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TÓPICO 3 DESENVOLVIMENTO SOCIAL, MORAL E EMOCIONAL INTRODUÇÃO Caro acadêmico, novamente iniciaremos o tópico com um caso hipotético. Vamos lá? Na Escola de Ensino Básico E.E.B. Anísio Teixeira, os alunos do nono ano escolar são incentivados a se tornarem tutores para os alunos do segundo ano. Eles os ajudam com leitura, matemática e outras matérias. Como parte desse programa, Samuel Silva, aluno do nono ano, está trabalhando há cerca de um mês com Bruno Almeida, aluno do segundo ano. "Ei, baixinho!" diz Samuel um dia quando encontra Bruno para uma sessão de tutoria. "Ei, Samuel!" Como sempre, Bruno está encantado em ver seu grande amigo. Mas hoje sua saudação amigável se transforma em um olhar de espanto. "O que você tem em seu lábio?". "Você nunca viu um piercing labial?" Bruno está impressionado. "Incrível!" “Muitos caras estão usando”. "Não doeu abrir um buraco no lábio?" “Um pouco, mas sou forte! Rapaz, minha mãe estava brava, no entanto. Eu tenho que tirar meu piercing antes de ir para casa, mas eu o coloco de volta enquanto estou caminhando para a escola. ". "Mas sua mãe não ...". “Chega disso, tampinha! Você tem um pouco de matemática para fazer. Vamos lá!" A interação entre Samuel e Bruno ilustra as enormes diferenças entre o mundo do adolescente e o da criança. Samuel, aos 13 anos, é um adolescente clássico. Seu idealismo e profundo compromisso com o que é positivo são mostrados em seu voluntariado para servir como tutor e no relacionamento carinhoso e responsável que estabeleceu com Bruno. Ao mesmo tempo, Samuel está afirmando sua independência com um piercing no lábio e usando-o em seu lábio, contra a vontade de sua mãe. Essa independência é fortemente apoiada por seu grupo de colegas, portanto, é realmente apenas uma mudança de dependência de pais e professores para os colegas. Seu principal objetivo ao usar um piercing labial é demonstrar conformidade com os estilos e normas de seus colegas, e não com os dos adultos. Mesmo assim, Samuel ainda depende de seus pais e de outros adultos para conselhos e apoio ao tomar decisões que ele sabe que têm sérias consequências para seu futuro, e ele tira o piercing em casa para evitar uma batalha realmente séria com seus pais. Bruno vive em um mundo diferente. Ele pode admirar a audácia de Samuel, mas ele nunca iria tão longe. O mundo de Bruno tem regras mais simples. Ele está chocado com a ousadia de Samuel em usar um piercing no lábio. Ele está igualmente chocado com a disposição de Samuel de desobedecer diretamente a sua mãe. Bruno pode se comportar mal, mas dentro de limites muito mais estreitos. Ele sabe que regras são regras e espera ser punido se as violar. PENSAMENTO CRÍTICO Os adolescentes afirmam sua independência de maneiras que muitas vezes são apoiadas por seu grupo de pares, mas não por seus pais. Diante disso, que tipos de confrontos você pode esperar encontrar em uma sala de aula do ensino médio e como pretende lidar com eles? Quais estratégias você poderia usar para evitar confrontos em primeiro lugar? Neste tópico, você estudará diferentes visões sobre o desenvolvimento social, emocional e moral. Nesta jornada de aprendizagem, podemos identificar os estágios do desenvolvimento social e emocional das crianças e aplicar este conhecimento para resolução de problemas em sala de aula. Todos estes conhecimentos visam informar uma prática de ensino intencional. Vamos lá? ALGUMAS PERSPECTIVAS SOBRE DESENVOLVIMENTO PESSOAL E SOCIAL À medida que as crianças melhoram suas habilidades cognitivas, elas também desenvolvem autoconceitos, maneiras de interagir com outras pessoas e atitudes em relação ao mundo. Compreender o desenvolvimento pessoal e social é fundamental para sua capacidade de motivar, ensinar e interagir com sucesso com alunos em várias idades. O desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento social são frequentemente descritos em termos de estágios. Diante destas mudanças, muitas vezes, quando alguém está reagindo de forma irracional e egoísta, acusamos essa pessoa de "se comportar como uma criança de dois anos". Por outro lado, a palavra adolescente está associada na cultura ocidental com rebeldia, crises de identidade, adoração ao herói e despertar sexual. Essas associações refletem estágios de desenvolvimento pelos quais todos passam. Esta seção concentra-se em uma teoria do desenvolvimento pessoal e social proposta por Erik Erikson, que é uma adaptação das teorias do desenvolvimento do neurologista e psiquiatra Sigmund Freud. O trabalho de Erikson é frequentemente chamado de teoria psicossocial, porque relaciona princípios de desenvolvimento psicológico e social. ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DE ERIKSON Assim como Piaget, e Erikson, não teve treinamento formal em psicologia, mas quando jovem foi treinado por Freud como psicanalista. Erikson levantou a hipótese de que as pessoas passam por oito estágios psicossociais em suas vidas. Em cada estágio, existem crises ou problemas críticos a serem resolvidos. A maioria das pessoas resolve cada crise psicossocial de forma satisfatória e deixa-as para trás para assumir novos desafios, no entanto, algumas pessoas não resolvem completamente essas crises e devem continuar a lidar com elas mais tarde na vida. Conforme as pessoas crescem, enfrentam uma série de crises psicossociais que moldam a personalidade, de acordo com Erik Erikson. Cada crise se concentra em um aspecto particular da personalidade e envolve o relacionamento da pessoa com outras pessoas. Estágio I – Confiança versus Desconfiança (do nascimento aos 18 meses) O objetivo da infância é desenvolver uma confiança básica no mundo. Erikson, definiu a confiança básica como uma confiança essencial dos outros, bem como um senso fundamental da própria confiabilidade. A mãe, ou a figura materna, geralmente é a primeira pessoa importante no mundo da criança. A mãe é quem deve satisfazer a necessidade de alimento e afeto do bebê. Se a mãe for inconsistente ou rejeitadora, ela se torna uma fonte de frustração para o bebê ao invés de uma fonte de prazer. O comportamento da mãe cria no bebê um sentimento de desconfiança em relação ao seu mundo que pode persistir ao longo da infância e na idade adulta. Estágio II – Autonomia versus vergonha/dúvida (18 meses a 3 anos) Aos dois anos, a maioria dos bebês pode andar e ter aprendido o suficiente sobre a linguagem para se comunicar com outras pessoas. As crianças na casa dos dois anos – a fase chamada de adolescência do bebê, na qual a criança se dá conta de que é um indivíduo e luta para conquistar o seu espaço, manifestando traços de rebeldia – não querem mais depender totalmente dos outros. Em vez disso, elas se esforçam para obter autonomia, a capacidade de fazer as coisas por si próprios. Os desejos de poder e independência da criança muitas vezes se chocam com os desejos dos pais. Erikson, acreditava que as crianças neste estágio têm o desejo duplo de se apegar e de se desapegar. Os pais que são flexíveis o suficiente para permitir que seus filhos explorem livremente e façam as coisas por si próprios, mas ao mesmo tempo fornecem uma mão orientadora sempre presente, encorajam o estabelecimento de um senso de autonomia. Os pais que são excessivamente restritivos e severos dão aos filhos uma sensação de impotência e incompetência, o que pode levar à vergonha e à dúvida sobre as habilidades de uma pessoa. Estágio III – Iniciativa versus culpa (3 a 6 anos) Durante este período, as habilidades motoras e de linguagem das crianças em contínuo amadurecimento permitem que elas sejam cada vez mais agressivas e vigorosas na exploração de seu ambiente social e físico. As crianças de três anos têm um senso crescente de iniciativa, que pode ser incentivado pelos pais e outros membros da família ou cuidadores quepermitem que as crianças corram, pulem, brinquem, escorreguem e joguem. Estando firmemente convencida de que é uma pessoa por si mesma, a criança deve agora descobrir que tipo de pessoa ela pode se tornar. Os pais que punem severamente as tentativas de iniciativa dos filhos farão com que os filhos se sintam culpados por seus impulsos naturais, tanto durante esta fase quanto mais tarde na vida. Estágio IV – Diligência versus inferioridade (6 a 12 anos) Nesse estágio, o ingresso na escola apresenta uma grande expansão no mundo social da criança. Professores e colegas assumem uma importância cada vez maior para a criança, enquanto a influência dos pais diminui. As crianças agora querem fazer coisas. O sucesso na escola e na vida pessoal suscita um senso de diligência, um bom sentimento sobre si mesmo e suas habilidades. O fracasso relaciona-se a uma autoimagem negativa, uma sensação de inadequação que pode atrapalhar o aprendizado futuro. E o “fracasso” não precisa ser real; pode ser meramente uma incapacidade de corresponder aos próprios padrões ou aos dos pais, professores ou irmãos e irmãs. Estágio V – Identidade versus confusão de identidade/papel (12 a 18 anos) A pergunta "Quem sou eu?" torna-se importante durante a adolescência. Para respondê-la, os adolescentes cada vez mais se afastam dos pais e se voltam para grupos de pares. Erikson, acreditava que, durante a adolescência, a fisiologia em rápida mudança do indivíduo, juntamente com as pressões para tomar decisões sobre educação e carreira futuras, cria a necessidade de questionar e redefinir a identidade psicossocial estabelecida durante os estágios anteriores. A adolescência é uma época de mudança. Os adolescentes experimentam vários papéis sexuais, ocupacionais e educacionais enquanto tentam descobrir quem são e quem podem ser. Esse novo senso de si mesmo, ou “identidade do ego”, não é simplesmente a soma das identificações anteriores, mas uma remontagem ou um alinhamento dos impulsos básicos do indivíduo (ego) com sua herança (resoluções das crises anteriores) e suas oportunidades – necessidades, habilidades, objetivos e demandas da adolescência e da idade adulta próxima. Estágio VI – Intimidade versus isolamento (19 a 40 anos) Uma vez que os jovens sabem quem são e para onde vão, está montado o cenário para a partilha da sua vida com outra pessoa. O jovem adulto está, agora, pronto para formar uma nova relação de confiança e intimidade com outro indivíduo, um parceiro de amizade, sexo, competição e cooperação. Esse relacionamento deve realçar a identidade de ambos os parceiros, sem sufocar o crescimento de nenhum deles. O jovem adulto que não busca essa intimidade ou cujas repetidas tentativas fracassam pode se isolar. Estágio VII – Generatividade versus estagnação/autoabsorção (meia-idade, 41 a 65 anos) Generatividade é o interesse em estabelecer e guiar a próxima geração. Normalmente, as pessoas atingem a generatividade criando seus próprios filhos. No entanto, a crise dessa fase também pode ser resolvida com sucesso por meio de outras formas de produtividade e criatividade, como o ensino. Durante esta fase, as pessoas devem continuar a crescer; do contrário, desenvolve-se uma sensação de estagnação e empobrecimento interpessoal, levando à estagnação, autoabsorção ou autoindulgência. Estágio VIII – Integridade versus desespero (velhice, após os 65 anos) No estágio final do desenvolvimento psicossocial, as pessoas fazem uma retrospectiva de sua vida e resolvem sua crise final de identidade. A aceitação de realizações, fracassos e limitações finais envolve um senso de integridade, ou plenitude, e uma compreensão de que a vida de uma pessoa tem sido sua própria responsabilidade. A finalidade da morte também deve ser enfrentada e aceita. O desespero pode ocorrer naqueles que lamentam