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Prévia do material em texto

2013
Ecologia E 
BiodivErsidadE
Profª. Iraci Alves 
Profª. Cláudia Sabrine Brandt
Profª. Edna Maria Alves
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Profª. Iraci Alves
Profª. Cláudia Sabrine Brandt 
Profª. Edna Maria Alves
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
577
A474e Alves, Iraci
 Ecologia / Iraci Alves; Cláudia Sabrine Brandt; Edna Maria 
Alves. Indaial : Uniasselvi, 2013.
 
 221 p. : il
 ISBN 978-85-7830-763-9
 I. Ecologia. II. Biodiversidade.
 1. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
 2. Alves, Iraci.
Impresso por:
III
aprEsEntação
Prezado(a) acadêmico(a)!
Considerando o compromisso do Grupo UNIASSELVI em garantir a 
qualidade do material disponibilizado para auxiliar no seu processo de 
aprendizagem, é sempre um desafio desenvolver um material de estudo 
que possa contribuir efetivamente para a formação de um profissional que 
seja capaz de ir além do saber, mas saber fazer, produto do conhecimento 
compartilhado e internalizado.
Neste sentido, este caderno busca fornecer subsídios para suas atividades 
de construção do conhecimento através da apresentação de temas relevantes 
à disciplina Ecologia e Biodiversidade. O processo de construção se deu 
no sentido de estimular o aprendizado do conteúdo apresentado em um 
material eficiente.
O conteúdo é rico em informações, entretanto não temos a pretensão de 
esgotar a discussão do tema e por isto foi necessário delimitar a abordagem. 
São apresentadas três unidades, subdivididas em tópicos cujo objetivo 
principal é estimular seu interesse e curiosidade no estudo da disciplina. 
Sugerimos algumas vezes outras fontes de informações que serão úteis para 
a consolidação do seu conhecimento.
A Unidade 1 do caderno apresenta, no Tópico 1, definições que possibilitam 
a compreensão dos conceitos básicos de Ecologia. No Tópico 2 são 
relacionados os fatores que influenciam o ambiente físico. O Tópico 3 trata 
da correlação entre clima e biomas e o Tópico 4 busca identificar a correlação 
entre meio físico e a disponibilidade de recursos naturais.
A Unidade 2 apresenta conteúdo que busca facilitar o conhecimento da 
dinâmica da estrutura das populações naturais, identificando as diferentes 
formas de interação ocorrentes entre os organismos. No Tópico 3 são 
apresentados conteúdos que possibilitam a compreensão dos padrões e 
processos existentes nas comunidades e, para finalizar a unidade, no Tópico 
4 são apresentadas as relações de fluxo de energia e matéria que regem a 
dinâmica dos ecossistemas.
Finalmente, a Unidade 3 aborda as aplicações da ecologia, onde são tratados 
temas atuais, como a Ecologia da Conservação, a Ecologia Humana e, 
fechando o caderno, o Tópico Desenvolvimento Sustentável. 
IV
Lembre-se de que a UNIASSELVI coloca à sua disposição tutores e demais 
colaboradores que podem contribuir neste modelo de educação a distância. 
 Sucesso em sua caminhada! 
 Profa. Cláudia Sabrine Brandt
 Profa. Edna Maria Alves
 Profa. Iraci Alves
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
UNI
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
UNIDADE 1 – VIDA E AMBIENTE FÍSICO .................................................................................... 1
TÓPICO 1 – ECOLOGIA BÁSICA ..................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 3
2 HISTÓRIA DA ECOLOGIA ............................................................................................................. 4
3 OS ORGANISMOS E O MEIO FÍSICO – CONCEITOS ............................................................ 6
RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 11
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 13
TÓPICO 2 – AMBIENTE FÍSICO ....................................................................................................... 15
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 15
2 POTENCIAL BIÓTICO ..................................................................................................................... 15
3 FATORES LIMITANTES FÍSICOS .................................................................................................. 17
4 MAGNIFICAÇÃO BIOLÓGICA DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS ......................................... 21
RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 23
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 25
TÓPICO 3 – BIOMAS ........................................................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 27
2 O QUE SÃO BIOMAS? ...................................................................................................................... 27
3 AS CONDIÇÕES QUE DETERMINAM A DISTRIBUIÇÃO DOS BIOMAS E 
 ADAPTAÇÃO DOS SERES VIVOS AOS PRINCIPAIS BIOMAS MUNDIAIS E
 BRASILEIROS ...................................................................................................................................... 27
3.1 OS PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES MUNDIAIS ............................................................. 31
3.2 BIOMA TUNDRA – ÁRTICA E ALPINA (ACIMA DAS ALTITUDES DE LIMITAÇÃO 
 DE ÁRVORES EM MONTANHAS ALTAS,MESMO NOS TRÓPICOS) .............................. 32
3.3 BIOMA FLORESTA BOREAL OU TAIGA OU BIOMAS DE FLORESTA DE 
 CONÍFERAS DO NORTE ............................................................................................................. 34
3.4 BIOMA FLORESTAS DECÍDUAS TEMPERADAS ................................................................... 35
3.5 BIOMA FLORESTAS PLUVIAIS TROPICAIS ........................................................................... 37
3.6 BIOMA CAMPOS (PRADARIAS OU ESTEPES) TEMPERADOS .......................................... 38
3.7 BIOMA CAMPOS TROPICAIS DO TIPO SAVANAS OU CERRADOS ................................ 39
3.8 BIOMA DE BOSQUE OU CAMPOS DE VEGETAÇÃO MEDITERRÂNEA ........................ 40
3.9 BIOMA DESERTO ......................................................................................................................... 41
3.10 PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES BRASILEIROS ............................................................. 42
3.11 FLORESTA AMAZÔNICA ......................................................................................................... 44
3.12 CERRADO ..................................................................................................................................... 45
3.13 CAATINGA .................................................................................................................................. 46
3.14 MATA ATLÂNTICA .................................................................................................................... 47
3.15 PANTANAL .................................................................................................................................. 49
3.16 PAMPA OU CAMPO SULINO .................................................................................................. 50
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................. 52
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................................... 57
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 59
sumário
VIII
TÓPICO 4 – MEIO FÍSICO E A DISPONIBILIDADE DE RECURSOS ..................................... 61
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 61
2 CONDIÇÕES AMBIENTAIS ............................................................................................................ 61
3 RECURSOS VEGETAIS .................................................................................................................... 62
4 ANIMAIS E SEUS RECURSOS ....................................................................................................... 63
RESUMO DO TÓPICO 4 ...................................................................................................................... 66
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 68
ATIVIDADE DE LABORATÓRIO E DIDÁTICO-PEDAGÓGICO DE BIOLOGIA ............... 69
UNIDADE 2 – ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS ..... 75
TÓPICO 1 – ORGANISMOS E POPULAÇÕES .............................................................................. 77
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 77
2 HISTÓRIAS DE VIDA DOS ORGANISMOS .............................................................................. 79
3 MONITORANDO A MORTALIDADE, A NATALIDADE E A DISPERSÃO DOS
 ORGANISMOS DE UMA POPULAÇÃO ...................................................................................... 82
3.1 TABELAS DE VIDA E CURVAS DE SOBREVIVÊNCIA ......................................................... 82
3.2 DISPERSÃO E MIGRAÇÃO ......................................................................................................... 85
RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 87
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 88
TÓPICO 2 – INTERAÇÕES ECOLÓGICAS ..................................................................................... 89
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 89
2 INTERAÇÕES INTRAESPECÍFICAS ............................................................................................. 89
2.1 SOCIEDADE ................................................................................................................................... 90
3 INTERAÇÕES INTERESPECÍFICAS ............................................................................................. 91
3.1 PREDAÇÃO .................................................................................................................................... 92
3.2 HERBIVORIA ................................................................................................................................. 93
3.3 PARASITISMO ............................................................................................................................... 94
3.4 AMENSALISMO ............................................................................................................................ 96
3.5 COMENSALISMO ......................................................................................................................... 96
3.6 PROTOCOOPERAÇÃO ................................................................................................................ 97
3.7 MUTUALISMO .............................................................................................................................. 98
4 A COMPETIÇÃO ................................................................................................................................ 100
4.1 RECURSOS ECOLÓGICOS .......................................................................................................... 100
4.2 RECURSOS LIMITANTES ............................................................................................................ 101
4.3 TIPOS DE COMPETIÇÃO ............................................................................................................ 101
4.3.1 Competição intraespecífica ................................................................................................. 102
4.3.2 Competição interespecífica .................................................................................................. 104
5 A EVOLUÇÃO DAS INTERAÇÕES ENTRE AS ESPÉCIES ...................................................... 105
RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 109
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 111
TÓPICO 3 – ECOLOGIA DE COMUNIDADES ............................................................................. 113
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 113
2 CADEIAS ALIMENTARES ............................................................................................................... 115
3 SUCESSÃO ECOLÓGICA ............................................................................................................... 116
LEITURACOMPLEMENTAR ............................................................................................................. 120
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 128
TÓPICO 4 – ECOSSISTEMAS ............................................................................................................ 129
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 129
IX
2 ENERGIA NOS ECOSSISTEMAS .................................................................................................. 129
3 CICLOS BIOGEOQUÍMICOS ......................................................................................................... 132
3.1 CICLAGEM DO NITROGÊNIO .................................................................................................. 133
3.2 CICLAGEM DO FÓSFORO .......................................................................................................... 135
3.3 CICLAGEM DO ENXOFRE ......................................................................................................... 136
3.4 CICLAGEM DO CARBONO ........................................................................................................ 137
3.5 CICLO HIDROLÓGICO ............................................................................................................... 139
4 CLASSIFICAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS ................................................................................... 140
RESUMO DO TÓPICO 4 ...................................................................................................................... 142
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 144
UNIDADE 3 – APLICAÇÕES ECOLÓGICAS ................................................................................. 145
TÓPICO 1 – ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO ............................................................................. 147
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 147
2 COMPREENDENDO OS PROCESSOS ......................................................................................... 147
3 BIODIVERSIDADE ............................................................................................................................ 148
4 ESTIMATIVA DA BIODIVERSIDADE ......................................................................................... 149
4.1 PADRÕES BIOGEOGRÁFICOS ................................................................................................... 152
5 AMEAÇAS À BIODIVERSIDADE .................................................................................................. 153
5.1 EXTINÇÃO E SUAS CAUSAS ..................................................................................................... 153
5.2 POLUIÇÃO ...................................................................................................................................... 158
5.2.1 A poluição da água ............................................................................................................... 158
5.2.2 A poluição do ar .................................................................................................................... 159
5.2.3 A poluição do solo ................................................................................................................ 163
6 CONSERVAÇÃO ................................................................................................................................ 164
6.1 O ESTABELECIMENTO DE NOVAS POPULAÇÕES ............................................................. 166
6.2 CONSERVAÇÃO IN SITU E EX SITU ................................................................................ 166
6.2.1 Zoológicos .............................................................................................................................. 167
6.2.2 Aquários ................................................................................................................................. 167
6.2.3 Jardins botânicos ................................................................................................................... 167
6.2.4 Bancos de sementes .............................................................................................................. 167
6.3 PLANEJAMENTO DE ÁREAS PROTEGIDAS ......................................................................... 167
6.4 MANEJO ......................................................................................................................................... 170
7 O VALOR ECONÔMICO DA BIODIVERSIDADE .................................................................... 172
7.1 OS CUSTOS AMBIENTAIS .......................................................................................................... 174
RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 175
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 176
TÓPICO 2 – ECOLOGIA HUMANA ................................................................................................. 177
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 177
2 O HOMEM E O AMBIENTE ........................................................................................................... 177
3 IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA AÇÃO DO HOMEM ................................ 179
3.1 ÁREAS URBANAS ........................................................................................................................ 179
3.1.1 Habitação ............................................................................................................................... 179
3.1.2 Resíduos sólidos ................................................................................................................... 181
3.1.3 Águas de abastecimento ...................................................................................................... 190
3.1.4 Poluição do ar ........................................................................................................................ 192
4 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS IMPACTOS ANTRÓPICOS NO MEIO AMBIENTE ........ 193
RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 194
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 195
X
TÓPICO 3 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................................................................. 197
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 197
2 ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE DESENVOLVIMENTO E 
 SUSTENTABILIDADE ................................................................................................................ 197
2.1 DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE ........................................................................ 198
2.2 CRESCIMENTO OU DESENVOLVIMENTO? ............................................................... 200
2.3 A ABORDAGEM DA SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO 
INTERNACIONAL ...................................................................................................................201
2.4 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL ............................................ 202
3 A AGRICULTURA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ............................ 203
3.1 AGRICULTURA SUSTENTÁVEL ............................................................................................... 205
3.2 AGRICULTURA FAMILIAR ................................................................................................. 208
3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................................................ 209
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................. 210
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................................... 214
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 215
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 217
1
UNIDADE 1
VIDA E AMBIENTE FÍSICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade você será capaz de:
• definir e compreender conceitos básicos de ecologia;
• relacionar fatores que influenciam o ambiente físico;
• identificar correlação entre clima e biomas;
• identificar correlação entre meio físico e disponibilidade de recursos.
A Unidade 1 está dividida em quatro tópicos, cujas atividades, no final de 
cada um deles, reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 – ECOLOGIA BÁSICA
TÓPICO 2 – AMBIENTE FÍSICO
TÓPICO 3 – BIOMAS
TÓPICO 4 – MEIO FÍSICO E A DISPONIBILIDADE DE RECURSOS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
ECOLOGIA BÁSICA
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! Você, provavelmente, já deve ter ouvido falar 
em ecologia e já deve ter uma noção sobre o tema. A palavra ecologia originou 
do grego oikos (casa) e logos (estudo) e tem como significado literal “estudo da 
casa”. Ecologia é a ciência que estuda a relação entre os seres vivos e os demais 
componentes do ambiente, ou seja, o estudo do ambiente, com seus fatores físicos, 
químicos e biológicos que afetam os organismos. 
A ecologia também pode ser definida, segundo os autores a seguir:
• Phillipson (1969): “o estudo das inter-relações entre o ser vivo e o seu ambiente 
físico, e com todos os outros organismos que vivem nesse ambiente”; 
• Odum (1977): o “estudo da estruturação e funcionalidade da natureza”; 
• Dajoz (1978): a “ciência que estuda as condições em que os seres vivos 
existem e suas interações com o seu meio”;
 
• Pianka (1983): o “estudo das relações entre os seres vivos e os fatores físicos e 
biológicos que os atingem, ou são afetados por eles, direta ou indiretamente”;
FONTE: Adaptado de: <http://www.ufpa.br/npadc/gpeea/artigostext/resumoEcologia.pdf >. 
Acesso em: 31 maio 2013.
• Lopes e Rosso (2005): a “Ecologia é uma área da biologia que se preocupa em 
estudar as relações entre os seres vivos e entre eles e o meio ambiente em que 
vivem.” 
Pelo fato de a ecologia procurar explicar fenômenos ambientais complexos, 
apoia-se em outras ciências, como a Química, Física, Climatologia, Geografia, 
Economia, Oceanografia, Geologia, Antropologia, Sociologia, Psicologia, e outros 
ramos da Biologia, como Botânica, Fisiologia, Zoologia, etc. 
A Ecologia como ciência é muito recente comparada à Física e à Química, 
consideradas ciências mais precisas. O seu entendimento quanto à estrutura e 
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
4
funcionamento dos ecossistemas necessita de comprovação e investigação frente 
às várias hipóteses, o que demanda ainda muitos estudos. Um exemplo desta 
problemática é a “teoria da seleção natural”, descrita inicialmente por Charles 
Darwin (1809-1882) e Alfred Wallace (1823-1913) e amplamente difundida através 
da obra “A origem das espécies pela seleção natural”, escrita por Darwin em 1859 
(PIANKA, 1983).
2 HISTÓRIA DA ECOLOGIA
Apesar de o pesquisador alemão Ernst Haeckel (figura a seguir) ter sido 
o primeiro a empregar a palavra ecologia, no ano de 1866, outros pesquisadores 
contribuíram no desenvolvimento desta ciência.
FIGURA 1 – BIÓLOGO ALEMÃO ERNST HAECKEL, PRIMEIRO 
CIENTISTA A EMPREGAR O TERMO ECOLOGIA, NO ANO DE 1866
FONTE: Disponível em: <www.eudesandradebiologo.blogspot.com>. 
Acesso em: 3 mar. 2013.
Essa contribuição ocorreu através de estudos das cadeias alimentares e 
regulação de populações por Anton van Leeuwenhoek e sobre a produtividade 
biológica com Richard Bradley, nos séculos XVIII e XIX. Ainda, Charles Darwin, 
em 1859, já considerava as inter-relações dos organismos, mesmo não tendo 
conhecimento mais profundo sobre a questão ecológica desta ciência. Já na 
segunda metade do século XIX, estudando a função comparada entre animais e 
vegetais, Forbes (1887) dividiu a ecologia em Ecologia Animal e Ecologia Vegetal. 
Möbius (1877), por sua vez, abordou os ambientes aquáticos marinhos, originando 
a ecologia dos oceanos. 
Para melhor explicar a função e a estrutura dos ecossistemas, a ecologia 
contou com o surgimento da Termodinâmica, da Estatística e da Cibernética, 
possibilitando o surgimento da Ecologia Humana. Através da observação do papel 
http://www.eudesandradebiologo.blogspot.com
TÓPICO 1 | ECOLOGIA BÁSICA
5
do homem no meio por Odum (1959) e sob a ênfase da subsistência e da evolução 
das populações humanas no meio, por König (1967) e Wallner (1972), foi possível 
considerar a relação dependente entre meio ambiente e o homem (socioeconomia 
e antropoecologia). Além disso, os estudos ecológicos foram subdivididos sob os 
seguintes enfoques: indivíduo e ambiente (autoecologia); população e ambiente 
(demoecologia); comunidade e ambiente (sinecologia). 
Mas foi no século XX que a ecologia foi reconhecida como um campo 
distinto da biologia e como ciência, através de uma teoria unificada baseada em 
estudos que produziram os conceitos: comunidades bióticas por F. E. Clements e 
V. E. Shelford, e cadeia alimentar e ciclagem de matéria por R. Linderman e G. E. 
Hutchinson (ODUM, 1988). 
Atualmente, é frequente a confusão entre os termos Ecologia Humana e 
Ecologia e Meio Ambiente, pelo fato do termo ecologia ser referido também como 
o estudo dos problemas ambientais causados pelas sociedades humanas, que na 
verdade abrange apenas o homem. Porém, é denominado Ecologia Humana o 
estudo focando o homem como um organismo, uma espécie animal e suas relações 
com o meio. 
Por outro lado, a questão ambiental, em nível global, vem tomando maior 
destaque desde o final da década de 60 e 70, devido às crescentes alterações 
ambientais causadas pela sociedade moderna. Nesse contexto é possível verificar 
que meio ambiente não é sinônimo de ecologia, mas uma área de ação dentro 
da ecologia que integra problemas ambientais. O manejo de ecossistemas se 
fundamenta em teorias ecológicas consistentes, baseadas em leis ambientais 
que visam a um equilíbrio entre as comunidades animais e vegetais, fontes de 
produtos úteis ao homem (conservação) e de conhecimento científico (conservação 
e preservação) para uso das próximas gerações, bem como, o desenvolvimento 
sustentável, trabalhando as necessidades presentes sem prejudicar as futuras. Por 
fim, a abordagem mais polêmica dada por esta parte da ecologia e o jogo existente 
entre os interesses econômicos e as ações políticas (ODUM; BARRET, 2008 apud 
SANTO; FERRARI, 2012). 
Cibernética é uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de 
máquinas, seres vivos e grupos sociais através de analogias com as máquinas eletrônicas. 
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cibernética>. Acesso em: 6 fev. 2013. 
NOTA
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
6
Os três principais ramos/áreas de estudo da ecologia foram determinados pelo 
botânico Carl Schroter no início do século XX, que são: 
Autoecologia: estudaas espécies (animal ou vegetal) a partir de suas relações com o meio 
ambiente, ou seja, como reagem separadamente a determinados fatores ambientais (clima, 
vegetação, relevo etc.). É um ramo científico clássico e atualmente seguido por poucos 
cientistas. 
Sinecologia: conhecida por ecologia comunitária, é voltada ao estudo das comunidades 
de seres vivos. Foca a distribuição das populações e suas relações ecológicas, demografia, 
deslocamento e quantidades. Ainda, examina as cadeias alimentares, as sucessões ecológicas 
e inter-relações entre predadores e presas. 
Demoecologia: também conhecida por dinâmica das populações ou ecologia das 
populações. Realiza o estudo de cada população separadamente.
 
FONTE: Disponível em: <www.todabiologia.com/ecologia/ramos_ecologia.htm>. Acesso 
em: 18 mar. 2013.
Atualmente novos ramos da ecologia estão surgindo como: a dinâmica 
de populações, ecologia humana, ecologia social, ecologia comportamental, ecologia 
matemática, entre outras. Dezenas de livros, jornais, periódicos, congressos e simpósios 
especializados em ecologia são lançados todos os anos, em todos os países do mundo.
A abordagem política da ecologia tem crescido muito, principalmente porque esta ciência é 
a que possibilita o entendimento das transformações causadas pelo homem no ambiente, 
e das suas consequências para a humanidade. O congresso mundial de meio ambiente, 
a ECO-92 e a Agenda 21 são exemplos de transformações políticas impulsionadas pela 
ecologia e pelas ciências ambientais.
 
FONTE: Disponível em: <www.terra.com.br>. Acesso em: 18 mar. 2013. 
3 OS ORGANISMOS E O MEIO FÍSICO – CONCEITOS
Vamos agora relembrar alguns conceitos básicos de ecologia. 
 
Os fatores abióticos (a= sem; bio= vida) são todos os elementos não vivos 
de um ambiente, tais como a luz solar, solo, ar, água e temperatura. Por outro lado, 
os fatores bióticos são todos os elementos vivos de um ambiente, ou seja, todos os 
seres vivos, tanto os aquáticos como os seres terrestres (Figura 2).
 Os seres vivos podem ser organizados em diferentes níveis de organização 
ecológica: célula – tecido – órgão – sistema de órgãos – organismo – população – 
ATENCAO
ATENCAO
TÓPICO 1 | ECOLOGIA BÁSICA
7
comunidade – ecossistema – paisagem – bioma – ecosfera (Figura 3), interagindo 
entre eles nos seus processos ou funções. Portanto, qualquer estado de organização 
da vida somente é mantido através de um fluxo de energia contínuo, pois passa 
por uma série de níveis diferentes de organização (ODUM; BARRET, 2008).
FIGURA 2 – OS FATORES BIÓTICOS E ABIÓTICOS DO ECOSSISTEMA SERRA DA MALCATA, A 
1075 METROS DE ALTITUDE – PORTUGAL
FONTE: Disponível em: <http://cn8-st.blogspot.com.br/2011/02/1-dinamica-dos-ecossistemas.
html#!/2011/02/1-dinamica-dos-ecossistemas.html>. Acesso em: 3 mar. 2013.
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
8
Conceitos Ecológicos
Espécie: é o conjunto de indivíduos semelhantes estruturalmente, 
funcionalmente e bioquimicamente que se reproduzem naturalmente, originando 
descendentes férteis. Apresenta uma propagação genética própria em resposta às 
pressões do ambiente ao longo da evolução. Assim, todos os organismos de Homo 
sapiens pertencem a uma mesma espécie, assim como ocorre, por exemplo, com 
organismos de Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná).
Organismo: é a unidade (indivíduo) fundamental da ecologia. É qualquer 
corpo vivo (unicelular ou pluricelular), ou seja, é um ser vivo individual (veja com 
maiores detalhes a Unidade 2). 
População: é o conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem em 
uma mesma área em um determinado período, e abrange a taxa de natalidade, a 
taxa de mortalidade, a proporção de sexos, a distribuição de idades, a emigração e 
FIGURA 3 – AS ESCALAS HIERÁRQUICAS DENTRO DE NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO 
ECOLÓGICOS NOS SEUS PROCESSOS E FUNÇÕES
FONTE: Disponível em: <www.ecopaisagem.wikispaces.com>. Acesso em: 3 mar. 
2013. 
TÓPICO 1 | ECOLOGIA BÁSICA
9
imigração etc. Ex.: indivíduos de aracuã (Ortalis guttata) vivendo em um fragmento 
florestal; cardume de uma espécie de peixe, entre outros (mais detalhes serão 
dados na Unidade 2).
Comunidade: é o conjunto de populações de várias espécies que sofrem 
interferência uma das outras, e que habitam um determinado espaço (região) em 
um determinado tempo (período). Ex.: o conjunto de seres vivos que habitam um 
rio ou lago, ou ainda uma área florestal, entre outros.
Ecossistema ou sistema ecológico: “Um sistema ecológico ou ecossistema 
é qualquer unidade que inclui todos os organismos (comunidade biótica), em 
uma dada área, interagindo com o meio físico de modo que um fluxo de energia 
leve a estruturas bióticas claramente definidas e à ciclagem de materiais entre 
componentes vivos e não vivos” (ODUM; BARRET, 2008). Ex.: cavidade bucal; 
floresta amazônica. 
FONTE: Adaptado de: <http://www.oficinacientifica.com.br/downloads/Ecossistemas.pdf>. 
Acesso em: 1 jun. 2013
Habitat: é o lugar preciso onde uma espécie vive, isto é, o seu “endereço” 
dentro do ecossistema que determina o comportamento de sobrevivência e 
reprodutivo da comunidade (local de abrigo, alimentação e reprodução). Ex.: o 
habitat de uma solitária Taenia solium é o intestino de outro animal; o solo é o 
habitat de minhocas. 
Biótopo: é a área física na qual determinada comunidade vive. Ex.: o habitat 
das piranhas é a água doce e o biótopo Rio Amazonas é o local onde vivem todos 
os seres vivos desse rio, inclusive as piranhas.
Nicho ecológico: o nicho ecológico pode ser definido como o total de 
necessidades e condições necessárias à sobrevivência de um organismo. É um 
espaço n-dimensional, no sentido de que há uma infinidade de propriedades 
envolvidas (ODUM, 1988).
Ecótono: é a região de transição entre duas ou mais comunidades/
ecossistemas. Nesta área de transição (ecótono) encontramos grande número de 
espécies, e consequentemente, grande número de nichos ecológicos. Ex.: floresta e 
campo, ambiente marinho e dulcícola, matas de cocais que consistem na transição 
entre o bioma amazônico e a caatinga. 
Biosfera: é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, de todas 
as formas de vida e que inclui a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera. Nesta faixa se 
encontram os gases oxigênio e nitrogênio, importantes para a vida (ODUM, 1988). 
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
10
O termo “biosfera” foi introduzido em 1875, pelo geólogo austríaco Eduard 
Suess. Entre 1920 e 1930 iniciou a aplicar o termo biosfera para designar “a parte do planeta 
ocupada pelos seres vivos. O conjunto de todas as partes do planeta Terra onde existe ou 
pode existir vida. Os seus limites vão desde as mais altas montanhas até as profundezas das 
fossas abissais marinhas”. Existem autores que consideram a Terra um verdadeiro ser.
Complemente seus conhecimentos, leia também: fatores abióticos e bióticos: 
<http://www.puc-campinas.edu.br/centros/ccv/Graduacao/Biologia/aulas/Aula03.pdf>.
<http://www.slideshare.net/teresacondeixa/factores-abiticos-temperatura-355512>.
<http://www.db-piracicaba.com.br/download/Fatores ecologicos.pdf>.
NOTA
DICAS
http://www.infoescola.com/ecologia/fatores-bioticos/
http://www.slideshare.net/teresacondeixa/factores-abiticos-temperatura-355512
11
Neste tópico você pôde concluir que:
• O termo ecologia foi empregado pela primeira vez em 1866, pelo zoólogo alemão 
Ernst Haeckel.
• Ecologia é a ciência que estuda a relação entre os seres vivos e os componentes 
do meio ambiente que afetam os organismos. 
• A ecologia se relaciona com outras ciências para explicar fenômenos ambientais 
que ocorrem nos ecossistemas, como: Química, Física, Climatologia, Geografia, 
Economia, Oceanografia, Geologia, Antropologia, Sociologia, Psicologia; e 
outros ramos da Biologia: Botânica, Fisiologia, Zoologia etc. 
• Depois do primeiro emprego da palavra ecologia, em 1869, com o alemão Ernst 
Haeckel, outros pesquisadores contribuíram no desenvolvimento desta ciência.
• Forbes (1887) subdividiu a ecologia em EcologiaAnimal e Ecologia Vegetal, na 
segunda metade do século XIX.
• Möbius (1877) abordou a ecologia dos oceanos. 
• A termodinâmica, a estatística e a cibernética contribuíram para melhor explicar 
a função e estrutura dos ecossistemas.
• A Ecologia Humana foi criada através da observação do papel do homem 
no meio, por Odum (1959) e sob a ênfase da subsistência e da evolução das 
populações humanas no meio, por König (1967) e Wallner (1972), designado de 
relação dependente (socioeconomia e antropoecologia). 
• No século XX, a ecologia foi reconhecida como um campo distinto da biologia e 
como ciência.
• Espécie é o conjunto de indivíduos semelhantes que se intercruzam, originando 
descendentes férteis. 
• Organismo é um ser vivo. A unidade fundamental da ecologia. Cada organismo 
é limitado por uma membrana (unicelulares) ou outra cobertura, no qual ocorre 
uma troca de energia e matéria com seu meio.
• População é o conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem numa 
mesma área em um determinado período.
RESUMO DO TÓPICO 1
12
• Comunidade é o conjunto de populações de várias espécies que habitam um 
determinado espaço em um determinado tempo.
• Ecossistema ou sistema ecológico é o conjunto dos fatores abióticos e bióticos 
que interagem.
• Habitat é o endereço de uma espécie dentro do ecossistema.
 
• Biótopo é a área física na qual determinada comunidade vive.
• Nicho ecológico é o conjunto de condições e recursos necessários à sobrevivência 
de um organismo. 
• Ecótono é a região de transição entre duas comunidades ou entre dois 
ecossistemas. 
• Biosfera é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, os seres vivos e o 
ambiente em que vivem (habitat). 
13
1 Dê o conceito biológico da palavra ecologia e apresente um argumento 
favorável e outro contrário às atividades dos grupos interessados apenas em 
tirar proveito próprio, sem o interesse científico e a seriedade que o assunto 
requer.
2 Assinale as alternativas incorretas e torne-as corretas:
a) Espécies são indivíduos morfologicamente diferentes, capazes de se 
reproduzirem e gerarem descendentes férteis.
b) População: indivíduos da mesma espécie presentes em áreas diferentes.
c) Comunidade: indivíduos de iguais espécies presentes em uma área.
d) Ecossistema: relação que ocorre entre a comunidade e os fatores abióticos.
e) Biosfera: maior ecossistema da Terra, parte não viva do planeta.
f) Habitat: papel “profissão” que o indivíduo desempenha na natureza.
AUTOATIVIDADE
14
15
TÓPICO 2
O AMBIENTE FÍSICO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Depois do contexto introdutório da ecologia, o que ela é? Qual é a sua 
função? E do que consiste? Podemos entender que no mundo natural encontramos 
componentes vivos e não vivos, onde um depende do outro. Em outras palavras, 
a vida depende do mundo físico e os seres vivos afetam o meio físico. 
Neste tópico veremos a influência do meio físico sobre a vida, ou seja, sobre 
os organismos e, consequentemente, sobre o seu grupo. O conjunto de todos os 
fatores físicos exerce influência sobre o crescimento, atividades, características e 
a distribuição de comunidades, em diferentes locais (regiões), determinando a 
diversidade de ambientes (RICKLEFS, 2003). 
2 POTENCIAL BIÓTICO
Em condições hipotéticas ideais, em que não houvesse mortalidade e 
nenhuma restrição à sobrevivência de uma população biológica, seu crescimento 
seria infinito, atingindo rapidamente um número elevadíssimo de indivíduos. 
Vamos pensar na reprodução de um casal de coelhos, que aos seis meses estão 
maduros sexualmente, e a cada dois meses se procriam gerando em média sete 
filhotes. Ao completar dois anos estes já somariam 3158 descendentes, e ao final de 
alguns anos somariam milhões de indivíduos, cuja capacidade de crescimento se 
denomina potencial biótico. A representação gráfica deste crescimento hipotético é 
visualizada por uma curva exponencial em forma de J (Figura 4). 
No entanto, em ecossistemas naturais não se observa tal potencial biótico. 
Observam-se populações relativamente estáveis na sua densidade, devido à 
resistência do meio, observando-se então o crescimento real. Isso ocorre porque todas 
as populações estão expostas a uma grande variedade e quantidade de fatores 
ambientais (bióticos e abióticos), que limitam o seu crescimento, cujo conjunto de 
fatores ambientais limitantes denomina-se resistência do meio. Esta resistência pode 
ocorrer devido à indisponibilidade de alimento, água, espaço, condições climáticas 
adversas e pelas relações com outras espécies, principalmente a predação e a 
competição (Figura 5) (RICKLEFS, 2003).
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
16
FIGURA 4 – GRÁFICO DE CRESCIMENTO REAL DE UMA POPULAÇÃO
FONTE: Disponível em: <http://falamorim.blogspot.com.br/2009/09/dinamica-das-
populacoes-analise-grafica.html>. Acesso em: 16 abr. 2013.
FIGURA 5 – FATORES AMBIENTAIS QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO REAL DE UMA
POPULAÇÃO
FONTE: Disponível em: <www.portalportinari.com.br/dw/ecologia.ppt>. Acesso em: 16 
fev. 2013.
De modo geral, uma população cresce em um ambiente favorável real 
obedecendo aos seguintes critérios:
• Primeiramente o crescimento populacional é baixo, pelo baixo número de 
indivíduos.
TÓPICO 2 | AMBIENTE FÍSICO
17
• Ocorre um aumento exponencial, à medida que o número de indivíduos vai 
aumentando.
• Sua densidade também aumenta, elevando a resistência do meio, diminuindo o 
crescimento populacional.
• É atingido um equilíbrio na taxa de natalidade e mortalidade (estabilização 
da densidade populacional), permanecendo constante. Graficamente esse 
crescimento tem forma sigmoide, em forma de S, caracterizando o limite 
máximo de indivíduos suportado pelo ambiente (capacidade de suporte do 
meio ou carga biótica máxima) (Figura 4) (RICKLEFS, 2003).
3 FATORES LIMITANTES FÍSICOS
Agora veremos os principais fatores abióticos que formam os diferentes 
ecossistemas distribuídos no planeta e a sua influência sobre o sucesso de um 
organismo, de um grupo de organismos, ou de uma comunidade biótica. Bem 
como, os fatores limitantes (qualquer condição que se aproxime ou exceda os limites 
de tolerância), ou seja, que se aproxime das necessidades mínimas de sucesso, em 
condições de estabilidade de uma comunidade (ODUM; BARRETT, 2008).
 
Os fatores climáticos (luz, temperatura, umidade e pluviosidade) caracterizam 
o clima de uma região, e os fatores edáficos, como a composição química e a estrutura 
do solo, classificam os diferentes fatores abióticos. Esses fatores nada mais são 
do que as condições ambientais, ou seja, as características físicas e químicas 
do ambiente e não são consumidas nem esgotadas durante as atividades dos 
organismos, criando assim o Macroclima ou Clima Regional e o Microclima particular 
a que um organismo vivo está sendo submetido (ODUM; BARRETT, 2008).
Segundo Odum e Barrett (2008), os principais fatores limitantes físicos 
(fatores abióticos) de um ecossistema natural são:
 A luz, energia indispensável ao desenvolvimento das plantas, através do 
processo da fotossíntese, que capta a energia luminosa, tendo como fonte o sol. Com 
exceção das espécies cavernícolas (que vivem em cavernas) e das espécies abissais 
(que vivem em grandes profundezas), todos os seres vivos necessitam de luz 
solar. A luz também influencia a distribuição dos seres vivos e suas características 
morfológicas (fenótipo). 
Desta forma, os seres vivos, cada um na sua espécie, conseguem sobreviver 
entre um limite de temperatura, denominado por limite térmico ou Lei do Mínimo 
de Liebig. E para que suas atividades vitais possam ser desenvolvidas ao máximo, 
deverão se encontrar na faixa da temperatura ótima. 
A água é outro fator indispensável para a sobrevivência dos organismos 
e das comunidades. Sua importância se dá tanto nas atividades celulares e 
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
18
fisiológicas dos seres vivos (transpiração e condução das seivas), como também, no 
ponto de vista ecológico, já que,nos ambientes terrestres e aquáticos, a salinidade 
pode variar muito, causando a perda de água dos organismos por osmose. Por 
isso, a chuva, a umidade, a evaporação e a disponibilidade superficial de água são 
os principais fatores abióticos de um ecossistema. 
Os gases atmosféricos, como o oxigênio e o gás carbônico, também são 
essenciais para a vida no planeta Terra (fotossíntese e respiração), em ambientes 
terrestres e aquáticos, assim como a concentração de íons de hidrogênio, que estão 
diretamente relacionados ao pH da água (habitat de muitos organismos). 
E por fim, o vento e as enchentes também são considerados fatores 
limitantes aos seres vivos, porque o meio atmosférico e o hidrosférico não são 
estáveis. Por isso, são fatores que contribuem para o aumento ou diminuição da 
produção de espécies em nível de ecossistema. 
Não se pode esquecer a disponibilidade de nutrientes (macronutrientes 
e micronutrientes) também essenciais à vida dos animais e vegetais, por serem 
elementos e compostos necessários ao funcionamento das atividades vitais dos 
organismos vivos.
Além dos fatores abióticos, temos os fatores bióticos que limitam o 
crescimento e reprodução de organismos e comunidades (parasitismo, competição 
e predação). 
Segundo Ricklefs (2003), o pesquisador russo Georgyi F. Gause, em 
seus experimentos, demonstrou através da produção de duas populações de 
protozoários (Paramecium aurelia e Paramecium caudatum), que duas populações não 
podem coexistir por muito tempo no mesmo habitat, especialmente quando ocorre 
a sobreposição de nichos de duas ou mais espécies, denominado por Princípio de 
Gause ou Princípio da Exclusão Competitiva. Assim, após certo período, uma das 
populações poderá apresentar um crescimento gradual enquanto outra poderá 
declinar (Figura 6). Além disso, o aumento da densidade populacional também 
poderá levar à diminuição da natalidade e assim, o aumento da mortalidade, 
proporcionando flutuações populacionais, bem como o estresse ambiental (secas, 
erupções vulcânicas etc.). Os indivíduos sobreviventes é que transmitirão esse 
potencial genético às futuras populações.
Entre as fontes de estresse ambiental encontramos: as físicas (condições 
extremas de calor, umidade, luz, radiações em geral) descritas anteriormente, 
a poeira e outros poluentes, que serão descritos na Unidade 3, que tratam da 
influência do homem sobre o meio ambiente e este (ambiente físico) sobre os 
organismos vivos, e as biológicas (predadores, parasitas – inclusive patógenos), além 
da deficiência ou excesso de nutrientes específicos. Na Figura 7 podemos ver 
um exemplo de adaptação de indivíduos às mudanças ambientais e ao estresse, 
estudada pela Fisiologia Ambiental. 
TÓPICO 2 | AMBIENTE FÍSICO
19
FIGURA 6 – CRESCIMENTO DAS POPULAÇÕES DE DUAS ESPÉCIES DE 
PARAMÉCIO, OBTIDAS POR GAUSE, CULTIVADAS NO MESMO RECIPIENTE, 
MOSTRANDO A EXTINÇÃO DO PARAMECIUM CAUDATUM PELA FORTE 
COMPETIÇÃO COM O PARAMECIUM AURELIA
FONTE: Disponível em: <www.portalportinari.com.br/dw/ecologia.ppt>. Acesso em: 
16 fev. 2013.
Linha superior representa P. aurelia e a linha inferior representa P. caudatum.
FIGURA 7 – O ESTRESSE AMBIENTAL COMO LIMITANTE, OCASIONANDO 
FLUTUAÇÕES POPULACIONAIS
FONTE: Disponível em: <www.portalportinari.com.br/dw/ecologia.ppt>. Acesso em: 16 
fev. 2013.
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
20
Por fim, um organismo ou grupo apresenta uma taxa mínima ou máxima 
de tolerância à deficiência ou ao excesso de um fator ambiental, que pode limitar 
seu desenvolvimento e reprodução, chamado de Lei da Tolerância de Shelford (Figura 
8). A este espectro (mínimo e máximo) de tolerância denomina-se Amplitude 
Ecológica, que poderá ser larga ou estreita, para cada um dos fatores ecológicos. 
Ex.: disponibilidade de alimento (fator limitante dependente da densidade) e 
frio (fator limitante independente da densidade). Quanto mais um organismo ou 
grupo estiverem próximos deste limite, maior será o estresse ambiental (tendo que 
usar todos os seus artifícios) para sua sobrevivência, e quando um organismo ou 
grupo volta ao seu nível normal, esta capacidade recebe o nome de Resiliência.
FIGURA 8 – AMPLITUDE ECOLÓGICA DE UM ORGANISMO OU 
POPULAÇÃO, COM O LIMITE MÁXIMO PARA UM FATOR E LIMITE 
MÍNIMO PARA OUTRO FATOR – LEI DA TOLERÂNCIA DE SHELFORD
FONTE: Disponível em: <www.portalportinari.com.br/dw/ecologia.ppt>. 
Acesso em: 16 fev. 2013.
FIGURA 9 – UM EXEMPLO DE AMPLITUDE DE TOLERÂNCIA DE UMA POPULAÇÃO, COM 
O LIMITE INFERIOR E LIMITE SUPERIOR DE TOLERÂNCIA TÉRMICA
FONTE: Disponível em: <http://www.slideshare.net/popecologia/fatores-limitantes>. 
Acesso em: 18 fev. 2013. 
^
estresse estresse
TÓPICO 2 | AMBIENTE FÍSICO
21
4 MAGNIFICAÇÃO BIOLÓGICA DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS
Magnificação biológica ou trófica é a concentração acumulativa de 
algumas substâncias através da distribuição de energia, via cadeia alimentar, pelo 
comportamento de certos radionuclídeos persistentes (césio-127, estrôncio-90, 
plutônio-239 e o fósforo radioativos etc.), pesticidas (à base de hidrocarbonetos 
clorados), metais pesados encontrados em tintas, agrotóxicos, indústrias têxteis 
etc. ((cádmio (Cd), chumbo (Pb), zinco (Zn), mercúrio (Hg), cobre (Cu), entre 
outros), benzopireno (hidrocarboneto liberando combustão, ação cancerígena), 
entre outros. 
Radionuclídeos são substâncias radioativas usadas no diagnóstico e tratamento 
de problemas de saúde, a serviço da medicina nuclear em hospitais, clínicas e laboratórios, 
fiscalizados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Os radionuclídeos são 
usados no mundo desde 1940 e no Brasil iniciou-se em 1955, cuja denominação genérica 
dos exames da medicina nuclear denomina-se cintilografia, fundamental para o diagnóstico 
e tratamento de inúmeras doenças, em fase bastante precoce. Além disso, o avanço 
tecnológico tem permitido o uso de radionuclídeos que emitem radiações que ficam menos 
tempo no organismo e não lhe causam danos. Um exemplo desse avanço se observa na 
radiação cósmica de um voo Rio-São Paulo, que é mínima e ainda superior comparada aos 
exames administrados atualmente na medicina nuclear.
 
