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AULA 1 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – ENGENHARIA ECONÔMICA Ao tratarmos da engenharia econômica, nós estudaremos, primeiramente, a microeconomia e, na sequência, a macroeconomia e, finalmente, os custos. A microeconomia é baseada em duas importantes teorias: 1. a teoria do consumidor; 2. a teoria da firma. Cada um de nós, como consumidores, nos deparamos com situações em que fica a dúvida se devemos ou não comprar determinado produto ou adquirir determinado serviço, no que tange ao custo desse produto ou serviço. É comum que um consumidor, ao perceber que um produto que costuma utilizar está com preço mais baixo do que aquele comumente praticado pelo mercado, resolva adquirir uma quantidade maior de itens daquele produto. Mas a mesma situação pode ocorrer quando ele tem a sua renda aumentada, pois se sente momentaneamente mais rico. É importante, portanto, conhecermos o comportamento do consumidor perante o mercado de bens e de serviços. 1.1 Microeconomia Primeiramente, precisamos saber o que é economia. Segundo Montella (2009), economia é a ciência que estuda a produção, a circulação e o consumo dos bens e serviços. Como toda produção implica um custo, os bens advindos daí não são oferecidos de graça: eles têm um preço. Nós dividiremos a nossa abordagem sobre economia em microeconomia e macroeconomia. Iniciaremos nossos estudos pela microeconomia. Mas, o que é isso? A microeconomia é a parte da economia que estuda a determinação dos preços dos bens e serviços, se fundamentando, para isso, nas leis do mercado. É nesse contexto que precisamos conhecer a teoria do consumidor e a teoria da firma, que nos permitem analisar o cenário do mercado para a tomada de decisões. Para isso, há conceitos importantes que devemos conhecer neste momento: bens, preço e mercado. O que são bens? São todas as coisas que têm utilidade e que satisfazem as necessidades humanas. Observe que tais coisas podem ser divididas em bens econômicos, que são aqueles bens considerados raros ou escassos; e bens não econômicos, que são aqueles que são livres ou abundantes, com oferta ilimitada. 3 Um bem econômico é algo tangível, como um automóvel, um imóvel ou uma maçã. Um bem não econômico não é tangível, como o ar que respiramos, a água dos oceanos – constituem os chamados bens gratuitos, aos quais não faz sentido atribuirmos um preço. E preço, o que vem a ser? É uma expressão monetária do valor de um produto ou de um serviço transacionado no mercado. Só faz sentido a atribuição de um preço a um bem econômico e precisamos negociar em um mercado, para adquirir esse bem. E o que se entende por mercado? Mercado é um local em que compradores (lado da procura) e vendedores (lado da oferta) realizam transações. É a interação entre as forças de oferta e de procura. Observe que esse local pode ser um ambiente físico ou um ambiente virtual. Nesse mercado, em que produtos ou serviços são buscados pelos consumidores, os preços a eles atribuídos funcionam como um indicador para a economia. TEMA 2 – COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: A CURVA DE INDIFERENÇA Sabemos que um consumidor tem suas preferências por determinados produtos, determinadas marcas, determinados serviços. Então, precisamos definir o que denominamos cesta de mercado como o conjunto de mercadorias que satisfazem as necessidades de um consumidor, sabendo que cada consumidor tem a sua própria cesta de mercado. Há, nisso, algumas premissas que devem ser observadas: a. os consumidores podem comparar e ordenar as diferentes cestas de mercado de acordo com as suas preferências; b. essas preferências são transitivas, isto é, se o consumidor prefere A a B e B a C, logo, A é preferível a C; c. os consumidores sempre preferem levar uma quantidade maior (em vez de uma quantidade menor) da mesma mercadoria; d. as preferências dizem respeito à satisfação dos consumidores e, por isso, não levam em conta os preços das mercadorias. As preferências dos consumidores podem ser representadas em uma curva: a curva de indiferença (veja a Figura 1). Nessa curva, são representadas todas as cestas de mercado que, igualmente, satisfazem as necessidades de um 4 consumidor, ou seja, proporcionam o mesmo grau de satisfação ao consumidor. Vamos representar essa curva pela função U = f(x , y), onde: x e y são os bens (produtos ou serviços) que compõem a cesta de mercado; U é a função utilidade (ou grau de satisfação) do consumidor. Figura 1 – Curva de indiferença com cinco cestas de mercado y A D B E C U (função utilidade) x Observe que qualquer ponto sobre a curva da Figura 1 representa uma cesta de mercado que dá a um consumidor o mesmo grau de satisfação. Por essa razão, a curva é denominada curva de indiferença. Nesse exemplo, as cestas A, B, C, de maneira indiferente, dão ao consumidor o mesmo grau de satisfação. Nessa curva de indiferença, a cesta D é preferível à cesta A e a cesta A é preferível à cesta E, dada a premissa de que uma quantidade maior de um bem é sempre preferível a uma quantidade menor desse mesmo bem. Quanto mais longe estiver a cesta da origem dos eixos, maior será a preferência do consumidor. Caso representemos num mesmo par de eixos várias curvas de indiferença, teremos um mapa de indiferença, pois maior satisfação o consumidor terá. Veja a Figura 2. 5 Figura 2 – Mapa de indiferença com três curvas de indiferença y U3 U2 U1 x Observe, na Figura 2, que o grau de utilidade (ou de satisfação) U1 é menor que U2, que é menor que U3. E assim por diante. Consistem em propriedades das curvas de indiferença: a. As curvas de indiferença são negativamente inclinadas (são decrescentes). Cestas com maior quantidade de bens proporcionam maior satisfação ao consumidor. b. As curvas de indiferença não se interceptam. A cesta na curva U2 proporcionaria satisfação maior que uma cesta na curva U1, pois a curva U2 contém mais bens. c. As curvas de indiferença são convexas em relação à origem. Para um mesmo nível de satisfação, o consumidor deve abrir mão de quantidades cada vez menores do bem y, em troca de uma unidade a mais de x. 2.1 Restrições orçamentárias e linha de orçamento Vimos que uma curva de indiferença mostra as preferências do consumidor, mas tal curva não leva em consideração os preços dos bens e serviços que compõem uma cesta de mercado, bem como não leva em consideração a renda que o consumidor precisa ter para adquiri-los. Vamos então analisar, agora, o orçamento do consumidor. Ou seja, precisamos saber qual é a renda de um consumidor e vamos supor, para fins de análise, que toda essa renda será necessária para a aquisição da cesta de mercado que é constituída pelos bens x e y correspondentes. Vamos chamar a renda de R, de qx a quantidade 6 adquirida de x, de qy a quantidade adquirida de y, de px o preço de x e de py o preço de y. Então: px . qx + py . qy = R (ou seja, gasto total = renda total) Graficamente, teremos a denominada linha de orçamento ou isorenda. Veja a Figura 3. Figura 3 – Linha de orçamento ou isorenda qy R/ py px . qx + py . qy = R 0 R/ px qx Importa salientar que se presume para isso que o consumidor gastará sempre o mesmo montante para adquirir as diferentes quantidades de x e de y que compõem a sua cesta de mercado. Vale lembrar que, quando x = 0, teremos qy = R/py;e que, quando y = 0, teremos qx = R/px. Quando x = 0, o consumidor gastará toda a sua renda (R) adquirindo a cesta (0, R/py). Quando y = 0, o consumidor gastará toda a sua renda adquirindo a cesta (R/px, 0). Como exemplo, suponha os dados da Tabela 1 a seguir. Tabela 1 – Linha de orçamento com qx + 4 . qy = 200 CESTAS Gasto = Renda (R) Unidades de x (qx) Unidades de y (qy) A 200 0 50 B 200 20 45 C 200 40 40 D 200 60 35 E 200 80 30 F 200 200 0 7 2.2 Mudança no preço dos bens No exemplo anterior, a nossa linha de orçamento era qx + 4 . qy = 200. Suponhamos, agora, que o preço do bem x caia de 1 para 0,5. A linha de orçamento passa a ser, então, 0,5 . qx + 4 . qy = 200, e sua inclinação da linha sofre um deslocamento. Veja a Figura 4. Figura 4 – Mudança no preço de um dos bens qy 50 1 2 0 200 400 qx É possível que ambos os preços tenham variado. Nesse caso, aumentará o consumo dos bens cujos preços caíram e diminuirá o consumo dos bens cujos preços subiram. Os gráficos assumem, nesse caso, diferentes configurações. TEMA 3 – EFEITOS DE ALTERAÇÕES NA RENDA DO CONSUMIDOR Vamos supor que a renda do consumidor se altera e os preços de x e de y permanecem constantes. Com isso, a linha de orçamento terá um deslocamento paralelo à linha original, ou para a direita, ou para a esquerda, se a renda aumentou ou diminuiu, respectivamente. Como não houve rotação na linha, a inclinação é a mesma e tg permanece constante. Por exemplo, vejamos um cenário em que a renda do consumidor mudou de 200 para 400, em que a linha inicial é representada por L1 e a linha depois da mudança é representada por L2 (Figura 5). 8 Figura 5 – Alterações na renda do consumidor qy y2 y1 L2 L1 0 x1 x2 qx Tínhamos qx + 4 . qy = 200. Então, quando qx = 0, temos que 4 . qy = 200. Logo, qy = 50. Quando qy = 0, temos que qx = 200. Ao aumentar a renda de 200 para 400, temos que qx + 4 . qy = 400. Então, quando qx = 0, temos que 4 . qy = 400. Logo, qy = 100. Quando qy = 0, temos que qx = 400. Observe, no exemplo, que o consumo tanto dos itens x quanto dos itens y aumentou, não porque os preços tenham diminuído, mas porque o consumidor aumentou a sua renda. 3.1 A decisão do consumidor Falamos muito sobre a cesta de mercado. Mas, qual a cesta que dá a maior satisfação a um consumidor? A princípio, é aquela que tem o maior número de itens x e y, mas não podemos nos esquecer de que há um fator limitante: a renda do consumidor. Lembremos que, para a aquisição da cesta de mercado, o consumidor consome totalmente a sua renda, mas nem falta nem sobra rendimento. Vamos então analisar, na Figura 6, qual é a cesta de mercado que maximiza a satisfação do consumidor. 9 Figura 6 – Três diferentes cestas de mercado e uma linha de orçamento qy A• • C B • U3 U2 L1 U1 0 qx Considerando a linha de orçamento L1, observe qual será a sua decisão. Temos três curvas de indiferença: U1 (contendo a cesta A), U2 (contendo a cesta B) e U3 (contendo a cesta C). Sem levar em conta o orçamento ao qual está restrito, o consumidor escolheria a cesta C, pois é aquela que se encontra sobre a curva de indiferença mais distante da origem dos eixos, ou seja, a cesta que contém maiores quantidades de x e de y. A cesta A não é a melhor escolha do consumidor, pois, se ele redistribuir seus gastos, comprando mais de x e menos de y, logo ele alcança a cesta B e esta lhe oferece maior satisfação que aquela, já que está sobre U2. A cesta C não será a escolhida porque, embora ofereça um grau de satisfação maior que as cestas A e B, não pode ser adquirida pelo consumidor em função de sua restrição orçamentária (a cesta C está além da linha L1). Logo, a decisão da compra recairá sobre a cesta B, pois é a que oferece o maior grau de satisfação e está compatível com a realidade orçamentária do consumidor. TEMA 4 – A CURVA DE DEMANDA INDIVIDUAL São os consumidores os geradores de demanda de determinado produto ou serviço. Precisamos, então, conhecer a curva de demanda individual de um consumidor, lembrando que já percorremos um caminho: analisamos a teoria do consumidor. Nessa trajetória, analisamos a curva de indiferença e a linha do orçamento. Na sequência, analisamos, na Figura 6, qual é a escolha ótima de 10 um consumidor. É muito importante você observar que a escolha ótima é a cesta que está no ponto em que a reta de orçamento tangencia a curva de indiferença no plano cartesiano qx x qy. Se supusermos, agora, uma variação no preço de um dos bens, por exemplo, em px, sabemos que haverá uma rotação da linha de orçamento em torno do intercepto daquele bem cujo preço não variou (no caso, em torno de y). Para cada nova linha de orçamento, haverá uma nova cesta ótima de consumo. A união dos diferentes pontos de escolha ótima que surgem depois de ocorridas variações no preço de um dos bens dá origem à curva de preço-consumo, como mostrado na Figura 7. Figura 7 – A curva de demanda individual qy • A Curva de preço-consumo • B C • U3 U2 L1 L2 U1 L3 0 qx1 qx2 qx3 qx px px1 • A px2 • B px3 • C D 0 qx1 qx2 qx3 qx 11 Quando os dados da curva de preço-consumo são projetados para o plano qx x px, ou seja, para o plano cartesiano que contempla a quantidade do bem cujo preço variou e todas as possibilidades de variação do seu preço, encontramos a curva de demanda. Em outras palavras, a curva de demanda registra a quantidade de x que será adquirida em função do nível de preços de x. A curva de demanda é negativamente inclinada, mostrando que, quanto maior o preço, menor será a disposição do consumidor em adquirir x; e, quanto menor o preço, maior será essa disposição. A isso denominamos lei geral da procura. TEMA 5 – DETERMINANTES DA DEMANDA A demanda ou procura por determinado bem x (Dx) é a quantidade desse bem que os compradores desejam adquirir, em determinado período de tempo. Além do preço do bem x (px), a demanda por determinado bem é influenciada por uma série de outros fatores, sendo que os mais relevantes são: a. a renda do consumidor; b. o preço dos bens substitutos do bem x; c. o preço dos bens complementares ao bem x; d. os hábitos e gostos dos consumidores. Tendo em vista que todos esses fatores variam simultaneamente, o que torna difícil a avaliação do efeito de cada um individualmente, assumiremos para a análise da demanda de um bem x apenas seu preço (px), supondo, nesse momento, que todos os demais fatores permanecerão constantes. Assim, temos que: Dx = f (px). Vale observar que variações no preço do bem provocam mudanças na quantidade demandada, sem alterar a curva de demanda. Assim, falar em demanda significa referir-se a toda a curva, sendo que a quantidade demandada diz respeito somente a determinado ponto dessa curva. 5.1 Efeito substituição e efeito renda Verificamos que, se um bem x qualquer obedece à lei geral da procura, sua curva de demanda é negativamente inclinada, evidenciando o fato de que o preço e a quantidade demandada caminham em sentidos contrários. Sempre que o preço de um bem cai, o consumidor, embora sua renda fiqueinalterada, fica relativamente mais rico, já que pode comprar mais daquele bem. A quantidade 12 que ele compra a mais de x, simplesmente porque esse produto ficou mais barato, chama-se efeito substituição. Por que substituição? Porque ele deixa de comprar algumas unidades de y para aproveitar o baixo preço de x. Graficamente, precisamos traçar uma linha de orçamento imaginária (L’1) para entender o quanto o consumidor está disposto a abrir mão de y para aproveitar o bom momento de comprar x, sem nos deixarmos influenciar pelo aumento relativo na sua renda. Veja a Figura 8. Figura 8 – Efeito substituição e efeito renda qy Curva de preço-consumo qy1 • A B qy2 • q’y1 • C U2 L1 L’1 U1 L2 0 qx1 q’x1 qx2 qx Efeito substituição Efeito renda Efeito total px px1 •A px2 •B D 0 qx1 qx2 qx 13 Com o recurso L’1, vemos que o consumidor aumenta seu consumo de x de qx1 para q’x1 e, para não sair da curva de indiferença U1, ele deve abrir mão de alguma quantidade de y, trocando a cesta A pela cesta C. Mas o movimento de demanda não acaba aí. Como o consumidor fica, de fato, relativamente mais rico depois que px cai, ele não só aumenta sua quantidade demandada de x (de q’x1 para qx2), como também aumenta sua quantidade adquirida de y (que passa de q’y1 para qy2). A passagem da cesta C para a cesta B representa o efeito renda. O efeito total da variação em x corresponde à soma dos efeitos substituição e renda e é representado graficamente pela troca da cesta A (escolha inicial) pela cesta B (escolha final). Ocorrem, porém, casos em que a curva de demanda, embora seja decrescente, é bem mais inclinada. Isso significa que, embora o bem em questão atenda à lei geral da procura, seu efeito renda é negativo, ou seja, à medida que o consumidor fica mais rico, ele consome menos do bem que ficou mais barato (no caso, o x) e mais do outro (no caso, o y). Um caso extremo ocorre quando o efeito renda não só é negativo, como também é mais forte do que o efeito substituição, ou seja, o consumidor não substitui um bem que ficou mais caro por outro, cujo preço não tenha se alterado. Quando isso acontece, a curva de demanda deixa de atender à lei geral da procura e passa a ser positivamente inclinada. Os bens cuja quantidade demandada aumenta quando o preço do bem aumenta são chamados bens de Giffen. 5.2 Mudança na renda dos consumidores Sob a ótica da renda, os bens são classificados em normais e inferiores. Um bem é normal quando o aumento na renda dos consumidores aumenta a demanda por esse bem. Um bem é dito inferior se, havendo um aumento na renda, para um mesmo nível de preços p, os consumidores desejarem consumir quantidades menores desse bem. Isso acontece, por exemplo, com carne de segunda. Fenômeno inverso ocorre quando há uma diminuição no rendimento do consumidor. Nesses casos, a curva de demanda se desloca paralelamente. Lembremos que, ao estudarmos o mapa de indiferença, verificamos que, quanto mais distante a curva estiver da origem dos eixos, maior será a satisfação do consumidor. 14 5.3 Mudança nos preços de outros bens De maneira semelhante à variação na renda dos consumidores, movimentos podem ocorrer na demanda quando variam os preços de outros bens, que representaremos por pz. A relação entre o bem x e o bem z pode ser uma das três seguintes formas: 1. z é substituto de x; 2. z é complementar de x; 3. z é um bem de consumo independente de x. Quando x e z são independentes, o preço de z (pz) nada tem a ver com a demanda de x. Por exemplo: feijão e automóveis. Existem bens, entretanto, em que o consumo de um deles exclui o consumo de outro (mesmo que parcialmente). Por exemplo: manteiga e margarina. Quando x e z são substitutos, o aumento no preço de z (Δpz > 0) tornará seu consumo menos atrativo do que o do bem x, fazendo aumentar a demanda por este último. Nesse caso, a curva de demanda do bem x se deslocará para a direita. Analogamente, uma diminuição no preço de z (Δpz < 0) o tornará mais atrativo, deslocando a curva de demanda do bem x para a esquerda. Os bens x e z podem, ainda, ser complementares. Por exemplo: caderno e caneta, pão e manteiga, cama e colchão. Nesse caso, o aumento no preço de z provocará uma diminuição no seu consumo; como o consumo de z está associado ao de x, a demanda deste também diminuirá, deslocando sua curva para a esquerda. Assim, caso o preço de z diminua, a curva de demanda de x se deslocará para a direita. 5.4 Mudança nos hábitos e gostos dos consumidores Muitas vezes, um bem deixa de ser consumido não porque está caro, mas porque não faz parte dos hábitos dos consumidores. Esses hábitos podem ser estimulados ou desestimulados, sobretudo por meio de propagandas e campanhas de publicidade. Sendo assim, um estímulo positivo à compra de determinado bem acrescentará um deslocamento para a direita da curva de demanda e um estímulo negativo provocará um deslocamento para a esquerda. 15 5.5 Deslocamento da curva de demanda A curva de demanda se desloca em relação à sua posição original quando uma daquelas variáveis que supusemos exógenas ao modelo (renda do consumidor, preços dos outros bens e hábitos e gostos) mudar de valor. Quando a mudança no valor de uma dessas variáveis aumentar a demanda por x, a curva Dx se deslocará para a direita. Analogamente, quando a mudança na referida variável diminuir a demanda, a curva Dx se deslocará para a esquerda. Uma síntese dos deslocamentos da curva de demanda pode ser vista no Quadro 1 a seguir. Quadro 1 – Deslocamentos da curva de demanda AUMENTO DA DEMANDA DIMINUIÇÃO DA DEMANDA • Aumento da renda do consumidor • Aumento no preço dos bens substitutos • Diminuição no preço dos bens complementares • Mudança favorável nos hábitos e gostos • Diminuição na renda do consumidor • Diminuição no preço dos bens substitutos • Aumento no preço dos bens complementares • Mudança desfavorável nos hábitos e gostos Assim, verificamos que a primeira teoria na qual se baseia a microeconomia é a teoria do consumidor. Nosso próximo passo será estudar a teoria da firma, que leva em conta o outro lado, ou seja, o agente responsável por produzir bens e serviços. 16 REFERÊNCIAS MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2009. AULA 2 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – FATORES DE PRODUÇÃO Anteriormente, estudamos a teoria do consumidor e informamos que a microeconomia se baseia em duas teorias: a do consumidor e a da firma. A teoria do consumidor nos permitiu determinar a curva de demanda por um certo bem, seja ele um produto ou um serviço. Agora, nesta etapa, estudaremos a teoria da firma, que nos permitirá a determinação da curva de oferta. Mas o que é uma firma? Segundo Montella (2009), “A firma é o agente responsável por produzir bens. Antes, contudo, de entender o que se passa dentro das firmas (ou empresas), há que se ter claro o conceito de fatores de produção e de períodos de tempo”. Os fatores de produção são os elementos que, combinados, permitem a produção dos bens. Em economia, classificam-se em: a. Terra (terras cultiváveis, terrenos, florestas e minas); b. Trabalho (mão de obra); c. Capital (máquinas, equipamentos, instalações e matérias-primas).Os fatores produtivos são limitados e, por isso, devem ser combinados de diferentes formas em função do local onde se encontram e da situação histórica. 1.1 Prazo ou período de tempo Em economia, o prazo (ou período) de produção não diz respeito só ao intervalo de tempo, mas, sobretudo, à flexibilidade dos fatores de produção. Usualmente, o prazo é classificado em curtíssimo, curto e longo, da seguinte maneira: a. Curtíssimo prazo é aquele em que todos os fatores de produção são fixos; b. Curto prazo é aquele em que pelo menos um fator de produção é fixo; e c. Longo prazo é aquele em que todos os fatores são variáveis. Aqui, interessa-nos a determinação da curva de oferta no curto prazo. Logo, é a esse período que vamos nos ater. 3 TEMA 2 – ANÁLISE DA FIRMA NO CURTO PRAZO Os fatores de produção, como vimos, são três: terra, trabalho e capital. Para a análise da firma no curto prazo, entretanto, suporemos apenas dois fatores: o trabalho (N) como fator de produção variável e o capital (k), incluindo a capacidade instalada, como fator fixo. Assim, a função de produção pode ser representada por: q = f(N , k) Mas, como o capital é fixo, a função de produção pode ser descrita como: q = f(N) Vamos definir produto total (PT) como o volume produzido em determinado período e em determinado tempo. PT = q Vamos definir, também, produto marginal (PMg) como sendo a variação total proveniente do acréscimo de uma unidade no fator de produção variável (o trabalho). PMg = N PT Observar que, no limite, PMg é igual à derivada primeira da função de produção (PT) em relação à mão de obra (N). Finalmente, vamos definir produto médio (PMe) como a relação entre a quantidade produzida e a quantidade de insumos necessária a essa produção. PMe = N PT Geometricamente, a curva de produção total (PT) cresce até atingir seu máximo (ponto C) e depois decresce como ilustrado na Figura 1. O ponto C é o ponto crítico da curva de produção total. Nesse ponto C, ponto máximo da curva, a derivada primeira da PT é igual a zero. Logo, tendo em vista que a PMg é igual à derivada primeira da PT, quando PT for máxima, a PMg será igual a zero. Antes do ponto C, qualquer acréscimo na mão de obra (N) implicará o aumento da produção (k). Depois desse ponto, qualquer acréscimo na mão de 4 obra implicará a diminuição da produção, uma vez que a capacidade instalada é fixa e não poderá adaptar-se a tanta mão de obra. Figura 1 – Curva de produção total q C B • A• 0 N Observe, na Figura 1, que o ponto A é o ponto de inflexão da curva de produção total, ponto no qual a derivada primeira de PT é máxima e a derivada segunda de PT é igual a zero. 5 Figura 2 – Relação entre as curvas de produção total e de produção marginal q C B • A• 0 N PMg 0 PMg N Tendo em vista que a produção marginal é a derivada primeira da produção total, no ponto A, a PMg será máxima e a PT estará em seu ponto de inflexão, como ilustrado na Figura 2. Antes do ponto A, acréscimos na mão de obra (N) aumentam a produção com retornos crescentes. Depois do ponto A, acréscimos na mão de obra continuarão aumentando a produção, mas com retornos cada vez mais decrescentes. Isso se deve à Lei dos rendimentos marginais decrescentes, que discutiremos a seguir. 