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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM VOZES SOCIAIS NAS PESQUISAS SOBRE LEITURA E ESCRITA NO CIBERESPAÇO ALBANYRA DOS SANTOS SOUZA NATAL-RN 2021 ALBANYRA DOS SANTOS SOUZA VOZES SOCIAIS NAS PESQUISAS SOBRE LEITURA E ESCRITA NO CIBERESPAÇO Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Doutora em Linguística Aplicada. Orientadora: Profª Drª Maria Bernadete Fernandes de Oliveira. NATAL-RN 2021 VOZES SOCIAIS NAS PESQUISAS SOBRE LEITURA E ESCRITA NO CIBERESPAÇO Tese apresentada por Albanyra dos Santos Souza ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do título de Doutora em Estudos da Linguagem. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Professora Doutora Maria Bernadete Fernandes Oliveira – Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte ___________________________________________________________________ Professor Doutor José Cezinaldo Rocha Bessa – Examinador Externo Universidade do Estado do Rio Grande do Norte ___________________________________________________________________ Professor Doutor Samuel de Carvalho Lima – Examinador Externo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte ___________________________________________________________________ Professora Doutora Maria da Penha Casado Alves – Examinadora Interna Universidade Federal do Rio Grande do Norte ___________________________________________________________________ Professora Doutora Marília Varella Bezerra de Faria – Examinadora Interna Universidade Federal do Rio Grande do Norte À minha querida família, por acreditar e dividir comigo todos os momentos! AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, pela realização dos seus planos em minha vida. À minha maravilhosa orientadora e amiga, Profª Drª Bernadete Fernandes de Oliveira, por todos os momentos que me segurou pelas mãos e me mostrou o caminho. Aos professores que participaram da Banca de Qualificação, Profª Drª Marília Varella Bezerra de Faria e o Prof. Dr. José Cezinaldo Rocha Bessa, por todas as sugestões e pelas palavras de direcionamento. À minha família, por todas as vezes que me fortaleceu com carinho e presença constante. À minha mãe, Alice Gomes de Souza, que mesmo diante de tantas dificuldades, acreditou e sonhou comigo todos os meus sonhos. Ao meu filho, Rafael Vicente de Souza; e ao meu esposo, Josenilton Vicente, por todas as vezes que eu precisei fugir. A eles, o meu amor! Às minhas irmãs, Albanice Souza e Alba Alaice Souza, por sempre poder contar com elas. À Capes, pelos 6 primeiros semestres de apoio financeiro. Enfim, a todos os professores, colegas e amigos que contribuíram para a realização deste sonho. O meu MUITO OBRIGADA! RESUMO O crescente número de trabalhos voltados ao estudo da influência das tecnologias nas práticas sociais de uso da língua e nos processos de ensino e aprendizagem estimulam, cada vez mais, a acreditar que o uso das tecnologias já é uma realidade presente na vida dos sujeitos sociais e nas práticas de ensino e aprendizagem de línguas. Ao refletir sobre a temática, este estudo parte de um levantamento de pesquisas nas revistas Linguagem e Ensino, Revista Brasileira de Linguística Aplicada e Trabalhos em Linguística Aplicada, que tratam da relação tecnologia e ensino de línguas. Este estudo investiga 90 artigos científicos publicados no período de 2011 a 2020, cujo objetivo é sistematizar as pesquisas em Linguística Aplicada que consideram o cronotopo do ciberespaço e reconhecer os níveis de ensino nos quais os estudos atuam; identificar as vozes sociais sobre tecnologias digitais, leitura e escrita digital que se fazem presentes nos estudos; compreender como essas vozes se relacionam axiologicamente; e refletir sobre os indícios dos tempos hipermodernos que caracterizam o cronotopo do ciberespaço. Esta pesquisa adota as bases teóricas do Círculo de Bakhtin sobre cronotopia, enunciado verbal e o ato ético (BAKHTIN, 2011, 2014, 2016, 2017; VOLOCHÍNOV, 2017) dialogando com o universo virtual (LÉVY, 2011), o ciberespaço (LÉVY, 1998, 2010) e os tempos hipermodernos (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004; ROJO; BARBOSA, 2015) e a modernidade líquida (BAUMAN, 2001). Os resultados encaminham para uma relação espaço- tempo em processo de transformação, vislumbrados nas vozes sociais dos pesquisadores. Elas revelam o encontro de posicionamentos axiológicos em processo de dialogização, relacionadas às tecnologias no ensino e aprendizagem de línguas e ainda à leitura e escrita digital. Dentre os posicionamentos, destaca o ganho de tempo e a ampliação do espaço proporcionados pelas tecnologias, a dinamicidade da leitura na internet e a pressuposição de um leitor que busca rapidez e praticidade, além de uma escrita on-line que se caracteriza como colaborativa e facilitadora dos processos de escrita e reescrita. Por último, destaca, ainda, os princípios de temporalidade presentes nas pesquisas, o princípio da leveza, a desmaterialização da sala de aula e a liquidez da educação. Juntamente a esses princípios, evidencia as técnicas de miniaturização, o peso pluma dos equipamentos, a hipermobilidade digital, a desmaterialização da informação, enfim, uma sociedade hipermoderna regida pela aceleração das mudanças técnicas, sociais e culturais. Palavras-chave: ciberespaço; leitura e escrita em contexto tecnológico; cronotopo; tecnologias; ensino de línguas. ABSTRACT The growing number of researchers focusing on the influence of technologies in the social practice of language use and in the teaching and learning processes stimulates, each time, to believe that the use of technology is already a reality to the social subjects life and in the practices of teaching and learning languages. Reflecting about this thematic, this study makes a literature review based on the magazines Linguagem e Ensino, Revista Brasileira de Linguística Aplicada and Trabalhos em Linguística Aplicada, that publishes about the relation between technology and language teaching. This study investigates 90 scientific articles published from 2011 to 2020, whose objective is to systematize researches in Applied Linguistic that consider the cyberspace chronotope and recognize teaching level of researches; to identify social voices related to digital technologies, reading and writing showed in those studies; to understand how those voices is axiologically related to one another; and to think about signals of hypermodern times that characterize the cyberspace chronotope. This research has theoretical bases in the Bakhtin Circle related to chronotype, verbal utterance and ethic act (BAKHTIN, 2011, 2014, 2016, 2017; VOLOCHÍNOV, 2017) in dialog to the virtual universe (LÉVY, 2011), cyberspace (LÉVY, 1998, 2010), hypermodern times (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004; ROJO; BARBOSA, 2015) and the liquid modernity (BAUMAN, 2001). Results show the relation between space-time in the process of changing, based on social voices of the researchers. They show a meeting of axiological point of views in a dialogical process related to the technologies in the teaching and learning of languages and in the digital reading and writing. About the point of views, it detachessaving time and extension of space due to the technologies, the dynamicity of reading in the internet and the idea of a reader who searches for agility and practicality, in addition to a collaborative online writing that promotes writing and rewriting processes. At last, this study detaches the temporality principles of the researches, principle of lightness, dematerialization of the classroom and liquidity of education. In addition to those principles, it emphasizes the technics of miniaturization, flyweights of the equipment, digital hypermobility, dematerialization of the information, finally, a hypermodern society guided by the acceleration of technics, social e cultural changings. Keywords: cyberspace; reading and writing in a technological context; chronotope; technologies; language teaching. RESUMEN El creciente número de investigaciones destinadas al estudio acerca de la influencia de las tecnologías en las prácticas sociales de uso de la lengua y en los procesos de enseñanza y aprendizaje estimulan, cada vez más, a que se crea que el uso de las tecnologías ya es una realidad presente en la vida de los sujetos sociales y en las prácticas de enseñanza y aprendizaje de lenguas. Al reflexionar sobre el tema, este estudio parte de una recopilación de investigaciones en las revistas “Linguagem e Ensino”, “Revista Brasileira de Linguística Aplicada” e “Trabalhos em Linguística Aplicada”, que abordan la relación entre tecnología y enseñanza de lenguas. Este estudio investiga noventa artículos científicos publicados en el periodo que va desde el 2011 hasta el 2020, cuyo objetivo es sistematizar las investigaciones en Lingüística Aplicada que consideran el cronotopo del ciberespacio y reconocer los niveles de enseñanza en los cuales actúan los estudios; identificar las voces sociales sobre tecnologias, lectura y escritura digitales presentes en los estudios; comprender como esas voces se relacionan axiológicamente; y reflexionar sobre los indicios de los tiempos ultramodernos que caracterizan al cronotopo del ciberespacio. Esta investigación adopta las bases teóricas del Círculo de Mijaíl Bajtín sobre cronotopía, enunciado verbal y el acto ético (BAJTÍN, 2011, 2014, 2016, 2017; VOLÓSHINOV, 2017) dialogando con el universo virtual (LÉVY, 1998, 2010) y los tiempos ultramodernos (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004; ROJO; BARBOSA, 2015) y la modernidad líquida (BAUMAN, 2001). Los resultados apuntan para una relación espacio-tiempo en proceso de transformación, vislumbrados en las voces sociales de los investigadores. Esas voces revelan el encuentro de posicionamientos axiológicos en proceso dialógico, relacionadas a las tecnologías en la enseñanza y el aprendizaje de lenguas y aun a la lectura y escritura digital. Entre los posicionamientos, se destaca el ahorro de tiempo y la ampliación de espacio proporcionados por las tecnologías, la dinamicidad de lectura en la internet y la presuposición de un lector que busca rapidez y practicidad, más allá de una escritura online que se caracteriza como colaborativa y facilitadora de los procesos de escritura y reescritura. Por último, se destaca, aun, los principios de temporalidad presentes en la investigación, el principio de la levedad, la desmaterialización del aula de clase y la liquidez de la educación. Juntamente a esos principios, se evidencia las técnicas de miniautorización, el pesaje de los equipamientos, la hipermovilidad digital, la desmaterialización de la información, en fin, una sociedad ultramoderna conducida por la aceleración de los cambios técnicos, sociales y culturales. Palabras clave: ciberespacio; lectura y escritura en contexto tecnológico; cronotopo; tecnologías; enseñanza de lenguas. LISTA DE QUADROS Figura 1 – Proposta para o letramento digital de professores................................................... 95 Quadro 1 – Artigos publicados na revista Linguagem e Ensino, de 2011 a 2020 .................... 70 Quadro 2 – Título dos artigos publicados na Revista Brasileira de Linguística Aplicada, de 2011 a 2020 ....................................................................................................................................... 74 Quadro 3 – Títulos dos artigos publicados na revista Trabalhos em Linguística Aplicada, de 2011 a 2020 .............................................................................................................................. 78 Quadro 4 – O ciberespaço educacional nas pesquisas .............................................................. 81 Quadro 5 – Estudos analisados ................................................................................................. 83 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ................................................... 20 2.1 A REALIDADE VIRTUAL ............................................................................................... 21 2.2 O CIBERESPAÇO: UM LUGAR SEM LUGAR .............................................................. 23 2.3 OS TEMPOS HIPERMODERNOS ................................................................................... 26 2.4 O TEXTO NO CIBERESPAÇO ........................................................................................ 29 2.5 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA NO BRASIL .................................................................. 32 3. A FILOSOFIA DA LINGUAGEM DO CÍRCULO DE BAKHTIN .............................. 39 3.1 O ATO ÉTICO NO MUNDO CONCRETO ...................................................................... 41 3.2 O CRONOTOPO: UNIDADE ESPAÇO-TEMPORAL .................................................... 44 3.3 O DIALOGISMO, SUAS RELAÇÕES DE SENTIDO E AS VOZES SOCIAIS ............. 48 3.4 O ENUNCIADO VERBAL E OS GENÊROS DO DISCURSO ....................................... 57 4 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ........................................................ 63 4.1 A ABORDAGEM DO ESTUDO ....................................................................................... 63 4.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ............................................ 65 4.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS REVISTAS ..................................................................... 67 4.4 DELIMITAÇÃO DO CORPUS DA PESQUISA .............................................................. 70 5 ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................................................... 84 5.1 Vozes sobre as tecnologias digitais no ciberespaço educacional .................................. 86 5.1.1 As tecnologias digitais na esfera escolar ........................................................................ 87 5.1.2 As tecnologias digitais na esfera acadêmica ................................................................... 94 5.2 VOZES SOBRE LEITURA E ESCRITA NO CIBERESPAÇO EDUCACIONAL ....... 100 5.2.1 A leitura no ciberespaço educacional ........................................................................ 101 5.2.2 A escrita no ciberespaço educacional ........................................................................ 108 5.3 POSIÇÕES SEMÂNTICO-AXIOLÓGICAS EM DIÁLOGO ........................................ 116 5.4 O TEMPO NA PESQUISA EM LA ................................................................................ 121 6 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 126 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 131 APÊNDICE A – TÍTULOS DOS ARTIGOS PUBLICADOS NA REVISTA LINGUAGEM E ENSINO E SEUS OBJETIVOS ............................................................142 APÊNDICE B – TÍTULO DOS ARTIGOS PUBLICADOS NA REVISTA BRASILEIRA DE LINGUÍSTICA APLICADA E SEUS OBJETIVOS .................................................. 148 APÊNDICE C – TÍTULOS DOS ARTIGOS PUBLICADOS NA REVISTA TRABALHOS EM LINGUÍSTICA APLICADA E SEUS OBJETIVOS ....................... 156 13 1 INTRODUÇÃO O ambiente virtual, com suas singularidades, “passou a ser visto e explorado como contexto emergente de investigação para muitas disciplinas em diversas áreas como estudos matemáticos, linguísticos, pedagógicos e biológicos, entre outros” (MIRANDA, 2013, p. 1.168). Notadamente, nas primeiras décadas do século XXI, houve um crescimento significativo de pesquisas voltadas, de alguma maneira, ao uso das tecnologias relacionadas aos diversos contextos de ensino e aprendizagem de línguas. Nesse ambiente virtual, a linguagem, materializada em enunciados socialmente construídos (VOLÓCHINOV, 2017), possui a capacidade de virtualizar o tempo real, pois “[...] a partir da invenção da linguagem, nós, humanos, passamos a habitar um espaço virtual, o fluxo temporal tomado como um todo, que o imediato presente atualiza apenas parcialmente, fugazmente” (LÉVY, 2011, p. 71). Esse tempo “humano” não é exatamente real, mas uma reelaboração constante de objetivos e coerções, um improvisar de soluções, uma reinterpretação de uma realidade passada que continua a nos comprometer. A linguagem virtualiza o tempo real e “[...] o tempo como extensão completa não existe a não ser vitualmente” (LÉVY, 2011, p. 71). Assim, questionamentos, hipóteses e problemas surgem com a complexidade da linguagem, dado o tempo da existência virtual. Implicado com a realidade virtual está o ciberespaço, cuja definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônica que transmite informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização da informação. Pensando na perspectiva da digitalização geral das informações, esta “[...] provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século” (LÉVY, 2010, p. 95), o que implica novos modos de comunicação e interação possibilitados pelo ciberespaço. Para Santaella (2004, p. 40), “[...] o ciberespaço deve ser concebido como um mundo virtual global coerente, independente de como se acede a ele e como se navega nele”, cuja realidade deriva do mundo físico, natural, mas que se constitui de uma realidade multidirecional e virtual incorporada a uma rede de computadores. A esse respeito, Castells e Cardoso (2005, p. 17) afirmam que um novo paradigma tecnológico baseado nas tecnologias de comunicação e informação começa a tomar forma nos anos 1960, de modo que não é a tecnologia que determina a sociedade, ela é a sociedade, pois “A sociedade é que dá forma à tecnologia de acordo com as necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as tecnologias”. Assim, a tecnologia é condição necessária, porém não 14 suficiente, para uma nova forma de organização social baseada em redes de comunicação digital. Inseridos no novo século previsto por Lévy, as tecnologias digitais, popularizadas no Brasil nos anos 1990 (RIBEIRO, 2016), possibilitaram um movimento novo em direção à pesquisa e ao ensino. No campo da Linguística Aplicada, por exemplo, muitos pesquisadores e professores inquietos, principalmente com as novas perspectivas de ensino de línguas, precisaram investigar, testar e avaliar os impactos das novas tecnologias para o ensino. Essa também tem sido minha preocupação ao longo dos últimos anos, enquanto professora pesquisadora atuante nas diversas modalidades de ensino (no ensino superior como substituta nos anos 2013, 2015, 2016 e 2018/UFRN, e na educação básica no ano de 2019 até o presente momento). Nos diferentes níveis de ensino, a prática da sala de aula tem sido uma reflexão constante sobre como se dá e como deveria ser o domínio das linguagens envolvidas nas interfaces digitais, além de como fazer melhor uso das potencialidades das tecnologias digitais no ensino e aprendizagem de línguas. Pesquisadores, como Paiva (2018), têm se dedicado a compreender os impactos das tecnologias digitais no ensino de línguas. Em estudo recente, publicado na Revista da Abralin, Paiva (2019) apresenta a história da aprendizagem de línguas mediadas por computador no Brasil, discutindo experiências passadas e atuais, além de fazer previsões para o futuro. Dentre as pesquisas, destacam-se as contribuições do uso das tecnologias em contextos de ensino e aprendizagem de inglês. Destacamos ainda as contribuições dos estudos de José Leffa, que têm buscado investigar a teoria e a prática da aprendizagem colaborativa da linguagem, considerando o uso e a aprendizagem em ambientes mediados pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), além do enfoque dado ao uso e à produção de Recursos Educacionais Abertos para o ensino de línguas on-line (COSTA; LEFFA, 2017). Com ênfase nos estudos dos Letramentos Digitais e Multiletramentos, Roxane Rojo tem colaborado significativamente com pesquisar sobre o ensino de língua materna e o uso de materiais didáticos digitais, como a gamificação, o livro didático digital e protótipos de ensino. As pesquisas buscam ainda investir em propostas de leitura e escrita na esfera acadêmica, escolar, de divulgação de ciência, em busca de avaliar a posição do leitor-aluno em cada esfera e sua atuação linguístico-discursiva (ROJO, 2007, 2017). Nessa esteira, Coscarelli tem vastos estudos na interface das tecnologias desde 1998, discutindo o uso e as contribuições da informática no ensino e na aprendizagem, até estudos contemporâneos que consideram a leitura em ambientes digitais, a escrita a distância em espaços acadêmicos, além de estudos diversos sobre letramento digital e o uso de tecnologias 15 (COSCARELLI, 1998, 2017). A autora se preocupa, inclusive, com a formação de leitores de hipertextos digitais que continuam dando respostas superficiais a questões de leitura. Outra pesquisadora na área é Ana Elisa Ribeiro, que tem se dedicado a diversos estudos sobre as implicações tecnológicas para o ensino. A ênfase é em estudos sobre os usos da escrita no contexto da informática, o letramento digital na perspectiva da leitura entre o papel e a tela, a leitura hipertextual, a formação do leitor de telas e de textos, até estudos que apresentam um diálogo entre os livros de literatura brasileira contemporânea e os digitais (RIBEIRO, 2001, 2004, 2015). Destacamos ainda as pesquisas desenvolvidas por Júlio César Araújo, cujos estudos têm abordado a relação entre as novas tecnologias digitais e suas consequências para o letramento e o ensino de língua materna e estrangeira. Preocupa-se ainda com estudos relativos à hipertextualidade, aos gêneros digitais e aos propósitos comunicativos de ensino mediado por gêneros digitais. Também tem se dedicado à reelaboração de gêneros em redes sociais, à manipulação e aos efeitos contextuais das atuais fake news em redes sociais (ARAÚJO, 2006; SANTIAGO; PINTO; ARAÚJO, 2015; MOREIRA; ARAÚJO, 2018). Apesar de todo o histórico e da conquista reconhecida de espaço e respeito acadêmico- científico por parte dos que se interessam por investigar a relação entre tecnologias digitais e ensino, muitos são os questionamentos que ainda se colocam frente às instituições escolares e acadêmicas para se trabalhar pedagogicamente diante de tempos e espaços complexos, mas construídos socialmente por sujeitos que apenas respondem às demandas de interação social. Dentre os questionamentos construídos, destacamos como problema geral: Como as pesquisas em Linguística Aplicada estão se orientando na esfera educacional no tempo/espaço da contemporaneidade? As revistas que orientam a construção do corpus da pesquisa trazem publicações de estudos do campoda Linguística Aplicada (LA). Esse campo, “[...] hoje, mantém no centro de seus interesses e atividades questões relativas a desigualdades sociais, políticas, étnicas, culturais das muitas comunidades de aprendizes de língua, sejam elas maternas, segundas ou estrangeiras, com as quais entram em contato [...]” (KLEIMAN; VIANNA; DE GRANDE, 2019, p. 725). Na atualidade, a LA se constrói a partir de variados objetos de estudos e diversos modos de ensinar ou fazer pesquisa. Embora distantes no tempo, entre a LA atual e a LA do final da década de 1940, há um ponto em comum: compreender problemas socialmente relevantes sobre os usos da língua, apontando soluções. Enquanto, na década de 1940, havia o interesse por desenvolver materiais para o ensino de línguas durante a Segunda Guerra Mundial (MOITA LOPES, 2011), na 16 atualidade, procuram-se, mediante as centralidades do discurso, “[...] as soluções para melhorar o ensino de línguas, e dessa forma contribuir para a equidade, o empoderamento de comunidades socialmente vulneráveis, a compreensão de estratégias bem sucedidas, entre outras metas próprias da formação de cidadãos críticos” (KLEIMAN; VIANNA; DE GRANDE, 2019, p. 726). Estamos diante de uma área de investigação interdisciplinar/transdisciplinar que volta seu olhar não apenas para os contextos de ensino ou para dentro da sala de aula mas também para contextos institucionais diversos. As transformações da LA no cenário brasileiro foram traçadas por Archanjo ao analisar estudos publicados e temas dos Congressos Brasileiros de LA (CBLA), da primeira à oitava edição. No estudo, a autora afirma que “[...] situamo-nos, hoje, diante de um campo de estudos consolidado e representado por uma sólida tradição de pesquisa. Com uma identidade construída por transformações [...]” (ARCHANJO, 2011, p. 626), cujas transformações são percebidas e evidenciadas ao longo dos eventos do CBLA. Essas pesquisas indicam caminhos para as diversas relações multidisciplinares, pluridisciplinares, interdisciplinares, transdisciplinares. Podemos dizer que, hoje, na LA, “[...] a produção de conhecimento nessa área passa a assumir fronteiras interdisciplinares e transdisciplinares, [...] deixando de ser uma subárea da Linguística e constituindo-se como um campo de investigação autônomo” (OLIVEIRA, 2009, p. 3), com o objetivo de problematizar e compreender questões de uso linguagem em contextos variados e com sujeitos múltiplos. Moita Lopes e Fabrício (2019, p. 713) discutem uma Linguística Aplicada crítica, cujo significado parte da noção de que o conhecimento vem de algum lugar e o pesquisador e sua subjetividade são fundamentais, pois em vez de uma distância crítica, do apagamento do sujeito da pesquisa, “[...] uma LA crítica enfatiza a performance do/a pesquisador/a, entendendo que modos de falar, sentir, sofrer, etc., são inseparáveis do ato de pesquisar”. Trata-se, portanto, de uma perspectiva em que, no processo de investigação, o pesquisador se posiciona não estando separado do ato de fazer pesquisa, ao contrário, há uma ideia de agir no ato de investigar. Para os autores, estamos diante de uma modernidade em transição, do inevitável olhar crítico sobre a pesquisa no campo da LA, da necessidade de operar com outra lógica, com outras teorizações, metodologias e categorizações. Desse modo, é preciso estudos que deem conta “[...] 1) da mobilidade dos significados que são performatizados aqui e ali; 2) das mudanças que experimentamos em um mundo altamente tecnologizado e superdiverso; e 3) dos artefatos culturais e dos recursos semióticos (textos, imagens e vídeos, por exemplo) [...]” (MOITA LOPES; FABRÍCIO, 2019, p. 715). 17 É com base nesses apontamentos sobre fazer pesquisa no campo da LA que esta pesquisa apresenta preocupações com as mudanças desse mundo altamente tecnologizado e superdiverso, os seus significados e implicações para as vidas em redes sociais, no uso de aplicativos, por exemplo. Destacamos a relevância do trabalho tanto para os contextos sociais quanto para a produção do conhecimento no campo da Linguística Aplicada. Além disso, O estudo parte de um levantamento qualitativo de pesquisas contemporâneas do campo da Linguística Aplicada que trazem para a reflexão a preocupação com o uso das tecnologias digitais e sua relação com o ensino de línguas. A pesquisa adota as bases teóricas dos estudos bakhtinianos sobre cronotopia e vozes socais (BAKHTIN, 2011, 2014, 2018; MORSON; EMERSON, 2008; BEMONG et al. 2015; MACHADO, 2010), ato ético (BAKHTIN, 2017; OLIVEIRA, 2013; PONZIO, 2017; SAMPAIO, 2009; SOBRAL, 2008) e enunciado (VOLOCHÍNOV, 1976, 2017; BAKHTIN, 2016), bem como teorizações sobre o universo virtual (LÉVY, 2011; RAMAL, 2002; TEIXEIRA, 2005) o ciberespaço (LÉVY, 2010; GUIMARÃES JR, 2000; POZO, 2002) e os tempos hipermodernos (LIPOVESTSKY; CHARLES, 2004; ROJO; BARBOSA, 2015). Diante da problemática já apresentada, destacamos os seguintes questionamentos: i) as pesquisas têm privilegiado o cronotopo do ciberespaço em suas investigações? Em quais níveis da esfera escolar elas atuam; ii) quais são as vozes sociais sobre tecnologias digitais, leitura e escrita digital que se fazem presentes nos estudos; iii) como essas vozes sociais se relacionam axiologicamente?; iv) quais os indícios dos tempos hipermodernos presentes nas pesquisas em LA e que caracterizam o cronotopo do ciberespaço? Para responder a essas questões, delimitamos os objetivos de pesquisa: i) sistematizar as pesquisas em LA que consideram o cronotopo do ciberespaço e reconhecer os níveis da esfera escolar nos quais os estudos atuam; ii) identificar as vozes sociais sobre tecnologias digitais, leitura e escrita digital que se fazem presentes nos estudos; iii) compreender como essas vozes sociais se relacionam axiologicamente; e iv) refletir sobre os indícios dos tempos hipermodernos que caracterizam o cronotopo do ciberespaço. Na organização do estudo, são apresentadas as considerações iniciais, chamadas de Introdução do estudo de tese. Na sequência, apresentamos a seção Contextualização do Objeto de Estudo, organizada a partir das seguintes subseções: A Realidade Virtual, que trata da realidade virtual face ao real; O Ciberespaço: Um Lugar sem Lugar, falando sobre a cultura do ciberespaço, responsável pelas novas aprendizagens em diferentes vias de acesso ao conhecimento; Os Tempos Hipermodernos, que discute mudanças relacionadas ao tempo e sua ação direta na sociedade contemporânea; O texto no Ciberespaço, que dialoga sobre a 18 materialidade textual e virtual que habita o ciberespaço; e, finalizando a seção, a subseção Educação e Tecnologia no Brasil, que apresenta pontos relevantes sobre a educação e a tecnologia no Brasil ao longo da história da humanidade. Na terceira seção, A Filosofia da Linguagem do Círculo de Bakhtin, são explicitadas as diretrizes teóricas do estudo, considerando alguns dos princípios gerais sobre os quais se constrói a teoria do Círculo de Bakhtin e que se apresentam fundantes para o entendimento da pesquisa. Nesse sentido, a seção apresenta algumas noções relevantes, como: ideias sobre O Ato ético no Mundo Concreto, o ato responsável do sujeito que se desloca de sua posição presente a uma posição responsável diante da vida sócio-historicamente situada; algumas noções sobre O Cronotopo: Unidade Espaço-Temporal, visto ser a porta de entrada para a compreensão dos significados; ênfase nas teorizações sobre O Dialogismo, as Relações de Sentido e as Vozes Sociais; e, finalizando a seção com O Enunciado Verbal e os Gêneros do Discurso, tratando sobre a constituição da noção do enunciado e dos gêneros do discurso. Salientamos, contudo, que as bases teóricas apresentadas neste estudo são construídas considerando leituras das obras do Círculo de Bakhtin, bem como leituras de obras de estudiosos contemporâneos.Na quarta seção, Aspectos Metodológicos da pesquisa, são apresentadas as diretrizes metodológicas do estudos com os dados da pesquisa, assim organizadas: na primeira subseção, A Abordagem do Estudo, é explicitado o procedimento do paradigma qualitativo norteador da pesquisa e suas características; em seguida, são colocados Os Procedimentos metodológicos, sendo explicada a característica procedimental do estudo; já na subseção Contextualização das Revistas, são organizadas informações gerais sobre as revistas/fonte dos dados de análise. Finalizando a seção, Delimitação do Corpus da Pesquisa, é sistematizado o corpus do estudo e direcionado para as análises. Na quinto capítulo, Análise dos Dados, são apresentados os dados da pesquisa a partir das seções e subseções: Vozes sobre as Tecnologias Digitais no Ciberespaço Educacional, juntamente às subseções As tecnologias digitais na esfera escolar e As tecnologias digitais na esfera acadêmica. Em seguida, Vozes sobre Leitura e Escrita no Ciberespaço Educacional que aborda as vozes dos pesquisadores acerca da leitura e da escrita digital nas diferentes esferas educacionais, organizadas nas subseções A Leitura digital na esfera escolar e acadêmica e Escrita digital na esfera escolar e acadêmica. Na sequência, é apresentada a seção Posições Semântico-Axiológicas em Diálogo que estabelece uma relação dialógica entre os posicionamentos axiológicos apresentados nas subseções anteriores. E, finalizando a seção de 19 análise, O Tempo na Pesquisa em LA que faz uma reflexão acerca de alguns marcadores de temporalidades presentes nas pesquisas e que sinalizam mudanças para o ensino de línguas. Para concluir, são apresentadas as considerações finais na Conclusão, com destaque para os resultados do estudo e possíveis implicações para pesquisas posteriores. Assim, finalizamos algumas observações prévias norteadoras e seguimos para a contextualização do estudo de tese. 20 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO O surgimento dos artefatos tecnológicos ao longo da história humana marca as diferentes formas de comunicação e interação do homem em sociedade. O domínio da escrita nas práticas cotidianas e escolares é fruto de um conjunto de invenções que tornou possível a construção de um modo de comunicação. Diante do contexto que vai das paredes das cavernas ao computador, os processos de escrita se transformam e adquirem formas características peculiares, que respondem aos tempos e espaços contemporâneos. Nesse sentido, iniciamos esta seção tratando sobre A realidade virtual, sendo entendida como uma realidade não concreta, porém, real. São apresentadas ideias sobre a distinção entre real e virtual, atual e virtual, cujo entendimento é relacionado aos contextos de ensino. Além disso, é discutida a ideia de desterritorialização sendo esta relacionada como habitante onipresente do ciberespaço. São apontadas ainda noções sobre O ciberespaço: um lugar sem lugar, sua definição, as principais funções e os princípios de sua constituição e expansão. A ele se relaciona o surgimento de uma nova cultura: a do ciberespaço ou da cibercultura, responsável pelas novas demandas de aprendizagem em diferentes vias de acesso ao conhecimento. Nesse espaço virtual, o processo de aprendizagem passa pelas tecnologias. Já as práticas de leitura e escrita são possibilitadas pela emergência de diferentes saberes da cultura digital. Na subseção Os tempos hipermodernos, refletimos sobre as transformações da sociedade contemporânea, cujo modelo temporal busca ganhar tempo, diminuir o peso dos objetos e os tornar mais móveis, substituir os produtos físicos pelo fluxo eletrônico nas redes. Nesse contexto, é abordado o princípio da leveza que se concretiza nas técnicas do mini, do nano, da digitalização, da otimização de instrumentos e da desmaterialização dos suportes de informação, um dos traços mais característicos da sociedade moderna. Na subseção O texto no ciberespaço, damos ênfase ao texto como materialidade virtual que habita o ciberespaço. É apresentada a noção de hipertexto e discutido os processos de leitura desse texto. Além disso, destacamos as características do leitor do texto digital e sua autonomia para escolher os caminhos da leitura por meio dos hipertextos. Por último, em Educação e tecnologia no Brasil, são mencionados alguns pontos relevantes sobre as ferramentas tecnológicas que facilitaram a comunicação e o registro da cultura ao longo da história da humanidade. Além disso, tratamos do contexto de ensino de língua associado ao uso das tecnologias e da internet. Ao final da seção, são apresentados dados 21 sobre o uso dos aparelhos tecnológicos – computadores e telefonia – no Brasil, bem como sobre a acessibilidade de internet dos brasileiros. 2.1 A REALIDADE VIRTUAL A lógica virtual universalizada e materializada na realidade não concreta tem produzido significativas transformações na dialética da relação do sujeito com o mundo. Ela tem revolucionado todas as dimensões da vida humana, inclusive as práticas sociais de interação em espaços educacionais, visto que “A chegada da internet em nossa sociedade teve um efeito ecológico, pois essa nova tecnologia tem gerado mudanças significativas no ambiente das interações humanas” (PAIVA, 2001, p. 129). Para Lévy (2011), entre o real e o virtual, há uma relativa oposição fácil e enganosa. O real, considerado oposição ao virtual, seria da ordem do “tenho”, enquanto o virtual seria da ordem do “terás”, ou da ilusão, o que permite evocar as diversas formas de virtualização. Para o autor, a palavra virtual é empregada frequentemente para significar a pura e simples ausência de existência, a realidade possui concretude na condição de virtual. O virtual possui uma plena realidade enquanto se constitui virtual. Nas palavras de Lévy (2011), A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Na filosofia escolástica, é virtual o que existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado, no entanto, à concretização efetiva ou formal. A árvore está virtualmente presente na semente. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes (LÉVY, 2011, p. 15). O virtual não se opõe ao real, mas ao atual. O real assemelha-se ao possível, enquanto o atual em nada se assemelha ao virtual, ao contrário, responde-lhe. O movimento de passagem do atual para o virtual, considerado como a virtualização, inclui uma dinâmica do particular para uma problemática mais geral, sobre a qual passa a ser colocada a ênfase ontológica, ou seja, o virtual assume o lugar do significado em oposição à atualização particularizada do significante, “A virtualização pode ser definida como um movimento inverso da atualização, consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma ‘elevação de potência’ da entidade considerada” (LÉVY, 2011, p. 17, grifo do autor), pois enquanto a atualização ia de um problema a uma solução, a virtualização passa de uma solução dada a um (outro) problema. Uma das principais modalidades da virtualização definida por Lévy é o desprendimento do aqui e do agora. Para o autor, o virtual, com muita frequência, não está presente, a exemplo de uma empresa virtual, cujos elementos são nômades e dispersos. Uma 22 empresa virtual tende a substituir a presença física dos seus empregados pela participação numa rede de comunicação eletrônica e pelo uso de recursos e programas que favoreçam a cooperação. Da mesma forma, os processos de ensino e aprendizagem tendem ao desprendimento do aqui e do agora, dado que “A flexibilização do tempo e do espaço é a grande inovação desse novo modelo de aprendizagem” (PAIVA, 2001, p. 129), cujas interações são possibilitadas pelaparticipação via rede de comunicação. A escola deixa de ser o espaço privilegiado para o ensino, cedendo lugar para os espaços virtuais. Nesses espaços, a leitura e a escrita se dão por meio do texto virtual. Ele passa a se apresentar como atualização de um hipertexto, que, apesar de possuir endereço como arquivo digital, é desterritorializado, ou seja, ele é “[...] desprovido de inércia, habitante ubíquo do ciberespaço, o hipertexto contribui para produzir aqui e acolá acontecimentos de atualização textual, de navegação e de leitura” [...] (LÉVY, 2011, p. 17-18) e, embora necessite do suporte físico para atualizar-se, não possui um lugar físico. O hipertexto, habitante onipresente do ciberespaço, não possui um lugar, nem é totalmente independente do espaço-tempo de referência, mas deve sempre estar inserido em um suporte físico e se atualizar constantemente. Pensar esse tipo de texto é fazer referência a uma unidade de tempo sem unidade de lugar, tendo em vista as interações em tempo real por redes eletrônicas, as transmissões ao vivo, e ainda a continuidade de ação apesar de uma duração descontínua. Essa característica do texto virtual traz implicações significativas para pensar leitura e escrita nos espaços virtuais, pois, “Com o texto digital, usamos menos o lápis e a borracha. Escrever é um ato diferente[...] podemos cortar, colar, editar, inserir tabelas e imagens [...] podemos salvar, inserir sons animações, além de usar links que podem nos levar diretamente a outros textos” (COSCARELLI, 2009, p. 552). São hábitos e habilidades diferentes que estão associados ao texto digital, e muitas vezes não estão relacionados com as práticas de ensino. Ensinar e aprender em contextos tecnologizados demanda busca, pesquisa, selecionar e filtrar informações relevantes conforme propósitos pré-estabelecidos. Compreender o universo virtual em suas particularidades é compreender também a pluralidade de tempos e espaços que se abrem aos novos meios de interação. Não se pode mais considerar apenas uma única extensão territorial ou uma cronologia uniformizada, mas uma quantidade de tipos de espacialidades e de duração temporal, “Cada forma de vida inventa seu mundo, e com esse mundo, um espaço e um tempo específicos” (LÉVY, 2011, p. 22, grifo do 23 autor). Assim, cabe compreendermos um pouco mais sobre o espaço que está, de certa forma, inventando-se nesse novo mundo, o ciberespaço. 2.2 O CIBERESPAÇO: UM LUGAR SEM LUGAR O termo ciberespaço associa-se a uma realidade virtual e “[...] pode ser definido como o locus virtual criado pe1a conjunção das diferentes tecnologias de te1ecomunicação e telemática em especial, mas não exc1usivamente as mediadas por computador” (GUIMARÃES JR, 2000, p. 142). Nas palavras de Lévy (2010, p. 94, grifo do autor), “Eu defino o ciberespaço como o espaço da comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos [...]”, ou seja, é um espaço de comunicação que se dá pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores, sendo o virtual a marca distintiva do ciberespaço. É a codificação digital que condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real das informações. O espaço virtual, para Lévy (2010), é aquele que está a todo momento em processo de atualização ou transformação. É o mundo da significação que se constrói por meio de uma linguagem, não propriamente pelos computadores, mas por sujeitos físicos, que vivem uma realidade física, mesmo que virtual. O computador e a internet são fatores constitutivos dessa realidade virtual. O computador possibilita manipular, de maneira automática, os signos linguísticos, porém, a significação dos signos é construída virtualmente. Santaella (2004, p. 40), por sua vez, provoca o leitor acerca da constituição do ciberespaço ao questionar: “De que se constitui isso que existe em um lugar sem lugar e que é, ao mesmo tempo, uma miríade de lugares? Consiste em uma realidade multidirecional, artificial ou virtual, incorporada a uma rede global, sustentada por computadores”, ou seja, é uma realidade que deriva do mundo natural, físico, do qual o computador é uma janela que possibilita a virtualização da informação. Uma das principais funções do ciberespaço “[...] é o acesso a distância aos diversos recursos de um computador” (LÉVY, 2010, p. 95, grifo do autor). Por exemplo, um computador pequeno e pessoal pode conectar-se a um enorme computador situado a milhares de quilômetros e fazer com que ele execute, em alguns minutos, cálculos que o computador pequeno levaria dias ou meses para calcular. Isso quer dizer que o ciberespaço possibilita uma potência de cálculo em tempo real semelhante ao fornecimento de eletricidade pelas companhias. Isso 24 significa que não é mais necessário ter um grande computador no local, basta que a potência de cálculo esteja disponível em algum lugar no ciberespaço. Além disso, também é possível acessar o conteúdo de banco de dados ou a memória de um computador distante, desde que se disponha de um terminal convenientemente preparado para esse fim. Para Lévy (2010, p. 95), “Contanto que eu disponha do software de interface necessário e de uma taxa de transmissão adequada, tudo acontece como se eu estivesse consultando a memória do meu próprio computador”. Nesse sentido, desde que a informação pública se encontre no ciberespaço, ela já se constitui virtual e imediatamente à disposição, independentemente das coordenadas espaciais de seu suporte físico. Outra função importante do ciberespaço é a transferência de dados ou upload, o que significa copiar um pacote de informações de uma memória digital para outra, por exemplo, anexar um arquivo a uma mensagem de e-mail. O crescimento do ciberespaço se dá por meio de três princípios, segundo Lévy, a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. “Umas das ideias, ou talvez devêssemos dizer uma das pulsões mais fortes na origem do ciberespaço é a interconexão” (LÉVY, 2010, p. 129, grifo do autor), sendo ela constitutiva da humanidade em um contínuo sem fronteiras. A interconexão é prolongada mediante o princípio da criação de comunidades virtuais, estas, por sua vez, estão apoiadas na interconexão. “Uma comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, de projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais” (LÉVY, 2010, p. 130). Por último, a inteligência coletiva se dá muito mais como um problema do que uma solução, pois se o melhor uso que podemos fazer do ciberespaço é a colaboração dos saberes, as imaginações, as energias espirituais dos que estão conectados a ele, como fazê-los? Se a inteligência coletiva é um modo de coordenação, cada um pode se considerar como um centro? Ou o coletivo é dinâmico, autônomo, emergente? A inteligência coletiva constitui-se como o modo de realização da humanidade, mas não sabemos, a priori, a direção e quais os resultados dos que se colocam à disposição seus recursos intelectuais. Cada um dos três aspectos apresentados neste estudo constitui, a seu modo, a condição necessária para o crescimento do ciberespaço. Assim como não há comunidade virtual sem interconexão, também não há inteligência coletiva sem a virtualização das comunidades no ciberespaço, pois “A interconexão condiciona a comunidade virtual, que é uma inteligência coletiva em potencial” (LÉVY, 2010, p. 135). 