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Autores: Prof. Enny Fernandes Silva Profa. Maristela Tsujita Colaboradores: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Bioquímica Metabólica Professoras conteudistas: Enny Fernandes Silva / Maristela Tsujita © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586p Silva, Enny Fernandes. Bioquímica Metabólica / Enny Fernandes Silva, Maristela Tsujita. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 164 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Enzimas. 2. Ácidos nucleicos. 3. Vitaminas. I. Silva, Enny Fernandes. II. Tsujita, Maristela. III. Título. CDU 577.1 U508.90 – 20 Enny Fernandes Silva Graduada em Ciências Biológicas, modalidade médica, pela Universidade de Santo Amaro (Unisa, 1981), é especialista em clonagem em Bacillus subtillis pelo Public Heath Department of the City of New York (1982), mestre em Bioquímica na área de biologia celular e molecular (1989) e doutora em Bioquímica na área de biologia celular e molecular pela Universidade de São Paulo (USP, 2003). Iniciou seu pós-doutorado na Faculdade de Medicina da USP com o Dr. Roger Chammas, na área de adesão celular. Foi chefe do Departamento de Engenharia Química na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP, 1994-2000), onde também ministrou a disciplina de Bioquímica das Fermentações para Engenharia Química, e Meio Ambiente para Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia Mecatrônica, Engenharia Metalúrgica, Engenharia Elétrica, Engenharia Eletrotécnica e Engenharia Química. Foi professora de Bioquímica Básica e Clínica no Instituto de Pesquisa e Educação em Saúde de São Paulo (Ipesp). Desde 1990 é professora de Bioquímica Estrutural, Bioquímica Metabólica, Bioquímica Clínica, Físico-química, Enzimologia, Patologia, Biotecnologia e Ciências do Ambiente/ Saneamento na Universidade Paulista (UNIP). É responsável pela disciplina de Bioquímica do curso de Especialização em Análises Clínicas da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). É coordenadora do curso de Biomedicina do campus Cidade Universitária da UNIP. Tem experiência na área de bioquímica com ênfase em vias de sinalização, atuando principalmente nos seguintes temas: óxido nítrico, câncer, vias de sinalização, apoptose e adesão focal celular. Maristela Tsujita Graduada em Farmácia pela Universidade de São Paulo (USP, 1999), é mestre (2004) e doutora (2016) em Análises Clínicas pela mesma instituição. Trabalhou no laboratório de Imunopatologia da Fundação Pró-Sangue, hemocentro de São Paulo, onde atuou no diagnóstico de neoplasias hematológicas por citometria de fluxo; e no banco de sangue do Hospital Sírio-Libanês como supervisora do laboratório de criopreservação de células-tronco para transplante de medula óssea. É professora de disciplinas dos cursos de Biomedicina, Enfermagem, Farmácia e Nutrição na UNIP. Além disso, é docente da disciplina Hematologia Clínica do curso de Especialização em Análises Clínicas da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). Na área de pesquisa tem experiência em Bioquímica, com ênfase em sinalização celular, óxido nítrico e câncer e em hematologia clínica no estudo do nicho hematopoiético. Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Jaci Albuquerque Juliana Muscovick Sumário Bioquímica Metabólica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 ENZIMAS ........................................................................................................................................................... 11 1.1 Classificação e nomenclatura ........................................................................................................ 14 1.2 Cinética enzimática: fatores que alteram a velocidade de uma reação enzimática ........................................................................................................................................ 15 1.3 Inibidores da atividade enzimática ............................................................................................... 18 1.4 Gráficos de Lineweaver-Burk .......................................................................................................... 20 1.5 Enzimas alostéricas e isoenzimas .................................................................................................. 21 1.5.1 Enzimas alostéricas ................................................................................................................................ 21 1.5.2 Isoenzimas ................................................................................................................................................. 21 1.6 Enzimologia clínica .............................................................................................................................. 22 1.7 Erros metabólicos hereditários ....................................................................................................... 23 1.7.1 Fenilcetonúria e albinismo .................................................................................................................. 24 1.7.2 Albinismo ................................................................................................................................................... 25 1.7.3 Galactosemia ............................................................................................................................................ 26 1.7.4 Doença de von Gierke ou glicogenose tipo I ............................................................................. 26 1.7.5 Cretinismo .................................................................................................................................................. 26 2 CARBOIDRATOS ................................................................................................................................................ 27 2.1 Digestão dos carboidratos ................................................................................................................ 27 2.2 Transportadores de glicose ............................................................................................................... 28 2.3 Glicólise .................................................................................................................................................... 30 2.4 Ciclo de Krebs ......................................................................................................................................... 39 2.5 Cadeia respiratória ...............................................................................................................................44 2.6 Metabolismo do glicogênio: glicogênese e glicogenólise ................................................... 48 2.7 Gliconeogênese ..................................................................................................................................... 52 2.8 Via das pentoses ................................................................................................................................... 55 3 LIPÍDIOS ............................................................................................................................................................... 57 3.1 Processo de liberação de lipídeos do tecido adiposo ............................................................. 58 3.2 Ciclo de Lynen........................................................................................................................................ 61 3.3 Aproveitamento do glicerol ............................................................................................................. 61 3.4 Regulação da lipólise .......................................................................................................................... 62 3.5 Lipogênese ou biossíntese de ácidos graxos ............................................................................. 64 3.6 Formação de triglicerídeos ............................................................................................................... 65 3.7 Regulação da síntese de ácidos graxos ....................................................................................... 67 3.8 Cetogêsene ou síntese de corpos cetônicos .............................................................................. 67 3.9 Síntese de corpos cetônicos ............................................................................................................. 68 3.10 Consequências da cetogênese ...................................................................................................... 69 4 COLESTEROL ...................................................................................................................................................... 71 4.1 Síntese de colesterol ........................................................................................................................... 71 4.2 Principais etapas da síntese do colesterol .................................................................................. 72 4.3 Regulação da síntese do colesterol ............................................................................................... 72 4.4 Transporte do colesterol .................................................................................................................... 74 4.5 Degradação do colesterol ................................................................................................................ 75 4.6 Arteriosclerose ....................................................................................................................................... 76 Unidade II 5 ÁCIDOS NUCLEICOS ....................................................................................................................................... 82 5.1 Síntese de nucleotídeos e bases nitrogenadas ......................................................................... 84 5.2 Síntese de DNA (replicação ou duplicação) ............................................................................... 84 5.3 Transcrição (síntese de RNA) ........................................................................................................... 88 5.4 Transcrição reversa............................................................................................................................... 91 5.5 Degradação de DNA e RNA .............................................................................................................. 92 5.6 Formação de ácido úrico ................................................................................................................... 93 6 AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS ..................................................................................................................... 95 6.1 Síntese de aminoácidos ..................................................................................................................... 95 6.2 Síntese de proteína (tradução) ....................................................................................................... 95 6.2.1 Ativação de aminoácidos ..................................................................................................................... 95 6.2.2 Iniciação ..................................................................................................................................................... 96 6.2.3 Elongação ................................................................................................................................................... 96 6.2.4 Terminação ................................................................................................................................................ 98 6.3 Inibidores da síntese de proteínas ................................................................................................. 99 6.4 Modificações pós-traducionais ....................................................................................................100 6.5 Degradação de proteínas e aminoácidos ..................................................................................101 6.5.1 Transaminação .......................................................................................................................................103 6.5.2 Desaminação ..........................................................................................................................................105 6.5.3 Ciclo da ureia ..........................................................................................................................................106 Unidade III 7 GRUPO HEME .................................................................................................................................................112 7.1 Estrutura química do grupo heme ..............................................................................................113 7.2 Síntese do grupo heme ....................................................................................................................114 7.3 Porfirias...................................................................................................................................................116 7.4 Degradação do grupo heme ..........................................................................................................118 8 VITAMINAS E SAIS MINERAIS ...................................................................................................................121 8.1 Vitaminas ...............................................................................................................................................121 8.1.1 Vitamina A .............................................................................................................................................. 122 8.1.2 Vitamina D .............................................................................................................................................. 126 8.1.3 Vitamina E ............................................................................................................................................... 130 8.1.4 Vitamina K .............................................................................................................................................. 130 8.1.5 Complexo B ............................................................................................................................................ 133 8.1.6 Vitamina C (ácido ascórbico) ..........................................................................................................139 8.2 Sais minerais .........................................................................................................................................141 8.2.1 Cálcio .........................................................................................................................................................141 8.2.2 Fósforo ...................................................................................................................................................... 143 8.2.3 Magnésio ................................................................................................................................................. 143 8.2.4 Sódio, cloreto e potássio ................................................................................................................... 143 8.2.5 Ferro .......................................................................................................................................................... 144 8.2.6 Zinco ......................................................................................................................................................... 144 8.2.7 Selênio ...................................................................................................................................................... 144 8.2.8 Cobre ......................................................................................................................................................... 145 8.2.9 Iodo ............................................................................................................................................................ 145 9 APRESENTAÇÃO A bioquímica estuda as reações químicas e biológicas dos seres vivos. Essas reações são fundamentais para o entendimento dos processos que permitem a manutenção da vida e o desenvolvimento de tecnologias que permitem melhor qualidade de vida. A presente disciplina tem como objetivo geral capacitar o aluno a entender os processos bioquímicos que regulam a função celular e fornecer uma visão integrada do metabolismo energético. O aluno terá conhecimentos a respeito das principais vias de síntese e degradação de carboidratos, lipídios e proteínas. A disciplina também abordará conceitos fundamentais de bioenergética, do grupo heme e das vitaminas e sais minerais. INTRODUÇÃO Desde a Antiguidade, a bioquímica está presente na vida do ser humano, por exemplo, nos processos fermentativos de produção de queijos e cervejas. Também nos deparamos com a bioquímica nas conversas entre amigos ou quando é abordada em rádio, televisão e redes sociais. Inúmeras vezes ouvimos informações a respeito de diabetes, emagrecimento, doença celíaca, intolerância à lactose entre outras. Será que todas as informações veiculadas são verdadeiras? Por outro lado, é crescente o interesse da comunidade científica e da população por essas informações. A bioquímica está presente na indústria de alimentos, cosméticos, medicamentos, agricultura, medicina diagnóstica, e cabe aqui destacar que o entendimento da estrutura do DNA (ácido desoxirribonucleico) e a compreensão da importância do gene na síntese proteica foi o marco para o desenvolvimento da biotecnologia, que engloba a produção de alimentos transgênicos, estudos com células-tronco, técnicas de clonagem e fabricação de imunoterápicos. Esta disciplina faz parte do currículo de muitos cursos da saúde, o que indica sua característica multidisciplinar. Os conhecimentos aqui adquiridos são fundamentais para a formação dos profissionais de saúde, uma vez que possibilita ao discente a compreensão dos processos biológicos a nível molecular, o que viabiliza o entendimento dos mecanismos celulares. O entendimento das reações orgânicas é imprescindível para a compreensão das reações de anabolismo e catabolismo, entretanto, é importante que você tenha uma visão ampla sobre como essas reações estão relacionadas, bem como do papel das enzimas e seu controle nessas reações. 