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O aparelho psíquico
Maria Thereza Toledo
Descrição
O aparelho psíquico e a teoria freudiana acerca do funcionamento mental em seus diferentes vieses e
conformações.
Propósito
Compreender o aparelho psíquico e os fenômenos mentais a partir do olhar de Freud é fundamental para o
estudo da Psicanálise e para atuação profissional como psicólogo.
Objetivos
Módulo 1
O aparelho psíquico
Analisar o aparelho psíquico a partir da primeira tópica freudiana e a relação entre inconsciente, pré-
consciente e consciente.
Módulo 2
A importância e o funcionamento do inconsciente
Definir o conceito de inconsciente, sua importância na teoria psicanalítica e seu modo de funcionamento.
Módulo 3
A segunda tópica freudiana e suas relações
Descrever a segunda tópica freudiana e a relação entre id, ego e superego.
Módulo 4
A compreensão do funcionamento psíquico
Reconhecer a contribuição do texto O mal-estar na civilização para a compreensão do funcionamento
psíquico.
Introdução
Aparelho psíquico é o nome dado à organização proposta por Freud para compreender a dinâmica mental.
Descrever o aparelho psíquico foi uma forma de tornar compreensível o funcionamento psíquico, dividindo-o
e atribuindo uma função específica a cada parte constitutiva.
A concepção do aparelho psíquico é uma construção teórica de Freud, que traduzia para a teoria a sua
vivência clínica. Essa prática teorizada da Psicanálise nos permite observar várias alterações e/ou
aprimoramentos dos conceitos freudianos ao longo do tempo. Freud foi construindo sua trama conceitual à
medida que caminhava em sua experiência clínica. Dessa forma, temos duas propostas para compreender o
aparelho psíquico:
Primeira tópica: Dividida em inconsciente, consciente e pré-consciente;
Segunda tópica: Consiste na tríade id, ego e superego.
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Sublinhado
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Sublinhado
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1 - O aparelho psíquico
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o aparelho psíquico a
partir da primeira tópica freudiana e a relação entre inconsciente, pré-
consciente e consciente.
A primeira tópica freudiana: inconsciente,
pré-consciente e consciente
Teoria fundamental para realizar o ponto de partida de Freud na compreensão do psiquismo, a primeira
tópica de Freud designa a primeira concepção do aparelho psíquico e é composta por três sistemas:
(Ics)
Inconsciente
(Pcs)
Pré-consciente
(Cs)
Consciente
Trata-se de uma noção de aparelho psíquico como um conjunto articulado de moda
lugares (virtuais), que são explicitados no capítulo sétimo de A interpretação dos
sonhos, intitulado “A Psicologia dos Processos Oníricos”. Freud relaciona a consciência
à função de um órgão sensorial capaz de distinguir qualidades psíquicas (prazer e
desprazer, por exemplo). A excitação chega à consciência de duas direções: do
sistema perceptivo e do interior do próprio aparelho, ou seja, os estímulos vêm de
dentro ou de fora, na percepção do sujeito.
Freud promove uma quebra de paradigma ao a�rmar que a consciência é apenas “a
ponta do iceberg” quando se trata de conhecer as reais motivações e desejos de alguém.
Segundo Gracia-Roza (1993):
Todo o pensamento moderno, de Descartes a Hegel, tem na Consciência uma
referência central. Com Freud a Cons-ciência perde esse estatuto. Passa a
representar uma pequena parte da totalidade psíquica, além de deixar de ser a
sede da verdade.
(GARCIA-ROZA, 1993, p. 219)
A verdade passa a ser relacionada ao desejo (logo, ao inconsciente) e a consciência passa a ser o lugar da
ilusão. A imagem a seguir mostra a relação entre esses três sistemas para Freud:
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Representação dos sistemas de Freud pelo iceberg.
Podemos perceber que o funcionamento inconsciente é a principal fonte para a compreensão dos
fenômenos psíquicos. Entretanto, os dois outros sistemas são fundamentais para a estrutura psíquica,
proporcionando o desenvolvimento de um bebê até sua inserção no meio social. Veja o detalhamento a
seguir:
Estão as representações mentais das quais estamos plenamente conscientes
no momento, o que faz com que esse sistema psíquico esteja em permanente
transformação, pois há uma grande circulação de representações na
consciência, de acordo com a vivência de cada pessoa.
Localizam-se aquelas representações que podem vir à tona na consciência,
mas que não estão disponíveis no momento. Sobre o pré-consciente, podemos
pensá-lo ainda como algo entre o inconsciente e o consciente, filtrando as
informações que passarão para o consciente. O sistema pré-consciente foi
concebido como um sistema articulado ao consciente (Pcs-Cs), funcionando,
assim, como uma espécie de peneira. O pré-consciente também funciona
como um tipo de arquivo de registros e, embora as ideias pré-conscientes
possam estar fora do alcance da consciência, elas não são inconscientes, ou
seja, não foram recalcadas. Dessa forma, os pensamentos pré-conscientes
podem ser recordados sem a resistência da censura.
Consciente 
Pré-consciente 
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Estão as representações que já ocuparam o consciente e/ou o pré-consciente,
mas que foram expulsas porque causavam angústia. São representações que
sofreram recalque e, dessa forma, não podem mais se tornar conscientes sem
que se aplique um intenso trabalho.
O inconsciente merece destaque como conceito fundamental para a
compreensão da proposta psicanalítica, não somente como uma das
instâncias psíquicas.
O inconsciente
A ideia de inconsciente surge associada ao conceito de recalque, ambos derivados do tratamento da
histeria. Freud começou a tratar as pacientes histéricas juntamente com Josef Breuer, utilizando o método
catártico, com o auxílio da hipnose.
O que nos interessa entender aqui, entretanto, não é o método e sim a operação psíquica
sobre a qual ele incidia.
Por meio da hipnose, a qual provocava um estado de rebaixamento da consciência, a paciente lembrava do
trauma que originou o sintoma. A partir dessa lembrança, a paciente podia reagir da forma como não reagiu
no momento exato do trauma. Freud e Breuer chamaram de ab-reação essa emoção que funcionava como
uma catarse; daí o nome de “método catártico” conferido a essa prática.
Exemplo
Para exemplificar brevemente o tratamento exposto, vamos abordar o caso de Anna
O., paciente de Breuer, cuja história causou grande interesse em Freud e deu margem a
vários desdobramentos teóricos. Anna O. era uma mulher de 21 anos que adoeceu
enquanto cuidava de seu pai enfermo. Sua doença começou como uma tosse intensa,
evoluindo para vários outros sintomas.
Inconsciente 
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Em determinado período de sua doença, durante algumas semanas, Anna O. recusava-
se a beber água e saciava sua sede apenas com frutas. Certa vez, durante um estado
de hipnose, ela descreveu uma cena em que ficara enojada ao ver um cachorro
bebendo água de um copo. Após lembrar e reagir ao episódio traumático, pôde beber
água normalmente.
Esse é apenas um exemplo dentro de uma questão muito mais complexa, não só o caso de Anna O., mas
também essa relação entre trauma e sintoma.
Por que Anna O. não podia recordar essa cena sem o auxílio da hipnose? Por que todos os relatos das
primeiras pacientes histéricas seguem essa mesma lógica?
Lembrando que essa prática de Freud foi a base para seus primeiros conceitos, vamos entender, a partir do
exemplo, o que é o inconsciente.
As pacientes não tinham acesso às lembranças traumáticas, não se tratava de um esquecimento. O
esquecimento relaciona-se à seleção de representações que registramos ao longoda vida. Muitas vezes,
pode estar associado ao tempo decorrido entre o fato e a lembrança deste ou à importância de tal fato. É
possível, entretanto, que o contato com determinados estímulos leve à lembrança do que foi esquecido.
Exemplo
Você não lembra de uma colega de infância, mas, ao se deparar com o cheiro do
perfume que ela usava, pode vir a lembrar-se dessa amiga, sem muitas dificuldades.
No caso da histeria, não se tratava de um simples esquecimento, o que estava em questão ali era o
recalque, um mecanismo de defesa que impede a lembrança. Estamos diante da distinção entre
inconsciente e pré-consciente.
No pré-consciente, estão as representações que podem vir à consciência, mas
não estão no momento, como no exemplo da amiga de infância.
No inconsciente, estão representações que foram expulsas do sistema pré-
consciente/consciente por causarem mal-estar, como o cachorro bebendo água
no copo, no caso de Anna O.
O recalque, dessa maneira, é uma forma de proteção diante da dor do trauma ou do mal-estar causado em
face das normas sociais vigentes. Assim, podemos compreender o inconsciente como uma consequência
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do recalque. As lembranças traumáticas perdem o investimento afetivo e se tornam inconscientes.
Atenção!