FONTE: Disponível em: <http://www.ien.gov.br/noticias/midia_arquivo/oglobo_280201.
htm>. Acesso em: 20 de mar. de 2013.
Por não serem biodegradáveis, permanecem nos ecossistemas e entram 
na cadeia alimentar, passando aos diferentes níveis tróficos (produtores aos 
consumidores). Como apenas 10% da matéria e energia são efetivamente 
absorvidos pelo nível trófico imediatamente superior, estes necessitam consumir 
uma biomassa 10 vezes maior do que a sua própria (veja Unidade 2). Por isso, a 
passagem de matéria e energia a partir dos produtores e destes aos consumidores 
é sempre numa concentração acumulativa e crescente. Dessa forma, uma maior 
acumulação destas substâncias ocorre nos organismos que se encontram no topo 
da cadeia alimentar, incluindo o homem. Como exemplo pode-se citar o DDT 
(dimetil-difenil-tricloroetano) ou mesmo o BHC (benzeno-hexaclorito), criado 
após a resistência de algumas espécies ao DDT. Estes inseticidas (combatem 
piolhos, moscas, mosquitos e pragas da lavoura no mundo todo) são biocidas 
originalmente usados para matar insetos, mas que interferem diretamente sobre 
peixes, aves e outros consumidores. 
As aves são extremamente vulneráveis a estes biocidas, pois estes interferem 
na formação da casca do ovo, fazendo com que se quebrem antes do término de seu 
NOTA
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
22
desenvolvimento. Deste modo, pequenas concentrações podem não ser letais para 
alguns indivíduos, mas para a população (diminuição do número populacional). 
Esses e outros pesticidas e agrotóxicos, embora proibidos, ainda continuam sendo 
industrializados e comercializados, pondo em risco a saúde do homem, de outros 
animais e do ambiente (PEAKALL, 1967; HICKEY; ANDERSON, 1968 apud 
ODUM; BARRETT, 2008).
Segundo pesquisas, metais pesados encontrados no lodo de esgotos 
industriais, em área urbanaou bacias hidrográficas, podem ser magnificados 
biologicamente através da cadeia alimentar. Estudos mostraram que minhocas do 
gênero Lumbricus, detritívoras, acumularam 30 vezes mais cádmio do que níveis 
encontrados no solo; 60 vezes mais do que encontrado nas plantas Poa, e mais de 
100 vezes acima dos níveis encontrados em rins de arganaz-do-prado (Microtus), 
durante o décimo ano de aplicação de lodo de esgoto, no local do experimento 
(veja maiores detalhes deste experimento em CARSON, 1962; LEVINE et al., 1989; 
e BREWER et al., 1994). Os autores citados anteriormente propõem que estes 
animais são indicadores entre os detritívoros e monitores dos efeitos do lodo ao 
longo do tempo, principalmente durante a sucessão secundária desta paisagem 
(ODUM; BARRET, 2008). 
23
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você pôde concluir que:
• No ambiente natural, os fatores ambientais podem limitar indivíduos e 
populações, influenciando o crescimento, atividades, características e a 
distribuição de comunidades, para diferentes locais (regiões), determinando a 
diversidade de ambientes. 
• Potencial biótico é a capacidade de sobrevivência de uma população biológica 
em condições hipotéticas ideais, sem nenhuma restrição de sobrevivência 
(crescimento infinito). O que em ecossistemas naturais não se observa. Observam-
se populações relativamente estáveis na sua densidade, devido à resistência 
do meio (indisponibilidade de alimento, água, espaço, condições climáticas 
adversas e pelas relações com outras espécies, principalmente a predação e a 
competição), observando-se então o crescimento real. 
• Fatores limitantes: são quaisquer condições que se aproximem ou excedam os 
limites de tolerância (se aproximem das necessidades mínimas de sucesso), em 
condições de estabilidade de uma comunidade.
• Os fatores abióticos se subdividem em: fatores climáticos (luz, temperatura, 
umidade e pluviosidade) e os fatores edáficos (composição química e a estrutura 
do solo); criando o Macroclima ou Clima Regional e o Microclima, particular a 
que um organismo vivo está sendo submetido.
• Os principais fatores limitantes físicos (fatores abióticos) de um ecossistema 
natural são:
• Luz, energia indispensável ao desenvolvimento das plantas, através do 
processo da fotossíntese, que capta a energia luminosa, tendo como fonte 
o sol.
• Temperatura, cada espécie de seres vivos consegue sobreviver entre um 
limite de temperatura, denominado limite térmico ou Lei do Mínimo de 
Liebig, para o desenvolvimento de suas atividades vitais. 
• Água, indispensável para a sobrevivência dos organismos e das 
comunidades (atividades celulares e fisiológicas dos seres vivos – 
transpiração e condução das seivas).
• Os gases atmosféricos como o oxigênio e o gás carbônico são essenciais 
para a vida no planeta Terra (fotossíntese e respiração), em ambientes 
terrestres e aquáticos. E a concentração de íons de hidrogênio, diretamente 
relacionados ao pH da água.
24
• Disponibilidade de nutrientes (macronutrientes e micronutrientes) 
também é essencial à vida dos animais e vegetais (elementos e compostos 
necessários ao funcionamento das atividades vitais dos organismos vivos).
• Vento e enchente também são fatores limitantes dos seres vivos, contribuem 
para o aumento ou diminuição da produção de ecossistemas, no nível de 
espécies.
• Os fatores bióticos limitam o crescimento e reprodução de organismos e 
comunidades (parasitismo, competição e predação).
• O Princípio de Gause se refere a duas populações que não podem coexistir por 
muito tempo em um mesmo lugar, principalmente quando ocorre a sobreposição 
de nichos de duas ou mais espécies.
• Flutuação populacional ocorre com o aumento da densidade populacional, 
levando à diminuição da natalidade e ao aumento da mortalidade. 
• Estresse ambiental natural se refere a secas, erupções vulcânicas etc.
• As fontes de estresse ambiental: físicas (condições extremas de calor, umidade, 
luz, radiações em geral) e biológicas (predadores, parasitas – inclusive patógenos), 
deficiência ou excesso de nutrientes específicos. 
• A Lei da Tolerância se refere a um organismo ou grupo que apresentam uma taxa 
mínima ou máxima de tolerância para os fatores ecológicos.
• Amplitude ecológica é um termo que se refere ao espectro mínimo e máximo de 
tolerância. 
• Resiliência é a capacidade de um organismo ou grupo voltar ao nível normal, 
após ter passado por um estresse ambiental.
• Magnificação biológica consiste na acumulação de substâncias nocivas, via cadeia 
alimentar. 
25
1 O que você entende por fator ecológico?
2 Em que condições um fator ecológico desempenha o papel de fator limitante?
3 O que diz o enunciado da Lei de tolerância?
4 Quando uma população está em resiliência?
5 O potencial biótico é observado em ecossistemas naturais? Justifique.
6 Diferencie organismos euritérmicos de estenotérmicos.
AUTOATIVIDADE
26
27
TÓPICO 3
BIOMAS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Como vimos no tópico anterior, a ecologia estuda a relação e a influência 
dos componentes do meio ambiente com os seres vivos. Assim, o meio ambiente 
inclui os elementos do clima, do solo, da água, de organismos, de uma população 
ou de uma comunidade. Neste tópico veremos as caracterizações dos biomas 
terrestres brasileiros e mundiais.
Vamos lá!
2 O QUE SÃO BIOMAS?
Biomas são grandes comunidades de plantas e animais dos ecossistemas 
de terra firme sob a influência da latitude e altitude. Os biomas podem ser “um 
grande biossistema regional ou subcontinental caracterizado por um tipo principal 
de vegetação ou outro aspecto identificador da paisagem” (ODUM, 1985). 
3 AS CONDIÇÕES QUE DETERMINAM A DISTRIBUIÇÃO DOS 
BIOMAS E A ADAPTAÇÃO DOS SERES VIVOS AOS PRINCIPAIS 
BIOMAS MUNDIAIS E BRASILEIROS 
A influência do clima e a latitude determinam os diferentes tipos de biomas 
terrestres. Os principais ambientes onde se desenvolvem os biomas são os campos, 
florestas, desertos, praias e montanhas. 
Entre as florestas pode-se destacar a floresta tropical úmida, a floresta 
temperada, a floresta de mangues e a floresta de coníferas. Entre os variados 
campos, a campina, a pradaria, a savana, o pampa, a tundra, a estepe, o cerrado, 
a taiga etc. A caatinga, que é característica entre o campo e o deserto; e, por fim, 
os desertos como o do Saara, do Gobi e o do Arizona, todos com características 
diferenciadas (Figuras 10 (a), (b), (c) e 11) (ODUM; BARRET, 2008). 
28
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
O crescimento das plantas está diretamente relacionado com o clima, 
formando os grandes tipos vegetais. Os grandes tipos de vegetação podem ser 
usados para classificar ecossistemas em categorias chamadas biomas. Fatores 
como o solo, a sazonalidade climática, os incêndios e a paisagem influenciam 
adicionalmente o caráter dos biomas. 
As abordagens usadas para a classificação de biomas são: a abordagem 
de zona climática de Walter, que classifica as regiões com base no clima, dentro 
das quais o tipo característico de vegetação normalmente se desenvolve, e a 
abordagem simplificada de vegetação de Whittaker (1975), que classifica as regiões. 
Adicionalmente a vegetação geralmente reflete o clima local (RICKLEFS, 2003).
As distribuições geográficas de plantas nas escalas continentais são determinadas 
principalmente pelo clima e latitude, enquanto as distribuições locais dentro das regiões 
podem variar de acordo com a topografia e com os tipos de solos (RICKLEFS, 2003).
O clima afeta profundamente a evolução das plantas e dos animais, que se 
tornam especializados para condições particulares do ambiente físico. Consequentemente, 
cada região apresenta suas características vegetais, que diferem na forma de crescimento, 
na morfologia foliar e na sazonalidade da folhagem (RICKLEFS, 2003).
ATENCAO
IMPORTANT
E
TÓPICO 3 | BIOMAS
29
FIGURA 10 – (a): EFEITO DA ALTITUDE E LATITUDE SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DOS PRINCIPAIS 
BIOMAS DO MUNDO
FONTE: Disponível em: <www.geografiaparatodos.com.br>.Acesso em: 6 mar. 2013.
FIGURA 10 – (b) BIOMAS
FONTE: Disponível em: <www.japassei.pt>. Acesso em: 6 mar. 2013.
30
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
FIGURA 10 – (c) BIOMAS
FONTE: Disponível em: <www.picstopin.com> Acesso em: 6 mar. 2013.
FIGURA 11 – OS PADRÕES DE WHITTAKER (1975) DAS FORMAÇÕES VEGETAIS NO 
MUNDO, BASEADOS NA RELAÇÃO DAS MÉDIAS ANUAIS DE PRECIPITAÇÃO (cm3) 
COM AS MÉDIAS ANUAIS DE TEMPERATURA (°C). 
FONTE: Disponível em: <http://www.unicamp.br/fea/ortega/eco/iuri10a.htm>. 
Acesso em: 25 fev. 2013. 
TÓPICO 3 | BIOMAS
31
3.1 OS PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES MUNDIAIS
As zonas de biomas climáticos estão amplamente divididas, de acordo 
com as suas latitudes norte e sul do Equador, em zonas tropicais, temperadas, 
boreais e polares. Dentro destas zonas latitudinais, o nível anual de precipitação e 
sua sazonalidade distinguem ainda mais os biomas. Dentro das zonas climáticas 
temperadas, os grandes biomas são as florestas sazonais, florestas úmidas e 
campos/desertos. 
Nas latitudes mais baixas dentro das zonas temperadas estão os bosques 
e arbustos de clima mediterrâneo. Os desertos subtropicais se situam entre as 
zonas climáticas tropicais e temperadas. Em latitudes maiores, encontram-se as 
florestas boreais, normalmente consistindo em árvores de acículas com folhagens 
persistentes e baixas taxas de crescimento sobre solos ácidos e pobres em nutrientes, 
e a tundra, um bioma sem árvores que se desenvolveu nos solos permanentemente 
congelados ou permafrost. 
As zonas climáticas tropicais são formadas por florestas pluviais perenes 
e florestas sazonais que vão desde florestas parcial e completamente decíduas até 
florestas de espinhos em climas mais secos, e, às vezes, savana, um campo com 
árvores esparsas que é mantido pelas pressões do fogo e da pastagem (RICKLEFS, 
2003) (Figuras 12 a e b).
FIGURA 12 – (a): LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DOS PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES MUNDIAIS
FONTE: Disponível em: <www.profwladimir.blogspot.com>. Acesso em: 6 mar. 2013. 
32
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
FIGURA 12 – (b): TIPOS DE VEGETAÇÃO E LOCALIZAÇÃO
FONTE: AUDESIRK; AUDESIRK, 1996. Disponível em: <www.crv.educacao.mg.gov.br>. Acesso em: 
6 mar. de 2013. 
Classificação dos biomas a seguir relacionados, segundo Whittaker (1975), 
e as zonas climáticas do mundo de acordo com o curso anual da temperatura e da 
precipitação, segundo Heinrich Walter (1986). 
3.2 BIOMA TUNDRA – ÁRTICA E ALPINA (ACIMA DAS
ALTITUDES DE LIMITAÇÃO DE ÁRVORES EM MONTANHAS
ALTAS, MESMO NOS TRÓPICOS)
É um bioma terrestre importante da América do Norte, encontrado nos 
países escandinavos, Sibéria, Canadá e Alasca. Essa zona climática polar fica 
localizada entre 60º e 80º de latitude norte, nas proximidades do Círculo Polar 
Ártico, apresentam uma temperatura média anual abaixo de -5ºC. O ar seco e a 
escassez de chuvas e muita neve formam um típico deserto polar. 
As estações climáticas se resumem em inverno e verão. No inverno, as 
temperaturas ficam entre -28ºC e -34ºC, com período de luminosidade curto e 
noites longas. Grandes camadas de gelo recobrem o solo. 
http://www.crv.educacao.mg.gov.br
TÓPICO 3 | BIOMAS
33
O verão, por sua vez, dura cerca de três meses, com temperatura máxima 
não ultrapassando os 10ºC. As noites são ausentes ou curtas, fazendo com que 
o período de luminosidade seja longo. Durante o degelo ocorre a formação 
de pântanos/grandes brejos e várias lagoas, porque as águas superficiais 
não conseguem penetrar no subsolo, que fica permanentemente congelado, 
denominado permafrost. Consequentemente a vegetação é perene e baixa, sem 
árvores, composta por gramíneas, ciperáceas (ervas), musgos e líquens, o solo 
apresenta baixa taxa de decomposição. 
Em relação à fauna, no solo existem poucos invertebrados pequenos e 
populações de herbívoros como os lemingues (pequenos roedores), ratos e lebres 
árticas. Entre os carnívoros há linces, aves predadoras migratórias, como as 
corujas, gaivotas e ptármigas (aves do tamanho de um pombo), e mamíferos, como 
as doninhas, ursos-polares, lobos, raposas, entre outros (ODUM; BARRET, 2008; 
TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006; RICKLEFS, 2003) (Figura 13).
FIGURA 13 – TUNDRA ÁRTICA – AMÉRICA DO NORTE 
FONTE: Disponível em: (a) <www.ciencias.seed.pr.gov.br> (b) <www.ecoanimateca.net.br>. 
Acesso em: 11 mar. 2013.
Nas regiões de “Tundras”, as aves e os mamíferos possuem várias adaptações 
evitando a perda do calor corporal através da diminuição das extremidades corporais, como 
orelhas, caudas e patas. Além disso, apresentam espessa plumagem e pelagem (TOWNSEND; 
BEGON; HARPER, 2006).
NOTA
34
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
3.3 BIOMA FLORESTA BOREAL OU TAIGA OU BIOMAS DE 
FLORESTA DE CONÍFERAS DO NORTE 
A floresta boreal se estende a 50ºN na América do Norte e cerca de 60ºN 
na Europa e Ásia, com extensões que vão desde as montanhas até os trópicos. O 
clima é parecido ao da tundra, com temperatura anual média abaixo dos 5ºC e 
precipitação entre 400 e 1.000mm. Devido a essa alta precipitação, os solos são 
úmidos durante a maior parte da estação de crescimento da vegetação. 
As temperaturas no inverno (durante a metade do ano) podem chegar 
a -60ºC, havendo um curto período de luminosidade. O congelamento do 
solo dificulta a absorção de água pelas raízes, ocorrendo a seca fisiológica 
(árvores desfolhadas). Isso fez com que a vegetação se adaptasse a estas baixas 
temperaturas (tolerância), assim como às estações de crescimento (verão) que 
não duram mais de 100 dias, período de luminosidade maior e cuja temperatura 
pode chegar aos 20ºC. 
Durante o verão a paisagem vai mudando com o derretimento do gelo, 
formando-se pântanos e vários lagos, que permitem que a vida se torne abundante 
nesta estação, apesar da diversidade de espécies ser baixa. A flora é composta 
por cedros, abetos perenes do gênero Picea, pinheiros do gênero Abies e Pinus, 
bem como por laricas decíduas, coníferas do gênero Larix, de 10-20m de altura, 
com folhas aciculadas (em forma de agulha) e grossa cutícula (evitar excesso de 
transpiração).
 
As florestas de coníferas estão entre as regiões de grande produção 
de madeira do mundo (ODUM; BARRETT, 2008). Os troncos apresentam um 
espesso súber (cortiça) para o isolamento térmico e proteção dos tecidos internos. 
A densa sombra que se estende o ano todo proporciona pouco desenvolvimento 
de camadas de arbustos e de ervas e, devido ao congelamento do solo, a 
decomposição da serapilheira de acículas (produz ácidos orgânicos) é lenta, 
acumulando-se na superfície do solo, formando solos ácidos, podzolizados e de 
baixa fertilidade. 
A fauna de solo é composta por populações razoáveis de invertebrados, 
além de vertebrados herbívoros como o alce, lebre-da-pata-branca (dependem das 
angiospermas), esquilos, pintassilgos, pardais e muitas outras aves migratórias 
(sementes de coníferas), ursos, lobos, raposas (ODUM; BARRETT, 2008; 
TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006; RICKLEFS, 2003) (Figura 14).
TÓPICO 3 | BIOMAS
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FIGURA 14 – FLORESTA DE CONÍFERAS NA FRANÇA
FONTE: Disponível em: <www.franca-trabalhodegeo.blogspot.com>. 
Acesso em: 11 mar. 2013.
3.4 BIOMA FLORESTAS DECÍDUAS TEMPERADAS
As florestas decíduas temperadas originalmente cobriam a América do 
Norte, no leste dos Estados Unidos e sul do Canadá, parte da Europa Ocidental e 
no leste da Ásia, e Hemisfério sul (Nova Zelândia e sul do Chile). O reflexo desse 
grau de isolamento é a diversidade na composição de suas espécies. As chuvas 
são abundantes e bem distribuídas o ano todo (75 a 150 cm3), e temperaturas 
moderadas formando um padrão sazonal distinto (-30ºC e 30ºC). 
Nas latitudes mais baixas (Flórida e Nova Zelândia), os invernos são 
amenos (pouca geada e seca), com árvores latifoliadas perenifólias, cuja estação 
de crescimento dura cerca de 180 dias. Já ao norte (latitudes altas) das Florestas 
de Maine e meio-oeste superior dos Estados Unidos, as estações são fortemente 
marcadas, o inverno é curto, com seis meses de baixas temperaturase muita neve, 
com uma estação de crescimento vegetativo que dura aproximadamente 130 dias. 
Há predomínio de árvores decíduas, cujas folhas caem no outono, tornando-
se dormentes após grande transferência do seu conteúdo mineral para o seu corpo 
lenhoso. No outono, à medida que a temperatura cai, as folhas da vegetação de 
médio e grande porte e arbustos ficam avermelhadas ou amareladas e caem. Por 
isso, muitos autores denominam estas florestas de temperada caducifólia (folhas 
envelhecem e caem), havendo um grande contraste entre o verão e o inverno, onde no 
inverno a vegetação das florestas perde completamente suas folhas. Na primavera, 
as temperaturas vão aumentando gradativamente, assim como, as chuvas. 
36
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
Nas camadas de estratificação entre as árvores decíduas dominantes e as 
ervas e arbustos, que são bem desenvolvidas, a floração e o crescimento destes dois 
tipos de vegetação se completam antes do início da primavera, que é quando as 
árvores dominantes completam a sua cobertura com folhas. O solo é abundante em 
material orgânico, como também a biota do solo (decomposição folhas e frutos). Com 
exceção das partes mais secas e quentes do bioma da floresta sazonal temperada, 
principalmente onde os solos são arenosos e pobres em material orgânico, tendem 
a se desenvolver florestas acículas, dominadas por pinheiros, predominantemente 
na América do Norte (planícies costeiras do Atlântico e dos estados do Golfo dos 
USA) e no oeste e sudeste dos Estados Unidos, onde os incêndios são frequentes 
e a maioria das espécies está adaptada/resistência aos danos do fogo. A vegetação 
variada é formada por belotas e castanheiras (produzem frutas com polpa e nozes), 
carvalhos-vermelhos (espécie longeva), bordo (colonizadores de clareiras), faia 
etc. A fauna também apresenta uma grande diversidade, como insetos sazonais, 
de ciclos de vida curtos (comedores de folhas), aves migratórias (joão-de-barro e 
várias espécies de pica-paus, característico de estágios florestais maduros, entre 
outros), que retornam na primavera, veados, ursos, esquilo-cinza, raposa-cinza e 
dourada, lince e peru selvagem (ODUM; BARRETT, 2008; TOWNSEND; BEGON; 
HARPER, 2006; RICKLEFS, 2003) (Figura 15).
Segundo Odum e Barrett (2008), entre os principais tipos de floresta decídua 
madura da América do Norte está a floresta de faia-bordo, floresta de bordo-tília, 
floresta de carvalho-nogueira, floresta de carvalho-castanheira das montanhas 
Apalaches (atualmente apenas uma, devido à destruição por doenças de fungos), 
floresta mesofítica mista do platô dos Apalaches e floresta edáfica de pinheiros da 
planície costeira do sudeste.
FIGURA 15 – (a) FLORESTA TEMPERADA ÚMIDA EM WASHINGTON (b) FLORESTA TEMPERADA 
DA CHINA
FONTE: Disponível em: (a) <www.meioambiente.culturamix.com>. (b) <www.picstopin.com>. 
Acesso em: 11 mar. 2013.
TÓPICO 3 | BIOMAS
37
3.5 BIOMA FLORESTAS PLUVIAIS TROPICAIS
As florestas pluviais tropicais se estendem em três regiões dos trópicos. 
A primeira constitui a floresta pluvial americana, que se localiza nas bacias do 
Amazonas e do Orinoco da América do Sul, com áreas adicionais na América 
Central e ao longo da costa atlântica do Brasil. A segunda encontra-se na 
África Ocidental (bacia do Congo), e a terceira cobre parte do Sudeste da Ásia 
(Índia, Malásia, Tailândia) e parte da Austrália. O clima é sempre quente, com 
temperaturas geralmente altas (21ºC e 32ºC), grande precipitação, pelo menos 
2000 mm anuais, e não abaixo de 100 mm em qualquer mês e grande umidade 
relativa do ar (transpiração dos vegetais). Esta floresta pluvial é extremamente 
estratificada, cujas árvores formam cinco camadas, que se distinguem em 
árvores emergentes ocasionais entre 50 e 60 metros de altura (acima camada 
dossel), geralmente decíduas, mesmo em floresta pluvial perene; as árvores 
da camada do dossel, formando um tapete contínuo de 25 a 35m de altura; 
o estrato de árvores mais baixas de 15 a 24 m de altura, tornando-se mais 
denso quando aparecem clareiras da quebra do dossel; os arbustos e árvores 
jovens, que se encontram em sombra profunda; e as camadas de herbáceas 
formadas por ervas e gramíneas altas, entre elas as lianas lenhosas (cipós) e as 
epífitas (orquídeas, samambaias, bromélias). A luminosidade é alta (incidência 
de radiação solar), principalmente na copa das árvores (temperaturas mais 
altas), que filtram a radiação solar (fotossíntese), permanecendo mais escuro 
nos estratos inferiores, aumentando a umidade e com menor temperatura, 
comparado aos estratos superiores. A produtividade fotossintética pode ser 
superior a 1.000 g de carbono fixado por metro quadrado ao ano, devido à 
alta radiação solar e chuvas regulares e abundantes. Neste bioma encontra-se a 
maior biodiversidade de espécies, comparado aos outros biomas encontrados 
no planeta Terra. Por isso, a preocupação, na comunidade científica, da 
necessidade da preservação de grandes áreas de floresta tropical como recurso 
genético. Estima-se que mais de 50% das espécies animais e vegetais do planeta 
se encontrem em florestas tropicais. A rápida degradação da matéria orgânica 
(alta temperatura e umidade), que acelera a decomposição da serapilheira 
sobre o solo, é rapidamente absorvida pelas raízes das árvores, tornando o solo 
geralmente pobre e vulnerável à perturbação. A fauna é rica em biodiversidade, 
com milhares de espécies de insetos, muitas espécies de aves, onças, primatas, 
capivaras, antas, tartarugas, cobras, jacarés, peixes, anfíbios etc. E por fim, 
nas áreas montanhosas dos trópicos encontramos a floresta pluvial montana 
(terras baixas), que vai ficando progressivamente menos alta com a elevação da 
altitude, aumentando a biomassa das epífitas, se direcionando para uma floresta 
de neblina anã e ao longo da margem e leitos dos rios, denominada de floresta 
de galeria ou às vezes de mata ciliar (ODUM; BARRETT, 2008; TOWNSEND; 
BEGON; HARPER, 2006; RICKLEFS, 2003) (Figura 16 a; b). 
38
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
FIGURA 16 – (a) FLORESTAS TROPICAIS ÚMIDAS, ILUSTRADA PELA VEGETAÇÃO AO LONGO 
DO RIO SEGAMA, NO BORNÉO, (b) FLORESTAS TROPICAIS MUNDIAIS
FONTE: Disponível em: (a) <http://www.unicamp.br>. (b) <www.infoescola.com>. Acesso 
em: 11 mar. 2013.
3.6 BIOMA CAMPOS (PRADARIAS OU ESTEPES) TEMPERADOS
As grandes áreas de pradarias temperadas se estendem desde o interior da 
América do Norte e da Eurásia, ao Sul da América do Sul (pampas argentinos) e da 
Austrália. Nestes locais ocorre uma baixa umidade do ar, com precipitações que ficam 
entre as que ocorrem nos desertos, 250 a 750 mm/ano (regiões temperadas), e nas 
áreas de florestas, que passam dos 1000 mm/anuais (regiões subtropicais). Segundo 
Odum e Barret (2008), existem três tipos de pradarias, determinados pelo volume de 
precipitação, na América do Norte e dividido entre zonas que vão do Leste-Oeste, que 
são: “pradaria alta, típico das regiões bem úmidas, com gramíneas de 2 a 3m de altura 
e raízes bem profundas (grandes capins-vassoura Andropogon gerardii, branqueja 
Panicum virgatum, capim-do-banhado Sorghastrum nutans, entre outros); a pradaria 
mista, com grande diversidade florística de 1 a 2 metros de altura (pequenos capins-
vassoura Andropogon ecoparius, capim-agulha Stipa spartea, capim-mourão Sporobolus 
heterolepis, grama-de-ponta Agropyron smithii, capim-de-junho Koeleria cristata e capim-
arroz Oryzopsis hymenoides), presente em solos muito férteis; e, por fim, a pradaria 
baixa, com gramíneas de pequeno porte de 0,1 a 0,5m de altura (capim-de-búfalo 
Buchloe dactyloides, grama-azul Bouteloua gracilis, outras gramas Bouteloua spp., capim-
do-campo Poa spp., cevada Bromus spp.), além de pouca diversidade de espécies”. 
As temperaturas variam desde 38ºC (verão) a 0ºC (inverno). A vegetação é herbácea 
fechada adaptada a pouca disponibilidade de água no solo, mas é fértil em matéria 
orgânica, pela decomposição, típico de clima temperado. Estes campos também são 
conhecidos por “veldt”(África do Sul), “estepe” (Ásia), “pradarias” (América do 
Norte) e “pampa” (América do Sul). A flora, como citado anteriormente, não necessita 
de grande quantidade de água para se desenvolver, mas necessita do fogo, através 
das queimadas naturais, para a renovação do substrato das gramíneas, bem como ao 
ciclo de vida das gramíneas típicas das pradarias. Mas quando mal conduzida através 
de queimadas criminosas, atividade agropecuária desordenada, florestamentos para a 
TÓPICO 3 | BIOMAS
39
produção de celulose (monocultura), podem causar enormes perdas ambientais, como 
a desertificação. A flora é composta por diversas espécies de gramíneas, já citadas 
anteriormente, como também por herbáceas e alguns arbustos, e árvores típicas de 
clima quente e seco. Nas pradarias, a fauna é composta por cabras muito usadas em 
áreas de pastagens (criação de gado). E pelos animais nativos como os ratos do campo, 
espécies de cabras, bois, raposas, bisões, pequenos antílopes, búfalos, lebres, cães-da-
pradaria, entre outros (ODUM; BARRETT, 2008; TOWNSEND; BEGON; HARPER, 
2006; RICKLEFS, 2003; PLANETABIO, 2013). (Figura 17 a; b).
FIGURA 17 – (a) ESTEPE NORTE-AMERICANA E (b) PAMPAS SULINOS, BRASIL
FONTE: Disponível em: <www.geografiadoalfredo.blogspot.com>. Acesso em: 11 mar. 2013.
3.7 BIOMA CAMPOS TROPICAIS DO TIPO SAVANAS OU 
CERRADOS
A maior área se encontra na África, as “savanas africanas”, parte da Austrália, 
e na América do Sul, “o cerrado brasileiro” e os “pampas argentinos”. As savanas 
são campos com árvores esparsas, que se espalham nos trópicos secos, limitando o 
crescimento da vegetação, cujos climas tropicais frequentemente apresentam uma ou 
duas estações de secas prolongadas. Os incêndios e as migrações dos pastejadores são 
importantes para a manutenção das características deste bioma, e quando o fogo for 
de forma controlada neste habitat de savana, a floresta seca começa a se desenvolver. 
As precipitações sazonais, nos locais mais quentes, chegam à média de 1000 a 1500 
mm/ano (pouca umidade), que é maior no verão e geralmente seco no inverno, 
restringindo a diversidade de espécies animais e vegetais na savana. Assim, as estações 
são reguladas pelas precipitações e não pela temperatura, como nos campos de clima 
temperado. As temperaturas variam de acordo com a latitude: no cerrado brasileiro 
varia entre 10ºC (inverno) e 38ºC (verão), na savana africana as médias anuais ficam 
acima de 20ºC. No Brasil chove principalmente entre outubro e março. Devido à forte 
sazonalidade, com abundância de sementes e insetos, as savanas podem suportar 
grandes populações de aves migratórias, mas poucas espécies encontram recursos 
para o ano inteiro. A flora é composta por espécies de gramíneas, herbáceas, arbustos 
40
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
ou árvores de pequeno porte, como: barbatimão, jacarandá, entre outros; e acácias na 
savana africana, com raízes de mais de 10 metros (absorção água do lençol freático). A 
fauna na savana africana é composta por elefantes, rinocerontes, antílopes, guepardos, 
hienas, leões, zebras, girafas, leopardos; no cerrado brasileiro encontra-se: emas, lobo-
guará, tamanduá, onça, suçuarana, veado-campeiro, porcos selvagens (queixada e 
caititus), tatu etc. (ODUM; BARRETT, 2008; TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006; 
RICKLEFS, 2003) (Figura 18).
FIGURA 18 – SAVANAS AFRICANAS
FONTE: Disponível em: (a) <http://www.unicamp.br>. (b) <www.brasilescola.com>. Acesso 
em: 11 mar. 2013.
3.8 BIOMA DE BOSQUE OU CAMPOS DE VEGETAÇÃO 
MEDITERRÂNEA
O clima mediterrâneo encontra-se principalmente no sul da Europa 
Ocidental, com pequenos trechos ao sul da Califórnia (Hemisfério Norte), no Chile 
Central (região do Cabo da África do Sul) e sudoeste da Austrália (Hemisfério 
Sul). O clima é ameno, caracterizado por temperaturas de inverno moderado (0ºC) 
e chuvas moderadas, mais intensas no inverno e outono (500 e 1000 mm/ano), e o 
verão é quente e seco, com uma grande amplitude térmica: durante o dia (próximo 
30ºC), caindo bruscamente à noite. Cujo clima proporciona uma vegetação 
arbustiva, espessa, perene (1-3m altura), com raízes profundas e folhas pequenas e 
duráveis (vegetação esclerofilosa – folha dura), como maquis (vegetação mais densa 
e fechada) e o gaguirres (arbustos de pequeno porte e esparsos), com predomínio 
de arbustos/plantas xerófitas (adaptação à perda excessiva água por transpiração), 
cutícula espessa e tronco com casca grossa (carvalho, cactáceas, alecrim, oliveiras, 
loureiro, alfazema etc.). A maioria dos vegetais apresentam sementes resistentes 
ao fogo, que renascem após o fogo. Os animais mais frequentes são: insetos, javalis, 
veados, coelhos, répteis e muitas espécies de aves migratórias (ODUM; BARRETT, 
2008; TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006; RICKLEFS, 2003) (Figura 19).
TÓPICO 3 | BIOMAS
41
FIGURA 19 – FLORESTA DO MEDITERRÂNEO – COIMBRA, PORTUGAL
FONTE: Disponível em: <www.naturlink.sapo.pt>. Acesso em: 11 mar. 2013.
3.9 BIOMA DESERTO 
O termo deserto refere-se às áreas secas, que quase não recebem chuva; 
dependendo da zona climática em que se localizam, apresentam suas características 
típicas. Os desertos subtropicais das Américas desenvolvem-se em latitudes de 20º a 
30º norte e sul do Equador, com alta pressão atmosférica, chuvas esparsas (menos 
de 250 mm/ano) e estações de crescimento vegetal longo, que com a presença das 
chuvas de verão, muitas plantas herbáceas, como os arbustos creotoso (Larrea 
tridentata) são dominantes, suculentos cactos (Carnegiea gigantea) e pequenas 
árvores como a mesquita e o palo verde (Parkinsonia) e as sementes dormentes 
crescem rapidamente e se reproduzem antes que o solo seque novamente. As 
plantas dos desertos subtropicais não resistem aos invernos gelados. Devido à 
baixa precipitação, o solo é raso (aridossolos), com ausência de matéria orgânica 
e de pH neutro, formação de muitos lençóis freáticos nas camadas inferiores, e há 
muitos depósitos de sal. No deserto de clima continental, com baixa precipitação e 
invernos frios, como nos desertos do Great Basin, encontra-se a sálvia (Artemisia) 
como vegetação dominante. Os principais desertos se encontram na África (Saara 
e Kalahari), Emirados Árabes, Argentina, Bolívia, Tibete, Chile (Atacama), China, 
México, Austrália e Estados Unidos. Existe uma grande amplitude térmica: no 
deserto do Atacama (Chile), durante o dia a temperatura chega aos 40ºC, caindo à 
noite para 0ºC, e no deserto do Saara (maior deserto do mundo) já chegou a 57ºC 
durante o dia e pode cair a 0ºC à noite. Segundo estudos, aparentemente, os únicos 
lugares em que quase não ocorre precipitação ou nenhuma chuva localizam-se no 
centro do Saara e no norte do Chile. A flora é composta por plantas xerófitas, folhas 
pequenas ou transformadas em espinhos, folhas com cutícula espessa, poucos 
estômatos ou contidos em criptas. As raízes são longas, para poderem absorver 
água nos lençóis freáticos, com predomínio de cactáceas. A fauna é composta por 
animais adaptados a pouca água. A maioria apresenta hábitos noturnos (evitar 
excesso de transpiração), como os roedores, insetos, escorpiões, cobras, lacraias e 
42
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
lagartos. Os camelos e dromedários conseguem atravessar grandes áreas do deserto 
africano e do Oriente Médio sem beber água, porque seus tecidos toleram um grau 
de desidratação que seria fatal para a maioria dos animais (ODUM; BARRETT, 
2008; TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006; RICKLEFS, 2003) (Figura 20 a; b).
FIGURA 20 – (a) DESERTO DO WHITE SANDS, NOVO MÉXICO; (b) DESERTO DO SAARA, ÁFRICA
FONTE: Disponível em: (a) <http://www.unicamp.br>, (b) <www.brasilescola.com>. Acesso 
em: 11 mar. 2013.
Os camelos não armazenam água em suas corcovas, isto é um mito. Nas corcovas 
é que os camelos acumulam a maioria da sua gordura, podendo sobreviver por muitos dias 
sem se alimentar no deserto, que é imprescindível, devido à escassez de alimento. 
3.10 PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES BRASILEIROS
Bioma é a relação entre a florae a fauna, cuja diversidade depende desde 
aspectos fitogeográficos a aspectos abióticos (água, luz, minerais no solo e ventos) 
encontrados nos grandes domínios da natureza brasileira. Os principais biomas 
brasileiros são: Floresta Amazônica, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e o 
Pantanal. (AB`SABER, 2006) (Figura 21 a; b).
DICAS
TÓPICO 3 | BIOMAS
43
FIGURA 21 – (a): DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS PRINCIPAIS BIOMAS BRASILEIROS
FONTE: Banco de dados IBAMA – SIGPNRH (SRH/MMA). Disponível em: <www.ptax.
dyndns.org>. Acesso em: 8 maio 2013.
FIGURA 21 – (b): DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS PRINCIPAIS BIOMAS BRASILEIROS
FONTE: Disponível em: <www.agencia.cnptia.embrapa.br>. Acesso em: 8 maio 2013.
44
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
FIGURA 22 – LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DOS BIOMAS BRASILEIROS E SEU PERCENTUAL 
DE OCUPAÇÃO NO TERRITÓRIO BRASILEIRO
FONTE: IBGE, 2004. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-ambiente/
geografia>. Acesso em: 25 mar. 2013. 
3.11 FLORESTA AMAZÔNICA 
Segundo o IBGE (2004), a Floresta Amazônica é o maior bioma brasileiro, 
abrangendo uma área de 4.196.943 km2 (Figura 23). Esse bioma fica localizado 
na região Norte (Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Acre, Amapá, Maranhão, 
Tocantins e Mato Grosso).
 A floresta é úmida e quente (20ºC e 41ºC) quase o ano todo, com alto 
índice pluviométrico, de até 6000 mm/ano. O solo é pobre em nutrientes (rápida 
decomposição do material orgânico) devido à alta temperatura e umidade, mas 
logo absorvido pelas raízes das árvores, com pouca penetração no subsolo. 
A paisagem é formada por árvores altas que ficam em terra firme (mais 60m), 
por matas de várzeas (periodicamente inundadas), por matas de igapó (áreas 
baixas, permanentemente inundadas), cuja vegetação deste bioma é formada por 
folhas latifoliadas (grande área foliar), pluriestratificada (árvores com tamanhos 
diferentes) (AB´SABER, 2006; PLANETABIO, 2013). 
A flora predominante da Floresta Amazônica é a Floresta Ombrófila Densa 
(41,67%), deste total cerca de 12,47% foram alterados pela ação do homem, sendo 
que 2,97% se encontram em recuperação em forma de vegetação secundária e 
TÓPICO 3 | BIOMAS
45
9,50% do total da área da floresta ombrófila densa são usados na agricultura e 
pecuária. (PROBIO – MMA, 2004). 
A Amazônia é a maior floresta tropical e a com maior biodiversidade 
biológica do mundo. Neste bioma encontra-se um grande número de espécies de 
angiospermas (plantas com flores), em que se destacam: a castanheira, o cacau, 
o palmito, o cupuaçu, o coco-de-açaí, o guaraná e a seringueira (onde se extrai o 
látex na fabricação da borracha). Assim como também plantas medicinais, como o 
curare (potente anestésico), quinino (combate a malária), e o mogno e a cerejeira, 
na extração da madeira, para a construção civil e de móveis residenciais. Além 
disso, representa um dos biomas mais ricos em biodiversidade de número de 
espécies animais do mundo (AB´SABER, 2006; PLANETABIO, 2013) (Figura 23).
FIGURA 23 – CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA E FLORA DA MAIOR FLORESTA TROPICAL 
DO MUNDO E A MAIOR EM BIODIVERSIDADE, FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA 
FONTE: Disponível em: <http://dicasgratisnanet.blogspot.com.br/2011/07/fauna-e-
flora-da-floresta-amazonica.html>. Acesso em: 25 mar. 2013.
3.12 CERRADO
O cerrado abrange uma área estimada de 2.036.448 km2, segundo o IBGE 
(2004) (Figura 24). De acordo com PROBIO-MMA (2004), sua área é recoberta por 
60,42% de vegetação nativa, em suas diversas fitofisionomias. Deste percentual, a 
área florestada abrange 36,73% do bioma do cerrado e a área não florestada recobre 
23,68%. O restante refere-se à área antrópica (38,98%), onde as pastagens cultivadas 
(26,45%) são predominantes do bioma, onde 0,6% do território é coberto por águas 
superficiais. Do total do cerrado, a região fitoecológica predominante é a de Savana 
Arborizada (20,42%), seguido da Savana Parque (15,81%). (PROBIO-MMA, 2004).
As folhas apresentam cutícula grossa, com muitos estômatos que ficam abertos 
inclusive no calor. A vegetação é composta por árvores e arbustos de pequeno porte, 
com características xeromórficas, apresentando raízes profundas (seca), troncos 
46
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
tortuosos (escleromorfismo), súber grosso e folhas espessas com pelos, devido ao tipo 
de solo, que é rico em alumínio e ferro, e pobre em outros nutrientes, podendo haver 
no subsolo reservatórios de água (abaixo de 2m profundidade). Podemos encontrar 
a vegetação de cerrado nas regiões de Goiás, Bahia, Piauí, Maranhão, Mato Grosso 
do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal. É no 
cerrado que nascem as três maiores bacias da América do Sul (Amazônica/Tocantins, 
São Francisco e Prata), resultando num grande e potente aquífero e biodiversidade. 
O clima é tropical quente subúmido, com temperatura média anual entre 22ºC e 
27ºC, com pouco vento. Os períodos chuvosos e de seca são bem definidos, sendo os 
meses de setembro e maio, os períodos de chuvas mais concentrados, acarretando 
em um inverno seco, com clima tropical sazonal, cuja vegetação pode sofrer com 
o fogo espontâneo (fenômeno nat ural), renovando a vegetação local. A principal 
vegetação deste bioma é o araçá, murici, gabiroba, pau-terra, indaiá (palmeira de 
caule subterrâneo), capim-flecha e o buriti (palmeira) encontrada às margens dos 
rios do cerrado. A fauna também é rica em espécies como a ema (maior ave das 
Américas), gavião-carcará, siriema, urubu-rei, socó, tucano, periquito, lobo-guará, 
onça-pintada, anta (maior mamífero terrestre das Américas), tamanduá, tatu, raposa, 
veado-campeiro, várias espécies de primatas (macacos), além de muitos insetos, 
entre outros (AB´SABER, 2006; PLANETABIO, 2013) (Figura 24).
FIGURA 24 – CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA DE CERRADO COM SUA VEGETAÇÃO 
PREDOMINANTE 
FONTE: Disponível em: <http://www. www.outorga.com.br>. Acesso em: 25 mar. 2013.
3.13 CAATINGA
A caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, com uma área de 
518.635 km2. (IBGE, 2004) (Figura 25). Incluindo a esta estimativa as fitofisionomias 
de caatinga, estão a savana estépica (com 35,9%), cerrado e mata atlântica (com 
8,43%), as áreas de tensão ecológica, que são os ecótonos (com 18%). É o principal 
bioma do Nordeste, ocupando totalmente o Ceará, Bahia, Paraíba, Rio Grande do 
Norte, Pernambuco, Piauí, Alagoas, Sergipe, Maranhão e 2% na região de Minas 
Gerais (PROBIO-MMA, 2004).
TÓPICO 3 | BIOMAS
47
O índice pluviométrico fica entre 250 e 1000 mm/ano e a temperatura média 
entre 27ºC e 29ºC, tratando-se de um clima semiárido. O solo é arenoso, rochoso 
e alcalino (onde a grande evaporação acelera processo da salinização do solo), 
ocorrendo acúmulo de água no subsolo (lençol freático). O bioma se diversifica 
entre os brejos de altitude (próximo regiões serranas), são áreas com grande 
fertilidade do solo. Ex.: Vale do São Francisco, com projetos de irrigação artificial, 
para o cultivo de frutas (uva, manga, melão e outros). A vegetação é formada por 
árvores e arbustos tortuosos, com adaptações morfofisiológicas: plantas xerófitas, 
caducifólia (folhas caem na época da seca), com folhas reduzidas ou transformadas 
em espinhos (cactáceas), raízes profundas (para atingirem o lençol freático). 
Quando chove, as folhas ficam esverdeadas e com muitas flores, atraindo uma 
vasta fauna. Ações do homem, como o desmatamento e as queimadas, já alteraram 
mais do que a metade os ecossistemas deste tipo de bioma. A fauna é constituída 
por animais como a cascavel, a jiboia, o gavião-carcará, a gralha, a cutia, o gambá, 
o preá, o veado-campeiro, o tatupeba, a ararinha-azul (praticamente extinta), entre 
outros (AB´SABER, 2006; PLANETABIO, 2013) (Figura 25).
FIGURA 25 – CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA DE CAATINGA COM SUA VEGETAÇÃO 
PREDOMINANTE
FONTE: Disponível em: <http://www.6-anos-biomas-brasileiros>. Acesso em: 25 mar. 2013.
3.14 MATA ATLÂNTICA
Segundo o mapeamento realizado pelo IBGE (2004), a cobertura vegetal 
da Mata Atlânticaé de 1.110.182 km2 (Figura 26). A cobertura vegetal nativa 
total na época da colonização era cerca de 15%, agora restam apenas 7% da 
cobertura original. Deste restante encontram-se 26,97% da cobertura vegetal 
nativa e 21,80% são constituídos por diferentes fisionomias florestais. As 
florestas ombrófilas densas, com 9,10%, são o principal componente florestal do 
bioma, seguindo-se as florestas estacionais semideciduais, com 5,18%, depois as 
florestas ombrófilas abertas (com palmeiras), hoje praticamente extintas (0,25%) 
e as savanas gramíneo-lenhosas (cerrado), são as mais representativas no bioma 
(3,43%) (PROBIO-MMA, 2004). 
48
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
A Mata Atlântica também é uma floresta tropical pluvial, que apresenta 
muitas das características da Floresta Amazônica. O que as distingue provavelmente 
seja a topografia do terreno onde se localizam. A Floresta Amazônica ocupa planícies 
e planaltos no interior do Brasil, enquanto a Mata Atlântica ocorre na região costeira, 
em planícies e montanhas como a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira (estende-se 
ao longo de todo o litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do 
Sul). Ao norte o clima é tropical úmido e ao sul ele é subtropical úmido. Existe uma 
grande cadeia de montanhas por toda a costa litorânea, que varia entre 500 a 800m 
acima do nível do mar (norte), ao sul, em torno de 900m na região da Serra do Mar e 
São Paulo. Devido ao calor e alta umidade, ocorre uma aceleração da decomposição, 
não ficando muitos nutrientes no solo, porque já são absorvidos pelas raízes das 
plantas. A vegetação é similar à Floresta Amazônica, com folhas e caules pendentes, 
para facilitar o escoamento da água. Com a maior biodiversidade de animais e 
vegetais entre os biomas brasileiros. Mesmo com a redução e fragmentação da Mata 
Atlântica nas últimas décadas, a mesma possui uma grande importância social e 
ambiental, pois regula o fluxo dos mananciais hídricos, influencia o clima e protege 
escarpas e encostas das serras. Nelas nascem diversos rios que abastecem cidades 
e metrópoles. Entre as plantas que se destacam neste tipo de bioma estão o pau-
brasil, jacarandá, palmito, jambo, jambolão, paineira, figueira, caviúna, jatobá e 
embaúba. Além da fauna que é muito rica, em que aproximadamente 40% do total 
de mamíferos, aves e répteis existentes são espécies endêmicas (próprias deste local). 
Entre as espécies ameaçadas de extinção estão o cachorro-vinagre, a onça-pintada, 
a jaguatirica, o mono-carvoeiro, o bugio, o sagui, o guaxinim, o mico-leão-dourado, 
o jacu, o macuco, a jacutinga, o tiê-sangue, o mutum, o sanhaço, a araponga, entre 
outros (AB´SABER, 2006; PLANETABIO, 2013) (Figura 26).
Na classificação de biomas realizada pelo IBGE (2004), a mata de araucárias faz 
parte do bioma Mata Atlântica, que em outras classificações é considerado um bioma à parte.
FIGURA 26 – CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA DE MATA ATLÂNTICA COM SUA 
VEGETAÇÃO PREDOMINANTE
FONTE: Disponível em: <http://www.6-anos-biomas-brasileiros>. Acesso em: 25 mar. 2013.
NOTA
TÓPICO 3 | BIOMAS
49
3.15 PANTANAL
O Pantanal brasileiro cobre uma área aproximada de 150.355 km2 (IBGE, 
2004) (Figura 23). O bioma Pantanal ainda é bem conservado, segundo IBGE (2004), 
apresentando 86,77% da cobertura vegetal nativa e 11,54% de áreas antrópicas. 
As fitofisionomias florestais, como a Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta 
Estacional Decidual, respondem por 5,07% da área do bioma, enquanto as 
fitofisionomias não florestais, como as Savanas (Cerrado), a Savana Estépica (Charcos), 
Áreas de Tensão Ecológica ou Contatos Florísticos (Ecótonos e Encraves) e Formações 
Pioneiras, respondem por 81,70% da área do Pantanal. A Savana (Cerrado) predomina 
em 52,60% do bioma, seguida por contatos florísticos, que ocorrem em 17,60% da 
área. Com relação à área antrópica, nota-se que a agricultura é inexpressiva no bioma 
(0,26%), dando lugar à pecuária extensiva em pastagens plantadas, que equivalem a 
10,92% da área do bioma e ocupam 94,68% da área antrópica (PROBIO-MMA, 2004).
O Pantanal abrange os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, 
estendendo-se pela Bolívia e pelo Paraguai. A média do índice pluviométrico fica 
entre 1000 e 1400 mm/ano. A temperatura média no verão é de 32ºC, e no inverno 
é de 21ºC. Durante o ano existe o período das cheias (outubro a abril), vazante (abril 
a maio), de seca (maio a setembro) e de enchente (novembro e dezembro). Na época 
de seca, o leito dos rios normaliza, deixando um solo mais fértil. Já na época de 
cheias, o rio Paraguai transborda, e os animais migram para as regiões mais altas. A 
vegetação é muito heterogênea, devido à alternância de cheias e secas anuais e uma 
grande biodiversidade biológica. No caso das aves estima-se que esse bioma reúna 
a maior concentração do continente, onde se evidenciam as garças, patos-selvagens 
e jaburus ou tuiuiús (ave símbolo do pantanal). Além de um grande número de 
peixes (dourado, piranha, traíra, pacu e pintado), répteis (jacarés, predados pelos 
coureiros) e espécies de mamíferos (cervo-do-pantanal, ariranha, porco-espinho). 
A criação de gado bovino teve seu início no final do século XIX e vem a 
ser a principal atividade econômica da região. (AB´SABER, 2006; PLANETABIO, 
2013) (Figura 27). 
FIGURA 27 – CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA PANTANAL COM SUA VEGETAÇÃO E 
POPULAÇÃO DE AVES PREDOMINANTE 
FONTE: Disponível em: <http://www.outorga.com.br>. Acesso em: 25 mar. 2013.
50
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
3.16 PAMPA OU CAMPO SULINO
O bioma Pampa, também chamado de campos sulinos, abrange os campos 
da metade sul e das Missões do Rio Grande do Sul, cobrindo uma área estimada 
de 176.496 km2 (IBGE, 2004). (Figura 28). O bioma Pampa apresenta três formações 
vegetais: a Campestre, Florestal e área de Transição (Ecótono). Do total, 41,32% 
da área do bioma Pampa apresenta cobertura vegetal nativa e os demais 58,68% 
encontram-se modificados por uso antrópico (PROBIO-MMA, 2004).
Com quatro estações bem definidas, no verão pode chegar a 35ºC e 
no inverno as temperaturas podem ficar negativas, com geadas e até neve em 
algumas localidades. O clima é subtropical, com precipitações em média 1200 
mm anuais. As áreas são planas, e com um solo bem fértil, propício para a 
criação de gado, pelas grandes áreas de pastagens, que vem sendo a atividade 
econômica da região. Alguns autores consideram que existem duas unidades 
de pampas: os campos acima da serra (gramíneas e araucárias), que abrange parte 
do território gaúcho e paranaense, e os campos subtropicais (gramíneas, manchas 
floresta estacional, com espécies da Mata Atlântica e alguns cordões de floresta 
de galeria), que abrange o território gaúcho e se estende à Argentina e Uruguai. 
A vegetação predominante: gramíneas e leguminosas. Além do gado, existem 
os animais silvestres típicos da região: lobo-guará, veado campeiro, curruíra-
do-campo, ema, ratão do banhado, capivara, quero-quero, peixes, aves etc. 
(AB´SABER, 2006; PLANETABIO, 2013) (Figura 28). 
FIGURA 28 – CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA PAMPA OU CAMPOS SULINOS COM SUA 
VEGETAÇÃO PREDOMINANTE
FONTE: Disponível em: <http://www.6-anos-biomas-brasileiros>. Acesso em: 25 mar. 2013.
TÓPICO 3 | BIOMAS
51
A grande diversidade de ecossistemas interagindo na biosfera é dividida em 
três grandes biociclos: Epinociclo ou ciclo terrestre (a região superficial e subterrânea), 
Talassociclo ou biociclo das águas salgadas – marinho (fundo dos mares: sistema litorâneo 
e abissal) e Limnociclo ou biociclo das águas doces ou continentais (todos os ecossistemas 
dulcícolas, inclusive uma poça de água). 
Acesse estes sites, vídeos e documentários que irão complementar seus 
estudos:
Mapa de biomas do Brasil e o mapa de vegetação do Brasil. Disponível em: <http://www.
ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169>. Produzidos 
pelo IBGE. Acesso em: 12 fev. 2013. 
Mapa interativo dos biomas brasileiros. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/biomas/>. Produzido pelo WWF/Brasil. Acesso em: 12 fev. 2013.
Rede ambiental: educando para a vida. Aplicativo desenvolvido como ferramenta de 
apoio em educação ambiental. Possui informações e imagens sobre os biomas brasileiros, 
atividades virtuais, fichas de atividades práticas, filmes e uma biblioteca com temas da 
área de educação. Disponível em: <http://www.ib.unicamp.br/lte/bdc/visualizarMaterial.
php?idMaterial=103>. Acesso em: 12 fev. 2013. 
Vídeo: 
- Planeta Terra – a terra como você nunca viu. Produção: BBC/Discovery Channel. Duração: 
48 min. “Uma visão geral da distribuição dos biomas e dos mais importantes ecossistemas 
da Terra justificando suas ocorrências em determinadas regiões do planeta”.
Episódio 1 – De polo a polo Episódio 6 – Regiões polares 
Episódio 2 – Montanhas Episódio 7 – Grandes planícies
Episódio 3 – Água doce Episódio 8 – Selvas 
Episódio 4 – Cavernas Episódio 9 – Mares rasos
Episódio 5 – Desertos 
Blue Planet: uma aventura fantástica pelos oceanos do mundo. Episódio 1 – Planeta Azul. 
Ano: 2001. Produção: BBC. Duração: 50 min. 
A biblioteca do Amazonas (FERRIS, T. O céu da mente: a inteligência humana num contexto 
cósmico. Rio de Janeiro: Campus, 1993. p. 135-140).
 