11 BIOQUÍMICA METABÓLICA Unidade I 1 ENZIMAS Enzimas são exemplos de proteínas, que coordenam as reações químicas, pois são responsáveis pela catálise, isto é, deixam as reações mais rápidas. Apesar de serem exemplos de proteínas, não são estudadas a fundo em bioquímica estrutural por seu papel importante no metabolismo. Hormônios como insulina ou adrenalina, ATP, metabólitos como glicose, citrato, entre outros, podem ativar essas enzimas ou inibi-las, controlando a velocidade das vias metabólicas e, por consequência, o metabolismo como um todo. Se uma via for ativada, formará muito produto, e, ao contrário, pode não formar produto suficiente para as reações subsequentes, e a via em questão ou esse determinado metabolismo (pode ser de carboidrato, proteínas, lipídeos, heme) ficará prejudicado. Essa é a razão de estarmos estudando enzimas nesse contexto da bioquímica metabólica: as enzimas irão comandar o metabolismo mediante a substância (efetuador) que se ligará a ela. Observação As enzimas são proteínas, mas em 1981 foi descoberto um tipo com características diferentes das já conhecidas: as ribozimas, moléculas de RNA com capacidade autocatalítica semelhante às enzimas, também chamada RNA catalítico, descritas em vírus, procariotos e em eucariotos. Estão relacionadas com o processamento ou maturação do RNA e a síntese de proteínas. Os pesquisadores Altman e Cech ganharam o Prêmio Nobel de Química, em 1989, pela descoberta dos RNAs catalíticos. Acredita-se que podem ter papel na terapêutica de doenças, podendo ser usadas na inativação de oncogenes celulares e de alguns retrovírus, como o vírus da aids. A função dessa pequena molécula de catalisar reações levou a especulações sobre a origem da vida, e alguns cientistas acreditam que a vida não teria começado a partir de proteínas, e sim no RNA, ou seja, seria a primeira forma de vida na Terra e que depois teria sido englobada por uma membrana celular, formando DNA e proteínas e, portanto, dando início à primeira célula procariota. 12 Unidade I Saiba mais Para mais detalhes sobre enzimas e, especificamente, sobre ribozimas, leia o artigo: CECH, T. R. RNA as an enzyme. Scientific American, v. 255, n. 5, p. 76-84, 1986. Por definição, enzimas são catalizadores biológicos de alta especificidade. Mas o que significa isso? • Catalizadores: aumentam a velocidade da reação. • Biológico: provêm de um ser vivo. • Alta especificidade: catalisam uma reação específica. Para que ocorra o aumento da velocidade, a enzima deve promover a diminuição da energia de ativação (energia necessária para que os reagentes cheguem ao estado de transição e ocorra a reação química), tornando o caminho menor e mais rápido (figura a seguir). Energia Estado de transição Reagentes Ea sem catalisador Ea com catalisador Produtos Caminho da reação Figura 1 – Gráfico da energia versus caminho da reação; com enzima, a energia para chegar no estado ativado é menor, o que leva a uma maior velocidade para gerar produtos 13 BIOQUÍMICA METABÓLICA Podemos dizer que as enzimas alteram a velocidade e a energia de ativação, e não alteram a natureza das reações (se a reação é endotérmica, não a torna exotérmica), não muda as concentrações finais das reações (se é 1A → 1B não vai mudar para 1A → 100B) nem a constante de equilíbrio (que depende das concentrações dos produtos e reagentes), entalpia (ΔH) e entropia (ΔG). O substrato (também chamado reagente) será a substância que irá se modificar pela ação da enzima, logo após se ligar ao local especial chamado sítio ativo ou catalítico. Sabendo-se que a enzima é uma molécula polipeptídica que apresenta estrutura terciária ou quaternária, enovelada, ou seja, tem forma ou estrutura tridimensional globosa, como uma esfera que terá uma depressão que se encaixa ao substrato, os aminoácidos do sítio ativo direcionam o substrato, o posicionam corretamente no sítio ativo para que seja corretamente modificado,por exemplo: aminoácidos negativos do sítio ativo da enzima posicionam regiões positivas do substrato de tal forma a combinarem com esse local. Enzima Substrato Sítio ativo Figura 2 – Esquema de encaixe de um substrato no sítio ativo da enzima Para entender como se mede a quantidade da enzima (medida em concentração de atividade enzimática: U/mL) em uma amostra biológica, temos que entender o que é atividade enzimática. Por definição da bioquímica, segundo a International Union of Biochemistry and Molecular Biology (IUBMB) e a International Union of Pure and Applied Chemistry (Iupac): 1 unidade (1U) de atividade enzimática corresponde à quantidade de enzima que catalisa uma reação que formará 1 micromol de produto por um determinado período de tempo em condições padrões. Existem muitas enzimas com especificidades diferentes para diferentes reações. Há ocasiões em que se precisa ter sua atividade muito maior (mais rápida) ou menor (mais lenta), então as enzimas precisam sofrer regulação da sua atividade ou velocidade por substâncias, como hormônios, metabólitos, NADH, ATP, por exemplo, que irão modular sua velocidade, aumentando ou diminuindo a velocidade de reações pertencentes a uma determinada via metabólica em que se insere. 14 Unidade I Observação Enzimologia é a parte da bioquímica que estuda o comportamento das enzimas nas reações. Muitas reações são extremamente lentas, mas nosso corpo precisa dos produtos imediatamente para outras reações, pois eles serão substratos de outras enzimas, criando uma rede de reações que chamamos de metabolismo (ou via metabólica). As enzimas, como as outras proteínas, podem ser separadas para serem estudadas (por carga, tamanho ou solubilidade) e usadas para várias finalidades, desde farmacológicas até para outros usos, como, por exemplo, amaciamento da carne (feito pela bromelina encontrada no abacaxi), amilase usada para branqueamento de peças de roupa e amaciamento de tecidos, renina na coagulação de leite para obtenção de queijo etc. Algumas enzimas requerem ligação a moléculas não proteicas chamadas cofatores, para que possam exercer a sua atividade. Os cofatores são íons metálicos, como Ca2+, Zn2+, que irão para o sítio ativo e estão envolvidos na reação catalítica. Pode acontecer de a enzima precisar de mais ajuda para a catálise: as coenzimas, que são pequenas moléculas que transportam grupos químicos de um substrato para outro. Alguns exemplos são as vitaminas do complexo B, compostos que não são sintetizados no organismo (vêm da dieta), como riboflavina, tiamina e o ácido fólico, podendo ser encontradas também em substâncias como NADH, NADPH, FADH2. 1.1 Classificação e nomenclatura As enzimas são classificadas nos seguintes grupos, conforme o tipo de reação química que catalisam: • Oxidorredutases: reações de oxidação-redução ou transferência de elétrons. Exemplo: desidrogenases e oxidases. • Transferases: transferência de grupos funcionais, como amina, fosfato, acil e carboxila. Exemplo: quinases e transaminases. • Hidrolases: reações de hidrólise. Exemplo: peptidases. • Liases: reações de quebra de ligações covalentes e a remoção de moléculas de água, amônia e gás carbônico. Exemplo: dehidratases e descarboxilases. • Isomerases: reações de interconversão ou isomerização entre isômeros óticos ou geométricos (cis/trans). Exemplo: epimerases. • Ligases: reações de formação de novas moléculas a partir da ligação entre duas pré-existentes. Exemplo: sintetases. 15 BIOQUÍMICA METABÓLICA Observação As enzimas de restrição ou endonucleases de restrição são produzidas por bactérias. Seu descobrimento aconteceu pois pesquisadores perceberam que as bactérias resistiam à infeção dos vírus ou outras bactérias produzindo enzimas que clivavam o DNA viral ou bacteriano, fragmentando-o em porções inofensivas, por isso as chamam de tesouras moleculares. Essas enzimas não conseguiam fazer o mesmo com o DNA da produtora, pois havia alguma modificação nesse DNA (por exemplo, um grupamento acetil ou metil) que não permitia o reconhecimento da endonuclease na bactéria que a produziu. Atualmente são usadas comumente em biologia molecular, principalmente quando se pensa em clonagem molecular. Essas enzimas clivam em sequências específicas compostas por 4-6 nucleotídeos, por exemplo, a enzima EcoRI (que tem esse nome por que vem de Escherichia coli cepa RI), e tem como sequência de reconhecimento 5’GAATTC 3’CTTAAG. 1.2 Cinética enzimática: fatores que alteram a velocidade de uma reação enzimática A parte da enzimologia que estuda a velocidade das reações se chama cinética enzimática. Há vários fatores que podem influenciar na reação enzimática, como quantidade de sais e composição de solvente, mas entre os principais fatores que alteram a atividade ou velocidade das enzimas, estão: temperatura, pH, concentração da enzima e do substrato. • pH: cada enzima possui uma faixa de pH considerada ideal. Nessa faixa, a velocidade (atividade) é máxima. Caso a enzima seja submetida a extremos, o pH pode sofrer desnaturação e perder a estrutura. Como toda proteína, as enzimas também são sensíveis a variações de pH, mas podemos encontrar enzimas que suportam faixas de pH extremamente baixos, entre 0,1 e 5,4, como bactérias acidófilas, como a Helicobacter pylori, que pode colonizar a parede estomacal ou suportar faixas de pH entre 8,5 e 11,5 (chamadas bactérias alcalinófilas como a Vibrio cholerae) apresentando um crescimento ótimo em pH 9. pH ótimo Vmax V pH Figura 3 – Existe uma faixa de pH em que a velocidade é máxima (temperatura ótima) 16 Unidade I • Temperatura: cada enzima possui uma faixa de temperatura considerada ideal. Nessa faixa, a velocidade (atividade) é máxima. Temperaturas extremamente altas podem desnaturar as enzimas, enquanto temperaturas baixas (por exemplo, 0 °C) preservam sua atividade. Temperatura ótima Vmax V Temperatura Figura 4 – O gráfico é semelhante ao do pH versus velocidade; algumas espécies de bactérias encontradas em fontes termais toleram temperaturas de até 110 °C Observação Certas bactérias, como Bacillus stearothermophilus (agora chamado Geobacillus stearothermophilus), encontradas em pilhas de adubo orgânico, crescem otimamente entre 65 °C e 75 °C. Os esporos dessa bactéria são utilizados para validar os processos de esterilização nas indústrias alimentícia e farmacêutica, sendo uma das principais ferramentas da garantia de qualidade, pois controla o funcionamento de autoclaves em laboratórios de microbiologia e processos de esterilização em geral. Operações de esterilização em que ocorra crescimento de esporos sobreviventes nesse indicador biológico (Bacillus stearothermophilus), após passagem por autoclave, irão mostrar a ineficiência da esterilização O organismo mais importante a ser destruído em enlatados ou em conserva é o microrganismo anaeróbio Clostridium botulinum, pequenos bacilos gram-positivos capazes de produzir neurotoxina letal muito potente que desencadeia paralisias musculares, podendo levar o indivíduo a morte. • Concentração da enzima: quanto maior a concentração da enzima, maior será a velocidade da reação (por exemplo 1 ug de enzima = velocidade, 2 ug = 2 v, 3 ug = 3 v). 17 BIOQUÍMICA METABÓLICA V 1v 2v 3v 2E1E 3E [E] Figura 5 – Gráfico da concentração da enzima ([E]) versus velocidade (V) • Concentração do substrato: quanto maior a concentração da enzima e do substrato, maior será a velocidade da reação. [S] V Vmax/2 KM maxV Figura 6 – Gráfico da concentração de substrato ([S]) versus velocidade; esse gráfico foi descrito por Leonor Michaelis e Maud Menten, e por essa razão é chamado gráfico de Michaelis e Menten Nesse gráfico podemos verificar que quanto mais aumenta a quantidade de substrato, mais aumenta a velocidade da enzima no substrato, quase chegando à velocidade máxima (falamos que tende a determinado ponto, que há tendência, ao ponto de velocidademáxima). Michaelis e Menten verificaram que há um ponto extremamente importante: é o ponto que converge a metade da velocidade máxima ( 1 2 Vmax) para uma quantidade de substrato, que se chama KM (KM = [S]). Esse ponto se chama constante de Michaelis-Menten e é característico de cada enzima e pode ser usado como uma medida da afinidade da enzima pelo substrato. Quanto menor o KM, mais forte é a ligação do substrato pela enzima, ou seja, irá precisar de menor quantidade de substrato para chegar na metade da velocidade máxima. Em seus estudos com cinética enzimática, Michaelis-Menten descrevem o que ocorre numa reação enzimática desta forma: E +S ↔ ES → E + P 18 Unidade I Analisando a reação, percebemos que a enzima (E) liga-se ao substrato (S) para formar um complexo enzima-substrato (ES), que se separa em enzima e produto (P). Sabendo-se que ocorre um equilíbrio químico, podemos igualar as velocidades e arrumar os componentes chegando à equação de Michaelis e Menten, que mostra qual é a velocidade em qualquer momento da reação, se soubermos parâmetros como Vmax, KM e [S]: v V S K Sm = [ ] + [ ] max A representação gráfica da velocidade da reação em função da concentração de substrato é uma hipérbole, onde 1 2 da velocidade máxima corresponde ao KM, que é uma determinada concentração de substrato ([S]). 1.3 Inibidores da atividade enzimática Substâncias (que podem ser desde venenos até medicamentos) podem inibir a atividade da enzima. Algumas substâncias tóxicas, como pesticidas, agrotóxicos, toxinas de plantas ou animais podem parar completamente alguma enzima, e a reação em que ela age fica totalmente prejudicada, ocorrendo o bloqueio de uma única reação que afetará toda a sequência de reações, pois não irá ser gerado o produto que será substrato da outra reação seguinte. Essa inibição enzimática pode ocorrer caso a enzima tenha sofrido alguma mutação e não esteja fazendo a catálise corretamente, ou seja, sem controle hormonal ou de metabólitos que possam modular sua velocidade. Nesse caso, medicamentos podem fazer essa função e diminuir drasticamente sua velocidade, levando o paciente a ter vida normal, pois haverá controle da enzima. Analisando-se onde e como é feita a ligação entre o inibidor e a enzima, podemos dividir os inibidores em dois tipos: reversível e irreversível. Na inibição irreversível, a atividade enzimática é definitivamente inativada, pois a ligação desse inibidor com a enzima é do tipo covalente (ligação forte e mais estável), alterando a atividade catalítica de forma permanente. Esse inibidor é chamado de suicida, pois vai ser degradado junto à enzima quando for o momento dela ser degradada. Observação O íon cianeto (CN−) é inibidor irreversível da enzima citocromo oxidase, que é ligada ao processo de respiração celular. Caso inativada, a célula não respira e morre. Muitas mortes e envenenamentos são devidos ao mau uso de agrotóxicos com carbamatos e organofosforados que são inibidores potentes da enzima 19 BIOQUÍMICA METABÓLICA acetilcolinesterase (enzima que cliva a acetilcolina, neurotransmissor do sistema nervoso). Acumulando acetilcolina na fenda sináptica ocorre estimulação contínua dos receptores provocando desde lacrimejamento, micção, diarreia até paralisia e hipertensão. Várias plantas com flores muito bonitas são causadoras de envenenamentos do gado brasileiro, como o cafezinho (Palicourea marcgravii), uma das plantas tóxicas mais perigosas do Brasil. Também é chamado café-bravo, café-do-mato, erva-brava, erva-de-gado, erva-de-rato. Essa planta tem ácido monofluoracético, que inibe a enzima aconitase do ciclo de Krebs, levando à falência respiratória e cardíaca do gado e dos seres humanos. Na inibição reversível, o inibidor se liga à enzima por ligações fracas, instáveis, que podem ser facilmente rompidas, e a enzima volta a catalisar como antes. Nessa inibição iremos estudar a competitiva e não competitiva. Na inibição competitiva, como o próprio nome diz, o inibidor compete com o substrato pelo sítio ativo, pois ambos têm uma estrutura muito parecida com a do substrato da enzima, e como está em maior quantidade, ele é que toma o espaço no sítio ativo, e dessa forma a enzima não catalisa o substrato. Então a afinidade (KM) da enzima para com o substrato irá ser modificada, mas a velocidade máxima não. Observação As estatinas, fármacos hipolipemiantes que agem reduzindo os níveis plasmáticos de colesterol total e LDL-C colesterol, e que auxiliam no tratamento da aterosclerose, são um exemplo de medicamento que tem como mecanismo de ação a inibição competitiva da HMG-CoA redutase, enzima responsável pela formação de colesterol pelo fígado e, consequentemente, pela formação das lipoproteínas plasmáticas, como, por exemplo, LDL-C colesterol, diminuindo o processo de formação de ateroma. Os pacientes devem periodicamente fazer exames laboratoriais para controlar efeitos adversos no fígado ou músculos. Outros exemplos são o fármaco alopurinol, que é inibidor da enzima da síntese de ácido úrico, xantina oxidase, controlando a doença gota úrica, e o metotrexato, fármaco antineoplásico que impede a síntese de purinas e pirimidinas, e, portanto, DNA e RNA, eficaz no tratamento de leucemias, pois inibe competitivamente a enzima di-hidrofolato redutase. 20 Unidade I Na inibição não competitiva, o inibidor pode ligar-se tanto à enzima (em um sítio que não é o sítio ativo) ou ao complexo enzima-substrato. Nesse caso, a ligação do inibidor com a enzima não impede que haja a ligação da enzima com o substrato, ou seja, a afinidade não é modificada (KM), mas atrapalha na velocidade de catálise bruscamente (muda a velocidade máxima) pois há mudança na forma da enzima, impedindo a formação do produto da reação. Observação Como exemplo de inibição não competitiva, podemos citar medicamentos do coquetel anti-aids (ou Haart – terapia antirretroviral altamente ativa), aprovados pelo FDA: delavirdina (Rescriptor®), efavirenz (Sustiva®) e nevirapina (Viramune®), sendo que a nevirapina é um dos poucos fármacos utilizados para prevenir a transmissão do HIV de mãe para filho. São exemplos de inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa do HIV (NNTRs) e afetam a reação que ocorreria no sítio ativo da enzima do vírus. Existem muitos tratamentos terapêuticos que se baseiam na inibição enzimática. Vários antibióticos combatem infecções por bactérias através da inibição irreversível de enzimas desses microrganismos. A penicilina, por exemplo, inibe a atividade da enzima transpeptidase, indispensável à formação da parede celular bacteriana. Com a inativação dessa enzima, a bactéria não tem como fabricar a parede celular, o que impede a sua reprodução. As células animais, por sua vez, não utilizam essa enzima em seu metabolismo, por isso a penicilina não causa mal ao organismo humano (exceto em situações de alergia). Quando não há mais bactéria, para-se o medicamento. 