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Curso EAD A Brincadeira nos tempos, espaços e interações na escola Módulo 3 Apresentação Módulo 3 - As interações e brincadeiras como princípios para a ação pedagógica Fonte: Desenho de Francesco Tonucci Uma creche para estar juntos “O homem só é inteiro quando brinca. E é somente quando brinca que ele existe na completa acepção da palavra Homem.” Friedrich Schiller Caros cursistas! Chegamos ao Módulo 3 denominado “As interações e brincadeiras como princípios para a ação pedagógica”, última etapa do curso aqui na plataforma. Este módulo pertence ao curso "A BRINCADEIRA NOS TEMPOS, ESPAÇOS E INTERAÇÕES NA ESCOLA”. Para seguir o mesmo padrão, trago na capa outra imagem de autoria do Frato (Francesco Tonucci). As imagens nos auxiliam a perceber outras formas de ver e realizar as leituras de mundo, deste mundo que é da criança. O desenho de Tonucci, “Uma creche para estar juntos”, inspira reflexões sobre o cotidiano e a ação pedagógica. A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções. Neste módulo, encontram-se três textos que lhes auxiliarão na reflexão: “A brincadeira nas práticas cotidianas; “Linguagens e práticas culturais – Repertório Brincante ”; “A brincadeira e as tecnologias”. Os textos trazem em comum uma postura investigativa do professor, que considere as crianças protagonistas, criadoras, inventoras, transgressoras, que têm no brincar o constitutivo do humano. De acordo com a epígrafe de Schiller, que encontra- se no início, para o crescimento do ser humano na sua unicidade é mais importante brincar, pois é aí que ele aprende liberdade. Brincar é direito de todos os seres humanos, um ato político, e resgatar esse contato com a natureza, essas brincadeiras ancestrais é urgente não só por conta desse período pós pandemico, mas também como uma nova forma de existência. Assim, desejo um excelente aproveitamento do material e aplicabilidade em sua prática pedagógica. Vamos brincar, então? Resgatar as memórias afetivas, vivenciar outras brincadeiras e fazer deste instante, momentos de encontro genuíno consigo e com os outros que estão ao seu redor. Bom curso e até mais! A brincadeira nas práticas cotidianas Nos módulos anteriores, foram apresentadas as brincadeiras ritmadas (pom-pom-pom, bate o monjolo no pilão e jacaré-poio) e os brinquedos simples, como a cama de gato, os jogos de tabuleiro, o jogo simbólico e o brincar sustentável com as materialidades. Neste módulo, vamos começar com os brinquedos de origami, que fazem parte da nossa infância. ORIGAMI é uma palavra japonesa composta pelo verbo "dobrar" - 折り=ori - e o substantivo "papel" - 紙=kami. Significa literalmente "dobrar papel". Você se lembra de algum modelo em especial? Fonte: https://super.abril.com.br/ciencia/manual-como-fazer-o-aviao-de-papel-perfeito/ Trouxe aqui o tradicional avião de papel. Será que é só uma brincadeira de criança? Eu acho que não, já que existe até um campeonato mundial de aviõezinhos para adultos. O tempo gasto na realização das dobraduras e em seguir as instruções de construção, já é uma brincadeira por si só. Aprender sobre os processos de produção das coisas desperta https://super.abril.com.br/ciencia/manual-como-fazer-o-aviao-de-papel-perfeito/ a imaginação, o pensamento e a vontade de experimentar e criar. Existem diversos tipos de aviões: os que ficam mais tempo no ar, os que fazem acrobacias, entre outros. Na internet, há uma infinidade de vídeos e tutoriais que mostram como fazer. Eu trago o exemplo do Iberê Thenório, diretor e apresentador dos vídeos do Manual do Mundo, um canal do YouTube com conteúdos criativos que promovem experiências únicas de entretenimento e aprendizagem. Vale a pena conferir! Como fazer um planador águia passo a passo: https://youtu.be/6fyErZJyAbU Como fazer o super avião de papel: https://youtu.be/AaVEmPekrZQ Vamos tentar? Depois tira uma foto e compartilha lá no fórum, pois não tem como estudar “o brincar” sem realmente construir esse brinquedo, hein?! Acreditamos que o conhecimento e a experiência são capazes de eliminar qualquer obstáculo do caminho e é construído de um jeito colaborativo. É por isso que a melhor jornada é a que se anda junto, trocando descobertas, agregando mais gente. Nosso ponto de partida é a curiosidade, e o de chegada também, porque quando a gente descobre uma resposta, nosso horizonte se expande, e a gente faz ainda mais perguntas. Então, qual dos modelos dos aviões de papel você gostou mais? Em quais espaços