Não é possível lembrar da ideia que subjaz ao trauma, entretanto, o conteúdo
recalcado continua a exercer força por meio das formações do inconsciente. O
sintoma do caso aqui exemplificado ilustra o retorno do recalcado, uma formação
patológica do inconsciente.
Nota-se que a primeira tópica teve como um dos seus eixos a natureza das representações mentais que
causavam angústia e sofriam recalque. Outra característica foi a abordagem do ponto de vista econômico,
que veremos a seguir.
Princípio do prazer e princípio da realidade
Para abordar esses dois princípios, é necessário associá-los à oposição entre processo primário e processo
secundário. Eles correspondem às duas formas de circulação de energia no psiquismo:
Energia livre (processo primário)
No processo primário, a energia escoa livremente de uma representação para outra,
como nos processos de condensação e deslocamento dos sonhos, e tende a investir
aquelas representações associadas a experiências de satisfação.
Energia ligada (processo secundário)
No caso do processo secundário, a energia está “ligada” antes de escoar e a
satisfação pode ser adiada. O processo primário caracteriza o sistema inconsciente e
o processo secundário diz respeito ao sistema pré-consciente/consciente.
O processo primário está relacionado à descarga de excitação imediata, sem barreiras, enquanto o processo
secundário se relaciona ao pensamento de vigília, ao juízo, à atenção. Os processos psíquicos primários
funcionam sob a égide do princípio do prazer:
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Pelo qual a realidade externa cede lugar à economia pulsional, ou seja, à
regulação prazer-desprazer. E aparecem sob a forma de sonho ou do fenômeno
neurótico, pois são incapazes de conduzir sua existência.
(FREUD, 1989g, p. 192)
De fato, os bebês nascem imersos no princípio do prazer, sem dispositivos para lidar com as exigências da
realidade. O princípio da realidade começa a operar à medida que o desenvolvimento permite.
Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), Freud observa que o bebê
“alucina o seio”, repetindo a experiência de satisfação advinda da amamentação. Mas
é quando o bebê chora, comunicando ao meio externo a sua demanda, que existe a
possibilidade do encontro com um objeto real, que vai satisfazê-lo naquele momento.
Apesar de o bebê, nos primeiros meses, não distinguir o seio de si mesmo, ele está em contato com uma via
real de satisfação. Vemos aí a ação do processo psíquico secundário, que envolve uma ligação — catexia —
do ego com um objeto externo real.
Atenção!
O ego, nesse contexto, não é o ego da segunda tópica, que veremos mais adiante; aqui
o ego surge como um fator de ligação dos processos psíquicos, associado ao sistema
pré-consciente/consciente.
Freud assinala que a mais primitiva satisfação pulsional está relacionada à nutrição e “não é sem boas
razões que, para a criança, a amamentação no seio materno torna-se modelar para todos os
relacionamentos amorosos” (FREUD, 1989j, p. 209). A amamentação imprime uma marca de prazer no bebê
que vai além da necessidade biológica. Nesse sentido, Freud afirma que a satisfação humana vai além das
necessidades. Entretanto, é necessário que o bebê saia do circuito da energia livre, no qual impera absoluto
o princípio do prazer, para que a vida aconteça. “Em última análise, é preciso amar para não adoecer”
(FREUD, 1989i, p. 101).
Essa frase do texto Sobre o narcisismo: uma introdução, de 1914, é bastante difundida nas redes sociais
com uma conotação romântica. Mas, na verdade, é disto que Freud está falando: é preciso fazer ligação
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com objetos reais, mesmo que revestidos de fantasia, para não adoecer psiquicamente.
O desenvolvimento do princípio da realidade é o que permite a inserção no meio
social. Por exemplo: um bebê de três meses urina na fralda como descarga de tensão
imediata. Seria impossível esperar dele algo diferente, uma vez que não existe
desenvolvimento cognitivo, perceptivo ou psicomotor para outra ação. No entanto, de
uma criança de 5 anos, pode-se esperar que segure a descarga imediata de urina e
aguarde sua vez para ir ao banheiro (dentro de um limite aceitável, é claro), assim
como compreenda que é necessário adquirir esse comportamento.
Por vezes, entretanto, o princípio do prazer pode imperar também no funcionamento psíquico de um adulto.
É uma forma de explicar a drogadição, outras compulsões e até mesmo determinadas formas de se
relacionar.
O equilíbrio entre princípio do prazer e princípio da realidade, nesse sentido, está
associado à saúde psíquica e à vida em sociedade, na qual normas precisam ser
introjetadas e o prazer muitas vezes precisa ser adiado.
O desenvolvimento do princípio da realidade
O prof. doutor Luciano de Souza Dias aborda o processo de saída do ego do circuito da energia livre, no qual
impera absoluto o princípio do prazer, para que a vida aconteça, além de falar sobre o equilíbrio entre
princípio do prazer e princípio da realidade, associado à saúde psíquica.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Durante a quarentena provocada pela pandemia da covid-19, muitas mudanças e
adaptações foram necessárias. Algumas famílias ficaram em casa, com os pais
trabalhando em home office e as crianças estudando on-line. A dificuldade de
concentração nas tarefas escolares, o confinamento e a distância da escola,
amigos e familiares foram motivos que deixaram as crianças mais irritadas e, em
alguns casos, agressivas. Débora é uma mãe que se encontra nessa situação.
Está trabalhando em casa e fica o dia inteiro com suas duas filhas, Laura e Nina,
sem contar com ajuda o tempo todo. Laura tem 7 anos e Nina é um bebê de 3
meses. Na hora de amamentar Nina, Laura pede a atenção da mãe em uma tarefa
escolar. Quando Débora responde que não pode ajudá-la naquele momento, a
menina chora e diz que a mãe não gosta dela. Ao mesmo tempo, Nina chora no
berço. Débora segura Nina no colo para amamentá-la e diz a Laura que vai
conversar com ela mais tarde e ajudar em toda a tarefa escolar.
Como podemos justificar a decisão da mãe em relação às duas filhas que pediam
sua atenção ao mesmo tempo? Marque a alternativa que apresenta a resposta
correta.
A
Laura pode prescindir da atenção da mãe, pois o desejo
inconsciente já não se faz tão presente na idade dela.
Parabéns! A alternativa C está correta.
O princípio da realidade se desenvolve com o processo de amadurecimento. Um
bebêde 3 meses é regido pelo princípio do prazer, que não suporta o adiamento
da satisfação. Assim, a filha mais velha, mesmo experimentando certa frustração,
é capaz de lidar com a espera pela atenção da mãe.
Questão 2
Entre as primeiras histéricas tratadas por Freud, ainda com o método da hipnose,
encontra-se o caso de Emmy von N. A seguir, temos um trecho do tratamento
descrito por Freud nos Estudos sobre a histeria:
“Em seguida, coloquei-a em hipnose e perguntei mais uma vez: Por que a senhora
não consegue comer mais? A resposta veio prontamente e consistiu, mais uma
vez, numa série de razões dispostas em ordem cronológica a partir de seu acervo
de lembranças: Estou pensando em como, quando eu era criança, muitas vezes
acontecia que, por malcriação, recusava-me a comer carne ao jantar. Minha mãe
B
O processo primário é mais dominante no comportamento de
Laura do que no comportamento de Nina.
C
O princípio da realidade já se faz presente na vida de Laura, o que
faz com que ela consiga lidar com o adiamento do prazer.
D No caso de Laura, o princípio do prazer não se faz mais presente.
E
O processo secundário é o funcionamento primordial na idade de
Nina.
era muito severa a esse respeito e, sob a ameaça de um castigo exemplar, eu era
obrigada, duas horas depois, a comer a carne, que era deixada no mesmo prato. A
essa altura a carne já estava muito fria e a gordura, muito dura (ela demonstrou
sua repulsa) …. ainda posso ver o garfo na minha frente… um de seus dentes era
meio torto. Sempre que me sento à mesa vejo os pratos diante de mim, com a
carne e a gordura frias.”
(FREUD, S. Estudos sobre a histeria (1893-1895). Rio de Janeiro: Imago, 1989, p.
42).
Dentre as opções abaixo, assinale aquela que explica corretamente esse
fragmento clínico.
Parabéns! A alternativa D está correta.
A
Emmy von N. tinha dificuldades alimentares que poderiam se
transformar em um transtorno alimentar, como a anorexia.
B
Freud tentava, por meio da hipnose, ter acesso ao pré-consciente
de Emmy von N.
C
O recalque incide sobre o fato traumático, mas esse processo não
tem relação com os sintomas.
D
Emmy von N. relata sua lembrança mais facilmente por meio da
hipnose, porque, estando no inconsciente, a história não estava
esquecida, mas sim recalcada.
E
Mediante o recalque se forma o pré-consciente, no qual estão
representações que podem ser acessíveis à consciência.
