Prévia do material em texto
2 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Unidade I: Introdução à História 1.1. A evolução do Pensamento Historiográfico até ao século XIX PRIMEIRO GRUPO O termo «história» tem origem na palavra grega Iotop (historiê) que significa «investigação», «inquérito» ou «testemunha»; é um termo genérico geralmente aplicado em referência a ocorrências do passado. Portanto, os gregos foram, os primeiros a utilizar o termo «histor», referindo-se ao indivíduo que testemunhou os factos históricos com próprios olhos. Com Heródoto (considerado o pai da História), a História assumiu o sentido de busca de acontecimentos humanos (actividades do Homem). A História nem sempre foi uma ciência, pois com a invenção da escrita no IV milénio a.c; e durante muitos milénios ela era um conhecimento baseado em cosmogonias e mitologias. 1.1.1. Conceitos de História Actualmente, a História é um conceito que assume e é entendido com dois sentidos: É um processo real – em que ela é tida como o conjunto de acontecimentos sociais, económicos, políticos e culturais; Conhecimento – em que a História é entendida como o conjunto das informações e ideais que se formam por meio do estudo e da investigação. História - «é uma ciência dos homens no tempo.» Marc Bloch História – «é a ciência das ciências do Homem.» Fernand Braudel História – «é um estudo feito cientificamente das actividades e criações dos homens de outros tempos, considerado numa época determinada e dentro do quadro das sociedades extremamente variadas que encheram a face da terra e sucessão das ideias.» Lucien Febvre História – é a narração metodológica e verídica dos principais acontecimentos do passado humano, as causas e consequências. Portanto, destes conceitos existem palavras – chave que são indispensáveis à definição de História, são elas: Ciência; Homem; Tempo e Espaço. Assim, conclui-se que História é a ciência dos homens no tempo e no espaço. Senão vejamos: Ciência – estudo feito cientificamente; Ciência dos homens – estuda as realizações do Homem na sociedade; Tempo – situa organizadamente os fenómenos históricos e indica a altura que ocorreram; 3 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Espaço – permite localizar os acontecimentos e identifica as condições territoriais da sua ocorrência. Facto histórico – é algo que marca profundamente e qualitativamente uma determinada sociedade, acelerando, atrasando ou mantendo o seu processo de desenvolvimento. Ex1: As cheias de 2000, que afectaram algumas regiões de Moçambique; Ex2: A independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975. 1.1.2. O conceito de Historiografia Tal como outras ciências possuem a sua história, a descrição do seu surgimento e evolução, a História também tem a sua própria história – é a história da história, a que se dá o nome de Historiografia. A historiografia pode ser conceptualizada sob vários pontos: Historiografia – «é a afirmação, a qualificação de um facto, ou juízo do que existe.» Benedito Croce Historiografia – é a arte de escrever a história ou ainda o estudo histórico e crítico sobre os historiadores. Historiografia – é o estudo das diversas fases da evolução da história ao longo dos tempos. N.B: Os conceitos de História e Historiografia estão interligados, na medida em que um investiga o passado e o outro julga ou aprecia como esse passado foi apresentado pelo historiador no contexto dos procedimentos (métodos) da Historia. 1.1.3. A Cronologia e a Periodização 1.1.3.1. A Cronologia A cronologia é o ordenamento sequencial dos factos históricos, de acordo com as datas e/ou períodos da sua ocorrência. A cronologia – descrição ou registo de eventos organizados em função do tempo. Ex: Cronologia da colonização de África 1309 – Descoberta das Ilhas Canárias pelos portugueses; 1415 – Conquista de Ceuta pelos portugueses; 1479 – Portugal cede as ilhas Canárias a Espanha; 1482 – Os portugueses constroem o castelo de S. Jorge da Mina na Costa do Ouro (actual Ghana). 1498 – Os portugueses chegaram em Moçambique, chefiados por Vasco da Gama; 1572 – Conquista de Tunis pelos espanhóis; 1652 – Os holandeses fundam a cidade do Cabo. 1.1.3.2. A periodização da História 4 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço É a divisão da história da humanidade em fases; destacando-se as características principais que diferenciam um período do outro. 1.1.3.2.1. Tipos de periodização Existem dois tipos de periodização da história da humanidade; 1.1.3.2.1. A Periodização Tradicional ou Clássica – valoriza o critério político-religioso. É a mais utilizada. Ela divide a História Universal pelos seguintes períodos: Pré-história – desde o aparecimento do homem até a génese da escrita no 4º milénio a.c; Antiguidade Oriental e Clássica – do 4º milénio a.c, a 476 d.c. (séc. V) – queda do Império Romano do Ocidente); Idade Média – de 476 a 1453 (séc. XV) – queda do Império Romano do Oriente; Idade Moderna – de 1453 a 1789 (séc. XVIII) – revolução francesa; Idade Contemporânea – de 1789 aos nossos dias. 1.1.3.2.2. A Periodização Marxista – tem como defensor Karl Marx, o idealizador do marxismo. Divide a História Universal, tendo como base as actividades económicas; usando os seguintes períodos: Comunidade primitiva – desde o aparecimento do Homem até ao 4º milénio a.c; Esclavagismo – do 4º milénio a.c. ao século V d.c; Feudalismo – do século V d.c. até ao século XV; Capitalismo – a partir do séc. XV; Socialismo – fase de transição para o comunismo; Comunismo – ultima fase da evolução da humanidade. N.B: Os estágios da evolução económica propostos por Karl Marx (o Socialismo e o Comunismo) não chegaram a concretizar-se, dai a falha que se atribui a este modelo de periodização da história. A Historiografia desde a Antiguidade até ao século XIX A Historiografia Antiga A Historiografia Antiga iniciou-se na Antiguidade oriental, quando a escrita foi inventada pelos sumérios, sendo o período que marca o início da História e coloca fim ao período pré-histórico. A Historiografia Antiga é marcada pelas Cosmogonias e Mitografias. Cosmogonias – são escritos realizados por corporações de sacerdotes, que até essa época eram transmitidos oralmente de geração em geração. Elas explicam a formação do Universo pela intervenção de forças sobrenaturais em grande peso, embora também contemplassem a explicação natural. Exemplos de algumas cosmogonias: Segundo os Vedas (Índia): Ele criou em primeiro lugar a água, na qual depositou um germe. Este germe tornou-se ovos, resplandecente como ouro, radiante como estrela. Nele originou-se Brama, princípio de toda a vida. 5 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Segundo a Bíblia, livro sagrado dos Hebreus: N.B: As cosmogonias não apresentaram ao longo dos tempos as mesmas versões porque foram sendo alterados pelas tradições orais, por isso, apareceram várias versões dos mesmos temas. As Mitografias – são relatos de algo fabuloso que se supõe que aconteceu no passado remoto e que quase sempre imperioso. Podem referir-sea grandes feitos heróicos que com frequência são considerados como fundamentos e/ou começo de uma comunidade ou religião. Podem ainda, incluir fenómenos naturais e muitas vezes comportam a personificação de coisas ou acontecimentos. As mitografias aliviam às cosmogonias para explicar o surgimento do universo, tendo como base os mitos de deuses (da luz, da chuva, do vento, etc.). Esses mitos estavam ligados ao processo de integração política dos Estados. De salientar que falar de mitos não é apenas falar sobre as primeiras civilizações do Médio Oriente, Norte de África e da Ásia, mas sim reconhecer que eles foram a base para a sustentação de alguns fenómenos em todas as sociedades, caso concreto das sociedades africanas, em especial a moçambicana, em que prevalecem vários mitos. O mito «moçambicano» de ciclone: O mito fundamenta os usos e as normas básicas do convívio, propondo uma justificação aceite por todos. O mito vivo não é simbólico, não é algo científico, mas uma narrativa de uma realidade primordial No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra porém, era vã e vazia e as trevas cobriam a face do abismo e o espírito de Deus era levado sobre as águas. E disse Deus: Faça a luz. E foi feita a luz. E viu Deus que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou Deus à luz dia e às trevas noite; e da tarde e da manhã fez o primeiro dia. E fez Deus o firmamento, e separou as águas que estavam por cima do firmamento. E assim se fez. E chamou Deus ao firmamento Céu; e da tarde e da manhã se fez o dia segundo. […] O ciclone deriva da movimentação «periódica» de uma grande cobra de sete cabeças, do mar para o continente, mais precisamente para as zonas montanhosas. Ora, nessa movimentação, passa voando, provocando deste modo ventos fortes acompanhados de chuvas torrenciais. Consta que este movimento tem retorno no sentido continente-mar, mas por baixo da terra, provocando sismos. 6 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço (sabedoria moral), contada para a satisfação de intenções religiosas profundas, de desejos morais, de submissões sociais, de certezas e até de necessidades práticas. Walter Burnert afirma que, nos mitos, a explicação a relação com a realidade é secundária e a maior parte só está parcialmente. Assim, o mito é um modo diferente de exprimir o pensamento, a cultura e a forma de observar o mundo. N.B: As Cosmogonias e as Mitografias, ao admitirem a intervenção do sobrenatural e ao privilegiarem autoridades, passaram a ser historiografias não-científicas; com efeito, os seus testemunhos não eram submetidos a crítica, não se preocupavam com a objectividade ou a verdade. Actividades de auto-avaliação 1. Defina os seguintes conceitos: Mitografia e Cosmogonia. 2. Defina o mito segundo Walter Burnert. 3. Em Moçambique existem mitos? Caso existam, dê um exemplo. 4. Qual é o papel do mito na sociedade moçambicana? 5. A palavra história tem origem do termo “historiê” que pertence aos: A gregos B romanos C historicistas 6. A História é e deve ser uma ciência porque…. A esta ligada à Filosofia B estuda o passado C tem um objecto e método de estudo D explica todos os fenómenos naturais 7. O período que vai desde o aparecimento do Homem até a invenção da escrita designa-se por: A Idade Média B antiguidade clássica C Idade Contemporânea D Pré – Historia 8. Quais são as palavras-chave da definição de História? A ciência e tempo B ciência, tempo, Homem e espaço C Homem, tempo e espaço D nenhuma destas opções patentes 9. As Cosmogonias e Mitologias fazem parte de que Historiografia? A Judaica B Cristã C Antiga D Romana A Historiografia Judaica SEGUNDO GRUPO A importância da Bíblia para a Historiografia judaica A Historiografia judaica está estreitamente ligada à bíblia, e esta reflecte a história dos hebreus (judeus) – o Antigo Testamento. Uma compilação de muitos acontecimentos das épocas mais antigas. A Bíblia atribui muita importância à Historiografia judaica, conferindo-lhe autoridade histórica, devido aos seguintes factores: A quantidade e a natureza dos temas abordados abrangem a história do povo judeu e do Próximo Oriente Antigo (Egípcios, Fenícios, Assírios, Persas, Mesopotâmicos, etc.); 7 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Até ao princípio do séc. XIX constituiu a principal fonte de informação histórica relativamente aos povos do Próximo Oriente, durante a Antiguidade; Criou uma concepção em relação ao povo judeu – eleito por Deus; É um livro sagrado dos cristãos e tem, por isso, uma credibilidade universal. Na actualidade, a importância da Bíblia para o estudo da historiografia judaica passou para o segundo plano com o desenvolvimento de novas formas de investigação e crítica histórica. Características da Historiografia judaica Cosmogónica e mitológica, por isso, acientífica ou pré-científica; Teocrática e monoteísta; Normativa ou jurídica – elaboração de muitos códigos de leis e de conduta, ex: o Código de Hamurábi; Gentílica – o homem judeu era considerado o centro do mundo, e por isso, a sua história era assumida como sendo a História Universal. Limitações da historiografia judaica A incapacidade de aceder à uma concepção universalista do homem; É uma historiografia Teocrática e monoteísta – pois gira em torno de um só Deus (Jeová). É uma historiografia mítica e sem muita investigação casual e objectividade. N.B: apesar das limitações, a historiografia judaica deixou-nos muitos exemplos de Anais (relatos de acontecimentos mais importantes, em regra geral, os de índole político-militar); listas de dinastias e biografias. A Historiografia greco-romana TERCEIRO GRUPO A civilização grega e romana faz parte da Antiguidade Clássica. Torna-se difícil separar a história dos dois povos, e, como tal a forma como escreveram a História – Historiografia – também possui muitas similaridades, pois os grandes pensadores gregos influenciaram os romanos. A Historiografia Grega A historiografia grega teve duas fases distintas: Antes da introdução da democracia (séc. V ANE.) – uma Historiografia cosmogónica e mítica; Depois da instituição da democracia – iniciando uma Historiografia mais humanista. Características da historiografia grega Humanista – o seu objecto de estudo é o homem; Cientifica – inicia-se o processo de cientificação da história; Auto-reveladora – procurando a projecção do futuro no presente, ensina o Homem sobre o seu passado e a relação entre o passado e o presente; Pragmática – tenta tirar do ocorrido uma lição aproveitável para o futuro. 