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INTERRELAÇÃO PERIODONTIA- ODONTOLOGIA RESTAURADORA • PES (Pink esthetic score): é um índice que avalia o resultado estético dos tecidos moles ao redor de coroas individuais implantossuportadas na região anterior. É realizada em sete pontos: papila mesial e distal, altura, contorno, cor e textura do tecido gengival e deficiência do processo alveolar (defeitos ósseos). Assim, é possível avaliar, de forma simples, se uma coroa associada a um implante alcança ou não os parâmetros de alta exigência estética e gengival. • Zona de transição: é o local de encontro entre as margens da restauração e o dente. Estudos demonstram que sempre existe algum grau de desadaptação marginal (gap) entre as restaurações e o dente, porém, embora ele seja presente microscopicamente, é considerado clinicamente aceitável em algumas proporções. Fatores que intervêm na zona de transição e que influenciam diretamente na saúde marginal do periodonto: irritação mecânica ou química (preparos, fio afastador, moldagens, confecção, adaptação e cimentação de provisórios, adaptação de coifas metálicas), localização e integridade da margem gengival do preparo e da integridade marginal da restauração, contorno, forma da restauração, morfologia dos tecidos, qualidade de higiene do paciente, preservação ou invasão do espaço biológico, perfil e ângulo de emergência. • Integridade e adaptação marginal da restauração: a literatura não é conclusiva ao quantificar ou determinar as verdadeiras consequências da desadaptação marginal. Os limites da discrepâncias da adaptação marginal “aceitável” são extremamente variados e podem oscilar desde os 30 até 200 μm, ao que parece, os maiores efeitos negativos serão produzidos pela prótese com sobrecontorno. Lang et al. demonstraram que margens subgengivais com sobrecontornos resultam em mudança do biofilme bacteriano subgengival compatível com aquele encontrado na periodontite crônica. Assim, as discrepâncias na integridade marginal inerentes ou impossíveis de eliminar possuem um grau de tolerância clínica que parece não interferir na saúde periodontal, desde que sejam acessíveis a higienização. • Contornos protéticos cervicais: contorno protético ou perfil de emergência convexos maiores que 0,5 mm criam acúmulo de biofilme, produzindo gengivas inflamadas, sangrentas, com formação de bolsas periodontais e deterioração da inserção periodontal. Os princípios restauradores, denominados formato cervical axial, foram estabelecidos para serem guia e reproduzir os contornos cervicais naturais nas restaurações ou coroas protéticas, independentemente da técnica ou material utilizado. Assim, a aplicação destes princípios restauradores, que envolvem os contatos proximais, as linhas de ângulo de transição, ameias e os contornos vestibulares, permitem descrever o formato cervical axial, como predominantemente plano, rara vez côncava e nunca convexo. Becker define que os contornos protéticos devem ser planos (flat) e não volumosos (fat), ou seja, o perfil de emergência não deve ser maior que 0,5 mm em relação à junção amelocementária. Essa convexidade se encontra a uma distância de, pelo menos, 2 mm da JCE, não justificando, assim, a necessidade de convexidade cervical acentuada desde a JCE. As únicas superfícies que possuem convexidade cervical maior que 0,5 mm são as linguais de pré-molares e molares inferiores (<0,75 mm), porém essa maior convexidade encontra-se localizada a uma distância maior que 2 mm da JCE, o que também não justifica uma convexidade cervical. Atualmente, se estabelece que o perfil de emergência deve ser plano nos primeiros 5 mm de emergência da coroa. Assim, o ângulo de emergência deve ser de 15°. • Contornos protéticos proximais: o tamanho ideal das superfícies proximais será aquele que permita o acesso à higienização sem compressão da papila, que permita fonética adequada, que mantenha harmonia com o dente adjacente e contatos proximais justos. • Contorno cervical e proteção da furca: As furca são áreas sensíveis a forças excessivas ou a progressão de processos inflamatórios, principalmente na superfície vestibular dos 1ºM inferiores, os quais junto com os pré-molares superiores são os dentes que mais frequentemente recebem intervenção em procedimentos de aumento de coroa clínica. O 1º MI apresenta importantes fatores de risco anatômicos, como tronco radicular vestibular mais curto do que o do 2ºMI. Estes dois grupos dentais possuem troncos radiculares nas superfícies vestibulares mais curtos do que os respectivos troncos linguais, em que 50% das furcas possuem espaço inter-radicular menor que 0,75 mm e 80% menor que 1 mm, tornando-as praticamente inacessíveis à higienização, uma vez expostas ao meio bucal. Os maiores índices de gengivite se encontram sempre associados aos molares. Da mesma forma, existe maior perda de inserção em molares superiores em comparação com os inferiores. Em relação à idade, aos 35 anos existe perda de inserção duas vezes mais severa na face distal dos 1ºMS do que os 1ºMI. Aos 50 anos de idade, a furca distal de molares superiores apresenta maior incidência de lesões de furca e aos 65 anos, os molares são os dentes que apresentam menor porcentagem de presença na boca. Dibart et al. demonstraram que os molares com troncos radiculares menores que 4 mm, onde foram realizadas cirurgias de aumento de coroa clínica com o propósito de colocar coroas protéticas, invariavelmente apresentaram exposição de furca em períodos até 