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G RU PO SER ED U CACIO N AL EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E PRÁTICAS INCLUSIVAS ED U CAÇÃO EM D IR EITO S H U M AN O S E PRÁTICAS IN CLU SIVAS Autores: Vittorio Leandro Oliveira Lo Bianco; Denise Maria da Silva; Alessandra Conceição do Nascimento. Organizadora: Camila Gallindo Cornélio EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E PRÁTICAS INCLUSIVAS (Educação em Direitos Humanos e Inclusão) Autores: Vittorio Leandro Oliveira Lo Bianco; Denise Maria da Silva; Alessandra Conceição do Nascimento. Organizadora: Camila Gallindo Cornélio. Educação em Direitos Humanos e Práticas Inclusivas (Educação em Direitos Humanos e Inclusão) © by Ser Educacional Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Imagens e Ícones: ©Shutterstock, ©Freepik, ©Unsplash. Diretor de EAD: Enzo Moreira. Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato. Coordenadora de projetos EAD: Jennifer dos Santos Sousa. Equipe de Designers Instrucionais: Gabriela Falcão; José Carlos Mello; Lara Salviano; Leide Rúbia; Márcia Gouveia; Mariana Fernandes; Mônica Oliveira e Talita Bruto. Equipe de Revisores: Camila Taís da Silva; Isis de Paula Oliveira; José Felipe Soares; Nomager Fabiolo Nunes. Equipe de Designers gráficos: Bruna Helena Ferreira; Danielle Almeida; Jonas Fragoso; Lucas Amaral, Sabrina Guimarães, Sérgio Ramos e Rafael Carvalho. Ilustrador: João Henrique Martins. Bianco, Vittorio Leandro Oliveira Lo; Silva; Denise Maria da; Nascimento, Alessandra Conceição do. Organizador(a): Cornélio, Camila Gallindo. Educação em Direitos Humanos e Práticas Inclusivas: Recife: Editora Digital Pages; Editora Telesapiens; Grupo Ser Educacional - 2022. 142 p.: pdf ISBN: 978-65-81507-66-4 1. Direitos Humanos 2. Ambiente Educacional 3. Educação Inclusiva. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com Iconografia Estes ícones irão aparecer ao longo de sua leitura: ACESSE Links que complementam o contéudo. OBJETIVO Descrição do conteúdo abordado. IMPORTANTE Informações importantes que merecem atenção. OBSERVAÇÃO Nota sobre uma informação. PALAVRAS DO PROFESSOR/AUTOR Nota pessoal e particular do autor. PODCAST Recomendação de podcasts. REFLITA Convite a reflexão sobre um determinado texto. RESUMINDO Um resumo sobre o que foi visto no conteúdo. SAIBA MAIS Informações extras sobre o conteúdo. SINTETIZANDO Uma síntese sobre o conteúdo estudado. VOCÊ SABIA? Informações complementares. ASSISTA Recomendação de vídeos e videoaulas. ATENÇÃO Informações importantes que merecem maior atenção. CURIOSIDADES Informações interessantes e relevantes. CONTEXTUALIZANDO Contextualização sobre o tema abordado. DEFINIÇÃO Definição sobre o tema abordado. DICA Dicas interessantes sobre o tema abordado. EXEMPLIFICANDO Exemplos e explicações para melhor absorção do tema. EXEMPLO Exemplos sobre o tema abordado. FIQUE DE OLHO Informações que merecem relevância. SUMÁRIO UNIDADE 1 Direitos humanos: marcos históricose delimitações teórico- conceituais � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 13 Panorama internacional sobre os direitos humanos: o contexto do mundo ocidental � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 13 Os direitos humanos no Brasil: lutas e trajetórias � � � � � � � � � � � � � � � � � � �21 A pessoa com deficiência na sociedade: aspectos históricos e delimitações conceituais � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �24 Uma breve história da pessoa com deficiência � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 24 Um olhar mais focado no Brasil � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 28 Diferenças conceituais: termos, definiçõese significados � � � � � � � � � � 30 Educação Especial x Educação Inclusiva � � � � � � � � � � � � � � 30 O projeto educacional inclusivo e suas dimensões � � � � �33 As barreiras encontradas pelas pessoas com deficiência � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 35 O atendimento educacional especializado (AEE) � � � � � 36 Deficiência, incapacidade e desvantagem � � � � � � � � � � � � 36 Deficiências intelectual, sensorial, física e múltipla � � � 37 Condutas típicas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �41 Altas habilidades/superdotação � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 42 UNIDADE 2 Educação em direitos humanos: falas iniciais � � � � � � � � � � � � � � � � � � �47 Marcos político-legais da educaçãoem direitos humanos � � � � � � � � 52 Programa Mundial para a Educaçãoem Direitos Humanos � � � � � � � � � � 52 Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) � � � � � � � � 53 Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 54 Marcos legais da educação inclusiva � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �59 Marcos internacionais � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 64 Declaração de Salamanca � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 65 Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 66 Objetivos do Desenvolvimento Sustentávele a Inclusão Escolar � � � � 67 Marcos legais e o brasil � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 71 Política Nacional da Educação Especialna Perspectiva Inclusiva e Lei Brasileira de Inclusão � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �83 UNIDADE 3 Os Direitos Humanos no ambiente educacional � � � � � � � � � � � � � � � � 89 A educação em direitos humanos na educação básica � � � � � � � � � � � � � � �91 A educação para os direitos humanos no ensino superior � � � � � � � � � � � 93 Aspectos pedagógicos e reflexão sobreas práticas da educação inclusiva escolar � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �95 O ambiente escolar e a educação inclusiva� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 95 As implicações e dificuldades da Educação Inclusivano ambiente escolar � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 100 Especificidades para atuação no contextoda educação inclusiva � � � 103 A formação do professor para a Educação Inclusiva � � 103 Salas de Recursos Multifuncionais � � � � � � � � � � � � � � � � � � 107 Adaptações necessárias para educação inclusiva � � � � 109 Adaptações curriculares � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �110 Metodologia para o trabalho com os alunoscom deficiência � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 111 Avaliação do aluno com deficiência � � � � � � � � � � � � � � � � � � 112 UNIDADE 4 Refletindo sobre a educação em direitos humanos na educação não escolar � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 117 O papel das organizações sociais na Educaçãodos Direitos Humanos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 117 Educação não formal na educação inclusiva � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �120 A educação para paz � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 122 A paz como direito � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 122 Educação baseada em valores � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �124 O papel da escola na sociedade contemporânea � � � � � � � � � � � � � � � � 125 Propostas para a Educação em Direitos Humanos baseada em valores � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 128 Apresentação Esta é a disciplina de Educação em Direitos Humanos e Práticas Inclusivas, seja bem-vindo(a)! Aqui, temos muitos assuntos para debater que dialogam de perto com nosso cotidiano e nos aju- dam a pensar a construção de um mundo mais justo, democrático e respeitoso das diferenças. Na unidade 1, trataremos dos Direitos Humanos a partir do contexto brasileiro e internacional, faremos delimitações conceituais importantes. Também será apresentado um breve histórico das pessoas com deficiência. Sigamos nas refle- xões e conversas, avante! Autoria Vittorio Leandro Oliveira Lo Bianco É servidor público estadual, Analista de Ensino a Distância e Divul- gação Científica na Fundação CECIERJ. Doutor em Educação pelo ProPEd/UERJ, Mestre em Políticas Públicas, Estratégias e Desen- volvimento pelo Instituto de Economia da UFRJ, especialista em Políticas Públicas (UFRJ) e em Gênero e Sexualidade (Instituto de Medicina Social/UERJ) e Bacharel em Relações Internacionais pela PUC-Rio. Atualmente estuda Direito na UERJ e realiza o Estágio de Pós-Doutoramento em Educação na UFRRJ. É pesquisador associado dos grupos de pesquisa Cibercultura, Educação e Narrativas Audio- visuais — Cena (UERJ), Currículos, Narrativas Au- diovisuais e Diferença — Cunadi (UERJ), Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura (GPDOC - Rural). Atua nas áreas: Educação, Cibercultura, Educação a Distância, Ambientes Virtuais de Ensino-Apren- dizagem, Políticas Públicas, Globalização e Análise comparada. Denise Maria da Silva A professora Denise Maria da Silva é Especialista em Psicopedago- gia Clínica e Institucional pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Graduada em Pedagogia também pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), está na área da Educação Infantil desde 2013 e atualmente é Professora de Educação Infantil em um Centro de Educação Infantil da prefeitura de São Paulo, SP. Currículo Lattes Currículo Lattes Alessandra Conceição do Nascimento A Professora Alessandra Conceição do Nascimento é Mestre em Re- lações Comerciais Internacionais pela Universidad Nacional de Tres de Febrero – Untref. É pós-graduada em Metodologia do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira pela Faculdade de Ciências Educa- cionais e em Tutoria em Educação à Distância e Docência do Ensino Superior pela Faculdade Futura. Graduada em Comunicação Social pela Faculdades Integradas Hélio Alonso e em Formação Pedagógica para Graduados não licenciados pela Universidade Cruzeiro do Sul. Currículo Lattes Organizadora Camila Gallindo Cornélio Olá, estudante! Eu sou Camila Gallindo e os(as) acompanharei na travessia pela disciplina de Educação em Direitos Humanos e Prá- ticas Inclusivas. Tenho formações diversas nas áreas de História, Comunicação e Educação, acredito nos potentes elos que podem ser construídos pelo trabalho interdisciplinar. Atuo como professora do ensino superior por essa perspectiva: conhecimento se constrói a partir de vários lugares. Penso que os debates precisam nos enca- minhar para uma reflexão profunda sobre o tempo que vivemos e a respeito do mundo que desejamos construir. Faço doutorado no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, pes- quiso sobre representações de gênero e discursos de humor. Será um prazer estar junto de vocês nesse caminhar! UN ID AD E 1 Objetivos 1. Discutir sobre o panorama internacional dos direitos humanos. 2. Apresentar os direitos humanos no contexto do Brasil. 3. Conhecer a história da pessoa com deficiência. 4. Apresentar conceitos que fazem parte do campo da educação inclusiva. 14 Introdução Gente, ao longo da unidade iremos apresentar aspectos históricos e conceituas a respeito dos direitos humanos e da educação inclusi- va de forma que você, estudante, possa se apropriar de forma mais abrangente do lugar a partir do qual falamos, delimitações teóri- cas nos ajudam nesse sentido. Os quatro principais tópicos a serem trabalhados por nós intitulam-se: “panorama internacional sobre os direitos humanos: o contexto do mundo ocidental”, “os direitos humanos no Brasil: lutas e trajetórias”, “uma breve história da pes- soa com deficiência”, “diferenças conceituais: termos, definições e significados”. Vamos juntos(as)? 15 Direitos humanos: marcos históricos e delimitações teórico-conceituais Panorama internacional sobre os direitos humanos: o contexto do mundo ocidental O que são os direitos humanos? Quando pensamos os direitos hu- manos, em âmbito internacional, o que vem à sua mente? A concepção dos direitos humanos como universais somente ganhou este real escopo com a Carta das Nações Unidas em 1945. A partir de então, o novo direito internacional reconhecia que a pro- teção dos indivíduos deveria se dar também no nível internacional, não mais somente pelos Estados como fora produzido desde a for- mação dos Estados Nacionais. Figura 1 — Símbolo da Organização das Nações Unidas Fonte: Pixabay. A história dos direitos atribuídos aos serem humanos data desde a antiguidade, quando o poder do Estado não era limitado, logo os indivíduos não possuíam direitos frente ao poder do sobe- rano. Foi a Magna Carta inglesa que, em 1215, apresentou uma li- mitação ao poder de atuação do soberano, dando início assim ao constitucionalismo e às conquistas liberais culminadas nas Revolu- ções Francesa e Americana. 16 John Locke foi um filósofo inglês, considerado um dos “pais” do liberalismo filosófico. Foi um dos principais teóricos do que ficou conhecido como teoria do “contrato social”. O jusnaturalismo de Locke deu um caráter mais universal aos recém-criados direitos da Inglaterra. Segundo o pensamento político de Locke, o ser humano constitui a base e origem do poder que é transferido ao soberano mediante o contrato social, reconhe- cendo assim a base dos direitos como os homens. Nas revoluções americana e francesa, os direitos do homem e do cidadão são ins- tituídos, em um conteúdo de característica individualista, pesar do universalismo da fraternidade, igualdade e liberdade. Objetivavam uma República democrática, que, através do contrato social, garan- tiriam os direitos dos homens. Segundo Massaro, o jusnaturalismo ou o direito natural “é a corrente de pensamento jurídico-filosófica que pressupõe a existência de uma norma de conduta intersubjetiva universalmente válida e imutável, fundada sobre a peculiar ideia da natureza preexistente em qualquer forma de direito positivo que possa formar o melhor ordenamento possível para regular a sociedade humana, principalmente no que se refere aos conflitos entre os Estados, governos e suas populações” (MASSARO, 2019, n.p). Assim, surge então a Declaração Universal dos Direitos dos Homens, que dava prioridade à liberdade em detrimento do poder estatal. Com a Declaração da ONU, em 1945, e os posteriores tra- tados e convenções que traziam de fato um caráter internacional à VOCÊ SABIA? DEFINIÇÃO 17 legislação dos direitos humanos, a jurisdição doméstica deixou de ser a única responsável pelas garantias dos direitos. Após o totalitarismo da guerra, o elevado número de mortes, e ainda o Holocausto, os Estados objetivavam construir um siste- ma internacional seguro, onde a garantia da paz viria através do cumprimento da legislação internacional e da vigilância dos demais Estados. A questão da etnia judaica foi fundamentalpara a redação dos direitos humanos na Carta da ONU, pois o “problema judeu”, apresentado pelas autoridades nazistas alemães, fez com que o povo judeu fosse desprotegido de seus direitos estatais através da desnacionalização. Sem Estado, os judeus não possuíam garantias de respeito de direitos, assim como outras minorias. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, sur- gida como resposta às atrocidades cometidas pelo fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, foi o marco inicial para alçar os direitos humanos a um patamar de guia ético para a ordem internacional A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em sua in- trodução, diz: “No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos cujo texto, na íntegra, pode ser lido a seguir. Logo após, a Assembleia Geral solicitou a todos os Países — Membros que publicassem o texto da Declaração para que ele fosse divulgado, mostrado, lido e explicado, principalmente nas escolas e em outras instituições educacionais, sem distinção nenhuma baseada na si- tuação política ou econômica dos Países ou Estados”. Além da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, como já vimos, há outros documentos importantes para o processo de universalização dos direitos humanos. A Declaração de Viena de 1993 (que, de fato, coloca os direitos humanos como indivisíveis e universais), dá origem então a um sistema normativo internacional SAIBA MAIS 18 de proteção aos direitos. Este processo, por sua vez, foi responsá- vel por apresentar questionamentos à noção de soberania estatal, ao introduzir o tema de uma “cidadania global”, uma vez que o in- teresse sobre o respeito ao indivíduo era internacional, e não mais apenas assunto de jurisdição doméstica. Figura2 — Sede das Nações Unidas em Nova York/EUA Fonte: Pixabay. Desse modo, as necessidades consideradas fundamentais dos seres humanos, em grande parte contempladas pelos direitos de 2ª ge- ração, conhecidos como direitos coletivos, devem de fato ser definidas como direitos, dado que acima de tudo protegem grupos vulneráveis da sociedade. Apesar de estar claro em âmbito internacional que os direi- tos são indivisíveis, os direitos econômicos, sociais e culturais ainda necessitam de implementação e garantias. A Declaração de Viena é bastante clara na defesa dessa concepção ao definir a interdepen- dência entre Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento. Os direitos da 2ª Geração surgiram nas duas primeiras décadas do século XX, quando a Constituição Mexicana de 1917, a Revolução Russa, a Constituição da República de Weimar, em 1919, e a criação da Organização Internacional do Trabalho, levaram os Direitos Huma- nos a terem uma abrangência maior, incorporando esta nova gama de direitos que exigem a ação positiva do Estado (e não somente a negativa, ou seja, a ausência de interferência do Estado na garantia dos direitos individuais, como é o caso dos direitos de 1ª geração). Assim como a garantia dos direitos da 1ª geração foi fruto da luta contra o absolutismo feudal durante os séculos XVII e XVIII, 19 a garantia dos direitos de 2ª geração foi fruto das lutas sociais contra a exploração do trabalho, por novos espaços para a liberdade cole- tiva e por uma igualdade material maior que possibilitasse a digni- dade humana. No final da Guerra Fria, surgem ainda novas demandas dos novos movimentos sociais, que deram origem aos Direitos dos Povos ou Direitos da Solidariedade, a 3ª geração dos Direitos Humanos, que são ao mesmo tempo direitos individuais e coletivos, demandantes de um esforço coletivo entre indivíduos e Estados, e demais atores da ordem mundial atual. Na 3ª geração estão o Direito ao Desenvol- vimento, o Direito à Paz, o Direito à Autodeterminação dos Povos, ao Desenvolvimento Sustentável, dentre outros. Os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais estão garantidos não só pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Declaração de Viena, mas também por tratados internacionais como o Pacto In- ternacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; A Conven- ção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial; A Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discrimina- ção contra a Mulher; A Convenção sobre os Direitos das Crianças, dentre outros. Ainda sobre isso, salientamos o papel chave da Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, de 1986. Vale apontar que, apesar de já ter sido reconhecida pela Comissão da ONU de Direi- tos Humanos em 1977, a Declaração foi consagrada pela Assem- bleia Geral da organização em 1986. Ao vincular os Estados ao dever de adotarem medidas efetivas, em âmbito individual ou coletivo, voltadas para políticas de desenvolvimento internacional a fim de realizar plenamente os direitos, e acrescentando que a cooperação internacional é uma peça-chave no quebra-cabeça do desenvolvi- mento, em seu artigo 4º, o Direito ao Desenvolvimento apresenta a SAIBA MAIS 20 importância de uma globalização inclusiva, solidária e que garanta o respeito aos direitos humanos. Todavia, para garantir este respeito, a Declaração Universal de 1948 não era suficiente, uma vez que não possui força jurídica vinculante, logo, foi necessária a criação de tratados internacionais que fossem juridicamente obrigatórios no plano do direito interna- cional. Surgem então, em 1966, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Os dois pactos, em conjunto com a Declaração Universal, formam a Carta Internacional dos Direitos Humanos, ou “International Bill of Rights”. Continuando, o PIDESC (Pacto Internacional dos Direitos Eco- nômicos, Sociais e Culturais) inclui deveres para os Estados, ao con- trário do PIDCP (Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos) que lista os direitos referentes aos indivíduos. Os direitos da Segunda Geração (PIDESC) representam um esforço dos Estados parte a fim de progressivamente assegurarem estes direitos, que incluem, dentre outros, o direito à previdência social, à moradia, à educação, ao trabalho e à justa remuneração, à formação e filiação à sindicatos, à saúde física e mental adequadas, à um nível de vida adequado e ao gozo dos benefícios da liberdade cultural e do progresso científico. O mecanismo disponível para o monitoramento e implemen- tação é o de relatórios periódicos, nos quais os Estados apontam que medidas estão sendo tomadas em âmbito interno para a observân- cia dos direitos, assim como dificuldades que assegurem uma real efetivação. Os relatórios são encaminhados ao Secretário-Geral da ONU, e depois repassados para análise por parte do ECOSOC (Con- selho Econômico e Social). Quando o mecanismo de exigibilidade implementado pelo Estado Parte não é suficiente, a ONU recomenda mecanismos mais eficazes. A Declaração de Viena recomenda que seja criado também o direito de petição com relação aos direitos previstos no Pacto, através de Protocolo Adicional, ela ainda sugere que sejam estabe- lecidos indicadores para o acompanhamento da garantia dos DESC (Direitos Econômicos, Sociais e Culturais), assim como um esforço integrado pelo seu reconhecimento. 