FONTE: A Teoria de Gaia (NUNES NETO, N. F.; LIMA-TAVARES, M.; EL-HANI, C.N.). Teoria Gaia: 
de ideia pseudocientífica a teoria respeitável. Revista Com-Ciência, SBPC/Labjor, Campinas, 
n. 111, ago. 2005. Disponível em: <http://www.comciencia.br/reportagens/2005/11/09.
shtmi>. Acesso em: 12 mar. 2013. 
IMPORTANT
E
DICAS
52
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
LEITURA COMPLEMENTAR
O CERRADO NÃO É UM BIOMA
Marco Antônio Batalha
Nosso planeta apresenta um padrão complexo de climas, os quais, por sua 
vez, têm um papel importante na criação dos padrões complexos de vegetação e 
tipos de comunidades que nele encontramos. Os ecólogos dividem esses padrões 
de grande escala em unidades denominadas biomas, as mais amplas comunidades 
bióticas reconhecidas em nível geográfico, definidos como subdivisões biológicas 
que refletem as características funcionais e fisionômicas da vegetação (OXFORD, 
2004). A distribuição dos biomas na superfície terrestre relaciona-se principalmente 
com os climas e, dentre os seus elementos, mais diretamente com a temperatura e 
a precipitação, seja a quantidade de chuva, seja a sua distribuição ao longo do ano 
(Walter 1986). Ao empregar uma abordagem fisionômica da vegetação, Raunkiaer 
(1934) mostrou ser possível definir e caracterizar unidades ecológicas, inicialmente 
referidas como formações vegetais, por serem baseadas exclusivamente em critérios 
botânicos, em que a aparência da vegetação e as formas de vida predominantes são 
uniformes. Essa forma das plantas foi reconhecida como o modo mais eficaz de 
definir os biomas em relação a qualquer outro sistema de classificação taxonômico 
ou evolutivo. O conceito de bioma é similar ao de formação vegetal, mas leva em 
conta a associação da vegetação com a fauna e com os microrganismos (BOX & 
FUJIAWARA 2005). Assim, um bioma corresponde, grosso modo, a uma formação 
vegetal, porém inclui não só as plantas, mas também os demais organismos 
(MAAREL, 2005). Cada bioma tem uma fisionomia característica, compreendendo 
altura e hábito de crescimento dos principais táxons, tamanho, forma e textura das 
folhas, proporção de plantas sempre verdes e decíduas, diversidade de espécies 
e outros fatores que impõem fisionomia e arquitetura características para amplas 
extensões da cobertura vegetal (TALLIS 1991).
UM ERRO ENRAIZADO
O cerrado é considerado um dos pontos quentes (hot spots) para a conservação 
da biodiversidade no mundo (MYERS et al. 2000). Mas que cerrado? O cerrado 
enquanto domínio fitogeográfico? O cerrado enquanto bioma? O cerrado enquanto 
tipo vegetacional? O cerrado enquanto fisionomia? Como podemos ver, é importante 
definirmos corretamente um termo, porque pode haver implicações práticas e 
imediatas. Dois conceitos importantes para serem definidos acuradamente são os de 
“cerrado” e de “bioma”. Da maneira como vem sendo usado no Brasil, o conceito de 
bioma adquiriu erroneamente uma conotação florística. Usado dessa maneira errônea 
por biólogos, não por acaso passou a ser usado equivocadamente por um público 
mais amplo, como agências governamentais e organizações não governamentais. 
Hoje em dia, esse erro está enraizado. Coutinho (2006) chamou a atenção para esse 
problema e teve a oportunidade de resolvê-lo, mas sua argumentação em alguns 
pontos é contraditória. Embora apresente as premissas corretamente, Coutinho 
(2006) chama o cerrado ora de um único bioma (por exemplo, “O bioma Cerrado 
TÓPICO 3 | BIOMAS
53
merece aqui uma discussão um pouco mais longa.”, p. 19), ora de um complexo 
de biomas (por exemplo, “[...] pode-se dizer que o Cerrado não é um bioma único, 
mas um complexo de biomas.”, p. 19). Como argumentarei, esse segundo ponto de 
vista é o correto e, portanto, o cerrado não é um único bioma – como vem sendo 
rotineiramente tratado –, mas um complexo de biomas.
A ciência gera jargões, e essa terminologia especializada é necessária 
para expressarmos ideias novas e complexas de forma clara e sucinta (PETERS, 
1991). Cada parte de uma teoria começa como um conceito, e conceitos fracos 
são difíceis de serem erradicados (PETERS, 1991). Na ausência de uma definição 
clara, diferentes usuários do termo podem desenvolver definições independentes 
e até inconsistentes, fazendo, ao longo do tempo, com que o conceito traga 
consigo tantos significados que acaba se transformando em um “não conceito” 
(HURLBERT, 1971). Quando a linguagem é desvalorizada ou usada erroneamente, 
também o são aqueles que a usam (ORR, 1999). Uma vez que a linguagem é a 
única moeda onde quer que se persiga a verdade, não deve haver prioridade 
maior para a comunidade científica do que defender a clareza e a integridade de 
seus conceitos (ORR, 1999). O criticismo científico encoraja a operacionalização de 
conceitos, identificando as capacidades, funções e limitações atuais de conceitos 
existentes (PETERS, 1991). Sendo assim, dada a importância de definirmos termos 
claramente e dada a importância dos conceitos de cerrado e de bioma, pretendo 
discuti-los e sugerir um uso acurado deles.
O CONCEITO DE BIOMA
Uma excelente revisão do conceito de bioma foi feita por Coutinho (2006). 
Relembro algumas das definições apresentadas nesse trabalho de Coutinho (2006) 
para tornar minha argumentação clara. Clapham Jr. (1973, p. 14) disse que “[...] a 
distribuição dos biomas é controlada em última instância por fatores ambientais 
abióticos – especialmente o clima – e um dado bioma pode ser formado em várias 
diferentes partes do mundo.” Dajoz (1973, p. 280) escreveu que “[...] o bioma é um 
agrupamento de fisionomia homogênea e independente da composição florística.” 
Crawley (1989, p. 27) disse que “[...] os grandes biomas do mundo mostram 
um grau de convergência notável, apesar das amplas diferenças na afinidade 
taxonômica das suas floras.” Cox & Moore (1993, p. 8) também enfatizaram que o 
conceito de bioma é biogeográfico e não taxonômico, e que “[...] embora as savanas 
tropicais do Brasil, Quênia, Índia e Tailândia compreendam espécies diferentes 
de plantas e animais, elas têm muito em comum em termos de suas arquiteturas, 
crescimentos e produtividades estacionais, formas de vida de animais e plantas 
e as maneiras pelas quais têm sido usadas pela população humana.” No próprio 
conceito de Walter (1986), adotado por Coutinho (2006), está claro que um mesmo 
tipo de bioma pode aparecer em áreas distintas geograficamente. 
Além disso, em um dicionário de Biologia (OXFORD, 1996, p. 72) 
encontramos a seguinte definição de bioma: “Uma comunidade ou complexo 
de comunidades ecológicas que se estende por uma ampla área geográfica 
caracterizada por um tipo dominante de vegetação. Os organismos de um bioma 
estão adaptados às condições climáticas associadas à região. Nãohá fronteiras bem 
54
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
definidas entre biomas adjacentes, que se fundem gradualmente uns com os outros. 
Exemplos de biomas são tundra, floresta pluvial tropical, taiga, chaparral, campos 
(temperados e tropicais) e deserto”. Em um dicionário de Ecologia (OXFORD 
2004, p. 56) encontramos uma definição semelhante: “Uma subdivisão biológica 
que reflete o caráter fisionômico e ecológico da vegetação. Biomas são as maiores 
comunidades bióticas e geográficas que são convenientes de serem reconhecidas. 
Eles correspondem, grosso modo, às regiões climáticas, ainda que outros controles 
ambientais sejam algumas vezes importantes. Eles são equivalentes ao conceito de 
principais formações vegetais na Ecologia Vegetal, mas são definidos em termos 
de todos os organismos vivos e de suas interações com o meio (e não apenas com 
o tipo de vegetação dominante). Tipicamente, biomas distintos são reconhecidos 
para todas as principais regiões climáticas no mundo, enfatizando as adaptações 
dos organismos aos seus ambientes, e.g., bioma das florestas tropicais pluviais, 
bioma dos desertos, bioma das tundras”.
Sendo assim, dos diversos conceitos de bioma apresentados, podemos 
ressaltar alguns pontos que são comuns e se sobressaem: 1) o conceito de bioma 
é fisionômico, isto é, leva-se em conta a aparência geral da vegetação, resultante 
do predomínio de certas formas de vida; 2) o conceito de bioma é funcional, isto 
é, levam-se em conta aspectos como os ritmos de crescimento e reprodução; 3) o 
conceito de bioma não é florístico, isto é, a afinidade taxonômica das espécies que 
aparecem em várias unidades de um mesmo bioma é irrelevante; 4) o conceito de 
bioma é delimitado pela vegetação, mas engloba além dela, toda a demais biota; e 5) 
o conceito de bioma é aplicável à Terra como um todo e não a esta ou àquela região.
O CONCEITO DE CERRADO
Há dois principais sistemas usados para classificar a vegetação, um baseado em 
descritores funcionais e fisionômicos e outro baseado em relações florísticas (JOLY et al. 
1999). Das definições de bioma apresentadas acima, inferimos que só há sentido em se 
usar esse conceito quando a classificação da vegetação é funcional-fisionômica. Nesse 
caso, por coerência, devem-se usar termos aplicáveis à vegetação mundial. Há termos 
usados na classificação da vegetação brasileira que são carregados floristicamente, isto 
é, quando nos referimos, por exemplo, ao “cerrado”, “à “caatinga” ou ao “pampa”, 
estamos nos remetendo a certas espécies vegetais características.
Coutinho (2006) afirma corretamente que, dentro dos domínios 
fitogeográficos, encontramos vários biomas. Dessa forma, o “domínio amazônico 
não é, portanto, um bioma único”, mas sim “um mosaico de biomas” (COUTINHO, 
2006, p. 18). O problema aparece quando o autor discute o cerrado. Em um primeiro 
momento, citando um trabalho anterior (COUTINHO, 2006, p. 19), ele diz que o 
cerrado seria “[...] um complexo de biomas, distribuídos em mosaico.” Concordo 
com essa visão. Justamente por sua variação fisionômica, indo do campo limpo 
(bioma dos campos tropicais), passando pelas fisionomias intermediárias (bioma 
das savanas) e chegando ao cerradão (bioma das florestas estacionais), o cerrado, 
sensu lato, não pode ser considerado um único bioma, mas sim um complexo de 
biomas, mais especificamente três (Figura 29).
TÓPICO 3 | BIOMAS
55
FIGURA 29 – CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA CERRADO COM SUA VEGETAÇÃO PREDOMINANTE
FONTE: Disponível em: <www.agencia.cnptia.embrapa.br>. Acesso em: 6 maio 2013.
Coutinho (2006, p. 19) até sugere essa posição escrevendo que “[...] caso se 
queira ser absolutamente fiel ao conceito de bioma adotado pelos diversos autores 
mencionados adrede, pode-se dizer que o cerrado não é um bioma único, mas um 
complexo de biomas.” Entretanto, contrariamente à sua argumentação anterior, 
Coutinho (2006) alega que todas as savanas do mundo têm essa complexidade 
fisionômica e, ainda assim, são consideradas um único bioma pela grande maioria 
dos autores e que, portanto, ao se considerar o cerrado como um bioma de savana, 
não se foge ao conceito da maioria dos autores internacionais. Esse erro se enraizou, 
com o oxímoro “bioma cerrado” se tornando onipresente, aparecendo quase como 
um substantivo composto, só faltando o hífen para tal.
Para sermos coerentes com toda a literatura internacional e usarmos o 
conceito de bioma acuradamente, devemos considerar o cerrado sensu lato como 
formado por três biomas: o campo tropical, a savana e a floresta estacional. Campos 
tropicais são formações tropicais em que o estrato herbáceo é contínuo, com 
pequenos arbustos em baixas densidades (WOODWARD, 2008). Se seguirmos a 
classificação fisionômica de Coutinho (1978), incluímos no bioma de campo tropical 
o campo limpo. Já as savanas são formações tropicais em que o estrato herbáceo 
é quase contínuo, interrompido apenas por arbustos e árvores em densidades 
variáveis, e em que os principais padrões de crescimento estão associados às 
estações úmidas e secas alternantes (BOURLIÈRE; HADLEY, 1983). No bioma de 
savana, portanto, incluímos o campo sujo, o campo cerrado e o cerrado sensu stricto. 
Florestas estacionais são formações em que predominam árvores de maior porte, 
cujas copas formam um dossel e cujos principais padrões de crescimento também 
estão associados às estações úmidas e secas alternantes (WOODWARD; 2008). No 
bioma de floresta estacional incluímos, pois, o cerradão. Como há uma unidade 
florística entre as diversas fisionomias do cerrado (COUTINHO, 1978), devemos 
considerá-lo um único tipo vegetacional, já que as afinidades taxonômicas são 
levadas em conta nesse caso. 
Cabe ainda ressaltar que, dentro de um domínio fitogeográfico, isto é, uma 
área do espaço geográfico, com dimensões subcontinentais, em que predominam 
características morfoclimáticas semelhantes e certo tipo de vegetação, há vários 
56
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
tipos vegetacionais. Assim, dentro do domínio do Cerrado, além do cerrado como 
tipo vegetacional dominante, há outros tipos vegetacionais, como a floresta ripícola, 
o campo rupícola, a floresta estacional semidecídua, a floresta estacional decídua, 
o campo úmido, entre outros. Cada um desses tipos vegetacionais tem sua flora 
característica e daí a razão de distingui-los. No caso do cerrado em particular, dada 
a sua grande variação fisionômica, encontramos não um, mas sim três biomas. 
Isso tem implicações práticas e imediatas para a conservação. Por 
exemplo, recentemente aprovou-se no Estado de São Paulo (2009) uma lei que 
visa a proteger o cerrado, mas que não contempla as suas fisionomias abertas. 
Dessa forma, todo um bioma que compõe o cerrado, o bioma de campo tropical, 
não está contemplado pela lei. 
Assim, podemos usar a palavra “cerrado” em três sentidos: 1) Cerrado, com 
a inicial maiúscula, quando estivermos nos referindo ao domínio fitogeográfico 
do Cerrado, incluindo não só o cerrado sensu lato, mas também os outros tipos 
vegetacionais que ali se encontram; 2) cerrado sensu lato ou simplesmente cerrado, 
quando estivermos nos referindo ao cerrado enquanto tipo vegetacional, isto é, do 
campo limpo ao cerradão – aqui há um complexo de biomas, bioma dos campos 
tropicais, das savanas e das florestas estacionais; e 3) cerrado sensu stricto, quando 
estivermos nos referindo a uma das fisionomias savânicas do cerrado sensu lato. É 
importante usarmos tais termos de forma precisa e acurada, para que definamos 
aquilo que pretendemos estudar e para que conservemos esse complexo de biomas, 
com toda a biodiversidade que compõe o cerrado.
FONTE: Publicado em: Batalha, M. A. O cerrado não é um bioma. Biota Neotropical, v. 11, n. 1. 
2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/bn/v11n1/01.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2013.
57
RESUMO DO TÓPICO 3
• Biomas são as maiores formações ecológicas ou os tipos de ecossistemas facilmente 
reconhecidos, em suas diferenças geográficas e biológicas, proporcionandouma 
extraordinária diversidade de vida em nosso planeta. 
• Os diferentes biomas são influenciados pela temperatura e pluviosidade (clima, 
latitude), e estes sobre a vida nos campos, florestas, desertos, praias e montanhas, 
que são os principais ambientes onde se desenvolvem os biomas. 
• Os principais biomas terrestres mundiais são:
• Tundra: típico das regiões de clima frio. Ex.: musgos, liquens, gramíneas e 
árvores anãs.
• Taiga: também de clima frio, mas mais ameno comparado à tundra, com 
maior presença de água no estado líquido. A vegetação é persistente, com 
pouca formação da copa, que é em forma de cone, aumentando a absorção 
dos raios luminosos fracos, proporcionando a fotossíntese em todos os 
estratos vegetais, o ano todo (ramos não fazem sombra).
• Deserto: clima seco e grandes amplitudes térmicas durante o dia, 
desenvolvendo uma vegetação pouco desenvolvida e pouco variada. 
Somente animais adaptados conseguem se desenvolver.
• Floresta decídua temperada: floresta de árvores com folhas caducas (folhas 
envelhecem e caem), típico deste clima (verão quente, chuvoso e úmido), 
comum nos EUA e América Central.
• Savana: são as pradarias, das regiões tropicais, presença de poucas árvores 
espalhadas e pastagem para muitos herbívoros, comparado ao cerrado.
• Floresta equatorial: grande variedade de espécies de árvores de grande 
porte.
• Floresta tropical úmida: o mais exuberante, pela sua grande biodiversidade, 
Ex.: floresta amazônica e mata atlântica.
• Floresta de coníferas (gimnospermas), característico de regiões frias e 
montanhosas.
• Floresta de mangues: transição entre o biociclo marinho e dulcícola (fonte 
de alimento e local reprodutivo, muitos animais marinhos).
• Principais biomas brasileiros:
58
• Floresta Amazônica: alta pluviosidade, temperatura constante, devido à 
latitude, vegetação latifoliada (folhas área foliar grande), solo pobre, mas 
elevado material orgânico e alta biodiversidade de espécies animais e 
vegetais.
• Floresta Atlântica: alta umidade, temperatura constante, devido à 
maritimidade. Folhas latifoliadas, árvores com epífitas e maior densidade 
no nível arbustivo.
• Floresta de Araucária ou “taiga brasileira”: coníferas com três níveis de 
estratificação, em cujo andar arbustivo se encontram as samambaias.
• Cerrado: grande amplitude térmica, vegetação com folhas coriáceas, 
troncos retorcidos, casca espessa, árvores esparsas e regime de queimadas.
• Caatinga: baixa pluviosidade, vegetação xeromórfica; ex.: cactáceas (caule 
acumula água), folhas coriáceas ou transformadas em espinhos.
• Manguezais ou “berço do mar”: latitude não interfere nos fatores edáficos, 
ou seja, do solo; solo argiloso e salino, raízes pneumatóforos, árvores com 
longas raízes (rizóforas), semente germina no fruto (viviparidade).
• Pantanal: na época das chuvas, alta pluviosidade, lençóis freáticos rasos 
(umidade), alta biodiversidade. 
59
1 A partir das características comuns em animais, cite um exemplo de animal 
portador de cada característica, e em qual bioma esse animal pode ser 
encontrado.
a) Pelagem abundante: 
b) Hábitos migratórios: 
c) Necessidade de hibernação: 
2 Identifique a que se referem os seguintes itens:
a) Bioma com extrema escassez de água e que não está representado no Brasil. 
b) Elemento abundante no solo do cerrado e que dificulta o desenvolvimento 
da vegetação. 
c) Bioma que se estende por todo o Brasil central. 
d) Bioma apresentando apenas o estrato herbáceo, presente no sul do Brasil, 
usado na pecuária. 
e) Tipo de clima que caracteriza a caatinga brasileira. 
AUTOATIVIDADE
60
61
TÓPICO 4
MEIO FÍSICO E A 
DISPONIBILIDADE DE RECURSOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico veremos a interação entre as condições locais (características 
físicas e químicas do ambiente), como a temperatura, a umidade, a pressão osmótica e 
o pH de um ambiente e seus recursos essenciais disponíveis, que são consumidos pelos 
organismos durante o seu crescimento e reprodução, como a radiação solar, o dióxido 
de carbono, a água e os nutrientes minerais para a vida. Assim como, a resposta dos 
organismos a estas condições e recursos encontrados, nos ambientes habitáveis. 
2 CONDIÇÕES AMBIENTAIS
As condições ambientais que podem ser “extremas”, “adversas”, 
“propícias” e “estressantes” determinam a distribuição e o comportamento de 
organismos. Ex.: calor do meio-dia num deserto, locais gelados da Antártica, 
intensidade de chuvas na floresta tropical. Essas condições (temperatura, umidade 
relativa e outros) induzem respostas fisiológicas em organismos que determinam 
se o ambiente é propício ou não. Ex.: para os pinguins o clima da Antártica não 
é extremo, porém, o clima da floresta pluvial tropical poderia ser um ambiente 
severo para os pinguins, embora seja propício para as araras; como um lago seria 
severo para um cacto, mas propicio para um aguapé.
Os efeitos destas condições podem apresentar três respostas básicas 
denominadas por “curvas de resposta”, que são: 
a) Curva de efeitos da temperatura e pH: onde as condições extremas são letais, 
mas entre estes dois extremos existe um continuum de condições favoráveis para 
a sobrevivência, podendo crescer ativamente dentro de uma faixa mais restrita e 
se reproduzir numa faixa ainda mais estreita. 
b) Curva de efeitos de veneno: com letalidade apenas em concentrações altas, 
que em condições zero ou baixas, o organismo não é afetado, havendo um 
limiar acima do qual o desempenho decresce rapidamente: primeiramente a 
reprodução, depois o crescimento, por fim a sobrevivência. 
c) Curva de efeito da exigência de condições de concentração (necessita de recursos 
com concentrações baixas, pois as altas se tornam tóxicas): Ex.: cloreto de cobre 
e sódio são recursos essenciais para o crescimento, quando em quantidade-traço 
(traços de concentração), pois em altas concentrações se tornam tóxicos.
62
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
As condições ambientais atuam primeiramente para regular os processos 
fisiológicos. Desta maneira, muitas condições funcionam como estímulos para o 
crescimento, desenvolvimento e a preparação do organismo para as condições que 
estão por vir. Ex.: o “relógio biológico” (interno) percebe sinais externos, como 
a diminuição do fotoperíodo (incidência solar em decorrência do inverno ou 
chuvas), onde ursos, gatos e outros mamíferos desenvolvem uma pele espessa; 
ou fotoperíodo amplo (verão ou estiagem), em que muitos insetos entram em 
dormência (diapausa). Assim como, na aproximação da estação mais quente 
(primavera) os animais entram em atividade reprodutiva, proporcionando a 
migração de aves e nos vegetais ocorre o início do florescimento.
Nas interações entre organismos, eles respondem a cada condição em seu 
meio, mas os efeitos das condições podem ser fortemente determinados pelas 
respostas de outros organismos da comunidade. Ex.: o fator temperatura não 
age apenas sobre um organismo, mas sobre os seus competidores (suas presas, 
seus parasitas, etc.), que podem não tolerar uma determinada condição ambiental 
(TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). 
Tanto os animais apresentam sensibilidade em relação à luz (fototatismo, 
em que se orientam para ela, ou se afastam dela), como os vegetais (fototropismo). 
Desta forma, ambos apresentam fotoperiodismo, ou seja, são capazes de reagir à 
duração da luminosidade diária a que estão sendo submetidos (fotoperíodo). Ex.: 
as diferentes épocas de floração de muitas plantas se devem às diferentes reações 
ao fotoperíodo das plantas com flor. Os animais reagem de forma diferente ao 
fotoperíodo, sendo mais ativos nas temperaturas ótimas e menos ativos quando 
as temperaturas se afastam do ótimo, permitindo-os a sobreviver. Ex.: lagartixas 
reduzem suas atividades vitais, ficando num estado de vida latente (não têm 
facilidade em realizar grandes deslocamentos); as andorinhas, com grande 
facilidade para deslocamento, migram, isto é, partem em determinadas épocas do 
ano para regiões comtemperatura favorável. Mas existem animais que apresentam 
características próprias de adaptação às diferentes temperaturas. Ex.: animais que 
vivem em regiões muito frias desenvolvem uma pelagem longa e uma camada de 
gordura sob a pele (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
3 RECURSOS VEGETAIS
Os recursos são componentes bióticos ou abióticos do ambiente, que 
pode ser consumido por organismos, ao longo do seu crescimento e manutenção, 
tornando-se menos disponíveis para outros organismos. Ex.: quando uma folha 
de uma planta absorve a radiação solar, ela priva deste recurso às outras folhas 
ou plantas que estiverem abaixo dela (estratos vegetais); ou quando uma larva 
se alimenta de uma folha, sobra menos material foliar para as outras. Portanto, 
“os recursos são críticos para a sobrevivência, crescimento e reprodução, além de 
uma fonte potencial de conflito e competição entre organismos” (TOWNSEND; 
BEGON; HARPER, 2006).
TÓPICO 4 | MEIO FÍSICO E A DISPONIBILIDADE DE RECURSOS
63
As plantas podem evitar ou tolerar a escassez de água. Processos bioquímicos 
especializados podem aumentar a taxa fotossintética a ser alcançada por unidade de água 
perdida em plantas C4 e CAM (em oposição às plantas C3) (RICKLEFS, 2003).
As plantas, quando realizam a fotossíntese, obtêm energia e materiais 
(matéria inorgânica), para o seu crescimento e reprodução. Os recursos 
ambientais consumidos pela planta são radiação solar, dióxido de carbono, 
água e nutrientes minerais (água, fósforo, cálcio, nitrogênio, potássio etc.); as 
bactérias quimiossintetizantes (organismos quimiossintéticos) obtêm energia 
e materiais da oxidação do metano, íons amônio, ácido sulfídrico ou ferro 
ferroso; assim como, os demais organismos obtêm seus recursos de corpos de 
outros organismos. Consequentemente, o que foi consumido nestes três casos 
não estará mais disponível para outro consumidor (competição) (TOWNSEND; 
BEGON; HARPER, 2006).
Radiação solar, água, minerais e dióxido de carbono são recursos críticos para 
as plantas verdes. Estes recursos quando disponíveis em abundância são excelentes para as 
plantas, mas quando em escassez, pode ser desfavorável para o crescimento e reprodução 
dos vegetais. A forma da curva que relaciona a taxa de fotossíntese à intensidade de radiação 
varia bastante entre as espécies. A radiação que atinge uma planta está sempre mudando e 
as folhas somam as diversas exposições de suas várias folhas (RICKLEFS, 2003).
4 ANIMAIS E SEUS RECURSOS
As plantas verdes (autótrofas), depois da fotossíntese, reúnem a radiação 
solar, íons e moléculas simples em moléculas complexas (carboidratos, gorduras 
e proteínas) em células, tecidos, órgãos e nos organismos. Estas estruturas são 
depósitos de recursos alimentares para todos os outros organismos heterótrofos 
(decompositores, predadores, herbívoros e parasitas). Estes consumidores 
utilizam estes depósitos através da metabolização, em que parte é secretada e 
outra é reagrupada em seus organismos podendo ser consumidos, decompostos 
e reconstituídos em uma cadeia de eventos, em que cada consumidor pode 
se tornar um recurso para algum outro consumidor (TOWNSEND; BEGON; 
HARPER, 2006).
ATENCAO
ATENCAO
64
UNIDADE 1 | VIDA E AMBIENTE FÍSICO
Segundo Townsend, Begon e Harper (2006), os heterótrofos podem 
ser agrupados em: decompositores: que se alimentam de vegetais e animais 
mortos; parasitas: que se alimentam de um ou muito poucos animais e vegetais 
hospedeiros vivos (geralmente não os matam, pelo menos não imediatamente); 
predadores: ao longo de sua vida, é típico que matem suas presas para delas 
se alimentarem. Quando se pensa em predador-presa, o que vem à mente é 
um animal matando e se alimentando de outro animal. Mas esta relação 
de interações entre o consumidor e seu recurso abrange um rol muito mais 
amplo do que aparenta. Ex.: um papagaio se alimentando de sementes (mata 
o embrião dentro da semente), fungos que se alimentam de uma plântula e a 
matam, baleias que se alimentam de Krill, plantas carnívoras que se alimentam 
de insetos (como forma de reposição de nutrientes não encontrados no solo). 
Como se pode ver, em cada um dos casos, todos são predadores, matam o 
seu recurso alimentar e o consomem totalmente ou em parte. Quando se fala 
em consumidores não se refere apenas aos seres heterótrofos carnívoros, mas 
os herbívoros e os autótrofos também, que para sobreviverem necessitam de 
um nível trófico anterior ao seu, para completarem o seu ciclo de vida. Além 
disso, os consumidores animais, quanto à dieta, podem ser classificados como 
especialistas ou generalistas. Quando os indivíduos de espécies individuais 
tiverem vida longa são provavelmente generalistas (espécies polifágicas), mesmo 
que muitas vezes tenham preferências claras e uma ordem de prioridades para 
escolher quando existem alternativas disponíveis, pois não dependem apenas 
da disponibilidade de um recurso alimentar. Ex.: herbívoros e carnívoros. 
Já os especialistas (monófagos) apresentam um tempo de vida curto, onde 
o organismo é esforçado a viver de partes do recurso ou de gastar tempo e 
energia na procura deste recurso entre outros recursos (que é um dos custos da 
especialização). Ex.: as abelhas se alimentando do néctar de uma determinada 
planta em floração (período curto), depois da floração desta espécie, ela terá 
que procurar outras espécies para se alimentar durante o verão. 
No caso do besouro da framboesa, uma única espécie (a planta framboesa) 
pode fornecer muitos recursos alimentares ao mesmo tempo, tornando-se menos 
dispendioso ao consumidor (besouro) na procura do seu recurso. Como exemplo, 
o besouro põe seus ovos na framboesa e as larvas, após a eclosão, consomem 
somente as flores desta espécie. Dentro do fruto, completa o seu desenvolvimento, 
ficando inativa na fase de pupa, até a próxima estação de florescência da framboesa. 
Dentre 10-11 meses, a larva fica ativa e se alimenta da medula do caule, fechando 
o ciclo de vida num único recurso (a framboesa). 
TÓPICO 4 | MEIO FÍSICO E A DISPONIBILIDADE DE RECURSOS
65
As várias partes de uma planta (seres autótrofos) têm composições muito diferentes 
e, assim, fornecem recursos completamente diferentes aos heterótrofos (consumidores). 
A diversidade de organismos heterótrofos se deve à diversificação de peças bucais e tratos 
digestivos que evoluíram para o consumo, no caso dos consumidores. E para fazer um uso 
melhor do material vegetal, muitos herbívoros estabelecem uma associação mutualística com 
bactérias e protozoários celulolíticos em seu canal alimentar (RICKLEFS, 2003).
DICAS DE LIVROS, VÍDEOS E SITES
LOVELOCK, J. Gaia: cura para um planeta doente. São Paulo: Cultrix, 2006.
PURVES, W. K.; SADAVA, D.; ORIANS, G. H.; HELLER, H. C. Vida: a ciência da biologia. Evolução, 
diversidade e ecologia - Vol. II. Porto Alegre: Artmed, 2005.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara 
Koogan, 2007.
SCHELP, D. A vingança de Gaia. Veja São Paulo, nº 1979, out. 2006. Disponível em: <http://
veja.abril.com.br/251006/entrevista.html>. 
Vídeos: 
O segredo da vida na Terra. Ano: 1993. Duração: 40min. Direção: Adrian Warren. Produção: 
Christopher Parsons. 
Mudanças ambientais Globais. Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, 
INPE. Disponível em: <http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/>. Vídeo-animação sobre 
mudanças globais devido às causas antropogênicas. 
Efeito Estufa. Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, INPE. Disponível em: 
<http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/>. Vídeo-animação sobre efeito estufa, suas 
características naturais e causas antropogênicas. 
Avatar. Ano: 2009. Duração: 162 min. Direção: James Cameron. Produção: 20th Century 
Fox. Embora se trate de um filme de ficção, as preocupações ecológicas e as ideias científicas 
são evidentes em quase todo o enredo, principalmente a teoria de Gaia. 
ATENCAO
DICAS
66
RESUMO DO TÓPICO 4
• As condições são características físicas e químicasdo ambiente (temperatura e 
umidade), que podem ser alteradas, mas não consumidas. Mas os recursos são 
consumidos por organismos, durante o seu crescimento e reprodução. 
• As condições ambientais que determinam a distribuição e o comportamento de 
organismos podem ser “extremas”, “adversas”, “propícias” e “estressantes”. 
• Os efeitos destas condições podem apresentar três respostas básicas denominadas 
“curvas de resposta”, que são: curva de efeitos da temperatura e pH; curva de 
efeitos de veneno; curva de efeito da exigência de condições de concentração.
• As condições ambientais atuam primeiramente para regular os processos 
fisiológicos, e muitas condições funcionam como estímulos para o crescimento, 
desenvolvimento e a preparação do organismo para condições que estão por vir 
(hibernação, diapausa, entre outras).
• À aproximação da estação mais quente (primavera), animais entram em 
atividade reprodutiva; nos vegetais ocorre o início do florescimento, como 
também, a migração de aves. 
• Nas interações entre organismos, os efeitos das condições podem ser fortemente 
determinados pelas respostas de outros organismos da comunidade. Ex.: fator 
temperatura não age apenas sobre um organismo, mas sobre os seus competidores 
(suas presas, seus parasitos etc.), que não possa tolerar uma condição ambiental. 
• Os recursos são componentes bióticos ou abióticos do ambiente, que podem 
ser consumidos por organismos, ao longo do seu crescimento e manutenção, 
tornando-se menos disponíveis para outros organismos. 
• As plantas, quando realizam a fotossíntese, obtêm energia e materiais (matéria 
inorgânica), para o seu crescimento e reprodução. Os recursos ambientais 
consumidos pela planta não estarão mais disponíveis para outro consumidor 
(competição). 
• Os organismos autótrofos sintetizam os carboidratos, gorduras e proteínas, 
em células, tecidos, órgãos e nos organismos. Que são depósitos formados 
em recursos alimentares para todos os outros organismos heterótrofos 
(decompositores, predadores, herbívoros e parasitas). Os consumidores podem 
se tornar um recurso para algum outro consumidor.
• Na relação predador-presa, o predador mata seu recurso alimentar e o consome 
todo ou em parte. 
67
• Os consumidores animais quanto à dieta podem ser classificados como 
especialistas ou generalistas. 
• Indivíduos de espécies individuais com vida longa são provavelmente 
generalistas (espécies polifágicas), pois não podem depender apenas da 
disponibilidade de um recurso alimentar. 
• Os especialistas (monófago) apresentam um tempo de vida curto, em que uma 
única espécie pode fornecer muitos recursos alimentares.
68
AUTOATIVIDADE
1 Diferencie condições ambientais de recursos ambientais.
2 Para que servem as condições ambientais aos organismos?
3 Cite recursos vegetais e animais.
69
ATIVIDADE DE LABORATÓRIO E DIDÁTICO-PEDAGÓGICO 
DE BIOLOGIA
ANÁLISE DOS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E 
MICROBIOLÓGICOS DA ÁGUA
Para esta prática devem-se coletar previamente as amostras de água a serem 
analisadas. 
1 INTRODUÇÃO
 
A água para consumo humano, denominada potável, é aquela cujos 
parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam aos padrões 
legais de potabilidade e que não ofereçam riscos à saúde. Adicionalmente os 
parâmetros da água presente em outros meios devem atender aos padrões de 
qualidade adequados para seu uso (MERTEN, 2002). Por exemplo, a água de um 
rio pode apresentar riscos para a saúde humana se for bebida e mesmo assim ser 
considerada de boa qualidade para manter a vida dos seres aquáticos.
Portanto, uma das formas de conhecer a qualidade de uma água é estabelecer, 
analisar e medir parâmetros de qualidade. Os principais parâmetros que serão 
vistos na prática são: cloro livre; ferro; nitrogênio amoniacal; pH; transparência; 
cor; cloretos; dureza total; oxigênio dissolvido; alcalinidade; coliformes a 45º C e 
salmonela: 
É importante destacar que o conteúdo desta prática se relaciona com 
outras disciplinas e áreas afins: química geral, química analítica, saneamento ambiental, 
microbiologia, geologia, recursos hídricos, entre outras.
UNI
UNI
70
FIGURA 30 – INDICADORES DE ANÁLISE DE ÁGUA
FONTE: As autoras
Tenha uma excelente prática!
2 OBJETIVOS
• Conhecer os principais parâmetros de análise de água.
• Analisar águas de diferentes fontes e comparar os parâmetros analisados para 
cada tipo;
• Interpretar os resultados obtidos inferindo sobre possíveis sequências de 
acontecimentos (natural e/ou antrópica) que geraram o valor obtido para os 
parâmetros.
• Identificar impactos ambientais futuros possíveis de ser gerados por águas que 
apresentam os parâmetros encontrados.
3 MATERIAIS
• 500 mL de água de lago ou rio coletada em um frasco estéril ou em uma garrafa 
plástica de água mineral.
• 500 mL de água potável da torneira coletada em um frasco estéril ou em uma 
garrafa plástica de água mineral.
• 1 kit de análise de água, Kit-Potabilidade.
Indicadores 
de Análise de 
Água
Físicos: Cor, 
Turbidez
Identificação de 
Impactos
Impactos 
Físicos: Sabor, 
cor, olor
Químicos: pH, 
cloro, cloretos, 
dureza, 
alcalinidade, 
ortofosfatos, 
ferro, oxigênio 
dissolvido
Impactos 
Químicos: 
Corrosão de 
tubulações, 
erosão de rochas, 
neutralização do 
uso de sabões, etc.
Impactos 
Biológicos: 
Eutrofização. 
Morte de seres 
aquáticos, etc.
Impactos na Saúde: 
Diarréia infecciosa, 
cólera, leptospirose, 
hepatite, etc.
Impactos 
Socioeconômicos: 
Gastos públicos com 
saúde e mitigação. 
Saneamento Básico, 
Desenvolvimento 
regional, etc.
71
4 PROCEDIMENTO
• Analisar os parâmetros de acordo com as instruções contidas no kit de análise.
• Medir os parâmetros necessários tendo em consideração o método e comentários 
expressos no quadro 1.
• Observar as instruções de manipulação, segurança e manutenção dos produtos, 
reagentes e componentes conforme o estabelecido no kit de análise de água. 
A manipulação incorreta e imprudente do kit de análise pode conduzir a 
resultados errôneos e contaminação dos produtos utilizados na análise!
QUADRO 1 – MÉTODOS DE MEDIÇÃO DOS PARÂMETROS DO KIT DE ANÁLISE DE ÁGUA. KIT – 
POTABILIDADE
FONTE: Alfakit (2012)
PARÂMETROS MÉTODO IMFORMAÇÃO
Cloro Livre DPD Cartela com faixa entre 0,1 – 0,25 – 0,50 – 0,75 – 1,0-1,5 – 2,0 – 3,0 mg L-1 Cl2
Ferro Ácido tioglicólico
Cartela com faixa entre 0,25 – 0,50 – 1,0 – 1,5 – 2,0 – 3,0 – 
4,0 – 5,0 mg L-1 Fe
Nitrogênio
Amoniacal
Azul de 
indofenol
Cartela com faixa entre 0,0 – 0,10 – 0,25 – 0,50 – 1,0 – 2,0 – 
3,0 mg L-1 N-NH3
pH Indicador Cartela com faixa entre 4,5 – 5,0 – 5,5 – 6,0 – 6,5 – 7,0 – 7,5 – 8,0 un. de pH
Transparência X Cartela de comparação visual com faixa entre 50 – 100 – 200 NTU
Cor X Cartela de comparação visual com faixa entre 3,0 – 5,0 15,0 – 25 -50 – 100 mg L-1 Pt/Co
Cloreto Titulação argentimétrica Resolução de 10 mg L
-1 Cl-
Dureza total Titulação decomplexação Resolução de 10 mg L
-1 CaCO3
Oxigênio 
consumido
Oxidação com
Permanganato
Cartela de comparação visual com faixa entre 0,0 -1,0 – 3,0 
– 5,0 mg L-1 O2
Alcalinidade Neutralização Resolução de 10 mg L-1 mg L-1 CaCO3
Coliformes a 
35° C, a 45° C e 
Salmonela 
X Mínimo detectável: 60 UFC / 100 mL
UNI
72
Lembre-se de gerir adequadamente o tempo para que seja possível determinar 
todos os parâmetros no período estabelecido para a realização das análises. Divida as tarefas, 
pois várias análises podem ser realizadas simultaneamente.
5 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Depois da realização desta prática, preencha a tabela de resultados, conforme 
o modelo estabelecido no quadro a seguir:
QUADRO 2 – RESULTADOS: VALORES DOS PARÂMETROS OBTIDOS EM CADA AMOSTRA
FONTE: As autoras
 PARÂMETROS Água Potável Água do rio ou lago
Cloro Livre (mg/L)
Ferro (mg/L)
Nitrogênio Amoniacal
(mg/L)
pH
Transparência (NTU)
Cor (mg/L Pt/Co)
Cloreto (mg/L)
Dureza total (mg/L de CaCO3)
Oxigênio consumido (mg/L)
Alcalinidade (mg/L de CaCO3)
Coliformes a 35°C, a 45º C e 
salmonela
Ao finalizar a prática, o acadêmico deve adquirir a competência de fazer 
um diagnóstico crítico dos resultados obtidos combinando os seguintes fatores:
• Conhecimentos prévios dos acadêmicos. 
• O conteúdo teórico abordado na introdução.
• Consultando bibliografia adicional sempre que necessário.
• Padrões vigentes de potabilidade na legislação brasileira (Anexo I).
UNI
73
Os acadêmicos devem discutir em equipe os resultados obtidos, de forma 
a ser possível preencher duas tabelas de interpretação e conclusões, conforme o 
modelo no quadro a seguir:
QUADRO 3 – TABELA DE INTERPRETAÇÃO E CONCLUSÕES
FONTE: As autoras
Na coluna “justificativa do valor encontrado”, a equipe deve justificar a 
sequência de acontecimentos que ocorreu para que a amostra apresente o valor 
encontrado. Na coluna “consequências para o meio natural”, a equipe deve identificar se 
o valor encontrado pode ser considerado uma contaminação e seus possíveis impactos 
ao meio ambiente de forma geral. Na coluna “consequências para a saúde humana”, o 
acadêmico deve identificar se o valor encontrado para o parâmetro pode ser prejudicial 
se a água é consumida pelo ser humano ou não.
UNI
74
ANEXO I
Padrões de potabilidade legais conforme a legislação vigente:
QUADRO 4 – PARÂMETROS DE POTABILIDADE
FONTE: As autoras
75
UNIDADE 2
ORGANISMOS, POPULAÇÕES, 
COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade você será capaz de:
• conhecer a dinâmica estrutural das populações naturais;
• identificar as diferentes formas de interação ocorrentes entre os organismos;
• compreender os padrões e processos existentes nas comunidades;
• entender as relações de fluxo de energia e matéria que regem a dinâmica 
dos ecossistemas.
A Unidade 2 está dividida em quatro tópicos, cujas atividades, no final de 
cada um deles, reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 – ORGANISMOS E POPULAÇÕES
TÓPICO 2 – INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
TÓPICO 3 – ECOLOGIA DE COMUNIDADES
TÓPICO 4 – ECOSSISTEMAS
76
77
TÓPICO 1
ORGANISMOS E POPULAÇÕES
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Na unidade anterior vimos alguns fatores que influenciam a vida dos 
organismos ou indivíduos. Porém, a definição de organismo, em um primeiro 
olhar, não é tão simples quanto parece. 
Se pensarmos em animais, de uma forma geral, é fácil identificar onde 
termina um organismo e começa outro, principalmente se estivermos observando 
um bando de andorinhas ou de macacos. Agora, porém, pensemos em uma 
esponja. Como definimos o que é um organismo? Se considerarmos o reino Fungi, 
esta definição se torna ainda mais complexa. Afinal, vemos somente o corpo de 
frutificação destes seres e um único organismo pode produzir mais de um corpo 
de frutificação ao mesmo tempo (figura a seguir). 
FIGURA 31 – CORPOS DE FRUTIFICAÇÃO DE REPRESENTANTES DO REINO FUNGI. NÃO É POSSÍVEL 
AFIRMAR QUE CADA CORPO DE FRUTIFICAÇÃO REPRESENTA UM ORGANISMO DA ESPÉCIE
FONTE: As autoras
Por isso, é de suma importância que nestes estudos haja uma descrição 
detalhada dos elementos utilizados para definir um organismo. 
Alguns questionamentos podem surgir em sua mente: por que é importante 
ter uma definição clara de organismo? E ainda, qual é o objetivo de estudá-lo? 
É imprescindível ter um conceito claro de organismo para poder efetuar 
qualquer pesquisa envolvendo uma determinada população, como, por exemplo, 
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
78
para realizar o controle populacional de uma espécie exótica que se tornou invasora 
ou “praga”, ou ainda, no acompanhamento de uma espécie considerada ameaçada 
de extinção. 
Falando em população, vamos relembrar esse conceito?
Uma população pode ser definida como o conjunto de organismos ou 
indivíduos de uma mesma espécie que vive em um determinado local, em um determinado 
espaço de tempo.
Assim, o conjunto de aves da espécie aracuã (Ortalis guttata) que habita um 
determinado fragmento florestal é considerado uma população, da mesma forma 
que o total de organismos do palmiteiro (Euterpe edulis) encontrados neste mesmo 
fragmento. Poderíamos citar os mais diversos exemplos, como um cardume de 
sardinhas (Sardina sp.) que vivem juntas em uma determinada área do Oceano 
Atlântico, ou ainda uma colônia de bactérias que habitam o nosso trato intestinal. 
Mas o nosso intuito é que você compreenda os termos básicos a qualquer estudo 
focando as relações ecológicas existentes em nosso planeta.
Um fator muito importante e que sempre deve ser considerado é que a 
definição de população pode variar de acordo com o objetivo do estudo ou com a 
definição de população dada pelo pesquisador. Vamos a um exemplo:
 Anteriormente consideramos como uma população o conjunto de aracuãs 
que habita um determinado fragmento florestal. Porém, se o objetivo do estudo for 
estudar as aracuãs de uma determinada cidade e se assim o desejar, o pesquisador 
pode considerar o conjunto destas aves como uma população. Ainda, o conjunto 
de aracuãs existentes no Estado de Santa Catarina também pode ser considerado 
uma população se o objetivo for compará-las com as aracuãs de outros estados. 
Por isso, definir os limites de uma população e deixá-los sempre claros 
é indispensável!
Vamos agora entender um pouco mais sobre a história de vida dos 
organismos, parâmetro esse que define as estratégias utilizadas para realizar 
as mais diferentes atividades, tais como o seu crescimento e reprodução. Essas 
estratégias influenciam na estrutura e dinâmica populacional e, consequentemente, 
no comportamento de cada espécie.
ATENCAO
TÓPICO 1 | ORGANISMOS E POPULAÇÕES
79
2 HISTÓRIAS DE VIDA DOS ORGANISMOS
O estudo dos organismos vai muito além de saber identificá-los. Se 
quisermos entender as forças que interferem na sua abundância em uma população 
precisamos conhecer as fases da sua vida onde estas forças são mais significativas 
(TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006) para, se for o caso, intervir sobre estes 
quesitos. Estas informações são obtidas através da história de vida dos organismos. 
É o que veremos a seguir.
Desde o momento do nascimento até a sua morte, um organismo passa 
por diversas fases de vida, onde sempre precisa equilibrar algumas questões 
primordiais: o seu crescimento e a sua reprodução. A forma como um organismo 
gerencia estas questões em cada idade é que governa a evolução da sua história de 
vida (RICKLEFS, 2010).
Mas o que significa a expressão história de vida? De forma simplificada, 
a história de vida de um organismo, como o próprio nome sugere, compreende 
desde o seu nascimento, o período pré-reprodutivo, o período reprodutivo, o 
período pós-reprodutivo, até a sua morte (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). 
 
