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1 
 
 
 
 TUDO SOBRE 
 MARLENE! 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para ela. 
3 
 
ítulo original: Tudo Sobre Marlene! 
Copyright © 2019 por Alberto Alpino 
 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser 
utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem 
autorização por escrito do autor. 
 
Revisão: Cláudio Marcel 
Diagramação e adaptação para ebook: 
Juliana Souza Moreira 
Capa: Diógenes Barros / Alpino 
Foto do autor: Bárbara Rodrigues Sá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
PREFÁCIO 
 
Na metade do ano de 2018, quando alguns amigos me 
sugeriram que reunisse os cartuns de Marlene em um livro, 
eu rejeitei a ideia. Explico. Meu propósito inicial era ter um 
cartum dela a cada quinze dias, dentro do meu perfil no 
Instagram, o @cartuns.alpino. Diante desta projeção, 
decorreriam ainda alguns anos até haver material para 
compor uma coletânea de suas investidas sobre o marido. 
Isso mudou quando comecei a receber mensagens em meu 
Direct. Quase todas diziam o mesmo: “Eu sou a Marlene”. 
Eram de mulheres que estavam então na faixa dos seus 20 a 
50 anos de idade. Em algumas mensagens havia um pouco 
mais do que aquela frase de identificação. Eram relatos 
breves sobre suas vidas amorosas. Alguns eram de 
solteiras, agora frustradas com um namoro ou noivado que 
havia chegado ao fim. Mas a maior parte deles eram de 
mulheres casadas. Algumas delas estavam em processo de 
separação, outras já estavam divorciadas. A maioria se 
encontrava em matrimônios frustrados, curtos e longos. 
Sem possuir nenhum título na área do aconselhamento 
matrimonial ou sexual, me limitei a ler com respeito 
aquelas linhas tão íntimas. 
De tudo o que li, me deparei com um quadro não tão 
surpreendente. Na verdade, trata-se de uma afirmação que 
já ecoa a quase uma década em publicações impressas e na 
 
5 
 
Internet: a sexualidade, a personalidade e o desejo feminino 
ainda assustam os homens. Eles, ainda presos ao papel 
clássico de dominante, se aborrecem e se frustram com 
relacionamentos onde ambos manifestam seus anseios para 
uma vida a dois. 
Resolvi passar então a fazer um cartum semanal. Não 
foi o suficiente. Marlene ganhou postagem diária e seu 
próprio perfil na rede social. Homens e mulheres a 
receberam com entusiasmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
SURGE MARLENE 
 
Na manhã de 19 de março de 2018 peguei o meu 
celular para verificar se haviam mensagens e e-mails com 
urgência de resposta. Eu o havia abandonado sobre o rack 
da sala na noite anterior. Não adquiri até hoje o hábito, tão 
comum em todo o mundo, de deixar o smartphone ao lado 
na cama. Ainda receio um incêndio, uma explosão de 
bateria ou ‘ondas cancerígenas’. Olhei. Havia a média 
normal de e-mails: duas consultas sobre licenciamento de 
cartuns para editoras, um de Rafael Braz, meu editor do 
Caderno Dois do diário capixaba A Gazeta e um do grupo 
Avaaz, pedindo ajuda para salvar baleias. No WhatsApp, 
havia apenas a mensagem da minha irmã Marina e seu 
clássico desejo de “bom dia” com uma imagem de flores. No 
Instagram haviam duas mensagens no Direct. Uma me 
pedia para passar a seguir uma pessoa que eu não conhecia. 
Ela, em reciprocidade, passaria a me seguir. Não passei a 
segui-la. Apaguei. A segunda mensagem era de uma 
seguidora do @cartuns.alpino. Ela dizia em um texto breve: 
“Sigo seus cartuns e amo todos. Alguns parecem terem sido 
feitos para mim. O motivo do meu contato é dizer que meu 
marido já não se interessa mais por mim, sexualmente 
falando. Embora eu tenha tentado lingeries e todas as 
insinuações possíveis. Nada. Não sei se me separo ou se 
 