a maneira como levaram suas vidas ou como suas vidas acabaram. IMPLICAÇÕES E CRÍTICAS DA TEORIA DE ERIKSON Assim como acontece com os estágios de Piaget, nem todas as pessoas vivenciam as crises de Erikson no mesmo grau ou ao mesmo tempo. As faixas etárias indicadas aqui podem representar os melhores momentos para uma crise ser resolvida, mas não são os únicos momentos possíveis. Por exemplo, crianças que nasceram em lares caóticos que não lhes deram segurança adequada podem desenvolver confiança depois de serem adotadas ou levadas para um ambiente mais estável. Pessoas cujas experiências escolares negativas lhes deram um sentimento de inferioridade podem descobrir, ao entrar no mundo do trabalho, que podem aprender e que têm habilidades valiosas – uma compreensão que pode ajudá-las a finalmente resolver a crise da diligência versus inferioridade que outros resolveram em seus anos iniciais do Ensino Fundamental. A teoria de Erikson, enfatiza o papel do meio ambiente tanto em causar as crises quanto em determinar como elas serão resolvidas. Os estágios de desenvolvimento pessoal e social são realizados em constantes interações com os outros e com a sociedade como um todo. Durante os três primeiros estágios, as interações são principalmente com os pais e outros membros da família, mas a escola desempenha um papel central para a maioria das crianças no Estágio IV (Diligência versus Inferioridade) e no Estágio V (Identidade versus confusão de Identidade/Papéis). A teoria de Erikson, descreve os problemas básicos que as pessoas enfrentam ao longo da vida. No entanto, sua teoria tem sido criticada porque não explica como ou por que os indivíduos progridem de um estágio para outro e, também, porque é difícil de confirmar por meio de pesquisas. ALGUMAS PERSPECTIVAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO MORAL A sociedade não poderia funcionar sem regras que ensinassem às pessoas como se comunicar, como evitar magoar os outros e como se dar bem na vida em geral. Se você convive muito com crianças, deve ter notado que muitas vezes elas são rígidas quanto a regras. As coisas estão certas ou erradas; não há meio-termo. Se você pensar em seus próprios anos no ensino fundamental ou médio, pode se lembrar de ter ficado chocado ao descobrir que as pessoas às vezes quebram as regras de propósito e que as regras que se aplicam a algumas pessoas podem não se aplicar a outras. Essas experiências provavelmente mudaram seu conceito de regras. Sua ideia de leis também pode ter mudado quando você aprendeu como elas são feitas. As pessoas se encontram, debatem e votam; as leis que são feitas em um ano podem ser alteradas no próximo. Quanto mais complexidade você pode ver, mais complexidade você descobre que existe. Assim como as crianças diferem dos adultos no desenvolvimento cognitivo e pessoal, também diferem no raciocínio moral. Primeiro, examinaremos os dois estágios do raciocínio moral descritos por Piaget e, em seguida, discutiremos teorias relacionadas desenvolvidas por Lawrence Kohlberg. Piaget propôs que existe uma relação entre os estágios cognitivos de desenvolvimento e a capacidade de raciocinar sobre questões morais. Kohlberg, acreditava que o desenvolvimento das estruturas lógicas propostas por Piaget é necessário, embora não suficiente para avanços na área de julgamento e raciocínio moral. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO MORAL DE PIAGET A teoria de desenvolvimento cognitivo de Piaget, inclui uma teoria sobre o desenvolvimento do raciocínio moral. Piaget, acreditava que as estruturas e habilidades cognitivas se desenvolvem primeiro. As habilidades cognitivas, então, determinam as habilidades das crianças para raciocinar sobre as situações sociais. Tal como acontece com as habilidades cognitivas, Piaget, propôs que o desenvolvimento moral progride em estágios previsíveis, neste caso de um tipo de raciocínio moral muito egocêntrico para um que reflete um sistema de justiça baseado na cooperação e reciprocidade. À medida que as pessoasdesenvolvem suas habilidades cognitivas, sua compreensão dos problemas morais também se torna mais sofisticada. Crianças pequenas são mais rígidas em seus pontos de vista sobre o que é certo e errado do que as crianças mais velhas e adultos tendem a ser. Para explorar o desenvolvimento moral, Piaget, contou duas histórias para crianças mais velhas e mais novas. Na primeira história, um menino quebrou 15 xícaras completamente por acidente. Na segunda história, um menino quebrou uma xícara enquanto tentava roubar um biscoito. Piaget perguntou às crianças quem era mais travesso e quem deveria ser mais punido. Crianças mais novas de cinco a 10 anos se concentraram nos resultados de uma ação para fazer seus julgamentos, independentemente das intenções de cada criança – mais xícaras se quebraram, então a primeira criança foi mais travessa. Esse tipo de raciocínio é chamado de moral ou moralidade heterônoma. Já as crianças mais velhas, no experimento de Piaget, foram capazes de fazer julgamentos com base na intenção de uma ação – a segunda criança estava se comportando mal, então, ele era mais travesso. Esse tipo de raciocínio é chamado de moral ou moralidade autônoma. Piaget, observou que essas duas fases se sobrepõem. Recentemente, quando apresentado a uma história semelhante, uma criança de cinco anos respondeu: “Ambos são maus porque quebraram xícaras”, enquanto uma criança de 10 anos respondeu: “O primeiro menino não fez isso de propósito”. O Quadro 3 resume as características da moralidade heterônoma e autônoma, de acordo com Piaget. QUADRO 3 – ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO MORAL DE PIAGET MORALIDADE HETERÔNOMA MORALIDADE AUTÔNOMA Regras inflexíveis são feitas por autoridades como a polícia, pais e professores. As intenções são mais importantes do que os resultados de seu comportamento. As regras são permanentes, não mudam e devem ser seguidas. Há momentos em que não há problema em quebrar regras. O egocentrismo na infância faz com que as crianças acreditem que os outros veem suas ideias de seguir regras da mesma forma que elas. As pessoas podem ver “o que é certo” de maneira diferente. O grau de punição deve depender de quão ruins foram os resultados de suas ações. O grau de punição deve depender das intenções e do grau de mau comportamento. O mau comportamento sempre será punido. Por exemplo, se você faz algo ruim e depois cai e machuca o joelho, é porque você se comportou mal. Isso é chamado de "justiça imanente". Resultados ruins coincidentes não são vistos como punições por mau comportamento. Para entender o raciocínio moral das crianças, Piaget, passou muito tempo observando as crianças jogando bolinhas de gude e perguntando sobre as regras do jogo. A primeira coisa que ele descobriu foi que, antes dos seis anos, as crianças brincavam de acordo com suas próprias regras idiossincráticas e egocêntricas. Piaget, acreditava que as crianças muito pequenas eram incapazes de interagir de forma cooperativa e, portanto, incapazes de se engajar no raciocínio moral. Piaget, descobriu que, aos seis anos, as crianças reconheciam a existência de regras, embora fossem inconsistentes em segui-las. Frequentemente, várias crianças que supostamente estavam jogando o mesmo jogo foram observadas jogando de acordo com diferentes conjuntos de regras. As crianças dessa idade também não entendiam que as regras do jogo são arbitrárias e algo que um grupo pode decidir por si mesmo. Em vez disso, eles viam as regras como impostas por alguma autoridade superior e imutáveis. O primeiro estágio do desenvolvimento moral foi rotulado por Piaget, de moralidade heterônoma; também tendo sido chamado de estágio de "realismo moral" ou "moralidade de restrição". Heterônomo significa estar sujeito a regras impostas por outros. Durante este período, as crianças pequenas são constantemente confrontadas com os pais e outros adultos dizendo-lhes o que fazer e o que não fazer. Acredita-se que as violações das regras trazem punição automática; pessoas que são más acabarão sendo punidas. Piaget, também descreveu as crianças neste estágio como julgando a moralidade do comportamento com base em suas consequências. Eles julgam o comportamento como ruim se resultar em consequências negativas, mesmo que as intenções originais do ator sejam boas. Piaget, descobriu que as crianças não usavam e seguiam as regras conscienciosamente até a idade de 10 ou 12 anos, quando as crianças são capazes de operações formais. Nessa idade, todas as crianças que jogam o jogo seguem o mesmo conjunto de regras. As crianças entenderam que as regras existiam para orientar o jogo e minimizar as disputas entre os jogadores. Eles entenderam que as regras eram algo com que todos concordavam e que, portanto, se todos concordassem em mudá-las, elas poderiam ser mudadas. Piaget, também observou que as crianças dessa idade tendem a basear os julgamentos morais nas intenções do ator, e não nas consequências das ações. As crianças costumam se envolver em discussões sobre circunstâncias hipotéticas que podem afetar as regras. Este segundo estágio é denominado moralidade autônoma ou "moralidade da cooperação". Surge à medida que o mundo social da criança se expande para incluir mais e mais colegas. Por meio da interação e cooperação com outras crianças, as ideias da criança sobre as regras começam a mudar. As regras, nesse momento, são as feitas pelos indivíduos cooperativamente. A punição por transgressões não é mais automática, mas deve ser administrada levando- se em consideração as intenções do transgressor e quaisquer circunstâncias atenuantes. De acordo com Piaget, as crianças progridem do estágio de moralidade heterônoma para o de moralidade autônoma com o desenvolvimento de estruturas cognitivas, mas também por causa de interações com colegas em igualdade de condições. Ele acreditava que a resolução de conflitos com colegas enfraquecia a confiança das crianças na autoridade dos adultos e aumentava sua consciência de que as regras são mutáveis e devem existir apenas como resultado de consentimento mútuo. A pesquisa sobre os elementos das teorias de Piaget, geralmente apoia suas ideias, com uma exceção chave. Pensa-se que Piaget, subestimou o grau em que mesmo as crianças muito pequenas consideram as intenções ao julgar o comportamento. No entanto, a progressão de um foco nos resultados para um foco nas intenções ao longo do desenvolvimento foi documentada muitas vezes. ESTÁGIOS DE RACIOCÍNIO MORAL DE KOHLBERG A teoria dos estágios de raciocínio moral de Kohlberg, é uma elaboração e refinamento da teoria de Piaget. Assim como Piaget, Kohlberg, estudou como as crianças (e adultos) raciocinam sobre as regras que governam seu comportamento em certas situações. Kohlberg, não estudou jogos infantis, mas sondou suas respostas a uma série de situações estruturadas ou dilemas morais, o mais famoso dos quais é o seguinte: Na Europa, uma mulher estava quase morrendo de câncer. Uma droga poderia salvá-la, uma forma de rádio que um farmacêutico da mesma cidade havia descoberto recentemente. O farmacêutico estava cobrando US$ 2.000, dez vezes o que a droga custou para fazer. O marido da mulher doente, Heinz, procurou todos que ele conhecia para pedir o dinheiro, mas ele só conseguiu juntar cerca de metade do que custou. Ele disse ao farmacêutico que sua esposa estava morrendo e pediu-lhe que vendesse mais barato ou o deixasse pagar depois. Mas o farmacêutico disse “Não”. O marido ficou desesperado e invadiu a loja do homem para roubar a droga para sua esposa. O marido deveria ter feito isso? Por quê? Com base nas respostas que recebeu, Kohlberg, propôs