8 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Principais historiadores gregos Heródoto de Halicarnasso (480 – 425 a.n.e.) Considerado o «pai da História» por ter sido o primeiro a reflectir, sobre questões de carácter nacional e adoptar uma atitude científica perante a História. Deu uma visão global do Homem e do universo (ao abordar a história não só dos gregos, mas também dos bárbaros, egípcios, mesopotâmicos) – o que significou a passagem da Historiografia gentílica à Historiografia ecuménica (universal). Em suma, ele deu os primeiros passos para a cientificação dahistória no futuro, pois: Introduziu a noção de mudança, que mais tarde deu lugar ao conceito de evolução; Começa a História Genética, ao não perguntar somente o que aconteceu, mas porque aconteceu; Alargou a noção das fontes históricas (tradição oral; escrita); Fez a ligação entre o passado e o presente dos homens e não dos deuses; Criou uma metodologia própria com os seguintes passos: Tucídides (460 – 386 a.n.e.) – foi continuador de Heródoto, tendo-se destacado pelo seu questionamento às fontes na procura da veracidade e credibilidade. Operou significativos avanços na história ao introduzir a análise e a explicação casual dos factos históricos. Com Tucídides começa a História Explicativa, razão pela qual é chamado o pai da História Explicativa. Limitações da historiografia grega Foi limitada no tempo: o recurso documental restrito à tradição oral e aos testemunhos oculares limitou o âmbito cronológico da história grega; Foi limitada no espaço, uma vez que centrou seu estudo à costa do Mediterrâneo, dando assim, um carácter universal. A Historiografia Romana A História romana recorreu à língua e às metodologias dos gregos, que tinham avançado no campo do saber. Os romanos não se limitaram a copiar mecanicamente a História grega, procuraram fazer história própria. Assim, resultou uma Historiografia romana que, apresentando alguns traços comuns à grega, tem suas particularidades. Características Forte ligação ao passado, considerada época recuada, o centro das virtudes nacionais; Observação e informação (recolha de fontes) Reflexão, análise e comparação das fontes Síntese 9 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Uma historiografia política, feita por homens políticos que abordava assuntos políticos e com fins políticos; Nacional e patriótica – exaltação da cidade e do império; Pragmática. Principais historiadores romanos Políbio (203 – 120 a.c): grego que viveu como prisioneiro em Roma era político e militar. A sua principal contribuição foi a aplicação do modelo de ciclo à História, conduzindo à concepção de que a História é o conhecimento do geral, daquilo que se repete, que obedece a leis e por isso susceptível de previsão. Tito Lívio (59 a.c. – 17 a.c) e Tácito (55 d.c. – 120 d.c) – escrevem a história com fito ideológico, dado que a partir destes a História torna-se retórica, justificativa e ética. Tito Lívio concebe a história como fonte das virtudes nacionais, e deveria servir de exemplo ou modelo aos cidadãos romanos. A Historiografia Cristã – Medieval QUARTO GRUPO O contexto histórico do surgimento do Cristianismo O Cristianismo surgiu na Judeia "Palestina" na altura dominada pelos Romanos que tinham transformado o território em província. Emerge com o nascimento de Jesus Cristo, mas como corrente, surge depois da morte de Jesus Cristo. É fundado pelas massas que seguiam os princípios deixados por Cristo. Características da Historiografia Cristã-medieval No séc. V d.C. dá-se a queda do império Romano do Ocidente (séc. III a.C. à séc. V d.C.) e a progressiva implantação do sistema Feudal que passa a tomar o Cristianismo como doutrina ideológica, não na sua forma original mas sim adulterada pelas tradições dos povos que foram assimilando. A igreja Católica surge nessa altura e assume o protagonismo principal de toda a vida política, económica social e cultural da Europa, o que faz com que a Historiografia Cristã-medieval apresente as seguintes características: É uma história universalista – que começa com Adão e Eva e termina na época do historiador; Apocalíptica – prevê o fim do homem e do mundo; Providencialista – toda acção humana é impelida pelos desígnios de Deus. É repetitiva Dogmática; e Cíclica. Principais historiadores Jean Froissart; Lopes Ayala e Giovani Villani Limitações da Historiografia Cristã-medieval A vida durante a Idade Média esteve fortemente influenciada pela igreja católica que difundiu o cristianismo catolicista como forma de pensamento dominante entre a classe erudita e o povo, o que impediu a livre pesquisa como acontecia na antiguidade greco-romana, provocando assim, um retrocesso à história e demais ciências. 10 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Pode-se afirmar que a história regrediu, mas porém, é digno de notar neste período o desenvolvimento de: Anais – história ou narração organizada de factos de ano por ano; Crónicas – narração de história ou registo de factos comuns, feitos por ordem cronológica; Biografias – histórias de vida de uma pessoa; Hagiografias – biografias de santos. N.B: Quando se refere à regressão da história na Idade Média, apenas diz respeito ao mundo ocidental (Europa), dado que no Oriente intensos trabalhos de pesquisas históricas estavam sendo feitos por mercadores cronistas árabes como: Ibn Batuta, Al Massud, Al Idris, entre outros. A Historiografia Renascentista QUINTO GRUPO Renascimento – é um movimento de renovação cultural, intelectual, artístico e literário, que surgiu em Itália, nos começos do séc. XIV, e que se difundiu depois, ao longo dos séc. XV e XVI por toda a Europa. Factores do surgimento do Renascimento O crescimento e desenvolvimento das cidades; A 1ª expansão europeia; O desenvolvimento do humanismo; Influencia das civilizações sarracena e bizantina e fuga ao misticismo e ascetismo medieval; O desenvolvimento de ciências como: Numismática, paleografia e Epigrafia. Características da Historiografia renascentista Predomínio da pintura; educativa; Optimismo e individualismo; Exaltação da personalidade; O humanismo; retorno à antiguidade greco-romana. Principais Renascentistas Baptista Alberto – escreveu tratados de Filosofia; História; Direito; Poesia e Discursos; Leonardo da Vinci – precursor da mecânica e da ciência moderna; Erasmo de Roterdão – autor do poema «Elogios da loucura»; Miguel Ângelo – arquitecto e construtor da Basílica de S. Pedro de Roma; Nicolau Copérnico – autor da teoria heliocêntrica. O Humanismo – é o estudo da antiga cultura greco-romana, que podia tornar o homem verdadeiramente humano, surgiu na Itália no séc. XIV, favorecido pelo progresso económico das cidades itálicas. Principais humanistas Boccacio, Luís de Camões, Erasmo de Roterdão (o mais influente humanista da Europa); Nicolau Maquiavel e Baltazar de Castiglione. A Historiografia Iluminista 11 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço O Iluminismo, também conhecido como Séculos das Luzes e como Ilustração foi um movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. O Iluminismo promoveu o intercâmbio intelectual e foi contra a intolerância e os abusos da Igreja e do Estado. Originário do período compreendido entre os anos de 1650 e 1700 As características do Iluminismo Valorização da razão, considerado o mais importante instrumento para se alcançar qualquer tipo de conhecimento; Valorização do questionamento, da investigação e da experiência como forma de conhecimento tanto da natureza quanto da sociedade, política ou economia; Crença nas leis naturais, normas da natureza que regem todasas transformações que ocorrem no comportamento humano, nas sociedades e na natureza; Crença nos direitos naturais, que todos os indivíduos possuem em relação à vida, à liberdade, à posse de bens materiais; Crítica ao absolutismo, ao mercantilismo e aos privilégios da nobreza e do clero; Defesa da liberdade política e económica e da igualdade de todos perante a lei; Crítica à Igreja Católica, embora não se excluísse a crença em Deus. Principais defensores do Iluminismo John Locke é Considerado o “pai do Iluminismo”. Sua principal obra foi “Ensaio sobre o entendimento humano”, aonde defende a razão, afirmando que a nossa mente é como uma tábua rasa sem nenhuma ideia. Defendeu a liberdade dos cidadãos e Condenou o absolutismo. François Marie Arouet Voltaire, destacou-se pelas críticas feitas ao clero católico, à inflexibilidade religiosa e à prepotência dos poderosos. Charles de Secondat Montesquieu, em sua obra “O espírito das leis” defendeu a tripartição de poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. No entanto, Montesquieu não era a favor de um governo burguês. Sua simpatia política inclinava-se para uma monarquia moderada. Jean-Jacques Rousseau - é autor da obra “O contrato social”, na qual afirma que o soberano deveria dirigir o Estado conforme a vontade do povo. Apenas um Estado com bases democráticas teria condições de oferecer igualdade jurídica a todos os cidadãos. Rousseau destacou-se também como defensor da pequena burguesia. François Quesnay - foi o representante oficial da fisiocracia. Os fisiocratas pregavam um capitalismo agrário sem a interferência do Estado. Adam Smith foi o principal representante de um conjunto de ideias denominado liberalismo económico, o qual é composto pelo seguinte: o Estado é legitimamente poderoso se for rico; para enriquecer, o Estado necessita expandir as actividades económicas capitalistas; para expandir as actividades capitalistas, o Estado deve dar liberdade económica e política para os grupos particulares. http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_cultural http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_cultural http://pt.wikipedia.org/wiki/Elite_%28sociologia%29 http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelectual http://pt.wikipedia.org/wiki/Europa http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIII http://pt.wikipedia.org/wiki/Raz%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado 12 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço A principal obra de Smith foi “A riqueza das nações”, na qual ele defende que a economia deveria ser conduzida pelo livre jogo da oferta e da procura Impacto do Iluminismo Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, França, 1789, um dos muitos documentos políticos produzidos no século XVIII sob a inspiração do ideário iluminista. O Iluminismo exerceu vasta influência sobre a vida política e intelectual da maior parte dos países ocidentais. A época do Iluminismo foi marcada por transformações políticas tais como a criação e consolidação de estados-nação, a expansão de direitos civis e a redução da influência de instituições hierárquicas como a nobreza e a igreja. O Iluminismo forneceu boa parte do fermento intelectual de eventos políticos que se revelariam de extrema importância para a constituição do mundo moderno, tais como a Revolução Francesa, a Constituição polaca de 1791, a Revolução Dezembrista na Rússia em 1825, o movimento de independência na Grécia e nos Balcãs, bem como, os diversos movimentos de emancipação nacional ocorridos no continente americano a partir de 1776. Muitos autores associam ao ideário iluminista o surgimento das principais correntes de pensamento que caracterizariam o século XIX, a saber, liberalismo, socialismo, e social- democracia. A Historiografia dos séculos XVII – XVIII SEXTO GRUPO Os humanistas foram os precursores do Racionalismo pois; Recusavam o critério único de autoridade livresca no campo do saber e da Filosofia; Defendiam a imitação activa e criadora das obras clássicas; Defendiam o recurso à observação e a experiência – espírito crítico. A Historiografia do século XIX A Historiografia do séc. XIX: O Positivismo O Positivismo é o sistema filosófico que aceita que o conhecimento só e possível mediante a observação e experiência. É mais achegado às ciências naturais. Os positivistas defendiam que em 1º lugar era preciso determinar os factos e em 2º lugar estabelecer as leis. Assim, os factos são determinados pela percepção sensorial e as leis através da indução. O fundador do Positivismo foi o francês Auguste Conte (1798 - 1857), que escreveu a obra «O Curso da Filosofia Positivista». Para Conte não existe conhecimento absoluto; ele admite apenas a existência de uma área incognoscível (não conhecido) vedada a razão humana, apenas os fenómenos são cognoscíveis. Não podemos conhecer o que está para além da experiência. A experiência devia servir de modelo de investigação para todas as ciências, isto é, o modelo devia ser o das ciências experimentais. http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_dos_Direitos_do_Homem_e_do_Cidad%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIII http://pt.wikipedia.org/wiki/Ocidente http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado-na%C3%A7%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_civis http://pt.wikipedia.org/wiki/Nobreza http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Constitui%C3%A7%C3%A3o_polaca_de_1791&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Dezembrista http://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia http://pt.wikipedia.org/wiki/Balc%C3%A3s http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica http://pt.wikipedia.org/wiki/1776 http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberalismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Social-democracia http://pt.wikipedia.org/wiki/Social-democracia 13 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Comte também defendeu a relatividade do conhecimento em oposição ao conhecimento absoluto. Afirmou que a evolução da humanidade teve três estádios ou fases: Estádio teológico – os fenómenos eram atribuídos aos deuses e/ou a Deus; Estádio metafísico – as causas dos fenómenos eram vagas e imaginárias, corresponde ao estado anárquico; Estádio positivo – os fenómenos têm causas naturais, corresponde ao estado sociocrático. A nota dominante da Historiografia positivista foi a sua tendência de confundir o conhecimento histórico com a recolha e classificação dos factos procurando depois o historiador formular lei de evolução histórica da humanidade e estabelecer em seguida os factos com rigor dogmático crítico. Características da historiografia positivista Tendência de encontrar leis; Ânsia do realce exaustivo das fontes, limitando de forma exagerada o papel do historiador na interpretação histórica; Defesa de uma História que privilegiava aspectos institucionais e políticas; Valorização de uma História baseada em factos e tempo curto em detrimento das estruturas e conjunturas. Ponto positivo dos positivistas Permitiram que a História tomasse o carácter de ciência. Conceitos Estruturas – são fenómenos geográficos, económicos, sociais, culturais, políticas e psicológicos, que permanecem constantes perante um longo período, evoluindo de um modo quase imperceptível. Conjunturas – constituem flutuações de amplitude diversa que se manifestam dentro de um quadro, limitadopelas barreiras e estruturas. A Historiografia do século XIX: O Historicismo Foram os historicistas os primeiros a levantar o problema da subjectividade do conhecimento histórico, um dos pontos altos da actual reflexão histórica. A História não é uma narração de acontecimentos sucessivos ou um relato de transformações. Para os historicistas, o conhecimento histórico é o conhecimento do passado pelo passado; é a reconstituição do passado, a perpetuação de acções passadas no presente. O seu objectivo, portanto, não é um mero objecto, algo que está fora do espírito que o conhece, é uma acção do pensamento que pode ser conhecida em que o espírito conhecedor a reconstitui e conhece. Na visão dos historicistas, a História é uma ciência do espírito subjectivo e relativo. Ainda para os historicistas, mais do que descrever era preciso intuir e compreender os factos históricos como dizia Croce os eventos devem «vibrar na mente do historiador». Deste pensamento histórico não é mais uma simples aceitação dos testemunhos, mas sim, uma avaliação interpretativa deles. 