O recalque, mecanismo na base do inconsciente, impede a lembrança de uma
situação traumática, a não ser pelo trabalho da análise. Não se trata do
esquecimento de uma representação que pode vir à consciência caso algum
estímulo a essa lembrança aconteça. Esse tipo de representação esquecida diz
respeito ao pré-consciente, não ao inconsciente. Ainda, nesse contexto, não se
falava em transtorno alimentar.
2 - A importância e o funcionamento do
inconsciente
Ao �nal deste módulo, você será capaz de de�nir o conceito de
inconsciente, sua importância na teoria psicanalítica e seu modo de
funcionamento.
As formações do inconsciente: sonhos, atos
falhos e chistes
As formações do inconsciente são efeitos dos processos psíquicos inconscientes. Trata-se de uma
elaboração psíquica e simbólica que tem relação com o conteúdo recalcado.
Os sonhos
Em sua obra A interpretação de sonhos, publicada em 1899, Freud (1989a, p. 99)
escreveu que “O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”. O trabalho com
os sonhos o levou a uma compreensão profunda do psiquismo, que foi fundamental
para a criação da Psicanálise.
A essência do sonho é um desejo que fora recalcado durante a infância. Nesse
sentido, o sonho é sempre uma realização de desejo. Podemos entender os sonhos
como processos primários que produzem o modelo da experiência de satisfação do
princípio do prazer (GARCIA-ROZA, 1993).
Segundo Freud, sempre haverá dois conteúdos básicos intrínsecos na interpretação do sonho: o conteúdo
manifesto do sonho e os pensamentos oníricos latentes. O material do primeiro corresponde ao sonho
lembrado, que pode ser relatado pelo sonhador. Já o material do segundo é o que há de oculto e
inconsciente no sonho, o que se pretende atingir pela interpretação. Afirmamos, então, que há uma distância
entre o sonho sonhado (conteúdo latente) e o relato do sonho (conteúdo manifesto).
Entre esses dois conteúdos, impera a censura, impedindo que o conteúdo latente seja
acessado pelo sujeito, exceto pelo trabalho de interpretação analítica.
Podemos explicar a censura como uma tendência que domina a consciência de uma pessoa, com a
finalidade de inibir outra tendência que lhe é oposta, mantendo, assim, o conteúdo inconsciente fora do
alcance da consciência. A censura atua, dessa forma, como uma força que impede o acesso ao fato
traumático.
Quando adormecemos, desligamo-nos dos estímulos externos, que permanecem
parcialmente afastados, ocorrendo um relaxamento da censura.
Ao acordarmos e lembrarmos do sonho, entretanto, a censura se faz presente
entre o que foi sonhado e o que pode ser lembrado.
Nisso consiste o trabalho do sonho ou elaboração onírica.
Ainda assim, apesar do trabalho da censura, Freud afirma que os sonhos são sempre realização de desejo,
especificamente de desejos que estão na contramão das imposições sociais, como os costumes, a
educação, a religião, os tabus e as normas. Aquilo que lembramos do sonho passa pelo trabalho da censura,
assim, essa realização de desejo pode não ser percebida por aquele que sonha.
Quando falamos do pesadelo, essa relação entre o que pode ser percebido e o que se sonha fica mais
evidente. O que ocorre nos pesadelos é uma falha no processo de trabalho do sono. Um conteúdo
inconsciente não teria sido suficientemente deformado ao ponto de poder habitar a consciência. Segundo
Absáber (2005):
Sendo assim, o pesadelo tomaria vantagem da diminuição da censura para
fazer existir na consciência um conteúdo recalcado, o qual no estado de vigília
não estaria ‘autorizado’ a estar lá.
(ABSÁBER, 2005, p. 46)

Ou seja, a realização de desejo relacionada ao sonho não diz respeito a uma sensação percebida pela
consciência, mas ao próprio mecanismo do conflito psíquico, que se atualiza no embate entre desejo e
censura.
Atenção!
É importante ressaltar que, para Freud, esses desejos inconscientes se ligam a restos
diurnos. São fatos, afetos, acontecimentos experimentados durante o dia ou no dia
anterior. O desejo inconsciente atravessa a barreira da censura no momento do sonho
e se articula a esses elementos, que no sonho ganham um sentido diferente daquele
vivenciado quando estamos acordados. Por isso, muitas vezes, os sonhos são
absurdos, não “fazem sentido” para nossa consciência: diversos elementos se fundem
e o sonho não obedece à lógica da consciência.
Para chegar à narrativa do sonho, faz-se necessário o trabalho da elaboração onírica, por intermédio dos
quatro mecanismos fundamentais do trabalho do sonho: condensação, deslocamento, figuração e
elaboração secundária, sendo esta última um segundo momento da elaboração onírica, na tentativa de
conferir inteligibilidade ao sonho.
Os elementos que lembramos dos sonhos são resumidos se os compararmos
aos elementos oníricos dos quais eles se originaram. Vários elementos
vivenciados se combinam em uma só ideia. O conteúdo manifesto é menor do
que o conteúdo latente; o contrário nunca acontece. Assim, pode ocorrer o
ocultamento de alguns acontecimentos do sonho latente, passando apenas
alguns fragmentos para o sonho manifesto. A combinação de vários elementos
em um só passa por uma espécie de filtro, sob o comando da censura.
Um exemplo de condensação é quando sonhamos com uma pessoa que
conhecemos, mas no sonho ela é outra pessoa, tem a imagem de outra
pessoa, conhecida ou não. No sonho sonhado, esses dois elementos estiveram
presentes, mas, com o trabalho da condensação, lembramos da fusão entre os
dois, a princípio ininteligível.
Condensação 
Deslocamento 
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Realce
Consiste na inversão da intensidade psíquica de alguns elementos do sonho. Oaspecto mais significativo do sonho ganha menos importância, enquanto os
elementos secundários podem aparecer com riqueza de detalhes. A
intensidade é deslocada para elementos que não carregam significados mais
profundos.
Ao narrar o sonho, muitas vezes, nos damos conta da presença de determinada
pessoa, por exemplo, que apareceu no sonho sem que tivesse muita
importância, muitas vezes não vemos nenhum sentido em sua presença.
Podemos dizer que essa lembrança sem intensidade carrega, no sonho, um
significado importante no que diz respeito ao desejo inconsciente. Mais uma
vez, é compreensível a ação desse mecanismo quando lembramos do
funcionamento da censura sobre o sonho.
Consiste na seleção e transformação dos pensamentos dos sonhos em
imagens. A figuração, por si só, é um mecanismo responsável pela distorção
resultante da elaboração onírica.
Ocorre a modificação do sonho, de forma que ele pareça uma história coerente
e compreensível. Esse mecanismo faz com que o sonho perca parte de sua
aparência de absurdidade. Acontece na narrativa do conteúdo manifesto.
Figuração 
Elaboração secundária 

Conteúdos básicos intrínsecos na
interpretação do sonho
O prof. doutor Luciano de Souza Dias esclarece, neste vídeo, que os sonhos são processos primários que
produzem o modelo da experiência de satisfação do princípio do prazer; abordando o conteúdo latente e o
conteúdo manifesto do sonho e o papel da censura.
O ato falho
Quando Freud substitui a técnica da hipnose pela associação livre, a fala do paciente toma um valor ainda
mais imprescindível na clínica. A partir daí, Freud percebe que o inconsciente insiste e surge também na
fala, emergindo no consciente pelo equívoco.
A narrativa é importante do ponto de vista do que é contado, mas também nos momentos
em que falha.
Em suas Conferências introdutórias XXI (1916-1917), Freud aborda o ato falho. O lapso verbal, em especial,
será considerado por Freud como o mais apropriado para investigação, pois:
[...] ao enunciar algo distinto do que intencionava, o que cada sujeito encontra é
perplexidade ou irritação. Por vezes, esse fenômeno sequer é reconhecido pelo
falante, sendo revelado pela reação do interlocutor. A perplexidade ou irritação,
intel core i5
Realce
como breve resposta afetiva, leva o sujeito a se questionar sobre o que esse
fenômeno específico quer dizer.
(AYRES, 2017, p. 28)
Entende-se, portanto, que falar uma palavra no lugar daquela que seria intencional conscientemente permite
uma forma de acesso aos conteúdos que são repelidos pela consciência. Para Freud, o ato falho evidencia
que há mais de uma intenção em jogo. “A interferência ou confronto de duas intenções diferentes permite
que uma dada expressão ou frase seja enunciada, a despeito da intenção consciente do falante” (AYRES,
2017, p. 28).
Em outras palavras, o confronto entre intenções evidencia a existência de dois sistemas psíquicos
(consciente e inconsciente) e o conflito entre eles, o que está na base de toda a teoria freudiana.
