Prévia do material em texto
Sistema Complemento Giovanna Lopes O Sistema Complemento é composto por pequenas proteínas. Essas proteínas identificam alguns padrões e se ligam a eles. A função dessas proteínas é de alguma forma eliminar esses padrões moleculares de patógenos: elas podem opsonizar e direcionar pra fagocitose, ou podem fazer furinhos na membrana do patógeno, ocasionando a lise deste. Faz parte do Sistema Imune Humoral, mas é Inata porque não tem memória e não é específica. Essas proteínas são ativadas em cascata = uma proteína é ativada e ativa a outra, que ativa a outra, sucessivamente... Pessoas com hepatopatia tem essas proteínas do Sistema Complemento com produção reduzida. Jules Bordet pegava um soro (parte amarela do sangue, contém anticorpos) e colocava junto com as bactérias (em rosinha na imagem). Primeiramente, ele infectava o coelho com a bactéria, depois coletava o soro sanguíneo do coelho e misturava com as bactérias no meio de cultura do laboratório. Ele observou que a bactéria se enchia de furinhos = lise da bactéria. Bordet sabia que quando os anticorpos eram aquecidos, não se perdia a função totalmente = TERMOESTÁVEIS. Bordet aumentou a temperatura para 56ºC e percebeu que não havia mais a lise. Bordet pensou que isso era causado por causa daa inativação dos anticorpos. Bordet testou esses anticorpos de outra forma, fazendo uma reação de aglutinação junto com as bactérias. Ele observou que formava os gruminhos, mas que não havia mais a lise da bactéria. Bordet percebeu que quando aquecia os anticorpos, eles continuavam com sua função (se ligar), assim concluiu que deve existir alguma coisa que complementa a ação do anticorpo para causar a lise das bactérias. Essa “coisa”, quando a temperatura aumenta, vira TERMOLÁBIL (perde sua função). Isso ficou conhecido como Sistema Complemento, porque as proteínas complementam a função dos anticorpos, pois sozinhos não são capazes de causar lise na bactéria. O Sistema Complemento possui 3 vias de ativação. - VIA CLÁSSICA = foi a primeira via a ser descoberta através do experimento de Jules Bordet. Essa via é ativada por anticorpos. - VIA ALTERNATIVA = é ativada através da ligação direta do Sistema Complemento, com a proteína C3 (se cliva e já se liga no microrganismo). - VIA LECTINAS = é o nome do ligante. É muito parecida com a via clássica, mas ao invés de anticorpos será ativada pelas lectinas (que se liga na manose – açúcar presente na membrana da bactéria). Em termos de evolução, essa via foi a 1ª a existir. Quando o Sistema Complemento é ativado por alguma das 3 vias, inicia-se uma cascata. Daí, surgem algumas funções: inflamação (C3a e C5a), opsonização e direcionamento para a fagocitose (C3b)... O final dessa ativação é formar o poro na membrana = MAC. São feitos vários furinhos e cada um deles são chamados de MAC = lise do alvo (bactéria, fungo, próprio tecido...) 1ª via a ser descrita por Jules Bordet e começa com anticorpos. Só é ativada por 2 tipos de anticorpos: 1 IgM ou 2 IgG (só 1 IgG não é suficiente). A proteína C1 se liga à 1 anticorpo IgM ou se liga à 2 anticorpos IgG. A proteína C1 é um heterodímero, e composto por 6 moléculas: 2C1q, 2C1s e 2C1r. Quem possui mais avidez é o IgM, depois são os subtipos de IgG (3 > 1 > 2). O anticorpo se liga a padrões moleculares do microrganismo (geralmente açúcares). No exemplo, há 2 IgG que ativam a proteína C1. C1 é formado por C1q, C1r e C1s. Uma vez que C1 se liga a esses 2 anticorpos, o C1s (última molécula de C1) cliva C4 (de C1 pula pra C4 mesmo). Toda vez é clivado em 2 pedaços = o menor é chamado de A e o maior é chamado de B. O C4a (menor) vai ser liberado pra corrente sanguínea. O C4b vai ficar ligado no microrganismo. Em seguida, C1s vai clivar C2 (e já tinha clivado o C4 antes) em C2a (menor) e C2b (maior). O C2b vai ser liberado pra corrente sanguínea. O C2a fica ligado no microrganismo. O complexo C4b C2a se chama C3 convertase = enzima que potencializa a clivagem de C3. Vai