, quando os titulares desses cargos se ausentam (como, por exem- plo, nas férias, licenças ou afastamentos admitidos pela Lei n. 8.112/1990), o substituto, que deve ser anteriormente designado, assume cumulativamente, ou seja, sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício temporário das atri- buições do titular. Como contrapartida, recebe um adicional durante o período em que durar a substituição. Da análise dos dispositivos referentes à substituição, percebe-se que o servidor, quando estiver substituindo o titular, pode, quando o período não exceder a 30 dias, optar pela remuneração que deseja receber, se aquela do cargo em que originalmente atua ou a do servidor substi- tuído. Após o prazo de 30 dias, e tendo continuado a substituição, o ser- vidor substituto passa a receber a remuneração do titular da função, sem a possibilidade de optar por uma das duas remunerações. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 47 3. Direitos e Vantagens 3.1. Vencimento e remuneração Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de cargo público, com valor fixado em lei. Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. O vencimento e a remuneração são, sem dúvida alguma, duas das mais importantes vantagens concedidas aos servidores. E como estamos no âmbito da administração pública, em plena consonância com o princípio da legalidade, é a própria Lei n. 8.112/1990 que estipula as diversas regras referentes ao as- sunto, dentre as quais se destaca a que determina que “é proibida a presta- ção de serviços gratuitos, salvo nos casos estipulados em lei” (art. 4º). Devemos guardar a diferenciação existente entre vencimento e remunera- ção. Vencimento é um conceito mais restrito, tratando-se da retribuição pecu- niária pelo exercício do cargo público. Remuneração, por outro lado, apresen- ta um conceito mais amplo, compreendendo os vencimentos e as vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. Vencimento Vantagens permanentes Remuneração § 1º A remuneração do servidor investido em função ou cargo em comissão será paga na forma prevista no art. 62. § 2º O servidor investido em cargo em comissão de órgão ou enti- dade diversa da de sua lotação receberá a remuneração de acordo com o estabelecido no § 1º do art. 93. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 48 Quando o servidor for investido em cargo em comissão ou função de con- fiança, receberá uma retribuição pelo seu exercício, uma vez que tais atribui- ções são consideradas estratégicas para o bom andamento da repartição. Quando o exercício das funções de chefia for em órgão ou entidade diver- so da lotação do servidor, a remuneração será paga da seguinte forma: a) Sendo a cessão para órgãos ou entidades dos Estados, do Distrito Fe- deral e dos Municípios, estes serão os responsáveis pelo pagamento. b) Sendo a cessão para outro órgão ou entidade federal, a responsabilida- de pelo pagamento da remuneração continua sendo da União. § 3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de caráter permanente, é irredutível. § 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de atri- buições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre servido- res dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter individu- al e as relativas à natureza ou ao local de trabalho. Como decorrência do princípio da irredutibilidade salarial, o vencimento dos cargos efetivos, tal como as parcelas de caráter permanente, não poderá ser reduzido. Poderá o Poder Público, contudo, reduzir uma parcela recebida em caráter eventual ou mediante um determinado período de tempo. COMENTárIO:� Exemplificando Caso um servidor passe a ocupar uma função de chefia, receberá, enquan- to permanecer no desempenho destas atividades, uma retribuição pelo seu exercício. Perderá o servidor, quando deixar de desempenhar a função, a retribuição pelo seu exercício. Não perderá ele, contudo, o vencimento e as demais par- celas de caráter permanente que já recebia. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 49 Em sintonia com o princípio da isonomia, a norma estabelece que os ser- vidores dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como os servidores de um mesmo Poder devem receber vencimentos de mesmo valor quando desempenharem atribuições iguais ou assemelhadas. Exceção à regra são as parcelas de caráter individual (um servidor que possui filho terá direito a auxílio pré-escolar, verba não creditada aos servi- dores que não possuam) e as relativas à natureza e ao local de trabalho (um servidor que trabalha em zona de fronteira terá direito ao adicional de peno- sidade, verba não paga ao servidor que não trabalha em tais localidades). § 5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao salário mínimo. De acordo com o artigo 41, § 5º, da Lei n. 8.112/1990, temos a previsão de que “nenhum servidor receberá remuneração inferior ao salário mínimo”. No entanto, a Súmula Vinculante n. 6 do STF criou uma exceção à regra geral ao estabelecer que: Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 50 Os praças militares são os indivíduos recém-incorporados ao serviço mili- tar. Ainda que não sejam abrangidos pela Lei n. 8.112/1990, trata-se de im- portante entendimento do STF que já foi cobrado diversas vezes em provas de concurso. Frisa-se que o vencimento do servidor público federal pode perfeitamente ser inferior ao salário mínimo. Como mencionado, o que não pode ser inferior ao salário é a remuneração, conceito que abrange o vencimento e asvanta- gens de caráter permanente. Art. 42. Nenhum servidor poderá perceber, mensalmente, a título de remuneração, importância superior à soma dos valores perce- bidos como remuneração, em espécie, a qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes, pelos Ministros de Estado, por membros do Congresso Nacional e Ministros do Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. Excluem-se do teto de remuneração as vanta- gens previstas nos incisos II a VII do art. 61. As parcelas recebidas pelo servidor, de caráter pecuniário, objetivam con- ferir a este uma retribuição pelos serviços prestados ao Estado. Tal remune- ração, entretanto, não poderá exceder aos valores recebidos pelos detentores de Poder, em plena consonância com a disposição constitucional que estabe- lece a obrigatoriedade de observância, por toda a administração pública, do teto remuneratório. Inicialmente, deve-se observar que o teto remuneratório estabelecido pela Lei n. 8.112/1990 não é o mesmo daquele estabelecido pela Constituição Fe- deral. Da mesma forma, ainda que os tetos sejam diferentes, o limite da Lei n. 8.112/1990 não é inconstitucional, haja vista que apresenta uma regra mais restrita do que a estabelecida pela constituição. É correto afirmar, com isso, que temos três limites remuneratórios a serem observados pelos servidores regidos pela Lei n. 8.112/1990, sendo que cada um deles toma como base um cargo de cada um dos Poderes da República. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 51 O motivo para tal é que as disposições da mencionada norma se aplicam, indistintamente, a todo o funcionalismo público civil federal, independente de estarmos diante de carreiras pertencentes ao Poder Executivo, ao Poder Legislativo ou ao Poder Judiciário. Dessa forma, caso o servidor ocupe um cargo público pertencente à es- trutura do Poder Executivo, não poderá receber, a título de remuneração, importância superior aos subsídios recebidos pelos respectivos Ministros de Estado. Caso ocupe um cargo do Poder Legislativo, o limite remuneratório será o subsídio recebido pelos membros do Congresso Nacional (Deputados e Senadores). Caso pertença à estrutura do Poder Judiciário, o limite utilizado como teto será o subsídio dos Ministros do STF. Frisa-se, contudo, que as parcelas de caráter indenizatório não são com- putadas para efeito de obediência ao teto remuneratório. Isso implica em afir- mar que tais parcelas (que são destinadas a ressarcir as despesas efetuadas pelos servidores) podem, eventualmente, exceder ao teto remuneratório. Art. 44. O servidor perderá: I – a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem motivo jus- tificado; II – a parcela de remuneração diária, proporcional aos atrasos, ausências justificadas, ressalvadas as concessões de que trata o art. 97, e saídas antecipadas, salvo na hipótese de compensação de Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 52 horário, até o mês subsequente ao da ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata. Parágrafo único. As faltas justificadas decorrentes de caso fortui- to ou de força maior poderão ser compensadas a critério da chefia imediata, sendo assim consideradas como efetivo exercício. Quando o servidor faltar ao serviço e não apresentar um motivo justifi- cado, perderá ele a remuneração dos dias em que não trabalhar. Da mesma forma, perderá ele a parcela da remuneração proporcional aos atrasos e às ausências justificadas, ressalvadas as concessões expressamente previstas na norma (situações de casamento, falecimento de parente próximo, doação de sangue e alistamento eleitoral). Em ambas as situações, poderá ser utilizada a sistemática de compensa- ção de horários, hipótese em que o servidor trabalha além de sua jornada para compensar os atrasos ou dias em que não trabalhou. Para que isso seja possível, o estabelecimento da compensação deverá ser autorizado pela che- fia imediata e feito, pelo servidor, até o mês subsequente ao da ocorrência. Nas situações de caso fortuito ou de força maior (eventos alheios à vonta- de das partes e que impedem que o servidor consiga exercer as atribuições), as faltas decorrentes também poderão ser objeto de compensação, oportuni- dade em que os dias serão considerados como de efetivo exercício. Art. 45. Salvo por imposição legal, ou mandado judicial, nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou provento. Da remuneração (quando o servidor estiver na ativa) ou dos proven- tos (quando estiver na inativa) não poderão incidir nenhum tipo de des- contos, salvo os determinados por lei (tais como os relativos ao Imposto de Renda e à contribuição previdenciária) e por meio de mandado judicial (tal como a determinação para pagamento de pensão alimentar). Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 53 Art. 46. As reposições e indenizações ao erário, atualizadas até 30 de junho de 1994, serão previamente comunicadas ao servidor ativo, aposentado ou ao pensionista, para pagamento, no prazo máximo de trinta dias, podendo ser parceladas, a pedido do inte- ressado. § 1º O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao correspon- dente a dez por cento da remuneração, provento ou pensão. Trata-se de regra bastante específica, por meio do qual todas as reposi- ções e indenizações devidas pelo servidor aos cofres públicos (atualizadas até 30 de junho de 1994) deverão ser pagas no prazo de 30 dias da data da comunicação, podendo, a pedido do agente, ser parceladas. Na hipótese de parcelamento, o valor de cada parcela não será inferior a 10% da remuneração, do provento ou da pensão eventualmente recebida pelo servidor. § 2º Quando o pagamento indevido houver ocorrido no mês ante- rior ao do processamento da folha, a reposição será feita imediata- mente, em uma única parcela. Caso o servidor tenha recebido, em um mês, um valor que não é a ele devido, deverá ser feita a reposição, imediatamente, em uma única parcela. Nesse caso, não há que se falar em parcelamento, uma vez que o servidor, por falha do Poder Público, recebeu recursos que não eram a ele devidos. § 3º Na hipótese de valores recebidos em decorrência de cumpri- mento a decisão liminar, a tutela antecipada ou a sentença que venha a ser revogada ou rescindida, serão eles atualizados até a data da reposição. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 54 Nessa hipótese, estamos diante de um servidor que recebeu verbas remu- neratórias decorrentes de uma decisão proferida em sede de liminar. Contudo, a decisão liminar pode, quando do julgamento definitivo do pedido, ser reformada. Caso isso ocorra, os valores que o servidor recebeu, quando do deferimento da liminar, deverão ser atualizados e corrigidos segundo os índices oficiais, devendo tais valores, já com a correção, ser repostos pelo servidor. Art. 47. O servidor em débito com o erário, que for demitido, exo- nerado ou que tiver sua aposentadoria ou disponibilidade cassada, terá o prazo de sessenta dias para quitar o débito. Parágrafo único. A não quitação do débito no prazo previsto impli- cará sua inscrição em dívida ativa. Estando o servidor em débito com o Poder Público, caso ocorra a demis- são, a exoneração ou a cassação da aposentadoria ou da disponibilidade, terá o agente o prazo de 60 dias para a quitação do débito. Não ocorrendo a quitação no prazo em questão, o servidor será inscrito em dívida ativa da União. Art. 48. O vencimento, a remuneração e o provento não serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto nos casos de pres- tação de alimentos resultante de decisão judicial. Outra importante garantia assegurada às verbas recebidas pelos servido- res é a que estabelece a impossibilidade de termos, em regra, o arresto, o sequestro e a apenhora do vencimento, da remuneração e dos proventos re- cebidos pelos servidores públicos federais. Tais institutos, oriundos do Direito Civil, apenas poderão ser utilizados nas hipóteses de prestação de alimentos, e ainda assim quando decorreremde decisão judicial. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 55 3.2. Vantagens Art. 49. Além do vencimento, poderão ser pagas ao servidor as seguintes vantagens: I – indenizações; II – gratificações; III – adicionais. § 1º As indenizações não se incorporam ao vencimento ou provento para qualquer efeito. § 2º As gratificações e os adicionais incorporam-se ao vencimento ou provento, nos casos e condições indicados em lei. Como veremos, poderão ser pagos ao servidor, além do vencimento do cargo público, diversas indenizações, gratificações e adicionais. Dessas clas- ses de verbas, apenas as indenizações não se incorporam ao vencimento, uma vez que destinadas à reposição de custos efetuados pelo servidor. As gratificações e os adicionais, em sentido oposto, se incorporam ao ven- cimento ou ao provento recebido pelo servidor. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 56 Art. 50. As vantagens pecuniárias não serão computadas, nem acu- muladas, para efeito de concessão de quaisquer outros acréscimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título ou idêntico fundamento. Em seu artigo 50, o estatuto federal estabelece a regra da vedação ao “efeito repicão”, também conhecido como efeito cascata e que, se possível, oneraria substancialmente os cofres públicos. Isso ocorre porque as vantagens são concedidas tomando por base o valor que é recebido, pelo servidor, a título de vencimento. Dessa forma, caso fosse possível, diante do recebimento de duas ou mais vantagens, a incidência de uma nos cálculos das demais, teríamos que a segunda vantagem seria credi- tada em um valor superior que o devido. COMENTárIO:� Exemplificando João, servidor público federal, possui como vencimento o valor de R$ 10.000, tendo direito, ainda, ao recebimento de duas vantagens, sendo uma de 25% e outra de 10%. Como é sabido, todas as vantagens devem ser calculadas tomando por base o valor do vencimento recebido pelo servidor. Se fosse possível a utilização do “efeito repicão”, teríamos o seguinte cálculo: a) A primeira vantagem (25%), incidente sobre o vencimento básico, resulta- ria em um valor de R$ 2500,00. b) Para o cálculo da segunda vantagem, o valor que seria utilizado como base de cálculo seria o vencimento + o valor da primeira vantagem (R$ 12.500), resultando em uma vantagem de R$ 1250,00 (10%). Após os cálculos, o valor total recebido, pelo servidor, a título de vantagens, seria de R$ 3.750,00. Contudo, pela vedação ao efeito cascata, o cálculo correto das vantagens deve utilizar o valor do vencimento básico, ou seja, R$ 10.000, resultando, Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 57 respectivamente, em vantagens de R$ 2500,00 (25%) e R$ 1000,00 (10%), totalizando assim R$ 3500,00. 3.2.1. Indenizações Art. 51. Constituem indenizações ao servidor: I – ajuda de custo; II – diárias; III – transporte. IV – auxílio-moradia. Art. 52. Os valores das indenizações estabelecidas nos incisos I a III do art. 51, assim como as condições para a sua concessão, serão estabelecidos em regulamento. Duas são as principais peculiaridades das parcelas de caráter indenizatório: a) A não incidência de imposto de renda e de contribuição previdenciária sobre os valores recebidos, de forma que o total líquido recebido a título de indenização é idêntico ao valor estabelecido em lei ou regulamento. b) O fato destas verbas não se incorporarem ao vencimento ou ao provento do servidor, sendo que o recebimento é cessado tão logo as causas que enseja- ram o recebimento desapareçam. Tal característica é um diferencial em relação às verbas remuneratórias, tais como os adicionais e as gratificações, que, nos casos e condições previstos em lei, incorporam-se ao vencimento e ao provento. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 58 3.2.1.1. Ajuda de custo Art. 53. A ajuda de custo destina-se a compensar as despesas de instalação do servidor que, no interesse do serviço, passar a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter per- manente, vedado o duplo pagamento de indenização, a qualquer tempo, no caso de o cônjuge ou companheiro que detenha também a condição de servidor, vier a ter exercício na mesma sede. § 1º Correm por conta da administração as despesas de transporte do servidor e de sua família, compreendendo passagem, bagagem e bens pessoais. Trata-se a ajuda de custo de verba de caráter compensatório, cujo obje- tivo é ressarcir as despesas de instalação do servidor que, por interesse da administração, passou a ter exercício em nova sede. § 2º À família do servidor que falecer na nova sede são assegurados ajuda de custo e transporte para a localidade de origem, dentro do prazo de 1 (um) ano, contado do óbito. Tendo o servidor passado a exercer suas atribuições em nova sede, terá ele direito ao recebimento de ajuda de custo. Uma vez instalado e no desempenho de suas atividades, é assegurado a sua família, no caso de falecimento do servidor, o direito ao recebimento de ajuda de custo e de transporte para a localidade de origem. Poderá a família do servidor, nessa hipótese, fazer uso das mencionadas indenizações no prazo de 1 ano a contar da data do óbito. § 3º Não será concedida ajuda de custo nas hipóteses de remoção previstas nos incisos II e III do parágrafo único do art. 36. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 59 Ambas as possibilidades são casos de remoção a pedido do servidor públi- co federal, consolidando o entendimento de que a ajuda de custo, no âmbito da remoção, apenas será devida quando ocorrer de ofício, no interesse da administração. Art. 54. A ajuda de custo corresponderá ao valor de um mês de remuneração do servidor na origem ou, na hipótese do caput do art. 56, ao valor de uma remuneração mensal do cargo em comissão. Art. 55. Não será concedida ajuda de custo ao servidor que se afastar do cargo, ou reassumi-lo, em virtude de mandato eletivo. A ajuda de custo será creditada ao servidor com base no valor recebido, por este, a título de remuneração. No momento da concessão, a Administra- ção levará em conta diversas características, tais como o local da nova repar- tição e os gastos efetuados pelo servidor para conseguir se instalar no novo município. Caso o servidor tenha sido eleito para um cargo eletivo e, com o término do mandato, retorne para o cargo público anteriormente ocupado, não terá direito ao recebimento de ajuda de custo, uma vez que o retorno decorreu exclusivamente da vontade do agente, e não por interesse do Poder Público. Art. 56. Será concedida ajuda de custo àquele que, não sendo ser- vidor da União, for nomeado para cargo em comissão, com mudan- ça de domicílio. Parágrafo único. No afastamento previsto no inciso I do art. 93, a ajuda de custo será paga pelo órgão cessionário, quando cabível. Situação oposta ocorre com o servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissão, que, ainda que não integre a carreira da Administração Pública antes da sua nomeação, passa, com a realização do ato, a exercer uma fun- ção pública. Em tal situação, não há como negar que houve um “convite” por Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 60 parte do Poder Público para que o particular passasse a exercer o cargo em comissão, manifestação esta da vontade da administração e ensejadora do direito ao recebimento da ajuda de custo. Quando o servidor tiver direito à ajuda de custo em virtude de ter assumi- do um cargo em comissão ou uma função de confiança em órgão ou entidade diferente do que até então ocupa, a indenização deverá ser paga pelo órgão ou entidade onde o servidor passará a ter exercício. Art. 57. O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo quando, injustificadamente, não se apresentar na nova sede no prazo de 30 (trinta) dias. Caso o servidor receba a ajuda de custo e não se apresente na nova sede no prazo de 30 dias, deverá devolver a quantia anteriormente recebida. Podemos sedimentar as características da ajuda decusto por meio do grá- fico a seguir: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 61 3.2.1.2. Diárias Art. 58. O servidor que, a serviço, afastar-se da sede em caráter eventual ou transitório para outro ponto do território nacional ou para o exterior, fará jus a passagens e diárias destinadas a indeni- zar as parcelas de despesas extraordinária com pousada, alimenta- ção e locomoção urbana, conforme dispuser em regulamento. § 1º A diária será concedida por dia de afastamento, sendo devida pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora da sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despesas extraordinárias cobertas por diárias. § 2º Nos casos em que o deslocamento da sede constituir exigência permanente do cargo, o servidor não fará jus a diárias. § 3º Também não fará jus a diárias o servidor que se deslocar dentro da mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião, constituídas por municípios limítrofes e regularmente instituídas, ou em áreas de controle integrado mantidas com países limítrofes, cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e servidores brasileiros considera-se estendida, salvo se houver per- noite fora da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre as fixadas para os afastamentos dentro do território nacional. Art. 59. O servidor que receber diárias e não se afastar da sede, por qualquer motivo, fica obrigado a restituí-las integralmente, no prazo de 5 (cinco) dias. Parágrafo único. Na hipótese de o servidor retornar à sede em prazo menor do que o previsto para o seu afastamento, restituirá as diárias recebidas em excesso, no prazo previsto no caput. As diárias são utilizadas com a finalidade de compensar os gastos do servi- dor que se ausentar da sua sede em caráter transitório ou eventual. Nota-se, Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 62 de imediato, que a principal distinção entre a ajuda de custo e as diárias tra- ta-se do caráter de eventualidade no exercício da atividade desta última. Em outras palavras, as situações que dão direito ao recebimento de ajuda de custo são aquelas em que o servidor passa a ter exercício em outra sede, com caráter de definitividade. Em sentido oposto, as hipóteses de diárias são aquelas em que o exercício da atribuição ocorre em outro local que não o da repartição, mas de forma eventual ou transitória. Terminada a atividade, o servidor retorna para a sede da repartição pública. Ajuda de custo • Exercício em nova sede, com caráter de definitividade Diárias • Exercício em nova sede, com caráter de transitoriedade ou eventualidade As diárias serão calculadas por dia de afastamento, não sendo devidas quando o deslocamento para fora da sede constituir exigência permanente do cargo ou quando o deslocamento for efetuado para município localizado dentro da mesma região metropolitana ou entre municípios limítrofes. Por outro lado, quando a União custear as despesas de alimentação e transporte do servidor, ou então quando o deslocamento não exigir o pernoite fora da sede, as diárias serão pagas ao servidor pela metade. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 63 Considerando que o valor das diárias é creditado ao servidor antes do des- locamento, deverá ele, caso não se afaste da sede, restituir o valor recebido no prazo de 5 dias. Caso o deslocamento seja efetuado por prazo menor que o previsto, o valor não utilizado deverá, de igual forma, ser devolvido aos cofres públicos. 3.2.1.3. Indenização de transporte Art. 60. Conceder-se-á indenização de transporte ao servidor que realizar despesas com a utilização de meio próprio de locomoção para a execução de serviços externos, por força das atribuições próprias do cargo, conforme se dispuser em regulamento. A concessão de transporte tem como objetivo ressarcir as despesas que o servidor teve, no desempenho de suas atividades, com a utilização de meio próprio de locomoção. COMENTárIO:� Exemplificando Os Oficiais de Justiça possuem, dentre as suas atribuições, a de realizar dili- gências externas com a finalidade de dar cumprimento a mandados judiciais, Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 64 devendo, para tal, dirigir-se, com veículo próprio de locomoção, aos diversos Municípios que compõem a sua jurisdição. Como utilizam meio próprio de locomoção, recebem, como contrapartida, uma parcela de caráter indenizatório destinada a custear as despesas incor- ridas para a prestação da atividade. 3.2.1.4. Auxílio-moradia Art. 60-A. O auxílio-moradia consiste no ressarcimento de des- pesas comprovadamente realizadas pelo servidor com aluguel de moradia ou com meio de hospedagem administrado por empresa hoteleira, no prazo de até dois meses após a comprovação da des- pesa pelo servidor. O auxílio-moradia trata-se da última das indenizações, tendo sido incluído no texto da Lei n. 8.112/1990 por intermédio da Lei n. 11.355/2006. Trata-se essa verba de uma forma de compensar as despesas realizadas, por parte dos servidores ocupantes de cargos estratégicos para a administra- ção, com aluguel de moradia ou outro meio de hospedagem. A possibilidade de utilização da indenização, contudo, depende do atendi- mento de uma série de requisitos. De acordo com a norma, o ressarcimento ocorrerá no prazo de até 2 meses após a comprovação da despesa por parte do servidor. Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio-moradia ao servidor se atendidos os seguintes requisitos: I – não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servidor; II – o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel fun- cional; III – o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou tenha sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promitente Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 65 cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo, inclu- ída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção, nos doze meses que antecederem a sua nomeação; IV – nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba auxí- lio-moradia; V – o servidor tenha se mudado do local de residência para ocupar cargo em comissão ou função de confiança do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores – DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza Especial, de Ministro de Estado ou equivalentes; VI – o Município no qual assuma o cargo em comissão ou função de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3º, em rela- ção ao local de residência ou domicílio do servidor; VII – o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo infe- rior a sessenta dias dentro desse período; e VIII – o deslocamento não tenha sido por força de alteração de lotação ou nomeação para cargo efetivo. IX – o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006. Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão relacionado no inciso V. Terão direito ao recebimento de auxílio-moradia os servidores que tenham alterado a sua residência para assumir cargos em comissão ou função de con- fiança do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores – DAS, níveis 4, 5 e 6, de Ministro de Estado ou equivalente. Nota-se, assim, que o direito ao recebimento de auxílio-moradia não é estendido aos servidores que tenham sido lotados em virtude da simples Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 66 aprovação em concurso público. Para o recebimento, o cargo ocupado pelo servidor deve ser estratégico para a Administração Pública. Não terá direito ao recebimento do auxílio o agente estatal que tenha al- gum membro da sua família recebendo o benefício. Da mesma forma, caso o Poder Público possua imóvel funcional a disposição do servidor, não há motivo para que os cofres públicos sejam onerados com o pagamento da verba. Art. 60-D. O valor mensal do auxílio-moradia é limitado a vintee cinco por cento do valor do cargo em comissão, da função de con- fiança ou do cargo de Ministro de Estado ocupado. § 1º O valor do auxílio-moradia não poderá superar 25% (vinte e cinco por cento) da remuneração de Ministro de Estado. § 2º O valor do auxílio-moradia será reduzido em vinte e cinco pontos percentuais a cada ano, a partir do segundo ano de recebi- mento, e deixará de ser devido após o quarto ano de recebimento. § 3º O prazo de que trata o § 2º não terá sua contagem suspensa ou interrompida na hipótese de exoneração ou mudança de cargo ou função. § 4º Transcorrido o prazo de quatro anos após encerrado o paga- mento do auxílio-moradia, o pagamento poderá ser retomado se novamente vierem a ser atendidos os requisitos do art. 60-B Da análise do dispositivo, consegue-se identificar que o valor do auxílio- -moradia jamais poderá ultrapassar 25% da remuneração do cargo em comissão, da função de confiança ou do cargo de Ministro de Estado. A partir do segundo ano de recebimento, o valor do auxílio-moradia será reduzido, a cada ano, em 25 pontos percentuais por ano. Com isso, após o quarto ano de recebimento, a indenização deixará de ser recebida pelo ser- vidor. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 67 O prazo de 4 anos anteriormente mencionado não terá sua contagem sus- pensa ou interrompida na hipótese de exoneração ou mudança de cargo ou função. Um novo recebimento da indenização, dessa forma, apenas poderá ocor- rer após o período de 4 anos da data em que o pagamento foi cessado, e, ainda assim, desde que todos os requisitos necessários ao recebimento sejam atendidos. Art. 60-E. No caso de falecimento, exoneração, colocação de imóvel funcional à disposição do servidor ou aquisição de imóvel, o auxílio- -moradia poderá ser mantido por um mês, limitado ao valor pago no mês anterior. Estando o servidor a receber auxílio-moradia, caso ocorra, posteriormente, algum fato ensejador do término do recebimento (falecimento, exonera- ção, colocação de imóvel funcional à disposição ou aquisição de imó- vel), o valor da indenização poderá, ainda, ser pago pelo período de 1 mês. Em todo caso, o valor da indenização estará limitado àquele pago no mês anterior. 3.2.2. Gratificações e adicionais Art. 61. Além do vencimento e das vantagens previstas nesta Lei, serão deferidos aos servidores as seguintes retribuições, gratifica- ções e adicionais: I – retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e asses- soramento; II – gratificação natalina; IV – adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas ou penosas; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 68 V – adicional pela prestação de serviço extraordinário; VI – adicional noturno; VII – adicional de férias; VIII – outros, relativos ao local ou à natureza do trabalho. IX – gratificação por encargo de curso ou concurso. As gratificações e adicionais que são passíveis de utilização pelo servidor público federal estão expressas, de forma taxativa, no artigo 61 da Lei n. 8.112/1990. Para o recebimento de cada uma das verbas, há a necessidade de obedi- ência aos requisitos legais, conforme passa-se a expor. 