e durante quanto tempo as crianças brincam? Já vimos anteriormente que em todos os espaços e com o que está disponível para as crianças. Por isso, é importante oferecer às crianças ocasiões para explorar e experimentar diferentes possibilidades e modos de interpretar os espaços, os mobiliários e os materiais. As práticas cotidianas na escola são permeadas de significado e devem romper com divisões arbitrárias de tempo, espaço e material. Por meio das brincadeiras e interações, os alunos ampliam seu repertório, conseguem criar novas formas de representar a realidade. Isso nem sempre se dá de modo tranquilo. Muitas vezes aparecem conflitos. https://youtu.be/6fyErZJyAbU https://youtu.be/AaVEmPekrZQ De acordo com Vigotsky (2006), ao brincar a criança lida com conflitos como ganhar e/ou perder, além de regras que lhe são impostas, desafiando-a a cumpri-las. Dessa forma, também é possível demonstrar as próprias fragilidades e individualidades. O processo de negociação e interação que daí nasce, reforça a brincadeira como espaço de aprendizado, e o professor precisa considerar como deve intervir de modo a possibilitar que os alunos percebam a situação e proponham alguma solução para o conflito. De acordo com Tardif (2003), a pedagogia é feita essencialmente de tensões e de dilemas, de negociações e de estratégias de interação, dado que os professores trabalham com seres humanos, a sua relação com o seu objeto de trabalho é fundamentalmente constituída de relações sociais. Em grande parte, o trabalho pedagógico dos professores consiste precisamente em lidar com relações sociais, que são intensas no brincar. A comunicação desempenha um papel fundamental nas brincadeiras, desde a distribuição de papéis e definição de espaços, até o estabelecimento de regras e diálogos que surgem nas interações. É importante reconhecer que os alunos utilizam múltiplas linguagens para se comunicar. O documento "Subsídios para Diretrizes Curriculares Nacionais Específicas da Educação Básica" (2010) destaca a linguagem e a brincadeira como elementos que articulam os saberes que as crianças trazem e constroem, com os conhecimentos acumulados social e historicamente. Compete aos professores proporcionar aos alunos situações espontâneas e planejadas, tanto com a intervenção dos adultos quanto sem ela. Por exemplo, nas propostas que envolvem movimento, brincadeiras tradicionais e as que envolvem a fala, o professor pode atuar de forma mais direta, apresentando as brincadeiras, convidando famílias e pessoas da comunidade para ensinar as brincadeiras tradicionais na escola, promovendo a troca entre as crianças da turma e de outras turmas. Desse modo, os alunos passam a conhecer brincadeiras de outros tempos e lugares, aprendendo sobre outras culturas. Saber que as crianças brincavam na rua à noite em um tempo em que não havia televisão, ou que as crianças na África têm brincadeiras parecidas com as de crianças brasileiras,ensina algo mais do que a própria brincadeira. É importante lembrar que, ao promover oportunidades de interações e brincadeiras, o professor realiza um trabalho pedagógico que é fundamental para o desenvolvimento integral das crianças. Com as brincadeiras, as crianças exercitam uma percepção cada vez mais aguçada das coisas (formas, cores, tamanhos, texturas, volume, peso, etc.), vão desenvolvendo uma memória, descobrem possibilidades de exploração dos objetos, encontram soluções para problemas que aparecem na brincadeira e vão formando uma imagem de si. Ao brincar com outras crianças nos jogos, nas brincadeiras de movimento, nas brincadeiras tradicionais, as crianças ampliam seu vocabulário, trocam experiências com seus pares, aprendem regras de convivência e também as dos jogos, aprendem a esperar sua vez para jogar e a respeitar a vez dos colegas. Todas essas novas experiências despertam a curiosidade das crianças: um jogo africano, uma brincadeira indígena, uma cantiga da infância dos seus pais ou avós, um brinquedo feito por uma pessoa mais velha da comunidade, um jeito de brincar proveniente de outro país. Pesquisar juntos sobre brincadeiras de crianças de outros lugares ou sobre a origem das coisas, ajuda a colocá-las em contato com mapas e com a noção de tempo e de espaço. É importante distinguir, finalmente, o brincar centrado no professor e o brincar livre centrado na criança, em que o adulto observa, acompanha e oferece ajuda quando solicitado. Ao propor jogos e apresentar brincadeiras de sua infância, de outras culturas e de