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CONTABILIDADE SOCIETÁRIA AULA 1 Profª Paolla Hauser CONVERSA INICIAL Já se passaram alguns anos depois da convergência das normas internacionais de contabilidade no Brasil. Tais alterações foram iniciadas a partir da Lei n. 11.638/2007 e da Medida Provisória n. 448/2008, convertida na Lei n. 11.941/2009. Ambas normas alteraram diversos dispositivos da Lei das S/As, como é conhecida a Lei n. 6.404/1976. Estas alterações tiveram (e ainda têm) o objetivo de facilitar a análise dos investidores internacionais, principalmente. De acordo com Viceconti e Neves (2013, p. 33), “a necessidade de manusear diversas demonstrações financeiras com várias normas distintas e diferenciadas, dificultava sobremaneira a comparação das mesmas e, consequentemente, a aplicação dos recursos pelos investidores residentes ou domiciliados em outros países”. Desta forma, a convergência das normas contábeis garante que a leitura da informação que as demonstrações financeiras apresentam possa ser entendida por qualquer investidor em qualquer lugar do mundo. Nesta disciplina, nós vamos conhecer algumas normas contábeis trazidas pela chamada contabilidade internacional, por meio do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Nesta primeira aula, vamos conhecer o CPC 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos. Este pronunciamento objetiva estabelecer procedimentos que a empresa deve aplicar para garantir que seus ativos estejam registrados contabilmente por valor que não exceda seus valores de recuperação. Em nossa segunda aula, falaremos sobre aspectos conceituais, cálculo e contabilização dos empréstimos e financiamentos, tratando aqui um pouco do CPC 20. Na aula de número três vamos conhecer mais um pouco sobre a estrutura conceitual do Patrimônio Líquido. Vamos abordar de forma mais aprofundada as contas existentes neste grupo do balanço. Em nossa quarta aula, falaremos sobre todas as reservas existentes no balanço, assim como a conta de ajuste de avaliação patrimonial. Vamos conhecer os conceitos, limites e regras aplicáveis a estas contas contábeis. Em nossa aula cinco, veremos o CPC 23, que trata das Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro. 3 Por fim, em nossa sexta aula, conheceremos o CPC 02, que trata dos efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis, contabilização de transações em moeda estrangeira e conversão de ativos e passivos monetários. CONTEXTUALIZANDO De acordo com a notícia extraída do portal do Valor Econômico, de 22/02/2017, a empresa Gerdau apresentou em 2016 um prejuízo líquido de R$ 2,89 bilhões durante o ano. “Os principais motivos para o segundo ano consecutivo de perdas foram um faturamento menor, baixas contábeis e operações com controladas e coligada” (Rostás, 2017). Ainda segundo o jornal, “Durante o ano de 2016, as baixas contábeis pela não recuperabilidade de ativos foram todas realizadas no último trimestre e subtraíram R$ 2,92 bilhões do balanço. Em 2015 os impairments foram de R$ 5 bilhões”. Este é apenas um exemplo do que ocorre no balanço das empresas, quando realizado ajuste pelo teste de impairment test, também chamado de teste de recuperabilidade. Este teste serve para verificar se o valor escriturado contabilmente é de fato recuperável, caso não seja, o valor deverá ser reduzido ao seu valor recuperável. Por recuperável, vamos entender como o valor que a entidade poderá recuperar com o uso do ativo. TEMA 1 – CPC 01 – ASPECTOS NORMATIVOS E CONCEITUAIS O impairment test ou teste de recuperabilidade, ou ainda redução ao valor recuperável de ativos, está disposto no art. 183, parágrafo 3º da Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/1976), conforme transcrito a seguir: § 3o A companhia deverá efetuar, periodicamente, análise sobre a recuperação dos valores registrados no imobilizado e no intangível, a fim de que sejam: (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) I – registradas as perdas de valor do capital aplicado quando houver decisão de interromper os empreendimentos ou atividades a que se destinavam ou quando comprovado que não poderão produzir resultados suficientes para recuperação desse valor; ou (Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007) II – revisados e ajustados os critérios utilizados para determinação da vida útil econômica estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e amortização. 4 A legislação supracitada determina que a companhia deverá realizar de forma regular uma análise sobre o valor contábil dos seus ativos (imobilizado e intangível), com o intuito de identificar se estes ativos estão escriturados por valor que não exceda seu valor de recuperação. De acordo com o CPC 01, valor contábil “é o montante pelo qual o ativo está reconhecido no balanço depois da dedução de toda respectiva depreciação, amortização ou exaustão acumulada e ajuste de perdas”. O CPC traz ainda outas definições importantes para nossa aula, conforme transcrevemos: Unidade geradora de caixa é o menor grupo identificável de ativos que gera entradas de caixa, entradas essas que são em grande parte independentes das entradas de caixa de outros ativos ou outros grupos de ativos. Despesas de venda ou de baixa são despesas incrementais diretamente atribuíveis à venda ou à baixa de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa, excluindo as despesas financeiras e de impostos sobre o resultado gerado. Valor depreciável, amortizável e exaurível é o custo de um ativo, ou outra base que substitua o custo nas demonstrações contábeis, menos seu valor residual. Depreciação, amortização e exaustão é a alocação sistemática do valor depreciável, amortizável e exaurível de ativos durante sua vida útil. Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. Perda por desvalorização é o montante pelo qual o valor contábil de um ativo ou de unidade geradora de caixa excede seu valor recuperável. Valor recuperável de um ativo ou de unidade geradora de caixa é o maior montante entre o seu valor justo líquido de despesa de venda e o seu valor em uso. Vida útil é: (a) o período de tempo durante o qual a entidade espera utilizar um ativo; ou (b) o número de unidades de produção ou de unidades semelhantes que a entidade espera obter do ativo. Valor em uso é o valor presente de fluxos de caixa futuros esperados que devem advir de um ativo ou de unidade geradora de caixa. Para facilitar o entendimento da norma, vamos começar com o conceito de ativo. O Ativo é representado pelos bens e direitos controlados pela empresa tendo como característica a capacidade de gerar benefícios presentes e futuros (fluxos de caixa). A utilidade do impairment test é calcular o valor de retorno deste bem ou direito (de longo prazo), isto é, quanto de benefícios decorrentes de seu uso ele ainda pode gerar para a empresa. 5 O Impairment significa dano, prejuízo, deterioração, depreciação. Para fins contábeis, dizemos que é a redução do valor do ativo. (Padoveze, 2016) O impairment test, ou teste de recuperabilidade, como também é chamado, tem como finalidade identificar e ajustar o valor de um ativo, evitando que este esteja escriturado por um valor superior ao que pode ser recuperado pelo uso ou por sua venda. Desta forma, a entidade demonstra sua real situação financeira e patrimonial, garantindo assim transparência quanto às informações contábeis e financeiras da entidade. O Impairment test é obrigatório pelo menos no encerramento do balanço CPC 01, e deve ser efetuado quando houver evidências de uma provável perda do potencial do ativo ou de um grupo de ativos. Para Ferrari (2012, p. 646), o teste de recuperabilidade do ativo imobilizado e ativo intangível é consequência do princípioda prudência, o qual determina que, diante de opções igualmente válidas, deve-se sempre adotar o menor valor para os itens do ativo. O autor traz o seguinte exemplo para ilustrar tal conceito: Se uma empresa tivesse em seu imobilizado um equipamento adquirido por R$ 45.000,00 com uma depreciação acumulada de R$ 12.000,00, seu valor contábil seria de R$ 33.000,00. Se, ao ser realizado o impairment test deste valor (R$ 33.000,00), fosse constatado que o valor recuperável por uso ou por venda (destes dois, escolhe-se o maior) fosse de R$ 28.000,00 (por exemplo), isto significaria que o referido bem estaria contabilmente registrado por R$ 5.000,00 a mais do que deveria. Neste caso, em conformidade com o CPC 01, deve-se registrar a perda, para que o bem apresente um valor líquido de R$ 28.000,00. De acordo com o Pronunciamento Contábil – CPC 01 A entidade deve avaliar ao fim de cada período de reporte, se há alguma indicação de que um ativo possa ter sofrido desvalorização. Se houver alguma indicação, a entidade deve estimar o valor recuperável do ativo. Independentemente de existir, ou não, qualquer indicação de redução ao valor recuperável, a entidade deve (i) testar, no mínimo anualmente, a redução ao valor recuperável de um ativo intangível com vida útil indefinida ou de um ativo intangível ainda não disponível para uso, comparando o seu valor contábil com seu valor recuperável. Esse teste de redução ao valor recuperável pode ser executado a qualquer momento no período de um ano, desde que seja executado, todo ano, no mesmo período. Ativos intangíveis diferentes podem ter o valor recuperável testado em períodos diferentes. Entretanto, se tais ativos intangíveis foram inicialmente reconhecidos durante o ano corrente, 6 devem ter a redução ao valor recuperável testada antes do fim do ano corrente; e (ii) testar, anualmente, o ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) em combinação de negócios. TEMA 2 – CPC 01 – UNIDADE GERADORA DE CAIXA E GOODWIL Segundo Martins et al. (2013, p. 290), “pode haver situações nas quais não é possível estimar o valor recuperável de um ativo imobilizado de maneira individual, considerando a unidade de propriedade definida pela empresa. Nessas situações a entidade deve identificar a unidade geradora de caixa à qual o imobilizado pertence e determinar seu valor recuperável”. 2.1 Unidade geradora de caixa Para Rios e Marion (2017, p. 248), “uma unidade geradora de caixa pode ser conceituada como o menor grupo identificável de ativos, cujas entradas de caixa sejam altamente independentes dos demais ativos. A unidade geradora de caixa pode ser um único ativo ou até mesmo um segmento operacional todo”. Se não for possível estimar o valor recuperável para o ativo individual, a entidade deve determinar o valor recuperável da unidade geradora de caixa à qual o ativo pertence (unidade geradora de caixa do ativo). O valor recuperável de um ativo individual não pode ser determinado se (i) o valor em uso do ativo não puder ser estimado como sendo próximo de seu valor justo líquido de despesas de venda (por exemplo, quando os fluxos de caixa futuros advindos do uso contínuo do ativo não puderem ser estimados como sendo insignificantes); e (ii) o ativo não gerar entradas de caixa que são em grande parte independentes daquelas provenientes de outros ativos (CPC 01). Nesses casos, o valor em uso e, portanto, o valor recuperável, somente pode ser determinado para a unidade geradora de caixa do ativo. A fim de facilitar o entendimento, vamos citar o exemplo trazido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis: Uma entidade de mineração tem uma estrada de ferro particular para dar suporte às suas atividades de mineração. Essa estrada pode ser vendida somente pelo valor de sucata e ela não gera entradas de caixa que são, em grande parte, independentes das entradas de caixa provenientes de outros ativos da mina. Não é possível estimar o valor recuperável da estrada de ferro privada porque seu valor em uso não pode ser determinado e é provavelmente diferente do valor de sucata. Portanto, a entidade deve estimar o valor 7 recuperável da unidade geradora de caixa à qual a estrada de ferro particular pertence, isto é, a mina como um todo. Vamos conhecer também os exemplos mencionados por Rios e Marion (2017): Vamos supor que, para a produção de um determinado produto, uma empresa industrial possui uma série de máquinas. Essa série forma o que se chama de linha de produção. Embora as máquinas possam ser tratas contabilmente de forma separada, por diversas razões, como depreciação, etc., o conjunto dessas máquinas, ou seja, essa linha de produção pode ser considerada uma unidade geradora de caixa, pois é esse conjunto que de fato fabrica o produto e, portanto, gera benefícios econômicos para a entidade. Nesse caso, a aplicação do teste de recuperabilidade será feita na unidade geradora de caixa. 2.2 Valor recuperável de uma unidade geradora de caixa O valor recuperável de uma unidade geradora de caixa é o maior valor entre (i) o valor justo líquido de despesas de venda e (ii) o valor em uso. O valor contábil de uma unidade geradora de caixa deve ser determinado de maneira consistente com o modo pelo qual é determinado o montante recuperável da unidade geradora de caixa. Já o valor contábil de uma unidade geradora de caixa compreende os seguintes elementos: (i) Valor contábil dos ativos que podem ser alocados em base razoável e consistente à unidade geradora de caixa e que gerarão fluxos de caixa futuros utilizados na determinação do valor em uso da referida unidade geradora de caixa; (ii) Ágio ou deságio decorrente e relativo ao ativo pertencente à unidade geradora de caixa proveniente de uma aquisição ou subscrição, cujo fundamento esteja na diferença entre o valor de mercado do referido ativo e o seu valor contábil; (iii) Não inclui o valor contábil de qualquer passivo reconhecido, exceto se o valor contábil da unidade geradora de caixa não puder ser determinado sem considerar esse passivo. (Martins et al., 2013, p. 291) 2.3 Ágio por expectativa de rentabilidade futura – goodwill Conforme explica Andrade Filho (2016, p. 692) “a palavra ágio pode ser utilizada para fazer referências a diversas realidades. Em geral, a palavra designa um plus sobre determinado preço ou valor previamente determinado”. De acordo com o art. 20 do Decreto-Lei n. 1.598/1977, o ágio por rentabilidade futura (goodwill) corresponde à diferença entre o custo de aquisição do investimento e o somatório do valor de patrimônio líquido na época da aquisição e mais ou menos-valia, que corresponde à diferença entre o valor justo dos ativos líquidos da investida. 8 O ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), reconhecido em uma combinação de negócios, é um ativo que representa benefícios econômicos futuros advindos de outros ativos adquiridos na combinação de negócios que não são identificados individualmente e não são reconhecidos separadamente (CPC 01). “Combinação de negócios é quando o adquirente obtém o controle de um negócio. Controle é o poder para governar a política financeira e operacional da empresa ou do negócio, de forma a obter benefícios de suas atividades” (Almeida, 2014, p. 5). O ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) não gera fluxos de caixa independentemente de outros ativos ou grupos de ativos, e frequentemente contribui para os fluxos de caixa de múltiplas unidades geradoras de caixa. Às vezes, o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) não pode ser alocado em base não arbitrária a unidades geradoras de caixa individuais, mas apenas a grupos de unidades geradoras de caixa. Assim, o menor nível dentro da entidade, no qual o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) é monitorado para fins gerenciais internos, às vezes,inclui algumas unidades geradoras de caixa às quais o ágio se relaciona, mas às quais não pode ser alocado. (CPC 01) O ágio resultante de uma combinação de negócios é demonstrado ao custo na data da combinação do negócio líquido da perda acumulada por redução ao valor recuperável, se houver. Para fins de teste de redução ao valor recuperável, o ágio é alocado a cada uma das unidades geradoras de caixa do grupo que irão se beneficiar das sinergias da combinação. As unidades geradoras de caixa às quais o ágio foi alocado são submetidas anualmente a teste de impairment, ou com maior frequência quando houver indícios de que uma unidade poderá apresentar redução ao valor recuperável. De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 15 – Combinação de Negócios, se o tratamento contábil inicial da combinação de negócios puder ser determinado somente provisoriamente ao término do período no qual a combinação de negócios ocorre, o adquirente deve: (a) contabilizar a combinação utilizando esses valores provisórios; e (b) reconhecer quaisquer ajustes a esses valores provisórios como resultado da conclusão do tratamento contábil inicial dispensado dentro do período de mensuração, o qual não excederá doze meses a partir da data da aquisição. 9 Em tais circunstâncias, pode não ser possível concluir a alocação inicial do ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), isto é, pode não ser possível segregar os intangíveis atrelados ao ágio adquirido em combinação de negócios, antes do término do período anual em que ocorre a combinação. Desta forma, o CPC 15 diz: Se o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) tiver sido alocado a uma unidade geradora de caixa e a entidade se desfizer de uma operação dentro dessa unidade, o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) associado à operação baixada deve ser (i) incluído no valor contábil da operação quando da determinação dos ganhos ou perdas na baixa; e (ii) mensurado com base nos valores relativos da operação baixada e na parcela da unidade geradora de caixa mantida em operação (retida), a menos que a entidade consiga demonstrar que algum outro método reflita melhor o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) associado à operação baixada. Vejamos um exemplo trazido pelo próprio Comitê de Pronunciamentos Contábeis: 2.3.1 Exemplo Uma entidade vende por R$ 100 uma operação que fazia parte de unidade geradora de caixa na qual houve alocação de ágio pago por expectativa de resultado futuro (goodwill). O ágio alocado à unidade não pode ser identificado ou associado, exceto arbitrariamente, a um grupo de ativos em nível mais baixo do que aquela unidade. O valor recuperável da parcela remanescente da unidade geradora de caixa retido é de R$ 300. Como o ágio alocado à unidade geradora de caixa não pôde ser identificado ou associado, de forma não arbitrária, a um grupo de ativos em nível mais baixo do que aquela unidade, o ágio associado à operação alienada é medido com base nos valores relativos da operação alienada e na parcela da unidade remanescente. Portanto, 25% do ágio alocado à unidade geradora de caixa são incluídos no valor contábil da operação que é vendida. TEMA 3 – CPC 01 – MENSURAÇÃO DO VALOR RECUPERÁVEL DE UGC´S O impairment test consiste em avaliar cada ativo ou unidade geradora de caixa, testando sua recuperabilidade. Sendo assim, faz-se necessário determinar o valor recuperável do ativo ou da unidade geradora de caixa. 10 O valor recuperável é o maior valor entre (i), valor justo líquido de despesas, e o (ii), valor em uso. Lembrando que o valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo. As despesas de venda ou de baixa são despesas incrementais diretamente atribuíveis à venda ou à baixa de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa. E por fim, o valor em uso é o valor presente de fluxos de caixa futuros esperados que devem advir de um ativo ou de unidade geradora de caixa. 3.1 Estimativa do valor em uso A estimativa do valor em uso de um ativo envolve: (Viceconti e Neves, 2013, p. 346/347) 1. Estimar futuras entradas e saídas de caixa decorrentes de uso contínuo do ativo e de sua baixa final, e 2. Aplicar taxa de desconto adequada a esses fluxos de caixa futuros. De acordo com o CPC 01, ao mensurar o valor em uso a entidade deve: (i) basear as projeções de fluxo de caixa em premissas razoáveis e fundamentadas que representem a melhor estimativa, por parte da administração, do conjunto (range) de condições econômicas que existirão ao longo da vida útil remanescente do ativo. Peso maior deve ser dado às evidências externas; (ii) basear as projeções de fluxo de caixa nas previsões ou nos orçamentos financeiros mais recentes aprovados pela administração que, porém, devem excluir qualquer estimativa de fluxo de caixa que se espera surgir das reestruturações futuras ou da melhoria ou aprimoramento do desempenho do ativo. As projeções baseadas nessas previsões ou orçamentos devem abranger, como regra geral, o período máximo de cinco anos, a menos que se justifique, fundamentadamente, um período mais longo; (iii) estimar as projeções de fluxo de caixa para além do período abrangido pelas previsões ou orçamentos mais recentes pela extrapolação das projeções baseadas em orçamentos ou previsões usando uma taxa de crescimento estável ou decrescente para anos subsequentes, a menos que uma taxa crescente possa ser devidamente justificada. Essa taxa de crescimento não deve exceder a taxa média de crescimento, de longo prazo, para os produtos, setores de indústria ou país ou países nos quais a entidade opera ou para o mercado no qual o ativo é utilizado, a menos que se justifique, fundamentadamente, uma taxa mais elevada. 3.2 Estimativa do valor líquido de venda As despesas com a baixa de algum bem, exceto as que já foram reconhecidas como passivo, devem ser diminuídas ao se mensurar o valor justo líquido de despesas de alienação (CPC, 2010). 11 Exemplos desses tipos de despesas são as despesas legais, tributos, despesas com a remoção do ativo e gastos diretos incrementais para deixar o ativo em condição de venda. Entretanto, as despesas com demissão de empregados e as associadas à redução ou reorganização de um negócio em seguida à baixa de um ativo não são despesas incrementais para baixa do ativo. Em alguns momentos, a baixa de um ativo poderia exigir que o comprador assumisse um passivo e somente um único valor justo líquido de despesas de venda, contemplando o ativo e o passivo imputado ao comprador, estaria disponível (CPC, 2010). Exemplo A empresa RM possui um único item em seu ativo imobilizado: uma máquina fabril. Seu valor contábil é de R$ 520.000,00, e sua depreciação acumulada é de R$ 260.000,00. Há indícios de desvalorização apontados pela administração. Diante disso, faz-se necessário a realização do teste de recuperabilidade (Rios; Marion, 2017, p. 250-251). Após a realização do teste, chegou-se ao valor justo líquido de R$ 200.000,00, e ao valor em uso de R$ 220.000,00. Desta forma, deveremos utilizar como base o maior valor entre os dois, ou seja, R$ 220.000,00. Agora, para saber se deveremos reconhecer uma perda por desvalorização, deveremos encontrar o valor contábil liquido. Para determinação do valor contábil liquido, teremos: Tabela 1 – Valor contábil Valor contábil 520.000,00 (-) Depreciação acumulada (260.000,00) = Valor contábil líquido 260.000,00 Devemos agora compará-lo com o valor recuperável encontrado no teste: Tabela 2 – Valor contábil líquido Valor contábil líquido 260.000,00 Valor recuperável 220.000,00 Diferença 40.000,00 Verificamos que o valor recuperável é menor que o valor contábil líquido e a diferença é de R$ 40.000,00. Dessa forma, devemos reconhecer uma perda por desvalorização nesse valor. 12O lançamento contábil ficará: D – Perda por desvalorização de ativo (resultado) 40.000,00 C – (-) Perda estimada por valor não recuperável (redutora do ativo) 40.000,00 TEMA 4 – CPC 01 – MENSURAÇÃO DO VALOR RECUPERÁVEL DE INVESTIMENTOS Conforme o CPC 01: Para o propósito do teste de redução ao valor recuperável, o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) adquirido em combinação de negócios deve, a partir da data da operação, ser alocado a cada uma das unidades geradoras de caixa do adquirente, ou a grupos de unidades geradoras de caixa, que devem se beneficiar das sinergias da operação, independentemente de os outros ativos ou passivos da entidade adquirida serem, ou não, atribuídos a essas unidades ou grupos de unidades. Cada unidade ou grupo de unidades ao qual o ágio (goodwill) é alocado dessa forma deve: (i) representar o menor nível dentro da entidade no qual o ágio (goodwill) é monitorado para fins gerenciais internos; e (ii) não ser maior do que um segmento operacional, conforme definido pelo item 5 do Pronunciamento Técnico CPC 22 – Informações por Segmento, antes da agregação. Segundo Rios e Marion (2017, p. 254), “O goodwill é reconhecimento em uma combinação de negócios, torna-se um ativo que gera benefícios econômicos para a entidade que provem de outros ativos adquiridos na combinação de negócios e que não são identificados individualmente e não são reconhecidos separadamente”. O ágio não gera fluxo de caixa sozinho, depende de outros ativos ou grupo de ativos, e normalmente contribui para o fluxo de caixa de diversas unidades geradoras de caixas. Se o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) tiver sido alocado a uma unidade geradora de caixa e a entidade se desfizer de uma operação dentro dessa unidade, o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) associado à operação baixada deve ser (CPC, 2010): (i) incluído no valor contábil da operação quando da determinação dos ganhos ou perdas na baixa; e (ii) mensurado com base nos valores relativos da operação baixada e na parcela da unidade geradora de caixa mantida em operação (retida), a menos que a entidade consiga demonstrar que algum outro método 13 reflita melhor o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) associado à operação baixada. Se a entidade reorganizar sua estrutura de reporte de forma que altere a composição de uma ou mais unidades geradoras de caixa às quais o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) tenha sido alocado, este ágio deve ser realocado às unidades afetadas (CPC, 2010). Essa realocação deve ser realizada utilizando-se uma abordagem de valor relativo semelhante àquela utilizada quando a entidade se desfaz de uma operação componente de uma unidade geradora de caixa, a menos que a entidade consiga demonstrar que algum outro método reflita melhor o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), associada às unidades reorganizadas (CPC, 2010). 4.1 Exemplo de acordo com o CPC 01 O ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) foi alocado originariamente à unidade geradora de caixa A. O ágio alocado a A não pode ser identificado ou associado de forma não arbitrária a um grupo de ativos em nível mais baixo do que A. A unidade A será dividida e integrada em três outras unidades geradoras de caixa, B, C e D. Como o ágio alocado a A não pode ser identificado ou associado de forma não arbitrária a um grupo de ativos em nível mais baixo que A, ele deve ser alocado proporcionalmente para as unidades B, C e D, com base nos valores relativos das três partes de A, antes que essas partes sejam integradas a B, C e D. Quando o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) se relacionar com uma unidade geradora de caixa, mas não tiver sido alocado a ela, essa unidade geradora de caixa deve ser testada para redução ao valor recuperável sempre que houver indicação de que a unidade possa estar desvalorizada, pela comparação do valor contábil da unidade, excluindo qualquer ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), com seu valor recuperável. Qualquer perda por desvalorização deve ser reconhecida. Se a unidade geradora de caixa incluir em seu valor contábil um ativo intangível que tenha vida útil indefinida, ou que ainda não esteja disponível para uso, e esse ativo somente puder ser testado para redução ao valor recuperável apenas como parte da unidade geradora de caixa. TEMA 5 – CPC 01 - REVERSÃO DE IMPAIRMENT É possível que, ao longo do período, algum novo fator possa indicar uma possível valorização do ativo, que tenha sido reduzido ao seu valor recuperável. Isso pode ocorrer também na realização de um novo teste de recuperabilidade. Nesses casos, a perda constituída anteriormente poderá ser revertida, porém limitada ao valor contábil líquido (CPC, 2010). 