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Princípios de 
Irrteroretaçâo
da Bíblia
Walter A. Henrichsen
E D I T O R A
M u n d o
Cristão
Título do original em inglês
A LAYMAN’S GUIDE TO INTERPRETING THE BIBLE 
Copyright © 1976, 1978 por 
The Navigators
Traduzido por Odair Olivetti 
1.‘ edição brasileira agosto de 1980
Publicado no Brasil com a devida autorização 
e com todos os direitos reservados pela
ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTÃO 
Slo Paulo, S.P., Brasil
C O N T E Ú D O
Prefácio ................................................................................. .............. 5
1 - A Interpretação é para todos .................................................... 7
2 -Princípios Gerais de Interpretação ............................................ 10
3 - Princípios Gramaticais de Interpretação ................................... 36
4 - Princípios Históricos de Interpretação ...................................... 56
5 - Princípios Teológicos de Interpretação ...................................... 62
6 - Sumário e Conclusão..................................................................... 71
Chamamos a atenção do leitor para o outro volume do 
livro original em inglês pelo mesmo Autor que comple­
menta este estudo e tem o seguinte título: Métodos de 
Estudo Bíblico.
O Autor
Walt Henrichsen confiou sua vida a Cristo quando era estudante 
de engenharia num curso pré-universitário da Califórnia. Mais tarde 
foi aluno do Central College de Pella, Iowa, e do Western Theological 
Semittary de Holland, Michigan.
Walt entrou em contato com Os Navegantes quando trabalhava 
no escritório de retaguarda da Cruzada de Billy Graham em San Fran­
cisco, em 1958. Depois de formar-se no Seminário, participou de um 
programa de treinamento na sede internacional de Os Navegantes em 
Glen Eyrie, Colorado Springs, Colorado. Em seguida juntou-se a um 
ministério de Os Navegantes em Los Angeles e mais tarde foi para o 
México, a um acampamento de treinamento na selva, promovido pela 
Wycliffe Bible Translators.
Exerceu o ministério com Os Navegantes em Kalamazoo, Michi­
gan, serviu como diretor regional do sudoeste, foi por dois anos assis­
tente do presidente, dirigiu o departamento internacional de pessoal da 
organização, e mais recentemente foi Diretor Delegado de Os Navegan­
tes da Área do Pacífico.
Hoje Walt trabalha com homens de negócio e de profissões libe­
rais nos Estados Unidos, num ministério pessoal, ajudando-os a agirem 
mais efetivamente por Cristo no terreno em que Deus os colocou. Ele, 
sua esposa, Leette, e seus três filhos vivem em Colorado Springs, Colo­
rado.
Walt é autor do sucesso de livraria, Disciples Are Made — Not 
Bom (Os Discípulos Não Nascem — São Feitos), manual prático de 
instrução sobre o discipulado, e de um livro a publicar-se, Ajter the 
Sacrifice (Depois do Sacrifício), sobre a Epístola aos Hebreus (Zon- 
dervan).
À sua presente responsabilidade, Walt trouxe prático e profundo 
conhecimento da Bíblia, bem como experiência e método no treina­
mento dos homens para o crescimento na fé e na obra de alcançar 
outros para Jesus Cristo.
Prefácio
Uma real necessidade desta hora vulcânica é a abordagem correta 
da interpretação bíblica. Precisamos de alimento sólido . . . não apenas 
de migalhas. Precisamos aprender a arte de mastigar . . . não de ficar 
somente a sugar mamadeiras. Precisamos pensar com alguma honesti­
dade moral . . . não de continuar o processo de lavagem cerebral reli­
giosa. Disse um líder cristão: “ O cristianismo costumava ser um toque 
de trombeta chamando para a vida santa, pensamento elevado e sólido 
e estudo da Bíblia; agora é um tímido e apologético convite para um 
suave debate” .
Walt Henrichsen crê que a Ascritura Sagrada é uma necessidade 
vital, e não um deleite especulativo somente. Daí, ele liga a tomada do 
seu livro focalizando resultados, e não apenas a atividade em conhecer 
a Palavra de Deus.
O autor é homem que vê grande o objetivo, mas tem a capacidade 
de mantê-lo simples. Como teólogo, pastor, professor de Bíblia, conse­
lheiro e pai, ele colocou os “ biscoitos” na parte baixa da prateleira, 
onde todos podem aprender a alcançá-los e comê-los.
Frank E. Gaebelain expôs bem a situação: “ O cristianismo é 
peculiarmente religião de um só livro. Elimine a Bíblia, e você terá 
destruído o meio pelo qual Deus decidiu apresentar Sua revelação ao 
homem através de sucessivas eras. Segue-se, pois, que o conhecimento 
da Bíblia é requisito indispensável para o crescimento na vida cristã” .
A interpretação da Bíblia é mais do que mero jogo com que se 
distraem teólogos. Ela abre amplamente as nossas vidas em Cristo. É 
a vida cristã em plenitude. Esta vida é para ser desfrutada quando 
aprendemos as “ regras básicas” e depois as passamos para outros. 
Nossos agradecimentos a Walt Henrichsen por tirar esta matéria das 
bibliotecas dos seminários e do vocabulário do “ especialista” , e trazê-la 
para baixo, onde cada um de nós está vivendo hoje.
Lost Valley Ranch
IA Interpretação É para T odos
Esta obra foi escrita para aqueles que gostam de estudar a Bíblia 
e ficam em dúvida sobre se estão fazendo isso corretamente. Por certo 
você já ouviu dizer: “ Cada um tem a sua própria interpretação da 
Bíblia” ; ou: “ As duas coisas em que as pessoas não podem concordar 
nunca, são religião e política” .
Se essas afirmativas são certas, então o cristianismo é sem sentido 
e a Bíblia não tem mensagens para nós. Se um indivíduo pode fazer a 
Bíblia dizer o que ele quer que ela diga, então a Bíblia não pode 
guiá-lo. Não passa de uma arma em suas mãos para dar apoio às suas 
idéias. A Bíblia não foi escrita com esse propósito em mente.
Em sua maioria, os livros sobre o tema da interpretação bíblica 
são muito longos e complicados. Produzidos para os que estão familia­
rizados com o hebraico, o aramaico e o grego, línguas em que a Escri­
tura foi originalmente escrita, procuram tratar do assunto de modo 
exaustivo e erudito. Por exemplo, contêm minuciosas explicações das 
alegorias, símiles, metáforas e outros usos lingüísticos. Investigam as 
tendências da teologia, tais como o impacto da neo-ortodoxia sobre a 
igreja, e o efeito do liberalismo em sua negação do sobrenatural.
Esta seção apresenta leis bíblicas fundamentais de interpretação 
em termos simples, e, ao fazê-lo, mune de uma ferramenta funcional 
a todo cristão desejoso de compreender e aplicar a Escritura.
Cada pessoa leva a vida com algumas pressuposições básicas. 
Estas variam de uma situação a outra. Por exemplo, sé você tivesse
8 Princípios de Interpretação da Bíblia
que ir para o Japão por vi aérea, teria de presumir pelo menos quatro 
coisas:
1. O piloto sabe dirigir o aparelho.
2. O avião chegará com segurança.
3. O pessoal que cuida da imigração naquele país respeitará o 
seu passaporte.
4. Você poderá concretizar o propósito que o levou a viajar.
Em nosso estudo das leis ou regras de interpretação da Bíblia, 
precisamos também pressupor certas coisas:
1. A Bíblia tem autoridade.
2. A Bíblia contém as suas próprias leis de interpretação que, 
quando entendidas e aplicadas apropriadamente, produzem o sentido 
correto de determinada passagem.
3. O objetivo primário da interpretação é descobrir o sentido que 
a passagem tinha para o autor.
4. A língua pode comunicar verdades espirituais.
Estas pressuposições aparecerão freqüentemente nos princípios 
relacionados nesta seção. Algumas são regras, bem como pressuposi­
ções, e como tais aparecerão.
Estas pressuposições fazem significativa diferença na saudável 
abordagem do estudo da Bíblia. Estudar, interpretar e poder aplicar a 
Bíblia corretamente são as metas de todos os cristãos conscienciosos. 
Antes de anotar como estas quatro pressuposições e os princípios sub­
seqüentes influem no estudo da Bíblia, é bom notar que há quatro 
partes básicas no estudo correto da Bíblias. São elas:
• OBSERVAÇÃO,(1) que responde à pergunta: “ Que vejo?” 
Aqui o estudante da Bíblia aborda o texto como um detetive. Nenhum 
pormenoré sem importância; nenhuma pedra fica sem ser virada. Cada 
observação é cuidadosamente arrolada para consideração e compara­
ções posteriores.
• INTERPRETAÇÃO,(1) que responde à pergunta: “ Que signifi­
ca?” Aqui o intérprete bombardeia o texto com perguntas como: “ Que 
significavam estes pormenores para as pessoas às quais foram dados? 
[Por que o texto diz isto?]” “ Qual a principal idéia que ele está 
procurando comunicar?”
• CORRELAÇÃO, (1> que responde à pergunta: “ Como isto se 
relaciona com o restante daquilo que a Bíblia diz?” O estudante da 
Bíblia deve fazer mais do que examinar somente passagens individuais. 
Deve coordenar o seu estudo com tudo mais que a Bíblia diz sobre o
d ) Para estudo mais completo sobre estes pontos, consultar a obra do mesmo 
Autor: Métodos de Estudo Bíblico.
A Interpretação é para Todos 9
assunto. A precisa compreensão da Bíblia sobre qualquer assunto leva 
em conta tudo que a Bíblia diz sobre aquele assunto.
• APLICAÇÃO ,(2) que responde à pergunta: “ Que significa para 
mim?” Esta é a meta dos outros três passos. Um especialista nessa área 
disse-o sucintamente: “ Observação e interpretação sem aplicação é 
aborto” .
A Bíblia é Deus falando. Sua Palavra exige resposta. Essa res­
posta tem de ser nada menos do que obediência à vontade de Deus 
revelada.
(Mais amplo desenvolvimento de cada uma destas partes acha-se 
no livro Métodos de Estudo Bíblico do mesmo Autor).
Estas quatro partes do estudo da Bíblia são guiadas pelas regras 
fundamentais de interpretação. Disse o salmista: “De todo o coração 
te busquei; não me deixes fugir aos teup mandamentos. Guardo no 
coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Salmo 119.10,11). 
Estas suas palavras ecoam o clamor do coração do cristão dedicado, 
cujo alvo é saturar-se tanto da Palavra de Deus, que comece a pensar 
e a regir de modo semelhante a Deus. Para isso, o estudante da Bíblia 
tem de se familiarizar tanto com estas regras básicas, que elas se 
tomem parte integrante da sua investigação da Escritura.
As regras de interpretação se dividem em quatro categorias: Ge­
rais, Gramaticais, Históricas e Teológicas.
Princípios Gerais de Interpretação (Capítulo 2) são os que tratam 
da matéria global da interpretação. São universais em sua natureza, 
não se limitando a considerações específicas, incluídas estas nas outras 
três seções.
Princípios Gramaticais de Interpretação (Capítulo 3) são os que 
tratam do texto propriamente dito. Estabelecem as regras básicas para 
o entendimento das palavras e sentenças da passagem em estudo.
Princípios Históricos de Interpretação (Capítulo 4) são os que 
tratam do substrato ou contexto em que os livros da Bíblia foram 
escritos. As situações políticas, econômicas e culturais são importan­
tes na consideração do aspecto histórico do seu estudo da Palavra 
de Deus.
Princípios Teológicos de Interpretação (Capítulo 5) são os que 
tratam da formação da doutrina cristã. São, por necessidade, regras 
“ amplas” , pois a doutrina tem de levar em consideração tudo que a 
Bíblia diz sobre dado assunto. Embora tendam a ser regras um tanto 
complicadas, nem por isso são menos importantes, pois desempenham 
papel de profunda relevância na obra de dar forma àquele corpo de 
crenças a que você chama suas convicções.
Vide nota n.° 1 na pg. 8.
Princípios f Gerais de 
Interpretação
Nas questões de religião o cristão 
se submete, consciente ou inconscien­
temente, a uma das seguintes autorida­
des, acatando-a como autoridade últi­
ma: a tradição, a razão, ou as Escri­
turas. A posição oficial e histórica da 
Igreja Católica Romana tem sido a de 
fazer da tradição o supremo tribunal 
de recursos. A doutrina da virgem 
Maria é um exemplo. O que a Bíblia 
ensina sobre Maria é interpretado de 
acordo com o modo como a Igreja Católica Romana a tem visto 
tradicionalmente.
Em boa parte dò protestantismo, o racionalismo ocupou o centro 
do palco. Liberalismo e modernismo são termos cunhados para des­
REGRA
UM
5 Trabalhe partindo 
da pressuposição 
de que a Bíblia 
tem autoridade.
Princípios Gerais de Interpretação 11
crever esta abordagem. Para eles, a conclusão extraída pela mente é 
o supremo tribunal de recursos. Da mesma forma, deixa-se que a 
razão decida o que é fundamental para a fé em Deus. Por exemplo: 
uma pessoa que abraça esta abordagem pode concluir que a fé na 
concepção virginal de Cristo não é nem racional nem essencial, e daí 
o ensino bíblico pode ser rejeitado.
O cristão fiel considera a Bíblia como o seu supremo tribunal de 
recursos. A crença na concepção virginal de Jesus é abraçada porque 
a Bíblia a ensina. O que a igreja crê acerca da virgem Maria deve ser 
interpretado pelas Escrituras, e não vice-versa.
Isto não equivale a sugerir que não há validade em cada uma das 
três formas de autoridade. Os adeptos de cada um dos sistemas de 
pensamento acima referidos prontamente concordariam sobre a impor­
tância de cada um dos outros dois. Contudo, em caso de conflito, a 
questão é: Que voto conta? Se a tradição, a razão e a Escritura dife­
rem quanto ao modo de ver Maria e a concepção virginal de Cristo, 
qual autoridade será o árbitro final? A primeira lei da interpretação 
diz que a Bíblia é o supremo tribunal de recursos.
A questão da autoridade liga-se freqüentemente à da inspiração 
das Escrituras. Uma pessoa não pode submeter-se à Bíblia, como auto­
ridade sobre ela, se não for a Palavra de Deus inspirada. O mesmo 
ponto surgiu durante o ministério terreno de Jesus. Ele “ ensinava 
como quem tem autoridade” (Mateus 7.29). Mas, em que se baseava 
Sua autoridade? Como podemos saber se Ele é verdadeiramente o 
Cristo como se arroga ser?
Em resposta a essas questões desafiadoras, Jesus dizia: “ Se alguém 
quiser fazer a vontade dele [de Deus], conhecerá a respeito da dou­
trina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo” (João 7.17). 
“ Se você quiser fazer o que eu lhe peço que faça, então você saberá 
se o que eu estou dizendo é certo ou não” , é o que Jesus basicamente 
disse. Se você fizer, então saberá. Fazer vem antes de saber. A entrega 
pessoal vem antes do conhecimento. Há centenas de anos, Agostinho 
o colocou deste modo: “ Creio, logo sei” .
A autoridade tem que ver com a vontade, com a obediência e com 
o fazer. A inspiração relaciona-se com o intelecto, o entendimento e 
o conhecimento. A questão da inspiração deve seguir-se à da autori­
dade. Justamente como é só depois de você fazer o que Cristo lhe 
pede que faça que você fica sabendo que Ele é o Cristo, assim também 
só depois de submeter-se à autoridade da Bíblia e obedecer-lhe, você 
saberá que ela é̂ a Palavra de Deus inspirada.
A exigência de que o compromisso preceda ao conhecimento não 
é exclusivamente peculiar à fé cristã. É a experiência comum e diária
12 Princípios de Interpretação da Bíblia
de toda gente. Na introdução falamos do uso de pressuposições. Em­
pregamos a ilustração de uma viagem ao Japão. Ao tomar aquelas 
pressuposições você simplesmente assumiu um compromisso antes de 
saber o que ia acontecer. Não sabia se as autoridades lhe permitiriam 
entrar no Japão. Supôs que o fariam, e se comprometeu com aquela 
suposição antes de o saber.
Ampliando a ilustração, digamos que você vá até o piloto antes 
da decolagem e indague sobre a segurança do enorme aparelho.
“ Será que ele me leva mesmo a Tóquio?” , você pergunta.
“ Certamente” , o comandante lhe assegura.
Você vai adiante na investigação. “ Mas, que dizer do aeroplano 
que caiu no Pacífico uns meses atrás? O senhor garante que o avião 
chegará a salvo no Japão?”
“ Não” , diz o comandante, “ não posso garantir isso. Mas suba a 
bordo e, quando chegarmos lá (se chegarmos) o senhor o saberá.”
Isso é compromisso antes de conhecimento. Você se dispõe a com­
prometer-se e a arriscar a vida porque o Japão fica muito longe para 
ir lá a nado.
Portanto, no estudo da Bíblia você começa com a questão da auto­
ridade. Esta, e a questão da inspiração que se lhe segue naturalmente, 
são respondidasquando você se submete à Palavra de Deus. Você 
pode estudar a inspiração como um tópico separado, mas somente 
saberá que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada quando se colocar 
sob a autoridade dela.
* * *
Ao procurar submeter-se ao que dizem as Escrituras, é importante 
entender que na Bíblia a autoridade é expressa de várias maneiras.
1. Uma pessoa age como quem tem autoridade, e a passagem ex­
plica se o ato é aprovado ou reprovado. Por exemplo, no Jardim do 
Éden “ a serpente disse à mulher: ‘É certo que não morrereis’ ” (Gêne­
sis 3.4). Você sabe que isso está errado porque Adão e Eva de fato 
morreram.
O rei Davi queria construir um templo para Deus; assim Natã 
lhe disse: “ Vai, faze tudo quanto está no teu coração; porque o Senhor 
é contigo” (2 Samuel 7.3). Natã falou em tom de autoridade a Davi 
o que este devia fazer, mas lemos que esse conselho foi errado e que 
Deus não queria que Davi edificasse o templo (versículos 4-17).
Depois do Concílio de Jerusalém (Atos J5), o apóstolo Pedro visi­
tou a igreja de Antioquia da Síria e comeu com os gentios. Paulo 
disse de Pedro: “ Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de
Princípios Gerais de Interpretação 13
Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram afastou-se e, 
por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão [cristãos ju­
deus]” (Gálatas 2.12). Sabemos que este ato de separar-se dos cris­
tãos gentios foi errado, pois Paulo o repreendeu por isso e em seguida 
explicou porque era errado.
2. Uma pessoa age com atitude de autoridade e a passagem não 
mostra aprovação nem reprovação. Neste caso, a ação precisa ser jul­
gada com base naquilo que o restante da Bíblia ensina sobre o assunto. 
Por exemplo, Abraão e Sara vão para o Egito por causa da fome em 
Canaã (Gênesis 12.10-20). Temeroso de que o Faraó pudesse matá-lo 
para apossar-se da bela Sara, Abraão disse à sua esposa: “ Dize, pois, 
que és minha irmã, para que me considerem por amor a ti e, por tua 
causa, me conservem a vida” . Foi uma atitude covarde de Abraão? A 
passagem não o diz. Você fica entregue, para a sua conclusão, à sua 
compreensão daquilo que o restante da Escritura tem pará dizer sobre 
o assunto.
Você terá de decidir em sua mente se Abraão errou ou não com 
essa atitude, e é precisamente este o interesse todo da interpretação da 
Bíblia. Este livro não procurará dar-lhe a interpretação “ correta” , mas 
simplesmente o ajudará a escolher a base correta para chegar às suas 
conclusões.
Depois que Ló perdeu sua esposa, quando Deus destruiu Sodoma 
e Gomorra, ele e suas duas filhas foram viver numa caverna situada 
nas montanhas acima de Zoar. Temendo que nunca se casariam e que, 
portanto, morreriam sem deixar filhos, as duas filhas tomaram as 
coisas em suas próprias mãos. Duas noites sucessivas deixaram o pai 
bêbado e tiveram intercurso sexual com ele, cada noite uma delas. 
Conceberam dele e tiveram filhos, Moabe e Ben-Ami (ver Gênesis 
19.30-38).
Apesar disso, Pedro disse que Ló era justo. “ [Se Deus], redu­
zindo as cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína 
completa, tendo-as posto como exemplo a quantos venham a viver im­
piamente; e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino 
daqueles insubordinados...” (2 Pedro 2.6,7). O que aconteceu na 
caverna de Zoar foi um ato justo? A passagem não o diz. Contudo, 
as Escrituras têm muito que dizer sobre o tipo de conduta que teve 
lugar na caverna de Zoar, e a ação pode ser julgada com base nesses 
numerosos ensinamentos.
