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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Tradicionalmente, a radiografia simples do abdome em AP (decúbito dorsal e ortostatismo) e a radiografia de tórax em PA (ortostática) fazem parte do algoritmo de avaliação do abdome agudo. Entretanto, na grande maioria das situações clínicas, os achados radiológicos são inespecíficos, o que muitas vezes impossibilita ou retarda o diagnóstico de doenças graves como pancreatite aguda e isquemia mesentérica, com repercussão negativa no prognóstico destes pacientes. Neste contexto, a ultrassonografia e, principalmente, a tomografia computadorizada têm demonstrado maior acurácia e aceitação na prática médica. ↠ A radiografia simples do abdome é um método rápido, amplamente disponível nos centros médicos e que não utiliza meio de contraste. A sua interpretação requer uma avaliação sistemática. A radiografia em AP (anteroposterior) em decúbito dorsal é a que fornece maior detalhe das anatomias radiológica e patológica. A radiografia em AP, com o paciente em ortostatismo, tem a finalidade de demonstrar níveis hidroaéreos, presença de ar livre acumulado abaixo do diafragma (pneumoperitônio) e avaliar a mobilidade ou fixação das estruturas após a mudança de decúbito. ANATOMIA ↠ Podemos identificar no hipocôndrio direito o contorno hepático, permitindo identificar hepatomegalia, por exemplo. No hipocôndrio esquerdo podemos identificar o contorno esplênico, permitindo suspeitar de esplenomegalias ↠ Nas regiões paravertebrais logo abaixo das últimas costelas vemos as sombras renais (a esquerda um pouquinho mais alta, geralmente) e as sombras dos músculos psoas maiores. ↠ Já o pâncreas, não conseguimos ver seus contornos, mas podemos inferir sua localização (a cabeça fica anterior à projeção do rim direito e a cauda junto do hilo esplênico), o que permite identificar algumas alterações como calcificações pancreáticas na pancreatite crônica. ↠ Podemos ainda avaliar, com bastante qualidade, a distribuição dos gases intestinais nos órgãos ocos. O estômago pode ou não conter gás. Geralmente observamos em pequena quantidade, o que chamamos de bolha gástrica, que fica localizada normalmente no hipocôndrio esquerdo, abaixo da cúpula diafragmática esquerda. ↠ O intestino delgado apresenta bem pouco ou quase nenhum gás normalmente (exceto nas crianças que choram e acabam engolindo bastante ar). Observamos geralmente pequenas bolhas localizadas na região central do abdome. ↠ O intestino grosso constitui a moldura da radiografia abdominal. Os cólons tem posição periférica e geralmente são preenchidos por gás e fezes. Além de sua característica posição no abdome, podemos identificar alças cólicas pela sua assinatura que são as haustrações, saculações que são identificadas como pregas incompletas nas paredes dos cólons. INCIDÊNCIA • Avaliar pelo menos duas incidências; • Decúbito supino + ortostase; • Decúbito lateral com raios horizontais; LAB. 02 - IMAGEM Radiografia de abdome em incidência frontal (decúbito dorsal). 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Abdome agudo: decúbito supino + ortostase + radiografia de tórax (devido a dor referida). Fígado: flexura direita mais baixa; Ampola retal: tem ar. COMO EU AVALIO UM RAIO-X DE ABDOME? ↠ Existem várias sequências possíveis de avaliação da radiografia de abdome. Você pode inclusive criar a sua própria! O importante é que você sistematize a avaliação em um checklist, para que não esqueça de nada. ↠ Uma sequência bastante útil na prática é a A-B-C-O-D: A: Ar ↠ Procure ar onde não deveria ter: fora de alça intestinal. Este achado é observado em afecções abdominais geralmente graves como abdome agudo perfurativo ou isquêmico e, por isso, o primeiro passo da avaliação da radiografia de abdome é procurar ar fora de alça. Pneumoperitônio: geralmente representa a perfuração de uma víscera oca. As principais causas são: úlcera gástrica perfurada, apendicite/diverticulite perfuradas, pós-operatório (deiscência de anastomoses) e trauma de víscera oca. É identificado com maior facilidade nas imagens em ortostase (RX abdome ortostático ou RX de tórax ortostático) como um acúmulo de gás abaixo das cúpulas diafragmáticas. B: “Bowel” ↠ Procure distensão das alças intestinais e, se houver, tente entender o nível da obstrução intestinal (obstrução alta x obstrução baixa). Obstrução do intestino delgado: pode ser causada por uma obstrução mecânica ou funcional. Dentre as causas mecânicas destacam-se as aderências (causa mais comum disparadamente!) e as hérnias. Dentre as causas funcionais destacam-se as alterações inflamatórias e metabólicas pós-operatórias, medicações e outras condições inflamatórias sistêmicas ou abdominais. ↠ Mas como eu vou saber que aquela alça distendida é uma alça de delgado? As principais características de uma alça delgada são: localização central no abdome e a presença das válvulas coniventes (sinal do empilhamento de moedas). Obstrução do intestino grosso: geralmente é causada por neoplasias (o câncer colorretal é a principal causa de obstrução do cólon em adultos), volvo e impactação fecal (principalmente idosos, pacientes acamados…). ↠ As principais características de uma alça de cólon na radiografia de abdome são: localização periférica no abdome e a presença das haustrações (as pregas mucosas do intestino grosso são descontínuas). As alças delgadas podem também estar distendidas nas obstruções do intestino grosso caso a válvula ileocecal não for competente. Portanto, se você observar uma distensão difusa, de delgado e cólon, geralmente ocupando todo o abdome, pense em obstrução cólica com válvula ileocecal incompetente! C: “CÁLCIO” ↠ Procure por cálculos e calcificações Litíase urinária: A maioria dos cálculos urinários são calcificados podendo ser observados na radiografia. A radiografia será limitada em pacientes obesos (pela atenuação do feixe de raios-X) e para a identificação de cálculos muito pequenos. ↠ Os achados de imagem são: imagens com densidade de cálcio (hiperdensas) na topografia dos rins ou no trajeto ureteral ou cálculos coraliformes (quando o cálculo 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck se amolda na pelve renal e nos cálices, adquirindo um aspecto semelhante a corais marinhos). O: “ÓRGÃOS SÓLIDOS” ↠ Com o advento da tomografia e da ultrassonografia, não utilizamos mais a radiografia na avaliação dos órgãos parenquimatosos, mas organomegalias podem ser achados em pacientes submetidos a radiografias de abdome por diversos motivos. D: “Dispositivos” ↠ Incluem sondas, cateteres e outro tipo de instrumental, bem como os corpos estranhos. Os corpos estranhos que aparecem na radiografia são os radiopacos, mas a maioria dos corpos estranhos não é radiopaco como palitos, brinquedos plásticos… SISTEMATIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO DO ABDOME • Topografia e morfologia dos órgãos sólidos; • Distribuição normal de gás; • Avaliação da musculatura – íleopsoas; • Avaliação do arcabouço ósseo; • Calcificações anormais – ex. pancreatite. PANCREATITE 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck CÁLCULOS RENAIS Referências MELLO JUNIOR, C. F. Radiologia básica. Rio de Janeiro: Revinter, 2010. Site medway. Disponível em: < https://www.medway.com.br/conteudos/raio-x-de- abdome-ainda-tem-seu-valor/> Acessado em: 22 de fevereiro de 2023.