outros tempos, o professor conduz inicialmente a brincadeira. Já o brincar de faz de conta pode ser fomentado pelo professor com objetos, tempo livre e experiências de conhecimento das atividades humanas, mas este deve ser conduzido pelas próprias crianças e acompanhado pelo professor. Nessa brincadeira de faz de conta, as crianças têm a oportunidade de imitar o adulto, utilizando termos e atitudes próprias dos profissionais de saúde, da manutenção de um carro, de um comércio, proporcionando a representação das profissões e dos comportamentos da vida cotidiana. Texto adaptado do documento: Currículo da Cidade – Educação Infantil Linguagens e práticas culturais – Repertório Brincante Fonte: Planeta ideias Você conhece o abre e fecha de origami? As brincadeiras tradicionais pressupõem o brincar junto, o contato interpessoal, tão necessário para o desenvolvimento. “Abre e fecha” é dessas brincadeiras tradicionais, uma dobradura de sorteio onde a criança pede ao amigo para escolher um número de 1 a 10 e movimenta o brinquedo abrindo e fechando o número de vezes escolhido. Quando chegar ao número indicado, o amigo deve escolher uma cor e fazer a ação solicitada. Uma das melhores partes da brincadeiras é escolher as frases que vão para o jogo e depois enfeitar o brinquedo. A relação entre as crianças e o brinquedo construído pela dobradura, quando bem explorado, exercita a curiosidade, observação, atenção, percepção, pensamento, investigação, interpretação, criação de hipóteses, imaginação e elaboração de teorias explicativas daquilo que vivem e observam. Se você não lembra como fazer, segue o link com as instruções e depois tira uma foto para compartilhar lá no fórum: Como dobrar um abre e fecha de origami: https://youtu.be/cZxEVWXjtSo https://youtu.be/cZxEVWXjtSo Você reconheceu essa brincadeira ou de alguma outra com a dobradura? O papel do professor é possibilitar o acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade e apresentar as diferentes linguagens: dobradura, desenho, pintura, teatro, fotografia, vídeo, música, dança, escultura, colagem. O Currículo Integrador da Infância Paulistana (SÃO PAULO, 2015) afirma a necessidade de possibilitar a formação de uma identidade confiante, aberta, interessada, curiosa, por meio do brincar. Um currículo que realmente seja integrador da infância supera também a cisão entre o brincar e o aprender, por entender que o brincar é uma linguagem, isto é, um modo de a criança se relacionar com o mundo e atribuir sentido ao que vive e aprende. Por isso, seja na Educação Infantil, seja no Ensino Fundamental, brincar não é perda de tempo, mas é fundamental para o aprendizado, pois desafia o pensamento, a memória, a solução de problemas, promove negociação entre crianças, o planejamento, a investigação, a discussão de valores, a criação de regras. O brincar, como linguagem expressiva, é também mola propulsora para aprendizagens significativas. As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil (DCNEI), de 2010, concebem o brincar como linguagem da criança, iniciada por ela, como voz da criança portadora de múltiplas linguagens. A oposição entre o brincar e o aprender se anula, quando há clareza de que é pelo brincar que se chega a outros conhecimentos. O fato de no Ensino Fundamental emergir o direito à aprendizagem da cultura escrita não significa a exigência de corpos imóveis, o silenciamento das múltiplas linguagens e ações focadas no treino da linguagem escrita. Desde bebês, as crianças se comunicam: pelo gesto, pelo olhar, pelo choro, pela expressão do rosto, pelo que fazem. Essas formas de expressão vão se tornando mais sofisticadas e cada vez mais amplas: primeiro são formas de expressão do bebê a que os adultos atribuem significado, depois as crianças vão se apropriando de formas de comunicação já presentes na sociedade. As linguagens não são disciplinas que trabalhamos em separado, nem que treinamos. Então, as múltiplas linguagens correspondem aos modos como as crianças comunicam uma ideia, uma informação, um sentimento, uma necessidade: desde o choro até a maneira como brincam e se movimentam, correm e dançam, seus desenhos, suas pinturas, suas atitudes, o que dizem, enfim, como expressam o que vão aprendendo, o que estão sentindo, o que querem e do que precisam. Em relação às mídias e à produção cultural, vivemos em um momento singular. Durante o último século, as pessoas tiveram, em relação às linguagens midiáticas, papel passivo de recepção daquilo que os detentores