2.1 Lei dos rendimentos marginais decrescentes Se adicionarmos quantidades iguais de um fator de produção variável a uma quantidade fixa de outro, os acréscimos na produção total serão inicialmente crescentes e depois decrescentes, podendo assumir, inclusive, 6 valores negativos. Geometricamente, a relação entre a curva de produção total e a curva de produção marginal fica como ilustrado na Figura 2. Comparando a curva superior da Figura 2 com a curva inferior, vemos que, da origem até o ponto A, a firma obteve retornos crescentes. Do ponto A ao ponto C, os retornos continuam positivos, porém decrescentes. Isso pode ser visto na curva inferior, onde se observa a inversão da concavidade da curva de produção total (PT), bem como também se observa a inversão de concavidade da curva de produção marginal (PMg). A partir do ponto C, os retornos passam a ser negativos, pois mesmo que aumentemos a mão de obra, a produção total irá cair, e a produção marginal será negativa. Como a produção média (PMe) é a relação entre o produto total (PT) e a quantidade de insumos (N), ela também obedece à Lei dos rendimentos decrescentes. Observa, na Figura 3, que a PMe aumenta à medida que N aumenta (N é o fator variável), atinge seu máximo e depois cai mesmo com N ainda aumentando. Entretanto PMe nunca se tornará negativa, pois ela é a relação entre duas unidades positivas (PT e N). Ou seja, a PMe se aproximará do eixo horizontal à medida que N aumenta, mas sem jamais tocá-lo. Na Figura 3, o ponto máximo da PMe é representado pelo ponto B, ponto no qual a PMe se igual à PMg (ponto de interseção do gráfico inferior). Saiba mais Rendimento decrescente não é o mesmo que prejuízo. Quando o rendimento é decrescente, ele está caindo, mas não é negativo. O prejuízo, por sua vez, é um rendimento negativo, prejudicial. Vamos analisar a Tabela 1. Estamos supondo uma empresa operando no curto prazo e estamos supondo que suas máquinas e suas instalações são fixas. Lembre-se de que a nossa variável é a mão de obra, ou seja, podemos aumentar ou diminuir o número de funcionários. Qual é a consequência do aumento da mão de obra na produção? Em que estágio uma empresa deve produzir? Para o entendimento, analise a Tabela 1 em conjunto com a Figura 3. 7 Tabela 1 – Produção com um fator de produção fixo PONTO S (figura 3) Capit al (k) Mã o de obr a (N) Produt o total (PT) Produto margin al (PMg) Produt o médio (PMe) 10 0 0 - - 10 1 10 10 10 10 2 30 20 15 A 10 3 60 30 20 B 10 4 80 20 20 10 5 95 15 19 10 6 108 13 18 10 7 112 4 16 C 10 8 112 0 14 10 9 108 –4 12 10 10 100 –8 10 O aumento na mão de obra provocará a seguinte variação na produção: a. no ponto A, quando três funcionários são contratados, a produção marginal é máxima e a produção total passa pelo seu ponto de inflexão, ou seja, de 0 a 60 a produção total aumenta com intervalos crescentes, e de 60 a 112 a produção aumenta, mas com intervalos decrescentes. Nesse ponto, a produção obtida com a entrada de mais um funcionário (ou seja, a produção marginal) ainda é maior que a média produzida (ou seja, a produção média); 8 Figura 3 – Análise do estágio em que a empresa deve produzir q C PT B • A• 0 N PMg PMe PMe 0 PMg N b. no ponto B, quando N = 4, cada funcionário produz, em média, 20 unidades (PMe = 20). Nesse ponto, a PMe é máxima e é igual à PMg. A partir desse ponto, a produção marginal torna-se menor do que a produção na média, ou seja, a PMg assume valores inferiores ao da PMe; c. no ponto C, quando N = 8, a produção total atinge seu máximo e a produção marginal (que é a derivada primeira da produção total) iguala- se a zero. O comportamento da firma pode ser dividido em três estágios: a. o primeiro estágio inicia-se na origem dos eixos e termina no ponto em que PMe é máxima, ou seja, PMe = PMg (ponto B do gráfico). Nesse estágio, está incluído o ponto de inflexão da curva PT, que corresponde ao ponto onde a PMg é máxima. O ponto de inflexão marca o início do 9 retorno (ou rendimento) decrescente daPT. Como nesse estágio a PMe é menor do que a PMg, ele é considerado irracional. A empresa produzindo nesse estágio estará deixando de ganhar. A política a ser adotada nesse caso é a de incrementar o uso do fator de produção variável; b. o segundo estágio inicia-se no ponto em que a PMe é máxima e igual à PMg (ponto B) e termina no ponto C, em que a PMg é igual a zero (ou que a PT é máxima). A PMe passa a ser maior do que a PMg e por isso esse estágio é considerado racional. Nele encontra-se o ponto de otimização da produção; c. o terceiro estágio inicia-se no ponto C, em que a PMg é zero (ou que a PT é máxima). A PMg passa a ser negativa e por isso esse estágio é considerado irracional. Além disso, a PMe continua decrescendo, embora não corte o eixo das abscissas. A empresa produzindo nesse estágio estará perdendo dinheiro. A política a ser adotada é a de diminuir o uso do fator de produção variável. TEMA 3 – TEORIA DOS CUSTOS COM UM FATOR DE PRODUÇÃO FIXO Vimos que a produção engloba não só os fatores de produção, mas também o prazo. Vimos também que, para os bens econômicos, precisamos atribuir um preço. A teoria dos custos relaciona a quantidade produzida, a quantidade de fatores de produção e o preço desses fatores. Continuaremos supondo apenas dois dos fatores de produção: o capital (k) e o trabalho (N). Por se tratar do curto prazo, continuaremos considerando as máquinas e as instalações como fixas e o número de funcionários variável. Qual é o custo total para uma empresa, para determinada quantidade produzida? Numa forma bem simples, o custo total (CT) será igual à soma do custo dos fatores de produção variáveis (ou custo variável, CV), ao custo dos fatores de produção fixos (ou custo fixo, CF). Assim: CT = CV + CF É importante lembrar que os custos variáveis dependem da quantidade produzida. Os custos fixos, não. Veja a Figura 4. 10 Figura 4 – Custo total, custo variável e custo fixo CT CT CV CF CV CF 0 q A Figura 4 ilustra o custo total, o custo variável e o custo fixo, de onde devem ser notadas as seguintes questões: a. quando a empresa não produz nada (q = 0), o custo variável é zero; mas mesmo não produzindo nada (q = 0), a empresa tem que arcar com seus custos fixos, ou seja, para qualquer valor de q, CF é maior que zero; b. a distância vertical entre CT e CV é igual ao valor de CF, ou seja, é igual à distância vertical entre a reta do custo fixo e o eixo horizontal, já que CT = CV + CF; c. a ondulação de CV vem da lei dos rendimentos decrescentes (ou lei dos custos crescentes). Isso quer dizer que num primeiro momento, os custos crescem a taxas decrescentes, e depois a taxas crescentes; d. o CT acompanha a inclinação do CV e o CF é o mesmo, independentemente da quantidade produzida (q). Os custos unitários ou médios de uma empresa que opera no curto prazo podem ser obtidos dividindo-se os componentes da fórmula CT = CV + CF pela quantidade produzida, isto é: q CT = q CV + q CF ou 11 CTMe = CVMe + CFMe Graficamente, temos a Figura 5. Figura 5 – Custo total médio em função do custo fixo médio e do custo variável médio CTMe CVMe CFMe CTMe CVMe CFMe 0 q A Figura 5 ilustra o custo total médio, o custo fixo médio e o custo variável médio. Devem ser notadas as seguintes questões: a. o CFMe é a relação entre uma constante (CF) e uma variável (q). À medida que essa variável (q) aumenta, o CFMe vai diminuindo. Por isso, a curva de custo fixo médio é decrescente; b. as curvas CVMe e CTMe têm formato de U, evidenciando a Lei dos rendimentos decrescentes (ou Lei dos cutos crescentes). Quando a quantidade produzida for infinitamente grande (q = ∞), o CFMe tenderá a zero. Em consequência, CTMe = CVMe. Por isso, na Figura 5, a distância vertical entre as curvas de CTMe e de CVMe vai diminuindo quando a quantidade aumenta Então: q CT = q CV + q CF q → ∞ ou CFMe → 0 12 CTMe = CVMe 3.1 Custo marginal O custo marginal (CMg) corresponde à variação do custo total (CT) proveniente da produção de uma unidade extra do produto. CMg = q CT Em termos matemáticos, CMg é a derivada primeira do CT em relação à quantidade produzida. Assim: CMg = dq dCT = dq CFCVd )( + Como CF é uma constante, um acréscimo na quantidade produzida não altera seu valor. Logo, a derivada do custo fixo em relação a q é igual a zero, e a derivada do custo total torna-se igual à derivada do custo variável: CMg = dq dCT = dq dCV Por conta dessa igualdade, não é necessário distinguir custo total marginal e custo variável marginal. Dizemos apenas custo marginal. A Figura 6 ilustra a curva do custo marginal. Figura 6 – Curva do custo marginal CTMe CMg CVMe CTMe CMg CVMe 0 q 13 TEMA 4 – RELAÇÃO ENTRE PRODUÇÃO E CUSTOS NO CURTO PRAZO Vamos agora analisar a relação entre produção e custos considerando, ainda, o curto prazo. Veja a Figura 7. Quando N = N1, dN dPT (ou PMg) é máxima dq dCT (ou CMg) é mínimo 2 2 dN PTd = 0 (inflexão da PT) 2 2 dq CTd = 0 (inflexão do CT) A relação entre a produção marginal (PMg) e o custo marginal (CMg) pode ser vista por meio do seguinte desenvolvimento: PMg = dN dPT = dN dq (1) ou dq dN = PMg 1 (1’) CMg = dq dCT = dq dCV (2) porque dq dCF = 0 CV = W . N (3) sendo W o salário pago por trabalhador Substituindo (3) em (2), temos: CMg = dq NWd ).( (4) ou CMg = W . dq dN (4’) Substituindo (1’) em (4’), temos: CMg = W . PMg 1 14 Figura 7 – Relação entre produção e custos no curto prazo q CT q3 PT q2 q1 0 N1 N2 N3 N CV CT CF CV CF 0 q1 q2 q3 q PMg PMe PMe PMg CTMe CMg CMg CTMe 0 N1 N2 N3 N 0 q1 q2 q3 q Quando N = N2, PMe é máxima CMe é mínimo PMe = PMg CMe = CMg A relação entre a produção média e o custo variável médio pode ser vista por meio do seguinte desenvolvimento: PMe = N PT = N q (1) ou q = PMe . N (1’) CVMe = q CV (2) 12 CV = W . N (3) sendo W o salário pago por trabalhador. Substituindo (1’) e (3) em (2), temos: CVMe = NPMe NW . . (4) ou CVMe = W . PMe 1 Quando N = N3, PT é máxima dN dPT = PMg = 0 CMg = ∞ A relação entre a produção total (PT) e o custo marginal (CMg) pode ser vista através do seguinte desenvolvimento: CMg = W . PMg 1 (5) Quando PT for máxima PMg = 0 (6) Substituindo (6) em (5), temos: CMg = W . 0 1 ou CMg = ∞ Acrescentando aos dados da Tabela 1, o valor da mão de obra, podemos encontrar a estrutura dos custos da referida empresa, como mostraa tabela 2. 13 Tabela 2 – Produção e custos com um fator de produção fixo PONTOS (Figura 3) Mão de obra (N) Produto total (PT) Produto marginal (PMg) Produto médio (PMe) Salário/ mês (W) Custo variável (CV) Custo marginal (CMg) Custo médio (CMe) 0 0 - - 100 0 - - 1 10 10 10 100 100 10,00 10,00 2 30 20 15 100 200 5,00 6,67 A 3 60 30 20 100 300 3,33 5,00 B 4 80 20 20 100 400 5,00 5,00 5 95 15 19 100 500 6,67 5,26 6 108 13 18 100 600 7,69 5,55 7 112 4 16 100 700 25,00 6,25 C 8 112 0 14 100 800 ∞ 7,14 9 108 -4 12 100 900 - 8,33 10 100 -8 10 100 1000 - 10,00 Saiba mais O ponto máximo de qualquer curva é aquele a partir do qual seus valores decrescem. Logo, o ponto mínimo é aquele a partir do qual seus valores crescem. Assim, aparecendo dois valores iguais, consecutivamente, o mínimo será aquele cujo valor seguinte é maior (e não igual a ele próprio). Pelos valores da Tabela 2, temos que: a. no ponto A, quando três funcionários são contratados (N = 3), a produção marginal é máxima (PMg = 30); a produção total passa pelo seu ponto de inflexão (PT = 60); o custo marginal é mínimo (CMg = W . 1/PMg = 3,3). Nesse ponto, a produção obtida com a entrada de mais um funcionário (ou seja, a produção marginal) ainda é maior que a média produzida (ou seja, a produção média). Isso é o mesmo que dizer que o custo assumido com a produção de mais uma unidade do produto (ou seja, o custo marginal) ainda está abaixo da média (ou seja, o custo médio); b. no ponto B, quando N = 4, cada funcionário produz, em média, 20 unidades (PMe = 20). A PMe é máxima e é igual à PMg. Nesse mesmo ponto, cada unidade produzida custa, em média, $5,00 (CMe = CV/PT = 5,00). O CMe é mínimo e é igual ao CMg; 14 c. no ponto C, quando N = 8, a produção total atinge seu máximo (PT = 112), a produção marginal iguala-se a zero (PMg = 0) e o custo marginal tende a ser infinitamente grande (CMg = ∞). TEMA 5 – CURVA DE OFERTA DA FIRMA Na Figura 5 (curva de custo médio) e na Figura 6 (curva de custo marginal), vimos que as três curvas têm formato de U. Isso se dá por obedecerem à Lei dos rendimentos decrescentes. Vimos, também, que o CMg corta o custo total médio e o custo variável médio em seus pontos mínimos. Vamos adicionar ao gráfico os preços defrontados pela firma. Antes, contudo, atente-se para o fato de que essa é uma firma em concorrência perfeita, o que significa dizer que ela é pequena demais para interferir nos preços. Os preços (p1, p2, p3) já vêm predefinidos do mercado. Veja a Figura 8. Caso os preços subam, a empresa desejará produzir mais para vender mais e consequentemente aumentar a sua receita. A curva do custo marginal nada mais é do que o custo adicional que a empresa incorre justamente por estar aumentando a quantidade produzida. Figura 8 – Curva do custo marginal Custos (p) CMg p3 CTMe CVMe p2 p1 0 q1 q2 q3 q Como analisar a Figura 8? O preço p1 estimula uma produção q1, que custa CMg1. Um preço maior p2 estimulará uma produção maior q2, que custará CMg2. E assim sucessivamente. Ao final, podemos verificar que: 15 a. os preços e os custos marginais têm o mesmo valor para os respectivos níveis de produção; b. a curva de oferta (S) coincide com a curva de custo marginal. Veja a Figura 9. Figura 9 – Curva de oferta (S) Custos (p) S CMg CTMe CVMe 0 q Observe que a curva de oferta (S) inicia no ponto mínimo do CVMe, pois, caso contrário, a firma estaria ofertando sua produção por um preço menor do que custou para produzi-la, o que não faria sentido. 5.1 Determinantes da oferta A oferta de determinado bem x (Sx) é a quantidade desse bem que os vendedores desejam oferecer por determinado período. Mas a oferta não é influenciada apenas pelo preço do bem x (px). Há outros fatores a considerar, dentre os quais: a. preço dos insumos utilizados na produção (pi): alterações nos preços das matérias-primas, da energia e de outros insumos alteram a quantidade de x a ser ofertada no mercado; b. tecnologia (T): inovações tecnológicas que reduzam o custo de se produzir x ou que propiciem sua produção em maiores quantidades ao mesmo custo tornam sua oferta mais abundante; 16 c. preço de outros bens (pz): o agricultor, por exemplo, ao considerar quanto produzirá de milho levará em conta não apenas o preço dele, mas também o preço de uma cultura alternativa, tal como a do feijão. Se o preço deste estiver maior, a oferta de milho certamente diminuirá. Considerando, entretanto, a oferta de um x apenas em relação ao seu preço, temos que: Sx = f (px) Vimos, na Figura 9, que a curva de oferta é positivamente inclinada. Simplificadamente, consideraremos a oferta somente como uma reta. Veja a Figura 10. A curva de oferta é positivamente inclinada, evidenciando a Lei geral da oferta, segundo a qual quando o preço de um bem aumenta, a quantidade ofertada desse bem aumenta, e quando o seu preço diminui a quantidade ofertada também diminui. Como no caso da demanda, variações no preço do bem provocam mudanças na quantidade ofertada, com a curva de oferta permanecendo inalterada. Afinal, falar em oferta significa referir-se a toda a curva, enquanto que falar em quantidade ofertada refere-se a dado ponto dessa mesma curva. Figura 10 – Curva de oferta representada por uma reta px S px2 • B px1 • A 0 qx1 qx2 qx 5.2 Deslocamentos da curva de oferta Analogamente à curva de demanda, a curva de oferta se desloca em relação à sua posição original quando uma daquelas variáveis que supusemos 17 constantes (preço de insumos, tecnologia, preços dos outros bens etc.) muda de valor. Assim, quando a mudança no valor da variável aumentar a oferta, a curva se deslocará para a direita. Quando a alteração no valor da variável diminuir a oferta, a curva se deslocará para a esquerda. Uma síntese dos deslocamentos da curva de demanda pode ser vista no Quadro 1 a seguir. Quadro 1 – Deslocamentos na curva de oferta AUMENTO DA OFERTA DIMINUIÇÃO DA OFERTA • Diminuição no preço dos insumos; • Diminuição no preço dos bens substitutos na produção; • Aumento no preço dos bens complementares na produção; • Mudança tecnológica favorável. • Aumento no preço dos insumos; • Aumento no preço dos bens substitutos na produção; • Diminuição no preço dos bens complementares na produção; • Mudança tecnológica desfavorável. 18 REFERÊNCIAS ANKIW. N. G. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2009. STIGLITZ, J.; WALSH, C. E. Introdução à microeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. TEBCHIRANI, Flávio Ribas. Princípios de economia: micro e macro. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. AULA 3 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – ISOQUANTA OU ISOPRODUTOEstudamos na microeconomia as curvas de demanda e de oferta, considerando uma firma operando no curto prazo. A partir deste momento, vamos estudar a firma no longo prazo, considerando que ela esteja numa situação de concorrência perfeita. Também tendo em vista o curto prazo, estudamos a teoria dos custos, levando em conta dois fatores de produção: o trabalho (N) como fator variável e o capital (k) como fator fixo. Agora, no longo prazo, não há fatores fixos. Todos poderão variar, mas manteremos a ideia de apenas dois fatores de produção: trabalho e capital. A função de produção de longo prazo, também chamada de isoquanta ou isoproduto, pode então ser representada por: q = f(N , k) sendo N e k variáveis endógenas ao modelo, ou seja, ambas podem variar. E o que é a isoquanta? É a curva que contém todas as combinações dos insumos N e k que resultam em um mesmo voluma de produção (q). A Figura 1 ilustra uma isoquanta. Figura 1 – Isoquanta ou isoproduto k q1 0 N Fonte: Montella, 2009. 3 Cada isoquanta representa um nível de produção (q). Portanto, para diferentes níveis de produção, teremos diferentes isoquantas, que constituem um mapa de isoquantas, como mostrado na Figura 2. Observe que, quanto mais distante estiver a curva da origem dos eixos, maior será o nível de produção. Figura 2 – Mapa de Isoquantas k q3 q2 q1 0 N Fonte: Montella, 2009. A quantidade produzida q1 é menor do que q2, que é menor do que q3, e assim por diante. 1.1 Propriedades das isoquantas Três são as propriedades a considerar nas isoquantas: 1.1.1 Isoquantas são negativamente inclinadas Observe na Figura 3 que as combinações de insumos A, B e C são capazes de gerar a mesma quantidade produzida (q). Combinações à direita (como a D) contêm mais insumos; logo, geram mais produtos. Combinações à esquerda e com menos insumos (como a E) geram menos produtos. 4 Figura 3 – Inclinação das isoquantas k • A • D • B E • • C q 0 N Fonte: Montella, 2009. Se a isoquanta fosse positivamente inclinada, uma combinação envolvendo mais insumos, como a D, geraria o mesmo volume de produtos que uma combinação com menos insumos, como a B. 1.1.2 Isoquantas não podem se interceptar Observe a Figura 4 e perceba que as combinações de insumos A, B e C são capazes de gerar uma quantidade produzida q1 e as combinações D, E e F, por conter mais insumos, são capazes de gerar sempre uma quantidade q2 (maior do que q1), pois elas não se interceptam. 5 Figura 4 – Mapa de isoquantas Fonte: Montella, 2009. 1.1.3 Isoquantas são convexas em relação à origem Ao percorrermos a curva de uma isoquanta de cima para baixo, a produtividade marginal do trabalho vai diminuindo, o que caracteriza uma curva convexa em relação à origem. Na Figura 5, por exemplo, precisamos abrir mão de uma quantidade cada vez menor do fator capital (Δk1 > Δk2 > Δk3) em troca de uma unidade a mais de trabalho, se quisermos manter o nível de produção. Figura 5 – Isoquantas convexas em relação à origem k Δk1 Δk2 Δk3 q 0 N Fonte: Montella, 2009. 6 TEMA 2 – TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO TÉCNICA (TMST) E RENDIMENTOS DE ESCALA Há situações em que um gestor precisa considerar a possibilidade de substituir um insumo por outro, quando temos dois insumos que podem ser variados, ou seja, utilizar mais de um insumo e menos de outro. A proporção de troca entre insumos é o que denominamos de taxa marginal de substituição técnica (TMST). Em termos matemáticos, a TMST corresponde à inclinação da isoquanta em cada ponto. Como a inclinação é a derivada primeira da curva no ponto, temos: TMSTkN = N k ou TMSTkN = dN dk Ou seja, a TMSTkN é a quantidade de trabalho (N) necessária para substituir uma determinada quantidade de capital (k) sem alterar o volume de produção (q). Observe: a. A TMST é sempre menor que zero porque o aumento no uso de um fator implica na diminuição do outro; b. Em módulo, a TMST diminui sempre que percorrermos a isoquanta no sentido decrescente. Isso, porque à medida que a mão de obra é adicionada ao processo produtivo, sua produtividade (eficiência) diminui. Logo, o gestor abre mão de uma quantidade cada vez menor de capital para obter uma unidade a mais de trabalho. Vamos analisar um exemplo. Suponha uma empresa que produz 500 unidades de determinado produto e que está interessado em encontrar a melhor relação entre capital e trabalho. Observe a Tabela 1 e a Figura 6. Tabela 1 – Produção com dois fatores de produção variáveis PONTOS Produto Total (q) Mão de obra (N) Capital (k) TMST (dk/dN) A 500 1 5 – 7 B 500 2 3 – 2 C 500 3 2 – 1 D 500 4 1,3 – 0,7 E 500 5 1 – 0,3 Figura 6 – Taxa marginal de substituição técnica (TMST) k TMST = – 2 TMST = – 1 TMST = – 0,7 TMST = – 0,3 q = 500 0 1 2 3 4 5 N Observe que, nos pontos de A até E, mantivemos a produção em 500 unidades do produto, mas a TMST, em módulo, diminuiu. 