7 
 
arranjo um amante. Você acha que poderia fazer um cartum 
sobre esse momento da minha vida? Aguardo. Bj.” 
Sem saber o que responder, passei os próximos 
minutos acessando seu perfil, vendo suas fotos, lendo suas 
postagens e tentando entender o que ocorria ali. Ela, com 
37 anos, casada, como havia dito, empresária, mãe de duas 
crianças e vivendo em uma realidade financeira invejável 
para muitos brasileiros. Eu não sabia o que dizer para ela. 
Optei pelo óbvio: “Espero que tudo se resolva. Farei sim o 
cartum e envio para você em seguida. Se gostar, o posto 
aqui no meu Instagram. Bj.” 
Na tarde do dia 28 de março, selecionando algumas 
ideias de minha pasta de rascunhos para transformar umas 
delas no cartum do dia seguinte, me deparei com o esboço, 
com um recado que deixei, me alertando do cartum 
prometido para aquela seguidora. Nas linhas ainda 
indefinidas do desenho, uma esposa curvilínea se insinuava 
para o marido. Ele a rejeitava, com a desculpa de que 
estavam no período da Semana Santa, a tradição católica 
que celebra a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus 
Cristo. Estava escolhido o próximo cartum. 
Dois dias depois, enviei o cartum finalizado para 
aquela esposa. Horas depois ela retornou. Disse 
brevemente que gostou muito e que, se o publicasse, não 
revelasse seu nome. O postei às 18 horas daquele mesmo 
dia. No cartum, a legenda trazia a frase do marido 
aborrecido: “É semana santa, Marlene!.” 
 
8 
 
O cartum recebeu muitos comentários, 4.921 curtidas 
e 18 repostagens. No dia seguinte, como sempre faço, li 
todos os comentários. A maioria elogiava as curvas da 
esposa ou criticava o marido. Comentários como: “A 
semana é santa, mas a Marlene não.”, surgiram várias vezes. 
Outros citavam casos parecidos ou diziam conhecer casais 
como aquele. O que me surpreendeu foi ler dois escritos 
por duas mulheres casadas que diziam viver a mesma 
situação que a personagem. Aquilo me causou um certo 
desconforto e uma dose de preocupação por elas, ao vê-las 
expondo a frustração de suas vidas privadas – e seus 
maridos – em um perfil de humor do Instagram. Esses dois 
comentários obtiveram muitas curtidas e, para minha 
surpresa, nenhum comentário indevido ou deselegante. Por 
trás daquelas dezenas de coraçõezinhos parecia haver uma 
silenciosa declaração de apoio e compreensão. 
Nos dias seguintes, vieram os cartuns sobre vida 
saudável - onde trato de questões sobre exercícios e 
alimentação - e os cartuns sobre vida moderna - onde trato 
do alucinado momento em que o mundo vive em meio ao 
surgimento incessante de novas tecnologias. Tudo seguia 
seu curso normal até o momento em que, ao ler os 
comentários dessas postagens, comecei a me deparar com 
perguntas sobre Marlene: “O que aconteceu com a 
Marlene?”, “Quando vai ter outros cartuns da Marlene?”, 
“Onde está a Marlene?”, “Já passou a Semana Santa. E a 
Marlene?.” 
 
9 
 
 
Entendi que a personagem havia conquistado muitos 
admiradores. Fiz um novo cartum, que foi sucedido por 
outro e outro. E, a cada novo cartum, mais pedidos por eles. 
Resolvi por fim criar no Instagram um perfil exclusivo para 
ela. Escolher um nome não foi tão fácil como eu acreditei 
que seria. Fui surpreendido com uma infinidade de perfis 
com o nome ‘Marlene’. Na verdade, já haviam escolhido os 
melhores: @marlene, @sou.marlene, @a.marlene, 
@marlene_linda, @souamarlene, etc. Por fim, encontrei um 
que casava bem com ela e que ainda não havia sido usado. 
No dia 8 de dezembro, estreava o perfil @marlenesexy. 
 
 
 
10 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
INFLUÊNCIAS 
 
Em janeiro de 2012 aconteceu a estreia da minha 
página de cartuns na edição nacional da revista Playboy, 
publicada pela Editora Abril. O editor Edson Aran havia 
aprovado no dia 14 do mês anterior a minha proposta de 
cinco cartuns mensais que seguiriam o modelo padrão dos 
cartuns da edição norte-americana. Mas, com uma alteração 
que impus: eu retrataria a mulher dos nossos trópicos, com 
suas curvas, sua ‘latinidade’, confiantes e plenas em sua 
sexualidade. Em um contraponto com as mulheres dos 
cartuns dos EUA, as que passei a levar para aquela página,além de serem menos passivas, teriam os seios um pouco 
menores e um bumbum mais acentuado. 
O excelente feedback dos leitores me fez ter certeza 
que estávamos no caminho certo. Revendo alguns cartuns a 
seguir - coletados das edições dos meus cinco anos na 
publicação - vejo que os traços físicos e de personalidade 
que resultariam mais tarde em Marlene, surgiram ali. 
Pacientemente eles aguardavam para eclodirem juntos em 
uma única criatura. 
 