das mídias produziam. Com o avanço das mídias digitais, atualmente, qualquer um, incluindo os bebês e as crianças, pode fotografar, filmar, gravar, editar, mixar, compartilhar, utilizando múltiplos contextos. A brincadeira e as tecnologias Você sabe qual é a diferença entre técnica e tecnologia? Técnica e tecnologia são termos relacionados e se complementam na medida em que uma é resultante do desenvolvimento histórico da outra. A técnica se refere a um conjunto de procedimentos com conhecimento sistematizado para realizar uma tarefa, e tecnologia são as teorias e técnicas que possibilitam o aproveitamento prático do conhecimento científico para criar soluções. Por esse caminho eu pergunto, você conhece a técnica da dobradura do barquinho de papel? Para entender o conteúdo do texto 3 “A brincadeira e as tecnologias” é essencial que você participe de todo o processo da construção do origami. Com sua participação fazendo a dobradura, acessando o livro em “pdf” e assistindo aos vídeos, você terá uma experimentação de múltiplas linguagens, por isso oriento que faça as atividades propostas nos diversos links abaixo. Segue o primeiro link de literatura “A incrível viagem do barquinho de papel”, de Joyce M. Rosset, para inspirar você nesta brincadeira. Para a autora, os barquinhos de papel são uma obra de engenharia, poesia estética e provocadores de brincadeiras, pesquisas e narrativas. Aproveite para ler e brincar com sua turma posteriormente. Proponha explorações estéticas e científicas nas mil possibilidades desse brinquedo de dobradura que desafia a imaginação. Joyce M. Rosset disponibilizou o livro em formato digital no seu blog “Tempo de Creche”. Link do livro: https://tempodecreche.com.br/site/wp-content/uploads/2016/10/livro-A-incr%C3%ADvel-hist%C3%B3ria-do-barquinho-de-papel.pdf As tecnologias da informação e da comunicação (TICs) trazem para o cotidiano outros objetos como tablets e smartphones, que acolhem a diversidade do conteúdo lúdico acumulado e fazem circular a tradição das brincadeiras infantis em novos formatos. Os recursos midiáticos permitem potencializar descobertas e experiências, incentivando a ampliação do mundo das crianças, assim como outras formas de olhar o ambiente à sua volta. Você pode utilizar o livro na sala digital para contar história. Para os menores, a autora sugere que prepare um barquinho de papel antes. Pode fazê-lo na frente das crianças – mas não precisa ser uma “aula de fazer barquinho de papel” porque a autora acredita que depois da história elas vão se interessar pelo assunto. É possível que você tenha que repetir a história algumas vezes, então faça barquinhos de reserva. Conte cada passagem fazendo mímica com o barquinho e, se achar importante, mostrando as cenas impressas do livro. Imite os gestos de navegação, o barulho do mar – tranquilo e agitado. Com uma mão faça uma pedra e com a outra balance o barquinho que atravessa a tempestade até bater nela. Assopre e faça o vento do final da história e não esqueça de dar o tempo para cada criança se manifestar, imitar e acompanhar a aventura. https://tempodecreche.com.br/site/wp-content/uploads/2016/10/livro-A-incr%C3%ADvel-hist%C3%B3ria-do-barquinho-de-papel.pdf https://tempodecreche.com.br/site/wp-content/uploads/2016/10/livro-A-incr%C3%ADvel-hist%C3%B3ria-do-barquinho-de-papel.pdf Fonte: Blog tempo de creche Outra dica da autora: em outra ocasião, prepare um barquinho de papel com as crianças ou para cada criança, dependendo da idade de seus alunoss, e conte a história novamente, com a participação deles. No final, a sala já organizada com lápis de cor ou giz de cera, convida para colorir as camisetas de papel. Num dia de sol, por exemplo, prepare na área externa barquinhos de papel, bacias e baldes com pelo menos 5 cm de água e alguns objetos pequenos para desafiar a pesquisa. Pense em objetos leves, pesados, questione se afunda, ou boia, objetos maiores e menores que os barcos e alguns bonequinhos que possam estimular o jogo simbólico. O barquinho de papel flutua? Ele afunda? Ele pode levar um bonequinho para viajar? Amplie a pesquisa assoprando os barquinhos com canudinhos de papel e perceba o que os pequenos descobrem. Brinque, divirta-se, registre e reflita sobre a sua prática para descobrir novos caminhos com as crianças. Nesse percurso lembre-se que a linguagem é instrumento de expressão de sentimentos e de experiências vividas, não se exercitam as múltiplas linguagens nem as culturas infantis sob a forma de aula, mas como