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PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE Autoria: Ana Carla Fernandes Gasques 2ª Edição Indaial - 2022 UNIASSELVI-PÓS CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2022 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade ............................................... 7 CAPÍTULO 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental ................... 47 CAPÍTULO 3 Gestão Ambiental ......................................................................... 85 APRESENTAÇÃO Prezado acadêmico, bem-vindo! Sabemos que nossos hábitos diários in- fluenciam o ambiente em que vivemos, não é mesmo? A degradação do meio ambiente pelo homem vem ocorrendo há anos e em função de diferentes causas, tais como ocupação desordenada, lançamento de efluentes nos corpos hídricos, lançamento de gases na atmosfera, dentre outras ações. Entretanto, esta situação vem se agravando em função do crescimento po- pulacional e da forma com a qual vivemos, a qual intensifica as alterações nos ambientes, provocando mudanças nos ecossistemas e dificultando a manutenção do equilíbrio natural. Em função disso, torna-se necessário estudar este contexto e as formas de minimizar os impactos das ações humanas a fim de promover a sustentabilidade. Neste contexto, estamos iniciando nossos estudos sobre Proteção do Meio ambiente, fundamental para garantia da sustentabilidade do planeta. Para que seja possível compreender a gravidade e a complexidade envolvendo a proteção do meio ambiente é importante ter uma visão sistêmica sobre essa temática e, em função disso, esse livro está dividido em três capítulos, sendo eles: Meio Ambien- te e Sustentabilidade; Licenciamento e Avaliação de Impacto Ambiental e; por fim, Gestão ambiental. Ao longo de sua evolução, o homem enxergou os recursos naturais de dife- rentes formas, entretanto, a partir da Revolução Industrial, o ritmo do desenvol- vimento interferiu gravemente na qualidade ambiental, porém, apenas em 1960, a preocupação com o meio ambiente começou a ser ponto de debate. Assim, no primeiro capítulo, denominado Meio Ambiente e Sustentabilidade, abordaremos a evolução histórica do contexto da preocupação ambiental, conceitos básicos e aspectos legais e institucionais a fim de relacionar o homem, o meio ambiente e a sustentabilidade, bem como conhecer as legislações ambientais e os órgãos relacionados. O capítulo seguinte, intitulado Licenciamento e Avaliação de Impacto Am- biental, busca abranger o processo de licenciamento ambiental de atividades po- luidoras e definir as principais metodologias de avaliação de impacto, bem como apresentar medidas de prevenção, mitigação, potencialização e compensação de impactos. A Avaliação de Impacto ambiental (AIA) é o conjunto de etapas desenvolvi- das para analisar os impactos, negativos e positivos, que atividades ou empreen- dimentos provocarão no meio ambiente. No Brasil, a AIA está vinculada ao Licen- ciamento ambiental, que por sua vez é o conjunto de licenças necessárias para que uma atividade ou empreendimento possa operar de forma ambientalmente adequada. Ademais, é importante que os impactos ambientais sejam identificados a par- tir de metodologias já estabelecidas ou da combinação destas, e, ainda, sejam analisados e classificados segundo atributos. A partir desta análise é possível pro- por medidas de prevenção, atenuação, potencialização e/ou mitigação para os impactos. Por fim, o terceiro capítulo, Gestão ambiental, busca apresentar os diferentes tipos de poluição e seus respectivos tratamentos, os Programas de Avaliação e os aspectos envolvendo Auditoria ambiental. A partir destes temas, você terá com- preensão acerca dos principais processos e mecanismos de alteração no meio decorrentes das atividades antrópicas e conhecerá um pouco sobre sistemas de gestão ambiental. A poluição ambiental consiste na alteração da qualidade de determinado componente ambiental (água, ar, solo) pela liberação de substâncias em quanti- dade superior ao estabelecido. Para evitar que isso aconteça, diferentes mecanis- mos podem ser adotados, denominados de sistemas de tratamento, que buscam reduzir a quantidade e/ou concentração dos poluentes antes do seu lançamento no componente ambiental afetado. Apesar da preocupação com o meio ambiente nas organizações ter começa- do tardiamente, hoje, muitas empresas possuem um caráter reativo com relação a esta temática e buscam, no decorrer de seus processos, identificar formas para prevenir os impactos ambientais. Um dos motivadores para este processo foi o sistema de gestão ambiental, instituído pela norma ISO 14000, que abordaremos neste capítulo. Chegando ao final da disciplina é possível constatar que, evidenciamos aqui, a importância de orientar o desenvolvimento considerando os aspectos ambien- tais na tomada de decisão. A ideia, então, foi fazer com que você consiga com- preender a importância da proteção do meio ambiente e os principais aspectos relacionados a esta temática, tornando-o um profissional com visão sistêmica, in- tegrada e sustentável. Bons estudos! Professora Me. Ana Carla Fernandes Gasques CAPÍTULO 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � identificar a relação entre meio ambiente e sustentabilidade e enunciar as legis- lações ambientais e órgãos relacionados; � interpretar a importância da proteção do meio ambiente e diferenciar meio am- biente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. 8 Proteção do Meio Ambiente 9 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A qualidade de vida no planeta pode ser entendida como um equilíbrio en- tre população, recursos naturais e poluição. Contudo, o crescimento populacio- nal, aliado aos hábitos de vida, do desenvolvimento industrial e tecnológico e do consumo desenfreado resultam em insuficiência de recursos, levando a graves impactos ambientais em função das demandas desenfreadas, da exploração de recursos naturais e do consumo de combustíveis fósseis. O homem, ao longo de sua evolução, tem se relacionado de diferentes formas com o ambiente onde vive, entretanto, a partir da Revolução Industrial vem intensificando a degradação, a poluição, o consumo de recursos naturais de forma indisciplinada, lançando efluentes, resíduos e outros componentes sem tratamento prévio, sem considerar a conservação dos recursos. Neste cenário, a preocupação com o meio ambiente teve início em 1960 de forma lenta, e apenas em 1987, o termo desenvolvimento sustentável passou a ser alvo de estudos, debates e conferências. Além disso, a criação de agências regulamentadoras buscou auxiliar na definição de critérios, estabelecimento de legislações e padrões de controle para que seja possível fiscalizar e atuar para reduzir os impactos das atividades humanas no ambiente visando ao desenvolvi- mento sustentável. Assim, caro acadêmico, neste capítulo, vamos desenvolver nossos conheci- mentos acerca da proteção do meio ambiente, iniciando com o contexto do início da preocupação ambiental, seguido pelos conceitos básicos envolvidos e, por fim, teremos noção acerca das legislações pertinentes. Esseembasamento inicial é essencial para que seja possível compreendermos a razão da necessidade de proteção ambiental, bem como determinar o porquê da criação de determinados instrumentos e/ou princípios visando a esta proteção. Conhecer o contexto histórico e conceitos nos permite ter condições de de- bater acerca da importância da avaliação de impacto para que o meio ambiente seja conservado, bem como entender os diferentes contextos envolvidos, regu- lamentações e a evolução da relação homem e recursos naturais. Esse conjunto de saberes permite que o conhecimento adquirido seja aplicado de forma correta para manutenção da qualidade do meio ambiente, promoção do desenvolvimento sustentável, necessários para a existência da vida no planeta. 10 Proteção do Meio Ambiente 2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONTEXTO AMBIENTAL Vivemos em um contexto de degradação ambiental agravada, na qual os re- cursos naturais são limitados. Esta crise impulsiona problemas ambientais, de saú- de e de planejamento urbano, onde cada vez mais tornam-se necessárias medidas e ações que reduzam os impactos das atividades humanas no meio ambiente. Diferentes visões abordam a relação homem x ambiente: a abordagem do limite ao crescimento sugere que os dois estão em conflito, forçando uma busca pelo equilíbrio entre o crescimento econômico e a mitigação das mudanças climá- ticas. A abordagem neoclássica vê a relação ambiente-crescimento como uma re- lação de complementaridade fraca: preservar o capital natural é necessário para evitar declínios futuros no crescimento econômico. Uma terceira visão sugere que a política climática pode impulsionar o crescimento econômico, propondo uma re- lação de forte complementaridade (MECKLING; ALLAN, 2020). A preocupação com a proteção ambiental teve início na década de 1960 e vem sendo cada vez mais integrada à agenda política internacional, em função, principalmente, da disponibilidade de recursos, ou a falta destes. Você deve estar pensando: Mas por que sofremos com a falta de recursos hoje? Para entender- mos este questionamento é necessário conhecer um pouco a história da humani- dade e sua evolução. Ao abordar a natureza, da forma com a qual a concebemos ou a forma com a qual cada sociedade entende o ambiente natural, é possível constituir uma apro- ximação com a natureza, seja entendendo-nos como parte característica e intrín- seca a ela, ou, ainda, almejando dominá-la para nossos objetivos, a partir de uma abordagem de exterioridade (CALIJURI; CUNHA, 2013). Com o passar dos anos, o desenvolvimento do trabalho passou a exigir mais do homem, aumentou-se a atividade extrativista e as atividades de caça e pesca foram reduzidas. O homem, até então, nômade, passa a ser sedentário, fixando- -se em um local e alterando aquele ecossistema a fim de aumentar a produção e, neste período, foram formadas as primeiras sociedades organizadas. O desen- volvimento das práticas de trabalho influenciou o homem de forma geral ao longo dos períodos e a sua relação com a natureza. A história da humanidade pode ser associada às variadas formas de pro- dução de riqueza e sua distribuição ao longo dos anos, tendo em vista que o homem, para desenvolver seus modos de produção, passou a alterar o ambiente natural. Inicialmente, a relação entre homem e meio ambiente era considerada 11 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 harmoniosa, pois o homem extraía os recursos necessários única e exclusiva- mente visando a sua sobrevivência. O crescimento populacional, aliado ao desenvolvimento econômico baseado na acumulação de riquezas fez com que os recursos naturais fossem consumidos não apenas para necessidade básica, e sim como fonte de riqueza e ostentação. Ou seja, os recursos naturais tornaram-se objetos de domínio do homem e isso ainda se agra- va após a Revolução Industrial, marco histórico da degradação ambiental. Pott e Estrela (2017, p. 271-272) destacam que “a transição da manufatura para a indústria mecânica gerou o aumento da produção e a ascensão de novas tecnologias, alterou o modo de vida no planeta”. No período correspondente à Revolução Industrial, a relação homem x meio ambiente sofreu drásticas mudanças e os recursos naturais passaram a ser ex- plorados visando à produção de bens de consumo de forma desenfreada. Do mesmo modo, as melhorias da tecnologia, medicina e na produção de alimentos permitiram uma ampliação do consumo, estava instaurada a era do capitalismo industrial. Fábricas começaram a ser construídas nas cidades para viabilizar e concen- trar recursos efetivando a urbanização dos espaços, ocorreu um intenso êxodo rural, concentração de mão de obra do campo nas cidades, consequentemente, a geração de resíduos foi intensificada e cuidar do meio ambiente não era uma preocupação. Esse cenário continuou por um longo período, e pode-se dizer que o período entre as duas guerras mundiais ainda foi agravado, pois a capacidade industrial continuou a ser aumentada, com novas máquinas, processos produtivos cada vez mais automatizados e com tecnologias que buscavam o aumento da produção. Todo esse cenário exacerbou os conflitos sociais e agravou a pressão sobre os recursos naturais, a exploração desenfreada extrapolou a capacidade de re- cuperação da natureza, colocando em risco a continuidade do desenvolvimento econômico e social, além da própria vida na Terra na forma como a conhecemos (MARTINE; ALVES, 2015). O período pós-guerra caracteriza-se pela procura im- paciente do lucro na economia capitalista, pelo petróleo barato e pelo desenvol- vimento tecnológico. Apesar dos impactos ao meio ambiente, essa extensão da produção de bens e serviços colaborou para um progresso expressivo na qualida- de de vida de bilhões de pessoas (MARTINE; ALVES, 2015). Até este período, poucos episódios indicavam a relação entre crescimento populacional desordenado e seus impactos na população, saúde e meio ambien- te. A degradação ambiental era vista como um “mal necessário”. 12 Proteção do Meio Ambiente A preocupação com a questão ambiental só teve início após al- gumas tragédias, tal como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, e a doença de Minamata, em 1954. Além dessas tragédias, outras foram sendo noticiadas ao longo dos anos. Para saber mais, leia a notícia Principais desastres ambientais no Brasil e no mundo, publicada em 2017 no Jornal da Unicamp, disponível no link: https:// www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desas- tres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo. A questão ambiental só começou a ser alçada apenas no fim da década de 1960 e início da década de 1970. Alguns eventos marcam esta preocupação ao longo das décadas seguintes até atualmente, conforme exemplificado na Figura 1. FIGURA 1 – PRINCIPAIS EVENTOS ENVOLVENDO PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL DESDE 1960 FONTE: Adaptado de Brasil (2004) e Souza e Saccol (2016) A Figura 1 apresenta alguns eventos de destaque no que tange à preo- cupação com o meio ambiente ao longo das décadas. A década de 1960 tem como principais marcos: i) a publicação do livro Primavera silenciosa, de Ra- https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo 13 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 chel Carson em 1962, o qual dá um alerta sobre o uso intensivo de produtos químicos e seus danos à saúde. Além do livro, esta década destaca-se pela criação do Clube de Roma, onde um grupo de pessoas de diferentes classes, profissões e países se reuniu para debater assuntos sobre o consumo exces- sivo de recursos naturais. Além destes, a Lei Federal nº 4.771 de 1965 alterouo Código Florestal brasi- leiro existente desde 1934, tornando-a uma das primeiras legislações sobre meio ambiente no mundo, visando preservar os diferentes biomas (POTT; ESTRELA, 2017). Nos Estados Unidos, em 1969, foi formalizada a Lei da Política Ambiental (do inglês, National Environmental Policy Act – NEPA) que trouxe inovação para esta temática com o estabelecimento da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), a qual incorporou a análise ambiental na tomada de decisões envolvendo planos, programas e projetos de intervenção (POTT; ESTRELA, 2017). A partir disso, tanto os Estados Unidos quanto outros países passaram a in- corporar a avaliação de impactos como ferramenta na preservação destes bem, visando, de certo modo, garantir a proteção do meio ambiente. No Brasil, a AIA teve início a partir de requisições de órgãos financiadores internacionais. A primei- ra AIA, então, foi em 1972 para financiamento da Usina Hidrelétrica de Sobradi- nho como exigência do Banco Mundial (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Uma parte importante da prática de conservação é a avaliação dos impactos decorrentes das ações humanas. Os programas de conservação bem-sucedidos ou fracassados são de fundamental importância para a formulação de iniciativas com boa relação custo-benefício e para melhorar a subsistência dos usuários dos recursos naturais. A década de 1970 é caracterizada pela invenção de distintas organizações internacionais com a finalidade de tratar problemas ambientais em esfera mundial, bem como foram organizados os primeiros movimentos ambientalistas, tal como o Greenpeace (BEZERRA et al., 2009). A partir do Clube de Roma, em 1972, um grupo de cientistas assessores, utilizando-se de modelagem matemática, consta- tou que o planeta não aguentaria caso tivesse continuidade o crescimento eco- nômico baseado na exploração de recursos não renováveis. Em função dessa constatação, emitiram um alerta sobre o esgotamento de recursos denominado “Os Limites do Crescimento” (MEADOWS et al., 1973). No mesmo ano ocorreu a I Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em Estocol- mo, que incorporou de forma definitiva os debates sobre degradação ambiental. No Brasil, uma das repercussões desta Conferência foi a criação da Secre- taria Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 30 de outubro de 1973. Em países desenvolvidos, nesta década, algumas legislações foram instituídas a fim de ga- 14 Proteção do Meio Ambiente rantir que o meio ambiente fosse considerado na tomada de decisão de novos empreendimentos, conforme apresentado no Quadro 1. QUADRO 1 – LEGISLAÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE NA DÉCADA DE 1970 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS Ano País Instrumento legal relacionado 1973 Canadá Estabelecimento de avaliação e exame ambientalNova Zelândia Procedimento de proteção e melhoria ambiental 1974 Austrália Lei de proteção ambiental sobre o impacto de propostas 1976 França Lei de proteção da natureza FONTE: Adaptado de Sanchez (2013) Em 1975, a Conferência de Belgrado, na Iugoslávia, originou, ao final do en- contro, a “Carta de Belgrado”, indicando a melhoria dos métodos educacionais para a preparação da nova ética do desenvolvimento e da ordem econômica mundial (POTT; ESTRELA, 2017). Em consonância, em 1977, a Unesco, em co- operação com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), promoveu em Tbilisi, cidade na antiga União Soviética, a Conferência Intergover- namental sobre Educação Ambiental, “responsável pela elaboração de princípios, estratégias e ações orientadoras para educação ambiental no mundo, afirmando que a Educação Ambiental deve ter um enfoque interdisciplinar e estar presente como um processo contínuo em todas as fases do ensino formal e não formal” (POTT; ESTRELA, 2017, p. 217). No Brasil, em 1978, foi criado um comitê focado em gestão de bacias hidro- gráficas, denominado Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidro- gráficas (CEEIBH), cujo objetivo consistia na promoção de estudos integrados e acompanhamento do uso dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas. Assim, a fase entre as décadas de 1970 e 1980 é marcada pela regulamentação e controle de aspectos relacionados ao meio ambiente, tendo em vista que poluir passou a ser crime em diversos países. O Quadro 2 apresenta um resumo das principais legislações nos países desenvolvidos na década de 1980. QUADRO 2 – LEGISLAÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE NA DÉCADA DE 1980 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS Ano País Instrumento legal relacionado 1985 União Europeia Avaliação dos efeitos ambientais de certos projetos públicos e privadoRússia (Ex-União Soviética) Realização de perícias ecológicas em novos projetos 1986 Espanha Lei de avaliação de impacto ambiental de projetos 1987 Holanda Estabelecimento da Avaliação de Impacto AmbientalPortugal Lei de bases do ambiente FONTE: Adaptado de Sanchez (2013) 15 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Assim, a década de 1980 foi marcada pelo surgimento de leis regulamentan- do a atividade industrial em grande parte dos países no que se refere à poluição, e só então, na década de 1990, ocorre um grande impulso com relação à consci- ência ambiental na maioria dos países (BEZERRA et al., 2009). Neste momento da história foi criada uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi- mento, em 1983 e, a partir desta, foi escrito o Relatório Brundtland, publicado com o título “Nosso Futuro Comum”, tendo por enfoque proteção ambiental e desen- volvimento sustentável (SOUZA; SACCOL, 2015). O conceito de desenvolvimento sustentável insurgiu como “um ideal de de- senvolvimento econômico ecologicamente viável e socialmente justo, submetido a valores e metas de qualidade de vida, para as gerações presentes e futuras” (ABNT, 2004, p. 8). No Brasil, como reflexo desse cenário, esta década é mar- cada por uma das mais importantes legislações relacionadas ao meio ambiente: a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), promulgada em 31 de agosto de 1981. No mesmo ano, o governo promulgou a Lei Federal nº 6.902, de 27 de abril, dispondo sobre a criação de Áreas de Proteção Ambiental e Estações Ecológicas. A PNMA tem por objetivo regulamentar a “preservação, melhoria e recupe- ração da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condi- ções ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana” (BRASIL, 1981, p. 1). Corroborando com o citado anteriormente, outro marco desta década é a car- ta da Terra, em 1987, a qual abrange todas as interfaces da relação do homem com a natureza e servindo como um código ético em nível mundial, tal como a declaração Universal dos Direitos Humanos. Esse documento visa à promoção de um diálogo acerca dos valores comuns em prol de uma aliança global em respeito à Terra e à vida. Além disso, no Brasil, em 1988 foi alterada a Constituição Federal, que esta- belece em seu Art. 170 a proteção do meio ambiente como um dos princípios de ordem econômica. Já no Art. 225 define que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qua- lidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê- -lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, p. 8). A década de 1990, após a mudança da Constituição, é caracterizada por uma consciência comum sobre a urgência da preservação ambiental e o equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade. Em 1992, foi realizada a maior reunião ambiental da história: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, e popularmente conhecida como Rio-92. 16 Proteção do Meio Ambiente Nesta Conferência foram feitos pactos visando à qualidade de vida e o futuro do planeta e, em decorrência dela, foram aprovados diversos documentos sobre meio ambiente, desenvolvimento e mudanças climáticas, tal comoa declaração de princípios sobre florestas e a Agenda 21 (BEZERRA et al., 2009). A Agenda 21 é uma agenda de trabalho para o século XXI, em que foram identificados os principais problemas ambientais, os recursos e meios mandatórios para solucio- ná-los, bem como as metas a serem alcançadas nas décadas seguintes. Outra conferência de destaque ocorreu na década de 1990, porém no ano de 1997: a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em que foi instituído o Protocolo de Quioto (ou Kyoto), cuja principal medida é a definição de metas para redução da emissão de gases do efeito estufa. Como vimos, da mes- ma forma como ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, a década de 1990 também foi marcada pelo estabelecimento de legislações envolvendo a avaliação de ativi- dades poluidoras, tal como apresentado no Quadro 3. QUADRO 3 – LEGISLAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO DE IMPACTO EM ATIVIDADES POLUIDORAS DA DÉCADA DE 1990 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS Ano País Instrumento legal relacionado 1990 Alemanha Lei de avaliação de impacto ambiental1992 República Tcheca 1993 Hungria Regulação de avaliação de impacto para atividades previamente definidas 1997 Hong Kong Lei de avaliação de impacto ambiental1999 Japão FONTE: Adaptado de Sanchez (2013) Esta década é marcada também por avanços no Brasil: a Resolução CONA- MA 237, publicada em 1997, instituiu o licenciamento ambiental como ferramenta obrigatória para regularizar diversas atividades, e em 1998, foi instituída a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605). Em 1996 foi editada a norma internacional ISO 14001:96, que estabeleceu requisitos para a implantação de um sistema de gestão ambiental (SGA). A série ISO 14.000, segundo Derisio (2012, p. 204), “surgiu por ocasião da Conferên- cia das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED), realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. A primeira norma sobre gestão ambiental foi emitida pela BS-7750, que se constitui na base da série ISO 14.000”. A preocupação com o meio ambiente muda de perspectiva e passa a relacio- nar, também, a melhoria dos processos produtivos a fim de minimizar os impactos ambientais. Entretanto, apesar disso, o século XXI teve início com uma queda no 17 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 ritmo no que se refere ao enfrentamento de assuntos ambientais (POTT; ESTRE- LA, 2017). Os principais marcos do século iniciam-se em 2002, com a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johannesburgo, na África do Sul, também conhecida por Rio +10. O objetivo foi continuar a discussão iniciada 10 anos antes, na Eco-92, e dissertar sobre ações direcionadas à erradicação da pobreza, à globalização e questões energéticas, bem como retomar a problemáti- ca envolvendo mudanças climáticas. No Brasil, destaca-se, em 2010: a Lei 12.305 a qual instituiu a Política Nacio- nal de Resíduos Sólidos (PNRS), após 20 anos de debates envolvendo esta te- mática. A PNRS busca estabelecer os critérios necessários para a gestão integra- da e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Segundo Pott e Estrela (2017), a PNRS é um dos maiores avanços na legislação ambiental brasileira desde a Resolução Conama nº 237 de 1997 e a Lei dos Crimes Ambien- tais de 1998. Outro evento importante é a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2012 no Rio de Janeiro com a partici- pação de 193 países. Os temas principais desta conferência foram: economia ver- de, erradicação da pobreza e estruturação institucional voltada ao desenvolvimen- to sustentável. Um ponto de grande destaque foi a participação das empresas em compromissos voluntários reconhecendo o capital natural e se comprometendo a consumir recursos de forma consciente. O Acordo de Paris é um documento resultante da COP 21 em 2015, realiza- da, como o nome do acordo sugere, em Paris na França. A partir deste acordo, os países assinantes reiteraram compromissos para “manter o aquecimento global abaixo de 2 oC e limitando o aumento da temperatura a 1,5 oC acima dos níveis pré-industriais” (SOUZA; SACCOL, 2016, p. 7). É possível constatar, a partir dos marcos apresentados, que a preocupação com o meio ambiente foi ganhando destaque com o passar dos anos em decor- rência dos impactos resultantes das atividades humanas, ou seja, mudou-se o foco da visão do meio ambiente, que até então era visto como algo à parte do desenvolvimento humano e passou a ser visto como algo mais global. Apesar da evolução na preocupação com as questões ambientais, o crescimento econômico ainda tem se fundamentado no: [...] uso não sustentável de recursos não renováveis, na redu- ção da biodiversidade, na concentração de dióxido de carbono na atmosfera e na acidificação dos oceanos, além de ter gera- do fossos cada vez maiores entre ricos e pobres. Com o apro- 18 Proteção do Meio Ambiente fundamento do processo de globalização, avistam-se graves crises ambientais e sociais, enquanto a trajetória da própria economia também apresenta sinais de exaustão do modelo hegemônico (MARTINE; ALVES, 2015, p. 21). Neste contexto, Braga et al. (2005) alegam que a qualidade de vida no plane- ta depende do equilíbrio entre população, recursos naturais e poluição. No que diz respeito à população, quanto maior a população, maior é a demanda por recur- sos naturais e, consequentemente, a degradação ambiental. A população mundial apresentou um crescimento de 1,13% ao ano no período de 1950 a 2002, confor- me curva de crescimento exponencial apresentada na Figura 2. FIGURA 2 – CURVA DE CRESCIMENTO EXPONENCIAL DA POPULAÇÃO DE 1950 A 2002 FONTE: Adaptada de Braga et al. (2005) A taxa de crescimento populacional nos faz refletir: até quando os recursos naturais serão suficientes para sustentar o padrão de consumo humano? Bom, esta pergunta já vem sendo respondida nos últimos anos, não somente em fun- ção dos desastres naturais observados, mas principalmente devido à escassez de recursos em algumas regiões do mundo. 