21 No âmbito da OEA, existe o Protocolo de San Salvador, de 1999, que estabelece deveres jurídicos dos Estados parte com relação aos direitos sociais. Segundo o Protocolo, os Estados Parte devem empe- nhar o máximo de recursos disponíveis para progressivamente al- cançarem a plena realização dos DESC. No Protocolo de San Salvador existe a possibilidade de petição individual a instâncias internacio- nais com relação ao direito à educação e aos direitos sindicais. Com o fim da Guerra Fria, e o avanço nas telecomunicações, o surgimento dos novos temas, e o aumento da cooperação internacional, o tema dos direitos humanos passou a ter mais destaque como pauta da agenda internacional. Todavia, mesmo com a ratificaçãodos principais instru- mentos de proteção dos direitos humanos em âmbito internacional (A Carta de Direitos e os Pactos Internacionais de 1966), o caráter social da jurisdição internacional em prol da garantia dos direitos humanos só passou a se consolidar com a Conferência do Cairo de 1944, sobre População e Desenvolvimento (onde surgiu a expres- são “Agenda Social da ONU”) que deu origem ao Programa de Ação do Cairo, como um conjunto de medidas a serem implementadas de forma conjunta em prol das questões sociais relativas ao tema prin- cipal da Conferência. A Conferência do Cairo foi essencial para a evolução da pro- teção aos DESC, uma vez que concluiu que famílias as quais pos- suem os direitos fundamentais garantidos são capazes de planejar a fecundidade e garantir a sustentabilidade dos filhos, recriando assim o conceito de Direito Reprodutivo. Em Copenhague, 1995, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social, os países em de- senvolvimento resistiram aos condicionantes que os desenvolvidos apresentavam para a consecução de investimentos, dentre eles, o de possuir uma “boa governança”. Na Cúpula Mundial de 1995, podemos apontar as bases para a Declaração do Milênio de 2000, em especial sobre os compromis- sos de redução da pobreza e miséria absoluta em 2015, através de medidas como a destinação de 0,7% do PIB dos países desenvolvi- dos à Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Foram estabelecidas também as bases para as metas relativas à igualdade de gênero, à redução da mortalidade infantil, e à educação. Ainda na década de 22 90 podemos apontar a Conferência de Beijing, de 1995, sobre os Di- reitos da Mulher, e a Habitat II (Conferência sobre Assentamentos Humanos) de 1996, em Istambul. Figura 3 — Sede das Nações Unidas em Nova York/EUA Fonte: Wikimedia. O principal resultado dessas conferências foi o fortalecimen- to do conceito de “empowerment” das mulheres, e o fortalecimento do direito a moradia como direito humano. Na agenda da Habitat, houve ainda a inovação da participação de outros atores como ONGS, sindicatos e diversos movimentos sociais, e a repetição das soluções apontadas em Copenhague para o financiamento das propostas, que foi essencialmente a questão dos 0,7% de investimento do PIB dos países desenvolvidos na Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Diante da situação apresentada pelas Conferências da década de 90, surge a Declaração do Milênio, no ano 2000, com metas a serem alcançadas até o ano de 2015, complementando e tomando como base as diversas Conferências previamente citadas. A Confe- rência de Monterrey, de 2002, apresenta então soluções de como viabilizar a implementação dos acordos de 2000, fechando a série de Conferências sobre as questões sociais no âmbito das Nações Unidas. Também devemos destacar, em 2001, a Conferência de Durban contra o Racismo, a Discriminação Racial, e Intolerância Correlata, que apesar da resistência dos países desenvolvidos, as recomenda- ções de Durban têm se mostrado positivas para a implementação 23 da proteção e medidas de reparação contra o racismo em âmbito interno de Estados em desenvolvimento. Os direitos humanos no Brasil: lutas e trajetórias O tema dos direitos humanos no Brasil passou por contextos dife- renciados nas últimas décadas. Previamente ao contexto do governo militar de 1964, a discussão sobre os direitos humanos e suas garan- tias não era um tema central no país, focado nas questões ligadas ao desenvolvimento e seus possíveis desdobramentos. Desde Getúlio Vargas, até então, a discussão girava em torno dos direitos traba- lhistas e as conquistas sociais relacionadas ao mundo do trabalho, como, por exemplo, na Consolidação das Leis do Trabalho A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a unificação das leis trabalhistas até então em vigência no país. Foi criada pelo Presiden- te Getúlio Vargas em 1º de março de 1943. A CLT regulamenta as leis individuais e coletivas relacionadas ao trabalho no Brasil. Figura 4 — Carteira de Trabalho e Previdência Social Fonte: Wikimedia. DEFINIÇÃO 24 A repressão aos direitos durante o governo militar instaurado em 1964 inaugurou uma nova etapa na consideração a respeito dos direitos humanos no país. O cerceamento às liberdades individuais e coletivas como a proibição da organização sindical, a censura à liberdade de expressão e o cerco à imprensa, além da tortura e da prisão de oponentes políticos violava não apenas os direitos civis e políticos, mas também os direitos econômicos, sociais e culturais. A reação a esse contexto de violações de direitos trouxe, ao contexto nacional, de forma mais evidente, o debate internacional sobre a necessidade de respeito e da garantia dos direitos humanos. O período seguinte, da transição democrática após o fim do regime militar, insere o país em um processo de abertura comercial. No mesmo contexto em que a “Constituição Cidadã” de 1988 foi promulgada, a inserção do país na globalização econômica in- ternacional colocava em xeque a previsão de garantia de direitos, em especial os de ordem econômica e social previstos na Constitui- ção Federal de 1988. A Constituição Federal de 1988 ficou conhecida como a “Constitui- ção Cidadã” por marcar a transição entre o regime autoritário e a reconquista da democracia, além de conter princípios constitucio- nais e garantias de direitos que consolidam direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, dentre outros. Após a transição democrática, o tema foi incorporado à dis- cussão sobre a democracia em si. Nos espaços formais de educação, o tema passou a ser abordado de forma transversal, além da orga- nização de cursos, palestras e outras ações nos espaços não formais. Na atualidade, a discussão sobre os direitos humanos enfrenta dois grandes desafios, o que atravessa diretamente a abordagem da educação sobre o tema, perpassando limitações: SAIBA MAIS 25 Duas ordens de limitações pesam sobre o con- ceito de direitos humanos e sua capacidade de constituir força educadora significativa na consciência das pessoas. A primeira vem do choque desses direitos com o forte impulso repressivo que as reiteradas – e, via de regra, sensacionalistas – denúncias de casos de cri- mes violentos aponta, para a acentuação das condenações e penalizações, como se o au- mento das penas pudesse, por si só, ter efeito importante na luta contra a impunidade e a imposição do Estado de Direito (...) A outra grande dificuldade consiste na consi- deração dos direitos humanos de forma restri- ta, separado dos outros direitos – sobretudo econômicos e sociais. A origem do conceito contemporâneo permitiu essa fragmentação, porque ele nasceu na resistência à ditadura militar, com essa conotação, além do mar- co internacional, de hegemonia das concep- ções liberais, quer apontam nessa direção (...) (SADER, 2007, n.p.) Sader argumenta que apenas uma abordagem que considere o tema dos direitos humanos de forma mais abrangente pode su- perar os desafios propostos. Conforme já foi estabelecido interna- cionalmente, os direitos humanos são indivisíveis, portanto, a não garantia dos direitos sociais, econômicos e culturais, ou dos direitos coletivos, impacta diretamente na garantia dos direitos individuais e vice-versa. Nas reflexões sobre o contexto dos direitos humanos, no Brasil, é sempre importante lembrar que a desigualdade, em especial a so- cial, que marca a sociedade brasileira, representa um desafio poten- cial e, ao mesmo tempo, evoca a necessidade da reflexão, discussão e implementação de ações. A exclusão social marca também o dis- tanciamento de ampla parcela da sociedade brasileira de seu conjunto de direitos, relacionando diretamente a falta de acesso à educação de qualidade ao processo de não reconhecimento do papel de cida- dão em sociedade. O obstáculo ao exercício da cidadania perpassa 26 não apenas a assimetria com relação à informação, à educação e à participação política, mas às condições básicasde existência, como a alimentação, o saneamento básico, dentre outros fatores, eviden- ciando a importância das discussões sobre os direitos humanos per- passarem múltiplos espaços e diversas realidades e sujeitos. Além da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, há outros documentos importantes para o processo de universali- zação dos direitos humanos. A Declaração de Viena, de 1993 (que de fato coloca os direitos humanos como indivisíveis e universais), dá origem então a um sistema normativo internacional de proteção aos direitos. Apesar de estar claro em âmbito internacional que os direitos são indivisíveis, os direitos econômicos, sociais e culturais ainda necessitam de implementação e garantias. A pessoa com deficiência na sociedade: aspectos históricos e delimitações conceituais Uma breve história da pessoa com deficiência Para que possamos compreender a história da pessoa com deficiên- cia, precisamos voltar ao começo de tudo, ou seja, aos primórdios da humanidade. Quando pensamos em Pré-história, imaginamos os dinossauros, os homens arcaicos correndo com suas clavas, mas não em pessoas com deficiência, não é mesmo? Sim, pessoas com deficiência eram muito mais comuns do que se imagina. Estudos de antropologia, paleontologia e arqueolo- gia comprovam que naquela época já existiam pessoas com trans- tornos mentais, amputações e outras deficiências. Os estudos apuraram, por meio de gravuras, ferramentas e outras peças arqueológicas, que o homem daquela época o qual não fosse do “padrão”, este seria afastado da sociedade para viver abandonado, sem que gerasse maiores transtornos ao grupo. Isso 27 acontecia muito com aqueles que eram considerados loucos ou agressivos. Já os que não ofereciam sinais de perigo, ou seja, os que tinham apenas amputações ou fraturas, eram acolhidos pelo grupo. As principais descobertas que auxiliaram na comprova- ção da existência de pessoas com deficiência foram a dos fósseis de Cro-Magnon e Pithecanthropus erectus. Com essas descobertas, os pesquisadores puderam observar a falta de membros, dedos e até mesmo partes do corpo, deficiências derivadas da luta pela sobrevivência. Avançando um pouco mais na história, chegamos ao antigo Egito, que também apresentou relatos de pessoas com deficiência. Os antigos egípcios acreditavam que essas “deformidades”, como chamavam, eram provenientes de maus espíritos, demônios ou até mesmo de pecados de vidas passadas. As pessoas com deficiência eram encontradas em diversas camadas da sociedade, desde os es- cravos, passando pelos agricultores, nobres e até os faraós. Nesta época, os excepcionais (como eram chamados), eram a aberração da sociedade. Para se ter uma ideia, em Esparta e em Atenas, o bebê só era entregue para os cuidados da mãe após uma inspeção realizada pelo Estado, já que a criança era prioridade dele. Nesta inspeção, observava-se se o recém-nascido era forte e sau- dável. Se esse apresentasse algum tipo de doença, fraqueza ou defi- ciência, era levado à morte. Os gregos, que cultuavam belos corpos, também acreditavam que a deficiência era proveniente de pecados ou crimes cometidos. A preocupação grega era cultuar e desenvolver jovens fortes e sau- dáveis para que eles pudessem contribuir na defesa da pátria e nos jogos. Ou seja, na Grécia não havia lugar para a pessoa com deficiên- cia, que era excluída e levada à morte. Em Roma, o tratamento das pessoas com deficiência era pa- recido com aquele recebido em Esparta e Atenas: a criança, após oito ou nove dias de nascida, era verificada. A verificação era feita colo- cando o bebê sobre os pés do pai, já que era ele quem decidia sobre a vida e morte de seus filhos e esposas. Se ele o erguesse, o bebê seria aceito pela sociedade, caso contrário, ele seria abandonado, o que ocorria constantemente quando havia alguma deficiência. 28 A lei das 12 Tábuas, que vigorava no início da república ro- mana, era cruel e dava permissão do próprio pai matar o filho que nascesse com alguma deficiência ou “anormalidade”. Infelizmente, foi por meio desta lei que o deficiente teve algum espaço na história, aparecendo pela primeira vez. Homero, poeta grego que escreveu obras como Ilíada e Odisseia, era cego, mas ninguém se referia a ele assim. O fato de ele ser cego era irrelevante perante seu talento. Ao final do Império Romano (séc. V), dá-se início a uma época conhecida como Idade Média. A Idade Média foi marcada pelo cris- tianismo, pela instituição da Inquisição e pelo nascimento de uma nova era para as pessoas com deficiência. Com o surgimento do cristianismo, o homem transformou seu olhar e, com isso, as pes- soas com deficiência começaram a ser vistas como merecedoras de atenção e acolhimento. O cristianismo repudiava o ato dos pais ma- tarem suas crianças, conforme praticado. Nessa época, a Igreja exercia forte influência sobre a socie- dade e resolveu assumir uma postura mais “humana”. Isto ocor- reu aproximadamente no século XVI. Mesmo com tal postura, ainda assim a Igreja acreditava que o homem era um ser divino e que os excepcionais deveriam ser deixados livres e não mais eliminados da sociedade. Sendo assim, a Igreja Católica ficou responsável pelas pes- soas com deficiência, escondendo-as do convívio social. Os mostei- ros viraram refúgio de muitas destas pessoas, sendo os padres os responsáveis pelo tratamento delas. O critério de que as deficiências eram provenientes dos demônios fez a Igreja criar a Inquisição. Mas também podemos observar o desenvolvimento do assistencialismo, que deu destaque ao acolhimento a todos os tipos de pessoa, com ou sem deficiência. CURIOSIDADE 29 A população era sofrida e sem condições de vida. Acreditavam que o nascimento de uma criança com deficiência era um castigo, além de que um corpo malformado era o templo de uma mente mal- formada, o que era predominante em bruxos e feiticeiros. Assim, o que restava para essas pessoas era o abandono. Com isso, a Igreja utilizava um manual bastante venerado entre seus frequentadores, o Malleus Maleficarum, que ensina- va a identificar a bruxa e a bruxaria que causava a deficiência, “exorcizando-a”. Passando do século XIV para o século XVII, a exclusão das pessoas com deficiência ganhou destaque. Ao longo destes séculos, essas pessoas, ainda segregadas e excluídas, eram colocadas em embarcações e deixadas à deriva para a morte dentro de calabouços ou celas. Neste momento, a internação apareceu como uma luz no fim do túnel. Com a chegada do século XIX, a sociedade ainda mantinha os excepcionais presos em internatos, porém, adotava uma postura mais piedosa, realizando práticas médicas para reabilitar e introdu- zir novamente essas pessoas na sociedade. Apenas a partir desta parte da história da pessoa com defi- ciência é que a Igreja começou a acreditar que estas pessoas pos- suíam almas, muito por influência do cristianismo. Com isso, começaram a ficar mais comuns as práticas assistencialistas e cari- dosas, “introduzindo” a pessoa com deficiência na sociedade. Uma boa indicação para compreender melhor essa passagem da his- tória é realizar a leitura da obra O Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo. A versão original é datada de 1831. Com a chegada da Idade Moderna, algumas mudanças significa- tivas ocorreram: a transição do teocentrismo para o antropocentrismo, DICA 30 a expansão dos mercados, as grandes navegações, entre outras tan- tas transformações. Isaac Newton (1643- 1727), com sua visão me- canicista do universo, passou a designar que o corpo humano era uma máquina e que a deficiência era proveniente de algum distúrbio no seu funcionamento. O médico suíço-alemão Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso, afir- mou, até sua morte, que as deficiências eram provenientes de alte- rações de humor, traumatismos e influências celestiais. Ele indicava como tratamento o magnetismo corporal, que mais tarde viria a ser transformado nahipnose, tão difundida e defendida por Freud. Já no século XIX, a sociedade ainda refletia o sentimento de que as pessoas com deficiência deveriam viver trancafiadas em ins- tituições especiais, porém, acendeu-se uma luz no fim do túnel e o trabalho com os deficientes começou a se modificar, voltando- -se para a habilitação, reabilitação e recolocação destas pessoas no mercado de trabalho graças às propostas fundadas nas práticas médicas. Um olhar mais focado no Brasil No século XVI, os jesuítas já desenvolviam estratégias e estruturas para a locomoção das pessoas com deficiências motoras. O padre Anchieta possuía escritos de que apresentava deficiência motora. E, apesar da falta de relatos mais contundentes, há registros de atendimento a um aluno com deficiência física em uma instituição particular em São Paulo. Em 1837, Louis Braille desenvolveu um método para que os cegos pudessem realizar leitura e escrita com o auxílio de pontos, batizado de método Braille, e estabelecido na Instituição Real dos Jovens Cegos em Paris, França. Com isso, Maximiliano Antônio de Lemos, após diversas viagens, conseguiu enviar uma criança para estudar no instituto e alcançou os propósitos almejados: fazer com que o menino aprendesse o método para o implantar no Brasil. Com isso, o Imperador Dom Pedro II criou o Imperial Ins- tituto dos Meninos Cegos, atualmente conhecido como Instituto 31 Benjamin Constant. Em 1857, ele também criou o Imperial Instituto dos Surdos-mudos, atualmente conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Apesar da criação destes institutos, os atendimentos ainda eram precários e, em 1883, foi realizado o 1º Congresso de Instrução Pública, com o objetivo de discutir a educa- ção das pessoas com deficiência no Brasil. Com a chegada do século XX, uma atenção mais especial co- meçou a ser voltada para as pessoas com deficiências. A criação de hospitais-escolas na década de 1940, como o Hospital das Clínicas de São Paulo, evidencia esse olhar. A produção de novos estudos so- bre a deficiência e a reabilitação exibiu uma clara ligação entre a de- ficiência e a área médica. Porém, apesar da alteração da visibilidade das pessoas com deficiência, o auxílio ainda se mantinha de cunho assistencialista. Podemos citar diversas instituições que foram criadas com o intuito de acolher e reabilitar as pessoas com deficiência. Em 1926, o Instituto Pestalozzi foi criado em Canoas (RS); em 1954, foi fun- dada a primeira Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) no Rio de Janeiro e, no mesmo ano, também era fundada a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). Mas foi a partir da década de 1970 que a luta do reconheci- mento dos direitos das pessoas com deficiência começou a ganhar destaque. A partir daí, em 1986, foi criada a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) e, em 1999, o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiên- cia, o Conade, para que essas pessoas tivessem a garantia de igual- dade de direitos civis, sociais e políticos. Atualmente, as pessoas com deficiência possuem seus direitos assegurados, porém, ainda paira uma dúvida sobre o cumprimento desses direitos. Hoje, conseguimos observar que existe a tradução simultânea para uma pessoa surda, audiodescrição para uma pessoa cega, rampas de acesso para cadeirantes, entre outros direitos, mas ainda temos que refletir se existe mesmo a acessibilidade. O censo demográfico 2020 sobre o mapeamento de pessoas com deficiência no Brasil aponta que, em 2010, 24% da população brasileira possuía algum tipo de deficiência, conforme o Gráfico 1. 32 Lembre-se que são consideradas pessoas com deficiência aquelas que possuem impedimentos a longo prazo de natureza física, men- tal, intelectual ou sensorial. Gráfico 1 — População com deficiência no brasil Fonte: adaptado do ministério da saúde, 2020. Diferenças conceituais: termos, definições e significados Educação Especial x Educação Inclusiva De acordo com o Art. 205 da Constituição Federal de 1988, a educa- ção é um direito de todos. Esse direito também é assegurado pelas diretrizes da Política Nacional de Educação. Ele vai além da matrí- cula em uma instituição de ensino: significa que esse aluno deve aprender e desenvolver suas habilidades e competências a partir das oportunidades educacionais a ele oferecidas. 33 Dentro da educação, existe a área da educação inclusiva, que constitui uma perspectiva de uma educação para todos. Ela é um enorme desafio para todos os sistemas educacionais brasileiros, já que nossa realidade aponta para uma grande parcela de excluídos, que ficam impossibilitados de ter o acesso à escolarização, apesar dos esforços para a universalização do ensino. Quando pensamos em educação inclusiva, pensamos na abrangência apenas para as pessoas com deficiência, porém, ela engloba muito mais. Para en- tendermos melhor esse paradigma, esclareçamos as diferenças. A educação especial é a área do ensino que compreende o atendimento a pessoas com deficiência, preferencialmente em ins- tituições de ensino regular ou em ambientes especializados. Ou seja, é a modalidade de ensino que possibilita a inserção da pessoa com deficiência na educação. Inicialmente, imaginávamos a educação especial como su- porte à escola regular, porém, não é bem assim. A educação especial acompanha as tendências e modelos de combate a desigualdade. Com isso, o modelo desigual das escolas começou a ser questionado e, assim, buscaram opções de práticas pedagógicas que pudessem abranger também os alunos PCD junto das outras crianças no ensino regular. Com toda essa revolução, o movimento ganhou forças, pro- movendo transformações nas políticas públicas que acercam a educação especial. A educação especial, portanto, é vista como uma modalidade de ensino que atua em todas as esferas da educação (edu- cação infantil, ensinos fundamentais, médio e superior, educação de jovens e adultos e a educação profissionalizante), com o objetivo de auxiliar o pleno desenvolvimento das capacidades do indivíduo. Já a educação inclusiva abrange todas as camadas da socie- dade que estão sem acessibilidade, ou seja, é quando todo o pro- cesso de ensino e aprendizagem e todas as atividades desenvolvidas no contexto escolar ocorrem de forma conjunta, atingindo tanto os PCDs quanto as outras crianças. Não é um processo de apenas esco- larizar as crianças com deficiência junto das outras, mas, sim, cau- sar a promoção dessas crianças na sociedade como um todo, dando a elas as mesmas oportunidades que as outras possuem. 34 Quadro 1 — Diferenças entre a educação especial e a educação inclusiva Educação especial Educação especial na perspectiva inclusiva Sistema separado, paralelo ao regular. Faz parte da proposta pedagógica da escola. Perpassa todos os níveis, etapas e modalidades de ensino. Por isso, é tida como transversal. Substitui o ensino regular. Complementa ou suplementa ao processo de escolarização em sala de aula. Dinâmica independente, total ou parcialmente dissociada do ensino regular. Dinâmica dependente, totalmente articulada com o trabalho realizado em sala. Restritiva e condicional. Somente os alunos considerados aptos para o ensino regular podem frequentá-lo. Incondicional e irrestrita. Garan- te o direito de todos à educação, ou seja, à plena participação e aprendizagem. O referencial é o que se conven- ciona julgar como “normal” ou estatisticamente mais frequente. Parte do pressuposto de que a dife- rença é uma característica humana. Baseia-se no modelo médico de deficiência. Foca nos aspectos clí- nicos, ou seja, no diagnóstico. Baseia-se no modelo social de deficiência. Foca na articulação entre as características da pessoa e as barreiras a sua participação presentes no ambiente. Nem todos os estudantes conse- guem se adaptar à escola. Nem todos correspondem ao padrão estabelecido por ela. A escola deveresponder às neces- sidades e interesses de todos os alunos, sem exceção, partindo do pressuposto de que todas as pes- soas aprendem. Estratégias pedagógicas diferentes para somente alguns estudantes. Diversificação de estratégias peda- gógicas para todos. Fonte: adaptado de DIVERSA. 35 O conceito de equidade consiste em adaptar a regra para um determinado caso específico a fim de deixá-la mais justa. Neste caso, utiliza-se da imparcialidade para reconhecer o direito de cada um, usando a equivalência para se tornarem iguais. Figura 5 — Representatividade da equidade Fonte: Shutterstock. O projeto educacional inclusivo e suas dimensões Para que a aprendizagem seja realmente efetiva, o projeto educa- cional inclusivo se apoia em cinco pilares: • Políticas públicas: compreende toda esfera legislativa, exe- cutiva e judiciária, ou seja, é o conjunto de leis e diretrizes que rege o direito à educação inclusiva. • Gestão escolar: abrange o planejamento e o desenvolvimento das atividades de direção de uma instituição de ensino. • Estratégias pedagógicas: são as estratégias e o planejamen- to voltados para o ensino e aprendizagem que o professor realizará. • Família: é um dos pilares principais, pois compreende a relação junto à escola em que o aluno está inserido. • Parcerias: compreende as relações entre a escola e institui- ções externas atuantes para oferecer apoio neste processo de educação inclusiva. Igualdade Equidade Realidade 36 Com esses pilares estabelecidos, conseguimos realizar o trabalho pedagógico definindo os conteúdos a serem estudados e adaptados. A partir do século XVIII, observamos grandes avanços na me- dicina e, com ela, buscou-se a reabilitação das pessoas. Devido às guerras ocorridas, muitas pessoas acabavam ficando com ampu- tações, deformações, entre outras deficiências. Com isso, a ciência passou a ter uma nova visão sobre a deficiência, dando origem ao modelo médico de atendimento ou movimento de integração. O modelo médico compreende que o indivíduo é portador de alguma patologia e que pode ser “curado” pela ciência. Na educação, é solicitado ao aluno e a sua família acompanhamento e tratamen- to nas diversas áreas que passam a ser auxiliares na inclusão desse aluno, como, por exemplo, psicologia, psiquiatria, neurologia, fo- noaudiologia, fisioterapia etc. O modelo social ou movimento de inclusão, diferente do modelo médico, consiste em fazer com que não só a escola seja um local de inclusão, mas também que as sociedades em si aceitem e acolham as pessoas com deficiência. Iniciou-se entre as décadas de 1960 e 1970 na Grã-Bretanha, criticando a organização da sociedade para com a pessoa com deficiência, que não levava em consideração as diversidades existentes. No Brasil, o movimento ganhou forças a partir da década de 1980, apontando as sete dimensões existentes como barreiras para incluir a pessoa com deficiência na sociedade como um todo. Nesse paradigma, surgiu o termo acessibilidade, gerando uma reflexão em toda a sociedade sobre os direitos das pessoas com deficiência. A política de acessibilidade não pode ser vista como assisten- cialismo, pelo contrário, deve ser vista como uma busca para eliminar as barreiras existentes. Devemos incluir essas pessoas na participa- ção de atividades, como o uso de produtos, serviços e informações. No modelo social, as barreiras encontradas (arquitetónicas, atitudinais, comunicativas etc.) implicam em desvantagem no de- sempenho dos papéis na escola e na sociedade. 