14 Importante ressaltar que as perdas para ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) não podem ser revertidas. Ao avaliar se há alguma indicação de que perda por desvalorização reconhecida em períodos anteriores para um ativo, exceto o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), possa ter diminuído ou possa não mais existir, a entidade deve considerar, no mínimo, as seguintes indicações: Conforme CPC 01 - Fontes externas de informação: (i) há indicações observáveis de que o valor do ativo tenha aumentado significativamente durante o período; (ii) mudanças significativas, com efeito favorável sobre a entidade, tenham ocorrido durante o período, ou ocorrerão em futuro próximo, no ambiente tecnológico, de mercado, econômico ou legal no qual ela opera ou no mercado para o qual o ativo é destinado; (i) as taxas de juros de mercado ou outras taxas de mercado de retorno sobre investimentos tenham diminuído durante o período, e essas diminuições possivelmente tenham afetado a taxa de desconto utilizada no cálculo do valor em uso do ativo e aumentado seu valor recuperável materialmente; Conforme CPC 01 - Fontes internas de informação (i) mudanças significativas, com efeito favorável sobre a entidade, tenham ocorrido durante o período, ou se espera que ocorram em futuro próximo, na extensão ou na maneira por meio da qual o ativo é utilizado ou se espera que seja utilizado. Essas mudanças incluem custos incorridos durante o período para melhorar ou aprimorar o desempenho do ativo ou para reestruturar a operação à qual o ativo pertence; (ii) há evidência disponível advinda dos relatórios internos que indica que o desempenho econômico do ativo é ou será melhor do que o esperado. Uma perda por desvalorização reconhecida em períodos anteriores para um ativo, exceto o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), deve ser revertida se, e somente se, tiver havido mudança nas estimativas utilizadas para determinar o valor recuperável do ativo desde a última perda por desvalorização que foi reconhecida (CPC, 2010). A reversão de perda por desvalorização reflete um aumento no potencial de serviços estimados de um ativo, ou pelo uso ou pela venda, desde a data em que a entidade reconheceu pela última vez uma perda por desvalorização para o ativo. Para isso, a norma contábil requer que a entidade identifique a mudança nas estimativas que causam o aumento no potencial de serviços estimados. Os exemplos de mudanças nas estimativas incluem: 1. Mudança na base do valor recuperável (exemplo, se o valor recuperável é baseado no valor justo líquido de despesas de venda ou no valor em uso); 15 2. Se o valor recuperável foi baseado no valor em uso, mudança no montante ou no período previsto de ocorrência de fluxos de caixa futuros estimados ou na taxa de desconto; ou 3. Se o valor recuperável foi baseado no valor justo líquido de despesas de venda, mudança na estimativa dos componentes do valor justo líquido de despesasde venda. O valor em uso de um ativo pode se tornar maior do que seu valor contábil simplesmente porque o valor presente de futuras entradas de caixa aumenta na medida em que essas entradas se tornam mais próximas da data atual (CPC, 2010). Entretanto, o potencial de serviços do ativo não aumentou. Portanto, a perda por desvalorização não deve ser revertida simplesmente por causa da passagem do tempo (algumas vezes reconhecida pelo termo “fluência” do desconto – unwinding of discount), mesmo que o valor recuperável do ativo se torne maior do que seu valor contábil. (CPC, 2010) 5.2 Divulgação De acordo com a Lei n. 6.404/1976, as entidades deverão elaborar e publicar suas demonstrações financeiras, conforme transcrevemos abaixo: Art. 176. Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: I. balanço patrimonial; II. demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; III. demonstração do resultado do exercício; e IV. demonstração dos fluxos de caixa; e V. se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. § 1º As demonstrações de cada exercício serão publicadas com a indicação dos valores correspondentes das demonstrações do exercício anterior. Segundo Borinelli e Pimentel (2017), divulgar é o fato de distribuir a demonstração ao público externo. O que pode ser feito por meio de publicação em jornais e revistas. Segundo as legislações comercial (que regulamenta o comércio) e fiscal (que regulamenta aspectos tributários), as empresas em geral devem elaborar demonstrações contábeis, exceto pequenos empresários e empresários rurais. No entanto, as sociedades anônimas são obrigadas, pela Lei das S/As, a publicar as 16 demonstrações, ao menos uma vez ao ano. (Borinelli, Pimentel, 2017, p. 40) Abaixo vejamos as regras de divulgação das demonstrações financeiras, de acordo com a previsão da legislação societária. Figura 1 – Regras de divulgação das demonstrações financeiras Fonte: Borinelli, Pimentel, 2017, p. 41 De acordo com CPC 01 “a entidade deve divulgar as seguintes informações para cada classe de ativos”: (i) o montante das perdas por desvalorização reconhecido no resultado do período e a linha da demonstração do resultado na qual essas perdas por desvalorização foram incluídas; (ii) o montante das reversões de perdas por desvalorização reconhecido no resultado do período e a linha da demonstração do resultado na qual essas reversões foram incluídas; (iii) o montante de perdas por desvalorização de ativos reavaliados reconhecido em outros resultados abrangentes durante o período; e (iv) o montante das reversões das perdas por desvalorização de ativos reavaliados reconhecido em outros resultados abrangentes durante o período. (CPC, 2010) Uma classe de ativos é um agrupamento de ativos de natureza e uso similares nas operações da entidade. A entidade deve divulgar as seguintes informações para cada perda por desvalorização ou reversão reconhecida durante o período para ativo individual, incluindo ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), ou para unidade geradora de caixa: (i) os eventos e as circunstâncias que levaram ao reconhecimento ou à reversão da perda por desvalorização; (ii) montante da perda por desvalorização reconhecida ou revertida; (iii) para um ativo individual: 17 (iii.a) a natureza do ativo; e (iii.b) se a entidade reporta informações por segmento. Se o valor recuperável for o valor justo líquido de despesas de alienação, a entidade deve divulgar as seguintes informações: (i) o nível da hierarquia do valor justo (ver Pronunciamento Técnico CPC 46) dentro do qual a mensuração do valor justo do ativo (unidade geradora de caixa) é classificada em sua totalidade (sem levar em conta as despesas de alienação que são observáveis); (ii) para a mensuração do valor justo classificado no nível 2 e no nível 3 da hierarquia de valor justo, a descrição da técnica de avaliação usada para mensurar o valor justo menos as despesas de alienação. Se tiver havido mudança na técnica de avaliação, a entidade deve divulgar a mudança ocorrida e os motivos para fazê-la; e (iii) para a mensuração do valor justo classificado no nível 2 e no nível 3 da hierarquia de valor justo, cada pressuposto-chave em que a gerência baseou a sua determinação do valor justo menos as despesas de alienação. Pressupostos-chave são aqueles para os quais (unidade geradora de caixa) o valor recuperável do ativo for mais sensível. (CPC, 2010) A entidade também deve divulgar a taxa de desconto utilizada na mensuração atual e anterior, se o valor justo menos as despesas de alienação for mensurada usando a técnica de valor presente. TROCANDO IDEIAS As perdas por valor recuperável (impairment) devem ser descritas em notas divulgadas nas notas explicativas das entidades, conforme determina o Pronunciamento Técnico. Assim, acesso o link a seguir, localize, na Demonstração Financeira, o impairment e a respectiva nota explicativa, indicando no fórum as informações que foram possíveis extrair desta divulgação. NA PRÁTICA A empresa UNT produz apenas um produto denominado de Produto X. Mediante estudo do CPC 01, verificou-se a possibilidade dos ativos apresentarem indícios de desvalorização. Tais indícios foram observados por meio de fatores internos e externos, conforme elencados a seguir (adaptado de Rios e Marion, 2017): • Fatores externos: ✓ Novas tecnologias surgiram no mercado para fabricação do mesmo produto; 18 ✓ Forte entrada de concorrentes no mercado no último ano, o que acarretou redução no preço do praticado no mercado; ✓ Elevado aumento nos preços de energia elétrica. • Fatores Internos: ✓ As máquinas adquiridas estão obsoletas em razão de novas tecnologias desenvolvidas; ✓ Em função do excesso de produção de anos anteriores, as máquinas sofreram desgastes mais rapidamente. A empresa tem apenas uma linha de produção formada por cinco máquinas que realizam funções diferentes, mas que trabalham em conjunto para a fabricação do produto X, sendo elas: 1. Máquina de preparação de matéria-prima; 2. Máquina de transformação de matéria-prima; 3. Máquina estruturadora de embalagem; 4. Máquina de corte; 5. Máquina de empacotamento. O conjunto dessas máquinas é que fabrica o produto X, ou seja, isoladamente elas não produziriam nada. Dessa forma, é esse conjunto que gera benefícios econômicos à empresa. Portanto, podemos dizer que temos uma unidade geradora de caixa formada por cinco máquinas da linha de produção. Para determinar o valor contábil da UGC, serão consideradas as seguintes informações: 1. Os ativos da unidade geradora de caixa foram adquiridos simultaneamente e começaram a operar em janeiro de X1; 2. Neste período em que estamos, final de X3, os ativos estarão depreciados por três anos; 3. A vida útil total da máquina é de 20 anos; 4. O valor residual dos ativos é irrelevante. Assim, a situação contábil dos ativos é: 19 Quadro 1 – Situação contábil dos ativos Ativo Custo (R$) Depreciação (R$) Valor contábil líquido (R$) Máquina de preparação 100.000 (15.000) 85.000 Máquina de transformação 30.000 (4.500) 25.500 Máquina estruturadora 250.000 (37.500) 212.500 Máquina de corte 900.000 (135.000) 765.000 Máquina de empacotamento 130.000 (19.500) 110.500 Totais 1.410.000 (211.500) 1.198.500 Dessa forma, o valor contábil líquido da unidade geradora de caixa da Empresa UNT é R$ 1.198.500. É este valor que deverá ser testado, ou seja, deve-se verificar se ele é recuperável quer seja pela venda, quer seja pelo uso. Resolução Iniciamos o teste, lembrando que deveremos encontrar dois valores: 1. Valor justolíquido de despesas; e 2. Valor em uso Valor justo líquido: Neste caso, foi realizada uma pesquisa de mercado pela Empresa UNT e esta chegou a duas possibilidades: Possibilidade 1: vender ativos de forma separada Os valores que poderiam ser obtidos caso as máquinas fossem vendidas separadamente seriam os seguintes: Quadro 2 – Venda de ativos de forma separada Ativo Valor líquido de venda (RS) Máquina de preparação 85.000 Máquina de transformação 11.500 Máquina estruturadora 127.815 Máquina de corte 512.800 Máquina de empacotamento 58.615 Totais 795.730 20 Possibilidade 2: vender os ativos de forma conjunta Da mesma forma, a Empresa UNT também realizou uma pesquisa para venda da linha de produção toda. O valor obtido foi de R$ 835.000. Em ambos os casos, já foram descontados os valores de despesas para realização da venda os ativos. Verifica-se que o valor para vender os ativos de forma conjunta é maior do que o valor para vende-los de forma separada. Portanto, usaremos o maior valor como valor justo líquido de despesas. Agora será necessário determinar o valor em uso: A empresa UNT utilizará um dos métodos mais utilizados para estimar fluxos de caixa líquidos: o método do fluxo de caixa descontado. Para isso, precisará analisar: 1. Magnitude dos fluxos de caixa (fluxos esperados); 2. Momentos em que os fluxos acontecem (para quando estão previstos); 3. Risco associado ao fluxo de caixa (taxa de desconto). No caso das máquinas da linha de produção, a vida útil remanescente é de 17 anos. Portanto, espera-se que ela gere 17 anos de fluxo de caixa. As incertezas são muito grandes e podem prejudicar a avaliação. Então, a empresa UNT decide montar os fluxos de caixa para cinco anos. Para isso, precisará: 1. Realizar uma estimativa de volumes e preços futuros para os próximos cinco anos; 2. Planejar os custos diretos e indiretos, atribuíveis à produção para os próximos cinco anos; 3. A taxa de desconto escolhida foi de 12% ao ano. O fluxo de caixa da empresa UNT ficará assim: 21 Tabela 3 – Fluxo de caixa Ano Entradas Saídas Líquido Desconto Fluxo líquido a valor presente 1 686.000,00 417.500,00 268.500,00 0,8929 239.743,65 2 698.150,00 448.000,00 250.150,00 0,7972 199.419,58 3 710.603,75 456.415,00 254.188,75 0,7118 180.931,55 4 723.638,90 464.050,00 259.588,90 0,6355 164.797,16 5 736.815,60 472.564,00 264.251,60 0,5674 149.936,36 Total 934.828,30 Agora, já temos o valor líquido de despesas e o valor em uso, vejamos: • Valor justo líquido de despesa R$ 835.000,00 • Valor em uso R$ 934.828,30 Para finalizar o teste de recuperabilidade, deveremos determinar o valor recuperável da unidade geradora de caixa, que é o maior valor entre o valor justo líquido e o valor em uso (neste caso, o valor em uso), com o valor contábil líquido. Temos então: Tabela 4 – Valor contábil líquido Valor Contábil líquido 1.198.500,00 Valor recuperável 934.828,30 Diferença 263.671,70 Há uma diferença de R$ 263.671,70 entre o valor da unidade geradora de caixa registrado no ativo da empresa e o seu valor recuperável. Dessa forma, faz-se necessário promover uma redução, por meio do reconhecimento de uma perda no valor dos ativos. O lançamento contábil ficará: D Perda por desvalorização de ativo (resultado) 263.671,70 C (-) Perda estimada por valor não recuperável (redutora do ativo) 263.671,70 22 FINALIZANDO Prezados alunos, nesta aula conhecemos o CPC 01, que trata da redução do valor do ativo, quando constatado que seu valor líquido escriturado é superior ao seu valor recuperável, quando da utilização e/ou venda do ativo. A verificação do impairment é bastante importante e obrigatória, quando falamos de Práticas Contábeis. O intuito de toda norma contábil internacional é a representação do ativo da forma “mais real” que garanta transparência aos usuários da informação contábil. Não deixem de participar do Fórum e resolver a atividade proposta, para conhecer um pouco mais na prática como é realizado o teste de recuperabilidade assim como ele é apresentado nas Demonstrações Contábeis. 23 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M.C. Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC. São Paulo: Altas, 2014. ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL. Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Diário Oficial da União, Brasília-DF, 17 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 4 jun. 2018. BRASIL. Decreto-Lei 1.598 de 26 de dezembro de 1977. Diário Oficial da União, Brasília-DF, 27 dez. 1977. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1598.htm>. Acesso em: 4 jun. 2018. BRASIL. Lei 12.973 de 13 de maio de 2014. Diário Oficial da União, Brasília- DF, 14. Maio 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12973.htm>. Acesso em: 4 jun. 2018. BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 01 – Redução ao valor recuperável de ativos. Disponível em: <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/27_CPC_01_R1_rev%2012. _____. CPC 15 – Combinação de negócios. Disponível em: <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/235_CPC_15_R1_rev%2012 .pdf>. Acesso em: 4 jun. 2018. FERRARI, E.L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1.000 questões. 12. ed. rev. Rio de Janeiro: Impetrus, 2012. MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. PADOVEZE, C. L. Contabilidade geral. Curitiba: InterSaberes, 2016. 24 RIOS, R. P.; MARION, J. C. Contabilidade avançada: de acordo com as normas brasileiras de contabilidade (NBC) e normas internacionais de contabilidade (IFRS). 1. ed. São Paulo: Atlas, 2017. ROSTÁS, R. Gerdau continua com prejuízo e perde receita em 2016. Valor Econômico, 22 fev. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/4877724/gerdau-continua-com-prejuizo-e- perde-receita-em-2016>. Acesso em: 2 jun. 2018. VICECONTI, P.; NEVES, S. Contabilidade avançada e análise das demonstrações financeiras. 17. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2013. CONTABILIDADE SOCIETÁRIA AULA 2 Profª Paolla Hauser CONVERSA INICIAL Olá, aluno! Na aula de hoje, nossa conversa será sobre o CPC 20, que trata de Custos de Empréstimos. Aqui, não vamos falar somente da provisão do valor devido em empréstimos no passivo circulante ou não circulante. Vamos tratar, também, de empréstimos para fins de aquisição ou fabricação de ativos que levam tempo para fabricação ou transformação ou, ainda, de empréstimos em que se tenha a necessidade de adquirir por meio de capitalização de terceiros, como instituição financeira, por exemplo. Conforme o CPC 20, “custos de empréstimos que são diretamente atribuíveis à aquisição, construção ou produção de um ativo qualificável formam parte do custo de tal ativo. Outros custos de empréstimos devem ser reconhecidos como despesa” (CPC, 2011a, p. 1). Vamos, ainda, aprender a identificar o valor presente do empréstimo ou financiamento para fins de segregação contábil, conforme indicação das normas internacionais de contabilidade, e conhecer sobre as “novas garantias”, denominadas covenants. Esta é uma aula bastante teórica e densa, por isso, leia o material com bastante atenção, assista a todas as aulas e fique atento às atividades propostas. CONTEXTUALIZANDO Muitas empresas realizam operações de empréstimos em instituições financeiras a fim de garantir, principalmente, seu fluxo de caixa. Alguns empréstimos são concedidos mediante um plano de negócios empresarial.Além disso, a instituição financeira faz uma pesquisa do histórico da entidade solicitante para, então, disponibilizar ou não o valor. Apesar de existirem diversas instituições financeiras, e algumas somente trabalharem com empréstimo, tal operação envolve riscos, riscos de não quitação e até mesmo de falência da entidade em que o montante está sendo “investido”. Para que os bancos possam ter seus riscos reduzidos, muitos empréstimos são concedidos com garantias, como imóveis e outros bens. 3 Atualmente, é comum que grandes empresas realizem empréstimos com garantia denominada de covenants. O trecho a seguir, retirado do portal do Valor Econômico, demonstra como as garantias podem interferir nas operações das empresas que as contratam com cláusulas de covenants. No quarto trimestre de 2017, a Fibria investiu R$ 964 milhões, uma queda de 45% ante o mesmo período de 2016, quando foram investidos R$ 1,748 bilhão. Se considerado todo o ano de 2017, os aportes somaram R$ 4,670 bilhões, uma queda anual de 24%, de acordo com o informe de resultados da companhia, divulgado. [...] A Fibria lembra que, nos últimos três meses do ano passado, fez antecipação das negociações para equalizar e alongar o cronograma de amortização da dívida e excluir os “covenants” (cláusulas contratuais restritivas ao tomador de empréstimos) financeiros. Além disso, concluiu uma emissão de US$ 600 milhões no mercado internacional em título de dívida (bond 2025) e um contrato de pré- pagamento de exportação de US$ 700 milhões. Com parte destes recursos, a companhia liquidou US$ 1,487 bilhão de contratos de pré- pagamento de exportação, que possuíam “covenants” financeiros (Gutierrez, 2018). O covenants são formas de garantia relacionadas com contratos de empréstimo e financiamento, criados para proteger o credor sobre o montante disponibilizado. Essas garantias estabelecem algumas condições, como manter certo índice de liquidez, que, se não forem cumpridas, permitem ao credor antecipar a quitação do empréstimo ou financiamento. TEMA 1 – ASPECTOS NORMATIVOS E CONCEITUAIS DE EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS De acordo com Martins et al. (2013, p. 367), “as operações de empréstimos e financiamentos estão atreladas às necessidades de caixa das empresas para a manutenção ou expansão de suas atividades”. Representam dívidas contraídas pela empresa em instituições financeiras ou em outras entidades no país ou no exterior. Basicamente, os empréstimos e financiamentos estão acobertados por contratos que estipulam as características contratadas, como valor total, forma de liberação dos recursos, condições de pagamento, taxa de juros, garantias e outras. Os empréstimos e financiamentos são compostos das seguintes contas para passivo, segundo (Martins et al., 2013): a) Passivo circulante 4 Parcela a curto prazo de empréstimos e financiamentos. Credores por financiamentos. Financiamentos bancários a curto prazo. Desconto de duplicatas / desconto de notas promissórias. Títulos a pagar. Custos a amortizar (conta devedora). Encargos financeiros a transcorrer (conta devedora). Juros a pagar de empréstimos e financiamentos. b) Passivo não circulante Empréstimo e financiamento de longo prazo. Em moeda nacional / em moeda estrangeira. Credores por financiamentos. Títulos a pagar. Custos a amortizar (conta devedora). Encargos financeiros a transcorrer (conta devedora). Juros a pagar de empréstimos e financiamentos. 1.1 Modalidades Para Ferrari (2012, p. 512-513), “empréstimos representam operações financeiras sem comprovação de aplicação de recursos, isto é, obtenção de dinheiro sem o compromisso de destinação específica”. Já financiamentos representam operações financeiras direcionadas a recursos específicos aplicados no ativo das empresas, como financiamento para aquisição de um ativo imobilizado. Arrendamento mercantil é um acordo pelo qual o arrendador transmite ao arrendatário, em troca de um pagamento ou série de pagamentos, o direito de usar um ativo por um período de tempo acordado. Com relação a arrendamento, o CPC 06 trata desse modelo de empréstimo, sendo que, para tal, há duas modalidades: o arrendamento mercantil operacional e o financeiro. Veja as diferenças entre eles, conforme determina o referido CPC: O arrendamento é classificado como arrendamento financeiro se transferir substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à propriedade do ativo subjacente. O arrendamento é classificado como arrendamento operacional se não transferir substancialmente todos os 5 riscos e benefícios inerentes à propriedade do ativo subjacente (CPC, 2017, p. 11). Martins et al. (2013, p. 255) classifica o arrendamento financeiro como a modalidade de arrendamento em que existe a transferência substancial dos riscos e benefícios para o arrendatário. O item 63 do CPC 06 traz as situações em que o arrendamento será classificado como financeiro: (a) o arrendamento transfere a propriedade do ativo subjacente ao arrendatário ao final do prazo do arrendamento; (b) o arrendatário tem a opção de comprar o ativo subjacente a preço que se espera que seja suficientemente mais baixo do que o valor justo na data em que a opção se tornar exercível, para que seja razoavelmente certo, na data de celebração do arrendamento, que a opção será exercida; (c) o prazo do arrendamento é equivalente à maior parte da vida econômica do ativo subjacente, mesmo se a propriedade não for transferida; (d) na data da celebração do arrendamento, o valor presente dos recebimentos do arrendamento equivale substancialmente à totalidade do valor justo do ativo subjacente; e (e) o ativo subjacente é de natureza tão especializada que somente o arrendatário pode usá-lo sem modificações importantes (CPC, 2017, p. 11-12). O item 82 do CPC 06 dispõe que o “arrendador deve reconhecer os custos, incluindo a depreciação, incorridos na realização da receita de arrendamento como despesa” (CPC, 2017, p. 15). Podemos dizer, de forma geral, que o arrendamento financeiro tem características de financiamento, enquanto o arrendamento operacional é parecido com uma locação. Para Adriano (2018, p. 375) o arrendamento mercantil financeiro “transfere substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à propriedade”. Já o arrendamento mercantil operacional não transfere substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à propriedade. Assim, a forma de contabilização de um arrendamento mercantil operacional poderia ser: D – Contraprestação de arrendamento mercantil (Despesa). C – Disponibilidade (AC). Tal lançamento é realizando mensalmente, de acordo com o valor da parcela paga. Já no arrendamento operacional financeiro, o registro fica: 6 D – Bem do Imobilizado (ANC) – pelo valor total do contrato. C – Financiamento / leasing a pagar (PC / PNC). D – Encargos financeiros a apropriar (conta redutora) (PC / PNC). 1.2 Classificação Todos os empréstimos firmados pela entidade são segregados em parcelas circulantes e não circulantes. A Lei n. 6.404/1976 traz esse entendimento no art. 180, transcrito a seguir: As obrigações da companhia, inclusive financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificadas no passivo circulante, quando se vencerem no exercício seguinte, e no passivo não circulante, se tiverem vencimento em prazo maior, observado o disposto no parágrafo único do art. 179 desta Lei (Brasil, 1976). Ainda conforme regula o CPC 26, O passivo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos seguintes critérios: (a) Espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade; (b) Está mantido essencialmente para a finalidade de ser negociado; (c) Deve ser liquidado no período de até doze meses após a data do balanço[...]. Todos os outros passivos devem ser classificados como não circulantes (CPC, 2011b, p. 21). 1.3 Critérios de avaliação Os empréstimos são contabilizados por ocasião de seu reconhecimento e avaliados pelas quantias efetivamente devidas na data do encerramento do exercício. “As obrigações, inclusive as decorrentes de operações de financiamento na forma de arrendamento mercantil, os encargos e os riscos, conhecidos ou calculáveis, e os resultados não realizados serão mantidos pelo valor atualizado e ajustados a valor presente” (Brasil, 1976). Os empréstimos são reconhecidos inicialmente pelo valor justo, líquido dos custos incorridos na transação, e são demonstrados pelo custo amortizado. Custos incorridos são equivalentes aos juros cobrados nas operações de empréstimos. A utilização do custo amortizado faz com que os encargos financeiros reflitam o efetivo custo do instrumento financeiro e não somente a taxa de juros contratual do instrumento, ou seja, incluem-se neles os juros e os custos de transação da captação, bem como prêmios recebidos, ágios, deságios, descontos, atualização monetária e outros. (CPC, 2010b, p. 5). 7 Os custos de transação incorridos (juros) na captação de empréstimos devem ser contabilizados como redução do valor justo inicialmente reconhecido do instrumento financeiro emitido, para evidenciação do valor líquido recebido. (CPC, 2010b). TEMA 2 – CPC 20: RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO “O IAS 23 recomenda que os custos dos empréstimos tomados sejam registrados como gastos do período no momento em que ocorram, independentemente do uso dado aos empréstimos” (Brasil, 2006). Contudo, prevê tratamento alternativo que prevê a capitalização de custos de empréstimos que sejam diretamente vinculados à aquisição, construção ou produção de um ativo qualificado. Os referidos gastos devem ser registrados como parte do custo desse ativo. Capitalização é quando o recurso é aplicado em um ativo, a fim de gerar benefícios econômicos futuros, sendo que sobre tais recursos há incidência de taxa de juros. Por exemplo, se ao realizar um empréstimo em uma instituição financeira, no valor total de R$ 50.000,00 tendo incidência de juros, que totalizará R$ 5.000,00, na escrituração contábil, a empresa poderá registrar o valor do passivo e os juros de forma segregada, o que é recomendado. No caso de a entidade utilizar tal empréstimo para adquirir uma máquina, essa máquina será registrada no ativo, considerando o valor pago por ela, por exemplo, os R$ 50.000,00 emprestados, assim como deverá incluir no custo os juros cobrados desse empréstimo, dessa forma, o custo total de aquisição da máquina será de R$ 55.000,00. Precisamos ainda definir outros conceitos antes de prosseguirmos com a aula. Conforme dispõe o CPC 20: “Custos de empréstimos são juros e outros custos que a entidade incorre em conexão com o empréstimo de recursos” (CPC, 2011a, p. 2). São custos de empréstimos: (i) encargos financeiros calculados com base no método da taxa efetiva de juros, (ii) encargos financeiros relativos aos arrendamentos mercantis financeiros reconhecidos; e (iii) variações cambiais decorrentes de empréstimos em moeda estrangeira, na extensão em que elas sejam consideradas como ajuste, para mais ou para menos, do custo dos juros. 