2.1 Rendimentos de escala Quando analisamos uma firma trabalhando no longo prazo, isso pressupõe que ela pode alterar a quantidade de todos os fatores de produção, incluindo o tamanho de suas instalações, se for necessário. Quando a quantidade de insumos aumenta e a produção também aumenta, na mesma proporção, dizemos que o processo produtivo da firma apresentou rendimentos constantes de escala. Quando a produção aumenta numa proporção maior que o aumento da quantidade de insumos, dizemos que o processo produtivo da firma apresentou rendimentos crescentes de escala. Finalmente, quando a produção aumenta numa proporção menor que o aumento na quantidade de insumos, dizemos que o processo produtivo da firma apresentou rendimentos decrescentes de escala. 8 Dizemos que houve economia de escala quando o custo caiu e dizemos que houve rendimento de escala quando a produção aumentou. Observe na Figura 7 que, da curva q1 à curva q3, prevalecem os rendimentos crescentes de escala. Isso, porque os fatores de produção dobram (passam de N = 5 para N = 10 e k passa de 1 para 2) e a produção triplica (q passa de 10 para 30). Da curva q3 até a curva q6, prevalecem os rendimentos constantes de escala, dado que os insumos dobram (com N passando de 10 para 20 e k passando de 2 para 4) e a produção dobra também (q passa de 30 para 60). A curva q6, por fim, marca o início dos rendimentos decrescentes de escala, uma vez que de q6 até q8 a mão de obra e o capital dobram (N passa de 20 para 40 e k passa de 4 para 8) e a produção aumenta apenas em 1,33 (q passa de 60 para 80). Figura 7 – Rendimento de escala k 8 q8 = 80 q7 = 70 4 3 q6 = 60 2 q5 = 50 q4 = 40 1 q3 = 30 q2 = 20 q1 = 10 0 5 10 15 2040 N Fonte: Montella, 2009. 9 2.2 Teoria dos custos com todos os fatores de produção variáveis Cada firma, ou seja, cada empresa tem a sua própria escala. Em outras palavras, tem o seu tamanho. Para cada tamanho da firma há uma diferente estrutura de custos. Quando analisamos uma firma trabalhando no curto prazo, ela não tem a opção de escolher com qual curva de custo médio deseja operar. Em outras palavras, ela só pode escolher qual a melhor quantidade a ser produzida em função da sua estrutura de custos. Mas estamos agora analisando uma firma operando no longo prazo, ou seja, com todos os fatores de produção podendo variar, inclusive o tamanho da sua planta. Nesse caso, a firma pode escolher qual é a curva de custo médio que deseja assumir, mas certamente há uma curva ideal. A curva ideal, no caso, é aquela cujo ponto mínimo coincide com o ponto mínimo da curva de custo médio de longo prazo, também chamada de curva envoltória, por envolver as várias curvas de curto prazo. TEMA 3 – ESTRUTURAS DE MERCADO Em conteúdos anteriores, por várias vezes mencionamos a palavra mercado. Naquela ocasião, definimos o que vem a mercado da seguinte maneira: “Mercado é um local em que compradores (lado da procura) e vendedores (lado da oferta) realizam transações. É a interação entre as forças de oferta e de procura. Observe que esse local pode ser um ambiente físico ou um ambiente virtual”. E o que vem a ser a estrutura de mercado? São as características de cada mercado em função do número de compradores e de vendedores, da diferenciação ou homogeneidade dos produtos transacionados, dentre outras características. 3.1 Concorrência perfeita No início desta etapa, mencionamos uma firma que trabalha numa situação de concorrência perfeita. Isso significa que a firma está operando em um mercado em que há infinitos compradores e infinitos vendedores, de tal forma que um deles, isoladamente, não consegue afetar o preço do mercado. A concorrência perfeita pressupõe, ainda, que todos os produtos, de todas as empresas, são homogêneos, ou seja, são padronizados. Há livre entrada e 10 saída de empresas e, dada a transparência do mercado, há pleno conhecimento, pelos compradores e vendedores, de tudo o que se refere às fontes supridoras, ao processo de produção em si, aos níveis de oferta etc. Trata-se, portanto, de um cenário totalmente teórico. As estruturas de mercado vão da concorrência perfeita ao monopólio, num crescente controle competitivo, como mostra a Figura 8. Ainda na concorrência perfeita, existindo um grande número de vendedores e o produto sendo homogêneo, nenhum vendedor conseguirá vender o seu produto por um preço maior do que o preço de mercado, porque o comprador simplesmente fará a aquisição numa outra empresa concorrente. Analogamente, existindo um grande número de consumidores, nenhum comprador conseguirá comprar o produto por um preço inferior ao de mercado, porque o vendedor sabe que, se não vender para ele, venderá para outro. Figura 8 – Grau de controle competitivo das estruturas de mercado pequeno elevado Quando se fala em concorrência perfeita, há que se lembrar ainda da mobilidade dos fatores de produção, os quais estão livres para se mover de uma empresa para outra, o que significa que não há privilégios ou maiores dificuldades para a obtenção de matérias-primas e que as habilidades exigidas dos trabalhadores podem ser facilmente adquiridas, sem grandes custos de aprendizado. 3.2 Monopólio O monopólio é a estrutura de mercado que se encontra no extremo oposto da concorrência perfeita. Sua principal característica é a existência de uma única firma vendendo um produto que não tenha substitutos próximos. Nesse caso, o único vendedor tem poder absoluto para fixar o preço que lhe for mais GRAU DE CONTROLE COMPETITIVO MONOPÓLIO E MONOPSÔNIO OLIGOPÓLIO E OLIGOPSÔNIO CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA CONCORRÊNCIA PERFEITA 11 conveniente. Outra característica do monopólio é a existência de barreiras que impedem o surgimento de competidores que possam abalar a posição do monopolista. Essas barreiras dizem respeito: a. à existência de economias de escala; b. ao controle sobre o fornecimento de matérias-primas; c. à posse de patentes; e d. à concessão, em alguns casos, do status de monopólio legal. 3.3 Monopsônio O monopsônio é uma estrutura de mercado análoga ao monopólio, em que existe apenas um único comprador. Por exemplo, imagine uma região em que há um número expressivo de pequenos produtores de leite e apenas uma grande usina onde esse leite pode ser pasteurizado. A usina será a única opção de venda para os produtores. Assim, ela terá condições de impor os preços de compra que lhe convém. 3.4 Oligopólio O oligopólio é a situação de mercado em que existe um pequeno número de vendedores ou em que, apesar de existir um grande número de vendedores, uma pequena parcela destes domina a maior parte do mercado. Por exemplo, a indústria automobilística e a indústria de bebidas. Quanto ao controle sobre os preços, os oligopolistas, por serem poucos, podem se unir para evitar a concorrência entre eles e para impor um preço ao mercado. 3.5 Oligopsônio O oligopsônio é uma estrutura de mercado análoga ao oligopólio, sendo que o domínio do mercado está nas mãos de um pequeno número de compradores. A indústria automobilística, por exemplo, que é constituída por um pequeno número de empresas, tem um poder oligopolista em relação à indústria de autopeças, uma vez que é responsável por um grande volume de compras da produção desta última. 12 3.6 Concorrência monopolística A concorrência monopolística, por fim, é uma estrutura que mescla o grande número de vendedores (típico da concorrência perfeita) com a diferenciação do produto (típica do monopólio). TEMA 4 – EQUILÍBRIO DA FIRMA Dizemos que um agente econômico está em equilíbrio quando ele se encontra em uma situação confortável e dela não pretende sair. De forma análoga, dizemos que uma firma está em equilíbrio, quando consegue maximizar o seu lucro total (LT). No ponto em que o Lucro Total alcançar seu valor máximo, o Lucro Marginal (LMg) será igual a zero. Lembrar que, em termos matemáticos, o Lucro Marginal corresponde à derivada primeira do Lucro Total. Assim: LT é máximo q LT = LMg = 0 Quando uma firma atinge seu nível máximo de lucro, uma unidade produzida a mais proporciona um lucro menor do que o obtido anteriormente. O Lucro Total corresponde a tudo o que a empresa recebeu pela produção e pela venda de seus produtos, menos tudo o que ela gastou para produzi-los, ou seja, o Lucro Total é igual à Receita Total menos o Custo Total. LT = RT – CT Se considerarmos a receita e o custo relativos à produção de mais uma unidade do produto, encontraremos seus valores marginais: q LT = q RT – q CT ou LMg = RMg – CMg A quantidade ótima a ser produzida pela firma corresponde àquela em que a firma maximiza seu Lucro Total, ou seja, àquela que torna o Lucro Marginal igual a zero. Pela equação anterior, quando LMg for igual a zero, RMg será igual a CMg. LT é máximo LMg = 0 RMg = CMg 13 TEMA 5 – CURVA DE DEMANDA PARA UMA FIRMA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Ainda em conteúdos anteriores, estudamos a curva de demanda por um bem, seja ele um produto ou um serviço. Vale lembrar que por demanda de um bem se entende a quantidade desse bem que os compradores desejam adquirir em função do seu preço. Pela lei geral da demanda, quanto mais caro estiver um bem, mais difícil será encontrar pessoas dispostas a pagar por ele. Em outras palavras, quando o preço de um bem sobe, a quantidade demandada diminui, e quando o preço cai, a quantidade demandaaumenta. Por isso, a curva de demanda (D) é negativamente inclinada, como na Figura 9. Figura 9 – Curva de demanda negativamente inclinada p D 0 q Anteriormente, estudamos a curva de oferta de um bem, ou seja, a curva de oferta dos produtos e serviços que as firmas desejam vender em função do seu preço. Pela lei geral da oferta, quanto mais alto estiver o preço de um bem, maior será o lucro da firma que o produz. Em outras palavras, quando o preço de um bem sobre, a quantidade ofertada sobe, e quando o preço cai, a quantidade ofertada cai. Por isso, a curva de oferta é positivamente inclinada, como na Figura 10. Figura 10 – Curva de oferta positivamente inclinada p S 0 q 14 Ao colocarmos as duas curvas, demanda e oferta, em um mesmo par de eixos ortogonais, temos que o equilíbrio de mercado, em concorrência perfeita, é dado pela interseção das forças de oferta e de demanda (ponto E), como na Figura 11. Figura 11 – Equilíbrio de mercado em concorrência perfeita p S E D 0 q Vimos que uma firma em concorrência perfeita, em separado, não consegue alterar o preço que foi estipulado pelo mercado. Isso, porque ela é tão pequena quanto um átomo diante do universo e, por isso, o mercado em concorrência perfeita é também chamado de mercado atomizado. Nesse caso, de concorrência perfeita, uma firma analisada individualmente tem como curva de demanda uma reta horizontal, correspondente ao preço praticado pelo mercado, paralela ao eixo horizontal. Veja a Figura 12. Figura 12 – A demanda para a firma individual p p S p E p D D 0 q 0 q O equilíbrio de uma firma em concorrência perfeita será aquela posição de conforto para a firma, ou seja, aquela posição da qual a firma não deseja sair. MERCADO FIRMA INDIVIDUAL 15 REFERÊNCIAS MANKIW. N. G. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2009. STIGLITZ, J.; WALSH, C. E. Introdução à microeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. TEBCHIRANI, F. R. Princípios de economia: micro e macro. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. AULA 4 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – AGENTES ECONÔMICOS E POLÍTICA ECONÔMICA Estudamos bastante a microeconomia, a parte da economia que estuda a determinação dos preços dos bens e serviços. A partir de agora vamos estudar a macroeconomia. Mas o que é macroeconomia? É a parte da economia que estuda o montante da produção dos bens e serviços e a distribuição da renda por entre os agentes econômicos. Veremos que, pelo foco da macroeconomia, o bem-estar material será tanto mais elevado quanto mais perto estiver a economia da utilização plena de seus recursos (pleno emprego). 1.1 Agentes econômicos Agentes econômicos são os atores envolvidos nas atividades de produção, circulação, distribuição e consumo dos bens e serviços. Classificam-se em empresas, famílias, governo e resto do mundo. As empresas são as pessoas jurídicas encarregadas de produzir os bens e serviços. A produção é realizada por meio da combinação dos fatores produtivos que pertencem às famílias e que são cedidos por estas mediante uma remuneração (Reis, 2020). As famílias são as pessoas físicas, donas dos fatores de produção, que utilizam a renda originária da cessão desses fatores para comprar os bens e serviços que as empresas produzem e que satisfazem às suas necessidades (Reis, 2020). O governo inclui todas as organizações que estão sob o controle do Estado, nas suas esferas federal, estadual e municipal e que prestam serviços tais como os de defesa da soberania nacional, de administração da justiça, de educação gratuita, segurança, saúde etc. (Reis, 2020). O governo não tem por objetivo auferir lucro com esses serviços e, por isso, as empresas públicas e as sociedades de economia mista, das quais o Governo seja sócio ou acionista, por visarem ao lucro, são incluídas entre as empresas. O resto do mundo ou setor externo é composto por todas as pessoas e instituições não residentes com que os residentes transacionam (Reis, 2020). Em outras palavras, o resto do mundo é composto pelas famílias, empresas e governo dos outros países. 3 1.2 Rendas Na matemática financeira, definimos rendas como uma sucessão de pagamentos, de recebimentos ou de depósitos (Castanheira, 2005). Em economia, rendas tem outra conotação: segundo Montella (2014), são os preços pagos pela utilização dos fatores de produção (terra, trabalho e capital). Com esse conceito, verificamos que os proprietários de terra e de seus recursos têm o direito de receber aluguéis. Os trabalhadores (ou seja, a mão de obra) recebem salários. Os donos de capital emprestam dinheiro e recebem juros, assim como aqueles que gerenciam empresas recebem os lucros (Montella, 2014). Conforme Tebchirani (2008), enquanto a microeconomia amplia detalhes de mercados específicos para analisá-los, a macroeconomia simplifica particularidades e analisa suas inter-relações, procurando visualizar o conjunto. A macroeconomia analisa como se determina a produção total de bens (produtos ou serviços) e o emprego total dos recursos. A macroeconomia ainda analisa as variáveis agregadas, tais como índices de preços, nível de produção, nível de emprego, o que influencia na flutuação dos índices, bem como relações funcionais: a relação entre o nível de salários e a aquisição de bens de consumo, o nível da taxa de juros e a determinação do volume de investimentos em máquinas e equipamentos, a influência da taxa de câmbio no nível de importação e exportação, dentre outros. 1.3 Política econômica A política econômica envolve uma série de ações tomadas pelo governo e que visam o atingimento de metas, seja no município, no Estado, no Brasil ou internacional. Essas medidas, dentre outras coisas, pretendem melhorar o padrão de vida da população, visando o crescimento sustentável e uma estabilidade na economia, como a geração de empregos ou o aumento da produção ou o controle da inflação. São as chamadas variáveis macroeconômicas e algumas flutuam juntas, como a produção e o emprego. Alguns conflitos inevitáveis são enfrentados ao se tomar uma medida macroeconômica. Por exemplo, ao se aumentar a produção em determinado período, poderemos gerar pressões por aumentos de preços, geralmente nos setores fornecedores de insumos básicos como o aço e as embalagens. Dessa forma, as decisões macroeconômicas 4 devem contemplar a manutenção das taxas de crescimento da produção, com elevação dos preços ou a redução do crescimento para conter as pressões inflacionárias. Cabe à análise macroeconômica estabelecer relações de causa e efeito, além de estimar custos e benefícios de cada alternativa de política econômica. Entretanto, segundo Mankiw (2001), a decisão final sobre o curso de ação a ser seguido, diante de várias prioridades é uma questão política, Os principais objetivos da política macroeconômica são: a. Alto nível de emprego; b. Estabilidade dos preços; c. Crescimento da produção; d. Distribuição equitativa da renda (Mankiw, 2001). Questões relativas ao nível de emprego e à estabilidade dos preços são consideradas conjunturaisou de curto prazo, enquanto o crescimento da produção e a distribuição da renda (equidade) envolvem aspectos estruturais de longo prazo (Vasconcellos, 2002). 1.4 Instrumentos de política macroeconômica A política macroeconômica tem instrumentos que auxiliam no alcance dos quatro objetivos citados anteriormente. São quatro as políticas a considerar: a. Política Fiscal – controle do orçamento público (receitas e gastos do setor público); b. Política Monetária – controle da moeda, do crédito e da taxa de juro; c. Política Cambial – controle do ingresso e da saída de moeda estrangeira, bem como da formação da taxa cambial; d. Política Comercial – definição das práticas de comércio internacional, dos mecanismos de incentivo às exportações e do relacionamento comercial com os demais países. TEMA 2 – ESTRUTURA DA ANÁLISE MACROECONÔMICA Ao estudarmos a microeconomia, vimos o que vem a ser mercado. De forma simples, o mercado é a interação entre as forças de oferta e de procura. Naquele momento, estudamos o mercado de bens. 5 Agora se trata da macroeconomia, e o mercado a ser estudado não é único, por isso estudaremos também o mercado de fatores de produção, o mercado monetário e o mercado de divisas. Ainda segundo Mankiw (2001), as principais variáveis macroeconômicas são determinadas nos quatro principais mercados: o de bens e serviços, o de trabalho, o financeiro e o de câmbio. O que levamos em conta no mercado de bens e serviços? Nesse mercado consideramos o nível de produção, o índice geral de preços, a capacidade instalada em uma firma, o nível de emprego e o comportamento não só dos consumidores, mas também da firma, do governo e do setor externo. O que levamos em conta no mercado de trabalho? Nesse mercado é importante considerar o nível de emprego, o nível de produção desejado, qual é a população economicamente ativa e quanto recebem de salário os trabalhadores dos diversos setores da economia. O que levamos em conta no mercado financeiro? Nesse mercado é importante variável a taxa de juros, o volume de transações nacionais e internacionais, o Banco Central e os bancos comerciais. O que levamos em conta no mercado de câmbio? Temos as taxas de câmbio, as exportações e o ingresso de capital estrangeiro, bem como as importações e a saída de capital estrangeiro. 2.1 Do PIB ao PNB De forma alternativa, a produção pode ser medida pela estatística dos bens e dos serviços produzidos em determinado período. Nesse caso, o valor da produção nacional é avaliado em relação aos preços de mercado, isto é, inclui o valor dos impostos indiretos (ICMS, IPI) incidentes sobre as transações, correspondendo ao que denominamos produto interno bruto (PIB). Por meio de diversas metodologias, são também calculados os índices de preços (IPCA, INPC, IGP-M, IGP-DI), que medem variações médias de preços. E o que é o PIB? O produto interno bruto representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, seja ela uma cidade, um estado, uma região geográfica, ou um país, num determinado período, seja ele um mês, um trimestre, um ano ou qualquer outro intervalo de tempo. O PIB é, portanto, em macroeconomia, um indicador utilizado para mensurar a atividade econômica de uma região. 6 Observe que a contagem do PIB nós só consideramos os produtos finais. Ou seja, excluímos todos os bens de consumo intermediário (os insumos), para não contarmos duas ou mais vezes um mesmo valor que foi gerado na cadeia de produção. Um determinado país recebe e envia fluxos de recursos de/para outros países, gerando o que denominamos de fluxos internacionais de rendimentos fatoriais (remessas e ingressos de lucros, juros e outros rendimentos). Ao valor líquido dessas rendas denominamos renda líquida do exterior (RLE). RLE = renda recebida do exterior – renda enviada para o exterior Somando o RLE ao valor do PIB, obtemos o valor do produto nacional bruto (PNB), isto é, a renda (produção) de brasileiros, não importando onde tenha sido gerada: PNB = PIB + RLE Portanto, o que diferencia o PNB do PIB é a RLE. Assim, caso um país possua empresas atuando em outros países, mas proíba a instalação de transnacionais no seu território, terá uma renda líquida enviada ao exterior negativa. Pela fórmula: PNB = PIB – RLE 2.2 Valores nominais do PIB O PIB nominal é medido em relação aos preços do momento em que a renda é obtida, sendo expresso normalmente em períodos anuais. Levando-se em conta a inflação (aumento dos preços), o valor do PIB nominal é ajustado para diferentes períodos, a preços que prevalecem em uma determinada data, o que exige a aplicação de índices médios de preços, divulgados em jornais e revistas especializadas (INPC, IPCA, IGP-M, IGP-DI). Veja a Tabela 1. Tabela 1 – Produto Interno Bruto (PIB) nominal no Brasil de 2011 a 2021 Ano PIB nominal (em trilhões de Reais) 2011 2,616 2012 2,465 2013 2,473 7 2014 2,456 2015 1,802 2016 1,796 2017 2,064 2018 1,917 2019 1,878 2020 1,445 2021 8,0 (*) (*) Previsão do Ipea. Fonte: IPEA, [S.d.]. Percentualmente, nesse período de 2011 a 2021, quanto cresceu ou quanto decresceu o PIB no Brasil? Veja a resposta na Tabela 2. Tabela 2 – Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil (%) de 2011 a 2021 Ano PIB brasileiro 2011 3,97 2012 1,92 2013 3,00 2014 0,50 2015 - 3,55 2016 - 3,31 2017 1,06 2018 1,12 2019 1,14 2020 - 4,1 2021 4,5 (*) (*) Previsão do Ipea. Fonte: IBGE, [S.d.]. O valor do PIB considera uma estimativa de atividades informais, mas omite algumas informações, as quais tornariam os dados mais realistas. Embora de difícil praticidade, pois não se trata de bens e serviços transacionados no mercado, estimativas do valor da poluição, da deterioração do meio ambiente, de trabalhos domésticos e de atividades não declaradas e mesmo de lazer são dados 8 relevantes e não considerados, ou considerados de forma limitada (Mankiw, 2001). 2.3 Determinação da renda Como podemos perceber nas Tabelas 1 e 2, o PIB brasileiro vem apresentando acentuadas oscilações ao longo dos anos. A taxa de desemprego, por sua vez, que apresentava tendência de queda até 2014, apresentou crescimento de 2015 a 2020, agrado pela pandemia do coronavírus, acarretando um motivo de grande preocupação para a sociedade. Acredita-se que, a partir de 2021, a tendência é que haja novamente uma queda gradativa do percentual de desempregados no Brasil. Veja a Tabela 3. Tabela 3 – Taxa de desemprego no Brasil de 2011 a 2021 Ano % de desempregados 2011 6,0 2012 7,0 2013 6,9 2014 6,7 2015 8,5 2016 11,7 2017 13,2 2018 12,8 2019 12,6 2020 13,4 2021 11,6 (*) (*) estimado. Fonte: IBGE, [S.d.]