37 Figura 6 Fonte: Adobe Stock. As barreiras encontradas pelas pessoas com deficiência Na educação inclusiva, encontramos sete barreiras para incluir to- talmente o aluno. Iremos analisar e refletir sobre cada uma delas. Poderemos encontrar essas barreiras simplificadas em apenas três dimensões: arquitetónicas, atitudinais e comunicativas, mas se faz necessário sabermos sobre cada uma delas para uma melhor compreensão. • Acessibilidade arquitetónica, urbanística e de transporte: compreende em não existirem barreiras ambientais físicas nas residências, edifícios, espaços e equipamentos urbanos, além dos meios de transporte individuais ou coletivos. • Acessibilidade comunicacional: tem como intuito não existi- rem barreiras na comunicação interpessoal, ou seja, os meios de comunicação escritos, interpessoais, virtuais, entre outros. • Acessibilidade metodológica: não há barreiras nos estudos, no trabalho e na família. • Acessibilidade programática: consegue quebrar as barreiras introduzidas nas políticas públicas, normas e regulamentos. • Acessibilidade instrumental: consiste em não haver barreiras nos instrumentos e ferramentas utilizadas nos estudos, tra- balho, lazer e recreação. • Acessibilidade natural: sem barreiras aos acessos da natureza. 38 O atendimento educacional especializado (AEE) O atendimento educacional especializado, mais conhecido por AEE, de acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspec- tiva da Educação Inclusiva, é um serviço que vem para identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem barreiras para a plena participação dos alunos, conside- rando suas necessidades específicas. O ensino oferecido no AEE é diferente daquele oferecido nas escolas regulares. Ocorre no contraturno dos estudos e não pode ser confundido como um reforço escolar. O AEE acontece nas salas de recursos multifuncionais (SRMF), mas pode transcorrer também em uma sala comum em colaboração com outro professor, caso seja necessário. O AEE é destinado aos alunos com deficiência. Segundo a Lei Federal n. 13.146/2015, em seu Art. 2º, alunos com deficiência são aqueles que têm impedimentos de longo pra- zo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial, os quais, em integração com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as de- mais pessoas. Deficiência, incapacidade e desvantagem Nem sempre encontraremos pessoas com deficiência que possuem uma necessidade educacional especial, por isso o porquê da pergun- ta. Iremos então desvendar esta questão. • Deficiência: é toda e qualquer perda, falta ou alteração de es- trutura ou de função, qualquer que seja a sua causa. Quando falamos de falta ou perda, estamos nos referindo à ausência ou anormalidade de partes do corpo, podendo ser membro, órgão ou tecido. • Incapacidade: é uma consequência direta de uma deficiência, seja essa de ordem psicológica, física, sensorial ou outra, ou seja, a incapacidade é qualquer restrição decorrente de uma deficiência que impeça o desempenho de uma atividade 39 funcional comum para o ser humano, podendo ser temporária ou permanente. • Desvantagem: é uma situação desvantajosa para um indiví- duo determinado, como consequência de uma deficiência ou incapacidade que o limita ou o impede de desempenhar um papel que esteja de acordo com a sua idade, sexo e com os fa- tores sociais e culturais. Sua característica é a diferença entre o rendimento do indivíduo e suas próprias expectativas e as do grupo a que pertence. Sintetizando os três conceitos, citamos o exemplo de lesão na medula: é uma deficiência que deixa a pessoa incapaz de andar e em desvantagem de não poder ter uma locomoção autônoma. Assim, podemos dizer que esses conceitos nos auxiliam a pensar que nem tudo que parece ser causado por uma deficiência é consequência di- reta ou somente dela. Deficiências intelectual, sensorial, física e múltipla A deficiência intelectual é caracterizada pelo funcionamento cog- nitivo que não corresponde à média esperada, ou seja, considera- do abaixo do normal. Pode ser classificada em quatro níveis: leve, moderada, grave e profunda. É importante ressaltar que essa clas- sificação é utilizada principalmente pela área médica e nós, profes- sores, ficamos a par destas informações por meio de laudos que são disponibilizados pela família para a escola. Osfatores que podem ocasionar essa deficiência são as causas pré-natais (desnutrição, má assistência à gestante, doenças infec- ciosas como a sífilis) e fatores perinatais (erros que ocorrem desde o início do trabalho de parto até o 30º dia de vida do bebê, ou seja, má assistência ao pré-parto, parto e pós-parto, prematuridade, baixo peso, icterícia grave, entre outros). O professor pode desenvolver como estratégia o desenvolvi- mento da comunicação, da autonomia para realizar seus cuidados pessoais, atividades cotidianas, habilidades sociais, além das habi- lidades acadêmicas funcionais. 40 A deficiência visual é o comprometimento parcial ou total da visão. Pessoas com miopia, astigmatismo ou hipermetropia não são consideradas deficientes visuais, pois essas situações podem ser corrigidas com o uso de lentes ou cirurgias. Podemos considerar deficiência visual a baixa visão (que pode ser leve, moderada ou profunda e necessita do auxílio de lentes de aumento para a visão), próximo à cegueira (quando a pessoa ainda é capaz de enxergar ape- nas sombras e já utiliza do sistema Braille para a escrita e leitura) e a cegueira (que é quando a pessoa não enxerga qualquer percepção de luz). A deficiência visual pode ser ocasionada por patologias como a toxoplasmose, glaucoma congênito, catarata congênita, doenças hereditárias, retinopatia da prematuridade, retinose pigmentar, conjuntivite gonocócica e neurite ótica. Dentre as estratégias que os professores podem realizar frente à deficiência visual, estão as seguintes: • deixe os alunos se sentarem em locais onde possam ver (e ou- vir) melhor; • identifique-se antes de falar para benefício das crianças com dificuldades visuais, por exemplo: “aqui é a Maria” ou “o meu nome é...”; • escreva no quadro com letra grande e clara; • leia as instruções, nunca parta do princípio de que todos as conseguem ler no quadro; • especifique o que está ilustrado nos suportes visuais (por exemplo, do lado esquerdo está...); • reduza e, se possível, elimine o ruído de fundo para permitir que haja concentração total no que o professor está dizendo, evitando que haja distração; • deixe as crianças tocarem nos suportes de ensino se não os puderem ver, os mapas, por exemplo, podem ser delineados com um fio; • os alunos com baixa visão poderão ainda se beneficiar da uti- lização de letras grandes, lupas, uso de iluminação apropria- da, suportes de leitura ou pranchetas; 41 • os alunos com cegueira poderão se beneficiar da utilização de formação em orientação e mobilidade para se movimen- tarem com independência e segurança, de preferência com uma bengala, ademais, eles devem ser ensinados a utilizar o Braille e podem gravar as aulas para facilitar seu acesso às informações. O sistema Braille é composto por 64 símbolos em relevo, que são resultantes da combinação de até seis pontos dispostos em duas colunas de três pontos cada. Por meio deste sistema, pessoas com baixa ou nenhuma visão são capazes de ler. Figura 7 — O sistema Braille Fonte: Shutterstock. A deficiência auditiva é diferente da surdez. O conceito de deficiência auditiva consiste na perda parcial ou total da capacidade de detectar sons causada por malformação (causa genética), lesão na orelha ou na composição do aparelho auditivo. Já a surdez é a to- tal ausência da audição. Nos casos de perda auditiva de grau leve, as pessoas podem não se dar conta de que ouvem menos, somente um teste de audição (audiometria) vai revelar a deficiência. Quando a perda auditiva passa a ser de moderada para severa, os sons podem ficar distorcidos; na conversação, as palavras se tor- nam abafadas e mais difíceis para entender, particularmente quan- do são várias pessoas conversando em locais com ruído ambiental ou salas com eco. 42 A perda auditiva profunda é causada, muitas vezes, pela fal- ta de assistência logo na primeira infância, trazendo dificuldades no desenvolvimento da linguagem. Em geral, a primeira suspeita quanto à existência de uma alteração auditiva em crianças mui- to pequenas é feita pela própria família a partir da observação da ausência de reações a sons, comportamento diferente do usual — a criança que é muito quieta, dorme muito e em qualquer ambiente, não se assusta com sons intensos — e, um pouco mais velha, não desenvolve linguagem. A perda auditiva pode ser causada por duas maneiras: por condução (quando existe um bloqueio no mecanismo de transmis- são de som desde o canal auditivo externo até o limite com o ouvido externo) ou por percepção (lesão de células sensoriais e nervosas). O professor que for realizar um trabalho com um aluno que possua deficiência auditiva ou surdez deve tomar alguns cuida- dos para que a aprendizagem seja efetiva. Para isso, podemos uti- lizar materiais e equipamentos específicos como prótese auditiva, tablado, softwares educativos específicos, textos complementados com elementos que favoreçam a compreensão, como, por exemplo, desenhos, linguagem gestual, língua de sinais (Libras), utilizar um sistema alternativo de comunicação adaptado às possibilidades do aluno (leitura orofacial, linguagem gestual e de sinais), salas-am- biente para treinamento auditivo, de fala, rítmico, de apoio pedagó- gico em paralelo ao que é desenvolvido em sala de aula, posicionar o aluno na sala de forma que ele possa ver os movimentos orofaciais do professor e dos colegas e também utilizar material visual e de apoio. O professor também deve falar na frente do aluno para que ele possa compreender a expressão orofacial. De acordo com o Decreto n. 3.298/99, a deficiência física é definida pelo Art. 4 como “uma alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometi- mento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputa- ção ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções” (BRASIL, 1999). 43 Dentre essas classificações, podemos observar que existem alterações anatômicas e fisiológicas do aparelho locomotor. Iremos apresentar aqui apenas as que são mais comuns em idade escolar. A deficiência física pode ser classificada como lesão cerebral (paralisia cerebral, hemiplegias/paresias), lesão medular (paraple- gia/tetraplegias) e miopatias (distrofias musculares). Referente às causas, podemos elencar aquelas que são próprias do período pré- -natal (rubéola, toxoplasmose, sífilis, uso de álcool e tabagismo, desnutrição, entre outros), perinatal (falta de oxigênio no cérebro e trauma obstétrico) e pós-natal (traumas na cabeça, meningites, convulsões, entre outros). As estratégias pedagógicas com esse aluno devem levar em consideração a compreensão do processo evolutivo e também avaliar as interferências que limitam total ou parcialmente suas funções corporais na interação com o meio. Podemos conceituar como deficiência múltipla a ocorrência de duas ou mais deficiências simultaneamente, sejam elas intelec- tuais, físicas ou ambas combinadas. Um bom exemplo de deficiência múltipla seria uma pessoa que possui deficiência intelectual e física. É uma situação grave, porém, não acomete muito a população. Antigamente, os profissionais e familiares tinham muito cui- dado, pois achavam que eram pessoas incapazes de realizar alguma atividade ou tarefa. Porém, atualmente, adotamos uma postura di- ferente, focando em quais possibilidades a pessoa com deficiência múltipla é capaz de realizar. Existe também o foco em suas necessi- dades ao invés de suas dificuldades. As estratégias pedagógicas devem ser avaliadas caso a caso, pois existem diversas deficiências múltiplas e não conseguimos ade- quar as estratégias para serem utilizadas por todas. Condutas típicas O termo “condutastípicas” se refere a uma variedade muito grande de comportamentos, o que tem dificultado o alcance de consenso em torno de uma só definição. Portanto, podemos dizer que alunos com condutas típicas apresentam comportamentos inconvenientes ou inadequados, causando danos a si mesmos e aos outros, além de possuírem prejuízos em suas relações sociais. 44 Podemos citar como exemplos a falta da verdade, a prática de pequenos furtos para chamar a atenção, o grito, a autoagressão e automutilação, a recusa em seguir regras, a dificuldade de relação com os professores e com os colegas, entre outros comportamentos. A possibilidade de localizar 50% ou mais desses comporta- mentos em uma mesma pessoa pode caracterizar alguma síndrome, disfunção ou desvio de comportamento a ponto de demandar uma intervenção da área da saúde mental para avaliação e atendimento. Para trabalhar com essas pessoas, o professor deve se manter calmo e sereno, controlando sua ansiedade e seu nervosismo ao se relacionar com a criança; deve ajudá-la a se integrar com o grupo, enaltecendo suas qualidades quando realizar algo que a deixe feliz; não deve se deixar levar pelas chantagens emocionais e não deve ceder aos acessos de raiva, deixando a raiva passar para estabele- cer um diálogo; deve ser direto e não crítico, demonstrar confiança, amizade e sempre oferecer apoio para resolver os problemas que o aluno apresentar. Lembre-se de que crianças necessitam de sorri- sos e, quando necessário, abraços. Altas habilidades/superdotação Embora não exista ainda uma definição universal para o termo altas habilidades/superdotação, esses indivíduos demonstram um alto grau de potencialidades e reúnem os seguintes aspectos: “são iso- lados ou combinados, possuem capacidade intelectual geral, pensa- mento criativo ou produtivo, aptidão acadêmica específica, talento para as artes e capacidade psicomotora” (BRASIL, 2006, p. 12). Sobre os tipos de altas habilidades/superdotação, podemos destacar os seguintes tópicos: 45 Quadro 2 — tipos de altas habilidades/superdotação Tipos de altas habilidades/superdotação Tipo intelectual Tipo acadêmico apresenta flexibilidade, fluência de pensamento, capacidade de pensa- mento abstrato para fazer associa- ções, produção ideativa, rapidez do pensamento, compreensão e memória elevadas, capacidade de resolver e lidar com problemas. evidencia aptidão acadêmica específica, de atenção, de concen- tração; rapidez de aprendizagem, boa memória, gosto e motivação pelas disciplinas acadêmicas de seu interesse; habilidade para avaliar, sintetizar e organizar o conheci- mento; capacidade de produção acadêmica. Tipo criativo Tipo social relaciona-se às seguintes caracte- rísticas: originalidade, imaginação, capacidade para resolver proble- mas de forma diferente e inovado- ra, sensibilidade para as situações ambientais, podendo reagir e produzir diferentemente, e até de modo extravagante; sentimento de desafio diante da desordem de fatos; facilidade de autoexpressão, fluência e flexibilidade. revela capacidade de liderança e caracteriza-se por demonstrar sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade ex- pressiva, habilidade de trato com pessoas diversas e grupos para es- tabelecer relações sociais, percep- ção acurada das situações de grupo, capacidade para resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e de influência no grupo. Tipo talento especial Tipo psicomotor pode se destacar tanto na área das artes plásticas, musicais, como dramáticas, literárias ou técnicas, evidenciando habilidades espe- ciais para essas atividades e alto desempenho destaca-se por apresentar habi- lidade e interesse pelas ativida- des psicomotoras, evidenciando desempenho fora do comum em velocidade, agilidade de movimen- tos, força, resistência, controle e coordenação motora. Fonte: adaptado do Ministério da Educação, 2006. 46 Cada pessoa apresenta um perfil diferenciado de pensar, aprender, agir e desenvolver seu potencial, e destacamos algumas para exemplificar: • curiosidade e vivacidade mental; • motivação interna; • persistência; • facilidade de compreensão; • capacidade para resolver problemas; • habilidade de assumir riscos; • energia; • sensibilidade. Em sala de aula, o professor deve fazer com que as necessi- dades sejam atendidas. Não existe uma estratégia única para todos, pois cada um possui sua particularidade, porém, podemos criar ambientes de aprendizado favoráveis para aprendizagem, materiais escritos que instiguem a curiosidade e evitar que esse aluno crie o sentimento de superioridade para com os outros colegas. Analisamos e aprendemos sobre a história da pessoa com deficiência. Também discutimos a respeito da diferença entre a educação especial e a educação inclusiva, observando seus modelos de atendimento, bem como as barreiras enfrentadas pelas pessoas que possuem alguma deficiência. Conhecemos o trabalho realizado pelo atendimento educacional es- pecializado, suas características, onde é realizado e qual seu públi- co-alvo. Também pudemos nos aprofundar um pouco mais sobre as deficiências existentes, seus tipos, variações e conhecer estratégias que podem ser aplicadas em sala pelo professor. SINTETIZANDO UN ID AD E 2 Objetivos 1. Compreender as dimensões gerais sobre a educação em direi- tos humanos. 2. Conhecer marcos político-legais da educação em direitos humanos. 3. Analisar os marcos legais internacionais da educação inclusiva. 4. Conhecer os marcos legais nacionais. 48 Introdução Esta é a disciplina de Educação em Direitos Humanos e Práticas Inclusivas, seja bem-vindo (a)! Aqui temos muitos assuntos para debater que dialogam de perto com nosso cotidiano e nos ajudam a pensar a construção de um mundo mais justo, democrático e respei- toso com as diferenças. Ao longo desta unidade falaremos sobre os marcos político-legais da educação em direitos humanos e da edu- cação inclusiva. Aqui, queremos reconhecer a importância de docu- mentos na luta pelo respeito à diferença e pela dignidade da pessoa humana, precisamos saber o que dizem, como se organizam e o que têm no horizonte. Os tópicos abordados serão: educação em direitos humanos: falas iniciais; marcos político-legais da educação em di- reitos humanos; marcos legais da educação inclusiva; marcos legais e o Brasil. 49 Educação em direitos humanos: falas iniciais Para a área de estudos da educação em direitos humanos a educação além de ser um direito em si mesma, possibilita o conhecimento, o acesso e a compreensão a respeito dos demais direitos, permitindo que o cidadão possa se inserir plenamente em sociedade, ciente do conjunto de seus direitos. A partir do estudo da educação em direitos humanos é possível que a cultura criada em torno da valorização dos direitos humanos permita o respeito às diversidades, seja de ordem religiosa, cultural, étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, de nacionalidade, dentre outras. Para Maria Victoria Benevides, três pontos são premissas para a Educação em Direitos Humanos: “a educação continuada, a educação para a mudança e a educação compreensiva, no sentido de ser compartilhada e de atingir tanto a razão quanto a emoção.” (Benevides, 2000)1. A autora enfatiza ainda a ideia de que a educação em direitos humanos também é a educação para a cidadania, de for- mação de cidadãos participativos e, além disso, solidários. É necessá- rio que os educadores conheçam, por suposto, os direitos humanos, as instituições relacionadas a promoção deles. Quando tratamos da educação em direitos humanos esta- mos abordando diretamente a questão da formação de discentes e docentes para compreenderem a realidade a sua volta a partir dos pressupostos teóricos dos direitos humanos. Partido da ideia de que a educação em direitos humanos pressupõe a educação para a cida- dania e para a concepção de democracia com participação popular, podemos considerar o pensamentode Adorno (2003, p. 142) a res- peito do tema: 1 Palestra de abertura do Seminário de Educação em Direitos Humanos, São Paulo, 18 fev.2000, da então professora de Sociologia da Faculdade de Educação da USP e vice coordenadora da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos Maria Victoria Benevides. A autora agradece a impor- tante contribuição do Prof. Fábio Konder Comparato. 50 A seguir, e assumido o risco, gostaria de apre- sentar a minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a assim chamada modela- gem de pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir do exterior; mas tam- bém não a mera transmissão de conhecimen- tos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isso seria inclusive da maior importância política; sua idéia [sic. ideia], se é permitido dizer assim, é uma exi- gência política. Isto é: uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas ope- rar conforme seu conceito, demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado. (ADORNO, 2003, p. 142). Dentro dessa concepção, a metodologia relacionada à educação em direitos humanos diz respeito a uma prática de ensino-aprendi- zagem que seja orientada para a educação em direitos humanos, considerando o caráter transversal e articulando conhecimentos e práticas com os demais atores sociais, para além dos espaços formais de educação. Para isso, é importante a integração dos objetivos pre- vistos para a educação em direitos humanos a todo o processo de ensino- aprendizagem, inclusive às diferentes formas de avaliação. Também se faz necessário o desenvolvimento de programas e me- todologias voltados para estimular a reflexão e a formação do tema, estabelecendo a troca de informações e experiência entre os atores governamentais e demais membros da sociedade civil organizada, inclusive os relacionando à educação não formal a fim de construí- rem conjuntamente estratégias de formação. No que tange as ações oficiais sobre o tema da educação em di- reitos humanos devemos pontuar a previsão da Constituição Federal de 1988, além da Lei Darcy Ribeiro, a lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a respeito da centralidade do exercício da cidadania como um dos objetivos da educação em nosso país, prevendo, para esse fim, um processo de ensino-aprendiza- gem que tem por base a liberdade e a solidariedade com fins ao de- senvolvimento integral do estudante. 51 Atualmente a necessária conexão entre os direitos humanos e a educação em direitos humanos torna-se ainda mais importante diante dos inúmeros desafios impostos a ambos, como: a grande de- fasagem na educação formal, reflexo da desigualdade social; o mo- delo tradicional de educação e a resistência a pressupostos teóricos e práticas inovadoras que considerem o tema dos direitos humanos de forma transversal; a não implementação das ações previstas no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, especialmente no que tange a abordagem do tema na formação continuada dos do- centes, e os desafios aos direitos humanos como a resistência devido ao quadro de insegurança pública e o privilégio dado à consideração dos direitos civis e políticos em detrimento dos demais. A excessiva ênfase na consideração da educação como instru- mento exclusivo de formação de mão-de-obra, desconsiderando o caráter de inclusão, estímulo à reflexão crítica e inserção plena do cidadão em sociedade representa um desafio extra à educação em direitos humanos nos tempos atuais. Em paralelo, as sucessivas crises, em especial na educação pública nas últimas décadas, fruto de uma (re)consideração do papel do Estado e de crises orçamen- tárias do setor público, agravam ainda mais o cenário, impondo uma agenda do “mínimo” às condições adversas enfrentadas pela educação pública, considerando projetos e tarefas “extras” como podem vir a ser consideradas as que levam o tema dos direitos hu- manos à centralidade (em uma visão que não concebe a questão desde o início do planejamento escolar). A Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura a educação enquanto direito humano fundamental, em seu artigo 26, prevê que: 1. toda pessoa tem direito à instrução. A ins- trução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução ele- mentar será obrigatória. A instrução técnico- -profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. a instrução será orientada no sentido do ple- no desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos 52 humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a to- lerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da ma- nutenção da paz [...] Dentro desse contexto, o direito à educação pressupõe, dentro da concepção da educação em direitos humanos, que o aluno seja visto como sujeito detentor de direitos e deveres, que deve ser res- peitado em suas características étnicas, culturais, econômicas, den- tre outras. O direito à educação recebe a missão de ser uma “porta de entrada” aos demais direitos, pois a reflexão do papel do indivíduo enquanto membro de uma coletividade, a sociedade, desperta a re- flexão crítica necessária para compreensão dos direitos, além dos deveres. Cabe ressaltarmos que no Brasil, para além da educação for- mal, desde a década de 1980 há um trabalho intenso das organi- zações da sociedade civil organizada, como as organizações não governamentais e movimentos sociais. Conforme vimos, a mobili- zação inicial em torno da garantia dos direitos civis e políticos no contexto do regime militar de 1964 despertaram o ativismo pelos direitos humanos e a mobilização em torno do tema. Este trabalho ocorre em consonância com o poder público, porém, muitas vezes, busca suprir lacunas que a oferta de políticas públicas deixa no país. Assim, tanto em espaços de educação não formal quanto, e principalmente, em espaços de educação formal, um dos desafios contemporâneos à educação em direitos humanos é a formação de professores habilitados a considerar o tema em seus planejamentos de aula, a partir de uma formação deles próprios em direitos hu- manos e a compreensão de como, metodologicamente, trabalhar as questões relacionadas. Outra questão correlata é a necessidade da superação de uma educação meramente tecnicista, voltada exclusivamente para a ca- pacitação específica para um ofício. É essencial a consideração dos professores também como cidadão capaz de não apenas participar do processo de ensino-aprendizagem, mas também enquanto agente fundamental de mobilização para os direitos humanos. 