19 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Os recursos naturais, por sua vez, são os elementos necessários para ma- nutenção da existência de diferentes espécies. Segundo Venturi (2006, p. 15), é definido como “qualquer elemento ou aspecto da natureza que esteja em de- manda, seja passível de uso ou esteja sendo usado direta ou indiretamente pelo Homem como forma de satisfação de suas necessidades físicas e culturais, em determinado tempo e espaço”. A fim de exemplificar o consumo de recursos na- turais, pode-se citar as necessidades energéticas da sociedade ao longo de sua evolução (Figura 3). FIGURA 3 – EVOLUÇÃO DO CONSUMO HUMANO DE ENERGIA AO LONGO DA HISTÓRIA FONTE: Goldemberg e Lucon (2008) A partir da Figura 3 entende-se que, inicialmente, o homem primitivo tinha um consumo energético de 2000 kcal por dia e restrito às necessidades alimentares. Esse valor passou para 230000 kcal por dia a partir do desenvolvimento técnico, aumento do sedentarismo e dos avanços tecnológicos. Por fim, no que tange à poluição, esta pode ser entendida como o resultado da utilização dos recursos naturais pela população. Veremos sua definição no pró- ximo tópico deste capítulo. Os efeitos da poluição podem ter caráter localizado, 20 Proteção do Meio Ambiente regional ou global, sendo que os mais perceptíveis são aqueles observados local- mente, resultantes, normalmente, de grande densidade populacional e/ou indus- trial (BRAGA et al., 2005). 1) A relação homem e meio ambiente sofreu variações ao longo da evolução, o homem deixou de utilizar os recursos naturais apenas para sua sobrevivência e passou a consumi-los de forma desenfre- ada, extraindo e poluindo por enxergá-los como elemento de pos- se, mecanismo de acúmulo de riquezas. A partir desta contextuali- zação, como pode ser vista a qualidade de vidano planeta? Neste contexto, com o surgimento de novos desafios, cada vez mais com- plexos, abrangendo uma ampla gama de questões globais, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou a “Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentá- vel” em 2015, que consiste em uma declaração formal aceita pelos membros da ONU para enfrentar os desafios sustentáveis. A Agenda possui 169 metas e indi- cadores e é orientada por 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que abrangem as dimensões econômica, ambiental e social. Na Figura 4 são apresen- tados os ODS. FIGURA 4 – OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ONU FONTE: AECIC (2017, s.p.) 21 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 A partir da Figura 4 é possível constatar que são 17 ODS, além disso, tem-se 169 metas e 244 indicadores relacionados a estes, as quais abordam os desafios globais de mudança climática, desigualdade social e degradação ambiental. Os ODS representam uma evolução sobre como a sustentabilidade pode ser aborda- da globalmente entre 2015-2030. Busca evidenciar a necessidade de ponderar as pessoas, o planeta, a prosperidade, a paz e a parceria como alicerce para que o desenvolvimento sustentável global seja alcançado. Frente ao apresentado, apesar do processo evolutivo do homem e da sua relação com o meio ambiente ser abusiva, ao abordar a qualidade de vida no planeta, é imprescindível a urgência de mudança de paradigmas sobre a visão de meio ambiente pela sociedade como um todo, principalmente, tendo por enfo- que que a sustentabilidade dos recursos naturais não é possível se as demandas continuarem impulsionadas. Assim, chegamos ao fim do primeiro subtópico deste capítulo inicial e, no subtópico seguinte, estudaremos alguns conceitos vistos aqui e outros conceitos-base para a compreensão dos aspectos relacionados à prote- ção do meio ambiente. 3 CONCEITOS BÁSICOS No subtópico anterior, vimos que o aumento da população humana interage com os ambientes locais e globais e tende a esgotar a biodiversidade e os recur- sos dos quais os humanos dependem, desafiando os valores sociais centrados no crescimento e na confiança e na tecnologia para mitigar o estresse ambiental. O homem se relaciona diretamente com o meio ambiente desde os primórdios dos tempos e, além disso, esta relação varia tanto ao longo do período histórico quan- to de acordo com diferentes sociedades e culturas. Vimos no subtópico anterior, a evolução da preocupação com o meio am- biente, mas você deve estar se perguntando: O que é meio ambiente? Qual a diferença entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável? Antes de saber- mos a definição destes e de outros termos fundamentais para nossa compreen- são é importante ressaltar que não existe consonância acerca da definição desse termo e, por isso, aqui veremos algumas definições por diferentes autores e/ou legislações. Sob a perspectiva jurídica, segundo a PNMA (BRASIL, 1981, p. 1), meio am- biente é o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Além desta legislação, apenas a ISO 14.001 (ABNT, 2004) abordou o termo meio ambiente com a circunvizinhança da gestão ambiental e define meio ambiente 22 Proteção do Meio Ambiente como a circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações. Com relação a autores, Linhares e Gewandsznajder (1998, p. 435) definem meio ambiente como “meio físico, formado pelo ar, pela luz, pela temperatura, pela umidade, pelo tipo de solo, pela água e pelos sais minerais, chamados de fa- tores abióticos ou biótipo; sendo que a interação da comunidade com o ambiente físico forma um sistema ecológico ou ecossistema”. Para Migliari Junior (2001, p. 40), o meio ambiente é a: [...] integração e a interação do conjunto de elementos natu- rais, artificiais, culturais e do trabalho que propiciem o desen- volvimento equilibrado de todas as formas, sem exceções. Logo, não haverá um ambiente sadio quando não se elevar, ao mais alto grau de excelência, a qualidade da integração e da interação desse conjunto. Há quem confunda meio ambiente com ecologia, sendo assim, vamos con- ceituar ecologia também, mesmo não tendo abordado este tema ainda, ele vol- tará a ser comentando nos próximos capítulos do nosso livro didático. Ecologia é a ciência que estuda as interações entre organismos e seu ambiente (CAIN; BOWMAN; HACKER, 2018) e, a partir deste conhecimento, pode-se entender como o planeta está estruturado, visando, assim, compreender como a ação hu- mana interfere e prejudica os demais seres vivos. Como curiosidade, a fim de diferenciar natureza de ambiente e meio ambiente, Dulley (2004) elaborou uma figura, apresentada a seguir: A partir dela, o autor reforça que a natureza 100% natural é tida como um ideal, tendo em vista que o homem sempre a modifica para sua sobrevivência. É possível, ainda, afirmar que ambiente signifi- caria, logo, a natureza versada sob a perspectiva do social humano (formado pelo meio ambiente humano e o meio ambiente das demais espécies conhecidas). 23 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Frente ao apresentado, é possível perceber que o conceito de meio ambiente passou por variações ao longo dos anos, mudando entre condições físicas, quími- cas e biológicas ao contexto envolvendo as organizações e suas relações com o meio. Tais modificações estão, além de relacionadas com avanços no uso de ma- teriais e energia, intimamente atreladas aos avanços do conhecimento científico sobre o ambiente e os recursos ambientais. Tendo isso colocado, outra questão muito debatida sobre meio ambiente é seu caráter enquanto fornecedora de recursos: a discussão permeia o pensamen- to, predominante até meados do século XX, de que o meio ambiente era algo à parte da sociedade humana, ou seja, a sociedade não fazia parte deste e este era um fornecedor dos recursos necessários para seu desenvolvimento. Em con- trapartida, em 1972 nasce o pensamento de ambiente integral ou global, no qual todos os elementos interagem entre si e estão dependentes uns dos outros, inclu- sive o homem, sendo, diante disso, uma conexão entre meios naturais e urbanos, qualificado como o meio de vida, e, então, tudo que o afetar, atingirá igualmente seus componentes, incluindo os seres humanos. Nesse contexto, a noção de “recursos naturais” se torna mais ampla passan- do a ser chamada de recursos ambientais, que inclui a conotação de suporte à vida (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Segundo a PNMA (BRASIL, 1981), recursos ambientais são: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Desde a criação da máquina a vapor no período da Revolução Industrial, fundamentos envolvendo as ciências básicas vêm sendo aplicados para transfor- mar o meio ambiente a partir de tecnologias que beneficiem a sociedade. Para tal, “são adotados princípios científicos e leis básicas de funcionamento do universo e tendo, como ponto comum, o uso dos recursos naturais e os processos de trans- formação da matéria e de conversão de energia” (CALIJURI; CUNHA, 2013, p. 8). Os sistemas naturais são moldados pelas interações dos organismos entre si e o ambiente físico, desta forma, é essencial que a ecologia (ciência que busca estudar as interações entre organismos e seu ambiente, conforme vimos anterior- mente) seja estudada. De forma complementar, Braga et al. (2003, p. 4) definem recurso natural como “qualquer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas necessitam para sua manutenção”. Esses recursos são comumente classificados em dois grandes grupos: em renováveis e não renováveis, sendo que os renováveissão aqueles cuja disponi- bilidade é retornável mesmo após seu uso devido a seus ciclos naturais tal como ar, água, solo. Os recursos não renováveis, como o nome propõe, são aqueles 24 Proteção do Meio Ambiente que, uma vez consumidos, não podem ser reaproveitáveis, como, por exemplo, combustíveis fósseis, petróleo, gás natural e carvão. Para Calijuri e Cunha (2013), a área de engenharia é uma das principais responsáveis por melhorar as práticas, processos e transformações para que os recursos naturais não renováveis sejam substituídos pelos renováveis. Apesar da motivação dar-se principalmente por fatores econômicos, estas melhorias são fundamentais para proteção ambiental. Dulley (2004), em seu artigo intitulado Noção de natureza, am- biente, meio ambiente, recursos ambientais e recursos naturais, si- tua, a partir de outros autores, as principais diferenças entre os con- ceitos de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos naturais e recursos ambientais. Esta leitura é recomendada, pois pode auxiliá- -lo(a), aluno(a), a compreender melhor cada termo e suas diferentes aplicações de forma adequada. Acesse o artigo no link http://www. iea.sp.gov.br/out/publicacoes/pdf/asp-2-04-2.pdf. Outro termo bastante comentado no subtópico anterior e que será foco de estudo em um subtópico específico é o termo poluição, cuja definição é uma alte- ração não desejada nas características físicas, químicas ou biológicas do ambien- te, que causa ou possa vir a causar danos à saúde, sobrevivência ou atividades de diferentes espécies (BRAGA et al., 2003). Segundo a Política Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981, p. 2): Poluição consiste na degradação da qualidade ambiental resul- tante de atividades que direta ou indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem con- dições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e, lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Para a Lei Federal no 6.938/81 em seu Art. 3o, inciso III, poluição é: A degradação da qualidade ambiental resultante de ativida- des que direta ou indiretamente: a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) Afetem des- http://www.iea.sp.gov.br/out/publicacoes/pdf/asp-2-04-2.pdf http://www.iea.sp.gov.br/out/publicacoes/pdf/asp-2-04-2.pdf 25 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 favoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Diante disso, entende-se que poluição possui apenas conotação negativa e é aceitável limitá-la a valores específicos, pois pode sofrer medição e monitoramen- to. Quando limitamos índices para avaliar determinado parâmetro, chamamo-los de padrões de qualidade ambiental. Além de poluição, é possível identificar outras palavras que se relacionam à problemática deste livro, tal como o termo degradação ambiental. Diferentemente de meio ambiente, ambiente e poluição, este termo tem seu entendimento facili- tado, pois independentemente do contexto, ele representa de forma clara e não técnica algum dano ao meio ambiente, ou seja, tem caráter negativo e relaciona- -se às atividades humanas (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Dessa forma, podemos caracterizar a degradação ambiental como a perda da qualidade ambiental resul- tante das consequências das ações humanas. Qualidade ambiental também é outro conceito com divergência de defini- ções. Johnson et al. (1997 apud BRAGA et al.,2005) consideram que qualidade ambiental é uma avaliação do estado do ambiente referente aos pré-requisitos de uma ou mais espécies e/ou de qualquer demanda e/ou finalidade humana. Esse conceito pode ser melhor analisado do ponto de vista de indicadores para que seja possível analisá-la do ponto de vista de diferentes contextos. A degradação ambiental está fortemente associada à vulnerabilidade do am- biente, sendo que ambientes vulneráveis tendem a sofrer degradações maiores. Acerca disso, Rincão e Trigueiro (2018, p. 21) apontam que um exemplo desse tipo de ambiente são: [...] as regiões cársticas (regiões que apresentam alta disso- lução química de rochas carbonáticas pela água); tais áreas apresentam grandes riscos para engenharia, pois o terreno é mais frágil e cede com frequência. Além disso, nessas regiões, há alta incidência de cavernas que são protegidas por lei (pa- trimônio espeleológico); portanto, são facilmente degradadas pelas ações humanas. A PNMA, em seu art. 3º, define a degradação ambiental como “alteração ad- versa das características do meio ambiente” (BRASIL, 1981, p. 2). Ainda neste contexto de degradação ambiental, é importante diferenciarmos impacto e aspecto ambiental. Impacto ambiental é caracterizado pela Resolução 001/86 do CONAMA em seu art. 1o como (BRASIL, 1986, p. 922): 26 Proteção do Meio Ambiente [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, di- reta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - A qualidade dos recursos ambientais. Entretanto, essa definição pode causar confusão, pois impacto ambiental abrange também conotação positiva, ou seja, ao analisar impactos decorrentes de determinada atividade é importante considerar consequências negativas e po- sitivas (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). A fim de exemplificar, quando uma constru- tora vai implantar um novo empreendimento em um bairro, tem-se como impacto negativo a poluição sonora decorrente das obras, e como impacto positivo pode- -se citar a geração de empregos. No que tange ao aspecto ambiental, este é uma característica fundamental na hora de avaliar as ações humanas, pois é a ação que causa o impacto. Ou seja, aspectos ambientais são os elementos das atividades, produtos ou serviços de uma organização que podem ter interação com o meio ambiente. O quadro a seguir auxilia na exemplificação de situações e seus respectivos aspectos e im- pactos ambientais. QUADRO 4 – EXEMPLOS DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS Atividade antrópica Aspecto ambiental Impacto ambiental Indústria de papel Consumo de madeira Redução da disponibilidade do recurso natural Restaurante Geração de resíduos sólidos Alteração na qualidade do solo Mineração Erosão e movimentação de terra Destruição da vegetação nativa Fabricação de peça em usinagem Descarte de graxa contaminada Contaminação do solo e da água Indústria de tingimento de tecido Lançamento de componentes químicos Contaminação do corpo hídrico receptor Hospital Geração de resíduos perigosos Alteração da qualidade do solo Armazenamento de combustível em posto de gasolina Potencial para derramamento ou vazamento Contaminação de águas subterrâneas Construção de um shopping center Demanda de mão de obra Geração de empregos (Impacto positivo) Lavagem de ruas Consumo de água Utilização de recursos naturais Circulação de veículos Emissão de gases Poluição do ar FONTE: A autora 27 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 1) Alguns conceitos são fundamentais ao pensarmos sobre prote- ção do meio ambiente e que as ações do homem possuem con- sequências no ambiente. Sendo assim, com base no visto até aqui, diferencie impacto de aspecto ambiental e cite um exemplo. Os temas supracitados vêm sendo bastante debatidos desde a Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano em 1972. Esta Conferência, ainda, se tornou um grande despertar e união de diferentes paísessobre as questões ambientais mais importantes. O desenvolvimento sustentável surgiu como um modelo de desenvolvimento a ser alcançado para manutenção da relação equi- librada das necessidades socioeconômicas com a capacidade regenerativa do planeta Terra quando o sistema de suporte à vida de nosso planeta está em risco. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED), no relatório “Nosso Futuro Comum”, definiu o desenvolvimento sustentável como a busca por “atender às necessidades da geração atual sem comprometer a capaci- dade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades”. Complementando, Derisio (2012, p. 206) descreve desenvolvimento susten- tável como: “processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as mu- danças institucionais se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas”. Interligando com o que vimos no subtópico anterior sobre os ODS, o desen- volvimento sustentável é considerado uma abordagem multissetorial para que es- tes objetivos sejam alcançados, envolvendo preocupações locais, regionais, na- cionais e globais, bem como integrando eficiência econômica, equidade social e resiliência ambiental. Os objetivos abordam desafios globais cruciais para a sobrevivência da hu- manidade; definem limites ambientais e limites críticos para o uso de recursos naturais; e reconhecer que a erradicação da pobreza deve ser acompanhada de estratégias que promovam o desenvolvimento econômico. Em decorrência disso, o conceito de desenvolvimento sustentável é frequentemente associado ao con- ceito de sustentabilidade e, portanto, ambos os termos são usados como sinôni- mos, mesmo no meio acadêmico e científico, conforme observado na literatura. Entretanto, estão imersos em debates sobre seu significado e suas possibilidades de aplicação em sistemas reais. 28 Proteção do Meio Ambiente O conceito de sustentabilidade assenta-se em três pilares: pessoas, planeta e lucro. Algumas das definições mais citadas abrangem que sustentabilidade pode ser uma situação em que a atividade humana é conduzida de uma forma que con- serva as funções dos ecossistemas da Terra. É possível visualizar o conceito de sustentabilidade a partir de um tripé, no qual constam os aspectos econômicos, ambientais e sociais, que devem interagir, de forma holística, para satisfazer ao conceito. Sem estes três pilares, a sustentabilidade não se efetiva. Ainda são dis- cutidos novos pilares, como a questão cultural e tecnológica, para complementar a sustentação da questão como um todo (LASSU USP, 2021). Precisamos, ainda, diferenciar preservação de conservação, você não acha? Vamos lá. Preservar é garantir que a natureza não seja tocada, mantendo suas características. Já conservar envolve o uso sustentável, ou seja, um sistema flexí- vel em que se alia desenvolvimento e proteção ambiental. FIGURA 5 – DIFERENÇA ENTRE PRESERVAR E CONSERVAR FONTE: Souza e Saccol (2016, p. 12) A partir da Figura 5 é possível concordar que o olhar sob a perspectiva do preservacionismo trata a proteção da natureza sem considerar seu valor econô- mico e sua utilidade, delimitando o homem como responsável pelo desequilíbrio 29 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 enquanto o conservacionismo abrange o uso racional e o manejo criterioso da na- tureza pelo homem, considerando-o parte do processo (SOUZA; SACCOL, 2016). Quer compreender mais as dimensões do desenvolvimento sus- tentável? Recomendamos que assista ao vídeo https://www.youtube. com/watch?v=pZ2RsinirlA&ab_channel=ONUBrasil. Conhecer a definição dos principais termos e conceitos é fundamental para que sejamos capazes de compreender a proteção do meio ambiente de uma for- ma mais integrada, determinando de forma clara as variações ao longo dos as- suntos abordados e entendendo a relação entre poluição e degradação ambien- tal (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Ultrapassando as definições aqui propostas e considerando que a população humana enfrenta dificuldades em interações com ambientes locais e globais, as falhas na disponibilidade de recursos básicos le- vantam questões sobre os valores sociais essenciais resultantes das consequên- cias das ações humanas. Compreender esses valores e como estes se relacionam a partir de suas res- pectivas conceituações é imprescindível para que sejamos capazes de entender a proteção do meio ambiente, a fim de mitigar o estresse ambiental, o esgotamento dos recursos naturais e a perda de biodiversidade. Diante disso, esse subtópico foi bastante intenso, não é mesmo? Mas fique calmo (a), ao longo dos demais capítulos alguns desses conceitos serão retomados para auxiliar no processo de aprendizagem. 4 ASPECTOS LEGAIS E INSTITUCIONAIS A relação do homem com o meio ambiente acontece desde os primórdios dos tempos, conforme vimos até aqui. A legislação referente às questões ambientais foi criada com o objetivo de disciplinar essas relações, os chamados “produtos da natureza”: a água, o solo, as florestas, o ar e os animais. A constatação foi per- cebida quando a produção em larga escala passou a interferir na disponibilidade destes recursos (em quantidade e qualidade). https://www.youtube.com/watch?v=pZ2RsinirlA&ab_channel=ONUBrasil https://www.youtube.com/watch?v=pZ2RsinirlA&ab_channel=ONUBrasil 30 Proteção do Meio Ambiente O controle das atividades humanas é fundamental para a conservação da natureza, das espécies às escalas dos ecossistemas. Para tal, inúmeros regula- mentos são definidos para a conservação da natureza; no entanto, o descumpri- mento costuma ser a regra, e não a exceção. Considerando como base o contexto apresentado no Subtópico 1 deste capí- tulo, aqui focaremos na evolução da legislação ambiental no Brasil, seus aspectos legais e institucionais. A partir do momento em que o conceito de ambiente foi paulatinamente assimilado à ideia de meio de vida (e, portanto, de qualidade de vida), e não mais somente como recurso natural, os problemas então denomina- dos ambientais foram assimilados à noção de poluição (SANCHEZ, 2013). A magnitude de conceito e a importância do assunto, contudo, propuseram um conjunto muito amplo de normas conexas ao meio ambiente (BRASIL, 2010). A legislação ambiental compreende leis, decretos, resoluções, portarias e normas que são aplicadas às organizações de qualquer natureza e ao cidadão comum. A evolução da legislação brasileira ocorreu lentamente e, inicialmente, vinculava-se ao estabelecido por Portugal, que tinha o Brasil como fonte de riquezas e explora- ção, conforme apresentado na Figura 6. FIGURA 6 – HISTÓRICO DAS PRIMEIRAS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS FONTE: Adaptado de Finkler et al. (2018) Conforme observa-se na Figura 6, à medida que a exploração dos recursos naturais era aumentada, aumentava a escassez de espécies e em função disso foi necessário limitar ações de corte, exploração e outras ações prejudiciais (tal como incêndio). A partir de 1890 até 1981, a legislação ambiental brasileira sofreu mudanças significativas, porém, neste período, o Brasil não evidenciava grande inquietação com os recursos. A legislação, então, era liberal e garantia de autono- mia aos proprietários rurais e poder ilimitado sobre a propriedade. https://www.sciencedirect.com/topics/engineering/noncompliance https://www.sciencedirect.com/topics/engineering/noncompliance 31 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Esse contexto só sofreu mudanças com o avanço do desmatamento resul- tante da agricultura e, então, em 1934 foi criado o primeiro Código Florestal que regulamentava o uso das florestas e que, em 1965 foi substituído pelo 2º Código Florestal, que se tornou um instrumento disciplinador fundamental. Ainda nesta década, em 1937 foi criadoo Código das Águas e o Parque de Itatiaia, primeiro parque do Brasil. De 1938 a 1965 foram criados 14 Parques Nacionais e uma Reserva Florestal na Região Amazônica (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009). Nesta etapa, a política ambiental já estava sendo direcionada para um as- pecto que tendia à conservação envolvendo a delimitação de áreas de preserva- ção e a criação de unidades de conservação (FERREIRA; SALLES, 2016). É importante ressaltar que boa parte dos estudos desenvolvidos sobre polí- tica ambiental no Brasil define como ponto inicial a década de 1970, pela criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente. Em janeiro de 1967 foi instituída a Lei no 5.197 que dispunha sobre proteção à fauna e em seu Art. 1º define animais silvestres como “animais de quaisquer es- pécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro”. Tanto a fauna silvestre quanto ninhos, abrigos e criadouros naturais “são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, des- truição, caça ou apanha” (BRASIL, 1967, p. 1). No início dos anos 1970, alguns recursos naturais, antes abundantes, torna- ram-se escassos em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil. Um exemplo é a bacia do alto Tamanduateí, na região do ABC paulista, onde se concentram ainda hoje inúmeras indústrias. Nessa região, a água estava tão poluída que era imprópria para abastecimento industrial. Já se notavam também problemas de poluição do ar em grandes cidades. Por outro lado, havia nessa época todo um contexto internacional que trouxe pela primeira vez a questão ambiental para o rol das principais preocupações da sociedade (SANCHEZ, 2013) e, apesar de ser considerada uma década de destaque na política ambiental brasileira, esta foi específica para determinados setores industriais, não compreendeu as regiões menos povoadas e, ainda, não levou em consideração os impactos ambientais em longo prazo (FERREIRA; SALLES, 2016), tal como veremos a seguir: • 1971 – I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), duração de 1972 a 1974 – tinha por desígnio alocar o Brasil entre os países mais desen- volvidos no intervalo de tempo de uma geração, entretanto, no que diz respeito à parte ambiental, é considerado um desastre, pois incentivou o desmatamento da Amazônia. • 1973 – Criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) em de- corrência da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em Estocolmo. 32 Proteção do Meio Ambiente • 1974 – II PND, para o período de 1975 a 1979, trouxe medidas ambien- tais de caráter conservacionista e, ao abordar a expansão da produção agrícola, propunha que se evitasse uso indiscriminado do fogo e, ao mesmo tempo, buscava a promoção da rotação de culturas para manter a produtividade. • 1979 – III PND, duração de 1980 a 1985, significou um elo entre as fases de evolução e de consolidação do Direito Ambiental do Brasil. É importante enfatizar que até 1973, quando foi criada a SEMA, não havia um órgão voltado exclusivamente à questão ambiental no Brasil. Entretanto, “sob o ponto de vista institucional, a criação do órgão não representou de imediato uma mudança na estrutura da tomada de decisão sobre as questões ambientais mais relevantes, em especial, a localização industrial ou tecnologias utilizadas na produção” (FERREIRA; SALLES, 2016, p. 4). Em função do seu papel secundário no que tange ao controle das ações impactantes, medidas de controle foram mais delimitadas no II PND. Outras legislações, decretos e medidas provisórias foram criados na década de 1970 envolvendo aspectos do meio ambiente, conforme apresentado no Quadro 5: QUADRO 5 – LEGISLAÇÕES, DECRETOS E MEDIDAS PROVISÓRIAS DA DÉCADA DE 1970 Ano Decreto Objetivo 1975 Lei no 6.225 Dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução obrigatória de planos de proteção ao solo e de combate à erosão e dá outras providências Decreto-Lei no 1.413 Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais Decreto no 76.389 Dispõe sobre as medidas de prevenção e controle da poluição industrial 1976 Decreto no 77.775 Regulamenta a Lei nº 6.225, de 14 de julho de 1975, que dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução obrigatória de planos de proteção ao solo e de combate à erosão, e dá outras providências 1979 Decreto no 84.017 Aprova o Regulamento dos Parques Nacionais Brasileiros FONTE: Adaptado de Brasil (2010) Entre as décadas de 1970 e 1980, período militar, houve diversas restrições à democracia, entretanto, o movimento ambientalista foi aos poucos se estabele- cendo e validando sua fala. Os impactos sociais e ambientais de grandes projetos 33 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 estatais ou privados tornaram-se alvos do julgamento ao modelo de desenvolvi- mento seguido, visto como mecanismo de exclusão social e de destruição eco- lógica (SANCHEZ, 2013). Para alguns autores, segundo Moreira et al. (2021), o Brasil passa a se preocupar com o Meio Ambiente de forma preventiva, global e integrada a partir da década de 1980, tendo em vista que as leis possuem maior consistência e celeridade. Acerca disso, Borges, Rezende e Ferreira (2009) apontam que nos anos 1980 observam-se alguns dispositivos legais com abrangência nacional que utilizam, pelo menos formalmente, a estratégia do “planejamento territorial” inaugurada nos anos 1970. As ações do governo federal visando empregar o planejamento territo- rial como instrumento para prevenir a degradação do meio ambiente inclui a Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, versada como Lei Lehman, que aborda o par- celamento do solo urbano e a Lei nº 6.803, de 2 de julho de1980, que institui diretri- zes para o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição (SANCHEZ, 2013). Corroborando com o citado, passados os importantes debates que funda- mentaram a transformação de conscientização ambiental no mundo no decorrer da década de 1970, teve início uma nova fase da política ambiental no Brasil a partir de 1981 (FERREIRA; SALES, 2016). Tais constatações são feitas a partir da promulgação da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), disposta na Lei n° 6.938 em 1981 (BRASIL, 1989). A PNMA tem por instrumentos: I - Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II - Zoneamento ambiental; III - Avaliação de impactos ambientais; IV - Licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencial- mente poluidoras; V - Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI - Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áre- as de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII - Sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII - Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; IX - Penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cum- primento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X - Instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Am- biente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; XI - Garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; XII - Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente po- luidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. XIII - Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servi- dão ambiental, seguro ambiental e outros (BRASIL, 1981, p. 5). 