14 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Os historicistas defendem o carácter específico do conhecimento histórico, considerando-o diferente do conhecimento das ciências naturais. Principais defensores do Historicismo Leopold Von Ranke (1797 - 1886) – alemão; Benedito Croce - inglês; Raymond Aron – francês; Dilthey; Collingwood – inglês. Crítica ao Historicismo O historicismo, ao insistir na singularidade dos factos, corria o risco de negar à História o estatuto de ciência, ao tentar reabilitar as formas do pensamento irracionalista. Semelhanças entre o Historicismo e o Positivismo O positivismo e o Historicismo tinham inicialmente, pontos comuns, em relação ao objecto e ao método histórico, que ambas, visavam a reconstituição dos factos políticos e a prioridade do documento sobre o historiador. Contribuíram para a cientificidade da História. Diferenças entre o Historicismo e o Positivismo Para o Positivismo - só há uma história e há leis históricas; é objectivista; Para o Historicismo – há várias histórias e não há leis históricas; é subjectivista. Exercícios de consolidação 1. Defina a História segundo Leopold Von Ranke. 2. Mencione os pontos convergentes e divergentes entre o Historicismo e o Positivismo. 3. Explique a essência dos seguintes estádios: Estádio Teológico e Positivo. 4. O que é que significa a palavra «historiê»? A Historiografia do séc. XIX: O Materialismo Histórico SETIMO GRUPO O Materialismo Histórico - é uma corrente filosófica criada por Karl Marx (1818 - 1885) e Friedrich Engels (1820 -1895) que pretende adoptar análise de realidade histórica à dialéctica hegeliana, expressa no trinómio: tese – antítese – síntese. Por esta razão, é também chamado de Materialismo dialéctico. Fundamentos da filosofia marxista Os fundamentos do pensamento filosófico – histórico de Marx assentam na filosofia clássica alemã, na economia política inglesa e no socialismo utópico. Filosofia clássica alemã: destaca-se o idealismo dialéctico de Hegel e o materialismo metafísico de Fewerbach. Para Hegel, a ideia, que era a expressão duma divindade cósmica (tese), converteu-se na natureza alienando-se (antítese). Ao homem (síntese) cabia-lhe a tarefa de desaliena-lá 1º através da consciência espontânea (História) depois através da consciência reflexiva (Filosofia da História). 15 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Fewerbach pretendia substituir o «reino da ideia» e o «reino do homem» substituindo a noção de um homem criado por Deus. Pela noção de um Homem criador do próprio conceito de Deus. A este filósofo Marx acrescenta o conceito evolucionista de Darwin a partir da obra «A origem das espécies». Economia Política inglesa: foram importantes as obras de Adam Smith e David Ricardo. O Socialismo Utópico: Saint Simon, Robert Owen e Charles Fourier. Breve ênfase ao materialismo dialéctico A fim de compreender mais o Materialismo histórico partimos da análise dos seguimentos que o sustentam. Os grandes filósofos alemães Kant e Hegel reconheceram que uma representação exacta do universo só tinha que partir do desenvolvimento deste. Para eles, era necessário reconhecer acções recíprocas gerais e desaparecer constante a luta dos elementos contraditórios em todo ser como a fonte desse. Hegel considera todo mundo natural histórico e espiritual como um desses processos de contraste desenvolvimento, onde tudo se move e transforma, isto é, dialéctico é a concepção filosófica que consiste em considerar os fenómenos em suas mútuas relações e movimentos, no seu nascimento, desenvolvimento contraditório e desaparecimento. Marx toma em consideração conjuntamente a natureza e o homem, enquanto dialecticamente relacionados em traços gerais, o materialismo dialéctico considera como um processo unificado da acção produtiva do homem e com a natureza. Materialismo Histórico O Materialismo histórico surge por volta de 1848 fruto de conjuntura que se vivia na Europa. Época de exposição, revolução industrial, época de triunfo dos movimentos nacionalistas, das ideias autónomas, dos povos e época do sindicalismo. Para Marx e Hegel, é a realidade exterior que cabe o papel dinâmico (transformador), sendo o espírito somente espectador. Consideram que são as realidades económicas que cabem o papel de motor da história. De facto, é a realidade económica – determina as relações de produção que por sua vez, geram as relações sociais específicas. Estas relações sociais, movidas por interesses antagónicos, conferem ao processo histórico a sua dinâmica própria. A dinâmica é da luta de classes. Crítica ao marxismo O Marxismo é criticado na medida em que sobrevaloriza as estruturas económicas relativamente às restantes; isto é, faz a explicação dos fenómenos com base na economia. É uma História que acredita na evolução linear como único modelo do processo histórico. A Historiografia do século XX OITAVO GRUPO 16 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço A crise da História nas primeiras décadas do século XX Factores da crise A crítica feita pelas correntes historiográficas a Historiografia tradicional Já no séc. XIX Marx e Hegel – o Materialismo histórico tinha uma nova concepção à História, acentuando o papel das massas e não das personalidades. As novas correntes de pensamento Nietzsche e Freud – através da Filosofia e da Psicanálise, nas suas pesquisas alargaram o conhecimento sobre o homem. A evolução científica da época O extraordinário progresso das ciências – sobretudo das ciências naturais e mecânicas demonstrou que o conhecimento não é acabado. A emergência das ciências humanas e sociais Já no séc. XIX, a História perdia a exclusividade do conhecimento do homem, devido a autonomização da Sociologia com Durkheim, da Psicologia, da Geografia Humana com Vidal de la Blach, Antropologia com Levi Strauss. A crescente importância destas ciências sociais e humanas que repartiam entre si o objecto de estudo veio colocar aos historiadores 3 problemas: 1º. O problema da definição e delimitação do conteúdo específico da História; 2º O problema de sua função nas sociedades modernas; 3º O problema da metodologia. A Escola dos Annales (1929 – 1946) Nos princípios do séc.XX quando a história atravessava a crise, surgiram novas tendências historiográficas com o objectivo de a ultrapassar. Foi precisamente em 1929 que surgiu a revista dos Annales dando origem a História Nova que subdivide-se em: Escola dos Annales; A História Nova (propriamente dita); A História Nova Estruturalista. A revista Annales era editada em Estrasburgo (França), com o título «Annales d’Histoire Economique et Sociale». Os seus fundadores foram: Mach Bloch e Lucien Febvre. Herdeira em certa medida, de toda evolução historiográfica dos séculos XVIII e XIX, coube a escola dos Annales – o berço da História Nova – a difícil tarefa de responder às exigências de um novo saber, mediante a transformação radical dos domínios e métodos de trabalho. A Revolução Historiográfica operada pela Escola dos Annales a) A luta contra a Historiografia Positivista tradicional 17 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço O primeiro combate do Annales foi o de remover o conceito de História. No lugar de colocar a tónica nos eventos singulares, estreitamente políticos e individualizados, apareceu uma História do Homem, isto é, das formações económicas sociais. b) O alargamento do território do historiador Antes eram considerados como importantes os factos relativos aos dirigentes da vida pública ou mesmo de toda classe dominante, mas depois passa-se a considerar também naquilo que influi em círculo mais largos, repercutindo nas condições de existência, isto é, a História de todos Homens – a História total e global. c) O alargamento do campo do documento Uma História total e interdisciplinar tinha necessariamente que formular o conceito de documento. A História Positivista essencialmente baseada em texto, contrapõe-se uma História fundada numa multiciplinaridade de documentos escritos de toda espécie, documentos figurados, escavações arqueológicas, orais, etc. d) Revalorização do papel activo do historiador na construção histórica A História tinha que ser problemática, isto é, devia procurar trazer interpretações dos factos, procurar esclarecer o porque, do que é, como e quando. O facto histórico é buscado a partir de uma problemática existente só num contexto global. O facto histórico também é criação do historiador visto que não há realidade histórica que se oferece completamente ao historiador. A História Nova NONO GRUPO A História Nova surge depois da 2ª Guerra Mundial e assume um carácter mais abrangente das realizações humanas. Com efeito, a História Nova é, uma história que busca novos objectos, até então reservados a outras ciências humanas e sociais. Ex: a Antropologia – ao estudar a cultura dos povos; a Geografia - ao estudar a história dos homens no espaço; a Economia – história dos modos de produção; a Psicologia – história da mentalidade: família, educação, morte, feitiçaria, e.t.c; Em suma, a História Nova estuda tudo o que diz respeito aos homens, até as suas produções mentais (espirituais). A História Nova alarga o âmbito cronológico da História: isso requer dizer que se recua até ao passado mais remoto do homem até ao presente do mesmo, havendo assim, uma ligação contínua entre o passado e o presente. Assiste-se assim, ao diálogo entre a História e outras ciências humanas, entre o passado e o presente e até o futuro. Nos dois sentidos: explicação do que é hoje pelo que já foi, mais também explicação do que já foi pelo que é hoje. O alargamento do âmbito geográfico que se manifesta pela recusa do eurocentrismo e o gosto pelo universal 18 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Antes concebia-se vulgarmente a História como o desfile cronológico dos povos ou nações mais privilegiados em cada época só com pequenas adesões bárbaras. Deste modo, a História procura fugir a este esquema e torna-se universal no esforço de integração de civilizações e povos num todo. É a que aparece o interesse pelas civilizações do 3º mundo tentando encontrar e analisar as condições específicas da sua permanência no tempo. A Nova História Estrutural de Braudel ou História Estruturalista Após a morte de L. Febvre, em 1956, a escola dos Annales passou para a direcção de Ferdinand Braudel, iniciando uma nova etapa na evolução da História, com a publicação da obra “ História e Ciências Sociais: a longa duração”, em 1958. Nela estava explicitas as principais linhas da actual História Nova – a História Estrutural, baseada na teoria da longa duração. 8.1. Características da História Estrutural É uma história que privilegia o conjunto, as grandes massas e está atentas as flutuações, dinâmica no tempo e no espaço; Introduz novas noções de geo-história e complexo histórico-geográfico; Emerge um novo conceito de tempo histórico (recusando as correntes tradicionais): Braudel sugere que o tempo histórico deve ser medido de acordo com a duração, sequência, permanência ou mudança dos fenómenos e não pela sequência do calendário, pois nem sempre o tempo social coincide com o tempo cronológico. Assim sendo, propõe um modelo triplo de duração da história: Tempo Curto – (o tempo dos acontecimentos). Que se ocupa com as ocorrências superficiais sem exigir investigação e análise profunda a micro-história. Tempo Médio ou média duração – que estuda as pequenas variações cíclicas as conjunturas; Tempo Longo ou longa duração – que estuda as grandes repetições ou grandes permanências; é o tempo das estruturas ou a História estrutural. A introdução dos grandes eixos de coordenadores do tempo: diacronia e sincronia. Diacronia – é o eixo da sucessividade; Sincronia – é o eixo das simultaneidades. A aproximação das ciências sociais Braudel defendeu a aproximação das ciências sociais, dando valor à interdisciplinaridade, pois seria impossível fazer a História total sem se recorrer a outros campos do saber. Portanto, a interdisciplinaridade foi um dos grandes méritos da História Nova. Em suma, a História Estrutural é total e global, comparativa e interdisciplinar, o historiador não se limita a reproduzir o documento mas sim conquistá-lo, tentando perscrutar as intenções do testemunho. Alarga as fontes de informação, recorrendo aos métodos e a informação de outras ciências sociais ou não; 19 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço A realidade histórica é feita de realidades de duração, isto é, de dimensões diacrónicas e sincrónicas, as realidades estruturais de longa duração; as realidades conjunturais de média duração e as realidades factuais de curta duração. A Crítica à História Nova O conhecimento é relativo mais relativo ainda quando se trata de ciência sociais. Por isso, a História nunca se constitui como um dado adquirido e está em constante reformulação. A História Nova teve falta de originalidade, porque os Annales, ao alargar os heróis para todos os campos, tiraram esses elementos de outras ciências. Também, ao criar gosto pela história, fez dela uma forma de literatura, um espectáculo em que o historiador se transformou num encenador, isto é, a História perdeu algum do seu rigor científico. A Historiografia africana DECIMO GRUPO A historiografia africana é a história da história de África; a maneira como a história africana é escrita e interpretada ao longo dos tempos. Ela visa analisar e avaliar as várias fases pelas quais passou ainvestigação, o ensino e as formas de abordagem da história de África. 