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Fundamentos Técnicos Operativos do Serviço Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Rosana Cristina Januário do Nascimento Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos Prática social / Prática profissional • Introdução • Definição de prática social e prática profissional • Projeto ético-político do Serviço Social · A Unidade pretende possibilitar a compreensão da dimensão da prática social e da prática profissional na perspectiva do Serviço Social. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta unidade, vamos estudar sobre a Prática Social e a Prática Profissional. Leia com atenção o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Procure efetuar as leituras recomendadas. As atividades propostas também são extremamente importantes. Anote suas dúvidas para que possa transmiti- las ao professor-tutor. Para que seu processo de aprendizagem aconteça em um ambiente mais interativo, você encontrará na pasta de atividades as Atividades de Avaliação e a Videoaula. Participe também do Fórum de Discussão. Tudo isso foi pensado para garantir que esse tempo de estudos, além de enriquecedor, seja prazeroso. ORIENTAÇÕES Prática social / Prática profi ssional UNIDADE Prática social / Prática profissional Contextualização Para iniciamos esta unidade, convido você a uma breve reflexão acerca do tema: Prática Profissional. Veja no quadro a seguir um exemplo de juramento realizado pelos bacharéis de Serviço Social na ocasião da colação de grau. Comprometo-me a exercer, com dignidade e respeito, a profissão de Assistente Social, buscando ser criativo, humano, sensível e atento às questões sociais, fazendo da escuta, da observação e da intervenção hábeis instrumentos de trabalho. Comprometo-me a ter como parâmetro de minhas ações os valores da democracia, liberdade e cidadania, fundamentos no direito de cada cidadão. Comprometo-me a trabalhar conforme os princípios éticos da profissão, defendendo os direitos e a emancipação da população. Comprometo-me a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e menos excludente. Fonte: Serviço social contemporâneo. Disponível em: http://sscontemporanio.blogspot.com.br/2010/11/juramento.html O texto do juramento nos remete a alguns pontos importantes relacionados à prática profissional e nos chama a atenção de forma desafiadora para o cumprimento de ações profissionais com qualidade, e para isso é imprescindível a busca constante por conhecimento. Isso parece desafiador, não é mesmo? Pronto(a) para começar? 6 7 Introdução Nesta unidade, estudaremos sobre Prática Social e Prática Profissional, com o objetivo de compreender a dimensão da Prática do Assistente Social no trabalho cotidiano, o que nos levará a uma análise crítica do perfil contemporâneo desse profissional, cuja carreira escolhida lhe exigirá que seja [...] um sujeito profissional que tenha competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e atribuições profissionais. (IAMAMOTO, 2004, p. 12). O papel do assistente social na contemporaneidade é muito mais do que o cumprimento do trabalho técnico e burocrático do dia a dia profissional. Isso é muito importante, pois além do profissional ser tecnicamente competente, ele também precisa firmar a sua prática nos referenciais teóricos e metodológicos e ser capaz de desenvolver sua competência crítica, observando sempre o projeto ético-político da profissão, possibilitando assim a sua instrumentalização. Quando falamos sobre a “Prática”, parece que há uma separação entre os que pensam e os que materializam a ação, ou seja, o conhecimento prático é projetado, planejado na academia, lugar onde se desenvolve o saber e esse é transmitido ao longo dos processos de formação com vistas a ser aplicado na prática diária. Daí surge a máxima de que “na prática a teoria é outra”, estabelecendo assim uma grande dicotomia. Ao longo desta unidade, vamos perceber como ambas são igualmente importantes e complementares, que uma não se sobrepõe ou anula a outra. Desse modo, o assistente social precisa ampliar sua compreensão sobre suas possibilidades de atuação a fim de qualificar sua ação profissional. Em algum momento da sua vida acadêmica, você já parou para pensar sobre a Prática Social e Prática Profi ssional? Ou ainda, em qual a importância dessa temática para o Serviço Social?Ex pl or 7 UNIDADE Prática social / Prática profissional Definição de prática social e prática profissional A palavra prática aponta para um conceito cuja construção se estabelece a partir de um conjunto de ações específicas desenvolvidas de forma repetitiva a partir de certos conhecimentos teóricos ou técnicos. Vejamos a definição da palavra no dicionário: 1 Ação ou efeito de praticar. 2 Realização de qualquer ideia ou projeto. 3 Aplicação das regras ou dos princípios de uma arte ou ciência. 4 Exercício de qualquer ocupação ou profissão. 5 Execução repetida de um trabalho ou exercício sistemático com o fim de adquirir destreza ou proficiência: A prática leva à perfeição. 6 Habilidade em qualquer ocupação ou ofício adquirida por prolongado exercício deles:Ter muita prática. 7 Modo ou método usual de fazer qualquer coisa. 8 Maneira de proceder; uso, costume. (MICHAELIS. Prática) Disponível em: http://goo.gl/S1FkYL Desse modo, é através da prática que se materializa a ação profissional e essa precisa se fundamentar no conhecimento da teoria. Já a palavra social nos remete ao que é relativo à sociedade enquanto conjunto de indivíduos, que comumente congregados e interagindo uns com os outros compartilham a mesma cultura, formando assim uma comunidade onde se constitui e se expressa o ser social. A expressão ser social parte da doutrina Marxiana e diz respeito ao homem, na condição de sujeito individual, que exerce a transformação da natureza e de outros indivíduos através do trabalho; trata-se de uma transformação prática também para o sujeito. Importante! A doutrina Marxiana refere-se aos cientistas e estudiosos que se utilizaram dos escritos de Karl Marx, em especial O capital, para analisarem o sistema capitalista. Você Sabia? Logo, a prática social, segundo Baptista (2014), é uma categoria teórica que nos possibilita compreender como se efetiva o processo de constituição do ser social; a prática social também é conhecida por Práxis. A práxis parte dos processos de trabalho como uma das objetivações do ser social, porém esse não se reduz ao trabalho. O Trabalho é uma de suas “objetivações”, logo a práxis “inclui todas as objetivações humanas” (NETTO, 2007, p. 43), ou seja, quanto mais o ser social se desenvolve, mais ele busca outros espaços para além dos limites do trabalho, passa a recorrer à ciência, à filosofia, à arte, para o alcance de suas objetivações. 8 9 A práxis resulta da relação estabelecida entre a teoria e a prática e se apresenta como uma ação capaz de transformar uma realidade. Nesse sentido, é através do trabalho que o homem transforma a natureza e a ele mesmo, e à medida que estabelece relações de mediação nesse processo transformador, novas formas de trabalho vão sendo desenvolvidas, bem como instrumentos que possibilitem a finalização e resultado da ação. O homem retira da natureza os elementos para a construção de seus instrumentos, para o aperfeiçoamento ou qualifi cação de sua ação. Você pode imaginar um evento de caça ou pesca sem o uso de instrumentos (ferramentas ou armas) adequados? Ex pl or A natureza não cria instrumentos: estes são produtos, mais ou menos elaborados, do próprio sujeito que trabalha, mesmo nos níveis mais elementares da história, coloca para o sujeito do trabalho o problema dos meios e dos fins (finalidades) e, como ele, o problema das escolhas: se um machado mais longo ou mais curto é ou não adequado (útil, bom) ao fim a que se destina (a caça, a autodefesa etc.). (NETTO, 2007, p. 32) Ainda segundoesse autor, “o trabalho é sempre uma atividade coletiva”, ou seja, o sujeito nunca está isolado, mas sempre está inserido num contexto com outros sujeitos, o que exige sociabilização de conhecimento, distribuição de tarefas, organização e estabelecimento de uma linguagem coletiva e compreensível, que articula e regula. “Esse caráter coletivo da atividade do trabalho é, substantivamente, aquilo que se denominará de social” (NETTO, 2007, p. 34). E da especificidade do trabalho surge a prática profissional, que se legitima através de instrumentos legais que a normatiza e protege de acordo com a conjuntura e momento histórico. O conhecimento e a prática profissional estão fundamentados em teorias sociais que se constroem a partir do movimento da sociedade e das relações que se estabelecem entre os homens, e nessa perspectiva o trabalho profissional passa a fazer parte dos processos de trabalho e o “sujeito afirma-se como trabalhador assalariado, inserindo-se no mercado” (BAPTISTA, 2014, p.17) e passa a negociar sua força de trabalho especializado, que se amplia em diversas áreas de atuação, e entre essas o Serviço Social. Prática profi ssional do assistente social O Serviço Social surge na década de 1930, como estratégia de combate da questão social; tratava-se de um momento em que graves problemas sociais dominavam as sociedades europeias e refletiam a desigualdade social e o antagonismo entre o capital e o trabalho. 9 UNIDADE Prática social / Prática profissional A profissão nasce com base nos referenciais e na doutrina da Igreja Católica, e o principal foco de suas mediações é, até hoje, o enfrentamento das expressões da questão social (desemprego, violência doméstica, alcoolismo, drogadição, crianças e adolescentes abandonadas, pessoas em situação de rua, alta de moradia, famílias em situação de vulnerabilidade social, precarização da saúde, entre outras). Importante! Questão social A questão social não é um assunto novo, ela é um fenômeno histórico, que foi evidenciado na sociedade capitalista desde o início do processo de industrialização, período concomitante com o surgimento do Serviço Social. Marcada nas relações de trabalho, quando os acessos aos bens de consumo permaneciam nas mãos de alguns, enquanto uma expressiva minoria só contava com sua força de trabalho para negociar, e dada as precárias condições de vida a exploração era massacrante. Você Sabia? A sociedade, então, se definia a partir dos contornos da desigualdade de classes, onde homens e mulheres se sujeitavam ao trabalho alienador e alienante para garantir o mínimo necessário para a sobrevivências. Desse modo, as expressões da questão social aparecem nesse contexto como reflexo do modo de produção capitalista, desencadeando muitos problemas sociais. De forma dinâmica, ela acompanha o movimento da sociedade, redefinindo-se conforme as relações sociais, econômicas e políticas que se estabelecem. Importante! Pense na região onde você mora (estado, município, bairro), tente identificar as expressões da questão social mais presentes ali. Talvez você se surpreenda com a diversidade de situações em que o assistente social pode intervir. Trocando ideias... A questão social é a matéria-prima do trabalho cotidiano do assistente social. Para conhecer mais: Pobreza no Brasil: Caminhos da Reportagem - Documentário Nacional TV Brasil, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5LluFN6HUvk Ex pl or Contudo, ao longo de sua construção histórica, a profissão passou por mudanças no que se refere ao seu modo de ser e à afirmação de suas ações profissionais. Isso nos mostra que a identidade de uma profissão tem uma temporalidade histórica e sofre interferências dos processos sociais, econômicos e políticos de uma dada conjuntura. Assim, as práticas profissionais são criadas e recriadas, revistas, alteradas e acrescidas de novos saberes; logo 10 11 [...] a configuração da profissão não é simplesmente produto da vontade de grupos determinados. Existem, no tipo de relações sociais que se estabe- lecem no capitalismo monopolista, necessidades e expectativas de práticas determinadas, legitimadas pela sociedade – dentre essas estão aquelas que cabe ao assistente social operacionalizar. (BAPTISTA, 20014, 19) O Serviço Social hoje não é um produto acabado, ou seja, a profissão ainda é passível de alterações, reformulações, uma vez que sua identidade se estabelece a partir de uma temporalidade histórica, ou seja, o movimento da sociedade, suas transformações e fenômenos atuais farão com que se observem as necessidades de extensão de suas mediações e revisão de suas intervenções. A atuação do assistente social remete à dinâmica das relações sociais vigentes na sociedade. Para que você possa aprofundar mais seus conhecimentos sobre esse assunto, sugiro que leia os seguintes textos: YASBEK, Maria Carmelita. O signifi cado sócio-histórico da profi ssão. Disponível em: http://goo.gl/yvUD6P Ex pl or Ao abordarmos a prática profissional do assistente social, é importante considerarmos alguns aspectos. O Serviço Social é uma profissão dotada de elementos sociais e políticos que exigem a formação em curso de graduação e tem uma natureza crítica e interventiva. Interventiva: aquela em que se explicita não somente a construção, mas a efetivação das ações desenvolvidas pelo assistente social. Compreende intervenção propriamente dita, o conhecimento das tendências teórico- metodológicas, a instrumentalidade, os instrumentos técnico operativos e os campos das habilidades, os componentes éticos e os componentes políticos, o conhecimento das condições objetivas de vida dos usuários e o conhecimento da realidade social. (TORRES, 2007, p. 47) Intervir: interferir em algo, modifi car, participar: tomar parte voluntariamente em; tornar- se mediador; interceder; intrometer-se; modifi car; alterar; inserir-se; ser ou estar presente; assistir; participar. Usuário: diz-se de quem tem o direito de usar algo coletivo, geralmente ligado a um serviço público. Ex pl or E natureza crítica, porque tanto o projeto ético político quanto as diretrizes curriculares do curso de graduação em Serviço Social primam pela formação de profissionais capacitados para efetuar análises intelectuais da realidade. 11 UNIDADE Prática social / Prática profissional Atualmente, o assistente social conta com um rico arsenal teórico e metodológico. O Serviço Social na contemporaneidade está muito mais qualificado, especializado e habilitado para atuar em meio às mais complexas expressões da questão social. Isso tudo requer do assistente social um comprometimento ético com o trabalho e com a população usuária dos serviços, lembrando que o assistente social é o profissional da intervenção, que busca constantemente a garantia de direitos. O assistente social tem a oportunidade de se aproximar ao máximo da vida das pessoas por ele atendidas e assim consegue ter uma dimensão muito mais ampla da realidade vivida, o que lhe possibilitará intervenções e mediações mais corretas. O Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão sociotécnica do trabalho; isso quer dizer que em uma sociedade capitalista, o assistente social vende sua força de trabalho em troca de salário. Como atividade incluída na divisão sociotécnica do trabalho, o Serviço Social precisa possuir todos os elementos que constituem uma ação prática de trabalho: · a matéria-prima do trabalho; · os instrumentos e técnicas para o desenvolvimento do trabalho; · resultados do trabalho ou o produto do trabalho. O assistente social deve intervir com o objetivo claro de que sua ação trará um resultado final, de forma a transformar as relações sociais; esse é o produto do seu trabalho. Contudo, esse produto não pode ser entendido como realização ou conquista individual, é preciso considerar os parâmetros coletivos definidos através dos instrumentos normatizadores da profissão. O produto do trabalho do Serviço Social é percebido nasrelações que se estabelecem com o usuário dos serviços, com a instituição e com outros profissionais. Importante! Mas cuidado!!! As relações estabelecidas no momento da ação direta com o usuário podem produzir ou reproduzir o caráter de subalternização e dominação, vivenciada lá no início da profissão; por isso, ressalto a necessidade e importância de se conhecer o Código de Ética do Serviço Social, em especial sobre esse assunto - observe art. 5º, que fala sobre os deveres do/a assistente social nas suas relações com os/as usuários/as. Trocando ideias... Regulamentação do exercício profissional A profissão é regulamentada pela Lei 8662/93, de 07 de julho de 1993, que dispõe sobre as Competências (artigo 4º) e Atribuições Privativas do Assistente Social (artigo 5º) e é orientada pelo Código de Ética, aprovado pela resolução CEFESS nº 273/93, de 13 de março de 1993. 12 13 Importante! Você precisa conhecer a Lei de Regulamentação do Exercício Profi ssional, isso vai qualifi car sua prática. A lei lhe ajudará a compreender suas competências profi ssionais e facilitará também a compreensão dos profi ssionais de outras áreas acerca do papel do assistente social. A Lei 8662/93 é um documento que pode ser consultado; portanto, não precisa ser decorado, mas você precisa se apropriar desse conhecimento. O conhecimento da legislação faz parte da prática profi ssional do assistente social. Importante! A Lei de Regulamentação do Exercício Profissional nos revela que existem ações profissionais que podem ser realizadas pelos assistentes sociais, mas que também podem igualmente ser efetuadas por profissionais de outras áreas; essas ações são as competências. Art. 4º Constituem competências do Assistente Social: I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; IV - (Vetado); V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social; XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. (LEI 8662/93) 13 UNIDADE Prática social / Prática profissional Entende-se que o assistente social está habilitado de forma técnica, teórica e metodológica para realizar tais ações, porém elas não são exclusivas desse profissional. Mas a mesma Lei apresenta as atribuições privativas, que dizem respeito às ações que são exclusivas do assistente social, ou seja, somente ele poderá realizá- las, dada a especificidade de sua formação. Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social: I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III - assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional. (LEI 8662/93) 14 15 Você percebe como a teoria e a prática caminham juntas harmonicamente se complementando? Ex pl or Para a qualificação da prática profissional do assistente social, é imprescindível observar e cumprir o que está estabelecido no Código de Ética do Serviço Social, que em todo ou seu texto traz orientações sobre os direitos e deveres do profissional. O código de ética vai orientar o profissional para o bom funcionamento da sua prática profissional no estabelecimento de sua relação com a população usuária, na interação com outros profissionais e com as instituições onde prestará seus serviços. Esse instrumento legal também vai dispor sobre as sanções em casos de descumprimento dos princípios éticos. BRASIL. CONSELHO FEDERAL DO SERVIÇO SOCIAL – CFESS. Comissão de divulgação e imprensa do CFESS (org.). Código de Ética do/a Assistente Social. Lei 8662/93. Brasília: Conselho Federal do Serviço Social, 2011. Disponível em: http://goo.gl/4aJHWz Ex pl or Para o exercício da prática profissional, o assistente social também precisa conhecer os órgãos de fiscalização e proteção da profissão e do profissional que compõem o conjunto CFESS/CRESS. · CEFESS – Conselho Federal de Serviço Social: órgão instituído por lei e seu papel é prestar orientação, disciplinar e normatizar o exercício dos profissionais assistentes sociais; sua atribuição é de natureza pública e tem personalidade jurídica. Tem uma diretoria composta por dezoito assistentes sociais de várias partes do país, que são eleitos por um mandato de três anos, e esses não recebem remuneração para o exercício dessa função. · CRESS – Conselho Regional de Serviço Social: também tem personalidade jurídica e está diretamente vinculado ao CFESS. Dentre outras, suas atribuições são: efetuar, organizar e manter o registro profissional dos assistentes sociais; também tem o papel de fiscalizar e disciplinar o exercício dos profissionais assistentes sociais, bem como zelar para o cumprimento do Código de Ética. O CRESS também funciona como um tribunal; trata-se do Tribunal Regional de Ética Profissional, onde são julgados e punidos os casos de descumprimento do código de ética profissional. É gerenciado por dezoito assistentes sociais, cujos registros são ativos no Estado de referência, e desses, nove são efetivos e nove são suplentes. Quem os elege são os próprios assistentes sociais e seu mandado dura três anos. Cabe ainda ressaltar que o assistente social precisa observar toda a legislação vigente no país para o bom cumprimento de suas ações profissionais. 15 UNIDADE Prática social/ Prática profissional Uma vez que as relações sociais são políticas, o assistente social também precisa se politizar, a fim de acessar novos espaços, dando voz política aos usuários, o que não significa tomada de partido ou escolha partidária. Projeto ético-político do Serviço Social Você conhece o projeto ético-político do Serviço Social? Segundo Neto (1999), os projetos profissionais indicam a direção que uma categoria profissional estabelece para realização de seus objetivos. Eles são coletivos e revelam a autoimagem de uma profissão, apresentam os valores que a legitimam, delimitam suas funções, dispõem sobre as normas para o funcionamento dos profissionais. Desse modo, o projeto ético político do Serviço Social foi formulado durante as décadas de 1980 e 1990, período de grandes transformações sociais, econômicas e políticas no país, momento em que a profissão experimentou um expressivo amadurecimento. O projeto ético político tem como base o Código de Ética, a Lei de Regulamentação do Exercício Profissional e as Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social. Vamos esquadrinhar o projeto ético-político para analisarmos sua estrutura básica, conforme compreensão de Netto (1999): Núcleo: prima pelo reconhecimento da liberdade como sendo valor central, é comprometido com a autonomia, a emancipação dos indivíduos e está vinculado a um projeto maior, que propõe, discute, dialoga sobre uma nova ordem social. Dimensão política: está posicionado em favor da equidade e justiça social na perspectiva da universalização da cidadania. Do ponto de vista profissional: enfatiza o compromisso com a competência profissional e para isso ressalta a importância do aprimoramento profissional e da autoformação continuada. Na relação com os usuários: prioriza uma relação baseada nos princípios éticos do código, chama a atenção para a qualidade dos serviços prestados e a importância da participação da população nas decisões institucionais. A materialização do projeto ético-político se dá no cotidiano profissional dos assistentes sociais, nas intervenções, nas mediações, no saber fazer e se aplica na realidade concreta, a partir das demandas apresentadas pelos usuários. 16 17 Embora descrito e documentado, não é possível especificar o que de fato é o projeto ético-político, pois ele deve ser experimentado através das ações práticas do profissional assistente social. Contudo, são de extrema importância a constante reflexão e discussão sobre sua eficácia no cotidiano das ações profissionais, para que não se perca o foco. A efetivação do projeto ético-político através das ações profissionais permite a consagração da relação indissociável entre a teoria e a prática e desse modo o exercício profissional é fortalecido. 17 UNIDADE Prática social / Prática profissional Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Economia política: uma introdução crítica BRAZ, Marcelo; NETTO, José Paulo. Economia política: uma introdução crítica. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2007 (Biblioteca Básica de Serviço Social) Leitura O serviço social na cena contemporânea IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social na cena contemporânea. http://goo.gl/IYnsrI A construção do projeto ético-político do Serviço social NETTO, José Paulo. A construção do projeto ético-político do Serviço social. http://goo.gl/t94o8y Atribuições privativas presentes no exercício profissional do assistente social: uma contribuição para o debate TORRES, Mabel Mascarenhas. Atribuições privativas presentes no exercício profissional do assistente social: uma contribuição para o debate. Libertas, Juiz de Fora, v. 1, n. 2, p. 42-69, jun./2007. http://goo.gl/87x9xA Conselho Federal de Serviço Social Atribuições privativas do/a assistente social em questão. Conselho Federal de Serviço Social, 2012. http://goo.gl/ZT1ZJf 18 19 Referências BAPTISTA, Miriam Veras; BATTINI, Odária. A prática profissional do assistente social: teoria, ação, construção do conhecimento. São Paulo: Veras Editora, 2014. BRASIL. CONSELHO FEDERAL DO SERVIÇO SOCIAL – CFESS. Comissão de divulgação e imprensa do CFESS (org.). Código de Ética do/a Assistente Social. Lei 8662/93. Brasília: Conselho Federal do Serviço Social, 2011. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP2011_CFESS.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016. BRAZ, Marcelo; NETTO, José Paulo. Economia política: uma introdução crítica. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2007 (Biblioteca Básica de Serviço Social). CONSELHO Federal de Serviço Social. Legislação e Resolução sobre o Trabalho do/a assistente social. Brasília: CFESS, 2011. Conselho Federal de Serviço Social. Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais. Brasília: CFESS, 2009. IAMAMOTO, Marilda Villela. A questão social no capitalismo. In: Temporalis / Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, 2ª ed. Brasília: ABEPSS, 2004. NETTO, José Paulo. A construção do projeto ético-político do Serviço social. Disponível em http://welbergontran.com.br/cliente/uploads/ 4c5aafa072bcd8f7ef14160d299f3dde29a66d6e.pdf. (Acesso: 05/03/2016) TORRES, Mabel Mascarenhas. Atribuições privativas presentes no exercício profissional do assistente social: uma contribuição para o debate. Libertas, Juiz de Fora, v. 1, n. 2, p. 42-69, jun./2007. Disponível em: <http://arquivos.mppb. mp.br/psicosocial/servico_social/atribuicoes.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2016. YASBEK, Maria Carmelita. A pobreza e exclusão social: expressões da questão social no Brasil. In: Temporalis / Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, 2ª ed. Brasília: ABEPSS, 2004. 19 Fundamentos Técnicos Operativos do Serviço Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Rosana Cristina Januário do Nascimento Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos O trabalho do Assistente Social • Introdução • O Serviço Social atuante na área da Saúde • O Serviço Social na Previdência Social • O Serviço Social no âmbito da Assistência Social • Diversidade de áreas de atuação para o Assistente Social • A atuação do assistente social no sistema sociojurídico • O Serviço Social no Esporte • O Serviço Social na Educação • Verdades e mentiras sobre o Serviço Social · Identificar e analisar as múltiplas áreas e possibilidades de espaços de atuação para os assistentes sociais. OBJETIVO DE APRENDIZADO A partir das leituras e estudos propostos nesta unidade, vamos nos aproximar das diversas áreas de atuação do assistente social, os espaços sócio-ocupacionais. Não pretendemos aqui esgotar a discussão sobre esse assunto, mas promover uma reflexão e compreensão acerca da temática em questão. As leituras sugeridas e as atividades propostas também são extremamente importantes. Anote suas dúvidas para que possa transmiti-las ao professor-tutor. Você vai encontrar na pasta de atividades as Atividades de Avaliação e Videoaula; explore o conteúdo e aproveite. Efetue a Atividade de Aprofundamento Reflexiva para fixação do conteúdo apreendido. ORIENTAÇÕES O trabalho do Assistente Social UNIDADE O trabalho do Assistente Social Contextualização O Serviço Social conta com um grande leque de possíveis áreas de atuação para os profissionais do Serviço Social. Algumas são áreas clássicas, ou mais tradicionais, como a Saúde, Assistência Social e Previdência Social, que vêm recrutando os assistentes sociais desde o início da profissão; outras são recentes, cujos campos ainda estão sendo desbravados; e outras áreas ainda serão descobertas e validadas de acordo com a necessidade de novas mediações e habilidades para o enfretamento das expressões da questão social. Cremos que os estudos desta unidade irão ajudar você a refletir sobre a importância da inserção do Serviço Social nos diversos seguimentos e campos e ainda fornecerão elementos para uma aproximação da área com a qual você mais se identifica. 6 7 Introdução Você já conseguiuescolher em qual área vai querer trabalhar ao se formar? Ou o que cada uma das áreas exige do profi ssional assistente social para recebê-lo(a)? Ex pl or O trabalho realizado pelo assistente social nos diversos espaços sócio- ocupacionais será igualmente orientado pelo Código de Ética do Serviço Social e Pela Lei de Regulamentação do Exercício Profissional. Do mesmo modo, o Projeto Ético Político é observado e materializado a partir das intervenções do assistente social no seu dia a dia profissional. Já temos visto que as expressões da questão social são múltiplas e complexas e elas se apresentam aos assistentes sociais nos diversos espaços sócio-ocupacionais. Vamos juntos analisar algumas dessas áreas e como se dá a inserção do assistente social nesses espaços. O Serviço Social atuante na área da Saúde Como parte integrante do tripé da Seguridade Social, a Saúde está prevista na Constituição Federal de 1988 (CF/88) como sendo um direito de todos e um dever do Estado. Desse modo, caracteriza-se como política não contributiva, ou seja, todo cidadão, mesmo não tendo contribuído de alguma forma, terá direito aos serviços prestados pela Saúde em seus respectivos equipamentos. Seguridade Social Saúde Previdência Assistência Fonte: Elaborado pela autora. Veja como o artigo 196 da CF/88 conceitua a Saúde: Art. 196 – A Saúde é um direito de todos e um dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas a redução dos riscos de doenças e de outros agravos e o acesso universal e igualitário aos bens e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. (Constituição de 1988) 7 UNIDADE O trabalho do Assistente Social Desse modo, entende-se que para a efetivação da Política de Saúde, outras áreas precisarão ser acionadas, para a realização de ações preventivas, de controle, tratamento e erradicação, com vistas à redução de riscos de doenças muito graves. A Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições de promoção e recuperação da saúde e em seu artigo 3º ela apresenta alguns fatores condicionantes e determinantes. Art. 3º - A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país. (Lei 8.080/1990) Importante! Para garantir a saúde de uma pessoa, alguns elementos são fundamentais, como alimentação, moradia adequada com saneamento básico e outros, como vimos no artigo 3º da Lei 8.080/90. Então, vamos pensar na ausência desses elementos, ou na falta deles na vida dos cidadãos. Certamente estaríamos diante de diversas expressões da questão social. Lembre-se de que o objeto de intervenção do Serviço Social é a questão social. Trocando ideias... A saúde foi uma das áreas em que os avanços constitucionais foram muito expressivos. As competências e atribuições dos profissionais do Serviço Social que desenvolvem suas ações no âmbito da Saúde, bem como nos demais espaços sócio- ocupacionais, são norteadas pela Lei de Regulamentação do Exercício Profissional, pelo Código de Ética Profissional e pelo Projeto Ético-político da Profissão. O trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais na área da saúde precisa ultrapassar o caráter emergencial e burocrático. O assistente social precisa conhecer bem suas competências e atribuições para manter prioridades nas ações e para que saiba como se colocar nas equipes de trabalho, dialogando com os demais profissionais (médicos, enfermeiros, agentes de saúde e outros) em nível de igualdade, não se sobrepondo ou se subordinando, mas construindo novos saberes, novas formas do fazer profissional. Para conhecer mais as atribuições do assistente social na área da Saúde, acesse: BRASIL. Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na saúde. Brasília: CFESS, 2010. Disponível em: https://goo.gl/lQPDK3 Ex pl or O artigo 10º do Código de Ética diz: “d- incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar” é um dever do assistente social, e na Saúde não é diferente. O profissional faz parte de equipes técnicas com profissionais de outras áreas, e seus conhecimentos teóricos e metodológicos podem lhe possibilitar pontuações diferenciadas nos aspectos de interpretação das condições de saúde, o que fará a diferença junto aos outros profissionais. 8 9 As ações socioeducativas também fazem parte do trabalho dos assistentes sociais da Saúde; logo, trabalhar com grupos, sabendo utilizar bem as técnicas e instrumentos, é muito importante. Na saúde, os assistentes sociais podem ser encontrados nos hospitais públicos e privados, nos convênios médicos, unidades básicas de saúde (UBS), clínicas médicas em geral, entre outros serviços. O Serviço Social na Previdência Social A política de Previdência Social como integrante da seguridade social é uma das áreas clássicas de atuação dos assistentes sociais e seu conceito é assegurar o direito à proteção ao cidadão e seus dependentes, desde que este tenha contribuído mensalmente para garantir o direito aos benefícios previstos pelo sistema previdenciário. A Previdência Social é concebida como um seguro social, que substitui a renda do segurando que é contribuinte a partir do momento que este perde sua capacidade laborativa, ou seja, que por motivo de doença, maternidade, morte, velhice, acidente ou reclusão (prisão) não possa mais trabalhar. Para conhecer os benefícios da Previdência Social, confi ra abaixo: Fundação ANFIP de Estudos da Seguridade Social; Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil. Brasília: Fundação ANFIP de estudos da seguridade social, 2014, 41 p. Disponível em: https://goo.gl/qodNfL Ex pl or Conforme documento do CFESS – Conselho Federal de Serviço Social, o Serviço Social existe na Previdência Social desde 1944 (esta é uma das primeiras áreas de inserção de assistentes sociais no Brasil) e está fundamentado no Artigo 88 da Lei 8213/91, que diz: Art. 88. Compete ao Serviço Social esclarecer junto aos beneficiários seus direitos sociais e os meios de exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no âmbito interno da instituição como na dinâmica da sociedade. § 1º Será dada prioridade aos segurados em benefício por incapacidade temporária e atenção especial aos aposentados e pensionistas. § 2º Para assegurar o efetivo atendimento dos usuários serão utilizadas intervenção técnica, assistência de natureza jurídica, ajuda material, recursos sociais, intercâmbio com empresas e pesquisa social, inclusive mediante celebração de convênios, acordos ou contratos. § 3º O Serviço Social terá como diretriz a participação do beneficiário na implementação e no fortalecimento da política previdenciária, em articulação com as associações e entidades de classe. 