34 Proteção do Meio Ambiente A PNMA trouxe diversas inovações para a legislação ambiental brasileira, como a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e do Sistema Nacional de Meio Ambiente(SISNAMA) (Figura 7). O SISNAMA é órgão respon- sável para a gestão ambiental brasileira e tem como atribuição coordenar e emitir normas gerais para a aplicação da legislação ambiental em todo o país, sendo formado pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios responsáveis pela proteção, melhoria e recuperação da qualidade ambiental no Brasil (MMA, 2017). FIGURA 7 – ORGANOGRAMA DO SISNAMA FONTE: Adaptado de Brasil (1981) A partir da Figura 7, entende-se que o SISNAMA envolve diferentes órgãos, como órgão Superior, Consultivo e Deliberativo, Central, Executores, Seccionais 35 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 e Locais. O CONAMA, por sua vez, é um dos órgãos que faz parte do SISNAMA, responsável pela sua esfera consultiva. Dentre os órgãos, tem-se o CONAMA. O CONAMA, por sua vez, tem por finalidade assessorar, estudar e propor ao Conse- lho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e pa- drões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida, competindo a este órgão: I - Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e crité- rios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencial- mente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisio- nado pelo IBAMA; II - Determinar, quando julgar necessário, a realização de es- tudos das alternativas e das possíveis consequências ambien- tais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades priva- das, as informações indispensáveis para apreciação dos es- tudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional; V - Determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; VI - Estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; VII - Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao con- trole e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vis- tas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos (BRASIL, 1981, p. 7). Ficou curioso para saber mais sobre a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA? Acesse-a na íntegra http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l6938.htm. Outro instrumento fundamental da PNMA é o Sistema Nacional de Infor- mação sobre Meio Ambiente (SINIMA). O SINIMA é uma plataforma conceitual fundamentada na conexão e compartilhamento de dados entre os múltiplos com- ponentes do SISNAMA. Dessa forma, o SINIMA é responsável por gerenciar a informação e compartilhá-la com as diferentes esferas (governo, sociedade e ór- gãos ambientais). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm 36 Proteção do Meio Ambiente Segundo Giacomelli e Eltz (2018), pode-se definir a partir da PNMA a terceira fase das legislações ambientais no Brasil, pois o meio ambiente passa a ser visto de forma ampla e sua proteção passa a ser organizada como um sistema ecológi- co integrado. Outra inovação é observada ao: [...] inaugurar uma nova etapa no modo de utilização e apro- priação dos recursos naturais para atividade produtiva, pre- vendo a utilização de instrumentos de gestão ambiental (Art. 9º da PNMA) de alcance nacional. Dentre eles, destacam-se: o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, o zo- neamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, e o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluido- ras (FERREIRA; SALLES, 2016, p. 8). 1) Uma das inovações trazidas pela PNMA envolvendo os aspectos ambientais foi a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). A partir disso, qual a diferença básica entre SISNAMA e CONAMA? Sanchez (2013) indica outra legislação que é importante neste período em função das melhorias para a proteção ambiental: a Lei no 7.347 de 1985, conheci- da como Lei dos Interesses Difusos. A partir desta, o conceito de dano ambiental (que vimos no Subtópico 2 deste capítulo) foi ampliado através da conceituação de interesses difusos, ou seja, interesses comuns a um grupo de pessoas (como moradores de uma região, por exemplo). Três anos depois, a Constituição Federal de 1988 foi um grande marco na evolução do direito brasileiro e da questão ambiental no país ao consagrar um capítulo exclusivo para a matéria do meio ambiente. Ademais, em seu Art. 225 es- tipula que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Po- der Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, p. 5). Apesar de que, em um primeiro momento, não tenha sido observada mudan- ça expressiva na elaboração de políticas públicas, essa cautela constitucional tem como atributo a possibilidade de dirigir a adoção de instrumentos de gestão com maior competência para transigir o desenvolvimento econômico e a disponibilida- de dos recursos em longo prazo (GIACOMELLI; ELTZ, 2018). 37 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Ainda visando ao fortalecimento das relações exteriores foi criado o “Progra- ma Nossa Natureza”, em 1988, cujo objetivo consistiu em garantir preservação ecológica, proporcionando mudanças expressivas no cenário ambiental. Vale des- tacar também o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, criado em 1989, e outras legislações que tornam danos ao meio ambiente, crimes, como: penalizou o uso do agrotóxico, tornou a poluição crime ambiental e tornou delito garimpagem sem autorização, todas em 1989. Neste mesmo ano, ainda, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) com o objetivo de preservar, conservar, promover o uso racional, fiscalizar, controlar e fo- mentar os recursos naturais (FERREIRA; SALLES, 2016; MOREIRA et al., 2021). A partir desse momento, a gestão dos recursos ambientais passa a ser inte- grada, pois até então, as questões ambientais eram cuidadas por diferentes se- tores/ministérios e com visões contraditórias, muitas vezes. A criação do IBAMA atinge um fim muito mais amplo que o alcançado pela SEMA, uma vez que assu- miu as pertinências de diferentes órgãos que antes eram responsáveis pelo cum- primento da política ambiental de forma fragmentada (FERREIRA; SALLES, 2016; MOREIRA et al., 2021). Durante a década de 1980, o atraso na prática de alguns instrumentos ante- vistos na PNMA foi devido à crise econômica afrontada naquele momento, fazen- do com que as organizações não tivessem foco nas questões ambientais. Já no início da década de 1990, o principal vilão da economia brasileira foi a inflação, entretanto, a partir da Eco-92 (conforme já vimos no primeiro tópico deste capí- tulo), muitos avanços ocorreram no que tange ao Direito Ambiental no Brasil. Du- rante esta década foram instituídas legislações a fim de integralizar a base teórica para a elaboração das ações políticas atuais, tais como as citadas a seguir: • 1993 – Redução de emissão de poluentes por veículos automotores e dá outras providências. • 1997 – Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. • 1998 - Lei de Crimes ambientais. A Lei de Crimes ambientais é uma das leis mais avançadas do mundo, na qual comportamentos e atividades acatadas prejudiciais ao meio ambiente co- meçam a sofrerpunição civil (ressarcimento pecuniário, prestação de serviço e execução judicial), administrativa (multas) e penal (dolo ou de culpa do agente causador)). É sob esta ótica integradora que passa a combinar os aspectos eco- nômicos e sociais com os ambientais, em busca da preservação do meio ambien- te (MOREIRA et al., 2021). Passada a década de1990, as empresas do século XXI passaram a conside- rar em suas ações a melhoria da sociedade, busca-se a criação de parcerias sus- 38 Proteção do Meio Ambiente tentáveis e que tenham valoração ambiental. Com respeito aos aspectos legais e institucionais, pode-se citar: • 2000: criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). • 2004: instituiu-se a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). • 2006: Lei da Mata Atlântica. • 2007: criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi- dade (ICMBio) e da Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB). • 2010: institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS); estabele- cimento do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SINISA). • 2012: Novo Código Florestal. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), cria- do em 2000, é o instrumento responsável por assegurar que a diversidade biológi- ca seja protegida e que o desenvolvimento sustentável seja alcançado a partir dos recursos naturais, bem como garantir que comunidades tradicionais, seus conhe- cimentos e cultura sejam protegidos. É composto pelas unidades de conservação das três esferas (federal, estadual e municipal) e objetiva: I - Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas ju- risdicionais; II - Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; III - contribuir para a preservação e a restauração da diversida- de de ecossistemas naturais; IV - Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos re- cursos naturais; V - Promover a utilização dos princípios e práticas de conser- vação da natureza no processo de desenvolvimento; VI - Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; VII - proteger as características relevantes de natureza geoló- gica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontoló- gica e cultural; VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; IX - Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; X - Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesqui- sa científica, estudos e monitoramento ambiental; XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; XII - favorecer condições e promover a educação e interpre- tação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu co- nhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economi- camente (BRASIL, 2000, p. 1). 39 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Importante ressaltar que a legislação florestal brasileira teve, inicialmente, como foco, a conservação de recursos naturais, como madeiras nobres, nutrien- tes do solo e água. E, segundo Rajão et al. (2021, p. 8): [...] gradualmente, a legislação florestal brasileira ganhou con- tornos ambientalistas, passando a considerar a vegetação na- tiva como “bem de interesse comum”, cujos uso e proteção deveriam servir para garantir o bem-estar da população, indo além do fornecimento de recursos naturais. Por outro lado, os efeitos dessa legislação florestal foram limitados devido à sua concorrência com projetos de desenvolvimento regional. Em 2006, surge uma legislação específica sobre a Mata Atlântica com en- foque no uso e na proteção da vegetação nativa deste bioma. Este enfoque visa promover o desenvolvimento sustentável e a preservação da “biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social” (BRASIL, 2006, p. 3). Em 2007, como destaque tem-se o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que é uma autarquia federal com autonomia (admi- nistrativa e financeira) e foi criado a partir da Lei 11.516. Segundo esta legislação, tem por objetivos: I - Executar ações da política nacional de unidades de conser- vação da natureza, referentes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União; II - Executar as políticas relativas ao uso sustentável dos re- cursos naturais renováveis e ao apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação de uso sustentável instituídas pela União; III - fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e de educação ambiental; IV - Exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das unidades de conservação instituídas pela União; e V - Promover e executar, em articulação com os demais órgãos e entidades envolvidos, programas recreacionais, de uso públi- co e de ecoturismo nas unidades de conservação, onde estas atividades sejam permitidas (BRASIL, 2007, p. 1). Entende-se, a partir dos objetivos, que o ICMBIO é um órgão essencial para a proteção do meio ambiente, pois estrutura e promove a implementação de polí- ticas públicas tanto para conservação das questões ambientais quanto visando ao desenvolvimento social, ambiental e econômico de forma integrada. A forma com a qual a gestão ambiental está organizada no Brasil de forma institucional transcorre de variadas políticas públicas, anunciadas convencional- 40 Proteção do Meio Ambiente mente pelas leis. Políticas e legislações definem instrumentos de influência para controle do Estado, que são os mecanismos, procedimentos e métodos adotados para que objetivos expressos sejam alcançados. O padrão atual de aptidões para ordenar sobre Meio Ambiente no Brasil é partilhado entre a União, Estados e Municípios sobre recursos naturais. Os Es- tados podem legislar conjuntamente sobre: florestas, caça, pesca, fauna, con- servação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do Meio ambiente, controle da poluição e responsabilidade por danos ao meio ambiente. Ainda conforme a constituição, “os estados e municípios devem zelar pela prote- ção ao meio ambiente e combater a poluição” (BRASIL, 1981, p. 1). A legislação estadual e municipal não deve entrar em confronto com interesse nacional (MO- REIRA et al., 2021). Embora a necessidade de enfrentar a crise ambiental, central para a ciência da conservação, tenha gerado versões mais verdes do paradigma do crescimen- to, ainda são necessárias mudanças fundamentais nos valores que garantam a transição de uma sociedade centrada no crescimento para uma que reconheça os limites biofísicos e centrada no bem-estar humano e conservação dos recursos. Dessa forma, entende-se que a legislação ambiental, mais do que a significação de um direito ambiental presente, é um Direito do futuro e da antecipação, com relevante aspecto social de uma relação equilibrada e harmoniosa entre o homem e a natureza (GAVA; SOUZA, 2011). 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O modelo de economia baseada no acúmulo de riquezas, no aumento da produtividade e no crescimento desenfreado resultou em impactos ao ambiente, suas condições ecológicas e sociais, interferindo na capacidade deste. O homem, com o passar dos anos, percebeu que para continuar se desenvolvendo precisa enxergar-se como parte do ambiente e não como um elemento externo e, dessa forma, passou a buscar formas de preservar o ambiente. Em 1972 é que o cenário ambiental mundial de fato tomou novos rumos a partir do documento intitulado “Os limites do crescimento”, o qual alertava sobre os riscos da continuidade do modelo de desenvolvimento baseado em acúmulo de riquezas e consumo desenfreado de recursos naturais.Dentro desse contexto, o desenvolvimento sustentável passa a ser visto como um processo de mudança em que a exploração de recursos, a direção do investimento, a orientação técnica e a mudança institucional são consistentes com as necessidades futuras e presentes. 41 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Vimos, também, conceitos básicos para compreender a proteção do meio ambiente, tal como a própria definição de meio ambiente, de impacto ambiental, degradação, poluição, dentre outros termos fundamentais. A definição clara de termos envolvidos na temática de proteção do meio ambiente é fundamental para o profissional ambiental, tendo em vista que permite a comunicação eficaz. Com relação aos aspectos legais e institucionais no Brasil, as primeiras leis que explicitamente tinham por objetivo a proteção ambiental (ou de uma parcela deste) abordavam principalmente problemas relativos à poluição. No instante em que a produção industrial em grande escala começou a interferir na qualidade am- biental, questões relacionadas a sua proteção passaram a ser observadas com atenção, tanto em função da quantidade de efluentes lançados bem como pelos acidentes ambientais ocorridos. Assim, a proteção dos recursos ambientais no Brasil associa-se à definição de mecanismos que possibilitem o controle da preservação deste, tendo sua origem relacionada à necessidade do controle das ações do homem sobre o emprego dos recursos naturais, designando hábitos para promover o desenvolvimento de forma equalitária entre sociedade e meio ambiente. Os problemas ambientais ao longo dos anos nos levam a pensar sobre como o nosso modo de vida é equivocado, e que se nada for feito, nos encaminhará para a beira de um abismo onde o colapso é iminente. É neste momento de nossa história que surge a preocupação da popula- ção com a maneira como estamos usando o ambiente ao nosso redor. Em função disso, as décadas pós-Relatório Brundtland fizeram com que o debate sobre a temática do desenvolvimento sustentável fosse incorporado em nível mundial e muitos desdobramentos de implementação de suas premissas a partir da Agenda 21. No entanto, a crise ambiental e a deterioração descontrola- da dos recursos naturais ainda persistem, visto que as maneiras de conduzir o processo, por vezes contraditórias, têm resultados diversos em relação ao seu alcance e aplicabilidade. Neste capítulo, então, a partir da contextualização da evolução histórica, você foi capaz de interpretar a importância da proteção do meio ambiente, bem como a partir daqui é possível diferenciar conceitos importantes, tal como meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Além disso, ao apre- sentar as principais legislações relacionadas, embasa-se o entendimento desta temática sob o aspecto jurídico e legal. Frente ao conteúdo apresentado, espera- mos que você, ainda, se sinta motivado a ter ousadia, inovação tanto para aplicar o que foi aprendido até aqui quanto para buscar novos conhecimentos e se apro- fundar na temática de meio ambiente e sustentabilidade. 42 Proteção do Meio Ambiente REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14.001:2004. Sistemas de gestão ambiental – Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. 27 p. AECIC. Fóruns Estratégicos - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 5 maio 2017. Disponível em: http://www.aecic.org.br/foruns-estrategicos/objetivos- de-desenvolvimento-sustentavel-2/. Acesso em: 5 out. 2021. BEZERRA, A. S. et al. A evolução histórica da questão ambiental. In: 25º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Recife, 2009. BORGES, L. A. C.; REZENDE, J. L.; PEREIRA, J. A. A. Evolução da legislação ambiental no Brasil. 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Do mesmo modo, a poluição e os impactos ambientais decorrentes deste período eram vistos como algo necessário para o desenvolvimento. Foi apenas a partir da década de 1970 que passou a se pensar em um desenvolvimento mais equilibrado social, econômica e ambiental- mente, denominado desenvolvimento sustentável. O licenciamento de atividades poluidoras ou com potencial de provocar im- pactos ambientais pode ser feito em nível federal, estadual ou municipal e, como principal atividade deste processo, tem-se a avaliação de impacto ambiental (AIA), que consiste em uma análise para identificação de impactos ambientais exigida para atividades poluidoras ou potencialmente poluidoras. É necessário, então, desenvolver estudos ambientais para obter um documento, definido como licença ambiental e, em função de seu caráter preventivo, é um dos instrumentos mais importantes da Política Nacional de Meio Ambiente. Dessa forma, busca-se, a partir de metodologias previamente estabelecidas, identificar, analisar e propor medidas para os prováveis impactos de atividades e/ou empreendimentos. Dessa forma, o licenciamento ambiental e a AIA são os meios mais importantes de controle no que diz respeito à proteção do meio am- biente, pois permitem que sejam definidas condições e limites ao desenvolvimen- to de determinada atividade ou empreendimento. Conhecer o processo envolvendo o licenciamento ambiental e as metodo- logias para identificação e avaliação de impactos ambienteis nos permite aplicar as ferramentas de AIA e correlacionar medidas que visem prevenir, potencializar ou mitigar os impactos. Este arcabouço de conhecimento possibilita que se tenha um olhar mais crítico para atividades com potencial de degradação ambiental, vi- sando garantir a proteção do meio ambiente em consonância ao desenvolvimento econômico e social. 2 FUNDAMENTOS E ETAPAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL No capítulo anterior, vimos que a preocupação com as questões ambientais teve início após a década de 1960 em decorrência dos impactos ambientais, con- sequentes das ações humanas e da forma de desenvolvimento. O meio ambiente 50 Proteção do Meio Ambiente interfere de forma direta na sociedade e não é possível separá-los. Entretanto, as necessidades de mercado nem sempre alcançam o ponto de equilíbrio imagina- do para atender às demandas de todos os aspectos envolvidos. Nesse instante, compete ao Estado definir limites visando conservar o bem comum. Em 1970, quando assurgiu avaliação e priorização de projetos, estes eram muito restritos a um julgamento econômico, sem mecanismos para identificação e incorporação das consequências ou implicações ambientais de um determinado projeto, plano ou programa (PPP) que causassem degradações ao bem-estar so- cial e ao seu entorno (MMA, 2009). No Brasil, as primeiras tentativas de aplicação de metodologias para avaliação de impactos ambientais foram decorrentes de exigências de órgãos financeiros internacionais para aprovação de empréstimos a projetos governamentais. Com a crescente conscientização da sociedade, tornou- -se cada vez mais necessária a adoção de práticas adequadas de gerenciamento ambiental em quaisquer atividades modificadoras do meio ambiente (MMA, 2009). A Constituição Federal de 1988 estabeleceu como direito fundamental do povo tanto o meio ambiente equilibrado como o desenvolvimento econômico e social. Esses três componentes, juntos, formam o tripé denominado desenvolvi- mento sustentável (BRASIL, 2007). Nesse contexto, o licenciamento ambiental cumpre papel decisivo na busca pelo equilíbrio entre proteção ambiental e desen- volvimento econômico e social, podendo ser definido como: O procedimento administrativo destinado a permitir atividades ou quaisquer empreendimentosutilizadores de recursos am- bientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar a degradação ambiental. Trata-se, portanto, de um instrumento essencial para conciliar o meio ambiente e o desenvolvimento econômico e social – por meio do qual o órgão competente verifica a adequação de um pro- jeto ou atividade ao meio ambiente, licenciando, em diferentes etapas, a sua implantação (MOTTA; PÊGO, 2013, p. 12). O licenciamento ambiental brasileiro começou a ser adotado de forma isola- da em alguns estados em 1970, porém só foi instituído em nível nacional a partir da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) em 1981. O poder de limitar o direito individual em benefício da coletividade é uma das manifestações do poder de polícia do Estado, ou seja, a autorização implica um julgamento de valor por parte do agente público na análise do projeto e aplica-se aos casos em que não existe um direito preexistente por parte do administrado para o exercício daquela atividade (SANCHEZ, 2013). O resultado do processo de licenciamento é a licença ambiental. A licença ambiental é a autorização emitida pelo órgão público competente e concedida ao empreendedor para que exerça seu direito à livre iniciativa, desde que “atendidas 51 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 as precauções requeridas, a fim de resguardar o direito coletivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” (BRASIL, 2007, p. 10). A licença é, portanto, o ato administrativo unilateral e vinculado (à legislação e aos regulamentos) pelo qual a Administração faculta àquele que preencha os requisitos legais o exercício de uma atividade (SANCHEZ, 2013). O Brasil possui, atualmente, extensos mecanismos para gestão ambiental, a qual é administrada por amplo aparato legal, conforme vimos no capítulo anterior. O conjunto de legislações vigentes foi criado em contextos diferentes ao longo dos anos, sendo influenciada por aspectos econômicos, sociais e políticos dife- rentes e, por isso, há divergência entre elas. Os principais instrumentos legais que regem o licenciamento ambiental no Brasil são: • Lei Federal nº 6.938/1981 – institui a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). • Resolução Conama nº 1/1986 – regulamenta o licenciamento ambiental. • Resolução Conama nº 237/1997 – define atribuições para o licenciamen- to ambiental. • Lei Complementar Federal nº 140/2011 – institui instrumentos de coope- ração entre entes federativos para licenciamento ambiental. A Lei Federal nº 6.938/1981 estabelece o licenciamento e a revisão de ativi- dades efetiva ou potencialmente poluidoras como um dos seus princípios. Em seu Art. 9º define como seus instrumentos: I - O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II - O zoneamento ambiental; III - A avaliação de impactos ambientais; IV - O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou poten- cialmente poluidoras; V - Os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI - A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII - O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII - O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; IX - As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou cor- reção da degradação ambiental; X - A instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; XI - A garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; 52 Proteção do Meio Ambiente XII - O Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais; XIII - Instrumentos econômicos, como concessão florestal, ser- vidão ambiental, seguro ambiental e outros. Em função da PNMA, a Resolução Conama nº 1 de 1986 estabelece defi- nições, responsabilidades, critérios básicos e diretrizes gerais para uso e imple- mentação da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como um dos instrumentos da PNMA e estabelece uma lista de atividades modificadoras do meio ambiente. Em seu Art. 4º aponta que: Os órgãos ambientais competentes e os órgãos setoriais do SISNAMA deverão compatibilizar os processos de licencia- mento com as etapas de planejamento e implantação das ati- vidades modificadoras do meio Ambiente, respeitados os crité- rios e diretrizes estabelecidos por esta Resolução e tendo por base a natureza o porte e as peculiaridades de cada atividade (BRASIL, 1986, p. 2). A Resolução Conama nº 237/1997 complementa a 01 de 1981 a fim de revisar procedimentos, critérios e definições acerca do licenciamento ambiental bem como as etapas a serem desenvolvidas (Figura 1). Aponta, ainda, o licenciamento como passível de ser disciplinado pelos três níveis de governo e buscou demarcar as com- petências, inclusive dos municípios, que também concedem licenças ambientais. FIGURA 1 – ETAPAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL FONTE: Adaptado de Brasil (1997) 53 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 Para obtenção do licenciamento de empreendimento ou atividade potencial- mente poluidores, o interessado deverá dirigir sua solicitação ao órgão ambiental competente para emitir a licença, podendo este ser Ibama, os órgãos de meio am- biente dos estados e do Distrito Federal ou os órgãos municipais de meio ambien- te. Nesse contexto, a Resolução Conama nº 237/1997 ao analisar as competên- cias comuns em matéria ambiental previstas na Constituição Federal, instituiu um sistema de licenciamento ambiental em que estas são atribuídas aos diferentes entes federativos em razão da localização do empreendimento, da abrangência dos impactos diretos. A partir do Quadro 1, a seguir, entende-se que a competência legal para li- cenciar, quando definida em função da abrangência dos impactos diretos que a atividade pode gerar, pode ser: “(i) do município - se os impactos diretos forem locais; (ii) do estado - se os impactos diretos atingirem dois ou mais municípios; e (iii) do IBAMA - se os impactos diretos se derem em dois ou mais estados” (MMA, 2009, p. 23). QUADRO 1 – ABRANGÊNCIA X COMPETÊNCIA PARA LICENCIAR Abrangência dos impactos Competência para licenciar Dois ou mais estados Ibama Dois ou mais municípios Órgão Estadual Local Órgão municipal FONTE: Adaptado de Brasil (1997) É importante citar, aqui, que nem todos os municípios podem licenciar. Além disso, a competência pode ser definida em razão da localização do empreendi- mento. Algumas atividades, por terem uma importância estratégica, são licencia- das obrigatoriamente pelo IBAMA, são elas: (i) aquelas cujos impactos diretos ultrapassem os limites do País; (ii) as localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; (iii) no mar territorial; (iv) na plataforma continental; (v) na zona econômica exclusiva; (vi) em terras indígenas; (vii) em unidades de conservação de domínio da União; (viii) as atividades envolvendo material radioativo; e (ix) os empreendimentos militares (MMA, 2009, p. 23). 