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Indaial – 2020 Teoria e Técnica em relações Públicas Prof.a Carolina Neotti 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.a Carolina Neotti Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: N438t Neotti, Carolina Teoria e técnica em relações públicas. / Carolina Neotti. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 165 p.; il. ISBN 978-65-5663-211-7 ISBN Digital 978-65-5663-212-4 1. Relações públicas. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 659.2 aPresenTação A comunicação existe desde a história da humanidade. Ao longo dos tempos, a comunicação evoluiu paralelamente com o homem até os dias atuais e continua a mudar constantemente. Com o advento da modernidade e da era da industrialização, a comunicação se tornou cada vez mais profissional. O início da profissionalização das áreas de comunicação social, relações públicas, publicidade e propaganda, jornalismo e outras, como marketing e administração, teve seu surgimento e/ou aceleração nesse período. Entenderemos, nesta disciplina, o surgimento das relações públicas para compreender seus conceitos e suas definições. Os conhecimentos essenciais que compõem a sua formação serão apresentados na teoria e nas técnicas da profissão e você encontrará um panorama geral do mercado atualmente e as possibilidades de atuação profissional. Na Unidade 1, iniciaremos com uma noção geral da natureza e dos conceitos de relações públicas, passando pelo histórico do nascimento da profissão até os dias atuais. Entenderemos também as áreas de concentração da comunicação social com abordagem em publicidade e propaganda e no jornalismo, compreendendo todas as áreas e as definições e diferenças entre elas. Apresentaremos os conceitos gerais, dos processos e instrumentos da profissão, bem como abordaremos a comunicação em tempos de crise, tema tão atual e crescente na área de atuação. Trataremos da relação das atividades de comunicação com as classes sociais, afinal, as atividades de relações públicas precisam se comunicar com distintos grupos sociais, com gostos, preferências e atitudes diferenciados. Assim, conheceremos também como a comunicação e as organizações precisam interagir com os vários públicos, entendendo o conceito, a classificação e influência de cada público. As Unidades 2 e 3 estão voltadas para os aspectos de mercado da profissão. Assim, apresentaremos um panorama da profissão e das atividades desenvolvidas e suas diversas áreas de atuação. Abordaremos a comunicação organizacional e as agências de comunicação, compreendendo esses cenários, os conceitos e as possibilidades desses campos profissionais. Também traremos um panorama geral do cenário de mercado atual da profissão, com abordagem de profissionais atuantes no mercado, além da teoria e prática. Por fim, você poderá estudar alguns cases de sucesso. Tudo isso, para que você tenha um conhecimento geral sobre a futura profissão que está se formando e as diversas possibilidades de atuação desse mercado fascinante e em ascensão. Bons estudos! Prof.a Carolina Neotti Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 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Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS ...................................................................1 TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS .............................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 DEFINIÇÃO DE RELAÇÕES PÚBLICAS....................................................................................... 3 3 BREVE HISTÓRICO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS ..................................................................... 5 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 9 4 HISTÓRIA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL ............................................................. 13 5 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DO ENSINO DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL ........21 6 ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL ........................................... 22 7 DEFINIÇÃO E DIFERENÇAS ENTRE PUBLICIDADE E PROPAGANDA .......................... 24 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 30 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 33 TÓPICO 2 — CONCEITOS GERAIS ................................................................................................ 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35 2 SÍMBOLO DA PROFISSÃO ............................................................................................................ 35 3 NOÇÕES DOS PROCESSOS DE RP ............................................................................................. 36 4 CONDIÇÕES PARA A COMUNICAÇÃO EM TEMPO DE CRISE ........................................ 42 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 45 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................47 TÓPICO 3 — CLASSES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO ............................................................... 49 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 49 2 CONCEITOS ....................................................................................................................................... 49 3 ABORDAGENS PARA IDENTIFICAÇÃO DAS CLASSES SOCIAIS ................................... 50 4 FUNÇÃO DAS CLASSES SOCIAIS PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL ........................... 50 5 CARACTERÍSTICAS QUE IMPACTAM A EFETIVIDADE DA COMUNICAÇÃO E AS CLASSES SOCIAIS ................................................................................................................. 51 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 53 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 54 TÓPICO 4 — PÚBLICO EM RELAÇÕES PÚBLICAS ................................................................... 55 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 55 2 DEFINIÇÃO DE PÚBLICO ............................................................................................................. 55 3 CLASSIFICAÇÃO DOS PÚBLICOS .............................................................................................. 56 4 INFLUÊNCIA DOS GRUPOS SOCIAIS ....................................................................................... 56 5 RELAÇÕES COM DIVERSOS PÚBLICOS (STAKEHOLDER, COMUNIDADE, SOCIEDADE, INVESTIDORES) ................................................................................................... 57 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 59 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 60 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS .................................................................61 TÓPICO 1 — O MERCADO DE RELAÇÕES PÚBLICAS ............................................................ 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63 2 ÁREAS DE ATUAÇÃO ..................................................................................................................... 63 2.1 FUNÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ............................................................... 65 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 66 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 67 TÓPICO 2 — COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ............................................................... 69 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 69 2 COMUNICAÇÃO INTERNA X ENDOMARKETING .............................................................. 71 2.1 BRANDING INSTITUCIONAL ................................................................................................. 75 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 81 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 83 TÓPICO 3 — ESTRUTURA DA ÁREA NO MEIO CORPORATIVO ........................................ 85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 85 2 DEFINIÇÃO ....................................................................................................................................... 85 2.1 FUNÇÕES DO PROFISSIONAL ............................................................................................... 85 2.2 ESTRUTURA ADEQUADA ....................................................................................................... 89 2.3 PRINCIPAIS ATIVIDADES ......................................................................................................... 92 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 95 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 96 TÓPICO 4 — AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO ............................................................................ 97 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97 2 DEFINIÇÃO DE AGÊNCIA E SEUS FOCOS DE ATUAÇÃO (ENDOMARKETING, MÍDIAS SOCIAIS, PUBLICIDADE, RP, EVENTOS) ................................................................ 97 3 FUNÇÕES DE UMA AGÊNCIA ................................................................................................... 102 3.1 ESTRUTURA DE UMA AGÊNCIA ........................................................................................ 105 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 107 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 109 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 110 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO .................................................................. 111 TÓPICO 1 — PERFIL DO PROFISSIONAL DE RP ..................................................................... 113 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 113 2 PERFIL DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS ..................................................... 113 2.1 PRINCIPAIS ATUAÇÕES .......................................................................................................... 115 2.2 PROFISSIONAIS EM ATIVIDADE .......................................................................................... 122 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 124 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 126 TÓPICO 2 — COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS .................................................................... 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 127 2 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS .......................................................................................... 127 2.1 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO PROFISSIONAL DE RP ...................................... 128 3 DESENVOLVIMENTO DA VISÃO FUTURA DA PROFISSÃO .......................................... 131 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 135 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 137 TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO ............................................................................................... 139 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 139 2 RELATO DE CASES DA ÁREA .................................................................................................... 139 2.1 PRÊMIO ABERJE ........................................................................................................................ 147 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 152 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 158 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 159 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 161 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apresentar a definição de relações públicas enquanto processo, atividade e profissão; • repassar o histórico desde o surgimento das relações públicas pelo mundo e Brasil, passando pela área de ensino e mercado; • proporcionar uma visão geral das principais áreas de concentração de comunicação social; • mostrar o símbolo da profissão; • conceituar os processos e os instrumentos de RP; • apresentar o posicionamento da comunicação em tempo de crise; • entender as classes sociais e seu papel na comunicação; • esclarecer o que são públicos em relações públicas e seus impactos para a profissão. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS TÓPICO 2 – CONCEITOS GERAIS TÓPICO 3 – CLASSES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO TÓPICO 4 – PÚBLICO EM RELAÇÕES PÚBLICAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 1 INTRODUÇÃO Veja a afirmação, a seguir, datada de 1938, há mais de 80 anos: Toda gente está falando de relações públicas. Porém, ninguém parece saber demasiado acerca da significação do termo. Hoje, relações públicas são uma miscelânea de ideias e atividades (HARLOW, 1938 apud ANDRADE, 1993, p. 33). Será que a afirmação continua atual? Diríamos que, na prática, não há dúvidas sobre a importância e diferença do papel das relações públicas, mas, na teoria, a questão de não ficar clara uma única definição para as relações públicas não se dá pela escassez, mas pela quantidade de atividades e saber da profissão. Diante da existência de inúmeras definições para relações públicas, fica difícil tirar uma única que expresse uma definição específica. Encontramos muitas teorias, ora falando da ontologia (o ser), ora falando da deontologia (o fazer). Talvez, isso se dê pelo fato de muitos autores não se preocuparem em determinar se estão se referindo à atividade, ao processo, ao cargo ou ao profissional. Portanto, seu conceito se torna oscilante. 2 DEFINIÇÃO DE RELAÇÕES PÚBLICAS Há numerosas definições de relações públicas, muitas das quais tão gerais e vagas que pouco significam para o leitor, que procura uma definição específica e descritiva da matéria. Todavia, a semântica, disciplina que estuda os significados das palavras, menciona que todos os vocábulos são polissêmicos. As relações públicas não fogem à regra. A definição oficial, usada em nosso país de relações públicas, foi estipulada pela Associação Brasileira de Relações Públicas - ABRP, em 14 de fevereiro de 1955. A ABRP é a entidade mais antiga de RP no país, fundada em 21 de julho de 1954, que tem, como objetivo, a valorização, em todo o país, das ideias, objetivos e práticas que constituem os serviços ou atividades de relações públicas. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 4 Entende-se, por relações públicas, o esforço deliberado, planificado, coeso e contínuo da alta administração para estabelecer e manter uma compreensão mútua entre uma organização pública ou privada e seu pessoal, assim como entre essa organização e todos os grupos aos quais está ligada direta ou indiretamente (ANDRADE, 1983, p. 45). Esse conceito traduz o profissional ou a profissão, que, por fim, levam o mesmo nome, sendo embasado e bonito de ser lido. Contudo, continua difícil entender ou explicar, em poucas palavras, o que são as relações públicas. Mario de Miranda Quintana foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro que nasceu na cidade de Alegrete, Rio Grande do Sul, em 1906. Trabalhou, também, como tradutor de importantes obras literárias, e escrevia sobre as coisas simples da vida. É essencial uma citação de Mario Quintana (1997), na sua obra Confidências Espirituais, o anjo, ser intermediário entre o céu e a terra, uma espécie de relações públicas de nosso senhor. A citação um pouco mitológica, define relações públicas como um profissional conector estratégico da pessoa, empresa ou instituição, responsável por pensar maneiras de integrar as esferas dos extremos (os públicos). Como esse profissional faz essa integração, nada mais é que a diversidade de atividades que contempla a profissão, sempre com o objetivo de elevar a boa reputação. Exemplos de algumas atividades: assessoria de imprensa; comunicação institucional; eventos; gestão de crise; gestão de sustentabilidade; marketing de relacionamento; marketing pessoal; mídias e redes sociais; pesquisa de opinião; projetos sociais; relações com diversos públicos de uma instituição; endomarketing e comunicação interna; relações governamentais etc. Resumindo, o profissional integra a tríade de Comunicação Social (englobando o Jornalismo e a Publicidade), e tem, como objetivo, a estratégia do posicionamento das empresas no mercado e perante os diversos públicos. Sua atuação propaga a imagem, a reputação, a percepção da marca e a cultura de uma empresa. Na era digital, isso ganha mais relevância e se torna mais complexo, pois é necessário estar atento à pluralidade de vozes, agora, também digitais. O que não falamos até momento é que, entre as profissões de Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade), relações públicas é a única regulamentada por lei. No Brasil, a atividade de relações públicas é regulamentada desde 1969, e exige registro no Conselho Regional do Estado. Veremos a regulamentação e leis no próximo tópico, no decorrer da história da profissão. TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 5 3 BREVE HISTÓRICO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS A atividade de relações públicas é tão antiga quanto o mundo. Contudo, apesar de existir desde os primórdios, acompanhando reinados e impérios, a atividade tomou um formato e ganhou nomenclatura a partir da ideia inicial de Ivy Lee, em 1906. Como sendo a sua primeira providência, dispensar todos os seguranças que davam proteção à família Rockfeller, em seguida, abrir a empresa para a imprensa, para os líderes comunitários e o governo. A autora faz críticas à postura adotada por Ivy Lee, afirmando que sua atividade foi meramente capitalista e de interesse político. O escritório de Lee foi precursor em fornecer, à imprensa, releases, ou melhor, notícias empresariais a serem divulgadas jornalisticamente sem serem pagas, caso fosse de interesse do veículo de comunicação. Embora alguns autores considerem Ivy Lee como o verdadeiro fundador das relações públicas, é consenso, também, que o início da profissão em escala aconteceu quando William H. Vanderbilt, filho de Comodoro Cornelius Vanderbilt, empresáriode estradas de ferro, pronunciou a famosa expressão The public be damned (O público que se dane). Vanderbilt, diante do descrédito que sua declaração produziu, tentou desmenti-la, em entrevista posterior ao “New York Times”. Dos Estados Unidos, as atividades de relações públicas foram, sucessivamente, para o Canadá (1940), França (1946), Holanda (1946), Inglaterra (1948) e Noruega (1949). Posteriormente, foram implantadas, também, na Bélgica, Suécia, Finlândia e Itália, e tiveram início a partir de 1950. Na Europa, as relações públicas chegaram com um retardo de 15-20 anos depois da América do Norte. A Europa vivia uma época de reconstrução durante o pós-guerra. As indústrias estavam em pleno crescimento e, justamente, pelas relações públicas serem uma atividade característica do capitalismo até então, firmou-se, primeiramente, nos países mais desenvolvidos econômica e industrialmente. Provavelmente, o primeiro país europeu a fazer relações públicas foi a Grã- Bretanha, pelo idioma, e, na época, facilidade de leitura dos textos americanos. Também na Grã-Bretanha, no ano de 1948, que foi fundada a Associação Internacional de Relações Públicas, com sede em Londres. 43 anos mais tarde, em 1993, possuía mais de 3000 associados. Para Andrade (1993), inegavelmente, o maior progresso das relações públicas, na Grã-Bretanha, repousa no campo governamental, destacando-se, como pioneiras, as grandes indústrias de mineração, a Ford Inglesa e a Unilever. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 6 Na França, H. Verdier, em sua obra Les Relations Publiques, explica que as relações públicas chegaram em terras francesas em junho de 1946, quando, vindo dos Estados Unidos, um conferencista provocou o aparecimento de alguns veículos de comunicação que se diferenciavam do aspecto publicitário (ANDRADE, 1993). No ano de 1950, era fundado o Club de La Maison de Verre, que foi o primeiro agrupamento de especialistas das relações públicas. Em 1954, surgiu a Associação Francesa de Relações Públicas (AFREP). Essa associação, cinco anos após a sua fundação, contava com 250 membros, e possuía um Código Profissional de Relações Públicas aprovado pela Federação de Imprensa e pela Federação de Propaganda. Na área empresarial, contribuíram muito, para o desenvolvimento das relações públicas na França, empresas como Air France, Astra, SGHP etc. Andrade (1993) cita que, na Bélgica, as relações públicas se desenvolveram depois da publicação do livro de Eric Cypres, intitulado Precis de Relactions Publiques, que teve boa repercussão não só na Bélgica, mas em toda a Europa Ocidental. Afirma, ainda, que “desde 1952, existe, em Bruxelas, o Centro Belga de Relações Públicas, que edita um periódico especializado em três idiomas: francês, flamengo e holandês” (ANDRADE, 1993, p. 63). Na Hungria, as relações públicas tomaram impulso após a realização do Seminário Reed de Relações Públicas, em 1972. Dois anos mais tarde, em 1974, foi feito o primeiro hino das relações pública, de autoria do professor Endre Marinovich, que havia alcançado o título de Doutor em Relações Públicas pela Universidade de Budapeste. Andrade (1993) explica que, na capital sueca, em 1993, existia uma firma de relações públicas especializada na promoção de campanhas norte-americanas e inglesas que atuava sob denominação de Public Relations A. B. Inc., mas não foi encontrado nenhum dado que confirme a existência dessa empresa nos atuais dias. Mais ao sul da Europa, encontra-se a Itália. Nesse país, não se sabe, com exatidão, o ano da introdução das relações públicas, pois não se tem documento oficial de registro. Esses dados são genéricos, vários autores datam seu início em torno do fim dos anos 50 ou início de 1951. Uma época em que a Itália se recuperava do pós-guerra e as empresas estavam em desenvolvimento econômico e, principalmente, produtivo. Enfim, um número considerável de empresas diz ter havido instituído as relações públicas no próprio âmbito, naqueles anos que vão de 1945 a 1950, e que significam que as empresas tenham instituído tal serviço simultâneo com aqueles anos de maior entusiasmo e de maior fervor da reconstrução (ROGGERO, 1985, p. 58). O primeiro registro documental que se tem, na Itália, é de 1945, assim, foi oficializada a profissão, após a abertura de sindicatos e associações de relações públicas. Roggero (1985, p. 59) afirma: TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 7 O mérito da introdução das relações públicas na Itália, de forma organizada e oficial, foi, com toda probabilidade, escrito na Associação Italiana de Relações Públicas (fixada em Roma em 1954) e no Instituto Italiano de Relações Públicas, nascido em Milão, no ano de 1952. Foram essas duas instituições italianas que reuniram pessoas interessadas nessa área, como jornalistas, publicitários, homens da imprensa e grandes empresários, criando um ponto de partida para esse novo campo de atuação. Essas associações tinham, também, como finalidades, estudar e divulgar as relações públicas na Itália para todos os interessados. A AIRP e a IRP aceitam inscrições não só de profissionais de relações públicas, mas também de simpatizantes e estudiosos que não exercem a profissão. A Associação Italiana de Relações Públicas – AIRP cita, como sendo o precursor e pai das RPs italianas, o secretário da AIRP, Guido de Rossi Del Lion Nero, de Roma. Outro grande colaborador é Roberto Tremelloni, ministro social democrático de finanças e um dos fundadores e presidente do Instituto de Relações Públicas. Exerceu, por muitos anos, trabalhos públicos para o Ministério. Em 1956, foi fundado o Sindicato de Profissionais de Relações Públicas. Dois anos mais tarde, em 1967, foi fundada a Federação Italiana Especializada em Relações Públicas – FIERP, que teve a fusão com a FIRP em 1970, fundando, assim, a Federação de Relações Públicas Italianas – FERPI, da qual Alvise Barison foi o cofundador. A Federação de Relações Públicas Italianas – FERPI tinha, e ainda tem, como objetivo, difundir a cultura de comunicação empresarial e das relações públicas na Itália. Vale ressaltar que, na Itália a profissão de relações públicas não possui regulamentação. Talvez isso ocorra por culpa dos próprios profissionais que exercem as relações públicas, pois muitos não se preocupam em regulamentar essa profissão. Barrile (2002), responsável pela gestão e negócios da agência de relações públicas Brouder Image Time de Roma, acredita que é bom não ter a regulamentação, porque, assim, quem pratica a atividade são pessoas que têm, realmente, a eficiência para o negócio: É como um jogador de futebol que não tem a formação universitária, mas tem o dom para jogar. O Ronaldinho, por exemplo, tem muita habilidade e nenhuma formação universitária para exercer sua profissão. Com as relações públicas, ocorre o mesmo, porém, é o mercado que seleciona quem tem a habilidade ou não para o negócio (BARRILE, 2002 apud NEOTTI, 2002, p. 20). Thomas (2002) fez quatro anos de relações públicas na Hill & Knowlton Gaia, e discorda em termos: UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 8 É justo ter regulamentação, porque se você vai ao médico e este não tem formação, não tem diploma que é realmente médico, você não vai acreditar nele. Se a profissão tem regulamentação, você sabe que ele tem o conhecimento do assunto, tem a técnica (THOMAS, 2002 apud NEOTTI, 2002, p. 21). Porém, concorda que, na profissão de relações públicas, é diferente quando afirma que: Para fazer relações públicas, tem que ter habilidade. Não adianta estudar um tempo, fazer Master etc. se não tiver a habilidade. Só a técnica não basta. Porém, quemfaz essa seleção é o mercado. É uma seleção natural (THOMAS, 2002, p. 53). Anteri (2002), profissional que exerce suas atividades de relações públicas em Perugia, cidade da província da Umbria, também afirma que de nada adianta a regulamentação da profissão, pois, além do diploma, é preciso ter habilidade. É o mercado quem peneira os que têm a eficiência para o negócio, segundo ele (ANTERI, 2002 apud NEOTTI, 2002). Analisando a opinião desses profissionais que exercem suas atividades de relações públicas, identificamos alguns pontos em comum. Esses profissionais concordam, entre si, que quem exerce as atividades de relações públicas deve ter dom, habilidade, não, necessariamente, a graduação. Na opinião desses profissionais, não é a formação universitária que leva à eficiência nas atividades, a universidade passa o conhecimento teórico, a técnica, mas, a prática é que demonstra a eficiência do profissional. 9 No Brasil, a profissão é regulamentada há mais de meio século. Em 11 de dezembro de 1967, foi aprovado o Regulamento da Profissão de Relações Públicas sob a Lei nᵒ 5377. O Decreto nᵒ 63.283, de 26 de setembro de 1968, que trata da regulamentação, pode ser visto na íntegra na leitura complementar a seguir: DECRETO Nᵒ 63.283, DE 26 DE SETEMBRO DE 1968 Aprova o Regulamento da Profissão de Relações Públicas de que trata a Lei nᵒ 5.377, de 11 de dezembro de 1967. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o Artigo 83, item II, da Constituição, e tendo em vista o que determina a Lei nᵒ 5.377, de 11 de dezembro de 1967, decreta: Art. 1ᵒ. Fica aprovado o Regulamento que disciplina o exercício da Profissão de Relações Públicas e sua fiscalização, anexo ao presente Decreto assinado pelo Ministro do Trabalho e Previdência Social. Art. 2ᵒ. Este Decreto entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Brasília, 26 de setembro de 1968; 147ᵒ da Independência e 80ᵒ da República. A. COSTA E SILVA Jarbas G. Passarinho REGULAMENTO DA LEI Nᵒ 5.377, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1967, QUE DISCIPLINA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS. TÍTULO I Da Profissão de Relações Públicas CAPÍTULO I Do Profissional de Relações Públicas Art. 1ᵒ. A atividade e o esforço deliberado, planificado e contínuo para esclarecer e manter compreensão mútua entre uma instituição pública ou privada, grupos e pessoas a que esteja direta ou indiretamente ligada, constituem o objeto geral da profissão liberal ou assalariada de Relações Públicas. Art. 2ᵒ. A designação de Profissional de Relações Públicas e o exercício das respectivas atividades passam a ser privativos: a) dos que, a partir da vigência da presente lei, venham a ser diplomados em Cursos de Relações Públicas, de nível superior, reconhecidos pelo Conselho Federal de Educação; LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 10 b) dos que, antes da vigência da presente lei, sendo possuidores de diplomas de nível universitário, tenham concluído cursos regulares de Relações Públicas em estabelecimentos de ensino, cujos currículos venham a ser homologados pelo Conselho Federal de Educação; c) dos diplomados no Exterior em cursos regulares de Relações Públicas, após a revalidação do diploma nos termos da legislação vigente, e ressalvados os amparados através de convênios. CAPÍTULO II Do campo e da atividade profissional Art. 3ᵒ. A profissão de Relações Públicas, observadas as condições previstas neste Regulamento, poderá ser exercida como atividade liberal assalariada ou de magistério, nas entidades de direito público ou privado, tendo, por fim, o estudo ou aplicação de técnicas de política social destinada à intercomunicação de indivíduos, instituições ou coletividade. Art. 4ᵒ. Consideram-se atividades específicas de Relações Públicas as que dizem respeito: a) à orientação de dirigentes de instituições públicas ou privadas na formulação de políticas de Relações Públicas; b) à promoção de maior integração da instituição na comunidade; c) à informação e à orientação da opinião sobre objetivos elevados de uma instituição; d) ao assessoramento na solução de problemas institucionais que influam na posição da entidade perante a opinião pública; e) ao planejamento e execução de campanhas de opinião pública; f) à consultoria externa de Relações Públicas com dirigentes de instituições; g) ao ensino de disciplinas específicas ou de técnicas de Relações Públicas, oficialmente estabelecido. CAPÍTULO III Do exercício profissional Art. 5ᵒ. O exercício em órgãos da administração pública, em entidades privadas ou de economia mista de cargos, empregos ou funções, ainda que de direção, chefia, assessoramento, secretariado e de magistério, cujas atribuições envolvam, principalmente, conhecimentos inerentes às técnicas de Relações Públicas, é privativo do profissional dessa especialidade, devidamente registrado no Ministério do Trabalho e Previdência Social. § 1ᵒ A apresentação de diploma de Relações Públicas, embora passe a ser obrigatória para o provimento de cargo público federal, estadual ou municipal, da administração direta ou indireta, não dispensa a prestação de concurso, quando a lei exige. TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 11 § 2ᵒ O disposto in fine neste artigo se aplica, por igual, aos profissionais liberais e aos que exercem a atividade em Escritórios, Consultorias ou Agências de Relações Públicas legalmente autorizados a funcionar no país. § 3ᵒ A falta de registro profissional torna ilegal o exercício da profissão de Relações Públicas. TÍTULO II Da organização profissional CAPÍTULO I Do registro profissional Art. 6ᵒ. A inscrição profissional de Relações Públicas será feita pelo Serviço de Identificação Profissional do Ministério do Trabalho e Previdência Social, mediante a apresentação de títulos, diplomas ou certificados registrados pelo Ministério da Educação e Cultura para as hipóteses das alíneas "a", "b" e "c" do Art. 2ᵒ. § 1ᵒ No caso do Art. 13, o registro profissional fica condicionado à apresentação de Carteira Profissional , comprovante de recebimento salarial, ou, ainda, de declaração do empregador de que o interessado exerce a atividade em caráter principal ou permanente, para os profissionais sujeitos ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho. § 2ᵒ Em se tratando de funcionário público, autárquico ou de sociedade de economia mista, será necessária a apresentação de título de nomeação, portaria ou ato oficial devidamente averbado ou, ainda, declaração formal de Diretor ou Chefe de Serviço de Pessoal, de que o interessado exerce a atividade, em caráter principal ou permanente, em setor especializado em Relações Públicas. § 3ᵒ Para os profissionais liberais que exerçam a atividade individualmente ou em Escritórios, Agências ou Consultorias, ainda, em funções de magistério, será necessária a apresentação de documentos comprobatórios que atestem a realização de trabalhos definidos no Art. 4ᵒ deste Regulamento. Art. 7ᵒ. Nos casos dos parágrafos do artigo anterior, será sempre necessária a comprovação do exercício profissional pelo prazo mínimo de 24 (vinte e quatro) meses anteriores à vigência desta lei. Art. 8ᵒ. Do competente livro de registro deverão constar, obrigatoriamente: a) denominação do estabelecimento de ensino em que se diplomou o interessado; b) número de registro no Ministério da Educação e Cultura; c) indicação do dispositivo deste Regulamento que fundamentou o pedido de inscrição, em se tratando de não diplomados. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 12 CAPÍTULO II Da carteira profissional Art. 9ᵒ. A todo profissional, registrado na forma deste Regulamento,o Ministério do Trabalho e Previdência Social fornecerá Carteira Profissional, de acordo com o modelo em uso, na qual deverá ser anotado o número da respectiva inscrição no setor competente desse órgão. CAPÍTULO III Da jurisdição Art. 10. Os portadores da Carteira Profissional de Relações Públicas poderão desempenhar suas atividades no Distrito Federal, Territórios, Estados e Municípios, quer em caráter liberal quer assalariado. Art. 11. A fiscalização do exercício da Profissão de Relações Públicas, em todo o território nacional, será feita pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, ao qual compete: a) propugnar por uma adequada compreensão dos problemas de Relações Públicas e sua racional solução; b) orientar e disciplinar o exercício da Profissão de Relações Públicas, sem prejuízo da competência específica do Ministério da Educação e Cultura; c) dirimir as dúvidas suscitadas pelo exercício da Profissão de Relações Públicas, e por esse regulamento em decorrência de casos omissos. CAPÍTULO I Dos praticantes Art. 12. No caso de insuficiência de Profissionais de Relações Públicas, comprovada por falta de inscrição em recrutamento ou seleção pública, poderão, os órgãos públicos, como quaisquer empresas privadas, solicitar, ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, licença para o exercício dessa Profissão por pessoa conhecedora ou praticante dos métodos de Relações Públicas, portadora de diploma de curso superior. Art. 13. O disposto no caput do Art. 2ᵒ se aplica, também, aos que comprovarem o exercício de atividade de Relações Públicas, em caráter principal ou permanente, pelo prazo mínimo de 24 (vinte e quatro) meses até 12 de dezembro de 1967 e, a qualquer tempo, a qualidade de sócios titulares da Associação Brasileira de Relações Públicas - ABRP por idêntico período. Art. 14. As exigências do Art. 5ᵒ não prejudicarão a situação dos atuais ocupantes de cargos, empregos e funções da espécie, no Serviço Público e nas entidades privadas, enquanto exercerem. TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 13 Art. 15. O presente Regulamento entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Brasília, 26 de setembro de 1968. JARBAS G. PASSARINHO Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União - Seção 1 de 26/09/1968 FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D63283.htm#:~:text=DECRETO%20 No%2063.283%2C%20DE,11%20de%20dezembro%20de%201967>. Acesso em: 25 abr. 2020. 4 HISTÓRIA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL Os textos sobre a história de relações públicas no Brasil mencionam que a atividade ganha impulso na década de 1950, justamente, com o crescimento da industrialização a partir de 1930, pelo então Presidente da República Getúlio Vargas. Porém, os primórdios das relações públicas estão na fundação do serviço de atendimento ao público e à imprensa da empresa multinacional de energia The São Paulo Tramway Light and Power Co. Limited, conhecida, apenas, como Light, em 1914, criada por Eduardo Pinheiro Lobo (conhecido como o pai das relações públicas no Brasil). É importante frisar que a profissão de relações públicas tem seus fundamentos ligados ao fenômeno da opinião pública. Somente numa sociedade democrática, onde a opinião pública assume papel preponderante no processo político, haverá a devida importância à atividade profissional das relações públicas. Necessariamente, numa democracia, há que se estabelecer o diálogo, o consenso, a ausculta aos diversos grupos e movimentos sociais. Essa afirmação foi feita em 2008, quando a internet ainda não tinha a relevância como se tem hoje, e não se tinham as redes sociais, nas quais todos podem ser vistos e ouvidos, e a opinião pública não pode mais ser dimensionada, tornando-se sem fronteiras e ganhando relevância e destaques inimagináveis. Contudo, falaremos dessa importância um pouco mais à frente. Ainda sobre o surgimento da profissão de relações públicas no nosso país, na época do seu surgimento, eram exigidos, na constituição empresarial do momento, profissionais com domínio das técnicas e dos processos de comunicação. Assim, amplia-se, no país, o interesse de profissionais de várias áreas por essa novidade. Em 21 de julho de 1954, na cidade de São Paulo, surge, então, a Associação Brasileira de Relações Públicas - ABRP, tendo, como seu primeiro presidente, Hugo Barbieri. