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Indaial – 2021 Tópicos EspEciais Em BiomEdicina Prof. Carlos Rafael Vaz 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. Carlos Rafael Vaz Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: V393t Vaz, Carlos Rafael Tópicos especiais em biomedicina. / Carlos Rafael Vaz – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 245 p.; il. ISBN 978-65-5663-988-8 ISBN Digital 978-65-5663-985-7 1. Medicina. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 610 aprEsEnTação Olá, acadêmico! Vamos iniciar os estudos do Livro Didático de Tópicos Especiais. Este livro está dividido em três unidades e tem o intuito de apresentar e reforçar temas no componente de Formação Geral e específica para o curso de Biomedicina, conforme orientação do INEP. A partir das orientações, queremos que você compreenda que aprender a questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que, ao final do estudo deste livro, você seja capaz de formular novas perguntas sobre a realidade humana e consiga propor soluções responsáveis para os desafios profissionais que surgirem. Assim, este livro traz conteúdos gerais e específicos para você estar bem preparado para o ENADE e também para o que a vida lhe apresentar. São temas pertinentes, atuais, abrangentes e que fazem parte da vida de todos nós. Vamos começar?! Na primeira unidade, iremos abordar os principais tópicos do questionário de formação geral do ENADE, tendo como base a Portaria n° 517, de 31 de maio de 2019, que dispõe: [...] no componente de Formação Geral, tomará como referência do perfil do concluinte as seguintes características: I - ético e comprometido com questões sociais, culturais e ambientais; II - comprometido com o exercício da cidadania; III - humanista e crítico, apoiado em conhecimentos científico, social e cultural historicamente construídos, que transcendam a área de sua formação; IV - proativo e solidário na tomada de decisões; e V - colaborativo e propositivo no trabalho em equipes e/ou redes que integrem diferentes áreas do conhecimento, atuando com responsabilidade socioambiental (BRASIL, 2019b). Iremos tratar também sobre cidadania e sociedade, seremos conduzidos por um mundo intrínseco do comportamento humano em sociedade e suas regras de conduta e participação social, política e econômica, na qual trabalharemos a questão da formação dos princípios morais e éticos dos homens que vivem e convivem em sociedade, além de abordarmos questões pertinentes à democracia, à ética e à cidadania. Dessa forma, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios norteadores da democracia, ética e cidadania, além de realizar uma reflexão e uma discussão sobre as questões ético-morais na relação indivíduo e sociedade. Para as Unidades 2 e 3 utilizamos como base no artigo 7° da Portaria n° 491, de 31 de maio de 2019, em que se dispõem os componentes específicos para a área do curso de biomedicina. [...] no componente específico da área de Biomedicina, tomará como referencial os conteúdos que contemplam: I. Ciências exatas aplicadas à Biomedicina: abordagens, processos e métodos físicos, químicos, matemáticos, estatísticos e de bioinformática como suporte à Biomedicina; II. Ciências biológicas e da Saúde: bases estruturais, moleculares e celulares dos processos fisiológicos e patológicos, bem como processos bioquímicos, farmacológicos, parasitológicos, microbiológicos, imunológicos e genéticos no processo saúde-doença; III. Ciências humanas e sociais aplicadas à Biomedicina: as diversas dimensões da relação indivíduo/sociedade, envolvendo ética e bioética, filosofia, sociologia, antropologia, políticas públicas, gestão e deontologia; IV. Ciências da Biomedicina: processos relacionados a saúde, doença e meio ambiente, com ênfase nos processos laboratoriais (análises clínicas, toxicológicas, citopatológicas, histoquímicas, moleculares e genéticas, hemoterápicas, bromatológicas e ambientais) (BRASIL, 2019a). Também trataremos dos principais processos envolvidos o profissional biomédico, desde a recapitulação da formação do curso, áreas de atuação e código de ética, até os principais processos relacionados à saúde que está presente no dia a dia do profissional biomédico. Desse modo, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios norteadores pelas as normativas associadas às Diretrizes Curriculares Nacionais e à legislação profissional, e as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Biomedicina, Resolução CNE/CES n° 2, de 18 de fevereiro de 2003. Esperamos que este estudo possa auxiliá-lo na dos temas que compõem este Livro Didático, preparar-se bem para o ENADE e levar para a vida as abordagens aqui feitas. Bons estudos! Prof. Carlos Rafael Vaz Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA sumário UNIDADE 1 —FORMAÇÃO GERAL ................................................................................................ 1 TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA ................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 A DEMOCRACIA EM PAUTA .......................................................................................................... 4 3 A QUESTÃO DA ÉTICA .................................................................................................................... 9 4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA ............................................................ 15 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................19 TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO ........................ 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO ............................................................................ 23 3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO........................................................................... 25 4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O MULTICULTURALISMO .................. 26 5 MOVIMENTO FEMINISTA ............................................................................................................ 27 5.1 FEMINISMO .................................................................................................................................. 27 5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA ............................................................................................. 28 5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA ............................................................................................. 28 5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS ESTUDOS DE GÊNERO ...... 29 6 CONCEITUANDO GÊNERO.......................................................................................................... 30 7 ESTUDOS DE GÊNERO .................................................................................................................. 33 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 38 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 — RELAÇÕES DE TRABALHO .................................................................................... 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45 2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO ............................................................ 45 3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .................................... 50 4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS ............................................................ 51 4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL ............................................................. 52 4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS NO BRASIL .............................. 53 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 55 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 57 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 58 TÓPICO 4 — POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE ............................................................................ 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 CONCEITO DE SAÚDE ................................................................................................................... 63 3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO .......................................................... 65 4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE ......................................................................................... 67 5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE ................................................................................ 70 5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE E PROGRAMAS ESPECÍFICOS ...................................................... 71 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 74 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 75 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 77 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I ........................................... 81 TÓPICO 1 —O PROFISSIONAL BIOMÉDICO ............................................................................. 83 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 83 2 CONSELHOS DE BIOMEDICINA ................................................................................................ 84 2.1 CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA ........................................................................... 84 2.2 CONSELHO REGIONAL DE BIOMEDICINA ........................................................................ 84 3 HABILITAÇÕES ................................................................................................................................ 85 3.1 BIOMÉDICO PATOLOGISTA CLÍNICO ................................................................................... 87 3.2 BIOMÉDICO ESTETA .................................................................................................................. 88 4 CÓDIGO DE ÉTICA DO BIOMÉDICO ........................................................................................ 89 4.1 DEVERES DO PROFISSIONAL BIOMÉDICO ......................................................................... 89 4.2 DIREITOS DO PROFISSIONAL BIOMÉDICO ......................................................................... 91 4.3 LIMITES PARA PROPAGANDA, PUBLICIDADE E ANÚNCIO DA ATIVIDADE BIOMÉDICA .................................................................................................................................. 92 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 95 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 96 TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE ..... 99 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 99 2 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS ............................................................................ 100 2.1 PROCESSOS OPERACIONAIS ................................................................................................ 101 2.1.1 Fase Pré-analítica .............................................................................................................. 102 2.1.2 Fase Analítica...................................................................................................................... 103 2.1.3 Fase Pós-analítica .............................................................................................................. 107 3 CONTROLE DE QUALIDADE ..................................................................................................... 109 3.1 CONTROLE INTERNO DE QUALIDADE ............................................................................ 109 3.2 CONTROLE EXTERNO DE QUALIDADE ............................................................................ 110 3.3 REGRAS DE CONTROLE DE QUALIDADE ......................................................................... 110 3.3.1 Ciclo PDCA ......................................................................................................................... 110 3.3.2 Gráfico de Levey-Jennings................................................................................................ 111 3.3.3 Regras de Westgard ........................................................................................................... 111 RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................116 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117 TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS ................................................................................ 121 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 121 2 MACROMOLÉCULAS ................................................................................................................... 121 3 CARBOIDRATOS ............................................................................................................................ 122 3.1 DIABETES MELLITUS (DM) ..................................................................................................... 124 3.2 DIAGNÓSTICO DA D. M. ........................................................................................................ 125 4 PROTEÍNAS ..................................................................................................................................... 126 4.1 ENZIMAS ..................................................................................................................................... 126 4.1.1 Enzimas Cardíacas ............................................................................................................. 127 4.1.2 Enzimas hepáticas ............................................................................................................ 129 5 LIPÍDEOS ......................................................................................................................................... 129 5.1 PERFIL LIPÍDICO ....................................................................................................................... 130 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 133 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 138 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 139 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 147 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II ....................................... 153 TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS ........................................................................ 155 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 155 2 HEMATOPOIESE ............................................................................................................................ 156 2.1 LEUCOPOIESE ........................................................................................................................... 156 2.2 ERITROPOIESE ........................................................................................................................... 157 3 HEMOGRAMA ................................................................................................................................ 157 4 ANEMIAS ......................................................................................................................................... 158 4.1 ANEMIA FERROPRIVA ............................................................................................................ 159 4.2 ANEMIA FALCIFORME .......................................................................................................... 159 5 LEUCEMIAS .................................................................................................................................... 160 5.1 NEOPLASIAS DAS CÉLULAS MIELOIDES .......................................................................... 161 5.1.1 LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA (LMA) ....................................................................... 161 5.1.2 LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA (LMC) ................................................................... 163 5.2 NEOPLASIAS DAS CÉLULAS LINFOIDES .......................................................................... 163 5.2.1 LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA (LLA) ......................................................................... 164 5.2.2 LEUCEMIA LINFOIDE CRÔNICA (LLC) ..................................................................... 166 6 HEMOSTASIA ................................................................................................................................. 166 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 168 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 169 TÓPICO 2 — PROCESSOS IMUNOLÓGICOS ........................................................................... 175 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175 2 ANTÍGENO E ANTICORPO ......................................................................................................... 176 3 IMUNIDADE INATA E IMUNIDADE ADAPTATIVA ........................................................... 177 4 HIPERSENSIBILIDADES ............................................................................................................. 178 5 DOENÇAS AUTOIMUNES ........................................................................................................... 179 6 IMUNOENSAIOS ............................................................................................................................ 179 6.1 TÉCNICA EM AGLUTINAÇÃO EM LÁTEX ......................................................................... 179 6.2 NEFLOMETRIA E TURBIDIMETRIA ..................................................................................... 180 6.3 IMUNOCROMATOGRAFIA .................................................................................................... 181 6.4 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO (ELISA) ............................................................................... 181 6.5 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO DE MICROPARTÍCULAS ............................................... 183 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 184 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 185 TÓPICO 3 — PROCESSOS MICROBIOLÓGICOS .................................................................... 191 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 191 2 BACTERIOLOGIA CLÍNICA ........................................................................................................ 192 2.1 IDENTIFICAÇÃO BACTERIANA .......................................................................................... 194 2.1.1 Morfologia bacteriana ....................................................................................................... 195 2.1.2 Parede Celular .................................................................................................................... 196 2.1.3 Meios de cultura ................................................................................................................ 198 2.2 TESTES DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS .................................................. 198 3 PARASITOLOGIA........................................................................................................................... 199 3.1 HELMINTOS NEMATÓDEOS .................................................................................................200 3.2 HELMINTOS PLATYHELMINTHES ...................................................................................... 200 3.3 PROTOZOÁRIOS ....................................................................................................................... 200 3.4 DIAGNÓSTICO ......................................................................................................................... 201 3.4.1 Método direto .................................................................................................................... 201 3.4.2 Sedimentação espontânea ................................................................................................ 202 3.4.3 Baermann e Rugai .............................................................................................................. 203 3.4.4 Centrifugação-flutuação ................................................................................................... 203 4 VÍRUS ................................................................................................................................................ 205 4.1 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA ..................................................................... 205 4.2 HEPATITES ................................................................................................................................. 208 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 211 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 212 TÓPICO 4 — PROCESSOS GENÉTICOS ..................................................................................... 221 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 221 2 HEREDOGRAMAS ......................................................................................................................... 224 3 REAÇÃO EM CADEIRA DA POLIMERASE (PCR) ................................................................. 225 4 SEQUENCIAMENTO ..................................................................................................................... 227 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 229 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 236 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 237 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 243 1 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender diferentes conceitos de democracia, ética, cidadania e sociodiversidade; • identificar a importância da responsabilidade social e os três setores: público, privado e terceiro setor para uma sociedade equânime; • refletir sobre relações de trabalho; • conhecer e analisar as principais características das políticas públicas de saúde do Brasil. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA TÓPICO 2 – MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO TÓPICO 3 – RELAÇÕES DE TRABALHO TÓPICO 4 – POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 1 INTRODUÇÃO Entraremos no mundo do comportamento humano em sociedade e suas regras de conduta e participação social, política e econômica, no qual trabalharemos a questão da formação dos princípios morais e éticos dos homens que vivem e convivem em sociedade, além de abordarmos questões pertinentes à democracia e à cidadania. Esses conceitos estão previstos na Portaria INEP n° 493 de 6 de junho de 2017, em seu Art. 1°, que destaca: O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), parte integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), tem como objetivo geral avaliar o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares, às habilidades e competências para atuação profissional e aos conhecimentos sobre a realidade brasileira e mundial, bem como sobre outras áreas do conhecimento (BRASIL, 2017, grifos nossos). A mesma portaria, em seu Art. 5°, indica como referência do perfil do concluinte, no âmbito da Formação Geral, as seguintes características: I- ético e comprometido com as questões sociais, culturais e ambientais; II- humanista e crítico, apoiado em conhecimentos científico, social e cultural, historicamente construídos, que transcendam o ambiente próprio de sua formação; III- protagonista do saber, com visão do mundo em sua diversidade para práticas de letramento, voltadas para o exercício pleno de cidadania; IV- proativo, solidário, autônomo e consciente na tomada de decisões pautadas pela análise contextualizada das evidências disponíveis; V- colaborativo e propositivo no trabalho em equipes, grupos e redes, atuando com respeito, cooperação, iniciativa e responsabilidade social (BRASIL, 2017). UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 4 E no Art. 6° é indicado que a prova ENADE avaliará se o concluinte desenvolveu, no processo de formação, competências para: I- fazer escolhas éticas, responsabilizando-se por suas consequências; II- ler, interpretar e produzir textos com clareza e coerência; III- compreender as linguagens como veículos de comunicação e expressão, respeitando as diferentes manifestações étnico- culturais e a variação linguística; IV- interpretar diferentes representações simbólicas, gráficas e numéricas de um mesmo conceito; V- formular e articular argumentos consistentes em situações sociocomunicativas, expressando-se com clareza, coerência e precisão; VI- organizar, interpretar e sintetizar informações para tomada de decisões; VII- planejar e elaborar projetos de ação e intervenção a partir da análise de necessidades, de forma coerente, em diferentes contextos; VIII- buscar soluções viáveis e inovadoras na resolução de situações problema; IX- trabalhar em equipe, promovendo a troca de informações e a participação coletiva, com autocontrole e flexibilidade; X- promover, em situações de conflito, diálogo e regras coletivas de convivência, integrando saberes e conhecimentos, compartilhando metas e objetivos coletivos (BRASIL, 2017). Para tanto, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios norteadores da democracia, ética e cidadania, além de realizar uma reflexão e uma discussão sobre as questões ético-morais, na relação indivíduo e sociedade. 2 A DEMOCRACIA EM PAUTA Estamos vivendo em um país apresentado como democrático! Será que todos nós compreendemos o sentido real da democracia e seus reflexos na sociedade brasileira? Em outros termos, o que realmente é este Estado Democrático de Direito em que vivemos? Neste sentido, Moisés (2010, p. 277) expõe que “o significado mais usual da democracia se refere aos procedimentos e aos mecanismos competitivos de escolha de governos através de eleições”, ou seja, a democracia é compreendida habitualmente somente como um processo de escolha dos nossos representantes legaisem todas as esferas, tanto local, municipal, estadual quanto federal, no qual a população dessas esferas, por meio de seu voto, seleciona e elege o seu representante para legislar em nome dessa mesma população. Assim, “podemos considerar que a democracia nada mais é do que um sistema de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 133, grifos do original). TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 5 Deste modo, pode-se observar que a democracia pode ser exercida de duas formas distintas, pois ela pode ser direta ou indireta (Quadro 1). O conceito de democracia é notoriamente o entendimento de toda massa populacional brasileira nos dias de hoje, pois quando se indaga às pessoas com relação ao conceito de democracia, é este conceito de escolha de nossos representantes legais, por intermédio do voto popular, que aparece nos discursos da população de nosso país. QUADRO 1 – FORMAS DE DEMOCRACIA FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 133) Democracia direta Na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/ plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e administrativas de sua localidade, Estado ou país. Democracia indireta Nesta, o povo participa democraticamente, por meio do voto, elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa que o represente nas diversas esferas governamentais, para tomar decisões cabíveis em nome do povo que o elegeu. Cunha (2011, p. 105) expõe que a democracia pode ser compreendida como “método de organização social e política tendente à maior realização da liberdade e da igualdade. [é um] Sistema político em que o povo constitui e controla o governo, no interesse de todos”. Outro fator que não podemos esquecer é que, quando falamos em democracia, também falamos de Estado Democrático de Direito. Segundo Cunha (2011, p. 138), o “Estado de direito [é aquele] que se organiza e opera democraticamente”. Nossa Carta Magna de 1988, já em seu preâmbulo, instituiu um Estado Democrático de Direito, ou seja, a Constituição da República Federativa do Brasil se organizou e definiu suas normativas em prol de um Estado Democrático, no qual a democracia deverá ser a base fundamental da República Federativa do Brasil. Assim, segundo Pieritz (2013, p. 133), “este sistema de governo democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois em cada uma existem regras e normas diferentes, e isto acontece por causa da constituição dos princípios ético-morais de cada localidade”. Vale salientar que a democracia vai muito além desse discurso sintético de representação e de voto, pois Moisés (2010, p. 277, grifos nossos) coloca-nos que: existem outras perspectivas que ampliam a compreensão do conceito, incluindo tanto as dimensões que se referem aos conteúdos da democracia, como também os seus resultados práticos esperados no terreno da economia e da sociedade. Por uma parte, acompanhando a abordagem minimalista de Schumpeter (1950) e a procedimentalista de Dahl (1971), vários autores definiram a democracia em termos de competição, participação e contestação pacífica do poder. UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 6 Neste sentido, no que tange à conotação que a democracia tem de competição, participação e contestação pacífica do poder, pode-se expor que falar de democracia também está atrelado ao conceito do “jogo de poderes”, principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas governamentais ou não, além da competição entre partidos políticos e outros grupos econômicos, políticos, culturais e sociais. Além disso, não podemos esquecer um elemento fundamental da democracia, que é a questão da “participação do povo”, em que cada cidadão brasileiro é elemento fundamental no processo democrático do Brasil, pois direta ou indiretamente é parte do processo democrático instaurado neste país. Ao proferir sua escolha, independentemente do que for ou de que escolha fora feita, torna-se automaticamente parte do Estado Democrático de Direito e integra-se ao sistema vigente de democracia daquele determinado Estado. Resumidamente, a Figura 1 apresenta o primeiro entendimento da definição e o significado da democracia e o Estado Democrático de Direito. FIGURA 1 – DEMOCRACIA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO FONTE: Os autores TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 7 Maciel (2012, p. 73, grifos do original) complementa expondo que a democracia “tornou-se uma aspiração universal, por ser o regime de governo mais propenso a garantir os direitos individuais, porém não se resume simplesmente ao ato de votar, sendo que o direito à participação se tornou uma atividade importante diante da constituição da cidadania”. Por conseguinte, pode-se expor que democracia denota participação direta ou indireta da população em todos os espaços que necessitem do veredito do povo em prol de objetivos comuns a ele mesmo. Assim, Beethan (2003, p. 110 apud MACIEL, 2012, p. 73, grifos nossos) complementa expondo que: O direito à participação pode ser tanto reativo quanto proativo. Em sua forma reativa, a participação consiste na articulação coletiva de respostas a políticas de desenvolvimento. Na forma proativa, ela invoca a responsabilidade popular no desencadeamento da articulação de políticas de desenvolvimento. No primeiro caso, os governos propõem e os cidadãos reagem; no segundo, os cidadãos propõem e os governos reagem. Em ambas as formas, o direito de participação assume a lógica de colaborar com o desenvolvimento. “No coração da democracia repousa, assim, o direito do cidadão de opinar nos assuntos públicos e de exercer controle sobre o governo, em pé de igualdade com os demais”. Deste modo, pode-se expor que um dos elementos da democracia é a articulação coletiva do povo em prol de uma determinada demanda social, política, cultural ou econômica. Para que se possa debater coletivamente os prós e contras, no que tange aos assuntos pertinentes ao interesse coletivo, dando assim respostas a esta mesma demanda. Vale salientar, acadêmico, que a não participação e a omissão também são formas de participação, pois retratam a sua alienação, indiferença, contestação ou o seu descontentamento em relação ao sistema vigente. Então, isto não quer dizer que aquele cidadão que se omitiu ou apenas não quis participar não fez parte do processo democrático de um país, pelo contrário, todo cidadão tem o direito de participar ou não, mesmo que o voto no Brasil seja obrigatório, pois ao votar ele exprime a sua vontade, ou o seu desejo. Aqui fica claro que a população, ao exercer seu direito de participação de forma proativa, demonstra seus direitos e responsabilidades perante os efeitos da decisão coletiva. Entretanto, também existem quatro condições necessárias para que se possa instaurar um regime governamental pautado na democracia. UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 8 QUADRO 2 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O REGIME DEMOCRÁTICO FONTE: Adaptado de Moisés (2010, p. 277) FONTE: <https://bit.ly/3DdjYyW>. Acesso em: 23 ago. 2021. Direito dos cidadãos de ESCOLHEREM GOVERNOS por meio de eleições com a participação de todos os membros adultos da comunidade política. A isso se dá o nome de sufrágio universal (direito ao voto). ELEIÇÕES regulares, livres, competitivas, abertas e significativas. GARANTIA DE DIREITOS de expressão, reunião e organização, em especial, de partidos políticos para competir pelo poder. Acesso a fontes alternativas de INFORMAÇÃO sobre a ação de governos e a política em geral. Essas quatro condições mínimas para implantar um regime democrático são de fundamental importância para que haja a participação democráticade um povo em prol dos objetivos comuns do próprio povo, uma vez que a democracia vai muito além da simples representação e de voto, ela se efetiva e concretiza-se com a participação, com a competição e a contestação dos processos pacíficos da busca do poder no Estado Democrático de Direito. Sucintamente, a Figura 2 apresenta a ampliação da compreensão do entendimento do significado da democracia, ou seja, o seu conceito ampliado: FIGURA 2 – CONCEITO AMPLIADO DE DEMOCRACIA FONTE: Os autores TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 9 Caro acadêmico, para colaborar com seus estudos, veja que a junção das Figuras 1 e 2 proporciona o entendimento global do que é democracia. ATENCAO 3 A QUESTÃO DA ÉTICA O tema que abordaremos neste momento é relativo à questão da ética, a qual permeia constantemente nosso dia a dia, seja no âmbito familiar, social ou profissional. Acadêmico, aparentemente, compreendemos o seu significado e seus efeitos, mas será que realmente compreendemos o seu sentido real? Será que sabemos o que é certo ou errado para nós na sociedade em que vivemos? Neste sentido, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89) expõem que “a ética é uma das áreas da filosofia que investiga sobre o agir humano na convivência com os outros [...]”. Em outros termos, as nossas ações perante a sociedade em que vivemos são orientadas por princípios éticos e morais, e esses princípios são norteadores de consciência moral do certo e do errado, do bem e do mal. De modo mais abrangente, a ética pode ser conceituada como a área da filosofia que investiga o agir humano, tanto aqueles com repercussão social, quanto aqueles sem maiores impactos na sociedade, ou seja, não somente os atos relativos à convivência com os outros, mas também consigo mesmo. Assim, no que tange a esta problemática relativa à ética, Pieritz (2013, p. 3) expõe que “a ética não é facilmente explicável, mas todos nós sabemos o que é, pois está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com os outros integrantes da sociedade”. E que esses valores éticos são construídos historicamente pelos povos, de geração em geração. O que são valores? Pedro (2014, p. 490) faz um resgate etimológico da palavra Axiologia, de origem grega, que significa estudo dos valores ou ciência do valor, e aponta para um significado, o da vivência do valor, independentemente do valor que for, pois este é experienciado como um fenômeno que se apresenta à consciência como tal e como um acontecimento que nos é imediatamente dado. Para a filósofa húngara Agnes Heller (1972, p. 4), “valor é tudo aquilo que faz parte do ser genérico do homem e contribui, direta ou mediatamente para a explicação desse ser genérico”. Vejamos no Quadro 3 quais são os atributos dos valores humanos na perspectiva de Heller: UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 10 QUADRO 3 – ATRIBUTOS DOS VALORES HUMANOS FONTE: Adaptado de Paulo Netto (2010, p. 23) OBJETIVAÇÃO • que se expressa prioritariamente por intermédio do trabalho;• que proporciona sair do subjetivo e passar para o real e concreto. SOCIALIDADE • que se expressa com a convivência com o outro, em grupo; • aprendizagem com o outro; • assimilação de normas sociais. CONSCIÊNCIA • tomar ciência dos fatos ou de alguma coisa; • reconhecimento da realidade; • descoberta de algo; • capacidade de perceber as coisas. UNIVERSALIDADE • universal; • o todo; • fazer parte de um determinado grupo. LIBERDADE • livre-arbítrio. Portanto, os atributos dos valores humanos apresentados no Quadro 3 são os elementos constitutivos do ser humano, do ser social, que formam os nossos valores morais. Complementando, no Quadro 4 apresentamos mais exemplos dos valores e virtudes do ser humano, que vive e convive em sociedade. QUADRO 4 – EXEMPLOS DOS VALORES E VIRTUDES HUMANOS FONTE: Os autores Amizade Justiça Compreensão Respeito Simplicidade Lealdade Compreensão Sinceridade Pudor Generosidade Paciência Ordem Humildade Autoestima Liberdade Deste modo acadêmico, podemos expor que “todos nós possuímos princípios e valores que foram e são constituídos por nossa sociedade. E, com relação a esses valores, cada um de nós possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal” (PIERITZ, 2012, p. 57). Não podemos nos esquecer de que “esta consciência moral é determinada por um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o regem. Como exemplo, temos a nossa Constituição Federal e outras regras e normas de nossa sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 4). São estas regras e normativas jurídicas e sociais que determinam o nosso agir em sociedade, e cada grupo social possui suas características, ou seja, não se pode dizer que todos nós somos iguais, que todas as nações e Estados são TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 11 iguais, porque não somos, pois, independentemente do Estado, do país ou grupo social, fomos moldando nossos valores e princípios de forma diferente ao longo de nossa existência. Agora, acadêmico, raciocine o seguinte: se é um fato que nossa consciência moral é construída no seio de uma sociedade e com a influência do meio e das pessoas com as quais convivemos, há ainda outros fatores que concorrem para a constituição da consciência moral, e esse elemento é chamado de Lei natural – pelos jusnaturalistas – e tem caráter universal, pois perpassa as sociedades políticas, é algo mais profundo que elas, constitui-se na própria natureza humana em sua universalidade (ROHLING, 2012). Segundo Valls (2003, p. 8): costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos: num, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência, bem, valor, lei e outros); e no segundo, os problemas específicos, de aplicação concreta, como os problemas da ética profissional, de ética política, de ética sexual, de ética matrimonial, de bioética etc. Em outros termos, os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em sociedade. Neste sentido, vale salientar que “cada sociedade possui suas normas de conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada grupo social constitui o que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o seu povo, portanto, nem sempre o que é certo para nós pode ser certo para um outro grupo social e vice-versa” (PIERITZ, 2013, p. 4). Então, como desvelar esta situação? Como saber se estamos no caminho certo? Se estamos fazendo certo ou errado? Ou se realmente estamos fazendo o bem ou o mal a alguém? São muitas indagações! Para auxiliar a reflexão sobre essas questões, Finnis (filósofo e jurista australiano) identifica sete valores básicos, os quais são os seguintes: I) vida; II) o conhecimento; III) o jogo; IV) a experiência estética; V) a sociabilidade; VI) a razoabilidade prática; e, VII) a religião. Esses valores, contudo, não são os únicos, pois existem, evidentemente, muitos outros, os quais, segundo propõe o autor, são modos ou combinações de modos de buscar – embora nem sempre com sensatez – e de realizar – nem sempre exitosamente – uma das sete formas básicas de bem, ou alguma combinação delas (ROHLING, 2012, p. 163). Neste sentido, podemos observar ainda que: os problemas éticos se distinguem da moral pela sua característica genérica, enquanto que a moral se caracteriza pelos problemas da vida cotidiana. O que há de comum entre elas é fazer o homem pensar sobre a responsabilidade das consequências de suas ações. A ética faz pensar sobre as consequências universais, sempre priorizando a vida presente e futura, local e global. A moral faz pensar as consequências grupais, adverte para normas culturalmente formuladas ou pode estar fundamentada num princípio ético. A ética pode, desta forma, pautar o comportamento moral (TOMELIN;TOMELIN, 2002, p. 90). UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 12 Podemos expor que, deste ponto de vista, existem diferenças nítidas entre ética e moral, sendo que a ética é generalista e a moral reflete o comportamento socialmente construído e legitimado pelo seu povo. Enfim, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89, grifos do original) complementam expondo que “a palavra ética provém do grego ethos e significa hábitos, costumes, e se refere à morada de um povo ou sociedade. A palavra moral provém do latim moralis e significa costume, conduta. Logo, conforme Pieritz (2012, p. 58, grifos nosso): A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado, o que é bom ou mal. Porém, este comportamento sempre partirá do ponto de vista dos princípios morais de cada sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia no esclarecimento e na explicação da realidade cotidiana de cada povo, procurando sempre elaborar seus conceitos conforme o comportamento correspondente de cada grupo social. Por conseguinte, “o ético transforma-se assim numa espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade” (VÁZQUEZ, 2005, p. 20), ou seja, a ética está para regular o nosso comportamento em sociedade. Complementando, Vázquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens [...]”, ou seja, “o valor de ética está naquilo que ela explica – o fato real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral” (PIERITZ, 2013, p. 7, grifo nosso). Devemos compreender as diferenças conceituais de ética e moral, pois “podemos afirmar que a ética estuda e investiga o comportamento moral dos seres humanos. E esta moral é constituída pelos diferentes modos de viver e agir dos homens em sociedade, que é formada por suas diretrizes morais da vida cotidiana, transformando-se no decorrer dos tempos” (PIERITZ, 2013, p. 19). Todavia, o que é a moral? Segundo Aranha e Martins (2003, p. 301, grifos do original), “a MORAL vem do latim mos, moris, que significa ‘costume’, ‘maneira de se comportar regulada pelo uso’, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é ‘relativo aos costumes’”. Assim, a moral é compreendida como um conjunto de regras de condutas socialmente admitidas em determinadas épocas ou por um grupo de pessoas, ou seja, “a moralidade dos homens é um reflexo direto do modo de ser e conviver em sociedade, no qual o caráter, os sentimentos e os costumes determinam o seu comportamento individual e social, que foi ou está sendo perpetuado num espaço de tempo” (PIERITZ, 2013, p. 35). TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 13 Ainda de acordo com Pieritz (2013, p. 38): A moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações e de nossos comportamentos em sociedade, mas é a moral que determina quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade em que vivemos. Estes deveres são conectados ao nosso modo de ser e conviver em sociedade, gerando certas responsabilidades com relação a si próprio e aos outros, tais como: • sentimentos; • escolhas; • desejos; • atitudes; • posicionamentos diante da realidade; • juízo de valor; • senso moral; • consciência moral. Sob estas concepções de ética e moral, apresentamos as suas principais diferenças na Figura 3: FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90) Nasce da necessidade de ajudar cada membro aos interesses coletivos do grupo. É a CIÊNCIA que estuda a moral. É o MODO DE VIVER e agir de cada povo, em cada cultura. É a REFLEXÃO SISTEMÁTICA sobre o comportamento moral. É O CONJUNTO DE NORMAS, prescrição e valores reguladores da ação cotidiana. É a parte da filosofia que trata da REFLEXÃO DOS PRINCÍPIOS universais da humanidade. VARIA no tempo e no espaço. São os VALORES HUMANOS universais e fundamentais. São valores concernentes ao BEM e ao MAL, permitindo ou proibindo. É a TEORIA do comportamento moral. Conjunto de normas e regras reguladoras da relação entre os homens de uma determinada comunidade. É a COMPREENSÃO SUBJETIVA do ato moral. UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 14 Assim, podemos observar que existem diferenças concretas entre estes dois conceitos, no entanto, ainda devemos compreender que: FIGURA 4 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL FONTE: Paulo Netto (2010, p. 23) Assim, concluímos que a moral: Vem se constituindo historicamente, mudando no decorrer da própria evolução do homem em sociedade. Em que seus hábitos e costumes são constituídos por esta relação social, em que a essência humana é pautada por estes princípios morais. E estes, por sua vez, constituem o ser social que somos. E a ética nesta questão chega para simplesmente regular e analisar estes preceitos morais (PIERITZ, 2013, p. 21). Por conseguinte, segundo Pieritz (2013, p. 21, grifo nosso), “a ética é precursora da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos sistemas ou estruturas sociais. Sistemas estes que imprimiam suas mudanças sociais, tais como: Capitalismo e Socialismo”. Por fim, Pieritz (2013, p. 21) expõe que “quando é constituída uma nova estrutura social, a ética, os valores e princípios morais são modificados para constituir assim esta nova concepção de sociedade”. Ou seja, historicamente, com as transformações sociais, políticas e econômicas de um povo, automaticamente o sistema de valores morais e éticos se transforma, para que assim seja possível constituir um novo padrão sócio-histórico daquele determinado grupo. E a ANÁLISE dos FUNDAMENTOS DA MORAL. É um sistema MUTÁVEL. HISTORICAMENTE determinado pela própria sociedade. MORAL ÉTICA De COSTUMES e IMPERATIVOS que propiciam a vinculação de cada indivíduo em sociedade. Com a ESSÊNCIA HUMANA historicamente constituída. Com o SER SOCIAL tomado na sua UNIVERSALIDADE. Tomando na sua SINGULARIDADE. TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 15 Salientando ainda que nesse processo de transformação social devemos respeitar a permanência de alguns valores socialmente construídos, como a solidariedade, a igualdade e a fraternidade, para que todos possamos construir uma sociedade mais justa, ética, democrática e cidadã. 