3. Deus ou um dos Seus representantes declara a mente e a von­
tade de Deus. Muitas vezes isto vem na forma de mandamentos. Por 
exemplo, disse Jesus: “ Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns 
aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos
14 Princípios de Interpretação da Bíblia
outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes 
amor uns aos outros” (João 13.14-35).
Entretanto, alguns mandamentos são para as circunstâncias ime­
diatas, e não foram dados com a intenção de serém aplicados univer­
salmente. Deus disse a Noé: “ Faze uma arca de tábuas de cipreste; 
nela farás compartimentos, e a calafetarás com betume por dentro e 
por fora” (Gênesis 6.14). Jesus disse a dois dos seus discípulos: “ Ide 
à aldeia que aí está diante de vós e logo achareis presa uma jumenta, 
e com ela um jumentinho. Desprendei-a e trazei-mos” (Mateus 21.2). 
Porque Deus disse a Noé que construísse uma arca, não significa que 
nós detemos achar que seja da vontade de Deus que nós construamos 
arcas; tampouco vamos sair por aí desamarrando jumentos para levá- 
los a Jesus. O contexto e a natureza da ordem indicam se ela deve ser 
aplicada universalijiente ou não.
Toda a Escritura tem autoridade, mas há partes que você não tem 
de seguir. Todavia, precisa ter o cuidado de não usar uma lógica 
fantasiosa para evitar fazer o que sabe que é a vontade de Deus para 
você.
O homem secular está se afastando cada vez mais dos absolutos 
bíblicos. Isto, por sua vez, exerce pressão sobre a igreja para que faça 
nova abordagem dos mandamentos bíblicos quanto a coisas como o 
divórcio e ampla variedade de questões morais. Em maior número de 
vezes, esta nova abordagem não é nada mais que a grosseira imorali­
dade que causou a queda de Sodoma e Gomorra. Essas tendências 
originam-se na má vontade quanto a submeter-se à autoridade da 
Bíblia.
Para o cristão, a Bíblia tem e sempre terá autoridade.
Diz-nos a Bíblia que um dos pri­
meiros intérpretes da Palavra de Deus 
foi o diabo.
“ Mas a serpente, mais sagaz que 
todos os animais selváticos que o Se­
nhor Deus tinha feito, disse à mulher: 
‘É assim que Deus disse: “ Não come­
reis de toda árvore do jardim” ?’ Res­
pondeu-lhe a mulher: (Do fruto das 
árvores do jardim podemos comer, mas 
do fruto da árvore que está no meio 
do jardim disse Deus: “ Dele não comereis,,nem tocareis nele, para 
que não morrais” .) Então a serpente disse à mulher: “ É certo que não 
morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos
REGRA
DOIS____________
A Bíblia é 
seu intérprete; 
a Escritura explica 
melhor a Escritura.
Princípios Gerais de Interpretação 15
abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” 
(Gênesis 3.1-5).
Antes Deus dissera: “ De toda árvore do jardim comerás livre­
mente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; 
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 
2.16-17). Satanás não negou que Deus dissera essas palavras. Em vez 
disso torceu-as, dando-lhes um sentido que não tinham. Esse tipo de 
erro dá-se por omissão e por acréscimo.
Omissão — citar só a parte que lhe convém e deixar de lado o 
restante. Há dois tipos de morte na Bíblia, física e espiritual. Morte 
física é separar-se a alma do corpo. Morte espiritual é separar-se a 
alma de Deus. Quando Deus disse a Adão: “ Certamente morrerás” 
(Gênesis 2.17), estava se referindo à morte física e à morte espiritual. 
Quando a serpente disse a Eva: “ É certo que não morrereis” (3.4), 
estava omitindo de propósito o fato da morte espiritual.
Acréscimo — dizer mais do que a Bíblia diz. Em sua conversa­
ção com Satanás, Eva cita o que Deus falou a seu marido. Mas à 
Palavra de Deus acrescenta a frase: “ Nem tocareis nele*’ (Gênesis 3.3). 
Você pode torcer a Escritura fazendo-a dizer mais do que de fato diz. 
Geralmente o motivo é o desejo de tomar irracional a ordem de Deus 
e assim indigna de ser obedecida.
* * *
Quando você estudar a Bíblia, deixe-a falar por si mesma. Não 
lhe acrescente nem lhe subtraia nada. Deixe que a Bíblia seja o seu 
próprio comèntário. Compare Escritura com. Escritura.
Isaías, por exemplo, diz: "Portanto, o Senhor mesmo vos dará 
sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará 
Emanuel” .(Isaías 7.14). Em hebraico, a palavra traduzida em muitas 
versões como “ virgem” pode na realidade ser traduzida por “ moça” 
ou por “ virgem” . Este mesmo versículo é citado por Mateus com ref0ç 
rênciaà concepção virginal de Jesus Cristo (Mateus 1.23). Contudo, 
em grego a palavra tem um sentido só: “ virgem” . Em outras palavras, 
Mateus interpreta a palavra e nós traduzimos a expressão de Isaías 
como “ virgem” .
Normalmente aplicamos esta regra às grandes verdades da Bíblia, 
e não a versículos específicos. Uma dessas verdades é a segurança da 
salvação. Versículos individuais podem ser citados sobre ambos os 
lados da questão, se podemos perder a nossa salvação ou não. Paulo 
disse aos gálatas: “ Da graça decaístes” (Gálatas 5.4). Alguns cristãos, 
ao lerem isto, concluiriam que é possível perder a nossa salvação 
depois de havê-la obtido.
16 Princípios de Interpretação da Bíblia
Por outro lado, Jesus disse: “ As minhas ovelhas ouvem a minha 
voz; eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; 
jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão. 
Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai 
ninguém pode arrebatar” (João 10.27-29). Contudo, um estudo com­
pleto do tópico da segurança da salvação, comparando Escritura com 
Escritura, indica que o crente pode ter a segurança de que está salvo 
com base na obra consumada por Cristo.
Mais uma aplicação desta regra está no uso das referências bíbli­
cas no estudo da Escritura. Ao estudar-se um capítulo ou um pará­
grafo, o contexto é o primeiro lugar em que você procurará a interpre­
tação. As referências são úteis, mas você deve tentar estabelecer a 
referência do pensamento do versículo, e não de uma palavra ou frase 
apenas.
Por exemplo, estudando a crucifixão de Cristo em Mateus 
27.27-50, tomará como ponto de referência o versículo 35: “ Depois de 
o crucificarem, repartiram entre si as suas vestes, tirando a sorte” . 
Boas referências bíblicas incluiriam o Salmo 22.18, que é o versículo 
do Velho Testamento citado aqui. Também Marcos 15.24, Lucas 23.34 
e João 19.23,24, todas as quais são referências à crucifixão segundo os 
outros evangelhos. Referências secundárias seriam Josué 7.21, 1 Reis
11.29 e Daniel 7.9, que se referem à palavra vestes.
Nestes exemplos todos o princípio permanece o mesmo — deixe a 
Escritura explicar a Escritura. A Bíblia se interpretará a si mesma, se 
for estudada apropriadamente.
Quando Jesus se encontrava na 
Galiléia, à beira-mar, as multidões se 
reuniram em volta dele, bebendo Suas 
preciosas palavras enquanto Ele expli­
cava os mistérios do reino dos céus. 
Jesus concluiu a parábola do Semea­
dor com estas palavras: "Quem tem 
ouvidos [para ouvir], ouça” (Mateus 
13.9). Depois interpretou a parábola 
unicamente para os Seus discípulos 
com esta explicação: “ Porque o cora­
ção deste povo está endurecido, de 
mau grado ouviram com os seus ouvi­
dos, e fecharam os seus olhos; para 
não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, en­
tendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados” 
(Mateus 13.15).
REGRA
TRÊS
A fé salvadora 
e o Espírito Santo 
são-nos
necessários para 
compreendermos 
e interpretarmos 
bem as Escrituras
Princípios Gerais de Interpretação 17
A gente tem dois pares de olhos e de ouvidos. Um par vê e ouve 
as coisas fisicamente; o outro, espiritualmente. Comentando isto, diz o 
apóstolo Paulo: “ O deus deste século cegou os entendimentos dos 
incrédulos” (2 Coríntios 4.4). O deus deste mundo, Satanás, faz o 
máximo que pode para impedir que as pessoas compreendam a ver­
dade espiritual.
O cristão dedicado lê uma passagem, e sua verdade se patenteia 
para ele. É muito simples e muito óbvia quando a explica com clareza 
a seu amigo não-cristão, mas esse amigo não consegue captar o seu 
significado. Faça o esforço que fizer, o cristão não pode comunicar a 
verdade, simples como é. É como se houvesse uma barreira de incom­
preensão entre eles.
Através dos anos, os cristãos têm tido consciência deste problema. 
Escrevendo aos coríntios, Paulo o descreve deste modo: “ O homem 
natural. (o homem sem o Espírito) não aceita as cousas do Espírito 
de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas 
se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2.14).
Vemos um notável exemplo disto na ressurreição de Lázaro. O 
bom amigo de Jesus morrera havia quatro dias, e a decomposição já 
se iniciara. Os amigos se reuniram para consolar Maria e Marta, irmãs 
de Lázaro. Então Jesus chegou. A pedra foi removida e Jesus bradou 
em alta voz: “ Lázaro, vem para fora” (João 11.43). Ainda envolto em 
sua mortalha, Lázaro saiu do túmulo em obediência à ordem de Cristo.
Quando João registrou esse acontecimento, disse: “ Muitos, pois, 
dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, vendo o que fizera 
Jesus, creram nele. Outros, porém, foram ter com os fariseus e lhes 
contaram dos feitos que Jesus realizara. Então os principais sacerdotes 
e os fariseus convocaram o Sinédrio” (João 11.45-47). Alguns viram o 
fato como era, um milagre de Deus. Outros olharam esse mesmo acon­
tecimento com olhos totalmente diversos. Viram-no como uma ameaça 
às suas próprias crenças, metas e objetivos.
É fácil ficar horrorizado com essa incredulidade crassa. Mas, 
antes de julgá-la com excessiva dureza, devemos lembrar-nos de que 
isso resulta de uma batalha espiritual. Satanás procura velar a nossa 
visão espiritual de maneira semelhante. Diz a Bíblia: “ Nós não temos 
recebido o espírito do mundo, e, sim, o Espírito que vem de Deus, para 
que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente” (1 Corín­
tios 2.12). Temos de estudar a Bíblia com profundo senso de depen­
dência do Espírito Santo, cientes de que Ele é Aquele que “ vos guiará 
a toda a verdade” (João 16.13).
É possível proclamar a Bíblia como a sua autoridade e ainda estar 
espiritualmente cego. Talvez você tenha tido a experiência de ser abor-
18 Princípios de Interpretação da Bíblia
dado por alguém pertencente às testemunhas de Jeová ou aos mórmons 
ou a alguma outra seita. Essas pessoas se apressam a dizer que a sua 
fé se baseia na Bíblia, mas não é preciso prosear com elas muito tempo 
para perceber que não interpretam a Bíblia apropriadamente. Antes, 
torcem o sentido da Escritura para consubstanciar as suas próprias 
posições.
Este problema de usar a Bíblia como sua autoridade continuando 
cego para o seu verdadeiro significado não se limita às seitas. Muitas 
das piores atrocidades ocorridas através dos séculos têm sido cometidas 
em nome de Cristo. No início do século doze, em resposta à convo­
cação da igreja, milhares se reuniram sob a bandeira da cruz para 
libertar a Terra Santa (Palestina) dos muçulmanos. Não raro os zelotes 
dessas cruzadas (como eram chamadas) massacravam comunidades 
inteiras de judeus e pagãos, chegando a empalar crianças lançando-as 
ao ar e apanhando-as com as suas lanças.
Durante a guerra civil americana, a Bíblia era usada tanto para 
denunciar como para apoiar a escravidão. Consta que um dos generais 
de Abraão Lincoln lhe disse durante o feroz conflito: “ Espero que 
Deus esteja do nosso lado” .
Replicou o presidente: “ Senhor, não me preocupa se Deus está 
do nosso lado, nem a metade do que me preocupa se estamos do lado 
de Deus” .
Ver as coisas do ponto de vista de Deus é um ministério exercido 
pelo Espírito Santo a favor daqueles que confiaram nele não só para 
a salvação, mas também para a iluminação. Embora ser cristão não 
seja garantia de que você interpretará com precisão todas as passagens 
da Bíblia, é fundamental para entender adequadamente a verdade 
espiritual.
REGRA
QUATRO
Interprete 
a experiência 
pessoal à luz da 
Escritura, e não a 
Escritura à luz 
da experiência 
pessoal.
Ao ler o Novo Testamento você 
descobre que ele contém dois tipos de 
literatura — narrativa e instrutiva ou 
didática. (A maior parte do Apocalipse 
e certas porções dos evangelhos podem 
ser classificados como proféticas.) As 
partes de narrativa traçam a vida do 
Senhor Jesus nos quatro evangelhos, 
e a história da igreja primitiva no 
livro de Atos. As cartas ou epístolas 
em grande parte foram escritas para 
instruir os mejnbrosdaquelas primei­
ras igrejas sobre como viver a vida 
cristã.
Princípios Gerais de Interpretação 19
Ao estudar as porções didáticas você descobre que o escritor não 
diz que, porque tal coisa aconteceu, isto tem de ser verdade. Em vez 
disso, afirma justamente o oposto. Porque isto é verdadeiro, uma coisa 
particular aconteceu. Por exemplo, o Novo Testamento não ensina 
que, porque Jesus ressurgiu dos mortos, Ele é o Filho de Deus. Antes, 
porque Ele é o Filho de Deus, ressurgiu dos mortos.
Os acontecimentos que se desdobram através da Bíblia toda são 
interpretados com base no que Deus afirma que é verdade, e não vice- 
versa. Não concluímos que o mundo se corrompeu porque Deus o 
destruiu com um dilúvio nos dias de Noé. Ao contrário, diz a Bíblia 
que, porque o mundo se corrompera Deus disse que ia destruí-lo, 
e o fez.
Através do livro de Atos vem à luz a narrativa do que sucedeu 
na vida dos crentes do primeiro século. Você não extrai conclusões 
doutrinárias desses acontecimentos, a menos que incluam pregação. 
Antes, você interpreta esses acontecimentos à luz das passagens doutri­
nárias. Há diversos casos em que as pessoas, no registro de Atos, 
encontraram o Espírito Santo. Quando você analisa todas as variadas 
experiências, fica evidente que você não pode formular doutrina a par­
tir desses encontros. No dia de Pentecoste, Pedro e os demais discípu­
los falaram em línguas, e pessoas de diferentes grupos lingüísticos 
puderam entender o Evangelho em suas respectivas línguas. “ Estavam, 
pois, atônitos, e se admiravam, dizendo: ‘Vede! Não são, porventura, 
galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, 
cada um em nossa própria língua materna?’ ” (Atos 2.7,8).
Quando Pedro foi para Samaria para ver como ia o ministério de 
Filipe, os novos conversos não tinham recebido ainda o Espírito Santo. 
“ Então [Pedro e João] lhes impunham as mãos, e recebiam estes o 
Espírito Santo” (Atos 8.17). Não se menciona nenhum falar em lín­
guas subseqüente a essa ocorrência.
Depois da conversão de Paulo no caminho de Damasco, Ananias 
o procurou e impôs sobre ele as mãos. Paulo ficou cheio do Espírito 
Santo e foi batizado (Atos 9.17-19).
Na cidade de Éfeso, Paulo encoutrou alguns homens que só 
tinham recebido o “ batismo de João” — batismo de arrependimento. 
Paulo lhes pregou Jesus, e eles creram e foram batizados. “ E, impon­
do-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto fala­
vam em línguas como profetizavam” (Atos 19.6). Não se nos diz que 
língua esses homens falaram, mas provavelmente era diferente da 
falada no Pentecoste. A situação era diferente. É bem provável que 
fosse uma língua desconhecida, requerendo-se um intérprete, como o 
menciona Paulo em sua carta aos coríntios (1 Coríntios 14).
20 Princípios de Interpretação da Bíblia
As porções didáticas do Novo Testamento falam do uso de línguas 
pelos crentes. A passagem expressiva sobre este ensino é 1 Coríntios 
12-14. Note-se que esta passagem visa ao uso e controle das línguas, 
sem mencionar a prática das línguas como em Atos. Em outras pala­
vras, Paulo diz: “ Eis a doutrina correta com relação a línguas — certi­
fiquem-se de que a sua experiência se harmoniza com ela” . Não diz 
ele que, porque certo fenômeno foi experimentado na igreja, certa ver­
dade doutrinária pode ser extraída disso.
As suas experiências pessoais — sejam quais forem — devem ser 
conduzidas às Escrituras e interpretadas. Nunca o caminho inverso. 
"Porque tive esta experiência, o que se segue tem de ser verdade” não 
é sadio procedimento na interpretação da Bíblia.
Nada do que foi dito sugere que não há valor na experiência. 
Muito ao contrário. A experiência atesta a validade da doutrina. A 
ressurreição de Jesus Cristo consubstancia o fato de que Ele é o Filho 
de Deus. Você sabe que a sua salvação é um fato devido àquilo que 
você experimentou. Mas você não dá forma à doutrina da salvação 
com base em sua experiência. Você leva a sua experiência às Escri­
turas para averiguar o que sucedeu em sua vida.
Muitas vezes vemos na Bíblia que é feita uma afirmação e se 
segue uma experiência para provar a sua validade. Por exemplo, 
vemos o seguinte teste para ver se o homem que tem a pretensão de 
ser profeta o é realmente: “ Sabe que quando esse profeta falar, em 
nome do Senhor, e a palavra dele se não cumprir nem suceder, como 
profetizou, esta é palavra que o Senhor não disse; com soberba a falou 
o tal profeta; não tenhas temor dele” (Deuteronômio 18.22).
Acazias, filho de Acabe e de Jezabel, era rei de Israel, o reino do 
norte. Por causa do seu pecado, Elias, o profeta, profetizou que ele ia 
morrer. O rei Acazias mandou soldados para prenderem Elias. “ Elias, 
porém, respondeu ao capitão de cinqüenta: ‘Se eu sou homem de Deus, 
desça fogo do céu e te consuma a ti e aos teus cinqüenta’. Então fogo 
desceu do céu, e o consumiu a ele e aos seus cinqüenta” (2 Reis 1.10). 
A declaração profética de Elias foi acompanhada por seu cumprimento, 
provando que Elias era um verdadeiro profeta de Deus. À afirmação 
seguiu-se a experiência.
A experiência pessoal é parte importante da vida cristã, mas você 
deve ter o cuidado de mantê-la em seu lugar próprio. Conquanto você 
aprenda da experiência, não julgará a Bíblia sobre aquela base.
É fácil esquecer isso em muitíssimas áreas da vida. Suponhamos, 
por exemplo, que você tenha ficado em dificuldade por causa do seu 
déficit orçamentário. O Senhor lhe fala sobre isso, e você acha que 
Ele quer que você elimine todas as formas de compra a crédito. Você
Princípios Gerais de Interpretação 21
trabalha arduamente, economiza, e paga todos os seus credores. Isto 
revoluciona a sua vida. Agora está livre da dívida e convencido de 
que nunca mais deve voltar a comprar a prázo. Até aqui, tudo bem.
Mas depois você dá mais um passo e opina que todos os que têm 
cartões de crédito ou compram a prestação violam um mandamento 
bíblico. Para provar o seu ponto, cita: “ A ninguém fiqueis devendo 
cousa alguma” (Romanos 13.8). Aí você quebra esta importante regra 
de interpretação. Interpreta a Bíblia à luz da sua experiência pessoal 
e exige que outros sigam esta interpretação.
As Escrituras se fundem lindamente com as experiências da vida. 
Quanto mais tempo você passar estudando a Bíblia, mais esta verdade 
se imprimirá em sua vida. Parece que os escritores bíblicos tinham 
você em mente quando lavraram as suas palavras, tão aguçadas e vívi­
das são as aplicações.
É precisamente por esta razão que você deve ter cuidado para 
não inverter esta regra. Permita que a Palavra de Deus interprete e 
amolde as suas experiências, em vez de você interpretar a Escritura a 
partir das suas experiências.
Ao ler a Bíblia, fica evidente que 
você não deve seguir o exemplo de 
cada pessoa que encontra. Não precisa 
seguir o exemplo de Moisés e confron­
tar os líderes do Egito. Não deve se­
guir o exemplo do apóstolo Pedro ne­
gando a Cristo.
Estas ilustrações podem parecer 
simplificadas demais, mas a Bíblia está 
repleta de exemplos que são dignos de 
imitação. Você não está obrigado a 
seguir estes? Sim, se o exemplo ilustra 
uma ordem bíblica. Não, se o exemplo não tem o apoio de uma ordem 
bíblica.