De acordo com Ricklefs (2010), alguns componentes destacam-se na história 
de vida de um organismo. São eles:
a) a idade de maturidade ou primeira maturação; 
b) a parição ou número de eventos reprodutivos; 
c) a fecundidade ou número de descendentes produzidos por evento; e 
d) a longevidade.
A forma como os organismos lidam com os componentes acima citados varia 
amplamente, de forma que as suas histórias de vida também são bastante distintas. 
De forma geral, a maioria dos problemas de alocação de recursos que moldam as 
histórias de vida dos organismos pode ser resumida em três questionamentos: 1) 
quando começar a reproduzir? 2) quão frequentemente reproduzir? 3) quantos 
filhotes gerar em cada evento reprodutivo? (RICKLEFS, 2010). 
Um dos fatores que influencia estes questionamentos é o tempo de vida. 
Geralmente organismos com tempo de vida longa começam a reproduzir mais 
tardiamente em relação àqueles cujo tempo de vida é curto. 
Em relação a este quesito, são denominados anuais os organismos cujo 
ciclo de vida não ultrapassa um ano, enquanto que os organismos cujo ciclo de 
vida vai além deste período de tempo são denominados perenes (TOWNSEND; 
BEGON; HARPER, 2006). Grande parte das plantas utilizadas na agricultura, talcomo arroz, milho, feijão, entre outros, são exemplos de organismos anuais. Por 
outro lado, vegetais florestais e animais vertebrados de grande porte comumente 
vivem durante vários anos, e são exemplos de organismos perenes.
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
80
Alguns organismos, independentemente de possuírem ciclo de vida anual 
ou perene, apresentam apenas um evento reprodutivo ao longo da vida, sendo 
denominados organismos semélparos (semel “uma vez” e pario “dar à luz”). A 
semelparidade é comum em plantas anuais, mas é rara entre animais e plantas de 
vida longa (perenes) (RICKLEFS, 2010). Todavia, pode-se citar o caso do salmão do 
Pacífico, da cigarra periódica, dos bambus e do agave (Figura a seguir).
FIGURA 32 – INFLORESCÊNCIA DE UM ORGANISMO DE AGAVE UTILIZADO 
PARA ORNAMENTAÇÃO EM INDAIAL, SANTA CATARINA, EM PERÍODO FÉRTIL
FONTE: As autoras
Outros organismos reproduzem-se continuamente ao longo da vida, sendo 
denominados organismos iteróparos (do latim itero “repetir”). A espécie humana é 
um bom exemplo de espécie iterópara. Grande parte dos animais e plantas de vida 
longa também apresenta este padrão de reprodução.
Com relação ao tempo de vida e número de eventos reprodutivos, uma 
inúmera quantidade de organismos apresenta história de vida que se encaixa 
entre os dois extremos apresentados, variando distintamente para cada um desses 
atributos. Porém, entre os organismos que se enquadram na ponta lenta desse 
extremo podem-se citar os albatrozes. Essas aves possuem grande longevidade 
e atingem a maturidade sexual tardiamente (cerca de 5-6 anos para as espécies 
menores e 11 anos para os grandes albatrozes). Apenas um ovo é produzido 
TÓPICO 1 | ORGANISMOS E POPULAÇÕES
81
Foram justamente as características da história de vida das moscas-da-fruta que 
permitiram que esta espécie fosse amplamente utilizada em experimentos genéticos!
Desta forma, pode-se observar que existe certo balanço ou escolha entre 
alocar energia para o crescimento ou reprodução. Como citam Townsend, Begon 
e Harper (2006), especialmente quanto à reprodução, a iniciação dessa etapa pode 
gerar um alto custo para o crescimento, podendo inclusive encerrar a vida do 
organismo. 
Em algumas situações, no entanto, isso pode ser interessante, pois espécies 
que conseguem se multiplicar rapidamente, produzindo um elevado número de 
descendentes em um curto período de tempo, obtêm maior sucesso em ambientes 
efêmeros. Isso permite que estas espécies colonizem novos hábitats rapidamente, 
tal como áreas perturbadas. Costuma-se denominar de oportunistas as espécies 
que apresentam esse tipo de padrão de vida. Elas ainda podem ser denominadas 
de r-estrategistas.
No outro extremo, algumas espécies são mais eficientes em sobreviver 
em hábitats onde há intensa competição pelos recursos limitados. Nesses casos, 
os organismos investem mais em crescimento, ao invés de reprodução, ou na 
competição uns com os outros. Essas espécies são denominadas de k-estrategistas, 
por passar a maior parte de suas vidas crescendo contra os limites dos recursos 
ambientais (veja no Tópico 2 onde se discute a competição intraespecífica).
Aqui vale uma ressalva: apesar de os ecólogos sempre buscarem encontrar 
padrões nos fenômenos e processos que estudam, é preciso considerar que estamos 
lidando com seres vivos diversificados, cujas características foram e continuam a 
ser moldadas pela evolução e pelas condições do ambiente onde vivem. Portanto, 
não há dois ou mais grupos isolados de padrões diferenciados com relação às 
histórias de vida dos organismos. Ao contrário, o que se pode verificar na natureza 
é uma continuidade de valores para as diferentes características que moldam as 
histórias de vida, cujos extremos são ocupados por organismos com histórias 
de vida ditas lentas e aqueles que apresentam uma história de vida considerada 
rápida. Os extremos lento-rápidos das histórias de vida dos organismos podem ser 
assim distinguidos (tabela a seguir):
por temporada, podendo haver intervalos entre as posturas de dois ou mais 
anos (NEVES et al., 2006). Outros exemplos de extremo lento são os elefantes, as 
tartarugas-marinhas e as árvores de carvalho. No extremo rápido temos as ervas 
em geral e as moscas-da-fruta. 
UNI
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
82
TABELA 1 – AGRUPAMENTO DE VALORES EXTREMOS PARA OS ATRIBUTOS (CARACTERÍSTICAS) 
QUE COMPÕEM A HISTÓRIA DE VIDA DE UM ORGANISMO 
FONTE: Ricklefs (2010, p. 120-121)
3 MONITORANDO A MORTALIDADE, A NATALIDADE E A
DISPERSÃO DOS ORGANISMOS DE UMA POPULAÇÃO 
Na seção anterior comentamos sobre a importância de conhecermos a 
fundo a história de vida dos organismos para que seja possível conhecer alguns 
aspectos das populações naturais. Não podemos, no entanto, determinar a taxa 
de natalidade, mortalidade e sobrevivência de uma população estudando os 
organismos separadamente. Esses são alguns exemplos das diversas propriedades 
únicas das populações e que, portanto, somente fazem sentido no âmbito 
populacional (ODUM; BARRET, 2011). Conhecer estes processos é de suma 
importância, uma vez que são eles os responsáveis pela modificação do tamanho 
de uma população (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
Você pode questionar a importância de estudar estas questões. Um 
exemplo prático da sua utilidade é em atividades de manejo. Como elaborar uma 
estratégia eficaz se não se conhece a estrutura e dinâmica da população? Será 
necessário intervir severamente ou simples ações são suficientes? E ainda, em qual 
fase da vida é necessário focar as intervenções? Essas e outras questões podem ser 
acessadas através de dados populacionais como os que veremos a seguir. 
3.1 TABELAS DE VIDA E CURVAS DE SOBREVIVÊNCIA
Uma forma de acompanhar as taxas de natalidade de uma população é 
através da construção de uma tabela de vida. O tipo de tabela de vida varia de 
acordo com a forma de monitoramento da população. Assim, é possível elaborar 
uma tabela de vida de coorte ou dinâmica ou uma tabela de vida estática.
 
O termo coorte, utilizado na tabela de vida de coorte ou dinâmica, define 
os organismos que nasceram em um mesmo determinado período de tempo. Desta 
forma, nesse tipo de tabela é registrada a sobrevivência desses organismos que 
nasceram em uma mesma época até o último morrer (TOWNSEND; BEGON; 
HARPER, 2006). Esse método é geralmente aplicado para plantas e animais sésseis, 
nos quais os indivíduos marcados podem ser continuamente rastreados ao longo 
de suas vidas (RICKLEFS, 2010).
TÓPICO 1 | ORGANISMOS E POPULAÇÕES
83
A tabela de vida estática, por sua vez, pode ser definida como uma foto 
instantânea da população, pois acompanha a população em um dado espaço 
de tempo, descrevendo os números de sobreviventes de diferentes idades na 
população (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). A seguir apresentamos um 
gráfico para que você entenda a diferença de estratégia existente entre a construção 
das tabelas de vida.
Não vamos aqui demonstrar ou ensinar a calcular as tabelas de vida, mas é 
importante você saber da sua existência e da sua utilidade em estudos populacionais. 
De fato, as tabelas de vida fornecem informações detalhadas sobre organismos 
específicos, como, por exemplo, em qual fase houve um maior número de mortes. 
Porém, os ecólogos buscam encontrar padrões entre as mais diversas espécies, de 
forma que a transferência dos dados de sobrevivência calculados nas tabelas de vida 
para um gráfico pode ser mais reveladora (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
GRÁFICO 1 – DEMONSTRAÇÃO GRÁFICA DA FORMA DE ACOMPANHAMENTO 
DOS ORGANISMOS DE UMA POPULAÇÃO ATRAVÉS DA CONSTRUÇÃO DE 
TABELAS DE VIDA 
Obs.: Nas tabelas de vida de coorte todos os organismos que nasceram no 
tempo t0 são acompanhados até que o último tenha morrido. Já na tabela 
estática, todos os organismos existentes no período t1 são monitorados.
FONTE: Adaptado de Ricklefs (2010)
Ao se transpor os dados de tabelas de vida de coorte ou dinâmicapodem 
ser observadas três formas de curva de sobrevivência: 
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
84
GRÁFICO 2 – CURVA DE SOBREVIVÊNCIA E TAXA DE MORTALIDADE EM CURVAS DO TIPO I
FONTE: Adaptado de Townsend, Begon e Harper (2006)
CURVA DO TIPO II: nas populações que apresentam este tipo de curva 
de sobrevivência, a taxa de mortalidade é relativamente constante ao longo do 
tempo de vida do organismo (Gráfico 3). Esse é o caso da hidra de água doce, 
de diversos passeriformes, de coelhos, cervos, entre outros (DAJOZ, 2005, p. 140; 
ODUM; BARRET, 2008).
GRÁFICO 3 – CURVA DE SOBREVIVÊNCIA E TAXA DE MORTALIDADE EM CURVAS DO TIPO II
FONTE: Adaptado de Townsend, Begon e Harper (2006)
CURVA DO TIPO III: nas populações que apresentam este tipo de curva de 
sobrevivência, a taxa de mortalidade é elevada nos estágios iniciais, diminuindo 
posteriormente (Gráfico 4). Esse é o tipo mais comum de curva apresentado pelas 
populações naturais e é frequente nos animais invertebrados, plantas, muitos 
peixes e anfíbios (DAJOZ, 2005; RICKLEFS, 2010).
CURVA DO TIPO I: na curva de sobrevivência do Tipo I, a taxa de mortalidade 
de indivíduos na população é baixa nos estágios jovens, se concentrando nas idades 
mais avançadas (DAJOZ, 2005), como pode ser visto nos gráficos a seguir. Um 
exemplo típico deste tipo de curva é o apresentado pelas populações humanas, 
assim como pelas demais populações de mamíferos. Os insetos sociais e as moscas-
da-fruta também tendem a apresentar esse padrão (DAJOZ, 2005).
TÓPICO 1 | ORGANISMOS E POPULAÇÕES
85
GRÁFICO 4 – CURVA DE SOBREVIVÊNCIA E TAXA DE MORTALIDADE EM CURVAS DO TIPO III
FONTE: Townsend, Begon e Harper (2006, p. 202)
Os três tipos de curva de sobrevivência apresentados são úteis 
generalizações, mas é preciso destacar que na prática a forma da curva está muitas 
vezes relacionada com a densidade da população, podendo, portanto, variar ao 
longo do tempo (ODUM; BARRET, 2011; TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
3.2 DISPERSÃO E MIGRAÇÃO
Dificilmente um organismo permanece ao longo da sua vida no mesmo 
local onde foi gerado. Isso é uma realidade não somente com os animais, mas 
também para os outros seres, como microrganismos e vegetais. De acordo com as 
características de cada espécie em relação à sua capacidade de locomoção, diversas 
estratégias podem ser observadas. 
Os vegetais, por exemplo, incapazes de se locomoverem por si próprios, 
desenvolveram diferentes maneiras para dispersarem suas sementes. Assim, 
algumas plantas têm as suas sementes dispersas pelo vento (ex. dente-de-leão), num 
fenômeno denominado anemocoria. Outras oferecem frutos carnosos atraentes aos 
seus agentes dispersores animais (zoocoria) como aves e morcegos; ou pela água 
(hidrocoria), entre diversas outras. Desta forma, suas sementes chegam a locais 
distantes da planta-mãe, permitindo que a população se distribua de uma forma 
que jamais seria possível sem estes agentes.
Os animais, por sua vez, se deslocam à procura de recurso e abrigo, mesmo 
que esse deslocamento signifique mover-se somente 1 cm em uma folha, ou se 
mover de um hemisfério a outro (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
Os efeitos dos movimentos dispersores são variados. Em alguns casos 
eles agregam os organismos da população, em outros eles permitem que fiquem 
espalhados. De forma geral, podem-se encontrar três padrões espaciais: ao acaso, 
regular e agregado (figura a seguir).
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
86
FIGURA 33 – PADRÕES GERAIS DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL QUE PODEM SER 
EXIBIDOS PELOS ORGANISMOS EM SEUS HABITATS
FONTE: Adaptado de: Townsend, Begon e Harper (2006)
Conhecer o padrão de distribuição dos organismos de uma população 
é muito importante para censos populacionais. Isso decorre do fato de que 
dificilmente é possível realizar a contagem de todos os organismos habitantes 
em um determinado local e da densidade populacional. Portanto, usualmente 
costuma-se utilizar amostras. Sem conhecer a distribuição da população, corre-
se o risco de selecionar amostras em áreas que superestimem ou subestimem a 
realidade da população, inferindo e prejudicando possíveis ações de controle de 
pragas e/ou de conservação da espécie.
Você deve ter percebido que apesar do subtítulo indicar que falaríamos 
da dispersão e da migração dos organismos, até o momento utilizamos apenas 
a expressão dispersão. Isso indica que dispersão e migração são sinônimas? De 
forma alguma.
Enquanto a dispersão se refere ao movimento de afastamento dos 
organismos, a migração constitui em um movimento direcional em massa pelo qual 
os indivíduos se dirigem de um local a outro (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 
2006). A migração ocorre geralmente de locais com baixa disponibilidade de 
recursos para áreas mais produtivas. 
O movimento de migração é mais frequente em ambientes temperados, 
onde as estações do ano mudam bruscamente o clima local. Assim, muitas espécies 
de aves, por exemplo, durante o inverno migram do hemisfério norte para o 
hemisfério sul e vice-versa.
87
RESUMO DO TÓPICO 1
• Definir um organismo não é tão fácil como em um primeiro momento parece, 
demonstrando que os conceitos ecológicos não devem ser generalizados e 
necessitam de claras regras de delimitação. 
• A partir do estudo dos organismos pode-se acessar a sua história de vida, 
permitindo medidas de intervenção, quando necessário for.
• A história de vida de um organismo compreende todas as fases da sua vida, mas 
de forma resumida pode ser dividida em nascimento, período pré-reprodutivo, 
reprodutivo, período pós-reprodutivo e morte.
• Em suma, os fatores que influenciam a história de vida de um organismo 
são a idade da maturação, o número de eventos reprodutivos, o número de 
descendentes gerados a cada reprodução, e o tempo de vida.
• Algumas espécies possuem ciclo de vida curto, com duração de até um ano. 
Estas espécies são denominadas de espécies anuais. Outras espécies vivem por 
mais tempo, sendo chamadas de espécies perenes.
• Durante a sua vida uma espécie pode reproduzir uma única vez (espécies 
semélparas) ou apresentar vários eventos reprodutivos (espécies iteróparas).
• Para acessar a história de vida dos organismos, os ecólogos utilizam como 
estratégia a construção de tabelas de vida. A tabela de vida de coorte ou dinâmica 
é confeccionada através do acompanhamento de uma geração de organismos da 
população, desde o nascimento do primeiro indivíduo até a morte do último da 
“leva”. Já a tabela de vida estática utiliza como estratégia acompanhar todos os 
organismos presentes na população em um determinado período de tempo fixo.
• Através dos dados adquiridos em uma tabela de vida de coorte ou dinâmica 
é possível elaborar a curva de sobrevivência ao longo da vida para uma dada 
população.
• Há três padrões de curva de vida entre as populações naturais, sendo elas 
denominadas de Curva do Tipo I, Curva do Tipo II e Curva do Tipo III.
• Os organismos se dispersam de seus progenitores formando três padrões básicos 
de distribuição: ao acaso, regular e agregado.
88
AUTOATIVIDADE
1 Os organismos variam amplamente em suas histórias de vida, possuindo 
diferentes estratégias em relação ao crescimento e reprodução. A este 
respeito, analise as sentenças e classifique V para as afirmativas verdadeiras 
e F para as falsas:
( ) São denominadas espécies semélparas aquelas que apresentam apenas 
um evento reprodutivo ao longo da sua vida.
( ) As espécies vegetais utilizadas na agricultura, em sua maioria, são 
consideradas perenes, por apresentarem ciclos de vida inferiores a um 
ano.
( ) Toda espécie com ciclo de vida curto apresenta apenas um evento 
reprodutivo, enquanto que todas as espécies de vida longa reproduzem 
várias vezes ao longo de sua vida.
( ) O início da vida reprodutiva de um indivíduo tem grande influência sobre 
a sua história de vida.
Agora, assinale a alternativa CORRETA:
( ) V – F – F – V.
( ) V – V – F – V.
( ) F – F – F– V.
( ) V – V – F – F.
2 Um pesquisador foi contratado para monitorar uma população de uma ave 
ameaçada de extinção e sobre a qual pouco se sabe. Quais atributos desta 
população o pesquisador deve acessar de maneira a poder monitorar de 
forma correta esta população? Por quê?
3 Quando se deseja conhecer as histórias de vida dos organismos de uma 
população, é possível realizar dois tipos de abordagem, cada qual dará 
origem a um tipo de tabela de vida. Quais são estes tipos de tabela e o que 
cada uma delas aborda?
4 Apesar de muitas vezes serem tratadas como sinônimos, a dispersão e a 
migração são eventos distintos. Qual é a principal diferença existente entre 
estes dois fenômenos? Dê um exemplo de cada.
89
TÓPICO 2
INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Independente da espécie que consideremos, o fato é que nenhum organismo 
consegue viver sem interagir com outros seres, sejam eles da mesma espécie ou 
de espécies distintas. Nesse contexto, abordaremos a partir de agora as diferentes 
formas de relações ocorrentes entre os organismos vivos.
Os motivos que levam um organismo a se relacionar com os demais são os 
mais distintos, variando desde a busca de proteção até a garantia de alimentação. 
Ainda, esta interação pode se dar entre organismos da mesma espécie, a chamada 
interação intraespecífica, ou ocorrer entre organismos de espécies diferentes, o que 
é denominado interação interespecífica. Primeiramente focaremos nas interações 
intraespecíficas, dando posterior ênfase às interações interespecíficas.
Como pode ocorrer tanto intra como interespecificamente, a competição 
será tratada em separado ao final do tópico.
2 INTERAÇÕES INTRAESPECÍFICAS
Um organismo se relaciona com outros organismos da sua espécie por 
diversas razões, seja devido à disputa por alimento, necessidade de abrigo ou busca 
por um parceiro, seja para maximizar os esforços para a sobrevivência do grupo 
ou sucesso reprodutivo. A esse tipo de interação que ocorre entre organismos da 
mesma espécie dá-se o nome de interação intraespecífica. São várias as formas 
de ocorrência desse tipo de interação, sendo relacionadas a seguir as interações 
sociais, um tipo especial de comportamento que envolve membros de uma mesma 
população (RICKLEFS, 2010).
As interações envolvendo organismos de uma mesma espécie equilibram 
de forma delicada as tendências de conflito de cooperação e competição, altruísmo 
e egoísmo, ocorrendo em quase todas as espécies. Como destaca Ricklefs (2010), 
mesmo as bactérias e os protistas podem sentir a presença de outros da mesma 
espécie e reagir de formas amigáveis ou agressivas através do lançamento de 
secreções químicas. Da mesma forma, as plantas podem se comunicar através de 
compostos químicos para sinalizar danos por herbívoros.
O comportamento social inclui desde situações de cooperação ao 
antagonismo, de forma que a seguir será explorado o tipo de interação intraespecífico 
mais “famoso” e comentado em livros didáticos de Ciências e Biologia: a sociedade.
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
90
2.1 SOCIEDADE
Uma sociedade pode ser definida como um agrupamento permanente, onde 
os organismos não estão ligados fisicamente e apresentam divisão de atividades 
entre os membros, agindo de forma cooperativa. Há vários graus de sociabilidade no 
mundo animal, cujo grau máximo é denominado de eussociabilidade (RICKLEFS, 
2010), que será tratada neste Caderno de Estudos.
Para que uma interação seja denominada de eussociabilidade (eu em latim 
significa verdadeiro), as seguintes características devem ser verificadas:
1 Diversos adultos vivendo juntos em um grupo.
2 Gerações sobrepostas (pais e filhos) vivendo em um mesmo grupo.
3 Cooperação na construção de ninhos e no cuidado dos ovos.
4 Dominância reprodutiva por um ou poucos organismos, havendo castas estéreis.
Poucas espécies animais apresentam tal grau de organização, de forma que 
a eussociabilidade está restrita às térmitas (cupins), formigas, abelhas e vespas. A 
seguir, relataremos um pouco sobre a organização social destes animais, utilizando 
como base o descrito por Ricklefs (2010).
As sociedades sociais são dominadas por uma ou poucas fêmeas 
ovopositoras, denominadas rainhas. Nas colônias de formigas, abelhas e 
vespas (Figura 34), as rainhas acasalam somente uma vez durante a sua vida, 
armazenando uma quantidade de esperma suficiente para produzir filhotes 
por um período de 10 a 15 anos!
 
As sociedades das abelhas são organizadas da seguinte forma: os filhotes de 
uma rainha são divididos entre uma casta estéril trabalhadora, todas geneticamente 
fêmeas, e outra casta reprodutiva, produzida sazonalmente, formada por machos e 
fêmeas. O destino de um organismo entre estas duas opções depende da qualidade 
da nutrição recebida enquanto era larva em desenvolvimento. Processo semelhante 
ocorre entre as formigas e vespas.
Diferentemente, nas térmitas, as colônias são dirigidas por um casal 
reprodutivamente ativo (rei e rainha) que produzem todos os demais organismos 
da colônia através da reprodução sexuada. Estes trabalhadores são divididos em 
ambos os sexos que não são capazes de amadurecer reprodutivamente até que o 
rei ou a rainha morra.
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
91
FIGURA 34 – VESPA RAINHA E OPERÁRIA
Obs.: À esquerda, exemplo de vespa rainha e vespa operária. Na foto à direita, ao 
centro da imagem, uma térmita rainha com seu abdômen cheio de ovos. 
FONTE: Disponível em: <http://fotografia.fr.yuku.com/topic/20384>. (vespas); <http://www.
alunosonline.com.br/biologia/sociedade-dos-cupins.html>. (térmitas). Acesso em: 28 maio 2013.
Em livros didáticos de Ciências e Biologia é citada a interação intraespecífica 
colônia, cuja definição dada é de um agrupamento de organismos de uma determinada 
espécie que são interdependentes uns dos outros para a sua sobrevivência, mas onde, 
diferentemente das sociedades, não há uma divisão de atividades claramente definida. 
Como exemplos são comumente citadas as colônias de esponjas e de bactérias. Todavia, é 
necessário ter cautela com esse termo. Em livros e artigos respeitados na área de ecologia 
não é feita esta distinção entre sociedade e colônia, sendo inclusive denominado de colônia 
o ambiente físico ocupado pelas espécies sociais. Ainda, pode-se encontrar o termo colônia 
para definir um grupo de aves, morcegos e diversos outros seres que vivem em grupos.
3 INTERAÇÕES INTERESPECÍFICAS
Assim como é inevitável que organismos da mesma espécie interajam, 
o mesmo pode ser dito em relação aos organismos de espécies diferentes. Ora, 
todo ser vivo necessariamente precisa se alimentar, de forma que uma espécie 
acaba por ser consumidora ou recurso alimentar para outra espécie. Porém, não 
é apenas devido à alimentação que organismos de espécies diferentes interagem 
ao longo da vida. Nesta seção comentaremos os tipos mais comuns de interações 
interespecíficas existentes no mundo natural.
UNI
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
92
De forma geral, as interações interespecíficas podem 1) beneficiar ambas 
as espécies envolvidas, 2) beneficiar uma das espécies sendo indiferente à outra 
espécie em questão, e 3) beneficiar uma das espécies em detrimento da outra espécie 
integrante na relação. Nos livros didáticos de Ciências e Biologia tais situações são 
divididas entre as interações harmônicas e desarmônicas.
 A seguir apresentamos uma tabela com o resumo das interações e suas 
consequências para as espécies nelas envolvidas (tabela a seguir).
TABELA 2 – TIPOS DE INTERAÇÃO INTERESPECÍFICA 
FONTE: Adaptado de Dajoz (2005)
Apesar de termos nos baseado na nomenclatura utilizada por Dajoz (2005) para 
definir as interações interespecíficas, é necessário ter em mente que estas denominações 
mudam conforme os livros-referência de Ecologia e, consequentemente, entre os livros 
didáticos de Ciências e Biologia. De fato, como comentam Quesado e Rios (2011), há 
ambiguidade e diferentesformas de definir as mesmas interações. Isso evidencia que a 
ciência não é uma verdade absoluta e acabada, sendo mutável e sujeita a interpretações 
diferenciadas de acordo com os contextos históricos e culturais. Essa questão será melhor 
evidenciada quando falarmos nas relações de protocooperação e mutualismo.
Vamos então agora discutir os principais tipos de interações interespecíficas 
citados em livros-texto de Ecologia e nos livros didáticos de Ciências e Biologia.
3.1 PREDAÇÃO
Os predadores capturam os indivíduos e os consomem, retirando-os da 
população e ganhando nutrição para sustentar a própria reprodução (RICKLEFS, 
2010). Os exemplos são os mais diversos e conhecidos por todos nós (Figura 
35). Afinal, quem nunca assistiu a um documentário sobre a vida silvestre que 
demonstrasse esse tipo de relação?
UNI
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
93
 Um aspecto que precisa ser considerado é que nós humanos somos, sem 
sombra de dúvida, os maiores e mais eficazes predadores existentes. E não somente 
quando realizamos atividades de caça, mas também quando consumimos carne 
em nossas refeições. 
FIGURA 35 – ORGANISMO DE ANU-BRANCO GUIARA GUIARA PREDANDO UM 
RÉPTIL NÃO IDENTIFICADO
FONTE: Disponível em: <http://olhares.uol.com.br/predacao-foto3620762.html>. 
Acesso em: 29 abr. 2013.
3.2 HERBIVORIA
A herbivoria envolve um organismo que utiliza uma espécie de planta 
como recurso alimentar. Nos livros-referência de Ecologia a interação herbivoria 
é classificada juntamente com a predação, com o parasitismo ou com ambos, 
podendo, muitas vezes, confundir o leitor menos avisado. O fato é que dependendo 
do caso, os herbívoros se comportam como predadores e, em outras situações, 
como parasitas (RICKLEFS, 2010). 
Mas o que diferencia essa classificação entre os herbívoros? De forma 
simplificada, a herbivoria pode ser considerada predação quando o herbívoro 
remove a planta inteira. Por outro lado, quando apenas parte dos tecidos vegetais é 
retirada, esta interação pode ser considerada parasitismo. Neste contexto, quando 
colhemos um pé de alface em nosso quintal, ou derrubamos um palmiteiro para 
nosso consumo, podemos ser considerados predadores desta planta. O mesmo 
acontece com um veado, capivara, ou outro animal qualquer que consuma uma 
planta por inteiro (Figura 36). 
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
94
FIGURA 36 – INDIVÍDUO DE CAPIVARA SE ALIMENTANDO EM UM 
TÍPICO CASO DE HERBIVORIA
FONTE: Disponível em: <www.flickr.com>. Acesso em: 29 abr. 2013.
Por outro lado, se retirarmos apenas uma parte do tecido vegetal para, por 
exemplo, extrair o látex de uma árvore, ou quando uma lagarta consome parte das 
folhas de um arbusto, esta interação pode ser considerada um parasitismo.
3.3 PARASITISMO
É denominada de parasitismo a relação em que um organismo nomeado 
parasita vive intimamente associado com um organismo de outra espécie, que é 
considerado seu hospedeiro (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). Geralmente, 
o parasita retira os recursos necessários do seu hospedeiro de forma a prejudicá-lo 
sem, porém, matá-lo. Pelo menos a princípio. Isso porque não é interessante para 
um parasita eliminar a sua fonte de recurso quando não tem a capacidade de se 
locomover e sobreviver sem ela (Figura 37).
FIGURA 37 – ORGANISMO DE SABIÁ-DE-COLEIRA TURDUS 
ALBICOLLIS PARASITADO. EM DESTAQUE, CARRAPATO PRÓXIMO AO 
OLHO DO ANIMAL 
FONTE: As autoras
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
95
FIGURA 38 – A) ORGANISMO DE LAGARTA PARASITADA; B) ECLOSÃO DO PARASITOIDE
FONTE: Disponível em: A) <http://investirdinheiro.org/wp-content/uploads/2011/02/parasitoide-
controle-lagartas.jpg> e B) <http://es.wikipedia.org/wiki/Parasitoide>. Acesso em: 28 maio 2013.
Se os parasitas “roubam” recursos de seus hospedeiros, por outro lado esses 
não permitem que os parasitas tenham uma vida fácil e frequentemente desenvolvem 
diversos mecanismos para reconhecer os invasores e os destruir. Além disso, os 
parasitas devem se dispersar através de um ambiente hostil para se deslocar de um 
hospedeiro para outro (RICKEFS, 2010), o que não é nem de longe uma tarefa fácil.
De acordo com o local em que um parasita se aloja, ele pode ser denominado 
de diferentes formas. Assim, considera-se um endoparasita o organismo que se 
instala na parte interna do organismo hospedeiro, enquanto que o organismo que 
se aloja na parte externa é denominado de ectoparasita. Exemplos clássicos de 
ectoparasitas de animais são o carrapato, o piolho e a pulga, mas podem-se citar 
também os ácaros, os fungos e as bactérias. Já entre as plantas, a cochonilha é bastante 
comum, mas há diversas outras espécies que apresentam esse comportamento. 
Entre os endoparasitas, podemos citar as Taenia solium e T. saginata (conhecidas 
como solitárias), que podem parasitar o trato intestinal humano. 
Apesar de não ser uma regra, muitas vezes os parasitas podem ocasionar 
sintomas de doença em seu hospedeiro. Quando isso ocorre, o parasita é 
denominado de patógeno (RICKLEFS, 2010). 
Em outros casos, algumas espécies de moscas e vespas capturam um organismo 
e nele depositam seus ovos que, quando eclodirem, se alimentarão dos tecidos dos 
hospedeiros vivos, sendo chamados de parasitoides. Apesar de nesse caso o hospedeiro 
acabar morrendo, antes de isso acontecer as larvas já terão completado o seu ciclo e 
entrado em estágio de pupa. Assim, estas espécies primeiramente se comportam como 
parasitas, respeitando os órgãos vitais de seus hospedeiros, e posteriormente, como 
predadores, devorando-os e os matando (DAJOZ, 2005) (Figura 38 “a” e “b”).
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
96
FIGURA 39 – À ESQUERDA, EVENTO MARÉ-VERMELHA CAUSADA PELA ESPÉCIE DE PERIDIANO 
DO GÊNERO GONYAULAX. À DIREITA, SUB-BOSQUE DE UMA PLANTAÇÃO DE PINUS ELLIOTTII
FONTE: Disponível em: A) <http://www.brasilescola.com/biologia/mare-vermelha.htm>. B) 
<http://www.panoramio.com/photo/13625696>. Acesso em: 28 maio 2013.
3.5 COMENSALISMO
São denominadas de espécies comensais aquelas que utilizam outras 
espécies como suporte ou abrigo. Esse é o caso, por exemplo, de liquens e musgos 
que se desenvolvem sobre troncos de árvores e de plantas trepadeiras como a hera 
e a videira, que, embora tenham raízes, utilizam o tronco das árvores como suporte 
para que suas folhas atinjam o dossel florestal (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 
2006). Outro exemplo são as plantas epífitas, que são erroneamente denominadas 
parasitas e muitas vezes retiradas por pessoas que acreditam que estas plantas 
possam prejudicar ou mesmo levar a árvore-suporte à morte (Figura 40, letra “b”).
Na verdade, essas espécies apenas emitem suas raízes nos ramos das 
árvores sem, no entanto, retirar qualquer recurso delas. São consideradas plantas 
epífitas as orquídeas, bromélias, pteridófitas, entre outras.
3.4 AMENSALISMO
O amensalismo, também conhecido como antagonismo ou antibiose, é a 
interação em que uma espécie é eliminada por outra através do lançamento de 
uma substância tóxica (DAJOZ, 2005). Quando este tipo de associação ocorre 
nas plantas, ela recebe o nome de alelopatia. A espécie de pinheiro Pinus elliottii 
é um exemplo de planta que lança substâncias tóxicas ao seu redor, inibindo o 
crescimento de outras espécies. 
O amensalismo é comum em ambientes aquáticos, e explica o fenômeno 
das águas vermelhas, que consiste no lançamento de substâncias tóxicas na água 
pelos organismos de Peridianos (Gonyaulax), que é capaz de eliminar grande parte 
da fauna atingida (Figura 39).
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
97
FIGURA 40 – A) OS ORGANISMOS DE RÊMORA ACOMPANHAM TUBARÕES SE ALIMENTANDO 
DO RESTO ALIMENTAR CONSUMIDO POR ELES. B) PLANTAS EPÍFITAS UTILIZAM OUTROS 
VEGETAIS APENAS PARA SE FIXAR
FONTE: Disponível em: A) <http://sietepecadosdigitales.wordpress.com/2012/07/10interacciones-
web/> e B) as autoras.
Apesar de o comensalismo ser muito menos estudado do que o mutualismo 
e o parasitismo, esta interação permite que surjam modosde vida completamente 
especializados e fascinantes, e sua contribuição para a diversidade de comunidades 
pode ser bastante expressiva (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
3.6 PROTOCOOPERAÇÃO
Vários organismos comensais não são hospedeiros específicos, mas alguns 
aparentemente são encontrados associados a apenas uma espécie de hospedeiro. 
Esse seria, segundo Odum e Barret (2011), o passo mais curto para o desenvolvimento 
da relação de protocooperação. Mas o que vem a ser a protocooperação?
 