 
 
 
 
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ELE 
 
 
 
 
22 
 
 
No final de 2018, durante um bate-papo dominical que 
passei a ter com os seguidores do @cartuns.alpino, alguém 
perguntou qual era o nome do marido da Marlene. À 
pergunta se seguiram sugestões, vindas de outras pessoas 
interessadas na questão. Dentre elas, a mais curiosa foi 
‘Cornélio’. Eu nunca o adotaria. Cornélio é o nome de um tio 
querido, irmão mais jovem do meu pai. Ele mora em 
Governador Valadares, Minas Gerais, onde o visitei algumas 
vezes, sendo sempre maravilhosamente recebido. Antes 
que eu pudesse responder que havia me decidido por um 
nome, alguém deixou a sugestão: “O marido não deve 
receber um nome. Seria bom deixar aberta a escolha de 
nomes e xingamentos destinados a ele.” 
Apesar de não concordar com a fúria destilada 
semanalmente contra o personagem, achei que aquela era 
uma boa ideia. Uma decisão quase salomônica. De lá para 
cá, ele ganhou inúmeros ‘nomes’. Se eles fossem 
adicionados como sobrenomes, não caberiam em um 
documento de identidade. Como disse, embora até hoje não 
tenha surgido nos cartuns, eu me decidi por um nome: 
Alaor. 
Alaor Sarcinelli é um esposo devotado e apaixonado. 
Mesmo fugindo às tentadoras investidas diárias de sua 
querida Marlene, ele acaba por fim nunca resistindo e se 
entregando. 
 
23 
 
Fisicamente ele não é parecido com o marido da 
leitora que havia me enviado a mensagem que deu origem à 
Marlene. Aliás, totalmente o seu oposto. Optei por fazê-lo 
baixo, com pouco cabelo e peso variável a cada cartum, indo 
do gordinho ao gordão. Na verdade, são traços comuns em 
qualquer homem após os trinta. Ultrapassando esta 
barreira do tempo, encolhemos, o cabelo se vai e a barriga 
se destaca. Eu sei bem o que é isso. Seu cabelo castanho e 
sem brilho é um contraponto ao cabelo afogueado de seu 
par. 
Alaor Sarcinelli, vem de uma longa linhagem de 
pessoas irritadas - com tudo e com todos. Ele nasceu em 
São Paulo, com raízes familiares que remontam o período 
áureo do café e possui uma irmã gêmea, Alana. Seus pais, 
Ágata e Demétrius, são primos em segundo grau – um 
casamento à moda antiga, por conveniência, para manter o 
negócio restrito à família. O casal mora fora do país, sem 
fixar residência por muito tempo nos países que visitam. 
Segundo eles: “Levamos pouco tempo para passar a odiar 
novas lugares e pessoas.” 
Ao contrário dos pais e da irmã, Alaor não gosta de 
viajar. Ele prefere o conforto do lar aconchegante que criou 
com Marlene em São Paulo. 
Com a aposentadoria precoce dos pais e diante do 
desinteresse declarado da irmã pelo mundo dos negócios, 
ele permanece à frente da pequena empresa de exportação 
da família, a ‘FOI!’ 
 
24 
 
ELA 
 
 
 
25 
 
A escolha do nome Marlene me ocorreu após lembrar 
de uma curta matéria lida em uma revista na década de 90, 
enquanto aguardava ser atendido por Santana – não o 
músico mexicano - o meu barbeiro. Ela listava os nomes que 
haviam deixado de ser moda com o passar do tempo e que 
voltavam a serem populares. No texto, dentre alguns nomes 
meigos, havia Marlene. Agora que eu fechava a legenda do 
primeiro cartum da personagem, pesquisei no Google o seu 
significado e a origem do nome. Descobri que foi em 1960 
que Marlene teve seu pico de registros nacionais, com mais 
de 100 mil pessoas. E, além de ser o belo resultado da fusão 
de Maria – o nome da minha mãe – e Madalena, que vem do 
grego Magdaléne, quer dizer “a que vem de Magdala”, uma 
aldeia próxima ao Mar da Galiléia, que significa “torre” em 
hebraico. O nome da personagem sedutora a ser rejeitada 
por ocasião da Semana Santa estava escolhido. 
Do seu home office, a diretora de marketing online 
Marlene Hervé Montalbán, especialista em contratos 
publicitários na Web, cria campanhas para a promoção de 
produtos. 
Ela nasceu no dia 28 de março, na cidade de São Paulo. 
Ela é o único fruto da união do casal de médicos: a paulista 
com ascendência francesa, Penélope Hervé e do espanhol, 
brasileiro naturalizado, Ulisses Montalbán. 
Sua infância e juventude transcorreram no bairro 
Campos Elíseos, na cidade de São Paulo. O casal Hervé-
Montalbán escolheu o lugar para seu lar levando em 
 