Podemos citar como exemplo de ato falho chamar uma pessoa pelo nome de outra ou trocar palavras de
sentidos diferentes: “hoje o dia está muito quente”, quando a intenção consciente era dizer “hoje o dia está
muito frio”. A palavra quente, que emerge na narrativa, abre sentido para outro conteúdo, que seria
inconsciente.
Dessa forma, Freud afirma esse fenômeno — do ato falho — como uma formação do
inconsciente. Tal como o sintoma, há no ato falho uma formação de compromisso
entre a intenção consciente da pessoa e o conteúdo recalcado.
Os chistes
Em 1905, Freud escreve O chiste e a sua relação com o inconsciente. Nesse texto, Freud analisa elementos,
características e motivações por trás das piadas cotidianas das quais a maioria de nós acha graça. Ele tenta
compreender qual seria o real motivo delas serem contadas.
As piadas, principalmente as tendenciosas, serviriam como uma forma de liberar pensamentos inibidos.
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O chiste também carrega o duplo sentido, ou seja, a graça está no que não é dito, mas
é compreendido. Não se explica uma piada, o riso é provocado pela compreensão do
não dito. O conteúdo é, muitas vezes, de cunho sexual, agressivo ou crítico. Nesse
sentido, Freud considera que conteúdos inconscientes, muitas vezes hostis e
reprimidos socialmente, podem ser externalizados pelo humor.
O chiste também é visto na Psicanálise como uma forma de laço social, é uma narrativa feita ao outro. A
piada provoca o riso do grupo para o qual é contada, gerando uma satisfação em quem conta. Outro tipo
comum de piada é aquele direcionado a uma figura de poder, um credo, um povo etc.
Atenção!
Aquilo que não se pode falar abertamente devido às restrições da cultura, é revelado
pelo humor, configurando uma suspensão temporária da censura. Isto é, por meio do
chiste, do humor, também é possível observar a expressão do inconsciente, não de
forma explícita, já que o recalque incide sobre esse conteúdo, mas de forma
simbólica.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Em sua obra A interpretação de sonhos, publicada em 1899, Freud escreveu que
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”. Essa afirmativa continua
atual na Psicanálise, sendo o sonho uma formação do inconsciente que desperta
o interesse do psicanalista no decorrer de uma análise. Assinale a alternativa que
apresenta o porquê de isso acontecer.
Parabéns! A alternativa B está correta.
O sonho é sempre uma realização de desejo e, por essa razão, torna-se um
acesso privilegiado aos conteúdos recalcados. O desejo realizado não é acessível
à consciência devido à censura, mas o conteúdo manifesto do sonho se presta à
interpretação do analista.
Questão 2
Sonhos, atos-falhos e chistes são formações do inconsciente. Isso significa que,
apesar da força do recalque, o inconsciente consegue se expressar e produzir
A O sonho latente é mais extenso do que o conteúdo manifesto.
B
O sonho é sempre uma realização de desejo e, nesse sentido, uma
via privilegiada para o inconsciente.
C
O sonhador consegue contar na análise tudo o que sonhou durante
a noite, revelando seus desejos e medos.
D O trabalho do analista consiste na interpretação dos sonhos.
E A elaboração secundária permite total acesso ao sonho sonhado.
efeito na vida consciente. Entretanto, para conseguir se expressar, é necessário
que o conteúdo passe por mecanismos que driblem a censura. Entre esses três
tipos de formação do inconsciente, os sonhos têm atenção privilegiada como via
para o inconsciente. Sobre os mecanismos do sonho, assinale a alternativa
correta.
Parabéns! A alternativa C está correta.
A elaboração secundária é o mecanismo que confere inteligibilidade ao sonho. O
mecanismo responsável pela fusão de vários elementos em um só é a
condensação. Os outros mecanismos mencionados nas demais alternativas não
correspondem ao sonho.
A
O recalque permite que o conteúdo oculto e inconsciente no sonho
seja lembrado pelo sonhador.
B O sonho obedece ao tempo lógico, da consciência.
C
A elaboração secundária faz com que o sonho pareça mais
coerente.
D
O conteúdo latente é o sonho relatado ou, podemos dizer, o sonho
lembrado.
E
No sonho, muitas vezes, a imagem de uma só pessoa representa
mais de uma pessoa. Isso é possível por meio do processo de
elaboração secundária.
3 - A segunda tópica freudiana e suas
relações
Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever a segunda tópica
freudiana e a relação entre id, ego e superego.
A segunda tópica freudiana: id, ego e
superego
Em O ego e o id, texto de 1923, Freud apresenta sua segunda tópica, uma outra forma de compreender o
aparelho psíquico, considerada estrutural. A divisão do aparelho psíquico em consciente, pré-consciente e
inconsciente começou a se mostrar insuficiente à medida que Freud foi avançando em suas observações e
teorias.
O ego, até então, estava totalmente situado no consciente e no pré-consciente, enquanto no inconscienteestariam as representações mentais que o ego teria recalcado. Freud considerava que o conflito psíquico
intel core i5
Realce
seria travado entre o ego e o inconsciente. Um ego consciente que protegeria o sujeito de pensamentos e
ideias inconciliáveis com o sistema de crenças e valores versus um conjunto de representações recalcadas.
Id, ego e superego.
A experiência clínica levou Freud a perceber, entretanto, que uma parte considerável do ego também era
inconsciente. Durante uma análise, a dificuldade de lembrar ou falar de um assunto indica sua relação com
representações recalcadas, que são inconscientes. Freud observou que haveria uma resistência do ego
impedindo o acesso às representações mentais recalcadas. Mas essa resistência também seria
inconsciente, o paciente não tinha consciência de sua ação.
Ora, se a resistência era uma função do ego e também era inconsciente, o ego não
poderia ser totalmente consciente.
Essa mudança do olhar de Freud reorganiza a concepção de ego e a torna mais complexa, englobando
também uma parte inconsciente. O aparelho psíquico toma uma nova conformação teórica e passa a ser
dividido em novas três instâncias:

Ego

Id

Superego
O id
O id é considerado o polo pulsional da personalidade, cujos conteúdos são inconscientes. Do ponto de vista
econômico, é o reservatório da libido (energia psíquica de ordem sexual) e, do ponto de vista dinâmico, entra
em conflito com o superego, que tem a função do juízo moral.
Atenção!
O id não é sinônimo de inconsciente — o inconsciente se torna mais amplo na
segunda tópica —, mas seu funcionamento e conteúdo são de ordem inconsciente.
Segundo Freud, o id seria nossa parte mais instintiva, que sustenta desejos, ímpetos e vontades, sem
conhecer freios morais. O id funciona de acordo com o princípio do prazer e faz uma exigência constante de
satisfação. O id é organizado segundo a lógica inconsciente, na qual não existe tempo cronológico, noção
de espaço ou de certo e errado.
Podemos dizer que o bebê, em seus primeiros momentos de vida, é puro id. À
proporção que o ego se desenvolve, permite que a satisfação seja alcançada com
auxílio do princípio da realidade, mediante investimentos em objetos reais. É na
relação entre id e ego que o sujeito consegue construir sua relação com o mundo,
tornando-se um ser social.
O ego
O ego da segunda tópica ganha uma versão ampliada, o que torna o conceito mais complexo. Veja a seguir:
Primeira tópica
Nela, como já vimos, Freud sinaliza um laço muito estreito entre o ego e o
consciente/pré-consciente.
Segunda tópica
O ego continua sendo o polo da consciência em que podemos verificar a ação do
princípio da realidade, tendo uma função adaptativa.
O ego é uma parte diferenciada do id, a partir de seu contato com a realidade externa.
A construção da segunda tópica leva em conta uma relação entre as instâncias, e essa relação vai
caracterizar o funcionamento psíquico. O ego mantém uma relação com as reivindicações do id, com os
imperativos do superego e com as exigências da realidade, situando-se como um mediador. Sua autonomia,
entretanto, é relativa. Segundo Laplanche e Pontalis (2001):
Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente, no conflito
neurótico, o polo defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de
mecanismos de defesa, estes motivados pela percepção de um afeto
desagradável — sinal de angústia.
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 124)
É importante ressaltar que o ego não tem função de bloquear o desejo. Em vez disso, o que está em
questão é garantir que as necessidades do id sejam satisfeitas, mas de formas que sejam seguras, eficazes
e adequadas. Do ponto de vista econômico, o ego impede temporariamente a descarga de energia do id até
a hora e lugar adequado. Esse embate entre princípio do prazer e princípio da realidade é constante e
importante para lidar com situações da vida.
Exemplo
Pedro e João são dois colegas adolescentes que descem para o pátio comum do
condomínio onde moram. Pedro está comendo um hamburguer, João pede um pedaço
e Pedro diz não. A ação do princípio da realidade fará com que João aguarde até
poder comprar seu próprio hamburguer para, então, saciar esse desejo. Esse
comportamento, diferente de arrancar sanduíche da mão do colega, propicia a vida em
sociedade.