53 Cabe ressaltarmos que nos espaços de educação não formal como presídios, organizações não-governamentais, espaços de edu- cação religiosa, dentre outros, também cabe a mobilização dos do- centes para o tema, pois, estes, muitas vezes lidam diretamente com grupos excluídos e marginalizados em nossa sociedade, justamente onde a conscientização para a cidadania plena pode fazer ainda mais diferença. Atualmente também é fundamental a conceptualização e a promoção da reflexão a respeito dos direitos de igualdade e os de diferença, compreender especificidades das pautas identitárias, relacionadas a temas como sexualidade, étnico- raciais, dentre ou- tras. Esses são temas que tem mobilizado a sociedade devido a dife- rentes visões sobre como o direito à diferença deve ser tratado. Todavia, se consideramos a questão da educação em direi- tos humanos devemos sempre lembrar que estamos partindo de pressupostos teóricos e metodológicos consolidados nacional e in- ternacionalmente a partir da garantia e da promoção de direitos, estabelecendo um roteiro mínimo e que busca ser consensual para estes temas. Para além de disputas políticase ideológicas, há seres humanos que necessitam da intervenção da sociedade para terem o direito à vida e à inclusão social garantidos. Algumas estratégias para a superação das questões aqui tratadas relacionadas aos desafios da educação em direitos humanos na contemporaneidade passam pelo trabalho de formação dos profes- sores, para a consideração da temática na educação desde o ensino fundamental, pelo reconhecimento das diferenças e do tratamento básico dado a essa questão e a efetivação do direito em direitos hu- manos em espaços formais e não formais de ensino. REFLITA 54 Marcos político-legais da educação em direitos humanos Programa Mundial para a Educação em Direitos Humanos Com relação ao Programa Mundial da ONU, sua redação final foi pro- duto da “Década das Nações Unidas para a Educação em matéria de direitos humanos” (1995-2004). O Programa prevê algumas etapas para a sua implementação, divididas em 4 anos por etapa, com foco em diferentes níveis da educação formal e formação de servidores/ profissionais: básica e ensino médio, superior e formação de servi- dores, além dos profissionais de mídia e comunicação (etapa atual). A “Década das Nações Unidas para a Educação em matéria de direitos humanos” basear-se-á nas disposições dos instrumentos internacionais de direitos humanos, particularmente nas disposições que abordam a educação em matéria de direitos humanos, incluin- do o artigo 26.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o artigo 13.º do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o artigo 29.º da Convenção sobre os Direitos da Criança, o artigo 10.º da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, o artigo 7.º da Con- venção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, os parágrafos 33 e 34 da Declaração de Viena e os parágrafos 78 a 82 do seu Programa de Ação. Em conformidade com estas disposições, e para os efeitos da Década, a educação em matéria de direitos humanos será definida como os esforços de for- mação, divulgação e informação destinados a construir uma cultura universal de direitos humanos através da transmissão de conheci- mentos e competências e da modelação de atitudes, com vista a: I. fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais; II. desenvolver plenamente a personalidade hu- mana e o sentido da dignidade do ser humano; 55 III. promover a compreensão, a tolerância, a igualdade entre os sexos e a amizade entre to- das as nações, povos indígenas e grupos raciais, nacionais, étnicos, religiosos e linguísticos; IV. facilitar a participação efetiva de todas as pessoas numa sociedade livre e democrática na qual impere o Estado de direito; V. fomentar e manter a paz; VI. promover um desenvolvimento susten- tável centrado nas pessoas e na justiça social (NAÇÕES UNIDAS, 2006, p. 9-10). Para saber mais sobre a década das nações unidas, leia o livro: Série Década das Nações Unidas para a Educação em matéria de Direitos Humanos 1995|2004. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, publicado pelo Governo Federal brasileiro em 2003, está dividido em cinco eixos principais: educação não formal, educação dos profissionais do sistema de justiça e os do sistema de segurança, educação e mídia, educação básica e educação superior. O documento compreende a educação em direitos humanos: [...] como um processo sistemático e multidi- mensional que orienta a formação do sujeito de direitos, articulando as seguintes dimensões: • apreensão de conhecimentos historicamen- te construídos sobre direitos humanos e a SAIBA MAIS 56 sua relação com os contextos internacional, nacional e local; • afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos di- reitos humanos em todos os espaços da sociedade; • formação de uma consciência cidadã ca- paz de se fazer presente em níveis cogni- tivo, social, ético e político; • desenvolvimento de processos metodoló- gicos participativos e de construção co- letiva, utilizando linguagens e materiais didáticos contextualizados; • fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das violações (BRASIL, 2007, p. 25). Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH) O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, em 2012, as Diretri- zes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, as quais estão alinhadas com o disposto em documentos aprovados internacional e nacionalmente. No texto orientador para elaboração das Diretrizes, o CNE diz que: A Educação em Direitos Humanos tem por es- copo principal uma formação ética, crítica e política. A primeira se refere à formação de ati- tudes orientadas por valores humanizadores, como a dignidade da pessoa, a liberdade, a igualdade, a justiça, a paz, a reciprocidade en- tre povos e culturas, servindo de parâmetro ético-político para a reflexão dos modos de ser e agir individual, coletivo e institucional. 57 A formação crítica diz respeito ao exercício de juízos reflexivos sobre as relações entre os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos, promovendo práticas institucionais coerentes com os Direitos Humanos. A formação política deve estar pautada numa perspetiva emancipatória e transformadora dos sujeitos de direitos. Sob esta perspetiva promover-se-á o empoderamento de grupos e indivíduos, situados à margem de processos decisórios e de construção de direitos, favo- recendo a sua organização e participação na sociedade civil. Vale lembrar que estes aspec- tos tornam-se possíveis por meio do diálogo e aproximações entre sujeitos biopsicossociais, históricos e culturais diferentes, bem como destes em suas relações com o Estado. Uma formação ética, critica e política (in)for- ma os sentidos da EDH na sua aspiração de ser parte fundamental da formação de sujei- tos e grupos de direitos, requisito básico para a construção de uma sociedade que articule dialeticamente igualdade e diferença (BRASIL, 2011, p. 13). Já as Diretrizes compreendem, em seu artigo 2º, a educação em direitos humanos como o “uso de concepções e práticas educa- tivas fundadas nos Direitos Humanos e em seus processos de pro- moção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e coletivas” (BRASIL, 2012, p.1). No mesmo artigo, o CNE estabeleceu que todos os envolvidos no processo educacional devem adotar os princípios da educação em direitos humanos. Como fundamentos da educação em direitos humanos, o CNE diz, no artigo 3º do documento, o seguinte: I. dignidade humana; II. igualdade de direitos; 58 III. reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; IV. laicidade do Estado; V. democracia na educação VI. transversalidade, vivência e globalidade; e VII. sustentabilidade socioambiental (BRASIL, 2012, p. 1-2). Como objetivo central da educação em direitos humanos, o documento apresenta em seu artigo 5º que: A Educação em Direitos Humanos tem como objetivo central a formação para a vida e para a convivência, no exercício cotidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais e planetário. § 1º Este objetivo deverá orientar os sistemas de ensino e suas instituições no que se refere ao planejamento e ao desenvolvimento de ações de Educação em Direitos Humanos adequadas às necessidades, às características biopsicos- sociais e culturais dos diferentes sujeitos e seus contextos. § 2º Os Conselhos de Educação definirão estra- tégias de acompanhamento das ações de Educa- ção em Direitos Humanos (BRASIL, 2012, p. 2). No processo de redação das DNEDH foram realizadas reu- niões do Conselho do CNE, decomissões, mas também encontros com especialistas no tema a fim de envolver a sociedade civil orga- nizada na elaboração. Como vimos, as Diretrizes levaram em conta uma compreensão da educação em direitos humanos a partir de de- terminados fundamentos, princípios e objetivos. Com relação aos fundamentos, o documento parte do pres- suposto de que a universalização da educação básica e a democra- tização do acesso ao ensino superior na última década trouxeram desafios específicos. A maior inclusão traz diretamente o desafio 59 de lidar com a diversidade dos alunos. Assim, faz-se necessária a elaboração de estratégias para lidar com a realidade de uma nova organização escolar, que demanda metodologias de ensino-apren- dizagem diferenciadas, além de uma instituição em si voltada para a superação de desigualdades. Para isso, são considerados uma série de valores e práticas que embasam a atuação na área. A necessidade de uma educação crítica, ética e com com- preensão política está diretamente relacionada a isso. Ética na com- preensão sobre uma inserção dos indivíduos em uma sociedade mais humanizada, com princípios de dignidade, igualdade e justiça, por exemplo. Crítica por estimular a reflexão sobre a realidade em seu entorno, pensando a partir dos direitos humanos. Compreensão política por habilitar a participação plena dos indivíduos politica- mente na sociedade. No que se refere aos princípios, a Educação em Direitos Hu- manos, com finalidade de promover a educação para a mudança e a transformação social, fundamenta-se nos seguintes princípios lis- tados a seguir. • Dignidade humana: relacionada a uma concepção de existência humana funda- da em direitos; • Igualdade de direitos: o respeito à digni- dade humana, devendo existir em qualquer tempo e lugar, diz respeito à necessária condição de igualdade na orientação das relações entre os seres humanos; • Reconhecimento e valorização das dife- renças e das diversidades: esse princípio se refere ao enfrentamento dos preconcei- tos e das discriminações, garantindo que diferenças não sejam transformadas em desigualdades; • Laicidade do Estado: esse princípio se constitui em pré-condição para a liber- dade de crença garantida pela Declaração Universal dos Direitos humanos, de 1948, e pela Constituição Federal Brasileira de 1988; 60 • Democracia na educação: direitos Hu- manos e democracia alicerçam-se sobre a mesma base — liberdade, igualdade e solidariedade — expressando-se no re- conhecimento e na promoção dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos, cul- turais e ambientais; • Transversalidade, vivência e globalidade: os Direitos Humanos se caracterizam pelo seu caráter transversal e, por isso, de- vem ser trabalhados a partir do diálogo interdisciplinar; • Sustentabilidade socioambiental: a EDH deve estimular o respeito ao espaço pú- blico como bem coletivo e de utilização democrática de todos/as (BRASIL, 2012, p. 11-12). Por fim, com relação aos objetivos, o documento define que “o objetivo da Educação em Direitos Humanos é que a pessoa e/ou grupo social se reconheça como sujeito de direitos, assim como seja capaz de exercê-los e promovê-los ao mesmo tempo em que reco- nheça e respeite os direitos do outro” (BRASIL, 2012, p. 12). Sendo assim, a educação em direitos humanos deve buscar estabelecer a ética nas relações interpessoais, em uma formação para a vida e para a convivência em sociedade, tendo os Direitos Humanos como guia para a organização social, política, cultural e econômica. Considerando os pontos abordados do conteúdo entendemos que em termos de marco legal, a educação em direitos humanos está diretamente relacionada ao: • Programa Mundial para a Educação em Direitos Humanos, da ONU. Sua redação final foi produto da “Década das Nações Unidas para a Educação em matéria de direitos humanos” (1995-2004). • Plano Nacional em Direitos Humanos, do governo brasileiro vimos, quão importante lembrarmos que o Plano está dividido em cinco eixos principais: Educação não formal, educação dos 61 profissionais do sistema de justiça e os do sistema de segu- rança, educação e mídia, educação básica e educação superior. • Em parceria com organizações da sociedade civil e às Diretri- zes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, como previsto nos planos de educação em direitos humanos tanto em âmbito internacional quanto nacional um dos principais desafios da educação em direitos humanos diz respeito a in- tegração entre os esforços empreendidos em âmbito da edu- cação formal e também da educação não formal. Em 2012 o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu as “Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos”. Logo em seu início o documento estabelece que as diretrizes se- guem o disposto em documentos aprovados internacional e nacio- nalmente, conforme vimos nos capítulos anteriores. Vemos, assim, que as diretrizes estão alinhadas diretamente a documentos que analisamos anteriormente em nosso curso, como o Programa Mun- dial de Educação em Direitos Humanos e o Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos. Nos artigos do documento, o CNE estabeleceu as diretrizes a serem seguidas pelos sistemas de ensino e suas instituições no que se refere à educação em direitos humanos. As diretrizes levaram em conta uma compreensão da educação em direitos humanos a partir de determinados fundamentos, princípios e objetivos. Marcos legais da educação inclusiva A política de inclusão de pessoas com deficiência no ensino tem sido foco de estudos e discussões. O Brasil tem buscado avançar em questões pertinentes à educação, no tocante ao acesso e à inclusão como estabelecido pela Constituição Federal de 1988. Sendo assim, a educação inclusiva é orientada por políticas educacionais a partir de marcos e normas. Segundo Mantoan (2003, p. 12), vivemos uma mudança de paradigmas, em que a escola com formalismo e racionalidade se separou em modalidades de ensino, serviços, grades curriculares, 62 burocracia etc. A autora entende que “uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propõe a inclusão, é uma saída para que a escola possa fluir, novamente, espalhando sua ação forma- dora por todos os que dela participam”, e considera que a inclusão se trata de uma mudança do paradigma educacional atual. A autora avalia que com a exclusão está em jogo a ignorân- cia do aluno e que, a partir de sua democratização, novos grupos sociais participam, mas não para novos conhecimentos. No tocan- te aos movimentos pela integração de crianças com deficiência, Mantoan (2003, p. 15) recorda a contribuição dos países nórdicos, no ano de 1969, e ressalta que “pela integração escolar, o aluno tem acesso às escolas por meio de um leque de possibilidades educacio- nais, que vai da inserção às salas de aula do ensino regular ao ensino em escolas especiais”. Silva (2017) divide a história da educação especial em quatro fases: exclusão, separação, integração e inclusão. Considera ainda que: Na fase de inclusão, que é o modelo que se pre- tende colocar em prática hoje em dia, as pessoas com necessidades educacionais especiais estão inseridas nas mesmas escolas e nos mesmos grupos que as pessoas ditas normais. Esse ce- nário requer uma remodelação do sistema de ensino, para que seja capaz de atender às ne- cessidades de cada aluno. Ele também exige mais da escola, no sentido de se desenvolver práticas educativas que se apliquem a todos os alunos. Aqui existe a necessidade de que a escola reinterprete o seu papel e se organize para atender às necessidades individuais de todos os estudantes dentro de uma mesma classe, modificando o seu sistema conforme as orientações propostas pelas novas políticas de inclusão (SILVA, 2017, p. 26). Veja, abaixo ilustrado pela Figura 1 as fases da história da Educação Especial. 63 Figura 1. Quatro fases da história da educação especial. Fonte: SILVA, 2017, p. 27. (Adaptado). A ONU aprovou, em2006, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, e o Brasil, como signatário, assumiu o compromisso de garantir sistema educacional inclusivo em todos os níveis. Também houve o comprometimento em assegurar que as pessoas com deficiência fossem incluídas no sistema geral de ensi- no e ainda promover o acesso à educação em ambientes que maxi- mizem seu desenvolvimento acadêmico e social. Para Sampaio e Sampaio (2009, p. 29), é fato que a exclusão social está presente no cotidiano da sociedade. Objetivamente ava- liam ser “o destino excludente de parcelas majoritárias da popu- lação mundial, seja pelas restrições impostas por transformações no mundo do trabalho, seja por situações decorrentes de estruturas econômicas”. Corroboram o pensamento da conquista dos direitos humanos que, por meio de movimentos sociais, reivindicam que to- dos possam ter os mesmos direitos em sociedade, respeitando-se suas diferenças culturais, sociais e individuais. No âmbito de educação, a UNESCO realizou, em 1990, a Conferência Educação para To- dos, que deu forma a um projeto educacional maior, propondo a universalização do acesso à Inclusão Exclusão Separação Integração 64 educação e a promoção de equidade, através de um compromisso efetivo para superar as dis- paridades educacionais, e advertindo que os grupos excluídos — pobres, os meninos e me- ninas de rua ou trabalhadores, as populações de periferia e zonas rurais, os povos indígenas, as minorias étnicas, raciais e linguísticas, os re- fugiados, os alunos com necessidades educa- tivas especiais — não devem sofrer qualquer tipo de discriminação no acesso às oportuni- dades educacionais. Chama ainda a atenção de que é preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos porta- dores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo (SAMPAIO; SAMPAIO, 2009, p. 29). Beatrice e George Bemis, diplomatas dos Estados Unidos, ao chega- rem no Brasil, por não encontrarem nenhuma entidade para aten- der às necessidades de seu filho com síndrome de Down, decidiram lutar para a criação de um espaço com essa finalidade. Outros di- plomatas se uniram à luta, bem como pais, amigos e médicos, e, em 1954, foi criada a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) por meio de um movimento considerado pioneiro no Bra- sil, visando à prestação de assistência social, médica, terapêutica e educacional às pessoas com deficiência intelectual. Sampaio e Sampaio (2009, p. 30) entendem ser o documento final, resultado da Conferência Mundial sobre Necessidades Edu- cativas Especiais, na Espanha, um divisor de águas ao propor que os sistemas educacionais entendam os alunos a partir de suas di- ferenças e características individualizadas como propósito para se alcançar a qualidade para todos dentro da educação. Nisso, entra a escola inclusiva com a visão de se “implementar, nos sistemas CURIOSIDADE 65 educacionais, programas que levem em conta as características in- dividuais e as necessidades de cada aluno”. Indiscutível avaliar os impactos positivos da escola inclusiva em promover mudanças de atitudes como rejeitar discriminações e incentivar um maior aco- lhimento dos alunos com necessidades educativas especiais, como já se obteve êxito em diversos países. Ainda no tocante ao ambiente escolar, as autoras recordam sua importância tanto para o desenvolvimento cognitivo quanto so- cial das crianças e, igualmente, apontam para o aspecto psicológico. Destacam que a escola “é o primeiro espaço social promotor de se- paração entre a criança e a família, estabelecendo um importante elo com a cultura” (SAMPAIO; SAMPAIO, 2009, p. 31). Ainda, consi- deram que a educação de qualidade é essencial ao desenvolvimento econômico e social de um país. Ressaltam ser desafiante e essencial priorizar a qualidade do ensino regular como princípio democrático de igualdade. A escola inclusiva é importante para o desenvolvimen- to tanto das crianças com deficiência quanto das sem deficiência, em virtude da convivência, da diversidade e do estímulo à cidadania. Dois eixos culminam nas dinâmicas relacionadas à educação da criança com deficiência: a integração e a inclusão. Tanto a inte- gração quanto a inclusão colocam em foco a inserção educacional da criança com deficiência; a inclusão é o processo mais radical, que prevê intervenções do desenvolvimento do educando. A proposta que prega a escola para todos, in- questionável do ponto de vista da justiça social e direitos humanos, é perpassada por avatares de ordem psicológica, que só são desvelados quando são dadas vez e voz aos atores sociais a quem foi atribuído colocarem na em prática. É evidente que um projeto que parte de pre- missas políticas (direito à educação), filosóficas (respeito às diferenças) e educativas (aborda- gem sociointeracionista) será confrontado, ne- cessariamente, com os sentimentos, os valores e a história de vida dos sujeitos responsáveis por sua implementação (SAMPAIO; SAMPAIO, 2009, p. 32). 66 Segundo Miranda e Galvão Filho (2012, p. 90), a importância do fortalecimento da democracia por meio da educação e do proces- so de emancipação do indivíduo propicia a implementação de polí- ticas públicas na área educação, como a formação e capacitação de professores, com base na atualização da legislação que se especia- lizam na atenção às demandas sociais, considerando que “a escola, ao reforçar a lógica maniqueísta da sociedade, apresenta-se como um espaço de negação humana”. Ainda observam que, na tentati- va de combater a violência e suas diversas formas cristalizadas no ambiente escolar, a experiência com os alunos com deficiência é importante, pois “o professor se permitirá na escola conhecer as diferenças dos alunos ao compartilhar experiências nas salas de aula e, consequentemente, desenvolver a consciência crítica sobre as contradições das relações sociais também presentes no cotidiano escolar”. Vale destacar que, no Brasil, segundo dados do Censo 2010 (BRASIL, 2010), cerca de 6,7% da população, o equivalente a 12,5 milhões de brasileiros, possuem grande ou total dificuldade em habilidades como enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus. Os pesquisadores ainda apuraram que 24% da população brasilei- ra se declarou ter algum tipo de dificuldade em alguma das habi- lidades. A pesquisa revelou também que a deficiência visual estava presente em 3,4% da população brasileira, ao passo que a motora alcançou 2,3%. Em relação à deficiência auditiva, apresentava 1,1%, e, por fim, a deficiência intelectual esteve em 1,4%. A discussão sobre direitos e inclusão nas escolas é algo antigo e que remete à própria conscientização sobre crianças e adolescen- tes dentro do sistema educacional e da própria vida laboral. Marcos internacionais É importante dar destaque a dois documentos internacionais: a De- claração de Salamanca, de 1994, que foi inspiradora para a inclusão de crianças e adolescentes no sistema educacional, e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2006, que am- plia a categorização de pessoas com deficiência e reafirma os seus direitos. 