9 UNIDADE O trabalho do Assistente Social § 4º O Serviço Social, considerando a universalização da Previdência Social, prestará assessoramento técnico aos Estados e Municípios na elaboração e implantação de suas propostas de trabalho. (BRASIL, 1991) A presença do Serviço Social na Previdência Social também se justifica através do parágrafo 6º do artigo 20 da Lei 8.742/93 e alterações e no art. 161 do Decreto nº 3.048/99, que trata da participação do assistente social na avaliação do Benefício de Prestação Continuada - BPC. Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Alterado pela LEI Nº 12.435, DE 6 DE JULHO DE 2011 – DOU DE 07/07/2011 § 6º A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau deimpedimento de que trata o § 2º, composta por avaliação médica e avaliação social realizadas por médicos peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro Social. (BRASIL, 1991) O assistente social vai atender de forma específica as demandas de avaliação para o BPC, estabelecido na LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social, que prevê o pagamento de um salário mínimo às pessoas com deficiência e aos idosos com mais de 65 anos, incapazes para o trabalho e que também não podem contar com auxílio de familiares para a sua manutenção financeira. A presença do Serviço Social na Previdência Social também se afirma na Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social da Previdência Social, que apresenta o seguinte texto acerca do objetivo do Serviço Social: a) implementar a Política Previdenciária sob a ótica do direito social e da cidadania contribuindo para viabilizar o acesso aos benefícios e serviços previdenciários e garantir as demandas e reivindicações da população. (INSS & MPAS, 1995) O assistente social que trabalha no sistema previdenciário é contratado via concurso público e sua intervenção é voltada aos usuários, de modo a orientá- los para que acessem e garantam seus direitos. Contudo, há uma contraditória afirmação e negação de direito, o que se percebe quando o direito de um trabalhador é negado e este tem de recorrer a outras instâncias na esperança da conquistá-lo. Nesse sentido, o assistente social na previdência social vai atender à demanda dos usuários em geral, proporcionando o acesso aos serviços disponíveis através de atividades como: informações previdenciárias, orientações e encaminhamentos diversos, fortalecimento da coletividade, assessoria, entre outras. O trabalho do assistente social na Previdência Social se dá num campo muito contraditório de limites e possibilidades, e isso é um dos grandes desafios para o profissional. Seu trabalho é desenvolvido nas diversas agências do INSS (Instituto Nacional do seguro Social) espalhadas em todo território nacional. 10 11 O Serviço Social no âmbito da Assistência Social A constituição de 1988 foi um marco para a Assistência Social no Brasil. A partir dessa data passa a ser reconhecida como direito de todo cidadão e como um dever do Estado, deixa o caráter assistencialista e assume um lugar no rol das políticas públicas, sendo reconhecida como Política de Assistência Social. Segundo a Política Nacional de Assistência Social – PNAS, a função da Assistência Social é garantir a proteção social básica e especial. Então, para quem trabalha ou vai trabalhar nesses serviços socioassistenciais é preciso conhecer as ações ali desenvolvidas. Acesse o Informativo SUAS, CRAS CREAS e fi que por dentro das ações desenvolvidas em cada serviço e qual é o público alvo: https://goo.gl/dlQP3d Ex pl or É muito comum vermos pessoas confundindo Assistência Social com Serviço Social, então para que isso não aconteça, aí vai uma dica: a Assistência Social é um conjunto de ações estatais e privadas que tem o objetivo de atender as necessidades sociais, logo é uma Política Pública. Já o Serviço Social é uma profissão que atende algumas exigências e está inscrita na divisão social e técnica do trabalho. Não confunda Política de Assistência Social e Serviço Social! O profissional assistente social que atua na Política de Assistência Social precisa ter um olhar diferenciado para as demandas que lhes forem apresentadas, para não retornar às práticas do passado, quando o problema era analisado e tratado como pessoal e individual; ele precisa reconhecer a Questão Social como objeto de intervenção profissional e fazer bom uso de instrumentos e técnicas adequados para cada situação social. O trabalho na Política de Assistência Social aponta para uma perspectiva interdisciplinar, que possa ser capaz de responder às complexas demandas individuais e coletivas. Conhecer a legislação vigente é fundamental para o desempenho do trabalho, bem como a atualização constante de conhecimento. O recrutamento para os profissionais nessa área de atuação se dá via concurso público e em alguns serviços outras formas de contratação também são mantidas, como CLT, prestação de serviços, temporária e outras. 11 UNIDADE O trabalho do Assistente Social Diversidade de áreas de atuação para o Assistente Social Muito bem, você acaba de fazer uma breve aproximação junto às três áreas que mais têm recrutado assistentes sociais desde o início da profissão: Saúde, Previdência Social e Assistência Social. Agora, vamos abordar outros espaços sócio-ocupacionais do assistente social. Você vai perceber que o profissional do Serviço Social tem competências e habilidades que podem ser aplicadas em diversos seguimentos e que os assistentes sociais juntamente com outros profissionais constroem novas formas de intervenção e mediação muito mais eficazes. A atuação do Assistente Social no sistema sociojurídico Antes de falarmos desse espaço sócio-ocupacional, é importante que você compreenda o que significa o termo sociojurídico. Trata-se de uma discussão relativamente recente, com início no ano de 2001, e é referente às práticas dos assistentes sociais desenvolvidas no Poder Judiciário ou em outros setores de alguma forma articulados a ele, como Delegacias, Sistema Penitenciário, Políticas Públicas de Segurança, Serviços de Acolhimento Institucional, Escritórios Experimentais, Defensoria Pública e outros. No judiciário, o assistente social é contratado para exercer sua profissão de forma diferenciada, ele é requisitado para interceder a favor da vida e dos menos favorecidos, utilizando seus conhecimentos técnicos e metodológicos, respaldados nos princípios éticos, para fazer valer os direitos dos cidadãos em condição de vulnerabilidade, que foram vítimas de todo tipo de precarização e desmonte de direitos. O profissional pode ser contratado por diferentes vínculos empregatícios, a depender da região: estatutário, celetista, terceirizado, comissionado, temporário, contudo o estatutário é o que mais se sobressai. Para saber mais sobre o Serviço Social no âmbito sociojurídico, acesse: https://goo.gl/Ifbu2f Ex pl or A especificidade do Serviço Social pode subsidiar muitas áreas do Direito, como: Família, Criança e Adolescente, Penal, Previdenciário e outras. 12 13 O assistente social que atua no Poder Judiciário é subordinado ao Juiz de Direito e sua ação “é auxiliar e fornecer subsídios para a ação judicial, a partir do conhecimento e do saber que lhe confere sua área de formação profissional” (FÁVERO, 2005 p. 20). Se você deseja trabalhar no Poder Judiciário, é muito importante que exercite a escrita e a leitura, pois esses recursos serão utilizados constantemente. O assistente social do Poder Judiciário lida com situações emergenciais de grandes complexidades e isso vai exigir agilidade, criatividade, capacidade para realizar leitura crítica da realidade e para trabalho em equipe. O Serviço Social no Esporte A área do Esporte surge para o Serviço Social como um verdadeiro desafio, um campo a ser desbravado. Consideramos importante apresentar esse segmento dentre os tradicionais para que você perceba como o assistente social pode compor variadas equipes de trabalho e contribuir para a construção de mediações e intervenções criativas e eficientes. A CF/88 dispõe em seu texto parágrafos que fazem referência ao esporte como um direito de todo cidadão, direito esse que será efetivado mediante uma gestão democrática e participativa, com o diálogo entre o poder público e a população. Contudo, mesmo o esporte sendo um direito previsto em Lei, nem sempre tal validação se efetiva, uma vez que seu acesso não se dá de forma indistinta e universal, ou seja, nem todas as pessoas têm condições de participar de atividades esportivas, recreativas e de lazer pela falta de infraestrutura do local onde residem, escassez de recursos financeiros, falta de investimento do poder público, e dessemodo a parcela menos favorecida socioeconomicamente acaba sendo privada desse direito. As regiões periféricas das grandes cidades acabam sofrendo os impactos de tal ausência de direito e isso repercute na população de forma muito negativa. Regiões atingidas pelas diversas expressões da questão social. Baixo nível de escolaridade, escolas em condições precárias, falta de equipamentos de saúde, condições inadequadas de moradia, pais e ou responsáveis desempregados ou no mercado informal, trabalho infantil, acesso às drogas e prática de atos infracionais. Condições de desigualdade social que inviabilizam o acesso aos bens e serviços. Diante desse cenário, o esporte pode ser utilizado como uma ferramenta de enfretamento da questão social e de inclusão social, prática que vem sendo adotada por algumas organizações sociais e aplicada através de projetos sociais a partir de atividades esportivas (futebol, capoeira, balé, etc.), com o objetivo de alcançar a população em situação de vulnerabilidade social. 13 UNIDADE O trabalho do Assistente Social Nesse espaço sócio-ocupacional, o assistente social vai integrar uma equipe de trabalho com profissionais da Educação Física, Saúde, Psicologia, Nutrição e outros, desenvolvendo suas competências e atribuições dispostas na Lei 8662/93, Código de Ética Profissional e Projeto Ético Político da Profissão. O Serviço Social também pode ser encontrado em alguns estados e cidades do país, nos clubes esportivos, atendendo às demandas apresentadas pelos atletas. O Serviço Social na Educação Levando-se em consideração que a intervenção profissional do assistente social visa à garantia de direito dos usuários dos diversos serviços, faz-se necessária uma reflexão sobre a área da Educação, quando a garantia ao aceso e permanência na escola também é um direito muitas vezes violado. A inserção do assistente social na área da Educação está prevista pelo projeto de Lei 3688/2000 e respaldada pela Lei 8662/93 (Lei de Regulamentação do Exercício Profissional do assistente social). Partindo desse pressuposto, os assistentes sociais têm capacidade para articular e elaborar projetos estratégicos que viabilizem a integração participativa entre escola, família e sociedade, podendo contribuir para a democratização da educação para crianças e adolescentes, com base no projeto ético político e no código de ética da profissão. No ambiente escolar, muitas são as expressões da questão social que se revelam através da vida de crianças e adolescentes, a partir de suas relações sociofamiliares. Trata-se de um espaço de contradição, incertezas e possibilidades de mediações e intervenções eficazes para o fortalecimento dos sujeitos com vistas à transformação da realidade social. Nesta perspectiva, é que o Serviço Social busca construir um perfil profissional na política educacional, conquistando espaços, protagonizando ações que possibilitem intervenções profissionais criativas, propositivas, estratégicas, ousadas, destemidas e comprometidas com as transformações sociais. (PINA, 2009, p 183.) É nessa perspectiva que o conjunto CFESS/CRESS vem articulando forças políticas e da sociedade para a efetivação. 14 15 Pensando em possibilidades Muito bem, até aqui você pode conferir como são diversas as possibilidades de atuação para o assistente social dentro dos respectivos espaços sócio-ocupacionais. Nossa intenção não é esgotar a busca desses espaços, mas motivá-lo(a) para que pesquise sobre esse assunto e se prepare para seu futuro profissional na área escolhida. No quadro a seguir você vai encontrar uma relação de outras áreas em que o Serviço Social está colocado e o profissional assistente social exerce suas funções com base nos princípios éticos e legais, integrando equipes profissionais bastante diversificadas. Espaços Sócio-Ocupacionais do Asistente Social Atenção à Pessoa com Deficiência Atenção à Pessoa Idosa Consultoria e Assessoria Criança e Adolescente Educação Empresas Públicas e Privadas Ensino e Pesquisa Família Movimentos Sociais Políticas de enfrentamento ao racismo e às variadas formas de opressões (classe, gênero, geracionais, etnia, sexualidade, raça e outras) Políticas de Habitação Questão Ambiental e Meio Ambiente Terceiro Setor Verdades e mentiras sobre o Serviço Social Há muita desinformação sobre o que de fato é Serviço Social, mas você, enquanto estudante e futuro(a) profissional, precisa estar atento(a). Você já ouviu perguntas como estas: afinal, o que é mesmo Serviço Social? Você está fazendo o curso de assistência social? O que faz um(a) assistente social? Você está estudando para dar cesta básica aos pobres? E por aí vão tantos questionamentos. E como estão as suas respostas diante de tais indagações? Seu conhecimento sobre a profissão, a partir de estudos, leituras, pesquisas, prática de estágio, irá fortalecer suas argumentações; mais do que isso, lhe possibilitará fundamentar sua ação, lhe motivará a ocupar um espaço sócio- ocupacional enquanto profissional para a materialização do projeto ético político da profissão. Confira o teste de falso e verdadeiro e se certifique de como estão seus conhecimentos sobre a profissão. 15 UNIDADE O trabalho do Assistente Social Falso Verdadeiro O trabalho do Assistente Social é voluntário, exercido de forma gratuita. O Assistente Social é um profissional que exerce seu trabalho de forma remunerada, nas organizações públicas e privadas, tendo competência e atribuições específicas, para atuação em diferentes áreas. Assistente Social é uma moça boazinha, que ajuda as pessoas. O Serviço Social é uma profissão de homens e mulheres, que atuam na realidade social através do atendimento das demandas, elaboração de pesquisas e construção de propostas que visam o atendimento às necessidades sociais da população. A associação da “moça boazinha” ao profissional de Serviço Social se deve ao senso comum de que a ajuda e o cuidado do outro são atribuições da figura feminina. O Assistente Social trabalha sempre com os pobres. O trabalho não se restringe à pobreza. Entretanto, a realidade social e econômica do Brasil faz com que o trabalho do Assistente Social seja, em grande parte, com a população mais empobrecida da sociedade. Ao efetivar direitos, a ação profissional atinge outras parcelas da população. Assistência Social ≠ Assistencialismo ≠ Serviço Social Assistência Social: é uma política pública de garantia e de defesa de direitos, regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social. Destina-se à população mais vulnerável, com o objetivo de superar exclusões sociais e defender e vigiar os direitos de cidadania e de dignidade humana. Assistencialismo: é o contraponto do direito, da proteção social ou seguridade social. É um acesso a um bem através de uma doação. Com o assistencialismo, não há garantia de cidadnia, pois o acesso a condições plenas dignas de vida dos cidadãos é conseguido através de favor, à espera de boa vontade e interesse de alguém. Serviço Social: é uma profissão que atua no campo das políticas sociais, entre estas, a da Assistência Social. Opõe- se ao assistencialismo através de uma prática que visa a expansão dos direitos e a emancipação da sociedade. Qualquer um faz Serviço Social, inclusive políticos e religiosos. A expressão “Serviço Social” é privativa de uma profissão regulamentada, que só pode ser exercida por Assistentes Socias devidamente inscritos no Conselho Regional de Serviço Social. Não se deve usar essa expressão para identificar práticas assistencialistas. Fonte: Adaptado de CRESS PR. Ato público esclarece mitos e verdades a respeito da profissão. Disponível em: https://goo.gl/U2fL5A A profissão precisa sempre ser analisada a partir de uma perspectiva crítica, contrapondo os ditos desinformados do senso comum. Podemos afirmar que o Serviço Social tem seu espaço garantido e sua preservação depende da participação efetiva de seus agentes no cenário social, com atitudeséticas e políticas. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Serviço social: identidade e alienação MARTINELLI, Maria Lucia. Serviço social: identidade e alienação. 16ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. Vídeos História da saúde pública no Brasil - Um século de luta pelo direito a saúde https://youtu.be/SP8FJc7YTa0 Especial apresenta história da Assistência Social no Brasil https://youtu.be/gq4YXI1pggg Leitura Os espaços sócio-ocupacionais do assistente social IAMAMOTO, Marilda Villela. https://goo.gl/PXWLfy 17 UNIDADE O trabalho do Assistente Social Referências BRASIL. Atuação de assistentes sociais no sociojurídico: subsídios para reflexão. Brasília: Conselho Federal de Serviço Social, 2014. Disponível em: <http://www.cfess. org.br/arquivos/CFESSsubsidios_sociojuridico2014.pdf>. Acesso: 23 jan. 2016. BRASIL. Código de Ética do/a Assistente Social e Lei 8662/93. Brasília: Conselho Federal de Serviço Social, 2014. Disponível em: <http://www.cfess. org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf>. Acesso: 23 jan. 