4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA No que tange às questões pertinentes à cidadania, partiremos de sua concepção advinda do Título I – “Dos Princípios Fundamentais” da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a qual assim expressa: Art. 1° A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I- a soberania; II- a cidadania; III- a dignidade da pessoa humana; IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V- o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL, [2016], p. 11). Neste sentido, podemos observar que um dos princípios fundamentais da Carta Magna brasileira é a cidadania, mas você sabe o seu significado? Vejamos: cidadania “é um conjunto de direitos e deveres que denotam e fundamentam as condições do comportamento de cada indivíduo em relação à sociedade, ou seja, a cidadania designa normas de conduta para o convívio social, determinando nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 132). Neste sentido: Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade, para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca esquecer das pessoas que mais necessitam.A cidadania deve ser divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação, para o bem-estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como todas as outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer obrigado, desculpe, por favor e bom dia quando necessário [...], até saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que enfrentamos em nosso país. ‘A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais imperioso dos deveres impostos aos cidadãos’. Juarez Távora - Militar e político brasileiro (WEB CIÊNCIA, 2009 apud PIERITZ, 2013, p. 132). Portanto, podemos observar que a cidadania possui três dimensões. UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 16 QUADRO 5 – DIMENSÕES DA CIDADANIA FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 132-133) DIMENSÕES DA CIDADANIA Cidadania civil São aqueles direitos advindos da LIBERDADE de cada indivíduo, por exemplo: • o livre-arbítrio para expressar nossos pensamentos; • o direito de propriedade (venda e compra de um imóvel, um bem ou serviço); entre outros. Cidadania política Podemos considerar que a cidadania política se legitima quando os homens exercem seu poder político de ELEGER e SER ELEITOS para o exercício do poder político, independentemente da instituição pública ou privada na qual venham exercer suas atribuições. Cidadania social Compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao CONFORTO de cada cidadão, no que tange à sua vida econômica e social, ou seja, do seu bem-estar social. A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado. Além de que a cidadania é participação nos espaços públicos de discussão, a qual permeia as questões de democracia e ética de toda a população daquele determinado grupo social, político ou econômico. Nesse sentido, tem-se a participação como um mecanismo do exercício da cidadania, ou seja, “O conceito contemporâneo de cidadania transcende a simples lógica da garantia de direitos legais. Segundo a concepção de Dallari (2004 apud MACIEL, 2012, p. 31), a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar da vida e do governo de seu povo”. Portanto, a palavra de ordem é “participar”, fazer parte do processo democrático, pois, de acordo com Maciel (2012, p. 32), quem não exerce sua cidadania “está excluído da vida social e da tomada de decisões. A cidadania não significa apenas uma conquista legal de alguns direitos, mas sim a realização destes direitos. Ela é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de organização, participação e intervenção social”. Vale salientar que a cidadania é conquistada pela nossa participação nos momentos das discussões e decisões coletivas, portanto a cidadania se dá pela participação ativa de nossa vida em sociedade e na vida pública. 17 Neste tópico, você aprendeu que: • A compreensão do significado mais usual da democracia denota que a democracia é compreendida como um sistema de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade. • A democracia pode ser exercida de duas formas distintas, pois ela pode ser direta ou indireta. • A democracia é compreendida popularmente como a escolha de nossos representantes legais, por intermédio do voto popular. • O Estado Democrático de direito é aquele que se organiza e opera democraticamente. • A Constituição da República Federativa do Brasil se organizou e definiu suas normativas em prol de um Estado Democrático, no qual a democracia deverá ser a base fundamental da República Federativa do Brasil. • A democracia também está atrelada ao conceito do “jogo de poderes”, principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas governamentais ou não. • É importante relembrar que o elemento fundamental da democracia é a “participação do povo”. • A ética é uma das áreas da filosofia que investiga o agir humano na convivência com os outros. • A ética está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com os outros integrantes da sociedade. • Todos nós possuímos princípios e valores que foram e são constituídos por nossa sociedade. E, com relação a estes valores, cada um de nós possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal. • A consciência moral é determinada por um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o regem. • Os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em sociedade. RESUMO DO TÓPICO 1 18 • Existem diferenças nítidas entre ética e moral, sendo que a ética regula a moral, a ética é generalista e a moral reflete o comportamento socialmente construído e legitimado pelo seu povo. • A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado, o que é bom ou mal. • O valor da ética está naquilo que ela explica, o fato real daquilo que foi ou é, e não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral. • Um dos princípios fundamentais da Carta Magna brasileira é a cidadania. • A cidadania designa normas de conduta para o convívio social, determinando nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa sociedade. • A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado. • Cada cidadão tem o dever e o direito de participar de todos os espaços democráticos do seu município, Estado ou Federação. A participação é compreendida como um mecanismo do exercício da cidadania. 19 AUTOATIVIDADE 1 (ENADE, 2010) As seguintes acepções dos termos democracia e ética foram extraídas do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. democracia. POL. 1 governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania 2 sistema político cujas ações atendem aos interesses populares 3 governo no qual o povo toma as decisões importantes a respeito das políticas públicas, não de forma ocasional ou circunstancial, mas segundo princípios permanentes de legalidade 4 sistema político comprometido com a igualdade ou com a distribuição equitativa de poder entre todos os cidadãos 5 governo que acata a vontade da maioria da população, embora respeitando os direitos e a livre expressão das minorias. ética. 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. 2 p.ext. conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Considerando as acepções anteriores, elabore um texto dissertativo, com até 15 linhas, acerca do seguinte tema: Comportamento ético nas sociedades democráticas. Em seu texto, aborde os seguintes aspectos: FONTE: <https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/padrao_resposta/2010/ padrao_respostas_discursivas_FORMACAO_GERAL_2010.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021. a) conceito de sociedade democrática; b) evidências de um comportamento nãoético de um indivíduo; c) exemplo de um comportamento ético de um futuro profissional comprometido com a cidadania. 2 (ENADE, 2010) 20 A charge anterior representa um grupo de cidadãos pensando e agindo de modo diferenciado, frente a uma decisão cujo caminho exige um percurso ético. Considerando a imagem e as ideias que ela transmite, avalie as alternativas que seguem. I- A ética não se impõe imperativamente nem universalmente a cada cidadão; cada um terá que escolher por si mesmo os seus valores e ideias, isto é, praticar a autoética. II- A ética política supõe sujeito responsável por suas ações e pelo seu modo de agir na sociedade. III- A ética pode se reduzir ao político, do mesmo modo que o político pode se reduzir à ética, em um processo a serviço do sujeito responsável. IV- A ética prescinde de condições históricas e sociais, pois é no homem que se situa a decisão ética, quando ele escolhe os seus valores e as suas afinidades. V- A ética se dá de fora para dentro, como compreensão do mundo, na perspectiva do fortalecimento dos valores pessoais. Estão CORRETAS: FONTE: <https://respostas-br.com/sociologia/enade-2010-a-charge-acima- represent-24131334>. Acesso em: 23 ago. 2021. a) ( ) I e II. b) ( ) I e V. c) ( ) II e IV. d) ( ) III e IV. e) ( ) III e V. 3 (ENADE, 2006) A formação da consciência ética, baseada na promoção dos valores éticos, envolve a identificação de alguns conceitos como: “consciência moral”, “senso moral”, “juízo de fato” e “juízo de valor”. A esse respeito, leia os quadros a seguir. Quadro I - Situação Helena está na fila de um banco, quando, de repente, um indivíduo, atrás na fila, se sente mal. Devido à experiência com seu marido cardíaco, tem a impressão de que o homem está tendo um infarto. Em sua bolsa há uma cartela com medicamento que poderia evitar o perigo de acontecer o pior. Helena pensa: "Não sou médica - devo ou não devo medicar o doente? Caso não seja problema cardíaco - o que acho difícil -, ele poderia piorar? Piorando, alguém poderá dizer que foi por minha causa - uma curiosa que tem a pretensão de agir como médica. Dou ou não dou o remédio? O que fazer?" Quadro II - Afirmativas 1- O “senso moral" relaciona-se à maneira como avaliamos nossa situação e a de nossos semelhantes, nosso comportamento, a conduta e a ação de outras pessoas segundo idéias como as de justiça e injustiça, certo e errado. 2- A "consciência moral" refere-se a avaliações de conduta que nos levam a tomar decisões por nós mesmos, a agir em conformidade com elas e a responder por elas perante os outros. 21 Qual afirmativa e respectiva razão fazem uma associação mais adequada com a situação apresentada? FONTE: <https://enem.estuda.com/questoes/?id=111412>. Acesso em: 23 ago. 2021. a) ( ) Afirmativa 1 – porque o “senso moral” se manifesta como consequência da “consciência moral”, que revela sentimentos associados às situações da vida. b) ( ) Afirmativa 1 – porque o “senso moral” pressupõe um “juízo de fato”, que é um ato normativo enunciador de normas segundo critérios de correto e incorreto. c) ( ) Afirmativa 1 – porque o “senso moral” revela a indignação diante de fatos que julgamos ter feito errado provocando sofrimento alheio. d) ( ) Afirmativa 2 – porque a “consciência moral” se manifesta na capacidade de deliberar diante de alternativas possíveis que são avaliadas segundo valores éticos. e) ( ) Afirmativa 2 – porque a “consciência moral” indica um “juízo de valor” que define o que as coisas são, como são e por que são. 4 Cidadania é a prática dos direitos e deveres de um indivíduo em um Estado, e ela possui três dimensões, disserte sobre a diferença entre elas. 5 Segundo Pieritz (2013) “[...]a moral determina quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade [...]”. Descreva quais são as responsabilidades que esses deveres geram em relação a si mesmo e aos outros. FONTE: PIERITZ, V. L. H. Ética profissional em serviço social. Indaial: UNIASSELVI, 2013. 22 23 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/ INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, vamos trabalhar o conceito de multiculturalismo, enfatizando as origens do surgimento do movimento e os campos de conhecimento que acolhem os estudos multiculturais. Nesse sentido, temos como objetivo situar o multiculturalismo do ponto de vista político (movimentos sociais multiculturais e políticas públicas) e teórico (ciências multiculturalistas), visando oferecer conteúdo de base para a interpretação desse campo de estudos. No desenvolvimento deste tópico, também será abordado os temas tolerância/intolerância e relações de gênero, discutindo de modo reflexivo os conceitos de feminismo e ideologia de gênero. O objetivo é apresentar diferentes pontos de vista para os referidos conceitos, e conduzir o acadêmico a uma reflexão crítica da realidade, de modo que possa – com embasamento crítico e sempre que possível científico – compreender melhor esses temas. 2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO Como a própria etimologia da palavra nos sugere, o termo “multi” significa vários; o termo “culturalismo” refere-se à cultura; e o sufixo “ismo” está associado às posições assumidas ou ideias aceitas sobre a possibilidade do conhecimento, ou seja, no caso do multiculturalismo significa uma posição assumida sobre as diferentes relações entre as várias culturas. O ‘multiculturalismo’ é um termo polissêmico e existem, pelo menos, dois sentidos diferentes em que este pode ser utilizado. Um primeiro sentido é descritivo e reporta a um fato da vida humana e social, que é a diversidade cultural étnica, religiosa que se pode observar no tecido social, ou seja, um certo cosmopolitismo que atualmente é fácil de ver em qualquer grande cidade da Europa e da América do Norte. Um segundo sentido é prescritivo e está associado às chamadas políticas de reconhecimento da identidade e/ou da diferença que os poderes públicos prosseguem, ou deveriam prosseguir, segundo os seus defensores, em nome dos grupos minoritários e/ou ‘subalternos’ (FERNANDES, 2011, p. 2, grifos do original). 24 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL Acadêmico, dizendo de outra forma, multiculturalismo significa a existência de grupos de diversas culturas, assim como o embate político, econômico e social travado pelos diferentes grupos sociais na luta pelo respeito à diversidade. Por isso, além de estudos teóricos e empíricos, o termo implica na conquista de reivindicações das chamadas minorias ou grupos marginalizados, como os negros, índios, mulheres, homossexuais e outros tantos que buscam assegurar seus direitos sociais através de políticas públicas de ação afirmativa. FIGURA 5 – MULTICULTURALISMO, DIVERSIDADE E DESAFIO DO HOMEM PARA O SÉCULO XXI FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-JGK5TSr7cvo/TY5Jrp-kBYI/AAAAAAAAAE8/59-aSOEc0lI/ s748/000489140.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017. O multiculturalismo é pluralista, porque as diferenças coexistem em um mesmo país ou região. Ali convivem diferentes culturas, valores e tradições. Há o diálogo e convivência pacífica entre as culturas diversas. No entanto, esta coexistência pacífica não significa negar as diferenças entre as culturas, nem as homogeneizar, mas compreendê-las a partir de uma visão dialética sobre os termos igualdade e diferença, na medida em que não se pode falar em igualdade sem levar em conta as diferenças culturais, e não se pode relacionar a diferença como medida de valor. De acordo com o que vimos podemos entender que igualdade e diferença não são termos opostos. Na verdade, a igualdade opõe-se à desigualdade, enquanto diferença opõe-se à padronização, à homogeneização, à produção em série. O que o multiculturalismo quer é lutar pelaigualdade e pelo reconhecimento das diferenças. Por esse motivo, um dos temas centrais do multiculturalismo tem sido o Direito à Diferença e à Diminuição das Desigualdades, bandeira de luta de vários movimentos sociais contemporâneos espalhados pelo mundo inteiro. TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 25 3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO O termo multiculturalismo é relativamente recente e sua utilização ocorreu pela primeira vez na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970. De acordo com Fernandes (2006), o multiculturalismo surgiu na linguagem oficial do Canadá e na Austrália, para designar as políticas públicas com o objetivo de valorizar e/ou promover a diversidade cultural. Ainda nesse período, o autor destaca que outros países anglo-saxônicos, como o Reino Unido, a Nova Zelândia e os EUA, também iniciam políticas públicas qualificadas como multiculturais. Países anglo-saxônicos são países cujos descendentes são provenientes de povos germânicos (anglos, saxões e jutos). Esta denominação é resultado da fusão desses povos que se fixaram ao sul e leste da Grã-Bretanha, no século V. NOTA Tomando como base o caso dos Estados Unidos, o multiculturalismo surge como movimento organizado na década de 1960, a partir dos primeiros movimentos sociais, como: o negro, feminista, hippie, ambientalista, entre outros. No entanto, para entender o motivo pelo qual esses movimentos surgiram, devemos resgatar o aspecto da constituição histórica dos Estados Unidos, marcada por um longo processo de colonização, que teve como base a eliminação e a opressão das diversas tribos indígenas que ali estavam. Além disso, prezado acadêmico, devemos levar em conta o processo de escravidão que ocorreu no país, no qual os negros serviram como base para o desenvolvimento da nação. Essas posturas dos colonizadores norte-americanos foram influenciadas pelos valores religiosos de igrejas protestantes, comuns à maioria dos colonos de origem anglo-saxã. Esta influência permeou o pensamento e as atitudes dos colonizadores norte-americanos em relação aos demais grupos, desencadeando, mais tarde, uma série de movimentos pela busca de justiça social. O que queremos destacar neste momento é que, a exemplo do caso dos EUA, o movimento multiculturalista surgiu em grande escala nas sociedades nas quais o direito à diversidade cultural foi historicamente negado. Segundo Silva (2000), o multiculturalismo teve início em países em que a diversidade cultural era vista como um problema para a construção da unidade nacional. Muitas nações construíram suas identidades por intermédio de processos autoritários, pela imposição de uma cultura, dita superior, a todos os membros da sociedade. 26 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O MULTICULTURALISMO Já entendemos que o multiculturalismo é, ao mesmo tempo, uma rede de movimentos sociais em prol da afirmação dos grupos minoritários, historicamente excluídos pela sociedade. Neste sentido, podemos compreender que o multiculturalismo é um campo de estudos que aborda a problemática dos grupos de forma multidisciplinar. Portanto, vamos tratar agora de alguns aspectos sobre o caráter científico do multiculturalismo, que são os estudos multiculturais. Prezados acadêmicos, vocês sabiam que os estudos multiculturais são provenientes de várias áreas do conhecimento? Pois bem, entre as áreas de conhecimento podemos destacar os campos da Antropologia Cultural, Psicologia Social, História e Sociologia, que abordam diferentes problemas relativos ao multiculturalismo. Algumas áreas se ocupam do ponto de vista histórico do movimento, outras se ocupam da genealogia, outras se ocupam dos processos políticos e sociais que os movimentos promovem, e ainda, outras áreas se ocupam de aspectos epistemológicos do estudo dos movimentos. Enfim, há uma variedade de estudos sobre o tema nas mais diferentes áreas disciplinares. • GENEALOGIA: estudo da origem das famílias. • EPISTEMOLOGIA: estudo do grau de certeza do conhecimento científico em seus diversos ramos. NOTA Portanto, o estudo do multiculturalismo requer uma compreensão interdisciplinar do contexto histórico, socioeconômico e cultural desses diferentes grupos sociais e da sua diversidade cultural construída conforme seu tempo e suas condições humanas e geográficas. Abordagem interdisciplinar: refere-se ao trabalho e estudo de profissionais de diversas áreas do conhecimento ou especialidades sobre um determinado tema ou área de atuação, implicando necessariamente em sua integração para uma compreensão mais ampla do assunto. NOTA TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 27 Daí a complexidade em se abordar a temática do multiculturalismo em todas as regiões do planeta, levando em consideração a diversidade e a história dos seus diversos povos em cada um dos cinco continentes e seus diferentes países. No entanto, o multiculturalismo já alcançou um elevado nível na discussão acadêmica. De acordo com Sidekum (2003, p. 9), “esse alcance é a marca principal das últimas décadas do século XX, consolidando-se, especialmente, pelos estudos comparados da cultura, desenvolvidos pela antropologia cultural e pela psicologia aplicada, também conhecida por psicologia social intercultural”. 5 MOVIMENTO FEMINISTA O surgimento dos estudos atuais sobre a condição feminina, o Estudo de Gênero só foi possível porque, ao longo do tempo, o movimento social de mulheres “fez muito barulho”, denunciando as situações de opressão, preconceito e dominação que sofreram. A amplitude do movimento feminista não pode e não deve ser reconhecida apenas como um dos movimentos de luta das mulheres, porque muitas mulheres com perfis e histórias diferentes participaram. Se hoje o gênero representa uma categoria de análise tão importante para as ciências humanas e sociais, é porque se fez legítimo pelas tantas batalhas dos movimentos feministas, tornando-se fundamental para a compreensão das relações humanas. 5.1 FEMINISMO O feminismo é um conceito múltiplo, ele possui uma dimensão política, que se refere aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, que se refere aos estudos da condição feminina. A dimensão acadêmica, ou seja, o campo de pesquisa e de conhecimento sobre as mulheres, pode ser considerada multidisciplinar, porque ocorre em diferentes campos disciplinares, como: Antropologia, História, Educação, Sociologia, Direito e vários outros. O principal objetivo do movimento feminista não foi alcançar a igualdade entre homens e mulheres, mas sim a equidade entre eles. Para assegurar a igualdade não deve ser necessário que as mulheres assumam posturas “masculinas”. Elas devem preservar suas identidades. Por isso a ideia de “equidade” e não igualdade. Com relação ao Movimento Feminista, ele surgiu no século XVIII, na Europa, especialmente na Inglaterra e França, mas logo repercutiu em outros países e se desenvolveu de diferentes formas e expressões até os dias atuais. Para dar uma ideia de totalidade ao movimento, ele foi dividido em três grandes momentos, que explicam as diferentes concepções e lutas do movimento. 28 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA Esse primeiro momento do feminismo, chamado “Primeira Onda Feminista”, refere-se a um período extenso de atividade feminista ocorrido durante o século XIX e início do século XX, no Reino Unido, na França e Estados Unidos, que tinha o foco originalmente na promoção da igualdade nos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres, e na oposição de casamentos arranjados e da propriedade de mulheres casadas (e seus filhos)por seus maridos. No entanto, no fim do século XIX, o ativismo passou a se focar, principalmente, na conquista de poder político, especialmente o direito ao sufrágio (voto) por parte das mulheres. FONTE: <https://www.justificando.com/2017/09/14/historia-da-primeira-onda-feminista/>. Acesso em: 19 set. 2017. Ainda assim, muitas feministas já faziam campanhas pelos direitos sexuais, reprodutivos e econômicos das mulheres. Na França do século XVIII, envolvidas pelo ideal de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” da Revolução Francesa, mulheres de todas as classes sociais juntaram-se ao movimento revolucionário. Elas acreditavam que, uma vez estabelecida a democracia, seus direitos ao voto, à vida pública, ao divórcio e à emancipação social (já que eram subordinadas ao pai ou marido) seriam assegurados. Muitas mulheres lutaram nos fronts de batalha na revolução, e algumas morreram guilhotinadas, por defenderem suas convicções depois que a Revolução se consolidou e lhes negou, de forma desleal, seus direitos. 5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA A Segunda Onda Feminista culminou com os movimentos sociais em andamento nos Estados Unidos, e o país foi, desta vez, a referência do movimento para o restante do mundo. A segunda onda se refere a um período da atividade feminista que teve início na década de 60 e durou até o fim da década de 80. As ativistas femininas fizeram campanhas pelos direitos legais das mulheres (direitos de contrato, direitos de propriedade, direitos ao voto), pelo direito da mulher à sua autonomia e à integridade de seu corpo, pelos direitos ao aborto e pelos direitos reprodutivos (incluindo o acesso à contracepção e a cuidados pré-natais de qualidade), pela proteção de mulheres e garotas contra a violência doméstica, o assédio sexual e o estupro, pelos direitos trabalhistas, incluindo a licença-maternidade e salários iguais, e todas as outras formas de discriminação. FONTE: <http://igualdadedegeneroeraca.blogspot.com/2011/09/movimentofeminista>. Acesso em: 20 out. 2011. TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 29 Uma das autoras mais importantes da segunda onda é Betty Friedan, com seu famoso livro A Mística Feminina (The Feminine Mystique, 1963). No livro, Friedan levanta a hipótese de que as mulheres seriam vítimas de um sistema falso de crenças, que exige que elas encontrem identidade e significado em suas vidas através de seus maridos e filhos; esse sistema faz com que a mulher perca completamente a sua identidade para a de sua família. FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/d9/dc/e1/d9dce14f905f7e67dca88a70d05d9003.jpg>. Acesso em: 23 ago. 2021. Friedan, especificamente, localiza esse sistema nas comunidades suburbanas de classe média pós-Segunda Guerra Mundial; ao mesmo tempo, o boom econômico pós-guerra nos Estados Unidos levou ao desenvolvimento de novas tecnologias que tornaram o trabalho das donas de casa menos difícil, mas que frequentemente tinham o resultado de tornar o trabalho das mulheres menos significante e menos valorizado. FONTE: FRIEDAN, B. A Mística feminina. Petrópolis: Vozes Limitada, 1963. 5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS ESTUDOS DE GÊNERO De acordo com Grossi (2010), o movimento feminista e o movimento gay merecem destaque como aqueles que de fato questionaram as relações “afetivosexuais” no espaço privado. A partir de então, esses questionamentos começaram a adentrar o espaço universitário e pesquisas passaram a ser desenvolvidas no interior de várias disciplinas. 30 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL No Brasil, a partir dos anos 1970/80 começam a se desenvolver estudos sobre a condição feminina, em que basicamente se discutia a opressão das mulheres em uma sociedade patriarcal. Já a partir dos anos 1980, surgem os estudos sobre as mulheres, pois: “[...] se percebe que não é possível falar de uma única condição feminina no Brasil, uma vez que existem inúmeras diferenças, não apenas de classe, mas também regionais, de classes etárias, de ethos, entre as mulheres brasileiras” (GROSSI, 2010, p. 3-4). Nesse período, várias teses são desenvolvidas, porém, segundo Grossi (2010, p. 4), a referência utilizada para o reconhecimento das mulheres enquanto grupo está ainda associada a uma “unidade biológica (vagina, útero, seios)”. 6 CONCEITUANDO GÊNERO O conceito de gênero surge no Brasil através de pesquisadoras norte- americanas, que vão tratar as relações entre homens e mulheres de forma a negar as diferenças biológicas como constituidoras das identidades dos seres humanos, e introduzir a perspectiva de que somos construídos a partir de determinados mecanismos sociais. Uma das pensadoras responsáveis por essa nova perspectiva é a autora Joan Scott. No artigo intitulado “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”, ela diz que: O gênero torna-se uma maneira de indicar ‘construções sociais’ – a criação inteiramente social de ideias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres. O gênero é, segundo esta definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1990, p. 7). Para a estudiosa Françoise Héritier (1996), o conceito de gênero é relacional, ou seja, se constrói na relação entre homens e mulheres, haja visto que ninguém vive só, pois todas as pessoas se relacionam desde que nascem, independente das regras sociais e culturais. Segundo Grossi (2010), papéis de gênero são as representações (tomadas como representações de uma personagem no teatro) de cada sexo, ou seja, papéis sexuais são as características atribuídas a cada sexo, de acordo com sua cultura. São modelos do que é próprio e concernente a cada sexo. Sabe-se, através de relatos de historiadores, que os papéis de gênero podem ser alterados dentro de uma mesma sociedade, dependendo das situações. TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 31 Com relação à identidade de gênero, ela se forma, segundo Grossi (2010), a partir da socialização de valores e comportamentos que são internalizados logo nas primeiras fases da infância. Esses valores e comportamentos que são repassados são diferentes para cada sexo e também variam de uma cultura para outra. Um dos estudos da autora clássica de Antropologia, Margaret Mead (1979), poderá ilustrar o que procuramos dizer até aqui. Essa autora procura nos fazer refletir como, nas diferentes sociedades, são construídos padrões de conduta, comportamento, culturas, atribuindo-se valores a algumas coisas e a outras não, como idade e sexo, ritmo de nascimento, maturação e velhice, a estrutura do parentesco consanguíneo. Em seu livro “Sexo e Temperamento”, essa antropóloga aborda três grupos diferentes em uma ilha da Nova Guiné: os montanheses Arapesh, os canibais Mundugumor e os caçadores de cabeças de Tchambuli. A autora faz o estudo com estes três grupos porque as diferenças de sexo fazem parte da organização sociocultural deles, ainda que estas diferenças sejam percebidas e dramatizadas de formas diferentes. A partir dessa observação, a autora constata: ainda que, de uma forma geral, as sociedades se organizem levando em conta as diferenças entre os sexos, não significa dizer que essa organização esteja baseada em sistemas de oposição ou dominação. Na visão do escritor argentino Jorge Scala, especialmente em seu livro intitulado “Ideologia de Gênero: o neototalitarismo e a morte da família” (2011), bem como em uma entrevista sobre o tema (2012), o termo gênero é associado a uma ideologia e não a uma teoria ou hipótese, pelo seguinte motivo: Uma teoria é uma hipóteseverificada experimentalmente. Uma ideologia é um corpo fechado de ideias, que parte de um pressuposto básico falso – que por isto deve impor-se evitando toda análise racional –, e então vão surgindo as consequências lógicas desse princípio falso. As ideologias se impõem utilizando o sistema educacional formal (escola e universidade) e não formal (meios de propaganda), como fizeram os nazistas e os marxistas (SCALA, 2012, s. p.). O autor argumenta ainda que o fundamento da ideologia de gênero é falso. Seu fundamento principal e falso é este: o sexo seria o aspecto biológico do ser humano, e o gênero seria a construção social ou cultural do sexo. Ou seja, que cada um seria absolutamente livre, sem condicionamento algum, nem sequer o biológico -, para determinar seu próprio gênero, dando-lhe o conteúdo que quiser e mudando de gênero quantas vezes 32 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL quiser. Agora, se isso fosse verdade, não haveria diferenças entre homem e mulher – exceto as biológicas -; qualquer tipo de união entre os sexos seria social e moralmente bom, e todas seriam matrimônio; cada tipo de matrimônio levaria a um novo tipo de família; o aborto seria um direito humano inalienável da mulher, já que somente ela é que fica grávida; etc. Tudo isso é tão absurdo, que só pode ser imposto com uma espécie de “lavagem cerebral” global (SCALA, 2012, s. p.). Vejamos o que nos apresenta o autor Dale O’Leary (1997, p. 2), em sua obra “A agenda de gênero”. Sem alarde ou debate, a palavra ‘sexo’ foi substituída pela palavra ‘gênero’. Nós costumávamos falar de ‘discriminação de sexo’, mas agora é ‘discriminação de gênero’. Com certeza parece bastante inocente. ‘Sexo’ possui um significado secundário, subentendendo relação sexual ou atividade sexual. ‘Gênero’ parece mais delicado e refinado. As militantes feministas aprenderam a partir de suas derrotas. Quando elas não puderam vender sua ideologia radical para as mulheres em geral, elas lhe deram uma nova roupagem. Agora elas são bastante cuidadosas em revelar seus verdadeiros objetivos. Elas pretendem alcançar seus fins não por uma confrontação direta, mas através de uma mudança no significado das palavras. No decorrer de seu texto, O’Leary (1997) faz menção à Conferência da ONU sobre População, realizada no Cairo, em 1994, e a Conferência sobre as Mulheres, realizada em Pequim, em 1995, em que foi incluída na plataforma de ação destas conferências a “perspectiva de gênero”. Sobre este tema, o autor faz os seguintes questionamentos: Qual é a relação entre a “perspectiva de gênero” e o fato de que os seus proponentes possuem uma extrema aversão a palavras como mãe, pai, marido e esposa? Por que os defensores da Agenda de Gênero referem-se ao casamento e à família em termos negativos? Por que um documento da ONU sobre as mulheres não tem quase nada de positivo a dizer sobre as mulheres que são mães de tempo integral? Por que a ONU não promove mais a “perspectiva da mulher”? (O’LEARY, 1997, p. 4). Caro acadêmico, agora é com você. Diante das discussões apresentadas até o momento, como você define gênero? O que você pensa sobre o assunto? Você considera que o objetivo da ideologia de gênero é promover a defesa da mulher? Promover a defesa do homem? Defender a vida humana e as crianças? Lutar pela equidade entre homens e mulheres? São muitas as indagações que precisam ser feitas para elucidar seu pensamento, e para que de modo crítico e racional você possa chegar às suas próprias conclusões. TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 33 Para complementar nossa conversa, leia atentamente a introdução do livro de Marilena Chauí sobre “O que é ideologia” e tire suas próprias conclusões sobre os fundamentos da “ideologia de gênero”. Frequentemente, ouvimos expressões do tipo “partido político ideológico”, é preciso ter uma “ideologia”, “falsidade ideológica”. Essas expressões tomam a palavra ideologia para com ela significar “conjunto sistemático e encadeado de ideias”. Ou seja, confundem ideologia com ideário. Nossa tarefa, aqui, será desfazer a suposição de que a ideologia é um ideário qualquer ou qualquer conjunto encadeado de ideias e, ao contrário, mostrar que a ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política. FONTE: CHAUÍ, M. O que é ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. Disponível em: <https://goo.gl/VMihTF>. Acesso em: 23 ago. 2021. DICAS 7 ESTUDOS DE GÊNERO Especialmente nas três últimas décadas, os estudos de gênero passaram a se preocupar com várias questões relativas ao universo das relações sociais. Observar a realidade a partir da análise de gênero possibilitou novas interpretações sobre o comportamento humano e a observação das desigualdades de gênero. Vejamos, a seguir, alguns estudos de gênero e suas principais contribuições. A construção social da desigualdade de Gênero (Educação Diferenciada): os estudos compreendem que há uma educação diferenciada para meninos e meninas desde o seu nascimento. Nessa educação, reproduzem-se idealizações e modelos de papéis destinados a homens e mulheres na sociedade. Por exemplo, os meninos brincam de bola e carrinho, enquanto as meninas brincam de boneca e casinha, deixando claro o espaço que cada um ocupará dentro da sociedade. Por este motivo é que se organizam papéis diferenciados para homens e mulheres. Papéis femininos ou Feminilidades: de acordo com os estudos, os modelos de feminino em nossa sociedade são criados a partir de símbolos antagônicos: Eva e Maria, bruxa e fada, mãe e madrasta. Sendo que essas definições propõem o que é bom para as mulheres e culpam-nas quando não correspondem a este padrão. A sociedade espera que as mulheres cuidem da casa, dos filhos e do marido, que sejam as guardiãs da moral da família, que sejam meigas, atenciosas, maternais e frágeis. Outras expressões de feminino são marginalizadas. Papéis masculinos ou Masculinidades: os estudos sobre masculinidade tratam da construção da identidade masculina e das diferentes masculinidades. Além disso, tratam do discurso sobre o masculino, a idealização dele e os 34 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL padrões de masculinidade. O que a sociedade espera do papel desempenhado pelos homens é que sejam provedores, fortes e viris. Outras expressões de masculinidade também são consideradas desviantes. Violência de gênero: os estudos apontam que a violência de gênero é demonstrada no exercício de poder dos homens (na forma de espancamentos, insultos, ameaças, estupros, assédio, assassinatos e outros) sobre as mulheres e demais pessoas consideradas "inferiores" (homossexuais, crianças, idosos etc.). Esses estudos demonstram uma série de situações em que as mulheres têm sido historicamente violentadas em seus direitos, tanto no aspecto físico, quanto psicológico. Famílias: muitos estudos reconhecem que há uma visão tradicional de família que não reconhece a existência de núcleos familiares chefiados somente por mulheres ou a constituição de famílias compostas por "agrupamento". De igual forma, são abordadas aqui as questões relativas aos papéis tradicionais desempenhados por homens e mulheres dentro das estruturas familiares. A imagem das mulheres nos meios de comunicação: os estudos demonstram que os meios de comunicação parecem dar às mulheres "visibilidade" e "espaço para discussão", mas que reforçam constantemente o seu papel de "objeto de consumo", de "utilidade pública" e "sexual". Por exemplo, nas propagandas de bebidas alcoólicas. A educação escolar: os estudos reforçam que a educação escolar étransmissora de valores, atitudes e preconceitos, reprodutora das desigualdades de gênero e homofobia. Isso porque, no universo das instituições de ensino do nosso país, assuntos como Gênero e Sexualidade têm sido tratados historicamente como tabus. Quando se permite falar sobre esses temas, a escola tende a tratar a questão como uma dimensão da vida adulta, ligada à constituição da família e da reprodução, através de uma perspectiva biológica. Desta forma, tanto o exercício da sexualidade por si, quanto as orientações homoafetivas, neste espaço disciplinar, são negadas. A escola tem assumido, entre outros, o papel de vigiar os limites entre as identidades e os papéis de gênero. Nesta função, de acordo com Louro (1997), a norma a ser mantida e reafirmada pela instituição valoriza, prioritariamente, o modelo tradicional dos papéis de gênero e o comportamento heterossexual, reafirmando os padrões da moral dominante vigente na sociedade, tomando por modelo as relações hierárquicas e desiguais entre os sexos e o homem e a mulher branca heterossexual de classe média urbana e cristã. Os que são diferentes deste modelo são considerados como tendo um comportamento "desviante". Louro (1997, p. 36) destaca que “ninguém é essencialmente diferente, ninguém é essencialmente o outro; a diferença é sempre constituída a partir de um dado lugar que se toma como centro". No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Secretaria de Educação Continuada (SECAD/MEC) possuem a perspectiva de que os temas gênero, identidade de gênero e orientação sexual devem ser considerados pela TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 35 política educacional como uma questão de direitos humanos. Por este motivo é que existe no Brasil uma agenda de enfrentamento ao sexismo e homofobia através do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) e do Programa Brasil sem Homofobia (BSH). Por outro lado, a questão tornou-se tão polêmica a ponto de gerar a elaboração de um projeto de lei (Projeto de Lei n° 7.382/2010), que prevê a penalização pela discriminação contra heterossexuais e determina que as medidas e políticas públicas antidiscriminatórias atentem para essa possibilidade, ou seja, pune a “heterofobia”. No momento, o projeto encontra-se em pedido de vista pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Público e Privado: os estudos demonstram que, a partir da consolidação do capitalismo, consolida-se também a ideologia de que existe uma esfera pública e outra privada. Esfera privada: Lugar próprio das mulheres, do doméstico, da subjetividade, do cuidado, da honra. Esfera pública: Espaço dos homens, da objetividade, dos iguais, da liberdade e do direito. Desta maneira, convencionou-se nas sociedades ocidentais o espaço privado para a mulher, a casa, o cuidado com os filhos e marido; e o espaço público ao homem, relações sociais, políticas e de trabalho. Essa “ordem” social criou diferenças e justificou desigualdades sexuais ao longo da história, sendo que muitas ainda permanecem nos dias de hoje. A divisão sexual do trabalho: os estudos demonstram que historicamente a divisão sexual do trabalho enfatiza para os homens a produção e a subsistência da família e para as mulheres a reprodução e a educação das crianças. Acadêmico, sobre esses temas, reflita as seguintes perguntas: O que você entende por viver sem preconceito de gênero? E sem preconceito de sexo? Existe diferença entre essas perguntas? Como você responderia cada uma delas? Você deve ter percebido que nos últimos cinco ou dez anos houve, no Brasil, uma evidente tendência ao uso do termo gênero – em referência aos papéis masculinos e femininos das pessoas – em substituição ao termo sexo – referente ao sexo biológico – em muitos sites governamentais e não governamentais, quando da necessidade de informar dados pessoais para cadastros. Já se deparou com isso? Apesar de serem conceitos diferentes (sexo e gênero), observe que são perguntas semelhantes, que nos remetem ao reconhecimento das diferenças entre homens e mulheres e ao respeito para com ambos. No entanto, até pouco tempo não se fazia esse questionamento, mesmo reconhecendo que há manifestações de comportamento afetivo ou sexual diferente do sexo de nascimento. Contudo, o momento delicado em que a sociedade vivencia esse debate não pode motivar violência e intolerância e, muito menos, a adoção do relativismo, teoria filosófica que admite que todo conhecimento é relativo. Pois se assim o fosse, perguntas como “de onde vim?”, “o que sou?” e “para onde vou?” não seriam tão intrigantes quanto são para a única espécie capaz de raciocinar sobre si mesma, o Homo sapiens. 