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CADERNO DE PESQUISAS MAÇÔNICAS Copyright – 2019 – da Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore – Brasil – nº45 Editado para uso Maçônico 1ª Edição Londrina 2019 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 “A Maçonaria apenas mostra o caminho. Ela representa um meio. O fim é o próprio Irmão. Se o Irmão não achar a Verdade em si próprio, ninguém a achará por ele. Se o maçom for pequeno espiritualmente, nem usando avental bordado a ouro, fará dele um verdadeiro maçom.” Hercule Spoladore Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 Diretoria (2017- 2019) Duncan de Armando ZancanelLa VENERÁVEL MESTRE (WORSHIPFUL MASTER) Hilton Hideki Hirabara PRIMEIRO VIGILANTE (SENIOR WARDEN) Antônio Nechar Junior SEGUNDO VIGILANTE (JUNIOR WARDEN) Bruno Saldanha Baldocchi SECRETÁRIO (SECRETARY) Eduardo Ogleari TESOUREIRO (TREASURER) Luiz Claudio Depes Eiras PRIMEIRO DIÁCONO (SENIOR DEACON) Eduardo Gonçalves SEGUNDO DIÁCONO (JUNIOR DEACON) Sidney Antônio Bertho CAPELÃO (CHAPLAIN) Rogério Marques da Silva ORGANISTA (ORGANIST) Antônio Aparecido de Hercules COBRIDOR (TILER) Francisco de Sales Bondioli MORDOMOS E HOSPITALEIRO (STEWARDS and SMOLER) Francisco Vicente Fachinelli (in memorian) PRIMEIRO MESTRES DE CERIMÔNIAS (SENIOR MASTERS OF CEREMONIES) Edson Luiz Henriques PRIMEIRO MESTRES DE CERIMÔNIAS (SENIOR MASTERS OF CEREMONIES) Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 A LOJA QUE NASCEU PARA BRILHAR Fundada naquele distante 15 de março de 1.975, fruto do desejo de alguns maçons que desejavam uma Loja que fosse capaz de avançar no estudo da Maçonaria, fugindo da maneira das Lojas tradicionais, sempre envolvidas em sessões arrastadas com pouca instrução. Foi este pensamento que fez surgir a Loja de Pesquisas Brasil, que acaba de completa 44 anos de vida profícua, espargindo conhecimento e cultura maçônica. Pensou-se homenagear um membro da Loja, que representasse todos os demais fundadores, não que fosse o mais importante ou laborioso que os demais, mas por sua luta constante por longos anos. Viu-se a figura do irmão Hercule Spoladore, o único fundador ainda ativo e atuante. Os membros da Loja pensaram então em homenageá-lo pelos seus cinquenta e sete anos na Ordem, como forma de agradecimento pelo muito que nos ensinou. Mas que tipo de homenagem poderíamos fazer para este notável maçom ? Veio a ideia de dar seu nome como patrono da Loja de Pesquisa Maçônicas Brasil. Apresentada a proposta, foi aprovada por unanimidade e com aplauso de todos, que na hora decidiram que nossa Oficina passaria a se chamar Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore-Brasil. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 Manteve-se “Brasil”, para conservar viva a memória de seus fundadores que escolheram este nome. Começou então os preparativos da festa, comandado pelo VM Duncan de Armando Zancanella e sua diretoria. Tudo foi pensado em suas minúcias para que tivéssemos uma festa à altura do Mestre Hercule Spoladore. Numa sessão memorável com a presença de duzentas pessoas entre convidados e maçons, além de toda a família Spoladore, os presentes viveram uma noite de alegria no mais fraternal encontro maçônico. Presentes estavam o Grão Mestre do GOP, o sereníssimo irmão Rubens Martins Jr. e seu adjunto, Christian Flores, que deram desde o início, todo apoio para que esta homenagem acontecesse. Se fez presente também o irmão Jonas Adalberto Pereira, representante do Grão Mestre da Gran Logia Simbolica del Paraguay, o Sereníssimo Edgar Caballero Sanchez. M∴M∴ Laurindo Roberto Gutierrez Texto também publicado na Revista “A Trolha” (Mês 06/2019) Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 APRESENTAÇÃO DA OBRA Durante o Período de 2017-2019, muitas conquistas forma alcançadas por essa Augusta e Respeitável Loja, além disso sua diretoria nesse período provou-se realmente empenhada em manter alguns conceitos e costumes maçônicos que doravante tinham sido esquecidos pelo tempo e pela mudança tecnológica que vivemos nestes momentos atuais. Durante todos esse período (2017-2019), 89 palestras foram proferidas, sendo elas 19 em Loja e 70 em outras lojas de todas as potências regulares. (GOP, GOB e GLP). Esse livro além de ser também uma retomada em um dos costumes da Loja, também vem fechar esse ciclo de mudanças e retomadas. Para os irmãos que buscam ler ou apresentar Trabalhos em Lojas, essa Coleção de textos de nossa Loja busca trazer muitos subsídios importantes para tal. Existem trabalhos mais curtos e outros mais extensos, que podem ser apresentados na integra ou parcialmente, os leitores mais ávidos podem devorá-los e pesquisar mais sobre o tema outros podem assimila-los e/ou mesmo utiliza-los como referência, para seus trabalhos e pranchas futuras. Essa é contribuição, bom acho que mais uma contribuição que nossa Loja de Pesquisas, faz para a propaganda e Cultura Maçônica, cumprindo assim sua Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 finalidade, além de abrir espaço a novos autores que estão iniciando e desbravando esse caminho que é a formação de desenvolvimento do saber Maçônico. O Irmão leitor verá que todos os textos tem conteúdo que são fontes de informação com relação a realidade atual do Maçom e sua visão de mundo, um retrato do momento de seu lapidar da pedra, burilando seu interior e reproduzindo, ou melhor, mostrando aos irmãos quais sua evolução neste trabalho árduo de caminhada. Os Editores Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 SUMÁRIO A INICIAÇÃO ........................................................................ 10 DESCANSO PARA O PEDREIRO ............................................ 13 IRREGULARIDADE E CONIVÊNCIA ..................................... 17 O CÉU NÃO PODE ESPERAR ................................................. 20 VISITAÇÃO MAÇÔNICA ........................................................ 23 A COR DO REEA NO BRASIL ATRAVÉS DOS TEMPOS ......... 25 POSIÇÃO DO ALTAR DOS JURAMENTOS EM LOJA DO REAA .............................................................................................. 49 VELAS E SEU SIGNIFICADO NA MAÇONARIA ..................... 53 AXIOMAS E SOFISMAS NA MAÇONARIA ............................. 67 COMENTÁRIOS A RESPEITO DOS CALENDÁRIOS NA MAÇONARIA BRASILEIRA ................................................... 73 FICÇÃO OU VERDADE? ESPECULAÇÕES.............................. 89 DIVAGAÇÕES SOBRE AS COLUNAS J e B ............................ 101 PRÍNCIPE DOS POETAS PARANAENSES ............................ 114 O CADÁVER ........................................................................ 125 CAGLIOSTRO, OU JOSÉ BÁLSAMO – MAÇONARIA MÁGICA ............................................................................................ 137 AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA, O COMUNISMO E A MAÇONARIA PARANAENSE NA DÉCADA DE 30 (1930).. 142 MAÇONARIA ADONHIRAMITA .......................................... 157 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 A PRANCHETA .................................................................... 169 MAÇONARIA E PROCEDIMENTOS MÁGICOS ....................179 MAÇONARIA, PASSADO, PRESENTE E FUTURO................ 194 LIVRE PENSADOR MAÇÔNICO ........................................... 217 LANDMARQUES, O QUE EU PENSO A RESPEITO... ............ 222 JOSÉ BONIFÁCIO E O APOSTOLADO, OU A NOBRE ORDEM DOS CAVALEIROS DE SANTA CRUZ ................................... 230 ADOÇÃO DE LOWTONS E O CULTO DE MITRA (MITRAISMO) ............................................................................................ 245 PRIMEIROS MESTRES MAÇONS DA MAÇONARIA ............ 251 A ESTRELA FLAMEJANTE .................................................. 257 PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM DO RITO RASILEIRO .......................................................................... 260 RENÉ DESCARTES E SUA FILOSOFIA ................................ 265 TEMPLO MAÇÔNICO SIMBOLISMO DOS ORNAMENTOS DO TEMPLO NO RITO BRASILEIRO (COMAB) ........................ 270 TEOSOFIA O QUE É? ........................................................... 276 A CERIMÔNIA DAS LUZES MISTICAS DO RITO BRASILEIRO ............................................................................................ 279 A CORAGEM ........................................................................ 283 UM LIDER ABOLICIONISTA ............................................... 288 A LOCALIZAÇÃO DAS COLUNAS “J” E “B” NO RITO BRASILEIRO (COMAB) ....................................................... 292 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 AS QUATRO BORLAS NO PAINEL DA LOJA DE APRENDIZ 295 AS TRÊS VERTENTES DA MAÇÔNARIA ............................. 301 ESCURIDÃO E A LUZ........................................................... 309 O AVENTAL......................................................................... 312 AS TRÊS VIAGENS INICIÁTICAS......................................... 316 E A ....................................................................................... 316 PURIFICAÇÃO PELOS ELEMENTOS ................................... 316 LAPIDAÇÃO DA PEDRA BRUTA EM PEDRA CÚBICA ......... 348 É PARA A FRENTE QUE SE ANDA ...................................... 404 ESPADA FLAMÍGERA OU ESPADA FLAMEJANTE? ............ 407 HERMES TRISMEGISTO – UMA COLUNA MAÇÔNICA ....... 413 A INFLUÊNCIA DA CULTURA JUDÁICA E GRECO-ROMANA, NA FILOSOFIA DO RITO ESCOCÊS ..................................... 472 OS GRAUS SIMBÓLICOS NA MAÇONARIA ......................... 481 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 10 A INICIAÇÃO Ir∴ Laurindo Roberto Gutierrez “Ser maçom, não é direito; é recompensa” A iniciação maçônica é um ato definitivo, na vida de um profano prestes a ser tornar maçom. Não existe outra experiência igual. Ela é única, e, se não for bem conduzida, plena de emoção e respeito por parte dos envolvidos nesse ato, é possível que o recipiendário não vivencie ou não sinta intensamente cada movimento, passos, ruídos, sons e odores, no desenrolar da cerimônia. Essas sensações formam um conjunto de sentimentos que podemos chamar de “sensações iniciáticas”. A iniciação tem mais que emoção e sentimento em si, do que se pode imaginar, e cada um reage à sua maneira, de acordo com sua sensibilidade e percepção. O silêncio e a seriedade no ambiente devem ser impecáveis, para que todos, em especial, os neófitos possam assimilar o que está acontecendo. Os que conduzem a cerimônia devem se compenetrar da importância do ato, e os presentes tem a obrigação de colaborar, para que tudo saia à perfeição, pois nesse momento, a Egrégora está formada e o ambiente deve ser envolvente e harmonizado para que se possa “ouvir” o silêncio. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 11 A impostação de voz deve ser observada e treinada antes, especialmente pelo Venerável e os Vigilantes, que não podem atropelar a leitura, nem tartamudear. O neófito, em estado de quase transe, precisa que tudo tenha clareza para melhor ouvir e compreender, pois depois de horas privado da visão, ele está psicologicamente desgastado e com dificuldade de entendimento. Um irmão de minha Loja Mãe, homem culto, médico, escritor e maçom puro, diz foi de tal forma envolvido, e como num arrebatamento, sentiu uma leveza de espírito que o fez CONHECER DEUS, no dia de sua iniciação. Abordo esse assunto, pois sabemos que ainda, em pleno no século XXI alguns maçons insistem em transformar a sessão magna de iniciação num ato ridículo, fazendo o profano ficar de terno e gravata, numa praça pública num dia de sol escaldante, à vista de todos, à espera de seus “algozes”. Creiam; ainda se usa a famigerada tábua de pregos num ato de covardia contra um profano amigo, que vendado e semi nu, não pode se defender dessa atitude covarde, nem identificar que assim age. Uma prática medieval. Anos atrás, em viagem, fui a uma Loja e vi numa iniciação, galhos dentro do templo, que eram esfregados nas pernas, costas e peito do recipiendário, numa galhofa para divertir os presentes. E todos riam. Mais ainda, alguns “maçons de ocasião”, mostram seu lado obscuro, e chegam a levar o profano à noite no cemitério onde é recebido por um irmão da Loja, com uma caveira de animal pendurada no pescoço, numa cena ridícula, uma demonstração de total falta de respeito ao seu semelhante, naquele momento tão importante de sua vida. Isso não é comportamento de homem livre, ou Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 12 minimamente civilizado. Incrível, como alguns agem tão mal maçonicamente, transformando o Templo num quase picadeiro. O interessante é que esses maçons, foram por nós escolhidos entre os melhores homens de nossas relações, por sua conduta ética e por sua moral. Agora como mestres maçons, (aprendiz e companheiro não fazem isso) como podem eles proceder assim? Coisa que nunca fizeram em casa, nem no trabalho, com ninguém, agora num comportamento idiota, praticam. O que houve com o caráter deles? Sugiro formar um grupo de estudo do Ritual, para mostrar que essa gente, que tal ação não faz parte da Iniciação. Imaginem o que pensaria a esposa de um candidato ao saber que seu marido, teve que se sujeitar a essa troça, um escárnio inaceitável. Se o candidato não sentir as mensagens transmitidas na iniciação, seu ingresso na Ordem poderá resultar num retumbante fracasso com mais um faltante crônico, às sessões de sua Loja. Uma iniciação mal feita, pode apenas revestir com o avental maçônico um eterno profano. A cerimônia de iniciação pode ser vista como uma teatralização, mas não como um show barato de circo mambembe. A cerimônia da iniciação é a mais importante atividade maçônica, e deve ser realizada entre irmãos reunidos em absoluto segredo, e tomados pelo mesmo sentimento de amor, que só os iniciados nos Augustos Mistérios são capazes de sentir. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 13 DESCANSO PARA O PEDREIRO “Na dúvida aprendemos; na certeza nem sempre” Ir∴ Osni Adres Lopes Ir∴ Laurindo Roberto Gutierrez Em todo mundo a Maçonaria vive de Duas reuniões mensais, ou uma bimensal, e até uma trimestral, como é na Inglaterra. Apesar de parecer pouco para nós brasileiros, eles são atuantes e fazem sua parte em matéria de trabalho social, filantrópico, e de estudos. Na França, Portugal, Espanha, Nova Zelândia e Estados Unidos são duas sessões. Propor isso aqui, causaria uma discussão interminável, ou talvez nem discussão houvesse (deixa como está) pois nos acostumamos com quatro e atécinco sessões mensais. Depois de quase quatro décadas na Ordem, senti um esgotamento por esse regime de trabalho sem descanso, apesar de gostar da convivência em Loja com meus irmãos. Mas, e da família, não gostamos também? Ficar mais tempo em casa é revigorante, além do que, pregamos que a família está em primeiro lugar. Pensando em ajudar os mais velhos, foi criada na Nova Zelandia, a Loja Daylight, que se reúne à luz do dia, evitando o que aconteceu com o Senior Warden (primeiro Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 14 vigilante) que caiu no sono e roncou, em sessão noturna, como me relatou o irmão Timothy Collier, da Loja Montrose 722 - SC, de Gisborne- New Zealand. Foi criada em Porto Alegre, a Loja Centenário, que trabalha à tarde, para atender os irmãos em “idade canônica”. Seguindo essa tendência, em Londrina, tem a Loja François Voltaire e a Loja Areópago que trabalham com duas sessões ritualísticas ao mês. Com o avançar da idade não temos mais a mesma visão para dirigir à noite, nem a mesma disposição para sair de casa toda semana. Lembre que nossas esposas envelhecem e precisam mais de nossa presença, pois sua saúde em alguns casos, não vai bem. Voltar para casa após as 22 horas, é um risco nos dias atuais, devido a falta de segurança pública. Passei por isto, e tive que me filiar numa Loja com apenas uma sessão mensal. Não tenho dúvida que este regime de trabalho com até 5 sessões semanais, se esgotou, e esgotou todos os maçons. Mudar é preciso, e logo! Talvez este regime de trabalho cansativo (as vezes improdutivo) pode estar contribuindo para a evasão maçônica. Como é possível adotar o sistema praticado no mundo, e manter a agenda de trabalho em ordem? Bem, aí, depende dos Veneráveis e das diretorias terem vontade para implementar essa mudança. Nas Lojas com grande número de membros, o saco de proposições recolhe um elevado número de pranchas (as vezes até 30 ou mais) que para serem decifradas leva-se um tempão, consumindo boa parte das duas horas de trabalho. Falo de mudança, e apresento uma sugestão: O remédio é a informatização parcial das atividades maçônicas, apesar do perigo que Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 15 poderia advir com isso, pelo vazamento aos olhos e ouvidos profanos. Vejamos: os pedidos de informação de outras Lojas, sobre profanos à iniciação, elevação, exaltação e posse de diretorias, podem ser via e-mail, como já faz o Grande Oriente do Paraná. Pranchas pedindo a cessão do salão social, de ajuda de instituições, devem ser analisadas pela diretoria, bem como os certificados de presença de visitas a outras Lojas, podem ser agrupados e anunciados em bloco, sem citar nomes. Acreditem que tem irmãos que exigem que seus certificados de visitas sejam lidos um a um, para seu deleite e glória. As pranchas das Corporações Filosóficas, com pedido de informação para a elevação de graus, não precisam serem decifradas “ipsis litteris”, uma a uma, em sessão, podendo ser respondidas administrativamente. Isso não vai afetar a excelente relação de cordialidade e amizade que sempre existiu entre as Lojas Bases, e os Altos Corpos. O secretário executivo da Loja pode organizar tudo, e enviar via correio eletrônico, as informações a quem de direito. Não vamos imaginar que a “A Palavra à bem da Ordem” deva ser suprimida, porém pode encurtada. É preciso que seja objetiva, concisa e sem delongas, sendo “À Bem da Ordem” mesmo, e nada mais. Basta estabelecer um tempo mínimo de 3 minutos. As Lojas modernas, que se dedicam à pesquisa maçônica com apenas uma sessão mensal, viram que era preciso “gastar” o tempo com estudo e discussões inteligentes, então passaram a enviar os irmãos o Balaústre pelo e-mail para o irmão tomar ciência, e, na Loja é aprovado sem a leitura do mesmo. Tudo o mais é resolvido nas sessões Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 16 Administrativas. Se no mundo inteiro é assim, com DUAS sessões mensais, porque não pode ser da mesma forma entre nós? A obrigatoriedade da frequência maçônica, não é apenas na Loja Base/Mãe, é também na Loja de Perfeição, no Capítulo, no Kadosch, no Consistório e nos Graus Administrativos. Tem ainda as organizações paramaçônicas juvenis que os pais precisam levar a filharada, como, a Ordem DemoLay, as Filhas de Jó e a Arco Iris. Não esqueçamos ainda que a visitação em outras Oficinas é obrigatória ao Aprendiz e ao Companheiro. Fico imaginando o que uma Loja com quadro diminuto, numa cidade pequena tem tanto a tratar, que precise de quatro a cincos sessões no mês. Num passar d´olhos no calendário, vi que seriam 21 sessões ao ano, contra quase 45 no sistema atual. Um único templo poderá acolher 10 lojas por mês . Mais Lojas no mesmo templo, poderia baratear o aluguel para as Oficinas locadoras, que em alguns casos tem dificuldade para pagar. Acredito mesmo, que o índice de frequência aumentaria, e certas sessões hoje “vazias”, se tornariam mais vibrantes e proveitosas, bem diferente de algumas situações, onde apenas “meia dúzia de bodes pingados” se faz presente. Trabalhar do meio dia à meia noite, é apenas uma simbologia. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 17 IRREGULARIDADE E CONIVÊNCIA Ir∴ Laurindo Roberto Gutierrez Não é raro ver irmãos em situação maçônica irregular frequentando Lojas. Nunca é um aprendiz, ou companheiro; sempre um Mestre. De uns tempos para cá, temos notado que esses casos estão mais frequentes. Alerta de falsos irmãos impostores que agem livremente se aproveitando do descuido dos maçons, frequentando Lojas e até dando golpes, são publicados na internet. Porém o mais comum mesmo é irmãos irregulares que conhecemos, fazerem isso e não serem barrados. Eles até assinam, e citam no Livro de Presença a última Loja a que pertenceram, o que se caracteriza um quase “estelionato maçônico” por usar sem ter direito ou conhecimento da mesma, o nome daquela Oficina. Há um caso acontecido o “irmão” nem assinava o livro. Foi descoberto, mas ninguém o interpelou. Um desses casos está se tornando corriqueiro, o esperto visitante, logo que chega, chama o Venerável para um canto e ardilosamente o envolve, conseguindo sempre entrar para a sessão. Pergunto: se sabemos disso por que não alertamos o Venerável ? Se alertado, por que ele não cumpre a lei ? Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 18 Um irmão me relatou o caso de maçom que frequenta a Loja há um bom tempo, em situação irregular e os Veneráveis, um após outro, alegando tolerância, aceitam com a tranquilidade do “dever cumprido”, essa burla. Falham os dois lados; o maçom “penetra” pela falta de escrúpulo, e o Venerável, pela omissão. Um maçom irregular, que visita uma Loja, torna a sessão irregular, e tudo nela tratado, não vale nada, e qualquer irmão presente tem a obrigação pedir a anulação da sessão. A reunião não pode ter maçom irregular, porém, podemos recebê-lo como irmão que é, convidando-o partilhar à mesa o ágape fraternal, nos esperando no salão social, depois dos trabalhos. Está no ritual a ordem para verificar a situação de cada visitante. E a palavra semestral, criada para impedir a entrada irregular nas Lojas, porque não é usada? talvez porque o compadrio entre maçons seja mais importante que as leis. O caso mais gritante de descumprimento às leis e falta de verificação (trolhamento) de um visitante, resultou em vergonha paratodos. Um irmão idoso, veio para uma visita. Não trolhado, veio de novo, e de novo, até que um certo dia apareceu um jovem querendo receber pelo serviço sexual prestado à aquele “visitante ilustre”. Possivelmente, nem maçom era, apenas um homossexual experto, que usou e abusou da “inocência” dos Maçons, e ainda indicou a Loja como lugar para receber o valor combinado pelo programa. Pergunto; e o orador da Loja, porque não faz cumprir as leis e regulamentos de sua Oficina? Um médico que trabalhou num hospital, após sua aposentadoria não participa mais Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 19 das reuniões da diretoria clínica, nem o Juiz, será convidado a participar das decisões da magistratura. E porque um maçom irregular teima em participar da reunião maçônica? Os que insistem nessa prática, acham cômodo não se filiar em nenhuma Loja, não pagar a mensalidade, sem a obrigação de freqüência, e, não tendo nenhum lugar para ir, aparecer na sessão para “aprender” um pouco mais, e rever os irmãos. Incrivelmente, esses bicões quase sempre contam com a ajuda de algum mestre, que apela pela tolerância. Que tolerância é essa? A Ordem é uma escola de aperfeiçoamento, onde nem sempre se cumpre as leis. Confesso que sinto vergonha, pois sabendo desses casos, muitas vezes me mantive calado. Agora faço esse alerta. E os Mestres, continuarão permitindo essa prática? Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 20 O CÉU NÃO PODE ESPERAR Ir∴ Laurindo Roberto Gutierrez Outrora, a velhice era uma dignidade; hoje ela é um peso. (Francois Chateaubriand) Quando fui iniciado, a vida para mim, ganhou um novo sentido, pelas novas amizades e pelo ensinamento que recebia nas instruções de meus preceptores. A sessão maçônica era uma coisa extraordinariamente nova e reveladora. Jovem ainda, nos meus trinta anos contados, sonhava em crescer na Ordem e ser como aqueles irmãos mais antigos, pois via neles tanto conhecimento e amizade, eram na verdade, sábios inspiradores, aqueles “velhinhos” daquele tempo, eram minha inspiração. Para mim, eles viviam num mundo de felicidade, e isso era uma herança, que levariam até os dias da velhice; pensava eu. Esse sentimento inundava meu o espírito de paz e esperança, crendo numa vida futura plena de realizações maçônicas. Jamais poderia pensar que o caminhar dos anos Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 21 trouxesse consigo mudanças tão importantes. Parece que a juventude não conhece o segredo para a transmutação, e quando a idade avança, somos pegos por uma realidade surpreendente, às vezes desalentadora. A Ordem que servimos por décadas a fio, envidando os maiores esforços, nos abandonará na idade provecta, justamente quando estaremos mais carentes e fragilizados. Na America do Norte, os maçons idosos vão para o albergue da Ordem, onde vivem em paz e dignamente. Abordo esse assunto, levando em conta apenas dois casos de irmãos que vivem no mais completo abandono maçônico. Um, vitimado por uma hemiplegia, não sai para lugar algum, o outro quase cego. Agora vivem, ambos, confinados em suas casas. Essa realidade é bem diferente dos Templos aconchegantes, e dos amplos salões de festas de suas Lojas, que um dia frequentaram. Aquela alegria barulhenta e os abraços fraternos deram lugar ao abandono, ao ostracismo involuntário e ao silêncio cósmico que arrasa seu moral. Se tivessem a mão amiga de um irmão, poderiam ir à Loja, aos almoços, e de novo serem felizes, pela convivência fraterna entre os irmãos. A maçonaria, pródiga em ajudar os velhinhos dos asilos profanos, vira a cara para seus próprios membros, que nem sempre precisam de apoio pecuniário, apenas de uma visita. A tentativa de levar irmãos à casa de um enfermo, sempre resulta em fracasso, pois ninguém sem interessa. Os Veneráveis Mestres, alguns deles, quase nunca vão, preferindo “formar uma comissão”, para uma obrigação que é sua, que ele solenemente jurou cumprir, com a mão sobre a Bíblia. O apelo das cunhadas e dos filhos, pedindo uma visita dos maçons, não Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 22 faz eco. Alguns de nós, acham que maçom inativo não é mais irmão, e não é merecedor de nosso amor, nem de nossa visita, porque deixou a Loja há anos. Se não mudar meu sentimento, renunciarei aos graus que alcancei, e pedirei para ser novamente iniciado. Se minha primeira iniciação não provocou mudança alguma em meu espírito e na minha alma, então preciso recomeçar. O tempo corre célere, e a vida escapa pelos dedos como o mercúrio, quando tentamos segura-lo. Irmãos, há tempo, ainda que curto, para amar e dar alguma alegria ao maçom idoso que muito fez pela Ordem, pois O Céu não pode esperar. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 23 VISITAÇÃO MAÇÔNICA Ir∴ Laurindo Roberto Gutierrez Todo maçom tem direito a visitar qualquer Loja em qualquer lugar e circunstância, como está no 14º Landmark. “O direito de todo maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja, é um inquestionável Landmark da Ordem. É o consagrado direito de visitar, que sempre foi reconhecido como um direito inerente que todo irmão exerce, quando viaja pelo Universo. É a conseqüência de encarar as Lojas como meras divisões, por conveniência, da Família Maçônica Universal” . Na primeira visita é a curiosidade que nos conduz; queremos saber como trabalham aqueles irmãos, será que conheceremos algum amigo naquela Oficina, poderei usar da palavra, como me comportar entre irmãos? nos perguntamos. Tudo é uma Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 24 incógnita em nossa primeira viagem a outra Loja. No cristianismo primitivo, as “novas” eram transmitidas, justamente através da visitação. A visita é elemento necessário seja para a confraternização entre grupos, seja para a ampliação do conhecimento ou para criação e fortalecimento de novas amizades. Os discípulos e mais tarde os Apóstolos percorriam todo o mundo, então conhecido, para o fortalecimento da Fé. Eles sabiam como identificar uma igreja, um irmão. Sob o ponto de vista esotérico o visitante não comparece sozinho em uma visitação; junto a si está toda sua Loja incorporada espiritualmente. Ele conduz a força vibratória dos irmãos que o fizeram embaixador. Ao colocar o óbolo na Bolsa de Beneficência, estará não somente colocando a si próprio para a imantação de seu óbolo, mas também a imantação de seu grupo. Uma vez dentro do Templo o visitante, deve ser considerado como uma presença misticamente valiosa, como uma dádiva e uma benção. Creio que a visita de um maçom a outra Loja, se assemelha a polinização das abelhas espalhando os frutos de amizade e boa vontade entre os irmãos. Ainda hoje compêndios e livros, perdem-se nas digressões sobre o direito ou não de visitação. Esses são preceitos exclusivamente administrativos e bitolados. Alguns mestres, Lojas, e até Obediência, ainda hoje, tentam desestimular a visitação por aprendizes, alegando que só acompanhado de um mestre isso é possível. Os maçons de tempos em tempos, enfrentam dificuldades para continuar sua caminhada, especialmente o Benfazejo que se vê tolhido em sua liberdade de seguir em direção para a prática do Bem. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 25 MARCOS despropositados, cheirando a ranço, foram colocados na estrada de passagem para a visitação maçônica, tentando acabar com esta tradição secular da Ordem Universal. Sempre aprendi mais em visitas a outras Lojas, do que na minha própria, haja vista que são ritos diferentes, novos irmãos que não conhecia. A maçonaria não pode isolar-se dentro dos Templos simplesmente em trabalho exclusivo com os membros de seu quadro. Se assim agir, fenecerá e se autodestruirá. A Loja precisa “outras luzes”, “outras forças” e “outros alimentos”. Adaptado de : Visitação - Rizzardo da Camino A COR DO REEA NO BRASIL ATRAVÉS DOS TEMPOS DECORAÇÃO DO TEMPLO – AVENTAL 3º GRAU E FITA OU FAIXA Ir∴ Hercule Spoladore “O PENSAMENTO REENCARNA AO LONGO DAS IDADES ADOTANDO AS NUANÇAS QUE LHE SÃO IMPOSTAS” – R. Amberlain. Não se pretende discutir preferências pessoais pela cor vermelha ou azul porque se assim fosse o autor deste trabalho por preferência pessoal preferiria a cor azul. “Gosto do azul”. “O vermelho me parece uma cor agressiva.” Mas isto é apenas Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 26 uma questão do gosto de cada um e não representa a verdade histórica do REAA. No entanto em se tratando da história do REAA detalhadamente inserida nos rituais antigos, Congressos, Constituições e Regulamentos e etc. necessário se torna analisar o assunto, citando-se as fontes primárias e descrevendo assim a trajetória do azul, o qual foi se insinuando sorrateiramente especialmente no avental do 3° grau e decoração do templo no Simbolismo no REAA e hoje reina quase que absoluto na maioria das lojas espalhadas pelo Brasil do Rito em foco. Interessante frisar que a maioria dos maçons do REAA do Brasil, não se importa em saber qual é a verdadeira e mais importante cor do Simbolismo do Rito, “redescoberta” pelas pesquisas realizadas por uma minoria de estudiosos, nos últimos vinte e cinco anos porque em realidade, a grande maioria dos maçons é pouco afeita à realidade histórica e só aceita como verdadeiro apenas o que viu e sentiu ao receber a Luz, aceitando ser esta, a verdade. Graças a esta maneira de encarar o problema, e também devido a pouca leitura, já que maçom quase não lê, e a acomodação frente aos estudos sobre a Ordem fez com que estes maçons não aceitem e nem queiram discutir o assunto ficando com a cor azul como a principal do REAA. O REAA tem várias cores. No Simbolismo tem como principal a cor vermelha, além da branca e nas Fitas, não no avental do 3º Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 27 grau existe o azul debruado de vermelho. Nos Graus Superiores existem as cores verde, vermelha preta e branca. É sabido que a cor vermelha tem várias tonalidades e entre elas: carmesim, (vermelho vivíssimo), púrpura (vermelho escuro), escarlate (vermelho rutilante) ou encarnada, que é o vermelho comum. Estas cores sempre ornamentaram a aristocracia na Europa. O vermelho foi sempre a cor preferida pelos reis, papas e bispos e sempre ornamentou a nobreza. Esta cor foi usada pelos primeiros escocesistas, partidários dos Stuarts, quando exilados na França, depois pelos nobres que fizeram parte da fundação do Conselho de Imperadores do Oriente e do Ocidente, que foi um corpo maçônico da época e também frequentado pelos cavalheiros e gentilhomens franceses do Rito de Heredon (25 graus, embrião do REAA). Sabemos que estes maçons do Rito de Heredon foram os precursores do grupo que acabou fundando o REAA em Charleston em 25 ou 31/05/1801 (a mais aceita). Muita história, muita confusão aconteceu até se chegar a fundação do REEA que no inicio chamava-se Rito dos Maçons Antigos e Aceitos. Interessante ressaltar que o Rito não nasceu na Escócia e não era nem Antigo em nem Aceito. O nome correto segundo Castellani seria Rito dos Antigos e Aceitos Maçons. (Na Europa atualmente ele é conhecido como Rito Antigo e Aceito). O REAA entrou no Brasil oficialmente através da autorização dada pelo Supremo Conselho dos Países Baixos da Europa, quando se usava esta nomenclatura para aquela região do continente europeu. Hoje, segundo a geografia atual, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 28 identifica-se como sendo a Bélgica. O Supremo Conselho dos Países Baixos outorgou ao Irmão Francisco Gê Acayaba Montezuma cujo nome verdadeiro era Francisco Gomes Brandão, um documento autorizando a fundação de um Supremo Conselho no Brasil quando ele ainda estava na Europa, exilado pelo Imperador I. Ele não era maçom quando em 1823 foi deportado. Foi iniciado na Inglaterra. O documento está datado de 12/03/1829. Mas a fundação oficial do Supremo Conselho do grau 33 do Brasil, o primeiro Supremo Conselho aqui instalado foi em 10/11/1832. Nesta época havia dois Grande-Orientes aqui no Brasil. O Grande Oriente Brasileiro do Passeio fundado em 1830 e instalado em 24/06/1831 e o Grande Oriente do Brasil (antigo Grande Oriente Brasílico ou Brasiliensi) reinstalado por José Bonifácio em 23/11/1831. Cada um deles reivindicava o direito de ser verdadeiro e originário do Grande Oriente Brasílico ou Brasiliensi de 1822. Não eram amistosos entre si. Havia muita hostilidade entre estas duas Potências. A primeira Loja a adotar o REAA teria sido a Loja “Educação e Moral” fundada por Gonçalves Ledo (Boletim do GOB n°03 ano 52 pg. 216 - 1927) regularizada e filiada ao Grande Oriente do Brasil em 30/03/1832, mas já em 08/06/1832 foi considerada irregular por José Bonifácio. Eis ai os dois brigões de 1822 desde os tempos da Independência do Brasil quando disputavam as benesses do Imperador, se confrontando novamente, agora sem o Imperador, apenas pela disputa de Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 29 poder. Esta Loja filiou-se ao Grande Oriente do Passeio em 1833. Mas ressalve-se, um fato conhecido por poucos escritores maçônicos. No dia 20/05/1822, portanto, vinte e oito dias antes da fundação do Grande Oriente Brasílico ou Brasiliensi, que só ocorreria no dia 17/06/1822 foi fundada uma Loja no Brasil no Rio de Janeiro, no REEA por estrangeiros importantes que aqui residiam. Levou o nome de “Bouclier D’Honneur” (Escudo de Honra). Fundaram também um Capítulo. Seus fundadores solicitaram autorização para o Grande Oriente da França, o qual a reconheceu daí há um ano mais ou menos. Ela foi, portanto, fundada antes do Grande Oriente Brasílico ou Brasiliensi. Os membros desta Loja até foram convidados posteriormente para fazer parte do GOB, mas o mesmo usava desde a sua fundação o Rito Francês ou Moderno e em verdade o Grande Oriente Brasílico era um grêmio revolucionário que queria a todo o custo a independência do país. Era uma maçonaria revolucionária. Os membros da Loja "Bouclier D’Honneur” (Escudo de Honra) não aceitaram, pois eles apenas queriam uma Loja Maçônica para agregar os estrangeiros que viviam no Brasil naquele momento da nossa história. Além do mais o Rito era diferente. Ressalte-se que Grande Oriente Brasílico era em princípio uma potência totalmente irregular à época perante as Potências ditas regulares do mundo. Por isso os membros da Loja "Bouclier D’Honneur" solicitaram filiação ao Grande Oriente da França e foram atendidos, mas a Carta Constitutiva chegou somente em 1823, quando a Loja já havia adormecido. Este assunto está bem desenvolvido no livro da Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 30 Academia BrasileiraMaçônica de Letras – Formação Histórica da Maçonaria - Anais do I Congresso Internacional de História e Geografia ano 1981 – por Alcebíades Lappas, Grande Secretário da Grande Loja da Argentina à página 63 no trabalho “Algumas Revelações sobre os inicios da Maçonaria no Brasil”. Não importa se a loja foi fundada por estrangeiros ou não. Usando-se a razão, o REEA teria entrado no Brasil em 20/05/1822. Fatos são fatos. A Loja “Comércio e Artes”, reerguida pelo Cônego Januário da Cunha Barbosa, filiou-se ao Grande Oriente do Brasil em 23/11/1831. Não suportando as desavenças com José Bonifácio, filiou-se ao Grande Oriente do Passeio em 07/04/1833 e passou para o REAA. Mandou imprimir o livro Instruções Maçônicas (Catecismo – Regulamento Geral) em 1833 cujo livro foi traduzido pelo grande Maçom Hipólito José da Costa do francês para o português. Catecismo era o nome que a Maçonaria usava para o que hoje chamamos de Ritual. Em 15/09/1833 o Grande Oriente do Passeio tornou o REAA como único e oficial rito da Potência para as suas quinze Lojas. Necessitavam de um Ritual e este foi mandado imprimir em 1834. O Ritual então impresso, seguindo a ortografia da época teve o seguinte titulo: “Guia dos Maçons escossezes ou Reguladores dos trez graos Symbólicos do Rito Antigo e Aceito – Rio de Janeiro – 1834”. Era uma tradução do ritual vindo diretamente da França onde praticavam entre outros ritos, o REAA, embora com alguma influência litúrgica do Rito Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 31 Moderno ou Francês a exemplo da inversão das colunas J e B e dos respectivos vigilantes. No que concerne à cor vermelha à página 46 do Guia assim está escrito com grafia da época “As paredes do templo, cortinas, mezas docel, etc. são forradas de encarnado no rito escossez e de azul nos ritos Moderno e Adonhiramita, nestes dous últimos os galões e as franjas dos paramentos devem ser prata ou fazenda de cor branca e no primeiro de ouro”. No mesmo Guia à página 49 quando menciona: “Das insígnias e joias dos graos no Rito Escossez Antigo e Aceito”. “Grao 3 - Avental branco forrado e orlado de escarlate com uma algibeira abaixo da abeta, sobre a qual estão bordadas as letras M:. e B:.”. “Fita azul orlada de escarlate a tiracolo da esquerda para a direita, suspensa em baixo a joia que é um esquadro e um compasso de ouro entrelaçados. A joia pode ser cravejada de pedras”. Conforme se pode notar estas Lojas do Grande Oriente do Passeio agora eram todas do REAA e como tal mudaram entre outras coisas a cor para o vermelho em substituição à cor azul que continuava sendo a cor oficial dos Ritos Francês ou Moderno e Adonhiramita. O azul no REAA permaneceu apenas na Fita porque a mesma era uma das características do Rito usada há muito tempo na Europa. Aliás, a Fita, Faixa ou Fitão eram usados em quase Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 32 todos os graus do REAA, a partir do grau 3. Ela é larga de chamalote ou seda, cuja cor e bordados variam de acordo com os graus e com os Ritos e tem na sua ponta a joia distintiva. A Faixa totalmente vermelha era usada no Rito Escocês Primitivo (Ealry Grand Scottish Rite) que não deixa de ser um dos ritos dos primórdios do escocesíssimo. Este Rito foi introduzido na França em 1688 através da Loja Saint Jean D’Ecosse de Marselha durante século XVIII. Era usado por militares jacobitas em exilio em San Germain-en-Laye. O REAA adotou a faixa azul orlada de vermelho e isto quer dizer que o azul é também uma cor do Rito, todavia é menos importante que o vermelho. Esta Faixa é usada até hoje na Grande Loja da França e é exatamente igual a Faixa que se encontra no primeiro ritual do REAA impresso no Brasil em 1834. Mas a Faixa é apenas um dos detalhes do REAA. A maioria dos países da América do Sul, com exceção da Venezuela e Brasil, onde a maioria das Lojas que trabalham no REAA usam a cor azul, na ornamentação do Templo e no Avental do 3° grau, muito embora a cor principal do Simbolismo seja vermelha de origem. Nos demais continentes, idem, em Israel, segundo Leon Zeldis escritor e historiador maçônico por razões políticas também é adotado o azul. Quando o Supremo Conselho do Gráu 33 do Brasil (Montezuma) foi incorporado ao Grande Oriente do Brasil lá pelos idos de 1854/1855 vindo através do Marquês de Caxias foi mandado imprimir um ritual próprio. Interessante que este Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 33 ritual é cópia fiel do ritual de 1834 e foi reimpresso em 1857, inclusive com o mesmo título. Temos ainda em 1857 um outro documento impresso: “Regulador Geral do Rito Escossez Antigo e Aceito para o Império do Brasil – Rio de Janeiro – 1857” que cita a pagina 46: “o encarnado é o característico do escossismo” Na mesma página menciona que “esta é a diferença entre com os Ritos Francês ou Moderno e o Adonhiramita, os quaes são azues”. Estes Rituais não seriam apócrifos a ponto de afirmarem de uma maneira tão transparente, que o vermelho é a cor principal do REEA. Afinal, está escrito. Este fato é uma prova inconteste. A Loja “União Constante” a mais antiga do Rio Grande do Sul, da cidade de Rio Grande, fundada em 13/06/1840 desde a sua fundação até a presente data permanece como um monumento vivo de uma tradição jamais violada. Nunca mudou a cor vermelha quer na decoração do templo, quer no avental do 3º grau. Por sinal, seu Templo interiormente se assemelha a uma catedral. É um Templo muito lindo. A própria Constituição do Grande Oriente do Brasil promulgada em 30/04/1865 menciona à página 92 que o Avental do 3° grau deve ser branco de pele, forrado e orlado de escarlate, com uma algibeira abaixo da abeta sobre a qual estão gravadas as letras M:.B:. O Regulador do REAA publicado em 1873 pelo Decreto n°8 de Saldanha Marinho de 22/09/1873 então Grão-Mestre do Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 34 Grande Oriente do Brasil Unido e Supremo Conselho (dissidentes do Grande Oriente do Brasil e seu Supremo Conselho) repete tudo o que está sendo afirmado até aqui em matéria da cor do Rito. (Segundo Kurt Prober no Congresso de Lausanne (Suíça) realizado desde o dia 06 à 22/09/1875) o único até hoje convocado para se tratar de assuntos relativos ao REAA citou a cor vermelha no avental do 3º grau. No “Manual Maçônico ou Cobridor dos Ritos Escossez Antigo e Aceito e Francez ou Moderno” 4ª edição – Rio de Janeiro – 1875” À página 01 está inserido “A loja é decorada com estofo ou tapeçaria encarnada”. À página 02 refere: No Oriente há um dossel de estofo encarnado. Na página 11 fala do Avental do 3º grau cuja descrição é a mesma já citada. O Grande Oriente do Brasil, tendo como Grão-Mestre Quintino Bocayuva através do Decreto n° 215, baixado em 15/10/1902 promulgado como lei o Regulamento Geral da Ordem e que passou a vigorar a partir de 15/11/1902 menciona na página 165: “a Fita azul orlada de escarlate, e o Avental como branco de pele forrado e orlado de escarlate, com a algibeira abaixo da abeta sobre a qual estão bordadas as letras M:. B:. Mas parece que este decreto não foi seguido, porque o GOB já usava o azul há mais de dez anos. O Grande Oriente do Brasil conservou a cor escarlate nas suas Constituições de 14/04/1865 a 1907, mas segundo Kurt Prober em realidade na prática ele já tinha substituído a cor escarlate Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 35 pelo azul desde 1889. Começaram a azular a cor vermelhado Rito, no ano da Proclamação da República. Eis aí o azul tomando o espaço do vermelho ou encarnado de forma impositiva e sorrateira. Em 28/08/1889, o decreto n° 72 emitido pelo então Grão-Mestre Comendador Visconde Vieira da Silva autorizava que se imprimissem novos rituais dos graus 1, 2 e 3 os quais foram modificados em 01/08/1889 quando foram aprovadas as modificações e correções feitas pela Secretaria competente. No rituais impressos em 1891 e 1892 e em 1898 foram introduzidas novas modificações. Então, têm-se novos Rituais adotados pelo Supremo Conselho em 01/07/1898. Ressalte-se se que nesta época Grande Oriente e Supremo Conselho era uma só potência (Simbolismo e Graus Filosóficos). O Grão-Mestre chamava-se Grão-Mestre Soberano Grande Comendador ou Soberano Grão-Mestre, Grande Comendador. Naquele Ritual do grau 1 ainda menciona que as paredes eram decoradas em vermelho havendo uma frisa que formaria de distância em distância nós emblemáticos e terminava em uma borla pendente em cada um dos lados da porta de entrada. Já no Ritual do 3º grau há mudança da cor: “Avental branco, forrado e orlado em azul tendo uma roseta da mesma cor, no centro e abeta descida”. Começa ai, a aparecer no REAA no Brasil a roseta que se bem observada historicamente nada tem de simbólico para a Ordem. Talvez fosse para distinguir o grau dos Irmãos. Seria também a substituição de uma casa de botão Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 36 usada antigamente para prender o avental operativo ao vestuário ou da própria algibeira. No local da casa de botão colocaram a roseta. Pura Invenção! Depois introduziram mais duas rosetas. Como se pode perceber, o avental tornou-se completamente azul. Mas apesar de constar no ritual, muitas Lojas mais antigas mantinham o avental de Mestre, orlado de vermelho e o forro preto. Quer dizer que aumentou a confusão, aparecendo também a cor preta no avental. Invenções em cima de invenções e ainda está anotado no Ritual que este Avental foi adotado em 1898. Não corresponde à verdade. O que se observa em relação aos rituais é que as Lojas nem sempre seguem à risca os decretos dos Grão-Mestres. Introduzem mudanças sempre por conta dos entendidos de plantão, falsos ritualistas e que isso com o correr dos anos torna-se “tradição”. Como repetia sempre Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler “um erro repetido mil vezes torna-se uma verdade” (a frase não era dele). O costume se espalha através dos visitantes e quando menos se espera após muitos anos a própria Potência passa a adotar sofismaticamente o erro como sendo verdade. Outras alterações apareceram no Ritual de Mestre do Grande Oriente do Brasil, publicado em 1955, o qual se for lido à página 5 do ritual: “avental branco, forrado de preto, orlado de vermelho, (voltaram ao vermelho?) tendo uma roseta vermelha no centro e duas rosetas da mesma cor em cada Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 37 extremidade inferior do Avental sempre dentro da orla. Tolera- se também que em lugar das rosetas inferiores, as iniciais M:. B:. no lado esquerdo da mesma cor vermelha” Mas tolera-se? Existem dois aventais para o mesmo grau? E voltaram a usar a orla vermelha? É o paraíso do marasmo das modificações e dos achismos que sempre existiu na Maçonaria Brasileira. O que se estranha é que um Avental que tinha sido orlado de vermelho, que é o correto segundo as origens do Rito e conforme foi estabelecido como uma das características do mesmo Rito metamorfoseou-se, azulou graças aos eternos inventores da Ordem, verdadeiros destruidores da ritualística maçônica, mas em 1955 a 1963 volta o orlado vermelho (dança das cores) no Avental do terceiro grau do GOB. Mas se a Loja ou os Irmãos achassem por bem poderiam colocar no lugar das rosetas que nunca foram símbolos maçônicos, as letras M:.B: que eram tolerados. Brincadeira! Não dá para acreditar. Pobre Maçonaria brasileira! Ora bolas, num Avental está estabelecido que no lugar das rosetas que não deveriam existir pode se colocar as letras M:.B. Afinal pergunta-se novamente: existem dois Aventais diferentes do 3° grau? Um com roseta e outro sem roseta? Pode isso? Mas a história das mudanças de cor dos Aventais não ficou assim, pois o vermelho deveria desaparecer porque ele já estava condenado. Em 1965 novos Rituais editados do Grande Oriente do Brasil, definem que a decoração do Templo e Avental do 3º grau deveria de agora em diante ser da cor azul como cor predominante. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 38 Em 1968 houve nova modificação sempre ao sabor dos inventores e em nome de novas ideias “mais modernas” “um novo Grão-Mestre” que julga consertar o que está errado entra em cena. Assim lê-se no Ritual do 3° grau, página 05 “Avental branco forrado de preto orlado de azul, com um leve debrum vermelho tendo uma roseta no centro da abeta descida e duas rosetas iguais, uma em cada extremidade inferior do Avental sempre dentro da orla (é facultativo o debrum)”. Afinal existe ou não o debrum? “Fita azul achamalotada de quatro dedos de largura posta a tiracolo do ombro direito para o lado esquerdo, tendo pendente na extremidade a respectiva joia que é um esquadro”. Não cita nada a respeito da orla da Fita. Conforme se pode concluir não há mais no Fitão ou Faixa a orla vermelha que até então existia. E o tal de debrum vermelho só desapareceu a partir do Ritual editado em 1981 quando através do decreto n° 50 de 07/08/1981 baixado pelo Grão-Mestre Osires Teixeira, se modificou uma série de procedimentos ritualísticos, colocação de símbolos etc. até então usados por aquela Potência. Assim é que nos graus 1 e 2 a decoração do Templo passou a ser azul celeste. Quanto ao Avental do 3° grau continuou branco forrado de preto orlado de azul com as respectivas rosetas azuis. O vermelho desapareceu por completo do REAA a partir de 1981 no Grande Oriente do Brasil. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 39 A descrição atual mais detalhada e atual do Avental e da decoração dos Templos das Lojas do GOB que praticam o REEA aparece no seu Regulamento Geral da Ordem. A decoração da Loja nos graus de Aprendiz e Companheiro é azul celeste. 1.4 Dos títulos e Insígnias “1.4.2.1 Insígnia distintiva do Mestre” consiste no Avental de pele branca retangular preso à cintura por cordões ou elástico preto, com 4 cm de largura, aba nas dimensões de 33 X por 40 cm sobreposto em suas laterais e na parte inferior por fita azul celeste de 5cm de largura. A abeta de formato triangular de pele branca com 16,5 cm na maior altura é sobreposta a partir de sua extremidade por fita azul celeste de 4cm de largura. O Avental de Mestre tem uma roseta azul celeste no centro da abeta que estará sempre descida, e duas rosetas iguais, uma em cada lado inferior do avental. No centro das rosetas, também um botão azul celeste. O Avental é forrado de preto possuindo um bolso em seu forro. 1.4.2.2 Fita: Além do respectivo Avental quando não estiver exercendo cargo de Vigilante, de Dignidade ou de Oficial o uso de uma Faixa de material acetinado azul celeste de 10 cm de largura em diagonal postada do ombro direito para o quadril esquerdo, sem nenhum ornamento contendo em sua parte inferior uma roseta azul celeste com 9 cm de diâmetro e em sua extremidade, a joia de Mestre em metal dourado. O verso da faixa é em tecido preto sem qualquer figura ou inscrição. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de PesquisasMaçônicas 2017-2019 40 “Na extremidade externa da faixa existe uma presilha que serve de suporte para a Espada” As Grandes Lojas Brasileiras, Potência dissidente do Grande do Oriente do Brasil em 1927, mandou imprimir seus primeiros rituais em 1928. O Ritual de Mestre a pagina 08 assim se refere “O avental é de pele branca de 35 cm X 40 cm com abeta triangular. É orlado de fita de 5 cm de largura com franjas douradas, tendo três rosetas da cor da orla, duas no corpo e uma na abeta. Entre esta e as franjas correrá estreito cordão vermelho”. Não fica bem esclarecida neste ritual a cor da orla. Mas em razão do cordão ser vermelho deduz-se que a orla será de outra cor, a qual só poderá ser a azul. Nas GGLL consta do Ritual de Mestre Maçom que a insígnia do Mestre Maçom é o Avental de pele branca e forma retangular, nas dimensões de 35 cm de altura por 40 cm de largura tendo uma abeta triangular. Orlado de fita de seda achamalotada de azul celeste de 5 cm de largura, e três rosetas de fita da mesma cor sendo uma no centro da abeta e duas nos extremos laterais da parte inferior, formando um triângulo. É forrado de preto e prende-se à cintura por cordão ou fita da mesma cor. Não há nada decorado em vermelho. Inclusive as paredes das Lojas de Aprendiz e Companheiro são pintadas de azul celeste. Não usam a Faixa ou Fitão como nas outras duas potências, mas as Luzes da Oficina usam um colar de cor azul terminando Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 41 em ponta sobre o peito e do qual pende a joia do cargo respectivo de cor prateada. A Confederação Maçônica Brasileira igualmente dissidente do Grande Oriente do Brasil em 1973 chamava-se - Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira depois Colégio da Confederação Maçônica Brasileira e posteriormente Confederação Maçônica Brasileira – usando a sigla CoMaB. No Inicio enquanto não tinham Rituais próprios a nova Potência de 1973 á 1976 usou os Rituais do Grande Oriente do Brasil. Durante a reunião da COMAB realizada em Brasília de 07 à 09/09/1976, foram apresentados dois Rituais para aprovação. Um organizado e compilado pelo grande Maçom Teobaldo Varoli Filho (capa vermelha) e outro organizado pelo Grão- Mestre Renato Mottola do Grande Oriente do Rio Grande do Sul (capa azul) Sul como sendo, como sendo cópia fiel de um Ritual do Oriente da Bélgica (o que não foi comprovado). Foi escolhido, por questões politicas o Ritual de capa azul. Este Ritual completamente diferente dos Rituais até então usados, rico em enxertos, invenções, agradou alguns e desagradou a muitos. A COMAB aprovou então este Ritual que assim descrevia o Avental de Mestre de Mestre: ”Avental branco em pele de carneiro ou tecido que o substitui, de forma retangular com dimensões de 30 cm por 40 cm orlado de azul, fita de seda achamalotada ou gorgorão de cor azul celeste de 5 cm de largura, tendo três rosetas iguais da fita da mesma cor da orla sendo uma no centro da abeta e duas na parte inferior do corpo Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 42 do Avental uma de cada lado em forma triangular e debruado com um com uma fita com 3 cm em cor vermelha. É forrado de preto e é preso à cintura por um cordão de fita da mesma cor. No centro de cada roseta haverá um botão vermelho. Roseta azul com botão vermelho? Não é possível! Este foi um dos Rituais mais controversos do REAA usado até hoje usado pela COMAB. ”A Fita é de seda achamalotada de azul celeste de 12 cm de largura orlada de vermelho tendo pendente a joia que é um Esquadro sobreposto a um Compasso aberto em 45º graus. É usada a tiracolo da direita para a esquerda”. Mas, nesta confusão toda, verdadeira dança das cores azul e vermelha um grupo de maçons estudiosos há vinte e cinco anos capitaneados pelo Irmão José Castellani, Xico Trolha (Francisco de Assis Carvalho), Pedro Juk, Antônio do Carmo Ferreira, Guilherme de Queiroz Ribeiro, e também por este articulista, e mais um grupo de Irmãos pesquisadores sérios após estudarem rituais antigos chegaram à conclusão que o REAA veio sendo azulado no Brasil desde há muito tempo. Tentou este grupo citado em vão deixar esta mensagem aos maçons brasileiros. Foram feitas palestras em todo o Brasil. Não adiantou argumentos, não adiantou expor a verdade histórica. O tempo havia tornado um erro como verdade. Ninguém mais queria saber do vermelho. Prevalece que já se disse anteriormente. “Uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade” O sofisma aparentemente venceu, mas venceu só na cabeça destes maçons que mudaram a cor do Rito e influenciaram Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 43 negativamente muitas gerações de Maçons fato que até hoje perdura. Mas o sofisma continua sendo um sofisma. Porque a cor vermelha do REAA é a principal, portanto um axioma, ou seja, uma verdade indemonstrável e o sofisma é uma mentira a partir de uma premissa falsa, tentando se concluir com argumentos falsos e até aparentemente verdadeiros para se passar por ser uma verdade. Mas não é. Tudo apenas jogos de interesses manipulados por argumentos não verdadeiros. Mas o movimento destes pesquisadores não foi de todo em vão. .A COMAB reunida em São Luiz do Maranhão em sua reunião anual em 17/06/1991 contando com a presença de representantes de 17 Grande-Orientes Independentes (hoje são 21) decidiu voltar à cor original do Rito de 1834, ou seja, decoração do templo em vermelho para os 1° e 2º graus e o Avental do 3° grau, orlado em vermelho com as letras M:. B:. É em tudo igual ao primeiro Avental descrito no Ritual publicado no Brasil em 1834, só faltando a algibeira que deveria também constar, pois se está voltando às origens que fosse exatamente como era nos idos de 1834. Um dos apologistas da cor correta do Rito, o Irmão Antônio do Carmo Ferreira, então Grão-Mestre do Grande Oriente Independente de Pernambuco, autorizou o Irmão Guilherme de Queiroz Ribeiro em Recife a fundar uma loja da qual ele foi o seu primeiro Venerável onde a cor vermelha, a original, fosse restabelecida e assim a Loja foi fundada em 07/09/1991 dentro destes parâmetros. Nasceu, portanto, a Loja "Tradição Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 44 Escocesa" nº 32, a primeira Loja com a cor correta do REAA em tempos modernos pertencente ao GOIPE. Coragem não faltou a estes nobres Irmãos. Inicialmente não foi fácil para a própria COMAB implantar em suas lojas as modificações decididas na reunião de São Luiz corrigindo um erro centenário. Mas aos poucos os argumentos históricos prevaleceram. Muitos Templos tiveram suas paredes repintadas de vermelho. A COMAB vem usando nos seus Aventais do 3° grau e na decoração e ornamentação dos seus Templos dos primeiros e segundos graus desde então a cor original do rito, ou seja, a vermelha. Atualmente no Grande Oriente do Paraná - COMAB - e acredita-se que a maioria ou a totalidade dos Grande-Orientes Independentes também o usem, pois foi decisão formal de reunião da COMAB, em 1991. No Ritual de Mestre do Grande Oriente do Paraná à página 10 de Ritual de 2012 define: “O Avental de pele branca quadrangular de 35 cm por 40 cm, orlado de vermelho com abeta triangular abaixo da qual estão bordadas as letras M:”. e B:. e orlado por uma fita vermelha de 5 cm de largura na abeta. Não existem rosetas, que, aliás, elas não têm razão de ser, pois, não têm nenhum valor simbólico. ”A Fita é de seda achamalotada de azul celeste de 12 cm de largura orlada de vermelho tendo pendente na extremidade a joiaque é um esquadro sobreposto a um compasso aberto em 45º graus usada a tiracolo da direita para a esquerda” Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 45 Bem o que dizer de uma história repleta de trejeitos, mudanças ao sabor dos interesses dos grão-mestres e dos achismos de seus secretários de Liturgia e Ritualística e afins isto só falando do Avental e Fita, e decoração do templo que iniciaram no ano da Proclamação da República? E as alterações ritualísticas? Estas ocorreram às dezenas e não começaram ontem. É uma situação antiga. Mas não criticando quem quer que seja, pois cada Potência é soberana e respeitamos este fato, a cor principal cor do REEA no Brasil é azul (exceção da COMAB que significa mais ou menos 15 a 18% dos maçons do REAA no país, é também azul na Venezuela e em Israel por motivos políticos. Todavia, no Brasil, segundo o que foi escrito no primeiro Ritual do REAA (1834), e este era cópia do Ritual usado na França e isto é “prova provada”, e era e ainda é usado em quase todas as partes do mundo sendo que a cor principal do rito é vermelha, especialmente no Avental do 3° grau e na decoração, dossel, além de outros ornamentos do Templo, e ainda considerando que quase em todos os países do mundo onde haja o REAA a cor do Avental do Mestre a orla é vermelha, confirmando a cor vermelha como a principal e não a azul. Mas se é obrigado a aceitar a decisão de cada Potência, com suas peculiaridades. Todavia, certos Grão-Mestres, não todos, baixam decretos, acreditando serem maiores que o próprio Rito ou donos do mesmo, e mudam as regras do jogo da maneira que lhes interessa. E assim um rito vai sendo alterado. Isto vem acontecendo no Brasil com o REAA desde o ano da Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 46 Proclamação da República. Eles, os Grão-Mestres, são poderosos, mas não são maiores que um Rito que por ventura sua potência venha a adotar. O Rito tem que ser respeitado em seus mínimos detalhes como ele foi criado. Há mais de cem anos os Grão-Mestres, Secretários de Liturgia e Ritualística ou Comissões encarregadas destas modificações errôneas se esqueceram que são mortais, que não são perenes, mas os sofismas que eles praticaram marcam negativamente as gerações de maçons, as quais inocentemente aceitam mentiras como verdades, pois a maioria dos maçons atuais iniciados no REAA quando foram recebidos na Ordem já receberam os conceitos errados e isto passou a ser uma verdade para eles. Existem autores e defensores da cor azul alegando que o azul é a cor de todos os Ritos no Simbolismo na Maçonaria. Todavia, apesar desta afirmação ser defendida por muitos autores já que a Maçonaria por ser eclética permite uma enorme variação de pensamentos e ideias, de interpretações, lançam mão de qualquer argumento para comprovarem seus pontos de vista se valendo muitas vezes destes sofismas citados. De fato, o azul é a cor do Simbolismo nos Ritos que já nasceram azuis. Com o REAA foi diferente. Tornar a sua cor principal azul, quando ele nasceu e foi sacramentado vermelho é uma mentira histórica. Mas não é o Avental e nem cor dele que fazem um bom Maçom. São os seus sentimentos de humanidade de bondade integridade, atitude, de tolerância seu caráter, sua mente aberta, seu desenvolvimento espiritual, seu autoconhecimento é que farão dele um construtor social, um livre pensador Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 47 verdadeiro, desde que sempre esteja comprometido com a Verdade. Hoje no século XXI, infelizmente já não importa a cor do Avental na Maçonaria brasileira, mas a história da verdadeira cor mais importante do REAA tem que ser preservada para a posteridade, ou seja, o vermelho. P.S. Este trabalho foi revisado pelo nosso querido e estudioso Irmão Pedro Juk sem dúvida um dos maiores conhecedores da história do REAA no Brasil, além do mais um honesto pesquisador que somente aceita a Verdade como meta pessoal na Ordem e tambem na sua própria vida profana, ao qual agradecemos imensamente. Referências AARÃO, M. História da Maçonaria no Brasil - Recife 1926. AMBERLAIN, R. “A Franco Maçonaria – Origem - História - Influências” brasa –São Paulo, 1990. CASTELLANI, J. “O Rito Escocês Antigo e Aceito” Editora Maçônica “A Trolha Ltda.” Londrina, 1988. CARVALHO, F.A. “O Avental Maçônico e outros estudos” Editora Maçônica “A Trolha Ltda.” PROBER. K. “História do Supremo Conselho do Grau 33 do Brasil” Editora Livraria Kosmos Editora - Rio de Janeiro, 1981 Livro “ Formação Histórica da Maçonaria” - Academia Maçônica de Letras (Anais do I Congresso Internacional de Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 48 História e Geografia – Rio de Janeiro 19 a 21 de março de 1961) Bigorna nº 39 Julho – 1983 – Kurt Prober Revistas: “A Trolha” nº 49 – O verdadeiro Avental – José Castellani Set/Outubro 1990 “A Trolha” nº 53 - O Avental – Kurt Prober – Março 1991 "A Trolha” nº 54 - As cores do Rito Escocês Antigo e aceito - José Castellani Abril 1991 “A “Trolha” n°54 – A História das Alterações do Avental do Grau de Mestre do REAA – Hercule Spoladore – Abril 1991 Trabalho: As cores do Rito Escocês Antigo e Aceito e os Aventais do 1º, 2º 3º graus – Lutfala Salomão – 06/12/1991 – Londrina – PR Rituais: antigos e atuais do GOB, GGLL COMAB Boletins do Grande Oriente do Brasil Nº 08 – Agosto de 1889 – ano 14, página 118 N°08 - Agosto de 1902 – ano 27 – página 589 N°03 - Março 1927 – ano 52 - pg. 216 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 49 POSIÇÃO DO ALTAR DOS JURAMENTOS EM LOJA DO REAA Ir∴ Hercule Spoladore O Altar dos Juramentos faz parte do mobiliário de uma Loja, aqui no Brasil nos seguintes Ritos: REAA, Adonhiramita, Brasileiro e Rito de York Americano (Lojas Azuis). Não existe nos Rito Francês ou Moderno, Trabalho de Emulação, Rito de Schröder ou Alemão e no Rito Escocês Retificado. No REAA na maioria das lojas ele está atualmente situado no Ocidente no centro da Loja. Entretanto, em muitas Lojas ele está no Oriente seu verdadeiro lugar. No Rito de York Americano também, ele está localizado no centro da Loja, aliás, esta sempre foi a sua posição desde a criação do Rito. Nos Ritos Adonhiramita e Rito Brasileiro ele sempre esteve localizado no Oriente. Quanto à sua posição em Loja tem que se considerar vários aspectos: a) ele seria um símbolo de origem puramente maçônica, criado a partir do pedestal ou altar do Venerável, onde nos ritos antigos, especialmente na Inglaterra, os iniciados ajoelhados em frente ao Altar prestavam seu juramento. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 50 b) O Altar dos Juramentos seria copia do Altar-Mor das Igrejas Católicas. Sabemos que a Maçonaria copiou muita coisa da Igreja, inclusive o Templo, o qual de Templo de Salomão não tem nada ou apenas o lembra. Quando se fala em Templo de Salomão tudo é simbólico ou alegórico. Quando a Maçonaria começou a existir perto a Igreja Católica, simplesmente já existia há mil anos. E a Maçonaria copiou muita coisa da Igreja Católica, aliás, não só da Igreja Católica, bem como de entidades iniciáticas antigas, Bíblia e também assimilou muita coisa da cultura dos antigos, seus símbolos suas lendas. c) Ou ele seria um símbolo equivalente a uma peça do Templo de Salomão correspondente ao Altar dos Holocaustos. Tem Irmãos estudiosos como Teobaldo Varoli Filhoe João Nery Guimarães, Pedro, Juk além de outros que defendem que este símbolo tem seu verdadeiro lugar no Oriente, alegando que na Maçonaria Primitiva os compromissos eram tomados no próprio Altar do Venerável sendo, portanto, uma tradição que deveria ser respeitada. A Maçonaria Inglesa através do Trabalho de Emulação e o Rito Escocês Retificado ainda usam este sistema. Na França quando o REAA foi reorganizado em 1804 quando o iniciando fazia seu juramento no primeiro grau ficava ajoelhado em frente ao Altar do Venerável. Posteriormente por comodidade e diversidade de potências e de ritos criou-se um complemento prismático triangular no próprio Altar e que com o tempo criaram um tamborete ou móvel triangular posteriormente de forma quadrangular completamente desvinculado do mesmo, porém com Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 51 localização no Oriente. Este seria um dos poucos símbolos genuinamente maçônico, já que os demais são todos emprestados de outras entidades iniciáticas esotéricas, da Igreja Católica, da Bíblia e da cultura e crenças de povos antigos etc. e que a correspondência do Altar dos Juramentos seria com o Altar–Mor da Igreja Católica, isto inicialmente quando a Maçonaria começou a trabalhar em Templos, porque depois criaram um móvel próprio para as Iniciações. Mas inicialmente teria sido cópia do Altar-Mor, segundo Castellani. Outros autores defendem que a posição do Altar dos Juramentos, seria no Ocidente baseados copiando ou comparando com o Templo de Salomão, que seria uma alegoria ao Altar dos Holocaustos, o qual a exemplo do Mar e Bronze, Colunas J e B Altar dos Perfumes que na descrição bíblica estavam fora do templo, foram interiorizados para dentro dos templos maçônicos e ganharam vida própria e outras interpretações simbólicas. Segundo outros autores o Altar dos Holocaustos situado no centro do pátio do Templo de Salomão para os judeus era um altar de sacrifícios onde ofereciam uma vítima para louvar a Deus, geralmente um animal. No Altar dos Juramentos para muitos autores o Iniciando oferece o sacrifício de vencer suas paixões, e renascer para uma nova vida. Tudo o que se está falando é puramente simbólico. Os autores que interpretam assim acham que o Altar deva estar no centro da Loja, porque ele estava no centro do pátio por fora do Templo de Salomão. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 52 Parece que esta intepretação não tem respaldo pela maioria dos autores. Certas Potências no Brasil que praticam o REAA o Altar dos Juramentos está no local correto sou seja no Oriente, já que historicamente ele estava no Oriente, ele nasceu lá no Oriente. Simbolicamente o lugar dele é no Oriente. Outras Potências o colocaram no centro da Loja, dando a sua própria interpretação deste símbolo. Possivelmente foi para maior facilidade para o trânsito dos Diáconos, Mestre de Cerimônia, durante a sessão, já que em muitos templos, o Altar dos Juramentos no Oriente atrapalha esta deambulação por se ter pouco espaço. Todavia, tradição é tradição e o local correto do Altar dos Juramentos é no Oriente segundo a maioria dos autores. Referências: CASTELLANI, José – “Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom” NAME, Mario – “Templo de Salomão nos Mistérios da Maçonaria” HORNE, Alex - “O Templo de Salomão na Tradição Maçônica” VAROLI, Teobaldo Fº - “Curso de Maçonaria Simbólica” Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 53 VELAS E SEU SIGNIFICADO NA MAÇONARIA Ir∴ Hercule Spoladore Um ensaio sobre as Velas e seus usos na Ordem. Toda vela ao ser acesa, ou será como iluminação, ou como ornamentação do ambiente ou então fará parte de um ritual onde a concentração mental e a chama como elementos simbólicos comporão um processo especial onde acontecerá uma intenção, como por exemplo, um desejo, uma promessa, uma oferta votiva uma invocação quer com fins religiosos ou mágicos. Na Maçonaria, nos ritos em que elas existem,participam de um simbolismo muito profundo quando da invocação de Deus, no inicio e durante e no final de uma sessão ritualística. É importante o uso do poder da mente e o desejo de se obter algo quando se acende uma vela. Uma das velas usada na Maçonaria é uma vela grande chamada círio a qual deverá ter em sua composição mais de 50% de cera de abelha, o que lhe garantirá uma chama pura. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 54 As velas são usadas desde a mais remota antiguidade, inclusive sendo usadas pelos pagãos e pelos povos primitivos ou como iluminação ou com fins iniciáticos ou religiosos. Somente a partir do século V foi que seu uso se generalizou na Europa. A vela não é, portanto, um símbolo criado pela Maçonaria, sendo emprestado da Igreja Católica adotado por ela, e que também copiou dos antigos e deu sua própria versão. As verdadeiras velas são constituídas por um bastonete de cera de abelhas, ou então as fabricadas hoje industrialmente não sendo, portanto, as verdadeiras velas de outrora, onde usam uma composição de acido esteárico ou de parafina que envolve uma mecha luminosa, cuja combustão fornece uma chama luminosa. A matéria prima mais empregada era a fabricação de velas era cera de abelha, sebo, óleo de baleia, gordura animal. Posteriormente a indústria mais desenvolvida passou a usar produtos de destilação do petróleo, xisto betuminoso (parafina) bem como ésteres esteáricos da glicerina (estearina). Nas funções religiosas da Igreja Católica são usados os círios que é em realidade, uma vela grande. A maçonaria adotou o mesmo critério. Durante séculos os círios foram fabricados em cera de abelha pura. Isto é, sem mistura. A chama de um círio é para os Maçons, pura, viva e ritualística e há nela uma profunda espiritualidade. Enquanto que a chama produzida a gás, ou por velas de estearina ou parafina, que fazem parte das velas comuns, e ainda por lâmpadas elétricas imitando uma chama de vela são estranhas artificiais e Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 55 impuras, mas substituem as velas de cera, porque tudo mudou no mundo. Os tempos mudaram a Maçonaria, não em seus princípios que continuam duradouros, mas mudou e os maçons de hoje também mudaram, mas a essência deste simbolismo não mudou e através da imaginação e do seu poder mental os maçons podem sentir que as ditas velas chamadas impuras possam fazer o mesmo efeito simbólico das velas puras, pois tudo é simbolismo. É tudo uma questão de reprogramação mental Hoje as velas de cera de abelha são bastante caras e não se tem mais a certeza de que sejam totalmente de cera de abelha. Então que se imagine e que se que a chama de uma vela atual tenha o mesmo valor simbólico e espiritual, mas o maçom terá que senti-lo como tal, e que as sempre lembradas velas de cera de abelha e a essência dos princípios maçônicos continuarão os mesmos. Antes do advento da luz elétrica as velas eram usadas com fins litúrgicos na Maçonaria simbolicamente, e também como iluminação dos locais onde os maçons se reuniam. Hoje fabricam lâmpadas elétricas que simulam artificialmente a chama de uma vela. Atualmente uma grande maioria de lojas substituíram as velas de cera por lâmpadas imitando velas. Uma rica tradição, simbólica e poderosa foi aos poucos sendo abandonada em favor do modernismo. Felizmente muitas Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas2017-2019 56 Lojas, para o bem da tradição ainda conservam os costumes antigos usando velas de cera de abelha. Segundo Boucher, a cera de abelhas, quando faz parte de uma vela acesa apresentam dentro da ritualística maçônica os seguintes símbolos: Trabalho, Justiça Atividade e Esperança. Há ainda outro símbolo, muito usado na Maçonaria Americana, a Colmeia que significa o Trabalho e a Diligência. No Catolicismo o uso das velas é antigo, apesar dos primeiros cristãos ridicularizarem os pagãos que empregavam velas em seus ritos, e passaram a usa-las. As velas foram oficializadas quando no século V em Jerusalém foi feita a primeira procissão de velas. No século XI a Igreja adotou o uso das velas sobre os altares, já que até então elas eram dispostas a frente dos altares para uso litúrgico e atrás dos mesmos para ornamentação e iluminação. Para alguns autores sacros o Pai seria a cera, o Filho, o pavio e a chama seria Espirito Santo. Ainda representaria outro ternário: corpo alma e espirito. Se observarmos atualmente os círios na Igreja Católica eles contem inúmeros símbolos gravados no bastonete da vela de cera que usam. As velas são usadas em festas judaicas em especial na festa de Hanukhah ou Festa da Dedicação ou ainda das Luzes, que dura oito dias, e são acesas progressivamente oito velas, uma cada Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 57 dia, do chanukiá que é um candelabro de sete braços chamado menorah. Na umbanda e no candomblé como são conhecidos atualmente, também usam as velas como oferendas ou como pedidos. Os adeptos destas religiões costumam acender velas de cores de acordo com as entidades invocadas. Adeptos do ocultismo, ou também como são conhecidos atualmente como bruxos ou simplesmente magos utilizam velas para realizar seus rituais, com fins mágicos. Segundo manuais de ocultismo os magos visam através destas práticas, liberar seu subconsciente. Trabalham em silêncio e seus trabalhos exigem muita concentração. Costumam antes das sessões de magia, queimar incenso para despertar a mente. A seguir usam um óleo especial para untar a vela visando desta forma criar um elo entre a vela e o mago através do tato. Ainda ao passar as mãos na vela acreditam que transmitam a ela as suas próprias vibrações que passaria a atuar como um magneto psíquico. Enquanto o mago unta a vela, ele dirige a mente ao que está desejando. Citam os manuais de magia que todo trabalho perfeito do mago é realizado em primeiro lugar na sua mente. “O que sem tem na mente torna-se realidade” afirma uma escola parapsicológica. Como se pode observar o uso das velas nestas situações é importante até na Magia. Segundo autores maçônicos a velas da época das corporações de oficio e das guildas seriam ofertas votivas. Não nos dão a ideia de que os maçons operativos promoviam a guarda de votos de gratidão, por graças recebidas. Mas como a maçonaria Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 58 operativa era totalmente católica e a Igreja já existia há mil anos antes dos maçons operativos se acredita que estes seguiam a mesma tradição católica em relação ao uso das velas. Seria apenas a continuação de um costume já antigo no mundo, religioso ou não. A tradição maçônica está ligada a todas as filosofias antigas às religiões, inclusive a Católica, e em especial em muitos dos seus símbolos. Um fato que chama a atenção é que após a fundação da Grande Loja de Londres fundada em 24/06/1717, quando a Maçonaria ilusoriamente se tornou Especulativa ou Moderna, pois desde 1600 já estavam recebendo “maçons aceitos”, a orientação católica enfraqueceu a Ordem dela passou a contar com a participação muito grande de pastores principalmente de anglicanos e luteranos. Foi nesta fase que a Ordem além da influência evangélica, começou a receber um novo contingente de alquimistas, cabalistas, rosacrucianos e ocultistas que enriqueceram os nossos símbolos, em nossos rituais. Somos obrigados a raciocinar que estes novos tipos de maçons introduziram algum simbolismo a mais às velas, além dos sentidos espirituais. Mas de qualquer forma as velas que desde as épocas mais distantes representam para certas correntes espiritualistas a Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 59 Sabedoria, Iluminação, Conhecimento e Realização espiritual e ainda a alma imortal. Sabemos que os maçons pertencentes à Grande Loja e Londres eram chamados de Modernos e que tiveram por muito tempo influência grande no mundo maçônico. Eles acendiam velas, provavelmente círios (vela grande) em seus candelabros e as chamavam de as Três Grandes Luzes que representavam as posições do Sol em seu trajeto diário e noturno nas vinte e quatro horas. Diziam também que elas significavam o Sol, a Lua e o Venerável da Loja. Este conceito temos até hoje em nossas instruções em Loja. Entretanto a grande rival da Grande Loja de Londres, ou seja, a Grande Loja dos Antigos e Franco Maçons, fundada em 1753, consagrada aos Antigos obedeciam às Antigas Obrigações (Old Charges) que até então respeitavam os “maçons livres em loja livre” isto, é lojas sem potência. Somente em 1813 é que se uniram a Grande Loja de Londres e a Grande Loja dos Antigos e Franco Maçons e fundaram a Grande Loja Unida da Inglaterra como é conhecida hoje. Os Antigos admitiam as três velas como Pequenas Luzes que representavam o Venerável e os dois Vigilantes E as Grandes Luzes que seriam o Livro da Lei o Esquadro e o Compasso. Os círios ou velas são também chamados de Estrelas. Por isso usa-se em Maçonaria a expressão “Tornar as estrelas visíveis” quando o Venerável ordena em alguns ritos que se acendam as velas. Quando uma Loja recebe visitantes ou Dignitários Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 60 ilustres e que serão recebidos de acordo com o protocolo de recebimento com tantas estrelas conforme sua importância na Ordem. Todavia segundo um antigo costume as estrelas (velas) não serão usadas para iluminar os visitantes, mas sim para representar Luz que eles representam. O número e a disposição das velas em Loja variam, conforme o costume, grau, rito e até à potência à qual pertencem. Desde o inicio da Maçonaria Especulativa ou Moderna foram usadas três velas grandes (círios) colocando-as em cima de grandes candelabros. Está claro que deveriam existir outros tipos de velas ou candeeiros com finalidade de iluminação, ou fonte de luz já que não já nesta época não se tinha descoberto o uso da energia elétrica. Em algumas Lojas eram colocados no chão em forma de triângulo. No fim do século XIX as velas foram colocadas ao lado do Venerável e dos Vigilantes (tocheiros como são chamados no Trabalho de Emulação). Atualmente dependendo do Rito usa-se uma vela em cima do Altar das Luzes e além das três citadas, usa-se três círios ao lado do Altar dos Juramentos, ou painel das Lojas ou como no caso do Rito de Schröder que não tem Altar dos Juramentos, mas estende-se o seu maior símbolo, o Tapete entre três círios. O modernismo fez com que quase em todas as Lojas, a velas fossem substituídas por lâmpadas de luz elétrica imitando os bastonetes das velas. Portanto, não há mais parâmetros de comparação ou um estudo mais sério a respeito. E com o modernismo veio Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 61 normalmente a alteração das interpretações, e isto é um fato, mas ao lado este detalhe, os inventores, “achistas” irmãos que gostamde aparecer, fazendo suas fantasias virarem procedimentos, trataram de alterar ainda mais a Ordem. E estas mudanças feitas pelo próprio maçom, acabam tornando- se verdades para principalmente os que foram iniciados na Ordem após elas terem disso realizadas. Posteriormente com a criação de novos Ritos foram criados procedimentos ritualísticos, diga-se de passagem, alguns deles muito lindos como é o caso do Rito Adorinhamita e o Rito de Schröder (Alemão). Já o Rito Francês ou Moderno aboliu-se definitivamente o uso das velas, do Altar dos Juramentos e da Bíblia. O REAA usa as velas com finalidade litúrgicas. Além das velas sobre os altares do Triângulo Dirigente, é comum observar velas acesas em cima dos altares do Orador e Secretário e das Luzes Místicas que triangulam o Altar dos Juramentos onde deve estar a Bíblia aberta. Estas três velas representariam simbolicamente os três aspectos da Divindade: Onisciência, Onipresença e Onividência. As cerimônias de acendimento das velas deveriam obedecer alguns princípios que seguem as antigas tradições Sempre o Fogo Sagrado deverá vir do Oriente, pois toda Sabedoria, e toda Luz vem do Oriente. As velas não podem ser acesas com isqueiros, gasolina fósforos enxofrados, ou qualquer outro meio que produza fumaça ou Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 62 cheiro fétido. A vela do Altar do Venerável deverá ser acesa através de outra vela intermediaria, para que a chama recebida possa ser pura. Igualmente ao apaga-la não poderá ser com o hálito que é considerado impuro, ou com dois dedos se tocando, abafando a chama como é comum ocorrer. Esta tradição a Maçonaria foi buscar na Antiga Pérsia segundo Boucher que afirma que o culto ao Fogo dos persas era tão sagrado que jamais empregavam o hálito ou sopro para apagar a chama, bem como jamais usavam agua para apagar o fogo. Isto quando estavam executando uma cerimonia sagrada ou ritualística. Provavelmente usavam o sopro e a agua para apagarem o fogo fora dos seus templos ou lugares sagrados. Devemos usar um velador, adaptado com um abafador. Um velador é um suporte fino de uns 30 cm de comprimento feito de madeira ou metal na extremidade do qual existe um disco para a vela ou candeeiro. Perto da extremidade adapta-se um abafador pequeno de metal para apagar a vela. Todavia nem sempre o velador deverá ter um abafador ou apagador de velas, acoplado. Um abafador ou apagador de velas poderá ser uma peça de madeira ou de ferro, tendo presa a uma das suas extremidades uma espécie de campânula que se usará para abafar ou apagar a chama da vela, mas nunca com sopro ou outro meio. Alguns autores sugerem que o Venerável e Vigilantes utilizem o próprio malhete para apagar a vela de seus altares. Não nos parece esta prática, uma maneira adequada para se apagar uma vela dentro de uma sessão ritualística que tem um Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 63 simbolismo tão profundo. E ainda tem que se considerar que o malhete não foi feito para dar pancadas em velas para apaga- las. Isto é um absurdo. Três dos Ritos existentes no Brasil têm uma ritualística própria e especial muito interessante com relação às velas, que merecem ser mencionadas. São muito lindas, e repleta de espiritualidade, que vale a pena serem descritas como está no Ritual porem de maneira sintética só descrevendo suas etapas mais importantes, onde mostram o trajeto das velas durante esta cerimônia de abertura e fechamento da Loja. No Rito Adonhiramita esta passagem ritualística chama-se Cerimônia do Fogo. Antes do início da sessão o Arquiteto, Mestre de Cerimônia e 1º Experto acendem o Fogo Eterno ( Reavivamento da Chama Sagrada) que é uma grande vela um círio portanto, que fica situado no Oriente entre o Altar dos Juramentos e o Altar do Venerável. Após iniciada a sessão é realizada a Cerimônia da Incensacão que é uma parte da ritualística. A seguir, o Venerável ordena ao Mestre de Cerimônia que realize a Cerimônia do Fogo. O Mestre de Cerimônias com um velador ou acendedor apanha a Chama Sagrada junto ao Fogo Eterno, que está entre o Altar dos Juramentos e o Altar da Sabedoria ou do ou do Venerável e o conduzirá ao Altar do mesmo. Este, ao receber o velador, ergue-o com as duas mãos à altura de sua face e diz: “Que a Luz da Sabedoria ilumine nossos trabalhos” Em seguida acende sua vela e diz ”Sua Sabedoria é infinita” o Mestre de Cerimônia leva a chama ao Altar do Primeiro Vigilante Este igualmente Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 64 ergue o velador à altura da face e diz” Que a Luz de sua Força nos assista em nossa Obra”. Acende sua vela e diz: “Sua Força é infinita” Repete-se o mesmo procedimento com o 2° Vigilante e este dirá: ” Que a Luz de sua Beleza manifeste-se em nossa Obra”. Acende sua vela e diz: “Sua Beleza é infinita”. O Mestre de Cerimônia apaga a Chama do velador com o abafador ou apagador e comunica ao Venerável que terminou a cerimônia. Este no final da sessão após vários procedimentos ritualísticos determina ao Mestre de Cerimônia que proceda o adormecimento do Fogo. O Mestre de Cerimônias vai até o 2° Vigilante e entrega-lhe o abafador ou apagador. Este adormece a Chama dizendo “Que a Luz de sua Beleza continue a flamejar em nossos corações”. Devolve o apagador para o Mestre de Cerimônias vai ao Altar do Primeiro Vigilante entrega-lhe o apagador: “Que a Luz de sua Força permaneça em nossos corações” e adormece a sua chama. É devolvido ao Mestre de Cerimônia o apagador que vai até o Venerável e este ao apagar ou adormecer a sua Chama dirá: “Que a Luz da Sabedoria prossiga habitando nossos corações”. O Mestre de Cerimônia volta ao seu lugar a e avisa que procedeu a Cerimônia de Adormecimento do Fogo. O Venerável termina a sessão, todos saem, permanecem no Templo apenas o Irmão Cobridor Interno, Mestre de Harmonia e Arquiteto, sendo este o último a sair do templo após adormecer a Chama Sagrada o que fará em companhia do Mestre de Cerimonia e 1° Experto que se colocam numa posição a formar um triangulo. O Arquiteto fechará o templo Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 65 No Rito de Schröder ou Rito Alemão no centro do Templo há um Tapete o qual contém todos os símbolos do Rito e que é desenrolado no início dos trabalhos de uma sessão, sendo enrolado no final com uma ritualística especial. Ao lado do tapete junto às bordas estão três Colunas Dórica Jônica e Coríntia de 90 cm a 120 cm em cima das quais estão três círios, um em cada coluna. Já antes do início da sessão deverá estar acesa uma vela fixa, chamada de Luz do Mestre, no Altar do Venerável o qual entregará ao Primeiro Diácono uma pequena vela que foi acesa na Vela do Mestre. O Primeiro Diácono vai até o Altar do Segundo Vigilante e acende sua vela e a seguir vai até o Altar do Primeiro Vigilante e acende também sua vela. A seguir o Primeiro Diácono segue pelo Norte e vai até o Altar do Primeiro Vigilante e vai até a Coluna Jônica que está ao lado Tapete e aguarda o Venerável que chega em seguida e lhe entrega sua pequena Vela. O Venerável acende com esta pequena vela o círio da Coluna Jônica e diz “Sabedoria dirija nossa Obra”. O Primeiro Vigilante acende o círio da Coluna Doria e dirá: “Força, execute-a” e o Segundo Vigilante acende em seguida o círio da coluna Coríntia e diz: “Beleza, adorne-a”. No final da Sessão, O Venerável e os Vigilantes se colocarão junto às suas colunas representativas já citadas, que estão localizadas nos três cantos ao lado Tapete. Os círios vãosendo apagados e as Luzes da Loja dirão: Primeiro Vigilante - “A Luz se apaga, mas que, em nós atue o fogo da Força”. 2° Vigilante – “A Luz de apaga, mas que fique, em torno de nós o brilho da Beleza”. Venerável: – “A Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 66 Luz se apaga, mas que, sobre nós continue a brilhar a Luz da Sabedoria” O Rito Brasileiro não nega que tenha emprestado as cerimônias mais lindas dos demais ritos praticados no Brasil e colocadas no seu ritual. Tem também a cerimônia do acendimento das Luzes Místicas que é uma adaptação das cerimônias usadas nos Ritos Adonhiramita e de Schröder, mais simples, porém também muito bonita. O Criador dos mundos emite continuadamente Sabedoria Força e Beleza. Para nós Maçons, compete apenas abrirmos o canal espiritual para recebermos esta Energia. Uma vela dentro da nossa ritualística, quando acesa funciona como um emissor repetidor das vibrações mentais nela enfocadas e concentradas. Enquanto estiver ardendo a chama estará se repetindo o propósito pelo qual a vela foi acesa. Ela é, pois o símbolo do Fogo Sagrado emitido pelo GADU. Mas não esqueçamos que através tão somente do poder mental que todos nós possuímos, verdadeira dádiva de Deus, poderemos desde que nossa mente devidamente sintonizada em ondas alfa ou téta, e programada para esse fim, conseguir o mesmo efeito que uma vela acesa dentro de um Templo maçônico. Tudo dependerá do grau de concentração no Criador. Mas de qualquer forma as velas sagradas usadas nas nossas ritualísticas, tem um valor muito grande para que nossa mente fique focada totalmente no GADU. Referências Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 67 ASLAN, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico da Maçonaria Simbólica Vol. 4 BOUCHER, Jules - La Symbolique Maçonique CASTELLANI, José – Liturgia e Ritualística do Aprendiz Maçom CHARLIER, René Joseph – Pequeno ensaio da Simbólica Maçônica. HOWARD, Michael - Uso mágico das Velas e seu significado oculto AXIOMAS E SOFISMAS NA MAÇONARIA Ir∴ Hercule Spoladore Axioma - é uma verdade indemonstrável, irrefutável, que não se pode contestar. É uma proposição evidente e aceita sem necessidade de explicação. O axioma se constrói sem qualquer apelo ao critério subjetivo de evidenciar. Por esta razão é aceito como verdade absoluta e serve como ponto inicial para a demonstração de outras verdades. É uma premissa totalmente evidente que se admite universalmente como verdadeira que se aceita sem exigir uma demonstração, sem argumentação em contrário. O axioma é uma verdade inquestionável, pois é uma verdade universal. O verdadeiro maçom é guiado pela inquestionável verdade, ele não deve cometer sofismas. Exemplos de axiomas: Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 68 “Um maçom não é maior que a Maçonaria” “Dois maçons honestos iguais a um terceiro maçom honesto são iguais entre si” “A parte nunca será maior que o todo” Sofisma - É uma mentira manipulada de forma proposital usando-se argumentos distorcidos para que se pareçam verdadeiros. É uma argumentação falsa com aparência de verdadeira. É um argumento valido na aparência, mas na verdade incorreto do ponto de vista lógico utilizado para iludir os outros. Na Maçonaria são usados por obra e graça de maçons que são vaidosos, ególatras, ou do seu interesse ou da paixão ou ainda da ignorância. O sofisma se utiliza de um argumento que partindo de premissas verdadeiras ou consideradas como tais chega a uma conclusão inadmissível que não pode enganar a ninguém, mas que parece correta conforme as regras formais do raciocínio. O sofisma tem o objetivo de impingir uma ilusão da verdade a algo apresentando sob um esquema aparentemente que segue as regras da verdade, mas não da lógica. É um raciocínio vicioso aparentemente correto e concebido com a intenção de se induzir a um erro. Há maçons, utilizando o direito da busca da Verdade que a Ordem prega, são os que usam argumentos axiomáticos são Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 69 portanto os autênticos, pois a Ordem tem um leque fantástico de opções para manipula-la, ou para a verdade ou para a mentira. Quando se trata de sofismas as mentiras são muito comuns nos achismos, invenções e os acréscimos que induzem e os colocam nos Rituais. Exemplo de sofismas maçônicos: “a história do 20 de Agosto como o “Dia do Maçom brasileiro” ”A Maçonaria é adogmática”. “As mais de sessenta classificações de landmarques”. Logo qual é o verdadeiro? O Rito Adonhiramita tem 13 graus e não 33. Alguns exemplos de sofismas: Google - “ Quando bebemos ficamos bêbados Quando estamos bêbados, dormimos Enquanto estamos dormindo não cometemos pecados Se não cometemos pecados vamos para o ceu” Conclusão: Para irmos ao ceu devemos estar bêbados. - Deus é Amor O Amor é cego Stevie Wonder é cego Conclusão: Stevie Wonder é Deus. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 70 - O pinguim é branco e preto Alguns filmes antigos são branco e preto Portanto pinguim é filme antigo Alguns Irmãos são verdadeiros buscadores, investigadores, e pesquisadores da Verdade sabem o que é um axioma, conhecem a Ordem e estão atrás da Verdade Pura, mas, a maioria ou por ignorância ou querer aparecer, ou por vontade própria, ou por achismo comete sofisma a toda a hora. Por isso a Ordem é tão confusa, mas ao mesmo tempo ela permite que isto aconteça por não ter regras mais rígidas e não ter um poder central mundial pelo menos normativo. É uma verdadeira parafernália de potências e ritos que existe em todo planeta, isto é, em países onde a Maçonaria é permitida. Quando se trata de um sofisma baseado na ignorância de quem o está produzindo chama-se este fenômeno de PARALOGISMO. E quer por ignorância ou má fé os sofismas são muito comuns na Maçonaria. O individuo acredita que está dizendo a verdade, porque ignora o que ela seja. Sua imaginação, suas fantasias estabelecem uma situação que parece ser a verdade para ele, mas não é. E ele procura convencer os outros que está certo. Os praticantes dos sofismas na Maçonaria modificam ritos, mudam a cor dos mesmos, mudam os diálogos já estabelecidos desde a fundação do referido rito, inserem cerimônias, acrescentam graus, inventam, mudam tudo o que podem. Às vezes porque acham bonito, ou porque quererem aparecer, e Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 71 o fazem sem fundamentos básicos da Ordem. Entretanto eles não têm noção de que estão descaracterizando o rito. Acham que estão enriquecendo o rito. Isto é um sofisma. A ignorância é algo useiro e vezeiro na Ordem. Mas, a má fé também. Muitos grão-mestres durante o período em que estão grão-mestres por decretos modificam os ritos, por se acharem com este direito. Mas em realidade um rito não pode ser alterado ou acrescentado de graus, pois um rito em si é duradouro e não pode ser alterado, pois, ele teve um começo quando foi criado e a ascendência moral e histórica do rito é maior que o tal do poder dos grão-mestres, diga-se de passagem, com raras exceções, pois muitos grão-mestres que conhecem a Maçonaria realmente buscam a verdade baseada em axiomas. Infelizmente não é a maioria. Estes são os guardiões da Ordem. Se uma potência adotar um rito já existente no mundo, ela deverá respeita-lo nos seus mínimos detalhes. Não poderá altera-lo. Outro fato resultantedos sofismas é que os que produziram mentiras, estas passam através do tempo a serem consideradas como verdades pelas novas gerações de m Exemplo de dois sofismas históricos: No ano de 1889 uma potência maçônica no Brasil começou a “azular” os aventais de Mestre, a ornamentação e pintura das paredes internas do templo, isto no Rito Escocês Antigo e Aceito quando cor vermelha que é de origem, a predominante Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 72 neste rito e não a azul. O erro se perpetuou e hoje 2/3 da Maçonaria brasileira que pratica este rito usa o avental azul no grau de Mestre e as paredes do templo são ornamentadas pela cor azul celeste. Isto é um tremendo sofisma. Outro exemplo ocorrido em 1889, na história do Brasil com a Proclamação da República em relação á Bandeira Nacional. A Bandeira Nacional republicana foi feita em cima da Bandeira Nacional Imperial. Não se deram ao luxo confeccionar outro tipo de bandeira. Aproveitaram a Bandeira Imperial tocando apenas o centro onde estava o brasão imperial pelo círculo azul onde está escrito numa faixa Ordem e Progresso, baseada lema do positivista de Auguste Comte “O Amor como principio a Ordem como base, o Progresso como meta” acrescentando estrelas representando os estados. O Amor que deveria aparecer na Bandeira, pois o povo brasileiro precisa de mais Amor, talvez por falta de espaço não fez parte do dístico Ordem e Progresso. Os republicanos mantiveram o fundo verde e o losango amarelo no centro tal qual era a bandeira imperial os e doutrinaram o povo que o verde representa nossas matas e o amarelo representa nosso ouro e minerais. Sofisma total – Leda mentira. A cor verde era característica da Casa dos Bragança de onde veio D. Pedro e o amarelo representava na Bandeira a Casa dos Lorena -Habsburg da Áustria de onde veio a Imperatriz Leopoldina. Mas a República tinha que apagar qualquer vestígio da monarquia então despojada do poder. Então cometeram um sofisma que o povo brasileiro pacato Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 73 engoliu até hoje acredita. Dizer que o azul representa nosso céu, tudo bem, mas o verde e o amarelo não tem nada a ver com nossas matas e nosso ouro. A história é outra. Mas de qualquer forma devemos manter o amor e respeito à nossa Bandeira, independente de sua história republicana mal resolvida, pois como dizia Coelho Neto “A Bandeira é a imagem viva da Pátria. COMENTÁRIOS A RESPEITO DOS CALENDÁRIOS NA MAÇONARIA BRASILEIRA Ir∴ Hercule Spoladore Calendário entre os vários sinônimos, consta dos dicionários como sendo um sistema elaborado para adequar de forma mais racional possível os dias, as semanas, os meses e os anos de acordo com os principais fenômenos astronômicos, e em especial os envolvidos com a posição do sol e eventualmente com a posição da lua. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 74 O nosso calendário atual é solar e chama-se calendário gregoriano. Ele pretende fazer com que o ano civil, seja o mais aproximado possível com o ano trópico calculado em 365,2422 dias solares médios. Neste período deverão estar inseridas as quatro estações. A concordância entre anos trópico e civil é conseguida através de artifícios de anos ordinários e bissextos, ou seja, cada quatro anos aparecerá um dia a mais, no caso no mês de fevereiro com vinte e nove dias. Quanto aos calendários lunares, estes são baseados nos ciclos da lua. O ano tem doze lunações, entretanto, com relação ao término das estações há desvios, que trazem como conseqüência, distorções. Estes desvios são corrigidos através dos calendários luni-solares pelo acréscimo de um décimo terceiro mês em alguns determinados anos. O calendário hebraico se baseia neste tipo de calendário luni-solar. Alguns calendários conhecidos: Juliano Estatuído por Júlio César no ano 46 a.C. aconselhado pelo astrônomo Sosígenes para substituir o calendário romano, que era muito confuso. Mas também não resolveu. Havia uma discrepância muito grande dentre o ano civil e o ano trópico. Litúrgico ou eclesiástico Usado na idade média, tendo uma forma de calculá-lo muito complexa. O objetivo principal era a determinação da Páscoa. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 75 Este calendário foi inventado no Concilio de Nicéia no ano 325. d.C. e ainda está em uso na Igreja Católica. Gregoriano Criado pelo Papa Gregório XIII em 1562. É o mesmo calendário Juliano com as seguintes alterações: anos bissextos têm o milésimo sempre divisível por quatro. Os anos seculares nunca serão bissextos a não ser que o número seja divisível por quatro. Assim, com as devidas correções a diferença entre o ano trópico e civil é quase desprezível, ou seja, de 0,0003. Para acertar as estações do ano foi estabelecido que na ocasião, o dia 04/10/1562 passasse a ser 15/10/1562. Muçulmano É um calendário lunar. O ano tem 354 ou 355 dias começando de 10 a 12 antecipadamente.. Ele é considerado a partir da hégira que é era maometana que tem como ponto de partida a fuga de Maomé de Meca para Medina no ano de 622 d.C. da nossa era atual. Esta se celebra no primeiro dia do terceiro mês. O nono mês é o mês do Ramadã. Republicano Francês Criado pela Revolução Francesa em 24/10/1793 O ano começava no dia 22 de setembro e era dividido em doze meses de trinta dias, mais cinco suplementares consagrados às festas Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 76 republicanas. Os meses tinham os nomes um estranhos a saber: Vindimário, Brumário, Frimario, Nivoso, Pluvioso, Ventoso, Germinal. Floral, Prarial, Messidor, Termidor e Frutidor. O mês era dividido em décadas e os nomes dos dias tirados da ordem natural da própria numeração. Foi substituído pelo calendário gregoriano em 01/01/1806. Era um calendário anticlerical. Hebraico O calendário hebraico é lunar e solar ao mesmo tempo e o ano poderá se constituir em doze ou treze meses, isto porque os doze meses são lunares e não englobam o período de um ano solar, havendo uma sobra de onze dias, visto que o ano lunar tem 354 dias e o ano solar 365. Isto fará com que surjam anos de treze meses após um ciclo variável de anos de doze meses. O período de cada lunação é de vinte e nove dias, doze horas e quarenta e quatro minutos. Como cada dia e cada mês começam e terminam à meia-noite, alguns meses terão trinta dias e outros apenas vinte e nove dias. O ano hebraico poderá ser iniciado em dois meses diferentes: Em Nissan 1º mês (março-abril) considerando o ano agrícola, eclesiástico ou religioso e Tsherei 1º mês (setembro-outubro) se considerar o ano econômico ou civil, também usado para assuntos históricos. O ano de doze meses denomina-se ano comum e pode ser de três formas: ano ordinário de com 354 dias, deficiente ou defectivo com 353 dias e abundante com 355 dias. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 77 O ano de treze meses chama-se embolísmico ou intercalar e pode ser também de três formas: ordinário quando tem 384 dias, deficiente quando tem 383 e abundante quando tem 385 dias. O cálculo é feito na base de ciclos de dezenove anos, dos quais sete terão treze meses. São eles: 3º, 6º, 8º. 11º,14º e 19º sendo que os demais deste ciclo terão doze meses. Quanto ao ano em si, é mais fácil calculá-lo. Basta só acrescentar ao ano da era vulgar, o número3760. O primeiro dia do mês de Tishrei poderá variar de cinco de setembro a cinco de outubro, com relação ao calendário gregoriano durante um ciclo de dezenove anos. É preciso que decorram dezenove anos para que as fases da lua tornem a repetir nos mesmos dias do ano civil. Este espaço de tempo chama-se ciclo lunar. Resumo do calendário hebraico Nissan corresponde a Abib – Março-Abril 1º mês 21 março/ 20 de abril Ivyan corresponde á Ziv Abril-Maio 2º mês 21 abril/20 de maio Sivan Maio-Junho 3º mês 21 maio/20 e junho Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 78 Tamuz Junho-Julho 4º mês 21 junho/ 20 julho Av (ou Ab) Julho-Agosto 5º mês 21 julho/20 agosto Elul Agosto-Setembro 6º mês 21 agosto/20 setembro Tishriri ou Tishrei corresponde a Etanim Setembro-Outubro 7º mês 21 setembro/20 outubro Marsheswan equivale a Bull Outubro-Novembro 8º mês 21 outubro/20 novembro Kislev Novembro-Dezembro 9º mês 21 novembro/20 dezembro Tebeth Dezembro-Janeiro 10º mês 21 dezembro/20 Janeiro Shebeth Janeiro-Fevereiro 11º mês 21 janeiro/20 fevereiro Adar Fevereiro-Março 12º mês 21 fevereiro/20 março We Adar 13º mês Como se percebe, trata-se de um calendário muito complexo, difícil de ser entendido. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 79 O seu uso é feito através de tabelas. É usado no Rito Escocês Antigo e Aceito nos graus superiores e a explicação prende-se ao fato deste rito ter sido fundado em Charleston, EUA. em 1801 por vários irmãos,sendo a sua maioria de origem judaica. Outros autores referem que este calendário já era usado na Maçonaria anteriormente e que uso datava desde o tempo das Cruzadas. Para se ter uma idéia de como os maçons sempre usaram mal seus calendários, ou seja, quer inventando calendários próprios superpondo suas invenções em cima dos calendários já existentes através dos tempos, quer pelo mau uso dos calendários existentes, não sabendo fazer a correta conversão para o calendário gregoriano, causando problemas graves de datas históricas, será transcrito um trecho do livro “Maçonnerie Pittoresque”. “No Rito Escocês Antigo e Aceito o mês não tem começo fixo. Segue-se quanto a isso o calendário hebraico. Mas aqui é preciso assinalar uma variante. Os maçons deste rito que (na França) reconhecem a autoridade do Grande Oriente da França colocam, por exemplo, o primeiro dia de Nissan de 5842 a 12 de março de 1842 enquanto que os irmãos que dependem do Supremo Conselho do grau 33 colocam a 13 de março. A diferença será pouco sensível neste ano, mas em 5843 será de uma lunação. Os escoceses do Grande Oriente da França farão o Nissan a partir de 31 de março e os escoceses do Supremo Conselho irão fixá-lo no primeiro dia do mês. Isto ocorre, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 80 sobretudo por estes últimos retardarem sem razão, em um ano a intercalação do mês lunar embolísmico de We-Adar”. Este problema de confusão de calendários já ocorria na França no século XIX. No Brasil usou-se e ainda se usa um calendário primitivo baseado no hebraico. Só que ao invés de iniciar em Tishrei que é o mês civil inventaram de iniciar em Nissan a 21 de Março acrescentando no final o número 4000 ao invés de 3760 como é o correto no calendário hebraico verdadeiro. Ex. 21 de março de 2011 seria o 1º dia do 1º mês do ano 6011, isto na versão brasileira. Nos documentos mais antigos usavam os nomes dos meses em hebraico. Posteriormente algumas potências usam ainda em hebraico e outras usaram o número do mês, iniciando pelo mês de março (mês 1) Este pseudo-calendário hebraico foi usado pelo Rito Adonhiramita desde 1815 e o Grande Oriente Brasiliano, Brasílico ou Brasiliensi fundado em 1822 também o adotou. Todavia, o Grande Oriente Brasiliano deveria ter adotado o calendário do Rito Francês ou Moderno, pois foi fundado no Rito dos Sete Graus ou Francês, que se inicia em 01 de março. O calendário do Rito Moderno ou Francês inicialmente também se iniciava em 21 de março, mas em circular datada de 12/10/1774 pelo Grande Oriente da França, passando a 1º Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 81 de março argumentando que o calendário iniciado a 21 de março causava muita confusão. Este calendário institui aos meses os mesmos números de dias que o calendário gregoriano preconiza, dando à série dos dias e meses a ordem numérica, acrescentando no final para determinar o ano, o ano do calendário gregoriano somado a 4000. Ex. dia 06/05/2011. Será o 6º dia do 3º mês de 6011. V:.L:.(Verdadeira Luz) O Trabalho de Emulação – sistema inglês usa um calendário mais simples. Acrescenta simplesmente o número 4000 ao ano vigente no calendário gregoriano. Ex: 03 de Novembro de 6011. A:. L:.(Ano Luz) Os três calendários enfocados usam o número 4000 porque segundo a Bíblia em Gênesis, o mundo teria sido criado 4000 anos antes da era cristã. Entretanto esta explicação é um verdadeiro absurdo. Sabe-se da Paleontologia, com sua tecnologia moderna que é possível determinar a idade de fósseis até com seiscentos milhões de anos de anos. Pela Geocronologia através de métodos radioativos tais como o carbono -14, urânio-chumbo, chumbo- chumbo, potássio-argônico e samário-neobíneo puderam ter certeza de que a Terra se tornou sólida há quatro bilhões de anos e também foi possível determinar que o sistema solar tenha no mínimo cinco bilhões de anos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 82 Desta forma o número 4000 é mantido na Maçonaria apenas por uma questão de usos e costumes e pela tradição, porque pela Ciência não há razão de ser. Cada rito tem uma denominação especial para as letras que coloca no final do seu calendário, Para os maçons do Trabalho de Emulação é A:.L:. Anno Lucis - ano luz, no Rito Moderno e REAA é V:.L:. Vera Lucis – verdadeira luz e para o calendário hebraico é Anno mundi – Atualmente, principalmente no simbolismo quase todas as potências têm seus documentos são grafados de acordo com o calendário gregoriano e colocado no final E:.V:.- era vulgar - Particularidades de outros ritos e potências O Grande Oriente da Itália e da Hungria no final do século XIX datavam seus documentos sem determinar os milhares, por ex. ano 2011 seria 0,0011. O Rito de Memphis segue ritos orientais e usa o calendário egípcio cujo início ocorre quando o Sol entra no signo zodiacal, e a estrela Sírius entra em conjunção com o Sol coincidindo com a canícula a 20 a 22 de julho às 11 horas e o primeiro mês é Thot. O Rito de Misraim acrescenta ao ano da era vulgar o número 4004. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-201983 Os maçons do Rito do Real Arco usam um calendário que acrescenta ao ano da era vulgar o numero 530, pois consideram como primeiro ano, a fundação do segundo templo de Jerusalém por Zarobabel e acrescenta a expressão A:. Inv:. (anno invencion) O Rito da Estrita Observância que existe na Europa e atualmente também no Brasil considera em seu calendário, o ano hum o ano em que a Ordem do Templo foi destruída, ou seja, em 1314. Aqui no caso é diminuída esta data do ano da era vulgar Ex. 2011-1314 = 697. Como a Maçonaria Brasileira usou e usa os calendários maçônicos Já foi citado que o calendário usado pelo Grande Oriente Brasiliano era o calendário pseudo-hebraico ou adonhiramita. (Não acrescentava à era vulgar o numero 3760 e sim 4000) Entretanto, o Supremo Conselho de Montezuma fundado em 12/02/1832, por muitos anos usou o calendário do Rito Moderno ou Francês. Este Supremo Conselho através do Marquês de Caxias que era nesta época seu Soberano Comendador uniu-se ao Grande Oriente do Brasil em 1855, é possível que por influência deste, o Grande Oriente do Brasil em 01/01/1856 adotou como oficial o calendário do Rito Moderno. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 84 Entretanto, segundo pesquisas do Irmão Kurt Prober, analisando documentos da época, o calendário do Rito Francês ou Moderno nem sempre foi devidamente seguido, havendo alternância de uso com outros calendários conforme os grão- mestres da época. O calendário do Rito Moderno foi usado desde a sua adoção oficial até 1863.Deste ano até 1870 quando foram grão- mestres os Irmãos Bento da Silva Lisboa (Barão de Cayru) e seu sucessor Joaquim Marcelino Brito, usaram simplesmente o calendário da era vulgar, ou seja, o gregoriano. De 1871 a 1876 o Grande Oriente do Brasil usou o calendário pseudo-hebraico ou adonhiramita através de seu grão-mestre José da Silva Paranhos (Visconde do Rio Branco) Em 1876 o grão-mestre em exercício Francisco José Cardoso Júnior, bem como seu sucessor Luiz Antonio Vieira da Silva usaram o calendário gregoriano. A partir de 1889 o grão-mestre em exercício, por poucos meses (03/11/1889 a 24/02/1890) o Visconde de Jary então grão- mestre usou o calendário do Rito Moderno ou Francês. Seu sucessor o Marechal Deodoro da Fonseca voltou a usar o calendário da era vulgar. Somente a partir de 09/02/1892 quando assumiu o grão- mestre Joaquim de Macedo Soares o Grande Oriente do Brasil voltou definitivamente a utilizar o calendário do Rito Moderno ou Francês. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 85 Mais ou menos a partir de 1898 o Supremo Conselho do Brasil passou a usar o verdadeiro calendário hebraico, mas somente nas patentes dos graus 31, 32 e 33 em substituição ao calendário do Rito Moderno. Após o cisma de 1927 o Supremo Conselho de Montezuma levado pelo Irmão Mario Behring, este passou a usar o calendário hebraico para todos os graus filosóficos. O Supremo Conselho do Brasil conveniado com o Grande Oriente continuou a usar o calendário hebraico, mas após o chamado Compromisso de Pacificação em 11/11/1952 além dos diplomas de altos graus, passou a usar este calendário em todos os diplomas dos demais graus filosóficos. A razão de tanta polêmica da Maçonaria Brasileira á respeito das datas históricas, foi ocasionada pela má interpretação por parte de alguns historiadores das atas das primeiras sessões do então Grande Oriente Brasiliano. Estas atas são em número de dezenove e constituem o chamado Livro de Ouro da Maçonaria do Brasil. As dezenove atas vão desde o dia 17/06/1822 até o dia 25/10/1822. Graças ao Grande Secretário do Grande Oriente Brasiliano, o Irmão Capitão Manoel José de Oliveira (Irmão Bolívar), o qual escondeu as atas quando D.Pedro I mandou fechar o Grande Oriente, entregando-a depois na reinstalação do Grande Oriente, em 1831, agora com o nome de Grande Oriente do Brasil ao Vale do Lavadrio. Não fora a atitude do Irmão Bolívar, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 86 não se saberia hoje em detalhes, partes importantes da história da Maçonaria brasileira. Sabe-se que em 25/10/1822 D. Pedro mandou realizar uma devassa no Grande Oriente Brasiliano, apreendendo moveis alfaias e documentos, não só do Grande Oriente, mas também das lojas que o compunham, ou seja “Comércio e Artes à Idade do Ouro”, “União e Tranqüilidade” e Esperança de Niterói”. A partir da leitura posterior destas atas é que se iniciou a confusão. Alguns historiadores incautos, ao converterem as datas para a era vulgar, o fizeram convertendo através do calendário do Rito Moderno e não do pseudo-hebraico ou adonhiramita que foi o calendário usado na fundação do Grande Oriente Brasiliano. Isto é até um paradoxo, pois se fundaram o Grande Oriente no Rito Moderno, deveriam usar o calendário do Rito Moderno. Mas como a Loja “Comercio e Artes” a loja mãe do Grande Oriente pertencia ao Rito Adonhiramita, usaram este calendário pseudo-hebraico. O primeiro historiador a cometer este engano foi o Irmão Manoel Joaquim Menezes (Irmão Penn) que esteve presente quando da fundação do Grande Oriente Brasiliano, mas que escreveu sobre o assunto somente em 1857, trinta e cinco anos após, através do livro “Exposição histórica do Brasil”. Este Irmão já estava com idade avançada, esquecendo-se que o calendário na época pelo Grande Oriente Brasiliano era o adonhiramita. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 87 Assim é que mencionou a fundação do Grande Oriente Brasiliano em 25/05/1822, quando na realidade foi em 17/06/1822 aos 28 dias do 3º mês do ano 5822 da V:.L:. A iniciação de D.Pedro I foi no dia 02/08/1822 e não no dia 13/07/1822 (aos 13 dias do 3º mês do ano 5.822 da V:).L:. A posse de D.Pedro I como Grão-Mestre ocorreu no dia 04/10/1822 e não em 14/09/1822 (aos 14 dias do 7º mês do ano 5822 da V:.L:. A famosa sessão que ocorreu no 20º dia do 6º mês do ano 5822 da V:.L:. não foi realizada no dia 20 de Agosto de 1822 e sim no dia 09/09/1822. No dia 09/09/1822 realmente aconteceu uma sessão do Grande Oriente Brasiliano e Ledo se pronunciou a respeito conclamando que: “as atuais políticas circunstanciais de nossa pátria.o rico, o fértil e poderoso Brasil demandavam e exigiam imperiosamente que sua categoria fosse inabalavelmente formada com a proclamação de nossa independência e da Realeza Constitucional na pessoa do Augusto Príncipe Perpétuo, Defensor Constitucional do Reino do Brasil”. Todavia como eram parcos os meios de comunicação na época, Gonçalves Ledo não sabia que há dois dias ou seja, no 07/09/1822, D. Pedro I já tomado esta providência á margens do Ipiranga. Ledo só tomou conhecimento no dia 15/09/1822, pois D. Pedro havia viajado noventa e seis léguas em “lombo de burro” desde Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 88 São Paulo, chegou sozinho à noite do dia 14/09, muito cansado, foi dormir cedo. A boa nova só se espalhou no Rio de Janeiro no dia 15/09/1822. Alguns historiadores entre maçônicos e profanos embarcaram na forma errada de converter o calendário e deixaram este legado para muitos maçons ate os dias de hoje, que ainda persistem em afirmar que o Brasil foi proclamado em 20/08/1822. É comum ainda hoje ouvir palestrantes maçônicos mal informados dizerem a plenos pulmões que Ledo proclamou a independência do Brasil dentro de um templo maçônico no dia 20/08/1822. Hoje, felizmente a grande maioria dos maçons brasileiros sabeo que aconteceu realmente, graças a escritores como o Irmão Mello Moraes, ao escritor profano Pereira da Silva e mais recentemente ao Irmão José Castellani que converteram corretamente o calendário pseudo-hebraico. REFERÊNCIAS Aslan, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia Mellor, A. - Dicionário da Franco Maçonaria e dos Franco- Maçons Prober, Kurt - Coletânea Bigorna nº. 01 e 02 Ritual de Aprendiz Maçom - Cayru – 1957 – GOB Grande Enciclopédia Delta Larousse Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 89 Castellani, José - Trabalho: Dia 20 de Agosto de 1822: Não houve sessão na Maçonaria Gomes, Manoel - Trabalho: “20 de Agosto ou 09 de Setembro” Carvalho João Alberto – Trabalho: Dia 20 de Agosto; Equivoco histórico CONDE DE SAINT GERMAIN FICÇÃO OU VERDADE? ESPECULAÇÕES. Ir∴ Hercule Spoladore Louco ou visionário? Aventureiro? Prestidigitador? Charlatão? Espião? Ou um subproduto da aristocracia das cortes Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 90 europeias, do cavalheirismo dos gentis-homens que existiram no século XVIII? Paranormal ou viajante do tempo? Ou tudo somente um exagero nas narrações a seu respeito ou então apenas um lenda? Falava-se que ele foi místico, alquimista, químico, ourives, lapidador de diamantes, cientista, aventureiro, cortesão, músico e compositor. São estas as indagações a respeito deste homem misterioso que viveu naquele século. Não confundi-lo com um seu contemporâneo Claude Louis, também Conde de Saint Germain que foi general e ministro da França. Dizem que ele teria sido filho de judeu português ou que teria nascido na Alemanha, na cidade de Eckenförd (Schlswig) Também se falava que era filho de Francis II Rakoczik e teria nascido na Transilvânia ou então que seria filho de Marie Ann de Klouburg, viúva do rei Carlos II com o conde Adanero. Mas sua origem é desconhecida. Nasceu segundo alguns autores no dia 28/05/1696. Teria estudado na Itália como protegido pelo Duque Gian Gastoni, último descendente dos Médici. Sabe-se que viajava muito e que sempre esteve ligado à música, alquimia e ocultismo e que tinha uma memória prodigiosa, que podia predizer o futuro, que era supostamente maçom e tinha atividades políticas e sociais. Assombrou muitos países da Europa e em especial a corte francesa da época. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 91 Será relatada uma sinopse do que se conseguiu compilar através dos livros que falam sobre este fantástico personagem. Quando o Conde de Saint Germain a esfinge do século XVIII apareceu na Inglaterra em 1745, não foi de se surpreender que o inglês respeitável como Horace Walpole afirmasse: “Canta, toca violino maravilhosamente, compõe, é louco e não muito sensível”. Certas enciclopédias o criticaram chamando de aventureiro, mas há um abismo entre atribuir-lhe adjetivos e estudar sua vida e sua natureza. A polícia francesa pensava que ele fosse espião prussiano. Outras polícias secretas pensavam que ele fosse agente russo, ou partidário da restauração dos Stuarts da Inglaterra, nome esse ligado às origens do REAA. Voltaire dizia: “Homem sabe-tudo”. Um dos seus discípulos, o Príncipe Karl Von Hesse-Kassel escreveu que Saint Germain foi um dos maiores filósofos que viveu neste mundo. Quando o Marechal Belle-Isle, o apresentou à Marquesa Pompadour e a Luiz XV, seu amante, o rei estava entediado. O Conde manteve muitas conversações com o Rei e com a Marquesa sobre alquimia e outros assuntos. A princípio Luiz XV mostrou-se céptico em relação aos conhecimentos do Conde sobre alquimia e transmutação. Mas não podia criticar um homem que ostentava brilhantes mais lindos que os dele. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 92 O Marechal Belle-Isle descreveu com muita vivacidade o primeiro encontro e diálogo entre Saint- Germain e o Rei “se puder fazer o elixir de longa vida ou a Pedra Filosofal estaremos prontos para comprar a fórmula. Enquanto isso poderá ter uma mansão e uma pensão, mas isso não quer dizer que eu acredito em suas pretensões”. -“Não peço nem mansão, nem pensão. Trago comigo todos os recursos que necessito, um séquito de servidores e dinheiro para arrendar uma casa”. Ato contínuo colocou a mão no seu bolso e de lá retirou certa porção de lindos brilhantes soltos e jogou-os sobre a mesa e ante ao Rei disse: “E queira Vossa Majestade aceitar estas pedras como uma pobre oferta”. Essas Majestade, são alguns brilhantes que consegui fabricar, graças à minha arte. Um magnifico castelo o de Chambord foi colocado à disposição do Conde. Ali, o indolente Rei descobriu a alegria do trabalho, iniciando suas experiências sob a orientação do maior químico da época, o Conde de Saint Germain. O Jornal London Chronicale de 31 de Junho de 1766 diz o seguinte: “Tudo o que se pode dizer com justiça desse cavalheiro é que ele deve ser considerado um estrangeiro desconhecido e inofensivo, que tem recursos para consideráveis despesas cujas fontes não são conhecidas. Levou da Alemanha para a França a reputação de um insuperável alquimista que possui o pó secreto e em consequência disso a Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 93 panaceia universal. Correm rumores que o estrangeiro é capaz de fazer ouro”. A coleção de lindas pedras preciosas que o Conde possuía, concorreu para aumentar a sua reputação de químico e alquimista. Quando o Marquês de Valbelle visitou o Conde de Saint Germain, este lhe pediu uma moeda de prata de seis francos. Depois de cobri-la com uma substância negra expôs esta moeda ao fogo. Quando esfriou a peça de prata esta já não era mais prata e sim ouro. Quando o capelão da corte de Versailles perguntou se ele praticava magia negra, ele respondeu que era um estudioso sério da química e tinha feito descobertas, que eram de utilidade para a humanidade. As experiências com corantes provavelmente entre Saint Germain e o Rei foram realizadas muito antes das anilinas serem descobertas por Unverdoben em 1826. Este homem aparentava ter mais ou menos uns cinquenta anos. Para se opinar mais com base a sua idade é necessário examinar as memórias, cartas, documentos, registros, artigos de jornais daquele século. Segundo o Barão de Gleischen, franco-maçom o mesmo relata ter conhecido Saint Germain em 1710 sendo que ele aparentava ter uns cinquenta anos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 94 Nos anos 1737 a 1742 foi hóspede de honra da corte do Xá da Pérsia. De 1745 a 1746 viveu em Viena na mansão do Príncipe Ferdinand Von Lobkowistz. Em 1749 chegou a Paris por insistência do Marechal Belle-Isle. Em 1756 O Conde Robert Clive fundador do domínio inglês na Índia encontrou-se com ele lá. Em 1760 o Jornal London Chronicale, publicou um artigo sobre o interesse que Saint Germain estava despertando em Londres nesta época. Em 1762 O Conde estava em São Petsburgo onde participou do golpe de estado que levou vitoriosa Catarina, a Grande, ao trono da Rússia. Em 1768 o Conde estava em Berlin. No ano seguinte viajou para a Itália, Córsega e Tunes. Em 1770 foi hóspede do Conde Orloff quando a esquadra russa aportou em Liverpool. Usava uniforme de general russo. Na década de 1770 ficou na Alemanha, ativamente empenhado em atividades maçônicas e rosacrucianas com seu protetor o Príncipe Kar Von Esse-Kassel.Em 1780 Walsh publicou uma música composta por Saint Germain. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 95 Entre os maçons convidados para a Conferência de Vilhelmsbad realizada no dia quinze de fevereiro de 1782, quando a Maçonaria alemã por consenso geral acabou de vez com a enxurrada de graus superiores maçônicos que pululavam no país, oriundos da França. Saint Germain estava ao lado de Saint Martin e de outros eminentes maçons da época neste congresso. Nos registros da Igreja de Eckenförd na Alemanha existe o seguinte registro: “Falecido a dois de fevereiro e sepultado no dia quatro de março de 1784, o chamado Conde de Saint Germain. Outras informações desconhecidas. Enterrado privativamente nesta Igreja”. Segundo Nicola Aslan, o esotérico Paul Chacomac, chegou à conclusão que Saint-Germain faleceu em Gottorp (Schleswig) no dia quatro de fevereiro de 1784, nos braços de Hesse-Kassel, do qual era bibliotecário e amigo íntimo que o cercara de cuidados e respeito. Mas segundo outros autores sua morte teria ocorrido no dia vinte e sete de 1784. Até na data do seu provável óbito há contradições. Citando-se a observação de Rameau e da Condessa Gergy, ele deveria ter 124 anos por ocasião de sua morte. Impossível acreditar nisso cientificamente. Um ano após a sua “morte” ele já estava presente numa conferência maçônica (Fraternidade Maçônica da França). Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 96 Stefannie Felicite, Condessa de Genlis, pedagoga que escreveu oitenta livros, recebendo uma pensão de Napoleão I fez uma afirmação em suas memórias que viu Saint Germain em 1821 em Viena. Nestas alturas este personagem estaria com 161 anos de idade. Ele teria sido visto em 1835 em Paris e 1867 em Milão. Ane Besant, a teósofa, relata ter conhecido o Conde em 1896. W. Leadbeater o encontrou em Roma em 1926. Refere-se um aviador americano, em 1932 cujo avião por falha mecânica foi obrigado a pousar nas proximidades de uma montanha no Tibet relata que na aldeia havia um homem estranho que se identificou como sendo o Conde Saint Germain e lhe disse “eu sou o Conde Saint Germain e em breve voltarei para Paris”. Pode-se acreditar nisso? Impossível. Pela ciência atual e pela própria evolução da espécie do homo sapiens sabe-se que este atualmente tem sua vida média estimada em torno dos 75 anos, com alguns macróbios chegando ou até passando dos 100 anos. Voltaire na sua época voltaria a se manifestar: “É um homem que nunca morre”. Franz Graffer registrou em suas “Memorias” em Viena uma frase significativa de Saint Germain: “Vou partir amanhã à noite. Vou desaparecer da Europa. Vou para o Himalaia”. A informação de Graffer é importante porque dá a localização de um suposto centro de sábios, que viria segundo a crença esotérica preservando há milhares de anos a Ciência Secreta, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 97 ou seja, também para outros, seja o Himalaia a sede secreta da misteriosa Fraternidade Branca. O Conde disse certa vez “É preciso estudar as pirâmides como eu as estudei”. O único manuscrito que se atribui à lavra de Saint Germain é a “La trés sainte Trinosophie”. Esse documento contem ilustrações simbólicas e um texto enigmático: “A velocidade com que corríamos através do espaço não pode ser comparada senão a ela mesma. Num instante eu perdera de vista planícies lá em baixo. A Terra me parecia apenas uma vaga nuvem. Eu tinha sido levantado a grande altura. Durante muito tempo rolei através do espaço, Vi globos girarem em torno de mim e as terras gravitarem a meus pés”. Evidentemente os ufólogos dirão que o Conde estava a bordo de uma nave interplanetária. Já os parapsicólogos científicos, sem comprometimento com credos religiosos dirão que Saint Germain foi um paranormal e que simplesmente fez nesta ocasião uma bilocação de consciência, ou seja, sua mente expandiu através do universo, livre, sem a interferência dos cinco sentidos, mas com a sede da mente funcionando em seu cérebro. A mente simplesmente se expande e o indivíduo tem a sensação de estar realizando uma viagem. Este fenômeno é muito mais comum do que se imagina. Não se trata de sonho. A pessoa fica com as faculdades mentais aguçadas perfeitamente consciente, e tem a viva noção e se lembra de tudo o que está acontecendo. Não Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 98 é comum o paranormal interagir com o que está ocorrendo em sua volta quando biloca. Vê tudo como se fosse num filme. Mas alguns interagem de maneira indireta. Esse fenômeno ocorre num estado alterado da mente. Transmutações, extensão da vida, viagens espaciais, conquista do tempo, tudo isso parece ser o que chama fronteira da ciência. Poder-se-ia presumir segundo Jacques Bergier, segundo seus conceitos que Saint Germain tivesse acesso à Fonte Secreta do Conhecimento. Para os que acreditam, evidentemente. Vários escritores famosos da época escreveram sobre este personagem enigmático. Todavia, sua biografia é muito controversa, Cada qual faz uma afirmação sobre o biografado completamente discrepante em relação aos outros. Mesmo atualmente encontramos citações até em livros de maçonólogos como é o caso do Dicionário de Maçonaria de Joaquim Gervásio de Figueiredo onde ele afirma que Saint Germain foi o maior Adepto oriental dos últimos tempos e que teria sido uma figura importante nas atividades primitivas da Franco-Maçonaria e que numerosas lojas o reverenciam como seu patrono e como luz da Ordem. Questiona-se como ele seria recebido hoje pela sociedade? Seria taxado de louco? Talvez não fosse levado a sério, porque a ciência avançou muito, a tecnologia hoje em dia faz milagres. Já se consegue até fabricar diamantes artificiais, como ele disse que fazia, só que por outros processos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 99 Mas ele seria tido pelo menos pelos parapsicólogos, como paranormal. Já existem faculdades de Parapsicologia em todo o mundo, que estudam indivíduos que já nascem com determinadas capacidades mentais diferente dos tidos como normais. Este potencial mental extrapola os cinco sentidos. Só a mente fica lúcida. Hoje se pode saber se um indivíduo como Saint Germain é paranormal, prestidigitador, esquizofrênico ou charlatão, ou lá o que seja. Já se tem parâmetros científicos para tal aferição, para pelo menos saber se é doente mental ou paranormal. Quanto aos outros epítetos, estes não se precisam de meios científicos para detecta-los, pois ainda hoje existem charlatães que enganam o povo, fazendo-se valer do famoso proverbio latino que diz: “que mundo quer ser enganado (mundus volpi dicipe)” ainda válido e se aplica ao mundo atual. Talvez até existam mais charlatães que na época de Saint Germain. Hoje são organizados dentro de um sistema financeiro se escondem sob o manto de religiões de vigaristas inteligentes e maldosos que utilizam habilmente os meios de comunicação. Vendem a mentira com maior facilidade. Saint Germain foi maçom? Não se prova, mas possivelmente deve ter sido pelas circunstâncias da época. Enquanto que a maçonaria inglesa permaneceu apegada às suas raízes e também à Bíblia, praticando a maçonaria tradicional, a maçonaria francesa do século XVIII foi responsável pela entrada na Ordem de alquimistas, ocultistas, rosa-cruzes, cabalistas, esotéricos e praticantes de atividades afins, e Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil– N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 100 também responsável pelo grande número de graus superiores. Foi justamente lá que ao lado dos ritos tradicionais, apareceram os chamados ritos mágicos praticados por Swendenborg Mesmer, Cagliostro, Schroepfer, Martinés de Pasqually e outros que fundaram lojas onde se praticava este tipo de rito que nada tinha a ver com os ritos conservadores. As atividades de Saint Germain levam a crer que ele deve ter pertencido a alguma loja maçônica que praticasse os tais ritos de magia. Saint Germain foi um fenômeno do século XVIII. Foi algo que aconteceu e assombrou o mundo. Ele deve ter usado a Maçonaria e outras entidades ou organizações em proveito próprio como meio de promoção pessoal. Saint Germain é um fenômeno que não se pode explicar à luz da razão cartesiana. Várias organizações esotéricas espalhadas pelo mundo o adotaram como seu patrono ou como seu mentor, porque algumas atestam que ele ainda está vivo e que possui o Elixir da Juventude e a Pedra Filosofal. Existe a Fraternidade Saint Germain, com sede em São Paulo. E algumas lojas maçônicas espalhadas pelo mundo o reverenciam dando-lhe seu nome. Foi mostrado neste trabalho um resumo do que se apurou compulsando vários livros que tratam deste assunto. Parece Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 101 um tema muito ao gosto dos irmãos de tendência ocultista e esotérica, mas sabe-se que a maioria dos leitores achará este artigo fantástico, esquisito, inverossímil. Que cada um tire a sua própria conclusão. REFERÊNCIAS ASLAN, Nicola – Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia Editora Artenova S.A. São Paulo vol. IV, 976 BERGIER, Jacques - Os Mestres Secretos do Tempo Hemus, Livraria Editora Ltda. São Paulo, 1976 BERGIER, Jacques - Passaporte para uma outra terra Editora Francisco Alves S.A. São Paulo, 1974 FIGUEIREDO, Joaquim Gervasio de - Dicionário de Maçonaria. Editora Pensamento São Paulo, 1974 NAUDON, Paul – A Maçonaria Editora Difusão Europeia do Livro. São Paulo, 1964 TRONDIAU, Julien - O Ocultismo Editora Difusão Europeia do Livro. São Paulo, 1964 DIVAGAÇÕES SOBRE AS COLUNAS J e B Ir∴ Hercule Spoladore Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 102 As colunas J e B hoje símbolos consagrados na Maçonaria foram e ainda são temas centrais de muita fantasia, interpretações contraditórias, polêmica, controvérsias e discussões sem fim. Muita bobagem se tem dito, mas de qualquer forma elas evidenciam assim, serem um símbolo bastante dinâmico, pois ainda não se chegou a uma conclusão final quanto à sua localização, significação e finalidade. Cada qual tem a sua opinião. Interessante frisar que existem contradições na própria Bíblia e entre a descrição bíblica e a tradição maçônica e, mesmo em cada um destes segmentos também há dados que se confrontam e alguns que se convergem. Exemplo típico são as descrições em Reis e Crônicas II que são diferentes em alguns textos. Quanto à tradição maçônica as interpretações são as mais variadas e fantasiosas e pessoais possíveis. As colunas, de acordo com a Bíblia eram uma particularidade do complexo arquitetônico e faziam parte do Templo de Salomão e talvez até fossem o mais importante detalhe do templo porque elas além de ornamentais eram também símbolos religiosos para o povo judeu, falando a favor deste fato a consideração que os autores da Bíblia tiveram descrevendo as colunas em minúcias e delongando muito na descrição das mesmas. Alguns autores acham que elas eram estruturais, isto é serviam de sustentação, mas esta tendência hoje está abandonada. Elas eram livres e emblemáticas, talvez simbolizando para o povo Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 103 judeu uma porta de entrada para se chegar à Divindade. Mas é provável que elas se referissem à objetos sagrados. Outros autores afirmam que elas imitaram a arte da construção, especialmente dos obeliscos tais como foram construídos no templo de Tutmosis III e de Carnaque. Existem exegetas que admitiram que Salomão quisesse homenagear ancestrais seus dando o nome às colunas os nomes de Jachim e Boaz. Todavia outros rebatem alegando que estes personagens bíblicos não foram importantes. Ainda a Bíblia relata que quem fundiu as colunas foi Hiran Abif ou Abi um artista metalúrgico vindo de Tiro enviado pelo rei que também se chamava Hiran e aliado de Salomão, para executar as fundições em bronze, como foi o caso das colunas, vasos e utensílios além do Mar de Bronze. A fundição teria ocorrido em Sucote e Zeredá, em terras barrentas. Há controvérsias a respeito destes dois nomes em relação à sua grafia. Cita ainda a Bíblia mais detalhes sobre as colunas também chamadas de Colunas Gêmeas. Depois de terminada a construção do templo então Hiran fez erguer as Colunas e por fim Hiran e as terminou as com os dois globos, os dois capitéis que estavam no cume das colunas, as duas redes com duas fileiras de romãs, cerca de duzentas em cada rede, para cobrirem os dois globos dos capitéis que estavam em cima das colunas. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 104 Afirma ainda a Bíblia, que Hiran levantou as duas Colunas diante do Templo. Uma à direita e outra à esquerda. A da direita chamou-a de Jachim e a da esquerda de Boaz. Quanto ao estilo arquitetônico das colunas elas pertencem á ordem babilônica com caracteres egípcios. Portanto não são colunas coríntias, como aparecem na maioria dos templos atuais. Esta troca de ordem deve-se aos filósofos neoplatônicos e alexandrinos da idade média que pretenderam misturar ideias da Cabala, com a Filosofia e as Artes gregas. Esmiuçando ainda mais, detalhes da descrição bíblica com relação às dimensões das Colunas, temos em Reis que elas teriam dezoito côvados de altura e em Crônicas II teriam trinta e cinco côvados de altura e que os capiteis em Reis teriam três côvados e em Crônicas II eles teriam cinco côvados de altura. Com relação à equivalência desta medida chamada côvado ou cúbito no sistema métrico decimal que usamos, encontrou-se várias medidas a saber 0,66 metros, 0,36 metros, 0,50 metros 0,50 metros e 0,62 metros e etc. Depende da interpretação dos autores. Mas o fato é que ninguém sabe ao certo. Difícil hoje em dia saber-se qual o valor real de um côvado. As Colunas teriam doze côvados de largura. Os exegetas não se entendem. Cada qual tem uma opinião. De um modo geral a Maçonaria, salvo algumas exceções adotam, em seus rituais a altura de dezoito côvados. A tentativa fantasiosa de certos autores tentar explicar a discrepância da altura das Colunas citadas em Reis e Crônicas II Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 105 seria que Hiran teria fundido uma coluna só com trinta e cinco côvados e a dividiu em duas de dezessete côvados e meio. É claro que esta explicação não tem respaldo. De qualquer forma a altura das Colunas dá ideia de uma construção muito imponente, muito alta equivalente em nossos dias á altura de um prédio de vários andares. Com relação ao número de romãs em cada capitel, em Crônicas II refere que havia duas redes de romãs e duas fileiras de romãs em cada rede, sugerindo duzentas romãs em cada fileira perfazendo um total de quatrocentas romãs em cada Coluna. Mas a descrição Crônicas II em um capítulo anterior refere cadeias com cem romãs em cada cadeia. É claro que para se ajustarà primeira descrição requereria duas cadeias em cada fileira para ficar conforme. As romãs, símbolo de fertilidade, que hoje adornam nossos templos atuais são em número de três em cima do capitel de cada coluna. Discute-se se as Colunas eram ocas ou não. Trata-se de outro ponto controverso da Bíblia. Em Jeremias (52:21) está escrito que as Colunas eram ocas e a espessura era de quatro dedos. A tradição maçônica está de acordo com esta citação quando este livro da Bíblia fala em destruição de Templo por Nabucodonosor, quando mais uma vez existem controvérsias. Muitos autores que acham que as Colunas não eram ocas referem e que o capítulo 52 de Jeremias foi um acréscimo tardio e que não teria sido escrito pelo Jeremias sendo os que o escreveram estavam mais interessados em mencionar como realizaram as suas profecias. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 106 Sabe-se que a prática de fundir metais com a retirada do núcleo a ser removido posteriormente tornando o objeto fundido oco, só foi descoberta no quinto ou sexto século após a construção do Templo de Salomão. Poder ser que a tradição maçônica tenha agregado o simbolismo das Colunas Salomônicas as Coluna Antediluvianas, nas quais se depositaria todo o registro do acervo das Ciências, como se fossem um arquivo da Humanidade. Entretanto os exegetas não estão de acordo se as Colunas eram ocas ou não. As Colunas do Templo de Salomão tinham motivos florais de lírios com redes e grinaldas como adorno, tiveram também segundo os autores antigos duas bolas esféricas em cima dos capiteis que receberam o nome de globo onde se traçaram mapas, a do globo celeste e do globo terrestre. Muitas Lojas adotaram estes globos em cima dos capiteis das duas Colunas. Entretanto, estes globos parecem ser uma equivocada alusão aos pomos descritos em Crônicas II. Segundo certos exegetas os pomos estariam se referindo aos capiteis, os quais eram pelo menos de forma ovoide ou esféricas. Havia na tradição da Maçonaria Operativa duas Colunas Antediluvianas chamadas também de Colunas de Sete, de Enoque ou de Noé. Conta à tradição preservada pelos maçons operativos, e estes relatos são citados nos Antigos Deveres (Old Charges) como, por exemplo, no Manuscrito de Cooke, onde cita que os filhos de Lameque de nomes Jubal, Jabal e Tubalcain construíram duas colunas. Uma delas era de mármore puro, material que resiste ao fogo e a outra coluna foi feita de tijolos Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 107 que jamais afundaria na água. Uma ou outra coluna sobraria fosse qual fosse a forma de extermínio do fim do mundo. Os filhos de Lameque achavam que a ira do Senhor viria em forma de uma vingança que tanto poderia ser fogo ou poderia ser pela água. As sete Ciências conhecidas na época, foram gravadas em ambas as Colunas. As Colunas eram, portanto, depositárias destas Ciências. Referia ainda a lenda que uma destas colunas foi encontrada por Pitágoras e a outra por Hermes de Trimegisto. Outra versão da lenda na versão de Josefo, historiador judeu, foi que Adão prevendo o fim da humanidade, teria temor que se perdesse todo conhecimento da civilização. Os filhos de Sete, seu terceiro filho construíram as duas colunas para depositar o conhecimento da humanidade. Alguns autores sustentam a tese que as Colunas Salomônicas eram originárias da lenda destas Colunas Antediluvianas. A tradição maçônica refere que as Colunas J e B são ocas para melhor servirem de local, onde se possa guardar o acervo de conhecimento adquirido pela Maçonaria, nada mais é que uma tendência para harmonizar as duas lendas. E também que as Colunas sejam ocas para se guardar as ferramentas dos Aprendizes e Companheiros. A maioria dos autores é concorde em admitir que as Colunas sejam enigmáticas e misteriosas. Não resta a menor dúvida que elas tinham para os judeus uma finalidade místico-religiosa e que os nomes eram atribuídos a objetos sagrados, e não à Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 108 ancestrais da tribo de Judá. A melhor explicação com relação ao seu significado é a filológica que está inserida na Enciclopédia Judaica. Jachim: “Ele firmará” Boaz: “Nele está a força” E é esta explicação que interessa á Maçonaria. Tanto é verdade que atualmente o simbolismo maçônico dá a Coluna J o equivalente á “Estabilidade e Firmeza” e à Coluna B, a “Força”. A título de ilustração para apenas mostrar o quanto é dinâmica simbologia das Colunas serão citadas algumas das suas interpretações. Algumas, muito ao gosto dos esotéricos, ocultistas e outras são tão fantasiosas e inacreditáveis, mas tem Irmãos que defendem estas inbterpretações. Teoria fálica - Seria uma reminiscência dos antigos pilares (mazzeboth), que formavam originalmente emblemas fálicos. Conta-se que em Hierapólis no tempo da deusa Astarte, havia duas colunas em forma de falos e que duas vezes por ano, um homem subia no cimo destas colunas, mas por dentro delas e aí suplicava aos deuses, melhores colheitas, mais fertilidade à terra e mais prosperidade. Na tradução grega da Bíblia, Versão dos Setenta, os nomes são traduzidos B por “Força” e J por “Direito”. No Dicionário de Julien Tondriau “O Ocultismo” lê-se que a palavra Boaz em Magia é uma das Colunas do Templo de Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 109 Salomão. É feminina, passiva, branca ou negra. Corresponde à Lua. Quando branca é igual à sabedoria, vitória. Quando negra é igual a reino. Quanto à Coluna Jachim é vermelha e corresponde ao Sol e equivaleria à inteligência, vigor e glória. Esta é também a interpretação dos alquímicos. Paul Poesson em seu livro “Testamento de Noé” refere que as colunas atualmente apresentadas como circulares, mas na realidade a Coluna B seria quadrada. Explica na linguagem esotérica e oculta que as Colunas seriam iguais às medidas do quadrado negro, sendo a Coluna do Sul, a quadratura da Coluna circular do Norte. A Coluna J seria em linguagem euscadiana (língua ancestral original dos bascos) equivalente à palavra conhecimento. Para Otaviano Menezes Bastos, a Coluna B seria o Fogo e a Coluna J seria o Vento. Adolfo Terrones Benites refere que a Coluna B seria a Força, Repouso, a Fêmea, Negativo, Conservador, Receptor, Mãe, Matéria, Princípio Concreto, Virtude. A Coluna J representaria a Ciência, Inteligência, Luz, Abstrato, Concórdia, Espírito, Homem, Fogo, Calor, Ativo, Mistério e Macho. Há ainda a interpretação sexual para as Colunas. A Coluna J seria o órgão genital masculino e a Coluna B seria o órgão genital feminino. A Loja maçônica seria hermafrodita e um útero social destinado a fecundar e dar a luz a uma sociedade humana perfeita. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 110 Quanto à posição das Colunas em Loja, talvez seja o ponto de maior controvérsia na Ordem. Temos a partir de Crônicas II, capítulo 3, que depois de terminado o Templo, após o arremate final, também se “levantou diante do Templo duas Colunas, uma à direita e chamou-se de Jachim e outra à esquerda e chamou-se de Boaz”. Parece simples e assim está escrito. A Maçonaria interiorizou as Colunas que passaram a se postar dentro da Loja logo próximo à entrada. Aí começou a polêmica, que ainda não teve solução. Será seguido um raciocínio sempre tendo como referência a descrição bíblica. Uma grande parte dos autores discute este tema, como se o observador estivesse dentro do templo. Já outra parte dos autoresraciocina ao contrário, isto é, o observador estaria fora do Templo e aí prevaleceria o que está escrito na Bíblia. Supondo que a entrada do Templo olhasse a leste e a Enciclopédia Judaica assim confirma, achando que o leste é a frente do templo e levando em consideração que a orientação dos judeus com relação ao que se convencionou serem os quatro pontos cardiais, ou seja, um homem olhando de frente ao sol nascente, ou seja, á leste, teremos que a direita equivale ao sul e a esquerda equivale ao norte (mão direita ao sul e mão esquerda ao norte). Esta afirmação está de acordo com a Enciclopédia Judaica. Se tomarmos como raciocínio o conceito desenvolvido aqui teríamos a visão das Colunas por uma pessoa que estivesse saindo do templo, ou seja, o observador estaria dentro do templo. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 111 A Loja de Pesquisas Maçônica “Brasil” solicitou esclarecimentos á Loja Quatuor Coronati de Londres, n° 2076 e de lá informaram vagamente dando a entender que as Colunas “devem ser compreendidas como sendo descritas por alguém dentro do Templo, no Oriente em direção á entrada”. Esta explicação não satisfaz a maioria dos autores que alegam que ela é artificial e que ela não é correta, porque só se sai de um templo, quem entra nele. Todavia para se acomodar a descrição bíblica se se mantiver o templo olhando para leste, a posição das Colunas está invertida. É sabido que o Templo de Salomão não era muito grande e que ele não se destinava a receber numerosos fiéis, mas sim os sacerdotes. Quanto aos fiéis, estes ficavam no pátio, onde seria possível olharem as Colunas de frente. Assim sendo, considerando que a posição das Colunas será dada pela visão de um observador externo e não interno, para que as Colunas não fiquem invertidas tem que se considerar que a entrada do Templo fosse pelo lado oeste, considerando-se o leste como sendo a parte de trás do Templo. Teobaldo Varoli Filho afirmou que os operários que trabalharam no Templo entravam por uma porta situada nos fundos e que viam as colunas neste sentido. Enfatizava “se considerarmos a Loja simbolicamente como Oriente não deixará de ser maçônica a visão de quem trabalha dentro do Templo” E terminava dizendo que melhor forma de resolver Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 112 este problema em definitivo e para acabar com tanta celeuma seria suprimir as letras J e B das Colunas e não se falar mais nisso. Entretanto se atentar para Crônicas II (III-17) onde está escrito “levantou as Colunas uma á direita e outra á esquerda da fachada do Templo”, não se terá dúvidas que elas foram construídas na frente do Templo, sendo que em muitas citações refere Jachim à direita e Boaz à esquerda. Os ritos REAA, Trabalho de Emulação e York Americano seguem esta orientação. Quanto aos Ritos Adonhiramita, Brasileiro e Francês adotam a inversão das Colunas. Não se chegou até o momento á uma conclusão final, ainda existem Irmãos que defendem uma versão e Irmãos que defendem a outra versão. Devem-se respeitar as tendências, sejam corretas ou não, porque as Colunas são símbolos, os quais podem ter a interpretação que se queira dar a eles. A Maçonaria operativa já estava decadente. Em 1600 começou a receber em suas fileiras, maçons aceitos e ela acabou por se modificar completamente. Em 1717 fundou-se oficialmente a Maçonaria Especulativa, que se prefere dizê-la Maçonaria Moderna. Não existia o grau de Mestre que foi criado em 1725 e incorporado à Ordem em 1738. Foi criada a lenda de Hiran, para ao terceiro grau, que gira em torno da construção do Templo de Salomão. As Colunas J e B passaram a fazer parte oficialmente dos símbolos da Ordem, como um detalhe em frente ao pórtico do Templo de Salomão, só que elas já eram Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 113 muito conhecidas não só na Ordem, mas no Ocultismo, Alquimia, e também para os praticantes de Magia e até em seitas estranhas. As Colunas pode-se dizer que se anteciparam em matéria de simbolismo, ao próprio Templo de Salomão. Elas já tinham sua vida própria como símbolo. A Maçonaria as havia emprestado das entidades iniciáticas antigas. A Maçonaria acabou por introduzir as Colunas para dentro do Templo. Hoje apesar de serem naturalmente consideradas como um detalhe bíblico do Templo de Salomão elas talvez sejam mais importantes, do que o próprio Templo, dada a riqueza simbólica que elas encerram. REFERÊNCIAS CASATELLANI, José - Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom. Editora A Gazeta Maçônica. São Paulo, 1985 CARVALHO, Francisco de Assis - Símbolos Maçônicos e suas origens Editora A Trolha Ltda. Londrina, 1990 HORNE, Alex - O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica. Editora Pensamento Ltda. São Paulo, 1972 NAME, Mario O Templo de Salomão nos Mistérios da Maçonaria. Editora A Gazeta Maçônica. São Paulo, 1988. TONDRIAU, Julien – O Ocultismo Editora Difusão Europeia do Livro São Paulo, 1964. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 114 PRÍNCIPE DOS POETAS PARANAENSES Ir∴ Hercule Spoladore Emiliano Pernetta, conhecidíssimo nos meios literários paranaenses e nacionais, nasceu em 03/01/1866 num sítio localizado às margens do Rito Atuba em Pinhais, perto do atual Aeroporto Afonso Pena. Foi abolicionista, republicano, anticlerical, promotor, juiz, advogado, professor, jornalista e auditor de guerra. Tinha o posto de capitão. Fundou revistas e jornais, mas acima de tudo sempre foi escritor, poeta e maçom. Iniciado na Loja “Guilherme Dias” em Machado-Minas Gerais. Pertenceu às Lojas “Fraternidade Paranaense” da qual foi orador e “Luz Invisível”, ambas de Curitiba. Consta como grau 30 (Boletim do Grande Oriente do Brasil 01/1908, á pagina 501) Estudou no Colégio Müller e Nossa Senhora da Luz, onde concluiu seu curso primário e o seu secundário foi concluído no Ginásio Paranaense. Em 1885 ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo do Largo do São Francisco, concluindo o curso em 1889. Durante a Revolução Federalista (1893/94) lutou ao lado de Floriano. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 115 Pertenceu à corrente simbolista de poetas, com extensa produção literária deixada como legado à literatura brasileira. Foi membro da Academia Paranaense de Letras, cadeira nº 23 da qual é patrono. Fundou em 1912, o Centro de Letras do Paraná sendo seu presidente perpétuo. Quando tinha 13 anos de idade entrou em contato com a obra de Casimiro de Abreu e Castro Alves (maçom). Já despontava nesta ocasião, o seu gênio poético. Publicou suas primeiras poesias no jornal “Dilúculo” em 1883 e no ano de 1885 no jornal “Dezenove de Dezembro” e “Vida Literária” dirigida pelo maçom Jaime Balão (que pertencerá à Loja “Fratenidade Paranaense”). Em São Paulo conviveu com Olavo Bilac seu companheiro de trabalho com o qual fundou o jornal “Vida Semanária” e “Folha Literária”. Também conviveu com muitos outros intelectuais da época como Pardal Mallet, Raul Pompéia, Horácio de Carvalho, Rocha Filho, Rodrigo Otávio, Leopoldo de Freitas, Júlio Prestes (maçom) e Ermelino Leão (paranaense- maçom). Emiliano gostava da boêmia. Seu quarto na pensão, onde morava era uma república de estudantes na Rua da Glória era freqüentado por todos estes personagens, e se chamava “Autocracia da Anarquia”. Colaborou em muitos jornais, escrevendo crônicas, poesias e contos. Loja de Pesquisas MaçônicasHercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 116 Em 1886 ao passar suas férias do curso de direito, em Curitiba traz para os paranaenses um livro de Baudelaire sobre o simbolismo o qual foi lido e disputado como sensação pelos intelectuais de então. Estava reforçado o lançamento daquela tendência poética no Paraná. Nestas alturas já era um abolicionista e republicano convicto, e fez palestras inflamadas no Salão Tívoli na capital do Estado. Em 1888 chegou a levar escravos do Paraná para liberta-los em São Paulo. Em 1889 no dia da Proclamação da República, sem saber que ela havia ocorrido há poucas horas, foi orador na formatura de sua turma de Direito em São Paulo, e seu discurso foi ardoroso e exaltado em prol da república, criticando violentamente a monarquia já deposta, desconhecendo a sua queda. Só veio, a saber, da notícia no dia seguinte. Durante o período de 1890 a 1892 residiu no Rio de Janeiro onde se ligou ao catarinense Cruz e Souza, que morava no Rio, á Saldanha Marinho (maçom) e a José do Patrocínio (maçom), trabalhando com estes em jornais. Funda em 1890 um jornal de efêmera duração a “Folha Popular” juntamente com Leopoldo Cabral e dois paranaenses que lá residiam naquela época Leôncio Correia (maçom) e o nosso festejado Emilio de Menezes. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 117 Gonzaga Duque, Lima Campos, Bernardino Lopes, Nestor Victor, Oscar Rosas e Cruz e Souza se tornaram seus grandes amigos e formaram a vanguarda do simbolismo. Foi no Rio de Janeiro que iniciou sua fase ouro no simbolismo. Continuou sua vida de boêmia. Teve problemas de saúde e saiu do Rio, foi convalescer na Fazenda Santa Tereza em Volta- Redonda. A seguir foi promotor público em Caldas em Minas Gerais. Em 1894, é nomeado juiz municipal em Machado Minas Gerais, ficando ai nesta cidade durante três anos, onde agravou sua saúde. Mesmo assim sempre produzindo obras literárias à mancheia. Em 1896 seu irmão e também escritor e jornalista Júlio David Pernetta (maçom) foi buscá-lo em Machado - Minas Gerais. Assim retornou à Curitiba, ficando na casa de seu Irmão durante um ano recuperando-se. No ano de 1901 foi professor de Literatura e Português no Ginásio Paranaense. Foi advogado e auditor de guerra. Foi jornalista, anticlerical, escrevendo para os jornais de Curitiba que seguiam esta linha, em especial os jornais e revistas maçônicos ou de inspiração maçônica como o Jerusalém, Cenáculo, Pallium, Ramo de Acácia e outros. Sua vida literária foi muito fecunda, ele foi conhecido em todo o Brasil. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 118 Enfim, o Irmão Emiliano Pernetta foi uma das maiores glórias literárias do Paraná. Em 30/061911 foi concluída sua principal obra o livro “Ilusões”. Em 20/08/1911 durante uma cerimônia realizada no Passeio Público, foi coroado Príncipe dos Poetas Paranaenses contando com a presença praticamente de todos os intelectuais da cidade e também de familiares amigos e do próprio povo. Dario Vellozo foi o orador principal, entregando-lhe a seguir, fechado numa caixa artisticamente lavrada, um exemplar ricamente encadernado da sua obra “Ilusões” e sobre o qual havia uma coroa de louros. O poeta, emocionado, chorou! Entre os muitos intelectuais presentes destacavam-se Dario Vellozo, Euclides Bandeira, Clemente Ritz, Panphilo Assumpção, Claudino dos Santos, Generoso Borges, José Niepce da Silva, Hugo G. Simas, Jaime Ballão (pai) Leocádio Cisneiros Correia (Léo Junior), João David Pernetta todos eles maçons. Um grande número de maçons não intelectuais também se achava presente. Alem dos maçons presentes destacavam-se os escritores Antonio Francisco de Santa Rita Júnior, Romário Martins, Vicente Nascimento Júnior, Ulisses Vieira, Raul Gomes, Lacerda Pinto, Ildefonso do Serro Azul, Chichorro Júnior, Jaime Balão (filho) e outras personalidades do mundo das letras. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 119 Após a coroação, entre prolongados aplausos e ter sido ovacionado por longo tempo, quando terminou a cerimônia, Emiliano com quarenta e cinco anos de idade, que já estava numa fase de sua vida mais circunspecta, muito disciplinado, mais arredio com relação a tantas festas, já mais comportado com relação a sua famosa vida atirada de outrora que levara nos tempos de jovem, teria emocionado, se dirigido para a sua casa. Mas Euclides Bandeira não deixou por menos. A festa não terminaria por ai. Convenceu a maior parte do grupo de amigos a ir ao “Grand Café”, situado na Rua XV, entre a Rua Barão do Rio Branco e Primeiro de Maio, hoje Monsenhor Celso, num local de reuniões preferido pelos literatos para continuarem a festejar seu Príncipe. Pediu para o Ildefonso do Serro Azul, o “Barãozinho” como era chamado, então com 23 anos de idade auxiliado por seu primo Leocádio Cysneiros Correia (Léo Júnior) que não abandonassem o Emiliano. E assim quase todo o grupo se dirigiu ao local combinado. E lá ficaram o resto da tarde, e entrada da noite, com frutos do mar servidos a vontade, pois o restaurante havia recebido de Paranaguá, camarões frescos naquele dia. Todo este petisco foi regado a vinho verde português. Ele foi o orador por ocasião da chegada do corpo do coronel João Gualberto Gomes e Sá (Loja “Luz Invisível”) trucidado em 1912 em Iraní pelos fanáticos do Contestado. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 120 Pois bem, este Irmão já em sua idade madura, numa fase em que largara a boêmia, da qual sempre foi um entusiasta e assíduo praticante, aos cinquenta e cinco anos vivia em Curitiba entremeando a rotina de ir ao Quartel General onde era auditor de guerra, e sua vida de intelectual, publicando poesias, livros e dos encontros diários com outros poetas e escritores, eis que no dia 18 de Janeiro de 1921 em companhia de seu amigo e poeta, o juiz paranaguense José Henrique de Santa Rita, descendo a Rua XV, conversando sobre literatura, autores e livros, chegam à porta da pensão onde morava Emiliano no número 84 daquela rua. O poeta convidou Santa Rita a acompanhá-lo até seu quarto e lhe recitou um soneto “Ao cair da tarde”. Neste momento, Santa Rita sente uma sensação estranha, uma espécie de mal estar geral, seguido de calafrio, uma ânsia incontrolável, um presságio de morte. Emiliano não lhe deu atenção. Santa Rita, impressionado inisiste em falar sobre esta aflição intensa, angustiante e refere que no dia 16, ou seja, dois anos antes, ouviu rumores estranhos (raps) em sua casa, exatamente como aconteceu anos antes por ocasião da morte inesperada de seu irmão de sangue, um oficial da marinha, sendo que os ruídos só cessaram quando a notícia do óbito foi lhe dada. Emiliano queria mesmo, era falar de poesia. Não ligou para o que o amigo estava lhe falando. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 121 Não seria este estado que Santa Rita experimentou naqueles momentos, um aviso, uma precognição? No dia seguinte, ou seja, no dia 19/01/1921, Emiliano sai da pensão às 12 horas se dirige, como fazia de rotina ao Quartel General, sede do Conselho da Justiça Militar, onde atuava como auditor. Naquele dia iria ser julgado um praça do 5º Regimento de Cavalaria Divisionária. Conversou normalmente com todos os amigos e conhecidos que encontrou. Mais ou menos às 17 horas termina seu trabalho, desce a Rua XV, primeiro encontra seu amigo Rodrigo Junior, após conversarcom ele, deixa-o, e ainda encontra no caminho mais um amigo Francisco Cavalcante, andara um trecho juntos despede-se dele e se dirige para o sobrado da pensão onde era inquilino. Morava no local um médico e também poeta de nome Alegretti Filho e ficam conversando sobre literatura até passar das 18 horas, quando Emiliano senta-se à mesa e se prepara para tomar sua sopa. Iria tomar uma refeição leve porque tinha um outro compromisso logo a seguir. Termina a refeição e vai ao banheiro e ao lavar as suas mãos, sente um tremor generalizado leva as mãos á região frontal de sua testa, oscila seu corpo para um lado e para outro, dá uns passos sem firmeza e tenta se escorar na parede. Foi atendido pelo dono da pensão, um alemão, Sr. Krohne, e com a ajuda do Dr. Alegretti é colocado na cama. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 122 O médico sai às pressas e se dirige para a Farmácia Lustosa e volta correndo à pensão com medicamento de urgência o qual lhe é aplicado. Mas já era tarde. O grande poeta havia falecido. Uma síncope cardíaca, um provável infarto do miocárdio fulminante teria sido a causa de seu passamento. O seu desenlace pegou o povo de Curitiba de surpresa. A notícia correu célere por toda a cidade. O corpo foi velado um uma sala da frente do prédio que existia na pensão. Os amigos mais íntimos se reuniram numa saleta ao lado. Estavam presentes Júlio Pernetta, seu irmão de sangue (foi iniciado na Loja “Modéstia” de Morretes foi venerável da Loja “Estrela de Antonina” e pertenceu à Loja “Unione e Frettelanza” de Curitiba, e que também faleceria daí há alguns meses, em 22/07/1921 à meia-noite), Dario Vellozo (pertenceu a várias Lojas, iniciado na Loja “Perseverança” de Paranaguá), Sebastião Paraná (Loja “Luz Invisível”) Veríssimo Antônio de Souza (Loja “Santo Antonio da Lapa”), Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo (Loja “Moriá” de Palmeira), Clemente Ritz (foi venerável da “Loja Cardoso Junior”) e também a presença de muitos outros maçons e amigos não filiados à Maçonaria. O General Pereira Neto, comandante, suspende em ordem do dia o expediente no Quartel General e convida toda a tropa para acompanhar o féretro. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 123 O Colégio Paranaense e Escola Normal, através de seu diretor Lysímaco Ferreira da Costa (Loja “Luz Invisível”) suspende as atividades e adia um concurso que lá seria realizado. Todos compareceram ao velório, gente simples, operários, oficiais do Exército, da Polícia e toda a intelectualidade curitibana, poetas escritores jornalistas. Afinal todos queriam prestar uma última homenagem ao maior nome da literatura do Paraná na época e um dos maiores de todos os tempos. Ao baixar seu corpo no sepulcro no cemitério municipal, Dario Vellozo em nome da Loja “Luz Invisível” se despede do amigo, relembrando versos do saudoso poeta. Azevedo de Macedo discursa em nome da Congregação do Ginásio Paranaense, onde Emiliano fora professor. Balão Júnior fala em nome dos amigos. Heitor Stoclker fala em nome do Centro de Letras do Paraná. José Henrique de Santa Rita foi um paranomal. um verdadeiro vate na acepção da palavra, poeta e profeta. Predisse a morte do seu grande amigo, um dia antes dela ocorrer. Hoje, além de todas as obras do famoso poeta e maçom que podem ser lidas por aqueles Irmãos que gostam de ler, existe no centro de Curitiba uma rua com o seu nome, a qual pelo menos todos aqueles que por lá passarem, a notem e não deixem apagar e nem esquecer o nome e a glória perene de um dos maiores nomes da literatura paranaense. REFERENCIAS Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 124 Dicionário Histórico Biográfico do Estado do Paraná. Editora Livraria do Chain. Banco do Estado, do Paraná. Curitiba – 1991 Grande Enciclopédia Delta Larousse Artigo publicado no Jornal “Gazeta do Povo” em 26/04/2000 “A PREMONIÇÃO DE SANTA RITA” Autor: WILSON BOIA do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. Artigo publicado no jornal “Gazeta do Povo” em 22/10/1989 Autor: VALÉRIO HOERNER JÚNIOR da Academia Paranaense de Letras Artigo publicado no jornal “Gazeta do Povo” em 29/10/1989 “CURIOSIDADES DA VIDA DE EMILIANO PERNETTA, O POETA” Autor: VALÉRIO HOERNER JÚNIOR da Academia Paranaense de Letras Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 125 O CADÁVER Ir∴ Hercule Spoladore O cadáver é um corpo sem vida de um ser humano ou um animal. Morte é a cessação total e perene da vida do homem de um animal ou um vegetal. Reconhece-se a morte de um ser vivo, pela parada das funções ativas, como nutrição, metabolismo e no caso do reino animal pelo aparecimento da putrefação. No caso do homem, mais especificamente, após algumas horas de sua morte, o cadáver fica em rigidez cadavérica, o calor diminui, tendendo igualar com a temperatura ambiente, aparecendo depois no dia seguinte a lividez cadavérica e a seguir manchas violáceas, sinal evidente de putrefação. É o cessar do chamado sopro de vida que se segundo as concepções e crenças de cada um, provem da natureza ou de Deus. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 126 Para Platão a alma é um princípio puramente espiritual imortal, o sujeito do pensamento realmente distinto do corpo. A alma para Platão é o homem. Já Aristóteles afirma que a alma faz parte do corpo como forma unida à matéria. É o sopro da vida. Para os escolásticos a imortalidade e a espiritualidade do platonismo são unidas às concepções aristotélicas da forma e a alma se torna uma forma espiritual subsistente. Modernamente é claro que esta hipótese é contestada por muitos e aceita por outros tantos, o ser humano é constituído de espírito mente e corpo. A mente e o corpo seriam ligados à parte material assim manifestadas e o espírito seria um princípio imaterial de origem divina. As concepções de alma e espírito variam de acordo com a crença de cada um e de acordo com as escolas filosóficas e religiões. Para os ateus, tudo termina com a morte. Para os espiritualistas, para os que creem numa vida futura, existe outro tipo de raciocínio e postura a respeito. Para a maioria dos vivos existe a sensação e a convicção de que a pessoa querida que falecesse, continue viva, de algum modo participando, de forma atuante das atividades aqui na Terra. Na realidade os que cultuam seus mortos acreditam conseguir ou impedir a intervenção dos mesmos em assuntos terrenos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 127 O culto dos mortos é uma característica que está se mantendo inalterada desde o início da civilização. O Homem tenta buscar desesperadamente respostas, que até hoje não as conseguiu, porque não sabe e não tem explicação para o fenômeno vida e muito menos se conforma porque terá que morrer. Este mistério atormenta o ser humano. Os antigos já cultuavam seus mortos. Existem inúmeras publicações, verdadeiros livros sagrados, cada qual explicando as características de cada povo. Assim temos o livro dos mortos dos Egípcios, o livro Tibetano dos mortos, o livro dos Maias dos mortos e assim por diante cada povo tem a sua peculiaridade. É muito complexo o destino do cadáver, mas no mundo atual dada a tecnologia moderna está mais fácil o que se fazer com ele. Algumas pessoas por vontade própria optam pela cremação sendo a Inglaterra o país onde atualmente mais se cremacadáveres. Os romanos cremavam seus cadáveres. Vale a pena lembrar que crematório é o lugar onde se cremam os cadáveres. Nos campos de concentração nazistas, os prisioneiros após passarem pela câmara de gás, eram cremados. Em Birkenau os fornos estavam preparados para cremarem 12.000 cadáveres por dia. Do ponto de vista esotérico, isto não se aplica ao genocídio que os nazistas fizeram, a cremação é símbolo de sublimação, em que se destroem o eu inferior para que surja o eu superior, sublimação pelo espírito. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 128 Outros preferem o embalsamamento e os egípcios foram famosos pela sua técnica na conservação de suas múmias. Há cerca de uma década, um anatomista alemão Gunther Dagens inventou uma técnica, que ele chama de plastinação, que seria uma espécie de mumificação por processos químicos em que ele expõe os corpos sem a pele mostrando a anatomia dos ossos, músculos, vasos etc. Os corpos são apresentados inteiros ou fatiados. Estas preparações anatômicas que deveriam interessar somente aos anatomistas estão em exposições pagas em todo o mundo, e pessoas comuns a estão assistindo horrorizadas, mas por uma curiosidade mórbida, formam-se filas para verem o espetáculo cadavérico. É costume em muitas faculdades de medicina, todos os anos os alunos que estudam anatomia e dependem da dissecação de cadáveres para aprenderem sobre o corpo humano, mandarem rezar em um determinado dia do ano, a “missa do cadáver” contando com a presença dos alunos católicos, em agradecimento às almas daqueles pobres indigentes, cujos corpos conservados em formol estão servindo involuntariamente á ciência médica nos necrotérios das faculdades de medicina. Alguns milionários equivocados optam pela congelação na hora do óbito, esperando algum dia através dos avanços da ciência, possam ser descongelados e ressuscitados. Convém lembrar os cadáveres insepultos que são abandonados nos campos de batalhas, palcos das famigeradas Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 129 guerras, mas a maioria dos cadáveres, segundo um costume pré-histórico é enterrada no interior da própria terra, em sepulturas as quais tem vários nomes, a saber, cova, campa, carneiro, catacumba, cafofo, jazigo, sepulcro, tumba, túmulo, última morada etc. Os defuntos de famílias mais abastadas são depositados em câmaras mortuárias em mausoléus ou em ricos túmulos. De passagem ressaltem-se as suntuosas criptas onde jazem faraós, reis, papas, milionários etc. As pompas funerais mais comuns são as que seguem tradição dos povos mais simples, dos pobres e humildes acompanhadas por um séqüito geralmente pequeno e uma cova rasa os espera onde serão inumados, Mas nada disso tem a ver com o transcorrer do tranqüilo e perene fenômeno vida/morte propriedade exclusiva da natureza e de Deus. Todos voltarão ao pó, pobres e ricos, fracos e poderosos, reis e plebeus. Em fim o cadáver é um resíduo carnal podre de uma vida que deixou de existir que a sociedade tem que dar um destino, e o faz segundo a cultura, costume, religião de cada povo, pois o cadáver não poderá ser simplesmente colocado num saco de lixo e levado aos depósitos como um detrito comum. Seria um ato desumano se assim acontecesse. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 130 O cadáver no Brasil, baseado nos costumes vindos de Portugal, onde estas crendices faziam parte de toda a Europa e inclusive da Ásia, acredita-se em certas superstições e crenças, que ainda em muitas regiões do país são seguidas á risca, especialmente pelo povo comum. Recolheu-se algumas destas pérolas do folclore que vale a pena cita-las. Segundo a tradição, só devem manipular o corpo os que irão vesti-lo, que são as pessoas que entendem deste trabalho. Devem orar antes de vestir a roupa no falecido. Se o cadáver ficar logo enrijecido, acredita-se que ninguém na casa morrerá brevemente. Se ficar flácido estará prenunciando que alguém da família lhe fará companhia em breve. O corpo não era antigamente enterrado com objetos de ouro, nem mesmo com os dentes obturados a ouro, os quais deviam ser extraídos para evitar que a alma viesse reclamar a retirada dos mesmos. Costumava-se retirar até os botões e os alfinetes dourados das fardas dos militares antes de inumar seus corpos. No local de guardamento do cadáver, este sempre deverá estar com os pés voltados para a porta da rua. Agulhas e alfinetes que tenham servido para fixar a mortalha devem ir com ele, porque o que tocou o cadáver é dele. Para a alma do defunto não assombrar a casa onde morava, é costume beijar a sola do sapato, a qual deve estar bem limpa, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 131 livre de qualquer poeira ou areia, porque se assim não for, sua alma poderá voltar atraída pelas recordações familiares. Quando alguém morre afogado e ainda não se achou o corpo, costuma-se colocar em cima de um pedaço de cortiça ou até sobre um prato, uma vela acesa, aonde ela parar ali´se encontrará o cadáver. Entretanto, o cadáver apesar de ser uma matéria inanimada macroscopicamente, e ter uma profunda simbologia entre povos, religiões, e sociedades iniciáticas, ele é em sua decomposição microscopicamente um universo de vida de bactérias que vivem em função desta putrefação. A Maçonaria em um dos segmentos de sua filosofia estuda a morte e seus mistérios e por isso o simbolismo dos cadáveres tem um valor muito grande em suas alegorias, lendas e mensagens que são transmitidas aos maçons. Na Maçonaria, quando do passamento de um seus membros, realiza-se uma sessão fúnebre ritualística, decorridos certo número de dias que varia de rito para rito, em homenagem ao Irmão que foi habitar no Oriente Eterno. Os adeptos da Maçonaria em sua maioria absoluta, não concebem que enquanto um corpo que se desfaz na sepultura, tudo tenha termine aí. Acham que a alma, ou espírito, mente ou personalidade não seja de origem material, e sim espiritual. Não há razão de ser, de se desaparecer tudo o que o irmão falecido tenha sido ou Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 132 realizado. Não é possível um Irmão sair da cena da vida desta forma. Tem que ficar algo dele, além do nome das boas ações e dos bons exemplos. Especialmente quando um maçom morre de morte súbita, algum Irmão que tenha conversado com ele minutos antes, não consegue admitir esta perda. Mas o Homem não quer morrer. Ele não admite morrer, ele quer ser eterno. Muitos poucos querem morrer, alguns admitem que morrerão, mas a maioria deseja sobreviver. Um das saídas foi acreditar que haja uma vida após a morte e também que ele renascerá. O renascer é a forma que o Homem encontrou e foi obrigado a conceituá-la, adapta-la e aceita-la em função da falta de explicação científica para o binômio vida/morte. É a grande tragédia psicológica do Homem não conseguir penetrar neste mistério existencial. O ser humano é complexo, e entre a sua complexidade uma delas é ser gregário e ter heróis, ícones enfim alguém que possa servir de paradigma. Qualquer país, povo, sociedade ou agrupamento humano necessita de um mito para sobreviver e a Maçonaria não fugiu a esta regra. Existem muitos tipos de mitos, mas este de morrer para renascer seja talvez o mais importante da humanidade. Sem desrespeitar, ou colidir com os demais mitos, onde as semelhanças são grandes, o cadáver de Hiran na lenda maçônica com sua simbologia tem um papel importante.Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 133 Interessante que em todos os tempos, nos costumes de todos os povos existe uma figura arquetípica que tomou entre as variadas civilizações, os nomes de Jesus, Osíris, Dionísio, Átis, Adonis, Quetzalcoalt e outros. Todos estes personagens representam um outro binômio morte/ressurreição. Hiran é o arquétipo da lenda maçônica do terceiro grau. Todos estes modelos citados foram, na lenda, homens bons, reis, sábios, ou homens simples do povo, ou um homem santo, que se distinguiram pela bondade e pela inteligência e pela liderança. Mas, justamente por serem assim foram perseguidos e assassinados pelos invejosos, egoístas e maus. É a eterna luta do Bem contra o Mal. O Homem é dual. A lenda de Hiran foi iniciada no início século XVIII, não se sabe quem foram seus autores, levou muitos anos para se firmar com o texto atual, e se tornou a base do cerimonial do 3° grau, em todos os ritos, e ela faz apologia à morte onde o cadáver é um rico elemento simbólico. Desde os ornamentos em loja de mestre que são de cor escura, como os textos do próprio ritual e outros detalhes deste grau, lembram a todo o momento uma verdade inexorável pela qual os maçons um dia morrerão fisicamente. O conceito de renascer na Maçonaria acabou até sendo mais abrangente que ligado simplesmente à morte física, pois a Maçonaria transmite em suas mensagens, que seus adeptos herdarão as qualidades do seu ícone Hiran. Ensina-os em vida, que morrerão para o vício e renascerão para a virtude, que Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 134 morrerão para o mal e renascerão para o bem. Aliás, esta é a principal mensagem da lenda de Hiran. A lenda de Hiran foi montada, até certo ponto em cima de textos bíblicos, só que o Hiran metalúrgico da Bíblia foi promovido a Superintendente da obra da construção do Templo de Salomão. As lendas antigas a respeito são muito parecidas. Parece que seus idealizadores mesclaram a tragédia de Osíris-Sól que foi assassinado por seu irmão Set ou Tifão. Pelo menos muitos autores citam esta possibilidade. Mas existem outras lendas que se encaixam perfeitamente na lenda de Hiran. Como lenda é lenda, não tendo, portanto, o compromisso com a realidade e ao se transformar em mito, vale pelas mensagens, exemplos de vida que esparge sobre os adeptos, não se cogitará, portanto, da veracidade da lenda. O Hiran da lenda maçônica, mestre de obras do Templo de Salomão, foi assassinado por três maus construtores que se colocaram em locais estratégicos no sul, ocidente e oriente por onde Hiran iria passar e orar. Eles que queriam sem poder, sem ter o direito de saber dele o segredo da construção, ou um segredo representado por uma palavra secreta. Hiran não lhes deu o segredo, por isso foi morto. Carregaram o cadáver para longe e inumaram-no no Monte Moriá. Quando Salomão deu pela falta de seu arquiteto enviou quinze oficiais escolhidos entre as três classes de operários que trabalhavam no Templo. A procura durou quinze dias. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 135 Encontraram o local onde ele estava enterrado onde havia um arbusto, como em outras lendas semelhantes, só que para a Maçonaria, este passou a ser um ramo de uma arvore de acácia. A maneira como desenterraram o cadáver é altamente simbólica e é o ponto alto da iniciação ao terceiro grau, onde numa cerimônia ritualística, somente para os iniciados e iniciandos neste grau, são revelados os chamados cinco pontos perfeitos da Maçonaria, que na maçonaria primitiva pertencia ao segundo grau. Continuando a lenda, Hiran foi por ordem de Salomão devidamente enterrado com todas as honras que lhe eram devidas com a seguinte inscrição no túmulo: ”Aqui jaz Hiran, Grão-Mestre, Arquiteto dos francos maçons”. Os três assassinos foram julgados e justiçados. Ainda durante as cerimônias ritualísticas de iniciação ao terceiro grau em determinado momento, um dos Irmãos presentes se coloca imóvel dentro de um esquife representado o cadáver do Mestre Hiran. No Rito Adonhiramita, no dia da iniciação o neófito é levado a um cemitério onde ele depositará um buquê de flores sobre um túmulo qualquer. Se for católico acenderá uma vela, e orará. Se for de outra religião ele apenas fará uma oração em intenção àqueles restos que jazem naquele local, ou em intenção à sua alma, seu espírito de acordo com a crença religiosa do iniciando. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 136 Depois de conduzido ao templo, será explicado pelo Venerável o simbolismo daquela visita ao cemitério durante a continuidade da ritualística de iniciação, que deverá morrer para o mundo profano e renascer para a vida maçônica. Como vimos o cadáver, ou a sua representatividade tem na Maçonaria uma simbologia bastante rica. A lenda de Hiran contém as indicativas das maiores realizações que a Ordem pode oferecer. Ela ensina a adaptação dos maçons, usando sua inteligência aos diversos tipos de trabalho e união das forças sociais. Ensina também a lei terrível, a lei da besta, aquela que diz que o “iniciado matará o iniciador” onde mostra que todos aqueles que são ajudados por um irmão poderão um dia voltar-se contra ele. Do ponto de vista alegórico apesar de ser perceber nos textos da lenda algumas discrepâncias, estas fazem parte do acervo simbólico que só o maçom pode discerni-los e enfim transmite a mensagem final clara e vibrante: MORRER PARA RENASCER REFERÊNCIAS GROf, Stanislav - O Livro dos Mortos - Mitos – Deuses – Mistérios Edições Del Prado - Madri - Outubro. 