9.1. Evolução da Historiografia africana 9.1.1. Antiguidade Entre as civilizações Antiguidade Oriental, desenvolveu-se em África a civilização egípcia. Os egípcios desenvolveram nessa época a escrita hieroglífica, que serviu para fixar o legado religioso que até então era transmitido oralmente (cosmogonias e mitografias). 9.1.2. A Idade Média Neste período, os escritores e viajantes escreveram pouco sobre África. Somente há registos sobre o norte de África que teve contacto com comerciantes fenícios, gregos e romanos. Noutras regiões do continente também se fizeram registos escritos sobre os africanos, feitos por escritores árabes, como: Al-Masudi; Al-Bakri; Al-Idrisi; Al-Umari; Ibn-Batuta e Hassan Ibn Muhamad Al- Hassan (Leão de África). 9.1.3. Do século XV até à actualidade A partir do século XV, o continente africano, teve contactos com todo o mundo, especialmente com os europeus, no contexto da Expansão europeia e com o envio no séc. XIX, de expedições missionárias, cientificas e militares que escreveram sobre África em quase todas áreas científicas, com especial destaque para a Geografia e exploração de recursos naturais. Devido aos problemas coloniais, a África não foi considerada um espaço único e total, dai que até hoje é frequente dizer-se «África branca» -África do Norte ou Magreb, e «África Negra» - Sul do Sahara. Esta situação justifica o facto de aparecer uma história regionalizada: História de África Magrebina; História de África Ocidental; Central e Oriental e África Meridional. 20 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Principais historiadores africanos desta época Samuel Johson (Serra Leoa): A história dos Yorubas; Carl Christopher (Gana): A história da Costa de Ouro e de Ashant; Joseph Ki-Zerbo (Burkina-Faso): A História de África Negra. Outros historiadores: Albert Adu Boahen; Bethwell Ogot; Teófilo Obenga; Elika Mibokolo; John Donald Fage; Ronald; Oliver Terence Ranger; Philip Curtin, Basil Davidson e Walter Rodney. Principais correntes da Historiografia africana Corrente eurocentrista É uma corrente marcadamente racista, pois defende a superioridade da raça branca sobre a negra. Sustenta que os africanos não tinham história antes de estabelecerem contactos com os europeus. Afirma que África não é uma parte histórica do mundo. Nega assim, a possibilidade de os africanos terem contribuído para o desenvolvimento da História Universal. O Eurocentrismo defende que somente com as fontes escritas é que se faz a história. O principal defensor desta corrente foi Hegel. Corrente afrocêntrica Surge em reacção à corrente eurocêntrica. Critica radicalmente a colonização, afirmando que influenciou negativamente a evolução histórica africana. É uma corrente que valoriza excessivamente as realizações africanas. Recusa influência que os outros povos exerceram sobre a história de África. Para eles, a história é o que graças ao esforço exclusivo dos africanos, sem concorrência de nenhum factor externo. Corrente progressista É uma corrente que reconhece o valor das fontes escritas, mas recusa aceitar que a história seja feita apenas com base em documentos escritos, negando assim, ao eurocentrismo. Contrariamente ao eurocentrismo e ao afrocentrismo, o progressismo não espelha complexo de superioridade nem de inferioridade. Reivindica Uma investigação histórica séria e não discriminatória tendo como chave a combinação de várias base metodologias e fontes. Esta corrente depende a importância das fontes orais para todo o conhecimento – tudo o que é escrito é antes pensando e falado. O progressismo expandiu-se a partir de meados do século XIX com historiadores como: Albert Adu Boahen, Joseph Ki-Zerbo, Teólifo Obenga, e Roland Oliver. Noções sobre a Metodologia e Epistemologia ou Gnosiologia da História DECIMO PRIMEIRO GRUPO Metodologia – é a lógica que estuda os métodos das ciências. 21 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Epistemologia ou Gnosiologia – é a teoria do conhecimento, visando determinar ou explicar a origem lógica de um conhecimento científico, o seu valor e objectivo. O conhecimento histórico é o produto da interacção de duas entidades: o objecto e o sujeito. O Objecto do conhecimento – é a entidade ou algo a ser estudado e sobre qual se produz o conhecimento. No estudo da História, essa entidade é o Homem (as suas realizações) no tempo e no espaço. O Sujeito do conhecimento – é o sujeito que conhece ou estuda o objecto, com o qual interage indirectamente, por intermédio de marcas, vestígios e restos (fontes). É este sujeito (o historiador) que produz o conhecimento, este, tem duas dimensões, a sabe: O Sujeito da História – é aquele que foi alvo de atenção durante várias épocas da evolução historiográfica. Assim, evoluiu de Deus - na Antiguidade Oriental, para os Grandes Homens ou figuras míticas – na Antiguidade Clássica ou greco-romana; até ao Homem na sua generalidade (as massas) – na História Nova. O Sujeito do conhecimento – na produção do conhecimento, a interacção entre o sujeito e o objecto deve seguir regras e princípios designados por métodos. Assim, cada ciência tem métodos específicos. A relação entre o sujeito do conhecimento e o objecto no estudo da História Interacção Lógica Metodologia O Objecto da História DECIMO SEGUNDO GRUPO A História de modo geral é a narração, cientificamente ordenada, dos acontecimentos do passado, nos quais os homens foram os actores dominantes, nas suas relações com a sociedade e i meio geográfico, nas suas descobertas e invenções, nas suas crenças, modos de vida, conquistas materiais e espirituais. 2. As fontes da História Para que possamos relatar os acontecimentos do passado torna-se necessário que eles tenham deixado vestígios que nos permitam conhecê-los e datá-los. Estes vestígios denominam-se documentos ou fontes históricas; que são os vários vestígios ou materiais deixados pelos homens, e que o historiador utiliza para reconstruir o passado histórico. 2.1. Classificação ou tipologia das fontes da História Sujeito do conhecimento Objecto do conhecimento Modos de proceder (método) 22 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço As fontes históricas geralmente podem apresentar-se em três grupos: tradicionais, monumentais e escritas. 2.1.1. Fontes Materiais ou Monumentais – são vestígios que sobraram do passado e que podem contribuir para o conhecimento histórico. Ex: estátuas, edifícios, armas, utensílios domésticos, restos humanos (ossadas, esqueletos, múmias), e.t.c. 2.1.2. Fontes tradicionais ou orais – são narrativas transmitidas oralmente de geração em geração. Ex: lendas, canções populares, crenças, usos e costumes, e.t.c. 2.1.3. Fontes escritas – são todos documentos escritos. Ex: livros, cartas, papeis, jornais, escrituras, inscrições. As fontes escritas podem ser classificadas de acordo com material usado na sua inscrição (papiro, bronze,pedra ou pergaminho) ou de acordo com o conteúdo do texto (fontes epigráficas, diplomáticas, arquivísticas, narrativas ou literárias). 2.1.3.1. Fontes Epigráficas – são aquelas que se encontram gravadas em materiais duros como pedra; bronze; cerâmica; e constam normalmente de textos curtos com fins comemorativos, funerários, e.tc. Ex1: placas de inauguração de um edifício, estátuas, praças, e.t.c. Ex2: placas funerárias (onde vêm os dados do falecido). 2.1.3.1. Fontes Arquivísticas – são aquelas que constam os documentos de carácter oficial (tratados, diplomas), ou jurídico (escrituras notarias, actos de assembleias, sentenças, inventários, registos paroquiais). 2.1.3.2. Fontes Narrativas ou Literárias – compreendem a narrativas históricas (ex: os anais e as crónicas), narrativas literárias (ex: romances, novelas, contos, e.t.c.). Estas fontes subdividem-se de acordo com os materiais usados, com as técnicas adoptadas (impressos e manuscritos) e com o conteúdo (obras históricas, obras literárias). 3. Os métodos da História DECIMO TERCEIRO GRUPO Método – é o caminho pelo qual se chega a determinado resultado. É a maneira/modo pelo qual o sujeito (historiador) se relaciona ou trabalha as fontes, para através delas retirar os dados que precisa do passado. Os métodos da história se resumem num só método – crítica histórica. Crítica Histórica ou Método Crítico – é a análise efectuada pelos historiadores às fontes históricas para apurar a sua autenticidade e veracidade, de modo que as possa utilizar como objecto da investigação. Este método compreende duas operações principais: Análise e a Síntese. 3.1. Análise histórica – é averiguação do desconhecido, incorporado no que já é conhecido. Compreende a quatro momentos ou fases: heurística, crítica externa, crítica interna e hermenêutica. 3.1.1. Heurística - é a operação de recolha e exploração das fontes históricas de todo tipo. A documentação histórica é praticamente infinita, e por isso, a actividade da heurística revela-se como uma operação fundamental da História, isto é, a operação da pesquisa. 23 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço 3.1.2. Crítica Externa ou da Autenticidade – é a operação que tem a função de verificar os aspectos materiais e formais do texto. Subdivide-se em: 3.1.2.1. Crítica de proveniência – tenta responder as seguintes questões: quem, quando, como e as vias que o documento percorreu. 3.1.2.2. Crítica de restituição – consiste na restituição do documento à sua forma original. 3.2. Crítica Interna ou de Credibilidade – é a operação que avalia o grau de confiança que os documentos apresentam. Esta operação se materializa através da: 3.2.1. Crítica de interpretação literária do texto – é uma crítica que pretende averiguar o sentido do pensamento do autor, não aquilo que ele expressa, mas aquilo que ele pretendia dizer. 3.2.2. Crítica da competência – tem a função de averiguar o grau de conhecimento que o autor tem sobre o assunto ou se trata de: Um testemunho directo que contem a versão pessoal do facto; Um compilador que constituiu a sua versão do facto através de outras fontes. 3.2.1. Crítica da intencionalidade ou sinceridade – averigua o grau de isenção do autor. 3.2.2. Crítica de exactidão – averigua o grau de exactidão ou rigor do documento. 3.2.3. Crítica comparativa – avalia o grau de credibilidade de um testemunho mediante a comparação da informação de outros testemunhos. 3.3. Hermenêutica – é a operação que consiste na interpretação dos documentos em termos de saber-se em que medida é que a informação fornecida corresponde ou não verdade. 3.4. Síntese – é a operação que consiste em colocar a peça resultante da investigação que lhe cabe no quadro geral da história, isto é, se a peça for um evento coloca-se na respectiva conjuntura. Esta integração é resultado da pesquisa histórica. As várias correntes sobre a relação sujeito-objecto na produção do conhecimento 14º grupo O problema fundamental que se coloca a cerca do conhecimento consiste em saber qual é a origem do conhecimento, se tem uma origem exterior ou interior relativamente ao sujeito. Se o conhecimento procede apenas do mundo exterior, através da experiência ou se é através da razão ou então tem origem no sujeito sob forma de ideias inatas. A estas questões, respondem os Empiristas, Racionalistas e Idealistas. A Corrente Empirista – para os empiristas, nada existe no intelecto que não tenha antes passado pelos sentidos (experiência). Para esta corrente, ao nascer a criança é como uma "tábua rasa" (onde nada esta escrito), pelo qual a experiência vai se desenhar. A Corrente Racionalista - os racionalistas defendem que o conhecimento resulta de uma interacção entre o sujeito e o objecto. Enquanto o objecto fornece os dados sob forma de sensações, cabe a razão o papel de interpretar tais dados. 24 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço A Corrente Idealista – para os idealistas, o sujeito constitui uma fonte de conhecimento. Segundo Platão a criança, ao nascer traz consigo uma larga bagagem de ideias e, para Descartes, a criança já vem ao mundo com ideias (ideias inatas). N.B: Hoje é um dado quase certo, que o conhecimento aparece como acto imanente pelo qual a consciência, abrindo ao mundo circundante, o torna intencionalmente presente em si mesma. Isto quer dizer que o sujeito interage com o objecto (o mundo circundante). Assim, todo o conhecimento se traduz numa relação entre o sujeito e o objecto. Uma relação necessária: não há conhecimento sem um sujeito que conhece ou sem um objecto conhecido. Uma relação irreversível: a função do sujeito consiste em apreender o objecto, acolhê-lo, torná-lo presente; e a do objecto é deixar-se apreender, em especificar o conhecimento, dando-lhe conteúdo. A Relatividade do conhecimento Histórico: A questão da verdade histórica: uma verdade histórica absoluta ou relativa? Objectiva ou subjectiva? Como qualquer outra forma de conhecimento, o conhecimento histórico é um produto da relação sujeito- objecto. O sujeito começa por ter em relação ao objecto uma percepção global, a partir da qual, através de sucessivas análises vai aumentando o seu conhecimento a cerca do mesmo objecto. Dai que a verdade histórica não é absoluta mas sim relativa. É relativa - porque sobre o mesmo conhecimento histórico pode haver vários pensamentos, dependendo da fonte do conhecimento de cada historiador. Assim, o conhecimento é um processo inacabado. É objectivo-subjectivo – pois o historiador relata o que aconteceu objectivamente ou claramente mas no meio deste relato introduz alguns conhecimentos subjectivos. Ex: a guerra para alguns pode ser justa e para outros injusta. Em suma, o conhecimento histórico torna-se de uma objectividade específica e é carregado de uma subjectividade decorrente do reflexo do discurso histórico de natureza humana do sujeito. A verdade histórica nunca é absoluta mas sim é sempre relativa. FIM DO PRIMEIRO TRIMESTRE CAPITULO II: INVASÃO, PARTILHA E OCUPAÇÃO DE ÁFRICA 2.1. África entre os séculos XV – XIX 2.1.1. A África entre os séculos XV- XIX No séc. XV, com a chegada dos europeus, as sociedades africanas possuíam uma dinâmica política, económica e sociocultural distinta, que é resultado das suas vivências e contactos com outros povos (ex: árabes e persas). 