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado. htm>. Acesso em: 23 jan. 2016. BRASIL. Lei 8080, de 19 se setembro de 1990. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm>. Acesso em: 23 jan. 2016. BRASIL. Lei 8213, de 24 de julho de 1991. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 15 jan. 2016. BRASIL. Lei 8742, de 07 de dezembro de 1991. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742.htm>. Acesso em: 15 jan. 2016. BRASIL. Parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de assistência social. Brasília: CFESS, 2010. Disponível em: <http://www.cfess. org.br/arquivos/Parametros_para_a_Atuacao_de_Assistentes_Sociais_na_Saude. pdf>. Acesso: 21 jan. 2016. BRASIL. Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde. Brasília: CFESS, 2010. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/ arquivos/Parametros_para_a_Atuacao_de_Assistentes_Sociais_na_Saude.pdf>. Acesso: 23 jan. 2016. BRASIL. Política Nacional de Assistência Social – PNAS 2004. Norma operacional Básica - NOB/SUAS. Brasília, novembro de 2005. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/ Normativas/PNAS2004.pdf>. Aceso em: 04 abr. 2016. CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Papel e atribuições do/a assistente social nas políticas de previdência e assistência social. CFESS Manifesta. Brasília, 24 de abril de 2008. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/ arquivos/cfessmanifesta_concursoINSS_24abr2008.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2016. FÁVERO, Eunice Terezinha. Serviço social, práticas judiciárias, poder: implantação e implementação do Serviço Social no Juizado da Infância e Juventude de São Paulo, 2 ed. São Paulo: Veras Editora, 2005. INSS; MPAS. Matriz teórico-metodológica do Serviço Social na Previdência Social. Brasília: MPAS, 1995. Disponível em: <http://cresspr.org.br/wp-content/uploads/ arquivos/matrizteoricometodolgicassprevsociall.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2016. 18 Fundamentos Técnicos Operativos do Serviço Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Rosana Cristina Januário do Nascimento Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos A instrumentalidade da profissão • Introdução • Instrumentalidade da profissão • Definição de Instrumentalidade • Serviço social e instrumentalidade • Breve resgate histórico • Desafios para os dias atuais · Possibilitar um diálogo profissional com a realidade social e institucional. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta unidade, vamos estudar sobre a instrumentalidade do Serviço Social, compreender seu conceito e sua aplicação na prática profissional. As leituras sugeridas e as atividades propostas também são muito importantes para seu progresso nos estudos. Anote suas dúvidas para que possa transmiti- las ao professor-tutor. Você vai encontrar na pasta de atividades as Atividades de Avaliação e Videoaula; explore o conteúdo e aproveite. Participe do Fórum, para ampliar seu conhecimento sobre o assunto. Bons estudos! ORIENTAÇÕES A instrumentalidade da profi ssão UNIDADE A instrumentalidade da profissão Contextualização O conhecimento é e sempre foi uma grande ferramenta de transformação, e ao longo da história o Serviço Social caminhou em busca do aperfeiçoamento de seus referenciais teóricos e metodológicos, o que foi possível através do conhecimento adquirido em seu processo de institucionalização profissional. Sem o conhecimento não é possível romper com as resistências, nem articular novas possibilidades de ação. Técnicas e instrumentos são desenvolvidos a partir do conhecimento. Conhecimento que caminha desde o popular ao científico, trazendo elementos de informação e saber, para qualificar o fazer. 6 7 Introdução A instrumentalidade do Serviço Social é parte integrante de seu processo sócio- histórico desde os primeiros passos da profissão e está diretamente relacionada ao fazer profissional. Mais uma vez vamos perceber que a teoria e a prática precisam estar alinhadas para que as intervenções do assistente social tenham bom êxito. Então eu convido você para mais uma etapa de estudos, com o objetivo de compreender a dimensão da instrumentalidade do Serviço Social. Instrumentalidade da profi ssão Quando o assunto é instrumentalidade do Serviço Social, logo nos vêm à mente os instrumentos, ou as ferramentas que os profissionais utilizam no dia a dia para a realização de suas ações, na aplicação de seu trabalho, porém a instrumentalidade tida como uma categoria é muito mais abrangente. Vamos iniciar esta unidade analisando o conceito de instrumentalidade para melhor compreendermos sua aplicação no Serviço Social, e para tanto vamos manter um diálogo com as autoras Guerra (2007) e Trindade (2001), que vão nos orientar acerca dessa temática. Defi nição de Instrumentalidade Segundo Guerra (2007), instrumentalidade no Serviço Social não se refere exclusivamente os instrumentos e técnicas utilizados para a realização das suas ações, mas trata-se de “capacidade, qualidade ou propriedade constitutiva da profissão”, o que se forma em seu processo histórico e social, e conforme os objetivos profissionais vão sendo constituídos surgem necessidades de respostas às novas demandas. Instrumentalidade é capacidade, qualidade ou propriedade constitutiva da profissão. Instrumento é tudo o que serve para auxiliar na execução de uma tarefa, que auxilia o profissional na passagem da intencionalidade para a efetivação da ação, o que caracteriza a instrumentação profissional (o uso das diversas ferramentas de trabalho do assistente social). 7 UNIDADE A instrumentalidade da profissão Desse modo, a instrumentalidade do Serviço Social diz respeito a uma capacidade que a profissão foi adquirindo ao longo de sua construção sócio- histórica através das respostas profissionais dadas às demandas a ele apresentadas. Essa instrumentalidade está atrelada à maneira como o Serviço Social ingressou na divisão sociotécnica do trabalho, atendendo aos interesses da burguesia, com o objetivo de controle e estabelecimento da ordem social, fundamentada a partir dos preceitos e dogmas da Igreja Católica. Os assistentes sociais transformam a realidade no cotidiano profissional e das classes sociais e sobre isso Guerra afirma que: Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que demandam a sua intervenção, os meios e os instrumentos existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos, para o alcance dos objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas ações. (GUERRA, 2007, p. 2) Todo trabalho tem uma instrumentalidade para as condições necessárias de sua operacionalização, e isso indica a capacidade da profissãoem se atualizar e alcançar seus objetivos, os quais precisam ser claros para serem alcançados. A instrumentalidade articula três dimensões que perpassam a natureza do Serviço Social. Segundo Battini (2006), são estas dimensões que possibilitam a operacionalização do projeto ético político do Serviço Social: · Técnico interventiva; · Ético política; · Teórica. As três dimensões precisam estar articuladas, para que teoria e prática viabilizem as mediações do profissional assistente social. Serviço social e instrumentalidade Vamos recorrer agora à história do Serviço Social e seu processo de institucionalização profissional para que possamos identificar e compreender o uso dos instrumentos e técnicas adotados pela profissão ao longo de sua trajetória. É importante destacar que as formas de atuação do profissional, ou as formas de dar respostas às demandas presentes no seu dia a dia de trabalho, têm relação com o contexto sócio-histórico; com isso, os objetivos podem variar, porém o objeto da intervenção é o mesmo, a questão social. 8 9 Desse modo, você vai perceber que os instrumentos e técnicas utilizados em diferentes momentos pela profissão parecem os mesmos e são, porém a maneira com que os profissionais passaram a compreender a realidade foi se modificando a partir da apropriação dos referenciais teóricos e do seu posicionamento ético político. Não iremos nos deter em discorrer sobre esse contexto, contudo é importante mencioná-lo, e principalmente recordar o momento histórico em que o Serviço Social surge como parte do projeto da ordem burguesa para tratar e responder a questão social. Havia uma intencionalidade, uma necessidade social que determinou a utilidade social da profissão, marcada inicialmente como reprodução da ordem burguesa. Desse modo, a questão social retrata o processo de formação da classe operária e passa a ser foco da intervenção do Estado e, consequentemente, do Serviço Social. Assim, a utilidade social da profissão é atender s necessidades das classes, com respostas qualificadas, o que é possível por causa da formação especializada de seus agentes, da legitimação e do reconhecimento profissional. O Serviço Social é então reconhecido como profissão; os assistentes sociais passam a vender a sua força de trabalho e sua instrumentalidade (capacidade, qualidade ou propriedade constitutiva da profissão). Segundo Guerra (2007): As políticas sociais, além de sua dimensão econômico-política (como mecanismo de reprodução da força de trabalho e como resultado das lutas de classe) constituem-se também num conjunto de procedimentos técnico-operativos, cuja componente instrumental põe a necessidade de profissionais que atuem em dois campos distintos: o de formulação e o de sua implementação. É neste último, no âmbito da sua implementação, que as políticas sociais fundam um mercado de trabalho para os assistentes sociais. (GUERRA, 2007, p. 6) Veja, a autora nos mostra que as políticas sociais, como Política de Saúde, Política de Previdência Social, Política de Assistência Social e outras, constituem os espaços sócio-ocupacionais do assistente social, compondo assim o seu mercado de trabalho. A autora também nos mostra que além da dimensão econômica, a política apresenta um conjunto de procedimentos técnicos e operativos para os assistentes sociais que a formulam e implantam. Existe uma cultura profissional que perpassa a instrumentalidade, onde são construídos os “indicativos teórico práticos de intervenção imediata, o chamado instrumental técnico ou os ditos metodológicos de ação”. (GUERRA, 2007, p. 12). Ou seja, o assistente social lança mão de todo referencial teórico produzido no âmbito do Serviço Social e da tradição marxista, para o alcance dos objetivos profissionais. 9 UNIDADE A instrumentalidade da profissão Breve resgate histórico Vamos recorrer novamente à história do Serviço Social para ampliarmos nossa discussão sobre os instrumentos do Serviço Social. Vamos passar brevemente por alguns momentos que foram importantes para a definição dos rumos da prática profissional. Leia as informações do quadro a seguir: Trajetória do Serviço Social Nos anos 1940 e 1950, o Serviço Social brasileiro recebe influência norte- americana. Marcado pelo tecnicismo, bebe na fonte da psicanálise, bem como da sociologia de base positivista e funcionalista/sistêmica. Sua ênfase está na ideia de ajustamento e de ajuda psicossocial. Neste período há o início das práticas de Organização e Desenvolvimento de Comunidade, além do desenvolvimento das peculiares abordagens individuais e grupais. Com supervalorização da técnica, considerada autônoma e como um fim em si, e com base na defesa da neutralidade científica, a profissão se desenvolve através do “Serviço Social de Caso”, “Serviço Social de Grupo” e “Serviço Social de Comunidade”. Nos anos 1960 e 1970, há um movimento de renovação na profissão, que se expressa em termos tanto da reatualização do tradicionalismo profissional, quanto de uma busca de ruptura com o conservadorismo. O Serviço Social se laiciza e passa a incorporar nos seus quadros segmentos dos setores subalternizados da sociedade. Estabelece interlocução com as Ciências Sociais e se aproxima dos movimentos “de esquerda”, sobretudo do sindicalismo combativo e classista que se revigora nesse contexto. Profissionais ampliam sua atuação para as áreas de pesquisa, administração, planejamento, acompanhamento e avaliação de programas sociais, além das atividades de execução e desenvolvimento de ações de assessoria aos setores populares. Cresce o questionamento da perspectiva técnico-burocrática, por ser esta considerada como instrumento de dominação de classe, a serviço dos interesses capitalistas. Com os ventos democráticos dos anos 1980, inaugura- se o debate da ética no Serviço Social, buscando-se romper com a ética da neutralidade e com o tradicionalismo filosófico fundado na ética neotomista e no humanismo cristão. Assume-se claramente, no Código de Ética Profissional aprovado em 1986, a ideia de “compromisso com a classe trabalhadora”. O Código traz também outro avanço: a ruptura com o corporativismo profissional, inaugurando a percepção do valor da denúncia (inclusive a formulada por usuários). No âmbito da formação profissional, busca-se a ultrapassar o tradicionalismo teórico-metodológico e ético-político, com a revisão curricular de 1982. Supera-se, na formação, a metodologia tripartite e dissemina-se a ideia da junção entre a técnica e o político. Fonte: CFESS. Serviço Social. 10 11 Ao retomarmos a história do Serviço Social, percebemos um movimento constante de transformações sociais que repercutiram diretamente na profissão, impulsionando seus agentes para busca pela reatualização em distintos contextos, desde ações assistenciais de cunho educativo e moralizador, às produções científicas e intervenções profissionais. O Serviço Social desenvolve sua instrumentalidade e cria instrumentos e técnicas a partir da apropriação de referências teóricas e metodológicas nos diferentes períodos da história, como o Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade, estratégias utilizadas pelos profissionais para o atendimento das necessidades dos indivíduos e da comunidade. Acompanhe o breve recorte histórico descrito a seguir: Década de 1930 – Produções norte-americanas da área da sociologia e da psicologia são trazidas para o Serviço Social brasileiro, com a intenção de implantar mudanças sociais segundo os padrões americanos, a teoria da “psicologização” a partir do uso das técnicas do Serviço Social de Caso. O Serviço Social de Caso estava em evidência nesse período. Sobre o Serviço Social de Caso, a autora Trindade apresenta o seguinte registro: Nas duas primeiras décadas do século XX, Mary Richmond havia desenvolvido, nos Estados Unidos, os pressupostos e diretrizes do que ela chamara de Serviço Social de Casos Individuais. O estudo do caso refere-se à fase de investigaçãosobre fatores internos aos indivíduos e externos ao ambiente em que ele vive, viabilizada pela aplicação de entrevistas com o cliente e com pessoas de seu meio. Além disso, utilizam-se contatos com membros da família e com técnicos, observações realizadas durante as entrevistas e visitas, reuniões familiares, dentre outros instrumentos. Esse estudo possibilita a elaboração de um Histórico do Caso, reunindo dados e impressões colhidos durante o inquérito. Em seguida, produz-se um diagnóstico, isto é, um parecer profissional sobre a situação psicossocial do cliente, para que seja viabilizado o tratamento. (TRINDADE, 2001, p. 11) 11 UNIDADE A instrumentalidade da profissão Aqui, já é possível perceber o uso de instrumentos e técnicas, como a entrevista, visita domiciliar, reuniões, observação, relatório e parecer social. O Serviço Social de Caso, enquanto instrumento da profissão, tornou-se ultrapassado frente às novas concepções de mundo, porque nem o ajustamento social dos indivíduos e nem tampouco a investigação dos problemas sociais como se esses fossem doenças que precisavam ser tratadas não eram do domínio do Serviço Social. Década de 1940 – Na segunda metade da década, o trabalho com grupo ganha espaço no âmbito do Serviço Social a partir dos referenciais de Freud e passa a ser usado para dar respostas aos problemas pessoais e de relacionamentos, conforme características dos grupos terapêuticos. As Escolas de Serviço Social brasileiras introduziram a técnica de Serviço Social de Grupo a partir de 1947. Essa intervenção visava melhorar a adaptação do sujeito ao meio, funcionava como uma estratégia para manutenção da ordem social e era definida como: Um método do Serviço Social que ajuda os indivíduos a aumentarem o seu funcionamento social, através de objetivas experiências de grupo, e a enfrentarem, de modo mais eficaz, os seus problemas pessoais, de grupo ou de comunidade. (KONOPKA, 1977, p. 33) Tinha um caráter educativo, seu objetivo era o desenvolvimento da personalidade e fortalecimento dos sujeitos, e o objetivo principal era o ajustamento dos indivíduos às normas da época. No Serviço Social de Grupo, o assistente social também apresentava um diagnóstico sobre a condição do sujeito para que fosse sugerido o seu tratamento. Tanto o Serviço Social de Caso como o Serviço Social de Grupo foram técnicas imediatistas importadas dos referenciais norte-americanos e através de suas estratégias visavam o enquadramento social dos sujeitos. Nessa mesma perspectiva, surge também o Serviço Social de Comunidade ou desenvolvimento de comunidade, que segundo Andrade: Foi uma estratégia lançada para garantir a prosperidade, o progresso e a hegemonia americana (capitalismo), cuja política visava preservar o mundo livre de ideologias não democráticas. Partindo do pressuposto de que as populações pobres têm maior receptividade ao consumismo, julgava ser preciso melhorar e desenvolver o sistema capitalista. (ANDRADE, 2008, p. 284) O Serviço Social de Comunidade também funcionava como uma estratégia de desenvolvimento nacional conforme os padrões da sociedade burguesa. 