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Perspectivas e Tendências da Psicologia da Saúde Perspectiva Histórica: Compreender as perspectivas e tendências da Psicologia da Saúde é uma tarefa desafiadora, pois estamos diante de um campo novo que produz modificações sistemáticas devido a sua própria natureza, que é, ao mesmo tempo: Científica: Transforma-se com o avanço das pesquisas estando em constante evolução e adequação às situações novas. Política: Depende de direções e investimentos realizados pelo Estado. O nascimento da psicologia tem como marco inaugural a fundação do laboratório de Wilhelm Wundt, em 1879, marcado pela orientação para a compreensão da normalidade do comportamento e suas manifestações em organizações, como fábricas e escolas. Somente a Psicanálise e a Psiquiatria, ambas exercidas por médicos, manifestavam interesse pelas formas psicopatológicas que assumiam o sofrimento humano. A partir da década de 50, observa-se a emergência de diversos questionamentos que colidiriam nas reformas manicomiais pelo mundo na década de 1960, e a Psicologia volta seu interesse para esse campo, produzindo uma área em comum, a Psicologia Clínica. No Brasil, a profissão foi regularizada em 1962, sofrendo influência deste momento marcado por uma guinada em direção à clínica na Psicologia internacional. Esse também foi o período que antecedeu a instalação da ditadura militar no país, que criou um ambiente acadêmico despolitizado, esvaziando o espaço para a discussão crítica. Na década de 80, com o afrouxamento da ditadura militar, surgiram diversos movimentos sociais reivindicando desde o direito à saúde, moradia, terra, proteção da infância, saneamento básico, condições dignas de trabalho, entre outros, que colidiram na constituinte de 1988 e na criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e na promulgação do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Surgiram, então, os primeiros trabalhos em Psicologia voltados para a população empobrecida, realizado pioneiramente por projetos de extensão de universidades, ou por trabalhadoras da saúde relacionadas à Reforma Sanitária e por psicólogos militantes ligados a movimentos sociais. Essa nova área de conhecimento recebeu o título de Psicologia Comunitária e sua direção criou espaço para o desenvolvimento de novas práticas, técnicas e fundamentações teóricas que não coincidem com o fazer clínico tradicional. Em 1981, foi criada a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) que passa a promover espaços de discussão, troca e sistematização do conhecimento em Psicologia Social, que acolherá parte das discussões em Psicologia da Saúde, aquela de cunho mais comunitário. Os estudos da época apontam os impasses da inserção do psicólogo em equipes de saúde na esfera pública, tendo em vista seu despreparo nos quadros curriculares marcados por escassez de estágios e discussões em saúde pública, ou mesmo junto às camadas mais empobrecidas da população. Nossa reforma manicomial, ocorrida em 2001, demanda um novo modelo de atuação territorial e ambulatorial, que começa a dar destaque à Psicologia. Podemos citar ainda como fatores de transformação da Psicologia brasileira o incremento de novas políticas públicas a partir dos anos 2000, como a ampliação do SUS – o “Pacto pela Saúde” (2006) que amplia a atenção básica e o institui como padrão o modelo de Clínica da Família – a criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e a regulamentação da atuação dos psicólogos nas redes públicas escolares (2019), criando um campo de trabalho que emprega cerca de 200 mil psicólogos brasileiros, em torno de 60% da categoria. A Importância da Psicologia em Saúde: O que é a Psicologia da Saúde hoje? Segundo Matarazzo (1980), podemos identificar a Psicologia da Saúde como o conjunto de diversas contribuições que a Psicologia aporta em relação à prevenção, promoção e manutenção da saúde, assim como em relação à identificação de etiologia, diagnóstico e terapêuticas do processo saúde-doença, com a possibilidade de propiciar melhorias no sistema e regulamentação da saúde. Esta definição contempla as três perspectivas de atenção à saúde preconizadas pelo SUS: promoção, prevenção