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 14 As finalidades da ABRP, expressas nos seus primeiros estatutos, eram: a) congregar todos os profissionais, estudiosos e entidades cujas atividades sejam ligadas a relações públicas; b) tornar conhecida, apreciada e respeitada a atividade profissional de relações públicas; c) proporcionar o aperfeiçoamento profissional de seus associados e das pessoas que desejarem se dedicar a relações públicas, promovendo cursos, palestras, congressos etc.; d) pugnar pelo reconhecimento, oficialização e regulamentação da profissão de relações públicas e de cursos de formação profissional (GURGEL, 1985, p. 35). A ABRP passa a promover vários encontros, publicações e cursos na área. Mais tarde, também em São Paulo, em 1967, surge, oficialmente, o primeiro curso de Relações Públicas do Brasil. No mesmo ano, no Rio de Janeiro, aconteceu o IV Congresso Mundial de Relações Públicas (ano da lei que regulamenta a profissão, decretada um ano depois, em 1968). Assim, o Brasil se torna o primeiro país do mundo a apresentar uma legislação do tipo para a área. Logo depois, em maio de 1971, nasce, oficialmente, o Sistema CONFERP, uma autarquia federal, composta pelo Conselho Federal de Relações Públicas e, atualmente, seis Conselhos Regionais de Relações Públicas - CONRERP, responsáveis por diferentes estados. A criação do CONFERP aconteceu por meio do Decreto-Lei n° 860, de 11 de setembro de 1969, e sua instalação foi efetivada a partir da publicação do Decreto n° 68.582, de 04 de maio de 1971 (CORERP, 2020). No Decreto n° 68.582, encontramos a finalidade do sistema, que foi acolhida pelo seu regimento interno: Art. 3ᵒ – A coordenação, fiscalização e disciplinamento do exercício da profissão de Relações Públicas, criada pela Lei nᵒ 5.377, de 11 de dezembro de 1967, serão exercidos, em todo o território nacional, pelo Sistema CONFERP, na forma do Decreto-Lei nᵒ 860, de 11 de setembro de 1969, das Resoluções do CONFERP e desse Regimento (CORERP, 2020, s.p.). A seguir, listaremos os principais objetivos: O Art. 4ᵒ do Regimento Interno determina: Art. 4ᵒ – O Conselho Federal é o órgão normativo, gestor e, em casos de julgamento dos recursos das decisões dos Conselhos Regionais, é o tribunal de instância final administrativa do Sistema CONFERP e, nos termos do Art. 2ᵒ do Decreto-Lei nᵒ 860, de 11 de setembro de 1969, tem, por finalidade:ᵒᵒ I – Instalar Conselhos Regionais mediante proposta de um de seus membros ou de Conselhos Regionais, nos termos de decisões emanadas da Diretoria-Executiva de que trata o Art. 12, inciso II desse Regimento. IMPORTANT E TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 15 II – Propugnar por uma acertada compreensão dos problemas de Relações Públicas e sua adequada solução, especialmente quanto a: fazer a interface entre os poderes constituídos, com os objetivos de identificar os problemas e definir os rumos para sua solução; acompanhar a graduação dos alunos dos cursos de Relações Públicas, notificando a autoridade governamental competente sobre quaisquer desvios praticados pelas Instituições de Ensino Superior, mediante representação do Conselho Regional; participar de reuniões de grupos da sociedade civil organizada com o objetivo de tornar a comunicação cívica mais acessível ao cidadão brasileiro;denunciar, às autoridades competentes, infrações cometidas por pessoas físicas e jurídicas, organizações públicas e privadas às normas preconizadas pela Lei nᵒ 5.377, de 11 de dezembro de 1967, e seu Regulamento, baixado pelo Decreto nᵒ 63.283, de 26 de setembro de 1968. III – Disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Relações Públicas e, para tanto: a) normatizar as ações dos Conselhos Regionais com o objetivo de dar-lhes uniformidade de procedimentos em todo o território nacional; b) acompanhar a execução das ações de fiscalização levadas a efeito pelos Conselhos Regionais, exigindo o seu fiel cumprimento; c) representar, com os órgãos públicos federais, por solicitação expressa do Conselho Regional, contra os atos de organizações, públicas e privadas, de seus servidores e empregados, interferindo na fiscalização do exercício da atividade profissional de Relações Públicas; d) intervir nos Conselhos Regionais por determinação de autoridade superior ou por solicitação expressa de 2/3 (dois terços) de seu Plenário ou do Plenário de Conselho Regional; e) expedir as Resoluções que se tornem necessárias para a fiel interpretação e execução desse Regimento e demais normas legais disciplinadoras do exercício da profissão. IV – Elaborar o seu Regimento Interno, que poderá ser alterado mediante proposta subscrita por Conselheiro do Sistema CONFERP, devidamente justificada. V – Dirimir quaisquer dúvidas ou problemas surgidos nos Conselhos Regionais, observado o que dispõe o Art. 65, § 2ᵒ, inciso I, desse Regimento, quanto: a) à aplicação das normas legais pertinentes à profissão e à fiscalização do exercício profissional; b) à aplicação das normas procedimentais; VI – Estudar e aprovar os Regimentos Internos dos Conselhos Regionais, alterando o que se fizer necessário a fim de manter a unidade de procedimentos e de orientação aos membros dos colegiados dos Conselhos. VII – Julgar, em última instância, os recursos interpostos de decisões dos Conselhos Regionais, zelando pela formação e correta aplicação da jurisprudência administrativa do Sistema CONFERP, observado o disposto no Art. 65, § 2ᵒ, inciso I, desse Regimento. VIII – Elaborar e alterar o Código de Ética Profissional, estabelecendo os procedimentos para a sua fiscalização e o julgamento das infrações cometidas pelos registrados no Sistema CONFERP. IX – Aprovar, anualmente, as contas da autarquia em consonância com as normas baixadas pelo Tribunal de Contas da União, TCU. X – Promover estudos e conferências sobre Relações Públicas, com recursos próprios ou conveniados, mediante: a criação de grupos de estudos, temporários ou permanentes; a realização de seminários, fóruns, workshops, congressos, programas culturais, audiências públicas e debates; a criação, produção, veiculação e promoção de pesquisas e campanhas que tenham, por objetivo, o aperfeiçoamento técnico e material do profissional de Relações Públicas ou do acadêmico em formação profissional na área; a publicação de matérias e textos relacionados com a profissão; a nomeação de delegado com funções de representação, orientação e observação aos eventos apontados nas alíneas a, b e c desse inciso, quando realizados no âmbito federal ou fora do território nacional. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 16 XI- Convocar, realizar e fiscalizar as eleições para a composição ou renovação dos seus quadros, mediante instruções específicas que cuidem do processo eleitoral do Sistema CONFERP, baixadas por resolução. XII- Fiscalizar as eleições dos Conselhos Regionais. XIII- Servir, como órgão de consulta ao governo, nos assuntos de Relações Públicas, e indicar profissional da área para participar do quadro consultivo de órgãos ou entidades de administração pública federal, direta ou indireta, fundações e empresas públicas, quando solicitado por quem de direito. XIV- Publicar o relatório anual dos seus trabalhos nos termos dos Arts. 79, 80 e 104 desse Regimento. XV- Fixar, nos termos da lei, as contribuições e emolumentos devidos pelos profissionais de Relações Públicas e pessoas jurídicas que se dediquem, profissionalmente, à atividade de Relações Públicas. XVI- Fixar, nos termos da lei, os valores das multas arbitradas e cobradas pelos Conselhos Regionais quando da fiscalização do exercício profissional” O Art. 5ᵒ, por sua vez, assim impõe: Art. 5ᵒ – Os Conselhos Regionais são os órgãos executores das ações fiscalizatórias do Sistema CONFERP e, nos termos do Art. 3ᵒ do Decreto-Lei nᵒ 860, de 11 de setembro de 1969, há as seguintes finalidades: I- Fazer executar as diretrizes do Conselho Federal mediante o cumprimento, a tempo e a hora, das normas baixadas. II- Disciplinar e fiscalizar, no seu âmbito de jurisdição, o exercício da profissão de Relações Públicas mediante: a) a correta e eficaz aplicação das penalidades determinadas pelas resoluções do CONFERP; b) resoluções e demais instrumentos legais sobre assuntos da sua competência e em harmonia com as normas baixadas pelo CONFERP; c) a arrecadação das anuidades, taxas, multas e demais rendimentos devidos ao Sistema; d) o repasse dos valores devidos ao CONFERP, nos termos da lei. III- Organizar e manter o registro de profissionais de Relações Públicas nos termos das instruções do CONFERP. IV- Julgar as infrações e impor as penalidades definidas por força de lei e mediante os procedimentos determinados pelo CONFERP. V- Expedir as carteiras profissionais, indispensáveis ao exercício da profissão, e os certificados de registros de entidades e organizações que se dediquem, profissionalmente, à atividade de Relações Públicas, nos termos dos procedimentos do Sistema CONFERP. VI- Elaborar o seu Regimento Interno para estudo e aprovação do Conselho Federal, em estrita obediência aos termos dessa Resolução. VII- Convocar e realizar as eleições para a composição e renovação dos seus membros, nos termos do Processo Eleitoral aberto pelo CONFERP. Parágrafo único: Os Conselhos Regionais exercerão, cumulativamente e no âmbito de suas jurisdições, as atribuições do Conselho Federal previstas nos incisos II, IX, X, XIII e XIV do artigo anterior. Leia mais em: http://conferp.org.br/. Em resumo, os Conselhos Federal e Regional da profissão são, então, o CONFERP (Conselho Federal de Relações Públicas) e os CONRERPs (Conselho Regional de Relações Públicas). Esses últimos atuam de acordo com a região. Em Santa Catarina, somos o CONRERP da 4ª região. TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 17 Os principais objetivos: Os Conselhos Regionais têm as responsabilidades de executar as ações de fiscalização de perto, nos estados da sua abrangência, registrar os profissionais e julgar casos de infrações em primeira instância. O sistema tem, como objetivos, fortalecer e valorizar as atividades das relações públicas. Conselhos regionais: CONFERP: http://www.conferp.org.br/. CONRERP 1 (RJ): https://www.conrerp1.org.br/. CONRERP 2 (SP e PR): http://conrerp2.org.br/. CONRERP 3 (MG e ES): https://www.conrerp3.org.br/. CONRERP 4 (SC e RS): http://www.conrerp4.org.br/. CONRERP 5 (AL, BA, CE, PB, PE, PI, RN e SE): http://www.conrerp5.org.br/. CONRERP 6 (DF, GO, TO, MT, MS, MA, AC, AP, AM, PA, RO e RR):http://www.conrerp6.org.br/ DICAS FIGURA 1 – HIERARQUIA FONTE: <http://blogrp.todomundorp.com.br/>. Acesso em: 21 abr. 2020. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 18 FIGURA 2 – POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO SISTEMA CONFERP FONTE: <http://blogrp.todomundorp.com.br/>. Acesso em: 21 abr. 2020. No site da Confederação Brasileira de Relações Públicas, http://conferp.org. br/, existe uma breve cronologia que traremos, novamente, como resumo geral da história da profissão e de profissionais que marcaram a trajetória. Breve cronologia Nos Estados Unidos - pátria-mãe da atividade: Em 1807 - Thomas Jefferson, presidente dos Estados Unidos, ao enfatizar a necessidade de prestação de contas pelo poder público à população, usa, pela primeira vez, a expressão public relations. Em1882 - William Henry Vanderbilt profere a proverbial frase the public be damned. Em 1906 - Contratado pela indústria do carvão mineral, o jornalista Ivy Lee deixa a redação e cria o primeiro serviço de divulgação no interesse de empresas. No Brasil - país entre os pioneiros. Apenas oito anos após a fundação da atividade nos EUA. IMPORTANT E TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 19 1914 - Ato inaugural Departamento de Relações Públicas da The São Paulo Tramway Light and Power C.O. Personagem principal: Eduardo Pinheiro Lobo, engenheiro e primeiro executivo de RP da companhia (sua data de nascimento, 2 de dezembro, é o ‘Dia Nacional das Relações Públicas no Brasil’). De 1920 a 1930 - Predominância da atividade nas Relações Governamentais. Primeira multinacional de propaganda no país: a J W Thompson (1929). De 1930 a 1940 - Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) no Ministério da Justiça e Negócios do Interior (governo Getúlio Vargas). Centralização e controle das informações a serem divulgadas. De 1940 a 1950 1946 - Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) determina as atividades de relações públicas para promover boas relações com o público e os demais órgãos da administração pública. 1949 - No Instituto de Administração da Universidade de São Paulo, realizam-se várias conferências sobre Relações com a Propaganda e as Ciências Sociais. De 1950 a 1960 1951 - A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) cria o primeiro Departamento de Relações Públicas numa organização brasileira. 1953 - Primeiro curso (de especialização) em Relações Públicas, promovido pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (Prof. Eric Carlson). 1954 - É criada a ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas), em São Paulo. 1955 - Introduz-se a disciplina Relações Públicas na Escola Superior de Administração e Negócios da Fundação Getúlio Vargas. 1956 - Criada a Seção Estadual da ABRP no Rio de Janeiro. De 1960 a 1970 1961 - Vera Giangrande assume o cargo de relações-públicas na J. W. Thompson. 1967 - A Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo introduz o primeiro curso de bacharelado em Relações Públicas - profissão regulamentada. De 1970 a 1980 1971 - Criado o Sistema CONFERP-CONRERP. Criado o curso de Relações Públicas da UERJ. 1973 - Na XI Conferência Interamericana de Relações Públicas, Caio Amaral apresenta tese: o curso deveria ser ministrado na Escola de Administração – até 1968, as relações públicas se registravam no Conselho Regional de Técnicos de Administração (CRTA). 1979 - Saïd Fahrat ocupa a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (15/03/1979 a 19/12/1980). UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 20 De 1980 a 1990 1980 – 1ª Edição do POP - Prêmio de Opinião Pública (ABRP-SP). As relações públicas chegam ao Terceiro Setor, com a ‘explosão’ das ONGs no país. 1986 - Margarida Kunsch introduz, no país, o conceito de Comunicação Integrada. De 1990 a 2000 1990 - Código de Defesa do Consumidor é instituído. 1993 - Vera Giangrande é nomeada ombudsman do Pão de Açúcar. 1997 - Carta de Atibaia (CONFERP - sob a Presidência da Profa. Dra. Sidinéia Freitas). De 2000 a 2010 2002 - Resolução Normativa 43 do CONFERP traz detalhamento do conceito de Comunicação Integrada às práticas regulamentares de Relações Públicas. O Brasil na economia globalizada: Relações Públicas como ferramenta de internacionalização das marcas brasileiras. De 2010 em diante: rumo ao futuro 2010 - Reconhecimento pela área de gestão: estratégia voltada aos negócios: comunicação interna, governança e reputação. 2013 - Comissão de Especialistas do MEC expede novas Diretrizes Curriculares Nacionais (para entrada em vigor em dois anos) dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas. Caem as denominações ‘habilitações’ e ‘Comunicação Social’. Doravante, a área é de ‘Comunicação’. Início de atividades do Coletivo ‘TodoMundoPrecisaDeUmRP’. Início de atividades do Observatório da Comunicação Institucional. 2015 - A afirmação de Relações Públicas com uma identidade própria no campo da Comunicação, como um curso de graduação, com a entrada das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para um curso de bacharelado independente e autônomo. 2016 - A Prof.a Emérita, Drª. Nelly de Camargo, uma das fundadoras da ECA, é escolhida como homenageada do Depto de Relações Públicas, nos 50 anos da ECA, comemorados em 19/10. O documento traz a história até 2016. Com certeza, após a pandemia e crise mundial nas quais estamos vivendo, em meio ao caos da propagação do Coronavírus – COVID 19, a relevância, importância e história das relações públicas terão um novo marco significativo. Veremos, mais adiante, a comunicação de crise, e abordaremos a importância da comunicação e das relações públicas em cenários de crise. TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 21 5 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DO ENSINO DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL É unânime que a comunicação existe desde os tempos em que o sol fornecia calor e luz, e a tecnologia mais avançada era apenas o melhor jeito de lascar as pedras. Conforme o avanço da modernidade, a comunicação sempre teve seu desenvolvimento rápido e significativo, pois é fundamental para a evolução da humanidade, ontem e sempre. Porém, antes do surgimento formal dos estudos das comunicações enquanto profissão, e da criação das escolas de comunicação no Brasil, o aprendizado no mercado era feito na prática. Na época em que o Brasil era governado pelo presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961) que se deu a abertura do capital estrangeiro no país, tendo, como efeitos, uma rápida industrialização e a ampliação do consumo industrial de massa. Esse consumo de massa criou a necessidade e gerou condições para a formação de um sistema de comunicações mais estruturado. Para atender às demandas que estavam nascendo desse processo de industrialização no Brasil, no ano de 1969, o Conselho Federal de Educação (CFE) instituiu o Curso de Comunicação Social no Brasil pela Resolução nᵒ 11/69 do CFE, expressa nas habilitações em Editoração, Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. Há três anos, em 16 de junho de 1966, foi criado o primeiro curso universitário na Escola de Comunicação e Cultura da Universidade de São Paulo, que, em 1969, ano do Parecer do Conselho Federal de Educação – CFE, passou a se chamar Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP), nome usado até hoje. Nos dias atuais, o universo de diversos cursos e habilitações em Comunicação Social é visível a um clique na rede de busca da internet. Na UNIASSELVI, os cursos oferecidos são: Comunicação Social – Relações Públicas e Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. O aluno, após formado na graduação em Comunicação Social, independentemente de qualquer especialidade, é, primeiramente, chamado de comunicólogo. A Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE) é uma associação criada e voltada mais para o perfil dos profissionais que estão ligados à comunicação empresarial. A associação tem mais de 50 anos de atuação e oferece um vasto portfólio de cursos de comunicação, nacionais e internacionais, para complemento dos estudos após a graduação ou aplicabilidade do mercado de trabalho. Acesse o site para conhecer: http://www.aberje.com.br/. DICAS UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 22 6 ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL Os cursos de Comunicação Social são estruturados por diferentes habilitações, as mais difundidas e conhecidas são: Relações Públicas, Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Na sequência, descreveremos as diretrizes baseadas no que o Ministério da Educação discorre como competências e habilidades de cada profissão. O documento original pode ser acessado em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0492.pdf.Jornalismo - registrar fatos jornalísticos, apurando, interpretando, editando e transformando-os em notícias e reportagens; - interpretar, explicar e contextualizar informações; - investigar informações, produzir textos e mensagens jornalísticas com clareza e correção, e editá-los em espaço e período de tempo limitados; - formular pautas e planejar coberturas jornalísticas; - formular questões e conduzir entrevistas; - relacionar-se com fontes de informação de qualquer natureza; - trabalhar em equipe com profissionais da área; - compreender e saber sistematizar e organizar os processos de produção jornalística; - desenvolver, planejar, propor, executar e avaliar projetos na área de comunicação jornalística; - avaliar, criticamente, produtos, práticas e empreendimento jornalísticos; - compreender os processos envolvidos na recepção de mensagens jornalísticas e seus impactos sobre os diversos setores da sociedade; - buscar a verdade jornalística, com postura ética e compromisso com a cidadania; - dominar a língua nacional e as estruturas narrativas e expositivas aplicáveis às mensagens jornalísticas, abrangendo leitura, compreensão, interpretação e redação; - dominar a linguagem jornalística apropriada aos diferentes meios e modalidades tecnológicas de comunicação; Relações Públicas - desenvolver pesquisas e auditorias de opinião e imagem; - realizar diagnósticos com base em pesquisas e auditorias de opinião e imagem; - elaborar planejamentos estratégicos de comunicação institucional; - estabelecer programas de comunicação estratégica para criação e manutenção do relacionamento das instituições com seus públicos de interesse; - coordenar o desenvolvimento de materiais de comunicação, em diferentes meios e suportes, voltados para a realização dos objetivos estratégicos do exercício da função de relações públicas; - dominar as linguagens verbais e audiovisuais para seu uso efetivo a serviço dos programas de comunicação; - identificar a responsabilidade social da profissão, mantendo os compromissos éticos estabelecidos; - assimilar criticamente conceitos que permitam a compreensão das práticas e teorias referentes às estratégias e processos de relações públicas. IMPORTANT E TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 23 Publicidade e Propaganda - ordenar as informações conhecidas e fazer diagnóstico da situação dos clientes; - realizar pesquisas de consumo, de motivação, de concorrência, de argumentos etc.; - definir objetivos e estratégias de comunicação como soluções para problemas de mercado e institucionais dos anunciantes; - conceber meios de avaliar e corrigir resultados de programas estabelecidos; - executar e orientar o trabalho de criação e produção de campanhas de propaganda em veículos impressos, eletrônicos e digitais; - realizar e interpretar pesquisas de criação como subsídio para a preparação de campanhas publicitárias; - dominar linguagens e competências estéticas e técnicas para criar, orientar e julgar materiais de comunicação pertinentes a suas atividades; - planejar, executar e administrar campanhas de comunicação com o mercado, envolvendo o uso da propaganda e de outras formas de comunicação, como a promoção de vendas, o merchandising e o marketing direto; - identificar e analisar as rápidas mudanças econômicas e sociais em escala global e nacional que influem no ambiente empresarial; - identificar a responsabilidade social da profissão, mantendo os compromissos éticos estabelecidos; - assimilar, criticamente, conceitos que permitam a compreensão das práticas e teorias referentes à publicidade e à propaganda. Dessa forma, diante das competências e habilidades apresentadas, as três áreas fazem parte do que podemos chamar de comunicação integrada, sendo, então, áreas que se interligam, porém, com notório saber diferenciado. O mundo perfeito da comunicação integrada é o complemento de todos esses profissionais para o trabalho em prol da organização e em equipe multidisciplinar. Todas essas áreas são comunicação, cada uma com seu funcionamento e mecânica. Relações públicas A profissão trabalha com a reputação das marcas, alinha identidade com imagem e gerencia relacionamentos entre marcas e públicos, tendo frequência, engajamento e alinhamento entre discurso e opinião pública. Os profissionais constroem, promovem e preservam a imagem e reputação de empresas, marcas e instituições. A atuação no mercado poderá ser em qualquer segmento de empresas, agências de comunicação ou assessoramento da imagem de pessoas com o branding pessoal. Jornalismo O jornalista tem o desafio que suas pautas tenham aderência aos veículos e se transformem em notícias transmitidas em canais de confiança e renome, dando notoriedade para a marca. Os jornalistas são preparados para coletar, investigar, escrever, editar e administrar conteúdos, registrando fatos jornalísticos, com o dever de cumprir com a verdade e com a precisão da informação. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 24 Publicidade e propaganda Os publicitários ficam com a parte criativa das campanhas e constroem a lembrança de marca, tanto visualmente quanto em linguagem. Vale destacar que a publicidade é uma coisa e, propaganda, outra, até porque se fossem a mesma “coisa”, os dois termos juntos seriam um pleonasmo. A propaganda é uma parte da publicidade, porém, propaganda e publicidade não são a mesma coisa. A confusão é comum, e não é, necessariamente, um problema. A publicidade é uma atividade profissional dedicada à difusão pública de ideias associadas a empresas, produtos ou serviços. A propaganda é uma forma de comunicação que tem, como objetivo, incentivar a atitude de um determinado público, não sendo imparcial e nem informativa. A propaganda é produto e, a publicidade, é a inteligência de criar os formatos por onde a propaganda é veiculada. A seguir, entenderemos um pouco melhor a diferença entre os dois termos, que possuem definições diferentes, muitas vezes, são tratados como sinônimos. 7 DEFINIÇÃO E DIFERENÇAS ENTRE PUBLICIDADE E PROPAGANDA Significado de Publicidade: difusão de um texto que, feita por um veículo de comunicação, como jornal, revista, televisão ou rádio, busca influenciar alguém a comprar um produto. Significado de Propaganda: difusão de uma ideia, de uma crença, de uma ideologia ou religião: fazia propaganda da sua fé. Alguns pesquisadores diferem a publicidade da propaganda como sendo a publicidade o anúncio que tem veiculação paga e, a propaganda, a comunicação não paga, que pode acontecer de forma espontânea. A origem do termo propaganda vem da aplicação de doutrinas religiosas, sendo usado pela Igreja Católica quando houve a criação da Congregação da Propaganda, com a intenção de propagar a fé católica. Para Gomes (2001), publicidade e propaganda não são sinônimos, como querem os publicitários brasileiros. Sendo, o Brasil, o único país do mundo a não fazer diferenças conceituais, é necessário que, academicamente, os professores comecem a perceber que estamos diante de duas técnicas, cujas diferenças se acentuam na medida em que se aprofundam os estudos, não apenas semânticos, mas históricos e técnicos. TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 25 Ainda, a mesma autora relata as seguintes definições, muito bem esclarecidas: Enfocando a publicidade na sua concepção atual, podemos observar como, efetivamente, possui três elementos que a identificam e a diferenciam de outros conceitos: a) Capacidade informativa b) Força persuasiva c) Caráter comercial Também é possível analisar, na propaganda, numa mesma concepção atual, seus três elementos identificadores e diferenciadores: a) Capacidade informativa b) Força persuasiva c) Caráter ideológico Dessa forma, fica evidente que os dois termos não são sinônimose se complementam. No entanto, no mercado de trabalho brasileiro, não vemos essa diferenciação na aplicabilidade das técnicas e profissão. Mesmo os órgãos regulamentadores da área, como o CENP – Conselho Executivo de Normas Padrão, FENAPRO – Federação Nacional das Agências de Propaganda, e a ABAP – Associação Brasileira de Agências de Publicidade, não fazem essa diferenciação, e usam os termos como sinônimos. É importante conhecer essa polêmica de longa data sobre as diferenças dos termos publicidade e propaganda. Recomendamos a leitura a seguir, para aprofundar o debate e tornar, ainda mais evidentes, as diferenças e as razões pelas quais isso ocorre no Brasil. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 26 É publicidade ou propaganda? A maioria das pessoas não sabe definir publicidade – incluindo os donos de agência, os publicitários, os estudantes de publicidade, muitos professores de comunicação, editores de livros, tradutores, gerentes e diretores de marketing, anunciantes e jornalistas. Ainda, confundem publicidade e propaganda, como se fossem sinônimos. Pois não são. Mesmo! “Publicidade é a criação e a veiculação de mensagens de vendas eficientes, para públicos selecionados”, bem define o renomado professor Don Schultz, da North Western University, dos Estados Unidos. Propaganda é a criação e a propagação de mensagens doutrinárias, ideológicas, políticas, cívicas ou religiosas. No mundo todo, publicidade é a comunicação para a geração de negócios e propaganda é a comunicação voltada às ideias, políticas e à religião. Só não é assim no Brasil. Publicidade é publicittá na Itália, publicidad na Espanha e outros países de língua espanhola, e publicitè na França e em países que usam esse idioma. É publicidade em Portugal, Angola, Macau e outros países de língua portuguesa. Publicidade é reklama, na Alemanha, na Rússia, na Finlândia, Noruega e em outros países nórdicos, germânicos, eslavos ou da antiga União Soviética. Propaganda só é usada para a política, ideologia ou religião. Quando trata de política, ideologia ou religião, em todos os países, é propaganda. Nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália e em outros países de língua inglesa, é advertising para comércio e, propaganda, para política, ideias e religião. Advertising deriva de advert, que significa advertência, que é como eram chamados os anúncios dos senhores de escravos, que anunciavam as fugas e recompensas pela captura, antes da guerra norte-americana. Funcionava tanto que virou sinônimo da atividade: advertising. No Brasil de antes da abolição da escravatura, esses mesmos anúncios se chamavam reclames. Só que, no Brasil, a palavra caiu em desuso, pelo seu duplo sentido, porque parece chato alguém reclamar que você vá preferir comprar na loja dele. Não existe uma explicação definitiva sobre como se consolidou essa confusão no Brasil, onde se adotou o uso da palavra propaganda como sinônimo (equivocado) de publicidade. Talvez, e muito provavelmente, a “culpa” seja dos próprios publicitários, nos tempos da Segunda Guerra Mundial, quando, aqui, chegaram as grandes agências norte-americanas com as primeiras grandes marcas multinacionais e a propaganda antinazista, propaganda comunista, nazista e fascista, propaganda pró-aliados e propaganda pró-América. Provavelmente, o termo propaganda, muito usado naqueles tempos, tenha caído no gosto dos brasileiros e, convenhamos, soa melhor e mais fácil do que advertising. IMPORTANT E TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 27 Desde a década de 1940, proliferaram as “Agências de Propaganda” no Brasil, popularizando o uso inadequado e equivocado da palavra, ao mesmo tempo em que outros preferiram “Agência de Publicidade”. O governo criou um Departamento de Imprensa e Propaganda, que era uma terminologia correta para as funções. Era o famoso DIP, de Getúlio Vargas (que trabalhou tão bem que até hoje a imagem de Getúlio é cultuada como “o pai dos pobres”, quando, na verdade, era um ditador). Na Constituição do Brasil, esse equívoco se legalizou com as leis que regem a atividade no nosso país. O governo, inclusive, através do Ministério da Educação, normatizou os cursos de publicidade e propaganda. Eu me formei na Universidade Católica do Paraná, fiz mestrado nos Estados Unidos, dei aulas na Universidade Federal do Paraná e no UNICENP (hoje, Universidade Positivo). Raras aulas assisti ou dei sobre a verdadeira propaganda. Quem assistiu? No meu mestrado, assisti a algumas, com documentários sobre as propagandas nazista e comunista, mas foi muito, muito pouco. Todo o foco do ensino está na publicidade, na comunicação comercial, que vende. Estou equivocado? Quem assistiu a documentários ou leu sobre Joseph Goebbels, o mestre da propaganda nazista, em aulas, numa faculdade brasileira? Poucos. Pois todos deveriam, porque há muito que aprender com ele, sobre o que fazer e o que não fazer. Foi ele que disse: “uma mentira repetida mil vezes vira verdade”. Propaganda parece tão relacionada com mentira, não parece? Basta assistirmos à propaganda dos governos e eleitoral, para perceber isso facilmente. Quem leu Mein Kampf, de Adolf Hitler, que tem um capítulo muito bem elaborado sobre a propaganda? Deveriam ler. Não para se tornarem nazistas, é claro, mas para aprender mais. Sobre a propaganda comunista russa, chinesa e cubana? Há muitos livros a respeito. Todavia, quem leu? Contudo, vamos voltar ao tema: Publicidade x Propaganda. Em qualquer outro país do mundo (exceto no Brasil), se você usar o termo propaganda, transmitirá a informação de que trabalha com política ou religião. Com a velocidade da informação, a internet e a globalização, logo, os brasileiros deverão de convir que não faz sentido continuar usando propaganda como sinônimo de publicidade, que é advertising. Eu, pelo menos, já me policio o tempo todo, e não uso. Todos deveríamos fazer o mesmo, para acabar com essa confusão. Tenho certeza, também, que as editoras e os tradutores do inglês para o português no Brasil também têm culpa, nessa questão, pois, muitas vezes, traduzem de forma errada. Diversos autores, como Philip Kotler, David Ogilvy, Joe Cappo, Al Ries, John Caples, Claude Hopkins, Kevin Roberts e muitos outros tiveram sua obra mutilada e prejudicada, por traduções equivocadas de advertising. Gestão de Marcas em Mercados B2B, de Philip Kotler, não só usa corretamente a palavra publicidade (e nunca propaganda), como define advertising como publicidade. O livro tem, como coautor, o professor Waldemar Proertsch. Publicity, amigos, também não é publicidade. É relações públicas, ou assessoria de imprensa. Publicist é assessor de imprensa, ou promotor de personalidades e eventos. Não é publicitário! Aliás, alguém aí vai se formar ou se formou como propagandista? Propagandistas são vendedores ambulantes, de medicamentos e de produtos de higiene e beleza, como os da Avon e da Natura, por exemplo. Ou como os camelôs das ruas e esquinas do mundo. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 28 A ABAP, hoje, graças a um trabalho do Flávio Corrêa, o Faveco, chama-se Associação Brasileira das Agências de Publicidade. Era de propaganda, e mudou, porque era e é errado. Como é que se chama o CONAR? É Código de Autorregulamentação Publicitária. Mas, sim, ainda existem vários Sindicatos de Agências de Propaganda, assim como agências de propaganda e marketing (o que é outro equívoco, pois marketing é uma atividade totalmente direcionada à produção, distribuição e ao comércio, com lucro. Entra a comunicação, como veremos mais adiante, nada tem a ver com política, por isso, Marketing Político é outra invenção boba e exclusiva do Brasil, pois é simplesmente e nada mais que propaganda). O que ocasiona esse uso indevido dos termos? Creio que é a desinformação. Assim como os estudantes não sabiam sobre o que escrevi nas linhas anteriores, jornalistas (os especializados), escritores,editores, tradutores, anunciantes, profissionais de marketing e publicitários também não sabiam, ou não se importavam com isso. Muitos continuam não se importando. Talvez, até julguem irrelevante. Ou polêmico. Ou que não valha a pena discutir e corrigir essa distorção. Sem importância, podem dizer. Mas não é! Pelo menos, eu creio que é importante. Basta, um dia, vocês terem que enviar um relatório para a matriz em Londres, ou para um cliente multinacional, em Nova York, Paris, Roma, Tóquio, Pequim, Moscou ou Buenos Aires e escreverem: “Nossos investimentos em propaganda serão de...”. Acabaram de perder o emprego, babies... *O mundo não se restringe ao Brasil. Faz tempo. Faço e repito sempre essas colocações para que os mais jovens passem a utilizar as palavras corretas, para a comunicação comercial e para a ideológica. Quanto mais de nós, publicitários, usarmos a palavra publicidade, ao invés de propaganda, mais depressa corrigiremos esse equívoco histórico e único dos publicitários brasileiros. Pesquisem na Amazon que materiais vocês encontrarão em advertising e em propaganda. Em janeiro de 2013, propaganda tinha 9.246 livros à venda (vejam lá qual é o assunto...) e, advertising, tinha 65.736 livros (confiram!). Com a globalização e a internet, não tem jeito. Mais de 70% das comunicações comerciais mundiais na web são em inglês. As maiores agências e grupos de comunicação estão nos Estados Unidos e Reino Unido, com algumas exceções na França e Japão. Então, não podemos continuar errados. Leia mais em: https://www.huffpostbrasil.com/joao-jose-werzbitzki/publicidade-ou- propaganda_a_21664615 . TÓPICO 1 — NATUREZA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 29 Seguem três dicas de filmes que representam o poder da comunicação nas empresas. As produções não são tão recentes, mas trazem significados importantes para qualquer profissional da nossa área. Preparem o balde de pipoca, papel e caneta para anotações e boa diversão! UMA MULHER DE TALENTO: Baseado em uma história verídica, Erin (Julia Roberts) descobre que a água de uma cidade no deserto está sendo contaminada pela empresa PGE-Gás e Eletricidade do Pacífico. A empresa vem cometendo elevados crimes ambientais, dos quais resultam inúmeros casos de mortes, doenças e mal formações nos habitantes. A partir de então, utilizando todas as suas habilidades, convence os cidadãos da cidade a cooperarem com ela. MERA COINCIDÊNCIA: Mera coincidência relata bem a importância da profissão de relações públicas no gerenciamento de crises. O filme conta a história do presidente dos Estados Unidos, que se depara com uma crise de imagem, por ser acusado de estar envolvido em um escândalo sexual. Para reverter a situação, contrata um assessor de imprensa que desvia a atenção do público através da mídia. OBRIGADO POR FUMAR: Nick Naylor é um relações públicas que atua entre a indústria do cigarro e as vítimas do tabagismo. A todo instante, através de argumentos e várias estratégias, ele tenta desfazer os golpes dados pela mídia sensacionalista, autoridades e organizações contra o fumo. Atenção na parte do filme em que mostra a audiência no congresso e a atuação de Nick Naylor enquanto profissional de RP! DICAS 30 Neste tópico, você aprendeu que: • Não existe uma única definição para as relações públicas, pois há uma grande quantidade de definições. • A definição oficial usada em nosso país, de relações públicas, foi estipulada pela Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP), em 14 de fevereiro de 1955. • O profissional de relações públicas integra a tríade principal de Comunicação Social (englobando o Jornalismo e a Publicidade), e tem, como objetivo, a estratégia do posicionamento das empresas no mercado e perante os diversos públicos. • A atividade de relações públicas tomou um formato e ganhou nomenclatura a partir da ideia inicial de Ivy Lee, em 1906, o qual montou o primeiro escritório de relações públicas. A principal atividade do escritório era recuperar a credibilidade perdida pelo empresário Jon D. Rockfeller. • No Brasil, a história das relações públicas teve início com a fundação do Serviço de Atendimento ao Público e à Imprensa, da empresa Light and Power Co., em 1914, criado por Eduardo Pinheiro Lobo (conhecido como o pai das relações públicas no Brasil). • No Brasil, a profissão é regulamentada desde 11 de dezembro de 1967. • Os Conselhos Federal e Regional da profissão são o CONFERP (Conselho Federal de Relações Públicas) e o CONRERP (Conselho Regional de Relações Públicas). Os últimos atuam de acordo com a região. Em Santa Catarina, somos o CONRERP 4ª região. • Em 1966, foi criado o primeiro curso universitário na Escola de Comunicação e Cultura da Universidade de São Paulo. Chama-se Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP). • Na diferenciação das três principais áreas de concentração da comunicação social, temos: relações públicas, que alavanca a reputação das marcas, alinha identidade com imagem e gerencia relacionamentos entre marcas e públicos; o jornalista, com o desafio que suas pautas tenham aderência nos veículos e se transformem em notícias transmitidas em canais de confiança e renome; e, por fim, os publicitários, que ficam com a parte criativa das campanhas e constroem a lembrança de marca, tanto visualmente quanto em linguagem. RESUMO DO TÓPICO 1 31 • Publicidade e propaganda possuem significados diferentes, e não são sinônimos. Alguns pesquisadores diferem a publicidade da propaganda como sendo, a publicidade, o anúncio que tem veiculação paga e, a propaganda, a comunicação não paga, que pode acontecer de forma espontânea. • No mercado de trabalho, não vemos essa diferenciação, mesmo os órgãos regulamentadores, como o CENP – Conselho Executivo de Normas Padrão, FENAPRO – Federação Nacional das Agências de Propaganda, e a ABAP – Associação Brasileira de Agências de Publicidade, não fazem essa diferenciação e usam os termos como sinônimos. 