que as pessoas passam por uma série de seis estágios de julgamento ou raciocínio moral. Os níveis e estágios de Kohlberg, estão resumidos no Quadro 4. Ele agrupou esses seis estágios em três níveis:pré-convencional, convencional e pós-convencional. Esses três níveis são diferenciados pela definição que a criança ou adulto atribui como comportamento correto ou moral, algo como acontece com outras teorias de estágios, nas quais cada estágio é mais sofisticado e complexo do que o anterior, e a maioria dos indivíduos passa por eles na mesma ordem. Como Piaget, Kohlberg, estava preocupado não tanto com a resposta da criança, mas com o raciocínio por trás dela. As idades em que as crianças e adolescentes passam pelos estágios do Quadro 4 variam consideravelmente; na verdade, o mesmo indivíduo pode se comportar de acordo com um estágio em alguns momentos e de acordo com outro em outros momentos. No entanto, a maioria das crianças passa do nível pré-convencional para o convencional aos nove anos de idade. QUADRO 4 – ESTÁGIOS DE RACIOCÍNIO MORAL DE KOHLBERG I. NÍVEL PRÉ-CONVENCIONAL II. NÍVEL CONVENCIONAL III. NÍVEL PÓS-CONVENCIONAL As regras são estabelecidas por outros. O indivíduo adota regras e às vezes subordina as próprias necessidades às do grupo. Expectativas de família, grupo ou nação são vistas como valiosas por direito próprio, independentemente das consequências imediatas e óbvias. As pessoas definem seus próprios valores em termos de princípios éticos que decidiram seguir. Estágio 1 – Punição e Orientação para a Obediência. As consequências físicas da ação determinam sua bondade ou maldade. Estágio 3 – Orientação “Bom Menino/Boa Menina”. Bom comportamento é tudo o que agrada ou ajuda os outros e é aprovado por eles. Alguém ganha aprovação por ser “legal”. Estágio 5 – Orientação para o contrato social. O que é certo é definido em termos de direitos individuais gerais e em termos de padrões acordados por toda a sociedade. Em contraste com o Estágio 4, as leis não são “congeladas”, elas podem ser alteradas para o bem da sociedade. Estágio 2 – Orientação Relativista Instrumental. O que é certo é tudo o que satisfaz as próprias necessidades e, ocasionalmente, as necessidades dos outros. Elementos de justiça e reciprocidade estão presentes, mas são principalmente interpretados em um estilo “você coça minhas costas, eu coço as suas”. Estágio 4 – Orientação “Lei e Ordem”. Certo é cumprir o dever, mostrar respeito pela autoridade e manter a ordem social dada para seu próprio bem. Estágio 6 – Orientação do Princípio Ético Universal. O que é certo é definido pela decisão da consciência de acordo com princípios éticos escolhidos por nós mesmos. Esses princípios são abstratos e éticos (como a Regra de Ouro), não prescrições morais específicas (como os Dez Mandamentos). O estágio 1, que está no nível pré-convencional de moralidade é muito semelhante em forma e conteúdo ao estágio de moralidade heterônoma de Piaget. As crianças simplesmente obedecem a figuras de autoridade para evitar serem punidas. No estágio 2, as próprias necessidades e desejos das crianças tornam-se importantes, mas elas estão cientes dos interesses de outras pessoas. Em um sentido concreto, elas pesam os interesses de todas as partes ao fazer julgamentos morais, mas ainda estão se preocupando mais com as suas necessidades. O nível convencional de moralidade começa no estágio 3. Aqui a moralidade é definida em termos de cooperação com os pares, assim como era no estágio de moralidade autônoma de Piaget. Este é o estágio em que as crianças têm uma crença inquestionável de que se deve "fazer aos outros o que você gostaria que fizessem a você". Por causa da diminuição do egocentrismo que acompanha as operações concretas, as crianças são cognitivamente capazes de se colocar no lugar de outra pessoa. Elas podem levar em consideração os sentimentos dos outros ao tomar decisões morais. Elas não fazem mais simplesmente o que não as punirá (estágio 1) ou o que as faz se sentir bem (estágio 2). No estágio 4, as regras e leis da sociedade substituem as do grupo de pares. O desejo de aprovação social não determina mais julgamentos morais. As leis são seguidas sem questionamento e infringir a lei nunca pode ser justificado. A maioria dos adultos provavelmente está neste estágio. O estágio 5 sinaliza a entrada no nível pós-convencional de moralidade, um nível de raciocínio moral alcançado por menos de 25 por cento dos adultos, de acordo com Kohlberg, no qual há uma compreensão de que as leis e os valores de uma sociedade são um tanto arbitrários e particulares àquela sociedade. As leis são vistas como necessárias para preservar a ordem social e garantir os direitos básicos de vida e liberdade. No estágio 6, nossos princípios éticos são escolhidos por nós mesmos e baseados em conceitos abstratos, como justiça e a igualdade e o valor dos direitos humanos. As leis que violam esses princípios podem e devem ser desobedecidas porque “a justiça está acima da lei”. Mais tarde, Kohlberg, especulou que o estágio 6 não é realmente separado do estágio 5 e sugeriu que os dois fossem combinados. Kohlberg, acreditava que dilemas morais podem ser usados para avançar o nível de raciocínio moral de uma criança, mas apenas em um estágio de cada vez. Ele teorizou que a maneira pela qual as crianças progridem de um estágio para o próximo é interagindo com outras pessoas cujo raciocínio é um ou, no máximo, dois estágios acima do seu. Os professores podem ajudar os alunos a progredir no raciocínio moral, entrelaçando as discussões sobre justiça e questões morais nas aulas, especialmente em resposta a eventos que ocorrem na sala de aula ou na sociedade em geral. Kohlberg, descobriu que seus estágios de habilidade de raciocínio moral ocorriam na mesma ordem e aproximadamente na mesma idade nos Estados Unidos, México, Taiwan e Turquia. Outras pesquisas em todo o mundo geralmente encontraram a mesma sequência de estágios, embora haja claramente fortes influências da cultura no raciocínio moral, bem como no comportamento moral. Pesquisas posteriores geralmente apoiam a sequência principal de desenvolvimento de Kohlberg, mas também houve muitas críticas. Uma limitação do trabalho inicial de Kohlberg, era que a pesquisa envolvia principalmente meninos, e algumas pesquisas sobre o raciocínio moral das meninas encontram padrões que são um pouco diferentes daqueles propostos por Kohlberg. Enquanto o raciocínio moral dos meninos gira principalmente em torno de questões de justiça, as meninas estão mais preocupadas com questões de cuidado e responsabilidade pelos outros. Gilligan, argumentou, por exemplo, que homens e mulheres usam critérios morais diferentes: o raciocínio moral masculino é focado nos direitos individuais das pessoas, enquanto o raciocínio moral feminino é mais focado nas responsabilidades dos indivíduos para com outras pessoas. É por isso que, argumentou ela, as mulheres tendem a sugerir altruísmo e autossacrifício, em vez de direitos e regras, como soluções para dilemas morais. Kohlberg revisou sua teoria com base nessas críticas. No entanto, a maioria das pesquisas não conseguiu encontrar quaisquer diferenças entre homens e mulheres na maturidade moral. Outra crítica ao trabalho de Piaget e Kohlberg, é que crianças pequenas podem muitas vezes raciocinar sobre situações morais de maneiras mais sofisticadas do que uma teoria de estágio poderia sugerir. Por exemplo, embora crianças pequenas muitas vezes considerem as consequências como mais importantes do que as intenções ao avaliar a conduta, em certas circunstâncias, crianças de três e quatro anos de idade usam as intenções para julgar o comportamento dos outros. Além disso, foi demonstrado que crianças de seis a 10 anos, no estágio de moralidade heterônoma, fazem distinções entre regras que os pais têm justificativa para fazer e aplicar e regras que estão sob jurisdição pessoal ou de pares. Finalmente,Turiel sugeriu que as crianças pequenas fazem uma distinção entre regras morais, como não mentir e roubar, que são baseadas em princípios de justiça, e regras sociais convencionais, como não usar pijama na escola, que são baseadas sobre consenso social e etiqueta. A pesquisa apoiou essa visão, demonstrando que crianças de anos e meio a três anos fazem distinções entre regras morais e sociais convencionais. A limitação mais importante da teoria de Kohlberg, é que ela lida com o raciocínio moral e não com o comportamento real. Muitos indivíduos em diferentes estágios se comportam da mesma maneira, e indivíduos no mesmo estágio frequentemente se comportam de maneiras diferentes. Além disso, o contexto dos dilemas morais é importante. Por exemplo, um estudo de Einerson, descobriu que os adolescentes usavam níveis muito mais baixos de raciocínio moral quando os dilemas morais envolviam celebridades do que quando envolviam personagens inventados. Da mesma forma, a ligação entre o raciocínio moral das crianças e seu comportamento moral pode não ser clara. Por exemplo, um estudo de Murdock, Hale e Weber, descobriu que trapacear entre alunos do ensino médio foi afetado por muitos fatores, incluindo motivação na escola, sucesso acadêmico e relacionamento com professores, que pouco têm a ver com estágios de desenvolvimento moral. COMO AS CRIANÇAS SE DESENVOLVEM SOCIAL E EMOCIONALMENTE? Como outros aspectos do desenvolvimento, o desenvolvimento social e emocional depende das experiências fornecidas pelas escolas e famílias, mas também seguem padrões previsíveis. As seções a seguir discutem essas áreas críticas de desenvolvimento. DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL DURANTE OS ANOS PRÉ-ESCOLARES A vida social de uma criança evolui de maneiras relativamente previsíveis. A rede social cresce a partir de um relacionamento íntimo com pais ou outros tutores para incluir outros membros da família, adultos não aparentados e colegas. As interações sociais estendem-se da casa à vizinhança e da pré-escola ou outros arranjos de cuidado infantil à escola formal. A teoria de desenvolvimento pessoal e social de Erik Erikson, sugere que durante os anos pré-escolares, as crianças devem resolver a crise de personalidade de iniciativa versus culpa. A resolução bem-sucedida desse estágio pela criança resulta em um senso de iniciativa e ambição temperado por uma compreensão razoável do permissível. Os primeiros educadores podem encorajar esta resolução dando às crianças oportunidades de tomar iniciativas, ser desafiadas e ter sucesso. É importante, também, enfatizar a autorregulação. Durante os anos pré-escolares, os pares (outras crianças da mesma idade) começam a desempenhar um papel cada vez mais importante no desenvolvimento social e cognitivo das crianças. As relações das crianças com seus pares diferem de várias maneiras de suas interações com os adultos. As brincadeiras entre pares permitem que as crianças interajam com outros indivíduos cujo nível de desenvolvimento é semelhante ao seu. Quando os pares têm disputas entre si, eles devem fazer concessões e cooperar para resolvê-las se a brincadeira continuar; ao contrário das disputas entre adultos e crianças, em uma disputa entre pares ninguém pode alegar ter autoridade final. Os conflitos entre colegas também permitem que as crianças vejam que os outros têm pensamentos, sentimentos e pontos de vista diferentes dos seus. Os conflitos também aumentam a sensibilidade das crianças aos efeitos de seu comportamento nos outros. Desse modo, os relacionamentos com colegas ajudam as crianças pequenas a superar o egocentrismo que Piaget, descreveu como característico do pensamento pré-operacional, ajudando-as