25 O ciberespaço se apresenta, então, como um campo de infinitas possibilidades de interação social, de comunicação, de construção de novas identidades e de práticas sociais de sujeitos que se constroem mediante a concretização desse espaço. Lévy(2010) faz menção ao surgimento de uma nova cultura, por ele denominada de cultura do ciberespaço ou cibercultura. Para o autor, o ciberespaço, também chamado de rede, é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Dessa forma, o neologismo “cibercultura” especifica o conjunto de técnicas – materiais e intelectuais – de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolve com o crescimento do ciberespaço. Para Lemos (2003), a cibercultura nada mais é do que a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais. Não se caminha ainda em direção, já se vive a cibercultura no tempo presente, é o caso dos usos do home banking, dos cartões inteligentes, celulares, entre outros. A cibercultura corresponde à cultura contemporânea como consequência direta da cultura técnica moderna. A cibercultura traz consigo uma “[...] prévia da mutação contemporânea da relação com o saber” (LÉVY, 2010, p.159). Isso significa que, na relação entre educação e formação na cibercultura, é preciso considerar a velocidade do surgimento e de renovação dos saberes, visto que as tecnologias intelectuais favorecem, Novas formas de acesso à informação: navegação por hiperdocumentos, caça à informação através de mecanismos de pesquisa, knowbots ou agentes de software, exploração contextual através de mapas dinâmicos de dados; Novos estilos de raciocínio e de conhecimento, tais como a simulação, verdadeira industrialização da experiência do pensamento, que não advém nem da dedução lógica nem da indução a partir da experiência (LÉVY, 2010, p. 159). Os próprios sistemas educativos encontram-se hoje submetidos a novos modos de construção de saberes, dadas as formas de acesso à informação e os novos estilos de raciocínio e de conhecimento. Nesse processo, os sujeitos são submetidos a novas demandas de aprendizagem, pois a velocidade da informação e da comunicação passou a estabelecer diferentes vias de acesso ao conhecimento. Cabe, portanto, ao sujeito buscar se renovar constantemente frente aos processos evolutivos da sociedade de aprendizagem, pois “[...] cada sociedade, cada cultura gera suas próprias formas de aprendizagem, sua cultura de aprendizagem. Desse modo, [...] a aprendizagem da cultura acaba por levar a uma determinada cultura da aprendizagem” (POZO, 2002, p. 25). Sob esse viés, cada cultura de aprendizagem, influenciada pelas tecnologias, possibilita a emergência de diferentes saberes e diferentes formas de apropriação. 26 Pozo (2012) alerta ainda que, na sociedade da aprendizagem, todos somos, em maior ou menor grau, alunos e professores, por isso, as práticas educacionais devem ser consideradas como formas por meio das quais o sujeito possa ser encorajado a participar ativa e significativamente de todos os processos de construção do conhecimento. Nessa perspectiva, não se deve ignorar que educar na cibercultura implica necessariamente considerar o potencial das tecnologias digitais e toda sua interatividade, diante do que podemos chamar de tempos hipermodernos. Consideremos os significados desses tempos. 2.3 OS TEMPOS HIPERMODERNOS Na obra Tempos Hipermodernos, Gilles Lipovetsky1 (2004), em parceria com Sébastien Charles2, reflete sobre o conceito de hipermodernidade. No livro, o que Lipovetsky chamou de pós-modernidade passa a ser caracterizado como um momento transitório para a hipermodernidade, ou seja, uma nova conceituação se apresenta diante da nova realidade, superando a modernidade. A noção de pós-modernidade se apresenta, no final dos anos 1970, para designar o recente cenário sociocultural nos países desenvolvidos (LIPOVESTSKY; CHARLES, 2004). Nas palavras dos autores, o conceito de pós-moderno não é suficiente para explicar a realidade atual, “[...] no momento em que triunfam a tecnologia genética, a globalização liberal e os direitos humanos, o rótulo pós-moderno já ganhou rugas, tendo esgotado sua capacidade de exprimir o mundo que se anuncia” (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 52). Para os autores, a época atual é chamada de segunda modernidade, que se alicerça em três axiomas constitutivos da própria modernidade anterior: “[...] o mercado, a eficiência técnica e o indivíduo” (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 54). Partindo dos axiomas, três questões são determinantes para a consolidação da modernidade frente ao hiper: No cerne do novo arranjo do regime do tempo social, temos: (1) a passagem do capitalismo de produção para uma economia de consumo e de comunicação de massa; e (2) a substituição de uma sociedade rigorístico-disciplinar por uma “sociedade- moda” completamente reestruturada pelas técnicas do efêmero, da renovação e da sedução permanente (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 60). As transições em destaque, passagem do capitalismo de produção para uma economia de consumo e de comunicação de massa e ainda a substituição de uma sociedade rigorístico- 1 Doutor Honoris Causa pela Universidade Sherbooke (Canadá) e pela Nouvelle Université Bulgare (Sofia). 2 Professor de Filosofia no Canadá, estudioso da obra do pensador francês Gilles Lipovetsky. 27 disciplinar por uma “sociedade-moda”, revela um momento histórico marcado pelo consumo e pelo individualismo. A vida pessoal e social é regida por novos valores que se instauram e provocam mudanças significativas nos modos de viver e de se relacionar em sociedade. Enquanto a primeira modernidade foi extremamente ideológica e política, a segunda modernidade está aquém do político, configurando-se pela tecnologia, pela mídia, pela economia, pelo urbanismo, pelo consumo, pelos desequilíbrios e distúrbios dos indivíduos. Essas novas características da segunda modernidade proporcionam pensar descolamentos, como afirma Rojo e Barbosa (2015, p. 118), “No contexto da hipermodernidade, o prefixo se desloca, se recoloca ou se instaura em outros contextos: hipercomplexidade, hiperconsumismo e hiperindividualismo”. O prefixo passa a significar excesso de consumo, das tecnologias, de TV, de internet, das multidões virtuais, de informações, enfim, são extremos comportamentais caracterizados pela hipermodernidade. Nesse terreno, o tempo é acelerado, “[...] todos têm um dia cheio, até as crianças. Na vivência acelerada da vida, quanto mais se faz, maior a sensação de que o tempo se esgota. Tornou-se comum a queixa pelo tempo que falta” (ROJO; BARBOSA, 2015, p. 175). No ritmo acelerado da hipermodernidade, “[...] não há escolha, não há alternativa, senão evoluir, acelerar para não ser ultrapassado pela ‘evolução”’ (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 57). É o presente, com suas normas flexíveis, que nos rege, pois o que prevalece é o conforto como existência, demandas por sensações aprazíveis. Trata-se, em grande medida, de um novo modo de lidar com as tradições. Nas palavras de Rojo e Barbosa (2015), É a era do hedonismo individual, do hipernarcisismo. O culto e a contínua busca pelo prazer (imediato), a extrema fluidez dos pertencimentos atuais, a ausência de projetos coletivos em função das dúvidas, em relação ao futuro, direcionam o projeto de autonomia da modernidade, que passa a primar pela não responsabilização pelo outro (ROJO; BARBOSA, 2015, p. 119). A era do hedonismo, do hiper (narcisismo, consumismo, individualismo), da hipercomplexidade, enfim, da hipermodernidade – possui uma relação direta com o ciberespaço ou a cibercultura, pois a cultura contemporânea é uma consequência direta da cultura técnica moderna. Assim, na relação entre educação e formação na cibercultura, é indispensável considerar a velocidade do surgimento e de renovação de saberes dos sujeitos sociais marcadamente contemporâneos (LEMOS, 2003). Em tempos hipermodernos, destaca-se a corrida pelo ganho de tempo, pelo aumento da velocidade nas instituições, nas relações inter-humanas, na vida cotidiana. Além da corrida pelotempo, é necessário diminuir o peso dos objetos e os tornar mais móveis, produzir micro 28 e nano objetos, substituir o físico pelo eletrônico nas redes de comunicação, pois “Estamos numa sociedade em que o princípio de aceleração se reveste de outro princípio, o princípio da leveza, cujas aplicações são inúmeras nos setores mais variados da vida econômica e social” (LIPOVETSKY, 2016, p. 111, grifo do autor). O princípio da leveza material considera a otimização de objetos cada vez mais leves e menores, a produção do melhor com menos, a desmaterialização dos suportes de informação. Nesse tempo ultracontemporâneo, a combinação mobilidade e internet “[...] criou um novo paradigma de leveza, inscrito sob o signo de nomadismo digital [...] com a internet móvel, novos aplicativos são constantemente propostos, tornando possível uma navegação tão rápida quanto fluida” (LIPOVETSKY, 2016, p. 127). Os aplicativos de mensagens instantâneas exemplificam a leveza digital, a efemeridade das trocas interacionais. Assim, também as redes sociais, os gêneros discursivos digitais, os materiais didáticos digitais, as plataformas de ensino, enfim, os novos tempos de leveza estão se construindo e seu impacto sobre a vida humana é, certamente, significativo, pois prevalece a facilidade, a leveza, a mobilidade e a conectividade generalizada. Isso significa estar em vários lugares simultaneamente e ter acesso a uma infinidade de conhecimentos, além de estar presente, mesmo distante, sem restrição de tempo e espaço. Estar conectado facilita a multiplicação de interações sociais em sites de encontro e redes sociais. Bauman (2001) fala do derretimento dos sólidos como um traço permanente da modernidade. Para o autor, vivemos em uma época em que as relações sociais e o mundo se encontram em um estado similar ao estado liquefeito da matéria. A fluidez é a principal metáfora para o estágio presente da modernidade. Sobre os fluidos e os sólidos, o autor explica: O que todas essas características dos fluidos mostram, em linguagem simples, é que os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade. Os fluidos, por assim dizer, não fixam no espaço nem predem o tempo. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras [...] os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la (BAUMAN, 2001, p. 8). Diferentemente dos sólidos, os fluidos se movem, escorrem, transbordam, mudam com facilidade. Considerando a metáfora, vislumbra-se o surgimento de um novo contexto social, afetado principalmente pelo crescente uso das tecnologias digitais, também associado à ideia de “leveza”. Ao certo, diferentes setores de atividade humana têm sido impactados por essa leveza dos novos tempos, inclusive o setor educacional. Porém, quais serão as implicações desses 29 novos tempos para os contextos de ensino? Como pensar um currículo escolar, a construção do conhecimento, as competências básicas diante da leveza dos novos tempos, da flexibilização? São reflexões importantes para pensamos as práticas ensino hoje, inseridas no ciberespaço, cujo texto digital passa a ser um importante meio para se chegar ao conhecimento. Passemos a refletir um pouco mais sobre a materialização do texto no ciberespaço e suas caraterísticas. 2.4 O TEXTO NO CIBERESPAÇO Quando abordamos o texto em sua materialidade virtual, estamos diante de novas definições e novos entendimentos, cujos tempo e espaço determinam a realidade textual. Para Lévy (2011, p. 37, grifo do autor), “Deve-se entender o ‘texto’ no sentido mais geral: discurso elaborado ou propósito deliberado”. Partindo da definição, o texto é uma representação de um discurso elaborado cujo propósito é definido e representado pela materialidade discursiva. Porém, uma individualidade do texto apresentada nesta pesquisa é a sua desterritorialização, fluidez e capacidade de habitar o ciberespaço. Esse texto contemporâneo e dinâmico é uma entidade virtual e abstrata capaz de atualizar-se por meio da leitura, uma vez que ele está repleto de vazios desconstruídos ao longo desse processo. Ele possui características técnicas, cuja análise se relaciona a uma dialética do possível e do real. Na leitura de um livro, por exemplo, O leitor de um livro ou de um artigo no papel se confronta com um objeto físico sobre o qual uma certa versão do texto está integralmente manifesta. Certamente ele pode anotar nas margens, fotocopiar, recortar, colar, proceder a montagens, mas o texto inicial está lá, preto no branco, já realizado integralmente. Na leitura em tela, essa presença extensiva e preliminar à leitura desaparece. O suporte digital não contém um texto legível por humanos, mas uma série de códigos informáticos que serão eventualmente traduzidos por um computador em sinais alfabéticos para um dispositivo de apresentação. A tela apresenta-se então como uma pequena janela a partir da qual o leitor explora uma reserva potencial (LÉVY, 2011, p. 39). O texto, em sua realidade impressa, possibilita ao leitor o contato com o objeto físico e a integralidade textual, cujo diferencial é a sua presença e a realização acabada. Já o texto em tela não está legível, a priori, por humanos; ao contrário, uma série de códigos informáticos são traduzidos por um hardware em sinais alfabéticos para um dispositivo de apresentação. A tela, percebida como uma pequena janela, permite ao leitor explorar uma reserva potencial, ou seja, a exibição de uma realização textual. O computador é, portanto, um operador de potencialização da informação. A potencialização de informação por meio do hardware diz respeito a um estoque de dados iniciais, um modelo ou um metatexto, um programa que pode calcular um número 30 indefinido de diferentes exibições visíveis, audíveis e tangíveis, dada a situação de uso ou a demanda de usuários. Aliás, é somente através da tela do computador, ou de outro aparelho de mídia interativo, que o leitor dispõe da plasticidade textual e imagética, dado o fato de que o texto impresso, necessariamente, já está realizado por completo. “A tela informática é uma nova ‘máquina de ler’, o lugar onde uma reserva de informação possível vem se realizar por seleção, aqui e agora, para um leitor particular” (LÉVY, 2011, p. 39, grifo do autor), pois toda leitura em um computador é uma edição particular, uma montagem una. Quando falamos em texto virtual também falamos no hipertexto. Lévy (2011) define que o hipertexto consiste em uma matriz de textos potenciais que se realiza sob o efeito da interação com o usuário. Isso significa uma nova forma de apresentação do texto que dá acesso a novas formas de leitura e compreensão do texto lido. Para Coscarelli (2009, p. 55), “[...] hipertextos são textos não lineares que oferecem links ou elos de ligação para outros textos, que podem inclusive ser imagens, gráficos, vídeos, animações, sons”, sendo todo texto, para a autora, um hipertexto e toda leitura é um processo hipertextual, pois nenhum texto é linear e nenhuma leitura é linear. Isso significa dizer que as definições de hipertexto se aplicam também aos textos que não estão no ambiente digital, uma vez que eles apresentam características que marcam a não linearidade dos elementos do texto e fazem parte de textos em geral, como títulos, subtítulos, notas de rodapé, cadeias referenciais, entre outros. O texto no formato hipertextual, no entanto, pode demandar uma leitura diferente quanto à produção de inferências, à monitoração da leitura e à integração de informações de diferentes linguagens, decorrentes de vários fatores que podem interferir nos processos de leitura. Sobre a leitura nos ambientes virtuais3, Lévy (2011, p. 40, grifo do autor) afirma que “[...] o leitor em tela é mais ‘ativo’ que o leitor em papel: ler em tela é antes mesmo de interpretar, enviar umcomando a um computador para que projete esta ou aquela realização parcial do texto sobre uma pequena superfície luminosa”. É diante da tela que o leitor encontra a nova plasticidade do texto ou da imagem, uma vez que o texto no papel, forçosamente, já está realizado por completo. Assim, a tela significa uma nova máquina de ler, em que uma reserva de informação possível se realiza por seleção, por um leitor particular, porque “O leitor na web não lê da 3 Cabe destacar que as concepções de leitura apresentadas nesta seção são contextualizações do objeto da pesquisa. A definição de leitura adotada para o estudo é aquela que privilegia o fato da linguagem como uma heterogloxia axiologizada e privilegia a produção de sentidos e valores nos enunciados. 31 mesma forma que o leitor de livros ou revistas de papel. O leitor-navegador tem o mundo ao alcance do clique do mouse. Basta o texto tornar-se monótono para que o leitor dirija-se a outras paragens” (ALMEIDA, 2003, p. 34). A leitura em tela não segue a obrigação da linearidade do texto impresso, como também apontam Anjos, Couto e Oliveira (2011), A leitura em tela não tem mais a obrigação da linearidade do texto impresso, ela é descontínua, na prioridade de satisfazer às características próprias do texto eletrônico, entre elas a maleabilidade, a mobilidade, a abertura para inúmeros hiperlinks etc. O leitor torna-se mais ativo e autônomo, ele é coautor, pois escolhe o caminho de sua leitura, acessando links para outros textos, vídeos, imagens e músicas. Assim, vai construindo seu percurso, interagindo com outras formas de textos, de linguagens e com os próprios autores, fazendo críticas, reescrevendo simultaneamente um escrito que parece sempre inacabado, sujeito a modificações. Com o texto eletrônico, todo mundo pode tornar-se crítico, fazendo suas análises e divulgando seus juízos pessoais. Dessa forma, a intertextualidade e a interatividade estão fortemente presentes na escrita/leitura on-line (ANJOS; COUTO; OLIVEIRA, 2011, p. 149-150). Uma característica importante do leitor do texto digital é a sua autonomia e liberdade de escolher o caminho da leitura a partir dos links disponíveis. O leitor pode se tornar um crítico e divulgar os seus juízos pessoais, interagindo e construindo opiniões pessoais. Um ato de leitura, para Lévy (2011), é uma atualização das significações de um texto. O suporte digital permite novos tipos de leitura e escritas coletivas, por isso um continuum se estende entre a leitura individual de um texto e a navegação em vastas redes digitais, em que um grande número de pessoas anota, comenta, conecta os textos uns aos outros por meio de ligações hipertextuais. A hipertextualização, assim, multiplica as ocasiões de produção de sentido e permite enriquecer formidavelmente a leitura. Lévy também fala da artificialidade da leitura. Para o autor, O hipertexto, hipermídia ou multimídia interativo levam adiante, portanto, um processo já antigo de artificialização da leitura. Se ler consiste em selecionar, em esquematizar, em construir uma rede de remissões internas ao texto, em associar a outros dados, em integrar as palavras e as imagens a uma memória pessoal em reconstrução permanente, então os dispositivos hipertextuais constituem de fato uma espécie de objetivação, de exteriorização, de virtualização dos processos de leitura. Aqui consideramos não apenas os processos técnicos de digitalização e de apresentação do texto, mas a atividade humana de leitura e de interpretação que integra as novas ferramentas (LÉVY, 2011, p. 43-44). As tecnologias que contribuem, desde os primeiros textos alfabéticos, para estruturá- los, articulá-los em sua linearidade, são consideradas pelo autor aparelhagem de artificialização da leitura. Os dispositivos hipertextuais constituem, portanto, a objetivação, a exteriorização, a virtualização dos processos de leitura, dada a atividade humana de leitura e interpretação possibilitada pelas novas ferramentas. 32 Para Ramal (2002, p. 87), o hipertexto significa “[...] a apresentação de informações através de uma rede de nós interconectados por links que pode ser navegada livremente pelo leitor de um modo não-linear”. Sobre o conceito de rede, Teixeira (2005, p. 24) aponta ser uma “[...] estrutura dinâmica e aberta, cuja condição primeira de existência é a ação dos nós que a formam e que, ao construírem suas próprias formas de apropriação e de ação sobre a trama, modificam-na e por ela são modificados”. A lógica das redes passa pela necessidade de que cada pessoa, imersa no contexto interativo digital, assuma-se como um nó efetivo nas tramas estabelecidas e se reconheça como autor de sentidos e informações. Lévy (2011) trata ainda da tendência contemporânea à hipertextualização dos documentos, também definida como uma tendência à indistinção, à mistura das funções de leitura e escrita. Diante do entendimento, ao leitor é permitido modificar textos e imagens, conectar um hiperdocumento a outro, fazer dois hipertextos separados em um único documento, traçar ligações hipertextuais entre uma série de documentos, enfim, os hiperdocumentos acessíveis por uma rede de informática são poderosos instrumentos de escrita e leitura coletiva. Assim a leitura e a escrita trocam seus papéis. Todo aquele que participa da estruturação do hipertexto, do traçado pontilhado das possíveis dobras do sentido, já é um leitor. Simetricamente, quem atualiza um percurso ou manifesta este ou aquele aspecto da reserva documental contribui para a redação, conclui momentaneamente uma escrita interminável. As costuras e remissões, os caminhos de sentido originais que o leitor inventa podem ser incorporados à estrutura mesma dos corpus. A partir do hipertexto, toda leitura tornou-se um ato de escrita (LÉVY, 2011, p. 46, grifo do autor). Assim, ler e escrever tornam-se práticas cada vez mais coletivas e dinâmicas, mediadas por aparelhos tecnológicos. A cultura do hipertexto favorece a construção coletiva do pensamento, de aprendizagens múltiplas e o compartilhamento de informações. Cabe ao leitor decidir as trajetórias de leitura e escrita, sem linearidade, rompendo com os esquemas rígidos e inflexíveis impostos, muitas vezes, pelos processos de ler e escrever tradicionalmente. Tudo isso acontece em um lugar chamado ciberespaço, que, ao longo da história da humanidade, foi se definindo e se construindo através das tecnologias digitais. Após refletido alguns pontos sobre o texto no ciberespaço, passemos para algumas considerações sobre o desenvolvimento da educação e sua relação com a tecnologia no Brasil. 2.5 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA NO BRASIL A relação educação e tecnologia tem passado por muitas transformações na história da humanidade. A necessidade de comunicação das primeiras comunidades deu origem a 33 diferentes tipos de ferramentas que facilitaram a comunicação e o registro da cultura de um povo. Inicialmente, vieram os registros nas cavernas, posteriormente, diferentes formas de escritos passaram a fazer parte das mais diversas práticas sociais, “[...] primeiro a placa de argila, depois de rolo, o códex, o livro, a assim sucessivamente, até o surgimento, bastante recente do computador” (BRAGA; RICARTE, 2005, p. 10). Cada invenção tecnológica teve, a seu modo, impactos significativos nas práticas cotidianas e no relacionamento humano. O computador, por exemplo, tem ocupado cada vez mais lugar de destaque nas práticas sociais de linguagem, especialmente como tecnologia educacional. A esse respeito, aponta-se que A tecnologia educacional existe há mais de 2500 anos, no contexto da história da humanidade. As tábuas de pedras foram usadas na época para comunicar o povo os dez mandamentos recebidos por Moisés. Essas tábuas tiveram a ação de uma tecnologia educacional, porque a intenção naquele momento era ensinarsobre a linguagem dos dez mandamentos para o povo entender e obedecer. Este acontecimento é um exemplo da influência da tecnologia no ensino. Isto nos faz refletir sobre quantas tecnologias já estiveram presentes no ensino, ou muitas delas ainda convivem com as novas tecnologias digitais e as mídias, na história contemporânea (FONSECA; FONSECA, 2016, p. 12). Muitas tecnologias auxiliaram o ensino e a aprendizagem de línguas, como as tábuas de pedras usadas para ensinar a linguagem dos dez mandamentos. Hoje, podemos contar com ferramentas tecnológicas mais sofisticadas e capazes de responder às necessidades de uma sociedade marcada pelo acúmulo de informação e pela necessidade de interação a distância, como os computadores e os aparelhos de telefonia. Nesse sentido, Paiva (2019) considera três momentos marcantes associados à criação das tecnologias na história do ensino de línguas modernas, O primeiro foi a invenção da prensa por Gutenberg e o surgimento dos livros didáticos. O segundo está associado às tecnologias de voz, com discos, gravadores e fitas cassete e a consequente criação dos laboratórios de língua e dos gravadores portáteis, que podiam ser facilmente levados pelos professores para as salas de aula. Por incrível que pareça, a TV e o videocassete foram subutilizados no ensino de língua. O terceiro momento é caracterizado pela criação do computador e da Internet e pela evolução dos equipamentos e dos telefones celulares, que se tornaram inteligentes e, por isso mesmo, são chamados de smartphones (telefones inteligentes) (PAIVA, 2019, p. 5). Enquanto no primeiro momento temos o surgimento de tecnologias como a prensa e o livro didático, no segundo momento, as tecnologias de voz predominam nas salas de aula como recursos potencialmente utilizados pelos professores. Já no terceiro momento, temos o surgimento dos computadores, do aparelho celular e da internet. Com isso, passa-se a falar em tecnologias digitais com fins educacionais. Paiva (2019, p. 7) considera ainda que “[...] no Brasil, os computadores só começaram a se integrar ao ensino no final dos anos [19]90 com a 34 chegada da rede mundial de computadores à escola”, causando temor e estranheza entre os professores e administradores escolares. Os primeiros livros no ensino de línguas foram as gramáticas, que, na época medieval, eram de posse apenas do professor (PAIVA, 2006). Nesse período, aprender uma língua significava aprender a sintaxe dessa língua. Uma ameaça para esses professores, que se sentiam receosos, foi a inovação tecnológica a partir da produção de máquinas para reprodução de som e vídeo. No contexto de ensino de línguas, “[...] o sistema educacional sempre se viu pressionado pela tecnologia do livro ao computador, e faz parte de sua história um movimento recente de rejeição, inserção e normalização” (PAIVA, 2006, p. 1), pois cada evolução tecnológica traz consigo o novo, o estranhamento e a recusa. Aos poucos, ela começa a fazer parte dos usos sociais de linguagem e das práticas pedagógicas, até ser considerada uma ferramenta comum entre os seus usuários. Para a autora, o cinema, o rádio e a televisão foram as tecnologias de maior socialização, porém, o seu impacto no ensino escolar formal não teve a dimensão esperada. Já a tecnologia da informática evoluiu rapidamente passando a integrar as tecnologias de escrita, áudio, vídeo. Da internet 1.0 passamos para a internet 2.0, cujo usuário deixa de ser mero consumidor de conteúdo para ser também produtor. A web 2.0 oferece ao aprendiz usar a língua em experiências diversificadas de interação e comunicação, além da possibilidade de interagir na rede e publicar suas produções textuais. A primeira geração da internet (web 1.0) principalmente dava informação unidirecional (de um para muitos), como na cultura de massa. Com o aparecimento de sites como facebook e amazon, a web tornou-se cada vez mais interativa. Nesta web 2.0, são principalmente os usuários que produzem conteúdos em postagens e publicações em redes sociais, como o Facebook, Twitter, Tumblr, Google+, na Wikipédia, em redes de mídia, como o Youtube, Flickr, Instagram, etc. À medida que as pessoas se familiarizaram com a web 2.0, foi possível a marcação e a etiquetagem de conteúdos dos usuários que abrem caminho para a próxima geração da internet: web 3.0, a dita internet “inteligente”. Por um processo de “aprendizagem” contínua por meio de etiquetagem, a web 3.0 pretende antecipar o que o usuário gosta ou detesta, suas necessidades e seus interesses, de maneira a oferecer conteúdos e mercadorias em tempo real. Os efeitos dessa “inteligência” já começam a se fazer sentir em diferentes sites e redes sociais (ROJO; BARBOSA, 2015, p. 119-121, grifo das autoras). A web 2.0 surgiu como uma nova forma de comunicação e possibilitou aos aprendizes de língua acessar páginas na internet, interagir com falantes de línguas por meio de e-mails, fóruns, redes sociais. A familiarização com a web 2.0 abre caminho para a geração 3.0, a internet “inteligente”, cujo objetivo é antecipar necessidades e interesses dos usuários. No contexto de ensino, a chegada da internet foi um grande avanço para as práticas pedagógicas, 35 porém, muitas limitações ainda são sentidas e estão relacionadas ao acesso tanto de ferramentas tecnológicas quanto da internet. Kenski (2015, p. 134), em seus estudos voltados ao uso da internet em espaços educacionais no Brasil, relata que “Faz vinte anos que o acesso à internet foi liberado, no Brasil [...] a internet era de uso restrito, licenças de uso eram fornecidas [...] para algumas instituições acadêmicas”. Na segunda metade da década de 1990, com a abertura da internet para a sociedade, o lançamento do Windows e a chegada da Rede mundial de Computadores (Word Wide Web – www), deu-se a necessidade de adequação das redes, a fim de atender a demanda brasileira. Nesse contexto, Ribeiro pontua que Se consideramos 1995 como um ano marcante para a popularização das tecnologias digitais no Brasil, mesmo havendo apenas o computador pessoal e a internet discada (já com as interfaces gráficas e a navegação via Explorer), já teremos contado com mais de vinte anos de experiência com essa “novidade”. Personal computer, notebooks, impressoras a jato de tinta, depois telefones celulares com acesso à web, banda larga, tablets, smartphones e outros dispositivos, menos ou mais populares ocuparam, aceleradamente, nossa “paisagem comunicacional” (Kress, 2003), influenciando nossas práticas, embora nós também exerçamos uma força em relação a esse dispositivo que os fazem mudar ou mesmo serem extintos em favor de outros (RIBEIRO, 2018, p. 101, grifo da autora). Desde a segunda metade da década de 1990, estamos diante da “novidade” das tecnologias digitais, da internet, influenciando nossas práticas sociais e educacionais. Porém, “[...] é fácil perceber que a muitas vezes a desejada e promovida integração positiva entre escola e TICs não ocorreu, ao menos na maneira e na intensidade que se pensou anos atrás” (RIBEIRO, 2018, p. 102-103), embora o acesso à internet e aos dispositivos tecnológicos tenham ganhado força nos últimos anos. Conforme a pesquisa TIC Domicílios 20194, lançada no dia 26/05/2020, o Brasil conta com 134 milhões de usuários de internet, o que representa 74% da população com 10 anos ou mais. Isso significa que três de cada 4 brasileiros possuem acesso à internet. É importante destacar ainda que, pela primeira vez (em 15 anos de pesquisa), mais da metade da população vivendo nas áreas rurais afirmou usar a internet, chegando a 53%; enquanto nas áreas urbanas, o número chega a 77%. Respectivo à classe socioeconômica, também foi notório o avanço nas 4 A pesquisa foi organizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimentoda Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Os dados da pesquisa estão disponíveis em: http://sis- publique.agenciatelebrasil.org.br/Noticias/Celular-e-usado-por-99%25-dos-usuarios-da-Internet-no-Brasil- 555.html. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES, 2020b). 36 classes D e E, uma vez que passou de 30% em 2015 para 57% em 2019. Esses números impactam diretamente a realidade educacional brasileira. A internet evoluiu rapidamente e, desde o final do século XX, consolida-se como fundamental para a educação no Brasil. Sua importância é considerada em todos os níveis de ensino. Somos, atualmente, um país de pessoas conectadas, sobretudo por meio das tecnologias móveis. Segundo a pesquisa TIC Educação 20195, divulgada no dia 09/06/2020, o telefone celular é utilizado para acessar a internet por 98% dos alunos, sendo esse o único dispositivo de acesso para 18% dos entrevistados. Esse número de acesso foi maior entre os alunos que residem nas regiões Norte (25%) e Nordeste (26%) e entre os estudantes de escolas públicas urbanas (21%). O uso dos telefones celulares e smartphones facilitaram ainda a utilização das redes sociais nos contextos educacionais, possibilitando a interação entre escola e família. Conforme os dados da pesquisa, Em 2019 aumentou a presença em redes sociais das escolas localizadas em áreas urbanas: 79% possuem perfil ou página em redes sociais, sendo 73% entre as públicas e 94% entre as particulares - números que eram de 67% e 76% em 2018, respectivamente. De acordo com a TIC Educação 2019, as redes sociais são um dos principais canais de interação entre a escola e a família: na rede pública, 54% dessas instituições afirmam utilizá-las como meio de comunicação com os pais ou responsáveis, enquanto na rede privada, este percentual foi de 79%. Por outro lado, o e-mail institucional é utilizado por apenas 16% das escolas públicas e de 63% das particulares (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES, 2020a). Esses dados revelam que as redes sociais estão sendo benéficas na condição de canais de comunicação entre escola e família, e mais utilizadas do que mesmo o e-mail institucional. Desse modo, não há como negar que a educação mudou no Brasil, nas últimas três décadas, graças à internet (PAIVA, 2019). Porém, são muitos os problemas a ser superados e grande parte deles não está ligada diretamente ao acesso e ao uso da internet para fins educacionais. Brunner (2004) alerta, por um lado, para a distinção entre informação e conhecimento; por outro lado, para o fato de que o conhecimento sempre implica informação. Para Brunner (2004), ao longo da história, a informação sempre foi escassa e de difícil acesso, desde a invenção da escrita até a crescente massa de alfabetizados no Brasil. Somente com a chegada da imprensa e os registros e a reprodução dos escritos é que a verdadeira 5 A pesquisa foi organizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).Dados da pesquisa estão disponíveis em: http://sis- publique.agenciatelebrasil.org.br/Noticias/Celular-e-usado-por-98%25-dos-estudantes-brasileiros-para-acessar-a- internet-565.html. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES, 2020a). 37 revolução se deu. Hoje, diferentemente, a disponibilidade e a acessibilidade da informação são extraordinariamente mais abundantes, graças à internet e a World Wide Web. Contudo, o que se aponta como problemático para a educação não é exatamente onde encontrar informação, [...] mas como oferecer acesso a ela sem exclusões e, ao mesmo tempo, aprender e ensinar a selecioná-la, avaliá-la, classificá-la e usá-la. Há uma questão adicional envolvida aqui: como desenvolver as funções cognitivas superiores – funções de “problem-solving, problem-finding, planning, refleticting, creativity, deeper understanding” – indispensáveis num meio saturado de informação, evitando assim que o ensino fique reduzido às destrezas elementares. Assim a escola deixa de ser o principal meio de informação e passa a concorrer com outros meios como a televisão e a internet da qual se espera, ademais, que ela informe e ensine (BRUNNER, 2004, p. 25, grifo do autor) Em contrapartida, algo equivalente se coloca em relação ao conhecimento, uma vez que, até pouco tempo atrás, as bases do conhecimento disciplinar eram reduzidas e estáveis, o que facilitava o trabalho da escola (BRUNNER, 2004, p. 25). Hoje, a produção de conhecimento, a partir das publicações científicas, por exemplo, vem se multiplicando em grande escala e proporcionando um conhecimento que é disciplinar. Para Luckesi (1996), o conhecimento decorre de um esforço de investigação para descobrir algo que está oculto, e somente depois de compreendido é que determinado objeto pode ser considerado conhecimento. Entretanto, a informação é um processo que visa ao conhecimento, sendo ambos os conceitos intercambiáveis. O fato é que estamos diante de uma expansão no cenário da informação e do conhecimento e tudo isso implica desafio para o sistema educacional, cujos questionamentos são: Quem serão amanhã os sintetizadores de conhecimento? Ao ensino das competências básicas, que outras agregar (computação, navegação, uso de multimídia), em que momento e sob que modalidade? Como organizar curricularmente um conhecimento global em permanente mudança e expansão? Como dar conta do fato de que uma proporção crescente de conhecimento relevante seja transdisciplinar? Quanta ênfase pôr no ensino das disciplinas? (BRUNNER, 2004, p. 26). Esses são questionamentos cujas respostas só o tempo trará, mas precisamos ter a certeza de que a introdução das novas tecnologias nas práticas educativas deve nos fazer refletir sempre sobre o papel social das instituições escolares e sobre a sociedade que desejamos conceber com base na educação. Na esteira das expectativas sobre o uso da tecnologia digital nos contextos de ensino, Paiva destaca algumas previsões para futuro da educação. São elas: 1. Os cursos de leitura instrumental vão desaparecer em função do aprimoramento dos programas de tradução automática; 2. Teremos banda larga de amplo acesso gratuito; 38 3. As baterias vão durar mais e vão ser carregadas em menos tempo; 4. Haverá ampliação de tecnologias assistivas de forma a mediar a interação entre professores e alunos com necessidades especiais; 5. O movimento traga seu próprio equipamento, conhecido pela sigla BYOD (Bring Your Own Device), vai contribuir para a extinção dos laboratórios computadorizados como conhecemos hoje. Eles vão ser substituídos pelos equipamentos móveis trazidos pelos próprios alunos ou emprestados pelas instituições onde estudam; 6. As lousas digitais vão ser substituídas por telas de LED grandes e sensíveis ao toque; 7. Os desktops serão substituídos por equipamentos moveis cada vez menores; 8. As atividades de aprendizagem on-line assíncronas vão se ampliar; 9. Cursos/disciplinas na modalidade MOOC vão se expandir; 10. Haverá aumento de aprendizagem autônoma em função dos aplicativos de celulares, que permitem aprender em qualquer lugar e a qualquer hora; 11. A vídeo conferência 3D vai ser explorada pelas grandes universidades multicampi, possibilitando a presença de um mesmo professor em vários campi ao mesmo tempo por meio de sua projeção como imagem 3D; 12. Vão aparecer muitos programas e aparelhos desnecessários e que serão ignorados ou terão vida breve como foi o caso do mouse mischief, um programa da Microsoft que conecta vários mouses na sala de aula e que permite que alunos marquem, individualmente, de sua carteira, a opção correta de um exercício projetado em Power Point.Outro exemplo é o dos laptops distribuídos pelo projeto UCA (um computador por aluno) do governo federal. O sistema dos laptops UCA era bastante limitado; as escolas não possuíam a infraestrutura necessária e os professores não estavam preparados para seu uso; 13. Haverá ampliação de atividades pedagógicas gamificadas; 14. Os livros digitais ganharão cada vez mais espaço e mais prestígio na comunidade acadêmica (PAIVA, 2019, p. 20). Não sabemos, nesse momento, como tudo isso vai acontecer e se vai acontecer. Mas, de fato, esperamos que as circunstâncias nos proporcionem esse futuro. A expectativa é a de que a banda larga e o acesso à internet sejam, efetivamente, amplos e cheguem a todos os alunos; que os aparelhos de telefonia, com o uso crescente de acesso à internet, sejam utilizados como instrumentos de ensino e aprendizagem e possibilitem substituir os laboratórios computadorizados não aproveitados ou até desconhecidos por muitas escolas brasileiras; que as instituições de ensino estejam equipadas com as lousas digitais grandes e sensíveis ao toque, acessíveis à aprendizagem on-line; que os livros digitais ganhem espaço nas atividades pedagógicas e mais prestígio, tanto na comunidade escolar quanto na acadêmica. Enfim, espera- se que a efemeridade do tempo que torna muitos programas e aparelhos desnecessários seja suficiente para percebermos que o futuro chegou e trouxe com ele mudanças e inovações na forma de se ensinar e se aprender línguas na contemporaneidade. Dada essa contextualização sobre o objeto de estudo, vejamos as bases teóricas do estudo relacionadas a filosofia da linguagem do Círculo de Bakhtin. 39 3 A FILOSOFIA DA LINGUAGEM DO CÍRCULO DE BAKHTIN As reflexões que se desenvolvem nos primeiros textos do Círculo de Bakhtin não faziam relação direta com uma concepção de linguagem marcadamente presente, ao contrário, buscava-se uma reflexão filosófica mais ampla pelos pensadores do Círculo. A denominação Círculo de Bakhtin foi uma atribuição dada a posteriori a um grupo de pensadores que se reunia constantemente para discutir filosofia e debater ideias de interesse comum. O grupo era formado por intelectuais de diferentes áreas de atuação profissional, incluindo, entre vários outros, o filósofo Matvei I. Kagan, o biólogo Ivan I. Kanaev, a pianista Maria V. Yudina, o professor e estudioso de literatura Lev V. Pumpianski, e os mais conhecidos do grupo, o crítico literário Mikhail Bakhtin, o professor de música e literatura Valentin N. Voloshinov e o filólogo Pavel N. Medvedev. O grupo se encontrava, de 1919 a 1929, inicialmente em Nevel e Vitebsk e, depois, em São Petersburgo (FARACO, 2009). No conjunto de obras do Círculo, destacam-se dois grades projetos intelectuais. No primeiro, “[...] Bakhtin parece haver, de início, a intenção de construir uma ‘prima fhilosophia’” (FARACO, 2009, p. 16, grifo do autor) dedicando-se à crítica ao teoreticismo. O segundo grande projeto intelectual presente nos textos de Voloshinov e Medvedev, publicados de 1925 a 1930, “[...] era contribuir para a construção de uma teoria marxista da chamada criação ideológica” (FARACO, 2009, p. 17), apresentando, inicialmente, uma crítica sistemática ao chamado marxismo vulgar. De certa forma, foi central a relevância dada à linguagem nos escritos do Círculo, às noções e peculiaridades da filosofia da linguagem por ele elaborada. Bakhtin e Voloshinov foram os dois integrantes mais preocupados com as questões da linguagem, e a filosofia por eles construída não se encontra sintetizada em apenas um texto, ao contrário, vai ganhando diferentes contornos nas produções manuscritas durante a década de 1920. Em O discurso na vida e o discurso na arte6, publicado em 1926, com autoria de Voloshinov/Bakhtin, é onde aparece pela primeira vez a temática da linguagem. Na obra, há o entendimento de que o discurso verbal, tomado como um fenômeno da comunicação cultural, só pode ser compreendido mediante a situação social que o engendra. O texto busca argumentar 6 Em nota, evidenciamos que esse texto foi originalmente publicado em russo, em 1926, sob o título “Slovo v zhizni i slovo v poesie”, na revista Zvezda, e assinado por V. N. Voloshinov. A tradução para o português, feita por Carlos Alberto Faraco e Cristovão Tezza, para uso didático, tomou como base a tradução inglesa de I. R. Titunik (“Discourse in life and discourse in art – concerning sociological poetics”), publicada em VOLOSHINOV, V. N. Freudism. New York: Academic Press, 1976. 40 em função de uma arte iminentemente sociológica, porém floresce uma discussão sobre as características da linguagem na vida cotidiana. Já em 1929, Volóshinov retoma a teoria da linguagem em Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem7. Na obra, “a relação pensamento e linguagem, é um aspecto amplamente debatido na primeira parte de MFL sob viés sociológico” (GRILLO, 2017), em cuja base de discussão está a questão de como o sujeito lida com a alteridade no mundo exterior. Na obra, busca-se determinar a natureza do objeto da ciência da linguagem e o tipo de abordagem necessária para essa ciência, a partir de uma discussão sobre as concepções objetivista abstrata e subjetivista idealista da linguagem. No final da obra, são apresentadas questões particulares sobre os estudos linguísticos que vão além dos limites da sintaxe, pois se trata de uma análise das diversas refrações do discurso usando como exemplo textos literários, passando, assim, de questões filosóficas gerais para discussões linguísticas gerais e mais específicas. Embora o objetivo não fosse apresentar uma concepção de linguagem, orientações sobre a linguagem já estavam presentes em Para uma filosofia do ato responsável8. A obra foi escrita no início da década de 1920, na qual encontramos uma espécie de programa de estudos, com ao menos quatro questões filosoficamente relevantes, quais sejam: os atos humanos no mundo concreto, o ato estético como agir ético, a ética na política e a ética na religião (SOBRAL, 2009b). Na obra, é apresentada a relação entre o mundo da cultura e o mundo da vida. É no mundo da cultura que os atos concretos são objetivados na elaboração teórica, enquanto no mundo da vida, a historicidade viva, de fato, acontece, e os atos únicos e irrepetíveis se realizam. É nesse mundo que o sujeito vive e age eticamente e o ato realizado apresenta a contraposição entre o eu e o outro, apresentando, cada um, um universo de valores. De fato, a unicidade do ser e do evento, a relação com o outro, bem como a dimensão axiológica são eixos centrais nos escritos do Círculo de Bakhtin. Somam-se a isso, entre outros, alguns pilares sobre os quais a concepção de linguagem se ergue: o enunciado concreto que se constitui no processo de interação social entre os participantes da enunciação; os gêneros dos 7 A primeira tradução brasileira foi realizada em 1979, a partir do francês, com consultas à tradução americana e ao original russo, cuja autoria se dava à Bakhtin (Volóshinov). Hoje, a obra está em sua 13ª edição, 2017, traduzida dos textos originais russos por Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, com autoria de Volóshinov (Círculo de Bakhtin) (GRILLO, 2017). 