8 Ativo qualificável é um ativo que, necessariamente, demanda um período de tempo substancial para ficar pronto para seu uso ou venda pretendidos. [...] Dependendo das circunstâncias, um ou mais dos seguintes ativos podem ser considerados ativos qualificáveis: (a) estoques; (b) plantas industriais para manufatura; (c) usinas de geração de energia; (d) ativos intangíveis; (e) propriedades para investimentos; (f) plantas portadoras. Ativos financeiros e estoques que são manufaturados, ou de outro modo produzidos, ao longo de um curto período de tempo, não são ativos qualificáveis. Ativos que estão prontos para seu uso ou venda pretendidos quando adquiridos não são ativos qualificáveis. (CPC, 2011a, p. 2). A norma do IAS 23 define como ativo qualificável aquele que, necessariamente, exige longo tempo de maturação para uso ou para venda. Como exemplo, podemos mencionar os estoques que requeiram um período substancial de tempo para se colocarem em condições de uso ou de venda, as instalações industriais, as instalações de geração de energia e as propriedades de investimento. Podemos ainda destacar que ativos qualificáveis são aqueles que demandam um período de tempo substancial para ficarem prontos para o uso ou para a venda, como a construção de uma hidroelétrica, de um prédio ou de um estádio de futebol (Adriano, 2018). Excluem-se desse conceito os estoques produzidos rotineiramente ou em larga escala durante um curto período de tempo (Brasil, 2006). De acordo com o CPC 16, o valor de custos do estoque compreende todos os custos de aquisição e de transformação, bem como outros custos incorridos para trazer os estoques à sua condição e local atuais (CPC, 2009a). Para Padoveze (2016, p. 128), “a mensuração do estoque de materiais e de mercadorias é feita pelo custo de aquisição somando todos os gastos necessários até a estocagem e a disponibilização dos itens para consumo ou revenda”. Para identificação do custo, devem ser incluídos o preço de compra, os impostos de importação e outros tributos (exceto os recuperáveis junto ao Fisco), os custos de transporte, seguro, manuseio e outros diretamente atribuíveis à aquisição de produtos acabados, materiais e serviços. Descontos comerciais, abatimentos e outros itens semelhantes devem ser deduzidos na determinação do custo de aquisição do estoque. 9 De acordo com Martins et al. (2013), a entidade deve capitalizar os custos de empréstimo quando forem diretamente atribuíveis à aquisição ou à produção da mercadoria destinada ao estoque. Para fins de determinação de ativo intangível, o CPC 04 dispõe que é o custo de ativo intangível gerado internamente que se qualifica para o reconhecimento contábil nos termos do Pronunciamento (CPC, 2010a). O CPC 28 aponta que o custo de uma propriedade para investimento comprada compreende o seu preço de compra e qualquer dispêndio diretamente atribuível. Os dispêndios diretamente atribuíveis incluem, por exemplo, as remunerações profissionais de serviços legais, impostos de transferência de propriedade e outros custos de transação (CPC, 2009b). Para fins de reconhecimento de ativo imobilizado, o custo compreende: (i) seu preço de aquisição, acrescido de impostos de importação e impostos não recuperáveis sobre a compra, depois de deduzidos os descontos comerciais e abatimentos; (ii) quaisquer custos diretamente atribuíveis para colocar o ativo no local e condição necessárias para ser capaz de funcionar da forma pretendida pela administração; (iii) a estimativa inicial dos custos de desmontagem e remoção do item e de restauração do local (sítio) no qual ele está localizado. Os conceitos dos ativos são importantes para entendermos o que é considerado, para fins contábeis, como ativo qualificável para reconhecimento dos encargos financeiros cobrados sobre empréstimos, a fim de capitalizar o ativo dentro da entidade. Martins et al. (2013, p. 306) diz que “os encargos financeiros devem ter o mesmo tratamento das variações monetárias quanto a sua contrapartida, ou seja, são contabilizados como despesas, exceto no caso dos incorridos para financiamento de ativos qualificáveis”. O CPC 20 determina que “a entidade deve capitalizar os custos de empréstimos que são diretamente atribuíveis à aquisição, construção ou produção de ativo qualificável como parte do custo do ativo. A entidade deve reconhecer os outros custos de empréstimos como despesa no período em que são incorridos” (CPC, 2011a, p. 3). Ressalta-se que o CPC 08 determina que “o valor a ser capitalizadodeve corresponder aos encargos financeiros totais, e não apenas às despesas financeiras” (CPC, 2010, p. 5), ou seja, além dos juros, também devem ser 10 capitalizados todos os gastos incrementais originados da transação de captação de recursos diretamente atribuíveis ao financiamento do ativo. “A alocação desses encargos nos resultados deve ser feita em consonância com os prazos de depreciação, amortização, exaustão ou baixa dos ativos financiados” (Brasil, 1976). TEMA 3 – AMORTIZAÇÃO A amortização do empréstimo é o processo em que a dívida é reduzida conforme as premissas do contrato, suprimindo assim a dívida mediante pagamentos periódicos. Quando tratamos de empréstimos, devemos considerar que, para escrituração da dívida, há de se conhecer os juros aplicados para segregação contábil e consequente amortização do saldo. Dessa forma, a dívida é trazida a valor presente, caso não esteja, e os juros devidos são registrados contabilmente em conta redutora do passivo, como juros a transcorrer ou juros a apropriar. O IAS 23 define que os custos de empréstimos obtidos incluem Juros sobre contas bancárias negativas e sobre empréstimos obtidos a curto e longo prazos. Amortização de descontos, prêmios ou custos extras relacionados a empréstimos obtidos. Encargos relacionados a leasing financeiro. Diferenças de câmbio oriundas de empréstimos obtidos em moeda estrangeira, caracterizadas como ajustes dos juros. 3.1 Ajuste a valor presente Conforme determina o inciso III do art. 184 da Lei n. 6.404/1976, as obrigações, os encargos e os riscos classificados no passivo não circulante serão ajustados ao seu valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante. Ferrari (2012) menciona o CPC 12, que trata do ajuste a valor presente e resume os itens do Pronunciamento da seguinte forma: Os elementos integrantes do ativo e do passivo decorrentes de operações de longo prazo, ou de curto prazo quando houver efeito relevante, devem ser ajustados a valor presente. 11 A mensuração contábil do valor presente é, em geral, aplicada no reconhecimento inicial dos ativos e passivos. Ajustar um ativo ou passivo a valor presente é estimar o valor do item como se fosse recebido ou quitado na data do encerramento do exercício. Por exemplo, se a entidade possui um empréstimo registrado em seu passivo, sem dividi-lo entre valor emprestado e juros decorrentes dele, terá de, no encerramento do balanço, realizar um ajuste do valor total devido, como se este fosse quitado naquela data, dividindo, assim, o valor dos juros futuros. 3.2 Juros a transcorrer De acordo com Martins et al. (2013), existem determinados empréstimos em que os encargos financeiros são preestabelecidos em valor prefixado, sendo que a empresa contratante recebe somente o valor líquido do empréstimo. “Nesse caso, a empresa deve registrar o valor recebido na conta Bancos e o empréstimo total na conta de Passivo; os encargos financeiros a transcorrer devem ser debitados em uma conta redutora, denominada Encargos Financeiros a Transcorrer” (Martins et al., 2013, p. 306). Como regra geral, os juros a transcorrer são apropriados mensalmente para despesa financeira. Nos casos em que o empréstimo é utilizado para aquisição de ativos qualificáveis, conforme conceitos do CPC 20, as parcelas dos juros que forem sendo apropriadas mensalmente não serão registradas como despesa, e sim na conta do ativo a que ele corresponde. Observe, agora, um exemplo numérico de empréstimo contraído. Posteriormente, realizaremos os lançamentos contábeis. O cálculo apresentado segue o modelo de amortização pela tabela price (parcelas iguais): Tabela 3.1 – Exemplo numérico de empréstimo contraído Empréstimo 200.000,00 TAC - Valor total 200.000,00 Taxa a.m. 2,00% Taxa a.a. 26,82% Meses 24 Valor parcela R$10.574,22 Data da liberação 31/01/2015 12 Vencimento final 31/01/2017 Parcela Valor devido Juros Amortização Parcela 1 28/02/2015 200.000,00 R$4.000,00 R$6.574,22 R$10.574,22 2 31/03/2015 193.425,78 R$3.868,52 R$6.705,70 R$10.574,22 3 30/04/2015 186.720,08 R$3.734,40 R$6.839,82 R$10.574,22 4 31/05/2015 179.880,26 R$3.597,61 R$6.976,61 R$10.574,22 5 30/06/2015 172.903,64 R$3.458,07 R$7.116,15 R$10.574,22 6 31/07/2015 165.787,50 R$3.315,75 R$7.258,47 R$10.574,22 7 31/08/2015 158.529,03 R$3.170,58 R$7.403,64 R$10.574,22 8 30/09/2015 151.125,39 R$3.022,51 R$7.551,71 R$10.574,22 9 31/10/2015 143.573,68 R$2.871,47 R$7.702,75 R$10.574,22 10 30/11/2015 135.870,93 R$2.717,42 R$7.856,80 R$10.574,22 11 31/12/2015 128.014,13 R$2.560,28 R$8.013,94 R$10.574,22 12 31/01/2016 120.000,19 R$2.400,00 R$8.174,22 R$10.574,22 13 29/02/2016 111.825,98 R$2.236,52 R$8.337,70 R$10.574,22 14 31/03/2016 103.488,28 R$2.069,77 R$8.504,45 R$10.574,22 15 30/04/2016 94.983,83 R$1.899,68 R$8.674,54 R$10.574,22 16 31/05/2016 86.309,28 R$1.726,19 R$8.848,03 R$10.574,22 17 30/06/2016 77.461,25 R$1.549,22 R$9.024,99 R$10.574,22 18 31/07/2016 68.436,25 R$1.368,73 R$9.205,49 R$10.574,22 19 31/08/2016 59.230,76 R$1.184,62 R$9.389,60 R$10.574,22 20 30/09/2016 49.841,16 R$996,82 R$9.577,40 R$10.574,22 21 31/10/2016 40.263,76 R$805,28 R$9.768,94 R$10.574,22 22 30/11/2016 30.494,81 R$609,90 R$9.964,32 R$10.574,22 23 31/12/2016 20.530,49 R$410,61 R$10.163,61 R$10.574,22 24 31/01/2017 10.366,88 R$207,34 R$10.366,88 R$10.574,22 Totais R$53.781,27 R$200.000,00 R$253.781,27 Note que a amortização é menor que o valor da parcela, uma vez que parte dela corresponde aos juros. Perceba, ainda, que o foco desta aula é o entendimento quanto à escrituração do valor dos juros sobre o empréstimo. Dessa forma, considere somente os valores apresentados na tabela acima, e não a forma de apuração deles. Agora, vamos ver o lançamento contábil, que fica da seguinte forma: a) Na aquisição do empréstimo: D – Banco conta movimento (AC): R$ 200.000,00 C – Empréstimo a pagar – (PC / PNC): R$ 200.000,00 A segregação entre curto e longo prazos deve ser alterada em cada encerramento de exercício e a contabilização entre curto e longo prazos ocorrerá com base no fechamento de cada exercício. b) No reconhecimento dos juros: 13 D – Juros a transcorrer – (PC / PNC) redutora da conta de empréstimos: R$ 53.781,27. C – Empréstimo a pagar – (PC / PNC): R$ 53.781,27. c) Pelo pagamento do empréstimo: D – Empréstimo a pagar – (PC) no curto prazo: R$ 10.574,22. C – Banco conta Movimento – (AC): R$ 10.574,22. Na apropriação dos juros, no pagamento de cada parcela, pode haver dois lançamentos. Quando se tratar de empréstimo para aquisição de um ativo, conforme CPC 20, mensalmente a escrituração será: D – Ativo qualificável (conforme aquisição); D – Juros a transcorrer – (PC) redutora da conta de empréstimos. Quando se tratar de empréstimo para capital de giro: D – Despesa financeira (Resultado do exercício); D – Juros a transcorrer – (PC) redutora da conta de empréstimos. TEMA 4 – PERÍODO DE CAPITALIZAÇÃO, SUSPENSÃO E CESSAÇÃO DA CAPITALIZAÇÃO 4.1 Período de capitalização De acordo com o CPC 20, o início da capitalização dos custos de empréstimos como parte do custo de um ativo qualificável deve ocorrer na data de início: “A data de início para a capitalização é a primeira data em que a entidade satisfaz todas as seguintes condições: (i) incorre em gastos com o ativo; (ii) incorre em custos de empréstimos; e (iii) inicia as atividades que são necessárias ao preparo do ativo para seu uso ou venda pretendidos” (CPC, 2011a, p. 4). Os gastos com o ativo qualificável incluem somente aqueles que resultam em pagamento em caixa, transferências de outrosativos ou quando passivos onerosos forem assumidos. Ainda conforme descrito no referido CPC, “as atividades necessárias ao preparo do ativo para seu uso ou para venda pretendidos compreendem mais do que a construção física do ativo” (CPC, 2011a, p. 4-5). 14 Tais atividades incluem trabalho técnico e administrativo anterior ao início da construção física, como atividades associadas à obtenção de permissões para o início da construção física, por exemplo. Entretanto, tais atividades excluem a de manter um ativo quando nenhuma produção ou nenhum desenvolvimento que altere as condições do ativo estiverem sendo efetuados. Por exemplo, custos de empréstimos incorridos enquanto um terreno está em preparação devem ser capitalizados durante o período em que tais atividades relacionadas ao desenvolvimento estiverem sendo executadas. Entretanto, custos de empréstimos incorridos enquanto o terreno adquirido para fins de construção for mantido sem nenhuma atividade de preparação associada não se qualificam para capitalização (CPC, 2011a, p. 5). 4.2 Suspensão O CPC dispõe que “a entidade deve suspender a capitalização dos custos de empréstimos durante períodos extensos em que suspender as atividades de desenvolvimento de um ativo qualificável” (CPC, 2011a, p. 5). Normalmente, não suspende a capitalização dos custos de empréstimos durante um período em que exista trabalho técnico e administrativo sendo executado. A entidade também não deve suspender a capitalização de custos de empréstimos quando um atraso temporário é parte necessária do processo de concluir o ativo para seu uso ou venda pretendidos. Por exemplo, a capitalização deve continuar ao longo do período em que o nível elevado das águas atrasar a construção de uma ponte, se tal nível elevado das águas for comum durante o período de construção na região geográfica envolvida (CPC, 2011a, p. 5). 4.3 Cessação da capitalização A entidade deve cessar a capitalização dos custos de empréstimos quando todas as atividades necessárias ao preparo do ativo qualificável para seu uso ou venda pretendidos estiverem concluídas. Um ativo normalmente está pronto para seu uso ou venda quando sua construção física estiver finalizada, mesmo que o trabalho administrativo de rotina possa ainda continuar. Quando a entidade completa a construção de um ativo qualificável em partes e cada parte pode ser utilizada enquanto a construção de outras partes continua, a entidade deve cessar a capitalização dos custos de empréstimos quando completar substancialmente todas as atividades necessárias ao preparo dessa parte para seu uso ou venda pretendidos. Um centro de negócios compreendendo diversos edifícios, cada um deles podendo ser utilizado individualmente, é um exemplo de ativo qualificável no qual cada parte está em condições de 15 ser utilizada enquanto a construção das outras partes continua. Um exemplo de ativo qualificável que precisa estar completo antes de qualquer parte poder ser utilizada é uma planta industrial que envolve diversos processos que são executados sequencialmente nas diversas partes da planta no mesmo local, tal como uma siderúrgica (CPC, 2011a, p. 5). 4.4 Divulgação A entidade deve divulgar (i) o total de custos de empréstimos capitalizados durante o período e (ii) a taxa de capitalização utilizada na determinação do montante dos custos de empréstimos elegíveis à capitalização. Lembre-se de que divulgação é o ato de tornar pública a demonstração financeira, conforme estudamos na aula passada. TEMA 5 – COVENANTS “As garantias bancárias básicas utilizadas para colaborações financeiras de longo prazo são, normalmente, as garantias reais e as garantias pessoais” (Borges, 2002, p. 3). Para Mello (2015), na prática do direito contratual aprendemos que, “muitas vezes, as garantias dispostas na legislação não são suficientes”. Hipoteca, fiança e outras espécies podem ter sua efetividade comprometida, sobretudo quando a natureza do negócio é financeira ou quando há obrigações concorrentes e privilegiadas. Além disso, há momentos em que a conjuntura conduz o devedor ao inadimplemento. Para evitar situações como esta e garantir que a “garantia” seja de fato algo que garanta as partes em um empréstimo financeiro, por exemplo, podemos citar um instituto oriundo do direito anglo-saxão: os covenants (Mello, 2015). Tibúrcio explica que Covenants são itens dos contratos dos empréstimos e financiamentos, criados para proteger o interesse do credor. Estes itens estabelecem condições que não podem ser descumpridas; caso isto ocorra, o credor poderá exigir o vencimento antecipado da dívida. Para quem está emprestando, os covenants reduzem o risco de não pagamento da dívida; para quem está captando o recurso, uma dívida com covenants geralmente possui uma taxa de juros menor (Tibúrcio, 2014, grifo do original). Segundo Perin e Glitz (2015, p. 1376), covenants “é a figura recentemente utilizada pelo mercado financeiro como uma condição, criada pela instituição 16 financeira, e conferida ao tomador dos recursos, a fim de minimizar o risco de inadimplemento”. Em geral, o não cumprimento da cláusula tem como consequência, a princípio, a existência do direito de o credor antecipar o vencimento da operação. Além disso, o covenant representa verdadeira tentativa de padronização global do tratamento dispensado pelo agente bancário aos seus clientes nos diversos países em que aquela determinada instituição atua. [...] Pode-se, inicialmente, definir o covenant, então, como uma cláusula pactuada entre o agente financiador e o tomador de crédito, de modo a se resguardar o credor em situações de possível inadimplemento ou de eventuais modificações estruturais por parte da tomadora dos recursos. Trata-se, portanto, de mecanismo de proteção do credor bancário em operações creditícias (Perin; Glitz, 2015, p. 1376-77, grifo do original). O chamado covenant não se trata exatamente de uma garantia, uma vez que não garante o crédito com patrimônio existente ou eventual do devedor, mas é uma antecipação de um possível inadimplemento mensurado, em que, sendo possível constatar uma situação de risco do devedor, o credor pode antecipar o vencimento do empréstimo. Prática comum do mercado bancário, no entanto, ao invés de se invocar o vencimento antecipado de toda a dívida que certamente seria extremamente onerosa para o devedor, é a cobrança de uma “fee” (taxa) ou “waiver fee” (taxa de renúncia). A primeira figura é, simplesmente, uma “multa” por descumprimento contratual, enquanto a segunda vincular-se-ia a um prazo específico para que o devedor consiga cumprir com a condição, postergando assim o covenant através de pagamento de “taxa” (Perin; Glitz, 2015, p. 1378). Borges (2002) entende que covenant constitui uma espécie de garantia indireta, própria de financiamentos, que possui importantes obrigações contratuais acessórias, positivas ou negativas, objetivando, de fato, o pagamento da dívida. TROCANDO IDEIAS Confira, a seguir, as cláusulas que podem ser encontradas em um contrato de covenant e responda: quais são as condições previstas para que a instituição que concedeu o empréstimo possa antecipar sua liquidação? CLAUSULA 08. Do vencimento antecipado – A dívida contida na presente cédula poderá ser considerada antecipadamente vencida e desde logo exigível, independentemente de qualquer notificação judicial e/ou extrajudicial, na ocorrência de qualquer dos seguintes casos, que as partes reconhecem, desde 17 logo, serem causa direta para aumento indevido do risco de inadimplemento das obrigações assumidas pela EMITENTE e AVALISTA(S) COOBRIGADO(S), tornando mais onerosa a obrigação de concessão de crédito assumida pelo CREDOR nesta cédula: a) Falta de cumprimento pela EMITENTE e/ou por qualquer AVALISTA COOBRIGADO, no prazo e pela forma devidos, dequalquer obrigação, principal ou acessória, contraída junto ao CREDOR em decorrência desta cédula ou em qualquer outro contrato celebrado pela EMITENTE com o CREDOR e/ou com qualquer outra empresa ligada/coligada/controlada e/ou controlada de forma direta e/ou indireta, do/pelo CREDOR. b) Se a EMITENTE tiver requerida e/ou decretada sua falência, for dissolvida ou sofrer legítimo protesto de título por cujo pagamento seja responsável, ainda que na condição de garantidora, que não sejam sanados ou declarados ilegítimos no prazo de 30 (trinta) dias contados da respectiva ciência pela EMITENTE e cujo valor, individual ou em conjunto, seja superior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). c) Se a EMITENTE, ou o(s) AVALISTA(S) COOBRIGADO(S), propuser plano de recuperação extrajudicial ao CREDOR ou a qualquer outro credor ou classe de credores, independentemente de ter sido requerida ou obtida homologação judicial do referido plano. d) Se a EMITENTE, ou o(s) AVALISTA(S) COOBRIGADO(S), ingressar em juízo com requerimento de recuperação judicial, independentemente de deferimento do processamento da recuperação ou de sua concessão pelo juiz competente. e) Vencimento antecipado de qualquer outro contrato cédula ou instrumento firmado pela EMITENTE com o CREDOR ou com qualquer outra sociedade pertencente ao mesmo grupo econômico no qual o CREDOR se situa. f) Mudança no estado econômico-financeiro da EMITENTE e/ou de qualquer do(s) AVALISTA(S) COOBRIGADO(S) que afetem significativamente a capacidade financeira da EMITENTE e/ou AVALISTA(S) COOBRIGADO(S). g) Mudança ou alteração do objeto social da EMITENTE, ou de qualquer AVALISTA COOBRIGADO, de forma a alterar as atuais atividades principais da EMITENTE, ou do respectivo AVALISTA(S) COOBRIGADO(S), ou a agregar a essas atividades novas negócios que tenham prevalência ou possam representar desvios em relação às atividades atualmente desenvolvidas. 18 h) Se houver alteração ou modificação da composição do capital social da EMITENTE e/ou de qualquer AVALISTA(S) COOBRIGADO(S), ou se ocorrer qualquer mudança, transferência ou a cessão, direta ou indireta, do controle societário/acionário, ou ainda a incorporação, fusão ou cisão da EMITENTE e/ou de qualquer AVALISTA(S) COOBRIGADO(S), sem a prévia e expressa anuência do CREDOR, exceto se realizada entre sociedades pertencentes ao grupo econômico da EMITENTE, desde que mantido o controle indireto. i) A inobservância, pela EMITENTE, dos seguintes índices financeiros (covenants) durante a vigência da presente cédula a serem verificados anualmente, com base nas demonstrações financeiras consolidadas da EM NTE, auditadas por auditores externos. (i) Dívida líquida/EBTIDA – menor ou igual a 3,5x em 2015, 3,0x em 2016 e 2,5x a partir de 2017 até o vencimento desta cédula. (ii) ICSD – Índice de Cobertura de Serviço de Dívidas: maior ou igual a 1x. NA PRÁTICA Considere um empréstimo de R$ 600.000,00. Com uma taxa de 1,5% ao mês, em 50 prestações e levando em conta que o dinheiro foi disponibilizado em 31/01/2018 e a última parcela será paga em 31/03/2022. Tal empréstimo foi adquirido para construção de um imobilizado, sendo assim, o custo do empréstimo será alocado no ativo. Com base nessas informações, calcule o valor da parcela e, após isso, demonstre como ficarão os lançamentos contábeis. Tabela 5.1 – Exemplo de tabela de empréstimo contraído Empréstimo 600.000,00 TAC - Valor total 600.000,00 Taxa a.m. 1,50% Taxa a.a. 19,56% Meses 50 Valor parcela R$ 17.143,01 Data da liberação 31/01/2018 Vencimento final 31/03/2022 valor devido juros amortização parcela 19 1 28/02/2018 600.000,00 9.000,00 R$8.143,01 R$17.143,01 2 31/03/2018 591.856,99 8.877,85 R$8.265,16 R$17.143,01 3 30/04/2018 583.591,84 8.753,88 R$8.389,13 R$17.143,01 4 31/05/2018 575.202,70 8.628,04 R$8.514,97 R$17.143,01 5 30/06/2018 566.687,73 8.500,32 R$8.642,69 R$17.143,01 6 31/07/2018 558.045,04 8.370,68 R$8.772,33 R$17.143,01 7 31/08/2018 549.272,70 8.239,09 R$8.903,92 R$17.143,01 8 30/09/2018 540.368,79 8.105,53 R$9.037,48 R$17.143,01 9 31/10/2018 531.331,31 7.969,97 R$9.173,04 R$17.143,01 10 30/11/2018 522.158,27 7.832,37 R$9.310,64 R$17.143,01 11 31/12/2018 512.847,63 7.692,71 R$9.450,30 R$17.143,01 12 31/01/2019 503.397,34 7.550,96 R$9.592,05 R$17.143,01 13 28/02/2019 493.805,29 7.407,08 R$9.735,93 R$17.143,01 14 31/03/2019 484.069,36 7.261,04 R$9.881,97 R$17.143,01 15 30/04/2019 474.187,39 7.112,81 R$10.030,20 R$17.143,01 16 31/05/2019 464.157,19 6.962,36 R$10.180,65 R$17.143,01 17 30/06/2019 453.976,53 6.809,65 R$10.333,36 R$17.143,01 18 31/07/2019 443.643,17 6.654,65 R$10.488,36 R$17.143,01 19 31/08/2019 433.154,81 6.497,32 R$10.645,69 R$17.143,01 20 30/09/2019 422.509,12 6.337,64 R$10.805,37 R$17.143,01 21 31/10/2019 411.703,75 6.175,56 R$10.967,45 R$17.143,01 22 30/11/2019 400.736,30 6.011,04 R$11.131,97 R$17.143,01 23 31/12/2019 389.604,33 5.844,06 R$11.298,94 R$17.143,01 24 31/01/2020 378.305,39 5.674,58 R$11.468,43 R$17.143,01 25 29/02/2020 366.836,96 5.502,55 R$11.640,46 R$17.143,01 26 31/03/2020 355.196,50 5.327,95 R$11.815,06 R$17.143,01 27 30/04/2020 343.381,44 5.150,72 R$11.992,29 R$17.143,01 28 31/05/2020 331.389,15 4.970,84 R$12.172,17 R$17.143,01 29 30/06/2020 319.216,98 4.788,25 R$12.354,76 R$17.143,01 30 31/07/2020 306.862,22 4.602,93 R$12.540,08 R$17.143,01 31 31/08/2020 294.322,15 4.414,83 R$12.728,18 R$17.143,01 20 32 30/09/2020 281.593,97 4.223,91 R$12.919,10 R$17.143,01 33 31/10/2020 268.674,87 4.030,12 R$13.112,89 R$17.143,01 34 30/11/2020 255.561,98 3.833,43 R$13.309,58 R$17.143,01 35 31/12/2020 242.252,40 3.633,79 R$13.509,22 R$17.143,01 36 31/01/2021 228.743,18 3.431,15 R$13.711,86 R$17.143,01 37 28/02/2021 215.031,31 3.225,47 R$13.917,54 R$17.143,01 38 31/03/2021 201.113,77 3.016,71 R$14.126,30 R$17.143,01 39 30/04/2021 186.987,47 2.804,81 R$14.338,20 R$17.143,01 40 31/05/2021 172.649,27 2.589,74 R$14.553,27 R$17.143,01 41 30/06/2021 158.096,00 2.371,44 R$14.771,57 R$17.143,01 42 31/07/2021 143.324,43 2.149,87 R$14.993,14 R$17.143,01 43 31/08/2021 128.331,29 1.924,97 R$15.218,04 R$17.143,01 44 30/09/2021 113.113,25 1.696,70 R$15.446,31 R$17.143,01 45 31/10/2021 97.666,94 1.465,00 R$15.678,01 R$17.143,01 46 30/11/2021 81.988,93 1.229,83 R$15.913,18 R$17.143,01 47 31/12/2021 66.075,75 991,14 R$16.151,87 R$17.143,01 48 31/01/2022 49.923,88 748,86 R$16.394,15 R$17.143,01 49 28/02/2022 33.529,73 502,95 R$16.640,06 R$17.143,0150 31/03/2022 16.889,66 253,34 R$16.889,66 R$17.143,01 257.150,50 R$600.000,00 R$857.150,50 Na aquisição do empréstimo: D – Banco conta Movimento (AC). C – Empréstimo a pagar – (PC) Curto prazo. C – Empréstimo a pagar – (PNC) Longo prazo. No reconhecimento dos juros: D – Juros a transcorrer – (PC) Redutora da conta de empréstimos. C – Empréstimo a pagar – (PC) Curto prazo. D – Juros a transcorrer – (PC) Redutora da conta de empréstimos. C – Empréstimo a pagar – (PNC) Longo prazo. Pelo pagamento do empréstimo: D – Empréstimo a pagar – (PC) Curto prazo. C – Banco conta movimento – (AC). 21 Na apropriação dos juros: C – Banco conta movimento – (AC). D – Ativo qualificável (conforme aquisição). C – Juros a transcorrer – (PC) Redutora da conta de empréstimos. FINALIZANDO Nesta aula, você conheceu uma nova forma de considerar os empréstimos, para fins de capitalização de ativos qualificáveis, conforme indicado no CPC. Aprendeu também a maneira de calcular o valor dos juros cobrados para fins de escrituração contábil, assim como a nova formatação de garantia realizada pelas instituições financeiras. 22 REFERÊNCIAS ADRIANO, S. Manual dos pronunciamentos contábeis comentados. São Paulo: Atlas, 2018. BRASIL. Banco Central do Brasil. Diagnóstico da convergência às normas internacionais IAS 23 Borrowing Costs. dez. 2006. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/nor/convergencia/IAS_23_Custo_de_Emprestimos.pdf >. Acesso em: 17 maio 2018. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 17 maio 2018. BORGES, L. F. X. Covenants: instrumento de garantia em project finance. 6 fev. 2002. Disponível em: <https://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/A rquivos/conhecimento/revista/rev1106.pdf>. Acesso em: 17 maio 2018. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 04 – Demonstração dos fluxos de caixa. out. 2010a. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/183_CPC_03_R2_rev%2010.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 06 – Operações de Arrendamento Mercantil. dez. 2017. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/533_CPC_06_(R2).pdf>. Acesso em: 18 maio 2018. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 08 – Custos de transação e prêmios na emissão de títulos e valores mobiliários. dez. 2010. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/171_CPC08_R1.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 16 – Estoques. maio 2009a. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/243_CPC_16_R1_rev%2012.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018. https://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/revista/rev1106.pdf https://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/revista/rev1106.pdf http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/533_CPC_06_(R2).pdf http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/171_CPC08_R1.pdf 23 CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 20 – Custos de Empréstimos. out. 2011a. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/281_CPC_20_R1_rev%2012.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 26 – Apresentações das Demonstrações Contábeis. dez. 2011b. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=57>. Acesso em: 18 maio 2018. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 28 – Propriedade para investimento. jul. 2009b. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/320_CPC_28_rev%2012.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018.FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1.000 questões. 12. ed. Rio de Janeiro: Impetrus, 2012. GUTIERREZ, M. Fibria registra queda nos investimentos em 2012. 30 jan. 2018. Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/5291429/fibria- registra-queda-nos-investimentos-em-2017>. Acesso em: 17 maio 2018. MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. MELLO, F. R. B. Covenants atribuem maior segurança aos negócios favorecendo o adimplemento. 7 maio 2015. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2015-mai-07/fabio-mello-covenants-favorecem- adimplemento-contratos>. Acesso em: 17 maio 2018. PADOVEZE, C. L. Contabilidade geral. Curitiba: Intersaberes, 2016. PERIN, M. S.; GLITZ, F. E. Z. Covenants em contratos de financiamento de longo prazo: uma perspectiva jurídica. RJLB, ano 1, n. 1, p. 1375-1393, 2015. Disponível em: <https://www.cidp.pt/publicacoes/revistas/rjlb/2015/1/2015_01_1375_1393.pdf> . Acesso em: 17 maio 2018. TIBÚRCIO, C. Curso de contabilidade básica: covenants. 30 jul. 2014. Disponível em: <http://www.contabilidade-financeira.com/2014/07/curso-de- contabilidade-basica-covenants.html>. Acesso em: 17 maio 2018. . http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/281_CPC_20_R1_rev%2012.pdf CONTABILIDADE SOCIETÁRIA AULA 3 Profª Paolla Hauser 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula nossa conversa será sobre uma parte do CPC que trata de estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil- financeiro. Aqui não vamos falar especificamente sobre os saldos e operações nas contas do grupo do patrimônio líquido. Vamos tratar também dos conceitos e regras para integralização de capital social, sobre custos de transação na emissão de ações e cálculo do ágio na emissão de ações. Esta é uma aula bastante densa, por isso leia com bastante atenção o material de aula e materiais complementares ao tema, assista a todas as aulas e fique atento às atividades propostas. CONTEXTUALIZANDO Deve ser de seu conhecimento que o patrimônio líquido de uma entidade demonstra a diferença entre as operações de ativo e passivo, sendo que o resultado ideal é um patrimônio líquido positivo, ou seja, é um resultado lucrativo. Entretanto, algumas empresas, quer estejam relacionados à sua atividade ou à sua necessidade, podem buscar recursos para expandir suas operações. A captação de recursos via instrumentos patrimoniais, regra geral, é realizada por meio de emissão de ações. Outra forma de captação é ainda por meio de bônus de subscrição. A emissão de ações pode ocorrer no mercado primário, e as ações da companhia são negociadas pela primeira vez. O mercado secundário ocorre na sua renegociação. Para melhor entender a diferença entre mercado primário e secundário, vamos supor a seguinte situação hipotética: A Petrobras, com a finalidade de captar recursos financeiros para alavancar os seus investimentos na exploração de petróleo em águas profundas, emitiu novas ações no montante de 1 bilhão de reais. A Exxon Mobil, na qualidade de investidora, adquiriu à vista no mercado primário 50 milhões de reais em ações da Petrobras e, passados oito meses da data de aquisição, aproveitando a grande valorização dessas ações, negociou-as na BM&F Bovespa por 55 milhões de reais, vendendo-as para a IBM. Conclusão: a Exxon Mobil, para vender as ações adquiridas da Petrobras, teve que colocá-las novamente no mercado, e esse mercado é o secundário, pois a emissora originária é a Petrobras. A investidora IBM, ao comprar as ações da investidora Exxon Mobil, estará comprando de um segundo, o que caracteriza a definição de mercado secundário. 3 O mercado secundário em que atuam as bolsas de valores tem por função dar liquidez aos investidores e garantir que, no momento de uma operação de venda, exista um comprador (IBM) e um vendedor (Exxon Mobil), viabilizandoo crescimento do mercado primário e a consequente capitalização das empresas via mercado de ações. (Adriano, 2018, p. 480) TEMA 1 – ESTRUTURA CONCEITUAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO – CPC 00 R1 Ao observarmos o balanço patrimonial de qualquer entidade, notamos que os elementos do patrimônio líquido são demonstrados ao lado direito e evidenciam a diferença entre o valor total do ativo e do passivo. Borinelli e Pimentel (2017, 102) destacam que Assim definido, o montante pelo qual o patrimônio líquido é apresentado no balanço patrimonial depende da mensuração dos ativos e passivos. Como consequência, o patrimônio líquido deve evidenciar todos os valores decorrentes de ajustes de avaliação patrimonial referentes à avaliação de ativos e passivos a valores de mercado. Antes de nos aprofundarmos na estrutura do patrimônio líquido, vamos relembrar a estrutura do balanço patrimonial. Quadro 1 – Estrutura do balanço patrimonial ATIVO [...] PASSIVO [...] PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital - Capital a integralizar Reserva de lucros Reservas de capital Ajustes de avaliação patrimonial Prejuízos acumulados - Ações em tesouraria Fonte: Adriano, 2018. A classificação das contas do patrimônio líquido, também denominado de PL, é: No capital social temos os valores recebidos dos sócios, quando já integralizados. O a integralizar representa os valores “prometidos” pelos 4 sócios, com prazo para integralização. Esses valores podem ser gerados pela própria empresa, como no caso de lucro renunciado pelos sócios e revertido em capital social; As reservas de lucro representam os lucros obtidos e retidos pela entidade; Reservas de capital representam valores recebidos que não transitaram e não transitarão pelo resultado como receitas, pois derivam de transações de capital com os sócios (Gelbcke et al., 2018); Em ajustes de avaliação patrimonial temos os valores referentes a contrapartidas de aumentos ou reduções de valor atribuído a elementos do ativo e do passivo, em decorrência de avaliação a valor justo. Os prejuízos acumulados representam o resultado negativo gerado pela entidade; Ações em tesouraria representam as ações da companhia que são adquiridas pela própria sociedade (podem ser quotas, no caso das sociedades limitadas) (Gelbke et al., 2018); O pronunciamento contábil do CPC 00, que trata da estrutura conceitual para a elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro conceitua o patrimônio líquido da seguinte forma: “(c) patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos” (CPC 00 R1, 2011). Iudícibus (2015) destaca que, devido ao fato de que, em regra, definimos o patrimônio líquido como simples diferença entre ativo e passivo, não damos a este um tratamento adequado. Podemos destacar o que o próprio CPC descreve que o resultado apresentado no PL demonstra, de certa forma, a saúde financeira da empresa, o que pode atrair (ou não) interesse de investidores ou interesse na distribuição de dividendos. Com isso, Iudicibus (2015, p. 166) destaca ainda que, à medida que uma boa evidenciação dos elementos constitutivos do patrimônio líquido possa auxiliar no discernimento de tais interesses, estaremos cumprindo a finalidade principal das demonstrações contábeis, ou seja, a de ajudarem o investidor a avaliar a tendência do empreendimento. 5 Os resultados apresentados pela entidade, tal como demonstrados no patrimônio líquido, serão relevantes para a tomada de decisão dos usuários das demonstrações contábeis. Este grupo de contas pode indicar restrições legais ou de outra natureza sobre a capacidade que a empresa tem de distribuir ou aplicar seus recursos patrimoniais. TEMA 2 – CAPITAL SOCIAL E SUA CONTABILIZAÇÃO – SUBESCRITO, INTEGRALIZADO E AÇÕES EM TESOURARIA O capital social, como vimos no tema anterior, corresponde ao investimento dos sócios, quando tratamos de uma empresa limitada, ou dos acionistas, quando sociedade por ações. 2.1 Capital integralizado O capital pode ainda ser formado por valores obtidos pela própria empresa, como no caso de lucros não destinado ao sócio/acionista, mas sim a nova integralização para aumento do capital investido. Gelbcke et al. (2018, p. 380) definem: Trata-se o Capital Social, na verdade, de uma figura mais jurídica que econômica, já que, do ponto de vista econômico, também os lucros não distribuídos, mesmo que ainda na forma de Reservas, representam uma espécie de investimento dos acionistas. Sua incorporação ao Capital Social é uma formalização em que os proprietários renunciam à sua distribuição; é como se os acionistas recebessem essas reservas e as reinvestissem na sociedade. O capital social pode ser integralizado em espécie ou outros bens e direitos, como estoque de mercadorias, por exemplo. Quando isso ocorrer, o valor a ser registrado no capital é igual ao valor do custo de aquisição (custo histórico). A contabilização do capital social integralizado fica assim: D – Banco, estoque, imobilizado (etc) C – Capital Social 6 O montante do capital social é composto pelo total subscrito pelos sócios, podendo existir a figura de capital a integralizar, isto é, a parcela ainda não realizada e que deverá ser entregue pelos sócios/acionistas no futuro. 2.2 Capital a integralizar O capital a integralizar deve constar no balanço patrimonial, no grupo do patrimônio líquido, juntamente com o montante do capital social, sendo que o valor a integralizar será demonstrado em conta redutora. Por exemplo: A empresa UNI acaba de ser constituída com capital social de R$ 100.000,00. Entretanto, os sócios só possuem R$ 70.000,00 para integralizar de imediato. Dessa forma, temos um capital a integralizar de R$ 30.000,00, que ficará representado no balanço, da seguinte forma: Capital Social 100.000,00 (-) Capital a Integralizar (30.000,00) Borinelli e Pimentel (2017, p. 229) destacam o seguinte; Além da formação do capital social por aporte (integralização) dos sócios, o capital social também pode ser aumentado com a utilização de reservas, que já fazem parte do patrimônio líquido. Nesses casos, não há qualquer implicação econômica para a entidade, ou seja, não há novo ingresso de recursos no ativo, nem ocorre aumento no patrimônio líquido total. Assim, o aumento de capital utilizando reservas é uma figura mais jurídica do que econômico-financeira, pois apenas formaliza a incorporação de recursos sob a forma de reservas para a o capital social. Trata-se da renúncia que o sócio/acionista faz com relação ao recebimento do lucro, em favor da sociedade, para aumento do capital social, sendo utilizadas para isso as contas de reservas. O Código Civil determina que: Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: [...] III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; (Brasil, 2002) 7 Com relação ao prazo para integralização, a legislação não traz nenhuma determinação, nem tampouco penalidades para os sócios que não o fizerem, entretanto tal condição pode estar prevista no contrato social ou na Ata de constituição. 2.3 Ações em tesouraria Ações em tesouraria são as ações adquiridas pela própria companhia. Isso ocorre, normalmente, quando a organização pretende fazer o cancelamento de ações ou quando concede bonificação (remuneração) aos gestores em forma de ações. Gelbcke et al. (2018) destacam que “a aquisição de ações de emissão própria e sua alienação são transações de capital da companhia com seus sócios, não devendo afetar o resultado”.A Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/1976) proíbe a negociação das próprias ações, quando houver: a. as operações de resgate, reembolso ou amortização previstas em lei; b. a aquisição, para permanência em tesouraria ou cancelamento, desde que até o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital social, ou por doação; c. a alienação das ações adquiridas nos termos da alínea b e mantidas em tesouraria; d. a compra quando, resolvida a redução do capital mediante restituição, em dinheiro, de parte do valor das ações, o preço destas em bolsa for inferior ou igual à importância que deve ser restituída (Brasil, 1976) Tratando-se de companhia aberta, a CVM traz normas que devem ser analisadas para as operações de negociação com as próprias ações. A Instrução CVM n. 567/15, em seu art. 7º, ressalta que é vedada a aquisição das próprias ações, quando: a. tiver por objeto ações pertencentes ao acionista controlador; b. for realizada em mercados organizados de valores mobiliários a preços superiores aos de mercado; c. estiver em curso o período de oferta pública de aquisição de ações de sua emissão, conforme definição das normas que tratam desse assunto; ou d. requerer a utilização de recursos superiores aos disponíveis. (Brasil, 2015) A referida norma ressalta ainda que as companhias abertas não poderão manter ações em tesouraria superior a 10% de cada classe de ações em circulação no mercado. 8 Segundo a Lei n. 6.404/1976, parágrafo 2º, “Consideram-se ações em circulação no mercado todas as ações do capital da companhia aberta menos as de propriedade do acionista controlador, de diretores, de conselheiros de administração e as em tesouraria”. (Brasil, 1976) Conforme o art. 182, parágrafo 5º, da Lei das S/As, “as ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição” (Brasil, 1976). De acordo com Gelbcke et al. (2018, p. 396), “As compras das próprias ações são contabilizadas por seu custo de aquisição e a baixa pela alienação deve ser feita pelo mesmo valor de compra”. No que se refere aos aspectos fiscais de transações que envolvem ações em tesouraria, o Regulamento do Imposto de Renda determina, em seu art. 442: Art. 442. Não serão computadas na determinação do lucro real as importâncias, creditadas a reservas de capital, que o contribuinte com a forma de companhia receber dos subscritores de valores mobiliários de sua emissão a título de: I. ágio na emissão de ações por preço superior ao valor nominal, ou a parte do preço de emissão de ações sem valor nominal destinadas à formação de reservas de capital; II. valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; III. prêmio na emissão de debêntures; IV. lucro na venda de ações em tesouraria. Parágrafo único. O prejuízo na venda de ações em tesouraria não será dedutível na determinação do lucro real. (Brasil, 1999) Dessa forma, podemos observar que a operação de venda das ações em tesouraria não será computada na apuração do lucro real. TEMA 3 – TRANSAÇÃO NA EMISSÃO DE AÇÕES 3.1 Gastos com emissão de ações Conforme Gelbcke et al (2018, p. 383), Os Balanços Patrimoniais dos exercícios sociais encerrados a partir de 31-12-2008, deverão apresentar os gastos com captação de recursos por emissão de ações ou outros valores mobiliários pertencentes ao Patrimônio Líquido (bônus de subscrição, por exemplo) em conta retificadora do grupo Capital Social ou, quando aplicável, na Reserva de Capital que registrar o prêmio recebido na emissão das novas ações. Em função disso, a alteração do patrimônio líquido pela emissão de novas ações é reconhecida pelo valor líquido efetivamente recebido. 9 Vejamos o exemplo trazido pelo Manual de Contabilidade das Sociedades Anônimas: supondo-se que em uma determinada sociedade sejam emitidas 2.000.000 de novas ações, com preço de $ 1,50 por ação, cujos gastos de emissão somaram $ 150.000. Os efeitos líquidos dessa contabilização serão os seguintes: D – Caixa 2.850.000,00 D – Gastos com emissão de ações 150.000,00 (retificadora do capital social) C – Capital Social 3.000.000,00 Os saldos pertencentes à conta “Gastos com emissão de ações” poderão ser utilizados apenas para compensação com reservas de capital ou para redução do próprio capital social. Nos casos em quem não houver sucesso na captação de ações, tais gastos devem ser baixados como perdas do exercício. Esse procedimento se baseia no fato de que não é encargo da empresa o que se gasta para obter mais recursos dos sócios. Essa é uma transação de capital, e não uma atividade operacional da entidade. E é uma transação de capital entre a empresa e os sócios, que redunda num ingresso líquido de recursos, estes sim reconhecidos como aumento líquido de capital. (Gelbcke et al, 2018, p. 383) 3.2 Custo de transação na emissão de ações De acordo com Adriano (2018, p. 479) “a operação mais comum de uma empresa captar recursos financeiros é por meio da emissão de ações, que pode ocorrer de três formas distintas: primária, secundária ou mista.” 3.2.1 Emissão primária É a emissão de novas ações e ocorre no mercado primário uma vez que nessa operação as ações da companhia são negociadas pela primeira vez. Segundo Adriano (2018, p. 479), “É nesse setor de mercado que as companhias buscam efetivamente a captação de recursos próprios para implementar os seus projetos de investimentos com a finalidade de promover o seu crescimento e consequente incremento de riqueza gerada”. 10 3.2.2 Emissão secundária Trata-se das renegociações entre os agentes econômicos das ações adquiridas no mercado primário: “nessas operações, os recursos monetários resultantes não são transferidos para o financiamento da companhia, pois quem recebe efetivamente esses recursos são os acionistas que decidiram vender as suas ações”. (Adriano, 2018, p. 480) Vejamos um exemplo trazido pelo referido autor: A Petrobras, com a finalidade de captar recursos financeiros para alavancar os seus investimentos na exploração de petróleo em águas profundas, emitiu novas ações no montante de 1 bilhão de reais. A Exxon Mobil, na qualidade de investidora, adquiriu à vista no mercado primário 50 milhões de reais em ações da Petrobras e, passados oito meses da data de aquisição, aproveitando a grande valorização dessas ações, negociou-as na BM&FBovespa por 55 milhões de reais, vendendo-as para a IBM. Conclusão: a Exxon Mobil, para vender as ações adquiridas da Petrobras, teve que colocá-las novamente no mercado, e esse mercado é o secundário, pois a emissora originária é a Petrobras. A investidora IBM, ao comprar as ações da investidora Exxon Mobil, estará comprando de um segundo, o que caracteriza a definição de mercado secundário. O mercado secundário em que atuam as bolsas de valores tem por função dar liquidez aos investidores e garantir que, no momento de uma operação de venda, exista um comprador (IBM) e um vendedor (Exxon Mobil), viabilizando o crescimento do mercado primário e a consequente capitalização das empresas via mercado de ações. (Adriano, 2018) 3.2.3 Emissão mista Nesse caso, há concomitantemente a emissão primária e a emissão secundária. Segundo Adriano (2018, p. 480), “Com relação às novas ações emitidas, temos uma emissão primária que resultará na entrada de recursos para a companhia, enquanto para as ações existentes que serão vendidas pelos seus respectivos acionistas temos uma emissão secundária, que não resultará na entrada de recursos para a companhia”. A definição do valor das ações é a representação de um investimento e, dependendo do contexto, poderá apresentar os seguintes valores distintos: nominal, patrimonial, de emissão e de mercado. De acordo com a Lei no 6.404/76, o valor nominal é determinadono estatuto, e a ação pode ser emitida com ou sem valor nominal (Brasil,1976). Na hipótese de emissão de ações sem valor nominal, todas as ações deverão ter o mesmo valor e não será permitido à companhia emitir novas ações com valores diferentes. 11 O valor nominal da ação resulta da divisão do capital social pelo número de ações que a empresa emitiu. Por exemplo, se o capital social é de 200.000,00 e a empresa emitiu 50.000 ações, o valor nominal é de 4,00. Já o valor patrimonial da ação resulta da divisão do patrimônio líquido pelo número de ações que a empresa emitiu. Por exemplo, se o patrimônio líquido é de 400.000,00 e a empresa emitiu 50.000 ações, o valor patrimonial é de 8,00. O valor de emissão ou valor de subscrição corresponde ao preço pago por quem subscreve a ação, se à vista ou parceladamente. De acordo com Adriano (2018, p.481), Por exemplo, caso um subscritor adquira por 1,20 a ação de uma empresa, cujo capital social é composto de 100.000 ações no montante de 100.000,00, temos que o valor nominal da ação é de 1,00, enquanto o seu valor de emissão será de 1,20. Quando existe diferença entre o valor de emissão e o valor nominal das ações, temos o ágio na emissão de ações, que corresponde a uma reserva de capital. A Lei 6.404/1976 determina que: Art. 13. É vedada a emissão de ações por preço inferior ao seu valor nominal. § 1º A infração do disposto neste artigo importará nulidade do ato ou operação e responsabilidade dos infratores, sem prejuízo da ação penal que no caso couber. § 2º A contribuição do subscritor que ultrapassar o valor nominal constituirá reserva de capital (artigo 182, § 1º). (Brasil, 1976) Para as ações sem valor nominal, o preço será fixado no momento da constituição da companhia ou no momento do capital: “O preço de emissão pode ser fixado com parte destinada à formação de reserva de capital; na emissão de ações preferenciais com prioridade no reembolso do capital, somente a parcela que ultrapassar o valor de reembolso poderá ter essa destinação” (Brasil, 1976). TEMA 4 – CÁLCULO DO ÁGIO NA EMISSÃO DE AÇÕES A ação é a menor parcela em que se divide o capital social da companhia. As ações podem ser ordinárias, ou preferenciais, ou de fruição, de acordo com a natureza dos direitos ou vantagens conferidas a seus titulares. 12 Ação ordinária: Tipo de ação que confere ao titular os direitos essenciais do acionista, especialmente participação nos resultados da companhia e direito a voto nas assembleias da empresa. Cada ação ordinária corresponde a um voto na Assembleia Geral. Preferencial: As ações preferenciais (PN) conferem ao titular prioridades na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo, e no reembolso do capital. Entretanto, as ações PN não dão direito a voto ao acionista na Assembleia Geral da empresa, ou restringem o exercício desse direito. (Entenda..., 2006) 4.1 Ágio na emissão de ações O valor de exceder ao preço de subscrição das ações pago pelos acionistas à Companhia e o valor nominal dessas ações são denominados de ágio na emissão de ações. Este excedente deve ser contabilizado em conta de reserva de capital, conforme exemplo a seguir. Supondo que a Companhia tenha ações ao valor nominal de $ 1,00 e faça um aumento de Capital de 50.000.000 de ações ao preço de $ 1,30 cada uma, teríamos: D – Bancos - 65.000.000 C – Capital Social – 50.000.000 de ações a $1,00 - 50.000.000 Reserva de Capital C – Ágio na emissão de ações – 50.000.000 de ações a 0,30 - 15.000.000 (Gelbcke et al, 2018) 4.2 Ações sem valor nominal A Lei das S/As criou as ações sem valor nominal, cujo preço de emissão é fixado, na Constituição, pelos fundadores, e, nos aumentos de capital, pela assembleia geral ou pelo conselho de administração, conforme dispuser o estatuto. O preço de emissão das ações sem valor nominal pode ser fixado com parte destinada à formação de reserva de capital. Nesse caso, a Lei das Sociedades por Ações define, na letra a do parágrafo 1º do art. 182, que a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital social será classificada como reserva de capital. (Gelbcke et al, 2018, p. 383) 13 Por exemplo, A sociedade emite 50.000.000 de ações sem valor nominal, a serem vendidas por $ 1,30 cada uma, mas destina ao capital social apenas $ 1,10 por ação. A contabilização, nesse caso, é idêntica à anterior: D – Bancos - 65.000.000 C – Capital Social - 55.000.000 Reserva de Capital C – Ágio na emissão de ações - 10.000.000 (Gelbcke et al., 2018) 4.3 Reembolso e resgate das ações As ações reembolsadas podem ser consideradas como pagas à conta de lucros ou reservas, exceto a legal, isto é, sem redução do capital social. Durante sua permanência em tesouraria, o valor pago no reembolso dessas ações será, para fins de apresentação no balanço patrimonial, deduzido das contas de reservas utilizadas para o reembolso. De acordo com o art. 45 da Lei no 6.404/76, o valor do reembolso para acionistas dissidentes poderá ser estipulado com base no valor econômico da companhia, caso o estatuto assim o possibilite (Brasil, 1976) O valor econômico será fixado com base em avaliação realizada por peritos e poderá ser menor que o valor patrimonial da companhia, calculado com base no patrimônio líquido constante do último balanço aprovado em assembleia geral. De acordo com a Lei n. 6.404, “A operação em que a companhia paga aos acionistas o valor de suas ações por razões de dissidência nos casos previstos na legislação societária é denominada reembolso de ações” (Brasil, 1976). Segundo a mesma lei, As ações reembolsadas podem ser consideradas como pagas à conta de lucros ou reservas, exceto a legal, isto é, sem redução do capital social. Durante sua permanência em tesouraria, o valor pago no reembolso dessas ações será, para fins de apresentação no Balanço Patrimonial, deduzido das contas de reservas utilizadas para o reembolso. (Brasil, 1976) TEMA 5 – RESERVAS DE CAPITAL As reservas de capital contemplam os valores que a companhia recebeu e que acrescem o patrimônio sem aumentar o valor do capital social, e sem transitar pelo resultado no período, uma vez que não exigem qualquer sacrifício da entidade em termos de entrega de bens ou prestação de serviços, ou seja, 14 não são derivadas das atividades operacionais da organização. (Borinelli, Pimentel, 2017) Na prática, de maneira geral, o principal exemplo de reserva de capital refere-se ao ágio na emissão de novas ações e aos resultados positivos da alienação de ações em tesouraria. Vamos ver um exemplo, trazido por Borinelli e Pimentel (2017, p. 230) Imagine, por exemplo, que o valor nominal de cada ação de uma empresa é $ 2,00; no entanto, no momento da emissão das novas ações, existe uma grande demanda por tais ações, haja vista que há excelentes expectativas futuras sobre o desempenho futuro da entidade. Assim, os acionistas estariam dispostos a pagar $ 2,30 por ação. Nesse caso, cada ação geraria uma entrada de caixa de $ 2,30 e haveria acréscimo no capital social pelo seu valor nominal de $ 2,00. Os $ 0,30 adicionais seriam alocados na reserva de capital. Assim: Ativo Disponibilidades 2,30 Total do Ativo 2,30 Patrimônio Líquido Capital Social 2,00 Reserva de Capital 0,30 Total Patrimônio Líquido 2,30 Gelbcke, et al (2018) destacam que as reservas de capital somente podem ser utilizadas para: a. Absorver prejuízos, quandoestes ultrapassarem as reservas de lucros. Convém observar que, no caso da existência de reservas de lucros, os prejuízos serão absorvidos primeiramente por essas contas; b. Resgate, reembolso ou compra de ações. c. Resgate de partes beneficiárias. O art. 200 da Lei no 6.404/1976, em seu parágrafo único, determina que o produto da alienação de partes beneficiárias, registrado na reserva de capital específica, poderá ser utilizado para resgate desses títulos (ver observação logo a seguir); d. Incorporação ao capital; e. Pagamento de dividendo cumulativo a ações preferenciais, com prioridade no seu recebimento, quando essa vantagem lhes for assegurada pelo estatuto social (art. 17, parágrafo 6º, da Lei n. 6.404/1976, conforme nova redação dada pela Lei no10.303/2001). 