a ver que os outros têm perspectivas diferentes das suas. Os comportamentos pró-sociais são ações voluntárias para com os outros, como cuidar, compartilhar, confortar e cooperar. A pesquisa sobre as raízes do comportamento prosocial contribuiu para o nosso conhecimento sobre o desenvolvimento moral e social das crianças. Vários fatores parecem estar associados ao desenvolvimento de comportamentos pró-sociais, incluindo os seguintes: • Técnicas disciplinares parentais que enfatizam as consequências do comportamento da criança para os outros e que são aplicadas dentro de uma relação pais-filhos afetuosa e responsiva. • Contato com adultos que indicam que esperam a preocupação com os outros, que informam às crianças que soluções agressivas para os problemas são inaceitáveis e que fornecem alternativas aceitáveis. • Contato com adultos que atribuem características positivas às crianças quando elas se comportam bem (por exemplo, “que menino prestativo você é!”). A maioria das interações de uma criança em idade pré-escolar com seus pares ocorre durante a brincadeira. No entanto, o grau em que as brincadeiras envolvem outras crianças aumenta ao longo dos anos pré- escolares. Em um estudo clássico com crianças em idade pré-escolar, Mildred Parten, identificou quatro categorias de brincadeiras que refletem níveis crescentes de interação social e sofisticação. Brincadeiras solitárias são aquelas que ocorrem sozinhas, geralmente com brinquedos, e são independentes do que as outras crianças estão fazendo. Brincadeiras paralelas envolvem crianças envolvidas na mesma atividade lado a lado, mas com pouca interação ou influência mútua. A brincadeira associativa é muito parecida com a brincadeira paralela, mas com níveis aumentados de interação na forma de compartilhamento, tomada de turnos e interesse geral no que os outros estão fazendo. A brincadeira cooperativa ocorre quando as crianças se unem para atingir um objetivo comum, como construir um grande castelo com cada criança construindo uma parte da estrutura. As crianças se envolvem em tipos mais complexos de brincadeiras à medida que crescem, avançando de formas simples de brincadeiras paralelas para brincadeiras complexas de faz de conta em que as crianças cooperam no planejamento e na realização de atividades. Brincar é importante para as crianças porque exercita suas habilidades linguísticas, cognitivas e sociais e contribui para o desenvolvimento geral da personalidade. As crianças usam a mente quando brincam porque estão pensando e agindo como se fossem outra pessoa. Quando fazem essa transformação, as crianças estão dando um passo em direção ao pensamento abstrato, pois estão liberando seus pensamentos de um foco em objetos concretos. Brincar também está associado à criatividade, especialmente a capacidade de ser menos literal e mais flexível no pensamento. Brincar tem um papel importante nas teorias de desenvolvimento de Vygotsky, porque permite que as crianças explorem livremente formas de pensar e agir que estão acima de seu nível atual de funcionamento. Vygotsky, afirma que, na brincadeira, a criança está sempre acima de sua idade média, acima de seu comportamento diário; na brincadeira, é como se ela fosse uma mente mais alta do que ela mesma. As brincadeiras dos pré-escolares parecem ser influenciadas por uma variedade de fatores. Por exemplo, as interações dos pré-escolares com seus pares estão relacionadas à forma como eles interagem com seus pais. Crianças de três anos que têm relacionamentos afetuosos e estimulantes com os pais têm maior probabilidade de se envolver em brincadeiras sociais e resolver conflitos com os pares do que as crianças que têm relacionamentos menos seguros com os pais. As crianças também brincam melhor com colegas que são familiares e do mesmo sexo. Fornecer brinquedos adequados à idade e atividades lúdicas pode apoiar o desenvolvimento de habilidades lúdicas e de interação com os pares. DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL DURANTE OS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL No momento em que as crianças entram nos anos iniciais do Ensino Fundamental, elas desenvolveram habilidades para pensamentos,ações e influência social mais complexos. Até este ponto, as crianças eram basicamente egocêntricas e seu mundo era o lar, a família e, possivelmente, uma pré-escola ou creche. Os primeiros anos do ensino fundamental normalmente serão desenvolvidos trabalhando até o quarto estágio de Erikson, diligência versus inferioridade. Assumindo que a criança desenvolveu confiança durante a infância, autonomia durante os primeiros anos (primeira infância) e iniciativa durante os anos pré-escolares (segunda infância), as experiências dessa criança nos anos escolares iniciais (terceira infância) podem contribuir para seu senso de diligência e realização. Nessa fase, as crianças começam a tentar provar que estão “crescidas”; na verdade, isso é frequentemente descrito como o estágio “eu consigo fazer tudo sozinha”. O trabalho se torna possível. À medida que o poder de concentração das crianças aumenta, elas podem passar mais tempo em tarefas escolhidas e, muitas vezes, têm prazer em concluir projetos. Este estágio também inclui o crescimento da ação independente, a cooperação com grupos e o desempenho de formas socialmente aceitáveis com uma preocupação com o fair play ou jogo limpo. Tomados em conjunto, os fatores socioemocionais fazem uma diferença significativa no desempenho do aluno. Por exemplo, Miller, Connolly e Macguire, encontraram um impacto do ajustamento psicológico, ajustamento escolar e relações entre pares e familiares no desempenho de alunos com idades entre 7-11 anos. Da mesma forma, Banerjee, Weare e Farr, descobriram que os alunos que estiveram em um programa chamado Aspectos Sociais e Emocionais da Aprendizagem, alcançaram um desempenho melhor do que os alunos que estavam em aulas com menos foco em aspectos da aprendizagem socioemocional. O desenvolvimento pessoal e social para crianças dos primeiros anos do Ensino Fundamental também inclui as ideias importantes de autoconceito e autoestima. Esses aspectos do desenvolvimento infantil serão fortemente influenciados por experiências em casa, na escola e com os colegas. O autoconceito inclui a maneira como percebemos nossos pontos fortes, fracos, habilidades, atitudes e valores. Seu desenvolvimento começa no nascimento e é continuamente moldado pela experiência. A autoestima reflete como avaliamos nossas habilidades e aptidões. À medida que as crianças progridem na terceira infância, suas formas de pensar se tornam menos concretas e mais abstratas. Essa tendência também fica evidente no desenvolvimento de seus autoconceitos. Os pré- escolares pensam sobre si mesmos em termos de suas características físicas e materiais, incluindo tamanho, gênero e bens. Em contraste, nos primeiros anos do ensino fundamental, as crianças começam a se concentrar em qualidades internas mais abstratas, como inteligência e gentileza, ao se descreverem. Eles também podem fazer uma distinção entre seu “eu privado” e seu “eu público”. Isso se torna especialmente evidente porque eles dependem mais das intenções e motivos e menos do comportamento objetivo em suas explicações de suas próprias ações e das de outros. Durante a terceira infância, as crianças também começam a se avaliar em comparação com as outras. Uma criança em idade pré-escolar pode se descrever dizendo: "Gosto de futebol", ao passo que, vários anos depois, essa mesma garota provavelmente dirá: "Gosto de futebol mais do que a Sandra gosta". A tendência de usar informações de comparação social para avaliar a si mesmo parece corresponder a mudanças no desenvolvimento da autoestima acadêmica. Pré-escolares e crianças pequenas tendem a se avaliar muito positivamente, de maneiras que não têm relação com seu desempenho escolar ou outros fatores objetivos. No primeiro ou segundo ano escolar, no entanto, as crianças que estão tendo dificuldades na escola tendem a ter autoconceitos mais fracos. Isso dá início a uma espiral decrescente. Os alunos com fraco desempenho no ensino fundamental correm o risco de desenvolver autoconceitos acadêmicos insatisfatórios e, consequentemente, baixo desempenho no ensino fundamental e médio. Os anos iniciais do Ensino Fundamental dão a muitas crianças a primeira chance de se comparar com outras crianças e de trabalhar e brincar sob a orientação de adultos fora de sua família. Esses adultos devem proporcionar experiências que permitam às crianças ter sucesso, sentir-se bem consigo mesmas e manter seu entusiasmo e criatividade. A palavra-chave em relação ao desenvolvimento pessoal e social é aceitação. O fato é que as crianças diferem em suas habilidades; não importa o que os professores façam, e os alunos terão descoberto no final dos anos iniciais do Ensino Fundamental quem é mais capaz e quem é menos capaz. No entanto, você pode ter um impacto substancial na maneira como os alunos se sentem sobre essas diferenças e no valor que os alunos com baixo desempenho atribuem à aprendizagem, mesmo quando sabem que nunca serão as estrelas da classe. Promovendo o Desenvolvimento da Autoestima Nossa sociedade promove a ideia de que as pessoas, incluindo os alunos, têm o mesmo valor. Essa também é a premissa em uma sala de aula. Mas os alunos tendo o mesmo valor não significa necessariamente que eles sejam igualmente competentes. Alguns alunos são bons em leitura e outros em matemática; alguns se destacam nos esportes e outros na arte. Algumas atividades em sala de aula podem dar a certos alunos a impressão de que eles, como indivíduos, têm menos valor ou estima do que outros alunos. A competição inadequada ou grupos de habilidades inflexíveis dentro da sala de aula podem ensinar a lição errada aos alunos. Os professores devem evitar práticas que podem desestimular as crianças. No entanto, não está claro que melhorar a autoestima resulte em maior desempenho escolar. Na verdade, a pesquisa sugere mais fortemente que à medida que um aluno se torna mais competente nas tarefas escolares, sua autoestima também melhora, e não o contrário. Não é necessário distorcer a verdade e dizer que todos os alunos são igualmente bons em leitura ou matemática. Você pode, no entanto, reconhecer o progresso ao invés do nível de habilidade, focando seu elogio no esforço do aluno e na competência crescente. À medida que o aluno experimenta o sucesso na escola, um sentimento de autoestima conquistada resultará. A influência da família da criança, a principal força durante os primeiros anos da infância, continua à medida que os pais fornecem modelos em termos de atitudes e comportamentos. Além disso, os relacionamentos com irmãos e irmãs afetam os relacionamentos com os pares, e as rotinas de casa são reforçadas ou devem ser superadas na escola. No entanto, o grupo de pares assume importância acrescida. Falando sobre a entrada da criança no mundo fora da família, Gordon observa a importância dos pares: “Se o mundo todo é o palco que Shakespeare reivindicou, crianças e adolescentes estão tocando principalmente para um público de seus pares. Seus pares sentam-se nas primeiras filas e nos camarotes; pais e professores estão agora relegados às últimas filas e à varanda”. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os grupos de pares geralmente consistem em crianças do mesmo sexo que têm mais ou menos a mesma idade. Essa preferência pode surgir devido à variedade de habilidades e interesses entre as crianças pequenas. No entanto, no quinto ano escolar, os estudantes costumam formar grupos que incluem meninos e meninas. Qualquer que seja a composição dos grupos de pares, eles permitem que as crianças comparem suas habilidades e aptidões com as de outras pessoas. Membros de grupos de pares também ensinam uns aos outros sobre seus mundos diferentes. Por meio desse compartilhamento de atitudes e valores, as crianças aprendem como separar e formar os seus próprios valores e atitudes. Durante a terceira infância, asconcepções de amizade das crianças também amadurecem. A amizade é a relação social central entre pares durante a infância e passa por uma série de mudanças antes da idade adulta. A compreensão das crianças sobre a amizade muda ao longo dos anos. Entre as idades de três e sete anos, as crianças costumam ver os amigos como companheiros de brincadeira momentâneos. As crianças dessa idade podem chegar da escola exclamando: “Fiz um novo amigo hoje! A Jaqueline compartilhou sua boneca comigo” ou “O Roberto não é mais meu amigo porque ele não quer brincar de quebra-cabeça comigo”. Esses comentários revelam a visão da criança sobre a amizade como um relacionamento temporário baseado em uma determinada situação, e não em interesses ou crenças compartilhados. À medida que as crianças entram na terceira infância, as amizades se tornam mais estáveis e recíprocas. Nessa idade, os amigos são frequentemente descritos em termos de características pessoais (“minha amiga Maria é legal”), e as amizades são baseadas em apoio mútuo, carinho, lealdade e dar e receber mútuo. As amizades são importantes para as crianças por vários motivos. Durante os primeiros anos do Ensino Fundamental, os amigos são companheiros para se divertir e fazer coisas. Eles também servem como importantes recursos emocionais, proporcionando às crianças uma sensação de segurança em novas situações e quando surgem problemas familiares ou outros. Os amigos também são recursos cognitivos quando ensinam ou modelam habilidades intelectuais específicas. Normas sociais de conduta, habilidades de interação social e como resolver conflitos com sucesso também são aprendidas no contexto de amizades. Um dos aspectos importantes das relações entre pares na terceira infância é a aceitação pelos pares, ou status dentro do grupo de pares. Uma criança popular é aquela que é nomeada com mais frequência pelos colegas como uma pessoa de quem gosta e, com menos frequência, como alguém de quem não gosta. Em contraste, uma criança rejeitada é aquela que é nomeada com mais frequência pelos colegas como uma pessoa de quem não gosta e, com menos frequência, como alguém de quem gosta. Uma criança também pode ser classificada como negligenciada, não é frequentemente nomeada nem como de quem se gosta tampouco de quem não se gosta. Por outro lado, uma criança controversa é frequentemente citada como alguém de quem se gosta, mas também é frequentemente chamada como alguém de quem não se gosta. Crianças comuns são aquelas que são nomeadas como de quem se gosta e não se gosta com frequência moderada. Crianças que não são bem aceitas ou rejeitadas por seus colegas nos anos iniciais do Ensino Fundamental correm alto risco. Essas crianças são mais propensas a abandonar a escola, a se envolver em comportamento delinquente e a ter problemas emocionais e psicológicos na adolescência e na idade adulta do que seus colegas que são mais aceitos. Algumas crianças rejeitadas tendem a ser altamente agressivas; outras tendem a ser muito passivas e retraídas, e essas crianças podem ser vítimas de bullying. Crianças que são rejeitadas, sejam agressivas ou retraídas, parecem estar em maior risco de dificuldades. Muitas características parecem estar relacionadas à aceitação pelos pares, incluindo atratividade física e habilidades cognitivas. Crianças bem aceitas e populares tendem a ser cooperativas, prestativas e atenciosas e raramente são perturbadoras ou agressivas. Crianças que não são apreciadas por seus pares tendem a ser altamente agressivas e a não ter habilidades pró-sociais e de resolução de conflitos. Crianças negligenciadas e controversas exibem estilos de comportamento menos distintos e frequentemente mudam de status em curtos períodos. Como a aceitação dos pares é um forte preditor do ajuste atual e de longo prazo, é importante tentar melhorar as habilidades sociais das crianças. Isso pode ser feito modelando e elogiando habilidades pró- sociais, como habilidades de ajudar e de compartilhar. Desenvolvimento de habilidades socioemocionais Existem inúmeras abordagens para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais entre crianças e adolescentes. Muitas delas se concentram em particular na aprendizagem cooperativa, ensinando aos alunos estratégias para interações eficazes com os colegas e meios de resolver problemas interpessoais. Estudo de acompanhamento de longo prazo dessas abordagens descobriu que, na casa dos 20 anos, as pessoas que haviam participado destes programas no Ensino Médio tinham maior escolaridade e desempenho acadêmico do que aquelas que haviam pertencido a um grupo de controle. Outra abordagem para a construção de habilidades socioemocionais que apoia a motivação para realizações é ajudar a criar “mentalidades” entre os alunos que as convençam de que o esforço, não apenas a inteligência, permite que tenham sucesso. Vários estudos nos quais os professores se concentraram no esforço e na disponibilidade de sucesso para todos os que tentaram, encontraram efeitos positivos na motivação e aprendizagem dos alunos. Outra abordagem atraente enfatiza a construção da persistência dos alunos, ou "determinação", ensinando os alunos a se manterem em tarefas difíceis até que encontrem uma maneira de concluí-las e aprender o conteúdo. DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL DURANTE OS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO Na adolescência, as crianças passam por mudanças significativas em suas vidas sociais e emocionais. Em parte, como resultado das mudanças nas estruturas físicas e cognitivas, as crianças nos anos finais do ensino fundamental (do sexto ao nono ano escolar) procuram ser mais adultas. Essas crianças e pré-adolescentes querem que seus pais os tratem de maneira diferente, embora muitos pais não estejam dispostos a vê-los de novas maneiras. Elas também relatam que, embora acreditem que seus pais as amem, eles não acham que seus pais os compreendem. Tanto para meninos quanto para meninas, nos anos finais do ensino fundamental, a participação em grupos tende a promover sentimentos de autoestima. Não ser aceito pode trazer sérios problemas emocionais. Aqui está a principal causa da mudança no relacionamento do pré- adolescente com os pais. Não é que os pré-adolescentes se importem menos com os pais, mas, nessa fase do desenvolvimento, seus amigos são mais importantes do que nunca. Essa necessidade de aceitação por parte dos pares ajuda a explicar por que os pré-adolescentes costumam se vestir da mesma maneira. Os anos finais do Ensino Fundamental muitas vezes também trazem mudanças no relacionamento entre as crianças e seus professores. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, as crianças aceitam facilmente e dependem dos professores. Durante os anos finais do Ensino Fundamental, essa relação se torna mais complexa. Às vezes, os alunos contam aos professores informações pessoais que eles não contariam aos pais. Alguns pré-adolescentes até escolhem professores como modelos. Ao mesmo tempo, porém, alguns pré- adolescentes respondem aos professores de maneiras que nunca teriam considerado vários anos antes, e alguns desafiam os professores abertamente. Outros tornam-se profundamente alienados da escola, iniciando um padrão que pode levar à delinquência e ao abandono escolar. Um dos primeiros sinais do início da adolescência é o aparecimento de reflexividade, a tendência de pensar sobre o que está acontecendo em sua própria mente e de se estudar a si mesmo. Os adolescentes começam a se olhar mais de perto e a se definir de forma diferente. Eles começam a perceber que existem diferenças entre o que pensam e sentem e como se comportam. Usando o desenvolvimento de habilidades intelectuais que os capacitam a considerar possibilidades, os adolescentes tendem a ficar insatisfeitos consigo mesmos. Eles criticam suas características pessoais, comparam-se aos outros e tentam mudar amaneira como são. Os adolescentes também podem se perguntar se outras pessoas veem e pensam sobre o mundo da mesma maneira que eles. Eles se tornam mais conscientes de sua separação de outras pessoas e de sua singularidade. Eles aprendem que outras pessoas não podem saber totalmente o que pensam e sentem. As questões “quem sou eu?” e “o que realmente sou eu?” dominam o desenvolvimento da personalidade na adolescência. De acordo com Erikson, o palco está montado durante a adolescência para uma grande preocupação com a identidade. Com base no trabalho de Erikson, James Marcia, identificou, a partir de entrevistas com adolescentes, os quatro estados de identidade que refletem o grau em que os adolescentes assumem compromissos firmes com valores religiosos e políticos, bem como com uma ocupação futura. 1. Pré-fechamento. Indivíduos em estado de pré-fechamento nunca experimentaram uma crise de identidade. Em vez disso, eles estabeleceram prematuramente uma identidade com base nas escolhas de seus pais, e não nas suas próprias. Eles assumiram compromissos ocupacionais e ideológicos, mas esses compromissos refletem uma avaliação por parte dos pais ou figuras de autoridade mais do que um processo autônomo de autoavaliação. O pré-fechamento indica um tipo de "pseudoidentidade" que geralmente é muito fixa e rígida para servir de base para enfrentar as crises futuras da vida. 2. Difusão de identidade. Os adolescentes que vivenciam a difusão de identidade não encontraram uma direção ocupacional nem um compromisso ideológico de qualquer tipo, e fizeram pouco progresso nessa direção. Eles podem ter passado por uma crise de identidade, mas não foram capazes de resolvê-la. 3. Moratória. Os adolescentes em estado de moratória começaram a experimentar escolhas ocupacionais e ideológicas, mas ainda não assumiram compromissos definitivos com nenhuma delas. Esses indivíduos estão diretamente no meio de uma crise de identidade e atualmente examinam opções alternativas de vida. 4. Identidade estabelecida. A identidade estabelecida significa um estado de consolidação da identidade no qual os adolescentes tomaram suas próprias decisões claras e conscientes sobre ocupação e ideologia. O indivíduo está convencido de que essas decisões foram tomadas de forma autônoma e livre e que refletem sua verdadeira natureza e seus profundos compromissos internos. No final da adolescência (18 a 22 anos de idade), a maioria dos indivíduos desenvolveu um estado de identidade estabelecida. No entanto, o desenvolvimento emocional dos adolescentes parece estar ligado ao seu estado de identidade. Por exemplo, os níveis de ansiedade tendem a ser mais altos para adolescentes em moratória e mais baixos para aqueles em pré-fechamento. A autoestima também varia; adolescentes em identidade estabelecida e moratória relatam os níveis mais altos e aqueles em pré-fechamento e difusão de identidade relatam os níveis mais baixos. Em geral, os adolescentes precisam experimentar e permanecer flexíveis se quiserem encontrar sua própria identidade com sucesso. Ao experimentar maneiras de ser, depois testá-las e modificá-las, o adolescente pode escolher as características que são mais confortáveis e abandonar as outras. Para fazer isso, o adolescente deve ter autoconfiança para experimentar e declarar o término de um experimento, para variar o comportamento e para abandonar características