8 A obra é resultado de manuscritos conservados pelo autor desde a década de 1920 e só descobertos no início da década de 1970, danificado severamente pelo tempo. Depois de longo período de decifração e retranscrição por devotados jovens discípulos do autor, descobriam-se fragmentos de dois importantes projetos de Bakhtin: o maior deles, publicado como Art and Answerability pela editora da Universidade do Texas, em 1990; e o menor, publicado como Toward a Philosophy of the act, traduzido e anotado por Vadim Liapunov, cujo trabalho, na edição de 1990, recebeu aclamação universal (HOLQUIST, 1993).41 discurso, cujo significado e enunciado concreto ganham forma, dada a natureza da interação social entre os participantes da enunciação; o dialogismo, uma posição ativa responsiva à compreensão do significado linguístico do discurso dos participantes da interação; e a relação espaço-temporal em que os gêneros cumprem sua função social. Partindo dessas considerações iniciais, esta seção se organiza em torno de algumas noções como O Ato ético no mundo concreto, como ponto de partida para a produção do conhecimento; O Cronotopo: Unidade Espaço-Temporal, em que a produção do conhecimento se dá e a situacionalidade do ato adquire sentido; O Dialogismo e suas Relações de Sentido, construídas discursivamente na interação verbal; algumas ideias sobre A Teoria Bakhtiniana de Vozes Sociais, relacionadas diretamente com as noções de dialogismo; e, por último, alguns apontamentos sobre o enunciado verbal e os gêneros do discurso no processo de interação social, saturado de valores e representantes da comunicação discursiva. 3.1 O ATO ÉTICO NO MUNDO CONCRETO Considerado um dos maiores pensadores do século XX, Mikhail Bakhtin dedicou-se, no início da década de 1920, aos escritos de Para uma filosofia do ato responsável, publicado em 1986 com o título “K filosofii postupka” dado por Sergei Bocharov (PONZIO, 2017). Na obra, o autor revela a relação entre temáticas desenvolvidas em seus escritos. Entre elas, está a noção de ato ético ou ato responsável. Para Ponzio (2017), o ato representado pelo verbo usado por Bakhtin “postupok” possui a raiz “stup”, que significa “passo”, ato como dar um passo, como iniciativa, como movimento. “Postupok”, nesse sentido, é um ato de pensamento, de sentimento, de desejo, de ação, que caracteriza a singularidade e a peculiaridade de cada um. É o ser que responde responsavelmente a partir do lugar que ocupa, sem álibi. Esse conceito, segundo o autor, lembra outra expressão usada por Bakhtin no texto O autor e o herói na atividade estética, “vnenakodomost”, cujo sentido remete ao achar-se fora ou se colocar fora de uma maneira única, relacionando-se, dessa forma, com o conceito de “exotopia”, “extralocalização”. A realização do ato ético inclui deslocar-se do seu posicionamento presente a uma posição responsável diante da vida em dado momento e lugar (o existir-evento) que somente ele pode ocupar. Para Bakhtin (2017, p. 79), o ato possui o existir unitário e singular da vida, “O ato – considerado não a partir do seu conteúdo, mas na sua própria realização – de algum modo conhece, de algum modo possui o existir unitário e singular da vida; orienta-se por ele e o 42 considera em sua completude [...]”. Nesse sentido, a responsabilidade do ato nos leva a considerar alguns fatores, como a validade de sentido do ato concretamente realizado, a concreta historicidade e individualidade. Por sua vez, a ação tem um único plano e um único princípio que a compreende em sua responsabilidade. Essa responsabilidade do ato permite levar em consideração todos os fatores: tanto a validade de sentido quanto a execução factual em toda a sua concreta historicidade e individualidade; a responsabilidade do ato conhece um único plano, um único contexto, no qual tal consideração é possível e onde tanto a validade teórica, quanto a fatualidade histórica e o tom emotivo-volitivo figuram como momentos de uma única decisão. Além disso, todos esses momentos de um ponto de vista abstrato, parecem ter um significado diverso – em vez de serem empobrecidos, são admitidos em toda a sua plenitude e verdade; em consequência, a ação tem um único plano e um único princípio que os compreende em sua responsabilidade (BAKHTIN, 2017, p. 80). O ato, na sua integralidade, é responsável, sendo esta a definição mais categórica do ato: “O ato na sua integralidade é mais que racional- é responsável” (BAKHTIN, 2017, p. 81, grifo do autor) e sua realização implica um deslocamento do sujeito de sua posição presente a uma posição responsável diante da vida sócio-historicamente situada, o existir evento, que apenas ele pode ocupar. Nas palavras de Sobral (2009b), o termo responsabilidade relaciona-se ao responder pelos próprios atos, responder por, responder a alguém ou a alguma coisa. O ato responsável envolve o conteúdo do ato, seu processo e a valoração/avaliação do agente do ato. O termo “responsabilidade” une o responder pelos próprios atos, o responder por, e a responsividade, o responder a alguém ou a alguma coisa, sendo fiel à palavra russa “otvetstvennost”, que designa o aspecto responsivo e o da assunção de responsabilidade do agente pelo seu ato. O ato “responsável” envolve o conteúdo do ato, seu processo, e, unindo-os, a valoração/avaliação do agente com respeito a seu próprio ato (SOBRAL, 2009b, p. 124, grifo do autor). Aquele que participa do ato percebe claramente as pessoas, o tempo, os objetos, cujo valor lhe é dado simultaneamente. Todo ato implica comprometimento, participação, envolvimento, pois a relação com o objeto nunca pode ser totalmente desinteressada, neutra, ao contrário, todo ato discursivo é carregado de valor, marcado pela entonação expressiva. O tom emotivo-volitivo é um momento imprescindível do ato, inclusive do pensamento mais abstrato do ato enquanto meu pensamento realmente pensado, isto é, na medida em que o pensamento realmente venha a existir, se incorpore no evento. Tudo isso com que tenha a ver me é dado em certo tom emotivo-volitivo, já que tudo me é dado como momento do evento, do qual eu participo (BAKHTIN, 2017, p. 86). O tom emotivo-volitivo, materializado na escolha de uma entonação, representa não uma reação psíquica passiva, mas uma orientação moral e responsavelmente ativa da 43 consciência. O pensamento verdadeiro que age é pensamento emotivo-volitivo, que envolve o conteúdo do sentido do pensamento na ação e o relaciona com o existir evento singular. “Com o tom emotivo indicamos exatamente o momento do meu ser ativo na experiência vivida, o vivenciar da experiência como minha: eu penso-ajo com o pensamento” (BAKHTIN, 2017, p. 91). Para Sobral, o valor do ato é o valor que ele tem para o sujeito agente em suas interações, diferentemente de um valor absoluto imposto a ele. O ato avaliativo “responsável/responsivo” envolve o conteúdo do ato, seu processo, e, unindo-os, a entoação avaliativa como aspecto arquitetônico: o valor do ato é o valor que ele tem para o agente em suas interações, em vez de um valor absoluto que viesse impor-se a ele ou a seus interlocutores. Assim, a experiência no mundo humano, do mundo postulado (zadan) é sempre mediada pelo agir situado e avaliativo do sujeito, que lhe confere sentido, a partir do mundo dado (dan), o mundo enquanto materialidade concreta (SOBRAL, 2009b, p. 124, grifo do autor). A compreensão do ato avaliativo envolve seu conteúdo e seu processo, pois o valor do ato é o seu valor para o agente em suas interações sociais, não um valor absoluto que lhe possa ser imposto. Nesse processo, a experiência humana é mediada pelo agir situado e avaliativo do sujeito a partir do mundo dado, pois “[...] o centro avaliativo da arquitetônica do evento da visão estética é o ser humano [...]” (BAKHTIN, 2017, p. 127). Um pensamento participativo é propriamente a compreensão emotivo-volitiva na singularidade concreta do evento, considerando a base do não álibi no existir. A experiência humana no mundo é sempre mediada pelo agir situado e avaliativo do sujeito, sendo o ato ético o ponto de partida para qualquer investigação ou formulação teórica, que pretenda dar conta da existência do ser em sua complexidade, tendo por base o mundo da vida. Diferentemente do mundo da cultura, o mundo da vida é “[...] o único mundo em que cada um de nós cria, conhece, comtempla, vive e morre” (BAKHTIN, 2017, p. 43). É somente nesse mundoque o ato adquire totalidade como um componente real, vivo do existir-evento. Ao contrário, o mundo teórico não considera a existência singular do ser, “[...] ele não pode oferecer nenhum critério para a minha vida como agir responsável [...] para a vida da práxis, para a vida do ato, porque nele eu não vivo” (BAKHTIN, 2017, p. 52, grifo do autor). Por isso, vivemos e agimos no mundo da vida, no mundo real, pois no mundo teórico nos retiraríamos da vida. Em contrapartida, “O mundo real se reflete somente por meio do pensamento [...] cada um de nós, com todos seus próprios pensamentos e seus conteúdos, somos nele, e é nele que nós vivemos e morremos” (BAKHTIN, 2017, p. 54). O mundo entendido como pensamento científico, apesar de ser um mundo individual e independente, não se separa do mundo da vida, 44 mas está integrado no evento singular e único do existir por meio de uma consciência responsável do ato. É esse agir situado e valorado que se realiza a partir dos enunciados dialogicamente constituídos. Dado o entendimento, partimos do mundo da vida para pensar e compreender o sujeito que age a partir do seu lugar de fala, de modo emotivo-volitivo por meio do ato. Vislumbramos nas pesquisas, no âmbito da Linguística Aplicada, um posicionamento ético, tanto no sentido de assumir uma responsabilidade pelo ato de enunciar quanto no sentido de oferecer ao leitor/pesquisador horizontes de reflexão e ação. As vozes constitutivas das pesquisas possuem um tom, uma entonação expressiva, cujos enunciados ganham valor axiológico. Essa entonação expressiva, que emana dos enunciados dos estudos, marca a participação do autor no existir- evento, marca a atitude inteiramente responsiva do autor perante a vida naquele momento único e irrepetível. Entendida as relações de sentido que se estabelecem dialogicamente, passemos para as reflexões sobre o cronotopo como unidade espaço-temporal. 3.2 O CRONOTOPO: UNIDADE ESPAÇO-TEMPORAL As teorizações acerca do conceito de cronotopo foram escritas por Bakhtin em A teoria do romance II: as formas do tempo e do cronotopo (2018), em ensaios sobre tempo e espaço nos escritos de Rebelais, e na obra Estética da Criação Verbal (2011) – O tempo e o espaço nas obras de Goethe. Nesses textos, o autor apresenta análises referentes a aspectos espaço- temporais do gênero romanesco. Embora não tenhamos o objetivo de desenvolver estudos sobre o gênero, vislumbramos o uso dessa categoria para análise em outras esferas da comunicação e da atividade humana, na tentativa de estabelecer entendimentos na relação tecnologia, linguagem e ensino. Para Bakhtin (2018, p. 236), “Qualquer entrada no campo dos sentidos só se concretiza pela porta dos cronotopos”, visto serem a porta de entrada para a compreensão dos significados, seja no estudo do romance, seja no de qualquer outro gênero discursivo. O autor explica que cronotopo é um termo empregado nas ciências matemáticas, introduzido e fundamentado na teoria da relatividade de Einstein e transportado para a crítica literária. Nas palavras do autor, Chamaremos cronotopo (que significa tempo-espaço) a interligação essencial de espaço e tempo como foram artisticamente assimiladas na literatura. Esse termo é empregado nas ciências matemáticas e foi introduzido e fundamentado com base na teoria da relatividade (Einstein). Para nós não importa o seu sentido específico na teoria, e o transferimos daí para cá – para os campos dos estudos da literatura – quase 45 como uma metáfora (quase, mas não inteiramente); importa-nos nesse termo a expressão de inseparabilidade do espaço e do tempo (o tempo como a quarta dimensão do espaço) (BAKHTIN, 2018, p. 211, grifo do autor). Para entender a indissolubilidade de tempo e espaço, Bakhtin ressignifica o conceito de cronotopo no campo literário, e busca analisar os diversos cronotopos que se instauram no romance europeu, desde o chamado romance grego até o romance de Rabelais. O autor justifica que “Em nossos ensaios analisamos apenas os grandes cronotopos tipologicamente estáveis, que determinam as mais importantes variedades de gêneros do romance nas diversas etapas de sua evolução” (BAKHTIN, 2018, p. 217). São considerados, portanto, alguns valores cronotópicos de diferentes graus e dimensões, por exemplo, o cronotopo do encontro e o cronotopo da estrada. Estes se distinguem pelos diferentes graus de intensidade axiológico- emocional. É na estrada que os caminhos se cruzam, pessoas separadas pela hierarquia social e pelo espaço se encontram, seus destinos são cruzados pela metaforização do caminho-estrada. Bakhtin chama a atenção ainda para o cronotopo do limiar, com características que se aproximam do tema do encontro, contudo substancialmente mais completo, “[...] é o cronotopo da crise e da mudança de vida” (BAKHTIN, 2018, p. 224). Nas obras em Dostoievsky, por exemplo, [...] o limiar e os seus contíguos cronotopos da escada, da antessala, do corredor, bem como os seus continuadores de cronotopos da rua e da praça, são os principais espaços da ação, são os espaços onde se realizam os acontecimentos das crises, das quedas, das renovações, do “estalo”, das decisões que determinam toda a vida de um homem. Nesse cronotopo, o tempo é, em suma, um instante que parece não ter duração e que sai do curso normal do tempo biográfico (BAKHTIN, 2018, p. 224-225, grifo do autor). Em seus estudos, Bakhtin buscou descrever os “[...] ‘cronotopos maiores’ que definem o gênero e constituem o principal campo para eventos em mundos particulares” (MORSON; EMERSON, 2008, p. 442, grifo dos autores). Todavia, nos limites de uma obra, observamos uma grande quantidade de cronotopos, sendo um deles englobador e dominante, conforme também interpretam Bemong et al. (2015, p. 22), em que “[...] a interação entre as unidades cronotópicas concretas de uma narrativa deixa o leitor com uma impressão global, a que chamamos de cronotopo maior ou dominante” (grifo dos autores). Nos estudos de Bakhtin, foram esses “cronotopos maiores” o objeto de análise. Morson (2015) chama a atenção para o fato de que muitos conceitos associados à teoria bakhtiniana são essencialmente cronotópicos. Por exemplo, A “irrepetibilidade”, como o próprio nome sugere, significa que um mesmo evento não pode se dar duas vezes [...]. Na teoria bakhtiniana da linguagem, um enunciado 46 se constrói por sua irrepetibilidade [...]. A temporalidade também configura o conceito bakhtiniano de diálogo [...]. Seu resultado não é “previamente dado”, mas construído no processo de troca. Um mesmo ponto inicial de uma conversa pode levar a múltiplas combinações (MORSON, 2015, p. 119, grifo do autor). A irrepetibilidade, na teoria bakhtiniana, associada à categoria de tempo e espaço, é entendida no âmbito da singularidade e da unicidade da ação participativa do sujeito. Isso significa dizer que as categorias de tempo e espaço carregam consigo valores que são construídos pelo sujeito a partir da sua inserção na história, pois é no processo de interação viva que se instaura o posicionamento único, irrepetível e insubstituível do sujeito, determinado de valores instaurados na realização do ato. “Em outras palavras, a experiência é sempre executada por um sujeito em uma determinada posição que lhe imprime valor e confere sentido a partir da interação com o mundo dado, num processo único e irrepetível” (LIMA, 2018, p. 71). Nesse mundo da irrepetibilidade, o sujeito participa de forma ativa, responsável e dialógica. A realidade é garantida na participação única do sujeito no processo de troca verbal. Por isso, um mesmo ponto inicial de uma conversação pode levar a múltiplas continuações, ao desdobramento de várias outras enunciações, pois as interações entre os cronotopos são de natureza dialógica, ou seja, “[...] todos os diálogos têm lugar num dado cronotopo, eos cronotopos entram em relações dialógicas. Cada conceito é necessário para uma compreensão plena do outro, mas os dois são, não obstante, distintos” (MORSON; EMERSON, 2008, p. 444). Bakhtin (2018) afirma que os cronotopos são característicos de vários significados, entre eles, o significado temático e figurativo. Sobre o significado temático, os cronotopos são centros organizadores dos principais acontecimentos temáticos do romance, “Pode-se dizer francamente que pertence a eles o significado basilar gerador do enredo” (BAKHTIN, 2018, p. 226). O significado figurativo dos cronotopos relaciona-se à concretização dos acontecimentos do enredo, uma vez que “O próprio cronotopo fornece um terreno importante para a exibição- representação dos acontecimentos. E isso se deve justamente a condensação espacial e a concretização dos sinais do tempo [...] determinados trechos do espaço” (BAKHTIN, 2018, p. 227). Nos postulados de Bemong et al. (2015, p. 20-21), Bakhtin situa o significado dos cronotopos em pelo menos quatro itens diferentes: “Eles têm significado na geração da narrativa do enredo, da trama; têm significado representacional; fornecem a base para discutir os tipos de gêneros; têm significado semântico”, ou seja, são vários os significados que surgem dos cronotopos, desde a geração da narrativa, sua constituição representacional e genérica, até o seu caráter de significado semântico. 47 Machado (2010, p. 212), ao refletir sobre a temática, afirma que o “Cronotopo se firmou como categoria que define não apenas o continuum espaço-tempo, mas a semiose de diferentes sistemas de signos [...]”. O tempo e o espaço são construídos na composição da obra literária como texto de cultura, uma vez que os signos da cultura fazem parte da sua composição. Nas palavras da autora, O cronotopo foi concebido como uma forma arquitetônica da narrativa que configura modos de vida em contextos particulares de temporalidades. O tempo, para Bakhtin, torna-se pluralidade de visões de mundo: tanto na experiência quanto na criação, manifesta-se como um conjunto de simultaneidades de que não são instantes, mas acontecimentos no complexo de seus desdobramentos. A pluralidade de que fala Bakhtin só pode ser apreendida no grande tempo das culturas e das civilizações, quer dizer, no espaço (MACHADO, 2010, p. 214). Nessa direção, a narrativa e os gêneros do discurso são instâncias estéticas de representação do tempo-espaço. Na orientação dialógica de investigação bakhtiniana, tempo e espaço configuram modos de vida em contextos particulares, simultaneidade de experiências, acontecimentos complexos que emergem de ações particulares. Os gêneros, bem como as narrativas, tornam-se campo fértil de investigação, uma vez que neles se constroem os discursos sobre o mundo. Em O tempo e o espaço nas obras de Goethe (2011), Bakhtin (2011, p. 225) fala sobre “A capacidade de ver o tempo, de ler o tempo no todo espacial do mundo [...] perceber o preenchimento do espaço não como um fundo imóvel e um dado acabado de uma vez por todas, mas como um todo em formação, como acontecimento”. Essa capacidade de ver o tempo foi plenamente reconhecida por Goethe quando atingiu um dos pontos culminantes da visão do tempo histórico na literatura universal. Em Goethe, a visibilidade tem uma importância excepcional. Discute-se sobre ler os indícios do tempo em tudo, inclusive na natureza e nas ideias humanas. O tempo se revela, acima de tudo, nos movimentos da natureza, do sol, das estrelas, dos animais, é o tempo cíclico em seu grau variado de intensidade. Bakhtin assevera que vestígios visíveis da criação do homem são os vestígios de suas mãos e da sua inteligência, como é o caso de cidades, ruas, casas. Para o autor, “[...] tudo o que é essencial pode e deve ser visível; tudo o que é invisível é secundário. É amplamente visível a grande importância que Goethe dava à cultura do olhar e com profundidade e amplitude ele compreendia essa cultura” (BAKHTIN, 2011, p. 227, grifo do autor), de forma que o olho que vê procura e encontra o tempo. Mesmo diante do acabado, Goethe é capaz de perceber o movimento da formação e da história. Bakhtin aponta que, para 48 Goethe, tudo está visível, mesmo que aparentemente imóvel, pois para ele não existem lugares mortos ou imóveis, ao contrário, todo espaço visível está marcado pela temporalidade. Assim, Tudo é intensivo no mundo de Goethe: nele não há lugares mortos, imóveis, paralisados, não existe fundo imutável, não existe decoração nem ambiente que não participe da ação e da formação, (nos acontecimentos). Por outro lado, em todos os seus momentos essenciais, esse tempo está localizado em um espaço concreto, marcado nele; no mundo de Goethe não há acontecimento, enredos, motivos temporais que sejam indiferentes a um determinado lugar no espaço da realização, que possam realizar-se em toda a parte e em lugar algum. Tudo nesse mundo é tempo- espaço, cronótopo autêntico (BAKHTIN, 2011, p. 245, grifo do autor). Embora esse pensamento tenha sua atualidade nas obras de Goethe, herdeiro direto do iluminismo, século XVIII9, podemos considerar certa atualidade nas ideias apresentadas, pois da mesma forma que o tempo foi percebido na natureza e na vida humana por Goethe, movimento semelhante pode ser percebido hoje não só nos gêneros literários mas também em qualquer realidade viva que estabeleça relação com o mundo. Com isso, não há lugares mortos, edificação imóveis, acontecimento sem ação. Todo acontecimento vivo possui um tempo localizado e um espaço concreto, e nele já estão impregnadas as marcas da temporalidade indissociável da tendência geográfica concreta. Assim, partindo das concepções, “O cronotopo é uma forma de compreensão da experiência” (MACHADO, 2010, p. 212). Ele constitui uma unidade fundamental da percepção humana da realidade, representada pelas diversas práticas sociais. Como Goethe despertou para ver e ler o seu tempo, assim também precisamos perceber os indícios do curso do tempo, especialmente do tempo hipermoderno, que se revela nas diversas esferas de comunicação discursiva e se manifesta pela linguagem. Após a compreensão do cronotopo, voltemo-nos para o estudo sobre o dialogismo e suas relações de sentido, bem como as vozes sociais que se constroem mediante as relações de sentido. 3.3 O DIALOGISMO, SUAS RELAÇÕES DE SENTIDO E AS VOZES SOCIAIS Por volta de 1925/1926, ocorre, nos debates do Círculo de Bakhtin, uma espécie de “virada linguística” (FARACO, 2009), responsável por novos direcionamentos no desenvolvimento do próprio pensamento do Círculo sobre a questão da linguagem. A partir de 9 [...] o século XVIII se revela como uma época de potente despertar do sentimento do tempo, antes de tudo do sentimento do tempo na natureza e na vida humana” (BAKHTIN, 2011, p. 226, grifo do autor). 49 então, surgem discussões sobre a noção diálogo, relações dialógicas, dialogismo e suas reflexões relacionadas à linguagem e à criação ideológica do Círculo. Partimos da ideia de que “[...] o conceito de dialogismo pode ser visto como um modo de entender a vida” (AZZARI; AMARANTE; ANDRADE, 2020, p. 11), pois, em diversos momentos do Círculo, identificamos a preocupação com as relações humanas estabelecidas a partir da linguagem. A construção dessa noção aparece nos dois livros de 1929, em Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem (VOLOSHINOV, 2017), e em Problemas da poética de Dostoievski (BAKHTIN, 2018). Volóchinov, na obra Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem, apresenta a questão da interação verbal como centro das relações intersubjetivas, cuja relação entre os sujeitos do discurso é vista como princípio estruturador das relações dialógicas.Nessa obra, “o diálogo pode ser compreendido de modo mais amplo, não apenas como a comunicação direta em voz alta entre as pessoas face a face, mas como qualquer comunicação discursiva, independentemente do tipo” (VOLÓCHINOV, 2017, p. 219). Essa definição possibilita pensar diferentes possibilidades de significação do diálogo em constante movimento, o que reflete os próprios aspectos da interação verbal. Como ocorre na interação face a face, um discurso verbal impresso também consiste em um elemento da comunicação, pois participa de uma espécie de discussão ideológica quando responde, refuta, confirma ou antecipa respostas, em uma situação de interação discursiva. Muito além da relação face a face entre sujeitos, a questão da interação discursiva é apresentada por Volóshinov como realidade fundamental da língua. Nas ideias do Círculo, essa concepção é radicalmente dialógica, dado o elo entre a interação concreta e a situação extraverbal mais próxima. A comunicação discursiva apenas poderá ser compreendida e explicada diante da situação concreta que a engendra, pois O processo do discurso compreendido de modo amplo como um processo da vida discursiva exterior e interior, é ininterrupto e não conhece nem início nem fim. O enunciado exterior atualizado é uma ilha que se ergue do oceano infinito do discurso interior; o tamanho e as formas dessa ilha são determinados pela situação do enunciado e pelo auditório. A situação e o auditório forçam o discurso interior a atualizar-se em uma expressão exterior determinada e diretamente inserida no contexto cotidiano não enunciado, que é completado pela ação, ato ou resposta verbal dos outros participantes do enunciado. Uma pergunta acabada, uma exclamação, uma ordem, um pedido são as totalidades típicas dos enunciados cotidianos. Todas elas exigem um complemento extraverbal, assim como um início extraverbal (VOLOSHINOV, 2017, p. 221) 50 O acabamento do enunciado é dado a partir da sua relação com o meio extraverbal e com os enunciados alheios, pois é a situação de interação e o auditório – os participantes dessa interação – que atualizam o discurso interior em uma expressão exterior determinantemente inserida no contexto cotidiano não enunciado, que ganha significado na ação, no ato ou na resposta verbal dos participantes do discurso. Assim, toda pergunta acabada, exclamação, ordem, pedido exige um complemento extravebal e é determinada por ele, sendo a interação entendida como, essencialmente, fundada no diálogo em seu sentido amplo. A interação, nessas condições, é considerada “como constitutiva do processo contínuo de criação de sentido, visto que, sem ela, há uma separação, um afastamento, do diálogo e, portanto, não há sentido” (SOBRAL, 2009a, p. 40), sendo esta, pois, uma temática que fundamenta toda a concepção de linguagem do Círculo de Bakhtin apresentada também nos manuscritos posteriores. Embora já iniciada uma discussão em Marxismo e Filosofia da Linguagem (VOLOSHINOV, 2017), é no capítulo O discurso em Dostoievski, da obra Problemas da Poética de Dostoievski (BAKHTIN, 2018), que identificamos as primeiras definições do conceito de relações dialógicas. Para Bakhtin, a linguística e a metalinguística estudam o mesmo fenômeno concreto, o discurso, porém, sob diferentes aspectos, completando-se mutuamente. Na obra, o autor está preocupado em compreender sobre que ângulo dialógico esse discurso se confronta e se opõe, mas, na verdade, esse ângulo não pode ser estabelecido por meio de critérios unicamente linguísticos, pois “[...] as relações dialógicas, embora pertençam ao campo do discurso, não pertencem a um campo puramente linguístico de seu estudo” (BAKHTIN, 2018, p. 208, grifo do autor), sendo, assim, objeto da metalinguística. No texto, o autor afirma que “[...] não há relações dialógicas na língua entre elementos de um sistema linguístico [...] entre elementos de um texto [...] nem entre unidades sintáticas ou entre proposições quando igualmente abordadas por um viés estritamente linguístico” (FARACO, 2009, p. 66), ao contrário, para que haja relações dialógicas, é preciso que qualquer material linguístico tenha sido transformado em um enunciado e habite a esfera do discurso. Somente assumindo o lugar do sujeito social é possível responder ao enunciado, replicar, confrontar, confirmar, rejeitar, enfim, estabelecer relações de sentido com a palavra alheia a partir de posições avaliativas. A partir disso, Bakhtin defende que as relações dialógicas são, na verdade, essencialmente extralinguísticas e por isso não devem ser compreendidas para além do campo do discurso. O autor explica que [...] dois juízos, como uma tese e uma antítese, podem unir-se num enunciado de um sujeito, que expresse a posição dialética una deste em relação a um dado problema. 51 Nesse caso, não surgem relações dialógicas. Mas se esses dois juízos forem divididos entre dois diferentes enunciados de dois sujeitos diferentes, então surgirão entre eles relações dialógicas. [...] Para se tornarem dialógicas, as relações lógicas e concreto- semânticas devem, [...] materializar-se, ou seja, devem passar a outro campo de existência, devem tornar-se discurso, ou seja, enunciado, e ganhar autor, criador do dado enunciado cuja posição ela expressa (BAKHTIN, 2010, p. 208, grifo do autor). Assim, dois juízos como materialização da palavra, fora do campo da linguagem e do campo do discurso, não estabelecem entre si relações dialógicas. Ao contrário, se esses juízos forem transformados em enunciados integrais e tomados como tais por seus interlocutores, eles se tornam, efetivamente, dialógicos. A dialogicidade do enunciado depende da materialização das relações lógicas e concreto-semânticas no campo da existência, na vida da linguagem, elas precisam passar para o plano do discurso e ganhar autor criador do enunciado. Desse modo, mesmo entre palavras isoladas são possíveis as relações dialógicas, desde que reconhecidas como um signo da posição semântica do outro, desde que ouçamos nela a voz do outro. Portanto, apesar de ser extralinguísticas, as relações dialógicas são relações de sentido entre os enunciados. As definições do conceito de relações dialógicas também estão presentes no capítulo O texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas10 (BAKHTIN, 2016). Nesse caso, “Os parâmetros dialógicos da linguagem são essenciais para ultrapassar a perspectiva escolástica de texto, enquanto conjunto morfossintático de palavras, fundamentada em sequências estruturais sintagmáticas” (SANTANA, 2018, p. 664), uma vez que, por traz de cada texto, está o sistema da linguagem que pode ser repetido e reproduzido, porém, cada texto possui sua individualidade e singularidade, e nesse ponto reside o seu sentido e significado para o qual foi criado. A relação dialógica entre os enunciados “[...] difere radicalmente de todas as eventuais relações linguísticas dos elementos tanto no sistema da língua quanto em um enunciado isolado” (BAKHTIN, 2016, p. 88), porque, de fato, as relações de sentido entre os diferentes enunciados assumem a índole dialógica. Com esse posicionamento, Bakhtin compreende que as relações dialógicas são profundamente distintas das relações linguísticas, tanto dos elementos do sistema da língua quanto dos enunciados isolados. Para o autor, as relações dialógicas “[...] são relações (semânticas) em toda espécie de enunciados na comunicação discursiva. Dois enunciados, quaisquer que sejam, se confrontados em um plano do sentido (não como objetos e não como exemplos linguísticos) acabam em 10 O capítulo, inicialmente, foi publicado no adendo da coletânea Estética da Criação Verbal (2011) e, em 2016, foi republicado no livro Os Gêneros do Discurso, organizado e traduzido por Paulo Bezerra. 52 relação dialógica” (BAKHTIN, 2016, p. 92), e isso se dá independentementeda esfera de uso da linguagem, desde que esses enunciados estejam na esfera da vida, no campo do discurso. Além disso, a relação com o sentido e sua compreensão é sempre dialógica, uma vez que além de ser extralinguísticas, as relações dialógicas são relações de sentido entre os enunciados e, como unidade da comunicação discursiva, o enunciado não tem significado, mas sentido e sua compreensão envolve responsividade e juízo de valor. O enunciado, por mais monológico que seja, não pode deixar de ser também uma resposta àquilo que já foi dito sobre dado objeto, pois o enunciado é pleno de tonalidades dialógicas. O discurso do outro possui uma dupla expressão, a alheia e a expressão do enunciado que acolheu esse discurso, “[...] todo enunciado, além do seu objeto, sempre responde (no sentido amplo da palavra) de uma forma ou de outra, aos enunciados dos outros que o antecederam” (BAKHTIN, 2016. p. 61). Por isso, as relações dialógicas não podem ser consideradas relações lógicas ou unicamente linguísticas, “[...] elas só são possíveis entre enunciados integrais de diferentes sujeitos do discurso” (BAKHTIN, 2011, p. 323), e pressupõe linguagem, ou seja, não existe no plano meramente do sistema da língua. Bakhtin afirma que a natureza da palavra sempre procura uma compreensão responsiva e não se resume na compreensão imediata, ao contrário, ela avança cada vez mais em busca de pontos de vista, visões de mundo, vozes sociais, usos linguísticos que podem entrar inevitavelmente em relações dialógicas. Determinado pela alternância dos sujeitos do discurso “[...] o enunciado é pleno de ecos e ressonância de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva” (BAKHTIN, 2016, p. 57), e isso possibilita o atravessamento mútuo de sentido em diferentes graus. Todo enunciado é pleno de variadas atitudes responsivas a outros enunciados, pois o discurso do outro possui duas expressões: a alheia e a do enunciado que acolheu esse discurso. A expressão do enunciado, de certa forma, exprime a relação do falante com os enunciados dos outros e não somente a relação do objeto com o seu enunciado. A palavra do outro traz consigo a sua expressão e o seu tom valorativo que é assimilado, reelaborado e reacentuado no contexto discursivo. É exatamente nesse ponto que se verifica a alternância dos sujeitos do discurso e as suas mútuas relações dialógicas. O enunciado não pode ser separado dos elos precedentes que o determinam, justificando, dessa forma, as atitudes responsivas e as ressonâncias dialógicas. Semelhantemente, o enunciado também está ligado aos elos subsequentes da comunicação discursiva, pois ele se constrói levando em consideração as atitudes responsivas do outro, “[...] é como se o enunciado se construísse ao encontro dessa resposta” (BAKHTIN, 2016. p. 62). 53 Um traço constitutivo do enunciado, o qual orienta tal resposta, é a possibilidade do seu direcionamento a alguém, do seu endereçamento. Todo enunciado tem autor e destinatário, sendo este último determinado pelo campo da atividade humana e da vida ao qual tal enunciado se refere. Todo gênero do discurso, em sua esfera discursiva, tem a sua concepção típica de destinatário que o determina como um gênero discursivo. A orientação dialógica do discurso é um fenômeno singular de qualquer discurso, uma vez que a palavra do outro não pode deixar de entrar em uma relação viva e tensa com esse discurso. O discurso está voltado para a futura palavra-resposta, ele provoca a própria resposta e se constrói voltado para ela. Ele se constrói no clima do já dito e é determinado ainda pelo não dito, porém, antecipado pelo discurso responsivo. Além disso, o enunciado, na cadeia de comunicação discursiva, é “[...] o verdadeiro pensamento que age, é pensamento emotivo-volitivo, é pensamento que entoa” (BAKHTIN, 2017, p. 87). É esse pensamento que envolve o conteúdo do sentido e se relaciona com o existir do evento singular discursivo. Assim, o tom emotivo-volitivo do enunciado e sua eventicidade singular são uma realidade orientada unicamente pela comunicação discursiva, plena de tonalidade dialógicas. A conceituação de dialogismo associada à de interação é, dessa forma, a base constitutiva dos discursos. A concepção de linguagem para o Círculo de Bakhtin define-se exatamente a partir das trocas discursivas dialógicas que os sujeitos constroem na situação de enunciação, cujo sujeito que fala considera o outro como sujeito agente colaborativo. Sobral (2009a) sintetiza o conceito de dialogismo discutido pelo Círculo em três planos distintos: 1 – Dialogismo designa em primeiro lugar a condição essencial do próprio ser e agir do sujeito. O sujeito só vem a existir na relação com outros sujeitos, assim como só age em relação a atos de outros sujeitos, nunca em abstração desses sujeitos e desses atos; 2 – Dialogismo designa, em segundo lugar, a condição de possibilidade da produção de enunciados/discursos, do sentido, portanto. Segundo o Círculo, adquirimos a linguagem em contato com os usos da linguagem nas situações a que somos expostos (não nos dicionários ou nas gramáticas). Isso implica que os sentidos nascem de “diálogos” (no sentido amplo) entre formas de enunciados/discursos passados, que já foram produzidos, e formas de enunciados/discursos futuros, que podem vir a ser produzidos [...]; 3 – Dialogismo é, por fim, a base de uma forma de composição de enunciados/discursos, o diálogo. O dialogismo não se restringe às réplicas “mostradas” de uma interação na superfície textual, que é a função da forma do diálogo. Além disso, o fato de não se separarem “falas” num texto não implica a inexistência de um diálogo. Do mesmo modo, diálogo aqui não tem o mesmo sentido do senso comum (SOBRAL, 2009a, p. 35-36). No primeiro plano, o dialogismo como condição essencial do próprio ser e agir do sujeito, estamos diante da máxima da alteridade, pois “[...] o princípio dialógico funda a 54 alteridade como constituinte do ser humano e de seus discursos” (PIRES, 2003, p. 42). O sujeito existe na relação com os outros sujeitos e somente age mediante os atos alheios. Assim, o enunciado se constrói repleto da palavra alheia, sendo esta oculta com diferentes graus de alteridade. A produção do ato discursivo se dá em permanente tensão com outros atos passados ou futuros, como resposta das relações concretas entre os seres humanos. Já no segundo plano, o dialogismo como condição de sentido, como possibilidade de produção de enunciado, constitui-se somente diante das formas concretas de enunciação. Os valores do enunciado são determinados “[...] por diferentes formas de relação com a realidade, com o sujeito falante e com outros (alheios) enunciados [...]” (BAKHTIN, 2016, p. 100). Assim, o que faz o diálogo progredir é a possibilidade ininterrupta de sentidos dos enunciados, mesmo que adormecidos, pois o contexto provoca neles a renovação mediante outros contextos. No terceiro plano, o dialogismo é o diálogo, isso significa que não se restringe ao enunciado monológico, isolado, conforme a linguística é orientada, ao contrário, o ato discursivo é orientado para o outro, sempre considerando a representação que o sujeito tem do seu destinatário, além das ressonâncias dialógicas motivadas pelos enunciados já proferidos. Na verdade, os extremos – dialógico ou monológico – são apenas possíveis em termos teóricos, porém, não são concretamente verificáveis, porque “não há na prática discursos monológicos e/ou dialógicos ‘puros’ nem mesmo nesse sentido ‘mostrado’” (SOBRAL, 2009a, p. 38, grifo do autor). Mesmo monológico, o discurso continua a ser dirigido a alguém, carregado de intencionalidade, da mesma forma, mesmo intencionalmente dialógico, o discurso pode se mostrar monológico – o discurso que tenta impedir a manifestação reivindicatória. O fato é quenão há formas autênticas do discurso, tendo em vista que, mesmo se um discurso é autoritário, este se dirige a alguém e também responde às vozes que se fazem ouvir. Todo enunciado compreende ecos, ressonâncias e vozes dos enunciados anteriores. A concepção de linguagem como atividade dialógica, heterogênea e construída a partir da interação com o outro é a gênese da produção teórica bakhtiniana. Nela, todo enunciado é um elo na cadeia de comunicação verbal com ecos, ressonâncias e vozes de outros enunciados. Bakhtin desenvolve em seus textos essa reflexão de linguagem como reflexo social e considera o dialogismo e a polifonia noções fundamentais para o estudo do discurso. De acordo com as teorias apresentadas por Bakhtin, os conceitos dão conta da multiplicidade de vozes presentes no discurso, considerando as relações estabelecidas entre elas de forma recíproca. Para o autor, o homem se apresenta em constante interação com os seus semelhantes por meio da linguagem, como comunicação e representação do ato ético. Para tanto, 55 [...] a escrita é a transcrição codificada das vozes, capaz de transmitir os sentidos desse diálogo ontológico – posto que, segundo Bakhtin, ser é comunicar-se dialogicamente – e não um meio autônomo que organiza sentidos próprios, muitas vezes contraditórios, e frequentemente em conflito com as supostas “intenções” dos sujeitos que escrevem [...] (BUBNOVA, 2011, p. 269-270, grifo da autora). A escrita, como transcrição codificada de vozes, pressupõe vozes sociais em confronto no horizonte dialógico, que se estabelecem mediante os enunciados/vozes anteriores e se dirigem a outros enunciados/vozes. Assim, o diálogo é permeado por uma multiplicidade de vozes sociais. “Essas vozes não se fecham nem são surdas umas às outras. Elas sempre se escutam mutuamente, responde umas às outras e se refletem reciprocamente (especialmente nos microdiálogos)” (BAKHTIN, 2018, p. 86). O mundo pensado por Bakhtin é permeado pelo dinamismo do sentido engendrado pelas vozes que representam posições sociais éticas e ideológicas em contínuo processo de produção e reconstrução. Os sentidos do discurso não são cristalizados ou engessados de forma a representar uma unicidade de sentido. Ao contrário, “[...] os efeitos do discurso são um tanto imprevisíveis e podem, inclusive, romper o silenciamento e promover um reencontro dialógico das vozes em conflito” (VOESE, 2005, p. 375), e assim reestabelecer as condições de interação e de produção de novos sentidos. É diante dessa relação de sentido construída nas relações dialógicas que contemplamos as “[...] sobreposições de sentido sobre o sentido, da voz sobre a voz, [...] intensificação de muitas vozes (um corredor de vozes), a compreensão que completa, a saída para além dos limites do compreensível” (BAKHTIN, 2011, p. 327). As vozes da compreensão são possíveis unicamente a partir do enunciado em relação direta com a realidade e com o sujeito falante, e não nas formas da língua como possibilidade potencial. Porém, essa construção de sentido, as vozes compreendidas, implica que o enunciado já não é mais uma unidade da língua, mas uma unidade da comunicação discursiva que deixou de ser significado e passou a ser sentido. Para Bakhtin, o sentido e os valores do enunciado não são determinados por sua relação com a língua, mas por diferentes formas de relação com a realidade concreta, com o sujeito falante e com os enunciados alheios, “Um observador não tem posição fora do mundo observado, e sua observação integra como componente o objeto observado” (BAKHTIN, 2011, p. 332, grifo do autor), cuja compreensão própria do sujeito que observa já integra o sistema dialógico e, de certo modo, modifica-lhe o sentido real. Para Bakhtin, o homem, em sua intensa interação com o outro, está no centro da sua filosofia sobre a linguagem e, por isso, cada 56 expressão, cada gesto, cada enunciado é produzido em função do outro, como atos baseados em uma responsabilidade específica que a relação com o outro produz. O ato é uma resposta a algum ato anterior que, enquanto tal, possui um sentido, e ao provocar uma resposta no outro gera outro sentido novo: a filosofia do ato ético, segundo Bakhtin, prefigura a filosofia dialógica na qual aos parâmetros descritivos do ato é acrescentado outro ingrediente decisivo, constituinte do humano, que é a palavra, que para o ser humano sempre esteve aí, como o outro (BUBNOVA, 2011, p. 272). O ato como resposta ao ato anterior possui um sentido e se atualiza ao provocar uma resposta no outro. A palavra sonora permeia o ato, é a força persuasiva de uma enunciação. A significação da voz que soa possui o valor de um ato ético e assim se constitui no poder da ação. Nos escritos bakhtinianos, cabe destacar o princípio da heteroglossia ou plurivocidade, “[...] que são termos utilizados por Bakhtin para designar a realidade heterogênea da linguagem quando vista pelo ângulo da multiplicidade de línguas sociais” (FARACO, 2009, p. 77, grifo do autor). A heteroglossia diz respeito a uma combinação de vozes sociais em confronto no processo de enunciação, no horizonte das relações dialógicas, “Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de participar com ele de uma interação viva e tensa” (BAKHTIN, 2014, p. 88). Assim, o verdadeiro meio de enunciação é o confronto entre as diversas vozes sociais, sendo a heteroglossia que, de fato, efetiva-se no universo das relações dialógicas. Nesse sentido, a linguagem/os discursos/os enunciados são permeados por uma multiplicidade de vozes sociais compreendidas a partir de uma orientação dialógica. Para Bakhtin, a concepção de linguagem monológica e homogênea representa os processos de unificação e centralização de forças linguísticas denominadas forças centrípetas. Em oposição a esse processo de centralização estão as forças centrífugas, que proporcionam a descentralização e a desunificação. Nas palavras do autor, “[...] ao lado das forças centrípetas caminha o trabalho contínuo da língua, ao lado da centralização verbo-ideológica e da união caminham ininterruptos os processos de descentralização e desumanização” (BAKHTIN, 2014, p. 82). Com isso, em cada enunciação concreta do sujeito do discurso estão representadas tanto as forças centrípetas como as centrífugas, pois ambas se cruzam no processo enunciativo. Portanto, em confronto com as forças centralizadoras, há uma multiplicidade de vozes sociais que expressam as forças da diversidade e da descentralização. Nesse embate de forças contraditórias, o processo de comunicação verbal se define a partir de um conjunto de vozes que representa tensas relações de poder e se constitui a partir dos atos humanos materializados 57 em enunciados. Direcionemo-nos, então, para as conceituações do enunciado verbal e dos gêneros do discurso. 