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Macro IV
Prof. José Carlos Domingos da Silva
Crescimento econômico - Modelo de Solow (sem tecnologia)
Parte I – Hipóteses
[Solow, R. M. (1956). “A Contribution to the Theory of Economic Growth”, Quarterly
Journal of Economics, 70.]
Com o passar do tempo o país (a economia) segue uma trajetória de convergência,
em termos de crescimento econômico, para as condições de equilíbrio de longo prazo (de
estado estacionário).
O equilíbrio de longo prazo é estável e único.
Hipóteses iniciais do modelo de Solow
H1-
A função de produção ),( LKFY é representada por uma função do tipo Cobb-Douglas
que representa a oferta da economia e apresenta retornos constantes de escala. Ou seja,
para 0 , temos: �� = ��(�, �).
Dado que a função de produção apresenta retornos constantes de escala, podemos ter
L
1
, logo, podemos considerar a função de produção em termos per capita (ou em
termos de trabalho).
L
L
K
L
FY
L
LKFY
1
,
11
),( . Considerando y = Y/L e k
= K/L, temos )(kfy , onde as variáveis com denominações em letras minúsculas
estão em termos per capita. ou por trabalhador (y = produto ou renda per capita e k =
capital per capita).
Sendo assim, temos as seguintes condições para )(kf :
0)0( f ; 0
)(
)('
dk
kdf
kf ; 0
)(
)(''
2
2
dk
kfd
kf
2
Ou seja, a função de produção em termos de trabalho (ou per capita) apresenta
rendimentos marginais positivos em relação aos fatores de produção, porém decrescentes.
Em termos gráficos, temos:
H2- Tanto o fator de produção capital (K) quanto o trabalho (L) exibem rendimentos
marginais descrentes.
H3- A mão de obra (L) cresce à taxa exógena, sendo ainda, constante ao longo do tempo
(taxa n). Assume-se a taxa de crescimento da população (n) como taxa de crescimento da
Mao de obra. Onde a acumulação de trabalho é dada por. nTOeLL .
H4- A taxa de poupança (s) da economia é constante, positiva e exógena. Considerando-
se que 10 s . Onde s é uma fração da renda (produto) é a chamada propensão marginal
a poupar. Sendo, assim, s=1-c, onde c é a propensão marginal a consumir.
H5- A movimento da acumulação de capital é dada por KIK
. Considerando sYI
, temos que a função de acumulação de capital é dada por KsYK
. (onde �̇ é a
variação do estoque de capital no tempo).
H6- A contratação dos fatores de produção se dá de acordo com a igualdade dos seus
produtos marginais com as suas remunerações no caso do capital temos rPmg K e no
y=Y/L
k=K/L
0
y = f(k)
3
caso do trabalho wPmg L , onde r é a remuneração do capital (taxa de juros) e w é a
remuneração do trabalho (salário), ambos em termos reais saindo da condição de
maximização de lucro das firmas do mercado: wLrKLKpF ),( , onde p=1.
(observação: pela condição de primeira ordem de maximização do lucro da firma observa-
se tais igualdades).
Condição de primeira ordem para maximização do lucro ():
��
��
=
��(�, �)
��
− � = 0 → ���� = �
��
��
=
��(�, �)
��
− � = 0 → ���� = �
H7- Os mercados de fatores de produção e de produtos funcionam em concorrência
perfeita. Logo, não há lucro econômico, as remunerações dos fatores de produção
exaurem o produto, wLrKY . Temos: o que implica, pela condição apresentada
anteriormente, LPmgKPmgY LK .
H8- O destino do produto é dado por ICY , onde C é o consumo agregado (das
famílias) e I é o investimento agregado da economia. Temos que I=S e S=sY, onde S é
a poupança agregada e s, como definia anteriormente, é a propensão marginal a poupar
(ou taxa de poupança). Logo, o produto pode ser visto como sYCY , em termos per
capita ou por trabalhador: sycy
L
Y
s
L
C
L
Y
.
4
H9- Economia sem governo e fechada (em relação ao setor externo).
Algumas considerações
Considere uma função do tipo Cobb-Douglas
LKY )( .
i- Condição para que esta função seja adequada teoricamente para o Modelo de
Solow.