15 Art. 167. A reserva de capital constituída por ocasião do balanço de encerramento do exercício social e resultante da correção monetária do capital realizado (artigo 182, § 2º) será capitalizada por deliberação da assembléia-geral ordinária que aprovar o balanço. § 1º Na companhia aberta, a capitalização prevista neste artigo será feita sem modificação do número de ações emitidas e com aumento do valor nominal das ações, se for o caso. § 2º A companhia poderá deixar de capitalizar o saldo da reserva correspondente às frações de centavo do valor nominal das ações, ou, se não tiverem valor nominal, à fração inferior a 1% (um por cento) do capital social. § 3º Se a companhia tiver ações com e sem valor nominal, a correção do capital correspondente às ações com valor nominal será feita separadamente, sendo a reserva resultante capitalizada em benefício dessas ações. Saiba mais Leia e entenda um pouco mais sobre o ágio na operação das empresas: <https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_agio_- _anderson.pdf>. Com base nessa leitura e no CPC 15, descubra quais foram as principais alterações do ágio após as regras previstas neste CPC, em comparação com as regras domésticas previstas antes das normas internacionais de contabilidade. NA PRÁTICA Resolva a questão a seguir. A resposta e o comentário estão ao final deste documento. (Contábeis MPE AP FCC 2012): Os custos de capitação de recursos (aumento de capital com emissão de ações) efetivamente realizada, como gastos com advogados, contratação de agente financeiro e outros, realizados para a captação de recursos por meio de emissão de títulos e valores mobiliários, devem ser registrados na conta. a. de despesa do exercício em que ocorrer a capitalização. b. redutora do capital social no patrimônio líquido. c. de reserva de capital no patrimônio líquido. d. redutora de investimento para o qual o recurso for capitado. e. de despesa do ano em que o gasto for realizado. Fonte: Adriano, 2018, p. 504. 16 FINALIZANDO Nesta aula estudamos parte das contas existentes no grupo do patrimônio líquido de uma entidade, que pode muitas vezes passar despercebido pelos gestores, mas que se trata de uma importante informação na tomada de decisões para o negócio. 17 REFERÊNCIAS ADRIANO, S. Manual dos pronunciamentos contábeis comentados. São Paulo: Atlas, 2018. ALMEIDA, M. C. Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC. São Paulo: Altas, 2014. ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. _____. Lei n. 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. _____. Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 mar. 1999. BRASIL. Comissão de Valores Imobiliários. Instrução CVM 567. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 18 set. 2015. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst567.html>. Acesso em: 4 jun. 2018. BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1) – Estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. 15 dez. 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80>. Acesso em: 4 jun. 2018. ENTENDA a diferença entre ações preferenciais e ordinárias. O Globo, 13 nov. 2006. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/entenda-diferenca- entre-acoes-preferenciais-ordinarias-4549107#ixzz5BIW85Veistest>. Acesso em: 4 jun. 2018. FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1000 questões. 12. ed. rev. Rio de Janeiro: Impetrus, 2012. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 18 IUDICIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. IUDICIBUS, S. de; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. VICECONTI, P.; NEVES, S. das. Contabilidade avançada e análise das demonstrações financeiras. 17. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2013. 19 RESPOSTA Gabarito: b. redutora do capital social no patrimônio líquido. Comentário Os gastos com emissão de ações representam as despesas relativas com advogados, instituições financeiras, auditores, publicidade etc. necessárias para a emissão de ações. Antes da Lei no 11.638/07, as despesas decorrentes da emissão de novas ações eram lançadas diretamente no resultado do exercício, impactando-o. Agora, essas despesas são lançadas em uma conta chamada gastos com emissão de ações, sendo compensada depois como contrapartida de uma reserva de capital ou redução do capital social. Quando não houver sucesso na operação de captação das ações, os gastos com emissão de ações são lançados como perdas no referido exercício. O objetivo da mudança foi a proteção do atual acionista, pois os mesmos eram prejudicados pela decisão da empresa em se capitalizar. Antes, como as despesas decorrentes da emissão de novas ações eram lançadas diretamente no resultado, as mesmas diminuíam o resultado do exercício, e, com a redução do resultado, os acionistas atuais da empresa passavam a receber menos dividendos. Com a mudança decorrente da Lei no 11.638/07, os atuais acionistas não são mais prejudicados com as operações de capitalização da empresa (Adriano, 2018, p. 504). CONTABILIDADE SOCIETÁRIA AULA 4 Profª Paolla Hauser 2 CONVERSA INICIAL Em nossa aula de hoje vamos continuar falando sobre as contas existentes no patrimônio líquido, especificamente as contas de reservas de lucros e ajuste de avaliação patrimonial. Além disso, trataremos também sobre a distribuição de dividendos, prevista na Lei n. 6.404/1976 assim como uma outra forma de remunerar os sócios, através dos juros sobre o capital próprio. Este último meio de remuneração é uma espécie de correção monetária do investimento inicial que o sócio/acionista realizou ao iniciar sua participação na entidade. CONTEXTUALIZANDO Como você viu na aula anterior, o patrimônio líquido (PL) é composto pelo capital social investido na entidade, assim como o resultado líquido do período de apuração representado pelo lucro ou prejuízo. Este resultado líquido é apurado da seguinte forma: ativo – passivo. Ou seja, o PL é a soma de todos os ativos da entidade diminuído de todos os passivos. Dessa forma, podemos dizer ainda que o patrimônio líquido é um importante indicador de desempenho de uma empresa e que pode, de forma rápida, apresentar o crescimento ou não de uma entidade. Imagine que você é sócio de uma empresa, e que vai encerrar suas atividades na datade hoje! Para isso, você deve levantar todos os bens e direitos (ativos) e com esse montante total você deverá quitar todas as suas obrigações (passivo). O que sobrar dessa operação é o patrimônio líquido da entidade. Em um balanço patrimonial, você vai enxergar operações realizadas com o resultado positivo (lucro), que irão se “transformar” em outras contas contábeis, como as reservas. Como o próprio nome já indica, trata-se de uma reserva do lucro que será destinada para algum fim específico ou simplesmente para aumentar o PL sem aumento do capital. TEMA 1 – CONCEITO DE RESERVA E RESERVA LEGAL Na aula passada, conhecemos a estrutura do patrimônio líquido, em que constam as contas de reservas de uma entidade. Vamos relembrar como fica então essa estrutura patrimonial: 3 Quadro 1 – Estrutura do balanço patrimonial ATIVO [...] PASSIVO [...] PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital - Capital a Integralizar Reserva de Lucros Reservas de Capital Ajustes de Avaliação Patrimonial Prejuízos Acumulados - Ações em tesouraria Fonte: Adriano, 2018. Nesta aula, vamos focar nas reservas de lucros, já que as reservas de capital já foram tratadas na aula passada. O art. 192 da Lei n. 6.404/1976 determina que a administração da companhia deverá apresentar à assembleia geral ordinária uma proposta sobre a destinação a ser dada do lucro líquido do exercício (Brasil, 1976) Segundo Ferrari (2012), as reservas de lucro representam um dos “pedaços” do líquido no processo de destinações. Esse lucro poderá ser destinado para constituição de reservas, compensação de prejuízos acumulados ou ainda para distribuição de dividendos. Dessa forma, a conta de lucros acumuladas deverá ser zerada no final de cada exercício. São tipos de reservas de lucros: Reserva legal, prevista no art. 193 da Lei das S/As; Reservas estatutárias, prevista no art. 194 da Lei das S/As; Reservas para contingências, prevista no art. 195 da Lei das S/As; Retenção de lucros para constituição de reservas de lucros para expansão ou reservas de planos para investimentos, prevista no art. 196 da Lei das S/As; Reserva de lucros a realizar, prevista no art. 197 da Lei das S/As; Reserva específica de prêmios de emissão de debêntures, prevista no art. 19 da Lei n. 11.941/2009; Reserva especial de lucros para dividendos obrigatórios, prevista no art. 202, parágrafo 5º da Lei das S/As; e Reserva de incentivos fiscais, prevista no art. 422 do RIR/99 A Lei n. 6.404/76, alterada pela Lei n. 11.638/07, estabelece que o somatório das reservas de lucros, excetuando-se as reservas para contingências, de incentivos fiscais e de lucros a realizar, não poderá ser superior ao montante do capital social da sociedade. Caso o referido somatório ultrapasse o capital social, caberá à assembleia 4 deliberar sobre a aplicação do excedente, que poderá ser utilizado para integralização ou aumento de capital, desde que com a devida fundamentação, ou distribuído como dividendos (Gelbcke et al., 2018) 1.1 Reserva legal Para Gelbcke et al. (2018), a reserva legal, basicamente instituída para dar proteção ao credor, deve ser constituída com a destinação de 5% do lucro líquido do exercício. Essa reserva deve ser a primeira a ser constituída, obrigatoriamente, tendo como limite de saldo o equivalente a 20% do capital social realizado. A critério da companhia, a reserva legal pode ainda deixar de receber créditos, quando o saldo, somado ao montante das reservas de capital, atingir 30% do capital social. Por exemplo: Saldo de reserva legal em 31/12/X1 R$ 3.900,00 Capital social R$ 21.000,00 Lucro líquido em 31/12/x2 R$ 8.000,00 Valor a ser destinado à reserva legal em 31/12/X2 será ... ? Limite da reserva – 20% de 21.000,00 = 4.200,00 5% do lucro líquido – 5% de 8.000,00 = 400,00 Saldo anterior da reserva + 5% do lucro líquido = 3.900 + 400 = 4.300,00 Dessa forma, a companhia não poderá destinar o total dos 5% do lucro para conta de reservas, uma vez que irá ultrapassar o limite de 20% do capital social. Sendo assim, a empresa deve destinar R$ 300,00 (parte) do resultado, para conta de reserva legal no ano X2. Nesse caso, a contabilização da destinação à reserva legal, ficará assim: D – Lucro líquido do exercício R$ 300,00 C – Reserva legal R$ 300,00 A reserva legal é constituída para fins de aumento de capital ou absorção de prejuízos contábeis. Vejamos agora outro exemplo para a constituição da reserva legal. Considerando o segundo limite previsto na legislação, que é de 30% do saldo da reserva legal somada a reserva de capital. 5 Lucro Líquido – 400.000,00 x 5% = R$ 20.000,00 Reserva legal (saldo) R$ 170.000,00 Reserva de capital R$ 120.000,00 Capital Social R$ 1.000.000,00 1º limite: 20% do capital social: R$ 200.000,00 2º limite: 30% da reserva legal + reserva de capital (170.000,00 + 120.000,00) R$ 290.000,00 Reserva a ser constituída: R$ 20.000,00 O saldo final da conta de reserva legal será de R$ 190.000,00, correspondente ao saldo anterior de R$ 170.000 acrescido do valor apurado no exercício de R$ 20.000. O total a ser constituído é menor que os dois limites estabelecidos pela lei das sociedades anônimas. TEMA 2 – OUTRAS RESERVAS DE LUCROS Como vimos no tema anterior desta aula, a Lei n. 6.404/1976 traz uma relação das contas de reservas existentes no patrimônio líquido das companhias. Vamos conhecer cada uma delas. 2.1 Reserva estatutária A reserva estatutária está prevista no art. 194 da Lei das S/As e é constituída por determinação do estatuto da companhia, como destinação de uma parcela dos lucros do exercício. O referido artigo descreve: Art. 194. O estatuto poderá criar reservas desde que, para cada uma: I - indique, de modo preciso e completo, a sua finalidade; II - fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão destinados à sua constituição; e III - estabeleça o limite máximo da reserva. (Brasil, 1976) As reservas estatutárias deverão ser criadas dentro do PL, em subcontas que indiquem sua natureza e que sejam intituladas conforme sua 6 finalidade. Outra condição prevista no art. 198 da Lei das S/As é de que essas reservas não podem restringir o pagamento dos dividendos obrigatórios. A contabilização dessa reserva ficará: D – Lucros ou prejuízos acumulados C – Reserva estatutária 2.2 Reserva para contingências A reserva para contingência está prevista no art. 195 da Lei n. 6.404/1976, que determina: Art. 195. A assembleia-geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, destinar parte do lucro líquido à formação de reserva com a finalidade de compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado. § 1º A proposta dos órgãos da administração deverá indicar a causa da perda prevista e justificar, com as razões de prudência que a recomendem, a constituição da reserva. § 2º A reserva será revertida no exercício em que deixarem de existir as razões que justificaram a sua constituição ou em que ocorrer a perda. (Brasil, 1976) O objetivo da reserva para contingências é reservar uma parte do lucro que não será distribuído para utilização futura em provável perda, como a redução do lucro ou até mesmo prejuízo. Dessa forma, no momento em que ocorrer a perda, essa reserva é revertida para a conta de lucros acumulados. A constituição dessa reserva é opcional e a proposta da administração deverá indicar a causa da perda prevista e justificar a constituição da reserva. A contabilização dessa reserva ficará: D – Lucros ou prejuízos acumulados C – Reservapara contingências A reversão da reserva, quando necessária, será contabilizada: D – Reserva para contingências C – Lucros ou prejuízos acumulados 2.3 Retenção de lucros para constituição de reservas de lucros para expansão ou reservas de planos de investimentos A retenção de lucros está prevista no art. 196 da Lei n. 6.404/1976, que dispõe o seguinte: 7 Art. 196. A assembleia-geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, deliberar reter parcela do lucro líquido do exercício prevista em orçamento de capital por ela previamente aprovado. § 1º O orçamento, submetido pelos órgãos da administração com a justificação da retenção de lucros proposta, deverá compreender todas as fontes de recursos e aplicações de capital, fixo ou circulante, e poderá ter a duração de até 5 (cinco) exercícios, salvo no caso de execução, por prazo maior, de projeto de investimento. § 2o O orçamento poderá ser aprovado pela assembleia-geral ordinária que deliberar sobre o balanço do exercício e revisado anualmente, quando tiver duração superior a um exercício social (Brasil, 1976). A referida reserva tem a finalidade de separar parte do lucro apurado, com intuito de manter tais recursos na companhia, para aplicação em projetos de expansão. A criação dessa reserva é baseada nos orçamentos de capital aprovados pela assembleia geral. Tal reserva não poderá ser constituída em prejuízo da distribuição de dividendo obrigatório. A contabilização dessa reserva ficará assim: D – Lucros ou prejuízos acumulados C – Reserva de lucros para expansão A reversão dessa ficará escriturada: D – Reserva de lucros para expansão C – Lucros ou prejuízos acumulados A capitalização ficará: D – Reserva de lucros para expansão C – Capital social 2.4 Reserva de lucros a realizar A reserva de lucro a realizar está prevista no art. 197 da Lei n. 6.404/1976, que prevê o seguinte: Art. 197. No exercício em que o montante do dividendo obrigatório, calculado nos termos do estatuto ou do art. 202, ultrapassar a parcela realizada do lucro líquido do exercício, a assembléia-geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar o excesso à constituição de reserva de lucros a realizar (Brasil, 1976) O objetivo dessa reserva é a não distribuição de dividendos obrigatórios quando a entidade ainda não tiver apurado tais lucros financeiramente. 8 Sabemos que a escrituração contábil é realizada considerando fatos econômicos e por competência. Dessa forma, é possível que a contabilidade apure resultado positivo, sem que a companhia possua caixa suficiente para distribuí-lo. A contabilização dessa reserva poderá ser: D – Lucro do exercício C – Reserva de lucros a realizar TEMA 3 – RESERVA DE INCENTIVOS FISCAIS A reserva de incentivos fiscais foi criada pela Lei n. 11.638/2007, que adicionou à Lei n. 6.404/76 o art. 195-A o seguinte: A assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório (inciso I do caput do art. 202 desta Lei). (Brasil, 2008) Incentivos podem ser dados por meios financeiros ou mesmo por dedução de tributos devidos. Complementarmente, a Lei n. 11.638/2007 revogou a reserva de capital – doações e subvenções para investimentos, provocando a necessidade de alteração no tratamento contábil que era dispensado às doações e subvenções. A partir do exercício social de 2008, conforme o Pronunciamento Técnico CPC 07 – Subvenção e Assistência Governamentais (2010), as doações e subvenções recebidas pela companhia devem transitar pelo resultado, e terão seus registros contábeis determinados em função das condições estabelecidas para recebimento dessas doações e subvenções. Apesar de transitarem pelo resultado do exercício, não serão computadas na determinação do lucro, desde que sejam registradas como reserva de incentivos fiscais, que somente poderá ser utilizada para absorção de prejuízos, desde que anteriormente já tenham sido totalmente absorvidas as demais reservas de lucros, com exceção da reserva legal; ou então para aumento do capital social. 9 3.1 Subvenção condicional Subvenção é uma espécie de incentivo dado pelo órgão público, podendo ser em transferência financeira, por exemplo, para custeio de uma operação, ou até mesmo por incentivo fiscal, que é a redução de algum tributo. Se a subvenção tiver contraprestação da empresa para com a administração pública, a empresa deverá atender a todas as condições previstas para então reconhecer tal rendimento no resultado. Dessa forma, se uma empresa recebe uma subvenção de uma prefeitura na forma de um terreno a ser utilizado para a construção de uma fábrica, e a legislação e/ou contratação dizem que esse terreno será da empresa unicamente depois de passados dez anos, e desde que ela gere pelo menos 1.000 novos empregos, a entidade deverá então contabilizar o terreno no seu imobilizado assim que adquirir sua posse, seu controle e puder utilizá-lo para as finalidades negociadas (não a sua propriedade, que ainda não será transferida) (Gelbcke et al., 2018). Dessa conta será feita a transferência ao resultado da empresa tão somente quando forem eliminadas todas as restrições que impeçam a plena e final incorporação desse terreno ao patrimônio da companhia. Assim, se ao final do décimo ano a empresa não houver cumprido, por exemplo, a exigência da contratação dos 1.000 novos empregados, não poderá reconhecer a receita, a não ser que haja perdão dessa cláusula por quem de direito. (Gelbcke et al., 2018, p. 393) 3.2 Subvenção incondicional Segundo Gelbcke et al. (2018, p. 393), se a entidade receber subvenções ou outros tipos de incentivos e não houver absolutamente nenhuma obrigação adicional a cumprir, o reconhecimento como receita será imediato. Assim, por exemplo, se a empresa destina um pedaço do seu imposto de renda nas quotas de um fundo por conta de um incentivo fiscal, e desde que, ao efetuar o pagamento do imposto, não haja obrigações, ou tenha cumprido a última de suas obrigações, nesse momento reconhecerá essa parcela como receita de subvenção (Gelbcke et al., 2018). Se o imposto for apropriado por competência a um período, mas o pagamento se der em outro, a despesa será lançada como antes se fazia, 10 quando do registro dos resultados que a geraram, e a receita com a subvenção será reconhecida apenas no período em que cumprida a última das obrigações para fazer jus a esse incentivo. Não poderá a empresa, quando do reconhecimento da despesa com o imposto de renda, registrar um ativo relativo a um direito a ser exercido no futuro, contra o resultado, já que não cumpriu ainda com todas as suas obrigações (Gelbcke et al., 2018). 3.3 Benefícios em forma de redução ou isenção tributária Quando o incentivo é dado pelo não pagamento do imposto (redução, isenção etc.), quando da existência de lucro que normalmente exigiria tal tributo, não havendo compromissos de investimento e outros que já terão sido cumpridos pela entidade (Gelbcke, et al., 2018). Nesse caso, registra-se a despesa do imposto que deveria ser pago, mas, imediatamente após, registra-se como redução dessa despesa uma receita pela subvenção. Isso faz com que sejam devidamente evidenciados, na demonstração do resultado, a todos os usuários, que há um resultado incentivado a compor o desempenho da empresa (Gelbcke et al., 2018). Anteriormente, o procedimento adotado evidenciava uma despesa com o tributo, como se esse tributo fosse efetivamente ser pago, e o crédito era no patrimônio líquido, distorcendo-se o desempenho da entidade. 3.4 Constituição da reserva de incentivos fiscais A Lei n. 11.941/2009deliberou no sentido de evitar que as empresas sejam prejudicadas, do ponto de vista tributário, por conta da nova forma de registro contábil das doações e subvenções, fazendo isso da seguinte forma: permitindo que a entidade registre, em cada exercício em que reconhecer esse tipo de receita, a transferência da conta de lucros acumulados para a conta de reserva de incentivos fiscais o exato valor de tal receita, de forma a não distribuir esse valor como lucros ou dividendos aos sócios. Esse controle deverá ser efetuado com a utilização do Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR) para que a empresa possa ajustar seu lucro tributável, tanto para fins de cálculo do imposto de renda quanto da contribuição social sobre o lucro líquido (Gelbcke et al., 2018). 11 O LALUR é utilizado para calcular o imposto de renda devido pela empresa, quando esta tiver tributação pelo lucro real. Esse livro é utilizado, pois o lucro tributável (real) não é o lucro apurado pela contabilidade, mas sim o ajustado neste livro, para que as receitas que não sejam tributadas possam ser retiradas do resultado, assim como as despesas que não forem dedutíveis possam ser adicionadas. TEMA 4 – AJUSTE DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL O ajuste de avaliação patrimonial é uma conta contábil que faz parte do patrimônio líquido. Essa conta foi introduzida na contabilidade brasileira por meio da Lei n. 11.638/2007 e tem o objetivo de receber as contrapartidas de aumentos e reduções de valor atribuído a elementos do ativo e do passivo, quando da sua avaliação a valor justo, enquanto não forem computados no resultado do exercício, considerando o regime de competência. De acordo com Viceconti e Neves (2013, p. 199) Valor justo é definido pela estrutura conceitual da contabilidade como o valor pelo qual um ativo pode ser negociado ou um passivo liquidado entre partes interessadas, conhecedoras do assunto e independentes entre si, com ausência de fatores que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória. Podemos então dizer que o valor justo é o valor de mercado de um bem, em que as partes concordam em pagar e receber em uma operação de venda. O ajuste de avaliação patrimonial é, portanto, um ajuste ao valor do ativo ou passivo, fazendo com que estes aproximem-se ao seu valor real. Alguns exemplos de ajuste de avaliação patrimonial são: a. Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis; b. Instrumentos financeiros; c. Combinação de negócios; d. Estoques de produtos agrícolas com origem em ativos biológicos; e. Recomposição do custo do imobilizado (deemed cost). É importante observarmos que, apesar de a conta do ajuste de avaliação patrimonial fazer parte do PL, ela não pode ser confundida com uma reserva, 12 uma vez que seus valores não transitam pelo resultado, o que somente ocorrerá na medida da realização dos ativos e dos passivos que os geraram. Vejamos a seguir alguns exemplos para ajuste a valor justo e criação da conta de ajuste de avaliação patrimonial. 4.1 Variação cambial Para investimentos no exterior, faz-se necessária a realização de uma avaliação a valor justo em cada encerramento de período, de forma que tal avaliação reflita o valor justo do investimento. Seguindo o exemplo de Rios e Marion (2017), a empresa UNT realizou investimentos no exterior, no valor de US$ 10.000, em janeiro de X1; a cotação o dólar nesta data era de R$ 1,95. Dessa forma, o investimento em reais correspondia a R$ 195.000, ficando escriturado assim: D – Investimentos no exterior – R$ 195.000 C – Disponibilidade – R$ 195.000 Em dezembro do ano X1, a empresa UNT fez uma avaliação do seu investimento. Como este está representado em moeda estrangeira, no caso, o dólar, faz-se necessária a verificação da taxa de câmbio na data do encerramento do período. O valor do dólar nessa data é R$ 1,89. Ao calcularmos, teremos US$ 100.000 x R$ 1,89 = R$ 189.000. Portanto podemos observar que houve uma redução, tendo então um ajuste contábil representado da seguinte forma: D – Ajuste de avaliação patrimonial (PL) – R$ 6.000 C – (-) Variação cambial (redutor do investimento) – R$ 6.000 A transferência do valor da conta de ajuste de avaliação patrimonial para o resultado do exercício só ocorrerá na realização do investimento. No caso de alienação. Ao admitirmos a venda do investimento pelos R$ 189.000, teremos: D – Disponibilidade – R$ 189.000 D – (-) Variação cambial (redutor do investimento) – R$ 6.000 C – Investimento no Exterior – R$ 195.000 13 O lançamento da conta de ajuste (PL) para o resultado, será: D – Variação Cambial (resultado) – R$ 6.000 C – Ajuste de avaliação patrimonial (PL) – 6.000 4.2 Recomposição do custo do imobilizado (deemed cost) O Comitê de Pronunciamentos Contábeis permitiu, por meio do ICPC, que as entidades realizassem, avaliação do seu imobilizado pelo valor justo, entretanto somente na adoção inicial dos pronunciamentos contábeis (regras internacionais) De acordo com a Interpretação Técnica ICPC 10, no momento da adoção inicial dos Pronunciamentos Técnicos CPC 27 – Ativo Imobilizado, CPC 37 – Adoção Inicial das Normas Internacionais de Contabilidade, e CPC 43 (R1) – Adoção Inicial dos Pronunciamentos Técnicos CPC 15 a 41, a entidade pode detectar itens do ativo imobilizado ainda em operação, capazes de proporcionar geração de fluxos de caixa futuros, que estejam reconhecidos no balanço por valor consideravelmente inferior ou superior ao seu valor justo. Nesses casos, entende-se que a prática mais adequada a ser adotada é empregar o valor justo como custo atribuído (deemedcost) para ajustar os saldos iniciais possivelmente subavaliados ou superavaliados. (Gelbcke et al., 2018, p. 249) A adoção inicial às normas internacionais de contabilidade iniciou em 2008 e 2015, após a publicação das Lei n. 11.634/2007 e n. 11.941/2009. Nada diz a legislação sobre aquelas empresas que, por algum motivo, não aderiram às normas internacionais de contabilidade. O objetivo é a recomposição do valor dos ativos, mesmo nos casos em que estes estejam totalmente depreciados, mas que ainda se encontrem em plena atividade operacional. O ajuste nesse caso funciona como se fosse uma reavaliação desses ativos. Vejamos um exemplo prático dessa avaliação no imobilizado, seguindo como base o exemplo trazido por Rios e Marion (2017). A empresa VIX, ao adotar os pronunciamentos do CPC no ano X, resolve rever o valor do seu imobilizado, mensurando-o pelo valor justo, possuindo apenas três ativos relevantes, sendo: Ativo Custo original (_) Depreciação Valor contábil Valor Justo Máquina 1 325.000 97.500 227.500 415.000 Máquina 2 715.000 107.250 607.750 680.000 Máquina 3 2.000.000 400.000 1.600.000 1.750.000 Totais 3.040.000 604.750 2.435.250 2.845.000 14 As diferenças geradas pela avaliação a valor justo são as seguintes: Ativo Valor contábil Valor Justo Diferença Máquina 1 227.500 415.000 187.500 Máquina 2 607.750 680.000 72.250 Máquina 3 1.600.000 1.750.000 150.000 Totais 2.435.250 2.845.000 409.750 Os lançamentos contábeis serão: D – Máquina 1 (Imobilizado) – R$ 187.500 D – Máquina 1 (Imobilizado) – R$ 72.250 D – Máquina 1 (Imobilizado) – R$ 150.000 C – Ajuste de avaliação patrimonial (PL) – R$ 409.750 À medida que os bens forem sendo realizados, ou pela venda ou pela depreciação, o saldo constante na conta de ajuste de avaliação patrimonial deverá ser transferido para o resultado. 