1.4 Gráficos de Lineweaver-Burk Os estudos enzimáticos geralmente são realizados com os gráficos de Michaelis-Menten (gráficos de MM), mas, na prática, é difícil obter o valor da velocidade máxima (Vmax) com precisão (lembra-se que há tendência de chegar à velocidade máxima?). Hans Lineweaver e Dean Burk, analisando o gráfico de MM, perceberam que poderia ser realizada a inversão de velocidade 1 v e de substrato [ ] 1 S e dessa forma iria gerar uma reta a partir da curva do gráfico de Michaelis Menten. Essa reta corta o eixo da velocidade mostrando o ponto 1 Vmax , e dessa forma esse gráfico tem a grande vantagem sobre o gráfico de MM, pois o valor aparece com muita clareza. Da mesma maneira, quando corta o eixo [ ] 1 S , teremos o ponto M 1 K − e facilmente conseguimos saber o valor de KM. 21 BIOQUÍMICA METABÓLICA [ ] 1 S M 1 K − 1 Vm 1 v Figura 7 – A linearização do gráfico de Michaelis-Menten gera uma reta que é o gráficode Lineweaver-Burk, em que podemos verificar o número exato da velocidade máxima 1 Vmax e o KM M 1 K − 1.5 Enzimas alostéricas e isoenzimas 1.5.1 Enzimas alostéricas São as chamadas enzimas marca-passo, pois elas controlam a velocidade de todas as reações de uma determinada via. Não obedecem à cinética de Michaelis-Menten (a curva da velocidade versus [S] é sigmoide (como é possível ver na figura a seguir). V [S] Hipérbole (Michaelis-Menten) Sigmoide (alostérica) Figura 8 – Representação das curvas das sigmoide e hipérbole de enzimas do tipo Michaelis-Menten e alostérica Essas enzimas têm, além do sítio ativo, outro sítio chamado alostérico ou regulatório, em que uma substância (hormônio, ATP, NADH, metabólito) pode se ligar, e modificando o sítio ativo pode facilitar (ativar) a enzima para uma reação ou atrapalhar a entrada do substrato na enzima (inibir). 1.5.2 Isoenzimas São enzimas que diferem na sequência de aminoácidos, mas que catalisam a mesma reação química em órgãos diferentes. Isso ocorre para que funcione de formas distintas em vários compartimentos do corpo, ajustando a velocidade da reação para determinado metabolismo. Podemos citar a creatina quinase (ou creatina cinase), o lactato desidrogenase e a fosfatase alcalina. A creatina quinase é um dímero com dois tipos de subunidades, M (muscular) e B (cerebral). No musculoesquelético, as duas subunidades são do tipo M (CPK3 ou CKMM), no cérebro as duas unidades são do tipo B (CPK1 ou CKBB), mas no miocárdio encontramos as duas subunidades: M e B (CPK2 ou CKMB). Consegue-se separar os três tipos por diferentes mobilidades na eletroforese. Essa enzima catalisa a formação de energia (ATP) a partir de creatina fosfato gerando creatinina. 22 Unidade I A lactato desidrogenase (LD ou LDH) é tetramérica, ou seja, contém 4 subunidades de 2 tipos diferentes: H, para o coração e M para o musculoesquelético, gerando 5 formas dessas isoenzimas: LDH1 (HHHH), presente no coração; LDH2 (HHHM), encontradas no miocárdio e nos eritrócitos; LDH3 (HHMM), no cérebro e rim; LDH4 (HMMM); e, por fim, LDH5 (MMMM), encontrada no fígado e musculoesquelético. Essa enzima catalisa a reação de piruvato para lactato (reversível), dessa forma, podemos dizer que ela será acionada quando não tiver muita oferta de oxigênio para a célula. A fosfatase alcalina pode ser encontrada no osso, no fígado, no intestino e na placenta, durante a gravidez. A fosfatase alcalina óssea é marcador da atividade osteoblástica, ou seja, destruição óssea, que geralmente ocorre no câncer ósseo. A isoenzima de origem hepática (ALP1) é termoestável, enquanto a fração óssea (ALP2) é inativada pelo calor. A determinação laboratorial da fosfatase alcalina, quando analisada com outros parâmetros e outras enzimas, pode ajudar no diagnóstico de doenças de ossos ou fígado. Essa enzima faz desfosforilação, ou seja, remove grupos fosfato de algumas moléculas, como proteínas ou nucleotídeos e atua em pH alcalino. 1.6 Enzimologia clínica Em algumas doenças, a atividade de certas enzimas é modificada, geralmente aumentadas se comparadas ao normal. As enzimas podem ser quantificadas no plasma sanguíneo, líquido cefalorraquidiano, urina e exsudatos, e sua atividade deve ser comparada ao valor de referência liberado pelos laboratórios que comercializaram o kit de determinação da enzima. Sua medida colabora com o auxílio diagnóstico nos processos patológicos, pois quando um órgão tem alguma alteração (patologia), suas atividades são modificadas e liberadas para o exterior da célula e daí para o sangue, como no caso de lesão tecidual provocada por processos patológicos que levam ao aumento na permeabilidade celular ou morte da célula. Observação Embora a maioria das enzimas funcione dentro das células, há algumas que funcionam no sangue como as relacionadas à formação e degradação de coágulos. Algumas enzimas são rotineiramente medidas em laboratório clínico, como no quadro a seguir: 23 BIOQUÍMICA METABÓLICA Quadro 1 – Apresentação de algumas enzimas e relação com algumas patologias Enzima Patologia relacionada com o aumento no plasma Amilase Enfermidade no pâncreas, parotidite Creatina cinase (CK) Enfermidades musculares, cardíacas e cerebrais Fosfatase ácida Enfermidades na próstata Fosfatase alcalina Enfermidades hepáticas, doenças ósseas Lactato desidrogenase (LD) Enfermidade hepática, cardíaca, renal, hemólise Lipase Enfermidades pancreáticas Gama glutamil transferase (γ GT) Enfermidades hepáticas Transaminase glutâmico oxalacética (TGO ou AST) Enfermidades hepáticas, cardíacas, musculares, renais Transaminase glutâmico pirúvica (TGP ou ALT) Enfermidades hepáticas A amilase é uma enzima produzida pela glândula parótida ou pelo pâncreas, portanto, caso haja aumento dessa enzima no sangue, poderá ser por patologia no pâncreas (por exemplo, pancreatite) ou se tiver aumento no tamanho de uma ou mais glândulas salivares (geralmente a parótida, mas pode ser também glândulas sublinguais ou submandibulares). A enzima lipase é produzida no pâncreas e seu aumento no sangue, junto à amilase, denotam com certeza problemas pancreáticos. Fosfatase ácida é uma enzima produzida na próstata, e quando há aumento nesse local, há extravasamento dessa enzima para o sangue. Apesar de ser um bom marcador de problemas prostáticos, há uma glicoproteína chamada PSA, que é mais específico e mais sensível. Gamaglutamiltransferase (γ-GT) é uma enzima hepática, que além de outras funções, transfere aminoácidos e grupamento glutamil pela membrana celular para peptídeos. TGO e TGP são enzimas encontradas em vários órgãos, mas principalmente no fígado. TGO é encontrada dentro das mitocôndrias, enquanto TGP é citoplasmática. Quando há lesão hepática é liberada, primariamente, a TGP, e quando essa lesão é grave, por exemplo, com necrose onde as organelas são degradadas, a mitocôndria libera TGO no sangue. Creatina cinase, lactato desidrogenase e fosfatase alcalina já foram explicadas no item Isoenzimas. 1.7 Erros metabólicos hereditários Os erros inatos do metabolismo (EIM) ocorrem quando uma determinada enzima não é produzida corretamente, geralmente por mutação no DNA que se prolifera para o RNAm e a proteína (enzima). Esse defeito genético que levou a um defeito enzimático pode até interromper uma via metabólica, e os produtos dessa via não serão sintetizados, levando às doenças metabólicas hereditárias (DMH), que correspondem a cerca de 10% de todas as doenças genéticas. 24 Unidade I Geralmente ao nascer, as crianças portadoras com EIM parecem normais e algum fator externo inicia as manifestações agudas diagnosticadas em laboratório clínico. Dependendo do erro inato do metabolismo e da substância acumulada, tem-se a terapêutica que vai desde dieta até transplante de medula óssea. 1.7.1 Fenilcetonúria e albinismo A fenilcetonúria é uma doença genética, autossômica e recessiva, em que a enzima fenilalanina hidroxilase está mutada e dependendo do tipo de mutação poderá ocorrer a ausência ou deficiência desta enzima, que não faria a transformação da fenilalanina em tirosina e, dessa forma, a via ficaria toda prejudicada. • Fenilalanina • Tirosina • L-Dopa • Dopamina • Norepinefrina • Epinefrina Fenilalanina hidroxilase Figura 9 – Esquema da transformação de fenilalanina até adrenalina Com esse aumento das moléculas de fenilalanina do sangue, ocorre a transformação destas em ácido fenilpirúvico, que pode ir para a urina pelo sangue e para outros órgãos, mostrando-se tóxica, inclusive no cérebro. Caso a doença não seja diagnosticada com o teste do pezinho (do Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministério da Saúde), seu início poderá ser manifestado clinicamente em torno do 3o ou 4o mês de vida, quando a criança começa a apresentar atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor, irritabilidade ou apatia, convulsões, coceiras crônicas, coloração esbranquiçada na pele (hipopigmentaçãocutânea), e se não tratada, chega ao retardo mental. Observação Adoçantes artificiais, como sacarina, ciclamato de sódio, aspartame e outros, são usados por diabéticos para substituir o açúcar, mas pessoas que querem emagrecer utilizam esses produtos também. Alimentos light são aqueles que têm uma redução de 25% de um ingrediente em relação ao original. Alimentos diet são aqueles que não têm algum componente nutricional, como gordura ou açúcar. Dessa forma, diabéticos não deveriam consumir produtos light e sim diet. 25 BIOQUÍMICA METABÓLICA O aspartame (criado nos Estados Unidos em 1965) é formado pela união de dois aminoácidos: ácido aspártico e fenilalanina, resultando em um produto doce que substitui o açúcar, mas fenilcetonúricos não podem ingerir, pois já possuem fenilalanina no organismo, o que agravaria muito sua condição Caso faça corretamente a dieta livre de fenilalanina, a criança pode ter desenvolvimento e expectativa de vidas normais. 1.7.2 Albinismo O albinismo provém de falha na produção de melanina. Para que ocorra, tanto o pai como a mãe irão passar os genes defeituosos para os filhos (herança autossômica recessiva). Sua natureza genética afeta a atividade da enzima tirosinase, podendo ser classificado em: tirosinase-negativo (quando não há produção de melanina) e tirosinase-positivo (quando há pequena produção de melanina), e por consequência, ausência parcial ou total de pigmentos na pele, nos cabelos e nos olhos. Esse pigmento serve como barreira natural contra as radiações solares e sua falta pode provocar fotossensibilidade, queimaduras e câncer de pele. Não compromete o desenvolvimento físico e mental de seus portadores. O albinismo pode ocorrer também em animais (que sofrem mais facilmente o ataque de predadores e da energia solar) e plantas (que não produzem pigmento clorofila e vivem com o armazenamento de substâncias energéticas que estão presentes nas sementes). • Fenilalanina • Tirosina Tirosinase Tirosinase • L-Dopa Melanina Figura 10 – Esquema da produção de melanina e criança da raça negra e albina 26 Unidade I Lembrete O albinismo acomete seres humanos, animais e plantas. 1.7.3 Galactosemia É a deficiência em enzimas que são usadas na conversão da galactose no sangue, entre elas a galactose-1-fosfato-uridil transferase devido à herança autossômica recessiva. Após a amamentação, aparecem vômitos, hepatomegalia, crescimento deficiente, letargia, diarreia e disfunção renal, que levam à acidose metabólica. A restrição da galactose da dieta, que tem como fonte principal o carboidrato lactose, é o tratamento principal. 1.7.4 Doença de von Gierke ou glicogenose tipo I Esse distúrbio metabólico hereditário autossômico recessivo leva ao acúmulo de glicogênio por causa da deficiência da enzima glicose-6-fosfatase, que é responsável por liberar glicose a partir do glicogênio (glicogenólise), acumulando-o no fígado (leva a hepatomegalia) e nos rins (nefromegalia), podendo acarretar convulsões, irritabilidade, tremores, desmaios. O diagnóstico ocorre por hipoglicemia, aumento de ácido láctico, colesterol, ácidos graxos, triglicérides, fosfolípides e ácido úrico. O tratamento é a prevenção da hipoglicemia e da acidose láctica, sendo que a dieta deve ter alimentos ricos em glicose ou amido. 1.7.5 Cretinismo A ausência do hormônio tiroxina (hormônio proteico com moléculas de iodo) afeta o amadurecimento cerebral, levando à deficiência mental pelo hipotireoidismo congênito, que pode ser por deficiência enzimática durante o desenvolvimento do hormônio da tireoide. É possível identificar a doença por meio do teste do pezinho. Epiglote Cartilagem tireóidea Glândulas paratireóideas superiores Glândula tireóidea Glândulas paratireóideas inferiores Traqueia Figura 11 – Desenho esquematizado da tireoide 27 BIOQUÍMICA METABÓLICA 2 CARBOIDRATOS Por que nos alimentamos? Nos alimentamos para gerar energia para nossas células. E de que modo nossas células produzem energia? Elas produzem energia na forma de adenosina trifosfato (ATP) a partir da oxidação de macronutrientes (carboidratos, lipídios e proteínas) por meio de reações que constituem o metabolismo. Essas reações de degradação (catabolismo) dos macronutrientes em moléculas menores e de construção (anabolismo) que permitem a formação de macromoléculas são reguladas por enzimas, vitaminas, sais minerais e hormônios. Então estudaremos como essas reações químicas de conversão de uma molécula em outra ocorrem em nossas células. Metabolismo Anabolismo Construção de moléculas complexas a partir de moléculas simples Consumo de ATP Degradação de moléculas mais complexas em moléculas simples Produção de ATP Catabolismo Figura 12 – Interdependência do anabolismo e do catabolismo Em bioquímica estrutural, cita-se como exemplo a ingestão de um café da manhã com pão, biscoitos, bolo, mel e leite. Já sabemos como esses carboidratos são classificados quanto à complexidade, agora iremos compreender a sua digestão até que possam atingir a corrente sanguínea e serem utilizados por todas as células do organismo. Por questões didáticas, iremos estudar a digestão dos macronutrientes de forma individualizada, mas ressaltamos que estes são digeridos ao mesmo tempo, às vezes não compartilham o mesmo local de digestão e demandam enzimas distintas. 2.1 Digestão dos carboidratos Na cavidade bucal, o amido é degradado em dextrinas de amido pela enzima alfa-amilase (ptialina), que quebra as ligações α-1,4 da molécula de amido. No intestino, as moléculas de dextrina de amido continuam a ser degradadas pela amilase pancreática em moléculas de maltose. E a maltose é hidrolisada em duas moléculas de glicose. A glicose (monossacarídeo) pode ser absorvida para a corrente sanguínea através das células do intestino delgado. A digestão da sacarose (dissacarídeo) ocorre no intestino delgado na presença da enzima sacarase e origina produtos como glicose e frutose (monossacarídeo), que são absorvidos para a corrente sanguínea. O leite contém outro açúcar, a lactose, que também é um dissacarídeo, e a degradação depende da lactase. Nesse caso, os produtos gerados são glicose e galactose. E a digestão da frutose? É um monossacarídeo, então ela é prontamente absorvida pelas células intestinais. 28 Unidade I Lactose Lactose Glicose Glicose Galactose Glicose Amido Maltose Sacarose Sacarose Glicose Frutose Lactase SacaraseAmilase pancreática α-amilase Dextrinas de amido Maltase+ + + Moléculas simples absorvidas Figura 13 – Digestão de carboidratos Saiba mais Alguns indivíduos apresentam intolerância à lactose. A sua má absorção ocorre em virtude da inatividade ou ineficiência da lactase. Os indivíduos intolerantes à lactose apresentam flatulência, dores abdominais e diarreia. Vale a pena a leitura do artigo: DENG, Y. et al. Lactose intolerance in adults: biological mechanism and dietary management. Nutrients, v. 7, n. 9, 8020-8035, 18 set. 2015. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4586575/ pdf/nutrients-07-05380.pdf. Acesso em: 29 jun. 2020. 2.2 Transportadores de glicose Uma vez na corrente sanguínea, como a glicose entra nas células? Ela não pode difundir-se através dos poros da membrana, pois é muito grande. Seu peso molecular é de 180 kDa e o máximo das partículas permeáveis é cerca de 100 kDa. Existem dois tipos de mecanismos de transporte de glicose através da membrana: facilitado, mediado por transportadores de membrana específicos (GLUT, do inglês glucose transporter), e o cotransporte, com o íon sódio (SGLT, do inglês sodium glucose transporter). 29 BIOQUÍMICA METABÓLICA Glicose Glicose Célula Transportador de glicose Sódio-potássio ATPase Na+ Na+ Na+ K+ K+ Figura 14 – Transportador de glicose Existe uma família de transportadores (atualmente é proposta a existência de doze tipos de transportadores) que diferem quanto às características funcionais e distribuiçãotecidual e que podem transportar outros monossacarídeos, com estruturas semelhantes à da glicose, incluindo, especialmente, a galactose. A maioria das células expressa um número diferente de GLUTs em proporções distintas. E a atividade dos GLUTs pode ser regulada ou não pela insulina. Assim, a quantidade de glicose passível de se difundir para o interior da maioria das células, na ausência de insulina, é insuficiente para o metabolismo energético. Nessas células, o transporte de glicose é dependente de insulina (ver figura a seguir). Nos hepatócitos e nos neurônios, a entrada de glicose também é mediada pelos GLUTs, entretanto, não é dependente de insulina. Insulina Receptor de insulina Glicose Insulina ligada ao receptor Transportador de glicose aberto Transportador de glicose fechado Célula Célula Figura 15 – Entrada de glicose na célula mediada pela insulina No epitélio intestinal e tubular renal, o transporte de glicose ocorre contra gradiente e acoplado ao sódio na membrana apical das células através dos cotransportadores (SGLT1-SGLT2), com posterior difusão facilitada para o interstício através de GLUTs presentes na membrana basolateral. 