Jesus Cristo é o homem perfeito. Se há uma vida digna de copiar- 
se é esta. Quando olhamos para a Sua vida perfeita, se não achamos 
necessário seguir todos os Seus exemplos, seguir-se-á logicamente que 
a mesma coisa valerá para o restante da Bíblia.
Jesus usava vestes longas e alparcatas. Normalmente andava a pé. 
Quando dirigiu, foi montando um jumento. Nunca se casou, e nunca 
saiu dos limites do Seu país natal (exceto na infância, quando Seus 
pais fugiram para o Egito para escapar do rei Herodes, e uma breve
REGRA
CINCO
Os exemplos 
bíblicos só tem 
autoridade quando 
amparados por 
uma ordem.
22 Princípios de Interpretação da Bíblia
visita à região siro-fenícia). Transparece imediatamente que não se 
espera que você siga o exemplo de Cristo em áreas como essas.
Porexemplo, seguir o exemplo de Cristo quanto a ter permane­
cido solteiro significaria que os cristãos não devem casar-se; entre­
tanto, a Bíblia fala bastante sobre a relação conjugal, recomendando-a 
altamente e usando-a como ilustração da plena relação Cristo-igreja.
Jesus foi homem de grande amor e compaixão. Você sabe que 
tem de seguir o exemplo dele nisso porque Ele disse: “ Novo manda­
mento vos dou: que vos ameis uns aos, outros; assim como eu vos 
amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos 
que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (João 
13.34,35).
Exemplos tirados da vida de Jesus ou das vidas dos Seus segui­
dores, não apoiados por ordens, têm algum valor:
1. Um exemplo bíblico pode confirmar o que você pensa que o 
Senhor o está induzindo a fazer. Você pode achar, por exemplo, que 
Deus quer que você fique solteiro pelo resto da vida. Visto que na 
maioria as pessoas se casam, você poderá sentir a pressão dos outros 
nesta direção. Mas a sua convicção de que o Senhor quer que você 
fique sem se casar é amparada biblicamente pelo fato de que Jesus 
nunca se casou.
2. Um exemplo bíblico pode ser rica fonte de aplicações à sua 
vida. Suponhamos que você esteja lendo o Evangelho Segundo Marcos 
e faça uma pausa para meditar neste relato: “ Tendo-se levantado alta 
madrugada, saiu [Jesus], foi para um lugar deserto, e ali orava” (Mar­
cos 1.35). Depois de pensar e orar, você acha que Deus quer que você 
passe algum tempo com Ele todas as manhãs, bem cedo. Esta seria uma 
aplicação apropriada e, sem dúvida, beneficiaria a sua vida espiritual.
Contudo, tomar esta aplicação e tentar aplicá-la a outras pessoas 
seria tomar um exemplo da Bíblia e tratá-lo como se fosse uma ordem. 
A Escritura nos manda orar; Paulo insta: “ Orai sem cessar” (1 Tessa- 
lonicenses 5.17). E a Bíblia nos exorta a tomar tempo com a Palavra: 
“ Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconse­
lhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com sal­
mos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão em vossos corações” 
(Colossenses 3.16). Nenhuma ordem da Escritura diz que isso deve 
ser feito de manhã cedo, conquanto seja a hora em que Jesus o fez, 
e talvez seja à melhor hora para você.
Cada indivíduo deve deduzir a sua própria aplicação daqueles 
exemplos não seguidos de ordem. Naturalmente, os mandamentos da 
Bíblia têm autoridade para toda gente. Não aásim os exemplos bíbli­
cos, a não ser que sejam amparados por uma ordem.
Princípios Gerais de Interpretação 23
Um corolário deste princípio é verdadeiro também:
O crente é livre para fazer qualquer coisa que a Bíblia não proiba.
Um exemplo claro deste princípio pode-se ver nas atividades da igreja 
no presente. Uma igreja local pode construir um novo santuário, de­
senvolver uma grande Escola Dominical, iniciar o trabalho com esco­
teiros ou fundar uma escola cristã diária. A Bíblia não contém exem­
plos desses atividades; muito menos as ordena. Todavia, são inteira­
mente permissíveis. A Bíblia estabelece limites sobre o que não se 
pode fazer, não sobre o que se pode. Todas as coisas são lícitas, a 
menos que especificamente proibidas.
Uma proibição clara assim aplica-se à esfera do sexo pré-marital 
e extra-marital. Paulo diz que os envolvidos nisso “ não herdarão o 
reino de Deus” (1 Coríntios 6.9).
O Espírito Santo utiliza a Bíblia para guiar e dirigir as nossas 
vidas. Quando seguimos a Sua orientação e nos expomos às grandes 
verdades das Escrituras, nos revestimos mais e mais do caráter de 
Jesus Cristo. A Bíblia chama este processo de santificação. E na san­
tificação o Senhor nos dá grande liberdade — liberdade na excitante 
experiência de tornar-nos semelhantes a Cristo.
Quando estudarmos a Bíblia, deveremos fazê-lo com cuidado para 
não restringirmos esta liberdade, quer para nós, quer para os outros. 
Para citar os grandes teólogos puritanos do passado: “ A Bíblia é a 
nossa única regra de fé e prática” .
Quando o Espírito Santo superin­
tendeu o registro da Escritura, Sua in­
tenção foi que nós, que lemos as Escri­
turas, aprendamos e apliquemos o que 
elas nos ensinam. A própria Escritura 
afirma que esse é o propósito por ela 
visado.
Quando Paulo escreveu a sua Pri­
meira Epístola aos Coríntios, extraiu 
argumentos da experiência de Israel 
durante o êxodo para documentar o 
seu ponto de vista. Israel cobiçara no 
deserto coisas que não possuía. Co­
mentando isto para a igreja de Corinto, Paulo disse: “ Ora, estas cousas 
se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as cousas 
más, como eles cobiçaram” (1 Coríntios 10.6).
Dois modos pelos quais você pode aprender uma lição são as 
experiências pessoais e as experiências alheias. Algumas lições da vida
REGRA
SEIS
O propósito 
primário da Bíblia 
é mudar as 
nossas vidas, não 
aumentar o nosso 
conhecimento.
24 Princípios de Interpretação da Bíblia
você só pode aprender vivendo-as. Mas algumas lições custam caro 
demais para serem aprendidas desse modo. O prudente as aprenderá 
observando as vidas de outros.
A incredulidade de Israel durante o êxito custou àquela nação 
quarenta anos desperdiçados na peregrinação no deserto. Paulo diz aos 
coríntios que Deus registrou isso para nós, a fim de que não come­
têssemos os mesmos enganos trágicos. De maneira a mais notável o 
Senhor nos mostra nas páginas da Bíblia os fracassos e fraquezas (bem 
como os pontos fortes) do Seu povo, de sorte que possamos aprender 
com eles. “ Aprendam dos seus pontos fortes e evitem os seus pontos 
fracos” , é a mensagem do Espírito Santo para nós.
Precisamos entender antes de aplicar a lição, mas o entendimento 
sem a aplicação não torna uma pessoa poderosa. Satanás conhece bem 
a Bíblia. Sem dúvida passaria em qualquer exame de teologia que se 
lhe deparasse. Até memorizou a Escritura, o que demonstrou quando 
citou passagem dos Salmos durante a tentação de Jesus.
“ A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito, ao deserto, para ser 
tentado pelo diabo. E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, 
teve fome. Então o tentador, aproximando-se, lhe disse: ‘Se és Filho 
de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães’.
“ Jesus, porém, respondeu: ‘Está escrito: Não só de pão viverá o 
homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’.
“ Então o diabo levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo 
do templo. E lhe disse: ‘Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque 
está escrito: “ Aos seus anjos ordenará a teu respeito;” e: “ Eles te 
susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra” ’ (Salmo 
91.11,12).
“ Respondeu-lhe Jesus: ‘Também está escrito: “ Não tentarás o 
Senhor teu Deus” .’
“ Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos 
os reinos do mundo e a glória deles, e lhe disse: ‘Tudo isto te darei 
se, prostrado, me adorares’.
“ Então Jesus lhe ordenou: ‘Retira-te, Satanás, porque está escrito: 
“ Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto” .’ Com isto o 
deixou o diabo, e eis que vieram anjos, e o serviam” (Mateus 4.1-11),
“ Até os demônios crêem, e tremem” , é a colocação feita por Tiago 
(Tiago 2.19). A Bíblia não nos foi dada para que pudéssemos ficar 
espertos como o diabo; foi-nos dada para que pudéssemos tornar-nos 
santos como Deus. Pedro escreveu: “ [Ele nos deu] as suas preciosas 
e mui grandes promessas para que por elas vos torneis co-participan- 
tes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há 
no mundo” (2 Pedro 1.4).
Princípios Gerais de Interpretação 25
Paulo aconselhou a Timóteo: “ Toda Escritura é inspirada por 
Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a 
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e 
perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Timóteo 3.16,17). Toda 
Escritura foi dada com este fim em mente — que modele as nossas 
vidas. Contudo, ao procurar aplicar “ toda Escritura” , você deve ter 
o cuidado de lembrar duas coisas. Estas podem ser firmadas comocorolários da regra em foco.
* * *
1. Algumas passagens não devem ser aplicadas da mesma maneira 
como foram aplicadas na ocasião em que foram escritas.
Suponhamos que você está lendo o livro de Levítico, procurando 
fazer uma aplicação à sua vida, e você lê: “ Esta é a lei da oferta pela 
culpa: cousa santíssima é. No lugar onde imolam o holocausto, imola­
rão a oferta pela culpa, e o seu sangue se espargirá sobre o altar em 
redor” (Levítico 7.1,2). Uma aplicação errônea seria fazer a mesma 
coisa que os sacerdotes do Velho Testamento faziam: oferecer sacrifí­
cio de animais.
Diz o Novo Testamento que Jesus Cristo “ aboliu na sua carne a 
lei dos mandamentos na forma de ordenanças” (Efésios 2.15).
Talvez lhe fosse possível aplicar esta passagem de Levítico com o 
propósito de refletir sobre quão grande preço o Salvador pagou para 
que você fosse perdoado de cada um dos seus pecados, usando o sis­
tema sacrificial do Velho Testamento como ponto de referência.
A Bíblia oferece outra possível aplicação: “ Por meio de Jesus, 
pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de 
lábios que confessam o seu nome. Não negligencieis igualmente a prá­
tica do bem e a mútua cooperação; pois com tais sacrifícios Deus se 
compraz” (Hebreus 13.15,16).
2. Quando você aplicar uma passagem, deverá fazê-lo em harmonia 
com a interpretação correta.
Por exemplo, o nosso Senhor vem descendo do Monte da Trans­
figuração quando encontra alguns dos Seus discípulos tentando curar 
um lunático (Mateus 17.14-16). Visto que são incapazes de fazê-lo, o 
pai do menino vai a Jesus em busca de socorro. Jesus expulsa o espírito 
imundo e mais tarde os discípulos frustrados perguntam por que não 
o puderam fazer. Jesus responde: “ Por causa da pequenez da vossa fé. 
Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mos­
tarda, direis a este monte: ‘Passa daqui para acolá,’ e ele passará. Nada 
vos será impossível” (17.20).
26 Princípios de Interpretação da Bíblia
Se você estivesse aflito pela enfermidade incurável de um ente 
querido, poderia ler esta passagem e, fazendo a aplicação, poderia 
pensar que unicamente por sua falta de fé foi impedido de curá-lo. 
Você tenta curá-lo, mas a pessoa mor^r. Assim, você se culpa e pensa: 
Talvez seja por algum pecado em minha vida que não pude curá-lo.
Provavelmente nem pecado nem incredulidade eram o seu pro­
blema. Simplesmente interpretou mal a passagem. Pouco antes, Jesus 
tinha dado instruções específicas aos Seus discípulos: “ Curai enfermos, 
ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça rece­
bestes, de graça dai” (Mateus 10.8). Eles foram censurados por sua 
falta de fé porque tinham recebido ordem do Senhor para curar, e 
tinham sido dotados de poder pertinente para fazê-lo. A você Deus 
não deu essa ordem específica.
Todas as partes da Bíblia são aplicáveis a você, todavia, a inter­
pretação correta é essencial, antes de procurar fazer aplicação. Falhar 
nisso pode levar a mal-entendido e desgosto desnecessários. Tenha o 
cuidado de interpretar corretamente a passagem; depois, devotamente 
faça a aplicação.
Este princípio foi um dos abran­
gentes fundamentos da Reforma Pro­
testante do século dezesseis. Por cen­
tenas de anos o povo dependera de 
que a igreja fizesse o estudo e a inter­
pretação das Escrituras para ele. Não 
havia traduções da Bíblia na língua do 
povo. Quando se faziam tentativas 
para produzir essas traduções, a igreja 
as suprimia à força.
Hoje existem múltiplas traduções 
e paráfrases ao alcance de todos, tor­
nando fácil o acesso à Bíblia para 
quem quer que saiba ler. Todavia, a 
nossa geração parece estar produzindo um povo biblicamente iletrado. 
Mesmo entre cristãos conscientes a Bíblia é pouco mais que um livro 
de devoção no qual se pode “ encontrar” Deus. O aprofundamento em 
busca das grandes verdades da Bíblia é deixado aos teólogos e outros 
“ expertos” . É como se estivéssemos voltando aos dias anteriores à 
Reforma.
A presença do Espírito Santo e o poder que a língua tem de 
comunicar a verdade combinam-se para dar-íhe tudo que você precisa 
para estudar e interpretar pessoalmente a Bíblia. No ministério do
REGRA
SETE
Cada cristão tem 
o direito e a 
responsabilidade 
de investigar e 
interpretar 
pessoalmente a 
Palavra de Deus.
Princípios Gerais de Interpretação 27
Senhor Jesus, Ele repreendeu os judeus do Seu tempo por sua incapa­
cidade de compreender quem era Ele. Jesus atribuiu este fracasso deles 
diretamente à ignorância das Escrituras: “ Examinais as Escrituras, por­
que julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam 
de mim” (João 5.39).
Mais tarde Jesus disse que um sinal distintivo daquele que é Seu 
discípulo é que permaneça “ em minha palavra” (João 8.31). No de­
correr das epístolas esse tema é desenvolvido e salientado. “ Habite 
ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mu­
tuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos 
e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações” (Colossen- 
ses 3.16). Paulo admoestou os crentes de Colossos. A seu filho na fé 
fez esta colocação: “ Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como 
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra 
da verdade (2 Timóteo 2.15).
O estudo em profundidade nem sempre lhe dá as respostas que 
procura. Muitas vezes você encontrará uma verdade cujas profundi­
dades lhe escapam. E a sua mente é constituída de modo tal, que você 
pode fazer mais perguntas do que pode responder.. O estudo da Bíblia 
não responderá a todas as suas questões. As respostas a algumas delas 
virão mais tarde, como o descobrimento da peça que falta num jogo 
de quebra-cabeças. Algumas jamais serão respondidas deste lado do 
céu. A apreciação dos mistérios da fé cristã é em si mesma um sinal 
de maturidade.
Quando a sua interpretação particular o conduzir a uma conclu­
são diversa do significado histórico que os homens de Deus têm dado 
à passagem, deverá brilhar na sua mente a luz amarela da advertência. 
Qualquer conclusão a que você chegue, que seja diferente da posição 
evangélica histórica, deve ser considerada suspeita. Na maioria das 
vezes, depois de mais amplo estudo, você verá que errou em sua 
interpretação pessoal.
Se você tiver na Escola Dominical a bênção de um pastor que 
exponha fielmente a Bíblia, terá nisso uma herança realmente rica. 
Contudo, isto poderia levá-lo a descansar em outros que o alimentem, 
em vez de disciplinar-se para você mesmo alimentar a sua própria 
alma. Não deve ser uma proposição do tipo “ ou isto/ou aquilo” , mas, 
“ tanto/como” . Você deve manter equilíbrio entre ser ensinado por 
outros e alimentar-se a si próprio. Quanto mais apto você ficar para 
o estudo pessoal da Bíblia, mais se fiará no seu pastor como um meio 
de testar a maneira como você interpretou dada passagem, e não como 
a fonte primária da sua perspectiva escriturística.
Mesmo quando aprender verdades espirituais pela pregação feita 
por outros, você tem a responsabilidade de pesar essas verdades com
28 Princípios de Interpretação da Bíblia
aquilo que encontrar no seu estudo pessoal da Bíblia, e de formar as 
suas próprias convicções. Foi isso que tornou nobre aos olhos de Lucas 
a igreja de Beréia. Note o que ele disse daqueles crentes: “ Ora, estes 
de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a 
palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias 
para ver se as cousas eram de fato assim" (Atos 17.11).
Sublinhe as palavras toda a avidez/ O s nobres bereanos recebe­
ram o ensino de Paulo com mente aberta e com atenção. Mas não 
pararam aí. Quando Paulo estava realizando o seu trabalho de prega­
ção, eles examinavam “ as Escrituras todos os dias para ver se as cousas 
eram de fato assim” (isto é, para ver se o que Paulo dizia era verdade). 
Que combinação! Ouça, atentamente a Palavra e depois estude a 
Bíblia para formar as suas próprias convicções.
7 Quando você aceita umaidéia simplesmente porque outra pessoa 
lhe afirma que é assim, você causa um curto-circuito no processo, 
ainda que o que lhe foi dito seja exato e merecedor de fé. Você creu 
na coisa certa pelo motivo errado. Não se tornou ainda uma convic­
ção sua. Aí está por que tantos cristãos se tornam presas de grupos 
heréticos como as testemunhas de Jeová e os mórmons.
Uma diferente ilustração expressa o mesmo ponto. Um amigo 
cristão o incentiva a memorizar a Escritura. Você o faz porque ele lho 
disse. Você não está convicto de que deve fazê-lo, e o trabalho é 
árduo. Depois de um começo entusiástico, você se descuida. Exami- 
nando-se a si mesmo, julga-se infiel, esquece logo os versículos que 
tinha decorado, e desanima. Somente se se convencer de que Deus 
quer que memorize o texto bíblico, você saltará os obstáculos do desa­
lento e prosseguirá para a vitória.
Como já vimos, Deus nos manda passar tempo com Ele nas Escri­
turas. Memorizar a Escritura, porém, é um método de penetrar na 
Palavra. Você pode não estar necessariamente convencido quanto ao 
método que outros empregam. Neste caso, deve ir à presença do 
Senhor e perguntar-lhe como Ele quer que você proceda à investigação 
e interpretação da Bíblia.
Cinco métodos de estudo da Bíblia são apresentados no livro 
Métodos de Estudo Bíblico, deste Àutor.
O método é um veículo para aprofundamento na Palavra. O 
processo de cavar fundo na Escritura e chegar à sua conclusão pessoal 
é o que transforma simples crenças em convicções solidamente firma­
das. Envolver-se nesse processo é, não só seu' direito como filho de 
Deus, mas também sua solene responsabilidade.
Princípios Gerais de Interpretação 29
Na introdução deste livro, com­
paramos a autoridade da razão~e da 
tradição com a autoridade da Escritu­
r a Conquanto todas as três autorida­
des sejam importantes e tenham seu 
lugar próprio, a razão e a tradição têm 
de se render à Escritura. Quando hou­
ver desacordo entre os três tipos de 
autoridade, a Escritura tem de ser o 
supremo tribunal de recursos.
Há um lugar próprio para a razão 
e para a tradição, e aqui desejamos 
examinar o lugar da tradição, ou da 
história da igreja. Por amor à simplicidade igualamos ambas.
Muitas doutrinas consideradas essenciais pelos evangélicos são 
implícitas nas Escrituras. Porque implícitas, e não estabelecidas expli­
citamente, houve tempo em que eram muito controvertidas. Devemos 
à história da igreja o fato de que tais questões tenham sido resolvidas.
Uma dessas doutrinas é a da divindade de Jesus Cristo, isto é, 
que Ele é coeterno com o Pai, que Ele é Deus. Nunca houve época 
em que Ele não o fosse. Ele é “ verdadeiro Deus de verdadeiro Deus” . 
Esta doutrina é bíblica. Vem ensinada em várias partes da Bíblia. O 
prólogo do Evangelho de João dá-nos claro exemplo: “ No princípio 
era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. . . . E 
o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (João 1.1,14). A correta 
interpretação desta passagem e de outras correlatas veio com o amadu­
recimento da igreja. Somos devedores à história da igreja que registra 
o que os crentes do passado malharam na bigorna da sondagem da 
alma, da investigação escriturística e do debate.
" k * *
Eis um corolário desta regra:
A igreja não determina o que a Bíblia ensina; a Bíblia determina o que 
a igreja ensina.
As interpretações da igreja têm autoridade somente na medida em 
que estejam em harmonia com os ensinamentos da Bíblia como um 
todo. Não houve o propósito de que a história fosse decisiva na inter­
pretação da Escritura, pois houve ocasiões em que a igreja não foi fiel 
à Palavra de Deus. Nos primórdios dos tempos medievais ela ensinou 
o celibato clerical, que os sacerdotes não poderiam se casar nunca.