A protocooperação pode ser definida como uma interação em que ambos 
os organismos envolvidos se beneficiam, mas não dependem da associação para a 
sua sobrevivência.
Os casos de protocooperação são os mais diversos, de forma que citaremos 
apenas alguns. Um exemplo bastante conhecido é a interação ocorrente entre o 
 No ambiente aquático o comensalismo também é comum. De acordo 
com Odum e Barret (2011), praticamente todas as galerias de vermes, moluscos 
e esponjas contêm diversos organismos que as utilizam como abrigo, sem, no 
entanto, prejudicar o hospedeiro.
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
98
FIGURA 41 – ORGANISMO JOVEM DE MILVAGO CHIMACHIMA SOB O 
CRÂNIO DE UM BOVINO
FONTE: Disponível em: <http://flickriver.com/photos/tags/pinh%C3%A9/>. 
Acesso em: 11 abr. 2013.
3.7 MUTUALISMO
É considerada mutualismo a associação entre espécies em que ambas 
podem viver independentemente, mas cuja associação permite que determinada 
ação ou atividade ocorra. Essa interação assume diversas formas, mas geralmente 
os organismos envolvidos suprem recursos complementares ou serviços 
(RICKLEFS, 2010, p. 257). 
Um exemplo bastante ilustrativo é o mutualismo ocorrente entre algumas 
espécies de formigas e o gênero de plantas Cecropia (embaúbas). O “caule” das 
embaúbas é oco e as formigas costumam utilizá-lo como abrigo. Em contrapartida, 
as formigas atacam qualquer intruso (tal como lagartas e outros insetos) que 
porventura tentem se utilizar da embaúba como recurso alimentar. 
caranguejo-eremita e as anêmonas, que se fixam na concha utilizada pelo caramujo. 
Enquanto o caramujo proporciona locomoção, as anêmonas, que são sésseis, oferecem 
proteção ao caramujo através de substâncias urticantes presentes em seus tentáculos.
Muitas aves também participam de interações protocooperativas com outros 
organismos. Inclusive, o nome carrapateiro dado ao gavião Milvago chimachima se 
deve ao seu hábito de pousar sobre o dorso de bovinos e equinos, retirando destes 
os ectoparasitas para a sua alimentação (Figura 41). O carrapateiro não utiliza os 
carrapatos como única fonte de alimento, assim como os bovinos e equinos não 
dependem do carrapateiro para a sua sobrevivência. Porém, ambos se beneficiam 
desta associação, em um típico caso de protocooperação.
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
99
Entre outros casos de mutualismo, pode-se citar a dispersão de sementes 
por aves, morcegos e outros organismos, que se alimentam do arilo nutritivo 
produzido pelas plantas e acabam por levar as suas sementes para longe da planta-
mãe ao defecarem. Situação semelhante ocorre entre as plantas e espécies de 
animais nectarívoros. Enquanto a planta oferece o néctar como recurso nutritivo 
para o animal, este acaba por transportar o pólen da flor.
O termo simbiose é utilizado muitas vezes para definir o tipo de associação 
mutualística obrigatória e indissociável (DAJOZ, 2005; RICKLEFS, 2010). Todavia, 
esse termo não é consenso entre os grandes ecólogos. Pode ser considerado um 
caso de simbiose a associação entre os fungos micorrízicos e as raízes de algumas 
plantas (Figura 42). Se por um lado o fungo facilita a nutrição da planta, que sem a 
presença do fungo se desenvolve mal ou nem chega a se desenvolver, por outro o 
fungo micorrízico não sobrevive sem esta interação (DAJOZ, 2005). 
FIGURA 42 – ORGANISMO DE FUNGO MICORRÍZICO DA ESPÉCIE 
RHIZOPHAGUS CLARUS EM ASSOCIAÇÃO COM AS RAÍZES DE PLANTA DA 
ESPÉCIE SORGO SORGHUM BICOLOR
FONTE: As autoras
Outros exemplos de simbiose ocorrem entre as bactérias fixadoras de 
nitrogênio do gênero Rhizobium e as plantas da família Fabaceae (conhecidas 
também como leguminosas); entre fungos e algas, formando o líquen; entre 
o cupim ou térmita e os protozoários ou bactérias que habitam o seu intestino 
digerindo a celulose; entre vários outros exemplos.
Muitas relações mutualísticas evoluíram de relações hospedeiro-parasitas e 
talvez o contrário (RICKLEFS, 2010). Em plantas, tão notáveis quanto a diversidade 
de parasitas, são as populações de fungos mutualísticos que vivem fortemente 
integrados aos seus tecidos (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
100
Os termos protocooperação, mutualismo e simbiose podem causar certa confusão. 
De forma geral, essas interações possuem o mesmo princípio, variando somente o grau de 
dependência existente entre os organismos envolvidos, que aumenta da protocooperação em 
direção à simbiose. Todavia, os livros-texto de Ecologia e os livros didáticos de Ciências e Biologia 
variam muito em relação a essas definições. Essas e outras dúbias interpretações de termos 
ecológicos (como o de colônia nas interações intraespecíficas) demonstra a necessidade de 
unificação da classificação das interações ecológicas, a fim de não mais suscitar em confusões 
não só para os pesquisadores, mas também por parte dos leigos (QUESADO; RIOS, 2011).
4 A COMPETIÇÃO
A competição pode ser definida como qualquer uso ou defesa de um recurso 
por um organismo que reduza a sua disponibilidade para outros organismos 
(RICKLEFS, 2010). Mas o que pode ser considerado um recurso?
4.1 RECURSOS ECOLÓGICOS
A água pode ser entendida como um recurso, porque a sua utilização por 
um organismo prontamente diminuirá a quantidade a ser consumida por outros 
organismos. Por outro lado, a temperatura local não pode ser assim considerada, 
já que ela está disponível a todos e sua intensidade não varia de acordo com o uso 
(RICKLEFS, 2010). Os recursos utilizados pelos organismos podem ser divididos 
em dois grupos: recursos renováveis e recursos não renováveis.
São considerados recursos renováveis aqueles que uma vez utilizados por 
um organismo não estarão mais disponíveis até que esse organismo o libere ou 
cesse o seu uso. Um exemplo de recurso não renovável é o espaço. Sabe aquela 
máxima da física “Dois corpos não ocupam o mesmo lugar”? Ela se aplica e 
explica o porquê o recurso espaço é considerado não renovável. Enquanto um 
organismo utilizar um determinado local para nidificar, ou para se fixar (no caso 
de organismos sésseis), essa área não estará mais disponível.
Por outro lado, recurso renovável é aquele que pode ser constantemente 
renovado, tal como o número de presas, detritos, água, entre outros. O uso destes 
recursos por um organismo diminui prontamente a sua disponibilidade, mas 
com o passar do tempo estes recursos voltam a ter os seus níveis aumentados 
e a ficar disponíveis tanto para o organismo que já o utilizava como para os 
demais organismos. 
UNI
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
101
4.2 RECURSOS LIMITANTES
Porém, não são todos os recursos utilizados pelos organismos que limitam 
as populações que os consomem. É nesse contexto que surge a Lei do mínimo de 
Liebig, que defende a ideia de que cada população cresce até que o suprimento de 
algum recurso, denominado recurso limitante, não satisfaça mais as necessidades 
da população (RICKLEFS, 2010). Por exemplo, considerando novamente o espaço, 
imaginemos uma colônia de aves marinhas que utilizam uma ilha para nidificar. 
Enquanto houver espaço, novos organismos poderão realizar as suas posturas e 
produzir ovos e filhotes que, ao amadurecerem, também nidificarão no local. No 
entanto, à medida que o espaço for se tornando escasso, as investidas reprodutivas 
também diminuirão, por não haver mais local adequado para realizar tal atividade.
Essa lei, no entanto, não pode ser aplicada a todos os recursos,já que pressupõe 
que um recurso tem influência independente na população de consumidores, ou seja, 
só ele regula o tamanho da população, o que muitas vezes não ocorre. Na verdade, 
o que muitas vezes acontece é que dois ou mais recursos, juntos, regulam o tamanho 
de uma população, sendo denominados de recursos sinergéticos. 
4.3 TIPOS DE COMPETIÇÃO
Se os recursos podem ser considerados de forma distinta, o mesmo pode ser 
feito em relação à competição. Assim, a competição pode acontecer de forma direta 
(competição direta ou por interferência) ou indiretamente (competição indireta ou 
por exploração). Vamos entender como ocorre cada um desses tipos de competição?
A competição por interferência ocorre quando um organismo apresenta 
comportamento agressivo com seus competidores ou se utiliza de substâncias 
tóxicas que são secretadas no meio (DAJOZ, 2005). Um caso bastante comum e 
elucidativo ocorre com os beija-flores (colibris) que utilizam bebedouros colocados 
como atrativos para aves nectarívoras em diversas residências. Um colibri que 
utiliza deste recurso prontamente expulsará qualquer outro organismo que venha 
a se aproximar do bebedouro, impedindo a sua alimentação. Esse é um legítimo 
caso de competição por interferência.
Agora imagine uma situação em que uma população de determinada 
espécie de morcego e outra população de uma espécie de ave utilizem os frutos de 
uma árvore em particular como o seu principal recurso alimentar. Apesar de eles 
apresentarem essa sobreposição de uso pelo recurso fruto, eles têm comportamento 
distinto, um se alimentando durante o dia (ave) e outro à noite (morcego). Ora, 
então eles não competem, certo? Errado. Esse é um exemplo claro de competição 
por exploração, pois apesar de eles não se enfrentarem diretamente pelo uso do 
recurso, a sua utilização ou exploração diminui a oferta para o outro consumidor. 
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
102
Vamos a mais um exemplo de competição por exploração. Imagine uma 
reserva extrativista em que a população humana local utiliza os frutos do palmiteiro 
Euterpe edulis para produzir suco para venda. Ainda, considere que nesse mesmo 
local há uma população de aves que utiliza como principal recurso alimentar esses 
mesmos frutos. O uso do recurso fruto por cada uma das espécies acarretará na 
diminuição da sua disponibilidade para a outra espécie consumidora, de forma 
que essas se tornam competidoras por exploração. 
Esse foi apenas um caso hipotético, mas devemos lembrar que em diversas 
situações agimos como competidores de outras espécies e, por geralmente sermos mais 
eficazes em utilizar os recursos que desejamos, acabamos contribuindo para o declínio 
das populações de muitas espécies. No sul do Brasil isso é nítido com relação ao uso 
do pinhão produzido pela araucária (Araucaria angustifolia). Devido ao alto índice 
de extração desta semente para consumo humano, muitas espécies de Psittacidae 
(papagaios, araras, periquitos) estão perdendo o seu principal recurso alimentar.
Segundo Dajoz (2005), quando a competição ocorre de forma amena, geralmente 
ela ocorre por intermédio da exploração. Por outro lado, em casos de competição forte, esta 
geralmente se dá por intermédio da interferência.
4.3.1 Competição intraespecífica
Os organismos de uma espécie obviamente apresentam os mesmos nichos 
ecológicos, de forma que, dependendo da disponibilidade dos recursos necessários 
à sua sobrevivência, os organismos de uma população podem competir entre 
si. Isso geralmente leva à redução das taxas de entrada por indivíduo e, desse 
modo, à diminuição das taxas de crescimento ou desenvolvimento individual e 
possivelmente a decréscimos nas reservas ou ao aumento de risco de predação 
(TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
Como destacam Townsend; Begon e Harper (2006), a competição 
intraespecífica geralmente é unilateral. Vamos a um exemplo. Muitas sementes do 
palmiteiro Euterpe edulis caem da planta-mãe, se estabelecendo sob e no entorno 
de sua copa. Assim, é comum encontrarmos diversas plântulas recém-nascidas 
nestas condições (figura a seguir). No entanto, ao longo do crescimento das 
plântulas é nítido verificar que alguns organismos começam a se desenvolver mais 
rapidamente em relação aos demais e que esta diferença vai se acentuando com 
o tempo. O que ocorre é que o tamanho de cada plântula acaba por refletir a sua 
“força”, isto é, a capacidade de obter os recursos de forma que o faz de maneira 
mais eficaz do que as plântulas menores, que acabam por sucumbir. 
UNI
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
103
FIGURA 43 – INDIVÍDUOS JOVENS DE EUTERPE EDULIS ADENSADOS SOBRE A 
PLANTA-MÃE 
FONTE: Disponível em: <http://reinometaphyta.files.wordpress.com/2012/06/
palmito-juc3a7ara-euterpe-edulis-jovem.jpg>. Acesso em: 29 mai 2013.
No caso dos animais, um exemplo que muitas vezes chega a chocar algumas 
pessoas é a competição que ocorre entre filhotes de algumas espécies de aves, em 
uma interação denominada fratricídio. Nestas espécies, geralmente, os pais têm a 
capacidade de alimentar apenas um filhote, mas muitas vezes realizam a postura 
de um ovo reserva para os casos em que o filhote seja predado. Esse segundo 
ovo em geral é menor e eclode mais tardiamente. Por ter nascido primeiro, a ave 
eclodida do primeiro ovo é mais robusta em relação ao seu irmão mais novo e 
consegue obter alimento de forma mais eficaz, impedindo inclusive que o outro se 
alimente. Com o passar do tempo, o filhote menor vai definhando até ser lançado 
para fora do ninho e morrer de inanição.
Como exemplificado acima, a competição intraespecífica ocorre de 
diferentes formas e por diversos fatores, entre os quais o comportamento 
territorial da espécie, a manutenção de hierarquia, e a alimentação (RICKLEFS, 
2010). Quanto mais densa for a população, mais fortes serão os efeitos da 
competição, de forma que esta interação regula o crescimento populacional 
de um modo dependente da densidade (DAJOZ, 2005). Assim, à medida que os 
recursos vão sendo consumidos e diminuídos, os consumidores limitam o seu 
próprio crescimento populacional. 
É denominado de efeito dependente da densidade todo aquele que reduz 
a capacidade individual de natalidade e aumenta a chance de mortalidade 
(TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). No caso da competição, esta pode 
atuar de forma diferenciada sobre a natalidade e mortalidade, originando 
diferentes situações. Em alguns casos, ambas as taxas são controladas pela 
densidade da população, gerando gráficos conforme visto na Figura 44 (no alto, 
à esquerda). Em outros casos, apenas a taxa de mortalidade (Figura 44, no alto 
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
104
à direita) ou a taxa de natalidade (Figura 44, embaixo à esquerda) se modifica 
de acordo com o aumento da densidade. De acordo com Townsend; Begon; 
Harper (2006), a situação demonstrada no último gráfico é a mais comum em 
populações naturais, onde as taxas de natalidade e mortalidade flutuam entre 
determinadas faixas de possibilidades.
Independente da forma como as taxas são alteradas, o que pode ser 
verificado é que em algum momento estas taxas se igualam, o que significa que 
o tamanho populacional permanecerá constante. Essa densidade constante é 
denominada de capacidade de suporte e é representada pela letra K, conforme 
pode ser verificado nos gráficos apresentados.
FIGURA 44 – TAXAS DE NATALIDADE E MORTALIDADE DEPENDENTES DA DENSIDADE 
QUE LEVAM À REGULAÇÃO DO TAMANHO POPULACIONAL 
FONTE: Adaptado de: Townsend; Begon; Harper (2006)
4.3.2 Competição interespecífica
É denominada de competição interespecífica a interação em que os 
organismos de uma espécie sofrem redução na fecundidade, sobrevivência 
ou crescimento como resultado da exploração de recursos ou interferência de 
organismos de outra espécie (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). Esse tipo 
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
105
de interação pode resultar em um ajuste do equilíbrio entre duas espéciesou, caso 
ocorra de maneira muito severa, pode fazer com que a população de uma espécie 
substitua outra, force a outra a ocupar outro lugar, ou, ainda, faça com que utilize 
outro alimento (BEGON; BARRET, 2011).
De acordo com Ricklefs (2010), diversos estudos foram feitos na busca 
de determinar os efeitos de uma espécie sobre o crescimento da população de 
outra. Nestes experimentos, duas espécies foram primeiramente cultivadas 
separadamente, sob condições e níveis de recurso controlados, para determinar 
suas capacidades de suporte na ausência de competição com outra espécie. 
Posteriormente, as duas espécies foram cultivadas juntas sob as mesmas condições 
para determinar o efeito de cada uma sobre outra. A diferença entre o crescimento 
populacional de uma espécie na presença e na ausência de outra espécie foi utilizada 
como medida de intensidade da competição entre elas. Diversas formas de vida 
foram testadas, variando desde protistas, até animais (ratos, moscas-da-fruta, 
entre outros) e plantas anuais. Em todas as interações estabelecidas os resultados 
foram semelhantes: quando os organismos das populações foram cultivados 
isoladamente, cresceram rapidamente até os limites impostos pelo suprimento 
alimentar. Porém, quando criadas juntas, apenas uma população persistiu. Destes 
resultados surgiu o princípio da exclusão competitiva.
De acordo com este princípio, os organismos com parentesco muito 
próximo ou com hábitos e/ou morfologias muito semelhantes, não ocorrem no 
mesmo local e, se isto ocorrer, utilizarão diferentes recursos ou serão ativos em 
momentos distintos (BEGON; BARRET, 2011). Em outras palavras, não terão o 
mesmo nicho ecológico (veja o conceito mais à frente).
5 A EVOLUÇÃO DAS INTERAÇÕES ENTRE AS ESPÉCIES
As interações interespecíficas são importantes agentes evolutivos, sendo 
responsáveis pelo surgimento de diversas estratégias entre as espécies envolvidas. 
Assim, para evitar a predação, parasitismo ou herbivoria, certas espécies 
desenvolveram diversos mecanismos de defesa. 
Algumas espécies comestíveis ou palatáveis desenvolveram colorações e 
formas semelhantes ao local onde vivem de forma a se tornarem menos perceptíveis 
aos seus consumidores. Os exemplos de camuflagem são os mais variados, 
podendo-se citar as mariposas cuja coloração se confunde com a coloração de 
troncos de árvore, os bichos-pau que se assemelham a galhos de árvores, os 
gafanhotos que possuem a forma e a cor de uma folha, os anfíbios cuja cor e forma 
do dorso imitam a serapilheira de uma floresta, entre muitos outros (Figura 45).
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
106
FIGURA 45 – ORGANISMO DE MEGASCOPS SP. CAMUFLADO EM UMA 
ABERTURA DE TRONCO DE ÁRVORE
FONTE: Disponível em: <http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-coruja-
oriental>. Acesso em: 29 abr. 2013.
Outros animais apresentam uma estratégia diferenciada e produzem 
ou acumulam de vegetais substâncias químicas e anunciam esse fato através 
de padrões de cores chamativas (RICKLEFS, 2010). Assim, diversas espécies 
apresentam coloração que mistura as cores amarelo, laranja e vermelho 
advertindo os seus predadores de que seu sabor não é nada bom. A este 
mecanismo dá-se o nome de coloração de advertência ou aposematismo e é 
apresentado por diversas espécies de borboleta (tanto em sua fase como lagarta 
quanto quando adulta) (Figura 46), serpentes (ex.: cobra-coral), alguns anfíbios, 
entre diversos outros animais.
Se apresentar coloração de advertência já é algo curioso, imagine 
diferentes espécies impalatáveis ou não comestíveis que possuem padrão de 
coloração similar para sinalizar tal fato. Isso de fato existe e é denominado 
de mimetismo mülleriano, em homenagem ao seu descobridor Fritz Müller. 
Os predadores aprendem a evitar esses mímicos de maneira mais eficaz, 
porque uma experiência ruim com uma das espécies que apresenta este padrão 
de coloração será suficiente para proteger todas as demais que também o 
compartilham (RICKLEFS, 2010). 
TÓPICO 2 | INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
107
FIGURA 46 – COLORAÇÃO DE ADVERTÊNCIA APRESENTADA POR UMA 
LAGARTA DE ESPÉCIE NÃO IDENTIFICADA
FONTE: As autoras
Em regiões tropicais, por exemplo, diversas espécies de borboletas 
impalatáveis apresentam um padrão de faixas “tigradas” laranjas e pretas, ou 
ainda uma mistura das cores preta, laranja e amarela (Figura 47).
FIGURA 47 – ESPÉCIES DE BORBOLETA DO GÊNERO HELICONIUS QUE 
POSSUEM PADRÕES DE COLORAÇÃO SEMELHANTES, UM EXEMPLO DE 
MIMETISMO MÜLLERIANO
FONTE: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Heliconius_mimicry.png>. Acesso em: 29 abr. 2013.
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
108
Outro tipo de mecanismo interessante é o chamado mimetismo batesiano 
(descoberto por Henry Bates). Através dele, espécies comestíveis ou palatáveis 
imitam o padrão de coloração de espécies impalatáveis, evitando, assim, a sua 
predação (Figura 48).
FIGURA 48 – A SEMELHANÇA ENTRE OS ORGANISMOS DE FALSA CORAL (À ESQUERDA) E 
DE CORAL VERDADEIRA É UM CASO DE MIMETISMO BATESIANO
FONTE: Disponível em: <http://mypetbr.blogspot.com/2009/05/cobra-coral-falsa-e-verdadeira.
html e http://www.coralsnake.net/micrurus/painted-coral-snake.html>. Acesso em: 29 abr. 2013.
As plantas, por sua vez, possuem um número mais restrito de opções de 
defesa em relação às que os animais possuem. Geralmente a defesa ocorre através 
da produção de substâncias químicas nocivas, que podem ser divididas em dois 
tipos: substâncias tóxicas (ou qualitativas), que são venenosas mesmo em pequenas 
quantidades; e substâncias quantitativas, como o tanino, que tornam impalatáveis 
os tecidos da planta (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
109
RESUMO DO TÓPICO 2
• Um organismo se envolve com outros organismos ao longo da vida através de 
diferentes relações ecológicas. Quando a interação ocorre entre organismos da 
mesma espécie, ela recebe o nome de interação intraespecífica.
• A interação intraespecífica mais comumente citada é a sociedade ou eussociedade, 
onde os organismos envolvidos desempenham atividades diferenciadas.
• As interações interespecíficas ocorrem entre membros de espécies distintas e 
podem beneficiar ambos os envolvidos, beneficiar uma espécie e ser indiferente 
a outra, ou ainda ser benéfica a uma espécie e prejudicial ao outro organismo 
participante da interação.
• É denominada de predação a interação onde os organismos de uma espécie 
capturam organismos de outra espécie e os consomem, retirando-os da 
população.
• A herbivoria ocorre com um organismo que utiliza vegetais como recurso 
alimentar. Dependendo da situação, a herbivoria comporta-se como predação 
ou como um evento de parasitismo.
• Na interação de parasitismo, um organismo denominado parasita vive 
intimamente associado a outro organismo, de uma espécie distinta, que é 
denominado de hospedeiro. Apesar de utilizar o hospedeiro como recurso 
alimentar, o parasita não mata o seu hospedeiro. Algumas particularidades 
apresentadas pelos parasitas dão origem às expressões patógeno e parasitoide.
• É denominada de antagonismo a interação em que o organismo de uma espécie 
se utiliza de substâncias tóxicas para eliminar ou “espantar” organismos de 
outra espécie que lhe sejam concorrentes.
• O comensalismo é a interação em que o organismo de uma espécie utiliza um 
organismo de outra espécie como fonte de abrigo ou suporte.
• A protocooperação pode ser definida como uma interação em que ambos os 
organismos envolvidos se beneficiam, mas não dependem da associação para a 
sua sobrevivência.
• É considerada mutualismo a interação em que duas espécies podem viver 
independentemente, mas dependem uma da outra para que uma determinada 
situação benéfica a ambas ocorra.
110
• A competição pode ocorrer entre organismos da mesma espécie, sendo 
denominada de competição intraespecífica, ou entre espécies diferentes – 
competição interespecífica.
• Os organismos competem por recursos limitantes no ambiente ondevivem.
• A competição pode ocorrer por embate direto, sendo chamada de competição 
por interferência. Por outro lado, as espécies podem competir através da 
exploração do mesmo recurso em momentos distintos.
• As diversas interações ecológicas ocorrentes entre os organismos acarretaram 
o desenvolvimento de algumas estratégias por parte das espécies consideradas 
recurso alimentar. Entre essas estratégias pode-se citar a camuflagem, a coloração 
de advertência, o mimetismo batesiano e mülleriano, e o desenvolvimento de 
substâncias tóxicas.
111
AUTOATIVIDADE
1 Dependendo do livro didático que um professor de Ciências e Biologia adotar 
em sua prática de sala de aula, ele poderá encontrar diferentes definições para 
uma mesma interação ecológica. Qual problemática esta realidade coloca em 
evidência?
2 As interações ecológicas podem ser divididas em interações intraespecíficas 
e interespecíficas. Qual é a principal diferença entre estes dois tipos de 
interação?
3 As interações interespecíficas podem beneficiar ambos os envolvidos na 
associação, ser benéfica a um organismo e prejudicial ao outro, ou ainda ser 
indiferente a um dos integrantes. Com relação às interações interespecíficas, 
associe os itens através do código a seguir:
I- Herbivoria.
II- Comensalismo.
III- Competição.
IV- Alelopatia.
( ) Esta interação envolve o uso de recursos limitados no ambiente.
( ) Dependendo da situação, esta interação pode ser considerada como um 
evento de predação ou parasitismo.
( ) É um exemplo a interação entre esponjas e peixes que utilizam o seu interior 
como moradia. 
( ) Constitui no uso de substâncias tóxicas para inibir o crescimento de outro 
organismo.
Agora assinale a alternativa com a sequência CORRETA:
a) ( ) III – I – II – IV.
b) ( ) I – III – II – IV.
b) ( ) III – I – IV – II.
d) ( ) I – III – VI – II.
4 A competição entre os organismos pode ocorrer diretamente ou indiretamente. 
Explique de que forma estas interações ocorrem.
112
113
TÓPICO 3
ECOLOGIA DE COMUNIDADES
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
É denominada uma comunidade o conjunto de organismos de diferentes 
espécies que vivem em um determinado local e que estão conectados uns com 
os outros por suas relações de alimentação e outras interações. Muitas destas 
interações já foram vistas no tópico passado e algumas outras também serão 
vistas neste tópico. 
Compreender como as comunidades variam de lugar para lugar é 
o primeiro passo para entender os processos que influenciam a estrutura e o 
funcionamento dos sistemas ecológicos, e determinam as abundâncias relativas 
das espécies (RICKLEFS, 2010). Todavia, para compreendermos os processos 
que ocorrem nas comunidades naturais é necessário que alguns conceitos 
ecológicos estejam bem claros em nossa mente, de forma a evitar confusões e 
interpretações equivocadas. Alguns termos são mais utilizados, outros menos, 
mas independente da frequência e intensidade de seu uso, a sua correta 
interpretação é indispensável.
Afinal, o que significa o termo habitat e qual é a diferença entre esse 
conceito e nicho ecológico?
Considera-se habitat o local onde um organismo vive, ou seja, o espaço 
físico que este organismo ocupa. O nicho ecológico, por sua vez, não inclui apenas 
essa característica, mas também o total de necessidades e condições necessárias à 
sua sobrevivência. Em outras palavras, o nicho ecológico abarca as especificidades 
do organismo quanto à temperatura do ambiente, pH, solo, umidade, entre outras 
diversas características (ODUM, 2010).
Dessa forma, se construíssemos um gráfico com todas as características 
necessárias à sobrevivência de um organismo, utilizando cada eixo desse gráfico 
(x, y, z,...) como uma necessidade, teríamos como resultado uma representação 
gráfica n-dimensional (Figura 49). 
114
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
FIGURA 49 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO NICHO ECOLÓGICO DE UMA 
ESPÉCIE CONSIDERANDO TRÊS DIMENSÕES DE CONDIÇÕES NECESSÁRIAS À 
SUA SOBREVIVÊNCIA
FONTE: Disponível em: <http://ecologia.ib.usp.br/bie212/images/stories/
BIE212/AULAS/Aula2.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2013.
O conceito de nicho ecológico é bastante abstrato e um pouco difícil de compreender 
em um primeiro momento. Mas isso não deve ser um empecilho para que ensinemos aos alunos 
de Ensino Fundamental e Médio o conceito correto desse termo. Conceituações ultrapassadas 
como profissão da espécie devem ser evitadas, visto que dão uma visão antropocêntrica ao 
mundo natural e simplificam em demasia o conjunto de exigências dos organismos.
Quando o assunto é o nicho ecológico dos organismos, as dimensões 
mais quantificadas são a largura do nicho e a sobreposição de nichos entre vizinhos. 
Grupos de espécies com papéis ecológicos e de dimensões de nicho comparáveis 
são denominados de guildas (ODUM, 2010). Todavia, duas ou mais espécies que 
tenham exatamente o mesmo nicho ecológico não sobrevivem no mesmo local, 
devido às fortes consequências da competição pelos recursos.
Se a situação acima não é possível, o fato é que as espécies disputam com 
outras em diversos dos seus “eixos” de necessidades vitais. Assim sendo, dificilmente 
uma espécie consegue aproveitar totalmente o intervalo de condições dentro das 
quais a espécie poderia sobreviver, o que é denominado de nicho fundamental. Além 
de competidores, patógenos e predadores também impedem esse aproveitamento 
máximo. Desta forma, as espécies acabam por utilizar um intervalo menor de 
condições – o chamado nicho percebido (RICKLEFS, 2010) (Figura 50).
UNI
TÓPICO 3 | ECOLOGIA DE COMUNIDADES
115
FIGURA 50 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO NICHO ECOLÓGICO 
FUNDAMENTAL DE UMA ESPÉCIE CONSIDERANDO DUAS DIMENSÕES 
DE CONDIÇÕES NECESSÁRIAS À SUA SOBREVIVÊNCIA E DO NICHO 
REALMENTE UTILIZADO – O NICHO PERCEBIDO 
FONTE: As autoras
2 CADEIAS ALIMENTARES
As diferentes formas de vida existentes em uma comunidade estão 
interligadas por relações tróficas, isto é, pela transferência de energia e nutrientes 
através de cadeias alimentares formadas por diferentes níveis tróficos. Cada cadeia 
inicia com um organismo dito produtor (primeiro nível trófico), que recebe esse 
nome por ser capaz de “produzir” uma forma de energia assimilável pelos demais 
organismos participantes da cadeia – os consumidores.
São organismos produtores as plantas, as algas verdes e azuis, e algumas 
bactérias fotossintetizantes. Ao absorverem a energia luminosa, esses seres a 
transformam em energia química por intermédio da fotossíntese. Por este motivo, 
os produtores são também intitulados de seres autotróficos.
Os consumidores, também denominados heterótrofos, não são capazes de 
realizar tal transformação, necessitando, portanto, se alimentar de outro ser vivo para 
obter energia necessária às suas atividades. De acordo com os seus hábitos alimentares, 
os consumidores podem ser chamados de herbívoros, carnívoros ou detritívoros. 
De acordo com a posição que ocupam na cadeia alimentar, os carnívoros 
recebem uma especificação. Assim, os carnívoros que se alimentam de herbívoros são 
chamados de carnívoros primários e fazem parte do segundo nível trófico. Por sua vez, o 
organismo que se alimenta deste carnívoro primário recebe a nomenclatura de carnívoro 
secundário (terceiro nível trófico), e assim por diante.
UNI
116
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
O último nível trófico é ocupado pelos organismos decompositores, ou 
seja, que se alimentam de organismos mortos e seus subprodutos, provenientes 
de todos os níveis tróficos anteriores. Os decompositores possuem uma grande 
importância ecológica, possibilitando que a matéria volte a se tornar disponível no 
ambiente. Esse papel é feito por várias espécies de fungos e as bactérias.
Agora que já identificamos os níveis tróficos que constituem uma cadeia 
alimentar, vamos agora compreender como estas cadeias são representadas?
Vejamos o exemplo a seguir:
Portanto, costuma-se colocar as espécies envolvidasna cadeia em ordem do 
fluxo de energia, utilizando uma seta para indicar a direção em que a energia flui. 
Atentemos para o fato de que as cadeias alimentares não ocorrem de forma 
isolada na natureza, mas sim em uma rede de conexões. Pela forma que assume 
ao ser representada, essa interconexão é denominada de teia alimentar, conforme 
demonstrado (Figura 51).
FIGURA 51 – REPRESENTAÇÃO DE UMA TEIA ALIMENTAR
FONTE: As autoras
3 SUCESSÃO ECOLÓGICA 
É denominada sucessão ecológica a sequência de mudanças nos processos da 
comunidade, tal como estrutura e funcionamento, ao longo do tempo (MIRANDA, 
2009; ODUM, 2010). O processo de sucessão pode levar meses, dezenas de anos 
ou ainda centenas de milhares de anos, dependendo das comunidades e locais 
envolvidos (NUNES; CAVASSAN, 2011).
TÓPICO 3 | ECOLOGIA DE COMUNIDADES
117
A sucessão ecológica pode ocorrer em um local nunca antes habitado por 
qualquer forma de vida, tal como sobre sedimentos resultantes de atividades 
vulcânicas. A esse fenômeno dá-se o nome de sucessão ecológica primária. Por 
outro lado, quando a sucessão acontece sob um substrato anteriormente ocupado 
ela é denominada sucessão ecológica secundária.
 A sucessão secundária pode ocorrer posteriormente a diferentes eventos 
naturais, tais como: incêndios, tufões, tsunamis, abertura de clareiras devido à 
queda de árvores, entre outros; ou ainda em áreas perturbadas devido às atividades 
antrópicas (agricultura, pecuária etc.).
Independente das particularidades dos eventos de sucessão, o fato é que para 
que este processo ocorra é necessário ter havido uma perturbação ou distúrbio ecológico 
no local. Diversos estudos têm focado esta questão, gerando a teoria do distúrbio 
intermediário. De acordo com os seus defensores, distúrbios de baixa ou alta intensidade 
não contribuem para a diversidade de uma comunidade, pois ou não são suficientes 
para gerar a sucessão ecológica ou ainda, no outro extremo, dizimam a comunidade, 
impedindo a ocorrência desse fenômeno.
De forma geral, a sequência básica da vegetação em processos de sucessão 
ecológica em um ambiente florestal é a seguinte (TOWNSEND; BEGON; 
HARPER, 2006):
Outra forma de classificar a sequência da vegetação em uma sucessão 
ecológica é demonstrada na figura a seguir. Note que apesar da nomenclatura 
mudar, a sequência em relação às características das espécies envolvidas 
continua a mesma.
UNI
118
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
FIGURA 52 – REPRESENTAÇÃO DE SUCESSÃO ECOLÓGICA EM UMA FLORESTA
FONTE: Disponível em: <http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo23_arquivos/image006.
jpg>. Acesso em: 9 abr. 2013.
Para compreendermos melhor a sucessão ecológica, vamos considerar 
uma área que era inicialmente florestal, foi desmatada e transformada em campo, 
e que atualmente está abandonada. As espécies colonizadoras (primeiras espécies 
a chegar ao local) e pioneiras podem se estabelecer rapidamente nesse hábitat 
alterado, seja por dispersão rápida para o local ou a partir de propágulos que já 
estejam presentes. As plantas de início de sucessão têm um estilo de vida “fugaz” 
e a sua continuidade depende da dispersão para outros locais perturbados. Isso 
acontece porque essas espécies não conseguem competir com espécies tardias, de 
forma que precisam crescer e consumir rapidamente os recursos disponíveis. São 
características de espécies pioneiras taxas fotossintéticas e de crescimento altas 
(TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). 
Já as plantas de níveis sucessionais tardios podem germinar na sombra e 
conseguem continuar a crescer sob intensidades luminosas baixas. Apesar de esse 
crescimento ocorrer de forma lenta, ele é mais rápido do que o desenvolvimento de 
plantas de níveis sucessionais anteriores (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). 
As árvores de estágios posteriores de sucessão ecológica podem ser 
agrupadas em grupos distintos, sendo denominadas iniciais e tardias. As árvores 
de estágio sucessionais iniciais comumente possuem folhagem em várias camadas 
e as folhas se estendem sob o dossel até onde forem capazes de capturar luz 
suficiente para realizarem a fotossíntese. Já as espécies tardias apresentam uma única 
camada densa de folhas e são mais eficazes no dossel adensado da sucessão tardia 
(TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). Mas essas não são as únicas diferenças 
entre estas plantas. A seguir segue um resumo destas características (Tabela 3).
TÓPICO 3 | ECOLOGIA DE COMUNIDADES
119
TABELA 3 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DE PLANTAS SUCESSIONAIS INICIAIS E TARDIAS 
FONTE: Ricklefs (2010)
Nunes e Cavassan (2011) destacam que os livros didáticos de Ciências e 
Biologia desconsideram a participação dos animais e micro-organismos no processo 
de sucessão ecológica. No entanto, sem os animais muitas comunidades não 
conseguiriam se manter de forma eficiente, uma vez que são eles os responsáveis 
pela dispersão de alguns tipos de sementes. Já em relação aos micro-organismos, 
esses são os principais decompositores da serapilheira, disponibilizando os 
nutrientes aos vegetais.
Comumente costuma-se afirmar que após as espécies sucessionais tardias 
terem se estabelecido, o processo cessa e a comunidade atinge o seu clímax, 
tornando-se imutável. No entanto, a noção de clímax tem sido muito criticada, e 
para ser válida, sua definição deve assumir um caráter dinâmico. 
Como ressalta Dajoz (2005), uma floresta que chegou ao estágio clímax não é 
um sistema estável e imutável. Ao contrário, é um conjunto heterogêneo de parcelas 
de vegetação em diferentes estágios de sucessão, causados por perturbações, tais 
como vento, fogo, queda de uma árvore etc. É essa heterogeneidade do clímax que 
explica a elevada biodiversidade existente nos ambientes naturais.
Quando uma área perturbada pelas atividades antrópicas é abandonada, a 
sucessão de espécies pode ocorrer naturalmente caso exista uma fonte de propágulos 
vegetais próximo ao local. Porém, há algumas situações em que o entorno não permite que 
os propágulos alcancem a área a ser regenerada e/ou o banco de sementes no solo está 
inviabilizado, sendo necessária a intervenção humana.
UNI
120
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
LEITURA COMPLEMENTAR
AS CONCEPÇÕES HISTÓRICAS DE SUCESSÃO ECOLÓGICA E 
OS LIVROS DIDÁTICOS
Patrícia da Silva Nunes
Osmar Cavassan
1 INTRODUÇÃO
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), o 
estudo da dinâmica ambiental compreende os conhecimentos de vários campos 
científicos, sendo, portanto, um conteúdo interdisciplinar. Nesse contexto, insere-
se o conceito de sucessão ecológica. Por meio do estudo desse conceito é possível 
compreender a dimensão espaço-temporal do estabelecimento de comunidades e 
relacionar diversidade e estabilidade (equilíbrio dinâmico), fornecendo elementos 
para avaliar as possibilidades de absorção de impactos pela comunidade.
Além disso, esse conceito envolve toda dinâmica que ocorre em um 
ecossistema, incluindo as interações entre os componentes bióticos (ex.: competição, 
entrada de sementes) e abióticos (ex.: solo, umidade), ciclos biogeoquímicos, 
fatores como tempo e espaço dentro de um gradiente evolutivo, enfim a evolução 
de espécies levando em consideração todos os fatores que a influenciam. Apesar 
da importância de tais conhecimentos, eles não são comumente abordados no 
contexto da Educação Básica quando o conceito de sucessão ecológica é discutido.
A explicação incompleta (ou parcial) de um conceito biológico, que não leva 
em consideração pontos que sejam importantes para uma construção significativa, 
pode comprometer o seu entendimento. Publicações didáticas devem associar 
a capacidade de apresentar os conceitos da maneira o mais completa possível. 
Poderiam, por exemplo, (re)construir o modo pelo qual os conceitos são definidos 
e modificados pelos pesquisadores, garantindo uma noção de ciência que vem 
sendo construída concomitantemente com a história humana. Quando se trata do 
conceito desucessão ecológica, uma forma de apresentá-lo de maneira mais ampla, 
talvez, fosse a de possibilitar que os alunos pudessem associar esse processo com 
outros conceitos biológicos, tais como, estratégias de reprodução das plantas e 
restauração ecológica. É importante frisar que essas inserções devem considerar a 
recontextualização didática daquele conhecimento científico (MARANDINO, 2004).
No entanto, limitações como as de ordem técnica ou editorial dos livros 
didáticos podem comprometer essa apresentação, além de questões concernentes 
à transposição dos saberes. A identificação das abordagens do conceito de 
sucessão ecológica em livros didáticos da Educação Básica pode ser uma forma 
de colaboração a diferentes estratégias didáticas utilizadas no ensino de Ecologia. 
Foi objetivo deste trabalho, portanto, analisar o conceito de sucessão ecológica em 
livros didáticos de Biologia, sendo alguns da década de 1970 e outros dos anos 
2000, visando identificar a evolução do modo de apresentação desse conteúdo.
TÓPICO 3 | ECOLOGIA DE COMUNIDADES
121
2 LIVROS DIDÁTICOS
Segundo Patrícia Gomes Pinheiro da Silva e Osmar Cavassan, o livro 
didático é ainda um dos principais ou o único instrumento de ensino utilizado 
pelos professores no âmbito escolar brasileiro (SILVA; CAVASSAN, 2005, p. 1).
De acordo com Simão Dias Vasconcelos e Emanuel Souto, os livros de ciências 
possuem várias funções, como o estímulo à análise de fenômenos e formulação 
de conclusões, além de auxiliarem na formação de cidadãos (VASCONCELOS; 
SOUTO, 2003). Assim, devem promover reflexões sobre a realidade, além de 
“estimularem a capacidade investigativa do aluno para que ele assuma a condição 
de agente na construção do seu conhecimento” (Ibid., 2003, p. 94).
Luzia Marta Bellini argumenta que a transposição das ciências para os 
livros didáticos é realizada mediante modelos inconsistentes e com vocabulário 
reducionista, não permitindo novas aberturas para a compreensão de fenômenos, 
tais como os evolutivos (BELLINI, 2006).
No que se refere ao conceito de sucessão ecológica, Julia Ibarra Murillo e 
María José Gil Quílez (2009) explanam que para se compreender o significado desse 
conceito, os alunos devem conhecer outros, tais como população, ecossistema e as 
relações entre os seres vivos e o hábitat.
Em se tratando dos conteúdos e esquemas ilustrativos de sucessão ecológica 
contidos nos livros didáticos, evidencia-se que muitas vezes eles se apresentam 
como abordagens reduzidas, nas quais um único modelo sucessional é utilizado 
em detrimento de outros possíveis. Ressalta-se que poderiam ser utilizados, 
além dos modelos de sucessão ecológica iniciados em uma rocha nua, modelos 
de sucessão em um costão rochoso. Esse último colocaria em evidência um tipo 
de processo sucessional, cujos animais estruturam a comunidade, o que poderia 
proporcionar uma visão mais ampla do fenômeno aos alunos.
É importante lembrar que a utilização de imagens e esquemas em sala de 
aula deve ser planejada corretamente, pois, uma vez que estes permanecem na 
memória visual com clareza, frequentemente substituem o texto que é esquecido. 
Podemos conjeturar que, com o passar dos anos, algumas imagens permanecerão 
na memória dos alunos e, a partir dessas, eles tentarão reconstituir o conhecimento 
original (FREITAS; BRUZZO, 1999).
3 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE SUCESSÃO ECOLÓGICA
A visão sobre o processo de sucessão ecológica vem sofrendo sucessivas 
mudanças desde que o ecólogo Henry Chandler Cowles (1869-1936), em artigo 
intitulado “The Ecological Relations of the Vegetation on the Sand Dunes of 
Lake Michigan” (1899), reconstruiu com profundidade a evolução temporal das 
associações de plantas das dunas da região de Chicago (EUA).
122
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
Por sua vez, o botânico Frederic Edward Clements (1874-1945), 
diferentemente de Cowles, estudou as florestas de coníferas e pradarias ocidentais 
dos Estados Unidos, ambientes mais estáveis que as dunas do Lago Michigan 
(KINGSLAND, 1991). Frederic Edward Clements, em seu livro Plant Succession: 
An analysis of the development of Vegetation, publicado em 1916, definiu o processo 
sucessional como: “Uma sequência de comunidades vegetais marcada pela mudança 
desde as menores até as maiores formas de vida” (CLEMENTS, 1916, p. 6).
 
Clements caracterizava a comunidade como um superorganismo e a 
sucessão ecológica como um processo determinista e organizado, similar ao 
desenvolvimento de um organismo, culminando no clímax, assim caracterizado: 
“Determina a população do começo ao fim, a direção do desenvolvimento, o número e tipo 
de fases, as reações dos estágios sucessivos etc.” (CLEMENTS, 1916, p. 5).
 Alguns ecólogos não concordavam com as ideias defendidas por Clements, 
como foi o caso de Henry Allan Gleason (1882-1975), que defendeu, em artigo de 
1926 intitulado “The Individualistic Concept of the Plant Association”, a teoria de que 
o processo sucessional seria muito menos determinista do que o proposto por 
Clements, no qual as espécies surgiriam independentemente umas das outras, 
sendo discutível a ideia de um clímax final previsível e imutável. Como aponta 
Fernando Mayer Pelicice, para Gleason “a sucessão reflete somente ‘mudança’, sem que 
isso implique fim algum” (PELICICE, 2010, p. 69).
Mesmo com críticas em relação às suas teorias, Frederic Edward Clements 
não as abandonou. Apesar de entender a importância das populações animais no 
processo sucessional, conclusão que pode ter sido influenciada por Victor Ernest 
Shelford (1877-1968), ecologista animal e ex-aluno de Henry Chandler Cowles, 
Clements continuou a pensar na comunidade principalmente por suas formações 
vegetais (KINGSLAND, 1991). Acredita-se hoje que, embora os vegetais forneçam 
a base das cadeias alimentares, há casos em que os animais interferem na estrutura 
da comunidade. Predadores de sementes podem desacelerar a sucessão em 
campos abandonados, ou ainda, pastadores podem modificar a estrutura vegetal 
da comunidade (BEGON, TOWNSEND; HARPER, 2007).
Ainda, de acordo com Michael Begon, Colin R. Townsend e John L. Harper, 
o fato de a sucessão ecológica ser um assunto essencialmente botânico é facilmente 
explicado, de acordo com os seguintes argumentos. As plantas geralmente fornecem 
a maior parte da biomassa e estrutura física das comunidades, além disso, elas não 
se escondem ou fogem, facilitando a construção de lista de espécies, [...] e detecção 
de mudanças. (BEGON; TOWNSEND; HARPER, 2007, p. 487).
Embora existissem pontos importantes a serem analisados acerca da 
teoria de Clements, como o da analogia entre o desenvolvimento da comunidade 
e o desenvolvimento dos organismos, muitos autores, talvez sem fazer muitos 
questionamentos devido à força das teorias clementsianas, seguiram a sua 
TÓPICO 3 | ECOLOGIA DE COMUNIDADES
123
tradição para definirem o processo sucessional (PELICICE, 2010). Eugene 
Pleasants Odum (1913-2002), por exemplo, definiu a sucessão ecológica como o 
desenvolvimento do ecossistema, envolvendo mudanças na estrutura de espécies 
da comunidade ao longo do tempo (ODUM, 1988). A sucessão ecológica seria 
um processo razoavelmente direcional e previsível, resultante da modificação do 
ambiente físico pela comunidade, embora o ambiente físico determine os limites 
de desenvolvimento dela, culminando em um ecossistema estabilizado, ou seja, o 
clímax (ODUM, 1969).
Desde a gênese dessas teorias, várias outras foram surgindo na tentativa 
de compreender o fenômeno sucessional. O pensamento gleasoniano, próximo do 
aceito na atualidade (BEGON; TOWNSEND; HARPER, 2007), só foi retomado na 
década de 1950. Até então, a vertente determinista clementsiana sobrepujava as 
demais (PELICICE, 2010).
4 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa, tendo sido realizada por 
meio de uma análise documental. Efetuou-se uma análise comparativa, baseada no 
método de análise de conteúdos de LaurenceBardin (1977), entre livros didáticos 
recentes e antigos, para investigarmos a transformação do tratamento do conceito 
de sucessão ecológica ao longo dos anos no conhecimento escolar de ciências. 
Optamos por dois livros didáticos da década de 1970, contidos na série Biological 
Science Curriculum Study (BSCS), devido à sua importância no ensino de Ciências 
no Brasil naquela época, e sete livros atuais de Biologia, utilizados por alunos de 
escolas públicas.
Para a análise da abordagem do conceito de sucessão ecológica nos livros 
didáticos, optou-se por alguns aspectos relevantes para o entendimento do 
processo como um todo, tais como: comunidade clímax, a participação de animais 
e micro-organismos, ação antrópica, as variáveis tempo e espaço, estrangeirismos, 
a definição do conceito e sua reconstrução histórica. Em decorrência do conceito 
de clímax ser ainda controverso e de difícil compreensão, deu-se maior ênfase a 
ele. Assim, optou-se por uma apresentação em forma de tabela (tabela 1), onde 
o conceito de clímax contido nos livros analisados será reproduzido na íntegra 
e, posteriormente, discutido em alguns subtítulos. Neste trabalho procurou-se 
considerar, além dos textos, os esquemas e figuras apresentados nesses livros, 
utilizando-se dos mesmos aspectos relevantes relatados anteriormente.
5 RESULTADOS
Para fins de organização do trabalho, os livros analisados no quadro a 
seguir encontram-se listados numericamente de 1 a 9. Suas referências situam-se 
ao final deste artigo.
124
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
Livro Conceito de Clímax
1
Em muitos lugares, a sucessão continua até que se devolva uma comunidade de floresta, 
apesar de, para isso, serem necessárias várias centenas de anos. A comunidade de floresta, 
uma vez formada, pode persistir por dezenas de milhares de anos, mantendo-se em 
equilíbrio dinâmico, constituindo então uma comunidade clímax (p. 96).
2 Dissemos que o resultado final do processo de sucessão é uma comunidade madura, na qual as populações podem se reproduzir em lugar de serem substituídas por outras (p. 373).
3
Considera-se que uma comunidade chegou ao clímax quando ela se apresenta estável, em 
equilíbrio com o ambiente. A comunidade clímax, então, constitui a etapa final de uma 
sucessão ecológica (p. 239).
4 A comunidade, formada pelo conjunto de populações que habita a região, torna-se estável, sendo chamada de comunidade clímax (p. 52).
5
O máximo de homeostase é atingido quando a sucessão atinge o clímax, um estado de 
estabilidade compatível com as condições da região. Essa comunidade estável, denominada 
comunidade clímax, constitui o final da sucessão ecológica (p. 363).
6
As diversas comunidades se sucedem, até que se atinja um estágio de relativa estabilidade 
e equilíbrio, denominado comunidade clímax, que se instala de forma permanente. 
[...] Quando a comunidade atinge a maturidade e se torna estável, ela é chamada de 
comunidade clímax, e apresenta grande diversidade de espécies e de nichos ecológicos 
(p. 358-359).
7
Podem ocorrer mudanças nas comunidades, ao longo do tempo, que, em princípio, em 
ambientes constantes, acabam por levar ao estabelecimento de uma comunidade estável, 
autorregulada, que não sofre alterações significativas em sua estrutura (p. 566).
8 Nessa fase, a comunidade, que conta com grande número de espécies, entra em equilíbrio com o ambiente, permanecendo relativamente estável (p. 21).
9
Uma comunidade pode se desenvolver gradualmente até atingir a maturidade, isto é, um 
equilíbrio relativo com as condições ambientais. [...] estabelece-se uma comunidade clímax, 
que fica em equilíbrio com o solo e o clima da região, sem ser substituída por outra. [...] 
A comunidade clímax formada depende do tipo de solo e do clima da região (p. 495-496).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após essas análises, percebeu-se que, mesmo depois de inúmeros debates 
na esfera acadêmica, muitos autores de livros didáticos adotam principalmente 
uma visão clementsiana do processo, desconsiderando a dinamicidade do 
fenômeno e a variedade de interações que são necessárias para que esse evento 
ocorra. Seria importante que os livros didáticos contemplassem uma visão mais 
recente do processo, considerando também a teoria de Henry Allan Gleason. 
Enfatiza-se que não se defende, aqui, que absolutamente todos os conhecimentos 
de “ponta” produzidos pela academia sejam transpostos para a Educação Básica, 
TÓPICO 3 | ECOLOGIA DE COMUNIDADES
125
apenas como uma acumulação ilimitada de saberes. Ao contrário, visa-se que os 
conteúdos ensinados aos alunos sejam aqueles que façam a diferença para a vida 
dos ecossistemas naturais. Vale lembrar que os livros didáticos, além de trazerem 
versões muito desatualizadas sobre o conceito estudado, ainda as tratam como 
verdades absolutas. Ao invés disso, se fizessem uma reconstrução histórica, 
mostrando aos alunos, por exemplo, as concordâncias e as controvérsias da 
comunidade científica, eles poderiam compreender como os conceitos científicos 
vão se transformando ao longo do tempo. Contribuiriam, também, para desmitificar 
a ideia de ciência infalível e povoada de gênios enclausurados, que chegam às suas 
conclusões mediante insights.
Outras questões a serem consideradas são as variáveis tempo e espaço, as 
quais são tratadas como secundárias; porém, são importantes para o entendimento 
do processo. Destarte, os livros didáticos deveriam apresentá-las em suas muitas 
nuances, relacionando-as. Afinal, o processo de sucessão pode levar meses, no 
caso da decomposição da serapilheira, anos, para a ocupação de uma clareira no 
meio de uma mata, dezenas de anos em um campo abandonado, ou centenas de 
milhares de anos para a formação de uma complexa floresta equatorial.
Percebeu-se também que um fator significante desconsiderado nos livros 
didáticos recentes é a participação dos animais e micro-organismos no processo 
sucessional, fato que pode ser historicamente entendido, pois os estudos a respeito 
da sucessão ecológica se iniciaram com botânicos, em sua maioria. Outro fator 
que nos faz entender a primazia dada aos vegetais no processo é que os mesmos 
constituem-se como produtores nas cadeias alimentares. Assim, na ausência 
deles, é praticamente impossível a presença dos animais. Também podemos 
pensar que a ênfase dada a esses seres vivos nesse processo deve-se ao fato de 
os vegetais contribuírem com a maior parte da biomassa de uma comunidade, o 
que é considerável. No entanto, mesmo com a inegável importância dos vegetais, 
não se pode deixar de ressaltar a importância dos animais e micro-organismos no 
processo.
Sem os primeiros, muitas comunidades não conseguiriam manter-se 
eficientemente, pela ausência da dispersão de alguns tipos de sementes, que 
só é realizada por alguns animais. Igualmente, os micro-organismos possuem 
grande importância, pois são os principais responsáveis pela decomposição da 
serapilheira, o que dinamiza a disponibilidade de nutrientes para os vegetais. 
Além disso, quando tratamos da sucessão ecológica em uma infusão, por exemplo, 
esses seres vivos são os protagonistas.
Quando o assunto é clímax, notou-se uma gama de confusões conceituais. 
Em muitos livros didáticos esses conceitos são simplificados, chegando-se a afirmar 
que o único clímax possível é o florestal. Assim, faz-se necessário que os livros 
didáticos contemplem exemplos diversificados de comunidades, a fim de que os 
alunos não prefiram alguns ambientes, em detrimento de outros, possibilitando um 
entendimento mais complexo da importância de todos os ecossistemas naturais, 
sejam eles dominados por árvores ou não.
126
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
Dessa maneira, infere-se a necessidade de os livros didáticos tratarem de 
forma mais completa o conceito de sucessão ecológica, interligando os diversos 
conceitos contidos nele, permitindo aos alunos entendê-los como interdependentes, 
o que condiria com a visão integradaque o ensino de Ecologia requer.
FONTE: NUNES, P. S.; CAVASSAN, O. As concepções históricas de sucessão ecológica e os livros 
didáticos. Filosofia e História da Biologia, v. 6, n. 1, p. 87-104, 2011.
Acesse o link: <http://www.abfhib.org/FHB/FHB-06-1/FHB-6-1-06-Patricia-da-
Silva-Nunes_Osmar-Cavassan.pdf> e saiba quais foram os livros considerados, bem como, 
leia o artigo na íntegra.
UNI
127
RESUMO DO TÓPICO 3
• O termo comunidade pode ser denominado como o conjunto de organismos de 
diferentes espécies que vivem em um determinado local e que estão conectados 
uns com os outros por suas relações de alimentação e outras interações.
• O local onde os organismos vivem é denominado de habitat, enquanto que 
o conjunto de necessidades e condições necessárias à sua sobrevivência é 
denominado nicho ecológico.
• O nicho fundamental é o intervalo de condições em que uma espécie pode 
sobreviver. No entanto, raramente os organismos conseguem utilizar este 
intervalo, reduzindo-o a intervalos menores, conhecidos como nichos percebidos.
• As populações estão interligadas através de relações tróficas para obtenção de 
energia, o que chamamos de cadeia alimentar.
• As cadeias alimentares não ocorrem isoladamente, mas sim estão interconectadas 
em teias alimentares.
• A riqueza e estrutura de espécies variam ao longo do tempo em uma comunidade 
em um processo de sucessão ecológica. Esta sucessão pode ser denominada 
primária ou secundária, dependendo das condições em que ela ocorre.
• As plantas envolvidas no processo de sucessão ecológica variam em diversas de 
suas características, de acordo com a fase da sucessão em que elas participam.
128
1 Muitos dos processos e fenômenos ecológicos podem ser representados 
através de gráficos e imagens, porém isso não é possível com relação ao 
nicho real de uma espécie. Explique o motivo dessa impossibilidade.
2 A regeneração de uma área anteriormente utilizada para mineração é um 
exemplo de sucessão ecológica primária ou secundária? Explique.
3 Explique de que forma ocorre a substituição de espécies em uma área 
perturbada.
AUTOATIVIDADE
129
TÓPICO 4
ECOSSISTEMAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Um ecossistema ou sistema ecológico pode ser definido como uma unidade 
onde os organismos existentes interagem entre si e com o meio físico, gerando um 
fluxo constante de matéria e energia. Portanto, neste tópico falaremos um pouco 
sobre os aspectos que regem o fluxo de matéria e energia em um ecossistema, e 
os tipos de ecossistemas que existem na biosfera. Ainda, discutiremos a diferença 
entre os termos ecossistema e bioma, constantemente confundidos.
Vamos lá?
2 ENERGIA NOS ECOSSISTEMAS
“As populações de comunidades são sistemas transformadores de energia”. Esta 
foi a conclusão a que chegou o pesquisador Alfred Lotka ao estudar as relações existentes 
nesses níveis de organização ecológica (apud RICKLEFS, 2010). Essa conversão de energia 
acontece de várias formas e se inicia através das plantas, que, para realizar a fotossíntese, 
precisam transformar energia lumino sa em energia química. A transformação continua, 
pois os organismos herbívoros necessitam converter a energia contida nos compostos de 
carbono das plantas e em outros seres autótrofos de forma a utilizá-la em seu próprio 
metabolismo, atividade, crescimento e reprodução. Da mesma forma, isto acontece com 
os animais carnívoros que se alimentam dos herbívoros, e assim sucessivamente, ao 
longo de toda a cadeia alimentar (RICKLEFS, 2010).
Para entender essa relação de conversão de energia em uma cadeia 
alimentar, é necessário partir dos princípios termodinâmicos que governam toda e 
qualquer transformação e energia.
O comportamento da energia pode ser descrito por duas leis. A primeira lei 
da termodinâmica, ou lei da conservação da energia, estabelece que a energia pode 
ser transformada de uma forma para outra, mas jamais criada ou destruída. A segunda 
lei da termodinâmica, ou lei da entropia, por sua vez, institui que nenhum processo de 
transformação de energia ocorre espontaneamente, a não ser que ocorra de uma forma 
mais concentrada para outra mais dispersa. Ainda, nenhuma transformação de energia 
espontânea em energia potencial é 100% eficiente, pois parte da energia será dispersa sob a 
forma de energia térmica não disponível (ODUM; BARRET, 2011).
UNI
130
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
Assim, a Terra pode ser considerada uma gigantesca máquina termodinâmica, 
na qual a circulação dos ventos e correntes oceânicas e a evaporação da água são 
dirigidas pela energia do Sol. Essa energia é também assimilada pelas plantas e 
alimenta a maioria dos sistemas biológicos (RICKLEFS, 2010). 
A essa transferência de energia nos processos biológicos, como nas 
cadeias alimentares, dá-se o nome de fluxo de energia (Figura 53), uma vez que as 
conversões são “unidirecionais”, em contrastes com o comportamento cíclico da 
matéria (o que veremos mais adiante nos ciclos biogeoquímicos) (ODUM; BARRET, 
2011). A cadeia alimentar pela qual uma energia passa possui diversas conexões 
entre organismos de níveis tróficos (alimentares) diferentes, ou seja, entre plantas, 
herbívoros e carnívoros.
FIGURA 53 – MODELO DE FLUXO DE ENERGIA ATRAVÉS DOS ECOSSISTEMAS
FONTE: Ricklefs (2010)
Essa energia diminui de acordo com o avanço de um nível trófico para 
outro. Isso acontece porque as plantas conseguem transformar somente parte 
da energia do Sol em energia para o seu sustento. Os herbívoros, por sua vez, 
terão que utilizar a energia presente nos compostos de carbono nos vegetais, 
transformando-a. Porém, parte desta energia já terá sido utilizada pelas plantas 
em seu metabolismo, não estando, portanto, disponível na biomassa. O mesmo 
acontecerá a um carnívoro ao consumir um animal herbívoro, pois este já terá 
utilizado parte da energia adquirida das plantas em suas atividades e metabolismo. 
TÓPICO 4 | ECOSSISTEMAS
131
FIGURA 54 – PIRÂMIDE DE ENERGIA ENTRE OS NÍVEIS TRÓFICOS EXISTENTES EM UM 
ECOSSISTEMA. A LARGURA DE CADA BARRA REPRESENTA A QUANTIDADE DE ENERGIA 
DAQUELE NÍVEL TRÓFICO
FONTE: As autoras
Muitos estudos das eficiências ecológicas levaram à generalização de que 10% de 
energia são passados de um nível trófico para o seguinte. Porém, essa não é uma lei fixa, porque 
diversos fatores influentes podem aumentar ou diminuir este percentual (RICKLEFS, 2010).
A luz do Sol é a fonte de energia para a maioria dos seres vivos. Sua 
disponibilidade ocorre a partir da sua transformação em energia química, 
via fotossíntese, pelas plantas, algas e algumas bactérias. Esse processo de 
assimilação de energia é denominado de produtividade primária, e os seres 
que a realizam são chamados de produtores primários dos ecossistemas. A 
energia total assimilada pela fotossíntese recebe o nome de produtividade 
primária bruta. Porém, como já dito anteriormente, as plantas e os outros 
organismos fotossintéticos utilizam parte da energia para realizar as suas 
necessidades metabólicas através da respiração. Assim, somente parte da 
energia total assimilada é incorporada à sua biomassa e se torna disponível 
para os consumidores. Essa é a produtividade primária líquida (RICKLEFS, 
2010) (Figura 55).
Resumindo, a fonte primária de energia provém das plantas a partir da 
fotossíntese. Após essa transformação básica da energia, ela passa a ser transferida 
de um nível trófico para outro, diminuindo conforme o nível trófico aumenta. 
Estima-se que algo em torno de 10% da energia constante em um nível trófico 
torna-se disponível para o outro nível trófico. Essas inter-relações podem ser 
esquematizadas na forma de uma pirâmide de energia, que recebe este nome pela 
forma que a representação assume (Figura 54).
UNI
132
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
FIGURA 55 – DEMONSTRAÇÃO DOS PRODUTOS DA FOTOSSÍNTESE: 
PRODUÇÃO PRIMÁRIA BRUTA E PRODUÇÃO PRIMÁRIA LÍQUIDA
FONTE: Ricklefs (2010)
A produtividade primária líquida globalnão está distribuída 
uniformemente pela Terra. Os oceanos abertos são pouco produtivos, enquanto 
que banhados e pântanos, estuários, bancos de algas e recifes, florestas 
tropicais e terras cultivadas estão entre os sistemas com elevada produtividade 
(TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
Diversos fatores influenciam a produção primária de um ambiente, sendo que 
em comunidades terrestres a radiação solar, o dióxido de carbono, água e nutrientes 
do solo são os recursos necessários. Já em comunidades aquáticas, os fatores que 
mais frequentemente limitam a produtividade primária são a disponibilidade de 
nutrientes (particularmente nitrato e fosfato) e a intensidade da radiação solar que 
penetra na coluna d’água (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
3 CICLOS BIOGEOQUÍMICOS
Os elementos e compostos químicos são vitais para as atividades dos seres 
vivos, mas ao contrário da energia que se dissipa em forma de calor, os elementos 
químicos permanecem na biosfera, sendo continuamente ciclados entre os 
organismos e os ambientes físicos. Uma vez assimiladas pelas plantas em formas 
inorgânicas e convertidas em biomassa pelas plantas, essa matéria se “locomove” 
TÓPICO 4 | ECOSSISTEMAS
133
ao longo da cadeia alimentar. Por fim, esta matéria retorna às formas inorgânicas 
pelo processo de decomposição.
Dos elementos que ocorrem na natureza, cerca de 30 a 40 são exigidos pelos 
organismos, sendo denominados de elementos essenciais. Alguns elementos são 
necessários em grandes quantidades, tais como o carbono, o hidrogênio, o oxigênio 
e o nitrogênio. Por outro lado, outros são necessários em pequenas (ou mesmo 
minúsculas) quantidades (ODUM; BARRET, 2011). 
Todos os elementos essenciais apresentam ciclos biogeoquímicos definidos e 
conhecê-los é importante, tanto em atividades que envolvem a agricultura, como em 
medidas de conservação da qualidade ambiental. Nesse contexto, comentaremos a 
seguir os ciclos biogeoquímicos de alguns dos elementos necessários à vida na Terra.
3.1 CICLAGEM DO NITROGÊNIO
O ciclo do nitrogênio é o mais complexo de todos os ciclos biogeoquímicos, 
pois envolve diversas fases e agentes biológicos ao longo do percurso (Figura 56).
FIGURA 56 – ETAPAS DA CICLAGEM DO NITROGÊNIO
FONTE: Disponível em: <http://www.agracadaquimica.com.br/imagens/artigos/517a.
jpg>. Acesso em: 10 abr. 2013.
134
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
A fase atmosférica é considerada como predominante no ciclo, onde 
o nitrogênio está disponível sob a sua forma molecular (N2). Essa forma de 
nitrogênio se dissolve até certo ponto na água, mas não está disponível nas 
rochas (RICKLEFS, 2010).
Apesar de descargas elétricas converterem alguma quantidade de 
nitrogênio molecular em formas que as plantas podem assimilar (NO3), a maior 
parte entra nas vias biológicas do ciclo através da assimilação por parte de 
certos micro-organismos em um processo denominado fixação de nitrogênio 
(RICKLEFS, 2010). O resultado desta ação é a transformação do nitrogênio 
molecular (N2) em amônio (NH4).
Conforme comentam Odum e Barret (2011), até meados da década de 1950 
pensava-se que a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico era limitada a poucos 
tipos de micro-organismos, citados a seguir:
• Bactérias de vida livre: Azobacter (aeróbica) e Clostridium (anaeróbica).
• Bactérias de nódulos simbióticos em leguminosas (família Fabaceae): Rhizobium.
• Cianobactérias: Anabaena, Nostoc e vários outros gêneros.
Hoje se sabe que outros organismos também são capazes de fazer tal 
processo, mas os acima citados ainda são os mais conhecidos e comentados.
 