1997 MCKENZIE, John L. Dicionário, Bíblico. Edições Paulinas – São Paulo 1984 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 137 SPOLADORE, Hercule, O Homem, o Maçom e a Ordem. Editora “A Trolha” Ltda – Londrina – Outubro 2005 RITUAIS DO 3°GRAU DELTA LAROUSSE COLEÇÃO: MITO, HOMEM E MAGIA – Editora Três – São Paulo. CAGLIOSTRO, OU JOSÉ BÁLSAMO – MAÇONARIA MÁGICA Ir∴ Hercule Spoladore José Bálsamo (Giuseppe Giovani Battista Vicenzo Pietro Antônio Balsamo) teria nascido em Palermo em 02/071743 e falecido em 26/08/1795. Foi casado com Lorenza Feliciani, conhecida por Serafina. O Dr. Lalande sob o nome fictício do escritor Marc Haven, seu mais eminente biógrafo provou que nunca alguém apresentou uma demonstração concreta da identidade de Cagliostro com José Bálsamo. Ainda persiste a dúvida sobre quem foi realmente este personagem. Mago? Alquimista? Embusteiro, charlatão ou Benfeitor da Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 138 humanidade, um aventureiro? Hipnotizador? Evidentemente teria sido um paranormal, pois praticava curas. Alegava ter poderes sobrenaturais e falar diretamente com Deus. Foi maçom a seu modo, mas foi. Foi mais uma das figuras controversas do século XVIII, ao lado de outras. Tantas situações lhe são atribuídas que se torna difícil saber o que é verdade e o que não é. Cagliostro foi iniciado na Ordem em Londres em 1777. Frequentou lojas de todos os ritos dos Países Baixos, além da Alemanha, Polônia e Rússia, onde sempre empregava a magia, sendo por isso alvo de muito interesse de todos. Ele dizia que esteve na Grécia, Pérsia, Egito, Rhodes Índia e na Etiópia. Em Mitau em 1779 ele teria pela primeira vez oficialmente se utilizado de ritos mágicos. Em Bordéus-França em 1783onde residiu por cerca de um ano, onde ficou conhecido como curandeiro. Possivelmente tinha a capacidade mental de curar. Em 20/10/1784 foi para Lyon já conhecido como grande mestre da maçonaria. Os problemas da teurgia (magia negra) eram do conhecimento de um grupo de maçons que enveredaram para este caminho, pois a Maçonaria Tradicional seguia outra tendência ainda sem se solidificar neste confuso século XVIII. Entre os aficionados da Magia estavam Martinez de Pasqualy, Mesmer, Saint Germain, Swendeborg e outros. O século XVIII conhecido como o século das luzes, foi um século maravilhoso, pois o Homem começou a pensar e se libertar dos grilhões que até então a Igreja Católica impunha. Para a história Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 139 do mundo foi um século importante por causa das experiências realizadas em todos os setores da sociedade e especialmente na França esta liberdade foi levada à extremos. Verdadeiro cadinho de ensaios e experiências em todos os setores. As coisas más, desconhecidas, mas agora conhecidas, pois foram esclarecidas com os recursos da época, foram eliminadas e prevaleceu o bom senso da liberdade de pensamento. Cagliostro fundou uma loja em Lyon com nome de “Sabedoria Triunfante” onde se praticava a magia e assim as curas, revelações, aparições, materializações e precognições começaram a aparecer. Não se pode chamar isso de Maçonaria, mas naquele século tudo foi possível. A própria Maçonaria ainda não tinha uma linha própria filosófica e rituaçistica a seguir. Foi um período confuso, especialmente na França, onde foram criados um grande números de ritos e graus superiores. Ele teria também participado da criação do Rito de Misraim. José Balsamo, o Cagliostro se interessou na Ordem por uma vertente da Maçonaria que ele chamou de Maçonaria Egípcia, pois ele acreditava que a Maçonaria teria tido seu inicio no Egito. Fundou um templo a “Loja Mãe do Rito Egípcio” do qual se intitulou o Grande Copta. Foi escrito por ele um ritual especial para este rito. Ele mencionava a exposição única e pura da doutrina maçônica como ele assim a entendia. Seu rito era dividido em três que graus que consistiam em operações mágicas em cujas sessões utilizava como sensíveis Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 140 ou sensitivos, rapazes (pupilos) e moças (pombas) considerados de perfeita e pura inocência. Este rito tinha como finalidade fazer com que o homem pudesse ter a sua entrada no Templo de Deus. A iniciação neste rito pretendia ou tinha como meta levar o homem considerado como um decaído e degenerado a reconquistar sua dignidade perdida. E a regeneração tinha que ser moral e física. O homem era considerado regenerado quando ele possuísse a alma sã num corpo sadio e assim Deus consagraria este ser a ser Eleito. Em 27/01/1785 ele fixou sua residência em Paris, que na época estava acontecendo uma Assembleia maçônica do rito dos “Filaletos” (1). Ele foi convidado pela Loja “Amigos Reunidos” onde ele teria apelado para todas as nações, e a todos os ritos que sugerindo um esclarecimento sobre os pontos mais importantes da doutrina, maçônica tais como sua origem, e a situação histórica da Ordem e também o estado atual da Maçonaria nesta época. Cagliostro se apresentou após ter sido convidado pela Assembleia onde procurou expor seus pontos de vista, bem como suas teorias sobre a Maçonaria Egípcia. Suas ideias foram mal recebidas, e por isso ele rompeu com os Filaletos. No dia 30/04/1785 escreveu aos filaletos: “Dizeis que buscais a verdade e eu vo-la apresentei e vós a desprezastes...Visto que não tendes fé nas promessas do Grande Deus e de seu ministro sobre a Terra eu vos abandono a vós mesmos, e em verdade eu vos digo: minha missão já não Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 141 é a de instruir-vos. Desgraçados Filaletos semeais em vão e não colhereis senão joio” “A partir de então Cagliostro só se ocupou do seu rito, reservando seus ensinamentos para as lojas egípcias, desinteressando da maçonaria e não escondendo a pouca estima que lhe votava”. Quando morou em Napoli, teria sido expulso da cidade porque teria montado um casino que enganava os incautos. Cagliostro estaria implicado no famoso caso do colar da Rainha Maria Antonieta em quando dois famosos joalheiros franceses enviaram um riquíssimo colar de diamantes ao Príncipe Cardeal de Rohan, também envolvido no escândalo, o que motivou sua reclusão de Cagliostro na Bastilha e posteriormente foi expulso da França. Cagliostro por suas atividades ficou sob a mira da Inquisição acusado de heresia e bruxaria. Foi preso e condenado á morte, mas ficou preso no Castelo de São Leo (Leão de Vitebino) aonde veio a falecer em 26/08/1795. Rito dos Filaletos ou Filaletes. Este rito fundado em 1773 de 12 graus contribuiu muito para com a Ordem porque deixou marcas em muitos outros ritos. Filaletes significa Amigos da Verdade ou Investigadores da Verdade. Era, portanto um embrião das futuras lojas de pesquisas. Hoje nos Estados Unidos existe uma Loja de Pesquisas com nome de “Filaletes” Ela foi fundado por Salvalette de Langes e o rito teve origem a partir da Loja “Amigos Reunidos”. O rito Filaletes tinha com Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 142 fonte a Maçonaria Ocultista. Esta Loja convocou em 1785 uma Convenção em Paris com a finalidade de desfazer dúvidas e divergências, e esclarecer e os verdadeiros objetivos da Maçonaria, pois a Maçonaria estava totalmente anárquica nesta época. Cagliostro esteve presente nesta Assembleia e aí discordou de tudo, rompendo com este grupo. REFERÊNCIAS CARVALHO, Francisco de Assis “Ritos e Rituais” Volume 3. Editora “A Trolha” Londrina,1993 NAUDON, Paul “A Maçonaria’. Edipe – Artes Gráficas – Difusão Europeia do Livro São Paulo, 1968 Consultas: Google AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA, O COMUNISMO E A MAÇONARIA PARANAENSE NA DÉCADA DE 30 (1930) Ir∴ Hercule Spoladore Dando enfoque à História do Brasil no final da década de 1920 e quase toda a década de 1930, vale a pena rememorar alguns fatos. Fazendo frente a tradicional dobradinha São Paulo - Minas Gerais (café com leite) Getúlio Vargas então presidente Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 143 do Rio Grande do Sul, é lançado candidato a presidente da República e perde para Júlio Prestes (maçom) de São Paulo. A situação brasileira nesta época era crítica. As elites não se entendiam e o povo estava insatisfeito. Para aumentar a tensão João Pessoa candidato à vice-presidente na chapa de Getulio Vargas é assassinado em Recife em 26/07/1930. Eclode uma revolução no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e nos estados do Nordeste. Em 03/10/1930, Getulio Vargas entra vitorioso no Rio de Janeiro. Júlio Prestes não toma posse. Washington Luiz (maçom) então presidente do Brasil entrega o poder e parte para o exílio. Uma junta militar governa o país. Em 03/11/1930 Getúlio assume como presidente provisório. No campo internacional, o comunismo soviético exporta revolução para todo o mundo e como não poderia deixar de ser, a América do Sul e em especial o Brasil era um dos seus alvos preferidos. Os Estados Unidos estava mais ou menos quieto aguardando os acontecimentos, mas estava atento. Os sociais nacionalistas de Hitler e os fascistas de Mussolini, constituídos por ultra-direitistas traçando planos para dominar o mundo. Esta situação mundial refletia-setambém no Brasil, com o mundo às vésperas de uma nova guerra mundial, e o Brasil às Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 144 vésperas de uma ditadura.O tempo se encarregaria de provar que Getúlio tinha uma exagerada devoção pelo poder. E a juventude brasileira e a Maçonaria como se colocaram nesta situação? Em 1932 funda-se no Brasil a Ação Integralista Brasileira pelo escritor Plínio Salgado, inspirada no social nacionalismo alemão e fascismo italiano. Já iniciam afirmando que combaterão até a morte o judaísmo, a Maçonaria, alem de seu principal inimigo o comunismo. Em 1933 foi construido na Alemanha o primeiro campo de concentração (konzentrationslager), prelúdio dos campos de extermínios de milhões de judeus. Ainda neste ano Getúlio convocou uma Assembléia Constituinte e promulgou uma Constituição em 1934, na qual o primeiro artigo “elegia” o próprio até 03/05/1938 como presidente do Brasil. Em 1935 os comunistas brasileiros com ajuda da União Soviética tentaram levar a efeito uma revolução conhecida como a Intentona Comunista, porem foram totalmente destroçados. Seu líder brasileiro Luiz Carlos Prestes ficou preso durante mais de dez anos em uma cela triangular em condições subumanas. Como Getúlio Vargas não queria deixar de ser presidente, pois se sentia ameaçado por forças contrárias, quer inimigos políticos, pelos comunistas e pelos integralistas que Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 145 aumentavam dia a dia, seu alto escalão inventou um documento, forjado é lógico, o famoso Plano Cohen onde se propalava uma revolução comunista para a tomada de poder. Aproveitou a ocasião e fundou o Estado Novo. Os comunistas soviéticos menosprezaram o Brasil, orientaram mal Prestes, e colocaram em ação agentes do segundo escalão. Esta teria sido uma das causas pelas qual a Intentona não deu certo. Mas segundo alguns autores, o Serviço Secreto Inglês, avisou Vargas muitos meses antes dos eventos. Getulio Vargas ao dar o golpe para a criação do Estado Novo, baseou-se para impor uma nova constituição na “Carta da Polônia” mais conhecida como Polaca. Este instrumento dava ao presidente poderes ditatoriais. Garantiu a Vargas suspender a atividade parlamentar, o federalismo, vincular sindicatos, aposentar funcionários e através da ação brutal, torturas e prisões e contando com uma Policia chefiada pelo famigerado Felinto Muller, cuidar de não deixar haver oposição ao governo. Em 10/11/1937 foi fechado o Congresso. Com relação à estrutura dos sindicatos, a Constituição de 1937 foi na realidade uma copia da “Carta del Lavoro” totalmente fascista. Ainda assim existem historiadores que consideravam uma ditadura branda. Agora estava como Getulio Vargas queria. Graças ao apoio da classe média, classes produtoras, a indústria que queria produzir, todos no país queriam ordem e trabalhar e até os integralistas aceitaram o golpe com certa simpatia. Ledo Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 146 engano. Ele então pode governar sem a participação dos partidos políticos. Tornou-se um ditador como tantos que existiram no mundo e ainda existem. E a Maçonaria como ficou nesta situação? Ela que é democrata, liberal. Ficou bem quieta. Pasmem! A Ação Integralista Brasileira foi fundada em abril de 1933 como partido político. Já em 1932 o seu embrião chamava-se Sociedade de Estudos Políticos. Ostentava por símbolo sobre a camisa a letra grega sigma, sinal matemático da soma ou produto integral, adotava o lema “Deus Pátria e Família”. A religião cristã adotada era a católica, organização corporativista do Estado, ordem familiar patriarcal. Propugnava um estado integral que controlasse e dirigisse todas as atividades da nação brasileira, movia guerra declarada ao comunismo e à democracia liberal. Nutria especial ódio aos judeus e à Maçonaria. Possivelmente por causa da herança que o maldito livro “Os Protocolos dos Sábios do Sion” causou. Esta literatura vinculava a Maçonaria ao judaísmo internacional. Logicamente de forma equivocada. A Maçonaria nada tem a ver com os judeus ou ao comércio internacional controlado pelos mesmos. Apenas ela usa bem como todas as religiões cristãs assim o fazem, termos constantes da Bíblia. É claro que a Maçonaria admira o povo judeu, como admira outros povos que o mereçam. Existem muitos maçons judeus que são considerados Irmãos desde que iniciados regularmente. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 147 As atividades integralistas foram de tal monta que começaram a ameaçar o poder do ditador Getúlio, contribuindo para que ele lançasse um novo golpe onde se suprimisse as atividades políticas e públicas. Entre os simpatizantes dos integralistas e membros do partido chegou ao número de um milhão e quinhentos. Diga-se: pessoas inteligentes Os dizeres do juramento integralista eram “Em nome de Deus e pela nossa Pátria e nossa Família e pela nossa honra, juramos dar a nossa vida se necessário pela revolução integralista brasileira, amar respeitar e defender nosso chefe nacional, fazer respeitar e defender as bandeiras nacional e integralista, símbolos da Pátria Gloriosa e da ideia, juramos fidelidade absoluta e sem exames aos chefes”. Gustavo Barroso, grande inimigo da Maçonaria em sua obra “Integralismo em marcha” assim escreve: “Temos, portanto de cumprir o que reputamos nosso dever, aplicando o remédio quer o doente queira ou não. Não importa sua vontade e ainda menos a oposição que nos faça. O que importa é obter força para impor nossa medicina. Isto não quer dizer que não apliquemos a força quando for preciso. Aplicá-la-emos”. O Integralismo movimento confuso enganou a muitos brasileiros especialmente da classe média, alguns intelectuais, políticos e entre eles vários governadores de Estados, além de muitos militares de alta patente. Ele se propunha a combater o comunismo internacional, escudava-se num nacionalismo simpático a muitos brasileiros Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 148 chegando ao ponto de ser xenófobo. Falava em Deus Pátria e Família. Ora, na confusão em que estava o mundo naquela época, estes motivos foram aceitos com simpatia. Só que na realidade os princípios de sua doutrina eram piores que o próprio comunismo. Se o Integralismo se instalasse no Brasil a exemplo do que aconteceu na Alemanha com o seu social nacionalismo onde nos campos de extermínios como Dachau,Treblinka, Solibor e Bergen-Belsen, Auschwitz, os judeus, muitos políticos opositores, maçons e pessoas que não concordavam com estas monstruosidades também foram sacrificados, seguramente teria aqui no Brasil aqui a forma crioula de extermínio, com afogamentos, estupros, e a antiga degola usada em várias revoluções sulinas, além das execuções sumárias a tiro. Pelo regime de 1934 instalado pelo Getúlio Vargas a Ação Integralista Brasileira foi o único partido político reconhecido como legal, pois havia sido recusada a permissão ao Partido Comunista. Acresça-se que nesta época Getúlio Vargas nutria uma certa simpatia ainda que à distância aos ditadores Hitler e Mussolini. A existência legal tornou o Integralismo forte. A guisa de combater o comunismo e a democracia liberal, criaram milícias uniformizadas. Organizaram vários desfiles onde os chamados “camisas-verdes” desfilaram, sendo realizado o primeiro desfile em 23/04/1933. A bandeira símbolo era um retângulo azul que tinha no centro um sígma negro sobre um círculoLoja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 149 branco. Em 01/11/1937 cerca de cinqüenta mil integralistas desfilaram pelas ruas do Rio de Janeiro, Tinham uma hierarquia onde uma série de órgãos comandava seus adeptos, a saber: secretarias nacionais, Conselho Supremo, Câmara dos Quarenta, Câmara dos Quatrocentos. Tinham um mando forte e despótico. Todavia após o golpe de 1937 dado por Getúlio Vargas, um Decreto Lei de 02/12/1937 dissolveu todos os partidos políticos, inclusive o Partido Integralista que tentou sobreviver através da Associação Brasileira de Cultura, também proibida pelo Governo. E assim terminou bisonhamente o integralismo no país, mas ficaram seus adeptos. Em 11/05/1938 os integralistas tentaram um golpe de Estado armado cercando o Palácio da Guanabara onde estavam Getulio e sua Família. Como houve uma hesitação por parte dos revoltosos que se limitaram apenas atirar nas janelas do palácio, foram facilmente dominados. Plínio Salgado foi exilado em Portugal. COMO REAGIU A MAÇONARIA PARANAENSE A Loja Maçônica “Perseverança” de Paranaguá, que já havia se destacado na luta anti-escravagista e Movimento Republicano também foi a loja paranaense que mais lutou contra o fantasma integralista. O Irmão Darío Nogueira dos Santos, professor, poeta um dos poucos historiadores maçônicos do Paraná fez parte de um Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 150 congresso revolucionário em 1932 quando o Partido Integralista estava se organizando, representando os operários de Paranaguá, e aí ouviu Plínio Salgado lançar seu primeiro manifesto onde ele afirmava “Combateremos a Maçonaria e o judaísmo”. O Irmão Darío ficou estarrecido. Em face desta situação concitou todos os obreiros da Loja “Perseverança” a lutarem contra este novo inimigo. Como o Conselho Geral da Ordem do Grande Oriente do Brasil havia recebido varias consultas de várias partes do país, como proceder nestes casos, emitiu várias circulares a respeito. A primeira um tanto ambígua dizia “Às Lojas compete deliberar sobre a conveniência de conservar ou eliminar se seus Quadros, os maçons que agem contra os princípios maçônicos”. Depois foram mais enfáticos e enviaram outras “O maçom que ingressar na Ação Integralista Brasileira deve ser eliminado das Lojas. De sorte que estas enviarão à Grande Secretaria da Ordem, o nome ou relação dos eliminados. A Grande Secretaria Geral da Ordem por seu turno enviará às Oficinas da Federação os seus nomes que deverão ser inscritos em livros negros”. Entretanto em relação aos comunistas o Grande Oriente do Brasil, tomou uma atitude que a primeira vista, analisando os fatos atualmente, pareceu um pouco estranha. Em suas circulares, salientava que era necessário distinguir entre os maçons que adotavam o materialismo histórico, a dialética Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 151 marxista, como instrumento ou objeto de estudo e os que realmente militavam no Partido Comunista, como filiados. Contra estes é que se pode alegar que poderão subverter o Estado burguês, subversão esta que será realizada pela violência. Portanto, somente em relação aos membros do Partido Comunista é que o ingresso ou permanência é vedado pela Constituição. E a eliminação prevista deverá efetuar-se quando o Irmão na preferência às convicções integralistas ou comunistas deixar dos seus deveres de bom maçom, caso em que ele abrirá mão da própria Ordem Maçônica. Todavia se raciocinar dentro da lógica de quem adotar o materialismo histórico a dialética marxista e o filiado ao Partido Comunista, não há um divisor de águas, sendo praticamente a mesma coisa. Há até um termo usado para estas situações quando a pessoa não quer aparecer leva o apelido de melancia “Verde por fora, vermelho por dentro” isto para quem se diz simpático ao marxismo. Uma pessoa nestas condições não pode ser maçom. Não adianta argumentar em contrário, pois tanto o comunismo, como integralismo foram perigosíssimos para a Maçonaria Brasileira naquela época. Em 23/07/1935 fundou-se o Partido Integralista do Paraná em Curitiba o qual logo de início encetou uma violenta campanha difamatória, contra a Maçonaria, ajudado pela Igreja Católica, a qual tinha rancores antigos contra a Maçonaria Paranaense pelos entraves havidos no final do século XIX e início do século XX quando o anticlericalismo era o foco de uma luta agressiva Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 152 de ambos os lados. Esta situação atual fez com que várias lojas encerrassem seus trabalhos, ou melhor, dizendo abatessem colunas, ou suspendessem seus trabalhos provisoriamente. e trabalhassem na clandestinidade. A Maçonaria paranaense nesta época diminuiu muito suas atividades no Estado. Na Loja “Perseverança” de Paranaguá haviam seis Irmãos integralistas os quais foram eliminados. Impressionante a prancha enviada a eles pelo Irmão Darío Nogueira dos Santos, então Venerável da Loja. “Fazemos votos para que vosso juramento ao Integralismo seja tão fiel como não o foi o maçônico para que nos momentos da luta da Ação Integralista Brasileira possais ser fiel ao integralismo como nos momentos de paz não o foste para com a Maçonaria” O Venerável foi ameaçado de morte através de várias cartas anônimas, ameaças de depredação do Templo, onde os Irmãos do Quadro ficaram muitas noites em vigília. Ameaças contra familiares, difamações perseguições etc. Darío Nogueira dos Santos, homem de letras, redigiu um opúsculo de seis páginas datado de 25/05/1935 e enviou ao Grande Oriente do Brasil. Este documento muito bem redigido mostra nos mínimos detalhes o que vinha a ser o Integralismo. Ele enviou uma cópia ao Interventor do Paraná, o Irmão Manoel Ribas iniciado na Loja “Honra e Verdade” de Santa Maria Rio, Grande do Sul em 18/04/1914. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 153 O então Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil General Moreira Guimarães fez referências sobre este manifesto como o mais completo documento explicatório a respeito do Integralismo e suas verdadeiras intenções. No Boletim do Grande Oriente do Brasil de abril de 1935 foram publicadas as palavras do Grão-Mestre a respeito. Neste documento Darío analisa o Integralismo explicando que o mesmo ora é xenófobo, ora é de cooperação internacional, mas somente quando se tratar de países fascistas ou nazistas, cuja finalidade alem de dominar o mundo seria o extermínio dos judeus. Não havia dúvidas que o Integralismo se vencesse, chegaria a uma plutocracia, isto é, o pais governado por homens ricos, porque seria um governo de elites. Ainda refere que o Integralismo era contra a liberdade de consciência e além do mais defendia uma inquisição político religiosa. Proibia a formação de outros partidos. Um fato interessante é que a corrente monarquista do Brasil, os Bragança, apoiava o Integralismo. Em fim, Darío fazia uma ampla e transparente exposição da confusa doutrina integralista. Referia que eles “acendiam uma vela a Deus e outra ao Diabo”. Do ponto de vista prático, pulverizaria as liberdades. Até 1937 a doutrina integralista estava de tal maneira difundida no Brasil que até muitos dos asseclas de Getúlio eram Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 154 integralistas e o seu governo estava minado, inclusive as forças militares e até generais do alto escalão. Um pouco antes de Getúliodar o golpe final nos integralistas estes espalharam por todo o Brasil que Getúlio havia fechado as atividades maçônicas em todo o pais, sem que isto tenha realmente acontecido. Muitos governos estaduais eram francamente integralistas aproveitaram a mentira para manter as lojas maçônicas de portas fechadas. O Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil General Moreira Guimarães sabendo que o General Newton Cavalcanti estava pressionando o Presidente para proibir as atividades maçônicas no pais, apelou para o futuro maçom General Protásio Vargas, irmão carnal de Getúlio para que ele interferisse para que a medida não fosse tomada. Em 06/01/1938 o General Meira Vasconcelos declarou publicamente que jamais fora dada ordem pelo Presidente para fechamento da Maçonaria. Esta notícia foi levada ao ar através da Radio Nacional do Rio de Janeiro, quatro vezes no mesmo dia. Caso a medida fosse efetivada por decreto, não se pode prever quando ela Quando as lojas seriam reabertas. Talvez com um pouco de sorte somente após a queda do caudilho Getúlio. Mas aproveitando a mentira outras forças contrárias à Maçonaria tentaram mantê-la de portas cerradas. Tal foi o caso das Loja “Cyro Vellozo” de Prudentópolis que encerrou suas atividades Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 155 e nunca mais reabriu. A Loja “Phylantropia Guarapuavana” de Guarapuava também encerrou suas atividades parcialmente só reerguendo suas colunas plenamente em 1950. Algumas lojas fechadas como a “Amor e Caridade II” de Ponta Grossa,” Fé e Trabalho” de Rio Negro, “Fraternidade Paranaense” de Curitiba, “Cardoso Júnior” de Curitiba, “Acácia Paranaense” de Curitiba, “Jacques de Molay” de Cambará, encerraram suas atividades oficiais por pouco tempo, mais ou menos até novembro de 1937 e meados de 1938. Algumas lojas no Brasil ficaram fechadas mais de um ano, e algumas jamais se reergueram. Segundo o Irmão Eduardo Garcia Diaz, fundador da Loja Regeneração 3ª de Londrina, contemporâneo aos fatos, refere que em 1937 o comandante da 5ª Região Militar sediada em Curitiba, mandou fechar a Loja “Fraternidade Paranaense”. O fato levado ao conhecimento do Interventor do Paraná Manoel Ribas, maçom, este se dirigiu à Praça Zacarias onde estava situado o templo pegou as chaves, abriu as portas, assistiu aos trabalhos e em seguida informou ao “Dr. Getúlio” como ele o chamava em sinal de respeito, o qual afastou imediatamente o comandante de Curitiba. Entretanto, não se pode negar que Getúlio, apesar de ditador, tenha perseguido a Maçonaria. Talvez pelos laços familiares. Seu pai o General Manoel do Nascimento Vargas, herói da Guerra do Paraguai e Revolução Federalista de 1893-95 foi Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 156 iniciado na Loja “Vigilância e Fé” de São Borja-RS em 24/06/1876. Seu irmão o General Protásio Vargas foi iniciado em uma Loja de emergência em 18/09/1942, posterior aos fatos ora descritos. Outro irmão de Getúlio o Coronel Viriato Dornelles Vargas foi iniciado na Loja “Brasil” uma loja do Rito Brasileiro que estava sendo reativado. Assim com altos e baixos a Maçonaria Brasileira viveu uma fase bastante agitada na década de 1930. A história do Brasil nesta fase esteve muito conturbada. Segundo Kurt Prober a participação das Grandes Lojas Brasileira foi muito incipiente, pois elas tinham poucos anos de existência. E o próprio Grande Oriente do Brasil estava manietado pela ditadura. Analisando calmamente este período da História do Brasil e da Ordem têm-se elementos para que cada um tire suas próprias conclusões. Escapar incólumes do comunismo, integralismo e de uma ditadura, não foi fácil para a Maçonaria e muito menos para o povo brasileiro. A Maçonaria Brasileira continua de pé, atualmente com outros tipos de inimigos, os quais certamente não a destruirão. REFERÊNCIAS JORGE, F. Getúlio Vargas e seu tempo Ed. T.A. Queiroz – São Paulo, 1985 -´1º vol. PORBER, K. Achegas para a Historia da Maçonaria Paranaense. Ed. Príncipes Gráficas e Ed. Ltda. Rio de Janeiro, 1986 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 157 PROBER, K. Coletânea “A Bigorna” Ed. “A Trolha” Londrina, 1989 PROBER, K. Cadastro Geral das Lojas Maçônicas do Brasil. Ed. Kurt Prober. Rio de Janeiro, 1975. SANTOS, D. N. Ação histórica da Aug:.Resp:.Ben:. Loja Perseverança de . Paranaguá - ( obra não publicada) Grande Enciclopédia Delta Larousse. MAÇONARIA ADONHIRAMITA ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE O RITO E OUTROS COMENTÁRIOS Ir∴ Hercule Spoladore A Maçonaria Adorinhamita nasceu na França durante a segunda metade do século XVIII. Foi praticada lá e em suas Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 158 colônias bem como em Portugal e suas respectivas colônias. Foi o primeiro rito a entrar no Brasil trazido pelo Grande Oriente Lusitano. Ele atualmente estava sendo praticado só no Brasil, aonde vem apresentando um desenvolvimento muito acentuado, com a criação de inúmeras novas lojas, quer no GOB, quer na COMAB e agora também na Grande Loja de São Paulo (GLESP). Todavia, há alguns anos ele foi reintroduzido em Portugal, graças aos esforços do então Grão-Mestre do GOB-Pará, Irmão Waldemar Coelho que é um dos grandes incentivadores para que o Rito cresça em todo o mundo o qual enaltece também os esforços dos maçons adonhiramitas do Pará e o Rio de Janeiro que muito trabalharam para que o Rito voltasse a Portugal. O então Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica Regular de Portugal, o Irmão Mario Martin Guia decretou finalmente a criação da primeira Loja Adorinhamita no pais, pelo menos nesta nova fase do Rito, e que levou o nome de Loja Regular “José Estevão”. Evidentemente a primeira Loja do Rito Adorinhamita em Portugal foi fundada no século XVIII. De início se torna necessário esclarecer e explicar um erro histórico sobre a fundação deste Rito. Não foi o maçom Barão de Tschoudy (Louis Theodore) político de origem suíça nascido em 1720 e falecido em 1769 aos quarenta e nove anos de idade quem fundou o Rito. O Rito em realidade foi fundado por Louis Guillerman Saint-Victor que Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 159 escreveu um livro “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” (Recueil Précieux de la Maçonnerie Adorinhamite) onde ele descreveu e incluiu os quatro primeiros graus e publicou em 1781. Em 1785 ele escreveu um segundo livro descrevendo mais oito graus, perfazendo doze Era então, conhecido o Rito como a Maçonaria dos 12 graus. O grande culpado deste imbróglio do falso fundador do Rito foi um escritor francês, maçom, de nome Jean Baptiste Marie Ragon de Bettignies (1781- 1862), mais conhecido por Ragon, que ao que parece tinha boa cultura maçônica. Escreveu vários livros sobre a Ordem, porem ao escrever não era criterioso e nada mais do que um leviano que inventava situações a seu bel prazer. E em um dos seus livros “Ortodoxia Maçônica” (Orthodoxie Maçonnique) ele afirmou que o Barão de Tschoudy era o fundador do Rito Adorinhamita e também ele “criaria” o 13º grau do Rito. Entre as suas várias balelas existe mais uma, ao afirmar que Elias Ashomole teria sido o primeiro compilador dos rituais dos graus 1, 2 e 3, quando na realidade Aschmole jamais compilou qualquer ritual. Aschmole quando foi iniciado em 08/10/1646, nesta época não tinha ainda sido organizado o catecismo (ritual) do grau 2, o qual foi criado em 1670 (manuscrito Sloan,3 -1696), e muito menos o 3º grau criado em 1725 e incorporado na ritualística em 1738. Desta forma, inventando, ele atribuiu a paternidade do Rito Adonhiramita ao Barão de Tshoudy. Só que em 1871 Tschoudy havia falecido 12 anos antes. Logo, ele jamais poderia ter fundado o Rito Adorinhamita. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 160 Após 1785 Guillerman Saint-Victor escreveu e publicou a tradução de um trabalho alemão a respeito do Grau Noachita ou Cavaleiro Prussiano, de autoria do alemão M. de Beraye e este artigo apareceu publicado no Journal de Trévoux. Ragon e Thory se intrometeram, sem nenhuma razão especial interpretaram a publicação como sendo mais um grau, o 13º grau, embora Saint Victor houvesse publicado a tradução por mera curiosidade sem intenção de criar mais um grau. Esta tradução era um grau alemão que nada tinha a ver com os 12 graus já estabelecidos do Rito. Ragon inseriu o novo grau na parte final da segunda parte do trabalho de Saint Victor e o 13º grau acabou sendo incluído no Rito. Também, seria o 13º grau segundo alguns autores, uma homenagem a Frederico II da Prússia, maçom e que foi benfeitor da Ordem numa época em que ela se achava em progresso, mas muito perseguida. Fica assim esclarecido este erro histórico causado por um escritor maçom até certo ponto inescrupuloso e que apesar de escrever bem e ser culto não media as consequências do que escrevia. Ele terminou desacreditado no final do século XX. Ele era ainda muito citado em trabalhos até há cerca de 30 a 40 anos atrás, por escritores maçons brasileiros e estrangeiros, que não conheciam a verdade sobre o famoso Ragon. Ainda existem irmãos atualmente no Brasil que afirmam ter sido o Barão de Tschoudy o fundador do Rito Adorinhamita bem como citam Ragon como referência bibliográfica em seus trabalhos, que costumeiramente ainda se lê nas revistas, ou livros maçônicos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 161 Existe um Rito da “Estrela Flamejante” (L’etoile Flamboyant) fundado em 1766, portanto três anos antes desenlace do Barão e que foi realmente fundado por ele. Era um rito composto de 15 graus. Tschoudy era um maçom ativo e honesto. Ele não tem culpa se Ragon o colocou como fundador da Maçonaria Adorinhamita. Quiseram imputar a fundação de outro rito à Tschoudy, ou seja, o Rito de Tschoudy Reformado de seis graus. Mas, igualmente quando fundaram este Rito o Tshoudy já tido partido para o Oriente Eterno já há alguns anos. Tshoudy era particularmente contra os Altos Graus. Ele também pertenceu ao Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, que foram os criadores do Rito de Heredon de vinte e cinco graus. Aliás, este Rito foi a fonte, foi a raiz dos demais ritos que hoje conhecemos pertencentes à vertente francesa, inclusive o Rito Adorinhamita. Com relação à história da criação do Rito Adorinhamita em si tudo começou em 1743 quando um escritor profano compositor musical escrevendo vários livros cerca de dez, sobre música, teatro, pertencente à Academia Real de Música da França de nome Louis Travenol, usando o pseudônimo de Leornard Gabanon escreveu um livro contra a Maçonaria intitulado de “Catecismo dos Francos Maçons” (Cathécisme de Francs Maçons) onde descreveu uma série de fantasias e mentiras, porem com algumas informações corretas que coincidiam com a maçonaria praticada na época, além da descrição do 3º grau completo como era praticado. E ele coloca em cena o nome de Adonhiram que até então não existia na Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 162 lenda a qual apesar de ser nova, criada há poucos anos só se conhecia o personagem Hiram Abif. Em 1742, o Abade Gabriel Luiz Calabre Perau escreveu um livro “A Ordem Maçônica Traída e seus segredos revelados” (L’Ordre des Francs Maçons Trahi et leur secrete revélé) publicado em 1745 em Genebra que era confundido com a obra de Travenol. Ambos os livros mencionam Adonhiram, mas a obra de Perau era mais uma descrição de canções e hinos cantados durante as sessões maçônicas, enquanto que Travenol descreveu o 3º grau e sua lenda como eram conhecidos na época, mas colocando em evidência o personagem bíblico Adonhiram. A obra de Perau é aqui citada porque muitos historiadores confundiram o titulo com a obra de Travenol. Perau se propôs apenas revelar os segredos da Maçonaria, mas não denegrir a Ordem a exemplo de muitos escritores da época faziam, aliás, como o próprio Travenol. Em 1744 Travenol lança outro livro “Compêndio da História de Adonhiram Arquiteto do Templo de Salomão” (Abrége de L’histoire D’Adoniram, Architecte du Temple de Salomon) onde ele disseminou de vez a confusão entre Adonhiram com Hiram Abif. A partir dai os ritualistas maçônicos dividiram as opiniões pois para alguns seriam os mesmos personagens da lenda, enquanto para outros se tratava de personagens diferentes. Interessante como os maçons davam importância para a obra de um profano. E acresça-se que era um profano escrevendo contra a Ordem. Parece que eles próprios não tinham segurança na redação dos seus rituais e suas lendas. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 163 Aproveitavam o conteúdo dos livros escritos por profanos como fonte de referência, pelo menos naqueles conceitos e história que se podia aproveitar deixando de lado as mentiras, invenções e ficções. Mas as obras de Travenol de qualquer forma influenciaram o inicio da Maçonaria Adonhiramita. Mas não foi o único autor a escrever livros que influenciaram a própria Maçonaria. Muitos anos antes em 1730 Samuel Prichard fez o mesmo, publicou todos os segredos da Maçonaria inglesa até aquela data. E esta obra é estudada até hoje pelos cientistas maçônicos da Loja Quatuor Coronati, nº 2076 de Londres. Por ironia trouxe muita informação correta necessária para Maçonaria de hoje. Mas quanto Adonhiram alguns ritualistas da época mantinham uma situação dualista, mas não concordavam quanto à função de cada um dos personagens na construção do templo de Salomão. Um era hebreu, o outro era fenício. Interessante, que tudo começou a partir de um livro escrito contra a Ordem, nascendo daí o embrião de um movimento maçônico que logo mais se tornaria a Maçonaria Adonhiramita. Em 1747, o livro Catecismo dos Francos Maçons (Cathecisme des Francs Maçons) foi reeditado, voltando a enfatizar o personagem Adonhiram. Ainda em 1749 Travenol publicou “Novo Catecismo dos Francos Maçons” (Nouveau Cathecisme des Francs Maçons) onde ele publica práticas ritualísticas dos Modernos, que constituem uma referência sobre o Rito Francês. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 164 Um grupo de maçons ritualistas sustentava que Adonhiram tinha sido um subalterno, um mero arrecadador de impostos ao passo que o outro grupo achava que ele seria o verdadeiro personagem da lenda do 3º grau. Desta forma nasceu a Maçonaria Adonhiramita defendida pelo grupo de Guillerman cuja lenda seria diferente da Maçonaria Hiramita com relação ao principal protagonista da mesma, mas que no fim os atributos e finalidade dos personagens eram os mesmos. Ambas as correntes tinham a mesma meta, onde existia muita convergência na redação das lendas, levando-se em conta que se assemelham muito, pois ambas tratavam da construção do templo de Salomão e seu provável construtor. Evocando os landmarques que afirmam a exigência da lenda do 3º grau baseada em Hiram Abif estes foram contrariados quanto a um dospersonagens principais defendido pelos maçons adonhiramitas. Mas e daí? Por acaso a Maçonaria Adorinhamita também não cultua Adonhiram um personagem bíblico com as mesmas características simbólicas do Hiram Abif também bíblico? E outra pergunta considerada lógica e coerente: tanto um como o outro tinham qualificações para ser o mestre de obras, o construtor mór do templo de Salomão? Não tinham porque o Hiram, o fenício era trabalhava com bronze, que hoje o chamaríamos de metalúrgico. Era um artífice em fundição de bronze. O que ele entendia de construção para ser a principal figura da edificação do templo? E o outro, o hebreu o Adonhiram era administrador e coletor de impostos ou como a Bíblia afirma em outro local, um preposto às corvéias, por ocasião do Templo de Jerusalém. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 165 Para esclarecer o que é corvéia era o trabalho gratuito que no tempo do feudalismo, o camponês era obrigado a prestar serviços ao senhor ou ao estado. Trabalho escravo, portanto. Também não teria também qualificação para ser o mestre de obras do suntuoso e famoso templo. E a própria Bíblia causa as confusões, pois ela é repleta de contradições gritantes. Existem vários Hirans Hirão e mais de um Adonhiram, Adoniram Adoram ou nomes parecidos. Mas este detalhe não altera o arcabouço geral da lenda do 3º grau feita por maçons. Por quê? Porque a principal função da lenda não é a de ficar-se discutindo confusos personagens bíblicos. E ainda tem que se considerar que tanto a Maçonaria Hiramita como a Adonhiramita promoveram, isto na lenda do 3º grau um personagem secundário para ser o arquiteto ou construtor ou superintendente do Templo. Isto seria impossível e improvável atualmente. Tanto Hiram Abif como Adonhiram não teriam capacitação técnica para ser o construtor do templo de Salomão. Mas lenda é lenda e daí? Lenda é lenda, é fácil fabricar uma. A lenda de Hiram ou Adonhiram não fugiu a regra. Ainda levando-se em conta o que é uma lenda que segundo os dicionários é “uma narração escrita ou oral de caráter maravilhoso, relatando fatos históricos antigos na qual estes são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética” (Aurélio). Logo, uma lenda pode ser alterada, antes de tomar o a redação final, pois ela contem fatos verdadeiros e fatos irreais e não tem compromisso com a realidade e nem com a verdade, mas sim com a mensagem e o recado simbólico Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 166 que ela transmite o exemplo que ela estabelece e impõe a um grupo ou à sociedade. Ela vale pela mensagem que passa aos adeptos. Já o mito tem diversas explicações, mas uma delas seria complementando o conceito de lenda que seria uma imagem simplificada de pessoa ou de um acontecimento, não raro ilusório elaborado ou aceito pelos grupos humanos e que representa papel significativo de comportamento. Seria o produto final, o herói da lenda. Todo povo, nação, grupo de homens, religiões, ou a própria Maçonaria precisam de um mito para sobreviver. O esplendor da lenda Hiramita ou Adonhiramita não está na defesa deste ou daquele personagem, já que no caso ambos os personagens foram emprestados da Bíblia, mas sim na influência e identidade da lenda com o mito solar. Poucos autores mencionam este fato. Parece que o mantem oculto. A lenda do 3º grau é totalmente influenciada pelos cultos solares da antiguidade, tendo o seu similar mais aproximado na lenda egípcia de Osíris. Mas destacam-se ainda na lenda do 3º grau as influências das manifestações religiosas e místicas dos povos antigos como os sumerianos, dos persas, dos gregos. Especialmente do mitraismo, que era uma religião pagã, que adorava o sol e que foi tornada ilegal e o cristianismo oficial pelo Imperador Teodósio em 391.d.C numa ocasião em que ela disputava com o cristianismo quase que em igualdade de condições, qual religião prevaleceria. O cristianismo copiou muito coisa do mitraismo, dando outros nomes. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 167 A influência do mito solar vem também inserida nos rituais de todos os ritos, quando se faz os diálogos entre o Venerável e os Vigilantes. Na abertura e fechamento ritualísticos das sessões eles descrevem o nascimento, morte e renascimento do sol diuturnamente. É uma referência. É a descrição do trajeto descrito pelo sol, símbolo principal dos antigos e de todas as religiões naturais antigas. Por isso diz-se que a Luz vem do Oriente. O Venerável lembra ou representa o sol dos antigos. Ainda vem a afirmação importante nesta lenda do conceito do nascer, morrer e renascer, um dos principais ensinamentos do 3º grau. Não se quer atribuir aos rituais maçônicos e nem à própria Maçonaria que ela seja um produto do mito solar. Mas sofreu sua influência assim como foi influenciada por tantas outras culturas e religiões naturais antigas e principalmente da Bíblia. A lenda do 3º grau sofreu todas estas influências e foi adaptada para a Maçonaria. Foi uma lenda bem manipulada, construída para nortear a Ordem em sua caminhada através dos tempos e que provou estar correta, pois hoje quer a Maçonaria Adorinhamita, ou a Maçonaria Hiramita tem o seu herói-símbolo, ou seja, o seu mito, fazendo parte de uma mesma lenda, ou seja, a lenda do 3º grau. “Os autores do ritual do 3º grau, ainda desconhecidos apelaram para todos os recursos de sua imaginação e de uma erudição tão vasta quanto incoerente, produziram um monstro Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 168 enigmático, cujas pesquisas, as mais conscienciosas não puderam descobrir sua verdadeira origem - Le Foriestier - REFRÊNCIAS CASTELLANI, José Liturgia e Ritualística do Grau de Mestre Maçom Em todos os Ritos. Editora "A Gazeta Maçônica" São Paulo, 1987 CARVALHO, Assis Ritos e Rituais – volumes 1,2,3. Editora “A Trolha” Londrina, 1993 PERAU, Gabriel Louis Calabre - A Ordem Maçônica Traída e seus Segredos Revelados Tradução de Ataualpha José Garcia Editora “A Trolha” Londrina, 2001 Original: “L’ordre des Francs Maçons Trahi, et leur Secret revélé” A L’Orient, Chez G. de L’lEtoile, entre L’esquerre & le Compass, vis-à vis du Soleil couchant, 1745” O RITO ADONHIRAMITA – HISTÓRIA - Publicação feita pelo Sublime Capitulo Adonhiramita do Brasil – Florianópolis - Santa Catarina Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 169 A PRANCHETA Ir∴ Hercule Spoladore É uma das três joias fixas ou imóveis de uma loja que aparece no painel simbólico de cada rito. Sabemos que as outras duas são a Pedra Bruta que corresponde ao aprendiz e a Pedra Cúbica que corresponde ao companheiro. A Prancheta é um símbolo que pertence ao Mestre tem diferentes nomes conforme o Rito, mas trata-se do mesmo símbolo, com o mesmo significado. Trata-se de um símbolo que aparece nos painéis dos Ritos REAA, Rito Brasileiro e Rito Adonhiramita em seus rituais do primeiro e segundo graus, mesmo sendo um símbolo do Mestre. No REAA ela tem o nome de Prancheta. No Rito Adonhiramita no ritual do segundo grau nas instruções aparece com o nome de Pedra de Riscar, fazendo-se alusões às três pedras, bruta, cúbica e a de riscar. No Rito Moderno ou Francês no ritual do terceiro grau em suas instruções é citada como Pedra de Traçar. O Rito de Schröder possui em seu Tapete ou seu painel simbólico, o qual é único para os três graus, a 47ª Proposição de Euclides que é consideradasimbolicamente no Rito como a Prancheta. Segundo instruções do Rito o Venerável Mestre de Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 170 uma Loja Operativa preparava os planos através da Prancheta que era usada na Inglaterra antes de 1723 e que segundo os mentores atuais do Rito era baseada por analogia na famosa proposição citada. Referências sobre a Prancheta existem nos rituais dos graus um e três do Rito. No Rito de Schröder o ritual do terceiro grau o Venerável pergunta: Onde trabalham os Mestres? Resposta: Na Prancheta para com a Régua da Verdade, o Esquadro do Direito e o Compasso da Obrigação executarem seus projetos. Simbolicamente na Prancheta, ou Prancha a traçar, os mestres gravam ou traçam os planos estabelecidos, bem como as lições para os aprendizes e companheiros. Gravar ou traçar quer dizer escrever. No Rito de Schröder a Prancheta não traz como no REAA a chave do alfabeto maçônico. A Prancheta ou Prancha a traçar, ou seus sinônimos em outros Ritos aparece no painel simbólico do grau de aprendiz e de companheiro ao alto onde se observa um retângulo no qual figuram dois sinais. Em loja, o símbolo deve estar no Oriente feito de madeira ou outro material em cima de um cavalete ou adaptado em um local à direita de quem está sentado nas cadeiras do Oriente. Ele é um retângulo que representa uma prancha de desenhar, traçar ou gravar na qual, está inserido dois sinais, uma cruz quádrupla (quatro cruzes latinas cristãs) constituídas por duas paralelas cruzadas, símbolo do limitado e também daquilo que homem pode realizar e também uma Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 171 cruz de ângulos opostos pelos vértices símbolo das díadas e também do infinito. Esta cruz é em forma de X (xis) também é conhecida como cruz de Santo André. Esta cruz para os maçons esotéricos simboliza a união a união do mundo superior com o mundo inferior. A cruz tem este nome porque segundo a história, Santo André teria sido supliciado numa cruz com esta forma. A Prancheta é um símbolo que como tal, significa que os mestres simbolicamente guiam os aprendizes e companheiros na sua caminhada, traçando os trajetos a serem percorridos por estes para que progridam na Maçonaria. A Prancheta apesar de ser um símbolo do mestre, aparece no painel simbólico do aprendiz e do companheiro e também dentro da loja como símbolo no Oriente devendo o aprendiz e companheiro apenas tomar conhecimento da sua função, ou seja, simbolicamente saber que são ensinados e instruídos pelos Mestres através da Prancheta. Este símbolo também contém a chave do alfabeto maçônico, o qual todos os maçons deveriam conhecê-lo e usa-lo. A cruz representada por duas paralelas cruzadas dá as posições das primeiras dezoito letras e a cruz em X dá a posição das quatro últimas letras. Todas as letras do alfabeto maçônico têm a forma de esquadro, o qual se relaciona com a matéria não sendo visto o círculo que é o símbolo do espírito, o qual não aparece no alfabeto maçônico, isto segundo Boucher que afirma que o espírito é Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 172 invisível e desta maneira o maçom se vê convidado a se libertar da letra para abordar o espírito. Esta descrição tem valor para o REEA, que emprestou do Trabalho de Emulação (Emulation Working) que é o nome correto usado na Inglaterra e não Rito de York como se costuma erradamente a chamá-lo aqui no Brasil. Não existe Rito de York na Inglaterra. Existe sim, o Rito de York, mas este é americano. Os demais ritos simplesmente copiaram o painel do REAA, o qual copiou do painel do Trabalho de Emulação. Castellani considera a Prancheta como Tábua de Delinear (tracing board) e seria para ele no REAA todo o painel do grau no REAA, igual ao Trabalho de Emulação. Entretanto, outros autores acham que somente o símbolo Prancheta constante do painel simbólico e a sua representação física no oriente seria a Prancheta em si e não Tábua de Delinear. A tradução de prancheta do inglês para o português segundo Anatoli Oliynik seria clipboard e não tracing board. Será descrito a seguir como é a Tábua de Delinear no Trabalho de Emulação, fazendo-se algumas comparações necessárias com os demais ritos. A Tábua de Delinear (Tracing Board) é todo o seu painel com os símbolos inseridos nele. Já no REEA no Brasil, algumas potências adotam o painel simbólico e o alegórico. O painel alegórico do REAA é cópia da Tábua de Delinear do Trabalho de Emulação. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 173 Todavia, é no painel simbólico do REEA e não no alegórico que aparece a Prancheta. O Painel do Trabalho de Emulação que é chamado de Tábua de Delinear ou tracing board é um todo e não apenas um símbolo isolado como nos demais ritos onde este é mostrado como um retângulo onde estão gravadas as já citadas duas cruzes. A Tábua de Delinear é, portanto, todo o painel no Trabalho de Emulação. A Tábua de Delinear dos ingleses serviu de modelo para o REAA acrescentar como um dos seus símbolos constantes do Painel do primeiro e segundo graus a Prancheta. Aliás, diga-se de passagem, que o REEA copiou praticamente toda a Tábua de Delinear do Emulação com exceção de alguns símbolos que foram acrescentados e outros retirados, e hoje é conhecido como painel alegórico no REAA. Escritores de renome na Maçonaria, não esclareceram bem este detalhe. Este assunto ainda não está bem elucidado. Deixaram os leitores confusos, tratando ambos os símbolos como se fossem a mesma coisa, ou seja, Prancheta e a Tábua de Delinear e a realidade não é bem essa. Castellani não deu a interpretação correta. Ele considerava a Prancheta e a Tábua de Delinear como a mesma coisa. Será escolhida a descrição da Tábua de Delinear (Tracing Board) na linguagem da forma de trabalhar da maçonaria Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 174 inglesa no Trabalho de Emulação em razão de todos os ritos menos o de Schröder terem copiado e adaptado os primeiros painéis os quais foram todos oriundos do Trabalho de Emulação. Ele mostra simbolicamente todo o interior de uma loja. A Tábua de Delinear representa a forma de uma loja que é a de um paralelepípedo com comprimento que vai de leste a oeste e largura de norte a sul. A altura até os céus. As lojas estão situadas do oriente para o ocidente. Aparece o Sol a Lua e as sete estrelas. A forma da Lua neste rito é a de lua cheia e não quarto crescente como nos demais ritos. As três grandes colunas que sustentam a loja representam Salomão, Hiran, rei de Tiro e Hiran Abif, respectivamente Sabedoria Força e Beleza, sendo as colunas pela ordem Jônica, Dórica e Coríntia. Estas colunas têm as suas miniaturas expostas nos Pedestais do 1º Vigilante, a Dórica, e do 2º Vigilante a Coríntia, fazendo parte da ritualística do grau. No pedestal do Venerável não há uma coluneta representando a Sabedoria O Círculo com um ponto central gravado no móvel que está suportando o Volume da Lei Sagrada (Bíblia) em cima do qual está representada a Escada de Jacó, a qual tem muitos degraus, tantos quantos forem as virtudes morais necessárias a serem alcançadas pelo maçom no seu progresso na Ordem, mas as três virtudes principais são a Fé, Esperança e Caridade, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 175 representadas por uma cruz, um cálice e uma âncora e em cima da Escada de Jacóuma estrela de sete pontas. O interior de uma loja é composto de ornamentos, mobiliário e jóias.Os ornamentos de uma loja são: Pavimento Mosaico, a Estrela Brilhante e a Moldura Denteada ou marchetada. Os mobiliários da loja são: o Livro das Sagradas Escrituras (Bíblia), o Compasso e o Esquadro. As jóias são: três móveis e três imóveis ou fixas. As jóias móveis são o Esquadro, Nível e o Prumo. As imóveis ou fixas são a Tábua de Delinear (eis aqui citada novamente como mais um símbolo dentro do painel) a Pedra Bruta e a Pedra Esquadrada (No REAA é a Pedra Cúbica) Percebe-se que os ingleses repetem no painel a Tábua de Delinear como uma das jóias imóveis. Mas a Tábua de Delinear é também todo o painel conforme já foi citado, Mas como símbolo representando umas das três jóias imóveis permanece ao lado da Pedra Bruta e da Esquadrada que elas ficam expostas para que os aprendizes e companheiros nela se instruam. Aparecem ainda a Régua de 24 polegadas, o Escôpro ou Cinzel e o Maço, que são os instrumentos de trabalho do aprendiz neste rito ou trabalho. Ainda resta comentar um símbolo desconhecido em outros ritos e que se chama Lewis que seria um símbolo triangular, uma espécie de luva de ferro em secções com cunhas ajustáveis e expansíveis, utilizadas para engatar e auxiliar Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 176 grandes levantamentos. Seria uma ferramenta que levanta grandes pesos com pouca força. Este termo ainda é usado para o filho de maçom, conhecido no Brasil como lowton. Pendentes nos quatro cantos da loja estão as Borlas que lembram as quatro virtudes cardeais: Temperança, Firmeza, Prudência e Justiça. A localização da Tábua de Delinear como jóia imóvel no Trabalho de Emulação está segundo Castellani situada na parte sudoeste do templo à frente do segundo diácono (júnior deacon) o qual está próximo à parede ocidental e não no Oriente como em alguns dos demais ritos. A Grande Loja Unida da Inglaterra, não está mais usando a Tábua de Traçar desenhada no século XIX pelo Irmão John Harris desenhado especialmente para a “Emulation Lodge of Improvement”; Hoje ela usa a Tabua de Delinear pintada pelo Irmão Esmond Jefferies. Houve algumas modificações em relação à Tabua de Delinear de Harris. As colunas mudaram de posição A dórica permaneceu no local em que estava, mas ela deve ficar na mesma linha de perspectiva à esquerda da coluna jônica. Por isso a posição da jônica mudou. A coluna coríntia esta agora à direita isolada. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 177 Na Escada de Jacó, os símbolos da cruz, cálice e âncoras foram substituídos por anjos e a estrela de sete pontas foi substituída por uma estrela muito brilhante. Foi colocada uma estatua do Rei Hiran sobre a coluna dórica, uma estátua do Rei Salomão sobre a coluna jônica e uma estátua de Hiran Abif em cima da coluna coríntia. O Pavimento de Mosaico representado no Painel é agora como um tabuleiro de xadrez e não em diagonal como no REAA Este e é o painel que consta do Emulation Ritual publicado pela Lewis Masonic Publishers Ltd. uma das editoras autorizadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra. A Prancheta como símbolo faz parte de todos os Ritos e não se chama Tábua de Delinear, nome este que é somente usado pelo Trabalho de Emulação, quando se trata da descrição de todo o painel. Mas dentro do próprio painel do Trabalho de Emulação existe como símbolo a Tabua de Delinear que deveria charmar-se clip board e seria o correspondente à Prancheta, pois o simbolismo é o mesmo. De qualquer forma, tirando estas pequenas diferenças entre os Ritos, ela é um símbolo do Mestre, significando que ele escreve nela os caminhos, os conceitos, os princípios e ensina a ética a serem seguidos pelos Companheiros e Aprendizes. REFERÊNCIAS Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 178 BOUCHER, J. A Simbólica Maçônica. Editora Pensamento – 9ª ed. São Paulo, 1993 CASTELLANI. J. Consultório Maçônico IV e V Editora Maçônica ”A Trolha” Ltda. Londrina, 1994 e 1997. NICOLA. A. . Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. Editora Arte Nova – São Paulo, 1975 OLIYNIK, A. Emulação (História, Ritualística e Rituais) Ed. Gráficas Vicentina Curitiba, 2004 PIRES. J.S. O Suposto Rito de York e outros Estudos Editora Maçônica “A Trolha”. Londrina, 2000 VAROLI T.Fº Curso de Maçonaria Simbólica II tomo – Ed. Gazeta Maçônica São Paulo, 1976 Revista “A Trolha” nº 148 – 02/1999 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 179 MAÇONARIA E PROCEDIMENTOS MÁGICOS Ir∴ Hercule Spoladore Segundo os dicionários, a Magia é uma arte ou ciência oculta que pretende produzir por meio de certos procedimentos, atos e palavras e por interferência dos espíritos, gênios e demônios, efeitos e fenômenos raros, estranhos e anormais contrários às leis naturais. Há quem a divida em Magia Branca que seria a arte de se obter efeitos maravilhosos e extraordinários na aparência, mas que na realidade são causados por causas naturais, e Magia Negra através da qual certas pessoas se dizem ser possuídas de poderes de ter a capacidade de conseguir produzir efeitos sobrenaturais pela intervenção dos espíritos e, sobretudo dos demônios. A Magia é considerada pela Sociologia como se opondo à Religião. As forças superiores na religião são consideradas Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 180 como tal e não podem ser mudadas. Na Religião a divindade é liberta de qualquer limitação, já na Magia a divindade está vinculada às ordens de uma rede que intercala todas as coisas. Em verdade até a presente data, uma grande parte dos Maçons brasileiros não quer entender que a principal finalidade da Maçonaria é tão somente político social e de autoaprimoramento espiritual e, que somos construtores sociais praticando o culto ao Grande Arquiteto do Universo, o amor à humanidade, trabalhando para que tenhamos no futuro uma sociedade humana com paz, justiça e fraternidade. Não temos como fugir deste destino. Querer ainda em nosso século misturar os conceitos, como aconteceu no Século das Luzes, e que também foi o século em que houve o maior culto de misticismos e mistificações, de magia, da teurgia em sua versão mais sombria, a Goécia, ou do ocultismo, não há mais razão de ser, pois muitas dúvidas tanto na religião como na ciência foram totalmente sanadas, pelo menos se sabe hoje o que é ciência, o que é religião e o que é ateísmo. Fenômenos tidos e havidos como sobrenaturais, hoje têm explicações científicas e simples. Comentaremos as tendências que tomaram conta de uma parte da Maçonaria daquela época. Diga-se a bem da verdade, que existia a Maçonaria Tradicional, que era predominante, que era constituída pela maioria das Lojas, procurando ser a mais ética e pura possível especialmente na Inglaterra, país este, que não permitiu por Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 181 tradição, que a Ordem fosse eivada, contaminada, denegrida por práticas outras que não fossem as puramente maçônicas. Entretanto, espertalhões, charlatães para uns e magos ou sábios para outros, usaram o mais que puderam nossa Ordem na França, Alemanha e outros países europeus. Eles deixaram como herança oseu legado no Brasil, onde mais de dois séculos após, ainda proliferam suas influências. Torna-se muito difícil e complexo traçar um referencial do maçom brasileiro, já que o sincretismo intelectual e religioso no país distorceu princípios, misturou conceitos, confundiu as mentes considerando-se que o maçom neste país, lê pouco, sendo, portanto, pouco versado nas coisas da Ordem, ainda não se encontrou, não se identificou com a essência maçônica. Supersticioso, mal orientado nas suas lojas, onde as instruções são falhas, com uma incrível tendência para crer no sobrenatural e vivendo no maior país católico-espírita do mundo, sem saber que não se pode ser católico e espírita ao mesmo tempo, porque uma das religiões, a católica não admite em hipótese alguma o contato com os espíritos dos mortos, por uma questão dogmática, isto sem mencionar outras religiões com suas crenças, descrenças e rejeições. Em consequência destas situações acontece que até hoje existe um número muito maior do que imaginamos de maçons que são mistificadores, que querem impingir um esoterismo no qual creem, às vezes até sinceramente, porem mal orientados, aos demais Irmãos, dentro das próprias lojas esquecendo-se que como afirmamos anteriormente a Maçonaria tem hoje Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 182 uma função político social muito mais evidente que estas práticas citadas, além é lógico, do encaminhamento do maçom para seu auto aperfeiçoamento. A Maçonaria não impede quem quer que seja de ter suas próprias concepções, só que dada a sua função social e eclética os trabalhos em loja são alheios a tais práticas referidas. Não podemos negar que a Maçonaria tenha sua parte mística, quer pela sua essência doutrinária quer pela sua integração com GADU, assim como as religiões que creem em Deus. A Mística como sabemos é o estudo das coisas divinas ou espirituais, porem mistificação é uma burla, um engodo. Os magos do século XVIII que usaram a Maçonaria para as suas experiências, fundaram lojas, criaram ritos mágicos praticaram e abusaram da teurgia que como sabemos que é um tipo de magia que consiste em estabelecer contato com espíritos celestes, e desta forma praticar milagres, curas, predições, invocaram fantasmas, enfim, ajudaram muito a antimaçonaria a nos confundir com as religiões diabólicas, nos taxando de praticantes da Magia Negra, missas negras, montadores de bodes e outros tantos epítetos que não merecemos. Esta é a triste herança que os personagens que descreveremos nos deixaram. A teurgia então praticada em muitas lojas, sempre lembrando aos Irmãos que não representavam a Maçonaria Tradicional, era caracterizada por procedimentos mágicos, que consistiam de cultos de expiação, culto operatório contra demônios, culto Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 183 contra a guerra, culto contra o inimigo da Lei Divina, culto para obter a descida do Espirito Divino. Ao mesmo tempo praticavam uma magia cultural onde usavam o círculo mágico, as luminárias pelas velas de cera, focos luminosos decorativos e efígies que condensavam presenças invisíveis. A parte ativa e prática desta teurgia consistia em exorcismos purificadores da Terra, “passes” que traziam potências celestes, e nesta hora havia o chamado choque da “Coisa.” Estas práticas eram baseadas na Doutrina da Reintegração, onde se pedia proteção aos Superiores da Humanidade sobre as entidades extra humanas que povoam o mundo do Além. Entende-se por círculo mágico como uma pratica, onde o mago traça-o real ou ficticiamente com sua vara ou com carvão ou água benta e tem por finalidade isolar proteger o operador, pois entes maus não poderão franquear esta fortaleza, exceto o demônio convidado que ficará à disposição do mago. Missa Negra é uma pratica usada em religiões que reverenciam ao Demônio, que consiste na imitação de uma missa católica, celebrada sobre os rins e depois sobre o ventre de uma mulher nua que serve de altar. Os ornamentos são todos negros. Entretanto, também não deveremos esquecer que fatores conjunturais, religiosos, ideológicos, políticos, morais, guerras e mesmo a Razão que começou a ser cultuada naquele século, tinham outros valores naquela época, que talvez não possamos avaliá-los plenamente em função dos nossos valores atuais, e também não esqueçamos que o século XVIII foi uma época de total devassidão intelectual e religiosa de tal forma que o Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 184 ocultismo parecia ser para eles, naquele momento da história, um remédio salvador. Ressalte-se que, os magos que eram perseguidos na maioria dos países, encontraram guarida no seio de certas lojas da Ordem que os albergou, as quais além do seu já nascente espírito democrático eram consideradas e aceitas na época como uma honorável sociedade pela maioria dos países europeus onde ela tinha as portas abertas e era até um modismo ser franco-maçom. A Maçonaria era um refúgio ideal para os magos. Evidentemente a Humanidade, em nome do Iluminismo que libertou o pensamento humano que até então vivia sob os grilhões da Igreja, cometeu muitos erros, pois estava passando por crises, isto é, por mudanças incríveis e extraordinárias, sendo este século um verdadeiro cadinho, um imenso laboratório psíquico onde as ideias boas e más de todos os matizes explodiram como se fosse uma libertação expansiva da mente do Homem. Mas, ao lado dos erros procurou o caminho correto e a Ciência através dos Homens bem intencionados têm muito a ver com isto, pois foi se mostrando aos poucos o que era natural e científico e que era fantasioso e mentiroso. A própria Maçonaria procurou suas melhores opções, tanto é verdade que ela sobreviveu apesar dos magos, charlatães, inventores e aproveitadores. Exemplo de coerência nos deu a Maçonaria da Alemanha quando o “Rito da Estrita Observância” que praticava este tipo de ocultimo começou a perder terreno exatamente depois da Convenção de Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 185 Wilhelmsbad realizada em Hamburgo em 1782 e que foi decidido que se restauraria a verdadeira e antiga Maçonaria, exatamente como foi trazida pelos seus antecessores, e que se pesquisaria tão somente a Verdade. Que se deveria melhorar a harmonia entre os Irmãos, e que trabalhariam nos três primeiros graus de acordo com o antigo Ritual do Rito Escocês até que os rituais organizados pela Convenção Geral fossem redigidos e editados. Não resta a menor dúvida, que esta medida deu um ultimato ao festival de graus superiores que grassava por toda Alemanha, bem como na atuação dos magos que infestavam suas lojas. Esta decisão permitiu que fosse iniciado um movimento restaurador da verdadeira Maçonaria. E entre Irmãos que almejavam esta limpeza na Ordem estava Friedrich Ludwig SCHRÖDER (não confundi-lo com os dois outros SCHRÖDER que também eram Maçons, porem, magos) aproveitou para organizar um Ritual que sem dúvida nenhuma é um dos mais puros e expurgados de enxertos, do mundo, ou seja, o Ritual de SCHRÖDER ou Ritual Alemão sem esoterismo, seguindo uma linha humanística. Apesar de tudo, belo, inquietante, estranho e mágico século foi o XVIII, e isto, não podemos negar. Era a mente do Homem se libertando por completo dos grilhões religiosos de dezoito séculos. Ele tinha direito de experimentar todos os caminhos até achar pela Razão, o que é Verdadeiro. Vamos citar e analisar situações paralelas à Maçonaria Tradicional ocorridas no Século das Luzes envolvendo indivíduos que forammaçons. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 186 Na Alemanha, um limonadeiro de Lípsia de nome SCHROEPFER em 1768 fundou uma loja na qual se faziam invocações e se pretendia colocar os Irmãos do quadro em contato com anjos infernais bem como com potências celestes. Ele deixou em polvorosa toda a Prússia e especialmente Berlim predizendo através de fantasmas a morte de figuras eminentes, fatos estes que costumavam realmente acontecer. Foi proibido pela rainha da Prússia de realizar tais predições. Ele se suicidou em 1774, com um tiro na cabeça. Ainda na Alemanha Schroeder considerado por alguns como o Gagliostro Alemão (não confundi-lo com o homônimo que fundou o Rito Alemão), na cidade de Marburgo fundou um capítulo com o nome de “Verdadeiros e Antigos Maçons Rosa- Cruzes”, onde havia uma escola que ensinava magia, alquimia e teosofia. Esta escola teria dado aulas à Gagliostro. Podemos ainda acrescentar na Alemanha o “Rito da Alta Observância” criado após cisão no Rito da “Estrita Observância” em Viena em l767. Seus adeptos praticavam magia, cabala e alquimia. Na França, uma loja em Paris chamada de “São João da Escócia”, entre os anos de 1770 e 1775 fundou uma Academia dos Sábios consagrada às ciências herméticas, notadamente à astrologia, onde se praticavam procedimentos de Goécia, ou magia negra. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 187 Citaremos mais alguns nomes que tiveram influência em toda a Europa, possivelmente alguns deles paranormais e ao mesmo tempo grande prestidigitadores. EMMANUEL SWEDENBORG (1688-1772), filósofo, sábio e filólogo. Foi, sem o saber, um dos precursores da Hipnose, pois se auto hipnotizava e tinha visões. Pode prever um incêndio há mais de trezentos quilômetros de onde estava e também previu corretamente segundo dizem, a data de sua própria morte. Ele realizou pesquisas muito profundas sobre os mistérios maçônicos. Ele acreditava que a doutrina remontava a mais remota antigüidade. Ele achava que a Maçonaria seria a pedra fundamental da futura Igreja concebida por ele, e afirmava que ela estava no Homem e não fora dele. Esta Igreja se conhecerá como a Nova Jerusalém e na qual não entrará ninguém que não reconheça o Senhor como Deus do Céu e da Terra. Participou de congressos maçônicos e suas atividades, especialmente na invocação de fantasmas e na autossugestão serviram de base para que outros personagens viessem a praticar tais experiências em lojas maçônicas. Este mago era provavelmente um paranormal. Sabemos que a Paranormalidade existe. Hoje é estudada em muitas Faculdades no mundo. São capacidades mentais especiais que um indivíduo possui e que já nasceu com elas. Ocorreriam em função de uma abertura maior entre o Consciente e o Subconsciente de cada um. Ressalte-se que a Hipnose pode despertar em alguns indivíduos estes dons ou talentos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 188 MESMER, médico de nome Francisco Antônio nascido na Austria (1734-1815) um dos precursores da moderna Hipnose, anunciou na época que havia descoberto o magnetismo animal que ele próprio ignorava a sua causa. Sua ação, no início trabalhou fora das lojas, mas sua filiação maçônica permitiu a difusão de suas doutrinas e teorias dentro das mesmas. Ele magnetizava em série, centenas de pessoas curando seus males. Fez sucesso na Europa. Em 1783 fundou na França, uma sociedade maçônica com o nome de “Ordem da Harmonia Universal” que se destinava a purificar os adeptos e torna-los capazes de propagar a teoria de MESMER. Porem foi desacreditado pela Academia de Ciência da França composta pelos mais brilhantes cientistas de então, o que comprova que o Século das Luzes também buscou os caminhos corretos. O atual Hipnotismo é considerado como ciência, é um estado mental, baseado em reflexos condicionados semelhante ao sono em sua fase mais profunda, podendo em suas fases mais leves, o indivíduo estar perfeitamente desperto, e obedecer á ordem do hipnotizador quando em transe hipnótico. Não se trata de um poder especial que o hipnotizador tenha sobre o paciente. É antes de tudo uma técnica. Qualquer um poderá hipnotizar um paciente sensível. Pode-se operar maravilhas com esta técnica, como cura de doenças psíquicas, alterações dos estados da mente, sempre se utilizando o poder da sugestão. A Hipnose é muita usada pela Medicina. O hipnotizado jamais obedecerá a qualquer ordem, que seja contraria aos princípios programados que estão em sua consciência. Diz-se que toda Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 189 hipnose é antes de tudo uma auto-hipnose, ou seja, o paciente se autohipnotiza e o hipnotizador somente conduz o processo hipnótico. Ela é uma arma psíquica poderosa e está proibida por lei de ser usada em palcos por hipnotizadores que são antes de tudo “mágicos” e prestidigitadores que como sabemos são ilusionistas e que graças a sua habilidade são capazes de deslocar ou fazer desaparecer objetos rapidamente, iludindo a vigilância do espectador. Estas técnicas especialmente a Hipnose são muito usadas de maneira dissimulada pelos políticos que enganam o povo através de discursos eloqüentes e demagógicos e pelos donos de inúmeras igrejas que são fundadas diariamente no país, onde em nome de Deus e da Bíblia o pobre povo é enganado vilmente e ainda, lhes tomam suas economias. Entretanto, temos que citar aquele provérbio latino que diz “o povo quer ser enganado” nos dá a sensação e a certeza de que ele é cúmplice assumido, aceitando passivamente tais situações. O CONDE DE SAINT GERMAIN homem misterioso, ligado ao Ocultismo, à Maçonaria, especialmente à alquimia, viajava muito, tido para uns países como espião, tinha passagem livre em todas as cortes da Europa, vivia como um rico, e se dizia conhecedor dos segredos da alquimia, e “transformava um pó escuro em ouro” e segundo Voltaire “SAINT GERMAIN é um homem que nunca morre”. Ninguém soube o seu verdadeiro nome, nem onde nasceu e onde morreu. Fez demonstrações em muitas lojas. Existe hoje uma Ordem Mística de Saint Germain com ramificações por todo o mundo inclusive no Brasil. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 190 MARTINEZ DE PASQUALY (l7l5 l774) Escreveu o livro “Tratado de Reintegração dos Seres em suas primeiras propriedades e potências espirituais e divinas” Ele defendia que a origem de todos os seres está inserida no seio de Deus, o qual dirige toda esta unidade e ao mesmo tempo faz emanar por efusão querubins, serafins arcanjos e anjos, cuja expansão provocou a queda do Homem. O Homem é decaído. Para reintegrá-lo e identifica-lo, com a vontade de Deus somente será possível através da invocação dos espíritos que povoam o intermundo. Martinez através do Rito dos “Eleitos de Coëns” praticava uma ritualística dúbia e estranha, composta de dez graus e quatro templos. No lº templo na chamada “Maçonaria de São João” tratava da criação do Homem e sua desobediência. Nos 2º e 3º templos quando o adepto leva uma vida santa e exemplar, reaproxima de Deus, e recebe o grau de “Eleito Coëns”. No 4º templo, a classe secreta dos “Reaux-Croix” (Réau= sacerdote poderoso), que colocava os iniciados em contato com o mundo das potências celestes por intermédio da evocação da Alta Magia. Com a morte de PASQUALY, sua doutrina tomou dois rumos interessantes. Uma corrente a de VILLERMOZ juntou-se ao esoterismo da Maçonaria Tradicional e a outra a de LOUISCLAUDE SAINT MARTIN, recusou a prática da teurgia de Pasqualy, ficando na pesquisa meramente especulativa, e Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 191 também recusou os ritos maçônicos tradicionais fundando o Martinismo que atualmente está em plena atividade no nosso século, estando no momento sob a tutela da AMORC até que, mais difundido no mundo, possa ter suas próprias sedes e templos. O Martinismo pratica uma filosofia, que talvez seja a que mais respeite o individualismo de cada adepto, em comparação com outras entidades afins. O maior personagem desta lista de nomes ligados à Maçonaria e ao ocultismo do século XVIII foi sem dúvida, GAGLIOSTRO, ou JOSÉ BÁLSAMO figura central da Magia daquela época. Aventureiro? Charlatão? Gênio? Paranormal? Prestidigitador ? Ele foi iniciado na Loja “Esperança” em Londres em 1777. Freqüentou todos os Ritos nos Países Baixos, Alemanha, Polônia e Rússia. Em l779 ele teria praticado um rito mágico pela primeira vez. Em 1783-84 ficou onze meses em Bordéus na França, e fez sucesso como curandeiro. Em 20 11.1784 ele chega a Lion como mago e grande mestre da Maçonaria. Nesta época, os maçons lioneses estavam divididos conceitualmente com o martinezismo, mesmerismo e swengborgismo. CAGLIOSTRO funda a Loja “Sabedoria Triunfante” e imediatamente as curas, predições materializações começam a acontecer. A seguir funda a “Loja Mãe do Rito Egípcio”, em três graus, da qual ele se intitula o Grande Copta. Ele utiliza como médiuns, jovens rapazes e moças os quais ele os chama de pupilos e Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 192 pombas. Este rito, segundo ele, tinha por objetivo dar ao Homem a dignidade perdida, moral e física. O Homem regenerado torna-se Eleito. CAGLIOSTRO fala em nome de Deus que lhe teria atribuído poderes. Ele em realidade misturou uma Maçonaria totalmente espúria com operações do magnetismo animal, isto é, ele usava o Hipnotismo. Em 1785 instalou-se em Paris onde se reunia a Loja “Assembléia dos Amigos Filaletos” Convocado pela Loja “Amigos Reunidos” exortou a todos os Maçons de todos os ritos para que discutissem os pontos mais essenciais da doutrina maçônica. Ele tentou impor os princípios da sua “Maçonaria Egípcia”, porem não foi aceito. Rompeu com os “Filaletos” e enviou uma carta posteriormente criticando-os veentemente. Tem vários livros sobre este personagem. A melhor biografia a seu respeito, é a de Dr. Lalande, sob o pseudônimo de Dr.Mac Haven. Gagliostro foi a última pessoa a ser julgada pela Inquisição em 1789 em Roma e morreu louco na prisão da Fortaleza de San Leo. Fica uma pergunta no ar. Será que todas as Lojas do mundo atual estão livres desta panacéia, destas práticas estranhas? Temos tido notícias que uma Loja de Pesquisas (?) no Brasil, que suas sessões seriam verdadeiras sessões espíritas. Também fomos informados que uma Loja da Maçonaria Mista em uma cidade (?), seus adeptos são iniciados inicialmente em candomblé na própria loja como exigência precípua para se tornarem iniciados na Maçonaria, alem de tantas outras Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 193 aberrações fantásticas e incríveis que temos tomado conhecimento. Alguns fenômenos paranomais eventualmente ocorrem em algumas lojas do país, porém, jamais poderão ser confundidos com nossos princípios, leis e costumes. Atualmente, Maçons alertas e estudiosos vêm através de palestras, cursos e livros, desmistificando todas estas práticas, mas, justamente pelo perfil do maçom brasileiro que é supersticioso, místico com uma forte tendência a cultuar o sobrenatural, é preciso orientá-lo quanto a uma série de fantasias e engodos que ainda assolam a Maçonaria Brasileira. REFERÊNCIAS Aslan, N. “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia” Editora Artenova – Rio de Janeiro – 1975 Carvalho, F.A. “Ritos e Rituais” Editora A Trolha –Londrina – 1993 Naudon, P. “A Maçonaria”. Editora Difusão Européia do Livro São Paulo-1968 Trondiau, J. “ O Ocultismo” Editora Difusão Européia do Livro- São Paulo-1964. Varoli T. Fº Curso de Maçonaria Simbólica . Editora A Gazeta Maçônica S.A. São Paulo – 1970. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 194 MAÇONARIA, PASSADO, PRESENTE E FUTURO O Maçom dentro do contexto histórico Ir∴ Hercule Spoladore A Maçonaria Operativa teve vários períodos que a precederam que se poderia intitula-los de fase pré-operativa. Esta fase aconteceu no transcorrer de muitos séculos e talvez milênios. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 195 Os primeiros homens pré-históricos habitavam cavernas, mas com o passar do tempo migraram para fora delas, tornaram-se nômades, gregários e assim para terem abrigo, para se protegerem das intempéries, e também para se abrigarem da luz solar e se proteger às noites frias, começaram a construir suas choupanas, casas, surgindo assim ainda que de maneira ainda rudimentar os primeiros construtores, havendo entre eles os mais habilitados que se firmaram como os primeiros profissionais da construção, ainda que a humanidade estivesse engatinhando, e as casas ou abrigos eram toscos, simples. Desta forma serão citadas várias etapas das construções que antecederam a fase da Maçonaria Operativa em si. Fala-se que no Império Romano o segundo rei Roma, Numa Pompilio (714 a 671 A.C) sempre citado na literatura maçônica por ter mandado construir templos de deuses pagãos, criou para esta finalidade os collegia fabrorum dos quais se originaram os collegia construtorum que segundo referem alguns autores seriam as sementes da futura Maçonaria Operativa, porque ele teria regulamentado a profissão de construtores e também a organização dos cultos já que estes coleggias eram dotados de intensa religiosidade, mesmo naquela época em que se adoravam deuses pagãos. Cita-se também que em seu reinado ele teria mandado urbanizar Roma e as construções de tiveram um desenvolvimento. As legiões romanas em suas conquistas destruíam tudo, mas levavam os colegiatti de construtores para reconstruir o que destruíam dentro dos seus interesses na região conquistada. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 196 Existem autores que contestam esta versão da história por fala de provas primárias. Mestres Comacinos que apareceram em Como na Lombardia que eram arquitetos, hábeis escultores, reconhecidos pelos reis longobardos pelo édito de Rotari em 634 D.C e Liutprando em 713.d.C. Eles foram introdutores da arte românica, que predominou durante os séculos X à XII antecipou a arte gótica, que predominou durante os séculos XII á XV. Antes de aparecer a Maçonaria Operativa ou Maçonaria de Oficio surgiram as Associações Monásticas fundadas por São Bento 529 D.C. e Cisterciense fundada pelos monges de Císter fundada pelo abade De Molesme em 1098 da nossa era, começaram a aparecer construções em que a arte gótica foi pouco a pouco predominando. As Associações Monásticas dos Beneditinos eram constituídas por religiosos, monges católicos, experientes projetistas e geômetras, verdadeiros artistas na arte de construir. Todavia guardavam a arte de construir em forma de segredo dentro de seus conventos. Varoli considera os beneditinos e os cistercienses como ancestrais da Maçonaria Operativa. O tratamento entre eles era de “Venerável Irmão”, e “Venerável Mestre”.Mas foram obrigados a contratar profissionais leigos, pois a procura de seus serviços aumentava cada vez e necessitavam de homens para o trabalho mais simples e dessa convivência com os mestres, consequentemente aprenderam a arte de construir, ou lhes foi ensinada pelos próprios clérigos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 197 Estas ordens citadas são em linha geral para se ter uma ideia de como foram surgindo as construções especialmente as que precederam as corporações de oficio. Estes profissionais foram aprendendo com os clérigos e em face de da decadência da fase monástica apareceram as confrarias leigas. A importância destas ordens de clérigos foi muito necessária, pois além de espalharem a arte de construir, deixaram os princípios religiosos nas escolas e oficinas de arquitetura. Toda agremiação tinha seu santo protetor. Estas fases precursoras da Maçonaria de Oficio são consideradas por Theobaldo Varoli Filho, como embriões da instituição que viria a ser Maçonaria Operativa. Assim no século XII surgiu a franco-maçonaria ou maçonaria de oficio na qual os pedreiros eram livres ou francos maçons que deixaram sua influência muito significativa na Maçonaria atual. O termo franco ou livre significava que estes profissionais eram livres totalmente de qualquer servidão ou serem taxados de escravos. Seu único compromisso era construir. Remanescentes das fases anteriores já citadas os operários se constituíram nas chamadas corporações de oficio, organizadas, prestavam auxilio mutuo, a divisão de trabalho era disciplinada, havia o mestre de obras, que deveria ser entendido na geometria e na arte de construir, que não era grau e sim função e os aprendizes (hoje serventes-pedreiros) que deveriam durante certo número de anos, cerca de sete anos aprender a profissão. Estas corporações eram apenas de Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 198 profissionais da construção. A Igreja dominava totalmente seus membros. Toda corporação tinha seu santo protetor. Paralelamente surgiram nesta mesma época as guildas especialmente no Norte da Europa, na Inglaterra, Alemanha e Dinamarca que eram confrarias no inicio religiosas, militares, e finalmente investiram na arte de construir. Havia entre eles assistência mútua e proteção, proteção aos familiares ampliou pouco a pouco a abrangência de suas ações e se tornaram verdadeiros corpos profissionais de construtores. Assumiram o caráter corporativo. Cada associado pagava uma joia. O novo membro era recebido ritualisticamente. Assim constituíram guildas de comerciantes, militares, dos marceneiros e carpinteiros de canteiros que construíram muitas casas de madeira além das construções majestosas de pedras. Foi nas guildas que surgiram a palavras loja, joia e banquetes termos estes que emprestamos para a nossa Maçonaria Moderna. As guildas ainda pretendiam reformas sociais. A Maçonaria Operativa nasceu destas duas tendências, corporações de oficio e das guildas. Há quem refere que sejam sinônimos. Não há como querer afirmar outra origem da Maçonaria Operativa, mas existem muitas tendências e controvérsias a respeito, quando se fala em origem da Ordem. A título de esclarecimento em 1909 o escritor maçônico Charles Bernadrin do Grande Oriente da França consultou 206 obras sobre maçonaria e selecionou 39 opiniões diferentes a respeito de suas origens. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 199 Eles, além de castelos, fortificações e outras construções construíram muitas catedrais que ainda estão firmes, maltratadas pelo tempo. porem ostentando toda a sua bela arte gótica em vários países da Europa. Cada catedral tem uma história linda, onde se vislumbra o gênio de muitos construtores arquitetos, homens além de seu tempo. Catedral de São Petrônio em Bologna Itália – iniciada em 1132. Catedral de Chartres – França - iniciada em 1194 – reconstruída em 1214 Catedral de Colônia – Alemanha - iniciada em 1248 Catedral de Córdoba – Espanha - erguida pelos mouros Catedral de Santa Maria de Fiore – Itália - primeira catedral de Florença. A cúpula foi construída em 1418 Catedral de Gênova - Itália iniciada em meados do século XIII Catedral de Milão - Itália - construção iniciada em 1288, só teve suas estruturas erguidas em 1389. Catedral de Nápoles – Itália - iniciada em 1285 Catedral de Sevilha – Espanha – em 1401 os cônegos de propuseram a construir a maior catedral da Europa Catedral de Notre Dame - França - construção iniciada em 1163 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 200 A França em três séculos ergueu 80 majestosas catedrais, 500 grandes igrejas e centenas de casas paroquiais. A média da Europa Cristã na época era uma igreja para cada 200 habitantes, tal era o domínio da Igreja Católica sobre o povo. Na Alemanha surgiu a corporação dos steinmetzer onde os profissionais eram conhecidos por serem escultores, entalhadores de pedras ou canteiros, se dedicavam somente à arte gótica. Teve um grande impulso dado pelo arquiteto Erwin nascido em Steinbach. Ele, em 1275 convocou uma convenção em Estrasburgo para terminar uma importante catedral de arenito rosa. Nesta convenção compareceram os principais arquitetos ingleses, alemães, italianos e de outros países. Nesta ocasião teriam sido adotados, sinais, toques e palavras para a identificação secreta dos membros da confraria. É considerada como a primeira vez que adotaram estes meios de identificação, porque isto está registrado, mas é bem provável que já usavam sinais há muito tempo e também que outras corporações usassem suas próprias senhas. É sabido que o maçom operativo deixava um símbolo seu marcado nas pedras das construções onde trabalhava. Interessante, citar os avanços da humanidade. Em 1453 Copérnico publica seu livro afirmando que a Terra gira em torno do Sol e em 1454 Johanes Gutenberg cria a impressão de tipos moveis fundidos em metal. Até então, todos os documentos eram feitos em manuscritos, ou seja, à mão. Nesta época cerca de 20 copistas produziam 20 livros cada dois anos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 201 A partir daí passaram a serem publicados 1000 livros/ano. Pode-se considerar como a Internet da época. Isto tudo viria modificar a maneira de pensar, abriria as mentes, pois poderiam ser lidos livros com mais facilidade e assim o homem buscar conhecimentos até então fora de seu alcance. A situação da Maçonaria Operativa mudou. Por cerca vários séculos predominou a arte gótica que nasceu na França. A Renascença viria, e suas consequências se fizeram sentir tanto na arte gótica como no monopólio das corporações de oficio que dominavam este setor. Este fato determinou a decadência da Maçonaria Operativa. Já não havia mais tantas catedrais a serem construídas, e além do mais o povo estava preferindo o estilo clássico romano que era mais alegre, mais leve que o estilo gótico. Com esta decadência, o nome da organização ainda era muito respeitado, mas começaram mudar os comportamentos dentro da Ordem. Começaram a aceitar como membros na Maçonaria, pessoas que não eram construtores. O registro do primeiro maçom aceito é datado de 08/06/1600 na Loja Saint Mary’s Chapel em Edimburgh do abastado fazendeiro John Boswell. Este tipo de aceitação foi sendo cada vez maior. Já não era aquela antiga corporação de construtores. Algo havia mudado. Era outra organização. Esta Loja tem registros de atas desde 1599.Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 202 Entretanto a Maçonaria Operativa era composta de Lojas com o lema “maçom livre em loja livre” Tinham já constituídos os graus de aprendiz e companheiro. Mas os aceitos que geralmente eram pessoas de maior cultura foram mudando as concepções, trazendo novos conceitos dentro da Maçonaria ainda chamada de Operativa. Estes aceitos eram militares, comerciantes, pensadores, escritores sábios, filósofos, nobres, além de esotéricos, ocultistas, alquímicos, cabalistas antiquários, etc. A Maçonaria Operativa até 1600 era eminentemente católica. Ela nunca fez alusões ou referência a templos, aos hermetistas, aos templários, rosa-cruzes, alquimistas, magos, cabalistas, esotéricos ou ocultistas. Não se falava em landmarques. Não havia a Bíblia em durante sessões. Não havia a lenda de Hiran. Havia a lenda Noaquita focalizando a morte de Noé, que foi aproveitada e enxertada na lenda de Hiran posteriormente. Não existia o valor simbólico das ferramentas. Não existia a antimaçonaria e nem potências maçônicas Segundo alguns autores os aceitos rosa-cruzes contribuíram muito para filosofia da Ordem, porque grande parte destes aceitos eram rosa-cruzes. Um novo membro era recebido de uma forma mais simples e não através de uma ritualística sofisticada como atualmente estamos acostumados a realizar. E assim desde o primeiro maçom aceito em 1600 (prova primária) até 1717 passaram 117 anos, mais de um século. O que restou da Maçonaria Operativa se transformou neste Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 203 período de tempo em outro tipo de maçonaria. Também o mundo se modificou bastante. Neste século XVII Descartes publica em 1637 o discurso sobre o Marco da Filosofia Moderna. Em 1661 Robert Boyle lança as bases da Química Moderna em 1687 Newton publica seu livro sobre a Lei da Gravidade e em 1698 Savery inventa o motor a vapor. Em 1670 foi criado o grau de Companheiro (manuscrito Edinburgh Register-1696) Já se falava sobre ele desde 1598, mas não há comprovação. A partir de 1703 a Maçonaria começou a receber aceitos indistintamente de todas as classes sociais e de todos os credos. Na Inglaterra predominava os anglicanos. A Maçonaria Operativa não era mais tão somente católica. A Inglaterra foi o berço da Maçonaria chamada Especulativa, mas é mais racional o nome de Maçonaria Moderna. Especulativa não espelha realmente o que aconteceu com a Ordem e o conceito de especulativa não se encaixa muito nos acontecimentos históricos. Ela estava se transformando em Maçonaria Moderna. Muito embora tenha sido consagrado o nome de Especulativa Em 24/06/1717, data esta que espelha o que já estava ocorrendo há mais de 100 anos, o maçom aceito o pastor protestante Desagulliers, Anderson, George Payne com mais outros eruditos maçons conseguem reunir quatro lojas, sendo que uma delas era só de maçons aceitos e funda a Grande Loja Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 204 de Londres. Inicialmente esta Grande Loja não foi bem aceita na Inglaterra. Os maçons ingleses se dividiram em antigos e modernos. Mas o sistema obediencial foi sendo aos poucos sendo adotado em toda a Europa. Nascia assim o conceito de obediência ou potência e também a figura do grão-mestre. Surgiu uma nova era para a Ordem, ou melhor, a oficialização do que estava sendo realizado na prática. Criaram os landmarques por motivos óbvios, pois se agora existia um poder central, não havia mais loja livre, é claro que seriam necessárias novas regras para manter as lojas num mesmo plano e sob governo de um grão-mestre. Regras estas que evocaram a pré-maçonaria com o nome de maçonaria antediluviana, diluviana e pós-diluviana, a e ao mesmo tempo introduziram conceitos baseados nos Antigos Deveres (Old Charges) que chamaram de imutáveis, mas de que imutáveis, não tinham nada. Foi uma estratégia para angariar e segurar em suas fileiras os adeptos. Anderson escreveu seu primeiro livro das Constituições em 1723, eivado de fantasias, inverdades, de lendas citando fatos muitas vezes confusos, baseado nos Old Charges especialmente no Poema Régio. Ambrósio Peters afirma “Os Old Charges são regulamentos ou Antigos Deveres da Maçonaria Operativa e nada têm a ver com a Maçonaria Especulativa a não ser que a antecederam historicamente” O grau de Mestre foi criado em 1725 e incorporado no ritual em 1738, ano em que Anderson reescreveu suas Constituições, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 205 já mencionando o grau de Mestre. A lenda de Hiran levou muito tempo para ter a redação que tem hoje. Já estava o mundo vivendo em pleno século XVIII, um século maravilhoso, o Século das Luzes. Tudo foi possível e permitido neste século. Erros e acertos. Experiências preciosas do comportamento humano. Solidificação da Ordem, ainda que dividida, avanço social e cientifico da atual civilização. Algumas situações importantes aconteceram neste século Não serão citadas as invenções tecnológicas. Serão citados alguns dos livros que ajudaram a mudar o pensamento humano e também porque não dizer, a Maçonaria que é composta de homens. (1) 1751 Diderot publica o primeiro volume da Enciclopédia. 