32 33 A seguir, responda se está certo ou errado. Em caso errado, justifique. 1 Com criação no campo da comunicação social, as relações públicas ganharam abrangência profissional e regulamentação, desvinculando-se, então, da comunicação social, e se associando, cada vez mais, à administração, constituindo função estratégica nas empresas. a) ( ) Errado. b) ( ) Certo. 2 O pai da atividade de relações públicas foi o jornalista Ivy Lee, com a abertura do primeiro escritório de relações públicas do mundo. a) ( ) Errado. b) ( ) Certo. 3 No Brasil, a história das relações públicas teve início com a fundação do Serviço de Atendimento ao Público e à Imprensa, da empresa Light and Power Co. a) ( ) Errado. b) ( ) Certo. 4 A profissão de relações públicas é regulamentada, no mundo, desde 11 de dezembro de 1967, com a aprovação do Regulamento da Profissão de Relações Públicas, sob a Lei nᵒ 5.377. As profissões de jornalismo e publicidade têm a regulamentação apenas no Brasil. a) ( ) Errado. b) ( ) Certo. 5 Os Conselhos Federal e Regional da profissão são o CONFERP (Conselho Federal de Relações Públicas) e o CONRERPs (Conselho Regional de Relações Públicas). a) ( ) Errado. b) ( ) Certo. AUTOATIVIDADE 34 6 Os termos publicidade e propaganda significam, respectivamente, a comunicação não paga, que pode acontecer de forma espontânea, e o anúncio que tem veiculação paga. a) ( ) Errado. b) ( ) Certo. 7 Para finalizar o tópico, escreva, com suas palavras, e em poucas linhas, uma definição para relações públicas. 35 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 CONCEITOS GERAIS 1 INTRODUÇÃO Sabe por que o mascote e símbolo das relações públicas é o golfinho rotador? FIGURA 3 – GOLFINHO ROTADOR FONTE: <http://www.geotesc.com.br/site/tag/golfinho-rotador/>. Acesso em: 19 maio2020. Dizem que é por ser a espécie mais comunicativa e sociável. Por serem animais que se desenvolvem em ambientes difíceis e estão sempre atentos a mudanças e monitorando o ambiente em que se encontram. Os golfinhos auxiliam os pescadores em suas pescas, mostrando o lugar onde os cardumes estão e, assim, o melhor local da pesca. 2 SÍMBOLO DA PROFISSÃO Foi, no ano de 2003, que o CONFERP oficializou o golfinho rotador como mascote da profissão e, segundo o site do CONRERP, é o mascote da profissão de relações públicas, por ser considerado, entre as sete espécies mais conhecidas, como o animal mais comunicativo e sociável. 36 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS FIGURA 4 – SÍMBOLO FONTE: <https://www.rrpponline.com.br/site/essegolfinhomereprenta/>. Acesso em: 19 maio 2020. Assim, o símbolo de relações públicas pode não agradar a todos os profissionais, e confessamos que, quase, não vemos sendo usado. No entanto, é um símbolo oficial, independentemente dos gostos e usos. O Dia Nacional das Relações Públicas é comemorado em 2 de dezembro. A data é uma homenagem ao dia de nascimento de Eduardo Pinheiro Lobo, considerado o patrono das relações públicas no Brasil. Ele foi diretor do primeiro Departamento de Relações Públicas criado no país, conforme falado no Tópico 1. NOTA Separaremos, em tópicos, as principais atividades e instrumentos de relações públicas e seus conceitos antes dos processos. 3 NOÇÕES DOS PROCESSOS DE RP Já vimos, na história das relações públicas que foi, na percepção de um empresário sobre um GAP em seus processos, que fez surgir a necessidade de um profissional específico para lidar com a opinião, imagem e reputação pessoal e da empresa. Assim, podemos dizer que surgia um novo processo. Processo é a maneira de se fazer alguma coisa; procedimento: processo de criação. Ação contínua e prolongada, que expressa continuidade na realização de determinada atividade. Há uma sequência constante, cujos procedimentos apresentam certa unidade ou se desenvolvem de modo regular; andamento. TÓPICO 2 — CONCEITOS GERAIS 37 É preciso descrever, aqui, alguns macro processos de relações públicas consolidados ao longo dos anos e de milhares de profissionais atuantes no mercado e teóricos do segmento. No entanto, sempre haverá um novo processo surgindo, um novo instrumento que dependerá apenas do cenário em que está inserido e da capacidade criativa do profissional executor. Os processos estão relacionados a como as relações públicas são desenvolvidas e executadas. Alguns teóricos que fazem a abordagem sobre os processos das relações públicas são: Roberto Simões (1995), Margarida Kunsch (2003), Hebe Wey (1983), Teobaldo Andrade (1993) e outros. Cada um apresenta o processo e as fases de maneira específica: • Simões (1995) destaca a função política das relações públicas e as seguintes funções básicas: diagnosticar, prognosticar, assessorar e implementar. • Kunsch (2003) afirma que o processo de relações públicas está estruturado em quatro aspectos: pesquisa, planejamento, execução e avaliação. • Hebe Wey (1983) apresenta o processo da área em cinco etapas: diagnóstico, planejamento, orçamento, execução e avaliação. Hebe Wey (1983) se diferencia de Kunsch (2003) no sentido de acrescentar o item Orçamento. Realmente, o orçamento disposto muda completamente o rol de atividades e aprofundamento das execuções. É claro que o planejamento e a criatividade estão imunes ao orçamento, mas a real execução e a qualidade do que se propõe estão diretamente ligadas ao orçamento disposto. Também acrescentando no item Avaliação, a mensuração dos resultados. Nada justifica uma boa avaliação sem dados evidenciados, mesmo que, para essa mensuração, sejam precisas pesquisa qualitativa e quantitativa ou outros meios de medição. Assim, ainda acreditamos que as fases do processo são em outra frente de prioridade, sendo, o orçamento, o segundo item a ser pensado ou revisto. A seguir, acompanharemos um resumo de cada item do processo de relações públicas. O processo é cíclico, e uma etapa está diretamente ligada com a outra. 38 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS FIGURA 5 – PROCESSOS FONTE: O autor • Diagnóstico Entender a real situação e o cenário em que está inserido. Nessa fase, a pesquisa é fundamental, e o mais importante é saber fazer as perguntas certas, além de conhecer, a fundo, o seu público. Nessa fase, há duas situações recorrentes: • Muitas vezes, é apresentado o sintoma e, na verdade, precisamos tratar o real problema. Quando é apresentado um determinado problema, é natural ir, diretamente, em busca de soluções, sem parar para pensar se é realmente o problema que nos foi apresentado ou o sintoma. Não paramos para pensar em como pensar. O primeiro desafio a enfrentar na solução dos problemas é não analisar apenas os sintomas, normalmente, o que nos é relatado como problema, na verdade, é apenas o sintoma. Quando tratamos, rapidamente, do problema, normalmente, tomamos o sintoma como problema. Faz-se necessária a busca inicial da causa-raiz, o fato gerador do problema. Escutar é vital para que a análise seja assertiva e robusta. Contudo, afirmamos que, aqui, o melhor é fazer a maior quantidade de perguntas possíveis. Os processos que incluem o diagnóstico de relações públicas podem englobar maneiras de pesquisa in loco, qualitativa, quantitativa. É possível, ainda, utilizar diversos outros meios de diagnóstico encontrados na área de administração, por exemplo: 5 Porquês (desenvolvida por Sakichi Toyoda, fundador da Toyota, em 1930), Diagrama de Causa e Efeito, Diagrama Espinha de Peixe ou Diagrama de Ishikawa (criado em 1943, pelo Dr. Karou Ishikawa, da Tokyo University), PDCA, 5W2H, Canvas etc. • Muitos estudantes e profissionais da área tentam achar maneiras diferentes de resolver ou contornar o problema, que não seja dentro do escopo de processos e conhecimento da área, quando o papel das relações públicas é estritamente ligado à comunicação e aos públicos. Diagnóstico Orçamento Planejamento Avaliação e mensuração Execusão TÓPICO 2 — CONCEITOS GERAIS 39 Daremos um exemplo prático: Imagine que uma empresa necessita fabricar produtos diferentes e específicos para exportação. Esses produtos não podem ter determinados componentes, como acessórios, pintura específica ou insumos diferentes dos produzidos para o mercado interno, sujeitos a uma multa altíssima, se pegos erradamente na exportação. É chamada a área de comunicação para ‘resolver’ o problema e garantir que não se tenha erro na fabricação desses produtos. Aqui, a tendência é pensar, então, em se fazer duas linhas de produção, uma para o mercado de exportação e, a outra, para o mercado interno. Ainda, dois turnos de trabalho, um que fabrique para o mercado interno e, o outro, para o mercado externo. Seria “mais” fácil e, até mesmo, “óbvio” pensar dessa forma, certo? Então, a questão é que não compete, ao profissional de comunicação, resolver os processos operacionais dessa equação. Quem deve fazer o estudo é a engenharia de processos, equipe de manufatura e, até mesmo, alinhamento com a área de Recursos Humanos, sobre custo de mão de obra e legislação trabalhista. O que compete, ao profissional de comunicação, é solucionar o problema real, com estudo aprofundado do problema, e não do sintoma. No cenário apresentado, por exemplo, podemos propor que os produtos que sejam modelo de exportação iniciem a linha de operação com um adesivo grande e bem visível escrito “modelo exportação” e, ao longo do processo, que existam sinalizações sobre o que vai no modelo. Exemplo: cuidado, nesta etapa, o modelo exportação usa a gaveta X. Além disso, a comunicação poderá propor, frequentemente, treinamento operacionale comunicação direta com a equipe sobre o andamento do processo, controlando os resultados com a manufatura, se está havendo refugo ou erro de entendimento do processo. Dessa forma, a comunicação está estritamente pensando em soluções de comunicação, e não de engenharia dos processos. Outro fator importante na fase do diagnóstico é conhecer, a fundo, o seu público. Às vezes, vemos, em alguns planejamentos, a inversão de procedimentos, estabelecendo as ações, planos, programas e projetos e, depois, verificando o público, sem saber dos seus reais anseios. No próximo tópico, veremos, com detalhes, sobre público-alvo, o que é e como diagnosticá-lo. Então, em resumo, na fase do diagnóstico, é necessária uma pesquisa com perguntas corretas, análise do problema com a identificação e conhecimento da real situação, levantamento de dados, conhecimento do público a ser alcançado e, assim, análise da situação e do cenário. • Orçamento O planejamento de relações públicas deve ser feito com base em um orçamento ou, ao menos, uma estimativa real de valores. 40 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS Vamos fazer uma comparação: seu sonho é ter uma Ferrari, esse é o desejo final do seu planejamento. Contudo, você tem orçamento para esse fim, ou a verba dá para comprar apenas um Fiat 147? Se for a segunda opção, quais meios fazer para alcançar o primeiro objetivo ou, ainda, é preciso alinhar as expectativas e os objetivos? Por isso, é fundamental, primeiramente, entender quanto a empresa pode se dedicar para a comunicação. Além de bem definido, esse orçamento também deve ser gerido com um acompanhamento contínuo e dedicado, garantindo que o capital disponibilizado seja utilizado da melhor forma, já que sempre há diversas maneiras de fazer relações públicas sem custo e com muita criatividade. • Planejamento Esta etapa é a mais importante e merece tempo de dedicação. Com o diagnóstico feito e, ao menos, a base de estimativa do orçamento, é hora de “quebrar a cabeça” e “soltar a criatividade” para as melhores soluções do planejamento de relações públicas. Toda ação, desde um plano complexo até uma ação mais simples, deve ser planejada. As etapas e o processo do planejamento sempre serão os mesmos, o que mudará é sua complexidade, além da extensão. Kunsch (2003) menciona o seguinte: Em relações públicas, desenvolvemos, basicamente, dois tipos de planejamento. O primeiro é o de elaboração de todo um projeto global ou um plano estratégico de comunicação para determinada organização. O segundo é voltado para o planejamento e a produção de projetos e programas específicos, como eventos especiais, publicações institucionais, ações com a comunidade, comunicações de crises, projetos socioculturais, comunicação interna, mídias digitais etc. (KUNSCH, 2003, p. 319). Claro que qualquer planejamento, principalmente, o de longo prazo, pode sofrer ajustes e mudanças, conforme sua execução. Tudo isso é, na verdade, necessário. Afinal, um planejamento não serve para engessar as atividades, e sim, direcioná-las. Você já deve ter ouvido a expressão do clássico Alice no País das Maravilhas de Charles Lutwidge Dodgson: Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho basta. Por isso, saber o direcionamento, ter objetivos claros, alcançáveis e consistentes são fundamentais nesse processo. Para Kunsch (2003, p. 205), o planejamento é uma decisão antecipada, e “essa tomada de decisão antecipada implica todo um processo, levando-nos a entender o planejamento, também, como algo dinâmico, em contínua mudança, que se processa por meio de pesquisa, estudos, questionamentos, construção de diagnósticos e análises de decisões acerca do que fazer, como fazer, por que fazer, TÓPICO 2 — CONCEITOS GERAIS 41 quem deve fazer etc.”. Assim, um bom planejamento, independentemente da complexidade e tamanho, deve ter um objetivo claro, quais resultados pretende alcançar. Com essas definições, com o diagnóstico mapeado e uma estimativa de orçamento, resta colocar todo o conhecimento em prática, e propor as melhores ferramentas e metodologias para o fim que se propõe. Para o profissional de relações públicas, o planejamento é, talvez, um dos seus processos mais importantes. Para Kunsch (2003, p. 316): O planejamento é um instrumento para a eficácia das atividades de relações públicas, porque evita improvisações, oferece maiores possibilidades para a consecução dos objetivos e o cumprimento da missão organizacional, permite racionalizar os recursos necessários e dá uma orientação básica, capaz de permitir a avaliação de resultados. • Execução Nesta etapa, após o planejamento ter sido aprovado pelos dirigentes, clientes ou diretores, é a hora de colocar em ação o que foi planejado. Um cronograma e mapeamento de todos os recursos necessários, sejam financeiros, fornecedores, estruturais e humanos, são fundamentais. Quanto aos imprevistos, podem ocorrer, o que é bem comum e natural, o que não pode ser desviado dos objetivos principais do planejamento. O profissional de relações públicas, além de executor, precisa ser o coordenador e mediador do planejamento, para garantir que não existam desvios desnecessários que possam prejudicar os reais objetivos finais do que foi estabelecido. • Avaliação e mensuração O planejamento de relações públicas é composto por várias etapas, que mostram como o trabalho é extenso e necessita de dedicação. Os resultados virão desde que haja o acompanhamento do desenvolvimento de todos esses esforços. Mensurar e acompanhar são indispensáveis para entender se o que foi planejado está realmente dando certo. Do contrário, é preciso agir, além de mudar a rota, pois, às vezes, ainda dá tempo. Portanto, na fase, é necessário ter a definição de indicadores de performance relacionados aos objetivos do planejamento, acompanhando permanentemente. Só assim você saberá se está no caminho certo. 42 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS FIGURA 6 – PLANEJAMENTO FONTE: O autor 4 CONDIÇÕES PARA A COMUNICAÇÃO EM TEMPO DE CRISE Já vimos que um dos papéis e responsabilidade do profissional de relações públicas é zelar pela reputação e imagem de uma empresa, pessoa ou instituição. Dessa forma, podemos dizer que é, um dos maiores desafios da área, o gerenciamento de crise, justamente quando a reputação é colocada à prova. Assim, mais do que nunca, comunicar, da maneira correta, é essencial. O papel das relações públicas é extremamente importante para fazer a gestão da comunicação, além de gerenciar o cenário e os possíveis públicos afetados. Para uma empresa, tão importante quanto administrar seus ativos é gerenciar seus riscos e situações críticas que podem ocasionar as crises. Para isso, deve-se trabalhar para identificação e monitoramento dessas situações críticas, prevendo a estratégia de gerenciamento às crises, englobando a comunicação e relacionamento a serem adotados com os diversos stakeholders. TÓPICO 2 — CONCEITOS GERAIS 43 Muitas vezes, é possível fazer um planejamento preventivo, além de gerir um manual de crise, adaptá-lo e mantê-lo atualizado. Vale ressaltar que as crises não são um problema estrito de comunicação, mas é, na comunicação, que se encontra parte da solução para uma crise. A maior parte das crises administrativas e fabris pode ser previamente mapeada, salvo situações como essa que estamos vivendo, como a pandemia universal jamais imaginada. Para Viviane Mansi, diretora de comunicação e sustentabilidade da Toyota, em podcast para a CBN, diz que existem diversos tipos de crise que afetam a imagem da empresa, e que pode ser gerenciada emum manual de crise, por exemplo, “mas a pandemia que estamos vivendo é uma crise da sociedade”. As possíveis situações críticas podem ser separadas em, basicamente, três situações: FIGURA 7 – SITUAÇÕES FONTE: O autor Um planejamento previamente detalhado antecipa os riscos, as situações críticas, as crises e suas consequências, podendo, então, mapear os planos de contingências previamente definidos para cada situação, orientação aos envolvidos, comunicações escritas, porta-vozes selecionados, posicionamento de imprensa etc. O que não muda é a forma como a comunicação deve ser usada, sempre como estratégica, para poder ajudar a manter a corporação engajada para alcançar excelentes resultados e, por consequência, enfrentar qualquer crise que, porventura, possa surgir. Não somente em momentos de crise, mas, principalmente, nesses cenários, a comunicação clara, concisa e coerente é de suma importância, pois permite que as informações sobre o que está acontecendo e as resoluções por parte da empresa cheguem até o público impactado. Mais do que isso, ela pode garantir o engajamento positivo desse público. Dessa forma, principalmente em 44 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS um momento de crise, as empresas não devem medir esforços em comunicar, de forma transparente e consistente, o que está acontecendo, quais são as medidas por parte da corporação. Ao mesmo tempo em que a comunicação não deve ser vista como estratégica apenas em momentos de crise. A boa comunicação deve ser perene e contínua. A Happy House é a primeira e maior agência de endomarketing do Brasil. Entre no site e no blog e aproveite muito conteúdo bom. No cenário atual, há vários materiais excelentes sobre como lidar com a comunicação no cenário da crise: https://www.happy.net.br/ A Compreendo é a primeira agência de endomarketing de Santa Catarina. No blog e nas redes sociais, há diversos materiais interessantes. Vale a pena acompanhar: https:// compreendo.com.br/. DICAS 45 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O símbolo das relações públicas é o golfinho rotador. Em 2003, o Conselho Federal de Relações Públicas - CONFERP oficializou o mascote da profissão, por ser considerado um animal comunicativo e sociável. • Os processos de relações públicas são cíclicos. Cada etapa está diretamente ligada a uma outra, e podem ser resumidos em diagnóstico, planejamento, orçamento, execução e avaliação. • O processo de diagnóstico compreende entender a real situação, o cenário em que se está inserido e conhecer, a fundo, o seu público. Na fase, é necessária uma pesquisa com perguntas corretas, além da análise do problema com a identificação e conhecimento da real situação, levantamento de dados, conhecimento do público a ser alcançado, análise da situação e do cenário. • No processo de orçamento, é adequado ter, ao menos, uma base ou estimativa real de valores para um planejamento adequado, garantindo que o capital disponibilizado seja utilizado da melhor forma. • O planejamento é a etapa mais importante e merece tempo de dedicação para as melhores soluções do planejamento de relações públicas. • Um bom planejamento deve ter um objetivo claro de onde se quer ir, e quais resultados a pessoa pretende alcançar. • Na fase da execução, é a hora de colocar em ação o que foi planejado. Um cronograma e mapeamento de todos os recursos necessários, sejam financeiros, fornecedores, estruturais e humanos, são fundamentais. • Os processos de avaliação e mensuração se tornam indispensáveis para entender se o que foi planejado está realmente dando certo. Na fase, é necessário ter a definição de indicadores de performance relacionados aos objetivos do planejamento. • Para uma empresa, tão importante quanto administrar seus ativos é gerenciar seus riscos e situações críticas que podem ocasionar crises. • Na comunicação de crise, o papel das relações públicas é extremamente importante para fazer a gestão da comunicação e gerenciar o cenário e os possíveis públicos afetados. 46 • A maior parte das crises administrativas e fabris pode ser previamente mapeada e gerenciada com um manual de prevenção de crise, salvo situações como essa que estamos vivendo, como a pandemia universal jamais imaginada. • Um planejamento previamente detalhado antecipa os riscos, as situações críticas, as crises e as suas consequências, podendo, então, mapear os planos de contingência previamente definidos para cada situação, orientação aos envolvidos, comunicações escritas, porta-vozes selecionados, posicionamento de imprensa etc. • Principalmente em um momento de crise, as empresas não devem medir esforços em comunicar, de forma transparente e consistente, o que está acontecendo, quais são as medidas por parte da corporação. A boa comunicação deve ser perene e contínua. 47 1 A seguir, assinale apenas as respostas CORRETAS: a) ( ) Nos processos de relações públicas, cada etapa é isolada e independe de outra para a finalização completa do trabalho e seus resultados. b) ( ) O processo de diagnóstico compreende entender o real orçamento para, então, saber o cenário e conhecer, a fundo, o seu público. c) ( ) O planejamento deve ter um objetivo claro de onde se quer ir e quais resultados a pessoa pretende alcançar. d) ( ) Um cronograma e mapeamento de todos os recursos necessários fazem parte da fase de execução. 2 Quais são as etapas do processo de relações públicas? Escreva na ordem de execução. 3 Escreva o papel do profissional de Relações Públicas frente às crises. 4 Relate um exemplo de ação de relações públicas de alguma empresa frente à crise da COVID-19. Dica: procure, no site do Linkedin, publicações e posicionamento das empresas. AUTOATIVIDADE 48 49 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 CLASSES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Ser nobre é esbanjar; é uma obrigação de parecer; é estar condenado, sob pena de aviltamento, ao luxo e à dissipação. Eu diria mesmo que essa tendência à prodigalidade se afirmou no início do século XIII, como reação diante da ascensão social dos novos ricos. Para se distinguir dos vulgos, é preciso superá-los, mostrando-se mais generoso do que eles (DUBY, 1994 apud BOURDIEU, 2013, s.p.). O conceito de classe social veio da Sociologia e diz respeito às divisões social e econômica do mundo capitalista. O mais influente e grande teórico do assunto foi o filósofo alemão Karl Marx, que se dedicou a estudar o fenômeno das classes sociais e a interação entre elas. 2 CONCEITOS Para Marx, as classes sociais eram divididas, basicamente, em duas: burguesia e proletariado. Nos termos atuais, de maneira básica e hierárquica, podemos dizer que Marx estava classificando entre os ricos e os pobres. Porém, com o fim do sistema feudal e ascensão do sistema capitalista, já na era da industrialização e dos meios de produção, a partir do século XX, os grupos sociais foram se dividindo, e novas classificações passaram a denominar o conceito de classe social. Surgiram vários outros estudiosos que se dedicaram a estudar essas divisões sociais da sociedade. Para Weber, as classes sociais não podem ser somente medidas pela divisão do trabalho, mas sim, pelo tipo de trabalho, o que é consumido e o estilo de vida. Nesse sentido, começa a diferenciar as classes sociais, também, o que você tem, o que você compra e exibe, e como você se relaciona na sociedade de consumo. Froemming (2008) menciona que a classe social é definida por Blackwell, Miniard e Engel (2005) como divisões relativamente permanentes e homogêneas em uma sociedade, nas quais os indivíduos ou famílias, compartilhando valores, estilos de vida, interesses, riquezas, educação, posiçãoeconômica e comportamentos semelhantes, podem ser categorizados. A definição resumida de classe social pode ser a determinação de um grupo de indivíduos que compartilha os mesmos interesses, percepções, gostos, costumes e condições semelhantes. 50 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS 3 ABORDAGENS PARA IDENTIFICAÇÃO DAS CLASSES SOCIAIS No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, a classificação das classes sociais se dá de acordo com a renda familiar. São divididas, basicamente, em três: classe alta, classe média e classe baixa. O IBGE é um órgão estatal criado na década de 1930 pelo governo Vargas. Segundo o próprio órgão, a sua missão institucional é retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento da sua realidade e ao exercício da cidadania. Para além da classificação marxista e denominação de classe alta, classe baixa e classe média, o IBGE criou um sistema de medição que abrange cinco estratos sociais, que são as classes A, B, C, D e E, sendo A a classe com maior poder aquisitivo e concentração de renda e, E, a classe com menor poder aquisitivo e concentração de renda. A maneira mais fácil e simples de definir os padrões de cada classe social, pelo IBGE é por meio da renda familiar mensal, sendo Classe A: mais de 15 salários mínimos; Classe B: de 5 a 15 salários mínimos; Classe C: de 3 a 5 salários mínimos; Classe D: de 1 a 3 salários mínimos; e Classe E: até 1 salário mínimo. 4 FUNÇÃO DAS CLASSES SOCIAIS PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL Você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com comunicação e com as relações públicas? Bom, conhecer e entender o universo em que o público se encontra, os círculos sociais que frequenta, a profissão que exerce, seu papel social, fazem com que as ações de comunicação sejam mais assertivas e, portanto, mais eficientes. Adequar a linguagem a quem se dirige é condição primária para uma boa comunicação. É necessário saber dos anseios do público a fim de se comunicar efetivamente com ele. Somente conhecendo, é possível elaborar melhores campanhas e ações direcionadas, além de agir com embasamento para as tomadas de decisões e ações criativas direcionadas adequadamente. Para a executiva Stella Kochen Susskind, presidente da Shopper Experience, que coordenou um estudo com 500 clientes para avaliar os comportamentos de consumo por classes sociais no Brasil: TÓPICO 3 — CLASSES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO 51 Entre as principais conclusões do estudo, a executiva destaca a mudança do perfil do consumidor brasileiro que, embora tenha algumas características comuns, diferencia-se de acordo com a classe social. A classe C é mais controlada, valoriza os sentimentos positivos de conquista associados ao poder de compra, entretanto, está alerta em relação ao lado negativo do consumo e mais atenta a dificuldades no pagamento e nas taxas de juro. Na classe B, o consumidor vivencia mais intensamente o prazer de comprar, embora se preocupe com preços e condições de pagamento. A classe A, por sua vez, deseja construir um relacionamento melhor com as marcas. 5 CARACTERÍSTICAS QUE IMPACTAM A EFETIVIDADE DA COMUNICAÇÃO E AS CLASSES SOCIAIS É necessário considerar seis variáveis essencialmente úteis para a compreensão da classe social do consumidor, que são: a ocupação, o desempenho pessoal, as interações, as posses, os valores orientadores e a consciência de classe. Veja, a seguir, a descrição de cada: • Ocupação: a ocupação é o melhor indicador único de classe social na maioria das pesquisas do consumidor. O trabalho que os consumidores desempenham afeta fortemente o seu estilo de vida e seus padrões de consumo. • Desempenho pessoal: o status de uma pessoa também pode ser influenciado pelo seu sucesso em relação aos outros na mesma ocupação, isto é, pelo desempenho pessoal do indivíduo. • Interações: as pessoas ficam mais à vontade quando convivem com pessoas de valores e comportamentos semelhantes. As interações sociais estão limitadas à classe social imediata. Por exemplo, a maioria dos casamentos ocorre dentro das mesmas classes sociais ou classes adjacentes. • Posses: as posses são símbolos de associação de classe, não apenas o número de posses, mas a natureza das escolhas feitas. Posses e riquezas estão intimamente relacionadas. Assim, as posses que indicam a riqueza da família são importantes para refletir a classe social. • Valores de orientação: os valores indicam a classe social pertencente do indivíduo, mesmo em coisas mundanas, como se vestir e comer adequadamente. • Consciência de classe: é o grau que as pessoas pertencentes a uma classe social têm de consciência de si mesmas, como um grupo distinto, com interesses políticos e econômicos semelhantes. Assim, a partir do exposto, podemos perceber como a classe social influencia no comportamento do consumidor. Os consumidores associam marcas, produtos e anúncios com as classes sociais específicas. O consumo de certos objetos somente assume sentido quando feito num contexto social e, como as classes sociais diferem entre si sob vários aspectos, as empresas se apoiam nessas diferenças para selecionar as suas estratégias mercadológicas. 52 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS Limeira (2008) cita quais são os fatores que impactam a efetividade da comunicação: • Fonte: está relacionada ao emissor da mensagem e sua credibilidade. • Conteúdo e forma da mensagem: estão relacionados ao uso do texto, apelos da mensagem e metáforas utilizadas para dizer algo que deve ser óbvio. • Características da mídia: referem-se ao meio utilizado e suas características. • Fatores contextuais: consideram as características pessoais do público, tais como a personalidade, os valores, as opiniões, interesses e experiências de vida. Isso está intimamente ligado à classe social da pessoa. • Características do receptor ou audiência: dizem respeito à capacidade do consumidor ou da audiência de entender, além de tirar suas próprias conclusões a respeito do produto e, ainda, com sua motivação e envolvimento com o produto ou serviço anunciado. Dessa forma, é necessário considerar quais as características que impactam as classes sociais para, então, ter uma visão clara do público a ser atingido e estudar as melhores estratégias para chegar ao resultado desejado. No próximo tópico, veremos as classificações e definições de público em relações públicas e como podemos segmentá-lo. 53 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O conceito de classe social veio da Sociologia, e diz respeito às divisões social e econômica do mundo capitalista. • Para Karl Marx, as classes sociais são divididas em burguesia e proletariado, ou seja, ricos e pobres. • Para Weber, as classes sociais não podem ser somente medidas pela divisão do trabalho, mas sim, pelo tipo de trabalho, o que é consumido e o estilo de vida. Nesse sentido, começa a diferenciar, também, o que você tem, o que você compra e exibe, e como você se relaciona na sociedade de consumo. • No Brasil, a classificação das classes sociais se dá de acordo com a renda familiar. São divididas, basicamente, em três: classe alta, classe média e classe baixa, divididas, respectivamente, nas classes A, B, C, D e E. • Podemos resumir classe social como sendo a determinação de um grupo de indivíduos que compartilha os mesmos interesses, percepções, gostos, costumes e possui condições semelhantes. • Conhecer e entender o universo em que o público se encontra, os círculos sociais que frequenta, a profissão que exerce, seu papel social fazem com que as ações de comunicação sejam mais assertivas e, portanto, mais eficientes.• Consciência de classe é o grau que as pessoas pertencentes a uma classe social tem de consciência de si mesmas, como um grupo distinto, com interesses políticos e econômicos semelhantes. • A classe social influencia no comportamento do consumidor, pois é associado a marcas, produtos e anúncios com as classes sociais específicas. • É necessário considerar quais as características que impactam as classes sociais, para, então, ter uma visão clara do público a ser atingido e estudar as melhores estratégias para chegar ao resultado desejado. 54 1 Assinale, apenas, as respostas CORRETAS: a) ( ) O conceito de classe social teve início no sistema feudal, com a burguesia e o proletariado, e, hoje, não existe mais. b) ( ) O conceito de classe social é oriundo de um mundo capitalista. c) ( ) O mundo digital transformou as classes sociais e, hoje, qualquer um pode se inserir na classe social que desejar. d) ( ) O primeiro e mais conhecido, até hoje, sociólogo, sobre as diferenciações de classes sociais, foi Karl Marx. 2 Assinale, apenas, a resposta ERRADA: a) ( ) Conhecer, apenas, a classe social do seu público faz com que as ações de comunicação sejam mais assertivas. b) ( ) A classe social influencia no comportamento do consumidor. c) ( ) É necessário considerar quais as características que impactam as classes sociais para, então, ter uma visão clara do público a ser atingido. 3 Escreva o porquê é importante, para o profissional de relações públicas, conhecer as classes sociais e qual impacto estas podem ter nos processos da atividade profissional. AUTOATIVIDADE 55 TÓPICO 4 — UNIDADE 1 PÚBLICO EM RELAÇÕES PÚBLICAS 1 INTRODUÇÃO Quando se fala de relações públicas, logo, pensamos em relacionamentos estratégicos com muitos públicos. Contudo, o que seriam tais públicos? Inicialmente, é preciso definir o conceito de público e, a partir desse conceito, determinar os públicos estratégicos de relacionamento de uma organização. 2 DEFINIÇÃO DE PÚBLICO Público é todo agrupamento de pessoas com as mesmas características que influencia ou é influenciado pela instituição, em algum grau, sendo direta ou indiretamente. Então, estamos falando de funcionários, terceiros, fornecedores, sociedade, comunidade, órgãos públicos, governo, clientes, acionistas, imprensa e por aí vai... FIGURA 8 – ALGUNS PÚBLICOS EM RELAÇÕES PÚBLICAS FONTE: O autor 56 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS No entanto, cada grupo de pessoas tem características diferentes. Assim, podemos dizer que há pequenos grupos. Segundo França (2003, p. 81), “não se pode conceituar público como apenas um agrupamento de pessoas, mas é preciso especificidade ao determinar os níveis de interesse de cada um, nas suas relações com a instituição”. 3 CLASSIFICAÇÃO DOS PÚBLICOS Numa visão tradicional, Andrade (2001) identifica os públicos de uma organização em três categorias: internos, externos e mistos. As características de cada um desses públicos são: • Público interno: são, propriamente, os funcionários, os que ficam do muro da empresa para dentro. São as pessoas que têm relação trabalhista com a organização. O público interno típico de uma indústria são os colaboradores, os acionistas; em uma escola, os professores, por exemplo. • Público externo: são os que ficam fora dos muros da empresa. Os que não possuem relação trabalhista com a organização, mas possuem interesse genuíno por objetivos mercadológicos, políticos e sociológicos. Podemos citar, no contexto, a imprensa, a comunidade do entorno, órgãos governamentais, clientes. Em uma escola, podemos citar os pais dos alunos ou a sociedade, por exemplo. • Público misto: são os que não vivenciam as rotinas da empresa, mas têm certa ligação com ela. Podemos citar os fornecedores ou, em uma escola, os alunos, por exemplo. 