REGRA
OITO
A história 
da igreja é 
importante, mas 
não decisiva 
na interpretação 
da Escritura.
30 Princípios de Interpretação da Bíblia
Mais tarde, no mesmo período medieval, exaltou Mana à posição de 
igualdade com Deus. Estas determinações foram da igreja, não da 
Bíblia. As interpretações da igreja precisam ser estucadas e avaliadas 
cuidadosamente à luz daquilo que a Bíblia ensina.
Contudo, tendo expressado esta palavra de cautela, é preciso que 
não passemos por alto a importância da história da igreja. Ela pode 
dar a você um ponto de aferição e de equilíbrio no seu estudo pessoal 
da Bíblia. Consta que Charles H. Spurgeon, o famoso pregador inglês, 
disse: “ Parece estranho que certos homens que falam muito do que o 
Espírito Santo lhes revela pensem tão pouco do que Ele revelou a 
outros” . Há um importante lugar para os comentários e os credos na 
formulação da doutrina. Os santos de Deus do passado têm muito 
que nos dizer hoje, se tão somente lhes dermos ouvidos.
Muitos crentes fiéis reagem exageradamente recusando-se a dar 
consideração a qualquer outra fonte que não a Bíblia, e não sem razão. 
O ataque à Palavra de Deus tem sido feroz nestas últimas décadas. 
Muitos credos históricos da igreja foram revistos e diluídos para a 
inclusão das tendências filosóficas da época. Tenha o cuidado de man­
ter equilíbrio aqui. Aprenda da história e reconheça a sua importante 
contribuição, lembrando-se no entanto de que a Bíblia é o árbitro final 
em todas as questões pertencentes à fé e à prática.
As promessas de Deus, que se 
acham na Bíblia, são um meio pelo 
qual Deus revela Sua vontade aos ho­
mens. Ao dizer isto, devemos reconhe­
cer que reclamar promessas é algo sub­
jetivo. Por conseguinte, assim se dá 
com o uso de qualquer método para 
determinar a vontade de Deus para a 
vida de uma pessoa.
Muita gente fica inquieta quando 
se usam as promessas bíblicas, em 
parte porque muitas vezes elas são mal 
utilizadas. Uma caricatura nada engra­
çada de uma pessoa em busca de uma 
promessa bíblica, mostra-a abrindo a 
a Bíblia com os olhos fechados e pondo o dedo no meio da página. 
Onde o dedo marca, ali está a promessa de Deus para ela.
O problema não é pretender uma promessa em si, mas descobrir 
a vontade de Deus. Ao reclamar as promessas de Deus, tenha a mesma 
cautela que tem quando procura descobrir a vontade de Deus. O 
Senhor requer que em tudo ajamos baseados na fé. As promessas
REGRA
NOVE
As promessas 
de Deus na Bíblia 
toda estão 
disponíveis ao 
Espírito Santo a 
favor dos crentes 
de todas as 
gerações.
Princípios Gerais de Interpretação 31
sãonos dadas como valioso instrumento para ajudar-nos a reagir ade­
quadamente.
Reclamar as promessas de Deus é uma forma específica de apli­
cação. Note na Regra Seis a ênfase dada à aplicação: O propósito 
primário da Bíblia é mudar as nossas vidas, não aumentar o nosso 
conhecimento (pág. 24). Exatamente como é essencial que você inter­
prete apropriadamente a passagem antes de aplicá-la, também é essen­
cial interpretar apropriadamente a promessa antes de reivindicá-la.
Se você não for cuidadoso sobre o que diz a passagem, todos os 
tipos de interpretação fantasiosa podem seguir-se. Por exemplo, você 
pode desejar que o Senhor guie a sua vida. Depois de muita oração, 
você apela para Isaías 30.21: “ Quando te desviares para a direita e 
quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de 
ti uma palavra, dizendo: ‘Este é o caminho, andai por ele’ ” . Você 
pede ao Senhor que lhe diga quando virar à direita e quando à 
esquerda. De agora em diante você vai receber as indicações do rumo 
diretamente de Deus, pois não foi isto que Ele prometeu?
Estudando o contexto de Isaías 30.21, você vê que a palavra que 
lhe é dita por detrás é dos seus mestres. É de Deus, sim, mas através 
dos seus mestres. Falhar na interpretação adequada do versículo po­
derá levá-lo a entender mal como Deus quer guiá-lo.
É-lhe permissível reclamar uma promessa fora do seu contexto 
histórico, contanto que seja fiel ao que diz e significa a passagem. 
Digamos, por exemplo, que você está cercado por circunstâncias adver­
sas e sofre acusação falsa. Você ora, pedindo a Deus que o oriente. 
Ele o induz a apoiar-se em Êxodo 14.14:“ O Senhor pelejará por vós, 
e vós vos calareis” . Esta promessa foi feita originalmente a Moisés 
quando Israel estava rodeado de circunstâncias adversas. Mas com 
esta promessa Deus aquieta o seu coração, e você espera nele para 
que as coisas andem.
A Bíblia dá numerosos incentivos para contarmos com as promes­
sas desta maneira. Pedro, exortando o seu rebanho a uma vida devota 
e santa, disse: “ Visto como pelo pelo seu divino poder nos têm sido 
doadas todas as cousas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhe­
cimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória 
e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui 
grandes promessas para que por elas vos torneis co-participantes da 
natureza divina, livrando-nos da corrupção das paixões que há no 
mundo” (2 Pedro 1.3,4). O salmista o expressou deste modo: “ O con­
selho do Senhor dura para sempre, os desígnios do seu coração por 
todas as gerações” (Salmo 33.11).
É importante assumir atitude apropriada ao abordar as promessas.
32 Princípios de Interpretação da Bíblia
O Senhor lhas deu para ajudá-lo a fazer a Sua vontade. No entanto, 
muitas vezes as pessoas as usam para tentar levar Deus a fazer a von­
tade delas. Diz a Bíblia: “ Até agora nada tendes pedido em meu nome; 
pedi, e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (João 
16.24). Foi Jesus mesmo quem fez essa promessa. Você ama alguém 
e quer casar-se com essa pessoa. Ou você e seu cônjuge querem um 
filho. Assim, você apela para esta promessa, mas não recebe o que 
deseja. Por quê? Possivelmente porque Deus não lhe fez aquela pro­
messa particular. Você se apropriou dela. Mas Deus não é seu servo; 
você o é dele. Você frustra o propósito das promessas quando as faz 
servi-lo.
Promessa é compromisso de Deus, de fazer alguma coisa, e requer 
sua resposta de fé em forma de obediência. Às vezes essa obediência 
significa esperar pacientemente que o Senhor faça o que Ele promete. 
Outras vezes pode significar lançar-se ao desconhecido ou enfrentar 
grandes riscos. As promessas de Deus constituem o fundamento da 
expressão da fé. Sem a promessa você não tem base para pedir. Com 
a promessa você responde pela fé. A fé é sempre ativa, nunca passiva. 
Quando você, pela fé, responde à promessa de Deus, Sua vontade é 
feita e Ele é glorificado.
Suponhamos que você responda à promessa e ela não se cumpra. 
A aparência é de que Deus não fez o que prometeu. A que conclusões 
pode chegar? Há três possibilidades:
1. Deus o deixou na mão. Ele não conseguiu finalizar Sua parte 
no trato. Sendo assim, a Bíblia não merece fé; não vale a pena seguir 
a Cristo; em suma, o Deus das Escrituras não existe. Pois Deus mesmo 
disse: “ Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para 
que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? ou 
tendo falado, não o cumprirá?” (Números 19.23).
Embora coloquemos “ Deus o deixou na mão” como uma possível 
conclusão, é na verdade uma impossibilidade. É uma impossibilidade 
porque Deus promete que nunca falhará conosco. Paulo estava falando 
com Timóteo quando disse, sobre a fidedignidade de Deus: “ Ele per­
manece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” 
(2 Timóteo 2.13). Podemos rejeitar esta primeira possibilidade de 
conclusão simplesmente porque Deus sempre cumpre o que promete.
2. Você errou ao reclamar a promessa. Esta é uma possibilidade 
desagradável, mas real. Se você já teve a desventura de esperar o cum­
primento de uma promessa que Deus nunca tencionou para você, não 
pense que está sozinho nisso. Muitos já o fizeram. Normalmente acon­
tece isso quando os seus motivos ficam confusos. A promessa foi 
requerida com o sincero desejo de fazer a vontade de Deus e nada
Princípios Gerais de Interpretação 33
mais? Ou você queria uma intervenção em algum ponto do seu 
percurso?
Se você verificou que procurava somente agradar a Deus, deve 
então suspender o julgamento sobre o que aconteceu. Até Paulo não 
tinha certeza dos seus motivos. Disse ele: “ Todavia, a mim mui pouco 
se me dá de ser julgado por vós, ou por tribunal humano; nem eu tão 
pouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argúi a consciência; 
contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é 
o Senhor. Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que venha o 
Senhor, o qual não somente trará à plena luz as cousas ocultas das 
trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então 
cada um receberá o seu louvor da parte de Deus (1 Coríntios 4.3-5).
Deus conhece o seu coração e algum dia revelará o que aconte­
ceu. Talvez você se tenha apropriado erroneamente da promessa, mas 
resta uma terceira opção.
3. A promessa se cumprirá numa ocasião posterior e/ou de um 
modo que você não espera. Deus prometeu a Abraão que os seus des­
cendentes seriam numerosos como as estrelas dos céus. Ele e Sara con­
tinuaram esperando pacientemente pelo cumprimento depois de Sara já 
ter passado da menopausa e estando Abraãó com quase 100 anos de 
idade. Tinham tentado ajudar Deus a cumprir a Sua promessa, mas 
tudo em vão. Abraão tivera um filho com a criada de Sara, Hagar, 
mas não era isso que Deus tinha em mente. A velhice atingira o casal 
e ainda não havia filhos. Não haveria de ocorrer o cumprimento natu­
ral da promessa. Deus a queria cumprida de maneira sobrenatural.
Falando disso, diz o escritor de Hebreus: “ Ora, todos estes que 
obtiveram bom testemunho por sua fé, não obtiveram, contudo, a 
concretização da promessa’ ’ (Hebreus 11.39). Ali estavam os heróis 
de Deus, os heróis da fé, que não viveram para ver cumpridas as 
promessas de Deus. Deus as cumpriu noutra geração. Eles não 
“ abandonaram o navio” e desistiram. Apegaram-se com tenacidade às 
promessas e confiaram 'em que Deus as cumpriria a Seu modo.
Deus não falhou com você, e talvez você não tenha errado ao 
reclamar a promessa. O Senhor poderá cumpri-la de um modo e numa 
ocasião que você nem desconfia. O que todos devemos estar tentando 
seguir é a vontade de Deus conforme o calendário e o horário de Deus.
• k k k
Talvez seja útil considerar os dois tipos de promessas que se 
acham na Bíblia.
1. Promessas Gerais. São feitas pelo Espírito Santo a todos os 
crentes. Qüando foram escritas pelo autor não visavam a nenhuma
34 Princípios de Interpretação da Bíblia
pessoa ou época em particular. Antes, são gerais, isto é, destinadas a 
todas as pessoas, de todas as gerações.
Eis um exemplo deste tipo de promessa: “ Se confessarmos os 
nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos 
purificar de toda injustiça” (1 João 1.9). Esta promessa era válida 
para as pessoas a quem João estava escrevendo, e é igualmente válida 
para você hoje. Há muitas promessas dessg tipo na Bíblia toda.
2. Promessas Específicas. São feitas pelo Espírito Santo a indiví­
duos específicos em ocasiões específicas. Como as promessas gerais, 
as específicas são-lhe disponíveis, de acordo com a direção do Espí­
rito Santo. A diferença é que as promessas específicas têm de ser 
feitas pelo Espírito Santo especificamente a você como o foram aos 
beneficiários originais. Neste sentido elas são muito mais subjetivas 
do que as promessas gerais. Você pode saber que todas as promessas 
gerais são-lhe dadas, e a todos os demais. Contudo, as promessas 
específicas estão disponíveis para você, más não lhe pertencerão, a não 
ser que lhe sejam dadas por Deus. As promessas específicas são dadas 
mais freqüentemente para orientação e bênção.
O Espírito Santo pode querer fazer-lhe uma promessa específica 
para ajudá-lo a determinar a Sua vontade. Isto é, quando Ele quer 
guiá-lo numa direção particular. Exemplo: “ As tuas portas estarão 
abertas de contínuo; nem de dia nem de noite se fecharão, para que 
te sejam trazidas as riquezas das nações, e, conduzidos com elas, os 
seus reis” (Isaías 60.11).
Quando você ora, meditando neste versículo, e fica crescente­
mente convencido de que o Senhor quer que você o aplique à sua vida, 
talvez você se decidaa abrir sua casa vinte quatro horas por dia para 
todos os que o Senhor lhe enviar. A promessa foi feita originalmente 
ao Messias, mas o Espírito de Deus pode fazê-la a você, para o seu 
ministério.
Em sua primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé sofreram 
oposição dos judeus quando ministravam a Palavra em Antioquia da 
Pisídia. Sentiram-se chamados por Deus para os gentios, e para tornar 
concreta essa orientação Paulo citou Isaías: “ Porque o Senhor assim 
no-lo determinou: ‘Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que 
sejas para salvação até aos confins da terra’ ” (Atos 13.47; ver Isaías 
42.6,7). Paulo citou um versículo messiânico que o Senhor lhe dera 
para orientação.
Bênção é outro modo pelo qual as promessas específicas podem 
ser utilizadas. Pode suceder que o Espírito S^nto não esteja procuran­
do guiá-lo, mas simplesmente revelar a bênção que planeja para a sua 
vida. Para ilustrar isto, digamos que a sua igreja esteja sem pastor.
Princípios Gerais de Interpretação 35
O último fora insatisfatório, e os dirigentes da igreja têm sido caute­
losos na busca do sucessor. Passaram-se meses, e você está preocupa­
do, querendo que o Senhor dê o pastor certo. Orando sobre a situação, 
o Senhor lhe dá certeza de Sua bênção prometida com as palavras: 
“ Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com 
conhecimento e com inteligência” (Jeremias 3.15).
Visto que as promessas específicas são subjetivas, se faz pouco 
tempo que você é cristão, é melhor ficar com as promessas gerais que 
se acham no Novo Testamento durante o primeiro par de anos. 
Quando se julgar pronto para requerer promessas específicas, deverá 
seguir certas linhas de roteiro:
1. O Espírito de Deus as faz aos cristãos, individualmente, em 
ocasiões particulares das suas vidas, conforme Lhe apraz.
2. Muitas vezes as promessas são condicionais, e a condição é 
obediência. Você pode captar a condição pela presença da pequena 
palavra se no versículo ou no contexto.
3. O Espírito Santo de Deus é soberano. “ O conselho do Senhor 
dura para sempre, os desígnios do seu coração por todas as gerações” 
(Salmo 33.11). EJè pode falar partindo de qualquer passagem, a qual­
quer pessoa, em qualquer ocasião.
4. Não prejulgue o Senhor sobre quando e como a promessa se 
cumprirá em sua vida.
5. Deus faz Suas promessas para tornar você mais dependente 
dele, não independente. Busque-as com espírito de dependência e 
humildade.
6. O propósito de Deus é glorificar-se fazendo-lhe promessas. 
Nunca deixe de Lhe dar glória quando se cumprir a promessa.
Mais uma precaução é oportuna antes de concluir este ponto. 
Quando você reivindica uma promessa da Bíblia, você está determi­
nando a vontade de Deus nessa matéria particular. Por sua vez, isto 
o isola de qualquer outro conselho, pois, quem quer aconselhar contra 
a vontade de Deus? Digamos, por exemplo, que você está orando e 
buscando conselho acerca da mudança de emprego. Você pode apoiar- 
se numa promessa da Palavra que com efeito lhe diz: “ A vontade de 
Deus é que se faça a mudança” . Nesse ponto não se necessita mais 
nenhum conselho. Agora você precisa agir com base no que Deus disse.
Todavia, fazendo isso você coloca toda a responsabilidade da 
decisão sobre os seus ombros. Você mesmo determinou qual é a von­
tade de Deus. Isto não é mau, a menos que você tenha reclamado 
erroneamente a promessa. A precaução consiste em garantir que você 
dê tempo e oração suficientes para tornar a promessa uma convicção 
em sua alma, de que é verdadeiramente isso que Deus quer.
3 Princípios Gramaticais de Interpretação
Os princípios gramaticais tratam das palavras do texto propria­
mente ditas. Como você deverá entender as palavras e frases das 
passagens em estudo? Que regras básicas devem ser lembradas no 
trato do texto? Estes princípios respondem a essas questões.
* ★ *
Nos afazeres diários da vida, ne­
nhuma pessoa séria, conscienciosa, 
pretende que o que diz ou escreve 
tenha diversidade de sentidos. Ao con­
trário, deseja que o sentido óbvio e 
verdadeiro seja compreendido por seus 
ouvintes ou leitores. Se você fosse 
dizer a um auditório: “ Atravessei o 
oceano dos Estados Unidos à Europa” , 
não gostaria que interpretassem a sua 
afirmação como significando que você
REGRA
DEZ
A Escritura 
tem somente um 
sentido, e deve 
ser tomada 
literalmente.
Princípios Gramaticais de Interpretação 37
atravessou as difíceis águas da vida até o porto de uma nova experiên­
cia. Semelhantemente, nenhum jornalista gostaria de escrever sobre a 
fome e os sofrimentos de um país como a Índia e ver as suas palavras 
interpretadas com o sentido de que o povo da Índia está experimen­
tando grande fome intelectual.
Por mais ridículo que isso pareça, grande parte da igreja ecumê­
nica faz precisamente isso em sua interpretação da Bíblia. Chamam-lhe 
emprego de “ palavras conotativas” . Exemplo: não empregam reconci­
liação no sentido bíblico de um homem reconciliar-se com Deus. Tiram 
a palavra de passagens bíblicas, dão-lhe o sentido que querem, e falam 
de reconciliação de homem com homem. Redenção não é empregada 
no sentido escriturístico de o homem ser salvo do pecado e do castigo. 
Em vez disso, tomam essa palavra de um texto bíblico, dão-lhe dife­
rente “ conotação” , e opinam que ela tem que ver com melhoria socio­
lógica e cultural.
Para comunicar, você precisa presumir (1) que o verdadeiro pro­
pósito da palavra é transmitir pensamento, e (2) que a língua é um 
meio de comunicação digno de confiança.
Portanto, a interpretação literal, no contexto, é a única interpre­
tação verdadeira. Se você não tomar literalmente a passagem, todos 
os tipos de interpretação fantasiosa podem resultar disso.
Quando você encontrar uma passagem para a qual o contexto 
indica uma interpretação literal,, e você preferir dar-lhe outra interpre­
tação, não literal, avalie cuidadosamente os seus motivos. Com toda a 
sinceridade que lhe for possível, responda as seguintes perguntas:
1. Estarei pondo em dúvida que esta passagem é literal porque 
não quero obedecer-lhe? Por exemplo, Paulo diz: “ Conservem-se as 
mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas 
estejam submissas como também a lei o determina” (1 Coríntios 
14.34). Você responde dizendo que isso era questão de cultura, impor­
tante nos dias de Paulo, não porém em nossos dias. O que o levou a 
essa conclusão? O desejo de não fazer o que a Bíblia manda, ou o 
desejo sincero de agradar a Deus e cumprir os Seus mandamentos? Se 
for o primeiro, você estará pisando em terreno movediço e precisará 
encarar a questão do senhorio em sua vida. Se for o segundo, você 
estará livre para continuar o seu estudo e ver se as regras de interpre­
tação autorizam essa conclusão.
2. Estarei interpretando esta passagem figuradamente porque ela 
não se enquadra na minha tendência teológica preconcebida? Um inci­
dente do Velho Testamento dá-nos um exemplo: “ Então [Eliseu] 
subiu dali a Betei; e, indo ele pelo caminho, uns rapazinhos saíram da
38 Princípios de Interpretação da Bíblia
cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: ‘Sobe, calvo; sobe, calvo!’ 
Virando-se ele para trás, viu-os e os amaldiçoou, em nome do Senhor; 
então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois 
daqueles meninos” (2 Reis 2.23,24). A sua reação imediata talvez seja 
que jamais Deus poderia permitir que ocorresse um incidente dessa 
espécie. Deus não é assim! Uma vez mais você precisa fazer uma 
pausa e analisar os seus motivos. Sua reação a essa passagem nasceu 
da sua perplexidade em face do que se relata que Deus fez? Se a sua 
conclusão é resultado da sua tentativa de fazer Deus comportar-se 
como você acha que Ele deve comportar-se, outra vez está errada toda 
a sua abordagem da interpretação. Você é servo de Deus. A sua tarefa 
é entender quem Ele é e o que Ele espera. O objetivo do seu estudo 
da Bíblia não é confirmar as suas idéias daquilo a que Deus se 
assemelha.