3.4 O ENUNCIADO VERBAL E OS GENÊROS DO DISCURSO A constituição da noção de enunciado se apresenta em diversas passagens dos escritos do Círculo de Bakhtin. Dentre eles, em O discurso na Vida e o Discurso na Arte (1976), o enunciado se relaciona diretamente com o contexto de enunciação (considerado como o lugar de realização da interação), sendo, para o Círculo, o contexto de interação constitutivo do enunciado e dele, portanto, indissociável. No texto, é discutida a relação entre o discurso verbal e a situação pragmática extraverbal. Na vida, o discurso verbal é claramente não auto-suficiente. Ele nasce de uma situação pragmática extraverbal e mantém a conexão mais próxima possível com esta situação. Além disso, tal discurso é diretamente vinculado à vida em si e não pode ser divorciado dela sem perder sua significação. [...] Este contexto extraverbal do enunciado compreende três fatores: 1) o horizonte espacial comum dos interlocutores,2) o conhecimento e a compreensão comum da situação por parte dos interlocutores, e 3) sua avaliação comum dessa situação (BAKHTIN; VOLÓCHINOV, 1976, p. 6-7, grifo dos autores). Qualquer enunciado será sempre determinado pelas condições reais da situação pragmática extraverbal, com a qual possui inextrincável relação, mediante a situação social imediata, sua totalidade e as condições sócio-históricas mais amplas. A situação extraverbal compreende o horizonte espacial comum dos interlocutores, ou seja, o que pode ser visível em torno dos sujeitos do discurso; o conhecimento e a compreensão comum por parte dos interlocutores, caracterizando-se como o entendimento partilhado sobre dado objeto da comunicação, sendo a avaliação comum dessa situação vista como a conclusão comum da situação vivida. Nesse sentido, o discurso não reflete (espelhadamente) a situação extraverbal, mas analisa a situação, produzindo, assim, uma conclusão avaliativa. Ainda no texto, os autores afirmam existir um aspecto do enunciado concreto que é de especial importância. Qualquer que seja a espécie, o enunciado concreto, sempre une os participantes da situação comum como co-participantes que conhecem, entendem e avaliam a situação de maneira igual. O enunciado, consequentemente, depende de seu complemento real, material, para um e o mesmo segmento da existência e dá a este material expressão ideológica e posterior desenvolvimento ideológico comuns (BAKHTIN; VOLÓCHINOV, 1976, p. 8, grifo dos autores). 58 Os coparticipantes da situação compartilhada conhecem, entendem e avaliam a situação vivida de maneira igual, estes são unidos pelo enunciado concreto, determinado pelas condições reais da situação extraverbal. O enunciado é concebido como produto da interação de dois ou mais indivíduos socialmente constituídos, que mediante a situação de interação, interagem por meio da linguagem. Vale destacar que “[...] um enunciado concreto como todo significativo compreende duas partes: a parte percebida ou realizada em palavras e a parte presumida” (BAKHTIN; VOLÓCHINOV, 1976, p. 8). A parte realizada em palavras denota a própria representação do discurso por meio das palavras, enquanto a parte presumida significa pontos nos quais estamos todos unidos, ou seja, julgamentos de valor compartilhado entre os participantes do contexto situado. Um julgamento de valor “[...] existe em sua totalidade sem incorporar-se ao conteúdo do discurso e sem ser deste derivável; ao contrário, ele determina a própria seleção do material verbal e a forma do todo verbal” (BAKHTIN; VOLÓCHINOV, 1976, p. 10, grifo dos autores). Em Os gêneros do discurso (2016), Bakhtin considera o enunciado uma unidade real de comunicação discursiva. Para o autor, o discurso só pode existir na forma de enunciados concretos. “O discurso sempre está fundido em forma de enunciado pertencente a um determinado sujeito do discurso, e fora dessa forma não pode existir” (BAKHTIN, 2016, p. 28). Por mais distintos que possam ser os enunciados, eles possuem, como unidade de comunicação discursiva, peculiaridades estruturais comuns e limites absolutamente precisos. Podemos considerar que o primeiro desses limites é a alternância dos sujeitos do discurso. Os limites de cada enunciado concreto como unidade da comunicação discursiva são definidos pela alternância dos sujeitos do discurso, ou seja, pela alternância dos falantes. Todo enunciado – da réplica sucinta (monovocal) do diálogo cotidiano ao grande romance ou tratado científico, tem por assim dizer, um princípio absoluto e um fim absoluto: antes do seu início, o enunciado dos outros; depois do seu término, os enunciados responsivos de outros (ou ao menos uma compreensão ativamente responsiva silenciosa do outro ou, por último, uma ação responsiva baseada na compreensão) (BAKHTIN, 2016, p. 29, grifo do autor). O enunciado, dada a sua condição de unidade real da comunicação discursiva, delimita com precisão a alternância dos sujeitos falantes. Bakhtin afirma que o enunciado, como unidade da comunicação discursiva, diferencia-se da oração, entendida como unidade da língua. Para o autor, a oração não tem contato com a realidade imediata (a situação extraverbal), nem com os enunciados alheios, tampouco é capaz de provocar uma ação responsiva do outro. As trocas discursivas só ocorrem com enunciados plenos, não se fazem com orações, “[...] a oração não se correlaciona de forma imediata nem pessoal com o contexto extraverbal da realidade, nem 59 com os enunciados dos outros falantes, mas tão somente através de todo o contexto que o rodeia, isto é, através do enunciado em seu conjunto” (BAKHTIN, 2016, p. 32). A oração, como unidade da língua, possui natureza gramatical e fronteiras gramaticais. Em contrapartida, o enunciado pode se construir a partir de uma oração, de uma palavra, de uma unidade do discurso, porém, isso não leva uma unidade da língua a transformar-se em unidade da comunicação discursiva. Para Bakhtin (2016), a oração é uma unidade da língua vista como sistema, cujos limites são definidos a partir de fatores sintático-semânticos, enquanto o enunciado tem seus limites definidos pela alternância dos sujeitos do discurso. A oração, diferentemente do enunciado, não tem contato com a realidade imediata, com a situação extraverbal, nem mesmo com os enunciados alheios. As trocas discursivas não se fazem com orações, ao contrário, constroem-se com enunciados plenos. A segunda peculiaridade, intimamente ligada à primeira, é a “[...] conclusibilidade específica do enunciado” (BAKHTIN, 2016, p. 35, grifo do autor), compreendida como um aspecto interno da alternância dos sujeitos do discurso. Para o autor, Essa alternância pode ocorrer precisamente porque o falante disse (ou escreveu) tudo o que quis dizer em dado momento ou sob dadas condições. Quando ouvimos ou vemos, percebemos nitidamente o fim do enunciado, como se ouvíssemos um “dixi” conclusivo do falante. Essa conclusibilidade é específica e determinada por categorias específicas. O primeiro e mais importante critério da conclusibilidade do enunciado é a possibilidade de responder a ele, em termos mais precisos e amplos, de ocupar em relação a ele uma posição responsiva (BAKHTIN, 2016, p. 35, grifo do autor). Na comunicação cotidiana, o “dixi” (anunciado ou silenciado) pode ser percebido da mesma forma pelo falante e pelo interlocutor. Ambos vivem uma situação extraverbal compartilhada, cujo limite do enunciado é marcado pela alternância dos sujeitos do discurso. A conclusibilidade indica o fim do enunciado, ou seja, o falante disse tudo o que quis dizer em dada situação de enunciação. Cada réplica do diálogo, embora se constitua de uma única palavra, é atravessada no enunciado com sua conclusibilidade específica, uma vez que marca a posição do falante e provoca uma resposta do ouvinte. A possibilidade de responder ao enunciado se constitui um importante critério da conclusibilidade, pois, “alguma conclusibilidade é necessária para que se possa responder ao enunciado. Para isso não basta que o enunciado seja compreendido no sentido linguístico” (BAKHTIN, 2016, p. 35). A oração como unidade da língua não pode suscitar uma atitude responsiva, diferentemente do enunciado constituído por oração. A possibilidade de resposta assegurada pela plenitude acabada do enunciado é determinada por três elementos intimamente ligados na totalidade do enunciado: “1) 60 exauribilidade semântico-objetal; 2) o projeto de discurso ou a vontade de discurso do falante; 3) as formas típicas da composição e do acabamento do gênero” (BAKHTIN, 2016, p. 36, grifo nosso). O primeiro elemento, a exauribilidade semântico-objetal do tema do enunciado, segundo Bakhtin, difere conforme o campo de comunicação discursiva, pois o esgotamento do sentido do objeto varia conforme a esfera de comunicação.“Essa exauribilidade pode chegar a uma plenitude quase absoluta em alguns campos da vida [...] naqueles campos em que os gêneros do discurso têm uma natureza sumamente padronizada” (BAKHTIN, 2016, p. 36). O objeto é inesgotável, mas se constituído como tema do enunciado, este estará de acordo com os intuitos definidos pelo autor, ou seja, como tema de um enunciado, assumirá um caráter conclusivo, receberá um acabamento relativo, pois estará de acordo com os fins pretendidos pelo sujeito falante. O segundo elemento do acabamento do enunciado, o projeto de discurso ou a vontade de discurso do falante, relaciona-se com o primeiro e diz respeito ao intuito discursivo do sujeito falante. Essa vontade discursiva determina o todo do enunciado, seus objetos, suas fronteiras em relação aos enunciados anteriores e o tratamento exaustivo do objeto de sentido. A intenção discursiva do sujeito falante determina a conclusibilidade do enunciado, o que inclui tanto a própria escolha do objeto quanto os limites e a sua exauribilidade semântico-objetal. Além disso, determina a escolha da forma do gênero (caracterizado como o terceiro elemento, que ainda será abordado). Essa intenção – momento subjetivo do enunciado – combina-se em uma unidade indissolúvel com o seu aspecto semântico-objetal, restringindo-o vinculando-o a uma situação concreta (singular) de comunicação discursiva, com todas as suas circunstâncias individuais, com seus participantes pessoais – com as suas intervenções – enunciados antecedentes. Por isso, os participantes imediatos da comunicação, que se orientam na situação e nos enunciados antecedentes, abrangem fácil e rapidamente a intenção discursiva, a vontade discursiva do falante, e desde o início do discurso percebem a totalidade do enunciado em desdobramento (BAKHTIN, 2016, p. 37). A vontade discursiva dos participantes da comunicação é determinada pela combinação dos elementos – a escolha do objeto, seus limites, sua exauribilidade e a escolha do gênero, cuja combinação orienta a situação de comunicação discursiva. A vontade discursiva do falante se realiza antes de tudo na escolha de certos gêneros do discurso, considerado o terceiro elemento a conferir ao enunciado o caráter de inteireza – as formas típicas da composição e do acabamento do gênero. Nesse sentido, a “escolha é determinada pela especificidade de dado campo da comunicação discursiva, por considerações semântico-objetais, pela situação concreta da comunicação discursiva, pela composição pessoal de seus participantes, etc.” (BAKHTIN, 2016, p. 38). A intenção discursiva do falante, mediante 61 sua individualidade e subjetividade, é adaptada ao gênero escolhido. A relatividade dos gêneros do discurso possibilita sua variedade e formas relativamente estáveis e típicas de construção do todo. Dispomos de um rico repertório de gêneros do discurso orais (e escritos). Em termos práticos, nós o empregamos de forma segura e habilidosa, mas em termos teóricos podemos desconhecer inteiramente a sua existência. Como Jourdain de Molìere, que falava em prosa sem que disso suspeitasse, nós falamos por gêneros diversos sem suspeitar de sua existência. Até mesmo no bate papo mais descontraído e livre moldamos o nosso discurso por certas formas de gêneros, às vezes padronizadas e estereotipadas, às vezes mais flexíveis, plásticas e criativas (BAKHTIN, 2016, p. 38, grifo do autor). Os gêneros do cotidiano – como o bate-papo entre amigos, a conversa familiar – são bastante flexíveis e de variadas formas. Nós os empregamos habilidosamente nas diversas situações sociais cotidianas, mesmo desconhecendo teoricamente a sua existência. Em contrapartida, os gêneros oficiais se apresentam, regularmente, bastante normativos e com padrões de estruturação relativamente mais acabados e organizados. A diversidade dos gêneros do discurso depende da situação social de interação, da posição social e das relações pessoais de reciprocidade entre os participantes. Diante dessas condições de produção, os gêneros discursivos se diferenciam e variam para organizar a comunicação. Quanto mais dominamos os gêneros, mais habilidosamente os empregamos e descobrimos neles a nossa individualidade, refletimos de modo mais flexível e sutil a situação singular da comunicação, ou seja, “[...] tanto mais plena é a forma com que realizamos o nosso livre projeto de discurso” (BAKHTIN, 2016, p. 41). Voltando às peculiaridades do enunciado, Bakhtin nos apresenta a terceira, a relação do enunciado com o próprio falante (autor da enunciação) e com outros participantes da comunicação discursiva. A oração, como unidade da língua, semelhantemente à palavra, não tem autor. Assim, apenas funcionando como um enunciado pleno ela se torna expressão da posição do falante individual em uma situação concreta de comunicação discursiva. O enunciado está sempre associado a um sujeito – autor – e a um interlocutor, pois o discurso se materializa em enunciados produzidos por autores e dirigidos a seus interlocutores. Segundo Bakhtin (2016), todo enunciado é um elo na cadeia da comunicação discursiva e representa a posição ativa do falante nesse ou naquele campo do objeto do sentido. Por isso, cada enunciado se caracteriza, antes de tudo, por certo conteúdo semântico-objetal. Esse elemento, por sua vez, segundo o autor, juntamente ao conteúdo expressivo, são dois importantes elementos relacionados a essa última peculiaridade do enunciado. Esse filósofo da linguagem aponta que o conteúdo semântico-objetal é o primeiro elemento do enunciado que 62 determina as peculiaridades estilístico-composicionais. Já o segundo é o elemento expressivo, ou seja, “[...] a relação subjetiva emocionalmente valorativa do falante com o conteúdo e do sentido de seu enunciado “[...] um enunciado absolutamente neutro é impossível” (BAKHTIN, 2016, p. 45). A individualidade estilística do enunciado é determinada sobretudo por seu aspecto expressivo, o que inclui a escolha dos recursos lexicais, gramaticais e composicionais do enunciado. A oração, como unidade da língua, neutra em si mesma, não possui aspecto expressivo, ela o adquire exclusivamente na condição de enunciado concreto. Um traço constitutivo do enunciado é a entonação expressiva, um dos meios de expressão da relação emocionalmente valorativa do falante com o objeto de sua fala. Quando as palavras são escolhidas, parte-se do conjunto projetado de enunciados, o qual é sempre expressivo, porém, a palavra significada em si mesma não é expressiva, mas pode corresponder aos nossos objetivos expressivos em face do conjunto do nosso enunciado. “Portanto, a emoção, o juízo de valor e a expressão são estranhos à palavra da língua e surgem unicamente no processo de seu emprego vivo em um enunciado concreto. Em si mesmo o significado de uma palavra é extraemocional” (BAKHTIN, 2016, p. 51), ou seja, só o contato do significado linguístico com a realidade concreta faz da palavra um enunciado concreto. O elemento expressivo é uma peculiaridade constitutiva do enunciado. A expressividade do enunciado exprime a relação do falante com os enunciados dos outros, e não só a relação com os objetos do seu enunciado. Nessas condições, a expressão do enunciado não se orienta ao objeto diretamente, mas às valorações de que esse objeto é portador, provenientes de inúmeros enunciados anteriores.Em uma situação de comunicação, o falante avalia o campo de percepção do seu discurso pelo destinatário, ou seja, até que ponto ele está a par da situação, dispõe de conhecimentos de dado campo cultural da comunicação, leva em conta as suas concepções e convicções, simpatias e antipatias, enfim, tudo isso irá determinar a sua compreensão responsiva ativa do enunciado. Dadas as especificidades do enunciado e suas particularidades, o direcionamento, o endereçamento do enunciado é sua singularidadeconstitutiva, sem a qual ele não pode existir. Além disso, “As várias formas típicas de tal direcionamento e as diferentes concepções típicas de destinatários são peculiaridades constitutivas e determinantes dos diferentes gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2016. p. 68), definidos, consequentemente, mediante a esfera de comunicação discursiva. Na seção a seguir, discutiremos os aspectos relativos à trajetória metodológica adotada por este estudo. 63 4 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Nesta seção, tratamos dos procedimentos metodológicos da pesquisa. Inicialmente, será apresentada A Abordagem do Estudo, considerando o paradigma norteador da pesquisa qualitativa, que se ocupa em estudar os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas relações sociais estabelecidas em diversos ambientes. A pesquisa busca compreender o processo mediante o qual os sujeitos constroem significados e ainda descrever em que consistem esses significados. Para tanto, considera-se a abordagem de estudo qualitativo- interpretativista, que objetiva se aprofundar na compreensão dos fenômenos estudados, interpretando-os segundo a perspectiva do próprio sujeito participante da situação. Assim, passa a ser fundamental no processo de investigação a interação entre o pesquisador e o seu objeto de estudo, o levantamento e o registro dos dados, bem como a interpretação própria do pesquisador. Em seguida, serão apresentados Os Procedimentos Metodológicos. Na oportunidade, será explicada a característica procedimental do estudo bibliográfico, os critérios norteadores para a escolha dos periódicos e, por último, o procedimento de escolha dos artigos/objeto de análises. Na sequência, proceder-se-á à Contextualização das Revistas, trazendo informações gerais sobre os periódicos Linguagem e Ensino, Revista Brasileira de Linguística Aplicada e Trabalhos em Linguística Aplicada. Ademais, serão apresentadas informações sobre o lançamento das revistas, os Programas de Pós-graduação a elas vinculados, a avaliação Qualis Capes, o fluxo de publicações e temáticas de interesse das revistas. Por último, faremos a Delimitação do Corpus de pesquisa. Nesse caso, será apresentado o corpus do estudo organizado por revista e especificado o período de publicação, o título das pesquisas e seus autores. 4.1 A ABORDAGEM DO ESTUDO Moita Lopes (1994) aponta que a escolha de um método ou de uma metodologia de pesquisa está relacionada com a visão que o pesquisador tem da realidade a ser investigada, e que lhe permite localizar-se em determinado paradigma de pesquisa, ou em uma realidade vista como um produto independentemente dos sujeitos envolvidos, ou ainda em uma realidade que não pode prescindir dos participantes da pesquisa. Para qualquer dos entendimentos, trata-se de uma metodologia diferenciada. Neste estudo, tomamos o contexto social, os participantes da 64 interação e os usos que se fazem da língua como imprescindíveis para a realidade da pesquisa, uma vez que o estudo considera o paradigma da pesquisa qualitativo-interpretativista e se insere no âmbito das Ciências Humanas e Sociais, no campo da Linguística Aplicada. Nas ciências humanas, o pesquisador é um ator agindo e exercendo seu papel social. Nela, a construção do saber se difere da obtida em ciências naturais. As ciências humanas que hoje conhecemos nasceram no final do século XIX e se desenvolveram nas primeiras décadas do século XX, segundo o modelo das ciências naturais e o espírito do positivismo (LAVILLE; DIONNE, 1999). As ciências naturais e as ciências humanas, em seus procedimentos fundamentais, “[...] partilham essencialmente as mesmas preocupações: 1) centrar a pesquisa na compreensão de problemas específicos; 2) assegurar, pelo método de pesquisa, a validade da compreensão; 3) superar as barreiras que poderiam atrapalhar a compreensão (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 41). Para as ciências humanas, isso significa compreender os problemas que surgem no campo do social a fim de contribuir para sua solução. Além disso, objetiva-se a validade da compreensão, tendo em vista a natureza do objeto de estudo e sua complexidade, não desconsiderando, assim, que os fatos humanos repousam na multicausalidade. A pesquisa positivista foi construída com base em muitos debates entre seus defensores e adversários, por exemplo, a oposição entre as pesquisas quantitativa e a qualitativa. Para o espírito positivista, a pesquisa aprecia números e pretende tomar medida exata dos fenômenos humanos e do que os explica. Para os adversários desse método, a proposta é respeitar mais o real no sentido de conhecer mais o humano, suas motivações e representações, considerando seus valores. Essa ideia representa um sinal de crise no paradigma das ciências modernas, pois, de acordo com essa vertente, para se estudar os fatos sociais, é preciso fazer uso de métodos qualitativos em detrimento dos quantitativos, uma vez que o comportamento humano é subjetivo, de forma que a ciência social será sempre subjetiva (SANTOS, 2003). Atualmente, o modo de fazer pesquisa pauta-se cada vez mais no paradigma qualitativo, “[...] cujas origens, historicamente, remontam ao final do século XIX, ao instaurar- se a ‘crise das ciências humanas’ e seus questionamentos mais significativos dirigidos ao primado da cientificidade, materializada na ideia de verdade absoluta [...]” (OLIVEIRA, 2012, p. 267, grifo do autor). Mas é o século XX que assiste à explosão das ciências humanas, que somente a partir da segunda metade do século atinge os níveis e padrões científicos que, desde o seu início, já prevaleciam na Europa. A investigação qualitativa, por exemplo, constituiu-se como um movimento reformista surgido no início dos anos 1970 no meio acadêmico (LAVILLE; DIONNE, 1999). 65 Nessa abordagem, todo objeto de estudo apresenta sua especificidade, pois ele é histórico, localizado temporalmente, podendo sofrer mutação; possui consciência histórica, na medida em que não é apenas o pesquisador que lhe atribui sentido, mas a totalidade dos homens conforme se relacionam em sociedade; apresenta uma identidade com o sujeito, pois o pesquisador identifica-se com ele; é intrínseca e extrinsecamente ideológico, porque veicula interesses e visões de mundo historicamente construídos. Ademais, é essencialmente qualitativo, visto que a realidade social é mais rica do que as teorizações e os estudos empreendidos sobre ela (LIMA; MIOTO, 2007). Na investigação qualitativa, destacam-se algumas características (BOGDAN; BLIKEN, 1994), como a constituição do ambiente natural como fonte direta de dados, sendo o investigador o instrumento principal e a investigação qualitativo-descritiva. Além disso, os investigadores qualitativos se interessarem mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos; e tendem a analisar os seus dados de forma indutiva. Por fim, o significado torna-se vital na abordagem qualitativa. A pesquisa, no paradigma qualitativo, implica a ênfase na qualidade do estudo, no processo e no desenvolvimento da pesquisa, nos significados dos objetos de estudo e na relação existente entre sujeito pesquisado e pesquisador. Nesse caso, o pesquisador é parte integrante do processo de conhecimento, pois é ele quem interpreta os fenômenos e lhes atribui significados. Como afirma Moita Lopes (1994), cabe ao pesquisador dar conta da pluralidade de vozes em ação no mundo social, além disso, considerar que essa atuação envolve questões relativas a poder, ideologia, história e subjetividade. A pesquisa qualitativa, portanto, procura a compreensão do mundo social, constituído por significados que são construídos pelos sujeitos sociais, que fazem com que a realidade não seja única e acabada, ao contrário, seja múltipla e complexa. É essa natureza complexa do mundo social e virtual que buscamos refletir com base no paradigma qualitativode pesquisa. Vejamos os procedimentos metodológicos da pesquisa. 4.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Além de tratar sobre os pressupostos da abordagem qualitativa das ciências humanas, a pesquisa em Linguística Aplicada destaca também a importância da dominação de tendências de pesquisa que especificam, de modo mais detalhado, a finalidade de investigação sobre os fenômenos da língua. No presente estudo, a pesquisa qualitativa em Linguística Aplicada 66 apresenta a característica procedimental bibliográfica, uma vez que propõe analisar artigos científicos da esfera de divulgação científica (GRILLO, 2013). A pesquisa bibliográfica é uma modalidade de estudo e análise de documentos que se caracteriza como pesquisa centrada em fontes científicas, sem precisar recorrer diretamente aos fatos/fenômenos da realidade empírica (OLIVEIRA, 2007). A principal finalidade desse tipo de pesquisa é possibilitar aos pesquisadores o contato com documentos de domínio científico que tratem do tema em análise. Neste estudo, consideramos os artigos científicos documentos historicamente constituídos e com finalidades discursivas específicas, associados a uma esfera da atividade humana. Bakhtin (2011) propõe as esferas sociais como princípio organizador dos gêneros do discurso, uma vez que elas caracterizam as situações de interação e estabilizam os enunciados relativamente estáveis que nelas circulam, originando, assim, os gêneros do discurso. Cada esfera organiza sua forma típica de comunicação social orientada pela realidade, com funções ideológicas específicas. Na esfera de divulgação científica, destacamos o gênero artigo científico como objeto de estudo. Para Grillo (2013), a esfera de divulgação científica é uma atividade discursiva que ocorre, entre outras, principalmente na esfera científica. Nesse campo, a divulgação costuma assumir a forma de gêneros variados, entre eles, o artigo, destinando-se tanto ao público-alvo mais restrito como aos universitários e pós-graduandos de forma geral, e ainda a destinatários exteriores à esfera científica (GRILLO 2013). A cultura científica é relevante à medida que insere a ciência no conjunto das manifestações culturais de uma sociedade, dialogando com outros produtos culturais e outras esferas sociais. Partindo da esfera de divulgação científica, a geração e delimitação do corpus de análise se deu a partir das três revistas científicas on-line já apresentadas, quais sejam: a Revista Brasileira em Linguística Aplicada (RBLA), a revista Trabalhos em Linguística Aplicada (TLA) e a revista Linguagem e Ensino (LeE). É importante considerar que não é nossa pretensão neste estudo compreender qualquer análise comparativa entre os periódicos ou mesmo entre os próprios estudos dos periódicos. A busca pela identificação dos estudos serviu unicamente ao propósito de refletir sobre as pesquisas relacionadas à temática tecnologia e ensino de línguas e seus desdobramentos. Na escolha pelos periódicos, foram considerados, inicialmente, os critérios: uma revista tratando sobre os estudos da linguagem relacionados ao ensino – revista Linguagem e Ensino; outro periódico do Programa de Pós-graduação entre os mais bem pontuados pela Capes na área da LA, o Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, da UFMG - 67 Revista Brasileira em Linguística Aplicada; e um terceiro periódico do Programa de Pós- Graduação em Linguística Aplicada, do Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos mais reconhecidos e antigos da LA – Revista Trabalhos em Linguística Aplicada. Dados os critérios gerais, foram considerados ainda os seguintes princípios: 1 – apresentar estudos comprometidos com a área da Linguística Aplicada e o ensino; 2 – possuir uma qualidade acadêmica relevante na qualificação dos periódicos do quadriênio 2013-2016, Qualis A1; 3 – restringir a publicação para doutores, o que, em princípio, aponta para o fato de que os textos provêm de pesquisas realizadas por pesquisadores sêniors, de teses de doutorado ou mesmo de pesquisas de pós-doutoramento; 4 – possuir gratuidade de acesso e disponibilidade na web; 5 – publicar textos científicos, com regularidade periódica. Os critérios para a identificação das publicações foram: a) prioridade ao gênero artigo científico entre os vários gêneros do discurso publicados nos periódicos on-line; b) publicação de estudos no período de 2011 a 2020; c) trabalhos inseridos no campo da Linguística Aplicada voltados para as tecnologias digitais e o ensino de línguas; d) presença do ciberespaço educacional em estudos que buscam refletir pedagogicamente esse universo. A partir de uma leitura exploratória dos títulos e resumos das publicações, e, em alguns momentos, do trabalho completo, verificamos os temas de pesquisa e fizemos um levantamento das orientações nelas expressas, as quais entendemos como importantes fontes norteadoras de ideologias e valores acerca das tecnologias na prática docente. A seguir, apresentamos uma contextualização detalhada sobre os periódicos 4.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS REVISTAS A revista Linguagem e Ensino é uma publicação científica trimestral do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pelotas. Desde 1998, colabora com a publicação de textos acadêmicos de pesquisadores nacionais e estrangeiros que refletem sobre questões teóricas em literatura, linguística, tradução, literatura, imagem e ensino em Letras. O fluxo de edição se dá por chamadas de publicações temáticas. A revista objetiva a divulgação 68 de trabalhos inéditos, partindo de pesquisas originais, teóricas ou empíricas – quantitativas ou qualitativas – nas áreas da linguagem e/ou de ensino, incluindo, por exemplo, aprendizagem e aquisição de línguas, tanto materna como estrangeira; desenvolvimento e avaliação da produção textual; aspectos sociais e psicolinguísticos da compreensão textual; formação de professores de língua materna e estrangeira; discurso pedagógico, midiático e institucional em geral; e aspectos da interação verbal e não verbal. O seu lançamento se deu em outubro de 1997 durante o primeiro Seminário Nacional sobre Linguagem e Ensino (Senale), cujo editor fundador foi Vilson José Leffa, hoje atuante na Comissão Editorial da revista. Na avaliação Qualis Capes de 2016, a revista Linguagem e Ensino passou da qualificação A2 para A1 em Letras11. Com ISSN 1983-2400, oferece acesso on-line, livre e imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona mais democratização mundial do conhecimento. Já a Revista Brasileira de Linguística Aplicada é um periódico trimestral, com avaliação por pares, que tem a missão de incentivar a pesquisa na área de Linguística Aplicada. Criada em 2001, a revista recebe artigos originais, de mestres e doutores, que tratam dos muitos fenômenos relacionados a problemas de linguagem da vida real no que diz respeito à língua em uso em contextos diversos ou à aprendizagem. O periódico também publica resenhas, entrevistas e dois números temáticos por ano. A publicação, com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), é de responsabilidade do Programa de Pós- Graduação em Estudos Linguísticos, área de concentração em Linguística Aplicada da Universidade Federal de Minas Gerais e é distribuída gratuitamente aos sócios da Associação de Linguística Aplicada no Brasil (ALAB). Atualmente, a revista possui qualidade acadêmica relevante, classificada como A112. A RBLA, com ISSN 1984-6398, segue as diretrizes do Código de Conduta e Boas Práticas do Committee on Publication Ethics (Cope) e não admite comportamentos antiéticos, nem tolera quaisquer formasde plágio. O periódico segue as recomendações do International Committee of Medical Journal Editors, que prescreve que os créditos de autoria devem estar baseados somente em contribuições substanciais para (A) concepção, planejamento, análise ou 11 Informações disponíveis em: http://www.rle.ucpel.tche.br/index.php/rle/about. Acesso em: 20 jul. 2019. 12 Informações disponíveis em: http://www.scielo.br/revistas/rbla/paboutj.htm. Acesso em: 20 jul. 2019. 69 interpretação dos dados; (B) redação do artigo ou sua revisão intelectual crítica; (C) responsabilidade pela aprovação final para publicação. A revista recebe submissões em português, inglês e espanhol que tratem dos muitos fenômenos relacionados a problemas de linguagem da vida real relativos à língua em uso em contextos diversos ou ao ensino e à aprendizagem de línguas. Tem prioridade de publicação os artigos que apresentam resultados de pesquisa e que trazem contribuições novas para a área de Linguística Aplicada. A revista on-line tem acesso aberto e gratuito de todo o material publicado. Por último, Trabalhos em Linguística Aplicada é uma publicação quadrimestral do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Tem por objetivo a divulgação de trabalhos inéditos e que contribuam para a constante renovação e ampliação da área de Linguística Aplicada. Tem interesse em publicar textos que reflitam sobre linguagens, a partir de alguns eixos: interculturalidade e identidades; educação linguística; tecnologias e redes sociais; tradução; multimodalidades e intermidialidades; antropologia linguística; políticas linguísticas; discursos e políticas 13 . A revista, com ISSN eletrônico 2175-764X, propicia ao público em geral acesso gratuito e imediato a todas as publicações na internet. Não há qualquer tipo de cobrança de taxas nem aos autores que publicam seus trabalhos na revista nem a qualquer de seus agentes financiadores. Todos os cursos relativos à edição e publicação são garantidos pelas instituições públicas listadas em patrocinadores, e ficam disponíveis para consulta na internet pelo SciELO Brasil. Além disso, a revista dedica-se a cumprir as boas práticas no que diz respeito à conduta moral condizente com a editoração científica de periódicos. A prevenção da negligência também é uma responsabilidade crucial do editor e da equipe editorial: qualquer forma de comportamento antiético, bem como plágio em qualquer instância não é aceito. Os autores que enviam artigos para a revista declaram que seu conteúdo é original e garantem que o trabalho não foi publicado nem está em processo de revisão/avaliação em qualquer outro periódico. Com mais de 20 anos de circulação internacional, a revista tem mantido uma qualidade acadêmica relevante, classificada como A1 no Qualis. Apontando para as diferentes tendências teórico-metodológicas da área, os artigos – em português, francês, espanhol ou inglês – 13 Informações disponíveis em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/about. Acesso em 20 julh. 2019. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/about 70 permitem traçar um panorama histórico da Linguística Aplicada no Brasil, suas transformações e sua consolidação ao longo dos anos, passando de uma visão de aplicação de teorias linguísticas ao ensino-aprendizagem da língua materna e da língua estrangeira para uma perspectiva interdisciplinar de análise de diferentes situações de interação social mediadas pela linguagem, incluindo aspectos teórico-práticos de tradução, questões de identidade, entre outros. Passemos, então para a delimitação do corpus da pesquisa. 4.4 DELIMITAÇÃO DO CORPUS DA PESQUISA Ao longo do tempo, os periódicos passam por mudanças relacionadas às políticas de publicação dos textos. A revista Linguagem e Ensino, por exemplo, de 2011 a 2013, publicou 1 volume e 2 números temáticos. Em 2014, a revista publicou 1 volume e 3 números temáticos. Durante dos anos de 2015 a 2017, a revista volta a apresentar 1 volume e 2 números. Já em 2018, são publicados 1 volume, 2 números e 2 números temáticos especiais. Em 2019 e 2020, a revista amplia ainda mais suas publicações passando a divulgar 1 volume e 4 números. Das edições publicadas, foram destacados 36 estudos relacionados às tecnologias e ao ensino de línguas, como pode ser observado no Quadro 1 a seguir. Quadro 1 – Artigos publicados na revista Linguagem e Ensino, de 2011 a 2020 Volume, número e ano de publicação Título dos Artigos Autores dos Artigos v. 23, n. 4 (2020) Sem publicação v. 23, n. 3 (2020) Sem publicação v. 23, n. 2 (2020) A114 - Proficiência digital de professores: competências necessárias para ensinar no século XXI - Josiane Brunetti Can A2 - Sobre o uso e a potencialidade de programas online e aplicativos: experiências e expectativas de futuros professores de Alemão como Língua Estrangeira no Brasil - Paul Voerkel; - Ebal Sant´Anna Bolacio Filho A3 - Percepções de alunos de Letras-inglês para as potencialidades pedagógicas das tecnologias digitais - Marcus de Souza Araújo v. 23, n 1 (2020) Sem publicação 14 Os artigos da revista Linguagem e Ensino foram identificados pela letra A, seguida de um número arábico crescente para facilitar a análise. No anexo A, além dos títulos dos artigos, também foram apresentados os objetivos de cada estudo. file:///C:/Users/alban/Downloads/17110-62540-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17110-62540-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17110-62540-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17577-62541-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17577-62541-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17577-62541-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17577-62541-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17340-62542-1-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17340-62542-1-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17340-62542-1-PB%20(1).pdf 71 v. 22, n. 4 (2019) A4 - Elementos de gamificação presentes em Livros Literários Infantis digitais interativos em formato de Aplicativo (LLIA): análise de práticas multiletradas na formação de leitores - Paulo Henrique Machado; -Maria de Lourdes Rossi Remenche A5 - Aquisição de vocabulário em inglês como língua estrangeira: o jogo The Sims - Caroline Chioquetta Lorenset; - Celso Henrique Soufen Tumolo A6 - A gamificação e o ensino/aprendizagem de segunda língua: um olhar investigativo sobre o Duolingo - Cláudio Corrêa A7 - Gamificação na aprendizagem de inglês: uma análise sobre Recursos Educacionais Abertos, Motivação e Feedback - Gabriela Bohlmann Duarte A8 - O Estado de Fluxo (Flow) na aprendizagem de alemão durante o uso da ferramenta Kahoot!: um olhar sobre o nível de desafio - Arthur Heredia Crespo - Cibele Cecílio de Faria Rozenfeld A9 - Experiências de aprendizes de inglês da educação superior com o Kahoot - Fernanda Franco Tiraboschi; - Laryssa Paulino de Queiroz Sousa - Francisco José Quaresma de Figueiredo - Neuda Alves do Lago A10 - O mundo hispano sem fronteiras: uma proposta de curso Mooc Gamificado - Guilmer Brito Silva1 - Luís Paulo Leopoldo Mercado - Delia Hilda Ortiz A11 - Gamificação e aprendizagem de vocabulário L2: a Experiência Vocabox no programa idiomas sem fronteiras - Janaina Weissheimer - Juliana Geizy Marques de Souza - João Pedro Lobo Antunes - Neemias Silva de Souza Filho A12 - Desenvolvimento de jogo digital educacional no RPG Maker MV para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem de ortografia da Língua Portuguesa - Fabio Nunes Assunção - Nukácia Meyre Silva Araújo A13 - Uma proposta de matriz de avaliação de jogos digitais para o ensino-aprendizagem-uso de língua adicional - Kyria Finardi- Gicele Vergine Vieira - Roberta Leão file:///C:/Users/alban/Downloads/16473-60124-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16473-60124-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16473-60124-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16473-60124-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16642-60125-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16642-60125-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16471-60126-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16471-60126-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16471-60126-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16434-60127-1-PB%20(2).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16434-60127-1-PB%20(2).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16434-60127-1-PB%20(2).