25 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio LourençoCom a presença europeia em África entre os séculos XV – XIX alterou-se a dinâmica das sociedades locais, sobretudo as localizadas ao longo da costa. Assim, as sociedades africanas neste período, são resultado da confluência de três elementos: as tradições locais – baseadas na existência de linhagens dominantes e dominadas; a influência dos povos árabes e, a influência da cultura ocidental – europeia, que trouxe com ela o cristianismo. A estrutura-base das sociedades africanas nesse período sobretudo no interior estava assente nas tradições locais. O islamismo estava enraizado na África do Norte, expandindo-se para o Oriente (originando a cultura swahili). A influência europeia manifestou-se na assimilação, por parte de alguns africanos da educação ocidental. Ao nível político, existiram em África neste período, vários estados em forma de Reinos e Impérios - ex: Mwenemutapa, Gaza e Ndembele – na África Austral; Congo, Mali, Ghana e Songhay – na África central e ocidental. Ao lado destes estados existiam as chamadas «sociedades sem estados» (clãs, tribos, grupos étnicos, e.t.c.), que construíam povos unidos pela tradição e língua comuns – shonas, Yorubas e swahils. Características gerais do colonialismo em África O conhecimento de África pelos europeus, data do séc. XV, durante a 1ª expansão europeia, mas as grandes conquistas realizaram-se a partir dos finais do séc. XIX e até os anos de 1920, quando se deram os últimos focos de resistências africanas. A montagem do sistema de dominação colonial em África é consequência directa do fracasso destas resistências. Nos primeiros anos da colonização, os europeus ainda não tinham montado os sistemas de administração que permitissem a recolha de impostos, razão pela qual, as potências deveriam suportar integralmente as despesas. Ora, para tal, deviam ter um nível de desenvolvimento económico saudável e contar com investidores privados, que ainda não estavam muito atraídos pela África. Por esse motivo, a maioria dos governantes das colónias africanas devia ter no seu currículo experiência na área militar. A periodização da colonização europeia Período Características 1º - Conquista e ocupação efectiva (ou «período de pacificação») 1880 - 1900 É o período da conquista por via militar ou diplomática. Houve muitas disputas entre as potências colonizadoras, pela posse das melhores colónias, tendo levado à C. Berlim. 2º - Implantação do sistema colonial 1900 – 1919 É o período da ocupação efectiva, no qual foram demarcadas as fronteiras africanas, impulsionado pelas decisões de Berlim. 3º - Intensificação e crise do regime colonial 1935 – 1960/70 Caracterizado pela intensificação da repressão e outras formas de exploração, por um lado, e por outro, pela consolidação dos movimentos nacionalistas e pela obtenção das independências africanas. Conceitos 26 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Colonialismo – Domínio político, económico, social e cultural de um Estado sobre territórios não independentes (colónias). Colonização – processo de dominação política, sociocultural e económico de um Estado por um outro. Exercícios 1. Para Pitágoras (filósofo grego do séc. V a.c.) a mesma água pode ser fria para uns e morna para outros. Comente a afirmação sublinhada, tendo em conta a verdade histórica. 2. Porque é que o conhecimento histórico nunca é inacabado? 3. Defina a objectividade em História. 4. Na interação sujeito - objecto para a produção do conhecimento, explique os seguintes termos: relação necessária e relação irreversível. 5. Defina fonte da História. 6. Explique a importância do uso das fontes arqueológicas no estudo da História. 7. Faça a classificação das fontes escritas de acordo com o conteúdo do texto e material. 8. Explique o processo de evolução do objecto da História, referindo-se aos aspectos tidos como objecto da história. (Antiguidade Oriental, Clássica, Medieval, séc. XIX: Positivismo, Historicismo e Materialismo; séc. XX: Escola dos Annales) 9. Estabeleça a relação entre a História e as seguintes ciências sociais: Economia, Epigrafia, Paleografia, Geografia, Arqueologia e Antropologia. A invasão do continente africano A invasão de África pelas potências imperialistas teve lugar nos finais do século XIX. Alguns autores propõem o ano de 1870 como o início, porque nessa altura os principais países capitalistas viram-se mergulhados na 1ª grande crise financeira à escala mundial, encarando-se a expansão imperialistas como solução para a mesma crise. O ano de 1880 foi consensual para o início da invasão de África – é neste ano que se vai assistir a uma ocupação sistemática do continente. Segundo Mazrui (2010:28) “Na história da África jamais se sucederam tantas e tão rápidas mudanças como durante o período entre 1880 e 1935. Na verdade, as mudanças mais importantes, mais espectaculares – e também mais trágicas –, ocorreram num lapso de tempo bem mais curto, de 1880 a 1910, marcado pela conquista e ocupação de quase todo o continente africano pelas potências imperialistas e, depois, pela instauração do sistema colonial. O desenvolvimento desse fenómeno foi verdadeiramente espantoso, pois até 1880 apenas algumas áreas bastante restritas da África estavam sob a dominação directa de europeus. Em toda a África ocidental, essa dominação limitava-se as zonas costeiras e ilhas do Senegal, a cidade de Freetown e seus arredores (que hoje fazem parte de Serra Leoa), as regiões meridionais da Costa do Ouro (actual Gana), ao litoral de Abidjan, na Costa do Marfim, e de Porto Novo, no Daomé (actual Benin), e a ilha de Lagos (actual a 27 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Nigéria). Na África setentrional, em 1880, os franceses tinham colonizado apenas a Argélia. Da África oriental, nem um só palmo de terra havia tombado nas mãos das potências europeias, enquanto, na África central, o poder exercido pelos portugueses restringia-se a algumas faixas costeiras de Moçambique e Angola. Só na África meridional é que a dominação estrangeira se achava firmemente implantada, estendendo-se largamente pelo interior da região (ver figura 1.1). Figura 1.1: A África em 1880, em vésperas da partilha e da conquista. 28 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Até 1880, em cerca de 80% do seu território, a África era governada por seus próprios reis, rainhas, chefes de clãs e de linhagens, em impérios, reinos, comunidades e unidades políticas de porte e natureza variados. No entanto, nos trinta anos seguintes, assiste-se a uma transmutação extraordinária, para não dizer radical, dessa situação. Em 1914, com a única excepção da Etiópia e da Libéria, a África inteira vê-se submetida a dominação de potências europeias e dividida em colónias de dimensões diversas, mas de modo geral, muito mais extensas do que as formações políticas preexistentes e, muitas vezes, com pouca ou nenhuma relação com elas. Nessa época, alias, a África não e assaltada apenas na sua soberania e na sua independência, mas também em seus valores culturais. 2.2. Teorias sobre a invasão de África Para explicar as razões que levaram os europeus a ocupar a África, segundo Uzoiguwe (1991), existem várias teorias, a saber: 2.2.1. Teorias Económicas Do ponto de vista económico, a invasão deÁfrica é justificada pelas profundas transformações que ocorreram no sistema capitalista devido à crise de 1870 e que ditaram a transição do capitalismo de livre- concorrência (laisser-faire) ao capitalismo monopolista ou financeiro. O novo capitalismo – o Imperialismo possuía necessidades novas: novos mercados para exportar o seu capital financeiro; novas fontes de matéria – prima para abastecer as indústrias e novos mercados para colocar os seus produtos manufacturados. As teorias económicas podem explicar a necessidade da expansão imperialista dos países europeus como uma forma de evitar o colapso do sistema capitalista. N.B: Estas teorias, por si só não explicam cabalmente a partilha de África, visto que as principais potências para recuperarem da crise, procuraram investir noutras partes do mundo. 2.2.2. Teorias Psicológicas Estas teorias procuram demonstrar a supremacia da «raça branca» como a causa da partilha e colonização de África. Classificam-se em: 2.2.2.1. Darwinismo Social «As espécies que melhor se adaptarem às transformações ambientais sobrevivem e as que menos se adaptar desaparecem pelo processo de selecção natural.» (Charles Darwin - 1859) Alguns estudiosos como George Hegel, usaram a teoria Darwinista para justificar a superioridade da «raça branca». Assim, a conquista do povo africano seria justificada por estes constituírem «raças inferiores» ou «raças não evoluídas», devendo ser dominadas pela «raça superior - branca» devido ao processo inevitável de «selecção natural.» 2.2.2.2. Cristianismo evangélico 29 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço “Todo aquele que invocar o nome de Deus será salvo” (Romanos; 10:13) Esta teoria foi defendida principalmente por missionários, na qual afirmavam ser seu dever moral espalhar o cristianismo e a civilização ocidental ao africano, e havia necessidade de «salvar as almas» do povo africano. O humanismo e filantropismo dos missionários europeus eram, muitas vezes, acompanhados de interesses económicos para os seus países de origem. Estes, quando davam seus relatórios, não apresentavam apenas o número de fies convertidos, mas também as potencialidades económicas das zonas visitadas. 2.2.2.3. Atavismo social Explica a partilha de África em termos sociológicos e não económicos. Segundo Schumpeter (seu principal defensor), o Homem tem um desejo natural de dominar o próximo, pelo simples prazer de dominá-lo. Assim, as potências europeias ocuparam o continente africano pelo simples desejo de dominar as nações «fracas», demonstrando o seu poder. 2.2.3. Teorias diplomáticas São teorias que defendem argumentos políticos para justificar a partilha de África, classificam-se em: 2.2.3.1. Prestígio nacional O seu principal defensor foi Calton Hayes, que defende que o imperialismo foi um fenómeno nacionalista, para ele, os adeptos nacionalistas tinham uma sede de prestígio e pretendiam manter ou restaurar a grandeza das suas nações. 2.2.3.2. Equilíbrio de forças Foram defensores Langer e F. H. Hinsley, este último afirma que a causa principal da partilha de África foi o desejo de paz e estabilidade dos Estados europeus. 2.2.3.3. Estratégia global Defende que a invasão e partilha de África foram motivadas por uma estratégia global e não pela economia. Ronald Robinson e John Gallagher são os principais defensores desta teoria, afirmam que África foi ocupada não porque tivesse riquezas materiais a oferecer aos europeus, mas porque ameaçava os interesses destes, visto que os movimentos de reacção à presença europeia que já começavam a surgir em África punham em causa interesses estratégicos globais das nações europeias. N.B: As teorias diplomáticas e psicológicas procuram acabar com a ideia de que a partilha de África se deu apenas por razoes económicas. Elas ajudam-nos também a compreender a rapidez com que o continente foi dominado politicamente. 2.2.4. Teoria da dimensão africana Para esta teoria, a partilha de África foi consequência de acções progressivas do continente. As resistências constantes dos africanos aos europeus e as rivalidades comerciais precipitaram a conquista. 30 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Para J.S.Keltie defensor desta teoria: foram as razões económicas que fizeram chegar os europeus a África nos finais do século XIX. N.B; Só a conjugação de factores europeus e africanos se pode compreender e complementar as teorias eurocêntricas e a de dimensão africana. Nacionalismo europeu - foi o sentimento de amor à pátria (nação) que se viveu na Europa a partir dos finais do séc. XIX e que se caracterizava pelo proteccionismo na economia, xenofobia e até racismo em termos sociais e o imperialismo em termos políticos. 2.2.5. As viagens exploratórias A partir do séc. XIX, graças aos avanços técnicos – científicos (progressos médicos, ciências sociais, navegação, …); os europeus iniciaram uma vaga de «descobrimentos» pelo interior de África, que ficou designado por viagens exploratórias. As viagens tinham como objectivos: dar a conhecer ao mundo europeu, e não só, as potencialidades de África. Nestas viagens, os objectos geográficos (principais rios e lagos) desempenharam um papel preponderante, pelas seguintes razões: Os principais rios constituíam vias de acesso ao interior, onde se encontravam as fontes produtoras de ouro, marfim, goma, madeira, entre ouros; Os rios constituíam ainda a principal via de transporte de produtos de e para as cidade do interior; Os grandes lagos africanos constituem, até aos nossos dias, reservas de minerais valiosos que atiçavam a cobiça de muitos caçadores de tesouros. De salientar, que os objectos geográficos também atraíram os exploradores por razões meramente científicos e filantrópicos, curiosidade e espírito de aventura. Foi por esta razão que os patrocinadores destas viagens foram as sociedades geográficas, tais como: Sociedade Real de Geografia (1856); e Associação de Geografia de Lisboa (1775), bem como as associações coloniais: Associação Africana (1778) e a Associação Internacional do Congo (1876). N.B: Segundo Ki-Zerbo, os principais exploradores de África, foram os Mercadores, Missionários e Militares. 2.2.5.1. Principais exploradores 2.2.5.1.1. David Livingstone Missionário e médico, chegou à África do Sul em 1841. Avançou para o interior, atravessando o deserto de Calahar, «descobriu» o lago Ngami, passou pelo rio Zambeze, chegou a Luanda, por volta de 1854. Em 1856, chegou ao oceano Indico, pelo rio Zambeze, e a Quelimane, na costa Moçambique. Livingstone 31 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço foi o 1º europeu a atravessar o continente africano da costa atlântica à costa indica, o que lhe conferiu o estatuto de herói nacional na Inglaterra. Livingstone sempre condenou a escravatura e defendeu que a colonização de África era o único «remédio» para o fim da barbaridade. A sua generosidade e o carácter humanista fizeram com que os africanos organizassem um funeral digno de um herói em 1875. 