A aplicação das regras de interpretaçãosempre deve basear-se 
num motivo correto.
Assim, determine qual é o sentido usual e ordinário da palavra e 
considere esse o significado correto, a menos que o contexto exija 
outra coisa.
Nenhuma afirmação deve ser considerada como tendo mais de um 
sentido. Nenhuma palavra pode significar mais que uma coisa, segun­
do o emprego dela feito na passagem. A mesma palavra pode, todavia, 
variar de sentido dentro da mesma sentença, quando usada mais de 
uma vez. Exemplo disto: “ Deus é espírito; e importa que os seus 
adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4.24). Espírito 
é empregada duas vezes neste versículo. Na primeira vez refere-se ao 
Espírito Santo, pois diz: “ Deus é espírito” , e o Espírito Santo é Deus. 
No segundo emprego da palavra espírito pode-se depreender do con­
texto que ela se refere, não a Deus, mas à totalidade da pessoa no 
íntimo — o seu ser interior essencial, o seu coração. A palavra espírito 
muda de sentido, mas a palavra não pode significar mais que uma 
coisa por vez. Isto é, espírito, segundo o emprego feito desta palavra 
na primeira vez, só pode significar Deus. Jamais pode significar qual­
quer outra coisa.
Quando uma passagem ou palavra parece ter mais de um sentido, 
escolha a interpretação mais clara. O significado mais óbvio geral­
mente é o correto.
Quebra-se esta regra com freqüência. Por exemplo, na alimenta­
ção dos 5000 feita por Jesus, a maioria das pessoas, lendo o relato, 
aceita que ele significa o que diz. Entretanto, alguns intérpretes pre­
tendem fazer-nos acreditar que o real significado da passagem é que 
Jesus extraiu das multidões um latente espírito de generosidade. Quan­
Princípios Gramaticais de Interpretação 39
do viram que o menino compartilhou o seu almoço, seguiram o seu 
exemplo tirando os alimentos de sob os seus mantos.
Antes de ficarmos muito severos com os que fazem mau uso da 
Escritura desse jeito, devemos examinar as nossas próprias práticas. O 
livro de Juizes relata a história do voto que Jefté fez a Deus. Se Deus 
lhe concedesse a vitória, ele ofereceria em sacrifício a primeira coisa 
que encontrasse ao voltar para casa. O que encontrou foi a sua amada 
filha. O voto de Jefté fora: “ Eu o oferecerei em holocausto” , ou seja, 
oferta queimada (Juizes 11.31). Depois o registro afirma que “ lhe fez 
segundo o voto por ele proferido” (11.39). Você pode facilmente ficar 
perplexo com tais histórias e concluir que não se passaram exatamente 
como foram escritas.
O pensamento de um homem oferecendo a própria filha em sacri­
fício ao Deus das Escrituras é, para dizer o mínimo, repulsivo. Como 
seria fácil tomar as ferramentas da interpretação e tirar uma conclusão 
diferente. Quando você se sentir sob tal compulsão, lembre-se desta 
importante regra de interpretação: A Escritura tem somente um sen­
tido, e deve ser tomada literalmente.
Nos dias finais do ministério de 
Jesus, Ele contou várias parábolas so­
bre o reino dos céus. Uma delas é a 
parábola das dez virgens (Mateus 
25.1-13). Cinco eram sábias porque 
tinham azeite suficiente para as suas 
lâmpadas, e cinco eram néscias por­
que não tinham. Por que se usava a 
lâmpada nas antigas festas de casa­
mento? Com que se assemelhava? 
Estas são algumas perguntas que o 
estudante deve fazer quando estudar 
essa passagem. Aí está um exemplo na necessidade de entender o sen­
tido e o uso da palavra na época em que foi escrita.
Determinar o correto sentido das palavras da Bíblia não é parti­
cularmente difícil hoje em dia. Muitas excelentes traduções estão a 
disposição, e quando o sentido de uma palavra não ficar claro com 
elas, um bom dicionário bíblico será proveitoso.
Ocasionalmente o escritor bíblico dará seu próprio significado a 
uma palavra em particular. Por exemplo, Jesus expulsou “ os cam­
bistas” (João 2.14) do templo. Os judeus não gostaram disso e come­
çaram a argüí-lo. Jesus respondeu-lhes dizendo: “ Destruí este santuá­
rio, e em três dias o reconstruirei” . Disseram os judeus: “ Em quarenta
REGRA
ONZE
Interprete 
as palavras no 
sentido que 
tinham no tempo 
do autor.
40 Princípios de Interpretação da Bíblia
e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levanta­
rás?” Naturalmente Jesus estava falando do “ santuário” do Seu corpo 
(João 2.19-21).
Diz-nos João que o santuário a que Jesus se referiu era o Seu 
corpo. Dá-nos aqui o sentido da palavra santuário. Pouco antes, João 
falara dos “ cambistas” . Não explicou quem eram e o que faziam, de 
modo que você precisa pesquisar para encontrar pessoalmente a res­
posta. Recorrendo a um dicionário bíblico ou a um comentário do 
Evangelho de João, você encontrará a sua resposta.
Paulo interpreta o sentido de mim no testemunho que dá de suas 
lutas: “ Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita 
bem nenhum: pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efe­
tuá-lo” (Romanos 7.18). Mim pode referir-se à vontade, ao intelecto, 
ao homem espiritual ou ao homem físico. Ou pode referir-se à pessoa 
completa. Paulo aqui limita o uso dessa palavra e nos diz o seu sen­
tido exato.
Quando estudar uma passagem, nunca pule palavras que não com­
preende. Uma idéia errônea quanto ao significado de uma única pa­
lavra pode facilmente obscurecer o sentido da sentença e possivel­
mente do parágrafo inteiro. Mesmo as palavras que você acha que não 
entende devem ser investigadas.
Um exemplo disso está em Provérbios 29.18: “ Não havendo pro­
fecia o povo se corrompe” . Algumas versões trazem visão, em vez de 
profecia; outras, revelação. Visão é tradução pobre. A passagem se 
refere à necessidade de estar sob o ministério da Palavra para fins de 
restrição moral. Uma idéia errônea quanto ao significado da palavra 
visão obscurece o sentido da afirmação.
Quando você estudar uma palavra particular, deverá determinar 
quatro coisas:
1. O uso que dela fez o escritor. Ê-lhe possível fazer emocio­
nantes estudos de palavras no vernáculo, se você cuidar de cavar um 
pouco. Se a palavra é central para o pensamento do escritor no livro 
todo, poderá revelar-se da maior utilidade. A palavra pecado, por 
exemplo, é importante para o apóstolo João. Um estudo dessa palavra, 
na forma em que é empregada por ele em sua primeira epístola, aju­
dá-lo-á a compreender a carta toda.
2. Sua relação com o seu contexto imediato. Quase sempre o 
contexto lhe dirá muita coisa sobre a palavra.
Paulo e seus companheiros estavam ministrando em Filipos, quan­
do ele e Silas foram presos, açoitados e lançados na prisão. À meia- 
noite, enquanto os homens louvavam a Deus, um terremoto abriu as
Princípios Gramaticais de Interpretação 41
portas da prisão, e a impressão era de que todos os prisioneiros tinham 
fugido. O carcereiro estava a ponto de cometer suicídio, mas Paulo 
o deteve.
“ Então o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou precipitada­
mente e, trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas. Depois, tra­
zendo-os para fora, disse: ‘Senhores, que devo fazer para que seja 
salvo?’ Responderam-lhe: ‘Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e 
tua casa’ ” (Atos 16.29-31).
Que quis dizer o carcereiro quando usou a palavra salvo? Seria 
o mesmo sentido dado por Paulo no versículo 31? Visto que a tarefa 
deste livro não é a interpretação de certas passagens bíblicas, mas a 
apresentação de regras básicas de interpretação, você terá de estudar 
o contexto da narrativa para responder pessoalmente essas questões.
3. Seu uso corrente na época em que foi escrita. Isto exige estu­
do mais técnico. Geralmente uma tradução merecedora de confiança 
dá-lhe o melhor sentido da palavra, visto que a melhor erudição aca­
dêmica disponível na igreja está envolvida nessas traduções. Se dese­
jar ir além na pesquisa, poderá usar um bom comentário.
4. Seu sentido etimológico. Este modo final de estudar o sentido 
de uma palavra, em geral é para o estudante da Bíblia mais avançado. 
Há obras de consultas disponíveis que podem dar-lhe o fundo histó­
rico das palavras. A obra mais compreensiva é a que foieditada por 
Gerhard Kittel e Gerhard Friedrich, da qual existe tradução inglesa 
com o título de Theological Dictionary of the New Testament (Wm. B. 
Eerdmans Publishing Co., Grand Rapids, Michigan). Outras boas 
obras de consulta são, Word Studies in the New Testament, de Mar­
vin R. Vincent (Eerdmans) e The New International Dictionary of 
New Testament Theology, editado por Colin Brown (Zondervan). Uma 
obra menor, de um só volume, e que é excelente é An Expository 
Dictionary of New Testament Words, de W. E. Vine (Fleming H. 
Revell Co., Óld Tappan, New Jersey). Contudo, determinar o sentido 
etimológico de uma palavra não é a consideração mais importante, e 
você não deve ficar desanimado se achar que isso está além das suas 
possibilidades.
Mencionamos a existência e a bênção das traduções modernas. 
Todavia, muitas delas são mais paráfrases do que traduções preciosas, 
e, portanto, transparecem com freqüência nelas a interpretação e as 
tendências pessoais do tradutor. Enquanto o tradutor ou a comissão 
se entrega à autoridade e inspiração das Escrituras, o perigo não é 
muito sério. Toda vez, porém, que o texto original é alterado por amor 
da clareza, abre-se um precedente perigoso. Uma ilustração disso está
42 Princípios de Interpretação da Bíblia
na tradução de Gênesis 11.1, da New English Bible, que começa: “ Era 
uma vez” . A palavra hebraica é simplesmente e. A frase “ erà uma 
vez” é usada nos contos de fadas e sugere ao leitor que a história da 
construção da Torre de Babel não passa de ficção. Se a frase reflete 
a tendência do tradutor, é matéria de conjetura. A presença dela na 
Palavra de Deus é infeliz.
O uso das traduções modernas é proveitoso, mas quando você 
fizer um estudo sério, é melhor ficar com uma das traduções que me­
recem fé. São elas: A King James Version (KJV), a American Stan­
dard Version (ASV), a New American Standard Bible (NASB), e a 
New International Version (NIV). *
Ao interpretar uma palavra ou passagem, sua meta é determinar 
o sentido dela para o autor, quando a escreveu. Esforce-se para liber­
tar-se de todo e qualquer preconceito pessoal quando estudar uma 
passagem. O seu objetivo é compreender o pensamento do escritor, 
não o que você acha que ele devia ter dito.
Já anotamos que é importante 
estudar uma palavra em relação a seu 
contexto imediato (Regra 11). Isso é 
tão básico e essencial na interpretação 
da Bíblia, que o arrolamos como uma 
regra à parte. O melhor modo de 
explicá-la é com uma série de exem­
plos extraídos da Bíblia, quando ne­
cessário.
Começamos com a palavra fé. É 
palavra importante na Bíblia, especial­
mente no Novo Testamento. Vemos, 
em diferentes passagens. Numa carta Paulo Diz: “ Ouviam somente 
dizer: ‘Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé que outrora 
procurava destruir’ ” (Gálatas Í.23). Estudando o contexto, você vê 
que aí fé significa, “ a doutrina do Evangelho” .
Escrevendo aos romanos Paulo diz: “ Mas aquele que tem dúvidas, 
é condenado, se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o 
que não provém de fé é pecado” (Romanos 14.23). Aqui o contexto 
o leva a concluir que fé significa “ convicção de que é isto que Deus 
quer que você faça” .
REGRA
DOZE
Interprete 
a palavra em 
relação à
sua sentença e ao 
seu contexto.
* Em português, algumas boas traduções são: Almeida, Edição Revista e 
Corrigida; Almeida, Edição Revista e Atualizada no Brasil; e a Tradução Brasi­
leira. Nota do Tradutor.
Princípios Gramaticais de Interpretação 43
Aconselhando seu colaborador. Timóteo, Paulo diz: “ Mas, rejeita 
viúvas mais novas, porque, quando se tornam levianas contra Cristo, 
querem casar-se; tornando-se condenáveis por anularem o seu primeiro 
compromisso” — ou, como diz literalmente o original grego, “ puse­
ram de lado a sua primeira fé” (1 Timóteo 5.11,12). Aqui fé significa 
“ penhor ou promessa feita ao Senhor” . É claro que há relação entre 
os empregos da palavra fé nessas três passagens, mas as diferenças são 
suficientemente significativas para notar-se, a fim de compreender o 
que Paulo está dizendo.
Um segundo exemplo é o emprego da palavra sangue. Lucas 
registrou a mensagem que Paulo entregou aos atenienses na Colina de 
Marte. Nela Paulo diz: “ O Deus que fez o mundo e tudo o que nele 
existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários 
feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se 
de alguma cousa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, 
respiração e tudo mais; de um só [sangue]* fez toda raça humana 
para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos 
previamente estabelecidos e os limites da sua habitação” (Atos 
17.24-26). Estüdando-se o contexto fica evidente que sangue significa 
um grupo de pessoas.
Paulo escreveu sobre a salvação que temos mediante Cristo: “ No 
qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segun* 
do a riqueza da sua graça” (Efésios 1.7). A palavra sangue aqui se 
refere à morte expiatória de Cristo.
Noutra parte da Escritura lemos: “ Ora, depois de tudo isto assim 
preparado, continuamente entram no primeiro tabernáculo os sacerdo­
tes, para realizar os serviços sagrados; mas no segundo o sumo sacer­
dote, ele sozinho, uma vez por ano, não sem sangue, que oferece, por 
si e pelos pecados de ignorância do povo” (Hebreus 9.6,7). Aqui 
sangue se refere ao fluido que circula nas veias e artérias dos animais 
levando nutrição ao corpo.
Usando uma diferente espécie de ilustração, observamos a exorta­
ção feita por Paulo à igreja de Corinto: “ Quanto ao que me escreves­
tes, é bom que o homem não toque mulher” (1 Coríntios 7.1).
Alguns usam este versículo para sustentar a idéia de que o homem 
nunca deve tocar mulher em nenhum tipo de contato corporal. Con­
tudo, o contexto fala da necessidade de abstenção da imoralidade 
sexual. Neste sentido o homem não deve “ tocar mulher” . Seria errô-
* Na versão usada pelo autor, o versículo 26 começa: “E de um sangue 
f ez . . Nota do Tradutor.
44 Princípios de Interpretação da Bíblia
neo concluir que o homèm nunca deve tocar mulher, como num 
aperto de mãos cumprimentando-a. Em seu estudo pessoal desta pas­
sagem você poderia concluir que, a fim de manter a pureza sexual, o 
Senhor quer que você evite contato com pessoa do sexo oposto. Toda­
via, seria errado tornar esta aplicação normativa para toda gente.
Os manuscritos antigos dos quais fazemos nossas traduções da 
Bíblia, não têm sinais de pontuação. Não há pontos, vírgulas, pará­
grafos, versículos e capítulos. Estes foram introduzidos depois pelos 
tradutores, para clareza e facilidade do estudo. Quando você fizer o 
seu estudo, é bom lembrar isso. O contexto nem sempre se acha 
dentro dos limites do versículo ou do capítulo. Talvez seja necessário 
incluir versículos do capítulo anterior ou posterior.
Este estudo do contexto para determinar o sentido exato de uma 
palavra é uma das mais importantes e fundamentais regras de inter­
pretação. Você se verá a consultá-lo a cada passo em seu estudo da 
Bíblia.
Cada escritor da Bíblia teve uma 
razão particular para escrever seu(s) 
livro(s). Ao desenrolar-se o argumento
do escritor, há conexão lógica entre 
uma seção e a seguinte. Você precisa 
encontrar o propósito global do livro 
a fim de determinar o sentido de pa­
lavras ou passagens particulares no 
livro. Estas quatro perguntas o aju­
darão:
1. Como a passagem se relaciona com o material circunvizinho?
2. Como se relaciona com o restante do livro?
3. Como se relaciona com a Bíblia como um todo?
4. Como se relaciona com a cultura e com o quadro de fundo 
em que foi escrita? Esta quarta pergunta será tratada de maneira mais 
compreensiva sob o título, Princípios Históricos de Interpretação (Ca­
pítulo 4), mas é importante considerá-la aqui também.
Responder essas quatro questões é especialmente importante 
quando você está tentando interpretar uma passagem difícil. Um 
exemplo é esta passagem: “ Todo aquele que permanece nele [em 
Cristo] não vive pecando;todo aquele que vive pecando não no viu, 
nem o conheceu. Filhinhos, não vos deiteis enganar por ninguém; 
aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele 
que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando
REGRA
TREZE________
Interprete 
a passagem em 
harmonia com 
o seu contexto.
Princípios Gramaticais de Interpretação 45
desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus, para des­
truir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive 
na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; 
ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus. Nisto 
são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que 
não pratica justiça não procede de Deus, também aquele que não ama 
a seu irmão” (1 João 3.6-10).
Ao ler pessoalmente esta passagem, você poderia concluir que o 
cristão nunca peca. Ou, se peca, não pode ser crente, pois “ aquele 
que vive pecando não no viu [a Cristo], nem o conheceu” (versículo 
6). Se for esta a interpretação correta, então só Jesus pode entrar no 
céu, pois Ele é a única pessoa sem pecado que já andou na terra — 
quer dentre os cristãos, quer dentre os não-cristãos.
Que significa esta passagem? Como você deverá interpretá-la? 
Deverá interpretá-la à luz do contexto, e responder estas quatro per­
guntas que o ajudarão a fazê-lo.
Pode-se ver outro exemplo disto nos quatro evangelhos. Eles têm 
muitas coisas em comum, não sendo a menor delas o fato de que todos 
os quatro dão um relato da vida, ministério, crucifixão e ressurreição 
de Jesus Cristo. Entretanto, a ênfase de cada um é diferente. A com­
preensão desta diferença o ajudará no estudo das partes.
Em Mateus vemos Jesus como Rei. Ele é o cumprimento de todas 
as profecias messiânicas do Velho Testamento. Assim você encontra 
numerosas citações do Velho Testamento em Mateus.
Em Marcos, Jesus é retratado como Servo. A ênfase deste evan­
gelho é nos feitos de Cristo. Não consta nenhuma genealogia, pois 
quem está interessado na genealogia de um servo?
Em Lucas, Jesus é o Filho do homem. Aqui notamos a ênfase 
dada à Sua humanidade. Sua genealogia vai até Adão, o primeiro 
homem.
Em João vemos Jesus como o Filho de Deus. O evangelho começa 
revelando-o como a Palavra eterna: “ Ele estava no princípio com 
Deus” (João 1.2).
Isso não é dar a idéia de que os ensinamentos de um evangelho 
não podem ser vistos nos outros três. Muito ao contrário. A ênfase 
de cada um deles é diferente. Você precisa estudar globalmente cada 
evangelho para captar a vista panorâmica pintada nele. Deste modo 
você verá a singularidade de cada um, e estará mais capacitado para 
interpretar os acontecimentos e os ensinos nele, registrados.
Não há como exagerar a importância deste princípio. É uma das 
regras essenciais de interpretação.
46 Princípios de Interpretação da Bíblia
As grandes passagens “ Eu sou” 
do Evangelho Segundo João ilustram 
esta regra. Disse Jesus:
“ Eu sou o pão da vida” (João 
6.35).
“ Eu sou a luz do mundo” (8.12). 
“ Eu sou a porta das ovelhas” 
(10.7).
Jesus não é pão nem porta no 
sentido literal. Uma vez que um objeto 
inanimado como o pão é usado para 
descrever o Salvador, você pode con­
cluir que pão deve ser tomado figura­
da, e não literalmente.
Muitos exemplos como estes se 
acham na Bíblia inteira. O salmista escreve: “ O justo florescerá como 
a palmeira, crescerá como o cedro do Líbano” (Salmo 92.12). A pes­
soa justa é comparada com árvores — palmeira, cedro. Obviamente é 
linguagem figurada; um objeto inanimado é usado para descrever um 
ser vivo. É importante ter clara compreensão da coisa em que se 
baseia a figura ou da qual é feita imitação. No presente exemplo, o 
seu estudo será enriquecido pela compreensão das características da 
palmeira e do cedro e de como essas árvores crescem.