54 Proteção do Meio Ambiente Reforçando, então: antes de seguir as etapas citadas na Figura 1 é importante que o responsável pelo empreendimento a ser licenciado identifique o órgão competente, conforme apresentado no Quadro 1. Outra legislação relacionada ao licenciamento ambiental é a Lei Complemen- tar Federal nº 140/2011, que procurou dar mais clareza à repartição das com- petências e estabeleceu instrumentosde cooperação institucional entre os entes federativos, delimitando atividades específicas de licenciamento junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O licenciamento trata não somente de atividades que possam causar polui- ção ambiental, mas qualquer forma de degradação, denotando uma evolução no entendimento das causas da deterioração da qualidade ambiental, que não mais são somente atribuídas à poluição, mas a outras causas oriundas das atividades humanas (SANCHEZ, 2013). Atualmente, não se tem conhecimento de um documento que reúna informa- ções sobre os procedimentos de licenciamento ambiental no Brasil, que permita identificar e avaliar a metodologia utilizada pelos diferentes órgãos licenciadores (SANCHEZ, 2013). É possível constatar que, apesar de termos instrumentos le- gais norteadores do processo de licenciamento ambiental no país, os órgãos am- bientais licenciadores têm autonomia para deliberar acerca dos procedimentos e critérios a serem adotados durante o processo, o que leva à concepção de um panorama heterogêneo no que diz respeito ao licenciamento ambiental brasileiro. O licenciamento ambiental possui particularidades em cada es- tado e município, assim, é indicado que as informações sobre es- tados/cidades específicas sejam consultadas em seus respectivos órgãos ambientais (estaduais e/ou municipais, quando houver). O quadro a seguir exibe os sites dos órgãos ambientais de cada estado para que, caso seja necessário, você consiga buscar informações. QUADRO – ÓRGÃO AMBIENTAL RESPONSÁVEL PELO LICENCIAMENTO DE CADA ESTADO Estado Órgão ambiental Site Acre IMAC – Instituto de Meio Ambiente do Acre http://www.imac.ac.gov.br/ Alagoas IMA – Instituto de Meio Ambiente https://www.ima.al.gov.br/ 55 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 Amapá SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente https://sema.portal.ap.gov.br/ Amazonas IPAAM – Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas http://www.ipaam.am.gov.br/ Bahia INEMA – Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos http://www.inema.ba.gov.br/ Ceará SEMACE – Secretaria do Meio Ambiente https://www.semace.ce.gov.br/ Distrito Federal IBRAM – Brasília ambiental https://www.ibram.df.gov.br/ Espírito Santo IEMA – Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos https://iema.es.gov.br/ Goiás SEMAD – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável https://www.meioambiente.go.gov.br/ Maranhão SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais https://sigla.sema.ma.gov.br/ Mato Grosso SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais https://monitoramento.sema.mt.gov.br/ simlam/ Mato Grosso do Sul IMASUL – Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul https://www.imasul.ms.gov.br/ Minas Gerais SEMAD – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável http://www.meioambiente.mg.gov.br/ Pará SEMAS – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade https://www.semas.pa.gov.br/ Paraíba SUDEMA – Superintendência de Administração do Meio Ambiente http://sudema.pb.gov.br/ Paraná IAT – Instituto Água e Terra http://www.iat.pr.gov.br/ Pernambuco CPRH – Agência Estadual de Meio Ambiente http://www2.cprh.pe.gov.br/ Piauí SEMAR – Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos http://www.semar.pi.gov.br/ Rio de Janeiro INEA – Instituto Estadual do Ambiente http://www.inea.rj.gov.br/ Rio Grande do Sul FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental http://www.fepam.rs.gov.br/ Rio Grande do Norte IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente http://www.idema.rn.gov.br/ Rondônia COLMAN – Coordenadoria de Licenciamento e Monitoramento Ambiental http://colmam.sedam.ro.gov.br/ Roraima FEMARHH – Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima http://www.femarh.rr.gov.br/ Santa Catarina IMA – Instituto de Meio Ambiente https://www.ima.sc.gov.br/ São Paulo CETESB – Companhia ambiental do Estado de São Paulo https://cetesb.sp.gov.br/ licenciamentoambiental/ Sergipe SEDURBS – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade https://sedurbs.se.gov.br/ Tocantins Naturatins – Instituto Natureza do Tocantins https://www.to.gov.br/naturatins/ FONTE: A autora A decisão dos órgãos competentes sobre a possibilidade ou não de licen- ciamento ambiental de quaisquer atividades que demandam estudo de impacto http://www.ipaam.am.gov.br/ http://www.ipaam.am.gov.br/ 56 Proteção do Meio Ambiente ambiental (conforme estabelecido pela Resolução Conama no 237 de 1997) vai depender das condições deste estudo e de sua respectiva análise (BRAGA et al., 2005). Frente ao apresentado, conhecer aspectos sobre licenciamento ambien- tal é de grande importância para o progresso desse instrumento de regulação ambiental no país. Embora se trate de um instrumento bastante inovador, a AIA foi inserida em um contexto legal e institucional que a precedeu, de forma que convém conhecer suas principais características para apreciar todo seu alcance (SANCHEZ, 2013). 1) A preocupação com aspectos ambientais resultou na definição de parâmetros e critérios envolvendo atividades poluidoras a partir da Resolução Conama nº 237/1997. Dentre as medidas adota- das, estabeleceu-se que estas atividades precisam ser subme- tidas ao licenciamento ambiental para serem desenvolvidas. As- sim, considerando o que foi apresentado, diferencie licença de licenciamento ambiental. 2.1 TIPOS DE LICENÇA AMBIENTAL A licença ambiental é exigida para os empreendimentos passíveis de degra- dar o meio ambiente. O tipo de licença necessária é definida a partir das caracte- rísticas do empreendimento, do potencial poluidor e do porte e, ainda, depende do local onde será instalado o empreendimento tendo em vista que o licenciamento varia de acordo com estado/município. Aqui, vamos apresentar os principais tipos de licenças ambientais. Segundo o Art. 19 da PNMA, o Poder Público, no exercí- cio de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças: I – Licença Prévia (LP): na fase preliminar do planejamento da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos estaduais ou federais de uso do solo. II – Licença de Instalação (LI): autorizando o início da implan- tação, de acordo com as especificações constantes do Projeto executivo aprovado; e III – Licença de Operação (LO): autorizando, após as verifi- cações necessárias, o início da atividade licenciada e o fun- cionamento de seus equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação (BRASIL, 1990, p. 3). 57 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 Empreendimentos novos, antes de darem andamento ao projeto, precisam aprová-lo junto ao órgão ambiental para obter a Licença Prévia (LP), que definirá as condições para as demais etapas. Assim, a LP define os requisitos necessários para viabilizar o empreendimento do ponto de vista ambiental. São analisados os impactos ambientais que potencialmente serão gerados, aspectos locacionais, medidas propostas para mitigação e/ou compensação e os referidos programas para redução, prevenção ou mitigação dos efeitos dos impactos. Nesta etapa do licenciamento, caso o órgão competente veja necessidade, serão solicitados estudos ambientais, tal como Relatório Ambiental Simplifica- do (RAS), Relatório de Controle Ambiental (RCA), Plano de Controle Ambiental (PCA), Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) (BRASL, 2016). O RAS pode ser determinado no licenciamento ambiental de empreendimen- tos de impacto ambiental de pequeno porte, e normalmente caracteriza o empre- endimento, diagnosticaa análise ambiental da região de instalação, os impactos ambientais e respectivas medidas de controle. O RCA, por sua vez, é requerido para empreendimentos ou atividades que não provocam impactos ambientais sig- nificativos, sendo seu conteúdo definido individualmente a cada caso. O PCA abrange todos os projetos executivos, citados no licenciamento pré- vio do empreendimento ou atividade, propostos para mitigação dos impactos am- bientais. Já o PRAD é o conjunto de ações para reestabelecimento do equilíbrio de uma área degradada, sendo requerido pelos órgãos ambientais como parte complementar do processo de licenciamento de atividades poluidoras ou com po- tencial poluidor. O EIA e o RIMA são comuns a todos os estados e regulamentado pela Resolu- ção CONAMA 001/1986, são estabelecidos como obrigatórios no licenciamento am- biental de empreendimentos e atividades que possam causar significativos impac- tos ambientais. No EIA constam aspectos técnicos imprescindíveis à avaliação dos impactos ambientais resultantes do empreendimento. O RIMA, por sua vez, deve ser desenvolvido de forma prática e apropriada seu entendimento, a fim de propiciar maior entendimento e clareza para população quanto às características do empre- endimento, os impactos ambientais provocados, as sugestões de mitigação, entre outros pontos da implantação e operação do empreendimento (BRASIL, 1986). A definição do tipo de estudo ambiental necessário está relacionada ao tipo de atividade poluidora e do empreendimento a passar pelo processo de licencia- mento, bem como de acordo com requisitos estabelecidos pelo órgão ambiental em questão. 58 Proteção do Meio Ambiente A Licença de Instalação (LI) será emitida ao empreendimento que, após cum- pridos os requisitos da LP, solicitar licença para implantação. Nesta fase, o so- licitante deve comprovar o cumprimento dos requisitos definidos na LP, indicar planos, programas e projetos (PPP) e seus respectivos cronogramas, bem como o projeto de implantação do empreendimento, com suas fases delimitadas e deta- lhadas (BRASIL, 2007). Após análise destes três itens, o órgão ambiental analisa- rá e, então, emitirá parecer favorável (ou não) à LI. Enquanto a LI estiver vigente, o solicitante deve atender às condicionantes e a obra só poderá ser iniciada após a emissão da LI. A Licença de Operação (LO), por sua vez, como o nome sugere, é a licença necessária para que empreendimentos operem. Esta será concedida após com- provação de atendimento dos requisitos, condicionantes e medidas, bem como do estabelecimento dos planos e programas solicitados durante o processo de obten- ção das licenças anteriores. Além disso, o empreendedor deve implantar todos os PPP exigidos durante a vigência da LI e executar o cronograma físico-financeiro do projeto de compensação ambiental requerido. Após obtida a LO, o empreendi- mento deve atender às medidas de controle e demais condicionadas, caso contrá- rio, a LO poderá ser cancelada ou suspensa pelo órgão emissor (BRASIL, 2007). Cada licença ambiental possui um prazo de validade específico (Quadro 2), o que torna possível que, ao ser solicitada renovação desta, sejam conferidas se as condições estabelecidas estão sendo cumpridas e são promovidas atualizações conforme as legislações atuais (BRASIL, 2016; RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). QUADRO 2 – VALIDADES DE CADA TIPO DE LICENÇA AMBIENTAL Licença Validade É passível de renovação? Prévia Máx. 5 anos Sim, se não ultrapassar o prazo máximo de validade. Instalação Máx. 6 anos Sim, se não ultrapassar o prazo máximo de validade. Operação Min. 4 anos Máx. 10 anos Sim. É necessário dar entrada ao processo de renovação de licenças ambientais com antecedência mínima de 120 dias antes do prazo de validade ser encerrado. FONTE: Adaptado de Brasil (1997) Nos casos da LP e LI, caso necessário, a renovação poderá ser solicitada desde que o prazo global desde a emissão da original não exceda o máximo da validade citada. Se o cumprimento das condicionantes solicitadas não acontecer antes do prazo mencionado, o processo de licenciamento ambiental será arquiva- do e deve ser iniciado um novo processo. Na renovação da LO, o órgão ambiental competente pode, a partir de análi- se justificada, “aumentar ou diminuir o seu prazo de validade, após avaliação do 59 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 desempenho ambiental da atividade ou empreendimento no período de vigência anterior” (BRASIL, 1997, p. 5). A legislação referente ao licenciamento ambiental foi criada há mais de 20 anos, entretanto, diversos empreendimentos não passaram pelo processo de li- cenciamento e isto é considerado crime ambiental conforme prevê o Art. 60 da Lei nº 9.605 de 1998. Nos casos em que é necessária a regularização do licencia- mento de empreendimentos em nível federal (Ibama) é possível que seja feito um Termo de Compromisso, conforme Art. 79-A, da Lei de crimes ambientais. Os responsáveis pelas atividades não regularizadas devem identificar o órgão ambiental responsável pelo seu perfil (local, estadual ou nacional) e realizar as etapas necessárias para obtenção das licenças ambientais. Em grande parte dos casos é necessário solicitar diretamente a LO tendo em vista que LP e LI já não se aplicam em função da atividade já estar em operação (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Entretanto, em alguns casos podem ser definidas pelos órgãos ambientais licenciadores, definidas por legislações estaduais as seguintes licenças: “Licen- ça de Instalação Corretiva (LIC), Licença de Operação Corretiva (LOC), Licencia- mento Simplificado (LS), Licença Prévia simultânea à Licença de Instalação (LP + LI) e Licença de Instalação e Operação (LIO)” (BRASIL, 2016, p. 49). A LIC é emitida quando a licença do empreendimento ou atividade é reque- rida na fase de instalação e tem por validade, no mínimo, o estabelecido no cro- nograma do empreendimento e no máximo 6 anos. A LOC é emitida quando a licença do empreendimento ou atividade é requerida na fase de operação, sua duração é de 4 a 10 anos (BRASIL, 2016). A LP+LI é emitida para empreendimentos enquadrados na classe 3 ou 4, que podem requerer concomitantemente a LP e a LI, com validade até 6 anos. A LIO é concedida para empreendimentos cuja instalação e operação ocorram simul- taneamente e sua duração é de no mínimo 1 ano e máximo 10 anos, quando as características da obra ou atividade licenciada indicarem a necessidade de sua renovação periódica (BRASIL, 2016). A licença ambiental não é a única autorização necessária para regularização de empreendimentos. Em alguns casos são necessários outros tipos de licenças quando recursos ambientais são utilizados, a fim de exemplificar, tem-se Licencia- mento Ambiental Simplificado (LAS) e Autorização Ambiental (AA). O LAS é indicado em casos quando o empreendimento ou atividade tiver bai- xo potencial impactante, o empreendedor pode solicitar LAS, composto por uma única etapa e que resulta em um único ato autorizativo. A Autorização Ambiental 60 Proteção do Meio Ambiente (AA) aprova a instalação e operação de empreendimentos de caráter temporário ou de obras que não se enquadrem no processo de licenciamento ambiental con- vencional. Nos casos de empreendimentos que possam causar impactos em terras indígenas, regiões quilombola, bens acautelados de interesse cultural e áreas endêmicas para malária, pode haver participação no processo de licenciamento ambiental da Fundação Nacional do Índio (Funai), Fundação Cultural Palmares (FCA), Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Iphan) e Ministério da Saúde, denominados órgãos intervenientes, conforme a Portaria Interministerial nº 419, de 26 de outubro de 2011 (BRASIL, 2016). Em alguns casos, como financiamentos, licitações e créditos bancários, ape- sar do empreendimento não demandar licenciamento ambiental, o empreendedor precisa que estadispensa seja formalmente notificada. Para tanto, o empreen- dedor procura o respectivo órgão ambiental para solicitar este documento, que é comumente chamado de Dispensa de Licenciamento Ambiental (DLAE). Essa nomenclatura pode sofrer variações nos diferentes estados do país. Por fim, é importante ressaltar que durante o planejamento de empreendi- mentos, o licenciamento ambiental é etapa indispensável necessária para regula- rização e redução de seus respectivos impactos ao meio ambiente. Prever possí- veis problemas durante o processo auxilia a identificação de medidas apropriadas para reduzir atrasos e empecilhos no decorrer do processo. 3 MÉTODOS QUALIQUANTITATIVOS DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL Iniciaremos este subtópico abordando o contexto geral e as etapas da ava- liação de impacto ambiental (AIA) para, então, adentrarmos no universo dos mé- todos de avaliação. A AIA tem por objetivo levar em consideração os impactos ambientais prévios à tomada de decisão sobre o processo de licenciamento de empreendimento que potencialmente resulte em significativa degradação ambien- tal. No Capítulo 1 vimos que a degradação ambiental é a perda da qualidade am- biental resultante das consequências das ações humanas, lembra-se? E o concei- to de impacto ambiental, ainda está claro? Segundo a Resolução CONAMA 001 de 1986, impacto ambiental é: [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, di- 61 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 reta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem- -estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e, a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986, p. 922). Vimos, também, que os impactos nem sempre são negativos e é importante que os impactos positivos também sejam considerados no processo de avaliação. No decorrer dos anos, a AIA vem sendo tida como um instrumento apropriado para advertir os tomadores de decisão de forma proativa sobre o que pode acon- tecer, caso uma ação proposta seja operacionalizada (IAIA, 2012). A AIA foi iniciada em 1969 a partir da Lei de Política Ambiental (NEPA) dos Estados Unidos e abrange o processo de identificação, prevenção, avaliação e mitigação dos impactos ambientais antes que decisões importantes sejam toma- das (IAIA, 2012). Essa legislação foi implementada como resposta política a fato- res como a mudança de escala e natureza do desenvolvimento industrial pós-Se- gunda Guerra Mundial, à crescente inquietação pública sobre as consequências ambientais do desenvolvimento econômico e o fracasso das ferramentas de deci- são existentes para abordar adequadamente tais preocupações. A legislação envolvendo AIA foi adotada por mais de 100 países e por diver- sas agências bilaterais e multilaterais de financiamento. A rápida internacionaliza- ção e institucionalização tornou a NEPA uma das principais inovações políticas do século XX e como a legislação americana que causou maior impacto internacional (CASHMORE, 2004). No Brasil, a PNMA define a AIA e o licenciamento ambiental como dois de seus instrumentos. A AIA, então, é vinculada ao processo de licenciamento am- biental, sendo o mecanismo responsável por dar subsídio à tomada de decisão do órgão licenciador no que diz respeito à viabilidade ambiental da atividade ou empreendimento. A Figura 2 sistematiza um processo de licenciamento ambiental e permite observar a posição da AIA neste. Este sequenciamento de atividades pode variar em função do órgão ambiental e do local de aplicação (assim como ocorre com o licenciamento ambiental). Observe que os componentes básicos são formados pelas etapas a serem desenvolvidas. 62 Proteção do Meio Ambiente FIGURA 2 – ETAPAS DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL FONTE: Adaptada de Sanchez (2013) A partir da Figura 2 é possível constatar que, ao analisar uma proposta, a AIA tem início na fase preliminar, pois licenciam-se atividades com potencial de provocar impactos ambientais. Então, é necessária uma avaliação preliminar dos impactos, adotada a fim de direcionar o processo de licenciamento ambiental de 63 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 empreendimentos que possam causar impactos significativo, mas que não estão definidos na legislação. Além disso, outro ponto de destaque é a elaboração EIA/RIMA, necessário para empreendimentos específicos e estabelecidos em legislação. Por fim, ao fi- nal do processo, tem-se a etapa pós-aprovação, em que constam o monitoramen- to e gestão ambiental e seu consequente acompanhamento. O processo de AIA pode ser entendido como um conjunto de procedimentos conectados de maneira lógica, com a finalidade de analisar a viabilidade ambien- tal de projetos e fundamentar uma decisão a respeito (SANCHEZ, 2013). Entretanto, para que a AIA seja capaz de garantir seu papel de auxiliar a toma- da de decisão de forma ambientalmente adequada, é estruturada por um conjunto de etapas sequenciais, encadeadas logicamente sob a forma de um sistema. Um sistema de AIA é o “mecanismo legal e institucional que torna operacional o proces- so de AIA em uma determinada jurisdição (um país, um território, um Estado, um município ou qualquer outra entidade territorial administrativa)” (SANCHEZ, 2013, p. 29). Enquanto o processo de AIA é entendido como as etapas necessárias para uma análise ambiental preventiva suficiente e útil (SANCHEZ, 2013). A AIA pode ser estabelecida sob duas perspectivas metodológicas: como um instrumento técnico ou como procedimento legal e institucional, ambos relacio- nados ao contexto de análise dos efeitos de determinada atividade. Segundo a Associação Internacional de Avaliação de Impacto, a AIA tem por objetivos: • Assegurar que o ambiente seja explicitamente considerado e incorporado no processo de decisão sobre propostas de desenvolvimento; • Antecipar e evitar, minimizar ou compensar os efeitos ad- versos significativos - biofísicos, sociais e outros relevantes - de propostas de desenvolvimento; • Proteger a produtividade e a capacidade dos sistemas na- turais e dos processos ecológicos que mantêm as suas fun- ções; e, • Promover um desenvolvimento que seja sustentável e que otimize o uso dos recursos e as oportunidades de gestão (IAIA, 2012, p. 1). Para atingir seus objetivos, a AIA se baseia em avaliações científicas rigo- rosas de todos os caminhos causais potenciais pelos quais os desenvolvimentos em grande escala podem impactar os ativos avaliados em uma região. Apesar de sua importância para a tomada de decisão informada, muitas avaliações são prejudicadas por uma análise incompleta das vias causais, avaliação espacial li- mitada e falta de transparência sobre como os riscos foram avaliados em toda a região (PEETERS et al., 2022). 64 Proteção do Meio Ambiente Podem ser determinados dois tipos de princípios para a AIA: Básicos e Ope- racionais. Os princípios básicos são os que caracterizam a AIA, tidos como uma lista única aplicável a todas as avaliações e interdependentes. FIGURA 3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS DA AIA FONTE: Adaptada de IAIA (2009) Os Princípios Operacionais, por sua vez, fazem referência à aplicação dos Princípios Básicos nas diferentes etapas do processo de AIA, assim, apontam que o processo de AIA deve ser aplicado, tais como a seleção das ações, a definição do âmbito, a identificação de impactos ou a avaliação de alternativas. FIGURA 4 – PRINCÍPIOS OPERACIONAIS DA AIA Segundo os quais, a AIA deve: FONTE: Adaptada de IAIA (2009) 65 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 A partir das figuras 3 e 4 é possívelconstatar que os princípios básicos e operacionais direcionam para que a AIA cumpra seu papel e seja desenvolvida de forma efetiva. Apesar dos princípios constituírem características essenciais dos procedimentos de AIA, a qualidade das avaliações varia tanto em nível internacio- nal quanto em nível nacional. Os problemas que interferem na qualidade da AIA são comuns, tais como: regulamentações muito específicas em nível nacional ou regional, baixa qualidade dos relatórios, equipamento insuficiente e pessoal mal treinado, quadro institu- cional dos órgãos ambientais inadequado, falta de participação pública e baixos níveis de cooperação entre os formuladores de políticas, pesquisadores e partes interessadas (NITA; FINERAN; ROZYLOWICZ, 2022). 3.1 MÉTODOS E FERRAMENTAS PARA AIA A AIA é formada por diversas ferramentas que ajudam na assimilação dos im- pactos e, consequentemente, para que a decisão mais ambientalmente adequada seja tomada. Os métodos existentes, em grande parte, são resultantes de adapta- ções e melhorias de outros comumente adotados anteriormente em outras áreas. En- tretanto, todos os métodos possuem um ponto em comum: direcionam os debates e mecanismos a fim de identificar agentes determinantes e as mudanças relativas do conjunto de ações, da atividade ou do empreendimento (BRAGA et al., 2005). A aplicação de métodos possibilita que seja feita uma análise mais detalhada dos impactos, porém, não existe um método que seja aplicável a qualquer estudo, tendo em vista que nenhum atende a todas suas etapas. Dessa forma, é válido considerar que cada método apresenta limitações e potenciais e a escolha do mé- todo depende das condições para elaboração do estudo (pessoas disponíveis e seus conhecimentos, recursos e tempo para desenvolvimento, dados disponíveis e características da atividade ou empreendimento) (STEIN et al., 2018). Dentre os métodos disponíveis, os mais comuns são: método Ad hoc, che- cklist, matrizes de interação, redes de interação, métodos de simulação e a com- binação de mais de um método, conforme veremos a seguir. 3.1.1 Método Ad hoc O método Ad hoc, também conhecido por método espontâneo, adota o co- nhecimento empírico a partir da realização de reuniões com a participação de 66 Proteção do Meio Ambiente técnicos e cientistas especialistas nas áreas e características relacionadas ao empreendimento em análise. Nessas reuniões deve obter informações quanto aos impactos prováveis e classificação de alternativas. Para isso, pode-se utilizar questionários respondidos tanto por pessoas com interesse nos problemas como pelos especialistas, ou estes podem realizar brainstormings, que significa fazer uma avaliação por tempestade de ideias (BRAGA et al., 2005; STEIN et al., 2018). Recomenda-se utilizar este método quando há pouca informação sobre o meio de estudo e quando se deseja rapidez na identificação dos impactos mais prováveis. Por esse motivo, é necessária a formação de uma equipe multidisci- plinar de profissionais muito experientes. As equipes ficam responsáveis por atri- buir valores aos impactos, classificar e apontar as medidas mitigatórias (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018; STEIN et al., 2018). A principal vantagem da ferramenta consiste em estimar os impactos am- bientais e apresentar os resultados de maneira rápida, organizada e de fácil in- terpretação (FEDRA; WINKELBAUER; PANTULU 1991). Já a principal desvanta- gem do método está relacionada à subjetividade, pois pode variar na escolha dos participantes e pode ser aplicada em situações em que há pouco conhecimento disponível. Para minimizar essa situação, deve investir na formação e escolha da equipe responsável pela avaliação (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). De maneira simplificada, o Ad hoc se baseia no bate-papo entre os técnicos que com sua experiência conseguem estimar subjetivamente os impactos am- bientais de maneira rápida. Dessa forma, pode-se considerar que o método se aproxima muito de uma pré-avaliação dos impactos ambientais, porém com um certo grau de eficácia para depois aplicar as outras etapas da avaliação (STEIN et al., 2018). 