que não se encaixam, mesmo que as características sejam apoiadas por outros. Ajuda ter um conjunto estável e receptivo de pais, professores e colegas que responderão positivamente à sua experimentação. Muitos são os programas destinados a melhorar o desenvolvimento socioemocional de crianças e adolescentes. Uma revisão de Durlak, descobriu que programas de aprendizagem socioemocional baseados na escola podem fazer uma diferença significativa nos resultados desse tipo de aprendizagem e, em alguns casos, também melhoram o desempenho acadêmico. Esses programas incluíam programas para o dia letivo e pós-escolar, e programas preventivos para todos os alunos, bem como para alunos que já estavam passando por dificuldades, cobrindo todas as idades e todos os tipos de escolas. O foco na aprendizagem socioemocional pode ter impactos duradouros nas crianças. Um estudo de Hawkins, descobriu que as crianças que receberam uma intervenção de com foco em gestão proativa de sala de aula, ensino interativo e aprendizagem cooperativa, bem como desenvolvimento de habilidades sociais da criança e treinamento dos pais, tiveram efeitos que ainda eram importantes 15 anos depois, quando os alunos estavam na casa dos 20 anos. O estudo citado relatou níveis mais elevados de realização educacional e econômica e níveis mais elevados de saúde mental, entre outros resultados. Outras intervenções de também mostraram efeitos positivos em uma variedade de aspectos socioemocionais e resultados acadêmicos. O autoconceito e a autoestima também mudam à medida que as crianças entram e passam pela adolescência. A mudança em direção a representações de si mais abstratas que iniciaram na terceira infância continua, e as autodescrições dos adolescentes frequentemente incluem traços pessoais (amigável, desagradável), emoções (deprimido, empolgado) e crenças pessoais (liberal, conservador). Além disso, o autoconceito torna-se mais diferenciado. O trabalho de Susan Harter, identificou oito aspectos distintos do autoconceito de adolescentes: competência escolar; competência profissional; competência atlética; aparência física; aceitação social; amizades íntimas; apelo romântico e conduta. A autoestima também sofre flutuações e mudanças durante a adolescência. A autoestima comumente está mais baixa quando as crianças entram nos anos finais do ensino fundamental e com o início da puberdade. Meninas que amadurecem precocemente tendem a sofrer as reduções mais dramáticas e duradouras em sua autoestima. Em geral, as meninas adolescentes têm autoestima mais baixa do que os meninos. A autoestima global ou os sentimentos de autoestima parecem ser influenciados mais fortemente pela aparência física e, em seguida, pela aceitação social por parte dos colegas. Melhorar a autoestima é principalmente uma questão de dar a todos os alunos a sensação de que são valorizados e bem-sucedidos. Também é essencial evitar baixas expectativas e comparações com outras pessoas que têm mais sucesso. À medida que as crianças entram na adolescência, ocorrem mudanças na natureza das relações sociais, as amizades. Em geral, a quantidade de tempo gasto com amigos aumenta dramaticamente; os adolescentes passam mais tempo com os pares do que com os familiares ou sozinhos. Adolescentes que têm amizades satisfatórias e harmoniosas também relatam níveis mais altos de autoestima, são menos solitários, têm habilidades sociais mais maduras e se saem melhor na escola do que adolescentes que não têm amizades de apoio. Durante a adolescência, a capacidade de compreensão mútua e o conhecimento de que os outros são indivíduos únicos com sentimentos próprios também contribuem para um aumento dramático na autorrevelação, intimidade e lealdade entre amigos. À medida que os recém-adolescentes se esforçam para estabelecer identidades pessoais independentes de seus pais, eles também procuram cada vez mais seus pares em busca de segurança e apoio social. Enquanto as crianças nos primeiros anos do ensino fundamental procuram os pais para esse apoio, no sexto ano escolar, amigos do mesmo sexo são percebidos como tão apoiadores quanto os pais, e no nono ano, eles são percebidos como a principal fonte de apoio social. Além de seus amigos íntimos, a maioria dos adolescentes também valoriza muito o grupo maior de colegas como fonte de ideias e valores, bem como companheirismo e entretenimento. A natureza das relações entre pares na adolescênciafoi caracterizada em termos de status social e grupos de pares. O status social, ou níveis de aceitação pelos pares, é estudado em relação aos mesmos grupos de status que são identificados na terceira infância. Assim como acontece com crianças nos primeiros anos do Ensino Fundamental, adolescentes populares e bem aceitos tendem a apresentar resolução positiva de conflitos e habilidades acadêmicas, comportamento prosocial e qualidades de liderança, enquanto crianças rejeitadas e mal aceitas tendem a exibir comportamento agressivo e antissocial e baixos níveis de desempenho acadêmico. Essas crianças socialmente rejeitadas parecem estar em grande risco de problemas acadêmicos e sociais posteriores. Wentzel, Barry e Caldwell, descobriram, no entanto, que crianças rejeitadas nos anos finais do Ensino Fundamental que eram socialmente submissas não exibiam os mesmos problemas relacionados à escola que suas contrapartes agressivas rejeitadas. Essas descobertas sugerem que a rejeição dos pares e o comportamento negativo juntos colocam essas crianças em risco. As relações entre pares na adolescência também foram estudadas em termos de “panelinhas” (grupos exclusivos ou subgrupos) e o grupo amplo com as quais os adolescentes se associam. Uma panelinha é um grupo bastante pequeno e íntimo definido pelos interesses, atividades e amigos comuns de seus membros. Em contraste, um grupo amplo é um grupo maior definido por sua reputação. A fidelidade a uma panelinha ou grupo amplo é comum durante a adolescência, mas não é necessariamente duradoura ou estável. Embora a pressão para se conformar possa ser muito poderosa dentro desses grupos, apenas adolescentes que são altamente motivados a pertencer parecem ser influenciados por essas normas de maneiras significativas. Panelinhas de amizades. Indivíduos que se dão bem e que compartilham atributos semelhantes tendem a se aglutinar em pequenos grupos informais de colegas com os quais interagem com frequência e que conhecem bem. Esses grupos são conhecidos como panelinhas de amizade. Eles incluem cerca de três a dez indivíduos, muitas vezes, com diferentes status hierárquicos (por exemplo, líderes, membros periféricos). Por sua vez, cada panelinha tem um status específico no grupo de pares mais amplo. No início da adolescência, as panelinhas são relativamente exclusivas e, na maioria das vezes, segregadas por gênero. Elas são um importante contexto de socialização até o final da adolescência, quando se tornam mais inclusivos, sem segregação de gênero e mais abertas, e, então, eventualmente se dissolvem, abrindo espaço para relacionamentos que são mais adaptáveis às demandas sociais dos adultos emergentes. Uma distinção importante entre a dinâmica diádica ou de subgrupos e a dinâmica de grupo amplo é a quantidade de controle que os jovens têm sobre esses fenômenos. Amizades e experiências em pequenos grupos surgem de interações interpessoais que permitem um controle mais direto. Em redes maiores, as percepções, opiniões e sentimentos que os indivíduos têm sobre outros membros podem ser baseados em informações obtidas indiretamente, em vez de por meio de interações diretas. Pode ser difícil para os alunos mudar seu status social ou reputação, o que pode ser angustiante se alguém acreditar que as percepções dos outros sobre si mesmo são negativas ou se essas percepções forem a base para interações indesejadas, como o bullying. Quanto ao desenvolvimento emocional, a maioria dos adolescentes experimenta conflitos emocionais em algum momento. Isso não é surpreendente; eles estão passando por mudanças rápidas e dramáticas na imagem corporal, nos papéis esperados e nos relacionamentos com os pares. As transições dos anos iniciais para anos finais do Ensino Fundamental ou deste para o Ensino Médio também podem ser bastante estressantes. Para a maioria dos adolescentes, o sofrimento emocional é temporário e é administrado com sucesso, mas, para alguns, o estresse leva à delinquência, abuso de drogas ou tentativas de suicídio. A saúde emocional também é um fator chave para o sucesso acadêmico na escola. Problemas emocionais relacionados ao desenvolvimento físico, cognitivo e social de crianças em idade escolar são comuns. Embora os pré-adolescentes sejam geralmente felizes e otimistas, eles também têm muitos medos, como medo de não serem aceitos em um grupo de pares, de não ter um melhor amigo, de serem punidos pelos pais, de seus pais de divorciarem ou de não se darem bem em escola. Outras emoções dessa faixa etária incluem raiva (e medo de não ser capaz de controlá-la), culpa, frustração e ciúme. Os pré-adolescentes precisam de ajuda para perceber que essas emoções e medos são uma parte natural do crescimento. Os adultos devem deixá-los falar sobre essas emoções e medos, mesmo que pareçam irrealistas para um adulto. Sentimento de culpa, muitas vezes, surge quando há um conflito entre as ações das crianças, com base nos valores do grupo de pares, e os valores de seus pais. A raiva é uma emoção comum nessa idade, e é exibida com mais intensidade do que muitas outras emoções. Assim como costumam dizer aos pré-adolescentes que não devem ter medo, os pais costumam dizer-lhes que não devem ficar com raiva. Infelizmente, essa é uma expectativa irreal, mesmo para adultos. Outro ponto importante a ressaltar é o que comumente nos referimos como “problemas da adolescência”. A adolescência pode ser um período de grande risco para muitos, porque os adolescentes agora são capazes, pela primeira vez, de se envolver em comportamentos ou tomar decisões que podem ter consequências negativas de longo prazo. Entre estes problemas, comuns ao período da adolescência, há os transtornos emocionais. Os professores dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio devem ser sensíveis ao estresse que os adolescentes enfrentam e devem perceber que os transtornos emocionais são comuns. Eles devem compreender que o comportamento deprimido, desesperançado ou inexplicavelmente zangado pode ser uma pista de que o adolescente precisa de ajuda e devem tentar colocar esses alunos em contato com orientadores escolares ou outros adultos psicologicamente treinados. Existem várias abordagens comprovadas para melhorar o ajuste emocional entre adolescentes. O bullying ocorre em todos os níveis de idade e se manifesta como provocações, assédios e agressões contra pares mais fracos ou sem amigos, mas podem se tornar particularmente graves quando as crianças entram no início da adolescência. Na verdade, a quantidade de bullying que os alunos pensam que existe em sua escola é um indicador-chave de evasão e abandono escolar. O PROFESSOR INTENCIONAL Levando em consideração o desenvolvimento social, moral e emocional no ensino intencional Os professores intencionais estão cientes das características de desenvolvimento esperadas dos alunos a quem ensinam e são sensíveis à diversidade entre seus alunos. • Eles estão cientes das principais tarefas de desenvolvimento que seus alunos estão tentando realizar e os ajudam a resolver com sucesso essas tarefas. • Eles estão cientes dos níveis de desenvolvimento moral de seus alunos e dão aos alunos oportunidades de discutir e lidar com dilemas morais apropriados para suas idades. • Eles