26 
 
consideração a beleza daquele que foi o primeiro bairro 
planejado da cidade e a comodidade de ambos estarem 
próximos de seus consultórios, instalados na Alameda 
Barão de Limeira. Segundo eles: “Sempre foi prazeroso sair 
de mãos dadas pela rua e caminhar até o mesmo prédio, 
onde nos despedíamos no elevador.” Ele ficava no décimo 
andar e ela no décimo primeiro. 
Não posso dizer muito sobre a aparência da mulher 
que originou a personagem Marlene. Como ela ainda segue 
todas as postagens, algumas vezes comentando, facilmente 
ela poderia ser identificada entre os seguidores de 
@marlenesexy. Sua identidade, tal como a do Zorro, 
permanecerá selada em meus lábios de Bernardo, o fiel e 
mudo criado de Don Diego de La Vega. O que posso dizer, é 
que ela possui todo o espírito de Marlene e que a ela devo 
uma imensa gratidão por dividir comigo - e agora com o 
mundo - um pouco de si. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
NÓS 
 
Naquela manhã de janeiro, minha mãe levava minha 
irmã e eu à pracinha para brincarmos. Segundo ela nos 
informou, aquela era a última vez. Seria então a minha 
terceira despedida da cidade de São Paulo. No caminho até 
ali fui me despedindo do nosso bairro e da nossa casa, que 
estava na família a mais de cem anos. Meu bisavô a havia 
construído para as estadias longe da sua fazenda de café. 
Meu bisavô era rico. Meu avô, mais ou menos rico. Meus 
pais, Ágata e Demétrius, eram primos em segundo grau e 
criaram uma pequena exportadora de café. Não éramos 
nem ricos como meu bisavô e nem menos ricos como meu 
avô. Éramos ‘bem de vida’. 
Meus pais haviam decidido deixar o país, mais uma 
vez. Era a terceira mudança para ‘novos ares’ desde que 
nasci. Eles não gostavam de permanecer muito tempo no 
mesmo lugar. Segundo minha mãe: “Levamos pouco tempo 
para passar a odiar novas lugares e pessoas.” 
Poucos meses após meu nascimento, mudamos para 
Buenos Aires, na Argentina. Voltamos para São Paulo um 
ano depois. Passados dois anos, minha irmã nasceu e 
mudamos para Montevidéu, no Uruguai. Voltamos para 
nossa casa ancestral quatro anos depois. Agora, nosso novo 
destino estava definido: Granada, na Espanha. Semanas 
mais tarde, já residindo lá, descobri para minha desilusão 
que não havia granadas em Granada, mas touros. Muitos. 
Meu pai deixava à cargo de minha mãe a livre escolha 
do destino de nossas viagens. Ele tinha apenas uma 
exigência: o lugar deveria possuir um idioma igual ou 
 
28 
 
similar ao nosso português. Como ele mesmo gosta de 
afirmar: “Detesto ser obrigado a aprender línguas idiotas.” 
Voltando àquela manhã na pracinha, minha mãe 
estava ocupada com minha irmã Alana e discutindo com 
alguém sobre um motivo qualquer que já não me recordo. 
Eu me dirigi à caixa de areia, onde planejava brincar 
sozinho com meu caminhão de boi e o planejado e 
sangrento atropelamento de um dos meus bonecos. Em 
instantes, eu estava absorvido em minha brincadeira. Uma 
sombra se projetou sobre mim. Assim que ergui acabeça, a 
vi. Era um anjo de cabelos avermelhados. Tal como na 
enciclopédia, quando li sobre as obras dos artistas 
europeus no Renascimento. Ela sorria e, sem cerimônia, 
sentou na areia, pertinho de mim. Colocou sobre seu colo 
uma boneca e coisas de cabelos de menina. Muitas coisas de 
cabelos de menina. Ela se apresentou: “Marlene”. Já eu, 
demorei um pouco para lembrar e pronunciar o meu nome: 
A... Ala... Alaor. 
Em poucos momentos ela já havia me contado que 
morava ali perto, como eu. Que seus pais eram médicos e 
ela não tinha medo de injeção ou Merthiolate. Eu falei dos 
meus pais, de nossas mudanças e sobre a próxima, que 
ocorreria dentro de alguns dias. 
Nos despedimos sem que eu o quisesse. Minha mãe se 
aproximou e me disse lacônica: “Vamos!” 
Fomos para casa. Restava embalar nossas últimas 
coisas. Uma parte seguiria conosco, a outra seria levada por 
um pequeno caminhão até o navio. Pedi à minha mãe se 
poderíamos ir mais uma vez à praça para brincar. Na 
verdade, eu queria mesmo era encontrar a menina de 
cabelos vermelhos para me despedir adequadamente, como 
um cavalheiro e não como um degredado, condenado ao 
 