12 13 Década de 1950 – Há uma exigência de modernização e ampliação das políticas sociais para atender às expressões da questão social desenvolvidas nesse período do pós-guerra, e por isso a necessidade de profissionais que tivessem o conhecimento teórico prático, e segundo Trindade (2001), em virtude das novas demandas, ampliam-se as áreas de atuação para os assistentes sociais. Nos anos 50 e, com maior vigor, na década seguinte, amplia-se o campo de atuação do Serviço Social brasileiro, quando os profissionais passam a se envolver em trabalhos sociais de caráter comunitário. Nestes, desenvolvem-se processos de mobilização e organização de grupos de população – rural e urbana – através dos quais busca-se promover o desenvolvimento econômico-social de pequenas localidades. (TRINDADE, 2001, p. 12) Década de 1960 – Elaboração de Programas Sociais: O caráter político da profissão passa a ser reconhecido. Em meio ao cenário ditatorial, os profissionais do Serviço Social fazem críticas aos próprios métodos, o que resultou no Método BH, que segundo Netto (2006), constituiu um marco para o Serviço Social, pois não se ateve apenas a uma crítica ao Serviço Social tradicional, mas suas formulações deram suporte acadêmico para a formação dos quadros técnicos e para a intervenção do Serviço Social. Tal movimento no interior da profissão acontecia em meio a um cenário político repressivo e ditatorial, que resultou na censura e na cassação do direito de expressão da população brasileira. Para saber mais sobre esse assunto, assista ao vídeo Serviço social, memórias e resistências contra a ditadura: https://youtu.be/snG4eZYbH_0 Ex pl or Década de 1970 – Em virtude da consolidação do capitalismo monopolista, há um posicionamento crítico dos profissionais marcado pela revisão teórica, metodológica, técnica e política e por sua apropriação da teoria social de Marx. O Serviço Social passa pelo chamado processo de modernização e “[...] os assistentes sociais assumem atividades de planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação de programas sociais, além das atividades de execução final [...]” (TRINDADE, 2001, p. 14). Novas atribuições são conferidas aos profissionais assistentes sociais, o que lhes exige habilidades e domínio de instrumentos adequados para a ação. Década de 1980 – Luta contra o Estado autoritário e seus reflexos na sociedade: nesse momento se intensifica o Movimento de Reconceituação da Profissão. Há um avanço expressivo nas produções do Serviço Social e na construção do Projeto Ético Político. 13 UNIDADE A instrumentalidade da profissão Essa década também é marcada pela Perspectiva da Intenção de Ruptura, que segundo Netto (2006), tinha o objetivo de romper com as práticas tradicionais do Serviço Social, que estavam vinculadas aos interesses das classes dominantes. Buscavam-se outros referenciais para romper com o conservadorismo da profissão e uma contraposição às determinações da burguesia e ao poder ditatorial. Momento fortemente marcado pela crítica ao tradicionalismo e a construção de um novo referencial teórico e metodológico. Cabe lembrar que o cenário econômico e político em que esses fatos foram registrados na história do Serviço Social foi marcado por muita luta e ardente desejo de mudança de estrutura social, e que as conquistas obtidas nos trazem hoje um peso de responsabilidade para a manutenção e aprimoramento dos avanços da profissão. Vamos continuar observando o processo histórico do Serviço Social: Trajetória do Serviço Social Nos anos 1990, se verificam, no âmbito do Serviço Social, os efeitos do neoliberalismo, da flexibilização da economia e reestruturação no mundo do trabalho, da redução do Estado e da retração dos direitos sociais. O Serviço Social amplia os campos de atuação, passando a atuar no chamado terceiro setor, nos conselhos de direitos e ocupa funções de assessoria, entre outros. Discutindo sua trajetória profissional, ressignifica o uso do instrumental técnico- operativo e cria novos instrumentos, como mediação para o alcance das finalidades, na direção da competência ética, política e teórica, vinculada à defesa de valores sociocêntricos emancipatórios. Partindo do pressuposto da necessidade da capacitação continuada, o Serviço Social busca superar a prática tecnicista, pretensamente neutra, imediatista ou voluntarista. Nos anos 2000, a conjuntura provoca novas disputas em torno da “questão social” e do papel a ser cumprido pelas políticas sociais. Assistimos a diversas formas de precarização da formação profissional, como parte do processo de precarização da educação brasileira. Fonte: CFESS. Serviço Social. O texto acima aponta para a ressignificação do instrumental técnico operativo e criação de novos instrumentos ao longo da trajetória profissional e nos remete a uma dimensão éticae política. Década de 1990 à contemporaneidade – as novas expressões da questão social trazem modificações nas próprias condições de trabalho do assistente social nos diversos espaços sócio-ocupacionais, exigindo cada vez mais a propositura e o uso adequado dos instrumentos e técnicas operativas. Nesse sentido, ao se pensar no instrumental do Serviço Social, é importante frisar que este deve estar em consonância com o projeto ético político da profissão, enfatizando o compromisso profissional com a autonomia, emancipação e fortalecimento dos sujeitos. 14 15 Assim, o conhecimento e a prática devem avançar juntos, com uma atitude transformadora da realidade social. O instrumental técnico operativo é “um dos componentes essenciais a serem considerados no processo de intervenção, tendo em vista a sua operacionalização” (BATTINI, 2001 p. 5) e eles devem ser escolhidos e selecionados a partir da finalidade da ação. Desse modo, o uso do instrumental potencializa a ação profissional. Por ação profissional entende-se que se trata do Conjunto de procedimentos, atos, atividades pertinentes a uma determinada profissão e realizadas por sujeitos/ profissionais de forma responsável, consciente. Portanto, contém tanto uma dimensão operativa quanto uma dimensão ética, e expressa no momento em que se realiza o processo de apropriação dos profissionais quanto fundamentos teórico- metodológicos e ético-políticos da profissão em determinado momento histórico. São as ações profissionais que colocam em movimento, no âmbito da realidade social, determinados projetos de profissão. Estes, por sua vez, implicam diferentes concepções de homem, de sociedade e de relações sociais. (MIOTO, 2001 apud NOGUEIRA e MIOTO, 2006, p. 9). Ao pensarmos uma ação profissional, os objetivos devem estar claros e devem ser estabelecidos a partir do alcance que se pretende obter, ou seja, de onde se quer chegar com essa ação, ou ainda quais são as demandas que serão respondidas com essa ação. Temos visto até aqui que no decorrer da história do Serviço Social, seus agentes buscaram seu reconhecimento e legitimação profissional a fim de promover um distanciamento dos atributos caritativos e assistencialistas que foram permeando a profissão durante a construção de sua identidade social. Durante sua trajetória, o Serviço Social se fundamentou com base em algumas correntes, o que influenciou diretamente sua atuação profissional, e o uso dos instrumentos variou muito a depender de cada momento histórico e seu contexto social, econômico e político. É preciso levar em consideração que a instrumentalidade implica a capacidade de articulação dos instrumentos, com o objetivo de atender às demandas presentes no cotidiano profissional, e isso exigirá dos profissionais assistentes sociais criatividade e flexibilidade para intervir. Portanto, é importante o domínio dos referenciais teóricos e práticos; e a criatividade e a flexibilidade possibilitarão a atenção à singularidade e especificidade de cada caso, com o objetivo de intervir nas diversas expressões da questão social, levando-se sempre em consideração que não se trata de um arsenal de instrumentos e técnicas que podem ser aplicados de forma ordenada e padronizada como receitas prontas para cada situação. 15 UNIDADE A instrumentalidade da profissão Importante! Quando o homem buscava na natureza aquilo que poderia suprir suas necessidades de sobrevivência, ele precisava utilizar meios que facilitassem a retirada dos elementos naturais em seu estado mais puro, para que esses fossem transformados em material útil. Com a evolução histórica dos processos de produção, os meios de transformação da natureza também são modificados a partir das necessidades dos seres humanos. Trocando ideias... Assim, os instrumentos que fazem parte desse processo também são aprimorados através de técnicas, e por técnica podemos entender a “habilidade humana de fabricar, construir e utilizar instrumentos” (VARGAS, 1994, p. 15 apud TRINDADE, 2001, p. 3). Ainda segundo a mesma autora: [...] as técnicas se aprimoram a partir da utilização dos instrumentos, diante da necessidade de sua adequação às exigências de transformação dos objetos, visando o atendimento das mais variadas necessidades humanas. A técnica pode ser tomada, então, como uma qualidade atribuída ao instrumento para que ele se torne o mais utilizável possível, em sintonia com a realidade do objeto de trabalho.(TRINDADE, 2001, p. 3) Ou seja, a finalidade do trabalho ou da ação realizada é que vai determinar a natureza do instrumento e por sua vez o uso da técnica. Esse trâmite também sofreu influências da tecnologia em diversos segmentos, principalmente no industrial e no transporte. Até o século XIX, o desenvolvimento e aprimoramento das técnicas voltam-se, apenas, para a indústria e para os transportes, o que muda no início do século XX. Na esfera do processo de produção de bens materiais, as técnicas deixam de ser utilizadas apenas na confecção dos produtos, pois são incorporadas à organização do processo produtivo (a Gerência Científica é um exemplo emblemático), à gestão dos recursos materiais e humanos nele envolvidos, e nas atividades voltadas à circulação e ao consumo de mercadorias e serviços. Dessa forma, é possível falar de tecnologias sociais. (TRINDADE, 2001, p. 4) As relações sociais estabelecidas, impulsionadas pela efetivação do processo de industrialização, resultaram na acentuação da divisão das classes e, consequentemente, no aumento da pobreza e na manifestação das várias expressões da questão social, que abalaram significativamente a ordem social. 16 17 Fonte: portaldovestibulando.com Essa realidade apontava para a necessidade de um conhecimento científico capaz de esclarecer os fenômenos sociais que abalavam a ordem social, mas principalmente era necessária a criação de mecanismos que pudessem controlar, regular e moralizar a sociedade, e desse modo “a técnica passa a ser aplicada para melhorar a engrenagem social, para que nela se produzam homens cada vez mais adaptados a um padrão social [...]” (TRINDADE, 2001, p. 5). Pensar nos instrumentos de trabalho como meios materiais que possibilitam a transformação do objeto traz questionamentos sobre a aplicação disso tudo no Serviço Social, quando o objeto da ação é a transformação da realidade social. Nesse sentido, o Serviço social vai contar com instrumentos e técnicas desenvolvidos a partir do conhecimento de diversas disciplinas (Psicologia, Sociologia, Direito, Filosofia, Economia e outras). Esses instrumentos têm a função de subsidiar o fortalecimento de atitudes, posturas e comportamentos diante dos diferentes interesses estabelecidos nas relações sociais. Muito bem, vimos então que a atuação do assistente social acontece em meio à divisão social e técnica do trabalho, como forma de trabalho especializado, e sua instrumentalização acompanhou as mudanças dinâmicas da sociedade, que promoveram as demandas para os diversos espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social, e para a realização desse trabalho o assistente social lança mão dos instrumentais técnico operativos com vistas ao enfrentamento das expressões da questão social. 17 UNIDADE A instrumentalidade da profissão Podemos perceber que desde o início da profissão os assistentes sociais desenvolveram e utilizaram várias técnicas em sua ação. Trindade (2001) destaca dois eixos do trabalho profissional do Serviço Social em seus primórdios. Confira no quadro a seguir: Trabalho profissional do Serviço Social em seus primórdios Primeiro eixo - Realização de investigações sobre as condições de vida das famílias operárias, valendo-se, para isto, da visita domiciliar e da aplicação de inquéritos sociais, através de entrevistas com membros da família e pessoas afins. Segundo eixo – Trabalho de educação voltado, por exemplo, às orientações sobre questões morais, de higiene e de utilização racional da renda familiar. Trata-sede uma orientação moral e social que recai, quase sempre, na doutrinação religiosa, fundamentada no objetivo da reforma social, a partir da reciclagem do homem e de sua família. Desafios para os dias atuais Vimos que a instrumentalidade do Serviço Social acompanha toda a sua história desde sua origem, quando a partir dos ditames da ordem burguesa, inicia sua intervenção no enfrentamento às expressões da questão social, sendo suas ferramentas principais as políticas sociais. A natureza interventiva da profissão se apresenta com vistas à promoção de mudanças sociais, e a prática é evidenciada na profissão. Segundo Sousa (2008), o Serviço Social tem a função de executar tarefas, as chamadas “funções terminais”. O planejamento das ações era feito por outros profissionais, onde podemos perceber a distinção entre teoria e prática, ou seja, entre o pensar (planejar, desenvolver) e o realizar (fazer). Contudo, vimos que o Movimento de Reconceituação critica esse modelo e promove uma reflexão entre os assistentes sociais sobre a necessidade de busca por teoria e a aproximação com os referenciais marxistas contribuiu muito para a mudança de direção que a profissão vinha seguindo. O autor Sousa (2008), a partir dos estudos de Iamamoto (2004), destaca três dimensões que devem ser dominadas pelo profissional assistente social e que caracterizam grandes desafios. Confira no quadro a seguir: 18 19 Competência ético-política – o Assistente Social não é um profi ssional “neutro”. Sua prática se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade capitalista – relações essas que são contraditórias. Assim, é fundamental que o profi ssional tenha um posicionamento político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social da sua prática. Isso implica assumir valores ético morais que sustentam a sua prática – valores esses que estão expressos no Código de Ética Profi ssional dos Assistentes Sociais (Resolução CFAS nº 273/93) e que assumem claramente uma postura profi ssional de articular sua intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade; Competência teórico-metodológica - o profi ssional deve ser qualifi cado para conhecer a realidade social, política, econômica e cultural com a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um intenso rigor teórico e metodológico, que lhe permita enxergar a dinâmica da sociedade para além dos fenômenos aparentes, buscando apreender sua essência, seu movimento e as possibilidades de construção de novas possibilidades profi ssionais; Competência técnico-operativa – o profi ssional deve conhecer, se apropriar e, sobretudo, criar um conjunto de habilidades técnicas que permitam ao mesmo desenvolver as ações profi ssionais junto à população usuária e às instituições contratantes (estado, empresas, organizações não governamentais, fundações, autarquias etc.), garantindo assim uma inserção qualifi cada no mercado de trabalho, que responda às demandas colocadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos profi ssionais e pela dinâmica da realidade social. O assistente social é um profissional privilegiado, pois atua diretamente no cotidiano dos indivíduos, grupos e famílias, e com essa aproximação ele tem a possibilidade de conhecer a realidade vivida pelos sujeitos e produzir conhecimento sobre essas vivências, e isso trará qualidade à sua intervenção. Para isso, o assistente social precisa se dedicar sempre a buscar mais conhecimento e não se contentar apenas com o conteúdo apreendido durante o processo de formação na Universidade, empenhar-se na busca por conhecimento. O sucesso profissional vai depender do posicionamento ético e político do profissional diante das demandas institucionais, com uma atitude sempre crítica e reflexiva; para isso será necessário o conhecimento, e este também é um grande desafio para o assiste social. 19 UNIDADE A instrumentalidade da profissão Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Vídeo CFESS: Serviço social, memórias e resistências contra a Ditadura https://youtu.be/snG4eZYbH_0 A História do Brasil por Bóris Fausto https://youtu.be/pSyE82yRaKU Leitura A construção do projeto ético político do Serviço Social. https://goo.gl/EBKwye A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional. https://goo.gl/yR0QzS 20 21 Referências ANDRADE, Maria Angela Rodrigues Alves - O metodologismo e o desenvolvimentismo no Serviço Social brasileiro - 1947 a 1961. Disponível em: <http://periodicos.franca.unesp.br/index.php/SSR/article/ viewFile/13/78>. Acesso em: 01/05/2016 BATTINI, Odária. A questão da instrumentalidade do Serviço Social. Disponível em: <http://www.cedeps.com.br/wp-content/uploads/2009/06/A- quest%C3%A3o-da-instrumentalidade-do-Servi%C3%A7o-Social1.pdf> - Acesso em: 11/04/2016. CFESS. Serviço Social. Disponível em: <http://www.cressrj.org.br/site/servico- social/>. Acesso em: 14 fev. 2016. GUERRA, Yolanda - A instrumentalidade no trabalho do assistente social Disponível em: <http://www.cedeps.com.br/wp-content/uploads/2009/06/ Yolanda-Guerra.pdf>. Acesso em: 01/05/2016 KONOPKA, G. Serviço Social de Grupo. 