trabalham para criar práticas de sala de aula que apoiem o desenvolvimento socioemocional positivo e minimizem comparações sociais desnecessárias ou competição prejudicial à saúde. • Eles ajudam seus alunos a desenvolver amizades positivas, dando-lhes muitas oportunidades de trabalhar em grupos produtivos e reforçando um comportamento amigável e altruísta. • Eles encontram maneiras de os pais se envolverem na escola para vincular os esforços entre a casa e a escola para construir comportamentos socioemocionais positivos entre todas as crianças. • Eles observam o bullying e outrasinterações negativas entre os alunos e intervêm para estabelecer normas com toda a turma contra esse comportamento. A evasão e abandono escolar podem colocar os adolescentes em risco considerável, uma vez que a maioria dos evadidos acaba ficando sujeito a ocupações de baixo nível, desemprego e pobreza. Claro, os fatores que levam ao abandono começam cedo na carreira escolar dos alunos; fracasso escolar, retenção (ficar para trás), baixa frequência e sintomas de depressão são indicadores de abandono escolar. Silva Filho e Araújo, afirmam que “o Brasil tem a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países com maior IDH” e que “a ‘evasão’ pode ser considerada um ‘ato solitário’ e pode denotar o próprio fracasso das relações sociais; não tem uma origem definida e por isso não terá um fim por si só”. As taxas de evasão entre alunos em risco podem ser bastante reduzidas por programas que dão a esses alunos atenção individual, papéis de alto status e assistência aos déficits acadêmicos. Os alunos adolescentes de escolas menores e com foco acadêmico tendem a desistir em taxas mais baixas do que outros alunos e programas projetados para envolver os alunos em atividades pró-sociais podem melhorar as taxas de graduação. O uso de substâncias psicoativas continua disseminado entre os adolescentes. Malta, relata os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares. Apontou que o álcool é a substância psicoativa mais frequentemente usada por cerca de um quarto dos adolescentes e principalmente entre as meninas. Por outro lado, um leve declínio foi observado nesse indicador desde 2009. O tabagismo foi descrito por cerca de 5% dos escolares, enquanto a experimentação de drogas ilícitas alguma vez na vida foi o dobro. Não foram observadas mudanças significativas para o uso dessas duas substâncias no período, nem diferenças por sexo, em 2015. [...] A análise multivariada apontou como protetor o contexto familiar: morar com os pais, supervisão familiar e fazer refeições frequentes com os pais (cinco vezes ou mais). Ao contrário, faltar às aulas sem consentimento aumentou a chance de uso de substâncias. A maior chance do uso de substâncias entre os estudantes esteve associada ao trabalho, idade mais avançada e cor branca. Adicionalmente, escolares que relataram solidão e insônia também usam mais substâncias. Não ter amigos foi associado ao uso de tabaco e experimentação de drogas, enquanto o uso de álcool esteve associado a ter mais amigos. Não é de surpreender que o abuso de álcool e outras drogas esteja fortemente relacionado ao fracasso escolar, mas o sucesso social e acadêmico na escola reduz muito a probabilidade do abuso destas substâncias. Um dos problemas mais perigosos da adolescência é o início de uma grave delinquência. O problema é muito mais comum entre os homens do que entre as mulheres. Os delinquentes são geralmente pessoas com baixo desempenho a quem foram dadas poucas razões para acreditar que podem ter sucesso seguindo o caminho traçado para eles pela escola. A delinquência na adolescência é predominantemente um fenômeno de grupo; a maioria dos atos delinquentes é praticada em grupos ou com o apoio ativo de um subgrupo delinquente, Por esse motivo, programas bem-sucedidos de prevenção da delinquência e violência entre adolescentes geralmente envolvem intervenções em grupo. O risco de gravidez é um problema sério entre todos os grupos de adolescentes do sexo feminino, mas particularmente entre aquelas de famílias de baixa renda. Assim como muitos adolescentes se envolvem em comportamentos delinquentes para tentar estabelecer sua independência do controle adulto, as adolescentes frequentemente praticam sexo e, em muitos casos, têm filhos, para forçar o mundo a vê-las como adultas. Como a gravidez precoce torna difícil para as adolescentes continuarem seus estudos ou conseguirem empregos, é a principal causa da continuação do ciclo de pobreza em que nasceram muitas mães adolescentes. Claro, o outro lado da gravidez adolescente é a paternidade adolescente. Os pais adolescentes também sofrem de problemas comportamentais e acadêmicos na escola. Existem muitos programas destinados a atrasar a relação sexual e reduzir a gravidez. Pesquisas sobre esses programas descobriram que os programas de educação sexual que enfatizam a abstinência e o uso de preservativos e outros métodos de controle de natalidade são mais eficazes do que aqueles que enfatizam apenas a abstinência. Somando-se aos riscos tradicionais da atividade sexual precoce está o aumento de infecções sexualmente transmissíveis, entre elas, o vírus da imunodeficiência humana (HIV). A AIDS, causada pelo HIV, ainda é rara durante a adolescência, no entanto, como a doença pode levar anos para aparecer após o contágio com o HIV, o sexo desprotegido, o compartilhamento de seringas e outros comportamentos de alto risco entre adolescentes contribuem para as altas taxas de AIDS entre jovens adultos. O surgimento da AIDS tornou a necessidade de educação sexual e precoce uma questão crítica. No entanto, o conhecimento por si só não é suficiente; e adolescentes sexualmente ativos devem ter acesso a preservativos e incentivos realistas e psicologicamente sofisticados para usá-los. É durante a adolescência que as pessoas começam a explorar sua diversidade sexual em questões como expressão de gênero, identidade de gênero e orientação sexual. FIGURA 7 – MANDALA DA DIVERSIDADE SEXUAL Adolescentes que não se identificam como heterossexuais, cisgêneros e binários, em nossa sociedade atual, podem vivenciar grande estresse e dificuldades com seus pais. Eles podem ter problemas especialmente com seus pares, que podem ter normas rígidas heteronormativas e podem sofrer insultos, rejeição ou até mesmo comportamento violento. Os professores precisam estar preparados, tanto no aspecto de compreensão da diversidade sexual, assim como atuação efetiva na educação sexual na escola para que o ambiente seja de fato inclusivo, acolhedor e respeitoso a todos. TEORIA EM PRÁTICA Prevenção dos problemas da adolescência Nem todos os adolescentes enfrentam problemas graves, mas, entre aqueles que estão em risco, é muito melhor prevenir os problemas antes que eles apareçam. Muitos programas têm demonstrado sucesso com uma ampla gama de comportamentos problemáticos ao incorporar estratégias preventivas ao currículo regular. Por exemplo, vários programas reduziram comportamentos de alto risco ao introduzir “treinamento de habilidades para a vida”, com foco em habilidades como tomar boas decisões e resistir à pressão dos pares, outros se concentram na construção de normas de cooperação, altruísmo e responsabilidade social. Envolver agências comunitárias para envolver crianças em comportamentos pró-sociais é outra prática frequentemente recomendada. Modelos abrangentes de reforma de toda a escola podem ter um impacto sobre comportamentos de alto risco, especialmente evasão e abandono escolar. LEITURA COMPLEMENTAR PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: HOJE E AMANHÃ José Fernando Bitencourt Lomonaco Psicologia e Educação: Hoje Nosso século testemunhou o aparecimento de três grandes conjuntos de teorias psicológicas que refletem a maneira pela qual os psicólogos veem o papel da escola no desenvolvimento psicológico das crianças. Um primeiro conjunto vê a escola como um local privilegiado para a aplicação de conhecimentos derivados de estudos e pesquisas realizados fora do âmbito escolar. Inserem-se neste grupo, a meu ver, as concepções behavioristas e piagetianas. De acordo com essas concepções, embora o desenvolvimento possa ocorrer fora da escola, pois o fundamental não é o local, mas os princípios e sua correta aplicação, a escola, face a sua organização que permite reunir muitas e diferentes crianças num mesmo espaço, possibilita avaliar aaplicação de princípios psicológicos a um grande número de sujeitos. Uma segunda maneira de encarar a relação entre a Psicologia e a Educação, acredita que a escola promove o desenvolvimento psicológico. Ou seja, o trabalho realizado dentro das salas de aulas no processo ensino-aprendizagem, favorece o desenvolvimento psicológico em vários aspectos sociais, afetivos e cognitivos. Um exemplo desse tipo de concepção é, a meu ver, a teoria sócio-histórica de Vigotski, que salienta a importância do ensino escolar para o desenvolvimento de conceitos científicos. Finalmente, a terceira maneira de ver a relação Psicologia- Educação, defende que a escola não é um elemento decisivo para o desenvolvimento psicológico, podendo até mesmo atrapalhá-lo. Inserem-se claramente dentro desta concepção as críticas de Rogers que ele denomina de escola tradicional e algumas vertentes da psicanálise. Esta maneira de encarar a atuação da psicologia dentro das escolas, em nossos dias, refletiu-se no aparecimento de três grupos de teorias psicológicas aplicadas ao ensino, quais sejam: o behaviorismo, o cognitivismo e o humanismo. Vejamos, brevemente, algumas de suas características e implicações. A abordagem behaviorista, fiel a suas origens históricas, enfatiza grandemente o papel do ambiente no desenvolvimento dos organismos, limitando-se ao estudo dos comportamentos manifestos e mensuráveis, descartando à consideração de eventos internos que ocorrem na mente do indivíduo e atuariam como mediadores entre os estímulos e as respostas. Não há dúvida de que as implicações desta teoria para o ensino escolar foram muito grandes e diretas. Ela estimulou o aparecimento de uma tecnologia educacional que desenvolveu um conjunto variado de instrumentos para auxiliar o professor a resolver os múltiplos problemas de sala de aula. Como exemplos ilustrativos temos a Instrução Programada e o Sistema Personalizado de Instrução, que buscaram dar ao professor instrumentos que garantissem a aprendizagem efetiva de informações por todos os alunos, respeitando-se as diferenças individuais refletidas no ritmo de aprendizagem de cada aluno. Propiciou também o desenvolvimento de variadas técnicas de controle do comportamento, tal como o Sistema de Vales, que visam dar ao professor recursos para enfrentar problemas comuns de sala de aula – a indisciplina, a falta de motivação dos alunos, a ausência de hábitos desejáveis de higiene, limpeza, pontualidade etc. Contrapondo-se a formulações extremamente vagas e imprecisas de objetivos educacionais características dos manuais escolares, esta tecnologia exige que o psicólogo e/ou professor explicitem claramente os objetivos a serem atingidos, os comportamentos a serem modificados e a maneira pela qual os resultados serão avaliados. Em função da grande influência e do prestígio que o comportamentalismo desfrutou na psicologia mundial e brasileira alguns anos passados, tais instrumentos difundiram-se rapidamente em nosso meio. Livros-texto sob forma de Instrução Programada e manuais para professores eram abundantes, cursos de difusão eram ministrados a professores, artigos em revistas especializadas e de divulgação relatavam a aplicação de técnicas comportamentais em sala de