expressão autêntica das crianças, como troca entre adultos e crianças, entre crianças de mesma e de diferentes idades. Como fazer um barquinho de papel - https://youtu.be/fIP1GcVdw9M Esta é a dobradura mais básica, que todos sabem fazer. Além de fácil, é base para muitos outros origamis. https://youtu.be/fIP1GcVdw9M Como fazer um barco sem mastro - https://youtu.be/0On-gszB7zM Esta é uma variação da tradicional dobradura do barquinho de papel. Nesta versão o barco fica sem mastro, parecendo uma canoa. Testou os dois modelos? Teve algum mais resistente na água? Todas essas possibilidades em um simples barquinho de papel podemos concluir que o processo de aprender, como defende Paulo Freire (2008), é um processo dialógico e dialético. Dialógico porque acontece num processo de comunicação entre quem aprende, quem ensina e o que se aprende. Dialético porque envolve um movimento entre assimilar e expressar o que se aprende. Em outras palavras, aprender exige a expressão do aprendiz e só acontece quando quem aprende comunica o que aprendeu. Além disso, mesmo com toda esta tecnologia, estudo sistematizado, conhecimento do desenvolvimento das crianças e uma sequência de atividades propostas e percurso definido, a linguagem é autoral: cada um se expressa com as suas particularidades. Para Tardif (2003), a análise do trabalho docente permite recolocar a pedagogia em seu próprio espaço de produção, isto é, o ofício de professor, e não pode ser visto exclusivamente como a tarefa de um técnico ou de um executor. O professor tem a arte e o conhecimento científico para ensinar, ou seja, ele se utiliza não da técnica, mas da tecnologia. Assim, a expressão autoral do aprendiz e a interação com outras pessoas por meio de alguma linguagem, quer seja ela expressa pela dobradura, pela leitura do livro ou pelo vídeo, é condição necessária de seu aprendizado. Para incentivar a expressão das crianças, as práticas pedagógicas na escola devem envolvê-las em atividades que valorizam as culturas, o lúdico, os objetos e as formas de fazer. O contexto facilita essas vivências, estando os materiais disponíveis ao acesso dos olhos e das mãos das crianças. O contexto não é simplesmente o lugar dessa interação, mas é identificado onde acontece o processo das ações. É um espaço demarcado que dialoga com as pessoas que ali frequentam. Dessa forma, há que se pensar em condições favoráveis para que os estudantes exercitem sua autoria, sua expressão e suas escolhas. Portanto, cabe ao professor oferecer práticas de recepção crítica do uso ou não das https://youtu.be/0On-gszB7zM mídias digitais, que configuram atualmente um dos principais agentes de formação social. Atualmente, a tecnologia tem modificado a vivência da infância com celulares, tablets, computadores, e as crianças têm sido muito influenciadas pelo que a mídia apresenta, necessitando cada vez mais de professores curadores do conhecimento para que saibam assimilar e apreender novas práticas, sem ignorar o rico repertório cultural brasileiro. A pandemia acelerou o avanço tecnológico. Hortélio (2016) entende que a infância está sendo esquecida no Brasil e que, desde o aparecimento da TV, o convívio entre as crianças tem diminuído, pois passam muito tempo com os equipamentos tecnológicos, o que seria prejudicial para o seu desenvolvimento. Teca Alencar de Brito (2003), por outro lado, observa alguns pontos positivos da modernidade e das novas tecnologias. Com os novos equipamentos em sala criou-se oportunidades diferenciadas para os alunos. O mundo do audiovisual (filmes, animações, games) ficou mais acessível. Desse ponto de vista, é igualmente importante refletir sobre as salas digitais na escola, pensando de forma crítica nas escolhas para ampliar repertórios, construindo referências de escolha, é papel da educação. Estas constituem uma possibilidade para ampliar a experiência dos alunos no acesso a informações e conhecimentos sobre os seus temas de interesse. Os projetos desenvolvidos, tendo os alunos como protagonistas ativos na definição do tema, na coleta e exploração do material, na busca e expressão do que vão conhecendo e interpretando acerca do tema de seu interesse — têm no vídeo um recurso fundamental, por meio de documentários e produções fílmicas de alta qualidade que ampliam o conhecimento e respondem às vontades de saber das crianças. Da mesma forma, é recurso importante de registro das vivências das crianças, que depois podem ser compartilhadas com elas. No entanto, as telas não devem