Freud compara o id e o ego com um cavalo e seu cavaleiro (FREUD, 1989e):
O cavalo representa o id: governado pelo princípio do prazer, ele busca apenas satisfazer as suas
necessidades, mas também fornece a energia necessária para impulsionar os dois para a frente.
O cavaleiro representa o ego: guiado pelo princípio de realidade, ele aproveita a energia do id e cria
maneiras para guiá-lo na direção mais adequada.
Embora seja conciliador e se adapte à realidade, o ego também funciona, em parte, pela lógica do
inconsciente. Diante do fato traumático, o ego lança mão de mecanismos de defesa que são disparados
sem que a consciência tenha acesso a isso.
Os mecanismos de defesa do ego
Os mecanismos de defesa visam proteger a pessoa de traumas ou situações desagradáveis que causam
dor. É um movimento automático, que, apesar de proteger, apresenta soluções que também podem causar
dor e desconhecimento sobre si mesmo. Vamos abordar os principais mecanismos e suas funções:
O recalque é um conceito fundamental na construção da Psicanálise,
indissociável do conceito de inconsciente. Consiste em tirar da consciência a
representação dolorosa, desagradável ou inconciliável com o sistema de
crenças. O recalque “decide” que a pessoa “não quer saber” sobre tal
representação e a torna inconsciente. O material recalcado, que compõe o
inconsciente, retorna nos sintomas, o que demonstra que seu caráter de defesa
não é totalmente bem-sucedido.
A projeção é um tipo de defesa que atribui ao outro características,
sentimentos e desejos que o sujeito se recusa a reconhecer em si mesmo. É
um movimento que lança para fora aquilo que o sujeito não quer em si ou que
causa incômodo. Verifica-se com certa frequência nas relações interpessoais.
Por exemplo: uma mulher encontra-se insatisfeita no casamento e nutre
desejos inconscientes por outros homens, eventualmente. Ela passa a ser
extremamente ciumenta e receosa de que o marido a esteja traindo. Por não
saber lidar com o próprio desejo, ela o lança para fora, projetando em seu
marido o interesse por outras mulheres.
Outro exemplo em que podemos observar a projeção é na aplicação de testes
projetivos, muito utilizados para psicodiagnóstico na Psicologia clínica. São
testes que oferecem estímulos que não trazem em si um conteúdo fechado.
Essa atividade pressupõe que o sujeito vai projetar conteúdos internos
naqueles estímulos, frequentemente apresentados em pranchas. Um exemplo
é o teste de Rorschach, que se baseia, entre outros pressupostos, em
concepções psicanalíticas.
Recalque 
Projeção 
Teste de Rorschach.
É um mecanismo caracterizado pela transformação de um pensamento ou
sentimento no seu oposto, em que o sujeito adere à ideia contrária àquela que
foi recalcada, muitas vezes de forma excessiva. As formações reativas
costumam ser investidas com intensidade, mantendo vivos os desejos
originais no inconsciente.
Como exemplo, podemos citar alguém com desejos homossexuais que não
consegue aceitá-los. Essa pessoa pode desenvolver um comportamento
homofóbico, intolerante a qualquer menção feita à homossexualidade.
O mecanismo de racionalização indica a atribuição de motivações mais
aceitáveis e intelectuais do que as verdadeiras, das quais o ego se defende. O
conteúdo desconfortável para o ego é transformado em uma justificativa de
ordem racional ou ideal, no campo do pensamento. Trata-se de uma defesa que
se apoia num raciocínio lógico, explicando sentimentos e emoções e, assim,
disfarçando os conflitos internos.
Formação reativa 
Racionalização 
Regressão 
É um mecanismo que induz o retorno a uma fase anterior do desenvolvimento,
em que as satisfações eram mais imediatas e o princípio do prazertinha mais
espaço.
Um menino tem 6 anos quando nasce a irmãzinha. Esse fato o faz retornar, por
exemplo, à fase oral. Ele passa a chupar dedo, pede mamadeira e chupeta. O
que está em jogo nesse exemplo? A criança experimenta uma sensação de
insegurança que gera desprazer de forma excessiva, além do que ela consegue
elaborar. O ego se defende com a regressão a um estado em que a própria
criança era um bebê e tinha a atenção da mãe de forma mais intensa, tal como
hoje a irmã recebe.
Percebemos que, mesmo em sua parte inconsciente, o ego tem a função de preservar o “eu”, afastando
representações dolorosas. Defesa, adaptação e controle de impulsos são as principais funções dessa
instância. A capacidade de controlar impulsos e adiar a satisfação são características de uma
personalidade madura. Pelo processo de educação, as normas culturais são introjetadas e as crianças vão
aprendendo como controlar seus impulsos e se comportar de formas que sejam socialmente adequadas.
Os mecanismos de defesa do ego
O prof. doutor Luciano de Souza Dias aborda a importância dos mecanismos de defesa do ego. Assista!
O superego

O superego é um elemento estrutural do aparelho psíquico, responsável pela imposição de normas, padrões
e sanções. É uma instância que incorpora uma lei e proíbe sua transgressão, tendo como função fazer juízo
moral. O superego é a última das três instâncias a se desenvolver e, de acordo com Freud, é o herdeiro do
complexo de Édipo. Isso indica o papel central da vivência edipiana na organização do psiquismo.
O complexo de Édipo
Freud atribui ao complexo de Édipo funções fundamentais na construção subjetiva. O
complexo de Édipo é apresentado sob a forma de uma história que consiste, de
maneira simplificada, no fato de a criança do sexo masculino experimentar, por
ocasião da fase fálica, desejos sexuais com relação à mãe, sendo o pai percebido
como um rival. Isso transcorre até que a criança seja obrigada a renunciar a suas
expectativas amorosas, em decorrência do medo da castração.
Para compreender melhor, é importante ressaltar o que significa a castração nesse cenário.
A experiência edipiana é transpassada pela descoberta da diferença anatômica entre os sexos e suas
consequências no psiquismo infantil. Em A organização genital infantil (1923), Freud inclui a fase fálica entre
as fases psicossexuais do desenvolvimento, descrevendo a fase em que os órgãos genitais constituem a
zona erógena para a criança.
Entretanto, quando as crianças se deparam com a diferença anatômica, o único genital que é registrado
psiquicamente é o masculino. Dentro da lógica infantil, não são os dois genitais, o do menino e o da menina,
que são levados em consideração, mas apenas o órgão masculino.
Atenção!
É fundamental observar que, nesse contexto, Freud se refere ao órgão genital
masculino pelo termo falo. Ao escolher um termo diferente de pênis, que seria a
nomenclatura vigente, Freud sublinha o caráter simbólico dessa operação. Não se
trata exatamente do genital, mas do que ele simboliza, seja em sua presença, seja em
sua ausência.
As crianças percebem a diferença sexual como:
Ausência do falo
(no caso da menina)
Presença do falo
(no caso do menino)
Para a criança que se encontra na fase fálica, aquilo que é presente, maior e explícito representa mais
prazer. As crianças criam fantasias chamadas de “teorias sexuais infantis” antes de aceitar, de fato, essa
diferença. Por exemplo: o “falo” da menina é pequeno e ainda pode crescer ou ela o perdeu por causa de
alguma ação que resultou em punição.
Resumindo
Sendo assim, o falo funciona como símbolo do narcisismo, e a fantasia de castração
significa uma ameaça à onipotência infantil. O falo, em sua presença, confere
importância e valor e, em sua ausência, leva ao sentimento de inferioridade. Inaugura-
se a divisão entre fálico e castrado, estando tal divisão definida em termos de
ausência ou presença desse símbolo valorizado que é o falo.
Tendo compreendido o significado da castração dentro do universo infantil, voltemos ao complexo de Édipo:

Toda essa história tem um significado maior do que amor e identificação com as figuras parentais. O que
está em jogo na teoria do complexo de Édipo é a introjeção da lei que organiza a cultura. Ao renunciar ao
forte impulso edipiano, a criança aceita que não pode ter tudo o que quer e nem ser tudo para alguém, nem
mesmo para a mãe.
No complexo de Édipo, o menino quer ser o objeto exclusivo do amor materno; ele
deseja a atenção, os cuidados e o reconhecimento da mãe só para ele. Ao aceitar que
isso não é possível, ele aceita que a mãe tem outros interesses além dele e renuncia a
uma parcela de seu narcisismo. O pai aqui funciona como um terceiro elemento
fundamental para cortar a relação dual entre mãe e filho. Nesse sentido, o menino não
pode satisfazer esse desejo, mas entra na ordem simbólica da cultura, em que poderá
ter outros investimentos amorosos.