29 
 
 
 
 
exílio. Ou, pelo menos fazê-lo melhor do que dizer “tchau” 
sendo arrastado pela minha mãe. A resposta que ouvi ao 
meu pedido foi algo como um grunhido e “Arrume suas 
coisas, antes que eu mude de ideia e o deixe morando com 
os vizinhos”. Partimos para nosso destino espanhol dois 
dias depois. 
 
30 
 
Só voltaria a ver a garota do cabelo vermelho quando 
eu tinha dezesseis anos e havíamos retornado da Espanha. 
Desta vez, para ficarmos definitivamente. O motivo da 
decisão de meus pais de voltarem ao Brasil foi a má 
administração de nossa pequena empresa de exportação 
nas mãos – segundo meu pai – de um idiota diplomado. Eles 
haviam decidido que só alguém da família poderia gerir o 
patrimônio da família Sarcinelli: eu. 
Meus progenitores esperavam o seguinte: que eu 
concluísse o colegial e cursasse em seguida Administração e 
Comércio Exterior. Ao mesmo tempo, de preferência. E lá 
fui eu. 
Ao chegar atrasado no colégio naquela manhã, fui à 
Secretaria fazer a minha matrícula e segui correndo até a 
sala de aula. Pedi a autorização do professor e sentei na 
primeira cadeira vazia. Peguei o meu caderno e o pus sobre 
a mesa, junto de lápis, caneta e borracha Mercur. Noto 
então uma sombra à minha frente. Quando ergui meus 
olhos, eu a vi. Era uma deusa de cabelos avermelhados. Tal 
como nas revistas que minha mãe rasgou ao encontrá-las 
embaixo do meu colchão na Espanha. 
Ela sorria e, sem cerimônia, me disse: “Você sentou no 
meu lugar...”. Só então percebi os cadernos embaixo da 
carteira e um lápis roxo, com uma peninha rosa colada no 
topo. Balbuciando algo, eu já me levantava para procurar 
um outro lugar ao mesmo tempo que minha cabeça pensava 
em coisas espirituosas que poderia dizer sobre a minha 
distração. Mas só me ocorria uma piada boba sobre touros 
numa campina. Ela tocou em meu ombro e disse aquelas 
que nos dias seguintes seriam para mim as mais lindas 
palavras do idioma português: “Pode ficar. Eu sento atrás 
de você. Vê? Ela está vazia.” 
 
31 
 
Sorri, balbuciando mais uma vez um agradecimento 
enquanto tentava - mais uma vez - pensar em coisas 
espirituosas que poderia dizer. E, mais uma vez, em meu 
cérebro lá estava apenas a piada idiota sobre touros numa 
campina. O que consegui dizer, não era de fato para ser dito 
a ela, mas uma nota mental: “Passei tempo demais na 
Espanha...”. Ela sorriu, sem entender. Mas sorriu. O gelo 
estava quebrado. 
No recreio eu não passei a integrar nenhum grupo. 
Haviam o grupo dos filhinhos de papai, o dos encrenqueiros 
e os dos CDF. Eu não era um grande fã de grupos ou de 
pessoas. Resolvi andar pelo pátio enorme. Para todos os 
efeitos, caso alguém me notasse e perguntasse o que fazia, 
eu estava interessado nas estruturas do prédio. Olhando 
todas aquelas paredes laranja atijoladas eu tentava 
descobrir se eram sólidas ou se já mostravam algum 
desgaste imposto pelo tempo. Ao caminhar em minha 
voluntária ‘inspeção’ notei Marlene, sentada sozinha, 
radiante como o sol que a banhava, imersa em um livro. 
Não me aproximei, demonstrando meu total foco na 
arquitetura e solidez do prédio que nos abrigava. Um braço 
para trás e uma mão no queixo ajudavam – eu acreditava – 
a me dar uma aparência mais madura que os outros 
rapazes da minha idade. Nos dois dias seguintes, agora 
fingindo fiscalizar o chão do pátio, cheguei à conclusão que 
ela, como eu, não se enquadrava. Notei que não sentava 
com outras meninas durante aquele intervalo diário. Ela 
também não aderia a grupos de meninas, que se moviam 
literalmente como manadas durante o recreio. 
Na sala, desde aquele primeiro dia em diante, 
mantivemos a mesma posição das cadeiras: uma ao lado da 
 