clivar muita C3, qualquer C3 que passar do lado dele, ele vai clivar. C3 convertase cliva C3 em C3a e C3b. O C3b é uma opsonina, se ele se ligar sozinho à membrana do microrganismo, este já pode ser fagocitado. O C3a é liberado pra corrente sanguínea. O C3a tem uma função importante = ele faz uma anafilotoxina (causa inflamação e reage com outras células, ativando-as) e possui fator quimiotático (atrai células para o local onde está ocorrendo essa ativação e sua liberação). Uma parte de C3 vira opsonina e a outra parte se liga à C3 convertase, virando a C5 convertase = cliva C5. C5a tem a mesma função de C3a (é liberado pro sangue, tem anafilotoxina e fator quimiotático). C5b vai dar continuidade à cascata do Sistema Complemento. Nas 3 vias paramos em C5b, porque a partir deste é chamado de Via Comum = igual pra todas as vias. Revisando: a via é iniciada com 2 anticorpos IgG, a primeira proteína a ser clivada por C1s é C4, com C4a sendo liberada pro sangue e C4b fica fixo na membrana do microrganismo. Depois, C1s cliva C2, com C2a sendo liberado e C2b fica fixo na membrana e se liga ao C4b, virando a C3 convertase. Essa enzima cliva muitas moléculas de C3, com C3b virando opsonina e C3a virando anafilotoxina (induz a inflamação). O outro C3b que se ligar à C3 convertase vira C5 convertase. Essa enzima cliva muito C5, com Ca5 também sendo uma anafilotoxina e C5b dando continuidade à cascata. Não existe nenhum fator que vai iniciar a via. O que inicia é a proteína do Sistema Complemento, C3 mesmo. No nosso soro sanguíneo, há uma clivagem residual de C3 (tickover), que faz o organismo ficar clivando C3 em poucas quantidades, mas o tempo todo. Se o C3b encontrar um açúcar ele vai se ligar a ele, se não encontrar ele vai ser inativado e depois degradado. No exemplo, o C3b encontrou um microrganismo e se ligou a ele. Assim, é iniciada a cascata do Sistema Complemento. C3 é clivado naturalmente no nosso soro em baixas taxas. Se C3b não encontrar nada ele é inativado. Se ele encontrar, vai se ligar ao MO e iniciar a cascata do Sistema Complemento. A Via Alternativa é a única via que é encontrado outras letras sem ser o C. Tem a letra B (fator B) e o fator D. Se não tiver essas duas letrinhas, vai ser Via Clássica ou Via Lectinas. O fator D cliva o fator B em Ba e Bb. O Ba é liberado e o Bb se une ao C3b na membrana do MO, virando a C3 convertas = cliva muito C3. C3b vira opsonina quando se liga sozinho. C3b quando se liga à C3 convertase vira a C5 convertase. O C3a é uma anafilotoxina (ativa inflamação e outras células) e também é um fator quimiotático (atrai outras células pro local onde está o MO). C5 convertase cliva C5 em C5a e C5b (continuidade da cascata). C5a = C3a Resumindo: C3 é clivado naturalmente no sangue. Se o C3b encontrar um microrganismo ele se liga, se não ele fica inativado. O fator B também se liga à membrana do MO. O fator D cliva o fator B em Ba e Bb. Ba é liberado e permanece o C3b e Bb na membrana = C3 convertase. A enzima cliva muita C3, sozinho vira opsonina, se liga ao C3 convertase vira C5 convertase. C5b continua a cascata do sistema e C5a vira anafilotoxina. Antigamente, somente as lectinas se ligando na manose eram consideradas como início da cascata Atualmente, é considerado as ficolinas (mais de uma que se ligam e iniciam a cascata). A ficolina se liga ao N-acetilglicosamina que fica na parede celular tanto de fungos quanto de bactérias. Tanto a lectina quanto a ficolina são capazes de ativar a Via Lectina. Essas duas moléculas possuem as enzimas MASP 1 e MASP 2, que serão utilizadas para clivar o C4. É uma via idêntica à Via Clássica, a única coisa que muda é que na Via Clássica começamos com os anticorpos e C1 e na Via Lectina tem direto a lectina e ficolina (possui vários tipos, mas todas se ligam na mesma coisa). A partir de C4,o resto da cascata é igual. O MO tem a manose na sua membrana e é onde a lectina vai se ligar. As MASPs vão clivar C4, sendo o C4a liberado e o C4b se