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16458-60128-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16458-60128-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16458-60128-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16461-60129-1-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16461-60129-1-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/alban/AppData/Roaming/Microsoft/Word/v file:///C:/Users/alban/AppData/Roaming/Microsoft/Word/v file:///C:/Users/alban/Downloads/16464-60132-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16464-60132-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16464-60132-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16464-60132-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16288-60133-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16288-60133-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16288-60133-1-PB.pdf 72 v. 22, n. 3 (2019) A14 - Letramento acadêmico: dimensões mostradas e escondidas em rasuras em contexto digital - Tatiane Henrique Sousa Machado; - Cristiane Carneiro Capristano; - Neiva Maria Jung v. 22, n. 2 (2019) Sem publicação v. 22, n. 1 (2019) A15 - Planos de aula de língua portuguesa em plataformas virtuais: das projeções metodológicas às suas inconsistências - Cármen Lúcia Hernandes Agustini; - João de Deus Leite; - Ronis A. Gouveia A16 - Ler e falar inglês dinamicamente (ReSPOnD: uma proposta de curso híbrido em língua inglesa na abordagem sala de aula invertida - Susana Cristina dos Reis; - Edoardo Pletsch v. 21, n esp. (2018) A17 - (Des)construção da identidade docente: estudo de caso de ensino de inglês por videoconferência no Uruguai - Virginia Frade Pandolfi v. 21, n esp. (2018) A18 - Linguagem, conhecimento e tecnologia: a Enciclopédia Audiovisual da Análise do Discurso e áreas afins - Bethania Mariani v. 21, n. 2 (2018) Sem publicação v. 21, n. 1 (2018) A19 - O uso de tecnologias digitais abertas no ensino superior: comunidades da UFMG - Ana Cristina Fricke Matte; - Carlos Henrique Silva de Castro; - Daniervelin Renata Marques Pereira; - Elizabeth Guzzo de Almeida; - Adelma Lúcia Silva Araújo v. 20, n. 2 (2017) A20 - Desenvolvendo a autonomia do aprendiz de inglês como L2/LE com o auxílio da técnica da sala de aula invertida: um estudo de caso - Mariana Santana Ofugi; - Carla Janaina Figueredo A21- Tecnologias digitais no ensino superior: implementação e avaliação de um curso online de formação docente - Cíntia Regina Lacerda Rabello; v. 20, n. 1 (2017) A22 - Jogos digitais em sala de aula de língua inglesa: investigação de uma proposta de gestão pedagógica para o ensino - Franciele Knebel Centenaro; - Susana Cristina dos Reis v. 19, n. 2 (2016) A23 - Tecnologia digital e ensino: breve histórico e seis elementos para a ação - Ana Elisa Ribeiro v. 19, n. 1 (2016) Sem publicação v. 18, n. 2 (2015) A24 - Potenciais do podcast no aprimoramento dos fluxos informativos da educação formal - Eugênio Paccelli Aguiar Freire A25 - Os multiletramentos nas aulas de língua portuguesa no Ensino Médio - Ana Maria Pereira Lima; file:///C:/Users/alban/Downloads/17149-58480-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17149-58480-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17149-58480-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16129-54893-1-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16129-54893-1-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16129-54893-1-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16150-54903-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16150-54903-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16150-54903-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15117-52716-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15117-52716-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15117-52716-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15185-52789-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15185-52789-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15185-52789-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15149-52750-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15149-52750-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15235-52913-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15235-52913-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15235-52913-1-PB.pdf https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15244/9432 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15244/9432 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15244/9432 file:///C:/Users/alban/Downloads/15216-52885-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15216-52885-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15216-52885-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15260-52947-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15260-52947-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15284-52978-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15284-52978-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15285-52979-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15285-52979-1-PB.pdf 73 - Regina Cláudia Pinheiro v. 18, n. 1 (2015) A26- Pedagogia dos multiletramentos e desafios para uso das novas tecnologias digitais em sala de aula no ensino de língua portuguesa - Beatriz Gaydeczka; - Acir Mário Karwoski A27 - Práticas de leitura no contexto acadêmico: a constituição histórica do sujeito-leitor e dos sentidos - Fernanda Correa Silveira Galli A28- Questões e controvérsias sobre uma experiência de curso via Facebook - Ana Elisa Ribeiro v. 17, n. 3 (2014) A29 - Leitura de múltiplos recursos online - Carla Viana Coscarelli; - Julie Coiro A30 - A ferramenta VoiceThread em uma abordagem híbrida: o desenvolvimento da produção oral de aprendizes de inglês como L2 - Lorena Azevedo de Sousa; - Janaina Weissheimer A31 - Escrita digital colaborativa a partir da tecnologia wiki - Luciene da Silva Santos Bomfim; - Adair Vieira Gonçalves A32 - Processo de escrita de uma webaula: proposta de classificação das etapas da produção textual - Nukácia Araújo; - Débora Hissa v. 17, n. 2 (2014) Sem publicação v. 17, n. 1 (2014) A33 - Por um enfoque pós-social fundamentado na Teoria Ator-Rede para os novos letramentos e para a inclusão digital - Marcelo El Khouri Buzato v. 16, n. 2 (2013) Sem publicação v. 16, n. 1 (2013) A34 - Atuação docente em fóruns de discussão on- line de um curso semipresencial de extensão universitária - Kátia Cristina do Amaral Tavares; - Ana Carolina Simões Cardoso; - Nadja Naira Salgueiro Silva v. 15, n. 2 (2012) A35- O (re)conhecimento da tradução em sala de aula: sobre uma experiência prática com tradutor automático online - Maria José Damiani Costa; - Meta Elisabeth Zipser; - Silvana Ayub Polchlopek V. 15, n. 1 (2012) A36 Ensino de culturas estrangeiras em escolas brasileiras: um olhar sobre o discurso da mídia - Cristiane Carvalho de Paula Brito; - Maria de Fátima Fonseca Guilherme v. 14, n. 2 (2011) Sem publicação v. 14, n. 1 (2011) Sem publicação Fonte: autoria própria file:///C:/Users/alban/Downloads/15301-52995-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15301-52995-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15301-52995-1-PB.pdf https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15305/9493 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15305/9493 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15305/9493file:///C:/Users/alban/Downloads/15312-53006-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15312-53006-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15313-53007-1-PB%20(1).pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15315-53009-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15315-53009-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15315-53009-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15316-53010-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15316-53010-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15317-53011-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15317-53011-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15317-53011-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15338-53032-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15338-53032-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15338-53032-1-PB.pdf https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15443/9629 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15443/9629 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15443/9629 file:///C:/Users/alban/Downloads/15426-53123-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15426-53123-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15426-53123-1-PB.pdf https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15414/9600 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15414/9600 74 Já na Revista Brasileira de Linguística Aplicada, entre os anos de 2011 a 2012, foram publicados 1 volume e 4 números temáticos por ano. Do periódico, foram destacadas 38 pesquisas com base nos critérios de seleção. Esses estudos podem ser observados no Quadro 2, a seguir. Quadro 2 – Título dos artigos publicados na Revista Brasileira de Linguística Aplicada, de 2011 a 2020 Volume, número e ano de publicação Título dos Artigos Autores dos Artigos v. 20, n. 4 (2020) B115 - Gamificação, ensino de línguas estrangeiras e formação de professores - Karin Quast B2 - Uma experiência gamificada em uma sala de aula da universidade on-line e presencial: esse recurso de aprendizado é viável nos dois ambientes? - Alexandra Santamaría; - Elena Alcalde B3 - Gamificando a aprendizagem linguística de português: estudo de caso que examina um site com uma atividade baseada em missões para promover a produção e interação entre alunos de português L2 - Carla Cristina Munhoz Xavier B4 - Formando tradutores para a localização de jogos eletrônicos: em busca de uma abordagem pedagógica - Marileide Dias Esqueda v. 20, n. 3 (2020) B5 - Análise de erros no ELE por transferência negativa de inglês como L1 em aulas presenciais versus aulas on-line em comunidades virtuais - Anita Ferreira Cabrera; - Jessica Elejalde Gómez v. 20, n. 2 (2020) Sem publicação v. 20, n. 1 (2020) Sem publicação v. 19, n. 4 (2019) Sem publicação v. 19, n. 3 (2019) B6 - O papel do professor na aprendizagem telecolaborativa de línguas: o caso do Teletandem institucional integrado - Suzi M. S. Cavalari; - Solange Aranha v. 19, n. 2 (2019) Sem publicação v. 19, n. 1 (2019) B7 - Keep calm e mude o código: um estudo de code switching no Facebook - Wélica Cristina Duarte de Oliveira; - Barbara Cristina Gallardo 15 Os artigos da Revista Brasileira de Linguística Aplicada foram identificados pela letra B, seguida de um número arábico crescente para facilitar a análise. No anexo B, além dos títulos dos artigos, também foram apresentados os objetivos de cada estudo. https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-787.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-787.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-761.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-761.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-761.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-761.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-733.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-733.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-733.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-733.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-733.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-703.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-703.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n4/1984-6398-rbla-20-04-703.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n3/1984-6398-rbla-20-03-591.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n3/1984-6398-rbla-20-03-591.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v20n3/1984-6398-rbla-20-03-591.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v19n3/1984-6398-rbla-19-03-555.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v19n3/1984-6398-rbla-19-03-555.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v19n3/1984-6398-rbla-19-03-555.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v19n1/1984-6398-rbla-19-01-205.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v19n1/1984-6398-rbla-19-01-205.pdf 75 B8 - Brasil e Argentina: interação no meio virtual e formação (inicial e continuada) de professores de língua espanhola - Amábile Piacentine Drogui v. 18, n. 4 (2018) Sem publicação v. 18, n. 3 (2018) B9 - Atividade social acadêmica no ensino de língua inglesa on-line: o que os aprendizes nos dizem sobre isso? - Julia Larré B10 - A prática de revisão textual na escola: uma análise das categorias de correção em uma oficina de fanfictions - Larissa Giacometti Paris v. 18, n. 2 (2018) Sem publicação v. 18, n. 1 (2018) B11 - Affordances de tecnologias digitais para o desenvolvimento de habilidades orais em inglês - Ronaldo Corrêa Gomes Junior; - Gabriela Santos Teixeira; - Mayra Garcia da Silva; - Cynthia Maria Aguilar Paulino B12 - Ensino de inglês como língua adicional para a participação social: tecnologias digitais em um programa de imersão - Lucas Moreira dos Anjos Santos; - Michele Salles El Kadri; - Raquel Gamero; - Telma Gimenez v. 17, n. 4 (2017) Sem publicação v. 17, n. 3 (2017) Sem publicação v. 17, n. 2 (2017) Sem publicação v. 17, n. 1 (2017) B13 - Emoções e ações de professores ao falar inglês no WhatsApp - Rodrigo Camargo Aragão B14 - Preferência dos estudantes na aprendizagem de línguas em três atividades do Moodle - Vilson J. Leffa; - Alan Ricardo Costa; - André Firpo Beviláqua; - Vanessa Ribas Fialho v. 16, n.4 (2016) Sem publicação v. 16, n. 3 (2016) Sem publicação v. 16, n. 2 (2016) Sem publicação v. 16, n. 1 (2016) B15 - Reflexões de professores de inglês em formação sobre o uso de Webquests Interativas e - Camila Gonçalves dos Santos do Canto https://www.scielo.br/pdf/rbla/v19n1/1984-6398-rbla-1984-6398201813007.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v19n1/1984-6398-rbla-1984-6398201813007.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v19n1/1984-6398-rbla-1984-6398201813007.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n3/1984-6398-rbla-18-03-531.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n3/1984-6398-rbla-18-03-531.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n3/1984-6398-rbla-18-03-531.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n3/1984-6398-rbla-18-03-479.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n3/1984-6398-rbla-18-03-479.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n3/1984-6398-rbla-18-03-479.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n1/1984-6398-rbla-1984-6398201812398.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n1/1984-6398-rbla-1984-6398201812398.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n1/1984-6398-rbla-1984-6398201811456.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n1/1984-6398-rbla-1984-6398201811456.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v18n1/1984-6398-rbla-1984-6398201811456.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v17n1/1984-6398-rbla-17-01-00083.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v17n1/1984-6398-rbla-17-01-00083.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v17n1/1984-6398-rbla-17-01-00113.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v17n1/1984-6398-rbla-17-01-00113.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v16n1/1984-6398-rbla-16-01-00025.pdfhttp://www.scielo.br/pdf/rbla/v16n1/1984-6398-rbla-16-01-00025.pdf 76 Adaptáveis no processo de ensino e aprendizagem da língua v. 15, n. 4 (2015) Sem publicação v. 15, n. 3 (2015) B16 - Tecnologias, letramentos em comunicação oral na língua inglesa e a formação do professor: um estudo empírico no contexto universitário - Reinildes Dias; - Sônia Maria de Oliveira Pimenta B17 - Interação e aprendizagem em Sites de Redes Sociais: uma análise a partir das concepções sócio- históricas de Vygotsky e Bakhtin - Cíntia Regina Lacerda Rabello v. 15, n. 2 (2015) Sem publicação v. 15, n. 1 (2015) B18 - Teletandem e performatividade - João Antonio Telles B19 - Fóruns no ambiente Teleduc: reflexões sobre o papel dos mediadores e estratégias de gerenciamento de debates - Ludmila Belotti Andreu Funo; - Anna-Katharina Elstermann; - Micheli Gomes de Souza v. 14, n. 4 (2014) B20 - Libras no ensino de inglês mediado pelas novas tecnologias: desafios e possibilidades - Kátia Cristina do Amaral Tavares; - Ana Paula Pires de Oliveira B21 - Objetos de aprendizagem para o ensino de línguas: vídeos de curta-metragem e o ensino de Libras - Tatiana Bolivar Lebedef; - Angela Nediane dos Santos v. 14, n. 3 (2014) B22 - Reflexões de professores de inglês em formação inicial sobre o uso de novas tecnologias - Janara Barbosa Baptista B23 - Comunicação transnacional mediada por computador: uma análise discursiva das identidades de futuros professores de inglês no Facebook - Bárbara Cristina Gallardo B24 - Gêneros, multimodalidade e letramentos - Zulmira Medeiros v. 14, n. 2 (2014) Sem publicação v. 14, n. 1 (2014) Sem publicação v. 13, n. 4 (2013) B25 - Delineamento de pesquisas sobre escrita e tecnologias digitais: construindo um lugar para o trabalho em Estudos Linguísticos no Brasil a partir de seus programas de pós-graduação - Flávia Danielle Sordi Silva Miranda v. 13, n. 3 (2013) B26 - A fluência digital do professor: uma nova competência para o ensino de línguas estrangeiras - Isis da Costa Pinho; - Marilia dos Santos Lima B27 - Uso de tecnologias digitais para o Ensino a Distância da compreensão e produção oral em língua inglesa por computador/WEB - Samuel de Carvalho Lima http://www.scielo.br/pdf/rbla/v16n1/1984-6398-rbla-16-01-00025.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v16n1/1984-6398-rbla-16-01-00025.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n3/1984-6398-rbla-15-03-00711.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n3/1984-6398-rbla-15-03-00711.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n3/1984-6398-rbla-15-03-00711.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n3/1984-6398-rbla-15-03-00735.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n3/1984-6398-rbla-15-03-00735.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n3/1984-6398-rbla-15-03-00735.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n1/1984-6398-rbla-15-01-00001.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n1/1984-6398-rbla-15-01-00031.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n1/1984-6398-rbla-15-01-00031.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v15n1/1984-6398-rbla-15-01-00031.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n4/v14n4a12.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n4/v14n4a12.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n4/aop5814.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n4/aop5814.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n4/aop5814.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n3/aop4914.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n3/aop4914.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n3/aop5114.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n3/aop5114.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n3/aop5114.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n3/aop5114.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n3/a05v14n3.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n4/aop3013.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n4/aop3013.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n4/aop3013.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n4/aop3013.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n3/aop1513.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n3/aop1513.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n3/aop1813.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n3/aop1813.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n3/aop1813.pdf 77 B28 Linguagem, NTIC e a sala de aula: o que propõem as pesquisas de intervenção - Núbio Delanne Ferraz Mafra - Carla Viana Coscarelli B29 - Grupos fractalizados: dinâmicas emergentes em comunidades de aprendizagem on-line - Claudio de Paiva Franco v. 13, n. 2 (2013) B30 - Conhecendo as experiências de aprendizagem de nativos digitais - Junia de Carvalho Fidelis Braga v. 13, n. 1 (2013) B31 - (Multi)letramento(s) digital(is) e teoria do posicionamento: análise das práticas discursivas de professoras que se relacionaram com as tecnologias da informação e comunicação no ensino público - Fabiano Santos Saito; - Patrícia Nora de Souza Ribeiro B32 - Autoria e deontologia: mediação de princípios éticos e práticas de letramento na escrita acadêmica em um fórum virtual B33 – Ferramentas tecnológicas para investigação de autoria - Júlio César Araújo; - Messias Dieb v. 12, n. 4 (2012) Sem publicação v. 12, n. 3 (2012) Sem publicação v. 12, n. 2 (2012) Sem publicação v. 12, n. 1 (2012) B34 - O uso das TIC no trabalho de professores universitários de língua inglesa - Glenda Cristina Valim de Melo v. 11, n. 4 (2011) B35 - Mapas conceituais mediados pelo computador: uma estratégia para aumentar o nível de compreensão escrita em inglês para fins específicos - Reinildes Dias B36 - Desenho de curso, pesquisa-ação e o uso do computador: desafios num curso de línguas para fins específicos - Silvia Matravolgyi Damião v. 11, n. 3 (2011) B37 - A parentetização: estratégia de construção textual-interativa do chat educacional - Crisciene Lara Barbosa-Paiva v. 11, n. 2 (2011) Sem publicação v. 11, n. 1 (2011) B38 - Estratégias mediadoras no ambiente virtual - Simone Correia Toste Fonte: autoria própria Por último, a revista Trabalhos em Linguística Aplicada publicou, entre 2011 a 2014, 1 volume e 2 números temáticos por ano. Entre 2015 a 2017, a revista expandiu a sua publicação passando a acrescentar mais 1 número, sendo 1 volume e 3 números por ano. Fazem parte, assim, do corpus do estudo 16 artigos. As informações sobre as pesquisas podem ser observadas no Quadro 3. https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n3/11.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n3/11.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop1812.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop1812.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop1812.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop1812.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop0112.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop0112.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop0112.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop0512.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop0512.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v12n1/a06v12n1.pdf https://www.scielo.br/pdf/rbla/v12n1/a06v12n1.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-63982011000400006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-63982011000400006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-63982011000400006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-63982011000400006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-63982011000400007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-63982011000400007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-63982011000400007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/pdf/rbla/v11n3/09.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v11n3/09.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v11n1/v11n1a10.pdf 78 Quadro 3 – Títulos dos artigos publicados na revista Trabalhos em Linguística Aplicada, de 2011 a 2020Volume, número e ano de publicação Título dos Artigos Autores dos Artigos v. 59, n. 3 (2020) C116 - Os gêneros textuais digitais como estratégias pedagógicas no ensino de língua portuguesa na perspectiva dos (multi)letramentos e dos multiletramentos - Jurene Veloso dos Santos Oliveira - Simone Bueno Borges da Silva v. 59, n. 2 (2020) C2 - Realidade virtual no ensino de vocabulário de inglês: um estudo exploratório sobre afeto no uso da tecnologia - Ana Maria Vieira Monteiro - Patrícia Nora de Souza Ribeiro v. 59, n. 1 (2020) Sem publicação v. 58, n. 3 (2019) Sem publicação v. 58, n. 2 (2019) C3 - Entre o material didático e a promessa: o discurso acerca das novas tecnologias na teorização sobre o ensino e a aprendizagem de línguas estrangeiras - Edmundo Narracci Gasparini v. 58, n. 1 (2019) Sem publicação v. 57, n. 3 (2018) C4 - Ensino-aprendizagem com tecnologias digitais na formação inicial de professores de inglês - Marcus de Souza Araújo v. 57, n. 2 (2018) C5 - Material Didático Virtual Livre para o ensino e a aprendizagem de italiano no âmbito dos Centros de Estudos de Línguas do Estado de São Paulo: caminhos da pedagogia pós-método - Rômulo Francisco de Souza v. 57, n. 1 (2018) C6 - O feedback aluno-aluno em um ambiente virtual de aprendizagem - Ana Carolina Simões Cardoso v. 56, n. 3 (2017) Sem publicação v. 56, n. 2 (2017) Sem publicação v. 56, n. 1 (2017) C7 – Facebook como ferramenta de interação extraclasse para aprendizes de língua espanhola - Hugo Jesús Correa Retamar v. 55, n. 3 (2016) Sem publicação 16 Os artigos da revista Trabalhos em Linguística Aplicada foram identificados pela letra C, seguida de um número arábico crescente para facilitar a análise. No anexo C, além dos títulos dos artigos, também foram apresentados os objetivos de cada estudo. https://www.scielo.br/pdf/tla/2020nahead/2175-764X-tla-010318137997811520200921.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/2020nahead/2175-764X-tla-010318137997811520200921.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/2020nahead/2175-764X-tla-010318137997811520200921.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/2020nahead/2175-764X-tla-010318137997811520200921.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v59n2/2175-764X-tla-59-02-1310.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v59n2/2175-764X-tla-59-02-1310.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v59n2/2175-764X-tla-59-02-1310.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v59n2/2175-764X-tla-59-02-1310.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v58n2/0103-1813-tla-58-02-0874.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v58n2/0103-1813-tla-58-02-0874.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v58n2/0103-1813-tla-58-02-0874.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v58n2/0103-1813-tla-58-02-0874.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n3/0103-1813-tla-57-03-1590.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n3/0103-1813-tla-57-03-1590.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n3/0103-1813-tla-57-03-1590.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n2/0103-1813-tla-57-02-1189.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n2/0103-1813-tla-57-02-1189.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n2/0103-1813-tla-57-02-1189.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n2/0103-1813-tla-57-02-1189.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n2/0103-1813-tla-57-02-1189.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n1/0103-1813-tla-57-01-0383.pdf https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n1/0103-1813-tla-57-01-0383.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v56n1/0103-1813-tla-56-01-00097.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v56n1/0103-1813-tla-56-01-00097.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v56n1/0103-1813-tla-56-01-00097.pdf 79 v. 55, n. 2 (2016) C8 – Multiletramentos e usos das tecnologias digitais da informação e comunicação com alunos de cursos técnicos - Hércules Tolêdo Corrêa - Daniela Rodrigues Dias C9 – Textos, oralidade e tecnologia: práticas de letramento de estudantes em contexto escolar - Paul Molyneux - Renata Aliani C10 - Práticas de letramento digital de estudantes da Mongólia: a interface entre o inglês e a internet - Daariimaa Marav C11 - Descoleções e remixes na aprendizagem de língua inglesa: um estudo de caso em uma escola pública - Lesliê Vieira Mulico - Junot de Oliveira Maia v. 55, n. 1 (2016) Sem publicação v. 54, n. 3 (2015) Sem publicação v. 54, n. 2 (2015) C12 - Chat educacional no ensino de espanhol em ambiente virtual - Crisciene Lara Barbosa- Paiva v. 54, n. 1 (2015) Sem publicação v. 53, n. 2 (2014) C13 - Complexidade e metáforas sistemáticas em cenas pedagógicas no Facebook - Júlio Araújo - Pedro Henrique Silva - Pedro Jorge Marques v. 53, n. 1 (2014) C14 - Interação das tecnologias digitais da informação e comunicação em contextos educacionais: análise de três momentos de um curso oficial de formação de professores - Flávia Danielle Sordi Silva Miranda v. 52, n. 2 (2013) Sem publicação v. 52, n. 1 (2013) Sem publicação v. 51, n. 2 (2012) Sem publicação C15 - A correção como procedimento de reformulação em chat educacional escrito em espanhol por brasileiros: tipos de operacionalização e marcas - Crisciene Lara Barbosa- Paiva v. 51, n. 1 (2012) C16 - Discursos sobre a leitura na contemporaneidade: entre o texto-papel e o texto-tela - Fernanda Correa Silveira Galli v. 50, n. 2 (2011) Sem publicação v. 50, n. 1 (2011) Sem publicação Fonte: autoria própria http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00241.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00241.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00241.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00263.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00263.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00263.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00293.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00293.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00293.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00319.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00319.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v55n2/0103-1813-tla-55-02-00319.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v54n2/0103-1813-tla-54-02-00329.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v54n2/0103-1813-tla-54-02-00329.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v53n2/v53n2a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v53n2/v53n2a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v53n2/v53n2a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v53n1/v53n1a04.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v53n1/v53n1a04.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v53n1/v53n1a04.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v53n1/v53n1a04.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a09.pdf 80 No total, 90 publicações compõem o corpus de pesquisa. Nesses estudos, a esfera educacional se ressignifica com o conceito de ciberespaço, possível a partir de um novo território em que o tempo real e o não espaço passam a ser parâmetros de localização dos sujeitos sociais. Neste “espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores” (LÉVY, 2010, p. 114), o ciberespaço, a aprendizagem, passa pelo processo de virtualização e se atualiza a partir da nova relação com o saber, o que inclui alguns processos sociais/educacionais, como a orientação dos estudantes em um espaço de saber flutuante, a aprendizagem cooperativa, a inteligência coletiva, o gerenciamento dinâmico das competências em tempo real, enfim, experiências práticas e pedagógicas que colocam o ciberespaço a serviço do desenvolvimento educacional. Com isso, passamos a falardo ciberespaço nas instituições escolares e acadêmicas. Para tanto, buscamos pensar o cronotopo do ciberespaço escolar ou ciberescola e o cronotopo do ciberespaço acadêmico ou ciberacadêmico. A partir desse olhar, o ciberespaço escolar ou ciberescola apresenta-se nos estudos que se preocupam em refletir sobre determinada tecnologia nos espaços escolares ou ainda sobre o ensino mediado pelas tecnologias na educação básica. Nesses estudos, os pesquisadores apontam para possibilidades de inserção de variadas tecnologias na prática de ensino da educação básica. Além disso, nessas pesquisas, o espaço educacional e o ciberespaço se combinam para significar as interações sociais, constituindo-se em um traço inovador nas pesquisas contemporâneas. Já o ciberespaço acadêmico ou ciberacadêmico manifesta-se em pesquisas que discutem o uso das tecnologias digitais no Ensino Superior, bem como o ensino mediado pelas tecnologias nos espaços acadêmicos. Nessas pesquisas, são apresentadas as vozes dos pesquisadores sobre o uso de tecnologias, pensando tanto na formação de professores quanto na inserção de determinadas práticas digitais na educação superior em geral. Nesse entendimento, consideramos a organização dos estudos dos periódicos a partir dos seus espaços educacionais de atuação de pesquisa, conforme apresentado no Quadro 4, a seguir. 81 Quadro 4 – O ciberespaço educacional nas pesquisas Artigos Ciberespaço Revista Linguagem e Ensino Escolar A4, A5, A12, A13, A15, A22, A23, A24, A25, A26, A29, A31, A36 Acadêmico A1, A2, A3, A 6, A7, A8, A9, A10, A11, A14, A16, A17, A18, A19, A20, A21, A27, A28, A30, A32, A33, A34, A35 Revista Brasileira de Linguística Aplicada Escolar B10, B12, B20, B30, B31 Acadêmico B1, B2, B3, B4, B5, B6, B7, B8, B9, B11, B13, B14, B15, B16, B17, B18, B19, B21, B22, B23, B24, B25, B26, B27, B28, B29, B32, B33, B34, B35, B36, B37, B38 Revista Trabalhos em Linguística Aplicada Escolar C1, C7, C8, C9, C11 Acadêmico C2, C3, C4, C5, C6, C10, C12, C13, C14, C15, C16 Fonte: autoria própria Na revista LE, identificamos 13 estudos inseridos no ciberespaço escolar, A4, A5, A12, A13, A15, A22, A23, A24, A25, A26, A29, A31 e A36. Essas pesquisas apontam para novas perspectivas de ensino da língua, voltadas para a educação básica. São experiências de ensino dos professores/pesquisadores que buscam testar tecnologias, aperfeiçoar a prática de ensino e, consequentemente, contribuir para a produção do conhecimento sobre as tecnologias na sala de aula de educação básica. Voltados para o espaço acadêmico, foram destacadas 23 pesquisas, A1, A2, A3, A6, A7, A8, A9, A10, A11, A14, A16, A17, A18, A19, A20, A21, A27, A28, A30, A32, A33, A34 e A35. Os estudos apresentam contribuições significativas para o Ensino Superior ao relacionar experiências tecnológicas e formação docente. Nesse cenário, a educação encontra ambiente favorável para a mudança de paradigmas, pois o uso da tecnologia possibilita a construção de novos contextos de aprendizagem, fazendo com que o ensino em espaços acadêmicos seja repensado e ressignificado. Na revista Linguagem e Ensino (LeE), a reflexão sobre o uso das tecnologias no ciberespaço educacional tem possibilitado a ampliação e a facilidade de acesso à informação e à comunicação. Refletir sobre as tecnologias nesses espaços educacionais implica mudança cultural, social e valorização do saber, além de proporcionar conhecimento e domínio de novas habilidades intelectuais e experienciais. Dos estudos publicados na Revista Brasileira de Linguística Aplicada (RBLA), com destaque para o uso das tecnologias no ciberespaço escolar, foram apontadas 5 pesquisas, entre elas, temos B10, B12, B20, B30 e B31. Esses estudos apresentam reflexões sobre o ensino nas escolas públicas e o uso das tecnologias, desde a postura do professor frente às tecnologias digitais no ensino até estudos de grupos de aprendizes de língua estrangeira. 82 Destacamos ainda 33 estudos relacionados ao espaço ciberacadêmico. São eles: B1, B2, B3, B4, B5, B6, B7, B8, B9, B11, B13, B14, B15, B16, B17, B18, B19, B21, B22, B23, B24, B25, B26, B27, B28, B29, B32, B33, B34, B35, B36, B37, B38. Todos os estudos, a seu modo, abordam a tecnologia no Ensino Superior, seja direcionando o uso da tecnologia nas aulas dos cursos de graduação, seja refletindo sobre a aplicação dessas tecnologias na formação de professores. Na RBLA, percebemos um maior número pesquisas relacionadas à temática, especialmente inseridas na esfera acadêmica. Isso significa que há um crescente interesse por pesquisas nos contextos educacionais acadêmicos sobre o uso da tecnologia no ensino, cujo objetivo é compreender e contribuir cientificamente para a melhoria do Ensino Superior. Na revista Trabalhos em Linguística Aplicada (TLA), semelhantemente, identificamos alguns espaços de produção da pesquisa. Inseridos no espaço ciberescola, destacamos 5 estudos C1, C7, C8, C9 e C11. Nas pesquisas, são apresentadas reflexões sobre interações a partir das redes sociais entre alunos do Ensino Médio, usos pedagógicos de tecnologias digitais em sala de aula, educação bilíngue de estudantes de escolas primárias e ferramentas de produção e edição de vídeo voltadas para a educação básica. Todos os estudos estão voltados para a tecnologia nos contextos de educação básica. Já no ciberespaço acadêmico, foram destacados 11 artigos, C2, C3, C4, C5, C6, C10, C12, C13, C14, C15 e C16. Eles refletem sobre como graduandos usaram as tecnologias digitais para apoiar sua aprendizagem de língua, a relação entre tecnologia e letramento no processo de formação docente e ainda interações escritas em chat educacional, entre outros conhecimentos. São estudos que trazem as tecnologias digitais para a academia e buscam contribuir para a produção do conhecimento nesse espaço educacional. Todos os estudos, em seus diferentes contextos de produção, ajudam a compreender a tecnologia como cultura, a olhar para as práticas pedagógicas como práticas culturais, cujas ações são construídas conforme suas trajetórias, suas condições reais de existência, considerando o campo específico em que estão inseridas. No ciberespaço da esfera escolar e da esfera acadêmica, destacamos as pesquisas que exploram as tecnologias digitais no ensino de línguas, cujos estudos buscam refletir, de modo mais específico, sobre as contribuições dessa tecnologia para o ensino e aprendizagem de línguas. Além disso, damos destaque aos estudos que relacionam o ensino da leitura e escrita às tecnologias digitais, os quais estão dispostos no Quadro 5, a seguir. 83 Quadro 5 – Estudos analisados REVISTAS Ciberespaço Artigos sobre as tecnologias no ensino Artigos sobre leitura on-line Artigos sobre escrita on-line LeE Escolar A23 A4 A31 Acadêmico A1 __ __ RBLA Escolar B12 __ B10 Acadêmico __ B24 B33 TLA Escolar C8 __ __ Acadêmico C4 C16 __ Fonte: autoria própria Dos estudos que problematizam as tecnologias no ensino de línguas, serão objetos de análise os textos A23 da revista LeE, B12 da revista RBLA e C8 da revista TLA, todos voltados para o ciberespaço escolar. Serão considerados também os textos A1 da revista LeE e C4 da revista TLA, ambos inseridos no ciberespaço acadêmico. Na seleção dos estudos, são priorizados aqueles que abordam as tecnologias digitais na educação de forma mais generalizante e teórica. Ressaltamos ainda que não são considerados os estudos sobre tecnologias específicas ou até mesmo letramentos tecnológicos mais restritos. Por esse motivo, nenhum exemplar está associado ao ciberespaço acadêmico da RBLA. Dos estudos sobre leitura em contextos tecnológicos, damos destaque a um exemplar de cada revista, o artigo A4 do ciberespaço escolar, da revista LeE; o artigo B24 do ciberespaço acadêmico, darevista RBLA; e, por último, o artigo C16 também do ciberespaço acadêmico, da revista TLA. Dos estudos sobre escrita no ambiente digital, damos ênfase aos exemplares A31 do ciberespaço escolar, da revista LeE; e os estudos B10 do ciberespaço escolar, bem como B33 do ciberespaço acadêmico, ambos da revista RBLA. A escolha pelos artigos ora se deu por amostragem, ora por ser o único estudo tratando da temática. Sobre escrita on-line, não identificamos estudo algum com tal ênfase na revista TLA durante o período de análise, o que justifica a escolha por mais de um exemplar da revista RBLA, apenas a título de equilíbrio das análises. Feitas todas essas considerações metodológicas, passemos para a seção de análises. 84 5 ANÁLISE DOS DADOS Schmidt (2013), ao refletir sobre a evolução de uso das tecnologias de comunicação, afirma que elas progrediram numa velocidade sem precedentes, cuja evolução é vista em números. Para o autor, na primeira década do século XXI, o número de pessoas conectadas à internet aumentou de 350 milhões para mais de dois bilhões. A quantidade de usuários de celulares subiu de 750 milhões para mais de cinco bilhões. O autor afirma ainda que, até 2025, “[...] se o ritmo atual da inovação tecnológica for mantido, a maioria da população da Terra, estimada em oito bilhões de pessoas, estará on-line” (SCHMIDT, 2013, p. 12), ou seja, no mundo em desenvolvimento, as tecnologias digitais serão cada vez mais acessíveis e práticas. Esses avanços tecnológicos impactam diretamente os modos de vida em sociedade, e, consequentemente, as práticas de ensino e aprendizagem escolares e acadêmicas. Nos espaços educacionais, a compreensão desse tempo tecnológico não pode fugir à cronotopicidade, uma vez que os significados habitam a realidade educacional em um contexto de ressignificações e mudanças históricas, visto que espaço e tempo ressignificados revelam sujeitos sociais imersos em interações heterogêneas, complexas e responsivas à realidade social. Na condição de linguistas aplicados, preocupados em compreender essa sociedade em que estamos inseridos, voltamos nossa atenção para os discursos dos pesquisadores da LA no Brasil, bem como para suas vozes sobre as tecnologias digitais nos contextos de ensino. Essas pesquisas se orientam na relação social e, portanto, os enunciados são construídos a partir de um recorte espacial e temporal. Dessa forma, os gêneros são determinados pelo cronotopo e esse, como categoria conteudístico-formal, determina também a imagem do indivíduo (BAKHTIN, 2014). Desse ponto de vista, a escrita materializada no gênero do discurso é a transcrição codificada de vozes, saturadas de diálogos e de sentidos. No campo da Linguística Aplicada, parece haver um consenso de que o objeto de investigação da LA é a linguagem como prática social, seja ela voltada para o campo de ensino de línguas, seja para outros contextos em que surjam questões relevantes sobre o uso da linguagem (MENEZES et al., 2011). A LA tem passado por discussões definidoras para o seu campo de estudo, tanto no âmbito internacional como no nacional, desde o seu início nos anos 1940, nos Estados Unidos (MOITA LOPES, 2011). A princípio, o interesse da LA esteve voltado para os estudos sobre línguas estrangeiras e hoje se desenha como uma área produtiva “[...] responsável pela emergência de uma série de novos campos de investigação transdisciplinar, de novas formas de pesquisa e de novos olhares sobre o que é ciência” (MENEZES et al., 2011, p. 26). No Brasil, a Linguística Aplicada 85 começa nos anos 1960 (CAVALCANTE, 2004), também como sinônimo de estudos voltados para o ensino de aprendizagem de línguas. Porém, desenvolve-se em diferentes perspectivas, à luz da fundação de programas de Pós-Graduação em Universidades Brasileiras, como na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1971; e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde se inaugura o segundo programa de Pós-Graduação em LA do Brasil, em 1983. Além disso, surgem periódicos como a revista Documentos de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada (D.E.L.T.A.), em 1982, e a revista Linguística Aplicada, em 1983. Já em 1990, é fundada a Associação Brasileira de Linguística Aplicada (Alab) e, regularmente, passou-se a acontecer o Congresso Brasileiro de Linguística Aplicada (CBLA), cuja iniciativa foi uma oportunidade para promover o encontro de pesquisadores de diferentes estados brasileiros e de outros países (MAGALHÃES, 2019). Essas iniciativas, no Brasil, marcaram a consolidação na Linguística Aplicada no país. Diante disso, novos programas de Pós-Graduação, grupos de pesquisa, fundação de periódicos voltado para o campo de estudo e publicações de pesquisas em seus diferentes formatos, inclusive on-line, foram relevantes para corporificar a LA como uma importante área de pesquisa inter/multi/transdisciplinar, que se distancia da ideia aplicacionista de teoria linguística e se abre para os diferentes campos de investigação, objetos de estudo e esferas sociais. Isso não significa dizer que os contextos de ensino e aprendizagem de línguas estejam sendo desconsiderados pelos linguistas aplicados em detrimento da relevância de outras totalidades, ao contrário, no cenário das pesquisas em LA, o âmbito educacional encara a crescente complexidade desse espaço, que se redimensiona em função dos novos tempos e das novas demandas sociais e educacionais de comunicação e interação. Em função disso, a pesquisa, nesse contexto, traz consigo as vozes de seus atores – alunos e professores – participantes e agentes sociais, que têm suas histórias, participam de práticas culturais locais e globais e (re)constroem suas identidades a partir de suas inserções nas instituições de ensino. Diante das transformações que vêm se desenhando nos estudos do campo da LA, não cabe ao linguista aplicado focalizar a linguagem sem considerar aqueles que a usam, nos mais diversos contextos, e, da mesma forma, desconsiderar a voz daqueles que participam das pesquisas e que buscam refletir a realidade social. Para buscar os entendimentos do tempo e do espaço dos estudos publicados em periódicos do campo da LA, partimos das ideias de Bakhtin (2014, p. 362) quando afirma que “[...] o cronotopo é a porta de entrada para a compreensão dos significados”. Não poderíamos entender quais são as vozes sociais dos estudos e suas implicações para a nossa prática de ensino 86 mediada pelos usos tecnológicos sem relacionarmos os significados dos vários tempos e espaços constitutivos das pesquisas. Os dados desta pesquisa constituem-se de estudos de professores/pesquisadores que buscam respostas para as diversas questões que implicam o uso da tecnologia no ensino. São pesquisas que se construíram em espaços diferenciados, sendo elas importantes para entendermos a complexidade das relações sociais e as necessidades diferenciadas de interação. São espaços de relações e interações entre as pessoas em contextos de ensino, intermediados pela interconexão das redes de computadores, cujas informações são de natureza digital e as relações acontecem virtualmente. Podemos considerar não só o computador como mediador das interações educacionais mas também outros aparelhos tecnológicos que estabelecem uma comunicação virtual. Partindo dessas considerações sobre as análises, apresentamos os resultados da pesquisa organizados nas seções: Vozes sobre as tecnologias digitais no ciberespaço educacional, que compreende as subseções As tecnologias digitais na esfera escolar e As tecnologias digitais na esfera acadêmica. Essas discussões enfatizam as vozes dos pesquisadores sobre as tecnologias digitais nas esferas escolar e acadêmica. Na sequência, a seção Vozes sobre leitura e escrita no ciberespaço educacional traz discussões sobre A leitura no ciberespaço educacional e A escritano ciberespaço educacional, nas quais são sinalizadas com maior ênfase as vozes sobre leitura e escrita digital; em seguida, Posições semântico-axiológicas em diálogo trata da relação dialógica entre os enunciados; e por último, em Marcadores de temporalidade nas pesquisas em LA aborda alguns marcadores de temporalidade visíveis nos estudos em análise, responsáveis por mudanças no ensino de línguas. Vejamos as vozes sobre as tecnologias digitais no ciberespaço educacional. 5.1 VOZES SOBRE AS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO CIBERESPAÇO EDUCACIONAL As vozes sobre as tecnologias digitais nos espaços escolares e acadêmicos constituem pontos de vistas e apreciações materializados por meio da linguagem, nos múltiplos enunciados/discursos. Esses enunciados, organizados em gêneros do discurso, orientam-se mediante o horizonte temporal da hipermodernidade (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004; ROJO; BARBOSA, 2015), o ciberespaço educacional e a valoração axiológica nos enunciados proferidos. As três dimensões estão intimamente imbricadas na materialidade dos enunciados concretos e revelam caminhos possíveis para compreendermos as maneiras pelas quais 87 significamos as relações de ensino a partir das tecnologias digitais. Vejamos, na sequência, o que os estudos nos revelam sobre as tecnologias nas esferas escolar e acadêmica. 5.1.1 As tecnologias digitais na esfera escolar Da esfera escolar, são analisados os artigos A23 – Tecnologia digital e ensino: breve histórico e seis elementos para a ação, B12 – Teaching English as an additional language for social participation: digital technology in an immersion programme e C8 – Multiletramentos e usos das tecnologias digitais da informação e comunicação com alunos de cursos técnicos. O estudo A23 foi publicado na revista Linguagem e Ensino, v. 19, n. 2, 2016 e escrito por Ana Elisa Ribeiro. Na investigação, buscou-se apresentar um breve histórico sobre a relação tecnologias de informação e comunicação e as práticas escolares, bem como apresentar seis elementos para a ação da prática docente. Ao longo do estudo, destacamos alguns posicionamentos relevantes, por exemplo, o quanto a tecnologia pode ampliar o tempo/espaço para a reflexão/compreensão do conteúdo em detrimento da prática de reprodução de material escrito pelo professor no quadro negro. Sobre o assunto, a autora enfatiza na sessão de referencial teórico que: P117 – De nosso ponto de vista, se um professor de Biologia passa a empregar apresentações com movimento – gifs ou em Flash, por exemplo – para ensinar ciclos de parasitas, o ganho em tempo de aula, ampliação de espaço para discussões e mobilização da aprendizagem dos alunos já justifica o emprego de TICs razoavelmente “tradicionais” para os dias de hoje. O fato de esse professor não precisar desenhar, de próprio punho, cinco ou dez ciclos por aula dada, no quadro negro, substituindo essa ação por materiais pré-programados já significa um ganho. Ganho de gestão do tempo de aula e mesmo de saúde (RIBEIRO, 2016, p. 97, grifo nosso). Para a autora, a prática de expor o conteúdo no quadro negro, utilizada muitas vezes nos contextos de ensino de educação básica, quando substituída por materiais pré-programados, significa ganho de tempo, tanto de aula quanto da saúde do professor e do aluno. As tecnologias na sala de aula possibilitam a desterritorialização do texto (LÉVY, 2011), ou seja, a fluidez, o dinamismo, a capacidade de habitar o ciberespaço e se reconstruir no novo espaço, a ciberescola. Nesse contexto, os aparelhos tecnológicos funcionam como potencializadores de informação, capazes de proporcionar ao aluno uma quantidade maior de informação em menos 17 Os posicionamentos em destaque serão identificados pela lera P seguida de um numeral arábico crescente para facilitar a análise. 