30 Unidade I Vejamos as características de alguns GLUTs: • O transportador de glicose tipo 1 (GLUT1) está amplamente distribuído pelas células, e realiza o transporte basal de glicose celular. Está presente nos tecidos fetais, mas sua expressão está diminuída nos tecidos adultos. Não tem atividade alterada pela presença da insulina. • O transportador de glicose tipo 2 (GLUT2) está presente nos hepatócitos, células β pancreáticas, mucosa intestinal e rins. Possui alta afinidade com a glicose e não tem atividade modulada pela insulina. As células β pancreáticas detectam a variação da glicemia e iniciam automaticamente o controle da secreção de insulina, e em reposta o fígado capta ou libera glicose. • O transportador de glicose tipo 4 (GLUT4) é o mais abundante e está nas membranas celulares do musculoesquelético, cardíaco e tecido adiposo. É dependente de insulina. • O transportador de glicose tipo 5 (GLUT5) é uma proteína transportadora de frutose, com pequena ou nenhuma afinidade pela glicose. Desse modo, uma vez dentro das células, a glicose será utilizada com diferentes finalidades, dependendo do estado metabólico do organismo, ou seja, absortivo, pós-absortivo ou em jejum. A variação da glicemia (quantidade de glicose na corrente sanguínea) determina quais hormônios são produzidos e quais reações químicas estão favorecidas. Agora iremos estudar as vias metabólicas correspondentes ao metabolismo dos carboidratos. 2.3 Glicólise No balanço geral da glicólise (C6H12O6), ela produz duas moléculas de piruvato ou ácido pirúvico (C3H4O3), duas moléculas de ATP e duas moléculas de NADH, mas isso ocorre numa sequência de reações no citosol das células. Glicose 2 Piruvato 10 reações NAD+ 2NADH 2ATP ADP + Pi Figura 16 – Esquema simplificado da glicólise 31 BIOQUÍMICA METABÓLICA O ácido pirúvico é um composto orgânico que contém três átomos de carbono (C3H4O3). Dissocia-se em meio aquoso e forma o ânion piruvato, que é a forma sob a qual participa dos processos metabólicos. C C O O O O OH O– H+ C C CH3 Ácido pirúvico Piruvato CH3 Figura 17 – Diferença entre ácido pirúvico e piruvato Observação ATP é uma sigla usada para indicar a molécula de adenosina trifosfato (adenosine triphosphate). A molécula de ATP é formada por uma base nitrogenada adenina, uma ribose e por três grupos fosfato. A adenina ligada à ribose é chamada adenosina. Quando a adenosina está ligada a apenas dois grupos fosfato, temos a adenosina difosfato (ADP). O O O P P P CH2 –O O O H H O H ATP H OH OH O– O– O– N N NN NH2 O O P P CH2 –O O H H O H ADP H OH OH O– O– N N NN O NH2 Figura 18 – Moléculas de ATP e ADP Nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADH), em inglês (nicotinamide adenine dinucleotide) é uma coenzima que pode estar no estado: NAD+ (oxidado) ou NADH (reduzido). 32 Unidade I H H O N O N+ NH2 NH2 Ribo Ribo ADP ADP NAD+ + H+ + 2e+ NADH Redução Oxidação H Figura 19 – Molécula de NADH; ribose (Ribo) • Reação 1: uma vez dentro da célula, a glicose é modificada para que não possa sair. E isso é possível a partir da reação de fosforilação pelo ATP, formando a glicose-6-fosfato. Essa reação é catalisada pela enzima hexoquinase ou glicoquinase (ver figura a seguir). O fosfato adicionado à glicose confere carga negativa à glicose e assim não permite que ela passe pela membrana plasmática. O magnésio é o cofator dessa reação. CH2OH Glicose Glicose-6-fosfato H H OH OH OH OH 6 5 4 1 23 H H O CH2O – P H H OH OH OH OH 6 5 4 1 23 H H O Hexoquinase ou glicoquinase ATP ADP Figura 20 – Conversão de glicose em glicose-6-fosfato O P dentro do círculo que aparece nas moléculas corresponde ao grupo fosfato PO4 -3. E a seta para cima indica que o ATP está sendo consumido na reação, e a seta para baixo indica que o ADP está sendo formado pela reação. A seta única da reação (→) indica que esta é irreversível. E quando a reação é reversível, pode ser representada pelas seguintes setas: ↔ ou ← → • Reação 2: ocorre a isomerização da glicose à frutose. Isso é possível pela ação da enzima fosfoglicoisomerase, que transforma a aldose da glicose em uma cetose. Fosfoglicoisomerase CH2O – P H H OH OH OH OH 6 5 4 1 23 H H O P –OCH2 CH2OH H HOH HO OH 5 4 2 3 Glicose-6-fosfato Frutose-6-fosfato O 16 Figura 21 – Conversão de glicose-6-fosfato em frutose-6-fosfato 33 BIOQUÍMICA METABÓLICA • Reação 3: a frutose-6-fosfato é então fosforilada pelo ATP e se transforma em frutose-1,6-bisfosfato com o auxílio da fosfofrutoquinase (FFK). Essa enzima é alostérica e é um dos pontos de regulação da glicólise. O magnésio é o cofator dessa reação. Fosfofrutoquinase –OCH2 –OCH2CH2OH CH2O– H H H HOH OH HO HOOH OH 5 5 6 6 4 4 2 2 1 1 3 3 Frutose-6-fosfato ATP ADP Frutose-1,6-bifosfato O O Figura 22 – Conversão de frutose-6-fosfato em frutose-1,6-bifosfato • Reação 4: a frutose-1,6-bisfosfato é clivada em duas moléculas: di-hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído-3-fosfato. Essa reação é catalisada pela aldolase. P –OCH2 CH2O – P H HOH HO OH 5 6 4 2 1 3 Frutose-6-fosfato O Aldolase H H C C C CH2O CH2O CH2OH O O OH Di-hidroxiacetona fosfato Gliceraldeído 3-fosfato + P P Figura 23 – Quebra da frutose-1,6-bifosfato em gliceraldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona fosfato • Reação 5: apesar de serem formadas duas moléculas, é o gliceraldeído-3-fosfato que é utilizado na continuação da glicólise; por isso é necessário que a di-hidroxiacetona seja interconvertida a gliceraldeído-3-fosfato. Essa isomerização é catalisada pela triose-fosfato isomerase. Observe que existe uma seta com duplo sentido na isomerização, isso indica que o gliceraldeído-3-fosfato também pode ser convertido em di-hidroxiacetona, mas para que isso não ocorra, ele é prontamente consumido, e a conversão da di-hidroxiacetona para aldeído é favorecida. 34 Unidade I C CH2O CH2OH O Di-hidroxiacetona fosfato P H H C C CH2O O OH Gliceraldeído 3-fosfato P Triose-fosfato isomerase Figura 24 – Isomerização da di-hidroxiacetona fosfato • Reação 6: a molécula de gliceraldeído-3-fosfato é transformada em 1,3-disfosfoglicerato (1,3-BPG), em uma reação catalisada pelo gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase. Observe que uma molécula de NAD+ (coenzima no estado oxidado) foi reduzida a NADH (coenzima no estado reduzido). H H C C CH2O O OH Gliceraldeído 3-fosfato 1,3–difosfoglicerato P H C C CH2O O O OH P PGliceraldeído 3–fosfato desidrogenase Pi NAD+ NADH Figura 25 – Conversão de gliceraldeído-3-fosfato em 1,3-difosfoglicerato • Reação 7: é a primeira vez que forma um ATP. O 1,3-disfosfoglicerato se converte em 3-fosfoglicerato, em uma reação catalisada pelo fosfoglicerato quinase (vejafigura a seguir). A fosforilação ocorreu com a transferência do grupo fosfato diretamente do substrato. Essa reação forma 2 ATP por molécula de glicose. H COO– C CH2O OH 3-fosfoglicerato1,3–difosfoglicerato P H C C CH2O O O OH P P Fosfoglicerato quinase ADP ATP Figura 26 – Conversão do 1,3-difosfoglicerato em 3-fosfoglicerato • Reação 8: o fosfato do 3-fosfoglicerato é transferido do carbono 3 para o carbono 2, formando o 2-fosfoglicerato. Isso ocorre por que o composto 3-fosfoglicerato possui baixo potencial de transferência de substrato (veja figura a seguir). Para aumentar o seu potencial, o fosfato passa da posição 3 para a posição 2. 35 BIOQUÍMICA METABÓLICA H COO– C CH2O OH 3-fosfoglicerato P H COO– C CH2OH O 2-fosfoglicerato P Fosfoglicerato mutase Figura 27 – Mudança do radical fosfato da posição 3 para a posição 2 • Reação 9: para aumentar ainda mais seu potencial de transferência de fosfato, o 2-fosfoglicerato se transforma em fosfoenolpiruvato. H COO– C CH2OH O 2-fosfoglicerato P Fosfoenolpiruvato COO– C CH2 O P Enolase Figura 28 – Formação do fosfoenolpiruvato • Reação 10: o fosfoenolpiruvato se transforma em piruvato por ação da piruvato quinase (veja figura a seguir). Nessa reação, formam-se 2 ATP a partir do substrato. Essa reação é irreversível, devido ao alto valor de ΔG. Fosfoenolpiruvato COO– C CH2 O P Piruvato quinase ADP ATP Piruvato C C CH3 O O O– Figura 29 – Formação do piruvato Após o estudo individual das reações, podemos agrupá-las em dois momentos distintos: a fase preparatória da glicose e a de produção de energia. A fase preparatória da glicólise inicia-se na glicose e origina gliceraldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona. Nessa fase são gastos ATPs em duas fosforilações. Essa fase termina com a quebra da hexose em duas trioses. 36 Unidade I Glicose Glicose 6-fosfato Frutose 6-fosfato Frutose 1,6-dfosfato Gliceraldeído 3-fosfato Di-hidroxiacetona fosfato Hexoquinase ou glicoquinase Gasto de ATP Fosfoglicoisomerase Fosfofrutoquinase Gasto de ATP Fase preparatória Aldose Gliceraldeído 3-fosfato Triose-fosfato isomerase Gasto de 2 moléculas de ATP Figura 30 – Fase preparatória da via glicolítica Na de produção de energia: do gliceraldeído-3-fosfato até piruvato ocorrem duas reações de fosforilação em nível de substrato. Isso significa que a reação transfere não só energia livre ao ADP, mas também o próprio fosfato, necessário à síntese de 1 ATP. 2 (gliceraldeído 3-fosfato) 2 (1,3-difosfoglicerato) 2 (3-fosfoglicerato) 2 (2-fosfoglicerato) 2 (2-fosfoenolpiruvato) 2 (Piruvato) Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase Produção de 2NADH Fosfoglicerato quinase Produção de 2 ATP Fosfoglicerato mutase Enolase Piruvato Quinase Produção de 2 ATP Fase de produção Produção de 2 moléculas de ATP e de 2 moléculas de NADH Figura 31 – Fase de produção de energia 37 BIOQUÍMICA METABÓLICA Observe que são formadas duas moléculas de NADH, que é um aceptor intermediário dos elétrons formados nas reações de oxidação da via. O NADH é constantemente regenerado. E quando isso ocorre? Nas próximas etapas de metabolização do piruvato. O piruvato possui três destinos distintos dependendo da presença ou ausência de oxigênio. Na presença de oxigênio (aerobiose), o piruvato produz dióxido de carbono, e em aerobiose os produtos podem ser etanol ou ácido lático. Glicose 2 Piruvato 2 Acetil-CoA 2 Lactato2 Etanol + 2CO2 4CO2 + 4H2O Glicose Condições aeróbias Condições anaeróbias Condições anaeróbias Ciclo de Krebs Figura 32 – Destinos do piruvato nas células na presença ou ausência de oxigênio Na respiração anaeróbica, ou fermentação, ocorre uma série de reações de degradação da glicose para a obtenção de energia sem a utilização de O2. Esse processo irá ocorrer no citoplasma das células e a formação de ATP não é eficiente, ou seja, menor quantidade de ATP é produzida em comparação com a respiração aeróbica. Nesses casos, um mol de glicose irá gerar somente dois mols de ATP. Existem dois tipos de fermentação: alcoólica e láctica (vejas as figuras a seguir). C6H12O6 Glicólise 2 +4H+ + 4e– → +2CO2 Ácido pirúvico Álcool etílico (Etanol) O C C C O H3 OH OH CH2 CH3 Figura 33 – Fermentação alcoólica 38 Unidade I C6H12O6 Glicólise 2 2+4H+ + 4e– → Ácido pirúvico Ácido lático O C C CH3 O OH O C CH CH3 OH OH Figura 34 – Fermentação lática Na fermentação alcoólica que ocorre principalmente nas leveduras e em vários outros microrganismos, é possível a produção de vinho e cerveja, por exemplo. Na primeira etapa, o piruvato é descarboxilado pela ação da piruvato descarboxilase, gerando aldeído acético, que na sequência é reduzido a etanol pela ação da enzima álcool desidrogenase, com a concomitante formação de NAD+, por meio da regeneração de um NADH. Na respiração aeróbica, o processo é mais eficiente e acontece nas mitocôndrias das células. Vamos relembrar a estrutura dessa organela. Matriz ou estroma Crista mitocondrial Membrana externa Membrana interna Ribossomo Figura 35 – Mitocôndria Nessa forma de obtenção de energia, ocorre a produção de 38 mols de ATP com apenas 1 mol de glicose. Quase todos os seres vivos utilizam a respiração celular aeróbica como processo de obtenção de energia para suas diversas atividades. 39 BIOQUÍMICA METABÓLICA 2.4 Ciclo de Krebs O ciclo de Krebs (CK) também é conhecido como ciclo dos ácidos tricarboxílicos ou ciclo do ácido cítrico e ocorre na matriz mitocondrial. É uma sequência de reações nas quais acontece a oxidação de moléculas e como consequência ocorre a liberação de elétrons que serão utilizados na cadeia respiratória para a obtenção de ATP. A representação das reações está em forma de um ciclo. Cada volta do ciclo de Krebs produz 3 moléculas de NADH, 1 FADH2 e 1 GTP. Entretanto, quando uma molécula de glicose inicia a glicólise aeróbia, são geradas 2 moléculas de piruvato, que se convertem em acetil-CoA e, por isso, consideramos que duas moléculas de acetil-CoA iniciam esse ciclo. Acetil-CoA Oxaloacetato Citrato IsocitratoMalato Fumarato Succinato α-cetoglutarato Succinil-CoA Figura 36 – Intermediários do ciclo de Krebs Saiba mais O funcionamento do ciclo de Krebs foi descrito pelo biólogo, médico e químico alemão Hans Adolf Krebs, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel em 1953. Você pode conhecer sua história na indicação a seguir: HANS KREBS. Biográfico. The Nobel Prize. Nobel Media AB, 2020. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1953/krebs/ biographical/. Acesso em: 30 jun. 2020. 40 Unidade I Figura 37 – Hans Adolf Krebs É importante que o processo global de produção de energia que está na forma de moléculas de NADH e FADH2 seja compreendido. Agora observe em quais etapas ocorrerá a produção dessas coenzimas no estado reduzido. Acetil-CoA NADH FADH2 NADH NADH CO2 CO2 GTP Oxaloacetato Citrato IsocitratoMalato Malato desidrogenase Succinato desidrogenase Isocitrato desidrogenase Aconitase Citrato sintase Succinil-CoA sintetase Complexo α-cetoglutarato desidrogenase Fumarase Fumarato Succinato α-cetoglutarato Succinil-CoA Figura 38 – Produção de coenzimas (NADH e FADH2), GTP e CO2 no ciclo de Krebs Para que ocorra o ciclo de Krebs, é necessário que a molécula de piruvato sintetizada na glicólise seja transformada em acetil-CoA na mitocôndria por ação da piruvato desidrogenase. 41 BIOQUÍMICA METABÓLICA Piruvato C C CH3 O O O– Acetil-CoA Coenzima A C CH3 O CO2 CoA NAD+ NADH Figura 39 – Conversão de piruvato em acetil-CoA Agora vejamos detalhadamente as oito reações que compõem o ciclo de Krebs. • Reação 1: síntese do citrato. O acetil-CoA inicia o ciclo de Krebs, reage com o oxaloacetato, na presença do citrato sintase e forma citrato. Observe a soma de carbonos. O citrato tem seis carbonos, quatro carbonos provenientes do oxaloacetato e dois carbonos do acetil-CoA.Acetil-CoA Coenzima A C CH3 O Oxaloacetato Coenzima A Citrato sintase H2O CH2 C COO– COO– O Citrato C C H2C H2C COO – COO–HO COO–H+ Figura 40 – Formação do citrato • Reação 2: isomerização do citrato em isocitrato. O citrato formado é então isomerizado a isocitrato, o que facilita sua descarboxilação em uma reação catalisada pela aconitase. Aconitase Citrato C C H2C H2C COO – COO–HO COO–H Isocitrato C C OH H2C COO – COO–HO COO–H Figura 41 – Isomerização do citrato • Reação 3: descarboxilação oxidativa do isocitrato. O isocitrato formado sofre descarboxilação, catalisada pelo isocitrato desidrogenase, para formar o α-cetoglutarato. Utiliza o NADH como transportador de dois hidrogênios liberados na reação, havendo o desprendimento de uma molécula de CO2. 42 Unidade I Isocitrato desidrogenase CO2 NAD+ NADH Isocitrato C C OH H2C COO – COO–HO COO–H α-cetoglutarato C C O H2C COO – HH COO– Figura 42 – Descarboxilação oxidativa do isocitrato • Reação 4: descarboxilação oxidativa do α-cetoglutarato a succinil-CoA. O a-cetoglutarato também sofre descarboxilação, catalisada pelo complexo a-cetoglutarato desidrogenase, formando um intermediário, o succinilcoenzima-A (succinil-CoA). Esse complexo também utiliza o NADH como transportador de dois hidrogênios liberados na reação, havendo o desprendimento de mais uma molécula de dióxido de carbono. Complexo de α-cetoglutarato desidrogenase CoA-SH NAD+ NADH Succinil-CoA C C O H2C COO – H + CO2H S-CoA α-cetoglutarato C C O H2C COO – HH COO– Figura 43 – Descarboxilação oxidativa do α-cetoglutarato • Reação 5: formação de um GTP a partir do substrato. A enzima succinil-CoA catalisa a quebra da succinil-CoA, o que permite a liberação de energia na forma de um GTP (figura anterior). O GTP pode transferir o seu Pi para um ADP, formando um ATP. Essa é a única etapa do ciclo em que ocorre a formação de um composto pronto de alta energia. Succinil-CoA Isocitrato desidrogenase Coenzima A GDP GTP Succinato C C H2C COO – COO– HH H HC C O H2C COO – HH S-CoA Figura 44 – Formação de GTP • Reação 6: desidrogenação do succinato. É formado o fumarato, pela ação do succinato desidrogenase, que utiliza o FADH2 como transportador de dois hidrogênios liberados na reação. A coenzima A retorna ao pool inicial da mitocôndria. E finalmente ocorrem reações que permitem 43 BIOQUÍMICA METABÓLICA a regeneração do oxaloacetato. O succinato sofre uma série de reações de oxidação, hidratação e uma segunda oxidação para a formação do oxaloacetato. Fumarato Succinato desidrogenase FAD FADH2 Succinato C C H2C COO – COO– HH H H C C O COO– H H Figura 45 – Desidrogenação do succinato • Reação 7: hidratação do fumarato. A fumarase catalisa a hidratação do fumarato e ocorre a produção do malato. Fumarato Fumarase Malato C C COO– COO– HH H OHC C COO- COO– H H Figura 46 – Hidratação do fumarato • Reação 8: desidrogenação do malato. A malato desidrogenase catalisa a oxidação do malato em oxalacetato e utiliza o NADH como transportador de dois hidrogênios liberados na reação. Malato desidrogenase Malato C C COO– COO– HH H OH Oxaloacetato C C O H COO– COO– H NAD+ NADH Figura 47 – Desidrogenação do malato Agora, vamos entender a quantidade de moléculas de ATP, NADH e FADH2 produzidas considerando uma molécula de glicose em glicólise aeróbia. 44 Unidade I Quadro 2 – Produtos formados a partir de uma molécula de glicose em glicólise aeróbia Etapa Combustão aeróbia de 1 molécula de glicose Glicólise 2 ATP2 NADH Conversão do piruvato em acetil-AcoA 2 NADH Ciclo de Krebs 6 NADH 2 FADH2 2 GTP Lembrete Cada volta do ciclo de Krebs produz 3 moléculas de NADH, 1 FADH2 e 1 GTP. Entretanto, quando uma molécula de glicose inicia a glicólise aeróbia, são geradas 2 moléculas de piruvato. Estas se convertem em acetil- CoA e por isso consideramos que duas moléculas de acetil-CoA iniciam o ciclo de Krebs. E como a atividade do ciclo de Krebs é controlada? A partir da razão NAD/NADH, que, por sua vez, é dependente da quantidade de ADP e ATP celular. Além disso, algumas enzimas do ciclo também são reguladas, como é o caso do citrato sintetase, que é inibido alostericamente pelo ATP, e do isocitrato desidrogenase, que é ativado pelo ADP e inativado pelo ATP e o NADH. A succinato desidrogenase é inibida pelo oxaloacetato, e a sua disponibilidade é controlada pela malato desidrogenase, que depende da razão NADH/NAD. Você deve ter percebido que no ciclo de Krebs houve produção de muitas moléculas de NADH e FADH2, mas como elas irão originar ATP? Essa produção irá acontecer na cadeia respiratória, que é nosso próximo assunto. 