4.3 Reavaliação Com a publicação da Lei n. 11.638/2007, foi eliminada a possibilidade, descrita até então na Lei n. 6.404/1976, de uma empresa avaliar os ativos por seu valor de mercado quando este fosse superior ao custo (Brasil, 2007). De acordo com Gelbcke et al. (2018), essa eliminação está em desacordo com asnormas internacionais, as quais permitem esse tipo de procedimento. No entanto, o principal motivador para essa impossibilidade no Brasil foi o mau uso desse mecanismo. Com a edição das normas internacionais, tivemos a possibilidade de realizar o ajuste de avaliação patrimonial, que é uma espécie de “reavaliação”, no entanto tal ajuste somente poderia ocorrer quando da adesão pela entidade às normas internacionais de contabilidade, conceito este que deve ser respeitado pelas entidades. TEMA 5 – DIVIDENDOS Os dividendos correspondem à parcela do lucro que é distribuída aos sócios/acionistas como forma de remuneração. A Lei n. 6.404/1976 dispõe ainda: 15 Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância determinada de acordo com as seguintes normas: I - metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores: a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e b) importância destinada à formação da reserva para contingências (art. 195) e reversão da mesma reserva formada em exercícios anteriores; II - o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser limitado ao montante do lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, desde que a diferença seja registrada como reserva de lucros a realizar (art. 197); III - os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não tiverem sido absorvidos por prejuízos em exercícios subseqüentes, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a realização (Brasil, 1976) Gelbcke et al. (2018) esclarecem que, antes do dividendo obrigatório, já existiam o dividendo mínimo e o dividendo fixo, ambos atualmente previstos no art. 17 da Lei das S/As (Brasil, 1976). Nas sociedades limitadas não existe exigência para pagamento de dividendo mínimo. Nessa natureza societária, há liberdade para que as próprias empresas determinem suas políticas de pagamento de dividendos. Já nas sociedades anônimas há exigências mínimas que devem ser seguidas e que podem, inclusive, constar no estatuto social da companhia. Segundo Viceconti e Neves (2013), a Companhia somente poderá pagar dividendos à conta de lucro líquido do exercício, lucros acumulados e de reservas de lucros. No caso de ações preferenciais, pode-se utilizar a conta de reserva de capital. A contabilização dos dividendos, poderá ser feita da seguinte forma: D – Lucros acumulados (PL) C – Dividendos a pagar (PC) Veja que inicialmente há a criação de uma obrigação de dividendos a pagar e, em seguida, há o efetivo pagamento, baixando o saldo do passivo contra disponibilidade. Esse valor pode ainda voltar ao PL da entidade, na forma de aumento de capital, conforme opção e acordo entre sócios/acionistas. Viceconti e Neves (2013) nos ensinam que o estatuto da companhia pode fixar política de distribuição de dividendos que melhor se ajuste às suas particularidades. Podemos ainda visualizar de forma resumida a tipologia de dividendos, com base na Lei n. 6.404/1976. 16 Quadro 2 – Tipologia dos dividendos 1. Quanto à ordem de distribuição 1.1 Prioritários Quando existe prioridade no recebimento de dividendos, normalmente concedida aos acionistas detentores de ações preferenciais. 1.2 Não prioritários Quando não existe prioridade na distribuição de dividendos aos acionistas (acionistas detentores de ações ordinárias) 2. Quanto ao direito ao seu recebimento – dividendo: 2.1 Cumulativo Quando o acionista tiver direito ao recebimento do dividendo no exercício em que não houver lucros suficientes para sua distribuição ou quando não for possível distribuí-lo no exercício social, seu montante será acumulado e distribuído em exercício futuro. 2.2 Não cumulativo Quando os acionistas perdem o direito ao recebimento do dividendo quando os lucros forem insuficientes ou quando não for possível distribuí-lo no exercício social. 3. Quanto à forma de distribuição dos lucros 3.1 Mínimo Quando possibilita aos acionistas participar da distribuição dos lucros remanescentes, ou seja, após todas as distribuições previstas no estatuto e, no mínimo, em igualdade de condições com os acionistas detentores de ações ordinárias. 3.2 Fixo Quando a ação não participa nos lucros remanescentes, ou seja, quando o montante a ser recebido a título de dividendo é, normalmente, prefixado. Nessa hipótese, caso o montante dos lucros possibilitasse a distribuição de importância superior os acionistas com direito a dividendo fixo não participam dessa distribuição. 3.3 Obrigatório Quando o estatuto for omisso, os acionistas terão o direito de receber os dividendos na forma estabelecida pelo artigo 202 da lei 6.404/76, ou seja, 50% do lucro ajustado. Fonte: Vicenconti; Neves, 2013, p. 192. 5.1 Juros sobre o capital próprio – JPC Os juros sobre o capital próprio (JCP) refere-se a uma espécie de “correção monetária” paga ao sócio ou acionista sobre o valor que este investiu naquela empresa (capital social). Não há obrigatoriedade de pagamento desses juros aos sócios ou acionistas, sendo isso uma opção feita por meio de acordo entre os participantes do capital. A norma brasileira permite que as empresas remunerem seus sócios/acionistas com o chamado juros (ou remuneração) sobre o capital próprio. Essa regra foi instituída pela Lei n. 9.249/1995, permitindo então que os sócios ou acionistas recebam um valor pelo capital investido na empresa. Os juros sobre o capital próprio, além de serem mais uma forma de remunerar os sócios/acionistas de uma entidade, são ainda uma forma de planejamento tributário, já que o valor pago a título de JCP pode ser dedutível na apuração do imposto de renda pelo lucro real, desde que o montante dos juros remuneratórios não ultrapasse o maior entre os seguintes valores: (i) 50% 17 (cinquenta por cento) do lucro líquido do exercício antes da dedução dos juros, caso estes sejam contabilizados como despesa; ou (ii) II - 50% (cinquenta por cento) do somatório dos lucros acumulados e reservas de lucros. Vejamos a previsão do JCP descrito na Instrução Normativa da Receita Federal n. 1.700/2017: Art. 75. Para efeitos de apuração do lucro real e do resultado ajustado a pessoa jurídica poderá deduzir os juros sobre o capital próprio pagos ou creditados, individualizadamente, ao titular, aos sócios ou aos acionistas, limitados à variação, pro rata die, da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e calculados, exclusivamente, sobre as seguintes contas do patrimônio líquido: I - capital social; II - reservas de capital; III - reservas de lucros; IV - ações em tesouraria; e V - prejuízos acumulados. Observem que o valor dos juros sobre o capital é calculado, em regra, pela TJLP e sua base de cálculo é o saldo do patrimônio líquido, com exceção da conta de ajuste de avaliação patrimonial, que deve ser desconsiderada para realização do cálculo. Quadro 3 – Exemplo de apuração do JCP Patrimônio Líquido da entidade: CONTAS SALDO Capital Social 100.000,00 Reserva de Capital 35.000,00 Reserva Incentivos Fiscais 11.000,00 Reserva Legal 22.500,00 Ajuste de Avaliação Patrimonial 55.000,00 Reserva de Contingência 61.000,00 Reserva Estatutária 11.500,00 PL Total 296.000,00 Lucro do Exercício 250.000,00 TJLP 7,5% Valor dos juros sobre o capital a pagar aos sócios/acionistas pode ser de R$ 18.075,00 Cálculo: Total PL 296.000 (-) ajuste de avaliação patrim. (55.000) Saldo 241.000 TJLP x 7,5% Total JCP 18.075 18 TROCANDO IDEIAS Agora você precisa buscar uma demonstração financeira de alguma das empresas listadas na bolsa e identificar as contasdo PL. Participe do fórum indicando quais são as contas de reserva que você identificou, leia as notas explicativas referente às reservas e conte para nós e para seus colegas a que se referem. Faça o mesmo com a conta de ajuste de avaliação patrimonial e nos diga qual é a conta do ativo ou do passivo que foi ajustada com base no valor justo. NA PRÁTICA É admitido pela legislação que as empresas do lucro real deduzam de sua apuração os juros pagos ou creditados individualmente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro-rata dia, da taxa de juros de longo prazo – TJLP. Diante disto, uma empresa apresentou o patrimônio líquido de acordo com os dados a seguir: Capital social 70.000,00 Reserva de capital 14.000,00 Reserva incentivos fiscais 5.000,00 Reserva legal 9.000,00 Ajuste de avaliação patrimonial 23.000,00 Reserva de contingência 6.000,00 Reserva estatutária 2.500,00 Considerando que a TJLP do período é de 7,5% e o lucro do exercício é R$ 180.000,00, calcule o valor do JCP devido ao sócio e indique qual é o valor passível de dedução na apuração do lucro real. Resolução: Total PL 129.500,00 (-) AAP (23.000,00) Base de cálculo 106.500,00 TJLP x 7,5% JCP 7.987,50 19 Dedutibilidade 50% Lucro líquido 90.000,00 50% Lucro acumulado + Reserva de lucro 11.250,00 O total de JCP pago é totalmente dedutível no lucro real. FINALIZANDO Nesta aula conhecemos um pouco mais sobre as contas do patrimônio líquido, especificamente as reservas de lucros, reserva de incentivos fiscais e ajuste de avaliação patrimonial. É importante destacar ainda que as reservas de lucros são partes do resultado da empresa, em regra geral, que foram transferidas às contas de reservas de acordo com a finalidade e estatuto da entidade. Já as reservas de incentivos fiscais referem-se a incentivos dados pelos órgãos públicos, como a subvenção, com o objetivo de incentivar uma atividade em um determinado local. Já a conta de ajuste de avaliação patrimonial é o ajuste do ativo ou do passivo, a valor justo, ou valor de mercado, para que o balanço apresente, de forma real, o saldo dos seus bens, direitos e obrigações. Por último, conhecemos também as regras de dividendos previstas na lei das sociedades anônimas, que podem ser aplicadas a empresas limitadas. Vimos ainda outra forma de remuneração dos sócios, os juros sobre o capital, que é bastante utilizada entre as empresas, muito mais com intuito de planejamento tributário. 20 REFERÊNCIAS ADRIANO, S. Manual dos pronunciamentos contábeis comentados. São Paulo: Atlas, 2018. ALMEIDA, M. C. Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC. São Paulo: Altas, 2014. ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. _____. Lei n. 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. _____. Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 mar. 1999 _____. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2008. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28 dez. 2008. BRASIL. Comissão de Valores Imobiliários. Instrução CVM 567. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 18 set. 2015. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst567.html>. Acesso em: 4 jun. 2018. BRASIL. Receita Federal. Instrução Normativa RFB n. 1700, de 14 de março de 2017. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 16 mar. 2017. BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1) – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. 15 dez. 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80>. Acesso em: 4 jun. 2018. _____. CPC 07 – Subvenção e Assistência Governamentais. 2 dez. 2010. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=38>. Acesso em: 6 jun. 2018. 21 ENTENDA a diferença entre ações preferenciais e ordinárias. O Globo, 13 nov. 2006. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/entenda-diferenca- entre-acoes-preferenciais-ordinarias-4549107#ixzz5BIW85Veistest>. Acesso em: 4 jun. 2018. FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1000 questões. 12. ed. rev. Rio de Janeiro: Impetrus, 2012. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. IUDICIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. IUDICIBUS, S. de; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. RIOS, R. P.; MARION, J. C. Contabilidade avançada. São Paulo: Atlas, 2017. VICECONTI, P.; NEVES, S. das. Contabilidade avançada e análise das demonstrações financeiras. 17. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2013. CONTABILIDADE SOCIETÁRIA AULA 5 Profª Paolla Hauser 2 CONVERSA INICIAL Olá! Nesta aula vamos tratar do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 23 (Políticas contábeis, mudança de estimativa e retificação de erro). A contabilidade não é isenta de erros e as demonstrações contábeis podem conter erros acidentais ou intencionais (que, na verdade, são fraudes). Assim, o objetivo desse pronunciamento é definir critérios para a seleção e a mudança de políticas contábeis, juntamente com o tratamento contábil e a divulgação de mudança nas políticas contábeis, além de mudanças nas estimativas contábeis e retificações de erros. Boa aula! CONTEXTUALIZANDO A reapresentação das demonstrações contábeis para retificação de erro poder passar, sobre a empresa que faz a reapresentação, uma visão ruim perante os investidores e outros usuários da informação contábil. Para você conhecer tal operação, veja a seguir sobre a reapresentação das demonstrações financeiras do exercício de 2015. Nota sobre reapresentação das demonstrações financeiras de 2014 Em relação às publicações envolvendo as demonstrações financeiras do ano de 2014, o Sport Club Corinthians Paulista esclarece que durante os procedimentos contábeis e de auditoria externa para o fechamento do balanço do exercício de 2015 foram identificadas necessidades de ajustes aos valores registrados – e que não caracterizam qualquer tipo de maquiagem – e publicados referentes ao exercício de 2014. Os ajustes realizados foram discutidos com a auditoria independente e também foram obtidos pareceres de especialistas para suportarem os registros desses valores ajustados. O balanço de 2015, publicado em 30 de abril de 2016, tem a devida informação sobre os critérios utilizados, conforme a nota explicativa número 2, com o título Reapresentação das Demonstrações Contábeis do Exercício Findo em Dezembro de 2014: “O balanço patrimonial e as respectivas demonstrações do resultado (…) foram ajustados e estão sendo reapresentados como previsto no CPC23 – Políticas Contábeis Mudanças de Estimativas e Retificação de Erro e CPC 26 (R1) Apresentação das Demonstrações Contábeis e da norma internacional IAS 1 (R)”. A opinião dos auditores independentes relata, conforme parágrafo de ênfase número 1 do Relatório dos Auditores Independentes, sobre as Demonstrações Contábeis: “Examinamos também os ajustes descritos (…) que foram efetuados para reclassificar as demonstrações contábeis de 31 de dezembrode 2014 (…). Em nossa opinião, tais ajustes são apropriados e foram adequadamente efetuados”. Assim sendo, por tratar-se de mera interpretação divergente acerca de normas contábeis, entendemos não haver razão para o prolongamento do assunto. Fonte: Sport Club Corinthians Paulista, 2017. 3 TEMA 1 – ASPECTOS INICIAIS CPC 23 Para que ativos, receitas, passivos ou despesas sejam registrados na contabilidade, há que ser observado dois requisitos básicos: (i) probabilidade de futuros benefícios econômicos; e (ii) confiabilidade e mensuração. O CPC 00 conceitua esses requisitos da seguinte forma: 4.40. O conceito de probabilidade deve ser adotado nos critérios de reconhecimento para determinar o grau de incerteza com que os benefícios econômicos futuros referentes ao item venham a fluir para a entidade ou a fluir da entidade. O conceito está em conformidade com a incerteza que caracteriza o ambiente no qual a entidade opera. As avaliações acerca do grau de incerteza atrelado ao fluxo de benefícios econômicos futuros devem ser feitas com base na evidência disponível quando as demonstrações contábeis são elaboradas. Por exemplo, quando for provável que uma conta a receber devida à entidade será paga pelo devedor, é então justificável, na ausência de qualquer evidência em contrário, reconhecer a conta a receber como ativo. Para uma ampla população de contas a receber, entretanto, algum grau de inadimplência é normalmente considerado provável; dessa forma, reconhece-se como despesa a esperada redução nos benefícios econômicos. 4.41. O segundo critério para reconhecimento de um item é que ele possua custo ou valor que possa ser mensurado com confiabilidade. Em muitos casos, o custo ou valor precisa ser estimado; o uso de estimativas razoáveis é parte essencial da elaboração das demonstrações contábeis e não prejudica a sua confiabilidade. Quando, entretanto, não puder ser feita estimativa razoável, o item não deve ser reconhecido no balanço patrimonial ou na demonstração do resultado. Por exemplo, o valor que se espera receber de uma ação judicial pode enquadrar-se nas definições tanto de ativo quanto de receita, assim como nos critérios probabilísticos exigidos para reconhecimento. Todavia, se não é possível mensurar com confiabilidade o montante que será recebido, ele não deve ser reconhecido como ativo ou receita. A existência da reclamação deve ser, entretanto, divulgada nas notas explicativas ou nos quadros suplementares. Por vezes, há o atendimento de apenas um os dois requisitos citados acima, o que impede o registro contábil. Tais conceitos iniciais foram apresentados para que você relembre os princípios iniciais aplicados à escrituração contábil, e em seguida conheça as regras trazidas pelo CPC 23, que trata de políticas contábeis, mudanças de estimativa e retificações de erro. A Lei n. 6.404/1976, trata, em seu art. 186, “§ 1º Como ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas os decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não possa ser atribuído a fatos subsequentes”. O Pronunciamento Técnico CPC 23, então, tem como objetivo “definir critérios para a seleção e a mudança de políticas contábeis, juntamente com o 4 tratamento contábil e divulgação de mudança nas políticas contábeis, a mudança nas estimativas contábeis e a retificação de erro.” (CPC, 2009) Este pronunciamento visa melhorar a relevância e a confiabilidade das demonstrações contábeis da entidade, assim como permitir que os saldos sejam comparáveis ao longo dos anos com as demonstrações de outras entidades. Segundo Rios e Marion (2018, p. 373), “entre outras coisas, o pronunciamento determina que os erros e omissões de períodos anteriores devam ser ajustados no exercício corrente, no patrimônio líquido, em lucros ou prejuízos acumulados.” Outra determinação do CPC 23 foi a reapresentação retrospectiva, o que não havia sido tratado na Lei das S/As. Isso é, os efeitos de mudanças de políticas contábeis e de erros e omissões devem ser verificados nos períodos anteriores, que deverão ser reelaborados. Para estudarmos o assunto, vamos conhecer primeiro as definições essenciais, de acordo com o CPC 23 (2009). Primeiramente, a própria definição de políticas contábeis: são os princípios, as bases, as convenções, as regras e as práticas específicas aplicadas pela entidade na elaboração e na apresentação de demonstrações contábeis. O conceito de mudança na estimativa contábil trata de um ajuste nos saldos contábeis de ativo ou de passivo, ou dos montantes relativos ao consumo periódico de ativo, decorrente da avaliação da situação atual e das obrigações dos benefícios futuros esperados, que são associados aos ativos e passivos. As alterações nas estimativas contábeis decorrem de nova informação ou de inovações; portanto, não se trata de retificações de erros. Saiba mais Uma estimativa contábil envolve julgamento baseado na última informação disponível e confiável, o que pode precisar de uma revisão em virtude de alterações nas circunstâncias que tal estimativa se baseou, com base em novas informações ou até mesmo considerando a experiência adquirida posteriormente. Nesse sentido, uma revisão na estimativa não se relaciona com períodos anteriores e nem é retificação de erro. Vejam um exemplo: se uma nova tecnologia na manutenção de um equipamento faz com que ele tenha, a partir de agora, uma mudança na vida útil econômica originalmente estimada, a alteração das taxas de depreciação é uma mudança de estimativa, e não retificação de erro, já que nada tinha de errado até então. O mesmo aconteceria caso a entidade revisasse o valor residual da máquina aplicando alteração das taxas de depreciação, neste caso, tampouco haveria qualquer retificação de erro. Porém, uma mudança na base de avaliação é uma mudança na política contábil e não uma mudança na estimativa contábil. Aqui se configura uma mudança de prática contábil em que a forma de avaliação foi alterada em virtude de alteração em princípios, bases, convenções, regras e/ou práticas específicas aplicadas. 5 Por exemplo, optar por sair do PEPS e passar para o custo médio ponderado móvel para a avaliação dos estoques é uma mudança de política contábil. Note-se que a mudança de política contábil, demandará ajustes retrospectivos de forma a se garantir a comparabilidade entre períodos. No exemplo, o resultado do período anterior que foi apurado utilizando-se o PEPS precisará ser ajustado e reapresentado com base no custo médio ponderado móvel; só assim os resultados serão comparáveis. Fonte: Gelbcke, et al., 2018, p. 518. Seguimos para o conceito de omissão material ou incorreção material, que é a omissão ou a informação incorreta que pode, individual ou coletivamente, influenciar as decisões econômicas que os usuários das demonstrações contábeis tomam como base nessas demonstrações. A materialidade depende da dimensão e da natureza da omissão ou da informação incorreta julgada à luz das circunstâncias às quais está sujeita. A dimensão ou a natureza do item, ou a combinação de ambas, pode ser o fator determinante. Já os erros de períodos anteriores são omissões e incorreções nas demonstrações contábeis da entidade de um ou mais períodos anteriores decorrentes da falta de uso, ou do uso incorreto, de informação confiável, a qual: (i) estava disponível quando da autorização para divulgação das demonstrações contábeis desses períodos; e (ii) pudesse ter sido razoavelmente obtida e levada em consideração na elaboração e na apresentação dessas demonstrações contábeis. Tais erros incluem os efeitos de erros matemáticos, erros na aplicação de políticas contábeis, descuidos ou interpretações incorretas de fatos e fraudes. Saiba mais Os erros “incluem os efeitos de erros matemáticos, erros naaplicação de políticas contábeis, descuidos ou interpretações incorretas de fatos e fraudes”. A omissão ou incorreção material pode, individual ou coletivamente, influenciar as decisões econômicas dos usuários baseadas em demonstrações contábeis. Nesse caso, avaliar se a omissão ou o erro é ou não material requer análise das características dos usuários e deve levar em conta a maneira como os usuários, com seus respectivos atributos, poderiam ser razoavelmente influenciados na tomada de decisão econômica. Por exemplo, o fato de se descobrir em maio que o estoque de aparelhos telefônicos utilizados para repor os avariados está errado desde outubro do ano anterior, e só existem 50 e não 120 como contabilizados, provavelmente não ensejará qualquer tratamento contábil para esse ajuste como retificação de erro, pela imaterialidade dos valores envolvidos e não relevância da informação para o usuário das demonstrações contábeis. Mas se acontecer o mesmo com os estoques totais da sociedade, que representam, por exemplo, 25% do ativo, não há dúvida de que será necessário contabilizar o ajuste como retificação de erro. Fonte: Gelbcke, et al., 2018, p. 518. A ideia de aplicação retrospectiva trata da aplicação de nova política contábil a transações, a outros eventos e a condições, como se essa política 6 tivesse sido sempre aplicada. Por outro lado, a reapresentação retrospectiva é a correção do reconhecimento, da mensuração e da divulgação de valores de elementos das demonstrações contábeis, como se um erro de períodos anteriores nunca tivesse ocorrido. O conceito de aplicação impraticável de requisito ocorre quando a entidade não pode aplicá-lo depois de ter feito todos os esforços razoáveis nesse sentido. Para um período anterior em particular, é impraticável aplicar retrospectivamente a mudança em política contábil ou fazer a reapresentação retrospectiva para corrigir um erro se: (i) os efeitos da aplicação retrospectiva ou da reapresentação retrospectiva não puderem ser determinados; (ii) a aplicação retrospectiva ou a reapresentação retrospectiva exigir premissas baseadas no que teria sido a intenção da Administração naquele momento passado; ou (iii) a aplicação retrospectiva ou a reapresentação retrospectiva exigir estimativas significativas de valores e, se for impossível identificar objetivamente a informação sobre essas estimativas, considera-se aquela que: i. proporciona evidências das circunstâncias que existiam à data em que esses valores deviam ser reconhecidos, mensurados ou divulgados; ii. estaria disponível quando as demonstrações contábeis desse período anterior tiveram autorização para divulgação. A aplicação prospectiva de mudança em política contábil e de reconhecimento do efeito de mudança em estimativa contábil representa, respectivamente: (i) a aplicação da nova política contábil a transações, a outros eventos e a condições que ocorram após a data em que a política é alterada; e (ii) o reconhecimento do efeito da mudança na estimativa contábil nos períodos corrente e futuro afetados pela mudança. TEMA 2 – POLÍTICAS CONTÁBEIS De acordo com Rios e Marion (2018), políticas contábeis são princípios, bases, convenções, regras e práticas específicas aplicadas por entidades na elaboração e apresentação de suas demonstrações contábeis. Antes de tratarmos de alterações nas políticas contábeis, vamos falar um pouco sobre a convenção da consistência, ou princípio da uniformidade. Iudicibus (2015, p. 65) trata esta convenção como talvez a mais importante da contabilidade: 7 Caracteriza-se como um conceito de que, desde que tenhamos adotado certo critério, entre os vários que poderiam ser válidos à luz dos princípios contábeis, não deveria ele ser alterado nos relatórios periódicos, a não ser que absolutamente necessário e desde que a alteração de critério e os efeitos que possa ter acarretado na interpretação por parte dos usuários das tendências e dos resultados da empresa sejam evidenciados. Consistência não significa uniformidade de uma empresa em relação a uma outra, mas sim uniformidade no âmbito da própria empresa e no contexto temporal, para que a comparabilidade seja assegurada, pelo menos quanto aos dois últimos exercícios. A consistência ainda está relacionada à materialidade; tanto uma como a outra devem ser consideradas para que a mudança de um critério seja evidenciado, porque primeiramente, representa uma mudança (consistência) e, em segundo lugar, já que material, a diferença que a mudança provocou nos resultados, quando comparados com os obtidos se tivéssemos continuado a usar o critério antigo, pode tornar enganosos, para os usuários, os demonstrativos contábeis, se não for evidenciada. 