Para o Modelo de Solow é necessário que a função de produção exiba retornos de escala
constantes, logo, é necessário que 1)( . Onde alfa e beta são constantes positivas.
Torna-se necessário, ainda, que � ∈ (0,1) � � ∈ (0,1).
� = (��)�(���)
� = ����(����)
ii- Rendimentos marginais do trabalho.
Prova para L: Temos que: 1
)(
LK
L
Y
e
2
2
2
)1(
)(
LK
L
Y
. Logo, a condição
pra que haja rendimentos marginais decrescentes do fator trabalho é que 10 , pois
assim, 0)1(
)( 2
2
2
LK
L
Y
.
iii- produto per capita
Considerando 1 , a função de produção em termos per capita é será dada pela
expressão � = ��.
y=Y/L
k=K/L
0
y = f(k)
sf(k)
y
k
consumo
investimento
5
A produção se dá por � = ������. Em termos per capita (ou por trabalhador), tem-se:
�
�
=
������
�
=
��
��
= �
�
�
�
�
. Sendo � =
�
�
e � =
�
�
. A função de produção em termos per
capita (ou por trabalhador) é dada por � = ��
iv- Rendimentos marginais do capital per capita (considerando função de produção
em termos per capita).
Sendo a função em termos per capita em ky , como )1,0( , temos
0;01 kk
dk
dy e 0;0)1( 2
2
2
kk
dk
yd .
Logo, a função apresenta rendimentos marginais decrescentes.
v- As participações do capital e do trabalho (em termos %) no produto considerando
LKY )( .
O produto Y é dividido entre as remunerações de L e K ( ótica da renda) � = �� + ��.
Logo, a participação, em termos percentuais se dá por 1 =
��
�
+
��
�
. Sendo, � = ����
e � = ���� (as remunerações dos fatores de produção se dão de acordo com seus
produtos marginais). Logo, � = ����(�) + ����(�). E em termos de participações,
tem-se: 1 =
����(�)
�
+
����(�)
�
.
Sendo assim, tem-se a participação de L dada por:
����(�)
�
=
�
��
���
�
�
=
����������
����
= �
E a participação de K, é dada por:
����(�)
�
=
�
��
���
�
�
=
����������
����
= �
6
Parte II - Equação fundamental e equilíbrio de longo prazo
1- A equação fundamental do modelo de Solow
O modelo parte de três funções importantes:
Uma função de produção: � = �(�, �).
Uma função de acumulação no tempo é dada por �̇ = � − ��. Onde I é igual a
investimento agregado e é a taxa de depreciação do capital no tempo (exógena),
sendo � = �� (investimento é igual à poupança), sendo s a taxa de poupança
(exógena, � ∈ (0,1)), tem-se, �̇ = �� − ��.
Função de movimento e acumulação de trabalho, no tempo, dada por � =
���
��, onde n é a taxa de crescimento da mão-de-obra (população) constante e
exógena e t é o tempo.
A partir da função de produção (no nível) é possível obter uma função de produção em
termos per capita (ou por trabalhados)
)(
1
,
11
),( kfyL
L
K
L
FY
L
LKFY
Onde: y=Y/L (produto per capita ou por trabalhador) e k=K/L (capital per capita ou por
trabalhador).
Para se chegar à equação fundamental do modelo de Solow inicialmente é preciso
encontrar as taxa de crescimento do k (capital per capita) no tempo. Sendo que:
� =
�
�
.
Primeiro, aplica-se o logaritmo na expressão acima:
��(�) = ��(�) − ��(�)
Depois, deriva-se a expressão em logaritmo em relação ao tempo:
���(�)
��
=
���(�)
��
−
���(�)
��
7
Observação sobre a notação utilizada na sequência. Dada uma variável X:
i- A variação de X no tempo em termos contínuos é dado por
��
��
= �̇ (“X dote”). Em
termos discretos: �� − ���� = ∆�.
ii- A variação percentual de X é dada, em termos contínuos, por
�̇
�
. Em termos discretos
por
∆�
�
=
�������
����
.
A taxa de crescimento do primeiro termo:
���(�)
��
=
���(�)
��
��
��
=
�
�
�̇ =
�̇
�
A taxa de crescimento do segundo termo:
���(�)
��
=
���(�)
��
��
��=
�
�
�̇ =
�̇
�
A taxa de crescimento do terceiro termo:
���(�)
��
=
���(���
��)
��
= � =
�̇
�
.