2) 1757 A Escola Fisiocrata inicia na França a Teoria da Economia Moderna (3) 1762 Rousseau lança o - Contrato Social, livro clássico do Iluminismo. (4) Voltaire publica o livro “Tratado de Tolerância” (5) 1777 Kant publica o livro Critica da Razão Pura (6) 1791 Tomas Payne publica o livro Os Direitos do Homem A Maçonaria na Inglaterra ficou restrita aos três graus simbólicos, mas na França a partir de 1740, foram criadas novas potências e criados inúmeros graus superiores, criados outros Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 206 ritos além dos tradicionais, alguns ritos exóticos e mágicos, que ainda têm repercussão no século 21. A Alemanha acompanhou inicialmente a França nesta criação desenfreada de ritos e graus superiores, mas em 16/07/1782 no Congresso de Wilhelmsbaden expurgaram os abusos do Rito da Estrita Observância e dai fundaram o Rito Escocês Retificado, mas o efeito deste Congresso rendeu condições para ser fundado em 1801 um rito simples, enxuto sem conter excessos, voltado para a humanidade, chamado Rito de Shröder. Xico Trolha (Assis Carvalho) enumerou 235 ritos nominados que foram criados no mundo, a maioria fruto da criatividade dos maçons, mas acredita que seja na casa dos 300 ritos. No século XIX foram criados mais ritos, porem disseminaram as potências maçônicas, e criou-se mais um fator complicador: as famosas cisões que normalmente ocorrem até hoje no seio da Maçonaria mundial, fazendo com que a Maçonaria se fragmentasse desde então. O século XIX, rico em invenções tecnológicas a partir das quais propiciaram a continuação do avanço que temos hoje em dia. Apenas no pensamento humano, Freud e Carl Jung se destacaram em relação à mente humana. Freud publica em 1895 o livro Estudo sobre a Histeria, demonstrando que o homem não domina a mente. Mas houve grandes pensadores em outras áreas, neste século. A Maçonaria entrou no Brasil que entrou oficialmente comprovado, em 1800 através de uma Loja irregular de nome “União”. Sendo que no ano seguinte os remanescentes desta Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 207 loja se filiaram a uma Loja “Reunião” regular, reconhecida pelo Grande OrienteIsle de France- Rito Adonhiramita. Neste século em 14/03/1893 foi iniciada na Maçonaria numa loja regular de nome “Livre Pensador” pertencente à Grande Loja Simbólica Escocesa da França, dissidente do GOF a feminista Maria Desraimes por um maçom de nome George Martin Venerável Mestre e em 04/04/1893 ela fundou logo em seguida a Maçonaria Mista na França e que levou o nome Loja Escocesa dos Direitos Humanos. A Maçonaria Brasileira, no século XX ao lado de inúmeras cisões de menor importância, passou por duas grandes cisões que marcaram o século a de 1927 e a de 1973 resultando desta divisão as Grandes Lojas Brasileiras e os Grande-Orientes Independentes (Comab). A Maçonaria mundial neste século se organizou melhor em relação ao século anterior, mas seguindo tendências locais nos vários países. Na Inglaterra é o clube que impera. Os maçons comparecem nas suas respectivas lojas para se encontrar. Na hora do intervalo (chamada para o recreio) eles vão tomar uísque ou chá. A situação do próprio país é muito estável e não há necessidade de grandes campanhas filantrópicas na educação e na saúde pública. A Maçonaria lá tem influência na política, notadamente no Parlamento Inglês. Não admite a admissão de mulheres. Na França a Maçonaria é patriótica, ela ajuda o Governo a governar o país. Lá as potências tradicionais, mistas e femininas Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 208 se unem para ajudar a França. Há inclusive tratados entres estes tipos de Maçonaria e a Tradicional. Nos Estados Unidos, a Maçonaria é eminentemente filantrópica. Certas Lojas ao acontecer a transmissão de cargo de venerável, a nova gestão se compromete em conseguir para a gestão que se inicia doações superiores à anterior. Lá a Maçonaria banca hospitais, fundações, pesquisas científicas e serviços humanitários. No Brasil, não se tem um enfoque principal. Não há uma causa geral que seja de todas as maçonarias do país. Entretanto em algumas cidades elas realizam alguns empreendimentos filantrópicos notáveis, mas não fazendo parte de um plano nacional e prestigiado por todos os maçons brasileiros. Em relação ao presente, isto é já no século XXI, no Brasil a Maçonaria continua aumentando seus quadros em cerca de 10% ao ano. Talvez em razão dos mais jovens se sentirem desiludidos com as religiões e estão procurando outras respostas mais condizentes com a sua realidade espiritual. Mas seriam necessários mecanismos para reter estas novas aquisições no seio da Ordem, o que parece não existir. Estima-se que haja cerca de duzentos e conquenta mil maçons no Brasil. As três principais potências que se dizem regulares são as Grandes Lojas Brasileiras, Grande Oriente do Brasil e os Grande-Orientes Independentes. Todavia existem segundo estatística recente cerca quarenta e quatro potências entre a Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 209 maçonaria de homens, a mista e a feminina não alinhadas e paralelas às três citadas. Vejamos como é o sistema de administração e comando da Maçonaria brasileira As Grandes Lojas são em número de 27 e os Grande-Orientes Independentes em número de 21. Cada uma destas Grande Loja ou Grande Oriente Independente é uma potência. As Grandes Lojas tem um órgão normativo chamado CMSB que se reúne todo o ano e os Grande-Orientes Independentes (Comab) também realizam reuniões anuais. O sistema é o de confederação. Já o Grande Oriente do Brasil é regido pelo sistema de federação. Existe um grão-mestre estadual para cada um dos 27 grande-orientes estaduais e o grão-mestre geral. Portanto são 76 grão-mestres ao todo nestas três potências. E as outras mais de 50? Tem muito grão-mestres na Maçonaria brasileira. Isto mostra quanto está dividida a Ordem no país. Uma particularidade interessante da Maçonaria e a forma como as potências se reconhecem ou não. A GLUI se considera a Loja-Mãe do Mundo. Ela reconhece ou não uma potência dentro ou fora da Inglaterra. Questiona-se quem lhe deu o direito de decidir se uma potencia é regular ou não. Teria sido o GADU ou a natural prepotência inglesa? Discute-se este direito que ela mesma deu a si. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 210 Existe outra fonte de referência atualmente para o tal de reconhecimento: As 53 Grandes Lojas Americanas, incluindo a Grande Loja Espanhola de latinos que existem nos USA. No Brasil o GOB e quatro Grandes Lojas Brasileiras (SP, MS, ES, RJ) são reconhecidos pela GLUI. Estas quatro Grandes Lojas são reconhecidas pelas Grandes Lojas Americanas também. A maioria das Grandes Lojas Brasileiras é reconhecida pelas 53 Grandes Lojas Americanas. A Comab tem quatro de seus Grande-Orientes (GOP, GOSC, GORGS e Grande Oriente Paulista reconhecidos pela CMI (Confederação Maçônica Interamericana), com sede em Bogotá que congrega cerca de 80 potências na América do Sul, inclusive o GOB e as Grandes Lojas assinaram este tratado). O Grande Oriente da França não liga para os tais critérios de reconhecimento e segue sua caminhada na história da Maçonaria. A Maçonaria Tradicional Brasileira não reconhece a Maçonaria Mista e a Feminina e inclusive as chamadas potências não alinhadas que completam a lista com mais de 50 potências ao todo. Mas já deve ter sido acrescentada mais alguma “potência” que não temos conhecimento. Para termos uma ideia como funcionam estas “potências”. Daremos três exemplos: Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 211 1 - Grande Loja Unida Sul Americana com sede em Campo Grande – Mato Grosso do Sul. Uma ala dissidente desta Grande Loja está fundando uma nova potência alegando igualdade de direitos dos cidadãos perante a Constituição Brasileira e afirmam que admitirão gays, lésbicas e simpatizantes, padres e evangélicos bissexuais, baseada na fraternidade francesa Arc em Ciel (Arco Iris) criada em 2003. 2- Grande Loja Mista do Rito de Memphis e Misraim. Um rito com 100 graus e o adepto que chega neste grau poderá entrar numa extensão do grau chamada de Centúria Dourada, que é uma extensão do Rito, onde se pratica a Alta Magia (?). (Existe no Brasil em SP, PR, DF, RJ, PA, RS. SC). 3 - Grande Oriente Feminino do Estado Mato Grosso do Sul, cujo primeiro templo próprio foi inaugurado em 2008 em Campo Grande – MS, tendo o suporte para funcionar dado por três Lojas: “Divina Luz do Oriente” nº 01, “Filhas da Luz” nº 02 e “Obreiras da Arte Real” nº 03. Mas dentro destas potências não alinhadas, acreditamos que exista alguma onde os seus adeptos possam estar bem intencionados, onde eles dentro da sua maneira de ser possam estar praticando uma Maçonaria aceitável, mas a maioria delas desenvolvem atividades duvidosas. Uma delas é extorquir dinheiro de pessoas incautas com propaganda enganosa pela imprensa e Internet. A trajetória da Maçonaria no mundo não foi linear. Ela teve momentos de gloria e de situações extremamente difíceis. Foi Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 212 muito perseguida. Mas está aí, de pé. A antimaçonaria foi muito severa e cruel contra a Ordem. Desde as encíclicas papais nos excomungando, aos déspotas como Mussolini, Hitler e Franco que mandaram matar centenas de maçons, às religiões que pululam pelo Brasil adentro nos taxando de fazermos parte da demonologia, aos maçons traidores que escreveram contra a Ordem nos impingindo ritos macabros, o livro o Protocólos dos Sábios do Sion, que tanto mal nos causou e a atual posição das igrejas evangélicasamericanas que têm feito com que milhares de maçons americanos deixem a Maçonaria. Estima-se que atualmente existam cerca de 3.600.000 maçons no mundo, sendo 1.500.000 nos Estados Unidos, 250.000 na Inglaterra, perto de 250.000 no Brasil e 1.600.000 no restante do mundo. (pesquisa do Irmão João Leça-GOP) Não se pode avaliar o futuro da Maçonaria no mundo e no Brasil. Se analisarmos as potências brasileiras ditas regulares que congregam perto de 7000 lojas, veremos que a maior parte dos maçons quer assistir às sessões, e no final ingerir os alimentos e beber algum tipo de bebida nos fundões dos templos perto de onde está a cozinha, geralmente no salão de festas após ir para casa, feliz porque encontraram muitos Amigos e Irmãos e estão felizes. A Maçonaria brasileira vem mantendo uma tradição a qual é necessária, mas em muitos aspectos estão ultrapassada neste século, pelas invenções, achismos, adendos e enxertos. Para uma grande parte de Irmãos tudo isso está bem como está. Eles não leem e está tudo bem, e sentem-se em paz com o GADU. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 213 Mas uma minoria inquieta, ávida de saber, conhecer, raciocinar e vislumbrar outros destinos mais elevados para Ordem está aumentando em número dia a dia. Querem respostas. Mas querem respostas coerentes, transparentes e elucidativas. Querem mais ação. Questionam a vaidade de muitos pavões da Ordem, questionam a síndrome do poder que contamina muitos Irmãos, estão reclamando das invencionices, dos famosos achismos e de enxertos ritualísticos não justificados. Este grupo funciona como guardiões da Ordem e está realmente preocupado com a sobrevivência da mesma. Dentro destas informações e do avanço tecnológico levando em conta que o mundo está mudando sua visão mecanicista para uma visão mais holística, será traçado um perspectiva deste futuro, mas sem compromisso com futuras verdades ou inverdades, porque ele ainda não aconteceu. Serão meras conjecturas. Sonhos, especulações. Especula-se. Será que daqui a 500 a 1000 anos existirão templos? Existirão Igrejas? Haverá necessidade de templos? Qual será a concepção do GADU nesta época? Existirão potências maçônicas? O ser humano vencerá a luta contra a fera bestial que existe dentro de si e terminarão as guerras? E as doenças desaparecerão? A comunicação entre os seres será mais telepática e menos na linguagem comum? Haverá uma ética, uma moral no uso da Internet? Como será a Internet? Haverá sessões maçônicas virtuais? Enfim uma série de perguntas, todas elas baseadas em fatos que temos a nossa disposição no presente, e em cima dos quais podemos Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 214 especular sobre o futuro, mesmo que nossa imaginação esteja errada. Mas podemos fazer uma projeção de ideias. Porque não? Nossa imaginação está além da nossa realidade atual. Mas o que se imagina na mente torna-se realidade. Lojas virtuais? Parece um grupo de maçons da GLUI já tentando antecipar o futuro fundou em 29/01/1998 a “Internet Lodge, nº 9659”. Continuam em atividade, mas parece que a Loja é hibrida, pois tem que ser uma parte dentro do templo, portanto, real. No Brasil fundaram duas Lojas virtuais uma em Brasília fundada pelo pranteado Irmão Castellani e a outra a Loja "Futura” fundada no Grande Oriente Independente de Pernambuco. Não deram certo. A Loja “Futura” existe agora como uma loja normal dentro de sua potência. Atualmente estão sendo planejados e construídos aparelhos capazes de projetar hologramas em qualquer tipo de superfície. Imaginemos hologramas de Irmãos projetados para um espaço virtual que chamaremos de loja, onde esta loja funcionaria normalmente como atualmente, porém de forma virtual. Então o sonho dos irmãos que fundaram lojas virtuais no momento, sem ainda a necessária tecnologia, poderá um dia ser uma realidade. O advento da Informática, Internet, Realidade Virtual, Mecatrônica, Robótica, Nanociência, Neurociências, está mudando completamente a maneira de pensar de todos, mesmo os que não admitem tal avanço. Toda a humanidade já sentindo os seus efeitos. Talvez não hajam mais templos no futuro e sim centros cibernéticos de iniciação maçônica. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 215 Imaginemos o candidato introduzido num recinto cibernético especial e através de um programa de iniciação já pronto, ele poderá vivenciar uma realidade mais intensa e mais verdadeira daquela que conhecemos. Este programa terá todas as fases da iniciação, porem contando com novos valores que por certo aparecerão na sociedade além dos avanços da tecnologia que ajudará este momento. Possivelmente o homem treinará e saberá usar suas faculdades para normais de maneira mais eficiente. A capacidade mental aumentará de 0,8 a 10% para 20% ou será maior? Como se eliminará o lado mau do ser humano, já ele é dualista? Se ele chegar 50% do seu potencial não quererá ser Deus? Como imaginaríamos uma iniciação no futuro? O candidato ingeriria uma pílula de um psico-fármaco, que não produziria efeito secundário danoso à saúde e a duração da sua ação seria tão somente de segundos a minutos tempo esse em que ele vivenciaria sua iniciação. Esta psíco droga causaria a expansão da mente e o candidato entraria em ondas alfa ou teta e desta forma e através do programa instalado e sentiria a natureza como se fora ele próprio. Ele se sentiria ser agua, fogo, ar e terra. Ele se sentiria como se fosse uma parte consciente do GADU. Viajaria por todo o Universo, visitará galáxias distantes, se sentiria no interior de uma folha aprenderia com os sábios e encontraria seu autoconhecimento. Como será Moral e a Ética maçônicas no futuro? A Moral varia na cronicidade das épocas e o que é bom hoje para Maçonaria poderá não ser bom daqui há mil anos. Simplificando segundo Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 216 autores, Moral é estudo e aplicação dos costumes da época e Ética seria a ciência que estuda as regras pertinentes. Qual será o conceito de fraternidade entre os maçons no futuro? Qual será a função do maçom no futuro? Social? Política? Cidadão do Universo? E o conceito do GADU como será? Ou será que a Maçonaria tenderá tão somente ser uma Escola de Vida e de aperfeiçoamento do “eu” interior como muitos Irmãos no momento a concebem? Daqui há mil anos, o Estado tomará conta da saúde, da educação do bem estar do cidadão, da moradia, da segurança. Pouca coisa restará às Instituições como a Maçonaria realizarem. Ou será que o GADU nos reservará um porvir fantástico, maravilhoso que não podemos conceber neste momento? REFERÊNCIAS CARVALHO, Assis Rito & Rituais – Volume 1. Editora “A Trolha” Ltda. Londrina, 1993. CARVALHO, Assis O Aprendiz Maçom- Grau 1. Editora “A Trolha” Ltda. Londrina, 1995 NAUDON, Paul. A Maçonaria. Editora Difusão Europeia do Livro. São Paulo, 1968 PALOU, Jean. A Franco Maçonaria – Simbólica e Iniciática Editora Pensamento. São Paulo. 1964. PETERS, Ambrósio Maçonaria – História e Folosofia. Gráfica e Editora Núcleo Ltda. Curitiba, 1998. TOURRET, Fernand As Chaves da Franco Maçonaria. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1976. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 217 VAROLI Theobaldo Fº Curso de Maçonaria – Simbólica. Editora A Gazeta Maçônica S.A. São Paulo, 1970. LIVRE PENSADOR MAÇÔNICO Ir∴ Hercule Spoladore Dos dicionários: Livre pensador é:(1) Aquele que dúvida ou nega dogmas religiosos. (2) Diz-se do indivíduo cujas opiniões a respeito da religiosidade são formadas com base na razão, independentemente de qualquer autoridade. O assunto é bastante polêmico e gera muitas especulações, pois o homem não sabe definir sua própria condição de ser vivo, porque está aqui na Terra, porque pensa, e sofre por saber que o seu pensar, as suas deduções, as provas não concludentes, não respondem às suas perguntas, não sabe se sua mente subsistirá após a desativação de sua vida, e nem Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 218 como ela foi ativada, se foi ao nascer se foi ou ao formar a fecundação do óvulo pelo espermatozoide no ventre materno. As religiões justamente aproveitando este medo do que está para vir, e mais as incertezas próprias do ser humano, o impregna de tal maneira utilizando para isso de sofismas, cria dogmas, meias verdades, cristalizando em sua mente a existência de um Criador diferente. Não como a Ordem nos ensina quem é e o que é o GADU. Aproveitam um fato o que não deixa de ser lógico, pois alguém criou o universo, mas entre a causa primeira da Criação e a diferença que os dogmas e crenças que as religiões difundem, envenenam completamente o povo, aproveitando-se da ignorância e insignificância do ser humano a qual é avassaladora. O livre pensador maçônico crê no Deus que criou os homens, mas não aceita em hipótese alguma o deus que os homens inventaram. Assim ele será mais livre e terá uma concepção mais justa a respeito do Universo e do seu Criador. Mas ao mesmo tempo ele monitora e contesta concepções cientificas falsas. Não é só sobre dogmas religiosos que ele trabalha. Ele pensa sobre tudo e aceita apenas que se enquadra na sua razão e experiência, e depois de um estudo muito aprofundado desde que este estudo o conduza para o seu próprio bem e para o bem de todos os seres humanos. Isso ele aceita como Verdade. Entre os livres pensadores de um modo geral se incluem os ateus, agnósticos e os racionalistas. O livre Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 219 pensador maçônico usa o racionalismo, mas admite a existência de um Criador do Universo. Ele sabe que não existem estudos suficientes sobre as leis que regem a origem da vida, e também que não existem estudos ou provas sobre as afetivas leis que regem a atividade mental, bem como da parte emocional das pessoas. Desta forma o indivíduo que pensa que raciocina que é curioso, que duvida que contesta e que usa a lógica, a razão, e a coerência ele não tem culpa disso, pois foi assim que ele, não sabe dizer por que, mas foi desta forma que nasceu e veio ao mundo. Foi assim programado com estas capacidades mentais de pesquisar e duvidar. A dúvida é a mola mestra da sabedoria e do conhecimento. Ele conjectura uma série de perguntas que ele gostaria de vê- las respondidas. Mas sofre demais por ser limitado. Ele é obrigado a conviver como sendo verdade, com uma série de mentiras, sofismas lendas, crenças que estão espalhadas por este mundo adentro e afora. Inclusive com seus Irmãos maçons. O ser humano se vê perdido diante dos inúmeros enigmas que se lhe apresentam e ainda percebe que sua mente é incapaz de decifra-los, porque foi programado imperfeito, e além do mais a matéria (corpo) o priva de enxergar e sentir outra realidade, além dos cinco sentidos. Certas reflexões e deduções causam uma dúvida existencial muito grande porque sem as respostas objetivas e verdadeiras Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 220 o indivíduo que simplesmente pensa fica perdido. Por exemplo, quando o ser humano se pergunta: “porque nascí, se não pedi para nascer, porque meus pais foram escolhidos para serem meus pais? E meus irmãos carnais? Coincidência? Sei que o homem é dualista, ora mau e ora bom ao mesmo tempo, mas também pergunto por que tenho que morrer se na idade mais avançada que é a idade da razão, a idade que adquiri muitos conhecimentos que agora seriam de grande utilidade? Porque existem as doenças? Porque nascem crianças com más formações congênitas? Porque doenças malignas devoram jovens? Qual é o papel real dos gens na raça humana. Afinal quem eu sou? Porque ajo desta maneira Porque reajo desta forma? Porque eu mesmo não me entendo bem?”. Evidentemente, não há respostas lógicas. Somos obrigados a conviver com estas incertezas. Fomos criados assim. Programados assim. Mas isto não significa que devemos abandonar tudo por conta da fé religiosa por crendices ou por falsas concepções cientificas, por medo ou acomodação, ou simplesmente, negar tudo isso, sem ter outra opção, ou outra linha de conduta e pensamento. Teremos que contar com o nosso falho e imperfeito raciocínio, nossa inteligência castrada pelos sentidos e através da pesquisa e experiência, e do pouco que sabemos conhecermos melhor o mundo em que vivemos. Isto é possível. Mas justamente embora bloqueada pela matéria (nosso corpo) a mente está muito além desta dita matéria. Os paranormais que bilocam a consciência, ou seja, aqueles indivíduos que Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 221 conseguem que sua mente se expanda além dos cinco sentidos, relatam perfeitamente com segurança após a experiência de bilocação, uma realidade diferente. Nós conhecemos a realidade apenas o que os nossos sentidos permitem. E infelizmente os nossos sentidos nos limitam muito a ponto de percebermos uma realidade imposta por eles. Quase nada sabemos sobre nosso mundo mental. Hermes de Trismegisto declarava que o mundo é mental. Pode- se assim deduzir pelo que ele dizia que a matéria prima do universo é a substância mental. Um novo paradigma holístico veio substituir o antigo paradigma cartesiano-newtoniano. E esta nova maneira de pensar afirma que o universo é uma rede de informações, criadora de toda a realidade física, tem consciência e existe antes da própria matéria. O universo seria autoconsciente. E estamos numa fase da humanidade em que as ciências foram destruindo os antigos personagens das mitologias e deixando de lado os poderosos deuses de outrora. O estudo da mente humana poderá trazer alguma luz. A mente, não sabe o que ela é, mas podemos estudar os seus efeitos e através destes identificar alguns aspectos muito importantes da mesma. Mesmo sem termos respostas para todas estas indagações aqui expostas, o estudo da mente humana vem avançando e revelará algumas respostas que deixem menos dúvidas, mas o mistério da vida e do Universo não nos será revelado. Por esta razão teremos que nos render ante uma Força Maior. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 222 LANDMARQUES, O QUE EU PENSO A RESPEITO... Ir∴ Hercule Spoladore A Maçonaria tem no seu acervo de palavras, no seu vocabulário de uso cotidiano uma complexa terminologia, repleta de figuras, idéias, princípios, explicações, lendas, alegorias, conceitos, sínteses filosóficas, ensinamentos, frases lapidares, etc. que se consubstanciam em termos tais como Iniciação, ritos, graus, emblemas, símbolos, Lojas, Potências, Obediências, Irmãos, Arte Real, isto só para citar alguns poucos, das centenas de vocábulos que por assim dizer, constituem uma verdadeira linguagem superposta à nossa linguagem comum se tornando especial concretizando-se assim a língua maçônica, que é semelhante à língua Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Cadernode Pesquisas Maçônicas 2017-2019 223 normalmente falada no país, mas que quando falada por maçons tem outro significado e só estes a entendem. Esta é uma infinidade de conceitos, leis princípios aparentemente muito complexos que se imbricam como um verdadeiro quebra-cabeça, e somente são acessíveis aos Iniciados, cujas interpretações são de natureza diversa e bastante heterogênea, pois cada adepto tem a sua própria maneira de assimilar os ensinamentos de acordo com as suas concepções mais íntimas, quer sejam agnósticos, deistas ou teistas. Mas de qualquer forma esta linguagem e suas significações são o meio de comunicação e os vetores de suas mensagens, pelas quais os maçons se comunicam. Para tornar mais democrática e livre esta busca, a Maçonaria lança mão das metáforas, das deduções, da meditação introspectiva, das analogias, e especialmente das dúvidas. Para dar ênfase especial à dúvida, a Maçonaria ensina seus adeptos a usar a Dialética que é a arte de se discutir qualquer assunto até a última gota de afirmação e contradição que ele possa oferecer. É uma maneira de se buscar, pesquisando. Para um Maçom estudioso as contradições as incongruências, as polêmicas e os assuntos ainda não esclarecidos ou resolvidos, passíveis de discussões, são o reino de seu aprendizado, que é em última análise a procura incessante de seu autoconhecimento, aliás, fato este que a grande maioria de Irmãos desconhece. Convém ressaltar que se a Maçonaria fosse matemática, isto é com explicações chavões muito certas, muito corretas, possivelmente ela não Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 224 sobreviveria, porque ela tiraria a beleza da dúvida e atrelaria o Irmão a aceitar princípios que não poderiam ser contestados. O maçom é um contestador nato, no bom sentido. Para complicar este interessante e lindo trajeto que o maçom percorrerá durante sua vida, ele deparará com uma série de termos, sobre os quais já se escreveram e ainda se escrevem verdadeiros tratados, muitas das vezes sem se chegar às conclusões satisfatórias tais como regularidade, potências, ecletismo, landmarques (landmarks ou lindeiros), leis, rituais etc. Nesta caminhada as vezes ele parecerá estar na “terra do faz de conta”, mas poderá usar com toda liberdade todos os recursos imagináveis quando poderá ocorrer que ele até duvide de um axioma, que como todos sabemos trata-se de uma verdade indemonstrável, a qual não terá que ser questionada ou provada, e em outras ocasiões, ele procurar outros caminhos, ele poderá até sofismar para poder ter uma pista a mais para perquirir suas verdades e acabar por provar para si que um sofisma sempre será um sofisma e baseia numa premissa falsa. Logo, não poderá um sofisma ter valor. Mas é um caminho que o maçom as vezes adota erradamente. Tais são as opções deliciosas que um Maçom inteligente tem para se encontrar. Neste trajeto místico e intelectual ele não terá que provar nada a quem quer que seja. Ele só terá que provar algo a si mesmo. Eis um dos maiores ensinamentos da Ordem. Mas então com toda esta mixórdia como é que a Ordem sobrevive? Ora, ela sobrevive e vai muito bem. Talvez por saber adequar todos os elementos contraditórios Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 225 mencionados, e por não se reger pelos princípios cartesianos que regem outras instituições afins que se dizem seculares. A Maçonaria tem a sua maneira própria de ser e isso é que a torna linda e intrigante. Não há uma metodologia ser seguida para seu estudo. É a lei do coração, da emoção que fala mais alto. Mas, não podemos abandonar a razão. Isso é muito importante, para evitar os achismos e invenções. Dentro deste raciocínio, os tais de landmarques mencionados constituem um dos terrenos mais contraditórios e, atualmente se questiona e muito até que ponto eles tenham algum valor real para a Maçonaria moderna. Se formos analisá- los, já de início, teremos dificuldades para escolher qual a classificação que abordaremos para estudo, pois existem mais de sessenta. Qual a verdadeira? Qual merecerá ser levada a sério? A de Albert Gallatin Mackey? Porque? A classificação dele está repleta de incongruências. Temos até uma classificação de um maçom brasileiro com 14 artigos, ou seja, a de Joaquim Gervásio de Figueiredo. Existem ainda entre as inúmeras classificações as de Albert Pike, Bob Moris, Jean Pierre Berthelon. Segundo Castellani os landmarques de um modo geral deveriam ser reduzidos a quatro artigos, que seriam as regras principais usadas pela Maçonaria Operativa. Costuma-se citar que os landmarques ou lindeiros são oriundos dos manuscritos antigos também chamados de Old Charges. São apenas apresentados como provindos daqueles Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 226 documentos, pois não havia landmarques na Maçonaria Operativa. Logo, eles não existiam. Foram inventados, não resta a menor dúvida. Comparando-se o que se lê nestes documentos antigos, ou seja, nos Old Charges ou Antigas Obrigações ou Manuscritos e o que se pratica na Maçonaria que atualmente professamos há apenas alguma semelhança vaga com relação aos nossos caminhos atuais. O conteúdo de um dos mais importantes, talvez o maior em importância, o Poema Régio, não vemos como encaixar dentro daquilo que está escrito, na maioria dos artigos da classificação de Mackey e de outros autores, ou mesmo com o que praticamos na Maçonaria atual. . Tomamos os landmarques de Albert G. Mackey como referência, feito por um americano para americanos. Ressalte- se que maioria das 50 Grandes Lojas Americanas nem se manifestaram a respeito deles. Entretanto, muitos brasileiros os tem como verdades imutáveis, como se fossem uma verdadeira bíblia. Ressalte-se mais uma vez que existem mais de sessenta classificações de landmarques espalhadas pelo mundo afora. Modernamente a Maçonaria inglesa adota oito princípios, que são suas regras particulares, adequados à ela como potência que não são landmarques, mas, que são princípios próprios da Grande Loja Unida da Inglaterra. Ela não adota os chamados landmarques. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 227 Seria muito mais inteligente e sincero admitirmos que os ingleses no início da fase especulativa da Ordem, quando criaram a união de Lojas que antes eram livres, e inventaram o termo “Obediência” tiveram que elaborar uma espécie de estatuto para, evidentemente colocar ordem sobre os maçons e lojas sob o comando da Grande Loja de Londres. E estes estatutos ou constituições ou enumeração de deveres e direitos foram baseados nos estatutos das corporações de ofício, e das guildas que já existiam, e principalmente nos estatutos destas corporações, verdadeiras precursoras dos atuais sindicatos e cooperativas, pois os landmarques têm muito mais a ver com estes estatutos do que com os Old Charges. É só ler esta documentação e compara-la, que teremos a evidência desta afirmação. São obrigações e direitos. E assim nasceu o termo “landmark,” inventado por George Payne em 1720, aparecendo pela primeira vez quando ele compilou o Regulamento Geral da Maçonaria Inglesa. No Brasil chamam-se landmarques. Anderson em sua Constituição de 1738, menciona o termo pelo menos duas vezes. Interessante que o conceito de landmarque que temos é que seria uma lei, um marco, uma linha intransponível, que todo maçom não deveria transpô-la, mas que no dia a dia, o que vemos é justamente a transposição deste limite, especialmente pelos dirigentes das potências.Em seu nome mudam-se rituais, ocorrem cisões na Ordem, expulsam-se Irmãos, outros são chamados de irregulares, perjuros e outros tantos epítetos. Os landmarques ajudam muito hoje em dia, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 228 esta autofagia maçônica, pois são muito invocados pelas autoridades maçônicas a todo instante quando querem punir algum Irmão ou uma Loja que não siga a linha política do seu Grão-Mestre. Enfim, na realidade landmarque é uma palavra mágica. Serve para tudo e não serve para nada. Depende de quem a manipule. Todavia, como se fosse uma verdadeira bíblia faz parte do contexto maçônico como tantos outros segmentos da Ordem que atualmente não teriam mais razão de ser. Poderemos aboli-los pura e simplesmente? Talvez não. Se tirarmos os landmarques, da Ordem teremos que repensar e retirar outras lendas outros segmentos esdrúxulos que até então temos sido obrigados a aceita-los. Valeria a pena? Possivelmente não. Estaríamos destruindo em parte uma das nossas fantasias mais bonitas. É uma das peças de toda a terminologia maçônica atual. É bonito pronunciar esta palavra. Nós, entretanto, arriscaríamos a colocá-los como folclore maçônico. Argumentemos. O que é folclore? Entre as várias definições uma delas é o estudo e conhecimento das tradições de um povo, expressas nas suas lendas, crenças canções e costumes. Achamos que ficaria bem, pois estaríamos ainda que, sem razão, pois eles não existiam, mas estão romanticamente ligados à Maçonaria Operativa a qual sempre os entendidos a invocam como tradição ligada às chamadas lendas antigas o que agrada a todos, pois dá aquela sensação de antigüidade. E já é uma situação que data desde os Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 229 primeiros anos da Maçonaria Obedencial, ou seja, quando criaram a chamada potência tendo, portanto uma duração de mais ou menos três séculos. Não será fácil simplesmente aboli- los. Vamos, pois, considera-los, como se fossem uma tradição, pois já faz tanto tempo que foram inventados. Coloca-los como folclore, fica ameno e romântico, não os destrói. Se lermos estas classificações de landmarques que existem no mundo maçônico e os acharmos folclóricos não teremos compromisso com a veracidade daqueles enunciados, os quais são na sua maioria contraditórios, pois cada autor afirma o que quer, e ainda todos aqueles textos entremeados de muitos deveres direitos e ameaças de punições se porventura, infringirmos aquilo que se considera como os seus famosos limites intransponíveis. Se os acharmos folclóricos, vamos ter a sensação ou a ilusão de estarmos tendo acesso a relatos muito antigos e que nossa Ordem é milenar, e esta fantasia faz muito bem a maioria dos maçons. Então, porque destruí-la? Entretanto, não esqueçamos que a Maçonaria como qualquer organização, como qualquer firma, tem que ter regras e princípios para seu perfeito funcionamento, e no caso, boa parte destas regras são baseadas em regras antigas da organização que foram sendo modificadas com o passar do tempo, adequadas à modernidade. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 230 JOSÉ BONIFÁCIO E O APOSTOLADO, OU A NOBRE ORDEM DOS CAVALEIROS DE SANTA CRUZ Ir∴ Hercule Spoladore Esta Ordem foi fundada em 02 de Junho de 1822 por José Bonifácio, quando já estava em plena efervescência o movimento que eclodiria com a Independência do Brasil. Consta como seus fundadores, Bonifácio, D. Pedro de Alcântara, Joaquim Gonçalves Ledo, cônego Januário e o Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 231 irmão carnal de Bonifácio, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva, além de outros. O Grande Oriente Brasílico, Brasiliano ou Brasiliense seria fundado 15 dias após em 17 de Junho. O Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara , que tomou parte na primeira reunião foi eleito por proposta de José Bonifácio, para ocupar o cargo de Arconte-Rei que era o equivalente ao de Grão-Mestre. Ele tomou posse na reunião de 22 de Junho. O Apostolado foi inspirado na Carbonária européia, pois José Bonifácio a conhecera na Europa e se propunha a ser no Brasil, uma organização semelhante ao Areópago de Itambé (1796- Pernambuco) Sua finalidade a exemplo da mesma posição que tomaria o Grande Oriente Brasílico era política tendo como meta principal a Independência do Brasil. Segundo Gondin da Fonseca, “o Apostolado era uma espécie de Loja Maçônica sem ser maçônica” Seu governo principal era a Palestra a qual foi posteriormente dividida em três: “Independência ou Morte” “União e Tranquilidade ” e “Firmeza e Lealdade”. As Palestras se subdividiam em Decúrias. Uma estava localizada no Catete, outra na Rua da Cadeia e outra na Rua São José. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 232 Decúria segundo os dicionários seria um grupo de dez coisas ou indivíduos, mas no Apostolado, cada Decúria tinha doze Apóstolos e um Presidente. O tratamento entre si era camarada e se dividiam em quatro categorias ou graus a saber: Recrutas, Escudeiros, Cavaleiros e Apóstolos. Os profanos eram os “paisanos”. Usavam um lenço no lado direito do peito e a cor os diferenciava. A cor amarela era dos Recrutas, o encarnado ou vermelho para os Escudeiros, azul celeste para os Cavaleiros e branco para os Apóstolos. Era uma sociedade que tinha estatutos, sinais, toques e palavras como na Maçonaria. Aliás, era uma organização maçônica de fins políticos. O primeiro Vigilante chamava-se lugar-tenente . Os membros do Apostolado se denominavam colunas do Trono porque a meta principal era sustentar a monarquia constitucional e guerrear as idéias republicanas. Os novos adeptos faziam o seguinte juramento: “Juro aos Santos Evangelhos guardar escrupulosamente os segredos de meu grau, não comunicando a pessoa alguma Paisana, qualquer coisa que, na qualidade de Recruta, me for confiada, nem tão pouco instruir a alguém o Sinal da Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz, toque, senha, contra-senha correspondente. Juro, finalmente, promover com todas as minhas forças e a custo de minha vida e fazenda a Integridade, Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 233 Independência e Felicidade do Brasil, como Império constitucional, opondo-me tanto ao despotismo que o altera, como à anarquia que o dissolve. Assim Deus me ajude” O Apostolado, esta forma paralela de Maçonaria atuou de forma destacada na Corte até que José Bonifácio e seus irmãos caíram em desgraça em 1823, por não concordarem com o despotismo e as arbitrariedades de D. Pedro I, o qual como Arconte Rei encerrou definitivamente as atividades do Apostolado em 15/07/1823. INTRIGAS PALACIANAS. DESDOBRAMENTOS GRANDE ORIENTE BRASÍLICO- APOSTOLADO ( LEDO VERSUS BONIFÁCIO) O Apostolado e o Grande Oriente Brasílico assumiriam posições antagônicas, mas ambos aspiravam a Independência. Os adeptos de Ledo queriam o rompimento total dos laços com Portugal, sendo que os mais exaltados queriam a república, muito embora, apesar de liberal não fosse essa a posição final de Ledo. Ledo era em realidade monarquista. Já o grupo de Bonifácio, apesar de estar também no Grande Oriente pregava a independência, mas era a favor de uma união luso-brasileira, de tal forma que fossem países autônomos Brasil Portugal e Algarves, porem unidos, e que o regime fossemonarquia constitucional. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 234 Não resta dúvidas, que tanto Ledo como Bonifácio, aspiravam as benesses da Corte. Havia interesses pessoais e políticos em jogo e parece que se detestavam totalmente nesta fase da história. Ambos, lideres impositivos, e inteligentes, porem antagônicos. A Independência do Brasil na ocasião era por uma série de razões, um processo histórico irreversível e segundo Mello Moraes, já estava tudo combinado. Afirmar que José Bonifácio não a queria, como alguns escritores afirmam, não se acredita, e não sem tem respaldo histórico porque ele era um estadista muito esperto e sabia o que iria acontecer e sabia qual era a sua posição. Justificar porque ele a queria na forma monárquica constitucional e união com Portugal, fosse talvez por acreditar que se o Brasil adotasse uma forma de governo mais liberal, seria o caos. E quem sabe, temesse pela Família Real, achando que poderia acontecer o mesmo que aconteceu com a Família Real francesa, onde os nobres foram decapitados. E ressalte- se que nesta época o anarquismo e o carbonarismo andavam em moda. O próprio Ledo foi tachado várias vezes de carbonário. É lógico que hoje, sabemos que ele quando mais jovem por até ter tido idéias republicanas, quando mais maduro, ele fez a sua fé monárquica. Existem documentos comprovando. Mas de qualquer forma estas supostas possibilidades que poderiam ocorrer deviam causar preocupações a Bonifácio. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 235 É provável que Bonifácio que dentro de seu raciocínio, ele estivesse bem intencionado quanto ao futuro do Brasil. Entretanto ele usou de meios drásticos para chegar aos seus fins. D. Pedro quando interpelado a respeito, referia que a finalidade do Grande Oriente e do Apostolado eram as mesmas, mas os membros do Apostolado começaram a solapar o Grande Oriente de todas as formas, por causa da rivalidade dos dois lideres. Até D. Pedro se tornar Grão-Mestre do Grande Oriente a animosidade entres os dois grupos era mais velada. Mas como a eleição de D.Pedro para Grão-Mestre foi feita sem que José Bonifácio soubesse, sendo um golpe bem urdido de Ledo e ele, Bonifácio que era o Grão-Mestre do Grande Oriente Brasílico se sentiu traído. Ficou na espera de uma oportunidade para ir a desforra. A partir deste fato as escaramuças e a hostilidades se sucederam de ambos os lados. Após a Aclamação de D. Pedro ocorrida em 12/10/1822 o grupo de José Bonifácio espalhou a notícia de que os partidários de Gonçalves Ledo pretendiam provocar uma reforma ministerial. José Bonifácio, então ministro do Governo mandou que o Intendente da Polícia exercesse severa vigilância sobre eles, mandando inclusive prender o jornalista João Soares Lisboa, amigo de Ledo. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 236 Além disso, houve um fato que pioraram as suspeitas de Bonifácio. Clemente, Nobrega e Ledo conseguiram do Imperador, a estas alturas, ainda um tanto ingênuo estando de bem com os maçons do Grande Oriente, três assinaturas em branco e o antecipado juramento à Constituição que a Assembléia iria aprovar. Bonifácio fez ver a D.Pedro o absurdo de jurar antecipadamente algo que ainda não existia e convenceu-o a conseguir de volta imediatamente o documento assinado em branco, e ainda sugeriu que fosse fechado o Grande Oriente, pois lá se conspirava contra o governo. O Imperador, envenenado pelas intrigas escreve um bilhete a Ledo numa segunda feira, dia 21/10/1822 “Meu Ledo Convindo fazer certas averiguações tanto publicas, como particulares na M:., mando primo como Imperador, secundo como Gr:. os trabalhos na M M:. que:. se supendão athe Segunda ordem Minha. He o que tenho a participarvos agora Restame reiterar os meus protestos como Ir:. PEDRO GUATIMOZIN, G:. M:. S. Christovão, 21.Obro.1822” P.S. “Hoje mesmo deve ter execução e espero que dure pouco tempo a suspensão porque em breve conseguiremos o fim que deve resultar das averiguações”. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 237 Ledo foi falar diretamente com D. Pedro o qual reconheceu que havia sido influenciado pelo seu Ministro de Estado. Desta forma D. Pedro resolveu que o Grande Oriente voltasse a funcionar e no dia 25/10/1822 envia outro bilhete a Ledo: “Meu I:. Tendo sido outro dia suspendidos nossos augustos trabalhos pelos motivos que vos participei e achando-se hoje concluídas as averiguações vos faço saber que segunda-feira que vem os nossos trabalhos devem recobrar o seu antigo vigor começando pela abertura da G:. L:. em Assembléia Geral. He o que por ora tenho a participarvos para que passando as ordens necessárias assim o executeis. Queria o S:.A:. do U:. darvos fortunas imensas como vos desejo. I:.P:.M:.R:.” Assim , o Grande Oriente fechado no dia 21/10/1822 já poderia ser reaberto novamente no dia 28. Todavia, dados os desdobramentos rápidos dos acontecimentos, não foi isso que aconteceu. Bonifácio sentindo-se traído pelo Imperador, solicita demissão do cargo de ministro, bem como seu irmão carnal Martin Francisco. D. Pedro não conseguiu formar novo ministério. O Apostolado através de seus agentes inflamando o povo nas ruas do Rio de Janeiro, exigia a volta dos Andradas. O Imperador sempre volúvel, indeciso, chama de volta José Bonifácio e seus seguidores, através de um decreto de 30/10/1822. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 238 Uma vez, novamente no poder Bonifácio mandou que fossem presos todos aqueles maçons que julgava ser seus inimigos. Grande parte dos partidários de Ledo foram encarcerados. As prisões ficaram abarrotadas. José Clemente Pereira( Camarão), Luiz Ferreira Nóbrega de Souza Coutinho( Turrene), o cônego Januário da Costa Barbosa (Kant) foram deportados para a França. Outros ficaram presos vários meses, sem estarem acusados de crime algum. Ledo avisado pelo Irmão Januário através de um bilhete, antes deste ser preso, esconde-se em uma chácara de um amigo e a noite disfarçado de uma velha carregando um balaio, foi encontrar-se em Araruama com o amigo e maçom Lourenço Westin, cônsul da Suécia, sendo encaminhado para Buenos Aires, como exilado. Só voltou ao Brasil daí há um ano em 21/10/1823. Entretanto, Bonifácio também teve posteriormente daí há alguns meses, o seu declínio na Corte. Uma vez instalada a constituinte em 03/05/1823, os Andradas queriam que a Assembléia não desse maiores poderes ao Imperador e acusavam este de perseguir brasileiros sem razão, e ainda José Bonifácio era contra a escravidão. Criou inúmeros inimigos entre os fazendeiros. Bonifácio igualmente não confiava na idoneidade moral dos constituintes. No dia 30/06/1823, D. Pedro caiu de um cavalo e fraturou costelas, porisso deixou de freqüentar o Apostolado, onde era o Arconte-Rei. Fala-se que durante esta ausência, os apóstolos começaram a tramar uma conspiração contra o Imperador. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 239 Esta suposta conspiração foi denunciada por meio de uma carta anônima escrita em alemão, que chegou às mãos de D. Pedro no dia 15/07/1823 e que foi traduzida pela Imperatriz Leopoldina. D.Pedro a guisa de discutir assuntos do governo, chama ao Paço o seu Ministro José Bonifácio e com a desculpa que iria “cura-se” das dores, solicita que ele fique conversando coma Imperatriz, que voltaria em seguida. D. Pedro em meio de ligaduras e ataduras, veste sua farda, e a frente de uma tropa de cinqüenta soldados armados e mais alguns oficiais de confiança, se dirige a sede do Apostolado, assentou-se no trono do presidente daquela sessão presidida por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva, com os soldados formando ala desde a entrada do prédio, tomou para si um pequeno cofre, onde eram guardados os documentos da sociedade, dispensou todos os irmãos presentes avisando que a partir daquele momento não haveria mais reuniões no Apostolado sem sua ordem expressa. Bonifácio é obrigado a renunciar como Ministro. Sobrava-lhe ainda o cargo de deputado por São Paulo. Os acontecimentos políticos que ainda estariam por vir apressariam a queda dos Andradas. No dia 15.09.1823 iniciam as discussões sobre a futura Constituição. Em 12/11/1823 D.Pedro dissolve a Constituinte, manda prender os Andradas e outros cidadãos. Exila-os para França em 21/11/1823. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 240 Estava como D.Pedro queria, Ele tinha agora poderes ilimitados e absolutos, um déspota, perfeito autocrata. No meio de tanta animosidade ele havia se tornado um fiel aluno suplantando os dois mestres em matéria de intrigas e brigas e perseguições, só que com um defeito maior, o de tirano alem de conquistador mulherengo . E, muito mal acompanhado pelo seu secretário particular, alcoviteiro Francisco Gomes da Silva o Chalaça, que infelizmente foi maçom. Havia sido negada sua filiação, por “indiferença à causa do pais e imoralidade”, proposta pela Loja nº 2 ‘União e Tranqüilidade” cujo pedido foi discutido na 5ª sessão do Grande Oriente realizada no 22° dia do 4º mês do ano 5882 da V:.L:.( 22/07/1822) conforme consta da ata do Livro de Ouro da Maçonaria Brasileira. Chalaça gaba-se em suas memórias de ter sido o autor da constituição que D. Pedro impôs ao povo brasileiro, onde ele relata que fez uma compilação de constituições européias da Noruega, França e Portugal e que “uma ou outra cosia eu inventei eu mesmo” Refere que introduziu o poder Moderador , alegando que este dispositivo daria poderes maiores ao Imperador acima dos três poderes, Judiciário. Legislativo e Executivo. Ledo, Clemente Pereira, Januário e os demais partidários estavam agora reabilitados. Eles que antigamente combatiam esta forma de governo, parece agora não a enxergavam. Foram obrigados a serem comedidos. Depois que o Grande Oriente e o Apostolado que tiveram seus grêmios fechados pelo Imperador, uniram-se contra ele num Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 241 processo lento de oposição minando aos poucos o trono, o qual viria culminar em 07/04/1831 com a abdicação de D.Pedro I José Bonifácio e Gonçalves Ledo causaram aos maçons atuais profunda frustração histórica. O Brasil precisava naqueles primeiros momentos de nação livres destes dois grandes lideres lado a lado. Ao invés de serem grandes Irmãos e Amigos foram inimigos recíprocos. De certa forma entende-se, pois em nossas lojas atuais, os Irmãos não conseguem tornar pequenas as suas diferenças transformando confrontos de idéias em confrontos pessoais. E ainda ressalte-se que as lojas atuais são apenas lojas maçônicas, e não grêmios políticos como foram o Grande Oriente Brasílico e o Apostolado. Estes dois Irmãos mostraram para a posteridade, o terrível número 2, o número dos contrastes, da dualidade, do antagonismo do sim e do não. Mas também não se deve esquecer que talvez este confronto deva ser necessário para o progresso da humanidade, desde que não seja tão pessoal, mas é provável que até Ledo e Bonifácio se admirassem. Fatos interessantes, ocorreram nestes primeiros 15 anos da novel nação emergente, envolvendo os três personagens principais, D.Pedro, Ledo e Bonifácio. Em 17/06/1822 o próprio Ledo faz aclamar José Bonifácio, Grão-Mestre do Grande Oriente Brasílico, tomando posse em 19/06/1822. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 242 Depois que D. Pedro gostou cargo de Imperador e tornou-se um tirano acabou com Maçonaria e com o Apostolado. Porem, também não se saiu muito bem o primeiro Imperador do Brasil. Uma série de crises políticas e administrativas o levariam a ter que abdicar. José Bonifácio, volta do exílio em 23/07/1829 e num gesto magnânimo aceita ser tutor dos filhos de D.Pedro, antes de sua partida para Portugal, em 07/04/1831. E ainda referiu-se á José Bonifácio “ Ao meu probo honrado patrício cidadão José Bonifácio, meu verdadeiro Amigo” Pergunta-se: Após 06 anos de exílio, onde José Bonifácio, já velho passou até por necessidades na França D. Pedro I teve a coragem de chama-lo “verdadeiro amigo”? E José Bonifácio aceita? Na reinstalação do Grande Oriente Brasílico, agora com o nome de Grande Oriente do Brasil, lá estavam lado a lado José Bonifácio e Gonçalves Ledo, inclusive Ledo escreveu um manifesto para José Bonifácio entregue em 17/02/1832 informando os maçons a reinstalação do Grande Oriente do Brasil, pois havia outro Grande Oriente Brasileiro também conhecido como Grande Oriente do Passeio fundado em 1830 e instalado em 2/06/1831, portanto antes reinstalação do Grande Oriente do Brasil ocorrida em 23/11/1831 que reivindicava ser o verdadeiro sucessor do Grande Oriente Brasílico por um grupo antigo que não se alinhava politicamente nem com o Andrada e nem com Ledo. Se Ledo Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 243 fosse tão inimigo de Bonifácio, ficaria com o outro Grande Oriente, mas no entanto estava lá no Grande Oriente do Brasil apoiando Bonifácio. Quando em 06/04/1838, quando Bonifácio faleceu, Ledo manda que Clemente Pereira fosse á Maçonaria proferir palavras de louvor sobre o ilustre brasileiro que acabara de falecer. Mas em 1822 Bonifácio não mandara prender Ledo? Será que estes três Irmãos se detestavam realmente? O se será foram hipócritas que agiam de acordo com a balança política da época, ora sendo inimigos, ora sendo amigos? Ou foram meros instrumentos da História? Será que estes três grandes lideres maçônicos nacionais foram os inventores de uma situação nacional que hoje o vulgo chama de “tudo acabou em pizza”? O pesquisador fica numa seria dúvida. Realmente, ninguém pode negar eles foram três lideres de personalidades fortes, e que contribuíram e muito para a Independência do Brasil. Quanto ás mazelas pessoais, nenhum Irmão poderá julga-las pois nas lojas atuais acontece a mesma situação. É do ser humano, esta agressividade que revela o lado animal do Homem e estes confrontos pessoais as vezes tão deletérios para a Ordem, jamais terminarão. Com frequência, intrigado, o pesquisador indaga quando medita a respeito: Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 244 Como realmente aconteceram os primórdios de nossa História como país livre? Quem foi realmente D.Pedro I ( Guatimozin)? Quem foi realmente José Bonifácio de Andrada e Silva( Pitágoras)? Quem foi realmente Joaquim Gonçalves Ledo ( Diderot)? REFERÊNCIAS ARÃO, Manoel. História da Maçonaria do Brasil. Recife, 1928 – 1° Volume. ASLAN, Nicola Pequenas Biografias de Grandes Maçons. Rio de Janeiro – Editora Maçônica, 1973 CASTELLANI, José. Os Maçons que fizeram a História do Brasil. São Paulo - Editora Traço, 1989. PROBER,Kurt. Achegas para a História da Maçonaria do Brasil Rio de Janeiro, 1968. Grande Enciclopédia DeltaLarrousse Livro de Ouro da Maçonaria Brasileira(Atas do Grande Oriente Brasílico desde 17/06/1822 á 21/10/1822) Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 245 ADOÇÃO DE LOWTONS E O CULTO DE MITRA (MITRAISMO) Ir∴ Hercule Spoladore A Adoção de Lowtons e o casamento maçônico são talvez as duas cerimônias ritualísticas que podem ser assistidas por profanos em toda a sua totalidade. A Adoção de Lowtons foi acrescentada às cerimonias maçônicas não muito tempo após a fundação da Maçonaria Moderna ou Especulativa, ou seja, a partir de 1717. Segundo José Castellani, Goerge Washington, que nasceu em 1732 foi lowton e iniciado em 04/11/1752 aos vinte anos de idade na Loja Fredericksonburg nº 4 na Virginia. Esta prática foi sido importada da Inglaterra. Era uma cerimônia realizada com muito mais frequência no Brasil há cerca de 20 a 30 anos atrás. Com o advento dos De Molays, APJ (Associação Paramaçônica Juvenil) para jovens do sexo masculino, Arco-íris, Filhas de Jó para as jovens do sexo feminino a partir de 1980, quando o Brasil maçônico importou estas Ordens dos Estados Unidos. A Ordem de De Moaly aceita jovens de 12 a 21 anos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 246 Em função da idade dos jovens serem próximas às idades dos meninos e jovens a serem tornarem adotados quando até jovens de 17 anos poderiam ser adotados, estas novas organizações para maçônicas por sua organização, sua participação dinâmica ritualística, com promoções filantrópicas, na sociedade diminuiu muito a cerimônia de Adoção de Lowtons nas Lojas e que até está em desuso, pois existem lojas mais modernas que nem sabem desta ritualística maçônica. Atualmente apenas um número diminuto de lojas ainda realiza a Adoção de Lowtons. Muitas Lojas não cumprem o compromisso assumido junto ao adotado e o Paraninfo ou Padrinho também não dá atenção que deveria dar ao seu afilhado através de ensinamentos que evidentemente preparariam o lowton para um dia ser maçom. Outros tempos, outros costumes e uma tradição linda está em desuso. Só que a Adoção de Lowtons é uma prática ritualística tipicamente maçônica e não para maçônica. Ainda segundo Castellani a Ordem de Molay foi fundada em 1919 em Kansas City pelo maçom Franck Shermann Land. Foi introduzida no Brasil em 1980 com a criação do Capítulo do Rio de Janeiro sob a liderança do Irmão Alberto Mansur, Grande Soberano do Supremo Conselho REAA, ligado ás GGLL. O termo lowton não existe nos dicionários comuns. É uma palavra cuja origem não está bem esclarecida. Tem outras maneiras de escrever ou de se pronunciar: lawtons, Lewis, luverton, luston ou até sobrinhos. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 247 Atualmente a palavra tem tomado mais o sentido de lobinho ou leãozinho como tradução. Não existe na língua inglesa como termo em seus dicionários. Segundo alguns autores maçônicos, e estes existem muitos, cada qual com sua interpretação, a origem da palavra é muito antiga e estaria ligada a mitologia persa e significaria “jovem lobo”. Diz-se que os filhos dos Iniciados nos Antigos Mistérios usavam uma máscara que simbolizaria o lobo. Este costume originava na crença dos antigos persas, depois incorporada a mitologia egípcia e romana em estreita relação entre o lobo e o sol, a quem o candidato representava durante a iniciação, porque diziam “assim como o rebanho foge e desaparece com a aproximação do lobo, assim as constelações desaparecem diante da luz do sol”. Para os maçons deve se entender por lowton o filho descendente ou dependente adotado por uma loja durante a idade de 7 a 17 anos (minoridade). Existem potências maçônicas que adotam também meninas, o que é discutível não havendo concordância entre a maioria dos autores. A maioria entende que por tradição é uma cerimônia somente para meninos. Trata-se de um compromisso público da loja e do Padrinho ou Paraninfo, que deverão proteger o adotar se se necessário pagar-lhe o estudo até o curso superior e se for órfão, sustenta- lo até a maioridade. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 248 O lowton poderá ser iniciado aos 18 anos de idade, desde que passe pela mesma sistemática de aprovação exigida a qualquer profano e desde que o Pai ou Tutor consinta e pague suas obrigações pecuniárias desde que o jovem não tenha condições até os 21 anos, quando ele poderá receber o grau de Mestre. A cerimônia de Adoção deve realizada no dia 24/06, dia de São João ou em dia próximo á 25 de dezembro, mas existem lojas que o fazem em outras datas como, por exemplo, dia 12 de outubro – Dia da Criança, dia do aniversario da Loja. Mas pode ser em qualquer data, a critério da Diretoria. Não é correto chamar a adoção de lowtons de Batismo Maçônico, pois este erro poderá ser considerado como afronta ás religiões. No ritual de Adoção de Lowtons predominam as práticas mitraicas. Mitra seria filho do deus persa Aura Mazda do Bem, teria nascido em um rochedo em 25 de dezembro também se fala da presença de pastores que o reverenciaram e lhe trouxeram presentes reconhecendo a sua missão à qual estava predestinado. Mitra passou a converter os homens a serem úteis ao seu próximo e principalmente os habilitando para a agricultura. Para tanto teria firmado um pacto com o sol. Terminada sua missão no mundo, Mitra teria participado do banquete sagrado com o sol e subiu aos céus para voltar um dia e conceder a vida eterna a todos os fiéis. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 249 O mitraismo organizado e iniciático como culto ao mesmo tempo como religião politica e militar pode-se se situar a partir do século VI A.C. A iniciação mitraica em si para os adultos era muito complicada. Tinha sete graus. O Iniciando tinha que apresentar provas de coragem física e mental e de fidelidade absoluta. O último grau habilitava o iniciando a uma comunhão mística com o sol, o deus Sol, seu amigo. Usavam o batismo a agua lustral, para lavagem do templo, a purificação dos iniciandos, a agua benta, o sal, abluções ritualísticas e a refeição sagrada a (a comunhão). Guardavam os domingos, os dias santificados, principalmente o dia 25 de dezembro por ser este dia imediato ou próximo do solstício de Inverno, ocasião em que o sol, recomeça a sua volta, partindo do sul do equador e “renascendo” volta a dar vida à terra. Pelas similaridades pode-se se ver onde o cristianismo romano foi buscar suas inspirações no culto de Mitra (fontes persas) São de origem mitraica na adoção de lowtons, a roupa branca que significa a pureza, a decoração das paredes do templo em branco pela mesma razão, agua nas mãos para que elas permaneçam puras, sal na fronte para conduzir o lowtons a ter ideias justas e sadias, a benção dos olhos, o uso do incenso, o mel sobre os lábios para que o iniciando só profira palavras doces, a oferta do pão como fonte de alimento e do vinho. O vinho símbolo da vida que sol traz e para fazer com o iniciando tenha sabedoria e lute pelo bem e o fogo para purifica-lo. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 250 A Maçonaria acrescentou a estes procedimentos o avental, a medalha e as luvas brancas e a Loja desta forma torna o jovem filho adotivo. Por esta razão deve se ter muito cuidado e prudência ao receber estes jovens. Após a cerimônia, deverá ser entregue um diploma, no qual a Loja declara queo lowton foi adotado por ela. Algumas lojas também costumam dar uma pequena medalha com os emblemas maçônicos, onde apareça escrito o nome da Loja, bem como o nome do lowton. Quando se assiste uma bela cerimônia de Adoção de Lowtons vendo aquelas crianças ou então jovens de 14 ou 15 anos, deve-se imaginar que esta cerimônia teve como fonte inspiradora a Antiga Pérsia através do culto de Mitra. Resta a apenas perguntar se o véu que cobre parcialmente a cabeça e faces dos lowtons em sinal de pureza e ingenuidade não teriam reminiscências na já citada máscara do jovem lobo dos Antigos Mistérios, usados pelos antigos seguidores do culto de Mitra. REFERÊNCIAS ASLAN, Nicola – Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. Editora Artenova – Volume II. Rio de Janeiro, 1972. CASTELLANI, José – Cadernos de Estudos Maçônicos – Consultório Maçônico II e III. Editora “A Trolha”. Londrina, 1989 VAROLI, Teobaldo Fº Curso de Maçonaria Simbólica. Editora A Gazeta Maçônica.S.A. São Paulo, 1970 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 251 PRIMEIROS MESTRES MAÇONS DA MAÇONARIA Ir∴ Hercule Spoladore Sabe-se que na Maçonaria antiga até 1725 existiam apenas dois graus, o de aprendiz e o de companheiro. O grau de aprendiz praticamente nasceu com a Maçonaria. Os jovens que trabalhavam na arte de construir eram aprendizes de pedreiros, canteiros, pintores funileiros. Inicialmente aprendiz era também uma função e não grau, mas com o desenvolver da Maçonaria Operativa foi o primeiro grau a aparecer. Existia a figura do mestre de obras que também não era grau e sim função, que era o chefe que ensinava os aprendizes e coordenava os trabalhos da construção. Em 1717 quando foi fundada a primeira obediência maçônica, ou até antes desta época já se previa o aparecimento de mais um grau. As lojas já repletas de maçons aceitos, que começaram a ser recebidos desde há muito tempo. O primeiro a ser recebido no dia 08/06/1600 na Maçonaria Operativa, que não era ligado às construções e sim um abastado fazendeiro foi um Irmão de nome John Boswel, na Loja Capela de Santa Maria (Saint-Mary Chapell) de Edinburgh – Escócia – Portanto, 117 anos antes da fundação da Grande Loja de Londres. A Maçonaria Operativa estava decadente. Estava se renovando. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 252 O grau de aprendiz uma vez criado como grau tinha uma situação estranha. Havia os aprendizes júniores (novos aprendizes) que tomavam assento ao Norte, onde simbolicamente não havia luz e suas funções eram justamente proteger a Loja dos Cowans e bisbilhoteiros e os aprendizes sêniores (aprendizes mais velhos na Ordem) tomavam assento no Sul e suas funções eram atender, recepcionar e dar boas vindas aos estrangeiros. Havia no mesmo grau, uma descriminação de trabalho. Havia duas classes de aprendizes, os velhos e os novos cada qual com funções diferentes. Pelo menos estas informações constam da “Maçonaria Dissecada” (Masonry Dissected) de Samuel Prichard publicado no jornal londrino “The Dally Journal” nos dias 02, 21,23 e 31/10/1730, causando estas informações um verdadeiro escândalo porque foram publicados para profanos os chamados segredos da Maçonaria. E Prichard publicou o ritual praticado antes de 1717, mas com os acréscimos até 1730. Os catecismos (futuros rituais) nas sessões não eram lidos e sim decorados. Prichard passou tudo no papel e publicou no jornal. Considerado traidor na época. O grau de companheiro já tinha sido criado anteriormente. Fala-se dele desde 1598, mas com certeza com prova documental foi criado em 1670. O Manuscrito de Sloane (3) (1640-1700) tem em seu conteúdo uma forma de juramento que sugere a existência de dois graus esotéricos, que seriam o de o de aprendiz e companheiro. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 253 Em 1724 fundou-se em Londres, uma sociedade formada por mestres de obras e músicos que se reunia na Taverna Cabeça da Rainha. O número de homens que fundaram esta sociedade era pequeno, mas tratava-se de pessoas muito cultas e interessadas em música e arquitetura. Foi denominada de Philo Musicae et Arquitecturae Societas Apollini. Seus fundadores eram maçons pertencentes a uma loja, a qual tinha como venerável o Duque de Richmond, que foi em seguida eleito Grão-Mestre da Grande Loja de Londres. Uma das condições para pertencer á esta sociedade era justamente que todos os associados fossem maçons. Esta Sociedade, durante seus trabalhos culturais se transformava em determinada hora em uma loja maçônica simples como eram as sessões na época e fazia por conta própria, de forma irregular as recepções (hoje iniciações) e as elevações. A Sociedade apareceu poucos anos após da fundação da primeira obediência, mais precisamente sete anos, ainda prevalecia a tradição “maçom livre em loja livre”. Adotaram um livro de Constituições da Ordem, no qual hoje depositado na Biblioteca Britânica o qual consta na sua pagina um subtítulo – “Armas e Procedimentos de seus Fundadores”. Quando um mestre de obras exemplar ou um músico talentoso mesmo sendo profano era convidado a pertencer a esta Sociedade, transformavam este local de reuniões profanas em uma loja tosca, muito simples e realizavam a Cerimônia de Recepção, que não era tão rebuscada como as atuais iniciações. Todavia uma das regras da Sociedade era que nenhuma pessoa que não fosse maçom fosse recebida como visitante. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 254 Na sua constituição estão relacionados todos os membros fundadores da mesma, com detalhes de quando e aonde se tornaram maçons. Esta situação causou problemas na novel Grande Loja de Londres, porque isto tudo que está sendo afirmado, estava registrado em atas e especialmente quando os estudiosos pesquisassem as possíveis origens do terceiro grau ficariam surpresos e na duvida. E esta forma de como surgiu o terceiro grau certamente ocasionaria embaraços, mas toda esta história aconteceu assim e está relatada e registrada na Biblioteca da Grande Loja Unida da Inglaterra. Esta Sociedade, por sua conta própria em se considerou fundada em 18/02/1725. Em 22/12/1724, mesmo antes da Sociedade Apollini ser fundada oficialmente num encontro presidido pelo Conde Richmond já grão-mestre ele atuou como Mestre sendo recebido (iniciado) o profano Charles Cotton. Em 18/02/1725 dia da fundação oficial da Sociedade foram elevados a companheiros Charles Cotton, Papillon Bul e M. Thomas Marschal. Em 12/05/1725 foram elevados à Mestre os Irmãos Charles Cotton e Papillon Bull, assim consta das atas da Sociedade, mesmo que este terceiro grau fosse totalmente irregular, por ter sido conferido em sessão de uma sociedade profana e não uma loja. Foi enviada uma carta à Grande Loja de Londres com uma relação de sete Irmãos principais fundadores da e Oficiais Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 255 da Societas Apollini. Parece que a Grande Loja ignorou a comunicação, mas a Sociedade recebeu visita do 2º Grande Vigilante da Grande Loja de Londres em 02/09/1725 e do Primeiro Grande Vigilante em 23/12/1725 e ao que se se sabe no mesmo ano que a Sociedade encerrou suas atividades no inicio de 1726. Mas de qualquer forma esta é a prova primaria do aparecimento dos primeiros mestres maçons do mundo. Não se sabe qual foi critério usado para estes dois Irmãos se tornarem mestres. Há autores que afirmam ter tido o terceiro grau origemna França, mas não comprovam tal afirmação através de documentos. A lenda de Hiran não existia. O primeiro ensaio sobre esta lenda aparece no Manuscrito de Grahan, em 1726, como uma lenda Noaquita em que se menciona a procura do corpo de Noé, pelos seus três filhos Sam Sem e Jafet para descobrirem a palavra secreta da aliança de Noé com Deus. Quando Prichard em 1730 publicou os propalados segredos da Maçonaria, já havia uma versão semelhante, com muita analogia, da versão que conhecemos hoje no terceiro grau. Apenas cinco anos após. Assim de maneira estranha, porem relatada através das atas existentes, é comprovado o aparecimento dos dois primeiros mestres do mundo. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 256 O grau três foi finalmente incorporado ao ritual em 1738. Surge uma dúvida. O Conde de Richmond era grão-mestre, mas era companheiro. E até 1738 os grão-mestres ainda eram companheiros oficialmente. Então como ele pode elevar os dois companheiros ao grau de mestre? Possivelmente isto foi feito de forma irregular, mas de qualquer forma está registrado, sendo uma prova primária indiscutível. Ela é documental. Se já havia outros mestres, estes não foram registrados em documentos hábeis. Mas presume-se que a partir de 1725 começaram a usar o grau de mestre de fato, mas não de direito. A partir de 1738 o grau de mestre foi oficializado. Possivelmente todos os fundadores da Sociedade, se fizeram mestres desde 1725 e a Grande Loja de Londres regular assumiu aos poucos esta situação criada, incluindo seu uso nos rituais oficiais. Afinal de contas naquela época já era necessário que fosse criado o terceiro grau. REFERÊNCIAS CARVALHO, Francisco de Assis. “A Maçonaria –Usos &Costumes. Volume 2. Cadernos de Estudos Maçônicos. Editora “A Trolha Ltda.” Londrina – 1955 PRICHARD, Samuel. “Maçonaria Dissecada” ( Masonry Dissected). Tradução de Xico Trolha. Editora “A Trolha Ltda.” – Londrina – 2002. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 257 A ESTRELA FLAMEJANTE Ir∴ José Carlos Araújo Emblema de divindade. Símbolo misterioso que se revela ao receber o Grau de Companheiro. Brilhante estrela de cinco pontas da qual se irradiam e se desprendem inúmeros raios flamejantes, e no centro da qual encontramos a letra G. Centro maravilhoso de forças propulsoras, atrativa e reguladora da rotação e movimento universal dos astros. Aparece no Grau de Companheiro e representa o espírito que anima o Universo, o principio que anima toda a sabedoria e o poder gerador da natureza. A Estrela Flamejante era símbolo desconhecido pelos pedreiros livres medievais, seu aparecimento na Maçonaria, ocorreu a partir de 1737 e não foi bem aceito em todos os ritos, pois o certo é que os construtores medievais conheciam estrelas apenas como desenho geométrico e não com interpretações ocultas que se introduziram na Maçonaria Especulativa. A Estrela Flamejante, por simbolizar o poder do fogo simboliza a magia, negra ou branca, podendo invocar o bem (se tiver sua ponta para cima) ou o mal (se a ponta estiver direcionada para baixo). Era o símbolo dos alquimistas e ainda hoje é utilizada nos rituais de bruxaria e esoterismo. Ela pode ser tanto de cinco, quanto de seis pontas. Também conhecido como flamante, ou rutilante, pode ser, em Maçonaria, Pentagonal ou Hexagonal. A Pentagonal, ou Pentagrama, ou pentalfa, ou Estrela de Cinco Pontas está presente na maior parte dos ritos (A de Seis Pontas está presente no Rito de York). Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 258 A letra G significa Geometria, Geração, Deus, porque com efeito, tudo na terra e no espaço, obedece às regras da primeira ciência, que é Deus, gerador de tudo que foi criado. O movimento dos astros esta sujeito à Geometria; esta ciência marca e define as dimensões dos corpos e, por ultimo, a forma de todos os seres. A palavra Deus, ou Geração, tem por inicial a letra G em todos os idiomas do hemisfério Norte, onde o simbolismo moderno teve origem. Por isto brilha no centro da estrela de cinco pontas que forma a Penthalfa de Pitágoras, e que entre os Maçons constitui os cinco pontos da perfeição, a saber: Força, Beleza, Sabedoria, Virtude e Caridade. As cinco pontas da Estrela ainda lembram os cinco sentidos que estabelecem a comunicação da alma com o mundo material: TATO, AUDIÇÃO, VISÃO, OLFATO E PALADAR. Essa Estrela misteriosa, para a Maçonaria emblema do gênio que eleva o homem e o impulsiona a grandes feitos, Símbolo desse fogo sagrado, é um dos Símbolos mais interessantes da Franco- Maçonaria, e entra na composição de muitos Graus, especialmente no 2º, no qual serve de distintivo característico. A letra G no interior da Estrela Flamejante, tem vários significados, o primeiro lembra a fagulha divina que nos anima, os demais são: Gnose ou Conhecimento, Gênio ou Dom do Homem, Geometria ou Medida da Extensão e Base da Arquitetura, Geração ou Principio e Perpetuação, e Gravidade ou Atração Universal. O símbolo com a Estrela de cinco pontas é encontrado desde as milenares culturas Egípcia, Hebraica, Greco-Romana, Chinesa, assim como nos estudos da Cabala, da Numerologia e do Taro, nos estudos de Pitágoras, sendo-lhe Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 259 atribuído os mais diversos significados. Por se tratar a mais antiga, a Tradição Egípcia merece destaque especial dos escritores maçônicos, pois o antigo Egito foi um dos centros sagrados de onde surgiu grande parte do saber que contribuiu para dar forma, com sua influencia sobre os filósofos Gregos, a concepção do mundo. Segundo os autores Maçônicos, a herança egípcia foi transmitida à Maçonaria através, fundamentalmente, da Alquimia e do Pitagorismo. Quando a maçonaria quer que a pedra bruta se transforme em pedra cúbica, ela está lembrando ao iniciado que ele deve manter uma luta progressiva e sem tréguas pelo domínio de si mesmo, colocando o próprio ego sobre o mais absoluto controle. Que o Companheiro ao fitar a Estrela Flamejante se lembre que quando conseguirmos o controle total sobre nós mesmos tornamo-nos inteiramente livres e responsáveis e estamos realmente preparados para o exercício da arte real. Isto é difícil de ser alcançado, daí a necessidade de que a luta seja diuturna e sem esmorecimentos. O Pentagrama pode comportar, simbolicamente, várias interpretações, todavia, e antes de mais nada, ele representa a luz da inteligência que nos faz enxergar os problemas interiores e os meios para enfrentá-los, e, por vezes corrigi-los ou vencê-los. Bibliografia; Ritual do Grau de Companheiro, Grande Oriente do Paraná (COMAB), Rito Brasileiro. Camino, Rizzardo da. Simbolismo do 2º grau. Castelani, José, Rodrigues, Raimundo. Editora Maçônica “A Trolha” Londrina – PR. Ir.`. José Carlos de Araújo. ARLS Renovação Londrinense 141/Pesquisa Brasil 45 GOP - Londrina – PR Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 260 PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM DO RITO RASILEIRO Ir∴ José Carlos Araújo Toda a Loja Maçônica exibe, no meio do Templo, um painel relativo ao Grau em que os trabalhos se desenvolvem. Esses painéis geralmente são quadros pintados ou fotografados, onde se encontram reunidos os vários Símbolos e utensílios que serão interpretados nas instruções do Grau. A história desse painel remonta aos tempos em que as reuniões maçônicas eram feitas fora do Templo, ou no tempo em que os Templos Maçônicosainda não existiam. No local onde os Irmãos se reuniam, pintava-se no chão, com carvão ou giz, a área delimitada da “Loja”, o Pavimento Mosaico e outros Símbolos Maçônicos. Ao redor desse riscado, desenhava-se uma Orla Denteada circundada por uma corda com vários nós, e nisso se resumia o Painel da Loja. Terminada a Sessão, a corda era guardada e o desenho apagado. Com o decorrer do tempo, os Símbolos foram confeccionados em metal ou madeira e, quando das reuniões, bastava colocar-se a corda e distribuí-los no espaço assim delimitado. Posteriormente, passou-se a pintar em linóleo ou tapete de pano, onde os Símbolos apareciam fixo e expostos permanentemente, e, terminada a reunião, o tapete era enrolado e guardado para a próxima Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 261 Sessão. Atualmente os painéis das Obediência e Ritos encontra-se mais ou menos padronizados em dimensões e localização, variando de um Rito para outro os desenhos e Símbolos neles contidos, mas todos buscando imprimir as mesmas mensagens e ensinamentos referentes ao Grau em que se trabalha. O atual Painel do Grau de Aprendiz do Rito Brasileiro mostra um quadro artisticamente decorado de madeira simples, objetiva e didática, que passaremos a descrever. Apresenta em primeiro plano três degraus que levam duas Colunas coroadas, cada uma, por três romãs semi- abertas e no fundo, um Pórtico, encimado por um Delta Resplandecente com a letra IOD em seu interior.No Oriente, no Sul e no Ocidente, o Painel apresenta três Janelas Gradeadas. No vértice superior do Pórtico, encontra-se o Compasso e o Esquadro na posição de Loja de Aprendiz, tendo o Compasso as pontas voltadas para o Ocidente. Junto ao capitel da Coluna J, à direita, a figura de um Nível e da coluna B, à esquerda, o Prumo. Á esquerda da Coluna B encontra-se a Pedra Bruta e, á direita da Coluna do Norte J, a Pedra Cúbica. Pouca ferramentas do Aprendiz. Acima do Capitel da Coluna B, á esquerda, alçam-se a acima da Pedra Bruta, encontra-se cruzados, o Maço e o Cinzel, as Lua em Quarto Crescente e, simetricamente, o Sol, á direita; algumas estrelas aparecem distribuídas de forma irregular. A Prancha de Delinear, aparece à esquerda do Capitel da Coluna B, mais ou menos à altura do Prumo. O Painel é circundado por uma corda contendo laços de amor, terminando em borlas em ambas as extremidades. Todo o conjunto é emoldurado por uma Borla Denteada, tendo Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 262 os pontos cardeais em suas respectivas posições. A propósito desses pontos cardeais, observa-se a colocação do Nível e do Prumo no Painel do Grau, localizando o Nível junto à Coluna J, à direita e o Prumo junto à Coluna B, á esquerda, uma vez que o Rito Brasileiro coloca essas Colunas B á direita e J à esquerda de quem adentra no Templo. Acontece, entretanto, que o Painel da Loja deve ser visto por um observador que esteja sentado no Oriente e de frente para o mesmo. Os pontos cardeais inscritos no Painel da Loja de Aprendiz apresentam Norte à direita e o Sul à esquerda. Os três degraus ante o Pórtico existente no Painel são os mesmos que existem no estrado que dá acesso ao Trono do Venerável. As três Janelas Gradeadas existentes nesse Painel significam que os profanos não tem acesso ao Templo e que os Aprendizes, durante seus estágios nesse Grau dele não podem se ausentar: daí o significado das grades nessas janelas. Essas três janelas também simbolizam o itinerário do Sol em seu curso diário. A Janela do Oriente permite a passagem da Luz da Aurora, tão suave e agradável que induz os Obreiros ao trabalho: daí a razão de o Venerável tomar assento no Oriente, para abrir e dirigir os trabalhos. Pela Janela do Meio Dia tem assento o 2º Vigilante, a quem cabe observar o Sol no Meridiano e chamar os Obreiros para o trabalho e mandalos à recreação, a fim de que os trabalhos se executem com ordem e exatidão. Pela Janela do Ocidente entra a luz do Sol Poente, já enfraquecida, que convida à oração e ao repouso; no Ocidente toma acento o 1º Vigilante, a quem cabe solicitar o encerramento dos trabalhos. O desbastamento da Pedra Bruta se consegue com Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 263 o Maço e o Cinzel, que também encontramos no Painel de Aprendiz, já que são suas primeiras ferramentas de trabalho. O Maço e o Cinzel simbolizam a associação entre a inteligência com a Razão, o que permite distinguir-se o bem do mal, o justo do injusto etc. O Maço representa a Vontade e o Poder. Na Oficina de trabalho ele é o Emblema do comando, empunhado pelo Venerável e pelos Vigilantes. Sozinho ele não poderia agir sobre a Pedra Bruta; necessita da ajuda do Cinzel. O Cinzel, que é uma ferramenta cortante, simboliza o principio Ativo, Fálico. A associação dessas duas ferramentas de trabalho simboliza que da força física (Maço) com a força Espiritual (Cinzel), chega- se ao conhecimento da Verdade. O Compasso, como instrumento, serve para traçar circunferências e medir distancias. Como Símbolo, significa a exatidão, a precisão no transporte das medidas. Maçonicamente, o Compasso é o Símbolo da Espiritualidade e o Esquadro simboliza as coisas materiais; por essa razão, quando em Loja de Aprendiz ele se encontra sobre o Compasso; o que significa a prevalência da matéria sobre o espírito. Um dos Símbolos pouco explorado em Loja de Aprendiz é a Romã, fruta originaria da antiga Pérsia, que aparece semi-aberta nos Capitéis das Colunas, simbolizando as Lojas e os Maçons espalhados pela superfície da Terra e lembrando, pelas suas sementes que são intimamente unidas, a fraternidade e a união que devem existir entre todos os povos. A romã simboliza a harmonia social. O Sol, a Lua e as Estrêlas, estampadas no Painel de Aprendiz, significa que o Templo Maçônico é o Símbolo do Universo. A corda com laços de amor, que envolve o Painel do Aprendiz Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 264 lembra o cordel que os Maçons Operativos usavam para delimitar seus canteiros de obras e suas reuniões ao ar livre, proibindo os profanos de se adentrarem no espaço por elas demarcado. Esse emblema também simboliza a união e a fraternidade universal que deve reunir os homens em torno de objetivos comuns. Extraído do Ritual de Aprendiz do Rito Brasileiro. Ir∴ José Carlos de Araújo. CIM 40195 A ∴R ∴L ∴S ∴ Renovação Londrinense 141/Pesquisa Brasil 45 Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 265 RENÉ DESCARTES E SUA FILOSOFIA Ir∴ José Carlos Araújo Nós sabemos apenas “o que” René Descartes estava falando, nós não sabemos o “do quê”. Muitas vezes o autor, ou filósofo, não quer que você saiba de que experiência ele está falando: ele pega a experiência, a transpõe numa idéia, num esquema lógico, e quer que você olhe somente isso, ou seja, no fundo, ele não quer que você entenda o “do quê” ele está falando. Neste caso, a idéia começa a funcionar como uma força hipnótica: ela tem de ser apreciada em si mesma, sem referência à realidade. Nesse caso, o autor está exigindo que você se transponha a um outro mundo de discurso, que não é o mundo do discurso da experiência humana, e que você raciocine e perceba tudo desde aquele patamar puramente inventado que ele colocou para você. Isso não é honesto; nunca é honesto. Descartes se sente desafiado pelo demônio e quer encontrar um ponto de apoio contra ele — um ponto de apoio puramente discursivo elógico, o que não é possível, porque o diabo é um lógico melhor do que ele. Descartes coloca um problema teológico e quer resolvê-lo por meios puramente lógico-analíticos, o que não é possível. A prova de que não é possível é que ele, por duas vezes, no fim, encontra a saída apelando para a fé em Deus — que era exatamente o que ele não queria fazer no começo. Nós vemos que todo o método de Descartes, que historicamente tem a fama de ser Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 266 um dos métodos mais rigorosos e lógicos, não é nada disso: É UMA CAMUFLAGEM DE SUA IMAGINAÇÃO. E aí nós entendemos o René Descartes. Ele tem um problema real, que é esse confronto com o demônio — é o demônio que o engana. Ele percebe de algum modo que o demônio é mais esperto do que ele, que o demônio coloca para a inteligência dele desafios que transcendem a capacidade dela, mas, ao mesmo tempo, ele quer enfrentar o demônio apenas com essa mesma inteligência que já se demonstrou incapaz de enfrentá-lo. Existe um inimigo malicioso, mais inteligente que o René Descartes, o qual ele não pode enfrentar apenas com os seus recursos humanos — tanto que ele vai ter de apelar à explicação de que “Deus é bom e não faria isso comigo”. Bom, mas se era assim, então o problema não se coloca desde o começo. Se era assim, ele deveria ter dito isso na primeira linha e teria acabado o livro já ali, na primeira linha. No caso, então, são enigmas e dificuldades colocados por uma filosofia, mas que são resolvidos em um nível psicológico. E, neste caso, felizmente, eu pude comprovar historicamente o que eu estava dizendo, porque existem dados sobre isso na biografia do René Descartes — não são dados tão evidentes, a maior parte dos biógrafos não chamam a atenção para isso, mas procurando você acha. Sem isso, o que aconteceria? Eu estaria discutindo a filosofia de René Descartes nos termos que ele propôs; mas estes termos não foram feitos para elucidar uma experiência, e sim para encobri-la. Isso quer dizer que, em cima da experiência real, Descartes constrói outro esquema verbal, puramente hipotético, fazendo de conta que está falando da Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 267 realidade, e convida os seus leitores a entrar nesse outro teatrinho, onde naturalmente é ele quem dá as cartas, ele quem dita as regras. Isso não é uma investigação filosófica decente. Que mais tarde isso se tornasse, para toda a filosofia moderna, um ponto de referência, ao ponto de Edmund Husserl dizer que toda filosofia decente tem de partir de onde René Descartes partiu (e de fato a maioria acabou fazendo isso), inaugura uma seqüência de jogos filosóficos, não só inúteis, mas estéreis, onde nunca é possível alcançar a solução dos problemas, porque você estará jogando com cartas marcadas desde o início. Existe um livro excelente do Leszek Kolakowski, um filósofo polonês, sobre a obra de Husserl, onde ele demonstra que tudo o que Husserl tentou fazer é impossível de ser feito. É como Descartes: a proposta já está furada desde o início, não dá para realizar aquilo. Eu mesmo mostrei, em várias aulas (podemos voltar a isso mais tarde), que a filosofia de Kant também é uma proposta inviável — não dá para fazer o que o Kant diz que vai fazer. Então acabam fazendo uma outra coisa, e vão colocando camuflagem em cima de camuflagem, em cima de camuflagem... É por causa desse tipo de investigações que eu acabei chegando à conclusão de que praticamente toda filosofia moderna é uma espécie de empulhação — uma empulhação inteligente, às vezes notável, e que a meio caminho faz muitas descobertas interessantes sobre a realidade, mas nunca referentes aos pontos centrais que o filósofo quer resolver. As filosofias de Platão e Aristóteles se conservam inteiras na sua estrutura geral, embora tenham um monte de erros de detalhe. Já nas Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 268 filosofias modernas é exatamente o contrário: a estrutura geral não vale nada, mas tem uma série de acertos de detalhe que são notáveis. Para chegar a isso, nós temos que apelar a um tipo de investigação imaginativa. Temos que ler Descartes como se lêssemos uma obra de ficção, como se vivêssemos um “sonho acordado dirigido”. Temos que fazer com que aquele depoimento que Descartes apresenta soe nos nossos ouvidos como se fosse a fala de um personagem de teatro que não está explicando ou descrevendo o mundo para nós, mas expressando o seu estado interior, e, por trás deste estado interior, nós temos que descobrir qual é a realidade dos fatos que o deixaram nesse estado. É como o sujeito que está se queixando de que a mulher o abandonou, chorando etc., mas depois você descobre que ela o abandonou porque, quando ela chegou em casa, o encontrou com outra na cama, então ela foi embora. Você parte do estado que ele expressou para a descrição correta da realidade que gerou esse estado. O estado continua sendo válido em si mesmo; ele é verdadeiro em si mesmo, mas enquanto expressão do estado interior do indivíduo, e não enquanto descrição da realidade. É o negócio das famosas “funções da linguagem” do Karl Bühler — ele está na clave expressiva, e não na clave descritiva, na clave nominativa. Então, nós temos que passar o discurso dele de uma clave para a outra. O indivíduo nos diz o que está sentindo, mas nós queremos saber por que ele está sentindo assim, de onde surgiu este sentimento, e daí nós entendemos a situação inteira. Porém, se ele nos esconde os fatos, é porque está querendo nos impor o seu estado interior como se fosse ele Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 269 mesmo o único fato — está querendo nos dominar psicologicamente. Muitos filósofos fazem isso. É precisamente o que não acontece com a filosofia antiga. Isso jamais acontece com Platão e Aristóteles — eles não estão escondendo nada. A realidade da experiência da qual eles partem transparece a todo o momento através dos diálogos de Platão, dos textos de Aristóteles etc. Você sabe do que eles estão falando. Claro que eles podem errar, mas uma coisa é errar, e outra coisa é camuflar. Toda a filosofia dessa época de Descartes é muito marcada por camuflagem, por ser — dentre outros motivos — a época do surgimento da chamada ciência moderna. A ciência moderna quer transpor todas as discussões para um terreno neutro onde tudo possa ser resolvido mediante observações e medições. Nós podemos perguntar: “Por que eles queriam fazer isso se todos os fundadores da ciência moderna eram também ocultistas, alquimistas, magos, gnósticos etc.?” Em grande parte, o surgimento da ciência moderna é uma camuflagem — as experiências reais não estão transpostas plenamente na linguagem final. Há uma seleção, uma seleção da seleção e assim por diante, de modo que no final sobra um terreno muito delimitado e eles não admitem que você saia e discuta as coisas fora desse terreno. Não é possível escrever a história da ciência ou da filosofia moderna sem escrever ao mesmo tempo a história da camuflagem, a história da empulhação. Ir∴ José Carlos de Araújo CIM 40.195 Lojas Renovação Londrinense 141 / Pesquisas Brasil 45- Londrina PR Excerto de aula de Olavo de Carvalho. Loja de Pesquisas Maçônicas Hercule Spoladore - Brasil – N º45 Caderno de Pesquisas Maçônicas 2017-2019 270 TEMPLO MAÇÔNICO SIMBOLISMO DOS ORNAMENTOS DO TEMPLO NO RITO BRASILEIRO (COMAB) Ir∴ José Carlos Araújo O Templo Maçônico é, por si mesmo, um símbolo múltiplo. Constituído por uma construção