2.2.3.1.2. Henri Stanley Henri Morton Stanley foi praticante de caça desportiva e, de negócios. Era um homem brutal e sem escrúpulos. Em 1875, deu a volta de barco ao longo do lago Vitória; passou pelo Tanganhica. Ao alcançar o oceano Atlântico, verificou que o Luabala era o rio Congo, descobrindoassim, um acesso à África central. Foi devido a estes êxitos que o rei da Bélgica Leopoldo II, o chamou para dirigir a Associação Internacional do Congo (responsável pela ocupação do Congo). 2.2.5.1.3. Henrich Barth Foi professor de Geografia Comparada e de Comércio Colonial da Antiguidade na universidade de Berlim e era alemão em África ao serviço da Inglaterra. Permaneceu no Sudão Central durante 5 anos, onde encontrou e produziu documentos (fontes históricas) importantes da História de África Ocidental. Regressou a Inglaterra em 1855, tendo atravessado o deserto de Sahara através de Tripoli. 2.2.5.1.4. Outros exploradores Savorgan de Brazza – fez o reconhecimento do rio Ogué na bacia do Congo. Major Houghton – perdeu ávida na procura da nascente do rio Níger. Hornemann – também procurou o nascente do rio, desapareceu no deserto do Sahara. 2.2.6. A Conferência de Berlim e a partilha de África A partilha de África foi a chegada do imperialismo europeu ao continente, por volta de 1880. Segundo Uzoigwe, três importantes acontecimentos, levaram a que Salisbury (Inglaterra) e Bismarck (Alemanha) apostassem pelo domínio efectivo de África: A Conferência Geográfica de Bruxelas (1876) – convocada pelo Leopoldo II, na qual se formou a Associação Internacional Africana do Congo. Dirigida por Stanley, resultando na criação do Estado livre do Congo; A partir de 1876, o inicio de expedições portuguesas que resultaram na anexação em 1880, das propriedades afro – portuguesas de Moçambique; As acções da França entre 1879 e 1880: participação com a Inglaterra no centro do Egipto (1879), envio de Savorgan de Brazza ao Congo, o restabelecimento de iniciativas coloniais para a Tunísia e Madagáscar. 32 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço 2.2.6.1. Antecedentes: O Tratado do Zaire A 26 de Fevereiro de 1884 foi assinado em Londres, entre Portugal e Inglaterra o Tratado do Zaire. Das várias decisões tomadas, podem destacar-se: Não pagamento de direitos aduaneiros pelos ingleses durante 10 anos nas possessões portuguesas em África; Tratamento preferencial aos comerciantes e navegadores ingleses nas possessões portuguesas; Liberdade dada aos europeus em navegar e comercializar nos rios Zaire (Congo) e Zambeze. N.B: Estas decisões excluíram as outras potências imperialistas, dai que a Holanda, a França e a Itália tenham acusado a Inglaterra de estar a usar Portugal para impedir a penetração de outras nações pelo Zaire para o interior de África Central. 2.2.6.2. A Conferência de Berlim O rei Leopoldo II foi um dos principais opositores do Tratado do Zaire, tendo conseguido convencer Bismarck, que ambicionava expandir-se pelas margens do rio Zaire, a anular o respectivo tratado. É neste âmbito, que o então chanceler alemão, Otto von Bismarck, convoca em 1884, a Conferência de Berlim para discutir a questão colonial com outros países. A reunião realizou-se, então, na cidade de Berlim, na Alemanha, entre os dias 15 de Novembro de 1884 à 26 de Fevereiro de 1885. Nela, participaram países como: Inglaterra, França, Itália, Portugal, Holanda, Noruega, Suécia, Dinamarca, Áustria, Bélgica, EUA, Espanha, Hungria e o império Otomano. 2.2.6.3. Principais acordos assinados na conferência Foi assinado um acordo político – económico entre as potências no qual se estabeleceu: A partilha e ocupação do continente africano entre as nações europeias participantes; Garantia a liberdade comercial nas bacias dos rios Congo e Níger; Toda e qualquer potência deviam informar as outras sobre a região que viesse a ocupar; Apenas podiam reclamar interesses territoriais e económicos em África os países presentes na conferência que a partir dai, viessem a ocupar, de forma efectiva, territórios independentes. 2.3. A Partilha e conquista de África Depois da C. de Berlim, com a deliberação do princípio de ocupação efectiva, as potências europeias aceleraram o passo na corrida para África. Eles esforçaram-se para a concretização de projectos ambiciosos, tais como: 33 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Mapa Cor-de-Rosa – um projecto português que visava a ligação das colónias de Angola e Moçambique; Projecto Cabo - Cairo inglês – projecto inglês, dirigido por Cecil Rhodes e que visava a construção de uma linha férrea entre Cabo (África do Sul) e Cairo (Egipto); Missão Marchand – projecto francês que visava fazer a ligação do rio Congo ao Nilo e de Dacar a Djibuti. As potências, adoptaram duas formas de conquistas: Tratados e Incursões militares. Os Tratados ou diplomacia foi o método mais privilegiado, já que eles não pretendiam fazer grandes esforços financeiros e humanos, pela colonização de África. Porém, nem sempre esta estratégia surtia efeitos positivos, devido à resistência dos africanos, e os europeus viam-se obrigados a recorrer à força das armas. N.B: A partilha de África, porém, ano respeitou a organização política, social e cultural dos africanos: ao criar fronteiras artificiais apenas de acordo com os interesses europeus. 2.3.1. Tipos de tratados válidos Tratados bilaterais – entre dois países ou estados; Tratados multilaterais – entre vários países ou estados. Estes dois tipos de tratados, é que tinham a validade jurídica e eram respeitados pelas potências. Os tratados afro-europeus foram muitas vezes anulados. Nesses tratados, os africanos faziam enormes concessões que acabavam perdendo a sua soberania. 2.4. A Resistência africana Após a C. de Berlim, as potências imperialistas lançaram-se no processo de ocupação efectiva, destruindo as unidades políticas africanas. Perante a ocupação do seu território, os africanos resistiram para defender a sua soberania, independência, e valores culturais. Nessas resistências, utilizaram como forma de luta: a aliança ou diplomacia e o confronto directo. 2.4.1. A resistência no norte de África: o Egipto O processo de resistência no norte de África foi bastante influenciado pelo islão. 2.4.1.1. A resistência no Egipto Por volta de 1811, quando o Egipto era ocupado pelos turcos (Império Otomano), os recursos eram explorados pelos ingleses, e seu governante era Meemet Ali. Ali foi afastado do poder (com a intervenção militar europeia), na sequência da conquista do Sudão e desafiar o poder turco. O seu sucessor Sahid (1854 - 1863) autorizou a construção do Canal de Suez (canal que liga o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho) pelos franceses, em 1869. Meemet Ali temia que se construísse o canal, porque significaria o domínio económico europeu e consequente político. Quando o canal foi aberto, 34 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço quem governava o Egipto era o neto de Meemet Ali, de nome Ismail, que procurou modernizar o império. A modernização foi no entanto, financiada pelo dinheiro dos europeus. A divida externa egípcia aumentou, e Ismail viu-se obrigado a vender as acções do governo no canal de Suez à Inglaterra. O Ismail encontrava-se num dilema: ou cedia às pressões europeias ou se aliava aos nacionalistas emergentes liderados pelo coronel Arabi Paxá. Em 1879, os europeus pressionaram os turcos para tirar Ismail do poder e colocar seu filho Tawlfig, que nomeou ministros franceses e ingleses traduzindo-se num controlo económico e político do Egipto. Devido a estaintromissão estrangeira, em 1881, jovens oficiais do exército liderados por Arabi Paxá criaram um movimento de revolta a exigir que Tawlfig criasse o Ministério da Guerra, que seria liderado por Arabi Paxá, e que era até então, inoperante. Isto provocou os protestos dos ingleses e franceses, levando a Inglaterra a bombardear a Alexandria em 1882, vencendo o exército de Arabi Paxá na batalha de Tel-el-kebir. Assim, o Egipto passou na prática para colónia inglesa, embora formalmente fosse de domínio turco até 1914. Unidade III: África durante o período colonial 3.1. Características gerais do colonialismo em África 3.1.1. As formas de administração colonial em África A Conferência de Berlim estabelecera a obrigação de cada potência colocar, nas colónias, uma autoridade para representar os colonos. Assim, a partir de 1885, no cumprimento dos acordos de Berlim, iniciou-se a ocupação efectiva dos territórios coloniais, com diferentes formas de administração: Administração Indirecta (Indirect Rule) – é um sistema de administração em que se fazia a incorporação dos líderes tradicionais africanos no sistema administrativo, fazendo deles os elementos impulsionadores da pilhagem colonial. Neste tipo de administração, era habitual a colocação de um Governador-geral europeu, na capital da colónia. Noutras colónias, era também designado comissário ou comandante, e os restantes membros do aparelho administrativo eram africanos. A Indirect Rule foi usada pela Inglaterra, optava por incluir os representantes locais para ajudar os governadores na elaboração de leis adequadas à região. Foi neste contexto que, na indirect rule, havia respeito pela cultura e tradição, manutenção dos hábitos, costume e línguas locais. Ex: África do Sul e Suazilândia. A Administração directa – foi aquela em que os europeus dominaram integralmente os africanos, ignorando quase totalmente as formas de governação africana. A máquina governativa, do governador-geral, no topo até a base era composta pelos europeus. Os africanos, eram usados como elos de ligação entre os europeus e a maioria da população africana, como auxiliares; daí a existência dos chamados régulos, na administração portuguesa, nas aldeias ou 35 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço comunidades locais de base. Os régulos não representavam os interesses dos africanos, mas sim os dos europeus, por isso, eram indivíduos de «confiança» dos administradores coloniais. Neste tipo de administração, predominava a imposição de leis, importadas da metrópole, e autoritarismo, o que implicava a assimilação pelos africanos da cultura europeia (cristianismo e monogamia), rejeitando-se os costumes tradicionais. É uma administração usada pela França e Portugal1. 3.1.2. Tipos de Colónias Em função da administração vigente e das condições bioclimáticas distinguiram-se três tipos de colónias: Colónias de povoamento - são colónias povoadas por população vinda da metrópole, compensando a explosão demográfica verificada na Europa no séc. XVIII e servindo para desenvolver várias actividades a nível político-administrativo, económico e cultural. Os europeus instalaram-se preferencialmente nas zonas de clima temperado (a norte e sul de África) por serem semelhantes ao da Europa, fixaram-se também nas planícies costeiras e vales férteis por serem zonas acessíveis. Assim, os africanos foram afastados para as zonas inóspitas e sem acesso aos capitais, aos mercados, à educação de nível europeu e obrigados a procurarem emprego nas cidades e fazendas dos mesmos europeus para suportar os impostos. Os exemplos de colónias de povoamento foram: Argélia francesa e a África do sul britânica (cidade do Cabo), Rodésia do Norte, Congo Belga, Quénia, Marrocos, Tunísia e Sul de Moçambique e Angola. Colónias de exploração – são aquelas que visavam a exploração dos recursos dos africanos para satisfazer a crescente industrialização e concorrência entre os países capitalistas. De salientar que a exploração dos recursos africanos deu-se em todo tipo de colónias, quer elas de administração directa, indirecta ou mista. Esta exploração, foi feita com base nas companhias em representação dos governos europeus, tais como: British South Africa Company (BSAC), Imperial East Africa Company; Roal Níger Company; Companhia francesa da África Ocidental, Companhia alemã do Sudoeste Africano e da África Oriental; e em Moçambique (Companhia do Niassa, Zambeze e de Moçambique). Colónias protectorados – sãos territórios marcados pela administração indirecta. Nestes espaços, a autoridade tradicional é mantida intacta, sem haver qualquer interferência da metrópole, os chefes africanos são súbditos da coroa. Ex: Malawi, Lesotho, e Suazilândia. 1 Em Moçambique, a administração directa foi efectivada a partir de 1930, com Salazar, antes deste período, cerca de 2/3 do território tinha sido arrendado a companhias majestáticas que aplicavam os seus próprios meios de administração. 36 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Nestes territórios, os governos coloniais proporcionavam a segurança necessária para explorar recursos. Daí a existência de companhias majestáticas e a construção de várias infra-estruturas, como ferrovias, rodovias e portos com intuito principal de escoar os produtos de exportação para mercados mundiais e de receber os produtos manufacturados vindos da metrópole. Soberania – é o direito que cada Estado tem de autogovernar-se, sem interferência estrangeira. 