3.1.2 Checklist Os checklists, também chamados como listas de verificação ou listagens de controle, são considerados instrumentos práticos e fáceis de utilizar na avaliação de impacto ambiental. As listas são consideradas uma evolução do método Ad hoc (BRAGA et al., 2005; SANCHEZ, 2013). Considera-se uma forma preliminar de avaliar os impactos gerados no meio em análise. O ideal é aplicar o checklist em cada etapa do projeto, nas fases de implantação, operação e desativação. 67 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 FIGURA 5 – MODELO DE CHECKLIST PARA AVALIAÇÃO DE IMPACTO EM EMPREENDIMENTO RODOVIÁRIO FONTE: Adaptada de Sanchez (2013) O método consiste em listar dados de acordo com a identificação dos impac- tos, classificação dos meios físicos, bióticos e socioeconômico. A principal vanta- gem do checklist é a objetividade. É possível utilizar listas específicas para cada fator ambiental, segmento ou etapa avaliada e, ainda, se preferir juntar os três critérios. Além disso, suas matrizes são preparadas com antecedência de acordo com as necessidades, minimizando o risco de esquecer alguma variável (RIN- CÃO; TRIGUEIRO, 2018, STEIN et al., 2018). A principal desvantagem é a apresentação dos resultados, pois é possível identificar o impacto, mas não é possível deduzir sua origem ou magnitude. Acaba 68 Proteção do Meio Ambiente limitando algumas situações, pois não estabelece as relações de causa e efeito entre as ações e os impactos dos projetos (SILVA, 2011; RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018; STEIN et al., 2018). Existem diversos tipos de listas de controle, variando de relações simples até complexas, podendo ser divididas em: simples, descritivas, escalares e escalares ponderadas (STEIN et al., 2018). As listas classificadas como simples enumeram os fatores ambientais e seus respectivos indicadores (SILVA, 2011). As listas des- critivas podem ser utilizadas como guias de orientação das avaliações de impacto ambiental, relacionando ações, componentes ambientais e características varia- das, porém não quantificam os impactos (BRAGA et al., 2005). Nesta classifica- ção, as perguntas procuram relacionar os fatores ambientais afetados com a iden- tificação e descrição dos impactos diretos e indiretos (SILVA, 2011). As listas escalares são consideradas mais quantitativas, pois conseguem descrever os fatores e impactos ambientais por meio de uma escala (STEIN et al., 2018). Geralmente, são listas específicas para o ambiente em estudo e podem ser aplicadas a algumas situações consideradas padrão, apenas. Já as listas es- calares ponderadas conseguem graduar os dados de interesse por uma escala de valores considerada mais qualitativa. 3.1.3 Matrizes de interação As matrizes de interação são capazes de relacionar diversas ações do proje- to aos fatores ambientais, por esse motivo são muito utilizadas na etapa de iden- tificação dos impactos. De maneira simplificada, uma matriz é composta de duas listas e relaciona os aspectos e os impactos ambientais por meio de uma listagem de controle bidimensional, e pela interseção das linhas e colunas tem-se o impac- to de cada ação (SILVA, 2011; CREMONEZ et al., 2014). Uma das primeiras ferramentas no formato de matrizes propostas é de Leo- pold et al. (1971), que consiste em uma lista de 100 ações humanas causadoras de impactos que se relacionam a 88 componentes ambientais que podem ser afe- tados por ações humanas. Então, são identificadas todas as interações possíveis entre as ações e os componentes relacionados (SANCHEZ, 2013). 69 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 FIGURA 6 – MODELO DE MATRIZ DE LEOPOLD FONTE: Adaptada de Sanchez (2013) A partir da Figura 6 observam-senúmeros no cruzamento de ações e aspec- tos, estes representam uma pontuação de 1 a 10, conforme a magnitude (can- to superior esquerdo) e importância (canto inferior direito) atribuída ao impacto (SANCHEZ, 2013). A matriz Leopold é uma das metodologias matriciais mais uti- lizadas para avaliar qualitativamente o impacto de um projeto no meio ambiente (OTT; MOHAUPT; ZIEGLER, 2012). De um modo geral, considera-se que as matrizes fornecem uma análise glo- bal e consegue avaliar a causa, o efeito e a cadeia de reações consequentes à ação, avaliar o nível de interatividade entre os fatores, quantificar a ação impac- tante e avaliar a importância dos impactos, ou seja, é possível também medir a sua gravidade. Apesar de ser considerada uma ferramenta de fácil compreensão, os resultados são considerados subjetivos em função da ponderação ser feita pe- los responsáveis por sua realização (BRAGA et al., 2005). 70 Proteção do Meio Ambiente 3.1.4 Redes de interação As redes de interação são consideradas um método que permite visualizar a interação entre os impactos ambientais. Essa metodologia permite estabelecer relações de causa-condições-efeito e associar indicadores de intensidade, impor- tância e risco de ocorrência e visualizar as ações diretas e indiretas que podem desencadear o impacto inicial (MORATO, 2008). FIGURA 7 – MODELO DE APLICAÇÃO DE REDES DE INTERAÇÃO FONTE: Sanchez (2013) A figura permite observar que as redes de interação objetivam estabelecer relações entre as atividades e seus respectivos impactos. As redes são elabora- das por especialistas de acordo com cada caso em questão. Dessa forma, o mé- todo, além de permitir a avaliação dos impactos e das interações entre os fatores ambientais, auxilia também nas proposições de medidas para o gerenciamento dos impactos identificados. Com as redes é possível ter uma base para criar pro- gramas de manejo, monitoramento e controle ambiental (SILVA, 2011). 71 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 3.1.5 Métodos de simulação Os métodos de simulação têm como característica a valoração quantitativa e qualitativa dos dados. Nessa ferramenta, os critérios de avaliação são baseados em modelos matemáticos. Dessa forma, é necessário representar todas as infor- mações para entender os riscos dos impactos (STEIN et al., 2018). Para tanto, são utilizados modelos matemáticos para simular o comportamento dos parâmetros am- bientais e das relações entre as causas e os efeitos das ações. A realização das simulações demanda profissionais especializados, bem como programas e equipa- mentos específicos para análise (OLIVEIRA; MOURA, 2009; FINUCCI, 2010). Com as simulações é possível conhecer o estado ambiental inicial e após a implementação de alternativas através de variáveis. Apesar de aproximar a si- tuação da realidade, pode ser considerado um método complexo, devido a al- gumas situações, tais como: dificuldade de encontrar dados para calibração do sistema, limitações computacionais, dificuldade de incorporar todos as variáveis e fatores envolvidos e possibilidade de induzir um processo de decisão (BRAGA et al., 2005). 3.1.6 Combinação de métodos A combinação de métodos é bastante recomendada para AIA e é necessário se atentar para as vantagens e desvantagens de cada método e combinar aque- les que são complementares em pontos falhos. A escolha do(s) método(s) que melhor se aplica(m) dependerá de uma análise dos seguintes fatores: - Tipo e tamanho do projeto; - Objetivo da avaliação; - Alternativas; - Natureza dos impactos prováveis; - Conveniência do método de identificação do impacto; - Experiência da equipe de AIA; - Recursos disponíveis; - Tipo de método de identificação do impacto escolhido; - Experiência do empreendedor com o tipo e tamanho de pro- jeto (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018, p. 79). Por fim, é importante lembrar que a seleção do método mais apropriado de- pende, acima de tudo, da comparação com outros estudos e consequente iden- tificação dos mais comumente utilizados. Logo, não há o mais perfeito método ou aquele aplicável a todos os casos. Ao considerar as individualidades de cada estudo será possível identificar o método mais adaptável ao contexto em questão. 72 Proteção do Meio Ambiente 1) Vimos que a AIA é formada por diversas ferramentas que ajudam na identificação dos impactos e, consequentemente, para que a decisão mais ambientalmente adequada seja tomada. Os méto- dos existentes, em grande parte, são resultantes de adaptações e melhorias de outros comumente adotados anteriormente em ou- tras áreas. Sendo assim, considerando os métodos de AIA dispo- níveis, cite os mais comuns. 4 PREVENÇÃO, ATENUAÇÃO, POTENCIALIZAÇÃO E MITIGAÇÃO DE IMPACTOS Partindo do pressuposto de que a AIA é formada por um conjunto de fer- ramentas que ajudam na identificação dos impactos e, consequentemente, para que a decisão mais ambientalmente adequada seja tomada, vamos estudar, nes- te subtópico, medidas para prevenir, atenuar, potencializar ou mitigar impactos ambientais. Vimos que no Brasil, a AIA é uma das etapas necessárias para o li- cenciamento ambiental. Ao olhar para o impacto ambiental sob a perspectiva do licenciamento, podemos relacioná-lo com a situação do ambiente sem e com o projeto, conforme apresentado na figura a seguir. FIGURA 8 – EXEMPLIFICAÇÃO DA DEFINIÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL FONTE: Adaptada de Sanchez (2013) 73 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 As setas na figura indicam a possibilidade de avaliar um impacto ambiental a partir do uso de indicadores. Entretanto, esta avaliação é bastante complexa, ten- do em vista que alguns impactos significativos não permitem sua descrição atra- vés de indicadores ou ainda a coleta de dados para mensuração pode ser cara ou demorada (SANCHEZ, 2013). No cotidiano da prática da AIA, nem sempre é possível observar o impacto tal como é apresentado na figura, pois algumas alterações no ambiente são difíceis de serem previstas. Essa dificuldade é bastante comum e, em função disso, nos projetos envolvendo licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos compara-se “a provável situação futura de um indicador ambiental (com o projeto proposto) e sua situação presente” (SANCHEZ, 2013, p. 38). Além disso, no decorrer das etapas do processo de AIA, conforme vimos no subtópico anterior, é necessário que a proposta seja apresentada ao órgão licen- ciador e, inicialmente, deve-se apresentar os estudos ambientais que envolvem a apresentação da proposta em questão. Após a etapa inicial, durante o processo de licenciamento ambiental, alguns estudos podem ser solicitados pelo órgão li- cenciador, tal como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto ambiental (RIMA) para algumas atividades com maior potencial poluidor, confor- me estabelecido pela Resolução CONAMA 001 de 1985. O Art. 2º da CONAMA 001 de 195 estabelece quais atividades demandam de EIA/RIMA para serem licenciadas, sendo elas: QUADRO – ATIVIDADES QUE DEMANDAM DE EIA/RIMA PARA SEREM LICENCIADAS I. Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; IX. Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração; II. Ferrovias; X. Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl. Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10 MW; III. Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; XII. Complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloro-químicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); IV. Aeroportos; XIII. Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; V. Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários;XIV. Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; 74 Proteção do Meio Ambiente VI. Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230 KV; XV. Projetos urbanísticos, acima de 100 ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; VII. Obras hidráulicas para explo- ração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelé- tricos, acima de 10 MW, de sane- amento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, dre- nagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; XVI. Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez toneladas por dia. VIII. Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); FONTE: Adaptado de Brasil (1986) O Art. 6° da referida resolução estabelece que o EIA deve apresentar, no mí- nimo, os seguintes componentes: diagnóstico ambiental, análise dos impactos am- bientais, estabelecimento de medidas mitigadoras e programa de acompanhamento e monitoramento. Os subcomponentes são apresentados na figura a seguir. FIGURA 9 – COMPONENTES MÍNIMOS NECESSÁRIOS PARA O EIA FONTE: Adaptada de Brasil (1986) 75 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 Conforme é possível observar na Figura 9, é no EIA que constarão os meca- nismos adotados para prevenção, atenuação, potencialização ou mitigação dos impactos. Mas, antes de passarmos para este item, você deve estar se pergun- tando: e o RIMA? Bom, como já vimos anteriormente, o EIA consiste em um documento que apresenta a caracterização da atividade ou empreendimento a ser licenciado e busca descrevê-lo e também analisar seus impactos ambientais, estabelecendo as medidas e os programas de acompanhamento e monitoramento. É um docu- mento denso, elaborado por uma equipe multidisciplinar e escrito de forma técni- ca, pois será analisado por especialistas dos órgãos licenciadores. O RIMA reflete o resumo do EIA, é um documento que fica disponibilizado para qualquer pessoa interessada e em função disso deve ser escrito de forma clara e objetiva para ser compreendido por qualquer cidadão. Deve conter: I. Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compa- tibilidade com as políticas setoriais, planos e programas gover- namentais; II. A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e lo- cacionais (...); III. A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos am- biental da área de influência do projeto; IV. A descrição dos prováveis impactos ambientais da implan- tação e operação da atividade (...); V. A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização; VI. A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado; VII. O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; VIII. Recomendação quanto à alternativa mais favorável (BRA- SIL, 1986, p. 10). O conteúdo do EIA deve ser apresentado de forma ilustrativa no RIMA e para isso podem ser elaborados mapas, cartas, gráficos e outros mecanismos de co- municação visual, para que sejam evidenciados os pontos positivos e negativos daquilo que está sendo licenciado e suas respectivas consequências ambientais (SANCHEZ, 2013). 76 Proteção do Meio Ambiente 1) Uma das etapas do processo de licenciamento ambiental de ativi- dades estabelecidas na Conama 001 de 1986 é a elaboração de dois documentos: EIA e RIMA. Diferencie estes dois documentos. Os métodos de AIA apresentados anteriormente (tais como método Ad hoc, checklist, matrizes de interação, redes de interação, métodos de simulação e a combinação de mais de um método) são fundamentais para a identificação dos impactos das atividades. Mas, além de identificar os impactos é importante que eles sejam analisados e, analisar segundo seus atributos admite classificar se- gundo a importância. O quadro a seguir apresenta exemplos de atributos subdivi- didos em três categorias: magnitude, relevância e complementares. QUADRO 3 – ATRIBUTOS PARA ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS Atributos de magnitude Reversibilidade • Reversível • Reversível a médio/longo prazo • Irreversível Duração • Temporário• Permanente Incidência • Direta• Indireta Prazo para ocorrência • Curto• Médio a longo Atributos de relevância Cumulatividade • Cumulativo• Não cumulativo Sinergia • Simples• Indutor Importância • Muito pequena • Pequena • Média • Grande • Muito grande Atributos complementares Abrangência • Pontual • Local • Regional Formas de manifestação • Contínua • Descontínua • Cíclica Ocorrência • Real• Potencial FONTE: Adaptado de Brasil (1986), Sanchez (2013) e Rincão e Trigueiro (2018) 77 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 A análise e classificação dos impactos é fundamental para que a AIA possa cumprir seu papel de forma efetiva e para que sejam definidas as medidas ade- quadas para os impactos negativos, podendo ser, em ordem de prioridade: pre- venção, mitigação e recuperação. Os impactos que requerem mitigação podem ser identificados ao longo de todo o processo. Entende-se, então, que o resultado do EIA de um projeto é geralmente sugestões para medidas de prevenção (con- trole) e atenuação ou mitigação, ao invés de mudanças em decisões fundamen- tais tal como os tipos de ações consideradas ou o tamanho ou localização de um projeto proposto. Ao olhar para a proposição de medidas na prática, observa-se que não é apenas adotar medidas para atenuar impactos adversos, mas sim estabelecer um conjunto de medidas que compreende alterar o projeto objetivando impedir im- pactos, atuações para diminuir estes e ações para compensar aqueles que não puderem ser evitados ou suficientemente reduzidos, nessa ordem de preferência, conhecida como hierarquia de mitigação (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). As medidas de prevenção também podem ser chamadas de medidas de con- trole e são as primeiras a serem adotadas, a fim de evitar que os impactos am- bientais ocorram. Impedir impactos negativos deve ser a finalidade inicial do time responsável pelo projeto. Se houver cooperação eficaz entre projetistas e a equi- pe ambiental, um conjunto de impactos pode ser prevenido ou ter sua magnitude reduzida. Do ponto de vista do direito ambiental, “o princípio de prevenção deve levar à criação e à prática de política pública ambiental, através de planos obriga- tórios” (MACHADO, 2012, p. 123). O aproveitamento do princípio da prevenção busca precaver e guiar para que não aconteça evento nocivo de forma a originar implicações não desejadas ao meio ambiente e, consecutivamente, sua complexa recuperação (CIELO et al., 2012). O dever jurídico de impedir a “consumação de danos ao meio ambiente” vem sendo amplamente discutido e ressaltado em “convenções, declarações e sentenças de tribunais internacionais” bem como em legislações nacionais e inter- nacionais (MACHADO, 2012, p. 119). Neste direcionamento, a importância de medidas de prevenção está relacio- nada ao fato de que, caso o impacto ambiental negativo ocorra, o ambiente pode não ser reconstituído. Entretanto, em alguns casos, é impossível estabelecer me- didas de prevenção e, então, nos casos onde o impacto ocorrerá são adotadas medidas que busquem reduzir as consequências deste. Medidas de atenuação são aquelas que visam reduzir o efeito do impacto no ambiente. Com o passar do tempo, essas medidas passaram a serchamadas como medidas mitigadoras pelos especialistas da área, visando englobar todas as 78 Proteção do Meio Ambiente medidas que buscam atenuar os efeitos negativos de uma atividade ou empreen- dimento (SANCHEZ, 2013). A proposição de medidas atenuadoras ou mitigadores é desenvolvida com base em adaptação do ambiente, assim, dentre seus princí- pios, tem-se: - Manter a maior parte das zonas degradadas em estado pró- ximo ao natural; - Condicionar explorações agrícola e pecuária; - Impedir a ocupação habitacional em áreas de proteção; - Condicionar instalações industriais; - Desviar vias e transferir construções em zonas de risco; - Limitar construção de estradas marginais e intensidade de tráfego; - Controlar ocupação territorial e as extrações; - Investir em tecnologias para reuso de água (STEIN et al., 2018, p. 24). Determinadas medidas mitigadoras acabam por estar inclusas no próprio projeto entregue ao órgão ambiental e, quando isso acontece, é de competência da equipe responsável analisar a eficácia destas nas futuras condições de opera- ção do empreendimento, podendo-se sugerir controles acessórios. Como exem- plos de medidas comumente aplicadas, tem-se: Sistemas de redução da emissão de poluentes, como o tra- tamento de efluentes líquidos, a instalação de barreiras antir- ruído e o abatimento das emissões atmosféricas por meio da instalação de filtros, [...] instalação de bacias de decantação de águas pluviais para reter partículas sólidas e evitar seu trans- porte para os cursos d’água durante a etapa de construção, até o emprego de técnicas sofisticadas de redução de emissões atmosféricas (SANCHEZ, 2013, p. 511). É raro que as condições de planejamento incluam todos os aspectos da con- cepção e implementação do projeto que mitigariam os impactos ambientais. As autoridades ambientais licenciadoras e órgãos de planejamento frequentemente priorizam as medidas tidas como mais necessárias para a entrega de um desen- volvimento aceitável. Entretanto, estabelecer formas de implementação de medi- das de mitigação são vitais para que a AIA cumpra seu potencial como instrumen- to de proteção do meio ambiente e de incentivo ao desenvolvimento sustentável (TINKER et al., 2005). Entretanto, se após a adoção de medidas de prevenção e mitigadoras o im- pacto ainda permanecer significativo, é possível definir medidas compensatórias. As medidas compensatórias buscam contrabalançar a perda de componentes fundamentais “do ecossistema, do ambiente construído, do patrimônio cultural ou ainda de relações sociais”, sendo que: [...] um caso típico de compensação ocorre quando uma por- ção de vegetação nativa tem de ser eliminada; nesta situação 79 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 a compensação poderia ser feita mediante a proteção de uma área equivalente ou maior que aquela que será perdida, ou mediante a recuperação de uma área degradada, ou ambas (SANCHEZ, 2013, p. 250). Por fim, as medidas de potencialização ou também chamadas de medidas de valorização, apesar de pouco comentadas na literatura, são aquelas que buscam reforçar a magnitude ou a importância dos impactos benéficos. Os impactos posi- tivos de projetos, na maior parte das vezes, estão relacionados a aspectos sociais e econômicos, tal como criação de empregos e desenvolvimento da economia. Na formulação de medidas de valorização em um EIA é interessante observar a hie- rarquia de valorização proposta por João et al. (2011 apud Sanchez (2013, p. 548): (1) de projeto: valorizar os impactos benéficos por meio de ações inovadoras desde a fase de elaboração de projeto e análise de alternativas; (2) local: buscar oportunidades de melhoria das condições so- cioambientais por meio de ações como melhoria de infraestru- tura, compras locais e recuperação de ambientes degradados; (3) regional: procurar acumular impactos positivos, como a criação de corredores biológicos. As medidas de potencialização ou valorização são imprescindíveis para que estes se consolidem em benfeitoria do local onde a ação será executada. Como exemplo: alguns projetos demandam mão de obra especializada, que algumas ve- zes não estão disponíveis em nível local, fazendo com que colaboradores de outras regiões mudem para este local. Dessa forma, a criação de empregos não se rela- ciona à região de localização do empreendimento e, então, promover cursos para capacitar trabalhadores e prestadores de serviço em nível local pode colaborar para que os impactos positivos do empreendimento sejam para o local em questão. As condições e recomendações precisam ser monitoradas e aplicadas para garantir implementação e, portanto, mitigação eficaz. Dessa forma, o conheci- mento acerca dos tipos de medidas é fundamental, pois, após a tomada de de- cisão positiva para emissão de licença de atividade ou empreendimento poluidor, deve-se fazer o acompanhamento da implementação de todas estas medidas pro- postas, sejam elas visando à redução ou compensação dos impactos negativos ou à valorização dos impactos positivos. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Chegamos ao fim do Capítulo 2 do nosso livro didático, somos capazes, a partir de agora, de ter a compreensão do processo de licenciamento ambiental e da apresentação das principais metodologias de avaliação de impacto, aplicar 80 Proteção do Meio Ambiente ferramentas da avaliação de impacto e correlacionar medidas preventivas, atenu- antes, potencializadoras e mitigadoras. O licenciamento ambiental é um procedimento regulamentado por lei que visa auxiliar a proteção ambiental a partir da regularização de atividades poten- cialmente poluidoras. Tem por motivação a garantia de que as atividades ou em- preendimentos estejam em conformidade com os aspectos ambientais garantindo o desenvolvimento social, econômico e ambiental. No Brasil, vinculado ao licenciamento, temos a avaliação de impacto ambien- tal (AIA), que busca identificar e analisar os impactos ambientais de atividades que possuam potencial de degradar o ambiente. Vimos que tanto o processo de licenciamento quanto de AIA são organizados em etapas e, estas, visam sequen- ciar as atividades a serem desenvolvidas para que os objetivos de cada um sejam alcançados. Além da identificação dos impactos é importante que estes sejam classifica- dos, e para isso, podemos utilizar atributos. Tanto a identificação quanto a análise são importantes para que medidas sejam adotadas. No que tange aos impactos negativos, as medidas a serem tomadas ou propostas são, em ordem de priori- dade, prevenção (ou controle), atenuação e mitigação. Com relação aos impactos positivos, as medidas podem ser potencializadoras. Assim, a partir do apresentado neste capítulo é possível concluir que a iden- tificação e avaliação de impacto ambiental e os estudos necessários para o licen- ciamento servem, principalmente, para informar às partes interessadas sobre os prováveis impactos de uma atividade ou projeto propostos e suas alternativas. Reforçam as questões ambientais a serem consideradas na tomada de decisões visando à proteção do meio ambiente. REFERÊNCIAS BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental: O desafio do desenvolvimento sustentável. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Procedimentos de Licenciamento Ambiental do Brasil. Brasília: MMA, 2016. Disponível em: http://pnla.mma. gov.br/images/2018/08/VERS%C3%83O-FINAL-E-BOOK-Procedimentos-do- Lincenciamento-Ambiental-WEB.pdf. Acesso em: 22 out. 2021. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Cartilha de licenciamento ambiental. 2. ed. Brasília: TCU, 2007. 81 Licenciamento e Avaliação De Impacto AmbientalLicenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental Capítulo 2 BRASIL. Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meioambiente, e dá outras providências. República Federativa do Brasil. Brasília, 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Acesso em: 6 nov. 2021. BRASIL. Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro e 1997. Dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental. Publicada no DOU nº 247, de 22 de dezembro de 1997. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=95982. Acesso em: 6 nov. 2021. BRASIL. Resolução CONAMA n° 001, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Publicado no D.O.U. de 17 fevereiro 1986. 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Como principal atividade deste processo, tem-se a avaliação de impac- to ambiental (AIA), demandada para atividades previamente definidas pela legis- lação (Resolução Conama 237). Durante este processo são realizados estudos ambientais para atingir ao solicitado pelo órgão ambiental responsável e obter a licença ambiental, que consiste em um documento de caráter preventivo que au- toriza o funcionamento e/ou operação de atividade ou empreendimento. Conforme vimos até aqui, os impactos ambientais são resultantes das ações do homem ao alterar o ambiente interferindo na qualidade ambiental. As altera- ções resultantes dos processos produtivos, novos empreendimentos e desenvol- vimento urbano de forma geral, interferem nos sistemas ambientais e resultam em poluição destes sistemas, podendo acontecer na água, no solo ou no ar. A problemática da questão ambiental inicia-se a partir dos usos conflitantes provo- cados tanto pelas diferentes demandas da sociedade referente a algum recurso ou sistema ambiental quanto pelas próprias mudanças das condições ambientais resultantes das atividades humanas. O desafio está, então, em considerar as questões ambientais na tomada de decisão acerca de novos empreendimentos, bem como em gerenciar as medidaspropostas ao longo do processo. Nessa perspectiva, torna-se fundamental que as ações da gestão ambiental sejam direcionadas para atuar nas necessidades sociais prioritárias, bem como na forma e nas alternativas de desenvolver as ativi- dades humanas. Nesse sentido, a delimitação de valores quantitativos para estabelecer pa- drões de qualidade ambiental proporciona dados sólidos para definir o coeficiente de eficiência a ser adquirido pelos mecanismos de controle. Estabelecer medidas de controle e monitoramento dos poluentes é fundamental para garantir a prote- ção do meio ambiente. 