aula. Fazendo- se hoje um retrospecto, caberia perguntar o porquê do relativo esquecimento de recursos e procedimentos outrora tão prestigiados. A concepção cognitivista enfatiza os processos internos através dos quais o mundo exterior é representado dentro do organismo. Contrariamente à abordagem compol1amentalista, enfatiza a importância dos eventos organísmicos que intervém entre o estímulo e a resposta, pois, como salientam Spinillo e Roazzi. A resposta dada a determinada situação-estímulo... não depende apenas do estímulo apresentado, mas de processos mentais internos presentes na mente de um indivíduo em um momento determinado do seu desenvolvimento e em função de elaborações anteriores que tenham sido efetua das. Em termos de implicações para a educação, poderemos dizer que a concepção cognitiva foi tão ou até mais fértil do que a comportamentalista. É inegável a esmagadora influência que as ideias de Piaget, tiveram e ainda têm como teoria explicativa dos vários aspectos do desenvolvimento infantil. Algumas pesquisas têm demonstrado que os professores, quando indagados a respeito de suas predileções teóricas, apontam predominantemente a concepção piagetiana como a que eles consideram mais adequada para orientar sua ação pedagógica (embora na prática, suas ações não pareçam ser orientadas por ela). Duas outras concepções, advindas da psicologia norte-americana, influenciaram também, ainda que menos intensamente que a teoria piagetiana, a educação escolar. Refiro-me às ideias de Jerome Bruner, e David Ausubel, sobre o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem em sala de aula. Em ambos os casos, é patente a preocupação em derivar do conhecimento psicológico princípios orientadores da ação do professor. Curiosamente, os princípios derivados não levaram esses autores a percorrer os mesmos caminhos e a fazer as mesmas recomendações. Se, de um lado, Bruner enfatiza a aprendizagem por descoberta, levando o aluno a indutivamente formular princípios e regras gerais, de outro lado, Ausubel, defende a transmissão do conhecimento caminhando do geral para o particular, das definições para os exemplos, à moda de uma boa aula expositiva. Atualmente, esta abordagem vem se interessando grandemente pelos processos através dos quais a informação é transformada, armazenada, recuperada e aplicada. Parte substancial dos psicólogos cognitivos vem se dedicando desde a década de 50, a procurar entender os processos envolvidos no processamento da informação. Em função de tais estudos, têm sido postulados mecanismos responsáveis pela codificação, armazenamento e recuperação da informação. Os estudos são numerosos e sofisticados, porém, as conclusões de tais pesquisas, a meu ver, ainda não se concretizaram em princípios aplicáveis à escola. Finalmente, a orientação humanística preocupa-se fundamentalmente com os aspectos afetivos da aprendizagem. Embora afirmando uma preocupação com o ser humano como um todo, sem privilegiar o intelecto, na verdade a ênfase recai sobre aspectos não cognitivos. O ser humano é visto como possuindo um potencial a ser desenvolvido, com uma natureza que tende naturalmente para a autorrealização desde que possa desenvolver-se em ambiente não punitivo e não restritivo. De maneira geral tais concepções, dentre as quais a aprendizagem centrada no aluno postulada por Rogers, é o exemplo mais conspícuo, vê a escola tradicional como um ambiente que impede a autorrealização do aluno e o seu crescimento pessoal. Na verdade, a abordagem humanista não deu origem a qualquer teoria de aprendizagem. No máximo, e com alguma boa vontade, a concepção rogeriana, poderia ser vista mais como uma teoria de personalidade do aluno que aprende, com ênfase especial à interação professor-aluno. O que esse tipo de abordagem produziu foram propostas, geralmente rotuladas como utópicas e/ou revolucionárias, de uma total reformulação na instituição escolar subvertendo completamente os papéis de professores e alunos. Até onde chega meu conhecimento, não tenho notícias de escolas que tenham aplicado integralmente a proposta rogeriana, com exceção da conhecidíssima Summerhill, que, na verdade, é anterior ao próprio Rogers. Como se pode depreender desta breve exposição, tais orientações tenderam naturalmente a concentrar sua atenção preferencial em um dos três aspectos que fazem palie da natureza humana: a ação, a cognição e a emoção. Nisto reside, a meu ver, suas qualidades e suas limitações. Qualidades na medida em que isto conduziu naturalmente a uma análise aprofundada de cada uma das facetas privilegiadas pelas concepções em voga - o comportamento ou desempenho pelo behaviorismo,a cognição pelo cognitivismo e os aspectos afetivos pelas abordagens humanistas. Limitação porque, embora sem negar frontalmente a importância dos outros dois fatores, na prática, concentraram sua preocupação em apenas um deles. O resultado, como não poderia deixar de ser, é um retrato imperfeito e incompleto do aluno que aprende. Necessárias se fazem abordagens mais abrangedoras que, de maneira integrada e equilibrada, levem em conta esses três grupos interpenetrantes de fatores envolvidos na aprendizagem escolar. No que toca especialmente à Psicologia Escolar, estes últimos anos testemunharam uma acesa discussão entre visões conflitantes do papel do psicólogo nas escolas. Esta discussão dividiu a comunidade entre aqueles que esperam do psicólogo uma atuação de caráter mais técnico nas escolas, geralmente de avaliador das capacidades dos alunos, e aqueles mais atentos aos seus determinantes sociais e institucionais. Como uma decorrência do trabalho daqueles que advogam uma atuação de caráter mais técnico, temos os controvertidos laudos psicológicos que tanta celeuma têm provocado entre psicólogos e educadores pelas consequências nefastas para a vida futura dos alunos. Correspondendo frequentemente aquilo que as escolas esperam dos psicólogos, muitos profissionais têm se esmerado no trabalho de avaliação intelectual através de uma variedade de testes, nem sempre conscientes da imprecisão e da relatividade das medidas psicológicas, assim como do próprio conceito de inteligência. Ainda que o objetivo de tais esforços pareça, pelo menos à primeira vista meritórios, qual seja, o de colocar alunos em classes especiais nas quais eles tenham melhores condições de aprendizagem, na vida real o que frequentemente ocorre é a estigmatização de alunos para todo o restante de sua vida escolar. Contrapondo-se a esta visão tecnicista, uma outra vertente da Psicologia Escolar defende de maneira enfática que o psicólogo só pode entender realmente a escola e o aluno se estiver atento à dinâmica da instituição. Neste sentido, seu trabalho é muito menos o de um aplicador de testes e muito mais o de alguém voltado ao trabalho com professores, procurando entender e explicitar as expectativas dos mesmos em relação a alunos de classes economicamente desfavorecidas, analisando a forma pela qual a instituição se apropria da informação que lhe é trazida, discutindo com o corpo docente as múltiplas formas de queixa escolar, procurando facilitar o trabalho em equipes multidisciplinares, enfim, atuando muito mais junto ao professor do que no trabalho de avaliação dos alunos. Essas duas formas de atuação e de concepção do papel do psicólogo escolar coexistem, às vezes em franco antagonismo. Conciliar ambas as orientações, reduzindo o antagonismo latente, é tarefa urgente nesta área de estudo e aplicação do conhecimento psicológico. São essas, no meu entender, algumas interfaces entre a Psicologia e a Educação que podem ser atualmente identificadas nas escolas. Mas, e o amanhã? Que tendências se delineiam presentemente e quais os seus reflexos sobre a Psicologia Escolar, Educacional e da Aprendizagem no início do próximo século? RESUMO DO TÓPICO Neste tópico, você aprendeu que: Erikson propôs oito estágios de desenvolvimento psicossocial, cada um dominado por uma crise psicossocial particular precipitada pela interação com o ambiente social. No Estágio I de Erikson, confiança versus desconfiança, o objetivo é desenvolver um senso de confiança por meio da interação com os cuidadores. No Estágio II de Erikson, autonomia versus dúvida ou vergonha (18 meses a 3 anos), as crianças têm um desejo duplo de apego e deixar-se ir. No Estágio III de Erikson, iniciativa versus culpa (3 a 6 anos de idade), as crianças elaboram seu senso de identidade por meio da exploração do ambiente. As crianças entram na escola durante o Estágio IV, diligência versus inferioridade (6 a 12 anos de idade), quando o sucesso ou fracasso acadêmico é central. No Estágio V de Erikson, identidade versus confusão de identidade/papel (12 a 18 anos), os adolescentes se voltam cada vez mais para seu grupo de pares e começam suas buscas por parceiros e carreiras. A idade adulta traz o Estágio VI (intimidade versus isolamento), o Estágio VII (generatividade versus estagnação/autoabsorção) e o Estágio VIII de Erikson (integridade versus desespero). De acordo com Piaget, as crianças desenvolvem moralidade heterônoma (obediência à autoridade por meio do realismo moral) por volta dos seis anos de idade e, posteriormente, avançam para a moralidade autônoma (moralidade racional baseada em princípios morais). Os estágios de raciocínio moral de Kohlberg refletem as respostas das crianças aos dilemas morais. Nos estágios 1 e 2 (o nível pré-convencional) de Kohlberg, as crianças obedecem às regras estabelecidas por outros enquanto maximizam o interesse próprio. Nas fases 3 e 4 (o nível convencional) de Kohlberg, o indivíduo adota regras, acredita na lei e na ordem e busca a aprovação dos outros. Nos estágios 5 e 6 (o nível pós-convencional) de Kohlberg, as pessoas definem seus próprios valores em termos de princípios éticos abstratos que escolheram seguir. O desenvolvimento socioemocional na primeira e segunda infância pode ser parcialmente descrito em termos do estágio psicossocial de iniciativa de Erikson versus culpa. Os relacionamentos entre pares ajudam as crianças a superar o egocentrismo que Piaget descreveu como característico do pensamento pré-operacional. O comportamento prosocial inclui cuidar, compartilhar, confortar e cooperar. Parten identificou quatro categorias de brincadeiras que refletem níveis crescentes de interação social e sofisticação: solitária, paralela, associativa e cooperativa. Brincar aprimora as habilidades linguísticas, cognitivas, sociais e criativas das crianças. Na terceira infância, as crianças podem ser vistas como resolvendo a crise psicossocial que Erikson descreveu como diligência versus inferioridade. A escola se torna uma grande influência no desenvolvimento na terceira infância, um lugar onde a criança desenvolve um eu público, desenvolve habilidades sociais e estabelece autoestima com base em competências acadêmicas e não acadêmicas. Na pré-adolescência, entre as idades de 9 e 12 anos, a conformidade nas relações de pares, grupos de pares e desafios à autoridade adulta tornam-se mais importantes. Os adolescentes podem ser vistos como resolvendo a crise psicossocial de identidade versus confusão de papéis de Erikson. Os adolescentes prestam atenção em como as outras pessoas os veem, pesquisam o passado, experimentam papéis, agem de acordo com sentimentos e crenças e, gradualmente, buscam maior autonomia e intimidade nas relações com os pares. A exclusão ocorre quando o indivíduo escolhe um papel prematuramente, mas, no final da adolescência, a maioria dos indivíduos já desenvolveu um estado de identidade estabelecida. Muitos fatores, como abandono escolar, abuso de substâncias e IST, colocam os adolescentes em risco.