. Durante muitos anos do pós-Segunda Guerra, a economia brasileira apresentou vigorosas taxas de crescimento. A partir da década de 1980, porém, passou a demonstrar resultados insatisfatórios, com repercussões negativas sobre a ocupação de mão de obra. Como causas desse baixo desempenho, podemos apontar a inadequada gestão macroeconômica, os desequilíbrios nas 9 contas externas, a instabilidade do câmbio, os déficits no orçamento público, as altas taxas de inflação e as descontinuidades provocadas por violenta modificação nos padrões tecnológicos e organizacionais das empresas, entre outras (Goldberg, 2004). Por que existe flutuação na produção e na taxa de emprego? Dois paradigmas procuram explicar esse fenômeno: a. O paradigma clássico-liberal, voltado às questões estruturais de longo prazo relativas à determinação da oferta agregada; b. O paradigma keynesiano, com perspectiva de curto prazo, direcionado às questões conjunturais determinantes da demanda agregada. TEMA 3 – ECONOMIA CLÁSSICA DO PLENO EMPREGO Mencionamos que há dois paradigmas queprocuram explicar a flutuação na produção e na taxa de emprego. Comecemos pelo paradigma clássico-liberal. A economia clássica-liberal se baseia no princípio de que, no longo prazo, os preços se ajustam de modo a conduzir os mercados de bens e trabalho ao equilíbrio. Esse princípio diz que o nível de equilíbrio de uma economia é que proporciona o pleno emprego da sua força de trabalho (N), sem a necessidade de intervenção do Estado. Baseada nessa abstração fundamental em macroeconomia, temos que a função de produção agregada é a seguinte função: q = f(N , k) O que isso significa? Significa que a produção (q) é função de combinações de capital (k) e de trabalho (N), o que significa dizer que a produção depende da capacidade instalada. O economista Jean-Baptiste-Say foi autor da lei que recebeu o nome de Lei de Say, ainda no século XVIII, segundo a qual, “a oferta cria a sua própria procura”, ou seja, a oferta cria a demanda. Trata-se de uma teoria que define o valor de um produto não pelo trabalho que foi envolvido na sua produção, mas pela sua utilidade. Ao escrever essa lei, Say se baseou no conceito de que quando os produtores aumentam a produção, eles próprios aumentam o seu consumo e, em consequência, a demanda. Assim, a teoria clássica assegura que a demanda agregada será sempre igual à oferta agregada, sendo esta determinada pela capacidade instalada, que 10 se refere à quantidade (q) e à qualidade dos insumos de capital (k) e de trabalho (N). Segundo Stiglits e Walsh (2003), essas condições exigem uma sólida estrutura institucional, com normas jurídicas claras e previsíveis, que visam incentivar os investimentos, uma competente gestão macroeconômica fundamentada em equilíbrio fiscal (equilíbrio das receitas e gastos do setor público), além de inflação baixa. 3.1 Macroeconomia keynesiana A Lei de Say teve seguidores, mas também quem a contestasse. Um dos críticos foi John Maynard Keynes que, em 1936, publicou o livro A teoria geral do emprego, do juro e da moeda, que revolucionou a teoria econômica até então vigente. Nos Estados Unidos, houve Grande Depressão nos anos 30 do século passado, que determinou a necessidade de outros critérios para analisar as causas da variação da produção e do emprego. Keynes, então, escreveu uma teoria para explicar e resolver a questão do desemprego que havia tomada conta dos Estados Unidos e com isso surgiu a macroeconomia keynesiana, que permitiu a análise dessa situação, enfocando a hipótese de que falhas de mercado levam ao desemprego. Até então, os economistas não se preocupavam com o estudo do desemprego, pois entre eles havia o pensamento de que jamais poderia ocorrer um desemprego significativo na economia que não fosse temporário. Keynes (1982) sugere que, na impossibilidade de as empresas absorverem todo o excedente de mão de obra, um terceiro agente, o governo, deveria intervir na economia suprindo essa falha de mercado. Para permitir a ocupação da capacidade ociosa das empresas e a elevação do nível de emprego, a proposta keynesiana destaca o papel do governo, que, com seus gastos de custeio e investimento, é capaz de aumentar a despesa agregada e, consequentemente, o nível de produção. Dessa forma, o paradigma keynesiano desencadeou um grande debate na teoria macroeconômica, ou seja, qual deve ser o grau de intervenção do Estado na atividade econômica, sendo este o ponto que divide as principais correntes do pensamento econômico atual: os clássicos, os neoclássicos, os monetaristas e os keynesianos (Vasconcellos; Garcia, 2004). 11 Mas como ficaria o Estado? Endividado com a absorção de tantos trabalhadores desempregados? Para responder a esses questionamentos, Keynes (1982) argumentou que o consumo proveniente do aumento da massa salarial que seria incrementada à economia cobriria os gastos do governo, pois incrementaria o volume arrecadado sob a forma de tributos. Em consequência, estariam cobertos os gastos do governo. Seria então criado um movimento com efeito multiplicador, pois o aumento nos gastos do governo seria mais do que compensados pela multiplicação da atividade econômica. Com isso, Keynes derrubava dois postulados clássicos da economia: a Lei de Say, segundo a qual a produção cria sua própria demanda, e a eficácia da redução dos salários nominais para reduzir o desemprego da economia. Essa teoria de John Maynard Keynes ficou conhecida como Princípio da Demanda Efetiva, que invertia a Lei de Say, afirmando que é a demanda que determina o nível de produção e não o contrário. A solução dos problemas econômicos estaria, assim, na demanda. Enquanto a análise clássica-liberal concentra-se nos fatores estruturais de longo prazo, ligados à oferta (expansão da capacidade instalada), a economia keynesiana se volta para os fatores conjunturais de curto prazo relativos à instabilidade da demanda agregada. 3.2 Gastos governamentais (G) e o papel do setor público É possível ao governo modificar o nível da demanda agregada por meio da política fiscal, que é o nome genérico para as políticas governamentais de gastos (compra de bens, serviços e investimentos) e de receitas (carga tributária). O aumento de gastos expande a demanda agregada; já o aumento de tributos reduz tanto a renda disponível quanto o consumo (e vice-versa). Mas o mercado não consegue, sozinho, cumprir adequadamente algumas funções por meio de um sistema de preços. Assim, algumas funções precisam ser executadas pelo setor público. São elas: a. Função alocativa – fornecer bens e serviços não produzidos satisfatoriamente pelo setor privado (saneamento, segurança, por exemplo); b. Função distributiva – promover a distribuição da renda dos segmentos mais ricos para outros mais pobres; 12 c. Função estabilizadora – aumentar o nível de emprego e reduzir a instabilidade dos preços por meio da política econômica. Como o setor público pode realizar essas funções? Para tal, é necessário arrecadar tributos e é necessário realizar gastos. Os gastos são de custeio (pagamento de salários, de pensões, de aposentadorias) e de investimento (construção de escolas, hospitais, portos, estradas, saneamento, dentre outros). O orçamento público (receitas do setor público) apresenta superávit quando a arrecadação supera os gastos; por outro lado, quando os gastos excedem o valor da arrecadação, verificamos um déficit. Esses índices podem ser descritos da seguinte forma: a. Resultado nominal (necessidade de financiamento líquido do setor público não financeiro) – essa medida indica o fluxo líquido anual de financiamentos obtidos pelo setor público (União, Estados e Municípios), para cobertura do excesso de gastos totais sobre as receitas totais; b. Resultado primário – subtraindo dos gastos governamentais o valor das despesas financeiras incidentes sobre a dívida pública, temos o resultado primário, que, de forma simplificada, revela a disponibilidade de recursos para pagamento dos compromissos financeiros (juros da dívida pública). Matematicamente, temos: RP = T – (G – Df) onde: RP = resultado primário do setor público T = arrecadação de tributos G = gastos governamentais de custeio e investimento Df = despesas financeiras sobre a dívida pública TEMA 4 – MOEDA E POLÍTICA MONETÁRIA Os ativos, de forma geral, são bens ou direitos de adquirir bens. Existe uma categoria de ativos cuja utilidade é a de guardar a riqueza do seu possuidor: são os chamados ativos financeiros. São exemplos de ativos financeiros os depósitos de poupança, os depósitos a prazo fixo em instituições financeiras, as ações de empresas privadas, os títulos da dívida pública do governo, entre outros. Os ativos 13 financeiros geralmente rendem juros e, em países com inflação crônica, o seu valor costuma ser atualizado monetariamente (Viceconti; Neves,2013). A própria moeda é um ativo financeiro que, ao contrário dos demais, não rende juros, mas pode ser utilizada de imediato para comprar bens e serviços. Essa peculiaridade de pronta utilização é denominada liquidez e é intrínseca à moeda. Os ativos financeiros que não têm a liquidez imediata da moeda, mas que apresentam algum grau de liquidez, são denominados quase-moedas. É o caso de títulos e ações, que, com um pequeno custo, podem ser vendidos rapidamente. Já a venda de uma casa ou de uma obra de arte demanda mais tempo e esforço, caracterizando sua pequena liquidez (Viceconti; Neves, 2013). 4.1 Título Quando uma grande empresa deseja ampliar sua planta, ela pode tomar um empréstimo para financiar seu projeto, ou pode tomar um empréstimo diretamente do público, vendendo títulos (no caso, títulos privados). Da mesma forma, quando o governo deseja pagar suas dívidas e não tem dinheiro, ele pode tomar um empréstimo ou pode emitir e vender títulos (neste caso, títulos públicos). O título, seja público ou privado, é um certificado de endividamento que especifica as obrigações do tomador do empréstimo para com o detentor do título. Em poucas palavras, título é um certificado de dívida. Embora os títulos sejam diferentes entre si, existem duas características comuns a todos eles: a especificação do prazo e a existência do risco de crédito. 4.2 Moeda A moeda não existiu sempre, como todos sabem. Conforme Viceconti e Neves (2013), nos primórdios dos tempos, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família e se utilizava da colheita e da caça para sobreviver. Aos poucos, essas minúsculas comunidades foram crescendo e começaram a se desmembrar em outros núcleos de famílias, cada uma procurando formar sua própria fronteira, delimitando as suas áreas de caça e para o plantio de alimentos. Dentro de cada núcleo familiar, entretanto, as pessoas não produziam todas as mesmas coisas. Enquanto uns se dedicavam à caça, outros se 14 dedicavam à produção de tubérculos, outros, ainda, se especializavam no plantio de grãos e assim por diante. Iniciava-se, pois, o processo primitivo de divisão do trabalho e de especialização, cujo resultado, o excedente, passou a ser trocado entre os componentes do próprio núcleo e até de outros núcleos. Nas mais primitivas culturas, portanto, a economia funcionava à base do escambo, isto é, da troca pura e simples de mercadorias. A passagem das trocas diretas, de um produto por outro, para as indiretas, intermediadas por algum outro bem aceito por todos, dá início à chamada Era da moeda-mercadoria. Essas trocas demandavam muito trabalho e demandavam muito tempo para sua concretização. Viceconti e Neves (2013) nos explicam que, com o passar do tempo, a evolução da sociedade impõe a necessidade de se facilitar as trocas. Os indivíduos, então, passam a eleger um único produto como referencial de trocas: uma mercadoria que fosse rara o bastante para ter algum valor e que fosse útil o suficiente para ser aceita por todos. Essa mercadoria recebeu o nome de moeda. Mas observe que essa moeda era o mesmo que o dinheiro, como hoje o conhecemos e sim uma mercadoria. Por exemplo, o sal era utilizado como moeda de troca, do qual derivou a palavra salário. Ainda de acordo com Viceconti e Neves (2013), de modo geral, para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, ele deve ter algumas características específicas, dentre as quais: a. Durabilidade: ninguém aceitaria como moeda algo que fosse perecível; b. Divisibilidade: a mercadoria eleita como moeda deve poder se subdividir em pequenas partes, de forma que tanto as transações de grande porte quanto as de pequeno porte possam se realizar; c. Homogeneidade: qualquer unidade da mercadoria eleita como moeda deve ser rigorosamente igual às outras unidades dessa mercadoria; d. Transporte: a utilização do bem escolhido como moeda não pode ser prejudicada em função das dificuldades de manuseio e transporte. No caso das moedas-mercadorias, muitas não tinham as características de durabilidade, divisibilidade, homogeneidade e transporte. Então, a necessidade de se encontrar uma forma mais simples de transacionar deu origem à Era da moeda-metálica. Inicialmente, os metais empregados foram o cobre, o bronze e, em especial, o ferro. Entretanto, esses metais foram logo deixados de lado, pois a sua 15 existência em abundância, associada à descoberta de novas jazidas e ao aperfeiçoamento do processo de fundição, fazia com que perdessem gradativamente seu valor. Foram então utilizados os metais mais nobres, como o ouro e a prata, definidos como metais monetários por excelência. O moeda-metálica apresentou, não há dúvida, muitas vantagens. Mas também apresentou algumas desvantagens, como o seu peso para o transporte em longas distâncias. Em consequência, o risco a assaltos. Por causa disso, houve o início da Era da moeda-papel. Mas o desenvolvimento não parou, principalmente o tecnológico. Assim, surgiu o dinheiro virtual na forma de cartões de débito e de crédito, que apresentou várias vantagens em relação aos modelos anteriores, por apresentar maior segurança a quem o transporta, maior facilidade de transporte, diminuição dos custos operacionais e rapidez nas transações de qualquer natureza, tendo culminado, hoje, no Pix. 4.3 Funções da moeda Quais são as funções da moeda? Três são essas funções, que distinguem a moeda dos demais ativos financeiros. São elas, segundo Nogami (2007): a. Meio ou instrumento de troca; b. Medida de valor; c. Reserva de valor. Quando um consumidor vai ao mercado para realizar uma transação comercial, seja de compra, seja de venda de um bem, a moeda é utilizada como instrumento de troca. Quando um bem, seja uma mercadoria ou um serviço, está disponível no mercado, se for um bem econômico, deverá ser atribuído a ele um valor que o diferencie de outros bens. Nesse caso, a moeda é novamente utilizada para que haja a possibilidade de realizarmos a comparação dos valores de diferentes mercadorias e serviços. Não fosse essa função, seria praticamente impossível apurar o nível do produto e da renda, o volume do consumo e da poupança e o valor dos demais agregados macroeconômicos. Finalmente, a moeda tem a função de reserva de valor, ou seja, ela pode ser guardada para uso posterior. É assim que as pessoas transferem o seu poder aquisitivo no presente para o futuro. 16 É possível, entretanto, que ao longo de determinado tempo a moeda perca a capacidade de cumprir com essas funções. Em consequência, o governo promove a sua substituição por outra moeda. Foi o que aconteceu no Brasil, ao longo das últimas décadas, quando a moeda foi rebatizada diversas vezes, alterando-se sua medida de valor (Nogami, 2007). Como a moeda tem fácil aceitação no mercado, ela é utilizada pelas pessoas quando desejam adquirir um bem. Vale lembrar que essas mesmas pessoas são remuneradas em dinheiro quando prestam um serviço ou quando são assalariadas. Para a venda de um bem, novamente a moeda é muito utilizada, por representar algo mais fácil de praticar do que efetuar a troca entre diferentes bens que possuem diferentes valores. Assim como a família é a instituição mais importante da vida social, ou o Estado da vida política, a moeda é a parte mais importante da economia capitalista. Nas sociedades capitalistas modernas, a divisão do trabalho gerada pela especialização, transformou a produção de mercadorias e serviços em um processo complexo, que exige grande esforço de coordenação entre os diversos participantes. A produção de uma única mercadoria (por exemplo, automóveis), exige a participação de inúmeras firmas, gerando contratos estabelecidos entre tais agentes, que exercem essa coordenação. 4.4 Demanda por moeda A moeda tem plena liquidez, mas não rende juros, ao passoque as quase- moedas, como títulos, ações, poupança e certificados de longo prazo, rendem juros, mas não têm liquidez imediata. Sabendo disso, vem a pergunta: quanto de moeda e quanto dos demais ativos as pessoas desejam reter? Keynes, em sua Teoria Geral (1936), falou da preferência pela liquidez, ou seja, entre a liquidez imediata e a rentabilidade dos demais ativos financeiros, as pessoas prefeririam a liquidez. Há três motivos que determinam a demanda por moeda: a. Motivo transação; b. Motivo precaução; c. Motivo especulação. A demanda por moeda para transação decorre do fato de os indivíduos precisarem de moeda para adquirir os bens e serviços que satisfazem suas 17 necessidades. O volume de bens e serviços transacionados depende da renda dos indivíduos (Nogami, 2007). A demanda por moeda por precaução decorre do fato de os indivíduos buscarem reter moeda para se precaver de eventuais infortúnios, como o desemprego ou alguma doença. Da mesma forma que a demanda transacional, a demanda precaucional também é uma função direta da renda, ou seja, quanto maior a renda, maior será a quantidade de moeda guardada por precaução (Nogami, 2007). Conforme Nogami (2007), a demanda por moeda para especulação decorre da própria condição de liquidez da moeda. De todos os ativos, a moeda é a única que pode ser imediatamente trocada por bens e serviços. Por essa característica, acaba tendo-se um motivo de especulação para possuí-la, motivo esse medido pela taxa de juros. Quando a taxa de juros está alta, o custo de reter a moeda torna-se alto: as pessoas preferem se desfazer dela, comprando outros ativos. Quando a taxa de juros está baixa, o custo de reter a moeda se torna baixo e a rentabilidade dos ativos também fica baixa. Assim, as pessoas optam por trocar seus ativos pela certeza da liquidez imediata embutida na moeda. Por tudo isso, a demanda por moeda para especulação é uma função inversa da taxa de juros. 4.5 Oferta de moeda Vimos que a demanda monetária depende do desejo dos indivíduos em reter moeda. A oferta monetária, entretanto, depende da política do governo, que a controla por meio de suas autoridades monetárias: o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central (BC). É importante lembrar que a oferta de moeda (meio de pagamento) representa disponibilidade com liquidez imediata, isto é, que pode ser utilizada imediatamente para liquidar transações econômicas. Em sua forma clássica, os meios de pagamento englobam a moeda em poder do público (moedas metálicas e cédulas) mais os depósitos à vista nos bancos comerciais (moeda escritural), ou seja, os haveres monetários que não rendem juros (o chamado M1). Dessa forma, quanto de moeda existe em uma economia? Antes de responder a essa pergunta, vejamos algumas definições: 18 a. Papel-moeda emitido (PME) é o total de moeda legal, autorizada pelo Banco Central e cunhada pela Casa da Moeda; b. Papel-moeda em circulação (PMC) é a parte do PME que não fica retida no caixa do Banco Central; c. Papel-moeda em poder do público (PMP) é a parte do PMC que não fica retida no caixa dos bancos comerciais. Voltando à pergunta feita anteriormente, o papel-moeda em poder do público ou moeda corrente, por englobar todas as notas de papel (cédulas) e todas as moedas de metal, é o primeiro conceito que vem à nossa mente quando tentamos avaliar o tamanho desse estoque. Somando-se papel-moeda em poder do público (PMP) com os depósitos à vista, tem-se o que se convencionou chamar de M1, que é boa parte (mas não é o todo) do estoque de moeda (Viceconti; Neves, 2013). Afinal, uma vez que consideramos os depósitos à vista como parte do estoque de moeda, somos levados a pensar na variedade de outras contas que as pessoas mantêm nos bancos e em outras instituições financeiras, como depósitos em poupança, fundos de aplicação, entre outros. Em geral, não é possível emitir cheques para sacar depósitos em poupança, mas é fácil transferir fundos de poupança ou de outras aplicações para a conta corrente. Logo, essas contas também devem fazer parte do estoque de moeda de uma economia. Para organizar o registro de todo o estoque de moeda, considerando seus diferentes componentes, foram criados mais três agregados do M1, ou seja, o M2, o M3 e o M4. A metodologia de cálculo vigente é a de 2001 que define por: • M1 = PMP + depósitos à vista; • M2 = M1 + depósitos em poupança + títulos emitidos por instituições depositárias; • M3 = M2 + fundos de renda fixa; • M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez. Entende-se por instituições depositárias os bancos comerciais, as caixas econômicas e os bancos múltiplos, e por instituições não depositárias as corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários. É com base nesses conceitos que o Banco Central controla a oferta total de moeda na economia. É possível ainda observar que, em períodos inflacionários, a relação entre M1 e M4 costuma diminuir, pois as pessoas preferem 19 ficar com pouca moeda que não rende juros (M1) e aumentar suas aplicações financeiras (M4). Isso é chamado de desmonetização. Ao contrário, quando a inflação diminui, a relação entre M1 e M4 aumenta, caracterizando uma monetização da economia. 4.6 Política monetária O mercado monetário compreende a quantidade ofertada e demandada de moeda, bem como o preço da moeda, que é a taxa de juros. Mudanças na oferta institucional (determinadas pelo Banco Central), por meio de deslocamentos da base monetária e/ou das reservas compulsórias dos bancos comerciais, dada certa demanda de moeda, afetam em primeira instância a taxa de juros e, em seguida, o gasto de indivíduos e firmas, uma vez que a nova taxa de juros altera o custo dos financiamentos para consumo e investimento. Toda vez que a taxa de juros aumenta, a concessão de crédito, tanto para as famílias quanto para as empresas que investem em bens de capital, fica mais cara. Consequentemente, o consumo e o investimento autônomos diminuem, reduzindo a demanda agregada e o nível de renda de equilíbrio da economia. Por analogia, quando a taxa de juros cai, a obtenção de crédito torna-se mais barata. Consequentemente, o consumo e o investimento autônomos aumentam, aumentando, assim, a demanda agregada e o nível de renda de equilíbrio da economia. 