2 POLUIÇÃO AMBIENTAL E SISTEMAS DE TRATAMENTO Já está claro pelo que aprendemos até aqui que para atender as suas neces- sidades básicas, o homem intervém no ambiente, alterando suas condições, in- 88 Proteção do Meio Ambiente terferindo na disponibilidade e qualidade dos recursos ambientais. Entender esta problemática ambiental inicia-se pela identificação das causas geradoras dessas alterações ambientais, a partir da avaliação de impacto ambiental. Entretanto, só identificar e analisar os impactos não é suficiente, precisamos compreender como a poluição ocorre e as formas disponíveis para seu tratamento. Mas, antes de ini- ciarmos, você se lembra do conceito de poluição que vimos no Capítulo 1? A poluição é definida como o resultado da utilização dos recursos naturais pela população. Veremos sua definição e aprofundar mais este tema no decorrer deste tópico. Os efeitos da poluição podem ter caráter localizado, regional ou glo- bal, sendo que os mais perceptíveis são aqueles observados localmente, resul- tantes, normalmente, de grande densidade populacional e/ou industrial (BRAGA et al., 2005). Mas, também, vimos sua definição segundo a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que em seu Art. 3o, inciso III, define poluição como: [...] a degradação da qualidade ambiental resultante de ativida- des que direta ou indiretamente: a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da popu- lação; b) Criem condições adversas às atividades sociais e econô- micas; c) Afetem desfavoravelmente a biota; d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio am- biente; e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (BRASIL, 1981, p. 5). A poluição ambiental ocorre em função da: [...] presença, lançamento ou liberação nas águas, no ar ou no solo de toda e qualquer forma de matéria ou energia, com in- tensidade, quantidade, concentração ou caraterísticas em de- sacordo com os padrões de qualidade ambiental estabelecidos por legislação, ocasionando, assim, interferência prejudicial aos usos preponderantes das águas, do ar e do solo (DERI- SIO, 2012, p. 11). Relembrando o conceito, então, vamos continuar nosso aprendizado. Para facilitar o entendimento, visto que este tópico é bastante denso, vamos dividi-lo conforme os componentes ambientais mais afetados pelos impactos decorrentes das ações do homem, que são a água, o solo e o ar. 2.1 ÁGUA A água é tida como o principal componente ambiental, sendo em maior abun- dância na biosfera. Entretanto, sua distribuição é em diferentes estados (sólido, 89 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 líquido ou gasoso), sendo que 97,2% do total encontra-se nos oceanos. A distri- buição do total de água doce disponível é bastante heterogênea no espaço e tem- po, sendo que a maior parte se encontra em geleiras (68,7%), seguido por água subterrânea (31,01) e, por fim, água superficial (0,29%) (DERISIO, 2012). O Brasil ocupa localização privilegiada, possuindo aproximadamente 13% do total de água doce do mundo e 53% do continente sul americano. Mas, essa dis- tribuição é uniforme em todas as regiões? Já vimos no parágrafo anterior que não, e no Brasil isso não é diferente: a região amazônica possui aproximadamente 75% do total de água disponível, sendo que esta região corresponde a 4,5% da população (DERISIO, 2012). Sabemos que a água está presente na nossa vida e é elemento essencial para praticamente todas as atividades humanas. Pode-se classificar os principais usos da água em: • Abastecimento doméstico: considerado o uso mais nobre da água e en- volve não só a água utilizada para beber e para atividades residenciais (cozinhar, lavar utensílios, higiene pessoal), mas também para combater incêndios e limpar ruas. • Abastecimento industrial: o uso da água nas indústrias exige diferentes padrões de qualidade em função do seu uso, que pode ser: no processo de fabricação de produto (como refrigeração ou caldeira), na integração junto ao produto fabricado (tal como produto alimentício ou bebidas), ter contato com produto final e demandar alta pureza ou ser utilizada em atividades complementares ao processo industrial (tal como higiene dos operários, limpeza de equipamentos). • Irrigação e/ou dessedentação de animais: como o nome sugere, é a utili- zação da água em atividades agropastoris. • Recreação e lazer: atividades de caráter social e econômico, podendo ser divididas em três tipos: contato primário (natação), contato secundá- rio (uso de barco) e de composição (fins paisagísticos). • Diluição de efluentes líquidos: apesar de não ser um uso nobre, é co- mum para que os efluentes líquidos sejam dispostos ao ambiente em menor concentração. • Geração de energia elétrica: tal como em hidrelétricas, para que a água seja possível de gerar energia elétrica é necessário que seja feito repre- samento e sejam controlados fatores como presença de sais minerais e matéria orgânica para evitar eutrofização. • Navegação ou transporte: 90% das cargas do mundo são transportadas pelo oceano e é considerada uma das formas de logística mais baratas. Dos usos supracitados no Brasil, a predominância é da agricultura (principal- mente irrigação, mas também inclui a dessedentação de animais), consumindo 90 Proteção do Meio Ambiente 70% do volume de água, seguido por usos industriais (20%) enquanto o domésti- co é 7%. Além disso, 3% do consumo é referente a perdas (DERISIO, 2012). Além dessa classificação por usos, a Resolução CONAMA 357 de 2005 clas- sifica as águas em função da sua salinidade, sendo: “I - águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,5 %; II - águas salobras: águas com salinidade superior a 0,5 % e inferior a 30 %; III - águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30%” (BRASIL, 2005, p. 1). Ainda, as águas doces, salobras e sa- linas são caracterizadas, de acordo com a qualidade solicitada para seus usos principais, mas as águas de classe especial devem ter sua condição natural, não sendo aceito o lançamento de efluentes, mesmo que tratados. As águas de classe especial são destinadas a “uso nobres” por serem destinadas ao abastecimento humano, preservação de comunidades aquáticas e preservação destes ambien- tes em unidades de proteção. FIGURA 1 – DESTINAÇÃO DA ÁGUA DOCE SEGUNDO SUA DISTRIBUIÇÃO EM CLASSES 91 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 FONTE: Adaptada de Brasil (2005) Para as demais classes, são admitidos níveis crescentes de poluição, sendo a classe 1 com os menores níveis e as classes 4 (águas doces) e 3 (águas salo- bras e salinas) as que aceitam maiores níveis de poluição em função do seu uso. Os níveis de poluição determinam as possibilidades de uso para as águas, ou seja, quanto maior a classe de enquadramento, menos qualidade d’água e, con- sequentemente, menos exigente será seu uso. FIGURA 2 – ESQUEMA DAS CLASSES DE ENQUADRAMENTO E NÍVEIS DE POLUIÇÃO ACEITOS FONTE: Adaptada de Brasil (2005) Quer saber mais sobre a classificação das águas? Leia a Reso- lução CONAMA 357 na íntegra, ela está disponível no link https://bit. ly/3wQQlTd. A qualidade de uma água natural é definida pelo conjunto de suas caracterís- ticas físicas, biológicas, químicas e radiológicas. É representada por diversos parâ- 92 Proteção do Meio Ambientemetros que indicam suas características e que são determinados em campo ou por meio de ensaios laboratoriais, sendo os principais descritos no quadro a seguir: QUADRO 1 – PARÂMETROS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS Parâmetros físicos Definição Parâmetros químicos Definição Parâmetros biológicos Definição Temperatura Analisa a intensidade de calor Potencial Hidrogeniônico (pH) Representa o equilíbrio entre íons H+ e íons OH-; varia de 7 a 14; indica se uma água é ácida (pH inferior a 7), neutra (pH igual a 7) ou alcalina (pH maior do que 7) Coliformes termotolerantes Grupo de bactérias que indicam a potencialidade de transmissão de doenças por organismos de contaminação fecal, como Escherichia coli (E. coli) Cor Indica a presença substâncias dissolvidas Alcalinidade É análise da capacidade de reagir quantitativamente com um ácido forte até um valor definido de pH Giardia spp. e Cryptosporidium spp. Protozoários patogênicos de transmissão fecal/ oral Odor e sabor A água deve ser inodora e sem sabor. Pode haver mudanças por fatores naturais (algas, bactérias etc.) ou artificiais (efluentes químicos ou esgotos etc.)) Dureza Indica a presença de carbonato de cálcio Algas - Turbidez Medida fotométrica, analisa a matéria em suspensão e sua capacidade de interferir no fluxo de energia luminosa. Oxigênio dissolvido (OD) Representa a concentração de oxigênio - Sólidos Indicam os resíduos presentes na água, podem ser classificados em sedimentáveis (sedimentam após um período de tempo da amostra em repouso), não Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) Relação da quantidade de oxigênio disponível na água que seria necessária para oxidar a matéria orgânica, para uma forma inorgânica estável, ou de forma simplificada, estimativa indireta de consumo de oxigênio 93 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 Demanda Química de Oxigênio (DQO) Representa a quantidade de oxigênio necessária para decompor quimicamente a matéria orgânica Série de nitrogênio (nitrogênio orgânico, amônia, nitrito e nitrato) Indicam a quantidade do componente químico Fósforo Cloretos Ferro Manganês Metais - Óleos e graxas Presença de hidrocarbonetos, gorduras, ésteres, entre outros que indicam presença de despejo, esgotos, resíduos industriais etc. Fenóis Caracterizam presença de efluentes industriais, colas e adesivos, resinas impregnantes, componentes elétricos (plásticos) e as siderúrgicas etc. Surfactantes Analisa a presença de substâncias tensoativas que reagem com Azul de Metileno FONTE: Adaptado de Derisio (2012) e Calijuri e Cunha (2013) Os parâmetros físicos e químicos são determinados pelas ca- racterísticas particulares da bacia hidrográfica – geologia, re- levo e solos associados, condições climáticas e aspectos de uso e cobertura vegetal, e, representados pelos sólidos, maté- ria orgânica e inorgânica, presentes na água. Em relação aos parâmetros biológicos, têm-se destaque aos microrganismos, [...] que são indicadores de contaminação fecal (grupo dos co- liformes) e podem estar associados a doenças de veiculação hídrica (BONIFÁCIO; NÓBREGA, 2021, p. 222-227). 94 Proteção do Meio Ambiente A qualidade da água é tão importante quanto sua disponibilidade. Os pa- drões de qualidade precisam ser revisados constantemente nos diferentes está- gios de desenvolvimento da sociedade, tendo em vista que as demandas de saú- de pública têm caráter prioritário e possuem menor flexibilidade quanto aos limites definidos. Nesse contexto, a alteração expressiva dessas características físicas, químicas e biológicas da água podem tornar seu uso não apto para distintos fins, resultar em danos aos ecossistemas aquáticos e transmitir doenças às popula- ções (CALIJURI; CUNHA, 213). 1) A água é o principal componente ambiental em função da sua importância e abundância. A análise da qualidade da água é fei- ta a partir de parâmetros, distribuídos em três categorias: físicos, químicos e biológicos. Cite os principais parâmetros físicos. As fontes de poluição das águas podem ser divididas em duas categorias: i) pontual, a partir de lançamentos individuais como esgoto ou efluente industrial; e ii) difusa, afeta diferentes locais, tal como chorume de resíduos ou agrotóxicos de plantações. A poluição difusa é mais difícil de identificar e controlar, tendo em vista sua abrangência. Outra forma de classificar a poluição hídrica é por sua origem e efeitos, po- dendo ser classificada em: • Térmica: provocada por empresas de siderurgia e refinaria, centrais elé- tricas, resultante do lançamento de efluentes em altas temperaturas, de águas residuárias ou águas de refrigeração. • Biológica: resultante do lançamento de esgotos domésticos sem trata- mento prévio e caracterizada pela presença de microrganismos patogê- nicos, principalmente bactérias, vírus e protozoários. • Sedimentar: é decorrente do carreamento de partículas, provenientes de erosão do solo, remoção da cobertura vegetal, extração de minérios e disposição irregular de resíduos. • Química: destinação irregular de compostos derivados do petróleo, es- goto doméstico, efluentes industriais, despejos de origem agrícola com agrotóxicos e nutrientes (e a drenagem ácida de minas). 95 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 Como exemplo de impacto resultante da poluição térmica tem-se redução da solubilidade e disponibilidade de oxigênio na água e, consequentemente, morte de plantas e animais aquáticos. A poluição biológica pode provocar doenças nos seres humanos e outros animais. A poluição sedimentar, por sua vez, provoca assoreamento dos rios prejudicando a vida nos rios e oceanos. Por fim, a poluição química tem por impacto ambiental, por exemplo, contaminar outros organismos ou componentes e, ainda, tornar a área contaminada imprópria para vida. Se liga: Nem toda água poluída está contaminada, mas toda água contaminada está poluída. Por quê? Água poluída é aquela cujas características físicas e químicas estão modificadas e água contami- nada é aquela que contém organismos causadores de doenças. 2.1.1 Tratamento de água As medidas preventivas para proteção das águas são de fundamental impor- tância e estas devem ser associadas a medidas de controle da poluição de forma geral, estabelecendo critérios de qualidade. As medidas visam à redução dos po- luentes presentes no lançamento de efluentes. O grau de tratamento para lança- mento em corpo receptor deve considerar os padrões de emissão e de qualidade, os quais são especificados pela Resolução CONAMA nº 357/2005 (MELLER et al., 2017). No que diz respeito a medidas de controle de águas contaminadas, é impor- tante analisar e identificar quais os parâmetros e seus limites, conforme a classe de uso da água em questão. As medidas incluem implantação de sistemas que busquem automatizar o processo de monitoramento do lançamento de efluente e podem ser divididas em internas e externas ao agente poluidor. Geralmente, tais medidas têm aplicação mais concreta com relação aos despejos líquidos de origem industrial. As medidas internas, relativas ao controle dos efluentes líqui- dos, são tomadas no processamento industrial, [...] podendo ser: modificação de produtos, modificação de processos e tipos de matéria-prima e eliminação de produtos desnecessários. As medidas externas, por sua vez, compreendem a implanta- ção de unidades de tratamento através das quais os efluentes líquidos passam, ocasião em que são removidos os poluentes 96 Proteção do Meio Ambiente [...], envolvendo a combinação de processos de separação físi- ca, química e biológica (DERISIO, 2012, p. 95). Apesar de existirem medidas, o tratamento das águas é fundamental, princi- palmente tratando-se de água para abastecimento humano. A definição dos pro- cessos necessários para tratamento de uma água (de manancialsuperficial ou subterrâneo) é feita a partir dos parâmetros de qualidade da água bruta que vimos anteriormente. Está lembrado? São os físicos, químicos e biológicos. A partir de- les são definidas quais etapas serão necessárias, mas de maneira geral, o trata- mento de água é composto das etapas apresentadas na Figura 3. FIGURA 3 – EXEMPLO DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA FONTE: <https://blog.brkambiental.com.br/wp-content/uploads/2019/02/ tratamento-de-agua.jpg>. Acesso em: 23 abr. 2022. Inicialmente, (1) a água é captada do rio ou manancial por adutoras e enca- minhadas para as estações de tratamento de água (ETA). Ao chegar na ETA (2), a água passa por um processo de separação, denominado barreira física, a partir de gradeamento onde são retirados galhos, resíduos sólidos e outros materiais que possam estar no corpo hídrico. Em alguns casos, é adicionada uma etapa de desarenação para retirada de areia, a fim de evitar danos aos equipamentos presentes na ETA. A etapa seguinte (3) é a coagulação, em que se adicionam produtos químicos para que compostos em solução precipitem e suspensões coloidais sejam deses- 97 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 tabilizadas. Após a coagulação, os compostos são direcionados para a floculação (4), onde serão adicionados componentes químicos que promoverão o contato e agregação dos compostos coagulados e a partir disso serão formados flocos. A formação de flocos é necessária para que estes compostos tenham tamanho e massa específica favorável para sua remoção na etapa seguinte. Os flocos formados, então, são direcionados para a decantação (5). A decan- tação consiste em grandes tanques projetados para separar os flocos da água e, como o nome sugere, os flocos decantam e ficam no fundo do tanque formando um lodo, que será removido e descartado em aterros sanitários. Após estes processos é realizada uma nova filtragem (6), estruturada em: areia grossa, areia fina, cascalho, pedregulho e carvão, a fim de retirar flocos ou partículas sólidas menores que ainda possam ter ficado na água. A água agora está livre de sólidos e pode seguir para as próximas etapas. Então, a água é dire- cionada para adição de componentes químicos (7) para pós-alcalinização, desin- fecção e fluoretação, que tem por objetivos corrigir o pH da água, remover vírus, bactérias e microrganismos e, por fim, aplicar flúor para auxiliar a prevenir cáries na população. Por fim, a água é armazenada em reservatório (8) para, então, ser direciona- da para a rede de distribuição. Estas unidades de tratamento podem ser agrupa- das em quatro categorias: • Tratamento preliminar: presente em todos os sistemas de tratamento, visa à remoção de sólidos grosseiros em suspensão e areia (gradeamen- to e caixa de areia). • Tratamento primário: separação e remoção de sólidos sedimentáveis (decantadores e flotadores). • Tratamento secundário: remoção da matéria orgânica particulada e dis- solvida (reatores ou sistemas biológicos). • Tratamento terciário: não citado na Figura 3, pois não é comum em todas as ETAs, porém busca à remoção de macronutrientes (nitrogênio e fósforo). Todos os sistemas de tratamento de água para consumo huma- no devem incorporar o princípio de múltiplas barreiras, de forma a diminuir o máximo possível a probabilidade de fornecer água com algum tipo de contaminante para consumo humano (CALIJURI; CUNHA, 2013, p. 413). 98 Proteção do Meio Ambiente Independentemente do sistema de controle adotado, quando tratamos de po- luição hídrica, o foco é sempre manter níveis adequados dos parâmetros relacio- nados à qualidade de água nos corpos receptores do efluente. 2.2 SOLO Os solos se formam a partir da combinação de cinco fatores, sendo eles: cli- ma, natureza dos organismos, material de origem, relevo e idade. Clima, natureza dos organismos, material de origem e relevo definem características que permi- tem identificar estágios de sucessão por meio “de sua profundidade, composição e propriedades e do que se denomina horizontes do solo” (BRAGA et al., 2005, p. 128). No que tange à formação do solo ao longo dos anos, é possível identificar estágios neste processo. FIGURA 4 – ESTÁGIOS DE FORMAÇÃO DO SOLO FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2020/07/ formacao-dos-solos.jpg>. Acesso em: 23 abr. 2022. A origem do solo está ligada à desagregação de rochas e à decomposição de restos vegetais e animais. Pode-se definir a composição do solo na seguinte proporção: 45% de elementos minerais, 25% de ar, 25% de água e 5% de matéria orgânica (BRAGA et al., 2005). Sua porção mineral pode ser resultante da ação 99 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 vulcânica ou da desintegração de rochas sólidas por ações físicas, químicas ou biológicas, reunidas sob a denominação genérica de intemperismo. O solo é um material de composição heterogênea, dependente da rocha matriz, clima, relevo, vegetação e, por isso, é um sistema dinâmico, multifásico e em constante trans- formação (OLIVEIRA, 2012; MELLER et al., 2017). A contaminação do solo ocorre quando efluentes ou resíduos sólidos são lançados sem o devido tratamento. Além do risco da utilização dessa área conta- minada, tem-se a possibilidade de contaminação de lençol freático (águas subter- râneas) por lixiviação dos componentes poluentes. A principal causa da contami- nação do solo é o uso excessivo de componentes químicos na agricultura, falhas nas técnicas de conservação do solo, desmatamento e disposição irregular de resíduos (CALIJURI; CUNHA, 2013; MELLER et al., 2017). Os contaminantes podem ser qualificados como orgânicos, inorgânicos e pa- togênicos, podendo estar no estado gasoso, na fase líquida livre, em solução na água subterrânea e nas formas sólida ou semissólida (CALIJURI; CUNHA, 2013). A contaminação pode ocorrer de forma localizada (ou pontual) ou difusa, assim como vimos na poluição da água. A poluição localizada (pontual) ocorre mais frequente- mente em áreas industriais das cidades e, normalmente, é altamente concentrada. Já a poluição difusa ocorre em função das atividades agrícolas e pode atingir gran- des áreas, porém a concentração do poluente é mais baixa comparada à localizada. Ao identificar empreendimentos ou atividades com potencial poluidor do solo é necessário que seja proposto, junto ao seu processo de licenciamento ambien- tal, programa de monitoramento da qualidade do solo e da área de influência (quando necessário), apresentação de um relatório técnico conclusivo sobre a qualidade do solo e das águas subterrâneas em cada licença solicitada, inclusive para quando as atividades forem ser encerradas. São definidos critérios de priori- zação com relação às ações a serem desenvolvidas, sendo eles, em ordem cres- cente: população potencialmente exposta, proteção da água, áreas de interesse ambiental (BRASIL, 2009). Solos que já sofreram alterações em sua composição em função de atividades poluidoras são denominados áreas contaminadas. Para gerenciar estas áreas, no Brasil, foi instituída a Resolução no 420 de 2009, atualizada pela Resolução no 460 de 30 de dezembro 2013. Esta legislação define critérios e valores direcionadores de qualidade do solo e define as diretrizes para gerenciamento destas áreas. Segundo a referida norma, deve-se buscar à prevenção da proteção do solo, garantindo, assim, que suas funções sejam mantidas ou, então, buscar a corre- ção, para que seja possível sua recuperação de forma ajustada aos usos previs- tos. Com relação aos usos, estabelece como função do solo: 100 Proteção do Meio Ambiente I - servir como meio básico para a sustentação da vida e de ha- bitat para pessoas, animais, plantas e outros organismos vivos; II - manter o ciclo da água e dos nutrientes; III - servir como meio para a produção de alimentos e outros bens primários de consumo; IV - agir como filtro natural, tampão e meio de adsorção,degra- dação e transformação de substâncias químicas e organismos; V - proteger as águas superficiais e subterrâneas; VI - servir como fonte de informação quanto ao patrimônio na- tural, histórico e cultural; VII - constituir fonte de recursos minerais; e VIII - servir como meio básico para a ocupação territorial, prá- ticas recreacionais e propiciar outros usos públicos e econômi- cos (BRASIL, 2009, p. 1). Além disso, em seu Art. 23, a resolução estabelece que ao abordar áreas contaminadas, devem ser definidas atividades que busquem investigar e geren- ciar as causas da contaminação, contemplando as seguintes etapas: identifica- ção, diagnóstico e intervenção. Na etapa de identificação é feita uma avaliação preliminar para detectar contaminações suspeitas, e onde forem constatados indí- cios de contaminação, é necessária uma investigação de confirmação. A etapa de diagnóstico envolve o detalhamento da análise de risco a fim de fornecer as informações necessárias para a etapa seguinte, de intervenção. A úl- tima etapa, de intervenção, consiste no desenvolvimento de ações que busquem ao controle para que o perigo deixe de existir ou para que este seja reduzido em níveis toleráveis e também é definida a forma para monitorar a eficácia das ações desenvolvidas considerando o uso atual e futuro. O solo não é apenas uma parte importante do ecossistema, mas também o recurso básico da produção agrícola e a base material para a sobrevivência hu- mana, podendo ser usado como filtro de poluentes, mas uma vez que a quantida- de de poluentes exceda a capacidade de absorção, os poluentes podem entrar no meio ambiente e na cadeia alimentar. Frente ao apresentado, a melhor forma de evitar a poluição dos solos é definir previamente o planejamento da ocupação de forma racional, monitorar e controlar os usos agrícolas e o lançamento de efluen- tes visando ao equilíbrio ambiental. 2.2.1 Tratamento O tratamento de solos contaminados tem sido motivo de preocupação para a área ambiental, tanto pela complexidade dos tipos de solo e suas estruturas quanto pela dinâmica dos poluentes nestes locais. A técnica a ser adotada para tratamento da área depende de fatores como: tipo e organização do solo, tipo e concentração do contaminante, tempo de poluição. 101 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 Existem diferentes técnicas de remediação de áreas contaminadas, tendo por objetivo tratar, descontaminar, conter ou isolar a contaminação a fim de redu- zir seus riscos toxicológicos. Estas técnicas podem ser feitas sem a necessidade de escavação, ou seja, feitas localmente (in situ) ou com escavação (ex situ). Outra classificação das formas de recuperação/tratamento é com relação ao tipo: físico (tal como sistemas de separação física, contenção e aquecimento), químico (aplicação de produtos para oxidação, neutralização ou remoção dos contaminantes) ou biológico (utilização de microrganismos decompositores). FIGURA 5 – SISTEMAS IN SITU E EX SITU PARA TRATAMENTO DE SOLOS CONTAMINADOS FONTE: Santos, Costa e Peralta-Zamora (2017, p. 1) Tratamentos ex situ costumam resultar em remediações mais eficientes e uniformes em tempos mais curtos. Em contrapartida, tratamentos in situ costu- mam ter custos mais reduzidos. Com relação aos aspectos negativos, a neces- sidade de transportar solo contaminado em aplicações ex situ encarecem o pro- cesso e, no caso in situ, duração do tratamento e baixa uniformidade na eficiência são as desvantagens. Você deve estar curioso: qual método é mais adequado? Bom, isso depende, por isso é preciso que seja feita uma análise do solo e 102 Proteção do Meio Ambiente de suas características, identificação do poluente e sua caracteriza- ção (tipos, concentração, efeitos). Várias técnicas ex-situ têm sido propostas para a remediação de solos contaminados por poluentes orgânicos, recorrendo-se a processos biológicos, físicos e químicos. Dentre os proces- sos biológicos se destacam sistemas de biopilhas e landfar- ming, enquanto que dentre os processos físicos se destacam processos de dessorção térmica. Os processos químicos ofe- recem uma grande gama de alternativas, envolvendo proces- sos simples, como extração dos contaminantes por lavagem, ou de maior complexidade, como sistemas de oxidação quími- ca mediada por agentes como peróxido de hidrogênio, ozônio e permanganato. Alternativas para tratamento in-situ são usualmente fundamen- tadas em processos físicos que objetivam a remoção de es- pécies voláteis, como extração de vapor e injeção de ar (soil venting ou air sparging), ou em processos biológicos funda- mentados em atenuação natural, com ou sem estimulação. Processos químicos costumam envolver sistemas de extração por lavagem, usualmente utilizando surfactantes, e processos de oxidação fundamentados no uso de agentes como persulfa- to (SANTOS; COSTA; PERALTA-ZAMORA, 2017, p.328). Uma das tecnologias que vem sendo adotada é o Processo Oxidativo Ati- vado (POA), adotado em poluentes tóxicos e recalcitrantes. Apesar de eficiente, resulta em impactos ambientais como solubilização de metais, destruição da ma- téria orgânica, redução do pH, morte de microrganismos, redução de nutrientes e aumento da toxicidade (MATIAS; SOBRINHO, 2020). 2.3 AR A atmosfera é uma camada gasosa que envolve a Terra e é formada por di- ferentes gases. Além dos usos metabólicos naturais do ar pelo homem, pelos ani- mais e pela vegetação, e dos benefícios dos fenômenos naturais meteorológicos, outros usos importantes devem ser adicionados: comunicação, transporte, com- bustão, processos industriais e, principalmente, o emprego do ar como receptor e transportador de resíduos da atividade humana (DERISIO, 2012). A atmosfera tem na sua composição natural principalmente nitrogênio (78%), oxigênio (21%), argônio, vapor de água e outros gases com menores concentra- ções. Dentre esses gases, temos “os que estão associados com a manutenção da temperatura de equilíbrio da Terra, os chamados gases de efeito estufa (GEE), 103 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), ozônio (O3), vapor de água e ou- tros” (WRI BRASIL, 2021, p. 5). O Brasil possui diversas legislações e normativas para definir a gestão da qualidade do ar e o controle da poluição, tal como a Resolução CONAMA no 03 de 1990 e a Resolução CONAMA no 491 de 2018, e, também, um Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar (Pronar). Acerca disso, a Resolução Conama 005 de 1985 tem por objetivo instituir o PRONAR como: [...] um dos instrumentos básicos da gestão ambiental para proteção da saúde e bem-estar das populações e melhoria da qualidade de vida com o objetivo de permitir o desenvolvimento econômico e social do país de forma ambientalmente segura, pela limitação dos níveis de emissão de poluentes por fontes de poluição atmosférica com vistas a: a) uma melhoria na qua- lidade do ar; b) o atendimento aos padrões estabelecidos; c) o não comprometimento da qualidade do ar em áreas considera- das não degradadas. Os padrões de qualidade do ar, previstos no PRONAR, estão contidos na Resolução CONAMA 01 de 1990. A classificação das áreas de qualidade do ar consiste em: Classe I: áreas de preservação, lazer e turismo onde deverá ser mantida a qualidade do ar em nível o mais próximo possível do verificado sem a intervenção antropogênica, por exemplo, Parques Nacionais e Estaduais, Re- servas e Estações Ecológicas, Estâncias Hidrominerais e Hidrotermais; Classe II: áreas onde o nível de deterioração da qualidade do ar seja limitado pelo padrão secundário de qualidade; e Classe III: áreas de desenvolvimento onde o nível de deterioração da qualidade do ar seja limitado pelo padrão primário de qualidade, como, por exemplo, áreas industriais (BRASIL, 1985). A poluição do ar é uma das principais causas de doenças e mortes prema- turas e é a maior ameaça à saúde ambiental em todo omundo. Além de colocar em risco a saúde e diminuir a expectativa de vida, a poluição do ar afeta negati- vamente os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), principalmente o 13 (ação contra a mudança global do clima), e os ODS 3 (saúde e bem-estar) e 11 (cidades e comunidades sustentáveis). A preocupação com a poluição do ar não é recente, há 2 mil anos surgiram as primeiras reclamações sobre deterioração da qualidade do ar na Roma Antiga em função da queima de madeira. Porém, o evento mais crítico foi em 1952, em Londres, onde 12 mil pessoas morreram e 100 mil ficaram doentes em decorrên- cia de um fenômeno chamado Big smoke, um nevoeiro de poluição causado pela queima de carvão para aquecimento. 104 Proteção do Meio Ambiente A poluição do ar ocorre com a emissão na atmosfera de gases, partículas sólidas em suspensão e material biológico oriundo principalmente da queima do carvão ou até mesmo do petróleo pelo setor industrial. Um conjunto amplo de substâncias pode poluir o ar, mas as mais críticas para proposição de medidas de controle são o “monóxido de carbono, dióxido de enxofre, substâncias orgânicas tóxicas, materiais particulados, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos volá- teis” (SPIRO; STIGLIANI, 2009, p. 153). Segundo definição na Resolução Conama 03 de 1990, poluente atmosférico é: [...] toda e qualquer forma de matéria ou energia com intensi- dade e em quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos em legislação, e que tornem ou possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofen- sivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade (BRASIL, 1990, p. 1). As emissões de poluentes podem classificar-se em: a) antrópicas (provoca- das pela ação do homem: indústria transporte, geração de energia) e b) naturais (causadas por processos naturais: emissões vulcânicas, óxidos de nitrogênio, sul- feto de hidrogênio). As emissões antrópicas ocorrem de forma concentrada nos núcleos popu- lacionais, porém, em alguns casos, são menores que as ocasionadas por fenô- menos naturais, tal como vulcões. A geração de energia e a metalurgia são as atividades que lançam maior quantidade de poluentes gasosos. Outra classificação é com relação ao estado físico, podendo ser fumo, poei- ra, fumaça, névoa, vapores e gases. Fumos são resultantes de condensação ou sublimação de gases de metais fundidos. As poeiras são resultantes da desinte- gração mecânica de corpos sólidos. Fumaças originam-se a partir da combustão incompleta de materiais orgânicos. Névoas são gotículas líquidas em suspensão, produzidas pela condensação de gases ou pela passagem de um líquido a estado de dispersão. Vapor é a forma gasosa de substâncias, pode ser condensado para um líquido ou para um sólido pelo aumento de pressão. Gases, então, são fluidos amorfos que ocupam o espa- ço que contêm, é um conjunto de partículas com movimentos aleatórios. A seguir, apresentamos um quadro-resumo da classificação dos poluentes atmosféricos. 105 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 QUADRO 2 – RESUMO DA CLASSIFICAÇÃO DOS POLUENTES ATMOSFÉRICOS FONTE: Adaptado de Meller et al. (2017) Os poluentes gasosos são os mais impactantes em decorrência de seu volu- me gerado, e podem ser classificados em: a) primários (aqueles lançados direta- mente na atmosfera como resultado de processos industriais, gases de exaustão de motores de combustão interna; como por exemplo, óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e particulados) e b) secundários (produto de reações fotoquímicas que ocorrem na atmosfera entre os poluentes primários; por exemplo, formação de ozônio estratosférico e de peroxiacetil nitrato como reação dos óxidos de nitro- gênios com hidrocarbonetos na atmosfera). Os poluentes são gerados principalmente pela queima de combustíveis fós- seis, usinas elétricas a carvão e automóveis movidos à gasolina e diesel, bem como combustão incompleta, fábrica de alumínio, chumbo e produção de fertili- zantes. Dentre os poluentes comumente encontrados no ar tem-se monóxido e di- óxido de carbono, clorofluorcarbonetos, óxidos de enxofre e nitrogênio, composto orgânicos voláteis e amônia (MELLER et al., 2017). 106 Proteção do Meio Ambiente Os principais efeitos da poluição do ar são: danos à saúde de seres huma- nos e animais; danos à vegetação, causados pelos fitotóxicos que penetram nas plantas através da respiração normal, provocando a destruição de clorofila e a interrupção da fotossíntese. Os efeitos dos poluentes nas plantas manifestam-se na superfície das folhas com a mudança da coloração, por exemplo, causam da- nos ao solo. Além dos impactos aos componentes ambientais, podem provocar corrosão, deterioração e perda de resistência de materiais, dano na coloração de tintas, fissuras ou trincas em paredes, degradação de couro e papel. Também é possível constatar alterações no clima, como exemplo, em regiões urbanas com alta poluição atmosférica é comum verificar redução de visibilidade, formação de névoa e precipitação, redução da intensidade da radiação solar, alteração da dis- tribuição das temperaturas e do vento. Os principais poluentes que afetam a saúde humana e suas consequências são: • Monóxido de carbono (CO): mais abundante na atmosfera, possui uma taxa de emissão de 100 kg por pessoa por ano. Resultante da combus- tão incompleta de combustíveis que contêm carbono, tal como veículos automotores. Este composto prejudica o transporte de oxigênio no corpo tendo como consequências dores de cabeça, cansaço, asfixia, redução da capacidade respiratória, tontura, depressão, malformação fetal, cân- cer. • Óxidos de nitrogênio (NOx): resultante da combustão de combustíveis fósseis, produzido naturalmente por vulcões. Tem como fonte as queima- das, queima de combustíveis fósseis. As consequências da exposição a este composto englobam: problemas respiratórios, tosse, catarro, edema pulmonar, irritação das mucosas, taquicardia, envelhecimento precoce, baixa resistência às infecções. • Hidrocarbonetos: produto da evaporação e queima de combustíveis fósseis em veículos automotores e na indústria. Podem provocar graves complicações respiratórias em indivíduos expostos. • Óxidos de enxofre (SOx): produzidos naturalmente pelos vulcões; quei- ma de combustíveis fósseis com aproximadamente 1% de enxofre e pro- cessos industriais. Podem ser um problema para asmáticos e crianças, provocar queimaduras nos olhos e pele, sufocação, irritação das muco- sas, tosse e rinite. Além disso, inibe crescimento vegetal quando SO2 atinge nível de 50 mg/m³. • Material Particulado (MP10): substâncias orgânicas e inorgânicas divi- didas em dois grupos: grosso (terra, poeira) e materiais finos (aerossóis, fuligem etc.); produzido pela combustão incompleta de combustíveis, in- dústrias, mineração, veículos, queimadas, construção civil. MP10 refere-se à fração dos aerossóis com diâmetro inferior a 10 µm que podem causar efeitos adversos à saúde humana, pela penetração nos bronquíolos. 107 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 • Chumbo (Pb): utilizado como aditivo em combustíveis, encontrado tam- bém em tintas e baterias; ambientes com grande intensidade de tráfego têm concentrações de chumbo de 0,5 a 3 mg/m³, o padrão é 2 mg/m³; afeta o sistema imunológico, rins e fígado. O monitoramento da qualidade do ar é atribuição dos estados e do governo federal. Entretanto, ações preventivas podem auxiliar a redução da concentração de poluentes, tais como: utilizar combustíveis menos poluidores, controlar a emis- são de poluentes por veículos automotores, instalar catalisadores, manter veícu- los com a manutenção adequada, propor rodízio de veículos, estabelecer altura adequada das chaminés de indústrias em função das condições de dispersão depoluentes, adotar matérias-primas e combustíveis que resultem em resíduos me- nos poluidores, melhorar o processo de combustão e tratar resíduos químicos. Entende-se, assim, que a gestão da qualidade do ar tem como objetivo garantir que o desenvolvimento socioeconômico ocorra de forma sustentável e ambiental- mente segura. 2.3.1 Tratamento de ar Os equipamentos de tratamento e controle da poluição do ar podem ser or- ganizados em dois grandes grupos, conforme o conteúdo a ser retirado da atmos- fera: i) material particulado em suspensão nas correntes gasosas; ii) poluentes gasosos das correntes gasosas. Os equipamentos de controle para material par- ticulado que veremos são: câmara gravitacional, ciclone, filtro de mangas, precipi- tador eletrostático e lavador Venturi. Para o controle de poluentes gasosos, vere- mos: condensador, absorvedor, adsorvedor, incinerador, separador de membrana e biofiltro (CALIJURI; CUNHA, 2013): • Câmara gravitacional: consiste, fundamentalmente, em uma câmara de expansão, onde tem-se a diminuição da velocidade do gás até um ponto em que as partículas em suspensão são apanhadas pela ação da gravi- dade (sedimentação). Com a redução da velocidade do gás, o efeito da força viscosa do gás sobre a partícula é diminuído e as partículas come- çam a cair pela ação da força gravitacional. • Ciclone: ou separadores centrífugos, é a força gravitacional que atua sobre a partícula e devido à sua configuração, existe uma colaboração adicional da força centrífuga que ajuda na remoção das partículas da corrente gasosa. • Filtro de mangas: a corrente gasosa é passada por um material poroso (com estrutura de formato tubular, semelhante a uma manga de camisa) que retém o material particulado em suspensão. 108 Proteção do Meio Ambiente • Precipitador eletrostático: é um aparelho com paredes de carga posi- tiva que geram carga elétrica negativa e a emite a partículas poluentes. As partículas poluentes ficam carregadas negativamente e são atraídas pelas paredes do aparelho, em função da atração de cargas opostas. • Absorvedor: remove poluentes gasosos por dissolução em líquido, ten- do por condição a solubilidade dos poluentes, quanto maior a superfície de contato entre os gases e o líquido, mais favorável é a condição para a absorção. • Adsorvedor: moléculas do fluido interagem e se concentram na superfí- cie de um sólido (material adsorvente, como carvão ativado). • Incinerador: utilizado principalmente para compostos orgânicos, consis- te na combinação de oxigênio com compostos químicos, gerando calor. • Separador de membrana: mais frequentemente utilizado para o controle de emissões de compostos orgânicos, a mistura gasosa é passada por uma membrana permeável que faz a separação seletiva dos componentes. • Biofiltro: o ar contaminado atravessa um meio poroso contendo micror- ganismos. Os contaminantes são primeiramente absorvidos do ar para a fase de água/biofilme e transformados pelos microrganismos em dióxido de carbono, água, produtos inorgânicos e biomassa. 3 PROGRAMAS DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL Vimos que durante muito tempo, a avaliação de impacto ambiental (AIA) era utilizada para reduzir as consequências negativas dos empreendimentos públicos e privados. A Conferência Rio 92 estimulou governos nacionais, organizações in- ternacionais e o setor empresarial a reconhecer o papel da avaliação de impacto na busca pelo desenvolvimento sustentável. Hoje, o objetivo e a função da avalia- ção são muito mais amplos, pois permitem uma análise, sob inúmeras variáveis, para a recuperação da qualidade ambiental, para o desenvolvimento social e eco- nômico de uma região. Com base na avaliação de impacto ambiental, deve-se iniciar a construção das medidas de mitigação, de compensação ambiental e da definição dos programas ambientais (GARCIA, 2014; SANCHEZ, 2013). Os programas ambientais, de maneira geral, têm como propósito estabelecer procedimentos e ações para reduzir a interferência sobre o meio ambiente em to- das as fases de um empreendimento, como implantação, operação e manutenção (GARCIA, 2014). Quando estes programas enquadram suas atividades como es- tando a serviço do bem-estar humano, as variáveis sociais precisam ser integra- das às estruturas de monitoramento e avaliação. Um Plano de Gestão Ambiental 109 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 (PGA), por exemplo, é solicitado durante o licenciamento ambiental que faz parte da etapa de acompanhamento da AIA de atividades ou de empreendimentos, e consiste em um documento técnico (IBAMA, 2020). O plano resultante da AIA é fundamental para transformar as ações poten- ciais em ações efetivas para um desenvolvimento sustentável. O projeto, quando elaborado de maneira eficaz e por uma equipe especialista, pode mudar um pro- jeto tradicional para um inovador, destacando os impactos positivos (SANCHEZ, 2013). Para criar um plano com tais ações são necessárias algumas condições. A primeira consiste em preparar antecipadamente o plano, de tal maneira a identifi- car todos os pontos que devem ser considerados, para reduzir as incertezas que podem surgir (SANCHEZ, 2013). A segunda é o envolvimento de todas as partes envolvidas, como toda a po- pulação diretamente afetada pelo empreendimento. Devem participar, também, parceiros institucionais, financeiros e organizacionais, como órgãos de governos e organizações. Dessa forma, será possível realmente analisar o empreendimento dentro do contexto local (GARCIA, 2014; SANCHEZ, 2013). A terceira condição é adequar a implementação do plano de gestão ambien- tal com prazos compatíveis com o cronograma do empreendimento. De maneira simplificada, as medidas podem ser de controle, mitigadoras e compensatórias, que variam de acordo com a natureza, local e impactos associados ao empreen- dimento em estudo. As últimas décadas foram marcadas por uma crescente sensibilização de que os problemas ambientais estão intimamente ligados ao bem-estar humano e que as medidas para minimizar os impactos devem ser abordadas em conjunto. Assim, o processo de escolha das medidas deve levar em consideração alguns pontos, tais como: o componente ambiental afetado, a fase do empreendimento, o caráter preventivo ou corretivo da sua eficácia e o agente executor (GARCIA, 2014; BRASIL, 2005). Podemos, então, considerar três tipos de medidas como alternativas, de controle, mitigadoras e compensatórias: • As medidas de controle podem ser entendidas como aquelas que têm como objetivo evitar a ocorrência, seja parcial ou total, dos impactos so- cioambientais, podendo ser em um projeto ou empreendimento (BRASIL, 2002; BRASIL, 2005). • As medidas mitigadoras podem ser definidas como as ações que tendem a reduzir os efeitos negativos dos empreendimentos (BRASIL, 2002; BRASIL, 2005). As medidas mitigadoras são consideradas como medi- das para evitar ou diminuir a ocorrência de impactos e são preferíveis às medidas compensatórias (SANCHEZ, 2013). Pode-se citar, como exem- 110 Proteção do Meio Ambiente plo, o impacto na saúde gerado na população local pela construção de uma indústria de produtos químicos, assim a medida mitigadora seria a implementação de um programa de saúde (GARCIA, 2014). • As medidas compensatórias são utilizadas quando os impactos do proje- to causam perdas de elementos importantes do ecossistema, do ambien- te construído ou de relações sociais (BRASIL, 2002; BRASIL, 2005). Sanchez (2013) exemplifica algumas medidas mitigadoras e compensatórias que poderiam ser adotadas em projetos rodoviários em diversas áreas ambien- tais, conforme apresentado resumidamente no quadro a seguir. QUADRO 3 – EXEMPLO DE MEDIDAS MITIGADORAS E COMPENSATÓRIAS EM PROJETO RODOVIÁRIO Aspecto ou impacto ambiental Medida mitigadora ou compensatória Alteração da qualidade do ar Regulagem e manutenção de máquinasAumentar distância entre pista e áreas de ocupação Alteração do ambiente sonoro Barreirasfísicas/vegetaisAumentar distância entre pista e área de ocupação Risco de poluição da água e do solo com substâncias químicas Planos de ação de emergência Criação de áreas de estacionamento de cargas Impacto visual Redução da área de intervenção Redução das áreas de desmatamento Obras de arte, desvios e traçados alternativos Barreiras vegetais Deslocamento de pessoas e atividades econômicas Redução da área de intervenção Reassentamento FONTE: Adaptado de Sanchez (2013) 3.1 PLANOS E PROGRAMAS Existem diferentes empreendimentos e projetos que podem causar altera- ções no meio ambiente em diversos graus. As alterações podem ser causadas devido ao tipo de atividade, ao porte, ao uso de recursos naturais, à geração de resíduos, entre outras ações. Por esse motivo, existem inúmeros planos e progra- mas ambientais com objetivos e ações específicas (VAZ, 2020). De maneira geral, os planos e programas são documentos estruturados e contêm alguns itens em comum, tais como: ● Objetivos: informar o objetivo que se pretende alcançar com o plano ou programa de acordo com o impacto e medidas ambientais; 111 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 ● Justificativas: relacionar o escopo que será executado que justifique a execução do plano ou programa; ● Público-alvo: indicar a área de abrangência ou o grupo que será impacta- do pelo programa; ● Fase do empreendimento em que serão implementados em relação às atividades previstas e à inter-relação com outros programas; ● Procedimento metodológico: detalhar as medidas previstas com os mé- todos, técnicas e tecnologias que serão adotadas com suas justificativas e limitações; ● Metas e atividades; ● Recursos necessários: especificar e detalhar todos os recursos que se- rão necessários ao longo do projeto, tais como número de profissionais e área de formação, materiais e equipamentos; ● Cronograma: detalhar o cronograma com todas as atividades de plane- jamento, instalação, execução, operação e desativação do empreendi- mento; ● Atendimento a requisitos legais e/outros requisitos: relacionar todas as referências citadas e requisitos legais que serão atendidos; ● Acompanhamento e avaliação: indicar a periodicidade e a forma que se- rão realizados os relatórios de acompanhamento e avaliação (GARCIA, 2014; IBAMA, 2020). Os programas e planos ambientais, além de terem como objetivo reduzir os impactos negativos decorrentes do empreendimento, também proporcionam benefícios econômicos e estratégicos para a empresa e para o ambiente (VAZ, 2020). Cada programa ambiental pode se dividir em subprogramas e outros des- dobramentos em projetos com temas específicos, conforme exemplificado por Moura (2008) no Quadro 4. QUADRO 4 – EXEMPLO DE PROGRAMA DIVIDIDO EM SUBPROGRAMAS E ATIVIDADES DE UM PLANO AMBIENTAL Programa Subprograma Projetos/Atividades Gestão de resíduos sólidos e produtos perigosos Avaliação de riscos associados aos resíduos Realização de uma análise de riscos quantitativa Controle de vazamentos Monitoramento dos locais Minimização dos resíduos sólidos Programa de redução na fonte Programas de reuso Programas de recuperação Programas de reciclagem Disposição final Disposição em aterros industriais Incineração FONTE: Adaptado de Moura (2008) 112 Proteção do Meio Ambiente Os benefícios da instalação de um programa estão relacionados à redução do consumo de água, energia e insumos, além de ser possível ter um acréscimo na receita e ter um diferencial competitivo com a oferta de produtos verdes, que são aqueles produtos produzidos a partir de recursos renováveis em toda sua cadeia produtiva. Além da parte financeira, de maneira estratégica é possível im- pulsionar a imagem institucional com os órgãos governamentais e comunidade (KRAEMER et al., 2013). Existem diferenças entre os conceitos de Plano de Gestão Ambiental e um Sistema de Gestão Ambiental. O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) será visto no subtópico a seguir, mas de forma resumida, inicialmente, pode ser entendido como um conjunto de elementos organizados e desenvolvidos para integrar as questões ambientais à administração de uma organização (GRIJÓ; BRUGGER, 2011; SANCHEZ, 2013). Um SGA é baseado no ciclo de melhorias conhecido como PDCA – planejar, executar, checar e agir. Com base no planejamento, im- plementação e controle é possível promover melhorias gradativas no sistema com base na experiência coletada (SANCHEZ, 2013). Enquanto o PGA refere-se ao conjunto de medidas analisadas e propostas para prevenir, atenuar ou compensar os impactos, buscando valorizar os impac- tos positivos, o Plano de Gestão Ambiental: [...] sintetiza as ações e atividades que constituem as medidas de prevenção e tratamento dos impactos ambientais e de moni- toramento ambiental, incluindo as diretrizes de adoção dessas medidas e seu detalhamento executivo, podendo ser dividido em programas de ação específicos. Além disso, a PGA tem por finalidade informar a todos os atores envolvidos e quaisquer interessados sobre o desempenho ambiental do projeto (IBA- MA, 2020, p. 5). Alguns dos programas exigidos pelos órgãos ambientais além do Plano de Gestão Ambiental (PGA) são o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), Programa de Comunicação Social, Programa de Educação Ambiental (PEA), Pla- no de Controle Ambiental (PCA), Plano Básico Ambiental (PBA), cujos objetivos são apresentados no quadro a seguir. QUADRO 5 – PROGRAMAS E SEUS RESPECTIVOS OBJETIVOS Programa Objetivo Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) Programa adotado pelas organizações com o intuito de gerenciar os riscos existentes no local de suas atividades. Programa de Comunicação Social Implementar as diretrizes para divulgação das atividades do empreendimento, permitindo a participação e envolvimento das partes interessadas. 113 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 Programa de Educação Ambiental (PEA) Garantir a participação de todos os envolvidos e afetados direta ou indiretamente pela atividade do licenciamento, em qualquer etapa. Plano de Controle Ambiental (PCA) Caracterizar o empreendimento ou projeto, apresentar o diagnóstico e as propostas de controle e mitigação dos impactos. Plano Básico Ambiental (PBA) Reunir todos os materiais detalhados como medidas de controle e programas ambientais exigidos para a licença prévia. FONTE: A autora O PGR é estabelecido pela Norma Regulamentadora no 1 (ABNT, 2019) e é composto, de maneira simplificada, por um inventário de riscos e por um plano de ação e deve ser elaborado sob responsabilidade da organização (SESI, 2021). O principal objetivo do PGR é unificar as informações e identificar ações para preve- nir, reduzir e controlar riscos, com foco em reduzir possíveis acidentes envolvendo as pessoas e o meio ambiente. O inventário consiste na caracterização dos pro- cessos, ambiente e atividades (ABNT, 2019). O plano de ação pode ser dividido em duas partes: plano de ação para pre- venção de riscos (PAPR) e plano de ação para emergências (PAE). No PAPR de- vem ser indicadas quais as medidas que devem ser introduzidas, aprimoradas ou mantidas para controle dos riscos (GARCIA, 2014; SESI, 2021). O PAE permite dimensionar adequadamente as tipologias de acidentes, os recursos e as ações necessárias para reduzir os impactos. Além disso, fornece um conjunto de infor- mações e diretrizes para minimizar os impactos em emergências em nível local e regional (CETESB, 2021). O Programa de Comunicação Social tem como objetivo implementar as dire- trizes para divulgação das atividades do empreendimento, permitindo a participa- ção e envolvimento das partes interessadas. Para isso, utiliza-se de diversos ca- nais de comunicação, tais como: jornais, rádio e televisão (GARCIA, 2014). Além deste, o Programa de Educação Ambiental (PEA) corresponde ao: Conjunto de projetos correspondente a diferentes linhas de ação que se articulam a partir de um mesmoreferencial teó- rico-metodológico para a promoção de processos educativos voltados à viabilização, fomento e qualificação da participação nos processos de licenciamento, de modo a promover o de- senvolvimento da gestão ambiental compartilhada, bem como a superação de conflitos socioambientais (IBAMA, 2019, p. 3). O PEA tem como objetivo garantir a participação de todos os envolvidos e afetados direta ou indiretamente pela atividade do licenciamento, em qualquer etapa. Além disso, é responsável por contribuir na aquisição de conhecimento e habilidades para um desenvolvimento de atitudes da população na gestão do uso 114 Proteção do Meio Ambiente sustentável e conservação dos recursos ambiente (GARCIA, 2014). Este progra- ma deve ser produzido com base em alguns princípios, tais como: enfoque huma- nista, holístico e participativo, concepção do meio em sua totalidade, pluralismo de ideias e respeito à diversidade individual e cultural, avaliação crítica e garantia da continuidade do processo educativo (BRASIL, 1999). O Plano de Controle Ambiental (PCA) varia conforme a região geográfica analisada. Basicamente, é composto pela identificação do empreendimento ou do projeto, o diagnóstico ambiental realizado, a avaliação de impactos ambientais finalizada e as propostas de controle e mitigação dos impactos (VAZ, 2020). O documento denominado Projeto Básico Ambiental (PBA), por sua vez, reúne to- dos os materiais detalhados, como medidas de controle e programas ambientais, elaborados para obter a Licença Prévia. Os documentos do PCA e do PBB são exigências específicas de projetos na área mineral e elétrica, porém, atualmente, têm sido solicitados para outros tipos de licenciamento (GARCIA, 2014). Conforme visto, existem diversos programas de gestão ambien- tal, a fim de exemplificar, vamos conhecer agora alguns programas que podem compor um Plano de Controle Ambiental de uma usina hidrelétrica. QUADRO – EXEMPLO DE PROGRAMAS DE GESTÃO AMBIENTAL PARA UMA USINA HIDRELÉTRICA Programas Projetos Socioeconômico e cultura Remanejo e compensação da população atingida Reestruturação e revitalização das comunidades Resgate e preservação do patrimônio histórico-cultural, paisagístico ou arqueológico Educação ambiental Hidrologia, climatologia e qualidade da água Observação das condições hidrológicas e climatológicas Monitoramento das condições físicas e químicas da água Ações integradas de conservação do solo e da água Geotecnologia Monitoramento sismológico, exploração dos recursos minerais e aquíferos Monitoramento da estabilidade dos taludes marginais Meio Biológico Manejo e salvamento de flora e faunaReflorestamento Meio Físico Limpeza da bacia de acumulaçãoGerenciamento e recomposição ambiental das áreas 115 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 Gerencial Gestão do reservatório Monitoramento e avaliação da implantação do PBA Comunicação Social FONTE: Adaptado de GEAB (2001) Existem outros programas que complementam os planos de gestão ambien- tal, as medidas são agrupadas e são denominadas como Programas de Ação. Cada programa pode receber denominações diferentes dependendo da localiza- ção, tais como PBA, PCA e até mesmo de maneira simplificada como PGA. A estrutura e o nível de detalhamento de cada plano também varia com cada jurisdi- ção (SANCHEZ, 2013). 1) Existem diferentes tipos de Programas de Avaliação Ambiental, or- ganizados em planos e programas, que variam de acordo com o tipo de empreendimento, ação executada, impacto ambiental e o que se deseja analisar. Entretanto, todos são direcionados a um objetivo em comum. Qual é este objetivo? Os programas ambientais são, portanto, complexos não apenas em seu nível de detalhe (ou seja, no número de variáveis envolvidas), mas também em seu ní- vel de dinamismo (ou seja, a maneira como essas variáveis interagem). Por isso, é importante que estejam bem estruturados e com um bom esqueleto para moni- toramento e acompanhamento das medidas propostas em cada caso. 4 AUDITORIA AMBIENTAL Os países desenvolvidos começaram a conduzir auditorias de meio ambiente de forma voluntária na década de 1970 em função da constatação dos impactos negativos decorrentes das ações industriais. No final da referida década, mais especificamente em outubro de 1979, a Agência de Proteção Ambiental (Environ- mental Protection Agency – EPA) dos Estados Unidos da América instituiu uma diretiva, autorizando a inspeção, amostragem e análise de organizações por “au- ditores ambientais” e os resultados da auditoria deveriam ser comunicados ao governo (SANTOS, 2017). 