Pode-se tirar outro exemplo da grande oração de Davi em que 
ele pede perdão. “ Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, 
e ficarei mais alvo que a neve” (Salmo 51.7). Que é hissopo, e como 
era usado naquele tempo? Um estudo do cerimonial de purificação 
usado em Israel ajudá-lo-á a fazer apreciação mais completa daquilo 
por que orava Davi.
De vez em quando você encontrará uma passagem sobre a qual 
há desacordo na igreja quanto à sua interpretação figurada ou literal. 
Para uma ilustração disso, note as palavras de Jesus com relação à 
Santa Ceia. “ Enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, 
o partiu e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Tomai, comei; isto é o meu 
corpo.’ A seguir tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos 
discípulos, dizendo: ‘Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o 
sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remis­
são de pecados” (Mateus 26.26-28).
O apóstolo Paulo, explicando o significado da Mesa do Senhor 
aos coríntios, virtualmente emprega as mesmas palavras. “ Porque eu 
recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na 
noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu 
e disse: ‘ Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em me­
REGRA
QUATORZE
Quando um 
objeto inanimado 
é usado para 
descrever um ser 
vivo, a proposição 
pode ser 
considerada 
figurada.
Princípios Gramaticais de Interpretação 47
mória de mim.’ Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou 
também o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue; 
fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.’ Porque 
todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a 
morte do Senhor, até que ele venha” (1 Coríntios 11.23-26).
O pão e o cálice referentes ao corpo e ao sangue de Jesus devem 
ser tomados figurada ou literalmente? A igreja se dividiu, e continua 
a dividir-se, por várias interpretações sobre como se devem entender 
o pão e o vinho. Você deve ler as passagens paralelas, ler o que outros 
crêem quanto ao sentido do texto e por quê, e então formar as suas 
próprias convicções. Contudo, você deve dar lugar à tolerância para 
com a convicção dos outros quanto à maneira como entendem o signi­
ficado da comunhão.
* * *
Eis um corolário desta regra:
Quando se atribuem vida e ação a objetos inanimados, a propo­
sição pode ser considerada figurada.
Visto que este é o mesmo princípio examinado de outra maneira, 
um exemplo o colocará em foco.
Disse Miquéias: “ Ouvi, montes, a controvérsia do Senhor, e vós, 
duráveis fundamentos da terra; porque o Senhor tem controvérsia com 
o seu povo, e com Israel entrará em juízo” (Miquéias 6.2). Quando o 
escritor sugere que os montes podem ouvir, isto se deve tomar figura­
damente. Não está insinuando que os montes ouvem e reagem como 
os seres humanos.
A aplicação desta regra e seu corolário em seu estudo da Bíblia 
virá muito naturalmente. Na maioria das vezes o contexto lhe dirá 
imediatamente se um objeto inanimado é usado para descrever um ser 
animado, ou como se possuísse vida e ação.
Um grupo de judeus foi atrás de 
Paulo através da Galácia ensinando 
que os cristãos tinham de ser circun­
cidados para serem salvos. Foram 
objeto da ira de Paulo em sua Epís­
tola aos Filipenses. “ Acautelai-vos dos 
cães! acautelai-vos dos maus obreiros! 
acautelai-vos da falsa circuncisão! Por­
que nós é que somos a circuncisão, 
nós que adoramos a Deus no Espírito, 
e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não 
confiamos na carne” (Filipenses 3.2,3). 
Quando Paulo adverte seus leitores a 
terem cuidado com os cães, o contexto
REGRA
QUINZE
Quando uma 
expressão não 
caracteriza a coisa 
descrita, a 
proposição pode 
ser considerada 
figurada.
48 Princípios de Interpretação da Bíblia
não nos autoriza a concluir que ele está falando daqueles bichos 
peludos de quatro patas usados como animais de estimação no mundo 
ocidental. Está se referindo àqueles que insistiam em impor aos cristãos 
gentílicos todas as ordenanças do Velho Testamento. Portanto, a 
palavra cães deve ser interpretada figuradamente.
Jesus rumava para Jerusalém,ensinado pelo caminho, quando 
alguns fariseus o avisaram de que o rei Herodes se dispunha a ma­
tá-lo. A essa advertência respondeu Jesus: “ Ide dizer a essa raposa 
que hoje e amanhã expulso demônios e curo enfermos, e no terceiro 
dia terminarei” (Lucas 13.32). Raposa refere-se a Herodes; sabemos 
pelas demais partes dos evangelhos que Herodes não é o nome de uma 
raposa, mas de um mau rei, daquele que decapitara João Batista. Daí, 
podemos concluir que a palavra raposa deve ser interpretada de modo 
figurado, e não literal.
Normalmente o contexto lhe dirá se a proposição é figurada ou 
literal, bem como a quem se refere. Se você estudar passagens para­
lelas sobre o assunto, muitas vezes elas o ajudarão a encontrar a inter­
pretação adequada. Por exemplo, disse João Batista, a respeito de 
Jesus: “ Eis o Cordeiro de Deus” (João 1.36). Esta mesma frase é 
empregada por Isaías em sua grandiosa passagem messiânica: “ Ele 
foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi 
levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante os seus tosquia- 
dores, ele não abriu a boca” (Isaías 53.7). Aí o Messias é mencionado 
como um cordeiro levado para o matadouro. Esta e outras passagens 
correlatas das Escrituras corroboram a idéia de que cordeiro é uma 
expressão figurada referente a Cristo.
Às vezes a mesma palavra pode ser usada figuradamente, mas 
com sentidos diferentes em diferentes lugares da Bíblia. Por exemplo, 
diz Pedro: “ Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda 
em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” 
(1 Pedro 5.8). Aqui o contexto lhe diz que leão se refere a Satanás.
Diz o apóstolo João: “ Todavia um dos anciãos me disse: ‘Não 
chores: eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para 
abrir o livro e os seus sete selos’ ” (Apocalipse 5.5). Aqui também é 
empregado o termo leão, mas o contexto indica que se refere a Cristo. 
Eitt geral, pelo contexto você pode chegar à interpretação correta.
Com muita freqüência se emprega linguagem figurada para des­
crever Deus. Em Seu empenho por comunicar-se com o homem, 
Deus se descreve com qualidades humanas ,̂ Diz o cronista: “ Porque, 
quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se 
forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele; nisto proce­
Princípios Gramaticais de Interpretação 49
deste loucamente, por isso desde agora haverá guerras contra ti” (2 
Crônicas 16.9). A frase, “ quanto ao Senhor, seus olhos” é figurada.
Ainda, disse Deus a Seu servo Moisés: “ Depois, em tirando eu a 
mão, tu me verás pelas costas; mas a minha face não se verá” (Êxodo 
33.23). As palavras mão, costas e face devem ser interpretadas figu­
radamente.
Para Deus falar conosco, precisa usar figuras e ima­
gens humanas a fim de comunicar a verdade divina. Em 
nenhum outro lugar isso é tão evidente como no taber­
náculo do Velho Testamento e nas parábolas do Novo. Nas 
duas situações há um veículo (o terrenal, humano) que leva 
a compreensão da verdade espiritual. A nossa compreensão 
do mundo espiritual é analógica. O fato da onipotência de 
Deus é dito em termos de braço direito porque entre os 
homens o braço direito é o mais forte dos dois, e com ele 
se vibram os golpes mais decididos. Fala-se da preeminên­
cia em termos de sentar-se à destra de Deus porque nas si­
tuações sociais da terra esse é o lugar de honra. O juízo é 
descrito em termos de fogo porque a dor causada por quei­
madura é a mais intensa que se conhece em nossa experiên­
cia mais geral, e o bicho que rói é um símbolo daquilo que 
é moroso, persistente, sem dó e doloroso. Semelhantemente, 
as glórias do céu são mencionadas nos termos da experiên­
cia humana — custosas estruturas de ouro, prata, jóias, 
ausência de lágrimas, ausência da morte, a árvore da vida, 
etc. A questão quanto a se as descrições do céu e do inferno 
não são literais ou simbólicas não é o ponto. Em qualquer 
dos casos elas são reais, por exemplo, seja no caso de fogo 
literal, seja no caso de sofrimento espiritual do qual o 
fogo é o símbolo mais próximo.*
Em conclusão, observe duas coisas importantes:
1. Uma palavra não pode significar mais de uma coisa de cada 
vez. Não pode ter sentido figurado e literal ao mesmo tempo. Quando 
se dá a uma palavra um sentido figurado, como no caso das ilustra­
ções usadas para esta regra, cancela-se o sentido literal da palavra.
2. Sempre que possível, a passagem deve ser interpretada literal­
mente. Só se o sentido literal da palavra não se enquadrar é que 
deverá ser interpretada figuradamente. É sempre preferível o sentido 
literal da palavra, a menos que o contexto o impossibilite.
* De Protestant Biblical Interpretation (Interpretação Protestante da Bíblia), 
de Bernard Ramm, Baker Book House, Grand Rapids, Michigan.
50 Princípios de Interpretação da Bíblia
O ministério de nosso Senhor 
Jesus foi especialmente rico de pará­
bolas. Ele as empregava para dar ên­
fase colorida e dinâmica as verdades 
espirituais. Esta regra lhe recomenda 
que não ultrapasse os pretendidos li­
mites da parábola; não queira fazê-la 
dizer mais do que foi destinada a dizer 
Uma olhada num par de parábolas 
ajuda-nos a definir os seus limites.
A primeira é a parábola do se­
meador.
“ Afluindo uma grande multidão e 
vindo ter com ele gente de todas as 
cidades, disse Jesus por parábola: ‘Eis 
que o semeador saiu a semear. E, ao 
semear, uma parte caiu à beira do 
caminho; foi pisada e as aves do céu 
a comeram. Outra caiu sobre a pedra; 
e, tendo crescido, secou, por falta de umidade. Outra caiu no meio 
dos espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a sufocaram. Outra, 
afinal, caiu em boa terra; cresceu e produziu a cento por um.’
“ Dizendo isto clamou: ‘Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” ’ 
“ E os seus discípulos o interrogaram dizendo: ‘Que parábola é 
esta?’ Respondeu-lhes Jesus: ‘A vós outros é dado conhecer os mis­
térios do reino de Deus; aos mais fala-se por parábolas, para que 
vendo não vejam, e ouvindo não entendam.” ’
“ Este é o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. A 
que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem a seguir o 
diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, 
crendo, sejam salvos. A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a 
palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por 
algum tempo, e na hora da provação se desviam.
A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos 
dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os 
seus frutos não chegam a amadurecer. A que caiu na boa terra são 
os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes 
frutificam com perseverança” (Lucas 8.4-15).
Esta é uma boa parábola para estudar porque Jesus nos dá a 
interpretação visada. Estes versículos podem, ser divididos em dois 
parágrafos: a parábola propriamente dita (versículos 4-9) e sua inter­
pretação dada por Jesus (versículos 10-15). As partes principais da
REGRA
DEZESSEIS
As principais 
partes e figuras 
de uma parábola 
representam 
certas realidades. 
Considere 
somente essas 
principais partes 
e figuras quando 
estiver tirando 
conclusões.
Princípios Gramaticais de Interpretação 51
parábola, como Jesus deixa claro em Sua explicação, são a semente 
e os tipos de solo em que a semente foi semeada. Embora seja fre­
qüentemente intitulada parábola do semeador, o semeador não é a sua 
principal personagem. Aparece acidentalmente na história.
O propósito da parábola é ilustrar os diferentes tipos de resposta 
que a Palavra recebe quando é proclamada. Quando você estudar a 
parábola, não estenda o propósito dela além da intenção do autor.
A segunda parábola é a história do bom samaritano, contada por 
Jesus.
“ Certo homem descia de Jerusalém para Jericó, e veio cair em 
mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe cau­
sarem muitos ferimentos, retiraram-se deixando-o semimorto. Casual­
mente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o,passou de largo. Semelhantemente um levita descia por aquele lugar 
e, vendo-o, também passou de largo. Certo samaritano, que seguia o 
seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, che- 
gando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, 
çolocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria 
e tratou dele.”
“ No dia seguinte tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, 
dizendo: ‘Cuida deste homem e, se alguma cousa gastares a mais, eu 
to indenizarei quando voltar’ ” (Lucas 10.30-35).
Quando você interpretar esta ou alguma outra parábola, siga este 
processo:
1. Determine o propósito da parábola. Neste exemplo a chave 
está na pergunta inicial. “ Ele, porém, querendo justificar-se, pergun­
tou a Jesus: ‘Quem é o meu próximo?’ (versículo 29).
2. Certifique-se de que explica as diferentes partes em harmonia 
com o fim principal. Nesta parábola havia a necessidade, havia aque­
les que deviam satisfazer a necessidade, mas não o fizeram, e houve 
a satisfação da necessidade, satisfação provinda de uma fonte ines­
perada. Estes pontos ilustram o universal dever de bondade e de 
fazer o bem.
3. Use somente as principais partes da parábola ao explicar a 
lição. É quando as pessoas tentam interpretar os pormenores que o 
erro pode insinuar-se facilmente. Não faça a parábola falar demais. 
Por exemplo, você pode ser tentado a opinar que o óleo e o vinho" 
simbolizam o Espírito Santo e o sangue de Cristo (versículo 34), os 
dois ingredientes necessários para a salvação. Fazer isso é ir além do 
propósito visado pela parábola.
Determine a principal intenção da parábola e fique com isso. Com 
algumas parábolas achará fácil fazê-lo. Por exemplo, Jesus perguntou:
52 Princípios de Interpretação da Bíblia
“ A que compararei o reino de Deus? É semelhante ao fermento que 
uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar 
tudo levedado” (Lucas 13.20,21). Fermento é uma figura que designa 
uma realidade, o reino dos céus. Com outras parábolas você precisará 
estudar mais, antes de tirar as suas conclusões.
Cada parábola tem um principal ponto de comparação. Procure 
relacionar esse ponto com aquilo que o orador estava ensinando.
Em alguns aspectos a profecia é 
para o cristão o que a política é para 
o homem secular — fonte de muita 
controvérsia, acaloramento e emoção. 
Esta regra de interpretação não se des­
tina a influir em suas convicções sobre 
profecia, mas simplesmente estabelecer 
um roteiro para a formação das suas 
convicções. Uma das regras já estu­
dadas afirma que “ A Escritura tem 
somente um sentido, e deve ser toma­
da literalmente” (Regra 10, pág. 37).
A profecia' deve ser interpretada 
literalmente, a menos que o contexto 
ou alguma referência posterior na Es­
critura indique outra coisa. Um exem­
plo de um ponto na Escritura em que 
uma referência posterior na Escritura 
indica que não pode ser tomada lite­
ralmente é a profecia de Malaquias a 
respeito do precursor de Cristo. “ Eis 
que eu vos enviarei o profeta Elias, 
antes que venha o grande e terrível 
dia do Senhor; ele converterá o cora­
ção dos pais aos filhos, e o coração 
dos filhos a seus pais; para que eu não 
venha e fira a terra com maldição” 
(Malaquias 4.5,6).
Diz Malaquias que Deus enviará “ o profeta Elias” . Quando apa­
receu João Batista como o precursor de Jesus Cristo, gerou-se muita 
confusão, o que mostra que o povo daquele tempo esperava que a 
profecia iria cumprir-se literalmente. Contudo, Jesus disse que essa 
profecia deveria ter cumprimento figurado, e não literal.
REGRA
DEZESSETE
Interprete as 
palavras dos 
profetas no seu 
sentido comum, 
literal e histórico, 
a não ser que o 
contexto ou a 
maneira como se 
cumpriram indi­
quem claramente 
que têm sentido 
simbólico.
O cumprimento 
delas pode ser por 
etapas, cada 
cumprimento sen­
do uma garantia 
daquilo que há de 
seguir-se.
Princípios Gramaticais de Interpretação 53
Uma ocasião Jesus afirmou: “ Todos os profetas e a lei profetiza­
ram até João. E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que 
estava para vir” (Mateus 11.13,14). Outra ocasião, quando Seus dis­
cípulos Lhe perguntaram: “ Por que dizem, pois, os escribas ser ne­
cessário que Elias venha primeiro?” , Ele respondeu: “ De fato Elias 
virá e restaurará todas as cousas. Eu, porém, vos declaro que Elias 
já veio, e não o reconheceram, antes fizeram com ele tudo quanto 
quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer nas mãos 
deles” . Finalmente os discípulos entenderam que Jesus chamara João 
Batista de Elias (Mateus 17.10-13). João Batista foi o cumprimento da 
profecia de Malaquias.
Essas ilustrações constituem a exceção, e não a regra, na inter­
pretação de profecia. Na maior parte, as profecias podem e devem 
ser interpretadas literalmente. Pode ser que haja ocasiões em que você 
pode fazer derivar dois sentidos aparentes de uma profecia. Dê pre­
ferência àquele que teria sido mais óbvio para a compreensão dos 
ouvintes originais.
Também haverá ocasiões em que um escritor do Novo Testa­
mento dará a uma passagem do Velho Testamento uma interpretação 
profética quando a passagem do Velho Testamento não parece ser 
profética. Você achará um exemplo disto em Oséias. Israel tinha-se 
afastado de Deus e se fez referência a ele como a esposa adúltera do 
Senhor. Deus falavra a Israel quando disse: “ Quando Israel era me­
nino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho” (Oséias 11.1). Os 
ouvintes originais poderiam concluir, e com acerto, que isto se referia 
à libertação de Israel do Egito sob Moisés. Mateus, porém, cita esta 
passagem e diz que ela é profética sobre Jesus Cristo, quando José e 
Maria voltaram com Ele para Nazaré. “ E lá [no Egito] ficou até à 
morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo 
Senhor, por intermédio do profeta: ‘Do Egito chamei o meu filho’ 
(Mateus 2.15).
Notamos que a passagem de Oséias é profética porque Mateus, 
escrevendo por inspiração do Espírito Santo, diz que é. No seu estudo 
da Bíblia você não pode tomar estas liberdades. Mateus podia porque 
escreveu por inspiração do Espírito, e o Espírito sabia a correta inter­
pretação de Oséias, visto que o inspirou também. Todavia, Mateus 
não lhe conta por que usa desse modo a profecia de Oséias.
Muitas vezes uma profecia se cumpre parcialmente numa geração, 
com o restante cumprindo-se noutra época. Na ocasião em que a pro­
fecia é dada, isto não é perceptível. Fica claro quando uma parte se 
cumpre e outra não. É muito semelhante com o que acontece quando 
você olha para as montanhas e vê apenas a primeira fileira delas. 
Quando os profetas olhavam para a vinda do Messias, viam os Seus
54 Princípios de Interpretação da Bíblia
dois adventos como um só. Quando você sobe uma montanha e desce 
ao vale do outro lado, vê outra fileira de montanhas. Olha para trás, 
e vê uma fileira; olha para a frente, e vê outra. Os cristãos de hoje 
são um tanto parecidos com isto, no sentido de que ficam entre os 
dois adventos de Cristo. Atrás de nós ficou a Sua primeira vinda; em 
frente de nós está a Sua segunda vinda.
Num par de profecias podemos ver que foi isso que aconteceu. 
Deus profetizou mediante Joel: “ E acontecerá depois que derramarei 
o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas pro­
fetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até 
sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles 
dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra; sangue, fogo e colunas 
de fumo. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes 
que venha o grande e terrível dia do Senhor. A acontecerá que todo 
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Joel 2.28-32).
Pedro cita exatamente estas palavras no dia de Pentecoste (Atos 
2.15-21). Quando o Espírito desceu sobre a igreja, Pedro disse: “ Mas 
o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel” (Atos 
2.16). De fato o Espírito foi derramado sobre eles. Mas, quando foi 
que o sol se converteuem trevas e a lua em sangue, antes da vinda 
do “ grande e terrível dia do Senhor” ? Esta porção da profecia de 
Joel se refere ao segundo advento e se cumprirá no futuro. Na pers­
pectiva de Joel os dois adventos pareciam um só.
Podemos observar a mesma coisa na profecia de Isaías concer­
nente ao Messias. “ O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, por­
que o Senhor me ungiu, para pregar boas-novas aos quebrantados, 
enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação 
aos cativos, e a pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano 
aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar 
todos os que choram” (Isaías 61.1,2).
Jesus estava na cidade de Nazaré, onde fora criado, quando 
entrou na sinagoga para adorar no sábado. “ Então lhe deram o livro 
do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: 
(O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evan­
gelizar aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e 
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, 
e apregoar o ano aceitável do Senhor.) Tendo fechado o livro, devol­
veu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos 
fitos nele. Então passou Jesus a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu a Escri­
tura que acabais de ouvir’ ” (Lucas 4.17-21).