2.5 Cadeia respiratória Os componentes da cadeia respiratória são denominados complexos (I, II, III e IV) e estão localizados na membrana interna da mitocôndria. Na figura a seguir estão representados: o complexo I (NADH-ubiquinona oxidorredutase), o complexo II (succinato-ubiquinona oxidoreductase), o complexo III (ubiquinol-citocromo-c oxidoreductase) e, finalmente, o complexo IV (citocromo-c oxidase). Os complexos I e II estão conectados pela coenzima Q (CoQ), e o citocromo c conecta os complexos III e IV. 45 BIOQUÍMICA METABÓLICA I II IVIII CoQ C Espaço intermembranas Matriz mitocondrial Membrana interna Figura 48 – Representação esquemática dos complexos da cadeia respiratória mitocondrial; complexos I, II, III e IV, coenzima Q (CoQ) e citocromo C Os complexos I, III e IV funcionam como uma bomba de prótons. Estes acumulam-se no espaço intermembranas e geram uma diferença de potencial eletroquímico, que é utilizado pela ATP sintase na formação de ATP, a partir de ADP e Pi. Esses componentes, bem como a bomba de ATP sintetase, formam o sistema de fosforilação oxidativa que sintetiza ATP. A função geral da cadeia respiratória é a oxidação de NADH e FADH2, provenientes das diversas vias metabólicas (carboidratos, lipídios e proteínas), bem como o transporte de equivalentes reduzidos ao longo de uma série de transportadores para o aceitador final, o oxigênio. Como os elétrons são transportados ao longo da cadeia? Os elétrons ao serem transportados, e muitos dos complexos, utilizam a energia para bombear prótons da matriz mitocondrial para o espaço intermembranar, formando um gradiente de prótons. Todos os elétrons que entram na cadeia de transporte vêm das moléculas de NADH e FADH. O NADH doa eficientemente seus elétrons em reações redox, isto é, seus elétrons estão em um alto nível de energia, portanto ele pode transferir seus elétrons diretamente para o complexo I, voltando a ser NAD+. Conforme os elétrons percorrem o complexo I em uma série de reações redox, energia é liberada e o complexo usa essa energia para bombear prótons da matriz para o espaço intermembranar. O FADH não é bom doador de elétrons em comparação ao NADH, isto é, seus elétrons estão em um nível de energia mais baixa, então não pode transferir seus elétrons para o complexo I. Em vez disso, ele os leva pela cadeia de transporte até o complexo II, que não bombeia prótons através da membrana. Isso justifica porque cada molécula de FADH faz com que menos prótons sejam bombeados do que cada molécula de NADH. I II IVIII Espaço intermembranasMenor potencial de redução Maior potencial de redução Matriz mitocondrial NADH Succinato Membrana interna CoQ C e– e– e – e– e– e–e– Figura 49 – Transferência de elétrons na cadeia respiratória 46 Unidade I À exceção desses dois primeiros complexos, NADH e FADH, os elétrons percorrem exatamente a mesma rota. Tanto o complexo I quanto o complexo II passam seus elétrons para a ubiquinona (Q), que é reduzida e forma QH. Essa molécula atravessa a membrana e entrega os elétrons ao complexo III. Conforme os elétrons percorrem o complexo III, mais íons H+ são bombeados através da membrana, e os elétrons são finalmente entregues a outro carreadordenominado citocromo C (cit C). O cit C transporta os elétrons até o complexo IV, onde um último grupo de íons H+ é bombeado através da membrana. O complexo IV passa os elétrons para o oxigênio, que se divide em dois átomos e aceitam prótons da matriz, formando água. São necessários quatro elétrons para reduzir cada molécula de O2, e duas moléculas de água são formadas no processo. O trabalho dos complexos I, III, e IV é extremante importante. À medida que os elétrons se movem para níveis de energia mais baixos, os complexos capturam a energia liberada e a utilizam para bombear íons H+ da matriz para o espaço intermembranas. Esse bombeamento forma um gradiente eletroquímico através da membrana mitocondrial interna, denominado de força próton-motiva. Os prótons não podem atravessar diretamente a bicamada fosfolipídica da membrana, pois o interior desta é muito hidrofóbico. Então os prótons H+ se movem a favor de seu gradiente de concentração com auxílio de proteínas de canal que formam túneis hidrofílicos através da membrana. Na membrana mitocondrial interna, íons H+ têm apenas um canal disponível: uma proteína transmembranar conhecida como ATP sintase. À medida que a ATP sintase transforma a energia, ela catalisa a adição de um fosfato ao ADP, capturando a energia do gradiente de prótons na forma de ATP. Espaço entre a membrana externa e interna Membrana interna da mitocôndria ATP sintetase ou ATP sintase½O2 + 2e – + 2H+ ADP + P ATP H2O H+ Matriz da mitocôndria Proteína transportadora de elétrons NADH + H+ NAD+ H+ H+H2 + H+ e e e Figura 50 – Cadeia transportadora de elétrons E quantos ATPs por glicose são produzidos na respiração celular? Se você pesquisar, irá encontrar respostas ligeiramente diferentes. E isso acontece porque muitos autores consideram a energia necessária para transportar o ADP para dentro e o ATP para fora da mitocôndria. Aqui vamos considerar 38 mols de ATP para cada molécula de glicose. Para calcular o saldo de ATP, vamos considerar que cada molécula de NADH que libera elétrons durante a cadeia respiratória 47 BIOQUÍMICA METABÓLICA produz 3 moléculas de ATP. E os elétrons carreados pelas moléculas de FADH2 produzem apenas 2 ATPs. Sendo assim, temos: Quadro 3 – Saldo de ATP a partir de uma molécula de glicose em glicólise aeróbia Reação(ões) Saldo ATP Glicólise 2 NADH2 ATP 6 2 Piruvato → acetil-CoA 2 NADH 6 Ciclo de Krebs 6 NADH 2 FADH2 2 GTP 18 4 2 Saldo 38 O que são os inibidores e desacopladores da cadeia respiratória? Os inibidores são drogas que inibem o transporte de elétrons. O resultado dessa ação é a paralisação do transporte de elétrons e das vias metabólicas que dependem da cadeia para a reoxidação das coenzimas. No quadro a seguir, encontram-se exemplos de inibidores da cadeia de transporte de elétrons. Quadro 4 – Exemplos de inibidores da cadeia respiratória Inibidor Local de atuação Rotenona (inseticida) Complexo I Barbitúricos (hipnóticos) Complexo I Malonato (inibidor da succinato desidrogenase) Complexo II Antimicina A (antibiótico) Complexo III Azida, cianeto e monóxido de carbono Complexo IV Já os desacopladores são substâncias que desvinculam o fluxo de elétrons do transporte contra gradiente de prótons. O processo torna-se energeticamente mais favorável e sua velocidade aumenta. Nesse caso, o consumo de oxigênio torna-se maior. Substâncias lipofílicas como o DNP (2,4-dinitrofenol) são capazes de dissociar o transporte de elétrons da fosforilação oxidativa. No passado, há cerca de cinquenta anos, o DNP era usado como medicação para emagrecimento. Por que ele ajuda a perder peso? O dinitrofenol interrompe o gradiente de prótons e reduz a síntese de ATP. Assim, a maior parte dos alimentos ingeridos não pode ser utilizada para produção de ATP, portanto ocorre a perda de peso. Imagine uma quantidade excessiva de DNP. Isso poderia levar a uma produção insuficiente de ATP para garantir a homeostasia. Uma pequena mudança na concentração de DNP poderia levar o indivíduo à morte. 48 Unidade I 2.6 Metabolismo do glicogênio: glicogênese e glicogenólise O glicogênio é um polissacarídeo de reserva animal essencial para o funcionamento adequado do metabolismo, sendo composto por subunidades de glicose e ramificações entre 8 a 12 monômeros, em média (figura a seguir). Pode ser encontrado principalmente no fígado e no músculo, seus principais locais de reserva. α(1,4) α(1,6) Figura 51 – Molécula de glicogênio Lembrete O glicogênio é um polissacarídeo formado pela união de moléculas de α-glicose. Possui cadeia ramificada com ligações α (1 → 4) e α (1 → 6) nos pontos de ramificação. A demandas celulares são atendidas pelas vias de síntese e degradação de glicogênio, que são denominadas glicogênese e glicogenólise, respectivamente. Glicogênio Glicose Glicogenólise Glicogênese Figura 52 – Glicogênese e glicogenólise A regulação do metabolismo do glicogênio é distinta nos tecidos musculares e hepático. O glicogênio muscular tem como finalidade atender às demandas somente para a contração do próprio músculo, enquanto o glicogênio hepático tem por finalidade controlar a glicemia e fornecer glicose para os demais tecidos. 49 BIOQUÍMICA METABÓLICA A síntese de glicogênio ocorre mais intensamente no fígado e no músculo. O fígado armazena o excesso de glicose em glicogênio para ser utilizado na forma de glicose quando requisitado. O músculo armazena apenas para consumo próprio, e só utiliza durante o exercício quando há necessidade de energia rápida. A glicogênese é o conjunto de reações que permitem a formação do glicogênio a partir de moléculas de glicose. Na glicogênese, as moléculas de glicose unem-se através das hidroxilas livres. Na sequência de reações, a glicose se transforma de glicose-6-fosfato, que sofre isomerização por ação da fosfoglicomutase e origina glicose-1-fosfato. Nessa etapa, a glicose-1-fosfato origina a glicose-UDP. A enzima que utiliza a glicose para formar o glicogênio é a glicogênio sintase. Entretanto essa enzima precisa de um resíduo iniciador, ou primer, para começar a ligar as moléculas de glicose. A glicose se liga a esse primer quando está na forma ativa, e essa ativação depende de ATP e UTP (uridina trifosfato). Vejamos a ordem das reações: • Reação 1: glicose + ATP → glicose 6-fosfato + ADP + H+ • Reação 2: glicose 6-fosfato ↔ glicose 1-fosfato • Reação 3: glicose 1-fosfato + UTP ↔ UDP- glicose + PPi A reação a seguir esquematiza o alongamento do primer de glicogênio pela adição de UDP-glicose. Essa reação é catalisada por glicogênio sintase. (Glicogênio)n resíduos + UDP-glicose → (glicogênio)n + 1 resíduo + UDP Entretanto, a glicogênio sintase catalisa apenas as ligações glicosídicas α-1,4. Para a formação das ligações α-1,6, outra enzima ramificadora será necessária para realizar a transferência de 6 a 7 resíduos de glicose da molécula linear para a parte mais nova (interna) que está sendo formada. Enzima ramificadora α(1,6) Figura 53 – Formação das ramificações do glicogênio 50 Unidade I Observação As glicogenoses são doenças raras relacionadas ao armazenamento de glicogênio e são causadas por deficiências das enzimas envolvidas na síntese ou degradação do glicogênio. As deficiências podem ocorrer no fígado ou músculos e causar hipoglicemia ou deposição de glicogênio nos tecidos. À medida que a célula necessita de glicose, o estoque de glicogênio é mobilizado e moléculas de glicose são liberadas. Esse processo é denominado glicogenólise e consiste na remoção dos resíduos de glicose terminal. A glicogenólise se processa pela ação de três sistemas enzimáticos: glicogênio fosforilase, transferase e enzima desramificadora. A regulação da glicogenólise ocorre essencialmente pela enzima glicogênio fosforilase. Inicialmente, a fosforilase catalisa a quebra das ligações glicosídicas α-1,4 pela adição de fosfato inorgânico nos resíduos de glicose das extremidades das cadeias. Esse processoprossegue até restarem quatro resíduos de glicose. Em seguida, outra enzima é acionada, a transferase, que transfere os resíduos de glicose para uma cadeia vizinha, na qual a fosforilase pode continuar a ação. Ao chegar na ligação da ramificação, uma terceira enzima é necessária, a desramificadora, que quebra a ligação do tipo α-1,6. Fosforilase Transferase Enzima desramificadora Glicose + Glicogênio Glicogênio Glicogênio Glicogênio Figura 54 – Glicogenólise, ação das enzimas fosforilase, transferase e desramificadora No fígado, a glicose 6-fosfato é transformada em glicose por meio da ação da enzima glicose 6-fosfatase e enviada para a corrente sanguínea para a manutenção da glicemia. Já no músculo, a glicose 1-fosfato é transformada em glicose 6-fosfato, entretanto, em virtude da ausência da enzima glicose 6-fosfatase, a glicose pode não sair do músculo, ou seja, só poderá gerar energia através da glicólise anaeróbia. 51 BIOQUÍMICA METABÓLICA A. B. Fígado Glicogênio Glicogênio Glicose 6-fosfato Glicose 6-fosfato Glicose Glicose Energia Músculo Corrente sanguínea Figura 55 – Glicogenólise: (A) no fígado: a glicose produzida regula a glicemia; (B) no músculo: a glicose produzida é utilizada como fonte energética para o próprio músculo Os principais reguladores do metabolismo do glicogênio são os hormônios insulina e glucagon, e as enzimas marca-passo glicogênio sintase e glicogênio fosforilase, que participam, respectivamente, da síntese e da degradação desse polissacarídeo. Quando os níveis de ATP celular estão normais e a glicose está excedente, a própria concentração de glicose 6-fosfato, assim como a insulina, ativam a enzima glicogênio sintase, o que favorece a síntese do glicogênio. Inversamente, quando os níveis de ATP e glicose estiverem reduzidos, a insulina deixa de ser produzida, e hormônios tais como glucagon e adrenalina aumentam em concentração, ativando a enzima de membrana denominada adenilato ciclase (AC), que, por sua vez, transforma ATP em AMP cíclico. Este age como segundo mensageiro e promove a ativação da enzima glicogênio fosforilase e inibição da enzima glicogênio sintase. Desse modo, ocorre a glicogenólise. Primer Glicogênio Glicose - UDP Glicose 1-fosfato Insulina Glicose 6-fosfato Glicogênio sintase Adrenalina glucagon Adrenilato ciclase AMP cíclico ATP Glicogênio fosforilase + + + +– Figura 56 – Regulação do metabolismo do glicogênio 52 Unidade I A glicogenólise hepática é um processo altamente eficaz, entretanto as reservas logo são exauridas. E quando a reserva de glicogênio hepático já foi utilizada, como ocorre a manutenção da glicemia? Quando há diminuição da glicemia, o organismo consegue produzir sua própria glicose a partir de fontes que não são carboidratos por uma sequência de reações denominadas gliconeogênese. E quais são essas fontes? São aminoácidos glicogênicos, lactato, piruvato e glicerol. Os aminoácidos cetogênicos fornecem diretamente acetil-CoA e, portanto, não fornecem substratos para essa via metabólica, mas estimulam a produção de energia para o ciclo de Krebs. Já os ácidos graxos não fornecem substratos para a gliconeogênese, pois o acetil-CoA é utilizado diretamente para a produção de energia, ou é deslocado para o citoplasma para a produção de colesterol ou corpos cetônicos. Entretanto a degradação dos triglicerídeos (TG) libera glicerol, que pode ser utilizado como substrato para a gliconeogênese. 2.7 Gliconeogênese A gliconeogênese é um conjunto de reações que ocorrem principalmente no fígado e em menor quantidade no rim. Permite a síntese de glicose a partir de substâncias que não são carboidratos, tais como glicerol, aminoácidos e lactato. O cérebro humano requer cerca de 120 g de glicose por dia. O sistema nervoso, eritrócitos, testículos, medula renal e tecidos embriônicos também utilizam a glicose como principal fonte de energia. Assim, quando a glicemia diminui, os estoques de glicogênio hepático e muscular são degradados, como vimos anteriormente. Mas pode ser que esse suprimento de glicose não seja suficiente. Assim, entre as refeições e durante longos jejuns, ou após exercícios vigorosos, o glicogênio é depletado, o que também ocorre quando há deficiência do suprimento de glicose pela dieta ou por dificuldade na absorção pelas células. Nessas situações, o organismo precisa sintetizar glicose a partir de precursores que não sejam carboidratos. O lactato produzido no musculoesquelético em exercício é liberado no sangue. No ciclo de Cori (figura anterior), a glicose oriunda do sangue é convertida pelo músculo em exercício em lactato, que é difundido para o sangue. Esse lactato é captado pelo fígado e reconvertido em glicose, pela via da gliconeogênese, que é liberta de volta para a circulação. Lembre-se de que o músculo não tem a enzima glicose-6-fosfatase, exclusiva do hepatócito. Assim a glicose formada é utilizada somente no próprio músculo. Glicose Glicose Glicose Lactato Lactato Fígado Lactato Sangue Músculo Fermentação láctica Figura 57 – Esquema do ciclo de Cori 53 BIOQUÍMICA METABÓLICA Saiba mais Gerty Cori, nascida na República Tcheca e pesquisadora nos Estados Unidos, juntamente ao seu marido, Carl Cori, descobriram o ciclo de Cori. O casal ganhou o Prêmio Nobel de 1947 pela descoberta, tornando Cori a primeira mulher a receber um Nobel em fisiologia ou medicina. Conheça a trajetória dessa cientista inspiradora em: GERTY CORI. Biográfico. The Nobel Prize. Nobel Media AB, 2020. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1947/cori-gt/ biographical/. Acesso em: 30 jun. 2020. Figura 58 – Gerty Cori Entre os aminoácidos utilizados na gliconeogênese, a alanina é o mais importante a ser convertido em intermediários glicolíticos. Durante o jejum prolongado ou inanição, a alanina e outros aminoácidos são liberados das proteínas dos músculos esqueléticos. A alanina é transportada para o fígado, onde sofre transaminação para gerar piruvato. O piruvato, por meio da gliconeogênese, forma glicose, que pode retornar aos músculos ou ser degradada pela via glicolítica. O mecanismo é chamado ciclo da glicose-alanina e, também, transporta amônia (NH4 +) ao fígado para a síntese da ureia. A princípio, poderíamos imaginar que a gliconeogênese é uma via reversa da glicólise, mas não é, pois existem reações irreversíveis. A gliconeogênese não pode utilizar a via reserva da glicólise, pois as fosforilações da primeira fase (conversão de glicose em glicose-6-fosfato e a conversão de frutose-1,6-fosfato em frutose-1,6-bi-fosfato) e a formação de piruvato a partir do fosfoenol-piruvato, são reações irreversíveis (veja a figura a seguir). Então, na gliconeogênese, existem três barreiras energéticas específicas que precisam ser contornadas. Vejamos quais são essas reações: 54 Unidade I • Reação 1: conversão de piruvato em fosfoenolpiruvato. O piruvato (que está no citoplasma) atravessa as membranas mitocondriais e na matriz mitocondrial é convertido a oxalacetato. O oxaloacetato não pode atravessar a membrana, e por isso é reduzido pelo NADH em malato, e este, então, pode ser liberado para o citoplasma. No citoplasma, o malato é oxidado pelo NAD+, gerando, novamente, o oxalacetato, que é convertido em fosfoenol-piruvato pela enzima fosfoenol-piruvato-carboxiquinase, cujo doador de Pi é um GTP. • Reação 2: conversão de frutose-1,6-difosfato em frutose-6-fosfato. Nessa etapa é necessária a enzima frutose-1,6-difosfatase, que remove o grupo fosfato do C1 da frutose por hidrólise. • Reação 3: conversão de glicose-6-fosfato em glicose livre. Nessa etapa é necessária a enzima glicose-6-fosfatase que está presente nos hepatócitos. Lembre-se de que essa reação ocorre também na glicogenólise e permite que o fígado controle a glicemia plasmática. Glicose Glicose-6-P Frutose-6-P Frutose-1,6-P Gliceraldeído-3-P 1,3-Difosfoglicerato 3-Fosfoglicerato 2-Fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato DHAPATP ATP ADP NADH NAD+ ADP ADP ADP ATP NAD+ NADH ATP Glicoquinase Fosfofrutoquinase Piruvato quinase Piruvato desidrogenase Piruvato Lactato Acetil-CoA Ciclo de Krebs Glicose Pi Pi Glicose-6-P Frutose-6-P Frutose-1,6-P Gliceraldeído-3-P Glicerol-3-P Fosfoenolpiruvato Oxalacetato DHAP NAD+ NAD+ ADP GDP NADH NADH ATP GTP Glicoquinase 6-fosfatase Frutose 6-difosfatase Piruvato carboxiquinase Piruvato carboxilase Malato Malato Piruvato Ciclo de Krebs Glicerol Lactato Aminoácidos Aminoácidos Oxalacetato A) B) Figura 59 – (A) reações da gliconeogênese: em vermelho, as etapas que necessitam de enzimas que diferem da glicólise; (B) reações da glicólise: em vermelho, as enzimas que diferem da gliconeogênese 55 BIOQUÍMICA METABÓLICA Essas três reações permitem a formação dos intermediários do ciclo de Krebs, que são produzidos pelo catabolismo dos aminoácidos (citrato, isocitrato, α-cetoglutarato, succinato, fumarato e malato), assim como os que fornecem piruvato, podem produzir oxalacetato e fornecer glicose através da gliconeogênese. As reações da gliconeogênese são estimuladas por glucagon, epinefrina e cortisol. Como vimos até agora, as células dos tecidos animais degradam a glicose 6-fosfato na via glicolítica até piruvato. Grande parte desse piruvato é oxidada a acetil-CoA, que, por sua vez, será oxidado no ciclo de Krebs levando à formação de ATP. Entretanto a glicose-6-fosfato também pode ser utilizada por uma via alternativa, conhecida como via das pentoses ou via do 6-fofo-gliconato. Vamos estudar a via das pentoses a seguir. 2.8 Via das pentoses Essa via tem algumas características importantes: ocorre no citoplasma, não há geração de ATP, mas há produção de NADPH e pentoses. A via das pentoses é composta por duas fases: oxidativa e não oxidativa (veja figuras a seguir). Durante a fase oxidativa, as moléculas de glicose-6-fosfato são oxidadas por moléculas de NADP+ pela enzima glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) com formação de moléculas NADPH e 6-fosfato- gliconato. Essas moléculas de 6-fosfo-gliconato também são oxidadas, gerando ainda mais moléculas de NADPH, moléculas de CO2 e ribulose-5-fosfato. NADP+ H2O NADP+ NADPH H+ NADPH CO2 Glicose-6-fosfato Glicose-6-fosfato desidrogenase 6-fosfoglucono-δ-lactona 6-fosfogliconolactonase 6-fosfogliconato Fase não oxidativa Ribulose-5-fosfato Figura 60 – Fase oxidativa da via das pentoses A partir desse ponto, as reações são não oxidativas, e a ribulose-5-fosfato, por isomerização, passa para a forma de ribose-5-fosfato. Parte da ribose-5-fosfato continua no processo de isomerização, gerando a xilulose-5-fosfato. Essas pentoses podem gerar novas moléculas de glicose-6-fosfato. E qual via metabólica pode ocorrer a partir da glicose-6-fosfato? Ela pode ser utilizada tanto na via de pentoses como em todas as vias de metabolismo da glicose. Durante a fase não oxidativa, são geradas moléculas de glicose-6-fosfato e gliceraldeído-3-fosfato, que são intermediários da via glicolítica. 56 Unidade I Ribulose-5-fosfato Ribulose-fosfato-3-epimerase Ribulose-fosfato-isomerase Xilulose-5-fosfato Ribose-5-fosfato Transquetolase Transaldolase Sedoeptulose-7-fosfato Gliceraldeído-3-fosfato Eritrose-4-fosfato Transcetolase Gliceraldeído-3-fosfato Frutose-6-fosfato Frutose-6-fosfato Figura 61 – Fase não oxidativa da glicólise A G6PD é uma enzima citoplasmática presente nos tecidos, mas é no metabolismo das hemácias que a G-6-PD exerce suas funções de destaque. A G6PD tem papel essencial no metabolismo das hemácias, tanto na obtenção de energia a partir da glicose quanto na sua proteção contra a ação de agentes oxidantes por manter uma proteína denominada glutationa no estado reduzido. Mutações no gene da G6PD geram defeito enzimático nas hemácias, que podem causar anemia hemolítica. Saiba mais Você pode se aprofundar nesse assunto lendo o artigo: MONTEIRO, W. M. et al. G6PD deficiency in Latin America: systematic review on prevalence and variants. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 109, n. 5, p. 553-568, ago. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0074-02762014005040123&lng=en &nrm=iso&tlng=en. Acesso em: 1º jul. 2020. Agora vamos detalhar as reações químicas: 57 BIOQUÍMICA METABÓLICA Fase não oxidativa C O H HO H H H H H C C C C C C CH2O– P OH OH O OH OH OH H O H H HO H H C C C C C CH2O– P OH H OH OH H H H O C C C CH2O– P H OH OH H H H H H H C C C C C CH2O– P OH O OH OH OH Ribulose-5-fosfato Síntese de ácidos nucleicos Ribulose-5-fosfato Eritrose-4-fosfato Xilulose-5-fosfato H H HO H H C C C C C CH2O– P O OH H OH OH H H HO H H C C C C C CH2O– P O OH H OH OH Glicose-6-fosfato Glicose-6-fosfato Ribulose-5-fosfato Xilulose-5-fosfato Frutose-6-fosfatoGliceraldeído-3-fosfato Gliceraldeído-3-fosfato NADP+ NADP+ CO2 NADPH + H+ NADPH + H+ H2O H H H H H H C C C C C CH2O– P O OH OH OH OH H H HO H H H C C C C C CH2O– P O H OH OH OH HO H H C C C C CH2O– P CH2OH O H OH OH H H C C CH2O– P O OH H H C C CH2O– O OH Fase oxidativa Figura 62 – Reações da via das pentoses Observamos, assim, que há um intercâmbio entre as vias, de acordo com as necessidades da célula. E a entrada da glicose-6-fosfato na via das pentoses ou na via glicolítica depende das necessidades momentâneas da célula, assim como da relação entre as concentrações de NADPH e NADP+ ([NADPH]/ [NADP+]). Quando a concentração de NAPDH é maior do que a de NADP+, ocorre inibição alostérica da primeira enzima da via, a glicose 6-P desidrogenase, e, portanto, mais glicose 6-P está disponível para a glicólise. Exemplo de aplicação De acordo com o explicitado até aqui, por que os indivíduos com deficiência de G6PD não podem usar drogas oxidativas? Pacientes com anemia por deficiência de G6PD devem evitar exposição a fármacos ou outras substâncias que produzam peróxido e causem a oxidação da hemoglobina e das membranas das hemácias. Entre os fármacos que podem ser o gatilho da hemólise estão: salicilatos, primaquina, nitrofuranos, alguns derivados da vitamina K, e fenazopiridina. 3 LIPÍDIOS Os lipídeos ingeridos ou fabricados por nosso corpo ficarão armazenados nos adipócitos, pois serão grande fonte de energia para quase todas as nossas células, e quando nós precisamos de ATP (energia) para funções vitais e não temos de onde retirar (por exemplo, do glicogênio de estoque ou da alimentação), são os lipídeos que serão nossa reserva maior de energia. Como eles são apolares, não há 58 Unidade I água ao seu redor, podemos até dizer que são anidros, então, quando estocados, não há aumento de volume pela presença de água (ou seja, há maior peso seco), dessa forma, quando sofrerem o processo de oxidação completa, irão gerar 9 kcal/g, muito mais se comparado a 4 kcal/g de carboidratos e 4 kcal/g de proteínas. Os triglicérides encontrados na corrente circulatória provêm de dois locais: alimentação e produção do próprio corpo. Como já explicado em bioquímica estrutural, a lipoproteína VLDL e LDL levam os TG até o tecido adiposo e, chegando lá, a enzima lipoproteína lipase hidrolisa os triacilgliceróis ou triglicérides que estão nas lipoproteínas, para que possam entrar nas células adiposas e serem armazenados. De certa forma, descreveremos os processos de emagrecimento ou perda de gordura ou queima de gordura (lipólise) e engorda (lipogênese). O processo de lipólise ocorre quando não há disponibilidade de alimento ou durante a prática de exercícios físicos, resultando na redução da gordura corporal, enquanto o outro seria o inverso. Observação Assim como o colesterol, todos nós temos triglicérides no sangue e não há problema algum nisso, pelo contrário, pois tem função importante em todas as células, mas em quantidades muito altas, triglicerídeos com níveis iguais ou superiores a 400 mg/dL, estão relacionados a um maior risco cardiovascular, obesidade,esteatose hepática (gordura no fígado) e pancreatite, entre outras patologias. Na alimentação, eles estão disponíveis nos alimentos ricos em carboidratos simples (açúcar, farinha branca etc.) e nos gordurosos − principalmente de origem animal, como carnes, leite integral e queijos amarelos. Variações nas dietas, na atividade física, no uso de bebidas alcoólicas e certos medicamentos são as causas mais frequentes de grandes variações dos níveis de triglicérides. 3.1 Processo de liberação de lipídeos do tecido adiposo Com o jejum superior a 8 horas, os triglicerídeos começam a ser degradados. Em resposta ao nível baixo de glicose no sangue os triglicerídeos (TG) dos adipócitos serão clivados pela enzima marca-passo lipase hormônio sensível (LHS). Ela é ativada pelos hormônios glucagon ou epinefrina (também chamada adrenalina), que em uma reação em sequência (ou reação em cadeia) ligam-se em receptores de membrana dos adipócitos, ativam a proteína G que está no citoplasma, que ativa a enzima adenilato ciclase (AC), presente na membrana plasmática do adipócito, aumentando a concentração intracelular de AMP cíclico (AMPc) pela reação ATP → AMPc + PPi. O AMPc fosforila, que coloca radical fosfato, uma proteína quinase dependente de AMPc, ativando a enzima LHS que irá hidrolisar os triacilglicerol em ácido graxo e glicerol que saem da célula. O cérebro e as hemácias não utilizam TGs (triglicerídeos) como fonte energética, só utilizam glicose, e o cérebro também pode usar além da glicose os corpos cetônicos (CC). 59 BIOQUÍMICA METABÓLICA Os ácidos graxos, que são liberados dos adipócitos, são transportados pelo sangue ligados à albumina e serão utilizados por musculoesquelético, coração e fígado como fonte energética. [Glicose] sg Hormônios glocagon ou epinefrina Membrana celular Receptor do adipócito Sangue Proteína G Adenilato ciclase ATP → AMPc + PPI Proteína quinase LHS TG AG + glicerol Figura 63 – Esquema da ativação do AMPc e sua implicação na lise de triglicerídeos Lembrete O cérebro e as hemácias não utilizam TGs (triglicerídeos) como fonte energética, só glicose, e o cérebro também pode usar além da glicose os corpos cetônicos (CC). Os TGs irão liberar ácidos graxos livres (AGLs) e glicerol no citoplasma, e os AGLs deverão entrar nas mitocôndrias das células-alvo para gerar ATP. Mas, para isso, deverão passar as duas membranas mitocondriais: a externa e a interna chegando na matriz mitocondrial. Primeiro os AGL de cadeia longa são ativados (reação onde é gasto 1 ATP até AMP, que em termos de análise de gasto de energia, podemos contar gasto de 2 ATPs por que foram gastas duas ligações ricas em fosfato, e depois se ligam à coenzima A se transformando em acil-CoA, como demonstrado a seguir: Ácido graxo + ATP + CoA → Acil-CoA + AMP + PPi 60 Unidade I Os acil-CoA se ligam à carnitina, liberando a coenzima A, e se transformam em AG-carnitina ou acil-carnitina. A carnitina é uma molécula transportadora, como uma lançadeira, pois a membrana interna da mitocôndria é impermeável à coenzima A e à acil-CoA, e a carnitina disfarça o ácido graxo (AG), que consegue passar pelo espaço intermembranar e chegando à matriz mitocondrial (figura a seguir). Nesse local ocorre a ligação novamente à coenzima A e se inicia a chamada β-oxidação ou ciclo de Lynen. Espaço intermembranoso Carnitina aciltransferase II Carnitina aciltransferase I Carnitina Matriz mitocondrial O O O O + C C C C Carnitina + CoA Carnitina CoA CoA R CoA + R Carnitina + R R Figura 64 – Esquema da passagem do ácido graxo (AG) pela membrana da mitocôndria auxiliada pela carnitina Observação A carnitina (3-hidroxi 4-trimetilaminobutanoato) é um composto sintetizado pelo organismo, sendo que a L-carnitina (isômero na forma ativa da carnitina) é sintetizada principalmente no fígado, nos rins e no cérebro, a partir de dois aminoácidos essenciais: lisina e metionina, além de ferro, ácido ascórbico (ou vitamina C), niacina (ou vitamina B3) e piridoxina (ou vitamina B6). Alimentos de origem animal, como carne vermelha e os derivados do leite podem ser fontes exógenas de carnitina. Esta é transportada até o coração e o musculoesquelético para exercer sua função de ajuda no transporte do AGL para atravessar a membrana da mitocôndria. 61 BIOQUÍMICA METABÓLICA 3.2 Ciclo de Lynen Nesse compartimento (matriz mitocondrial) ocorrerá oxidação (reação com o oxigênio) na posição β da molécula de acil-CoA. Consiste em uma sequência de quatro reações que resultam na saída de dois carbonos de uma cadeia de ácidos graxos e que consta de uma desidrogenação que produz 1 FADH2, uma hidratação, outra desidrogenação com a produção de NADH + H+, terminando com uma clivagem (reação irreversível), em que ocorre a liberação de 1 molécula de acetil-CoA que inicia o ciclo de Krebs, liberando NADH + H+, FADH2 e uma molécula de AGL com dois carbonos a menos, o que irá iniciar essas reações novamente, por isso se chama ciclo de Lynen (bioquímico que descobriu esse processo), recomeçando o ciclo a partir da desidrogenação e formação de FADH2. Se o AG tiver cadeia par de carbonos, terminará em 4 carbonos que se dividem em 2 moléculas de 2 carbonos (2 acetil-CoA). Para a maioria dos mamíferos, os ácidos graxos com cadeias ímpares são raros, mas são encontrados em ruminantes. Nesse caso, o término será com 5 carbonos (número ímpar), o que liberará uma molécula de 2 carbonos (acetil-CoA) e uma molécula de 3 carbonos (propionil-CoA), convertido a succinil-CoA, intermediário do ciclo de Krebs. A oxidação dos ácidos graxos com número ímpar de carbonos é difícil de ocorrer em seres humanos, portanto não iremos nos ater a ela. Caso o AG tiver duplas ligações, essas deverão ser clivadas antes do início do ciclo de Lynen, usando para isso uma molécula de NADPH+ H+ para desfazer cada dupla ligação. Lembrete A oxidação dos ácidos graxos com número ímpar de carbonos é difícil de ocorrer em seres humanos. 3.3 Aproveitamento do glicerol O glicerol proveniente da degradação dos triglicerídeos não pode ser reaproveitado pelos adipócitos, que não têm a enzima gliceroquinase, sendo então liberado no sangue e metabolizado no fígado, onde há essa enzima. O glicerol é convertido a glicerol-3-fosfato pela transferência de um grupo fosfato do ATP e depois transformado em di-hidroxiacetona fosfato, um intermediário da glicose ou da gliconeogênese (figura a seguir). Dependendo do estado fisiológico do organismo, o glicerol toma o caminho da glicólise hepática, ou o caminho da gliconeogênese do fígado. Representa cerca de 5% da energia dos TG e 95% vem dos AG. Glicerol 3-fosfato Glicerol 3-fosfato desidrogenase Di-hidroxicetona fosfato NAD+ NADH + H+ H2C H2C H2C OH OH O P H2C H2C H2C OH O O P Figura 65 – Reação do glicerol-3p em di-hidroxicetona fosfato 62 Unidade I 3.4 Regulação da lipólise Como não ocorre a entrada de glicose nas células, o corpo acredita que não há oferta de glicose para o sangue, dessa forma tenta aumentar a quantidade de glicose no sangue para que entre nas células com o aumento dos níveis dos hormônios glucagon, adrenalina e GH (hormônio de crescimento), que são caracterizados como hormônios lipolíticos e hiperglicêmicos. No momento que há necessidade de energia e não tem carboidratos (no caso: glicose), deverão ser oxidados os triglicerídeos até ácidos graxos e glicerol, que em sua maioria, estão no interior dos adipócitos do tecido adiposo branco e representam as principais reservas de energia nos mamíferos. Nesse momento, podemos dizer que irá iniciar o processo de lipólise (lise = quebra + lipo = lipídeos). Observação A oxidação de ácidos graxos insaturados fornece menos energia que a oxidação dos ácidos graxos saturados, pois deverá ocorrer a quebra da dupla antes do começar o ciclo de Lynen pela liberação de hidrogênio pelo NADPH. A enzima lipase hormônio sensível (LHS) é inibida pelo hormônio insulina e ativada porglucagon, adrenalina e GH, além dos glicocorticoides, e fará o trabalho de quebra dos TGs e, ao passarem pela membrana celular do adipócito, irão para a corrente sanguínea, se ligam à albumina e são transportados para vários tecidos do organismo, como rins, tecido adiposo marrom, coração e, principalmente, fígado e musculoesquelético. Chegando nesses órgãos, o TG será liberado pela lipoproteína lipase presente em cada um deles e sofrerá catabolismo. Exemplo de aplicação Quantos ATPs geram um ácido graxo de 16C, saturados, se forem oxidados até CO2 e H2O? Para o AG entrar na célula, é gasto 1 ATP. Cada volta no ciclo de Lynen gera 1 NADH + H+ (correspondente a 3 ATPs) + 1 FADH2 (correspondente a 2 ATP), portanto 5 ATPs por volta, se são feitas 7 voltas teremos 35 ATPs no total. Se em cada volta do ciclo de Lynen ou β-oxidação libera 1 acetil-CoA, serão liberadas 8 moléculas no total. Cada molécula faz 1 ciclo de Krebs gerando 1 GTP (= 1 ATP), 3 NADH + H+ (3 × 3 ATPs = 9 ATPs) e 1 FADH2 ( 2 ATP), total de 12 ATPs por volta, então, serão 8 voltas (por que teremos 8 acetil-CoA), portanto um total de 96 ATP. Saldo final de ATP: 35 + 96 = 131 ATPs – 2 ATPs. Total é de 129 ATP (ver figura a seguir). 63 BIOQUÍMICA METABÓLICA Primeira volta Segunda volta Terceira volta Quarta volta Quinta volta Sexta volta Sétima volta + + + + + + acil-CoA com número par de carbonos (16 carbonos) acetil-CoA acetil-CoA acetil-CoA acetil-CoA acetil-CoA acetil-CoA acetil-CoAacetil-CoA acil-CoA com 2 carbonos a menos (14) acil-CoA com 2 carbonos a menos (12) acil-CoA com 2 carbonos a menos (10) acil-CoA com 2 carbonos a menos (8) acil-CoA com 2 carbonos a menos (6) acil-CoA com 2 carbonos a menos (4) Figura 66 – Esquema da oxidação de um ácido graxo de 16 C sem saturações 64 Unidade I Quando a principal fonte de energia para o organismo (glicose), se esgota, os ácidos graxos devem ser oxidados para liberar energia. Observação Existem distúrbios da oxidação dos ácidos graxos (DOAG) por causa de deficiências genéticas em que o organismo é incapaz de oxidar os ácidos graxos para produzir energia, devido à ausência ou mau funcionamento de uma enzima específica dessa via, e, portanto, não tem disponibilidade de energia. Um exemplo desses distúrbios é a síndrome da morte súbita do lactente, doença autossômica recessiva que apresenta maior incidência em brancos de origem norte-europeia (Reino Unido, Holanda, Países Escandinavos, Alemanha), provocada por uma mutação pontual (adenina substituída pela guanina em um gene de uma das enzimas do ciclo de Lynen). Se manifesta com hipoglicemia (sem corpos cetônicos), vômitos, letargia e alterações mentais, incluindo o coma e ainda cardiomiopatia e miopatia. Grandes quantidades de ácidos graxos com 6-12 carbonos podem ser excretadas pela urina (ácidos orgânicos urinários) e analisados em cromatografia gasosa, como diagnóstico da doença, além de se analisar o perfil de acilcarnitinas quantitativo e dosagens de carnitina total e livre no plasma. O tratamento consta em evitar o jejum por 4-6 horas, fato que leva à hipoglicemia e letargia, necessitando de hospitalização. Múltiplas refeições com alimentos pobres em gordura e ricos em carboidratos e uso de suplementos de L-carnitina são pontos principais do tratamento dessas enfermidades. 