3.2.2.1. Retribuição pelo exercício de função de di- reção, chefia e assessoramento Art. 62. Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento em comissão ou de Natureza Especial é devida retribuição pelo seu exercício. Parágrafo único. Lei específica estabelecerá a remuneração dos cargos em comissão de que trata o inciso II do art. 9º. Art. 62-A. Fica transformada em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada – VPNI a incorporação da retribuição pelo exercício de função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento em comissão ou de Natureza Especial a que se referem os arts. 3º e 10 da Lei no 8.911, de 11 de julho de 1994, e o art. 3º da Lei no 9.624, de 2 de abril de 1998. Parágrafo único. A VPNI de que trata o caput deste artigo somen- te estará sujeita às revisões gerais de remuneração dos servidores públicos federais. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 69 Os servidores que exercem as funções de direção, de chefia ou de as- sessoramento fazem jus a um adicional pago com base na complexidade da atribuição desempenhada. Salienta-se, contudo, que o servidor que exerce tais funções pode ser li- vremente dispensado pela autoridade competência, não havendo obrigação de motivação para a prática do ato. Nessas hipóteses, caso estejamos diante de um servidor de carreira, este voltará a desempenhar as atividades relati- vas ao seu cargo. Caso o ocupante do cargo em comissão não seja servidor público, a dispensa da função de confiança fará com que o seu vínculo com o Poder Público seja cessado. 3.2.2.2. Gratificação Natalina Art. 63. A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um doze avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezembro, por mês de exercício no respectivo ano. Parágrafo único. A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias será considerada como mês integral. Art. 64. A gratificação será paga até o dia 20 (vinte) do mês de dezembro de cada ano. Art. 65. O servidor exonerado perceberá sua gratificação natalina, proporcionalmente aos meses de exercício, calculada sobre a remu- neração do mês da exoneração. Art. 66. A gratificação natalina não será considerada para cálculo de qualquer vantagem pecuniária. Trata-se a gratificação natalina do popularmente conhecido “13º salário”. Dessa forma, a cada mês de efetivo exercício o servidor público federal ad- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 70 quire o direito a 1/12 do respectivo adicional, que deverá ser pago, obrigato- riamente, até o dia 20 de dezembro de cada ano. Importante constar que a fração igual ou superior a 15 dias será compu- tada como mês de efetivo exercício, bem como que, em caso de exoneração do servidor antes da data de pagamento da gratificação, terá ele direito ao recebimento proporcional, que será calculada com base nos meses de efetivo exercício. COMENTárIO:� Exemplificando Antônio, após aprovação em concurso público, entrou em exercício no dia 12 de abril de 2014. No dia 14 de novembro do mesmo ano, por motivos parti- culares, solicitou a exoneração do cargo público. Nesse caso, além das demais verbas devidas, terá Antônio direito ao recebi- mento proporcional da gratificação natalina. Para tal, devemos levar em conta os meses de efetivo exercício em que Antônio trabalhou. • O mês de abril é considerado mês integral, uma vez que Antônio traba- lhou 19 dias (de 12/04 a 30/04). • Os meses de maio, junho, julho, agosto, setembro e outubro também são computados como de efetivo exercício. • O mês de novembro, no entanto, não será computado, uma vez que Antônio trabalhou apenas 14 dias do período em questão. Logo, o período que deverá ser levado em consideração, para efeitos de paga- mento da gratificação natalina, é o de 7 meses. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 71 3.2.2.3. Adicionais de Insalubridade, Periculosida- de e de Atividades Penosas Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualidade em locais insalubres ou em contato permanente com substâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida, fazem jus a um adicional sobre o vencimento do cargo efetivo. § 1º O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubridade e de periculosidade deverá optar por um deles. § 2º O direito ao adicional de insalubridade ou periculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos riscos que deram causa a sua concessão. Art. 71. O adicional de atividade penosa será devido aos servidores em exercício em zonas de fronteira ou em localidades cujas condi- ções de vida o justifiquem, nos termos, condições e limites fixados em regulamento. A periculosidade está relacionada com atividades que coloquem o servi- dor em situações de risco de morte. A insalubridade está relacionada comcondições do ambiente de traba- lho, que, ainda que não causem um risco imediato, vão prejudicando, aos poucos, a saúde do servidor, tal como a falta de iluminação adequada ou o contato com substâncias tóxicas. A penosidade se relaciona com os servidores que estejam em exercício em zonas de fronteira ou outras localidades com baixa qualidade de vida. Em todas essas situações, será devido aos servidores um adicional, que será pago conforme as disposições estabelecidas em regulamento do órgão público. Caso o servidor se enquadre em uma das situações que enseje o pagamento, simultaneamente, do adicional de periculosidade e de insalubri- dade, deverá optar pelo recebimento de um deles. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 72 Art. 69. Haverá permanente controle da atividade de servidores em operações ou locais considerados penosos, insalubres ou peri- gosos. Parágrafo único. A servidora gestante ou lactante será afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, das operações e locais pre- vistos neste artigo, exercendo suas atividades em local salubre e em serviço não penoso e não perigoso. Art. 70. Na concessão dos adicionais de atividades penosas, de insalubridade e de periculosidade, serão observadas as situações estabelecidas em legislação específica. As servidoras gestantes ou lactantes deverão, obrigatoriamente, ser afas- tadas das atividades exercidas em locais penosos, insalubres ou perigosos durante o período da respectiva gestação ou lactação. Deve a Administração, nessas situações, proporcionar que o trabalho da servidora seja feito em um ambiente salubre e livre dos riscos de periculosidade e penosidade. Art. 72. Os locais de trabalho e os servidores que operam com Raios X ou substâncias radioativas serão mantidos sob controle permanente, de modo que as doses de radiação ionizante não ultra- passem o nível máximo previsto na legislação própria. Parágrafo único. Os servidores a que se refere este artigo serão submetidos a exames médicos a cada 6 (seis) meses. Importante questão refere-se aos servidores públicos que exercem as ati- vidades de operação com Raios X ou substâncias radioativas. Nesses casos, o Poder Público possui duas obrigações: a) manter controle permanente dos locais de trabalho, monitorando para que as doses de radiação ionizante não ultrapassem o nível máximo legal- mente permitido. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 73 b) submeter os servidores, a cada período de 6 meses de atividades, a exames médicos. 3.2.2.4. Adicional por Serviço Extraordinário Art. 73. O serviço extraordinário será remunerado com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em relação à hora normal de trabalho. Art. 74. Somente será permitido serviço extraordinário para aten- der a situações excepcionais e temporárias, respeitado o limite máximo de 2 (duas) horas por jornada. São as populares “horas extras”, cuja remuneração, em caso de exer- cício, é acrescida de um adicional de 50% sobre o valor da hora normal de serviço. Nos termos da Lei n. 8.112/1990, só é admitido o exercício de, no máxi- mo, 2 horas extras por jornada de trabalho. 3.2.2.5. Adicional noturno Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário compreendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco) horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido de 25% (vinte e cinco por cento), computando-se cada hora como cinquenta e dois minutos e trinta segundos. Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a remuneração prevista no art. 73. Os servidores que trabalharem no período compreendido entre as 22 ho- ras de um dia até às 05 horas do dia seguinte terão direito ao recebimento do adicional noturno, que será calculado sobre o valor da hora normal de tra- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 74 balho. Estabelece a Lei n. 8.112/1990 que o percentual do adicional noturno será de 25% sobre o valor normal da hora trabalhada. Além disso, o tempo que será computado como hora de efetivo exercício, quando o servidor estiver no período noturno, será de 52 minutos e 30 segun- dos. Nesse mesmo sentido, em caso de recebimento cumulativo dos adicio- nais noturno e de serviços extraordinários, o percentual do adicional noturno apenas incidirá após a aplicação do percentual relativo às horas extras. 3.2.2.6. Adicional de férias Art. 76. Independentemente de solicitação, será pago ao servi- dor, por ocasião das férias, um adicional correspondente a 1/3 (um terço) da remuneração do período das férias. Parágrafo único. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respec- tiva vantagem será considerada no cálculo do adicional de que trata este artigo. O adicional de férias decorre de uma previsão constitucional, podendo ser entendido como um percentual que será aplicado sobre a remuneração do servidor público sempre que este desejar gozar das suas férias. Tal percentual, de acordo com as disposições da Lei n. 8.112/1990, é de 1/3 sobre o total da remuneração devida pelo servidor. Caso o servidor exerça função de confiança ou cargo em comissão, o valor recebido pelo exercício das funções de direção, chefia ou assessoramento será levado em conta para efeitos de cálculo do adicional. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 75 3.2.2.7. Gratificação por Encargo de Curso ou Con- curso Art. 76-A. A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso é devida ao servidor que, em caráter eventual: I – atuar como instrutor em curso de formação, de desenvolvimen- to ou de treinamento regularmente instituído no âmbito da Admi- nistração Pública federal; II – participar de banca examinadora ou de comissão para exames orais, para análise curricular, para correção de provas discursi- vas, para elaboração de questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por candidatos; III – participar da logística de preparação e de realização de concur- so público envolvendo atividades de planejamento, coordenação, supervisão, execução e avaliação de resultado, quando tais ativida- des não estiverem incluídas entre as suas atribuições permanentes; IV – participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exame vestibular ou de concurso público ou supervisionar essas atividades. § 1º Os critérios de concessão e os limites da gratificação de que trata este artigo serão fixados em regulamento, observados os seguintes parâmetros: I – o valor da gratificação será calculado em horas, observadas a natureza e a complexidade da atividade exercida; II – a retribuição não poderá ser superior ao equivalente a 120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais, ressalvada situação de excepcionalidade, devidamente justificada e previamente aprovada pela autoridade máxima do órgão ou entidade, que poderá autorizar o acréscimo de até 120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 76 A gratificação por encargo de curso ou concurso trata-se da última das gratificações instituídas para os servidores públicos federais. Os percentuais serão calculados com base nas horas despendidas pelo servidor para o desempenho das atividades, não podendo, como regra, ex- ceder ao número de 120 horas por ano. Em casos excepcionais, a autoridade máxima do órgão ou entidade poderá autorizar o exercício de mais 120 horas. III – o valor máximo da hora trabalhada corresponderá aos seguintes percentuais, incidentes sobre o maior vencimento básico da Administração Pública federal: a) 2,2% (dois inteiros e dois décimos por cento), em se tratando de ativi- dades previstas nos incisos I e II do caput deste artigo; b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se tratando de ativida- de prevista nos incisos III e IV do caput deste artigo. Por meio dela, os servidores que se envolverem com atividades relacio- nadas com o interesse público farão jus a uma gratificação,que incidirá, a depender da atividade, na proporção de 1,2% ou 2,2% sobre o maior venci- mento básico da Administração Pública federal. 2,2% • atuar como instrutor em curso de formação, de desen- volvimento ou de treinamento regularmente instituído no âmbito da Administração Pública federal; • participar de banca examinadora ou de comissão para exames orais, para análise curricular, para correção de provas discursivas, para elaboração de questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por candidatos; 1,2% • participar da logística de preparação e de realização de concurso público envolvendo atividades de planeja- mento, coordenação, supervisão, execução e avaliação de resultado, quando tais atividades não estiverem inclu- ídas entre as suas atribuições permanentes; • participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exame vestibular ou de concurso público ou supervisio- nar essas atividades; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 77 § 2º A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso somente será paga se as atividades referidas nos incisos do caput deste artigo forem exercidas sem prejuízo das atribuições do cargo de que o servidor for titular, devendo ser objeto de compensação de carga horária quando desempenhadas durante a jornada de trabalho, na forma do § 4º do art. 98 desta Lei. § 3º A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso não se incor- pora ao vencimento ou salário do servidor para qualquer efeito e não poderá ser utilizada como base de cálculo para quaisquer outras vantagens, inclusive para fins de cálculo dos proventos da aposen- tadoria e das pensões. A gratificação por encargo de curso ou concurso apenas será paga se o desempenho da atividade puder ser exercido sem o prejuízo das demais atri- buições do servidor. Quando tais atividades forem desempenhadas durante a atividade, deverão ser objeto de compensação. A gratificação em questão não se incorpora ao vencimento ou ao salário para quaisquer efeitos, não podendo, da mesma forma, ser utilizada como base de cálculo para quaisquer outras vantagens. Evita-se, com os dispositivos em análise, que a gratificação por encargo de concurso gere um efeito em cascata nas demais verbas recebidas pelo servidor, o que implicaria, em última análise, na priorização do recebimento da gratificação em prol das atribuições do cargo público ocupado. COMENTárIO:� Exemplificando Túlio, servidor público federal, foi convidado para atuar como instrutor em curso de formação destinado ao aperfeiçoamento dos demais agentes estatais. Nesse caso, Túlio terá direito ao recebimento de uma gratificação por encar- go de curso ou concurso, que, nos termos da lei, será de 2,2% (por hora de trabalho) sobre o maior vencimento básico do serviço público federal. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 78 Contudo, caso a gratificação pudesse ser utilizada sem um controle de horas, e considerando que o servidor pode exercer tais atividades conjuntamente com o desempenho efetivo do cargo, poderia o servidor dedicar boa parte de seu tempo para o recebimento da gratificação, prejudicando o exercício das demais atividades. Para evitar que isso ocorra, o texto da lei limita o número de horas passíveis de pagamento a título de gratificação por encargo de curso ou concurso. De acordo com o texto legal, tal limite é de 120 horas anuais, que poderão ser prorrogadas por mais 120 horas. 3.3. Férias Art. 77. O servidor fará jus a trinta dias de férias, que podem ser acu- muladas, até o máximo de dois períodos, no caso de necessidade do serviço, ressalvadas as hipóteses em que haja legislação específica. § 1º Para o primeiro período aquisitivo de férias serão exigidos 12 (doze) meses de exercício. § 2º É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao serviço. § 3º As férias poderão ser parceladas em até três etapas, desde que assim requeridas pelo servidor, e no interesse da administra- ção pública. O direito ao gozo de férias trata-se de uma regra que não é exclusiva dos servidores públicos, devendo ser exercida por todos os trabalhadores da iniciativa privada. Decorre o direito de férias, dessa forma, de uma previsão constitucional, conforme estabelece o artigo 7º, XVII, da Constituição Federal: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 79 Tratam-se as férias de um direito social que, ainda que inicialmente pre- visto para os trabalhadores da iniciativa privada, foi estendido aos servidores públicos de todos os entes federados. Em todas as situações, o servidor deve receber, quando do gozo de suas férias, um adicional de 1/3 sobre o total da remuneração. No âmbito do serviço público, tal como ocorre para as demais classes de trabalhadores, é exigido um tempo mínimo de 12 meses de exercício para que o servidor adquira o direito ao primeiro período de férias. Os demais períodos, no entanto, serão contados por exercício, não haven- do a necessidade de ser completado um ano de trabalho para a sua fruição. Art. 78. O pagamento da remuneração das férias será efetuado até 2 (dois) dias antes do início do respectivo período, observando-se o disposto no § 1º deste artigo. § 3º O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em comissão, per- ceberá indenização relativa ao período das férias a que tiver direito e ao incompleto, na proporção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou fração superior a quatorze dias. § 4º A indenização será calculada com base na remuneração do mês em que for publicado o ato exoneratório. § 5º Em caso de parcelamento, o servidor receberá o valor adicional previsto no inciso XVII do art. 7º da Constituição Federal quando da utilização do primeiro período. As férias dos servidores públicos, no entanto, apresentam algumas pecu- liaridades com relação ao direito conferido aos demais trabalhadores. Assim, as férias dos servidores podem ser parceladas em até 3 etapas, desde que re- queridas pelo servidor e no interesse da administração. Caso ocorra o parce- lamento, os valores relativos às férias serão creditados quando da utilização da primeira etapa, devendo ser observada a antecedência mínima de 2 dias. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 80 Art. 79. O servidor que opera direta e permanentemente com Raios X ou substâncias radioativas gozará 20 (vinte) dias consecutivos de férias, por semestre de atividade profissional, proibida em qualquer hipótese a acumulação. Outro ponto bastante importante é sobre as férias dos servidores que operam constantemente com Raios X ou outras substâncias radioativas. Para estes, há a expressa determinação de que deverão gozar do período de 20 dias de férias a cada semestre de atividade profissional, sendo vedada a sua acumulação. Art. 80. As férias somente poderão ser interrompidas por motivo de calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, ser- viço militar ou eleitoral, ou por necessidade do serviço declarada pela autoridade máxima do órgão ou entidade. Parágrafo único. O restante do período interrompido será gozado de uma só vez, observado o disposto no art. 77. Por se tratar de direito social garantido constitucionalmente aos servido- res públicos, a regra é a de que as férias não podem ser interrompidas. Os poucos casos em que é possível a interrupção são situações de extrema im- portância para a continuidade do serviço público, conforme estabelece a Lei n. 8.112/1990 em seu artigo 80. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 81 Ocorrendo a interrupção, o restante do período deve ser gozado de uma só vez, sem a possibilidade de nova interpretação. 3.4. Licenças Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença: I – por motivo de doença em pessoa da família; II – por motivo de afastamento do cônjugeou companheiro; III – para o serviço militar; IV – para atividade política; V – para capacitação; VI – para tratar de interesses particulares; VII – para desempenho de mandato classista. Estabelece a norma federal uma série de licenças passíveis de concessão aos servidores públicos. Importante salientar que a lista expressa no artigo 81 não apresenta todas as hipóteses de licença que podem ser usufruídas pelo servidor, uma vez que o Estatuto, no capítulo destinado à seguridade social, elenca, ainda, outras três possibilidades, sendo elas: a) licença para tratamento de saúde; b) licença à gestante, à adotante e paternidade; c) licença por acidente em serviço; § 1º A licença prevista no inciso I do caput deste artigo bem como cada uma de suas prorrogações serão precedidas de exame por perícia médica oficial, observado o disposto no art. 204 desta Lei. § 3º É vedado o exercício de atividade remunerada durante o perí- odo da licença prevista no inciso I deste artigo. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 82 A licença para tratar de doença em pessoa da família possui algumas pe- culiaridades, dentre as quais se destacam as expressas nos §§ 1º e 3º do artigo 81. Assim, a concessão desse tipo de licença, bem como cada uma de suas eventuais prorrogações, apenas ocorrerá após a realização de exame por pe- rícia médica oficial. Durante o licenciamento para atender a doença em pes- soa da família, o servidor não poderá exercer atividade remunerada. Art. 82. A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias do térmi- no de outra da mesma espécie será considerada como prorrogação. Sendo concedida uma licença ao servidor, caso este, dentro do prazo de 60 dias, faça uso, novamente, dessa forma de licença, esta última será con- siderada prorrogação da primeira. 3.4.1. Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padras- to ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação por perícia médica oficial. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 83 § 1º A licença somente será deferida se a assistência direta do ser- vidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, na forma do disposto no inciso II do art. 44. Trata-se de licença para aqueles servidores que tiverem que auxiliar algum de seus familiares nos casos de doença, desde que tal atividade não seja pos- sível de ser executada concomitantemente com as atividades da repartição. Não são todos os parentes do servidor que, contudo, dão ensejo à conces- são da licença, mas sim apenas o cônjuge e aqueles ligados ao servidor por um vínculo de primeiro grau (filhos ou enteados, pais e padrastos e depen- dente que conste no seu assentamento individual). § 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes condições: I – por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a remuneração do servidor; II – por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remune- ração. § 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a partir da data do deferimento da primeira licença concedida. § 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não remunera- das, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no § 3º, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e II do § 2º. A concessão da licença para tratar de doença em pessoa da família poderá ser concedida com ou sem remuneração. Nessas hipóteses, será levado em conta um período determinado de tempo (1 ano) para a verificação da manu- tenção ou não da remuneração do servidor. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 84 Nos primeiros 60 dias, ainda que não consecutivos, será mantida a remu- neração do servidor. Após, pelo prazo de até 90 dias, consecutivos ou não, a licença será concedida sem a remuneração. Em qualquer hipótese, os prazos mencionados acima (60 dias com remuneração e 90 dias sem remuneração) se- rão os máximos, para cada modalidade de licença, dentro do período de 1 ano. Em outras palavras, após o período de 1 ano, não poderá haver a conces- são de licença remunerada por mais de 60 dias ou de licença sem remunera- ção por mais de 90 dias. COMENTárIO:� Exemplificando Fernanda, após o atendimento dos requisitos legais, entrou em licença para tratar de doença em pessoa da família em janeiro de 2014. Com a concessão da licença, tal data passa a ser referência para as duas modalidades, de forma que, até o período de 1 ano, Fernanda apenas poderá fazer uso da licença nas seguintes condições: a) Por até 60 dias, com a manutenção da remuneração; b) Por até 90 dias, sem a remuneração do servidor; 3.4.2. Licença por Motivo de Afastamento do Cônjuge Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para acompanhar cônjuge ou companheiro que foi deslocado para outro ponto do território nacional, para o exterior ou para o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo. § 1º A licença será por prazo indeterminado e sem remuneração. § 2º No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companhei- ro também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da Admi- nistração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que para o exercício de atividade compatível com o seu cargo. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 85 Trata-se de licença de caráter discricionário, ou seja, que pode ou não ser concedida pela administração pública. O fundamento para a sua conces- são está no deslocamento de cônjuge ou companheiro para outro ponto do território nacional. Nessas situações, a licença, se concedida, será por prazo indeterminado e sem remuneração. Três são as situações que dão ensejo à concessão da licença em questão, sendo elas: a) deslocamento do cônjuge para outro ponto do território nacional; b) deslocamento do cônjuge para o exterior; c) deslocamento do cônjuge para exercer mandato eletivo. Caso o servidor seja deslocado para outro ponto do território nacional, e sendo o seu cônjuge também servidor público (civil ou militar), poderá ele, durante o período do deslocamento, ter exercício provisório em outro órgão ou entidade da Administração Pública. Para que isso seja possível, deverá ha- ver compatibilidade entre as atribuições dos dois cargos. 3.4.3. Licença para o Serviço Militar Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar será concedi- da licença, na forma e condições previstas na legislação específica. Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor terá até 30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do cargo. A informação imprescindível sobre tal licença é que, uma vez concedida, terá o servidor, após concluir a obrigação, um prazo de 30 dias, sem remune- ração, para reassumir o exercício do cargo público. A licença para o serviço militar terá todas as suas condições estabelecidas em legislação específica. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 86 3.4.4. Licença para Atividade Política Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração, duran- te o período que mediar entre a sua escolha em convenção partidá- ria, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral. § 1º O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde desem- penha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia, asses- soramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte aodo pleito. § 2º A partir do registro da candidatura e até o décimo dia seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os venci- mentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses. Com a finalidade de não influenciar no pleito democrático, o servidor que estiver concorrendo a algum cargo eletivo terá direito a esta licença, sem re- muneração, a partir da sua escolha em convenção partidária e até a véspera do registro da candidatura. Com o registro, o servidor passa a ter direito, novamente, à licença, que irá durar do registro da candidatura até 10 dias após as eleições. Nessa hipótese, o servidor receberá a remuneração do cargo em que atua pelo prazo de 3 meses. Durante o período compreendido entre a escolha em convenção partidário e a véspera do registro da candidatura Licença sem remuneração Não é considerada como efetivo exercício Durante o período compreendido entre o registro da candidatura até 10 dias após o pleito Licença com remuneração pelo prazo de 3 meses Período contado apenas para efeito de aposentadoria e disponibilidade Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 87 3.4.5. Licença para Capacitação Art. 87. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o servidor poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses, para participar de curso de capacitação profissional. Parágrafo único. Os períodos de licença de que trata o caput não são acumuláveis. A cada 5 anos de efetivo exercício, o servidor poderá, com anuência da administração, licenciar-se para participar de cursos e outras ações de treina- mento, com remuneração, pelo período de até 3 meses. Tais períodos não são acumuláveis, sendo impossível, por exemplo, que o servidor, após 10 anos de exercício, queira licenciar-se pelo prazo de 6 meses consecutivos. 3.4.6. Licença para Tratar de Interesses Particulares Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em está- gio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a qualquer tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço. A critério da administração (não é ato administrativo vinculado, mas mera discricionariedade), poderá ser concedida licença ao servidor, desde que este não esteja em estágio probatório, pelo prazo de até 3 anos consecutivos, sem remuneração, para tratar de assuntos particulares. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 88 Uma vez concedida, a licença poderá ser interrompida, a qualquer tempo, a pedido do servidor ou de ofício, no interesse do Poder Público. 3.4.7. Licença para o Desempenho de Mandato Clas- sista Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem remune- ração para o desempenho de mandato em confederação, federação, associação de classe de âmbito nacional, sindicato representativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou, ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade cooperati- va constituída por servidores públicos para prestar serviços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e observados os seguintes limites: I – para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois) servidores; II – para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta mil) associados, 4 (quatro) servidores; III – para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados, 8 (oito) servidores. § 1º Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, desde que cadastradas no órgão competente. § 2º A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser reno- vada, no caso de reeleição. Os servidores públicos, tal como diversas categorias da iniciativa privada, possuem sindicatos que lutam em prol dos interesses de todos os filiados e da categoria como um todo. Dessa forma, os servidores podem ser eleitos como Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 89 representantes sindicais, possuindo mandato por prazo certo, nas seguintes condições: a) entidades com até 5 mil associados: 2 servidores; b) entidades com 5001 a 30 mil associados: 4 servidores; c) entidades com mais de 30 mil servidores: 8 servidores; Salienta-se que somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, bem como que o prazo de duração da licença será o mesmo de duração do man- dato, podendo ser renovado em caso de reeleição. 