32 
 
outra. Mesmo quando eu tive caspa – um curto período – 
ela continuou ao meu lado. 
A amizade cresceu. Pela manhã, eu passava pelo seu 
prédio para aguardá-la e a acompanhava até a escola, onde 
sentaríamos juntos pelos dois próximos dois anos. Na saída, 
íamos sempre embora juntos. Na portaria ela sempre me 
chamava para subir e almoçar com a família dela. Sempre 
recusei. Mas, por conta de trabalhos escolares, eu fui 
finalmente à sua casa e conheci seus pais. Pessoas 
maravilhosas. Um outro trabalho escolar a levaria à minha 
casa, onde conheceu meus pais e minha irmã. Nesse dia, 
assim que Marlene foi embora, ouvi em coro algo inédito de 
minha irmã, mãe e pai: “Gostei dela”. Ouvir tal declaração 
em minha família me fez expressar abertamente em alto e 
bom som algo também inédito: “Quero me casar com ela”. 
Silêncio naquela sala com ornamentos antigos, linhas 
circulares e retas de sua decoração art déco. Emendei 
ponderado: “Algum dia”. 
Atentei para um fato. Para que esse ‘algum dia’ 
chegasse, eu primeiro precisaria saber a opinião dela sobre 
o assunto, já que era a metade interessada. No dia seguinte 
e nas semanas posteriores, todo assunto entre nós dois – a 
nova temporada de Além da Imaginação, o frustrado 
projeto do bigode do professor de química, etc - parecia 
terminar perdido entre as paredes de um labirinto, sem me 
permitir encontrar a saída para dizer: “Quer namorar 
comigo?” 
Numa quarta-feira chuvosa, que antecederia o feriado 
prolongado, eu a levava embaixo do meu guarda-chuva de 
cabo de bambu e chifre que havia pertencido ao meu avô. A 
chuva repentina a havia pego de surpresa. O aguaceiro que 
caia só não me pegou também desprevenido pois em dias 
 
33 
 
nublados eu gostava de sair com aquele elegante guarda-
chuva dos anos 30, mesmo não o abrindo na maioria das 
vezes. Mas, deixando de lado a descrição do artigo fino, 
voltemos ao meu ato de cavalheirismo. Eu a protegia dos 
pingos junto ao meu ombro esquerdo, enquanto todo o meu 
lado direito se ensopava. Após um trovão, que parecia ter 
sacudido o céu, aproveitei o ato divino e disse: “Eu te amo.” 
 Ela sorriu e disse algo que não ouvi por conta do 
segundo trovão. Ela notou e repetiu ruborizada e olhando 
nos meus olhos: “Você vai ter que adivinhar de quem eu 
gosto. É uma charada. Eu gosto secretamente de uma 
pessoa que você conhece melhor do que ninguém.” 
Antes que eu pudesse dizer que detestava charadas, 
ela sorriu e disse entrando em seu prédio: “Na segunda-
feira você me diz se adivinhou...” 
Nunca odiei tanto um feriado prolongado. As horas se 
arrastavam e nem a nova temporada de Além da 
Imaginação – me perdoe Rod Serling - me fez esquecer a 
elucidação da tal charada que se opunha ao meu destino 
idealizado com Marlene. Chegou a segunda-feira. Ao 
encontrar Marlene, fui logo dizendo sobre o meu imenso 
ódio por charadas, adivinhações e jogos de azar. Ela disse a 
frase que mudaria toda a minha vida: “É você, seu 
ranzinza...” 
Começamos a namorar. Eu, meio tímido. Ela, sem 
timidez alguma. Como eu, ela nunca havia namorado antes, 
mas os temas ‘contato físico’ e ‘relações amorosas’ era 
corriqueiramente,amplamente e naturalmente debatidos 
por seus pais médicos. Em seu apartamento havia farta 
literatura e documentários versando sobre a saudável 
relação biológica que leva os seres à procriação. Em uma 
das vezes em que jantei com seus pais, assistimos um vídeo 
 
34 
 
sobre a vida selvagem nas savanas. Tento até hoje esquecer 
a parte sobre o acasalamento de um casal de hipopótamos. 
Não era uma produção do senhor Walt Disney, tenho 
certeza. 
 