3.5 Lipogênese ou biossíntese de ácidos graxos O ato de engordar era importante no passado, na época das cavernas, para os seres humanos, pois levaria à sobrevivência quando não houvesse comida. Mas atualmente a oferta de comida é grande e então a capacidade de armazenar gordura não é tão apreciada como antes, levando até à obesidade. A lipogênese ocorre no fígado, nos rins, no cérebro, no pulmão, nas glândulas mamárias e no tecido adiposo, é uma via citoplasmática, anaeróbica, sendo sua molécula precursora o acetil-CoA proveniente, por exemplo, do metabolismo de carboidrato. Quando ocorre ingestão de dietas hipercalóricas com carboidratos e/ou proteínas em excesso, formam-se várias moléculas de acetil-CoA que iniciam o ciclo de Krebs com a formação de muitas moléculas de GTP, NADH + H+ e FADH2, que na fosforilação oxidativa irão gerar muitas moléculas de ATP. Quando o ATP está sendo produzido em excesso, não é mais necessário girar o ciclo de Krebs, então uma das enzimas marca-passo do ciclo de Krebs, a isocitrato desidrogenase, é inibida aumentando o 65 BIOQUÍMICA METABÓLICA nível de citrato (integrante do CK). O aumento de citrato e ATP favorece a síntese de ácidos graxos, pois essa molécula é permeável à membrana mitocondrial e extravasa para o citosol, onde é transformado em acetil-CoA (molécula que inicia a lipogênese e não consegue passar a membrana mitocondrial) e ácido oxalacético, e esse último é transformado em malato no próprio citosol. O malato passa a piruvato, que retorna à mitocôndria. Carboidratos e proteínas Piruvato Piruvato Acetil-CoA Ácido graxo Ciclo de Krebs CitratoOxaloacetato Oxaloacetato Acetil-CoA Citrato Malato Fumarato Succinato Succiil-CoA Isocitrato α-cetoglutarato Mitocôndria Citossol NADPH Figura 67 – Esquema da saída de citrato da mitocôndria em direção ao citosol A primeira reação da síntese de AG é a formação de malonil-CoA a partir da carboxilação (adição de carbono) de acetil-CoA pela enzima acetil-CoA carboxilase (enzima marca-passo da lipogenese). Usando energia derivada da hidrólise de ATP, na primeira etapa, um CO2 é ligado a um resíduo de biotina (vitamina com função de coenzima), e transferido para acetil-Co-A. O recém-formado malonil-CoA (com 3 carbonos) e é ligado à proteína carregadora de acila (ACP), que reúne várias enzimas formando uma roda-gigante (um complexo multienzimático), então chamada malonil-ACP. As reações que ocorrem são a perda da coenzima A e a ligação desse malonil-ACP a outra acetil-CoA, e depois da saída de 1 CO2, será gasto 1 NADPH (proveniente da via das pentoses), saída de água, e gasto de mais 1 NADPH, gerando um AG inicial de 4C, saturados ligados ao ACP. Para que esse pequeno AG seja alongado deverá ter a reação com outros malonil-CoA repetidamente, e as reações descritas anteriormente. 3.6 Formação de triglicerídeos Os triglicerídeos são produzidos no retículo endoplasmático dos diferentes órgãos que são responsáveis pela síntese de lipídeos. Os ácidos graxos sintetizados na lipogênese se combinam por reação de esterificação com uma molécula de glicerol que deve estar na forma de glicerofosfato para gerar triglicerídeos, que é a forma de armazenamento de lipídeos nos adipócitos. No fígado, a gliceroquinase que está ativa no fígado e não no tecido adiposo transforma o glicerol em 3-glicerofosfato. Como no tecido adiposo, a síntese de triglicérides não ocorre por meio 66 Unidade I da enzima gliceroquinase, que não existe nesse tecido, então o glicerofosfato é obtido através da fosfodi-hidroxicetona, que com a ajuda da enzima glicerofosfato desidrogenase transforma o glicerol em fosfodi-hidroxicetona, proveniente da via glicolítica ou da via das pentoses, e depois em 3-glicerofosfato resultando em triglicérides. O glicerofosfato se transforma em ácido fosfatídico (figura a seguir), que origina um diacilglicerol e, depois, o último acil-CoA será unido e se transformará em triacilglicerol. R2 H2C H2 C O O OO CH C O O O P R1 O– O– Figura 68 – Esquema de um ácido fosfatídico (glicerol + 2 AG) Os TGs recém-formados no fígado são transportados para as células adiposas através de junção com lipoproteínas (VLDL ou LDL), pois, como é lipossolúvel ou hidrofóbico, não se dissolve no sangue (líquido com predominância de água). Quando a lipoproteína chega até a célula adiposa, a enzima lipoproteína lipase (ativada pela insulina) presente nos órgãos (músculo adiposo, cardíaco e esquelético) cliva seu conteúdo, e os ácidos graxos resultantes se difundem pela membrana da célula adiposa, pois são lipossolúveis e a membrana é lipoproteica, sejuntando novamente no interior da célula adiposa se tornando novamente TGs e armazenando-se no seu interior. Exemplo de aplicação Qual seria a explicação para a reação global da síntese de lipídeos de 16 C saturados? 8 acetil-CoA + 14 NADPH + 14 H+ + 7 ATP > ácido palmítico + 14 NADP+ + 7 ADP + 7 Pi + 7 H2O Um acetil-CoA se junta com um acetil que se transformou em malonil-CoA, o qual perde 1 carbono. A cada volta na via de síntese dos AGs, a molécula ganha dois carbonos do malonil-CoA (que tem 3 carbonos, mas sempre irá perder 1 carbono), até a formação do palmitato (ao ácido palmítico se não estiver ionizado), liberando a coenzima A. Então: 1 molécula de acetil-CoA + 7 moléculas de malonil-CoA (que eram acetil-CoA); ao todo 8 acetil-CoA. Cada vez que entra um malonil-CoA, significa 1 volta, portanto 7 voltas. Se em cada volta gasta 2 NADPH + H+ e 1 ATPs que será hidrolisado em 7 voltas, serão 14 NADPH + H+ e 7 APTs. 67 BIOQUÍMICA METABÓLICA 3.7 Regulação da síntese de ácidos graxos A síntese de ácidos graxos tem entre outras funções o armazenamento de gorduras para utilização posterior. Portanto, fica claro que a insulina, que é um hormônio que induz armazenamento, seja estimuladora da síntese de malonil-CoA e consequentemente de ácidos graxos. Os hormônios glucagon e epinefrina são liberados quando se faz necessário a disponibilidade de energia para as células, portanto é lógico pensar que esses hormônios inibirão a síntese de ácidos graxos. O excesso de ácidos graxos formado fará um feedback negativo na transformação de acetil-CoA em malonil-CoA, modulando dessa forma a produção de ácidos graxos, e o citrato (precursor do acetil-CoA) em excesso fará um feedback positivo estimulando a formação de malonil-CoA a partir de acetil-CoA, que, dessa forma, impedirá o acúmulo de citrato. Na hiperglicemia, a insulina ativa as vias hipoglicemiantes, que são a glicólise ativada pela insulina e inibida pelo glucagon, inativada pelos produtos malonil glicogênese e a via das pentoses, e a lipogênese, por isso é chamado hormônio hipoglicemiante e lipogênico. As enzimas marca-passo acetil-CoA carboxilase-CoA e palmitoil-CoA (AG com 16 C), ativadas pelo citrato, são inativadas devido à presença de adrenalina/glucagon. Quando há grande produção de ATP, tanto ciclo de Krebs e cadeia respiratória são bloqueados, causando o acúmulo de acetil-CoA dentro da mitocôndria, que irá sair para o citoplasma na forma de citrato (pois a membrana é impermeável a acetil-CoA) e através da enzima citrato liase, presente no citoplasma celular, voltará a ser acetil-CoA. 3.8 Cetogêsene ou síntese de corpos cetônicos A cetogênese é um mecanismo que ocorre na matriz mitocondrial hepática e desvia o excesso de acetil-CoA formado na quebra dos AG em corpos cetônicos (CC). Esse processo ocorre no fígado e é dependente da enzima HMG-CoA sintase. Após a sua formação no tecido hepático, os corpos cetônicos são exportados para outras partes do corpo, tais como músculo, cérebro e córtex renal. Apesar de outros órgãos, como coração e córtex renal, oxidarem AG, também podem usar CC para obter energia. O fígado não tem enzimas para transformar acetoacetato em acetil-CoA, e, portanto, usam os AG como fonte de energia. As células nervosas, em compensação, não têm enzimas para fazer β-oxidação, dependem de glicose e CC, e as hemácias também dependem de glicose unicamente, pois não podem utilizar corpos cetônicos já que serão utilizados na mitocôndria (ciclo de Krebs). Em períodos de jejum, dieta de restrição de carboidratos, exercícios intensos prolongados, alcoolismo ou em diabetes mellitus tipo 1 não tratada são formadas grandes quantidades de CC, porque a quantidade excessiva de acetil-CoA não pode ser convertida em glicose. O fato de proteínas influenciarem a quantidade de CC no corpo é explicado, já que a acetil-CoA e a acetoacetil-CoA podem vir do catabolismo dos aminoácidos fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, 68 Unidade I tirosina, triptofano, treonina e os aminoácidos leucina e lisina, que são exclusivamente cetogênicos, pois se transformam em componentes do ciclo de Krebs. 3.9 Síntese de corpos cetônicos Na síntese de colesterol, ocorre a junção de acetoacetil-CoA e acetil-CoA resultando em HMG Co-A, reação que é catalisada pela enzima HMG-CoA-sintase. Com o excesso de acetil Co-A e a não necessidade de sintetizar colesterol ocorrerá clivagem da HMG-CoA, formando acetoacetato (corpo cetônico) e acetil-CoA. H3C C O OH Acetoacetil-CoA Acetil-CoA HMG-CoA sintase H2O Coenzima A HMG-CoA CH3 CH2 O + O OO C CoA CoAH3C C CoA CC CCH2 CH2O H3C C OOH Acetoacetato Acetil-CoA HMG-CoA liase HMG-CoA CH3 CH2 O + OOO C O–CoA H3C C CoACC CCH2 CH2O HMG-CoA liase CO2 H3C C O Acetoacetato CH2 O C O– Acetona H3C C O CH3 CH3 O OC β-hidroxibutirato desidrogenase NAD+NADH + H+ H3C C O Acetoacetato CH2 O C O– β-hidroxibutirato CH3 C OH CH2 Figura 69 – Esquema da formação de corpos cetônicos (CC) Os CC são solúveis em água e rapidamente o acetoacetato vai para a corrente sanguínea, ou pode ser reduzido para β-hidroxibutirato e uma pequena parte forma acetona e dióxido de carbono (CO2). Apesar do nome cetônico, o β-hidroxibutirato é um ácido carboxílico, e não uma cetona, pois não tem o grupo C = O em carbono secundário característico, mas é assim chamado porque é derivado de cetonas. A energia proveniente dos CC se baseia no fato de que o β-hidroxibutirato se transforma em acetoacetato e ele se cliva em 2 moléculas de acetil-CoA, que será aproveitado no ciclo de Krebs, e produzirá a energia em células que não sejam do fígado, pois os ácidos β-hidroxibutírico e acetacético não têm as enzimas necessárias para utilizá-los como combustíveis. A acetona não pode ser convertida em acetil-CoA, então ela é excretada na urina, e como pode facilmente evaporar, é exalada (odor característico em pessoas com diabetes descompensada ou em jejum). 69 BIOQUÍMICA METABÓLICA Observação Quando o ácido está na forma não ionizada, ele é chamado de ácido com sufixo ICO, e quando está ionizado, ou seja, perdeu H+, ele é chamado com o sufixo -ato e perde a palavra ácido no começo, por exemplo: ácido acetoacético e acetoacetato. 3.10 Consequências da cetogênese Esse processo é fisiológico e natural, pois podemos ficar em jejum por conta de várias situações. Mas em casos de períodos de jejum prolongado ou quando não se trata o diabetes mellitus tipo 1 (situação chamada descompensada), o aumento dessas substâncias no sangue pode ter consequências mais graves. Ao aumento de corpos cetônicos no sangue chamamos cetonemia, que leva à acidose metabólica ou cetoacidose, pois os corpos cetônicos têm caráter ácido, levando à redução do pH sanguíneo pelo aumento de H+ liberado dos CC. O seu aproveitamento depende da quantidade de tempo que se está de jejum, ou seja, muito jejum, muitos CC. Observação O medidor de glicemia capilar ou glicosímetro é um aparelho que ajuda na automonitorização da glicemia para saber os níveis de glicose no sangue (hipoglicemia ou hiperglicemia). O resultado vai ajudar na aplicação da insulina. Sabendo-se que o sangue segue para todos os órgãos, inclusive rins, os CC e a glicose irão ser excretados na urina (cetonúria e glicosúria), podendo ser dosados com fitas reagentes usando urina, fato que irá auxiliar o paciente a saber se está descompensado. Lancetas são usadas para fazer um furo no dedo e a gota de sangue deve cobrir uma fita que vem juntamente ao aparelho. Nessa fita contém reagente que promove alteração na sua cor, que é interpretada pelo aparelho. A cetoacidose diabética ocorre mais comumente em pacientes com diabetes tipo 1, mas também acontece em pacientes com diabetes tipo 2. Deve-se levar o paciente imediatamente ao hospital, pois é um sinal de que a glicemia está alta e a cetonemia (corpos cetônicos no sangue) também. Essa situação no diabetes ocorre por que as células não estão recebendoglicose no seu interior (por falta de insulina) e precisam de energia, para tanto deve gastar lipídeos na β-oxidação liberando várias moléculas de acetil-CoA, que irão ao ciclo de Krebs e formarão CC. 70 Unidade I Como os CC têm caráter ácido e baixam o pH do sangue (pH normal é de 7,4 ± 0,05), se esse estado fisiológico não for tratado rapidamente, pode levar ao coma e à morte. Alguns sinais de cetoacidose diabética são: mal-estar, vômitos, diurese aumentada, dor abdominal e hálito cetônico, letargia etc. Outras situações, além do diabetes descompensado, pode levar à acidose metabólica, como: erro de dose de insulina, bulimia ou anorexia; ingestão excessiva de álcool; desnutrição, infecção. O tratamento é realizado com soro fisiológico endovenoso para reposição contínua das perdas hídricas, correção dos déficits de eletrólitos (perda de sais) e da hiperglicemia, além do uso correto da insulina intravenosa e em casos graves diálise e assistência respiratória, para não chegar a ter arritmias cardíacas ou edema cerebral. Observação A cetose nutricional é um tipo de dieta baseada na redução de carboidratos e proteínas. O objetivo é levar o organismo a consumir os estoques de gorduras e aquelas que forem consumidas nas refeições. Durante o jejum, a glicemia diminui, reduzindo a insulinemia. Quando isso ocorre, há aumento da atividade da lipase hormônio sensível (LHS) nos adipócitos, que cliva os triacilgliceróis liberando AG e glicerol para o sangue. Principalmente o tecido muscular esquelético e cardíaco usam os AG como fonte de energia (ATP). Os CC têm como substrato para a formação dos corpos cetônicos a acetil-CoA formada durante a β-oxidação dos AG. São eles: ácido β-hidroxibutírico (CH3CHOHCH2COOH) e ácido acetacético (CH3COCH2COOH), que são formados nas mitocôndrias do fígado e depois da descarboxilização do acetoacetato forma-se o último CC: a acetona (CH3COCH3). Observação Entre as dietas de emagrecimento, uma tem chamado a atenção das pessoas: jejum intermitente. Processo que intercala períodos de jejum com períodos de alimentação, para que no jejum o corpo use os TGs como energia. São períodos entre 10 a 24 horas de jejum, em que pode tomar somente água (com ou sem gás) e chás e café sem açúcar. Existem prós e contras como em qualquer dieta e é por conta disso que deve haver orientação médica. Entre as pessoas mais vulneráveis a esse tipo de dietas estão os idosos e os menores de 18 anos. Entre algumas desvantagens podemos citar desnutrição, desidratação, hipoglicemia, fraqueza muscular, dificuldades de concentração, tendência à compulsão e até anorexia ou bulimia, entre outros. 71 BIOQUÍMICA METABÓLICA 4 COLESTEROL 4.1 Síntese de colesterol O colesterol é composto por 27 átomos de carbonos (figura a seguir) e sintetizado a partir da acetil- CoA, sendo por isso não classificado como lipídeo (lipídeo por definição bioquímica é éster de AG), e sim um esteroide ou esterol sintetizado pelos animais com características muito semelhantes aos lipídeos. Cerca de 20% a 25% da produção total diária (~1 g/dia) ocorre no fígado; outros locais de maior taxa de síntese incluem intestinos, glândulas adrenais e gônadas. CH3 CH3 CH3 H3C H3C HO Figura 70 – Estrutura química do colesterol Plantas apresentam um tipo de composto semelhante ao colesterol chamado fitosterol. A maior parte do colesterol presente no corpo é sintetizada pelo próprio organismo (cerca de 70% do colesterol total), o restante vem da dieta (cerca de 30% do colesterol total). O colesterol está presente na constituição da bile, é precursor para a síntese de vitamina D e de vários hormônios esteroides (glicocorticoides: cortisol; mineralocorticoides: aldosterona; e hormônios sexuais: progesterona, estrógenos, testosterona e derivados). Como os lipídeos em geral, o colesterol também é insolúvel em água e, consequentemente, insolúvel no sangue, devendo ser transportado até outros órgãos através de ligação a diversos tipos de lipoproteínas. Existem vários tipos de lipoproteínas (união de uma proteína com colesterol, TG e fosfolipídios), classificadas de acordo com a sua densidade. As primeiras a serem formadas têm presença de mais lipídeos que proteínas (quilomícron, VLDL, LDL), já a lipoproteína HDL tem no seu conteúdo mais proteína que lipídeos ou colesterol. De acordo com as suas características físico-químicas, são divididas em: quilomícrons, VLDL (very low density lipoprotein ou lipoproteína de muito baixa densidade), LDL (low density lipoproteins ou lipoproteína de baixa densidade) e HDL (high density lipoproteins ou lipoproteína de alta densidade). O quilomícron é o primeiro a ser formado no intestino e leva os lipídeos da dieta pela veia porta até o fígado. O LDL é conhecido como mau colesterol e o HDL como colesterol bom. Mas, na verdade, a quantidade ou concentração sanguínea baixa ou alta é que deve ser considerada. Por exemplo, baixa quantidade de HDL é ruim, alta quantidade é bom; alta quantidade de LDL é ruim, mas baixa quantidade é bom, levando em consideração doenças chamadas dislipidemias, que podem levar à arteriosclerose. 