67 Declaração de Salamanca Em 1994, foi celebrada a Declaração de Salamanca sobre princípios, política e prática em educação especial. O documento traz implica- ções educacionais orientadas à inclusão na educação. Ela exerceu enorme importância no âmbito das discussões de inclusão a partir do desenvolvimento de como se pensar a inclusão com o olhar da acessibilidade da pessoa com deficiência. Assim, o trabalho inclu- sivo se volta para a educação com qualidade, contribuindo para a formação de uma sociedade menos preconceituosa e mais inclusiva. A Declaração oferece uma base sólida para se discutir a perspectiva de inclusão escolar, com igualdade dos indivíduos que se apresen- tam excluídos da sociedade, quer seja por questões de deficiência, social ou mesmo financeira. Com isso, as reflexões e análises arespeito das precisões e obri- gações no campo da educação de indivíduos com necessidades espe- ciais ganharam patamar de respeito com a acessibilidade, passando a ser discutida e envolvendo o desenvolvimento social e educacional das pessoas, sobretudo aquelas com necessidades especiais. O conceito de necessidades educacionais especiais é difundido por meio da Declaração com protagonismo nas características in- dividuais dos alunos no ambiente educacional e social. No entanto, “mesmo com uma perspectiva conceitual que aponte para a orga- nização de sistemas educacionais inclusivos, que garanta o acesso de todos os alunos e os apoios necessários para sua participação e aprendizagem, as políticas implementadas pelos sistemas de ensino não alcançaram esse objetivo” (BRASIL, 2008, p. 15). O documento contribui para a integração da proposta peda- gógica da escola regular e promove atenção aos alunos com defi- ciência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação. Contribui direcionando as ações para o atendimento às especificidades de cada aluno dentro do processo educacional. A Declaração aponta aos países a necessidade de políticas públicas e educacionais para atender a todas as pessoas de modo igualitário, independente das suas condições pessoais, sociais, eco- nômicas e socioculturais. A Declaração versa sobre a inclusão por 68 meio da educação, principalmente para aqueles que têm necessida- des especiais. Considerando sua relevância no que tange à inclusão, Carvalho et al. (2018, p. 119) realizaram uma pesquisa sobre o conhecimento da existência do documento por professores que devem estar pre- parados para receber alunos especiais e, de acordo com sua amos- tragem, concluíram que “metade dos professores entrevistados tem conhecimento sobre o documento e 36% já ouviu falar sobre ele, ou seja, sabem do que se trata. Isso demonstra que, de alguma maneira, já ouviram falar sobre o tema”. Para saber mais sobre resultado da Conferência Mundial sobre Ne- cessidades Educacionais Especiais, realizada entre 7 e 10 de junho de 1994, na cidade espanhola de Salamanca, convido você caro(a) aluno(a) a ler a Declaração de Salamanca. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Reso- lução A/RES/61/106) é um tratado internacional que versa sobre di- reitos humanos. Esse tratado foi adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 13 de dezembro de 2006, porém somente em 30 de março do ano seguinte foi aberto para assinaturas, e sua entrada em vigor se deu em 3 de maio de 2008. A Convenção apresenta um importante diferencial, uma vez que amplia a definição das pessoas com deficiência, contribui com a reafirmação de seus plenos direitos e liberdades fundamentais e insere, nesse contexto, as pessoas com deficiência, pregando ainda o reforço à proteção desses direitos. Em 2011, a Convenção passou a ter 98 Estados Partes e foi ratificado pela União Europeia. A implementação da Convenção é monitorada por 18 especialistas independentes, por meio de um SAIBA MAIS 69 comitê, eleitos por meio de uma lista indicada pelos países, para um mandato de quatro anos, podendo haver reeleição. O comitê recebe regularmente um relatório dos Estados Par- tes informando de que modo os direitos estão sendo implementados. O comitê se reúne em Genebra e realiza duas sessões anuais, exami- na cada relatório e faz sugestões e recomendações. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e a Inclusão Escolar A questão da inclusão e acessibilidade são temas atuais e pertinen- tes. A ONU, por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), elaborou um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, visando garantir o fortalecimento da paz uni- versal com mais liberdade para todos. São 17 Objetivos de Desenvol- vimento Sustentável e 169 metas que: buscam concretizar os direitos humanos de to- dos e alcançar a igualdade de gênero e o empo- deramento das mulheres e me- ninas. Eles são integrados e indivisíveis, e equilibram as três di- mensões do desenvolvimento sustentável: a eco- nômica, a social e a ambiental (ONU, 2015, p. 1). Com objetivos e metas a serem alcançadas até 2030, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU estão destaca- dos na Figura 2. 70 Figura 2. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Fonte: ONU, 2015. Entre os ODS, destaca-se o Objetivo 4 (assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos), que versa sobre educação de qualidade, indicando que se pretende: 4.1 Até 2030, garantir que todas as meni- nas e meninos completem o ensino primário e secundário livre, equitativo e de qualidade, que conduza a resultados de aprendizagem rele- vantes e eficazes. 4.2 Até 2030, garantir que todos as me- ninas e meninos tenham acesso a um desen- volvimento de qualidade na primeira infância, cuidados e educação pré-escolar, de modo que eles estejam prontos para o ensino primário. 4.3 Até 2030, assegurar a igualdade de acesso para todos os homens e mulheres à edu- cação técnica, profissional e superior de qualida- de, a preços acessíveis, incluindo universidade. 4.4 Até 2030, aumentar substancialmen- te o número de jovens e adultos que tenham 71 habilidades relevantes, inclusive competên- cias técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e empreendedorismo. 4.5 Até 2030, eliminar as disparidades de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluin- do as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade. 4.6 Até 2030, garantir que todos os jovens e uma substancial proporção dos adultos, ho- mens e mulheres estejam alfabetizados e te- nham adquirido o conhecimento básico de matemática. 4.7 Até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades neces- sárias para promover o desenvolvimento sus- tentável, inclusive, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos huma- nos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da con- tribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável. 4.a Construir e melhorar instalações físi- cas para educação, apropriadas para crianças e sensíveis às deficiências e ao gênero, e que proporcionem ambientes de aprendizagem seguros e não violentos, inclusivos e eficazes para todos. 4.b Até 2020, substancialmente ampliar globalmente o número de bolsas de estudo para os países em desenvolvimento, em par- ticular os países menos desenvolvidos, pe- quenos Estados insulares em desenvolvimento e os países africanos, para o ensino superior, incluindo programas de formação profissional, de tecnologia da informação e da comunicação, 72 técnicos, de engenharia e programas científi- cos em países desenvolvidos e outros países em desenvolvimento. 4.c Até 2030, substancialmente aumen- tar o contingente de professores qualificados, inclusive por meio da cooperação internacio- nal para a formação de professores, nos países em desenvolvimento, especialmente os paí- ses menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em desenvolvimento (ONU, 2015, p. 23-24). Vale destacar especificamente o Objetivo 4.5, que instrui so- bre a importância da inclusão para pessoas com deficiência, entre outros, sinalizando a educação como instrumento eficaz para eli- minar disparidades. A educação inclusiva é tema de muita discussão e análise, vista como uma meta do milênio. Segundo dados do relatório da UNESCO (2016), cerca de 758 milhões de adultos, o equivalente a 15% da população mundial, não são capazes de ler ou escrever; além disso, considera-se que o analfabetismo infantil atinge 263 milhões de criançase adolescentes. Educação de qualidade com inclusão e acessibilidade é importante para transformar realidades, diminuir tensões no campo social e romper o ciclo de pobreza e marginaliza- ção, além de ajudar na construção de uma sociedade mais tolerante, e pode ser considerada um sonho possível de se realizar. Entretanto, no Brasil, a situação requer maior atenção por parte de governantes e da sociedade em geral. Mesmo sendo um direito garantido pelo art. 205 da Constituição Federal de 1988, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) apontou que pelo menos dois milhões de crianças e jovens estão fora da escola, o que impõe ao país situações complexas que impactam na educação e no sistema marginalizante, sendo um obstáculo a ser superado. Ao longo dos anos, as escolas brasileiras têm buscado se adaptar à nova realidade que versa o tocante às novas aprendiza- gens e à inclusão. Parcerias com organizações não governamentais, organizações sociais, entidades de defesa dos direitos das crianças e 73 adolescentes, entre outros, têm sido importantes, bem como a par- ticipação da comunidade e da família. As tecnologias da informação e comunicação (TICs) também são exemplos de como o uso de apli- cativos, plataformas, computadores e demais eletroeletrônicos, por meio da internet, transformam vidas, sendo fundamentais para o acesso remoto à educação e integração entre as pessoas. Entretanto, os desafios são muitos, principalmente quando se trata do sistema público de ensino, cujas diferenças, quando comparadas com o en- sino privado, são expressivas. Marcos legais e o brasil Os marcos nacionais têm sido responsáveis por mudanças cruciais nas estruturas de ensino no Brasil. Signatário de acordos e tratados internacionais, o país tem, por meio de sua legislação, internalizado leis e convenções internacionais que permitem vitórias importantes no campo social. Tal feito, traz a oportunidade de o Brasil buscar equiparação aos países mais desenvolvidos no que diz respeito às oportunidades na seara educacional. A educação especial tem sido promovida e divulgada com foco na atenção às pessoas com necessidades educacionais especiais, so- bretudo no ensino da rede regular, visando, assim, propiciar melhor desenvolvimento das habilidades dos alunos assistidos, seguindo os princípios assegurados pelo projeto político-pedagógico. A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, traz importantes marcos nesse sentido. Em seu artigo 3º, inciso IV, ela fala sobre promover o bem a todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor e idade, condenando quaisquer formas de discriminação como sendo inconstitucionais (BRASIL, 2016, p. 11). Em seu artigo 205º, ela determina a educação como um direito de todos, visando garantir o desenvolvimento da pessoa, seu exercício de cidadania e sua qualificação para o trabalho. Em seu artigo 206º, inciso I, estabelece a igualdade nas con- dições de acesso e permanência na escola. E, por fim, em seu artigo 208º, coloca como dever do Estado a oferta do atendimento educa- cional especializado (preferencialmente na rede regular de ensino). 74 Em seu inciso III (do mesmo artigo) determina o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência (também, preferencialmente na rede regular). Em seu inciso IV, ela garante o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade (BRASIL, 2016) Assegurar os direitos das pessoas com necessidades espe- ciais, no que tange à educação no sistema regular de ensino, visa garantir sua integração à sociedade a partir da educação. Também é de grande valia e importância uma lei anterior à constituição. A Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, abordava as diretrizes e bases da educação nacional. Apesar de revogada pela Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, ela já chamava a atenção para a questão do direito à educação daqueles com necessidade especial de ensino, dentro do próprio sistema regular (BRASIL, 1961). Pontos importantes da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, são: Art. 1º A educação abrange os processos for- mativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas ins- tituições de ensino e pesquisa, nos movimen- tos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. [...] Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a ga- rantia de: [...] III - atendimento educacional especiali- zado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e al- tas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, prefe- rencialmente na rede regular de ensino; [...] Art. 58. Entende-se por educação espe- cial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencial- mente na rede regular de ensino, para edu- candos com deficiência, transtornos globais 75 do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. [...] Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensi- no regular capacitados para a integração des- ses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os ór- gãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos pro- gramas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. Art. 59-A. O poder público deverá instituir ca- dastro nacional de alunos com altas habilida- des ou superdotação matriculados na educação básica e na educação superior, a fim de fomen- tar a execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado (sic) (BRASIL, 1996). 76 Figura 3. Sala de aula adaptada para crianças com necessidades especiais. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 12/9/2020. Importante mencionar a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Os artigos 3º, 11º, 54º e 55º dizem respeito às pessoas com deficiên- cia, versando sobre o tratamento e questões pertinentes à educação, com ênfase nas obrigações do Estado. Veja o Quadro 1, que resume esses artigos: Quadro 1. Artigos pertinentes da lei nº 8.069 Artigo 3º A criança e ao adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem pre- juízo da proteção integral de que trata esta Lei, lhes assegurando, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Os direitos enunciados nessa Lei se aplicam a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nasci- mento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição eco- nômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que a diferencie de outras pessoas, fa- mílias ou comunidades em que vivem. 77 Artigo 11º É assegurado acesso integral àslinhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por in- termédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem dis- criminação ou segregação, em suas necessidades ge- rais e específicas de saúde, de habilitação e reabilitação. Artigo 54º É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente, portadores de deficiência, o atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino. Artigo 55º Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. Fonte: BRASIL, 1990. (Adaptado). Ao se falar em inclusão na rede de ensino, se faz prioritário avaliar a situação por meio do Plano Nacional de Educação — PNE. Criado por meio da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, ele busca promover o cumprimento do artigo 214º da constituição, que versa sobre a articulação do sistema nacional de educação, definindo di- retrizes para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis. O PNE vai garantir que, dentre outros pontos, a rede de en- sino auxilie com a proposta inclusiva no que tange o atendimento das necessidades especiais dos alunos, atendendo, desta forma, os preceitos referentes à diversidade. Além das diretrizes, o PNE possui metas estruturantes para a garantia do direito à educação básica com qualidade. O Quadro 2 mostra as 20 metas estabelecidas pelo PNE, para o período de 2014 a 2024: 78 Quadro 2. As 20 metas do PNE 2014-2024 Meta 1: Educação infantil Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de quatro a cinco anos de idade, e ampliar a oferta de educação infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até três anos, até o final da vigência deste PNE. Meta 2: Ensino fundamental Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de seis a 14 anos, e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE. Meta 3: Ensino médio Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de seis a 14 anos, e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE. Meta 4: Inclusão Universalizar, para a população de quatro a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncio- nais, classes, escolas ou serviços especiali- zados, públicos ou conveniados. 79 Meta 5: Alfabetização infantil Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental. Meta 6: Educação integral Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica. Meta 7: Qualidade da educação básica/ IDEB Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb: 6,0 nos anos iniciais do ensino fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino fundamental; e 5,2 no ensino médio. Meta 8: Elevação da escolaridade/ diversidade Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Meta 9: Alfabetização de jovens e adultos Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. 80 Meta 10: EJA integrada Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. Meta 11: Educação profissional Triplicar as matrículas da educação profis- sional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no segmento público. Meta 12: Educação superior Elevar a taxa bruta de matrículas na educa- ção superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegu- rada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público. Meta 13: Qualidade da educação superior Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75%, sendo do total, no mínimo, 35% doutores. Meta 14: Pós-graduação Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores. 81 Meta 15: Profissionais de educação Garantir, em regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, no prazo de um ano de vigência deste PNE, a política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conheci- mento em que atuam. Meta 16: Formação Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e ga- rantir a todos os profissionais da educação básica, formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. Meta 17: Valorização dos profissionais do magistério Valorizar os profissionais do magistério das redes públicas de educação básica, de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do 6º ano de vigência deste PNE. 82 Meta 18 Planos de carreira Assegurar, no prazo de dois anos, a existên- cia de planos de carreira para os profissio- nais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino, e, para o plano de carreira dos profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da constituição. Meta 19 Gestão democrática Assegurar condições, no prazo de dois anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União. Meta 20 Financiamento da educação Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5º ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio. Fonte: SIMEC. Acesso em: 12/09/2020. (Adaptado). A Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002, institui as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura e de graduação plena. 83 No artigo 1º, ela sinaliza que as diretrizes para a formação de professores trata-se de “um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino e aplicam-se a todas as etapas e modalidades da educação básica” (BRASIL,2002, p. 1). No artigo 6º, em seu parágrafo 3º, que trata do projeto peda- gógico dos cursos de formação docentes, temos que: A definição dos conhecimentos exigidos para a constituição de competências deverá, além da formação específica relacionada às diferentes etapas da educação básica, propiciar a inserção no debate contemporâneo mais amplo, envol- vendo questões culturais, sociais, econômicas e o conhecimento sobre o desenvolvimento humano e a própria docência, contemplando: [...] II - conhecimentos sobre crianças, ado- lescentes, jovens e adultos, aí incluídas as es- pecificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais e as das comunidades indígenas (sic) (BRASIL, 2002, p. 3). A Portaria MEC nº 2678, de 24 de setembro de 2002, traz diretrizes e normas para a difusão do braile nas modalidades de ensino. A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, reconheceu a língua brasileira de sinais, libras, oficialmente como uma língua brasileira. A libras é uma língua com estrutura gramatical e não uma adapta- ção da língua oral. Na libras não há, por exemplo, o uso dos tempos verbais e de artigos. A origem da Libras é a língua francesa de sinais, que chegou ao Brasil em 1855 com o professor Hernest Huet, que era surdo. Ele fundou, no ano de 1857, a primeira escola para pessoas surdas no Brasil: o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro. Com o tempo, ele mudou de nome para Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES). CURIOSIDADE 84 No ano de 2003, foi implementado o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. Por meio dele, se promoveram mu- danças para propiciar a formação do sistema educacional inclusivo, com formação de gestores e educadores. No ano seguinte, em 2004, foi publicado, pelo Ministério Pú- blico Federal, o documento O Acesso de Estudantes com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, que buscava reafir- mar direitos e benefícios da inclusão no ensino regular, e, também, abordava diretrizes. Vale citar, ainda, o Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, que contribuiu na regulamentação das Leis nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, e nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, com o estabelecimento de normas e critérios para assegurar a acessibilidade. Também tivemos, como marco legal, o Programa Brasil Acessível, de junho de 2004, que surgiu para promover aces- sibilidade urbana. Em 2005, foi feita a implantação dos Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S, no País. Além de aten- dimento educacional, havia orientação familiar e formação conti- nuada de professores. Ainda vale relembrarmos o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, de 2006, que inclui no currículo da educação básica temas referentes à deficiência e ações afirmativas, tendo como propósito o acesso à educação superior. Em 2007, surge o Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, por meio do Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007, que: Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compro- misso Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica (sic) (BRASIL, 2007). A Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de 2009, insti- tui diretrizes operacionais para o atendimento educacional espe- cializado na educação básica, na modalidade educação especial; 85 e a Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010, define as dire- trizes curriculares nacionais gerais para a educação básica. Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva e Lei Brasileira de Inclusão A educação inclusiva é fruto da luta de direitos para que todos os estudantes possam, juntos, aprender de modo participativo, sem discriminações e preconceitos. Ela promove a igualdade, conside- rando a singularidade de cada pessoa, contemplando suas diferenças. O reconhecimento das dificuldades que o sistema de ensino tem para pôr em pratica as ações voltadas à inclusão, levam à reflexão sobre o enfrentamento dessa questão como a adoção de referenciais para a construção de sistemas inclusivos. No documento criado pelo Grupo de Trabalho da Política Na- cional de Educação Especial (Portaria nº 555/2007, prorrogada pela Portaria nº 948/2007), entregue ao Ministro da Educação em 7 de janeiro de 2008, é explicitado a questão da Política Nacional de Edu- cação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva: A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desen- volvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da moda- lidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do aten- dimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educa- ção para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comu- nicações e informação; e articulação interse- torial na implementação das políticas públicas (sic) (MEC, 2008, p. 14). 