4ª ed. São Paulo: Zahar Editores, 1977. NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós – 64. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. NOGUEIRA, Vera Maria Ribeiro; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Sistematização, planejamento e avaliação das ações dos assistentes sociais no campo da saúde. Disponível em: <http://www.sbfa.org.br/fnepas/pdf/servico_social_ saude/texto2-6.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2016. SOUSA, Charles Toniolo de. * conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/ emancipacao/article/view/119/117> Acesso: 08/04/216 TRINDADE, Rosa Lúcia Prédes. Desvendando as determinações sócio-históricas do instrumental técnico-operativo do Serviço Social na articulação entre demandas sociais e projetos profissionais. Disponível em: <http://www.cressrn. org.br/files/arquivos/65N06Bp3L00eI373q8j6.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2016. 21 Fundamentos Técnicos Operativos do Serviço Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Rosana Cristina Januário do Nascimento Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos Procedimentos técnico operativos do Assistente Social • Introdução • Observação que nos aproxima da realidade • Escuta atenta: uma habilidade necessária para o assistente social • Comunicação através da linguagem • Entrevista em Serviço Social · Abordar os diversos procedimentos técnico operativos no cotidiano de trabalho do assistente social. OBJETIVO DE APRENDIZADO Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre Fundamentos Técnicos e Operativos do Serviço Social! O eixo principal será a possibilidade de aproximação aos principais instrumentos utilizados no cotidiano da prática do assistente social. Saiba que esta disciplina tem como propósito contribuir com seu processo de formação acadêmica, com vistas à sua preparação profissional, oferecendo- lhe contato com as discussões mais recentes dessa área; além de lhe proporcionar momentos de leitura textual e audiovisual–e reflexão sobre os temas que serão aqui discutidos, contribuindo com sua formação continuada e trajetória profissional. ORIENTAÇÕES Procedimentos técnico operativos do Assistente Social UNIDADE Procedimentos técnico operativos do Assistente Social Contextualização Imagine um marceneiro no exercício de suas funções. Como seria ter de fazer um corte preciso em uma madeira sem ter os instrumentos adequados? Ou tendo os instrumentos, mas não sabendo como utilizá-los? Certamente, a tarefa não seria executada da maneira correta, haveria desperdício de material e de tempo, o profissional correria o risco de se ferir e ainda não atingiriaseu objetivo principal e, consequentemente, seu cliente ficaria muito insatisfeito. Vamos aplicar esse exemplo ao Serviço Social. Muitos são os instrumentos que podem e devem ser utilizados pelos assistentes sociais, porém os profissionais precisam conhecê-los para melhor operacionalizá-los, garantindo, assim, a sua eficácia. 6 7 Introdução Anteriormente você pode verificar como foram sendo construídos os instrumentos durante a trajetória de consolidação do Serviço Social ao longo de seu processo sócio-histórico. Vimos que a partir do estabelecimento do projeto ético político e de uma aproximação com a teoria marxista, a profissão passa a ter um direcionamento ao que se refere ao posicionamento ético político e técnico operativo. Já tratamos aqui que a instrumentalidade do Serviço Social se refere a competências das quais a profissão foi se apropriando durante sua consagração. Mencionamos que existem três dimensões que são acionadas pela instrumentalidade e que estas precisam ser conhecidas e dominadas pelo assistente social, que são: teórico metodológica, técnico operativa e ético política, e a partir de agora vamos compreender como se dá a articulação disso na prática. Lembre-se da máxima: a teoria na prática é outra? Não é e não pode ser, teoria e prática são indissociáveis e desse modo o profissional precisa se apropriar de conhecimentos que lhe permitam ampliar sua compreensão sobre os sujeitos como seres sociais, bem como sua visão de mundo e de realidade, que estão em constantes mudanças e transformações. Desse modo, a ação prática será resultado dessa busca de conhecimento. E é através da prática que o profissional assistente social vai operacionalizar as estratégias, habilidades e técnicas e fazer uso dos instrumentos operativos com o objetivo de alcançar as finalidades de suas ações. A autora Baptista (2014) nos diz que a teoria nos oferece elementos que nos permitem compreender os fenômenos sociais e conhecimento para que possamos interpretá-los e, a partir daí, intervir na realidade através da nossa prática profissional. Não estamos falando aqui em ensinar técnicas prontas, como se fossem receitas que podem ser utilizadas de forma mecânica em diversas ocasiões. Lembre-se do exemplo do instrumentador cirúrgico, que além de conhecer a diversidade de instrumentos necessários para a realização da cirurgia, precisa saber o momento exato de utilizá-los. Pois é, os instrumentos técnico operativos do Serviço Social estão à disposição para serem utilizados pelo profissional em suas intervenções, porém o conhecimento fará a diferença na hora da escolha pelo melhor, e sua compreensão de mundo lhe assegurará acerca da sua aplicabilidade. 7 UNIDADE Procedimentos técnico operativos do Assistente Social Desse modo, se o assistente social busca ter uma ação capaz de transformar a realidade, ele precisa fundamentar a sua prática nos referenciais teórico metodológicos, acrescidos dos elementos técnico operativos e direcionados pelos princípios ético políticos. E para transformar a realidade, o real precisa ser apreendido, o que só é possível através de mediações, que aqui não se referem ao ato de intermediar nas situações ou nos conflitos, mas refere-se a uma categoria dialética, elaborada na razão, mas que busca ultrapassar o aparente, a imediaticidade, ou seja, para nos aproximarmos do real é preciso conhecer o objeto para além da sua aparência imediata, visando entender a totalidade, o que será possível a partir de aproximações sucessivas junto ao objeto, e assim o assistente social encontra alternativas para a execução de ações transformadoras. Vamos iniciar nossa aproximação aos instrumentos técnico operativos do serviço social, a fim de compreender suas funções e os benefícios de sua utilização na ação profissional. Observação que nos aproxima da realidade Passaremos a abordar a observação como instrumento técnico operativo do Serviço Social, e para tanto vamos iniciar compreendendo o significado da palavra observação. Diz respeito ao ato de ver, enxergar, olhar para algo ou alguém com atenção, com intenção de examinar, compreender, conhecer. Assim, a observação, no contexto da prática profissional, refere-se à apreensão da realidade, como uma forma de aproximação sucessiva do objeto a ser investigado; logo, ela tem uma intencionalidade, e para tanto deve estar associada aos referenciais teórico metodológicos. A observação é uma capacidade não apenas humana, desde que o mundo é mundo. No cotidiano, é uma das formas mais usadas pelo homem para conhecer e compreender pessoas, coisas, acontecimentos e situações. É o meio básico de se conseguir informações, [...] é o ato de se obter informações para se tomar decisões, após o julgamento de uma situação. (BRASIL, p. 83, apud PORTES e PORTES, 2004, p. 31) Com essa afirmação, percebemos que a observação é muito importante para a prática do assistente social, pois permite a compreensão das situações, partindo-se do que está aparente e imediato para a busca de elementos mais consistentes para a efetivação da intervenção profissional. A observação está diretamente associada à categoria mediação, quando sua utilização no cotidiano tem o objetivo de apreender o real para propor transformação. 8 9 A observação como instrumento técnico operativo vai estar associada ao uso de outros instrumentos, como a entrevista, a visita domiciliar, o estudo social, portanto é importante considerarmos alguns fatores que farão a diferença na ação profissional. O assistente social trabalha com pessoas, sujeitos que têm direitos e têm histórias de vida, que foram marcadas por momentos bons e ruins, e quando o profissional se aproxima desses sujeitos para colher dados para a intervenção, certamente as lembranças serão ativadas e reações serão estimuladas e expressadas. Por isso a autora Cardoso (2008) nos chama a atenção para uma observação sensível para o relacionamento com o usuário, ou seja, olhar e perceber aquilo que não é dito com palavras. A observação propicia a articulação entre o dizível e o indizível, viabilizando assim um olhar atento, cuidadoso, ético, comprometido, acolhedor. Observar, portanto, é interagir, pois tanto o profissional quanto o usuário produzem inferências sobre as situações que vivenciam e isso implica uma interação, uma troca de saberes, de experiências. A observação não é uma atividade solitária, pois ambos (profissional e usuário) participam, à luz de seus referenciais, do mesmo processo e procuram também encontrar alternativas de responder aos seus contextos e problemáticas. (PORTES; PORTES 2004, p. 34) É importante ressaltar que cada pessoa vai olhar para um objeto ou situação a partir de seu próprio referencial; logo, a análise que fará vai partir da sua apreensão e compreensão da realidade. Por exemplo, se um grupo de alunos observar esta imagem, cada um vai descrevê-la de forma diferente. Fonte: iStock/Getty Images Por isso é que a observação no cotidiano profissional deve ter embasamento teórico metodológico, para evitar intervenções rasas, baseadas no senso comum ou no achismo. 9 UNIDADE Procedimentos técnico operativos do Assistente Social Escuta atenta: uma habilidade necessária para o assistente social Inicialmente, escutar e ouvir parecem a mesma coisa, afinal dependem do bom funcionamento do aparelho auditivo e dizem respeito à utilização do sentido da audição, porém existem diferenças entre ambos, o que fará diferença também quando aplicados na prática profissional. Veja, toda pessoa ouvinte tem a capacidade de detectar sons diversos, ruídos, vozes, músicas; porém, essa pessoa não precisa utilizar nenhuma técnica específica para isso, basta apenas sentir, ou seja, ouvir é uma função biológica inerente ao ser humano. Logo, escutar propõe uma ultrapassagem de nível do campo do sentir para a decodificação; é preciso uma atitude, uma intenção. A escuta na atuação do assistente social vai permitir um planejamentodas ações profissionais com a intenção do cumprimento do projeto ético político e possibilitará a escolha dos instrumentos mais adequados para a intervenção. Uma “escuta sensível” representa uma forma de apreensão da realidade, o que favorece os processos de transformação social. O autor Benjamin (1994) utiliza a expressão ouvir como a forma sensível de apreensão do real, afirma que o ouvir é um instrumento essencial e segue dizendo que: Ouvir de verdade é um trabalho difícil, implicando muito pouca coisa de mecânico. Ouvir exige, antes de mais nada, que estejamos preocupados, pois se não estivermos, não podemos dar uma atenção plena. Em segundo lugar, ouvir implica escutar o modo como as coisas estão sendo ditas, o tom usado, as expressões, os gestos empregados. E mais, ouvir inclui o esforço de perceber o que não está sendo dito, o que apenas é sugerido, o que está oculto, o que está abaixo ou acima da superfície. Ouvimos com nossos ouvidos, mas escutamos também com nossos olhos, coração, mente e vísceras. (BENJAMIN, 1994, p. 68) Esse instrumento para ser bem utilizado precisa ser praticado, experimentado. É necessária uma familiarização para que o uso seja adequado e os objetivos sejam alcançados. Para melhor compreensão do tema, sugiro que você assista ao vídeo sobre escuta atenta disponível em: https://youtu.be/thoBB-r6ijc Ex pl or 10 11 Comunicação através da linguagem Pensando ainda no uso dos sentidos (observação e escuta), gostaríamos de trazer para a reflexão o uso de mais um sentido que está muito presente no cotidiano profissional. Trata-se da fala, necessariamente da comunicação oral. Segundo Magalhães (2006, p. 30), “a linguagem é o instrumento número um dos profissionais das áreas das ciências humanas e sociais”. A autora se refere à linguagem como sendo um instrumento que deve ser bem utilizado pelos diversos profissionais de todas as áreas. Cabe mencionar que a linguagem se estabelece através de símbolos, e estes se organizam por meio de códigos, que são determinados pelos diversos grupos sociais. Conforme Magalhães (2006), essa linguagem vai sofrer variações, a depender do contexto sociocultural, socioeconômico e sócio-histórico que se estabelece. Os linguistas indicam uma tendência a três tipos de linguagem: · Linguagem culta ou intelectual · Linguagem média · Linguagem popular ou informal Você já parou para observar um grupo de adolescentes conversando? Na maioria das vezes, estão fazendo uso da linguagem com o uso de muitas gírias e códigos próprios àquele grupo. Durante o processo de socialização, através da participação em diferentes grupos, o homem consegue aumentar sua capacidade de comunicação. Na linguagem informal, não há uma grande preocupação com a maneira que se usa a fala, é permitido o uso de uma linguagem típica e regional e até o emprego de gírias e erros gramaticais. Já na linguagem culta isso não é permitido. Sendo assim, há uma heterogeneidade de linguagens, as quais representam variações e complexidades diferenciadas conforme as particularidades do contexto no qual vão se processando as intervenções sociais. (MAGALHÃES, 2006, p. 22) Tratando-se do uso da linguagem na atuação profissional, é importante dizer que esta deve ser a linguagem culta, obedecendo às regras e padrões normativos. Contudo, não deve ser rebuscada ou inatingível, precisa ser compreendida para que se cumpram os objetivos propostos. O profissional precisa fazer bom uso da linguagem para que possa estabelecer comunicação intencional com os indivíduos que utilizam a linguagem informal e com os indivíduos que estabelecem comunicação a partir da linguagem culta, e dentro dessa diversidade se fazer compreendido. 11 UNIDADE Procedimentos técnico operativos do Assistente Social A linguagem vai para além do uso da palavra, ela passa pelo gestual e corporal. Esse conjunto representa o sujeito, ou seja, revela sua atitude, sua condição social e até sua situação na divisão social e técnica do trabalho. A linguagem “[...] é, na verdade, o mais importante elo do processo comunicativo que se dá nas interações socioprofissionais. Ressalta-se, ainda, o quanto a linguagem reflete as contradições inerentes às relações da sociedade”. (MAGALHÃES 2006, p. 30) A comunicação através da linguagem escrita Vimos que a comunicação oral acontece de forma ativa, quando simultaneamente o locutor e o interlocutor interagem. Já na comunicação escrita, podemos destacar as figuras do autor e do leitor. A comunicação oral permite o uso da linguagem informal, o que não é permitido na comunicação escrita, que vai exigir uma linguagem técnica e formal. “Comunicação escrita – especialmente quando são efetivadas por profissionais graduados – pressupõe sua identificação com exemplaridade da linguagem, numa determinada particularidade institucional”. (MAGALHÃES, 2006, p. 31 e 32) Ou seja, através dos registros apresentados nos laudos, relatórios e pareceres sociais, o assistente social apresenta sua identidade profissional; portanto, deve utilizar-se da linguagem culta e evitar o senso comum. Você concorda que as produções escritas também são formas de diálogo, pois, ainda que não face a face, sempre haverá um locutor e um interlocutor. Assim, mesmo por meio de um estilo mais enxuto ou menos empolado, a linguagem escrita deve ser culta, técnica, identificada com uma atuação e com um saber: uma linguagem, enfim, que possa demonstrar, em qualquer instituição, a área de determinada competência profissional. (MAGALHÃES, 2006 p 32) Importante! Se você tem alguma dificuldade com a linguagem escrita, sugerimos o quando antes um investimento de tempo para cuidar disso. Leia mais, faça exercícios de produção de textos e tire suas dúvidas. Veja as sugestões contidas neste blog, que traz de forma descontraída 80 erros gramaticais comumente presentes no nosso dia a dia. Vale a pena conferir: http://viverdeblog.com/erros-gramaticais Importante! 