Ao comparar a declaração de Nazaré com a profecia de Isaías, 
você nota que Jesus interrompeu a leitura no meio da sentença (Isaías
Princípios Gramaticais de Interpretação 55
61.2). Omitiu as palavras: “ e o dia da vingança do nosso Deus; a 
consolar todos os que choram” . Esta parte da profecia refere-se à 
segunda vinda de Cristo. Isaías combinou os elementos proféticos 
relativos aos dois adventos. Da sua posição de observação eles pare­
ciam um só.
Reconhecer isto o ajudará em seu estudo da Bíblia, como também 
animará o seu coração. Pois o cumprimento da primeira etapa é uma 
garantia do seu cumprimento total, justamente como o Espírito Santo 
é o penhor ou garantia de sua herança em Cristo. Anime-se. Ele veio 
a primeira vez, como fora prometido. Também virá a segunda vez, 
como foi profetizado!
i | Princípios 
Históricos de 
I nterpretação
Os princípios históricos tratam do cenário histórico do texto. Para 
quem e por quem foi escrito o livro? Por que foi escrito e que papel 
desempenhou o cenário histórico na formação da mensagem do livro? 
Quais os costumes e o ambiente do povo? São desse tipo as pergun­
tas que você procura responder quando considera o aspecto histórico 
do seu estudo.
* ¥ *
Quando você começar o seu estu­
do de uma passagem, imagine-se um 
repórter em busca de todos os fatos.
Bombardeie o texto com questões 
como estas:
• A quem foi escrita a carta (o 
livro)?
• Qual foi o quadro de fundo do 
escritor?
• Qual foi a experiência ou oca­
sião que deu origem à mensagem?
• Quem são os principais perso­
nagens do livro?
Seu objetivo é colocar-se no cenário do tempo em que o livro 
foi escrito e sentir com as pessoas envolvidas. Quais eram os inte­
resses delas? Como via Deus a sua situação? Se puder, tome o pulso 
do autor conforme ele se expressa.
Um breve repasse do livro de Gálatas pode ajudar a focalizar a 
importância desta regra.
A igreja do Novo Testamento, quando Deus lhe deu nascimento, 
era judaica. O povo escolhido do Velho Testamento era hebreu, e foi 
dentre os judeus que Jesus escolheu os Seus discípulos. No dia de 
Pentecoste (Atos 2) os não-judeus ou gentios convertidos eram todos
REGRA
DEZOITO
Desde que a 
Escritura 
originou-se num 
contexto
histórico, só pode 
ser compreendida 
à luz da história 
bíblica.
Princípios Históricos de Interpretação 57
prosélitos do judaísmo ou a este convertidos. Estes primeiros segui­
dores de Jesus supuseram que o caminho para Cristo era através da 
religião judaica. Não era tanto questão de convicção; foi simplesmente 
como aconteceu.
Então Cornélio veio a Cristo sem ser circuncidado para a adesão 
ao judaísmo (Atos 10), e isto causou não pequeno reboliço entre os 
crentes. Mas isto logo se acalmou e o assunto não se apresentou mais, 
até entrar em curso o ministério de Paulo. Paulo, o grande erudito 
do judaísmo, que recebera instrução do famoso rabi Gamaliel, foi o 
instrumento escolhido por Deus para polir a doutrina de como os 
gentios podiam tornar-se cristãos.
Durante a sua primeira viagem missionária, Paulo começou a 
incluir os gentios convertidos na comunhão da igreja sem fazê-los 
passar pelas leis do judaísmo. Para muitos cristãos judeus isto era 
inaceitável. Os mais legalistas deles começaram a seguir o ministério 
de Paulo através da província romana da Galácia (a Turquia de hoje), 
pregando que esses cristãos gentios tinham de ser circuncidados ade­
rindo à religião judaica.
Paulo irou-se. Mas, que podia fazer? As únicas Escrituras que 
a igreja tinha naquele tempo eram os livros do Velho Testamento, e 
era o Velho Testamento que aqueles judaizantes estavam apregoando 
aos gálatas. De volta a Jerusalém, Paulo compareceu a um concílio 
dos líderes da igreja e lhes colocou a questão (Atòs 15). Precisa o 
gentio tornar-se judeu primeiro, antes de se tornar cristão? Como se 
justifica o homem diante de Deus? “ Pela fé em Cristo e não por obras 
da lei” , foi a contestação de Paulo.
A liderança do concílio de Jerusalém concordou com Paulo. Isto 
assinalou importante mudança na direção da igreja. Antes disso o 
cristianismo não era considerado uma religião separada. Era visto 
como a evolução natural do judaísmo — o seu cumprimento. Desse 
ponto em diante, o cristianismo começou a ser visto como distinto da 
religião judaica.
Como iria Paulo partilhar estas novas com os gálatas? Como 
poderia desfazer o dano causado pelos judaizantes? Paulo retornou à 
lei do Velho Testamento e pela lei provou que a lei não pode salvar. 
Através de toda a Carta aos Gálatas numerosas citações vêm da lei 
do Velho Testamento. A lei do Velho Testamento não, Paulo prega 
que o homem é justificado pela fé, independentemente da lei.
Entender o fundo histórico ajuda a entender e interpretar o livro 
de Gálatas. Este tipo de estudo pagará ricos dividendos, e você o 
achará indispensável para a interpretação de qualquer passagem que 
estudar.
58 Princípios de Interpretação da Bíblia
Não é incomum ouvir uma pessoa 
dizer: “ O Deus do Velho Testamento 
é diferente do Deus do Novo Testa­
mento. No Velho Testamento Ele pa­
rece tão severo e condenatório, en­
quanto que no Novo Testamento é 
mais amoroso e cheio de graça” . Con­
quanto seja uma crença comumente 
sustentada, não se baseia nos fatos e, 
se for mantida, fará você desviar-se em 
sua interpretação da Bíblia. Exemplo: 
Jesus falou do inferno e do juízo de 
Deus mais que ninguém na Bíblia.
O Velho Testamento monta o 
cenário para a correta interpretação 
do Novo Testamento. Você teria difi­
culdade em entender aquilo de que 
fala o Novo Testamento, se não conhe­
cesse o relato veterotestamentário de 
acontecimentos como a criação e a queda do homem. Jesus presume 
que os Seus ouvintes estão familiarizados com o relato de como os 
israelitas foram mordidos por serpentes por terem eles murmurado, e 
como foram libertos ao olharem para uma serpente de bronze colocada 
no alto de uma estaca (Números 21). Referindo-se a este aconteci­
mento, disse Jesus: “ E do modo por que Moisés levantou a serpente 
no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado” 
(João 3.14).
Noutro sentido, o Novo Testamento é um comentário do Velho
— de como Deus se revelou e de como o Seu plano é progressivo. 
Quanto mais você avança na leitura, mais você fica sabendo sobre 
Ele e sobre o que Ele planeja fazer. O Novo Testamento explica o 
propósito de muita coisa que sucedeu no Velho Testamento.
O livro de Hebreus é, todo ele, um exemplo disto. Se você não 
estiver familiarizado com os sistemas do tabernáculo, do sacerdócio e 
dos sacrifícios veterotestamentários, terá dificuldade em acompanhar 
a argumentação do livro. Essa carta explica a finalidadee o signifi­
cado das formas de culto do Velho Testamento.
As pessoas eram salvas nos tempos do Velho Testamento do mes­
mo modo como são salvas no Novo. A justificação perante Deus 
sempre foi pela fé. No Velho Testamento as pessoas eram salvas pela 
fé em Cristo (o Messias) que havia de vir. , No Novo Testamento 
somos salvos pela fé em Cristo que já veio. Disse Jesus: “ Eu sou o 
caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”
REGRA
DEZENOVE
Embora a 
revelação de Deus 
nas Escrituras 
seja progressiva, 
tanto o Velho 
como o Novo 
Testamento são 
partes essenciais 
desta revelação 
e formam uma 
unidade.
Princípios Históricos de Interpretação 59
((João 14.6). Isto é tão verdadeiro para o Velho Testamento como o 
é para o Novo.
O meio e o conteúdo desta salvação vão ficando progressivamente 
mais claros à medida que se desenvolve a história do Velho Testa­
mento. O profeta Isaías compreendeu mais do que Adão, mas não 
tanto como nós compreendemos hoje. Mas é claro que existe unidade 
entre o Velho e o Novo Testamento sobre como se salvam as pessoas.
Também se pode ver a unidade das Escrituras nas freqüentes 
citações do Velho Testamento no Novo. Mateus, mostrando que 
Jesus é o cumprimento das profecias do Velho Testamento, faz cerca 
de 70 citações do Velho Testamento.
Desde a queda de Adão até à consumação da história, toda gente 
precisa de Cristo como seu Redentor. Todos os crentes nasceram de 
novo por obra do Espírito Santo. Todos recebem a mesma herança 
do céu. Deus empregou diferentes métodos para comunicar estas ver­
dades. Por exemplo, no Velho Testamento, um dos sinais e selos da 
relação pactuai consistia em observar a Páscoa e comer o cordeiro 
pascal; no Novo Testamento consiste na celebração da Ceia do Senhor. 
Mas as verdades propriamente ditas são aplicáveis em ambos os 
testamentos.
Deus se revela progressivamente conforme a história se desen­
volve. Mas isto não significa que os padrões de Deus se tomam pro­
gressivamente mais elevados ou que Deus muda no meio do caminho. 
Antes, nossa compreensão de Deus e de Sua revelação é que é pro­
gressiva. Deus não muda nunca.
Certas práticas do Velho Testamento foram canceladas pelo Novo, 
mas isto somente porque acharam seu cumprimento em Cristo. Um 
exemplo disto é a oferta de sacrifícios de animais. Quando Cristo, o 
sacrifício perfeito, se ofereceu, deixou de haver necessidade de ofere­
cer animais. Estes sacrifícios de animais eram uma pré-apresentação 
daquilo que Deus planejara fazer por meio de Cristo. Mas as Escritu­
ras esclarecem muito bem que os sacrifícios de animais não podiam 
salvar: “ Porque é impossível que sangue de touros e de bodes remova 
pecados” (Hebreus 10.4).
O caráter de Deus no Velho Testamento não mudou por algum 
processo de evolução moral. Sua santidade perfeita é uma parte imu­
tável e inflexível da Sua natureza. Exemplo: Jesus foi interrogado 
sobre a questão do divórcio (Mateus 19). Alguns argumentaram em 
favor dessa prática com base na lei do divórcio do código mosaico. 
“ Replicaram-lhe: ‘Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio 
e repudiar?’ ” (versículo 7; ver Deuteronômio 24.1-4). Replicou Jesus: 
“ Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu
60 Princípios de Interpretação da Bíblia
repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o princípio” 
(versículo 8). Disse Jesus que as leis contra o divórcio foram postas 
de lado temporariamente no Velho Testamento por causa da dureza 
do povo, não por causa de alguma mudança ocorrida no caráter de 
Deus ou em Suas exigências morais.
A revelação que Deus faz de Si é progressiva, à medida que você 
vai lendo a Bíblia, mas o Seu caráter é imutável. O grandioso plano 
divino de redenção é o mesmo em ambos os testamentos. Ao estudar 
a Bíblia, você pode considerá-los duas partes do mesmo livro, não dois 
livros separados.
O dicionário Webster define sím­
bolo como “ algo que representa ou 
lembra alguma outra coisa por rela­
ção, associação, convenção ou seme­
lhança acidental; especialmente, um 
sinal visível de uma coisa invisível” . 
Embora haja diferenças entre as pala­
vras símbolo, tipo, alegoria, símile e 
metáfora, relacionam-se de modo sufi­
cientemente íntimo para que as combi­
nemos aqui. Esta regra se aplica a 
todas elas, dado que muitas vezes são 
usadas para designar sinais visíveis de 
alguma coisa invisível.
Um exemplo do uso feito pela 
Bíblia de um acontecimento histórico 
como símbolo de uma verdade espiri­
tual é a declaração de Paulo: “ Ora, irmãos, não quero que ignoreis 
que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo 
mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem, como no mar, com 
respeito a Moisés. Todos eles comeram de um só manjar espiritual, e 
beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra 
espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo” (1 Coríntios 10.1-4).
A passagem dos israelitas pelo Mar Vermelho (Êxodo 14.22) sim­
boliza o seu batismo. A pedra da qual Israel bebeu (Números 20.11) 
é um tipo de Cristo. Em bom número de lugares, o escritor toma 
um acontecimento histórico para representar uma verdade espiritual.
Levar isto além do ponto a que Paulo vai seria prejudicar o 
sentido literal da passagem. Dizer que o Mar Vermelho simboliza o 
sangue expiatório de Cristo, que oferece seguro caminho para a Canaã 
celestial, é fazer imprópria interpretação da passagem de Coríntios.
REGRA
VINTE
Os fatos ou 
acontecimentos 
históricos se 
tornam símbolos 
de verdades 
espirituais, 
somente se as 
Escrituras assim 
os designarem.
Princípios Históricos de Interpretação 61
Esta mesma regra se aplica ao uso de alegoria. Quando Paulo 
desenvolve no livro de Gálatas o tema de que a justificação é mediante 
a fé em Jesus Cristo, independentemente da lei, emprega uma alegoria 
para explicar o seu ponto. Não somente alegoriza Sara e Agar (ambas 
as quais deram filhos a Abraão); diz-nos que está fazendo isso. “ Pois 
está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava, e 
outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne, o da livre, 
mediante a promessa. Estas cousas são alegóricas: porque estas mu­
lheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, 
que gera para escravidão; esta é Agar” (Gálatas 4.22-24).
Paulo fez estas interpretações do Velho Testamento sob a inspi­
ração do Espírito Santo. Ele o fez ocasionalmente e por razões espe­
cíficas. Quanto a você, porém, transformar em hábito a alegorização 
de fatos históricos é prejudicar a interpretação literal da Bíblia, é 
mudar o sentido que ela pretendeu ter. O objetivo do estudo da Bíblia 
é entender o sentido visado pelo autor, não despejar nas palavras dele 
o conteúdo que a você pertence.
Muitas vezes um exemplo negativo presta ajuda, especialmente 
quando uma passagem foi indevidamente usada para simbolizar algu­
ma coisa.
Uma parte da Escritura comumente assim usada é o livro de 
Filemom. Paulo escreve a seu bom amigo Filemom em favor de um 
escravo foragido, Onésimo. Onésimo, escravo de Filemom, roubara 
seu amo e fugira para Roma. Ali, por meio de Paulo, fez-se cristão, 
e Paulo o estava mandando de volta a seu senhor em Colossos com 
esta carta. O apelo dirigido por Paulo a Filemom era no sentido de 
que perdoasse a Onésimo e o acolhesse de novo, “ como irmão carís­
simo” . “ E se algum dano te fez, ou se te deve alguma cousa, lança 
tudo em minha conta” , foi o pedido de Paulo (versículos 16,18). É 
um belo exemplo cristão de amor, perdão e fraternidade.
Sem nenhuma razão aparente, muitos alegorizam esse livro, iden­
tificando Filemom com Deus, Onésimo com a humanidade e Paulo 
com Cristo. Cristo (Paulo) intercede junto ao Pai (Filemom) em favor 
do fugitivo que se converteu (Onésimo). Paulo não estabelece esta 
analogia, nem aqui, nem em nenhuma outra passagem. Tampouco 
você deve fazê-lo.
Esta espécie de alegorização é diferente de fazer aplicação. Por 
exemplo, podemos dizer que o que Paulo pediu a Filemom em favorde Onésimo é o que Cristo nos pede. Da mesma maneira devemos 
perdoar os que nos tenham lesado. Nossa aplicação é extraída do 
acontecimento ou fato histórico, sem alterar o sentido visado no refe­
rido fato.
Príncipios 
Teológicos de 
Interpretação
Teologia é o estudo de Deus e de Sua relação com o mundo. O 
livro-fonte deste estudo é a Bíblia. A teologia procura tirar conclusões 
sobre vários tópicos, amplos e importantes, presentes na Bíblia. A 
que se assemelha Deus? Qual é a natureza do homem? Qual é a 
doutrina da salvação realmente válida? São estes os tipos de assun­
tos de que trata a teologia. Os princípios teológicos são aquelas 
amplas regras que tratam da formulação da doutrina. Por exemplo, 
como podemos dizer que uma doutrina é verdadeiramente bíblica? Um 
dos nossos princípios teológicos procurará responder a isto.
Princípios Teológicos de Interpretação 63
Outro modo de firmar esta regra 
é dizer: “ Você precisa entender o que 
diz a passagem, antes de poder espe­
rar entender o que ela quer dizer” .
Pode-se ver um exemplo disto na 
seguinte afirmação de Paulo: “ Toda­
via, não é assim o dom gratuito como 
a ofensa; porque se pela ofensa de um 
só, morreram muitos, muito mais a 
graça de Deus, e o dom pela graça de 
um só homem, Jesus Cristo, foi abun­
dante sobre muitos. O dom, entre­
tanto, não é como no caso em que 
somente um pecou; porque o julgamento derivou de uma só ofensa, 
para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para a 
justificação. Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a 
morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da 
justiça, reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.
“ Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos 
os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça 
veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. 
Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se toma­
ram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos 
se tornarão justos.”
“ Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou 
o pecado, superabundou a graça; a fim de que, como o pecado reinou 
pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida 
eterna, mediante Jesus Cristo nosso Senhor” (Romanos 5.15-21).
Você precisa estudar cuidadosamente esta passagem para enten­
der o que Paulo está dizendo. Ele está comparando Cristo com Adão. 
Assim como você é considerado injusto devido ao pecado de Adão, 
assim é considerado justo devido ao que Jesus Cristo fez. Foi-lhe 
imputado o pecado de Adão, apesar de você não ter feito nada para 
merecê-lo; assim também lhe foi imputada a justiça de Cristo, apesar 
de você não ter feito nada para merecê-la. Em parte é isto que a 
passagem diz.
Disto podemos tirar algumas conclusões. Por exemplo, vemos que 
a imputação não afeta o seu caráter moral, mas, sim, a sua posição 
legal. Quando você foi considerado justo graças à obra de Cristo, o 
seu caráter moral não foi alterado; você não se tomou moralmente 
justo e perfeito, só legalmente justo e perfeito à vista de Deus. Aí
REGRA 
VINTE UM
Você precisa 
compreender 
gramaticalmente 
a Bíblia, antes 
de compreendê-la 
teologicamente.
64 Princípios de Interpretação da Bíblia
está por que alguns não-cristãos são mais justos em seu procedimento 
do que muitos cristãos.
Outro exemplo é esta afirmação: “ Porque, se vivemos deliberada­
mente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento 
da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados” (Hebreus 10.26). 
Muitos se utilizam deste versículo para ensinar que é possível ao 
cristão perder a sua salvação. Um estudo deste versículo em seu con­
texto levá-lo-á a uma conclusão inteiramente diversa. Esta passagem 
fala especificamente a judeus que criam em sacrifício de animais em 
antecipação do Messias por vir, não percebendo que Ele já tinha vindo.
O escritor de Hebreus expõe o fato do sacrifício de Jesus. Esta 
sua afirmação diz que, uma vez que esses judeus compreenderam a 
razão da morte de Jesus e deliberadamente a ignoraram, se retornas­
sem aos seus sacrifícios, não haveria nenhum sacrifício futuro provido 
por Deus.
Você pode ver como um problema desses pode ser aliviado pelo 
uso de sadios princípios gramaticais (Regras 10-17). Você terá de 
compreender o que uma passagem diz, antes de extrair dela quaisquer 
conclusões doutrinárias.
Transparece de imediato que este 
é um procedimento importante no estu­
do da Bíblia, precisamente como o é 
em tudo na vida. “ Responder antes de 
ouvir é estultícia e vergonha” (Provér­
bios 18.13). Ê estulto chegar a uma 
conclusão antes de ouvir os argumen­
tos todos. Assim também, é um erro 
chegar a conclusões a respeito de de­
terminada doutrina antes de estudar 
tudo que a Bíblia diz sobre o assunto.
Por exemplo, existem numerosas 
passagens no Novo Testamento que 
dizem que você não está debaixo da 
lei. “ Concluímos, pois, que o homem 
é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Romanos 
3.28). “ Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei” (Gála- 
tas 5.18). Ao ler tais declarações, pode você concluir que a graça de 
Deus o livra de qualquer obrigação de viver uma vida disciplinada, 
santa?
REGRA 
VINTE DOIS
Uma doutrina 
não pode ser 
considerada 
bíblica, a não ser 
que resuma e 
inclua tudo o que 
a Escritura diz 
sobre ela.
Princípios Teológicos de Interpretação 65
De maneira nenhuma. Tal conclusão seria contestada por afirma­
ções como estas: “ Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para 
que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos 
ainda no pecado, nós os que para ele morremos? Ou, porventura, 
ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos 
batizados na Sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte 
pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos 
pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” 
(Romanos 6.1-4).