O menino direciona, então, suas fantasias sexuais e amorosas para a mãe, enquanto o pai se
transforma num rival. Ao mesmo tempo, tem o órgão genital como zona erógena privilegiada (fase
fálica) e, naturalmente, explora essa área de prazer, tocando frequentemente em seu genital.
Essa ação é alvo de recriminação e, segundo Freud, o menino associa as repreensões com a
imagem da castração feminina. Assim, podemos compreender o abandono da vivência edipiana
por medo da castração.
A mãe é abandonada como objeto de desejo e esse investimento amoroso dá lugar à identi�cação
com a �gura paterna. O menino se identi�ca com os traços de masculinidade do pai e fará, no
futuro, uma escolha amorosa tal como o pai fez ao casar-se com a mãe.
Trata-se, então, da introjeção da lei paterna, a lei que organiza a capacidade de renunciar a outros desejos
em nome da inserção na sociedade.
Saiba mais
É importante ressaltar que o complexo de Édipo é uma teoria muito mais extensa do
que aqui apresentada. Os sentimentos infantis são ambivalentes, o menino tem o pai
como rival, mas também o ama. Destaca-se ainda que o desfecho do Édipo não
acarretará, necessariamente, uma orientação heterossexual e, além disso, essa
experiência se dá de forma diferente para a menina. Ela entra no Édipo ao se perceber
castrada, ao contrário do menino que sai do Édipo por medo da castração.
Como herdeiro do complexo de Édipo, o superego começa a se constituir a partir do momento em que a
criança renuncia ao pai/mãe como objeto de desejo. É a introjeção da lei, que forma a instância responsável
pelo julgamento a partir das normas sociais. A instância que carrega a noção de certo e errado exerce
autoridade moral sobre as ações e o pensamento, e de onde surgem a vergonha, a repulsa e a moralidade.
Na relação entre o ego e o superego, este representa as exigências da cultura, enquanto o id faz pressão
para a satisfação pulsional.
E assim funciona o aparelho psíquico na segunda tópica, como um esquema que
busca um constante equilíbrio, a fim de permitir a vida dentro das possibilidades
consideradas adequadas e adaptadas à realidade externa.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Na segunda tópica freudiana, o superego é responsável pela censura e pelo juízo
moral. Última instância psíquica a se desenvolver, Freud afirma que o superego é
o herdeiro do complexo de Édipo. Isso implica compreender a importância da
vivência edipiana como constitutiva do psiquismo, correlacionando essa
experiência com a formação do superego. Assinale a afirmativa que explica
corretamente a relação entre complexo de Édipo e superego.
A
O complexo de Édipo está relacionado com a descoberta da
diferença anatômica entre os sexos e isso faz com que o superego
seja rígido em coibir o desejo sexual.
B
O complexo de Édipo traduz um desejo de subverter a ordem,
ocupando o lugar do pai junto à mãe. Quando a criança renuncia a
esse desejo, há a introjeção da lei paterna, que está associada à
capacidade de inserção na ordem social.
C
Na saída do complexode Édipo, a criança tem o ego enfraquecido,
o que permite a formação do superego.
D
O superego é herdeiro do complexo de Édipo porque engloba um
ideal de amor para o futuro.
Parabéns! A alternativa B está correta.
O superego é herdeiro do complexo de Édipo devido à interdição do desejo
incestuoso, que organiza o psiquismo para que o sujeito seja inserido na cultura.
O superego é a instância responsável pelo juízo moral advindo da experiência
edipiana.
Questão 2
No texto O ego e o id, Freud utiliza a metáfora do cavalo e do cavaleiro para se
referir à relação entre o id e o ego: “O cavalo provê a energia de locomoção,
enquanto o cavaleiro tem o privilégio de decidir o objetivo e guiar o movimento do
poderoso animal” (FREUD, S. O ego e o id (1923). Rio de Janeiro: Imago, 1989, p.
121).
Marque a alternativa que traduz adequadamente essa metáfora.
E
O superego é responsável por todo o sentimento de medo do ser
humano e isso se dá por causa do medo da castração, que faz o
menino abandonar a mãe como objeto de amor.
A
O id tem a força do desejo inconsciente, com a qual o ego não
consegue lidar. O movimento psíquico é definido pelo id.
B
O aparelho psíquico indica a necessidade de adaptação à
realidade, portanto, o ego domina completamente o id.
C
Os mecanismos de defesa do ego são voltados para o id, com o
objetivo de amansar a sua força.
Parabéns! A alternativa E está correta.
A metáfora usada por Freud diz respeito à relação entre o id e o ego, em que o ego
propicia a satisfação exigida pelo id por meio do processo secundário e do
princípio da realidade. O ego não suprime os impulsos do id, mas os torna
possíveis.
D
O ego e o id, na verdade, têm a mesma função, mas como o ego
tem contato com a realidade externa, Freud associa o ego ao
cavaleiro.
E
O id é o reservatório da pulsão e exerce sobre o ego a exigência de
satisfação, cabendo ao ego garantir essa satisfação por meios
aceitáveis e possíveis.
4 - A compreensão do funcionamento
psíquico
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a contribuição do
texto O mal-estar na civilização para a compreensão do funcionamento
psíquico.
O mal-estar na civilização
O texto O mal-estar na civilização foi publicado em 1930 e o seu conteúdo é considerado bastante atual para
refletir sobre a relação entre o homem e a sociedade.
Freud observa que a civilização é composta por um conjunto de regras e regulamentos
que exercem controle sobre a natureza e os relacionamentos humanos. Freud analisa
as consequências da inserção na sociedade, descrevendo uma divisão entre natureza
e cultura; tal inserção seria o que diferenciaria o homem de outros animais da
natureza.
O mal-estar provém do embate entre as normas da civilização e as exigências do id, do princípio do prazer.
Nessa obra de Freud, podemos pensar o aparelho psíquico de forma prática, a partir da condição do homem
civilizado.
O sentimento oceânico
Freud inicia o texto comentando a troca de correspondência com um amigo, sobre religião. O amigo em
questão era Romain Rolland, professor de História da Arte. Rolland comenta o texto de Freud O futuro de
uma ilusão (1927), em que o autor trata a religião como ilusão. Rolland discorda sobre a fonte propulsora da
religião. Para ele, as igrejas e sistemas de religião se apoderam de um sentimento que caracteriza a
religiosidade: um sentimento de “eternidade”, de algo ilimitado, sem barreiras, que denominou “oceânico”.
Seria um fato puramente subjetivo, não um artigo de fé e não traria qualquer garantia de sobrevida pessoal.
O sentimento oceânico seria a base da religiosidade.
Freud passa a refletir, então, sobre o que Rolland chamou de sentimento oceânico. Para Freud, esse
sentimento não indicaria a religiosidade, embora possa ter sido vinculado posteriormente à religião. Se há
um sentimento oceânico, ele estaria relacionado ao início da vida, antes da indiferenciação entre o eu e o
outro, quando havia o predomínio do princípio do prazer:
O bebê lactante ainda não separa seu Eu de um mundo exterior, como fonte
das sensações que lhe sobrevêm. Aprende a fazê-lo aos poucos, em resposta a
estímulos diversos. Deve impressioná-lo muito que várias das fontes de
excitação, em que depois reconhecerá órgãos de seu corpo, possam enviar-lhe
sensações a qualquer momento, enquanto outras — entre elas a mais desejada,
o peito materno — furtam-se temporariamente a ele, e são trazidas apenas por
um grito requisitando ajuda. É assim que ao Eu se contrapõe inicialmente um
“objeto”, como algo que se acha “fora” e somente através de uma ação
particular é obrigado a aparecer.
(FREUD, 1989h, p. 35)
No processo de diferenciação entre a criança e o mundo externo, surge a tendência de afastar o eu de tudo
o que pode se tornar fonte de desprazer, a jogar isso para fora, formando um primitivo “Eu-de-prazer”. Essa
ordenação de fronteiras, no entanto, pode escapar à experiência da realidade. Esse momento, que pode ser
considerado mítico, em que o bebê e o seio eram um só e o princípio do prazer imperava, é uma marca
indelével de satisfação. Essa unidade narcísica não deixa de impulsionar o sujeito em sua direção como um
movimento desejante, mesmo que seja inalcançável. É a partir desse movimento desejante nostálgico que
Freud poderia compreender a existência de um sentimento oceânico.
Desse modo, o papel do sentimento oceânico indicaria o desejo de restabelecer o narcisismo ilimitado,
enquanto a religião remontaria mais ao desamparo infantil, que encontraria conforto numa figura paterna
protetora e divina. O mais importante nessa reflexão de Freud são os questionamentos que daí se
depreendem.
O que revela a própria conduta dos homens acerca da finalidade e intenção de sua
vida, o que pedem eles da vida e desejam nela alcançar? É difícil não acertar a
resposta: eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes. (FREUD,
1989h, p. 38)
Ao abordar a felicidade como finalidade humana, Freud vai discorrer sobre as fontes de sofrimento e as
estratégias utilizadas para combatê-las.