Os fixadores de nitrogênio trabalham com mais intensidade quando o 
suprimento de nitrogênio no seu ambiente é baixo. Assim, adicionar fertilizante 
nitrogenado à plantação de leguminosas inibe a biofixação (ODUM; BARRET, 
2011). Ainda, o enriquecimento por nitrogênio vem reduzindo a biodiversidade e 
aumentando o número de pragas e doenças no mundo, além de afetar de maneira 
adversa a saúde humana.
Todavia, esta não é a única fonte de nitrogênio utilizada pelas plantas, 
visto que os organismos heterotróficos também disponibilizam nitrogênio no solo. 
Isso ocorre quando esses organismos degradam as proteínas por meio de enzimas 
e excretam o nitrogênio excedente sob a forma de ureia, ácido úrico ou amônio 
(ODUM; BARRET, 2011).
A partir deste momento, micro-organismos decompositores passam 
a utilizar esses produtos para adquirir energia para o seu sustento, oxidando o 
amônio para nitrito e o nitrito para nitrato. Os agentes desse processo são descritos 
por Dajoz (2005) e reproduzidos a seguir:
• a amonificação é feita por micro-organismos como Microcorus, transformando o 
nitrogênio aminado de proteínas em amônio;
TÓPICO 4 | ECOSSISTEMAS
135
As plantas são capazes de utilizar as três formas de nitrogênio disponível (amônio, 
nitrito e nitrato) como fontes básicas. No entanto, por exigir menor gasto energético, a 
maioria das plantas utilizará preferencialmente o amônio quando esse estiver disponível 
(ODUM; BARRET, 2011).
Uma parte do nitrogênio dos nitratos retorna ao estado gasoso na atmosfera 
através da ação de bactérias de desnitrificação. Outra parte considerável é lixiviada 
pelas águas de escoamento e chega até o mar, onde o nitrogênio é consumido pelo 
fitoplâncton. A partir de então, o nitrogênio entra nas cadeias alimentares, podendo 
chegar até às aves piscívoras, que reconduzem o nitrogênio ao meio terrestre por 
meio do guano (DAJOZ, 2005).
Antes de encerrarmos os comentários acerca do ciclo do nitrogênio, é 
importante destacar que a produção e o uso excessivos de fertilizantes, além de 
serem maléficos aos ecossistemas naturais, reduzindo a biodiversidade e facilitando 
a propagação de pragas, também podem se tornar prejudiciais aos humanos. Isso 
ocorre porque o excesso de componentes nitrogenados na água de abastecimento, 
na comida e no ar põe a saúde humana em perigo (ODUM; BARRET, 2011).
3.2 CICLAGEM DO FÓSFORO
O fósforo é um grande constituinte dos ácidos nucleicos, das membranas 
celulares, dos sistemas de transferência de energia, dos ossos e dos dentes 
(RICKLEFS, 2010). Ainda, acredita-se que ele limita a produção das plantas em 
muitos habitats aquáticos.
Seu principal reservatório são as rochas, que cedem aos poucos seus 
fosfatos aos ecossistemas (Figura 57). No ambiente terrestre, a concentração 
de fósforo assimilável costuma ser baixa, agindo como fator limitante. Uma 
grande parte dos fosfatos penetra no mar, onde pode ficar imobilizada nos 
sedimentos profundos. Quando não houver corrente ascendente que permita a 
subida das águas à superfície, novamente o fósforo agirá como fator limitante 
(DAJOZ, 2005).
• a nitrificação que transforma o amônio em nitrito é feita por Nitrosomonas;
• por fim, a nitração, que transforma o nitrito em nitrato, é feita por Nitrobacter.
UNI
136
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
FIGURA 57 – ETAPAS DA CICLAGEM DO FÓSFORO
FONTE: Disponível em: <http://www.profpc.com.br/ciclofosforo2.JPG>. Acesso em: 10 abr. 
2013.
3.3 CICLAGEM DO ENXOFRE
Segundo Townsend, Begon e Harper (2006), três processos biogeoquímicos 
naturais liberam enxofre para a atmosfera: formação de aerossóis através de borrifos 
do mar, respiração anaeróbica por bactérias redutoras de sulfato, e a atividade 
vulcânica (Figura 58). As sulfobactérias liberam compostos de enxofre reduzidos de 
turfeiras submersas e pântanos, bem como de comunidades marinhas associadas 
com planícies de maré. Um fluxo inverso, a partir da atmosfera, envolve a oxidação 
de compostos de enxofre a sulfato, que retorna à terra como precipitação úmida e 
precipitação seca.
O intemperismo de rochas fornece aproximadamente a metade do 
enxofre que escoa da terra para os corpos hídricos. O restante deriva de 
fontes atmosféricas. Em seu trajeto até o oceano, parte do enxofre disponível é 
absorvida pelas plantas, participa de cadeias alimentares e, através de processos 
de decomposição,torna-se novamente disponível para as plantas. No entanto, 
há uma perda contínua de enxofre para os sedimentos oceânicos (TOWNSEND; 
BEGON; HARPER, 2006).
Atualmente, uma grande quantidade de enxofre encontra-se em 
circulação devido às atividades humanas, em especial através da combustão de 
carvão e de petróleo. A chuva ácida é a manifestação mais clara dessa realidade 
(DAJOZ, 2005).
TÓPICO 4 | ECOSSISTEMAS
137
FIGURA 58 – ETAPAS DA CICLAGEM DO ENXOFRE
FONTE: Disponível em: <http://farm4.static.flickr.com/3349/3240465413_4db1f5b3a1_o.jpg>. 
Acesso em: 10 abr. 2013.
3.4 CICLAGEM DO CARBONO
A fotossíntese e a respiração são os dois processos opostos que governam 
o ciclo do carbono, que é essencialmente gasoso e tem como veículo principal do 
fluxo entre atmosfera, hidrosfera e a biota, o dióxido de carbono (TOWNSEND; 
BEGON; HARPER, 2006).
Segundo Ricklefs (2010), três classes de processos fazem o carbono 
ciclar através dos ecossistemas: 1) as reações assimilativas e desassimilativas, 
principalmente na fotossíntese e respiração; 2) as trocas de dióxido de carbono entre 
a atmosfera e o oceano; e 3) a precipitação de sedimentos de carbonato nos oceanos.
As plantas terrestres utilizam o dióxido de carbono atmosférico como a 
sua fonte de carbono para a fotossíntese, enquanto as plantas aquáticas o fazem 
através de carbonatos dissolvidos. Os dois subciclos (terrestre e oceânico) estão 
138
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
interligados por trocas de dióxido de carbono entre a atmosfera e o oceano 
(TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
O carbono encontra seu caminho para águas internas e oceanos como 
bicarbonato resultante do intemperismo de rochas ricas em cálcio, como o calcário. 
A respiração por plantas, animais e micro-organismos libera o carbono de volta 
aos compartimentos originais (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006) (Figura 59).
FIGURA 59 – ETAPAS DA CICLAGEM DO CARBONO
FONTE: Disponível em: <http://farm4.static.flickr.com/3349/3240465413_4db1f5b3a1_o.
jpg>. Acesso em: 10 abr. 2013.
Todos os ecossistemas terrestres possuem a característica comum de 
conseguir emitir ou sequestrar carbono atmosférico. Essa função vem ganhando 
destaque nas últimas décadas devido ao avanço do conhecimento sobre as 
mudanças climáticas globais resultantes das atividades antrópicas, principalmente 
a emissão elevada de dióxido de carbono (ADUAN; VILELA; KLINK, 2003). No 
Brasil, as principais fontes de dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa 
para a atmosfera são as mudanças no uso da terra, a agricultura e a pecuária 
(CARVALHO et al., 2010).
TÓPICO 4 | ECOSSISTEMAS
139
De acordo com Odum e Barret (2011), antes da Revolução Industrial, a 
concentração de dióxido de carbono na atmosfera era da ordem de 280 ppm (partes 
por milhão). Porém, nos últimos 150 anos essa concentração aumentou para 370 
ppm, levando os cientistas a se preocuparem com o efeito estufa. As principais 
estratégias para tentar mitigar esse fenômeno consistem na menor utilização de 
combustíveis fósseis, redução das taxas de desmatamento e de queima de material 
vegetal, uso adequado do solo e, por fim, estratégias de maximização do sequestro 
de carbono no solo e na vegetação (CARVALHO et al., 2010).
3.5 CICLO HIDROLÓGICO
O ciclo da água nos ecossistemas é moldado pelos processos de evaporação, 
precipitação e transpiração (RICKLEFS, 2010) (Figura 60). O movimento se inicia 
através da evaporação da água dos oceanos para a atmosfera e, posteriormente, pela 
precipitação de volta à superfície terrestre. Parte da água precipitada pode, então, 
infiltrar e escoar nos continentes e, eventualmente, retornar aos oceanos. Ainda, 
parte da água da chuva volta à atmosfera através da evaporação e transpiração da 
vegetação (ODUM; BARRET, 2011).
FIGURA 60 – ETAPAS DA CICLAGEM DA ÁGUA
FONTE: Disponível em: <http://www.acervoescolar.com.br/ciclos-biogeoquimicos-ciclo-da-
agua/>. Acesso em: 10 abr. 2013.
140
UNIDADE 2 | ORGANISMOS, POPULAÇÕES, COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS
A evaporação e a precipitação estão intimamente relacionadas, pois a 
atmosfera possui uma capacidade limitada de reter o vapor de água. Qualquer 
aumento na evaporação cria um excesso de vapor na atmosfera e causa um 
equivalente aumento na precipitação. De um modo simplificado, é a evaporação 
que determina a velocidade com que a água se move na biosfera (RICKLEFS, 2010).
Odum e Barret (2011) enfatizam dois aspectos do ciclo da água:
1 Uma parte considerável das chuvas que sustentam os ambientes terrestres provém 
da água do mar, podendo representar em alguns locais até 90% da água precipitada.
2 As atividades humanas muitas vezes aumentam o índice pluviométrico, seja 
através da pavimentação das ruas, abrindo e represando rios, compactação do 
solo ou desmatamento. Assim, há uma drástica redução da recarga das águas 
subterrâneas – aquíferos.
De acordo com Townsend, Begon e Harper (2006), ainda que o ciclo 
hidrológico ocorresse na ausência de seres vivos, é inegável a influência da 
vegetação terrestre sobre os fluxos que nele ocorrem. De fato, a vegetação pode 
interceptar a água das chuvas impedindo que chegue até os corpos hídricos e 
ocasionando o seu retorno à atmosfera de duas formas: 1) retendo parte da água 
na folhagem, onde pode posteriormente evaporar; 2) absorvendo a água do solo, 
participando posteriormente do processo de transpiração. 
4 CLASSIFICAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS
Existem várias formas de se classificar um ecossistema, contudo suas 
definições não são muito aceitas pelos ecólogos. Todavia, em várias situações tal 
sistematização pode se mostrar útil (ODUM; BARRET, 2011). Assim sendo, os 
ecossistemas podem ser classificados tanto estruturalmente como funcionalmente. 
Quando apenas a vegetação e as principais características físicas 
estruturais servem de base para a classificação, têm-se os chamados biomas 
(ODUM; BARRET, 2011). 
Por diversas vezes os termos ecossistema e bioma são confundidos. Porém, 
como ressalta Coutinho (2006): “Não se deve supor erroneamente que bioma e ecossistema 
sejam sinônimos. Para a fisionomia, elemento de fundamental importância na classificação 
dos biomas, a fauna tem pouco ou nenhum significado. O mesmo não ocorre quando nos 
referimos a um ecossistema”.
UNI
TÓPICO 4 | ECOSSISTEMAS
141
O termo bioma não é utilizado para ambientes aquáticos ou marinhos, por não 
possuir elementos florísticos característicos que os possam classificar.
Outra forma de classificar os ecossistemas é com relação à quantidade e 
qualidade da energia. De acordo com Odum e Barret (2011), a energia fornece 
uma excelente base para uma classificação funcional, uma vez que é um 
importante “denominador comum” para os ecossistemas, inclusive os criados e/
ou gerenciados pelo homem.
Considerando o exposto, pode-se identificar 21 tipos principais 
de ecossistemas, considerando nesta soma os locais onde os humanos se 
estabeleceram (Tabela 4).
TABELA 4 – PRINCIPAIS TIPOS DE ECOSSISTEMA EXISTENTES NO PLANETA
FONTE: Odum e Barret (2011)
UNI
142
RESUMO DO TÓPICO 4
• O ecossistema é a unidade onde os organismos existentes interagem entre si e 
com o meio físico, gerando um fluxo de matéria e energia.
• A energia flui entre os organismos de forma unidirecional, havendo perda de 
parte dela ao longo da cadeia alimentar.
• Estima-se que cerca de 10% da energia constante na biomassa de um organismo 
seja aproveitada pelo seu consumidor. O restante é perdido sob a forma de calor 
devido às atividades metabólicas.
• O processo de assimilação de energia luminosa pelas plantas e sua transformação 
em energia química através da fotossíntese é denominada de produtividade 
primária.
• A produtividade primária pode ser dividida em produtividade primária bruta, 
que é o total de energia assimilado pela planta, e produtividade líquida, que é o 
que é incorporado à sua biomassa.
• Os seres necessitam de diversos elementos e compostos químicos para a sua 
sobrevivência e a sua obtençãocontínua é possível devido à existência dos ciclos 
biogeoquímicos.
• O ciclo de nitrogênio é um dos ciclos mais complexos e envolve micro-
organismos capazes de fixar o nitrogênio no solo e de outros organismos 
capazes de transformar esse nitrogênio em formas que possam ser utilizadas 
pelos vegetais.
• O principal reservatório de fósforo são as rochas, sendo que grande parte deste 
elemento penetra no mar e fica imobilizada nos sedimentos profundos.
• Três processos biogeoquímicos naturais liberam enxofre para a atmosfera: 
formação de aerossóis através de borrifos do mar, respiração anaeróbica por 
bactérias redutoras de sulfato, e a atividade vulcânica.
• O ciclo do carbono é governado por dois processos opostos: a respiração e a 
fotossíntese.
• De forma geral, o ciclo da água é moldado pelos processos de evaporação, 
precipitação e transpiração.
143
• Os termos ecossistema e bioma não são sinônimos, pois este último não considera 
os fluxos de matéria e energia, mas sim somente a fitofisionomia.
• Pode-se identificar 21 principais tipos de ecossistemas no mundo, incluindo os 
locais onde os humanos se estabeleceram.
144
1 A produtividade primária de um vegetal pode ser dividida em produtividade 
primária bruta e produtividade primária líquida. Diferencie estes conceitos.
2 Por que é dito que apenas 10% da energia absorvida por um organismo é 
repassada para o seu consumidor?
3 Os ecossistemas são “regidos” pelos fluxos constantes de matéria e energia 
necessários à sobrevivência dos organismos. Sobre a ciclagem de matéria 
nos ecossistemas, associe os itens através do código a seguir:
I- Ciclo do Nitrogênio.
II-Ciclo do Carbono.
III- Ciclo da Água.
IV- Ciclo do Enxofre.
( ) A atividade vulcânica é uma das fontes naturais da sua liberação na 
atmosfera.
( ) A fotossíntese e a respiração são os principais agentes deste ciclo.
( ) A vegetação tem grande influência sobre o regime deste ciclo.
( ) É o ciclo mais complexo entre os principais elementos necessários aos 
seres vivos.
Agora, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) IV – II – III – I.
b) ( ) IV – I – III – II.
c) ( ) I – II – III – IV.
d) ( ) I – III – II – IV.
AUTOATIVIDADE
145
UNIDADE 3
APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender a necessidade do planejamento ambiental na manutenção 
da biodiversidade e conhecer os mecanismos de conservação;
• identificar os principais efeitos das ações antrópicas sobre o ambiente e 
sobre disponibilidade de recursos naturais;
• conceituar e identificar as dimensões do Desenvolvimento Sustentável e 
sua relação com a ecologia.
Esta unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles você encon-
trará atividades que o ajudarão a aplicar os conhecimentos apresentados nos 
tópicos.
TÓPICO 1 – ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
TÓPICO 2 – ECOLOGIA HUMANA
TÓPICO 3 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
146
147
TÓPICO 1
ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a)! Neste tópico teremos a oportunidade de discutir 
os aspectos relacionados à Ecologia da Conservação. Serão abordados estudos 
relacionados com a conservação da fauna e flora, incluindo espécies, comunidades 
ou ecossistemas. Discutiremos também aspectos relativos ao planejamento 
ambiental e políticas públicas para a conservação. 
2 COMPREENDENDO OS PROCESSOS
Ao longo das unidades anteriores acompanhamos o desenvolvimento 
de conceitos que possibilitam o entendimento de fenômenos naturais. Um 
conhecimento que nos permite agora compreender as relações entre os seres vivos 
e destes com o ambiente.
 
Vimos “como se estrutura e como funciona o conjunto de seres vivos em 
um gradiente heterogêneo de ambiente”, procurando a explicação para a complexa 
rede de interdependência (ALHO, 1992).
Percebemos que os níveis de organização dos seres vivos na natureza 
tornam evidentes importantes relações: os organismos, o primeiro nível de 
organização, são as diversas formas de vida que apresentam estrutura e função 
únicas que definem a espécie, e cuja adaptação ou organização em um determinado 
tempo ou espaço define uma população. Quando avançamos para uma análise 
mais complexa, verificamos que há interações de organismos e populações com o 
sistema natural, os fatores abióticos. Todas essas interações em um dado espaço 
geográfico determinam os ecossistemas (ODUM; BARRET, 2008).
Passamos a compreender então o ambiente natural, sua organização e 
as leis que definem a manutenção da vida e como se estabelece o equilíbrio das 
relações no ambiente.
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
148
Neste contexto, o homem é o ser vivo que apresenta uma grande capacidade 
de intervir nessas relações, através da alteração do ambiente e a extração de recursos 
naturais. Muitas vezes a taxa de extração desses recursos pode ser muito superior 
à capacidade de recuperação do ambiente, e é exatamente nesse momento que este 
mesmo homem precisa intervir para viabilizar o restabelecimento do equilíbrio, 
sob pena de comprometer a disponibilidade de recursos e, em uma situação 
extrema, sua própria existência (PINTO-COELHO, 2000).
Quais são os processos, técnicas ou comportamentos e atitudes que podem nos 
levar à correta utilização dos recursos naturais que nos permitam manter o desenvolvimento 
e ao mesmo tempo garantir a manutenção desses recursos para as gerações futuras?
3 BIODIVERSIDADE
Quando falamos em conservação, faz-se necessário entendermos por que 
e o que é necessário conservar. Precisamos conhecer os elementos que compõem 
as comunidades ou os ecossistemas. Uma das características que determinam a 
viabilidade da conservação é exatamente a biodiversidade.
A biodiversidade está relacionada ao ramo da ecologia de comunidades 
e inclui todas as espécies encontradas na Terra. O texto elaborado pelo Fundo 
Mundial para a Natureza (1989) estabelece que o termo diversidade biológica é “a 
riqueza da vida na Terra, os milhões de plantas, animais e micro-organismos, os 
genes que eles contêm e os intricados ecossistemas que eles ajudam a construir no 
meio ambiente”.
Deste conceito conseguimos extrair três aspectos da biodiversidade, já 
estudados anteriormente: 
• O número de espécies.
• A variação genética.
• As comunidades e ecossistemas. 
Recapitulando o conceito de espécie, consideramos bem ilustrativa a 
definição apresentada por Primack e Rodrigues (2001, p. 27). Estes autores indicam 
que uma espécie pode ser definida de dois modos:
 
UNI
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
149
Lembre-se: “Para compreender os processos é necessário ter consolidados os 
conceitos, pois eles são a base para o desenvolvimento de técnicas e práticas ambientais”. 
(PRIMACK; RODRIGUES, 2001). Então, se necessário, volte às unidades anteriores e reveja os 
conceitos.
4 ESTIMATIVA DA BIODIVERSIDADE
Aproximadamente 1,4 milhões de espécies já foram identificadas e 
descritas pelos pesquisadores. Sua distribuição nos diversos grupos de seres vivos 
é apresentada na tabela a seguir. 
TABELA 5 – ESTIMATIVA DO NÚMERO DE ESPÉCIES IDENTIFICADAS E DESCRITAS POR 
PESQUISADORES
FONTE: Adaptado de: Primack e Rodrigues (2001)
Embora pareça elevado, este número ainda pode chegar a cinco milhões(!), 
porque grande quantidade de insetos e bactérias ainda não foram devidamente 
identificados pelos pesquisadores e biólogos.
 
Ouvimos falar com frequência que o Brasil é um dos países que apresenta a 
maior diversidade biológica do planeta. Mas o que isto significa realmente? 
A biodiversidade brasileira é expressa através da sua extensão territorial 
pela ocorrência endêmica de milhares de espécies biológicas em uma variedade 
de ecossistemas.
Primeiro, uma espécie pode ser definida como um grupo de indivíduos 
que é morfologicamente, fisiologicamente ou bioquimicamente distinta de 
outros grupos em algumas características (definição morfológica de espécie). 
Mais e mais, as diferenças nas sequências de DNA estão sendousadas para 
distinguir espécies que parecem quase idênticas, como é o caso das bactérias. 
Segundo, uma espécie pode ser distinguida como um grupo de indivíduos que 
pode potencialmente procriar entre si, mas não procria com indivíduos de outros 
grupos (definição biológica de espécie).
UNI
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
150
São denominadas de endêmicas as espécies cuja ocorrência natural se dá em 
uma área específica e tão somente nela, não sendo encontradas em nenhum outro lugar do 
mundo! As áreas de ocorrência de espécies endêmicas são importantes para a conservação 
das espécies.
Vejamos o exemplo de um levantamento efetuado no Parque Nacional da Serra da Canastra, 
localizado nos municípios de São Roque de Minas, Sacramento e Delfinópolis, sudoeste 
de Minas Gerais, abrangendo uma área de 71.525 ha e com altitudes variando entre 800 e 
1.496 metros. Os tipos de vegetação da área são as florestas mesófilas de encosta, capões, 
cerradão, cerrado, campo cerrado, campo limpo e campo rupestre. O levantamento florístico 
efetuado na região catalogou 101 famílias, das quais 73 foram identificadas, totalizando 768 
espécies. Este estudo identificou a ocorrência de 45 espécies endêmicas, incluindo várias 
espécies novas, pertencentes a 11 famílias. Foi possível ainda delimitar e descrever 17 áreas 
de endemismo e como resultado prático desse estudo essas áreas foram propostas como 
zonas de preservação permanente.
FONTE: ROMERO, Rosana; NAKAJIMA, Jimi Naoki. Revista brasileira de Botânica, São Paulo, 
V. 22, n. 2(suplemento), p. 259-265, out. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbb/
v22s2/(2_s)a5.pdf>. Acesso em: 13 maio 2013.
Dados do Ministério do Meio Ambiente estimam que cerca de 20% do número 
de espécies conhecidas pela ciência podem estar abrigadas em território brasileiro. De 
fato, a flora brasileira apresenta entre 50 e 56 mil espécies de plantas superiores.
Quanto à fauna brasileira, você pode observar, na tabela a seguir, que os 
números também são expressivos.
TABELA 6 – ESTIMATIVA DO NÚMERO DE ESPÉCIES IDENTIFICADAS NA FAUNA BRASILEIRA 
FONTE: Ministério do Meio Ambiente, Relatório nacional sobre a biodiversidade (1998). 
Conhecendo esses números, conseguimos imaginar o mundo sob a ameaça 
de extinção de espécies e perda de material genético?
Apesar dos números serem impressionantes, a extinção é uma ocorrência 
bem mais frequente do que gostaríamos de pensar.
Mensuração
As relações quantitativas de espécies podem ser mensuradas através de 
estudos técnicos e modelos matemáticos. Existem diferentes índices matemáticos 
e modelos de distribuições estatísticas para se avaliar a diversidade biológica 
(PINTO-COELHO, 2000).
NOTA
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
151
Este não é o foco do nosso estudo, entretanto, precisamos chamar sua atenção 
para o fato de que através do acompanhamento do tamanho e distribuição das populações 
é que ocorre o diagnóstico de uma determinada situação de risco. Com base nos dados 
obtidos são adotadas as medidas necessárias à conservação. Sugerimos que você consulte 
a literatura de referência para ampliar seus conhecimentos.
A tabela a seguir ilustra como a mensuração da diversidade pode ajudar na 
análise das relações entre as espécies e destas com o ambiente, utilizando um caso 
hipotético. Para auxiliar na compreensão, apresentamos o texto que diferencia dois 
tipos de diversidade: a local e a regional.
A diversidade α (alfa) ou local, e a diversidade β (beta) ou regional. 
As regiões A e B têm a mesma diversidade α, mas a região B tem a 
diversidade β maior. A diversidade α depende da capacidade do habitat 
de suportar certo número de espécies, o que pode ser função do grau de 
competição entre as populações das diferentes espécies. A diversidade 
regional depende do grau de substituição de umas espécies por outras 
em diferentes habitats. (PINTO-COELHO, 2000, p. 57).
TABELA 7 – DADOS HIPOTÉTICOS DE RIQUEZA EM ESPÉCIES EM DUAS REGIÕES COM 
DIFERENTES COMUNIDADES. AS REGIÕES A E B APRESENTAM, CADA UMA DELAS, CINCO 
HABITATS, COLONIZADOS POR ESPÉCIES COM DIFERENTES NÍVEIS DE ESPECIALIZAÇÃO 
(LARGURA DOS NICHOS)
FONTE: Pinto-Coelho (2000, p. 57)
NOTA
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
152
Legenda: A diversidade de cada habitat é denominada de diversidade-α ou 
local. Já a diversidade de espécies considerando todos os habitats da região 
é denominada de diversidade-β ou regional. Na representação da região A 
é possível observar que a diversidade α e β é igual a 10, pois as 10 espécies 
presentes em cada hábitat são as mesmas. Já na área B, a diversidade-α é igual 
a 10, mas a diversidade β é de 50, pois cada habitat apresenta espécies distintas.
FIGURA 61: REPRESENTAÇÃO DOS DADOS APRESENTADOS NA TABELA 7
FONTE: As autoras
A partir dos dados da tabela podemos concluir que a ocorrência de espécies 
e sua predominância podem apresentar significados diferentes. Se considerarmos 
o número de espécies em uma pequena área com uniformidade de habitat, o grau 
de especialização em relação aos recursos dentro desse habitat é importante. Por 
outro lado, se for considerado o número de espécies em uma região maior, o grau 
de especialização a respeito do habitat será um fator adicional a ser considerado 
(PINTO-COELHO, 2000).
4.1 PADRÕES BIOGEOGRÁFICOS
Vimos nas unidades anteriores que os padrões biogeográficos interferem 
na biodiversidade. Isto é facilmente percebido através do notável aumento do 
número de espécies em regiões tropicais e equatoriais, tanto em ecossistemas 
terrestres como nos aquáticos. Além da latitude, outros fatores interferem na 
riqueza de espécies e nos ecossistemas, a exemplo da altitude, topografia e barreiras 
geográficas (ODUM; BARRET, 2011).
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
153
Na Unidade 1 você pode rever o mapa de distribuição dos biomas 
brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Campos Sulinos. Cada 
um deles concentra uma diversidade e grande variedade de ecossistemas. 
Aproveite para identificar como os padrões biogeográficos podem definir 
a diversidade. Para facilitar, considere os biomas separadamente, de forma macro, sem 
necessariamente avaliar as variações mais específicas.
5 AMEAÇAS À BIODIVERSIDADE
Estamos constantemente ouvindo falar sobre espécies ameaçadas ou em 
extinção. Este é um tema sempre atual. Relacionaremos, neste item, as ameaças 
mais relevantes, discutindo sobre as causas de sua ocorrência e que medidas 
podem ser tomadas no sentido da conservação.
O texto a seguir é bastante ilustrativo quanto às consequências da extinção 
de espécies. Pesquisadores afirmam que o custo da perda de espécies é incalculável 
e a ciência tem indicado que todos os esforços devem ser direcionados para evitá-
la. As técnicas de recuperação, em geral, têm custos elevados. Assim sendo, as 
melhores ações serão sempre no sentido de conservação das espécies.
 
Um meio ambiente bem preservado tem grande valor econômico, estético 
e social. Mantê-lo significa preservar todos os seus componentes em boas 
condições: ecossistemas, comunidades e espécies. O aspecto mais sério 
do perigo ambiental é a extinção das espécies. As comunidades podem 
ser degradadas e confinadas a um espaço limitado, mas na medida em 
que as espécies originais sobrevivam, ainda será possível reconstruir 
as comunidades. Da mesma forma, a variação genética das espécies 
será reduzida se o tamanho da população for diminuído, mas estas 
podem ainda recuperar o potencial de sua variação genética através da 
mutação, seleção natural e recombinação. Entretanto, uma vez que a 
espécie é extinta, a informação genética única contida em seu DNA e a 
combinação especial de caracteres que ela possui estarão perdidas para 
sempre. Uma vez que uma espécie tenha sido extinta, sua população 
não pode ser recuperada, a comunidade que ela habitava torna-se 
empobrecida e seu valor potencial para os seres humanos jamais poderá 
se realizar (PRIMACK; RODRIGUES, 2001, p. 28).
5.1 EXTINÇÃO E SUAS CAUSASAo acompanharmos os eventos da história, percebemos que existiram 
momentos nos quais a própria natureza se encarregou de controlar a população 
de determinadas espécies.
DICAS
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
154
Exemplificando, a teoria da extinção dos dinossauros sobre a Terra indica, 
entre outras coisas, que após este evento, determinadas espécies vegetais e animais 
se multiplicaram e passaram a predominar na paisagem natural. 
Como já estudamos nos capítulos anteriores, os ecossistemas tendem a 
alcançar o equilíbrio na utilização de energia e espaço físico, onde as populações 
estabelecem uma teia de relações interdependentes (ODUM; BARRET, 2011).
As relações interespecíficas (competição, predação, sucessão) são 
ocorrências naturais. Entretanto, em determinadas situações podem determinar 
a extinção de espécies. Estas relações, os processos ecológicos e a utilização dos 
recursos determinam a predominância de populações ou espécies. 
É importante lembrarmos ainda de como a utilização da energia solar, 
a eficiência na fotossíntese e demais ciclos biogeoquímicos podem interferir na 
biodiversidade e conservação.
Mais uma vez nos reportamos a informações de capítulos anteriores. Aproveite 
para verificar o seu conhecimento sobre os ciclos biogeoquímicos e fluxo de energia!
Entre as espécies, o ser humano aparece como o maior agente de 
transformações do ambiente natural. Vejamos o que Primack e Rodrigues (2001, p. 
29) afirmam a respeito: 
A lista de transformações de sistemas naturais que estão diretamente 
relacionadas às atividades humanas é longa. Inúmeras espécies 
diminuíram rapidamente, algumas até o ponto de extinção, em 
consequência da caça predatória, destruição do habitat e a ação de 
novos predadores e competidores.
São as atividades humanas que resultam nas maiores ameaças 
à diversidade biológica, através da destruição dos espaços naturais e, 
consequentemente, a perda do habitat. A seguir relacionamos dois exemplos 
de destruição do habitat:
Desmatamento
 
O desmatamento é a principal origem da alteração de habitat promovida 
pelo homem. Em geral, acontece para fins de pecuária, extração da madeira, 
UNI
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
155
exploração agrícola, exploração mineral ou para ocupação urbana. Considerando 
os mecanismos naturais de recuperação dos ecossistemas, este fenômeno não seria 
tão grave se ocorresse em um ritmo que permitisse sua regeneração. Entretanto, os 
interesses econômicos se sobrepõem e o resultado já é bastante conhecido.
Considerando a legislação nacional, o IBAMA tem programas específicos 
de monitoramento dos índices de desmatamento, atuando de forma restritiva e 
punitiva no sentido de controlar o desmatamento no território brasileiro, conforme 
podemos constatar na publicação a seguir:
O desmatamento ilegal é um crime que tem consequências que afetam a 
toda a população, uma vez que contribui para a aceleração da degradação dos 
solos com a erosão, o assoreamento dos rios, agrava as secas e as enchentes, 
além de causar perda da biodiversidade e de habitat das espécies da fauna 
silvestre. O IBAMA continuará a agir com vigor para proteger a Mata Atlântica 
e a Caatinga na Paraíba, buscando evitar os desmatamentos e autuando e 
embargando atividades em áreas onde houver desmate ilegal.
FONTE: DIETRICH, 2013. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/publicadas/
desmatamento-de-73-hectares-de-mata-atlantica-e-autuado-pelo-ibama-na-paraiba>. Acesso 
em: 29 mar. 2013.
 Alguns ecossistemas são mais sensíveis às intervenções externas, a 
exemplo das florestas tropicais, das áreas alagadiças, dos manguezais e dos 
recifes de corais. Entretanto, estão continuamente expostos a ações destrutivas 
cujos efeitos predatórios podem ser fortemente sentidos e frequentemente 
noticiados.
Os principais biomas brasileiros também sofrem processos de alterações 
ambientais importantes, com maior ou menor impacto sobre suas características 
e conforme a sua ocupação e exploração. Vejamos os exemplos da Floresta 
Amazônica e Cerrado Brasileiro.
Floresta Amazônica
Existe um consenso de que este é um bioma autossustentável, o que 
representa dizer que há um ciclo permanente de nutrientes e que as relações 
interespecíficas se estabelecem em direção ao equilíbrio. Entretanto, este equilíbrio é 
muito sensível a interferências antrópicas. Apesar da baixa densidade demográfica 
(2 hab./km²), o uso e ocupação destacam-se pelo desmatamento, extrativismo 
(vegetal e mineral), atividades de pecuária e agricultura e, em especial, a produção 
de grãos em extensas áreas (ARRUDA, 2001).
Estima-se que mais de 15% da Amazônia já foi desmatada. A figura a seguir 
apresenta o mapa do desmatamento acumulado até o ano de 2011. 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
156
FIGURA 62 – DESMATAMENTO ACUMULADO NA AMAZÔNIA
FONTE: Disponível em: <http://www.imazon.org.br/mapas/desmatamento-
acumulado-2007-2010/desmatamento-acumulado-na-amazonia-legal-ate-2011/view>. 
Acesso: 24 mar. 2013.
Cerrado Brasileiro
Esse bioma caracteriza-se pela riqueza de espécies. Segundo dados do 
IBAMA (ARRUDA, 2001), existem mais de 10.000 espécies de plantas no bioma 
Cerrado, e destas, 4.400 são de ocorrência exclusiva no território brasileiro 
(endêmicas). 
Sabemos que a ocupação desta área iniciou-se a partir da década de 
1960 com a construção da Capital Federal – Brasília. O impacto ambiental desta 
ocupação foi percebido em poucos anos.
 A expansão da área agrícola com base no desmatamento, queimadas, 
o uso intensivo do solo, o uso excessivo de insumos agrícolas e a intensa 
mecanização resultou na imediata destruição do habitat. Na região do Cerrado, 
as principais alterações podem ser identificadas através do surgimento de 
voçorocas, do assoreamento dos rios e poluição dos ecossistemas, processos 
estes responsáveis por alterações significativas no habitat e, consequentemente, 
na diversidade biológica. 
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
157
Voçorocas: são caracterizadas pela formação de profundos sulcos nos solos, 
resultado de um processo erosivo que pode se iniciar pelo simples acúmulo de água em 
estradas, áreas desmatadas, pastagens etc., abrindo pequenas valas que, pela ação frequente 
do escorrimento superficial das águas (enxurradas), originam grandes sulcos e evoluem até 
o estágio voçorocas. A formação de voçorocas é resultado direto da ausência de um manejo 
adequado.
Assoreamento dos rios: é o processo resultante do acúmulo de sedimentos nos leitos dos 
rios, em geral, transportados pelas águas das chuvas. Essa sedimentação impede o curso 
natural dos rios, que podem originar enchentes e até mesmo inviabilizar a navegação. 
O processo de desertificação
O processo de desertificação ocorre de forma um pouco mais lenta, 
entretanto resulta em alterações extremas do habitat. 
Por exemplo, a degradação das terras nas zonas áridas, semiáridas e 
subúmidas secas é resultante do somatório de fatores como as variações climáticas 
e as atividades humanas:
Os processos de desertificação dependem, fundamentalmente, da 
fragilidade natural do meio frente às ações de uso e ocupação do solo e da 
consequente susceptibilidade aos processos de degradação, sendo que a 
fragilidade encontra-se basicamente marcada pelas características climáticas e 
edáficas locais, e o mau uso do solo, em sistemas naturalmente secos, constitui 
o principal desencadeador dos processos de degradação que compõem a 
desertificação. O semiárido nordestino é caracterizado pela ocorrência de 
diversas variáveis que se associam à desertificação, dentre as quais se destacam: 
os baixos índices pluviométricos, a irregularidade das precipitações no tempo 
e no espaço; a ocorrência de ventos quentes e secos; a intermitência sazonal 
das drenagens; a forte incidência de radiação solar; a baixa capacidade de 
retenção de água; a antiga e intensa ocupação da terra; a utilização de técnicas 
rudimentares de uso do solo; e a marginalidade cultural, política e econômica 
de sua população.FONTE: OLIVEIRA-GALVÃO, Ana Lúcia Costa de; SAITO, Carlos Hiroo. Disponível em: <http://
repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/10225/1/ARTIGO_MapeamentosDesertificacaoBrasil.
pdf>. Acesso em: 27 mar. 2013.
Já no Rio Grande do Sul o desmatamento, o uso intensivo do solo para 
pastagens e a mecanização da agricultura são responsáveis por um processo 
denominado “arenização”. Esse processo de degradação está representado na 
figura a seguir, ilustrando a ocorrência na região oeste do Estado.
NOTA
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
158
FIGURA 63 – REPRESENTAÇÃO DA FORMAÇÃO DE AREAIS EM RAMPAS
FONTE: SUERTEGARAY et al. Projeto Arenização no Rio Grande do Sul, Brasil: gênese, 
dinâmica e espacialização. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciências Sociales, nº 
287, 26 de marzo de 2001. Universidad de Barcelona. Disponível em: <http://www.
ub.edu/geocrit/b3w-287.htm>. Acesso em: 29 mar. 2013.
AUTOATIVIDADE
Você consegue explicar como o processo de alteração do habitat pode 
ter ocorrido de forma semelhante em áreas tão distintas como o Nordeste e o 
Sul do Brasil?
5.2 POLUIÇÃO
A poluição é mais um dos efeitos das atividades humanas sobre o meio 
natural. Pode estar acontecendo mesmo quando não é percebida nenhuma 
alteração drástica nas comunidades. As formas mais comuns de poluição são: as 
emissões de gases pela queima de combustíveis, os insumos agrícolas e outros 
produtos químicos, além da liberação de resíduos industriais e esgoto. Em especial 
no contexto urbano, a erosão de encostas é uma forma que, além das alterações 
ambientais, pode comprometer diretamente a vida humana.
5.2.1 A poluição da água
A poluição dos corpos de água ocorre principalmente pelo crescimento 
urbano, rural e industrial mal planejados. A falta de saneamento básico no meio 
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
159
urbano, os projetos de irrigação e desmatamento nas áreas rurais e o lançamento 
de efluentes industriais são constantemente apontados como responsáveis pela 
poluição das águas, cuja consequência direta é causar a morte e extinção de espécies.
O estudo da poluição das águas tem como unidade básica a bacia hidrográfica. 
Ao longo do percurso da água desde as nascentes, as águas estão expostas à 
contaminação em todo o seu caminho. Inúmeros são os fatores poluentes ao longo 
da superfície do solo e que podem alcançar, inclusive, as águas subterrâneas.
Apresentamos o quadro a seguir onde estão listados os principais agentes 
de modificação de águas superficiais e subterrâneas.
QUADRO 5 – MODIFICAÇÕES DE QUALIDADE DE ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS
FONTE: Adaptado de: CARDOSO, Gisele M. 2009. Disponível em: <www.ibama.gov.br/
phocadownload/category/14%3Fdownload%3D302%253Ap+&cd=1&hl=pt&ct=clnk&gl=br>. 
Acesso em: 6 jun. 2013.
É também a partir da conformação da bacia hidrográfica que é possível 
avaliar os riscos de contaminação e estabelecer as medidas necessárias de 
recuperação e conservação. 
residuais
inorgânicos
Sais solúveis
5.2.2 A poluição do ar
A poluição do ar, de modo semelhante, promove alterações significativas 
no ambiente e é objeto de inúmeros estudos. Entretanto, apresentaremos apenas 
aspectos ilustrativos para fins didáticos e compreensão do tema. 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
160
Chuva ácida
A formação de chuva ácida ocorre pela incorporação de ácidos presentes no 
ar aos sistemas de nuvens e reduzindo o pH da água da chuva. Ao chegar ao solo 
também reduz o pH da água retida nas partículas do solo e, como consequência, 
altera as reações e a composição química. Essas alterações têm efeito direto sobre a 
disponibilidade de nutrientes, população de micro-organismos, decomposição da 
matéria orgânica etc. 
A acidez da água é considerada um fator limitante e pode ser responsável 
ainda por alterações nos ecossistemas aquáticos que resultam no declínio de 
populações ou mesmo a sua extinção.
Efeito estufa
Curiosamente, o efeito estufa é um fenômeno natural e que possibilita a 
vida humana na Terra. Entretanto, o equilíbrio entre a composição dos gases que 
estão na atmosfera é que vai determinar a proteção ou ameaça à sobrevivência. 
Vejamos o texto a seguir, que trata de forma bastante interessante sobre o assunto:
 Parte da energia solar que chega ao planeta é refletida diretamente de 
volta ao espaço, ao atingir o topo da atmosfera terrestre – e parte é absorvida 
pelos oceanos e pela superfície da Terra, promovendo o seu aquecimento. Uma 
parcela desse calor é irradiada de volta ao espaço, mas é bloqueada pela presença 
de gases de efeito estufa que, apesar de deixarem passar a energia vinda do Sol 
(emitida em comprimentos de onda menores), são opacos à radiação terrestre, 
emitida em maiores comprimentos de onda. Essa diferença nos comprimentos 
de onda se deve às diferenças nas temperaturas do Sol e da superfície terrestre.
 De fato, é a presença desses gases na atmosfera o que torna a Terra 
habitável, pois, caso não existissem naturalmente, a temperatura média do 
planeta seria muito baixa, da ordem de 18ºC negativos. A troca de energia entre 
a superfície e a atmosfera mantém as atuais condições, que proporcionam uma 
temperatura média global, próxima à superfície, de 14ºC.
 Quando existe um balanço entre a energia solar incidente e a energia 
refletida na forma de calor pela superfície terrestre, o clima se mantém 
praticamente inalterado. Entretanto, o balanço de energia pode ser alterado 
de várias formas: (1) pela mudança na quantidade de energia que chega à 
superfície terrestre; (2) pela mudança na órbita da Terra ou do próprio Sol; (3) 
pela mudança na quantidade de energia que chega à superfície terrestre e é 
refletida de volta ao espaço, devido à presença de nuvens ou de partículas na 
atmosfera (também chamadas de aerossóis, que resultam de queimadas, por 
exemplo); e, finalmente, (4) graças à alteração na quantidade de energia de 
maiores comprimentos de onda refletida de volta ao espaço, devido a mudanças 
na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
161
 Essas mudanças na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera 
estão ocorrendo em função do aumento insustentável das emissões antrópicas 
desses gases.
 As emissões de gases de efeito estufa ocorrem praticamente em todas 
as atividades humanas e setores da economia: na agricultura, por meio da 
preparação da terra para plantio e aplicação de fertilizantes; na pecuária, por 
meio do tratamento de dejetos animais e pela fermentação entérica do gado; no 
transporte, pelo uso de combustíveis fósseis, como gasolina e gás natural; no 
tratamento dos resíduos sólidos, pela forma como o lixo é tratado e disposto; 
nas florestas, pelo desmatamento e degradação de florestas; e nas indústrias, 
pelos processos de produção, como cimento, alumínio, ferro e aço, por exemplo.
Gases de efeito estufa
Há quatro principais gases de efeito estufa (GEE), além de duas famílias de 
gases, regulados pelo Protocolo de Quioto:
- O dióxido de carbono (CO2) é o mais abundante dos GEE, sendo emitido 
como resultado de inúmeras atividades humanas, como, por exemplo, por meio 
do uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) e também com 
a mudança no uso da terra. A quantidade de dióxido de carbono na atmosfera 
aumentou 35% desde a era industrial, e este aumento deve-se a atividades 
humanas, principalmente pela queima de combustíveis fósseis e remoção 
de florestas. O CO2 é utilizado como referência para classificar o poder de 
aquecimento global dos demais gases de efeito estufa.
- O gás metano (CH4) é produzido pela decomposição da matéria orgânica, 
sendo encontrado geralmente em aterros sanitários, lixões e reservatórios de 
hidrelétricas (em maior ou menor grau, dependendo do uso da terra anterior à 
construção do reservatório) e também pela criação de gado e cultivo de arroz. 
Com poder de aquecimento global 21 vezes maior que o dióxido de carbono.
- O óxido nitroso (N2O) cujas emissões resultam, entre outros, do tratamentode dejetos animais, do uso de fertilizantes, da queima de combustíveis fósseis 
e de alguns processos industriais, possui um poder de aquecimento global 310 
vezes maior que o CO2.
- O hexafluoreto de enxofre (SF6) é utilizado principalmente como isolante 
térmico e condutor de calor; gás com o maior poder de aquecimento é 23.900 
vezes mais ativo no efeito estufa do que o CO2.
- Os hidrofluorcarbonos (HFCs), utilizados como substitutos dos 
clorofluorcarbonos (CFCs) em aerossóis e refrigeradores; não agridem 
a camada de ozônio, mas têm, em geral, alto potencial de aquecimento 
global (variando entre 140 e 11.700).
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
162
- Os perfluorcarbonos (PFCs) são utilizados como gases refrigerantes, 
solventes, propulsores, espuma e aerossóis e têm potencial de aquecimento 
global variando de 6.500 a 9.200.
 Os hidrofluorcarbonos e os perfluorcarbonos pertencem à família dos 
halocarbonos, todos eles produzidos, principalmente, por atividades antrópicas.
FONTE: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/clima/
ciencia-da-mudanca-do-clima/efeito-estufa-e-aquecimento-global>. Acesso em: 13 maio 
2013. 
 
A figura a seguir ilustra de modo didático a ocorrência do efeito estufa, 
resultado da poluição atmosférica.
FIGURA 64 – EFEITO ESTUFA
FONTE: Disponível em: <http://www.desconversa.com.br/geografia/wp-content/
uploads/2011/02/imagem-efeito-estufa.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2013.
Além das alterações nos padrões do clima global devido às grandes quantidades 
de dióxido de carbono, o aumento da temperatura provavelmente será responsável pela 
extinção de algumas espécies. 
Você pode pensar sobre o assunto: como as alterações na composição do ar, o aumento 
da temperatura, a alteração na incidência dos raios solares podem ser responsáveis pela 
extinção de espécies?
UNI
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
163
5.2.3 A poluição do solo
Sabemos que é do solo que vegetais e animais retiram os elementos e 
substâncias necessários à nutrição. O solo representa ainda habitats e nichos onde 
realizam um contínuo processo dinâmico e harmônico na troca de matéria e energia, 
responsável pela constante reciclagem de elementos minerais, caracterizando os 
ciclos biogeoquímicos (Unidade 2), portanto, “tem vida, sendo preciso conhecer os 
mecanismos e a dinâmica que possibilitam manter o equilíbrio ecológico quando 
se pretende preservar e proteger sua fertilidade. Essas considerações não podem 
ser esquecidas quando se implantar qualquer projeto de uso e ocupação do solo” 
(PHILIPPI JR., 2005, p. 27). Entretanto, esta não parece ser uma razão suficiente 
para disciplinar o uso do solo.
 