��(���
��) = ��(��) + (��)��(�) , sendo que Ln(e) = 1.
Logo, em termos de taxas de crescimento no tempo, tem-se:
�̇
�
=
�̇
�
−
�̇
�
Sendo,
�̇
�
= �, e �̇ = �� − ��, tem-se:
�̇
�
=
�����
�
− �.
Deixando o produto e o capital no nível em termos per capita:
�̇
�
=
�
�
� − �
�
�
�
�
− � →
�̇
�
=
�� − ��
�
− �
�̇
�
=
�� − ��
�
− � →
�̇
�
� = �� − �� − �� → �̇ = �� − �� − ��
→ �̇ = �� − (� + �)�
8
como, no estado estacionário �̇ = 0 → �� = (� + �)�
Assume-se que, no estado estacionário �̇ = 0. Logo,
�����
�
− � = 0. Rearranjando os
termos, chega-se a equação fundamenta de equilíbrio de estado estacionário, equilíbrio
de longo prazo ou de crescimento balanceado, do modelo de Solow (sem tecnologia):
�� = (� + �)�
Considerando uma função de produção do tipo Cobb-Douglas � = ������, com � ∈
(0,1), em termos per capita dada por � = ��, taxa de poupança ‘s’, taxa de depreciação
‘’ e taxa de crescimento da mão-de-obra (população) ‘n’; podemos encontrar a solução
analítica para o capital per capita (k) e para o produto per capita (y).
��� = (� + �)�
Resolvendo para o capital per capita de estado estacionário, tem-se:
�
��
= �
�+�
→ � �
−�
= �
�+�
→ �
1−�
= �
�+�
→ �
∗
= �
�
�+�
�
1
1−�.
Considerando que a renda per capita é dada por � = ��, o produto per capita de estado
estacionário é dado por �∗ = �
�
���
�
�
���
.
9
Exemplo- Considere uma função de produção, em termos per capita, de uma economia
é � = �
�
�, onde y é o produto por trabalhador e k é o estoque de capital por trabalhador.
Sabe-se também que s (taxa de poupança) é 20%, n (taxa anual de crescimento
populacional) é 1% e (taxa de depreciação anual) é de 4%. Encontre o capital per capita
(k*) e o produto per capita (y*) de estado estacionário.
Temos: � = �
�
�. Sendo a equação fundamental dada por �� = (� + �)�, temos: ��
�
� =
(� + �)�. Levando-se em conta os parâmetros do enunciado do problema, temos:
0,20�
�
� = (0,01 + 0,04)�. Resolvendo para k, temos: 16*4
2
1
kk Logo
4*2
1
yky .
O investimento per capita (i) , sy, é igual a 0,80. E o consumo per capita (c) é igual a 3,2
(y = c + i, logo, c = y - i).
y
k
y =ka
(d+n)k
y*
k*
sy =ska
10
2- A taxa de crescimento do capital e do produto no nível (K e Y) no estado
estacionário
Em termos de taxas de crescimentos, para determinar o capital e o produto per capita de
estado estacionário se considera
�̇
�
=
�̇
�
−
�̇
�
. No estado estacionário,
�̇
�
= 0.
Consequentemente, observa-se, no estado estacionário, 0=
�̇
�
−
�̇
�
→
�̇
�
=
�̇
�
, sendo
�̇
�
=
�, ou seja, o estoque de capital no nível cresce à taxa de crescimento da população (n).
Em relação á taxa de crescimento do produto no nível, considere a função de produção
� = ������. Aplicando logaritmo, tem-se: ��(�) = ���(�) + (1 − �)��(�).
Derivando em relação ao tempo, chega-se a
�̇
�
= �
�̇
�
+ (1 − �)
�̇
�
. Sendo,
�̇
�
= �, e no
estado estacionário
�̇
�
= �. tem-se,
�̇
�
= �� + (1 − �)� = �. Ou seja, capital e produto no
nível, no estado estacionário, crescem à taxa n (taxa de crescimento da população).
3- O efeito de uma elevação da taxa de poupança o capital no nível, sobre o produto
no nível, sobre o capital per capita, sobre o produto per capita e suas taxas de
crescimento.