86 A Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, institui a Lei Brasilei- ra de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), segundo o seu 1º artigo, para promover, “em condi- ções de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades funda- mentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” (BRASIL, 2015). Essa lei afirma a autonomia e a capacidade das pessoas com deficiência em exercerem sua vida em condições de igualdade. No seu artigo 2º, a legislação define a pessoa com deficiência como aquela cujo impedimento seja de longo prazo (de natureza físi- ca, mental, intelectual ou sensorial). Considera impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; socioambientais, psicológicos; pessoais; limitação no desempenho de atividades; e restrição de sua participação. No artigo 3º, sinaliza a aplicação da lei: I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e auto- nomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informa- ção e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona ur- bana como na rural, por pessoa com deficiên- cia ou com mobilidade reduzida; II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva; III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: pro- dutos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, re- lacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qua- lidade de vida e inclusão social; 87 IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou im- peça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à infor- mação, à compreensão, à circulação com segu- rança, entre outros [...]; V - comunicação: forma de interação dos ci- dadãos que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tá- til, os caracteresampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e for- matos aumentativos e alternativos de comuni- cação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações (sic) (BRASIL, 2015). Conhecemos os marcos legais e toda parte documental internacional pertinentes à educação inclusiva e como esses tratados e convenções impactaram no sistema educacional brasileiro. Em especial, vimos a Declaração de Salamanca, de 1994, e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2008, e de que modo influenciaram nas legislações dos países signatários da ONU. É preciso reconhecer a importância dos marcos internacionais como sinalizadores e ba- lizadores de direitos e princípios para os países membros. Dados da ONU alertam que cerca de 80% das pessoas com alguma deficiência vivem em países em desenvolvimento. A ONU estima, ainda, que ao menos 150 milhões de crianças e adolescentes tenham algum tipo de deficiência. Partindo dessa premissa, a escola é um importante meio para se trabalhar a autoestima, diminuir preconceitos, humanizar valores e proporcionar visão e consciência mais cidadã. SINTETIZANDO 88 A acessibilidade é algo considerado fundamental para todos na so- ciedade, e a inclusão é a mola principal dessa engrenagem, que vai ajudar na construção de uma sociedade melhor, mais justa e igua- litária. Vivemos momentos de muitos questionamentos, principal- mente no âmbito da legitimidade de direitos e insegurança jurídica. No entanto, o único modo de superarmos os obstáculos impostos pela própria sociedade é com uma maior conscientização e sensibi- lização sobre nossos deveres enquanto cidadãos. Também falamos dos marcos nacionais: a constituição brasileira, a lei de diretrizes e bases nacional; a política nacional da educação es- pecial na perspectiva inclusiva; e a lei brasileira de inclusão. Verifica- mos de que modo se constituíram os marcos legais no Brasil e como, dentro de uma perspectiva inclusiva, eles servem como parâmetros para a abordagem de professores, profissionais da educação e como a sociedade lida com a educação inclusiva. Compreendemos de que modo a constituição brasileira é referen- dada e como decretos e leis ajudam a regulamentar as políticas de inclusão no país. A educação é o único modo de promover mudanças significativas na sociedade, e trazer um olhar mais atento quanto à oportunidade de se promover os direitos humanos dentro de uma perspectiva de correções de situações historicamente excludentes. Ela ainda deve ser mais bem apreciada e adotada para a promoção de uma sociedade melhor, mais justa e igualitária. UN ID AD E 3 Objetivos 1. Analisar a educação em direitos humanos na educação básica. 2. Conhecer a educação para os direitos humanos no ensino superior. 3. Pensar sobre o ambiente escolar e a educação inclusiva. 4. Refletir sobre as especificidades para atuação no contexto da educação inclusiva. 90 Introdução Olá, alunos (as)! Nesta unidade vamos pensar sobre os direitos hu- manos nas matrizes curriculares e projetos pedagógicos do ensino básico ao superior. Debateremos também a respeito dos aspectos pedagógicos e práticas da educação inclusiva na escola. Os tópicos abordados serão: a educação em direitos humanos na educação básica; a educação para os direitos humanos no ensino superior; o ambiente escolar e a educação inclusiva; as especificidades para atuação no contexto da educação inclusiva. 91 Os Direitos Humanos no ambiente educacional Quando tratamos do processo de ensino-aprendizagem é importante levarmos em consideração que estamos tratando de um processo que se estabelece em lugares e tempos diversificados, em contextos de diversidade de vivências, seja na própria escola, seja na família ou na sociedade em geral. Essa diversidade de experiências e vi- vências é propícia para a educação em direitos humanos, por opor- tunizar contextos com experiências sobre o mundo diversificadas. Para isso, é necessário que o contexto de ensino-aprendizagem se dê para além do meio físico da instituição de ensino e envolva as de- mais interações de alunos e professores com o mundo e a sociedade. Um ambiente educacional capaz de promover os direitos hu- manos deve levar em consideração o respeito às diferenças, garan- tindo um processo de ensino-aprendizagem inclusivo, com práticas democráticas, sem preconceitos, discriminações qualquer tipo de violência. Conforme vimos na unidade anterior, a educação para os direitos humanos se pauta em princípios que garantam práticas que respeitam a dignidade humana. Esse respeito se dá na interação entre o que é pessoal e o que é coletivo de forma a respeitar subjeti- vidades e vivências entre os humanos, o meio ambiente e as ques- tões sociais no entorno das instituições de ensino. Figura 1: Aluna da rede pública de ensino. Fonte: Pixabay 92 Portanto, as instituições de ensino devem favorecer diferen- tes visões de mundo no ambiente escolar e, para além dele, garantir o contato das diferenças com o ambiente educacional, levando em consideração o extramuros da instituição. Assim, espera-se que alunos com capacidade de reflexão crítica compreendam como plei- tear e garantir direitos dentro da concepção dos direitos humanos. As diretrizes para a educação em direitos humanos estabele- cem em seus artigos 6º e 7º que: Art. 6º A Educação em Direitos Humanos, de modo transversal, deverá ser considerada na construção dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP); dos Regimentos Escolares, dos Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDI); dos Programas Pedagógicos de Curso (PPC) das Instituições de Ensino Superior; dos materiais didáticos e pedagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e extensão; de gestão; bem como dos diferentes processos de avaliação. Art. 7º A inserção dos conhecimentos concer- nentes a Educação em Direitos Humanos na organização dos currículos da Educação Básica e da Educação Superior poderá ocorrer das se- guintes formas: I - pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente; II - como um conteúdo específico de uma das disciplinas já existentes no currículo escolar; III - de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e disciplinaridade. Parágrafo único. Outras formas de inserção da Educação em Direitos Humanos poderão ain- da ser admitidas na organização curricular das instituições educativas desde que observadas as especificidades dos níveis e modalidades da Educação Nacional (BRASIL, 2012). 93 Veremos nas próximas sessões como pode se dar a educação em direitos humanos na educação básica e no ensino superior. A educação em direitos humanos na educação básica O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos prevê em seus princípios para a educação básica as seguintes propostas: • a Educação em Direitos Humanos além de ser um dos eixos fundamentais da educação básica, deve orientar a formação inicial e continuada dos(as) profissionais da educação, a elabo- ração do projeto político pedagógico, os materiais didático pe- dagógicos, o modelo de gestão e a avaliação das aprendizagens; • a prática escolar deve ser orientada para a Educação em Direi- tos Humanos, assegurando o seu caráter transversal e a rela- ção dialógica entre os diversos atores sociais; • os(as) estudantes devem ser estimulados(as) para que sejam protagonistas da construção de sua educação, com o incentivo, por exemplo, do fortalecimento de sua organização estudan- til em grêmios escolares e em outros espaços de participação coletiva; • participação da comunidade educativa na construção e efeti- vação das ações da Educação em Direitos Humanos. Além disso, o Plano chama a atenção para a centralidade de se ter um Projeto Político Pedagógico conectado aos princípios, objeti- vos e fundamentos da Educação em Direitos Humanos, perpassan- do as ações do currículode forma transversal, trazendo os temas gerais dos direitos humanos para a realidade dos alunos e, assim, incorporar vivências e conhecimentos, ampliando a participação e a busca de direitos e deveres em sociedade. Para isso, o Plano clama pelo respeito às diferentes fases de desenvolvimento do ser humano, ressaltando o respeito à individualidade de cada um. 94 Na educação básica o trabalho a respeito da educação em direi- tos humanos tem o espaço propício para ser desenvolvido, uma vez que diz respeito à formação humana desde a infância. No processo de socialização das crianças, as interações de ensino-aprendizagem já podem desde o início levar em conta os princípios, fundamen- tos e objetivos da educação em direitos humanos. Isso também se aplica a outras modalidades de ensino, como na educação de jovens e adultos, a educação indígena, quilombola, no campo e outras di- mensões, considerando também pessoas que não tiveram oportu- nidade de acesso à educação na idade adequada. É especialmente importante o exercício da educação para os direitos humanos en- quanto formação para a cidadania nesta etapa, possibilitando desde o princípio do processo formal de educação a concepção de direitos e deveres. O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos com- preende a escola como: Um espaço social privilegiado onde se definem a ação institucional pedagógica e a prática e vivência dos direitos humanos. [...] local de es- truturação de concepções de mundo e de cons- ciência social, de circulação e de consolidação de valores, de promoção da diversidade cultu- ral, da formação para a cidadania, de consti- tuição de sujeitos sociais e de desenvolvimento de práticas pedagógicas (BRASIL, 2007, p. 31) Nesse sentido, uma escola de fato capaz de democratizar as relações sociais deve ter o objetivo de formar indivíduos capazes de serem atores sociais plenos. Para isso, é parte integrante da edu- cação em direitos humanos nessa etapa a compreensão de conteú- dos que levem a reflexão sobre a evolução histórica, a construção, as contradições, as conquistas e os reveses com relação aos direitos em sociedade, favorecendo uma visão ética de mundo, integrada ao meio ambiente de forma sustentável. 95 A educação para os direitos humanos no ensino superior Nas Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, que começamos a analisar no início desta unidade, alguns artigos são voltados para a pesquisa e a formação de professores, além do ensino superior em si. São eles: Art. 8º A Educação em Direitos Humanos de- verá orientar a formação inicial e continuada de todos/as os/as profissionais da educação, sendo componente curricular obrigatório nos cursos destinados a esses profissionais. Art. 9º A Educação em Direitos Humanos de- verá estar presente na formação inicial e con- tinuada de todos/as os/as profissionais das diferentes áreas do conhecimento. Art. 10. Os sistemas de ensino e as instituições de pesquisa deverão fomentar e divulgar estu- dos e experiências bem-sucedidas realizados na área dos Direitos Humanos e da Educação em Direitos Humanos. Art. 11. Os sistemas de ensino deverão criar políticas de produção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como princípios orienta- dores os Direitos Humanos, e por extensão, a Educação em Direitos Humanos. Art. 12. As Instituições de Ensino Superior es- timularão ações de extensão voltadas para a promoção de direitos humanos, em diálo- go com os segmentos sociais em situação de exclusão social e violação de direitos, assim como os movimentos sociais e a gestão pública (BRASIL, 2012). Todos os documentos nacionais e internacionais que já anali- samos nesse curso enfatizam a responsabilidade das instituições de ensino superior (IES) com relação à educação em direitos humanos. 96 Além da obrigação direta da formação, inclusive de professores, as IES geram pesquisa e conhecimento que impactam diretamente na garantia de direitos e na reflexão sobre os direitos humanos em si. Figura 2: Campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Wikicommons As IES possuem responsabilidade fundamental na busca pela construção de uma sociedade mais justa, princípio fundamental dos direitos humanos. Para isso, a educação em direitos humanos deve ser considerada de forma transversal nas IES, englobando as diferen- tes vertentes da universidade, como a pesquisa, a gestão, a extensão e o ensino. Diretamente no ensino os DH podem ser incluídos como disciplinas do currículo regular ou, ainda, como atividades extras. Na pesquisa pode pautar o avanço do conhecimento que gere desenvolvimento sustentável e ainda ser objeto em si de reflexão e análise. Para além disso, é necessário incentivo a essa reflexão espe- cífica sobre os direitos humanos por meio de financiamento e estru- turação de grupos e núcleos de estudos, assim como a organização de núcleos de memória sobre a instituição e o avanço do conheci- mento na área. Na extensão, a aproximação das IES com a sociedade em geral deve ser pautada pelos princípios dos DH, especialmente lidando com setores mais vulneráveis da sociedade. Cabe, ainda, às IES apoiar as demais instituições da sociedade na promoção dos direitos humanos. Compreendemos que em um ambiente educacional capaz de promover os direitos humanos deve-se levar em consideração 97 o respeito às diferenças, garantindo um processo de ensino-apren- dizagem inclusivo, com práticas democráticas, sem preconceitos, discriminações e qualquer tipo de violência. O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos chama a atenção para a centra- lidade de se ter um Projeto Político Pedagógico conectado aos prin- cípios, objetivos e fundamentos da Educação em Direitos Humanos, perpassando as ações do currículo de forma transversal, trazendo os temas gerais dos direitos humanos para a realidade dos alunos e, assim, incorporar vivências e conhecimentos, ampliando a par- ticipação e a busca de direitos e deveres em sociedade. Todos os do- cumentos nacionais e internacionais que já analisamos nesse curso enfatizam a responsabilidade das instituições de ensino superior (IES) com relação à educação em direitos humanos. Além da obri- gação direta da formação, inclusive de professores, as IES geram pesquisa e conhecimento que impactam diretamente na garantia de direitos e na reflexão sobre os direitos humanos em si. Aspectos pedagógicos e reflexão sobre as práticas da educação inclusiva escolar O ambiente escolar e a educação inclusiva Neste tópico, abordaremos o ambiente escolar e como ele pode contribuir com o progresso e desenvolvimento do aluno com defi- ciência. A escola para a Educação Inclusiva tem como princípio bá- sico promover um espaço para todos, fomentando a construção e evolução do conhecimento dos alunos, considerando que todos são iguais, apesar das diferenças. Para que este modelo de escola seja concretizado, é fundamen- tal a atualização e a promoção de novos conceitos, como a construção da instituição enquanto um universo inclusivo, a formação do pro- fessor visando um trabalho completo com o aluno com necessidades especiais e, ainda, o amadurecimento e aproveitamento de outros espaços educativos. 98 Por muito tempo, havia dois tipos de escolas: a regular e a especial. A Educação Inclusiva surgiu para romper essa divisão entre os alunos. A educação especial dentro da escola regular tem como intenção disponibilizar a convivência e a integração social dos alu- nos com deficiência, estimulando a diversidade (FERREIRA, 2020). Dessa forma, é possível oferecer a escolarização para todos em um mesmo contexto. O modelo inclusivo abre espaço para todas as crianças, com ou sem deficiência. O convívio entre as crianças com deficiência e as outras faz com que as primeiras sintam menos exclusão e mais acolhimento, o que é um dos fatores para o estabelecimento de uma visão mais integrada. No entanto, essa inclusão só se torna possí- vel se a gestão (diretor, coordenadorpedagógico, orientador, entre outros cargos) aplicá-la no dia a dia da escola, rompendo com as metodologias e conceitos ainda bastante impregnados na realidade educacional. A gestão deve saber o que diz a Constituição Federal de 1988, mas, principalmente, é preciso ter em mente o que determina o Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece que pessoas com defi- ciência ou com qualquer necessidade especial deve obrigatoria- mente frequentar ambientes educacionais inclusivos (YOSHIDA, 2018; BRASIL, 2014). Figura 3. A educação inclusiva é para todos, tanto para PCDs quanto para as outras crianças, promovendo a acessibilidade. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/07/2020. 99 O acesso de todas as pessoas à educação é garantido e res- guardado também pelas Diretrizes da Política Nacional de Educação, e esse direito é legítimo independendo de etnia, gênero, idade ou classe social. O ato de matrícula não engloba toda a noção de acessibilidade à escola, pura e simplesmente. É preciso envolver o aluno nas ativi- dades escolares, incentivando a aprendizagem e desenvolvimento de suas habilidades e competências a partir das oportunidades edu- cacionais a ele oferecidas, com o objetivo de atingir as metas edu- cacionais previstas. A realidade da pedagogia da exclusão tem origens remotas e, nela, os deficientes são vistos como pessoas “doentes” e incapazes. Eles ocupam, no imaginário das pessoas, uma posição de alvos de caridade popular e não de sujeitos de direito. Constatam-se, ainda hoje, dificuldades na aceitação de crianças com deficiências ou di- ficuldades de aprendizagem por parte dos familiares, da sociedade e até mesmo da própria escola, ainda que esta permita a matrícula e frequência do aluno. A perspectiva da ideia de educação para todos consiste em um enorme desafio dentro dos sistemas educacionais. Isso se deve à realidade brasileira que apresenta um grande número de excluídos pelo sistema educacional e que possivelmente não terão a possi- bilidade do acesso à escolarização, apesar dos esforços realizados, ainda não suficientes, em prol da universalização do ensino. Figura 4: Diversidade e acesso à escolarização. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/07/2020. 100 Enfrentar o desafio da diversidade na educação é uma con- dição para responder à expectativa de democratização educacional no País. A escola que se espera para o século XXI deve responder às demandas da sociedade, no sentido de produzir e difundir o saber já constituído e de formar cidadãos críticos e participativos que pos- sam enfrentar as questões sociais cada vez mais complexas. A Educação Inclusiva objetiva auxiliar na construção do co- nhecimento de acordo com as capacidades individuais de cada aluno. Neste ambiente, os alunos se tornam aptos e/ou são livres para expressar suas ideias, participar de tarefas e se desenvolverem como cidadãos. Mas qual o papel da escola dentro da Educação Inclusiva? Para responder essa questão, devemos, primeiramente, entender que a escola tem o dever de aceitar os alunos com deficiência, assim como o de realizar quaisquer adaptações necessárias para recebê-los. De forma a exemplificar e compreender melhor sobre a inclusão no ambiente escolar, assista ao filme Extraordinário (2017). Ele conta a história de um garoto que possui a rara Síndrome de Treacher Col- lins (o que ocasiona em um não desenvolvimento de alguns ossos e tecidos faciais) e que é matriculado em uma escola regular. A escola deve fornecer ainda subsídios para que seus educa- dores busquem uma capacitação e formação continuada. E por edu- cadores não nos referimos apenas ao corpo docente e gestores, mas sim a todos os que compõem o quadro escolar, como os funcionários da cozinha, da limpeza, da portaria, entre outros. No ambiente escolar, não podem nem devem ser estipulados padrões para as pessoas com deficiência; pelo contrário, dentro da escola todos são iguais. É imprescindível salientar que as mudanças necessárias para a construção de um espaço inclusivo não são fáceis, ASSISTA 101 uma vez que dependem não apenas da escola ou da sala de aula, mas também é necessária uma atualização dos conceitos, assim como uma modificação nas práticas pedagógicas compatíveis com a Edu- cação Inclusiva. A educação especial é pensada a partir do paradigma de apoios ou suportes, e, visando a inclusão, entende que a diversidade é um fator de enriquecimento social e que o sujeito vai se constituir a partir das relações estabelecidas em sociedade. É notável que tais relações iniciam-se justamente na escola, onde o aluno estabelece alguns dos seus primeiros contatos e vínculos. O reconhecimento de uma escola como espaço inclusivo nos faz repensar sobre a compreensão dos processos de inclusão esco- lar, uma vez que eles são resultados de metodologias segregadoras, que, ao longo dos tempos, assolaram e ainda permeiam a vida das pessoas com deficiência. Os educadores devem contribuir para tornar o espaço de aprendizagem em um ambiente que considera os iguais em suas igualdades e os diferentes em suas diferenças, problematizando o currículo e os processos de avaliação. O questionamento, inclusive, faz parte da construção desse ambiente e é fundamental para a quali- dade da formação dos alunos com deficiência. No entanto, o apren- dizado desses alunos não é apenas responsabilidade do professor, mas de todos que fazem parte do processo educacional, o que forma a rede de apoio composta por pessoas que auxiliam no processo de ensino e aprendizagem. Essa rede consiste no esforço conjunto entre professor, famí- lia e profissionais da área da saúde. A família é a principal respon- sável pela educação do aluno, tendo em vista que insere essa criança no ambiente escolar e tem a obrigação de manter uma comunicação ampla com a escola (e vice-versa). Já o apoio dos profissionais da saúde é concretizado por meio do auxílio de médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicopeda- gogos, psicólogos, entre outros, que contribuem tanto com os edu- cadores quanto com a família, de forma com que torne mais fácil a compreensão acerca das necessidades desse aluno, além de indicar direções para o desenvolvimento do trabalho dos profissionais e do convívio social. 102 Em defesa da independência social a ser construída por meio da educação, o educador Paulo Freire defendia uma escola emanci- patória, ou seja, que: não exclui nem hierarquiza sujeitos, porém, busca incluí-los na medida em que todos são oprimidos na sociedade de classe e todos se libertam na luta pela superação das contradi- ções das injustiças produzidas pela produção e distribuição desigual de bens materiais e simbólicos (MERLER; FOERSTER; SCHUTZ- -FOERSTER, 2013, p. 35). Um dos grandes nomes da área da pedagogia, Paulo Freire defendia uma educação emancipatória, que significa educar para desenvolver a autonomia do aluno. Adota como teoria a ideia de que a educação é o caminho para a emancipação e o empoderamento dos sujeitos para que transformem sua realidade por meio de uma reflexão crítica. As implicações e dificuldades da Educação Inclusiva no ambiente escolar Um dos aspectos mais importantes nos diversos dispositivos legais brasileiros e internacionais que resguardam o acesso à educação para todos, é a instituição de uma visão de que uma escola comum é a via para curar as diferenças existentes na sociedade. A legislação brasileira, bem como os documentos norteado- res da educação especial, apontam que a educação deve dar atenção especial à diversidade, visando a melhoria da qualidade de ensino de todos, sem restrições, bem como a perspectiva de desenvolvimento cognitivo, de aprendizagens e de socialização. A escola, pensada a partir dessa visão, busca consolidar o respeito às diferenças, que não VOCÊ SABIA? 103 devem servir de obstáculo para a aprendizagem, mas sim para pro- mover o enriquecimento da ação educativa. Porém, apesar de todo o resguardo das normas legais, ainda existe uma sériede implica- ções que impossibilitam que a inclusão seja concretizada na prática, principalmente no que se diz respeito à pessoa com deficiência. No Brasil, a educação especial é vista como uma modalidade de educação escolar, que está a serviço da formação dos alunos que possuem alguma deficiência enquanto indivíduo. Portanto, pode- mos resumir que a educação especial é enxergada como uma mo- dalidade que atua transversalmente em todos os níveis de ensino (infantil, fundamental, médio, superior, EJA e profissional). Assim, percebemos que a Educação Inclusiva educa todas as crianças em um mesmo contexto. E inseri-las no contexto escolar não significa fechar os olhos para as dificuldades, mas sim enxer- gar que as diferenças não são vistas como problemas, mas como diversidade. Para que a escola consiga atingir seus objetivos, o modelo es- colar atual precisa ser recriado, adotando uma mudança na postura, não somente por parte dos alunos, mas também dos gestores, pro- fessores e funcionários, pois se trata de um processo necessário e não pode mais ser ignorado (RIBEIRO, 2019). Sabemos que uma transformação desse nível no ambiente escolar não ocorre de uma hora para outra, mas observar as inspi- rações e mudanças já ocorridas auxiliam nesse processo. Por isso, devemos ter em mente que, para uma real inclusão, é preciso ga- rantir condições mínimas e essenciais para o desenvolvimento das capacidades e habilidades desses alunos. Esse é o maior desafio para os gestores. Essa transformação não ocorre apenas no rompimento das barreiras arquitetônicas. Aliás, a infraestrutura é um outro ponto que realmente deve ser considerado, afinal, adaptações no espaço físico fazem parte do processo, porém devemos incluir a introdução de salas que possuam recursos e tecnologias assistivas para os alu- nos com deficiência. Tais mudanças no ambiente físico abrangem a inserção de rampas, banheiros com acessibilidade, elevadores e portas mais largas, entre outras adaptações (RIBEIRO, 2019). 