36 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL Assim, o modo como o termo gênero vem sendo utilizado nos diversos meios de comunicação apresenta uma fragilidade. Por exemplo, se o gênero representa o comportamento social da pessoa e o sexo a determinação biológica, as duas perguntas deveriam ser feitas. Agora, se só existe uma espécie humana e nesta se manifestam apenas dois sexos (ou dois gêneros), estaria coerente discutir relações de gênero? O debate acerca do assunto é amplo, e para nós, brasileiros, a Constituição prevê, no Art. 3°, inciso IV, que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre outros, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, religião, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, [2016]). Portanto, já estaria respaldado o reconhecimento da diversidade humana e o combate à discriminação de qualquer origem. A produção foi sempre mais valorizada do que a reprodução, por este motivo é que as atividades ditas reprodutivas, como as funções domésticas, são desvalorizadas. De acordo com Faria (1997), referindo-se ao trabalho das mulheres rurais no Brasil: Carpir no sertão nordestino era uma tarefa dos homens e era considerado um trabalho pesado. Carpir no brejo paraibano era tarefa das mulheres e era considerado trabalho leve. Como se vê, no cultivo da cana o que caracterizava um trabalho como leve ou pesado não era a força física necessária para realizá-lo, mas o valor social de quem o fazia (FARIA, 1997, p. 14). Nesse sentido, a desigualdade sexual não é refletida como um problema de gênero, ela é naturalizada. Essa postura é que mantém o padrão de desvalorização do trabalho feminino, e é o que explica porque muitas mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo ocupando cargos iguais. Por outro lado, após a expansão do capitalismo, quando as mulheres entram no mercado de trabalho permanecem ainda com as atividades domésticas, o cuidado com a casa e com os filhos. De acordo com o IBGE (2005): O IBGE mostra que a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho não reduziu a jornada delas com os afazeres domésticos. Pelo contrário, na faixa etária de 25 a 49 anos de idade, onde a inserção das mulheres nas atividades remuneradas é maior e que coincide com a presença de filhos menores, o trabalho doméstico ocupa 94% das mulheres. Aumentando o tempo de trabalho da mulher em função da dupla jornada de trabalho. FONTE: <http://www.abed.org.br/congresso2012/anais/122f.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021. TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 37 Dupla Jornada de Trabalho A partir da segunda metade do século XX, com a expansão do capitalismo, as mulheres entraram definitivamente no mercado de trabalho. Fato que, por um lado, possibilitou a inserção da mulher no mundo do trabalho “produtivo” e no espaço público, e por outro, lhe manteve a condição de trabalhadora doméstica, pois ela continuou com a integralidade das atividades do lar. Ocorre, assim, o acúmulo de funções,chamado de dupla jornada de trabalho. Além disso, do ponto de vista do desenvolvimento do capitalismo, a contratação de mulheres foi estrategicamente conveniente, pois a remuneração do trabalho feminino era mais baixa do que a masculina, dada a sua condição histórica de inferioridade. Por esse motivo, ainda nos dias de hoje, em alguns setores, o trabalho feminino é menos valorizado do que o masculino. FONTE: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos14/20320175.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021. 38 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O multiculturalismo significa a existência de grupos de diversas culturas, assim como: o embate político, econômico e social travado pelos diferentes grupos sociais na luta pelo respeito à diversidade. • O termo “multiculturalismo” é recente, e sua utilização ocorreu pela primeira vez na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970. • A ideia de que os estudos multiculturais são multidisciplinares, na medida em que são provenientes de diversos campos de conhecimento, como: Antropologia Cultural, Psicologia Social, História, Sociologia, entre outros. • O direito à diferença e a diminuição das desigualdades são temas centrais para o multiculturalismo, bandeira de luta de vários movimentos sociais contemporâneos espalhados pelo mundo inteiro. • O conceito de cultura corresponde ao conjunto das regras sociais aceitas como normas pela sociedade ou grupo que as compõe. • O etnocentrismo é a maneira de ver os “outros” com base nos nossos padrões culturais, com os nossos valores sociais, morais e éticos, e não os valores do outro. • O relativismo cultural significa uma perspectiva mais ampla sobre o outro, uma perspectiva que vê e compreende o outro a partir dos parâmetros e regras sociais do outro. • O feminismo como conceito múltiplo. Ele possui uma dimensão política, que se refere aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, que se refere aos estudos da condição feminina. • O Movimento Feminista surgiu no século XVIII, na Europa, e foi dividido em três grandes momentos, sendo a 1ª, a 2ª e a 3ª ondas feministas. • A primeira onda feminista se refere a um período extenso de atividade feminista, ocorrido durante o século XIX e início do século XX, na Europa. Sendo que o foco original do movimento se concentrou na promoção da igualdade, nos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres. 39 • A segunda onda feminista tem como cenário de surgimento os Estados Unidos já no século XX, na década de 1960, na medida em que o processo de industrialização se acelera. O movimento feminista, neste momento histórico, luta por melhores condições de trabalho e renda, além de questionar as relações na família. • Com a terceira onda feminista – a partir da década de 1980 –, vem a introdução da discussão da desigualdade de gênero no meio acadêmico, momento em que surge o conceito de gênero. • O conceito de gênero surge no Brasil através de pesquisadoras norte- americanas, que vão tratar as relações entre homens e mulheres de forma a negar as diferenças biológicas como constituidoras das identidades dos seres humanos, e introduzir a perspectiva de que somos construídos a partir de determinados mecanismos sociais. • Existem pensamentos contrários à ideologia de gênero e outros favoráveis, a depender do autor que se leva em consideração. • Questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que é preciso estimular o pensamento crítico diante dos problemas cotidianos, de modo a desenvolver a capacidade de propor soluções viáveis e sustentáveis. • Avaliar criticamente a realidade à luz dos conhecimentos científicos, éticos e morais contribui para o reconhecimento da diversidade e o respeito à dignidade humana. 40 1 (ENADE, 2014) As mulheres frequentam mais os bancos escolares que os homens, dividem seu tempo entre o trabalho e os cuidados com a casa, geram renda familiar, porém, continuam ganhando menos e trabalhando mais que os homens. As políticas de benefícios implementadas por empresas preocupadas em facilitar a vida das funcionárias que têm criança pequena em casa já estão chegando ao Brasil. Acordos de horários flexíveis, programas como auxílio-creche, auxílio-babá e auxílio-amamentação são alguns dos benefícios oferecidos. FONTE: Adaptado de <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 30 jul. 2013. JORNADA MÉDIA DE TRABALHO POR SEMANA NO BRASIL (EM HORAS) FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-J8LesPEgHEg/VWoYS-eg7fI/AAAAAAAAAQE/ ZQBSsqSUKZE/s1600/Lista%2B-%2B7%2B-%2B1.jpg>. Acesso em: 23 ago. 2021. Considerando o texto e o gráfico, avalie as afirmações a seguir. I- O somatório do tempo dedicado pelas mulheres aos afazeres domésticos e ao trabalho remunerado é superior ao dedicado pelos homens, independentemente do formato da família. II- O fragmento do texto e dos dados do gráfico apontam para a necessidade de criação de políticas que promovam a igualdade entre os gêneros no que concerne a tempo médio dedicado ao trabalho e remuneração recebida. AUTOATIVIDADE 41 III- No fragmento de reportagem apresentado, ressalta-se a diferença entre o tempo dedicado por mulheres e homens ao trabalho remunerado, sem alusão aos afazeres domésticos. É CORRETO o que se afirmar em: FONTE: <http://bancodasrespostas.blogspot.com/2015/05/mulheres-frequentam-mais-os.html>. Acesso em: 23 ago. 2021. a) ( ) I, apenas. b) ( ) III, apenas. c) ( ) I e II, apenas. d) ( ) II e III apenas. e) ( ) I, II e III. 2 O conceito de feminismo possui uma perspectiva política, que se refere ao movimento social em prol de políticas de reconhecimento e uma perspectiva acadêmica, que se refere aos estudos feministas. Com relação ao conceito de feminismo e à atuação do movimento feminista, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O feminismo é um movimento social e um campo de conhecimento que tem como objetivo defender a igualdade entre homens e mulheres, seja do ponto de vista jurídico, político ou econômico. ( ) O movimento feminista está dividido historicamente em três "ondas", sendo que a primeira onda refere-se ao feminismo do século XVIII, e tem como referências países como França e Inglaterra. ( ) Os estudos feministas têm como objetivo denunciar as desigualdades biológicas entre homens e mulheres, no sentido de garantir direitos apenas para as mulheres. ( ) Os estudos feministas podem ser classificados como multidisciplinares, pois são desenvolvidos a partir de várias áreas de estudos. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F – V. b) ( ) F – V – F – F. c) ( ) F – F – V – F. d) ( ) F – V – F – V. 3 O feminismo é um movimento social e um campo de estudos cujo objetivo é defender a igualdade entre os sexos. Na história do feminismo, convencionou- se dividir o movimento em três momentos: primeira, segunda e terceira onda feminista. Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Uma das autoras mais importantes da Segunda Onda Feminista é Betty Friedan. Ela ficou conhecida por escrever o livro "A Mística Feminina". Nele, a autora enobrece a vida vazia das donas de casa de classe média nos Estados Unidos, destacando que a identidade da mulher deve ser exclusiva da família. 42 ( ) Na Segunda Onda, a revolucionária Olímpia de Gouges, em 1791, escreveu uma declaração muito importante, argumentando que as mulheres deveriam ter os mesmos direitos que os homens, podendo participar da vida política, governando e formulando leis. ( ) A Segunda Onda Feminista culminou com os movimentos sociais em andamento nos Estados Unidos. Esse momento do feminismo começa na década de 1960 e dura até o fim da década de 1980. ( ) A Terceira Onda Feminista inicia na década de 1990, como objetivo de compreender os problemas femininos de um ponto de vista mais amplo, e não apenas do ponto de vista das "mulheres brancas de classe média- alta", como fez a segunda onda. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – V. b) ( ) F – V – F – F. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) V – V – F – V. 4 (ENADE, 2017) TEXTO 1 Em 2001, a incidência da sífilis congênita – transmitida da mulher para o feto durante a gravidez – era de um caso a cada mil bebês nascidos vivos. Havia uma meta da Organização Pan-Americana de Saúde e da Unicef de essa ocorrência diminuir no Brasil, chegando, em 2015, a cinco casos de sífilis congênita por 10 mil nascidos vivos. O país não atingiu esse objetivo, tendo se distanciado ainda mais dele, embora o tratamento para sífilis seja relativamente simples, à base de antibióticos. Trata-se de uma doença para a qual a medicina já encontrou a solução, mas a sociedade ainda não. FONTE: <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 23 jul. 2017 (adaptado). TEXTO 2 O Ministério da Saúde anunciou que há uma epidemia de sífilis no Brasil. Nos últimos cinco anos, foram 230 mil novos casos, um aumento de 32% somente entre 2014 e 2015. Por que isso aconteceu? Primeiro, ampliou-se o diagnóstico com o teste rápido para sífilis realizado na unidade básica de saúde e cujo resultado sai em 30 minutos. Aí vem o segundo ponto, um dos mais negativos, que foi o desabastecimento, no país, da matéria-prima para a penicilina. O Ministério da Saúde importou essa penicilina, mas, por um bom tempo, não esteve disponível, e isso fez com que mais pessoas se infectassem. O terceiro ponto é a prevenção. Houve, nos últimos dez anos, uma redução do uso do preservativo, o que aumentou, e muito, a transmissão. A incidência de casos de sífilis, que, em 2010, era maior entre homens, hoje recai sobre as mulheres. 43 Por que a vulnerabilidade neste grupo está aumentando? As mulheres ainda são as mais vulneráveis a doenças sexualmente transmissíveis (DST), de uma forma geral. Elas têm dificuldade de negociar o preservativo com o parceiro, por exemplo. Mas o acesso da mulher ao diagnóstico também é maior, por isso, é mais fácil contabilizar essa população. Quando um homem faz exame para a sífilis? Somente quando tem sintoma aparente ou outra doença. E a sífilis pode ser uma doença silenciosa. A mulher, por outro lado, vai fazer o pré-natal e, automaticamente, faz o teste para a sífilis. No Brasil, estima-se que apenas 12% dos parceiros sexuais recebam tratamento para sífilis. FONTE: <http://www.agenciapatriciagalvao.org.br>. Acesso em: 25 jul. 2017 (adaptado). TEXTO 3 Vários estudos constatam que os homens, em geral, padecem mais de condições severas e crônicas de saúde que as mulheres e morrem mais que elas em razão de doenças que levam a óbito. Entretanto, apesar de as taxas de morbimortalidade masculinas assumirem um peso significativo, observa-se que a presença de homens nos serviços de atenção primária à saúde é muito menor que a de mulheres. FONTE: GOMES, R.; NASCIMENTO, E.; ARAUJO, F. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad. Saúde Pública, Rio De Janeiro, v. 23, n. 3, 2007 (adaptado). A partir das informações apresentadas, redija um texto acerca do tema: Epidemia de sífilis congênita no Brasil e relações de gênero. Em seu texto, aborde os seguintes aspectos: • A vulnerabilidade das mulheres às DSTs e o papel social do homem em relação à prevenção dessas doenças. • Duas ações, especificamente voltadas para o público masculino, a serem adotadas no âmbito das políticas públicas de saúde ou de educação, para reduzir o problema. FONTE: <http://www.sacod.ufpr.br/portal/artes/wp-content/uploads/sites/8/2011/05/36_ MUSICA_LICENCIATURA_2017.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021 5 (ENADE, 2017) A pessoa trans precisa que alguém ateste, confirme e comprove que ela pode ser reconhecida pelo nome que escolheu. Não aceita que se autodeclare mulher ou homem. Exige que um profissional de saúde diga quem ela é. Sua declaração é o que menos conta na hora de solicitar, judicialmente, a mudança dos documentos. FONTE: <http://www.ebc.com.br>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado). 44 No chão, a travesti morre Ninguém jamais saberá seu nome Nos jornais, fala-se de outra morte De tal homem que ninguém conheceu FONTE: <http://www.aminoapps.com>. Acesso em 31 ago. 2017 (adaptado). Usava meu nome oficial, feminino, no currículo porque diziam que eu estava cometendo um crime, que era falsidade ideológica se eu usasse outro nome. Depois fui pesquisar e descobri que não é assim. Infelizmente, ainda existe muita desinformação sobre os direitos das pessoas trans. FONTE: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado). Uma vez o segurança da balada achou que eu tinha, por engano, mostrado o RG do meu namorado. Isso quando insistem em não colocar meu nome social na minha ficha de consumação. FONTE: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado). Com base nessas falas, discorra sobre a importância do nome para as pessoas transgêneras e, nesse contexto, proponha uma medida, no âmbito das políticas públicas, que tenha como objetivo facilitar o acesso dessas pessoas à cidadania. FONTE: <https://respostasava.com/resposta/13004#:~:text=A%20pessoa%20trans%20 precisa%20que,juridicamente%2C%20a%20mudan%C3%A7a%20dos%20documentos.>. Acesso em: 23 ago. 2021. 6 (ENADE, 2016) Para a Organização das Nações Unidas (ONU), a violência contra mulheres é uma grave violação dos direitos humanos que gera impactos físicos e psicológicos. A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) aponta que, no Brasil, de janeiro a outubro de 2015, 38,72% das mulheres em situação de violência sofreram agressões diárias e 33,86%, agressões semanais. A violência doméstica é o tipo mais comum de violência contra a mulher e, para se tipificar essa violência como crime, foi promulgada, em agosto de 2006, a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), resultado de mobilizações para garantir justiça às vítimas e reduzir a impunidade de crimes cometidos contra as mulheres. A partir dessas informações, redija um texto dissertativo sobre o impacto da Lei Maria da Penha no quadro de violência contra a mulher no Brasil. Em seu texto, aborde os seguintes aspectos: • impacto da violência doméstica na vida da mulher, na família e na sociedade; • mudanças nos mecanismos de proteção à mulher decorrentes da Lei Maria da Penha. FONTE: <https://assessoritec.emdesenvolvimento.net/wp-content/uploads/ sites/641/2017/07/ENADINHO-SGQ-DISCURSIVA-2017-1.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021. 45 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 RELAÇÕES DE TRABALHO 1 INTRODUÇÃO Um indivíduo/trabalhador, consciente de si e de seu fazer profissional, geralmente pergunta-se sobre aspectos inerentes ao ofício, tais como: saber fazer, técnica, matéria-prima e energia, os meios de produção, o produto, custo, margem de lucro, jornada de trabalho, remuneração, condições de trabalho, comércio, consumo, categoria de trabalho, reconhecimento e valor/sentido social e a realização, a satisfação/sentido pessoal, os âmbitos e as instituições que intermedeiam seu fazer profissional. 2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO Ao pensar e refletir sobre relações de trabalho, parece que se toca em uma questão que é responsável por causar entusiasmo e resistência aos indivíduos, ao mesmo tempo as pessoas se sentem dispostas e se dedicam a certa atividade e, por outro lado, recuam diante das condições, regramentos e normatizações em que precisarão estar alinhadas e adequadas. Percebe-se, também, uma espécie de um relutar diante do fato da exploraçãodo homem pelo próprio homem, no sentido de obter e gerar riqueza. Conta-se com todo um processo e imaginário histórico para que isso ocorra, no sentido de que as relações de trabalho se encontram forjadas em meio a elementos religiosos, sociais, econômicos e políticos, e procura-se apresentar as principais concepções e dinâmicas que o homem atribuiu ao trabalho ao longo de sua jornada histórica, bem como as possibilidades do momento presente e vislumbrar tendências que as relações de trabalho podem trilhar. Albornoz (2008) apresenta que a expressão trabalho contém muitos significados, tais como esforço, fadiga, sofrimento, labuta, castigo, realização, sacrifício; que existem muitas expressões, nas mais diferentes línguas, como labor e operare no italiano, travailler no francês, work no inglês; bem como comporta suas correlações, como no caso da palavra latina arvum, que significa terreno arável, que surgiu da noção do alemão arbeit, que significa trabalho. Na Grécia antiga, pode ser associada à noção de poiesis, que significava o fazer, a fabricação, o que o ser humano produz tanto material: uma obra de arte executada por um artista, escultor, ceramista; como não material: instituições sociais, referências culturais etc. 46 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL A expressão trabalho, tal como é escrita e utilizada na língua portuguesa, deriva da expressão latina tripalium, que ao longo da Idade Média era o nome dado a um instrumento de tortura que apresentava três paus reunidos, utilizado pelos camponeses e servos para bater o trigo, as espigas de milho, e para desfiar e esfiapar o linho; certa vez foi adaptado e utilizado como instrumento de tortura (ALBORNOZ, 2008). O missionário católico Raimundo Lélio (1232-1315), que atuou entre os povos catalães no século XIII, foi o responsável por reabilitar a expressão e concepção ‘trabalho’, que foi amplamente difundida na sociedade moderna industrial e capitalista (GANDILLAC, 1995). A concepção de trabalho também é identificada na denominação de tripalium, que foi extraída do latim e designava um instrumento de tortura reservado aos escravos. Lélio a substituiu pela expressão treballan, que é oriunda do idioma catalão, que designa a habilidade em elaborar a matéria bruta, transformando-a em obra, realização e propriedade humana, e dignificadora do próprio homem. Labor e trabalho são expressões muito utilizadas e até sinônimos, porém Arendt (2007) nos propõe que se faça distinção entre elas. Por labor a autora relaciona o ato de trabalhar, que está na labuta, numa lógica de estar em curso, na disposição de verbo no gerúndio, está ocorrendo, não comporta a noção de produto final. Por trabalho designa as atividades feitas com as mãos, a noção de produto, trata-se de um trabalho que é apresentado como acabado. Os estudiosos são unânimes ao apresentar que a palavra trabalho deve ser identificada e compreendida ainda nas sociedades ágrafas (sociedade sem escrita), quando ocorreu a passagem das atividades de caça, coleta e pesca à prática da agricultura e na domesticação dos animais. Você sabia que por muitos séculos, a moral e a ética do “trabalho” e da “conquista” permaneceram, em grande parte, como um fato circunscrito ao universo rural, ao lavrar e semear a terra, colher e armazenar alimentos, domesticar e tratar animais, construir pontes, moinhos, celeiros, castelos, palácios, igrejas, minerais, metais preciosos, entre outros. As concepções foram alteradas, inclusive as mais antigas, quando reunidas nos livros da Bíblia Sagrada, em que o trabalho não é mais visto como um indício da maldição de Deus a Adão e Eva, com a expulsão do paraíso, sendo que teriam que ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Os gregos distinguiam entre esforço do trabalho na terra, a fabricação do artesão que servia ao usuário, e a atividade livre do cidadão que discutia os problemas da cidade. De modo muito semelhante na Idade Média, trabalhar com as mãos era sinônimo de ser escravo ou servo, um indício de que o indivíduo pertencia aos grupos inferiores da sociedade. TÓPICO 3 — RELAÇÕES DE TRABALHO 47 A partir da reforma protestante, empreendida pelo teólogo Martinho Lutero (1483-1546), a concepção de trabalho foi profundamente reformulada no sentido de que o trabalho, como vocação, conduziria os indivíduos à salvação da alma. João Calvino (1509-1564), teólogo francês, apresentava a noção de que o trabalho, o êxito e a prosperidade material em vida deveriam ser compreendidos como uma forma de conquistar a benevolência de Deus. Ambas as teorias favoreceram o contexto no qual implantavam-se políticas de mercantilismo e capitalismo. O sociólogo Max Weber (1864-1920) defendeu, em seus estudos, que os valores religiosos do protestantismo favoreceram e coincidiam com o espírito do capitalismo, no sentido de que superavam a moral católica de renúncia ao mundo material, do acúmulo de bens financeiros e ao lucro, na vida religiosa de devoção contemplativa e de renúncia ao mundo material. A noção de vocação para o trabalho foi associada também à ideia de amor ao próximo, e quanto mais intensa a atividade profissional, maior a aproximação da salvação. Por outro lado, a falta de vontade de trabalhar passou a ser compreendida como ausência do estado de graça e do não merecimento da salvação de Deus. Assim, estava autorizado que todo indivíduo empreendesse a busca pela riqueza material, podendo realizar grandes ações e assim galgar sua própria salvação. Uma das principais alterações que a modernidade realizou foi a de apropriar-se da concepção positiva de trabalho e mudar seu ambiente de realização, que do interior das casas ou no interior das corporações de ofício passou a ser realizado em cidades, no interior dos espaços das fábricas. Foi nesta época que surgiram as noções de divisão de trabalho, na qual cada indivíduo, com a fração/parte que desempenha, na sua especialidade, contribui à soma de trabalho coletivo, que por sua vez gera a riqueza de cada nação, o que se tornaria uma espécie de consciência e interesse coletivo e comum a todo indivíduo. É nesse momento que a mudança de percepção da noção de trabalho passa a ocorrer, no sentido de que as pessoas passam a trabalhar para poder consumir, e não mais para produzir algo. Acadêmico, a partir do século XVIII, os economistas Adam Smith (1723- 1790) e David Ricardo (1772-1823) reforçam os valores de atividades produtivas e de riqueza material, e defendem que o trabalho é o grande responsável pela riqueza social, o que por sua vez supervalorizou a ideia de homem operário, Homo economicus, que produz riqueza, que contribui para que o sistema econômico continue a alcançar seus objetivos e lançar novas possibilidades de investimentos e lucratividade. Foi nesse contexto que o estudioso alemão Karl Marx (1818-1883) 48 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL defendeu que a essência do homem é o trabalho e não a sua vida espiritual. Passou a observar mais de perto a relação do homem e do trabalho, ao ponto de analisar dimensões peculiares e subjetivas da relação do homem com o trabalho e a mercadoria, e se engajar ativamente em fazer o processo de crítica e denúncia das contradições que envolviam trabalhadores, proprietários dos meios de produção e burgueses comerciantes, abrangendo o sistema capitalista como um todo. No entanto, a perspectiva de Marx era a de que o exercício crítico, através da intelectualidade, não era suficiente, para ele o mundo não se transforma com o pensamento e leis, o mundo deveria ser transformado pela práxis, na organização dos trabalhadores e na realização de atos revolucionários. A divisão do trabalho era responsável pela alienação do homem na sociedade capitalista, que por sua vez serevelava em face à perda da totalidade e da dignidade humana. Caberia ao proletariado a responsabilidade pelo ato de fazer a revolução e transformar a sociedade, tomar o poder e abolir a relação capitalista de produção. Em meio ao campo de luta e revoluções, os trabalhadores deveriam estar conscientes de si e de sua classe/categoria e empreender as revoluções que fossem necessárias a fim de desfazer o quadro de desigualdade, injustiças e exploração que o trabalho favorecia. Marx defendia a superação do sistema capitalista pelo comunismo, numa espécie de sociedade associativa em que o livre desenvolvimento individual seria a condição do livre desenvolvimento de todos (MARX; ENGELS, 2010). Segundo Abbagnano (2000), a relação do trabalho com a existência humana passa a ser lugar-comum na cultura contemporânea. Mesmo fora do âmbito marxista, o caráter penoso atribuído ao trabalho não é atribuído ao trabalho em si, mas às condições sociais em que ele é realizado nas sociedades industriais. O trabalho passa a ser visto como parte fundamental da natureza humana. O trabalho é ainda hoje visto como um valor social, sendo o trabalhador um personagem social merecedor de respeito, admiração e dignidade pelas obras que faz a si, a seus familiares e semelhantes. A nova concepção que foi atribuída ao trabalho combina com os valores das mudanças no interior da fabricação de produtos. O homem, reconhecendo que o trabalho não era mais motivo de sofrimento e castigo, mas sim uma atividade que o tornaria socialmente reconhecido, sentiu-se motivado e disposto a se dedicar e doar a fim de preencher as oportunidades e a demanda da manufatura e indústria nascente, bem como o campo das invenções de máquinas e técnicas e o próprio sistema capitalista, que estavam exigindo. Trabalho, geralmente, pode ser definido como atividade coordenada de caráter físico ou intelectual, necessária a qualquer tarefa, serviço ou empreendimento, ocupação, ofício, exercício de profissão. Um aspecto que distingue o trabalho humano do trabalho dos outros animais está no fato de que o trabalho e esforço humanos são atribuídos à intencionalidade, além da operação TÓPICO 3 — RELAÇÕES DE TRABALHO 49 instintiva e programada que é reconhecida nas atividades dos animais. No homem é percebido o grau de especialização, complexidade, tanto das atividades, como dos meios dos quais ele se utiliza para realizar o trabalho. A produção artesanal, produção familiar em espaços domésticos ou pequenas oficinas, como alfaiates, ceramistas, sapatarias, na qual importa fazer um bom trabalho, um produto único, com maestria e arte de fazê-lo. O trabalhador encontrava-se livre para organizar seu trabalho, a seleção de sua matéria-prima, o começo, a forma, a técnica, o ritmo, os detalhes, o acabamento, a entrega. Não ocorre a distinção de trabalho e lazer, divertimento e cultura, ambos se fundem. A Europa viveu seu momento de desenvolvimento industrial ainda no século XIX, na América Latina ocorreu somente na segunda metade do século XX, realidades nas quais o processo de aprimoramento da produção acabou por se modificar, não seguindo a lógica de fases e processos que ocorreram na Europa. O quadro industrial dessa região apresenta-se ora como que ainda na segunda revolução industrial, e ora na produção que se utiliza de tecnologia de ponta e robotização, em especial a migração e empregabilidade no setor de serviços. Ao mesmo tempo, encontram-se inúmeros desafios em termos de dependência em relação a tecnologias e desigualdades no que diz respeito ao acesso ao emprego. No século XIX, pode-se falar que a produção capitalista, que introduziu a máquina a vapor e a modernização dos métodos de produção, desintegrou costumes e introduziu novas formas de organização da vida social. A transição da produção artesanal para a manufatureira e desta para a produção fabril, a migração do campo para a cidade; o fim da servidão; o desmantelamento da família patriarcal; a introdução do trabalho feminino e infantil. A individualização da produção, a programação das atividades, linhas de montagem, produção em série e o consumo em massa (fordismo e taylorismo) almejavam articular o acesso a matérias-primas, à mão de obra, ao fácil escoamento da produção e obter maiores margens de lucros entre os custos e a comercialização da produção, que por sua vez acarretam deslocamentos que desperdiçavam tempo significativo na vida dos trabalhadores, além da produção de poluição e impactos ao meio ambiente. A maquinização e a mecanização da produção conferiram ao trabalhador a percepção da perda do saber fazer, a perda da noção de produtor. Diante disso, o trabalhador se sentiu pressionado a se adaptar para poder operar as máquinas que estavam sendo introduzidas nos espaços de trabalho. A separação, divisão e especialização da produção fizeram com que o produtor não conseguisse mais reconhecer a totalidade do produto depois de pronto. Mudanças da concentração da população em relação às atividades econômicas e oportunidades de trabalho, assim como o trabalho na indústria, acabaram por concentrar a população em determinadas regiões e cidades, tornando-as superpovoadas. 50 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL O que Marx procurou definir como ‘alienação’ encontrava-se nascente nesses processos, e depois poderia ainda ser verificada em situações como a do consumo dos produtos que estavam sendo produzidos/consumidos, no contexto industrial em que a produção se dava em grande escala e para consumo em massa. Trabalhadores como alfaiates, costureiras, sapateiros, eram os testemunhos mais expressivos desse processo. Diante da reflexão de Arendt (2007), podemos afirmar que, desde o século XIX, o Homo faber foi perdendo sua aura e passou a ser valorizado o “princípio da felicidade”. De fato, o progresso da civilização não produziu uma sociedade de indivíduos políticos ou de trabalhadores que amam seu ofício, e sim uma sociedade de consumidores, de indivíduos isolados e desenraizados, uma cultura de massa imersa em futilidade. E a construção da identidade deixou de ser pautada em atividades criativas e produtivas, à medida que o trabalho se tornou apenas um meio de satisfazer necessidades ou desejos de consumo. 3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL As mulheres participaram da produção de utensílios, alimentos e mercadorias desde os tempos mais remotos, que envolviam desde as atividades no interior da casa, família e comunidade. A alimentação, o artesanato e a educação das crianças foram inseridos no interior dos espaços de trabalho com fortes projetos a partir da Revolução Industrial. Os maiores problemas surgem quando as mulheres passam a ser empregadas no interior das indústrias modernas, em meio a longas jornadas de trabalho, com a presença de maquinários, em que os salários pagos às mulheres eram inferiores. A gradual introdução das mulheres no campo de trabalho favoreceu em sua mudança de hábitos e costumes. O fato de trabalhar no interior das fábricas exigia novos comportamentos, posturas e até uma indumentária que favorecesse a realização das atividades e evitasse possíveis acidentes de trabalho. Os vestidos longos e rodados, os chapéus e demais acessórios ofereciam risco de acidentes se usados nos espaços de trabalho em meio às máquinas. As roupas que deveriam ser usadas no interior das indústrias precisavam ser justas, retas e que cobrissem o corpo o máximo possível. A condição e imposição do meio de trabalho foram responsáveis por depreciar a feminilidade, fragilidade e sensibilidade da mulher e favorecer uma postura rígida, tenaz e ereta. Foi neste contexto que a estilista francesa Coco Chanel (1883-1971) começa a projetar roupascom design mais favorável às atividades no interior das fábricas e empresas, nas quais se destacam cortes e precisão geométrica das roupas e modelos ajustados ao corpo, ausentes de babados, volumes, acessórios, entre outros. TÓPICO 3 — RELAÇÕES DE TRABALHO 51 1° de Maio: Dia do Trabalhador, Dia do Trabalho ou Dia Internacional dos Trabalhadores. Esta data, que é comemorada em diversos países, como Brasil, Portugal, Austrália, Angola, França, Suécia, Moçambique, é resultante de uma greve geral de trabalhadores que ocorreu no ano de 1886, no interior de Chicago, nos Estados Unidos da América. A paralisação foi responsável por envolver diversos parques industriais da cidade. Dentre as causas da paralisação encontrava-se a redução da jornada de trabalho. A presença dos manifestantes na rua se estendeu por diversos dias e acabou por ser reprimida com violência pelas tropas do governo, causando inúmeras mortes. ATENCAO A partir dos anos de 1990 o toyotismo, idealizado pelo engenheiro mecânico Taiichi Ohno (1912-1990), tornou-se tendência no interior dos sistemas produtivos. Esse rearranjo produtivo apresenta, como princípios, a otimização da produção em todas as fases e a integração de todos os setores no interior dos espaços produtivos; no campo deliberativo requer a descentralização da tomada de decisões; produção de itens diferenciados; formação de alianças e redes de atividades empresariais; por parte dos indivíduos requer trabalho em equipe, proporciona a participação nos resultados, subcontratação e exige qualificação constante. 4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS O homem contemporâneo possui uma relação com o trabalho, que foi instaurada ainda no século XIX e que ganhou desenvolvimento e aprofundamento ao longo do século XX. Trata-se da produção industrial, tecnológica e a prestação de serviços no interior de grandes cidades. O espaço primordial de realização dos indivíduos torna-se o espaço no interior das cidades, os espaços das indústrias e o âmbito público das relações. A era industrial deixou de cumprir sua ‘grande promessa’: fabulosas realizações materiais e intelectuais. O sonho de sermos senhores independentes de nossas vidas terminou quando despertamos para o fato de que todos nos tornamos peças ínfimas da máquina burocrática, com nossos pensamentos, sentimentos e gostos manipulados pelo governo, pela indústria e pelas comunicações de massa que controlam tudo (FROMM, 1987). Uma das questões cruciais de tal processo diz respeito à passagem do regime fordista (século XIX) ao regime chamado de produção toyotista. A técnica tornou cada vez mais fragmentado o processo de trabalho e, consequentemente, independente dos indivíduos, bem como aleatório com quem o faz, em que já não importa como cada um o faz; importa sim que cada indivíduo se mantenha submetido ao todo, mantenha os laços, as passagens, o fluxo do processo, com o mínimo de interferência criativa, inovação que possa tornar os fluxos ainda mais eficientes. 52 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL Trabalhar em uma mesma empresa por muitos anos, ser homenageado e receber condecorações de três, cinco, dez, 15, 20 anos de empresa, faz parte da geração anterior à qual nos encontramos e que tende a se tornar cada vez mais raro. Especialmente no ramo do terceiro setor. No interior das grandes organizações descortinam-se tendências à rotatividade, à terceirização, cooperativas de trabalho, atividades autônomas, grupos de voluntariado, economia solidária, entre outras. No panorama atual de sistemas de governos, grupos empresariais e relações de trabalho, cadenciase a internacionalização dos processos de produção e comercialização e a mercantilização/financeirização das relações econômicas e sociais, no sentido de que reforçam o sistema capitalista e o poder do mercado, dimensões em que a noção de competição e propriedade prevalecem como moral e finalidade última, o que por sua vez acaba por fragilizar as estruturas de Estado, as relações sociais e culturais entre os indivíduos. A tecnologia da informação, a descoberta e desenvolvimento de novos materiais, as mudanças e oscilações nas estruturas de mercado e a capacidade de competitividade e as relações intra e interpessoais parecem ser os elementos que mais permeiam as relações de trabalho. No interior dessas novas tendências identifica-se a busca dos indivíduos em vivenciar experiências que aliem trabalho, moradia, realização de projetos pessoais, formação continuada, vivências familiares, sociais e de lazer. 4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL O trabalho informal é o que ocorre nas experiências de trabalho artesanal e prestação de serviços, em que envolve intensa dedicação de mão de obra, de caráter temporário, geralmente apresenta pouco montante de capital envolvido e acaba apresentando acordos à parte das legislações trabalhistas; o que por sua vez acaba não concorrendo como linhas de financiamentos, seja de bancos ou governos; como exemplo, pode-se relacionar as práticas de trabalho no ramo do vestuário e alimentação. Acadêmico, você sabe o que é economia solidária? São atividades que ocorrem de forma coletiva e em estruturas suprafamiliares, articuladas em associações, cooperativas, empresas autogestadas, grupos de produção, clubes de trocas etc., cujos participantes tanto podem ser trabalhadores dos meios urbano e rural. Os envolvidos nas atividades de economia solidária exercem forte controle e gerenciamento das atividades e dos resultados. Realizam atividades econômicas de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito TÓPICO 3 — RELAÇÕES DE TRABALHO 53 (cooperativas de crédito e os fundos rotativos populares), de comercialização (compra, venda e troca de insumos, produtos e serviços) e de consumo solidário. As atividades econômicas devem ser permanentes ou principais, ou seja, a razão de ser da organização. 4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS NO BRASIL O trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão aplicada aos trabalhadores negros no Brasil em 1888 e com a gradual vinda dos imigrantes europeus. As condições impostas eram ruins, acabaram por gerar no interior do país as primeiras discussões sobre leis trabalhistas. Os imigrantes traziam consigo a experiência do movimento operário e sindical no interior dos países europeus, o que por sua vez favoreceu a estruturação de organizações de trabalhadores, círculos operários, sindicatos e demais frentes de representação. No final do século XIX surgem as primeiras normas trabalhistas, por meio do Decreto n° 1.313, de 1891, que regulamentou o trabalho dos menores de 12 a 18 anos. Em 1912, foi fundada a Confederação Brasileira do Trabalho (CBT), durante o 4° Congresso Operário Brasileiro. Dentre as causas defendidas pela Confederação estavam: a jornada de trabalho de oito horas, fixação do salário mínimo, indenização para acidentes, contratos coletivos ao invés de individuais. No cenário internacional após a 1ª Guerra Mundial, em 1919, surge a Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão internacional que por sua vez impulsionou a formação de um Direito do Trabalho. O surgimento deste órgão, naquele momento histórico, visava intermediar o conflito entre o capital e o trabalho, e que era visto como uma das principais causas dos desajustes sociais e econômicos, inclusive motivadores de guerras. Caro acadêmico, procure saber mais da atuação da Organização Internacional do Trabalho – OIT. Trata-se do órgão responsável pelas convenções e recomendações que norteiam as questões relacionadas ao trabalho em nível internacional. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/content/apresenta%C3%A7%C3%A3o. DICAS 54 UNIDADE1 — FORMAÇÃO GERAL A política trabalhista brasileira se consolida, de fato, após a Revolução de 30, quando Getúlio Vargas cria o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A Constituição de 1934 foi a primeira a tratar de Justiça do Trabalho e Direito do Trabalho, assegurando a liberdade sindical, salário-mínimo, jornada de oito horas, repouso semanal, férias anuais remuneradas, proteção do trabalho feminino e infantil e igualdade salarial. Sabemos que ocorreu no Brasil em 1964, o golpe militar e a instalação da ditadura, assim ocorreram fortes medidas de repressão à classe trabalhadora, com o Decreto n° 4.330, as intervenções atingiram sindicatos em todo o Brasil. Este decreto é conhecido como a lei antigreve, que impôs tantas regras para realizar uma greve que, na prática, elas ficaram proibidas. Depois de anos sofrendo cassações, prisões, torturas e assassinatos, em 1970 um novo movimento sindicalista se reestrutura no interior do Estado de São Paulo, no chamado ABCD paulista. No ano de 1978 ocorre uma grande greve em São Bernardo do Campo (SP) e que ganhou aderência de trabalhadores de todo país. Após o fim da ditadura militar, em 1985, e em meio às mudanças no cenário econômico, com a promulgação da Constituição de 1988, as conquistas dos trabalhadores foram restabelecidas; por exemplo, a Lei n° 7.783/1989, que restabelecia o direito de greve e a livre associação sindical e profissional, a aposentadoria rural; Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT); Benefício de Prestação Continuada (BPC); Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI); bolsa escola e, ulteriormente, bolsa família, entre outros. Conheça o site do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Lá você encontrará resoluções sobre o funcionamento das centrais sindicais, leis e convenções ao exercício das profissões, orientações sobre os trâmites contratuais e demissionais, seguro- desemprego, trabalho temporário, políticas de microcrédito, trabalho decente, entre outros. MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/portalmte/. DICAS TÓPICO 3 — RELAÇÕES DE TRABALHO 55 LEITURA COMPLEMENTAR A TERCEIRIZAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO Grupos de empresários e empregadores apresentam argumentos no sentido de que a geração de emprego formal, e até a abertura de empresas, no Brasil, são dificultadas diante dos custos que as leis trabalhistas acabam acarretando. Alegam que em torno de 67% do salário consiste em tributos, que são pagos ao governo, que procura atender a leis de descanso remunerado, 13° salário, FGTS, adicionais em casos de horas extras, insalubridade e trabalho noturno. E diante deste cenário é que ganham espaço as ideias de terceirização no interior dos postos de trabalho. Terceirização é o processo pelo qual uma empresa deixa de executar uma ou mais atividades realizadas por trabalhadores diretamente contratados e as transferem para outra empresa. A terceirização se realiza de duas formas, não excludentes. Na primeira, a empresa deixa de produzir bens ou serviços utilizados em sua produção e passa a comprá-los de outra – ou outras empresas –, o que provoca a desativação, parcial ou total, de setores que anteriormente funcionavam no interior da empresa. A outra forma é a contratação de uma ou mais empresas para executar, dentro da “empresa-mãe”, tarefas anteriormente realizadas por trabalhadores contratados diretamente. Essa segunda forma de terceirização pode referir-se tanto a atividades-fim como a atividades-meio. Entre as últimas podem estar, por exemplo, limpeza, vigilância, alimentação. Tem-se observado, também, que vem ocorrendo o processo de quarteirização, a contratação de uma empresa pela empresa-mãe, que deverá gerir as relações com o conjunto das empresas terceiras contratadas em seu interior. O processo de terceirização da produção e da prestação de serviços no Brasil, e em quase todos os países capitalistas, desenvolveu-se como parte do rearranjo produtivo, iniciado na década de 70 do século XX, a partir da terceira Revolução Industrial, e que se prolonga até os dias de hoje. São mudanças importantes na organização da produção e do trabalho e, no caso específico da terceirização, na relação entre empresas. A adoção deste processo foi intensificada e disseminada no âmbito da reestruturação produtiva que marcou os anos 90. A partir do ano 2000, a economia brasileira iniciou um lento processo de recuperação, com taxas de crescimento positivas, porém o cenário do mercado de trabalho já é o da difusão generalizada da terceirização da mão de obra. Se, inicialmente, as empresas precisaram enxugar os custos para garantir sua sobrevivência, o processo de terceirização não apresentou retrocesso diante da melhora do cenário econômico, tendo permanecido como um elemento fundamental da mudança do processo produtivo e do mercado de trabalho brasileiros. 56 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL Em nível internacional destaca-se que as atividades mais atingidas pela terceirização, em suas diferentes formas, são aquelas próprias da Tecnologia da Informação (TI), o que inclui o trabalho de programadores, de processamento de dados e de desenvolvimento de softwares. O avanço rápido e constante nesses processos tecnológicos facilita a troca de dados, a execução de projetos e a entrega de produtos, independentemente do local onde o trabalho é executado. A maior preocupação constatada a partir das fontes de informação sobre os Estados Unidos é a possibilidade de demissão em massa de trabalhadores americanos qualificados em decorrência de processos de terceirização nos quais as contratantes são empresas americanas. Nesse caso, o mais comum tem sido a adoção do international outsourcing (compra do componente ou serviço em outro país), do offshoring (realocação da empresa em outro país) ou ainda do on-site offshoring (contratação de trabalhadores estrangeiros imigrantes ou de trabalhadores em seus países de origem). Os países europeus, quando comparados com os Estados Unidos, demandam menos serviços terceirizados e adotam algumas barreiras culturais que dificultam a transferência de atividades de um país para outro. Dentre os setores mais vulneráveis à terceirização no continente, tem-se que a maioria está relacionada à área de TI, que atuam nos ramos de desenvolvimento de softwares, processamento de dados, vendas, serviços de atendimento ao cliente, pesquisa, desenvolvimento e designs, finanças, recursos humanos e gerenciamento. Estima-se que os trabalhadores indianos da área de computação, por exemplo, recebam entre 1/5 e 1/10 do que é pago a um americano pela mesma função. No Brasil os ramos de atividades que mais registram processos de terceirização são o setor público, no interior das unidades de governo, o setor financeiro, como bancos, os setores elétrico, químico, de petróleo e petroquímico e da construção civil. Diante das formas mais explícitas de precarização das condições de trabalho e de vulnerabilidade da condição do trabalhador que resultam dos processos de privatização, tem-se um novo relacionamento sindical entre empregador e empregado, que aponta a desmobilização dos trabalhadores para reivindicações e greves, eliminação das ações sindicais e trabalhistas que reclamam pelos direitos sociais. Texto adaptado de DIEESE. Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos. O processo de terceirização e seus efeitos sobre os trabalhadores no Brasil. Convênio SE/MTE n° 04/2003, Processo n° 46010.001819/2003-27. FONTE: <https://www.dieese.org.br/relatoriotecnico/2007/terceirizacao.pdf>.Acesso em: 6 set. 2021. 57 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A palavra trabalho tem origem nas práticas e atividades das mais antigas sociedades, comporta muitas diferenças de escrita, em especial na forma como as sociedades concebiam e ao valor moral que atribuíram à mesma. • No interior da forma de produção artesanal o trabalhador detém o conhecimento de todas as fases de produção, pode atender à vontade pessoal de quem procura pelo produto, o produto consiste em um exemplar único e o artesão acompanha também o processo de comercialização do produto. • No interior do processo de produção de forma manufaturada se dá a especialização e divisão de funções, a produção passa a ocorrer fora do local de moradia dos responsáveis pela produção, o que por sua vez favorece os primórdios das grandes indústrias. • No interior dos modos organização industrial do século XVIII e XIX prevaleceram os modelos fordista e taylorista, que se caracterizam pelo perfil de produção organizada em linhas de produções, em série e consumo em grande escala, e obedecem à organização e administração científica. • O toyotismo consiste numa forma de organização no interior de empresas e processos produtivos que contempla a descentralização do poder e formação de redes de trabalho, a diferenciação da produção, forte controle da produção e qualificação constante dos trabalhadores. • A terceirização pode ocorrer de diferentes formas: pela contratação de uma empresa que subcontrata trabalhadores para exercer funções no interior de uma empresa-mãe, como também quando uma empresa passa a comprar parte dos processos e dos produtos de outra empresa para compor o seu produto final. 58 1 Karl Marx (1818-1883), pensador alemão que se dedicava a denunciar as contradições no interior do sistema capitalista, ao longo de sua vida precisou mudar-se por diversas vezes de país, pois o teor de suas ideias acabava por lhe render inimigos de forte influência e poder político. Além disso, também passou por problemas com renda, sendo socorrido pelo amigo e colega/escritor F. Engels. Pergunta-se: no que consistiam as principais ideias e teorias de Marx? I- A ideia principal estava em explicar, denunciar e combater as contradições que estavam disfarçadas e camufladas no interior do regime comunista. II- Argumentava que a divisão do trabalho era responsável por alienar o trabalhador, assim como, por lhe extorquir a sua dignidade. III- Defendia que estaria única e exclusivamente nas mãos do proletariado conduzir a revolução que substituiria o capitalismo pelo comunismo. IV- As teorias de Marx apresentavam que o proletariado deveria fazer a revolução e transformar a sociedade, tomar o poder e abolir a relação capitalista de produção. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. b) ( ) Somente as sentenças III e IV estão corretas. c) ( ) Somente as sentenças II e III estão corretas. d) ( ) As alternativas II, III e IV estão corretas. 2 (ENADE, 2014) O debate sociológico acerca das novas relações de trabalho e consumo no capitalismo se intensificou desde a segunda metade do século XX, especialmente a partir de um novo modelo de acumulação, marcado pela “flexibilização dos processos produtivos”. Como aponta David Harvey a este respeito, a acumulação flexível “é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo”. E, ainda, mais importante do que isso é a redução aparente do emprego regular, em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado. FONTE: HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. De acordo com a afirmação anterior, a acumulação flexível: I- Gerou cada vez mais trabalho especializado, responsável pelo aumento da racionalidade do processo produtivo. II- Pode ser considerada uma expansão do princípio fordista de produção. AUTOATIVIDADE 59 III- Aumentou a precarização das relações de trabalho no capitalismo contemporâneo. IV- Implica crescente heterogeneidade dos mercados de trabalho e dos padrões de consumo. É CORRETO apenas o que se afirmar em: FONTE: <https://smartanswersbr.com/pedagogia/tarefa22723509>. Acesso Em: 23 ago. 2021. a) ( ) I e II. b) ( ) I e III. c) ( ) II e III. d) ( ) II e IV. e) ( ) III e IV. 60 61 TÓPICO 4 — UNIDADE 1 POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao estudo que faremos sobre o Sistema de Saúde brasileiro. Este tema levará você a refletir sobre a realidade da saúde pública em nosso país e os seus desafios para assegurar o atendimento a todo cidadão com dignidade e em igualdade de condições. O acesso universal, integral e equânime à assistência em saúde é um direito de todos e um dever do Estado, garantido pela Constituição. Contudo, para além das obrigações do governo, a saúde também é uma responsabilidade coletiva, que implica na participação da população nos processos de melhoria e no progresso da qualidade de serviços (SCHMIDT, 2015, p. 12). A gestão do sistema nacional de saúde é bastante complexa, se pensarmos em atingir de forma equânime todas as pessoas que dependem do serviço público num contexto com desigualdades e desafios sociais aos governos. Concorda Zetzsche (2014, p. 3) ao dizer que “Cuidar da saúde significa manter a nação em condições de progresso e trabalho, com uma população saudável e menores índices de adoecimento e transmissão de doenças”. O sistema de saúde brasileiro engloba uma rede de serviços prestados por instituições públicas e privadas aos cidadãos que se utilizam de uma multiplicidade de atendimentos. Considerado exemplo de política pública pelo acesso universal à população, demanda ainda maior participação da sociedade nos conselhos e conferências municipais de saúde para o efetivo controle social na administração pública. O fortalecimento da política pública de saúde depende, sobretudo, de investimentos que assegurem as ações e programas que impulsionem os indicadores de saúde a um nível favorável; é fundamental a melhora da infraestrutura, com a ampliação e modernização dos locais de atendimento, qualidade dos serviços oferecidos e capacidade técnica dos profissionais contratados para a gestão. Competência administrativa, visão política e gerencial, profundo conhecimento da história do país e de sua dinâmica social, visão epidemiológica e crítica, e visão ontológica – visão de respeito e reconhecimento do ser humano – (alvo dos programas e políticas de saúde) são requisitos mais que necessários àquele ou àquela que vai trabalhar em gestão de saúde, quer seja de caráter público ou privado (ZETZSCHE, 2014, p. 4). 62 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL A saúde para os brasileiros, segundo a pesquisa do Instituto de Pesquisas Datafolha (2014), é considerada o serviço público mais importante; mas diariamente o usuário se depara com problemas, como a falta de médicos, filas de espera nas emergências e nos hospitais, demora para realização de cirurgias e hospitais sem recursos financeiros. FIGURA 6 – IMPORTÂNCIA DA SAÚDE PÚBLICA FONTE: Datafolha (2014, p. 15) Acadêmico a partir dessa reflexão, podemos enfatizar a importância da política pública de saúde no contexto social brasileiro e a necessidade de gestão técnica com profissionais habilitados. A relevância do tema foi abordada no Exame Nacional do Estudante – ENADE (2013) e propomos que você leia e responda. AUTOATIVIDADE A questão da saúde no Brasil é complexa e dependente da atuaçãodos vários agentes que a compõem. Cada um desses agentes, governo, organizações e sociedade, tem suas responsabilidades sobre a qualidade da saúde no Brasil. Ao governo cabe desenvolver políticas e realizar investimentos adequados, dentro de um planejamento ao longo do tempo; às organizações compete executar essas políticas, como também prestar serviços à população com qualidade; e a sociedade, por seu lado, deve aderir às ações preventivas promovidas pelo governo e pelas organizações, assim como deve ter uma postura ativa, autônoma e corresponsável, em relação à sua qualidade de vida. TÓPICO 4 — POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE 63 FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-Q0mQg0FDCz8/Ua3DLb5HBvI/AAAAAAAAKLk/ Y2CTeFvnK18/s1600/Charge2013-gestao-788873.jpg>. Acesso em: 23 ago. 2013. Considerando a figura e o trecho anterior, redija um texto dissertativo sobre o papel e (ou) funções do gestor hospitalar no contexto da qualidade da saúde no Brasil. 2 CONCEITO DE SAÚDE Temos como conceito de saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde (2021, s. p.): “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”. Essa concepção de saúde induz a novas condutas quanto à promoção de saúde e prevenção de doenças. O indivíduo é inserido numa rede de cuidados permanentes, visando maior qualidade de vida, mesmo que aconteça a doença. A vida mais saudável demanda novos hábitos, que incluem a alimentação adequada, lazer, convívio social, esportes e atividade física como práticas diárias. Mesmo o doente crônico aprende a conviver melhor com a doença, tornando-se menos dependente da assistência médica, adquirindo hábitos que ajudam na melhora do estado de saúde. É o que Zetzsche (2014, p. 13) define como “comportamentos mais saudáveis e que desenvolva o seu autocuidado, possibilitando que, desta forma, acabe vivendo mais e melhor depois de seu adoecimento, por mais incrível que isto pareça, à primeira vista”. Neste contexto, percebe-se que a população está adotando um estilo de vida mais saudável, com atitudes de prevenção para a saúde física e mental; este movimento se estende a outros ambientes, como exemplo, no trabalho e na educação, visto que a qualidade de vida está diretamente relacionada ao modo como as pessoas vivem. Acadêmico, você sabia que as cidades devem oferecer espaços coletivos, parques, praças, centros de convivência, para que a comunidade usufrua de qualidade de vida? Essa ação comprovadamente vem reduzindo os custos em serviços médicos e assistenciais nos municípios. 64 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL FIGURA 7 – SAÚDE PÚBLICA FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/92/a2/48/92a24801f13fe8e535e944776de60794.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2018. Essa é uma realidade possível, de acordo com Zetzsche (2014, p. 9): [...] a amplitude do escopo de ações em saúde vai abranger intervenções e estratégias nos mais variáveis setores, como meio ambiente, sustentabilidade, manejo agrícola, controle de endemias e pandemias, definição dos níveis aceitáveis de desenvolvimento e qualidade de vida, saneamento básico, manejo de recursos hídricos e naturais, ambientes de trabalho, acesso ao lazer, educação, moradia, entre tantos outros, pois é nestas boas condições de vida que a saúde é mais fácil de se obter e de se conservar. A transformação social, a partir da saúde, busca incutir nas pessoas atitudes frente a fatores de influência negativa, por exemplo, a mídia com a demasiada publicidade de produtos alimentícios industrializados, que não trazem benefícios à saúde e contribuem para a obesidade e sobrepeso; ou ainda, o álcool e cigarro, que levam a problemas comportamentais e afetam a família. [...] a obesidade na população brasileira está se tornando bem mais frequente do que a própria desnutrição infantil, sinalizando um processo de transição epidemiológica que deve ser devidamente valorizado no plano da saúde coletiva. As doenças [...] estão relacionadas, em grande parte, com a obesidade e com práticas alimentares e estilos de vida inadequados (BRASIL, 2008, p. 14). Além dos problemas decorrentes da vida moderna que afetam a saúde da população, temos ainda doenças epidemiológicas como dengue, malária e tuberculose, por exemplo, e que causam a morte de milhões de pessoas no mundo todo e são decorrentes da miséria, da precariedade no abastecimento de água potável, do saneamento básico e pela falta de acesso aos serviços públicos de saúde e educação. A globalização fortaleceu esse processo de disseminação de doenças ao redor do mundo, principalmente pelo contingente de populações imigratórias. TÓPICO 4 — POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE 65 Acadêmico, visando contribuir com seu conhecimento, reflita e responda à atividade a seguir, que trata do tema de forma a fazer refletir a partir das considerações apresentadas, compreender as relações entre saúde pública e as desigualdades sociais e suas terríveis consequências para a humanidade. AUTOATIVIDADE (ENADE, 2013) A Organização Mundial de Saúde (OMS) menciona o saneamento básico precário como uma grave ameaça à saúde humana. Apesar de disseminada no mundo, a falta de saneamento básico ainda é muito associada à pobreza, afetando, principalmente, a população de baixa renda, que é mais vulnerável devido à subnutrição e, muitas vezes, à higiene precária. Doenças relacionadas a sistemas de água e esgoto inadequados e a deficiências na higiene causam a morte de milhões de pessoas todos os anos, com prevalência nos países de baixa renda (PIB per capita inferior a US$ 825,00). Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 88% das mortes por diarreia no mundo são causadas pela falta de saneamento básico. Dessas mortes, aproximadamente 84% são de crianças. Estima- se que 1,5 milhão de crianças morram a cada ano, sobretudo em países em desenvolvimento, em decorrência de doenças diarreicas. No Brasil, as doenças de transmissão feco-oral, especialmente as diarreias, representam, em média, mais de 80% das doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (IBGE, 2012). Com base nas informações e nos dados apresentados, redija um texto dissertativo acerca da abrangência, no Brasil, dos serviços de saneamento básico e seus impactos na saúde da população. Em seu texto, mencione as políticas públicas já implementadas e apresente uma proposta para a solução do problema apresentado no texto anterior. FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2013/16_TEC_ GESTAO_HOSPITALAR.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021. 3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO A Constituição da República Federativa de 1988 dispõe em seu art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, [2016], p. 118-119). No Brasil, temos um sistema de saúde garantido pela Constituição Federal, que se constitui no Sistema Único de Saúde – SUS. Para Campos et al. (2006, p. 531 apud ZETSZCHE, 2014, p. 87), o SUS é: 66 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL [...] o arranjo organizacional do Estado Brasileiro que dá suporte à efetivação da política de saúde no Brasil, e traduz em ação os princípios e diretrizes desta política. Compreende um conjunto organizado e articulado de serviços e ações de saúde, e aglutina o conjunto das organizações públicas de saúde existentes nos âmbitos estadual, municipal e nacional, e ainda os serviços privados de saúde que o integram funcionalmente para prestação de serviços aos usuários do sistema,de forma complementar, quando contratados ou conveniados para tal fim. O SUS foi instituído com o objetivo de coordenar e integrar as ações das três esferas de governo e pressupõe a articulação de subsistemas verticais (de vigilância e assistência à saúde) e subsistemas de base territorial – estaduais, regionais e municipais – para atender de maneira funcional às demandas por atenção à saúde. Historicamente, a população brasileira era desassistida de assistência médica e, quando acometida de doença, recorria às crenças e à medicina natural; o auxílio ao povo era feito pelas Santas Casas de Misericórdia. Somente a partir da industrialização no país e dos movimentos sindicalistas é que o Estado passa a atuar na área da saúde, com a criação das caixas de aposentadoria e pensão, mas que permitiam somente aos contribuintes o acesso à assistência médica, enquanto a maior parcela da população ficou à margem deste direito. Durante o período militar, a iniciativa privada passa a ter participação no sistema com os convênios e planos de saúde. Essas medidas contribuíram para a Reforma Sanitária que levou à criação do SUS, que, segundo Arouca (1998 apud ZETZSCHE, 2014, p. 79): [...] nasceu na luta contra a ditadura, com o tema Saúde e Democracia, e estruturou-se nas universidades, no movimento sindical, em experiências regionais de organização de serviços. Esse movimento social consolidou-se na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, na qual, pela primeira vez, mais de cinco mil representantes de todos os segmentos da sociedade civil discutiram um novo modelo de saúde para o Brasil. O resultado foi garantir na Constituição, por meio de emenda popular, que a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado. Posteriormente, em 1990, foi promulgada a Lei Orgânica do SUS, com as Leis n° 8.080 e n° 8.142, que têm como base de sustentação os princípios norteadores do Sistema Único de Saúde brasileiro: • Princípio da Universalidade: estabelece a todos o direito de atendimento pelo Sistema Único de Saúde. • Princípio da Integralidade: relaciona dois aspectos do SUS, o primeiro refere-se à compreensão do ser humano biopsicossocial que requer um atendimento em sua integralidade; e o segundo aspecto integra as ações do Sistema Único de Saúde para o atendimento integral entre os diferentes níveis de complexidade de atenção à saúde. • Princípio da Igualdade: possibilita as mesmas condições de acesso ao Sistema Único de Saúde neste país, onde ninguém pode solicitar um atendimento diferenciado, seja um pedido por apadrinhamento político, ou pelo nível social, raça, gênero. TÓPICO 4 — POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE 67 O SUS pode ser considerado como direito humano: “[...] é a maior conquista do povo brasileiro em política pública e é um sistema que é referência em saúde para o mundo, sob a ótica gravada na Constituição de que o SUS é um direito de todos e um dever do Estado e evoluindo para a compreensão de que é um direito humano”. 4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE O funcionamento do Sistema Único de Saúde conjuga uma rede de serviços denominada Rede de Atenção à Saúde, que classifica os atendimentos em níveis de atenção primária, secundária e terciária, conforme a exigência do serviço que será prestado ao usuário. A rede compreende-se em âmbito estadual e regional, numa articulação interfederativa, em que serviços de saúde são executados em uma região de Saúde determinada por um espaço geográfico de municípios limítrofes, que segundo o Decreto n° 7.508/2011, Art. 2°, I, será “delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados [...]” (BRASIL, 2011). Trata-se de uma organização complexa, que identifica os diversos atendimentos por meio de um Mapa da Saúde, que segundo o Decreto n° 7.508/2011, Art. 2°, V, faz a distribuição “[...] de recursos humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada, considerando-se a capacidade instalada existente, os investimentos e o desempenho aferido a partir dos indicadores de saúde do sistema” (BRASIL, 2011). A Rede de Atenção à Saúde (RAS) atua a partir da Unidade Básica de Saúde ou USF – Unidade de Saúde da Família, onde inicia o trabalho junto à comunidade. As consultas são realizadas pelo médico generalista e, se for necessário, encaminha aos médicos especialistas que integram o setor de atenção secundária. A Unidade Básica de Saúde realiza os atendimentos em nível de atenção primária “[...] enfatizando a função resolutiva dos cuidados primários sobre os problemas mais comuns de saúde e a partir do qual se realiza e coordena o cuidado em todos os pontos de atenção” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 4 apud ZETZSCHE, 2014, p. 32). A pesquisa do Instituto Datafolha (2014) mostra com que objetivo o usuário busca o atendimento na Unidade de Saúde. 68 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL FIGURA 8 – NECESSIDADES NA SAÚDE PÚBLICA FONTE: Datafolha (2014, p. 44) No setor de atenção secundária, adentramos em Policlínicas de especialidades, Ambulatórios e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Do setor terciário fazem parte os hospitais especializados, Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), Centros de Hemodiálise, entre outros. Os encaminhamentos feitos aos usuários são formais, por meio de referências e contrarreferências, que são os registros das consultas e procedimentos utilizados pelos médicos e agentes de saúde. Pontos de atenção à saúde são entendidos como espaços em que se ofertam determinados serviços de saúde, por meio de uma produção singular. Os domicílios, as unidades básicas de saúde, as unidades ambulatoriais especializadas, os serviços de hemoterapia e hematologia, os centros de apoio psicossocial, as residências terapêuticas, entre outros. Os hospitais podem abrigar distintos pontos de atenção à saúde: o ambulatório de pronto atendimento, a unidade de cirurgia ambulatorial, o centro cirúrgico, a maternidade, a unidade de terapia intensiva, a unidade de hospital/dia, entre outros. Todos os pontos de atenção à saúde são igualmente importantes para que se cumpram os objetivos da rede de atenção à saúde e se diferenciam, apenas, pelas distintas densidades tecnológicas que os caracterizam (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 4 apud ZETSCHE, 2014, p. 32). UNI TÓPICO 4 — POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE 69 Vejamos um exemplo de atendimento em rede: O sr. José é portador de doença mental leve diagnosticada durante a infância, mas os pais não procuraram um tratamento na época; a partir da visita do agente comunitário a domicílio, o sr. José foi encaminhado para a Unidade Básica de Saúde (que fez seu acompanhamento clínico e o encaminhou também para o CAPS - Centro de Atenção Psicossocial). Foi feito o cadastro na ESF (Estratégia de Saúde Familiar) e no CAPS e as crises puderam ser cuidadas sem internação. O sr. José também tem hipertensão e por isso faz acompanhamento com a médica da Unidade de Saúde Básica, que prescreve os seus medicamentos. Como o sr. José é viúvo e mora sozinho, o agente comunitário tem feito visitas com frequência, para saber se está tomando a medicação corretamente. Neste exemplo, podemos verificar como um usuário pode ter o seu cuidado compartilhado entre uma equipe de atenção primária, a unidade de saúde da família, e uma equipe de atenção secundária, a equipe do CAPS. Para conhecer melhor os princípios que norteiam a legislação orgânica de saúde, acompanhe a questão a seguir, ela trata do tema, que também foi abordado no Exame Nacional do Estudante – ENADE (2013) e ajuda a entender o funcionamento da saúde pública e pensar sobre a qualidade de atendimento em saúde na sua cidade.AUTOATIVIDADE (ENADE, 2013) Mais de 20 anos após a criação do SUS, surge a necessidade de regulamentação de dispositivos da Lei Orgânica da Saúde, em face de lacunas legais quanto à organização do sistema, ao planejamento da saúde, à assistência à saúde e à articulação interfederativa. A regulamentação, pelo Poder Executivo Federal, da Lei n° 8.080/1990, por meio do Decreto n° 7.508/2011, surge no momento em que os gestores, profissionais de saúde e trabalhadores detêm maior compreensão da organização constitucional e legal do SUS e o usuário sobre o seu direito à saúde. De acordo com o decreto citado anteriormente, avalie as afirmações a seguir. I- A integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na rede de atenção à saúde, mediante referenciamento do usuário na rede regional e interestadual, conforme pactuado nas comissões intergestoras. II- Mapa da Saúde é a descrição geográfica da distribuição de recursos humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada que será utilizada na identificação das necessidades de saúde e orientará o planejamento integrado dos entes federativos, contribuindo para o estabelecimento de metas de saúde. 70 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL III- Região de Saúde é o espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/228182>. Acesso em: 23 AGO. 2021. a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) I e III, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE Para desenvolver a política pública de saúde é preciso, inicialmente, diagnosticar a condição de saúde da população brasileira. Segundo as informações divulgadas pelo Ministério da Saúde, a estimativa de vida do brasileiro aumentou para 72,7 anos em média, passando a viver mais tempo; em contrapartida, a taxa de natalidade decresceu de 6,2 filhos por mulher nos anos 60 para 1,8 filhos por mulher até 2009. Acadêmico, nessa perspectiva, constatamos que a população no Brasil está envelhecendo, as pessoas vivem mais tempo e nascem menos crianças; e o índice de mortalidade aumentou devido a doenças crônicas que afetam 79,1% dos idosos de 65 anos ou mais. Segundo Mendes (2012, p. 34-35 apud ZETSCHE, 2014, p. 21), “Ademais, 31,3% da população geral, em torno de 60 milhões de pessoas, têm doenças crônicas, e 5,9% dessa população total têm três ou mais dessas doenças crônicas”. Diariamente, o SUS presta atendimento a milhares de usuários que furtivamente adoecem, necessitando de intervenção médica, realização de exames, cirurgias e internações em hospitais; são considerados atendimentos de problema agudo, pois quando solucionado, o paciente é liberado. Para o atendimento de gestantes ou usuários de drogas, álcool e/ou portadores de doenças sexualmente transmissíveis, que necessitam de acompanhamento, é requerido o agendamento da consulta. TÓPICO 4 — POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE 71 O atendimento a domicílio feito pelo médico da Unidade Básica de Saúde visa atender a pessoas impossibilitadas de deslocamento em virtude de graves acidentes, por exemplo. São realizados os procedimentos mais comuns de recuperação, por meio de curativos e fisioterapia; além destes, também se inclui aqui o atendimento a pacientes acometidos das doenças ocupacionais como LER e DORT, o que leva um grande número de trabalhadores à incapacidade funcional. No entanto, muitos atendimentos seguem uma inversão do modelo de atenção à saúde, “[...] demandado pela maioria das pessoas e denominado de queixa conduta”, como afirma Zetzsche (2014, p. 23). Após a consulta e a prescrição de exames, o paciente sente-se melhor e desiste dos exames. Os sintomas ressurgem e a doença se instala com gravidade, e o retorno ao médico é inevitável, o que representa um alto custo para o SUS, e maior ganho para a iniciativa privada pela quantidade de exames de alto custo, e para a indústria farmacêutica, pela quantidade de medicamentos. 5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE E PROGRAMAS ESPECÍFICOS Pela complexidade de atuação do SUS em todo o território nacional, criaram-se políticas nacionais para o combate de doenças e prevenção em saúde, coordenadas pelo Ministério da Saúde e operacionalizadas em programas específicos no combate a doenças. O Brasil detém a tecnologia para a fabricação de muitas das vacinas utilizadas nas campanhas de saúde pública do país. A Fiocruz – Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e o Instituto Butantã, em São Paulo, são considerados centros de excelência para a fabricação de imunobiológicos. Ambas as instituições são órgãos públicos (ZETZSCHE, 2014, p. 244). IMPORTANT E No Brasil, temos várias políticas de saúde operacionalizadas por programas presentes em todo o país, vejamos algumas: 72 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL QUADRO 6 – DEMONSTRATIVO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS ESPECÍFICOS DE SAÚDE POLÍTICA PÚBLICA/ PROGRAMA OBJETIVO PROVAB Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PROVAB) - Estimular a formação do médico para a real necessidade da população brasileira e levar esse profissional para localidades com maior carência para este serviço. PROGRAMA ACADEMIA DA SAÚDE Desde 2011, o Ministério da Saúde vem promovendo a implantação e implementação de polos da Academia da Saúde nos municípios brasileiros. Os polos são espaços físicos dotados de equipamentos, estrutura e profissionais qualificados, com o objetivo de contribuir para a promoção da saúde e produção do cuidado e de modos de vida saudáveis da população. MAIS MÉDICOS O Programa Mais Médicos faz parte de um amplo pacto de melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde, que prevê mais investimentos em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde, além de levar mais médicos para regiões onde há escassez e ausência de profissionais. MELHOR EM CASA Melhorar e ampliar a assistência no SUS a pacientes com agravos de saúde, que possam receber atendimento humanizado, em casa, e perto da família. FARMÁCIA POPULAR O Governo Federal criou o Programa Farmácia Popular do Brasil para ampliar o acesso aos medicamentos para as doenças mais comuns entre os cidadãos. O Programa possui uma rede própria de Farmácias Populares e a parceria com farmácias e drogarias da rede privada, chamada de "Aqui tem Farmácia Popular". CARTÃO NACIONAL DE SAÚDE Cartão Nacional de Saúde é um instrumento que possibilita a vinculação dos procedimentos executados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) ao usuário, ao profissional que os realizou e também à unidade de saúde em que foram realizados. Para tanto, é necessária a construção de cadastros de usuários, de profissionais de saúde e de unidades de saúde. A partir desses cadastros, os usuários do SUS e os profissionais de saúde recebem um número nacional de identificação. PRONTO ATENDIMENTO UPA 24h As Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24h são estruturas de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde e as portas de urgência hospitalares, onde, em conjunto com estas, compõem uma rede organizada de Atenção às Urgências. HUMANIZASUS A Política Nacional de Humanização existe desde 2003 para efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários. DOAÇÃO DE ÓRGÃOS O Sistema Nacional de Transplantes (SNT),instituído pelo Decreto n° 2.268, de 30 de junho de 1997, é a instância responsável pelo controle e pelo monitoramento dos transplantes de órgãos, de tecidos e de partes do corpo humano, realizados no Brasil. PNAN – POLÍTICA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), aprovada no ano de 1999, integra os esforços do Estado brasileiro, que por meio de um conjunto de políticas públicas propõe respeitar, proteger, promover e prover os direitos humanos à saúde e à alimentação. A completares dez anos de publicação da PNAN, deu-se início ao processo de atualização e aprimoramento das suas bases e diretrizes, de forma a consolidar-se como uma referência para os novos desafios a serem enfrentados no campo da alimentação e nutrição no Sistema Único de Saúde (SUS). TÓPICO 4 — POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE 73 FONTE: Adaptado de <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_ promocao_saude_3ed.pdf>. Acesso em: 6 set. 2021. SAMU O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192 tem como objetivo chegar precocemente à vítima após ter ocorrido alguma situação de urgência ou emergência de natureza clínica, cirúrgica, traumática, obstétrica, pediátrica, psiquiátrica, entre outras, que possa levar ao sofrimento, a sequelas ou mesmo à morte. Trata-se de um serviço pré-hospitalar, que visa conectar as vítimas aos recursos que elas necessitam e com a maior brevidade possível. PROGRAMAS DE CONTROLE DE CÂNCERPOLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ONCOLÓGICA O câncer de mama é o mais incidente na população feminina mundial e brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma. Políticas públicas nessa área vêm sendo desenvolvidas no Brasil desde meados dos anos 1980 e foram impulsionadas pelo Programa Viva Mulher em 1998. O controle do câncer de mama foi reafirmado como plano de fortalecimento da rede de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer, lançado pela presidente da República em 2011. QualiSUS - REDE QualiSUS - Rede é um projeto formalizado a partir de Acordo de Empréstimo com o Banco Mundial, com a finalidade de contribuir para a organização de redes regionalizadas de atenção à saúde no Brasil. CONTROLE DO TABAGISMO O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consumo de derivados do tabaco, seguindo um modelo no qual ações educativas, de comunicação, de atenção à saúde, associadas às medidas legislativas e econômicas, potencializam-se para prevenir a iniciação do tabagismo, promover a cessação de fumar e proteger a população d exposição à fumaça ambiental do tabaco. BANCOS DE LEITE HUMANO A Rede BLH tem por missão a promoção da saúde da mulher e da criança mediante a integração e a construção de parcerias com órgãos federais, a iniciativa privada e a sociedade. POLÍTICA DE PREVENÇÃO AO CÂNCER GINECOLÓGICO E DA PREVENÇÃO DA DST Estratégia criada pelo INCA visando à ampliação da assistência oncológica no Brasil pela implantação de serviços que integram os diversos tipos de recursos necessários à atenção oncológica de alta complexidade em hospitais gerais. Neste cenário, o trabalho da Vigilância Epidemiológica é fundamental para prever as ações que o Estado deve realizar a partir da coleta de informações do perfil epidemiológico da população. A Vigilância Epidemiológica acompanha a evolução de determinadas doenças e adota medidas que impedem que as pessoas sejam expostas ao contágio de doenças transmissíveis. Trouxemos para você, acadêmico, um pouco do contexto que foi construído durante longos anos por nosso sistema de saúde brasileiro. Ele ainda está em construção, adaptação, com novas propostas surgindo diariamente, afinal, é um grande desafio a concepção de saúde de qualidade para todos. 74 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • No Brasil a saúde é um direito constitucional e dever do Estado. • O SUS é o sistema de saúde nacional que funciona em rede, norteado pelos princípios de universalidade, integralidade e igualdade determinados na Le Orgânica da Saúde. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 75 1 Conforme determinado pela Constituição Federal de 1988, a questão da saúde pública é dever do Estado, sendo operacionalizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Sem dúvida, atender a esta demanda é um enorme desafio, pelas dimensões e complexidades existentes em nosso país para garantir, a todos, qualidade nas políticas públicas de saúde. Neste contexto, analise as sentenças a seguir: I- O SUS (Sistema Único de Saúde) precisa estar em constante evolução, sendo um processo contínuo de construção. II- O SUS é um dos maiores programas de saúde do mundo. III- A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que o sistema de saúde não fosse estatizado, ou seja, deverá ser assegurado pela iniciativa privada. IV- A ESF (Estratégia de Saúde da Família) é considerada a porta de entrada no sistema SUS. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas. b) ( ) Somente a sentença III está correta. c) ( ) As sentenças III e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 2 No contexto do atendimento ao usuário do sistema de saúde, a estrutura para promover estes procedimentos está dividida em níveis de atenção. Considerando o assunto, analise as sentenças a seguir: I- A atenção básica é caracterizada por ser a porta de entrada dos tratamentos do SUS. II- O usuário que for atendido no nível de atenção básica não poderá receber tratamento nos demais níveis de atenção. III- São considerados como atenção secundária os serviços realizados pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e UPAS (Unidades de Pronto-Atendimento). IV- Os serviços de atenção terciária são realizados nos consultórios médicos. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. AUTOATIVIDADE 76 3 No contexto do modelo de saúde existe a classificação de níveis de atenção, os quais estão divididos em primário, secundário e terciário. Sabemos que o maior número de atendimentos aos usuários do sistema de saúde concentra-se no nível de atenção primário. Desta forma, disserte sobre o que trata a Política Nacional de Atenção Básica. 4 O sistema de saúde pode ser definido como um conjunto de relações econômicas, políticas e institucionais, que refletem na condução das atividades que promovem a saúde, com serviços que visam alcançar esses resultados. Como o Sistema de Saúde Brasileiro é considerado? a) ( ) Privado. b) ( ) Parcial. c) ( ) Universal. d) ( ) Público. 77 ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ALBORNOZ, S. 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No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O PROFISSIONAL BIOMÉDICO TÓPICO 2 – ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE TÓPICO 3 – PROCESSOS BIOQUÍMICOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 82 83 UNIDADE 2 TÓPICO 1 — O PROFISSIONAL BIOMÉDICO 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico iremos abordar um pouco do profissional biomédico, revisar e atualizar algumas informações que são de extrema importância para nossa vida profissional. Vale lembrar que a biomedicina é um curso novo, criado no ano de 1966, ainda com o nome de Ciências Biológicas – modalidade médica. Com o objetivo da formação de um profissional com habilidades suficientes para atuação como docente ou pesquisador científico em áreas básicas de conhecimento em saúde. Somente em 3 de setembro de 1979, o Congresso Nacional aprovou a Lei n° 6.684, que regulamenta a profissão de biomédico, porém, nessa época, a biomedicina e as ciências biológicas ainda estavam vinculadas. O desmembramento das profissões só ocorreu com a sansão da Lei n° 7.017, em agosto de 1982, que separou as categorias de Biólogos e Biomédicos. O Decreto n° 88.439, de 28 de junho de 1983, veio regulamentar o exercício da profissão de biomédico separadamente, sendo oficialmente considerado como profissional da área da saúde em 1998, pela Resolução CNS n° 287. A Biomedicina consagrou-se como uma das mais completas e abrangentes profissões da saúde. Seus profissionais ocupam cargos e funções de destaque nas áreas da docência, da pesquisa e da saúde, elevando a categoria e demonstrando a eficácia e a qualidade de sua atuação no Brasil e no exterior (REGULAMENTAÇÃO, 2020, s. p.) O Ministério da Educação (MEC), amparado no Parecer CNE/CES n° 104, de 13 de março de 2002, publicou a Resolução CNE/CES n° 2, de 18 de fevereiro de 2003, que institui as diretrizes curriculares do curso de Biomedicina. Documentos delineiam o perfil técnico-profissional e gerencial desejado aos egressos do curso de Biomedicina. Hoje, com 31 habilitações o Biomédico deve ser um profissional da área da saúde com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis do sistema de saúde sempre respeitando os preceitos éticos, respeito ao ser humano e agindo com rigor científico em todas suas atividades. Ao longo deste tópico, vamos relembrar algumas das regulamentações da profissão, assim como atualização do código de ética do profissional biomédico. UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 84 2 CONSELHOS DE BIOMEDICINA A fim de realizar a fiscalização da profissão no Brasil, temos instituído o Conselho Federal de Biomedicina e seus Conselhos Regionais. 