72 Unidade I Lembrete Não existe mau colesterol ou bom colesterol, e sim a quantidade ou concentração sanguínea baixa ou alta. 4.2 Principais etapas da síntese do colesterol A acetil-CoA, que está no citoplasma, transportada para fora da mitocôndria na forma de citrato, inicia a síntese de colesterol bem como dos ácidos graxos e CC. A síntese de colesterol se inicia com a união de 2 moléculas de acetil-CoA, formando acetoacetil-CoA (4 carbonos), que se une com outra acetil-CoA e forma HMG-CoA (hidroximetilglutaril-CoA) com 6 carbonos. Essa etapa é irreversível na síntese do colesterol. O HMG-CoA se transforma em mevalonato (contém 6 carbonos) pela enzima HMG-CoA redutase (enzima marca-passo da síntese de colesterol), com a ajuda de 2 NADPH, que é convertido a isopentenil pirofosfato (com 5 carbonos) com gasto de 3 ATPs e perda de 1 carbono, sendo chamada agora unidade isoprenoide (UIP), porque será a unidade repetida (monômero) de um polímero chamado colesterol, depois de reações de fosforilação e descarboxilação. 1 UIP + 1 UIP forma 1 geranil pirofosfato (com 10 C) + 1 UIP forma farnesil pirofosfato (com 15 C) Duas moléculas de farnesil pirofosfato condensam-se, e com a ajuda de 1 molécula de NADPH forma-se o esqualeno (com 30 C). Nesse momento, ocorre a adição de oxigênio seguida de ciclização da cadeia formando um núcleo esteroide com quatro anéis (chamado núcleo pentanoperidrofenantreno). A conversão do esqualeno ao lanosterol, zimosterol e colesterol ocorre por via de múltiplas etapas envolvendo deslocamento de metilas, oxidações e descarboxilações. Resumindo: Acetato (C2) → isoprenoide (C5) → esqualeno (C30) → colesterol (C27) Todas as reações ocorrem no citoplasma, e os átomos de carbono são fornecidos pela acetil-CoA, e moléculas de NADPH promovem as reações de reduções (adição de hidrogênio). 4.3 Regulação da síntese do colesterol Várias são as formas de controlar a síntese do colesterol: • Biossíntese do colesterol: é regulada diretamente pelos níveis do colesterol no sangue. Quanto maior for a ingestão de colesterol, menor será a quantidade sintetizada pelo fígado. Esse processo pode ser chamado feedback ou retroalimentação da enzima marca-passo: HMG-CoA redutase. 73 BIOQUÍMICA METABÓLICA • Insulina: aumenta a atividade de HMG-CoA redutase enquanto glucagon e cortisol inibem a atividade da enzima. • Medicamentos: os da enzima marca-passo são inibidores competitivos da enzima HMG-CoA redutase, reduzindo os níveis sanguíneos da lipoproteína de baixa densidade (LDL-colesterol), ou mau colesterol. Esses medicamentos se chamam estatinas, e vários são registrados no Brasil, por exemplo, atorvastatina, lovastatina, pravastatina, rosuvastatina e sinvastatina. Observação O ritmo circadiano é uma reação que ocorre no período de 24 horas no corpo. Seria o relógiobiológico, influenciado principalmente pela variação de luz, temperatura, marés e ventos entre o dia e a noite. A síntese de colesterol, cuja atividade é regulada ao nível da enzima HMG-CoA redutase, atinge o pico seis horas após ter escurecido, e o mínimo aproximadamente seis horas após a reexposição à luz. Por essa razão, medicamentos como estatinas devem ser ingeridos à noite. • Fibras e proteínas: promovem a perda de sais biliares e com eles colesterol. Há necessidade de controle, pois quando o nível sérico de LDL diminui, induz à síntese de receptores LDL, aumentando a síntese da enzima HMG-CoA redutase, que eleva a biossíntese do colesterol. Caso uma pessoa faça dieta substituindo ácidos graxos saturados por ácidos graxos poli-insaturados, ocorrerá rapidamente metabolização mais rápida no fígado, diminuindo a concentração de colesterol plasmático. Dessa forma, se houver uso correto de medicamento e dieta adequada, resultará na queda plasmática do colesterol. • Sequestradores de ácido biliar: são substâncias que se ligam aos ácidos biliares e reduzem a reabsorção no intestino, diminuindo a concentração de colesterol. • Ácido nicotínico (vitamina B3): diminui a concentração de VLDL, o que acaba por reduzir a concentração de LDL, podendo até aumentar a concentração de HDL. Observação Além de proteger o coração, enrijecer os músculos e aumentar o condicionamento físico, os exercícios também colaboram para o controle do colesterol, pois diminuem os níveis de LDL e ajudam a elevar o HDL. A combinação de estatinas com fibratos pode auxiliar a reduzir os níveis de colesterol e aumentar os de HDL-C, mas está associada a casos de miopatia e toxicidade hepática, portanto um médico sempre deve analisar caso a caso. 74 Unidade I 4.4 Transporte do colesterol O colesterol é minimamente solúvel em água e por essa razão deve se combinar com substâncias que facilitem seu transporte pelo sangue. Dessa forma, ele é transportado na corrente sanguínea pelas lipoproteínas. As lipoproteínas são formadas de fosfolipídeos, colesterol, triglicerídeos e proteína. As proteínas são chamadas apolipoproteínas, que formam a superfície de uma dada partícula de lipoproteína determinando de que células o colesterol será removido e para onde ele será fornecido. Dependendo da quantidade e tipo de proteína e de lipídeos, irão apresentar densidades diferentes. As maiores lipoproteínas, os quilomícrons, têm vida curta e transportam o colesterol e TG da dieta da mucosa intestinal para o fígado. Nele, as partículas de quilomícron liberam triglicerídeos e um pouco de colesterol, mas uma parte se liga a outra proteína, tornando-se lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) que vão para o sangue levar TG para vários órgãos. Quando chegam novamente ao fígado, são convertidas em partículas de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) que vão para todos os órgãos. As partículas de lipoproteína de alta densidade (HDL) transportam colesterol de volta para o fígado para a excreção, são chamadas colesterol bom, pois além de levar colesterol e TG para o fígado, atrapalham a entrada de LDL nas paredes das artérias. O colesterol tem um papel central em muitos processos bioquímicos, mas é mais conhecido pela associação existente entre doenças cardiovasculares e as diversas lipoproteínas que o transportam, e os altos níveis de colesterol no sangue (hipercolesterolemia). Observação Como as pessoas no Brasil e no mundo estão com os níveis de colesterol muito elevados, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alterou os valores de referência para colesterol e triglicérides a fim de controlar problemas advindos da hipercolesterolemia. As novas metas para as taxas de colesterol ruim (LDL) aceitáveis, segundo a SBC agora são: • Até 130 mg/dL para pessoas de baixo risco (não apresentam fator de risco para doenças cardíacas). • Até 100 mg/dL para indivíduos com médio risco (manifestam apenas um fator de risco). • Até 70 mg/dL para pacientes de alto risco (têm mais de um fator de risco). 75 BIOQUÍMICA METABÓLICA • Até 50 mg/dL para indivíduos com altíssimo risco (já tiveram infarto, AVC, colocação de ponte de safena ou stent). O colesterol total passou de 200 mg/dl para 190 mg/dl, e a necessidade de jejum de 12 horas para coleta de sangue para medir colesterol foi retirada. 4.5 Degradação do colesterol O colesterol é excretado do fígado na bile e é reabsorvido no intestino e reutilizado ou eliminado, sendo modificado por bactérias intestinais antes da excreção, como coprostanol, entre outros esteróis. Saiba mais Compostos orgânicos produzidos pelo homem, como o coprostanol, são chamados marcadores moleculares antropogênicos, e sua quantidade no meio ambiente está relacionada com a poluição por efluentes domésticos, leia mais sobre em: CARREIRA, R. et al. Distribuição de coprostanol (5β(H)-colestan- 3β-OL) em sedimentos superficiais da Baía de Guanabara: indicador da poluição recente por esgotos domésticos. Química Nova, v. 24, n. 1, p. 37-42, 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/qn/v24n1/4447. pdf. Acesso em: 17 ago. 2020. A vesícula biliar armazena bile, que funciona como emulsificante, ou seja, detergente natural que ajuda a degradar os lipídeos da dieta, pois como baixa a tensão superficial da gota de lipídeo, a lipase pancreática pode agir mais facilmente. O TG que agora está clivado em monoglicerídeo ou diglicerídeo e AG pode passar à mucosa intestinal e se combinar com os quilomícrons. Na bile, temos bilirrubina além dos sais biliares e colesterol, vindos do fígado. Os sais biliares costumam se originar a partir de colesterol, e os ácidos biliares são principalmente o glicocólico, o taurocólico, e outros resultantes da ação das bactérias intestinais. A maioria do colesterol do organismo que chega na forma de HDL-colesterol é eliminado pelo fígado através da bile. Os cálculos biliares se iniciam como se fossem areia e depois vão se unindo formando pequenos cristais que aumentam de tamanho e se tornam pedras. Podem ser de colesterol (de cor amarela), que é o tipo mais comum de cálculo biliar, ou cálculos biliares pigmentados (de cor marrom ou pretas) contendo principalmente bile ou bilirrubina. 76 Unidade I Observação Caso a pessoa tenha cálculos biliares pode não apresentar sintomas ou ter forte cólica abdominal devido ao bloqueio do ducto cístico ou do ducto biliar. Caso a pedra passe, ela vai para o intestino delgado (ou duodeno) e sai com as fezes, mas se ficar parada na junção do ducto pancreático e cístico, pode impedir a saída do suco pancreático para o intestino, já que o ducto final é comum ao pâncreas, gerando pancreatite. 4.6 Arteriosclerose Quando o nível de LDL-colesterol aumenta, ele fica na corrente sanguínea mais tempo, fato que leva à oxidação da molécula. A parede das artérias é composta de três camadas: adventícia, média e mais interna, denominada de íntima ou endotelial, que fica em contato com o sangue. Nessa última camada, encontram-se proteínas chamadas receptores para LDL-oxidada (LDL-ox). Geralmente, regiões de curvaturas ou bifurcações dos vasos sanguíneos são mais propensas à formação da placa aterosclerótica; ocorre quando há ligação entre as proteínas receptoras de LDL-col oxidada e o LDL-col oxidada. A partícula é engolida (endocitose) e colocada no interior dessa membrana, e irá se acumular (placa de gordura chamada ateroma). Nesse momento, monócitos chegam ao local e penetram no endotélio (na região da placa) para tentar desfazê-la. Os monócitos, que agora se chama macrófagos, liberam espécies reativas de oxigênio (ERO) e citocinas, que recrutam mais células inflamatórias, desencadeando assim um processo inflamatório crônico. Como os macrófagos não conseguem digerir a gordura (LDL), ficam com os lipídeos em seu interior se tornando célula espumosa, que não sai do interior da artéria. O aumento dessa placa impede o fluxo correto de sangue, o que leva ao aumento de pressão arterialpor conta dessa obstrução. Caso a obstrução esteja presente em artérias do coração, por exemplo, coronárias, podem surgir sintomas como a dor no peito (angina pectoris) em situações de estresse ou esforço físico, indicando que o músculo cardíaco não está sendo oxigenado de maneira adequada. Se a obstrução for muito grande, a placa se rompe e todo seu conteúdo extravasa entrando em contato com proteínas do sangue responsáveis pela coagulação, iniciando aí um pequeno trombo, que se movimenta e caminha junto ao fluxo sanguíneo até chegar em um vaso de calibre menor e o entope. Nesse momento, o vaso se rompe e ocorre um IAM (infarto agudo do miocárdio), um AVC (acidente vascular cerebral) ou um AVE (acidente vascular encefálico). Observação Cerca de 90% das pessoas que tem colesterol alto de origem genética, ou seja, familiar (passa de pai/mãe para filho), não sabem que são portadoras da doença. Existem no Brasil até 400 mil pessoas com colesterol alto de origem genética, que pode levar ao infarto e ao AVC antes dos 50 anos 77 BIOQUÍMICA METABÓLICA de idade. O mais alarmante: somente 10% delas sabem que estão doentes. Vários hospitais, como o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP, em São Paulo), fazem campanhas de alerta à população e de identificação de casos para tratamento. Resumo As enzimas aceleram as reações metabólicas nas células. Alguns fatores influenciam a atividade enzimática, como pH, temperatura, concentração de enzima e concentração de substrato. A enzima se liga a uma molécula de substrato em uma região específica denominada sítio ativo. Há outras enzimas chamadas alostéricas ou marca-passo, que apresentam outra região onde se ligam substâncias que aceleram ou inibem a atividade enzimática, chamada sítio alostérico. Algumas funcionam com a ajuda de outra molécula, como cofatores e coenzimas. Existem substâncias, como tóxicos ou medicamentos, que impedem o funcionamento da enzima. De acordo com a força ou a estabilidade entre o inibidor e a enzima, a inibição enzimática pode ser de dois tipos: reversível e irreversível, sendo que a primeira pode ser competitiva e não competitiva. Os macronutrientes estudados foram os carboidratos e os lipídios. A digestão de grandes moléculas permite a produção de acetil-CoA, que dá início ao ciclo de Krebs. Na presença de oxigênio, há formação de ATP, NADH, FADH2 e de produtos intermediários para a produção de outras moléculas. A digestão dos carboidratos complexos como o amido fornece monossacarídeos, que são transportados na corrente sanguínea e entram nas células por meio de transportadores. Uma vez dentro das células, a glicose tem vários destinos, pode produzir ATP, ser utilizada na glicogênese ou, ainda, quando em excesso, pode ser transformada em ácidos graxos. Entretanto, quando a glicemia diminui, a utilização das reservas é favorecida pelo glucagon, e consequentemente as vias glicogenólise, gliconeogênese e lipólise são estimuladas. A síntese e a degradação de lipídeos são processos fisiológicos normais e importantes para o ser vivo. A lipogênese ocorre quando a ingestão de carboidratos e proteínas é grande, e a lipólise quando há falta de glicose no interior das células. Cada processo tem sua enzima marca-passo, que quando ativada ou inibida irá afetar todo o processo, sendo importante saber as substâncias que controlam essas enzimas. 78 Unidade I Relacionadas com o excesso de acetil-CoA, as vias de síntese de colesterol e de corpos cetônicos serão ativadas levando à fabricação desses metabólitos, e suas consequências benignas e malignas devem ser analisadas. Exercícios Questão 1. (UFPR 2019) Na figura a seguir, está representado o mecanismo de transferência de um grupo carboxila a um substrato por um carreador ativado. Ativação do grupo carboxila Transferência do grupo carboxila H H O O N N S Enzima Biotina Piruvato-carboxilase Ligação rica em energia Biotina carboxilada H O O– C O N N S Enzima O Oxaloacetato O– C O O–O CH2 C O C Piruvato O–O CH3 C O C Bicarbonato O– C O OH Ribose AdeninaCH20PP ADP Ribose AdeninaCH20PPP ATP P1 Figura 71 – Transferência de grupo carboxila por carreador Fonte: ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 79 BIOQUÍMICA METABÓLICA Com base na figura anterior e nos conhecimentos sobre metabolismo celular, avalie as afirmativas a seguir: I – Caso ocorra falta de ADP, o oxaloacetato não será formado. II – O carreador envolvido nesse processo funciona como uma coenzima. III – Parte das moléculas envolvidas nesse processo está diretamente correlacionada ao metabolismo energético celular. IV – O processo específico da transferência do grupo carboxila é um processo com variação de energia livre negativa. Assinale a alternativa correta: A) São corretas apenas II e III. B) São corretas apenas I, II e IV. C) São corretas apenas I, III e IV. D) São corretas apenas II e IV. E) São corretas apenas I e III. Resposta correta: alternativa A. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: o oxaloacetato é o ponto de partida para a gliconeogênese e, por isso, com a falta de ADP (energia), a gliconeogênese será ativada para liberar glicose para o corpo através da corrente sanguínea. II – Afirmativa correta. Justificativa: o carreador é um ativador chamado de acetil-coenzima A, que foi ativado pelo piruvato. Temos também NAD, FAH e ácido lipoico de coenzimas que participam do processo. III – Afirmativa correta. Justificativa: por se tratar de um processo de metabolismo para gerar energia aos órgãos do nosso sistema fisiológico, as moléculas são precursoras e envolvidas no processo, como, por exemplo, lactato, piruvato, glicerol e aminoácidos, que são convertidos em glicose. 80 Unidade I IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: o grupo carboxila é um grupamento orgânico (união de carbonila e hidroxila) com caráter ácido devido à liberação de H+ vista na extremidade da carboxila. Questão 2. (IBFC 2016) As lipoproteínas transportam os triacilgliceróis e o colesterol entre os órgãos e tecidos. As anormalidades no metabolismo das lipoproteínas são fatores-chave no desenvolvimento da aterosclerose, um processo que afeta as paredes arteriais e, consequentemente, o fornecimento de sangue e a oferta de oxigênio ao coração (causando doença cardíaca coronariana), cérebro (causando acidente vascular cerebral) e outras grandes artérias (causando doença vascular periférica). A doença cardiovascular relacionada com a aterosclerose é uma importante causa de morte no mundo industrializado. Sobre os lipídeos e as lipoproteínas, assinale a alternativa correta: A) As lipoproteínas de alta densidade (HDL) possuem os triacilgliceróis como seus principais constituintes. B) As VLDL (lipoproteínas de densidade muito baixa) e as partículas remanescentes são ricas em colesterol e pobres em triacilgliceróis. C) Os quilomícrons são formados principalmente por proteínas e colesterol. D) As lipoproteínas de baixa densidade (LDL) fazem o transporte reverso do colesterol. E) As LDL (lipoproteínas de baixa densidade) são pobres em triacilgliceróis e ricas em colesterol Resposta correta: alternativa E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: as lipoproteínas de alta densidade (HDL) garantem o transporte do colesterol no corpo, retirando seu excesso, levando-o ao fígado para ser eliminado pelo corpo. B) Alternativa incorreta. Justificativa: as VLDL (lipoproteínas de densidade muito baixa) e as partículas remanescentes são ricas em triglicerídeos. C) Alternativa incorreta. Justificativa: os quilomícrons são formados principalmente por triglicérides em seu núcleo central. 81 BIOQUÍMICA METABÓLICA D) Alternativa incorreta. Justificativa: as lipoproteínas de baixa densidade (LDL) transportam o colesterol do fígado para as células. E) Alternativa correta.Justificativa: as LDL (lipoproteínas de baixa densidade) são ricas em colesterol.