Civilização: renúncia e sofrimento
Vimos que, para Freud, a busca da felicidade é o que dá sentido à vida, entretanto, pela própria condição
humana na civilização, sabemos que a felicidade só pode ser experimentada de forma descontínua e
episódica. O sofrimento, por sua vez, é muito mais fácil de ser vivido e advém de três fontes:

A fragilidade de nossos corpos

O meio externo

O relacionamento entre os homens
Nosso próprio corpo, observa Freud, é fadado ao declínio e à dissolução. O corpo humano adoece,
envelhece, sendo fonte de dor e medo até como sinais de advertência. O mundo externo é aqui
compreendido como a força superior da natureza, que pode se abater sobre nós de forma inevitável e
destruidora. Não temos controle sobre acidentes e catástrofes naturais. A relação com outros seres
humanos, para Freud, é a maior fonte dos nossos sofrimentos, de forma mais dolorosa do que qualquer
outra:
Sob a pressão destas possibilidades de sofrimento, os indivíduos costumam
moderar suas pretensões à felicidade — assim como também o princípio do
prazer se converteu no mais modesto princípio da realidade, sob a influência
do mundo externo —, se alguém se dá por feliz ao escapar à desgraça e
sobreviver ao tormento, se em geral a tarefa de evitar o sofrer impele para
segundo plano a de conquistar o prazer.
(FREUD, 1989h, p. 41)
A civilização é descrita por Freud como a soma das realizações e regulamentos que nos distinguem de
nossos antepassados animais e que servem a dois intuitos: “o de proteger os homens contra a natureza e o
de ajustar seus relacionamentos mútuos” (FREUD, 1989h, p. 42).
Essas funções são cumpridas, porém, de modo precário, já que a civilização não é capaz de proteger o
homem dos perigos e sofrimentos que a natureza e seu corpo lhe impingem; muito menos é eficaz na tarefa
de regular os relacionamentos para serem sempre fruto de satisfação. No entanto, conforme Freud
descreveu em Totem e tabu, não fosse essa tentativa,mesmo que falha, de regulamentação, os
relacionamentos ficariam a cargo da vontade arbitrária do indivíduo, situação em que o homem fisicamente
mais forte decidiria o destino dos demais, de acordo com seus próprios impulsos pulsionais e interesses.
A civilização impede a satisfação irrestrita de todas as necessidades, mas permite um quantum de
satisfação para todos. Além disso, são inequívocos os ganhos e a contribuição advindos da civilização.
Exemplo
Freud cita as estradas de ferro, o telefone, a Ciência, certa proteção do homem diante
das forças da natureza como produtos da cultura que facilitam e prolongam a vida
humana. Ainda assim, no texto, Freud ressalta o mal-estar gerado pela civilização.
O princípio do prazer domina o desempenho do aparelho psíquico e é contornado justamente pela inserção
social. Sobre o princípio do prazer, Freud afirma: “seu programa está em desacordo com o mundo inteiro,
tanto o macrocosmo como o microcosmo. É absolutamente inexequível, todo o arranjo do Universo o
contraria” (FREUD, 1989h, p. 45). A necessidade de adaptação custa ao ser humano uma boa parte de sua
natureza. É necessário abdicar da intensidade originária dos impulsos sexuais e agressivos.
O homem, apesar de seus ideais narcísicos, é constantemente obrigado a encarar sua
natureza incompleta: a incerteza dos relacionamentos e a finitude, por exemplo, são
fatos que se impõem à existência. Freud explica a neurose como fruto dessa relação
do homem com a civilização. O recalque é consequência de uma série de normas
sociais que entram em choque com o desejo.
Papel da civilização no nosso psiquismo
O prof. doutor Luciano de Souza Dias fala sobre as três fontes de sofrimento e como o homem, apesar de
seus ideais narcísicos, é constantemente obrigado a encarar sua natureza incompleta. Assista!
A busca da felicidade
Segundo Freud, “a vida, tal como nos coube, é muito difícil para nós, traz demasiadas dores, decepções,
tarefas insolúveis. Para suportá-la, não podemos dispensar paliativos” (FREUD, 1989h, p. 37). Freud indica,

então, uma série de técnicas que os homens utilizam para evitar o sofrimento e obter prazer, isto é, ser feliz
da forma que é possível.
Atenção!
É importante ressaltar que, nesse contexto, Freud usa o termo felicidade associado ao
princípio do prazer, que tem como objetivo evitar o desprazer e alcançar o prazer.
Uma das saídas seria se isolar voluntariamente, como o eremita, com o objetivo de evitar os sofrimentos
provenientes das relações humanas e evitar as adversidades do mundo externo. Freud assinala que essa
opção pode alcançar a felicidade pela via da quietude, mas, ao dar as costas para o mundo externo, o
indivíduo pode substitui-lo por um mundo criado conforme seus próprios desejos e tal afastamento da
realidade externa pode dar lugar à experiência da loucura. Em geral, essa alternativa não é eficaz para
encontrar a felicidade.
Outra forma que o homem usaria para lidar melhor com os infortúnios da realidade
seria o uso de substâncias que produzem sensações imediatas de prazer, como o
álcool e as drogas. A ingestão dessas substâncias muda as condições de nossa
sensibilidade e torna difícil absorvermos impulsos desprazerosos. Trata-se, entretanto,
de sensações passageiras, que dependem totalmente do acesso a entorpecentes.
A sublimação é outra técnica para evitar o desprazer, que ocorre quando se consegue desviar a meta da
pulsão. A satisfação por essa via não se dá no campo da sexualidade, do princípio do prazer. A satisfação
viria através da criação, da atividade intelectual, da arte.
A satisfação desse gênero, como a alegria do artista no criar, ao dar corpo a
suas fantasias, a alegria do pesquisador na solução de problemas e na
apreensão da verdade, tem uma qualidade especial, que um dia poderemos
caracterizar metapsicologicamente.
(FREUD, 1989h, p. 40)
Segundo Freud, a sublimação seria um meio “mais fino e elevado”, além de consistente e eficaz. No entanto,
este método não é acessível a todas as pessoas e, apesar de produtivo, não proporciona uma proteção
completa contra o sofrimento.
Entre todas as técnicas já citadas, Freud ressalta aquela que mais se aproxima da
felicidade completa: diz respeito à “orientação da vida que situa o amor no ponto
central, que espera toda a satisfação do fato de amar e de ser amado” (FREUD, 1989h,
p. 43). Por certo, os apaixonados experimentam um êxtase no enamoramento e têm a
sensação de serem um só, o que traz a ilusão de completude, de que nada falta.
Essa demasiada felicidade, entretanto, pode dar lugar ao extremo sofrimento caso o
objeto amado nos abandone de alguma forma.
Freud termina essa parte do texto afirmando que em nenhum desses caminhos podemos alcançar tudo o
que desejamos e faz uma observação importante do ponto de vista econômico: “Assim como o negociante
cauteloso evita imobilizar todo o seu capital numa só coisa, também a sabedoria aconselhará talvez a não
esperar toda satisfação de uma única tendência” (FREUD, 1989h, p. 47).
Dica
A ideia seria investir a libido de formas diversificadas para que, na ausência de um
desses objetos ou forma de satisfação, o sujeito não experimente um sofrimento
desnecessário, pois ainda haverá outros investimentos. O êxito jamais é certo e
seguro, mas encontrar felicidade dependeria da capacidade da constituição psíquica
em adaptar sua função ao meio e aproveitá-lo para conquistar prazer.
O superego cultural e o sentimento de culpa
Na obra O mal-estar na civilização, Freud articula a sua teoria pulsional com a cultura.
Ele observa que o desenvolvimento do aparelho psíquico no sujeito tem grande
semelhança com instâncias sociais, mas seu interesse recai sobre o superego, que
tem funções parecidas no indivíduo e na cultura. Freud diz que a evolução cultural
impõe barreiras à felicidade também pelo sentimento de culpa que provoca.
Mesmo antes de o superego ter se desenvolvido no psiquismo, já havia a reação de medo da criança
perante as autoridades externas. A criança teme perder o amor dos pais caso contrarie suas ordens e, caso
o faça, se sente culpada. Segundo Freud (1989):
Quanto à consciência de culpa, é preciso admitir que se apresenta antes do
Superego, ou seja, também antes da consciência moral. É então a expressão
imediata do medo à autoridade externa, o reconhecimento da tensão entre o Eu
e esta última, o derivado direto do conflito entre a necessidade do amor dela e
o ímpeto de satisfação instintual, cuja inibição gera a tendência à agressão.
(FREUD, 1989, p. 54)
Depois da formação do superego, o sujeito passa a lidar com duas camadas do sentimento de culpa, uma
de origem externa e outra interna, uma vez que, sendo o superego uma instância interna, não é preciso
cometer o ato transgressor para sentir culpa, basta desejar fazê-lo.