ligando à membrana. Em seguida, as MASPs clivam C2, sendo C2b liberado e o C2a se ligando à membrana e ao C4b = C3 convertase = cliva muito C3, C3a é liberado (anafilotoxina e quimiotaxia), C3b se fixa à membrana = sozinho vira opsonina e ligado à C3 convertase vira C5 convertase. Via Alternativa = única via que vão ter o fator B e o fator D. A única coisa que diferencia as Vias Clássica e Lectina é que na Clássica o início é feito por 2 anticorpos IgG ou 1 anticorpo IgM e C1, e na Lectina o início é feito com uma ficolina ou uma lectina. As 3 vias comungam para esse final idêntico. No exemplo, há um C3 convertase da Via Alternativa. A partir de C5b só tem ligação, não tem mais clivagem. C5b se liga à C6, que se liga à C6, que liga à C7, que se liga à C8 e se liga à 5 C9. O C9 é o que vai fazer o furo na membrana = MAC = Poli-C9 O exemplo mostra uma membrana cheia de MAC. A partir daí o MO morre por lise. O Sistema Complemento possui proteínas que o regulam porque ele pode se ligar às nossas células. Se ele se liga nas células próprias existe um componente que vai lá e inibe a cascata. O Sistema fica querendo se ativar o tempo todo e pode de repente se ligar nas células próprias, de repente um anticorpo se liga na célula própria e ativa o Sistema Complemento, aí essas proteínas vão inibir a ativação mesmo. Os Mediadores Solúveis estão no soro, circulando pela corrente Se surgir um anticorpo e o C1 se ligar nesse anticorpo, o inibidor de C1 vai lá e bloqueia o C1 = é retirado C1r e C1s de C1q = retira as duas moléculas que clivam as outras moléculas O Fator I desfaz o complexo C3 convertase (a maioria atua nisso) O C4BP também atua na C3 convertase Na membrana de todas as células do corpo tem DAF, MCP e CR1 = desfazem o complexo C3 convertase, separando uma molécula da outra A regulação é importante para que as células próprias do corpo não sofram com a ativação do Sistema Complemento. Atua no C3 convertase também Existe uma doença que a pessoa não possui a CD59. A proteína CD59 impede exatamente a formação do MAC (do poro na membrana). A pessoa que não possui a proteína CD59 vive em estado de lise. Assim, a CD59 é um tipo de regulação do Sistema Complemento também. A proteína S impede que C6 e C7 se fixem na membrana, também impedindo a formação do MAC. O Sistema Complemento é da imunidade inata. Quando não há invasão de bactérias ou fungos, o Sistema Complemento se encontra em homeostase. O Sistema Complemento faz um link com a resposta imune adaptativa. A opsonização induz a fagocitose pelo macrófago, apresentando ao linfócito T = O Sistema Complemento ajuda nesse processo (não ativa). No exemplo, uma bactéria que possui várias proteínas do Sistema Complemento = C3b O receptor de complemento 1 (CR1), se liga ao C3b, ao C3b inativado (iC3b) e ao C4b = todas essas proteínas são capazes de causar a opsonização, seguida da fagocitose Quem faz a inflamação é o C3a, C4a (faz inflamação em menor grau) e C5a = Se C5a se liga no neutrófilo, aumenta sua capacidade de fagocitose e de “NETose” (jogar as NETs no patógeno); se ele se liga aos macrófagos, também aumenta sua capacidade de fagocitose e de destruir os microrganismos dentro deles. Assim, o C5a ativa essas células. Se o C5a e o C3a se ligam no mastócito (relacionado com alergias), fazem com que ocorra a liberação de histamina, fazendo vasodilatação com toda aquela característica inflamatória. O mastócito, quando não está em um processo alérgico, libera histamina para fazer a vasodilatação, pois é o principal vasodilatador. Depuração = limpeza Quando o organismo não está combatendo a nenhum patógeno, este está fazendo a depuração e atuando na homeostase. No exemplo, há um exemplo de imunocomplexo (florzinha vermelha e anticorpos em azul), C1q se liga e começa a ativar. As hemácias possuem um receptor CR1, recebendo a ligação com C3b. A hemácia não faz fagocitose, então ela leva esses imunocomplexos para o baço, para o fígado, fazendo com que o macrófago que tá lá