116 Proteção do Meio Ambiente No Brasil, em 1986, a EPA emitiu uma declaração envolvendo os princípios de auditoria ambiental definindo-a como obrigatória à concessão de licença am- biental. A auditoria ambiental no contexto brasileiro só veio a ser abordada na década de 1990, a partir da instituição de algumas legislações municipais e es- taduais, como no município de Santos (SP) e nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, no âmbito federal houve uma tentativa de regula- mentação federal por meio do Projeto de Lei nº 3.160/92 e, posteriormente, do PL n° 3.539/97, ambos arquivados em 1992 (VILLANI, 2010). O conjunto de Normas Internacionais das Séries ISO 9000 (Sistemas de Gestão da qualidade) e ISO 14000 (Sistemas de gestão ambiental) destacam a seriedade das auditorias como instrumento de gestão empregadas para monitorar e verificar a prática eficaz das políticas da qualidade e/ou ambientais de uma Or- ganização. A auditoria só foi normatizada em 1991 a partir da criação do Strategic Ad- visory Group on Environment (SAGE) no domínio da Organização Internacional para Padronização (do inglês, International Standardization for Organization – ISO). Em 1994, o conceito passa a ganhar destaque a partir da publicação de um conjunto de normas, agrupadas sob o código 14000, as quais abordam Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) (SILVA et al., 2009). De forma ampla e conceitual, a auditoria é a: [...] ferramenta usada pelas empresas para controlar, medir e evitar a degradação ambiental mediante um processo que avalia a natureza e extensão das questões ambientais em qualquer área de atividade, partindo da premissa de que to- dos, cada cidadão, cada empresa, cada segmento da atividade governamental, são contribuintes de uma parcela da poluição, em maior ou menor intensidade (RAMOS, 2019, p. 4). A Resolução Conama 306 de 2002, que define as condições mínimas e o ter- mo de referência para condução de auditorias ambientais, define-a como: [...] processo sistemático e documentado de verificação, exe- cutado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências que determinem se as atividades, eventos, sistemas de gestão e condições ambientais especificados ou as informações rela- cionadas a estes estão em conformidade com os critérios de auditoria estabelecidos nesta Resolução, e para comunicar os resultados desse processo (BRASIL, 2002, p. 10). Ao realizar uma auditoria, as empresas buscam ter uma garantia sobre as exigências legais e processos internos de gerenciamento, avaliação dos passivos ambientais, que são os danos causados ao meio ambiente por uma empresa, e cumprimento das obrigatoriedades ambientais para comprovação junto às partes 117 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 interessadas (BRAGA et al., 2005). Pode-se dividir a auditoria ambiental em seis fases, conforme apresentado na figura a seguir. FIGURA 6 – ETAPAS DA AUDITORIA AMBIENTAL FONTE: Adaptada de Brasil (2002) Além das etapas apresentadas na Figura 6, ao final da auditoria é necessária a elaboração de um Plano de ação, que deve conter, pelo menos, os seguintes itens: i) ações corretivas e/ou preventivas para as não conformidades identificadas; ii) cro- nograma para as ações; iii) definição dos responsáveis pelo cronograma proposto; iv) cronograma do processode monitoramento e avaliação para as ações. A auditoria, pode ser interna (também chamada de primeira parte ou “nós em nós”, feita pela própria organização) ou externa (chamada de auditoria de terceira parte ou “eles em nós”, feita por um agente certificador), sendo que a interna nor- malmente é programada para ser realizada antes da externa. Você deve estar se perguntando: e a auditoria de segunda parte, então? As “auditorias de segunda parte” ou também chamadas de “nós neles” são desenvolvidas por um cliente, como requisito de contratação ou inspeção de processos produtivos. Também é possível classificar a auditoria ambiental em quatro tipos, de acordo com seu ob- jetivo, sendo: 118 Proteção do Meio Ambiente • Auditoria de conformidade legal: analisa a conformidade da organização com relação às legislações. • Auditoria de SGA: analisa a conformidade do Sistema de Gestão Am- biental (SGA) da organização com os requisitos específicos, tal como os definidos pela ISO 14001. • Auditoria de certificação ambiental: é desenvolvida por um agente certifi- cador, ou seja, é externa à organização, tal como as destinadas a empre- endimentos sustentáveis (como por exemplo, BREEAM e LEED). • Auditoria de responsabilidade: proposta para avaliar os aspectos am- bientais da organização e se há algo que interfira no processo de venda ou compra da organização (RAMOS, 2019). O desenvolvimento da auditoria ocorre a partir da análise documental e de registros, entrevistas com gestores e responsáveis, verificações do empreendi- mento, reuniões, avaliações e experimentos e é finalizada com a elaboração de um relatório contendo o observado neste processo. A frequência de realização de- pende da importância ambiental da área envolvida e dos resultados de auditorias anteriores. Nos casos de certificação voluntária, recomenda-se que a auditoria ambien- tal seja trienal, embora seja comum alguns institutos certificadores aconselharem semestralmente. As empresas podem definir seu programa de auditoria para um ou mais anos e, ainda, definir data ou mês padrão para sua realização, ou seja, programando-a parcial ou no decorrer do ano. As auditorias ambientais obrigatórias são chamadas de auditoria ambiental compulsória e consistem em uma ação de política ambiental de caráter público. Esta deve ser realizada a cada dois anos e tem como característica primordial a imposição da sua execução, independentemente da vontade da unidade auditada. O artigo intitulado A importância da auditoria ambiental como ferramenta de gestão ambiental busca auxiliar o entendimento do conceito de auditoria ambiental dentro de seu contexto transversal e de ferramenta de apoio à gestão ambiental. Para ler este artigo, con- sulte o link, disponível em: http://repositorio.furg.br/xmlui/bitstream/ handle/1/5781/23-23-1-SM.pdf?sequence=177. http://repositorio.furg.br/xmlui/bitstream/handle/1/5781/23-23-1-SM.pdf?sequence=177 http://repositorio.furg.br/xmlui/bitstream/handle/1/5781/23-23-1-SM.pdf?sequence=177 119 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 Frente aos conceitos apresentados, auditoria pode ser definida, então, como a ferramenta que possibilita uma avaliação metódica, recorrente, documentada e objetiva dos sistemas de gestão e performance de equipamentos de uma empre- sa a fim de controlar as ações que impactem o meio ambiente. 4.1 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL Um sistema de gestão ambiental é “parte do sistema de gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental da instalação” (BRASIL, 2002, p. 11). Um SGA se constitui, na verdade, “em um conjunto de procedimentos sistema- tizados que são desenvolvidos para que as questões ambientais sejam integradas à administração global de um empreendimento” (BRAGA et al., 2005, p. 305). A implementação do SGA a partir do estabelecido pela ISO permite que a organização obtenha certificação, desde que passe por uma auditoria por órgão certificador. A certificação não é obrigatória, e as empresas podem aproveitar as vantagens resultantes da aplicação da norma sem passar por auditoria de certi- ficação. Entretanto, para boa parte das organizações, a certificação demanda de mercado, ou seja, é para ser bem vista no mercado competitivo tendo em vista que comprova seu empenho com ações sustentáveis e padronização internacio- nal de gestão ambiental. Além disso, permite a conexão com os outros sistemas de gestão já praticados pela organização ou que se deseja praticar, como, por exemplo, o sistema de gestão da qualidade (estabelecido pela ISO 9001) (FIESP/ CIESP, 2015). Esse sistema permite, então, que uma organização monitore e mapeie seus riscos, produzindo como resultado, medidas para mitigação de impactos. Além disso, permite a inclusão de um olhar sistêmico para os aspectos ambientais. SGA não é um ato e sim um processo, que deve ser dinâmico já que será avaliado contínua e periodicamente, para conferência de objetivos e metas definidos, o alcance e efetividade das medidas propostas. O foco principal deve ter como resultado a melhoria sempre contínua do desempenho da organização no que diz respeito aos aspectos ambientais. No que tange ao foco de melhoria contínua, este sistema é definido pela Norma ISO 14001 e baseado no ciclo PDCA (do inglês Plan – Do – Check – Act) ou, em por- tuguês, Planejar – Fazer – Checar – Agir. 120 Proteção do Meio Ambiente Este ciclo tem um caráter bastante organizacional e administrativo, sendo aplicado em diferentes contextos e a qualquer tipo de indústria e seu principal enfoque está na ideia de continuidade e de estarmos sempre produzindo circulari- dades (FORNO, 2018). No ciclo PDCA, o planejamento refere-se à definição de objetivos e processos para alcançar as metas propostas em anuência à política ambiental da empresa. FIGURA 7 – ETAPAS DO PDCA E AÇÃO RESPECTIVA FONTE: A autora A fase de execução é correspondente à implementação de processos. Na verificação, são feitos o monitoramento e a medição dos processos e desenvolvi- mento do relato do processo. Por fim, na fase de ação, atua-se para que o desem- penho da organização seja sucessivamente melhorado. A primeira etapa para implantar um SGA é o comprometimento da alta admi- nistração da organização a partir da formalização. Após esta etapa, o SGA pode ser estruturado a partir de cinco requisitos rumo à melhoria contínua, tal como apresentado na Figura 8. 121 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 FIGURA 8 – REQUISITOS DO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL FONTE: ISO 14001: (2004) • Política ambiental: busca fixar as ações que direcionam aspectos ge- renciais e por isso é o conjunto de intenções da alta direção sobre a temática envolvida. Precisa estar escrita em linguagem clara e de fácil entendimento. • Planejamento: partindo do definido como política ambiental são anali- sados os aspectos ambientais, identificados os requisitos legais e outros pertinentes e definidos objetivos, metas e programas. • Implementação e operação: a partir dos levantamentos feitos no pla- nejamento, nesta fase definem-se recursos, funções, responsabilidades e autoridades, estabelecem as ações para competência, treinamento e conscientização, são delimitados os critérios de comunicação, docu- mentação e controle de documento e gerencia-se o controle operacional. 122 Proteção do Meio Ambiente Além disso, é importante estabelecer a preparação e resposta à emer- gência, caso seja necessário. • Verificação: tal como o nome sugere, analisam-se resultados alcançados pelas fases anteriores a partir das seguintes fases: monitorar e controlar, avaliar o atendimento aos requisitos legais e outros, analisar não conformi- dades. No caso de não conformidades, deve-se propor ações corretivase preventivas, controlar os registros e, por fim, definir auditorias internas. • Análise pela administração: este requisito tem por finalidade promover a revisão dos resultados obtidos no SGA e também estabelecer o plane- jamento do próximo ciclo visando à melhoria ambiental contínua. É importante destacar, aqui, que estes princípios são norteadores do processo de implantação do SGA e baseiam-se no ciclo PDCA, conforme falado anteriormen- te. Além disso, outro destaque é que as normas ISO vêm passando por constantes alterações, e a versão mais recente da ISO 14001 de 2015 complementa estes re- quisitos, pois busca estabelecer a mesma estrutura para todos os sistemas de ges- tão. Em relação à estrutura, o que mudou é a definição de um padrão desenvolvido por dez tópicos, sendo eles: 1 – Escopo; 2 – Referências normativas; 3 – Termos e definições; 4 – Contexto da organização; 5 – Liderança; 6 – Planejamento; 7 – Apoio; 8 – Operação; 9 – Avaliação do desempenho; e 10 – Melhoria. QUADRO 6 – TÓPICOS DA ESTRUTURA DE UM SGA Tópico Conteúdo a ser englobado no tópico 1 – Escopo Conteúdo e tópicos a serem considerados. 2 – Referências normativas Legislações e normas relacionadas e/ou adotadas como referência. 3 – Termos e definições Definições de palavras básicas necessárias para entendimento do SGA. 4 – Contexto da organização Descrição da organização, contendo todos os itens necessários para sua completa delimitação. 5 – Liderança A alta administração precisa estar definida e ser comprometida com o SGA. 6 – Planejamento São definidas as ações para os aspectos ambientais significativos, os requisitos legais e outros requisitos, riscos e oportunidades. 7 – Apoio Estabelecimento, implementação e manutenção de processo para a comunicação, definindo designadamente o que vão comunicar, quando, a quem e como. 8 – Operação Devem ser apresentados os requisitos explícitos para planejamento e controle operacional dos processos necessários para atendimento aos requisitos do SGA. 9 – Avaliação do desempenho Envolve medidas para monitoramento, medição, auditoria interna e análise crítica. 10 – Melhoria Enfatiza o fortalecimento do desempenho ambiental como um dos resultados esperados com a implementação do SGA. Neste item é preciso comprovar, por meio de critérios e indicadores apropriados, que alcançou melhorias em seu desempenho ambiental. FONTE: Adaptado de ISO 14001 (2015) 123 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 Conforme vimos, as normas ISO tornam possível o desenvolvimento da ges- tão ambiental a partir da elaboração do SGA, visto neste subtópico, ou de se fazer a partir apenas da avaliação do ciclo de vida (ACV), que consiste na avaliação de produtos e processos e será visto no subtópico a seguir. 4.2 ANÁLISE DE CICLO DE VIDA (ACV) Como vimos ao longo do capítulo, conforme aumenta a consciência ambien- tal, as indústrias e empresas estão avaliando de que maneira suas atividades afe- tam o ambiente. As primeiras preocupações com a poluição surgiram na década de 1960, nos EUA, e começaram a se espalhar pelo mundo. No entanto, a velo- cidade com que esse conceito se difunde, bem como a seriedade que recebe, variam enormemente de país para país. A análise de ciclo de vida trata-se de uma abordagem holística para verificar as consequências ambientais resultantes de produtos e processos. É, ainda, uma metodologia aplicada pelas organizações para avaliar os impactos ambientais de- correntes de toda a cadeia produtiva de um produto ou serviço, no decorrer de toda a sua vida – desde a extração da matéria-prima até o descarte final ou retor- no ao processo produtivo (BRAGA et al., 2005; CALIJURI; CUNHA, 2015). Ciclo de vida, segundo a ISO 14001:2015, consiste nos estágios consecuti- vos e encadeados de um sistema de produto (ou serviço), desde a aquisição da matéria-prima ou de sua geração, a partir de recursos naturais até a disposição final (ABNT, 2015, p. 17). A avaliação do ciclo de vida ambiental (ACV) desenvolveu-se rapidamente nas últimas três décadas, mas começou a ser comentada no final da década de 1980, quando os inventários do ciclo de vida da energia e massa dos sistemas de produtos começaram a ser realizados. Em 1990, a Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental realizou workshops de ACV e identificou as várias etapas de sua estrutura. Entretanto, foi só depois que a ISO desenvolveu uma série de padrões de Gestão, a partir da estruturação de um comitê técnico encarregado de desenvol- ver uma estrutura padrão para a ACV, que esta ficou mundialmente conhecida. O ponto culminante desse esforço foi um padrão internacional voluntário que perma- nece hoje como regra para a realização de uma ACV. Hoje, é vista como um processo objetivo que visa estimar os aspectos am- bientais relacionados a um produto, processo ou atividade, identificando e quan- 124 Proteção do Meio Ambiente tificando os usos, liberações de energia e materiais para o meio ambiente, e tam- bém visa avaliar e executar oportunidades de melhorias ambientais. É um método consagrado no ambiente empresarial, destinado a avaliar os impactos ambientais associados à toda a cadeia produtiva de um produto ou serviço. Em função de suas propriedades, a ACV possui destaque para ser aplicada em análises de escolhas tecnológicas, componente fundamental para viabilidade ambiental de empreendimentos (CALIJURI; CUNHA, 2015). No que se refere à abordagem metodológica, pode ser estruturada em quatro fases, conforme a figu- ra a seguir. FIGURA 9 – FASES DA ABORDAGEM METODOLÓGICA DA ACV FONTE: Adaptada de Calijuri e Cunha (2015) As fases apresentadas na Figura 9 buscam auxiliar a identificação da causa de aspectos e impactos ambientais. A primeira fase define propósito, objetivos, limites funcionais e do sistema. A segunda fase (Inventário) consiste na coleta de todos os dados relativos a entradas, processos, emissões etc. de todo o ciclo de vida. Na terceira fase (Avaliação de Impacto), os impactos ambientais e os recur- sos de entrada são quantificados com base na análise de inventário. A última fase (Interpretação) é interpretar os resultados calculados a partir da fase de Avalia- ção de Impacto e recomendar medidas de melhoria conforme apropriado (CHAU; LEUNG; NG, 2015). Assim, os principais pontos envolvendo estas fases são: 125 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 - O estudo pode envolver de maneira adequada e sistemática os aspectos ambientais de um sistema de produção de um pro- duto, desde a aquisição das matérias-primas até a disposição final do mesmo; - A profundidade de detalhes e o intervalo de tempo de um estudo de análise do ciclo de vida podem variar de maneira substancial, em função das definições dos objetivos traçados e da definição de seu escopo; - O escopo, os princípios, os parâmetros de qualidade dos dados, as metodologias e as variáveis de saída de um estudo de análise do ciclo de vida devem ter interpretação clara e apropriada; - Podem ser feitas provisões, dependendo da intenção da apli- cação do estudo, respeitando-se a confidencialidade e a pro- priedade industrial; - As metodologias de análise do ciclo de vida deverão ser res- ponsáveis pela inclusão de novas descobertas científicas e melhorias do estado da arte da metodologia (BRAGA et al., 2005, p. 296). De modo a extinguir ou tornar mínimo os aspectos e impactos ambientais não somente na produção, mas em todas as fases do ciclo de vida de um produto, desde a extração e beneficiamento da matéria-prima, o transporte, a produção, a distribuição, o consumo, o pós-uso até a disposição final, a gestão ambiental empresarial, principalmente a partir do final da década de 1990, ampliou sua visão para o ciclo de vida do produto. FIGURA 10 – CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO FONTE: Adaptada de Calijuri e Cunha (2015) Inicialmente, a solução era substituir a matéria-prima utilizada ou modificar a forma de usar determinadoproduto, ou ainda, em retornar o produto ao processo produtivo, sem considerar a fase de fabricação deste. Entretanto, a partir da abor- dagem de ACV, entende-se que a problemática da poluição ambiental envolve todo o ciclo de vida de um produto. 126 Proteção do Meio Ambiente Mas você deve estar se perguntando: toda ACV engloba todas as fases do ciclo de vida? Não! O limite do sistema é determinado com base no objetivo do estudo, ou seja, se esse é o objetivo, quais etapas são necessárias? Bom, é preciso entender o impacto ambiental das matérias-primas, processo, componentes ou o produto final. 1) A análise de ciclo de vida (ACV) é um processo objetivo que visa estimar os aspectos ambientais relacionados a um produto, pro- cesso ou atividade, identificando e quantificando os usos e libera- ções de energia e materiais para o meio ambiente, e também visa avaliar e executar oportunidades de melhorias ambientais. Partin- do desse pressuposto, quantas e quais são as fases da aborda- gem metodológica da ACV? A ACV tem o potencial de fornecer um novo modelo de regulamentação, ba- seado em uma visão holística dos impactos ambientais, em vez de focar na ges- tão de riscos químicos. Frente ao apresentado, então, entende-se que a gestão ambiental focada em ciclo de vida do produto, associada às demais, é tida como a mais sistemática, visando a soluções ambientalmente adequadas. Além disso, organizações que se antecipam na consideração destas novas exigências po- dem obter inovações em seus processos, produtos e padrões de negócios, assim como gerenciamento mais integrado entre fornecedores e clientes. 4.3 PRODUÇÃO + LIMPA (P+L) O desempenho ambiental de produtos e processos se tornou uma questão fundamental, razão pela qual algumas empresas estão investigando maneiras de minimizar seus efeitos sobre o ambiente. A inclusão do compromisso com a pre- venção na política ambiental é um pré-requisito da norma ISO 14001. Neste con- texto, vimos que a ACV busca analisar todo o fluxo de um produto ou processo no que tange aos impactos ambientais. Além da ACV, as organizações vêm procu- rando programas complementares para não gerar impactos e, então, não precisar lidar com eles. Nesse contexto, temos um exemplo de gerenciamento ambiental que objetiva dar prioridade a atividades que visem reduzir na fonte (CALIJURI; CUNHA, 2013). A Produção Mais Limpa (P+L ou P mais L) tem-se definido de forma diferente ao longo das últimas décadas, sobretudo devido aos avanços das tecnologias e ao aprendizado com os erros do passado. A produção mais limpa é uma estratégia para prevenir as emissões na fonte e iniciar uma melhoria preventiva contínua do 127 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 desempenho ambiental das organizações. O foco da gestão deve ser a prevenção ao invés da cura para evitar problemas ambientais. Uma forma de definir uma P+L é comum conjunto de regras com o desígnio de proteger o meio ambiente e tornar mínimo o desperdício, que vai desde os processos de fabricação a todo o ciclo de vida de um produto. Este conceito pode até ser aplicado em um nível pessoal, abordando o estilo de vida e as escolhas diárias de cada um (SILVA; GOUVEIA, 2020). Os principais atores da produção mais limpa são as empresas, que contro- lam os processos de produção. Eles são fortemente influenciados por seus clien- tes (empresas privadas, públicas ou outras) e pela política (por leis, regulamentos, impostos). Ao considerar o desenvolvimento de um programa de P+L (Figura 11) em uma organização é importante que seja feita a pré-sensibilização da alta adminis- tração a partir de uma visita técnica feita pelos responsáveis pela implantação do P+L denominados de ecotime. Nesta visita, serão apresentados casos de suces- so, enfatizando as vantagens econômicas e ambientais da implantação. FIGURA 11 – PASSOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE P+L FONTE: CNTL (2003, p. 19) 128 Proteção do Meio Ambiente Conforme apresentado na Figura 11, o foco principal é criar consciência para a prevenção da poluição, para encontrar a fonte de resíduos e emissões, para de- finir um programa para reduzir as emissões e aumentar a eficiência dos recursos através da implementação e documentação de opções de produção mais limpa. As ações podem ser organizadas em duas categorias e, estas, em níveis (Figura 12). A primeira categoria é a minimização de resíduos e emissões, subdividida em dois níveis: nível 1 a partir de ações que busquem a redução na fonte e nível 2 que visa à reciclagem interna. A segunda categoria envolve o reuso de resíduos, efluentes e emissões e representa o nível 3. FIGURA 12 – FLUXOGRAMA DAS OPÇÕES NA P+L FONTE: CNTL (2003, p. 27) A produção mais limpa, então, é caracterizada por: [...] ações que privilegiem o Nível 1 como prioritárias, segui- das do Nível 2 e Nível 3, nesta ordem. Deve ser dada priori- dade a medidas que busquem eliminar ou minimizar resíduos, efluentes e emissões no processo produtivo onde são gerados. 129 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 A principal meta é encontrar medidas que evitem a geração de resíduos na fonte (nível 1). Estas podem incluir modifica- ções tanto no processo de produção quanto no próprio produto (CNTL, 2003, p. 29). Muitas são as barreiras que interferem na implementação de práticas e mo- delos de negócios sustentáveis, retendo o potencial de inovação e melhoria ambiental, e retardando-o ou até mesmo revertendo-o, tal como: questões eco- nômicas, motivacionais, tecnológicas, educacionais, entre outros. Opondo-se a essas barreiras estão os fatores que estão começando a ganhar impulso e es- tão se tornando impossíveis de ignorar. Fatores como políticas governamentais, tendências e demandas de consumo, oportunidades em mercados estrangeiros, melhoria das imagens do mercado local e global, possibilidades de trabalhar com empresas maiores e bem estabelecidas, dentre outros, são motivadores (SILVA; GOUVEIA, 2020). P+L é um conceito dinâmico no qual novos procedimentos e tec- nologias surgem constantemente, introduzindo métodos e práticas para prevenir danos ao meio ambiente. Apesar dos fatores limitantes, aspectos tidos como motivadores estão impul- sionando as empresas e até mesmo indústrias a mudarem seus atuais métodos, melhorando sua pegada ecológica geral, ao mesmo tempo em que, em muitos ca- sos, promovendo simultaneamente economia de custos devido à otimização glo- bal de toda a cadeia de processo, garantindo a proteção ambiental dos processos de forma geral. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Chegamos ao fim do nosso terceiro capítulo e, consequentemente, do Livro Didático da disciplina de Proteção do meio ambiente. Somos capazes, a partir do conteúdo visto neste capítulo, de diferenciar os Programas de Avaliação Ambien- tal (tal como Plano de Gestão Ambiental, Sistema de Gestão Ambiental, Progra- ma de Gerenciamento de Riscos, Programa de Educação Ambiental, Plano de Controle Ambiental, Plano Básico Ambiental, entre outros) e relacionar poluição ambiental e uma apresentação dos sistemas de tratamento. 130 Proteção do Meio Ambiente A poluição da água, do solo e do ar provoca impactos negativos tanto de caráter ambiental quanto relacionados à saúde. A água é um dos componentes ambientais mais afetados pelas ações humanas, pois a poluição dos demais com- ponentes ambientais muitas vezes atinge a água também, em diferentes prazos e intensidades. Em razão disso, tanto para utilização dos recursos naturais quanto o processo de uso e ocupação do solo precisam ser planejados de forma integrada e considerando as diferentes legislações relacionadas. Vimos também os principais programas de avaliação ambiental que têm como objetivo definir as ações necessárias para minimizar as consequências da interferência humana sobre o meio ambiente em todas as fases de um empreen- dimento. Os programas e planos ambientais,ainda, além de reduzir os impactos negativos, beneficiam a empresa econômica e estrategicamente, bem como auxi- liam a proteção ambiental. Além disso, as práticas ambientais das organizações, em função da consci- ência sobre seus impactos ao meio ambiente, vêm evoluindo com o passar dos anos e deixou de ter caráter passivo e passou a ser um caráter reativo. Em função disso, as organizações têm buscado estabelecer seu Sistema de Gestão ambien- tal, que permite a definição e implementação de estratégias para caminhar rumo à melhoria contínua englobando os aspectos ambientais. Durante esse processo, são realizadas auditorias para análise de conformidades, buscando prevenir a po- luição ao invés de dispersá-la, e para isso, vêm sendo implantados programas, tal como P+L e ACV. Por fim, a partir do apresentado neste capítulo, e no decorrer do nosso livro didático, é possível concluir que a proteção do meio ambiente ultrapassa o concei- to de preservação total dos sistemas ambientais, mas é importante que tenhamos um olhar crítico, entendendo que a intervenção do homem para o atendimento de suas necessidades de desenvolvimento deve sempre priorizar os princípios da sustentabilidade, ou seja, garantir que tanto sua geração atual quanto as futuras tenham um ambiente saudável e equilibrado. REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR ISO 14001:2015 – Sistema de gestão ambiental. Rio de Janeiro, 2015. ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR ISO 14000, 14001, 14004:2004 – Sistema de gestão ambiental. Rio de Janeiro, 2004. 131 Gestão AmbientalGestão Ambiental Capítulo 3 ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14010, 14011, 14012, 14014, 14015: 2004 – auditoria ambiental. Rio de Janeiro, 2004. BONIFÁCIO, C. M.; NÓBREGA, M. T. de. Parâmetros de qualidade da água no monitoramento ambiental. In: OLIVEIRA, R. J. de; NÓBREGA, M. T. de. Recursos Hídricos: Gestão, planejamento e técnicas em pesquisa. Guarujá: Científica Digital, 2021. p. 219-232. Disponível em: https://downloads. editoracientifica.org/books/978-65-89826-78-1.pdf. Acesso em: 22 dez. 2021. BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria SEPRT nº 6.730, de 09 de março de 2020 - NR 01. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2020. BRASIL. IBAMA. Ministério do Meio Ambiente. Resolução 420, de 28 de dezembro de 2009. 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