Ê aqui onde um estudo tópico da Bíblia se mostra útil. Você toma 
um tema, idéia ou ensinamento e estuda todas as passagens sobre o 
assunto. Eis aqui três espécies de estudos paralelos:
1. Paralelos de Palavras. Você pode, por exemplo, resolver estu­
dar a vida de Balaão. A principal passagem sobre ele acha-se em 
Números 22-24. Ele foi um profeta de Deus que se deixou seduzir 
por um convite do rei de Moabe para amaldiçoar Israel. Que conclu­
sões você pode deduzir na vida dele? Um estudo do que os escritores 
do Novo Testamento dizem de Balaão o ajudarão a avaliá-lo. Diz-nos 
Pedro que ele “ amou o prêmio da injustiça” (2 Pedro 2.15). Diz-nos 
Judas que ele foi movido “ de ganância” (Judas 11). João acrescenta 
a informação de que ele aconselhou o rei de Moabe “ a armar ciladas 
diante dos filhos de Israel para comerem cousas sacrificadas aos ídolos 
e praticarem a prostituição (Apocalipse 2.14).
2. Paralelos de Idéias. O paralelo de idéias difere do de palavras 
em que você não pode recorrer às referências de uma palavra, como 
pode fazer no caso de Balaão. A idéia é mais abrangente do que qual­
quer palavra. Um exemplo poderia ser a questão da autoridade em 
sentido global. Os principais sacerdotes e os anciãos perguntaram a 
Jesus: “ Com que autoridade fazes estas cousas? e quem te deu essa 
autoridade?” (Mateus 21.23). Você necessita estudar não somente esta 
passagem de Mateus 21, mas muitas outras passagens das Escrituras 
que tratam do assunto. Moisés registra a primeira rebelião do homem 
contra a autoridade (Gênesis 3); a Escritura mostra também Deus 
tratando severamente aqueles que rejeitaram a autoridade de um de 
Seus servos (Números 16).
3. Paralelos Doutrinários. Isto inclui estudos tópicos sobre as 
grandes doutrinas da Bíblia, tais como os atributos de Deus, a natureza 
do homem, a redenção, a justificação, e a santificação.
Neste tipo de estudo você reune todas as peças de informação e 
extrai uma conclusão. É bem parecido com a colocação das peças de 
um quebra-cabeças,reunindo-as. A isto se chama raciocínio indutivo
66 Princípios de Interpretação da Bíblia
— o processo de raciocinar das partes para o todo. Se, por exemplo, 
você estivesse estudando indutivamente a doutrina da igreja (eclesio- 
logia), trataria de achar todas as passagens sobre o assunto, estudaria 
cada uma, e então as juntaria todas para formular as suas conclusões.
Na Regra 24 consideraremos um princípio que tem que ver com 
o raciocínio dedutivo, mas precisamos observar ligeiramente o racio­
cínio dedutivo aqui. Este método aborda o estudo olhando para o 
todo e chegando a conclusões quanto às peças menores, outra vez 
semelhante a um quebra-cabeças de recortes. Do enigma completo 
você pode concluir certas coisas acerca das peças individuais. Racio­
cínio dedutivo é o processo de raciocinar do geral para o particular. 
Eis um exemplo de raciocínio dedutivo:
• Primeira Premissa — Se pedimos de aordo com a Sua vontade, 
Deus nos ouve (1 João 5.14,15).
• Segunda Premissa — A santificação está de acordo com a von­
tade de Deus (1 Tessalonicenses 4.3).
• Conclusão — Quando oramos por nossa santificação, Deus 
nos ouve.
A razão por que estamos discutindo aqui o raciocínio dedutivo 
é a necessidade de relacioná-lo com o seu estudo indutivo. Em regra, 
a primeira premissa em seu estudo dedutivo só pode ser feita depois 
que o estudo indutivo o tenha levado a compreender em que consiste 
a premissa e que significa. Podem-se ver outros exemplos dè estudo 
dedutivo na Regra 24.
O estudo indutivo da Bíblia é extremamente importante no desen­
volvimento das suas convicções. Estudando as partes você pode captar 
um retrato cada vez mais claro do todo. Se você não está envolvido 
num estudo indutivo, devia estar. Pois, se as suas convicções quanto 
às doutrinas da Bíblia se formaram pelo que outros lhe falaram, em 
vez de por sua investigação pessoal das Escrituras, resistirão nos tem­
pos de provação? Você não pode contar com que permanecerá fiel 
durante os períodos de adversidade baseado no ouvir dizer. Você tem 
de cavar nas Escrituras, você mesmo, e conseguir as suas convicções 
pessoais.
Infelizmente, como muitas vezes acontece, o que é importante 
exige trabalho duro. Isto é verdade quanto à formação de convicções 
vitais. Requer-se cuidadoso e completo estudo da Bíblia. Não existe 
atalho. Os seus estudos doutrinários constituem a espinha dorsal das 
suas convicções espirituais, e, por sua vez, só se pode chegar a estas 
estudando tudo o que a Bíblia diz sobre dado assunto.
Princípios Teológicos de Interpretação 67
Existe nas Escrituras certo núme­
ro de aparentes contradições ou para­
doxos. “ Aparentes” porque na reali­
dade não o são. Parecem contraditó­
rias porque a mente finita do homem 
não pode compreender a mente infi­
nita de Deus.
Eis alguns dos conhecidos para­
doxos para a mente humana:
1. A Trindade. Não servimos a 
três deuses, mas, sim, a um só Deus; 
contudo, cada Pessoa da divindade é 
plena e completamente Deus, e não 
apenas um terço Deus. Em essência 
podemos concluir que um mais um 
mais um são iguais a um. Nenhuma 
ilustração humana pode explicar ade­
quadamente este mistério teológico. 
Está inteiramente além da nossa com­
preensão.
2. A dual natureza de Cristo. 
Jesus Cristo é Deus completo e homem completo. Não é meio Deus 
e meio homem; todavia, Ele não é duas pessoas, mas somente uma. 
Outra vez, um mais um igual a um.
3. A'origem e existência do mal. Em termos lógicos, a mente 
humana deduz que de duas coisas, uma deve ser verdadeira. Ou Deus 
criou o mal, ou este Lhe é coetemo. A Bíblia noz induz a crer que 
nenhuma destas é verdadeira. É um mistério.
4. A soberana eleição de Deus e a responsabilidade do homem. 
Paulo afirma que Deus escolheu o crente em Seu soberano conselho 
antes da fundação do mundo (Efésios 1.4). Pedro, porém, diz: “ Não 
retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; 
pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que 
nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 
Pedro 3.9). Através de todas as Escrituras há um bem intencionado 
oferecimento do Evangelho a todos os homens. O homem é visto 
como agente moral responsável de quem Deus pede contas, e “ Todo 
aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo” (Romanos 10.13). 
Não há maneira pela qual as nossas mentes possam conciliar estas 
duas verdades difíceis e aparentemente antagônicas.
De todas as dificuldades, nenhuma causa tanta controvérsia emo­
cional como à última. Possivelmente porque as três primeiras soam
REGRA 
VINTE TRÊS
Quando parecer 
que duas doutrinas 
ensinadas na 
Bíblia são 
contraditórias, 
aceite ambas como 
escriturísticas, 
crendo
confiantemente 
que elas se 
explicarão dentro 
de uma unidade 
mais elevada.
68 Princípios de Interpretação da Bíblia
mais como questões acadêmicas, ao passo que a quarta toca as nossas 
sensibilidades morais. Ela tem a ver com o destino eterno do homem.
Quando a Bíblia deixa duas doutrinas “ conflitantes” sem as con­
ciliar, você deve fazer o mesmo. Viver em tensão não é agradável, 
mas você deve ter cuidado para não perder o equilíbrio bíblico ao 
procurar aliviar a tensão. Não arranque partes da Escritura na tenta­
tiva de forçar acordo entre as duas doutrinas “ conflitantes” .
Você pode fazer aplicação dessas doutrinas “ conflitantes” pre­
gando a doutrina certa à pessoa certa. Por exemplo, como cristão você 
prega a si próprio que Deus o escolheu; você não O escolheu. Se a 
escolha fosse sua, você votaria contra Ele. Tudo que você é e tem é 
dom da graça de Deus. Isto deve enchê-lo de humildade e singeleza.
Mas você pode proclamar com arrojo ao não-cristão que Deus o 
ama, pois Jesus mesmo disse: “ Deus amou ao mundo de tal maneira 
que deu o seu Filho unigénito” (João 3.16).
Nossa lealdade não é primeira e primordialmente a um sistema 
de teologia, mas à Escritura. Quando você interpretar a Bíblia, não 
permita que a lógica humana a faça dizer nem mais nem menos do 
que de fato diz. Na proporção em que as Escrituras falam com clareza, 
você pode falar com clareza. Quando as Escrituras fazem silêncio, 
você deve ficar em silêncio. Onde a Bíblia ensina duas doutrinas 
“ conflitantes” , você deve seguir o exemplo dela e sustentar ambas, 
mantendo cada uma em perfeito equilíbrio com a outra.
A comunidade religiosa judaica 
do tempo de Jesus estava dividida em 
vários grupos: herodianos, essênios, 
zelotes, saduceus e fariseus. Estes dois 
últimos grupos divergiam sobre certos 
pontos doutrinários, notadamente a 
ressurreição dos mortos. Os fariseus 
criam nisso; os saduceus o negavam.
Certa ocasião Jesus se viu numa 
discussão com os saduceus sobre esta 
questão da vida além desta. Será que 
o Velho Testamento a ensina de fato? 
Atente para a linha de raciocínio de 
Jesus:
“ Quanto à ressurreição dos mor­
tos, não tendesiido no livro de Moisés, 
no trecho referente à sarça, como Deus falou: ‘Eu sou o Deus de 
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’? Ora, ele não é Deus
REGRA
VINTE QUATRO
Um ensinamento 
simplesmente 
implícito na 
Escritura pode ser 
considerado 
bíblico quando 
uma comparação 
de passagens 
correlatas o apóia.
Princípios Teológicos de Interpretação 69
de mortos, e, sim, de vivos. Laborais em grande erro” (Marcos 
12.26,27).
Diz o Senhor que a ressurreição pode ser provada com base no 
Velho Testamento (Êxodo 3.15), em que Deus se identificou como o 
Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Uma vez que Deus é Deus de vivos, 
esses três homens têm de estar vivos ou ressurretos. Este raciocínio é 
dedutivo, e pode ser delineado da seguinte forma:
• Primeira Premissa — Deus é Deus de vivos.
• Segunda Premissa — Deus é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
• Conclusão — Abraão, Isaque e Jacó estão entre os que vivem.
A doutrina da ressurreição é implícita no Velho Testamento, arra­
zoou Cristo. O Velho Testamento não afirma expressamente que há 
uma ressurreição dos mortos, mas quando você compara passagens 
correlatas sobre esse assunto, deduzque é verdade.
Outro exemplo é a questão de se admitirem mulheres à Mesa do 
Senhor. Concluímos que elas devem ser admitidas à comunhão, não 
porém com base em algum mandamento ou exemplo específico achado 
na Bíblia, visto que não nos é dado nenhum. Presumimos que elas 
devem ser admitidas baseados nos ensinamentos implícitos do Novo 
Testamento. Neste exemplo, o processo dedutivo é como se segue:
Quando Paulo escreveu à igreja de Corinto, é evidente que entre 
os membros da igreja havia mulheres. “ Pois a vosso respeito, meus 
irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de que há contendas 
entre vós” (1 Coríntios 1.11). “ As igrejas da Ásia vos saúdam. No 
Senhor muito vos saúdam Àqüila e Priscila e, bem assim, a igreja 
que está na casa deles” (1 Coríntios 16.19). Cloe e Priscila eram 
mulheres. Paulo também instruiu a igreja sobre como conduzir-se na 
Ceia do Senhor (1 Coríntios 11). Portanto, inferimos dessas passa­
gens da Escritura que mulheres participavam da comunhão.
• Primeira Premissa — A igreja de Corinto recebeu instrução 
sobre a comunhão.
• Segunda Premissa — Havia mulheres que faziam parte da 
igreja de Corinto.
• Conclusão — As mulheres podem participar da comunhão.
Você precisa estar certo de que as deduções que faz estão verda­
deiramente implícitas nas Escrituras de que as extrai, e de que você 
averiguou e comparou passagens correlatas sobre o assunto. É fácil 
fazer mau uso do princípio e chegar a conclusões antibíblicas. Isto 
acontece muitas vezes com passagens que nos dão exemplos da vida 
de Cristo.
70 Princípios de Interpretação da Bíblia
Marcos diz de Jesus: “ Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, 
foi para um lugar deserto, e ali orava” (Marcos 1.35). Daí somos 
inclinado^ a deduzir que o cristão fiel deve ter sua hora tranqüila de 
manhã bêm cedo.
• Primeira Premissa — O crente deve ser semelhante a Cristo.
• Segunda Premissa — Cristo fazia devoções de manhã bem cedo.
• Conclusão — O crente deve fazer devoções de manhã bem 
cedo. Todavia, você se lembrará de que sob a Regra 5, Os exemplos 
bíblicos só têm autoridade quando apoiados por uma ordem, discuti­
mos isto, empregando este mesmo exemplo. Usando o raciocínio esbo­
çado aqui, você pode concluir apropriadamente que pode fazer devo­
ções de manhã bem cedo, mas não é obrigado a fazê-las. Esta passa­
gem sustenta a validade da hora tranqüila matutina, não porém a sua 
necessidade.
Você não pode violar um princípio de interpretação a fim de 
justificar outro. O seu estudo da Bíblia precisa levar em conta todos 
os princípios, se é que pretende fazer uma interpretação válida.
Crer que uma coisa é verdadeira graças a um ensino implícito na 
Bíblia, não somente é válida, mas também é necessário (o argumento 
de Jesus em favor da ressurreição dos mortos com base no Velho 
Testamento, por exemplo). Contudo, segundo a Regra 23, tal racio­
cínio requer cuidadoso estudo, e isto é trabalho duro; mas o fruto 
dessa labuta é compensador e bem vale o esforço.
Não tenha medo de usar o raciocínio dedutivo no seu estudo da 
Bíblia. Você faz isso o tempo todo na vida diária. Suponhamos que 
você trabalha para uma firma de processamento de dados, e que está 
nesse serviço já há algum tempo. Hoje, quando vai para o trabalho, 
vê-se voltando para aquele mesmo emprego, muito embora o seu em­
pregador não lhe tenha pedido especificamente que viesse neste dia. 
Você o faz porque raciocina:
• Primeira Premissa — O seu empregador o quer como em­
pregado.
• Segunda Premissa — O seu empregador o mantém neste ser­
viço particular já faz algum tempo.
• Conclusão — o seu empregador quer que você faça esse ser­
viço hoje.
Rememore o número de vezes que você deduziu que algo é ver­
dadeiro com base em certos fatos; ou como alguém deixou implícito 
que algo é verdadeiro, embora não o tenha dito especificamente.
Este processo é válido no seu estudo da Bíblia, precavendo-se no 
sentido de seguir fielmente a Regra 24.
ôSumário e Conclusão
Um dos objetivos deste livro é dar-lhes regras de interpretação 
simples que o induzam a um programa de estudo bíblico mais preciso 
e, conseqüentemente, mais compensador. Vinte quatro regras, com 
meia dúzia de corolários ou mais, podem parecer um prato grande 
demais para digerir, mas você pode fazê-lo. De fato, muito do que 
lemos logo deixa o consciente e desliza para o subconsciente. Somente 
quando uma idéia ou experiência associada puxa o que está depositado 
ali, sobe de novo ao consciente.
Quando você se engajar no estudo da Bíblia *, o processo de inter­
pretar as Escrituras extrairá os pensamentos deste livro agora deposi­
tados em seu subconsciente e os trará à superfície. Você poderá 
consultar a regra básica em questão e refrescar a sua memória com a 
sua aplicação. Em pouco tempo, essas regras se tornarão quase que 
uma segunda natureza em você — algo muito parecido com o toque 
das teclas do piano por um pianista consumado.
Na proporção em que são válidas, as regras contidas neste livro 
devem ser biblicamente patentes. Ao lê-las, devem parecer-lhes óbvias. 
Se você conceber a possibilidade de substituir alguma das regras por 
uma alternativa qualquer, as implicações dessa permuta deverão tor- 
ná-la inaceitável.
A Regra 12, por exemplo, diz: Interprete a palavra em relação à 
sua sentença e ao seu contexto. Sugerimos como alternativa que não 
interpretemos a palavra à luz do seu contexto, mas unicamente à base 
do que diz o dicionário. Neste caso, Paulo se refere a animais de 
quatro patas quando fala de “ cães” (Filipenses 3.2), e o rei Herodes 
é literalmente uma “ raposa” (Lucas 13.32).
Estas regras, se são legítimas e precisas, harmonizam-se com o 
espírito e com o conteúdo daquilo que a Bíblia afirma que é verdade.
Talvez tenha havido época, digamos, cerca de uma geração atrás, em 
que era desnecessário redigir essas regras auto-evidentes. Mas, na socie­
dade de hoje as coisas mudaram. A nossa geração relativista questiona 
os absolutos e obscurece as decisões. Daí, o estabelecimento de regras 
de interpretação para o estudo da Bíblia veio a ser uma necessidade.
* Ver o livro "Métodos de Estudo Bíblico” do mesmo Autor, capítulo 1-6.
72 Princípios de Interpretação da Bíblia
O que é por si evidente para as pessoas que têm conhecimento bíblico, 
soa como novidade para os que não estão familiarizados com a Bíblia.
Isso tem o seu lado bom e o seu lado mau. É um fato què as 
Escrituras são novas e vivas para o homem da rua nos dias de hoje. 
Mais e mais homens e mulheres famintos são retirados do pensamento 
relativista e levados a um encontro com as dinâmicas verdades da 
Bíblia. Aquilo de que estava imbuída a mente dos nossos antepassados 
como “ óbvio” a ponto de ster árido, vê-se hoje como coisa nova e im­
pressionante — e isso atrai as pessoas.
A desvantagem é que produzimos uma geração de iletrados bíbli­
cos que não só desconhece as grandes verdades das Escrituras, mas 
também está insegura sobre como proceder para descobri-las. Por­
tanto, uma abordagem básida e simples dos princípios de interpretação 
bíblica é uma' grande necessidade hoje.
Ao procurar aplicar essas regras, você deve lembrar-se de que há 
diferença entre serem as regras bíblicas e corretas, e serem usadas ade­
quadamente. O martelo é a ferramenta certa para pregar um prego, mas 
usar um martelo não garante que você não entortará o prego. Quando 
você aplica as regras de interpretação ao seu estudo bíblico, não tem 
garantia de fazer interpretação correta em todas as tentativas. Cometerá 
erros. Mas a esperançosa proficiência e precisão virá com a prática fiel.
Talvez haja ocasiões em que, ao ler os capítulos deste livro, sin­
ta-se como se o tivessem “ deixado no ar” com respeito a qual deve 
ser a interpretação válida de uma passagem. Conquanto não houvesse 
a intenção de deixar o leitor “ no ar” , o livro procura esquivar-se 
de interpretar as passagens por você.
O objetivo deste livro é o estabelecimento de regras básicas de 
interpretação, não a interpretação mesma.Infelizmente, nem sempre 
é possível isso. Traços das tendências teológicas do autor se insinuam, 
embora em grau mínimo, esperamos.
Alguns sugeriram uma sessão de laboratório para algumas passa­
gens. A exposição de 1 João 3.6-10, na página 45, propiciou opor­
tunidade para isso. Outra sugestão foi a de expormos uma passagem 
usando tantas regras básicas quantas possíveis.
Estas sugestões foram tentadoras, mas sem dúvida teriam feito o 
livro desviar-se do seu propósito. Ficaríamos debatendo sem parar 
se foi tirada a conclusão certa de uma regra particular. Portanto, o 
sentido de cada uma das 24 regras foi explicado, e sua aplicação é 
deixada com você.
Se achar que é apenas principiante na arte de interpretar e estudar 
a Bíblia adequadamente, anime-se a avançar a passos ousados. Não fixe 
o olhar nos possíveis erros que cometer, mas, sim, no Cristo incompa­
rável e no rico potencial à sua disposição para conhecê-lo melhor.
Princípios de 
Interpretação 
da Bíblia
Um ponto absolutamente básico do 
estudo bíblico, é a exposição dos princípios 
de como interpretar corretamente a Bíblia.
Para melhor aproveitamento, use este 
livro em conjunto com os Métodos de Estu­
do Bíblico pelo mesmo autor.
W alter A . H enrichsen
R. Álvaro de Carvalho, 118 - 3." and. - Tel. 2590860 
Caixa Postal 9.500 - 01000 - São Paulo - Est. SP.
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