4.7 Mecanismos de controle monetário Além das emissões clássicas de moeda, são três os instrumentos clássicos de controle monetário: a. Depósitos compulsórios; b. Taxa de redesconto; c. Operações de open market. Há mecanismos que permitem a restrição da oferta de moeda ou aumentar essa oferta. Para a restrição, um dos caminhos é o aumento da taxa dos depósitos compulsórios que os bancos comerciais são obrigados a depositar no Banco Central. Com isso, os recursos disponíveis nos Bancos Comerciais são reduzidos e, em consequência, diminui a moeda disponível para empréstimo. No sentido 20 contrário, quando o governo precisa aumentar a oferta de moeda, ele faz o movimento inverso. Redesconto é o empréstimo cedido pelo Banco Central aos bancos comerciais, quando estes estão com problemas de liquidez. Se o Banco Central elevar a taxa ou restringir as condições de redesconto, desestimulará o sistema bancário a recorrer a esse tipo de socorro financeiro (Viceconti; Neves, 2013). Com isso, o BC está automaticamente restringindo o crédito e limitando a criação de moeda bancária. O contrário ocorrerá caso o BC facilite as condições de redesconto e/ou reduza as taxas cobradas nessa operação. As operações de open market (mercado aberto) permitem ao governo regular diretamente o volume dos meios de pagamento. Essas operações consistem na compra e venda, pelo Banco Central (BC), de títulos da dívida pública, os quais são emitidos pelo Governo Federal e adquiridos pelo BC, que os mantém em sua carteira(no seu Ativo). O BC, ao vender esses títulos ao público, retém meios de pagamento e, consequentemente, enxuga a economia. Por outro lado, quando ele resgata (recompra) os títulos que estão em poder do público, ele cria meios de pagamento e aumenta a liquidez da economia. Observe que o BC não compra e vende títulos da dívida pública diretamente ao público. Ele o faz por meio de delears (distribuidores) – grandes instituições financeiras que funcionam como atacadistas no mercado de títulos, comprando-os em grande quantidade e repassando-os por meio da revenda a seus clientes (o público) (Viceconti; Neves, 2013). Dessa forma, somente depois que os delears compram ou vendem os títulos ao público é que ocorre efetivamente o aumento ou a redução da liquidez. Para desestimular a venda de títulos, o BC deve aumentar a taxa de juros, tornando-os atrativos para o público. Já para desestimular sua compra, o BC deve baixar os juros, reduzindo a rentabilidade dos títulos. TEMA 5 – TAXA DE CÂMBIO E MERCADO DE DIVISAS Quando dois países que possuem moedas diferentes transacionam entre si, é necessário descobrir uma proporção de valor entre as suas moedas. Essa proporção ou paridade entre diferentes moedas é denominada taxa de câmbio e é determinada no mercado de divisas (moedas estrangeiras). 21 5.1 Mercado de divisas Mas o que se entende por mercado de divisas? O mercado de divisas é a interação entre a oferta e a demanda de divisas. Mas de onde vêm essa oferta e essa demanda? A resposta é: das transações que constam no Balanço de Pagamentos. Quando os importadores brasileiros compram mercadorias e serviços do resto do mundo, eles devem efetuar o pagamento na moeda do país com quem se transacionou. Mas os importadores brasileiros não têm moedas estrangeiras. Eles têm reais. Para converter esses reais em divisas, os importadores devem entregar a moeda nacional em alguma casa de câmbio e trocá-la, pela cotação do dia, por divisas. Essa troca de moeda nacional por divisas é o mesmo que demandar divisas, as quais divisas seguem para o país de onde saíram as mercadorias e os serviços importados, selando a transação. Por outro lado, quando exportadores brasileiros vendem mercadorias e serviços para o Resto do Mundo, eles recebem divisas como pagamento. Como não se pode transacionar com moeda estrangeira dentro do Brasil, os exportadores deverão ir às casas de câmbio e trocar as divisas que recebem por reais. Essa troca é feita pela cotação do dia e é o mesmo que ofertar divisas. Em suma, importar é demandar divisas e exportar é ofertar divisas. Veja a Figura 1. 22 Figura 1 – Mercado de divisas BRASIL RESTO DO MUNDO mercadorias e serviços R$ R$ moeda moeda local local divisas divisas No regime de taxas de câmbio fixas, que veremos adiante, um aumento no preço da divisa recebe o nome de desvalorização cambial e uma diminuição no preço da moeda estrangeira denomina-se valorização cambial. No regime de taxas de câmbio flutuantes, um aumento no preço da divisa recebe o nome de depreciação cambial, e uma diminuição no preço da moeda estrangeira denomina-se apreciação cambial. No Brasil, devido ao longo período em que reinou o regime de câmbio fixo, as pessoas continuam falando desvalorização e valorização cambial. Usaremos as duas formas indiscriminadamente. Observe que quanto mais alta a taxa de câmbio, menor será a quantidade demandada de divisas e quanto mais baixa a taxa de câmbio, maior a quantidade demandada de divisas. 5.2 Oferta de divisas Conforme Newton Rosa (2012), do Portal Sul América de Investimentos, a oferta de divisas depende: IMPORTADORES EXPORTADORES EXPORTADORES e IMPORTADORES do Resto do Mundo BANCO CENTRAL e CASAS DE CÂMBIO do Brasil BANCO CENTRAL e CASAS DE CÂMBIO do Resto do Mundo 23 a. do volume de exportações, uma vez que as moedas recebidas pelas vendas externas têm de ser trocadas por moeda nacional; b. de entrada de capitais, que também precisam ser trocados por moeda nacional. Se as mercadorias e os serviços forem exportados com a taxa de câmbio mais alta, isto é, com a moeda nacional desvalorizada, o número de reais recebido será maior do que se a taxa de câmbio estiver mais baixa ou, o que é o mesmo, se a moeda nacional estiver valorizada. Logo, a taxa de câmbio alta estimula as exportações e as demais entradas de capital, ao passo que a taxa de câmbio baixa as desestimula. Dito de outra forma, quanto mais alta a taxa de câmbio, maior será a quantidade ofertada de divisas e quanto mais baixa for a taxa de câmbio, menor será a quantidade demandada de divisas. 5.3 Taxas de câmbio fixas e taxas de câmbio flutuantes No Brasil, até fevereiro de 1990, o Banco Central controlava a taxa de câmbio por meio da compra e venda de dólares, conforme o mercado apresentasse excesso ou escassez de divisas, respectivamente. Essa forma de tratar a questão do câmbio era chamada de regime de câmbio fixo (ou ajustável). A partir de então, com a implementação do Plano Collor I, o país adotou o regime de taxas de câmbio flutuantes (flexíveis ou livres), que são determinadas pelo mercado de divisas, sem a intervenção do governo. No caso em que prevalecem as taxas de câmbio flutuantes, é preciso perceber que a tendência do saldo do BP é caminhar para zero. O procedimento para tanto é o seguinte: suponha que exista um superávit. Com o excesso de divisas, a moeda nacional vai se valorizar, reduzindo o saldo do BP e eliminando o excesso de divisas. Suponha, agora, que exista um déficit. Com a falta de divisas, a moeda nacional vai se desvalorizar, aumentando a entrada e reduzindo a saída de divisas até que não exista mais falta de divisas. Com o regime de taxas flutuantes (ou livres), portanto, existe um ajuste automático no mercado de câmbio. No caso em que prevalecem as taxas de câmbio fixas, vale ressaltar que o nome fixa nada tem a ver com a ideia de imóvel. Na verdade, fixa vem de fixada pelo governo, na figura do Banco Central. 24 A taxa fixada pelo governo não coincide com a taxa de câmbio que vigoraria se o mercado estivesse funcionando livremente. Com isso, pode-se ficar longos períodos com excesso ou com falta de divisas, dependendo da política adotada. Se o objetivo do governo for o de manter a taxa de câmbio alta, o Banco Central deverá intervir sistematicamente no mercado de câmbio para comprar divisas. Fazendo isso, o governo diminui a quantidade de divisas no mercado, mantendo seu preço em alta. Essa compra de divisas, entretanto, gera um aumento de moeda nacional na economia, o que pode estimular a inflação. Para evitar isso, o governo vende títulos públicos, reduzindo novamente a oferta de moeda nacional. Essa operação é chamada de esterilização. Para concluir o caso das taxas de câmbio fixas, podemos dizer que: a. se a operação de compra de dólares não estiver sendo suficiente para suprir o excesso de divisas, o governo poderá impor restrições à entrada de mais divisas por meio, por exemplo, de controles à entrada de capitais especulativos de curto prazo na Bolsa de Valores; b. se o volume de reservas internacionais não for suficiente para cobrir a falta de divisas, o governo poderá tomar medidas recessivas, como as restrições quantitativas às importações e/ou o aumento da taxa de juros para evitar a saída de capital e, consequentemente, de dívidas. 5.4 Vantagens e desvantagens de cada regime cambial Segundo Henrique Meirelles (2016), a principal vantagem do regime de taxas de câmbio fixas é a segurança que ele proporciona aos agentes econômicos, facilitandoas transações internacionais. Sua maior desvantagem é o ônus que recai sobre o Banco Central, por ter que assegurar a estabilidade proposta por esse sistema. No que se refere ao câmbio flutuante, Meirelles (2016) informa, ainda, que sua maior vantagem é ajustar-se automaticamente, desonerando o Banco Central dessa incumbência. Em compensação, o câmbio flutuante tem como desvantagem estar condicionado à movimentação especulativa dos capitais externos, que são, por natureza, muito voláteis. Atualmente, o regime cambial adotado na maioria dos países é o chamado dirty floating (flutuação suja). Nesse tipo de regime, a taxa de câmbio flutua dentro de um intervalo com limites máximos e mínimos, também chamados bandas. Se a taxa de aproxima do limite máximo, o Banco Central entra no mercado vendendo 25 divisas. Isso aumenta a oferta de divisas e diminui a taxa de câmbio. Caso a taxa de câmbio se aproxime do limite mínimo, o Banco Central entra no mercado comprando divisas, que diminui a sua oferta e aumenta o preço (a taxa de câmbio). Em suma, no regime misto, a taxa de câmbio flutua, mas de forma monitorada. 26 REFERÊNCIAS CASTANHEIRA, N. P. Matemática financeira para todos os níveis. Curitiba: Juruá, 2005. GOLDBERG, S. Dez anos de Plano Real. Conjuntura econômica, Rio de Janeiro, v. 58, n. 3, p. 36-41, mar. 2004. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/>. Acesso em: 4 abr. 2022. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 4 abr. 2022. KEYNES, J. M. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Atlas, 1982. MANKIW. N. G. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MEIRELLES, H. Dez pontos do pensamento de Henrique Meirelles para a economia nacional & impactos sobre o Mato Grosso do Sul. Observatório Econômico, 23 out. 2016. Disponível em: <https://www.observatorioeconomico.ms.gov.br/dez-pontos-do-pensamento-de- henrique-meirelles-para-a-economia-nacional-impactos-sobre-mato-grosso-do- sul/>. Acesso em: 2 abr. 2022. MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2014. NOGAMI, O. Economia. Curitiba: Iesde Brasil S. A., 2007. REIS, T. Agentes econômicos: quais são e como eles atuam na economia? Suno, 6 dez. 2020. Disponível em: <https://www.suno.com.br/artigos/agentes- economicos/>. Acesso em: 2 abr. 2022. ROSA, N. Explicando economês. SulAmérica, 3 maio 2012. Disponível em: <https://www.mzweb.com.br/sulamericainvestimentos/webnovo/arquivos/SULA1 1_Explicando_Economes_Edicao03_TaxadeCambio_PORT.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2022. STIGLITZ, J.; WALSH, C. E. Introdução à microeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. 27 TEBCHIRANI, F. R. Princípios de economia: micro e macro. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. VICECONTI, P. E. V.; NEVES, S. das. Introdução à economia. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. AULA 5 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – ORIGEM DOS CUSTOS E CUSTO DE FABRICAÇÃO Você já conhece o que há de principal na microeconomia e na macroeconomia. Agora estudaremos custos, cujos conhecimentos são indispensáveis à economia. Conforme Santos (2005), a apuração de custos ganhou importância em função da necessidade de controle, desde o início do capitalismo. Bastava, no início, comparar as receitas com as despesas de determinado período para saber se um negócio era ou não lucrativo. A contabilidade de custos era usada como instrumento seguro para controlar as variações de custos e de vendas e também para avaliar o crescimento ou o retrocesso do negócio. Mas os tempos mudaram e mecanismos mais precisos tornaram-se necessários para escriturar as operações da atividade mercantilista. Da atividade mercantilista derivou o termo mercadoria. Já na indústria, o termo produto, oriundo da transformação de várias matérias-primas, quando é comercializado, é também chamado de mercadoria. A empresa, qualquer que seja o seu porte, necessita do controle e da análise de custos. 1.1 Empresas industriais Entende-se por empresa industrial aquela que adquire determinadas matérias-primas e, com o uso de máquinas, equipamentos e mão de obra especializada, transforma as matérias-primas em produtos acabados (Oliveira; Perez Jr., 2005). Como exemplos, veja a Tabela 1. Tabela 1 – Matérias-primas versus produtos acabados Matérias-primas Produtos acabados couro sapatos, bolsas, cintos, carteiras cevada, malte, lúpulo cerveja petróleo gasolina, gás, graxa, lubrificante, querosene papel, tintas livros, revistas, jornais, agendas cobre, alumínio fios, cabos, panelas, talheres cana-de-açúcar açúcar, álcool cacau chocolate 3 madeira móveis, vigas, serragem calcário cimento minério de ferro aço plásticos embalagens, brinquedos borracha pneus uva vinho, champagne, licor trigo farinha soja farelo, óleo, leite, margarinas, ração animal ouro joias 1.2 Gasto Gasto é o valor econômico utilizado para a obtenção de produtos ou serviços por parte da empresa, independente do destino que esses bens, sejam produtos ou serviços, possam ter na empresa. Um gasto poderá ocorrer à vista ou a prazo (Ribeiro, 2009). 1.3 Investimentos Entendemos por investimento a aplicação de um capital que visa um benefício futuro. Portanto, uma empresa faz investimento quando, por exemplo, adquire produtos que serão inicialmente mantidos em estoque para que sejam futuramente negociados, integrados ao processo produtivo ou consumidos. Investimentos são todos os bens e direitos registrados no ativo das empresas para baixa em função de venda, amortização, consumo, desaparecimento ou desvalorização. 1.4 Custo de fabricação O custo de fabricação é a soma dos gastos e serviços que tenham sido aplicados no processo produtivo. É, portanto, o valor dos insumos utilizados na produção eficiente dos produtos e serviços da empresa. Alguns conceitos são importantes, como é o caso de custo marginal e custo estrutural fixo. O custo marginal (CM) está diretamente ligado ao volume de vendas realizado. Os custos estruturais fixos (CEF) não guardam proporção direta com as vendas. São os custos necessários à manutenção da estrutura operacional de 4 uma empresa, para sua administração, para a produção e para a venda dos produtos e serviços, sempre limitados à capacidade instalada. Voltando ao custo de fabricação, ele é composto por três elementos: materiais, mão de obra e gastos gerais de fabricação. Portanto: a. Materiais (são os objetos utilizados no processo de fabricação, podendo ou não entrar na composição do produto, como matéria-prima, materiais secundários, materiais auxiliares e materiais de embalagem); b. Mão de obra (é o esforço do homem aplicado na fabricação dos produtos; compreende salários, benefícios e encargos sociais); c. Gastos gerais de fabricação (demais gastos necessários para a fabricação dos produtos, os quais pela própria natureza não se enquadram no grupo de materiais ou de mão-de-obra; ex.: aluguéis, energia elétrica, manutenção da fábrica, depreciação das máquinas, material de higiene e de limpeza, serviços de comunicações etc.). 1.5 Despesa É muito importante você não confundir gasto com despesa. Vimos que gasto é o valor econômico utilizado para a obtenção de produtos ou serviços por parte da empresa, independente do destino que esses bens possam ter na empresa. Já a despesa é o valor econômico utilizado nas áreas administrativa, comercial e financeira, que direta ou indiretamente visamà obtenção de receitas. É o gasto não identificado pela produção, referentes às atividades não produtivas da empresa. Saiba mais Custo integra o produto; vai para o estoque. Despesa reduz o lucro; vai para o resultado. 1.6 Perda e desperdício Perda e desperdício são dois conceitos que você também deverá saber distinguir bem. As perdas são os gastos com bens e serviços consumidos de forma anormal ou involuntária (greve, inundação, roubo, incêndio, entre outros). São, portanto, gastos que não agregam valor ao produto ou ao serviço. 5 Os desperdícios são os gastos incorridos no processo produtivo que podem ser eliminados sem prejuízo da qualidade ou quantidade de bens, serviços ou receitas geradas. Atualmente, o desperdício está sendo classificado como custo ou despesa, e sua identificação e eliminação é fator determinante do sucesso ou fracasso de um negócio. 1.7 Centro de custo Menor unidade do processo produtivo de uma organização para a qual os custos são orçados ou apropriados e que tem características semelhantes para medição de desempenho e atribuição de responsabilidades. 1.8 Centros de despesas Menor unidade de acumulação de despesas, sendo representada por homens, máquinas e equipamentos, de características semelhantes, que desenvolvem atividades homogêneas relacionadas com as atividades administrativas, financeiras e comerciais. Exemplos: contabilidade, departamento de pessoal, tesouraria, dentre outros. TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS DE FABRICAÇÃO Vamos analisar mais detalhadamente o custo doe fabricação. Em relação aos produtos fabricados, o custo pode ser direto ou indireto. Em relação ao volume de produção, o custo pode ser fixo ou variável. 2.1 Custos diretos Os custos diretos são aqueles que podem ser identificados facilmente em relação a cada produto fabricado. Compreendem os gastos com materiais, mão de obra e gastos gerais de fabricação aplicados diretamente na fabricação dos produtos. 2.2 Custos indiretos Os custos indiretos são aqueles que não podem ser facilmente identificados em relação a cada produto fabricado, motivo pelo qual a sua determinação está 6 condicionada ao cumprimento de regras, bem como a realização de cálculos mais detalhados. Os custos indiretos compreendem os gastos com materiais, mão de obra e gastos gerais de fabricação aplicados indiretamente na fabricação dos produtos. São exemplos: aluguel da fábrica, energia elétrica, salários e encargos dos chefes de seção e dos supervisores da fábrica. A distribuição dos custos indiretos aos produtos denomina-se rateio. Essa distribuição é feita por meio de critérios que podem ser estimados ou até mesmo arbitrados pela empresa. 2.3 Custos fixos Os custos fixos são aqueles que permanecem estáveis, independentemente de alterações no volume da produção. São custos necessários ao desenvolvimento do processo industrial em geral. São exemplos de custos fixos: aluguel da fábrica, água, energia elétrica, salários e encargos dos mensalistas que trabalham na manutenção e limpeza da fábrica, seguro do imóvel, segurança da fábrica, telefone, depreciação normal das máquinas, salários e encargos dos supervisores da fábrica, entre outros. Os custos fixos podem sofrer alguma variação de um período para outro, mas continuam sendo classificados como fixos, uma vez que a classificação em fixos ou variáveis é feita exclusivamente em relação ao volume da produção. Os custos fixos, por não integrarem os produtos e por beneficiarem a fabricação de vários produtos ao mesmo tempo, são também denominados de custos indiretos. 2.4 Custos variáveis Os custos variáveis são aqueles que variam em decorrência do volume da produção. Assim, quanto mais produtos forem fabricados em um período, maiores serão os custos variáveis. Um bom exemplo é a matéria-prima. Os custos variáveis, por estarem vinculados ao volume produzido, são também denominados de custos diretos. Veja as Figuras 1, 2 e 3. É importante salientar que, em relação ao volume de produção, entre os custos fixos é comum alguns possuírem uma parcela variável e, entre os custos 7 variáveis, também é comum alguns possuírem uma parcela fixa. Daí as denominações de custos semifixos e custos semivariáveis. Figura 1 – Custo fixo (CF) Custo 20 10 Volume de produção 0 5 10 Figura 2 – Custo variável (CV) Custo 30 20 10 Volume de produção 0 5 10 8 Figura 3 – Custo total (CT) = Custo fixo + Custo variável Custo 50 40 30 20 10 Volume de produção 0 5 10 Matematicamente, temos que: CT = CF + CV . q onde q = quantidade a ser produzida TEMA 3 – CONTABILIDADE DE CUSTOS A contabilidade de custos ou contabilidade industrial é um ramo da contabilidade aplicado às empresas industriais. Quando falamos de custo industrial, estamos nos referindo aos procedimentos contábeis e extracontábeis necessários para se conhecer o quanto custou para a empresa industrial a fabricação dos seus produtos, por meio do processo industrial. A movimentação do patrimônio das empresas industriais, com exceção da área de produção, assemelha-se à movimentação do patrimônio dos demais tipos de empresas. Por esse motivo, para se controlar a movimentação do patrimônio das empresas industriais, aplicam-se os princípios fundamentais de contabilidade, também utilizados para os outros tipos de empresas. Porém, o que torna a contabilidade de custos diferente dos demais ramos da contabilidade são os procedimentos praticados na área de produção da empresa industrial, os quais exigem a aplicação de critérios específicos para se apurar o custo de fabricação. Existem empresas comerciais, agrícolas, extrativas, industriais, transportadoras, bancárias e uma infinidade de outras que prestam serviços. 9 O que diferencia as empresas industriais dos demais tipos de empresas são as atividades operacionais de produção que se caracterizam pela transformação de matéria-prima em produtos industrializados, sua atividade preponderante. Essa atividade de transformação denomina-se produção industrial ou processo de fabricação. Entretanto, não é apenas a transformação que determina a produção industrial; ela pode ocorrer em função da transformação, do beneficiamento, da montagem de peças e da restauração. • Indústrias de transformação – a transformação das matérias-primas pode ocorrer por processo mecânico, térmico ou químico. Exemplos: indústrias de móveis de madeira, indústrias siderúrgicas, indústrias petrolíferas; • Indústrias de beneficiamento – a atividade industrial de beneficiamento é a operação que visa modificar, aperfeiçoar e até mesmo dar uma melhor aparência ao produto, sem haja transformação. Exemplos: empresas beneficiadoras de arroz, indústrias de beneficiamento de peças para outras indústrias; • Indústrias de montagem de peças – o produto final desse tipo de indústria resulta da montagem de peças produzidas normalmente pelas indústrias de transformação. Exemplos: indústrias automobilísticas, de rádios, de aparelhos de televisão, de relógios, entre outras; • Indústrias de restauração ou recondicionamento – são aquelas cuja atividade se concentra na recuperação de produtos usados ou mesmo de produtos deteriorados. Exemplos: indústrias que retificam motores, recauchutadoras de pneus, entre outras. 3.1 Custo dos produtos vendidos O custo dos produtos vendidos compreendea soma dos gastos com materiais, mão de obra e gastos gerais de fabricação aplicados ou consumidos na fabricação dos produtos que foram fabricados e vendidos pela empresa. Após o encerramento do processo de fabricação, os produtos acabados são transferidos da área de produção para o almoxarifado de produtos acabados, permanecendo estocados até que sejam vendidos. Esses produtos acabados recebem como custo toda a carga dos custos diretos e indiretos decorridos durante o processo de fabricação dos respectivos produtos. 