12 13 Outra dica importante é reler sempre os textos produzidos por você, isso vai ajudá-lo(a) a perceber os erros cometidos, e a se tornar mais crítico(a) e criterioso(a) quanto à sua escrita. E ainda, se possível, peça para outra pessoa ler suas produções textuais, um olhar diferente pode trazer mais qualidade. Lembre-se de que quando você estiver exercendo a profissão, vai redigir muitos documentos importantes, como relatórios, laudos, entre outros. Então, para que sua escrita não deixe a desejar, atente-se para a forma culta ou formal para a produção de seus registros. A sua escrita vai falar muito de você e ela pode qualificar ou desqualificar sua atuação profissional e em todos os momentos estará presente em sua rotina. Atente-se também para as normas técnicas de produção e formatação de texto, observe as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), para se assegurar de que está fazendo a coisa certa, e já verifique como está sua relação com o computador. Isso mesmo, ainda existem muitas pessoas que não dominam os recursos básicos da informática, então têm o computador como um inimigo. Se esse é seu caso, faça as pazes com ele rapidamente e invista nisso também; certamente essa ferramenta vai auxiliá-lo (a) muito. Pensando ainda em auxiliá-lo (a) no seu desenvolvimento, o quadro a seguir foi elaborado com algumas dicas básicas para que você aperfeiçoe sua escrita no cotidiano. Leia o texto “Dez regras para escrever um texto com clareza”, disponível em: https://goo.gl/YcFepf Ex pl or Entrevista em Serviço Social Muito bem, vamos começar esse item falando sobre entrevista; trata-se de uma técnica muito importante e muito utilizada pelos assistentes sociais. Ao realizar uma entrevista, você terá de lançar mão de vários instrumentos, desde o seu planejamento até a sua finalização. Você vai fazer muito uso da observação, da escuta, da comunicação através da linguagem oral e escrita. Vamos então refletir sobre esse assunto? A entrevista, como o nome jádiz, é estar entre as vistas, entre o olhar, contato face a face, pessoal e direto com o outro, sujeito de nossa ação; é um momento muito rico de possibilidades de construção de possíveis mediações e intervenções. 13 UNIDADE Procedimentos técnico operativos do Assistente Social É uma oportunidade de aproximação com a história de vida do outro e por isso muitos cuidados precisam ser tomados para que o objetivo seja alcançado; precisamos estar prontos para ouvir, interagir e agir. O processo de entrevista nos revela enquanto profissionais. O contato com o outro nos obriga a nos revelarmos profissionalmente. Não há como dissimular interesse, compromisso, conhecimento e técnicas. O diálogo, quando acontece, aproxima ou afasta, gera possibilidades de vínculos e se o profissional estiver envolvido, integrado a uma política de ação social; essa prática, mesmo que em curto contato, afeta e produz resultados. Torna a ação efetiva. As pessoas se revelam e se posicionam para o profissional, usufruem dos seus saberes, interagem, expressam-se com confiança. (CARDOSO, 2008, p. 40) A entrevista não pode ser considerada como um encontro casual entre o profissional e o usuário dos serviços, ela é parte integrante da instrumentalidade do Serviço Social e requer atenção ao que se refere aos referenciais teórico metodológicos, técnico operativos e ético políticos. Não é um momento de especulação, de querer saber mais do que convém, trata-se de uma conversa dirigida ou semidirigida, para o alcance de objetivos profissionais. [...] a entrevista é um diálogo entre duas pessoas, um diálogo que é sério e tem um propósito. O objetivo da entrevista é auxiliar o entrevistado, que pode vir até nós livremente, procurando ajuda. Pode vir contra a sua vontade, forçado pela lei ou outros agentes, talvez por nós mesmos. Em qualquer caso, a questão fundamental para o entrevistador deve ser sempre a seguinte: qual será o melhor modo de ajudar essa pessoa. (BENJAMIN, 1996, p. 13 e 14) Para tanto, alguns cuidados são necessários. Vamos falar um pouco sobre eles a seguir. O ambiente da entrevista O ambiente em que a entrevista vai ser realizada deve ser preparado antecipadamente pelo assistente social, devendo garantir o sigilo acerca de tudo o que ali for tratado. O local não deve ser ameaçador ou barulhento, nem provocar distrações, e deve dispor dos recursos de que o profissional precisa para realização de seu trabalho. Ainda que nos espaços sócio-ocupacionais em que o assistente social atua seja difícil conseguir salas apropriadas para o atendimento, é preciso usar a criatividade e conseguir uma forma de realizar o trabalho, garantindo o sigilo e respeito ao usuário. 14 15 As interrupções devem ser evitadas. Durante a entrevista, o entrevistado precisa sentir confiança no profissional, perceber que ele está disponível para ouvi-lo, e o profissional também precisa de concentração para conseguir apreender o que se expressa, e desse modo ambos serão respeitados. Planejamento da entrevista É uma etapa importante, que vai auxiliar significativamente na realização da ação. O planejamento vai possibilitar a organização e otimização do tempo, bem como o objetivo certamente será alcançado. Então, vamos às dicas: · sempre que possível, preparar o local que a entrevista vai acontecer com antecedência; · verifique o melhor horário para o entrevistador e entrevistado; · faça um roteiro para organizar suas ideias, a fim conduzir a entrevista de forma dirigida ou semidirigida; contudo, o roteiro não deve ser rígido, apenas uma estratégia para o bom funcionamento do diálogo. Iniciando a entrevista E então é chegada a hora da execução da entrevista. O que fazer? Por onde começar? Benjamin (1996) diz que a entrevista é um momento de grandes expectativas, tanto para o entrevistador como para o entrevistado, e que existem duas maneiras de se iniciar: a) pelo entrevistador e b) pelo entrevistado. A entrevista iniciada pelo entrevistador é aquela quando o profissional, no nosso caso o assistente social, convocou ou convidou o usuário; nesse caso, caberá ao profissional explicar os motivos do encontro, os objetivos, seu papel profissional e da instituição junto ao usuário. Já na entrevista iniciada pelo entrevistado, é o usuário que solicita o atendimento, e na ocasião ele irá apresentar os motivos que o levaram a solicitar o encontro, e o assistente social então vai encontrar formas de estabelecer a comunicação para compreender os reais motivos e propor mediações viáveis para a resolução ou minimização dos problemas apresentados. Acolhimento O acolhimento é primordial para o estabelecimento de vínculo e para quebrar o gelo entre entrevistador e entrevistado; apresente-se enquanto profissional, bem como os objetivos de sua ação. Nesse momento, o assistente social pode demonstrar seu interesse pelo caso apresentado, lembrando-se sempre da postura ética e profissional. 15 UNIDADE Procedimentos técnico operativos do Assistente Social Veja, é importante dizer que nem sempre o vínculo é estabelecido em um primeiro atendimento, pode ser que o usuário se recuse a falar sobre determinados assuntos, ser muito objetivo em outros, ou até mesmo se manter em silêncio, e esse silêncio pode ter muitos significados, como a falta de compreensão por parte do usuário, a falta de confiança, resistências ao recorrer à sua história de vida, vergonha, entre outros. E nesse caso o assistente social deverá tentar identificar o que ocasionou o silêncio para que as mediações sejam mais objetivas e eficientes. Preenchimento de formulários Os formulários são necessários, afinal são instrumentos de trabalho do assistente social e devem ser utilizados para coleta de dados que subsidiarão as futuras ações e encaminhamentos, porém o tempo da entrevista não deve ser todo gasto com o preenchimento deles. No início da entrevista, os dados principais de identificação e endereçamento podem ser colhidos, e se o formulário for muito extenso, se necessário, pode-se marcar outro encontro com a finalidade do preenchimento do mesmo. A autora Cardoso (2008, p. 80) afirma que “90% dos nossos registros se referem a dados de observação”, portanto ressaltamos a importância de estar atento no momento da entrevista, com todos os sentidos conectados (escuta, observação, sensibilidade). Registro dos dados coletados Os registros fazem parte do processo da entrevista e devem ser feitos de forma cuidadosa para ativar a memória sobre o caso e até mesmo para fomentar a discussão do caso pela equipe de trabalho. A tomada de notas no momento da entrevista não pode ser um fator de interferência. Não há uma regra específica sobre o que anotar. Alguns entrevistadores tomam nota apenas de pontos que consideram relevantes para o desenvolvimento de futuros documentos e reflexões, outros tomam notas de ideias, expressos, palavras- chaves, e há ainda aqueles que são bastante metódicos e detalhistas. Nesse sentido, o profissional deverá perceber o que de fato considera importante registrar no momento da entrevista, e se esses dados serão suficientes para subsidiar uma ação. As informações obtidas em uma entrevista terão muita influência no destino das intervenções do assistente social, em alguns casos serão determinantes. Uma entrevista poderá resultar em um encaminhamento, uma orientação multidisciplinar, um desligamento, uma internação, na destituição do poder familiar, concessão ou indeferimento de um benefício, garantia e acesso a direitos. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Revista Textos e Contextos LEWGOY, Alzira Maria Batista; SILVEIRA, Esalba Maria Carvalho. A entrevista nos processos de trabalho do assistente social. Revista Textos e Contextos. Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 233–251, jul./dez. 2007. https://goo.gl/3auP7V Livros Fundamentos de Metodologia científica LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de Andrade.Fundamentos de Metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2003. Vídeos Especialista dá dicas para melhorar a sua comunicação https://youtu.be/n-8LQWlf_ss Fala e Escrita - Parte 01 https://youtu.be/XOzoVHyiDew 17 UNIDADE Procedimentos técnico operativos do Assistente Social Referências BAPTISTA, Myrian Veras e BATTINI. A prática profissional do assistente social: teoria, ação, construção do conhecimento. 2ª ed. São Paulo: Veras Editora. 2014 BENJAMIN, Alfred. Entrevista de ajuda. 8ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994. CARDOSO, Maria de Fátima Matos. Reflexões sobre instrumentais em Serviço Social: observação sensível, entrevista, relatório, visitas e teorias de base no processo de intervenção social. São Paulo: LCTE Editor, 2008. MAGALHÃES, Selma Marques. Avaliação e linguagem: relatórios, laudos e pareceres. Veras Editora: São Paulo, 2006. 18 Fundamentos Técnicos Operativos do Serviço Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Rosana Cristina Januário do Nascimento Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social • Introdução • Visita domiciliar • Relatório • Estudo social • Parecer social • Perícia social • Laudo social • Estudo socioeconômico · A unidade tem por objetivo abordar os diversos procedimentos técnico-operativos no cotidiano de trabalho do assistente social. OBJETIVO DE APRENDIZADO Ao longo desta unidade, você vai conhecer diversos instrumentos técnico- operativos do Serviço Social. Nossa intenção não é esgotar esse assunto, mas promover uma aproximação a essa temática, que está diretamente relacionada à prática do assistente social. Para contribuir com seu processo de aprendizagem, sugerimos leituras complementares, vídeos e todo o material disponível no ambiente virtual. Participe do fórum e estude o material didático. Bons estudos! ORIENTAÇÕES Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social UNIDADE Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social Contextualização O profissional assistente social atua no enfrentamento das expressões da questão social. Você já ouviu isso, não é? O cotidiano da prática profissional é marcado por situações muito complexas e por isso os profissionais precisam de conhecimento teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político para que consigam dar respostas mais adequadas a essas questões. Desse modo, o assistente social faz uso dos instrumentos técnico-operativos para que suas ações possam ser realizadas com êxito, no que se refere ao cumprimento dos objetivos profissionais e atenção aos interesses e necessidades dos usuários. Daí a importância de conhecer os instrumentos e sua aplicabilidade. Assista ao trecho do filme “Preciosa: uma história de esperança”, acessando o link abaixo e tente perceber a aplicação das técnicas e instrumentos do Serviço Social em um caso real. Disponível em: https://youtu.be/FIB6WeewTNw Ex pl or 6 7 Introdução Para cada ação profissional realizada, faz-se necessário o uso de instrumentos técnico-operativos (técnica e operacionalização), até mesmo para as ações menos complexas. A partir do momento em que o assistente social estabelece um contato com o usuário, ele já está utilizando técnicas e instrumentos, que podem ser a comunicação oral, a escrita através do preenchimento de um formulário, a observação, a escuta dos relatos. Para que isso fique mais claro, veja, técnica pode ser entendida como um procedimento cuja finalidade é chegar a um determinado resultado, ou seja, a forma ou a maneira de fazer algo, e o instrumento é a ferramenta ou aquilo que se utiliza para concretizar o objetivo. A entrevista, por exemplo, pode ser considerada uma técnica, ou seja, é a forma escolhida pelo profissional para se aproximar do sujeito e colher os dados, e o roteiro e questionário utilizados durante a entrevista são os instrumentos, ou as ferramentas que irão auxiliar no cumprimento da ação. Nota-se que os instrumentos e técnicas são inerentes à profissão e subsidiam as ações dos assistentes sociais no dia a dia de trabalho, por isso ressaltamos a importância dos estudos sobre instrumentos técnico-operativos do Serviço Social, pensando em contribuir com o desempenho de seu futuro profissional. Desse modo, vamos iniciar nossos estudos com a visita domiciliar, que nos coloca diretamente no centro do cotidiano dos sujeitos. Visita domiciliar A visita domiciliar como instrumento técnico-operativo do Serviço Social tem sido muito utilizada desde o início da profissão, inicialmente com um caráter de monitoramento do comportamento das famílias dos operários face aos padrões da burguesia. Visita domiciliar é: “[...] uma prática profissional, investigativa ou de atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto ao indivíduo em seu próprio meio social ou familiar”. (AMARO, 2007, p. 13). A visita domiciliar tem sido utilizada por alguns seguimentos profissionais, e em especial pelo Serviço Social, por se entender que as pessoas em seu meio social ou familiar acabam revelando de forma mais explícita suas questões, dificuldades e vivências. 7 UNIDADE Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social Para que uma visita domiciliar seja realizada, é necessário que o profissional cumpra algumas etapas, que antecedem a realização da ação: · Planejamento: que vai desde a escolha da data ao estabelecimento dos objetivos, identificação do endereço e viabilização de acesso (veículo, trajeto, etc.). Por que devemos realizar uma visita domiciliar? Para quê? Para quem? · Elaboração de um roteiro para a entrevista que será realizada no momento da visita. Essa poderá ser semiestruturada, ou seja, conduzida por algumas perguntas, com a intenção de organizar a conversa, de modo que não se fuja do objetivo proposto. · Contato com a família e ou indivíduo que será visitado. Sobre esse ponto há uma polêmica se devemos ou não comunicar as pessoas sobre a realização da visita. Há quem diga que o correto é chegar de surpresa na residência para ver como as coisas são de fato. As famílias têm o direito de serem comunicadas sobre a realização da Visita Domiciliar. Nosso entendimento é que as famílias têm o direito de serem comunicadas sobre a realização da visita, mais do que isso, elas devem participar do planejamento da ação no que se refere à escolha da data e hora para sua realização, pois se trata de um comportamento ético por parte do profissional. Afinal, vamos interferir e interromper a dinâmica e a rotina da família com nossa presença, e a isso temos que nos ajustar e ainda contar com os imprevistos que podem ocorrer. O motivo da realização da visita também precisa ser esclarecido aos usuários. “É importante lembrar que não podemos jamais invadir ou usar de força para entrar no domicílio das pessoas” (CARDOSO, 2006, p. 64). A visita domiciliar tem um caráter investigativo, mas não de levantamento de provas para comprovação ou não da verdade, e sim de busca de elementos que facilitem a compreensão de como as pessoas dão sentido às suas vidas. Trabalhamos com a verdade ou as verdades que nos são relatadas pelos sujeitos, daí outra dica importante é abrir mão dos pré-conceitos e julgamentos; não podemos partir para uma visita domiciliar carregados de nossas referências pessoais sobre o certo e o errado de vivências familiares e tentar compará-los aos padrões de vida das famílias que visitamos. A realidade já está posta ali, é aquela que vamos investigar, e “a realidade é bem maior do que nosso olhar ou percepção pode captar”. (AMARO, 2007, p. 21). Nesse sentido, é preciso ter uma atitude de interesse de querer ver o que está para além do aparente e estar pronto para ver o inesperado. 