104 Ainda no que se refere ao viés legal que diz respeito a essa transformação, salientamos a Convenção sobre os Direitos das Pes- soas com Deficiência (BRASIL, 2009), ratificada no Brasil como emenda constitucional, que: estabelece o modelo social de deficiência como balizador das políticas e práticas em nosso país. De acordo com essa perspectiva, a deficiência não está na pessoa, mas na relação entre seus impedimentos físicos, sensoriais, mentais e/ ou intelectuais e as barreiras existentes nos diferentes contextos. Esse é o princípio fun- damental da educação inclusiva, direito que prevê não somente a garantia à presença de todos na escola, como também o compromisso coletivo para a eliminação dos obstáculos que impedem a plena participação dos estudantes (MICAS; GARCEZ; ANTUN, 2018, n.p.). Dessa forma, compreendemos que a dificuldade dos alunos com deficiência para adentrar no ambiente escolar está nas rela- ções estabelecidas com as barreiras dentro e fora da escola. Cite- mos o exemplo de um aluno com deficiência intelectual que não está conseguindo aprender um determinado conteúdo. Inicialmente, devemos analisar quais são as barreiras presentes nas estratégias pedagógicas utilizadas pelo professor. Isso torna possível reconhe- cer um dos impedimentos, que é a falha na formação docente: mui- tos professores não sabem reconhecer a singularidade de cada aluno e acabam generalizando todos. Um dos maiores desafios da forma- ção docente é reconhecer a individualidade dos processos pedagó- gicos, identificando meios e subsídios para garantir a aprendizagem desse aluno com necessidades específicas, como veremos a seguir. Portanto, para que uma Escola Inclusiva se torne realidade, é preciso garantir a aprendizagem de todos os estudantes, fortale- cendo a formação dos educadores e encorajando uma boa relação entre os alunos, o corpo docente, os gestores, as famílias e também com os profissionais de saúde, que fazem parte dessa rede de apoio. 105 Especificidades para atuação no contexto da educação inclusiva A formação do professor para a Educação Inclusiva O Capítulo III da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) em seu artigo 4º, inciso III, dispõe que é dever do Es- tado oferecer atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, TGD e altas habilidades ou superdotação, preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 1996). Dessa maneira, é imprescindível o preparo e capacitação dos professores para trabalhar com essa situação. Também na LDB, em seu artigo 59, é assegurado ao educando com necessidades especiais ter um professor com especialização adequada em nível médio ou superior para seu atendimento, bem como professores da rede re- gular capacitados para esse atendimento e inclusão em sala de aula. Porém, na prática, isso ainda não é uma realidade. Os desafios enfrentados pelos professores são muitos. Com a chegada de alunos com deficiência, com transtorno do espectro au- tista (TEA) e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, muitos docentes passaram a se sentir despreparados e incapazes para receber e acolher esses alunos na sala de aula. Cumpre salien- tar que o reconhecimento das deficiências na formação docente não é uma justificativa para o não cumprimento da inclusão; pelo con- trário, deve ser encarado como mais um impulso para a vivência de experiências e busca por especialização. A formação e a aquisição de conhecimentos sobre a educa- ção inclusiva são imprescindíveis para a fundamentação da prática pedagógica do professor. A formação continuada possibilita uma atualização, assim como transformação em sua prática. O acesso ao conhecimento e o exercício de reflexão permite dar um novo signi- ficado aos seus princípios e uma possibilidade de mudar os paradig- mas já construídos. Quando as escolas disponibilizam espaços de integração para os professores, elas cumprem com a função na Educação Inclusiva. 106 A gestão deve respeitar as necessidades dos docentes e pode organi- zar reuniões com temas para estudo e pesquisa para promover uma formação continuada. Assim, a equipe estará disposta a compar- tilhar suas questões como relatos das condições de aprendizagens dos alunos, situações em sala de aula e a discussão de estratégias para enfrentar os desafios. A ideia é justamente estimular a troca para um crescimento conjunto, visando a aplicação de soluções e práticas na rotina em sala de aula. É essencial promover espaço para uma reflexão sobre a quali- dade da formação dos professores e as opções de atualização profis- sional da área. A educação para a diversidade requer um profissional preparado e um sistema educacional que o valorize por meio de apoio e estímulo para o seu crescimento. Portanto, é imperativo que os futuros professores recebam essa formação ainda na graduação, quando os estudos são iniciados. Em virtude de questões legais, o educando em Pedagogia e outras licenciaturas acaba experimentando o contato com a Edu- cação Inclusiva apenas por meio da legislação, serviços e recursos utilizados pela educação especial. Tanto nos cursos de graduação quanto nas especializações, as deficiências ainda são trabalhadas a partir de padrões médicos. Com isso, muitos professores acabam generalizando síndromes e deficiências, indicando, por vezes, “re- ceitas prontas” para cada caso. Mas sabemos que não há pessoas iguais, e o mesmo se dá com aquelas portadoras de deficiência, que têm suas particularidades e especificidades. O docente que forma os futuros professores tem um papel crucial, pois detém o poder de fazer com que eles desenvolvam as competências para identificar as necessidades educacionais de cada aluno por meio de estratégias e adaptação curricular. Também pos- sibilita o desenvolvimento de práticas pedagógicas alternativas para incluir cada educando. A formação de professor e as atividades em campo são ex- periências essenciais para a obtençãode uma vivência completa na Educação Inclusiva. Associadas, elas auxiliam e complementam as competências necessárias para a prática da inclusão. No entanto, a maioria dos cursos disponibilizam os estágios apenas ao final da formação, o que complica ao unir a teoria à prática. 107 Não é à toa que encontramos muitos professores recém-for- mados despreparados para a vivência diante da complexidade do universo que é uma sala de aula. E, de forma a evitar essa situação, o melhor caminho é organizar a formação inicial a partir da práti- ca, para que os professores estejam aptos a praticar os conteúdos aprendidos, uma vez que cada um aprende que todo conteúdo es- tudado é um potente instrumento para a leitura dos diferentes con- textos encontrados ao ter que enfrentá-los. Por diversas vezes, o profissional pode se sentir sozinho em suas práticas pedagógicas, acarretando em um sentimento de fra- casso. A mediação do processo ensino-aprendizagem não deve ser solitária: conversar com outros professores sobre seus erros e acer- tos colabora para o êxito do processo educativo. O professor de uma sala de aula regular guia e orienta as atividades de forma a organizá-la. O projeto pedagógico da escola também ajuda e permite que seja firmado o compromisso com os objetivos escolares. Já o professor de atendimento educacional es- pecializado (AEE) em uma sala de aula inclusiva precisa considerar que os conteúdos escolares atuam como objetos da aprendizagem, que têm como objetivo fazer com que os alunos atribuam significa- dos e desenvolvam os aprendizados. Assim, o professor assume o papel de mediador do conhecimento (ALONSO, 2013). Percebemos, então, uma diferenciação entre os educadores com especialização para os atendimentos especializados e os edu- cadores capacitados para atuarem nas salas regulares. De forma a viabilizar essa distinção, é possível afirmar que os professores ca- pacitados para salas regulares devem possuir uma disciplina em sua formação inicial, ou seja, os cursos de graduação devem inserir aulas sobre Educação Inclusiva, mas isso seria apenas uma pequena parcela na formação em comparação com o imenso universo dessa educação. Por outro lado, o professor especializado trabalha diretamen- te no atendimento educacional especializado e sua formação advém de cursos específicos. Mas, como já sabemos, os dois tipos traba- lham em conjunto para que o aluno consiga atingir os objetivos pedagógicos. 108 O atendimento educacional especializado acontece no con- traturno do ensino regular e o professor dessa especialidade tem que considerar os conteúdos fornecidos em sala de aula regular para dar continuidade ao aprendizado do aluno. Preferencialmente, esse docente deve ser oferecido na rede regular de ensino, que, por sua vez, precisa fornecer ao professor especializado o apoio necessário, viabilizando o desenvolvimento do trabalho dele. Tal apoio pode ser concretizado, por exemplo, como um ofe- recimento de salas de recursos multifuncionais para que o aluno com deficiência possa ser acolhido. Uma equipe para acompanha- mento também pode ser fornecida pela escola, formando a rede de apoio para o estudante. Figura 5. Ambiente adequado e profissional especializado são fundamentais para o desenvolvimento educacional do aluno com necessidades especiais. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 29/07/2020. Há diversos percalços ao longo da jornada de um docente após decidir trabalhar com Educação Inclusiva. Imaginemos a seguinte cena: você se tornou um professor de Química e precisa ministrar uma aula para alunos surdos. A situação é complica, tendo em vis- ta que essa é uma ciência que não detém uma linguagem específica traduzida para Libras e, assim, acaba dificultando a construção do conhecimento desses alunos (ALONSO, 2013). O “mau funcionamento” da Educação Inclusiva não se deve apenas ao despreparo dos professores. As instituições não estão, em sua maioria, aptas a receberem esses alunos e não detêm recursos 109 para atender às necessidades deles. As escolas precisam adequar todo o ambiente escolar, como por exemplo, os estudantes com de- ficiência visual necessitam de livros em Braile e ambientes acessí- veis e informativos, e os cadeirantes, de rampas de acesso, banheiros adaptados e uma estrutura física que viabilize o seu deslocamento nos espaços sem quaisquer empecilhos. No entanto, a realidade escolar mostra escolas que estão co- meçando a realizar algumas adaptações para que esses alunos pos- sam realmente ser incluídos. Devemos enfatizar que é um esforço visto, principalmente, em escolas da rede particular, tendo em vista que as da rede pública ainda precisam percorrer um longo caminho para atingir esses objetivos. A formação continuada do professor é outro ponto compli- cador relevante, considerando que muitos trabalham em mais de uma escola para complementar renda, indispondo de tempo e/ou dinheiro para realizar uma especialização na área. O conhecimento a respeito das deficiências, transtornos e altas habilidades/super- dotação seriam de grande valia para os docentes. Salas de Recursos Multifuncionais As salas de recursos multifuncionais são espaços da escola em que o AEE realiza o atendimento por meio de estratégias de aprendizagem centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção do conhecimento, oferecendo benefícios para a formação de seu currículo e participação da vida escolar. O trabalho praticado nessas salas tem o apoio de tecnologias assistivas que auxiliam o professor de AEE a complementar o aten- dimento às necessidades específicas de cada educando e asseguram o desenvolvimento de atividades assistenciais considerando as li- mitações desses alunos. A criação e propagação das salas de recursos multifuncionais é um ponto previsto na Política Nacional de Educação e não deve ser confundida com uma sala de recursos qualquer, pois elas são idea- lizadas para complementar a aprendizagem dos educandos com deficiência. 110 É interessante frisar que um entrave que ainda pesa em acei- tar esses alunos é a obrigatoriedade de possuir laudo médico para que a escola possa receber verbas do Fundeb em dobro. Acontece que, para tal, segundo as notas técnicas do MEC e do Secadi, não é preciso laudo médico para requerer a verba, mas sim um laudo edu- cacional, derivado de um estudo realizado pelo professor do AEE. No entanto, por desconhecimento desse posicionamento das polí- ticas educacionais, a maioria das escolas não demanda esse direito. Figura 6. Um ambiente propício e um profissional especializado viabilizam a aprendizagem de todos, especialmente de alunos com deficiências. Fonte: Adobe Stock. A estruturação da sala de recursos multifuncionais apresenta como intenção a inserção das tecnologias assistivas. Elas são uma ampla gama de recursos que contribuem para proporcionar ou am- pliar as habilidades funcionais e, com isso, promover independência e inclusão (SARTORETTO; BERSCH, s.d.). Essas tecnologias têm sentido quando usadas em conjunto em prol do aluno no contexto escolar comum, apoiando sua esco- larização. Sendo assim, o trabalho na sala assistiva se destina ainda a auxiliar o docente a avaliar a melhor forma de tecnologia assisti- va para produzir material e encaminhar esse conteúdo para que o aluno possa utilizar em sala de aula regular, com a família ou nos ambientes que frequenta. A utilização dessas tecnologias enfoca na aplicação para a Edu- cação Inclusiva, apresentando a possibilidade de autonomia desses 111 alunos e oferece um conhecimento aplicado para resolução de pro- blemas funcionais enfrentados, assim como também promove a quebra de barreiras que impedem suas participações nos desafios educacionais. Adaptações necessárias para educação inclusiva Enquanto educadores, possuímos diversas possibilidades de atua- ção frente aos alunos com necessidades educacionais especiais. É correto e importante considerar que a convivência com colegas que não possuamas mesmas necessidades é fundamental para o desenvolvimento pleno do indivíduo; porém, como discutimos no início dessa unidade, a escola objetiva desenvolve a potencialidade humana de cada aluno e também as habilidades cognitivas, sejam elas quais forem. Os parâmetros curriculares nacionais e as diretrizes da educa- ção especial apontam para a necessidade de os professores e escolas realizarem adaptações metodológicas e didáticas, ou seja, devem ve- rificar quais são as melhores formas de interferir no procedimento de atuação do aluno. a Educação Inclusiva diz respeito a atender às necessidades especiais que todos os alunos possam ter em algum momento de sua vida escolar, transformando a escola em um espa- ço para todos. O Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece que essa inclusão atravesse todas as etapas de ensino, da Educação Infantil até o Ensino Superior”. Calçade (2018). O ensino de Libras, adaptações do material e do ambiente fí- sico, estratégias diferenciadas para adaptação, entre outros exem- plos, podem ilustrar a inclusão escolar corretamente. É importante que as pessoas com deficiência se sintam aco- lhidas e inseridas de forma natural às rotinas e métodos de ensino. E, para tal, o professor deve conhecer seu aluno, o que demanda tempo, e depende essencialmente da integração e do vínculo estabe- lecido entre aluno e professor. E também faz com que a necessidade 112 de observação seja constante e efetiva durante todo o processo de aprendizagem. Para que essa engrenagem funcione, são necessárias adaptações no currículo, nas metodologias e também no que se re- fere à avaliação, conforme observaremos adiante. Assim, o preparo do corpo docente, a adaptação do projeto pedagógico, a utilização das tecnologias e a avaliação precisam ser flexibilizados e incorporados ao surgimento dessa nova escola. No que se refere a adaptações curriculares, não cabe ao aluno se adaptar à escola tal como foi construída: a escola é que deve se reconstruir para atender a toda a sua comunidade, da qual fazem parte pessoas com e sem deficiência. Portanto, são necessárias as adaptações nos espaços e nos recursos e principalmente uma mudança de atitude, que já reflitam a concep- ção de desenho universal, não só na estrutura física, mas também no desenvolvimento das práticas de ensino e aprendizagem e nas rela- ções humanas (BRASIL, s.d.) Adaptações curriculares Como já ressaltamos, o conceito de uma Escola Inclusiva, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial, requer uma nova postura da escola regular, abrangendo o currículo, as metodologias e práticas, assim como o ambiente físico. O currículo é o documento que organiza os conteúdos que se- rão estudados ao longo da vida acadêmica do aluno. Apesar de ser constituído por meio da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ele não é inalterável, ou seja, é possível modificá-lo perante a rea- lidade vivida. Já na Educação Especial, as adaptações curriculares se tor- nam adequações necessárias para tornar o currículo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não se faz necessária a construção de outro currículo do zero, sendo a adap- tação suficiente para que o aluno com deficiência possa ser inserido 113 de maneira adequada no ambiente escolar. O currículo precisa ser pensado e elaborado pela escola regular levando em conta cada alu- no que irá receber, suas necessidades e ainda quais os objetivos a serem alcançados. Tais adaptações têm como objetivo criar condições físicas, materiais e ambientais para esse aluno com deficiência. A transfor- mação deve se dar em todos os âmbitos. Podemos citar, por exem- plo, mudanças no aspecto educacional, em que os objetivos a serem atingidos devem consistir em criar a capacidade de planejar, pro- gramar e avaliar programas para os diferentes alunos nos ambientes da escola regular. Um outro exemplo interessante é fornecer meios ou instrumentos que garantem que o aluno esteja apto para exercer suas habilidades, como a disponibilização de carteiras adaptadas ou ainda avaliação em braile. Concluímos, então, que as adaptações curriculares são fun- damentais para concretizar o atendimento das necessidades espe- ciais de todos os alunos, e, de modo a identificá-las, é preciso mais do que alterações em atitudes e expectativas acerca dos estudantes e de todo o processo de aprendizagem, mas também inclui a orga- nização para o desenvolvimento das habilidades dos gestores, dos docentes e dos funcionários. Metodologia para o trabalho com os alunos com deficiência Compreendemos por metodologia as estratégias que equivalem aos procedimentos planejados pelos educadores com a finalidade de atingir seus objetivos. Pelo olhar da Educação Especial, a metodolo- gia analisa as singularidades de cada aluno viabilizando a criação de estratégias condizentes com ele. Ao observar os diversos alunos que chegam às escolas, con- cluímos que não há que se falar em métodos eficazes preestabele- cidos para o trabalho com determinada deficiência ou transtorno. Cada criança possui uma forma individual de aprender que deve ser respeitada e analisada, principalmente no que concerne às suas competências, deixando de lado as limitações. Planejar e organizar 114 as aulas e as estratégias varia de um professor para o outro, mas a abordagem do planejamento deve ser flexível. O ponto de parti- da para planejar as estratégias pedagógicas inclusivas é olhar para o aluno antes de sua deficiência, compreendendo suas potenciali- dades e estabelecendo uma comunicação para que a aprendizagem possa se dar da melhor forma. Por um lado, as estratégias pedagógicas devem ser pensadas para todos; por outro lado, se faz imprescindível diversificá-las com base nos interesses, habilidades e necessidades de cada estudante. Assim, o sucesso do educador depende da consideração, ao longo do planejamento, acerca de tempo e estratégias para conhecer seus alunos – em especial aqueles que poderão requerer apoios específicos. Para fornecer boa compreen- são sobre os alunos e suas condições de aprendi- zagem, a observação precisa utilizar diferentes estratégias e ser feita em diversos momentos da aula (ALONSO, 2013, s.p.). Uma maneira de auxiliar essa jornada longa e constante é implementar a flexibilização acerca da aplicação dos conteúdos para esse aluno. No caso de materiais e tópicos mais complexos, os educadores devem lançar mão de mecanismos que facilitem a absorção da disciplina pelo aluno, assim como usar suportes para colaborar ainda mais com o aprendizado, abarcando não apenas a velha e querida lousa, como também jogos pedagógicos, digitais ou não. A aplicação de metodologias adaptadas que abracem a todos é apenas um dos fatores que colaboram para que os alunos com defi- ciência possam atingir seus objetivos pedagógicos. Avaliação do aluno com deficiência Quando o assunto é avaliação, a primeira imagem que surge na mente de muitos é daqueles momentos com provas terríveis aplica- das em salas de aula cheias de alunos enfileirados em suas carteiras tentando atingir uma boa nota para conseguir aprovação no período escolar. Essa metodologia de análise de fixação de aprendizagem já 115 não é a única forma de avaliação utilizada, mas muitas escolas ainda utilizam um exame nesses moldes para compor a maior nota da ava- liação do aluno, e sabemos que essa escolha não é muito inclusiva. Como já vimos anteriormente, mediante a adaptação do currículo e da metodologia do professor, o aluno pode sim ser ava- liado (se for a metodologia adotada pela escola), exatamente como ocorre com os outros alunos de sala regular, entretanto as avalia- ções precisam ser adaptadas. Não podemos aplicar, por exemplo, uma prova com os mesmos critérios exigidos de um aluno regular, mas é preciso avaliar todas as áreas, assim como com os outros alunos. São as potencialidades e conhecimentos adquiridos pelos alunos que precisam ser considerados,por isso a importância de o professor conhecer seu aluno e as competências dele. É preciso levar em conta as aquisições do aluno e o quanto ele conseguiu avançar na disciplina, verificando como ele lida com cálculos, desenhos e escrita, por exemplo, analisando também a produção escolar, os cadernos e os exercícios, bem como a participação em sala de aula (PECHI, 2011). A avaliação da aprendizagem deve ser coerente com os objetivos, assim como com as atividades e recursos selecionados. Se o processo de aprendizagem for redimensionado, a prova assim também será. Existe a avaliação processual, que é realizada durante todas as ati- vidades e pode ser mais esclarecedora quanto ao desenvolvimento desse aluno, uma vez que permite o reconhecimento das necessida- des educacionais e o redimensionamento dos indicadores de apren- dizagem por parte do docente, desde que considerados indicadores de aprendizagens condizentes com a intencionalidade de ensino. Em outras palavras, devemos estar atentos para as especificidades dos alunos. Suponhamos que uma prova de matemática será aplicada: a concentração avaliativa deve focar na capacidade matemática, não na interpretação de textos. O ponto é que, ao propor uma avaliação inclusiva, deve ser apresentada ao estudante a menor porção possí- vel de conteúdo, indicando o máximo de significado. Apesar dos efeitos psicológicos em relação à avaliação, geral- mente ser visto como algo ruim, é necessário estabelecer um trabalho afetivo, ou seja, criar vínculos, enfatizando a empatia e a confiança. 116 Devemos estar atentos aos fatores que podem afetar o desempenho desse aluno, como, por exemplo, o cansaço, reações a algum medi- camento utilizado, entre outras situações que possam prejudicar o aprendizado ou o momento da avaliação. Nessa unidade, abordamos o papel da escola dentro da Educação Inclusiva. Compreendemos que o ambiente escolar enfrenta mui- tos desafios para concretizar a inclusão dos alunos com deficiência, mas as adaptações realizadas viabilizam a transformação desse ambiente acessível. Vimos que a formação do professor voltado ao ensino desse aluno deve ser pautada com atenção às práticas pedagógicas. É necessário estar sempre atento e atualizado para que seja possível desenvolver as competências e habilidades do estudante. Adapta- ções curriculares, metodológicas e avaliativas são destaques dentro dessa unidade, uma vez que consistem em estruturas básicas que compõem as mudanças no processo de aprendizado, e, caso não se- jam concretizadas, as transformações correm sérios riscos de não se tornarem efetivas. A palavra-chave para o trabalho com esse aluno é o vínculo estabe- lecido, uma vez que esse elemento pautará todo o percurso educa- tivo, seja pela confiança depositada, pela escolha da metodologia a ser seguida, na implementação de atividades e exercícios adaptados, ou ainda na aplicação de avaliação adequada para esse aluno que objetiva analisar a evolução das habilidades adquiridas ao longo do período educativo. SINTETIZANDO UN ID AD E 4 Objetivos 1. Refletir sobre a educação em direitos humanos na educação não escolar. 