5 anos. Os dentes com troncos radiculares maiores que 4 mm não apresentaram perdas ósseas na área da furca no mesmo período. Entre as medidas que devem ser tomadas para proteger a região de furca, devem ser citadas a confecção de cintas metálicas polidas com alto grau de adaptação, assim como a realização de perfis de emergência planos e modificação do preparo na área adjacente à furca (abandono do preparo em formato de barril, pois esse preparo forma um teto acima da furca, permitindo a retenção de biofilme, que gera um quadro inflamatório e perda óssea). Se um molar possui algum grau de perda óssea no nível da furca, tronco radicular curto, distância da margem da coroa à furca menor que 4 mm ou é o resultado do aumento de coroa, os preparos convencionais para a coroa não manterão uma situação sustentável a longo prazo. Dessa forma, se propõe 4 opções: remoção total de osso entre as raízes (túnel) e o uso da escova interdental, tentativa de fechar a furca através de procedimentos regenerativos, hemissecção ou amputação radicular e remoção da furca através da remodelação biológica (barrel out), que consiste no preparo do dente de tal forma que se removam todas as áreas com sobrecontornos e eliminem ou diminuam as furcas, tornando-as acessíveis à higienização. O Barrel Out promoverá espaço suficiente para criar contorno protético adequado e higienização da área, a fim de preservar a integridade da furca. Por outro lado, quando é necessário aumentar cirurgicamente a coroa clínica, recuperar as distâncias biológicas ou garantir o efeito férula dos dentes em dentes com troncos radiculares curtos, a possibilidade de expor a furca é enorme. As técnicas cirúrgicas clássicas propõem a eliminação de um amplo colar de gengiva (incisão em bisel interno paramarginal) associada a grandes osteotomias, promovendo grande perda de tecido periodontal ao redor dos dentes. • Interface alvéolo-restauração: esta é uma técnica que modifica as áreas interproximais onde existia espaço muito reduzido, correção de raízes extremamente próximas (septo ósseo interdental mínimo ou ausente e papila fina), diminuição de concavidades, criando, assim, condições ideais (perfil de emergência) para a restauração e manutenção da saúde periodontal. A papila interdentalpossui pouca ou quase nenhuma proteção de queratina, poucas camadas epiteliais, escassa interdigitação do epitélio com o tecido conjuntivo, além de uma configuração anatômica côncava desfavorável (col) e pouco espaço para adaptação de contornos protéticos. A RAI tem por objetivo melhorar o contorno e a proporção da área interproximal através de odontoplastias circunferenciais, diminuição do diâmetro mesiodistal da coroa e aumento do espaço interproximal, sendo indicada para eliminar ou diminuir lesões de furca de pequenas profundidades. O espaço proximal também pode ser ampliado através de rizectomias radiculares, separação mediata com borrachas ortodônticas ou bráquetes. É necessário melhorar o espaço proximal previamente à confecção de coroas adjacentes porque estudos demonstram que o aumento prévio produziu mudanças anatômicas e histológicas do biotipo gengiva. A papila que era côncava, tornou-se convexa, queratinizada, espessa e com ampla camada de tecido epitelial. • Interface alvéolo-restauração e proteção da furca: Melker e Richardson propuseram uma técnica de aumento de coroa clínica modificada, priorizando o cuidado com a área da furca e menor sacrifício ósseo e gengival, ao contrário da gengivectomia clássica, onde: realiza-se incisões intrassulculares e retalhos deslocados apicalmente em nível da crista óssea. São aplicados os princípios do RAI, realizando uma odontoplastia circunferencial desde a crista óssea, onde são eliminados todos os vestígios dos preparos protéticos antigos. Paralelamente, serão eliminadas ou suavizadas as concavidades radiculares presentes, eliminando tetos e melhorando o acesso no nível das furcas. Esse tipo de abordagem é possível apenas ser realizada quando os dentes envolvidos possuem preparos não muito amplos no sentido axial, onde o preparo pode ser eliminado sem grande sacrifício a estrutura dental. Nos casos em que há preparos muito profundos em sentido axial, será impossível realizar esse tipo de abordagem. O resultado da odontoplastia circunferencial, “desfazendo” o preparo antigo será um dente que desde a crista óssea em direção coronal não apresentará nenhum tipo de preparo. Uma vez os retalhos posicionados apicalmente ao nível da crista, o dente receberá novo preparo, deixando ao periodonto a competência de recriar suas próprias estruturas biológicas. Invariavelmente, a odontoplastia diminuirá o diâmetro mesiodistal da coroa, ampliando o espaço nas áreas interproximais, produzindo os benefícios clínicos da técnica de RAI, criando melhor qualidade da gengiva para o convívio da restauração protética. Preparos em barrel out, perfis de emergência planos, ângulo de convergência correto, proteção da região da furca em áreas de tronco radicular curto são fundamentais na prevenção das lesões de furca. Outras medidas simples de alcançar são margens bem adaptadas e polidas, sem sobrecontornos que devem sempre ser priorizadas nos tratamentos reabilitadores. • Localização das margens protéticas e saúde periodontal: os três princípios básicos que auxiliam para determinar o lugar onde deve estar uma margem protética são: localizar as margens em áreas acessíveis à higienização, determinar o biotipo gengival e determinar o tipo de espaço biológico.