 
 
 
 
 
35 
 
Com o fim do colegial, passamos ao preparatório para 
o vestibular. Eu tinha a ambição de cuidar do negócio 
familiar e cursar ao mesmo tempo Administração e 
Mercado Exterior. Ela, se inclinava para um campo ainda 
em seu nascedouro, o mercado digital. Ela optou por 
Marketing. Ao fim da faculdade estávamos noivos. E ainda 
não havíamos feito sexo. Parece meio exótico em nossos 
tempos, mas decidimos esperar. Assumi o controle de nossa 
pequena exportadora. Debatemos e chegamos à conclusão 
que não deveríamos morar nem com meus pais e nem com 
os dela após o casamento. Alugaríamos um pequeno 
apartamento e faríamos economia para um carro. Os pais 
dela discordaram e nos impediram de gastar dinheiro com 
o aluguel de um imóvel. Nos deram as chaves de uma casa 
no nosso próprio bairro. Era uma construção dos anos 40, 
mas totalmente reformada e adaptada para nos receber. 
Meus pais também quiseram ajudar e nos deram um 
automóvel. As economias que Marlene e eu havíamos 
juntado para darmos entrada em um carro e uma íntima 
festa de casamento, foram guardadas. Agora que já 
tínhamos um lugar para morar e um transporte próprio, 
fomo surpreendidos com um outro presente. Os pais dela e 
os meus juntaram um montante em um cheque para que 
fizéssemos uma festa de casamento como bem 
entendêssemos. Optamos pela mesma celebração íntima 
pela qual já havíamos decidido e decidimos gastar o 
restante em nossa lua de mel. O lugar havia sido escolhido 
dois anos antes. Estávamos então sentados na mesa externa 
de nossa cafeteria favorita - um recanto de casais - 
pensando no assunto, quando notei um folheto de viagens 
embaixo do meu tênis. Não importando se ele foi trazido de 
longe pelo vento, obra da mãe natureza ou do dono da 
 
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empresa de viagens da esquina, o destino estava definido. 
Seriam duas semanas em Madagascar, a bucólica ilha ao 
largo da costa sudeste da África. 
 
 
 
 
 
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Às 11 horas do dia 8 de agosto, estávamos os dois em 
frente ao padre que nos casaria. Os pais dela estavam 
emocionados e vi lágrimas. Os meus pais apenas 
murmuravam algo sobre odiarem vários dos nossos 
parentes que foram convidados. Quando aquele ritual 
milenar já se aproximava do término, tentei tocar 
discretamente a mão de Marlene para obter aquela calma 
que ela sempre me emprestava. Parecia telepatia, pois a 
mão dela também estava buscando a minha. Ela encostou 
seu ombro ao meu, passando em seguida seu braço 
próximo ao meu pescoço. Quando notei, ela já estava 
instalada sobre meus ombros – não lembro como ela 
chegou lá - e dali ia respondendo ao questionário do 
sacerdote. Apesar de não termos ensaiado assim no dia 
anterior, acredito que aquele gesto fosse algo proveniente 
daqueles vídeos da vida selvagem que seus pais 
colecionavam. Dali de cima, ela foi dizendo olhando para 
mim: “Prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e 
na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, 
por todos os dias da nossa vida.” 
Posso afirmar que a festa foi ‘esquecível’. Meus pais 
fizeram uso daquele momento descontraído e de reunião 
familiar para deixar claro para todos os nossos parentes 
por quais motivos não gostavam deles. Os dois tiveram a 
disposição de fazer isso com todos eles, um a um. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Viajamos na mesma noite. Nossa primeira vez foi no 
bangalô número 9 do Le Grand Bleu, um hotel duas estrelas, 
mas com uma praia particular na ilha de Nosy Be. Descobri 
que Marlene gosta muito de sexo. Sim, ela gosta. Seu vigor e 
naturalidade nesse campo me fez querer ter visto mais 
daqueles vídeos da coleção de seus pais. No alvorecer do 
nosso segundo dia, o nosso quarto parecia ter sido invadido 
por uma horda de vikings. Quebramos a cama. 
 
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Homens que estiverem lendo essas linhas, esqueçam o 
que nos disseram sobre ‘mulheres não gostarem de sexo’. 
Aprendi que elas gostam sim de sexo, se ele for feito com 
desejo, entrega e reciprocidade. Para a mulher, o sexo é 
muito diferente do filme pornô que nós homens 
acreditamos ser o sexo. 
 