88 tempo, mais interação entre professor e aluno, mais espaço para apontamentos, sugestões e críticas sobre os diversos conteúdos escolares. Além disso, pela tela do computador ou de outro aparelho de mídia interativo, o aluno se coloca diante da plasticidade textual e imagética, e pode, inclusive, interagir com essa materialidade, editando e reescrevendo posicionamentos. Porém, para que a aprendizagem seja satisfatória, é preciso que haja uma sistematização pedagógica dos conteúdos disciplinares em função da tecnologia disponível. Nesse sentido, a pesquisadora destaca, ainda no referencial teórico, que: P2 - No entanto, é preciso iluminar um aspecto central desta situação: cabe ao professor o preparo de sua aula, a seleção desse material pré-programado ou mesmo a produção dos ciclos, em programas que, hoje, são fáceis de operar. Mesmo que os ciclos sejam encontrados prontos na internet, por exemplo, o professor não está dispensado da missão de dar uma boa explicação, assim como de promover um debate proveitoso em sala de aula (RIBEIRO, 2016, p. 97-98, grifo nosso). Para que a tecnologia seja uma oportunidade de ampliação de tempo e espaço, é preciso que o professor sistematize com cautela os procedimentos de aula, a seleção dos materiais pré- programados, a tecnologia disponível e necessária para que a aula aconteça, e, principalmente, promova um debate proveitoso, com explicações e esclarecimentos acerca do material estudado. Caso contrário, o emprego dos recursos digitais, por mais sofisticados e complexos que possam parecer, serão insuficientes para que se cumpra um trabalho engajado e produtivo de aprendizagem. Caminhando na esteira do fazer pedagógico aliado ao uso das tecnologias digitais, a autora ressalta a necessidade de flexibilidade ao incorporar as TICs na educação, de modo a compreendê-las não como fim, mas como um meio, sendo uma alternativa e possibilidade disponível também para o professor, quando explica, na sessão de análises, que: P3 - Incorporar as TICs na educação não quer dizer apenas levar os alunos até laboratórios de informática ou máquinas para as salas de aula; quer dizer ser flexível com tecnologias que já são ubíquas. É compreendê-las como meio, não como fim, em sala ou não, mas perpassando tudo, como já é, menos na escola. Embora possamos tomar conhecimento de experiências bem-sucedidas, inclusive com continuidade – na construção de uma cultura escolar outra –, deixamos de conhecer muitas experiências malfadadas, incluindo depoimentos de intolerância e impedimento dos esforços de muitos professores. Poderíamos dizer pouco sobre a adesão da escola às possibilidades das TICs vinte anos atrás; ou melhor, poderíamos dizer visagens, de preferência as melhores. Hoje, de outro ponto da curta história das tecnologias digitais no mundo e neste país, temos mais firmeza para dizer que há ainda muito trabalho pela frente se quisermos reeditar aulas mediadas por dispositivos de tecnologia digital (RIBEIRO, 2016, p. 107, grifo nosso). Embora popularizadas no Brasil, no final do século XXI, as tecnologias voltadas para os contextos educacionais têm sido vistas de forma tímida, ou poderíamos falar apenas de 89 pequenas “visagens” dessas tecnologias na esfera escolar. Mesmo diante da uma sociedade em que muito tem se falado sobre letramentos digitais (COSCARELLI, 2017; ROJO, 2007), nativos digitais (PRENSKY, 2001) ou mesmo cultura digital ou cibercultura (LÉVY, 2010), não se vislumbram ainda (se é que chegaremos a isso) definições precisas ou metodologias generalizantes sobre o trabalho docente a partir dos dispositivos de tecnologia digital. No espaço escolar, conforme apresentado por Ribeiro (2016), ainda há muito trabalho pela frente, se quisermos reeditar aulas mediadas por dispositivos de tecnologia digital. Isso implica um trabalho de busca constante do professor com a sua prática, mas principalmente a necessidade de políticas públicas inclusivas e assistenciais relacionadas às tecnologias no ensino. Já o segundoestudo, B12 – Ensino de inglês como língua adicional para a participação social: tecnologias digitais em um programa de imersão foi publicado na Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 18, n. 1, de 2018 e escrito por Lucas Moreira dos Anjos Santos, Michele Salles El Kadri, Raquel Gamero e Telma Gimenez. A pesquisa objetivou analisar as conceitualizações do uso da tecnologia digital alinhado às pedagogias socioculturais do aprendizado de línguas. Para isso, parte de uma experiência com o projeto e a implementação de uma série de workshops para alunos do Ensino Médio com ênfase nas tecnologias digitais e aprendizagem de língua inglesa, organizados entre os anos de 2012 a 2013, como atividades extracurriculares no Programas Novos Talentos, da Fundação Capes. A partir da experiência, os autores ressaltam a autonomia dos alunos como produtores de conhecimento e usuários das multissemioses oferecidas pela mídia digital, quando afirmam, na sessão de análises, que: P4 – Nessas atividades, os alunos se posicionam mais como produtores de conhecimento que utilizam os diferentes meios proporcionados pelas mídias digitais (ex. imagens estáticas e em movimento, trilhas sonoras, elementos gráficos, etc.). O papel ativo atribuído aos alunos é representado pelo fato deles poderem escolher o próprio caminho em relação aos conteúdos a explorar, às perspectivas que pretendem representar e aos valores que pretendem divulgar ou contestar através do seu poster digital. Nesse sentido, a tecnologia digital tem se destacado como ferramenta construída social e culturalmente permitindo uma participação mais ativa dos educandos na produção do conhecimento (SANTOS; KADRI; GAMERO; GIMENEZ, 2018, p. 45, tradução e grifo nosso). 18 18 No original: In these activities, the students were positioned more as knowledge producers who use different modes afforded by digital media (ex. still and moving images, sound tracks, graphic elements, etc.). The active role assigned to the students is represented by the fact that they could choose their own path in relation to which content to explore, the perspectives they aimed to represent, and the values they intended to disseminate or contest through their digital poster. In this sense, digital technology has been foregrounded as socially and culturally constructed tools that allow more active participation of learners in the production of knowledge (SANTOS; KADRI; GAMERO; GIMENEZ, 2018, p. 45) 90 No contexto tecnológico, a multissemiose marca a sociedade contemporânea (ROJO, 2012), de forma que a produção de gêneros midiáticos explora um conjunto de linguagens que vai além do texto verbal. Nesse sentido, a multiplicidade de informação é uma característica das produções de gêneros digitais. No estudo, sobressai-se o papel ativo dos alunos com relação à escolha de qual caminho e qual conteúdo explorar na produção do pôster digital. A esse respeito, a tecnologia digital é uma ferramenta importante na produção do conhecimento, uma vez que possibilita ao aluno, como produtor de gêneros digitais, construir uma representação da informação com base em diferentes semioses, ao considerar imagens, cores, os diferentes tipos de letras, o movimento, também como portadores de sentido que precisam ser lidos e interpretados. Ainda considerando o papel ativo dos alunos na construção de significados, na sessão de análises, os autores afirmam: P5 – Consideramos os alunos como produtores ativos de significados que se envolvem em certos eventos comunicativos e que podem usar práticas de letramento digital para aumentar suas possibilidades de participação social. Nessas atividades, é possível apontar diversas oportunidades em que os alunos são orientados a se engajar no letramento digital (SANTOS; KADRI; GAMERO; GIMENEZ, 2018, p. 49, tradução e grifo nosso)19. Nesse entendimento, o aluno é considerado um criador de significados que age ativamente ao se utilizar das práticas de letramento digital nos eventos da vida. Ao agir socialmente frente ao uso das tecnologias, vislumbramos um sujeito que se desloca de sua posição presente a uma posição responsável diante da vida (BAKHTIN, 2017), que faz uso dos dispositivos tecnológicos para localizar, selecionar, organizar, utilizar e produzir informação de forma crítica, ética e segura, visando a sua inserção como cidadão no mundo contemporâneo. Esse processo corresponde ao desenvolvimento de competências rumo à tomada de decisões e à resolução de problemas. Nesse contexto, “[...] a experiência no mundo humano [...] é sempre mediada pelo agir situado e avaliativo do sujeito, a partir de um mundo dado, o mundo enquanto materialidade concreta” (SOBRAL, 2009b, p. 124), cujo sujeito, além de responsável pelos seus atos, também é responsivo ao outro na medida em que o seu ato se configura como uma tomada de posição. 19 No original: We consider learners as active meaning-makers that engage in certain communicative events and that can use digital literacy practices to enhance their possibilities of social participation. In the hands-on activities, it is possible to point out many opportunities in which students are prompted to engage in digital literacies (SANTOS; KADRI; GAMERO; GIMENEZ, 2018, p. 49). 91 Conforme o estudo, os alunos agiram responsável e responsivamente às práticas de letramento digital, inserindo-se, sobretudo, como agentes coprodutores do próprio letramento, como apontam os autores na sessão de análises: P6 – No geral, o ponto forte da proposta didática foi conectar os alunos com o seu novo papel, como co-produtores de seu “currículo” de letramento digital. Em outras palavras, eles tinham a responsabilidade de escolher os recursos que desejavam aprender a usar, os temas que estavam interessados a aprender/explorar e eram livres para escolher quais papeis estavam dispostos a desempenhar nessas interações sociais (SANTOS; KADRI; GAMERO; GIMENEZ, 2018, p. 51, tradução e grifo nosso)20. Na proposta didática, é relevante a postura assumida pelos alunos como responsáveis pelo uso didático e produtivo dos recursos utilizados, pela aprendizagem possibilitada por esses recursos e pela construção de materiais digitais para a comunicação na interação social. A experiência permitiu aos alunos explorar, conhecer e experienciar as tecnologias digitais respondendo ativa e criticamente a diferentes propósitos e contextos, afinal, “A introdução da tecnologia e dos materiais didáticos digitais em sala de aula marca a inclusão definitiva e necessária da escola no contexto tecnológico intrínseco à sociedade contemporânea” (AZZARI; LOPES, 2013, p. 193). Ainda no que diz respeito ao contexto escolar, destacamos as implicações do estudo C8 – Multiletramentos e usos das tecnologias digitais da informação e comunicação com alunos de cursos técnicos, publicado na revista Trabalhos em Linguística Aplicada, n. 55, v. 2 de 2016, escrito por Hércules Tolêdo Corrêa e Daniela Rodrigues Dias. A pesquisa buscou identificar a aplicação pedagógica das tecnologias digitais em sala de aula, os usos no cotidiano dos alunos, dentro e fora da escola, bem como contribuir com a utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) de forma integrada ao conteúdo curricular. Para tanto, participaram do estudo professores e alunos de dois cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, inseridos no contexto da disciplina de Língua Portuguesa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), Campus Ouro Preto. Por meio de entrevistas, os autores investigaram como os alunos aprendem a usar as tecnologias digitais e como eles usam essas tecnologias no cotidiano. Na sessão de análises, os discursos sinalizam que: 20 No original: Overall, the strongest point of the didactic proposal was to connect the learners to their newrole, as co-producers of their digital literacy “curriculum”. In other words, they were given the responsibility to choose the resources they wanted to learn how to use, the themes they were interested in learning/exploring, and they were free to choose which roles they were willing to perform in these social interactions (SANTOS; KADRI; GAMERO; GIMENEZ, 2018, p. 51) 92 P7 - Identificamos que os alunos se iniciaram no mundo tecnológico sozinhos e que estão aprendendo por conta própria, pesquisando as dúvidas na internet, seja no Google® ou assistindo vídeos e tutoriais no Youtube® (CORRÊA; DIAS, 2016, p. 253, grifo nosso). Isso significa dizer que os alunos já chegam à escola com um conhecimento tecnológico construído culturalmente, pesquisando sozinhos as dúvidas na internet, seja no Google, seja a partir de tutoriais explicativos. Essa autonomia do aluno, de conhecer e fazer uso dos recursos tecnológicos em casa, pode também revelar uma contrariedade com relação ao uso ético, seguro e consciente das tecnologias digitais, conforme os autores apontam na sessão de análises: P8 - Percebemos uma relação contraditória dos alunos com as redes sociais digitais: ora são vistas tanto como elemento de descontração e dispersão, ora como ferramenta de socialização (CORRÊA; DIAS, 2016, p. 253, grifo nosso). Para que a tecnologia seja utilizada com fins pedagógicos, a escola possui o papel relevante de auxiliar o aluno no desenvolvimento de habilidades e competências significativas para uma aprendizagem sistematizada, ética e crítica. Faz-se necessário considerar a variedade multicultural e multimodal dessas práticas letradas, promovendo transformação pessoal, profissional e cidadã dos jovens alunos. Ademais, as redes sociais, além de elemento de descontração, dispersão ou ferramenta de socialização, são também “[...] um meio pelo qual o conhecimento é distribuído” (GOMES, 2016, p. 85), pois, como afirma Gomes, a partir de 2005, as definições de redes sociais de aprendizagem começaram a dar mais ênfase às pessoas, reconhecendo tanto a dimensão técnica como humana. O autor considera a tecnologia com a função tanto de armazenar quanto de conectar informações a partir das redes sociais. A esse respeito, Corrêa e Dias fazem conclusões importantes coletadas na pesquisa de intervenção sobre a integração do uso das TDIC e a prática dos multiletramentos, pontuando, na sessão de análises, que: P9 - Esses projetos possibilitaram aos professores condições efetivas de trabalhar conteúdos importantes da disciplina Língua Portuguesa e aos alunos proporcionam autonomia e criatividade, desenvolvidas por meio de trabalhos em equipe, pesquisas, seleção e filtragem de informações. Outro ponto importante foi a mobilização de diversas habilidades como, por exemplo, a divisão de tarefas, a negociação das cores, fontes, design, layout, o planejamento, a autonomia, o trabalho em equipe e colaborativo e a postura positiva em relação à timidez em situações de uso público da linguagem oral. Destacamos também que os usos das TDIC não sobressaíram em relação ao conteúdo e habilidades trabalhados, proporcionando assim efetivas formas de aprendizagem e construção de significados (CORRÊA; DIAS, 2016, p. 258, grifo nosso). 93 Nessa perspectiva, o uso das tecnologias digitais associado a uma prática efetiva de ensino, como projetos didáticos, é uma oportunidade efetiva de abordar os conteúdos curriculares ao passo que proporcionam autonomia, criatividade, trabalho em equipe, pesquisa, seleção, filtragem de informação. Além disso, mobiliza diversas habilidades necessárias às práticas dos novos letramentos ou multiletramentos, não desconsiderando a relevância do conteúdo e das habilidades trabalhadas em detrimento da efemeridade da tecnologia. Diante das vozes sinalizadas acerca das tecnologias digitais no ciberespaço escolar, podemos destacar que: • a tecnologia na sala de aula de educação básica amplia tempo e espaço, uma vez que proporciona mais abertura para reflexão/compreensão dos conteúdos curriculares, com auxílio dos recursos tecnológicos (RIBEIRO, 2016); • no trabalho docente, é imprescindível o planejamento sistematizado dos conteúdos escolares e das tecnologias disponíveis e acessíveis ao aluno, bem como o desenvolvimento de um debate proveitoso em sala de aula (RIBEIRO, 2016); • o aluno da educação básica, quando provocado pelas práticas de uso da língua em contextos tecnológicos, torna-se autônomo e responsável pela produção do próprio conhecimento, revelando-se um sujeito responsivo pelos seus atos e coprodutor dos multiletramentos (SANTOS; KADRI; GAMERO; GIMENEZ, 2018); • com o uso das tecnologias, o aluno é considerado um criador de significados que age ativamente ao se utilizar das práticas de letramento digital nos eventos da vida (SANTOS; KADRI; GAMERO; GIMENEZ, 2018); • a escola tem a função de desenvolver habilidades e competências relacionadas a uma aprendizagem sistematizada, ética e crítica, considerando os conhecimentos tecnológicos do aluno já construídos culturalmente (CORRÊA; DIAS, 2016); • é preciso experienciar as tecnologias digitais no ensino como meio de se chegar aos objetivos de aprendizagem e não com um fim em si mesma, associando-as sempre a outras tecnologias (não digitais) tão relevantes e necessárias para o contexto de educação básica (CORRÊA; DIAS, 2016). Entendamos, na sequência, as vozes sociais sobre as tecnologias digitais na esfera acadêmica. 94 5.1.2 As tecnologias digitais na esfera acadêmica Voltando nosso olhar para a esfera acadêmica, especialmente para os estudos preocupados em descrever habilidades e competências relacionadas às tecnologias digitais na formação docente, destacamos as pesquisas A1 – Proficiência digital de professores: competências necessárias para ensinar no século XXI e C4 – Ensino-aprendizagem com tecnologias digitais na formação inicial de professores de inglês. A pesquisa A1 foi escrita por Josiane Brunetti Cani, publicada na revista Linguagem e Ensino, v. 23, n. 2, de 2020 e objetivou identificar competências digitais necessárias ao educador do século XXI a partir de reflexões que se concentraram em documentos sobre a proficiência digital dos professores, como DigCompEdu (REDECKER, 2017), o método SAMR (PUENTEDURA, 2014), o Modelo TPACK (KOEHLER; MISHRA, 2009) e o Modelo de Competência Digital para Professores (KRUMSVIK, 2014). A partir do estudo dos documentos, a autora enfatiza que o emprego das tecnologias digitais no currículo educativo se caracteriza como uma oportunidade de construir saberes tecnológico e pedagógicos, conforme ela explica na sessão de análises do estudo: P10 - A materialização das TDIC em um currículo educativo implica a oportunidade de construir saberes tecnológicos e pedagógicos, o que é bastante diferente de usar tecnologias digitais para fins de entretenimento, como as redes sociais (CANI, 2020, p. 416, grifo nosso). Sob essa ótica, a construção de saberes tecnológicos e pedagógicos em um currículo educativo se distancia do uso das tecnologias digitais para fins de entretenimento, como as redes sociais. Atualmente, conforme aponta Junqueira (2020, p. 34), “Vivenciamos muitas práticas de entretenimento e de sociabilidade (games, redes sociais, acesso a vídeos e músicas, etc) que demandam ações cognitivas e interativas distintas do estudo formal de conteúdos curriculares e da realização de atividades de aprendizagem escolar”, o que significa que a transição entre os usos informais para os usos formais dessas tecnologias demandam novas aprendizagens e a ressignificação de práticas desafiadores nos contextos de ensino, pois exige dos profissionais uma visão que vai além de uma proficiência técnica isolada. Apoiada em estudos (REDECKER, 2017; PUENTEDURA, 2014; KOEHLER; MISHRA, 2009; KRUMSVIK,2014), Cani (2020) apresenta uma proposta para o letramento digital dos educadores que possibilite o uso das TDIC na elaboração de práticas pedagógicas, conforme apresentado na Figura 1 a seguir. 95 Figura 1 – Proposta para o letramento digital de professores Fonte: Cani (2020, p. 423) Sobre a proposta, ainda na sessão de análises, a pesquisadora explica que: P11 - Inicialmente, sugerimos a EXPLORAÇÃO dos recursos tecnológicos digitais, contemplando procedimentos e atividades práticas ligadas às tecnologias digitais que podem surtir resultados quando muitos se aventuram a pesquisar experiências que deram certo em sala de aula de outros colegas (CANI, 2020, p. 422-421, grifo nosso). A primeira sugestão é explorar os recursos tecnológicos digitais considerando procedimentos e atividades práticas experienciados por outros professores. Essa troca de experiência pode ser motivadora quando diante de atividades significativas de ensino. Além disso, a proposta inclui a possibilidade de uso das tecnologias digitais por exploração de comportamento e atitudes dos próprios alunos, bem como pela experimentação de sites, portais e recursos tecnológicos que permitam um trabalho educacional, não desconsiderando os sites de entretenimento, redes sociais e games. 96 A segunda sugestão apresentada é a instrução, que se constrói a partir da participação em curso de formação, da leitura de materiais didáticos sobre o uso das TDIC na educação e do acesso a tutoriais de ferramentas, portais e sites educativos, conforme é apresentado pela autora ainda na sessão de análises. P12 - Destacamos caminhos para a INSTRUÇÃO, focalizando o aprender a trabalhar com as tecnologias digitais por meio da orientação de teorias, instrumentos didáticos e portais capazes de auxiliar o professor a desenvolver suas atividades. Quanto aos materiais instrucionais, percebemos uma corrente crescente de espaços on-line com a partilha de planejamentos de aulas (CANI, 2020, p. 421, grifo nosso). Cani (2020) apresenta como sugestão de espaço on-line para compartilhamento de materiais didáticos o Portal do Professor e o site de recursos Redigir, com dicas sobre o trabalho com a leitura, a escrita e como preparar aulas e atividades pedagógicas. A última sugestão apresentada na proposta é a integração que visa ao compartilhamento de experiências pedagógicas de uso das TDIC com outros profissionais da educação, a participação e a socialização em comunidades de práticas, bem como a publicação das experiências bem- sucedidas em blogs, sites, redes sociais ou outros canais digitais. Sobre a integração, Cani, ainda na sessão de análises, explica: P13 - Finalizamos nossa proposta com a INTEGRAÇÃO, propondo a construção do conhecimento e a troca de experiências. Esse tipo de aprendizagem requer segurança e a parceria com um par mais experiente (VYGOTSKY, 1991) pode fazer a diferença na aprendizagem por meio das TDIC. O papel desempenhado por esse par, tanto um colega de trabalho quanto o próprio aluno, permitiria uma interação de ajuda mútua, em caso de dúvidas ou necessidades de habilidades mais complexas (CANI, 2020, p. 422, grifo nosso). Esse perfil de letramento digital profissional, como explica a pesquisadora, traz recomendações baseadas em estudos voltados à formação docente e à inserção das tecnologias digitais no ensino. Essas ações incidirão em bons resultados se acompanhadas de investimentos em formação pelos órgãos públicos competentes, com infraestrutura adequada para a implementação de experiências com as tecnologias digitais. Essas não são prioridades recentes, “Há pelo menos trinta anos, especialistas em educação e tecnologias mostram a nós que é preciso integrar, que é importante aprender, que é interessante saber usar, que é preciso tempo para adaptar, que é fundamental ter infraestrutura, sim” (RIBEIRO, 2020, p. 115). É ainda fundamental ter ideias e descobrir caminhos novos de reorganização e adaptação dessas tecnologias alinhadas à prática de ensino. 97 O segundo estudo com contribuições relevantes sobre as tecnologias digitais na formação de professores é a pesquisa C4 – Ensino-aprendizagem com tecnologias digitais na formação inicial de professores de inglês, publicado na revista Trabalhos em Linguística Aplicada, n. 57, v. 3, de 2018, escrito por Marcus de Souza Araújo. O artigo intentou investigar a percepção de dois alunos do Curso de Letras-Inglês sobre a aprendizagem e a prática pedagógica de alunos da educação básica com o uso das tecnologias a partir de uma disciplina curricular acadêmica. O autor apresentou inicialmente a sua preocupação com os cursos e programas de formação de professores que estão deixando a desejar em relação ao desenvolvimento de competências para o uso das tecnologias da informação e comunicação. Nesse sentido, nas considerações iniciais do estudo, ele afirma: P14 - Vejo a necessidade de incorporar ações concretas nos cursos de Letras por meio de inclusão de disciplinas acadêmicas curriculares que tratem, especificamente, do uso reflexivo, funcional e pedagógico das TDIC nos diferentes contextos de ensino aprendizagem de línguas estrangeiras nos quais esses docentes poderão vir a atuar, seja na esfera particular, seja na esfera pública. Essas disciplinas dariam ao aluno do curso de Letras oportunidades para vivenciar situações pedagógicas teórico-práticas com as TDIC, além de oferecerem aos educandos oportunidades de questionar, argumentar e pensar nas facilidades e nos entraves que essas tecnologias para fins educacionais podem trazer para a sua formação como aprendiz e futuro professor (ARAÚJO, 2018, p. 1.592, grifo nosso). O pesquisador defende a ideia da inclusão de disciplinas acadêmicas curriculares com ênfase no uso reflexivo e pedagógico das TDIC, que estejam diretamente ligadas à formação tecnológico-digital e pedagógica do futuro professor de línguas. Embora presente na grade curricular de vários cursos de Letras das Universidades brasileiras, inclusive em programas de Pós-Graduação (MIRANDA, 2013), é mister ressaltar a necessidade de conhecimentos teóricos e práticos sobre as TDIC nas disciplinas de formação de professores, “[...] o acadêmico precisa construir um lugar de fala, buscado promover uma articulação entre teoria e prática” (AGUSTINI; LEITE; GOUVEIA, 2019, p. 58), de forma que ofereçam aos educandos oportunidades de questionar a aplicabilidade dos recursos tecnológicos, argumentar em favor dos seus propósitos educativos e refletir sobre as práticas de ensino mediadas pela tecnologia. Em seu estudo, Araújo (2018) apresenta posicionamentos com base em relatos de alunos da disciplina Tecnologias no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, da Universidade Federal do Pará (UFPA), incluída pela primeira vez no novo Projeto Político- Pedagógico (PPP) da instituição, em janeiro de 2010. Dentre as reflexões sobre a prática docente, destaca-se a posição de aprendiz do professor preocupado em mais bem atender as necessidades dos alunos, conforme é ressaltado na sessão de análise dos dados: 98 P15 - O professor, atualmente, encontra-se em uma posição de aprendiz na era digital e não como um sujeito que domina o conhecimento completamente, razão pela qual a educação bancária (FREIRE 1968/2014) se torna menos aceitável nessa nova era. Com as mudanças ocasionadas pelas tecnologias, o professor terá de modificar a sua forma de ensinar, pois o aluno modificou a sua maneira de aprender, o que me leva a concordar com Masetto (2013, p. 143), ao pontuar que “nem todos aprendem do mesmo modo, no mesmo ritmo e ao mesmo tempo” (ARAÚJO, 2018, p. 1.601, grifo nosso). A posição de aprendiz do professor apenas se intensifica na era digital com uma nova roupagem, pois, na ultracontemporaneidade (LIPOVETSKY, 2016), estamos diante de umarealidade característica da otimização de objetos cada vez mais leves e menores, a internet móvel, a produção do melhor com menos, a desmaterialização dos suportes de informação, “com a internet móvel, novos aplicativos são constantemente propostos, tornando possível uma navegação tão rápida quanto fluida” (LIPOVETSKY, 2016, p. 127). Diante desses novos tempos, já presentes em várias esferas da vida social, é oportuno concordar que o estudante modificou a sua maneira de aprender e, por isso, a postura necessária do professor aprendiz na era digital é aquela do pesquisador, do questionador, daquele que põe em prática e avalia a sua realidade pedagógica. O estudo nos direciona a pensar sobre as mudanças no contexto educacional atual, reflexo das tecnologias digitais, que afetam diretamente o trabalho docente, conforme colocado também sessão de análise dos dados: P16 - Lasn parece apontar para um contexto atual totalmente mutável, razão pela qual o aluno, inserido nesse novo contexto, também mudou. Assim como as tecnologias, o aluno também é dinâmico, realiza várias ações ao mesmo tempo, conecta-se e procura o que deseja com rapidez; é flexível, adapta-se ao mundo e às inovações tecnológicas com facilidade [...]. Nessa perspectiva, compreendo a importância de trazer e de integrar à sala de aula o que já está legitimado fora dela, a cultura mediada pela tecnologia e todas as suas potencialidades (ARAÚJO, 2018, p. 1.602, grifo nosso). O aluno, inserido nesse contexto atual totalmente mutável, também muda. Desse modo, o que se sobressai é o seu dinamismo, a capacidade de realizar várias ações ao mesmo tempo, conectar-se, pesquisar e encontrar com rapidez, ser flexível, e, principalmente, adaptar- se às inovações tecnológicas com facilidade. Por isso, a necessidade de integrar à sala de aula uma cultura mediada pela tecnologia e todas as suas potencialidades, uma cultura do ciberespaço (LÉVY, 2010), relacionada às novas práticas, atitudes, aos novos modos de pensamento e de valores que se desenvolvem com o crescimento desse ciberespaço. Na relação entre educação e formação na cibercultura, é preciso considerar a velocidade do surgimento e de renovação dos saberes, pois o uso das tecnologias digitais facilita 99 as novas formas de acesso à informação “[...] navegação por hiperdocumentos, caça à informação através de mecanismos de pesquisa, knowbots ou agentes de software, exploração contextual através de mapas dinâmicos de dados” (LÉVY, 2010, p.159), ou seja, novos modos de construção de saberes, de acesso à informação e ao conhecimento. Porém, as tecnologias digitais não podem ser vistas como a solução dos problemas educacionais, elas, em si mesmas, não garantem a transformação da prática pedagógica do professor. Segundo Araújo, ainda sessão de análises, temos: P17 - Nessa direção, inserir o aluno na educação digital, do ponto de vista de Ralph, pode trazer facilidades e novidades para a aprendizagem da língua alvo. Sou favorável, parcialmente, à opinião de Ralph, pois as TDIC, em si mesmas, não são garantias de facilidade e de novidade no processo de ensino-aprendizagem, ou seja, não transformam a prática pedagógica do professor com a sua simples inclusão no contexto escolar (e acadêmico), também incluo o PPP e o currículo. Compreendo que a mudança possivelmente aconteça quando o professor criticamente se familiariza com as TDIC como um componente pedagógico e curricular, o que leva, a meu ver, a dialogar com seus alunos por meio das tecnologias, tornando o ensino democrático e inclusivo. Como salientam Palfrey e Gasser (2011), o mundo digital oferece novas oportunidades para quem sabe como aproveitá-las, possibilitando novas formas de criatividade, aprendizagem, empreendimento e inovação (ARAÚJO, 2018, p. 1.602, grifo nosso). Araújo (2018), em seu estudo, compactua a ideia de que inserir o aluno na educação digital pode trazer facilidades e novidades para a aprendizagem de uma língua. No entanto, as tecnologias em si mesmas não são garantia de facilidade e novidade no processo de ensino- aprendizagem, não são capazes de transformar a prática pedagógica do professor apenas com a sua inclusão nos contextos de ensino. Para que a mudança efetivamente aconteça, é preciso que o professor criticamente se familiarize com as TDIC como componente pedagógico e curricular, de forma a dialogar com os alunos, tornando o ensino cada vez mais democrático e inclusivo. Educar na cibercultura implica considerar os potenciais das tecnologias digitais e toda a sua interatividade. Como afirma Pozo (2002), na sociedade da aprendizagem, todos somos, em maior ou menor grau, alunos e professores, por isso, as práticas educativas devem ser consideradas como formas por meio das quais o sujeito possa ser encorajado a participar ativa e significativamente de todos os processos de construção do conhecimento. Tornar o aluno atuante e participante das práticas pedagógicas digitais significa proporcionar uma aprendizagem motivadora e transformadora, além de trazer modernidade e interatividade para as aulas. Ressaltamos, a seguir, as contribuições significativas das vozes sobre as tecnologias digitais no ciberespaço educacional relacionadas à formação de professores: 100 ✓ o emprego das tecnologias digitais no currículo educativo se caracteriza como uma oportunidade de construir saberes tecnológicos e pedagógicos que se distanciam do uso das tecnologias digitais para fins de entretenimento, pois a transição entre os usos informais para os usos formais dessas tecnologias demanda novas aprendizagens e a ressignificação de práticas desafiadores nos contextos de ensino (CANI, 2020); ✓ como propostas para o letramento digital dos educadores são destacadas as seguintes ações: a exploração dos recursos tecnológicos digitais mediante experiências digitais de outro professores, de vivências dos alunos como possibilidade pedagógica e experimentação de sites, portais e recursos tecnológicos que permitam um trabalho educacional; a instrução, a partir da participação em curso de formação, da leitura de materiais científicos sobre as TDIC e do acesso a tutoriais de ferramentas, portais e sites educacionais; a integração, compartilhando com outros colegas experiências pedagógicas sobre o uso da TDIC em sala de aula e publicação de práticas pedagógicas bem-sucedidas nos canais de divulgação (CANI, 2020); ✓ a necessidade de incorporar ações concretas nos cursos de Letras por meio de inclusão de disciplinas acadêmicas curriculares que tratem, especificamente, do uso reflexivo, funcional e pedagógico das TDIC nos diferentes contextos de ensino aprendizagem de línguas (ARAÚJO, 2018); ✓ na prática docente ultracontemporânea, é preciso que o professor assuma a posição de aprendiz, pois, com as mudanças ocasionadas pelas novas tecnologias, o aluno modificou a forma de aprender, e, consequentemente, a forma de ensinar também mudou, prevalecendo a necessidade de integrar à sala de aula a cultura mediada pela tecnologia e todas as suas potencialidades na cultura do ciberespaço (ARAÚJO, 2018); ✓ ressalva-se, mais uma vez, que as tecnologias em si mesmas não são garantia de facilidade e novidade no processo de ensino-aprendizagem, ao contrário, as transformações necessárias na educação vão depender da criatividade, da adaptação e da inovação docente para o uso dos recursos tecnológicos em sala de aula (ARAÚJO, 2018). Passemos, então, para a análise das vozes sociais sobre leitura e escrita mediante contextos de ensino digital. 5.2 VOZES SOBRE LEITURA E ESCRITA NO CIBERESPAÇO EDUCACIONAL Voltando nossa atenção especialmente para a vozes sobre a leitura e escrita on-line no ciberespaço educacional, “Parece-nos uma das funções da escola e da formação educacional, 101 em todos os níveis, auxiliar as pessoas a desenvolverem habilidadesde leitura e escrita cada vez mais aprofundadas, mas também sofisticadas e funcionais” (RIBEIRO, 2018, p. 37), cujo desenvolvimento nos faz refletir sobre como as tecnologias digitais estão sendo inseridas nas práticas pedagógicas e de que forma elas contribuem para a formação de um leitor cada vez mais reflexivo e crítico. Passemos para as vozes sociais sobre leitura no ciberespaço educacional. 5.2.1 A leitura digital nas esferas escolar e acadêmica Iniciamos destacando os olhares de pesquisadores sobre leitura digital no ciberespaço educacional, a partir dos estudos A4 – Elementos de gamificação presentes em Livros Literários Infantis digitais interativo em formato de Aplicativo (LLIA): análise de práticas multiletradas na formação de leitores, B24 – Gêneros, multimodalidade e letramentos e C16 – Discursos sobre a leitura na contemporaneidade: entre o texto-papel e o texto-tela. O artigo A4 foi escrito por Paulo Henrique Machado e Maria de Lourdes Rossi Remenche e publicado na revista Linguagem e Ensino, v. 24, n. 4, de 2019. A pesquisa objetivou analisar as práticas multiletradas mobilizadas pelos elementos de gamificação presentes em Livros Literários Infantis digitais interativos em formato de Aplicativos (LLIA) que contribuem para a formação do leitor literário na infância, a partir do corpus LLIA finalistas do Bologna Ragazzi Digital Award (Itália), no ano de 2016 e do Prêmio Jabuti (Brasil) na categoria “Infantil Digital”, nos anos 2015, 2016 e 2017. O estudo trata sobre a leitura digital na esfera escolar de ensino. Conforme os autores explicam, o Livro Literário Infantil de Aplicativo é uma criação híbrida multimodal e multissensorial que inclui texto escrito, imagem, som, música, movimento, entre outras modalidades, que potencializam a interatividade, a criatividade a motivação e que pode ser acessado por meio de diferentes dispositivos digitais. Os autores defendem inicialmente o surgimento de uma produção literária específica da virtualidade, conforme explicam já nas considerações iniciais da pesquisa: P18 - Emerge, portanto, uma produção literária específica da virtualidade, criada pelo uso de computador e geralmente lida em telas, denominada literatura digital ou eletrônica, que de acordo com Hayles (2009, p. 21) “é movida pelos motores da cultura contemporânea, especialmente jogos de computador, filmes, animações, artes digitais, desenho gráfico e cultura visual eletrônica” (MACHADO; REMENCHE, 2019, p. 983, grifo nosso). Essa literatura digital eletrônica, movida pelos motores da cultura contemporânea, surge em um cenário de transformações em que o livro digital ganha diferentes atributos e http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a09.pdf 102 formatos, como é o caso do livro de aplicativo. O modelo consiste em um software desenvolvido para ser acessado em um sistema operacional específico, como o IOS e Android, por meio de diferentes dispositivos digitais. Esse modelo se diferencia do e-book exatamente por possuir páginas interativas, tal como é apresentado ainda na introdução do estudo: P19 - A página interativa consiste em evento que se instancia em reação a um gesto do participante, capturado por algum dispositivo de entrada (mouse, painel, microfone ou câmera), e que resulta em outro gesto, oriundo do objeto, dando algum tipo de resposta (MACHADO; REMENCHE, 2019, p. 983, grifo nosso). Enquanto os e-books são mais conhecidos como “[...] réplicas digitais de obras também existentes em papel [...] textos com o mesmo conteúdo da versão impressa, mas veiculados em suporte digital” (SANTAELLA, 2013, p. 199), os LLIA são livros digitais “enriquecidos ou melhorados” capazes de combinar, áudio, imagem em movimento enlaces hipertextuais, jogos, inclusive, ferramentas de participação em redes sociais na internet. Assim são apresentados na seção de referencial teórico: P20 - Tanto e-books em ePub3 quanto os LLIA podem ser chamados de enhanced e-books (livros digitais enriquecidos ou melhorados), quando para além de texto verbal, combinam áudio, imagem em movimento, enlaces hipertextuais, jogos e até ferramentas de participação em redes sociais da Internet. A principal finalidade do “enriquecimento” em livros digitais é favorecer a interatividade, no entanto, muitas vezes, são inseridos jogos, efeitos sonoros, elementos pop-up, animações, ativações por movimentação, toque e voz, função karaokê e interações que se sobressaem ao enredo da narrativa, ao ponto da criança se dedicar unicamente a estes conteúdos multimidiáticos (GARCÍA-RODRÍGUEZ; GÓMEZ DÍAS, 2016) (MACHADO; REMENCHE, 2019, p. 986, grifo nosso). Uma singularidade dos LLIA é a capacidade de favorecer diferentes níveis de interação entre os leitores e a conexão com jogos digitais. Além disso, são inseridos vários efeitos digitais que vão além do enredo da narrativa e potencializam a produção de sentido por parte do leitor, pois “O leitor, o aprendiz, o gamer etc. deixam de ser apenas usuários de um determinado conteúdo digital para serem também produtores de conteúdo – ‘produsuários’” (LEFFA; BEVILÁQUA, 2019, p. 109), na medida em que ele responde fisicamente muito além do que se ouve e do que se vê. No estudo, os pesquisadores delimitam o corpus de investigação a partir de três livros de aplicativos do Bologna Ragazzi Digital Award (Feira do Livro Infantil de Bolonha, Itália) no ano de 2016, Wuwu & Co. (HELLE; SLOCINSKA, 2015), Chomp (NIEMANN, 2016) e Goldilocks and Little Bear (NOSY CROW, 2015); e três do Prêmio Jabuti (Brasil) na categoria “Infantil Digital” nos anos 2015, 2016 e 2017: A trilha (ASSE, 2014), Flicts (ZIRALDO, 2014) 103 e Monstros do cinema (MASSI; KONDO, 2016). Na seção teórica do estudo, os autores colocam que: P21 - Nos exemplos dos LLIA selecionados, mostra-se que o leitor, em alguns momentos, realiza práticas de leitura que envolve gamificação, enquanto participa de jogos de forma independente em outras situações (MACHADO; REMENCHE, 2019, p. 986, grifo nosso). As práticas de leitura no LLIA, em alguns momentos, envolvem a gamificação com as ações de tocar e clicar em objetos da tela ou de deslizá-los, selecionar e pressionar itens animados, brincar com os personagens a partir da movimentação com o dedo para cima ou para baixo, entre outras possibilidades. Nesses livros de aplicativo, o leitor não consegue avançar a leitura da história enquanto não desempenhar as ações determinadas pelo jogo, e isso permite ao leitor “[...] tornar-se um agenciador de sentidos e não um mero receptor de conteúdos” (MACHADO; REMENCHE, 2019, p. 994), de forma a encorajar a aprendizagem e intensificar o engajamento do indivíduo com o ambiente em que está inserido. Dessa relação entre o LLIA e os elementos de gamificação, os autores são otimistas ao afirmarem, na seção de análises, que: P22 - Identificou-se que na relação entre as narrativas dos LLIA e os elementos de gamificação, estes contribuem para deixar os enredos mais emocionantes, pois os roteiros das histórias contemplam níveis progressivos, desafios, missões, busca por recompensas e retroalimentações, que possibilitam maior integração dos conteúdos com o imaginário do leitor, oportunizando que este leia em seu próprio ritmo. Portanto, os LLIA que utilizam estrategicamente os elementos de gamificação em sua composição, possuem tramas mais interativas e performativas (MACHADO; REMENCHE, 2019, p. 999, grifo nosso). Os elementos de gamificação, no estudo, como os níveis progressivos, a busca por recompensa, o desafio do jogo, as missões a cumprir, contribuem para deixar os enredos mais emocionantes, envolventes e interativos. Além disso, o texto multimodal ou multissemiótico (ROJO, 2015) nos LLIA favorece a criatividades dos alunos, uma vez que “[...] o sentido é construído, interpretadoe expresso não apenas pela linguagem falada ou escrita, mas também por vários recursos disponíveis para a produção de sentido – imagens, cores, sons, movimentos e gestos” (SILVA, 2016, p. 53). Juntos, esses recursos produzem significados e interferem nas relações de interação e aprendizagem dos alunos, como concluem os autores: “A leitura hoje demanda ação humana multissemiótica, em que a inovação e a criatividade passam a ser do domínio do cotidiano de sujeitos leitores em processo de transformação” (MACHADO; REMENCHE, 2019, p. 999). 104 Um segundo estudo representativo das práticas de leitura digital na esfera acadêmica é o artigo B24 – Gêneros, multimodalidade e letramentos, publicado no periódico Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 15, n. 3, de 2014, escrito por Zulmira Medeiros. Na pesquisa, a autora buscou apresentar uma análise da multimodalidade em um ambiente virtual de aprendizagem a partir da compreensão das relações que os sujeitos constroem entre si e com o próprio ambiente multimodal por meio da leitura e da escrita on-line. A pesquisa foi realizada com alunos do curso de graduação em Pedagogia (2008-2011), na modalidade semipresencial pela Universidade Aberta do Brasil (UAB) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisadora chama a atenção para a formação de leitores e escritores nos espaços interativos da web, quando afirma no referencial teórico: P23 - Nossos sujeitos de pesquisa estão se formando leitores e escritores de espaços interativos na web, pessoas que estão lidando com espaços multimodais, tão característicos da cultura letrada contemporânea. Aprender a lidar com isso é um processo socialmente construído, socialmente compartilhado (MEDEIROS, 2014, p. 592, grifo nosso). Os sujeitos leitores e escritores dos espaços interativos da web são pessoas que estão lidando com espaços multimodais intensificados por tecnologias, aplicativos, ferramentas e dispositivos que favorecem as novas possibilidades de interação. Nesses espaços, “as práticas de linguagem ou enunciações se dão sempre de maneira situada [...] se definem pelo funcionamento de suas esferas ou campo de circulação dos discursos” (ROJO, 2013, p. 27), cujas esferas, da mesma forma, estão situadas historicamente, modificando-se de acordo com o tempo histórico e a cultura local ou global. Desse modo, a formação de leitores e escritores também se modifica frente às transformações dos diferentes campos discursivos (científico, jornalístico, literário, domiciliar, escolar, hospitalar, entre outros), situadas histórica e culturalmente, redesenhando uma nova cultura ou cibercultura. Medeiros (2014) destaca que, na leitura em tela, há um caminho de leitura que se diferencia da lógica sequencial do texto escrito. Ela afirma na análise dos dados: P24 - No texto escrito há um caminho de leitura a ser seguido. Já na imagem, a lógica é da espacialidade e não há um único caminho de leitura a ser seguido - a imagem pode ser lida em diferentes sequências. Não se trata, pois, de um gênero da escrita, mas de um novo gênero, um gênero visual, um gênero da tela. E é esse gênero que predomina na tela, mesmo que nela estejam também textos escritos (MEDEIROS, 2014, p. 601, grifo nosso). 