4 INFLUÊNCIA DOS GRUPOS SOCIAIS No marketing digital, tem se consolidado a definição de público como a criação de personas, podendo ser um grande apoio na comunicação organizacional, também, com a definição e conhecimento dos diversos públicos das organizações. Todavia, o que seriam essas personas? Personas são personagens fictícios que representam um grupo de pessoas com determinado padrão de consumo, uso de tecnologias, preferências e estilos de vida. Atualmente, tem-se utilizado esse recurso para conhecer, de perto, o tipo de cliente que as empresas se relacionam, com isso, traçar estratégias mais assertivas para engajamento da marca e consumo. Persona e público não são sinônimos, mas se complementam. Veja um exemplo a seguir: • Público-alvo: Homens e mulheres, de 18 a 25 anos, solteiros, graduados em RP, com renda média mensal de R$ 5.500. • Persona: Camila tem 27 anos, é RP recém-formada e trabalha na área em uma empresa X. Pensa em se desenvolver profissionalmente através de um curso fora do país, pois adora viajar, é solteira e já fez intercâmbio. Está buscando novos conhecimentos e adora a tecnologia on-line para aprender. TÓPICO 4 — PÚBLICO EM RELAÇÕES PÚBLICAS 57 Entendeu a diferença? Assim, podemos dizer que, hoje, não seria adequado tratar todos os públicos de uma organização da mesma forma. Por exemplo, todos os colaboradores não são iguais, e não podemos tratá-los todos como apenas funcionários, pois, assim, a comunicação não estará sendo eficiente, pois haverá o desalinhamento cultural ou de informações. O público interno (assim como os demais) não é homogêneo, e não podemos apenas estratificar em gênero, idade, renda, salário e nível de escolaridade. Cada público é formado por diversos estilos de vida. Precisamos, cada vez mais, conhecer o comportamento de cada grupo de público para nos comunicarmos de forma clara e que faça sentido para ambas as partes. Dessa forma, conseguimos ter diversos grupos sociais e grupos de pessoas com as mesmas características culturais, gostos e familiares. Quanto mais entendermos o comportamento do seu público e sua influência nos grupos sociais, melhores resultados tem a comunicação, além das ações futuras que serão realizadas. Nunca fez tanto sentido “discutir o sexo dos anjos”. Somente depois de bem explorado o público, e ter o conhecimento das personas dentro de cada grupo de público, é que estaremos prontos para se comunicar da maneira mais adequada e eficaz. 5 RELAÇÕES COM DIVERSOS PÚBLICOS (STAKEHOLDER, COMUNIDADE, SOCIEDADE, INVESTIDORES) Cada vez mais é preciso que a comunicação nas organizações seja direcionada a segmentos específicos de públicos com responsáveis dedicados a cada grupo de público. O que muitas organizações têm proposto é uma definição clara de seus públicos e as áreas de competência e de relacionamento com cada público. A Associação Brasileira de Comunicação Organizacional – ABERJE (2018) divulgou, em uma pesquisa de 2018, realizada com mais de 500 profissionais da área que atuam em pequenas, médias e grandes empresas, que 44% dos setores de comunicação interna estão vinculados ao setor de Recursos Humanos, enquanto 34% são vinculados ao departamento de Comunicação Corporativa. A seguir, haverá um exemplo de públicos versus área de competência e responsabilidade. 58 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS FIG U R A 9 – D IA G R A M A FO N T E : O au to r Nessa lógica, não existe uma maneira certa ou a melhor forma de estruturar. É preciso, sim, primeiramente, identificar e listar todos os públicos, determinar o tipo de relação existente, definir o objetivo do relacionamento entre a organização e os públicos, determinar as expectativas, indicar o nível de envolvimento, o nível de participação etc. 59 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • Público é todo agrupamento de pessoas com as mesmas características queinfluencia ou é influenciado pela instituição, sendo direta ou indiretamente (funcionários, terceiros, fornecedores, sociedade, comunidade, órgãos públicos, governo, clientes, acionistas, imprensa). • Em uma visão tradicional, os públicos de uma organização são divididos em três categorias: internos, externos e mistos. Público interno: as pessoas que têm relação trabalhista com a organização; público externo: os que não possuem relação trabalhista com a organização; e público misto: são os que não vivenciam as rotinas da empresa, mas têm certa ligação com ela. • No marketing digital, tem se consolidado a definição de público como a criação de personas, podendo ser um grande apoio na comunicação organizacional, também, com a definição e conhecimento dos diversos públicos das organizações. • Personas são personagens fictícios que representam um grupo de pessoas com determinado padrão de consumo, uso de tecnologias, preferências e estilos de vida. • O público interno (assim como os demais) não é homogêneo, e não podemos apenas estratificar em gênero, idade, renda, salário e nível de escolaridade. • Cada público é formado por diversos estilos de vida. Precisamos, cada vez mais, conhecer o comportamento de cada grupo de público para nos comunicarmos de forma clara e que faça sentido para ambas as partes. • Quanto mais entendermos o comportamento do seu público e sua influência nos grupos sociais, melhores resultados há de ter a comunicação, além de futuras ações. • Cada vez mais, é preciso que a comunicação nas organizações seja direcionada a segmentos específicos de públicos com responsáveis dedicados a cada grupo de público. • O que muitas organizações têm proposto é uma definição clara de seus públicos e as áreas de competência e de relacionamento com cada público. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 60 1 Assinale a resposta correta para a seguinte pergunta: Para as empresas, quais os principais objetivos das estratégias de comunicação interna? a) ( ) Criar identidade, somente, para os stakeholders. b) ( ) Fazer com que os colaboradores compartilhem, nas redes sociais, uma imagem positiva da empresa. c) ( ) Garantir a diminuição de gastos e aumentar as vendas nos pontos de venda. d) ( ) Garantir o alinhamento de informações corretas e a promoção do engajamento e orgulho de pertencer. 2 No marketing digital, tem se consolidado a definição de público como a criação de personas, podendo ser um grande apoio na comunicação organizacional, também, com a definição e conhecimento dos diversos públicos das organizações. Escreva mais sobre a afirmação. 3 Assinale a resposta ERRADA: a) ( ) O comportamento de cada grupo de público somente é importante para sabemos em qual classe social ele se encontra e seu poder de compra. b) ( ) Quanto mais entendermos o comportamento do público e sua influência nos grupos sociais, melhores resultados há de ter a comunicação. AUTOATIVIDADE 61 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apresentar o mercado profissional da profissão de relações públicas e suas diversas áreas de atuação; • discorrer sobre a função dos profissionais na sociedade contemporânea; • detalhar as duas grandes áreas de atuação dos profissionais: a comunicação organizacional e as agências de comunicação/publicidade; • mostrar, na comunicação organizacional, a sua estrutura dentro das organizações e a diferença entre conceitos e denominações; • conceituar a diferença entre os termos comunicação interna e endomarketing, além do que é branding institucional e employer branding; • esclarecer sobre a estrutura ideal da área de comunicação organizacional no meio corporativo, suas definições e principais funções e atividades; • entender as agências de comunicação, sua definição e focos de atuação; • apresentar as funções de uma agência e sua estrutura com áreas internas. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O MERCADO DE RELAÇÕES PÚBLICAS TÓPICO 2 – COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL TÓPICO 3 – ESTRUTURA DA ÁREA NO MEIO CORPORATIVO TÓPICO 4 – AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 62 63 UNIDADE 2 TÓPICO 1 — O MERCADO DE RELAÇÕES PÚBLICAS 1 INTRODUÇÃO O mercado de trabalho é uma definição para campo de atuação e suas possibilidades para o profissional especializado. Para Oliveira (2007, p. 1): A compreensão sobre o mercado de trabalho está inevitavelmente impregnada nos pressupostos presentes no vocabulário mais comum, mais usual, em que prevalece a visão da economia clássica, ou seja, um lugar (eventualmente abstrato) onde o conjunto de ofertas e de demandas de emprego se confronta e as quantidades oferecidas e demandadas se ajustam em função do preço, isto é, dos salários no mercado de trabalho. Para a mesma autora, a relação do trabalhador e das organizações adquiriu importância fundamental a partir da Revolução Industrial. Ainda hoje, o termo mercado de trabalho permeia grande parte das discussões da sociologia e da economia, com destaque para os trabalhos das relações e das leis de trabalho. Neste tópico, compreenderemos uma parte do mercado de trabalho que envolve o profissional das relações públicas. As áreas de atuação são bem amplas e o profissional consegue se destacar em diversas frentes profissionais, como veremos no decorrer desta unidade. 2 ÁREAS DE ATUAÇÃO Descreveremos algumas possibilidades do profissional formado em Comunicação Social com a habilitação em Relações Públicas, levando em consideração que o mercado de trabalho na área de comunicação tem se modificado rapidamente e, a cada dia, parece surgir e dar origem a novas formas de atuação. A facilidade de comunicação, o acesso às redes sociais e informações em tempo real fazem com que a sociedade e as empresas entendam a urgência de contratar profissionais para esse setor. Podemos dizer que o mercado, no setor da comunicação, em especial na área de Relações Públicas, está em constante profissionalização. Ainda, aponta para novas oportunidades futuras. UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 64 Na Unidade 1, descrevemos quais as principais atividades que os profissionais de RP desempenham. Agora, listaremos alguns cargos mais comuns vistos no mercado de trabalho: • analista/especialista de comunicação social; • gerente/coordenador de comunicação social; • assessor de comunicação; • assessor de imprensa; • gerente/coordenador/analista de eventos; • relacionamento com o cliente; • relacionamento com acionistas e governo (public affairs); • comunicação institucional e suas vertentes; • responsabilidade social; • ética; • agências de comunicação, como executivo de contas, mídia, criação ou qualquer outra área dentro de uma agência de comunicação e/ou publicidade; • mídias sociais; • desenvolvedor/curador de conteúdo. Esses são apenas alguns títulos de cargos. Vale lembrar que os cargos e títulos não são o mais importante, mas a atuação e o profissionalismo, que devem ser levadas em conta. Para Cesca (2012, p. 12): As atividades de relações públicas existem em todas as empresas/ organizações, porém, nem sempre são desenvolvidas por um profissional com formação específica na área. Profissionaisque ocupam cargos com nomenclaturas diferentes de gerente/diretor/ coordenador de relações públicas também as executam. No entanto, se o cargo for realmente denominado de Relações Públicas e exercido por um profissional formado, deverá ser, obrigatoriamente, registrado no Conselho de Relações Públicas do estado. O profissional pode ter atuação em empresas, agências de comunicação, empreender, ir para a área da ciência e da academia, dedicando-se ao estudo científico na área ou abraçar outras vertentes, como governança de ética (atualmente, alguns profissionais estão optando para esse ramo, inclusive, as maiores agências de governança de ética possuem profissionais de comunicação, e não apenas da área de Direito) ou employer experience, termo relativamente novo que se traduz na jornada e experiência do colaborador. Para Cesca (2012), o profissional de Relações Públicas pode atuar em: • Qualquer tipo de organização (empresas públicas, privadas, de economia mista e do terceiro setor). • Empresa própria, como empreendedor, prestando serviço terceirizado. • Como professor das várias disciplinas em faculdades/cursos de relações públicas e em outros campos nos quais lecione as disciplinas da área. TÓPICO 1 — O MERCADO DE RELAÇÕES PÚBLICAS 65 Vale ressaltar que uma faculdade lhe dá habilitação e técnica geral para atuação no mercado. Porém, é sempre relevante continuar os estudos, além de aprofundar conhecimento no segmento de atuação em que deseja ser especialista. Para fecharmos esse assunto, segue o juramento do profissional de Relações Públicas, segundo Cesca (2012, p. 20): Juro, diante de Deus e da sociedade, fazer uso do meu trabalho, conduzir meus esforços profissionais de acordo com princípios éticos norteadores da atividade de relações públicas, com responsabilidade e respeito humano e dedicar o meu trabalho para o desenvolvimento e o bem-estar do povo brasileiro e da humanidade. 2.1 FUNÇÕES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA As relações públicas são de suma importância na sociedade contemporânea, uma vez que contribuem para a transparência dos relacionamentos empresariais com todos os públicos e, assim, com a sociedade como um todo. Hoje, o cenário da ‘credibilidade’ das informações mudou diante das Fake News e veículos de comunicação partidária e não isenta. A reputação de CEOS e presidentes de grandes empresas, além dos tops voices e speakers (pessoas públicas que têm selo de relevância em sites como Linkedin e Twitter) têm credibilidade 58% maior do que jornalistas renomados. Ou seja, hoje, as pessoas acreditam mais no que as empresas estão falando do que naquilo que é passado em jornais e TVS. Vejam aí a importância de ter bons profissionais de relações públicas assessorando esses altos cargos executivos a se posicionarem no mercado, nas mídias, incluindo as redes sociais. Desde o início da profissão, a atividade de relações públicas representava uma solução necessária no relacionamento de entidades em geral e sociedade, já que as atividades e atuação permitiam, aos políticos e empresários, tornarem-se parte integrante das comunidades locais. Construir políticas de comunicação com responsabilidade social e promover abertura de canais efetivos de diálogo serão condições indispensáveis para viabilizar o processo interativo e as mediações entre as organizações e seus públicos, a opinião pública e a sociedade em geral (KUNSCH, 1999, p. 418). Atualmente, o exercício e a oportunidade de escutar os mais diversos públicos no mundo chamado de “VUCA” em que vivemos demonstram que as organizações e as pessoas necessitam de um diálogo permanente e constante. Esse diálogo é materializado na prática, ética e transparência dos relacionamentos – função primeira e primordial das Relações Públicas. Apostamos dizer que o mercado nunca esteve tão relevante e bom para a atuação dos profissionais de RP na nossa sociedade atual. 66 Neste tópico, você aprendeu que: • O mercado profissional é um campo de atuação que representa a relação do trabalhador com as organizações. Adquiriu importância a partir da Revolução Industrial. • O mercado de relações públicas é amplo e o profissional consegue se destacar em diversas frentes profissionais. • A área tem se modificado ao longo do tempo e ampliando as possibilidades de atuação profissional, apontando para novas frentes de atuação. • Existem diversas denominações de cargos para a atuação profissional, mas o mais importante é o profissionalismo, que deve ser levado em conta. • O profissional pode ter atuação em empresas, agências de comunicação, empreender, ir para a área da ciência e da academia. • Na sociedade contemporânea, as relações públicas são de suma importância, uma vez que contribuem para a transparência dos relacionamentos empresariais com todos os públicos e, assim, com a sociedade como um todo. • Em tempos de Fake News e mundo VUCA, a reputação de CEOS e presidentes de grandes empresas tem maior credibilidade. Daí vem a importância de ter bons profissionais de relações públicas assessorando esses altos cargos executivos a se posicionarem no mercado e nas mídias, incluindo redes sociais. • Desde o início da profissão até os mais recentes dias, o exercício e a oportunidade de escutar os mais diversos públicos demonstram que as organizações e as pessoas necessitam de um diálogo permanente e constante. • O mercado profissional nunca esteve tão relevante e promissor para a atuação dos profissionais de relações públicas. RESUMO DO TÓPICO 1 67 Com relação às afirmações a seguir, responda se estão certas ou erradas. Caso alguma estiver errada, justifique: 1 O mercado profissional é um campo de atuação regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que são formas que definem o vínculo empregatício quando as empresas contratam trabalhadores. Como a CLT representa a relação do trabalhador com as organizações por meio de leis, o profissional de Relações Públicas só pode atuar mediante o contrato CLT, por ser uma profissão com regulamentação própria. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 2 O mercado dos profissionais de relações públicas é amplo e o profissional consegue se destacar em diversas frentes profissionais. Porém, a área tem se modificado ao longo do tempo e ampliado as possibilidades de atuação profissional, apontando para novas frentes de atuação. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 3 Em tempos de Fake News, a reputação de CEOS e presidentes de grandes empresas perde a credibilidade. Com isso, é importante ter bons profissionais de relações públicas para promover a reputação e a imagem positiva novamente. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 4 Cite, pelo menos, duas frentes de atuação do profissional de Relações Públicas e justifique a sua importância. 5 Escreva, com suas próprias palavras, qual o campo de atuação que imagina exercer dentro da área de comunicação e qualifique o porquê da sua escolha. AUTOATIVIDADE 68 69 UNIDADE 2 TÓPICO 2 — COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 1 INTRODUÇÃO A comunicação organizacional é o fluxo de comunicação entre emissores e receptores que acontece dentro de uma organização com todos os seus stakeholders. Chamaremos, aqui, a organização, de qualquer empresa privada ou pública, instituições, associações, entidades de classe etc. Dessa forma, sempre que ler ‘organizacional’, entende-se que é a cadeia de uma organização/empresa, seja ela o tamanho que tiver ou o segmento de negócio. A seguir, relataremos como se deram os primeiros registros dessa área profissional de comunicação dentro das organizações. Na década de 1970, as empresas e associações, evidentemente, já se comunicavam: muitas delas editavam house-organs de prestígio; a publicidade brasileira, embora nãotivesse, talvez, a expressão e o reconhecimento internacional de que desfruta nos dias atuais, era, como sempre foi, criativa. Existiam trabalhos competentes relacionados à mídia, mas seria prematuro imaginar que se tivesse verdadeiramente uma Comunicação Empresarial, no sentindo amplo com que é conceituada hoje (BUENO, 2003, p. 3). Bueno (2003) lembra, mais adiante, que a própria Associação de Comunicação Empresarial (ABERJE) antes era denominada com a descrição da própria sigla, para designar a comunicação dentro das organizações – ABERJE – Associação de Editores de Revistas e Jornais de Empresas. Um fato histórico e marcante para a área da comunicação organizacional foi na segunda metade da década de 1980, com a criação e publicação da Política de Comunicação da empresa multinacional Rhodia. A Política de Comunicação Social (PCS) da Rhodia foi o primeiro best-seller da área, com seguidas reedições, para atender aos pedidos profissionais e das empresas, que tinham, como referência, essa experiência no campo da comunicação (BUENO, 2003, p. 9). Com o passar dos anos e da complexa modernidade dos relacionamentos humanos, em um mundo mais Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo – o chamado mundo VUCA –, a comunicação, dentro das organizações, teve um desenvolvimento rápido, ganhou notoriedade, espaço e, assim, tornou-se mais complexa e estratégica. 70 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS Na introdução do livro Comunicação empresarial – teoria e prática, Bueno (2003, p. 9) inicia assim: A Comunicação Empresarial entrou no novo milênio usando roupa nova. Na verdade, ela já estava preparando a mudança de figurino há muito tempo, mas as regras de etiqueta recomendam que os trajes devem combinar com o ambiente, e ela decidiu esperar um bocadinho mais. Quando as coisas, definitivamente, encaixam-se, ela apareceu fazendo pose. Para a sorte de quem trabalha há tempo nessa área, ela acabou de pisar na passarela e, agora, aqueles que a esperavam ansiosamente podem bater muitas palmas. Isso foi em 2003, e concordamos com o autor sobre o ganho de notoriedade da comunicação dentro das organizações. Todavia, o que dizer agora, durante, e após a Pandemia do Coronavírus – COVID 19 – em que estamos vivendo? A comunicação organizacional não se tornou mais a peça fundamental das empresas, porque ela já não pode mais nem ser desencaixada. A relevância da área se apressou de uma maneira inimaginável. Se formos ver, em todas as redes sociais, as organizações pautam seus posts nas atividades do que elas estão fazendo para seus empregados e para a sociedade em seu entorno. Digamos que aceleramos décadas de trabalho em um mês. Como será daqui pra frente? Nós que pautaremos, agora, esse mercado chamado de ‘novo normal’, o campo está aberto e fértil para os profissionais da área. Ainda, a principal característica desse profissional é a resiliência, para se adaptar em um mundo com permanente e rápida mutação. Retomando ao conceito, a comunicação organizacional se estrutura na relação entre a organização e seus diversos públicos envolvidos, os chamados stakeholders – fornecedores, imprensa, terceiros, colaboradores, sociedade, acionistas etc. Diante de todos os públicos de uma empresa, os colaboradores têm sua relevância em destaque e merecem um tópico apenas para esse segmento. Por isso, em algumas empresas, existem áreas ou profissionais específicos para cuidar apenas desse segmento e público específico – a comunicação com empregados. Podemos afirmar que, de todos os grupos que se relacionam com as organizações, os empregados são o que apresenta maior nível de complexidade para os comunicadores. No próximo tópico, falaremos, especificamente, de como se dá a comunicação para esse público interno. TÓPICO 2 — COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 71 2 COMUNICAÇÃO INTERNA X ENDOMARKETING A comunicação é uma habilidade humana, mas, dentro das organizações, assume contornos estruturados e institucionais. Diríamos que, dentro das organizações, assume o viés de canais estruturados por meio de políticas existentes e baseado na cultura de cada empresa. O primórdio da comunicação com os funcionários surgiu com a industrialização. As primeiras publicações jornalísticas de empresas surgiram entre 1830 e 1840, na Alemanha e na Suíça. No Brasil, o primeiro veículo do gênero surgiu em 1926, na fábrica da General Motors. Nos dias atuais, a disseminação pura de informações, por meio de jornais ou canais de comunicação, já não é o suficiente para suportar as demandas crescentes das comunicações com o público interno. Esse propósito ganhou forma, escopo e nome: comunicação interna e endomarketing. O termo endomarketing é registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), sob o número 815990995, pelo autor do termo Saul Faingaus Bekin. Bekin, na época do registro, na década de 80, era executivo da Jonhson & Johnson, em São Paulo. Porém, engana-se quem acha que endomarketing surgiu por causa do termo endo – dentro – ou seja, marketing para dentro. Veja o trecho da entrevista de Bekin para o site “O Grilo Falante”: Tudo começou em 1975, quando eu já atuava no marketing da Johnson & Johnson em SP. Naquela ocasião, a partir de uma brincadeira entre membros de uma reunião de planejamento, um deles entrou atrasado na reunião e, tentando se justificar, usou alguns termos da área médico-farmacêutico, como endocrinologia, endoscopia, endovenoso etc. Pedi a ele que se sentasse para retomarmos a reunião, então, do endo – planejamento das atividades de marketing. De lá para frente, tornou-se a reunião do “endo… marketing” do Saul. Foi assim… Já são mais de 35 anos falando sobre endomarketing, um pioneirismo brasileiro (O GRILO FALANTE, 2013, s.p.). Segundo o próprio pioneiro em denominar o endomarketing para a força da gestão para o público interno, o conceito significa: Tratar os funcionários como se fossem os primeiros clientes da empresa: eles são os clientes internos. Afirmo, com frequência, que não é preciso fazer mais marketing, mas melhor. O marketing jamais deixou de considerar seus colaboradores, o público interno. Essa noção está ali presente, mas subjacente ao marketing. Pessoalmente, acordei para esse fato quando tive de reler, na minha pós-graduação, o texto datado de 1954, do Peter Drucker: “todos, na empresa, são responsáveis pelo marketing, e não apenas os profissionais do departamento de marketing”. Peter Drucker, com certeza, permanece sendo o guru da moderna gestão empresarial (O GRILO FALANTE, 2013, s.p.). 72 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS Também ressalta que o endomarketing é, geralmente, confundindo com a comunicação interna ou comunicação corporativa. É a mesma confusão que ocorre entre o marketing e a publicidade. Um está contido no outro, ou seja, a comunicação interna faz parte, está incluída no endomarketing, tanto quanto a publicidade também faz parte do marketing (O GRILO FALANTE, 2013, s.p.). Assim, vemos que muitos teóricos afirmam que endomarketing não é sinônimo de comunicação interna, porém, estão estritamente ligado um ao outro. A comunicação interna é a parte das atividades da comunicação organizacional, estas que transmitem importantes informações e esclarecem o dia a dia da companhia, como a data do pagamento da participação nos resultados, o dia da vacinação, o uso correto do crachá, a obrigatoriedade do uso do uniforme etc. São informações pautadas em dados e com ‘tarefas ou ações’ que os funcionários precisam agir: por exemplo, comparecer dia x no ambulatório da empresa para receber a dose da vacina da gripe. Já o endomarketingtrabalha a interação e o incentivo aos funcionários, geralmente, acompanhado do propósito, valores, missão e visão da companhia. Veja, a seguir, em linhas gerais, a diferença de endomarketing e comunicação interna. QUADRO 1 - COMPARATIVO ENDOMARKETING E COMUNICAÇÃO INTERNA *Ver sobre Branding Institucional no próximo tópico. FONTE: O autor Agora, ficou clara a diferença entre os dois conceitos. No entanto, no mercado de trabalho, quase não conseguimos ver essa diferenciação, pois as atividades de um complementam e se confundem com o outro. Como, geralmente, os dois conceitos estão sob a mesma área e responsabilidade, acabam por se unir. Segundo alguns autores, essas nomenclaturas não importam muito, sendo que todas denominam o processo de comunicação no ambiente interno das organizações. TÓPICO 2 — COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 73 Comunicação interna, comunicação administrativa, endomarketing, comunicação com empregados. É vasta a nomenclatura relacionada ao processo de comunicação no ambiente interno das organizações – entre elas e seus empregados, entre líderes e empregados, entre empregados e empregados. Até mesmo a forma como é denominada a força de trabalho, atualmente, apresenta uma variedade de opções: empregado, funcionário, colaborador, associado etc. É preciso entender os objetivos da comunicação nesse ambiente interno, na comunicação com os empregados, objetivos, políticas e processos. Os processos mais bem-sucedidos são os que levam em consideração: • as necessidades da organização (de se comunicar, traduzindo e disseminando as estratégias, objetivos, políticas, processos e ambientação); • as expectativas das pessoas (de compreender os rumos da organização e o papel esperado de cada um, considerando, inclusive, as expectativas de autorrealização, expressão e reconhecimento); • o contexto no qual essa relação acontece. É importante que a nossa busca seja, então, pelo desenvolvimento de um modelo de pensamento e de uma ação sistêmica que, considerando esse tripé (necessidades, expectativas e contexto), enderece os desafios específicos de cada realidade ou situação e de cada grupo social que convive no ambiente organizacional. Ao compreender esses desafios e conectá-los com a proposta de valor da organização, o profissional de comunicação tende a alcançar um território de atuação estratégico e orientado a resultados, ampliando suas possibilidades de se posicionar como artífice de relacionamentos e transformações para as pessoas e para os negócios. Logo, muito mais que denominações e separações entre um conceito e outro, a comunicação interna e o endomarketing precisam trabalhar em conjunto, ora um com maior esforço, ora outro, mas sempre levando em consideração as necessidades da companhia, as expectativas sobre os resultados e o contexto. Adeus, megafone “Comunicação interna é uma disciplina jovem – tem em torno de 30 anos”. No entanto, mesmo para um período tão curto de crescimento em comparação com nossas disciplinas irmãs, como o RH, acredito que os desenvolvimentos mais animadores em nosso campo aconteceram somente nos últimos três anos, e eles estão prestes a ficar muito mais interessantes. INTERESSA NTE 74 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS Durante muito tempo, focamos no envio de mensagens de cima para baixo, restringindo-nos ao uso dos megafones das empresas para comunicar mensagens decididas por poucos e impostos por muitos. Nós nos tornamos muito profissionais em ‘enfeitar’ mensagens, segmentar audiências, controlar nossos canais e proteger os executivos de distrações, filtrando informações do dia a dia das empresas. Todavia, com a chegada da web, essa zona de conforto se foi para sempre. Assim que começamos a publicar online, descobrimos dados inconvenientes: os nossos boletins não estavam sendo abertos, e muito menos lidos, e nossas mensagens cuidadosamente refinadas haviam sido ignoradas durantes anos pela maioria. A explosão da web, que abalou jornais impressos, a televisão e outros meios de publicação, da música ao cinema, está, agora, virando nossos canais internos de cabeça para baixo. Os empregados começaram a publicar e preferem ler mensagens e comentários uns dos outros ao invés de nos escutar. Aos poucos, fomos percebendo que a única maneira de recuperar sua atenção seria participando da conversa com os empregados. De repente, nosso papel se tornou mais complexo, mais sutil, mais especializado e com maiores responsabilidades. Foi necessário aprender sobre o que funciona nas redes sociais e aplicar internamente. Tivemos que descobrir e adaptar novas ferramentas e tecnologias e também desenvolver habilidades de TI que nunca pensamos que seriam necessárias. Ao invés de gerenciar comunicações, tivemos que ajudar os gestores a se comunicar. Tivemos que deixar o megafone de lado e aprender a ser curador de conteúdo. “A viagem acaba de começar, mas através dessa reinvenção forçada, a nossa profissão está se tornando mais eficaz e o nosso dia a dia no trabalho está ficando muito mais interessante”. *Marc Wright (Inglaterra) – Editor da revista para comunicação interna Simply-communicate e criador dos populares eventos Smile (mídia social interna da empresa). Retirado do livro de Paulo Henrique Leal Soares e Rozália Del Gáudi Sem megafone, com smartphone – práticas, desafios e dilemas da comunicação com os empregados (2018). A seguir, alguns desafios da comunicação interna: Dez desafios que estão transformando a comunicação com os empregados: 1- As organizações não estão no centro do mundo e, hoje, vivemos uma “guerra” de narrativas na disputa de sentidos. 2- A relação entre empresas e empregados é assimétrica. Há, nas organizações, assim como na sociedade, um processo de disputa de poder e de sentidos que precisa ser reconhecido e considerado. 3- Não existe comunicação interna apartada da comunicação externa nas organizações. Hoje, os empregados estão cada vez mais expostos às informações que circulam longe do controle da organização. A comunicação é única, direcionada ou segmentada a grupos de interlocutores diferentes, em momentos e locais distintos. 4- O mundo digital não tem controle, e isso está impactando as relações. Seja parceiro e curador de conteúdo. Não há mais o “dono da bola”, do canal, da mensagem. Somos todos produtores, curadores e distribuidores de informações. NOTA TÓPICO 2 — COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 75 5- Comunicou, não está comunicado. Não adianta somente enviar mensagens e pressupor que as pessoas entenderam, é preciso chegar, rechear e, se necessário, reconstruir as iniciativas de comunicação. 6- O conteúdo e o propósito são mais importantes do que as mídias/veículos. Produzir um vídeo ou um jornal interno não é mais o que faz a diferença na comunicação. Conteúdo relevante é o nome do jogo. 7- Relevância e pertinência sempre. Se o que você diz é desinteressante, nem adianta investir tempo e dinheiro. 8- A liderança é a principal fonte de informação dos empregados, mas gente como a gente também forma imagem e reputação. Cuide de seus líderes e de como eles se relacionam. A interação entre líder e liderado tem alta credibilidade e pode ser realizada por meio de aparatos tecnológicos (videoconferência, teleconferência etc.), mas numa base de escuta ativa e diálogo genuíno. 9- Empregado não é criança e não é bobo. Respeite a sua cultura, a sua bagagem e a sua capacidade de compreensão. Não minta, não engane, não pense que ninguém vai notar. 10- Uma relação para sempre. A experiência positiva ou negativa que um sujeito tem ou teve com a organização é para sempre. Ele continua a ser formador de opinião, mesmo como ex-empregado. Retirado do livro de Paulo Henrique Leal Soares e Rozália Del Gáudi Sem megafone, com smartphone – Práticas, desafios e dilemas da comunicação com os empregados (2018). 2.1 BRANDING INSTITUCIONALBranding é derivado de brand, que, na tradução literal do inglês, significa "marca". Quando falamos de Branding Institucional, estamos nos referindo à construção do posicionamento ou fortalecimento da marca institucional, da empresa, e não do produto fabricado. Por exemplo – branding institucional da Unilever fortalece a marca Unilever e não seus diversos produtos, como OMO, Confort, Seda etc. Trabalhar para que uma marca corporativa atinja o coração dos consumidores não é um trabalho tão simples e fácil. A Unilever trabalhou seu branding institucional no ano de 2006 e elevou o índice de conhecimento da marca de 7% para 73%. Nos últimos anos, o trabalho de branding corporativo deixou de ter um papel apenas institucional e passou a atrelar, cada vez mais, a reputação da empresa com a gestão de negócios do dia a dia. Definitivamente, o consumidor pode se sentir mais atraído e impactado na medida em que a companhia apresenta uma imagem relevante e que agregue, a partir de marcas e produtos, algum diferencial, diz Luiz Carlos Dutra Jr., Vice-Presidente de Marketing Corporativo da Unilever (MUNDO MARKETING, 2010, s.p.). Na mesma entrevista, mais adiante, Fernando Jucá, Diretor Associado do Grupo Troiano de Branding, explica que: 76 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS O branding, no plano corporativo, está ligado à construção da razão para que a empresa exista. ‘O que o mundo perderia se a companhia deixasse de existir?’. Se a resposta para essa pergunta não for inspiradora e relevante, há um trabalho a ser feito ainda (MUNDO MARKETING, 2010, s.p.). Dessa forma, trabalhar o branding corporativo é trabalhar a marca institucional. Muitas vezes, fica, a cargo dos profissionais de comunicação, esse mérito, pois de nada adianta ter um esforço de marketing externo da marca corporativa se os primeiros clientes não forem propriamente e, prioritariamente, os colaboradores. O branding institucional deve começar dentro de casa, e reflete o propósito da empresa externamente. De acordo com Burt & Sparks (2002) apud Belo (2015, p. 15), o branding corporativo difere do branding de produto de três formas: 1- O branding corporativo é intangível, mas é investido de tangibilidade através das mensagens veiculadas pela empresa e das relações que essa desenvolve com os seus múltiplos stakeholders; 2- Em segundo lugar, o branding corporativo sustenta um elevado grau de complexidade, precisamente devido a essas diversas mensagens e relações; 3- A marca corporativa deve enfatizar o papel das pessoas e da própria organização, no sentido de comunicar mensagens consistentes e de possuir valores baseados na ética e responsabilidade social. Em seguida, a mesma autora apresenta o exposto a seguir, no qual faz uma comparação clara da diferença de branding de produto e branding corporativo. Continuaremos com o exemplo da Unilever. Considere a primeira coluna, como se estivéssemos falando da marca OMO, e, a segunda, da sua empresa fabricante, a Unilever: QUADRO 2 – DIFERENÇAS ENTRE O BRANDING CORPORATIVO E O BRANDING DE PRODUTO FONTE: Adaptado de Alizadeh et al. (2014) apud Belo (2015) TÓPICO 2 — COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 77 Assim, o desenvolvimento de estratégias de branding corporativo reforça uma identidade para a organização, e é de suma importância que a identidade da marca esteja realmente fundamentada na coerência entre aquilo que a organização é, verdadeiramente, e aquilo que é comunicado no processo de construção e gestão da marca corporativa. Com relação à construção de posicionamentos, para iniciar um branding corporativo, Brum (2013) menciona alguns exemplos de definições: • “Crie posicionamento interno a ser adotado pela empresa em todas as suas interações com os colaboradores. Para isso, leve em consideração as informações levantadas no processo de diagnóstico”. • “O posicionamento interno pode ser uma versão do posicionamento externo, trocando uma ou duas palavras, para que as pessoas entendam o papel que possuem na relação empresa x cliente. Exemplo: A melhor marca de carros (posicionamento externo). Produzir o melhor carro. Esse é o nosso negócio (versão interna)”. • “O posicionamento interno pode apresentar a visão da empresa, ou seja, a posição que ela pretende alcançar. Por exemplo: se a sua empresa deseja ser a maior ou a melhor no segmento, esses conceitos devem estar presentes no posicionamento interno, a fim de que as pessoas saibam que estão trabalhando para isso. Ou seja: Ser a melhor é a nossa estratégia ou Um milhão de clientes – a gente chega lá”. • “O posicionamento interno pode ser utilizado para marcar um determinado momento da empresa e, ao mesmo tempo, atingir os objetivos de curto e médio prazo. Veja: se a empresa está num processo de aquisição de outras empresas e deseja que, a partir da integração, as pessoas passem a ter uma visão compartilhada sobre o grupo, o posicionamento interno deverá utilizar o conceito de união ou de integração – juntos seremos mais ou Uma única (nome da empresa). Se a empresa passou por um processo de mudança, pode trabalhar o conceito da novidade – Uma nova gestão ou Uma nova era”. • “O posicionamento interno também pode servir para que a empresa ocupe um lugar de destaque na mente do público interno como a melhor opção de emprego daquele segmento/mercado ou a empresa que melhor se relaciona com os seus colaboradores. Exemplo: Aqui você é mais, a melhor empresa do segmento para você trabalhar, um lugar muito especial ou um mundo de oportunidades (se a empresa for global)”. • “O posicionamento interno pode, ainda, retratar a importância do colaborador para a empresa: Com você, por você e para você. Seu orgulho, nossa identidade, ou nossa causa é você” (BRUM, 2013, p. 21). Todavia, qualquer posicionamento interno deve ser muito além de uma frase criativa, bonita, impactante e bem pensada. Ela deve transmitir a verdadeira essência da empresa e precisa ser vivida a realidade dentro da organização. As pessoas só se engajam naquilo que conhecem bem. O posicionamento interno pode assinar os canais internos, criar identidades visuais, campanhas de orgulho e de engajamento. Use e abuse! 