Conforme estabelece o Decreto nº 28.687/82, art. 72, a poluição do solo e 
do subsolo consiste na deposição, disposição, descarga, infiltração, acumulação, 
injeção ou enterramento no solo ou no subsolo de substâncias ou produtos 
poluentes, em estado sólido, líquido ou gasoso. 
Para entendermos melhor o processo de poluição do solo, vejamos o 
texto a seguir:
A contaminação dos solos dá-se principalmente por resíduos sólidos, 
líquidos e gasosos, águas contaminadas, efluentes sólidos e líquidos, efluentes 
provenientes de atividades agrícolas, etc. Assim, pode-se concluir que a 
contaminação do solo ocorrerá sempre que houver adição de compostos ao 
solo, modificando suas características naturais e as suas utilizações, produzindo 
efeitos negativos. [...] um dos principais fenômenos de degradação dos solos 
é a contaminação através de efluentes provenientes de atividades agrícolas, de 
onde se destacam aquelas que apresentam um elevado risco de poluição, como 
sendo, as agropecuárias intensivas (suinoculturas), com taxa bastante baixa de 
tratamento de efluentes, cujo efeito no solo depende do tipo deste, da concentração 
dos efluentes e do modo de dispersão; os sistemas agrícolas intensivos que têm 
grandes contributos de pesticidas e adubos, podendo provocar a acidez dos solos, 
que por sua vez facilita a mobilidade dos metais pesados; e os sistemas de rega, 
por incorreta implantação e uso, podem originar a salinização do solo e/ou a 
toxicidade das plantas com excesso de nutrientes.
FONTE: Ambiente Brasil. Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agropecuario/
artigo_agropecuario/dia_nacional_da_conservacao_do_solo.html>. Acesso em: 13 maio 2013.
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
164
Veremos ainda nesta unidade que a contaminação dos solos pode ocorrer 
também pela deposição de resíduos sólidos, líquidos e gasosos provenientes de aglomerados 
urbanos e áreas industriais, sem qualquer controle (lixões).
A ocupação urbana desordenada, a pavimentação asfáltica e a 
impermeabilização da superfície dos solos podem promover alterações danosas aos 
aquíferos e lençol freático. Na tabela a seguir verificamos que a remoção de 100% da 
cobertura vegetal resulta numa taxa de infiltração da água no solo de apenas 10%. 
Ou seja, 90% da água que chega ao solo é perdida pelo escoamento superficial. 
Além dos efeitos nas relações entre os seres vivos, a impermeabilização dos 
solos urbanos é responsável por enchentes e alagamentos cujas consequências são 
bastante conhecidas pelas populações urbanas. O carreamento de material orgânico 
e inorgânico e o efeito erosivo das enxurradas contribuem para o assoreamento 
dos rios, como já vimos anteriormente. 
TABELA 8 – EFEITO DA REMOÇÃO DA COBERTURA VEGETAL NA INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NO SOLO
FONTE: Philippi Jr. (2005)
Convém lembrar que introdução de espécies exóticas também é um fator 
importante na extinção de espécies. Pode produzir um efeito negativo sobre as espécies 
nativas e disseminar doenças e parasitas. Exemplo deste potencial pode ser visto, com 
frequência, nos casos de confinamento de animais onde o elevado número de indivíduos, 
em espaços reduzidos, favorece a ocorrência de doenças.
6 CONSERVAÇÃO
Vimos até aqui os processos que ameaçam a diversidade biológica. Precisamos 
então discutir métodos e técnicas que promovam a utilização dos recursos naturais 
de forma racional e que permitam a sua conservação. A argumentação apresentada 
por Primack e Rodrigues (2001, p. 31) esclarece sobre tal necessidade.
ESTUDOS FU
TUROS
NOTA
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
165
A desaceleração do crescimento da população humana é parte da 
solução para a crise da diversidade biológica. Além disso, as atividades 
industriais em larga escala, o corte da madeira e a agricultura, na busca 
de altos lucros em curto prazo, têm efeitos destrutivos e desnecessários 
para o ambiente natural. Esforços para reduzir o alto consumo de 
recursos naturais nos países ricos e industrializados e para eliminar a 
pobreza em países em desenvolvimento são também parte importante 
da proteção da diversidade biológica.
No que diz respeito ao crescimento populacional, as estimativas não são 
otimistas, conforme podemos verificar na figura a seguir.
FIGURA 65 – ESTIMATIVA PARA A POPULAÇÃO MUNDIAL
FONTE: Unided Nations (2004). Disponível em: <http://www.scielo.br/img/revistas/rbepop/
v28n2/a09graf02.jpg>. Acesso em: 24 mar. 2013.
O gráfico mostra uma tendência de que a população dobre de tamanho até o 
ano de 2100. As transformações advindas deste crescimento são e serão percebidas 
na organização do espaço urbano e rural. As dificuldades na conservação dos 
recursos naturais frente às necessidades humanas destacam-se no cenário político.
 Entretanto, a evolução da ecologia, enquanto ciência, tem possibilitado 
uma redefinição do desenho dos padrões de desenvolvimento e conservação. 
Novas abordagens das questões ambientais têm permitido o estabelecimento de 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
166
regras de convívio e gerenciamento de conflitos de interesses. Neste sentido, Gipps 
(1991), citado por Primack e Rodrigues (2001, p. 35), afirma que:
Ao invés de apenas observar passivamente as espécies em perigo 
caminharem para a extinção, muitos biólogos de conservação começaram 
a desenvolver abordagens parasalvar essas espécies. Alguns métodos 
novos e interessantes estão sendo desenvolvidos para estabelecer novas 
populações silvestres e semissilvestres de espécies raras e ameaçadas e 
para aumentar o tamanho das populações existentes.
Ou seja, a ciência tem ocupado o espaço na solução dos problemas 
relacionados ao ambiente, tomando nova forma.
6.1 O ESTABELECIMENTO DE NOVAS POPULAÇÕES 
Para tratar do estabelecimento de novas populações, visando a sua 
recuperação e conservação, devemos, inicialmente, levantar alguns aspectos 
técnicos que possibilitem o diagnóstico da situação.
 
É preciso avaliar a variabilidade genética da população remanescente. 
É esta variabilidade que permitirá, ou não, que as populações se adaptem a um 
ambiente transformado ou em transformação e está diretamente relacionada ao 
número de indivíduos. Em pequenas populações a variabilidade tende a ser menor 
e, consequentemente, as variações genéticas são limitadas, reduzindo as chances de 
sucesso e exigindo técnicas mais eficientes (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
Outro aspecto é a disponibilidade de informações sobre estas populações, 
os ambientes nos quais estão distribuídas, as interações bióticas, sua morfologia e 
fisiologia. Em muitos casos é necessário levantar informações de monitoramento a 
médio e longo prazos. 
O estabelecimento propriamente dito de novas populações pode ocorrer por 
um programa de reintrodução, de acréscimo ou de introdução, considerando ainda o 
comportamento social dos animais, da população de plantas, da disponibilidade de 
recursos abióticos, da influência do clima, da topografia etc. (ODUM; BARRET, 2011).
6.2 CONSERVAÇÃO IN SITU E EX SITU
Sob o aspecto da biologia será sempre indicado que as estratégias de 
conservação de populações sejam aplicadas in situ – nas áreas de origem, em 
seu ambiente natural. Entretanto, sob o ponto de vista prático, nem sempre isto 
é possível. Alternativamente, quando a conservação in situ não é tecnicamente 
viável, podem ser aplicadas as estratégias de conservação ex situ, através do uso 
de espaços delimitados, como os zoológicos, aquários, jardins botânicos e bancos 
de sementes (BEZERRA; MUNHOZ, 2000). 
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
167
6.2.1 Zoológicos
O principal objetivo destes espaços é estabelecer populações, em cativeiros, 
de animais raros ou ameaçados. Infelizmente, o número reduzido de indivíduos 
de uma determinada espécie pode inviabilizar um projeto de conservação. O 
esforço é no sentido de desenvolver tecnologias que aumentem as possibilidades 
de reprodução e disponibilizar informações sobre o adequado manejo e tratamento 
de espécies silvestres.
6.2.2 Aquários
Os aquários públicos atuam de forma similar aos zoológicos, entretanto 
apresentam um alto custo de manutenção. 
6.2.3 Jardins botânicos
No Brasil, o primeiro jardim botânico a ser instalado foi o Jardim Botânico do 
Rio de Janeiro. A finalidade, na época de sua criação, foi a de possibilitar a aclimatação 
de espécies exóticas trazidas do Oriente. Atualmente é o maior depositário da flora 
nacional. No mundo, os jardins botânicos estão se especializando e há centros de 
conservação e reprodução em tipos específicos de plantas. Estes espaços contribuem 
para a conservação e representam fontes de informação sobre a distribuição 
geográfica e exigências nutricionais, de clima e solo de plantas.
6.2.4 Bancos de sementes
Os bancos de sementes representam uma estratégia na conservação de 
espécies vegetais. As sementes podem ser armazenadas em condições de baixas 
temperaturas e permanecerem viáveis por um período de tempo. No momento 
adequado são colocadas para germinar. Neste caso percebemos que não é necessária 
a disponibilidade de grandes espaços e apresentam um menor custo. Entretanto, 
se ocorrerem problemas na manutenção dos sistemas ou equipamentos, toda a 
coleção pode ser comprometida.
6.3 PLANEJAMENTO DE ÁREAS PROTEGIDAS 
Como premissa ao planejamento de áreas a serem definidas como 
estratégicas no uso e conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, 
Bezerra e Munhoz, (2000) destacam a necessidade de implantação de políticas 
públicas e programas visando:
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
168
• Assegurar o uso sustentável de recursos biológicos e acesso a recursos genéticos.
• Disciplinar a conservação dos solos, da água, do ar e outros elementos essenciais e,
• Propiciar a integridade dos ecossistemas que estão sendo usados, em longo 
prazo.
Existem questões importantes que precisam ser levantadas na definição de 
áreas destinadas à conservação, pois cada uma das situações requer considerações 
específicas, segundo Primack e Rodrigues (2001):
• Qual é a extensão de área de reserva adequada para proteger as espécies.
• Se a eficiência será maior em uma única e grande reserva ou em muitas de menor 
tamanho.
• Se as áreas devem estar isoladas ou interligadas através dos corredores ecológicos
• e até mesmo a forma geométrica mais eficiente. 
 
A resposta a estas questões permite o planejamento adequado e eficiente. 
Em geral, as áreas circulares minimizam os efeitos da exposição das margens das 
áreas, os chamados “efeitos de borda”. Nas margens, as interferências do meio 
externo à área de conservação tendem a ser maiores e as áreas centrais ficam mais 
protegidas. Do mesmo modo, a fragmentação da área pela presença de estradas ou 
outras atividades cria o efeito de borda (BEZERRA; MUNHOZ, 2000).
Podemos dizer que o método mais eficiente de preservar a diversidade 
biológica é a preservação do habitat, mas os interesses econômicos acabam se 
sobrepondo. O ideal seria que os parques fossem tão grandes quanto possíveis, 
e não fragmentados.
No Brasil, em função de acordos internacionais, as agências governamentais 
e organizações de conservação estão estabelecendo prioridades seguindo as 
premissas da Agenda 21. Está sendo proposta a criação de novas unidades de 
conservação que permitam formar um conjunto significativo e representem, 
no mínimo, 10% de cada um dos principais ecossistemas terrestres, costeiros e 
oceânicos (BEZERRA; MUNHOZ, 2000).
Esta é uma iniciativa ambiciosa e, para sua implantação, fazem-se 
necessários acordos entre os setores públicos e privados.
Outra forma possível é através das unidades de conservação, contudo o 
modelo empregado no Brasil deve passar por melhorias. 
Apresentamos a seguir o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de 
Conservação, instituído pela Lei n° 9.985, de 18 de julho 2000, que estabelece 
critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de 
conservação.
Recomendamos que você acesse a página na internet do Ministério do Meio 
Ambiente para conhecer as categorias das unidades de conservação conforme 
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
169
características específicas:
• Unidades de Proteção Integral
• Estação Ecológica
• Reserva Biológica
• Parque Nacional
• Monumento Natural 
• Refúgio de Vida Silvestre
• Unidades de Uso Sustentável 
• Área de Proteção Ambiental
• Área de Relevante Interesse Ecológico
• Floresta Nacional
• Reserva Extrativista
• Reserva de Fauna
• Reserva de Desenvolvimento Sustentável
• Reserva Particular do Patrimônio Natural
O SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é o conjunto de 
unidades de conservação (UC) federais, estaduais e municipais. É composto por 
12 categorias de UC, cujos objetivos específicos se diferenciam quanto à forma 
de proteção e usos permitidos: aquelas que precisam de maiores cuidados, pela 
sua fragilidade e particularidades, e aquelas que podem ser utilizadas de forma 
sustentável e conservadas ao mesmo tempo.
O SNUC foi concebido de forma a potencializar o papel das UC, de modo 
que sejam planejadas e administradas de forma integrada com as demais UC, 
assegurando que amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes 
populações, habitats e ecossistemas estejam adequadamente representadas no 
território nacional e nas águas jurisdicionais.Para isso, o SNUC é gerido pelas 
três esferas de governo (federal, estadual e municipal).
Além disso, a visão estratégica que o SNUC oferece aos tomadores de 
decisão possibilita que as UC, além de conservar os ecossistemas e a biodiversidade, 
gerem renda, emprego, desenvolvimento e propiciem uma efetiva melhora na 
qualidade de vida das populações locais e do Brasil como um todo.
O SNUC tem os seguintes objetivos:
• Contribuir para a conservação das variedades de espécies biológicas e dos 
 recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais.
• Proteger as espécies ameaçadas de extinção.
• Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas 
 naturais.
• Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais.
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
170
• Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza 
 no processo de desenvolvimento.
• Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica.
• Proteger as características relevantes de natureza geológica, morfológica, 
 geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural.
• Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados.
• Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, 
 estudos e monitoramento ambiental.
• Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica.
• Favorecer condições e promover a educação e a interpretação ambiental e a 
 recreação em contato com a natureza e
• Proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações 
 tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e 
 promovendo-as social e economicamente.
FONTE: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/
areas-protegidas/sistema-nacional-de-ucs-snuc>. Acesso em: 13 maio 2013.
Existem hoje mecanismos de compensação ambiental que podem significar 
avanços nas negociações e no estabelecimento de novas áreas de conservação, 
como veremos no Tópico 3.
6.4 MANEJO
Uma vez instaladas, as áreas de conservação devem receber o manejo 
adequado “para que se mantenham os tipos de habitat e os estágios de sucessão 
que algumas espécies necessitam” (PRIMACK; RODRIGUES, 2001, p. 41).
 
Atualmente, há necessidade de manejo em áreas, mesmo fora das unidades 
protegidas, com o devido planejamento do uso dos recursos naturais. Existem 
modelos de manejo de recursos naturais baseados no desenvolvimento planejado. 
Neste sentido, passaremos a apresentar agora casos de sucesso que exemplificam 
a utilização de recursos ambientais em harmonia com a conservação.
O manejo de ecossistemas é uma referência para o conceito de Desenvolvimento 
Sustentável, como veremos no Tópico 3.
ESTUDOS FU
TUROS
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
171
O PAPEL DA VEGETAÇÃO NA MARGEM DOS ECOSSISTEMAS 
AQUÁTICOS
 
Entre as alternativas de manejo, a ecologia da restauração fornece métodos 
para reestabelecer espécies, comunidades e funções de ecossistemas considerados 
degradados. 
Além de elementos técnicos, o uso de incentivos financeiros pode viabilizar 
a implantação e manutenção de novas áreas de recuperação e conservação. Veja 
um caso bastante ilustrativo lendo o texto a seguir:
PROGRAMA CONSERVADOR DAS ÁGUAS (Cidade de Extrema, em 
Minas Gerais)
A Lei Municipal nº 2.100, de 21 de dezembro de 2005, instituiu o 
Programa Conservador das Águas na cidade de Extrema/MG, com base no 
princípio do conservador-recebedor, incentivando o produtor rural a conservar 
os mananciais por meio da remuneração, como fator de estímulo e geração 
de renda. Este programa tem como objetivos aumentar a cobertura vegetal, 
implantar microcorredores ecológicos, reduzir a poluição decorrente de processos 
erosivos e da falta de saneamento, e garantir a sustentabilidade socioambiental 
dos manejos e práticas implantadas, por meio do PSA – Pagamento de Serviços 
Ambientais, aos produtores rurais. A remuneração direta é efetuada de acordo 
com o alcance de metas preestabelecidas, e os pagamentos são feitos durante e 
após a implantação do projeto. Nesse município, é pago ao produtor de serviços 
ambientais um valor de 100 Unidades Fiscais de Extrema (UFEX), por hectare, 
por ano. Sendo o valor atual de uma UFEX R$ 1,59. Anualmente, o produtor de 
serviços ambientais nesse município é remunerado em R$ 159,00/hectare/ano.
FONTE: Informe Agropecuário, v. 32, n. 263, EPAMIG, Belo Horizonte. 2011, p. 34.
Os governos e as organizações de conservação passaram a adotar 
mecanismos de subsídios para conservação. Alguns proprietários de terra 
consideram atraentes os subsídios para a conservação, pois permitem manter as 
terras e ao mesmo tempo atender aos objetivos da conservação.
Apesar de possuir uma grande quantidade de áreas protegidas, a falta 
de integração destas unidades com a população do seu entorno compromete a 
sua implantação de fato. Infelizmente a criação de uma APA – Área de Proteção 
Ambiental ainda é imposta aos moradores de uma região causando apreensão em 
relação à manutenção de seu modo de vida. O ideal, a exemplo de outros países, 
seria a participação ativa dos moradores do processo, demonstrando uma melhor 
organização tanto da sociedade quanto das instituições.
 
No Brasil, através de programas específicos, existem relatos recentes de 
uma efetiva gestão participativa em áreas de preservação. 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
172
Neste sentido, a inserção do conteúdo cultural e social da comunidade 
envolvida no processo é destacada por Toledo (1988) citado por Primack & 
Rodrigues (2001, p. 42):
É difícil planejar uma política de conservação em um país que é 
considerado pela diversidade cultural de sua população, sem levar 
em consideração a dimensão cultural; o profundo relacionamento que 
existe desde os remotos tempos entre natureza e cultura. Cada espécie 
de planta, grupos de animais, tipo de solo e paisagem quase sempre 
tem uma expressão linguística correspondente, uma categoria de 
conhecimento, um uso prático, um sentido religioso, uma vitalidade 
individual ou coletiva. Salvaguardar a herança natural do país sem 
resguardar as culturas que lhes tem dado vida é reduzir a natureza a 
algo sem reconhecimento, estático, distante, quase morto.
7 O VALOR ECONÔMICO DA BIODIVERSIDADE
Para finalizarmos este tópico, consideramos importante a abordagem de 
aspectos referentes ao valor econômico da biodiversidade, tema amplamente 
discutido nos dias atuais.
O uso de conceitos e vocabulários vinculados à economia está sendo cada 
vez mais utilizado pelos biólogos da conservação de forma a convencer o governo, 
banqueiros e empresários da necessidade de proteger a biodiversidade. Isto será 
possível desde que estes atores encontrem uma justificativa econômica para fazê-
lo (RICKLEFS, 2003).
Apresentamos a seguir o texto elaborado por Arruda (2001) que resume 
de modo eficiente e interessante aquilo que é essencial conhecermos sobre o 
valor econômico da biodiversidade.
A Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB reconhece que a 
biodiversidade possui valores econômicos sociais e ambientais. Logo no 
primeiro parágrafo do texto esse reconhecimento é explicitado: ‘Consciente 
do valor intrínseco da diversidade biológica e dos valores ecológico, social, 
econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético da diversidade 
biológica e seus componentes’. A seguir o artigo 1º define os objetivos da 
Convenção como sendo a ‘conservação da biodiversidade biológica, a utilização 
sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios 
derivados da utilização dos recursos genéticos’. Complementando o artigo 
11 destaca a necessidade de se utilizar instrumentos econômicos na gestão 
da conservação da biodiversidade, afirmando que: ‘cada parte contratante 
deve, na medida do possível e conforme o caso, adotar medidas econômica 
e socialmente racionais que sirvam de incentivo à conservação e utilização 
sustentável de componentesda diversidade biológica’. Assim, a CDB busca 
demonstrar, como estratégia de proteção à biodiversidade, que a conservação 
e o uso sustentável da biodiversidade têm valor econômico e que a utilização 
de critérios econômicos é relevante na sua implementação, ou seja, apregoa 
TÓPICO 1 | ECOLOGIA DA CONSERVAÇÃO
173
ser imprescindível o reconhecimento do valor econômico da biodiversidade 
por aqueles que participam de sua gestão. Hoje, a maioria das decisões de 
políticas públicas se baseia em considerações econômicas. O conhecimento do 
montante dos valores econômicos associados à conservação, à preservação e ao 
uso sustentável da biodiversidade é a forma contemporânea de garantir que 
a variável ambiental tenha peso efetivo nas tomadas de decisões em políticas 
públicas. Neste contexto, a Economia Ambiental, fundamentada na Teoria 
Econômica Neoclássica, incorpora hoje métodos e técnicas de valoração que 
buscam integrar as dimensões ecológicas, econômicas e sociais, de forma que 
capture os valores econômicos associados à conservação e à preservação da 
diversidade biológica. O objetivo é tirar as formulações neoclássicas do nível 
teórico de abstração e enfrentar o desafio de medir as variáveis indispensáveis 
à implantação e à instrumentalização de políticas públicas.
FONTE: Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/ecossistemas/valoracaoAM.htm>. Acesso 
em: 6 jun. 2013.
O conceito de valor econômico desenvolvido pela economia ambiental é 
útil para identificarmos os diversos valores associados aos recursos ambientais. 
Vejamos o quadro a seguir:
QUADRO 6 – VALORES ASSOCIADOS AOS RECURSOS AMBIENTAIS
FONTE: Adaptado de: Arruda (2001)
Ao utilizarmos as informações do quadro anterior em um diagrama, 
teremos a estrutura da figura a seguir:
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
174
FIGURA 66 – ESTRUTURA DO CONCEITO VALOR ECONÔMICO DA 
BIODIVERSIDADE
FONTE: Adaptado de Arruda (2001)
7.1 OS CUSTOS AMBIENTAIS
Para entendermos um pouco melhor a importância de avaliarmos os custos 
ambientais, separamos o texto a seguir.
Prejuízos causados por ciclones tropicais mais frequentes, perda de 
terra em consequência de um aumento do nível do mar e danos aos recursos 
pesqueiros, à agricultura e ao fornecimento de água poderiam custar mais de 
US$ 300 bilhões por ano.
Em termos globais, os maiores prejuízos seriam na área da energia. A 
indústria hídrica mundial enfrentará um custo adicional de US$ 47 bilhões por 
ano em 2050. A indústria agrícola e a silvicultura podem perder até US$ 42 
bilhões em todo o mundo em consequência de secas, enchentes e incêndios se 
os níveis de dióxido de carbono alcançarem o dobro das suas concentrações pré-
industriais. Programas de defesa contra inundações para proteger moradias, 
fábricas e usinas de energia do aumento do nível do mar e de tempestades 
repentinas podem custar US$ 1 bilhão por ano. A perda de ecossistemas, 
incluindo manguezais, recifes de corais e lagunas costeiras, pode chegar a mais 
de US$ 70 bilhões em 2050. 
FONTE: IBAMA: integração entre o meio ambiente e o desenvolvimento: 1972-2002. 
Perspectivas do Meio Ambiente Mundial GEO-3. Disponível em: <http://www.wwiuma.org.br/
geo_mundial_arquivos/index.htm>. Acesso em: 23 mar. 2013.
175
Neste tópico vimos que:
• A manutenção dos sistemas biológicos depende da manutenção da diversidade 
das espécies.
• A diversidade biológica inclui o número total de espécies vivas, a variação genética 
que ocorre entre os indivíduos de uma espécie, o número de comunidades e as 
interações com o ambiente físico e químico.
• A maior diversidade é encontrada nas regiões tropicais: florestas, recifes de 
corais e ecossistemas aquáticos.
• As atividades humanas são responsáveis pela extinção de muitas espécies. A 
maior ameaça à diversidade biológica é a perda do habitat e o melhor caminho 
de proteção é a preservação dos hábitats.
• A poluição ambiental elimina muitas espécies, através dos mais diversos 
processos, e suas principais fontes são os resíduos das atividades humanas, 
particularmente a contaminação com dejetos industriais, esgoto, insumos 
agrícolas, fertilizantes, entre outros.
• Para a proteção de espécies, populações ou ecossistemas é necessário conhecer, 
monitorar, planejar e manejar corretamente os elementos essenciais à sua 
conservação.
• Os componentes da diversidade biológica podem receber valor econômico direto 
– aqueles relacionados a produtos de consumo pelas pessoas – ou indiretos, que 
não envolvem o consumo ou a destruição dos recursos naturais.
RESUMO DO TÓPICO 1
176
1 Depois da leitura do texto, responda quais os principais aspectos da 
biodiversidade que impactam sobre a manutenção da vida nos ecossistemas.
2 Existe uma linha de pensamento que afirma: “O aquecimento global é uma 
ameaça à vida humana”. Que informações apresentadas ao longo do Tópico 
1 justificam esta informação?
3 Associe os itens a seguir com base nas informações sobre o valor econômico 
da biodiversidade:
(I) Valores de uso.
(II) Valores de não uso.
( ) Polinização de flores por abelhas.
( ) Herança genética.
( ) Turismo ecológico.
( ) Valor de existência.
Agora assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) I – II – II – I.
b) ( ) I – II – I – II.
c) ( ) II – II – I – I.
d) ( ) I – I – I – II.
AUTOATIVIDADE
177
TÓPICO 2
ECOLOGIA HUMANA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! Concordando ou não, podemos afirmar que 
todo o conhecimento acumulado pela humanidade tem um pouco do aspecto 
antropocêntrico. Conhecer o mundo no qual está inserido é o objetivo final do 
ser humano. Com a ecologia não seria diferente, mesmo tratando das relações 
entre os diversos seres vivos, a finalidade é conhecer essas relações a fim de 
obter o melhor uso e benefício.
Especificamente, a ecologia humana aborda questões diretamente ligadas 
à ação do homem sobre o ambiente. Neste tópico serão abordados alguns 
aspectos diretamente vinculados às atividades antrópicas e suas consequências 
sobre a disponibilidade dos recursos naturais essenciais, sob o ponto de vista do 
estabelecimento e manutenção da vida humana. 
2 O HOMEM E O AMBIENTE
Vimos na Unidade 1 algumas definições do termo ecologia. Para Odum e 
Barret (2011), “o estudo do ambiente da casa inclui todos os organismos contidos 
nela e todos os processos funcionais que a tornam habitável”, estabelecendo que a 
ecologia é uma ciência abrangente e que estuda as inter-relações entre a diversidade 
de seres e destes com o suporte ambiental.
Abordaremos nesse tópico as inter-relações nas quais o homem aparece 
como agente de modificações importantes no ambiente natural.
 
Historicamente, a partir do advento da fase agrícola, com a dominação 
de plantas e animais, mediante a evolução da vida urbana e, 
mais recentemente, diante do avanço científico e da inovação da 
tecnologia industrial, o homem em seu sentido genérico passou a 
ser o grande modificador do ambiente, o que tem provocado graves 
impactos. A inserção do humanismo na discussão ecológica passou, 
consequentemente, a ser quesito obrigatório (PHILIPPI JR., 2005 p. 211).
O binômio Ecologia Humana é utilizado para enfatizar as relações das 
atividades antrópicas e a utilização dos recursos naturais. Para Machado (1981), 
citado por Philippi Jr. (2005, p. 213), a ecologia humana se caracteriza pelo “estudo 
interdisciplinar das interações entre o homem e o ambiente num plano sistêmico”.
178
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
O quadro a seguir apresenta as maneiras como o homem pode dominar os 
ecossistemas e exemplifica como as interferências antrópicas definem alterações 
no ambiente. 
QUADRO 7 – DOMÍNIO DO HOMEM SOBRE O ECOSSISTEMA GLOBAL
FONTE: Adaptado de: Philippi Jr (2005)
1 SUPERFÍCIE DA TERRA
O uso da terra pelo homem e a necessidade de recursos já transformam metade da superfície não 
gelada da Terra.
2 CICLO DO NITROGÊNIO
A cada ano, as atividades humanas, tais como o cultivo agrícola adubado com nitrogênio, o uso de 
fertilizantescompostos de nitrogênio, e a queima de combustíveis fósseis, liberam mais nitrogênio 
nos sistemas terrestres do que os processos físicos e biológicos naturais. 
3 CICLO DO CARBONO ATMOSFÉRICO
Até metade do século XXl, o uso humano de combustíveis fósseis terá duplicado o nível de dióxido 
de carbono na atmosfera da Terra.
Tanto no ambiente urbano quanto rural, a ação humana caracteriza-se pela 
utilização dos recursos naturais. Frequentemente o processo inicia-se pela extração 
intensa, levando à exaustão dos recursos. A consequência direta é a degradação do 
meio físico, biológico e social. A continuidade do processo pode levar à extinção de 
espécies, contaminação dos solos, da água e do ar e, como resultado final, a perda 
de qualidade de vida (Figura 67). 
FIGURA 67 – AÇÃO DO HOMEM SOBRE O AMBIENTE E SUAS 
CONSEQUÊNCIAS
FONTE: Adaptado de: Primack e Rodrigues (2001)
TÓPICO 2 | ECOLOGIA HUMANA
179
3 IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTESDA AÇÃO DO HOMEM
Considerando a abrangência do tema, vamos limitar nosso estudo à 
destinação do lixo e do esgoto e ao uso da água de abastecimento, buscando dar 
ênfase aos impactos ambientais decorrentes das atividades antrópicas.
3.1 ÁREAS URBANAS
A estrutura urbana construída pelo homem caracteriza-se por aglomerados 
urbanos em regiões onde existe uma grande concentração populacional formando 
as regiões metropolitanas, as grandes, as médias e as pequenas cidades. 
Sob o ponto de vista da ecologia, as cidades representam um ecossistema 
extremamente dinâmico, são unidades importadoras de recursos e correspondem 
à etapa consumidora da cadeia alimentar. A afirmação de Phlippi Jr. (2005, p. 214) 
colabora neste sentido:
a cidade deve ser vista como um ecossistema aberto que perpetua a 
cultura urbana por meio da troca e da conversão de grandes quantidades 
de materiais e energia. Essas funções requerem uma concentração de 
trabalhadores, um sistema de transporte elaborado e uma área de influência 
que forneça os recursos requeridos pela cidade e absorva seus produtos.
 
Com base no texto, verificamos que existem necessidades a serem supridas 
e que os mecanismos precisam ser eficientes para a manutenção do sistema. No 
contexto das cidades, os fatores bióticos e abióticos são fortemente influenciados 
pela presença humana e suas ações. 
A instalação das cidades transforma radicalmente o ambiente. Estas 
transformações são resultantes da construção de centros comerciais, industriais e 
de habitações e também resulta na produção de grandes quantidades de resíduos.
Entre os problemas do ambiente urbano, que geralmente são devidos à 
superpopulação, podemos relacionar:
• Habitação
• Produção dos resíduos sólidos
• Contaminação da água
• Poluição atmosférica
3.1.1 Habitação
A grande concentração populacional nos centros urbanos exige o atendimento 
de necessidades básicas à dignidade humana. A moradia é um elemento essencial 
ao homem. Entretanto, a construção de aglomerados habitacionais é responsável 
por grandes impactos ambientais. Inicialmente, as áreas são desmatadas, os solos 
180
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
desprotegidos, dá-se lugar às construções e caso não haja condições adequadas 
de saneamento, ocorre o acúmulo de lixo e a contaminação das fontes de água. 
Este é um panorama simplificado e didático, apenas, pois outras tantas alterações 
ocorrem simultaneamente.
A fim de garantir condições dignas para as moradias, a Organização Mundial 
da Saúde definiu parâmetros mínimos de qualidade das áreas destinadas às habitações:
• As habitações devem apresentar estrutura mínima para acomodar todos os 
moradores.
• Capacidade para fornecer proteção térmica e proporcionar a redução de ruídos 
e poeira.
• Possibilitar o acesso ao abastecimento de água e qualidade adequada ao consumo 
humano.
• Apresentar estrutura para a disposição e manejo adequado de resíduos sólidos 
e líquidos.
• Estar localizada em área adequada à moradia.
• Evitar a poluição no ambiente doméstico.
• Ser livre da presença de vetores e/ou hospedeiros intermediários de agentes 
etiológicos.
Conhecendo os parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da 
Saúde, observamos que nossas cidades ainda estão longe de atender a todos os 
requisitos necessários ao bem-estar social. 
Ainda dentro do contexto da habitação, são comuns os problemas 
ambientais advindos da concentração desordenada de construções, muitas vezes 
irregulares (clandestinas):
• A ocupação das encostas e a consequente destruição da vegetação que protege o 
solo são responsáveis pelas tragédias registradas nos períodos chuvosos. 
• As construções à beira de córregos e rios causam pelo menos dois grandes problemas: 
as enchentes e a contaminação das águas por falta de saneamento básico.
Os problemas ambientais causadas pela ocupação do solo urbano podem 
ser minimizados por um planejamento adequado da urbanização e, neste 
sentido, o Estatuto das Cidades, o PPA – Plano Plurianual, e o PLHIS – Plano de 
Habitação Local de Interesse Social, são instrumentos importantes para a gestão 
de cidades sustentáveis.
TÓPICO 2 | ECOLOGIA HUMANA
181
As cidades brasileiras, por exigência legal, estão obrigadas a construir seus 
instrumentos de gestão local: O Plano Diretor, o PLHIS, PPA e, até o final de 2014, o Plano de 
Saneamento Básico. Sugerimos que você conheça o conteúdo destes documentos em sua 
cidade. Pesquise, na rede mundial de computadores (internet), a página oficial da prefeitura 
de seu município e acesse! 
3.1.2 Resíduos sólidos 
Resíduos sólidos são todos aqueles resíduos que resultam das mais diversas 
atividades: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, de serviços, de varrição ou 
agrícola (NBRS 10.004 da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas).
O lodo resultante do tratamento das águas nas ETAS – Estação de Tratamento 
de Água e ETES – Estações de Tratamento de Esgoto também é denominado resíduo.
Conceitualmente podemos afirmar que os resíduos são constituídos de 
subprodutos da atividade humana. Do ponto de vista da sociedade, os materiais 
descartados e que são reaproveitados deixam de ser resíduos e recebem a denominação 
de matérias-primas secundárias. Seguindo esta linha de raciocínio, são denominados 
de rejeitos aqueles resíduos que não têm aproveitamento econômico por nenhum 
processo tecnológico disponível e acessível (PHILIPPI JR., 2005). Podemos compreender 
melhor estas definições através do diagrama apresentado na figura a seguir.
FIGURA 68 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA DEFINIÇÃO DE RESÍDUOS
FONTE: Adaptado de: Philippi Jr. (2005, p. 272)
Considerando a abrangência das inúmeras atividades antrópicas que resultam 
na geração de resíduos ou rejeitos, não conseguiríamos, em apenas um tópico, discutir 
todos os aspectos relacionados, então optamos por limitar nosso estudo às atividades 
que estão mais diretamente ligadas ao saneamento, saúde e ambiente. 
DICAS
182
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
Lixo urbano
Entre os principais problemas gerados pela concentração populacional nas 
cidades, a gestão do lixo produzido é um tema relevante. Destacamos a seguir as 
formas de disposição final do lixo urbano e suas características. 
No Brasil são produzidas cerca de 240 mil toneladas de lixo todos os 
dias, sendo que apenas 2% de tudo isso segue para reciclagem. O resultado é 
uma enorme quantidade de resíduos que precisa de uma destinação. Entre as 
destinações existentes para estes resíduos, três se destacam no país como sendo 
as mais comuns: os lixões, os aterros controlados e os aterros sanitários (BIDONE; 
POVINELLI, 1999).
Lixões
Sob o ponto de vista do ambiente, a solução de lixões torna os locais de 
descarte vulneráveis à poluição do solo, das águas subterrâneas e do ar, causada 
pela decomposição do lixo. 
Quando o material depositado nos lixões entra em decomposição é 
produzido o chorume, um líquido com altas concentrações de minerais e micro-
organismos, e o gás metano. Quando o chorume atinge camadas mais profundas 
do solo, podeprovocar a contaminação do solo e do lençol freático (figura a seguir).
Além dos problemas ambientais, a deposição do lixo em áreas abertas 
resulta também em problemas de saúde pública, porque estas áreas atraem animais 
e insetos que são vetores de transmissão de doenças. 
Contraditoriamente, estes mesmos lugares representam fonte de renda 
para populações carentes, onde são recolhidos materiais recicláveis para a venda. 
O aterro controlado
Considerando as condições encontradas nos lixões, os aterros controlados 
podem ser uma alternativa menos danosa ao ambiente. É uma forma de disposição 
onde são adotadas precauções tecnológicas executivas durante o desenvolvimento 
do aterro. O recobrimento dos resíduos com argila aumenta a segurança do local, 
minimizando os riscos de impactos ambientais e à saúde pública (figura a seguir). 
É uma solução adotada em muitos dos pequenos municípios.
 
Apesar de ser uma evolução em relação aos lixões, esta solução não é a 
ideal. É necessário que os municípios evoluam para a adoção de alternativas mais 
eficientes e que causem menor impacto ambiental.
 
Na Figura 69 verificamos que existe o risco de contaminação das águas 
subterrâneas, visto que o chorume não é devidamente captado, podendo alcançar 
o lençol freático.
TÓPICO 2 | ECOLOGIA HUMANA
183
O aterro sanitário 
Entre as alternativas de deposição do lixo urbano, o aterro sanitário 
apresenta cuidados adicionais que melhoram a eficiência no acondicionamento 
dos resíduos, na captação do chorume e no controle do volume de gás metano, 
conforme apresentado na Figura 69.
O aterro sanitário apresenta critérios de engenharia e normas operacionais 
específicas que justificam sua aplicação:
[...] alguns cuidados especiais devem ser tomados durante a execução 
dos aterros sanitários. Entre eles destacam-se a previsão de dispositivos de 
drenagem e tratamento de gases, de drenagem e tratamento de lixiviados e de 
afastamento o máximo possível de águas pluviais; a canalização de córregos 
e nascentes existentes no local, o recobrimento diário e sistemático com argila 
dos resíduos após sua compactação, o selamento e impermeabilização mínima 
das células de aterro após o alcance de sua altura útil e a urbanização final do 
parque são também providências indispensáveis na execução de um aterro.
FONTE: Disponível em: <http://www.ecomapa.com.br/ecomapa/servicos.asp?cod=15>. 
Acesso em: 4 jun. 2013.
O texto acima estabelece claramente as exigências mínimas para a execução 
de aterros sanitários. Podemos perceber que além da segurança ambiental deve ser 
observada a utilização final destas áreas públicas, para que não ofereçam riscos à 
segurança das comunidades. 
FIGURA 69 – COMPARAÇÃO ENTRE A ESTRUTURA DO LIXÃO, ATERRO 
CONTROLADO E ATERRO SANITÁRIO
LIXÃO
184
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
FONTE: Disponível em: <http://www.rumosustentavel.com.br/ecod-basico-
lixao-aterro-controlado-e-aterro-sanitario/>. Acesso em: 13 abr. 2013.
ATERRO CONTROLADO
ATERRO SANITÁRIO
A gestão adequada dos resíduos urbanos é uma necessidade urgente para 
o nosso país. Os aterros sanitários são uma solução viável para muitas cidades 
brasileiras. Entretanto, lembramos que existem alternativas mais modernas, 
embora de alto custo operacional. A fim de conhecermos um pouco mais sobre os 
aterros sanitários, separamos o texto a seguir: 
TÓPICO 2 | ECOLOGIA HUMANA
185
Aterros sanitários 
Os aterros sanitários são o destino dos resíduos sólidos em 27% 
das cidades brasileiras. Número bem abaixo do que o país precisa, mas que 
aumentou nos últimos anos, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento 
Básico, do IBGE. Há uma década, esse mesmo estudo apontou que apenas 17% 
dos municípios descartavam o lixo em aterros.
A elaboração, em 2010, de uma norma técnica que define as regras para 
a criação de aterros sanitários de pequeno porte trouxe um bom avanço ao setor. 
Antes só existiam normas para aterros convencionais, de resíduos perigosos e 
da construção civil.
O técnico da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Tarcisio 
de Paula Pinto, destaca que a norma obriga a pensar nos requisitos ambientais 
e nas características do local que vai receber o aterro antes de fechar o projeto.
A manutenção dos aterros ainda é muito cara para os municípios. Por 
isso, a Resolução 404 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e 
a Lei n° 11.107/2005 são complementares. A primeira estabelece as diretrizes 
para o licenciamento ambiental dos aterros de pequeno porte. A segunda 
define normas para a gestão em consórcio intermunicipal. O compartilhamento 
de aterros sanitários entre municípios de uma mesma região é uma estratégia 
defendida pela socióloga Elisabeth Grimberg, coordenadora-executiva do 
Instituto Polis, tendo em vista a meta que o país tem de acabar com os lixões até 
2014. “É uma forma de reduzir os gastos públicos”, afirma.
 
Energia do lixo 
Estima-se que o Brasil possui cerca de 1.700 aterros sanitários, em que 
o solo é preparado para que o lixo não prejudique o meio ambiente, não cause 
mau cheiro, poluição visual ou a proliferação de animais.
A decomposição dos resíduos gera chorume – um líquido poluente – e 
gás – principalmente o metano, que também polui e é 20 vezes pior para o clima 
da Terra do que o gás carbônico. Mas o metano pode se transformar em energia 
elétrica e em créditos de carbono. É o que acontece com o gás produzido pelos 40 
milhões de toneladas que estão depositados no Aterro Bandeirantes, em São Paulo.
 Desativado desde 2007, o aterro tem 400 pontos de captura que 
transportam o gás para a Usina Termelétrica Bandeirantes, que, por sua vez, 
produz energia elétrica com capacidade para atender até 300 mil pessoas. O 
gás extraído é convertido em tonelada equivalente de gás carbônico (crédito de 
carbono) e depois é comercializado.
FONTE: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-
ambiente/gestao-do-lixo/aterros-sanitarios>. Acesso em: 23 abr. 2013.
186
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
A gestão adequada dos resíduos passa por etapas que devem ser 
planejadas tecnicamente e coordenadas.
Como discutiremos no Tópico 3, o consumo excessivo é responsável 
pela grande produção de resíduos, logo a discussão passa pelo modelo de 
desenvolvimento que será adotado pela sociedade.
 
A forma de coleta adotada pelos órgãos responsáveis pode ajudar a 
definir a composição do resíduo e a adequação do sistema de coleta do lixo 
urbano reduz as exigências em aterros sanitários.
Através da coleta seletiva é possível efetuar a triagem de material 
reciclável que será levado a novos processos industriais ou de reutilização.
O material orgânico quando utilizado para a compostagem é 
transformado em adubo e durante o processo de decomposição gera energia 
através da produção do gás metano.
A incineração do lixo urbano é eficiente, especialmente para a eliminação 
de resíduos contaminantes, a exemplo do lixo hospitalar. Entretanto, apresenta 
alto custo e ainda é pouco utilizado no Brasil.
Para conhecer melhor a Política Nacional de Resíduos Sólidos visite o site do 
Ministério do Meio Ambiente: <www.mma.gov.br/política-de-resíduos-sólidos>.
Você também pode consultar o Plano Nacional de Resíduos Sólidos através do link <http://
www.mma.gov.br/estruturas/253/_publicacao/253_publicacao02022012041757.pdf>.
Esgoto doméstico
Os efluentes são produzidos a partir de boa parte da água de abastecimento 
que entra no sistema urbano. Os efluentes domésticos (esgoto) são constituídos por 
matérias orgânicas e inorgânicas nas formas dissolvida, coloidal e em suspensão, que 
se apresentam em diferentes proporções e dependem diretamente da sua origem.
Não havendo tratamento adequado, são responsáveis por impactos ambientais 
e riscos à saúde humana. Isto pode ser observado em áreas onde não há disponibilidade 
de rede coletora e os mecanismos alternativos são as fossas, que quando não passam 
por um processo de construção adequado, acabam por contaminaro ambiente através 
da infiltração no solo e podem chegar ao lençol freático.
O esgoto que corre na superfície do solo é muito desastroso. O odor é 
característico, há proliferação de moscas e de agentes patogênicos. Constantemente 
UNI
TÓPICO 2 | ECOLOGIA HUMANA
187
vemos crianças brincando próximo a estas áreas, expostas a todos os riscos advindos 
da situação. Estas áreas estão comumente relacionadas a condições de precariedade 
social, pobreza e apresentam uma paisagem desoladora (PHILIPPI JR., 2005).
Para agravar a situação, essa água que corre pela superfície acaba trilhando 
o mesmo caminho das águas de uma bacia de drenagem (ver Unidade 1). Portanto, 
os resíduos que são carreados pelas águas dos esgotos tendem a se concentrar 
nas partes mais baixas, geralmente em fundos de microbacias ou em planícies de 
inundação de córregos ou rios.
Não fossem suficientes os problemas acima, mesmo em áreas onde existem 
as redes coletoras, grande parte não passa pelo tratamento adequado em estações 
e desaguam em córregos e rios. Entretanto, os despejos acontecem em ambientes 
distantes das concentrações urbanas e dão a falsa impressão de conforto à população.
Quando o volume de esgoto liberado no ambiente é maior que a capacidade 
de absorção, os impactos ambientais podem ser revelados através do aumento 
de determinadas populações de micro-organismos em detrimento de outras 
espécies e, muitas vezes, o desequilíbrio pode provocar alterações nas relações 
interespecíficas e redução da biodiversidade. Este processo de alteração nos 
ecossistemas é bem retratato por Philippi Jr. (2005, p. 221), no texto a seguir:
 
O lançamento de efluentes em represas e lagos traz consequências 
sérias a esses ecossistemas. As águas paradas tendem a concentrar os 
despejos nas imediações dos efluentes. Há situações de intensa perda 
de oxigênio, estimulando-se a ação de micro-organismos anaeróbicos. A 
qualidade da água inviabiliza a sobrevivência de animais portadores de 
brânquias, sejam artrópodes ou vertebrados. Como agravante, devido 
ao aumento da fertilidade do meio pelo acréscimo de nutrientes como 
nitrato e fosfato, pode haver proliferação excessiva de algas e macrófitas, 
levando a um estado eutrófico
Em ecologia, o termo eutrófico está relacionado ao aumento da concentração 
de nutrientes e falta de oxigênio, como no caso acima. Pode-se dizer ainda sobre solos 
eutróficos, que correspondem a solos férteis e ricos em minerais.
Mesmo os sistemas de tratamento tecnologicamente corretos apresentam 
problemas. As lagoas de decantação e biodigestão podem gerar odores pela 
decomposição anaeróbica, prejudicando a qualidade de vida da população do entorno.
Os mecanismos de tratamento aeróbicos exigem mais tecnologia, um 
maior consumo energético e, portanto, são processos mais caros, entretanto, mais 
eficientes e menos impactantes ao ambiente.
NOTA
188
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
Philippi (2005) afirma que a situação ideal, sob o ponto de vista da ecologia, 
seria que o esgoto voltasse ao ecossistema agrícola como uma forma de reciclagem. 
Branco, ainda em 1989, citado por Philippi (2005), já levantou a possibilidade 
da utilização do lodo do esgoto como fonte de nutrientes para o solo em áreas 
agrícolas. Sua incorporação ao solo seria uma forma de combater a degradação 
ambiental e inclusão no sistema produtivo do agronegócio.
Apresentamos a seguir uma publicação sobre o tratamento de esgoto na 
cidade de São Paulo (SABESP). É um texto resumido e sugerimos que você busque 
mais informações na literatura recomendada. Na sequência temos o sistema de 
tratamento da fase líquida, com uma legenda explicativa do processo. 
Estação de tratamento de esgotos – SAPESB
O tratamento de esgotos consiste na remoção de poluentes e o método a 
ser utilizado depende das características físicas, químicas e biológicas.
Na Região Metropolitana de São Paulo, o método utilizado nas grandes 
estações de tratamento é por lodos ativados, onde há uma fase líquida e outra sólida.
O método, desenvolvido na Inglaterra em 1914, é amplamente utilizado 
para tratamento de esgotos domésticos e industriais. O trabalho consiste num 
sistema no qual uma massa biológica cresce, forma flocos e é continuamente 
recirculada e colocada em contato com a matéria orgânica sempre com a 
presença de oxigênio (aeróbio). 
O processo é estritamente biológico e aeróbio, no qual o esgoto bruto e o 
lodo ativado são misturados, agitados e aerados em unidades conhecidas como 
tanques de aeração. Após este procedimento, o lodo é enviado para o decantador 
secundário, onde a parte sólida é separada do esgoto tratado. O lodo sedimentado 
retorna ao tanque de aeração ou é retirado para tratamento específico.
No interior, além das estações convencionais a Sabesp dispõe de lagoas de 
tratamento. Já no litoral, as instalações adotam o método de lodos ativados e em 
algumas cidades há emissários submarinos para lançar os esgotos tratados ao mar.
TÓPICO 2 | ECOLOGIA HUMANA
189
Legenda
1 – Cidade - Após a distribuição nas residências, a água utilizada para higiene 
pessoal, alimentação e limpeza vira esgoto. Ao deixar as casas, ele vai para 
as redes coletoras, passa pelos coletores, troncos e interceptores até chegar às 
Estações de Tratamento de Esgotos.
2 – Rede de esgotos
3 – Grades - Antes de ser tratado, o esgoto passa por grades para retirar a 
sujeira (papel, plástico, tampinha, etc.).
4 – Caixa de areia - Depois de passar pelas grades, o esgoto é transportado para 
uma caixa que vai retirar a areia contida nele.
5 – Decantador primário - Após a caixa de areia, o esgoto é enviado aos 
decantadores primários, onde ocorre a sedimentação de partículas mais 
pesadas.
6 – Tanques de aeração - O esgoto é composto por matéria orgânica e 
microrganismos. Nos tanques de aeração, o ar fornecido faz com que os 
microrganismos ali presentes multipliquem-se e alimentem-se de material 
orgânico, formando o lodo e diminuindo assim a carga poluidora do esgoto.
7 – Decantador secundário - Nos decantadores secundários, o sólido restante 
vai para o fundo e a parte líquida já está sem 90% das impurezas. Esta água 
não pode ser bebida. Ela é lançada nos rios ou reaproveitada para limpar 
ruas, praças e regar jardins.
8 – Rio.
FONTE: SAPESB. Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.
aspx?secaoId=49>. Acesso em: 27 mar. 2013.
Esgoto industrial
Quanto aos efluentes industriais, suas características dependem dos 
processos produtivos de cada indústria. Muitas indústrias podem eliminar 
190
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
resíduos perigosos, como produtos químicos e metais pesados, que são prejudiciais 
ao ambiente e à saúde humana.
 