2.1 Seleção e aplicação Quando um Pronunciamento Técnico, Interpretação ou Orientação for aplicado especificamente a uma transação, a outro evento ou circunstância, as políticas contábeis aplicadas a esse evento devem ser determinadas pela aplicação do mesmo Pronunciamento, Interpretação ou Orientação. Conforme o CPC 23, na ausência do pronunciamento técnico, interpretação ou orientação, a empresa deverá exercer julgamento no desenvolvimento e na aplicação de política contábil que resulte em informação, qual seja (CPC, 2009): (a) relevante para a tomada de decisão econômica por parte dos usuários; e (b) confiável, de tal modo que as demonstrações contábeis: (i) representem adequadamente a posição patrimonial e financeira, o desempenho financeiro e os fluxos de caixa da entidade; (ii) reflitam a essência econômica de transações, outros eventos e condições e, não, meramente a forma legal; (iii) sejam neutras, isto é, que estejam isentas de viés; (iv) sejam prudentes; e (v) sejam completas em todos os aspectos materiais. Para exercer julgamento, a entidade deve consultar e considerar a aplicabilidade das seguintes fontes, por ordem decrescente (CPC, 2009): 8 (a) os requisitos e a orientação dos Pronunciamentos, Interpretações e Orientações que tratem de assuntos semelhantes e relacionados; e (b) as definições, os critérios de reconhecimento e os conceitos de mensuração para ativos, passivos, receitas e despesas contidos na estrutura conceitual. 2.2 Uniformidade nas políticas contábeis Conforme entendem Rios e Marion (2017), as políticas contábeis devem ser consistentes e não devem ser alteradas, a menos que resultem em informação contábil mais confiável. Assim, a entidade deve selecionar e aplicar suas políticas uniformemente para transações semelhantes, que devem ser consistentes para cada categoria. 2.3 Mudanças nas políticas contábeis A mudança na política contábil pode resultar de duas situações: (i) exigida por norma, pronunciamento, interpretação ou orientação; ou (ii) mudança voluntária que resulte em informação mais confiável e mais relevante para melhor apresentação dos efeitos de transações ou de outros eventos na posição patrimonial e financeira da entidade, no seu desempenho e na sua movimentação financeira (Gelbcke et al., 2018). Os usuários das demonstrações contábeis devem ter a possibilidade de comparar as demonstrações contábeis da entidade ao longo do tempo para identificar tendências na sua posição patrimonial e financeira, no seu desempenho e nos seus fluxos de caixa. Por isso, devem ser aplicadas políticas contábeis em cada período, e de um período para o outro. Não constituem mudanças nas políticas contábeis: (i) a adoção de política contábil para transações, entre outros eventos ou condições que difiram em essência daqueles que ocorriam anteriormente; e (ii) a adoção de nova política contábil para transações, outros eventos ou condições que não ocorriam anteriormente ou eram imateriais. A regra de mudanças em políticas contábeis é a seguinte: i. Se a mudança for voluntária, a aplicação deve ser feita retrospectivamente; ii.Se a mudança for exigida por um pronunciamento ou interpretação, então deverá ser verificado se nessa norma há requerimentos específicos na 9 transição; se houver, aplicam-se os requerimentos específicos da norma; se não houver, deverá ser aplicada a mudança retrospectivamente. 2.4 Limitação à aplicação retrospectiva Segundo Rios e Marion (2018, p. 375), “aplicação retrospectiva significa dizer que a aplicação de uma nova política contábil deve ser feita como se essa política tivesse sido sempre aplicada.” Para isso, a entidade deve ajustar o saldo de abertura de cada componente do patrimônio líquido afetado, para o período anterior mais antigo apresentado e para os demais montantes comparativos divulgados para cada período anterior apresentado. A aplicação retrospectiva não deverá ser aplicada se: i. for impraticável determinar o efeito de período específico; nesse caso, é preciso aplicar a nova política contábil no início do período mais recente no qual a aplicação retrospectiva é praticável; ii. for impraticável determinar o efeito acumulado da mudança; nesse caso, é preciso aplicar a nova política contábil de forma prospectiva a partir da data mais recente que for praticável, e também ajustar a informação comparativa. A aplicação prospectiva determina que o reconhecimento dos efeitos da mudança seja feito em períodos correntes e em futuro afetados. TEMA 3 – ALTERAÇÃO DE PRÁTICA CONTÁBIL E MUDANÇA DE ESTIMATIVA Estimativas contábeis são julgamentos realizados acerca da mensuração de determinados itens das demonstrações contábeis. O julgamento é realizado com base em informações e fatos disponíveis naquele momento pela entidade; com base nessas informações, as estimativas são realizadas (Rios; Marion, 2018). Para Gelbcke et al. (2018, p. 520) “as estimativas são parte do processo de reconhecimento e mensuração contábil, já que a incerteza é uma característica inerente à atuação das empresas e à dinâmica do mercado.” Assim, muitos itens patrimoniais de uma entidade não são mensurados com precisão e sim pela utilização de estimativas confiáveis, como, por exemplo: perdas estimadas de liquidação duvidosa, provisões de garantias, provisão para 10 contingências, provisão para estoque obsoleto, determinação de vida útil, valor justo, entre outros. O uso de estimativas razoáveis é parte essencial da elaboração de demonstrações contábeis e não reduz sua confiabilidade. A estimativa pode necessitar de revisão se ocorrerem alterações nas circunstâncias em que a estimativa se baseou ou em consequência de novas informações ou de maior experiência. Dada a sua natureza, a revisão da estimativa não se relaciona com períodos anteriores nem representa correção de erro. A mudança na base de avaliação é uma mudança na política contábil e não uma mudança na estimativa contábil. Quando for difícil distinguir uma mudança na política contábil de uma mudança na estimativa contábil, a mudança é tratada como mudança na estimativa contábil. O efeito da mudança na estimativa contábil deve ser reconhecido prospectivamente, incluindo nos resultados: (i) do período da mudança, se a mudança afetar apenas esse período; ou (ii) do período da mudança e de futuros períodos, se a mudança afetar todos eles. Vejamos alguns exemplos de mudança de estimativas. Exemplo A – Alteração da forma de cálculo para definição das obrigações com provisões de garantia, a qual deverá ser ajustada a valor presente. A base de avaliação foi alterada e, portanto, representa uma mudança de política contábil e não de estimativas. Exemplo B – Mudança na estimativa de perda com estoques afeta apenas os resultados do período corrente. Por exemplo, o supermercado usa um percentual estimado de perda de estoque em seus balanços trimestrais, e faz inventário apenas ao final de outubro de cada ano. Ao verificar, nessa data, qual o montante efetivo do ajuste, trata-se a diferença entre o estimado e o real como receita ou despesa dessa data do ajuste. Exemplo C – A mudança nas estimativas atuariais utilizadas para mensuração da obrigação relacionada a benefícios a empregados afeta a provisão do período corrente e de cada um dos períodos futuros, que serão baseados nas novas estimativas. Em ambos os casos, o efeito da mudança relacionada com o período corrente é reconhecido como receita ou despesa no período corrente. O efeito em períodos futuros, caso exista, será reconhecido como receita ou despesa nesses períodos futuros. 11 A entidade deve divulgar a natureza e o montante de mudança na estimativa contábil que tenha efeito no período corrente ou que se espera que tenha efeito em períodos subsequentes, salvo quando a divulgação do efeito de períodos subsequentes for impraticável. Se o montante do efeito de períodos subsequentes não for divulgado porque a sua estimativa é impraticável, a entidade deve divulgar tal fato. Exemplo: Empresa S/A Em 01/01/2010 a empresa Americana S/A adquiriu o direito de exploração de uma mina de minério de ferro por 1.485.000,00. Ao realizar a prospecção na mina, a empresa Americana S/A encontrou uma possança de 30.000 toneladas de minério de ferro, extraindo no exercício de 2010 um montante de 3.000 toneladas de minério. Em 01/01/2011, devido ao avanço tecnológico, a empresa realizou uma nova prospecção, encontrando uma capacidade adicional de 3.000 toneladas. Sabe-se que, no exercício de 2011, a empresa extraiu 4.500 toneladas. Com base nestas informações, a empresa apresentou, em 31/12/2011, um saldo de: a. amortização acumulada de 337.500,00. b. exaustão acumulada de 337.500,00. c. exaustão acumulada de 348.975,00. d. exaustão acumulada de 351.000,00. e. exaustão acumulada de 371.250,00. Atenção: a descoberta de uma capacidade adicional de 3.000 toneladas de minério em 01/01/2011, devido ao avanço tecnológico, está relacionada com a mudança na estimativa contábil, e tem aplicação prospectiva. 1º passo: Calcular a despesa com exaustão em 2010: Direito de exploração ..................................... 1.485.000,00 Extração em 2010 .......................................... 3.000 toneladas Possança de mina em 2010 ........................... 30.000 toneladas Exaustão em 2010 = Extração em 2010 / Possança em 2010 x Direito de exploração. Exaustão em 2010 = 3.000 toneladas / 30.000 toneladas x 1.485.000,00 Exaustão em 2010 = 148.500 Registro contábil: D – Despesas com exaustão em 2010 – 148.500,00 C – Exaustão acumulada em 2010 – 148.500,00 2º passo: Calcular a nova possança da mina em 2011. Com o avanço tecnológico dos equipamentos, a empresa Americana S/A em 01/01/2011, ao realizar uma nova prospecção, encontrou uma capacidade adicional de minério de ferro no montante de 3.000 toneladas. 12 Possança da mina em 2011 = Possança da mina em 2010 – Extração em 2010 + Capacidade adicional Possança da mina em 2011 = 30.000 toneladas – 3.000 toneladas + 3.000 toneladas Possança da mina em 2011 = 30.000 toneladas 3º passo: Calcular a despesa com exaustão em 2011, após a mudança na estimativa contábil. Direito de exploração ..................................... 1.485.000,00 Exaustão acumulada ....................................... 148.500,00 Extração em 2011 .......................................... 4.500 toneladas Possança de mina em 2010 ........................... 30.000 toneladas Exaustão em 2011 = Extração em 2011 / Possança em 2011 x (Direito de exploração – exaustão acumulada em 2010) Exaustão em 2011 = 4.500 toneladas / 30.000 toneladas x (1.485.000,00-148.000,00) Exaustão em 2011 = 200.475,00 Registro contábil da exaustão em 2011: D – Despesas com exaustão em 2011 – 200.475,00 C – Exaustão acumulada em 2011 – 200.475,00 Saldo da conta de exaustão acumulada: 348.975,00 Fonte: Adriano, 2018, p. 592. TEMA 4 – CORREÇÃO DE ERROS No processo de elaboração das demonstraçõescontábeis, podem ocorrer erros relativos a registros, mensuração etc. Com isso, as demonstrações não estariam sendo apresentadas de forma fidedigna, e sua qualidade ficaria prejudicada. Além de erros, omissões também contribuem para este cenário. O ideal seria ajustar tais equívocos antes da divulgação das demonstrações contábeis; entretanto, caso sejam descobertos depois, a solução é a correção na informação comparativa apresentada nas demonstrações contábeis do período subsequente. A entidade deve corrigir os erros materiais de períodos anteriores retrospectivamente no primeiro conjunto de demonstrações contábeis cuja autorização para publicação ocorra após a descoberta de tais erros: i. Por reapresentação dos valores comparativos para o período anterior apresentado em que tenha ocorrido o erro; ou ii. Se o erro ocorreu antes do período anterior mais antigo, antes da reapresentação dos saldos de abertura dos ativos, dos passivos e do patrimônio líquido para o período anterior mais antigo apresentado. Ao aplicar as regras acima, a entidade deve divulgar: A natureza do erro de período anterior; 13 O montante da retificação para cada período anterior apresentado, na medida em que seja praticável: (i) para cada item afetado da demonstração contábil; e (ii) se o Pronunciamento Técnico CPC 41 – Resultado por Ação se aplicar à entidade, para resultados por ação básicos e diluídos; O montante da retificação no início do período anterior mais antigo apresentado; As circunstâncias que levaram à existência dessa condição e uma descrição de como e desde quando o erro foi corrigido, se a reapresentação retrospectiva for impraticável para um período anterior em particular. As demonstrações contábeis de períodos subsequentes à retificação do erro não precisam repetir essas divulgações. O efeito do erro referente a um ou mais períodos anteriores deve ser excluído na determinação do lucro ou prejuízo do período em que o erro foi descoberto. Qualquer outra informação contábil apresentada para períodos anteriores, tal como resumo histórico de informações contábeis, deve ser corrigida para a data mais antiga que for praticável. (Gelbcke et al., 2018) 4.1 Evento subsequente Evento subsequente é aquele evento, favorável ou desfavorável, que ocorre entre a data final do período a que se referem as demonstrações contábeis e a data na qual é autorizada a emissão dessas demonstrações. Os eventos, entre a data do balanço e a data em que é autorizada a emissão das demonstrações, podem ser agrupados em dois blocos, isso é, são de dois tipos (Gelbcke et al., 2018): Os que evidenciam condições que já existiam na data do balanço; e Os que evidenciam condições que surgiram subsequentemente à data do balanço. Saiba mais O que é data de autorização para emissão das demonstrações contábeis – obrigatoriedade de divulgação dessa data Data na qual é autorizada a emissão das demonstrações contábeis é aquela em que essas demonstrações são apresentadas, pela primeira vez, a algum órgão no qual pessoa(s) externa(s) à diretoria e ao corpo funcional da entidade participa(m). Assim, nas sociedades por 14 ações, a apresentação das demonstrações contábeis ao conselho de administração, por exemplo, caracteriza a data da autorização para a sua emissão. Note-se que não é a data da divulgação ao público, da publicação em jornal etc. Em cada entidade pode haver variação em função de sua estrutura administrativa e do processo seguido para a finalização das demonstrações. Se houver apresentação, em primeiro lugar, ao comitê de auditoria, e como ele provavelmente possui pessoa(s) externa(s), essa é a data da autorização para emissão. No caso de informações não anuais, pode ser a data em que a diretoria autoriza a entrega das demonstrações à bolsa de valores, à CVM etc. É obrigatório, pelo CPC 24, que a empresa divulgue, em nota explicativa, qual é a data em que houve a autorização para a emissão das demonstrações, de forma que o usuário tenha conhecimento desse momento de corte das informações e dos registros contábeis. Isso porque, como esta é a data de “corte” para fins de evento subsequente, o usuário necessita saber quais “eventos” estão sendo considerados naquelas demonstrações. Fonte: Gelbcke et al., 2018. Os eventos da primeira categoria, mostrados atrás – ou seja, os que evidenciam condições que já existiam na data do balanço – obrigam a entidade a reconhecer os efeitos no balanço, mesmo que a definição, por exemplo dos valores, ocorra após essa data, desde que reflita condição que já estava presente na data do balanço. É o caso, por exemplo, de em janeiro a empresa descobrir que um cliente abriu falência em dezembro. A condição falimentar já existia; mesmo que o fato seja conhecido depois, obriga a empresa a reconhecer os efeitos dessa falência no balanço como, por exemplo, a constituição de uma perda estimada por créditos de liquidação duvidosa. Ou pode ser a situação de a empresa descobrir, 40 dias após o balanço, que uma grande parte do estoque de um produto (feijão, por exemplo) estava deteriorada há mais de 60 dias, só que isso só foi percebido quando o volume desse estoque baixou. Pode também ser o caso de gratificações definidas após a data do balanço, mas que já eram negociadas, contratadas ou até mesmo esperadas por tradição da entidade na data do balanço. Pode ter sido necessário esperar o resultado da empresa para fazer essa definição, mas a obrigação já existia à data do balanço. Portanto, tais efeitos devem ser ajustados no balanço, e reportados. (Gelbcke et al., 2018) 15 Quadro 1 – Resumo de políticas contábeis, estimativas e erros Fato O que a entidade faz Mudanças em políticas contábeis Segue o pronunciamento, interpretação ou orientação se for exigido; A evidenciação é obrigatória; Aplicação retrospectiva. Mudanças de estimativas contábeis Existindo dúvida entre mudança política ou estimativa, prevalece a mudança de estimativa; A evidenciação é obrigatória; Aplicação prospectiva. Correção de erros Erros materiais de todas as espécies; Eventualmente exige-se a republicação; A evidenciação é obrigatória; Aplicação retrospectiva. Fonte: Adriano, 2018, p. 839. TEMA 5 – DIVULGAÇÃO ACERCA DA REAPRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS A entidade deve divulgar a natureza e o montante de mudança na estimativa contábil que tenha efeito no período corrente ou que se espera que tenha efeito em períodos subsequentes, salvo quando a divulgação do efeito de períodos subsequentes for impraticável. Se o montante do efeito de períodos subsequentes não for divulgado porque a sua estimativa é impraticável, a entidade deve divulgar tal fato. Um erro de período anterior deve ser corrigido por reapresentação retrospectiva, salvo quando for impraticável determinar os efeitos específicos do período ou o efeito cumulativo do erro. Quando isso ocorrer em um período específico na informação comparativa para um ou mais períodos anteriores apresentados, a entidade deve retificar os saldos de abertura de ativos, passivos e patrimônio líquido para o período mais antigo para o qual seja praticável a reapresentação retrospectiva (que pode ser o período corrente). Quando for impraticável determinar o efeito cumulativo, no início do período corrente, de erro em todos os períodos anteriores, a entidade deve retificar a informação comparativa para corrigir o erro prospectivamente a partir da data mais antiga praticável. A retificação de erro de período anterior deve ser excluída dos resultados do período em que o erro é descoberto. Qualquer informação apresentada sobre 16 períodos anteriores, incluindo qualquer resumo histórico de dados financeiros, deve ser retificada para períodos tão antigos quanto for praticável. Quando for impraticável determinar omontante do erro (por exemplo, erro na aplicação de política contábil) para todos os períodos anteriores, a entidade retifica a informação comparativa prospectivamente a partir da data mais antiga praticável. Dessa forma, ignorará a parcela da retificação cumulativa de ativos, passivos e patrimônio líquido relativa a períodos anteriores à data em que a retificação do erro foi praticável. As correções de erro distinguem-se de mudanças nas estimativas contábeis. As estimativas contábeis, por sua natureza, são aproximações que podem necessitar de revisão à medida que se conhece informação adicional. Por exemplo, o ganho ou a perda reconhecida no momento do desfecho de contingência, que, anteriormente, não podia ser estimada com precisão, não constitui retificação de erro. 5.1 Impraticabilidade da aplicação e da reapresentação retrospectivas De acordo com o CPC 23, as mudanças de políticas contábeis são permitidas mesmo que seja impraticável aplicar a nova política a qualquer período anterior. A aplicação torna-se impraticável quando uma entidade não pode aplicá-la após fazer todo o esforço possível. (Gelbcke et al., 2018) No caso de adoção de nova política contábil ou correção de erro de período(s) anterior(es), o referido ato normativo requer, na aplicação retrospectiva, que se faça distinção entre: i. A informação que fornece evidência das circunstâncias que existiram à época em que a transação ou o evento ocorreu, e que estavam presentes e disponíveis quando as demonstrações contábeis relativas àquele período anterior foram preparadas; ii. A informação que teria estado disponível quando as demonstrações contábeis desse período anterior foram autorizadas para divulgação. No caso de uma aplicação retrospectiva exigir uma estimativa significativa para a qual seja impossível distinguir esses dois tipos de informação, é impraticável aplicar a nova política contábil ou retificar erro de período anterior retrospectivamente (Gelbcke et al., 2018). 17 Essa preocupação está bem clara no CPC 23, que traz a seguinte redação (contida no item 53): Não se deve usar percepção posterior ao aplicar nova política contábil ou ao corrigir erros atribuíveis a período anterior, nem para fazer suposições sobre quais teriam sido as intenções da administração em período anterior nem para estimar os valores reconhecidos, mensurados ou divulgados em períodos anteriores. TROCANDO IDEIAS Abra a Demonstração Financeira que se encontra nos materiais complementares, e identifique os motivos para a reapresentação da demonstração, conforme descrito nas notas. Após você identificar o motivo para reapresentação da demonstração, descreva no fórum o motivo que você encontrou e identifique na norma tal condição. NA PRÁTICA (Exame de Suficiência Bacharel CFC FBC 2015.2): De acordo com o disposto na NBC TG 23 (R1) – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro, julgue os itens abaixo e, em seguida, assinale a opção correta. I. O efeito da mudança de estimativa comporta aplicação retrospectiva, no caso de aplicação praticável, resultando no ajuste dos saldos anteriores impactados pela mudança. II. A mudança na estimativa de vida útil de um ativo depreciável deve ser tratada como mudança de política contábil com aplicação retrospectiva, quando praticável. III. Na aplicação da mudança de uma política contábil de forma retrospectiva, quando for exigida e praticável, a entidade deve ajustar o saldo de abertura de cada componente do patrimônio líquido afetado para o período anterior mais antigo apresentado. Assinale a alternativa correta: a) I e II estão corretos. b) I e III estão corretos. c) I, II e III estão corretos. d) apenas o item III está correto. 18 Analisando os itens, temos: I. Errado. De acordo com o CPC 23, a mudança de estimativa não comporta aplicação retrospectiva. Nesse caso, a aplicação é prospectiva. II. Errado. De acordo com o CPC 23, a mudança na estimativa de vida útil de um ativo depreciável deve ser tratada como mudança na estimativa contábil com aplicação prospectiva, quando praticável. III. Correto. Quando uma mudança na política contábil é aplicada, retrospectivamente, a entidade deve ajustar o saldo de abertura de cada componente do patrimônio líquido afetado para o período anterior mais antigo apresentado e os demais montantes comparativos divulgados para cada período anterior apresentado, como se a nova política contábil tivesse sempre sido aplicada. Resposta: d. FINALIZANDO Prezados alunos, para entender o CPC 23, é importante que vocês entendam os critérios e princípios contábeis relevantes, assim como as políticas e as mensurações aplicadas a cada empresa, para que possamos compreender as regras trazidas pelo pronunciamento. Importante não esquecermos que há diferenças entre mudanças de políticas contábeis, mudanças de estimativas contábeis e correção de erros. Bons estudos e até a próxima aula! 19 REFERÊNCIAS ADRIANO, S. Manual dos pronunciamentos contábeis comentados. São Paulo: Atlas, 2018. ALMEIDA, M. C. Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC. São Paulo: Altas, 2014. ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – CPC. Pronunciamento Técnico CPC 23: estoques. Brasília, 26 de junho de 2009. FERRARI, E. L. Contabilidade Geral: teoria e mais de 1.000 questões. 12. ed. rev. Rio de Janeiro: Impetrus, 2012. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. IUDICIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. IUDICIBUS, S. de; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA. Nota sobre reapresentação das demonstrações financeiras de 2014. 3 mar. 2017. Disponível em: <https://www.corinthians.com.br/nota-sobre-reapresentacao-das- demonstracoes-financeiras-de-2014/>. Acesso em: 31 maio 2018. VICECONTI, P.; NEVES, S. das. Contabilidade Avançada e análise das demonstrações financeiras. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. CONTABILIDADE SOCIETÁRIA AULA 6 Profª Paolla das Graças Felix Munarim Hauser Villena 2 CONVERSA INICIAL Olá! Na aula de hoje vamos conhecer o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 02 – Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis. Quando as empresas possuem investimentos societários no exterior, por exemplo filiais, coligadas ou controladas, seus resultados são afetados pelas mudanças da taxa de câmbio, especialmente no que diz respeito à variação cambial oriunda de tais investimentos. Assim como qualquer outro investimento, as empresas precisam registar os investimentos do exterior nas demonstrações contábeis, e, para isso, vamos entender como funcionam as regras para tal registro com base no CPC 02, que tem por objetivo orientar acerca de como incluir transações em moeda estrangeira e operações no exterior nas demonstrações contábeis da entidade e como converter demonstrações contábeis para moeda de apresentação. Desejamos a você uma boa aula! CONTEXTUALIZANDO Está cada vez mais comum vermos, nas grandes empresas, participação societária de empresas estrangeiras, empréstimos de instituições financeiras do exterior, importação ou exportação de mercadorias. Com isso, as entidades passaram a ter operações com moedas estrangerias. Como em qualquer outropaís, mesmo que a entidade possua operações com empresas no exterior, as demonstrações contábeis devem ser apresentadas em moeda corrente do país, que, nosso caso, é o real. Além disso, há a necessidade de consolidar as informações contábeis de grupo empresarial, por exemplo, mesmo que haja localidades distintas. Desta forma, as empresas que realizam tais operações deverão fazer a conversão da moeda. Para saber como podemos efetuar essa conversão, vamos à nossa aula de hoje! TEMA 1 – ASPECTOS INICIAIS – CPC 02 O objetivo deste pronunciamento técnico é orientar acerca de como incluir transações em moeda estrangeira e operações no exterior nas demonstrações contábeis da entidade e como converter demonstrações contábeis para moeda de apresentação. 3 Este pronunciamento deve ser adotado: i. na contabilização de transações e saldos em moeda estrangeira, exceto para aquelas transações com derivativos e saldos dentro do alcance do CPC 48 – Instrumentos Financeiros; ii. na conversão de resultados e posição financeira de operações no exterior que são incluídas nas demonstrações contábeis da entidade por meio de consolidação ou pela aplicação do método da equivalência patrimonial; e iii. na conversão de resultados e posição financeira de uma entidade para uma moeda de apresentação. O objetivo do CPC 02 é orientar as entidades sobre a inclusão de transações em moeda estrangeira e operações no exterior nas demonstrações contábeis da entidade, bem como na conversão de demonstrações contábeis para moeda de apresentação. A conversão das demonstrações contábeis permite ao investidor estrangeiro realizar um melhor acompanhamento do seu investimento, pois as demonstrações contábeis convertidas estarão expressas na moeda corrente do seu país de origem. A operação no exterior é quando a investidora possui uma entidade no exterior por meio de controlada, filial, sucursal, agência, coligada ou empreendimento controlado em conjunto, enquanto a transação em moeda estrangeira é um conjunto de atos que tem por finalidade, por exemplo, a compra ou a venda de bens e serviços cujos preços estão fixados em moeda estrangeira, exigindo liquidação ou recebimento em moeda estrangeira. Saiba mais Atenção para não confundir procedimentos de conversão de demonstrações contábeis e contabilidade em moeda estrangeira, pois, apesar de atenderem aos mesmos objetivos, são conceitos distintos. Na conversão de demonstrações contábeis, a investida mantém a sua contabilidade em moeda local e, no encerramento do exercício social, aplica os procedimentos de conversão de suas demonstrações contábeis para moeda estrangeira do país de origem do investidor. Na contabilidade em moeda estrangeira, as operações em moeda local são convertidas automaticamente para a moeda estrangeira à medida que ocorrem, e, no encerramento do exercício social, a entidade levanta as suas demonstrações contábeis em moeda estrangeira, não havendo necessidade de conversão (Adriano, 2018, p. 156). 