2.1 CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA Instituído pela Lei n° 6.684, de 3 de setembro de 1979, o Conselho Federal de Biomedicina é o principal órgão regulamentador da profissão do Biomédico. Entre suas funções estão, orientar, disciplinar e zelar pelo exercício da biomedicina no país, criando resoluções que normatizam as áreas de atuação, habilitações profissionais, responsabilidades técnicas, documentações e condutas de acordo com o código de ética da profissão. 2.2 CONSELHO REGIONAL DE BIOMEDICINA Você sabia, acadêmico, que cabe aos Conselhos Regionais de Biomedicina julgar e decidir, os processos de infrações às leis e ao código de ética cometidos pelo profissional biomédico. Além de organizar, disciplinar e manter atualizado o registro dos profissionais e pessoas jurídicas inscritas para exercer atividades relacionadas à profissão. Para atender todas as Unidades Federativas e o Distrito Federal, a jurisdição dos Conselhos Regionais de Biomedicina no Brasil é dividida em seis regiões. FIGURA 1 – CONSELHOS REGIONAIS DE BIOMEDICINA E SEUS RESPECTIVOS ESTADOS DE JURISDIÇÃO FONTE: <http://twixar.me/857m>. Acesso em: 24 TÓPICO 1 — O PROFISSIONAL BIOMÉDICO 85 É muito importante que você, futuro profissional biomédico, já conheça o site de seu conselho regional. • Conselho Regional de Biomedicina – 1ª Região: contempla os estados do Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Acesse em: https://crbm1.gov.br/. • Conselho Regional de Biomedicina – 2ª Região: contempla os estados do Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Acesse em: https://crbm2.gov.br/. • Conselho Regional de Biomedicina – 3ª Região: contempla o Distrito Federal e os estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Tocantins. Acesse em: https://crbm3.gov.br/. • Conselho Regional de Biomedicina – 4ª Região: contempla os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Acesse em: https://crbm4.gov.br/. • Conselho Regional de Biomedicina – 5ª Região: contempla os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Acesse em: https://crbm5.gov.br/. • Conselho Regional de Biomedicina – 6ª Região: contempla o estado do Paraná. Acesse em: https://crbm6.gov.br/. DICAS Acadêmico além dos conselhos de biomedicina temos também os sindicatos e associações que estão presentes para auxiliar os profissionais. • SINDICATOS: eles defendem e fazem prevalecer os direitos trabalhistas garantidos pela CLT. Isso inclui a jornada de trabalho ideal, o piso salarial compatível com a categoria, os acordos anuais celebrados entre empregados e empregadores e lutam pela melhoria das condições laborais. • ASSOCIAÇÕES: possui o cunho científico com o objetivo de promover o aperfeiçoamento, agregando conhecimento ao currículo de profissionais e estudantes através de cursos, palestras, congressos e jornadas, encontros, simpósios e demais eventos científicos. NOTA 3 HABILITAÇÕES São amplas as áreas de atuações do profissional biomédico, porém, para desenvolver suas atividades, o profissional deve ter o reconhecimento da habilitação na área específica em que atua. “O biomédico que atua em setor para o qual não tem a necessária habilitação corre o risco de sofrer punição perante o código de ética da profissão o que pode resultar inclusive na cassação de seu registro pois essa infração é considerada gravíssima” (RELAÇÃO, 2021, s. p.). UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 86 QUADRO 1 – HABILITAÇÕES DO PROFISSIONAL BIOMÉDICO FONTE: <https://crbm1.gov.br/site2019/wp-content/uploads/2020/10/ HABILITA%C3%87%C3%95ES_PICS-1024x570.png>. Acesso em: 24 ago. 2021. O biomédico pode possuir mais de uma habilitação. Sua primeira habilitação é adquirida na graduação, quando ele tem de cumprir obrigatoriamente estágio supervisionado em, no mínimo, uma especialidade, porém, existem instituições de ensino em que o graduando pode estagiar em várias delas, respeitadas as 500 (quinhentas) horas mínimas por área (CRBM1, 2021). Depois da conclusão da graduação, o biomédico pode adquirir uma nova habilitação realizando cursos de especialização, mestrado ou doutorado, cuja grade curricular seja reconhecida pelo Ministério da Educação e tenha o perfil de determinadahabilitação escolhida pelo profissional. Outras formas de obter habilitação é realizando a residência biomédica multidisciplinar ou aprovação no exame de título de especialista da Associação Brasileira de Biomedicina (CRBM1, 2021). E aí, acadêmico, já parou para pensar com qual área você mais se identifica? Acadêmico, é muito importante lembrar que devemos estar com todas as nossas obrigações legais em dias em frente aos Conselhos Regionais e Federal de Biomedicina. E como vimos anteriormente, os conselhos de biomedicina investigam atuação dos profissionais não habilitados que estão atuando, o que geram processos e, em alguns casos, até prisão. IMPORTANT E TÓPICO 1 — O PROFISSIONAL BIOMÉDICO 87 A seguir, veja uma reportagem sobre fiscalização de falsos profissionais exercendo de forma errada a profissão. APÓS DENÚNCIA DO CRBM-5, FALSA BIOMÉDICA É PRESA A Polícia Civil prendeu nesta segunda-feira (25) uma mulher que se dizia biomédica e realizava procedimentos estéticos em Cachoeirinha (RS). Em uma ação com a Vigilância Sanitária, a 1ª Delegacia de Polícia do município fechou a clínica onde ela atuava e oferecia, entre outros procedimentos, bronzeamento artificial. O CRBM-5 enviou, no segundo semestre do ano passado, uma denúncia de exercício ilegal da profissão ao Ministério Público do Rio Grande do Sul após constatar que a proprietária do estabelecimento não possuía registro de biomédica. Em 2020, o departamento de Fiscalização encaminhou outras 13 denúncias similares ao MP/RS e MP/SC para impedir o exercício ilegal da Biomedicina por pessoas sem habilitação correta e sem registro no CRBM-5. Com ações de investigação e de monitoramento como essas, realizadas sistemática e rigorosamente pela Fiscalização, o Conselho valoriza os profissionais devidamente habilitados e impossibilita a atuação de pessoas que, além de prejudicarem a imagem da Biomedicina, representam um risco para a sociedade. FONTE: <https://crbm5.gov.br/apos-denuncia-do-crbm-5-falsa-biomedica-e-presa/>. Acesso em: 25 ago. 2021. 3.1 BIOMÉDICO PATOLOGISTA CLÍNICO O profissional Biomédico analista clínico tem competência para coletar amostras e realizar todos os tipos de exames de Análises Clínicas, como todos os processamentos de amostras de sangue, análises pré e pós-transfusionais, e análise dos demais fluidos corporais até a emissão e assinatura dos respectivos laudos. As principais áreas de competência do analista clínico são: Parasitologia, Microbiologia, Bioquímica, Imunologia, Hematologia e Líquidos Corporais. O profissional habilitado em patologia clínica pode assumir responsabilidade técnica por laboratórios de análises clínicas e estabelecimentos afins, como postos de coleta, respeitando as legislações vigentes do Conselho Federal de Biomedicina e Agencia Nacional da Vigilância Sanitária. A Patologia Clínica é regulamentada pela Resolução n° 36, de 5 de outubro de 1991, do Conselho Federal de Biomedicina. IMPORTANT E UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 88 No Tópico 2, iremos aprofundar o estudo na função do biomédico patologista clínico e suas atribuições no laboratório de análises clínicas. ESTUDOS FU TUROS 3.2 BIOMÉDICO ESTETA O biomédico esteta utiliza métodos e técnicas invasivas não cirúrgicas (minimamente invasivas), para tratamento das disfunções estéticas corporais, faciais e envelhecimento fisiológico relacionados à derme e seus anexos, tecido adiposo e metabolismo. Entre as principais técnicas realizadas por esse profissional estão: aplicação de toxina botulínica tipo A; mesoterapia/intradermoterapia; preenchimentos semipermanentes; peelings químicos; carboxiterapia; laser fracionado; luz intensa pulsada; dentre outras técnicas invasivas não cirúrgicas utilizadas no rejuvenescimento cutâneo ou de alterações nas conformações corporais (celulite, estrias, flacidez, gordura localizada etc.). Com o objetivo de cuidar da saúde, bem-estar e beleza do paciente, levando os melhores recursos da saúde relacionados ao seu amplo conhecimento para recuperação dos tecidos e do organismo como um todo. A atuação deve estar em consonância com sua capacitação profissional e legislação vigente do Conselho Federal de Biomedicina e Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A biomedicina estética é regulamentada pelas seguintes normativas e resoluções do Conselho Federal de Biomedicina: • Normativa n° 1, de 10 de abril de 2012: dispõe sobre rol de atividades para fins de inscrição e fiscalização dos profissionais Biomédicos, Técnicos, Tecnólogos nas áreas de acupuntura, estética, citologia e anatomia patológica e imaginologia, junto aos Conselhos Regionais de Biomedicina. Disponível em: http://cfbm.gov.br/wp-content/ uploads/2016/02/normativas.pdf. • Resolução n° 214, de 10 de abril de 2012: dispõe sobre atos do profissional biomédico e, insere-se no uso de substâncias em procedimentos estéticos. Disponível em: http:// cfbm.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/Res-2012-214.pdf. • Resolução n° 200, de 1° de julho de 2011: dispõe sobre critérios para habilitação em Biomedicina Estética. Disponível em: http://cfbm.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/ Res-2011-200.pdf • Resolução n° 197, de 21 de fevereiro de 2011: dispõe sobre as atribuições do profissional Biomédico no Exercício da Saúde Estética e Atuar como Responsável Técnico de Empresa que Executam Atividades para fins Estéticos. Disponível em: http://cfbm.gov.br/ wp-content/uploads/2016/06/Res-2011-197.pdf. IMPORTANT E TÓPICO 1 — O PROFISSIONAL BIOMÉDICO 89 Para mais informações da habilitação e dos procedimentos que o profissional biomédico esteta pode realizar, verifique o site da Sociedade Brasileira de Biomedicina Estética: https://sbbme.org.br/. DICAS Ao longo das unidades, iremos abordar outras habilitações trazendo informações importantes sobre elas. ESTUDOS FU TUROS 4 CÓDIGO DE ÉTICA DO BIOMÉDICO A Resolução n° 330, de 5 de novembro de 2020, regulamenta o Código de Ética do Profissional Biomédico, que deve ser seguido por todos os profissionais independentemente da área em que atua, garantindo seus direitos e deveres de modo que, quando acometido por infrações, acarretarão sanções disciplinares impostas pelos Conselhos Regionais de Biomedicina. Acadêmico, sabemos da importância das regras e de boas condutas no dia a dia. Não poderia ser diferente com a nossa profissão, não é mesmo? 4.1 DEVERES DO PROFISSIONAL BIOMÉDICO O Capítulo II do Código de Ética descreve os deveres do profissional biomédico, e sempre devemos destacar que o profissional deve respeitar as leis e normas estabelecidas para o exercício da profissão. UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 90 Art. 4° Obriga-se o biomédico a: I- Zelar pela existência, fins e prestígio dos Conselhos de Biomedicina, dos mandatos e encargos que lhe forem confiados e cooperar com os que forem investidos de tais mandatos e encargos; II- Manifestar, quando de sua inscrição no Conselho, a existência de qualquer impedimento para o exercício da profissão e comunicar, no prazo de trinta dias, a superveniência de incompatibilidade ou impedimento; III- Respeitar as leis e normas estabelecidas para o exercício da profissão; IV- Guardar sigilo profissional; V- Exercer a profissão com zelo e probidade, observando as prescrições legais; VI- Zelar pela própria reputação, mesmo fora do exercício profissional; VII- Representar ao poder competente contra autoridade e empregado por falta de exação no cumprimento do dever; VIII- Pagar em dia, anuidade, taxas, emolumentos e multas devidas ao CRBM IX- Observar os ditames da ciência e da técnica, bem como as boas práticas no exercício da profissão; X- Respeitar a atividade de seus colegas e outros profissionais; XI- Zelar pelo perfeito desempenho ético da Biomedicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão;XII- Comunicar às autoridades sanitárias e profissionais, com discrição e fundamento, fatos que caracterizem infração a este Código e às normas que regulam o exercício das atividades biomédicas; XIII- Comunicar ao Conselho Regional de Biomedicina e às autoridades sanitárias a recusa ou a demissão de cargo, função ou emprego, motivada pela necessidade de preservar os legítimos interesses da profissão, da sociedade, da saúde pública e do meio ambiente; XIV- Denunciar às autoridades competentes quaisquer formas de poluição, deterioração do meio ambiente ou riscos inerentes ao trabalho, prejudiciais à saúde e à vida; XV- Oficiar pelos canais competentes ao CRBM todos os vínculos profissionais, com dados completos da empresa (razão social, nome dos sócios, CNPJ, endereço, horário de funcionamento e, se possuir, informar a responsabilidade técnica), manter atualizado o endereço residencial, telefones e e-mail; XVI- Oficiar pelos canais competentes, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias ao CRBM que estiver inscrito sobre o seu afastamento provisório e/ou definitivo dos locais onde exercer a Responsabilidade Técnica. XVII- Solicitar, por escrito ao CRBM que estiver inscrito, a suspensão ou cancelamento do registro quando não estiver exercendo a profissão. XVIII- Comprovar documentalmente ao CRBM, em consonância com as exigências e regulamentos em vigor, o aprimoramento profissional adquirido para que lhe seja conferida a respectiva habilitação. XIX- Solicitar a transferência quando for atuar em outra jurisdição. FONTE: <https://cfbm.gov.br/cfbm-publica-novo-codigo-de-etica-do-profissional- biomedico/>. Acesso em: 23 ago. 2021. TÓPICO 1 — O PROFISSIONAL BIOMÉDICO 91 4.2 DIREITOS DO PROFISSIONAL BIOMÉDICO Além dos deveres, o profissional devidamente habilitado e registrado possui direitos perante aos conselhos de biomedicina, sendo eles descritos no Capítulo IV, todo profissional formado e devidamente habilitado tem o direito de exercer a profissão em todo o território brasileiro e todas as funções que estão descritas nas habilitações em que está registrado. Art. 6° São direitos do Biomédico: I- Exercer com liberdade e dignidade a Biomedicina em todo o território nacional sem ser discriminado por questões de credo religioso, sexo, raça, nacionalidade, orientação sexual, idade, condição social, opinião política ou de qualquer outra natureza; II- Indicar falhas nos regulamentos e normas das instituições em que trabalhe, quando as julgar indignas do exercício da profissão ou prejudiciais à coletividade, devendo dirigir-se, nesses casos, aos órgãos competentes e, obrigatoriamente ao Conselho Regional de Biomedicina de sua jurisdição; III- Recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho sejam indignas ou possam prejudicar pessoas e mesmo a coletividade; IV- Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição pública ou privada para qual labore deixar de oferecer condições mínimas para o exercício da profissão ou não o remunerar condignamente, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar incontinente sua decisão ao Conselho Regional de Biomedicina ao qual seja inscrito; V- Resguardar o sigilo profissional; VI- Ter respeitada, em nome da liberdade de profissão e do sigilo profissional, a inviolabilidade do seu local de trabalho, de seus arquivos e dados, de sua correspondência e de suas comunicações em qualquer tipo de mídia, salvo caso de requisição judicial; VII- Requerer desagravo público ao Conselho Regional de Biomedicina quando atingido no exercício de sua profissão; VIII- Usar os símbolos privativos da profissão de biomédico; IX- Reclamar, por escrito, perante qualquer juízo ou autoridade, contra a inobservância deste código e da legislação pertinente à profissão de biomédico; X- Dispor de boas condições de trabalho e receber justa remuneração por seu desempenho; XI- Não se deixar explorar por terceiros seja com objetivo de lucro, finalidade política ou religiosa; XII- Manter o sigilo profissional é inerente à profissão, impondo-se o seu respeito, salvo grave ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando o biomédico se veja afrontado pelo próprio usuário e, em defesa própria, tenha que revelar segredo, porém sempre restrito ao interesse da justiça; XIII- Exercer simultaneamente a atividade profissional em mais de uma jurisdição, desde que inscritos nas mesmas. FONTE: <http://twixar.me/JS7m>. Acesso em: 23 ago. 2021. UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 92 4.3 LIMITES PARA PROPAGANDA, PUBLICIDADE E ANÚNCIO DA ATIVIDADE BIOMÉDICA O Capítulo V do código de ética do biomédico (CFBM, 2020) fala dos limites para propaganda, publicidade e anúncio da atividade biomédica, considerado como qualquer tipo de divulgação ou promoção da atividade profissional do biomédico, independente do meio de divulgação. Toda divulgação realizada deve conter embasamento científico, visando o esclarecimento e a educação da população. Evitando a autopromoção e a prática abusiva ou que viole os direitos do consumidor. Independentemente se for individual ou da clínica em que o biomédico é responsável técnico, todas as publicações devem conter: • nome do biomédico, da pessoa jurídica e os seus números de registro no conselho; • habilitações; • título do profissional; • endereço e horário de trabalho. Também temos nossa obrigação quanto ao que não podemos realizar em uma publicação, pois é vedada a utilização de qualquer adulteração de dados a fim de benefício próprio na publicação, além das imagens de pacientes, as quais devem estar sob previa autorização do próprio paciente, através da assinatura do termo livre esclarecido. Além das imagens postadas, as legendas também possuem regras, não podendo conter expressões que garantam ou caracterizem que aquele resultado vá ocorrer. [...] usar expressões que caracterizem ou garantam, prometam ou induzam a determinados resultados do procedimento, sem efetiva comprovação, bem como utilizar-se de expressões como “o (a) melhor”, “o (a) mais eficiente”, “o (a) único (a) capacitado (a)”, “resultado garantido” ou outras capazes de induzir o usuário ao erro, sensacionalismo, a autopromoção, a concorrência desleal, a mercantilização da Biomedicina ou a promessa de resultado (CFBM, 2020, Art. 11). Vale lembrar que se a produção da publicidade for contratada à terceiros, ela deve passar pela aprovação do biomédico responsável técnico pela clínica e seguir o que diz o código de ética. ATENCAO TÓPICO 1 — O PROFISSIONAL BIOMÉDICO 93 Como você já sabe, acadêmico, as redes sociais vêm sendo uma das ferramentas de divulgação de trabalhos por diversos profissionais, ferramenta essa, muito valiosa, e um dos pontos mais importantes do quinto capitulo é sobre as instruções para postagem de fotos dos procedimentos em redes sociais, o que, antes da nova resolução, era proibida para os profissionais, hoje é liberada com regras específicas que devem ser seguidas. § 1° – O biomédico poderá utilizar mídia exterior e/ou mídia eletrônica, obedecendo a legislação pertinente. As mídias deverão obedecer às indicações constantes do artigo 9° e alíneas, ainda: I- A divulgação de autorretratos (selfies) de biomédicos, acompanhados de usuário ou não, desde que com autorização prévia do usuário ou de seu representante legal, através de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE; II- Toda atividade passível de autorização do usuário deverá ser obrigatoriamente encaminhada ao respectivo conselho via digital, sob responsabilidade exclusivado Responsável Técnico – RT; III- Divulgação de imagens por biomédico responsável pela sua execução cientificamente comprovada, com autorização prévia do usuário ou de seu representante legal, através de TCLE; IV- Publicar imagens e resultado final de procedimentos, salvo nos casos onde houver, além do TCLE para esse fim, os seguintes dizeres constantes na descrição ou legenda da peça publicitária: “Esta imagem não representa, em hipótese alguma, garantia de resultado. Cada ser humano tem características anatômicas e fisiológicas únicas”; V- No caso de divulgação de imagens relativas aos procedimentos, conhecidos como “antes” e “depois” deverá constar legenda nas imagens contendo a seguinte informação autorizada em TCLE: divulgação autorizada pelo usuário” (CFBM, 2020). FIGURA 2 – PROFISSIONAL BIOMÉDICO ESTETA REALIZANDO PROCEDIMENTO INJETÁVEL EM PACIENTE FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/woman-gets-injection-her-face-beau- ty-658289851>. Acesso em: 24 ago. 2021. UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 94 Acadêmico, acesse o Manual do Biomédico publicado pelo Conselho Regional de Biomedicina – 1ª Região – edição de 2021. Disponível em: https://crbm1.gov.br/site2019/ wp-content/uploads/2021/06/Manual_do_Biomedico_2021_V4.pdf. DICAS Uma leitura importante para todo o profissional biomédico é o Código de Ética do Biomédico. Acesse na integra em: https://cfbm.gov.br/legislacao/codigo-de-etica/. DICAS 95 Neste tópico, você aprendeu que: • O Conselho Federal de Biomedicina tem a função de orientar, disciplinar e zelar pelo exercício da biomedicina. • É o CFBM que cria as resoluções que normatizam as áreas de atuação, as habilitações profissionais, responsabilidades técnicas, documentações e condutas de acordo com o código de ética da profissão. • Os Conselhos Regionais de Biomedicina (CRBMs) têm a função de julgar e decidir os processos de infrações às leis e ao código de ética cometidos pelo profissional biomédico. • Os CRBMs também organizam, disciplinam e mantêm atualizado o registro dos profissionais e pessoas jurídicas inscritas para exercer atividades relacionadas à profissão. • No Brasil, os Conselhos Regionais de Biomedicina são divididos em seis regiões. • O Código de Ética do Profissional Biomédico foi regulamentado pela Resolução n° 330, de 5 de novembro de 2020, do Conselho Federal de Biomedicina. • Dentre as principais atualizações estão a divulgação em redes sociais, que antes da resolução de 2020 eram proibidas e passaram a ser autorizadas seguindo regras descritas no código de ética. RESUMO DO TÓPICO 1 96 1 (ENADE, 2019) Um biomédico, recém-formado e habilitado em Estética, tornou-se empreendedor e responsável técnico de uma clínica especializada nessa área. Ele contratou uma empresa de marketing para divulgar seus serviços na mídia, anunciando preços, modalidade de pagamento e outras formas de comercialização das suas atividades. Para realização dos procedimentos estéticos, contratou dois colegas biomédicos, um habilitado em Estética e outro, em Patologia Clínica/Análises Clínicas. O biomédico patologista clínico/analista, por não estar trabalhando diretamente na sua área, aceitou remuneração inferior à reivindicada pelo colega biomédico esteta. O biomédico esteta, então, comunicou essa situação ao Conselho Regional de Biomedicina da sua região. Considerando o Código de Ética Profissional Biomédico e a situação apresentada, avalie as afirmações a seguir. I- É direito do biomédico oferecer seus serviços profissionais por meio de mídia para se promover profissionalmente e para reconhecimento da classe biomédica. II- É vedado ao biomédico anunciar preços de serviços, modalidade de pagamento e outras formas de comercialização. III- É dever do profissional biomédico comunicar às autoridades sanitárias e profissionais fatos que caracterizem infração ao Código de Ética e às normas que regulam o exercício das atividades biomédicas. IV- É facultativo ao biomédico aceitar remuneração inferior à reivindicada por um colega sem o seu prévio consentimento ou a autorização do órgão de fiscalização profissional. É CORRETO apenas o que se afirma em: FONTE: <https://smartanswersbr.com/saude/tarefa40646231>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I. b) ( ) IV. c) ( ) I e II. d) ( ) II e III. e) ( ) III e IV. 2 (ENADE, 2013) O Código Deontológico organiza um conjunto de princípios e regras de condutas em cada profissão que primam pelo respeito aos princípios bioéticos da autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. O Conselho Federal de Biomedicina (CFBM), no uso de suas atribuições legais, regulamenta o novo Código de Ética da Profissão com a Resolução n° 198, de 21 fevereiro de 2011. Com base nessas regulamentações e no cumprimento ao Código Deontológico no exercício da Biomedicina, avalie as afirmações a seguir. AUTOATIVIDADE 97 I- O biomédico é um profissional da saúde e deve contribuir para a salvaguarda da saúde pública em geral e das ações de educação dirigidas à comunidade, respeitando todos os princípios deontológicos. II- As normas éticas devem ser seguidas pelos profissionais biomédicos no exercício da profissão independentemente da função ou cargo que ocupam, assim como o sigilo profissional. III- O biomédico obedecerá ao princípio da legalidade, podendo exercer até dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas, sendo vedada a acumulação remunerada de dois cargos públicos. IV- A conduta profissional do biomédico requer sigilo profissional apenas em situações solicitadas pelo paciente ou que não tragam riscos à sua sobrevivência. É CORRETO apenas o que se afirma em: FONTE: <https://www.questoesgratis.com/questoes-de-concurso/questao/288334>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I. b) ( ) IV. c) ( ) I e II. d) ( ) II e III. e) ( ) III e IV. 3 Atualmente, o profissional biomédico pode optar por 31 habilitações dentro da profissão. Considerando que após a primeira habilitação obtida no estágio regular da graduação o biomédico opte por outra área de atuação, quais as formas para obtenção de habilitações após formado. I- Pós-graduação, mestrado ou doutorado regulamentados pelo MEC. II- Residência Multidisciplinar. III- Atuação informal. IV- Prova de título. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I. b) ( ) IV. c) ( ) I, II e IV. d) ( ) II e III. e) ( ) III e IV. 4 O Decreto n° 88.439, de 28 de junho de 1983, veio regulamentar o exercício da profissão de biomédico separadamente do biólogo, junto com o decreto foram instituídos os Conselhos Federal e os Regionais de biomedicina. De acordo com o exposto, descreva a diferença das atribuições entre os Conselhos Federal e os Regionais de biomedicina. 98 5 As redes sociais vêm sendo um importante aliado ao profissional na divulgação de seus serviços, independentemente de sua área de atuação. De acordo com o código de ética, descreva as principais regras perante as publicações nas mídias sociais pelo profissional biomédico. 99 UNIDADE 2 TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, veremos neste Tópico 2 que, para atuar em um laboratório de análises clínicas, o biomédico deve estar habilitado em patologia clínica, esta área abrange uma ampla gama de funções laboratoriais e tem como objetivos o diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças. O biomédico habilitado em patologia clínica está apto a gerenciar todos os setores de um laboratório de análises clínicas, como bioquímica, hematologia, imunologia, urinálise e microbiologia,áreas que abrangem processos específicos que iremos abordar mais a fundo na Unidade 3. Além dos setores citados anteriormente, o patologista clínico também está envolvido no controle de qualidade, sistemas de informação e gerenciamento de recursos e pessoas. Você já parou para pensar como acontecem todos os fluxos dentro de um laboratório? Como evitamos que erros analíticos ocorram e quais danos aos nossos pacientes poderemos evitar? Pois é, ao longo deste tópico iremos conversar um pouco sobre a funcionalidade dos laboratórios de análises clínicas e das regras de controle de qualidade para melhoria de nossa rotina laboratorial. Acadêmico, já vimos muitas leis são de muita importância para o biomédico, e sempre devemos ficar atento a suas atualizações. Além das determinações dos Conselhos de Biomedicina, leis Federais, Estaduais e Municipais que regulam o funcionamento dos estabelecimentos em que estamos atuando e devemos estar atento para não descumprir. A seguir, algumas resoluções e leis nacionais importantes em nossa profissão. • Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n° 302, de 13 de outubro de 2005: dispõe sobre Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Disponível em: http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/5919009/RDC_302_2005_COMP.pdf/ bf588e7a-b943-4334-aa70-c0ea690bc79f. IMPORTANT E 100 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I • Lei n° 11.105, de 24 de março de 2005: regulamenta os incisos II, IV e V do § 1° do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei n° 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória n° 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5°, 6°, 7°, 8°, 9°, 10 e 16 da Lei n° 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm. 2 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS Quando realizamos exames de rotina, não temos a ideia da dimensão do processo que aquele tubo de ensaio pode percorrer para o resultado chegar ao médico. Independentemente do tamanho e estrutura laboratorial, temos resoluções e normativas a serem seguidas pelos profissionais que fazem parte dessa cadeia de serviço. A Resolução RDC n° 302, de 13 de outubro de 2005, que dispõe sobre Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Os laboratórios de análises clínicas são locais destinado à coleta e análise de fluídos corporais a fim de investigar o estado de saúde de um indivíduo, compreendendo as fases pré-analítica, analítica e pós-analítica (BRASIL, 2005). Muitos laboratórios possuem posto de coleta laboratorial que são “Serviço vinculado a um laboratório clínico, que realiza atividade laboratorial, mas não executa a fase analítica dos processos operacionais, exceto os exames presenciais, cuja realização ocorre no ato da coleta” (BRASIL, 2005, s. p.). As amostras coletadas nos postos de coletas são encaminhadas ao laboratório clínico onde serão realizadas as análises solicitadas pelo médico. • Laboratório de análises clínica hospitalar: vinculado, ou em anexo, com uma unidade hospitalar ou clínica que necessita de atendimento 24 horas tem caráter de urgência na prestação do serviço. • Laboratório ambulatorial: não possui vínculo com hospital, atende população geral proveniente de consulta médica a fim de realizar “exames de rotina” ou acompanhamento atendimento em horários específico geralmente de segunda a sábado. • Laboratório de apoio: laboratório para auxílio na demanda de laboratórios menores e que muitas vezes não conseguem suprir para os seus pacientes. NOTA TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 101 Dependendo do tamanho do laboratório, dos setores e do fluxo de pacientes, aumenta ou diminui a complexidade de seus processos. Porém, alguns princípios e regras devem ser seguidos independentemente do tamanho, se é somente um posto de coleta ou uma área técnica com mais de 100 equipamentos. Os processos operacionais devem ser descritos, operados e seguir a RDC n° 302, de 13 de outubro de 2005. 2.1 PROCESSOS OPERACIONAIS Os processos envolvendo a análise de uma amostra biológica são classificados em pré-analítico, analítico e pós-analítico. FIGURA 3 – PROCESSOS OPERACIONAIS DE UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS FONTE: Coan (2015, p. 3) Transporte da Amostra Controle de Qualidade Processamento dos Testes Recebimento da Amostra Preparado para Transporte Preparação do Paciente Coleta de Aurora Competência de Profissional de Saúde Avaliação dos Testes Relatório Armazenamento da Informação 102 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 2.1.1 Fase Pré-analítica Essa fase conta todo o momento de preparação até a coleta e envio da amostra para análise no laboratório. Lembrando que todo esse processo envolve, desde as instruções para realização do preparo para os exames laboratoriais até o processo de envio da amostra para o laboratório. A fase pré-analítica é a mais susceptível a erros, porém é bem mais difícil de controlar, pois algumas partes dessa etapa não ocorre dentro das dependências do laboratório, sendo de responsabilidade do paciente, como, por exemplo, o jejum, atividade física e relação sexual. Porém, é dever do laboratório instruir o paciente de forma correta as recomendações de preparo para realização do exame. Outros critérios são de responsabilidades do profissional do laboratório, como, por exemplo, cadastro do paciente, identificação da amostra, armazenamento e transporte. Todos esses processos devem estar registrados e alinhados com a RDC n° 302/2005 e os colaboradores que fazem parte devem ser treinados para realização. 6.1.1 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem disponibilizar ao paciente ou responsável, instruções escritas e ou verbais, em linguagem acessível, orientando sobre o preparo e coleta de amostras tendo como objetivo o entendimento do paciente. 6.1.2 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem solicitar ao paciente documento que comprove a sua identificação para o cadastro. 6.1.2.1 Para pacientes em atendimento de urgência ou submetidos a regime de internação, a comprovação dos dados de identificação também poderá ser obtida no prontuário médico. 6.1.3 Os critérios de aceitação e rejeição de amostras, assim como a realização de exames em amostras com restrições devem estar definidos em instruções escritas. 6.1.4 O cadastro do paciente deve incluir as seguintes informações: a) número de registro de identificação do paciente gerado pelo laboratório; b) nome do paciente; c) idade, sexo e procedência do paciente; d) telefone e/ou endereço do paciente, quando aplicável; e) nome e contato do responsável em caso de menor de idade ou incapacitado; f) nome do solicitante; g) data e hora do atendimento; h) horário da coleta, quando aplicável; i) exames solicitados e tipo de amostra; j) quando necessário: informações adicionais, em conformidade com o exame (medicamento em uso, dados do ciclo menstrual, indicação/ observação clínica, dentre outros de relevância); k) data prevista para a entrega do laudo; l) indicação de urgência, quando aplicável. TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 103 6.1.5 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem fornecer ao paciente ambulatorial ou ao seu responsável, um comprovante de atendimento com: número de registro, nome do paciente, datado atendimento, data prevista de entrega do laudo, relação de exames solicitados e dados para contato com o laboratório. 6.1.6 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem dispor de meios que permitam a rastreabilidade da hora do recebimento e/ou coleta da amostra. 6.1.7 A amostra deve ser identificada no momento da coleta ou da sua entrega quando coletada pelo paciente. 6.1.7.1 Deve ser identificado o nome do funcionário que efetuou a coleta ou que recebeu a amostra de forma a garantir a rastreabilidade. 6.1.8 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem dispor de instruções escritas que orientem o recebimento, coleta e identificação de amostra. 6.1.9 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem possuir instruções escritas para o transporte da amostra de paciente, estabelecendo prazo, condições de temperatura e padrão técnico para garantir a sua integridade e estabilidade. 6.1.10 A amostra de paciente deve ser transportada e preservada em recipiente isotérmico, quando requerido, higienizável, impermeável, garantindo a sua estabilidade desde a coleta até a realização do exame, identificado com a simbologia de risco biológico, com os dizeres “Espécimes para Diagnóstico” e com nome do laboratório responsável pelo envio. 6.1.11 O transporte da amostra de paciente, em áreas comuns a outros serviços ou de circulação de pessoas, deve ser feito em condições de segurança conforme item 5.7. 6.1.12 Quando da terceirização do transporte da amostra, deve existir contrato formal obedecendo aos critérios estabelecidos neste Regulamento. 6.1.13 Quando da importação ou exportação de “Espécimes para Diagnóstico”, devem ser seguidas a RDC/ANVISA n° 01, de 06 de dezembro de 2002 e a Portaria MS n° 1985, de 25 de outubro de 2001, suas atualizações ou outro instrumento legal que venha substituí-las. FONTE: BRASIL. Resolução RDC n° 302, de 13 de outubro de 2005. Aprova o Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Brasília, DF: Anvisa, 2005. p. 9-10. Disponível em: https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/RDC-302-2005.pdf. Acesso em: 23 ago. 2021. 2.1.2 Fase Analítica A fase analítica é o momento em que a análise é realizada, ela pode ocorrer no laboratório ou nos próprios postos de coletas em alguns casos específicos, como ocorre nos casos dos testes cutâneos (ex.: PPD), porém, em todos os casos o laboratório deve conter instruções escritas e referenciadas de acordo com as metodologias utilizadas (BRASIL, 2005). 104 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 6.2.1 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem dispor de instruções escritas, disponíveis e atualizadas para todos os processos analíticos, podendo ser utilizadas as instruções do fabricante. 6.2.2 O processo analítico deve ser o referenciado nas instruções de uso do fabricante, em referências bibliográficas ou em pesquisa cientificamente válida conduzida pelo laboratório. 6.2.3 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem disponibilizar por escrito, uma relação que identifique os exames realizados no local, em outras unidades do próprio laboratório e os que são terceirizados. 6.2.4 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem definir mecanismos que possibilitem a agilização da liberação dos resultados em situações de urgência. 6.2.5 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem definir limites de risco, valores críticos ou de alerta, para os analitos com resultado que necessita tomada imediata de decisão. 6.2.5.1 O laboratório e o posto de coleta laboratorial devem definir o fluxo de comunicação ao médico, responsável ou paciente quando houver necessidade de decisão imediata. 6.2.6 O laboratório clínico deve monitorar a fase analítica por meio de controle interno e externo da qualidade. 6.2.7 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem definir o grau de pureza da água reagente utilizada nas suas análises, a forma de obtenção, o controle da qualidade. 6.2.8 O laboratório clínico pode contar com laboratórios de apoio para realização de exames. 6.2.8.1 O laboratório de apoio deve seguir o estabelecido neste regulamento técnico. 6.2.9 O laboratório clínico deve: a) manter um cadastro atualizado dos laboratórios de apoio; b) possuir contrato formal de prestação destes serviços; c) avaliar a qualidade dos serviços prestados pelo laboratório de apoio. 6.2.10 O laudo emitido pelo laboratório de apoio deve estar disponível e arquivado pelo prazo de 5 (cinco) anos. 6.2.11 Os serviços que realizam testes laboratoriais para detecção de anticorpos anti-HIV devem seguir, o disposto neste Regulamento Técnico, além do disposto na Portaria MS n°. 59 de 28 de janeiro de 2003 e na Portaria SVS n°. 34 de 28 de julho de 2005, suas atualizações ou outro instrumento legal que venha substituí-la. 6.2.12 Os resultados laboratoriais que indiquem suspeita de doença de notificação compulsória devem ser notificados conforme o estabelecido no Decreto no 49.974-A, de 21 de janeiro de 1961, e na Portaria no 2325, de 08 de dezembro de 2003, suas atualizações, ou outro instrumento legal que venha a substituí-la. 6.2.13 A execução dos Testes Laboratoriais Remotos - TLR (Point-of-care) e de testes rápidos, deve estar vinculada a um laboratório clínico, posto de coleta ou serviço de saúde pública ambulatorial ou hospitalar. TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 105 6.2.14 O Responsável Técnico pelo laboratório clínico é responsável por todos os TLR realizados dentro da instituição, ou em qualquer local, incluindo, entre outros, atendimentos em hospital-dia, domicílios e coleta laboratorial em unidade móvel. 6.2.15 A relação dos TLR que o laboratório clínico executa deve estar disponível para a autoridade sanitária local. 6.2.15.1 O laboratório clínico deve disponibilizar nos locais de realização de TLR procedimentos documentados orientando com relação às suas fases pré-analítica, analítica e pós-analítica, incluindo: a) sistemática de registro e liberação de resultados provisórios; b) procedimento para resultados potencialmente críticos; c) sistemática de revisão de resultados e liberação de laudos por profissional habilitado. 6.2.15.2 A realização de TRL e dos testes rápidos está condicionada a emissão de laudos que determine suas limitações diagnósticas e demais indicações estabelecidas no item 6.3. 6.2.15.3 O laboratório clínico deve manter registros dos controles da qualidade, bem como procedimentos para a realização dos mesmos. 6.2.15.4 O laboratório clínico deve promover e manter registros de seu processo de educação permanente para os usuários dos equipamentos de TLR. FONTE: BRASIL. Resolução RDC n° 302, de 13 de outubro de 2005. Aprova o Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Brasília, DF: Anvisa, 2005. p. 10- 12. Disponível em: https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/RDC-302-2005.pdf. Acesso em: 23 ago. 2021. Procedimento Operacional Padrão (POP), Instrução de Trabalho (IT), Instrução de Bancada (IB), entre outras nomenclaturas, podem ser utilizadas, o importante é ter todo o registro das metodologias que o laboratório utiliza, seus procedimentos e quais os referenciais são a base para a análise. Essas instruções devem ser revisadas todos os anos pelo analista clínico, mesmo que não ocorra mudança nas metodologias adotadas pelo laboratório. E quando ocorre alguma alteração na metodologia realizada pelo laboratório, ela dever ser revisada e readequada. Acadêmico, em 2017, as Sociedades Brasileiras de Cardiologia, Patologia Clínica/Medicina Laboratorial e Análises Clínicas emitiram a seguinte nota: INTERESSANTE 106 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I As Sociedades Brasileiras de Cardiologia, Patologia Clínica/Medicina Laboratorial e Análises Clínicas vêm, por meio deste informe, flexibilizar o tempo de jejum para a realização do perfil lipídico (colesterol, HDL-c, LDL-c e triglicérides). As 12 horas de jejum já não são mais obrigatórias. Os laboratórios poderão realizar a coleta do perfil lipídico independente do tempo de jejum. O médico solicitante poderá acordar com o seu paciente o tempo de jejum a ser realizado. Em certas situações clínicas específicas em que as concentrações de triglicérides são extremamente elevadas, pode existir a necessidade do jejum. Caso o paciente apresente triglicerídeos acima de 440 mg/dL, o médico poderá solicitar a coleta para o paciente em vigência das 12 horas de jejum. A interpretação do resultado do perfil lipídico do paciente deve ser feita com critério pelo médico solicitante, avaliando: o estado metabólico, a indicação do teste e a estratificação de risco. O jejum já não era necessário para a realização do colesterol total e do HDL-c, com as evidências de que a hipertrigliceridemia no estado pós-prandial aumenta o risco cardiovascular — o exame deve refletir o estado metabólico habitual do paciente. O ideal é que o paciente mantenha sua dieta e hábitos para a avaliação do seu perfil lipídico. Com os avanços tecnológicos na medicina laboratorial os principais ensaios disponíveis no mercado diagnóstico mitigaram os interferentes decorrentes de uma maior turbidez nas amostras decorrentes de elevadas concentrações de triglicérides. Para a utilização da glicemia como critério diagnóstico de diabetes o tempo de jejum preconizado é de 8 horas. Vale ressaltar que o exame da hemoglobina glicada também é critério diagnóstico de Diabetes, e o jejum não é necessário. Os laboratórios poderão informar no laudo o tempo de jejum para as seguintes situações: sem jejum, 8 horas (para diagnóstico de Diabetes) ou 12 horas, caso o paciente tenha triglicerídeos acima de 440 mg/dL. Para os demais exames laboratoriais as recomendações continuam de acordo com o procedimento de cada laboratório. FONTE: <http://twixar.me/vX7m>. Acesso em: 24 ago. 2021. Essa declaração modificou as instruções de trabalho dos laboratórios de análises clínicas do Brasil inteiro. Por isso a importância de estarmos sempre atento às instruções tanto dos órgãos federais quanto das sociedades brasileiras competentes. O controle de qualidade também faz parte da fase analítica, porém, iremos falar dele, especificamente, mais para frente neste tópico. ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 107 2.1.3 Fase Pós-analítica Na fase pós-analítica realizamos o registro e liberação dos laudos, todos os laudos devem ser liberados em português, sem rasuras, datado e assinado por profissional devidamente registrado e qualificado. As regras para as informações contidas no laudo estão descritas na RDC n° 302/2005: 6.3.3 O laudo deve conter no mínimo os seguintes itens: a) identificação do laboratório; b) endereço e telefone do laboratório; c) identificação do Responsável Técnico (RT); d) n°. de registro do RT no respectivo conselho de classe profissional; e) identificação do profissional que liberou o exame; f) n°. registro do profissional que liberou o exame no respectivo conselho de classe do profissional g) n°. de registro do Laboratório Clínico no respectivo conselho de classe profissional; h) nome e registro de identificação do cliente no laboratório; i) data da coleta da amostra; j) data de emissão do laudo; k) nome do exame, tipo de amostra e método analítico; l) resultado do exame e unidade de medição; m) valores de referência, limitações técnicas da metodologia e dados para interpretação; n) observações pertinentes. 6.3.4 Quando for aceita amostra de paciente com restrição, esta condição deve constar no laudo. 6.3.5 O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial que optarem pela transcrição do laudo emitido pelo laboratório de apoio, devem garantir a fidedignidade do mesmo, sem alterações que possam comprometer a interpretação clínica. 6.3.6 O responsável pela liberação do laudo pode adicionar comentários de interpretação ao texto do laboratório de apoio, considerando o estado do paciente e o contexto global dos exames do mesmo. 6.3.7 O laudo de análise do diagnóstico sorológico de Anticorpos Anti-HIV deve estar de acordo com a Portaria MS n° 59/2003, suas atualizações ou outro instrumento legal que venha a substituí-la. FONTE: BRASIL. Resolução RDC n° 302, de 13 de outubro de 2005. Aprova o Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Brasília, DF: Anvisa, 2005. p. 12-13. Disponível em: https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/RDC-302-2005.pdf. Acesso em: 23 ago. 2021. 108 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I Todos os registros do laboratório devem ser armazenados pelo prazo mínimo de cinco anos, e de fácil rastreabilidade (BRASIL, 2005). A rastreabilidade desses laudos faz parte do processo de qualidade do laboratório e é necessária para programas de acreditação e auditorias. A tecnologia de informação vem junto com o processo para que toda a legislação seja cumprida conforme solicitada. Tecnologia de informação é a denominação dada ao conjunto de dispositivos individuais como hardware, software, telecomunicação ou outras tecnologias, que efetuam o tratamento de informação. FONTE: CRUZ, T. Sistema de informação gerencial. São Paulo: Atlas, 1998. NOTA Acadêmico, para atuar na tecnologia de informação, o profissional biomédico possui duas habilitações que nos permite estar presente nessa área que vem crescendo nos últimos anos. O profissional biomédico habilitado em Informática de Saúde, está apto a atuar nos segmentos dos Sistemas de Informação em Saúde, Prontuário Eletrônico do Paciente, Telemedicina, Sistemas de Apoio à Decisão, Processamento de Sinais Biológicos, Processamento de Imagens Médicas, Internet em Saúde, Padronização da Informação em Saúde. Atuar no armazenamento, recuperação e uso da informação, dados e conhecimento biomédicos para a resolução de problemas e tomada de decisão. • Resolução n° 78, de 29 de abril de 2002 e Resolução n° 83, de 29 de abril de 2002: dispõe sobre o Ato Profissional Biomédico, fixa o campo de atividade do Biomédico e cria normas de Responsabilidade Técnica. O profissional biomédico que optar pela habilitação em Gestão das Tecnologias em Saúde será responsável técnico pela elaboração e implantação do plano de gerenciamento das tecnologias utilizadas na prestação de serviços de saúde. • Resolução n° 308, de 27 de junho de 2019: dispõe sobre atos do profissional biomédico com habilitação em gestão das tecnologias em saúde. Disponível em: https://cfbm.gov.br/ wp-content/uploads/2019/07/RESOLU%C3%87%C3%83O-N%C2%BA-308.2019.pdf. IMPORTANT E TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 109 3 CONTROLE DE QUALIDADE Existem diversas interpretações para o conceito de qualidade, podemos atribuí-la como uma satisfação do cliente pelo produto ou serviço adquirido, ou a busca pela excelência das atividades envolvidas dentro de um processo. Hoje, os processos de qualidade passaram a ser um diferencial competitivo dentro das organizações de uma forma geral. Para os laboratórios de análises clínica que lidam com algo tão importante como a análise do estado de saúde do paciente, esse é um critério essencial que está descrito dentro do processo analítico (RODRIGUES et al., 2011). Controle de qualidade é um sistema que permite entender o padrão de qualidade oferecido de acordo com parâmetros predefinidos. ATENCAO Acadêmico, existem regras da qualidade que devem estar intrínsecas nas rotinas laboratoriais, porém, alguns laboratórios buscam acreditações externas afimde obter certificações para comprovar que seus processos estão dentro do padrão de qualidade exigidos por determinadas entidades. • Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). ◦ ISO 17025 – laboratórios de calibração, ensaio e amostragem. ◦ ISO 9001 – Gestão da qualidade. • Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC). • Sistema Nacional de Acreditação (DICQ). • Colégio Americano de Patologia (CAP). IMPORTANT E 3.1 CONTROLE INTERNO DE QUALIDADE Conforme a Anvisa (BRASIL, 2005), todos os laboratórios clínicos devem realizar os controles internos de qualidade, monitorando todo o processo analítico e análise e registro dos dados obtidos. A avaliação dos resultados e a aceitação devem ser realizadas pelo profissional responsável conforme critérios determinados pelo laboratório. 110 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I Você sabia, acadêmico, que quando ocorre a rejeição do controle, o laboratório deve realizar o registro dos motivos que levaram à ocorrência. Para a realização do controle interno devemos utilizar amostras de controle comerciais, com valor conhecido, regularizadas e destinadas para o teste/equipamento que o laboratório está utilizando. Formas alternativas podem ser utilizadas desde que validadas anteriormente pelo laboratório (BRASIL, 2005). 3.2 CONTROLE EXTERNO DE QUALIDADE O controle de qualidade externo, ou ensaios de proficiência, são realizados por entidades provedores, onde são encaminhadas amostras que devem ser analisadas junto com as amostras dos pacientes. Os resultados obtidos serão avaliados e encaminhados para o gestor da qualidade do laboratório. Esse ensaio deve ser realizado para todas as análises que o laboratório realiza com objetivo de verificar o real desempenho do laboratório utilizando as amostras-controle de um proveniente com um valor não conhecido. 3.3 REGRAS DE CONTROLE DE QUALIDADE Para realização do controle de qualidade de um laboratório, o analista clínico leva em consideração algumas regras da qualidade, seja para análise de um controle interno ou para análise de um processo. 3.3.1 Ciclo PDCA É uma ferramenta de gestão que auxilia no monitoramento de processos de forma continua. (ALVES, 2012). Inicia no planejamento, com o levantamento das informações necessárias para iniciar o processo (PLAN), em seguida, a execução em que se efetiva as ações planejadas (DO). Após a execução, se tem o ponto de checagem (CHECK) e, por último, as ações corretivas com a correção dos problemas (ACT) (MIRANDA, 2011). FIGURA 4 – CICLO DO PDCA FONTE:<http://twixar.me/Qj7m> Acesso em: 25 ago. 2021. TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 111 3.3.2 Gráfico de Levey-Jennings Esse gráfico é aplicado para dados de comportamento, a linha central corresponde à média, e as linhas adjacentes aos desvios padrão. No laboratório de análises clínicas utilizamos esse gráfico para gestão da qualidade do controle interno. Após o resultado do controle, realizamos uma análise do controle junto com as regras descritas por Westgard (BERLITZ, 2010). GRÁFICO 1 – GRÁFICO DE LEVEY-JENNINGS FONTE: O autor • MÉDIA: é calculada a partir da soma de todos os valores de um conjunto de dados e dividindo-se pelo número de elementos deste conjunto. • DESVIO PADRÃO: é uma medida que expressa o grau de dispersão de um conjunto de dados, indica o quanto um conjunto de dados é uniforme. NOTA 3.3.3 Regras de Westgard Diariamente realizamos a leitura do controle interno de qualidade, uma amostra padrão com resultado conhecido. Esses valores são tabulados e analisados em um gráfico para facilitar nossas tomadas de decisões perante nosso equipamento. As regras múltiplas auxiliam na interpretação dos resultados das corridas do controle, analisando, de forma integrada, os dados de diferentes níveis. 112 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I FIGURA 5 – MÚLTIPLAS REGRAS DE WESTGARD FONTE: Westgard (2003, p. 1) Para análise do gráfico de Levey-Jennings utilizamos as regras de Westgard, nas quais, quando possuímos as ocorrências, consideramos que o ensaio está fora do controle e devemos rejeitar a corrida analítica e seguir para uma medida preventiva como calibração do equipamento ou manutenção. ATENCAO • Regra 12S – Se na medição diária o controle ultrapassar o segundo desvio padrão do gráfico de Levey-Jennings, independentemente se for superior ou inferior, deve-se ficar de alerta para as próximas corridas. GRÁFICO 2 – REGRA 1 2S FONTE: Westgard (2003, p. 2) regra 12S violada TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 113 • REGRA 13S – Quando o laboratório utiliza mais ou menos três desvios padrões no gráfico de Levey-Jennings, deve-se rejeitar a corrida em que em uma única medição de controle exceda o limite do terceiro desvio padrão, independentemente se for superior ou inferior. GRÁFICO 3 – REGRA 1 3S FONTE: Westgard (2003, p. 2) • REGRA 22S – Quando se tem duas corridas de controle de qualidade consecutivas ultrapassando o segundo desvio padrão seguido, deve se rejeitar a corrida analítica. GRÁFICO 4 – REGRA 2 2S FONTE: Westgard (2003, p. 2) • REGRA R4S – Essa violação ocorre quando, em uma medição, o controle excede o limite de dois desvios padrão inferior ou superior, e na próxima corrida o controle excede o limite de dois desvios padrão contrário. regra 13S violada regra 22S violada 114 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I GRÁFICO 5 – REGRA R 4S FONTE: Westgard (2003, p. 2) • REGRA 41S – Rejeita-se quando quatro medições de controle consecutivas excederem o mesmo limite da média ± 1DP. GRÁFICO 6 – REGRA 4 1S FONTE: Westgard (2003, p. 2) • REGRA 10X – Rejeita-se quando dez medições de controle consecutivas estiverem no mesmo lado em relação à média. GRÁFICO 7 – REGRA 10 X FONTE: Westgard (2003, p. 3) regra R4S violada regra 41S violada regra 10X violada TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE 115 Caro acadêmico, além dos controles descritos anteriormente, cada equipamento e metodologia tem suas especificações como calibrações, manutenções preventivas, manutenções corretivas que devem ser realizadas de acordo com o procedimento do laboratório e do equipamento em uso. ATENCAO Acadêmico, o biomédico habilitado em auditoria está apto a atuar no controle da gestão dos sistemas de saúde, para verificar sua conformidade com os padrões estabelecidos ou detectar situações que exijam maior aprofundamento, avaliação da estrutura dos processos aplicados e dos resultados alcançados, para aferir sua adequação aos critérios e parâmetros exigidos de eficiência, eficácia e efetividade. Esse campo de trabalho está diretamente ligado aos processos de certificação e acreditação para laboratórios de análises clínicas, indústrias e hospitais realizando e executando em conjunto aos órgãos regulatórios auditorias e vistorias dentro destes estabelecimentos. • Resolução n° 184, de 26 de agosto de 2010: dispõe sobre as atribuições do profissional Biomédico no exercício de auditorias e dá outras providências. Disponível em: http:// cfbm.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/Res-2010-184.pdf. IMPORTANT E 116 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A Resolução da ANVISA RDC n° 302, de 13 de outubro de 2005, dispõe sobre Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. • Os laboratórios de análises clínicas são locais destinado à coleta e análise de fluídos corporais a fim de investigar o estado de saúde de um indivíduo, compreendendo as fases pré-analítica, analítica e pós-analítica. • A fase pré-analítica contempla desde do momento de preparação do paciente para realização do exame até o envio da amostra para a análise. • A fase pré-analíticaé responsável pela maior parte dos erros que ocorrem na fase analítica. • A fase analítica contempla toda fase de análise das amostras biológica e gestão da qualidade. • A fase pós-analítica compreende na liberação dos laudos que possuem regras específicas de acordo com a RDC n° 302/2005. • O Gráfico de Levey-Jenning, junto com as regras de Westgard, auxilia o analista clínico no controle de qualidade do laboratório clínico. 117 1 (ENADE, 2016) No laboratório clínico, a performance dos métodos analíticos pode ser monitorada por meio do ensaio de amostras-controle com valores conhecidos, juntamente com os ensaios das amostras dos pacientes. Os resultados dos controles são plotados em um gráfico e comparados com os limites aceitáveis de erros (LAE) para aquele analito. O gráfico de Levey- Jennings, a seguir, apresenta os resultados da dosagem de colesterol no âmbito do controle interno, em um laboratório, durante 30 dias, sendo o valor do controle 250 mg/dl. FONTE: LOPES, H. J. J. Garantia e controle de qualidade no laboratório clínico, 2003. Disponível em: www.goldanalisa.com.br. Acesso em: 23 jul. 2016 (adaptado). Os dados apresentados no gráfico indicam que os resultados: FONTE: <https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2016/ biomedicina.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) Estão fora dos LAE porque os valores obtidos no controle oscilam continuamente. b) ( ) Estão dentro dos LAE podendo os resultados dos exames dos pacientes serem liberados. c) ( ) Referentes aos dias 8, 9, 17 e 30 estão fora dos LAE, não devendo os resultados dos exames dos pacientes serem liberados. d) ( ) Referente aos dias 4, 5, 11, 25 e 27 estão fora dos LAE, não devendo os resultados dos exames dos pacientes serem liberados. e) ( ) Referentes ao período compreendido entre os dias 18 e 27 devem ser rejeitados porque essas medições consecutivas estão do mesmo lado em relação à média. AUTOATIVIDADE 118 2 (ENADE, 2013) Avalie as afirmações a seguir, referentes ao controle de qualidade laboratorial bioquímico realizado em equipamentos de automação. I- O soro-controle não é preferido em relação à solução padrão, devido à sua natureza proteica, que pode causar interferência na análise, consequentemente induzindo a um erro no resultado. II- No início da rotina laboratorial bioquímica, independentemente do laboratório ser interno ou externo a um hospital, é necessária a realização de controle de qualidade interno utilizando soros-controle normais e patológicos. III- A calibração dos equipamentos deve ser realizada somente no início da rotina laboratorial, independentemente de qualquer intercorrência. IV- Laboratórios externos a um hospital podem realizar a calibração dos equipamentos exclusivamente com soro-controle normal. É CORRETO apenas o que se afirma em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/228305- inep-2013-enade-biomedicina>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I. b) ( ) II. c) ( ) I e III. d) ( ) II e IV. e) ( ) III e IV. 3 A garantia da qualidade na execução das análises clínicas é a principal preocupação do analista clínico em sua rotina laboratorial. Disserte sobre a importância do controle de qualidade os laboratórios de análises clínicas. 4 Qual a importância das instruções de trabalho escritas e atualizadas dentro do laboratório de análises clínicas, e qual a frequência de revisão deve ser adotada pelo analista clínico de acordo com a RDC n° 302/2005. 5 (ENADE, 2019) A qualidade dos exames laboratoriais está essencialmente ligada à fase pré-analítica, porém as fases analítica e pós-analítica também devem ser monitoradas, de forma que o laboratório assegure que os resultados produzidos reflitam a situação clínica apresentada pelos pacientes de forma fidedigna e consistente. Nesse contexto, é de fundamental importância que, no setor de Bioquímica, ocorra a calibração dos equipamentos, sejam eles semiautomatizados ou automatizados, seguida do uso de controles de qualidade internos e externos, pois enquanto os calibradores visam transferir exatidão para o método ou sistema analítico em questão, os controles são utilizados para monitorar a imprecisão dos ensaios. Além disso, fazem-se necessários o registro dos calibradores em planilhas e a avaliação dos controles por meio do gráfico de Levey-Jennings associado às regras múltiplas de Westgard. FONTE: BASQUES, J. C. Usando controles no laboratório clínico. Lagoa Santa: Labtest, 2009 (adaptado). 119 Em relação à importância da calibração adequada dos equipamentos do setor de Bioquímica de um laboratório de análises clínicas, associada ao uso e à interpretação do comportamento dos controles de qualidade, avalie as afirmações a seguir. I- Os controles disponibilizados com média e desvio padrão propostos pelo fabricante devem ser usados na rotina laboratorial. II- Dentre as regras múltiplas de Westgard, a regra 41s indica que os resultados devem ser rejeitados, pois quatro valores consecutivos excedem Xm+1s ou Xm-1s, o que caracteriza um erro aleatório. III- Na mudança de lote de reagentes utilizados para análise dos parâmetros bioquímicos, deve-se realizar uma nova calibração do equipamento, a qual é dispensável quando o reagente tiver sido produzido no mesmo ano que o reagente que está em uso. IV- Prioriza-se o uso de micropipetas calibradas para a reconstituição de calibradores e controles, a fim de minimizar os erros associados ao volume correto de água a ser aspirado e evitar contaminações. V- A curva de calibração é a representação gráfica da relação entre as medidas obtidas em um processo analítico (absorbância) e a concentração da substância contida no material calibrador. É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2020/02/enade-2019-qualidade-dos-exames- laboratoriais-esta-essencialmente-ligada-a-fase-pre-analitica.html>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I e V, apenas. b) ( ) II e III, apenas. c) ( ) I, II e IV, apenas. d) ( ) III, IV e V, apenas. e) ( ) I, II, III, IV e V. 6 (ENADE, 2013) Ao longo da última década, os serviços de saúde brasileiros vêm passando por significativos avanços na área de implantação, gestão e garantia da qualidade nos serviços prestados. Essas melhorias vêm ocorrendo em função das exigências por parte dos consumidores e da ampliação da legislação e maior fiscalização dos órgãos públicos. Insere- se neste contexto, o profissional biomédico que, por meio da atuação em auditoria e consultoria, tem encontrado uma área em crescimento, carente de profissionais qualificados. A atuação do biomédico em auditoria é regulamentada pela Resolução n° 184, de 26 de agosto de 2010, do Conselho Federal de Biomedicina. Considerando as especificidades e características da atuação em auditoria do biomédico, avalie as afirmações a seguir. 120 I- O auditor pode fornecer relatórios e pareceres para a vigilância sanitária municipal, estadual e federal. II- A acreditação, que é um dos serviços prestados pelo auditor, é um processo voluntário em que uma instituição, governamental ou não, avalia um laboratório por meio de auditoria e determina se ele atende a requisitos predeterminados para exercer as tarefas a que se propõe. III- A atividade de consultoria é um serviço prestado por uma pessoa ou por um grupo de pessoas, independente(s) e qualificada(s), para a identificação e investigação de problemas que digam respeito à política, à organização, aos procedimentos e aos métodos de um serviço de saúde. É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://bit.ly/395kiSV>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I, apenas. b) ( ) III, apenas. c) ( ) I e II, apenas. d) ( ) II e III, apenas.e) ( ) I, II e III. 7 (ENADE, 2019) Os laboratórios de análises clínicas vêm buscando, constantemente, a implementação de processos de acreditação, a despeito dos custos relacionados. Considerando o conceito de qualidade, avalie as afirmações a seguir. I- O objetivo de se implantar um sistema de controle de qualidade é reconhecer e minimizar os erros analíticos, permitindo avaliar a performance do laboratório e obter resultados confiáveis e seguros. II- A equipe de Garantia da Qualidade do laboratório deve implementar um sistema de controle de qualidade que permita aos seus integrantes garantir a qualidade de todos os resultados obtidos na rotina diária, com exceção dos exames enviados aos laboratórios de apoio, os quais não são de responsabilidade direta do laboratório, já que são realizados fora desse ambiente. III- O Controle Interno consiste na análise diária de amostra controle, que possui valores conhecidos dos analitos, para avaliar a precisão dos ensaios. É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://bit.ly/3hfYkRz>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) I e III, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 121 UNIDADE 2 TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, a Bioquímica tem o intuito de descrever, em termos moleculares, as estruturas, os mecanismos e os processos químicos que ocorrem nos organismos vivos, e estabelece os princípios de organização que são considerados a base de todas as formas de vida. O esclarecimento desses processos é válido, pois nos proporcionam importantes atribuições nas práticas clínicas, nutricionais, agrícolas e industrial (NELSON, COX; 2014). Atualmente, a bioquímica está envolvida em vários setores como, por exemplo, a biotecnologia, processos industriais e principalmente em clínicas de patologias que afetam os seres humanos. Diante disso, abordaremos de maneira direta os principais processos bioquímicos que ocorrem nos seres humanos. 2 MACROMOLÉCULAS Macromoléculas – polímeros de alto peso molecular – são encontradas no interior celular, essas estruturas são constituídas de precursores considerados relativamente simples, de peso molecular ao redor de 500 u ou menos. Polissacarídeos, proteínas, ácidos nucleicos e lipídeos são as macromoléculas presente nos seres vivos. A síntese dessas macromoléculas (anabolismo), assim como a quebra (catabolismos), são atividades que a célula exerce e necessita do consumo de energia (ATP). 122 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I • CATABOLISMO: considerada a fase de degradação metabólica, onde moléculas, nutrientes orgânicos como carboidratos, gorduras e proteínas são convertidos em produtos finais menores e mais simples, como ácido láctico, CO2 e NH3. • ANABOLISMO OU BIOSSÍNTESE: ocorre quando precursores pequenos e simples formam moléculas maiores e mais complexas como por exemplo os lipídios, polissacarídeos, proteínas e ácidos nucleicos (NELSON, COX, 2014, p. 502). NOTA QUADRO 2 – MACROMOLÉCULAS FONTE: O autor Macromolécula Unidade Função Proteína Aminoácidos Estrutural, enzimática, transporte, defesa, hormonal, receptores. Carboidratos Monossacarídeos (Glicose, Frutose e Galactose) Reserva energética e estrutural. Lipídeos Ácido Graxos e Glicerol Energia térmica e estrutural Ácidos Nucleicos (DNA e RNA) Nucleotídeos Herança e controle de síntese de proteínas e energia. 3 CARBOIDRATOS As três principais classes de carboidratos são os polissacarídeos, dissacarídeos e monossacarídeos (a palavra “sacarídeo” é derivada do grego sakcharon, que significa “açúcar”). O açúcar simples é denominado de monossacarídeos, são constituídos por uma unidade de poli-hidroxicetona ou poli-hidroxialdeído isolada. A D-glicose é o monossacarídeo mais abundante na natureza e é a estrutura utilizada pelas células para produção de energia (NELSON; COX, 2014). Os dissacarídeos são as estruturas de carboidratos mais abundantes e são compostos de duas unidades de monossacarídeos. A sacarose é um dissacarídeo constituídos por dois açucares de seis carbonos (D-glicose + D-frutose). Os polissacarídeos são polímeros de açúcar que contêm mais de 20 unidades de monossacarídeo, podendo chegar a centenas ou milhares de unidades. A celulose possui cadeias lineares formadas por unidades repetidas de D-glicose (NELSON; COX, 2014). TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 123 Os carboidratos possuem duas funções principais: armazenamento de energia (glicogênio ou amido); e como elementos estruturais (celulose e quitina). Em nossas células possuímos receptores para sinalizadores específicos que são constituídos de oligossacarídeos ligados a proteínas e/ou lipídios. A glicose é relativamente rica em energia, por isso é o principal combustível para o organismo de diversos seres. Pode ser armazenada em forma de glicogênio e amido, para quando for necessário iniciar um processo catabólico para produção de energia. PROCESSOS CATABÓLICOS DA GLICOSE: • Glicólise: processo no qual a molécula de glicose é quebrada em duas moléculas menores de piruvato. • Oxidação da glicose via das pentoses-fosfato: a glicose-6-fosfato é convertida como produto final em ribulose-5-fosfato, CO2 e NADPH por duas oxidações intercaladas por uma reação de hidrólise. PROCESSO ANABÓLICO DA GLICOSE: • Gliconeogênese: ocorre onde o lactato, piruvato, glicerol, e alguns aminoácidos são sintetizados pelo próprio organismo em glicose quando se tem necessidade. ATENCAO Porém, existem limitações no metabolismo da glicose em seres humanos, e isto se dá devido à taxa de captação da glicose pelas células e sua fosforilação pela hexocinase. Para receber a glicose em seu interior, as células necessitam de transportadores (proteínas de membrana que possibilitam a passagem para o interior da célula). Para o transporte da glicose, essas proteínas são denominadas GLUT. Nas células do tecido hepático (hepatócitos) temos duas proteínas de transporte de glicose GLUT1 e GLUT2, nas células nervosas (neurônios) temos a GLUT3, essas proteínas sempre estão disponíveis na membrana plasmática de suas células. Porém, no músculo esquelético, músculo cardíaco e tecido adiposo, a proteína presente é a GLUT4, que está armazenada em pequenas vesículas intracelulares e só irá estar presente na membrana das células após o estimulo da insulina. Por esse motivo a captação da glicose no tecido muscular esquelético e cardíaco e tecido adiposo depende da liberação da insulina pelas células b-pancreáticas. A liberação desse hormônio se dá pelo aumento de glicose na circulação periférica. 124 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I • INSULINA: é um hormônio proteico produzido pelas células beta dos ilhéus de Langerhans do pâncreas. Tem como papel principal na homeostasia da glicose, através da ativação das proteínas GLUT4 das células do tecido muscular esquelético, cardíaco e tecido adiposo. A insulina também participa do metabolismo de aminoácidos, corpos cetônicos e ácidos graxos (ADA, 2020; SBD, 2019; IDF, 2019). NOTA 3.1 DIABETES MELLITUS (DM) Levantamento realizado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) no ano de 2019, indica que nas idades entre 20 e 79 anos existiam cerca de 463 milhões de pessoas no mundo vivendo com diabetes mellitus, e estima-se que uma em cada duas pessoas não possui o conhecimento de estar acometida pela doença (SBD, 2019; IDF 2019). Considerado uma patologia de caráter crônico, a diabetes Mellitus possui uma alta taxa de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Essa patologia é caracterizada por desenvolver diversos distúrbios metabólicos envolvendoa síntese ou ação da insulina (FERREIRA et al., 2015). A falha ou a falta da ação da insulina no organismo, faz com que ocorra um aumento da glicose sanguínea, quando esse aumento ocorre em condições crônicas constituem no desenvolvimento de diabetes melittus. Entre os sintomas clássicos associados a doença estão a poliúria, polidipsia, polifagia, perda de peso e alterações visuais, e quando não tratados o paciente pode desenvolver complicações crônicas como retinopatias, neuropatias, sintomas cardiovasculares e hipertensão (ADA, 2020; SBD, 2019; ECKEL, GRUNDY, ZIMMET, 2016). Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2019) a diabetes mellitus pode ser classificada: • Pré-diabético: este termo é utilizado quando os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal (> 99 mg/dL), mas não o suficiente para um diagnóstico de Diabetes Tipo 2. Pessoas obesas, hipertensas e com alterações nos lipídios estão no grupo de alto risco. Segundo dados da SBD (2019), 50% dos pacientes neste estágio vão desenvolver a doença. • Diabetes Tipo 1: considerada uma doença autoimune devido a ação do sistema imunológico nas células beta do pâncreas, onde o paciente produz pouca ou nenhuma insulina, fazendo com que a glicose sanguínea se mantenha em níveis elevados. Esse quadro aparece geralmente na infância ou adolescência, TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 125 mas pode ser diagnosticado em adultos também. O tratamento é realizado com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas, para ajudar a controlar o nível de glicose no sangue. • Diabetes Tipo 2: o desenvolvimento da doença se dá quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz, ou não produz insulina suficiente para controla a taxa de glicemia. Se manifesta mais frequentemente em adultos, mas crianças também podem apresentar. Em casos mais graves, exige o uso de insulina associado ou não a medicamentos para controlar a glicose. Porém, na maioria dos pacientes, pode ser controlado com atividade física e planejamento alimentar. • Diabetes gestacional: a fim de permitir o desenvolvimento do feto, a mulher passa por mudanças em seu equilíbrio hormonal. A placenta é uma fonte importante de hormônios que reduzem a ação da insulina na captação e utilização da glicose. O pâncreas, consequentemente, aumenta a produção de insulina para compensar este quadro. Quando a compensação não ocorre, a gestante desenvolve o quadro de diabetes gestacional. Devido ao feto ficar exposto a grande concentração de glicose, corre o risco de macrossomia fetal (crescimento excessivo), parto traumático, hipoglicemia neonatal e até predisposição para desenvolvimento de diabetes na vida adulta. 3.2 DIAGNÓSTICO DA D. M. Atualmente, o diagnóstico de diabetes mellitus é baseado em três exames clínicos. • Glicose em jejum: em que se avalia os níveis séricos de glicose no paciente após o jejum de oito a 12 horas. • Teste oral de tolerância a glicose (TOTG): consiste na determinação da glicose após duas horas do consumo de 75 g de glicose. Esse teste é o padrão ouro para identificação de diabetes gestacional. • Hemoglobina glicada: a glicose possui afinidade por ligação a hemoglobina presente nas hemácias, por isso quanto maior a concentração de glicose na circulação periférica do paciente, uma porcentagem de glicose se ligará à hemoglobina presente nas hemácias. TABELA 1 – DIAGNÓSTICO DA DIABETES MELLITUS FONTE: Adaptado de SBD (2019) EXAME NORMAL PRÉ-DIABÉTICO DIABÉTICO Glicemia em jejum (mg/dL) < 99 100 – 125 > 126 Glicemia 2 horas após TOTG com 75 gramas de glicose (mg/dL) < 140 140 – 199 > 200 Hemoglobina glicada (%) < 5,7 5,7 – 6,4 > 6,5 126 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I Além dos exames laboratoriais descritos anteriormente, para uma investigação clínica, ou diagnóstico diferencial, podem ser realizados outros testes como peptídeo C, autoanticorpos contra células beta pancreáticas, anticorpos anti-insulina, ANTI-GAD, IA2 e IA2B. 4 PROTEÍNAS As proteínas são constituídas por aminoácidos, que formam estruturas fundamentais para os seres vivos. Dependemos da mediação de estruturas proteicas (enzimas) na maioria dos processos orgânicos que acontecem dentro das células. A manifestação genética é mediada por meio de proteínas, pois os genes são fragmentos de DNA que codificam proteínas. A função estrutural, pois as proteínas participam da composição de várias estruturas que sustentam e promovem a rigidez nos tecidos (queratina, colágeno e elastina). Estruturas proteicas, como as imunoglobulinas, auxiliam o sistema imune na defesa do organismo contra os microrganismos e substâncias. Além de outras funções desempenhadas pelas proteínas, envolvem a ação catalítica, transportadora (hemoglobina transportando os gases respiratórios), nutritiva, energética, promovem a contração e podem atuar como mensageiros químicos (hormônios). (BERTUZZI et al., 2008). 4.1 ENZIMAS Uma das principais funções das proteínas nas células é auxiliar os processos metabólicos através da ação enzimática das reações de catálise. Essas reações são essenciais para os sistemas vivos, pois sem elas as reações tendem a ser lentas (NELSON; COX, 2014). Na reação catalisadora (Figura 6), as enzimas vão reagir com substrato através dos seus sítios ativos de ligação. Após a ligação do substrato no sítio ativo da enzima, na formação do complexo enzima/substrato, a enzima altera sua forma com o objetivo de ocorrer a quebra do substrato gerando o complexo enzima/produto, no qual os produtos finais da reação se soltam do sítio ativo ficando livres. TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 127 FIGURA 6 – FUNCIONAMENTO DAS ENZIMAS FONTE: <https://www.sobiologia.com.br/conteudos/figuras/quimica_vida/enzima.png>. Acesso em: 24 ago. 2021. Caro acadêmico temos que lembrar que a reação catalisadora é uma reação de quebra de moléculas. Por exemplo a Lactose (substrato) é dissacarídeo formado por uma molécula de D-Glocose + D-Galactose. Quando a lactose entra em contato com o sítio ativo da lactase (enzima), vai ocorrer a quebra da lactose e gerar os produtos finais da reação que é uma molécula de glicose e galactose separadamente. IMPORTANT E 4.1.1 Enzimas Cardíacas As enzimas mais utilizadas e mais específicas para o diagnóstico laboratorial de infarto agudo do miocárdio (IAM), são: Mioglobina, Troponina, CK e CK-MB. • MIOGLOBINA: é uma hemoproteína de baixo peso molecular, ligante e transportadora de oxigênio. Está localizada no citoplasma celular, são liberadas quando a célula é lesada irreversivelmente. É a primeira proteína que se altera após um episódio de infarto agudo do miocárdio, apresenta boa sensibilidade, porém não possui especificidades para o diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio, pois está elevada quando ocorre lesão no músculo esquelético. • CREATINA QUINASE TOTAL E ISOENZIMAS – CK: a creatina quinase (CK) é uma enzima encontrada nos músculos cardíaco e esquelético e células do cérebro. Quando ocorre lesão desses tipos celulares temos a liberação dessas enzimas no sangue periférico, esse aumento está associado ao infarto do miocárdio, lesão da musculatura cardíaca ou esquelética, doença muscular 128 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I cardíaca congênita, acidente vascular cerebral, infecções intramusculares, hipotireoidismo, doença infecciosas, embolia pulmonar, hipertermia maligna, convulsões generalizadas, neoplasias de próstata, vesícula e trato gastrintestinal. Nos casos de infarto agudo do miocárdio, os níveis de CK elevam-se cerca de 4 a 6 horas após a lesão, e o seu pico está entre 18 a 24 horas podendo levar 48 a 72 horas para voltar ao normal quandoa lesão é estabilizada (RESENDE; VIANA; VIDIGAL, 2009). A isoenzima CK-MB possui relevância clínica nos casos de infarto agudo do miocárdio por estar presente em sua maioria no musculo cardíaco. O aumento dessa isoenzima está relacionado, também, com contusão cardíaca, procedimentos cirúrgicos cardíacos, cardioversão, angioplastia coronariana transluminal, pericardite, miocardite, taquicardia supraventricular prolongada, cardiopatia, insuficiência cardíaca congestiva, angiografia coronariana entre outros (RESENDE; VIANA; VIDIGAL, 2009). Após a lesão no infarto agudo do miocárdio, a CK-MB eleva-se de 4 a 6 horas, e o pico ocorre de 12 a 20 horas e volta ao normal de 24 a 48 horas caso a lesão normalizada. QUADRO 3 – ISOENZIMAS CREATINO FOSFOQUINASE FONTE: O autor Isoenzima CK-BB Próstata, útero, placenta, tiroide cérebro e musculatura lisa. Isoenzima CK-MB 1% da CK total em músculo esquelético e 45% em músculo cardíaco. Isoenzima CK-MM 99% da CK total em músculo esquelético e 55% em músculo cardíaco. • TROPONINAS: são proteínas presentes no complexo de regulação miofibrilas, divididas em três subunidades. Troponina C está localizada nas fibras do musculo esquelético de contração lenta, por isso não é considerada como um marcador para o infarto agudo do miocárdio. As Troponinas T e I são as isoformas cardíaca específicas, estão presentes no musculo cardíaco, e quando ocorre a lesão tem seu aumento de níveis séricos em 4 a 8 horas permanecendo aumentado por 7 a 14 dias. Sendo a Troponina I altamente específica para o tecido do miocárdio, e suas detecções em níveis séricos só acontecem quando o paciente possui lesão nesse tecido (OHMAN et al., 1996, revisto 2014; DEVLIN; HENRY, 2008). TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 129 4.1.2 Enzimas hepáticas O estudo e diagnóstico das doenças hepáticas é realizado na rotina laboratorial clínica, inicia-se com anamnese, exame físico, exames laboratoriais e métodos de imagens. Nos exames laboratoriais o uso de instrumentos de rastreamento e marcadores biológicos tem proporcionado uma maior objetividade na detecção de doenças hepáticas (MINCIS, 2009). As lesões hepáticas cursam com icterícia e aumento nas atividades de enzimas hepáticas tais como Alanina Aminotransferase (ALT), Aspartato Aminotransferase (AST) e Gama-Glutamil-Transpeptidase (GGT) (ZAKHARI, LI, 2007). A ALT é encontrada no citoplasma dos hepatócitos, enquanto 80% das ASTs é encontrado nas mitocôndrias. Essa informação auxilia no diagnóstico, pois, dependendo do dano hepatocelular, a forma predominante no soro indica se a lesão é leve ou grave. Pois, em danos leves, a forma predominante no soro será a citoplasmática (AST) e, em lesões graves, será a mitocondrial (ALT) (MOTTA, 2009). A GGT é uma enzima presente na membrana celular que participa do transporte de aminoácidos e peptídeos para o interior das células. Está presente em abundancia nas células do túbulo proximal renal, fígado, pâncreas e intestino. Mas os níveis séricos da GGT geralmente são de origem hepática (HOCK et al., 2005). A Fosfatase Alcalina (FAL) está localizada nas membranas de revestimento dos canalículos biliares e vai estar elevada nas desordens do trato biliar (MOTTA, 2009). 5 LIPÍDEOS As funções dos lipídios são diversas, assim como sua constituição química, gorduras e óleos são as principais formas de armazenamento de energia, fosfolipídios e os esteróis são os principais elementos estruturais das membranas biológicas, também exercem o papel de cofatores enzimáticos, transportadores de elétrons, âncoras hidrofóbicas para proteínas agentes emulsificantes, hormônios e mensageiros intracelular (NELSON; COX, 2014). Além da obtenção através da dieta, o corpo produz o colesterol necessário para seu funcionamento, e fatores genéticos podem estar relacionados a predisposição hereditária para níveis altos de colesterol ou ingere muitos alimentos ricos em colesterol, gorduras saturadas e gorduras insaturadas trans, os níveis no sangue podem aumentar até serem prejudiciais à saúde. 130 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I • ATEROSCLEROSE: é um processo inflamatório, com a formação de placas de gordura, cálcio e outros elementos na parede das artérias do coração ou de outros órgãos do corpo humano. • PLACAS DE ATEROMA: são manifestações da aterosclerose caracterizadas pelo acúmulo focal de lipídios, hidratos de carbono, sangue e produtos sanguíneos, tecido fibroso e depósito de cálcio na camada íntima da artéria. NOTA 5.1 PERFIL LIPÍDICO Na rotina laboratorial, são comuns as solicitações para avaliar o perfil lipídico dos pacientes, afim de avaliar o risco de doença cardíaca coronariana. Esses resultados são bons indicadores do risco de infarto do miocárdio ou de acidente vascular cerebral causados por arteriosclerose. • COLESTEROL TOTAL: a avaliação do colesterol total verifica todo o colesterol circulante, tanto o produzido de forma exógena quanto o obtido na alimentação, e que podem indicar predisposição para determinadas condições clinicas. • TRIGLICERÍDEOS: os triglicerídeos obtidos da alimentação são transportados pelo sangue do intestino para serem armazenados no tecido adiposo. Em momentos de jejum, eles são liberados do tecido adiposo para serem utilizados como fonte de energia. Em sua maioria, os triglicerídeos são transportados no sangue por lipoproteínas chamadas lipoproteínas de densidade muito baixa VLDL, em inglês, Very Low Density Lipoproteins. • COLESTEROL HDL: é a fração do colesterol ligada a lipoproteínas de alta densidade HDL, em inglês, High Density Lipoproteins. As HDL, são formadas por proteína e uma pequena quantidade de colesterol, essa fração é considerada benéfica, pois remove o colesterol dos tecidos e o transportam para serem metabolizados no fígado. Os níveis altos de colesterol HDL podem diminuir o risco de desenvolvimento de placas de ateroma, facilitando a remoção do colesterol do sangue. TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 131 FIGURA 7 – DIFERENÇA ENTRE COLESTEROL HDL E LDL FONTE: Adaptada de <http://twixar.me/d87m>. Acesso em: 24 ago. 2021. • COLESTEROL LDL: as lipoproteínas de baixa densidade LDL, em inglês, Low Density Lipoproteins, é um tipo de lipoproteína que transporta a gordura no sangue. Essas lipoproteínas são consideradas indesejáveis, pois depositam excessos de colesterol nas paredes vasculares e contribuem, assim, para o endurecimento das artérias (aterosclerose) e para doenças cardíacas. Cálculo do LDL: a dosagem do LDL geralmente não é realizada na rotina laboratorial, e para obter esse valor o analista clínico realiza um cálculo com base Fórmula de Friedewald. Atenção: esta fórmula torna-se imprecisa na vigência de hipertrigliceridemia (triglicerídeos > 400 mg/dL), hepatopatia colestática crônica ou síndrome nefrótica portanto não deve ser utilizada. FONTE: SPOSITO, A. C. (org.) et al. IV diretriz brasileira sobre dislipidemias e prevenção da aterosclerose. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 88, p. 2-19, abr. 1997. (Suplemento I). IMPORTANT E 𝐿𝐷𝐿 = 𝐶𝑂𝐿𝐸𝑆𝑇𝐸𝑅𝑂𝐿 𝑇𝑂𝑇𝐴𝐿 − 𝐻𝐷𝐿 − 𝑇𝑅𝐼𝐺𝐿𝐼𝐶𝐸𝑅Í𝐷𝐸𝑂𝑆 5 Alimentação Eliminação Artérias HDL - colesterol LDL - colesterol Fígado 132 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I Acadêmico, o biomédico com a habilitação em bioquímica permite a realização de análises biológicas e químicas de organismos vivos, principalmente para auxiliar pesquisas em biotecnologia para produção de enzimas e desenvolvimento de biocombustíveis. • Resolução n° 78, de 29 de abril de 2002: dispõe sobre o Ato Profissional Biomédico, fixa o campo de atividade do Biomédico e cria normas de Responsabilidade Técnica, descreve a habilitação em bioquímica ao profissional biomédico. Disponívelem: https:// crbm1.gov.br/RESOLUCOES/Res_78de29abril2002.pdf. INTERESSA NTE TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 133 LEITURA COMPLEMENTAR MARCADORES BIOQUÍMICOS DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Marciano Robson de Miranda Luciana Moreira Lima INTRODUÇÃO A admissão em serviço de urgência de enfermo com suspeita de síndrome coronariana aguda (SCA) requer não só a realização da entrevista médica e do exame físico, mas também de exames complementares que visam estabelecer de forma rápida e efetiva a suspeita diagnóstica inicial e determinar os passos terapêuticos a serem instituídos e que incluem eletrocardiograma (ECG), exames bioquímicos e por imagem. Vários biomarcadores têm sido utilizados para auxiliar no diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM), estratificação de risco, escolha do tratamento adequado e predição de eventos após a SCA. Os exames bioquímicos podem ser agrupados, segundo os seus significados clínicos e/ou pelos processos físico-químicos responsáveis por suas elevações sistêmicas, nos seguintes marcadores de: a) lesão miocárdica, como troponina, creatinoquinase fração MB (CK-Mb), mioglobina e proteína de ligação de ácidos graxos tipo cardíaca (H-FABP), b) estresse biomecânico: como o peptídeo natriurético tipo B (BNP) e seu fragmento N-terminal inativo (NT-proBNP), o peptídeo natriurético atrial (ANP), a copeptin, o fator-15 de diferenciação e crescimento (GDF-15), a proteína receptora da interleucina-1 (ST2) e a cardiotrofina; c) inflamação e homeostase vascular: a cardiotrofina, a endotelina 1 (ET-1) e a lipoproteína associada à fosfolipase A2 (Lp-PLA2 ); d) remodelamento da matriz extracelular: o propeptideo aminoterminal do procolágeno tipo I (PINP) e tipo III (PIIINP), o inibidor tecidual de metaloproteinases da matriz-1 (TIMP-1) e o telopeptideo colágeno tipo I (ICTP). Alguns desses biomarcadores são amplamente utilizados na prática clínica, outros ainda não apresentam evidências científicas que sustentem seu uso clínico. O objetivo deste estudo foi analisar o significado clínico dos diversos marcadores bioquímicos descritos para o IAM, isolados ou combinados, buscando-se a descrição de acordo com a origem, comportamento na evolução da doença, incluindo validade, limitação diagnóstica e significado clínico em diferentes contextos, sintetizando e integrando as principais evidências científicas disponíveis na literatura atual. A presente revisão foi realizada com base no seguinte questionamento: quais são, atualmente, os marcadores bioquímicos que podem ser usados para diagnóstico e prognóstico de IAM e seu significado clínico quando isolados ou 134 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I associados a outros biomarcadores? Para responder a essa pergunta foi realizada pesquisa bibliográfica tendo como base de dados o PubMed e periódicos CAPES, que possibilitaram a busca de artigos originais e revisões sobre biomarcadores do IAM. Foi realizada associação entre os seguintes termos: “biologycal markers”, “myocardial infarction”, “coronary artery disease”, “myocardial ischemia”, “cardiac troponin”, “sensitive troponin”, “ck-mb mass”, entre várias outras nas quais foram usados os nomes dos biomarcadores, provenientes dos artigos de revisões encontrados. Essa busca limitou-se aos artigos em língua inglesa, publicados nos últimos cinco anos, e sua relação com textos completos e gratuitos. A seleção dos artigos baseou-se na avaliação dos títulos, resumos e o artigo na íntegra, como forma de diminuir a chance de excluir trabalhos importantes. Foram excluídos os trabalhos cujo conteúdo dos resumos e dos artigos na íntegra tinha descrição insuficiente sobre a variação da concentração de biomarcadores de acordo com a administração de fármacos e os estudos avaliando técnicas cirúrgicas com biomarcadores. Foram obtidos, inicialmente, 90 artigos, sendo 65 excluídos; e entre os 25 restantes, 14 eram randomizados e controlados. Os resultados foram apresentados de forma sucinta e integrada, após análise judiciosa, com ênfase nos aspectos principais de cada estudo. Troponina A troponina é uma proteína muscular que, juntamente com a tropomiosina, regula a interação entre a actina e miosina no processo de contração muscular. Há três polipeptídeos de troponina, os quais se ligam à tropomiosina (TnT), à actina (TnI) e ao cálcio (TnC). A TnT e a TnI foram descritas como biomarcadores para IAM pela sua especificidade cardíaca, diferente da TnC, que possui sequência de aminoácidos compartilhada com sua isoforma esquelética, responsável pela ausência de valor diagnóstico para lesões miocárdicas. Após a lesão do cardiomiócito, baixa porcentagem de troponina livre no citoplasma é liberada na circulação, seguida por aumento gradual correspondente à dispersão de troponina ligada a complexos. Em necrose transmural, isso acontece após duas a quatro horas do início da injúria, atingindo o pico sistêmico por volta de 12 horas e permanecendo elevada por até 4-7 dias para TnI e 10-14 dias para TnT. A concentração sistêmica de troponina pode ainda variar segundo a circulação colateral, obstrução coronária intermitente, amplitude da lesão e sensibilidade dos cardiomiócitos. Sua utilidade na detecção de lesão miocárdica recorrente é limitada, porque os seus níveis permanecem elevados por período prolongado. Daubert et al. demonstraram que os intervalos para a sensibilidade da TnI e TnT, de acordo com o tempo, foram, respectivamente, inferiores a 45% e entre 25 e 65% no momento de internação, 69 e 82% e 59 e 90% de duas a seis horas após a admissão, 100% e próximo de 100% de seis a 12 horas após a admissão. A especificidade da troponina não varia significativamente ao longo do tempo, estando no intervalo entre 83 e 98% para TnI e de 86-98% para TnT. Os valores preditivos positivos da TnI e TnT foram 25 e 35% no momento da apresentação e 89 e 57% após 12 horas de admissão, respectivamente. Já os valores preditivos negativos da TnI e TnT foram, respectivamente, 85 e 88% no momento TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 135 da apresentação e 98 e 99% após 12 horas de admissão. Para otimizar a validade do teste de troponina recomenda-se realização da dosagem de TnI e TnT no momento da apresentação e entre seis e nove horas após a injúria cardíaca. A Sociedade Brasileira de Cardiologia preconiza que no processo investigativo de IAM devem ser usados pelo menos dois marcadores: um precoce (mioglobina e CK-MB) e outro tardio definitivo (incluindo a CK-MB e as troponinas). As troponinas são consideradas o padrão-ouro, devendo-se considerar que elas podem se elevar diante de pequenos (micro) infartos, mesmo em ausência de elevação da CK- MB. É preciso considerar que a troponina miocárdica pode ser também liberada em diversas situações clínicas, como miocardites, cardioversão elétrica, trauma cardíaco, miosites, embolia pulmonar e insuficiência renal. A sensibilidade dos testes convencionais de troponina é baixa para o diagnóstico precoce de IAM. Como os consensos americano e europeu recomendam um nível de troponina acima do valor equivalente ao percentil 99 da população, vem-se discutindo a importância diagnóstica e o significado clínico dos ensaios de troponina com mais sensibilidade. Com o uso de um ensaio ultrassensível para TnI (hs-TnI), com ponto de corte de 0,04 ng/mL na admissão, a sensibilidade clínica foi de 90,7% e a especificidade de 90,2%, independentemente do tempo de início da dor torácica, ao passo que o ensaio para TnT ultrassensível (hs-TnT), nas mesmas condições, mostrou sensibilidade entre 84 e 95% e especificidade entre 80 e 94% para diagnóstico de IAM. O valor prognóstico da combinação de hs-TnT e BNP foi avaliado dianteda insuficiência cardíaca crônica, baseando-se na mediana da concentração do BNP (97 pg/mL) e da hs-TnT (0,0124 ng/mL) e segundo os fatores de risco clínicos. A mortalidade aumentou para 32% em pacientes com ambos os marcadores acima da concentração mediana, confirmando que a elevação TnT é proporcional à gravidade da doença, podendo favorecer o valor prognóstico do BNP. Outro estudo, envolvendo mulheres que se submeteram à cirurgia cardíaca na pós-menopausa, demonstrou que níveis de TnI abaixo de 7,6 ng/mL constituem fator de risco para desenvolvimento dos principais eventos adversos em 30 dias, como morte operatória, estado de baixo débito cardíaco e IAM, com médias para sensibilidade de 82%, especificidade de 77%, valor preditivo positivo de 40% e valor preditivo negativo de 96% (IC 95%). Creatinoquinase (CK) A CK-total é enzima reguladora da produção e uso do fosfato de alta energia nos tecidos contráteis. É composta de subunidades B (brain) e M (muscle) que se combinam formando a CK-MM (muscular), CK-BB (cerebral) e CK-MB (miocárdica). A especificidade da CK-total é baixa para lesões do músculo cardíaco, diferente da CK-MB, que é encontrada predominantemente no músculo cardíaco. Enquanto na dosagem de CK-MB determina-se a atividade enzimática, o teste de CK-MB massa detecta sua concentração, independentemente de sua atividade, incluindo enzimas ativas e inativas, o que torna o teste de CK-MB massa mais sensível e confiável que os testes de CK-MB atividade. A CK-MB atividade aumenta dentro de 4-6 horas após a ocorrência do infarto, com pico em torno de 136 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I 18 horas e retornando ao normal após 48 horas. Possui sensibilidade diagnóstica de 93 a 100% após 12 horas do início da sintomatologia, porém é pouco sensível para diagnóstico nas primeiras seis horas de evolução. Recomenda-se, por isso, que seu uso seja feito de forma seriada, a cada 3-4 horas, e uma avaliação por pelo menos nove horas para confirmar ou afastar o diagnóstico de IAM nos pacientes suspeitos. Entre outros parâmetros, deve-se salientar que, na temperatura de 25oC, a atividade de CK-MB, em condições normais, é inferior a 10 U/L e deve corresponder a menos de 6% de CK total. A CK-MB massa possui valor de referência abaixo de 5 ng/mL. A CK-MB, por ter meia-vida curta em comparação com a da troponina, constitui-se em medida de grande utilidade para diagnóstico de reinfarto. A CK-MB também tem sido útil na avaliação da lesão miocárdica após intervenção coronariana, quando leve aumento de sua concentração pode associar- -se à maior mortalidade. O IAM após cirurgia de revascularização do miocárdio é definido pela associação da elevação da CK-MB em pelo menos cinco vezes o limite superior da normalidade, nas primeiras 72 horas, com alterações eletrocardiográficas (ondas Q) e confirmado pelo exame angiográfico. Mioglobina A mioglobina é uma proteína citoplasmática de baixo peso molecular presente nos músculos esqueléticos e cardíacos, cujas principais funções são o fornecimento de oxigênio às mitocôndrias. Constitui-se em complexo auxílio no controle da isquemia tecidual, envolvendo a biossíntese de óxido nítrico. Sua elevação ocorre 1-2 horas depois do início da isquemia, atingindo o seu máximo em torno de 6-9 horas e normalizando-se entre 12 e 24 horas. Devido à sua baixa especificidade e por ser marcador muito precoce em lesões dos miócitos, a mioglobina em concentrações normais (0-72 ng/mL) pode ser útil para excluir o diagnóstico de IAM nas primeiras horas após desconforto no peito (antes de quatro horas do início da sintomatologia), principalmente em paciente com baixa probabilidade pré-teste de doença, com valor preditivo negativo entre 83 a 98%. [...] Peptídeo natriurético cerebral (BNP) e seu fragmento n-terminal inativo (NT-proBNP) Os níveis do peptídeo natriurético cerebral (BNP) e seu fragmento N-terminal inativo (NT-proBNP) são usados para o diagnóstico e prognóstico da insuficiência cardíaca, estratificação de risco após síndrome coronariana aguda e para predizer eventos adversos associados à angina estável e em pessoas aparentemente saudáveis. São considerados dos melhores marcadores do estresse mecânico. A dosagem do BNP associado aos métodos de imagem cardíaca permite avaliação da disfunção ventricular sistólica esquerda, oriunda da remodelação cardíaca. Como esse processo envolve síntese e degradação de colágeno, constituinte da matriz extracelular, o BNP foi correlacionado com os marcadores do metabolismo do colágeno, sugerindo que module a formação de cicatrizes ricas em colágeno após IAM. Na insuficiência cardíaca crônica o BNP TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS 137 e o NT-proBNP são marcadores com forte implicação prognóstica, porém eles podem sofrer influência da idade e função renal, além de variar naturalmente ao longo do tempo. A sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo para predição de mortes em pacientes com insuficiência cardíaca foram para BNP de 50, 79,2, 28,6 e 90,5% e para NT-proBNP de 53,1, 79,9, 30,4 e 91,1%, respectivamente. [...] CONCLUSÃO Todos os biomarcadores supracitados, seja na inclusão ou exclusão de hipóteses, têm sua importância diferencial nos diversos contextos clínicos do IAM. Atualmente, para diagnóstico de IAM, a Sociedade Brasileira de Cardiologia sugere a utilização das troponinas T e I e da CK-MB massa como marcadores de lesão miocárdica. De forma semelhante, os Consensos Americano e Europeu de Cardiologia sugerem a utilização da troponina (T ou I) como biomarcador preferencial de lesão miocárdica. Se os ensaios de troponina não estiverem disponíveis, a melhor alternativa é a CK-MB massa, não sendo recomendado o CK total. Na ausência desses ensaios, opta-se por quaisquer outros testes disponíveis, sendo fundamentais o reconhecimento de sua limitação diagnóstica e a incapacidade de atender às reais necessidades de cada paciente. A troponina (I ou T) é o marcador preferido para a lesão do miocárdio, possuindo especificidade quase absoluta e alta sensibilidade. O hsTnT incrementa o valor prognóstico do BNP na predição de mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca, condição que também pode ser prevista pelos níveis de ANP, ST2, ET-1 e copeptin. A combinação de TnT com o copeptin ou concentrações normais de mioglobina (nas primeiras horas) possuem alta acurácia na exclusão de IAM. O diagnóstico precoce de IAM vale-se dos ensaios de alta sensibilidade de troponina ou do H-FABP e mioglobina, quando associados a outros parâmetros. São necessários novos estudos em condições diversas, a fim de ampliar e confirmar os valores prognósticos dos biomarcadores de IAM para estabelecerem-se critérios para a terapêutica com mais precisão. FONTE: MIRANDA, M. R. de; LIMA, L. M. Marcadores bioquímicos do infarto agudo do miocárdio. Rev Med Minas Gerais, Viçosa, v. 24, n. 1, p. 98-105, jul. 2014. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 138 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Macromoléculas são polímeros de alto peso molecular encontrados no interior celular, essas estruturas são constituídas de precursores considerados relativamente simples. • As macromoléculas que constituem as células são os polissacarídeos, proteínas, ácidos nucleicos e os lipídeos. • As três principais classes de carboidratos são os polissacarídeos, dissacarídeos e monossacarídeos. • Os carboidratos possuem duas funções principais: armazenamento de energia (glicogênio ou amido) e como elementos estruturais (celulose equitina). • A Diabetes Mellitus é considerada uma patologia de caráter crônico, que possui uma alta taxa de morbidade e mortalidade em todo o mundo por se caracterizar pelo desenvolvimento diversos distúrbios metabólicos envolvendo a síntese ou ação da insulina. Pode ser classificada em: pré-diabético, diabetes tipo 1, diabetes tipo 2 e diabetes gestacional. • Os principais exames realizados para o diagnóstico da Diabetes Mellitus são: glicose em jejum, teste oral de tolerância à glicose e hemoglobina glicada. • As proteínas são constituídas por aminoácidos que formam estruturas fundamentais para os seres vivos. • As enzimas mais utilizadas e mais específicas para o diagnóstico laboratorial de infarto agudo do miocárdio (IAM), são: Mioglobina, Troponina, CK e CK-MB. • O estudo e diagnóstico das doenças hepáticas são realizados na rotina laboratorial clínica através do aumento nas atividades de enzimas hepáticas, tais como Alanina Aminotransferase (ALT), Aspartato Aminotransferase (AST) e Gama-Glutamil-Transpeptidase (GGT). • Na rotina laboratorial é comum haver solicitações para avaliar o perfil lipídico dos pacientes, afim de avaliar o risco de doença cardíaca coronariana. 139 1 (ENADE, 2019) Segundo a Organização Mundial de Saúde e Associação Americana de Diabetes, a Diabetes Mellitus (DM) pode ser classificada como tipo 1, tipo 2, Diabetes Gestacional e outros tipos. A DM tipo 2 é cerca de 8 a 10 vezes mais comum do que a tipo 1 e pode ser tratada com dietas, exercícios físicos e medicamentos orais. As medicações, quando utilizadas de forma isolada das demais terapias, raramente levam ao estado de euglicemia. FONTE: <https://www.sbcbm.org.br/artigo-diabetes-eobesidade>. Acesso em: 26 jul. 2019 (adaptado). Com base no texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I- Um dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento da DM tipo 2 é a contínua produção de insulina pelo pâncreas. PORQUE II- A incapacidade de absorção de glicose pelas células leva à resistência insulínica. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA. FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2020/02/enade-2019-segundo-organizacao- mundial-de-saude-e-associacao-americana-de-ciabetes-a-diabetes-Mellitus-dm.html>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 2 (ENADE, 2013) Diabetes é um importante problema de saúde pública. No Brasil, sua prevalência média atingiu 5,6% em 2011, de acordo com o Ministério da Saúde, e estima-se que a doença aumente nas próximas décadas. A doença é uma condição de grande impacto social e econômico, onerosa para o Estado e para o indivíduo, além de ter uma elevada morbidade devido a complicações cardíacas, cerebrovasculares, vasculares periféricas, oculares, renais e neuropáticas, incapacitando o indivíduo e acelerando a morte dos doentes. Atualmente, também se reconhece a AUTOATIVIDADE 140 existência do indivíduo pré-diabético, com grande risco de desenvolver a doença. As figuras a seguir apresentam dados referentes a prevalência de diabetes (Gráfico 1) e a projeção de crescimento populacional brasileiro (Gráfico 2) de acordo com a idade. GRÁFICO 1 – PREVALÊNCIA DE DIABETES NO BRASIL DE ACORDO COM AS FAIXAS ETÁRIAS Percentual de adultos (> 18 anos) com diagnóstico médico referido para diabetes em 26 capitais do Brasil e Distrito Federal segundo faixa etária. FONTE: <http://portalsaude.saude.gov.br>. Acesso em: 16 ago. 2013. GRÁFICO 2 – COMPOSIÇÃO ABSOLUTA DA POPULAÇÃO, POR IDADE E SEXO FONTE: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 16 ago. 2013. 141 Considerando os dados apresentados, responda ao que se pede nos itens a seguir. FONTE: <https://www.ufcspa.edu.br/editora_log/download.php?cod=015&tipo=pdf>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) Quais as razões do aumento da diabetes previsto para as próximas décadas? b) O que caracteriza clínica e laboratorialmente um indivíduo pré-diabético? c) Qual a importância do diagnóstico de indivíduos pré-diabéticos para ações de vigilância epidemiológica e políticas públicas? 3 (ENADE, 2010) Avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I- A hemoglobina glicada é um conjunto de substâncias formadas a partir de reações entre a hemoglobina “A” (HbA) e alguns açucares, sendo que a fração A1c. ligada especificamente com a glicose, representa 80% da hemoglobina A1 total. PORQUE II- A quantidade de glicose ligada à hemoglobina é diretamente proporcional à concentração média de glicose no sangue que permanece associada de forma irreversível à cadeia alfa da hemoglobina, por meio de reação mediada por um sistema enzimático, permitindo uma avaliação do controle glicêmico médio no período entre 90 a 120 dias que precedem o exame. Acerca dessas asserções, assinale a opção CORRETA. FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/644661>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. b) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. c) ( ) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa. d) ( ) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. e) ( ) As duas asserções são proposições falsas. 4 (ENADE, 2006) O diabetes tipo 1 é caracterizado pela destruição das células produtoras de insulina das ilhotas pancreáticas, enquanto o diabetes tipo 2 é caracterizado pela resistência à insulina. FONTE: <https://download.inep.gov.br/download/enade/2006/Provas/PROVA_DE_ BIOMEDICINA.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2021. 142 a) Qual é a explicação mais aceita para a gênese dessas duas doenças metabólicas? b) Como se pode melhorar a condição metabólica dos pacientes em cada caso? Justifique. 5 (ENADE, 2019) A avaliação de um paciente com dor torácica deve diferenciar as etiologias cardíacas das não cardíacas. Dentre as de ocorrência cardíaca, o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) demanda investigação minuciosa. Além da análise da história clínica, dos achados no ecocardiograma e dos resultados de exames de imagem, a detecção da alteração de biomarcadores cardíacos é importante para o diagnóstico precoce. O gráfico a seguir representa a alteração dos biomarcadores cardíacos ao longo do tempo de ocorrência de um infarto. WILLIAMSON, M. A.; SNYDER, M. Wallach: interpretação de exames laboratoriais. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 (adaptado). Considerando as informações apresentadas, avalie as afirmações a seguir. I- A mioglobina sérica altera-se nas primeiras horas após a ocorrência do infarto e, geralmente, normaliza-se em 24 horas. II- A concentração sérica de CK-MB apresenta, em seu pico de elevação, incrementos de seis vezes nos valores normais. III- Os níveis de alteração da troponina correlacionam-se com a extensão da lesão cardíaca, com pico de elevação que pode durar até oito dias nos casos mais graves. 143 É CORRETO o que se afirmar em: FONTE: <https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2019/ BIOMEDICINA.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I, apenas. b) ( ) III, apenas. c) ( ) I e II, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 6 (ENADE, 2016) Um grande laboratório de análisesclínicas está desenvolvendo um kit com base em um ensaio enzimático, para análise de um novo marcador de função cardíaca. Considerando esse experimento, avalie as afirmações a seguir. I- A atividade enzimática deve aumentar rapidamente no plasma, caso haja lesão cardíaca isquêmica. II- O branco da reação deve ser formado por uma enzima com atividade conhecida. III- A temperatura da reação deve ser a temperatura ótima para a atividade enzimática. IV- O tampão presente na reação enzimática deve apresentar pKa próximo ao do pH ótimo da enzima. V- A enzima usada como marcador deve ter atividade em diversos órgãos. É CORRETO apenas o que se afirmar em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/636931>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) II e IV. b) ( ) I, III e IV. c) ( ) I, IV e V. d) ( ) II, III e V. e) ( ) I, II, III e V. 7 (ENADE, 2016) A doença arterial coronariana caracteriza-se pela insuficiência de irrigação sanguínea no coração por meio das artérias coronárias. Diretamente relacionada ao grau de obstrução do fluxo sanguíneo pelas placas ateroscleróticas, essa doença resulta em estreitamento das artérias coronárias (estenose), que, devido à redução do fluxo sanguíneo coronariano, diminui a chegada do oxigênio ao coração. As doenças cardiovasculares lideram os índices de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo, sendo a doença arterial coronariana causa de um grande número de mortes e de gastos em assistência médica. FONTE: PINHO, R. A. et al. Doença arterial coronariana: exercício físico e estresse oxidativo. Arq. Bras. Cardiol., Rio de Janeiro, v. 94, n. 4, p. 549-555, 2010 (adaptado). 144 A respeito dessa doença, das alterações estruturais que ela promove e do comprometimento do funcionamento normal do coração e do sistema vascular, avalie as afirmações a seguir. I- Doenças relacionadas com as dislipidemias, como a aterosclerose, apresentam em sua gênese e/ou em seus mecanismos fisiopatológicos, alterações na função endotelial e, como consequência, a hipertensão arterial e processos de isquemia. II- Distúrbios hemodinâmicos em bifurcações de grandes vasos promovem a baixa força de cisalhamento na corrente sanguínea, o que pode promover alterações em alguns genes e induzir, por exemplo, alteração na produção de óxido nítrico. III- Durante a formação da placa de ateroma, ocorrem aumento de óxido nítrico e adesão de células espumosas na camada íntima do vaso, com a consequente migração de células musculares lisas, formando uma matriz extracelular com capa fibrosa, aumentando o calibre da artéria e promovendo modificações estruturais e funcionais. IV- A formação das placas de ateroma pode ser causada por fatores locais e sistêmicos e normalmente pode gerar quadros de infarto ocasionados pelo processo de necrose desenvolvido durante a isquemia, ou ainda, gerar quadros de tromboembolias causadoras de isquemias em diferentes órgãos. É CORRETO apenas o que se afirmar em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/636949- inep-2016-enade-biomedicina>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I e IV. b) ( ) II e III. c) ( ) III e IV. d) ( ) I, II e III. e) ( ) I, II e IV. 8 (ENADE, 2010) Os lipídeos constituem um grupo de moléculas insolúveis em água e são transportados no plasma em forma de lipoproteínas. Essas são classificadas de acordo com o tamanho e a densidade em quilomícrons, lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e lipoproteínas de densidade alta (HDL). Em relação às lipoproteínas, avalie as afirmativas que seguem. I- Os quilomícrons liberados pela mucosa intestinal são convertidos diretamente em VLDL no plasma sanguíneo. II- As lipoproteínas são constituídas por um núcleo de lipídeos neutros envolvidos por uma camada anfipática de apolipoproteínas, fosfolipídios e colesterol livre. III- A função das apolipoproteínas é fornecer sítios de reconhecimento para receptores nas superfícies celulares e serem ativadoras ou inibidoras de enzimas envolvidas no metabolismo de lipoproteínas. 145 IV- A LDL tem alta concentração de colesterol e ésteres de colesterol, liga-se na superfície da membrana celular através do reconhecimento da apoproteína B-100. V- O colesterol captado da LDL pelas células age aumentando a síntese de colesterol e de receptores, sendo que o colesterol em excesso é convertido em éster de colesterol e armazenado. Está CORRETO apenas o que se afirma em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/644657>. Acesso em: 24 ago. 2021. a) ( ) I, II e III. b) ( ) I, II e V. c) ( ) I, IV e V. d) ( ) II, III e IV. e) ( ) III, IV e V. 146 147 REFERÊNCIAS ALVES, V. L. de S. Gestão da qualidade: ferramentas utilizadas no contexto contemporâneo da saúde. São Paulo: Martinari, 2012. ADA – AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. 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IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 88, p. 2-19, abr. 1997. (Suplemento I). ZAKHARI S.; LI T.K. Determinants of alcohol use and abuse: impact of quantity and frequency patterns on liver disease. Hepatology, [s. l.], v. 46, n. 6, p. 2032- 2039, dez. 2007. WESTGARD, J. O. Regras múltiplas e “regras de Westgard”: o que são? Tradução de Carla Albuquerque de Oliveira, Irene de Almeida Biasoli, José Leandro Salviano Neves e Paulo Afonso Lopes da Silva. Rio de Janeiro: Controllab, 2003. Disponível em: https://so.controllab.com/pdf/westgard_o_ que_sao.pdf. Acesso em: 24 ago. 2021. 152 153 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • descrever os principais processos hematológicos, imunológicos, microbiológicos e genéticos; • demonstrar as principais análises realizadas para avaliação dos processos apresentados na unidade; • apresentaras principais patologias que podem acometer os seres humanos na hematologia, imunologia, microbiologia e genética; • correlacionar as habilitações do profissional biomédico junto com as áreas apresentadas. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PROCESSOS HEMATOLÓGICOS TÓPICO 2 – PROCESSOS IMUNOLÓGICOS TÓPICO 3 – PROCESSOS MICROBIOLÓGICOS TÓPICO 4 – PROCESSOS GENÉTICOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 154 155 UNIDADE 3 TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS 1 INTRODUÇÃO A hematologia é a especialidade que estuda os componentes do sangue, principalmente, as células sanguíneas e os órgãos onde o sangue é produzido. Além de estudar as alterações que podem ser provocadas nos processos patológicos que afetam o ser humano. O sangue é um tecido conjuntivo viscoso, que circula nos vasos sanguíneos constituídos pelo plasma e elementos celulares. Sua principal função é o transporte de substâncias, como nutrientes e oxigênio para as células, e retirada dos restos metabólicos, como o dióxido de carbono para excreção. O plasma é a parte líquida sem presença de elementos celulares constituída por água, proteínas, sais inorgânicos e os compostos orgânicos diversos. A parte celular do sangue é formada pelos eritrócitos (hemácias), leucócitos (neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos) e plaquetas. FIGURA 1 – COMPONENTES DO SANGUE. FONTE: <http://twixar.me/FB7m>. Acesso em: 26 jul. 2021. PLASMA 52 - 62% LEUCÓCITOS <1% HEMÁCIAS 38 - 48% O profissional biomédico habilitado em Hematologia realiza análises hematológicas pré e pós-transfusionais, análises para o diagnóstico clínico e desenvolvimento de pesquisas. • Resolução n° 78, de 29 de abril de 2002: dispõe sobre o Ato Profissional Biomédico, fixa o campo de atividade do Biomédico e cria normas de Responsabilidade Técnica. Disponível em: https://crbm1.gov.br/RESOLUCOES/Res_78de29abril2002.pdf. IMPORTANT E UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II 156 2 HEMATOPOIESE As células-tronco hematopoiéticas dão origem a dois tipos de linhagens celulares, uma linhagem linfoide que dará origem aos linfócitos T e B, e uma linhagem mieloide, que dará origem aos neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos, hemácias e plaquetas. FIGURA 2 – HEMATOPOIESE FONTE: Jameson et al. (2020, p. 2570) 2.1 LEUCOPOIESE A leucopoiese é o processo de origem dos leucócitos e se divide em: granulopoese, em que ocorre a formação dos neutrófilos, eosinófilos e basófilos; monocitpoese, no qual ocorre a formação dos monócitos; e linfopoese, que é o processo em que ocorre a formação dos linfócitos e as células NK (Natural Killer). A síntese dessas células depende de citocinas e fatores estimuladores de crescimento de colônias. TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS 157 2.2 ERITROPOIESE A eritropoiese é o processo de formação dos eritrócitos (hemácias), e este processo é regulado pela eritropoetina (EPO), um hormônio produzido células renais e células hepáticas. (ZAGO, 2013) 3 HEMOGRAMA Hemograma é o exame complementar mais requerido nas consultas, fazendo parte de todas as revisões de saúde. Nele são avaliados valores numéricos, morfológicos e microscópicos (quando pertinente) do eritrograma, leucograma e plaquetograma. Dados esses que são de estrema importância para o corpo clínico na identificação de doenças como anemias e leucemias. Hoje contamos com séries de equipamentos que auxiliam na obtenção desses dados, porém a microscopia continua sendo nosso principal aliado na confirmação e identificação das alterações hematológicas. No Quadro 1, verificamos os limites que foram definidos pelo Grupo de Consenso Internacional Para indicação de Microscopia. QUADRO 1 – INDICAÇÃO PARA LEITURA DE LÂMINA HEMATOLÓGICA SEGUNDO CONSENSO INTERNACIONAL PARA INDICAÇÃO DE MICROSCOPIA FONTE: Adaptado de <https://statics-shoptime.b2w.io/sherlock/books/firstChapter/124267647.pdf>. Acesso em: 9 set. 2021. Células Limite inferior Limite superior Unidade Hemoglobina < 7 > 18,5 g/dL VCM < 75 > 105 fL CHCM < 30 > 36,5 % RDW > 22 % Leucócitos < 4.000 > 30.000 /µL Linfócitos > 5.000 (adultos)> 3.000 (< 12 anos) /µL Monócitos > 1.500 (adultos)> 3.000 (< 12 anos) /µL Eosinófilos > 2.000 /µL Basófilos > 500 /µL Plaquetas < 100.000 > 1.000.000 /µL Reticulócitos > 1.000.000 /µL UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II 158 Acadêmico, o Quadro 1 é a base utilizada para a realização da microscopia do hemograma, porém, o analista clínico pode determinar, com base de outros estudos científicos, quais serão seus critérios na avaliação do hemograma em microscopia. ATENCAO 4 ANEMIAS Anemia é caracterizada por qualquer alteração eritrocitária que venha a prejudicar a função de transporte de gases das hemácias. Pode ocorrer por diminuição do hematócrito, da concentração de hemoglobina, ou da quantidade de hemácias por unidade de volume (ZAGO, 2013). De acordo com Guimarães (2013), a Organização Mundial da Saúde (OMS) define que um paciente é diagnosticado com anemia quando a sua concentração de hemoglobina inferior a 12 g/dL para mulheres pré-menopausa e inferior a 13 g/dL para homens e para mulheres na fase pós-menopausa. Os parâmetros da normalidade da concentração da hemoglobina podem diferenciar em fatores como sexo, idade, altitude, tabagismo, idade gestacional e índice de massa corporal. No Quadro 2, podemos verificar os valores de referências recomendados pela OMS para avaliação da concentração da hemoglobina. QUADRO 2 – SUGESTÃO DOS LIMITES INFERIORES DE CONCENTRAÇÃO DA HEMOGLOBINA (HB) DE ACORDO COM IDADE, SEXO E ETNIA AO NÍVEL DO MAR FONTE: Santis (2019, p. 240) Idade Hemoglobina (g/dL) 6 meses – 5 anos 11,0 5 – 11 Anos 11,5 11 – 14 Anos 12,0 Mulheres > 14 anos 12,0 Gestantes 11,0 / 10,5 (~24ª semana) Homens Caucasianos > 20 anos 13,5 Homens Afrodescendentes > 20 anos Valor mais baixo provavelmente em decorrência da alta prevalência de talassemia α nessa etnia. 12,9 Homens idosos (> 65-70 anos) 13,0 TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS 159 A classificação das anemias pode ser de acordo com o tempo de instalação (aguda ou crônica) ou do aumento da destruição dos eritrócitos (perda ou hemólise). Quanto à causa, pode ser classificada em normocítica/normocrômica, macrocítica e microcítica/hipocrômica, e, de acordo com o volume corpuscular, normocitose/ microcitose/macrocitose. Todos estes dados auxiliam na investigação inicial das anemias, pois estão disponíveis no hemograma nos valores hematimétricos e nas contagens das outras células, que também auxiliam no primeiro diagnóstico. Acadêmico, você sabia que existem diversos tipos de anemias? E cada uma delas recebe uma nomenclatura. Vejamos, alguns exemplos: 4.1 ANEMIA FERROPRIVA A anemia por deficiência de ferro é, isoladamente, a mais comum das deficiências nutricionais do mundo e ocorre como resultado de perda sanguínea crônica, perdas urinárias, ingestão e/ou absorção deficiente de ferro e aumento do volume sanguíneo. Devido à diminuição sérica da concentração de ferro “os locais de reserva de ferro dos macrófagos estão depletados e, portanto, não podem fornecê-lo para o plasma. Consequentemente, a concentração plasmática de ferro cai a níveis que limitam a eritropoese” (LEE, 1998 apud CARVALHO; BARACET; SGARBIERI, 2006, p. 55). Essa anemia é caracterizada por três estágios: • O diagnóstico do primeiro estágio da deficiência de ferro, caracterizado pela diminuição dos estoques de ferro no organismo, é realizado por meio de dosagem de ferritina sérica. • O segundo estágio da deficiência de ferro correspondeà diminuição do ferro de transporte. Este estágio caracteriza-se pela diminuição do ferro sérico e um aumento da capacidade de ligação do ferro, sendo que tais mudanças resultam na diminuição da saturação da transferrina. • O terceiro estágio ocorre quando a quantidade de ferro está suficientemente restrita para a produção de hemoglobina, apresentando células hipocrômicas e microcíticas. 4.2 ANEMIA FALCIFORME A anemia falciforme é uma anomalia genética importante no Brasil, com expressão clínica da homozigose do gene da hemoglobina S, que acomete, sobretudo, nas regiões que receberam maciços contingentes de escravos africanos. UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II 160 FIGURA 3 – PRESENÇA DE DREPANÓCITOS NA ANEMIA FALCIFORME FONTE: <https://www.plugbr.net/wp-content/uploads/2010/02/anemia-falciforme.gif> Acesso em: 26 jun. 2021. Acadêmico, sugerimos a leitura de um artigo que trata de um estudo transversal que tem como objetivo verificar a prevalência de anemia em adultos e idosos brasileiros. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-549720190008.supl.2. DICAS 5 LEUCEMIAS Consideradas como neoplasias malignas de natureza clonal, as leucemias têm origem nas células hematopoiéticas e caracterizam-se pela substituição das células da medula óssea por células neoplásicas. As células neoplásicas podem chegar ao sangue periférico e infiltrar órgãos como fígado linfonodos e outros tecidos (COTRAN; KUMAR; ROBBINS, 1998). A causa da doença é uma mutação pontual no gene beta da globina, em que há a substituição de uma base nitrogenada do códon GAG para GTG, resultando na troca do ácido glutâmico (Glu) pela valina (Val) na posição número seis do gene. Essa substituição origina uma molécula de hemoglobina anormal denominada hemoglobina S (HbS), ao invés da hemoglobina normal chamada de hemoglobina A (HbA). Essa pequena modificação estrutural é responsável por profundas alterações nas propriedades físico-químicas da molécula de hemoglobina e das hemácias do paciente (BRASIL, 2001). Devido ao formato da hemoglobina S, o paciente portador de anemia falciforme possui hemácias características em formato de foice, denominada drepanócitos (Figura 3) TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS 161 5.1 NEOPLASIAS DAS CÉLULAS MIELOIDES As leucemias mieloides são um grupo de doenças heterogêneas que se caracterizam pela proliferação anormal de células progenitoras da linhagem mieloide, ocasionando produção insuficiente de células sanguíneas maduras normais. Essas leucemias compreendem um espectro de neoplasias malignas que, se não tratadas, podem ser de crescimento lento ou rapidamente fatal. Dependendo da evolução do paciente pode ser classificada em aguda ou crônica (JAMESON et al., 2020). 5.1.1 LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA (LMA) A hereditariedade, a radiação, as substâncias químicas e outras exposições ocupacionais, assim como os fármacos, foram implicados no desenvolvimento da LMA. Nenhuma evidência direta sugere etiologia viral (JAMESON et al., 2020). • Principais achados hematológicos na LMA No geral, a anemia está presente nos diagnósticos de LMA e pode ser intensa e do tipo norocítica normocrômica. Existe a diminuição da eritropoiese, que reduz a quantidade de reticulócitos, e a sobrevida dos eritrócitos é diminuída devido à destruição acelerada. Nos pacientes com LMA a contagem total dos leucócitos é de aproximadamente 15.000 leucócitos/μ.L, porém, alguns pacientes podem apresentar contagens inferior a 5.000 leucócitos/μ.L (25-40%) e outros superior a 100.000 leucócitos/μ.L (20%). Em menos de 5% dos casos não apresentam células leucêmicas detectáveis no sangue. A contagem de plaquetas inferior a 100.000/μ.L em cerca de 75% dos pacientes, e < 25.000/μ.L em 25% dos pacientes, com alterações morfológicas e funcionais como granulação anormal e a incapacidade das plaquetas se agregarem ou aderirem entre si (JAMESON et al., 2020). Na LMA, os neutrófilos apresentam achados específicos que estão descritos a seguir. Existem mais de 12 tipos de leucemias, e as quatro de maior incidência que iremos descrever neste livro são: leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (CLL). No Brasil, segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer, no ano de 2019, ocorreram 7.370 óbitos decorrentes a leucemias, sendo 4.014 homens e 3.356 mulheres (ESTATÍSTICAS [...], 2021). UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II 162 FIGURA 4 – MIELOBLASTO LEUCÊMICO CONTENDO UM BASTÃO DE AUER FONTE: Jameson et al. (2020 p. 2794) FIGURA 5 – POPULAÇÃO UNIFORME DE MIELOBLASTOS PRIMITIVOS COM CROMATINA IMATURA, NUCLÉOLOS EM ALGUMAS CÉLULAS E GRÂNULOS CITOPLASMÁTICOS PRIMÁRIOS FONTE: Jameson et al. (2020 p. 2794) Na LMA, o citoplasma frequentemente contém grânulos primários (não específicos), e o núcleo apresenta cromatina fina, rendada com um ou mais nucléolos típicos de células imaturas. Os grânulos anormais em forma de bastões, chamados bastões de Auer, não estão presentes de maneira uniforme, mas quando estão, a linhagem mieloide é virtualmente certa. A função neutrofílica inadequada pode ser observada por meio do comprometimento da fagocitose e da migração, e morfologicamente por meio de lobulação anormal e granulação deficiente (JAMESON et al., 2020, p. 2794). TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS 163 5.1.2 LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA (LMC) Os principais achados hematológicos na LMC são contagens elevadas dos leucócitos, com aumentos tanto dos granulócitos imaturos quanto dos maduros. Geralmente, observa-se menos de 5% de blastos circulantes, bem como menos de 10% de blastos e promielócitos, sendo a maioria das células constituída de mielócitos, metamielócitos e bastões. A alternância das contagens pode ser observada em pacientes acompanhados sem tratamento. As contagens plaquetárias encontram-se quase sempre elevadas no momento do diagnóstico e existe um grau leve de anemia normocítica normocrômica. A fosfatase alcalina leucocitária é baixa nas células da LMC. Em geral, as funções fagocitárias são normais ao diagnóstico e permanecem assim durante a fase crônica. A aceleração da doença é definida pelo desenvolvimento de graus crescentes de anemia inexplicada por sangramento ou terapia; evolução clonal citogenética; ou blastos sanguíneos ou medulares entre 10 e 20%, 20% ou mais de blastos sanguíneos ou medulares, ou contagem plaquetária < 100.000/μ.L. A crise blástica é definida como leucemia aguda, com 20% ou mais de blastos sanguíneos ou medulares. Podem surgir neutrófilos hipossegmentados (anomalia de Pelger-Huet). As células blásticas podem ser classificadas como mieloides, linfoides, eritroides ou indiferenciadas, com base nas características morfológicas, citoquímicas e imunológicas. A ocorrência de crise blástica "de novo'' ou após terapia com imatinibe é rara. 5.2 NEOPLASIAS DAS CÉLULAS LINFOIDES Os tumores das células linfoides incluem desde as mais indolentes até as mais agressivas neoplasias malignas humanas. Originam-se de células do sistema imune em diferentes estágios de diferenciação, resultando em uma ampla variedade de achados morfológicos, imunológicos e clínicos. Algumas neoplasias malignas de células linfoides quase sempre se apresentam na forma de leucemia quando ocorre o acometimento primário da medula óssea e do sangue, enquanto outras geralmente ocorrem como linfomas quando existe a formação de tumores sólidos do sistema imune. Outras neoplasias malignas de células linfoides podem manifestar-se como leucemia ou como linfoma. Além disso, o padrão clínico pode mudar durante a evolução da doença. Essa mudança é observada mais frequentemente em um paciente que parece ter um linfoma e apresentaas manifestações de leucemia durante a evolução da doença. UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II 164 FONTE: Jameson et al. (2020, p. 2881) FIGURA 6 – FREQUÊNCIA RELATIVA DAS NEOPLASIAS LINFOIDES. LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA (LLA), LEUCEMIA LINFOIDE CRÔNICA (LLC) 5.2.1 LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA (LLA) A Leucemia linfoide aguda (LLA) é uma neoplasia maligna heterogênea no sistema hematopoiético, onde ocorre a multiplicação desordenada de células blásticas, ocorrendo o acúmulo de células jovens na medula óssea. É o tipo mais comum de câncer infantil, constituindo cerca de um terço de todas as neoplasias malignas da criança. Devido às células leucêmicas serem heterogêneas, apresentam vasta diversidade de dados clínicos e biológicos. A mesma compromete a produção de todas as células sanguíneas. A LLA avança, desde os linfloblastos primordiais, que se encontram em inúmeros pontos de evolução (ZANICHELLI; COLTURATO; SOBRINHO, 2010). A classificação morfológica em vigor é comumente utilizada, foi desenvolvida por um grupo denominado Franco-Americano-Britânico (FAB), no qual os blastos possuem baixa quantidade de citoplasma com basofilia variada (FADEL, 2010). Os blastos são classificados em três tipos distintos: • L1: células pequenas, com morfologia regular, homogêneos, sem nucléolos, relação núcleo-citoplasma alta. TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS 165 FIGURA 7 – CÉLULAS DA LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA CLASSIFICADOS COMO L1 FONTE: Fadel (2010, p. 3) • L2: células de tamanhos variáveis, heterogêneos, possuem nucléolos grandes e visíveis, podendo apresentar irregularidade no contorno. FIGURA 8 – CÉLULAS DA LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA CLASSIFICADOS COMO L2 FONTE: Fadel (2010, p. 4) • L3: células grandes, basofilia citoplasmática, apresentam imunofenotipo B, é considerada uma forma mais agravante da patologia, apresenta forma leucêmica do linfócito de Burkitt. FIGURA 9 – CÉLULAS DA LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA CLASSIFICADOS COMO L3 FONTE: Fadel (2010, p. 4) UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II 166 A classificação da imunofenotipagem, comumente utilizada é estabelecida pelo European Group for Immunophenotyping Leukemias (EGIL), que é baseado na representação imunofenótipica das células, que estão em concordância com a morfologia do caso, possibilitando assim a distinção em subtipos imunológicos, após a verificação, podemos classificar a linhagem celular (B ou T). [...] A imunofenotipagem, é realizada com a técnica de citometria de fluxo, é eficaz no reconhecimento, especificação, prognosticação, determinação da extensão da doença, monitorização, e também na definição fenotípica das leucemias (CAVALCANTE; ROSA; TORRES, 2017, p. 157-158). 