3.1.3. A função das colónias para as metrópoles As colónias eram para as metrópoles uma fonte de matéria-prima para as suas indústrias, ou então, constituíam excelentes mercados para a venda de produtos, normalmente de baixa qualidade, que não tinham aceitação nos mercados europeus. Nesta relação entre as colónias e as metrópoles, existiam semelhanças e diferenças entre as potências, destacando-se: O Indigínato É um termo usado para designar os africanos tidos como «não evoluídos», que não sabiam ler, nem escrever, e valorizavam as praticas culturais africanas. A política indígena foi um método utilizado em todas as colónias africanas. Para justificarem a exploração do indígena, os europeus diziam estar a tutelá- lo, protegendo-o e o fazendo progredir a sua raça. Objectivos do indíginato A recolha de impostos fixados arbitraria e exageradamente para impor ao africano o trabalho obrigatório; a aculturação2; realização de culturas obrigatórias; Utilização dos indígenas no trabalho forçado; A inclusão de soldados africanos no exército sem criar despesas numerosa às potências; A obtenção de mão-de-obra barata, para substituir a falta de máquinas nas colónias, pois sairiam mais caras do que o trabalhador africano muito mal pago. N.B: Alguns destes objectivos, foram atingidos por meio da educação ocidental e cristianismo, em que o africano foi orientado para seguir a cultura europeia. A função das colónias francesas Estrutura política e o sistema administrativo As colónias francesas, foram agrupadas em duas federações: África Ocidental Francesa (AOF) fundada em 1895, era constituída por: Senegal, Costa de Marfim, Níger, Daomé e Mali. A sua capital situava-se em Dakar no Senegal 2 Adaptação cultural e mudança no meio social 37 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço África Equatorial Francesa (AEF) fundada em 1910, constituída por: Gabão, Tchad, República Centro Africana, Congo e Madagáscar. A sua capital localizava-se Brazaville (Congo). A França, implementou o sistema de administração directa. Ministro das Colónias - responsável pela administração colonial perante a Assembleia Nacional e orientava as colónias por decretos. Governador-geral - o chefe de cada federação, era auxiliado por um conselho consultivo; Secretário - Geral da colónia, procurador, general-chefe, e.t.c. Era o representante e detentor dos poderes do governo central, ele preparava o orçamento, era chefe militar, administrativo e nenhum decreto/ lei vindo da França era aplicado no seu sector sem sua promulgação. Governador - chefe do território Comandante de círculo - era a trave-mestra de todo o sistema: prepara e executa as decisões, era juiz, financeiro, engenheiro civil, agente da polícia, chefe militar, inspector do ensino, agente sanitário, e.t.c Chefes de subdivisões A Economia A França procura extrair ao máximo as terras conquistadas para tirar maior benefício. Assim, as colónias deviam ser o recurso coercivo e decisivo para que a França saísse da miséria provocada pela guerra. Primeiro a colónia, devia abastecer-se a si mesma pela autonomia financeira. Na África Ocidental Francesa, os cofres públicos servia de garantia em empréstimos na França. A base do sistema era uma rede bancária interligada e monopolista com o Banco da África Ocidental e a Crédito predial do Oeste Africano. A economia era baseada nas companhias monopolista, a saber: Compagnie Française de l’Africa Ocidental; a Société Commercial de l’ Ouest Africain e a Unilever. Estas companhias controlavam as oleaginosas, e tinham ramificações para além das colónias francesas. As infra-estruturas são construídas para suportar o comércio; na África Ocidental são abertos os caminhos-de-ferro para o interior. Principais produtos comercializados Na África Ocidental Francesa (AOF): algodão, amendoim, a borracha, óleo de palma; cacau, café e sisal. Na África Equatorial Francesa (AEF): borracha, madeira, amendoim, marfim e algodão. 3.1.4. O impacto da dominação colonial em África 3.1.5. O significado do colonialismo em África UNIDADE IV: OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO NACIONAL EM ÁFRICA 1880-1980 38 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço 4.1. O Nacionalismo africano Conceitualização Nacionalismo – exaltação dos valores considerados nacionais e das diferenças nacionais em relação a outras nações. Nacionalismo – é a vontade de uma colectividade querer criar e desenvolver o seu próprio Estado soberano e independente, tendo em conta a consciência de pertença a uma individualidade histórica e na sequência de circunstâncias diversas. Nacionalismo – é a tomada de consciência por parte de indivíduos ou grupos de indivíduos numa nação ou de um desejo de desenvolver a força a liberdade ou prosperidade dessa nação. 4.1.1. Diferença entre o nacionalismo africano do europeu O nacionalismo europeu representa, para as comunidades que aceitavam a realidade de identidades culturais e de passado histórico comuns. A luta tinha como objectivo garantir a coincidência entre a nação cultural e a organização de sua vida política com o Estado. Enquanto que o nacionalismo africano se caracteriza pelo desenvolvimento de atitudes estruturados com vista à mobilização de forças para conseguir a autodeterminação e independência. O Nacionalismo africano nasce da experiência do colonialismo europeu. 4.1.2. Causas do Nacionalismo africano 4.1.2.1. Factores externos O papel do Pan-africanismo O Pan-africanismo – é uma orientação filosófica, política e sociocultural dos afro-americanos dentro da luta pelas liberdades africanas, versando fazer face às barreiras raciais, sociais e políticas que enfrentavam. William Burghdth Du Bois foi o principal precursor deste movimento. O objectivo principal do Pan-africanismo era a unidade política dos Estados africanos. Procurava englobar a federação dos países regionais autónomos e seu enquadramento num conjunto de"Estados Unidos de África." Este movimento deu origem as associações (1º tribais e só depois não tribais) e posteriormente sindicatos, e só mais tarde a partidos políticos locais. A primeira conferência pan-africana teve lugar em Londres, em 1900: procurou a forma de protecção contra os agressores imperialista coloniais. Renascimento Negro (Black Renaissance) e Renascimento Africano (Africa Renaissance) 39 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Foi dentro do espírito de revolta contra o colonialismo que surge o Black Renascence, cujo fundador foi William Du Bois. Procurava incutir no homem negro a ideia de ser igual aos brancos. Este movimento difundia ideologias contra a descriminação do povo negro. Segundo Du Bois «[…] que os brancos saibam que por cada porrada que o branco der a um negro, nós lhes vamos dar duas; por um negro morto, nos vamos matar dois brancos.» Azkiwe escreve em Renaisscent Africa: «Ensinai o africano que renasce a ser homem.» Foi no âmbito do renascimento africano que se desenvolveu o conceito de personalidade africana. A personalidade africana defende que existem características comuns, atributos essenciais e únicos que fazem parte do ser de todos os africanos. A ideia de «Africa Personality» teve suas raízes em Edward Wilmont Blyden e retomada por Kwame Nkrumah. Segundo Blyden – a civilização europeia é dura, individualista, competitiva, materialista e foi fundada sobre o culto da ciência e da técnica. A civilização africana é doce e humana. Para Nkrumah, o homem africano é um ser espiritual, dotado de dignidade, integridade e valor intrínseco. 4.1.2.2. O papel da Negritude A Negritude insere-se no espírito pan-africanista de união e solidariedade entre os africanos com a simples diferença de se revestir de um carácter cultural e literário. Tal como o Pan-africanismo, a negritude nasceu fora do continente africano, como resultado dos esforços emancipatórios da comunidade negra radicada em França. Os mentores deste projecto eram membros de profissões liberais, estudantis, eclesiásticos, intelectuais e políticos. A Negritude pretendia a união de todos os africanos. Os maiores impulsionadores da negritude foram: Aimée Césaire - antilhano (o seu principal mentor), Senghor (senegalês) e Damas (guianês) - resumiram o projecto em três conceitos: Identidade – consiste em o negro assumir plenamente a sua condição; Fidelidade – atitude que traduz a ligação do homem negro à terra-mãe; Solidariedade – sentimento que liga secretamente todos os irmãos negros. N.B: a Negritude era um movimento principalmente cultural e literário, que surgiu em França, na década de 30 do séc. XX, mas com pretensões também políticas, enquanto protestava contra o colonialismo. Ex: «Let my people go/ Deixa passar o meu povo» - Noémia de Sousa Segundo Senghor, Negritude – é um novo humanismo, através do qual o novo homem vai surgir, fruto da simbiose entre o mundo negro e o mundo ocidental. Daiwil Highlight 40 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Para Aimée Césaire, a Negritude – é uma produção colectiva. 4.1.2.3. O abalo da II Guerra Mundial Centenas de milhares de negros participaramnas operações na Itália, na Normandia, na Alemanha, no Médio Oriente, e.t.c. Este facto, permitiu aos negros africanos entrarem em contacto directo com o mundo branco e descobrirem a essência do homem branco, sem máscaras. Descobriram que afinal de contas os brancos trabalham com as suas próprias mãos, tem relações e sentimentos carnais, matam-se uns aos outros, uns eram heróis e outros não. A II G.M. mostrou portanto, aos africanos que os homens brancos, vistos em África como dominadores, superiores, melhores e até deuses, eram na verdade “lobos” uns com os outros. Assim, o africano descobriu o seu próprio valor – a dignidade humana. E os africanos que puderam voltar a África, muitos dos quais tornaram-se “os cabeças” ou parte activa nos movimentos políticos mais avançados dos seus países. 4.1.2.4. A política dos EUA Os EUA encaravam os problemas africanos com uma atitude liberal, resultado da tradição anti-colonial e democrática das suas próprias origens. Os EUA sentiram-se na necessidade de cobrir o vazio deixado pela Europa, e por outro lado, o anti-colonialismo dos americanos deveu-se ao medo do expansionismo dos soviéticos como únicos defensores de África. 4.1.2.5. A política da URSS O anti-colonialismo soviético, é apresentado não apenas como uma tarefa de libertação, mas também como uma contribuição para a paz mundial. Esta política, preconizava que um povo que submete ao outro, não pode considerar livre; desta feita a partilha territorial do mundo já se tinha chegado ao fim, que os povos colonizados se iriam reivindicar. 4.1.2.6. O papel da Organização das Nações Unidas (ONU) Criada em Maio de 1945, a ONU tinha como objectivo ideal "desenvolver entre as nações relações amigáveis, baseadas no respeito do princípio da igualdade de direitos dos povos e do direito a disporem de si próprios". Assim, a ONU tornou-se num tribunal mundial para os povos colonizados. Isto é, ela tornou- se numa espécie altifalante que ampliava a voz dos fracos. 4.1.2.7. O exemplo da Ásia 41 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço A derrota do Japão na II G.M. consagrou o recuo da Ásia imperialista concretizada pela concessão de independência a todos os povos sob controlo japonês. Esta emancipação da Ásia, desempenhou um papel muito directo para o despertar do nacionalismo africano. Rapidamente se instaurou uma solidariedade natural entre os dois continentes habitados por povos de cor, povos subdesenvolvidos, povos colonizados. 4.1.3. Factores internos 4.1.3.1. O papel dos intelectuais A partir de 1930, muitos africanos vão encontrar-se com escritores antilhanos e malgaxes numa caravana espiritual; ainda no mesmo ano, o poeta Etiene Léro funda o jornal Legitime Defense. Depois surge o Cahier d´un retour ao pays natal de Aimé Césair, que com Senghor, David Dion e Léon Damas, deu origem à Negritude. 4.1.3.2. O movimento dos estudantes Os estudantes aproximam-se muito das ideias pan-africanistas de Du Bois; muitos deles eram da secção universitária e/ou participavam em círculos de estudos com militantes de partidos ou movimentos europeus progressistas. É assim que, em 1926, nasce em Londres a West Africa Students Union (WASU), movimento ao qual aderiram muitos estudantes. 4.1.3.3. O papel das igrejas Na própria religião cristã, importada do ocidente, exprimia-se o nacionalismo por meio da fé, na medida em que ela afirmava a origem divina de todos os descendentes de Adão e Eva e a consanguinidade de todos os cristãos em Cristo. Ora, a maior parte dos colonos da época não eram, de modo algum, exemplares de caridade cristã e o racismo instalava-se em certos locais de culto sob forma de agregação anti-evangélica entre brancos e negros. Foi neste contexto que surgiu o profetismo e o messianismo propriamente africano para anunciarem tempos novos. Já a African Orthodox Church, fundada pelo jamaicano Marcus Garvey, ensinava que os anjos eram negros e os demónios brancos. Portanto, baseando-se no sentimento religioso, os dirigentes negros saídos das massas, apareciam às autoridades coloniais como mais perigosos do que os políticos. 4.2. As potências europeias diante do movimento nacionalista De forma geral, as potências coloniais europeias, diante do avanço dos movimentos nacionalistas, tomaram entre outras medidas as seguintes: 42 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Reforçaram o sistema de cobrança de impostos; Limitaram as liberdades humanas e os direitos civis; Limitaram a qualidade e extensão da educação; Ofuscaram ao máximo possível a cultura africana; Limitaram a circulação de informações sobre movimentos nacionalistas pan-africanistas, através da censura dos jornais, rádios, e.t.c; Reforçaram o seu domínio através da força e de leis. Especificamente, a atitude das potências variou de acordo com o contexto político-social em que cada país se encontrava após a II Guerra Mundial e as especificidades das suas colónias. Assim, os ingleses foram mais pragmáticos, e preferiram conceder a independência às antigas colónias. Os restantes países (França, Bélgica e Portugal) foram mais resistentes, procurando manter os seus domínios de diversas formas. 4.2.1. A política inglesa A política inglesa pode ser resumida na seguinte expressão: «Partir para melhor ficar.» Com o fim da 2ª Guerra Mundial, decorreu uma mudança na Inglaterra que culminou com ascensão do Partido trabalhista (que era anti-colonialista), e em 1946 aprova uma nova constituição na qual defendia a concessão da autonomia governativa aos territórios coloniais. O governo inglês incumbiu aos governadores, emires e emissários o papel de conduzir democraticamente o processo de africanização dos órgãos de governação dos territórios até à independência. O processo obedeceu, em geral, à via pacífica, porém, houve casos menos pacíficos, como no Ghana, ou mesmo a via armada, como na Rodésia do Sul. A Inglaterra projectou a constituição da Commonwealth, que seria um organismo que continuaria a ligar económica e culturalmente a Inglaterra e as suas ex-colónias. 4.2.2. A política francesa A França tinha mais complexa, registando-se muitos avanços e recuos. Assim, mesmo antes da 2ª G.M., a França concedeu maior autonomia as suas colónias. Mas também estava fora de hipótese a concessão das independências, pois precisava delas para a recuperação do país no pós-guerra. 