2. Pensar sobre a educação não formal na educação inclusiva. 3. Pensar sobre a educação para a paz. 4. Compreender a educação baseada em valores. 118 Introdução Pessoal, ao longo desta unidade falaremos sobre os espaços não for- mais de educação, sobre a educação para a paz e a respeito da educa- ção baseada em valores. Os tópicos abordados serão: refletindo sobre a educação em direitos humanos na educação não escolar; espaços alternativos de aprendizagem: educação não formal na educação inclusiva; educação para paz; e educação baseada em valores. É nosso último encontro e a trajetória foi potente. Que o conhecimento con- tinue sendo construído e que nunca nos esqueçamos do caráter político e social daquilo que fazemos enquanto estudantes, profis- sionais e sujeitos no mundo! 119 Refletindo sobre a educação em direitos humanos na educação não escolar A Década das Nações Unidas, entre os anos de 1995 e 2004 ganhou considerável destaque no que diz respeito às discussões da temática da Educação em Direitos Humanos. Neste período, foram oferecidos diversos programas para o desenvolvimento dos direitos humanos no contexto social e escolar de inúmeros países. Tais programas fo- ram elaborados com o apoio e a assistência técnica da Organização das Nações Unidas (ONU), financiados por agências internacionais e posteriormente, foram transformados em programas a longo prazo, certificados por universidades e proporcionando a formação de pro- fessores para que fossem aplicados na educação formal. Além disso, foram contemplados por projetos de educação popular, conduzidos pela ONU, os quais são objetos de estudo deste tópico. Devemos também levar em conta o Plano Nacional de Educa- ção em Direitos Humanos (2006), que considera: A educação não formal em direitos humanos orienta-se pelos princípios da emancipação e da autonomia. Sua implementação configura um permanente processo de sensibilização e formação de consciência crítica, direcionada para o encaminhamento de reivindicações e a formulação de propostas para as políticas pú- blicas [...]...(BRASIL, 2006). Por isso, a seguir, verificaremos qual o papel das organiza- ções sociais na Educação em Direitos Humanos, compreendo qual o impacto das associações, das organizações não governamentais, dos sindicatos, entre outras entidades quando se trata deste assunto. O papel das organizações sociais na Educação dos Direitos Humanos Ao se iniciar as práticas pedagógicas voltadas à Educação em Di- reitos Humanos, é preciso agir com respeito à individualidade e às 120 características de cada sujeito e esta atitude deve prevalecer tanto dentro, quanto fora do ambiente escolar. É possível promover ativi- dades em que o próprio sujeito seja capaz de explorar e realizar as suas próprias descobertas. Conforme o Plano Nacional de Educação em Direitos Huma- nos (2006), a educação não formal age diretamente no empodera- mento dos grupos sociais, de maneira a proteger, defender e reparar os direitos humanos na sociedade. A prática da educação não formal desenvolvidas por diversas ins- tituições, ocupam o aluno com atividades produtivas e os deixam longe do tempo ocioso inverso ao escolar, em que um número grande de crianças ficariam pelas ruas, sujeitas a conhecerem uma realidade bastante real no país, como drogas, cigarro e bebida, por exemplo. Ao contrário, a criança ou adolescente frequentadora de projetos sociais, tem a oportunidade de aprender uma profissão, praticar um esporte, aprender a tocar um instrumento musical, pelo fato de que a maioria das instituições e projetos de educação não formal desenvolvem seus trabalhos por meio de oficinas culturais, esportivas e profissionalizantes, entre outras. Cabe ressaltar que este documento ainda apresenta impor- tantes ações pragmáticas para a Educação em Direitos Humanos não formal e indica diferentes espaços em que elas podem ser de- senvolvidas, tais como: • a alfabetização de jovens e adultos; • a educação popular; • o acompanhamento de pessoas com necessidades especiais; • a execução de projetos de pesquisa voltados aos direitos humanos; EXEMPLO 121 • a promoção de educação em direitos humanos para quilom- bolas, aldeias indígenas, assentados, imigrantes, entre outras comunidades específicas; • a incorporação de programas de inclusão digital e de educação a distância; • as produções artísticas voltadas à educação em direitos humanos; • as capacitações para agentes de esporte, cultura e lazer. Para conferir todas as ações pragmáticas no que se refere à educação não formal em direitos humanos, leia na íntegra o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. A educação não formal dos direitos humanos compreende uma série de segmentos, que vai desde as comunidades, os movi- mentos e as organizações sociais (PNEDH, 2006). Incluem-seneste grupo os segmentos políticos e não governamentais, bem como os setores que compreendem a cultura e a educação. Estes grupos desempenham um importante papel na educa- ção não formal dos direitos humanos, pois auxiliam e incentivam a sociedade à reflexão das suas próprias realidades. Além disso, cola- boram para que haja interlocução entre a sociedade e as autoridades públicas, de maneira a elaborar e encaminhar propostas para a rea- lização de políticas públicas em diversos setores. Assim, a educação popular ou não formal pode contribuir de forma decisiva para que os direitos humanos, de fato, sejam de to- dos e todas. Entretanto, como em todo o processo educativo, ela deve ser realizada com objetivos, com rotas a serem traçadas, sabendo o que se quer alcançar e onde se deseja chegar. SAIBA MAIS 122 Os espaços sociais, tais como os lares, as próprias escolas, as associações, os sindicatos e as organizações não governamen- tais são lugares com grande senso de solidariedade. Neles, o fazer da cidadania está presente com as oportunidades de diálogo, enca- minhamentos para a solução de problemas coletivos e ainda as rei- vindicações de demandas sociais se fazem presentes. No que se refere ao ponto de vista metodológico, a educação não formal em direitos humanos contribui para a sistematização, a reorganização e a (re) elaboração de medidas, programas e políti- cas públicas para a concretização dos mais diversos direitos de uma sociedade. Além disso, parte-se da oportunidade de considerar a própria realidade dos trabalhadores, cidadãos da periferia, produtores rurais, indígenas e muitos outros grupos específicos, os quais necessitam de apoio social. Dessa forma, a Educação em Direitos Humanos também cumpre o papel de formar intelectualmente diversos indi- víduos, que inúmeras vezes, são excluídos das instituições que têm como obrigação promover mudanças em nossa sociedade. Educação não formal na educação inclusiva O ambiente escolar é o espaço no qual acontece o processo de apren- dizagem. Mas será que ocorre apenas nesse ambiente? Neste tópico, trataremos desse assunto visando entender mais sobre a educação não formal na Educação Inclusiva. De acordo com os conhecimentos adquiridos, a instituição escolar é também uma instituição social, uma das mais relevantes, cujo processo de comunicação se dá entre o educador e o educando. No entanto, é importante refletir sobre isso e considerar que a edu- cação e o aprendizado podem ocorrer em qualquer lugar, ou seja, vai além da sala de aula, ultrapassando os muros da escola. Ademais, é fundamental levar em conta o bem-estar dos alunos e a vontade de aprender. Na Educação Inclusiva não acontece diferente: as pessoas com deficiência também detêm a capacidade de aprendizagem 123 em outros locais sem ser o ambiente escolar. O conhecimento é ad- quirido ao longo da trajetória de cada um, seja pelas vivências de experiências, seja pelas relações com as outras pessoas e com fami- liares, ou ainda em instituições de ensino não formais. De maneira a evitar confusão, diferenciamos, no Quadro 1, três tipos de práticas educacionais existentes, que são diferentes e atuam separadamente, mas não são independentes umas das ou- tras. Vejamos: Quadro 1: Diferenças entre as práticas Educacionais. Educação formal Ocorre dentro das escolas públicas e privadas, cursos de aperfeiçoamento, treinamentos etc. Geralmente, se dá dentro da sala de aula por meio de livros didáticos, lousa e outras particularidades. Educação informal É voltada para o comportamento, há- bitos, valores não intencionados e não institucionalizados. Educação não formal Ocorre no período inverso ao período regular. Fonte: RAMOS. (Adaptado). Acesso em: 29/07/2020. 124 A educação para paz Quando nos referimos à prática pedagógica dos direitos humanos voltada à cultura de paz, devemos entender que este processo pre- cisa ocorrer de maneira coletiva, enfatizando os espaços de diálogo e reflexão. Figura 1: A educação para a paz. Fonte: Pixabay. O século XX foi marcado por uma série de episódios de violên- cia e conflitos na sociedade humana, caracterizados pelo autopoder de destruição em massa. Neste sentido, as propostas de educação em direitos humanos para a paz têm como principais finalidades informar, formar e transformar. Por isso, a cultura de paz deve ser cultivada nas sociedades e ser vista como um processo a ser cons- truído de maneira coletiva e colaborativa. A paz como direito A paz pode ser compreendida como um processo educativo, dinâ- mico, contínuo e permanente, assim como a cultura da paz con- tribuiu para ajudar as pessoas a desvendarem de maneira crítica a realidade em que estão inseridas, a fim de serem capazes de poder modificá-las, de acordo com as suas necessidades. Em 2003, estudiosos da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, se reuniram com o intuito de elaborar um manual de pla- nejamento e avaliação no sentido de restaurar a paz em diferentes 125 zonas de conflito. Deste estudo, resultou um manual educativo com a finalidade de orientar e implementar a temática da Educação em Direitos Humanos em locais com altos índices de violência e opres- são, tais como Libéria, Serra Leoa, El Salvador, Guatemala, México, entre outros. Mas mesmo em nosso país, muitas crianças e jovens vivem fora da escola momentos de discriminação, sofrimento, dor e vio- lência, por isso é necessário que os educadores pensem em criar espaços cada vez mais humanizados. Assim, é fundamental que as práticas de ensino partam das vivências dos alunos e não apenas das teorias e dos conteúdos. Por isso, a educação para a paz é reconhecida como uma ação internacional voltada às práticas educacionais. Esta atitude contri- bui de maneira efetiva, sobretudo, para que a educação seja ofertada de forma adequada e significativa. Neste sentido, conforme afirma Jares (2007), este processo deve acontecer de maneira contínua e permanente, fundamentado nos dois conceitos fundadores (concepção de paz positiva e pers- pectiva criativa do conflito), que, pela aplicação de métodos proble- matizados, pretende desenvolver um novo tipo de cultura, a cultura de paz, que ajude as pessoas a entender criticamente a realidade, desigual, violenta, complexa e conflituosa, para poder ter uma ati- tude e uma ação diante dela. Figura 2: A paz como direito humano. Fonte: Pixabay. 126 Todo modelo pedagógico voltado à educação para a paz faz parte das recomendações da UNESCO sobre a Educação para a Com- preensão, a Cooperação e a Paz Internacional. Não se pode realizar tal trabalho sem considerar a realidade social em que os alunos estão inseridos. O educador deve propor a eles que reconheçam os con- flitos, mas que sejam capazes de buscar conviverem em harmonia, sem aceitar quaisquer formas de violência, seja ela verbal, moral ou física. Ao tratarmos de maneira efetiva a aplicabilidade da paz como proposta para a Educação em Direitos Humanos, o primeiro passo é considerar a legislação brasileira. Além disso, as atividades permea- das no direito da paz devem contribuir para a formação da cidadania, para a responsabilidade ética, o respeito à tolerância e a importân- cia da democracia. Também se faz necessário considerar a importância da famí- lia neste processo, mesmo que a escola seja reconhecida como o veí- culo fundamental para as mudanças da sociedade, tão necessárias nos dias de hoje. Dessa forma, a sociedade contemporânea entende a educação para a paz e para os direitos humanos como uma pro- posta desafiadora, mas capaz de assegurar o desenvolvimento sus- tentável das sociedades, garantindo que os direitos humanos sejam respeitados, tais como a justiça social. Em suma, a educação para a paz em direitos humanos contri- bui na formação de indivíduos para uma sociedade pacífica, capaz de evitar catástrofes sociais, além de promover o respeito pelas diver- sidades, a fim de agir como um mecanismo de crescimento e inter- dependênciados sujeitos. Educação baseada em valores Muitos professores e profissionais da área educacional vivenciam diversas situações cotidianas em que observam o desrespeito dos direitos humanos. Considerar as inúmeras realidades do contexto social e escolar pode ser o ponto de partida para a educação em va- lores como uma proposta para o trabalho sobre a temática dos di- reitos humanos. 127 A escola, sobretudo, é um espaço de formação de cidadãos, por isso as atividades escolares devem, acima de tudo, valorizar o diálogo, o respeito e a justiça entre os atores da comunidade escolar, que são: os pais, os alunos, os professores e a equipe diretiva. Neste sentido, é muito importante promover um trabalho educativo que seja baseado em valores e articulados aos conteúdos curriculares. O papel da escola na sociedade contemporânea Atualmente, muito se atribui muito valor ao processo de ensino- -aprendizagem baseado no conhecimento científico, mas é fun- damental primar pela formação integral dos cidadãos, visto que a sociedade contemporânea clama por uma educação de qualidade, capaz de valorizar além dos aspectos cognitivos, os aspectos sociais, afetivos e morais. Por isso, se faz necessário que ocorram discussões voltadas à preparação dos alunos para o convívio em sociedade, formando- -os como sujeitos críticos e questionadores da sua realidade, sendo capazes de transformar o mundo do qual fazem parte em um lugar justo e igualitário. Mas, para que o aprendizado dos cidadãos seja considerado, de fato, significativo, é preciso considerar e estimular os alunos a entenderem que espaços ocupam na sociedade. Além de instruir, a educação deve formar. Por isso, ambas as ações devem ser com- preendidas como ações inseparáveis. Neste sentido, também se torna fundamental que os profes- sores e educadores estejam preparados para atender às demandas de uma sociedade que necessita ser transformada. Padilha (2005, p. 169) discorre sobre estes aspectos, a partir dos seguintes questionamentos: [...] como alguém que não se respeita, que não respeita os seus próprios direitos, que às vezes nem os conhece e que não sabe defen- dê-los, poderia ensinar outro alguém sobre o 128 exercício de algum direito ou sobre qualquer outro conteúdo de forma crítica e emancipa- dora? Ou como alguém que está desacostuma- do a ser ético e agir, socialmente com justiça? Ou, ainda, como um professor que se deixa vencer pela rotina, por mais dura que possa ser, pode contribuir para a formação de sujei- tos que exerçam plenamente a sua cidadania e saibam defender os seus direitos civis, sociais e políticos? Portanto, as instituições de ensino são vistas como um ce- nário importante na transmissão e na promoção dos direitos e dos valores. A escola, sobretudo, tem o poder de contribuir para a for- mação de uma nova sociedade, cuja dignidade humana se realiza dentro da constituição do próprio direito à educação, e a partir dela, outros direitos passam a ser reconhecidos. Vivemos atualmente em uma sociedade cada vez mais egoísta, incompreensível e irracional no que se refere ao respeito social, às diferenças de indivíduos, pensamentos, e, a credos. Sentimos na pele que a sociedade carece de uma harmonização de ideias não no sentido de todos pensarem da mesma maneira, mas, de compreen- são em distinguir que ideias distintas não nos fazem conflitantes, mas, pensadores. Rotineiramente, nos deparamos nos noticiários quanto a re- latos de intolerância de gênero, de religião, de filosofia, e, ideias. São comportamentos altamente nocivos à sociedade, e diretamente ao indivíduo, pois, passa a segregar cada vez mais os competentes de uma sociedade, criando-se subdivisões sociais de forma negativa. Não raras às vezes, tais episódios são provocados por conflito de convicção, preconceito, segregação e radicalismo de determina- do grupo. São atos que causam repulsa social, contudo, atualmente pouco é trabalhado para conter tais atos, restando somente à popu- lação, não generalizando, mas, se reservarem tão somente no es- panto, sem políticas públicas eficazes para o combate de tais atos intolerantes. 129 Figura 3 – Intolerância. Fonte: Freepik Os episódios de intolerância junto à sociedade podem levar a graves lesões aos cidadãos que sofrem com represálias diante de suas convicções. A não aceitação de convicções alheias às similari- dades de determinados grupos pode muitas vezes causar um trans- torno tanto individual, como coletivo. Vivemos em um momento em que as doenças psicológicas vêm tomando espaço e ganhando notoriedade e podemos atribuir muitas dessas problemáticas a in- tolerâncias de ideias causadas por grupos sociais. Segundo matéria publicada pela revista online Fórum, no quesito intolerância religiosa, podemos citar alguns exemplos do reflexo da intolerância em face do indivíduo, e, também de um gru- po social, vejamos: Em setembro do ano passado (2014), um alu- no da Escola Municipal Francisco Campos, no Grajaú, Zona Norte do Rio, foi barrado pela di- retora por usar guias de candomblé por baixo do uniforme, além de bermuda e boné brancos, que faziam parte de um processo de iniciação à fé. Depois de relatar casos de humilhação dian- te dos colegas, ele ficou um tempo afastado e decidiu mudar de colégio (REVISTA FÓRUM, 2014,np.). 130 Ainda, nesta pesquisa, há uma constatação de altíssima rele- vância trazida pela jornalista Denise Carreira, na Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação da Plataforma DHESCA: [...] a intolerância religiosa nas instituições de ensino é um problema grave e ainda invisível para as autoridades e a sociedade como um todo. Ela destaca o despreparo dos profissionais para lidar com a questão e afirma que as princi- pais vítimas de preconceito são os adeptos das religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda (REVISTA FÓRUM, 2014, n.p.). Somente compreendendo a construção e evolução da socie- dade em que vivemos, seremos capazes de um convívio social em harmonia, respeitando os interesses individuais e coletivos, articu- lando igualdade e diferença. Como diz Paulo Freire, “[...] a liberdade é concebida como horizonte final do destino do homem, mas por isto mesmo só pode ter sentido na história que os homens vivem [...]” (FREIRE, 1982, p. 7). A educação se torna ferramenta imprescindível para alterar a situação social atual. Percebemos que a forma mais incisiva de cor- rigir uma sociedade intolerante é por meio das bases educacionais em todos os estágios e lugares. A educação, a tolerância, e, a com- preensão possibilitam ao cidadão exercitar o respeito ao próximo, jamais abdicando das suas convicções, mas, possibilitando-o co- nhecer outras visões que possam complementar seu pensamento; ou, por choque no sentido de buscar maior reflexão e informações quanto às temáticas eventualmente discutidas. Aqui, o ideal é afas- tar o absolutismo de uma verdade ilusória. Propostas para a Educação em Direitos Humanos baseada em valores A realidade nos remete a pensar na educação baseada em valores como um trabalho a ser realizado pela família, visto que este pro- cesso envolve uma série de aspectos, tais como sociais, morais, psí- quicos, entre outros. 131 Mas é na escola que se observam e se constituem muitos epi- sódios de violência e indisciplina, bem como o desconhecimento de diversos valores trazidos do ambiente familiar. Por isso, é inques- tionável que a escola não seja reconhecida como um espaço para a educação em direitos humanos baseada em valores. Outro fator bastante comum na sociedade atual é a ideia de que os valores estão, na maioria das vezes, associados às questões religiosas, por isso, muito se questiona que indivíduos que não pra- ticam alguma religião possam estar desprovidos de alguns valores. Você sabe explicar o que são valores? Para que eles servem? Como são adquiridos? Convido você a refletir sobre essas questões, antes de darmos continuidades aos nossos estudos! Os valores são constituídospor uma série de hábitos e com- portamentos de um ser humano. Ao longo da sua vida, cada indi- víduo vai atribuindo, de acordo com as suas vivências quais são os valores que deseja carregar consigo, o que estão diretamente liga- dos às suas ações. Por isso, a Educação em Direitos Humanos baseada em valo- res trata-se de uma construção, ou seja, um processo. Diante dessas razões, contata-se que os valores dos sujeitos não são como fatores genéticos, herdados por seus ancestrais, mas trata- se de um resul- tado de comportamentos e atitudes. REFLITA 132 Figura 4: Os direitos humanos para um mundo mais justo. Fonte:Pixabay E neste processo, a escola desenvolve um importante papel na educação em direitos humanos. As instituições de ensino con- tribuem para que os alunos percebam que são capazes de viver em um mundo mais justo, mais digno, mais sustentável e mais seguro. Aliar os direitos humanos aos valores e às metodologias de ensino contribuem para a formação de cidadãos agentes e críticos ao seu meio social. Assim, os valores aprendidos ou adquiridos na escola são levados para a vida do aluno, a fim de fazerem sentido em suas práticas sociais. A educação é a ferramenta mais eficiente para o crescimen- to pessoal, além de ser considerada como um direito de qualquer indivíduo. Através da educação, muitos outros direitos podem ser alcançados, sejam sociais, econômicos ou culturais. Entretanto, a sociedade atual ainda se encontra em uma rea- lidade que prima pela educação bancária, cujo sujeito encontra-se em uma posição de receptor de conteúdos, que são gravados e re- produzidos. Dessa forma, destaca-se a concepção de ensino defen- dida por Paulo Freire, o qual considerava o ser humano como um sujeito livre e ativo na sociedade. Por isso, é tão importante que o processo educativo se dê de maneira libertadora, isto é, reconhe- cendo a realidade dos educandos. 133 Paulo Freire denominou de educação bancária o processo de ensi- no-aprendizagem em que o professor deposita o conhecimento em alunos desprovidos dos seus próprios pensamentos. Para ele, este tipo de ensino serviria apenas como treinamento para a formação em massa exclusivamente para o trabalho. Ou seja, nestas situa- ções, os alunos não eram estimulados a desenvolver o pensamen- to crítico, tão pouco se permitiria que eles atuassem como seres questionadores. Sabemos que muitos avanços já ocorreram ao longo dos anos, mas há urgência em acelerar programas e políticas públicas capazes de combater o racismo, a violência, o sexismo, a xenofobia e tantas ou- tras situações causadoras do sofrimento dos seres humanos de todo mundo. Nesta última unidade letiva da disciplina, pensamos sobre a Educa- ção em Direitos Humanos fora da escola e reconhecemos as possibi- lidades da educação não formal na Educação Inclusiva. Destacamos o papel fundamental das instituições sociais em nosso país, as quais desenvolvem muitos projetos culturais, esportivos e educacionais. Além disso, reconhecemos a paz e os valores como propostas de Educação em Direitos Humanos, discorrendo sobre tais aspectos, a partir da perspectiva de direitos que, quando são assegurados, ga- rantem a promoção de outros direitos. SINTETIZANDO SAIBA MAIS 134 Referências UNIDADE 1 BRASIL. Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Diário Ofi- cial da União. Brasília, DF, Poder Executivo, 21 dez. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 14 jul. 2020. _________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Legislativo, 5 out. 1988. Disponível em: <https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?- tipo=CON&numero=&ano=1988&a-to=b79QTWE1EeFpWTb1a>. Acesso em: 27 ago. 2020. DIVERSA. Conceitos fundamentais. Disponível em: <https://diver- sa.org.br/educacao-inclusiva/por-onde-comecar/conceitos-fun- damentais/>. Acesso em: 14 jul. 2020. MASSARO, Vanessa. Reflexões sobre o jusnaturalismo. 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