Atenção!
Freud ressalta que a pulsão não satisfeita gera agressividade, um impulso natural e
constitutivo do humano, que também precisa ser barrado pelas exigências sociais.
Assim, o preço do progresso cultural seria a perda da felicidade também pela
supressão da agressividade e pelo acréscimo do sentimento de culpa.
Acerca do superego cultural, Freud afirma que toma como base a personalidade que grandes líderes
deixaram para aquela cultura. Não podemos deixar de lembrar que Freud se baseia na cultura ocidental
moderna para sua análise, pois foi nela que viveu e construiu sua teoria. Nesse contexto, ele cita Jesus
Cristo como o mais impressionante exemplo. Para Freud, o cristianismo “institui severas exigências ideais,
cujo não cumprimento é punido mediante ‘angústia de consciência’” (FREUD, 1989h, p. 57).
O mandamento “Ama teu próximo como a ti mesmo” exigiria que a humanidade
visasse à satisfação altruísta acima de qualquer outra, o que seria impossível alcançar
devido à força pulsional do id e às dificuldades do ambiente real. Ainda que seja
humanamente impossível cumprir um ideal tão avesso à natureza humana, “a
civilização negligencia tudo isso; recorda apenas que quanto mais difícilo
cumprimento do preceito, mais meritório vem a ser ele” (FREUD, 1989h, p. 58).
É importante ressaltar que a intenção de Freud não é propor o fim das normas culturais e morais, ou
simplesmente criticá-las. Freud considera o progresso da civilização como necessário e precioso. A ideia é
analisar as restrições impostas ao humano e suas consequências.
Ao estudar as neuroses, Freud se deparou com o recalque tal como uma defesa do ego que visa resguardar
a pessoa do sofrimento e de ideias inconciliáveis com a moral civilizada. Logo, o sintoma, para a
Psicanálise, seria uma consequência da civilização ocidental. Nada mais natural que o interesse de Freud no
tema.
Nesse trabalho, Freud foca bastante a luta entre natureza e cultura, o embate entre id e superego, no
entanto, precisamos lembrar que o ego tem como uma de suas funções encontrar satisfações substitutas,
aceitas socialmente e a partir de objetos reais (não alucinados).
É também na civilização que encontramos satisfação, tornando suportável a frustração da existência e
permitindo a formação de laços sociais.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“O sofrer nos ameaça a partir de três lados: do próprio corpo que, fadado ao
declínio e a dissolução, não pode sequer dispensar a dor e o medo como sinal de
advertência; do mundo externo, que pode se abater sobre nós com forças
poderosíssimas, inexoráveis, destruidoras; e, por fim, das relações com os outros
seres humanos” (FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930). Rio de Janeiro:
Imago, 1989h).
Esse é um trecho de O mal-estar na civilização, publicado em 1930. Freud
descreve as fontes de sofrimento que revelam a fragilidade humana. A percepção
desse fato, aliada ao princípio do prazer, faz com que o homem utilize estratégias
na busca da felicidade.
Entre as alternativas abaixo, assinale aquela que apresenta uma estratégia
descrita por Freud.
A As regras sociais, que permitem colocar ordem na sociedade.
B A religião, que permite lidar com a nossa angústia existencial.
C
Os chistes, que permitem rir daquilo que ameaça a nossa
felicidade.
D A relação amorosa romântica, que traz a ilusão da completude.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Para Freud, a experiência que as pessoas apaixonadas experimentam é muito
próxima à satisfação plena, por proporcionar um êxtase altamente efetivo e
prazeroso. As outras técnicas mencionadas nas demais alternativas não
correspondem ao objetivo mencionado no comando da questão.
Questão 2
Em O mal-estar na civilização, Freud analisa as consequências da inserção na
cultura. A vida em sociedade exige restrição da satisfação pulsional, o que tem
consequências para a natureza humana. Freud fala sobre o superego cultural, que
seria construído de forma correlata ao superego individual, tendo como ideal o
modelo que grandes líderes deixaram para a cultura. Esse embate entre os
impulsos primitivos humanos e a cultura pode ser descrito pelos conceitos
relacionados ao funcionamento do aparelho psíquico.
Entre as opções abaixo, marque a correta.
E Os sonhos, que nos permitem modificar a realidade.
A
O recalque representa a defesa do ego que visa resguardar a
pessoa do sofrimento experienciado diante da falta de normas e
restrições sociais.
B
O id cumpre a função de mediador entre as exigências do ego e o
imperativo do superego.
C
O processo primário passa a ser desnecessário em relação ao
processo secundário para que a ligação com objetos reais
Parabéns! A alternativa D está correta.
A vida civilizada só é possível a partir da renúncia de grande parte dos impulsos
sexuais e agressivos, o que Freud relaciona com o sofrimento. Dessa forma, a
culpa é experimentada tanto pela existência de impulsos internos inaceitáveis
como pelo superego cultural.
Considerações �nais
Como vimos, o aparelho psíquico é fruto de uma teoria que busca compreender o conflito psíquico na base
da neurose. Tanto a primeira tópica como a segunda tópica são teorias que trazem uma ideia central na
Psicanálise: o embate entre princípio do prazer e princípio da realidade.
A Psicanálise traz a ideia de um sujeito dividido, que precisa renunciar à satisfação imperativa do princípio
do prazer, e com isso, torna-se faltoso e limitado, mas também desejante. É na cultura que encontramos as
possibilidades para nos inventarmos e reinventarmos, mas com muitos desafios: nada cessará os conflitos
entre os sujeitos, a fragilidade e a finitude do corpo é uma realidade e a natureza sempre poderá mostrar a
sua força de destruição.
aconteça.
D
As exigências culturais demandam que o sujeito lide com dois
tipos de sentimento de culpa, um externo e outro interno.
E
O inconsciente consegue ser totalmente controlado a partir do
recalque.
Apesar das adversidades, caminhos podem ser construídos, não para a felicidade plena, mas para uma vida
com obtenção de prazer e saúde psíquica.
Podcast
Agora, o prof. doutor Luciano de Souza Dias encerra o conteúdo desenvolvendo a ideia de um sujeito
dividido, apresentando o papel da cultura nessa dinâmica.
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Referências
ABSÁBER, T. O sonhar restaurado: formas de sonhar em Bion, Winnicott e Freud. São Paulo: Ed. 34, 2005.
AYRES, S. Atos falhos: interpretação e significação. Natureza humana, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 24-37, jul.
2017.
FREUD, S. A interpretação dos sonhos (I) (1900). Rio de Janeiro: Imago, 1989a. (Edição Standard Brasileira
das Obras Completas de Sigmund Freud, v. 4).
FREUD, S. A organização genital infantil (1923). In: Freud, S. O ego e o ID e outros trabalhos (1923-1925).
Rio de Janeiro: Imago, 1989b. (Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, v. 19)
FREUD, S. Conferência introdutória XXI: O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. In: Freud, S.
Conferências introdutórias sobre psicanálise (Parte III) (1916-1917). Rio de Janeiro: Imago, 1989c. (Edição
Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, v. 16)
FREUD, S. Estudos sobre a histeria (1893-1895). Rio de Janeiro: Imago, 1989d. (Edição Standard Brasileira
das Obras Completas de Sigmund Freud, v. 2)
FREUD, S. O ego e o id (1923). In: Freud, S. O ego e o ID e outros trabalhos (1923-1925). Rio de Janeiro:
Imago, 1989e. (Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, v. 19)
FREUD, S. O futuro de uma ilusão (1927). In: Freud, S. O futuro de uma ilusão, O mal-estar na civilização e
outros trabalhos (1927-1931). Rio de Janeiro: Imago, 1989f. (Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud, v. 21)
FREUD, S. O inconsciente (1915). In: Freud, S. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre
metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Rio de Janeiro: Imago, 1989g. (Edição Standard Brasileira
das Obras Completas de Sigmund Freud, v. 14)
FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930). In: Freud, S. O futuro de uma ilusão, O mal-estar na civilização e
outros trabalhos (1927-1931). Rio de Janeiro: Imago, 1989h. (Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud, v. 21)
FREUD, S. Sobre o narcisismo: uma introdução (1914). In: Freud, S. A história do movimento psicanalítico,
artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Rio de Janeiro: Imago, 1989i. (Edição
Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, v. 14)
FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). In: Freud, S. Um caso de histeria, Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: Imago, 1989j. (Edição
Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, v. 7)
GARCIA-ROZA, L.A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: J.Z.E., 1993.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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Para aprofundar este estudo, recomendamos os seguintes textos de Freud:
A organização genital infantil (1923).
A dissolução do complexo de Édipo (1924).
Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos (1925).Sexualidade feminina (1931).

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