4.2.3. A política belga O sistema colonial belga foi qualificado como paternista, pois os belgas mantinham os africanos numa subordinação por tempo indefinido e concebiam a educação de tal forma que os africanos não pudessem 43 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço ter influências estrangeiras, sendo também impedidos de participar nos órgãos políticos de governação e administração. 4.3. A independência nos territórios ingleses 4.3.1. J. B. Danquah e a Convenção Unida da Costa do Ouro Danquah participou na 2ª G.M, ao lado dos ingleses, formado em direito, foi fundador do partido: United Gold Coast Convention (UGCC), em 1947. A UGCC era composta por religiosos e homens de negócios, que tinham uma posição socioeconómica confortável. Sendo um partido de intelectuais, a Convenção Unida da Costa do Ouro tinha como Slogan: «Discussão para a autonomia o mais breve possível.» Assim, Danquah acreditava que seria possívelo alcance da independência através da diplomacia com o governo britânico. Graças a esta postura, Danquah participou na elaboração de uma nova constituição da Costa do Ouro, que entraria em vigor em 1951. Esta atitude da UGCC fez com que não tivesse aceitação nas camadas menos esclarecidas, dando-lhe desvantagem nas eleições com o partido Convention People’s Party (CPP) ou «Partido da Convenção do Povo» 4.3.2. O papel de Kwame Nkrumah Francis Kwame Nkrumah foi licenciado em Sociologia e Economia Política e foi influenciado pelo Pan- africanismo de Marcus Garvey. Com a fundação da Convenção Unida da Costa do Ouro, ele ocupa o cargo de secretário-geral do partido. E devido o seu activismo expresso no slogan: «num país em que a grande maioria do povo não sabe ler, a única escola válida é a acção», Nkrumah foi censurado e com isto, sai do UGCC, levando consigo muitos jovens, e funda um partido de massas – CPP – Convention People’s Party (Partido da Convenção do Povo), que tinha o seguinte slogan: «self government now» (a independência imediata) e «acção positiva». As manifestações do partido eram pacíficas: desfiles com cânticos, hinos religiosos, danças das mulheres, e.t.c. Em 1950, Nkrumah apela à desobediência civil e no mesmo ano, os antigos combatentes desfilam até ao palácio do governador, tendo resultado na prisão de Nkrumah e Gbedemah. Com a libertação de Gbedemah, este consegue eleger o CPP no Conselho Legislativo e um dos representantes consegue baixar a idade de voto de 25 para 21 anos, o que beneficiou o partido, já que tinha apoio de jovens. 44 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Em 1951, realizaram-se eleições gerais e o partido da Convenção do Povo conseguiu 34 dos 38 lugares no parlamento, e Kwame Nkrumah, apesar de estar na prisão, obteve 98% dos votos, e em 1952, ele torna-se primeiro-ministro. 4.3.3. A proclamação da independência A pedido de J. B. Danquah e Kwame Nkrumah, o nome do pais foi alterado de Costa de Ouro para Ghana, em homenagem ao antigo império do Gana e como forma de revalorização da africanidade. A 06 de Março de 1957 foi proclamada a independência do Ghana, o que significou o renascimento Político da África Negra. A Conferência de Brazzaville Perante a tendência global de descolonização, liderada pelos ingleses, e efervescendo no interior das colónias por meio dos MLN, o governo francês criou, em 1943, em Argel, durante a 2ª Guerra Mundial, o Comité Francês de Libertação Nacional (CFLN), dirigido pelo general De Gaulle. Em 1944, o CFLN organizou a Conferência Africana de Brazzaville, que reuniu todos os governadores coloniais da África Francesa e numerosos altos funcionários, com objectivo de confrontar ideias a propósito do futuro dos vários territórios após a guerra. Nenhum africano participou na conferência, tratava-se de uma sondagem, com objectivo de preparar uma remodelação dos laços entre a França e o seu Império. O momento exigia uma dupla exigência à França: manter o poder colonial e ao mesmo tempo preparar a aberturas para o progresso. Foi esta ambiguidade que caracterizou a política colonial francesa durante o período de descolonização. Lei – Quadro (1956) Da assimilação cheia de defeitos afirmada na constituição de 1946 vai passar-se a uma nova política de descentralização que irá desencadear uma aceleração para a independência, estimulada pelo: início da luta armada na Argélia (1954); a Conferência de Bandung (1955); a independência da Tunísia e Marrocos (1956) e a preparação da independência do Ghana. Foi neste contexto, que o governo socialista francês preparou a Lei – Quadro de 1956, que trazia as seguintes inovações: 45 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Introdução do sufrágio universal; Alargamento e reforço das assembleias locais; Descentralizava a administração e as finanças dos territórios, que seriam dirigidos por um chefe do território (presidente), auxiliado por um vice-presidente que seria do partido votado. A Federação das Rodésias e a Niassalândia A 1ª tentativa para a formação da federação surge em 1915 e não se concretizou visto que o sul procurava à sua autodeterminação em relação à metrópole britânica. A 2ª tentativa tem lugar em 1924 quando o presidente sul-africano Hertzog tentou a formação de uma federação com a Rodésia do Sul. Porém, esta última recusou temendo a afluência massiva de bóeres empobrecidos em busca de terras. Desta forma, as ideias de formar uma federação iniciaram antes da II Guerra Mundial, mas fracassaram devido às diferenças entre o sistema colonial da Rodésia do Norte e o governo do Sul. As ideias renasceram no final da Segunda Guerra Mundial, em 1945 quando os europeus da Rodésia do Norte procuraram a protecção dos colonos da Rodésia do Sul, enquanto estes cobiçavam o cobre do norte e a mão-de-obra da Niassalândia. Contudo, o governo britânico só aprovou a formação da federação a 1 de Outubro de 1953. Em 1957, verificou-se a proclamação da independência, em relação à metrópole, e as colónias inglesas desligaram- se da metrópole formando uma federação independente. Objectivos da Federação O Sul pretendia apoderar-se das zonas ricas em minérios do Norte e mão-de-obra da Niassalândia; O Norte pretendia beneficiar do desenvolvimento económico do Sul; Formar uma unidade económica, a maior que pudesse valer-se a si própria sem sobrecarregar a metrópole; Garantir uma redução dos custos de administração sem com isso baixar os lucros; Formar mecanismos mais eficientes de exploração e de colaboração entre o sector europeu e a pequena burguesia negra. Colapso da Federação Dez anos depois, a Federação fracassaria devido aos seguintes factores: Aumento do racismo que reduziu a representatividade legislativa e executiva dos negros na Federação; A Federação beneficiou mais a zona Sul do que as duas outras regiões pois: a capital da federação estava na Rodésia do Sul (Salisbúria), a barragem de Kariba foi construída no Sul; Surgimento e florescimento de movimentos nacionalistas a reivindicar independência e liberdade política e económica. 46 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço N.B: Assim, os nacionalistas africanos da Rodésia do Sul e Niassalândia lutavam para uma ligação directa com a coroa britânica, razão pela qual, eles organizaram campanhas para dissolver a federação, o que veio a suceder-se em 1963. A Niassalândia e o Nacionalismo rumo à independência Devido ao racismo vigente na Federação, a instalação de uma democracia multicultural era quase impossível mesmo dentro dos partidos políticos. É neste contexto em que o Congresso Nacional Africano (ANC) começou a influenciar os nacionalistas da federação, resultando na criação do Congresso da Rodésia do Norte e o Congresso da Niassalândia, em 1948. Os dois partidos eram abertamente contrários à Federação. O Congresso da Niassalândia optou pela estratégia de confronto, recorrendo a Hastings Kamuza Banda para projectar a sua luta interna e internacionalmente. O Congresso da Niassalândia usou manifestações contra o regime federalista, a que a polícia respondeu com violência, culminando com vários mortos e a prisão de Banda. Em 1960, foi criado um novo partido político – o Partido do Congresso do Malawi – por O. Chirwa (1º advogado negro dopaís), no seu regresso da prisão, Banda passou a liderar o partido e mudou a estratégia de luta, optando pelas negociações. A 06 de Julho de 1964, a Niassalândia tornou-se independente e mudou o nome para Malawi, que corresponde ao nome da etnia Maravi, responsável pela fundação do reino Marave. Da Rodésia do Norte à Zâmbia No processo de independência da Rodésia do Norte destacaram-se duas figuras: Kenneth Kaunda, do Congresso Nacional da Zâmbia, e Nkumbula, do Congresso Nacional Africano. Nkumbula não aderiu ao boicote dos nacionalistas africanos, e criou uma divisão no movimento nacionalista da Federação, mas fez com que o Partido Federal (racista e pró federação) de Roy Welensky não conseguisse uma maioria na Rodésia do Norte. Em 1962 realizam-se eleições, nas quais participaram, alem dos três partidos acima referidos, o Partido Liberal de Moffat (maioritariamente branco e moderado). A aliança política entre Nkumbula e Kaunda resultou na formação de um governo de coligação. Este governo era contra a Federação e fez uma campanha diplomática para terminar este casamento com a Rodésia do Sul, onde persistia um governo racista. O governo britânico, aceitou este divórcio em 1963, tendo realizado uma conferência nas quedas Vitória para discutir a divisão dos bens. 47 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Decidiu que seria partilhada a barragem hidroeléctrica de Kariba e os caminhos-de-ferro que interligam os dois territórios. A separação das Rodésias marcou definitivamente o fim da Federação. Em 1964, ao abrigo da nova constituição que dava direito ao voto a todos os cidadãos, o novo partido de Kaunda – Partido Nacional Africano da Independência, conseguiu 50 lugares dos 70 da Assembleia Legislativa. Assim, Kenneth Kaunda tornou-se presidente da República e proclamou a independência no dia 24 de Outubro de 1964. A Rodésia do Norte passou a designar-se Zâmbia, em homenagem ao rio Zambeze. Da Rodésia do Sul ao Zimbabwe No processo de descolonização da Rodésia do Sul, destacaram-se os seguintes partidos: Frente Rodesiana de Ian Smith; União do Povo Africano do Zimbabwe (ZAPU) de Joshua Nkomo, a União Nacional de Africa do Zimbabwe (ZANU) do reverendo Sithole e mais tarde dirigido por Robert Mugabe e o Conselho Nacional Africano do Bispo Muzorewa. Nas eleições de 1962 foi vencedor da Frente Rodesiana A organização da Unidade Africana: OUA Fundação A Fundação da Organização da Unidade Africana (OUA) A OUA foi fundada em Adis-Abeba (Etiópia), a 25 de Maio de 1963. Nela reuniu-se a cúpula dos chefes de Estados africanos independentes para concertar e coordenar esforços e acções dos seus membros. Estados-membros Da OUA, podia tornar-se todo e qualquer estado africano independente e soberano. De salientar que até a década 70, a OUA era dominada e dividida exclusivamente, pelos membros da Commonwealth (ex – colónias britânicas) e as colónias portuguesas só se tornaram membros a partir de 1975, após a declaração da independência. Objectivos da Organização da Unidade Africana A Organização da Unidade Africana tinha como objectivos: A unidade e solidariedade dos estados africanos; Erradicar todas as formas de colonialismo do continente africano; Coordenar e intensificar esforços para proporcionar uma vida melhor aos povos da África; 48 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Defender a sua soberania, integridade territorial e independência, através de uma total descolonização do continente. Princípios da Organização da Unidade Africana A promoção da cooperação internacional, observando a carta das Nações Unidas e a Declaração dos Direitos do Homem; A igualdade soberana de todos os estados-membros; A não intervenção nos assuntos internos dos estados; O respeito pela soberania e integridade territorial de cada estado; A solução pacífica de conflitos pela negociação, mediação, conciliação ou arbitragem. Órgãos da Organização da Unidade Africana Conferência de chefes de Estado e de Governo – é o órgão supremo da OUA. Reúne-se pelo menos uma vez por ano; e, se um Estado solicitar, pode reunir-se em sessão extraordinária, mediante a aprovação de 2/3 dos membros. Cada Estado-membro dispõe de um voto e as decisões são tomadas pela maioria de 2/3. Conselho de Ministros – constituído pelos ministros de relações exteriores. Reúne-se duas vezes por ano. Prepara e executa as decisões da conferência Secretariado – Geral – administrativo – é designado pela conferência de chefes de Estado. Comissão de Mediação, Conciliação e Arbitragem – responsável pela resolução pacífica de controvérsias. Existiam ainda outras comissões: económica e social; de educação e cultura; de saúde, higiene e alimentação; de defesa, cientifica, técnica e de pesquisa. Principais realizações da Organização da Unidade Africana - OUA A OUA criada em 1963, existiu ao longo de 39 anos até ser transformada em União africana em 2002. Que balanço podem ser feitos destes anos? Por várias razoes, a OUA não conseguiu materializar alguns dos seus principais objectivos, com destaque para a missão de evitar os inúmeros conflitos que assolaram o continente, bem como promover de forma efectiva o seu desenvolvimento. Um dos maiores fracassos da OUA, que ainda subsiste como questão não resolvida e que continua a ensombrar o espírito de unidade da UA, é o estatuto do Sahara Ocidental. A Conferência para a Coordenação do Desenvolvimento da África Austral (SADCC) – 1978 49 Texto de apoio da Disciplina de Historia 11ª Classe/ Elaborado por: Msc Justino Xavier Júnior e dr. Mário Horácio Lourenço Antecedentes: a Linha da Frente A independência das colónias britânicas (Botswana, Lesotho, Malawi, Suazilândia, Tanzânia e Zâmbia) nos anos 60 e das colónias portuguesas (Moçambique e Angola) em 1975 levou ao estabelecimento de relações e acordos de cooperação económica bilaterais entre os novos países, resultando não formação da Linha da Frente. A Linha da Frente era constituída por Angola, Moçambique, Botswana, Tanzânia e Zâmbia. Estes países coordenaram esforços para apoiar a luta de libertação na Namíbia e Zimbabwe. Fundação e objectivos A SADCC foi criada a 19 de Julho de 1978. Foi criada como uma organização de carácter político- económico visando a reabilitação e desenvolvimento económico da região da África Austral e o alcance de independência do Zimbabwe e Namíbia.