fagocite esses imunocomplexos. A hemácia ajuda a depurar o sangue dessa forma, se ligando a esses imunocomplexos através do C3b, levando para os órgãos competentes para isso. A lise celular vai ser pelo MAC formado por 5 moléculas de C9, fazendo o buraquinho na membrana do MO. Essa lise também pode ser feita nas nossas próprias células em casos de problemas na regulação. O linfócito B naive vira plasmócito para secretar anticorpos. A proteína C3d (é uma derivação de C3) do Sistema Complemento se liga no receptor da célula dendrítica, que irá se ligar com o receptor do linfócito B. Isso potencializa e deixa mais rápida a ativação e transformação do linfócito B em plasmócito. Essa é uma atuação direta do Sistema Complemento com a Imunidade Adaptativa. O Sistema Complemento possui 2 principais ativações. Quando um indivíduo produz muito Sistema Complemento = HIPERcomplementemia = isso ocorre em processos inflamatórios (infecções, inflamações exacerbadas = fígado produzindo muito Sistema Complemento) Geralmente, os receptores Toll, Nod, induzem a produção de IL-6, que induz o fígado a produzir mais proteínas do Sistema Complemento. Aumento das proteínas do Sistema Completo sugerem uma inflamação sistêmica. Em geral, esse aumento acontece em infecções. Quando um indivíduo produz menos Sistema Complemento = HIPOcomplementemia Essa diminuição ocorre quando há problemas no fígado, se tornando improdutivo, podendo estar parcialmente destruído ou com fibrose ou esteatose = algo que impossibilite o fígado de produzir, diminuindo a cascata do Sistema Complemento, a cascata da coagulação, atinge as vias realizadas por lá, pois o fígado produz vários tipos de proteínas. Pessoas com hepatopatia possuem muitos problemas clínicos. DOENÇAS DE CONSUMO = Lupus e Doença do soro LUPUS = doença na qual uma pessoa produz muito autoanticorpo IgG. Se 2 IgGs se liguem na hemácia, por exemplo, o Sistema Complemento será ativado, consumindo o próprio sistema. Com a diminuição da IL-6, o fígado não produz novas proteínas do Sistema Complemento para repor as próprias que foram consumidas (tem anticorpos, então esse problema continua). Quando consume e não repõe = diminuição das proteínas. A pessoa com lúpus não vive em fase ativa, mas sim entra em remissão, podendo sentir novamente os sintomas após algum gatilho, ativando a doença novamente. Para saber se a doença está ativa novamente, se faz a pesquisa de C3 e C4. Se os valores estiverem abaixo do normal, significa que a doença está ativa = diminuição do Sistema Complemento = ficou ativa porque as proteínas do Sistema Complemento foram consumidas e não foram repostas pelo fígado (que se encontra saudável). DOENÇA DO SORO = uma pessoa é picada por uma cobra e toma um soro antiofídico. Esse soro contra o veneno da cobra é o IgG, que ativa o Sistema Complemento pela Via Clássica, consumindo o próprio Sistema Complemento e não repondo também = diminuição das proteínas do Sistema Complemento = baixos níveis “Hemoglobinúria” = hemoglobina na urina, fora da hemácia (as hemácias estão sendo lisadas) “Paroxística” = algo que a pessoa não tinha, mas passa a ter subitamente, de uma hora pra outra Acontece na parte da noite, pois é o horário que concentramos a urina, ficando bem escura. Conforme o paciente vai urinando durante o dia, a urina vai ficando mais clara. Lembrando que o CD59 impede o C9 de entrar na membrana, no eritrócito de exemplo. Não se sabe o porquê das pessoas que tem essa doença sofrerem uma mutação em seu DNA que inibe a produção da âncora do CD59, o que o segura (Colchote de Inositol). Sem essa estrutura, não tem como impedir o C9 = indivíduo fica tendo lise por Sistema Complemento.Essa doença, então, se caracteriza com a falta da função do CD59. É uma doença rara. - Deficiência de C2 e C3 = Lupus - Deficiência da proteína inibidora de C1 = quadro parecido com alergia, edema nos lábios, rosto aumentado em razão de vasodilatação. Pode ser advindo de um gatilho hormonal ou emocional