 
 
 
 
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Nos próximos dias de nossa lua de mel, descobri com 
Marlene prazeres que não sabia existirem na conjunção de 
um casal de amantes. Se nos vissem, aqueles hipopótamos 
ficariam corados. Falando neles, embora estivéssemos no 
continente africano, não vimos hipopótamos correndo ou 
acasalando. 
 
 
 
 
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Aqui listo sete coisas que aprendi sobre sexo naqueles 
dias quentes e nas noites de brisa daquele paraíso 
desenhado pelo Criador e preservado pelo homem: 
 
1. Demonstre desejo 
2. Seja reciproco 
3. Reserve tempo para cada parte do corpo dela 
4. Use MUITO lábios e língua 
5. Alterne entre o vigor e a delicadeza 
6. Barulho é tão importante quanto sussurros 
7. Mãos na cintura e cabelo 
 
Dentre muitas fotos da lua de mel, poucas registraram 
tão bem aqueles dias de paixão como as repetidas fotos mal 
tiradas e tremidas feitas em nosso passeio de balão. 
Após duas semanas, dissemos adeus à Madagascar, 
prometendo regressar. Em nossa volta ao Brasil e nosso 
primeiro lar, continuei a aprender a amar Marlene de todas 
as formas conhecidas e com algumas que ela mesma criou. 
Nem sempre estou na mesma sintonia que ela em sua 
disposição contínua de fazer amor e me surpreender, mas 
acabo sempre cedendo. Somos felizes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ALPINO 
 
 
 
Alberto Correia de Alpino Filho nasceu no dia 4 de junho de 
1970, na cidade de Baixo Guandu, Espírito Santo. Sexto filho 
do guarda-chaves da Vale do Rio Doce, Alberto Correia de 
Alpino e da dona de casa, Maria Neves de Alpino. O casal 
 
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teve oito filhos. Em 1978 a família se muda para o interior 
de João Neiva, a pequena Piraqueaçu, onde ficava a estação 
de trem na qual Alberto pai iria desempenhar novas 
funções. Em 1983, com sua aposentadoria, outra mudança, 
desta vez para a cidade de João Neiva. Ali, Alpino teria seu 
primeiro contato com a arte impressa, com seu ingresso 
como chapista na Gráfica Herculis, aos 17 anos. Em 1993, 
após a empresa adquirir um computador e uma impressora 
que viria a substituir a suafunção, ele aceita a oferta de algo 
bem distante de seu campo: guarda bancário na agência do 
Banestes, na cidade vizinha, Ibiraçu. “Meu posto não era na 
agência, mas no seu andar superior. Me tornei responsável 
pela segurança do Cense, o departamento de correção das 
agências bancárias da região. Eu era muito bem 
remunerado, tinha um uniforme caqui que dava coceira, um 
revólver Rossi 38 e um cassetete de borracha. Nos quase 
dois anos em que desempenhei a profissão, não precisei 
usar nem um nem o outro. Não havia dinheiro naquele 
departamento, apenas listas impressas das transações 
financeiras feitas durante o dia pelos caixas dos bancos, 
decorrendo daí o desinteresse de assaltantes por aquele 
departamento.” 
No fim de 1994, ele consegue retornar à sua área na 
agência publicitária M&M, ilustrando cartilhas educativas 
para o Governo Federal. Ali toma contato com profissionais 
dos quadrinhos capixabas. Em novembro de 2001 sua tira 
Luzia estreia no diário A Gazeta. Nos dois anos seguintes, 
 
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cria A Doce Vida, Super Dog e Samanta. Esta última, leva o 
nome de sua filha nascida em agosto de 2002. A 
personagem ganha espaço nos jornais nacionais, passando 
a ser publicada diariamente em O Sul, Jornal do Brasil, A 
Crítica e Agora-SP. Em Abril de 2010 começa a produzir a 
charge diária do portal de comunicação Yahoo!Brasil. Em 
janeiro de 2011, se une ao corpo de ilustradores do jornal 
Folha de São Paulo. Em janeiro do ano seguinte, a edição 
nacional da revista Playboy passa a contar com sua página 
mensal de cinco cartuns com teor erótico light. Hoje, 
residindo em Vitória, capital do Espírito Santo, seu estúdio 
licencia cartuns e charges, produz ilustrações para jornais e 
revistas e apresenta diariamente seus cartuns para seus 
dois perfis no Instagram, o @cartuns.alpino e 
@marlenesexy.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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