8 9 A visita social domiciliar existe para facilitar nossa ação na perspectiva do sujeito de direito à Assistência Social. Evidente que estamos ali prestando um serviço institucional, mas, para operacionalizaro acesso ao direito social das famílias envolvidas: seja por segurança alimentar, segurança nos relacionamentos sociais, proteção de crianças, adolescentes, idosos, deficientes, segurança habitacional, etc. (CARDOSO, 2006, p. 68) Como a abordagem acontece na casa dos sujeitos, as regras são mais flexíveis, o ambiente proporciona mais proximidade entre o profissional e os visitados, favorecendo um clima de confiança, porém alguns imprevistos podem acontecer, como uma criança que chora, alguém que telefona ou aparece inesperadamente. Nem sempre o esperado será encontrado ou percebido em uma visita domiciliar. Nem todas as famílias pobres são pouco higiênicas, negligentes ou violentas; casas humildes, porém muito bem organizadas, serão alvo de visitas domiciliares. Lilo Stitch: A animação conta a histórias de duas irmãs havaianas que fi caram órfãs e lutam para fi car juntas. Na trama, um assistente social tem papel fundamental e realiza algumas visitas domiciliares. Segue um pequeno trecho, mas vale a pena assistir ao fi lme completo. Disponível em: https://youtu.be/ExkBp9_lPro Ex pl or Mas também nem tudo é o que parecer, por isso é preciso estar atento para perceber, ouvir, observar, compreender e apreender a realidade vivida e apresentada pelas famílias. Sobre o registro dos dados colhidos na visita domiciliar, a autora Cardoso (2006) orienta que ao registrarmos os dados colhidos, devemos respeitar princípios éticos, permitindo que os sujeitos tenham acesso a todas as informações. Desse modo, os referenciais teóricos e metodológicos devem ser utilizados no momento da visita e na elaboração dos relatórios, levando em consideração, sempre, que a história de vida dos sujeitos, bem como suas intimidades, cotidianidade nos sãos confiadas enquanto profissionais assistentes sociais e, portanto, precisamos agir com zelo e respeito. Relatório Chegou o momento de falarmos de outro instrumento muito utilizado pelos assistentes sociais no cotidiano da prática profissional, trata-se do relatório. [...] o Relatório Social é um instrumento que reflete a qualidade da aplicação dos outros instrumentais. Se você faz bem uma Entrevista Social, mas não documenta, ou documenta sem qualidade, fique certo que isso vai refletir nos efeitos de sua Intervenção Social e até no acesso por parte dos usuários aos direitos sociais. (CARDOSO, 2006, p. 78) 9 UNIDADE Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social A autora nos chama a atenção para a importância do relatório, que aparece como um instrumento ora complementar, ora principal das intervenções profissionais. Complementar porque irá apresentar os resultados de uma ação, como visita domiciliar, entrevista, atendimento individual ou em grupo, e principal porque muitas vezes ele irá anunciar o que precisa ser feito ou trará determinações conclusivas sobre uma situação trabalhada. Por isso ele precisa ser bem elaborado, levando-se sempre em consideração o seu objetivo e finalidade. No relatório vamos registrar os dados coletados através da observação e escuta durante as intervenções profissionais. Cardoso aponta algumas finalidades para o uso do relatório. Confira: [...] ao elaborarmos um Relatório Social: analisar a aplicação dos princípios e técnicas do Serviço Social, pesquisar suas intervenções sociais, a partir dos registros documentados, e para a aprendizagem profissional, quando disponibilizados; serve também para entendermos uma determinada realidade social, suas nuances e complexidades; e nos permite desenvolver nossa intervenção social a partir de análises dos dados obtidos, bem como de suas associações com leis sociais, programas e políticas e, especialmente, com perspectivas estratégicas de intervenção, baseada sempre nos direitos sociais em curso. (CARSOSO, 2006, p. 80 e 81) Importantes considerações sobre o relatório Arquivamento: todos os documentos elaborados pelo assistente social devem ser arquivados em local próprio, cujo acesso seja permitido apenas ao profissional e à equipe diretamente envolvida no trabalho realizado (equipe multidisciplinar). Rasuras e emendas: os documentos devem ser íntegros, ou seja, nada de rasuras, emendas ou outra forma de adulteração da informação original. Um assistente social não pode alterar informações contidas em um documento elaborado por outro colega assistente social, muito menos um profissional de outra área; trata-se de um princípio ético. Linguagem: sempre utilizar linguagem técnica, formal ou culta, porém de forma acessível, levando em consideração todas as pessoas que poderão e deverão tomar conhecimento dos registros dos dados coleados. Em geral, os relatórios são redigidos na 3ª pessoa do plural. Corpo do relatório: sempre em papel timbrado, com a identificação da instituição, ou espaço sócio-ocupacional onde o assistente social atua; fazer referência ao local e data. 10 11 Descrever qual é o tipo de relatório realizado, qualificação da pessoa ou pessoas que receberam a intervenção, descrição do histórico. Parecer social: “que trata da opinião do profissional (coerente com suas análises técnicas, a curto, médio e longo prazo) e da indicação adequada para prestação do serviço social necessário [...]”. (CARDOSO, 2006, p. 98) Identificação do profissional: identificação do profissional que realizou a intervenção, com os registros (nome completo, número do CRESS, carimbo e assinatura). Seguem abaixo links de alguns modelos de relatórios diversos elaborados no âmbito do serviço social: Visita domiciliar para concessão de bolsa de estudos: https://goo.gl/TJOpgi Relatório para abrigamento: https://goo.gl/Ud6fXl Ex pl or Estudo social Outro instrumento muito utilizado pelos assistentes sociais é o Estudo Social, que vai servir como fundamentação para aplicação de medidas judiciais e tomadas de decisões acerca de assuntos complexos das mais diversas ordens. O estudo social é um processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social, objeto de intervenção profissional – especialmente nos aspectos socioeconômicos e culturais. (FÁVERO, 2011, p. 42 e 43) E para elaborar um estudo social, o profissional vai utilizar vários instrumentos técnico-operativos do Serviço Social, que permitirão levantar dados sobre a situação investigada, apreender a realidade e compreender os significados do real vivido pelos sujeitos envolvidos na questão. Como funciona o estudo social no processo de adoção? https://youtu.be/cPIM3qniTNI Ex pl or O estudo social será composto por entrevistas, observação, escuta, comunicação oral, registros de dados, visita domiciliar, relatório e pareceres. Tudo pautado por um referencial teórico-metodológico, ético-político e a partir de então “constrói um saber a respeito da população usuária dos serviços [...]”. (FÁVERO, 2011, p. 28). 11 UNIDADE Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social Quando nos referimos à fundamentação da ação através dos referenciais teórico- metodológicos, ético-políticos, estamos chamando a atenção para o conhecimento obtido através da realidade social, da economia, da política, ética, cotidianidade, que garantam o acesso aos direitos dos sujeitos. A autora ainda diz que esse saber produzido expressa poder, pois o resultado de um estudo social pode contribuir para definir o futuro de crianças, adolescentes, idosos e famílias. No link abaixo você vai encontrar um modelo de estudo social realizado para dar suporte a uma ação judicial: https://goo.gl/qGiH7T Ex pl or Você pode estar se perguntando quem pode solicitar ao assistente social a realização do Estudo Social e com quais intenções. Veja, como se trata de um instrumento técnico-operativo do Serviço Social e estando o assistente social inserido em diversos espaços sócio-ocupacionais, o Estudo Social poderá ser realizado em diversas áreas objetivando fins específicos, contudoé uma ação muito expressiva no âmbito do Judiciário para auxiliar o juiz em suas decisões. Parecer social O próximo instrumento técnico-operativo do Serviço Social, tema das nossas reflexões, será o Parecer Social, como parte da ação dos assistentes sociais nos diversos espaços sócio-ocupacionais. E nossa reflexão, então, inicia-se a partir dos aspectos teórico-metodológicos, técnico-operativos e ético-políticos, que são os balizadores da ação profissional. Não diferente dos demais, mas nossa ênfase no momento é para a emissão de parecer social, que se trata de uma atividade de extrema responsabilidade, que vai exigir total comprometimento do profissional, uma vez que este vai emitir suas opiniões sobre determinada situação estudada, analisada ou investigada. Veja como a autora Fávero define o Parecer Social: O parecer social diz respeito a esclarecimentos e análises, com base em conhecimento profissional específico do Serviço Social, a uma questão ou questões relacionadas às decisões a serem tomadas. Trata-se de exposição e manifestação sucinta, enfocando-se objetivamente a questão ou situação social analisada, e os objetivos do trabalho solicitado e apresentado; a análise da situação, referenciada em fundamentos teóricos, éticos e técnicos, inerentes ao Serviço Social – portanto, com base em estudos rigorosos e fundamentados – e uma finalização, de caráter conclusivo ou indicativo. (FÁVERO, 2011, p. 47) 12 13 Desse modo, a autora nos orienta que o parecer social será realizado a partir de conhecimento específico do assistente social e isso nos remete à Lei 8662/93 em seus artigos 4º e 5º, que dispõem sobre as competências e atribuições do profissional de Serviço Social. Sugerimos o link abaixo, que traz o modelo de um documento elaborado por uma assistente social da Previdência Social elaborado para a concessão do BPC/ LOAS (Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social): https://goo.gl/j48Plv Ex pl or Nota-se que para a emissão de um parecer social é necessário que antes um estudo aprofundado do caso em questão tenha sido feito, e para a realização desse estudo o profissional fará a escolha dos instrumentos e técnicas que irá utilizar. Vamos analisar o modelo abaixo, descrito no quadro: PREFEITURA MUNICIPAL DE BURITICUPU SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL A FAMÍLIA – PAIF CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS PARECER SOCIAL Nº 01/2011 Conforme solicitado pelo Gestor Municipal do Cadastramento Único do Município de Buriticupu-MA, foi realizado Estudo Social com o objetivo de averiguar a situação socioeconômica do Sr XXXXXXXXXXXXXXXXXX NIS: XXXXXXXXXXXXXXXXXX. Residente na Rua xxxxxxx s/nº – Bairro xxxxxxx, o mesmo está com seu benefício BLOQUEADO. Em visita domiciliar foi observado que o usuário mora com as duas fi lhas no endereço acima, está desempregado e tem uma renda de R$ 1.020,00 (Hum Mil e Vinte Reais) por mês proveniente de benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Em visita o mesmo relatou que não recebe o benefício do BOLSA FAMÍLIA a 1 (um) ano, no ensejo foi orientado e informado sobre o perfi l do benefi ciário do Programa. As informações foram para mim satisfatórias, pois o usuário informou sobre sua renda, onde foi possível detectar que o mesmo não está no perfi l exigido pelo MDS. Sugiro que seja feito o CANCELAMENTO do benefício do mesmo, pois fi ca comprovado que o mesmo não se enquadra no Programa Bolsa Família. Portanto, sugiro que seja excluído como benefi ciário do Programa Bolsa Família, por não estar dentro dos critérios legais vigentes permitidos pelo MDS. Buriticupu - MA, 10 de janeiro de 2011. Fonte: SCRIBD. Parecer social 13 UNIDADE Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social Nesse caso, houve uma solicitação para que um Estudo Social fosse realizado, com um objetivo – a verificação da condição socioeconômica de um usuário. O procedimento foi realizado através de visita domiciliar, que possibilitou a coleta de dados e apreensão da realidade. Tais dados foram registrados, analisados, e o resultado foi apresentado no parecer social, como uma sugestão do profissional que realizou o estudo social, para apreciação do solicitante. Parecer social ajuda pessoas que fazem uso contínuo de remédios: https://youtu.be/PZ-twxjisFU Ex pl or O parecer social pode ser elaborado como parte final ou conclusiva de um Estudo Social, de uma visita domiciliar, de atendimentos individuais e ou coletivos realizados. Fávero (2011) orienta que o profissional deve perceber se deve ou não emitir um parecer social. Perícia social Perícia é uma avaliação que se realiza em determinadas situações e sempre quando é necessária a elaboração de um laudo e um parecer técnico de alguma área específica, e quando esse estudo é realizado pelo assistente social recebe o nome de Perícia Social, “por se tratar de estudo e parecer cuja finalidade é subsidiar uma decisão, via de regra, judicial” (FÁVERO, 2011, p, 43). E para a realização de uma perícia, será necessário um estudo social. Para a sua construção, o profissional faz uso dos instrumentos e técnicas pertinentes ao exercício da profissão, sendo facultada a ele a realização de tantas entrevistas, contatos, pesquisa documental e bibliográfica que considerar necessária para a análise e a interpretação da situação em questão e a elaboração de parecer. (FÁVERO, 2011, p. 43, 44) O perito social, então, é um profissional capacitado e habilitado por seu processo de formação acadêmica, que também reúne experiência prática, que se especializa em uma área específica do conhecimento. Conforme a Lei 8662/93, em seu artigo 4º, inciso XI: “realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades”. Esse item deixa claro que o assistente social é um profissional capacitado para a realização de estudos sociais, e no artigo 5º, no inciso IV: “realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social”. Ou seja, a perícia social é uma ação exclusiva do assistente social. 14 15 Laudo social O laudo social é um instrumento muito utilizado pelos assistentes sociais que atuam no poder judiciário, também com o objetivo de subsidiar as decisões dos processos. É um documento, que contém dados e resultados do estudo social e ou perícia social, que não precisa ser feito de forma detalhada, mas conterá registros diversos e esses devem ser arquivados conforme orientação ética. Laudo Parecer É dado pelo técnico e profi ssional especializado no assunto. É a conclusão dada pelo médico ou outro profi ssional sobre o assunto em caráter consultivo. É a descrição dos fatos pelo técnico especialista. É uma opinião de outro profi ssional. É objetivo. É subjetivo e se baseia no laudo. Fonte: https://goo.gl/EQGgMj Estudo socioeconômico Ação prevista no art. 4º da Lei 8662/93, que define o estudo socioeconômico como sendo uma competência do assistente social, realizado em diversos espaços sócio-ocupacionais. Os debates sobre a prática profissional do assistente social sob uma perspectiva crítica têm promovido ao longo dos tempos um redimensionamento da ação profissional e ao que se refere ao estudo socioeconômico em si, cuja terminologia traz uma ideia fragmentada de avaliar a condição de vida dos sujeitos apenas pelo fator financeiro, daí a substituição gradativa por estudo social, que remete a uma condição de totalidade. Nas políticas de Assistência Social, Previdência, Saúde e Habitação, os estudos socioeconômicos são realizados para verificação dos critérios de enquadramento para a concessão de benefícios e participação em programas sociais e serviços. Nas empresas privadas também são realizados estudos socioeconômicos, a fim de identificar os casos elegíveis para inclusão dosbenefícios oferecidos. Já no poder judiciário, as avaliações são realizadas para ampliação dos dados dos Estudos Sociais, Laudos Sociais e Pareceres Sociais. Outro espaço privilegiado para a realização dos estudos sociais são os plantões sociais nos equipamentos públicos e privados. 15 UNIDADE Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social Os estudos socioeconômicos/ estudos sociais, como toda ação profissional, consistem num conjunto de procedimentos, atos, atividades realizados de forma responsável e consciente. Contêm tanto uma dimensão operativa quanto uma dimensão ética e expressa, no momento em que se realiza a apropriação pelos assistentes sociais dos fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos da profissão em determinado momento histórico. (MIOTO, Regina Célia Tamaso) Seu objetivo principal é a elaboração de um parecer sobre a situação estudada, sobre ocaso analisado. O estudo socioeconômico aproxima ao máximo o assistente social da realidade dos sujeitos, permite-lhe uma apreensão da realidade em sua complexa vivência. A abordagem dos sujeitos para a realização do estudo pode ser de modo individual ou em grupo, e o profissional faz uso da entrevista para a coleta dos dados e preenchimento dos registros necessários. Formulário para estudo socioeconômico para concessão de bolsa de estudos: https://goo.gl/SJjdrX Ficha de avaliação socioeconômica e familiar: https://goo.gl/73tRIF Ex pl or De modo geral, a avaliação socioeconômica revela ao profissional assistente social as condições de vida do usuário no que se refere à situação de trabalho e renda, condições de moradia, composição familiar, rede de apoio, acessibilidade, bens e serviços disponíveis. Informações que devem receber o trato da ética e do respeito, que passa pelo sigilo e comprometimento profissional, uma vez que através desse instrumento o assistente social aproxima-se de forma bastante íntima da vida das pessoas. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Filmes A maçã https://youtu.be/buhLlfTVPwI Preciosa – uma história de esperança https://goo.gl/AJPuYG Leitura Oficina de Serviço Social: elaboração de relatórios e laudos. GERBER, Luiza Maria Lorenzini. Oficina de Serviço Social: elaboração de relatórios e laudos. https://goo.gl/tBgpbA Estudos socioeconômicos. MIOTO, Regina Célia Tamaso. Estudos socioeconômicos. https://goo.gl/Ai6Plp 17 UNIDADE Procedimentos técnico-operativos do Serviço Social Referências AMARO, Sarita. Visita domiciliar: guia para uma abordagem complexa. 2ª ed. Porto Alegre: Editora AGE, 2007. BRASIL. Lei 8662. Dispõe sobre a profissão de assistentes sociais e dá outras providências. Brasília, 1993. CFESS. O estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos: contribuições ao debate no Judiciário, Penitenciário e na Previdência Social. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. FÁVERO, Eunice Terezinha. Instruções sociais de processos, sentenças e decisões. Disponível em: <http://www.cressrn.org.br/files/ arquivos/8W95x91Vh0eXhsCK46ge.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2016. 18 teorico (1) teorico (2) teorico (3) teorico (4) teorico (5)