78 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS No site da Forbes, o mais conceituado canal de negócios e economia do mundo, você pode encontrar as empresas que possuem suas marcas corporativas de maior valor. As primeiras colocadas são Apple, Google, Microsoft, Amazon, Facebook, Coca-Cola. Acesse para conhecer em https://www.forbes.com/powerful-brands/list/#tab:rank. DICAS O Branding Institucional é diferente do Employee Experience, mas estão estritamente ligados. O Employee Experience (EX) é um termo relativamente novo, traduzindo, literalmente, quer dizer Experiência do Colaborador. O termo Experiência do Consumidor já é bem batido, porém, válido para a área de marketing. Logo, a ferramenta e os conceitos são quase os mesmos, mas a aplicabilidade e o público final são completamente diferentes. O “EX” trata de definir e acompanhar a jornada do colaborador na empresa e suas experiências com a marca empregadora, desde a atração para a vaga até depois do desligamento e/ou aposentadoria. Sabe aquela famosa frase “A propaganda é a alma do negócio”? Hoje, poderia alterar para “O colaborador é a alma do negócio!”, pois estamos na era da experiência, felicidade, conexões e relacionamentos. Os valores e o propósito que a empresa quer passar aos colaboradores têm que ter vivência diária, legitimidade, os líderes precisam acreditar, participar e ter identidade. O colaborador, como ser humano, precisa estar no centro das decisões da empresa, e é necessário dar voz a ele. Antes, as decisões e acomunicação da empresa eram unilaterais, de cima para baixo. Agora, é necessário envolver as pessoas e ser colaborativo. A área de comunicação precisa ouvir mais do que enviar informações. Mais mediar do que criar. Mais endomarketing, comunicação interna e ser o suporte. Para entender um pouco mais sobre Branding Institucional e Experiência do Colaborador, apresentaremos uma história, um exemplo ao assunto que estamos estudando: Uma empresa de ônibus de transporte coletivo tinha, como valores: entrega, agilidade e pontualidade. Assim, ser ágil e pontual era primordial para a companhia, e isso era disseminando entre todos, clientes externos e colaboradores. Certo dia, o motorista da empresa estava saindo do ponto de ônibus quando viu uma velhinha, com certa dificuldade de caminhar, vindo em direção “correndo”, para pegar o ônibus e fazendo sinal para que aguardasse. TÓPICO 2 — COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 79 O que o motorista deveria fazer? Aguardar a senhora para ajudá-la, assim, realizar um ato gentil, ou seguir seu caminho, garantindo a pontualidade da empresa e sabendo que o próximo ônibus chegaria em breve, pois a pontualidade era primordial para a companhia? Difícil decisão, não?! Porém, é essa decisão que garantirá o entendimento, importância e engajamento do colaborador para que a empresa tenha sucesso na proposta de entrega. Para o Employee Experience (EX), a empresa precisa construir uma liderança inspiradora e um ambiente organizacional que promova o crescimento. Não somente um ambiente de trabalho descontraído com salas repletas de sofás confortáveis, jogos e decoração criativa. Seu significado está relacionado ao reconhecimento, valorização, confiança, aprendizagem e autonomia. Para o Branding Institucional, a empresa precisa construir e engajar a todos, com uma cultura com objetivos claros, e direcionar todas as estratégias para a entrega do propósito da companhia. As empresas devem ser capazes de despertar, nos colaboradores, o desejo de darem o melhor de si e uma relação de cooperatividade, com objetivos alinhados, estes que proporcionarão uma experiência voltada ao crescimento profissional e entrega de resultados mais eficientes e assertivos. Afinal, colaboradores motivados produzem mais e melhor. Segundo GPTW (2018), para Jacob Morgan, uma das principais referências no tema, os resultados de se aplicar EX são: • 28x maior probabilidade de ser uma das Fast Company’s Most Innovative Companies. • 11,5x maior probabilidade de ser uma Glassdoor’s Best Places to Work. • 4,4x maior probabilidade de estar na lista LinkedIn (North America’s Most In-Demand Employers). • 2,1x maior probabilidade de estar na lista Forbes (World’s Most Innovative Companies). • 2x maior probabilidade de constar na American Customer Satisfaction Index (GPTW, 2018, s.p.). GPTW (2018, s.p.) finaliza o assunto, exemplificando: Para ilustrar, temos o caso do Starbucks, que entende que deve atuar com o princípio “aja como se fosse o dono do negócio”. Assim, a empresa não precisa gastar dinheiro com publicidade, pois seus colaboradores se tornam parceiros e são a melhor publicidade que a empresa poderia ter. 80 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS A seguir, indicaremos alguns livros sobre Employer Experience para aprofundar os estudos nesta área, que ganha relevância, nesse momento, na área da comunicação organizacional. Possui interesse ao tema? Não perca mais tempo, e boa leitura! • Gestão de Relacionamento & Customer Experience - Roberto Madruga • The Employee Experience Advantage: How to Win the War for Talent by Giving Employees the Workspaces They Want, the Tools They Need, and a Culture They Can Celebrate - Jacob Morgan (Autor), Marshall Goldsmith (Prólogo) • The Future Workplace Experience - Jeanne C. Meister • The Employee Experience – How to Attract Talent, Retain Top Performers and Drive Results - Tracy Maylett, Matthew Wride. DICAS 81 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A comunicação organizacional é o fluxo de comunicação entre emissores e receptores que acontece dentro de uma organização com todos os seus públicos de interesses envolvidos. • Mesmo na década de 1970, as empresas já se comunicavam com seus públicos, mas foi na segunda metade da década de 1980, com a criação e publicação da Política de Comunicação da empresa Rhodia, que a área ganhou notoriedade e relevância. • Com o passar dos anos e da complexa modernidade dos relacionamentos humanos, em um mundo mais Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo – o chamado mundo VUCA –, a comunicação, dentro das organizações, teve um desenvolvimento rápido e, assim, tornou-se mais complexa e estratégica. • Com a crise da atual pandemia do COVID-19, a comunicação organizacional se desenvolveu de uma maneira inimaginável e expandiu sua notoriedade. • Os profissionais de comunicação do futuro são os que pautarão, agora, esse mercado chamado de ‘novo normal’. O campo está aberto e fértil para os profissionais da área. A principal característica desse profissional é a resiliência, para se adaptar em um mundo com permanente e rápida mutação. • A comunicação organizacional se estrutura na relação entre a organização e seus diversos públicos envolvidos, os chamados stakeholders – fornecedores, imprensa, terceiros, colaboradores, sociedade, acionistas etc. Contudo, diante de todos os públicos de uma empresa, os colaboradores têm sua relevância e, por isso, em algumas empresas, existem áreas ou profissionais específicos para cuidar apenas desse segmento e público específico. • O primórdio da comunicação com os funcionários surgiu com a industrialização, nas primeiras publicações jornalísticas de empresas entre 1830 e 1840, na Alemanha e na Suíça. No Brasil, o primeiro veículo do gênero surgiu em 1926, na fábrica da General Motors. • Nos dias atuais, a disseminação pura de informações, por meio de jornais ou canais de comunicação, já não é o suficiente para suportar as demandas crescentes das comunicações com o público interno. • O termo endomarketing é registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), sob o número 815990995 e pelo autor do termo Saul Faingaus Bekin. 82 • Engana-se quem acha que endomarketing surgiu por causo do termo endo – dentro –, ou seja, marketing para dentro, apesar de que o significado, de forma geral, seria esse mesmo: a força da gestão para o público interno. • Endomarketing é, geralmente, confundindo com a comunicação interna ou comunicação corporativa, porém, não é sinônimo de comunicação interna, mas estão estritamente ligados. • A comunicação interna é a parte das atividades da comunicação organizacional que transmite importantes informações e esclarece o dia a dia da companhia. Já o endomarketing trabalha a interação e o incentivo aos funcionários, geralmente, acompanhado do propósito, valores, missão e visão da companhia. • A sutil diferença entre os dois conceitos não é vista no mercado de trabalho, pois um complementa e se confunde com o outro, porém, precisam trabalhar em conjunto. • Branding Institucional é a construção do posicionamento ou fortalecimento da marca institucional, da empresa, e não do produto fabricado. O trabalho de branding corporativo deixou de ter papel apenas institucional, e passou a atrelar, cada vez mais, a reputação da empresa com a gestão de negócios do dia a dia. • Trabalhar o branding corporativo é trabalhar a marca institucional. Muitas vezes, fica, a cargo dos profissionais de comunicação, esse mérito, pois de nada adianta ter um esforço de marketing externo da marca corporativa se os primeiros clientes não forem,prioritariamente, os colaboradores. • O branding institucional deve começar dentro de casa, e reflete o propósito da empresa externamente, reforçando uma identidade, para a organização, daquilo que é comunicado no processo de construção e gestão da marca corporativa. • Qualquer posicionamento interno deve transmitir a verdadeira essência da empresa, e precisa ser vivida a realidade dentro da organização. • O Branding Institucional é diferente do Employee Experience, mas estão estritamente ligados. • O termo Employee Experience é relativamente novo, e trata-se de definir e acompanhar a jornada do colaborador na empresa e suas experiências com a marca empregadora. • Mais do que nunca, o colaborador, como ser humano, precisa estar no centro das decisões da empresa, e é necessário dar voz a ele. Antes, as decisões e a comunicação da empresa eram unilaterais, mas, agora, é necessário envolver as pessoas, dar reconhecimento, valorização, confiança, aprendizagem e autonomia. • Empresas que são capazes de despertar, nos colaboradores, o desejo de darem o melhor de si, criam uma relação de cooperatividade e, assim, surgem a melhor produção e os melhores resultados. 83 Nas afirmações a seguir, responda se estão certas ou erradas. Caso alguma estiver errada, justifique: 1 A comunicação organizacional é o fluxo de comunicação entre emissores e receptores. Acontece dentro de uma organização, com todos os seus públicos de interesses envolvidos. Nesse cenário, os colaboradores têm sua relevância e ganham força diante do momento atual. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 2 Desde a década de 1970, as empresas já se comunicavam com seus públicos, porém, somente com a publicação da Política de Comunicação da empresa Rhodia, a área ganhou notoriedade. Hoje, com a crise da atual pandemia da COVID-19, a comunicação organizacional se desenvolveu de uma maneira inimaginável e expandiu sua notoriedade. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 3 O termo endomarketing surgiu por causa do termo endo – dentro –, ou seja, marketing para dentro e é a mesma coisa que comunicação interna. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 4 Escreva a principal diferença entre Branding Institucional e Employee Experience. 5 Escolha um entre os conceitos - Branding Institucional ou Employee Experience – e escreva sua importância nos dias de hoje, fazendo relação com o atual momento da sociedade. AUTOATIVIDADE 84 85 UNIDADE 2 TÓPICO 3 — ESTRUTURA DA ÁREA NO MEIO CORPORATIVO 1 INTRODUÇÃO No capítulo anterior, vimos sobre o profissional de relações públicas na comunicação organizacional. Agora, veremos a estrutura da área dentro das empresas e organizações, funções e principais atividades. Sabemos que é o profissional de comunicação que será o responsável por se comunicar com os funcionários, acionistas, mídia, comunidades, governos, consumidores e, assim, cuidar da qualidade das relações estabelecidas entre a empresa e seus diversos públicos. Vamos estudar os resultados de uma pesquisa realizada anualmente pela agência britânica de comunicação com colaboradores, a Gatehause e traremos exemplos práticos de mercado. 2 DEFINIÇÃO O meio corporativo de atuação dos profissionais de comunicação é a atuação profissional dentro das organizações, seja qual for o formato, tamanho, setor e segmento dessa estrutura. Conhecer e compreender como funciona a estrutura como um todo, dentro das empresas, são as melhores formas para entender e pensar em se desenvolver nesse campo promissor para uma das possibilidades da sua futura carreira. 2.1 FUNÇÕES DO PROFISSIONAL Neste tópico, apresentaremos alguns resultados da pesquisa realizada, anualmente, pela agência britânica de comunicação com colaboradores da Gatehouse. A pesquisa envolve, anualmente, mais de 1000 pessoas estritamente da área em grandes empresas de 45 países, e pode ser acessada no site da empresa. Sobre a estrutura da área, o resultado da pesquisa apontou que 62% das empresas têm entre um a cinco colaboradores dedicados, exclusivamente, à comunicação interna na equipe. Algumas equipes possuem mais pessoas dedicadas a outros assuntos na área da comunicação, como comunicação externa etc. 86 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS A pesquisa também aponta que mais de 84% dos respondentes pensam que a comunicação interna possui um propósito claro nas suas empresas. Isso quer dizer que todas as empresas, ao redor do mundo, identificam a relevância de propor uma comunicação interna estruturada nas organizações. Dentre as atividades de comunicação interna, 80% diz estimular um canal de duas vias (diálogo) entre a empresa e seus colaboradores, 87% transmite informações corporativas, e 88% comunica a estratégia, visão e valores da organização. FIGURA 1 – PRINCIPAIS ATIVIDADES DE COMUNICAÇÃO INTERNA FONTE: <https://sots-dot-gallagher-indigo-storm-uk-apps.appspot.com/>. Acesso em: 26 maio 2020. No site da Gatehouse, no item ‘Pesquisa/Banco de Conhecimento’, você encontrará diversos materiais sobre a área. Todos os conteúdos são excelentes, estão em inglês, e é necessário se inscrever para receber o acesso pelo email pessoal. É importante se dedicar, além de tirar um tempo para fazer a leitura dos principais materiais e acompanhar as novidades por meio do newsletter semanal que a agência envia, também, por e-mail. Acesse o link a seguir: https://www.gatehouse.co.uk/. DICAS Sobre os principais objetivos da comunicação interna, a seguir, veremos os seis mais citados, sendo que o de maior destaque é ter uma comunicação clara dos propósitos da companhia. TÓPICO 3 — ESTRUTURA DA ÁREA NO MEIO CORPORATIVO 87 FIGURA 2 – PRINCIPAIS OBJETIVOS DA COMUNICAÇÃO INTERNA FONTE: <https://sots-dot-gallagher-indigo-storm-uk-apps.appspot.com/>. Acesso em: 26 maio 2020. A gerência e a liderança também são destaques da pesquisa, e são essenciais para o sucesso da comunicação e o engajamento dos colaboradores. Os profissionais da comunicação interna devem colaborar fornecendo ferramentas, conhecimento, treinamento e suporte para os líderes e demais funcionários, para capacitá-los como agentes de comunicação. Veja, a seguir, o resultado da pesquisa sobre o item. FIGURA 3 – GERÊNCIA E A LIDERANÇA FONTE: <https://sots-dot-gallagher-indigo-storm-uk-apps.appspot.com/>.Acesso em: 26 maio 2020. Os profissionais da comunicação interna concordam que os líderes são fundamentais para os resultados, e entendem o valor da comunicação por meio da liderança. Dois terços dos entrevistados, 66%, acreditam que a comunicação interna é vista como um fator-chave na experiência do funcionário, e 72% diz que a função desempenha um papel crítico para captura e amplificação, dando voz ao funcionário. 88 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS Quando se trata das prioridades para este ano de 2020, comunicar o propósito, estratégia e valores da Companhia entram como destaque. Ressaltando que a pesquisa foi realizada na União Europeia, em que a Pandemia do COVID-19 estava iniciada bem antes daqui do Brasil, e os efeitos mudaram o rumo deste ano em todos os setores. FIGURA 4 – PRIORIDADES PARA 2020 FONTE: <https://sots-dot-gallagher-indigo-storm-uk-apps.appspot.com/>. Acesso em: 26 maio 2020. Em resumo geral e sob minha análise, os resultados apontados pela pesquisa e reconhecendo situações equivalentes em boa parte das empresas aqui no Brasil, é possível levantar os principais desafios para a realização de uma comunicação interna efetiva e sugerir os caminhos necessários para a evolução: • Falta de recursos e planejamento: a pesquisa mostrou que quando se trata de comunicação interna a maior parte das empresas ainda investe pouco ou de maneira poucoestratégica. Além disso, parte das empresas que fazem algum planejamento acaba não estabelecendo rotinas de acompanhamento para alcance de resultados e se perdem na mensuração do que se foi planejado. Estes são pontos de atenção e melhoria na maioria das empresas. • Comunicar os valores, propósito e estratégia da empresa: esses são os grandes desafios na comunicação interna apontados na pesquisa. Vemos essa crescente ano após ano e sabemos que este é o caminho mais promissor para uma empresa que queira ter colaboradores engajados e motivados aos melhores resultados. • Treinamento da liderança: apontado por quase 60% dos entrevistados como um dos grandes desafios da comunicação interna, apenas 30% dos profissionais disseram incluir estratégias em seus planejamentos para melhorar essa habilidade na liderança.Treinar e transformar a liderança em agente de comunicação é de suma importância. TÓPICO 3 — ESTRUTURA DA ÁREA NO MEIO CORPORATIVO 89 • Segmentar a comunicação e dar voz ao colaborador: cada vez mais os colaboradores são protagonistas e emissores das informações e por isso, precisam ser ouvidos e compreendidos. Necessário trabalhar ações contínuas que estimulem a sensação de pertencimento e protagonismo em cada um dentro da companhia precisam fazer parte do planejamento estratégico da área de comunicação interna. • Investir em canais digitais de comunicação (smartphone em mãos!): ainda vemos poucas inovações na digitalização da comunicação nas empresas, mas esse tipo de interação ganhou ainda mais relevância em um mundo ‘de cabeça para baixo’ na pandemia e onde as interações passam a ser quase que 100% online. Nem é preciso destacar a importância de continuar investido neste campo. O que tem ganhado destaque e são novidades neste meio são as lives e os podcasts corporativos. Na pesquisa mostrou que o uso de redes sociais corporativas aumentou bastante também, principalmente no formato de Apps para celular. Essa tendência que já se concretizou no mundo externo, com certeza também impacta a forma de se comunicar no trabalho. 2.2 ESTRUTURA ADEQUADA A área de comunicação dentro das empresas pode ter diversas esferas e concepções diferentes. A estrutura escolhida pela organização reflete a importância da relação que é necessária existir para que a comunicação aconteça. Ou seja, se a área estiver sob a responsabilidade da área comercial, respondendo para vendas ou marketing, a tendência é ter uma comunicação mais mercadológica. Se a área estiver sob a gestão de Recursos Humanos, a tendência é ter uma comunicação mais informativa e voltada para as questões das relações de trabalho e gestão de pessoas. Se a comunicação estiver diretamente ligada a alta gestão da empresa, a comunicação responderá mais facilmente as estratégias gerais da companhia. Há quatro possibilidades de abordagem para o processo de comunicação que acontece dentro das organizações com foco no público interno. Essas possibilidades são determinantes para a estrutura, a estratégia e o foco da área: 1- Empresarial: quando o processo visa desenvolver competências de comunicação com empresados. 2- Gerencial: quando as ações são direcionadas para ampliar a capacidade e as habilidades de comunicação de gestores. 3- Corporativa: quando as atividades são estabelecidas visando fornecer informações formais. 4- Organizacional: quando as ações buscam traduzir propósitos organizacionais. No geral, a área de comunicação se configura basicamente de duas maneiras: uma na linha de autoridade e a outra como assessoria ou staff. A seguir, veja uma simulação de organograma para os dois casos: 90 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS A seguir, sendo alocada em uma diretoria respondendo diretamente aos cargos mais altos da organização, a área de comunicação se torna mais autônoma e de acordo com as estratégias da empresa. FIGURA 5 – LINHA DE AUTORIDADE FONTE: O autor A seguir, respondendo sob uma outra diretoria, o que diferenciará a comunicação como apoio a esta área e assim caracterizará o tipo de entrega desejada. Vale ressaltar que não existe certo ou errado, mas momentos diversos e cenários diferentes. FIGURA 6 – LINHA DE ASSESSORIA OU STAFF FONTE: O autor A área de comunicação é um setor estratégico e operacional e que envolve processos permanentes de interação e diálogo independentemente de sua estrutura. Porém, muitas vezes, a percepção é de que a área de comunicação é apenas uma prática desenvolvida por um conjunto de pessoas que produzem informações de forma burocrática, atendendo necessidades e demandas específicas. Esse cenário desconsidera que as informações estão sempre contextualizadas e fazem parte de um processo mais amplo de planejamento geral, que envolve a relação da empresa com os públicos envolvidos. TÓPICO 3 — ESTRUTURA DA ÁREA NO MEIO CORPORATIVO 91 A velocidade das informações também é de suma importância em uma era onde o digital é instantâneo e em tempo real. Assim, torna-se necessário que a área de comunicação ocupe um lugar que se tenha autonomia para definir estratégias adequadas de veiculação e de interação. Com relação ao nome da área, pouco importa. Apesar da maioria dos autores tratarem todos os termos e nomes como sinônimos, para Kunsch (2003), o termo “Organizacional” é o mais adequado, pois tem uma maior amplitude, podendo se referir a qualquer tipo de organização sendo pública ou privada, com ou sem fins lucrativos. O que se percebe também é que a nomenclatura que a área recebe está diretamente relacionada com o poder que a área assume internamente e com a concepção que se tem de comunicação. Os nomes mais comuns que são encontrados como títulos nas áreas são: • Comunicação Corporativa. • Comunicação Organizacional. • Comunicação Institucional. • Comunicação Interna. Às vezes, seguidos de outras áreas ou descrições mais completas, como: • Comunicação Corporativa e Responsabilidade Social. • Comunicação Organizacional, Responsabilidade Social e Sociedade. • Comunicação Institucional e Relacionamento com a Comunidade. • Comunicação Interna e Externa. A falta de critério para designar o nome da área pode indicar fragilidade da comunicação na gestão organizacional? Seria uma boa pergunta e argumento de pesquisa acadêmica para descobrir se a denominação da área, afeta a entrega de resultados e a posição de autonomia e autoridade dentro das organizações. NOTA 92 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 2.3 PRINCIPAIS ATIVIDADES A comunicação organizacional é a área ou setor de uma empresa (seja qual for o tamanho, porte ou segmento de negócio) em que é responsável pela interação com os seus mais diversos públicos. Na maioria das empresas o foco do setor fica com o público interno. Vamos agora ver um pouco de suas principais tarefas de uma área em que não se tem rotina! As atividades são bem diversificadas e incluem estratégias organizacionais (public affairs), marketing corporativo, propaganda corporativa, comunicação interna e externa, sempre dependendo dos públicos com os quais a organização se relaciona ou pretende se relacionar. Porém, vale ressaltar para não confundir essas áreas citadas anteriormente. A comunicação organizacional utiliza-se das atividades em diversas áreas, mas com propósito e objetivos diferentes e mais abrangentes. Não se trata apenas em “falar o que está acontecendo”. É necessário auxiliar a implantação de processos contínuos de discussão das melhores práticas empresariais e ajudar na análise do impacto das decisões e na avaliação dos sucessos, das falhas e das novas ideias para identificar oportunidades e recomendar ações de comunicação que possam resultar na identidade, imagem, experiência e reputação positiva dentro da realidade vivida. Assim, a comunicação organizacionalé responsável pelo desenvolvimento, atualização e divulgação da visão do negócio, reforçando em que pretende chegar e como quer ser vista por seus públicos. As atividades variam como já citado, mas as principais são: • construção em conjunto para um planejamento estratégico e de divulgação dos propósitos e valores da companhia sempre de acordo com a realidade e as necessidades da empresa; • gestão da marca e demais ativos de comunicação; • produção de materiais de comunicação corporativa para atrair e envolver o público e gerar valor para o negócio; • ações de valorização, orgulho, engajamento e cultura corporativa; • assessoria de imprensa no relacionamento com as mais diversas mídias; • comunicação interna no repasse e construções de informações e mensagens internas; • comunicação com investidores e governo no objetivo de estreitar relacionamento e ganhar valor de marca e de mercado; • produção de conteúdo em geral. Para essas atividades, os mais diferentes canais e ferramentas podem ser utilizados como site, blog, vídeos, publicações impressas, press releases, e-mail marketing, mídias sociais, relatórios, apresentações e muito mais. TÓPICO 3 — ESTRUTURA DA ÁREA NO MEIO CORPORATIVO 93 A seguir, apresentaremos alguns exemplos de atividades da área de comunicação organizacional, dividida em macroprocessos, ou seja, subáreas ou setores dentro da comunicação organizacional. Em muitas empresas, há profissionais dedicados para cada macroprocesso. Na coluna do meio, estão os pilares, que são o meio por onde se apresentam as atividades do macroprocesso e as ações que são os canais de execução e os outputs e entregas da área como um todo. É a parte visível do dia a dia. Vale ressaltar que o exposto a seguir é apenas representativo e que tanto os macroprocessos, quanto os pilares e as ações, podem mudar e acrescentar para infinitas outras possibilidades, dentro do escopo desenhado para o atendimento e responsabilidade da área de comunicação organizacional para determinada empresa. 94 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS FIG U R A 7 – E X E M P LO S D E A T IV ID A D E S D A Á R E A D E C O M U N IC A Ç Ã O O R G A N IZ A C IO N A L FO N T E : O au to r 95 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O meio corporativo de atuação dos profissionais de comunicação é a atuação profissional dentro das organizações, esse é um campo promissor para uma das possibilidades de sua futura carreira. • Dentre as atividades de comunicação interna, destacam-se três: canal de duas vias (diálogo) entre a empresa e seus colaboradores, transmissão de informações corporativas e comunicação da estratégia, visão e valores da organização. • A gerência e a liderança são essenciais para o sucesso da comunicação e do engajamento dos colaboradores. • Os profissionais da comunicação interna devem colaborar fornecendo ferramentas, conhecimento, treinamento e suporte para os líderes e também demais funcionários para capacitá-los como agentes de comunicação. • Os principais desafios para a realização de uma comunicação interna efetiva seriam: falta de recursos e planejamento, comunicar os valores, propósito e estratégia da empresa, treinamento da liderança, segmentar a comunicação dando a voz ao colaborador e investir em canais digitais de comunicação. • A estrutura escolhida pela organização reflete a importância da relação que é necessária existir para que a comunicação aconteça, sendo de todo modo um setor estratégico e operacional e que envolve processos permanentes de interação e diálogo independentemente de sua estrutura. • As atividades são bem diversificadas e incluem estratégias organizacionais, marketing corporativo, propaganda corporativa, comunicação interna e externa, sempre dependendo dos públicos com os quais a organização se relaciona ou pretende se relacionar. • A comunicação organizacional é responsável pelo desenvolvimento, atualização e divulgação da visão do negócio, reforçando em pretender chegar e como quer ser vista por seus públicos. Para isso, utilizam-se diferentes canais e ferramentas como site, blog, vídeos, publicações impressas, press releases, e-mail marketing, mídias sociais, relatórios, apresentações e muito mais. 96 1 O objetivo das atividades da Comunicação Organizacional em relação a liderança da companhia é: a) ( ) Treinar a gerência e liderança para exercer suas próprias atividades. b) ( ) Suportar a gerência colaborando com ferramentas, conhecimento e treinamento para capacitá-los como agentes de comunicação. c) ( ) Digitalizar as ferramentas voltadas a gerência para que estes possam comunicar mais rapidamente os propósitos da empresa. 2 Assinale a resposta correta em relação aos principais desafios para a realização de uma comunicação interna efetiva apresentada na pesquisa realizada pela agência britânica Gate House: a) ( ) Falta de recursos e planejamento, comunicar os valores, propósito e estratégia da empresa, treinamento da liderança, segmentar a comunicação e dar voz ao colaborador, investir em canais digitais de comunicação. b) ( ) Falta de recursos e planejamento, orçamento baixo, comunicar o dia a dia da companhia, treinamento da liderança, segmentar a comunicação e dar voz ao colaborador, investir em canais digitais de comunicação. c) ( ) Falta de recursos e planejamento, orçamento baixo, comunicar os acontecimentos de demais setores, treinamento das equipes, segmentar a comunicação e dar voz ao colaborador, investir em canais digitais de comunicação. 3 Discorra, um pouco, com suas palavras, a afirmação seguir: “A Comunicação Organizacional é responsável pelo desenvolvimento, atualização e divulgação da visão do negócio, reforçando onde pretende chegar e como quer ser vista por seus públicos”. AUTOATIVIDADE 97 UNIDADE 2 TÓPICO 4 — AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO 1 INTRODUÇÃO As agências de comunicação são imprescindíveis para uma marca se conectar com seus mais diversos públicos. Neste capítulo, vamos abordar sobre as agências de comunicação e suas áreas de atuação, funções, estrutura interna e metodologia de trabalho. Vamos entender que as agências geralmente são independentes do cliente, mas precisam trabalhar com parceria e conectividade. É um campo de atuação grande, em constante desenvolvimento e os profissionais que compõem uma agência são especializados em diversas áreas de atuação e é essa diversidade que torna os serviços oferecidos mais atrativos. 2 DEFINIÇÃO DE AGÊNCIA E SEUS FOCOS DE ATUAÇÃO (ENDOMARKETING, MÍDIAS SOCIAIS, PUBLICIDADE, RP, EVENTOS) Na Lei nº 4.680, de 18 de junho de 1965, que dispõe sobre o exercício da profissão de Publicitário, o Art. 3º apresenta: A Agência de Propaganda é pessoa jurídica e especializada na arte e técnica publicitária, que, através de especialistas, estuda, concebe, executa e distribui propaganda aos veículos de divulgação, por ordem e conta de clientes anunciantes, com o objetivo de promover a venda de produtos e serviços, difundir ideias ou informar o público a respeito de organizações ou instituições colocadas a serviço desse mesmo público (BRASIL, 1965, s.p.). Vale ressaltar, que a lei citada considera a propaganda qualquer forma remunerada de difusão de ideias, mercadorias ou serviços. Ou seja, podemos considerar o exposto para qualquer tipo de agência de comunicação, publicidade, relações públicas, agência full service etc. (Mais adiante veremos sobre segmentação e especialidades de agências da área). A agência de propaganda é a organização especializada na arte e técnica da propaganda, que se estrutura especificamente para este fim, aglutinando profissionaisespecializados de diversas áreas, acumulando experiências, desenvolvendo e adquirindo tecnologia específica, bem como prestando serviços para anunciantes de vários setores, que formam sua carteira de clientes. 98 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS Independentemente do tipo e tamanho de uma agência, é a diversidade das áreas de comunicação que tornam os serviços oferecidos mais atraentes. Uma profissão, uma especialização complementa a outra, como veremos mais adiante. Agora, veremos, um pouco, como surgiu a primeira agência: Você sabia que as agências de publicidade no Brasil já têm mais de 100 anos? A primeira agência que se tem registro foi em 1914, ficava em São Paulo e denominava-se A Eclética. O proprietário foi o publicitário e jornalista João Castaldi, em sociedade com o empresário Jocelyn Benaton. Segundo as informações do site Meio e Mensagem (2014), o trabalho da “A Eclética” era de agenciadora de anúncios em jornais impressos. Uma das primeiras batalhas de Castaldi foi conseguir junto aos jornais o pagamento da comissão de 20% pela captação e veiculação dos anúncios publicitários, conta o pesquisador de história da propaganda e professor do curso de publicidade do Mackenzie, Adolpho Queiroz. O site ainda traz a figura histórica a seguir, como sendo a primeira publicidade da agência: FIGURA 8 – ANÚNCIO DA PRIMEIRA AGÊNCIA PUBLICITÁRIA FONTE: <https://www.meioemensagem.com.br/wp-content/uploads/2016/04/ ecletica+imagem.jpg>. Acesso em: 31 jul. 2020. TÓPICO 4 — AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO 99 O site do Meio e Mensagem traz a história mais detalhada da primeira agência do Brasil, A Eclética. Acesse o link a seguir: https://www.meioemensagem.com.br/home/ comunicacao/2014/11/26/primeira-agencia-completa-cem-anos.html DICAS Em 1918, A Eclética passou por uma reformulação societária e Benaton e Castaldi, deixaram o negócio e assumiram Júlio Cosi e Eugênio Leuenroth, este último responsável por abrir a filial da agência no Rio de Janeiro. A Eclética encerrou suas atividades no início da década de 1960, mas deixou um bom legado: o filho de Leuenroth, Cícero Leuenroth, fundou a agência Standard Propaganda que hoje é a agência Ogilvy. A agência Ogilvy é de origem britânica e foi fundada em 1850 sob nome de Fleet Street, do então fundador Edmund Charles Mather. Após seu falecimento, em 1886, seu filho, Harley Lawrence Mather fechou parceria com Herbert Oakes Crowther e fundaram então a Mather & Crowther. Foi em 1921 que até então a agência Mather e Crowther contratou Francis Ogilvy como redator que acabou presidindo a empresa. A agência abriu sua divisão de Relações Públicas, a Ogilvy & Mather Public Relations, em 1980. Hoje, a Ogilvy faz parte do grupo WP, a maior empresa de publicidade e relações públicas do mundo em receita e emprega mais de 160.000 pessoas em 110 países. No Brasil, a Ogilvy é uma das agências mais premiadas em criação e efetividade. Conquistou 130 Leões nos últimos anos no Festival de Cannes (2010 a 2019). Conheça mais acessando o site: http://www.ogilvy.com.br/ INTERESSA NTE Veremos, a seguir, as diversas possibilidades de segmentação de uma agência. Diríamos que existem, basicamente, duas formas (ou mais) de segmentar as agências de comunicação. Uma pela especialidade do serviço prestado outra pela segmentação dos clientes atendidos (ou ainda as duas formas juntas). 