5.2.2 LEUCEMIA LINFOIDE CRÔNICA (LLC) A leucemia linfoide crônica (LLC) é uma doença idiossincrática que está diretamente ligada à hematopoese, sendo caracterizada pela multiplicação descontrolada da quantidade de leucócitos no sangue, gerando, a partir disso, o aumento e acúmulo na quantidade de linfócitos. O seu curso clínico é heterogêneo, podendo o paciente sobreviver de meses até anos, sendo que cerca de 70% dos pacientes apresentam-se assintomáticos ao diagnóstico (VASCONCELOS, 2005; RIBEIRO, 2010). 6 HEMOSTASIA O processo que faz com que o sangue circule nos vasos sanguíneos de maneira fluída é denominado hemostasia. Este processo faz com que o sangue não extravase, caracterizando um quadro hemorrágico, e nem coagule, caracterizando um quadro de trombose, e para isso, possuímos mecanismos pró-coagulante e anticoagulantes. Acadêmico, você lembra da cascata da coagulação estudada na disciplina de hematologia e imunologia básica? Para auxiliar, assista ao vídeo sobre os processos de hemostasia primária e secundária, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v= dG73PqI9cNc. DICAS TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS 167 • Avaliação coagulação: você se recorda, acadêmico, qual a importância dos exames que avaliam a coagulação, na vida dos pacientes? Pacientes pré- operatórios, pós-cirúrgicos, que fazem uso contínuo de algumas medicações, com doenças ou deficiências que alteram os fatores de coagulação, ou até mesmo em acidentes, dependem do resultado desses exames para a correta avaliação médica e possível tratamento. • Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPa): é um teste que avalia a via intrínseca e a via comum da cascata da coagulação. Se o paciente possui deficiência em algum dos fatores da via intrínseca ou da via comum, o resultado se apresenta aumentado. Se o paciente estiver com uma trombofilia, o resultado se apresenta diminuído (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2014). • Tempo de Protrombina (TP): é um exame que avalia as vias extrínseca e comum. Portanto, no caso da deficiência de fibrinogênio e de qualquer um dos fatores da via extrínseca e comum, em pacientes em uso de anticoagulantes, doença hepática e deficiência de vitamina K, o tempo de protrombina será aumentado (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2014). • Tempo de Trombina (TT): neste exame, temos a avaliação da capacidade do sangue de converter fibrinogênio em fibrina. É o tempo necessário para que ocorra a coagulação do plasma após adicionar trombina (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2014). • D- dimero: produto da degradação da ligação cruzada da fibrina no sistema da coagulação o D-dímero é um marcador frequentemente utilizado nos laboratórios de análises clínicas para a investigação de distúrbios hemostáticos que incluem eventos tromboembólicos. Seus níveis aumentam significativamente nos pacientes com quadros de tromboses venosa profunda (TVP), embolia pulmonar, coagulação intravascular disseminada, câncer, Covid-19, sepse entre outras patologias. Por isso sugere-se a utilização deste marcador como estratégias de diagnóstico em pacientes com síndrome coronariana, como prognóstico de doenças cardíacas, tendo papel importante no monitoramento do quadro clínico pós-tratamento e avaliação pós terapêuticos de pacientes. Acadêmico, o D-DÍMERO vem sendo utilizado como auxílio laboratorial na pandemia de Covid-19, para condutas médicas com os pacientes internados. Saiba mais no artigo “Coagulopatia induzida pelo estado inflamatório da infecção pela Covid-19”, disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/28295/22730. DICAS 168 Neste tópico, você aprendeu que: • A hematologia é a especialidade que estuda os componentes do sangue, principalmente as células sanguíneas e os órgãos onde o sangue é produzido. • As células-tronco hematopoiéticas dão origem a dois tipos de linhagens celulares, uma linhagem linfoide que dará origem aos linfócitos T e B, e uma linhagem mieloide que dará origem aos neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos, hemácias e plaquetas. • A leucopoiese é o processo de origem dos leucócitos e se divide em: granulopoese, em que ocorre a formação dos neutrófilos, eosinófilos e basófilos; monocitpoese, no qual ocorre a formação dos monócitos; e linfopoese, que é o processo em que ocorre a formação dos linfócitos e as células NK (Natural Killer). • A eritropoiese é o processo de formação dos eritrócitos (hemácias). • O hemograma é o exame no qual são avaliados valores numéricos, morfológicos e microscópicos (quando pertinente) do eritrograma, leucograma e plaquetograma). • Anemia é caracterizada por qualquer alteração eritrocitária que venha a prejudicar a função de transporte de gases das hemácias. • A anemia por deficiência de ferro é, isoladamente, a mais comum das deficiências nutricionais do mundo e ocorre como resultado de perda sanguínea crônica, perdas urinárias, ingestão e/ou absorção deficiente de ferro e aumento do volume sanguíneo. • A anemia falciforme é uma anomalia genéticaimportante no Brasil, com expressão clínica da homozigose do gene da hemoglobina S, que acomete, sobretudo, nas regiões que receberam maciços contingentes de escravos africanos. • As leucemias têm origem nas células hematopoiéticas e caracterizam-se pela substituição das células da medula óssea por células neoplásicas. As células neoplásicas podem chegar ao sangue periférico e infiltrar órgãos como fígado linfonodos e outros tecidos. • Hemostasia é o processo que faz com que o sangue não extravase, caracterizando um quadro hemorrágico, e nem coagule, caracterizando um quadro de trombose. RESUMO DO TÓPICO 1 169 1 (ENADE, 2019) A hematopoese envolve os processos de formação, desenvolvimento e maturação dos elementos figurados do sangue, que são formados a partir de uma célula precursora comum. FONTE: ZAGO, M. A.; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Tratado de hematologia. São Paulo: Atheneu, 2014 (adaptado). A figura a seguir representa um esquema da hematopoese, em que CFU é Unidade Formadora de Colônia e BFU é Unidade Formadora de Explosão. Em relação à hematopoese e às suas características, avalie as afirmações a seguir. I- As células sanguíneas são produzidas na medula óssea a partir das células-tronco hematopoéticas. II- As plaquetas são células pequenas formadas a partir de células precursoras chamadas de megacariócitos. III- As CFU podem dar origem a uma ou mais linhagens hematopoéticas a partir do estímulo do hormônio eritropoetina. IV- As células-tronco hematopoéticas possuem capacidade de divisão assimétrica, gerando tanto células indiferenciadas quanto células comprometidas com as linhagens hematológicas. V- Os eritrócitos são formados na medula óssea a partir de células precursoras que, durante a eritropoese, perdem o núcleo, mas preservam a capacidade de sintetizar hemoglobina durante toda a vida da célula. AUTOATIVIDADE 170 É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://bit.ly/3tqhLvA>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) I e IV, apenas. b) ( ) II e III, apenas. c) ( ) II e V, apenas. d) ( ) I, III, IV e V, apenas. e) ( ) I, II, III, IV e V. 2 (ENADE 2019) Uma mulher de 32 anos de idade foi a um banco de sangue realizar doação pela primeira vez. Ao chegar ao hemocentro, realizou seu cadastro e as triagens clínica e hematológica para checar a pressão arterial, os batimentos cardíacos, o peso, a temperatura corporal e o hematócrito. Para analisar antecedentes patológicos e fatores de risco que poderiam impedir a doação de sangue, foi submetida a uma entrevista. Considerando que o perfil imunohematológico da doadora tem o tipo sanguíneo “B positivo”, é correto afirmar que ela apresenta. FONTE: <https://bit.ly/3tDdK7v>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) Hemácias N-acetilgalactosamina ligadas ao antígeno H, antígeno D e, na circulação sanguínea, anticorpos anti-B. b) ( ) Hemácias N-acetilgalactosamina ligadas ao antígeno H, ausência de antígenos do sistema Rh e ausência de anticorpos contra os antígenos do sistema ABO na circulação sanguínea. c) ( ) Hemácias D-galactose ligadas ao antígeno H, antígeno D e, na circulação sanguínea, anticorpos anti-B. d) ( ) Hemácias D-galactose ligadas ao antígeno H, antígeno D e, na circulação sanguínea, anticorpos anti-A. e) ( ) Hemácias D-galactose ligadas ao antígeno H, ausência de antígenos do sistema Rh e, na circulação sanguínea, anticorpos anti-A. 3 (ENADE 2006) O sangue é um tecido especializado que circula por um sistema fechado, no qual o volume deve ser mantido constante. Sangramentos podem ocorrer e devem ser rapidamente reparados, por meio de processos denominados, em conjunto, hemostasia. Considere as afirmativas a seguir. I- Coagulação do sangue é a formação de uma rede insolúvel de fibrina a partir de fibrinogênio. II- Quando ocorre lesão do endotélio vascular, plaquetas aderem ao local da lesão, sofrem modificações estruturais e liberam compostos que induzem vasoconstrição e agregação plaquetária. III- A coagulação é controlada por inibidores naturais, como antitrombina e proteína C. 171 Está CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/651858>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) I, II e III. b) ( ) II e III somente. c) ( ) I e II, somente. d) ( ) II, somente. e) ( ) I, somente. 4 (ENADE, 2010) A deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia e, em geral, o diagnóstico laboratorial é feito sem grandes dificuldades. A interpretação dos resultados, no entanto, deve ser feita cuidadosamente, tendo-se em mente as limitações de cada reação. Confirmando o diagnóstico, inicia-se o tratamento e a investigação das causas da anemia. A figura a seguir indica a correlação das principais alterações laboratoriais no decorrer das fases evolutivas da deprivação de ferro. FONTE: GROTTO, H. Z. W. Fisiologia e metabolismo do ferro. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., São Paulo, 2010. 172 A partir das informações apresentadas, redija um texto dissertativo que contemple as respostas das questões a seguir. FONTE: <https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/padrao_resposta/2010/ padrao_respostas_discursivas_BIOMEDICINA_2010.pdf>. Acesso em: 8 set. 2021. a) Quais as alterações laboratoriais verificadas nas fases de depleção de estoque e eritropoese deficiente de ferro? Justifique sua resposta. b) Como o quadro de anemia ferropriva pode ser revertido? 5 (ENADE, 2013) Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia é caracterizada pela redução nos níveis de hemoglobina abaixo do valor de referência. Além disso, as anemias são classificadas conforme sua fisiopatologia em hemolíticas e não-hemolíticas. Diferentes alterações bioquímicas e hematológicas são observadas nessas duas condições. Com base no gráfico a seguir, analise os parâmetros bioquímicos e hematológicos observados em um quadro de anemia no momento do seu diagnóstico. Legenda: Nl = Nível Normal; 1x = aumento em uma vez do nível normal; 2x = aumento em duas vezes do nível normal; 3x = aumento em três vezes do nível normal; 4x = aumento em quatro vezes do nível normal; 5x = aumento em cinco vezes do nível normal. Os dados apresentados no gráfico indicam: FONTE: <https://www.questoesgratis.com/questoes-de-concurso/questao/233043>. Acesso em: 8 set. 2021. 173 a) ( ) Anemia carencial, podendo ser uma anemia ferropriva, pois no momento do diagnóstico foi observado um aumento na contagem de reticulócitos. b) ( ) Anemia hemolítica, visto que se observa um aumento na concentração de bilirrubina total, acompanhado pelo aumento da fração indireta. c) ( ) Anemia microcítica e hipocrômica, o que indica que se trata de uma anemia carencial. d) ( ) Anemia hemolítica, pois observa-se contagem normal de reticulócitos, além de microcitose e hipocromia no momento do diagnóstico. e) ( ) Anemia carencial, na qual se observa aumento na contagem de reticulócitos e de bilirrubina total. 6 (ENADE, 2016) Considerando a interferência de determinados tipos de medicamento no resultado de exames laboratoriais pré-operatórios, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I- O ácido acetilsalicílico pode causar como efeito colateral o aumento no tempo de sangramento. PORQUE II- O ácido acetilsalicílico inibe a síntese dos fatores da coagulação dependentes de vitamina K. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA. FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/636948>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) () A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 7 (ENADE, 2016) A anemia falciforme, doença hereditária monogênica mais comum do Brasil, deve-se a uma mutação pontual (GAG → GTG) no gene da globina beta da hemoglobina, originando uma hemoglobina anormal, denominada hemoglobina S (HbS), em vez da hemoglobina normal denominada hemoglobina A (HbA). Esta mutação resulta na substituição de um ácido glutâmico por uma valina na posição 6 da cadeia beta, com consequente modificação físico-química na molécula da hemoglobina. Em determinadas situações, essas moléculas podem sofrer polimerização, com falcização das hemácias, o que ocasiona encurtamento da vida média dos glóbulos vermelhos, fenômenos de vaso-oclusão e episódios de dor, e, ainda, lesão de órgãos. Com relação à anemia falciforme, avalie as afirmações a seguir. 174 I- A anemia de hemácias falciformes é causada por uma mutação genética que provoca a produção de hemoglobina em forma de foice, podendo o diagnóstico dessa doença ser obtido por meio de um teste padrão recessivo da herança. II- A mutação pontual no gene da hemoglobina S gera a síntese de hemoglobina alterada, sendo essa uma doença hereditária ligada ao sexo. III- As mutações genéticas envolvidas na patofisiologia da doença da célula falciforme são relacionadas igualmente às mutações genéticas de outras circunstâncias que envolvem a hemoglobina anormal, tal como a hemoglobina C, a hemoglobina D e a hemoglobina E. IV- A eletroforese de hemoglobina é o exame laboratorial específico para o diagnóstico da anemia falciforme, sendo possível detectar a presença da hemoglobina S por meio da realização do teste do pezinho, logo após o nascimento da criança. É CORRETO apenas o que se afirma em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/636933>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) I e II. b) ( ) II e III. c) ( ) III e IV. d) ( ) I, II e IV. e) ( ) I, III e IV. 175 UNIDADE 3 TÓPICO 2 — PROCESSOS IMUNOLÓGICOS 1 INTRODUÇÃO A imunologia é a ciência que estuda o sistema imunológico de todos os organismos, lidando com o funcionamento fisiológico de um indivíduo saudável ou em estado patológico e em caso de doenças do sistema imunológicas, como hipersensibilidades e doenças autoimunes (JANEWAY et al., 2001) O sistema imunológico é quem garante a proteção do organismo através de barreiras diferentes formadas por células, tecidos, órgãos ou moléculas. Ele garante o reconhecimento de células e substâncias estranhas e a destruição ou neutralização dos invasores, graças a uma resposta coordenada de seus componentes, os quais são capazes de diferenciar as células do próprio corpo daquelas invasoras. Porém, em algumas situações, ele pode reagir contra nosso próprio corpo, desencadeando doenças autoimunes (JANEWAY et al., 2001) A habilitação em Imunologia permite que o biomédico realize análises do sistema de defesa do organismo humano visando a identificação e classificação dos agentes patológicos para estudo, desenvolvimento e aperfeiçoamento de vacinas. E, também, realize testes sorológicos por meio de técnicas de soroaglutinação, fluorimetria, quimioluminescência e imunocromatografia. Esta habilitação é regulamentada pelas normativas e resoluções do CFBM a seguir: • Resolução n° 78, de 29, de abril de 2002: dispõe sobre o Ato Profissional Biomédico, fixa o campo de atividade do Biomédico e cria normas de Responsabilidade Técnica. Disponível em: https://crbm1.gov.br/RESOLUCOES/Res_78de29abril2002.pdf. • Normativa CFBM n° 001, de setembro de 2020: dispõe sobre a atividade do profissional Biomédico na área de vacinação humana. Disponível em: https://cfbm.gov.br/wp- content0/uploads/2021/06/Normativa-01.2020-3.pdf. IMPORTANT E 176 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II 2 ANTÍGENO E ANTICORPO Os anticorpos são proteínas circulantes produzidas pelos linfócitos B, mais especificamente, pelos plasmócitos em resposta à exposição a estruturas estranhas conhecidas como antígenos. Podemos denominar antígeno qualquer substância ou agente estranho que invada o nosso organismo. Os anticorpos são classificados em: • IgG: anticorpo mais abundante do plasma, o único capaz de atravessar a placenta, neutralização de toxinas, predomina nas respostas secundárias (anticorpo de memória). • IgA: presente na lágrima, na saliva, nas secreções do trato digestivo, respiratório e urogenital, assim como no leite materno. • IgM: é o primeiro anticorpo a ser produzido, sendo muito importante na neutralização de agentes infecciosos, resposta imune aguda (primária). • IgE: participa da defesa contra parasitas, especialmente contra helmintos, sendo responsável também pelo desencadeamento de alergias; • IgD: anticorpo menos abundante do plasma, tem suas funções pouco conhecidas. FIGURA 10 – IMUNOGLOBULINAS FONTE: <https://bit.ly/3nfP5V2>. Acesso em: 20 jun. 2021. TÓPICO 2 — PROCESSOS IMUNOLÓGICOS 177 As principais funções dos anticorpos são: • Neutralização: o anticorpo liga-se ao antígeno impedindo que este seja capaz de destruir ou infectar células. • Opsonização: o anticorpo liga-se ao antígeno promovendo seu reconhecimento pelos macrófagos ou neutrófilos que realizarão a fagocitose. Além da neutralização e opsonização, os anticorpos podem acionar o sistema de complemento que promove a lise de microrganismo ATENCAO 3 IMUNIDADE INATA E IMUNIDADE ADAPTATIVA Acadêmico, como você deve lembrar, a resposta natural, ou inata, é a primeira resposta que o organismo é capaz de ativar. Pois são os mecanismos preexistentes capazes de prevenir infecções por patógenos ou, ainda, criar uma defesa imediata contra agentes estranhos. Assim, as barreiras físicas, químicas, as células imunes e algumas proteínas fazem parte dessa defesa inicial do nosso organismo. Ela desempenha três funções essenciais para proteção contra microrganismos e lesões teciduais: A primeira é a resposta contra microrganismos que previne e controla infecção contra patógenos. A segunda são os mecanismos inatos que podem eliminar as células danificadas e iniciar o processo de reparo celular e, terceira, é a capacidade de estimular a resposta imune adquirida e torná- las efetivas contra futuras contaminações. A cada contato com antígenos estranhos, ocorre um fenômeno conhecido como memória imunológica. Esse fenômeno é mediado pelos linfócitos B e T. Durante o processo de desenvolvimento de uma resposta imunológica, algumas células B e T são ativadas pelo antígeno, diferenciando-se em células de memória, que são os linfócitos responsáveis pela imunidade de longa duração. Essas células de memória, que podem ser estimuladas após doença ou após a vacinação irão, prontamente, diferenciar-se em células efetoras em uma segunda exposição a seu antígeno específico (MURPHY, 2014). Esse primeiro contato com o antígeno é chamado de resposta primária. A resposta imune primária é lenta, porque necessita de tempo para que os linfócitos virgens sejam ativados, proliferem-se e sofram diferenciação em quantidades suficientes para desencadear a resposta imunológica. Essa proliferação e diferenciação dos linfócitos é chamada de expansão clonal. A resposta primária também não é muito intensa e tem um intervalo de duração curto. 178 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II Quando o corpo entra em contato com esse mesmo antígeno uma segunda vez, inicia-se uma resposta muito mais rápida e intensa chamada resposta secundária. A eficiência da resposta secundária existe graças às células de memória que foram produzidas na resposta imune primária e que já estão prontas para combater o antígeno invasor em futuras infecções. • Respostas imunológicas mediadas pelas células B são conhecidascomo imunidade humoral. • Respostas mediadas pelas células T são conhecidas como imunidade celular. NOTA FIGURA 11 – IMUNIDADE INATA E IMUNIDADE ADAPTATIVA FONTE: <https://medpri.me/upload/editor/ilustra%207.png>. Acesso em: 25 jun. 2021. 4 HIPERSENSIBILIDADES “As reações de hipersensibilidade ou alérgicas constituem respostas imunes caracterizadas por inflamação e lesão tecidual. Muitas substâncias podem desencadear essas reações, as quais dependem da interação complexa entre dieta, hábitos, exposição e características genéticas” (SUKEKAVA; SELL, 2007, p. 39). TÓPICO 2 — PROCESSOS IMUNOLÓGICOS 179 5 DOENÇAS AUTOIMUNES As reações do Tipo I, ou anafilaxia, são mediadas por anticorpos da classe IgE específica aos produtos finais do látex. O alérgeno induz a síntese de imunoglobulinas IgE específicas, que se ligam a mastócitos e basófilos, os quais são ativados durante uma reexposição ao mesmo antígeno, liberando os mediadores farmacológicos responsáveis pelos sintomas locais ou sistêmicos (ALLARCON et al., 2003). As desordens autoimunes compõem um grupo heterogêneo de doenças, cujas causas não são totalmente compreendidas, envolvendo a interação de inúmeros fatores que regulam importantes vias moleculares e celulares do organismo e seu sistema imune que, quando comprometidas, resultam na falha pelo organismo em sustentar tolerância às suas próprias moléculas em decorrência de fatores que incluem variantes como genética, status hormonal, exposição à xenobióticos, patógenos, variáveis epigenéticas, relação da interação dos fatores genéticos com os fatores ambientais, dieta e estresse. 6 IMUNOENSAIOS A base que fundamenta para esses testes é a interação que ocorre entre antígeno e anticorpo, de modo que nós podemos utilizar como reagentes, tanto anticorpos quanto antígenos e seus componentes, afim de detectar a presença de forma exata de agentes agressores no organismo. 6.1 TÉCNICA EM AGLUTINAÇÃO EM LÁTEX Os imunoensaios desenvolvidos pelo princípio das reações de precipitação, estão baseados na interação entre antígeno e anticorpo solúveis que produzem complexos insolúveis visíveis. A formação desses complexos visíveis é realizada a partir da utilização de partículas inertes (que não reagem quimicamente), como o látex. Em casos de técnicas que utilizam a aglutinação em látex, é possível realizar a análise qualitativa e semiquantitativa de marcadores imunológicos, como a PCR, o fator reumatoide e a ASO. 180 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II FIGURA 12 – TESTE DE AGLUTINAÇÃO EM LÁTEX FONTE: <https://www.wamadiagnostica.com.br/assets/img/produtos/9.jpg>. Acesso em: 28 jun. 2021. 6.2 NEFLOMETRIA E TURBIDIMETRIA O nefelômetro é um equipamento que mede a dispersão de luz gerada em soluções contendo imunocomplexos. O nefelômetro mensura a luz dispersa pelos imunocomplexos, pois possui, em sua estrutura, um detector posicionado em um ângulo de 70° em relação à fonte de luz, assim consegue realizar uma análise quantitativa da amostra (VOLTARELLI, 2009). O método turbidimétrico quantitativo para análise de soluções contendo imunocomplexos está sujeito às mesmas condições dos sistemas nefelométricos, porém, a diferença está no sinal de detecção, que é a absorbância e não a intensidade de luz dispersa, não necessitando de aparelhagem especial. As reações podem ser medidas em espectrofotômetros simples utilizados em bioquímica (VOLTARELLI, 2009). FIGURA 13 – ESQUEMA DO PRINCÍPIO FÍSICO DA NEFELOMETRIA E DA TURBIDIMETRIA FONTE: Bender; von Mühlen (2009, p. 77) TÓPICO 2 — PROCESSOS IMUNOLÓGICOS 181 6.3 IMUNOCROMATOGRAFIA Esta técnica é realizada utilizando uma matriz, local onde ocorrerá a reação, geralmente feita de nitrocelulose ou nylon e coberta por uma tira de acetato transparente, que possibilita visualizar o resultado do teste. Nesse teste, podemos identificar o anticorpo produzido no organismo ou o antígeno (BRASIL, 2018). Atualmente, existem diversos tipos de imunocromatografia, porém, as mais utilizadas nas análises imunológicas e em testes laboratoriais são: • Fluxo lateral. • Dupla migração ou duplo percurso (dpp). • Imunoconcentração. 6.4 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO (ELISA) O ELISA (do inglês, Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay) é um imunoensaio em que a ligação antígeno-anticorpo é acompanhada por mensuração de atividade enzimática que está presente na reação. A coloração no teste, se positivo, ocorre devido a uma enzima que gera mudança de cor quando adicionado seu substrato numa das etapas da reação. Trata-se de uma metodologia utilizada para diferentes finalidades, como a detecção viral, a medida de antígenos ou anticorpos e a dosagem hormonal. De acordo com Bender e von Mühlen (2009, p. 83): Trata-se de técnica imunoenzimática sensível, heterogênea (múltiplas fases), para a quantificação de antígenos ou anticorpos. Um dos reagentes é imobilizado na fase sólida, enquanto outro pode ser ligado a uma enzima, com preservação tanto da atividade enzimática como da imunológica do anticorpo. A fase sólida pode ser constituída por partículas de agarose, poliacrilamida, dextrano, poliestireno etc. Placas plásticas são as mais difundidas por permitirem múltiplos ensaios e automação. O teste detecta quantidades extremamente pequenas de antígenos ou anticorpos, podendo ter elevada precisão se os reagentes e os parâmetros forem bem padronizados. Atualmente, existem diferentes métodos de ELISA: • ELISA direto: nessa metodologia se pesquisa antígenos, e, para isso, os anticorpos são fixados em uma placa composta por material rígido, como poliestireno. Esse anticorpo fixado reagirá com antígenos presentes na amostra. Em seguida, é adicionado anticorpo específico, dessa vez, marcado com enzima. A placa, então, é incubada, ou seja, tem todas suas regiões mantidas a uma mesma temperatura, para que a reação ocorra em todas as regiões da placa de modo uniforme. Por fim, um substrato (molécula que reage com a enzima 182 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II presente no kit reagente) é adicionado. Esse substrato é um cromógeno, ou seja, quando reage com a enzima forma um produto colorido. A coloração que se forma é medida por espectrofotômetro, que, a partir da intensidade da cor presente, mensura a quantidade do antígeno presente na amostra. • ELISA indireto: nesta metodologia conseguimos pesquisar e mensura a concentração de anticorpos na amostra. Pois, na placa, são fixados os antígenos específicos em que ocorrerá a reação do antígeno com o anticorpo da amostra se positivo. Essa ligação antígeno-anticorpo é revelada pela ação do conjugado enzimático específico, que gera coloração ao reagir com o substrato cromogênico (moléculas em que a enzima se liga resultando em formação de cor). • ELISA competitivo: a placa contém o antígeno ou anticorpo de interesse, e o antígeno ou anticorpo presente na amostra compete com aqueles presentes na placa pelo local ligação. Em consequência, a leitura da concentração deste teste é inversamente proporcional, uma vez que, quanto menor a concentração da substância investigada, menos elas se ligam aos sítios disponíveis, sendo ocupados pelas substâncias presentes no reagente. Dessa forma, quanto menor a coloração gerada pela reação, mais positivo é o teste. FIGURA 14 – ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO (ELISA) FONTE: Bender e von Mühlen (2009, p. 83) TÓPICO 2 — PROCESSOS IMUNOLÓGICOS 183 6.5 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO DE MICROPARTÍCULAS Trata-se de uma técnica imunoenzimática em que a porção sólida são micropartículas em suspensão líquida e não uma placa. Nessa técnica, a fase sólida são micropartículas de látex contendo os antígenos que se ligam aos anticorpos presentes na amostra estudada. Essas micropartículas se ligarão a uma matriz de fibra de vidro demaneira irreversível. O conjugado contendo antígenos e fosfatase alcalina é adicionado a seguir, ligando-se aos anticorpos, formando um complexo antígeno-anticorpo-antígeno. A reação é revelada pela adição de um substrato, que gera um produto fluorescente pela sua ligação com a enzima. A intensidade da fluorescência é medida, sendo considerada reagente quando supera o ponto de corte da técnica. 184 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A imunologia é a ciência que estudo o sistema imunológico de todos os organismos. • O sistema imunológico é quem garante a proteção do organismo, através de barreiras formadas por células, tecidos, órgãos ou moléculas. • Os anticorpos são proteínas circulantes produzidas pelos linfócitos B, mais especificamente pelos plasmócitos em resposta à exposição a estruturas estranhas conhecidas como antígenos. • Antígeno é qualquer substância ou agente estranho que invada o nosso organismo. • Os anticorpos são classificados em IgG, IgA, IgM, IgE e IgD. • A resposta natural, ou inata, é a primeira resposta que o organismo é capaz de ativar, são os mecanismos preexistentes capazes de prevenir infecções por patógenos ou ainda criar uma defesa imediata contra agentes estranhos. • A memória imunológica é mediada pelos linfócitos B e T. • Durante o processo de desenvolvimento de uma resposta imunológica, algumas células B e T são ativadas pelo antígeno, diferenciando-se em células de memória, que são os linfócitos responsáveis pela imunidade de longa duração. • As reações de hipersensibilidade ou alérgicas constituem respostas imunes caracterizadas por inflamação e lesão tecidual. • As desordens autoimunes compõem um grupo heterogêneo de doenças cujas causas não são totalmente compreendidas. • Os imunoensaios são os testes para detecção dos antígenos e/ou anticorpos provenientes de amostras biológicas. Entre os principais imunoensaios estão a técnica em aglutinação em látex, neflometria e turbidimetria, imunocromatografia, ensaio imunoenzimático (ELISA) e ensaio imunoenzimático de micropartículas. 185 Atenção: para responder às Questões 1 e 2, considere o texto e o gráfico a seguir. Hoje em dia mais de 40 milhões de indivíduos estão infectados com HIV, causador da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). ESQUEMA DA EVOLUÇÃO TEMPORAL DOS ESTÁGIOS DA AIDS APÓS A INFECÇÃO DE UM INDIVÍDUO, NO TEMPO ZERO FONTE: Adaptado de R. R. Redfield e D. S. Burke. HIV infection: the clinical picture. Scientific American, , v. 259, n. 4, p. 90-98, 1988. AUTOATIVIDADE 1 (ENADE, 2006) Um teste normalmente empregado para o diagnóstico do indivíduo soropositivo é realizado pelo imunoensaio qualitativo conhecido como ELISA. Tendo em vista a progressão da doença apresentada no gráfico, FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/ 651874-inep-2006-enade-biomedicina>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) O teste detecta diretamente a presença do RNA viral e, portanto, deve ser mais eficiente durante os períodos indicados por A e C na figura. b) ( ) Não há como detectar se um indivíduo está contaminado, exceto es ele já estiver com os sintomas da Aids. c) ( ) O teste detecta diretamente a presença do vírus e, portanto, o resultado deve ser positivo durante toda a progressão da doença). d) ( ) O teste detecta a presença de transcriptase reversa, que é a enzima que e replica o genoma viral. e) ( ) O resultado do teste pode ser negativo se for realizado logo após a infecção, pois a quantidade de anticorpos contra HIV ainda é baixa. 186 2 (ENADE, 2006) Analise as afirmações a seguir. I- Os sintomas de imunodeficiência da Aids ocorrem quando a carga viral é muito alta, o que corresponde às fases A e C da figura. II- Após a redução do sistema imunológico, fase C, pode ocorrer infecção por agentes biológicos oportunistas. III- O vírus HIV permanece com alta taxa de replicação todo o tempo após a infecção, mas é controlado pelo sistema imune, exceto na fase C. Estão CORRETAS: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/651875- inep-2006-enade-biomedicina >. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) I, II e III. b) ( ) II e III somente. c) ( ) I e II, somente. d) ( ) III, somente. e) ( ) II, somente. 3 (ENADE, 2010) O diagnóstico preciso de doenças infecciosas e parasitárias necessário para a solução de diversos casos clínicos e prevenção de doenças transmitidas por transfusão sanguíneas teve um grande impulso por volta dos anos 70 e a partir de 1985, quando foi desenvolvido o teste de ELISA (enzyme linked immunosorbent assaylendaio imunoenzimático) e esse passou a ser difundido comercialmente. Trata-se de um imunoensaio frequentemente utilizado em laboratórios diagnóstico, de pesquisa e banco de sangue. Para a maioria das doenças possíveis de serem diagnosticadas por ELISA, o teste apresenta sensibilidade e especificidade elevada. De acordo com o objetivo pretendido, o teste de ELISA pode ser padronizado, privilegiando-se a sensibilidade ou a especificidade. A eficiência do teste, portanto, dependerá da padronização adequada de cada uma das etapas e dos reagentes do teste para o propósito do ensaio. FONTE: VAZ, A. J.; TAKEI, K.; BUENO, E.C.; Imunoensaios, fundamentos e aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. A partir dessas informações, responda às questões apresentadas nos itens a seguir. FONTE: <https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/padrao_resposta/2010/ padrao_respostas_discursivas_BIOMEDICINA_2010.pdf>. Acesso em: 8 set. 2021. a) Considerando a padronização do ELISA para a detecção de doenças infecciosas que devem ser controladas na triagem de doadores em banco de sangue, deverá ser privilegiada a sensibilidade ou a especificidade do teste? 187 b) Em algumas situações, como, por exemplo, na pesquisa de anticorpos contra o vírus HIV em doadores de sangue, os resultados positivos dos testes de ELISA devem ser reavaliados por outros métodos que permitam confirmar se são verdadeiro-positivos ou falso-positivos. Nesse caso, qual método imunológico é usualmente empregado para a confirmação de verdadeiro- positivos ou falso-positivos e qual é a característica desse método que possibilita a obtenção do resultado confirmatório? 4 (ENADE, 2016) Anticorpos específicos contra o HBV, bem como a pesquisa por antígenos e ácidos nucleicos virais, são importantes indicadores de estágios específicos da doença. A figura a seguir mostra a evolução dos marcadores do vírus da hepatite B (HBV) nas infecções agudas e crônicas. FONTE: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual técnico para o diagnóstico das hepatites virais. Brasília, 2015 (adaptado). Com base nas informações apresentadas, assinale a opção CORRETA. FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/636946>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) HBsAg, anti-HBc total e anti-HBs não reagentes indicam contato prévio com o HBV. b) ( ) HBsAg reagente, anti-HBc total reagente e anti-HBs não reagente indicam infecção pelo HBV. c) ( ) HBsAg, anti-HBc total e anti-HBs reagentes indicam imunização após vacinação contra o HBV. d) ( ) HBsAg, anti-HBc total e anti-HBs não reagentes indicam imunização após infecção pelo HBV. e) ( ) HBsAg não reagente, anti-HBc total reagente, e anti-HBs reagentes indicam imunização após vacinação contra o HBV. 188 5 (ENADE, 2016) Os profissionais de saúde estão constantemente sob risco de exposição ocupacional a patógenos transmitidos pelo sangue, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Habitualmente, a exposição a esse agente decorre de acidentes com materiais perfurocortantes, como agulhas ou outros instrumentos cortantes, contaminados por sangue de pacientes infectados, ou do contato com secreções de pacientes.FONTE: <http://www.ccs.saude.gov.br>. Acesso em: 29 jun. 2016 (adaptado). Em relação ao risco de exposição ocupacional ao HIV, avalie as afirmações a seguir. I- O risco de contaminação depende do tipo de exposição ao vírus, da quantidade de sangue ou secreção envolvida na exposição e da quantidade de vírus no sangue ou na secreção do paciente no momento da exposição. II- Para diminuir os riscos de infecção pelo HIV durante o desempenho de tarefas habituais, os profissionais de saúde devem aderir às boas práticas laboratoriais e de segurança desenhadas para eliminar ou minimizar a exposição ao vírus e usar os equipamentos de proteção individual. III- A exposição de um profissional de saúde a um agente infectante deve ser seguida por uma série de medidas compulsórias, tais como: coleta de sangue para testar a presença de anticorpos contra o HIV, tanto no profissional de saúde exposto ao vírus quanto no paciente, ainda que este se recuse; documentação adequada de todas as fases do processo; implementação de profilaxia pós-exposição, com medicação antirretroviral. É CORRETO o que se afirma em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/636935>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) I, apenas. b) ( ) III, apenas. c) ( ) I e II, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 6 (ENADE, 2016) O aumento no número de mulheres com Aids trouxe como consequência o crescimento nas taxas de transmissão vertical do HIV, que tem sido responsável pelo aumento significativo de infecção de crianças de até 13 anos pelo HIV em todo o mundo. FONTE: ARAÚJO, M. A. L. et al. Vivências de gestantes e puérperas com o diagnóstico do HIV. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília; v. 61, n. 5, p. 589-94. set./out. 2008 (adaptado). 189 Em relação aos aspectos imunológicos e de atenção primária a gestantes com risco de transmissão vertical de HIV, avalie as afirmações a seguir. I- A infecção pelo HIV-1 evolui da fase aguda, em que o paciente é identificado como HIV+, fase avançada; em gestantes, o risco de transmissão vertical só ocorre se a doença estiver na fase avançada. II- A maior parte das transmissões verticais de vírus HIV ocorre durante o trabalho de parto ou durante o parto propriamente dito, mas também podem ocorrer intraútero, especialmente nas últimas semanas de gestação. III- É crucial a identificação precoce da infecção por HIV nas gestantes ainda durante o prénatal, para que haja tempo hábil de realizar a quimioprofilaxia para a prevenção da transmissão vertical e para a diminuição da possibilidade de transmissão. IV- Em gestantes HIV+ devem ser realizadas, a partir da primeira consulta de pré-natal, a contagem de linfócitos TCD8+ e da carga viral, pois, à medida que aumenta a imunossupressão, reduz-se a possibilidade de resposta imunológica, diminuindo-se os riscos de infecções oportunistas e de transmissão vertical. É CORRETO apenas o que se afirma em: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/636936>. Acesso em: 8 set. 2021. a) ( ) I e III. b) ( ) II e III. c) ( ) II e IV. d) ( ) I, II e IV. e) ( ) I, III e IV. 190 191 UNIDADE 3 TÓPICO 3 — PROCESSOS MICROBIOLÓGICOS 1 INTRODUÇÃO A microbiologia (do grego, micros: pequeno; bio: vida; logo: ciência) é a ciência que estuda as estruturas, atividades, fisiologia, metabolismo e identificação dos microrganismos. Além do estudo da interação desses seres como outros seres vivos, com o ambiente no qual habitam e os efeitos sobre. Os microrganismos podem ser potencialmente infecciosos ao homem ou outros seres, causando patologias. Outros podem viver em simbiose, compondo a microbiota auxiliando até mesmo na saúde do hospedeiro, nesses casos consideramos que o microrganismo faz parte da microbiota, porém, em alguns casos pode ocorrer algum desiquilíbrio nessa relação entre o hospedeiro e a microbiota, o que pode levar a condições patológicas. Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos os principais processos microbiológicos. Revisando as principais estruturas dos vírus, bactérias e parasitas, assim como os principais meios de identificação através das análises laboratoriais. Sempre que falamos de microbiologia, falamos da diferença entre as células procariotas e eucariotas, pois são conceitos de extrema importância para o estudo da microbiologia. “Todas as células vivas podem ser classificadas como procarióticas, das palavras gregas pro (antes) e karyon (núcleo), ou eucarióticas, de eu (verdadeiro) e karyon (núcleo)” (BLACK, 2002, p. 68). Todas as células procarióticas são as que não possuem a estrutura nuclear, as bactérias são os seres que pertencem a este grupo. Já as células eucariotas possuem estruturas e organelas mais complexas incluindo o núcleo, as células animais estão nesse grupo. ATENCAO 192 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II Para auxílio dos profissionais que trabalham em laboratório de Microbiologia, a ANVISA disponibiliza o “Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção em Serviços de Saúde”, que possui todas as principais informações referentes à microbiologia clínica. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_microbiologia_ completo.pdf. DICAS 2 BACTERIOLOGIA CLÍNICA Bacteriologia é a ciência responsável por estudar, elucidar, documentar toda a morfologia, bioquímica, genética, comportamento, fisiologia e ecologia que envolva as bactérias. Como já vimos anteriormente, as bactérias são seres procariotas, unicelulares, que podem ter ou não a capacidade de formar colônias. Muitas vivem em simbiose com o ser humano fazendo parte de nossa microbiota e auxiliando até mesmo na nossa qualidade de vida. Porém, existem alguns grupos que podem causar doenças, os quais são de interesse para pesquisa clínica. No setor de microbiologia de um laboratório de análises clínicas, realizamos o isolamento e identificação de amostras biológicas para identificação de possíveis contaminações, e, para isso, necessitamos de protocolos e técnicas para diferenciar as bactérias da microbiota das patógenas, com isso, o conhecimento da microbiota normal é necessário na confecção dos protocolos e na liberação dos laudos. TÓPICO 3 — PROCESSOS MICROBIOLÓGICOS 193 FIGURA 15 – MICROBIOTA DO SER HUMANO FONTE: <http://twixar.me/cY7m>. Acesso em: 8 set. 2021. Como abordado na Unidade 2, o biomédico não atua somente na bacteriologia clínica. Então, além do conhecimento nas análises clínicas, os profissionais biomédicos podem seguir para a análises ambientais, microbiologia dos alimentos ou bromatologia, onde o profissional irá se aprofundar na interação dos microrganismos nos ambientes, e, é claro, como tudo está conectado, quais as possíveis consequências para o ser humano. ATENCAO 194 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II O biomédico habilitado em Análises ambientais está capacitado a realizar análises físico-químicas e microbiológicas para o saneamento do meio ambiente, incluindo análises de água, ar e esgoto. Este profissional também pode assumir responsabilidade técnica pelo tratamento de água e de efluentes, participar de perícias e consultorias e emitir relatórios e laudos técnicos. • Resolução n° 175, de 14 de junho de 2009: dispõe sobre o exercício e capacidade do profissional Biomédico no controle, tratamento, e realizar análises-fisico- químicas e microbiológicas de água. Disponível em: http://cfbm.gov.br/wp-content/ uploads/2016/06/Res-2009-175.pdf. Profissionais com habilitação em Bromatologia realizam análises físico-químicas e microbiológicas ou somente microbiológicas (microbiologia de alimentos) de amostras, para aferição de qualidade dos alimentos, consultorias, perícias e emissão de laudos técnicos. Estes biomédicos estão aptos, também, a assumirem a responsabilidade técnica de empresas do ramo alimentício.