10 Os produtos que tiverem seus processos de fabricação iniciados em períodos anteriores e encerrados no período atual receberão cargas de custos proporcionais ao processo de fabricação de cada um dos períodos durante os quais estiveram em fabricação. Essas cargas de custos são atribuídas no final de cada período para que os referidos produtos inacabados possam ser devidamente avaliados para integrar os estoques finais de produtos em elaboração no término de cada um desses períodos. Portanto, ao terem seus processos de fabricação concluídos, os custos desses produtos conterão parte dos custos incorridos em períodos anteriores mais os custos gerados no atual período em que seus processos de fabricação foram concluídos. É importante salientar que, entre os produtos vendidos pela empresa em um período, poderão conter somente produtos cujos processos de fabricação foram concluídos no respectivo período ou poderão conter ainda produtos que foram acabados em períodos anteriores. 3.2 Custo dos serviços prestados Custo dos serviços prestados é uma expressão em uso nas empresas que prestam serviços. Os serviços a terceiros podem ser prestados tanto por pessoas físicas (profissionais autônomos, como pedreiros, encanadores, eletricistas, advogados, engenheiros civis, jardineiros, entre outros) quanto por empresas que exclusivamente operam nesse ramo de atividades ou ainda por empresas que, mesmo possuindo uma atividade principal, também prestam serviços, como ocorre com empresas comerciais e industriais. Entre as empresas comerciais que também prestam serviços, podemos citar aquelas que atuam no comércio de veículos e autopeças. As revendedoras de veículos, além da atividade comercial de revenda de veículos e autopeças, também prestam serviços de revisão e de manutenção nos veículos de seus clientes. Há uma infinidade de empresas industriais que, além da atividade preponderante de transformação de matérias-primas em produtos, também prestam serviços a seus clientes executando montagem, cromagem, niquelagem, beneficiamentos de peças, usinagem, entre outras. 11 Em geral, entende-se por custo da prestação de um serviço o valor do salário e encargos do trabalhador que executou uma tarefa. Entretanto, ao prestar algum serviço a terceiros, o prestador de serviços, seja ele pessoa física ou empresa, incorrerá em outros gastos que podem variar conforme a natureza dos serviços a serem prestados. Assim, o custo com a prestação de serviços, além da mão de obra, poderá envolver outros gastos com o uso de máquinas, ferramentas e equipamentos, com o consumo de materiais auxiliares e de limpeza, de energia elétrica, combustíveis, entre outros. Quando uma empresa contrata serviços de um profissional autônomo ou de outra empresa, para a empresa beneficiária dos serviços, esse custo corresponderá ao valor pago ao prestador do serviço. Entretanto, ao prestador do serviço, seja ele um profissional autônomo, seja uma empresa, no valor recebido pelo trabalho realizado estará embutido o custo necessário para que a tarefa seja realizada e mais uma margem de lucro. O custo do serviço prestado pela empresa prestadora de serviços a outras empresas poderá ser composto pelos mesmos elementos que compõem o custo de fabricação em uma empresa industrial, ou seja, materiais, mão de obra e gastos gerais de fabricação. É evidente que nas empresas industriais, pelas próprias características que envolvem o processo de fabricação, normalmente o custo com mão de obra é inferior ao custo com materiais aplicados. Em uma indústria que atua no ramo de confecções, por exemplo, o custo com matéria-prima e materiais secundários pode atingir até 80% ou 90% do custo total de fabricação. Já nas empresas de prestação de serviços, o gasto preponderante quase sempre é mão de obra. Diante do exposto, podemos concluir que, em uma empresa de prestação de serviços, os critérios a serem adotados para se calcular o custo dos serviços prestados são semelhantes aos critérios adotados para se apurar o custo de fabricação em uma empresa industrial. A empresa de prestação de serviços certamente não conterá, em seu ativo, estoques de serviços concluídos. No entanto, poderá manter em estoque os materiais que serão consumidos ou aplicados na prestação de serviços. Da mesma forma, essas empresas incorrerão em gastos com a depreciação de veículos, computadores e máquinas, ferramentas e equipamentos necessários à prestação dos serviços. 12 Finalmente, convém salientar que nas empresas que prestam vários tipos de serviços, poder-se-á apurar o custo de cada um dos serviços prestados. Nesse caso, da mesma forma que ocorre nas empresas industriais, ocorrerão custos diretos e custos indiretos em relação a cada serviço prestado. Os critérios para atribuição dos custos indiretos a cada serviço prestado são semelhantes aos aplicados para rateio dos custos indiretos nas empresas industriais. O desequilíbrio entre a lei da oferta e a lei da procura acarreta variação nos preços de bens e serviços comercializados pela sociedade de consumo. Quando a procura é maior do que a oferta de bens e serviços, os preços podem aumentar, refletindo no que é chamado de inflação de demanda; caso a oferta de bens e serviços seja maior que a demanda, os preços tenderão a diminuir, provocando a deflação. TEMA 4 – ANÁLISE DO PONTO DE EQUILÍBRIO A análise do ponto de equilíbrio entre receitas de vendas e de custos é muito importante como instrumento de decisão gerencial. O sucesso financeiro de qualquer empreendimento empresarial está condicionado à existência da melhor informação gerencial. No rol das informações mínimas indispensáveis para a decisão, está a análise do ponto de equilíbrio, o qual será obtido quando o total dos lucros marginais, de todos os produtos comercializados, equivalerem ao custo estrutural fixo do mesmo período de tempo objeto da análise. Vamos então revisar o que entendemos por custos marginais (CM) e por custos estruturais fixos (CEF). Os custos marginais são aqueles que estão diretamente relacionados com o volume de produção ou venda. As principais características dos custos marginais (variáveis) são as seguintes; a. Em termos de CM totais, quanto maior for o volume de vendas, maiores serão os custos variáveis totais; b. Em termos unitários, os custos marginais permanecem constantes. Exemplos: matéria-prima e comissões sobre vendas. Veja as figuras 4 e 5. 13 Figura 4 – Custos marginais totais (CMT) y (custo) R$300,00 R$200,00 R$100,00 1 2 3 x (volume) Figura 5 – Custo marginal por unidade (CMU) y (custo) R$100,00 1 2 3 x (volume) Como exemplos de custos marginais de empresa comercial, industrial e de serviços, temos: a. Custos de matérias-primas, mercadorias e materiais aplicados em serviços vendidos; b. Impostos incidentes sobre as vendas (IPI, ICMS, PIS, COFINS e ISS); c. Comissão variável sobre vendas; d. Juros e descontos de duplicatas; e. Deságio de vendascom cartões de créditos; f. etc. Os custos estruturais fixos são os que independem do volume de produção ou venda. Representam a capacidade instalada que uma empresa possui para produzir e vender bens, serviços e mercadorias. As principais características dos custos estruturais fixos são as seguintes: a. Em termos de custos estruturais fixos totais, quanto maior for o volume de produção ou venda, menores serão os custos estruturais fixos por unidade (até o limite da capacidade instalada); 14 b. Os CEF’s totais independem das quantidades produzidas ou vendidas. Exemplos: aluguel, IPTU, salários de pessoal, seguros, equipamentos, depreciação, entre outros (dentro da capacidade instalada). Como exemplos de custos estruturais fixos, temos: a. Total de salários brutos (folha de pagamento); b. Encargos sociais sobre salário; c. Pro-labore de diretores; d. Benefícios de funcionários; e. Manutenção de instalações, de veículos e de máquinas; f. Depreciação de equipamentos; g. Leasing de equipamentos; h. Aluguel predial; i. Telefones e internet; j. Contratos de assistência técnica; k. Equipamentos de segurança; l. Honorários de consultores; m. Material de escritório. Os custos semivariáveis são os que variam em função do volume de produção ou venda, mas não exatamente nas mesmas proporções. Esses custos têm uma parcela fixa, com base na qual passam a ser variáveis. Exemplos: energia elétrica, telefone, água, gás encanado e manutenção preventiva. Veja a Figura 6. Figura 6 – Custos variáveis totais y (custo) CEF 0 1 2 3 x (volume) R$115,00 R$110,00 R$105,00 R$100,00 15 Os custos semifixos são os gastos que permanecem constantes dentro de certos intervalos, alterando-se em degraus até atingir um novo patamar de atividade. Normalmente, ocorrem em função de decisões tomadas para aumentar ou diminuir o nível de atividade. Citam-se, frequentemente, a título de exemplo, os gastos com salários de pessoal ou depreciação com a compra de máquinas adicionais para aumentar a produção. Veja a Figura 7. Figura 7 – Custos semifixos y (salários) x (produção) 0 1.000 un. 2.000 un. 3.000 un. A informação, também conhecida como a do faturamento mínimo que uma empresa precisa obter para não incorrer em prejuízo, é de importância vital para a gestão de um negócio. Para determinar o ponto de equilíbrio, a empresa necessita classificar de forma adequada seus custos estruturais fixos, por exemplo, de um mês, e conhecer o lucro marginal formado pelo mix de todos os produtos vendidos no mesmo mês. Vamos analisar, como exemplo, a Tabela 2. No caso ilustrado, o ponto de equilíbrio ocorre quando a empresa atingir a marca de R$ 1.018,52 de faturamento, o total do lucro marginal dos produtos A e B, desde que vendidos na mesma proporção. Caso ocorra faturamento em volume maior do produto B, no mix, o ponto de equilíbrio será atingido mais rapidamente em razão de participar com maior contribuição marginal. As vendas de 67% e 33%, respectivamente dos produtos A e B, resultaram no ponto de equilíbrio, no montante de R$ 1.018,52 que pode ser comprovado na Tabela 3. 16 Tabela 2 – Demonstração do lucro para determinação do ponto de equilíbrio DEMONSTRAÇÃO DO LUCRO Produtos A % B % Total % Volume 100 un. 67 50 un. 33 150 un. 100 Preço unitário R$ 10,00 un. R$ 5,00 un. Receita total R$ 1.000,00 100 R$ 250,00 100 R$ 1.250,00 100 Custos marginais (R$ 500,00) (50) (R$ 75,00) 30 (R$ 575,00) 46 Lucros marginais R$ 500,00 50 R$ 175,00 70 R$ 675,00 54 Custos estrut. Fixos (R$ 550,00) (44) Lucro operacional R$ 125,00 10 Tabela 3 – Demonstração do lucro no ponto de equilíbrio DEMONSTRAÇÃO DO LUCRO (NO PONTO DE EQUILÍBRIO) Vendas R$ 1.018,52 100% (–) Custos marginais (R$ 468,52) 46% = Lucros marginais R$ 550,00 54% (–) Custos estruturais fixos (R$ 550,00) (54%) = Lucro operacional 0 0 Portanto, o lucro resultante é zero, comprovando dessa forma a teoria do ponto de equilíbrio. Na sequência, desenvolvemos a fundamentação básica para a aplicação prática da análise do ponto de equilíbrio. Veja a Figura 8. Figura 8 – Representação gráfica dos custos, receitas e ponto de equilíbrio Receita Área de (y) total lucro PE Custos marginais (b) Área de Custo total prejuízo Custos estruturais fixos (a) volume (x) 17 4.1 Contribuição marginal (CM) Como os custos de uma empresa podem ser agrupados em custos estruturais fixos e custos marginais, conforme conceituação, definimos lucro marginal como contribuição para a formação do lucro, contribuição para cobrir o custo fixo e proporcionar lucro, margem de contribuição, receita marginal, lucro marginal e outras denominações que veiculam a ideia de diferença entre o preço de venda e o custo marginal, por exemplo: Receita de venda unitária R$ 2,00 (–) Custo marginal unitário R$ (0,80) Lucro marginal R$ 1,20 Isso significa que R$ 2,00 de vendas contribuem com R$ 1,20, ou melhor ainda, cada unidade vendida contribui com R$ 1,20 para cobrir o total do custo estrutural fixo da empresa e, dependendo do volume de venda praticado, contribui para a formação do lucro. O conceito de lucro marginal leva-nos também à noção da demonstração marginal da conta de resultados. Supondo-se, por exemplo, que a empresa em consideração esteja fabricando e vendendo 600 unidades e que seu custo fixo seja R$ 600,00, teremos os dados mostrados na Tabela 4. Tabela 4 – Demonstração do lucro DEMONSTRAÇÃO DO LUCRO Vendas: 600 unidades a R$ 2,00 R$ 1.200,00 Custo marginal: 600 unidades a R$ 0,80 (R$ 480,00) Lucro marginal R$ 720,00 Custo estrutural fixo (R$ 600,00) Lucro líquido R$ 120,00 Podemos obter o índice do custo marginal do exemplo anterior, que é a porcentagem do custo marginal unitário em relação ao preço de venda unitário, isto é: Custo marginal unitário = R$ 0,80 (a) Preço de venda unitário = R$ 2,00 (b) Índice do custo marginal = b a x 100 = 00,2 80,0 x 100 = 40% 18 Isso significa que 40% do preço de venda é representado pelo custo marginal. Subtraindo-se agora 100% do índice do custo marginal, que no caso é de 40%, obtém-se 60%, porcentagem essa que é denominada índice do lucro marginal, ou seja: Índice do lucro marginal = 100% – 40% = 60% O índice do lucro marginal significa, em termos percentuais, quanto cada unidade vendida ou o total das vendas contribui para cobrir o custo estrutural fixo e conforme o nível de venda praticado proporciona lucro. Outra maneira de se obter o índice do lucro marginal é a seguinte: preço de venda – custo marginal x 100 = lucro marginal x 100 = preço de venda preço de venda = R$ 2,00 – R$ 0,80 x 100 = R$ 1,20 x 100 = 60% R$ 2,00 R$ 2,00 TEMA 5 – MARK UP De forma simples, o mark up (MK) pode ser definido como o lucro desejado (L) sobre o preço de venda (PV). Alguns economistas definem o mark up como o lucro desejado sobre o preço de custo. O mark up é fornecido percentualmente. Vamos definir mark up como: MARK UP = LUCRO DESEJADO PREÇO DE VENDA Simplificadamente, MK = L PV onde: MK = MARK UP L = lucro desejado PV = preço de venda O preço de venda, por sua vez, deverá ser igual ao preço de custo (PC) mais o lucro desejado. Simplificadamente, temos: PV = PC + L 19 onde: PC = preço de custoL = lucro desejado É importante você conhecer dois importantes conceitos que poderá encontrar na literatura consultada: a. Efeito por fora; b. Efeito por dentro. O que isso significa? Significa que, ao alterar o preço de uma mercadoria que está sendo vendida, isso terá duas consequências: uma para a empresa (efeito por dentro) e outra para o consumidor (efeito por fora). O efeito por dentro, portanto, será o reflexo no mark up causado pela mudança no preço da mercadoria ou do serviço, e o efeito por fora será o reflexo sentido pelo consumidor final na variação desse preço. Vamos analisar um exemplo. Uma mercadoria tem um mark up de 45%, e o seu preço de venda é R$ 899,00. Qual deve ser o aumento no mark up para que o preço de venda tenha um aumento de 10%? Observe, pelo enunciado, que o consumidor final pagará 10% a mais pela mercadoria, pois o vendedor deseja ter um mark up maior. PV = 899,00 MK = 45% = 0,45 PV = PC + L Mas: MK = L PV L = MK . PV Então: PV = PC + MK . PV PC = PV – MK . PV PC = 899,00 – 0,45 . 899,00 PC = 494,45 20 Como haverá 10% de aumento no PV, o novo PV a que chamaremos de PV1 será de: 899,00 . 1,10 = 988,90 O novo mark up, a que chamaremos de MK1, será: PV1 = PC + MK1 . PV1 988,90 = 494,45 + MK1 . 988,90 988,90 – 494,45 = MK1 . 988,90 MK1 = 494,45 988,90 MK1 = 0,50 ou 50% Logo, o mark up teve um aumento de 5%. Vamos analisar outro exemplo. Uma mercadoria cujo preço de custo foi de R$ 444,00 estava sendo vendida com um mark up de 30%. Qual o preço de venda dessa mercadoria? Caso aumentemos o mark up em 8%, qual o correspondente percentual de aumento no preço de venda? Temos então: MK = 30% = 0,30 PC = 444,00 MK = L PV 0,30 = L PV L = 0,30 . PV PV = PC + L PV = 444,00 + 0,30 . PV PV – 0,30 . PV = 444,00 0,70 . PV = 444,00 PV = 634,29 MK1 = L1 PV1 MK1 = 38% = 0,38 L1 = 0,38 . PV1 PV1 = PC + L1 21 PV1 = PC + 0,38 . PV1 PV1 – 0,38 . PV1 = PC 0,62 . PV1 = 444,00 PV1 = 716,13 Ou seja, percentualmente, o preço de venda subiu 12,90% para um aumento de 8% no mark up. 22 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1998. CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira aplicada. Curitiba: InterSaberes, 2012. CASTANHEIRA, N. P.; SERENATO, V. S. Matemática financeira e análise financeira para todos os níveis. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2014. GOLDBERG, S. Dez anos de Plano Real. Conjuntura econômica, Rio de Janeiro, v. 58, n. 3, p. 36-41, mar. 2004. MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2009. OLIVEIRA, L. M. de; PEREZ JR., J. H. Contabilidade de custos para não contadores. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005. RIBEIRO, O. M. Contabilidade de custos fácil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. SALVATORE, D. Economia internacional. São Paulo: McGraw Hill, 1978. SANTOS, J. J. Análise de custos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005. SCHIER, C. U. C. Gestão contábil e de custos. Curitiba: Ibpex, 2005. STIGLITZ, J.; WALSH, C. E. Introdução à microeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. TEBCHIRANI, F. R. Princípios de economia: micro e macro. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira AULA 6 2 TEMA 1 – INVENTÁRIO DE MATERIAIS Quando estudamos os custos de fabricação, vimos que eles se classificam como diretos ou indiretos e, também, como fixos ou variáveis. Vimos também que o custo de fabricação é composto por três elementos: materiais, mão de obra e gastos gerais de fabricação. Os materiais que são utilizados no processo de fabricação, por sua vez, subdividem-se em: a) Matéria-prima; b) Materiais secundários; c) Materiais auxiliares; d) Materiais de embalagem. Há, portanto, materiais que são consumidos no processo de fabricação sem integrar os produtos (lixas, estopas, óleos, lubrificantes para as máquinas, entre outros). Outros, integram o produto, como a matéria-prima e os materiais secundários. Por integrarem o produto, são classificados como materiais diretos. Conforme Ribeiro (2013), os materiais diretos são assim denominados porque, além de integrarem os produtos, suas quantidades e valores podem ser facilmente identificados em relação aos produtos fabricados. Assim, a atribuição dos custos desses materiais aos produtos é feita sem dificuldades. Mas não nos esqueçamos que materiais de embalagem podem ser também materiais diretos, quando aplicados aos produtos dentro da área de produção. Por exemplo, a lata de um refrigerante ou o vidro de um perfume. Ainda segundo Ribeiro (2013), os materiais indiretos são os materiais que, embora aplicados no processo de fabricação, não integram os produtos. São exemplos de materiais indiretos os combustíveis e lubrificantes utilizados na manutenção das máquinas e equipamentos industriais, as lixas e as estopas na indústria de móveis de madeira, as facas utilizadas nas máquinas de corte de tecidos nas indústrias de confecções, o material de limpeza, o material de escritório e outros materiais consumidos na área de produção. Os materiais indiretos são assim denominados porque não integram os produtos fabricados sendo que suas quantidades e valores não podem ser facilmente identificados em relação a cada produto fabricado. A identificação 3 dos materiais indiretos em relação a cada produto não é simples porque eles beneficiam a fabricação de vários produtos ao mesmo tempo. Assim, a atribuição dos custos desses materiais aos produtos somente será possível por meio de rateio. O rateio, conforme já dissemos, consiste na distribuição dos custos indiretos aos produtos. Essa distribuição é feita por critérios estimados ou arbitrados pela empresa. Por razões práticas, alguns materiais de pequeno valor, mesmo integrando os produtos, geralmente são classificados juntamente com os materiais indiretos. Dependendo da característica do processo de fabricação, é comum, também, por razões de simplificação, considerar como material direto somente a matéria-prima, sendo todos os demais materiais aplicados no processo de fabricação, integrando ou não o produto, classificados como materiais indiretos. Mas vamos falar do tema inventário de materiais. Conforme Schier (2005, p. 74), “O controle do custo do material inicia-se com a sua aquisição pelo Departamento de Compras, que deverá obedecer a critérios técnicos de avaliação da qualidade do material e da adequação do preço, buscando-se, de preferência, o melhor material e o menor preço”. Ao ser adquirido, o material é levado ao almoxarifado da empresa e nesse momento são observadas as condições de acondicionamento para evitar o desperdício. Ao serem requisitados pelo setor de produção, esses materiais sairão do almoxarifado e serão levados à linha de produção e aí serão novamente controlados. Periodicamente, as empresas precisam fazer o inventário de todos os materiais que têm em estoque, não só para o conhecimento dos seus resultados, como para elaborar as demonstrações contábeis (Ribeiro, 2013). O inventário é elaborado mediante a contagem física dos materiais e deve ser transcrito em um livro próprio denominado Registro de Inventários, exigido pelas legislações do IR, IPI e do ICMS. Nesse livro deverão ser arrolados, com especificações que facilitem sua identificação, as mercadorias, os produtos manufaturados, as matérias-primas, os produtos em fabricação e os produtos em almoxarifado existentes na data do Balanço Patrimonial. Não poderão ser esquecidos, nesse momento, os materiaisque estão fora da 4 empresa, em poder de terceiros, seja em consignação ou para receber algum tipo de tratamento (Ribeiro, 2013). Os inventários de matérias-primas, bem como dos demais materiais que serão aplicados no processo de fabricação, além do inventário dos produtos em elaboração, são indispensáveis para que a empresa industrial possa apurar o custo de fabricação dos seus produtos. Já o estoque dos produtos acabados constitui importante dado para o conhecimento dos Custos dos Produtos Vendidos. Os métodos utilizados na avaliação de estoques de compras servem para retratar as variações de preços, dependendo do critério usado. Se compramos uma unidade do produto “X” por R$ 10,00 no momento “1” e outra unidade do mesmo produto por R$ 12,00 no momento “2”, temos, portanto, duas unidades em estoque e uma variação de preço (inflação) de 20% da segunda compra em relação à primeira. Se tomamos a decisão de vender uma unidade do produto “X” em estoque por R$ 15,00 (a nossa Receita), temos as seguintes alternativas de resultados, mostradas na Tabela 1. Tabela 1 – Resultados com base nos preços Operações 1ª compra 2ª compra Médios Contas Valor % Valor % Valor % Receita R$15,00 100 R$15,00 100 R$15,00 100 (–) Custo (R$10,00) (67) (R$12,00) (80) (R$11,00) (73) = Lucro R$5,00 33 R$3,00 20 R$4,00 27 Fonte: Castanheira, 2022. No tocante à praticidade, o resultado de R$ 4,00 acaba sendo o mais usado; todavia, em época de variações mais acentuadas de preços, o resultado de R$ 3,00 pode ser considerado o mais completo para avaliação de desempenho e distribuição de lucros. Como não existe regra sem exceção, o princípio exemplificado também não é diferente, pois, se pensarmos em empresas nas quais os lucros são formados com base em política de preços baixos e giro rápido de estoques, a premissa com o resultado de R$ 3,00 pode ser verdadeira. 