100 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS A segmentação pela especialidade seria sobre o serviço prestado. Por exemplo, uma agência pode ser especializada apenas no atendimento on- line; apenas em assessoria de impressa; trabalhos de endomarketing para público interno; veiculação de mídias externas; trabalhar com comunicação organizacional ou agência full service – engloba uma gama maior de serviços de comunicação integrada. Por trabalhar para diversos anunciantes, a agência pode simultaneamente desenvolver tecnologia e adquirir experiência em diversos ramos de negócio e mercados. Ao mesmo tempo, tem condições de manter um diversificado corpo de profissionais, empregando o talento e a experiência de cada um, de acordo com a tarefa publicitária que precisa ser realizada. Por exemplo, uma agência pode se especializar no atendimento ‘apenas’ da comunicação interna, endomarketing e branding interno, como é o caso das agências a seguir: • Happy House - https://www.happy.net.br/ • Santo de Casa - http://www.santodecasa.net/ • Ação Integrada - https://acaointegrada.com.br/ • Compreendo Comunicação - https://compreendo.com.br/ A agência, em razão de procedimento ético usual, atende apenas a um cliente ou marca de cada ramo de negócio, de forma a não tratar dos interesses dos anunciantes, produtos e serviços concorrentes, uma vez que, por aprofundar- se muito no estudo da estratégia e das técnicas de cada um, torna-se, em muitos casos, intima parceria dos esforços do cliente, conhecedora dos segredos dele e forte aliada na guerra do consumidor. No entanto, o que se tem crescido, e muito, na área de comunicação e marketing é o atendimento a nichos específicos, tornando-se único e especialista em um ramo de negócio. E conhecer a fundo o cliente tem se tornado não mais uma questão de escolha entre um cliente e outro, e sim, um diferencial e valor agregado para as agências e seus clientes. Dessa forma, a segmentação por tipo de cliente seria algo como atendimento específico para o público de moda – comunicação de moda; para áreas médicas; indústrias ou ainda pequenas e médias empresas, por exemplo, as agências a seguir: • Climages – comunicação para moda - http://www.climages.com.br/ • Tinno - comunicação empresarial especializada em ciência, tecnologia e inovação - https://tinno.com.br/ • LM – Latinmed – especialista na área médica - https://latinmed.com.br/ • GSaúde – marketing para médicos - https://gsaudemarketing.com.br/ TÓPICO 4 — AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO 101 • Agência Health - atende profissionais de saúde, como psicólogos, dentistas, nutricionistas, hospitais e clínicas - https://www.agenciahealth.com.br/ • CUPOLA - tornou-se especialista em marketing imobiliário - https://cupola.com.br/ Essas segmentações têm ganhado espaço cada vez maior entre as agências de comunicação. Isso porque além de ter aumentado a quantidade de prestadores de serviço na área de comunicação e marketing, o escopo das atividades de comunicação também têm crescido ao longo dos anos com o avanço das tecnologias digitais. Um segmento de mercado, segundo Kotler (2000), é um grupo de consumidores que partilham um conjunto semelhante de necessidades e desejos. Esse nicho de mercado tem as seguintes características: • os clientes têm um conjunto de necessidades distintas; • os clientes concordam em pagar um preço mais alto às empresas que melhor atenderem estas necessidades; • o nicho não costuma atrair muitos concorrentes; • o nicho gera receitas por meio da especialização; • o nicho tem potencial para crescer e gerar lucros maiores (KOTLER, 2000, p. 20). Assim, têm sido crescente as agências que se posicionam em um ramo específico atendendo determinado ramo de negócio e determinado público- alvo. Seguir esse caminho e dominar um único segmento faz a agência se tornar especialista em um determinado público-alvo e assim ter autoridade no assunto, conhecer a fundo este mercado, seus valores e costumes e com isso dominar o negócio do cliente, aumentar a produtividade das entregas e ter a excelência no serviço. Em Santa Catarina, temos os dois modelos de segmentação. No site do Sindicato das Agências de Santa Catarina (SINAPRO), que existe desde 1979, pode-se encontrar a lista das agências do Estado credenciadas. Muitas agências têm a sua segmentação, mas não deixam claro em seu posicionamento. Então, para entender as segmentações decada agência, muitas vezes é necessário ir na aba serviços prestados. Conheça em: http://www. sinaprosc.com.br/. DICAS 102 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 3 FUNÇÕES DE UMA AGÊNCIA O Sindicato das Agências de Propaganda (SINAPRO) descreve as funções dos profissionais das agências: CARGOS E FUNÇÕES: • ATENDIMENTO E/OU PLANEJAMENTO ◦ Diretor de Atendimento e/ ou Planejamento. É responsável pela direção geral do Departamento de Atendimento, supervisionando o planejamento mercadológico e de comunicação de todos os clientes da agência. ◦ Supervisor de Atendimento e/ ou Planejamento. É responsável pela coordenação e supervisão de todo o trabalho de alguns grupos de contas, participando do planejamento mercadológico e de comunicação dos clientes que compõe os grupos sob sua supervisão. ◦ Supervisor Executivo do Grupo de Contas. É responsável pelos trabalhos de orientação e acompanhamento das campanhas e atendimento a clientes. ◦ Supervisor do Grupo de Contas. É responsável pela supervisão direta de um grupo de contas, coordenando o atendimento desses clientes e participando do planejamento mercadológico e de comunicação dessas contas. ◦ Supervisor de Contas. Coordena a operação da conta no que diz respeito ao sumário de orientação ou resumo informativo e demais documentos, é responsável pela coordenação do planejamento mercadológico e de comunicação das contas de seu grupo, e pela coordenação de todas as rotinas de trabalho de informações e controles necessários ao cumprimento do atendimento a seus clientes. ◦ Contato. Executa as funções coordenadas pelos chefes do grupo. ◦ Assistente de Atendimento. Executa o controle dos trabalhos de cada cliente de seu grupo, mantendo contado com os mesmos quando se faz necessário. • CRIAÇÃO ◦ Diretor Geral de Criação Publicitária. É responsável pela direção geral dos Departamentos da área de Criação, Estúdio de Arte, Produção Gráfica, Produção Audiovisual/Eletrônica e Estúdio Fotográfico. ◦ Diretor de Criação. É responsável pela Direção de Criação, participando da supervisão dos trabalhos das duplas de criação e de materiais promocionais. ◦ Supervisor de Criação e Materiais Publicitários e/ou Promocionais. Supervisiona a nível de criação um grupo de contas, coordenando o trabalho de uma ou mais duplas de criação. ◦ Redator de Materiais Publicitários e/ou Promocionais. Forma a dupla de criação com o Diretor de Arte. É responsável pelas soluções de texto de uma peça gráfica, audiovisual ou de materiais promocionais. ◦ Diretor de Arte de Materiais Publicitários e/ou Promocionais. Cria campanhas publicitárias em dupla com o redator. É responsável pelas soluções visuais de uma peça gráfica, audiovisual ou de materiais promocionais. ◦ Revisor. Revisa todo e qualquer texto das campanhas criadas e aprovadas em sua fase de finalização e/ou textos técnicos encaminhados pelos clientes. IMPORTANT E TÓPICO 4 — AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO 103 • MÍDIA ◦ Diretor Geral de Mídia. É responsável pelo cumprimento da filosofia de trabalho da agência na área de mídia e pelo bom andamento técnico do trabalho desse deptº. Responde pela área de mídia junto a clientes, veículos “prospects” etc. ◦ Diretor de Mídia. É responsável pela direção técnica do departamento. ◦ Supervisor Geral de Mídia. Responsável pela supervisão geral dos trabalhos executados pelos grupos de mídia. ◦ Supervisor de Mídia. Responsável pela coordenação dos trabalhos executados, e elaborados pelos grupos de mídia. ◦ Gerente de Mídia. Auxilia a Diretoria e a supervisão dos trabalhos, revisa e elabora eventualmente planos de mídia. ◦ Supervisor de Compras de Mídia. É responsável pela supervisão das negociações com os veículos, podendo eventualmente responder pela supervisão da execução, assim como pela verificação ou fiscalização do departamento de mídia. ◦ Assistente de Compras de Mídia. Executa a continuidade das negociações, colabora com os assuntos do seu setor. ◦ Supervisor de Planejamento de Mídia. Responsável pela supervisão do planejamento de mídia de um ou mais grupos de contas da agência. ◦ Planejador de Mídia. Elabora o planejamento de mídia de um grupo de contas da agência e acompanha a sua execução. ◦ Chefe do Grupo de Mídia. Responsável pela mídia de um grupo de contas da agência, pela análise do sumário de orientação, diretriz ou resumo informativo, análise dos dados de pesquisa, execução do trabalho e pela supervisão dos problemas da verificação do departamento de mídia das contas sob sua responsabilidade. ◦ Coordenador/Assistente de Mídia. Elemento que assiste ao grupo de mídia na parte de elaboração das estimativas, mapas de programação etc. É responsável pela supervisão da expedição de materiais a veículos. ◦ Chefe de Pesquisa e Informações de Mídias. Responsável pelas informações sobre os meios e veículos, pela elaboração de estudo de audiência, circulação, custos, concorrência, e pela guarda e atualização das tabelas de preços e todas as demais informações técnicas advindas dos Institutos de Pesquisas e dos próprios veículos. ◦ Assistente de Pesquisa e Informações de Mídia. Responsável pela execução das pesquisas e levantamentos de informações de mídia e pela guarda e atualização das tabelas de preço. ◦ Auxiliar de Pesquisa e Informações de Mídia. Auxilia na execução das tarefas de pesquisas e informações de mídia. ◦ Coordenador de Concorrência de Mídia. É responsável pela supervisão e coordenação dos trabalhos e concorrência de mídia. ◦ Assistente de Concorrência de Mídia. Responsável pela execução dos trabalhos de concorrências solicitadas. ◦ Auxiliar de Concorrência de Mídia. Auxilia na execução das tarefas de Concorrência de mídia. • ESTÚDIO DE ARTE ◦ Chefe de Estúdio de Arte. Desenvolve trabalhos de assistência ao diretor de Arte, é responsável pela coordenação de finalização de campanhas, esboços ou projetos, material promocional, roteiros para comerciais de TVC etc. ◦ Ilustrador. Ilustra em forma de projetos ou esboços visuais criados pelas duplas de criação para anúncios, comerciais de TV, e promoções de vendas. ◦ Desenhista Publicitário. Auxilia os trabalhos do Estúdio de arte quanto a marcação e ilustração dos esboços ou projetos etc. 104 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS ◦ Arte Finalista. É responsável pela arte final dos trabalhos desenvolvidos. ◦ Assistente de Arte de Materiais Publicitários e/ ou Promocionais. Assiste na parte de finalização dos trabalhos da dupla de criação, monta os vários elementos de que se compõe um projeto ou roteiro desenhado de um filme, comercial para TVC e materiais promocionais. ◦ Auxiliar de Arte. Auxilia na execução dos trabalhos do Estúdio de Arte. • TRÁFEGO OU CUSTOS ◦ Chefe de Tráfego ou Custos. Responsável pelo cálculo e emissão das estimativas de custos dos serviços realizados pela agência e pelo acompanhamento dos custos reais incorridos na execução dos trabalhos estimados. Coordena a contratação de profissionais e fornecedores necessários para execução dos trabalhos criados e registra o controle de todos os serviços prestados pela agência. ◦ Tráfego. Auxilia o chefe de tráfego bem como coordena prazos dos trabalhos solicitados à criação, estúdio, laboratório etc. ◦ Assistente de Tráfego ou Custos. Assiste o departamento na execução de seus serviços, emitindo estimativas e participando da contratação de fornecedores. ◦ Auxiliar de Tráfego ou Custos. Auxilia a execução dos trabalhos do departamento. • PRODUÇÃO GRÁFICA ◦ Chefe de Produção Gráfica. Estuda os orçamentos, analisa a qualidade e os custos, elabora relação dos fornecedores, mantém, com estes, contato permanente. Em conjunto com o estúdio escolhe os tipos gráficos adequados e confere os trabalhos encomendados na parte relativa a qualidade. ◦ Produtor Gráfico Publicitário. Responsável por toda a parte e reprodução gráfica das peças criadas e produzidas pela agência. ◦ Assistente de Produção Gráfica. Dá assistência ao Produtor Gráficonos trabalhos desenvolvidos pelo departamento. ◦ Auxiliar de Produção Gráfica. Auxilia na execução dos trabalhos de Produção Gráfica. • PRODUÇÃO AUDIOVISUAL/ELETRÔNICA ◦ Diretor de RTVC. É responsável pela direção dos trabalhos de produção audiovisual/ eletrônica da agência. ◦ Supervisor de RTVC. Supervisiona a realização dos trabalhos desenvolvidos pelo departamento e a administração dos custos envolvidos. ◦ Produtor de RTVC. É responsável pela coordenação da execução de todos os filmes, audiovisuais e comerciais, criados e produzidos pela agência. ◦ Coordenador de RTVC. É responsável pela elaboração e acompanhamento de orçamentos e custos envolvidos com cada trabalho executado pela agência. ◦ Assistente de Produção de RTVC. Assiste o Produtor de RTVC na execução dos trabalhos do departamento, podendo, às vezes, auxiliar a coordenação nesses trabalhos. Acesse mais em: https://www.sinaprogo.com.br/cargos_e_funcoes.html.Acesso em: 31 jul. 2020 TÓPICO 4 — AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO 105 3.1 ESTRUTURA DE UMA AGÊNCIA Apesar de cada agência ter a sua forma de atuação e segmentação de serviço, mercado ou cliente, muitas trabalham a partir de uma mesma metodologia de trabalho com a mesma sequência de passos que acontecem geralmente da seguinte forma: FIGURA 9 – METODOLOGIA DE TRABALHO FONTE: O autor Vamos passar por um rápido resumo de cada etapa e seus processos: • Atendimento: o profissional de atendimento, muitas vezes conhecido como executivo de conta tem a função de fazer a interação entre a agência e o cliente. Eu, particularmente, já estive dos dois lados – sendo cliente e sendo atendimento de agência. Acredito que o grande sucesso das agências passa por um bom atendimento! Sem o jogo de cintura para defender a agência no cliente e o cliente na agência, um dos dois sairá em déficit. A área é a responsável por entender o problema do cliente, produzir o briefing coletando todas as informações para as áreas de planejamento e de criação. Produção Atendimento Planejamento Redação Criação Mídia 106 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS • Planejamento: esta área é a responsável por organizar as informações do briefing, pesquisar mais dados necessários, compartilhar com a criação e executar as ideias criativas e estratégias para solucionar o problema do cliente. É aqui que o Brainstorming é realizado e que o orçamento é adequado. Muitas agências de médio ou pequeno porte tem o planejamento junto com o atendimento ou com a criação. Particularmente, já vi os dois formatos. • Redação: a área de redação trabalha em parceria com a área de criação. Um complementa o outro – é o trabalho criativo em dupla. O profissional redator precisa adequar a linguagem ao público e a mídia adequada. É aqui também a parte crucial de revisão final. • Criação: na área de criação é onde o planejamento começa a ganhar forma e identidade. A peça conceito é desenvolvida e, após aprovada, as demais seguem a mesma identidade. Os profissionais de criação precisar ter a criatividade no sangue, ser versáteis e entender a linguagem de cada canal ou peça a ser criada. Em muitas agências a redação fica dentro da área de criação. • Mídia: a área de mídia cuida do orçamento e estuda os melhores canais para fazer a adequação da verba. No dia a dia, é o profissional de mídia que negocia os espaços nos veículos de comunicação, sejam on ou off line. • Produção: nem todas as agências trabalham com esta área. Mas cada vez mais entregar o material do cliente já executado ou resolvido garantem a satisfação e longevidade da parceria. Por exemplo, se for propor como peça um cartaz, já entregar impresso para o cliente o material, ou ainda, indicar uma gráfica e acompanhar a sua produção. As melhores agências se responsabilizam até pela colocação desse material. Mas, claro, tudo com um custo agregado, que sinceramente, vale o valor investido. Para finalizar, observe cada descrição do passo a passo generalizado do trabalho dentro de uma agência. FIGURA 10 – PASSO A PASSO DO TRABALHO EM UMA AGÊNCIA. FONTE: O autor Produção Atendimento Planejamento Redação Criação Mídia Atendimento: primeiro contato com o cliente e coleta do briefing Planejamento: é hora de partir para a ação! Pesquisa das informações adicionais que não constam no briefing, reunião de brainstorm, geração de ideias e ações estratégicas Criação e redação: as ideias e conceitos ganham vida com a dupla de redação e criação Mídia: hora de entrar em cena para fazer a ponte entre a agência e o canal no qual a peça será veiculada - televisão, rádio, revista, site, influencer etc... Produção: ponte com a empresa que executa o material e/ou detalhes técnicos Atendimento: com todos os detalhes acertados, é hora de voltar para o atendimento e finalizar o processo de aprovação do job com o cliente TÓPICO 4 — AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO 107 LEITURA COMPLEMENTAR POR QUE TRABALHAR EM AGÊNCIA NÃO É PRA QUALQUER UM Tuti Nicola Se você trabalha, qualquer semelhança não é mera coincidência. Trabalhar em agência de publicidade/marketing/digital e afins é um eterno caso de amor e ódio. É só conversar com quem trabalha/trabalhou ou quer trabalhar em uma pra confirmar a hipótese. Recentemente uma pessoa que já havia sido contratada por duas agências e agora, mais de um ano depois, estava bem longe delas (e muito bem obrigada), comentou comigo: “agência nunca mais!” e isso me marcou, porque ali percebi que não é só uma questão de ser bom profissional, ter currículo ou saber fazer a coisa. É questão de perfil. Vida de agência não é fácil e muito menos glamurosa. Cada dia é uma nova aventura e muitas vezes você pode estar sem o “equipamento” certo ou necessário para ela. Mas e dai o que você faz? Senta e chora? Não. Cria o seu próprio equipamento. Imagine quanta coisa você, que trabalha na equipe de comunicação interna de uma empresa, tem para fazer, resolver e produzir em um só dia. Pense no seu check-list de tarefas que vão desde o planejamento, contato com fornecedores, mídias sociais, atendimento a clientes, produção de peças gráficas e muito mais. Agora multiplique isso por 10, 20 ou 30 clientes (se não mais) que uma agência atende. A frase “Mar calmo nunca fez bom marinheiro” não se encaixa em outro caso tão bem como nesse. Trabalhar em uma agência significa lidar com diferentes tarefas no dia a dia, e tarefas envolvem pessoas e pessoas importam. Portanto, é saber principalmente, lidar com humanos e suas emoções, afinal, ninguém acorda bem disposto nos 365 dias do ano. Tem a opinião, os valores, a personalidade, o estado de espírito, o humor dos colegas de trabalho, dos clientes, dos clientes dos clientes, dos fornecedores, da pessoa que ligou pro telefone e tem você pra gerenciar tudo isso. Mas tem também muito aprendizado, porque não é em casa trancado num quartinho escuro que você vai crescer profissionalmente (não na maioria dos casos). Tem alegria em pequenas conquistas (como aprovar uma verba ou algum elemento para uma campanha), comemoração quando você vê que aquele post deu um bom engajamento e gerou vários comentários, quando o cliente dá a notícia de que vendeu mais naquele período por causa de determinada ação, felicidade quando você encontra sinergia na equipe, quando você cria valor para uma marca ou algo que realmente faça a diferença na vida das pessoas. 108 UNIDADE 2 — O MERCADO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS Enfim, há quem se encaixe ou não nesse cotidiano, o que não quer dizer que quem trabalha em agência é melhor ou pior que alguém que não se adaptou. Há quem encontre motivação ou que goste tanto daquilo que faz que supere as adversidades. Então porque trabalhar em agência não é pra qualquer um? Porque percebi que você precisa desenvolver/ter algumas características para seguir esse caminho:1- Ser versátil: assim como a formação em comunicação abre muitas possibilidades, ao trabalhar em uma agência você precisa ter uma visão holística do todo, entender de tudo um pouco para poder contribuir. Isso não quer dizer que você vai ter que desenvolver o trabalho do seu coleguinha. Mas sim, trabalhar de forma integrada sabendo o que cada um pode trazer de melhor (real oficial). 2- Ser curioso: ter curiosidade acima do normal, quase patológica é característica básica. Para ser versátil você tem que ir atrás e incansavelmente buscar entender desde um simples e-mail, porque aquela determinada cor é melhor que a outra, o que vai atingir melhor um público e principalmente, para tudo isso, saber escutar (afinal, um dos maiores problema de comunicação é que não escutamos com a intenção de entender, mas com a intenção de responder). 3- Ser resiliente: sabe aquele momento que você tem que dar uma respirada e contar até 10? Acontece muito na vida de agência. Ser resiliente não se trata de ser uma pedra e não ter sentimentos, mas sim, sentir toda a situação negativa e encontrar formas de lidar com ela. É conseguir voltar ao seu eixo rapidamente e encarar o problema de frente, com confiança, tirando os ensinamentos positivos dele e partir pra próxima. 4- Ser ágil: porque como diz a música: não há tempo que volte, amor! Em uma agência tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e várias pessoas dependem de você, se alguém da equipe trava, trava todo um processo de trabalho conjunto. Então não tem tempo a perder. 5- Estar disposto a errar: é a clássica frase "errando é que se aprende". Sim, você vai errar, vai se frustrar, mas só assim vai aprender muito, pra não errar de novo com isso, mas sim com outras coisas e o looping continua. Que a força esteja com você na vida de agência! Acesse mais em: https://medium.com/@tutinicola/por-que-trabalhar-em-ag%C3%AAncia-n%- C3%A3o-%C3%A9-pra-qualquer-um-2011c93a78b1 . Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 109 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • A primeira agência que se tem registro foi em 1914, ficava em São Paulo, e denominava-se A Eclética. • Hoje, os profissionais que compõem uma agência são especializados em diversas áreas de atuação e é essa diversidade que tornam os serviços oferecidos mais atraentes e atrativos. • Existem, basicamente, duas formas de segmentar as agências de comunicação: uma pela especialidade do serviço prestado outra pela segmentação dos clientes atendidos (ou ainda as duas formas juntas). • A segmentação tem ganhado espaço cada vez maior entre as agências porque além de ter aumentado a quantidade de prestadores de serviço, o escopo das atividades também tem crescido ao longo dos anos com o avanço das tecnologias digitais. • Existem diversas funções em cada setor dentro das agências. Os setores em gerais são: atendimento, planejamento, redação, criação, mídia, produção e área administrativa. • O profissional de atendimento tem a função de fazer a interação entre a agência e o cliente. • A área de planejamento é a responsável por organizar as informações do briefing e compartilhar com a criação e executar as ideias criativas e estratégias para solucionar o problema do cliente. • A redação trabalha em parceria com a área de criação precisando adequar a linguagem ao público e a mídia adequada. • É, na área de criação, onde o planejamento começa a ganhar forma e identidade. • A área de mídia cuida do orçamento e estuda os melhores canais para fazer a adequação da verba. • Nem todas as agências trabalham com a área de produção, porém, cada vez mais entregar o material do cliente já executado ou resolvido garantem a satisfação e longevidade da parceria. 110 1 Responda o porquê as agências, hoje em dia, têm optado por segmentar seus serviços ou seus públicos? Porque isso é importante ou não faz diferença? 2 Cite algumas áreas comuns nas agências de comunicação. 3 Escolha uma das funções/áreas citadas e escreva sua atividade ou objetivo dentro das agências de comunicação. AUTOATIVIDADE 111 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apresentar o cenário do mercado profissional da profissão de relações públicas e suas áreas de atuação; • discorrer sobre o perfil profissional de relações públicas; • mostrar as principais atuações profissionais trazendo relatos de profissionais atuantes no mercado de trabalho atual; • conceituar competências e esclarecer as habilidades e competências necessárias e esperadas dos profissionais de comunicação no novo cenário profissional; • discorrer sobre o desenvolvimento da visão de futuro da profissão; • trazer a voz dos profissionais atuantes com direcionamentos e recados aos novos profissionais do mercado; • apresentar cases de relações públicas a fim de aprender com o que já foi realizado com sucesso. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PERFIL DO PROFISSIONAL DE RP TÓPICO 2 – COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS TÓPICO 3 – CASES DE SUCESSO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 112 113 UNIDADE 3 TÓPICO 1 — PERFIL DO PROFISSIONAL DE RP 1 INTRODUÇÃO Cada pessoa é única e, consigo, traz características diferentes. No mercado de trabalho, essa diferenciação é vista como positiva. No entanto, as pessoas que escolhem determinada profissão tendem a ter características parecidas. Assim, entenderemos, ao longo deste tópico, quais as características dos profissionais de comunicação. O tópico inicia com uma contextualização do perfil dos profissionais no mercado em que se insere a comunicação. Na sequência, abordaremos as principais atuações e uma pesquisa realizada com profissionais atuantes da área que deixaram seus recados para os futuros profissionais. O que podemos fazer, hoje, para se preparar para o mercado de trabalho de amanhã? Vamos começar?! 2 PERFIL DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS É fato que o atual mercado de trabalho mudou completamente após o cenário da pandemia do Coronavírus (Covid-19), em que estamos vivendo. Entender esse chamado “novo normal” nos dará uma visão de quais competências e habilidades serão exigidas dos profissionais de comunicação que estão em atuação ou entrarão em breve no mercado de trabalho. Algumas competências e habilidades sempre fizeram parte do perfil dos profissionais de comunicação, porém, agora, passam a valer com mais vigor. Que esse profissional tenha a capacidade de adaptação e flexibilidade, conhecimentos digitais, criatividade, pensamento crítico e aberto. No entanto, para uma leitura mais real do cenário atual da comunicação e do perfil desejado, realizamos uma pesquisa através do aplicativo Survey Monkey (ABERJE, 2020), com 11 executivos, diretores e profissionais do mercado em empresas atuantes da comunicação corporativa. Ao longo deste tópico, serão apresentadas as principais respostas e insights e recados deixados por esses profissionais. Para compreender o cenário onde os profissionais estão, atualmente, trabalhando, perguntamos o tamanho da empresa e, logo em seguida, a estrutura da equipe de comunicação. UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO 114 No cenário pesquisado, os dados foram: 40% dos entrevistados trabalham em empresascom mais de 15 mil funcionários; 20% em empresas com funcionários entre 5 a 15 mil; 20% em empresas com funcionários entre 1 a 5 mil; e 20% em empresas com menos de 1 mil funcionários. FIGURA 1 – QUANTIDADE DE FUNCIONÁRIOS FONTE: O autor As maiores empresas tendem a ter uma comunicação mais estruturada, porém, um dado interessante em relação às pequenas empresas foi o resultado de uma pesquisa sobre tendência em comunicação para 2020, realizada pela Associação de Comunicação Empresarial (ABERJE, 2020). Como resultado, 48% deles (dos mais de 550 entrevistados) revelaram que o orçamento para investimento aumentou, em média, 16,7%, em comparação ao ano anterior. Nas grandes empresas, apesar de 32% dos entrevistados aumentarem a verba, o número ainda é 9,9% menor do que o ano anterior. Logo, o cenário do mercado profissional de comunicação é positivo tanto para pequenas como para grandes empresas. Para conhecer a composição da equipe nessas empresas, foi perguntado quantos profissionais de comunicação há, em suas equipes, com dedicação exclusiva à comunicação corporativa. Os dados foram: 50% responderam que entre três a cinco pessoas com dedicação exclusiva; 30% com mais de cinco pessoas em sua equipe; e apenas 20% uma pessoa na área. Se realizarmos o cruzamento dos dados, fica claro que as grandes empresas tenham mais profissionais do que as pequenas, pela quantidade de demandas e entregas aos públicos de interesse. Confira os dados a seguir da Figura 2. TÓPICO 1 — PERFIL DO PROFISSIONAL DE RP 115 FIGURA 2 – Quantidade de profissionais de comunicação FONTE: O autor Foi, com esse resultado da pesquisa, mais a base teórica e a experiência da autora de 20 anos de carreira dedicada à área, que abordaremos, a seguir, as principais atuações, as competências e as habilidades que serão exigidas no mercado. Dessa forma, conseguiremos ver o perfil desejado dos novos profissionais de comunicação e o caminho que será necessário para os profissionais já atuantes se adaptarem. 2.1 PRINCIPAIS ATUAÇÕES Na mesma pesquisa anterior, perguntamos, também, quais os principais desafios para a área de comunicação corporativa para os próximos anos. O destaque, com 90%, foi para o desenvolvimento de líderes como agentes de comunicação, seguido, com 50%, ao apoio aos executivos em seus pronunciamentos e, 50%, a mensuração dos resultados. Acompanhe a Figura 3 a seguir. UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO 116 FIGURA 3 – DESAFIOS PARA A ÁREA FONTE: O autor Com isso, os líderes precisam, mais do que nunca, assumir o papel estratégico, não somente nas disseminações de informações corporativas, mas em todo contexto organizacional, pois seu papel é fundamental e interfere diretamente no clima da organização, e não somente com práticas de orientação das equipes de trabalho, mas, principalmente, como agentes de transformação e adaptação organizacional. Esse é um dos grandes desafios, o de consolidar o papel das lideranças como agentes de comunicação no âmbito das organizações, afinal, a comunicação interna nas empresas não é realizada por uma única área com pessoas específicas. A comunicação é realizada por todos e a toda hora. A liderança precisa estar à frente dessa comunicação e direcionar o alinhamento das informações, zelar pela reputação da empresa e disseminar o engajamento e o orgulho de pertencer. TÓPICO 1 — PERFIL DO PROFISSIONAL DE RP 117 Com relação ao apoio aos executivos em seus pronunciamentos, vimos, na Unidade 2 deste livro didático, que o cenário da ‘credibilidade’ das informações mudou diante de muitas Fake News, e que a reputação de CEOS e presidentes de grandes empresas, além dos top voices e speakers (pessoas públicas que têm selo de relevância em sites como linkedin e twitter), tem credibilidade 58% maior do que jornalistas renomados. Ou seja, hoje, as pessoas acreditam mais no que as empresas estão falando do que aquilo que é passado nos veículos de comunicação de massa. A pesquisa comprova a importância de ter profissionais de relações públicas assessorando esses altos cargos executivos a se posicionarem no mercado, nas mídias, nas redes sociais e em todos os seus discursos e pronunciamentos. É importante relatar um caso de relações públicas muito interessante, sobre a promoção de um produto no mercado por meio do discurso interno de um CEO, o que, além de gerar uma repercussão da reputação para o público externo, gerou grandes transformações para o público interno. Kevin Roberts (2004), CEO mundial da companhia de ideia Saatchi & Saatchi, relata um caso bem interessante referente a uma palestra que ele realizou em uma convenção de vendas em Toronto-Canadá, quando era presidente da Pepsi e tentava colocar o produto como número 1 no mercado à frente da Coca-Cola. Destaquei que a Pepsi acabava de bater a Coca, e da mesma forma, o Canadá podia competir com os Estados Unidos. Quase na metade de minha apresentação, uma enorme vending machine (máquina de autosserviço) da Coca-Cola apareceu no palco. Eu a ignorei. Quando terminei meu discurso, peguei uma metralhadora escondida atrás do púlpito e disparei contra a máquina da Coca-cola. Quando você metralha uma vending machine, faz muito barulho. Algumas pessoas se jogaram sob as mesas, outras correram para a porta. Foi incrível. Como medida de segurança, envolvemos a Polícia Montada canadense, portanto, não fomos completamente irresponsáveis. E o que aconteceu no dia seguinte? Os comentários correram soltos no mercado. O tiroteio saiu nos noticiários de televisão, nos jornais e revistas. Era o poder do humor e da fixação da marca em ação, de uma forma diferente. O acontecimento, de fato, estimulou nossa força de vendas e nossos engarrafadores (ROBERTS, 2004, p. 17). O livro de que foi extraído esse exemplo é o Lovemarkrs - O futuro além das marcas, do autor Kevin Roberts, CEO mundial de uma rede global de agências de comunicação e publicidade, com 114 escritórios em 76 países e mais de 6.500 funcionários, companhia Saatchi i& Saatchi. Vale a leitura com o olhar de relações públicas, está repleto de bons exemplos de uma forma dinâmica e leve. Conta muito mais do que a promoção de produtos e publicidade, fala de emoção e amor. Confira, também, as pesquisas em inúmeras campanhas relatadas em: http://saatchi.com/en-us/. DICAS UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO 118 Dessa forma, o profissional de relações públicas precisa estar à frente da estratégia, valores e propósito da companhia, para assessorar os executivos em seus posicionamentos, discursos e pronunciamentos. Esse fato não é inovador, e sempre foi papel do RP, porém, ganhou relevância e notoriedade. Já a mensuração de resultados sempre foi o “calcanhar de Aquiles” da área de comunicação, ou seja, o ponto fraco e, de certa forma, a vulnerabilidade. Há anos que há discussões nos meios acadêmico e científico, ainda, no dia a dia profissional, sobre como mensurar a comunicação. Porém, em tempos digitais, não podemos mais ficar no achismo ou na percepção. Fatos e dados comprovados são essenciais, não apenas para mostrar os resultados, mas para direcionar futuras ações. Para conhecer mais a mensuração de resultados, a dica é o livro Retorno de investimentos em comunicação: avaliação e mensuração, dos autores Mitsuru Higuchi Yanaze, Otávio Freire e Diego Senise. Boa leitura! DICAS Sobre as áreas que são mais demandados os esforços dentro da área de comunicação corporativa, o destaque da pesquisa foi 70% para o público interno, seguido da comunicação externa e mídias sociais, com 30%. Branding corporativo, Employeer Branding e responsabilidade social ficaram com 20%. A área de relacionamento com a comunidade do entorno ficou com somente 10%. TÓPICO 1 — PERFIL DO PROFISSIONAL DE RP 119 FIGURA 4 – ÁREAS DE MAIORDEDICAÇÃO FONTE: O autor De fato, o público interno ganhou holofotes nesse cenário de pós- pandemia. Esse público, agora, não mais fisicamente em um mesmo espaço, precisou se adequar em home office, e as relações passaram a ser 100% digitais. Quem estava longe de ser digital, teve que se adaptar da noite para o dia. Marcio Santoro, copresidente da agência Africa, nos traz a pesquisa da Cushman & Wakefield, realizada em maio, que menciona que 74% das empresas do Brasil disseram que o home office será definitivo. Empresas, como Facebook, já se manifestaram que esse modelo será permanente para seus funcionários, outras, como o Nubank, anunciaram que usarão esse modelo até o final do ano, mas a grande verdade é que ainda estamos aprendendo com tudo isso, e nem todas têm a resposta. Marcio Santoro também traz alguns dados que indicam que muitas empresas optaram por cortar seus gastos com publicidade, enquanto outras investiram em linhas institucionais e de promoção das suas ações. Em uma live com Kiki Moretti, fundadora e CEO do grupo InPress, relata que, com a pandemia, o ganho e a relevância das relações públicas foram notáveis. As marcas tiveram que se posicionar e mostrar sua reputação, que vai além do produto ou serviço, e sim, a promoção de suas ações e seu propósito enquanto instituição. Trabalhar com a reputação sempre foi o centro e o core das relações públicas. UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO 120 Moretti lembra, também, que o discurso de reputação, propósito e valor das marcas nas empresas não é recente. Segundo ela, “parecia que não fazia sentido”, que não era tão verdadeiro como está sendo exposto hoje. Parecia ser um discurso do qual o mercado exigia, mas não era verdadeiro. Com a pandemia, ficou claro que as empresas precisam se conectar com as pessoas: funcionários, comunidade e sociedade. Um exemplo que a executiva nos trouxe foi o Jornal Nacional, horário mais nobre da TV aberta brasileira, abrir espaço para as empresas contarem o que estão fazendo, no quadro Solidariedade S/A. Próximo do encerramento da live, Moretti ressalta que o profissional de comunicação foi alçado para as decisões estratégicas da companhia, elevou o papel e a importância da comunicação corporativa nas empresas. O profissional de RP precisa assumir protagonismo. É, o RP, que possui todas as condições, elementos e conhecimento para fazer a coerência e a interface com todas as esferas necessárias. Acadêmico, segue o link de acesso à live mencionada anteriormente, de Kiki Moretti: http://blogrp.todomundorp.com.br/2020/06/kiki-moretti-diferencial-do-rp/. DICAS Hoje, o público interno ganhou força e voz, inclusive, nas redes sociais. Não se desvincula um posicionamento pessoal de sua figura profissional em algumas redes, como o Linkedin, por exemplo. Dar atenção prioritária a esse público tem se tornado primordial, e podemos complementar com a força e a relevância que vêm ganhando outras áreas que fazem interface com o público interno, como o Employeer Branding. Na pesquisa realizada para composição deste livro didático, perguntamos: “É fato que a comunicação ganhou holofotes e mudou seu patamar no cenário atual? Como vê esse novo cenário (e daqui para a frente) da área da comunicação corporativa?”