ser utilizadas com o objetivo de entreter ou como forma de espera no momento da chegada ou de saída. As imagens das telas em movimento são muito encantadoras, mas as crianças precisam se movimentar, fazer coisas, explorar fisicamente o mundo ao redor. Nesse sentido, vídeos e canções precisam ser programados e selecionados, assim como as histórias, as brincadeiras e outras experiências que apresentamos. O entretenimento acontece com a atividade lúdica de exploração do mundo e expressão do vivido por meio das diferentes linguagens,e essencialmente com a atividade do corpo e da mente, articuladas com a vontade. De acordo com o Currículo da Cidade EI, não é saudável que a criança fique sentada por longos períodos e nem apenas observando. O corpo ativo que anda, corre, pula, sobe e desce, escorrega, pega e solta, puxa e empurra, experimenta texturas, pesos, tamanhos, cores, formas e funções dos objetos e se conhece nesse processo de exploração do mundo é garantia de saúde para bebês e crianças. Além disso, as famílias já fazem bastante uso da televisão em casa: o papel da escola de oferecer diversidade de experiências cresce em responsabilidade frente a isso. Na escola, as crianças precisam receber convites para brincar e pesquisar, ter ambientes para construir, dançar, pintar, conversar, montar e remontar e, ainda, ter tempo para estreitar os laços de amizade. Por fim, é necessário dar visibilidade às concepções de educação que valorizam o movimento de desaceleração, sem desprezar as novas tecnologias, mas que somem com o contato com a natureza, com os espaços brincantes, com os momentos de interação e a construção do conhecimento de forma colaborativa. Fonte: texto adaptado do documento Currículo da Cidade – Educação Infantil Site para aprofundar: Mapa do Brincar (2019) é uma iniciativa da "Folhinha", suplemento infantil do jornal Folha de São Paulo. O site reúne hoje 750 brincadeiras de todo o país. O Brasil apresenta grande diversidade de músicas, histórias, brinquedos e brincadeiras, os quais perpetuam-se ao longo do tempo de forma oral, passando de geração a geração, sofrendo transformações e se renovando, adequando-se às novas gerações brincantes. O conjunto de todas essas brincadeiras e músicas tradicionais da infância, como parte da essência do povo, contribuem para a construção de um “espírito de brasilidade”. A primeira versão do projeto foi lançada em maio de 2009, quando convidou crianças de todo o país a contar quais são suas brincadeiras. Um dos objetivos era descobrir se há semelhanças e diferenças entre o brincar no Brasil. De maio a julho do mesmo ano, a "Folhinha" recebeu 10.204 inscrições de crianças das cinco regiões do país, com participação maior do Sul e do Sudeste. Em alguns Estados, a equipe da "Folhinha" também coletou brincadeiras diretamente com as crianças, mas sempre preservando os relatos infantis. Todo esse material enviado (ou coletado) foi lido e analisado por uma equipe de especialistas na área do brincar. O site ganhou nova versão em dezembro de 2011, quando ampliou o repertório de brincadeiras coletadas pela equipe da "Folhinha" nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Cada brincadeira registrada neste site traz a indicação de sua origem, o que não quer dizer que ela seja só daquele lugar. A origem indica a cidade em que mora o participante que mandou a brincadeira. https://mapadobrincar.folha.com.br/ Leitura Complementar: A brincadeira e o brinquedo precisam de plástico? https://criancaenatureza.org.br/wp-content/uploads/2020/10/a- brincadeira_e_o_plastico.pdf https://mapadobrincar.folha.com.br/ https://criancaenatureza.org.br/wp-content/uploads/2020/10/a-brincadeira_e_o_plastico.pdf https://criancaenatureza.org.br/wp-content/uploads/2020/10/a-brincadeira_e_o_plastico.pdf Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Brasília: MEC, 2010. BRITO, T. A. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003. HORTÉLIO, L. Música da cultura infantil no Brasil. Textos Casa Amarela. 2016. Disponível em: https://www.casaamarelafestas.com.br/textos/musica_da_ cultura_infantil_no_brasil.pdf. Acesso em: 26 out. 2020. MAPA DO BRINCAR. Lucilene Silva. Disponível em: http://mapadobrincar. folha.com.br/mestres/lucilenesilva/. Acesso em: 16 maio 2019. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, Vozes, 2003 VIGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: VIGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10. ed. São Paulo: Ícone, 2006. http://mapadobrincar/