terapêutica e reabilitação de saúde, que ocorrem nos diversos níveis de atenção oferecidos. Também pode ser aplicada à rede suplementar, que é formada pelo setor privado de planos de saúde. Atribuições do Psicólogo da Saúde: Atuar em equipes multiprofissionais e interdisciplinares no campo da saúde, utilizando os princípios, as técnicas e os conhecimentos relacionados à produção de subjetividade para a análise, o planejamento e a intervenção nos processos de saúde e doença, em diferentes estabelecimentos e contextos da rede de atenção à saúde. Considerar os contextos sociais e culturais nos quais se insere, estabelece estratégias de intervenção com populações e grupos específicos, contribuindo para a melhoria das condições de vida de indivíduos, famílias e coletividade. Desenvolver ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e vigilância em saúde junto a usuários, profissionais de saúde e ambiente institucional, colaborando em processos de negociação e fomento à participação social e de articulação de redes de atenção à saúde. Pode ainda desenvolver ações de gestão dos vários serviços de saúde e de formação de trabalhadores, dominando conhecimento sobre a reforma sanitária brasileira e as políticas de saúde no Brasil, a legislação e o funcionamento do SUS, gestão do trabalho e Educação Permanente em Saúde, financiamento, avaliação e monitoramento de serviços de saúde, podendo exercer funções em instâncias municipais, estaduais ou nacional. Competências do Psicólogo da Saúde: É importante destacar que houve uma ampliação das competências esperadas do egresso do curso de Psicologia mais adequadas aos contextos institucionais e às coletividades. Características como liderança, aptidão para o trabalho em equipe, habilidades de comunicação, empreendedorismo, saber interagir com outros profissionais e com o público, ter iniciativa, administrar a força de trabalho, recursos físicos ou materiais, entre outras, estão aliadas em igualdade com a aptidão para desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde psicológica e psicossocial. Vale lembrar a importância dada à observação dos princípios da ética/bioética, à fundamentação do trabalho em evidências científicas e à responsabilidade pela continuação permanente pelo aprimoramento profissional. CREPOP: Resoluções e Documentos: Todo psicólogo que trabalhe com políticas públicas deve conhecer o CREPOP. Ele é um instrumento produzido pelo Sistema Conselho – Conselho Federal de Psicologia para qualificar e orientar os profissionais que trabalham em política pública, além de sistematizar e difundir o conhecimento. Foi criado em 2006 após a deliberação do 5º Congresso Nacional de Psicologia e tem como público-alvo psicólogos, estudantes de Psicologia, gestores e instituições do ensino superior. Consideramos relevantes as seguintes edições aos profissionais que atuam no trabalho em instituições de saúde: Mulheres em Situações de Violência; Atenção Básica à Saúde; Serviços Hospitalares do SUS; Saúde do trabalhador; Álcool e Outras Drogas; CAPES; Gestores do SUS; Relações Raciais; Rede de Proteção à Crianças e Adolescentes em Situação de Violência Sexual. Podemos citar outros quatro volumes que estão em fase final de elaboração: Direitos Sexuais e Reprodutivos; Idosos; Diversidade Sexual e de Gênero e Riscos, Emergências e Desastres. Verificando o Aprendizado 1. Considerando a história da Psicologia da Saúde, aponte a alternativa que não corresponde a um acontecimento que influenciou a Psicologia. R: Desde a sua fundação, a Psicologia no Brasil tem um trabalho expressivo junto à população empobrecida. · Os trabalhos junto à população empobrecida só ganharam expressão a partir da década de 80, com os movimentos sociais que tiveram espaço no afrouxamento da ditadura. 2. A área de Psicologia da Saúde foi reconhecida como especialidade em 2016, na resolução CFP n. 03/2016. Determine,entre as atribuições do psicólogo da saúde listadas, aquela que não condiz com essa resolução: R: Encaminhar pacientes da saúde pública para atendimentos em consultórios particulares. · Não é atribuição da Psicologia encaminhar pacientes da saúde pública para atendimentos em consultórios particulares.