. Vamos conferir as respostas dos entrevistados. Alguns se identificaram, assinando seus posicionamentos. Cada resposta será ideal para olharmos para o futuro, mas também refletirmos o hoje, sobre o que podemos fazer para se preparar para esse cenário positivo, fértil e desafiador da área. TÓPICO 1 — PERFIL DO PROFISSIONAL DE RP 121 • Entendo que a Comunicação Corporativa se tornou ainda mais relevante, pois, com a digitalização da humanidade, a busca por informações se tornou mais acelerada e sensível. Isto é, as pessoas desejam conteúdo rápido e simples e a todo o momento. Além de acelerar a geração da informação, a comunicação corporativa está no melhor momento para repensar nos formatos e criar um propósito para seu trabalho na missão da organização. • Promissor e altamente desafiador. Pensar em comunicação com um viés sustentável será o futuro. • Acredito que as empresas e seus gestores começarão a dar mais valor para os profissionais formados da área, exigindo uma mão de obra qualificada para criar estratégias coerentes com seus negócios. Comunicar-se sempre foi importante, mas saber como e quando se comunicar é ainda mais atualmente. • Importante mudança. Que os profissionais se apropriem disso para o desenvolvimento de novas ações e ferramentas de comunicação nas empresas. • Será um cenário desafiador, repleto de mudanças diárias e experiências ainda não existentes. A comunicação será ainda mais valorizada como porta-voz das marcas sobre o que elas oferecem. • Estar sempre conectada ao movimento externo, principais tendências, novas abordagens e impactos. Inteligência artificial, reputação corporativa, diversidade e consumo consciente são alguns exemplos de temas que vêm transformando a relação entre as pessoas e demandam atenção da área de Comunicação Corporativa (Diretora de Recursos Humanos, Comunicação Corporativa e Ética, 2020). • Deixamos de ser área de apoio para ser essencial na empresa! Deixamos de ser gasto, para ser investimento. As empresas que não queriam ou não estavam preparadas para falar com o público online acabaram se obrigando, e muitos projetos de comunicação foram desengavetados. As empresas foram ainda mais cobradas por seus posicionamentos, e a estratégia de como isso vai chegar a cada stakeholder é nosso papel. • Vejo nossa área como ponto focal das inter-relações da empresa. Costumo dizer que, aos olhos de alguns setores, a comunicação não faz nada, mas é responsável por tudo o que acontece. O empoderamento da comunicação interna passa pelo bom relacionamento com todas as áreas. • Não há mundo sem comunicação, faz parte da natureza humana, e o nosso papel, como profissionais da área, é buscar ordenar as informações, além de alinhá-las aos objetivos estratégicos. O sucesso da comunicação passa por um encontro de propósitos, uma coerência entre o que a empresa fala e o que faz, e quanto disso faz diferença na vida das pessoas. Enquanto nos pautarmos por esse objetivo, estaremos no caminho certo. (Marketing e Comunicação, 2020). UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO 122 2.2 PROFISSIONAIS EM ATIVIDADE Na mesma pesquisa, teve um espaço para que os entrevistados deixassem uma mensagem aos futuros profissionais que, logo mais, farão parte dos seus times ou serão colegas de profissão. Perguntamos: “Qual recado que você daria, hoje, para o futuro profissional?”. Confira as respostas a seguir e, aproveitando para refletirmos hoje, o que podemos fazer para trilhar o caminho desejado? • Se eu pudesse deixar uma dica profissional aos futuros colegas, eu diria: diversifiquem o repertório de vocês ao máximo, para que sejam convidados para as melhores conversas. Sejam pessoas interessantes, colecionem experiências e histórias. Sejam seres humanos sensíveis e atentos às pessoas. Sejam profissionais abertos à diversidade de pensamento e ao aprendizado contínuo. Procurem um espaço no mundo para torná-lo melhor e ocupem-no com amor e responsabilidade! Sucesso! (Especialista de DHO e professor(a) do ensino superior, 2020). • Os tempos estão mudando, mas o simples permanece essencial. As pessoas buscam ser compreendidas pelas organizações/marcas. No caso, pensar mais em relacionamento direcionado ao público trará, consequentemente, um resultado mercadológico. Ame e ajude primeiro, o dinheiro será apenas uma consequência boa. (Analista de Suporte, 2020). • Nunca duvide do seu potencial eda sua capacidade! Independentemente de qual empresa você trabalha ou pretende trabalhar, faça o seu melhor todos os dias, e lembre-se, sempre, de que a comunicação é essencial para o bom relacionamento com os stakeholders. Siga seus propósitos e defenda sua função/atividade. De comunicação, muita gente acha que entende, mas o (a) profissional é você. • Tenham humildade e busquem ouvir o cliente • Saiba ouvir, trabalhe com humildade, criatividade, coragem e empatia. Seja flexível, também, mostre-se vulnerável. Enfim, tenha coragem pra ser você e ofereça o seu melhor. (Assistente de Endomarketing, 2020). • Continue investindo nos seus desenvolvimentos pessoal e profissional, buscando, sempre, a sua melhor versão. Utilize as técnicas adequadas sem se esquecer de que está lidando com pessoas, seja empático e colaborativo no ambiente de trabalho. (Diretora de Recursos Humanos, Comunicação Corporativa e Ética. 2020). • Esteja, sempre, por dentro das novidades e tecnologias da nossa área. • A comunicação está cada dia mais acelerada, temos muitos concorrentes dentro de smartfones e redes sociais, mas nosso papel continua relevante e imprescindível na busca pela mensagem mais assertiva e confiável. • Preparem-se para aprender e ensinar todos os dias, ter muita paciência para superar os percalços e um grande poder de adaptação. A comunicação é um campo de conhecimento complexo sobre o qual todos têm opiniões, e é necessário articular as melhores práticas profissionais com os objetivos estratégicos da companhia, sem perder, de vista, a satisfação dos objetivos profissionais individuais e coletivos. Tão bom quanto o alcance do objetivo é a alegria da jornada. (Marketing e Comunicação, 2020). TÓPICO 1 — PERFIL DO PROFISSIONAL DE RP 123 Perguntamos, também: “E se este futuro profissional for o principal atendimento da agência de comunicação que atende você e sua equipe, qual o recado e sua principal exigência?”. O intuito é saber que o mercado de comunicação possui várias frentes e que, mesmo estando em agências de comunicação, esses profissionais estarão diretamente ligados aos clientes. Assim, seguem algumas dicas: • Aos profissionais de agência, independentemente da área, eu sugiro que busquem capacitação, para serem parceiros de negócio dos seus clientes. Procurem entender sobre gestão e business, para serem convidados para as discussões relevantes. Por fim, sejam revolvedores de problemas complexos, pois será a competência mais valorizada em um futuro breve. • Ame e ajude o teu público. Crie engajamento. O dinheiro será apenas uma consequência boa. • Seja pontual com os prazos, prefira tirar as dúvidas com os responsáveis do que ficar brincando de adivinhar, e trabalhe para que o resultado final seja o melhor possível, como se você mesmo fosse o cliente recebendo o job. Ah, não se esqueça de ser sincero e apontar os limites, caso eles existam (sejam operacionais, criativos etc.). • Tenha humildade e ouça seu cliente. Nem sempre a sua solução é a que ele precisa. Tente entender a situação e não tenha receita pronta. Construa, com o cliente, a melhor solução. • Faça uma imersão sobre a nossa marca, busque ouvir sem opinião formada a respeito do assunto e saiba trabalhar em equipe. • Elaborar briefing adequado, apropriar-se das soluções e contemplar prazos, construindo uma relação de confiança. (Diretora de Recursos Humanos, Comunicação Corporativa e Ética, 2020). • Estude e entenda o negócio do seu cliente e o ambiente em que ele está inserido, além de contemplar os prazos. • Mergulhe, um pouco mais, no universo do seu cliente, faça checklist das principais regras de escrita e linguagem e aja como um parceiro, não apenas como fornecedor. • Dedique tempo para entender seu cliente e fale a língua dele. O cliente será seu enquanto você for a melhor opção para ele. (Marketing e Comunicação, 2020). 124 Neste tópico, você aprendeu que: • O mercado profissional mudou completamente após o cenário da pandemia da Covid-19, e entender esse novo cenário nos dá uma visão das competências e habilidades exigidas. • Diante do novo cenário, as competências e habilidades, estas que já faziam parte do perfil dos profissionais de comunicação, agora passam a valer com mais vigor, como a capacidade de adaptação e flexibilidade, conhecimentos digitais, criatividade, pensamento crítico e aberto. • Na pesquisa realizada com profissionais atuantes no mercado, vimos um cenário atual e uma leitura da área, além de recados deixados por esses mesmos profissionais. • As maiores empresas tendem a ter uma comunicação mais estruturada. Porém, as pequenas empresas revelam que o orçamento para investimento na área da comunicação aumentou. Logo, o cenário é positivo para pequenas e grandes empresas. • Os principais desafios para a comunicação corporativa para os próximos anos serão o desenvolvimento de líderes como agentes de comunicação e o apoio aos executivos em seus pronunciamentos e mensuração dos resultados. • Os líderes precisam, mais do que nunca, assumir o papel estratégico não somente nas disseminações de informações corporativas, mas em todo o contexto organizacional, pois seu papel é fundamental e interfere diretamente no clima da organização. • A liderança precisa estar à frente da comunicação, direcionar o alinhamento das informações, zelar pela reputação da empresa e disseminar o engajamento e o orgulho de pertencer. • Com relação ao apoio aos executivos em seus pronunciamentos, há a importância de ter profissionais de relações públicas assessorando esses altos cargos executivos a se posicionarem no mercado, nas mídias, nas redes sociais, em todos os seus discursos e pronunciamentos. • A mensuração de resultados sempre foi o “calcanhar de Aquiles” da área de comunicação e, em tempos digitais, não se pode mais ficar no achismo ou na percepção. Fatos e dados comprovados são essenciais para mostrar os resultados e direcionar as ações. RESUMO DO TÓPICO 1 125 • As áreas que mais demandam esforços, dentro da comunicação corporativa, são: público interno, comunicação externa e mídias sociais, branding corporativo, employeer branding e responsabilidade social e, com menor destaque no momento, o relacionamento com a comunidade do entorno. • O público interno ganha holofotes e muitas empresas preferem investir mais em linhas institucionais e de promoção das suas ações do que em publicidade. • Com a pandemia, o ganho e a relevância das relações públicas foram notáveis. As marcas tiveram que se posicionar e mostrar sua reputação. É preciso considerar o que vai além do produto ou serviço, a promoção das ações e seu propósito enquanto instituição. Trabalhar com a reputação sempre foi o centro e o core das relações públicas. • O discurso de reputação, propósito e valor das marcas e empresas não é recente, contudo, agora está mais claro que as empresas precisam se conectar com todos os seus públicos de interface e de interesse. • O profissional da comunicação é alçado para as decisões estratégicas da companhia, que elevou o papel e a importância da comunicação corporativa nas empresas. O profissional de RP precisa assumir o protagonismo. É, o RP, que tem todas as condições, elementos e conhecimento para fazer a coerência e a interface com todas as esferas necessárias. • O público interno ganha força e voz, inclusive, nas redes sociais. Não se desvincula um posicionamento pessoal da sua figura profissional. Dar atenção prioritária a esse público tem se tornado primordial, e, aqui, podemos complementar com a força e relevância, que vêm ganhando outrasáreas que fazem interface com o público interno. 126 Com relação às afirmações a seguir, responda se cada uma está CERTA ou ERRADA. Em caso errado, justifique: 1 O mercado profissional de relações públicas mudou completamente após o cenário da pandemia e, com isso, algumas competências e habilidades, que já faziam parte do perfil dos profissionais de comunicação, passam a valer com mais vigor, como a capacidade de adaptação e flexibilidade, conhecimentos digitais, criatividade, pensamento crítico e aberto. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 2 O investimento de comunicação nas pequenas empresas tem sido maior a cada ano, inclusive, superando o aumento em % de grandes empresas. Assim, o cenário da área é positivo para pequenas e grandes empresas. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 3 Os principais desafios para a área da comunicação corporativa, para os próximos anos, são: desenvolvimento de equipes de produção como multiplicadores de comunicação, apoio à equipe de marketing e mensuração dos resultados. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 4 Explique por que o desenvolvimento de líderes como agentes de comunicação é importante para a área das relações públicas. 5 Explique por que o apoio aos executivos em seus pronunciamentos é importante para a área de relações públicas. 6 Por que a mensuração de resultados é importante para a área de relações públicas? 7 O público interno é a área que mais demanda da comunicação corporativa. Justifique o porquê dessa importância. 8 Selecione um recado de um profissional em atividade para a pergunta “Qual recado que você daria, hoje, para este futuro profissional?”, deixado relatado na unidade, e discorra, justificando a sua escolha. AUTOATIVIDADE 127 UNIDADE 3 TÓPICO 2 — COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS 1 INTRODUÇÃO Depois de estudarmos o perfil dos profissionais de comunicação no Tópico 1, veremos que as competências são habilidades que podem ser adquiridas com o treinamento e aperfeiçoamento. Começaremos o tópico apresentando o conceito de competências e, logo, estudaremos as competências necessárias para o desenvolvimento e o aprimoramento dos profissionais das relações públicas. Na sequência, apresentaremos o desenvolvimento de uma visão de futuro da profissão de relações públicas com profissionais atuantes e referências com o conteúdo atual. 2 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS Competências profissionais são o conjunto de habilidades, conhecimentos e características aprendido ou desejado por uma empresa ou uma categoria profissional. Desenvolver competências profissionais desejadas em determinado segmento de trabalho, neste caso, na área de comunicação, é extremamente necessário para uma ascensão no mercado de trabalho, alcance de senioridade e uma diferenciação aos demais. Competência significa a capacidade decorrente de profundo conhecimento que alguém tem sobre um assunto: recorrer à competência de um especialista. Ainda, capacidade de fazer alguma coisa; aptidão. Dever ligado a um ofício; cargo; trabalho; atribuição, alçada. Conjunto de habilidades, saberes, conhecimentos. Dessa forma, desenvolver uma competência profissional significa obter conhecimentos e habilidades, além das técnicas profissionais exigidas nas tarefas necessárias à aplicabilidade diária profissional. Qualquer profissional pode desenvolver a competência desejada, independentemente da formação ou característica nata. Basta ter vontade, esforço, estudo e dedicação. Com alinhamento às competências, às necessidades e realidades da organização, mais chances aparecem para o crescimento profissional. 128 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO As competências podem variar entre as diferentes empresas e os níveis hierárquicos dos cargos, além, é claro, do segmento profissional. Um profissional de TI, por exemplo, tem competências a serem desenvolvidas diferentes do profissional de comunicação. Porém, não há dúvida de que um profissional de RP precisa de qualidades e competências profissionais diferentes apenas das técnicas estudadas no âmbito acadêmico. Essas são primordiais, mas a vivência e os estudos multiculturais e multiplurais são importantes também. Assim, o profissional de RP precisa de habilidades, competências específicas, além de técnicas, para engajar e influenciar o comportamento das pessoas e suas atitudes por meio de relacionamentos significativos entre determinada organização e seus públicos de interesse. Antes de entrarmos em um novo assunto, a seguir, que abordará as competências específicas do profissional de relações públicas, vale lembrar que as competências profissionais mudam com o decorrer da evolução da sociedade. Hoje, por exemplo, a maneira e a velocidade com que as pessoas consomem notícia e informação mudaram, assim como a expectativa dos diversos públicos em relação às organizações e governos. 2.1 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO PROFISSIONAL DE RP Na área da comunicação, França (2003) argumenta que a multiplicidade de entendimentos sobre relações públicas e a confusão perante o papel do profissional podem atrapalhar a consolidação da profissão. Muitas vezes, as relações públicas são limitadas em ferramentas, e sua essência e função estratégica são ignoradas. Com isso, a área acadêmica se aproxima da realidade no desenvolvimento de habilidades requeridas pelo mercado. Nas diretrizes curriculares dos cursos de relações públicas no Brasil, é previsto o desenvolvimento, durante o período acadêmico, de habilidades e competências úteis para realidade e qualificação para o dia a dia profissional. Na UNIASSELVI, por exemplo, em destaque para o site da instituição: A graduação em Relações Públicas visa formar profissionais capacitados que dominam as linguagens e técnicas utilizadas no processo de comunicação e nas diversas mídias, e que atuam, de maneira profissional, de acordo com os princípios éticos da comunicação para a cidadania. É o curso ideal para quem busca estabelecer relacionamentos com variados públicos de uma determinada organização, com a capacidade de liderança, negociação, tomada de decisão e visão empreendedora, além de assumir uma postura crítica frente à comunicação institucional. TÓPICO 2 — COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS 129 Dessa forma, o meio acadêmico se une ao que o mercado busca e precisa. Como contraponto, na mesma pesquisa realizada pela autora com, profissionais atuantes (já citada anteriormente), foi realizada a seguinte pergunta: Na sua opinião, quais as principais competências ou habilidades para o profissional de comunicação corporativa? Confira, em seguida, as repostas. As palavras com maior recorrência estão destacadas em negrito: • Velocidade, resiliência e criatividade. • Engajamento com os públicos Aproximar-se dos clientes por meio de campanhas de marketing e comunicação interna. Aperfeiçoamento nas relações e atendimento ao cliente. Comunicação mercadológica. • Proatividade, comprometimento, resiliência, empatia, determinação e "jogo de cintura". • Proatividade, responsabilidade e empatia. • Criatividade, flexibilidade, atitude e empatia. • Produção de textos. Canal e linguagem adequados para cada público. Antecipar demandas. Entendimento do negócio e indicadores. • Visão holística, inovação, agilidade. • Adaptabilidade, resiliência e bom senso. • Persuasão, organização, adaptabilidade. • Velocidade, adaptabilidade. • Criatividade, visão sistêmica, visão de negócios, redação, repertório multicultural, conhecimento da cadeia, liderança técnica, relacionamento interpessoal, resiliência e empatia. Portanto, as palavras mais destacadas são: empatia, proatividade, resiliência (adaptabilidade) e, a criatividade, com sendo destaque. FIGURA5 – NUVEM DE PALAVRAS FONTE:O autor. 130 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO Dessa forma, os profissionais atuantes no mercado enxergam essas palavras como as principais competências para o profissional de comunicação que o mercado exige: • Empatia: a empatia é a capacidade de identificar uma necessidade da outra pessoa, a fim de compreender o que ela sente. É uma competência de compreensão emocional. Diz um ditado popular: “não faça com os outros aquilo que não gostaria que fizessem com você”. Ele não é válido para exemplificar a empatia, pois ser empático não é fazer, com os outros, aquilo que você acha que seria bom para a pessoa. A empatia tem a ver com o que é bom para a pessoa, e não, necessariamente, é bom em seus conceitos e visão de mundo. Ser empático é saber escutar, sem julgamentos, e entender, sem restrições. Ao desenvolver a empatia como uma competência comportamental, aumentamos a nossa visão de mundo, pois passamos a enxergar situações sob outras perspectivas. • Proatividade: a proatividade tem a ver com estar atento para o que acontece ao seu redor e agir rapidamente, como necessário, ter uma atitude ou ação. Não é o mesmo que ser metido, mas sim, estar à frente daquilo que possa contribuir. É ser protagonista. Ao desenvolver a competência, começamos a agir e a planejar antes que as coisas realmente aconteçam. O contrário é a reatividade. Aquela pessoa que espera, sentada, ordens. A pessoa, aqui, tem mais chances de ser sucedida com êxito e, mais rapidamente, em sua carreira, e na vida pessoal também. • Resiliência (e adaptabilidade): aqui, juntamos a resiliência com a adaptabilidade, pois são sinônimos. Na física, a resiliência é a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. No sentido figurado, é a capacidade de se adaptar às mudanças. No mercado de trabalho, as mudanças ocorrem rapidamente, e muitas pessoas ficam reclamando e presos ao que “sempre foi feito assim”. A resiliência é a capacidade de seguir em frente com rapidez, mesmo diante de mudanças desconfortáveis. • Criatividade: a criatividade é a capacidade de criar, inventar coisas novas e ideias originais. Engana-se quem acha que ser criativo é ter um dom. Criatividade é uma competência adquirida, e, como tal, pode ser desenvolvida e aperfeiçoada. Ter um repertório de atividades, leitura, viagens, música, leitura e muita leitura te ajudará a ser mais criativo. Ser criativo é treinamento. Procure sobre como desenvolver sua criatividade e estimule essa competência. Um profissional de comunicação deve ser criativo, e não se aprende a desenvolver a criatividade apenas com as técnicas e ferramentas da profissão. TÓPICO 2 — COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS 131 Na internet, existem diversos testes gratuitos de análise de personalidade, habilidades e competências para identificar quais são as suas verdadeiras paixões na vida e suas maiores dificuldades. Lembre-se de que todas as pessoas são capazes de tudo, basta saber o que quer para, então, seguir em frente com os seus próprios objetivos. Assim, criar um plano que desenvolva as habilidades e melhore as dificuldades o tornará melhor e, acredite, mais feliz. Se quiser ir mais a fundo, procure um profissional habilitado, geralmente, da área de relações humanas. DICAS 3 DESENVOLVIMENTO DA VISÃO FUTURA DA PROFISSÃO Como vimos na Unidade 1, as relações públicas surgiram da necessidade de humanizar as relações entre a opinião pública e as empresas e empresários na época da Revolução Industrial. Neste ano, a profissão completa 106 anos, desde o seu surgimento. Desde sempre, a profissão mantém o foco em reputação, imagem e relacionamentos. Sua essência sempre se manteve, o que muda e amplia constantemente são as ferramentas e canais que dialogam com o público de interesse. Segundo o site do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (CONRERP), em uma pesquisa publicada em 12 de junho de 2020, destacam-se alguns tópicos, segundo estudo do The Holmes Report: • O mercado de Relações Públicas cresceu 5% em 2018. • Dentre as 250 maiores agências no mundo, cinco são brasileiras (FSB Comunicações — 33ª posição, Grupo In Press — 62ª posição, o Grupo CDI — 169ª posição, Agência Approach — 200ª posição e a RPMA Comunicação — 209ª posição). • Faturamento das agências do segmento somou US$ 12,3 bilhões em receitas (2018), em comparação a US$ 11,7 bilhões em 2017. • Todas as ranqueadas faturaram, pelo menos, US$ 4,9 milhões individualmente (CONRERP, 2020, s.p.). The Holmes Report: é um blog referência na área de relações públicas e de atuação em nível mundial. Acesse para saber mais e se cadastre para receber novidades: https://www.provokemedia.com/. DICAS 132 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO Esse cenário, em 2018, já demonstrava o crescimento da profissão como uma constante. Contudo, o mercado, em 2020, é infinitamente mais promissor, com a relevância e exposição que a área teve com a crise mundial causada pelo Coronavírus (Covid-19). A comunicação tomou papel de protagonista, sem deixar a sua essência desde seu surgimento. Nesse contexto, as empresas ganharam uma relevância maior e uma necessidade de se comunicar mais, com agilidade, de forma empática e assertiva, e com seus públicos. Assim, estamos em um momento muito único, no qual o cenário nos traz oportunidades incríveis. Segundo Moretti, fundadora e CEO do Grupo InPress (que está na 62ª posição entre as 250 maiores agências no mundo), o profissional de RP nunca foi tão imprescindível, isso porque tem três características essenciais para o momento: é flexível, tem conteúdo e sabe ler a sociedade. Continua mostrando a essência da profissão mesmo em momentos como esse, em que estamos vivendo: A reputação da empresa é mais importante do que o que ela produz ou vende, todas precisam e devem se perguntar, hoje, como querem ser lembradas logo ali adiante. Paul Holmes, fundador e conselheiro do The Holmes Group, em entrevista para o site Blog RP, também afirma que as relações públicas continuam na sua essência e têm se tornado mais relevantes. Prochno (2020), também no site Blog RP, escreve sobre as tendências de RP que ele vê para 2020: Personalização – ainda estamos no começo e acho que isso vai perdurar e se desenvolver muito ao longo da próxima década. As pessoas caminham para serem cada vez mais conscientes sobre o que gostam, o que importa para elas, e como elas querem ser impactadas por comunicações de todos os tipos. Personalização vai ser importante para o indivíduo, para o meio onde ele está (cidade), para os assuntos que ele gosta e para muito mais. O que isso significa para o RP: produziremos mais conteúdo para que ele seja personalizado, colocaremos mais inteligência no desenvolvimento desse conteúdo, trabalharemos mais com influenciadores, e cada vez mais bots farão parte do mundo e serão cada vez mais inteligentes. Interação – pessoas querem participar, querem fazer parte e querem isso personalizado PRA ELAS. Vamos ver mais interações, anúncios interativos, mensageria (conversa é interagir) e, aí, há, novamente, espaço pra bots. As pessoas não são mais receptores passivos. A máxima da “comunicação de duas vias” nunca foi tão relevante para os RPs. O que isso significa para o RP: Interaja com as pessoas, fique cada vez mais confortável com feedbacks positivo e negativo, e use isso como uma oportunidade para conseguir atenção (ou seja, tempo) das pessoas. Mas, mais do que isso, pense em como você pode criar interações significativas com seus públicos. TÓPICO 2 — COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS 133 Experiências (virtuais ou reais) – as pessoas querem viver, e a vida é agitada e rápida, mas experiência relevantes atraem a atenção das pessoas(lembre-se do “sem tempo, irmão”). Se estamos competindo por atenção, algo que capture isso é muito valioso. Ao longo dos últimos meses, tivemos algumas iniciativas assim, como no projeto do méqui1000, do McDonalds, a experiência de você poder dormir uma noite em uma acomodação ao lado da loja; ou anúncios digitais interativos, marcas diversas apostando em festivais, como a Netflix, ou, até mesmo, o Kondzilla, criando um festival próprio. O que isso significa para o RP: Pense em como a sua marca pode propor algo que seja relevante para as pessoas, que elas queiram dedicar atenção e tempo. Minha dica é que experiências interativas são algo relevante aqui. Velocidade – vai continuar muito rápida, e isso significa que temos que ser mais ágeis para adaptar, mas também cuidar, para que a velocidade com que as pessoas consomem informação não prejudique nossas campanhas – pessoas leem menos, boatos se espalham mais rápido, há menos margem para erro. Há, também, mais oportunidades que batem à porta todos os dias, precisamos apenas ser ágeis para aproveitá-las. O que isso significa para o RP: Atenção para quando desacelerar e quando pisar no acelerador. Resumos e listas, organização da informação, tudo isso ajuda a atrair a atenção das pessoas e transmitir mensagens com velocidade, quando necessário, e trazer a pessoa de volta quando ela tiver tempo (reparou como eu organizei esse texto). E para o profissional, para nós RPs, para o indivíduo? Bem, eu acho que a dica mais fundamental que eu dou é (de novo) “calma”. Não, você não vai conseguir acompanhar tudo. Você vai falhar, você vai, às vezes, ficar para trás. Precisamos saber quais tendências precisamos prestar atenção, quando olhar pra elas e como utilizá-las. Precisamos melhorar nossa capacidade de juntar pedaços e transformar isso em um projeto incrível. O simples, mas a atenção e a consistência vão ser palavras de ordem para cada um de nós. A máxima de que a “única certeza é que tudo vai mudar” continua mais válida do que nunca, “e isso acontecendo cada vez mais rápido (PROCHNO, 2020, s.p.). Feijó (2019, s.p.), no site da ABERJE, diz que: O mundo não tem mais espaço para agências tradicionais de relações públicas, e busca uma solução que, além de entender de pessoas, fale a língua do Google e dos negócios. Uma solução ágil, que se beneficie da tecnologia e de todas as inteligências – emocional, artificial, cultural etc. Que tenha valor diante dos olhos dos clientes e que vá além de gerar bons mailings, construindo resultados pautados em relacionamento. Assim, iniciamos este tópico e concluímos com o mesmo fato: relacionamentos. Não podemos dizer que o futuro das relações públicas será pautado em relacionamentos, porque sempre foi a essência da profissão desde o seu início. Afirmamos que esses relacionamentos precisam ser mais rápidos, mais verdadeiros, mais empáticos e totalmente genuínos. 134 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO A era da profissão de relações públicas está no início do seu auge, e o futuro pertencerá a quem tiver na mesma velocidade que o mundo está tendo. O mercado precisará, cada vez mais, da nossa profissão. Estamos vivendo uma turbulência, em mares agitados, mas, como diz um famoso provérbio indiano, “águas mansas não fazem bons marinheiros”. Vamos navegar! 135 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Competências profissionais são as habilidades, conhecimentos e características aprendidos ou desejados por uma empresa ou uma categoria profissional. • Desenvolver competências profissionais desejadas, em determinado segmento de trabalho, é necessário para uma ascensão no mercado de trabalho e alcance da senioridade. • Desenvolver competência profissional significa obter conhecimentos e habilidades, além das técnicas profissionais exigidas nas tarefas necessárias à aplicabilidade diária profissional. • Qualquer profissional pode desenvolver a competência desejada, independentemente da formação ou característica nata. Quanto mais alinhada às competências, às necessidades e à realidade da sua organização, mais chance terá de crescimento profissional. • As competências podem variar entre diferentes empresas e os níveis hierárquicos dos cargos, além do segmento profissional. • O profissional de RP precisa de habilidades, competências específicas, além de técnicas, para engajar e influenciar o comportamento das pessoas e suas atitudes por meio de relacionamentos significativos entre determinada organização e seus públicos de interesse. • As competências profissionais mudam com o decorrer da evolução da sociedade. Hoje, por exemplo, a maneira e a velocidade com que as pessoas consomem notícias e informações mudaram, assim como a expectativa dos diversos públicos em relação às organizações e aos governos. • Cada vez mais, a área acadêmica se aproxima da realidade no desenvolvimento de habilidades requeridas pelo mercado. Nas diretrizes curriculares dos cursos de relações públicas no Brasil, preveem o desenvolvimento, durante o período acadêmico, de habilidades e competências úteis para realidade e qualificação para o dia a dia profissional. • Na UNIASSELVI, o curso é ideal para quem busca estabelecer relacionamentos com variados públicos de uma determinada organização, com capacidade de liderança, negociação, tomada de decisão e visão empreendedora, além de assumir uma postura crítica frente à comunicação institucional. 136 • As principais competências ou habilidades destacadas para o profissional de comunicação corporativa são: empatia, proatividade, resiliência (e adaptabilidade) e a criatividade. • Desde o surgimento da profissão de relações públicas, a essência se manteve: reputação, imagem e relacionamentos. O que mudou e ampliou constantemente são as ferramentas e canais que dialogam com os públicos de interesse. • O mercado de relações públicas tem crescido nos últimos anos; em 2020, é infinitamente mais promissor, com a relevância e a exposição que a área teve com a crise mundial. A comunicação tomou papel de protagonista, sem deixar a sua essência desde o seu surgimento. • As empresas ganharam uma relevância maior e uma necessidade de se comunicar mais, com agilidade, de forma empática e assertiva e com os seus públicos. • O profissional de RP nunca foi tão imprescindível, porque possui três características essenciais para o momento: é flexível, tem conteúdo e sabe ler a sociedade. • As tendências em RP são: personalização, interação, experiências e velocidade. • A era da profissão de relações públicas está no início do seu auge, e o futuro pertencerá a quem tiver na mesma velocidade que o mundo está tendo. O mercado precisará, cada vez mais, dos profissionais de relações públicas. 137 Com relação às afirmações a seguir, responda se cada uma está certa ou errada. Em caso errado, justifique: 1 Competência são as habilidades, conhecimentos e características que já nascem com as pessoas e fazem parte do caráter profissional de cada um. Certas competências são necessárias para uma ascensão no mercado de trabalho, alcance da senioridade e uma diferenciação aos demais. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 2 As competências ou habilidades para o profissional da comunicação que têm mais destaque, segundo profissionais atuantes, hoje, no mercado, são: empatia, proatividade, resiliência (e adaptabilidade) e criatividade. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 3 A era da profissão de relações públicas está no início do seu auge e o futuro pertencerá a quem tiver a mesma velocidade que o mundo está tendo. O mercado precisará cada vez mais dessa profissão. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 4 Destaqueuma habilidade ou competência que você possui e descreva o porquê é importante para seu desenvolvimento futuro na área de relações públicas. 5 Cite uma habilidade ou competência que acha que precisa desenvolver e liste três maneiras de aprender e melhorar. AUTOATIVIDADE 138 139 UNIDADE 3 TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 1 INTRODUÇÃO Cases são casos de sucesso, relatos de ações que deram certo e são contados. Todos os cases deste tópico são da área de comunicação e foram retirados de sites de agências do segmento. Serão apresentados, também, os três cases que foram vencedores do Prêmio ABERJE da 45a edição. O Prêmio ABERJE foi criado em 1967, e é considerado uma das maiores premiações da área no Brasil. Tem, como objetivos, promover e divulgar os esforços e as iniciativas da área em todo o país. Por fim, traremos três leituras complementares, que ilustrarão o que foi estudado no capítulo. Uma dica importante para aprimorar seus estudos é ficar atento aos UNIs da unidade. Acesse os sites das agências de comunicação, em portfólio ou cases. Há, sempre, muitos projetos descritos. Para aprender mais sobre a profissão de comunicólogo, é sempre bom ver o que já deu certo. DICAS 2 RELATO DE CASES DA ÁREA Apresentaremos três cases, cujos nomes das empresas foram preservados. • Empresa 1 - Case de Comunicação Interna Na empresa 1, o tema segurança é tratado como uma prioridade, e deve, sempre, vir acima de qualquer outra atividade. Por isso, anualmente, é realizado o Global Safety Day, uma campanha global em que todos são incentivados a conversar sobre o que pode ser feito para melhorar e, também, para reforçar seus compromissos com a segurança. 