Dada uma elevação da taxa de poupança, observa-se uma elevação em k, y, K e Y. E a
economia terá um novo estado estacionário (SS1). A taxa de crescimento não se altera no
y
k
y1
* y = f(k)
s0f(k)
(+n)ky0
*
k0
* k1
*
SS1
SS0
s1f(k)
11
novo estado estacionário em relação às taxas que vigoravam no estado estacionário
anterior (SS0). Porém, somente na transição de (SS0) para (SS1). Tem-se:
- Para as variáveis no nível (K e Y):
�̇
�
> � e
�̇
�
> �.
- Para as variáveis per capita (k e y):
�̇
�
> 0 e
�̇
�
> 0 .
Parte III - Unicidade e estabilidade do equilíbrio de longo
De acordo com os pressupostos do Modelo de Solow, há um único equilíbrio de logo
prazo que caracteriza o estado estacionário da economia. Tal equilíbrio estável, ou seja,
caso a economia não esteja no seu estado de estacionário, com o passar do tempo, ela
convergirá para o estado estacionário.
Um passo antes de determinarmos a equação fundamental de estado estacionário,
observamos que �̇ = �� − (� + �)�.
�̇
�
=
�� − ��
�
− � →
�̇
�
� = �� − �� − �� → �̇ = �� − �� − �� →
→ �̇ = �� − (� + �)�.
Assumindo, no estado estacionário que �̇ = 0, tem-se, onde �� e o investimento da
economia e (� + �)� é o investimento requerido para a condição de estado estacionário,
�̇ = 0.
Logo, se:
�̇ > 0 , tem-se: �� > (� + �)�. Ou seja, o investimento é maior que o requerido para
contrabalancear a taxa (n+) que afeta negativamente o capital per capita.
�̇ < 0, tem-se: �� < (� + �)�. Ou seja, o investimento é menor que o requerido.
Em termos gráficos, para �̇ = �(�), variação do capital per capita em função do capital
per capita, tem-se:
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Note, que pelo gráfico, a condição de equilíbrio (de longo prazo) para k* é dada quando
�̇ = 0.
Se 0
k , temos knsy )( , ou seja, o capital per capita é crescente, neste caso o
investimento é maior que o requerido para dar conta de n+ (crescimento da população
(mão-de-obra) e a depreciação do estoque de capital no tempo).
Se 0
k , temos knsy )( , ou seja, o capital per capita é decrescente, neste caso o
investimento é menor que o requerido para dar conta de n+.
Temos, que por definição sy é o investimento per capita, ou seja, a parcela da renda
poupada se transforma em investimento (em termos per capita). E considerando uma
função de produção Y(. ) = K�L���, com α ∈ (0; 1), em termos per capita, � = ��. Logo
y apresenta rendimentos marginais decrescentes em relação à k, pois
���
���
< 0.
Note que, se �̇ > 0 implica em �� > (� + �)�. Ou seja, o investimento per capita (num
dado momento do tempo, faz com que a variação estoque de capital per capita supere
tanto a taxa de crescimento da população quanto a taxa de depreciação (em conjunto,
n+). Com o passar do tempo, observa-se (enquanto �̇ > 0 ) a dinâmica ↑ � →↑ � →↑ ��
(que é o investimento per capita) porém, como y apresenta rendimentos marginais
decrescente em relação k, o efeito ↑ � →↑ � é cada vez menor (a cada período do tempo),
o que torna o impacto no investimento per capita também cada vez menor (com o passar
do tempo). Ou seja, se �̇ > 0, a economia convergirá, invariavelmente, para �̇ = 0.
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Por outro lado, se, num dado momento do tempo, �̇ < 0, tem-se que �� < (� + �)�. O
investimento per capita não dá conta de (n+), logo, o estoque de capital em termo per
capita cai, com o passar do tempo. Por tanto se, num dado momento do tempo �̇ < 0, a
economia convergirá, invariavelmente, para �̇ = 0.
Tem-se assim que k* é o capital per capita que prevalecerá no longo prazo, uma condição
de estado estacionário, dado que �̇ = 0. Fato que torna tal equilíbrio de longo prazo (de
estado estacionário) único e estável.
O efeito de uma redução da taxa de poupança: