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PROFESSORES Dra. Jéssica de Carvalho Lima Me. Paula Polastri Gerenciamento de Resíduos ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! EXPEDIENTE Coordenador(a) de Conteúdo Gustavo Affonso Pisano Mateus Projeto Gráfico e Capa André Morais, Arthur Cantareli e Matheus Silva Editoração Matheus Silva de Souza Design Educacional Daniele Bellese dos Santos Curadoria Carla Fernanda Marek Revisão Textual Sarah Mariana Longo Carrenho Cocato Ilustração Bruno Cesar Pardinho Fotos Shutterstock DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. LIMA, Jéssica de Carvalho; POLASTRI, Paula. Gerenciamento de Resíduos. Jéssica de Carvalho Lima, Paula Polastri. Maringá - PR: Unicesumar, 2022. 288 p. ISBN 978-85-459-2150-9 “Graduação - EaD”. 1. Gerenciamento 2. Resíduos 3. Tratamento. 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 363.1 FICHA CATALOGRÁFICA Reitor Wilson de Matos Silva A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade, ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria- mente para que nossa educação à distância continue como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre quatro pilares que consolidam a visão abrangente do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o profissional, o emocional e o espiritual. A nossa missão é a de “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, for- mando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio impor- tante para o cumprimento integral desta missão: o coletivo. São os nossos professores e equipe que produzem a cada dia uma inovação, uma transforma- ção na forma de pensar e de aprender. É assim que fazemos juntos um novo conhecimento diariamente. São mais de 800 títulos de livros didáticos como este produzidos anualmente, com a distribuição de mais de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos- sos acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700 polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina, Ponta Grossa e Corumbá, o que nos posiciona entre os 10 maiores grupos educacionais do país. Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima história da jornada do conhecimento. Mário Quin- tana diz que “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportu- nidade de fazer a sua mudança! Tudo isso para honrarmos a nossa missão, que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Dra. Jéssica de Carvalho Lima Olá, querido(a) aluno(a)! Gostaria de falar um pouco mais sobre mim para você. Moro em Maringá e amo passear pela cidade, conhecer novos lugares e des- frutar dos parques que temos aqui. Desde pequena, sempre gostei de estar em contato com a natureza e contemplar o verde. Tenho dois gatos, a Teka e o Bingo, que são meus parceiros e já se mudaram várias vezes comigo de uma casa para outra! Também, gosto muito de pedalar e aproveito esse esporte para me aventurar por trilhas e conhecer cachoeiras. E, claro, sempre com um fone de ouvido, escutando uma playlist pra lá de eclética! Além disso, gosto de praticar corrida e dança. Contudo, quando não estou correndo pra lá e pra cá, também gosto de cuidar da casa e passar um tempo com a família e os amigos mais próximos, tomando um tereré, bebida muito comum no interior de São Paulo, dando risada e conversando sobre a vida. http://lattes.cnpq.br/6208602282483902 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/13169 Me. Paula Polastri Olá, aluno(a)! Para que você me conheça um pouco me- lhor, contarei sobre meus passatempos favoritos. Eu adoro os animais, principalmente, gatos, estar com eles e cuidar. Atualmente, tenho seis gatos, sendo dois machos e quatro fêmeas, o mais velho e meu xodó é o Preto, está comigo desde a minha graduação, encontrei-o ainda filho- tinho em uma ponte em uma mata ciliar quando eu estava fazendo rapel. Tenho, também, um cachorro, o Barley, que, em inglês, significa cevada. Todos eles são animais resgatados da rua. Já fiz muitos resgates de animais e, também, ajudo cuidadores de animais independentes e alguns animais que vivem na rua. Gosto muito de mexer com plantas, jardinagem e de estar em contato com a natureza. Adoro estar com minha família e, sempre que possível, faço uma viagem para ver a família, os amigos ou conhecer novos lugares, inclusive, na minha imagem de apresentação estou dentro do Vaticano, na Itália, viagem maravilhosa que pude realizar. Minha preferência musical é rock, principalmente, rock internacional. Quando sobra um tempinho, gosto de assistir a filmes, em casa e no ci- nema, de todos os gêneros e países. Não gosto muito de praticar esportes, contudo, na infância e no colégio, era o inverso, mas gosto de pedalar, fazer natação e caminhar com o Barley e meu esposo. Um abraço! http://lattes.cnpq.br/6170602428689890 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11112 Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Os protagonistas de nossos estudos serão os resíduos, ou seja, os poluentes am- bientais. Você conhece os tipos de poluentes e as formas de tratamento? Você observará, em sua leitura e seus estudos, que, ao realizar o tratamento de um resíduo em um meio físico — no ar, na água ou no solo —, há transferência de algum tipo de poluente para outro meio físico. Afinal, ao se tratar um efluente líquido, são gerados resíduos sólidos e poluentes atmosféricos; ao se tratar resíduos sólidos, geram-se efluentes líquidos e poluentes atmosféricos; e, ao se tratar poluentes atmos- féricos, geram-se efluentes líquidos e resíduos sólidos. Portanto, o entendimento de cada unidade, assim como a “ligação” entre elas, é de suma importância para o entendimento dessa temática de forma geral, tanto em sua atuação acadêmica quanto na profissional. Atente-se para os conteúdos tratados nas unidades, pois eles se complementam. Assim, este livro lhe fornecerá bases de conhecimento para a consolidação da dis- ciplina de Gerenciamento de Resíduos. O presente material tem como objetivo apre- sentar os primeiros conceitos relacionados ao estudo sobre os diversos poluentes ambientais, além de introduzir todas as etapas para o seu adequado gerenciamento, as diversas legislações e normas técnicas aplicáveis e as diversas formas de prevenção e controle da poluição. O livro está dividido em cinco unidades, de modoque, na primeira, estudaremos terminologias fundamentais nesse estudo, cujo conhecimento é de irrefutável impor- tância ao(à) futuro(a) Gestor(a) Ambiental. Primeiramente, conheceremos como os poluentes ambientais, sejam sólidos, líquidos e gasosos, são gerados, podendo a au- GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS sência de prevenção e controle e o não atendimento dos limites de emissão requeridos nas legislações aplicáveis ocasionar a poluição dos solos, da água e do ar, ou seja, a poluição ambiental. Apresentaremos, na segunda unidade, as principais característi- cas e parâmetros de controle das águas residuárias ou efluentes líquidos, os padrões de lançamento de efluentes e de qualidade dos corpos d’água no Brasil, tal como os níveis de tratamento de efluentes, amostragem, alternativas de aplicação e de reuso do efluente tratado. Na terceira unidade, aprofundaremos nossos conhecimentos nas etapas do ge- renciamento de resíduos sólidos, desde a sua classificação até o transporte, incluindo alguns dos importantes instrumentos relativos à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos. Continuamente, na quarta unidade, veremos as demais etapas do gerenciamento de resíduos, como a destinação final de resíduos sólidos e a disposição final dos rejeitos, assim como aspectos sobre o aproveitamento energético de resíduos sólidos. Na quinta e última unidade, estudaremos a respeito dos poluentes atmosféri- cos, os padrões de emissão e de qualidade do ar, bem como os métodos aplicáveis no controle de emissão de gases e de material particulado. O material não busca esgotar o assunto sobre o gerenciamento de resíduos, mas lhe fornecer subsídios para compreender os conceitos, as etapas de gerenciamento, as formas de tratamento, o monitoramento e a aplicação das diversas legislações am- bientais vigentes. Desejamos a você bons estudos! IMERSÃO RECURSOS DE Ao longo do livro, você será convida- do(a) a refletir, questionar e trans- formar. Aproveite este momento. PENSANDO JUNTOS NOVAS DESCOBERTAS Enquanto estuda, você pode aces- sar conteúdos online que amplia- ram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tec- nologia a seu favor. Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experien- ce. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recur- sos em Realidade Aumentada. Ex- plore as ferramentas do App para saber das possibilidades de intera- ção de cada objeto. REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o códi- go, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido. PÍLULA DE APRENDIZAGEM OLHAR CONCEITUAL Neste elemento, você encontrará di- versas informações que serão apre- sentadas na forma de infográficos, esquemas e fluxogramas os quais te ajudarão no entendimento do con- teúdo de forma rápida e clara Professores especialistas e convi- dados, ampliando as discussões sobre os temas. RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discu- tido, de forma mais objetiva. Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881 APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 1 2 3 4 5 CONCEITOS E ORIGEM DOS RESÍDUOS 11 GERENCIAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS 55 111 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 163 RESÍDUOS SÓLIDOS: DESTINAÇÃO E DISPOSIÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADAS 215 GERENCIAMENTO DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS 1Conceitos e Origem dos Resíduos Me. Paula Polastri Nesta Unidade 1, você terá a oportunidade de compreender o que é a poluição ambiental, os seus critérios de classificação e os tipos de poluentes, bem como entenderá que os poluentes são resíduos na forma de matéria ou energia. Conheceremos as maneiras de lidar com a poluição por meio do entendimento das diferenças entre prevenção e controle da poluição. UNIDADE 1 12 Prezado(a) aluno(a), você já parou para pensar que o meio ambiente é o pro- vedor de recursos naturais e, também, o receptor de resíduos? Que a poluição ambiental é causada por poluentes, sendo estes os resíduos gerados pelas ati- vidades humanas? E que diversos processos foram e ainda são desenvolvidos para reduzir a geração, capturar, tratar e dispor os resíduos? Nós, seres humanos, assim como qualquer ser vivo, retiramos do meio ambiente os recursos naturais para a nossa subsistência e devolvemos ao meio ambiente os resíduos que geramos. No entanto, no ambiente natural, os materiais que compõem os resíduos de um organismo retornam ao meio ambiente por meio dos ciclos biogeoquímicos de forma natural. Isso não acontece com os resíduos das atividades humanas, pois, devido às suas carac- terísticas e às quantidades dispostas, não ocorre a capacidade de assimilação pelo meio ambiente. Em outras palavras, podemos dizer que o ser humano, ao interagir com o meio em que vive, produz resíduos, e parte deles causa problemas de poluição das águas, do solo e do ar (DERISIO, 2017). Assim, os problemas ambientais provocados pela ação dos seres humanos decorrem do uso do meio ambiente para produzir bens e serviços dos quais estes necessitam, e o aumento popu- lacional e a escala de produção se apresentam como um fator que estimula a exploração dos recursos naturais e eleva a quantidade de geração de resíduos (BARBIERI, 2016). 13 Agora, proponho-lhe pensar mais sobre esse tema antes de nos aprofundar- mos nessa questão. Sabemos que quanto mais consumimos, mais resíduos produ- zimos. Conforme já discutimos, os resíduos naturais, compostos basicamente por matéria orgânica, podem ser inteiramente absorvidos e reutilizados pelo meio ambiente, mas o tipo de resíduos que os seres humanos produzem não pode ser eliminado da mesma forma. Você já parou para pensar qual é a relação entre o seu cotidiano e o meio ambiente? Convido-lhe a acessar o QR Code e avaliar qual é a sua “pegada eco- lógica”. Assim, você poderá verificar o tamanho do “rastro” que o seu modo de vida deixa no meio ambiente. Nesse momento, convido-lhe a registrar, no Diário de Bordo, suas reflexões e seus questionamentos. Que perguntas vieram à sua mente? O quanto o seu modo de vida impacta o meio ambiente, seja no consumo de recursos naturais ou na geração de resíduos? Quais práticas você pode adotar para diminuir a sua “pegada”? Ampliando a escala, o quanto uma organização, uma cidade ou um país podem impactar no meio ambiente e quais práticas podem ser adotadas para o uso mais eficiente de recursos e redução da geração de resíduos? Há muitas coisas que você pode fazer no seu cotidiano e em sua futura atuação como Gestor(a) Ambiental, pense nisso! UNICESUMAR UNIDADE 1 14 Conversamos um pouco sobre os problemas ambientais, sendo um deles a geração de resíduos. Afinal, o que são esses resíduos e o que causam ao serem dispostos no meio ambiente? Um conceito muito importante para começar- mos nossos estudos se trata do entendimento sobre a poluição ambiental e a sua classificação de acordo com diversos critérios. Para Braga et al. (2005), a poluição é uma alteração indesejável nas ca- racterísticas físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente que cause ou possa causar prejuízo à saúde, à sobrevivência ou às atividades dos seres humanos e de outras espécies. Para Barbieri (2016, p. 15), “a poluição é a presença de poluentes no meio ambiente e, consequentemente, uma causa de sua degradação”. Os poluentes são resíduos gerados pelas atividades humanas, ou seja, é qualquer forma de matéria ou energia que possa produzir algum tipo de pro- blema indesejável devido às suas características, às quantidades despejadas e à capacidade de assimilação do meio (BRAGA et al., 2005; BARBIERI,2016). Portanto, os poluentes ou os resíduos podem estar na forma de matéria em estado sólido ou semissólido, líquido ou gasoso, como, por exemplo, os diversos resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas. Estes são gerados nas atividades e nos processos produtivos, em que são constituídos por diversas substâncias químicas ou orgânicas, microrganis- mos, entre outros. E podem, também, apresentar-se na forma de energia, como ruídos, radiações, vibrações, entre outros. Adicionalmente, conforme os tipos de poluentes, a poluição pode ser biológi- ca, físico-química, radioativa, sonora, entre outras. Em outras palavras, podemos entender que a relação entre os poluentes e a poluição é de causa e efeito, pois a introdução de poluentes na forma de matéria ou energia no meio ambien- te, em desacordo com padrões ambientais estabelecidos, pode afetar, de forma negativa, os seres humanos e outros organismos, resultando em uma alteração indesejável, em poluição ambiental. Logo, a poluição pode ser vista sob vários aspectos e classificada por diversos critérios, conforme se apresenta na Figura 1. 15 Descrição da Imagem: a figura ilustra um fluxograma com blocos ligados sequencialmente por meio de setas, sendo o primeiro bloco a fonte de poluição, depois, o meio receptor e, por fim, os impactos ambientais. Abaixo de cada bloco, um outro bloco com conexão apresenta a descrição. No bloco de conexão com o bloco “fonte de poluição”, apresenta-se a origem: antropogênica; fonte: móvel, fixa ou estacionária; emissão: pontual ou localizada, difusa ou dispersa; poluente: na forma de matéria em estado sólido, líquido ou gasoso, compostos químicos ou orgânicos, microrganismos, partículas, entre outros; na forma de energia, como ruídos, radiações, vibrações, entre outros; e as atividades humanas: agricultura, geração de energia, mineração, construção civil, indústria de transformação, serviços de saúde, serviços de saneamento básico, serviços de transportes, entre outras. No bloco de conexão com o bloco “meio receptor”, compreende-se em imediato: ar, água e solo; e em final: organismos, materiais e ecossistemas. No bloco de conexão com o bloco “impactos ambientais”, temos: alcance: local, regional e global; danos: aos seres humanos; à flora, à fauna e aos solos; aos materiais, às construções, aos equipamentos, às ins- talações, aos monumentos, e aos sítios históricos e arqueológicos; e os tipos: esgotamento dos recursos naturais; eutrofização; perda da biodiversidade; alteração da qualidade da água, do ar e do solo; redução da fertilidade do solo; destruição da camada de ozônio; aquecimento global; entre outros. Figura 1 - Critérios de classificação de poluição ambiental / Fonte: adaptada de Barbieri (2016). UNICESUMAR UNIDADE 1 16 Para entendermos os critérios de classificação da poluição, os seus efeitos no meio receptor e o seu alcance, primeiramente, você deve observar que, na Figura 1, na fonte de poluição quanto à origem, apresentamos apenas a fonte antropogênica — causada pela ação do homem. Para alguns autores, a poluição de origem natural se trata de um tipo de poluição não associada à atividade humana. No entanto, o con- ceito de poluição ambiental deve ser associado às alterações indesejáveis provoca- das apenas pelas atividades e intervenções humanas no ambiente, não podendo ser decorrente de fenômenos naturais, pois não são provocados pelo homem e fogem de seu controle, como, por exemplo, as cinzas vulcânicas, a fumaça liberada pelas queimadas espontâneas, as tempestades marítimas carregadas por sais e os gases emitidos pela decomposição de vegetais e animais mortos (BRAGA et al., 2005; BARBIERI, 2016; DERÍSIO, 2017). Portanto, entendemos que a poluição ambiental é de origem antropogênica apenas, não havendo poluição de origem natural. As fontes antropogênicas podem ser identificadas pelos setores da atividade hu- mana, pois cada um produz certos tipos de poluentes em decorrência dos insumos e processos de produção típicos. Segundo Derisio (2017), em relação aos diversos setores industriais, as principais indústrias poluidoras são de papel e celulose, refi- narias de petróleo, usinas de açúcar e álcool, siderúrgicas e metalúrgicas, químicas e farmacêuticas, abatedouros e frigoríficos, têxteis e curtumes. A seguir, podemos observar alguns exemplos do setor de atividade e os seus poluentes (Quadro 1). Setor Exemplos de poluentes Agropecuária Metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), compostos orgânicos voláteis (COV), poluentes orgânicos persistentes (POP), efluentes líquidos, resíduos sólidos (embalagens de agronegócios e agrotóxicos vencidos) e materiais particulados. Mineração CO2, monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NO), óxidos de enxofre (SOx), materiais pesados, efluentes líquidos, resíduos sólidos, ruídos, vibração. Siderúrgica Dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), CO, COV, escórias, efluentes líquidos, lodos de tratamento de efluentes e ruídos. Usinas termelétricas CO, CO2, CH4, NOx, SO2, materiais particulados, lodos e ruídos. 17 Setor Exemplos de poluentes Têxtil SO2, hidrocarbonetos, materiais particulados, efluentes líquidos, resíduos sólidos, lodos e ruídos. Refinarias de petróleo SO2, NO2, CO, COV, materiais particulados, efluentes líquidos, resíduos sólidos, lodos, ruídos, derramamento de óleo e combustíveis. Transportes CO, CO2, NOx, SO2, hidrocarbonetos, materiais particulados, ruídos, derramamento de óleo e combustíveis. Quadro 1 - Exemplos de alguns poluentes em cada setor produtivo / Fonte: adaptado de Barbieri (2016). Por falar em poluentes, você sabe o que são poluentes primários e secundários? Vamos aos conceitos: os poluentes primários são emitidos diretamente por uma fonte geradora ou atingem o meio imediato na forma como foram emitidos; já os poluentes secundários resultam da reação ou combinação de poluentes primários ou, ainda, destes com as subs- tâncias constituintes do meio receptor. Fonte: adaptado de Barbieri (2016). EXPLORANDO IDEIAS Ainda sobre o Quadro 1, quanto ao tipo de emissão, as fontes poluido- ras podem ser classificadas de duas formas, as quais consistem em: ■ Emissões pontuais ou localizadas: como, por exemplo, o lançamento de esgoto doméstico ou efluentes industriais, as emissões gasosas indus- triais, a disposição de resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários etc. (BRAGA et al., 2005). UNICESUMAR UNIDADE 1 18 ■ Emissões difusas ou dispersas: como, por exemplo, os agrotóxicos aplicados na agricultura e dispersos no ar, carregados pelas chuvas para os rios ou para o lençol freático; resíduos sólidos que se espalham pelas ruas, beiras de estradas, praias etc.; gases emitidos dos escapamentos de veículos automotores etc. (BRAGA et al., 2005; BARBIERI, 2016). As fontes pontuais podem ser identificadas e controladas mais facilmente do que as fon- tes difusas, cujo controle eficiente ainda é um desafio. (Benedito Braga et al.) Como podemos passar a controlar mais facilmente as fontes difusas? PENSANDO JUNTOS Outro aspecto a ser considerado se trata da permanência do poluente no meio ambiente, em que: “ [...] depende de suas características físico-químicas (volatilida-de, solubilidade, reatividade etc.), bem como das características do meio ambiente, tais como umidade, luminosidade, grau de acidez etc. Diferentes combinações dessas características geram diferentes trajetórias dos poluentes desde o seu lançamento no meio ambiente imediato até a sua eliminação por algum proces- so natural, ou sua acumulação em organismos ou elementos do meio físico (BARBIERI, 2016, p. 17). 19 Ainda, de acordo com Barbieri (2016, p. 17), “o meio receptor imediato é o que recebe o poluente diretamente da sua fonte, mas os danos podem se estender para outros meios”. Vejamos um exemplo: o solo é o meio receptor imediato dos resíduos sólidos domiciliares depositados, muitas vezes, inadequadamente, em terrenos baldios, lixõese outros locais, mas os metais pesados e outras substâncias tóxicas presentes nos resíduos sólidos podem contaminar as águas superficiais e subterrâneas, acumular-se nos organismos e afetar a cadeia alimentar. A poluição gera impactos negativos a nós, seres humanos, à flora e à fauna pela exposição a certo poluente ou vários, o qual é lançado em um local não necessaria- mente próximo à fonte emissora. Certos poluentes ultrapassam os limites do local de emissão, gerando problemas de dimensão regional ou mundial (BARBIERI, 2016). Dessa forma, os efeitos da poluição podem ter caráter localizado, regional ou global, sendo que os efeitos locais ou regionais, normalmente, ocorrem em áreas de grande densidade populacional ou atividade industrial, correspondendo às aglomerações urbanas. Nessas áreas, há problemas de poluição do ar, da água e do solo. Os efeitos globais, como a intensificação do efeito estufa e a redução da camada de ozônio, trazem alterações para o clima e o equilíbrio global do planeta, mas, por outro lado, esses efeitos têm contribuído para a sensibilização da sociedade sobre as questões ambientais, com destaque na mídia e na agenda de políticos e grupos ambientalistas (BRAGA et al., 2005). UNICESUMAR UNIDADE 1 20 Como vimos, os poluentes podem alcançar a água, o ar e o solo, tal como os organismos e os ecossistemas. Assim, adicionalmente aos conceitos apresenta- dos, Braga et al. (2005) e Derisio (2017) apresentam diversos tipos de poluição, compreendendo poluição das águas, do ar e do solo, conforme ilustrado na Figura 2. Veremos, a seguir, detalhadamente, cada um dos tipos de poluição e os seus respectivos poluentes. Descrição da Imagem: a figura mostra as informações hierárquicas ou relações de várias conexões que ocorrem entre blocos, em que podemos verificar as relações que se desenvolvem de cima para baixo. O primeiro bloco, no topo, denominado “tipos de poluição”, está conectado com outros três blocos, denomi- nados “poluição das águas”, “poluição do solo” e “poluição do ar”. Cada um desses blocos estão conectados com outros dois blocos, compreendendo “fontes” e “poluentes”. Na poluição da água, temos como fontes a poluição industrial, urbana, agropastoril e acidental; e, como poluentes, os orgânicos biodegradáveis, não biodegradáveis, patogênicos; metais; nutrientes; e sólidos em suspensão. Na poluição do solo, temos como fontes a poluição do solo rural e urbano; e, como poluentes, os fertilizantes sintéticos, agrotóxicos; resíduos sólidos; esgoto sanitário; efluentes industriais; entre outros — como resíduos sólidos e poluentes gasosos). Na poluição do ar, temos como fonte a poluição industrial, urbana, agropastoril e acidental; e, como poluentes, monóxido e dióxido de carbono, compostos de enxofre, compostos de nitrogênio, compostos orgânicos de carbono; compostos halogenados; material particulado; oxidantes fotoquímicos; metais; agrotóxicos; radiações, vibrações, calor e som. Figura 2 - Tipo de poluição e seus principais poluentes Fonte: adaptada de Braga et al. (2005) e Derisio (2017). 21 A poluição das águas é conceituada como “a adição de substâncias ou de formas de energia que, direta ou indiretamente, alterem a natureza do corpo d’água de uma maneira tal que prejudique os legítimos usos que ele são feitos” (SPERLING, 2014, p. 45). Basicamente, origina-se dos seguintes tipos de fontes, que, segundo Derisio (2017), compreendem: ■ Poluição industrial: de maneira geral, constitui-se por resíduos líquidos ou efluentes líquidos, gerados nos processos industriais, sendo o fator mais significativo em termos de poluição. ■ Poluição urbana: compreende os esgotos sanitários, provenientes dos habitantes de uma cidade. ■ Poluição agropastoril: decorrente de atividades ligadas à agricultura e à pecuária, advindas da drenagem de áreas agropastoris, provocada pelo carreamento de agrotóxicos, fertilizantes, dejetos de animais e outros. ■ Poluição acidental: decorrente de derramamentos de materiais preju- diciais à qualidade das águas que pode ocorrer na fase de produção e nas operações de transportes, em que as ações de controle são de emergência aliadas a medidas de caráter preventivo. Adicionalmente, o Quadro 2 lista as principais fontes de poluentes, conjuntamen- te com os seus efeitos poluidores mais representativos. UNICESUMAR UNIDADE 1 22 Co ns ti tu in te Pr in ci pa is pa râ m et ro s re pr es en ta ti vo s Fo nt e Po ss ív el e fe it o po lu id or Ág ua s re si du ár ia s Ág ua s pl uv ia is U rb a- na s In du s- tr ia is U rb a- na s Ag ri cu lt ur a e pa st ag em Só lid os e m su sp en sã o Só lid os e m su sp en sã o to ta is . XX X XX X Pr ob le m as e st ét ic os . D ep ós ito s de lo do . Ad so rç ão d e po lu en te s. Pr ot eç ão d e pa to gê ni co s. M at ér ia or gâ ni ca bi od eg ra dá ve l D em an da Bi oq uí m ic a de O xi gê ni o (D BO ). XX X XX X Co ns um o de o xi gê ni o di ss ol vi do . M or ta nd ad e de p ei xe s. Co nd iç õe s sé pt ic as . M at ér ia or gâ ni ca n ão bi od eg ra dá ve l Pe st ic id as , a lg un s de te rg en te s, pr od ut os fa rm ac êu tic os , ou tr os . XX X XX To xi ci da de (v ár io s) . Es pu m as (d et er ge nt es ). Re du çã o da tr an sf er ên ci a de ox ig ên io (d et er ge nt es ). Bi od eg ra da bi lid ad e re du zi da o u in ex is te nt e. M au s od or es (e x. : f en ói s) . 23 Co ns ti tu in te Pr in ci pa is pa râ m et ro s re pr es en ta ti vo s Fo nt e Po ss ív el e fe it o po lu id or Ág ua s re si du ár ia s Ág ua s pl uv ia is U rb a- na s In du s- tr ia is U rb a- na s Ag ri cu lt ur a e pa st ag em M et ai s El em en to s es pe cí fic os (A s, Cd , C r, Cu , H g, N i, Pb , Z n et c. ). XX X To xi ci da de . In ib iç ão d o tr at am en to bi ol óg ic o de e sg ot os . P ro bl em as de d is po si çã o do lo do n a ag ric ul tu ra . N ut rie nt es N itr og ên io (N ), fó sf or o (P ). XX X XX X Cr es ci m en to e xc es si vo d e al ga s. To xi ci da de p ar a os p ei xe s (a m ôn ia ). D oe nç a em re cé m -n as ci do s (n itr at o) . O rg an is m os pa to gê ni co s Co lif or m es . XX X XX X D oe nç as d e ve ic ul aç ão h íd ric a. Q ua dr o 2 - P rin ci pa is f on te s de p ol ui çã o da s ág ua s /F on te : a da pt ad o de S pe rli ng (2 0 14 ). Le ge nd a: X : po uc o; X X : m éd io ; X X X : m ui to ; : va ri áv el ; em b ra nc o: u su al m en te , n ão im po rt an te ; A s: a rs ên io ; Cd : cá dm io ; Cr : cr om o; C u: c ob re ; H g: m er cú rio ; N i: ní qu el ; P b: c hu m bo ; Z n: z in co . UNICESUMAR UNIDADE 1 24 A respeito dos parâmetros representativos que apresentamos no Quadro 2, ou seja, as condições e os padrões das águas resi- duárias, serão discutidos de forma mais detalhada em nossa Unidade 2. Assim, os poluentes que causam a poluição das águas são classificados de acordo com sua nature- za e com os principais impactos causados no meio aquático. Os principais poluentes aquáticos são apresentados a seguir. Os sólidos em suspensão aumentam a turbidez da água, diminuindo a sua trans- parência. O aumento da turbidez reduz as taxas de fotossíntese e prejudica a procura de alimento para algumas espécies, levan- do a desequilíbrios na cadeia alimentar. São exemplos: os sedimentos, os quais podem carregar agrotóxicos e outros compostos tó- xicos, e a sua deposição no fundo de corpos d’água pode ocasionar o seu assoreamento, tal como prejudicar espécies bentônicas — vivem emassociação com o fundo de am- bientes aquático — e a reprodução de peixes (BRAGA et al., 2005). Para melhor entendi- mento, os sólidos em suspensão compreen- dem a fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos, ou seja, resíduos não filtráveis, que, em laboratório, compreendem a amos- tra retida em filtro de papel com porosidade de 0,45 a 2,0 µm. A turbidez representa o grau de interferência com a passagem da luz por meio da água, conferindo uma aparên- cia turva à mesma (SPERLING, 2014). Os poluentes orgânicos biodegradá- veis são compostos por matéria orgânica 25 biodegradável, principalmente, por carboidratos, proteínas e lipídeos. São exemplos os esgotos sanitários e efluentes líquidos industriais de origem or- gânica lançados em corpos d’água sem tratamento ou fora das condições e dos padrões estabelecidos na legislação, ocasionando a diminuição da con- centração de oxigênio dissolvido disponível na água e, consequentemente, a mortandade da fauna aquática e de outras espécies aeróbias. Esse impacto ocorre pois a decomposição da matéria orgânica presente nas águas residuárias lançadas em corpos hídricos será realizada por bactérias aeróbias que consomem o oxigênio dissolvido existente na água, sendo que, se o consumo for mais intenso que a capacidade do meio para repô-lo, haverá seu esgotamento e a inviabilidade de existência de vida para peixes e outros organismos; por outro lado, se não houver oxigênio dissolvido no meio, ocorrerá a decomposição anaeróbia, com a formação de gases, como o metano (CH4) e o gás sulfídrico (H2S). Os poluentes orgânicos recalcitrantes ou refratários recebem essa de- nominação pois não são biodegradáveis ou sua taxa de biodegradação é muito lenta. O impacto introduzido por compostos orgânicos desse tipo, ou seja, por matéria orgânica não biodegradável, está associado à sua toxicidade, e não ao consumo de oxigênio utilizado para sua decomposição, como nos poluentes orgânicos biodegradáveis. São exemplos os agrotóxicos, detergentes sintéticos, petróleo e seus derivados e outros. Exploraremos, agora, um pouco mais sobre os agrotóxicos. De acordo com Belchior et al. (2014), esses produtos químicos estão no mercado sob a forma de inseticidas, fungicidas, herbicidas, nematicidas, acaricidas, rodenticidas, mo- luscicidas, formicidas, reguladores e inibidores de crescimento. Você já deve ter visto o uso análogo do termo defensivo agrícola, no entanto, o termo agrotóxico passou a ser adotado no Brasil a partir da Lei nº 7.802/1989 (BRASIL, 1989), re- gulamentada pelo Decreto nº 4.074/2002 (BRASIL, 2002), sendo definidos como: “ [...] os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou bioló-gicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alte- rar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos (BRASIL, 1989, on-line). UNICESUMAR UNIDADE 1 26 Assim, os agrotóxicos, utilizados para fins agrícolas, podem atingir os ecossiste- mas aquáticos por meio do vento, das chuvas e da lixiviação no solo, conforme ilustrado na Figura 3. Descrição da Imagem: a figura representa o processo de lixiviação dos agrotóxicos no solo. Na imagem, temos uma seção vertical mostrando um tipo de cultura, o solo e o lençol freático. Setas do sentido desse perfil mostram a aplicação de agrotóxicos nessa cultura, em que parte sofre volatilização, sendo esse processo ilustrado por setas do solo para a atmosfera, e parte fica disposta no solo, tal como a parcela absorvida pela planta. Com as chuvas, por meio do escoamento superficial da água pluvial, ocorre a lixiviação do solo, sendo a direção ilustrada com setas no sentido da esquerda para a direita, para o ecossistema aquático. A parcela infiltrada pode chegar ao lençol freático ou carreado até ecossistemas aquáticos por meio do escoamento subsuperficial. Figura 3 - Ciclo de agrotóxicos no ambiente / Fonte: Belchior et al. (2014, p. 140). Para Braga et al. (2005, p. 84), “alguns desses compostos encontram-se no meio aquático em concentrações que não são perigosas ou tóxicas”. No entanto, em consequência da absorção dessas substâncias químicas pelos organismos, ou seja, devido à biacumulação, a sua concentração no tecido dos organismos vivos pode ser relativamente alta. 27 Ainda, sobre a poluição das águas, podemos mencionar outros poluentes tóxi- cos aos organismos, ou seja, os micropoluentes inorgânicos, entre os quais destacamos os metais, como, por exemplo, arsênio, bário, cádmio, cromo, chum- bo, mercúrio e prata. Além dos metais, há outros micropoluentes inorgânicos de importância em termos de saúde pública, como os cianetos, o flúor e outros (BRAGA et al., 2005; SPERLING, 2014). Quando falamos que um poluente pode ser tóxico, ou seja, apresenta característica de toxicidade, podemos dizer que a toxicidade se trata da “propriedade potencial que o agente tóxico possui de provocar, em maior ou menor grau, um efeito adverso em conseqüência de sua interação com o organismo” (ABNT, 2004, p. 2). Em geral, os metais tóxicos podem ser dispostos no ambiente em quanti- dades significativas por efluentes líquidos industriais, atividades agrícolas, de mineração e de garimpo. Como todos os metais podem ser solubilizados pela água, eles podem gerar danos à saúde em função da quantidade ingerida, pela sua toxicidade, ou de seus potenciais carcinogênicos — desenvolver câncer —, mutagênicos — provocar defeitos genéticos — ou teratogênicos — alteração na estrutura ou função da vida embrionária ou fetal (BRAGA et al., 2005). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é responsável pela avaliação e classificação do potencial de periculosidade ambiental (PPA) de todos os agrotóxicos a serem registrados. A avaliação se baseia nas características físico-químicas do produto aliadas ao seu potencial de transporte no solo — mobilidade, absorção, solubilidade —, à sua persistência — biodegradação, hidrólise e fotólise —, ao potencial de bioacumulação na cadeia alimentar e à toxicidade a diversos organismos pertencentes a diferentes níveis tróficos. A classificação ambiental final do produto obe- dece à seguinte graduação: Classe I – produto altamente perigoso ao meio ambiente; Classe II – produto muito perigoso ao meio ambiente; Classe III – produto perigoso ao meio ambiente; Classe IV – produto pouco perigoso ao meio ambiente; ou Produto Impedido de Obtenção de Registro – Pior. Nesse caso, o requeri- mento de registro é indeferido, sendo o produto proibido de uso no País por não atender às condições requeridas (IBAMA, 2009, p. 15). Fonte: adaptado de Ibama (2009). EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR UNIDADE 1 28 Outro aspecto a ser considerado é que vários elementos e compostos, em determinadas concentrações, são tóxicos para os habitantes dos ambientes aquá- ticos e para os consumidores da água; ainda, podem se concentrar na cadeia ali- mentar, resultando em um grande perigo para os organismos situados nos níveis superiores. No entanto, em baixas concentrações, são nutrientes essenciais para o crescimento de seres vivos (SPERLING, 2014). Outros poluentes que podemos destacar se referem aos nutrientes, como fósforo e nitrogênio, os quais, em excesso em corpos d’água, podem levar ao crescimento excessivo de alguns organismos aquáticos, acarretando prejuízo a determinados usos dos recursos hídricos e, consequentemente, danos aos orga- nismos aquáticos. Nesse contexto, não podemos nos esquecer de discutir sobre a eutrofização, sendo esse um processo natural de enriquecimento das águas com nutrientes necessários ao crescimento da vida vegetal aquática. No entanto, esse processo vem se acelerando, principalmente, em lagos, devido à interven- ção humanapela ocupação de atividades industriais, agrícolas ou urbanas em bacias hidrográficas, resultando na eutrofização acelerada ou artificial, que é causada pelo aporte de fósforo e nitrogênio que provêm, principalmente, dos esgotos sanitários, efluentes líquidos industriais, fertilizantes agrícolas, deter- gentes e dejetos de animais (BRAGA et al., 2005; SPERLING, 2014). A respeito dos organismos patogênicos, ou seja, organismos que provo- cam ou podem provocar, direta ou indiretamente, uma doença, entre os prin- cipais grupos de organismos de interesse do ponto de vista de saúde pública, com associação à água ou ao esgoto, estão: bactérias, vírus, protozoários e helmintos. A origem desses agentes patogênicos nos esgotos é, predominan- temente, humana, refletindo diretamente o nível de saúde da população e das condições de saneamento básico de cada região, o qual pode ser precário ou, até mesmo, inexistente. Contudo, pode ser, também, de procedência animal, cujos dejetos são eliminados por meio da rede de esgoto ou dispostos de for- ma inadequada, sendo carreados aos corpos d’água pela atividade pecuária (BRAGA et al., 2005; SPERLING, 2014). Para melhor entendimento, o termo saneamento básico se refere ao conjunto de serviços públicos, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e ma- nejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas (BRASIL, 2020a). 29 Para Braga et al. (2005), os efeitos dos poluentes no meio aquático dependem da natureza do poluente introduzido, do caminho que esse poluente percorre no meio e do uso que se faz da água, ou seja, do recurso hídrico. Como já vimos, as fontes de poluição quanto à emissão podem ser pontual (localizada) ou difusa (dispersa), portanto essas são as formas com que os poluentes podem ser intro- duzidos no meio aquático. A Figura 4 ilustra a diferença entre as formas com que a fonte de poluentes pode atingir um corpo d’água. Descrição da Imagem: observa-se, na figura, a representação da poluição pontual e da poluição difusa. Na poluição pontual, temos um curso d’água com uma seta ilustrando o seu fluxo para a direita e uma seta na perpendicular ao curso d’água indicando a descarga concentrada. Na poluição difusa, temos um curso d’água com uma seta ilustrando o seu fluxo para a direita e várias setas, uma ao lado da outra, perpendiculares ao curso d’água, indicando a descarga distribuída ao longo do curso d’água. Figura 4 - Poluição pontual e difusa em corpos d’água / Fonte: adaptada de Sperling (2014). Na poluição pontual, os poluentes atingem o corpo d’água de forma concentra- da, ou seja, são lançamentos individualizados, como os que ocorrem no despejo de esgotos sanitários ou de efluentes industriais, cargas pontuais são facilmente identificadas e, portanto, seu controle é mais eficiente e mais rápido. Já na po- luição difusa, os poluentes adentram o corpo d’água distribuídos ao longo de sua extensão, portanto, diferentemente da poluição pontual, não há um ponto de lançamento específico, são lançados no corpo d’água de uma forma distribuída e não concentrada em um único ponto. São exemplos as substâncias provenientes de campos agrícolas e a poluição veiculada pela drenagem pluvial (BRAGA et al., 2005; SPERLING, 2014). UNICESUMAR UNIDADE 1 30 Prezado(a) aluno(a), agora, discutiremos sobre a poluição do solo. Derisio (2017) apresenta as fontes de poluição do solo: poluição decorrente da dispo- sição de resíduos sólidos, poluição decorrente de esgoto sanitário e efluentes industriais, da urbanização e ocupação do solo, de atividades agropastoris, de atividades extrativistas e de acidentes no transporte de cargas. Por outro lado, de forma mais simplificada, Braga et al. (2005) apresenta a poluição do solo como poluição do solo rural e urbano. A respeito da poluição do solo rural, destacamos a poluição causada por fertilizantes sintéticos e agrotóxicos. Para Braga et al. (2005, p. 141), “o uso de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos é essencial para assegurar os níveis de pro- dução primária, particularmente de alimentos, para o atendimento de uma po- pulação que continua a crescer em taxas elevadas”, em que parte dela tem graves problemas de desnutrição. Ainda, segundo os autores, torna-se necessário limitar o seu uso ao estritamente indispensável, evitando a geração de resíduos poluido- res, restringindo o emprego de agrotóxicos aos ambientalmente mais seguros e empregando técnicas de aplicação que reduzam os custos de sua acumulação e propagação pela cadeia alimentar. 31 Basicamente, a adição de fertilizantes no solo visa atender à demanda de nutrien- tes nas culturas, como os macronutrientes principais — nitrogênio, fósforo e potássio —, macronutrientes secundários — cálcio, magnésio e enxofre — e micronutrientes — ferro, manganês, cobre, zinco, boro e molibdênio. Por outro lado, os agrotóxicos visam combater algum tipo de praga, conforme já discutimos anteriormente. Antes da industria- lização, os fertilizantes eram provenientes da produção própria e lo- cal, sendo produzidos por meio de restos ve- getais decompostos e dos dejetos de animais, como bovinos, suínos, aves e outros. Dessa for- ma, sua biodegradação e incorporação à cadeia alimentar dos ecossiste- mas associados ao solo eram imediatas e não havia desequilíbrio ambiental. No entanto, a partir da produção do “adubo arti- ficial”, pode-se dizer que se iniciaram os riscos de sua acumulação ambiental até concentrações tóxicas, tanto de nutrientes essenciais quanto de outros elementos tidos como impurezas do processo de fabricação, ou seja, os resíduos do processo produtivo (BRAGA et al., 2005). Logo, como qualquer processo físico-químico e biológico, mesmo quando o fertilizante é aplicado com a melhor técnica e de modo que seja mais facilmente assimilável pelo vegetal, a eficiência nunca é a máxima, provocando um excedente que passa a se incorporar ao solo, fixando-se à sua porção sólida ou se solubilizan- do e movimentando com a sua fração líquida (BRAGA et al., 2005). Em outras palavras, podemos associar que o que não é incorporado à planta incorpora-se no meio ambiente, podendo integrar-se a corpos d’água e ao solo, próximos à superfície em que ocorrem os cultivos. A parcela que se fixou no solo tende a se acumular em concentrações crescentes que poderão torná-lo impróprio à agri- cultura (BRAGA et al., 2005). UNICESUMAR UNIDADE 1 32 Da mesma forma, podemos associar o uso de agrotóxicos, podendo promo- ver a alteração da composição do solo, e, a depender do agente ativo do qual derivam, podem promover a biomagnificação, que ocorre quando subs- tâncias persistentes ou cumulativas, como os compostos organoclorados, migram dos mecanismos da nutrição de um organismo para os seguintes da cadeia alimentar. Essa migração pode ser iniciada pela concentração da substância no organismo fotossintetizante e chegar até os últimos organismos da cadeia alimentar. Você sabia que os herbicidas 2,4D e 2,4,5T foram utilizados no Vietnã em dosagem dezenas de vezes superiores às máximas recomendadas na agricultura? Isso ocorreu durante a Guerra do Vietnã, entre os anos de 1962 e 1971, quando os Estados Unidos da América lançaram sobre esse país herbicidas desfolhantes contaminados com dioxinas — denominado agente laranja —, o que provocou efeitos catastróficos sobre a fauna, a flora e as populações. Fonte: adaptado de Braga et al. (2005) e CETESB ([2022a]). EXPLORANDO IDEIAS Um exemplo é o dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), criado em 1939, como o primeiro inseticida organoclorado de elevada resistência à decomposição no ambiente, usado na agricultura e em programas de saúde pública, no entanto, foi encontrado nas calotas polares e em tecido celular de animais e aves com hábitat bastante afastado dos locais de sua aplicação (BRAGA et al., 2005). De acordo com D’Amato e Malm (2002), o DDT foi uma das substânciasmais utilizadas e estudadas do século XX, mas, atualmente, a sua produção e uso são restritos devido à alta persistência no ambiente e capacidade de bioacumulação, volatilidade e toxicidade (CETESB, [2022a]). NOVAS DESCOBERTAS O que você acha de aprender um pouco mais sobre alguns conceitos? Acesse o QR Code para entender de forma mais abrangente sobre o que tratam os termos bioacumulação e biomagnificação, tal como compreender a diferença entre eles. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14142 33 Continuando nossa discussão sobre a poluição do solo, de acordo com Derisio (2017, p. 171), “os resíduos gerados pela atividade humana são, via de regra, dis- postos diretamente sobre o solo, seja na forma de aterros, seja por infiltração, seja pela simples acumulação sobre o solo”. Logo, dentre todos os poluentes, a polui- ção do solo urbano por resíduos sólidos é o problema maior e mais comum para o qual convém dar atenção especial. Assim, discutiremos, especificamente, sobre os resíduos sólidos nas Unidades 3 e 4. Agora, prezado(a) aluno(a), discutiremos brevemente acerca da poluição do ar, e, segundo Braga et al. (2005, p. 170), “existe poluição do ar quando ele contém uma ou mais substâncias químicas em concentrações suficientes para causar danos em seres humanos, em animais, em vegetais ou em materiais”. De acordo com os mesmos autores, esses danos podem advir, também, de parâmetros físicos, como calor e som, e essas concentrações dependem do clima, da topografia, da densidade populacional, do nível e do tipo das atividades industriais locais. Ou- tras formas de poluição do ar também são advindas de vibrações e de radiação. NOVAS DESCOBERTAS O que você acha de aprender sobre os Poluentes Orgânicos Persisten- tes (POPs)? Muitos deles são agrotóxicos, incluindo o DDT, integrante da lista da Convenção de Estocolmo. Acesse o QR Code para ampliar o seu conhecimento sobre o assunto. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14143 UNIDADE 1 34 Adicionalmente, Derísio (2017) conceitua poluente do ar ou atmosférico como qualquer substância presente no ar que, pela sua concentração, possa tor- ná-lo impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público e às atividades normais da comunidade, danoso aos materiais, à fauna e à flora e, até mesmo, prejudicial à segurança. A maioria dos poluentes atmosféricos tem origem nos processos de com- bustão, como, por exemplo, o monóxido de carbono (CO), o dióxido de carbono (CO2), os óxidos de enxofre (SO2) e de nitrogênio (NOx), os hidrocarbonetos e outros (BRAGA et al., 2005). As indústrias são as fontes mais significativas ou de maior potencial poluidor. Assim, cada fonte industrial de poluição atmosférica apresenta problemas específicos de poluição, pois as emissões são resultantes das características dos processos de fabricação, como, por exemplo, das matérias-primas e combustíveis utilizados (DERISIO, 2017). No problema de poluição do ar, podemos considerar quatro etapas: a produção, a emissão, o transporte e a recepção de poluentes. De forma que, em cada uma dessas etapas, é possível intervir para reduzir os riscos de poluição e aplicar métodos cien- tíficos e técnicas já conhecidos. Braga et al. (2005) e Derisio (2017) também citam que as radiações advindas de substâncias radioativas, o calor, o som e as vibrações são formas de poluição atmosférica pela emissão de energia ao meio ambiente. Nossa discussão sobre os principais poluentes do ar, as suas fontes, classificação, formas de dispersão, tal como as medidas de controle da poluição do ar, não se encerra por aqui, retomaremos esse assunto de maneira mais detalhada em nossa Unidade 5. Um tema importante a ser discutido nesse momento diz respeito à dimensão da área atingida pelos problemas de poluição do ar, que são classificados em problemas locais, regionais e globais, conforme apresentamos anteriormente. Os problemas locais e regionais de poluição do ar compreendem o smog industrial e o smog fotoquímico; já os problemas globais incluem o aquecimento global, devido à intensificação do efeito estufa, a destruição da camada de ozônio e a chuva ácida. O termo smog, do inglês fumaça, nevoeiro, refere-se à poluição do ar visível, que é o resultado de reações químicas entre vários poluentes primários de várias fontes poluidoras, sendo influenciado pelo clima e pela radiação solar. O smog industrial é típico de regiões frias e úmidas, em que os picos de concentração de poluentes ocorrem no inverno, dificultando a dispersão de poluentes. Os principais poluentes componentes desse tipo de smog provêm da queima de carvão e de óleo combustível, sendo os principais poluentes o dióxido de enxofre (SO2) e o material particulado, compostos que podem causar sérias lesões respiratórias, entre outros problemas. 35 Portanto, ocorrem em regiões industriais e em regiões em que é intensa a queima de carvão e/ou óleo para aquecimento doméstico ou, ainda, para a geração de energia elétrica por meio de usinas termelétricas (BRAGA et al., 2005). O smog fotoquímico, diferentemente do smog industrial, ocorre em cidades ensola- radas, quentes e de clima seco, em que os picos de poluição ocorrem em dias quentes, de muito sol, normalmente, entre as 10 e 12 horas. Sua principal característica é a sua cor avermelhada (BRAGA et al., 2005). O principal agente poluidor são os veículos, que geram poluentes como óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos. Na atmosfera, sob efeito da radiação solar, os gases sofrem várias reações, gerando novos poluentes, os oxidantes fotoquímicos, como o ozônio e o peróxi-acetil nitrato (PAN) (BRAGA et al., 2005). Por fim, destacamos que o smog industrial e o smog fotoquímico podem ocorrer de forma simultânea ou separada, em diferentes estações do ano, em uma mesma região, como ocorre, por exemplo, na cidade de São Paulo, sendo difícil distinguir a predominância de um determinado tipo de smog (BRAGA et al., 2005). Discutiremos, agora, sobre alguns dos principais problemas globais de polui- ção. A intensificação do efeito estufa e a destruição da camada de ozônio estão correlacionadas com a distribuição da energia solar na biosfera. O primeiro se relaciona com a energia degradada, o calor, que resulta das transformações de energia que ocorrem na biosfera; o segundo está ligado ao aumento da incidên- cia de radiação ultravioleta (UV) que atinge a superfície terrestre. Entender mais sobre cada um deles e sobre as chuvas ácidas. Naturalmente, o efeito estufa é responsável por manter a temperatura média do planeta próxima aos 15 °C. No entanto, as emissões dos denominados gases de efeito estufa (GEE) (Quadro 3), geradas pelas atividades humanas, aumentam a retenção das radiações infravermelhas, contribuindo para elevar a temperatura média global do planeta (BARBIERI, 2016). NOVAS DESCOBERTAS O acidente de Bhopal, na Índia, em 1984, em uma unidade da Union Carbide, é um exemplo da emissão acidental de poluente atmosférico tóxico, o qual provocou efeitos locais bastante significativos, como a mortalidade de pessoas que residiam na circunvizinhança da organi- zação. Assista ao documentário para saber mais sobre o assunto. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14145 UNIDADE 1 36 Descrição da Imagem: a ilustração mostra o efeito estufa. No canto superior esquerdo, temos o Sol; abaixo, uma linha larga e curva representa a atmosfera e atravessa horizontalmente a figura de lado a lado. Do Sol, saem três flechas: a primeira, menor, toca a atmosfera e retorna; junto, temos o texto “Refletido de volta ao espaço pela atmosfera”. A segunda flecha é maior e ultrapassa a camada atmosférica; junto, temos o texto “Luz solar absorvida na superfície”. A terceira flecha se divide em mais três; a primeira passa a atmosfera, mas retorna, e as duas outras ficam na camada atmosférica; junto às flechas, temos o texto “Luz solar refletida pela superfície”. Naparte inferior da imagem, temos quatro desenhos, da esquerda para direita: o primeiro é um refrigerador e um aerossol, abaixo, o texto “CFCs e haloalcano, refrigeradores e aerossóis”; depois, o desenho de um carro, um avião e um caminhão, abaixo, o texto “Óxido nitroso, gasolina e agricultura”; no próximo, temos um trator, um boi, dois silos e um galpão, abaixo, o texto “Metano, gado e fertilizante”; e, por último, o desenho de uma fábrica com três chaminés, abaixo, o texto “Dióxido de carbono, óleo e carvão”. Acima desses desenhos, temos uma linha que liga os quatro e uma seta diretiva à direita indicando para cima com o texto “Atividades humanas que liberam gases de efeito estufa”; depois, outra seta apontando para a camada atmosférica e o texto “Gases de efeito estufa retêm o calor do Sol”; ao lado, um termômetro indica alta temperatura. Figura 5 - Representação do efeito estufa 37 Segundo Barbieri (2016), conforme dados do Painel Intergovernamental sobre Mu- danças Climáticas — em inglês, Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) —, mostra-se que as concentrações de dióxido de carbono (CO2) aumentaram cerca de 40% desde 1750, início da era pré-industrial, em primeiro lugar, devido ao uso de combustíveis fósseis e, em segundo, às mudanças do uso do solo, como desmatamento de florestas nativas para assentamentos urbanos, distritos industriais, exploração mine- rária e agropastoril. Adicionalmente, Braga et al. (2005, p. 174) afirmam que “a queima de combustíveis fósseis é responsável pela maior parcela do dióxido de carbono emitido pela atmosfera”, o qual é o gás que mais contribui para a intensificação do efeito estufa; em segundo lugar, temos o metano (CH4), responsável por cerca de 15 a 20% (CETESB, [2022b]). Vejamos, no Quadro 3, os GEE e as principais fontes de emissão. Gás de efeito estufa Principais fontes de emissão Dióxido de carbono (CO2) • Queima de combustíveis fósseis — carvão mineral, petróleo, gás natural, turfa. • Alteração dos usos do solo. • Queimadas e desmatamentos que des- troem reservatórios naturais de flora e sumidouros, que têm a propriedade de absorver o CO2 do ar. Metano (CH4) • Componente primário do gás natural. • Produzido por bactérias anaeróbias no apa- relho digestivo de bovinos. • Aterros sanitários. • Plantações de arroz inundadas. • Tratamento biológico de águas residuárias. Óxido nitroso (N2O) • Uso de fertilizantes químicos. • Produção de ácidos. • Queima de biomassa e combustíveis fósseis. NOVAS DESCOBERTAS Acesse o QR Code para conhecer os relatórios do IPCC, organização científico-política criada em 1988 no âmbito das Nações Unidas. Eles apresentam diversas informações sobre as mudanças climáticas. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14146 UNIDADE 1 38 Gás de efeito estufa Principais fontes de emissão Clorofluorcarbonos (CFCs) • Utilizados em geladeiras, aparelhos de ar- -condicionado, isolamento térmico e espu- mas, como propelentes de aerossóis. • Entre outros usos comerciais e industriais. Ozônio (O3) • Formado na baixa atmosfera, sob estímu- lo do Sol, a partir de óxidos de nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos produzidos em usinas termoelétricas, pelos veículos, pelo uso de solventes e pelas queimadas. Halogenados — hidro- fluorocarbonos (HFCs), perfluorocarbonos (PFCs) e hexafluorsulfúrico (SF6) • Indústrias, refrigeração, aerossóis, propulso- res, espumas expandidas e solventes. Quadro 3 - Gases de efeito estufa e principais fontes de emissão / Fonte: adaptado de CETESB ([2022b]). Veremos mais adiante que alguns dos GEE também são gases considerados subs- tâncias que destroem a camada de ozônio. Vale ressaltar que cada GEE tem um potencial de aquecimento global — em inglês, Global Warming Potential (GWP). Por exemplo, o GWP do CO2 é igual a 1; o do CH4, igual a 21; o do N2O, igual a 310; e o do SF6, igual a 23.900; o que significa que o CH4 absorve cerca de 21 vezes mais radiação infravermelha do que o CO2, que o N2O absorve cerca de 310 vezes e que o SF6 absorve cerca de 23.900 vezes, respectivamente, considerando o horizonte de tempo de 100 anos. No entanto, mesmo que o GWP de todos os gases seja maior que o GWP do CO2, este se apresenta em maior quantidade que os demais, tendo, portanto, maior representatividade no efeito estufa (CETESB, [2022b]). Destacamos que as emissões de seis GEE, incluindo CO2, CH4, N2O, HFC, PFC e SF6, foram limitadas e a sua redução foi estabelecida por meio de metas do Protocolo de Kyoto, o qual foi criado no Japão em 1997 e entrou em vigor em 2005. Foi aprovado durante a terceira Conferência das Partes — em inglês, Conference of the Parties (COP) — (COP 3), compreendendo o Protocolo em que os países deveriam, individual ou conjuntamente, assegurar uma redução das emissões antrópicas de certos GEE em, pelo menos, 5% abaixo dos níveis de 1990, no período compreendido entre 2008 e 2012. Assim, os países que mais 39 contribuíram para aumentar as concentrações de GEE e tivessem crescimento econômico teriam mais responsabilidades que os países que contribuíram menos. O Brasil ratificou o protocolo em 2002 (BRASIL, [2022]). A COP se reúne periodicamente para avaliar resultados, estabelecer metas, dirimir controvérsias e criar mecanismos de gestão. O órgão supremo da Con- venção-Quadro sobre Mudança do Clima — em inglês, United Nations Fra- mework Convention on Climate Change (UNFCCC) —, também conhecida como Convenção sobre Mudança do Clima ou Convenção do Clima, entrou em vigor em 1995. Seu objetivo é estabilizar as concentrações de GEE na atmosfera em um nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climá- tico, compreendendo cinco componentes principais em interações complexas entre eles: atmosfera, hidrosfera, litosfera, biosfera e criosfera — regiões onde a água está em estado sólido, como as geleiras. Barbieri (2016, p. 31) cita que, para a Convenção, mudança do clima “é uma mudança que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altere a composição da atmosfera mundial e que se soma àquela produzida pela variabilidade natural do clima observada ao longo de períodos comparáveis”. As partes da Convenção do Clima, ou seja, os países signatários, possuem obrigações comuns, porém diferenciadas, entre elas, as partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. Uma das obrigações que se pode destacar são as provisões para atualizações, os chamados “Protocolos”, como o Protocolo de Kyoto que mencionamos, capazes de definir os limites obriga- tórios de emissões, em que as atualizações ocorrem periodicamente nas COP dos países signatários. Logo, para conter o avanço da concentração de GEE, foi necessário ampliar os compromissos de redução para todos os países e incluir outras fontes de emissões além das listadas no Protocolo de Kyoto. Assim, o período pós-Protocolo de Kyo- to se caracterizou por uma sucessão de iniciativas para firmar um acordo capaz de enfrentar o agravamento da situação climática. Portanto, na COP 20, realizada em 2014, em Lima, no Peru, surgiram as contribuições previstas determinadas nacionalmente — em inglês, Intended Nationally Determined Contributions (INDC) — e, em 2015, na COP 21, em Paris, na França, foi concluído o Acordo de Paris no âmbito da UNFCC. Conforme cita Barbieri (2016), os objetivos do Acordo de Paris são: UNICESUMAR UNIDADE 1 40 ■ Manter o aumento da temperatura média mundial abaixo de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais e continuar os esforços para limitar esse aumento a 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, reconhe- cendo que, assim, reduzir-se-iam consideravelmente os riscos e os im- pactos climáticos. ■ Aumentar a capacidade de adaptação aos impactos da mudança climática e promover resiliência ao clima e um desenvolvimento com baixas emis- sões de GEE que não comprometam a produção de alimentos.■ Aumentar os fluxos financeiros a um nível compatível com o caminho que conduza a um desenvolvimento resiliente ao clima e com baixas emissões de GEE. Podemos observar que os objetivos do Acordo de Paris se associam a dois concei- tos importantes relacionados à temática de mudança do clima, que são a mitiga- ção e a adaptação. O primeiro se refere aos esforços para limitar as emissões de GEE; o segundo se refere às ações realizadas para reduzir os impactos negativos decorrentes (BRASIL, 2020b). O Brasil ratificou o Acordo em 2016, comprometendo-se a reduzir as emis- sões de GEE em 37% abaixo dos níveis de 2005 até 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005 até 2030. Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética, restaurar e reflo- restar florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética até 2030 (BRASIL, [2022b]). Nesse contexto, apesar de todas as dificuldades, a implementação da Convenção- -Quadro sobre Mudança do Clima criou organismos e instrumentos de gestão glo- bal que influenciaram diversas iniciativas em todas as áreas de abrangência, como NOVAS DESCOBERTAS Acesse o QR Code ao lado para conhecer melhor sobre a nova Con- tribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil ao Acordo de Paris. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14147 41 iniciativas governamentais por meio de políticas públicas para reduzir a emissão de GEE, iniciativas empresariais, como a substituição de combustíveis por com- bustíveis de fontes renováveis, redução e eliminação de gases, aproveitamento dos gases de aterro e inúmeras práticas de neutralização de carbono (BARBIERI, 2016). Por fim, podemos concluir que, com a intensificação do efeito estufa, as modificações climáticas estão provocando o aquecimento global, como con- sequência, portanto, já temos e teremos, de forma mais intensa, problemas am- bientais, como a elevação do nível do oceano, impactos na agricultura, silvicultura e pecuária, e a elevação da tempera- tura afetará todos os seres vivos. Diante dessa problemática, podemos nos perguntar: mas como controlar a intensifica- ção do efeito estufa? Além da discussão já apresentada acerca das ações e protocolos da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, Braga et al. (2005) explicam que o con- trole do efeito estufa pode ocor- rer prioritariamente pelo controle das emissões de CO2, sendo a solução diminuir a emissão resultante da queima de combustível pela utilização de fontes alternativas de energia, melhoria da ma- triz energética pela utilização de mais fontes renováveis de energia, melhoria no sistema de transporte coletivo e o controle do desmatamento mundial, tal como outras medidas que discutiremos ao longo das demais unidades. A camada de ozônio, compreendida pelo gás ozônio (O3), trata-se da região estratosférica que tem a capacidade de funcionar como um atenuador da radiação ultravioleta, impedindo que níveis excessivos atinjam a superfície terrestre (PROGRAMA..., [2022]). A radiação ultravioleta pode ser dividida em três grupos em função do seu comprimento de onda, que está associado à intensidade de energia da radiação, compreendendo (BRAGA et al., 2005; PROGRAMA..., [2022]): UNICESUMAR UNIDADE 1 42 ■ Radiação ultravioleta do tipo A (UV-A): não é absorvida pela cama- da de ozônio e apresenta comprimento de onda de 320 a 400 nanôme- tros (nm), sendo este muito próximo da luz visível (violeta). ■ Radiação ultravioleta do tipo B (UV-B): 90% da radiação desse tipo é absorvida pelo ozônio, apresenta comprimento de onda de 280 a 320 nanômetros (nm). A exposição a essa radiação, nos seres humanos, está associada a diversos riscos, como danos à visão, envelhecimento pre- coce, supressão do sistema imunológico e desenvolvimento do câncer de pele. Nos animais, prejudica os estágios iniciais do desenvolvimento de peixes, camarões, caranguejos e outras formas de vida aquáticas e reduz a produtividade do fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática, provocando desequilíbrios ambientais, tal como danos em materiais e plantações. ■ Radiação ultravioleta do tipo C (UV-C): é completamente absorvida pelo ozônio e pelo oxigênio, apresenta comprimento de onda menor do que 280 (nm) e é extremamente prejudicial. O O3 utiliza essa radiação nas reações químicas associadas aos processos de formação e destruição dele mesmo, reações essas que estão em equilíbrio na estratosfera, mantendo estável a camada de ozônio. No entanto, devido à pre- sença de substâncias químicas emitidas pelas atividades humanas contendo átomos de cloro (Cl), flúor (F) e bromo (Br), o O3 estratosférico começou a ser destruído em escala maior do que ocorria naturalmente. Vale ressaltar que uma molécula de cloro pode destruir até 10 mil moléculas de ozônio. Assim, em outras palavras, podemos dizer que são substâncias que reagem devido à ação da radiação ultravioleta, liberando radicais livres que destroem as moléculas de O3 (BRAGA et al., 2005). A Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, realizada na Áustria, em 1985, contribuiu para o surgimento, em 1987, do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (SDOs), o qual se refere ao tratado internacional que entrou em vigor em 1989. Assim, o documento assinado pelos Estados-partes impõe obrigações específicas, em especial, à progressiva redução da produção e do consumo das SDOs até a sua total eliminação (PROGRAMA..., [2022]). As SDOs controladas pelo Protocolo de Montreal são apresentadas no Quadro 4. 43 Substância que destrói a camada de ozônio Principais fontes de emissão Status quanto ao consumo Clorofluorcar- bonos (CFCs) Utilizados no setor de espu- mas, limpeza, solventes farma- cêuticos e industriais, refrige- ração doméstica e comercial. O consumo de CFCs, no Bra- sil, foi proibido em 2010. Hidrocloro- fluorcarbonos (HCFCs) Substâncias alternativas aos CFCs e amplamente emprega- das nos setores de refrigera- ção doméstica e comercial e no setor de espumas. Estas possuem um menor potencial de destruição do ozônio em relação aos CFCs, mas ainda causam danos à camada de ozônio e apresen- tam um potencial mais eleva- do de aquecimento global. Estão, atualmente, em pro- cesso escalonado de redução do consumo, com eliminação prevista para 2040. Halons Utilizados em extintores de incêndio. Sua importação foi proibida em 2001 no Brasil. Atualmente, são utilizados somente halons regenerados, especificamente, Halon-1211 e Halon-1301. Brometo de metila Utilizado como solvente para limpeza, agente de processos químicos em indústrias e labo- ratórios e como matéria-prima para produção de CFC. Foi completamente eliminado no Brasil a partir de 2008. Tetracloreto de carbono (CTC) Utilizado como solvente indus- trial para limpeza. Seu consumo no Brasil foi eliminado em 2000. Hidrobromo- fluorcarbonos (HBFCs) Utilizados como agentes de expansão de espumas, como solventes e como fluidos de refrigeração. Não há consumo da substân- cia no Brasil. Quadro 4 - Substâncias que destroem a camada de ozônio, principais fontes de emissão e o status quanto ao consumo / Fonte: adaptado de Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs ([2022]). UNICESUMAR UNIDADE 1 44 Torna-se importante mencionarmos que o Brasil aderiu ao Protocolo de Mon- treal por meio do Decreto n° 99.280/1990 (BRASIL, 1990), tal como elaborou o Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH), que contempla a estratégia de controle, redução e eliminação dos HCFCs, seguido por uma redu- ção gradual até a completa eliminação em 2040, por meio de ações apoiadas com recursos do Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal (FML), o qual provê assistência técnica e financeira aos países em desenvolvimen- to com recursos provenientesdos países desenvolvidos (PROGRAMA..., [2022]). Outra consequência da emissão de gases poluentes é a chuva ácida. Segundo Braga et al. (2005), tra- ta-se da chuva formada por gases nitroge- nados e sulfurados, que, como já vimos anteriormente, são produzidos por diver- sas atividades e reagem com o vapor de água presente na atmosfera, produzin- do ácidos nítrico e sulfúrico, precipi- tando-se nos solos pela ação da chuva. A chuva, para ser considerada ácida, apresenta pH inferior a 5,6. Ainda, con- forme os mesmos autores, na região amazô- nica, já se verificaram chuvas com pH próxi- mo a 4,7, devido, provavelmente, à formação de ácido sulfídrico da oxidação do gás sulfídrico (H2S) produzido nos alagados ou na formação de áci- dos orgânicos, como fórmico e acético, na queima de biomassa. NOVAS DESCOBERTAS Acesse o QR Code para conhecer o cronograma de eliminação do con- sumo dos HCFCs no Brasil e os diversos programas, incluindo o setor de manufatura de espumas de poliuretano e de manufatura e de ser- viços de equipamentos de refrigeração e ar-condicionado. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14148 45 Como problemas ambientais, podemos destacar perdas de produtividade devido à acidificação dos solos, tal como a lixiviação dos nutrientes e a eliminação de orga- nismos presentes no solo. Como consequência, a acidificação da água, a destruição da vegetação, os danos a organismos e outros. Para a saúde humana, pode causar proble- mas respiratórios devido à formação de partículas de sais de amônio e, por fim, danos a obras civis e monumentos. De maneira geral, o controle da chuva ácida ocorre por meio do controle de óxidos de nitrogênio e de dióxido de enxofre (BRAGA et al., 2005). Você já ouviu falar em economia circular? Convidamos você para uma breve discussão sobre a nossa relação com os resíduos, mostrando a importância da transição do modelo de economia linear para a economia circular. Prezado(a) aluno(a), podemos entender que a poluição está associada à concen- tração ou à quantidade de resíduos presentes na água, no solo e no ar. Para que se possa exercer o controle da poluição, definem-se padrões ou indicadores de qualidade ambiental, estabelecidos nas legislações ambientais e em estudos sobre o tema, como, por exemplo, condições e padrões de qualidade do ar, da água e do solo que se deseja respeitar em um determinado ambiente. Você já parou para pensar se não houvesse processos para capturar, tratar e dispor os poluentes? Bem como processos para reduzir a geração da poluição na fonte geradora? Para Barbieri (2016), sem esses processos, a capacidade da Terra de sustentar a vida certamente já teria entrado em colapso pela variedade de poluentes gerados pelas atividades humanas, pelas quantidades lançadas ao longo do tempo e pelas quantidades de recursos utilizados. Dessa forma, para que as condições e os padrões de qualidade ambiental se- jam atendidos, torna-se necessária a aplicação de ações de prevenção e de controle da poluição, como ilustramos na Figura 5, com as quais você, como futuro(a) Gestor(a) Ambiental, atuará constantemente, seja na sua implantação nas orga- nizações ou no desenvolvimento de novas tecnologias. Agora, entenderemos do que tratam esses conceitos para que, nas unidades seguintes, possamos explorar as formas de prevenção e controle da poluição aplicadas aos diversos resíduos. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11107 UNIDADE 1 46 Em uma abordagem inicial para a discussão acerca dos conceitos, podemos citar que, dentre as práticas de Gestão Ambiental, a prevenção da poluição deve vir em primeiro lugar, no entanto, não existe nenhum processo totalmente eficiente, assim os resíduos que forem gerados, mesmo com as medidas de prevenção da poluição implantadas, devem ser tratados por meio de tecnologias de controle da poluição do tipo fim de tubo. Em outras palavras, as medidas de prevenção e de controle da poluição devem ser implementadas em conjunto. Adicionalmente, Barbieri (2016) ressalta que, do ponto de vista empresarial, conforme o tipo e a quantidade de poluentes, a abordagem de fim de tubo se torna complexa e eleva os custos de produção mediante obtenção de equipamentos, contratação de funcionários e outros. Do ponto de vista ambiental, esse tipo de abordagem é fundamental, mas insuficiente. Fundamental, pois, se os poluentes Descrição da Imagem: a figura mostra um fluxograma em blocos que se organiza de forma vertical, de cima para baixo. O primeiro bloco no topo, denominado “práticas de Gestão Ambiental”, está conectado com outros dois blocos, denominados, à esquerda, “prevenção da poluição” e, à direita, “controle da poluição”. Esses blocos estão interligados por um símbolo de soma, indicando que as medidas devem ser implementadas em conjunto. Cada um desses blocos estão conectados com mais um bloco, apre- sentando a definição dos termos e exemplos de medidas. A prevenção da poluição, no bloco à esquerda, consiste em medidas tomadas na fonte geradora com o intuito de diminuir a poluição, com exemplos de medidas como: substituição de materiais e insumos; mudanças de procedimentos; melhoria da orga- nização (housekeeping); e implantação de programas educacionais. O controle da poluição, no bloco à direita, consiste em medidas para tratar a poluição gerada ou para resolver um problema ambiental que já ocorreu, com exemplos de medidas como: controle no final do processo ou fim de tubo (sistemas de tratamento) e tecnologia de remediação. Figura 6 - Diferenças e associação dos conceitos de prevenção e controle da poluição / Fonte: a autora. 47 gerados fossem lançados no meio ambiente pelas fontes geradoras sem o devido tratamento e o atendimento aos padrões de qualidade ambiental, a capacidade de assimilação da Terra teria sido ultrapassada; e insuficiente, pois são voltados apenas para um lado do problema, o da poluição. Nesse contexto, inicialmente, discutiremos sobre o controle da poluição, o qual se caracteriza pelo estabelecimento de práticas com o intuito impedir os efeitos da poluição gerada por certo processo produtivo. As soluções tecnológicas buscam controlar a poluição gerada sem alterar seus processos produtivos, tendo dois tipos: tecnologia de remediação e controle no final do processo ou fim de tubo — em inglês, end of pipe control (BARBIERI, 2016). As tecnologias de fim de tubo procuram captar e tratar a poluição resul- tante de seus processos produtivos antes que seja lançada no meio ambiente, como um sistema de tratamento de emissões atmosféricas, de resíduos sólidos, uma planta de tratamento de efluentes líquidos, entre outros. Por outro lado, a tecnologia de remediação procura resolver problemas que já ocorreram, como, por exemplo, a aplicação de tecnologia para remediação de um solo contaminado por algum tipo de poluente (BARBIERI, 2016). Por outro lado, a prevenção da poluição visa evitar, reduzir ou modificar a geração de poluição, sendo necessárias mudanças em processos e produtos, ou seja, reduzir ou eliminar a geração de resíduos antes que eles sejam produzidos (BARBIERI, 2016). Assim, para melhor entendimento do conceito, apresentamos duas definições, conceituando a prevenção da poluição como: NOVAS DESCOBERTAS Título: Introdução ao Controle de Poluição Ambiental Autor: José Carlos Derisio Editora: Oficina de Textos Sinopse: o livro aborda os principais usos da água, do ar e do solo; os tipos de poluição que os afetam e os danos provocados; os parâ- metros e métodos para avaliação de qualidade; as técnicas de controle de poluição; e os aspectos legais e institucionais. A obra também trata da polui- ção decorrente de ruídos, vibrações e radiação, assim como de sistemas de Gestão Ambiental, de acordo com a norma ISO 14001:2015. UNICESUMAR UNIDADE 1 48 “ [...] qualquer prática, processo, técnica e tecnologia que visem a re-dução ou eliminação em volume, concentração e toxicidade dos poluentes na fonte geradora. Incluitambém modificações nos equi- pamentos, processos ou procedimentos, reformulação ou replaneja- mento de produtos, substituição de matérias-primas, eliminação de substâncias tóxicas, melhorias nos gerenciamentos administrativos e técnicos da empresa e otimização do uso das matérias-primas, energia, água e outros recursos naturais (CETESB, 2002, p. 3). [...] uso de processos, práticas, técnicas, materiais, produtos, serviços ou energia para evitar, reduzir ou controlar (separadamente ou em conjunto) a geração, a emissão ou a descarga de qualquer tipo de poluente, a fim de reduzir os impactos ambientais adversos. Pode incluir redução ou eliminação na fonte; modificações no processo, produto ou serviço; uso eficiente de recursos; substituição de ma- terial e de energia; reuso, recuperação, reciclagem, regeneração; ou tratamento (ABNT, 2015, p. 3). Portanto, podemos observar que esses conceitos nos mostram que, ao invés de tentar resolver os problemas de poluição após a sua geração, o melhor é procurarmos reduzir, de todas as maneiras, a geração de poluição por meio de modificações, práticas, mudanças de hábitos, incluindo, a conservação ou o uso mais eficiente dos recursos naturais (EPA, 1997 apud BRAGA et al., 2005). Braga et al. (2005) apresentam os princípios básicos da prevenção da poluição, os quais podem ser utilizados em organizações e, até mesmo, em nossas residências e estão apresentados a seguir: ■ Substituição de materiais e insumos: não utilização de produtos tóxi- cos, como, preferencialmente, substâncias que utilizam água como solven- te em vez de solventes orgânicos, uso de materiais advindos de recursos naturais renováveis e uso de energia de fontes renováveis. ■ Mudanças de procedimentos: métodos mais eficientes para as ativi- dades industriais, como métodos contínuos de produção, alteração de configurações geométricas dos produtos para melhor aproveitamento dos materiais e redução das embalagens, identificar tecnologias mais efi- cientes e enxutas e sempre levar em consideração os aspectos ambientais no desenvolvimento de produtos. 