4 1.1 Definições Para entendermos totalmente este tema, faz-se necessária a definição de alguns conceitos, como descrito no próprio CPC 02, conforme transcrito a seguir: Taxa de fechamento é a taxa de câmbio à vista vigente ao término do período de reporte. Variação cambial é a diferença resultante da conversão de um número específico de unidades em uma moeda para outra moeda, a diferentes taxas cambiais. Taxa de câmbio é a relação de troca entre duas moedas. Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. Moeda estrangeira é qualquer moeda diferente da moeda funcional da entidade. Entidade no exterior é uma entidade que pode ser controlada, coligada, empreendimento controlado em conjunto ou filial, sucursal ou agência de uma entidade que reporta informação, por meio da qual são desenvolvidas atividades que estão baseadas ou são conduzidas em um país ou em moeda diferente daquelas da entidade que reporta a informação. Moeda funcional é a moeda do ambiente econômico principal no qual a entidade opera. (CPC, 2010) Saiba mais Moeda funcional: O ambiente econômico principal no qual a entidade opera é normalmente aquele em que, principalmente, ela gera e despende caixa. A entidade deve considerar os seguintes fatores na determinação de sua moeda funcional: a. A moeda: i. que mais influencia os preços de venda de bens e serviços (geralmente é a moeda na qual os preços de venda para seus bens e serviços estão expressos e são liquidados); e ii. do país cujas forças competitivas e regulações mais influenciam na determinação dos preços de venda para seus bens e serviços; b. A moeda que mais influencia fatores como mão de obra, matéria-prima e outros custos para o fornecimento de bens ou serviços (geralmente é a moeda na qual tais custos estão expressos e são liquidados). Os seguintes fatores também podem servir como evidências para determinar a moeda funcional da entidade: 5 a. A moeda por meio da qual são originados recursos das atividades de financiamento (exemplo: emissão de títulos de dívida ou ações). b. A moeda por meio da qual os recursos gerados pelas atividades operacionais são usualmente acumulados (CPC 02). Ainda segundo o CPC 02: Grupo econômico é uma entidade controladora e todas as suas controladas. Itens monetários são unidades de moeda mantidas em caixa e ativos e passivos a serem recebidos ou pagos em um número fixo ou determinado de unidades de moeda. Investimento líquido em entidade no exterior é o montante que representa o interesse (participação na maior parte das vezes) da entidade que reporta a informação nos ativos líquidos dessa entidade. Moeda de apresentação é a moeda na qual as demonstrações contábeis são apresentadas. Taxa de câmbio à vista é a taxa de câmbio normalmente utilizada para liquidação imediata das operações de câmbio. (CPC, 2010) TEMA 2 – FORMAS DE INVESTIMENTO NO EXTERIOR O Pronunciamento Técnico CPC 02 determina que as agências, sucursais, dependências e controladas no exterior sejam tratadas como filiais, efetivas coligadas ou controladas conforme a essência econômica, não pela forma jurídica. Assim, no caso de entidades que, por não possuírem corpo gerencial próprio, autonomia administrativa, não contratarem operações próprias, utilizarem a moeda da investidora como sua moeda funcional e funcionarem, na essência, como extensão das atividades da investidora, devem normalmente ter, para fins de apresentação, seus ativos, passivos e resultados integrados às demonstrações contábeis da matriz no Brasil como qualquer outra filial, agência, sucursal ou dependência mantida no próprio país (Adriano, 2018). Caso contrário, se possuírem, por exemplo, suficiente corpo gerencial próprio, autonomia administrativa, contratarem operações próprias, inclusive financeiras, caracterizando-se, assim, como entidade autônoma, a matriz, no Brasil, deve reconhecer os resultados apurados nas filiais, agências, dependências ou sucursais pela aplicação do método de equivalência patrimonial e incluí-las nas suas demonstrações consolidadas. Uma empresa pode entrar no mercado internacional de diversas maneiras, devendo escolher a estratégia mais adequada e coerente com os seus objetivos no mercado internacional. Equivale a dizer que a empresa deve 6 escolher como deseja atuar no mercado internacional e, a partir disso, escolher qual é a melhor estratégia a ser adotada (Ferreira, Cardoso, 2011). O Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto está previsto no CPC 18, que tem por objetivo estabelecer a contabilização de investimentos em coligadas e em controladas e definir os requisitos para a aplicação do método da equivalênciapatrimonial quando da contabilização de investimentos em coligadas, em controladas e em empreendimentos controlados em conjunto (joint ventures). Coligada é a entidade sobre a qual o investidor tem influência significativa. Método da equivalência patrimonial é o método de contabilização por meio do qual o investimento é inicialmente reconhecido pelo custo e, a partir daí, é ajustado para refletir a alteração pós-aquisição na participação do investidor sobre os ativos líquidos da investida. As receitas ou as despesas do investidor incluem sua participação nos lucros ou prejuízos da investida, e os outros resultados abrangentes do investidor incluem a sua participação em outros resultados abrangentes da investida. Negócio em conjunto é um negócio do qual duas ou mais partes têm controle conjunto. Controle conjunto é o compartilhamento, contratualmente convencionado, do controle de negócio, que existe somente quando decisões sobre as atividades relevantes exigem o consentimento unânime das partes que compartilham o controle. Empreendimento controlado em conjunto (joint venture) é um acordo conjunto por meio do qual as partes que detêm o controle em conjunto do acordo contratual têm direitos sobre os ativos líquidos desse acordo. Investidor conjunto (joint venturer) é uma parte de um empreendimento controlado em conjunto (joint venture) que tem o controle conjunto desse empreendimento. Influência significativa é o poder de participar das decisões sobre políticas financeiras e operacionais de uma investida, mas sem que haja controle individual ou conjunto dessas políticas. 2.1 Influência significativa Se o investidor mantém direta ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo), 20% ou mais do poder de voto da investida, presume-se que ele 7 tenha influência significativa, a menos que possa ser claramente demonstrado o contrário. Por outro lado, se o investidor detém, direta ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo), menos de 20% do poder de voto da investida, presume-se que ele não tenha influência significativa, a menos que essa influência possa ser claramente demonstrada. A propriedade substancial ou majoritária da investida por outro investidor não necessariamente impede que um investidor tenha influência significativa sobre ela. A existência de influência significativa por investidor geralmente é evidenciada por uma ou mais das seguintes formas: Representação no conselho de administração ou na diretoria da investida; Participação nos processos de elaboração de políticas, inclusive em decisões sobre dividendos e outras distribuições; Operações materiais entre o investidor e a investida; Intercâmbio de diretores ou gerentes; Fornecimento de informação técnica essencial. 2.2 Método da equivalência patrimonial Pelo método da equivalência patrimonial, o investimento em coligada, em empreendimento controlado em conjunto e em controlada (neste caso, no balanço individual) deve ser inicialmente reconhecido pelo custo, e o seu valor contábil será aumentado ou diminuído pelo reconhecimento da participação do investidor nos lucros ou prejuízos do período, gerados pela investida após a aquisição. A participação do investidor no lucro ou no prejuízo do período da investida deve ser reconhecida no resultado do período do investidor. As distribuições recebidas da investida reduzem o valor contábil do investimento. Ajustes no valor contábil do investimento também são necessários pelo reconhecimento da participação proporcional do investidor nas variações de saldo dos componentes dos outros resultados abrangentes da investida, reconhecidos diretamente em seu patrimônio líquido. Tais variações incluem aquelas decorrentes da reavaliação de ativos imobilizados, quando permitida legalmente, e das diferenças de conversão em 8 moeda estrangeira, quando aplicável. A participação do investidor nessas mudanças deve ser reconhecida de forma reflexa, ou seja, em outros resultados abrangentes diretamente no patrimônio líquido do investidor. O reconhecimento do resultado com base nas distribuições recebidas sobre este pode não ser uma mensuração adequada da receita auferida pelo investidor no investimento em coligada, em controlada e em empreendimento controlado em conjunto, em função de as distribuições recebidas terem pouca relação com o desempenho da investida. Em decorrência de o investidor possuir o controle individual ou conjunto ou exercer influência significativa sobre a investida, ele tem interesse no desempenho da investida e, como resultado, interesse no retorno de seu investimento. O investidor deve reconhecer contabilmente esse interesse por meio da extensão do alcance de suas demonstrações contábeis com a inclusão de sua participação nos lucros ou prejuízos da investida. Como resultado, a aplicação do método da equivalência patrimonial proporciona relatórios com maior grau de informação acerca dos ativos líquidos do investidor e acerca de suas receitas e despesas. Quando existirem potenciais direitos de voto ou outros derivativos que contenham potenciais direitos de voto, os interesses da entidade na investida devem ser determinados exclusivamente com base nos interesses de propriedade existentes e não devem refletir o possível exercício ou a conversão dos potenciais direitos de voto ou de outros instrumentos derivativos. Em algumas circunstâncias, a entidade tem, na essência, interesses de propriedade decorrentes do resultado de transação que lhe dê, no momento corrente, acesso aos retornos associados aos interesses de propriedade. Nessas circunstâncias, a proporção alocada à entidade deve ser determinada levando em consideração o eventual exercício de direitos potenciais de voto e outros instrumentos derivativos que no momento corrente dê à entidade acesso aos retornos. A entidade com o controle individual ou conjunto (compartilhado) ou com influência significativa sobre uma investida deve contabilizar esse investimento utilizando o método da equivalência patrimonial. 9 TEMA 3 – RECONHECIMENTO INICIAL Uma transação em moeda estrangeira é a transação que é fixada ou requer sua liquidação em moeda estrangeira, incluindo transações que são originadas quando a entidade: Compra ou vende bens ou serviços cujo preço é fixado em moeda estrangeira; Obtém ou concede empréstimos, quando os valores a pagar ou a receber são fixados em moeda estrangeira; De alguma outra forma, adquire ou desfaz-se de ativos ou assume ou liquida passivos fixados em moeda estrangeira. Uma transação em moeda estrangeira deve ser reconhecida contabilmente, no momento inicial, pela moeda funcional, mediante a aplicação da taxa de câmbio à vista entre a moeda funcional e a moeda estrangeira, na data da transação, sobre o montante em moeda estrangeira. “A taxa de câmbio a vista é a taxa de câmbio normalmente utilizada para liquidação imediata das operações de câmbio; no Brasil, a taxa a ser utilizada é a divulgada pelo Banco Central do Brasil” (Adriano, 2018, p. 160). Para Adriano (2018, p. 160) as taxas de câmbio podem ser: Figura 1 – Tipos de taxas de câmbio Saiba mais A taxa histórica é a taxa de câmbio vigente na data da transação. A taxa corrente é a taxa de câmbio vigente no dia da operação. Na data de encerramento do exercício social, a taxa corrente é também chamada de taxa de fechamento. A taxa média é a taxa de câmbio obtida da média aritmética ponderada das taxas de câmbio vigentes durante um determinado período, normalmente uma semana ou um mês, com o objetivo de melhor representar a evolução das taxas de câmbio no período. A taxa média é a taxa de câmbio obtida da média aritmética ponderada das taxas de câmbio vigentes durante um determinado período, normalmente 10 uma semana ou um mês, com o objetivode melhor representar a evolução das taxas de câmbio no período (Adriano, 2018, p. 160). A taxa de câmbio usualmente adotada que se aproxima da taxa vigente na data da negociação é a taxa de câmbio média semanal ou mensal, que pode ser aplicada a todas as negociações, em cada moeda estrangeira, ocorridas durante o período. A data da transação é a data a partir da qual a transação se qualifica para fins de reconhecimento, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. Ao término de cada período de reporte: Os itens monetários em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se a taxa de câmbio de fechamento; Os itens não monetários que são mensurados pelo custo histórico em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se a taxa de câmbio vigente na data da transação; e Os itens não monetários que são mensurados pelo valor justo em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se as taxas de câmbio vigentes nas datas em que o valor justo tiver sido mensurado. De acordo com o item 32 do Pronunciamento Técnico CPC 02 (R2), as variações cambiais resultantes desses itens monetários, integrantes do investimento líquido da entidade em uma entidade no exterior, deverão ser reconhecidas: No resultado, nas demonstrações contábeis separadas da investidora ou nas demonstrações contábeis individuais da entidade no exterior, conforme apropriado; e Em conta específica do patrimônio líquido e reconhecidas como receita ou despesa na venda do investimento líquido, nas demonstrações contábeis consolidadas (aquelas demonstrações que incluem a investidora e a entidade no exterior) e nas demonstrações contábeis individuais da investidora (aquelas demonstrações em que a entidade no exterior é avaliada pelo método de equivalência patrimonial, conforme as práticas contábeis brasileiras). 11 3.1 Variação cambial Segundo o CPC 02, em regra geral, as variações cambiais advindas da liquidação de itens monetários ou da conversão de itens monetários por taxas diferentes daquelas pelas quais foram convertidos quando da mensuração inicial, durante o período ou em demonstrações contábeis anteriores, devem ser reconhecidas na demonstração do resultado no período em que surgirem. Já as variações cambiais advindas de itens monetários que fazem parte do investimento líquido em entidade no exterior da entidade que reporta a informação devem ser reconhecidas no resultado nas demonstrações contábeis separadas da entidade que reporta a informação ou nas demonstrações contábeis individuais da entidade no exterior, conforme apropriado. Nas demonstrações contábeis que incluem a entidade no exterior e a entidade que reporta a informação (por exemplo: demonstrações contábeis individuais com avaliação das investidas por equivalência patrimonial, ou demonstrações contábeis consolidadas quando a entidade no exterior é uma controlada), tais variações cambiais devem ser reconhecidas, inicialmente, em outros resultados abrangentes em conta específica do patrimônio líquido, e devem ser transferidas do patrimônio líquido para a demonstração do resultado quando da baixa do investimento líquido [...]. (Brasil, 2010) Quando itens monetários são originados de transações em moeda estrangeira e há mudança na taxa de câmbio entre a data da transação e a data da liquidação, surge uma variação cambial (CPC 02). Quando a transação é liquidada dentro do mesmo período contábil em que foi originada, toda a variação cambial deve ser reconhecida nesse mesmo período (CPC 02). Entretanto, quando a transação é liquidada em período contábil subsequente, a variação cambial reconhecida em cada período, até a data de liquidação, deve ser determinada pela mudança nas taxas de câmbio ocorrida durante cada período (CPC 02). TEMA 4 – MÉTODOS DE CONVERSÃO Para Rios e Marion (2018), a entidade pode apresentar suas demonstrações contábeis em outras moedas. Se a moeda de apresentação for diferente da moeda funcional, deve ser convertida a demonstração para a moeda de apresentação. 12 Por exemplo, se uma controlada estabelecida no Brasil tem sua controladora nos Estados Unidos, terá suas demonstrações contábeis elaboradas em sua moeda funcional, neste caso, o real. No entanto, ao apresentar as demonstrações a sua controladora, deverá convertê-las em moeda de apresentação, ou seja, o dólar. Para a conversão da moeda em moeda diferente da funcional, devemos seguir estes procedimentos: Ativos e passivos para cada balanço patrimonial apresentado (incluindo os balanços comparativos) devem ser convertidos, utilizando-se a taxa de câmbio de fechamento na data do respectivo balanço; Receitas e despesas para cada demonstração do resultado abrangente ou demonstração do resultado apresentada (incluindo as demonstrações comparativas) devem ser convertidas pelas taxas de câmbio vigentes nas datas de ocorrência das transações; e Todas as variações cambiais resultantes devem ser reconhecidas em outros resultados abrangentes. Estas últimas variações cambiais são decorrentes de: Conversão de receitas e despesas pelas taxas de câmbio vigentes nas datas de ocorrência das transações e conversão de ativos e passivos pela taxa de câmbio de fechamento; Conversão dos saldos de abertura de ativos líquidos (patrimônio líquido) pela taxa de câmbio de fechamento atual, que difere da taxa de câmbio de fechamento anterior. Em países cuja economia é hiperinflacionária, a conversão da moeda deve adotar os seguintes procedimentos: Todos os montantes (isto é, ativos, passivos, itens do patrimônio líquido, receitas e despesas, incluindo saldos comparativos) devem ser convertidos pela taxa de câmbio de fechamento da data do balanço patrimonial mais recente; A exceção ao item anterior ocorre quando os montantes forem convertidos para a moeda de economia não hiperinflacionária, pois, então, os montantes comparativos devem ser aqueles que seriam apresentados como montantes do ano corrente nas demonstrações contábeis do ano 13 anterior (isto é, não ajustados para mudanças subsequentes no nível de preços ou mudanças subsequentes nas taxas de câmbio). 4.1 Baixa de entidade no exterior Na baixa de entidade no exterior, o montante acumulado de variações cambiais relacionadas a essa entidade no exterior, reconhecido em outros resultados abrangentes e registrado em conta específica do patrimônio líquido, deve ser transferido do Patrimônio Líquido para a demonstração do resultado (como ajuste de reclassificação) quando o ganho ou a perda na baixa for reconhecido. Para o caso de baixa de entidade situada no exterior, o montante acumulado da variação cambial relacionada a essa entidade deverá ser transferido para o resultado, quando for reconhecido o ganho ou a perda da baixa. Segundo Gelbcke (2018), quando da baixa, também possuem tratamento similar à baixa integral da participação em investimento no exterior as seguintes baixas parciais: Quando a baixa parcial envolver a perda de controle de controlada que contenha entidade no exterior, mesmo que a entidade mantenha participação na ex-controlada após a baixa parcial; e Quando a participação retida após a alienação parcial de uma participação em um negócio em conjunto ou uma alienação parcial de uma participação em coligada que incluir uma operação no exterior for um ativo financeiro que inclui uma operação no exterior (CPC 02). Exemplo A Cia. Alfa sediada no Brasil em 11/02/2018 criou a subsidiária integral, a Cia. Delta, sediada nos USA, com integralização de um capital no valor de US$ 2.500.000,00. Em 16/03/2018, a Cia. Alfa, necessitando expandir as suas operações no exterior, obteve um financiamento de longo prazo junto ao BIRD no montante de US$ 5.000.000,00, com carência de 3 anos. Por medidas de precaução, no ato do empréstimo, a Cia. Alfa designou US$1.000.000,00 como um hedge de seu investimento líquido na subsidiária integral nos USA. Dados: I. A taxa de câmbio no período de 11/02/2018 a 16/03/2018: US$ 1,00 = R$ 2,00. II. Balanço patrimonial da Cia. Alfa em 11/02/2018 imediatamente antes da aquisição do investimento na Cia. Delta: 14 (1) Registro na Cia. Alfa da aquisição dos investimentos da Cia. Delta em 11/02/2018 em reais: (2) Registro na Cia. Alfa da aquisição dos empréstimos no BIRD em 16/03/2018 em reais: (3) Registro na Cia. Alfa da operação de hedge em 16/03/2018 em reais: Balanço patrimonial da Cia. Alfa em 16/03/2018 imediatamente após as operações de empréstimos e hedge: O CPC 02 não se aplica à contabilização de operações de hedge para itens em moeda estrangeira, incluindo o hedge de investimento líquido em entidade no exterior. Portanto, a parte da dívida no montante de US$ 1.000.000,00 qualificada como um instrumento de hedge na Cia. Delta está fora do âmbito do CPC 02, mas no alcance do CPC 38. O restante do empréstimo, no montante de US$ 4.000.000,00, está dentro do alcance do CPC 02. Fonte: Adriano, 2018, p 158. 15 TEMA 5 – DIVULGAÇÃO Com relação à divulgação das variações cambiais, o CPC determina que a entidade deve divulgar: O montante das variações cambiais reconhecidas na demonstração do resultado, com exceção daquelas originadas de instrumentos financeiros mensurados ao valor justo por meio do resultado, e Variações cambiais líquidas reconhecidas em outros resultados abrangentes e registradas em conta específica do patrimônio líquido e a conciliação do montante de tais variações cambiais, no início e no final do período. Quando a moeda de apresentação das demonstrações contábeis for diferente da moeda funcional, esse fato deve ser relatado juntamente com a divulgação da moeda funcional e da razão para a utilização de moeda de apresentação diferente. Algumas vezes, a entidade apresenta suas demonstrações contábeis ou outras informações financeiras em moeda que não é a sua moeda funcional, sem cumprir as exigências do item 55. Por exemplo, a entidade pode converter para outra moeda somente itens selecionados de suas demonstrações contábeis. Ou, ainda, a entidade cuja moeda funcional não é a moeda de economia hiperinflacionária pode converter suas demonstrações contábeis para outra moeda, aplicando a todos os itens a taxa de câmbio de fechamento mais recente. 55. Quando a entidade apresentar suas demonstrações contábeis em moeda que é diferente da sua moeda funcional, ela só deve mencionar que essas demonstrações estão em conformidade com as práticas contábeis adotadas no Brasil se elas estiverem de acordo com todas as exigências de cada Pronunciamento Técnico, Orientação e Interpretação do CPC aplicáveis, incluindo o método de conversão definido nos itens 39 e 42. (CPC 02) Quando a entidade apresentar suas demonstrações contábeis ou outras informações financeiras em moeda que seja diferente da sua moeda funcional ou da moeda de apresentação das suas demonstrações contábeis, e as exigências do item 55 não forem observadas, a mesma entidade deve: Identificar claramente as informações como sendo informações suplementares para distingui-las das informações que estão de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; 16 Divulgar a moeda utilizada para essas informações suplementares; e Divulgar a moeda funcional da entidade e o método de conversão utilizado para determinar as informações suplementares. TROCANDO IDEIAS (Contador CEFET Cesgranrio 2014): O pronunciamento técnico CPC 02 (R2) do Comitê de Pronunciamentos Contábeis trata das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. De acordo com o acima citado CPC, a expressão “é a relação de troca entre duas moedas” indica a definição de: a. taxa de câmbio. b. moeda funcional. c. variação cambial. d. moeda estrangeira. e. taxa de fechamento. A resposta está no final deste documento. NA PRÁTICA Este caso foi extraído da obra de Adriano (2018, p. 168), e a resposta está no final deste documento. A empresa Asa Norte S.A. obteve um empréstimo em uma instituição financeira americana no valor de US$ 100.000,00, em 01/10/2018, com prazo de vencimento de 5 anos. Os juros incidem trimestralmente a uma taxa de 8% ao trimestre e são incorporados ao principal. O dólar estava cotado para compra no dia do empréstimo a 2,00 e no encerramento do exercício social de 2018 a 2,20. Sabendo-se que a taxa de câmbio média no período foi de 2,30, a empresa Asa Norte S.A., ao realizar a conversão do balanço patrimonial em 31/12/2018, vai obter, em reais, um valor para os empréstimos: a. 200.000,00. b. 220.000,00. c. 230.000,00. d. 237.600,00. 17 FINALIZANDO Prezado aluno, com a economia globalizada, é importante que o contador, principalmente das grandes empresas, para que sejam realizadas operações com investidores, parceiros, fornecedores e clientes do exterior, de forma que a empresa pode crescer em outras localidades. Para isso, precisamos aplicar as regras do CPC 02, que trata da conversão da moeda estrangeira e da consolidação das demonstrações entre empresas com moedas distintas. Espero que você tenha conseguido realizar as atividades propostas neste material, assim como nas demais aulas. Bons estudos. 18 REFERÊNCIAS ADRIANO, S. Manual dos pronunciamentos contábeis comentados. São Paulo: Atlas, 2018. ALMEIDA, M. C. Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC. São Paulo: Altas, 2014. ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL, Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. _____. Resolução n. 1.295, de 17 de setembro de 2010. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 7 out. 2010. BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 02 (R2) – Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=9>. Acesso em: 8 jun. 2018. FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1.000 questões. 12. ed. rev. Rio de Janeiro: Impetrus, 2012. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. IUDICIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. IUDICIBUS, S. de; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. VICECONTI, P.; NEVES, S. das. Contabilidade avançada e análise das demonstrações financeiras. 17. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2013. 19 RESPOSTAS Resposta da atividade da seção TROCANDO IDEIAS: Alternativa correta: a. Resposta da atividade da seção NA PRÁTICA Registro na data do empréstimo: D – Banco conta Movimento 200.000,00 C – Empréstimos 200.000,00 De acordo com o CPC 02, as variações cambiais advindas da liquidação de itens monetários ou da conversão de itens monetários por taxas diferentes daquelas pelas quais foram convertidas quando da mensuração inicial, durante o período ou em demonstrações contábeis anteriores, devem ser reconhecidas na demonstração do resultado no período em que surgirem. Nesse caso, em 31/12/2018, a variação cambial passiva decorrente dos empréstimos em dólares e os juros passivos, ambos, devem ser apropriados para o resultado do exercício de 2018. Registro da variação cambial passiva em 31/12/2018: Empréstimo em US$ em 01/10/2018 100.000,00 x (Câmbio em 31/12/2018 – Câmbio em 01/10/2018) x(2,20 – 2,00) = Variação Cambial Passiva em31/12/2018 20.000,00 D – Variação Cambial Passiva (resultado) 20.000,00 C – Empréstimos 20.000,00 Registro dos juros passivos em 31/12/2018: Empréstimo em US$ em 01/10/2018 100.000,00 Taxa de Câmbio em 31/12/2018 2,20 = Empréstimo em 31/12/2018 220.000,00 X Taxa de juros no período x8% = juros passivos em 31/12/2018 17.600,00 D – Juros Passivos (resultado) 17.600,00 C – Empréstimos 17.600,00 Data da contratação do empréstimo Empréstimo US$ 100.000,00 Taxa câmbio histórica 2,00 Empréstimo R$ 200.000,00 Data da conversão – 31/12/2018 Empréstimo US$ 108.000,00 Taxa câmbio fechamento 2,20 Empréstimo R$ 237.600,00 20 Na data da conversão das demonstrações contábeis, aplica-se a taxa de fechamento. A diferença de R$ 37.600,00 corresponde a uma variação cambial passiva de R$ 20.000,00 e à incidência de juros passivos de R$ 17.600,00, que são reconhecidos no resultado do exercício. Alternativa correta: d.