3.5. Afastamentos A doutrina não identifica uma diferença precisa entre os afastamen- tos e as licenças passíveis de concessão ao servidor público federal. Em am- bos os casos, estamos diante de um direito, possibilitando que o servidor se ausente sem que, via de regra, ocorra a perda da respectiva remuneração ou a cessação da contagem do tempo de afastamento como de efetivo exercício. De acordo com a Lei n. 8.112/1990, podemos identificar os seguintes afastamentos: a) afastamento para servir em outro órgão ou entidade; b) afastamento para o exercício de mandato eletivo; c) afastamento para estudo ou missão no exterior; d) afastamento de servidor para servir em organismo internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere; e) afastamento para participar de programa de pós-graduação no país. 3.5.1. Afastamento para Servir a Outro Órgão ou Entidade Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercício em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 90 Federal, dos Municípios ou em serviço social autônomo instituído pela União que exerça atividades de cooperação com a Administra- ção Pública federal, nas seguintes hipóteses: I – para exercício de cargo em comissão, função de confiança ou, no caso de serviço social autônomo, para o exercício de cargo de direção ou de gerência; II – em casos previstos em leis específicas. O servidor poderá ser cedido para ter exercício em outro órgão ou entida- de dos Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A cessão poderá ser utilizada para o desempenho de cargo em comissão ou função de confiança (hipóteses em que será considerada a responsabilidade no exercício das funções) ou, ainda, nos casos previstos em leis específicas. Além disso, poderá ocorrer a cessão, de acordo com as alterações pro- movidas pela Medida Provisória n. 765, de 2015, para o exercício de cargo de direção ou de gerência em serviço social autônomo instituído pela União com a finalidade de exercer a atividades de cooperação com a Administração Pública federal. § 1º Na hipótese de que trata o inciso I do caput, sendo a cessão para órgãos ou entidades dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios ou para serviço social autônomo, o ônus da remunera- ção será do órgão ou da entidade cessionária, mantido o ônus para o cedente nos demais casos. § 5º Aplica-se à União, em se tratando de empregado ou servidor por ela requisitado, as disposições dos §§ 1º e 2º deste artigo. Quando o exercício das funções de chefia for em órgão ou entidade diver- so da lotação do servidor, a remuneração será paga da seguinte forma: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 91 a) Sendo a cessão para órgãos ou entidades dos Estados, do Distrito Fe- deral, dos Municípios ou para serviço social autônomo, estes serão os respon- sáveis pelo pagamento. b) Sendo a cessão para outro órgão ou entidade federal, a responsabilida- de pelo pagamento da remuneração continua sendo da União. § 2º Na hipótese de o servidor cedido a empresa pública, sociedade de economia mista ou serviço social autônomo, nos termos de suas respectivas normas,optar pela remuneração do cargo efetivo ou pela remuneração do cargo efetivo acrescida de percentual da retri- buição do cargo em comissão, de direção ou de gerência, a entida- de cessionária ou o serviço social autônomo efetuará o reembolso das despesas realizadas pelo órgão ou pela entidade de origem. Caso o servidor federal tenha sido cedido para uma empresa pública, para uma sociedade de economia mista ou para um serviço social autônomo, de- verá a entidade, como regra, ser a responsável pelo pagamento do servidor. Contudo, caso o agente estatal opte pela remuneração do cargo efetivo (aquele que exercia antes da cessão) ou, ainda, pela remuneração do cargo acrescida de parcela da retribuição pelo exercício do cargo em comissão, de- verá a entidade cessionária ou o serviço social autônomo (quem recebeu o servidor) reembolsar os cofres públicos da União pelos gastos efetuados com a remuneração do servidor. § 3º A cessão far-se-á mediante Portaria publicada no Diário Oficial da União. Para a validade da cessão, o ato deverá ser publicado no meio oficial, que, no âmbito federal, é o Diário Oficial da União. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 92 § 4º Mediante autorização expressa do Presidente da República, o servidor do Poder Executivo poderá ter exercício em outro órgão da Administração Federal direta que não tenha quadro próprio de pes- soal, para fim determinado e a prazo certo. Caso seja criado um novo órgão no âmbito da Administração Pública fe- deral, poderá o Presidente da República (que é o chefe do Poder Executivo) autorizar que um ou mais servidores do referido Poder tenham exercício, por um período determinado de tempo, no órgão em questão. Posteriormente, quando novos servidores forem admitidos, formando as- sim o quadro próprio do órgão então criado, aqueles que tiverem sido autori- zados poderão retornar ao órgão de origem. § 6º As cessões de empregados de empresa pública ou de socie- dade de economia mista, que receba recursos de Tesouro Nacional para o custeio total ou parcial da sua folha de pagamento de pes- soal, independem das disposições contidas nos incisos I e II e §§ 1º e 2º deste artigo, ficando o exercício do empregado cedido con- dicionado a autorização específica do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, exceto nos casos de ocupação de cargo em comissão ou função gratificada. § 7º O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, com a fina- lidade de promover a composição da força de trabalho dos órgãos e entidades da Administração Pública federal, poderá determinar a lotação ou o exercício de empregado ou servidor, independen- temente da observância do constante no inciso I e nos §§ 1º e 2º deste artigo. Nas situações narradas, o estatuto federal possibilita que o MPOG tenha um maior grau de liberdade na lotação dos servidores federais, não havendo necessidade de observar as disposições pertinentes à cessão de servidores para outro órgão ou entidade. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 93 Em tais hipóteses, estaremos diante de empresas estatais dependentes (aquelas que recebem verbas para o custeio total ou parcial de sua folha de pagamento) ou da necessidade de composição da força de trabalho de órgãos ou entidades federais. Nos dois casos, pode o MPOG realizar cessões de agentes públicos, opor- tunidades em que levará em conta a continuidade dos serviços públicos e a eficiência na prestação de tais atividades. 3.5.2. Afastamento para Exercício de Mandato Ele- tivo Art. 94. Ao servidor investido em mandato eletivo aplicam-se as seguintes disposições: I – tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital, ficará afastado do cargo; II – investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, sen- do-lhe facultado optar pela sua remuneração; III – investido no mandato de vereador: a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo; b) não havendo compatibilidade de horário, será afastado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração. § 1º No caso de afastamento do cargo, o servidor contribuirá para a seguridade social como se em exercício estivesse. § 2º O servidor investido em mandato eletivo ou classista não poderá ser removido ou redistribuído de ofício para localidade diver- sa daquela onde exerce o mandato. Caso o servidor público seja eleito para o desempenho de mandato eletivo, devem ser aplicadas as seguintes disposições: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 94 a) tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital (cargos de depu- tado federal e estadual, senador, governador, presidente) ficará afastado do cargo, devendo, obrigatoriamente, receber a remuneração do cargo eletivo. b) investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, sendo-lhe facultado optar por uma das remunerações, se a do cargo efetivo ou a do cargo eletivo. c) investido no mandato de vereador, deve ser verificado, inicialmente, se há ou não a compatibilidade de horários para o exercício das duas atividades. Em caso positivo, poderá o agente acumular as duas atividades e remu- nerações. Não havendo compatibilidade, deverá o servidor ser afastado do cargo, podendo optar pela remuneração durante o período do mandato. Caso ocorra o afastamento do cargo efetivo (seja para o desempenho de cargos eletivos federais ou estaduais, seja para o exercício do cargo de verea- dor na hipótese de não haver compatibilidade de horários), o servidor deverá contribuir para a seguridade social como se estivesse em exercício. Não poderá o servidor, quando estiver no desempenho de qualquer man- dato eletivo ou classista, ser removido ou redistribuído, de ofício, para locali- dade diferente daquela em que foi eleito. 3.5.3. Afastamento para Estudo ou Missão no Exte- rior Art. 95. O servidor não poderá ausentar-se do País para estudo ou missão oficial, sem autorização do Presidente da República, Pre- sidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Presidente do Supremo Tribunal Federal. § 1º A ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e finda a missão ou estudo, somente decorrido igual período, será permitida nova ausência. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 95 § 2º Ao servidor beneficiado pelo disposto neste artigo não será concedida exoneração ou licença para tratar de interesse particular antes de decorrido período igual ao do afastamento, ressalvada a hipótese de ressarcimento da despesa havida com seu afastamento. § 3º O disposto neste artigo não se aplica aos servidores da carreira diplomática. § 4º As hipóteses, condições e formas para a autorização de que trata este artigo, inclusive no que se refere à remuneração do ser- vidor, serão disciplinadas em regulamento. Para se ausentar do país em virtude de estudo ou missão oficial, deverá o servidor receber a autorização das autoridades máximas dos Poderes Execu- tivo, Legislativo e Judiciário. Com a autorização, poderá o servidor se afastar por um período de até 4 anos. Terminado o afastamento, apenas após o transcurso do mesmo lapso de tempo do afastamento é que o agente estatal poderá, novamente, ausen- tar-se do país. Nesse mesmo sentido, o servidor que tiver sido beneficiado com o afasta- mento em questão não poderá, como regra, ser exonerado do cargo público ou ter o pedido de licença para tratar de interesse particular deferido antes do mesmo lapso de tempo que o afastamento. Poderá ele, contudo, fazer uso desses dois institutos, desde que, para isso, restitua aos cofres públicos as despesas efetuadas com o seu afastamento. 3.5.4. Afastamento para servir em organismo inter- nacional de que o Brasil participe ou com o qual co- opere Art. 96. O afastamento de servidor para servir em organismo inter- nacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere dar-se-á com perda total da remuneração. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 96 Do artigo em análise, observa-seque o afastamento para servir em um organismo internacional acarretará a perda total da remuneração, ainda que a organização tenha o Brasil como um dos participantes ou cooperadores. 3.5.5. Afastamento para Participação em Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu no País Art. 96-A. O servidor poderá, no interesse da Administração, e desde que a participação não possa ocorrer simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, afastar-se do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração, para participar em programa de pós-graduação stricto sensu em institui- ção de ensino superior no País. § 1º Ato do dirigente máximo do órgão ou entidade definirá, em conformidade com a legislação vigente, os programas de capacita- ção e os critérios para participação em programas de pós-gradua- ção no País, com ou sem afastamento do servidor, que serão ava- liados por um comitê constituído para este fim. O servidor poderá afastar-se para participar de programa de pós-gradu- ação stricto sensu, no país, sempre que não for possível a concessão com o desempenho das atividades do cargo ou com a compensação de horários. Dessa forma, deve o Poder Público, inicialmente, verificar se o servidor pode desempenhar as atividades de pós-graduação sem prejuízo de suas atri- buições. Sendo esta possível, não há que se falar em afastamento. Não sendo possível o desempenho das duas atividades, deverá a Admi- nistração, ainda, analisar sobre a viabilidade da sistemática de compensação. Nessa hipótese, o servidor realiza as atividades de pós-graduação durante a jornada de trabalho, compensando o respectivo tempo em momento poste- rior. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 97 Enquadram-se no conceito de pós-graduação stricto sensu os programas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. § 2º Os afastamentos para realização de programas de mestrado e doutorado somente serão concedidos aos servidores titulares de cargos efetivos no respectivo órgão ou entidade há pelo menos 3 (três) anos para mestrado e 4 (quatro) anos para doutorado, inclu- ído o período de estágio probatório, que não tenham se afastado por licença para tratar de assuntos particulares para gozo de licen- ça capacitação ou com fundamento neste artigo nos 2 (dois) anos anteriores à data da solicitação de afastamento. § 3º Os afastamentos para realização de programas de pós-doutorado somente serão concedidos aos servidores titulares de cargos efetivo no respectivo órgão ou entidade há pelo menos quatro anos, incluí- do o período de estágio probatório, e que não tenham se afastado por licença para tratar de assuntos particulares ou com fundamento neste artigo, nos quatro anos anteriores à data da solicitação de afastamento. Três são os títulos de pós-graduação que podem ser objeto de afastamen- to do servidor público. Veja a seguir, como forma de facilitar a compreensão, os requisitos e condições para a utilização de cada uma das modalidades: Mestrado Doutorado Pós-Doutorado Tempo de efetivo exercício para concessão 3 anos 4 anos 4 anos Inclui o tempo de estágio probatório Sim Sim Sim Período que não deve ter utilizado outro tipo de licença (assuntos particulares, capacitação ou com fundamento neste artigo) 2 anos anteriores 2 anos anteriores 4 anos anteriores, com a ressalva de que não se aplica, no prazo, o período de utilização de licença capacitação anterior Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 98 § 4º Os servidores beneficiados pelos afastamentos previstos nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo terão que permanecer no exercício de suas funções após o seu retorno por um período igual ao do afasta- mento concedido. § 5º Caso o servidor venha a solicitar exoneração do cargo ou apo- sentadoria, antes de cumprido o período de permanência previs- to no § 4º deste artigo, deverá ressarcir o órgão ou entidade, na forma do art. 47 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, dos gastos com seu aperfeiçoamento. § 6º Caso o servidor não obtenha o título ou grau que justificou seu afastamento no período previsto, aplica-se o disposto no § 5º deste artigo, salvo na hipótese comprovada de força maior ou de caso fortuito, a critério do dirigente máximo do órgão ou entidade. § 7º Aplica-se à participação em programa de pós-graduação no Exterior, autorizado nos termos do art. 95 desta Lei, o disposto nos §§ 1º a 6º deste artigo. Uma vez afastado para participar de programa de pós-graduação, o servi- dor, ao retornar para o desempenho de suas atividades, deverá permanecer no desempenho de suas atribuições por um período mínimo de tempo igual ao do respectivo afastamento. Como consequência, caso o servidor solicite a exoneração ou a aposen- tadoria do cargo ocupado, deverá ele, como condição para o deferimento do pedido, ressarcir o Poder Público de todos os gastos realizados com o seu afastamento. Situação semelhante ocorre quando o servidor não consegue obter o grau relativo à pós-graduação em que estava inscrito. Nessa hipótese, deverá ele ressarcir o Estado de todos os gastos realizados, ressalvadas as situações em que o motivo da não obtenção do grau deu-se em razão de motivos decorren- tes de caso fortuito ou força maior. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 99 3.6. Concessões Art. 97. Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor ausentar-se do serviço: I – por 1 (um) dia, para doação de sangue; II – pelo período comprovadamente necessário para alistamento ou recadastramento eleitoral, limitado, em qualquer caso, a 2 (dois) dias; III – por 8 (oito) dias consecutivos em razão de: a) casamento; b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela e irmãos. As situações de concessão são aquelas em que o servidor público não tra- balha e, ainda assim, tem o respectivo tempo contado como de efetivo exer- cício, não deixando de receber remuneração durante o período. De acordo com o Estatuto federal, temos a possibilidade de o servidor fa- zer uso das seguintes concessões: Art. 98. Será concedido horário especial ao servidor estudante, quando comprovada a incompatibilidade entre o horário escolar e o da repartição, sem prejuízo do exercício do cargo. § 1º Para efeito do disposto neste artigo, será exigida a compensa- ção de horário no órgão ou entidade que tiver exercício, respeitada a duração semanal do trabalho. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 100 § 2º Também será concedido horário especial ao servidor portador de deficiência, quando comprovada a necessidade por junta médica oficial, independentemente de compensação de horário. § 3º As disposições constantes do § 2º são extensivas ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com deficiência. § 4º Será igualmente concedido horário especial, vinculado à com- pensação de horário a ser efetivada no prazo de até 1 (um) ano, ao servidor que desempenhe atividade prevista nos incisos I e II do caput do art. 76-A desta Lei. Art. 99. Ao servidor estudante que mudar de sede no interesse da administração é assegurada, na localidade da nova residência ou na mais próxima, matrícula em instituição de ensino congênere, em qualquer época, independentemente de vaga. Parágrafo único. O disposto neste artigo estende-se ao cônjuge ou companheiro, aos filhos, ou enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem como aos menores sob sua guarda, com auto- rização judicial. Quanto ao servidor estudante, a Lei n. 8.112/1990 confere a ele a possi- bilidade de ter horário diferenciado nas situações em que haja incompatibi- lidade entre o horário escolar e o da repartição. No entanto, o servidor terá que compensar o respectivo horário, em acordo com a sua chefia imediata. Já para o servidor deficiente, a Lei n. 8.112/1990 é mais flexível, estabe- lecendo a possibilidade de horário diferenciado e não exigindo a compensação de horário. Com a alteração promovidapela Lei n. 13.370, de 2016, o servidor que ti- ver dependente portador de deficiência também fará jus, quando necessário, ao horário diferenciado, não mais sendo exigida a posterior compensação de horário, medida que era necessária antes da edição da mencionada alteração legislativa. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 101 3.7. Tempo de serviço Art. 100. É contado para todos os efeitos o tempo de serviço públi- co federal, inclusive o prestado às Forças Armadas. Art. 101. A apuração do tempo de serviço será feita em dias, que serão convertidos em anos, considerado o ano como de trezentos e sessenta e cinco dias. A Lei n. 8.112/1990 faz uma distinção entre as situações que são compu- tadas como de efetivo exercício e aquelas em que o respectivo tempo apenas será contado para efeito de aposentadoria e disponibilidade. No caso de efetivo exercício, estamos diante de hipóteses em que o ser- vidor desempenha suas atribuições regularmente ou encontra-se afastado mediante alguma concessão legalmente autorizada. Como consequência, há a contribuição para a previdência social e a continuidade no recebimento da remuneração. Nas situações em que o tempo de serviço é contado apenas para efeito de aposentadoria e disponibilidade, não há a contagem de tempo para efeito de efetivo exercício. Contudo, o respectivo período será considerado para efeito de contribuição previdenciária e posterior aposentadoria ou disponibilidade. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 102 Efetivo exercício • O tempo de serviço é contado para todos os efeitos, inclu- sive para efeitos de aposentadoria e disponibilidade. Aposentadoria e disponibilidade • Não há a contagem para efeito de efetivo exercício. Como há contribuição previdenciária, o tempo é contado para fins de aposentadoria e disponibilidade. Independente da categoria de contagem, o tempo do serviço será feito em dias, sendo, posteriormente, convertido em anos. Art. 102. Além das ausências ao serviço previstas no art. 97, são considerados como de efetivo exercício os afastamentos em virtude de: I – férias; II – exercício de cargo em comissão ou equivalente, em órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, Municípios e Distrito Federal; III – exercício de cargo ou função de governo ou administração, em qualquer parte do território nacional, por nomeação do Presidente da República; IV – participação em programa de treinamento regularmente insti- tuído ou em programa de pós-graduação stricto sensu no País, con- forme dispuser o regulamento; V – desempenho de mandato eletivo federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, exceto para promoção por merecimento; VI – júri e outros serviços obrigatórios por lei; VII – missão ou estudo no exterior, quando autorizado o afasta- mento, conforme dispuser o regulamento; VIII – licença: a) à gestante, à adotante e à paternidade; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 103 b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vinte e quatro meses, cumulativo ao longo do tempo de serviço público prestado à União, em cargo de provimento efetivo; c) para o desempenho de mandato classista ou participação de gerência ou administração em sociedade cooperativa constituída por servidores para prestar serviços a seus membros, exceto para efeito de promoção por merecimento; d) por motivo de acidente em serviço ou doença profissional; e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento; f) por convocação para o serviço militar; IX – deslocamento para a nova sede de que trata o art. 18; X – participação em competição desportiva nacional ou convoca- ção para integrar representação desportiva nacional, no País ou no exterior, conforme disposto em lei específica; XI – afastamento para servir em organismo internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere. Das hipóteses elencadas pela norma como de efetivo exercício, nota-se, como semelhança, a necessidade de o servidor ingressar no serviço público federal anteriormente à sua ocorrência. Posteriormente ao ingresso, contam-se como de efetivo exercício as con- cessões e licenças autorizadas pela autoridade competente. Da mesma for- ma, as eventuais designações para ocupar cargo em comissão, para exercer função de governo, para participar de programa de pós-graduação e para servir em organismo internacional, dentre outras, são situações em que há, direta ou indiretamente, a anuência da autoridade competente. Art. 103. Contar-se-á apenas para efeito de aposentadoria e dis- ponibilidade: I – o tempo de serviço público prestado aos Estados, Municípios e Distrito Federal; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 104 II – a licença para tratamento de saúde de pessoal da família do servidor, com remuneração, que exceder a 30 (trinta) dias em perí- odo de 12 (doze) meses. III – a licença para atividade política, no caso do art. 86, § 2º; IV – o tempo correspondente ao desempenho de mandato eletivo federal, estadual, municipal ou distrital, anterior ao ingresso no ser- viço público federal; V – o tempo de serviço em atividade privada, vinculada à Previdên- cia Social; VI – o tempo de serviço relativo a tiro de guerra; VII – o tempo de licença para tratamento da própria saúde que exce- der o prazo a que se refere a alínea “b” do inciso VIII do art. 102. As situações em que o tempo de serviço é contado apenas para efeito de aposentadoria e disponibilidade podem ser divididas em dois grandes núcleos: a) atividades desempenhadas antes do ingresso no serviço público federal: Dessa forma, o tempo de serviço que o servidor público desempenhou, antes da sua investidura no serviço público federal, na iniciativa privada, em órgãos estaduais e municipais ou no desempenho de mandato eletivo (ainda que federal) não é considerado como efetivo exercício. b) licenças e afastamentos que, mesmo ocorridos após o ingresso no serviço público federal, não possuem relação direta com as atri- buições do cargo público: Fazem parte desta contagem o tempo relativo a tiro de guerra, o período de licença para atividade política (do registro da candidatura até o 10º dia após o pleito), o período de licença para tratar da própria saúde que exceder a 24 meses, o período de licença para tratar doença em pessoa da família que exceder a 30 dias em um lapso de 12 meses. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 105 Como forma de facilitar a compreensão, relacionam-se abaixo, de maneira comparativa, as situações em que o tempo de serviço é contado apenas para efeito de aposentadoria e disponibilidade: Atividades desempenhadas antes do ingresso no serviço público federal Atividades que não possuem relação direta com as atribuições do cargo público Tempo de exercício na iniciativa privada Tempo relativo a tiro de guerra Tempo de exercício em órgãos públicos esta- duais ou municipais Período de licença para atividade política (do regis- tro da candidatura até o 10º dia após o pleito) Mandatos eletivos federal, estadual e muni- cipal Período de licença para tratar da própria saúde que exceder a 24 meses Período de licença para tratar doença em pessoa da família que exceder a 30 dias em um lapso de 12 meses § 1º O tempo em que o servidor esteve aposentado será contado apenas para nova aposentadoria. Caso o servidor público tenha sido aposentado e, posteriormente, veri- fica-se que houve vício na concessão da aposentadoria, sendo esta, como consequência, anulada, deverá o servidor retornar à ativa. Nesse caso, o tempo em que o servidor esteve aposentado apenas será utilizado para efeito de cálculo de uma nova aposentadoria. § 2º Será contado em dobro o tempo de serviço prestado às Forças Armadas em operações de guerra. § 3º É vedada a contagem cumulativa de tempo de serviço prestado concomitantemente em mais de um cargo ou função de órgão ou entidades dos Poderes da União, Estado, Distrito Federal e Municí- pio, autarquia, fundação pública, sociedadede economia mista e empresa pública. Como regra, o tempo de serviço prestado às Forças Armadas deverá ser considerado como de efetivo exercício. Quando tais atividades forem desem- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 106 penhadas no âmbito de operações de guerra, o tempo de serviço respectivo será contado em dobro, valorizando assim o exercício de atribuições de alto risco e essenciais à defesa do Estado. Sendo as atividades desempenhadas em regime de acumulação legalmen- te prevista, é vedado ao servidor computar o tempo de serviço de forma cumulativa. Nessas situações, ainda que o servidor possa, posteriormente, obter duas aposentadorias, o tempo de serviço continua sendo contado de forma única. 3.8. Direito de petição Art. 104. É assegurado ao servidor o direito de requerer aos Pode- res Públicos, em defesa de direito ou interesse legítimo. Durante toda a vida funcional, o servidor fará jus a uma série de direitos e estará obrigado a um rol não menos importante de obrigações. Como estamos no meio de órgãos ou entidades que possuem alto grau de hierarquia em suas estruturas, é de extrema importância que o servidor tenha meios de pleitear os direitos que lhe são próprios nas situações em que se sentir coagido ou em que houver descaso por parte dos seus superiores. Tais situações são atendidas por meio do direito de petição. Art. 105. O requerimento será dirigido à autoridade competente para decidi-lo e encaminhado por intermédio daquela a que estiver imediatamente subordinado o requerente. Art. 106. Cabe pedido de reconsideração à autoridade que houver expedido o ato ou proferido a primeira decisão, não podendo ser renovado. Parágrafo único. O requerimento e o pedido de reconsideração de que tratam os artigos anteriores deverão ser despachados no prazo de 5 (cinco) dias e decididos dentro de 30 (trinta) dias. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 107 Art. 107. Caberá recurso: I – do indeferimento do pedido de reconsideração; II – das decisões sobre os recursos sucessivamente interpostos. § 1º O recurso será dirigido à autoridade imediatamente superior à que tiver expedido o ato ou proferido a decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais autoridades. § 2º O recurso será encaminhado por intermédio da autoridade a que estiver imediatamente subordinado o requerente. Art. 108. O prazo para interposição de pedido de reconsideração ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar da publicação ou da ciência, pelo interessado, da decisão recorrida. Art. 109. O recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo, a juízo da autoridade competente. Parágrafo único. Em caso de provimento do pedido de reconside- ração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagirão à data do ato impugnado. Para entendermos como funciona a sistemática dos pedidos, reconside- ração e recursos, vamos a um esquema que nos ajudará a visualizar todo o processo: Servidor entra com o requerimento administrativo O prazo para entrar com o pedido de reconsideração é de 30 dias Feita a reconsideração, a mesma autoridade que julgou o processo anteriormente terá o prazo de 5 dias para despachar e 30 para decidir Tal requerimento é direcionado à autoridade que terá competência para decidir Da decisão da autoridade, cabe pedido de reconsideração ' Da decisão da reconsideração, cabe recurso no prazo de 30 dias Quem encaminha o requerimento é a autoridade imediatamente superior do servidor A autoridade competente possui o prazo de 5 dias para despachar e 30 dias para julgar Da decisão do recurso, cabe novo pedido de recurso, de acordo com a estrutura do órgão ou entidade Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 108 Art. 110. O direito de requerer prescreve: I – em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse patri- monial e créditos resultantes das relações de trabalho; II – em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo quando outro prazo for fixado em lei. Parágrafo único. O prazo de prescrição será contado da data da publicação do ato impugnado ou da data da ciência pelo interessa- do, quando o ato não for publicado. Por óbvio que os servidores terão um lapso de tempo para requerer aquilo que entenderem de direito. Nesse sentido, devemos fazer uso do artigo 110 da Lei n. 8.112/1990, que estabelece o prazo prescricional para o direito de petição do servidor público federal: Os respectivos prazos serão contados da data em que o ato for publicado no meio oficial. Quando não ocorrer a publicação, o início da contagem será a data em que o servidor tiver conhecimento do teor do ato. Art. 111. O pedido de reconsideração e o recurso, quando cabíveis, interrompem a prescrição. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 109 Art. 112. A prescrição é de ordem pública, não podendo ser rele- vada pela administração. Art. 113. Para o exercício do direito de petição, é assegurada vista do processo ou documento, na repartição, ao servidor ou a procu- rador por ele constituído. Art. 114. A administração deverá rever seus atos, a qualquer tempo, quando eivados de ilegalidade. Art. 115. São fatais e improrrogáveis os prazos estabelecidos neste Capítulo, salvo motivo de força maior. Tanto a reconsideração (que é dirigida à mesma autoridade que decidiu) quanto o recurso (que é dirigido a uma autoridade superior) possuem o con- dão de interromper a prescrição. Uma vez ocorrida a interrupção, o prazo, após a ação do servidor, retorna à sua integralidade, ainda que a decisão res- pectiva tenha sido tomada após o lapso total de tempo. Para exercer o direito de petição, o servidor ou o procurador por ele cons- tituído terá amplo acesso aos documentos produzidos na repartição. Estabelece a lei que os prazos referentes ao direito de petição são fatais e improrrogáveis, estabelecendo como única exceção as situações decorrentes de força maior. Por força maior pode-se entender todos os atos que, alheios à vontade das partes, impossibilitam a realização de determinado ato. Como exemplo, citam-se os eventos da natureza, tais como os desastres decorren- tes de chuvas e ventos. Por fim, a norma consagra (ao determinar que a administração deve- rá rever seus atos, a qualquer tempo, quando eivados de ilegalidade) o princípio da autotutela. De acordo com o princípio em questão, a Adminis- tração pode tanto anular quanto revogar os atos administrativos por ela edi- tados, não havendo necessidade de recorrer ao Poder Judiciário. Tais prerrogativas da Administração estão consagradas na Súmula n. 473 do STF, que apresenta a seguinte redação: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 110 A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalva- da, em todos os casos, a apreciação judicial. Como consequência, sempre que a Administração verificar a existência de algum tipo de regularidade, deverá fazer uso da autotutela e anular o respec- tivo ato administrativo. 4. Regime Disciplinar 4.1. Introdução Nos termos da Lei n. 8.112/1990, o regime disciplinar dos servidores está construído em cinco capítulos: deveres, proibições, acumulação, respon- sabilidades e penalidades. 4.2. Deveres Art. 116. São deveres do servidor: I – exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; II – ser leal às instituições a que servir; III – observar as normas legais e regulamentares; IV – cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais; V – atender com presteza: a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, res- salvadas as protegidas por sigilo; b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento de situações de interesse pessoal; c) às requisições para a defesa daFazenda Pública. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 111 VI – levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver sus- peita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração; VII – zelar pela economia do material e a conservação do patrimô- nio público; VIII – guardar sigilo sobre assunto da repartição; IX – manter conduta compatível com a moralidade administrativa; X – ser assíduo e pontual ao serviço; XI – tratar com urbanidade as pessoas; XII – representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder. Parágrafo único. A representação de que trata o inciso XII será encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela autoridade supe- rior àquela contra a qual é formulada, assegurando-se ao represen- tando ampla defesa. De acordo com o estatuto federal, temos uma série de deveres para os servidores públicos regidos pela norma. Salienta-se que a lista de deveres apresentada não é taxativa, mas sim meramente exemplificativa, de forma que o servidor não pode alegar que deixou de cumprir com alguma obrigação por ela não estar prevista expressamente no texto da norma que rege a sua categoria funcional. A lista de deveres apresentada pelo Estatuto Federal pode ser dividida em duas diferentes vertentes: deveres pertinentes ao comportamento fun- cional e deveres relativos ao comportamento profissional. No primeiro caso, ou seja, nos deveres funcionais, estamos diante de obrigações que devem ser cumpridas pelos agentes que ocupam cargos pú- blicos em razão da sua condição de servidores estatais. Caso tais pessoas não fossem servidores, não haveria o menor sentido em exigir o cumprimento desses deveres. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 112 Os deveres comportamentais, por outro lado, são aqueles que indepen- dem da condição de servidor público, sendo inerentes a todas as atividades profissionais desempenhadas pelos particulares. São deveres que possuem uma maior amplitude, uma vez que as pessoas deverão observá-los, não ape- nas até o momento em que possuírem algum vínculo com o Poder Público, como também nas atividades particulares ou após o término do vínculo estatal. Vejamos quais são os deveres funcionais e comportamentais apresenta- dos pela Lei n. 8.112/1990: Deveres funcionais Deveres comportamentais I – exercer com zelo e dedicação as atribui- ções do cargo; V – atender com presteza: a) ao público em geral, prestando as informa- ções requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento de situa- ções de interesse pessoal; c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública. VI – levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhecimento da auto- ridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração; VIII – guardar sigilo sobre assunto da repar- tição; XII – representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder. II – ser leal às instituições a que servir; III – observar as normas legais e regulamen- tares; IV – cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais; VII – zelar pela economia do material e a con- servação do patrimônio público; IX – manter conduta compatível com a mora- lidade administrativa; X – ser assíduo e pontual ao serviço; XI – tratar com urbanidade as pessoas; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 113 4.3. Proibições No tocante às proibições, temos que identificar, além da lista de possibili- dades estipuladas pela Lei n. 8.112/1990, qual a penalidade cabível quando do seu descumprimento. Para efeito das proibições que serão elencadas daqui por diante, três penas são possíveis de serem aplicadas: advertência, suspensão e demissão. Tais penalidades obedecem a uma gradação estabelecida pelo legislador, de forma que as infrações mais leves recebem advertência; as de nível inter- mediário (ou reincidências de advertência), suspensão; e as de maior gravi- dade são punidas com demissão. Art. 117. Ao servidor é proibido: I – ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia auto- rização do chefe imediato; II – retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qual- quer documento ou objeto da repartição; III – recusar fé a documentos públicos; IV – opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou execução de serviço; V – promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição; VI – cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previs- tos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsa- bilidade ou de seu subordinado; VII – coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou a partido político; VIII – manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de con- fiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil; XIX – recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 114 Nos primeiros incisos do artigo 117, bem como no seu inciso XIX, a Lei n. 8.112/1990 estabelece as proibições que são consideradas menos gravosas. Vejamos brevemente cada uma das situações elencadas: a) ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia auto- rização do chefe imediato Como decorrência da hierarquia das relações internas, o servidor apenas pode ausentar-se do serviço, no período de expediente, se tiver anuência da chefia imediata. Evita-se, com isso, que boa parte dos servidores da reparti- ção se ausente ao mesmo tempo, situação que prejudicaria o atendimento à população. b) retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qual- quer documento ou objeto da repartição O princípio da indisponibilidade do interesse público estabelece que a ad- ministração, quando no desempenho de suas atividades, deve apenas gerir o patrimônio alheio, não possuindo qualquer “disposição” sobre o mesmo. Logo, é incabível que o servidor retire qualquer documento ou objeto da re- partição, ficando excepcionadas as situações em que a autoridade competen- te anui previamente. c) recusar fé a documentos públicos Não pode o servidor público recusar-se a receber qualquer tipo de docu- mento oficial, exceto se houver suspeita de fraude ou de algum outro tipo de irregularidade. O conceito de documento oficial abarca os emanados de quaisquer órgãos ou entidades públicas. d) opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou execução de serviço; O servidor público federal não pode opor resistência injustificada ao an- damento de documento ou processo. Da mesma forma, não pode opor-se, injustificadamente, quanto à execução de serviço. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 115 Em ambos os casos, nota-se que a oposição do servidor apenas caracteriza uma proibição quando for feita de forma injustificada. Caso, em sentido oposto, o servidor verifique que um determinado processo, documento ou serviço contém algum tipo de vício, não deverá ele dar prosseguimento, devendo adotar as me- didas legalmente cabíveis com o objetivo de apurar a irregularidade. e) promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição; Como decorrência do princípio da Impessoalidade, a prestação de serviço público deve ser feita de forma isonômica para todos os administrados. Nes- se mesmo sentido, o serviço interno deve ser executado de forma imparcial, evitando que convicções pessoais atrapalhem o ambiente de trabalho. Manifestar apreço, dessa forma, é demonstrar uma elevada predileção por algum colega, pessoa ou coisa. Em sentido oposto, a manifestação de desapreço pode ser entendida como a demonstração pública de insatisfação com tais entes. Salienta-se que o objetivo da norma não é o de proibir que o servidor te- nha convicções, crenças ou preferências. O que a norma quer evitar éque tais sentimentos sejam externados aos demais colegas e particulares, evitando-se assim que o ambiente de trabalho seja objeto de disputas e preferências. f) cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previs- tos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabili- dade ou de seu subordinado; Nessa situação, o servidor deixa de praticar uma atribuição legalmente prevista para o seu cargo, transferindo o seu exercício para um terceiro não lotado na repartição pública. g) coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a asso- ciação profissional ou sindical, ou a partido político; Estabelece a Constituição Federal a liberdade de associação sindical como um direito fundamental de todos os particulares. Não pode o servidor públi- co, como consequência, fazer uso de suas prerrogativas hierárquicas para influenciar a filiação de subordinados à sindicato ou associação. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 116 h) manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil; Os cargos e funções de confiança são de livre escolha pela autoridade su- perior, que pode, de forma semelhante, retirar a função ou o cargo comissio- nado quando entender conveniente para o serviço público. Considerando que o exercício de tais funções está pautado em uma re- lação de confiança, ao estabelecer a mencionada proibição, a intenção do legislador foi a de evitar que tais prerrogativas fossem concentradas em um mesmo núcleo familiar, dando ensejo à prática de nepotismo. Nesse aspecto, merece destaque o inteiro teor da Súmula Vinculante n. 13, da lavra do STF, que apresenta a seguinte redação: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessora- mento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreen- dido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. Dessa forma, ainda que o texto da norma vede o exercício para parentes até o segundo grau, o entendimento majoritário, conforme se observa da Súmula do STF, é de que a proibição deve ser observada até o terceiro grau. Lei n. 8.112/1990 • Proibição de manter sob chefia parentes até o segundo grau STF • Proibição de manter sob chefia parentes até o terceiro grau i) recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado. A exigência de que seus servidores mantenham os dados cadastrais atu- alizados é um dos mecanismos de controle interno da Administração Pública. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 117 Caso o servidor, intimado pelo Poder Público a atualizar seus dados cadas- trais, não o faça no prazo legal, será ele penalizado até que a obrigação seja cumprida. XVII – cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias; XVIII – exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho; Como consequência para as duas proibições em questão, o servidor será suspenso, até o prazo de 90 dias, do exercício de suas atividades. Du- rante esse tempo, ficará sem receber sua remuneração e sem contar o tempo de serviço como de efetivo exercício. Na primeira situação, o servidor comete a um colega da repartição atribui- ções que são estranhas ao cargo que ocupa. E como as atribuições de cada cargo são definidas por meio de lei, há uma ofensa direta ao princípio da le- galidade. No segundo caso, o servidor exerce atividades particulares que são incom- patíveis com o exercício do cargo público ou com o horário de trabalho. Como exemplo, cita-se o agente estatal que possui jornada de trabalho das 12h às 19h e que, ainda assim, utiliza parte do período vespertino para divulgar, ex- ternamente à repartição, produtos que são comercializados por cônjuges e familiares. X – participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário; Parágrafo único. A vedação de que trata o inciso X do caput deste artigo não se aplica nos seguintes casos: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 118 I – participação nos conselhos de administração e fiscal de empre- sas ou entidades em que a União detenha, direta ou indiretamente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa consti- tuída para prestar serviços a seus membros; e II – gozo de licença para o trato de interesses particulares, na forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação sobre conflito de inte- resses. Como regra, o servidor público federal não pode exercer o comércio, uma vez que tal conduta poderia implicar em conflito de interesses com as ativida- des desempenhadas no âmbito do serviço público. A proibição, contudo, fica restrita para os casos de gerência ou adminis- tração. Em sentido oposto, poderá o servidor ser cotista, acionista ou coman- ditário de uma empresa privada, uma vez que, nessas hipóteses, o agente público não estará sendo o responsável pelas decisões da sociedade. Da mesma forma, caso o servidor faça uso da licença para tratar de inte- resses particulares, poderá ele, durante o período em que estiver licenciado do cargo e sem o recebimento de remuneração dos cofres públicos, exercer o comércio. Para isso, deverá observar a legislação relativa ao conflito de in- teresses, não podendo, como consequência, desempenhar qualquer tipo de atividade que conflite com as atribuições do cargo público ou com o interesse da administração. Por fim, temos como exceção à regra da impossibilidade de exercer o co- mércio a participação em conselhos administrativos e fiscais de empresas em que a União detenha participação no capital social ou, ainda, a participação em sociedades cooperativas. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 119 XI – atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou com- panheiro; Impede a Lei n. 8.112/1990 que o servidor exerça a conhecida advocacia administrativa, prática na qual o agente público, por meio do tráfico de in- fluências e fazendo uso da sua condição de servidor, trata de maneira mais benéfica as pessoas que representa. Em caráter de exceção, a norma possibilita que os servidores federais atuem como procuradores ou intermediários junto a repartições públicas. Para que isso ocorra, duas são as características que devem estar presentes: a) a questão versar sobre benefícios previdenciários ou assistenciais; b) os benefícios forem concedidos a cônjuge, companheiro ou paren- te até o segundo grau do servidor. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 120 IX – valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública; XII – receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual- quer espécie, em razão de suas atribuições; XIII – aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro; XIV – praticar usura sob qualquer de suas formas; XV – proceder de forma desidiosa; XVI – utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em servi- ços ou atividades particulares; Em todas as situações elencadas nos incisos IX e XII a XVI, o resulta- do será a demissão do servidor público. Tais hipóteses de proibições, dessa forma, são as mais gravosas para o serviço público como um todo, violando drasticamente um ou mais princípios administrativos e acarretando, muitas vezes, a dilapidação do patrimônio público. Merece destaque, dos incisosmencionados, a prática de usura e a atuação de forma desidiosa. No que se refere à usura, esta pode ser configurada como a prática em que um servidor público empresta dinheiro para os colegas (ou até mesmo para terceiros) e exige, como contrapartida, o recebimento de juros. Tal me- dida, caso fosse tolerada, poderia contaminar o ambiente de trabalho e pre- judicar as relações entre os diversos servidores de uma repartição pública. A desídia, por outro lado, é o desleixo no desempenho das atividades que são atribuídas ao servidor. Como exemplo, pode-se citar os atrasos constan- tes no cumprimento da jornada de trabalho. 4.4. Acumulação Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 121 § 1º A proibição de acumular estende-se a cargos, empregos e fun- ções em autarquias, fundações públicas, empresas públicas, socie- dades de economia mista da União, do Distrito Federal, dos Esta- dos, dos Territórios e dos Municípios. § 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da compatibilidade de horários. § 3º Considera-se acumulação proibida a percepção de vencimento de cargo ou emprego público efetivo com proventos da inativida- de, salvo quando os cargos de que decorram essas remunerações forem acumuláveis na atividade. Art. 119. O servidor não poderá exercer mais de um cargo em comissão, exceto no caso previsto no parágrafo único do art. 9º, nem ser remunerado pela participação em órgão de deliberação coletiva. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à remu- neração devida pela participação em conselhos de administração e fiscal das empresas públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou indiretamente, detenha par- ticipação no capital social, observado o que, a respeito, dispuser legislação específica. Nos termos da Constituição Federal de 1988, a regra é a vedação à acu- mulação remunerada de dois ou mais cargos públicos. E tal regra se aplica a todos os cargos, empregos e funções da Administração direta ou indireta de todos os entes federados. Assim, ainda que o texto da Lei n. 8.112/1990 seja direcionado apenas aos servidores públicos federais, por força da norma constitucional, a veda- ção à acumulação é uma regra mais ampla e que não se restringe ao ente federativo regulado pelo presente Estatuto. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 122 As exceções, nas estritas hipóteses constitucionais, ficam ainda condicio- nadas à compatibilidade de horário entre os dois cargos públicos ocupados, sendo elas: • Dois cargos de professor; • Um cargo de professor com outro, técnico ou científico; • Dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com pro- fissões regulamentadas. • Permissão de acumulação para os vereadores, desde que atendidos os requisitos legais; • Permissão para os juízes e membros do Ministério Público exercerem o magistério; Situação interessante ocorre com os detentores de cargos em comissão. Tais servidores são pessoas que, muitas vezes, não integram o quadro fun- cional da entidade, sendo designados por indicação do titular da unidade para exercer as funções de direção, chefia ou assessoramento. A proibição de acumular é estendida ao recebimento de proventos decor- rentes da aposentadoria com a remuneração de outro cargo da ativa, exceto quando os dois cargos forem passíveis de acumulação na atividade. Com isso, evita-se a prática do servidor aposentar-se em um cargo público e realizar concurso público com a finalidade de acumular as duas remunerações. Não é considerada acumulação de cargos, empregos ou funções públicas a participação do servidor público federal nos conselhos de administração e fis- cal das empresas públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou indiretamente, detenha participação no capital social (parágrafo único do art. 119). Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 123 Art. 120. O servidor vinculado ao regime desta Lei, que acumular licitamente dois cargos efetivos, quando investido em cargo de pro- vimento em comissão, ficará afastado de ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese em que houver compatibilidade de horário e local com o exercício de um deles, declarada pelas autoridades máximas dos órgãos ou entidades envolvidos. Ressalta-se, por fim, que, quando o servidor público acumular licitamente dois cargos públicos e investir-se em cargo de provimento em comissão, de- verá afastar-se de ambos os cargos efetivos, exercendo, como regra, apenas as atribuições do cargo em comissão. Caso, no entanto, haja compatibilidade de horários para o exercício simul- tâneo de um cargo efetivo com o cargo em comissão, poderá ocorrer a acumu- lação, desde que haja, para tal, a declaração da compatibilidade de horários declarada pelas autoridades máximas dos órgãos ou entidades envolvidas. 4.5. Responsabilidades Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercício irregular de suas atribuições. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 124 Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comis- sivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a ter- ceiros. § 1º A indenização de prejuízo dolosamente causado ao erário somente será liquidada na forma prevista no art. 46, na falta de outros bens que assegurem a execução do débito pela via judicial. § 2º Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o servi- dor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva. § 3º A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra eles será executada, até o limite do valor da herança rece- bida. Art. 123. A responsabilidade penal abrange os crimes e contraven- ções imputadas ao servidor, nessa qualidade. Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou função. De acordo com as disposições da Lei n. 8.112/1990, três são as esferas de responsabilidade a que os servidores públicos federais estão submetidos, sendo elas: civil, administrativa e penal. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros. Enquadram-se no conceito de responsabilidade civil todas as ações ou omissões do servidor público que, agindo em nome da administração, cause algum dano ao parti- cular ou ao próprio Poder Público. Nesse caso, considerando que vigora, em nosso ordenamento jurídico, a teoria da imputação (por meio do qual todas as ações do servidor, no desem- penho de suas atividades, são atribuídas ao órgão ou à entidade no qual ele desempenha suas atribuições), caberá ao Poder Público, inicialmente, res- ponder pelos danos causados. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 125 Tendo a administração indenizado o particular, verifica ela se a atuação do agente público ocorreu com dolo ou culpa. Em caso positivo, pode ajuizar uma ação regressiva contra o servidor. Julgada a ação regressiva e sendo o servidor condenado a restituir os cofres públicos, será este intimado para pa- gar o valor devido no prazo de 30 dias. Não o fazendo e não possuindo bens que possam garantir a execução, poderá ser deferido parcelamento, desde que o valor das parcelas não seja inferior a 10% da remuneração, pensão ou proventos recebidos pelo agente estatal. A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputa- das ao servidor, nessa qualidade, conforme previsão do artigo 123 da Lei n. 8.112/1990. A responsabilidade administrativa, por sua vez, resulta de ato omissi- vo ou comissivo praticado pelo servidor no desempenho do cargo ou função. Art. 125. As sanções civis, penais e administrativaspoderão cumu- lar-se, sendo independentes entre si. Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será afas- tada no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria. As três esferas de responsabilização são independentes, de forma que é perfeitamente cabível que duas ou mais delas sejam acumuladas e imputadas ao servidor. A regra da acumulação de esferas, no entanto, apresenta duas ex- ceções, que são as situações em que a absolvição na esfera penal acarreta a absolvição na esfera administrativa. Para que isso ocorra, não basta a simples absolvição penal, mas sim que esta expressamente negue a existência do fato ou de sua autoria. No primei- ro caso, prova-se que o fato imputado ao servidor não ocorreu. No segundo, ainda que o fato tenha ocorrido, a autoria da infração comprovadamente não é do servidor. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 126 Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado civil, penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra autori- dade competente para apuração de informação concernente à práti- ca de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou função pública. Como forma de incentivar que as práticas de improbidade administrativa e de crimes contra a Administração Pública sejam denunciadas, a Lei n. 12.527 promoveu a inclusão do mencionado artigo no Estatuto dos servidores. Com isso, objetiva-se garantir uma maior segurança aos servidores que, em virtude de suas atribuições, têm conhecimento da prática das referidas infrações. Assim, não podem eles ser responsabilizados por terem dado ciência à autoridade superior do cometimento de improbidade ou crime contra a Ad- ministração. Caso os servidores desconfiem que a autoridade imediatamente superior esteja envolvida no cometimento das infrações, darão ciência a au- toridade diversa, evitando, com isso, que a informação não seja investigada. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 127 4.6. Penalidades Art. 127. São penalidades disciplinares: I – advertência; II – suspensão; III – demissão; IV – cassação de aposentadoria ou disponibilidade; V – destituição de cargo em comissão; VI – destituição de função comissionada. Art. 128. Na aplicação das penalidades serão consideradas a natu- reza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provie- rem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenu- antes e os antecedentes funcionais. Parágrafo único. O ato de imposição da penalidade mencionará sempre o fundamento legal e a causa da sanção disciplinar São apenas essas as penalidades que passíveis de aplicação, ou seja, tra- ta-se de uma lista taxativa. Assim, não poderá a autoridade competente ino- var e criar uma nova modalidade de penalidade para ser aplicada ao servidor. Da mesma forma, antes da aplicação de toda e qualquer penalidade, deve ser garantido o contraditório e a ampla defesa, sob pena de ser invalidado todo o processo de aplicação. Art. 129. A advertência será aplicada por escrito, nos casos de vio- lação de proibição constante do art. 117, incisos I a VIII e XIX, e de inobservância de dever funcional previsto em lei, regulamentação ou norma interna, que não justifique imposição de penalidade mais grave. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 128 De acordo com o estatuto federal, as seguintes condutas acarretam a apli- cação da penalidade de advertência: a) Ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe imediato; b) Retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer do- cumento ou objeto da repartição; c) Recusar fé a documentos públicos; d) Opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou execução de serviço; e) Promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição; f) Cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade ou de seu subordinado; Destaca-se que um cuidado maior deve ser dado a essa conduta, uma vez que ela vai contra o nível hierárquico das punições se compararmos com uma das condutas ensejadoras de suspensão, que é o cometimento, a outro servidor, de atribuições estranhas ao cargo que ocupa. Em um primeiro momento, pode parecer que cometer uma atividade estra- nha a um servidor é bem menos grave do que cometer uma atribuição a uma pessoa estranha ao serviço público. No entanto, não foi esta a opção adotada pelo legislador, sendo que devemos considerar, para efeitos de prova, as se- guintes penalidades: Advertência • Cometer a pessoa estranha à repartição o desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade ou de seu subordinado Suspensão • Cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ocupa g) Coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou a partido político; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 129 h) Manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, côn- juge, companheiro ou parente até o segundo grau civil; i) Recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado Art. 130. A suspensão será aplicada em caso de reincidência das faltas punidas com advertência e de violação das demais proibições que não tipifiquem infração sujeita a penalidade de demissão, não podendo exceder de 90 (noventa) dias. § 1º Será punido com suspensão de até 15 (quinze) dias o servi- dor que, injustificadamente, recusar-se a ser submetido a inspeção médica determinada pela autoridade competente, cessando os efei- tos da penalidade uma vez cumprida a determinação. § 2º Quando houver conveniência para o serviço, a penalidade de suspensão poderá ser convertida em multa, na base de 50% (cin- quenta por cento) por dia de vencimento ou remuneração, ficando o servidor obrigado a permanecer em serviço. De acordo com as disposições da Lei n. 8.112/1990, encontramos as infra- ções passíveis de aplicação da penalidade de suspensão pelo critério residual. Dessa forma, as violações que não forem caracterizadas como advertência ou demissão serão penalizadas com a suspensão. a) Cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias; b) Exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho; c) Reincidência das faltas punidas com advertência; c) Recusar-se a ser submetido a inspeção médica determinada pela au- toridade competente. Nesse caso, a penalidade de suspensão será de até 15 dias, cessando seus efeitos quando o servidor cumprir a obrigação. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 130 Importante sabermos que a suspensão não pode ser aplicada por pra- zo superior a 90 dias, bem como que, a critério da autoridade competente, dentro das situações em que for conveniente para o serviço público, a pena de suspensão poderá ser substituída por multa de 50% por dia trabalhado. COMENTárIO:� Exemplificando Imaginemos uma situação em que um servidor foi punido com suspensão. No entanto, como a repartição em questão possui poucos servidores, seria mais danoso para o serviço público se o servidor penalizado permanecesse sem trabalhar durante o prazo de cumprimento da penalidade. Ainda que a administração tenha o dever de punir, essa punição não poderá resultar em um prejuízo maior à sociedade, haja vista ser esta a titular do interesse público. Assim, como meio de penalizar o servidor e não prejudi- car a população, a administração poderá converter a pena de suspensão em uma multa, situação em que o servidor permanecerá trabalhando e receberá apenas 50% do que ganharia por dia normal de trabalho. Art. 131. As penalidades de advertência e de suspensão terão seus registros cancelados, apóso decurso de 3 (três) e 5 (cinco) anos de efetivo exercício, respectivamente, se o servidor não houver, nesse período, praticado nova infração disciplinar. Parágrafo único. O cancelamento da penalidade não surtirá efei- tos retroativos. No que se refere às sanções de advertência e suspensão, temos que estas, depois de decorrido certo lapso de tempo, terão seus registros cancelados dos assentamentos funcionais do servidor que houver sofrido a penalidade, sem que tal providência gere qualquer espécie de direito retroativo. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 131 COMENTárIO:� Exemplificando Caso um servidor tenha sido penalizado com suspensão e esta, por conve- niência do serviço público, tenha sido convertida em multa de 50% por dia de trabalho, deverá o servidor, nesse período, continuar no exercício de suas atividades, oportunidade em que receberá, durante o período da punição, apenas metade da sua remuneração. Decorrido o prazo de 5 anos, caso o servidor não tenha incorrido em uma nova infração disciplinar, os registros da penalidade de suspensão serão can- celados dos registros do servidor. Nesse caso, não poderá ele requerer o recebimento da remuneração que deixou de ganhar quando da aplicação da penalidade, uma vez que o cance- lamento desta não gera direitos retroativos. Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: I – crime contra a administração pública; II – abandono de cargo; III – inassiduidade habitual; IV – improbidade administrativa; V – incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição; VI – insubordinação grave em serviço; VII – ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem; VIII – aplicação irregular de dinheiros públicos; IX – revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo; X – lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; XI – corrupção; XII – acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas; XIII – transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 132 Das hipóteses elencadas, merecem destaque as situações de inassiduida- de habitual e de abandono de cargo. Caracteriza-se a inassiduidade habitual quando o servidor falta ao serviço, sem justificativa, por 60 dias, interpoladamente, durante o período de 12 me- ses, que são contados da data da ocorrência da primeira falta. Estará configurado abandono de cargo quando o servidor deixar, intencio- nalmente, o cargo e não retornar no prazo consecutivo de 30 dias. Quanto à demissão, não existe a possibilidade desta ser excluída dos as- sentamentos funcionais dos servidores. Trata-se a demissão de um ato vin- culado, de forma que, quando da sua ocorrência, não terá a administração a discricionariedade de optar pela aplicação de outra penalidade, conforme se observa de importante entendimento do STJ (MS 12217): A Administração Pública, quando se depara com situações em que a conduta do investigado se amolda nas hipóteses de demissão ou cassação de aposentadoria, não dispõe de discricionariedade para aplicar pena menos gravosa por tratar-se de ato vinculado. Art. 134. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do inativo que houver praticado, na atividade, falta punível com a demissão. Caso um servidor cometa, na atividade, falta punível com demissão, e sendo a infração descoberta apenas após a aposentadoria do servidor (ou quando este se encontrar em disponibilidade), a respectiva aposentadoria ou disponibilidade será cassada, sofrendo o servidor, como consequência, os mesmos efeitos daqueles que se encontram na ativa. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 133 Art. 135. A destituição de cargo em comissão exercido por não ocupante de cargo efetivo será aplicada nos casos de infração sujei- ta às penalidades de suspensão e de demissão. Parágrafo único. Constatada a hipótese de que trata este artigo, a exoneração efetuada nos termos do art. 35 será convertida em destituição de cargo em comissão. Como anteriormente afirmado, os cargos em comissão podem ser ocupa- dos tanto por servidores efetivos quanto por particulares sem vínculo com o Poder Público. Nesse último caso, e considerando que não há um vínculo pré- vio entre o ocupante do cargo em comissão e a Administração Pública, será ele destituído do cargo quando a infração cometida estiver capitulada com a penalidade de suspensão ou demissão. Art. 136. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, nos casos dos incisos IV, VIII, X e XI do art. 132, implica a indisponibi- lidade dos bens e o ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal cabível. Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, por infringência do art. 117, incisos IX e XI, incompatibiliza o ex-servi- dor para nova investidura em cargo público federal, pelo prazo de 5 (cinco) anos. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 134 Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público federal o servidor que for demitido ou destituído do cargo em comissão por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI. A aplicação da penalidade de demissão poderá acarretar a impossibilida- de de o agente demitido retornar ao serviço público pelo prazo de 5 anos. Em outras situações mais gravosas, não poderá o agente público retornar ao serviço público, independente do lapso temporal. Por fim, certas condutas ensejadoras de demissão acarretam a indisponibilidade dos bens e o ressar- cimento ao erário. Demissão ou destituição de cargo em comissão implicando indis- ponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário Nessas hipóteses, o objetivo do legislador foi o de assegurar que o pa- trimônio do agente causador do dano não seja dilapidado, possibilitando as- sim o ressarcimento dos prejuízos causados ao erário. Nos termos da Lei n. 8.112/1990, estas são as situações que ensejam, cumulativamente, a indis- ponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário: a) improbidade administrativa; b) aplicação irregular de dinheiros públicos; c) lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; d) corrupção; Demissão ou destituição de cargo em comissão implicando em proibição de retornar ao serviço público federal pelo prazo de 5 anos a) valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detri- mento da dignidade da função pública; b) atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de pa- rentes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 135 Demissão ou destituição de cargo em comissão implicando impos- sibilidade de retornar ao serviço público federal indefinidamente a) crime contra a administração pública; b) improbidade administrativa; c) aplicação irregular de dinheiros públicos; d) lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; e) corrupção; Art. 141. As penalidades disciplinares serão aplicadas: I – pelo Presidente da República, pelos Presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da República, quando se tratar de demissão e cassação de apo- sentadoria ou disponibilidade de servidor vinculado ao respectivo Poder, órgão, ou entidade; II – pelas autoridades administrativas de hierarquia imediatamente inferior àquelas mencionadas no inciso anterior quando se tratar de suspensão superior a 30 (trinta) dias; III – pelo chefe da repartição e outras autoridades na forma dos respectivos regimentos ou regulamentos, nos casos de advertência ou de suspensão de até 30 (trinta) dias; IV – pela autoridade que houver feito a nomeação, quando se tratar de destituição de cargo em comissão. A depender da penalidade que está sendo aplicada, teremos diferentes autoridades competentes para a sua aplicação. Nota-se, da relação apresentada pela Lei n. 8.112/1990, que as autori- dades estãoescalonadas de acordo com a gravidade da penalidade que está sendo aplicada: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 136 Demissão ou cassação da aposentadoria ou disponibilidade Presidente da República, pelos Presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo Procura- dor-Geral da República Suspensão superior a 30 dias Autoridades administrativas de hierarquia imediatamente inferior àquelas competentes para aplicação de demissão ou cassação de aposentadoria Advertência e suspensão até 30 dias Chefe da repartição e outras autoridades na forma dos respectivos regimentos ou regulamentos Destituição de cargo em comissão Autoridade que houver feito a nomeação Entretanto, pode o Presidente da República delegar, aos respectivos Minis- tros de Estado, a competência para a aplicação da penalidade de demissão, conforme se observado do julgamento do Mandado de Segurança 7.024, da lavra do STJ: Possibilidade de o Presidente da República delegar aos Ministros de Estado a competência para demitir servidores de seus respectivos quadros – parágrafo único do art. 84, CF. Art. 142. A ação disciplinar prescreverá: I – em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demis- são, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de cargo em comissão; II – em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; III – em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência. § 1º O prazo de prescrição começa a correr da data em que o fato se tornou conhecido. § 2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também como crime. § 3º A abertura de sindicância ou a instauração de processo dis- ciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por autoridade competente. § 4º Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 137 Ainda que a administração possua o dever de punir todas as infrações de que tiver conhecimento, cumpre informar que as penalidades devem ser apli- cadas dentro de um lapso de tempo a partir da data em que o fato se tornou conhecido. E isso em plena consonância com o princípio da segurança jurídica, uma vez que não é admitida, em nosso ordenamento, a possibilidade de haver punições imprescritíveis. Em outras palavras, isso implica em afirmar que, mesmo que um servidor tenha cometido uma infração e esta seja do conhecimento da administração, caso a repartição competente não tome as medidas legais (aplicação da pe- nalidade) dentro de um determinado período, não mais poderá o fazer, uma vez que a ação disciplinar estará prescrita. Nesse sentido, os prazos prescricionais previstos na norma federal apenas começam a contar da data em que as condutas se tornaram conhecidas por alguma autoridade administrativa. COMENTárIO:� Exemplificando Suponhamos que um servidor tenha cometido, em janeiro de 2013, uma infração disciplinar passível de aplicação de suspensão. No entanto, por moti- vos diversos, a autoridade administrativa apenas tomou conhecimento da infração cometida em junho de 2015. Nessa situação, o prazo prescricional (que, no caso da suspensão, é de 2 anos) apenas terá início em junho de 2015, ou seja, na data em que o fato se tornou conhecido por parte da administração. Sendo a infração de conhecimento de alguma autoridade administrativa, esta deverá, dentro do prazo prescricional legalmente previsto, instaurar sin- dicância ou processo administrativo disciplinar (a depender da gravidade da infração) com a finalidade de apurar todos os fatos ocorridos. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 138 Uma vez instaurada a sindicância ou o PAD, o prazo prescricional é inter- rompido. Isso implica em dizer que, após o término de algum dos procedi- mentos, o prazo prescricional volta a ser contado desde o seu início. Essa, aliás, é a principal diferença entre a suspensão e a interrupção da contagem dos prazos da norma, ou seja, o fato do prazo, após o término da sindicância ou PAD, ser contado novamente do início ou pelo número de dias restantes. Relaciona-se abaixo, com o objetivo de facilitar a memorização, a prescri- ção de cada uma das penalidades da Lei n. 8.112/1990: Penalidade Prescrição Demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e desti- tuição de cargo em comissão 5 anos Suspensão 2 anos Advertência 180 dias 5. Processo Administrativo 5.1. Disposições gerais Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no servi- ço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, median- te sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa. § 3º A apuração de que trata o caput, por solicitação da autorida- de a que se refere, poderá ser promovida por autoridade de órgão ou entidade diverso daquele em que tenha ocorrido a irregularida- de, mediante competência específica para tal finalidade, delegada em caráter permanente ou temporário pelo Presidente da Repúbli- ca, pelos presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos Tribu- nais Federais e pelo Procurador-Geral da República, no âmbito do respectivo Poder, órgão ou entidade, preservadas as competências para o julgamento que se seguir à apuração. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 139 Art. 144. As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apu- ração, desde que contenham a identificação e o endereço do denun- ciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a autenticidade. Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada, por falta de objeto. Além das normas materiais, a Lei n. 8.112/1990 estabelece uma série de procedimentos que devem ser observados para a aplicação das penalidades nela previstas. O processo administrativo disciplinar, dessa forma, pode ser conceituado, de acordo com a definição de Ladisael Bernado e Sérgio Viana, da seguinte forma: Um instrumento formal em que a Administração Pública, tendo como suporte o jus puniendi do Estado (via Poder Disciplinar, espécie do gênero Poder Admi- nistrativo), apura a existência de infrações de natureza funcional praticadas por seus servidores e, caso o apuratório resulte pela autoria da prática infracional, aplica a sanção adequada e prevista em instrumento legal pertinente. Importante frisar que a autoridade competente, tendo conhecimento de alguma irregularidade cometida no âmbito do serviço público, tem o dever de apurar as faltas cometidas. Caso o conhecimento da autoridade tenha ocorrido por meio de denúncia, esta deverá conter a identificação e o endereço do denunciante, além de ser formulada por escrito e confirmada a autenticidade. Quando a denúncia não configurar infração administrativa ou ilícito penal, será arquivada pela autori- dade competente, uma vez que, nesse caso, haverá falta de objeto. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 140 Trata-se a apuração das irregularidades, dessa forma, de uma medida vin- culada do Poder Público, podendo desenvolver-se por meio de sindicância ou de processo administrativo disciplinar. Salienta-se que a apuração não precisa, necessariamente, ser feita pela autoridade que estiver sendo lesada com a irregularidade cometida pelo ser- vidor. Nesse sentido, a Lei n. 8.112/1990 estabelece a possibilidade de dele- gação, para órgãos ou entidades diversos daqueles em que a infração tenha ocorrido, das atividades de apuração. Para que isso seja possível, a delegação deve ser feita pelas autoridades máximas dos respectivos Poderes da República. No âmbito do Poder Executivo, caberá ao Presidente da República; no Le- gislativo, aos Presidentes das respectivas Casas (Senado Federal e Câmara de Deputados); no Judiciário, aos Presidentes dos Tribunais Federais; no âmbito do Ministério Público da União, ao Procurador-Geral da República. A possibilidade de delegação, contudo,não alcança todas as fases do processo administrativo ou da sindicância, mas sim apenas as etapas destinadas à apuração das irregularidades. O julgamento do processo, que é a etapa posterior à apuração, continua sendo de competência da autoridade legalmente prevista, sem possibilidade de delegação. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 141 Fase das investigações Pode ser delegada Não retira a competência originária para o julgamento Fase do julgamento Não pode ser delegada Exercida pelas autoridades legalmente previstas 5.2. Sindicância Art. 145. Da sindicância poderá resultar: I – arquivamento do processo; II – aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias; III – instauração de processo disciplinar. Parágrafo único. O prazo para conclusão da sindicância não exce- derá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por igual período, a critério da autoridade superior. A sindicância pode ser conceituada como uma investigação preliminar com o objetivo de averiguar o cometimento de infrações pelos servidores. O prazo para o encerramento da sindicância é de 30 dias, podendo ser prorrogado, uma única vez, por mais 30 dias. Como resultado da sindicância, poderemos ter o arquivamento do pro- cesso, a aplicação das penalidades de advertência ou de suspensão até 30 dias ou, no caso de constatação de infração com maior gravidade, a instauração de processo administrativo disciplinar. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 142 A sindicância pode ser dividida em duas modalidades, sendo elas a pre- paratória e a punitiva. Teremos a sindicância preparatória quando a estrita finalidade da sua instauração for a de servir como base para o processo ad- ministrativo disciplinar. A sindicância punitiva, por sua vez, ocorre quando o procedimento, por si só, enseja a aplicação de alguma das penalidades pre- vistas em lei. Nota-se, assim, que o fato que distingue as duas modalidades é um só: a punição que será aplicada. COMENTárIO:� Exemplificando A sindicância representa o início das investigações. Por meio dela, a autorida- de administrativa cumpre uma série de diligências com o objetivo de coletar provas que comprovem se realmente houve uma infração funcional disciplinar. Caso a sindicância, por si só, verificar que houve uma infração punível com a penalidade de advertência ou de suspensão até 30 dias, será ela classificada como punitiva, uma vez que não haverá necessidade de instauração de pro- cedimento administrativo disciplinar. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 143 Caso, em sentido oposto, a sindicância constate que houve o cometimento de uma penalidade mais grave que a de suspensão por 30 dias, deverá ser ins- taurado o PAD, classificando-se a sindicância como preparatória. 5.3. Afastamento preventivo Art. 147. Como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influir na apuração da irregularidade, a autoridade instau- radora do processo disciplinar poderá determinar o seu afastamen- to do exercício do cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração. Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorrogado por igual prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos, ainda que não conclu- ído o processo. Caso entenda necessário, a autoridade instauradora do processo poderá solicitar o afastamento preventivo do servidor, cujo prazo será de 60 dias, prorrogados por mais 60 em caso de necessidade. Objetiva-se, com o afasta- mento, que o servidor não dificulte os trabalhos da comissão, que terá, com a ausência do servidor, uma maior liberdade de atuação para averiguar docu- mentos e eventuais provas do cometimento da irregularidade. Considerando que o afastamento é medida cautelar, tem-se que o servi- dor continua recebendo sua remuneração normalmente durante o período de afastamento. 5.4. Processo disciplinar Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 144 Art. 148. O processo disciplinar é o instrumento destinado a apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre investido. Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases: I – instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão; II – inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; III – julgamento. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de pena- lidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, de cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou de destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar. Assim, o PAD será desenvolvido nas seguintes fases: 1º – Instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão, a ser composta por 3 servidores estáveis designados pela autoridade competen- te. Um desses membros será o presidente da comissão, que deverá ser ocu- pante de cargo de mesmo nível ou de nível superior que o indiciado, ou então possuir escolaridade de mesmo nível ou de nível superior ao investigado. Tendo em vista que a constituição da comissão de apuração do PAD é feita por meio de portaria, o STJ tem entendimento de que, no ato de publicação desta, não há a necessidade expressa da descrição detalhada dos fatos, con- forme verifica-se do julgado do MS 16.815: Na linha da jurisprudência desta Corte, a portaria inaugural do processo discipli- nar está livre de descrever detalhes sobre os fatos da causa, tendo em vista que somente ao longo das investigações é que os atos ilícitos, a exata tipificação e os seus verdadeiros responsáveis serão revelados (...). 2º – Inquérito administrativo, compreendendo as fases de instrução, defesa e de relatório. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 145 Estando a comissão do PAD constituída, iniciam-se os trabalhos de instru- ção. É nessa fase que a comissão realiza todas as acareações, depoimentos, investigações e diligências. Sendo necessário, ela nomeará peritos especia- lizados em assuntos de maior complexidade. Após a inquirição de todas as testemunhas, promoverá a comissão o interrogatório do acusado. Feito isso, a comissão chega ao indiciamento, que nada mais é do que a acusação ao servidor do cometimento de determinada infração. É apenas nesse momento, após realizar todas as possíveis diligências e coletar todas as provas necessárias, que a comissão chega à verificação da infração que eventualmente foi cometida. Com isso, ela já pode formular uma acusação e solicitar que o agora acusado se defenda. A defesa do acusado deverá obrigatoriamente ser escrita e ser apresentada no prazo de 10 dias. Caso haja mais de um acusado, teremos o prazo comum de 20 dias. Após a defesa, a comissão elaborará relatório conclusivo e minucioso, onde irá resumir todas as peças produzidas nos autos e apresentar todas as provas através das quais fundamentou sua conclusão. 3º – Julgamento: o relatório da comissão, obrigatoriamente, será con- clusivo quanto à inocência ou responsabilidade do servidor. Os autos do pro- cesso, juntamente com o relatório, serão remetidos para a autoridade com- petente, que terá o prazo de 20 dias para julgar. As fases do processo administrativo disciplinar podem ser visualizadas por meio do quadro adiante: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 146 Art. 152. O prazo para a conclusão do processo disciplinar não excederá 60 (sessenta) dias, contados da data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por igual prazo, quando as circunstâncias o exigirem. § 1º Sempre que necessário, a comissão dedicará tempo integral aos seus trabalhos,ficando seus membros dispensados do ponto, até a entrega do relatório final. § 2º As reuniões da comissão serão registradas em atas que deve- rão detalhar as deliberações adotadas. O STJ já reconheceu que o excesso de prazo para concluir o PAD, por si só, não acarreta a nulidade do processo, desde que não tenha havido prejuízo ao acusado em relação ao prazo utilizado. Conforme verificado, três são os importantes institutos no âmbito do pro- cesso de verificação do cometimento de infrações pelos servidores públicos federais, sendo elas a sindicância, o processo administrativo disciplinar e o afastamento preventivo. Cada um deles possui um prazo para conclusão previsto no texto da Lei n. 8.112/1990, podendo, ainda, ser prorrogado em caso de necessidade. Como forma de facilitar a compreensão, relacionam-se abaixo os referidos prazos: Sindicância • Prazo de 30 dias • Prorrogável por mais 30 PAD • Prazo de 60 dias • Prorrogável por mais 60 Afastamento preventivo • Prazo de 60 dias • Prorrogável por mais 60 Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão com- posta de três servidores estáveis designados pela autoridade com- petente, observado o disposto no § 3º do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 147 § 1º A Comissão terá como secretário servidor designado pelo seu presidente, podendo a indicação recair em um de seus membros. § 2º Não poderá participar de comissão de sindicância ou de inqué- rito, cônjuge, companheiro ou parente do acusado, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau. O PAD será conduzido por uma comissão processante, que será composta por 3 servidores estáveis. Um desses servidores será escolhido como presi- dente da comissão, devendo possuir, pelo menos, uma das seguintes carac- terísticas: a) ocupar cargo efetivo superior ou de mesmo nível que o servidor indiciado; b) ter nível de escolaridade superior ou igual ao servidor que estiver sendo processado. Como forma de evitar que os trabalhos sejam prejudicados ou influencia- dos, a norma federal veda a participação, na comissão processante, de pes- soa que seja cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, do servidor indiciado. Art. 150. A Comissão exercerá suas atividades com independência e imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da administração. Parágrafo único. As reuniões e as audiências das comissões terão caráter reservado. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 148 Para que a comissão processante consiga atingir o seu objetivo (investigar todos os fatos e provas pertinentes à infração cometida), deve a ela ser asse- guradas as prerrogativas da independência e da imparcialidade. Além disso, o processo poderá ser mantido sob sigilo nas circunstâncias em que houver interesse da Administração ou quando a medida se fizer ne- cessária à elucidação dos fatos. Art. 173. Serão assegurados transporte e diárias: I – ao servidor convocado para prestar depoimento fora da sede de sua repartição, na condição de testemunha, denunciado ou indiciado; II – aos membros da comissão e ao secretário, quando obrigados a se deslocarem da sede dos trabalhos para a realização de missão essencial ao esclarecimento dos fatos. Durante as atividades da comissão, diversas diligências podem ser re- alizadas com o objetivo de auxiliar na investigação. Como exemplo dessas medidas, temos a necessidade de deslocamento dos membros da comissão e o depoimento de servidores, seja na condição de testemunha, seja como denunciado. Em ambas as diligências, será assegurado o pagamento de diárias e trans- porte aos sujeitos que tiverem que se deslocar por necessidade da investiga- ção. COMENTárIO:� Exemplificando No curso de uma investigação, a comissão de um processo administrativo dis- ciplinar verificou a necessidade de dirigir-se até o local da repartição do servi- dor indiciado, uma vez que provas essenciais à elucidação dos fatos estavam lá presentes. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 149 Na etapa dos depoimentos, tornou-se necessária a presença de um servidor que trabalhava com o servidor quando da ocorrência da infração disciplinar. Em ambas as situações, estamos diante de diligências que serão realizadas com o objetivo de auxiliar a comissão a elucidar os fatos. Nesses casos, será assegurado a todos que se deslocarem o pagamento de transporte e de diárias. Art. 153. O inquérito administrativo obedecerá ao princípio do con- traditório, assegurada ao acusado ampla defesa, com a utilização dos meios e recursos admitidos em direito. A fase do inquérito é o momento em que a comissão irá fazer uso de di- versos mecanismos com a finalidade de elucidar os fatos e concluir sobre uma possível infração do servidor público. Para que não haja nulidade, as garantias do contraditório e da ampla de- fesa devem ser observadas. Ainda que boa parte da doutrina trate os dois institutos como sinônimos, merece destaque a diferenciação entre ambos. Por intermédio do contraditório, as partes do processo têm o direito de saber, com antecedência, as datas em que ocorrerá a produção das provas, a finalidade das mesmas e o fundamento para a sua produção. Implica o con- traditório, dessa forma, na garantia que qualquer uma das partes processuais possui em ter ciência de tudo que será levado em consideração quando da decisão do processo. Por meio da ampla defesa, as partes têm o direito de contestar e de rea- gir contra aquilo que está sendo apresentado contra a sua pessoa. Implica a ampla defesa, dessa forma, em uma garantia positiva, ao passo que confere ao indiciado a possibilidade não apenas de ter conhecimento daquilo que é produzido contra ele, como também de defender-se por todos os meios de provas existentes. Art. 154. Os autos da sindicância integrarão o processo disciplinar, como peça informativa da instrução. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 150 Parágrafo único. Na hipótese de o relatório da sindicância concluir que a infração está capitulada como ilícito penal, a autoridade com- petente encaminhará cópia dos autos ao Ministério Público, inde- pendentemente da imediata instauração do processo disciplinar. Como anteriormente explanado, a sindicância trata-se de um procedimen- to que pode ser utilizado de duas formas: a) como processo principal, nos casos de infrações puníveis com a penali- dade de advertência ou de suspensão até 30 dias; b) como processo preliminar, nas hipóteses em que a infração cometida for, dentre outras, a de suspensão superior a 30 dias e demissão. Nessa última hipótese, e considerando que há a necessidade de instaura- ção de PAD, os autos da sindicância, com todas as provas até então produzi- das, passarão a integrar o processo disciplinar, servindo como peça informa- tiva da instrução. Caso a sindicância prévia concluir que a infração cometida pelo servidor configura, também, ilícito penal, cópia do processo até então formado deverá ser remetido ao Ministério Público para a adoção das medidas cabíveis. Tal providência, contudo, não interfere no desenrolar do processo adminis- trativo disciplinar, uma vez que as esferas de responsabilização do servidor pú- blico (administrativa, civil e penal) são, em regra, independentes e cumulativas. Art. 155. Na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada de depoimentos, acareações, investigações e diligências cabíveis, obje- tivando a coleta de prova, recorrendo, quando necessário, a técni- cos e peritos, de modo a permitir a completa elucidação dos fatos. A fase do inquérito caracteriza-se pela utilização de todas as medidas e diligências possíveis. Fazem parte do rol apresentado pela Lei n. 8.112/1990a utilização de depoimentos, acareações e investigações. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 151 Todas essas providências possuem como objetivo a coleta de provas, ele- mentos essenciais para a fundamentação da opinião da comissão. Quando, para a produção da prova, seja essencial a opinião de um especialista no assunto, poderá a comissão recorrer a técnicos e peritos, que serão nomea- dos para o encargo e remunerados, ao final, por meio de recursos do Poder Público. Art. 156. É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o pro- cesso pessoalmente ou por intermédio de procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de prova pericial. § 1º O presidente da comissão poderá denegar pedidos considera- dos impertinentes, meramente protelatórios, ou de nenhum inte- resse para o esclarecimento dos fatos. § 2º Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a compro- vação do fato independer de conhecimento especial de perito. No caput do artigo 156, temos um exemplo da garantia da ampla defesa. Por intermédio desse instituto, conforme já afirmado, o servidor pode produ- zir todos os meios legais de prova com a finalidade de defender-se das alega- ções que estão sendo feitas. Pode o servidor, dessa forma, arrolar e reinquirir testemunhas, formular quesitos (no caso de prova pericial) e produzir provas e contraprovas. Não poderá o servidor, contudo, apresentar pedidos impertinentes (que não te- nham relação com o processo), protelatórios (com a finalidade de atrasar a conclusão do processo) ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos. Caso isso ocorra, caberá ao presidente da comissão negar os pedidos. Salienta-se, ainda, que as provas periciais apenas serão utilizadas quando essências para a solução dos fatos. Nas situações em que a solução é encon- trada com a simples prova documental ou testemunhal, não fará o menor sentido a nomeação de um perito ou técnico. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 152 Art. 157. As testemunhas serão intimadas a depor mediante man- dado expedido pelo presidente da comissão, devendo a segunda via, com o ciente do interessado, ser anexado aos autos. Parágrafo único. Se a testemunha for servidor público, a expe- dição do mandado será imediatamente comunicada ao chefe da repartição onde serve, com a indicação do dia e hora marcados para inquirição. Art. 158. O depoimento será prestado oralmente e reduzido a termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por escrito. § 1º As testemunhas serão inquiridas separadamente. § 2º Na hipótese de depoimentos contraditórios ou que se infir- mem, proceder-se-á à acareação entre os depoentes. Caso haja a necessidade de prova testemunhal, as testemunhas serão intimadas para depor por meio de mandado expedido pelo presidente da co- missão. O respectivo instrumento será confeccionado em duas vias, devendo uma delas, já com o ciente do intimado, ser anexada aos autos do processo. Sendo alguma das testemunhas servidor público, da expedição do man- dado será dada ciência ao chefe da repartição onde trabalha o servidor, pos- sibilitando assim a liberação do agente estatal no dia e hora designados para o depoimento. Importante frisar que apenas serão considerados lícitos os depoimentos prestados de forma oral, não sendo válidos, por consequência, os depoimen- tos que sejam apresentados de forma escrita. Caso haja mais de uma testemunha, estas deverão ser inquiridas de for- ma separada, evitando que o depoimento de uma delas possa vir a influenciar no depoimento das demais. Como consequência dessa medida, os depoimentos contraditórios serão objeto de acareação, momento em que as testemunhas responsáveis pelas informações ficarão frente a frente. Objetiva-se, com a acareação, verificar qual das testemunhas não está falando a verdade. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 153 Art. 159. Concluída a inquirição das testemunhas, a comissão pro- moverá o interrogatório do acusado, observados os procedimentos previstos nos arts. 157 e 158. § 1º No caso de mais de um acusado, cada um deles será ouvido sepa- radamente, e sempre que divergirem em suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será promovida a acareação entre eles. § 2º O procurador do acusado poderá assistir ao interrogatório, bem como à inquirição das testemunhas, sendo-lhe vedado interferir nas perguntas e respostas, facultando-se-lhe, porém, reinquiri-las, por intermédio do presidente da comissão. Após a inquirição das testemunhas, será o momento de a comissão ouvir o servidor indiciado. Nessa oportunidade, todos os procedimentos pertinentes à oitiva das testemunhas serão adotados no depoimento do agente estatal. Como consequência, os depoimentos deverão ser feitos de forma oral, sem a possibilidade de o servidor apresentá-lo por escrito. Havendo mais de um indiciado, será realizada a acareação quando houver, dentre eles, depoi- mentos contraditórios. Testemunhas • São inquiridas pela comissão Acusado • É interrogado pela comissão Interessante questão refere-se à possibilidade de o servidor indiciado constituir procurador no âmbito do processo administrativo disciplinar. Ini- cialmente, o STJ entendia como obrigatória a presença de advogado em todas as fases do PAD, tendo, inclusive, editado súmula nesse sentido. Súmula 343 – STJ: É obrigatória a presença de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 154 Posteriormente, coube ao STF sedimentar o assunto com a edição da Sú- mula Vinculante n. 5. Na visão do Supremo, a simples falta de advogado, no processo disciplinar, não ofende a Constituição Federal. Como consequência, pode o servidor indiciado nomear procurador ou defender-se diretamente das acusações que lhe estão sendo impostas. Súmula Vinculante n. 5: A falta de defesa técnica por advogado no processo ad- ministrativo disciplinar não ofende a Constituição. Caso o servidor opte por constituir advogado, poderá este acompanhar todas as etapas do processo, desde a inquirição das testemunhas até o inter- rogatório dos indiciados. É vedado ao advogado, contudo, interferir nas perguntas e respostas, apenas podendo reinquirir as testemunhas por intermédio do presidente da comissão. Art. 160. Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do acu- sado, a comissão proporá à autoridade competente que ele seja submetido a exame por junta médica oficial, da qual participe pelo menos um médico psiquiatra. Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será proces- sado em auto apartado e apenso ao processo principal, após a expedição do laudo pericial. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 155 Quando, no curso do processo, houver dúvida sobre a sanidade mental do servidor acusado, deverá a comissão processante solicitar à autoridade competente que o agente seja submetido a exame por junta médica oficial, devendo fazer parte da equipe médica, pelo menos, um psiquiatra. Tal peculiaridade será registrada em um processo específico até a expedi- ção do laudo pericial. Feito isso, os autos serão apensados ao processo princi- pal, que é aquele em que a comissão está investigando a conduta do servidor. Art. 161. Tipificada a infração disciplinar, será formulada a indicia- ção do servidor, com a especificação dos fatos a ele imputados e das respectivas provas. § 1º O indiciado será citado por mandado expedido pelo presidente da comissão para apresentar defesa escrita, no prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição. § 2º Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será comum e de 20 (vinte) dias. § 3º O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo dobro, para dili- gências reputadas indispensáveis. § 4º No caso de recusa do indiciado em apor o ciente na cópia da citação, o prazo para defesa contar-se-á da data declarada, em termo próprio, pelo membro da comissãoque fez a citação, com a assinatura de (2) duas testemunhas. Uma vez concluídas as fases do inquérito e do interrogatório, verificará a comissão, com base em todas as provas até então verificadas, se houve ou não a tipificação de uma infração disciplinar. Em caso positivo, deverá a comissão indiciar o servidor mediante despa- cho fundamentado. Trata-se a indiciação, dessa forma, de um dos mais im- portantes momentos de todo o processo administrativo disciplinar, uma vez que é nessa etapa que a comissão, convencida de que as provas foram sufi- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 156 cientes para caracterizar algum tipo de infração disciplinar, elabora despacho fundamentando todos os trabalhos até então realizados e afirmando sobre a necessidade de indiciar o servidor. Com a indiciação, o servidor será citado para apresentar defesa escrita no prazo de 10 dias. No caso de dois ou mais indiciados, o prazo para apre- sentação das defesas será comum e de 20 dias. Em ambas as situações os prazos poderão ser prorrogados, por igual período, no caso de diligências essenciais para a defesa dos indiciados. A citação, salienta-se, será feita mediante mandato expedido pelo presi- dente da comissão. Em caso de recusa do servidor em receber a citação, o prazo para defesa será contado da data em que membro da comissão res- ponsável pela entrega do mandado assim declarar, sendo necessária, para a veracidade da declaração, a assinatura de duas testemunhas. Prazo para defesa Apenas um indiciado Prazo de 10 dias Dois ou mais indiciados Prazo comum de 20 dias Art. 162. O indiciado que mudar de residência fica obrigado a comunicar à comissão o lugar onde poderá ser encontrado. Deve o indiciado manter o seu endereço atualizado, facilitando assim que a Administração o mantenha informado de todos os atos pertinentes ao processo. Art. 163. Achando-se o indiciado em lugar incerto e não sabido, será citado por edital, publicado no Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação na localidade do último domicílio conhe- cido, para apresentar defesa. Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, o prazo para defesa será de 15 (quinze) dias a partir da última publicação do edital. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 157 Caso o indiciado não consiga ser localizado por meio de mandado, a cita- ção para a apresentação de defesa deverá ser feita por edital. Nessa hipótese, o edital deve ser publicado no Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação no último domicílio do servidor. Quando a citação for feita por meio de edital, o indiciado terá o prazo de 15 dias, contados da data da última publicação, para apresentar sua defesa. Art. 164. Considerar-se-á revel o indiciado que, regularmente citado, não apresentar defesa no prazo legal. § 1º A revelia será declarada, por termo, nos autos do processo e devolverá o prazo para a defesa. § 2º Para defender o indiciado revel, a autoridade instauradora do processo designará um servidor como defensor dativo, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. Tendo sido realizada a citação, independente da forma como esta foi rea- lizada, o indiciado deverá apresentar sua defesa dentro do prazo legal. No caso de citação por meio de mandado, o prazo será de 10 dias. Quando a citação ocorrer por edital, o prazo será de 15 dias. Em ambas as situações, caso o acusado, regularmente citado, não apresente sua defesa dentro do prazo revisto em lei, ocorrerá a revelia. Importante frisar que os efeitos da revelia, no âmbito do processo admi- nistrativo, são bem diferentes daqueles produzidos quando tal instituto ocorre no processo civil. No âmbito da justiça civil, quando um acusado, legalmente citado, não apresenta sua defesa dentro do prazo da lei, todos os fatos contra ele impu- tados são presumidos como verdadeiros. No processo administrativo, por sua vez, vigora o princípio da verdade material, de forma que a falta de apresen- tação de defesa, por parte do indiciado, não acarreta, por si só, a presunção de que todas as acusações contra ele formuladas são verdadeiras. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 158 No processo administrativo, a consequência direta da revelia é a obrigato- riedade de a autoridade competente nomear um defensor dativo para defen- der o servidor. Será escolhido como defensor dativo um servidor que ocupe cargo efetivo (não pode o defensor ser meramente ocupante de cargo em comissão). Deve o servidor nomeado possuir nível de escolaridade igual ou superior ao indi- ciado ou, ainda, ser ocupante de cargo de mesmo nível ou de nível superior ao acusado. Com a nomeação do defensor dativo, o prazo para apresentação da defesa é devolvido. Assim, ainda que o servidor indiciado não tenha apresentado de- fesa no prazo legal, a nomeação do defensor dativo faz com que o prazo seja devolvido para a atuação do defensor. Importante salientar, no entanto, que o prazo para apresentação de de- fesa, por parte do defensor dativo, não pode ser utilizado para uma eventual defesa pessoal por parte do servidor acusado. Isso significa dizer que, uma vez declarada a revelia, e tendo a autoridade nomeado defensor dativo, não poderá o servidor, posteriormente à nome- ação, utilizar o prazo do defensor para apresentar a sua própria defesa. Se assim o fosse, o servidor de má-fé poderia, perfeitamente, utilizar ambos os prazos para formular sua defesa, ganhando, nessa hipótese, um saldo de 10 dias. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 159 COMENTárIO:� Exemplificando Lúcia, servidora pública, foi regularmente citada, por meio de mandado, para apresentar sua defesa escrita no prazo de 10 dias. Esgotado o prazo, e não tendo Lúcia apresentado a defesa, a autoridade com- petente decretou a revelia, bem como nomeou outro servidor como defen- sor dativo, devolvendo ao defensor o prazo de 10 dias para apresentação da defesa. Caso Lúcia, após a decretação da revelia, resolva apresentar sua defesa, esta não mais será possível, uma vez que o prazo de 10 dias a ela concedido já terá se esgotado. Após este prazo, apenas a defesa elaborada pelo servidor nomeado como defensor dativo será possível. Art. 165. Apreciada a defesa, a comissão elaborará relatório minu- cioso, onde resumirá as peças principais dos autos e mencionará as provas em que se baseou para formar a sua convicção. § 1º O relatório será sempre conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do servidor. § 2º Reconhecida a responsabilidade do servidor, a comissão indi- cará o dispositivo legal ou regulamentar transgredido, bem como as circunstâncias agravantes ou atenuantes. Art. 166. O processo disciplinar, com o relatório da comis- são, será remetido à autoridade que determinou a sua ins- tauração, para julgamento. Apresentada a defesa, independente da forma como esta ocorrer (se por intermédio do servidor ou de defensor dativo), a comissão processante ela- borará um relatório minucioso, concluindo pela inocência ou responsabilidade do servidor. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 160 O relatório será parte integrante do processo administrativo disciplinar, devendo ser encaminhado à autoridade que determinou a abertura do pro- cesso, para julgamento. Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão. § 1º Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da autorida- de instauradora do processo, este será encaminhado à autoridade competente, que decidirá em igual prazo. § 2º Havendo mais de um indiciado e diversidade de sanções, o julgamento caberá à autoridade competente para a imposição da pena mais grave. § 3º Se a penalidade prevista for a demissão ou cassação de apo- sentadoria ou disponibilidade, o julgamento caberá às autoridades de que trata o inciso I do art. 141. § 4ºReconhecida pela comissão a inocência do servidor, a autori- dade instauradora do processo determinará o seu arquivamento, salvo se flagrantemente contrária à prova dos autos. Deverá a autoridade julgadora, no prazo de 20 dias do recebimento dos autos do processo, tomar a sua decisão. Caso a autoridade competente para a aplicação da penalidade administra- tiva for de alçada superior àquela que determinou a instauração do processo, os autos, com o relatório da comissão, serão remetidos àquela, que deverá decidir no prazo legal. Situação semelhante ocorre quando houver mais de um indiciado com penalidades administrativas diferentes. Nessa hipótese, a autoridade que irá julgar será uma só, sendo aquela que possui competência para aplicação da penalidade de maior gravidade. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 161 Em sentido oposto, caso a comissão entenda que não houve a caracteri- zação de nenhuma infração administrativa, os autos do processo serão arqui- vados por determinação da autoridade instauradora do PAD, salvo se houver divergência entre o relatório produzido pela comissão e as provas existentes no processo. Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas dos autos. Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade. Como mencionado, a regra geral é de que a decisão da autoridade com- petente para o julgamento do PAD seja no mesmo sentido do relatório con- feccionado pela comissão. Pode ocorrer, contudo, da autoridade julgadora verificar que houve falhas na condução do processo, tal como a divergência entre o relatório da comissão e as provas produzidas nos autos. Nessa situação, e considerando que as falhas são meramente formais, uma vez que todas as provas do processo foram produzidas de forma lícita, Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 162 poderá a autoridade julgadora convalidar os vícios no relatório da comissão com a aplicação da penalidade correta. Como consequência, a pena propos- ta no relatório da comissão poderá ser agravada, abrandada ou até mesmo eximida. Art. 169. Verificada a ocorrência de vício insanável, a autoridade que determinou a instauração do processo ou outra de hierarquia superior declarará a sua nulidade, total ou parcial, e ordenará, no mesmo ato, a constituição de outra comissão para instauração de novo processo. § 1º O julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do pro- cesso. § 2º A autoridade julgadora que der causa à prescrição de que trata o art. 142, § 2º, será responsabilizada na forma do Capítulo IV do Título IV. Aqui, temos uma situação semelhante à anterior, ou seja, vícios encontra- dos, por parte da comissão processante, na condução do processo adminis- trativo disciplinar. Contudo, os vícios presentes nessa situação são insa- náveis, ou seja, impossíveis de serem convalidados pela autoridade julgadora. Como exemplo dessa situação, cita-se uma prova produzida de forma ilí- cita ou a presença, como membro da comissão processante, de um parente próximo ao servidor. Tendo sido verificado o vício insanável, a autoridade que determinou a instauração do PAD (ou outra de hierarquia superior) declarará a nulidade do procedimento, determinando, no mesmo ato, que outra comissão seja cons- tituída com a finalidade de apurar a infração. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 163 O prazo para o julgamento do PAD é considerado um prazo impróprio, sendo que a não realização do julgamento, pela autoridade competente, não gera, por si só, a nulidade do procedimento. Em todo caso, a autoridade jul- gadora deverá observar os prazos prescricionais, uma vez que, após tal lapso de tempo, não poderá ela aplicar a penalidade ao servidor. A ideia do legislador, com a edição do §1º em questão, foi a de evitar que o excesso de prazo para julgamento (que, como sabemos, é de 20 dias) pudes- se acarretar a nulidade de todo um procedimento anteriormente realizado. Contudo, caso a autoridade julgadora, tendo recebido os autos do pro- cesso para realizar o julgamento, extrapole gravemente o prazo legalmente previsto, dando ensejo à prescrição do PAD, deverá ela ser responsabilizada, quando cabível, nas esferas cível, penal e administrativa. Art. 170. Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade julga- dora determinará o registro do fato nos assentamentos individuais do servidor. Estabelece a Lei n. 8.112/1990 que, mesmo tendo ocorrido a prescrição do direito da Administração em punir o servidor público, ainda assim o regis- tro dessa ocorrência será registrado nos assentamentos funcionais do agente público. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 164 Contudo, deve-se levar em conta que o STF reconheceu, no julgamento do Mandado de Segurança n. 23262/DF, a inconstitucionalidade do artigo em questão. De acordo com o entendimento do STF, uma vez tendo sido extinta a punibilidade pela prescrição, não há mais espaço para a punição do servidor. A anotação da ocorrência na ficha funcional, por consequência, violaria o princípio da presunção de inocência, acarretando, ainda, prejuízos para o de- senvolvimento do servidor em sua carreira profissional. Art. 171. Quando a infração estiver capitulada como crime, o pro- cesso disciplinar será remetido ao Ministério Público para instaura- ção da ação penal, ficando trasladado na repartição. Caso se verifique que a infração do servidor está configurada como crime, deverá o processo ser remetido ao Ministério Público, que irá instaurar a com- petente ação penal. Art. 172. O servidor que responder a processo disciplinar só poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado voluntariamente, após a con- clusão do processo e o cumprimento da penalidade, acaso aplicada. Parágrafo único. Ocorrida a exoneração de que trata o pará- grafo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido em demissão, se for o caso. Trata-se de regra decorrente do princípio da indisponibilidade do interesse público. Assim, caso um servidor esteja respondendo a um PAD, não poderá ele ser exonerado a pedido ou aposentado voluntariamente antes da decisão do processo e, se for o caso, do cumprimento da respectiva penalidade. Caso o servidor, já sendo estável no serviço público e tendo sido aprovado para um novo cargo, não satisfaça as condições do estágio probatório relativo ao novo cargo, será ele, via de regra, exonerado do cargo em questão, sendo reconduzido ao cargo em que adquiriu a estabilidade. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 165 Contudo, na hipótese de ter sido verificado que o servidor praticou alguma infração administrativa, no novo cargo, antes da exoneração, deverá o ato de exoneração ser convertido em demissão, deixando o servidor de constar nos assentamentos funcionais do Poder Público. 5.4.1. Revisão do processo Art. 174. O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada. A possibilidade de revisão do processo administrativo disciplinar decorre do conhecimento de fatos novos ou de circunstâncias que, se fossem do co- nhecimento da autoridade processante, no momento da investigação, pode- riam modificar a decisão da autoridade competente. Dessa forma, a revisão do PAD pode ser solicitada a qualquer tempo, não correndo contra o instituto da revisão nenhum tipo de prazo prescricional. § 1º Em caso de falecimento, ausência ou desaparecimento do ser- vidor, qualquer pessoa da família poderá requerer a revisão do pro- cesso. § 2º No caso de incapacidade mental do servidor, a revisão será requerida pelo respectivo curador. Como regra, é o próprio servidor quem deve solicitar a revisão do proces- so administrativodisciplinar. Contudo, caso este já tenha falecido ou se en- contre ausente ou desaparecido, qualquer pessoa da família terá legitimidade para solicitar a revisão. Da mesma forma, em caso de incapacidade mental do servidor, a revisão será requerida pelo respectivo curador. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 166 Art. 175. No processo revisional, o ônus da prova cabe ao reque- rente. No âmbito do processo administrativo disciplinar, o ônus de provar que o servidor é o responsável pelo cometimento de alguma infração é da adminis- tração. Como consequência, o servidor apenas será condenado se a comissão processante tiver provas da conduta do agente, presumindo-se, em caso de negativa, a inocência do servidor. No processo de revisão acontece exatamente o contrário. Como a decisão da administração foi pela penalização do servidor, caberá a este, mediante a apresentação de fatos novos, provar que a decisão administrativa se encontra prejudicada e que merece ser modificada. Em outros termos, o ônus da prova caberá ao servidor, que, se não con- seguir fundamentar o seu pedido com provas ou fatos novos, não conseguirá êxito no processo revisional. Art. 176. A simples alegação de injustiça da penalidade não consti- tui fundamento para a revisão, que requer elementos novos, ainda não apreciados no processo originário. Uma vez que o PAD inicial já está julgado, a simples alegação de injus- tiça, por parte dos interessados, não é motivo suficiente para instaurar um procedimento de revisão. Para que isso ocorra, é necessário que fatos novos tenham surgido, fatos estes que, se fossem do conhecimento da comissão, à época do julgamento do PAD, implicariam em um outro resultado. Art. 177. O requerimento de revisão do processo será dirigido ao Ministro de Estado ou autoridade equivalente, que, se autorizar a revisão, encaminhará o pedido ao dirigente do órgão ou entidade onde se originou o processo disciplinar. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 167 Parágrafo único. Deferida a petição, a autoridade competente providenciará a constituição de comissão, na forma do art. 149. Como forma de impedir que qualquer motivo gere a possibilidade de re- visar o processo administrativo disciplinar, a Lei n. 8.112/1990 afirma que o pedido será dirigido ao Ministro de Estado ou autoridade equivalente, que, se autorizar a revisão do processo, o encaminhará ao dirigente do órgão ou entidade onde o processo originalmente tramitou. Art. 178. A revisão correrá em apenso ao processo originário. Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá dia e hora para a produção de provas e inquirição das testemunhas que arrolar. O processo de revisão correrá em apenso ao processo originário, podendo a comissão processante fazer uso das provas já formadas nos autos. No mo- mento da petição inicial, o requerente deverá informar o dia e hora em que pretende apresentar as novas provas e inquirir as eventuais testemunhas. Art. 179. A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para a con- clusão dos trabalhos. Art. 180. Aplicam-se aos trabalhos da comissão revisora, no que couber, as normas e procedimentos próprios da comissão do pro- cesso disciplinar. Art. 181. O julgamento caberá à autoridade que aplicou a penali- dade, nos termos do art. 141. Parágrafo único. O prazo para julgamento será de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do processo, no curso do qual a autorida- de julgadora poderá determinar diligências. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 168 O prazo para a conclusão da revisão é de 60 dias, sendo que a Lei n. 8.112/1990 não menciona a possibilidade de prorrogação. Concluído o rela- tório, a comissão encaminhará o documento à autoridade competente para julgar, que terá o prazo de 20 dias para tomar tal providência. Art. 182. Julgada procedente a revisão, será declarada sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os direitos do ser- vidor, exceto em relação à destituição do cargo em comissão, que será convertida em exoneração. Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agra- vamento de penalidade. Importante característica da revisão refere-se à impossibilidade da “re- formatio in pejus”. Dessa forma, a revisão do processo administrativo dis- ciplinar não poderá agravar a penalidade inicialmente aplicada. Ressalta-se que tal peculiaridade é exclusiva da revisão do processo admi- nistrativo disciplinar. Em sentido oposto, os diversos recursos que podem ser impetrados contra a decisão de aplicou uma penalidade ao servidor podem perfeitamente ter a sua decisão agravada pela autoridade responsável pelo julgamento do recurso. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 169 COMENTárIO:� Exemplificando Paulo foi sancionado com a pena de advertência, pela autoridade adminis- trativa, sob o fundamento de ter cometido a pessoa estranha à repartição o desempenho de atribuições que era de sua responsabilidade. Inconformado, Paulo apresentou recurso no prazo da lei. Uma vez apreciado, a autoridade responsável verificou que Paulo, na verdade, cometeu as suas atribuições a outro servidor, e não a um terceiro alheio ao serviço público. Nessa situação, a penalidade de Paulo será agravada, passando de advertên- cia para suspensão. Caso, no entanto, Paulo consiga provar, por intermédio de fatos novos não conhecidos no momento da aplicação da penalidade, que o motivo de ter cometido a outro servidor as atribuições de seu cargo estava relacionado com uma situação de urgência, poderá ele solicitar a revisão do processo. E dessa revisão não poderá a autoridade agravar a penalidade do servidor. 5.5. Processo administrativo sumário O processo administrativo disciplinar pode se desenvolver de forma ordi- nária ou sumária. Nessa última hipótese, o procedimento será realizado de forma mais célere, priorizando a eficiência do serviço público. Três são as situações que dão ensejo à aplicação do PAD sumário: a) acu- mulação ilegal de cargos; b) inassiduidade habitual; c) abandono de cargo. Art. 133. Detectada a qualquer tempo a acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas, a autoridade a que se refere o art. 143 notificará o servidor, por intermédio de sua chefia ime- diata, para apresentar opção no prazo improrrogável de dez dias, contados da data da ciência e, na hipótese de omissão, adotará procedimento sumário para a sua apuração e regularização ime- diata, cujo processo administrativo disciplinar se desenvolverá nas seguintes fases: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 170 I – instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão, a ser composta por dois servidores estáveis, e simultaneamente indi- car a autoria e a materialidade da transgressão objeto da apuração; II – instrução sumária, que compreende indiciação, defesa e relatório; III – julgamento. § 1º A indicação da autoria de que trata o inciso I dar-se-á pelo nome e matrícula do servidor, e a materialidade pela descrição dos cargos, empregos ou funções públicas em situação de acumulação ilegal, dos órgãos ou entidades de vinculação, das datas de ingres- so, do horário de trabalho e do correspondente regime jurídico. No PAD sumário, a portaria que constituir a comissão deve indicar, obriga- toriamente, a autoria e a materialidade da transgressão. Nota-se, dessa for- ma, uma importante diferença entre as duas modalidades de processo admi- nistrativo disciplinar, uma vez que no PAD ordinário não há a necessidade de a portaria de instauração indicar todos os elementos que serão investigados. No processo sumário, a comissão será composta por apenas 2 servidores (e não por 3, como no PAD ordinário). Em se tratando de acumulação ilegal de cargos, a autoria será feita com a indicação, na portaria de instrução, do nome e da matrícula do servidor. A materialidade, por sua vez, será atendida com a informação dos cargos, em- pregos ou funções que se encontram em regime de acumulaçãoilegal, bem como com a relação dos órgãos ou entidades envolvidos e com as respectivas datas de ingresso, horário de trabalho e regime jurídico adotado. § 2º A comissão lavrará, até três dias após a publicação do ato que a constituiu, termo de indiciação em que serão transcritas as infor- mações de que trata o parágrafo anterior, bem como promoverá a citação pessoal do servidor indiciado, ou por intermédio de sua chefia imediata, para, no prazo de cinco dias, apresentar defesa escrita, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição, obser- vado o disposto nos arts. 163 e 164. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 171 § 3º Apresentada a defesa, a comissão elaborará relatório conclu- sivo quanto à inocência ou à responsabilidade do servidor, em que resumirá as peças principais dos autos, opinará sobre a licitude da acumulação em exame, indicará o respectivo dispositivo legal e remeterá o processo à autoridade instauradora, para julgamento. § 4º No prazo de cinco dias, contados do recebimento do proces- so, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão, aplicando-se, quando for o caso, o disposto no § 3º do art. 167. § 5º A opção pelo servidor até o último dia de prazo para defesa configurará sua boa-fé, hipótese em que se converterá automatica- mente em pedido de exoneração do outro cargo. § 6º Caracterizada a acumulação ilegal e provada a má-fé, aplicar- -se-á a pena de demissão, destituição ou cassação de aposenta- doria ou disponibilidade em relação aos cargos, empregos ou fun- ções públicas em regime de acumulação ilegal, hipótese em que os órgãos ou entidades de vinculação serão comunicados. § 7º O prazo para a conclusão do processo administrativo discipli- nar submetido ao rito sumário não excederá trinta dias, contados da data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por até quinze dias, quando as circunstâncias o exigirem. § 8º O procedimento sumário rege-se pelas disposições deste artigo, observando-se, no que lhe for aplicável, subsidiariamente, as disposições dos Títulos IV e V desta Lei. As fases do PAD sumário podem ser mais bem visualizadas por meio do gráfico a seguir: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 172 A Administração detecta a acumulação ilegal de cargos Uma vez citado, o servidor tem o prazo de 5 dias para apresentar defesa Com ou sem a defesa, a comissão elaborará seu relatório, encaminhando para a autoridade julgadora Autoridade notifica o servidor, por intermédio da chefia, para apresentar opção no prazo de 10 dias 3 dias após a instauração, a comissão lavra termo de indiciação ' No prazo de 5 dias do recebimento do processo, a autoridade competente deve decidir Não havendo opção, é instaurado o PAD sumário Na instauração, será publicada portaria da comissão processante, composta por 2 servidores Verificada a acumulação, será aplicada a pena de demissã, destituição ou cassação em relação aos cargos envolvidos Percebe-se que o servidor indiciado possui dois momentos para apresen- tar a sua opção por um dos cargos em regime de acumulação ilegal: a pri- meira, antes da instauração do PAD, por intermédio de notificação expedida para a chefia do servidor (situação em que este terá o prazo de 10 dias para manifestar sua opção); e a segunda, já com o PAD em andamento, na etapa da defesa (prazo de 5 dias). Em ambas as situações, a opção pelo servidor, até o último dia de prazo para a sua defesa, configurará sua boa-fé, acarretando, como consequência, a exoneração do outro cargo. Art. 138. Configura abandono de cargo a ausência intencional do servidor ao serviço por mais de trinta dias consecutivos. Art. 139. Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao serviço, sem causa justificada, por sessenta dias, interpoladamente, duran- te o período de doze meses. Estará configurado abandono de cargo quando o servidor deixar, intencio- nalmente, o cargo e não retornar no prazo consecutivo de 30 dias. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 173 Caracteriza-se a inassiduidade habitual quando o servidor falta ao servi- ço, sem justificativa, por 60 dias, interpoladamente, durante o período de 12 meses, que são contados da data da ocorrência da primeira falta. Art. 140. Na apuração de abandono de cargo ou inassiduidade habitual, também será adotado o procedimento sumário a que se refere o art. 133, observando-se especialmente que: I – a indicação da materialidade dar-se-á: a) na hipótese de abandono de cargo, pela indicação precisa do período de ausência intencional do servidor ao serviço superior a trinta dias; b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação dos dias de falta ao serviço sem causa justificada, por período igual ou superior a sessenta dias interpoladamente, durante o período de doze meses; II – após a apresentação da defesa a comissão elaborará relatório conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do servidor, em que resumirá as peças principais dos autos, indicará o respectivo dispositivo legal, opinará, na hipótese de abandono de cargo, sobre a intencionalidade da ausência ao serviço superior a trinta dias e remeterá o processo à autoridade instauradora para julgamento. Quando o objeto do PAD sumário for a inassiduidade habitual ou o aban- dono de cargo, também haverá a indicação da autoria e da materialidade das respectivas transgressões. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 174 A autoria, tal como ocorre no procedimento destinado a investigar a acu- mulação ilegal de cargos, será feita com a informação do nome e da matrícula do servidor. A materialidade, por sua vez, dependerá da transgressão que estiver sen- do investigada: no caso de inassiduidade habitual, deverá a portaria de ins- tauração do PAD indicar os dias de falta ao serviço, sem causa justificada, por período igual ou superior a sessenta dias, interpoladamente, durante o período de doze meses. No caso de abandono de cargo, a informação deverá conter a indicação precisa do período de ausência intencional do servidor ao serviço superior a trinta dias. Após a defesa, o relatório conclusivo será enviado à autoridade compe- tente, que deverá decidir no prazo de 5 dias. Quando o PAD sumário tiver como objeto a investigação da transgressão de abandono de cargo, deverá a comissão, no momento da elaboração do relatório, indicar se houve ou não intenção do servidor em permanecer ausente do serviço por mais de 30 dias. Dada a exigência em provas de concursos, relacionam-se abaixo as prin- cipais diferenças entre o PAD ordinário e PAD sumário: PAD Ordinário PAD Sumário Prazo de conclusão de 60 dias, prorrogáveis por mais 60 Prazo de conclusão de 30 dias, prorrogáveis por mais 15 Prazo para julgamento de 20 dias Prazo para julgamento de 5 dias Comissão composta por 3 servidores estáveis Comissão composta por 2 servidores estáveis Utilizado para a apuração das faltas de demis- são, cassação de aposentadoria ou disponibi- lidade, destituição de cargo em comissão ou função comissionada e suspensão por perí- odo superior a 30 dias Utilizado para a apuração das infrações de acumulação ilegal de cargos, abandono de cargo ou inassiduidade habitual 6. Seguridade Social do Servidor 6.1. Disposições gerais Art. 183. A União manterá Plano de Seguridade Social para o ser- vidor e sua família. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 175 Ainda que o texto da norma federal faça menção ao “plano de seguridade social”, o que o estatuto prevê, na verdade, são regras pertinentes à previ- dência do servidor público. E isso porque o conceito de seguridade é bem mais amplo, abrangendo, além das ações destinadas à previdência, os direitos relativos à saúde e à as- sistência social. Nesse sentido, por exemplo, é o teor do artigo 194 da Cons- tituição Federal: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, desti-nadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Assim, estabelece a Lei n. 8.112/1990 o regime previdenciário dos servi- dores públicos federais, assegurando, por consequência, o direito a uma série de benefícios ao servidor e a sua família. § 1º O servidor ocupante de cargo em comissão que não seja, simultaneamente, ocupante de cargo ou emprego efetivo na Admi- nistração Pública direta, autárquica e fundacional não terá direi- to aos benefícios do Plano de Seguridade Social, com exceção da assistência à saúde. O ocupante de cargo em comissão pode ser oriundo de duas diferentes classes, ou seja, poderá ele ser ocupante de cargo efetivo ou um particular sem vínculo anterior com o Poder Público. Nessa última hipótese, os ocupantes de cargo em comissão estarão vincu- lados ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), não fazendo jus, como consequência, aos benefícios previstos no texto da Lei n. 8.112/1990. Como exceção, será assegurado a tais servidores o direito à assistência à saúde, que, nos termos da Constituição Federal, trata-se de um direito de todos e dever do Estado. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 176 § 2º O servidor afastado ou licenciado do cargo efetivo, sem direito à remuneração, inclusive para servir em organismo oficial interna- cional do qual o Brasil seja membro efetivo ou com o qual coopere, ainda que contribua para regime de previdência social no exterior, terá suspenso o seu vínculo com o regime do Plano de Seguridade Social do Servidor Público enquanto durar o afastamento ou a licen- ça, não lhes assistindo, neste período, os benefícios do mencionado regime de previdência. Se o servidor estiver afastado ou licenciado do cargo efetivo onde desem- penha as suas atribuições, ou então servindo em organismo oficial interna- cional do qual o Brasil seja membro efetivo ou com o qual coopere, teremos a suspensão, durante o período do afastamento ou da licença, da vinculação ao Plano de Seguridade Social estabelecido pela Lei n. 8.112/1990. Nesse período, o servidor não fará jus a nenhum tipo de benefício estabe- lecido no regime de previdência e assegurado aos demais servidores públicos federais. Ocorrendo o término da licença ou do afastamento, o servidor licenciado ou afastado, ao retornar para o desempenho de suas atividades funcionais, reestabelece o seu vínculo com o Plano de Seguridade Social anteriormente mantido. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 177 § 3º Será assegurada ao servidor licenciado ou afastado sem remu- neração a manutenção da vinculação ao regime do Plano de Segu- ridade Social do Servidor Público, mediante o recolhimento mensal da respectiva contribuição, no mesmo percentual devido pelos ser- vidores em atividade, incidente sobre a remuneração total do cargo a que faz jus no exercício de suas atribuições, computando-se, para esse efeito, inclusive, as vantagens pessoais. § 4º O recolhimento de que trata o § 3º deve ser efetuado até o segun- do dia útil após a data do pagamento das remunerações dos servido- res públicos, aplicando-se os procedimentos de cobrança e execução dos tributos federais quando não recolhidas na data de vencimento. Caso o servidor público federal seja licenciado ou afastado sem remune- ração, o seu tempo de serviço, como regra, apenas será contado para efeito de aposentadoria e disponibilidade, devendo o servidor, para tal, contribuir mensalmente com as parcelas de natureza previdenciária. Nessa situação, como regra, o servidor não terá direito aos benefícios elencados pelo estatuto federal. Contudo, caso seja desejo do servidor permanecer com a manutenção dos be- nefícios em questão, deverá ele contribuir, mensalmente, com o mesmo percen- tual devido aos servidores da ativa. Adicionalmente, deverá o servidor contribuir com a parcela que seria devida pela União caso o servidor estivesse em exercício. Ambas as contribuições deverão ser efetuadas até o segundo dia útil pos- terior à data do pagamento da remuneração dos servidores públicos. Em caso de inadimplência, poderão ser adotados os mesmos procedimentos destina- dos à cobrança dos tributos federais. Art. 184. O Plano de Seguridade Social visa a dar cobertura aos riscos a que estão sujeitos o servidor e sua família, e compreende um conjunto de benefícios e ações que atendam às seguintes fina- lidades: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 178 I – garantir meios de subsistência nos eventos de doença, invalidez, velhice, acidente em serviço, inatividade, falecimento e reclusão; II – proteção à maternidade, à adoção e à paternidade; III – assistência à saúde. Parágrafo único. Os benefícios serão concedidos nos termos e condições definidos em regulamento, observadas as disposições desta Lei. O plano de seguridade do servidor público federal estabelece uma série de benefícios, que, em conjunto, devem atender a uma série de finalidades. Art. 185. Os benefícios do Plano de Seguridade Social do servidor compreendem: I – quanto ao servidor: a) aposentadoria; b) auxílio-natalidade; c) salário-família; d) licença para tratamento de saúde; e) licença à gestante, à adotante e licença-paternidade; f) licença por acidente em serviço; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 179 g) assistência à saúde; h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalho satis- fatórias; Os benefícios previstos no estatuto federal podem ser divididos em razão das pessoas que são beneficiadas. Assim, poderemos ter como beneficiário o próprio servidor público (quando for ele o responsável pela sua utilização) ou seus dependentes (nas circunstâncias em que a utilização é consequência do vínculo mantido com o agente estatal). II – quanto ao dependente: a) pensão vitalícia e temporária; b) auxílio-funeral; c) auxílio-reclusão; d) assistência à saúde. Dos benefícios relacionados, o único que pode ser concedido para ambas as classes de beneficiários (servidor e dependentes) é a assistência à saúde, uma vez que esta, conforme já explicado, é um direito de todos e que deve ser assegurado pelo Poder Público. § 1º As aposentadorias e pensões serão concedidas e mantidas pelos órgãos ou entidades aos quais se encontram vinculados os servidores, observado o disposto nos arts. 189 e 224. § 2º O recebimento indevido de benefícios havidos por fraude, dolo ou má-fé, implicará devolução ao erário do total auferido, sem pre- juízo da ação penal cabível. Caso o servidor público receba, indevidamente, qualquer um dos benefí- cios previstos na norma federal, e tenha, para tal, agido com dolo (inten- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 180 ção), fraude ou má-fé, deverá ele devolver aos cofres públicos a totalidade dos valores recebidos, sem prejuízo, quando for o caso, da instauração da ação penal cabível. 6.2. Benefícios Como forma de facilitar a visualização dos benefícios que são passíveis de concessão aos servidores públicos federais, relacionam-se abaixo, por classe de beneficiários, todas as possibilidades: Benefícios concedidos aos servidores Benefícios concedidos aos dependentes a) aposentadoria; b) auxílio-natalidade; c) salário-família; d) licença para tratamento de saúde; e) licença à gestante, à adotante e licença- -paternidade; f) licença por acidente em serviço; g) assistência à saúde; h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalho satisfatórias; a) pensão vitalícia e temporária; b) auxílio-funeral; c) auxílio-reclusão; d) assistência à saúde. 6.2.1. Aposentadoria Art. 186. O servidor será aposentado: I – por invalidez permanente, sendo os proventos integrais quando decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e proporcionais nos demais casos; II – compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de serviço; III – voluntariamente: a) aos 35 (trinta e cinco) anosde serviço, se homem, e aos 30 (trinta) se mulher, com proventos integrais; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 181 b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções de magisté- rio se professor, e 25 (vinte e cinco) se professora, com proventos integrais; c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25 (vinte e cinco) se mulher, com proventos proporcionais a esse tempo; d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e aos 60 (sessenta) se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de serviço. Três são as formas de aposentadoria do servidor público, pessoal: a) compulsoriamente; b) voluntariamente; c) por invalidez perma- nente. A aposentadoria compulsória ocorre quando o servidor público atinge a idade limite para permanecer em exercício no serviço público. Antes da entrada da Emenda Constitucional n. 88, ocorrida em 2015, a ida- de em que a aposentadoria compulsória ocorria era aos 70 anos de idade. Com a mencionada emenda, passamos a contar com a possibilidade de lei comple- mentar estabelecer o prazo de 75 anos para a aposentadoria compulsória. Vejamos o mencionado texto constitucional, já com as alterações promo- vidas pela EC n. 88/2015 (art. 40, § 1º, II): II – compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; Trata-se o artigo exposto de uma norma constitucional de eficácia limita- da, carecendo de lei complementar para a sua regulamentação. Nesse sen- tido, importante frisar que a competência para a edição da mencionada lei é do Congresso Nacional, uma vez que o STF possui entendimento consolidado no sentido de que cabe à União legislar sobre a previdência dos servidores públicos, conforme se observa, por exemplo, da leitura do Mandado de Injun- ção 1898: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 182 A Corte firmou entendimento no sentido de que a competência concorrente para legislar sobre previdência dos servidores públicos não afasta a necessidade da edi- ção de norma regulamentadora de caráter nacional, cuja competência é da União. Fazendo uso de sua competência, o Congresso Nacional editou a Lei Com- plementar n. 152, de 3 de dezembro de 2015, que passou a estabelecer que a aposentadoria compulsória dos agentes públicos abaixo rela- cionados ocorrerá, obrigatoriamente, aos 75 anos: a) os servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Dis- trito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações; b) os membros do Poder Judiciário; c) os membros do Ministério Público; d) os membros das Defensorias Públicas; e) os membros dos Tribunais e dos Conselhos de Contas. A aposentadoria por invalidez ocorre nas situações em que o servidor público é considerado inválido, em caráter permanente, para o exercício da função pública. Como regra, tal forma de aposentadoria acarretará para o servidor o di- reito ao recebimento de proventos proporcionais ao tempo de contribuição. Caso, no entanto, o servidor tenha sido considerado inválido em virtude de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagio- sa ou incurável, seus proventos serão integrais, de forma que os valores a serem recebidos a título de aposentadoria serão os mesmos que o servidor recebia, até então, no desempenho de suas atividades. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 183 A aposentadoria voluntária será concedida quando o servidor público atender a uma série de condições estabelecidas na Constituição Federal, sen- do elas: 1) Tempo mínimo de 10 anos de efetivo exercício no serviço público; 2) Tempo mínimo de 5 anos no cargo público em que se dará a aposenta- doria; 3) Tempo de idade e contribuição, sendo: a) Sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher. Para os professores que comprovem, exclusivamente, tempo de efetivo exercício, nas funções de magistério, dedicados ao ensino fundamental e médio, os limites de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos em cinco anos. Nessas hipóteses, a aposentadoria ocorrerá com proventos integrais. b) Sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição. Nessa si- tuação, a aposentadoria ocorrerá com proventos proporcionais. Aposentadoria voluntária integral Aposentadoria voluntária proporcional Mínimo de 10 anos de exercício no serviço público Mínimo de 10 anos de exercício no serviço público Mínimo de 5 anos no cargo em que ocorrerá a aposentadoria Mínimo de 5 anos no cargo em que ocorrerá a aposentadoria Homens: 60 anos de idade e 35 de contri- buição Homens: 65 anos de idade Mulheres: 55 anos de idade e 30 de contri- buição Mulheres: 60 anos de idade Homem professor: 55 anos de idade e 30 de contribuição Mulher professora: 50 anos de idade e 25 de contribuição § 1º Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis, a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose ativa, aliena- ção mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira poste- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 184 rior ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia grave, doença de Parkinson, paralisia irreversível e incapacitante, espon- diloartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avançados do mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência Adquirida – AIDS, e outras que a lei indicar, com base na medicina especializada. A Lei n. 8.112/1990 chega a estabelecer, em seu texto original, uma liste de doenças que, segundo a norma, são causas de aposentadoria por invalidez. No entanto, o entendimento atual é de que não há uma lista específica de doenças que dão ensejo à concessão da aposentadoria por invalidez. O STJ, inclusive, já firmou o entendimento (REsp 1.322.927-DF) de que as hipóteses que ensejam a aposentadoria por invalidez não estão taxativamen- te previstas em lei, devendo ser analisado, isoladamente, casa caso concreto: O servidor público federal acometido por doença grave que enseje a sua inca- pacitação para o exercício das atividades inerentes ao cargo que detenha deve ser aposentado com proventos integrais, e não proporcionais, mesmo que a en- fermidade que o acometa não esteja especificada no art. 186, § 1º, da Lei n. 8.112/1990. A jurisprudência recente do STJ orienta-se no sentido de que não há como con- siderar taxativo o rol descrito no art. 186, § 1º, da Lei n. 8.112/1990, haja vista a impossibilidade de a norma alcançar todas as doenças consideradas pela medi- cina como graves, contagiosas e incuráveis. § 2º Nos casos de exercício de atividades consideradas insalubres ou perigosas, bem como nas hipóteses previstas no art. 71, a apo- sentadoria de que trata o inciso III, “a” e “c”, observará o disposto em lei específica. Desempenhando o servidor atividades consideradas insalubres ou perigo- sas, a concessão das aposentadorias voluntárias deverá observar tal caracte- rística, conforme regulamentação em lei específica. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 185 § 3º Na hipótese do inciso I o servidor será submetido à junta médica oficial, que atestará a invalidez quando caracterizada a incapacidade para o desempenho das atribuições do cargo ou a impossibilidade de se aplicar o disposto no art. 24. Art. 187. A aposentadoria compulsória será automática, e decla- rada por ato, com vigência a partir do dia imediato àquele em que o servidor atingir a idade-limite de permanência no serviço ativo. Art. 188. A aposentadoria voluntária ou por invalidez vigorará a partir da data da publicação do respectivo ato. § 1º A aposentadoria por invalidez será precedida de licença para tratamento de saúde, por período não excedente a 24 (vinte e quatro) meses. § 2º Expirado o período de licença e não estando em condições de reassumir o cargoou de ser readaptado, o servidor será aposentado. § 3º O lapso de tempo compreendido entre o término da licença e a publicação do ato da aposentadoria será considerado como de prorrogação da licença. § 4º Para os fins do disposto no § 1º deste artigo, serão considera- das apenas as licenças motivadas pela enfermidade ensejadora da invalidez ou doenças correlacionadas. § 5º A critério da Administração, o servidor em licença para trata- mento de saúde ou aposentado por invalidez poderá ser convocado a qualquer momento, para avaliação das condições que ensejaram o afastamento ou a aposentadoria. A aposentadoria compulsória será automática e declarada por ato da auto- ridade competente, passando a ter vigência a partir do dia em que o servidor atingir a idade limite constitucionalmente prevista (75 anos). A aposentadoria voluntária ou por invalidez terá vigência a partir do mo- mento em que for declarada pela autoridade competente. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 186 No caso de invalidez, antes do deferimento da aposentadoria, será con- cedida ao servidor licença para tratamento de saúde por prazo não superior a 24 meses. Decorrido o prazo, a autoridade competente deverá adotar uma das seguintes medidas: a) determinar que o servidor reassuma o cargo, caso esteja em condições de trabalho; b) readaptar o servidor para cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que ele tenha sofrido; c) determinar, quando não houver condições de trabalho, a aposentadoria do agente público; Na hipótese de a autoridade determinar a aposentadoria do servidor, o período de tempo que mediar entre o término da licença e o início da aposen- tadoria será considerado como prorrogação da licença para tratar da saúde. Como forma de controle, a autoridade administrativa poderá solicitar, a qualquer tempo, que o servidor licenciado para tratar de saúde ou aposen- tado por invalidez compareça à repartição com a finalidade de verificar se os fundamentos para a concessão da licença ou da aposentadoria continuam se fazendo presentes. Em caso positivo, a licença ou a aposentadoria continua em vigor. Quando, contudo, os fundamentos para a concessão não se fizerem mais presentes, a licença ou a aposentadoria por invalidez será cancelada, devendo o servidor retornar às suas atividades. Art. 189. O provento da aposentadoria será calculado com obser- vância do disposto no § 3º do art. 41, e revisto na mesma data e proporção, sempre que se modificar a remuneração dos servidores em atividade. Parágrafo único. São estendidos aos inativos quaisquer benefícios ou vantagens posteriormente concedidas aos servidores em ativi- dade, inclusive quando decorrentes de transformação ou reclassifi- cação do cargo ou função em que se deu a aposentadoria. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 187 Com a aposentadoria, o servidor terá direito ao recebimento de proven- tos, passando para a inatividade. E como forma de evitar que os respectivos valores fiquem defasados com o passar do tempo, a norma federal estabelece que os valores das aposentadorias sejam objeto de revisão sempre que tal medida ocorre com a remuneração dos servidores ativos. Da mesma forma, os eventuais benefícios concedidos aos agentes da ativa serão, na mesma proporção, estendidos aos servidores aposentados. Art. 190. O servidor aposentado com provento proporcional ao tempo de serviço se acometido de qualquer das moléstias especifi- cadas no § 1º do art. 186 desta Lei e, por esse motivo, for conside- rado inválido por junta médica oficial passará a perceber provento integral, calculado com base no fundamento legal de concessão da aposentadoria. Caso o servidor seja aposentado com proventos proporcionais ao tempo de serviço (situação que ocorre, por exemplo, com a aposentadoria com- pulsória) e venha, posteriormente, a contrair alguma doença contagiosa ou incurável que acarrete a sua invalidez, passará ele, após a análise de junta médica oficial, a receber proventos integrais, tal como ocorre com os aposen- tados por invalidez. Art. 191. Quando proporcional ao tempo de serviço, o provento não será inferior a 1/3 (um terço) da remuneração da atividade. Art. 194. Ao servidor aposentado será paga a gratificação natalina, até o dia vinte do mês de dezembro, em valor equivalente ao res- pectivo provento, deduzido o adiantamento recebido. Quando ocorrer a aposentadoria com proventos proporcionais ao tempo de serviço, o valor recebido a título de aposentadoria não poderá ser inferior a 1/3 do valor que era recebido quando da atividade. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 188 Tal como ocorre com os servidores da ativa, os aposentados terão direito ao recebimento da gratificação natalina (popularmente conhecida como 13º salário). Para ambos os servidores, o pagamento será feito até o dia 20 de dezembro de cada ano, deduzindo-se o eventual adiantamento recebido pelo servidor. Art. 195. Ao ex-combatente que tenha efetivamente participado de operações bélicas, durante a Segunda Guerra Mundial, nos termos da Lei n. 5.315, de 12 de setembro de 1967, será concedida apo- sentadoria com provento integral, aos 25 (vinte e cinco) anos de serviço efetivo. Trata-se de regra bastante específica e que visa a privilegiar os ex-comba- tentes que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guer- ra Mundial. Para tais agentes, será concedida aposentadoria integral quando completarem 25 anos de efetivo serviço. 6.2.2. Auxílio-Natalidade Art. 196. O auxílio-natalidade é devido à servidora por motivo de nascimento de filho, em quantia equivalente ao menor vencimento do serviço público, inclusive no caso de natimorto. § 1º Na hipótese de parto múltiplo, o valor será acrescido de 50% (cinquenta por cento), por nascituro. § 2º O auxílio será pago ao cônjuge ou companheiro servidor públi- co, quando a parturiente não for servidora. A concessão do auxílio-natalidade possui como objetivo custear parte das despesas realizadas, pelos servidores públicos, em virtude de nascimento de filho. http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L5315.htm Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 189 Dessa forma, com o nascimento do filho (ainda que eventualmente nati- morto), o servidor receberá, uma única vez, um salário equivalente ao menor vencimento do serviço público federal. Caso o parto seja referente a mais de um filho (parto múltiplo), o valor do auxílio será acrescido em 50 % por nas- cituro. Quando a mulher for servidora pública, o auxílio será pago a ela. Quando, contudo, apenas o homem for servidor, o respectivo valor a este será credi- tado. 6.2.3. Salário-Família Art. 197. O salário-família é devido ao servidor ativo ou ao inativo, por dependente econômico. Parágrafo único. Consideram-se dependentes econômicos para efeito de percepção do salário-família: I – o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive os enteados até 21 (vinte e um) anos de idade ou, se estudante, até 24 (vinte e quatro) anos ou, se inválido, de qualquer idade; II – o menor de 21 (vinte e um) anos que, mediante autorização judicial, viver na companhia e às expensas do servidor, ou do ina- tivo; III – a mãe e o pai sem economia própria. O objetivo do salário-família é complementar a renda do servidor público federal em virtude dos dependentes econômicos por ele mantidos. Terão direito ao recebimento do benefício em questão, dessa forma, tan- to os servidores ativos quanto os inativos. Para isso, devem possuir um dos seguintes dependentes: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 190 Art. 198. Não se configura a dependência econômica quando o beneficiário do salário-família perceber rendimento do trabalho ou de qualquer outra fonte, inclusive pensão ou provento da aposen- tadoria, em valor igual ou superior ao salário-mínimo. Art. 199. Quando o pai e mãe forem servidores públicos e viverem em comum, o salário-família será pagoa um deles; quando sepa- rados, será pago a um e outro, de acordo com a distribuição dos dependentes. Parágrafo único. Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto, a madrasta e, na falta destes, os representantes legais dos incapazes. Quando algum dos membros da família do servidor receber rendimento oriundo do trabalho ou de qualquer outra fonte de renda, ficará descaracteri- zada a dependência econômica com o servidor. Para a descaracterização, contudo, o valor da renda ou dos rendimentos recebidos pelos dependentes não deverá ser superior ao do salário mínimo. Quando o pai e a mãe forem, ambos, servidores públicos, o salário-família será pago apenas a um deles. Quando estiverem separados, o valor do be- nefício será pago de forma proporcional aos dependentes mantidos por cada um. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 191 Art. 200. O salário-família não está sujeito a qualquer tributo, nem servirá de base para qualquer contribuição, inclusive para a Previ- dência Social. Art. 201. O afastamento do cargo efetivo, sem remuneração, não acarreta a suspensão do pagamento do salário-família. O salário-família não estará sujeito ao pagamento de Imposto de Renda ou de contribuição previdenciária, uma vez que destinado ao complemento da renda do servidor federal. Caso o servidor se afaste do cargo efetivo em que ocupa, ainda que sem remuneração, continuará ele tendo direito ao recebimento do salário-família, uma vez que o benefício em questão possui natureza previdenciária, sendo destinado, por consequência, a reduzir as desigualdades sociais. 6.2.4. Licença para Tratamento de Saúde Art. 202. Será concedida ao servidor licença para tratamento de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem pre- juízo da remuneração a que fizer jus. Art. 203. A licença de que trata o art. 202 desta Lei será concedida com base em perícia oficial. § 1º Sempre que necessário, a inspeção médica será realizada na residência do servidor ou no estabelecimento hospitalar onde se encontrar internado. § 2º Inexistindo médico no órgão ou entidade no local onde se encontra ou tenha exercício em caráter permanente o servidor, e não se configurando as hipóteses previstas nos parágrafos do art. 230, será aceito atestado passado por médico particular. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 192 § 3º No caso do § 2º deste artigo, o atestado somente produzirá efeitos depois de recepcionado pela unidade de recursos humanos do órgão ou entidade. § 4º A licença que exceder o prazo de 120 (cento e vinte) dias no período de 12 (doze) meses a contar do primeiro dia de afastamen- to será concedida mediante avaliação por junta médica oficial. Art. 204. A licença para tratamento de saúde inferior a 15 (quinze) dias, dentro de 1 (um) ano, poderá ser dispensada de perícia oficial, na forma definida em regulamento. Será concedida ao servidor licença para tratamento de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem prejuízo da remuneração a que fizer jus. Como regra, a licença para tratamento de saúde apenas poderá ser conce- dida mediante inspeção realizada por perícia médica oficial. Quando a licença exceder o prazo de 120 dias no período de 12 meses, deverá ser analisada por uma junta médica oficial. Em caráter de exceção, a licença concedida por prazo inferior a 15 dias, dentro do prazo de 1 ano, poderá ser dispensada da perícia oficial, desde que haja previsão neste sentido em regulamento editado pelo Poder Público. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 193 § 5º A perícia oficial para concessão da licença de que trata o caput deste artigo, bem como nos demais casos de perícia oficial previs- tos nesta Lei, será efetuada por cirurgiões-dentistas, nas hipóteses em que abranger o campo de atuação da odontologia. Sendo o objeto da perícia oficial pertinente a odontologia, nada mais na- tural do que a realização de perícia por parte de cirurgiões-dentistas, pessoas que possuem a qualificação e especialização necessária para analisar o qua- dro clínico do servidor. Art. 205. O atestado e o laudo da junta médica não se referirão ao nome ou natureza da doença, salvo quando se tratar de lesões pro- duzidas por acidente em serviço, doença profissional ou qualquer das doenças especificadas no art. 186, § 1º. Art. 206. O servidor que apresentar indícios de lesões orgânicas ou funcionais será submetido a inspeção médica. Art. 206-A. O servidor será submetido a exames médicos periódi- cos, nos termos e condições definidos em regulamento. Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput, a União e suas entidades autárquicas e fundacionais poderão: I – prestar os exames médicos periódicos diretamente pelo órgão ou entidade à qual se encontra vinculado o servidor; II – celebrar convênio ou instrumento de cooperação ou parceria com os órgãos e entidades da administração direta, suas autarquias e fundações; III – celebrar convênios com operadoras de plano de assistência à saúde, organizadas na modalidade de autogestão, que possuam autorização de funcionamento do órgão regulador, na forma do art. 230; ou Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 194 IV – prestar os exames médicos periódicos mediante contrato admi- nistrativo, observado o disposto na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e demais normas pertinentes. Os exames médicos periódicos são uma excelente forma de a Administra- ção acompanhar a saúde do servidor. Os exames poderão ser executados de forma direta (quando o órgão em que o servidor desempenha suas atribuições será o responsável pela medida) ou indiretamente, mediante a celebração de convênios entre o Poder Público e outros órgãos ou entidades ou, ainda, com administradoras de planos de assistência à saúde. Como última hipótese, a norma elenca a possibilidade de celebração de contrato administrativo com empresas privadas para a realização dos exames médicos periódicos. 6.2.5. Licença à Gestante, à Adotante e Licença-Pa- ternidade Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120 (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 195 § 1º A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de ges- tação, salvo antecipação por prescrição médica. § 2º No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a partir do parto. § 3º No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do evento, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada apta, reas- sumirá o exercício. § 4º No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado. Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá direi- to à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos. Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de trabalho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em dois períodos de meia hora. Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de crian- ça até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias de licença remunerada. Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este artigo será de 30 (trinta) dias. A licença à gestante e a licença-paternidade tratam-se de direitos so- ciais estendidos aos servidores públicos. Regulamentando o tema, a Lei n. 8.112/1990 estabelece, em seu artigo 211, que “será concedida licença à servidora gestante por 120 (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração”. Tal licença poderá ser usufruída a partir do primeiro dia do nono mês de gestação, podendo ser antecipada por prescrição médica. Caso ocorra o nascimento prematuro, a licença inicia-se, imediatamente, a partir da data Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 196 do parto. Por fim, em caso de natimorto, o prazo da licença será de30 dias, após o qual a servidora será submetida a exame médico para verificar a sua condição. Sendo declarada apta, retornará ao serviço público. No caso de adoção ou de guarda judicial, a servidora terá direito à licença à adotante, que terá o seu prazo de duração em razão da idade das crianças adotadas: • Caso a criança adotada tenha até 1 ano de idade, o prazo da licença será de 90 dias; • Caso a criança tenha mais de 1 ano de idade, o prazo da licença será de 30 dias; No que se refere à licença-paternidade, os servidores públicos federais tinham direito, inicialmente, ao prazo de 5 dias. Em 2016, no entanto, tive- mos a edição do Decreto n. 8.737, que estabeleceu a prorrogação do prazo da licença-paternidade por mais 15 dias, gerando ao servidor uma licença total de 20 dias. Vejamos a redação do artigo 2º do Decreto n. 8.737: Art. 2º A prorrogação da licença-paternidade será concedida ao servidor público que requeira o benefício no prazo de dois dias úteis após o nascimento ou a adoção e terá duração de quinze dias, além dos cinco dias concedidos pelo art. 208 da Lei n. 8.112, de 1990. Dessa forma, todos os servidores públicos federais possuem direi- to, nos dias atuais, à licença-paternidade de 20 dias. 6.2.6. Licença por Acidente em Serviço Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o servidor acidentado em serviço. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8112cons.htm#art208 Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 197 Art. 212. Configura acidente em serviço o dano físico ou mental sofrido pelo servidor, que se relacione, mediata ou imediatamente, com as atribuições do cargo exercido. Parágrafo único. Equipara-se ao acidente em serviço o dano: I – decorrente de agressão sofrida e não provocada pelo servidor no exercício do cargo; II – sofrido no percurso da residência para o trabalho e vice-versa. O acidente em serviço pode ser conceituado como o dano físico ou mental sofrido pelo servidor, que se relacione, mediata ou imediatamente, com as atribuições do cargo exercido. De acordo com as disposições da Lei n. 8.112/1990, duas situações se equiparam ao acidente em serviço, sendo elas os danos (art. 212, parágrafo único, I e II): I – decorrente de agressão sofrida e não provocada pelo servidor no exer- cício do cargo; II – sofrido no percurso da residência para o trabalho e vice-versa. Em todas essas hipóteses, o servidor será licenciado com a remunera- ção integral, sendo que a prova da ocorrência do acidente deverá ser feita no prazo de 10 dias, prorrogável quando as circunstâncias assim o exigirem. Art. 213. O servidor acidentado em serviço que necessite de tra- tamento especializado poderá ser tratado em instituição privada, à conta de recursos públicos. Parágrafo único. O tratamento recomendado por junta médica ofi- cial constitui medida de exceção e somente será admissível quando inexistirem meios e recursos adequados em instituição pública. Ocorrendo o acidente em serviço, poderá o servidor, a depender da gravi- dade ou especialidade da lesão, necessitar de tratamento que apenas é rea- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 198 lizado por instituição provada. Nessa situação, o servidor poderá ser tratado em tal instituição, cabendo ao Poder Público pagar todas as despesas ocorri- das com o tratamento. Tal medida, contudo, apenas pode ser utilizada em caráter de exceção e, ainda assim, quando recomendado por junta médica oficial. Art. 214. A prova do acidente será feita no prazo de 10 (dez) dias, prorrogável quando as circunstâncias o exigirem. Uma vez ocorrido o acidente em serviço, a comprovação deverá ser reali- zada no prazo de 10 dias contados da ocorrência. Em situações excepcionais, o prazo em questão poderá ser prorrogado. 6.2.7. Pensão Art. 215. Por morte do servidor, os dependentes, nas hipóteses legais, fazem jus à pensão a partir da data de óbito, observado o limite estabelecido no inciso XI do caput do art. 37 da Constituição Federal e no art. 2º da Lei no 10.887, de 18 de junho de 2004. Ocorrendo a morte do servidor público, os dependentes elencados pelo estatuto federal passam a fazer jus ao recebimento de pensões. Em todas as hipóteses de concessão, deverá ser observado, por parte dos beneficiários, o teto remuneratório constitucional. Art. 217. São beneficiários das pensões: I – o cônjuge; II – o cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato, com percepção de pensão alimentícia estabelecida judicialmente; http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constituicao.htm#art37xi http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constituicao.htm#art37xi http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.887.htm#art2 Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 199 III – o companheiro ou companheira que comprove união estável como entidade familiar; IV – o filho de qualquer condição que atenda a um dos seguintes requisitos: a) seja menor de 21 (vinte e um) anos b) seja inválido; d) tenha deficiência intelectual ou mental, nos termos do regula- mento; V – a mãe e o pai que comprovem dependência econômica do ser- vidor; VI – o irmão de qualquer condição que comprove dependência econô- mica do servidor e atenda a um dos requisitos previstos no inciso IV; Para facilitar a visualização dos beneficiários das pensões, faremos uso do gráfico a seguir: § 1º A concessão de pensão aos beneficiários de que tratam os inci- sos I a IV do caput exclui os beneficiários referidos nos incisos V e VI. § 2º A concessão de pensão aos beneficiários de que trata o inciso V do caput exclui o beneficiário referido no inciso VI. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 200 § 3º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do servidor e desde que comprovada dependência eco- nômica, na forma estabelecida em regulamento. Caso seja concedida pensão ao cônjuge, ao companheiro ou aos filhos que atendam aos requisitos legais, a concessão não poderá ocorrer para os pais ou para os irmãos do servidor. Da mesma forma, a concessão da pensão aos pais do servidor exclui a possibilidade de concessão simultânea aos irmãos do agente público. Para efeitos de pensão, o enteado e o menor tutelado equiparam-se ao fi- lho do servidor, desde que comprovada a dependência econômica e que tenha ocorrido a declaração do servidor público. Art. 218. Ocorrendo habilitação de vários titulares à pensão, o seu valor será distribuído em partes iguais entre os beneficiários habi- litados. Art. 219. A pensão poderá ser requerida a qualquer tempo, pres- crevendo tão-somente as prestações exigíveis há mais de 5 (cinco) anos. Parágrafo único. Concedida a pensão, qualquer prova posterior ou habilitação tardia que implique exclusão de beneficiário ou redu- ção de pensão só produzirá efeitos a partir da data em que for ofe- recida. A pensão poderá ser concedida a qualquer tempo, ainda que não reque- rida logo após a morte do servidor. Quando do deferimento, os beneficiários habilitados terão direito a receber os valores relativos aos últimos 5 anos. Como consequência, as parcelas referentes ao período de tempo anterior a 5 anos, quando não solicitadas em momento oportuno não poderão, poste- riormente, ser pagas aos beneficiários. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 201 No pagamento das pensões, será levado em conta o número de beneficiá- rios habilitados. Caso ocorra a habilitação de apenas um beneficiário, o valor total da pensão será a ele creditado. Ocorrendo mais de uma habilitação, o valor será dividido, em partes iguais, entre todos os beneficiários habilitados. Art. 220. Perde o direito à pensão por morte: I – após o trânsito em julgado, o beneficiário condenado pela prá- tica de crime de que tenha dolosamente resultado a morte do ser- vidor; II – o cônjuge, o companheiro ou a companheira se comprovada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no casamento ou na união estável, ou a formalizaçãodesses com o fim exclusivo de consti- tuir benefício previdenciário, apuradas em processo judicial no qual será assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa. As situações apresentadas pela norma como ensejadoras da perda do di- reito ao recebimento da pensão por morte são aquelas em que uma classe de beneficiários pratica algum ato visando o recebimento fraudulento do be- nefício. Na primeira hipótese, o beneficiário é condenado criminalmente por ter matado de forma dolosa (com intenção) o servidor público. Consequente- mente, não poderá o beneficiado, após o trânsito em julgado da decisão, continuar a receber um benefício que apenas se tornou possível mediante um ato ilícito seu. No segundo caso, temos uma situação em que o vínculo matrimonial é simulado ou fraudado, possuindo como único objetivo o recebimento da pen- são do servidor. Nessa hipótese, a perda do respectivo direito será feita por meio de processo judicial, sendo asseguradas ao beneficiário as garantias do contraditório e da ampla defesa. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 202 Art. 221. Será concedida pensão provisória por morte presumida do servidor, nos seguintes casos: I – declaração de ausência, pela autoridade judiciária competente; II – desaparecimento em desabamento, inundação, incêndio ou aci- dente não caracterizado como em serviço; III – desaparecimento no desempenho das atribuições do cargo ou em missão de segurança. Parágrafo único. A pensão provisória será transformada em vita- lícia ou temporária, conforme o caso, decorridos 5 (cinco) anos de sua vigência, ressalvado o eventual reaparecimento do servidor, hipótese em que o benefício será automaticamente cancelado. Em determinadas situações, é muito provável que o servidor público tenha falecido, ainda que o seu corpo não tenha sido encontrado. Nesses casos, será concedida uma pensão por morte presumida, que terá a vigência de 5 anos. Se o servidor não for encontrado no mencionado prazo, a pensão será convertida em efetiva. Contudo, caso o servidor reapareça no curso dos 5 anos, o benefício de- verá ser imediatamente cancelado. Ressalvada a comprovação de má-fé, os valores recebidos por meio da pensão por morte presumida não precisarão ser devolvidos quando do aparecimento do servidor público. Vejamos quais as possibilidades que acarretam a concessão da pensão por morte presumida: a) declaração de ausência, pela autoridade judiciária competente; b) desaparecimento em desabamento, inundação, incêndio ou acidente não caracterizado como em serviço; c) desaparecimento no desempenho das atribuições do cargo ou em mis- são de segurança. Art. 222. Acarreta perda da qualidade de beneficiário: I – o seu falecimento; Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 203 II – a anulação do casamento, quando a decisão ocorrer após a concessão da pensão ao cônjuge; III – a cessação da invalidez, em se tratando de beneficiário invá- lido, o afastamento da deficiência, em se tratando de beneficiário com deficiência, ou o levantamento da interdição, em se tratando de beneficiário com deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, respeitados os períodos míni- mos decorrentes da aplicação das alíneas “a” e “b” do inciso VII; IV – o implemento da idade de 21 (vinte e um) anos, pelo filho ou irmão; V – a acumulação de pensão na forma do art. 225; VI – a renúncia expressa; Diversas são as situações que podem acarretar a perda da qualidade de beneficiário. De acordo com o estatuto federal, temos, inicialmente, as se- guintes hipóteses: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 204 VII – em relação aos beneficiários de que tratam os incisos I a III do caput do art. 217: a) o decurso de 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o servidor tenha vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes do óbito do servidor; b) o decurso dos seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade do pensionista na data de óbito do servidor, depois de verti- das 18 (dezoito) contribuições mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamento ou da união estável: 1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade; 2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de idade; 3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos de idade; 4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade; 5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e três) anos de idade; 6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade. Com a entrada em vigor da Lei n. 13.135/2015, tivemos inúmeras mo- dificações no texto da Lei n. 8.112/1990. Como consequência da alteração legislativa, novas hipóteses de perda da condição de beneficiário passaram a constar no estatuto federal. Dessa forma, o cônjuge, o cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato (com percepção de pensão alimentícia estabelecida judicialmente) e o companheiro ou companheira que comprove união estável como entidade familiar, poderão perder a condição de beneficiários da seguinte forma: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 205 a) Caso o servidor não tenha vertido, pelo menos 18 contribuições men- sais, bem com o casamento não tenha um tempo mínimo de 2 anos, a pensão será cancelada após o decurso de 4 meses. b) Após comprovar o atendimento das regras acima descritas (18 contri- buições vertidas e duração do casamento de, pelo menos, 2 anos), o prazo de concessão da pensão será calculado em razão da idade do beneficiário, de acordo com a seguinte tabela: Idade do beneficiário Tempo de concessão da pensão Menos de 21 anos de idade 3 anos Idade entre 21 e 26 anos 6 anos Idade entre 27 e 29 anos 10 anos Idade entre 30 e 40 anos 15 nos Idade entre 41 e 43 anos 20 anos Idade de 44 anos ou mais Vitalícia § 1º A critério da administração, o beneficiário de pensão cuja pre- servação seja motivada por invalidez, por incapacidade ou por defi- ciência poderá ser convocado a qualquer momento para avaliação das referidas condições. Trata-se de mecanismo de controle interno da atividade administrativa, de forma que os beneficiados com pensão que tenha como condição para o seu pagamento a invalidez, a incapacidade ou algum tipo de deficiência poderão ser convocados, a qualquer tempo, com a finalidade do Poder Público verificar se tais condições continuam presentes. Evita-se, com isso, que o dinheiro público seja utilizado para o pagamento de pensões que não mais apresentam o fundamento legal para a sua concessão. § 2º Serão aplicados, conforme o caso, a regra contida no inciso III ou os prazos previstos na alínea “b” do inciso VII, ambos do caput, se o óbito do servidor decorrer de acidente de qualquer natureza ou de doença profissional ou do trabalho, independentemente do reco- Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 206 lhimento de 18 (dezoito) contribuições mensais ou da comprovação de 2 (dois) anos de casamento ou de união estável. § 3º Após o transcurso de pelo menos 3 (três) anos e desde que nesse período se verifique o incremento mínimo de um ano inteiro na média nacional única, para ambos os sexos, correspondente à expectativa de sobrevida da população brasileira ao nascer, pode- rão ser fixadas, em números inteiros, novas idades para os fins previstos na alínea “b” do inciso VII do caput, em ato do Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, limitado o acréscimo na comparação com as idades anteriores ao referido incremento. § 4º O tempo de contribuição a Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) ou ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) será con- siderado na contagem das 18 (dezoito) contribuições mensais refe- ridas nas alíneas “a” e “b” do inciso VII do caput. Após o transcurso de pelo menos 3 anos das regras introduzidas pela Lei n. 13.135/2015,a tabela relativa ao tempo de concessão das pensões poderá ser alterada, mediante ato do MPOG, sempre que se verificar um incremento médio de, pelo menos, 1 ano na expectativa de vida da população brasileira. Na contagem das 18 contribuições mensais vertidas (regra introduzida pela Lei n. 13.135/2015), o tempo de contribuição para o regime geral de previdência social (RGPS) ou para o regime próprio de previdência (RPPS) será levado em conta para efeitos de concessão da pensão. Art. 223. Por morte ou perda da qualidade de beneficiário, a res- pectiva cota reverterá para os cobeneficiários. Art. 224. As pensões serão automaticamente atualizadas na mesma data e na mesma proporção dos reajustes dos vencimentos dos servidores, aplicando-se o disposto no parágrafo único do art. 189. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 207 Havendo mais de um beneficiário habilitado, a morte ou a perda de tal qualidade por parte de um deles acarretará a reversão dos valores até então recebidos para os demais beneficiários. Tal como ocorre com a aposentadoria, os valores pagos a título de pensão deverão ser reajustados sempre que tal medida ocorrer com relação às remu- nerações dos servidores públicos ativos. Art. 225. Ressalvado o direito de opção, é vedada a percepção cumulativa de pensão deixada por mais de um cônjuge ou compa- nheiro ou companheira e de mais de 2 (duas) pensões. Duas são as vedações apresentadas pelo artigo: a) a impossibilidade de um mesmo beneficiário receber duas ou mais pensões decorrentes de vínculos mantidos com mais de um ser- vidor público: Nessa situação, a vedação consiste em impossibilitar que uma mesma pessoa seja beneficiária de duas ou mais pensões resultantes de vínculos conjugais distintos. A título de exemplo, menciona-se a pessoa que, ao longo da vida, teve mais de um casamento, sendo ambos realizados com servidores públicos federais. Com o falecimento do primeiro, houve a habilitação para a pensão. Posteriormente, o já beneficiário teve um novo relacionamento afetivo, do qual resultou em uma união estável. Caso ocorra a morte do novo companheiro, terá a pessoa, em tese, direito ao recebimento de mais uma pensão. Contudo, a norma é expressa em vedar tal possibilidade. b) impossibilidade de recebimento de mais de duas pensões: Nota-se que o legislador foi benevolente com os beneficiários, uma vez que apenas vedou a possibilidade de recebimento de mais que duas pensões. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 208 Percebe-se, da análise do dispositivo em questão, que é plenamente lícito o recebimento simultâneo de duas pensões, com a ressalva da proibição ante- riormente analisada. Como exemplo de acumulação lícita de pensões, cita-se o filho que possui ambos os pais como servidores públicos federais. Em caso de falecimento de ambos, pode o herdeiro, de acordo com a análise da norma, habilitar-se com relação a ambas as pensões. 6.2.8. Auxílio-funeral Art. 226. O auxílio-funeral é devido à família do servidor falecido na atividade ou aposentado, em valor equivalente a um mês da remuneração ou provento. § 1º No caso de acumulação legal de cargos, o auxílio será pago somente em razão do cargo de maior remuneração. § 3º O auxílio será pago no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, por meio de procedimento sumaríssimo, à pessoa da família que houver custeado o funeral. Art. 227. Se o funeral for custeado por terceiro, este será indeni- zado, observado o disposto no artigo anterior. Art. 228. Em caso de falecimento de servidor em serviço fora do local de trabalho, inclusive no exterior, as despesas de transporte do corpo correrão à conta de recursos da União, autarquia ou fun- dação pública. O auxílio-funeral é devido à família do servidor falecido na atividade ou aposentado, em valor equivalente a um mês da remuneração ou provento. No caso de acumulação legal de cargos, o auxílio será pago somente em razão do cargo de maior remuneração. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 209 O auxílio será pago no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, por meio de procedimento sumaríssimo, à pessoa da família que houver custeado o fune- ral. Caso o funeral tenha sido custeado por terceiro, este será indenizado no prazo em questão. Caso o servidor venha a falecer fora do seu local de trabalho, inclusive no exterior, as despesas de transporte do corpo correrão por conta de recursos do Poder Público, que deverá custear, ainda, a verba relativa ao auxílio-funeral. 6.2.9. Auxílio-reclusão Art. 229. À família do servidor ativo é devido o auxílio-reclusão, nos seguintes valores: I – dois terços da remuneração, quando afastado por motivo de prisão, em flagrante ou preventiva, determinada pela autoridade competente, enquanto perdurar a prisão; II – metade da remuneração, durante o afastamento, em virtude de condenação, por sentença definitiva, a pena que não determine a perda de cargo. § 1º Nos casos previstos no inciso I deste artigo, o servidor terá direito à integralização da remuneração, desde que absolvido. § 2º O pagamento do auxílio-reclusão cessará a partir do dia ime- diato àquele em que o servidor for posto em liberdade, ainda que condicional. § 3º Ressalvado o disposto neste artigo, o auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos depen- dentes do segurado recolhido à prisão. A família do servidor público federal ativo terá direito, quando o agente for preso, ao recebimento de auxílio-reclusão, que será devido nos seguintes valores: Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 210 a) dois terços da remuneração, quando afastado por motivo de pri- são, em flagrante ou preventiva, determinada pela autoridade com- petente, enquanto perdurar a prisão; Nessa hipótese, caso o servidor venha a ser absolvido, terá direito à inte- gralização da remuneração que deixou de ser paga durante o período em que esteve preso. b) metade da remuneração, durante o afastamento, em virtude de condenação, por sentença definitiva, a pena que não determine a perda de cargo. O pagamento do auxílio-reclusão cessará a partir do dia imediato àquele em que o servidor for posto em liberdade, ainda que condicional. 6.3. Assistência à Saúde Art. 230. A assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e de sua família compreende assistência médica, hospitalar, odontológi- ca, psicológica e farmacêutica, terá como diretriz básica o imple- mento de ações preventivas voltadas para a promoção da saúde e será prestada pelo Sistema Único de Saúde – SUS, diretamente pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor, ou mediante convênio ou contrato, ou ainda na forma de auxílio, mediante ressar- cimento parcial do valor despendido pelo servidor, ativo ou inativo, e seus dependentes ou pensionistas com planos ou seguros privados de assistência à saúde, na forma estabelecida em regulamento. O conceito de assistência à saúde do servidor e de seus dependentes com- preende o direito de ambas as classes de beneficiários utilizarem a assistên- cia médica, hospitalar, odontológica, psicológica e farmacêutica. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 211 Como diretriz da assistência à saúde, teremos a adoção, por parte do Po- der Público, de ações preventivas voltadas para a promoção da saúde. Tais ações serão feitas por meio do Sistema Único de Saúde – SUS, dire- tamente, ou por intermédio de planos ou seguros privados de assistência à saúde, em caráter indireto, mediante a celebração de convênios ou contra- tos e com ressarcimento parcial dos custos efetuados pelo servidor público. § 1º Nas hipóteses previstas nesta Lei em que seja exigida perí- cia, avaliação ou inspeção médica, na ausência de médico ou junta médica oficial, para a sua realização o órgão ou entidade celebrará, preferencialmente, convênio com unidades de atendimento do siste- ma público de saúde, entidades sem fins lucrativos declaradas de uti- lidade pública, oucom o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Para a realização das perícias e demais avaliações médicas, será compe- tente a junta médica oficial do órgão ou entidade pública. Caso não exista médico ou junta oficial, poderá o órgão ou entidade celebrar convênio com unidades de atendimento do SUS, com entidades sem fins lucrativos e declaradas de utilidade pública e com o INSS. § 2º Na impossibilidade, devidamente justificada, da aplicação do disposto no parágrafo anterior, o órgão ou entidade promoverá a contratação da prestação de serviços por pessoa jurídica, que cons- tituirá junta médica especificamente para esses fins, indicando os nomes e especialidades dos seus integrantes, com a comprovação de suas habilitações e de que não estejam respondendo a processo disciplinar junto à entidade fiscalizadora da profissão. Caso não seja possível a celebração de convênio com as entidades men- cionadas no § anterior, poderá a entidade ou o órgão público contratar dire- tamente com pessoa jurídica que atue na área da saúde. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 212 Nessa hipótese, a pessoa jurídica deverá constituir junta médica para a realização da perícia ou avaliação médica. Dos profissionais que irão compor a junta, nenhum deles poderá estar respondendo a processo disciplinar junto ao órgão de fiscalização da profissão. § 3º Para os fins do disposto no caput deste artigo, ficam a União e suas entidades autárquicas e fundacionais autorizadas a: I – celebrar convênios exclusivamente para a prestação de servi- ços de assistência à saúde para os seus servidores ou empregados ativos, aposentados, pensionistas, bem como para seus respecti- vos grupos familiares definidos, com entidades de autogestão por elas patrocinadas por meio de instrumentos jurídicos efetivamente celebrados e publicados até 12 de fevereiro de 2006 e que possuam autorização de funcionamento do órgão regulador, sendo certo que os convênios celebrados depois dessa data somente poderão sê-lo na forma da regulamentação específica sobre patrocínio de autoges- tões, a ser publicada pelo mesmo órgão regulador, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias da vigência desta Lei, normas essas também aplicáveis aos convênios existentes até 12 de fevereiro de 2006; II – contratar, mediante licitação, na forma da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde que possuam autorização de funcionamento do órgão regulador; § 5º O valor do ressarcimento fica limitado ao total despendido pelo servidor ou pensionista civil com plano ou seguro privado de assis- tência à saúde. Por fim, a norma estabelece regras pertinentes à celebração de convênios ou contratos, com entidades de direito privado, relacionados com as ativida- des de assistência à saúde. Como exemplo dessa atuação, temos os diversos planos de saúde que são oferecidos aos servidores públicos federais. Prof. Diogo Surdi Lei n. 8.112/1990 213 #VEM SER GRAN FACILITE SEUS ESTUDOS: rotas de aprovação, mapas mentais, resumos e exercícios irão te guiar por um caminho mais simples e rápido. TUDO NO SEU TEMPO E ESPAÇO: faça o download de videoaulas e de PDFs e estude onde e quando você quiser e puder. VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO: mentorias diárias, ao vivo, e fórum de dúvidas não te deixarão só nesta caminhada. TUDO DE NOVO QUANTAS VEZES VOCÊ QUISER: quantas vezes você quiser, quantas vezes você precisar, estude com o material mais atualizado e de melhor qualidade do mercado. 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