5 Se a transação de compra foi realizada no aspecto tempo, por exemplo, no passado, o termo histórico é apropriado; se foi no presente, o termo deve ser o corrente; se for tomado com preços do futuro, o termo apropriado deve ser reposição. 1.1 Critérios de avaliação de estoques Para a avaliação dos materiais estocados há diferentes critérios, e a empresa deverá optar por um deles. O custo dos materiais estocados é determinado com base no valor de aquisição constante das Notas Fiscais de compras, acrescido das despesas acessórias e dos tributos considerados não recuperáveis, isto é, aqueles que embora tenham incidido nas compras dos materiais a serem aplicados no processo de fabricação, não incidirão nas vendas dos produtos com eles fabricados (Ribeiro, 2013). Tendo em vista que a empresa poderá adquirir um mesmo tipo de material em datas diferentes, pagando por ele preços também diferentes, para determinar o custo desses materiais estocados, bem como o custo dos materiais que forem transferidos para a produção, é necessário adotar algum critério. Os critérios mais conhecidos para a avaliação de estoques são: Custo (ou Preço) Específico, PEPS, UEPS, Custo (ou Preço) Médio Ponderado Móvel, Custo (ou Preço) Médio Ponderado (Portal Educação, [S.d.]). 1.1.1 Critério do custo (ou preço) específico O critério de avaliação dos estoques denominado Custo (ou Preço) Específico consiste em atribuir a cada unidade do estoque o preço efetivamente pago por ela. É um critério que só pode ser utilizado para bens de fácil identificação física, como imóveis para revenda, veículos e outros bens semelhantes (Portal Educação, [S.d.]). Esse critério pode ser adotado, também, para atribuir custos aos materiais aplicados na produção, nos casos em que a empresa industrial efetua uma determinada compra para aplicação direta no processo produtivo, sem que os materiais passem pelo almoxarifado. 6 Nesse caso, sendo o material adquirido especificamente para ser aplicado na fabricação de um determinado produto, por meio de uma ordem de produção, o custo desse material será o valor pago na sua aquisição, sem maiores complicações. 1.1.2 Critério PEPS A sigla PEPS significa Primeiro que Entra, Primeiro que Sai, também conhecida por Fifo, iniciais da frase inglesa First In, First Out. Adotando esse critério para avaliar os estoques, a empresa sempre atribuirá aos materiais em estoque os custos mais recentes (Ribeiro, 2013). 1.1.3 Critério UEPS A sigla UEPS representa o Último que Entra no estoque é o Primeiro a Sai. No inglês, temos a expressão correspondente Lifo, iniciais da frase Last In, First Out. Adotando esse critério, a empresa sempre atribuirá aos materiais em estoque os custos mais antigos (Ribeiro, 2013). 1.1.4 Critério do custo (ou preço) médio ponderado móvel Adotando esse critério, os materiais estocados serão sempre avaliados pela média dos custos de aquisição, sendo esses custos atualizados após cada compra efetuada. Esse critério é chamado de Custo (ou Preço) Médio Ponderado Móvel, pois toda vez que ocorrer compra por custo unitário diferente dos que constarem do estoque, o custo médio se modificará (Ribeiro, 2013). 1.1.5 Critério do custo (ou preço) médio ponderado fixo Adotando esse critério, os materiais estocados serão avaliados somente no final do período (normalmente no final do ano) pela média dos custos dos materiais que estiverem disponíveis para venda ou para uso durante todo o período. Esse critério consiste, portanto, no custo médio dos materiais disponíveis para venda ou para uso, apurado uma só vez e no final do período. 7 Enquanto o Custo Médio Ponderado Móvel é atualizado durante o exercício tantas vezes quantas forem as compras efetuadas, o Custo Médio Ponderado Fixo é apurado uma só vez, após a última compra e a última venda tiverem sido efetuadas ao final do período (Ribeiro, 2013). Esse critério somente pode ser adotado por empresas que utilizam o sistema de inventário periódico, uma vez que só é possível a sua apuração no final do exercício. 1.2 O critério a ser adotado Como dissemos no início deste assunto, há vários critérios para a avaliação dos estoques e a empresa deverá escolher um deles. Mas qual critério deverá ser o escolhido? Quando a economia do país estiver equilibrada e os preços se mantiverem estáveis, qualquer que seja o critério adotado para avaliação dos estoques não interferirá nos resultados. Entretanto, nos casos de oscilações de preços, em decorrência de inflação ou deflação, a escolha do critério constituirá fator decisivo na determinação dos resultados da empresa (Ribeiro, 2013). Nos períodos de inflação galopante, por exemplo, a adoção do critério UEPS provocará sérias distorções, tanto na avaliação dos estoques quanto na atribuição dos custos das vendas, resultando em estoques disformes dos preços de mercado e custos dos produtos vendidos superavaliados, reduzindo os lucros. Portanto, nos casos de inflação, ainda que em índices baixos, a adoção do critério Custo Médio Ponderado Móvel, por espelhar maior realidade no valor dos estoques, nos custos dos produtos vendidos e nos lucros, pode ser a melhor a opção, desde que os prazos de rotação dos estoques não causem desequilíbrio nos resultados alcançados. No Brasil, onde o índice de inflação já esteve perto de 100% ao mês (final da década de 1980), é praxe o fisco não aceitar a adoção do critério UEPS, exatamente porque, nos períodos de inflação, a adoção desse critério distorce completamente os resultados, apresentando custos superestimados, lucro e estoque final subavaliados e, por isso mesmo, disformes da realidade. 8 A exemplo do que ocorre com o critério Ueps, o fisco também não aprova a adoção do critério do Custo Médio Ponderado Fixo. A empresa poderá, para fins de controle interno, adotar o critério que melhor atenda aos seus interesses. Entretanto, no encerramentodo período de apuração dos resultados e consequente elaboração do Balanço Patrimonial, obrigatoriamente deverá adotar para avaliação dos estoques, o custo médio ou o dos bens adquiridos ou produzidos mais recentemente (Peps). Diante do que foi exposto até aqui, podemos concluir que, para avaliar os estoques de materiais adquiridos de terceiros, a empresa tem dois caminhos: a) Se adotar o sistema de inventário permanente, bastará coletar os custos nas respectivas fichas de controle de estoques de cada material. Nesse caso, os estoques serão avaliados pelo critério escolhido pela empresa, exceto Ueps e Custo Médio Ponderado Fixo; b) Se adotar o sistema de inventário periódico, para conhecer o valor do estoque de materiais precisará fazer levantamento físico no final do período e atribuir os custos aos materiais, com base nas últimas notas fiscais de compras (critério Peps) (Ribeiro, 2013). TEMA 2 – SISTEMAS DE CUSTEIO E os sistemas de custeio? O que é isso? Para que servem? Servem para apropriar os custos à produção. De acordo com o sistema adotado, determinados custos podem ou não fazer parte dos custos de produção. Um sistema de custeio consiste num critério por meio do qual os custos são apropriados à produção. De acordo com o sistema adotado, determinados custos podem ou não fazer parte dos custos de produção. Portanto, é preciso que a pessoa interessada nas informações fornecidas pela Contabilidade de Custos considere qual foi o sistema de custeio adotado pela empresa e quais os seus efeitos sobre a composição dos custos de produção (Ribeiro, 2013). Conforme Ribeiro (2013, p. 41), existem vários sistemas que podem ser utilizados para o custeamento dos produtos: uns com fins específicos de alocar aos produtos os Custos Indiretos, como ocorre, por exemplo, com o Sistema de Custeio Departamental e com o Sistema de Custeio ABC (estudados adiante) e 9 outros com fins específicos de promover a composição do Custo Total de Fabricação dos produtos, como ocorre, por exemplo, com os sistemas de Custeio Direto e o Sistema por Absorção. Para facilitar o seu entendimento, diferenciamos custos de despesas dizendo: “a despesa vai para o resultado enquanto o custo vai para o produto”. Lembra-se disso? Então, os gastos que correspondem a custos ou a despesas integrarão o Custo de Fabricação ou o resultado do exercício, conforme seja o sistema de custeio adotado. Vejamos o que nos diz Ribeiro (2013): a) Sistema de Custeio por Absorção – esse sistema contempla como Custo de Fabricação todos os custos incorridos no processo de fabricação do período, sejam eles diretos ou indiretos. Nesse caso, somente as despesas integrarão o resultado do exercício; b) Sistema de Custeio Direto ou Variável – esse sistema contempla como Custo de Fabricação somente os Custos Diretos ou Variáveis. Nesse caso, os Custos Indiretos integram o resultado com as despesas. Por contemplar apenas parte dos custos incorridos na fabricação, esse sistema não é aceito pelo fisco para direcionar a contabilização dos custos incorridos aos produtos. A inclusão da carga de Custos Indiretos juntamente com as despesas, onera o resultado. Nos períodos em que a empresa industrial vender toda a produção iniciada e concluída no mesmo período, o resultado não será afetado; entretanto, quando parte da produção for ativada, a adoção desse sistema implicará em estoques e lucro líquido subavaliados. Portanto, a adoção de custeio direto fica restrita apenas a fins gerenciais. Vamos então analisar cada um desses sistemas, começando pelo custeio por absorção e pelo método do custeio direto ou variável. 2.1 Método do custeio por absorção É o método de custeio derivado da aplicação dos princípios contábeis geralmente aceitos e é, no Brasil, adotado pela legislação comercial e pela legislação fiscal. Esse método foi derivado do sistema desenvolvido na Alemanha no início do século XX, conhecido como Reichskuratorium für Wirtschaftlichtkeit (RKW). Pelo método RKW, todos os gastos do período (custos e despesas) eram apropriados à produção por meio das técnicas de rateio. Naquela época, todos os esforços estavam concentrados na produção. 10 Entretanto, com o desenvolvimento e modernização das diversas economias mundiais, as despesas administrativas passaram a representar importante parcela dos gastos empresariais. Com base nesse novo ambiente empresarial, julgou-se necessário segregar as despesas dos custos e apropriá- las diretamente ao resultado do exercício. O sistema de custeio por absorção não é um princípio contábil em si, mas uma metodologia decorrente da aplicação desses princípios. Dessa forma, o método é válido para a apresentação de demonstrações contábeis e para o pagamento do imposto de renda. (Oliveira; Perez Jr., 2009). No custeio por absorção, todos os custos de produção são alocados aos bens ou serviços produzidos, o que compreende todos os custos variáveis, fixos, diretos ou indiretos. Os custos diretos, por meio da apropriação direta, enquanto os custos indiretos, por meio de sua atribuição com base em critérios de rateio. A contabilidade de custos, quando procura custear o produto atribuindo- lhe também parte do custo fixo, é conhecida como contabilidade de custos pelo método de custeamento por absorção (full cost). Este método consiste na apropriação de todos os custos de produção aos produtos elaborados de forma direta e indireta (rateios) (Martins, 2003). A metodologia de custeio pelo método por absorção é considerada como básica para a avaliação de estoques pela contabilidade societária, para fins de levantamento de balanço patrimonial e de resultados com a finalidade de atender a exigências da contabilidade societária. O sistema de custeio por absorção é falho em muitas circunstâncias, como instrumento gerencial de tomada de decisão, porque tem como premissa básica os “rateios” dos chamados custos fixos, que, apesar de aparentemente lógicos, poderão levar a alocações arbitrárias e até enganosas (Oliveira; Perez Jr., 2009). No sistema de custeio por absorção, apropriam-se à produção todos os custos, fixos e variáveis, tanto os diretos quanto os indiretos. Assim, os custos fixos e variáveis são “estocados” e lançados ao resultado apenas quando da venda dos produtos correspondentes. O grande inconveniente na adoção do custeio por absorção diz respeito aos custos fixos. 11 Os custos fixos são necessários para que a indústria esteja em condições de produzir. Dessa forma, o aluguel, o imposto predial e o seguro da fábrica, por exemplo, são gastos realizados para que a indústria adquira capacidade de produção. Todavia, são custos incorridos independentemente da quantidade que venha a ser produzida (até certo limite), já que não sofrem variações em razão do volume de produção. Como regra, os custos fixos são indiretos, sendo apropriados por estimativas mais ou menos arbitrárias. Isto faz com que o custo de fabricação de um produto possa variar de acordo com os critérios adotados para a apropriação dos custos fixos. Por consequência, o resultado apurado na venda de um produto pode variar de acordo com a parcela de custos fixos que a ele se decida apropriar. Outro inconveniente é o fato de os custos fixos unitários variarem de acordo com as quantidades produzidas (em razão inversa). Com o aumento do volume de produção, ocorre a redução do custo fixo unitário. Dados dois produtos, se considerarmos o aumento no volume de produção de um deles, enquanto a quantidade produzida do outro permanece constante, observaremos que, se o rateio dos custos fixos for feito com base no volume de produção, o aumento da quantidade fabricada do primeiro produto reduzirá o custo unitário do segundo, já que este receberá uma parcela menor de custos fixos, em função da maior parcela atribuída àquele por seu maiornúmero de unidades. Quer dizer, a variação no custo do segundo produto decorreu da alteração na quantidade produzida do primeiro (AIS, [S.d.]). 2.2 Método do custeio direto ou variável Em razão dos problemas existentes no uso do sistema de custeio por absorção no que diz respeito à apropriação dos custos fixos, surge o sistema de custeio variável, em que são apropriados aos produtos apenas os custos variáveis de produção, sendo os custos fixos lançados diretamente ao resultado, como se fossem despesas, sem transitar pelos estoques. (Fernandes, 2018) Esse sistema fundamenta-se na separação dos gastos em gastos variáveis e em gastos fixos, ou seja, em gastos que oscilam proporcionalmente ao volume da produção e das vendas e gastos que se mantêm estáveis perante volumes de produção e de vendas, oscilantes, dentro de certos limites (Fernandes, 2018). 12 Partindo do princípio de que os custos da produção são, em geral, apurados mensalmente e de que os gastos imputados aos custos devem ser aqueles efetivamente incorridos e registrados contabilmente, esse sistema de apuração de custos depende de um adequado suporte do sistema contábil, na forma de um plano de contas que separe, já no estágio de registro dos gastos, os custos variáveis e os custos fixos de produção, com adequado rigor. (Oliveira; Perez Jr., 2009) A expressão “custos variáveis” designa os custos que, em valor absoluto, são proporcionais ao volume da produção dentro de certos limites, isto é, oscilam na razão direta dos aumentos ou reduções das quantidades produzidas. O sistema de custeio variável também é conhecido como sistema de custeio direto, em virtude de os custos variáveis serem, como regra, diretos. Mas, em razão de nesse método serem apropriados à produção tanto os custos variáveis diretos quanto os custos variáveis indiretos, parece ser mais adequada a expressão sistema de custeio variável. Se toda a produção iniciada e acabada num determinado período for vendida, o lucro bruto pelo custeio variável será maior que o apurado pelo custeio por absorção, pela não apropriação dos custos fixos aos produtos no sistema de custeio variável e a consequente redução do custo dos produtos vendidos. Nessa mesma hipótese, o lucro líquido será igual nos dois métodos, pois os custos fixos integrarão o custo dos produtos vendidos no custeio por absorção e estarão entre as despesas operacionais no custeio variável. Se parte da produção iniciada e acabada em determinado período permanecer em estoque, o lucro bruto nesse período será maior pelo custeio variável, pela falta dos custos fixos na composição do custo dos produtos vendidos (igual à situação anterior). Mas o lucro líquido será maior pelo custeio por absorção, em razão de os custos fixos, no custeio variável, serem deduzidos integralmente como se fossem despesas operacionais e, no custeio por absorção, permanecerem, proporcionalmente, em estoque como parte da produção não vendida. O total dos custos variáveis oscila proporcionalmente ao volume da produção, entretanto, o custo variável por unidade mantém-se constante dentro do intervalo da análise (Oliveira; Perez Jr., 2009). Como exemplo, veja a Tabela 2. 13 Tabela 2 – Exemplo de custo variável Custo variável: matéria- prima Consumo por unidade produzida Custo por Kg Custo por unidade produzida Quantidade produzida Custo total no período Período 1 2 Kg $ 12 $ 24 2.000 $ 48.000 Período 2 2 Kg $ 12 $ 24 3.000 $ 72.000 Período 3 2 Kg $ 12 $ 24 2.500 $ 60.000 Fonte: Castanheira, 2022. O termo “custos fixos” designa custos que, em valor absoluto, são estáveis, isto é, não sofrem oscilações proporcionais ao volume da produção, dentro de certos limites. Quando convertido em custos por unidade de produto, o valor desses custos torna-se variável (Oliveira; Perez Jr., 2009). Como exemplo, veja a Tabela 3. Tabela 3 – Exemplo de custo fixo Custo fixo: aluguel do edifício da fábrica Total pago em cada período Quantidade produzida Custo por unidade produzida Período 1 $ 12.000 2.000 $ 6,00 Período 2 $ 12.000 3.000 $ 4,00 Período 3 $ 12.000 2.500 $ 4,80 Fonte: Castanheira, 2022. São custos que sofrem uma diluição tanto maior quanto maiores forem as quantidades produzidas. No custeio variável, somente os custos variáveis de produção são alocados aos bens ou serviços produzidos, o que compreende todos os custos variáveis, diretos ou indiretos. Os custos fixos são considerados diretamente como despesas do período, não sendo, portanto, incluídos nos custos de produção dos bens ou serviços. 14 2.3 Vantagens na utilização do custeio variável Os defensores da utilização do custeio variável apoiam-se em três argumentos (Perez; Oliveira; Costa, 2001): a) primeiro – os custos fixos, por sua própria natureza, existem independentemente da fabricação ou não de determinado produto ou do aumento ou da redução, dentro de certa faixa, da quantidade produzida. Os custos fixos podem ser encarados como encargos necessários para que a empresa tenha condições de produzir, e não como encargos de um produto específico; b) segundo – por não estarem vinculados a nenhum produto específico ou a uma unidade de produção, os custos fixos sempre são distribuídos aos produtos por meio de critérios de rateio, que contém, em maior ou menor grau, a arbitrariedade. A maioria dos rateios é feita por meio da utilização de fatores que, na realidade, não vinculam cada custo a cada produto. Em termos de avaliação de estoque, o rateio é mais ou menos lógico. Todavia, para a tomada de decisão, o rateio, por melhores que sejam os critérios, mais atrapalha que ajuda. Basta verificar que a simples modificação de critérios de rateio pode fazer um produto não rentável passar a ser rentável e, é claro, isto não está correto; c) terceiro – finalmente, o valor dos custos fixos a ser distribuído a cada produto depende, além dos critérios de rateio, do volume de produção. Assim, qualquer decisão em base de custo deve levar em conta, também, o volume de produção. Pior que isso, o custo de um produto pode variar em função da variação da quantidade produzida de um outro produto. O custeio variável, portanto, é de grande utilidade para a tomada de decisões. Todavia, tendo em vista que esse sistema não atende aos princípios contábeis geralmente aceitos e não é aceito pelas autoridades fiscais, sua utilização é limitada à contabilidade para efeitos internos da empresa, a chamada Contabilidade Gerencial. TEMA 3 – CUSTEIO DEPARTAMENTAL Custeio Departamental é um sistema de atribuição de Custos Indiretos aos produtos, por meio de departamentos. Segundo Marion e Ribeiro (2011), departamentos são divisões, seções ou setores que compõem um estabelecimento comercial, industrial, bancário, prestador de serviços, entre outros. Veja alguns departamentos que poderão ser encontrados nas empresas industriais em geral: 15 a) departamentos das áreas administrativa e financeira – cobrança, contas a pagar, contas a receber, controladoria, diretoria, núcleo de processamento de dados, pessoal, transporte e comunicações; b) departamentos da área comercial – compra, expedição, faturamento, marketing, recebimento, vendas, entre outros; c) departamentos da área de produção – ambulatório médico, acabamento, almoxarifado, carpintaria, conservação e manutenção, contabilidade de custos, controle de qualidade, corte, costura, fundição, montagem, oficina elétrica, oficina mecânica, refeitório, segurança, tinturaria, usinagem, entre outros. Para a contabilidade de custos, departamento é a menor unidade administrativa da empresa industrial, composta por homens e bens, capaz de realizar tarefas homogêneas. Para realizar suas tarefas, os departamentos geram gastos que poderão ser classificados tanto como despesas quanto comocustos. Quando os gastos gerados nos departamentos beneficiam a produção, eles são classificados como custos. Por esse motivo, os departamentos são também denominados “centros de geração de custos” ou simplesmente “centros de custos”. Cada departamento corresponde a um centro de custos, embora possa existir centros de custos que não correspondam a departamento ou, ainda, um departamento poderá ser subdividido em mais de um centro de custos, desde que essa subdivisão seja economicamente viável, permitindo melhor apropriação dos Custos Indiretos aos produtos. Os gastos comuns a vários departamentos, como ocorre com o aluguel e a energia elétrica, por exemplo, podem ser inicialmente acumulados em um centro de custos próprio para esses gastos, para que sejam posteriormente rateados aos diversos departamentos da empresa. Na área de produção, para facilitar a atribuição dos Custos Diretos e especialmente dos Indiretos, aos produtos, pode haver mais de um centro de custos em um só departamento. Imaginemos um departamento de produção com várias máquinas gerando gastos diferentes e sendo operadas por profissionais especializados, com carga horária e salários também diferentes. Imaginemos, ainda, que a 16 empresa fabrique produtos heterogêneos e que uma parte deles passe por todas as máquinas desse departamento, outra parte por metade delas e que outros produtos passem por apenas uma das máquinas. Nesse caso, o departamento deverá ser subdividido em vários centros de custos, segregando máquinas e homens conforme suas