105 Assim, enquanto, no texto impresso, há uma lógica sequencial de leitura, no texto em tela, a lógica é da espacialidade, pois a imagem pode ser lida de acordo com as intenções espaciais do leitor, ou seja, à medida que esse texto vai fazendo sentido para o leitor. Com isso, a pesquisadora destaca que não se trata, pois, de um gênero da escrita, mas de um novo gênero, um gênero da tela, mesmo que nesse gênero haja texto escrito. Se temos um novo gênero, estamos diante de enunciações relativamente estáveis (BAKHTIN, 2011) que sofreram variações de acordo com o tempo, a cultura, o lugar enunciativo e as condições específicas de enunciação, pois “[...] exercer uma prática de linguagem situada, significa, entre outras coisas, selecionar e operar nos parâmetros (flexíveis) de gêneros discursivos” (ROJO, 2013, p. 28). Além disso, na leitura em tela, o caminho aberto que se coloca para o leitor favorece o trabalho criativo com o texto. A autora explica, ainda na seção de análises, que: P25 - Na tela, o caminho de leitura está aberto e é aí que se encontra o trabalho imaginativo do leitor, na criação da ordem de leitura. Vemos que no texto escrito, a leitura é de certa forma conduzida por um caminho já determinado. Na tela, a ordem da leitura, o caminho a ser seguido, encontra-se aberto (às vezes mais, às vezes menos). É certo, pois, que as decisões sobre onde clicar, por onde navegar, que caminho seguir são demandadas ao leitor mais do que num texto escrito (MEDEIROS, 2014, p. 601, grifo nosso). No texto escrito, de certa forma, o que se apresenta é um caminho pré-determinado de leitura, porém, na tela, o acesso à compreensão e à interpretação do texto se dá a partir do trabalho imaginativo do leitor, pois é ele que conduz a sequência da leitura. Isso implica que o leitor de tela demande mais poder de decisão e autonomia na construção do próprio conhecimento. Além disso, a multimodalidade presente no espaço textual influencia diretamente a relação que os sujeitos estabelecem com o próprio ambiente de aprendizagem. Outro trabalho sobre leitura on-line a ser analisado é o artigo C16 – Discursos sobre a leitura na contemporaneidade: entre o texto-papel e o texto-tela, publicado na revista Trabalhos de Linguística Aplicada, v. 51, n. 1 de 2012. O texto foi escrito por Fernanda Correia Silveira Galli e refletiu sobre a circulação dos discursos sobre a leitura na internet. Ancorado na perspectiva teórica de Análise do Discurso de linha francesa, o estudo colocou em evidência a produção de discursividades sobre a leitura do texto-papel para o texto-tela, bem como a relação do sujeito-aluno-leitor com as “novas” tecnologias digitais no mundo contemporâneo e globalizado. O corpus se constitui de relatos de alunos de três cursos de nível superior – Ciências Biológicas, Matemática e Pedagogia – de uma instituição particular do interior do Estado de São Paulo, construído a partir de questionários e de relatos escritos pelos alunos envolvidos na http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a09.pdf http://www.scielo.br/pdf/tla/v51n1/v51n1a09.pdf 106 pesquisa. A partir dos recortes analisados, a autora chama a atenção para as funções da leitura na internet, conforme coloca na análise dos dados: P26 - A rede de relações discursivas que se instala, nesses recortes, estabelece para a leitura na internet uma (quase) mesma função atribuída ao jornal (impresso ou televisivo): a de informar e atualizar. O tempo-acelerado e o espaço-reduzido, características da contemporaneidade, funcionam como parte de uma demanda que coloca em jogo a circulação das informações (notícias), de modo que as práticas discursivas assumidas pelos alunos se sobrepõem mutuamente, num processo que envolve tanto a (des)territorialização da informação quanto do próprio sujeito-leitor (GALLI, 2012, p. 182, grifo nosso). A leitura nos espaços de pesquisa da internet é considerada (quase) com a mesma função do jornal impresso ou televisivo: a de informar o leitor e o deixar atualizado. Nos dois suportes, a busca dos alunos parece ser pelo que é mais simplificado, ou mesmo o que proporciona uma leitura mais superficial ou habitual. Isso acontece tendo em vista que o “tempo acelerado e o espaço reduzido”, considerados características da contemporaneidade, incidem sobre a circulação das informações, com ênfase para a (des)territorialização tanto da informação quanto do sujeito leitor. Uma vez no ciberespaço, o texto passa a fazer parte de milhares de percursos e estruturas semânticas diferentes, visto que “Os dispositivos hipertextuais nas redes digitaisdesterritorializaram o texto. Fizeram emergir um texto sem fronteiras nítidas, sem interioridade definível [...]” (LÉVY, 2011, p. 48, grifo do autor). Além do texto, há um entendimento de desterritorialização do sujeito-leitor na medida em que navegar na internet cria a aparente ilusão de um sujeito onipresente, capaz de ir e vir sem fronteiras nítidas. Galli destaca, ainda nas análises, também uma qualidade para a leitura na internet: P27 - A partir do “novo” suporte que é a internet, a prática da leitura é qualificada como dinâmica [...]. A opção pelo método de “leitura dinâmica” pressupõe um leitor que busca rapidez, conteúdos mais sintéticos, o que na internet parece envolver, ainda, maior velocidade no acesso (navegação pop-up) e mais variedade (dinamismo da tela, da rede). A dinamicidade é efeito do contexto contemporâneo que, por sua vez, tende a se disseminar na circulação de informações, atribuindo às discursividades um modo de ser ou de estar alicerçado na efemeridade, num processo instantâneo que promove estímulo no aluno-leitor (GALLI, 2012, p. 184, grifo nosso). A leitura na internet é qualificada, então, como uma leitura dinâmica, pois considera o leitor que busca rapidez, conteúdos mais sintéticos ou mais objetivos, velocidade de acesso, uma navegação em pop-up, com variedade ou dinamismo de informações. Porém, uma observação a esse respeito destacada pela autora é o dinamismo não se constituir um aspecto totalmente positivo para os processos de leitura na internet, visto que, por ser dinâmico, rápido 107 e objetivo, ler na internet “não garante, em especial, no hipertexto, o compromisso e o objetivo do leitor no processo de leitura” (GALLI, 2012, p. 185). Quando comparados os discursos sobre ler na tela ou no papel, a autora conclui nas análises que: P28 - As imagens que os alunos fazem de si enquanto leitores e, também, do processo de leitura na tela funcionam como memória daquilo que já faz parte deles, que já os constitui. Nesse sentido, o “novo” parece ser produzido nas e pelas “novas” subjetividades perpassadas pelos dizeres dos alunos-leitores, dizeres esses que não correspondem a uma oposição leitura-texto-tela e leitura-texto-papel, mas ao “entre”, ao atravessamento de um no outro, numa relação de dobramento e desdobramento dos discursos (GALLI, 2012, p. 190, grifo nosso). O que se sobressai sobre o processo de leitura-texto-tela e leitura-texto-papel, mediante os discursos analisados pela autora, não é a oposição entre eles ou se um é mais eficaz que outro, ao contrário, destacam-se as “novas” subjetividades dos alunos-leitores marcadas pela heterogeneidade constitutiva dos sujeitos e a construção identitária de cada um. Ou seja, não há vozes excludentes entre os dois processos de leitura, há um atravessamento entre eles, cujas práticas se completam. Dos estudos analisados sobre leitura no ciberespaço, observamos uma ação dialógica inerente à produção enunciativo-discursiva, que oportuniza a disputa de direcionamentos diversos sobre o uso da tecnologia no ensino de línguas. Diante das peculiaridades ressaltadas, enfatizamos algumas reflexões, entre elas: ✓ a leitura do Livro Literário Infantil de Aplicativo se apresenta como uma possibilidade de leitura gamificada, multimodal e multissensorial, capaz de estimular a criatividade, a iteratividade e a motivação do leitor, a partir de diferentes dispositivos digitais (MACHADO; REMENCHE, 2019); ✓ o Livro Literário Infantil de Aplicativo representa uma produção literária específica da virtualidade, geralmente lido em telas, considerado literatura digital ou eletrônica (MACHADO; REMENCHE, 2019); ✓ no livro de aplicativo, o leitor não consegue avançar na leitura da história enquanto não desempenhar as ações determinadas pelo jogo, o que o torna um agenciador de sentidos e não um mero receptor de conteúdos (MACHADO; REMENCHE, 2019); ✓ os elementos de gamificação associados ao livro de aplicativo possibilitam tramas mais performativas e interativas que contribuem para deixar os enredos mais emocionantes e integrados com o imaginário do leitor (MACHADO; REMENCHE, 2019); 108 ✓ os sujeitos leitores e escritores dos espaços interativos da web são pessoas que estão lidando com espaços multimodais intensificados por tecnologias, aplicativos, ferramentas e dispositivos digitais (MEDEIROS, 2014); ✓ na leitura do texto em tela, não há uma lógica sequencial, a lógica é da espacialidade, por isso, destaca-se um novo gênero, um gênero da tela, mesmo que nele haja texto escrito (MEDEIROS, 2014); ✓ no texto em tela, o caminho da leitura se dá a partir de um trabalho imaginativo do leitor ao decidir a ordem da leitura (MEDEIROS, 2014); ✓ a leitura nos espaços de pesquisa da internet é considerada (quase) com a mesma função do jornal impresso ou televisivo: a de informar o leitor e o deixar atualizado, com ênfase para a (des)territorialização tanto da informação quanto do sujeito leitor, consequência do tempo acelerado e do espaço reduzido/ampliado da contemporaneidade (GALLI, 2012); ✓ a leitura nos espaços de pesquisa da internet se caracteriza como dinâmica, o que pressupõe um leitor que busca rapidez, conteúdos mais sintéticos, mais velocidade e variedade de informação (GALLI, 2012). Diante dos apontamentos, é importante salientar que “[...] precisamos cuidar para que nossos alunos estejam preparados para a leitura online, que costuma demandar um comportamento investigativo” (COSCARELLI, 2020, p. 103), pois, embora o aluno se familiarize com os recursos tecnológicos no seu ambiente cotidiano desenvolvendo habilidades a partir de games, redes sociais, sites diversos na internet, isso não significa que ele construiu habilidades suficientes exigidas pelos ambientes digitais como leitores e produtores efetivos de textos digitais. Os processos de leitura e escrita nesses espaços digitais apenas constituem experiências significativas quando bem orientadas e sistematizadas. Vejamos, a seguir, quais são as vozes sociais sobre escrita no ciberespaço educacional. 5.2.2 A escrita digital nas esferas escolar e acadêmica Falando especialmente da escrita digital, destacamos os apontamentos dos artigos A31 – Escrita digital colaborativa a partir da tecnologia wiki, B10 – A prática de revisão textual na escola: uma análise das categorias de correção em uma oficina de fanfictions, B33 – Ferramentas tecnológicas para investigação de autoria. A pesquisa A31, publicada no periódico Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 17, n. 3 de 2014, foi escrita por Luciene da Silva Santos Bonfim e Adair Vieira Gonçalves. O estudo, inserido na esfera escolar, discutiu a produção hipertextual construída colaborativamente por uma turma do Ensino Médio, http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop0512.pdf 109 utilizando como ferramenta a tecnologia wiki. A pesquisa investigou como os participantes, um grupo de estudantes do segundo ano do Ensino Médio, combinam modalidades semióticas diferentes e como eles utilizam as ferramentas digitais para a produção (hiper)textual colaborativa. Os autores apresentaram a tecnologia wiki como ferramenta da web 2.0, com a função de possibilitar a construção aberta e coletiva do conhecimento, a partir da mistura de diversos recursos como a palavra, a imagem estática ou em movimento, o som, a animação, por exemplo. A plataforma possibilitou a produção colaborativa de textos com a integração de mídias verbais e não verbais, uma vez que se constitui uma plataforma livre e gratuita para acesso e edição pelos usuários. Sobre o uso da ferramenta em sala de aula, os autores escrevem na seção de análises: P29 - A wiki abre novos caminhos para a produção (hiper)textual colaborativa em sala de aula, estabelecendo novas possibilidades de utilização de ferramentas digitais para a produção de (hiper)textos e, parao professor, novos usos destas ferramentas com aplicação pedagógica (BONFIM; GONÇALVES, 2014, p. 852, grifo nosso). Na experiência com a tecnologia wiki, os pesquisadores chamam a atenção para um trabalho com práticas colaborativas hipertextuais, uma vez que a ferramenta oferece aos aprendizes a possibilidade de trabalhar simultaneamente com o hipertexto e com a mixagem de variadas linguagens, facilitando, assim, a sua construção. Nesse tipo de aprendizagem, duas ou mais pessoas agem colaborativamente em função da compreensão do objeto de ensino. O aprendizado depende muito mais das atitudes e escolhas do aluno frente às ferramentas mediadoras de conhecimento do que propriamente da ação do professor. Com a ferramenta wiki, os alunos são orientados à produção hipertextual colaborativa a partir das possibilidades de escrita e, indissociavelmente, de reescrita do próprio texto. Sobre as possibilidades de reescrita na web, nas análises dos dados, Bonfim e Gonçalves destacam: P30 - Dentre algumas possibilidades de reescrita na web mapeadas na literatura da área, destacamos: apagamento da informação apresentada; expansão da informação solicitada; correções linguístico-discursivas; utilização de mecanismos supratextuais; além de inserção de imagens e de hiperlinks (BONFIM; GONÇALVES, 2014, p. 852, grifo nosso). Como possibilidades de reescrita na web, conforme a literatura da área, a pesquisa destaca: o apagamento da informação apresentada, atividade em que o aluno, na segunda versão do texto, omite a passagem textual da primeira versão; a expansão da informação solicitada, que corresponde ao resultado produtivo da indicação de reescrita mediante 110 explicações adicionais e da progressão de ideias (SILVA; SANTOS; MENDES, 2014); as correções linguístico-discursivas, que implicam conhecimentos acerca dos elementos de conexão, coesão nominal e coesão verbal, conforme a tradição da Linguística Textual, representantes dos mecanismos de textualização (GONÇALVES; NAPOLITANO, 2013). Além disso, inserem-se ainda as atividades epilinguísticas (GERALDI, 2006) como operações em que se manifestam as negociações de sentido, cujas negociações incidem tanto sobre os aspectos estruturais da língua quanto sobre os aspectos mais discursivos; a utilização de mecanismos supratextuais, que dizem respeito a procedimentos de formatação da página do texto como título, subtítulo e paragrafação, além de procedimentos de relevo como sublinhado, itálico, negrito, entre outros. Por último, uma característica do próprio ambiente digital é a presença/inserção de imagens e hiperlinks, estes, por exemplo, são os que mais diferenciam os textos convencionais dos digitais. Analisada a experiência de escrita digital, ainda nas análises, os estudiosos ressaltam o potencial da prática pedagógica e apontam as contribuições, tanto para o professor em sua prática de ensino quanto para o aluno no processo de aprendizagem: P31 - Para o professor, a ferramenta oferece a possibilidade de acompanhamento de todo o processo de (re)escrita de (hiper)textos, auxiliando-o a avaliar tanto as dificuldades mais recorrentes apresentadas por todo o grupo, quanto as dificuldades individuais, podendo fazer uma orientação focada e, desse modo, obter maior êxito no término do processo. Para os alunos, oferece a oportunidade de ensinar e aprender colaborativamente, além de lhes oferecer a possibilidade de alterar seu próprio texto (ou do grupo) quantas vezes achar necessário, de maneira mais rápida e flexível, sem ter que reescrever tudo novamente. Além disso, o estudante poderá acompanhar e alterar seu texto de qualquer lugar (casa escola, trabalho), já que a produção hipertextual permanece armazenada na grande rede, estando disponível simultaneamente tanto para aquele que escreve quanto para seus interlocutores (professor, demais colegas e qualquer outro leitor da Web) (BONFIM; GONÇALVES, 2014, p. 852, grifo nosso). Dessa forma, são ressaltadas as possibilidades de acompanhamento do professor de todo o processo de escrita/reescrita dos (hiper)textos produzidos pelos alunos, ao passo que se oportuniza ao aluno uma aprendizagem colaborativa, flexível e acessível para todos os envolvidos na prática de ensino e aprendizagem. Diante da experiência de escrita digital compartilhada por Bonfim e Gonçalves, podemos dizer que “ensinar novas mídias será uma revolução se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais de ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário, conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial” (MORAN, 2000, p. 63), pois o ciberespaço, com sua organização em 111 rede, potencializa o desejo de um ensino cada vez mais interativo e dialógico, e torna professor e aluno cada vez mais parceiros no processo de ensino e aprendizagem. O segundo estudo em destaque sobre a escrita em contextos digitais é o B10 – A prática de revisão textual na escola: uma análise das categorias de correção em uma oficina de fanfictions, publicado na Revista Brasileira de Linguística aplicada, v. 18, n. 3, de 2018, escrito por Larissa Giacometti Paris e voltado para o contexto da esfera escolar. A pesquisa analisou três aspectos referentes a revisões realizadas por alunos nos textos de seus colegas em uma oficina de fanfictions no ambiente escolar: o uso da correção indicativa no contexto digital; a correção resolutiva/textual-interativa e seu caráter polifônico; e o emprego da correção textual- interativa pelos discentes que se posicionaram como leitores interessados. Com base nos estudos de Serafini (1995), Ruiz (1998) e Gonçalves (2007), a autora apresenta as categorias de revisão (indicativa, resolutiva, textual-interativa e classificatória) ao passo que analisa os dados gerados na oficina de produção de fanfictions, buscando atrelar a revisão do contexto escolar ao digital. Dentre elas, destacamos as observações sobre a revisão indicativa e a textual interativa, colocadas na sessão de análise dos dados: P32 - Considerando o contexto das correções no papel impresso, a correção indicativa é empregada deliberadamente pelo revisor. Entretanto, no contexto digital em que as revisões das fanfictions ocorreram, os alunos revisores apropriaram-se dos recursos da ferramenta para efetuar uma parte da revisão que não precisou ser elaborada por eles. Assim, não foi preciso que eles manualmente indicassem ou destacassem os trechos que necessitavam de reformulação, já que podiam fazer uso de uma ferramenta que está programada para realizar esta tarefa toda vez que alguma alteração no texto for empregada pelo revisor (PARIS, 2018, p. 488, grifo nosso). A correção indicativa consiste em marcar junto à margem do texto, palavras, frases e períodos inteiros que apresentam “erros” ou estão pouco claros. Dessa forma, há risco de o aluno não compreender a natureza do “erro” e não ter um direcionamento preciso para solucionar o problema apontado. No contexto digital, especialmente com a ferramenta de revisão do Vord – utilizada na oficina – os alunos revisores apropriaram-se dos recursos da ferramenta para a revisão facilitada no processo. Assim, a correção indicativa na ferramenta digital é programada para ser utilizada toda vez que o sujeito realiza uma alteração no texto. Isso interfere no modo como a prática é utilizada e na maneira como a categoria de correção é empregada. Sobre a revisão textual-interativa, a pesquisadora explica ainda nas análises: P33 - Na textual-interativa, “bilhetes” são escritos pelo revisor ao escritor, sendo semelhantes a cartas (RUIZ, 1998), na medida em que podem possuir saudação inicial, despedida e, principalmente, interação explícita com o interlocutor por meio da 112 materialidade linguística do texto. Ruiz ainda explica que tais bilhetes geralmente são escritos no “pós-texto”,isto é, logo na sequência da produção do aluno ou em algum espaço “em branco” que foi obtido, considerando que são comentários mais longos do que os escritos na margem ou no corpo do texto [...]. No contexto digital específico da oficina de fanfictions, a correção textual-interativa foi empregada pelos alunos por meio de comentários na forma de balões, sendo esse um recurso fornecido pela ferramenta de revisão do Word [...]. Na correção textual-interativa, é comum que sugestões e indagações sejam feitas ao escritor (PARIS, 2018, p. 491-492, grifo nosso). Nesse tipo de revisão, a ferramenta tecnológica contribui significativamente para o processo de reescrita. Enquanto, no texto escrito, o revisor escreve “bilhetes” para interagir com escritor, no contexto digital, a correção se dá por meio de balões escritos às margens do texto, o que possibilita o diálogo entre o revisor e escritor, marcado no texto de forma mais explícita. Com as sugestões e indagações feita pelo revisor, o aluno escritor pode refletir sobre seu texto, permitindo, assim, que ele seja responsável por pensar em alternativas para o que foi apontado como inadequado pelo revisor. Nessa categoria, a autora chama atenção para o caráter dialógico do discurso. Sobre essa dialogicidade presente nos textos, na seção de análises, a autora afirma: P34 - A ideia de os alunos revisarem e terem seus textos revisados por um colega, por exemplo, possibilitou que eles, enquanto sujeitos revisores, ocupassem a posição de leitores interessados e, além disso, considerassem o estudante escritor como um interlocutor autêntico, evidenciando as vozes dialógicas de todo e qualquer discurso (PARIS, 2018, p. 499, grifo nosso). Na pesquisa, os alunos revisores se posicionam também como alunos interessados nas histórias, fãs do universo ficcional, não se limitando apenas ao papel de revisor do texto, mas revelando também impressões sobre a história e estabelecendo com o escritor um diálogo com os enunciados das fanfictions. Diante do contexto da pesquisa, a prática da revisão textual no ciberespaço se apresenta como uma possibilidade para se pensar alternativas para a revisão textual nos contextos de ensino, compreendida como uma etapa essencial para a produção textual. O último estudo analisado é o artigo B33 – Ferramentas tecnológicas para investigação de autoria. O texto foi escrito por Lidia Helena Muller Zart e Dinorá Moraes de Fraga, ambas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e publicado na Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 13, n. 1, de 2013, inserido na esfera acadêmica. A pesquisa verificou como se dá o processo da autoria permitido pela tecnologia nas produções textuais. Para o estudo, esse ambiente de produção textual suscita implicações sobre a concepção de autoria nos textos digitais e sobre práticas escolares nesse contexto, em que as marcas de um autor individual desaparecem em favor de um autor coletivo constituído pelo http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop0512.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbla/v13n1/aop0512.pdf 113 hipertexto. O estudo teoriza sobre a produção textual no ciberespaço não excluindo a inter- relação do letramento de uma cultura impressa para um letramento de uma cultura digital. Inicia situando o contexto em que a nova autoria se dá: a cibercultura, como cultura do letramento digital, que se desenvolve no ciberespaço. Para o estudo, o que vai determinar as novas práticas letradas é a interação das mudanças tecnológicas com os fatores sociais, políticos e econômicos. As novas tecnologias, isoladamente, não podem ser responsáveis pelo impacto causado pelas formas de compreensão e experimento do letramento nesse ambiente. É nesse contexto que surge o novo autor, escritor do hipertexto. As autoras destacam, na seção de referencial teórico, que: P35 - Escrita e leitura trocam seus papéis, porque quem participa da estruturação do hipertexto, fazendo escolhas e criando significados, é um leitor. Aquele que atualiza percursos ou determinados aspectos da reserva documental interage com a redação, torna-se autor de um texto, finalizando temporariamente uma escrita interminável nessa nova prática de letramento digital (ZART; FRAGA, 2013, p. 70, grifo nosso). Quem participa da composição do hipertexto é o leitor, cujo papel é fundamental ao fazer escolhas e criar significações. Nesse sentido, “[...] a hipertextualização objetiva, operacionaliza e eleva à potência do coletivo, essa identificação cruzada do leitor e do autor” (LÉVY, 2011, p. 45), visto que há uma tendência à indistinção, à mistura das funções de leitura e de escrita. Se assim definirmos um hipertexto como um espaço de leituras possíveis, um texto apresenta-se como uma leitura particular de um hipertexto. Porém, esse mesmo leitor pode participar da estruturação do hipertexto, criando novas ligações, além de “[...] igualmente acrescentar ou modificar nós (textos, imagens, etc) conectar um hiperdocumento a outro e fazer assim de dois documentos separados um único documento, ou traçar ligações hipertextuais entre uma série de documentos” (LÉVY, 2011, p. 45). Nesse movimento de leitura e escrita textual no ambiente digital, destaca-se a reprodutibilidade técnica. Para o aluno, a escrita nos meios digitais possui características diferenciadas da escrita manual, pois há uma relação de sentido híbrida entre o olhar o texto e escrever um novo texto a partir do visto. Na seção teórica, as autoras concordam que: P36 - Trata-se da relação entre a mão e o olho no processo de escrita. No nosso entendimento, esse aspecto está diretamente relacionado à forma como o aluno concebe a escrita nos meios digitais. Escrever é também olhar, buscar aquilo que já está produzido e que pode ser trazido, ou seja, atualizado para seu campo visual (ZART; FRAGA, 2013, p. 71, grifo nosso). 114 Estamos diante de um ato de escrita que se dá a partir do processo de atualização do lido, e assim a dinâmica segue, o lido torna-se escrito e o escrito torna-se lido, pois “A partir do hipertexto, toda leitura tornou-se um ato de escrita” (LÉVY, 2011, p. 45). Nesse sentido, o texto na internet constrói-se, na maioria das vezes, como reprodução do texto lido. A construção do enunciado do aluno, a partir da reprodução textual, como posição de autoria analisada pelas autoras, é um posicionamento responsável e responsivo (BAKHTIN, 2017) perante a vida naquele momento. O ato da ressignificação textual por meio da reprodução técnica não constitui a falsificação da produção textual, conforme é colocado na seção teórica: P37 - Na reprodução técnica, o aluno, por hipótese deste trabalho, na linha de Walter Benjamin, não está falsificando sua produção textual quando se vale de fontes da internet para a realização de tarefas propostas como pesquisa e produção textual, envolvendo o uso da internet. De fato, ele tem mais autonomia pelo movimento hipertextual disponível pelos links, aspecto não oferecido pela reprodução manual. A reprodução oferece possibilidade de o aluno utilizar o texto para um contexto improvável em relação ao contexto original. Na produção textual, o aluno se insere num novo contexto, o que resulta na produção de um novo sentido. A reprodução técnica de um determinado texto para dentro de outro contexto não significa reproduzir sua autenticidade primeira; significa inseri-lo, ressignificá- lo, criando assim, uma nova originalidade (ZART; FRAGA, 2013, p. 72-73, grifo nosso). No movimento hipertextual de leitura e escrita, o aluno possui mais autonomia, diferentemente do que ocorre na reprodução manual. Nesse processo, o aluno se insere em um novo contexto e, consequentemente, na produção de um novo sentido, por isso não se discute a falsificação da produção textual, ao contrário, temos um texto que se insere em um novo contexto, que foi ressignificado e, por isso,retrata uma nova originalidade. Estamos diante de um ato ético de ressignificação do projeto de dizer (BAKHTIN, 2017), o que implica reposicionar-se na interlocução, mobilizando recursos discursivos, composicionais e estilísticos de forma a conferir ao enunciado um acabamento específico, dadas as condições de enunciação. Significa ainda posicionar-se eticamente no dever concreto, pois a reprodução do texto para dentro de outro contexto revela uma participação concreta no existir evento, “[...] um dever real, concreto, condicionado pelo lugar que somente ele ocupa no contexto dado do evento” (BAKHTIN, 2017, p. 83). Porém, para que o processo de ressignificação aconteça na condição de ato responsável, cabe ao professor um trabalho de conscientização dessa prática. Sobre essa conscientização, as autoras destacam nas análises: P38 - Reportando-nos à sala de aula, é possível afirmar que, quando um aluno baixa um texto da internet e o entrega a seu professor como cumprimento de uma tarefa, trata-se de uma simples transposição do meio digital para o meio impresso, sem 115 marcas de sua autoria: mais do que um simples copia e cola. E sem querer julgá-lo como antiético – podemos entender que ele está numa nova prática de produção de texto em que a internet passa a ser vista para ele como um repositório de textos – ele demonstrou desconhecer que identificar a autoria de um texto é uma prática social como qualquer outra que se desenvolve através da linguagem. Conscientizá-lo dessa necessidade pode fazer parte dos novos propósitos de ensino do professor que trabalha nos ambientes digitais. É um trabalho novo. Pensamos que, quando ele elabora um determinado trabalho, usando os recursos do hipertexto, os links, por exemplo, deixando nele marcas de sua caminhada, selecionando pontos que vem ao encontro de seus objetivos para a construção de um determinado sentido, ele está demarcando aí a sua autoria e instituindo uma nova aura através da atualização de sentidos (ZART; FRAGA, 2013, p. 78, grifo nosso). Se o aluno apenas toma o texto digital para fins de impressão, no intuito de cumprir as tarefas escolares, ele está apenas transpondo o texto do meio digital para o meio impresso, sem ressignificação desse texto e sem marcas de sua autoria. Nesse caso, a internet passa a ser vista por ele apenas como um repositório de textos que podem ser colados e copiados naturalmente. Por isso, o trabalho de conscientização deve fazer parte dos propósitos de ensino daqueles que se propõem ao ensino a partir dos meios digitais. Cabe ao professor o papel de ensinar esses novos usos do texto digital, “Mas ensinar de forma sistematizada, pensada e editada, sem, no entanto, omitir possibilidades dos estudantes,” (RIBEIRO, 2018, p. 78). Para tanto, “[...] continua a importante agência do professor, entendido como cidadão que toma para si a tarefa de contar, propor, indicar recomendar, avaliar, ler, cuidar, e tantos outros verbos balanceados conforme a mistura de que se necessite, integram-se na palavra ensina” (RIBEIRO, 2018, p. 78, grifo da autora), tarefas que apenas se reafirmam quando se trata de ensinar digitalmente. Dos estudos sobre escrita no ambiente digital, destacamos os seguintes entendimentos: ✓ as ferramentas de produção do texto digital, como a tecnologia wiki, possibilitam a produção colaborativa de hipertextos, com a integração de mídias verbais e não verbais, bem como diversas semioses (BONFIM; GONÇALVES, 2014); ✓ a ferramenta wiki oferece aos aprendizes a possibilidade de trabalhar simultaneamente com o hipertexto e com a mixagem de variadas linguagens. Além disso, o aprendizado depende muito mais das atitudes e escolhas do aluno frente às ferramentas mediadoras de conhecimento do que propriamente da ação do professor (BONFIM; GONÇALVES, 2014); ✓ na produção textual, a partir da tecnologia wiki, os alunos são orientados também para o processo de reescrita do hipertexto, cuja prática apresenta peculiaridades próprias do ambiente digital e possibilita ao professor avaliar e orientar o aluno com maior êxito em todo o processo de construção textual (BONFIM; GONÇALVES, 2014); 116 ✓ na produção textual e revisão do gênero fanfictions, a partir da ferramenta do Word, os alunos se apropriam dos recursos da ferramenta para facilitar o processo de revisão do texto (PARIS, 2018); ✓ na revisão indicativa do gênero fanfictions, são destacados, no texto, palavras, frases ou até os períodos inteiros que apresentam problemas de escrita. Já na revisão textual- interativa, a correção se dá por meio de balões escritos às margens do texto, marcados no texto de forma explícita, estabelecendo um diálogo entre escritor e revisor (PARIS, 2018); ✓ a reescrita do gênero fanfictions permite ainda aos alunos revisores se posicionarem como alunos interessados nas histórias, revelando suas impressões e estabelecendo com o escritor um diálogo com os enunciados das fanfictions (PARIS, 2018); ✓ na produção do texto digital, escritor e leitor trocam seus papéis, porque quem participa da estruturação do hipertexto, fazendo escolhas e criando significados, é um leitor (ZART; FRAGA, 2013); ✓ a escrita no ambiente digital possui características diferenciadas da escrita manual, pois há uma relação de sentido híbrida entre olhar o texto e escrever um novo texto a partir do visto, um ato de ressignificação textual (ZART; FRAGA, 2013); ✓ a escrita no ciberespaço exige a atuação e a orientação docente nas atividades de ensino, visto que é imprescindível um trabalho de conscientização sobre a prática de leitura e escrita on-line, para que essa escrita não seja uma simples transposição textual (ZART; FRAGA, 2013). Vejamos, em seguida, como essas vozes sociais axiologizadas se relacionam dialogicamente. 5.3 POSIÇÕES SEMÂNTICO-AXIOLÓGICAS EM DIÁLOGO Na relação entre os enunciados, o enfoque dialógico é possível a qualquer parte significante desses enunciados, inclusive entre palavras isoladas, desde que interpretadas “[...] como signo da posição semântica de um outro, como representante de um enunciado de um outro, ou seja, se ouvimos nela a voz do outro” (BAKHTIN, 2018, p. 210). Dessa forma, nesta subseção, nosso interesse está na relação que se estabelece entre os enunciados sobre a tecnologia no ensino de línguas em confronto/encontro com os enunciados sobre leitura e escrita em contextos digitais, buscando perceber como se chocam dialogicamente as posições semântico-valorativas nos estudos. 117 As vozes dos pesquisadores significam, antes de tudo, o encontro de posicionamentos axiológicos em processo de dialogia, personificados na linguagem. Esses encontros podem ser percebidos entre diferentes passagens nos artigos. Em P1, por exemplo, Ribeiro (2016) aponta que a tecnologia na sala de aula proporciona ganho de tempo e ampliação de espaço. Nesse processo de dialogia, Galli (2012), em P26, ao tratar sobre a leitura na internet, afirma que as práticas discursivas assumidas pelos alunos se sobrepõem mutuamente, num processo que envolve a (des)territorialização tanto da informação quanto do próprio sujeito-leitor, ou seja, pensar a (des)territorialização da informação é também pensar na ampliação de espaços possibilitada pelas tecnologias, uma vez que a informação (des)territorializada ocupa diferentes lugares no ciberespaço, e assim se ampliam os espaços de busca e informação. Ainda em dialogia com o ganhar tempo, Galli (2012), em P27, ressalta que a prática da leitura na internet é qualificada como dinâmica e pressupõe um leitor que busca rapidez e conteúdos mais sintéticos. Nesse sentido, a dinamicidade da leitura na internet implica rapidez ao navegar e a necessidade de ler conteúdos cada vez mais sintéticos e práticos. Vale salientar que estamos diante de dois centros de valores que não necessariamente defendem algo que sejatotalmente positivo para o ensino, pois se a internet possibilita ganho de tempo, e esse ganho se dá em função da pressa pela leitura, ou mesmo pela síntese da informação, as consequências podem ser a dificuldade de concentração do aluno diante das múltiplas possibilidades de acesso, bem como o entrave no ato de transformar a informação em conhecimento. Para construir conhecimento, não basta o aluno ter condições de acesso à informação em larga escala, ao contrário, no crescente oceano de dados acessíveis na internet, exigem-se estratégias referenciais que permitam identificar quais fontes são confiáveis. Ademais, o aluno necessita de pensamento lógico, raciocínio e juízo crítico, para só assim transformar informação em conhecimento. Para que esse ganho de tempo seja realmente positivo para o ensino, conforme argumentam Corrêa e Dias (2016), em P9, as instituições educacionais necessitam de projetos de integração das TDIC a partir de ações que agreguem trabalho em equipe, pesquisa, seleção e filtragem de informação. Nessa direção, Ribeiro (2016), em P2, defende que cabe ao professor o preparo da sua aula, a seleção do material pré-programado, uma boa explicação e um debate proveitoso em sala. Ou seja, para que as tecnologias digitais sejam, de fato, instrumentos de aprendizagem é preciso um trabalho sistematizado de ações escolares que considere, especialmente, a incorporação de novas práticas tecnológicas aliadas às consideradas “convencionais”, como a presença docente na preparação, aplicação e orientação do uso correto das ferramentas tecnológicas para o processo de aprendizagem. 118 Nessa relação de vozes, Araújo (2018), em P17, salienta que a tecnologia em si mesma não transforma a prática pedagógica do professor com a sua simples inclusão no contexto escolar, ao contrário, para que a mudança aconteça, é preciso que o professor criticamente se familiarize com as TDIC como um componente pedagógico e curricular. Vale ressaltar ainda a posição do professor como aprendiz na era digital, ressaltada pelo autor em P15, quando afirma que o professor se encontra em uma posição de aprendiz e não como um sujeito que domina o conhecimento completamente. Isso significa criar condições para uma integração efetiva das tecnologias digitais na prática educativa. Os profissionais da educação, na condição de aprendizes, necessitam de atitude crítica, habilidades e destrezas para que seja possível valorizar e avaliar a pertinência do uso da tecnologia na sala de aula. Diante de tudo isso, são infinitas as possibilidades de sistematização do uso pedagógico das tecnologias digitais nos contextos de ensino. A inclusão dessas tecnologias, de modo sistematizado, significa “[...] criar condições para formas de leituras plurais e para concepções de ensino e aprendizagem que considerem o aprendiz como protagonista, a fim de diminuir a distância entre as leituras e práticas que se desenvolvem fora da escola [...] (ZACHARIAS, 2016, p. 27). Nesse sentido, Santos (2018), em P5, considera o aluno como produtor ativo de significados e que pode usar as práticas de letramento digital para aumentar suas possibilidades de participação social, o que implica um sujeito aprendiz cada vez mais autônomo e responsável pelo próprio conhecimento. Além disso, os sentidos atribuídos ao uso da tecnologia, nesse contexto, permitem aos alunos relacionarem e integrarem novas experiências aos esquemas conceituais que já possuem. Porém, essa autonomia na construção do próprio conhecimento não deve ser confundida com liberdade de acesso e de uso da tecnologia. Conforme destacado por Corrêa e Dias, em P7, o aluno se inicia no mundo tecnológico sozinho e aprende por conta própria. Ou seja, muitos alunos se familiarizam rápida e cotidianamente com as ferramentas tecnológicas, fazem uso dessa tecnologia para entretenimento e, assim, dispõem de certa liberdade de acesso e de escolha por sites, aplicativos ou redes sociais. Um impasse se instaura, na verdade, quando essa tecnologia possui fins educacionais, como é o caso das redes sociais. Assim também o autor sinaliza, em P8, perceber uma relação contraditória dos alunos com as redes sociais digitais, sendo elas vistas ora como elemento de descontração e dispersão, ora como ferramenta de socialização. Esse posicionamento apenas confirma o que já foi ressaltado por P2, P9, P15 e P17: a necessidade de sistematização das práticas educativas em função do uso pedagógico das tecnologias digitais. Se temos as redes sociais ora como instrumentos de distração, ora como com ferramenta pedagógica, então precisamos não desconstruir as práticas já desenvolvidas 119 fora da escola, mas aproveitar essas aprendizagens para a construção de experiências novas que privilegiem as aprendizagens curriculares. É nesse sentido que Machado e Remenche (2019) propõem a leitura do Livro Literário Infantil de Aplicativo como uma produção literária específica da virtualidade. Em P20, os autores destacam que a leitura do livro de aplicativo é uma combinação de áudio, imagem em movimento, enlaces hipertextuais, jogos e até ferramentas de participação em redes sociais na internet. Elementos considerados apenas entretenimento, como jogar e interagir nas redes sociais, por exemplo, com o livro de aplicativo, passa a ser aprendizagem dinâmica e sistematizada. Conforme os autores ressaltam ainda em P20, a principal finalidade do “enriquecimento” (integração dos recursos) em livros digitais é favorecer a interatividade. Sob essa ótica, estamos diante de uma possibilidade de aprendizagem que vai além do texto verbal e parte das experiências já construídas pelo aluno fora da escola sem desconsiderá-las e ainda promove a interatividade. Os autores ainda concluem, em P22, que os elementos de gamificação nas narrativas do LLIA contribuem para deixar os enredos mais emocionantes, pois possibilitam mais integração dos conteúdos com o imaginário do leitor, oportunizando que este leia em seu próprio ritmo. Vale ressaltar que esse ritmo de leitura é motivado pelos recursos de gamificação, pois o roteiro da história contempla níveis progressivos, desafios, missões, recompensa e a retroalimentação. Essa postura apenas completa o que Cani (2020) pontua em P10, ao afirmar que a materialização das TDIC em um currículo educativo implica a oportunidade de construir saberes tecnológicos e pedagógicos, tão necessários no contexto atual de ensino, além de despertar esse aluno para uma aprendizagem mais integradora e interativa. É importante destacar que, nesse processo de aprendizagem com as tecnologias digitais, além de interativa, a aprendizagem passa a ser colaborativa. Com a tecnologia wiki, por exemplo, conforme enfatizam Bonfim e Gonçalves (2014), em P29, abrem-se novos caminhos para a produção (hiper)textual colaborativa, pois a ferramenta é utilizada para a produção de hipertextos, bem como para a reescrita desse texto. Nesse sentido, os autores apontam para o potencial da prática pedagógica e destacam as contribuições tanto para o professor quanto para o aluno. Em P31, eles ressaltam que a ferramenta oferece ao professor a possibilidade de acompanhar todo o processo de (re)escrita de (hiper)textos dos alunos auxiliando e avaliando as dificuldades, e ainda oferece aos alunos a oportunidade de alterar seu próprio texto (ou do grupo), quantas vezes acharem necessário, com rapidez de acesso e de edição, uma vez que o texto se encontra na grande rede. 120 Assim, para concluir essa dialogia de vozes, ainda falando sobre leitura e escrita, Zart e Fraga (2013), em P35, explicam que escrita e leitura trocam seus papéis, porque quem participa da estruturação do hipertexto, fazendo escolhas e criando significados, é um leitor. Nessa perspectiva, o leitor passa a autor e o autor passa a leitor, em uma troca de papéis que mobiliza conhecimentos, experiênciase estratégias para as situações concretas de uso da língua. Nessa relação dialógica que se estabelece entre as vozes sociais, dá-se o encontro de posições axiológicas de diferentes sujeitos sociais que pesquisam e buscam entender a realidade educacional frente às tecnologias digitais. Com isso, os sujeitos revelam o seu lugar de fala, ora são professores/pesquisadores nos espaços escolares, ora acadêmicos tratando teoricamente das tecnologias ante a posição que ocupam, ora professores/pesquisadores contextualizando a teoria nos diversos espaços de atuação. Embora os posicionamentos não se direcionem a uma conclusibilidade, precisamos concordar que eles revelam que os modos de ler e escrever, atualmente, foram fortemente modificados pelas tecnologias digitais. De fato, elas foram responsáveis por grande parcela dessas mudanças que, claro, iniciaram-se nos mais diversos contextos sociais e, não diferentemente, chegam às instituições educacionais também como uma possibilidade didática e pedagógica. No cruzamento de vozes, as tecnologias digitais no ensino de línguas proporcionam mais qualidade ao ensino e à aprendizagem, consideradas ganho de tempo, de aula, ampliação de espaços de ensino, a (des)territorialização da informação. As práticas de leitura na internet consideram a dinamicidade e a rapidez pela busca do conteúdo, o que nos revela a imprescindibilidade do trabalho sistematizado e orientado do professor a partir de projetos que integrem os conteúdos escolares e as tecnologias digitais. Está claro que a tecnologia em si mesma não promove ensino e aprendizagem. É preciso, antes de tudo, que o professor se familiarize com os recursos e transforme esse conhecimento em projetos integrados, multidisciplinares, multimodais e multissemióticos. A partir de uma postura mais crítica diante das tecnologias digitais, as práticas de escrita, por exemplo, podem ser mais interativas e colaborativas, tornando o texto do aluno mais acessível ao professor e aos outros leitores. A impressão que temos é a de que, provavelmente, muito em breve, as tecnologias digitais se integrarão às práticas de leitura escrita de forma tão presente e transparente que não perceberemos a sua presença entre nós. Embora muito distante de uma democratização de acesso ou mesmo de uma aprendizagem ampla em relação ao digital, vislumbramos essa integração nos estudos quando observamos os marcadores de temporalidade. Eles sinalizam, 121 por exemplo, o quanto os muitos recursos tecnológicos vão se tornando parte e indispensáveis na nossa vida em sociedade. Vejamos essas marcas do tempo nos estudos. 