140 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO Na edição de 2018 da campanha, o catalizador das atividades foi em torno do conceito de accountability, ou seja, a responsabilidade de cada um pelos indicadores de segurança da empresa, independentemente do setor ou cargo. Aumentando o protagonismo sobre o tema, buscou-se contribuir para a meta de zero acidentes na companhia. Ideia central: somos protagonistas da criação do mundo em nossa volta, principalmente, em se tratando de segurança. Somos responsáveis pelo o que fazemos ou deixamos de fazer, e essas ações geram impacto sobre nós, sobre nossos colegas e sobre os resultados da empresa. Público-alvo: líderes e colaboradores de todas as unidades do Brasil e do mundo. Planejamento: a ação teve três frentes de atuação prioritárias: a) Face to face: a tradicional videoconferência global e Brasil com todos os líderes regionais e cascateamento local. b) Digital: utilização da plataforma Workplace para gerar interação com todos os níveis e fomentar a discussão. c) Ambientação: materiais e experiências para todas as localidades. Conceito criativo: despertar para uma ferramenta que todos temos, à disposição, e que pode ser a diferença entre deixar um acidente acontecer e evitá- lo: prestar atenção ao seu redor e estar atento a cada ação e decisão. O “call to action” defende que todos podem e devem participar da construção de programas que objetivem o bem-estar e a segurança de todos, e que essa atividade é de responsabilidade de todos (e não só da liderança). Desafios: a empresa propôs o desafio de não somente despertar para a responsabilidade de cada um sobre a segurança, mas, também, de fazer isso de uma forma global, de forma a atingir todos os países no que se refere a aspectos da identidade e cultura de cada um, incluindo o idioma. Outra particularidade é que as ações da campanha deveriam acontecer, em grande parte, na rede social corporativa já adotada, o Workplace. Seria necessário encontrar um equilíbrio entre ferramentas de comunicação, na forma física, e as estratégias digitais, para conseguir envolver todos os públicos: empregados de fábricas, escritório e alta gestão de todos os países. Execução: a campanha foi trabalhada pensando em fases e em públicos: a) Liderança – Toda mudança de cultura começa com o engajamento das lideranças. Por isso, criamos um vídeo direcionado a esse público, lançado durante conferência global com o CEO da companhia. b) Colaboradores – Para esse público, a ideia foi instigar a curiosidade, além de gerar expectativa, por meio de peças de ambientação. Além disso, fizemos o levantamento de calendário de temas alinhados com a segurança do trabalho, além de posts diários em formatos de GIF e Quiz veiculados no Workplace, a ferramenta digital de comunicação interna da empresa. TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 141 FI G U R A 6 – V IS U A LI Z A Ç Ã O D A S A Ç Õ E S FO N T E : O A u to r 142 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO Peças desenvolvidas: a) Banners distribuídos nas fábricas e escritórios da empresa b) Layouts para o mural – 8 páginas relacionadas ao tema c) Papel-bandeja distribuído nos refeitórios da companhia d) Cartazes com imagem em 3D – a mensagem sofria uma modificação ao ser observada com e sem o uso dos óculos e) Adesivos dispostos nas principais bancadas de trabalho das fábricas e escritórios f) Para as lideranças, desenvolvemos um guia. A ideia foi apresentar todo o desenvolvimento da campanha, além de estímulos para promoção do engajamento desse público e consequente cascateamento das informações às equipes g) Posts e Quiz veiculados via Workplace h) Posts e GIFs i) Head para grupo de colaboradores no Workplace. • Empresa 2 - Lançamento do produto: Case com influenciadores digitais Objetivo: a Empresa 2 comemora 80 anos e apresenta, ao mercado, seu principal lançamento do ano: a nova linha premium de pães de forma do tipo artesanais. Um dos pontos mais importantes da campanha foi ressaltar que a marca trouxe, ao mercado, uma inovação muito solicitada pelo consumidor brasileiro – a versão integral. Trata-se de um produto totalmente alinhado aos pilares de posicionamento da companhia, pois envolve nutrição, saúde e bem-estar. Em campanha inédita, a empresa traz produtos produzidos com todo o sabor, carinho e expertise da empresa 2, que tira do forno, todos os dias, o que há de melhor ao consumidor. Público-alvo: brasileiros de 20 a 60 anos Planejamento: buscamos 36 influenciadores do Brasil que possuam sinergia com os produtos e posicionamento da empresa. Mote da Campanha: “Lançamento de pães artesanais em comemoração aos 80 anos da marca” Desafio: nosso desafio foi disseminar a mensagem da campanha, e torná- la amplamente conhecida, promovendo Talkability da marca, usando, como fonte de tráfego, a influenciadora local. Fizemos uma seleção de 36 influenciadores brasileiros, dentre eles, pessoas do estado de São Paulo, da cidade do Rio de Janeiro e de Salvador. TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 143 Os selecionados foram influencers que possuem atributos que conversam com a marca – nutrição, saúde e bem-estar. Enviamos um kit com produtos para a elaboração de receitas com os lançamentos, demonstrando todo o amor pela gastronomia artesanal. Execução a) Mapeamento de 36 influencers, considerando: b) Nomes e perfis estratégicos, que apresentassem sinergia com a marca e possibilidade de divulgação espontânea; c) Nomes e perfis com grande impacto em audiência, apostando na visibilidade dos seus canais. d) Elaboração de um press kit com produtos da marca e kit com carta, receita e brindes do produto para cada influencer divulgar, da maneira que achar melhor e de forma espontânea. • Empresa 3 - Inbound PR Objetivo: em setembro de 2016, a agência foi contratada com os objetivos de contribuir com as estratégias de advocacy, fortalecer a imagem das filantrópicas e engajar as organizações das áreas de educação, saúde e social na causa. Estratégias: para atingir os objetivos, adotou-se a metodologia Inbound PR, combinando a excelênciae expertise da área de relações públicas com as melhores técnicas de Inbound Marketing. Principais Soluções: • Design da narrativa: • Para definição de atributos e mensagens-chave. • Pesquisa com a imprensa: • Para identificar o nível de conhecimento de veículos e profissionais sobre o setor e levantar assuntos de interesse. • Relacionamento com a Mídia. • Divulgação da contribuição das filantrópicas para o Brasil, por meio de ações de relacionamento com a mídia. • Relacionamento governamental. • Apoio e cobertura dos encontros com ministros, governadores, deputados e outros políticos. • Inbound de Marketing. • Produção de conteúdo relevante e estratégias de automação de marketing para fortalecer a marca Fonif e gerar um mailing qualificado de profissionais e instituições filantrópicas. • Formadores de opinião e influenciadores online. • Mapeamento e relacionamento com formadores de opinião e influenciadores 144 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO on-line (pessoas e marcas), para engajá-los em todas as ações realizadas. Execução: workshops de cocriação. Facilitamos workshops de cocriação com os líderes para definição dos atributos da marca e do setor, assim como as mensagens-chave a serem disseminadas por todos os porta-vozes da organização. Os encontros deram base, ainda, para a definição das ações de comunicação. As principais entregas foram: • Position Paper • Planejamento de relações públicas e comunicação digital • Encontros de aproximação com a imprensa • Sugestões de pautas para imprensa e divulgações de releases • Inbound PR com conteúdo estratégico • Landing page com materiais estratégicos • Caravana da filantropia – evento de três dias e mais de 100 participantes • Proposta para criação do Dia Nacional da Filantropia – 20 de outubro Resultados: • 649 - Matérias publicadas em um ano de trabalho. • 70 - De influenciadores no setor aderentes à causa, principalmente, presidentes e membros de associações de classe de cada área da filantropia (educação, saúde e social). • 30 - Depoimentos de deputados em vídeo coletados na Caravana da Filantropia, realizada em março de 2017. • +1,3K - De leads qualificados de instituições de todo o país em apenas três meses. • 3 -Palavras-chave prioritárias nas três primeiras posições do Google. • 50% - Média das taxas de abertura de e-mail marketing com encaminhamento ao mailing -frutos das ações de Inbound Marketing. Prepara o coração e a caixa de lenço de papel para ver 10 campanhas de publicidade que não teriam acontecido se não fosse o trabalho das Relações Públicas. É de se emocionar! Muitos vão se lembrar, mas agora verão com os olhos das Relações Públicas. Acesse agora mesmo: https://adnews.com.br/10-campanhas-que-nao-teriam- acontecido-nao-fosse-o-trabalho-de-rp/. DICAS TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 145 • Case 1 - Estratégia de endomarketing Case: a empresa preparou todos os funcionários para conhecer os benefícios, programas e recursos da companhia antes de aplicar a pesquisa de satisfação prevista. Ações de endomarketing foram usadas para mobilizar e sensibilizar os funcionários a conhecerem melhor a empresa e a se engajarem para a pesquisa. O que foi proposto: a) Álbum de figurinhas: um álbum de figurinhas mantinha os funcionários informados e provocou engajamento e participação. O conteúdo, claro, foram os programas de desenvolvimento, benefícios e informações relevantes que a companhia queria passar. b) Varal de oportunidades: mídia já existente que ganhou cara nova. A revitaliação ajudou a gerar curiosidade em relação à mídia, informando, de maneira efetiva, aos funcionários, as oportunidades de crescimento. c) Jingle do engajamento: foi criado um jingle e um backdrop, nos quais as pessoas poderiam cantar. O ritmo e o a letra caíram no gosto popular. • Case 2 - Despedida do presidente Estratégia do evento: encantar e emocionar um grande líder. Após 27 anos no comando da empresa, o executivo concluiu sua sucessão e a meta era tranformar a sua despedida em um evento para encantar. Proposta: contar a história do executivo de uma maneira colaborativa e surpreendente, até mesmo para ele, utilizando pessoas que fizeram parte dessa trajetória e abraçaram a cultura do encantamento. Isso deu origem a uma versão especial do livro do encantamento. Em vez dos tradicionais relatos de quem encanta os clientes, essa edição foi exclusiva, e apresentou histórias de colaboradores que foram encantados. Foram, no total, 208 histórias. Outras ações no dia do evento: a) Uma corrente humana foi formada para aplaudir e saudar o executivo até a sala da montagem da homenagem b) Um vídeo com depoimentos emocionante de pessoas que foram inspiradas pela sua liderança c) O hino do encantamento foi cantando com a energia de mais de 500 colaboradores 146 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO O livro Rebeldes têm asas, do empresário da marca Reserva, Rony Meisler, é uma dica de leitura interessante, que conta como a marca inovou e se posiciona no mercado, com vários insights de marketing ao longo das páginas. Dica de mais um livro interessante para ler antes de se formar. DICAS • Case 1 – Evento do Dia das Crianças Toda criança sonha em conhecer o local de trabalho dos pais, para entender melhor o que eles fazem quando não estão com eles. Em outubro, mês das crianças, a empresa resolveu proporcionar esse momento especial para as crianças, pais e mães do escritório em São Paulo. Neste dia, a agência ficou responsável pela organização do evento e suas produções para ambientar o espaço e para entreter as crianças durante o período em que elas estivessem lá. Na entrada, as crianças foram recebidas como novos colaboradores, ganhando um kit de integração. Depois disso, o dia foi repleto de brincadeiras animadas e educativas, que ensinaram as crianças sobre a área de atuação da empresa e a importância do trabalho dos pais para o mundo. Uma ação como essa mostra a preocupação da empresa com os seus colaboradores, integrando família e empresa, ainda, diz muito sobre a cultura. • Case 2 - Diagnóstico de Comunicação Interna (CI) A empresa 7 estava em um cenário de autoconhecimento, pesquisa de clima, revisitando missão, visão e valores, reestruturação de planejamento estratégico e workshops, para direcionar colaboradores no propósito da empresa. Com o processo, o olhar para a Comunicação Interna e trabalhar com a reformulação. A agência, então, entrou em cena para realizar o processo de diagnóstico para investigar, com as lideranças, quais seriam os principais gaps, oportunidades e pontos de melhorias em seus canais e processos de comunicação. Foram feitas, aproximadamente, 15 entrevistas com as lideranças, análise de nove canais e imersão inicial com os responsáveis pela área. TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 147 Foi elaborado e apresentado um book com o resultado do diagnóstico e as principais recomendações para que a comunicação interna tivesse um novo posicionamento. Além disso, a agência participou do processo de revitalização dos canais, criando uma identidade visual e estabelecendo objetivos. Elaboramos ferramentas de gestão da comunicação interna e uma régua de endomarketing para ser trabalhada no ano, além de uma apresentação institucional para reforçar a virada de chave da comunicação. Outra dica de leitura é o livro Oportunidades disfarçadas - histórias reais de empresas que transformaram problemas em grandes oportunidades, de Carlos Domingos. Vale a leitura e ver como grandes empresários foram criativos em meio ao caos. DICAS 2.1 PRÊMIO ABERJE • Case 1 - Garimpando inclusão e diversidade - Empresa Anglo American Poucos setores produtivos brasileiros enfrentaram tantos desafios nos últimos anos quanto o de mineração. O rompimento das barragens da Samarco, em Mariana,e da Vale, em Brumadinho, ambas em Minas Gerais, colocou, em xeque, a segurança e a sustentabilidade da atividade no país. As empresas, no entanto, vêm buscando virar a página, e recuperar a confiança, sem esquecer do passado. Por essa e outras razões que a Anglo American, uma das maiores mineradoras do planeta, investe em iniciativas com foco no social. A empresa Anglo American, fundada na África do Sul, em 1917, por Ernest Oppenheimer, foi a vencedora do Prêmio Aberje 2019, na categoria Diversidade e Inclusão, com o case de implantação e estratégia de comunicação do Everyone, programa global do grupo que está sendo aplicado no Brasil. Com mais de 92 mil funcionários em todo o mundo, dos quais cerca de 3 mil no país, a companhia sabe que cuidar de pessoas é algo tão desafiador como garimpar minérios. O programa trabalha com os eixos de Equidade de Gênero, LGBTQ+, Etnia/Raça e Pessoas com Deficiência, e tem ações voltadas para a mudança de cultura e comportamentos, com o objetivo de criar um ambiente diverso, 100% da liderança e a formação de grupos de trabalho para implementar atividades de formação e educação sobre diversidade e inclusão. 148 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO Uma das palestras sobre o tema realizadas em 2019 foi com a astrofísica trans Vivian Miranda, a única brasileira em um projeto da Nasa que desenvolve um satélite avaliado em 3,5 bilhões de dólares. “O objetivo das ações é gerar mudanças reais com base no engajamento dos empregados. A revisão de políticas e normas da empresa, para propiciar um ambiente cada vez mais diverso e inclusivo, é apenas um dos passos nessa direção, e precisa andar em conjunto com uma mudança de cultura”, afirma Ana Sanches, diretora financeira. “Por isso, o envolvimento dos trabalhadores e da comunicação é essencial no processo”. Segundo a executiva à frente da implantação do programa no Brasil, a pluralidade de visões e opiniões no meio corporativo é essencial para o avanço de ideias. “Acreditamos que um ambiente diverso, com multiplicidade de olhares e vivências, propicia as melhores condições para a tomada de decisão e inovação. É, com base nessa premissa, que a companhia vem implantando, globalmente, o Everyone, que chegou a todas as nossas unidades brasileiras em 2018, e continua com atividades constantes”, explica. • Case 2 - O valor do legado - Empresa AngloGold Ashanti A mineradora sul-africana AngloGold Ashanti, uma das maiores produtoras de ouro do mundo, com 185 anos de existência, entende que o sucesso e a longevidade de uma empresa extrativista vão muito além da descoberta de jazidas do precioso metal. A operação brasileira investe cerca de 1,25 milhão de reais por ano em iniciativas sociais que beneficiam comunidades em cidades próximas às unidades produtivas, como Barão de Cocais, Caeté, Nova Lima, Raposos, Sabará e Santa Bárbara, em Minas Gerais, e Crixás, em Goiás. Por meio do programa Parcerias Sustentáveis, moradores recebem auxílio financeiro e suporte para suas ações de empreendedorismo. Eles são capacitados, via internet, e em visitas presenciais de consultores, que orientam micro e pequenos empresários na tomada de decisões. “Alcançar 185 anos é motivo de orgulho para a AngloGold Ashanti. Nossa longevidade denota a capacidade de inovação para superar desafios e gerar riquezas para toda a comunidade e para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde atuamos”, afirma Camilo Farace, diretor-presidente da companhia. Os projetos apoiados pela companhia não têm nenhuma relação com a atividade de mineração. A proposta é fomentar ideias focadas em segmentos, como cultura, turismo, gastronomia, cooperativismo e soluções sustentáveis. Um dos pré-requisitos para se qualificar para o programa é que a proposta esteja alinhada a um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organizações das Nações Unidas (ONU). A ideia é fornecer subsídios para que empreendedores locais se transformem em protagonistas do seu desenvolvimento econômico. “Um dos diferenciais do programa é realizar a seleção das iniciativas com a participação da própria comunidade. Os aprovados recebem investimento de até 50.000 reais TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 149 e participam de um percurso específico de capacitação e aceleração em gestão de negócios sociais”, diz Othon de Villefort Maia, gerente sênior de Comunicação e Relações Institucionais. Mais de 2.700 pessoas foram beneficiadas pelo Parcerias Sustentáveis em 2019, com 24 projetos selecionados. Em 2020, o programa investirá, ainda mais, em capacitação, por meio de cursos online e presenciais e mentorias individualizadas, visando à autossustentação financeira dos empreendimentos. A AngloGold Ashanti atua em quatro continentes, com 13 operações em nove países. No Brasil, onde tem mais de sete mil funcionários, é a indústria de maior longevidade – sua história começou em 1834, quando, ainda denominada Saint John Del Rey Mining Company, iniciou a mineração aurífera em Nova Lima (MG). As três unidades da empresa no país respondem por 15% de toda a produção mundial de ouro do grupo. • Case 3 - Contra o desperdício - Empresa BRK Ambiental Participações A preservação do meio ambiente e o futuro do planeta dependem, principalmente, das iniciativas de redução do consumo da água. Graças ao empenho para a conscientização de que a água é um bem finito, a BRK Ambiental, a maior concessionária privada de saneamento do Brasil, venceu em duas categorias do Prêmio Aberje: “Imprensa e Influenciadores” e “Empresa do Ano”, em virtude da grande iniciativa com influenciadores digitais por ocasião do Dia Mundial da Água, celebrado, anualmente, em 22 de março. Com suporte da agência Forrest, a BRK selecionou 150 artistas e influenciadores que se dedicam à causa ambiental e à sustentabilidade, os quais receberam uma ampulheta que marca cinco minutos. O desafio consistia, basicamente, em cumprir o limite de tempo. Cada minuto a menos no chuveiro pode preservar até 10 litros de água. “O uso da ampulheta, um dos objetos mais simples e antigos inventados pela humanidade, com as redes sociais, uma das invenções mais modernas, garantiu uma dimensão diferente à ação. Em qualquer tempo, em qualquer lugar, a preservação da água é uma causa que deveria nos unir”, diz Juliana Calsa, gerente de Comunicação da BRK Ambiental. Com o objetivo de sintonizar o visual da ampulheta com o conceito da campanha, o item foi estampado com uma arte exclusiva criada pela ilustradora mineira Thereza Nardelli. O mote “Água não tem fronteiras” remete à ideia de que o recurso natural, escasso em muitas regiões brasileiras, traz responsabilidades que são comuns a todos. Dentre os influenciadores que aceitaram o desafio, estão Carol Ribeiro, modelo e apresentadora, e Mateus Solano, ator e defensor da causa ambiental. O ator global apresentou a ampulheta em stories no Instagram aos mais de 2 milhões de seguidores, elogiou a iniciativa e relatou que seus filhos também adoraram a ideia de 150 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO contabilizar o tempo no banho. Influenciadores ligados a causas ambientais também se manifestaram a favor da campanha, como Luciana Esteves, dona do perfil @ nossomundosustentavel, que fez uma série de vídeos sobre o Dia Mundial da Água. Apenas 3% da água do planeta é própria para o consumo. Embora o Brasil possua cerca de 12% da água doce disponível, economizar é fundamental: boa parte está em aquíferos inacessíveis. Indústrias e empresas de agronegócios do país são responsáveis por mais de 70% do consumo de água. Não por acaso, o país sofre com a escassez – um exemplo é a região Nordeste. “Ainda temos 100 milhões de pessoas sem acesso ao saneamento básico. Precisamos falarsobre esse tema, reforçar a transformação que o saneamento pode proporcionar”, destaca Teresa Vernaglia, CEO da BRK Ambiental. • Case 4 - Uma fábrica de conteúdo- FCA – Fiat Chrysler Automóveis A multinacional Fiat Chrysler Automobiles (FCA), dona de marcas como Fiat, Jeep, RAM, Dodge, Alfa Romeo e Chrysler, tem fabricado mais do que carros. No Brasil, a companhia se tornou uma fábrica de informações, especialmente, para se comunicar com os quase 21 mil funcionários e profissionais que atuam em sua rede de 722 concessionárias. A Fiat é dona da maior rede de revendas de carros do país, o que exige um bom planejamento para dialogar e treinar seus times. Daí surgiu a TVFCA, projeto de comunicação que utiliza mídias audiovisuais, como vídeos, programas de rádio e filmes institucionais, para gerar conteúdo para TVs corporativas e murais eletrônicos. “Encontramos uma forma eficiente e rápida de nos comunicar. Criamos cerca de 420 conteúdos por ano, em parceria com a Conspiração Filmes”, afirma Rogerio Machado, gerente de treinamento da companhia e um dos responsáveis pelo projeto. Em 2019, existiram mais de 5,2 milhões de acessos via web ou celular. Segundo Machado, em 2014, a empresa percebeu a necessidade de aprimorar seus canais de comunicação com a rede de distribuidores, nos moldes semelhantes aos utilizados no ensino a distância (EAD). Em 2016, o plano se tornou realidade. Uma equipe capacitada era fundamental, por impactar positivamente no desempenho individual e na performance empresarial, principalmente, em um mercado extremamente competitivo, como o automobilístico. “Precisávamos treinar os profissionais do quadro das revendas, alocados em 34 funções-chave, e não gerar pressão nos custos das concessionárias. Tudo isso alinhado à estratégia da empresa de satisfazer o cliente final, promover a rentabilidade do negócio e o crescimento de market share”, completa o executivo. TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 151 O departamento responsável pelo projeto tem orçamento de 3,2 milhões de reais por ano e se consolidou como uma estratégia permanente da FCA. Atualmente, uma equipe composta por 23 profissionais é 100% dedicada a elaborar o material audiovisual da montadora. Além de alcançar funcionários e concessionários, o conteúdo produzido pela empresa passou a ser disponibilizado para o público no YouTube, ampliando, ainda mais, o seu alcance. “Com linguagem simples e didática, conseguimos dar dinamismo à comunicação”, garante Machado. “A gente se inspirou no modelo do YouTube, com vídeos de até sete minutos. O resultado tem sido fantástico”. 152 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO LEITURA COMPLEMENTAR A seguir, apresentaremos três artigos para uma leitura complementar, que ilustra o que falamos durante a unidade. Os dois primeiros artigos estão relacionados com a diversidade e inclusão, um tema super atual e que só tende a ganhar mais relevância com a evolução da sociedade, além do papel das empresas e organização na proliferação de um discurso de igualdade humana. O último artigo fecha a leitura complementar ressaltando que, na comunicação, o centro do relacionamento humano sempre foi e sempre será um embate interno pela escolha que sustenta as emoções. DIVERSIDADE E INCLUSÃO: POR QUE A ÁREA DE COMUNICAÇÃO PRECISA ESTAR ENVOLVIDA Carolina Prado Diversidade é o tema da vez nas grandes empresas – que bom –, e entender que diversidade é diferente de inclusão – uma não vive sem a outra – é o novo foco de 2020. Uma empresa diversa, mas que não dá voz (inclui) as pessoas, não funciona. A inclusão é o que mantém a diversidade e traz a tão sonhada inovação e pensamentos diferentes. Contudo, existe um terceiro elemento que precisa estar alinhado sempre: Comunicação – sim, com C maiúsculo. O departamento de Comunicação é peça-chave para, junto com RH e direção da empresa, fazer da Diversidade uma realidade nas empresas. Existem muitos estudos sobre como a comunicação será e é a habilidade mais importante da década. Além de fundamental para gestores e funcionários, o papel da Comunicação nas organizações tem que ser visto como parte do negócio e fazer parte da estratégia. A Comunicação facilita a integração entre os profissionais, faz com que a informação sobre a empresa circule entre áreas, que a liderança desça a estratégia para todos os funcionários e também é uma aliada na mudança cultural. Quando falamos de políticas de Diversidade e Inclusão (D&I) eficientes e verdadeiras, a Comunicação vem para exercer uma função importante de disseminar a mensagem e ajudar na implementação dessa nova cultura. Na Intel, costumamos falar que D&I é nosso pilar mais importante e permeia tudo que fazemos. Primeiro, porque é o correto; e segundo, porque acreditamos que empresas que não implementarem nos próximos anos políticas internas não vão sobreviver. D&I gera novas ideias, atrai e retém talentos e aumenta a receita. Inúmeros benefícios e ainda fazendo o correto – sensacional, não? Segundo estudo da McKinsey, empresas diversas tendem a lucrar 25% mais. TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 153 Muitas empresas têm investido nos últimos anos em departamentos de D&I ou em pessoas dedicadas ao tema – a Intel é uma delas – e acredito que isso é fundamental para vermos mudanças. Mas de novo: esses departamentos precisam estar alinhados com a alta direção. Diversidade e Comunicação não podem ser áreas suportes e sim parte do negócio. Onde entra a Comunicação? Na promoção dos valores de D&I, sejam nas ativações internas, externas, materiais visuais e disseminação de conteúdo sobre o tema. Na Intel, andamos de mãos dadas: RH, Direção e Comunicação, e posso dizer que o resultado é incrível! Atingimos nossa meta de 2020 em 2018 já estamos traçando novos objetivos no Brasil e no mundo. FONTE: PRADO, C. Diversidade e inclusão: por que a área de comunicação precisa estar envol- vida. 2019. Disponível em: https://www.aberje.com.br/colunas/diversidade-inclusao-porque-a-a- rea-de-comunicacao-precisa-estar-envolvida/. Acesso em: 26 jul. 2020. O BOICOTE AO FACEBOOK E O PAPEL SOCIAL DAS MARCAS NO AMBIENTE DIGITAL Lucas Reis Nas últimas semanas, algumas centenas de grandes marcas globais anunciaram a suspensão da veiculação de anúncios em plataformas sociais, especialmente no Facebook, líder global no setor, com mais de 2,5 bilhões de usuários ativos. Empresas como Unilever, Pepsico e Coca-Cola têm aderido a um movimento iniciado por organizações americanas de luta pelos direitos civis, como Color of Change e Stop Hate for Profit, que busca pressionar as empresas de social media a fazer mais no combate à difusão online de discursos de ódio. Interessante perceber que o argumento subjacente à decisão dessas marcas é de base coletiva e não individual: para-se a veiculação de anúncios por conta dos riscos que a disseminação de discursos racistas, sexistas e extremistas trazem para a sociedade em geral, e não para as marcas individualmente. Vale como sempre, aquela ponderação antimaniqueísta, que ressalta que não é uma luta do bem contra o mal, sabemos que o mundo é mais complexo que isso: sim, as marcas não estão sendo apenas boazinhas, mas, sim, estão estendendo o alcance das suas políticas de responsabilidade social para a sua atuação digital no geral, e mais especificamente para o direcionamento de suas verbas publicitárias digitais. É importante lembrar que a maior fonte de financiamento da produção e distribuição de conteúdo online é a publicidade. Ou seja, está na mão dos anunciantes viabilizar ou não a existência de produtores de conteúdo online. Isso já ficou claro no caso do Sleeping Giants, que tratei em coluna recente, quando as marcas foramcobradas a parar de anunciar programaticamente em sites que produzem fake news. Agora, o mesmo posicionamento está sendo tomado frente às plataformas onde as disseminações dos discursos de ódio ocorrem, como o Facebook. 154 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO A companhia liderada por Mark Zuckerberg é uma empresa incrível, cujos serviços (dentre os quais o Instagram e o Whatsapp) possibilitam a manutenção de laços sociais inviáveis de outra maneira, além de ter dado voz e capacidade de articulação social a vários grupos minoritários ao redor do globo. Vale lembrar como o papel das redes sociais foi positivamente destacado na primeira metade da última década, durante a Primavera Árabe, e os movimentos Podemos, na Europa, Occupy Wall Street, nos EUA, e Vem pra Rua, no Brasil. Estes movimentos pediam maior participação popular nas decisões políticas e ganharam força usando a capacidade de viralização oferecida pelas plataformas sociais. Entretanto, a partir da segunda metade da década, os recursos dos social media passaram a potencializar grupos e discursos segregacionistas, com efeitos negativos no próprio equilíbrio democrático em diversos países do ocidente, com acentuação da polarização política e risco de retrocesso nos direitos individuais. As Big Techs, dentre as quais o Facebook e o Google são os maiores expoentes, tentam diminuir o seu papel nesse contexto ao afirmarem que não produzem os conteúdos, são apenas o ambiente em que pessoas livremente expressam suas visões de mundo. Esse argumento não se sustenta, já que o que faz essas empresas grande é, justamente, a sua maestria em identificar preferências individuais e distribuir, em escala, conteúdos (sejam publicações de outros usuários ou ofertas de anunciantes) de acordo com essas preferências. Ou seja, são os algoritmos dessas empresas que decidem o que será visto e o que não será. Essas plataformas não podem diminuir as suas responsabilidades, e é importante que as marcas sejam ativas em pressionar para que estas companhias façam tudo que podem para impedir que discursos criminosos ganhem uma visibilidade crescente através das redes sociais. É benéfico que os anunciantes tenham cada vez mais clareza de que o ambiente digital amplia o potencial de impacto de suas atuações, inclusive ao ter maior controle sobre quem receberá suas verbas publicitárias. O mundo digital não é um universo paralelo, e sim uma camada da vida real, em que as empresas podem e precisam exercer o seu papel social, alinhadas aos seus propósitos e atentas às consequências de suas ações e posicionamentos. FONTE: REIS, L. O boicote ao Facebook e o papel social das marcas no ambiente digital. 2019. Disponível em: https://www.aberje.com.br/colunas/o-boicote-ao-facebook-e-o-papel-social- -das-marcas-no-ambiente-digital/. Acesso em: 26 jul. 2020. UMA MODA QUE NUNCA FICOU DÉMODÉ (OU CAFONA) NA COMUNICAÇÃO Leonardo Mosimann Estrella Pensando nos ciclos históricos da comunicação, talvez dois marcos são os que mais sacudiram o modo e a forma de procurar atingir o público-alvo com as mensagens corporativas. TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 155 A mídia de massa, ainda bem atuante no atual século, assumiu o papel protagonista do quarto “P” do marketing bem debatido por Kotler nas décadas de 1980 e 1990. Vendo essa peleja de fora sempre julguei que a escolha pela segmentação era muita sustentada na capacidade de atendimento por meio de um produto do maior número de pessoas possíveis ao ter que “apenas” definir um território defensável e se especializar. Nunca pareceu para você também que tudo poderia ser encarado como commodity e a promoção pela mídia de massa é uma necessidade? Talvez fossemos traídos pela memória advinda da TV e do rádio fruto do recall proporcionados pelos intervalos comerciais e marcantes campanhas e slogans. Parece que na era da publicidade de massa, a assessoria de imprensa sempre mereceu a atenção das empresas, mas muitas vezes a estratégia de algumas marcas era evitar o espaço de descontrole. Aparentemente marcas preferem suas versões aos fatos em razão dos potenciais riscos de uma exposição com múltiplas opiniões. Talvez por isso também que nas academias o marketing ficou lotado na administração e o jornalismo e a comunicação social distantes da publicidade e propaganda. Quando as redes sociais aparecem às relações de consumo se modificam e esses fluxos de emissor e receptor tomam diversos caminhos talvez ainda não mapeados. Os algoritmos não nos deixam mentir e me parece, mesmo que impacte em ambas escolas, que as redes sociais estão muito mais para publicidade do que para jornalismo. As prateleiras são outras, as fontes de informação mais diversas, contudo o poder pertence ao mesmo personagem. A escolha cabe ao consumidor, ele que diz o sim ou o não. O que muda é que a publicidade mais científica sempre se apoiou na pesquisa de mercado e na profunda análise do público alvo – pelo menos deveria. Na era das redes sociais, parece que traçar os perfis é um caminho cheio de atalhos e talvez mais assertivo, pelo caráter mais observador que dos questionários de pesquisa. Mas o que essas formas de se comunicar e se relacionar podem ter em comum? A resposta pode ser bastante simples e lógica. O ser humano nunca deixou a sua humanidade quando se relaciona com as marcas e define suas preferências. Sempre foi e sempre será um embate interno pela escolha, que, segundo muitos especialistas, se sustenta nas emoções. Recorro a livros importantes que falam dessa humanidade. Em Previsivelmente Irracional, Dan Ariely constata com uma série de experimentos que a forma de escolha de consumo se sustenta nas emoções. Em Marcas no Divã, Jaime Troiano sentencia que as pessoas “dizem o que pensam, mas fazem o que sentem”, constatando o que Ariely discorre na sua obra. Kevin Roberts, em Lovemarks, afirma que as relações do consumidor com as marcas são afetivas, cujo processo de conquista é similar à uma relação amorosa. 156 UNIDADE 3 — CENÁRIO ATUAL DO MERCADO Não sei se vocês se sentem em dados momentos assim, mas às vezes penso ser um tanto quanto esquizofrênico pensar na dimensão dos nossos desafios e como devemos nos aprofundar e preparar para cumprir tão importante e sensível missão de ser porta-voz das nossas organizações através das mais diversas ferramentas de comunicação hoje disponíveis. Na formação das cidades, ocorrido na Idade Média, uma ponte para a realidade urbana que vivemos hoje, o setor de serviços como bancos, farmácias e pequenos mercados se baseavam na localização como diferencial competitivo e, da mesma forma, em gerar uma necessidade até então não descoberta para desenvolver as relações de capital. Havia centralização dos serviços nos espaços centrais – as casas dividiam espaços com os comércios –, herança que vemos até hoje nas metrópoles e pequenos espaços urbanos, com uma diferença importante: as regiões centrais esvaziam nos finais de semana. Estamos falando do terceiro do “P” do marketing de Kotler, a praça. Em O Direito à Cidade, o filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre contextualiza essa realidade temporal de formação das cidades, que, com o olhar da comunicação, pode se aproximar do que Troiano, Ariely, Kotler e Roberts defendem nos seus arrazoados. As organizações sempre quiseram ser relevantes para que, por meio dessa relevância, pudessem gerar as trocas necessárias, atendendo aos seus diversos objetivos. E essa relevância passava necessariamente por desenvolver relações capazes de convencer o consumidor a consumir o produto com ou sem concorrência. De novo, o que pode nos intrigar é o que nos cabe atualmente dentro da missão de comunicadores. Entre tantosdebates que estamos travando de forma harmoniosa atualmente, vejo que muito das antigas estratégias estão em voga. Sempre o dilema dos negócios foi levar a mensagem mais adequada para o consumo em forma de produto, de preço, de canais e por meio do convencimento, que envolve a promoção. Então, o que mudou? Sem dúvida o preço, os produtos, os canais, mas a base para promover os bens e serviços continua a mesma. Tem a ver com se relacionar com a humanidade e, especialmente, compreendê-la. Então é uma questão de estudar e entender a irracionalidade das decisões e os sentimentos para o consumo? Eu sinceramente acho que não. A questão é que o diferencial sempre foi a verdade, a transparência, a harmonia, o diálogo, o respeito, a atenção e a disponibilidade. Uma marca precisa ser humana e se comunicar de forma humana porque as pessoas compreendam e se relacionam dessa forma. TÓPICO 3 — CASES DE SUCESSO 157 O que estou tentado sustentar é que não importam tanto as ferramentas, mas sim as intenções das marcas. Logo, nossos dilemas de hoje são os mesmos de ontem. Na moda da comunicação sempre permanece a exigência de ser compreensivo e real nas nossas relações de troca. Muita coisa ficou démodé na comunicação, mas uma coisa eu tenho certeza que não. O consumidor, o cliente e o parceiro das marcas precisam ter atenção plena. Logo, a proximidade, com muito menos intermediadores, é uma chave importante com ou sem a “barreira” do balcão. Cafona é achar que o poder está na emissão da mensagem. FONTE: ESTRELLA, L. M. Uma moda que nunca ficou démodé (ou cafona) na comunicação. 2019. Disponível em: https://www.aberje.com.br/colunas/uma-moda-que-nunca-ficou-demode- -ou-cafona-na-comunicacao. Acesso em: 26 jul. 2020. 158 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Cases são casos contados de ações que fizeram sucesso. • Conhecendo as iniciativas da área, na prática, podemos aprender muito e facilmente. Você pode estudar mais e se aprofundar com muitos cases pesquisados na internet. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 159 1 Cite duas empresas que você admira e descreva alguma experiência, ou busque relatos na internet, ou no próprio site, de ações positivas de comunicação que chamaram a sua atenção. 2 Mencione uma empresa que tenha repercutido alguma ação negativa de comunicação que chamou a sua atenção ou que está relatada em sites de reclamações ou nas redes sociais de grande repercussão. 3 Dos cases apresentados ou as premiações relatadas nesta unidade, qual o que mais interessou e descreva o porquê. AUTOATIVIDADE 160 161 REFERÊNCIAS ABERJE. Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Pequenas empresas investem mais em comunicação interna do que as grandes, aponta pesquisa 2020. 2020. Disponível em: http://www.aberje.com.br/pequenas- empresas-investem-mais-em-comunicacao-interna-do-que-as-grandes-aponta- pesquisa/. Acesso em: 14 jun. 2020. ABERJE. Pesquisa sobre comunicação interna mostra preocupação com objetivos de negócio. 2018. 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