importâncias, para que os Custos Indiretos de Fabricação gerados em função de cada máquina possa ser atribuído somente aos produtos que as utilizaram. Centro de Custos, portanto, é a menor unidade da empresa industrial considerada para fins de acumulação de custos que, por ser fictícia, não corresponde à unidade administrativa, embora possa coincidir com ela (Marion; Ribeiro, 2011). Então, o que é correto? Denominar o centro de geração de custos de “centro de custos” ou de “departamento”? Ainda conforme esses autores, como o sistema em estudo é conhecido por “sistema de custeio departamental”, ficou convencionado tratar os centros de geração de custos como sendo departamentos. Conforme Marion e Ribeiro (2011), para fins de acumulação de custos, os departamentos são de duas naturezas: a) departamentos produtivos – localizados na área de produção, são responsáveis pela fabricação dos produtos. Em cada um desses departamentos, são gerados, em relação aos produtos, Custos Diretos e também Custos Indiretos, os quais serão atribuídos somente aos produtos que passarem pelo respectivo departamento. Os Custos Diretos serão atribuídos aos produtos sem maiores complicações, conforme já estudamos, enquanto que os Custos Indiretos serão atribuídos aos produtos por meio de critérios subjetivos que poderão ser estimados ou até mesmo arbitrados; b) departamentos de serviços – também denominados departamentos auxiliares ou de departamentos de apoio, encontram- se em todas as áreas de atuação da empresa industrial; prestam serviços para toda a empresa, inclusive para os departamentos produtivos, embora os produtos não transitem por eles. Os custos gerados nesses departamentos são todos indiretos, sendo que a melhor maneira de rateá-los aos produtos é por meio da departamentalização. O mecanismo é como segue: inicialmente identificam-se todos os Custos Indiretos gerados em cada departamento, acumulando-os nos respectivos Centros de Custos. Em seguida, os custos acumulados nos departamentos de serviços serão transferidos para outros departamentos de serviços e/ou para os departamentos de produção. Depois que todos os Custos Indiretos estiverem 17 devidamente alocados nos departamentos de produção, eles serão transferidos aos produtos. Lembre-se que os Custos Diretos são gerados na área de produção e os custos indiretos de fabricação podem ter origem nas diversas áreas da empresa, aí incluída a área de produção. TEMA 4 – CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES (ABC) O Custeio Baseado em Atividades (ABC – Activity Based Costing) é uma metodologia que surgiu como instrumento da análise estratégica de custos relacionados com as atividades que mais impactam o consumo de recursos de uma empresa. É um sistema de custeio que se caracteriza pela atribuição dos custos indiretos aos produtos, por meio de atividades, ou seja, é um sistema de custeio fundamentado na análise das atividades desenvolvidas na empresa (Reis, 2019). Atividade é um conjunto de tarefas decorrentes da combinação de recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos, que visa a produção de bens ou a prestação de serviços. Atividade é qualquer evento que consome recursos da empresa. “As atividades são necessárias para a concretização de um processo, que é uma cadeia de atividades correlatas e inter-relacionadas” (Martins, 2003, p. 93). O ABC, por meio do qual os Custos Indiretos são atribuídos aos produtos de forma mais justa que as adotadas pelos sistemas tradicionais, se fundamenta no fato de que as atividades consomem recursos e os produtos consomem atividades. Recursos são gastos com energia elétrica, aluguéis, materiais, salários, entre outros, que podem ser classificados como despesas ou como custos. Por esse motivo, os CIFs devem ser transferidos aos produtos com base nas atividades que cada um consumiu. Assim, dentro de cada departamento, os CIFs são transferidos inicialmente para as atividades e, posteriormente, dessas diretamente para os produtos. Observe que o ABC é um sistema de atribuição de CIF aos produtos que apresenta semelhanças com o sistema do Custeio Departamental. No sistema de Custeio Departamental, os CIFs são acumulados nos departamentos (centros de custos) onde foram gerados, para serem posteriormente atribuídos aos produtos. (Ribeiro, 2013) A metodologia do custeio baseado em atividades parte do princípio de que todos os custos incorridos numa empresa acontecem na execução de atividades. São exemplos de atividades do departamento de suprimentos: 18 contratar mão de obra, comprar matérias-primas, pagar salários e fornecedores, transportar mercadorias, faturar e receber, selecionar e treinar compradores, selecionar e contatar fornecedores, efetuar a coleta e a cotação de preços, digitar e enviar os pedidos de compras, acompanhar o atendimento dos pedidos, verificar a execução de compras e baixar os pedidos atendidos, efetuar as estatísticas e relatórios de compras. Num departamento de tornearia e solda, temos como exemplos de atividades: cortar e dobrar as chapas, tornear peças, soldar, dar o acabamento (Nakagawa, 1994). Ainda Nakagawa (1994) nos diz que a execução de tais atividades é que determina o consumo dos recursos da empresa, e, portanto, dos custos de produção. Partindo desse pressuposto, são as atividades que devem estar sob cuidadosa observação e análise pela Contabilidade Gerencial e de Custos. Verificamos que, adotando-se o método da hierarquização, os CIFs são inicialmente acumulados nos departamentos de serviços ou produtos onde foram gerados; em seguida, os CIFs gerados nos departamentos de serviços são transferidos de um departamento para outro, obedecendo a uma ordem hierárquica previamente definida, até que todos os CIFs gerados nos departamentos de serviços estejam devidamente acumulados nos departamentos produtivos. A partir daí, são transferidos diretamente aos produtos que passaram pelo respectivo departamento produtivo (Ribeiro, 2013). Ribeiro (2013) nos ensina que o sistema ABC também requer a divisão da empresa em departamentos ou centros de custos e os procedimentos são como segue: inicialmente, os custos são acumulados nos respectivos departamentos de serviços ou produtivos onde forem gerados; em seguida, esses CIFs são transferidos para as respectivasatividades relevantes que os geraram em cada departamento. Depois de acumulados nas atividades, os CIFs deverão ser transferidos diretamente para os produtos que consumiram as respectivas atividades. No sistema de custeio departamental, a transferência de CIF de um departamento para outro se fundamenta no fato de que o departamento beneficiado pelo serviço de outro deve ser onerado pela carga de CIF gerada em função do respectivo serviço. Já no custeio por atividades, não há essa preocupação, uma vez que o fundamento está em que as atividades foram realizadas em função dos produtos. Assim, os gastos derivados de cada atividade beneficiarão diretamente este ou aquele produto, motivo que justifica a alocação dos CIFs acumulados nas atividades, diretamente aos produtos. 19 É importante salientar também que, embora o ABC se caracterize pela atribuição de CIF aos produtos, ele pode ser utilizado na alocação de Custos Diretos, nas situações em que essa prática se tornar conveniente. 4.1 Direcionadores (ou geradores) de custos Direcionador é o fator que indica a relação entre o consumo do recurso e a atividade ou entre as atividades e os produtos. Já estudamos que os custos acumulados nos departamentos, para serem alocados aos produtos, passam por dois estágios: no primeiro estágio, os custos são transferidos dos departamentos para as atividades, e no segundo estágio, os custos são transferidos das atividades para os produtos. Dessa forma, segundo Reis (2019), existem dois tipos de direcionadores: a) Direcionadores de primeiro estágio, também denominados de direcionadores de custos ou de direcionadores de recursos; são utilizados para a alocação dos custos às atividades; indicam como as atividades consomem recursos. O direcionador de custos é o elemento causador do custo. Se a empresa utiliza água para consumo e higiene do pessoal, o custo com o consumo de água e esgoto tem como causa o número de empregados. Nesse caso, o custo com o consumo de água e esgoto de cada departamento deverá onerar as atividades de cada um deles, em função do número de empregados utilizados na execução de cada atividade. Direcionadores de custos, então, são as medidas que servem de parâmetro para custear atividades, por exemplo: para o custo com aluguel, o direcionador pode ser a área ocupada; para o custo com o consumo de água e esgoto, o direcionador pode ser o número de empregados; para o custo de energia elétrica consumida pelas máquinas, o direcionador pode ser a hora/máquina; para o custo com a mão de obra indireta, o direcionador pode ser a hora/homem; para o custo com o consumo de materiais de informática, o direcionador pode ser o consumo, ou seja, a quantidade consumida; etc. Nesses casos, as atividades que deverão receber a carga dos custos citados com base nos direcionadores também citados, poderão ser diversas, conforme foram executadas em cada departamento, como: comprar materiais, pagar fornecedores, movimentar materiais, receber materiais, cortar, bordar, acabar, etc. É evidente que o direcionador de custos deverá refletir a causa da geração do referido custo pela atividade beneficiada por ele; b) Direcionadores de segundo estágio, também denominados de direcionadores de atividades; são utilizados para a alocação dos custos acumulados nas atividades, para os produtos. Indicam como os produtos consomem as atividades. Direcionadores de atividades, então, são as medidas que servem de parâmetro para custear produtos, por exemplo: para a atividade de cortar, o direcionador pode ser o tempo em que o produto precisou para ser cortado; para a atividade de ensacar, o direcionador pode ser o tempo em que o produto precisou para ser ensacado; para a atividade inspecionar produtos, o direcionador pode ser o número de 20 inspeções realizadas; para a atividade comprar materiais, o direcionador pode ser a quantidade de pedidos de compras de materiais para cada tipo de produto, etc. 4.2 Vantagens do custeio ABC O custeamento baseado em atividades, como instrumento de controle gerencial, segundo Perez Jr. e Oliveira (2000), apresenta diversas vantagens quando comparado com os critérios de custos tradicionais. Citam-se como exemplos as seguintes vantagens: a) O sistema ABC somente utiliza critérios de rateio como última alternativa no que consiste na atribuição de gastos indiretos às atividades, ou seja, o critério de rateio é utilizado unicamente nos casos em que não for possível a atribuição de custo para determinada atividade; b) Identifica os “direcionadores” de custos, o que facilita a identificação de custos desnecessários, que não agregam valor; c) Atribui os custos indiretos aos produtos de maneira coerente com a utilização de recursos consumida para a execução das necessárias atividades. Segundo Ribeiro (2018), a atribuição dos CIFs aos produtos pelo sistema ABC poderá ser feita observando-se o seguinte esquema tático: 1. Departamentalização Caso a empresa não esteja devidamente dividida em departamentos, a primeira tarefa para a aplicação do custeio por atividades será então criar os departamentos (centros de custos). 2. Identificação dos gastos comuns a todos os departamentos Nessa etapa, deve-se acumular em um centro de custos próprio, todos os gastos que deverão ser segregados em despesas e custos. Esses gastos normalmente são efetuados com aluguéis, energia elétrica, água e esgoto, materiais de escritório, materiais de higiene e limpeza, segurança, entre outros. Eles poderão ser acumulados em um centro de custos próprio ou serem contabilizados inicialmente nas contas representativas das Despesas Administrativas, para posterior transferência para despesas com vendas e custos 21 3. Distribuição dos gastos comuns a todos os departamentos Nessa etapa, deve-se inicialmente segregar desses gastos a parcela relativa a despesas e a parcela relativa a custos. A parcela relativa a custos deverá ser alocada aos diversos departamentos de serviços e produtivos da empresa industrial. 4. Identificação e ou acumulação dos gastos incorridos em cada departamento Nessa etapa, deve-se identificar o total dos gastos incorridos em cada departamento, para que possam ser transferidos para as atividades praticadas no respectivo departamento. Esses gastos compreendem tanto aqueles comuns a todos os departamentos, recebidos por transferência, quanto aqueles gerados exclusivamente no próprio departamento. 5. Identificação das atividades realizadas em cada departamento Inicialmente deve-se elaborar um rol com todas as atividades desenvolvidas no departamento, sejam elas relevantes ou não. Nessa etapa dos trabalhos, são muito importantes as entrevistas com o pessoal que executa cada atividade. 6. Definição das atividades relevantes em cada departamento Depois de elaborado o rol com todas as atividades desenvolvidas em cada departamento, deve-se eleger as mais expressivas e desprezar as demais. Normalmente, as atividades relevantes são aquelas que justificam a existência do departamento. Quando um departamento (centro de custos) desenvolver uma só atividade, todos os custos gerados nesse departamento serão atribuídos a essa respectiva atividade. Quando no departamento forem desenvolvidas várias atividades, deverá se eleger as relevantes e distribuir os CIFs acumulados no respectivo departamento entre essas atividades. É importante salientar, também, que pode ocorrer de uma atividade ser executada por mais de um departamento, caso em que os custos a serem atribuídos a essa atividade decorrerão de mais de um departamento. 7. Atribuição de custos às atividades O custo de uma atividade é a soma dos recursos consumidos na sua realização. Na prática de uma atividade, podem ser consumidos recursos como 22 materiais de consumo, energia elétrica, salários e encargos, serviços de terceiros e muitosoutros. Quando a atividade beneficiar direta ou indiretamente a produção, os valores gastos com esses recursos são classificados como Custos Indiretos de Fabricação. A chave para se atribuir adequadamente os CIFs às atividades está, então, em identificar para cada atividade o respectivo custo gerado por ela. Essa identificação deve ser feita com muito rigor, uma vez que o total dos custos acumulados em cada atividade, por sua vez, será descarregado nos produtos que foram beneficiados pela execução da respectiva atividade, ainda que, preliminarmente, seja necessária a transferência de CIF de uma atividade para outra. Por esse motivo, para eliminar o subjetivismo que pode provocar a alocação indevida de custos aos produtos, deve-se estudar cuidadosamente a importância de cada atividade e a sua relação com o recurso consumido. Nessa fase, as entrevistas com o próprio pessoal executor das atividades ajudam a esclarecer muitas dúvidas. Assim, sempre que for possível identificar seguramente o custo em relação à atividade, ele deverá ser atribuído diretamente a ela, sem maiores preocupações. Quando não for possível a identificação direta do custo em relação à atividade, a atribuição será feita por meio de rastreamento. O rastreamento é uma técnica de alocação de custos às atividades por meio de direcionadores de custos. É na fase do rastreamento que são definidos os direcionadores de custos (recursos) para alocar custos nas atividades e os direcionadores de atividades para alocar os custos que foram acumulados nas atividades, para os produtos. Finalmente, quando não for possível alocar os custos às atividades de forma direta ou por rastreamento, deve-se fazê-lo por meio de rateio. Cumpre salientar ainda que, nos casos em que os CIFs acumulados em certas atividades, gerados nos departamentos de serviços, devam ser transferidos para outras atividades antes de serem atribuídos aos produtos, para essa tarefa deve-se também observar a ordem de prioridade apresentada, ou seja, alocação direta, alocação por rastreamento e alocação por rateio. 8. Atribuição de custos aos produtos Depois que os custos estiverem devidamente acumulados nas atividades, o passo final será transferi-los para os produtos. Essa transferência 23 deverá ser feita observando-se a seguinte ordem: alocação direta, alocação por rastreamento e alocação por rateio. TEMA 5 – CUSTO PADRÃO A eficiência é medida a partir do instante em que possuímos parâmetros de comparação. À medida que as operações vão sendo realizadas, apuram-se os custos para comparação aos padrões previamente estabelecidos (Santos, 2017, p. 200). O custo padrão é um custo estimado, isto é, calculado antes mesmo de se iniciar o processo de fabricação. Vamos ver um exemplo, baseado em Ribeiro (2018). Com base nos custos de produção de períodos anteriores, a empresa industrial pode fixar, como padrão, custos para cada produto a ser fabricado. Assim, define-se o padrão para gastos com materiais, mão de obra e gastos gerais de fabricação. Quanto maior for o detalhamento do padrão em relação a cada elemento componente do custo, melhores resultados serão obtidos. Suponhamos que a Companhia Castanheira Industrial S.A., com base na produção dos meses de janeiro, fevereiro e março, tenha apurado um custo médio para a produção de determinado produto. Suponhamos que esse custo médio apurado, que foi igual a $ 50,00 por unidade, corresponde ao custo padrão a ser utilizado no mês de abril. Dessa forma, o curso padrão foi obtido pelo somatório dos seguintes custos: a) valor padrão dos gastos com materiais $25 b) valor padrão dos gastos com mão de obra $15 c) valor padrão dos gastos gerais de fabricação $10 TOTAL $50 Suponhamos que, no final do mês de abril, o custo histórico ou real tenha sido: a) custo real dos materiais $30 b) custo real da mão de obra $20 c) custo real dos gastos gerais de fabricação $10 TOTAL $60 24 Nesse caso, um exame minucioso dos componentes do custo real ocorrido no mês de abril deverá ser feito, para que sejam verificados os motivos que provocaram a variação de $ 10 entre o custo padrão e o custo real. Na análise devem ser levados em conta possíveis aumentos no preço dos materiais aplicados, bem como reajustes de salários e tarifas, entre outros. Caso não tenha ocorrido aumento nos preços nem reajustes de salários, a administração poderá concluir que o aumento do custo real, em relação ao padrão, pode ter ocorrido em função de desperdícios de materiais, de mão de obra etc. Na realidade, embora o custo padrão constitua importante instrumento para a administração avaliar o desempenho da produção, servindo inclusive de base para tomada de decisões enquanto não se conhece o custo real, a sua adoção gera para a empresa duas tarefas: calcular previamente o custo padrão e, depois, com base nos dados reais, calcular o custo histórico ou real. O custo padrão não precisa ser contabilizado. Na maioria dos casos, ele é calculado apenas extracontabilmente. Em uma economia inflacionária, o custo real será sempre superior ao custo padrão. Por esse motivo, se a pessoa responsável pela contabilidade de custos decidir contabilizá-lo, deverá prever uma conta para registrar as variações que certamente ocorrerão (Ribeiro, 2018). O custo padrão deve ser desdobrado em padrões físicos e em padrões monetários. Os padrões físicos mensuram as variações de quantidades consumidas ou produzidas, tanto de homens-hora, horas-máquina, como quantidade de matéria-prima e volume de produção. Os padrões monetários mensuram as variações de preços e de taxas, tanto de matérias-primas e produtos como da eficiência da mão de obra (Santos, 2017). 5.1 Vantagens do custo padrão A utilização de um sistema de custo padrão trará as seguintes vantagens para a organização (Costa; Oliveira, 2011; Bruni; Famá, 2011): a) Eliminação de falhas nos processos produtivos – os padrões são determinados com base no estudo e na análise das condições normais de produção, dentro de um bom nível de desempenho da mão de obra, 25 uso eficiente das matérias-primas, adequada utilização das máquinas e equipamentos etc. Para a implantação das medidas-padrões, todos esses fatores são criteriosamente ponderados. Esse trabalho permitirá, como uma das naturais consequências, a constatação e apuração de falhas nos atuais processos de produção; b) Aprimoramento dos controles – os padrões de desempenho e de consumo de materiais servirão como um excelente instrumento de controle interno, quando bem utilizados. A análise de custos, ao comparar o desempenho real com os padrões, constatará rapidamente os desvios ocorridos no período, o que facilita sobremaneira possíveis irregularidades e ineficiências na utilização dos recursos produtivos. Por exemplo, qualquer variação anormal no consumo de matérias-primas em determinado período ou departamento será facilmente percebida pelo analista de custos, que deve efetuar as necessárias investigações e averiguações; c) Instrumento de avaliação de desempenho – os funcionários, a partir da adoção dos padrões, sabem que existem medidas de fácil aplicação e utilização para a avaliação periódica do desempenho profissional nas diversas atividades. Portanto, o efeito psicológico do sistema pode contribuir para a maximização no desempenho dos diversos executivos e departamentos. Exemplificando, uma compra mal-feita pode resultar em variação anormal do custo da matéria-prima adquirida e consumida, fazendo com que o responsável pela compra tenha que justificar e esclarecer a mencionada ineficiência; d) Contribuição para o aprimoramento dos procedimentos de apuração do custo real – como resultado da análise das variações entre o custo real e o custo padrão, o analista pode concluir que o custoreal não está sendo adequadamente apurado, havendo necessidade de determinados aprimoramentos. Por exemplo, devido às falhas no fluxo de documentação e de informações, parte do consumo real de matérias- primas de um mês foi contabilizada somente no mês posterior. É oportuno ressaltar que um bom sistema de custo padrão não elimina a necessidade de ter um bom sistema de apuração do custo real. Um não 26 elimina o outro; pelo contrário, são complementares e ambos são importantes dentro de uma organização; e) Rapidez na obtenção das informações – os padrões agilizam a obtenção de certas informações. O departamento comercial pode necessitar de informações sobre o custo de determinado produto para efetuar uma proposta para um cliente, e não há tempo para a apuração do custo real. Também podem ocorrer casos em que a contabilidade dispõe de poucos dias, após o encerramento do mês, para enviar balancetes e relatórios para a matriz ou credores no exterior. 27 REFERÊNCIAS BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP-12c e Excel. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011. COSTA, R. G.; OLIVEIRA, L. M. Gestão estratégica de custos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011. CUSTEIO por absorção. AIS – Base de Conhecimento, [S.d.]. Disponível em: <http://www.ais.inf.br:8000/wiki/doku.php?id=publico:custo_absorcao>. Acesso em: 1 abr. 2022. 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