Algumas indústrias, por exemplo, liberam águas resultantes de processo 
de resfriamento. Essas águas apresentam a temperatura elevada e podem 
provocar danos aos organismos vivos. Odum e Barret (2011) levantam os aspectos 
prejudiciais da poluição térmica e sua capacidade de produção de estresse crônico 
ou de desequilíbrios nas comunidades. O lançamento de águas aquecidas em 
córregos e rios pode ainda reduzir a disponibilidade de oxigênio, acelerar as 
atividades metabólicas envolvendo a fotossíntese e respiração.
 
Além da poluição térmica, os efluentes industriais podem provocar outras 
alterações ao ambiente, tais como a poluição química e contaminação da água. 
Os produtos tóxicos podem acumular nos solos e permanecer ativos 
durante longos anos. Se forem cultivadas plantas nestes terrenos infectados, elas 
podem absorver elementos tóxicos. Esta é mais uma forma de contaminação dos 
nossos alimentos, como o leite e a carne.
Este também é um tema amplamente discutido na atualidade, entretanto, tem 
abrangência em diversas áreas de estudo (Engenharia de Produção, Engenharia Ambiental, 
etc.) e, neste caso, sugerimos que você consulte a literatura recomendada, uma vez que não 
está no foco do nosso Caderno de Estudos. 
3.1.3 Águas de abastecimento
A água destinada aoabastecimento urbano, na maioria das vezes, está 
localizada em ambientes rurais e, neste sentido, devemos compreender os processos 
envolvidos nos dois ambientes simultaneamente. 
Em cidades pequenas, a captação da água para o consumo humano 
pode acontecer diretamente em córregos, riachos e rios das proximidades, o 
que não representa, em uma primeira análise, um impacto sobre o ambiente, se 
devidamente planejado.
Entretanto, em regiões com maior densidade populacional o fator 
determinante será a qualidade da água. O saneamento precário pode levar 
à poluição das águas que seriam utilizadas pelas populações das regiões 
localizadas à jusante dos rios (abaixo), o que se reflete em um problema real 
nos centros maiores, onde há a necessidade de construção de barragens para o 
represamento de águas.
UNI
TÓPICO 2 | ECOLOGIA HUMANA
191
Considerando que grande parte dessa água passa pelo meio rural, convém 
discutirmos sobre a disponibilidade, utilização e contaminação da água, e suas 
alterações promovidas pelas atividades humanas neste ambiente e suas consequências.
No meio rural destacamos a agricultura como a atividade que tem 
importante potencial para contaminar águas rurais destinadas ao abastecimento 
urbano. Vejamos o texto a seguir:
Em regiões de intenso uso do solo, a aplicação de fertilizantes químicos 
e produtos tóxicos de ação inseticida pode ser elevada. Nessas áreas, 
a alteração ambiental, pela perda da cobertura vegetal primitiva e 
revolvimento da terra, altera acentuadamente o fluxo das águas de 
precipitação. Com o aumento do escoamento superficial há carreação 
dos contaminantes que são levados mais rapidamente aos fundos das 
bacias, atingindo os corpos d´água. A lixiviação provocada pelas águas 
que penetram no solo é outro fator que desloca produtos químicos 
perigosos utilizados na agricultura. Por esse processo pode haver 
contaminação do lençol e de aquíferos, gerando águas de nascentes 
contaminadas que atingem os rios usados na captação (PHILIPPI JR., 
2005, p. 229).
Neste ponto temos a oportunidade de correlacionar os temas abordados 
neste caderno. Você se lembra do Tópico 1, onde apresentamos um caso de sucesso 
na conservação de recursos hídricos na cidade de Extrema/MG?
Então, a preservação de matas ciliares nas planícies de inundação com 
o intuito de proteger os recursos hidrológicos, além da importância ecológica 
na manutenção da biodiversidade, atua como filtro na proteção dessas águas e 
diminui os riscos de contaminação.
 
Represamento das águas
É importante abordarmos os impactos ambientais advindos da construção 
de barragens para o armazenamento de águas de abastecimento. 
Frequentemente são divulgados na imprensa problemas sociais e 
ambientais consequências da redução da vazão à jusante (abaixo). 
Sob o ponto de vista social, a remoção de residentes, das áreas a serem 
inundadas pelo represamento já representa um grave impacto.
Sob o ponto de vista ambiental, são importantes as alterações das 
características da água e também dos componentes bióticos. Ocorre uma 
transformação do ecossistema de lótico (águas correntes) para lêntico (água 
parada), o que causa acentuada alteração na vida aquática. O aumento do nível da 
água representa o estabelecimento de uma nova sucessão de espécies até atingir o 
novo equilíbrio. O ecossistema, que na correnteza era acentuadamente importador, 
passa a incorporar um forte componente produtor, com a proliferação de algas 
macrófitas (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006). 
192
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
Um aspecto a ser levado em consideração no processo construtivo das 
barragens é a necessidade de rampas especiais para a migração de algumas 
espécies de peixes no período de reprodução (você já deve ter ouvido a expressão 
piracema, não é verdade?).
Lagos
O abastecimento de água através da utilização de lagos, localizados em 
áreas das periferias urbanas de grandes cidades, é geralmente comprometido por 
lançamentos irregulares de esgoto, consequência da expansão demográfica e falta 
de infraestrutura de instalações de redes e tratamento. 
3.1.4 Poluição do ar
Nos ecossistemas urbanos, as fontes de poluição do ar mais comuns são 
os veículos automotivos e as indústrias. As partículas e gases tóxicos presentes 
na atmosfera são o monóxido de carbono, os óxidos de enxofre, os óxidos de 
nitrogênio e os hidrocarbonetos. 
No Tópico 1 dessa unidade falamos sobre os fenômenos climáticos 
provocados pela poluição do ar: as “chuvas ácidas” e o “efeito estufa”.
Faremos agora uma abordagem da poluição sob o aspecto da ecologia 
urbana. No homem, os efeitos da poluição se manifestam geralmente sob a forma 
de doenças crônicas. 
Há uma correlação direta entre a taxa de mortalidade infantil por doenças 
respiratórias e maiores concentrações de gases e partículas poluidoras, por 
exemplo, na Região Metropolitana de São Paulo (CONCEIÇÃO et al., 2001 apud 
PHILIPPI JR, 2005).
O chumbo é um metal que tem se destacado como elemento poluidor 
com graves consequências à saúde humana. Sua utilização tem se expandido em 
diversas áreas da indústria:
[...] o problema se agrava quando se trabalha com materiais contendo 
esse metal. Indústrias que utilizam processos e tecnologia obsoletos 
têm se constituído fonte de emissão de partículas de chumbo para o 
ambiente externo. A manipulação de placas de chumbo-ácida resulta 
no desprendimento de grandes quantidades de partículas, constituídas 
principalmente pelo chumbo sob a forma metálica e de óxidos, expondo 
os trabalhadores do setor ao risco de intoxicação por esse tipo de metal. 
Tanto nos ambientes internos de trabalho como no amplo espaço 
externo, as indústrias têm contribuído com significativa parcela da 
poluição do ar, principalmente no interior ou nas proximidades de 
aglomerados urbanos (PHILIPPI JR, 2005, p. 235). 
TÓPICO 2 | ECOLOGIA HUMANA
193
4 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS IMPACTOS ANTRÓPICOS 
NO MEIO AMBIENTE
Lamentavelmente, o uso dos recursos naturais para o atendimento das 
necessidades humanas não é devidamente planejado. 
Verificamos que os projetos na área ambiental não consideram os princípios 
ecológicos e isso pode ser observado nas grandes obras, como a construção de 
açudes para abastecimento de água nas grandes cidades.
Mesmo para atividades que teoricamente exigem pequenas soluções, como 
a implantação de uma miniusina de compostagem de lixo para atender a uma 
pequena comunidade rural, há de se considerar, além dos fatores econômicos, 
como a relação custo-benefício, também os possíveis impactos sobre o ambiente e 
sobre o meio social.
É importante ressaltar ainda que as soluções, uma vez adotadas, devem ser 
monitoradas com bases científicas e tecnológicas, de maneira a manter o ambiente 
em equilíbrio, evitando aquelas que alteram a paisagem, interferem na dinâmica 
dos ecossistemas ou que agridem a biota.
A utilização dos recursos naturais é uma necessidade humana e inevitável, 
contudo o objetivo deve ser sempre construir sistemas autossustentáveis e menos 
agressivos, onde os princípios ecológicos sejam otimizados.
Neste sentido, a conscientização da sociedade e de governos é de extrema 
importância para estabelecer políticas públicas que garantam a qualidade 
ambiental para o futuro.
194
Neste tópico vimos que:
• A ecologia humana é um ramo da ecologia que avalia as consequências das 
atividades antrópicas sobre o meio ambiente.
• A interferência do homem, de forma desordenada, sobre o ambiente, altera a 
disponibilidade dos recursos naturais e provoca a degradação do meio físico, 
biológico e social, resultando na perda da qualidade de vida.
• As cidades caracterizam-se por aglomerados urbanos de elevada densidade 
demográfica, que resulta na alteração significativa dos ecossistemas.
• A concentração de habitações pode alterar o meio físico através do desmatamento 
e ocupação irregular do solo. As consequências dessa ocupação irregular podem 
resultar em tragédias, a exemplo dos desmoronamentos de encostase enchentes.
• A geração de resíduos, em ambientes urbanos, está diretamente ligada ao 
modelo de consumo excessivo adotado pela sociedade.
• A coleta, a disposição e o tratamento dos resíduos caracterizam etapas do 
processo de gestão dos resíduos sólidos.
• Existe a necessidade de se estabelecer um eficiente sistema de tratamento de 
esgotos a fim de garantir a saúde pública e evitar a contaminação das águas de 
abastecimento dos centros urbanos.
RESUMO DO TÓPICO 2
195
AUTOATIVIDADE
1 Sob o ponto de vista da ecologia, por que as atividades humanas são tão 
nocivas ao meio ambiente?
2 Cada município brasileiro deve apresentar, até o fim do ano de 2014, o seu 
Plano de Saneamento Básico. Considerando que este plano seja efetivamente 
aplicado e com base no conteúdo apresentado no Tópico 2, quais seriam as 
consequências diretas sobre o meio ambiente, considerando os aspectos das 
atividades antrópicas?
3 Em uma usina de cana-de-açúcar temos o seguinte fluxo:
Considerando a definição de resíduos apresentada neste tópico, identifique na 
figura a matéria-prima, o produto e o resíduo.
Assinale a sequência correta:
a) ( ) Cana-de-açúcar, açúcar, bagaço.
b) ( ) Açúcar, álcool, energia.
c) ( ) Cana-de-açúcar, açúcar, álcool.
196
197
TÓPICO 3
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
A Ecologia enquanto ciência é muito dinâmica e tem, frequentemente, 
provocado a reflexão sobre o comportamento humano frente ao ambiente e a 
utilização de recursos naturais, como temos afirmado repetidamente ao longo 
desta unidade. 
Discutimos até aqui técnicas para a conservação da biodiversidade e 
também o tema ecologia humana. Seguiremos agora para um tema bastante atual: 
a sustentabilidade.
Tudo aquilo que é sustentável pode ser mantido em condições de equilíbrio: 
os negócios, as atividades industriais, as empresas e até mesmo as residências 
precisam ser sustentáveis.
Lembramos que a compreensão dos processos como um todo possibilita-
nos efetuar as ligações entre as diversas abordagens e, portanto, perceber que estes 
eventos não ocorrem isoladamente e são interdependentes.
2 ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE DESENVOLVIMENTO E 
SUSTENTABILIDADE
A ciência tem alertado a sociedade sobre as consequências do uso 
inadequado dos recursos ambientais. Neste contexto, muitas são as linhas de 
pensamento sobre o que realmente importa ao desenvolvimento.
A crise ambiental que vivemos, produto do desenvolvimento, tem 
levado ao debate sobre as dimensões dos problemas ambientais. Convivemos 
com a contaminação de recursos naturais e alterações climáticas significativas. 
Surge, então, uma proposta alternativa para o modelo de desenvolvimento: “o 
desenvolvimento sustentável”.
A definição da World Commission on Environment and Development 
(Comissão Mundial de Ambiente e Desenvolvimento), criada em 1987, afirma 
que o desenvolvimento será sustentável se atender às necessidades das gerações 
presentes sem comprometer as futuras gerações. Entretanto, não esclarece quais 
são os limites dessas “necessidades”, gerando uma relativa fragilidade ao conceito. 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
198
Sabemos que o desenvolvimento, no modelo atual, está vinculado 
à criação incessante de necessidades que em geral refletem um consumo 
deliberado. Este consumo deve nos levar à reflexão sobre o que é realmente 
necessário, que é a raiz do debate sobre o tipo de desenvolvimento que se 
pretende estabelecer.
O termo sustentável refere-se a um sistema que apresenta estabilidade, 
equilíbrio e a sua manutenção é estabelecida por um consumo compatível com a 
capacidade produtiva do próprio sistema.
 
As questões ambientais ocupam um lugar de destaque nas discussões 
econômicas e sociais e esperamos, de fato, uma mudança na condução dos 
negócios, das políticas públicas e sociais.
Portanto, trata-se de um modelo onde a comunidade envolvida deve 
participar ativamente através de programas dos governos municipais, estaduais 
e federais e, neste sentido, são necessárias políticas públicas, cujo modelo de 
desenvolvimento esteja sob uma perspectiva da sustentabilidade.
Reflita sobre as expressões “fatores limitantes” e “capacidade de suporte do meio 
ambiente”. O que isto tem a ver com o desenvolvimento?
2.1 DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento sustentável envolve múltiplas dimensões que objetivam 
a gestão sustentada dos recursos naturais. No Quadro 8 são apresentadas as cinco 
dimensões do desenvolvimento sustentável (IBAMA, 2003):
• a dimensão social;
• a dimensão econômica; 
• a dimensão ambiental (ecológica);
 
• a dimensão geográfica; e
• a dimensão cultural.
UNI
TÓPICO 3 | DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
199
QUADRO 8 – DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FONTE: IBAMA, 2003. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/livros/
educacaoambientalegestaoparticipativaemunidadesdeconservacao.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2013.
O detalhamento do quadro anterior nos permite observar que a dimensão 
ecológica do desenvolvimento determina os próprios limites do crescimento. 
Exemplificando: os resíduos gerados pelo processo de crescimento deveriam ser 
absorvidos pelo próprio sistema, respeitando o fluxo de matéria e energia, contudo 
tais resíduos são produzidos em escalas superiores à capacidade da biosfera.
Podemos concluir que o desenvolvimento é um processo inter-relacionado 
e, portanto, não pode ser considerado como o objetivo-fim, uma vez que a 
manutenção da sustentabilidade só é possível quando observadas as questões 
econômicas, sociais e ambientais, conjuntamente (PHILIPPI, 2005).
Quanto à dimensão social, não se pode conceber que processos produtivos 
que gerem uma elevada concentração de renda liberem grandes quantidades de 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
200
elementos contaminantes ao meio ambiente, e ainda promovam a exclusão social, 
segregação espacial, pobreza e condições precárias de habitabilidade, sejam 
considerados propulsores de desenvolvimento.
Assim, é necessária a valorização de características locais nos processos de 
desenvolvimento, evitando a globalização nociva que incorre em uniformização/
homogeneização cultural legitimando um desenvolvimento com a força local, 
gerada pelo “capital social”.
O envolvimento da sociedade faz-se essencial. A participação na definição 
de prioridades e necessidades, em planos de desenvolvimento que harmonizem o 
crescimento econômico e o desenvolvimento social, em todas as suas dimensões. 
O desenvolvimento sustentável ocorre somente quando são observados os 
elementos que o compõem e de forma harmônica. Essas relações estão ilustradas 
na figura a seguir.
 
Observe que para o efetivo desenvolvimento se fazem necessários o 
planejamento ambiental, a definição do padrão de consumo, os programas de 
administração e destinação dos resíduos sólidos que estão diretamente relacionados 
às questões populacionais e à saúde pública. Para completar o fluxo são necessárias 
políticas públicas eficientes que definam claramente as ações e regras.
FIGURA 70 – O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FONTE: Adaptado de: Philippi Jr., (2005 p. 804) 
2.2 CRESCIMENTO OU DESENVOLVIMENTO?
Em todas as discussões podemos perceber que as questões ambientais 
estão atreladas ao “desenvolvimento” e que este é frequentemente definido pelo 
“crescimento econômico”, dando forma ao equívoco conceitual.
Vejamos o que afirma Sachs (1996, apud GOMES, 2010, p. 9) sobre esta questão: 
TÓPICO 3 | DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
201
O fato é que geramos padrões de crescimento que se traduzem pela 
incorporação predatória de recursos naturais no fluxo de renda, o que 
significa descapitalizar a natureza, falando em uma linguagem de 
economês. E porque ao mesmo tempo ainda geramos poluições, ou seja, 
tudo se passa como se o sistema de produção atual fosse um sistema de 
produção de riqueza, que se acompanha da reprodução ampliada da 
pobreza e da exclusão social no nível da sociedade e pela degradação 
ambiental. Chamar isso de desenvolvimentoé muito difícil. De qualquer 
maneira, o que está certo é que crescimento econômico não é sinônimo de 
desenvolvimento, que não é pela aceleração do crescimento econômico 
dentro do padrão passado que vamos resolver os problemas... Portanto, 
a questão é: como passar a um outro paradigma de desenvolvimento?
 
Sachs (1996) continua questionando sobre a eficiência econômica 
contemplada do ponto de vista macrossocial, porque para o microempresarial 
pode haver situações de alta rentabilidade, mas que se traduz em impor custos 
sociais e ecológicos, e assim ele conclui que o que pode parecer muito eficiente no 
patamar micro, pode ser considerado como socialmente ineficiente.
2.3 A ABORDAGEM DA SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO 
INTERNACIONAL
Os eventos ocorridos nos últimos 20 anos, reunindo nações, discutindo os 
efeitos da ação humana no meio ambiente; relatórios das Nações Unidas divulgando 
as mudanças ocorridas no planeta; a discussão ampla sobre o aquecimento global, 
sobre a escassez da água, e a crescente necessidade de busca de energias alternativas, 
são consequências de uma mudança de pensamento em relação à manutenção de 
condições mínimas necessárias à sobrevivência humana no planeta.
A partir de 1950 surgem as primeiras preocupações com o meio ambiente. 
Entre as décadas de 50 e 60 o desenvolvimento da agricultura e suas consequências 
sobre os ecossistemas trouxeram o debate do tema de forma mais acirrada. O 
entendimento da questão sob um ponto de vista mais completo é apresentado 
em 1976, com o programa de assentamentos humanos e qualidade ambiental em 
habitação. A Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento da ONU, 
em 1983, levanta a bandeira da defesa do ambiente. A Carta da Terra, produzida 
durante a RIO 92, desenvolve tratados internacionais sobre como viabilizar o 
desenvolvimento sustentável. Estes eventos estão relacionados no quadro a seguir.
QUADRO 9 – MARCOS DA DISCUSSÃO AMBIENTAL
ANO EVENTO MARCO
1972
Conferência das Nações Unidas 
sobre o Meio Ambiente Humano em 
Estocolmo.
Os limites do crescimento – Criação do programa 
de Meio Ambiente das Nações Unidas - UNEP
1982 Sessão especial do UNEP em Nairóbi. 10 anos após A Conferência de Estocolmo
1985 Viena Acordo de Proteção da Camada de Ozônio
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
202
FONTE: Adaptado de: NOBRE M. e AMAZONAS, M. de C. (Orgs.) IBAMA, 2002.
1987
Relatório Brundtland – ‘’O Nosso 
Futuro Comum’’ – Comissão 
Mundial sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento - WCED
A publicação do relatório Brundtland desencadeou 
um processo de debate, que levou as Nações 
Unidas a convocar a ‘’Conferência das Nações 
Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento 
(CNUMAD)’’, no Rio de Janeiro, para junho de 
1992.
1992
Conferência das Nações Unidas sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento – 
Rio de Janeiro.
RIO – 92.
Plano de ação sobre temas econômicos, sociais e 
culturais de proteção ao meio ambiente – Agenda 
21 e assinado por 150 países.
2002 A declaração de Johanesburgo – Rio + 10
Foram assumidos desafios associados ao 
desenvolvimento sustentável, à promoção dos 
direitos das mulheres, metas para a erradicação 
da pobreza, à alteração de padrões de consumo e 
de produção e à proteção dos recursos naturais.
2012 Rio + 20.
2.4 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL
Considerando a ideia central do desenvolvimento sustentável, o Brasil 
apresenta uma legislação ambiental avançada se a compararmos com a de muitos 
outros países. Os conceitos e critérios para o desenvolvimento sustentável, 
definidos pela Agenda 21, estão presentes em grande parte dos planos de 
desenvolvimento estratégicos.
 
A legislação ambiental regulamenta as atividades que afetam diretamente 
as espécies e os ecossistemas. O objetivo é limitar a extração de recursos, a exemplo 
da caça, pesca ou produtos vegetais (Lei de proteção à fauna, Lei n° 5.197/1967 e 
Código Florestal, Lei n° 12.651/2012).
A implantação do Estatuto das Cidades representa um grande avanço 
na determinação do tipo de desenvolvimento que se pretende para as cidades 
brasileiras.
 
O Ministério do Meio Ambiente sinaliza, em seus diversos programas, 
a determinação do governo em direcionar, acompanhar e fiscalizar questões 
ambientais.
A inclusão de políticas ambientais pode ser observada nos mais diversos 
setores. A aplicação de recursos federais para a execução de obras públicas, por 
exemplo, está condicionada ao atendimento de exigências quanto à manutenção do 
equilíbrio entre o desenvolvimento e o ambiente, conforme padrões estabelecidos 
na Agenda 21, e legislações pertinentes. Os programas para financiamento do 
saneamento urbano, programas de habitação popular e até mesmo para agricultura 
familiar apresentam exigências ambientais a serem cumpridas. Tais exigências são 
estabelecidas também na liberação de recursos para educação e saúde. 
TÓPICO 3 | DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
203
Quando analisamos a concepção dos programas destinados ao desenvolvimento 
do país (ministérios), verificamos que são abordadas as questões do desenvolvimento 
social e econômico em harmonia com o meio ambiente. Além disto, as necessidades 
das comunidades locais quanto aos aspectos de saúde, educação, geração de emprego 
e renda, saneamento básico, também são incluídas nesses projetos. 
Infelizmente, a força da intervenção político-partidária na liberação destes 
recursos resulta em muitas irregularidades, que são frequentemente divulgadas 
através da imprensa nacional.
 Quando a gestão participativa ocorre apenas para cumprir as formalidades 
legais, deixamos de exercer nossa cidadania, e muitas vezes isto acontece por 
indiferença ou descrença nos processos.
3 A AGRICULTURA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Na agricultura, o conceito de sustentabilidade é a base para a criação de 
políticas e práticas que levem a um desenvolvimento rural igualitário e seguro ao 
meio ambiente. A sustentabilidade é dependente da biodiversidade e, neste sentido, 
na construção de um novo modelo de produção agrícola que não esteja assentado 
na uniformidade das espécies, populações e ecossistemas (GLIESSMANN, 2001). 
O desenvolvimento de uma agricultura sustentável é um processo 
participativo de construção coletiva e democrática. É dinâmico e envolve 
perspectivas sociais, políticas, econômicas e ecológicas. 
Esta mudança passa pela interrupção de um processo de produção com 
intensa utilização de insumos, mecanização agrícola e um “pacote tecnológico” não 
comprometido com a preservação de recursos naturais e seus efeitos socioculturais 
(MARCATTO, 2007).
A Agricultura moderna
O modelo de desenvolvimento da agricultura moderna é comprovadamente 
simplificador sob o aspecto da ecologia. A base econômica é a monocultura, e este 
modelo tem sido responsável por desequilíbrios ambientais e esgotamento de 
recursos naturais. Suas consequências vão além e resultam no empobrecimento de 
pequenos agricultores que foram excluídos do processo de crescimento econômico 
(CAPORAL; COSTABEBER, 2004).
 
A chamada modernização da agricultura mundial foi baseada nos 
princípios da intensificação e especialização, e tem como eixos a monocultura e a 
produção de alimentos. Destacam-se os períodos (MARCATTO, 2007):
• 1ª Revolução Agrícola Contemporânea, nos séculos XVIII e XIX, cujo princípio 
básico foi a intensificação do uso da terra. 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
204
• 2ª Revolução Agrícola Contemporânea, no final do século XIX e início do 
século XX – este período caracterizou-se também por profundas modificações 
na agricultura e um novo padrão de desenvolvimento e sistemas ainda mais 
intensivos de produção e utilização de recursos externos, passando a depender 
de máquinas e insumos agrícolas produzidos pela indústria etc.
• A “Revolução Verde” caracterizou-se pela adoção de um “pacote tecnológico” 
envolvendo mecanização agrícola, irrigação, variedades geneticamente 
modificadas e insumos agrícolas (pesticidas/agrotóxicos), muito exigentes em 
capital, poupadoras demão de obra, e altamente dependentes de recursos 
externos à propriedade.
Considerando que 85% das propriedades rurais brasileiras apresentam 
áreas menores que 100 ha, e grande parte ocupada pela agricultura familiar, com 
características de produção muito diferentes daquelas exigidas pelas tecnologias da 
Revolução Verde, a decisão do governo brasileiro em adotar o “pacote tecnológico” 
aumentou as diferenças sociais no campo e trouxe ainda consequências ambientais, 
tais como a erosão de solos, contaminação da água por agrotóxicos e adubos 
químicos, aumento no número de pragas e doenças, destruição de habitats naturais, 
erosão genética e aumento da instabilidade econômica e social nas comunidades 
de agricultores familiares (GLIESSMANN, 2001). 
 
Agricultura tradicional
Os sistemas agrícolas tradicionais, aqueles instalados em pequenas 
propriedades e que não foram tão fortemente influenciados pelo modelo da 
moderna agricultura, revelam um sistema de produção menos agressivo ao 
meio ambiente. 
Uma maior biodiversidade é a característica marcante nos sistemas 
tradicionais. Apresentam atividades agroflorestais, rotação de culturas, culturas 
intercalares, a fruticultura e criação de animais. Todas essas atividades reunidas 
fortalecem a ideia de uma agricultura multifuncional. 
Manejar sistemas agrícolas do ponto de vista da conservação da 
biodiversidade, assim como de uma produção sustentável, pode incrementar 
a capacidade de uso múltiplo da agricultura, provendo benefícios tais como o 
aumento da produção, a estabilidade do sistema, um eficiente manejo de pragas e 
doenças e conservação do solo (LIMA; WILKINSON, 2002).
 
Atualmente a combinação de atividades agrícolas e não agrícolas representa 
a possibilidade de complementação de renda de famílias rurais. Conhecemos 
também propriedades que são utilizadas para o turismo rural. Somando-se a 
atividade de turismo encontramos uma diversidade de produtos regionais cuja 
TÓPICO 3 | DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
205
3.1 AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Na agricultura o conceito de sustentabilidade é a base para a criação de políticas e 
práticas que levem a um desenvolvimento rural igualitário e seguro ao meio ambiente. 
Pode abrigar diferentes concepções políticas e propostas de desenvolvimento.
 
A “Agricultura Sustentável pode ser definida como uma agricultura 
ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa, humana 
e adaptativa” (REIJNTJES et al., 1992 apud MARCATTO, 2007, p. 6). Neste 
sentido, a sustentabilidade depende da diversidade cultural e biológica e implica a 
construção de um novo modelo de produção que não se assente na uniformidade 
cultural e biológica.
O processo de desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável exige 
a participação de um grande número de atores envolvidos em um processo de 
aprendizado constante. Um processo de construção coletiva e democrática, com 
a participação ativa de agricultores, pesquisadores, professores, extensionistas, 
políticos e consumidores, por exemplo.
Certamente não há um “pacote” a ser aplicado, pois a realidade é dinâmica 
para permitir a existência de uma receita para a sustentabilidade. Existem tecnologias 
de baixo custo e baixo uso de insumos que são promissoras e provavelmente serão 
importantes no processo de desenvolvimento da agricultura sustentável. 
As tecnologias da agricultura sustentável devem ser específicas para cada 
sistema e cujas alternativas sejam geradas pelas partes envolvidas e alicerçadas 
nas condições e potencialidades locais.
 Portanto, o desenvolvimento de uma agricultura sustentável deve ser visto 
como um processo complexo e dinâmico e que envolva as perspectivas sociais, 
políticas, econômicas, culturais e ecológicas. 
Agroecologia
A agroecologia apresenta princípios aplicáveis aos sistemas agrícolas 
que asseguram a sustentabilidade econômica, ecológica, social, cultural, 
política e ética, e como resultado promove transformações significativas para o 
desenvolvimento rural sustentável.
comercialização proporciona um maior rendimento total da propriedade. Este 
processo é conhecido por pluriatividade e pode ser aplicado de forma criativa no 
desenvolvimento rural sustentável.
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
206
Apresentamos a seguir alguns conceitos sobre a agroecologia elaborados 
por pesquisadores reconhecidos internacionalmente:
É a ciência ou a disciplina científica que apresenta uma série de 
princípios, conceitos e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar 
e avaliar agroecossistemas, com o propósito de permitir a implantação 
e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de 
sustentabilidade. A agroecologia proporciona então as bases científicas para 
apoiar o processo de transição para uma agricultura “sustentável” nas suas 
diversas manifestações e/ou denominações. 
FONTE: ALTIERI, 1999. Disponível em <http://www.com.ufv.br/emviagem/wp-content/
uploads/2010/08/clico-construtivo-da-agroecologia.jpg>. Acesso em: 27 mar. 2013.
Agroecologia caracteriza-se pela desconstrução das formas de produção 
que causam degradação social e ecológica e da sua construção ou reconstrução, 
dentro do paradigma da sustentabilidade:
Portanto, a Agroecologia nos traz a ideia e a expectativa de uma nova 
agricultura, capaz de fazer bem aos homens e ao meio ambiente como 
um todo, afastando-nos da orientação dominante de uma agricultura 
intensiva em capital, energia e recursos naturais não renováveis, 
agressiva ao meio ambiente, excludente do ponto de vista social e 
causadora de dependência econômica (GLIESSMANN, 2001, p. 142).
Segundo Caporal e Costabeber (2004, p. 13):
A Agroecologia tem sido reafirmada como uma ciência ou 
disciplina científica, ou seja, um campo de conhecimento de caráter 
multidisciplinar que apresenta uma série de princípios, conceitos e 
metodologias que nos permitem estudar, analisar, dirigir, desenhar 
e avaliar agroecossistemas. Os agroecossistemas são considerados 
como unidades fundamentais para o estudo e planejamento 
das intervenções humanas em prol do desenvolvimento rural 
sustentável. São nestas unidades geográficas e socioculturais que 
ocorrem os ciclos minerais, as transformações energéticas, os 
processos biológicos e as relações socioeconômicas, constituindo 
o lócus onde se pode buscar uma análise sistêmica e holística do 
conjunto destas relações e transformações. Em essência, o Enfoque 
Agroecológico corresponde à aplicação de conceitos e princípios da 
Ecologia, da Agronomia, da Sociologia, da Antropologia, da ciência 
da Comunicação, da Economia Ecológica e de tantas outras áreas do 
conhecimento, no redesenho e no manejo de agroecossistemas que 
queremos que sejam mais sustentáveis através do tempo.
A figura a seguir apresenta o ciclo construtivo da agroecologia. Este 
ciclo refere-se à evolução do processo produtivo envolvendo as dimensões da 
sustentabilidade, onde podemos observar a conservação dos recursos naturais, o 
envolvimento social e político e o efetivo desenvolvimento.
TÓPICO 3 | DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
207
FIGURA 71 – CICLO CONSTRUTIVO DA AGROECOLOGIA
FONTE: Disponível em: <http://www.com.ufv.br/emviagem/wp-content/
uploads/2010/08/clico-construtivo-da-agroecologia.jpg>. Acesso em: 23 mar. 2013.
O processo de transição para uma produção agroecológica pode ser 
gradual e gerar transformação das bases produtivas da agricultura. Vimos que 
apresenta característica multidisciplinar e, por outro lado, recebe influências do 
saber popular como fonte de estudo para o conhecimento científico. 
Outras possibilidades de adoção de processos intermediários com redução 
dos impactos negativos sobre o meio ambiente são possíveis. Mesmo em áreas 
destinadas ao monocultivo pode haver a adoção de práticas que reduzam os 
impactos ambientais negativos da uniformização. Uma agricultura de base ecológica 
simplificada pode ajudar na redução desses impactos e mesmo na participação em 
mercados de nicho, onde a substituição de agroquímicose fertilizantes sintéticos é 
suficiente (EMBRAPA, 2006). 
EMBRAPA – Um Marco Referencial em Agroecologia
A Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – é o principal 
agente de disseminação de tecnologias para o campo, no Brasil. Em seu documento 
Marco Referencial em Agroecologia, a empresa apresenta informações importantes 
com o objetivo de consolidar a institucionalização do conceito de agroecologia, 
visando cumprir sua missão de viabilizar soluções para o desenvolvimento 
sustentável, no espaço rural.
 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
208
Os conceitos apresentados foram inspirados no próprio funcionamento 
dos ecossistemas naturais, no manejo tradicional e indígena dos agroecossistemas 
e no conhecimento científico.
Neste documento são apresentados dados da agricultura no Brasil que nos 
levam à reflexão sobre o modelo produtivo até então adotado pelo país.
 
Aproximadamente 37% dos produtos exportados são oriundos da 
agropecuária. Apesar da importante geração de divisas e equilíbrio da balança 
comercial, o aumento das exportações tem sido acompanhado de impactos sobre 
os ecossistemas e populações rurais. A redução das áreas naturais dos Campos 
Sulinos, da Mata Atlântica e Cerrados e, mais recentemente, a entrada da fronteira 
agrícola na Amazônia Legal são exemplos dos riscos inerentes deste setor e da 
necessidade urgente de se estabelecer novas abordagens desta realidade.
Neste sentido, a agroecologia se propõe a desenhar e manejar 
agroecossistemas sustentáveis e construir estratégias de desenvolvimento rural 
sustentável englobando as dimensões ecológicas, sociais, culturais e econômicas. 
Pode-se afirmar ainda que a agroecologia serve à sociedade como um todo, às 
gerações atuais e futuras, aos atores do mundo rural e urbano. 
Produzir, comercializar e consumir alimentos são atividades com profundo 
conteúdo ético e político, que dizem respeito não apenas aos agricultores, mas a todos. 
É uma questão para toda a sociedade, com sérias implicações para as gerações futuras.
Ao encontro desse conceito, a Embrapa pretende trabalhar passos da 
Transição Agroecológica em todos os setores produtivos, tendo como público 
preferencial para a Agroecologia os agricultores familiares, os assentados da 
reforma agrária, as populações tradicionais, as comunidades indígenas e as 
comunidades afrodescendentes, além dos consumidores rurais e urbanos.
3.2 AGRICULTURA FAMILIAR
A inclusão do tema agricultura familiar neste tópico se deve ao fato de que 
esta é uma atividade essencial ao desenvolvimento sustentável no ambiente rural 
e até mesmo urbano, nos chamados “cinturões verdes” das grandes cidades.
Em geral, são pequenos agricultores que conseguem desenvolver sistemas 
complexos com adaptações locais, sustentabilidade e satisfação de necessidades, 
sem depender obrigatoriamente de mecanização ou tecnologias modernas. Esta 
sustentabilidade é explicada por apresentar características que lhes são peculiares: 
são pequenas áreas, com alta diversidade, uso de recursos locais e menor 
dependência de insumos externos. Podem apresentar elevados rendimentos, 
considerando a produtividade total, onde há reciclagem de materiais e nutrientes 
em processos ecológicos naturais e apresentam um cultivo diversificado e alta 
variabilidade genética (LIMA; WILKINSON, 2002).
TÓPICO 3 | DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
209
A agricultura familiar, por suas características produtivas, apresenta 
melhores possibilidades para a adoção de sistemas de produção com bases 
ecológicas. As exigências alimentares e econômicas das famílias resultam no 
cultivo de um número maior de espécies numa mesma área e incluem ainda a 
criação de animais. 
Convém esclarecer que existem casos de maiores desequilíbrios em 
menores propriedades. Entretanto, esta questão parece estar relacionada com a 
falta de acesso à terra, empobrecimento de pequenos agricultores, falta de acesso 
ao crédito e assistência técnica. 
Dessa forma, o conjunto de instrumentos de política pública, que envolve 
desde a reforma agrária até o crédito, a extensão rural e a educação do campo, é 
essencial para garantir que os agricultores familiares ampliem suas potencialidades 
na realização de suas funções de preservação ambiental.
Muitas pessoas das grandes cidades estão resgatando hábitos de vida mais 
saudáveis e isso inclui o uso de alimentos sem agrotóxicos, produzidos de forma 
artesanal e matéria-prima com menor processamento industrial. Isto representa a 
criação de um nicho de mercado. 
Apesar das dificuldades no campo, a agricultura familiar é uma das maiores 
geradoras de trabalho no meio rural, pois também promove melhoria social no 
campo, além de ter a vocação de produzir e consumir o que faz. 
Assim, a agricultura familiar é responsável pela busca de um novo 
paradigma de desenvolvimento, que é um componente cultural do modo de vida 
rural.
3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS
As atuais políticas públicas de desenvolvimento territorial sustentável 
estão baseadas em princípios estabelecidos por recomendações internacionais, 
entre elas as metas para o novo milênio, da ECO-92, representada pelas orientações 
da Agenda 21, e têm por objetivo a redução da pobreza, combater a exclusão social 
e diminuir as desigualdades sociais e regionais (BEZERRA; MUNHOZ, 2000).
As iniciativas visam o desenvolvimento rural sustentável e passam pela 
reforma agrária, formação de profissionais, assistência técnica e o Plano Nacional 
de transição agroecológica.
 
No Ministério do Desenvolvimento da Agricultura, a Secretaria para 
o Desenvolvimento da Agricultura Familiar estabelece diretrizes para o 
fortalecimento da agricultura familiar.
 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
210
A liberação de crédito, através do PRONAF, foi fator determinante para 
que a agricultura familiar representasse, em 2003, 10,1% do PIB, segundo dados 
do FIPE.
Contraditoriamente, o maior volume de recursos do crédito agrícola é 
aplicado em monoculturas que representam a produção de grãos responsáveis pelo 
equilíbrio da balança comercial. O agronegócio ainda é o objetivo-fim das políticas 
públicas, apesar da existência de programas específicos para o desenvolvimento 
sustentável.
Estão previstos também o apoio técnico e financeiro para implantação, 
ampliação, modernização e racionalização da infraestrutura necessária ao 
fortalecimento da agricultura familiar, mediante a realização de obras públicas.
O programa de Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE tem sido uma 
proposta do governo brasileiro para subsidiar as decisões de planejamento social, 
econômico e ambiental do desenvolvimento e do uso do território nacional em 
bases sustentáveis (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2012).
LEITURA COMPLEMENTAR
AGROECOLOGIA: A DINÂMICA PRODUTIVA DA 
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Miguel Altieri
O pesquisador Miguel Altieri é um estudioso renomado do tema 
agricultura multifuncional. A leitura a seguir oferece informações complementares 
e também conclusivas sobre o desenvolvimento sustentável no meio rural. Você 
terá a oportunidade de verificar que existem estratégias de controle de populações 
que podem ser aplicadas no manejo da produção agrícola e poderá relacionar 
seus conhecimentos de ecologia com as possibilidades de aplicações práticas na 
agricultura.
Em seus trabalhos, Altieri apresenta uma definição para a agricultura 
multifuncional como sendo aquela que, além da produção de alimentos e fibras, 
produz uma quantidade de bens públicos para a sociedade, incluindo a segurança 
alimentar, o equilíbrio ecológico, a redução de efeitos ambientais negativos, 
preservação da terra, funções econômicas múltiplas, função social e valores 
culturais. 
Segundo o autor, os sistemas tradicionais de produção multifuncional são 
responsáveis por cerca de 20% da produção de alimentos do mundo.
TÓPICO 3 | DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
211
Ele apresenta exemplos na América Latina de áreas cultivadas por indígenas 
cujas características de produção têm apresentadorendimentos sustentáveis. São 
agroecossistemas que asseguram fontes diversas de alimentos, produção estável, 
riscos mínimos e uso eficiente dos recursos da terra. Estes enfoques representam 
estratégias de uso múltiplo que incrementam a multifuncionalidade da agricultura. 
Estas interações positivas são encontradas também na América Central. A 
preservação de bosques representa espécies importantes para o comércio e ainda 
constitui barreira natural para os cultivos, atuando contra a disseminação de 
doenças e pragas.
Manejar paisagens agrícolas do ponto de vista de conservação da 
biodiversidade, assim como também da produção sustentável, pode incrementar 
a capacidade de uso múltiplo da agricultura, provendo assim vários benefícios de 
forma simultânea: 
• Aumento da produtividade agrícola.
• Melhor manejo de pragas e doenças. 
• Conservação e aumento da fertilidade do solo. 
 
Por outro lado, agrega valor econômico aos produtos, reduz riscos às 
comunidades, aumenta a eficiência do uso dos recursos locais, reduz a pressão 
da agricultura sobre áreas frágeis, diminui a dependência de insumos externos e 
aumenta o valor nutritivo da produção.
Em agroecossistemas simplificados, a ocorrência de pragas é mais evidente. 
A redução da diversidade cria instabilidade e surgem problemas com insetos e 
pragas, vinculados à expansão de monoculturas. 
Onde a vegetação nativa é mantida ao redor de áreas cultivadas e em 
associação com outras culturas, o manejo de pragas e o controle populacional 
de insetos são obtidos pela manutenção ou aumento da biodiversidade. Nestes 
casos verificam-se o controle biológico, a presença de plantas hospedeiras e 
especialmente inimigos naturais.
No Chile algumas experiências foram relevantes. Foram utilizadas práticas 
de conservação de solo para controlar a erosão e restaurar a fertilidade de solos 
degradados. Técnicas de plantio em linhas de contorno, respeitando a declividade 
do terreno, o uso de um sistema adequado de drenagem, métodos orgânicos de 
fertilização e culturas intercalares com leguminosas fixadoras de nitrogênio e 
adubação verde. Estas práticas levaram a um aumento em até três vezes a produção 
de grãos por hectare. Este aumento de produção provocou mudanças econômicas 
e sociais na comunidade local. 
UNIDADE 3 | APLICAÇÕES ECOLÓGICAS
212
No Brasil existem algumas iniciativas agroecológicas. A EPAGRI, junto com 
agricultores de Santa Catarina, implantou tecnologias para conservação do solo e 
microbacias com a utilização de adubação verde e barreiras físicas. Estão utilizando 
mais de 60 espécies de plantas para cobertura do solo. Como resultado, os solos 
já apresentam coloração mais escura, mais úmidos e maior atividade biológica. 
Este trabalho evidencia a importância da manutenção da cobertura do solo para 
prevenir a erosão e com custo reduzido, no caso, apenas compra de sementes.
 No cerrado, onde a soja é monocultura dominante, os problemas associados 
ao manejo inadequado do solo se fazem mais evidentes. A adoção da rotação de 
cultura milho-soja tem aumentado os rendimentos, diminuído a erosão do solo e 
os problemas de pragas típicos que afetam o monocultivo da soja.
Sistemas integrados de produção em Cuba junto à Associação Cubana de 
Agricultura Orgânica (ACAO) tiveram o papel de promover módulos de produção 
alternativa, mediante o uso integrado de práticas e tecnologias de manejo agrícola. 
Cada componente de cultivo reforça biologicamente os outros componentes. 
Reflorestamentos, rotação de culturas, culturas intercaladas, adubação verde, 
são práticas que estão conduzindo a um aumento de produção e biodiversidade 
e, ainda, melhorias na qualidade do solo, especialmente o conteúdo de matéria 
orgânica.
A agroecologia estimulou várias organizações não governamentais e outras 
instituições na busca de estratégias agrícolas de gestão de recursos para melhorar 
a produtividade de pequenas propriedades. Há vários exemplos de produtores 
rurais adotando projetos de desenvolvimento que incorporam o conhecimento 
moderno e a ciência agrícola tradicional com a implantação de sistemas como 
policultivos, sistemas agroflorestais, culturas consorciadas etc.
O CET – Centro de Educação e Tecnologia no Chile tem um programa 
de desenvolvimento destinado a atender aos pequenos agricultores, ajudando 
a alcançarem a autossuficiência alimentar durante o ano todo e a reconstruir a 
capacidade produtiva de suas pequenas fazendas. O enfoque é incluir a rotação 
espacial e sequencial de culturas, forragens, verduras, árvores frutíferas e florestais 
e ainda a criação de pequenos animais domésticos. Os componentes são escolhidos 
conforme as contribuições nutritivas dos cultivos, sua adaptação, as condições 
climáticas locais, hábitos de consumo e também oportunidade de mercado.
Outra contribuição importante foi conseguir recuperar e manter a 
diversidade genética de tipos silvestres de batatas.
As pesquisas conduzidas na América Latina sugerem que os sistemas de 
produção em pequena escala são sustentavelmente produtivos, biologicamente 
regenerativos e energeticamente eficientes e tendem a melhorar a qualidade, 
participação e a ser socialmente justos. São práticas que provocam degradação 
mínima dos solos e mantêm a diversidade genética. Manejam um sistema de uso 
múltiplo natural, obtendo variedade de produtos. Esta dimensão multifuncional é 
TÓPICO 3 | DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
213
traduzida em produção, benefícios ambientais econômicos e socioculturais, o que 
ressalta o papel da agricultura familiar como ponta de lança em uma estratégia 
de desenvolvimento rural sustentável. A ideia é destacar o valor da agricultura 
tradicional para a conservação da agrobiodiversidade, já que este modo de 
apropriação da natureza melhora a multifuncionalidade da agricultura. 
 O desafio está em elevar a produtividade em sistemas agroecológicos, 
fazer uma transição com bases científicas, ter disponível uma rede de referências, 
profissionais capacitados e um programa adequado para as especificidades locais.
FONTE: Adaptado de: ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura 
sustentável. 4. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
214
Neste tópico vimos que:
• O termo “sustentável” refere-se a um sistema que apresenta estabilidade e 
equilíbrio. A manutenção de um sistema sustentável é estabelecida por um 
consumo compatível com a capacidade produtiva do próprio sistema. 
• A sustentabilidade apresenta diversas dimensões:
• Sustentabilidade social. 
• Sustentabilidade econômica. 
• Sustentabilidade ecológica. 
• Sustentabilidade espacial/geográfica. 
• Sustentabilidade cultural. 
• A sustentabilidade é ainda dependente da construção de um novo modelo 
de produção agrícola que não esteja assentado na uniformidade das espécies, 
populações e ecossistemas, garantindo a manutenção da biodiversidade. Esta 
mudança passa pela interrupção de um processo de produção com intensa 
utilização de insumos, mecanização agrícola e um “pacote tecnológico” 
não comprometido com a preservação de recursos naturais e seus efeitos 
socioculturais.
• Os sistemas agrícolas tradicionais, em pequenas propriedades, revelam 
um sistema de produção menos agressivo ao meio ambiente. Uma maior 
biodiversidade é a característica marcante nos sistemas tradicionais, por 
apresentarem atividades agroflorestais, rotação de culturas, culturas intercalares, 
a fruticultura e criação de animais. 
• A agricultura sustentável pode ser definida como uma agricultura ecologicamente 
equilibrada, economicamente viável, socialmente justa, humana e adaptativa.
• A agricultura familiar, por suas características produtivas, apresenta melhores 
possibilidades para a adoção de sistemas de produção com bases ecológicas.
• As atuais políticas públicas de desenvolvimento territorial sustentável estão 
baseadas em princípios estabelecidos por recomendações internacionais, entre 
elas as metas para o novo milênio, da ECO-92, representada pelas orientações 
da

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