5.4 O TEMPO NA PESQUISA EM LA A realização do ato ético da pesquisa, materializado neste estudo em enunciados concretos, leva ao entendimento do modo como as mediações tecnológicas têm sido usadas, transformadas ou utilizadas para transformar práticas letradas, suas implicações e possibilidades para o ensino de línguas. Representado constitutivamente pela realidade social, o ensino mediado pelas tecnologias apresenta singularidades espaço-temporais responsáveis por sentidos e valores concretamente representados no ser-evento e que são reveladores de escolhas dos sujeitos pesquisadores diante da efemeridade e da amplitude do momento histórico no qual nos encontramos. Dos estudos analisados, destacamos os artigos A1 (CANI, 2020), A4 (MACHADO; REMENCHE, 2019), A31 (BONFIM; GONÇALVES, 2014)21, nos quais identificamos alguns marcadores de temporalidade e como eles são reveladores de mudanças no ensino de línguas. Colocamos em diálogo algumas reflexões já sinalizadas neste estudo sobre o cronotopo bakhtiniano (2011, 2014), a liquidez de Bauman (2001), o ciberespaço de Lévy (2010) e os tempos hipermodernos de Lipovetsky (2016). Na sociedade hipermoderna, regida pela aceleração das mudanças técnicas, sociais e culturais, os marcadores de temporalidade, presentes nos mais diversos campos de atividade humana, também estão presentes nas pesquisas contemporâneas do campo da LA. Os indícios do tempo podem ser vistos e lidos nos acontecimentos do mundo da vida (BAKHTIN, 2011). Eles se revelam na relação espaço-temporal e nos orientam para a realidade. No cronotopo do ciberespaço educacional, as reflexões se encaminham para uma relação espaço-tempo em processo de transformação, pois as implicações do tempo nesses espaços orientam, sobretudo, para um movimento de transformação sensível dos materiais de ensino, das ferramentas tecnológicas e, principalmente, do processo ensino e aprendizagem. Com base na ideia de hipermodernidade de Lipovestky (2016), evidenciamos o primeiro marcador de temporalidade: o princípio da leveza. Ele pode ser exemplificado a partir do estudo A4 (MACHADO; REMENCHE, 2019), mediante o seu objeto de pesquisa, o Livro 21 Como critério para escolha dos exemplares, foram observados os estudos que apresentam mais claramente as marcas do tempo em seus objetos de pesquisa. Como o objetivo não é comparar exemplares das revistas, escolhemos 3 artigos apenas da revista Linguagem e Ensino. 122 Literário Infantil digital interativo em formato de Aplicativo (LLIA). O estudo apresenta o LLIA como software desenvolvido para ser acessado em sistemas operacionais específicos, como IOS e Android, que integra leitura literária e gamificação. Nesse estudo, o princípio da leveza representa um movimento do tempo refletido no recurso didático livro literário em formato de aplicativo. No contexto de mudanças da sociedade hipermoderna, o livro também tem passado por transformações relacionadas a seu formato e sua função. Da cultura do impresso passamos para a cultura do digital, cujas funcionalidades do livro em formato de aplicativo são variadas e elucidadas na pesquisa. Com esse formato, evidenciam-se as técnicas de miniaturização (LIPOVETSKY, 2016), uma vez que o peso do material impresso cede lugar para as micromáquinas ou os dispositivos eletrônicos portáteis sensíveis ao toque, “[...] o princípio da leveza concretiza-se em primeiro lugar, na invenção e utilização de todo um conjunto de materiais com menos peso” (LIPOVETSKY, 2016, p. 115). A digitalização dos textos possibilita a ideia do mais com menos, ou seja, a disponibilidade de inúmeros materiais digitais em apenas um aparelho tecnológico. Tal como nas análises cronotópicas de Bakhtin, o cronotopo do ciberespaço educacional apresenta deslocamentos, cruzamentos, encontros... No ensaio sobre o romance grego, Bakhtin fala sobre o cronotopo da estrada, para citar alguns, em analogia ao deslocamento do homem no espaço e a construção das etapas de uma vida perpassada pelos cruzamentos na estrada, pelos encontros (cronotopo do encontro). Assim também o cronotopo da soleira caracteriza a crise, a mudança de vida, a metamorfose do homem. Partindo da perspectiva da literatura concebida pelo teórico russo, e deslocando as ideias para os tempos hipermodernos (LIPOVETSKY, 2016), podemos falar de um cronotopo que, mediado pelas tecnologias digitais, desloca práticas sociais de ensino ao passo que promove o cruzamento e o encontro de contextos de ensino considerados distantes ao longo do tempo. Trata-se de um cronotopo que se estabelece de forma ressignificada espaço-temporalmente. Nesse cronotopo, as práticas sociais de ensino orientadas pelo princípio da leveza incorporam a característica da virtualidade e se orientam cada vez mais para as tecnologias inteligentes, conectadas e portáteis. Com o smartphone, por exemplo, a leitura do livro digital de aplicativo possibilita um deslocamento do sujeito leitor, que não é física, mas virtual, no sentido de que é possível acessar vários materiais literários em um tempo que é instantâneo, efêmero e o espaço é relativo. “Estamos no momento em que predominam o peso pluma e os equipamentos da hipermobilidade digital [...] mais e mais objetos compactos e leves”(LIPOVETSKY, 2016, p. 119, grifo nosso). 123 Essa hipermobilidade digital facilita o hibridismo e o uso dos recursos multimodais, pois “Existem diversos formatos e propostas de livros digitais para o público infantil, tais como e-book interativos feitos em epub3, e-books, de realidade aumentada e book apps (LLIA), os quais permitem a utilização de diversas mídias e diferentes interações” (MACHADO; REMENCHE, 2019, p. 985). Esses são apenas alguns exemplos de materiais digitais didáticos que podem potencializar a interatividade, a criatividade e a motivação do leitor. O segundo marcador de temporalidade destacado no estudo é a desmaterialização relativa (LIPOVETSKY, 2016) da sala de aula, exemplificada a partir do estudo A31 (BONFIM; GONÇALVES, 2014), por meio do seu objeto de estudo: a tecnologia wiki. Essa desmaterialização relativa “[...] consiste na transformação de atividades físicas ou com suporte material em atividades virtuais tornadas possíveis pelas ferramentas informáticas” (LIPOVETSKY, 2016, p. 121). Diante disso, a produção hipertextual colaborativa, a partir da tecnologia wiki, objeto de investigação da pesquisa, representa uma possibilidade de desmaterialização de atividades desenvolvidas fisicamente nos espaços de aula, passando a integrar uma atividade virtual permitida pelas tecnologias digitais. Em outras palavras, algumas práticas didático-metodológicas estão sendo ressignificadas no contexto atual das tecnologias digitais, como é o caso da produção textual. Nesse contexto, a sala de aula se redimensiona, pois, com a ferramenta wiki, por exemplo, a atividade de produção textual possibilita a construção colaborativa do texto, a inserção de linguagens verbais e não verbais, som, animação, links, ou seja, recursos próprios do contexto digital. Com a desmaterialização da sala de aula, nós nos colocamos diante da desterritorialização do texto (LÉVY, 2011), pois o aluno não produz apenas um texto físico, ele é orientado à produção de um hipertexto, ou seja, um documento não linear interconectado com outros documentos a partir de palavras, imagens ou informações particulares (COSCARELLI, 2009). Na dinâmica da desmaterialização que marca o tempo no espaço da virtualidade, presenciamos o crescimento de uma cultura que se quer universalizada e comum nas relações comunicacionais dos espaços educacionais, uma vez que “As mudanças trazidas pelos meios digitais transformaram a nossa cultura” (KENSKI, 2013, p. 51). Ela está relacionada aos termos blog, fóruns, mensagens instantâneas, e-book, chat, e-mail, app. São práticas socioculturais caracterizadas pelas linguagens multimodais, multissemióticas, híbridas e constitutivas da cultura do ciberespaço. Diretamente relacionado aos anteriores, como terceiro marcador de temporalidade destacamos a liquidez da educação ou, ao menos, a pretensão de uma educação cada vez mais 124 líquida, fluida e leve. Com base nas ideias de Bauman (2001), pensar uma educação líquida, no contexto do ciberespaço educacional, é entender as transformações histórico-sociais como possibilidades constantes de assumir formas variadas, tal como os líquidos que se atêm a qualquer forma. Diante da metáfora da liquidez, “[...] os fluídos não fixam o espaço nem prendem o tempo. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras e, portanto, diminuem a significação do tempo, os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la” (BAUMAN, 2001, p. 8). No estudo A1 (CANI, 2020), a autora coloca em evidência algumas competências digitais necessárias para o educador do século XXI, consideradas a partir dos documentos DigCompEdu (REDECKER, 2017), do Modelo TPACK (KOEHLER; MISHRA, 2009) e pelo Modelo de Competência Digital para professores (KRUMSVIK, 2014). Eles orientam políticas de formação de professores para a competência digital, práticas direcionadoras para todos os níveis de ensino e suporte de desenvolvimento profissional contínuo dos educadores para o uso das tecnologias digitais. Nesse estudo, vislumbramos reflexões orientadoras político- pedagógicas direcionadas aos professores em formação com o uso das tecnologias. A autora justifica a necessidade de competências docentes para uma educação facilitadora da interação e da comunicação on-line e redefine estratégias e procedimentos necessários aos interesses docentes e discentes. Em uma educação que prevê a mobilidade dos fluidos, a formação e a atuação do profissional se encaminham para uma ação social de rápidas e significativas mudanças. Elas estão relacionadas a programas flexíveis de ensino, formação de novas atitudes de ensino e aprendizagem, e ações tecnologizadas que garantam práticas educacionais significativas. Nesse cenário, estamos presenciando, na educação brasileira, o “derretimento dos sólidos” em todos os níveis de ensino, em todas as instâncias educacionais: no tempo-espaço contemporâneo da educação, no currículo, no tempo de aula, nas formas de ensinar, nas possibilidades de aprendizagem, enfim, em como articular e caminhar a educação brasileira no momento em que o mundo inteiro enfrenta o distanciamento social22. Agregados a isso, vieram diversos problemas educacionais, culturais, políticos e, principalmente, de saúde pública. A realidade pandêmica enfrentada também na educação brasileira nos faz repensar a própria educação e perceber o que já vem ocorrendo desde tempos remotos: as alterações na 22 “As instituições de ensino brasileiras, assim como todos os demais setores da sociedade, foram fortemente impactadas pela pandemia do novo coronavírus em 2020 [...]. Em meados de março de 2020, o Ministério da Educação (MEC) autorizou a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais [...]. Logo depois, o Conselho Nacional de Educação (CNE) veio a público elucidar aos sistemas e às redes de ensino, de todos os níveis, etapas e modalidades, a necessidade de reorganizar as atividades” (RODRIGUES, 2020, p. 44). 125 relação entre tempo e espaço no cenário educativo. A expectativa é a de que, conforme Coscarelli (2020, p. 20) “[...] que ela [a pandemia] nos ajude a perceber o valor do letramento digital, do letramento para as mídias (produzir para elas e ler essas mídias criticamente) e das artes na formação de nossos(as) alunos(as), cidadãos de nossa sociedade”. Além disso, ainda maior é a expectativa de que a conectividade e a acessibilidade sejam uma realidade de todas as escolas e universidades brasileiras, mesmo diante da desigualdade e da diversidade de um país com mais de 200 mil escolas, organizadas nas quatro grandes dependências administrativas – federal, estadual, municipal e privada (BUNZEN, 2020). Nesse processo, “Garantir o acesso a todos(as) parece-me o maior desafio político em um país em uma grave crise no sistema educacional e sem políticas claras para enfrentamento de um cenário tão complexo” (BUNZEN, 2020, p. 29). O trabalho educacional, no contexto da pandemia, tem demandado a concepção de uma educação mais interativa e dialógica. O momento exige repensar o papel da escola, do conhecimento e do que se entende por aula, visto que as relações de ensino e aprendizagem são outras. O fato é que estamos diante de questões ainda complexas sobre a educação brasileira no contexto das tecnologias digitais, porém, é urgente que as instituições passem a refletir e a dialogar mais de perto com a sociedade contemporânea do século XXI (JUNQUEIRA, 2020), cuja metamorfose dos paradigmas educacionais é imprescindível e inadiável. Apresentada a análise dos dados, direcionemo-nos para as considerações finais do estudo. 126 6 CONCLUSÃO O debate sobre as práticas sociais de leitura e escrita construído entre linguistas aplicados e estudiosos da língua vem sendo elaborado há muito tempo sem que se tenha chegado a umaresposta conclusiva. Nesse debate, atualizam-se os modos de agir socialmente fortemente influenciados pelas tecnologias digitais, o que implica novas formas de conceber, por exemplo, leitura e escrita nos contextos de ensino. É com esse pensamento, que esta pesquisa de doutoramento buscou, como problemática geral, refletir sobre como as pesquisas em LA têm se orientado na esfera educacional no tempo/espaço da contemporaneidade. Para tanto, objetivou sistematizar pesquisas no campo da LA que consideram o cronotopo do ciberespaço, e ponderar sobre as vozes sociais acerca da leitura e da escrita digital, as relações dialógicas estabelecidas entre as diferentes posições axiológicas, além de identificar alguns marcadores de temporalidades que revelam mudanças no ensino de línguas. De base qualitativa e com características da pesquisa bibliográfica, o estudo buscou, na esfera de divulgação científica, a geração e a delimitação do corpus de análise a partir de três revistas científicas on-line, a saber: Linguagem e Ensino, Revista Brasileira em Linguística Aplicada, e Trabalhos em Linguística Aplicada. Os periódicos apresentaram estudos comprometidos com a área da Linguística Aplicada e o ensino, qualidade acadêmica relevante na sua qualificação, respectivo ao quadriênio 2013-2016, com Qualis A1, trazendo publicação de pesquisadores doutores, gratuidade de acesso, disponibilidade na web e publicação com regularidade periódica. Das publicações sistematizadas para compor o corpus de pesquisa, foi priorizado o gênero artigo científico, com um total de 90 estudos, publicados no período de 2011 a 2020, todos com ênfase temática nas tecnologias digitais e no ensino de língua materna e estrangeira e inseridos no contexto do ciberespaço educacional. Entre os objetivos, o estudo buscou sistematizar as pesquisas em LA que consideram o cronotopo do ciberespaço e reconhecer os níveis de ensino nos quais os estudos atuam. Além disso, buscou analisar as vozes sociais sobre as tecnologias no ensino e sobre as práticas de leitura e escrita on-line. No ciberespaço da esfera escolar ou ciberescola, foram sistematizadas 23 pesquisas. No ciberespaço da esfera acadêmica ou ciberacadêmico, foram relevantes para o estudo 67 artigos científicos. Desses estudos, relacionados ao ciberespaço escolar, foram analisados 3 artigos voltados para as teorizações das tecnologias digitais no ensino de línguas, 1 estudo sobre leitura digital e ainda 2 artigos sobre escrita digital. Com ênfase no ciberespaço acadêmico, foram analisados 2 artigos mais específicos sobre as teorizações das tecnologias 127 digitais no ensino de línguas, 2 pesquisas sobre leitura on-line e, por último, 1 estudo sobre escrita on-line. Nos 11 artigos científicos analisados, identificamos as vozes sociais sobre as tecnologias digitais, leitura e escrita digital que orientam as práticas de ensino na contemporaneidade. Ao final, buscamos compreender como essas vozes sociais se relacionam axiologicamente e orientam as práticas de ensino de línguas na contemporaneidade. Além disso, 3 estudos exemplificaram os marcadores de temporalidade que sinalizam mudanças para o ensino. As vozes relacionadas às tecnologias digitais no ciberespaço educacional orientam-se a partir do horizonte temporal da hipermodernidade (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004, ROJO; BARBOSA, 2015), revelando posições axiológicas norteadoras para o uso da tecnologia digital na sala de aula. Entre as contribuições, são ressaltadas a ampliação tempo/espaço de aula, do trabalho docente e da aprendizagem; a autonomia do aluno diante dos recursos tecnológicos como responsável pelo uso didático dos recursos utilizados; o aluno como produtor de significados, que age ativamente ao se utilizar das práticas de letramento digital nos eventos da vida; e o professor, que além de experienciador das tecnologias digitais, é responsável pelo planejamento sistematizado dos conteúdos escolares frente às tecnologias disponíveis e acessíveis ao aluno. Ademais, destaca-se o emprego das tecnologias digitais no currículo como uma oportunidade de construir saberes tecnológicos e pedagógicos, de modo que se estabeleça uma transição entre os usos informais para os usos formais dessa tecnologia. Dos estudos que investigam a leitura no ciberespaço, as vozes sociais nos revelam várias compreensões: a leitura gamificada, multimodal e multissensorial, a exemplo da leitura do livro de aplicativo, é capaz de estimular a criatividade, a interatividade e a motivação do leitor a partir dos diferentes níveis de interação entre os leitores e a conexão do enredo da narrativa com jogos digitais; na leitura do texto em tela, não há uma lógica sequencial, a lógica é da espacialidade, por isso, destaca-se um novo gênero, um gênero da tela, e o caminho da leitura se dá a partir de um trabalho imaginativo do leitor ao decidir a ordem da leitura; a leitura nos espaços de pesquisa da internet é considerada (quase) com a mesma função do jornal impresso ou televisivo: a de informar o leitor e o deixar atualizado, com ênfase para a (des)territorialização tanto da informação quanto do sujeito leitor; e ainda, a leitura no ciberespaço se caracteriza como dinâmica e, por isso, pressupõe um leitor que busca rapidez de acesso, conteúdos rápidos e variedade de informação. Já as vozes sociais voltadas para a escrita digital nos contextos de ensino indicam que as ferramentas digitais de produção textual, como a tecnologia wiki, possibilitam a produção 128 colaborativa de hipertextos; ferramentas, como a wiki, oferecem aos aprendizes a possibilidade de trabalhar simultaneamente com o hipertexto e com a mixagem de variadas linguagens. Além disso, elas possibilitam a reescrita do hipertexto, cuja prática apresenta peculiaridades próprias do ambiente digital e possibilita ao professor avaliar e orientar o aluno com maior êxito em todo o processo de construção textual; na escrita do texto digital, os alunos se apropriam dos recursos da ferramenta utilizada para facilitar o processo de revisão do texto, como a correção por meio de balões escritos às margens do texto na ferramenta Word, marcando o texto de forma explícita e estabelecendo um diálogo entre escritor e revisor; e, por último, na produção do texto digital, escritor e leitor trocam seus papéis, porque quem participa da estruturação do hipertexto, fazendo escolhas e criando significados, é um leitor. Na relação entre os enunciados sobre as tecnologias digitais, leitura e escrita on-line, temos um encontro de posicionamentos axiológicos que se dialogizam e apontam direcionamentos para o ensino. Trabalhar pedagogicamente com as tecnologias digitais possibilita ao professor e ao aluno ganho de tempo e ampliação do espaço de aula, num processo que envolve a (des)territorialização tanto da informação quanto do próprio sujeito leitor, pois a informação ocupa diferentes lugares no ciberespaço, o que torna o sujeito leitor um responsável pela construção do próprio conhecimento frente a esse universo de informações. Nesse contexto, as práticas de leitura e escrita on-line assumem novas características e consideram cada vez mais a escrita colaborativa, a facilidade de interação professor/aluno, a dinamicidade da leitura no ciberespaço e a rapidez pela busca do conteúdo – não necessariamente positivo para ensino. Porém, para que se chegue à excelência do uso da tecnologia no ensino, há de se considerar a integração de um trabalho pedagógico em equipe, a atuação docente na seleção dos recursos tecnológicos, no planejamento da aula e, principalmente, a interação com o aluno em sala aula para orientação das práticas tecnologizadas. Ademais, a tecnologia em si mesma não transforma a prática pedagógica com a sua simples inclusão no contexto escolar, ao contrário, é preciso, inicialmente, a familiarização com essa tecnologiae, principalmente, que professor assuma a posição de aprendiz, em constante transformação. Ler e escrever no ciberespaço exige do aluno a produção ativa de significados, e isso contribui para aumentar as suas possibilidades de participação social. Os estudos apontam ainda alguns marcadores de temporalidade responsáveis pelas mudanças ocorridas no ensino de línguas. O primeiro deles é o princípio da leveza (LIPOVESTKY, 2016), exemplificado a partir do Livro Literário Infantil digital interativo em formato de Aplicativo (LLIA), o que evidencia a leveza da cultura digital frente à cultura, ao 129 impresso e à miniaturização (LIPOVETSKY, 2016) de máquinas e dispositivos eletrônicos portáteis e sensíveis ao toque. O segundo princípio é a desmaterialização relativa (LIPOVETSKY, 2016) da sala de aula, exemplificada a partir da escrita colaborativa da tecnologia wiki, uma vez que o uso da ferramenta possibilita a transformação de atividades, antes desenvolvidas apenas nos espaços da sala de aula, em atividades imateriais, ou seja, tornadas possíveis pelas ferramentas informáticas e realizáveis a qualquer momento e em qualquer lugar. Como terceiro e último marcador de temporalidade é apresentada a liquidez da educação ou, ao menos, a pretensão de uma educação cada vez mais líquida, fluida e leve. Nesse contexto, são consideradas algumas competências digitais necessárias para o educador do século XXI e reflexões orientadoras político-pedagógicas que direcionam os professores em formação para o uso pedagógico das tecnologias digitais. Diante de todos os posicionamentos axiologizados e as suas inevitáveis relações dialógicas, o estudo nos fez perceber o quanto os modos de ler e escrever foram fortemente afetados pelos dispositivos digitais e, juntamente, os hábitos culturais, sujeitos sociais e orientações curriculares para o ensino de línguas. Precisamos considerar as valiosas contribuições das tecnologias digitais para o ensino de línguas e aceitar que elas já se instalaram nas instituições de ensino e vieram para ficar. Porém, não podemos negligenciar os aspectos negativos do uso dessas tecnologias e o quanto desfavoráveis podem ser se não usadas corretamente, com orientações claras e sistematizadas por profissionais capacitados. Nessa dialogicidade de vozes, é possível ver o tempo (BAKHTIN, 2011) e, a partir dele, entender como se revelam as potencialidades de sentidos para o ciberespaço educacional. Desse modo, os discursos sobre as tecnologias no ensino se constituem como práticas sociais cronotopicamente situadas em um espaço-tempo em mutação, em movimento. Os cronotopos ciberescola e ciberacadêmico relativamente determinam um horizonte de percepção e ação discente e docente que exige letramentos digitais e multiletramentos, para que, de fato, as tecnologias aconteçam em sala de aula. Esses cronotopos nos permitem ouvir não apenas as vozes da pesquisa mas também o silêncio do discurso que se cala e dá lugar à esperança de práticas tecnológicas cada vez mais eficazes e possíveis no ciberespaço educacional. É com esse espírito de uma educação cada vez mais fluída, liquida e leve que concluímos essas considerações finais. A pretensão é que o derretimento dos sólidos aconteçam, de fato, em todas instituições educacionais brasileira, no sentido de se permitir cada vez mais o letramento digital dos profissionais de ensino e dos alunos em todos os níveis de escolaridade; de se disponibilizar recursos tecnológicos e flexibilidade de acesso também para as instituições de ensino menos favorecidas; e ainda de se repensar cada vez mais o cenário educativo frente 130 às tecnologias digitais, considerando o dinamismo inerente aos processos sociais que, inevitavelmente, desencadeiam novas formas de relações interativas e práticas culturais. 131 REFERÊNCIAS AGUSTINI, Carmén Lúcia Hernandes; LEITE, João de Deus; GOUVEIA, Rony A. Planos de aula e língua portuguesa em plataformas virtuais: das projeções metodológicas às suas inconsistências. Linguagem e Ensino, Pelotas, v. 22, n. 1, jan./mar. 2019. ALMEIDA, Rubens Queiroz de. O leitor-navegador. In: SILVA, Ezequiel Theodoro da; FREIRE, Fernanda M. 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A2 - Sobre o uso e a potencialidade de programas online e aplicativos: experiências e expectativas de futuros professores de Alemão como Língua Estrangeira no Brasil - Com a finalidade de saber mais sobre o uso de plataformas e aplicativos de aprendizagem de idiomas por parte de futuros professores de alemão, os autores analisaram 62 questionários preenchidos por graduandos de cursos de licenciatura Português-Alemão no Brasil. A3 - Percepções de alunos de Letras-inglês para as potencialidades pedagógicas das tecnologias digitais - O objetivo deste artigo é apresentar a percepção de dois alunos do curso de Letras-Inglês sobre a aprendizagem com o uso das tecnologias digitais. v. 23, n 1 (2020) Sem publicação v. 22, n. 4 (2019) A4 - Elementos de gamificação presentes em Livros Literários Infantis digitais interativos em formato de Aplicativo (LLIA): análise de práticas multiletradas na formação de leitores - O presente estudo tem como objetivo analisar as práticas multiletradas mobilizadas pelos elementos de gamificação presentes em Livros Literários Infantis digitais interativos em formato de Aplicativos (LLIA) que contribuem para a formação do leitor literário na infância. A5 – Aquisição de vocabulário em inglês como língua estrangeira: o jogo The Sims - Este artigo tem como objetivo caracterizar a aquisição de vocabulário e o uso do jogo digital The Sims, e investigar se e como auxilia no aprendizado de vocabulário de inglês como língua estrangeira. Os dados coletados envolveram participantes de uma escola pública em Florianópolis, SC, Brasil. Os instrumentos utilizados foram um pré-teste, um pós-teste, e um pós-teste postergado, bem como a escrita de uma narrativa. file:///C:/Users/alban/Downloads/17110-62540-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17110-62540-1-PB.pdf https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/17340/11229 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/17340/11229 file:///C:/Users/alban/Downloads/16473-60124-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16473-60124-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16473-60124-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16642-60125-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16642-60125-1-PB.pdf 143 A6 - A gamificação e o ensino/aprendizagem de segunda língua: um olhar investigativo sobre o Duolingo - Este estudo aborda como ocorre o ensino/aprendizagem de segunda língua – por meio da educação on-line aberta – procurando responder se é possível aprender uma língua adicional e “como” isso acontece, tendo como viés o uso de tecnologias digitais e a gamificação do ensino. O objetivo foi alcançado por meio de um estudo qualitativo sobre o curso/aplicativo Duolingo – que se propõe a ensinar línguas utilizando características de gamificação. A7 - Gamificação na aprendizagem de inglês: uma análise sobre Recursos Educacionais Abertos, Motivação e Feedback - Neste artigo, apresenta-se uma análise sobre a inserção da gamificação em Recursos Educacionais Abertos (REA) para a aprendizagem de inglês a partir das definições de motivação e feedback, a fim de problematizar o uso da gamificação em tais REA. Apresenta uma análise de dados obtidos na realização de atividades gamificadas e não gamificadas para a aprendizagem de inglês por dois grupos de alunos através da ferramenta Ensino de Línguas Online (ELO). A8 - O Estado de Fluxo (Flow) na aprendizagem de alemão durante o uso da ferramenta Kahoot!: um olhar sobre o nível de desafio - Este trabalho tem como objetivo apresentar uma pesquisa de mestrado que foi desenvolvida com foco no Estado de Fluxo (doravante EF) de alunos durante o uso de atividades mediadas por uma ferramenta digital, o Kahoot! Trata-se, assim, de um recorte da referida pesquisa, no qual se lançam luzes sobre o desafio possibilitado aos alunos durante o uso de tal instrumento. A9 - Experiências de aprendizes de inglês da educação superior com o Kahoot - Neste texto, relata-se uma experiência de ensino-aprendizagem de língua inglesa com o uso do Kahoot. O estudo de caso foi realizado em um contexto de educação superior com sete participantes que estavam cursando Letras-Inglês no primeiro semestre de 2018. Os dados apresentados provêm da descrição da atividade, das respostas dos participantes a questionários e das narrativas de aprendizagem escritas por eles. A10 – O mundo hispanosem fronteiras: uma proposta de curso Mooc Gamificado - Este artigo relata a elaboração de cursos on-line abertos e massivos, utilizando a gamificação. Para isso, foi realizado um levantamento epistemológico sobre a temática dos Massive Open Online Course - MOOCs e da gamificação. Foi construído e ofertado um curso SPOC experimental sobre o ensino de língua estrangeira (espanhol) no ambiente virtual de aprendizagem (AVA) Moodle, visando a validação da proposta. A11 – Gamificação e aprendizagem de vocabulário L2: a Experiência Vocabox no programa idiomas sem fronteiras - Este estudo investigou uma intervenção gamificada de ensino de vocabulário, chamada de Vocabox Experience, que foi implementada no contexto do programa Idiomas sem Fronteiras (IsF). A pesquisa foi desenvolvida de forma colaborativa entre os professores e coordenadores do IsF, com dados sendo coletados com 32 alunos pelos doze professores de inglês e um coordenador. file:///C:/Users/alban/Downloads/16471-60126-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16471-60126-1-PB.pdf https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16434/10807 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16434/10807 file:///C:/Users/alban/Downloads/16458-60128-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16458-60128-1-PB.pdf https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16461/10809 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16461/10809 file:///C:/Users/alban/AppData/Roaming/Microsoft/Word/v file:///C:/Users/alban/AppData/Roaming/Microsoft/Word/v 144 A12 - Desenvolvimento de jogo digital educacional no RPG Maker MV para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem de ortografia da Língua Portuguesa - Este artigo relata o desenvolvimento de um jogo digital, a ser utilizado como recurso didático para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem de ortografia. O conteúdo didático do jogo foi elaborado em conjunto com uma professora de Língua Portuguesa e o jogo digital foi desenvolvido através do software RPG Maker MV. Os dados foram coletados em sessões de jogos e de entrevistas com alunos do 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Fortaleza/CE. A13 - Uma proposta de matriz de avaliação de jogos digitais para o ensino-aprendizagem-uso de língua adicional - Este estudo partiu do pressuposto de que a incorporação de tecnologias no ensino aprendizagem de línguas adicionais (L2) deve estar associada a práticas pedagógicas que efetivamente favoreçam a aprendizagem. Com esse objetivo, o estudo propõe uma matriz de avaliação de jogos digitais para o ensino- aprendizagem-uso de L2 com onze parâmetros testados em um levantamento de jogos digitais disponíveis online. v. 22, n. 3 (2019) A14 - Letramento acadêmico: dimensões mostradas e escondidas em rasuras em contexto digital - O objetivo deste artigo é analisar rasuras em artigos de opinião elaborados por acadêmicos, em contexto digital, verificando se elas poderiam sinalizar negociações (no sentido de Authier- Revuz, 1998) com dimensões escondidas das práticas de letramento acadêmicas. As rasuras analisadas emergiram de práticas escritas realizadas em uma disciplina de Leitura e Produção de Textos, de uma instituição privada. v. 22, n. 2 (2019) Sem publicação v. 22, n. 1 (2019) A15 - Planos de aula de língua portuguesa em plataformas virtuais: das projeções metodológicas às suas inconsistências - Neste artigo, são analisados e problematizados dois planos de aula de Língua Portuguesa disponibilizados em plataformas virtuais voltadas para o professor. Com base na Análise de Discurso, formulada por Michel Pêcheux, apostamos na perspectiva de que o acesso a essas plataformas, dependendo do uso e das finalidades, pode produzir o efeito de apagamento do lugar de professor. A16 – Ler e falar inglês dinamicamente (ReSPOnD): uma proposta de curso híbrido em língua inglesa na abordagem sala de aula invertida – A pesquisa busca propor material didático digital em língua inglesa, na perspectiva da sala de aula invertida, que possibilite efetivar a produção oral em uma abordagem de ensino de linguagem através da pedagogia dos gêneros. v. 21, n esp. (2018) A17 - (Des) construção da identidade docente: estudo de caso de ensino de inglês por videoconferência no Uruguay – O trabalho apresenta uma análise de como se (des)constrói a identidade docente quando se trata de duplas de trabalho que coexistem. A investigação se centra no modelo de ensino de inglês como língua estrangeira através de videoconferência. v. 21, n esp. (2018) A18 - Linguagem, conhecimento e tecnologia: a enciclopédia audiovisual da análise do discurso e áreas afins - O objetivo deste artigo é promover uma discussão sobre linguagem, produção de conhecimento e https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16464/10812 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16464/10812 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16464/10812 file:///C:/Users/alban/Downloads/16288-60133-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16288-60133-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16288-60133-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17149-58480-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/17149-58480-1-PB.pdf https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16129/10107 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/16129/10107 file:///C:/Users/alban/Downloads/16150-54903-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16150-54903-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/16150-54903-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15117-52716-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15117-52716-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15185-52789-1-PB.pdf file:///C:/Users/alban/Downloads/15185-52789-1-PB.pdf 145 tecnologia a partir de um projeto de pesquisa intitulado Enciclopédia audiovisual virtual de termos, conceitos e pesquisas em análise do discurso e áreas afins. Esse projeto tem como produto videoverbetes que circulam digitalmente com a finalidade de divulgação do conhecimento científico no campo de estudos de linguagem. v. 21, n. 2 (2018) Sem publicação v. 21, n. 1 (2018) A19 - O uso de tecnologias digitais abertas no ensino superior: comunidades da UFMG – O estudo busca refletir sobre o uso de tecnologias digitais abertas no Ensino Superior (especialmente Letras e Educação) e tem como premissa que a filosofia livre e aberta também gera conhecimento sobre métodos e metodologias e sobre ferramentas passíveis de utilização na educação. v. 20, n. 2 (2017) A20 - Desenvolvendo a autonomia do aprendiz de inglês como L2/LE com o auxílio da técnica da sala de aula invertida: um estudo de caso - Analisa se e como o trabalho com a sala de aula invertida (SAI) pode auxiliar os aprendizes de inglês como L2/LE a se tornarem mais autônomos por meio do uso do vídeo. A21 - Tecnologias digitais no ensino superior: implementação e avaliação de um curso online de formação docente - Investiga, com a análise de dados de linguagem, a contribuição de um curso on-line de formação continuada de professores com vista à integração das tecnologias digitais no Ensino Superior. v. 20, n. 1 (2017) A22 - Jogos digitais em sala de aula de língua inglesa: investigação de uma proposta de gestão pedagógica para o ensino - Investiga como jogos digitais podem ser inseridos no ensino de línguas a partir de uma proposta pedagógica que utiliza jogos digitais para aperfeiçoamento da Língua Inglesa. v. 19, n. 2 (2016) A23 - Tecnologia digital e ensino: breve histórico e seis elementos para a ação – Trata da relevância das tecnologias para o ensino da educação básica. v. 19, n. 1 (2016) Sem publicação v. 18, n. 2 (2015) A24 - Potenciais do podcast no aprimoramento dos fluxos informativosda educação formal – O estudo analisa as potencialidades da tecnologia podcast para servir aos fluxos informativos da educação formal, investigando a adequação do podcast, bem como examinando as implicações da associação da oralidade com a distribuição assíncrona digital promovida pela tecnologia. A25 - Os multiletramentos nas aulas de língua portuguesa no Ensino Médio – Investiga como professores de língua portuguesa do Ensino Médio trabalham os multiletramentos por meio dos gêneros discursivos em ambientes digitais, em suas aulas de leitura e como é tratada a multimodalidade constitutiva desses gêneros. v. 18, n. 1 (2015) A26 - Pedagogia dos multiletramentos e desafios para uso das novas tecnologias digitais em sala de aula no ensino de língua portuguesa - Busca apresentar algumas reflexões a respeito da importância das novas tecnologias nos processos de ensino e de aprendizagem por meio de projetos de iniciação científica desenvolvidos no espaço escolar. https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15149/9326 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15149/9326 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15235/9423 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15235/9423 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15235/9423 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15235/9423 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15235/9423 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15235/9423 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15244/9432 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15244/9432 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15216/9410 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15216/9410 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15260/9450 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15260/9450 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15284/9472 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15284/9472 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15285/9473 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15285/9473 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15301/9489 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15301/9489 146 A27 - Práticas de leitura no contexto acadêmico: a constituição histórica do sujeito-leitor e dos sentidos - Aborda práticas de leitura no contexto acadêmico com foco na caracterização dos modos de ler na/em rede e seus efeitos na formação do sujeito-leitor universitário. Busca compreender também a constituição histórica dos sujeitos-leitores e dos sentidos a partir do “dito” (pelo estabilizado dos recursos eletrônicos) e do “compreendido” (pelas discursividades possíveis) nos percursos de leitura/escrita realizados por universitários. v. 17, n. 3 (2014) A28 - Questões e controvérsias sobre uma experiência de curso via Facebook - Discute questões de letramento e de práticas de interação em um espaço virtual, por meio de uma disciplina de especialização ministrada com interações no Facebook. A29 – Leitura de múltiplos recursos online - Discute componentes da leitura on-line e como promover habilidades e estratégias que ela requer do leitor contemporâneo. Focaliza o trabalho com múltiplas fontes, discute o papel da navegação, localização, seleção e avaliação, entre outros processos requeridos dos leitores on-line produtivos. A30 - A ferramenta VoiceThread em uma abordagem híbrida: o desenvolvimento da produção oral de aprendizes de inglês como L2 - Verifica de que forma a prática com o Voice Thread, em uma abordagem híbrida, impacta a produção oral dos aprendizes de inglês como L2. A31 - Escrita digital colaborativa a partir da tecnologia wiki - Verifica de que forma a prática com o Voice Thread, em uma abordagem híbrida, impacta a produção oral dos aprendizes de inglês como L2; A32 - Processo de escrita de uma webaula: proposta de classificação das etapas da produção textual - Descreve o processo de escrita do gênero webaula a partir dos processos interacionais subjacentes à atividade de produção escrita, a fim de apresentar uma proposta de divisão das etapas de produção textual que colabore para a formação de professores autores em EaD. v. 17, n. 2 (2014) Sem publicação v. 17, n. 1 (2014) A33 - Por um enfoque pós-social fundamentado na Teoria Ator-Rede para os novos letramentos e para a inclusão digital – Discute as relações entre sujeito, linguagem, tecnologia e participação social com base em resultados de um projeto de pesquisa, concluído recentemente, em que foram investigados os letramentos digitais e não digitais de jovens universitários, de classe, gênero e etnicidade distintas. v. 16, n. 2 (2013) Sem publicação v. 16, n. 1 (2013) A34 - Atuação docente em fóruns de discussão on-line de um curso semipresencial de extensão universitária - Investiga os papéis desempenhados por professores na moderação de fóruns de discussão on- line em um curso semipresencial de extensão universitária e a percepção desses professores-moderadores sobre sua própria atuação. https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15305/9493 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15305/9493 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15312/9500 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15312/9500 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15313/9501 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15313/9501 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15313/9501 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15313/9501 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15313/9501 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15313/9501 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15315/9503 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15315/9503 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15315/9503 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15315/9503 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15316/9504 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15316/9504 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15316/9504 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15316/9504 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15317/9505 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15317/9505 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15317/9505 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15317/9505 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15317/9505 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15317/9505 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15443/9629 https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15443/9629 147 v. 15, n. 2 (2012) A35 - O (re)conhecimento da tradução em sala de aula: sobre uma experiência prática com tradutor automático online – O estudo tece reflexões sobre a prática tradutória com ferramentas de tradução on-line (tradutores digitais), partindo do processo e resultados de uma atividade realizada com alunos de graduação em Letras. V. 15, n. 1 (2012) A36 - Ensino de culturas estrangeiras em escolas brasileiras: um olhar sobre o discurso da mídia - Investigar como se constituem os discursos que circulam na mídia acerca do ensino de culturas estrangeiras em