49 ■ Melhorar a organização (housekeeping): adotar procedimentos que visem manter, de uma forma organizada e limpa, todas as áreas da empresa e da nossa própria casa, como evitar derramamentos e vazamentos, identificar os recipientes com materiais e substâncias, desenvolver programas de manutenção preventiva e utilizar arranjos que favoreçam a contenção de possíveis vazamentos. ■ Programas educacionais: desenvolver programas de sensibilização abordando os problemas associados à poluição, enfatizando a necessi- dade da adoção de estratégias de prevenção da poluição e dos benefícios que elas podem proporcionar. Adicionalmente, podemos entender que a prevenção da poluição combi- na o uso sustentável dos recursos — redução da poluição na fonte, reuso, reciclagem e recuperação energética — e o controle da poluição — tra- tamento e disposição final —, sendo essa a hierarquia a ser adotada para a Gestão Ambiental com a introdução da prevenção da poluição (BRAGA et al., 2005; BARBIERI, 2016). Assim, reduzir na fonte é sempre a primeira opção. Logo, para melhor compreen- são, entenderemos, agora, do que trata cada prioridade da prevenção da poluição: ■ Redução da poluição na fonte: significa diminuir a quantidade quanto à geração de poluentes e sua toxicidade, ou seja, produzir o mínimo de resíduos, tal como substituir insumos e/ou matérias-primas para reduzir o grau de periculosidade dos resíduos. NOVAS DESCOBERTAS Disponível no QR Code, você poderá explorar um conteúdo sobre a Produção Mais Limpa ou P+L, a qual é uma ferramenta de Gestão Am- biental baseada na prevenção da poluição que você poderá utilizar como Gestor(a) Ambiental. Conhecerá, também, o passo a passo para implantação de um programa de P+L e os diversos guias de setores produtivos específicos, contendo uma descrição dos processos, os principais impactos ambientais potenciais e as medidas de P+L apli- cáveis a cada um. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14149 UNIDADE 1 50 ■ Reutilização: refere-se à reutilização interna dos resíduos na organização que os gerou, ou seja, a utilização na forma em que os resíduos foram gerados, sem que haja alterações físicas, químicas ou biológicas deles. São exemplos: reaproveitamento de restos de matérias-primas, insumos, produtos e outros; usar a água após seu uso antes de tratá-la para esfriar algum equipamento; usar tambores e outras embalagens para acondicio- namento de resíduos não perigosos; entre outros. ■ Reciclagem: refere-se ao processo de transformação dos resíduos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou bio- lógicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos. Na reciclagem interna, ocorre o tratamento dos resíduos para torná-los nova- mente aproveitáveis na fonte geradora, tal como a reciclagem externa, em que os resíduos de uma organização são utilizados em outra. São exem- plos: tratamento dos efluentes líquidos antes de sua utilização, secagem de resíduo para uso como combustível e outros. Ainda, como nem todos os resíduos podem ser reutilizados ou reciclados, interna ou externamente, como uma terceira alternativa, citamos o reaproveitamento do seu poder calorífico para geração de energia (térmica ou elétrica), caso seja possível. São exemplos: processos térmicos, como a incineração e o coprocessa- mento de resíduos sólidos, processos biológicos, por meio da digestão anaeróbia aplicada a resíduos sólidos orgânicos e efluentes líquidos para geração de biogás, e a compostagem para resíduos sólidos orgânicos. Podemos destacar que a prevenção da poluição pode ser implantada na or- ganização de maneira simples, em uma parte do processo que não exija grandes investimentos, por exemplo, mantendo a planta organizada, limpa, realizando manutenção preventiva dos equipamentos e outros. Espera-se que a geração de resíduos sem a possibilidade de aproveitamento seja mínima e que, como última opção, ocorra a disposição final deles. Por fim, destacamos que, para a aplicação de ações voltadas à reutilização e à reciclagem — interna ou externa —, tal como tecnologias visando à recu- peração energética e à disposição final, devem ser observadas as condições e os padrões estabelecidos nas legislações ambientais aplicáveis e conforme diretrizes dos órgãos ambientais competentes, conforme estudaremos nas unidades seguintes. 51 Agora, é a sua vez! Imagine como você poderá aplicar os conhecimen- tos adquiridos nesta unidade na sua atuação como futuro(a) Gestor(a) Ambiental. Primeiramente, o enten- dimento dos conceitos básicos se tor- na fundamental para o entendimento mais aprofundado sobre o gerencia- mento de resíduos, sejam os resíduos sólidos, os efluentes líquidos e os po- luentes gasosos, tal como outros po- luentes. Em outras palavras, trata-se de um “ponto de partida” para avançar- mos nas unidades seguintes, seja para mostrar a origem e a importância do significado dos conceitos aplicáveis, seja para despertar a sua curiosidade e vontade de aprender mais. Em um segundo momento, com- preender que os problemas ambientais são reais e que a geração de resíduos é inerente a qualquer atividade ou pro- cesso produtivo, no entanto, paralela- mente, deve-se buscar alternativas para prevenção e controle da poluição por meio de ações a nível local, regional ou global. Portanto, prezado(a) aluno(a), a aplicação dos conceitos e das ações farão parte da sua rotina na atuação como profissional de Gestão Ambien- tal desde a elaboração e implantação de projetos ambientais, nas práticas de educação ambiental, no gerenciamen- to dos resíduos e em outras atividades associadas à área ambiental. UNICESUMAR 52 1. O aumento da população funciona como um fermento para o aumento do con- sumo. A obsessão pelo crescimento demoeconômico contínuo fez a humanidade ultrapassar a capacidade de carga do PlanetaTerra. O alerta é de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. IHU. A Contribuição do Decrescimento Populacional para o Meio Ambiente no Século XXI. 2018. Disponível em: https://is.gd/l9iSOP. Acesso em: 1 jun. 2022. Considerando o crescimento populacional e a sua relação com a poluição ambiental, analise as afirmativas seguintes. I - As marcas do crescimento populacional são visíveis sob a ótica ambiental, resul- tando em poluição das águas, do solo e do ar, entre outros. II - O modo de exploração dos recursos pelo ser humano tem ligação direta com a questão de exploração dos recursos naturais para a sua subsistência, assim, desse modo de desenvolvimento, surgiu a chamada poluição. III - São exemplos de impactos ambientais a eutrofização, a perda da biodiversidade e o aquecimento global. IV - As atividades agropecuárias podem ser consideradas como fontes naturais de poluição, pois parte dos gases poluentes são emitidos pelos animais. É correto o que se afirma em: a) IV, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV. https://is.gd/l9iSOP 53 2. São exemplos de tratados internacionais o Protocolo de Montreal, criado em 1987, e o de Kyoto, de 1997, o primeiro, com 191 signatários, e o segundo, 174. Tal como em 2015, a criação do Acordo de Paris. Nos quais, dizem respeito à defesa do meio ambiente, evitando que atividades humanas (antrópicas) inviabilizem a vida sobre a Terra, poluindo-a e degradando-a. SILVA, D. H. da. Protocolos de Montreal e Kyoto: pontos em comum e diferenças fundamentais. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 52, n. 2, p. 155–172, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbpi/a/zjQVHn4TnX4LJcpfYDssBbS/?lan- g=pt. Acesso em: 1 jun. 2022. Nesse contexto, analise as afirmativas sobre os acordos internacionais. I - O Protocolo de Montreal, o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris controlam gases que provocam a destruição da camada de ozônio e o efeito estufa, res- pectivamente. II - Especificamente, o Protocolo de Montreal objetiva substituir as substâncias que demonstraram reagir quimicamente com o ozônio na parte superior da estratos- fera, as denominadas Substâncias Destruidoras da Camada de Ozônio (SDOs). III - São exemplos de SDOs: os grupos clorofluocarbonos (CFCs), halons, tetracloretos de carbono (CTCs) e hidroclorofluorcarbono (HCFCs), emitidos em todo o globo a partir dos processos de industrialização. IV - Os gases que provocam o efeito estufa que foram estabelecidos pelo Protocolo de Kyoto são o gás carbônico (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o hidrofluorcarbono (HFC), o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluorsulfúrico (SF6). É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. https://www.scielo.br/j/rbpi/a/zjQVHn4TnX4LJcpfYDssBbS/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbpi/a/zjQVHn4TnX4LJcpfYDssBbS/?lang=pt 54 3. De acordo com Barbieri (2016), a abordagem do controle da poluição por meio das medidas de fim de tubo, do ponto de vista ambiental, é fundamental, mas insuficien- te. Fundamental pois, se os poluentes gerados fossem lançados no meio ambiente pelas fontes geradoras sem o devido tratamento e o atendimento aos padrões de qualidade ambiental, a capacidade de assimilação da Terra teria sido ultrapassada; e insuficiente pois são voltados apenas para um lado do problema, o da poluição. BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Sobre as medidas de controle e de prevenção da poluição, analise a imagem a seguir e assinale a alternativa correta. Fonte: adaptada de Barbieri (2016). a) Mostra que as medidas de controle e de prevenção da poluição devem ser im- plementadas em conjunto. b) Refere-se à ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos. c) Trata-se da hierarquia a ser adotada para a Gestão Ambiental com a introdução da prevenção da poluição. d) Apresenta a ordem no uso dos recursos naturais e no controle da poluição. e) Mostra a hierarquia no controle da poluição, em que a prioridade é a disposição final ambientalmente adequada dos resíduos. 2Gerenciamento de Águas Residuárias Me. Paula Polastri Nesta unidade, estudaremos sobre as águas residuárias, as suas prin- cipais características e os parâmetros de controle; tal como as legis- lações aplicáveis vigentes e os padrões de lançamento de efluentes e de qualidade dos corpos d’água no Brasil. Apresentaremos, também, informações sobre a amostragem de efluentes, os níveis de tratamen- to, as alternativas de aplicação e de reuso do efluente tratado. UNIDADE 2 56 Prezado(a) aluno(a), você já parou para observar que a interferência dos seres humanos no ciclo hidrológico contribui para o esgotamento de recursos hídricos e com a introdução de compostos nas águas superficiais e subterrâneas? E que, com a utilização da água como recurso hídrico, esta sofre novas transformações na sua qualidade, vindo a se constituir como um efluente líquido? E que estes efluentes retornam ao meio ambiente, podendo causar a poluição das águas, de- vendo esta ser controlada por meio da gestão dos efluentes? Sabemos que a água é indispensável para a sobrevivência de todos os seres vivos e para diversos usos, como abastecimento doméstico, uso industrial, entre outros. Também, sabemos que a água é um recurso natural renovável, porém finito. Assim, ela se movimenta em nosso planeta pelo ciclo hidrológico ou ciclo da água. Antes, os seres vivos interagiam com esse ciclo de forma equilibrada, no entanto, as civilizações humanas, ao atingir um certo grau de desenvolvimento, passaram a interferir de forma mais intensa nesse ciclo, como no caso da retirada de água de fontes superficiais — rios e lagos — ou subterrâneas — lençóis freáticos e aquíferos —, a qual se torna superior à reposição de água que o ciclo hidrológico pode proporcionar (CLAAS; MAIA, 2003). 57 Entendemos que a água permanece em sua forma líquida, mas tem suas características alteradas em virtude da sua utilização. Em outras palavras, a água bruta é retirada de fontes superficiais ou subterrâneas e possui uma determina- da qualidade; ainda, a tratada é a que passou por etapas de tratamento para se adequar aos usos previstos e passa a ser denominada água usada (SPERLING, 2014), isto é, o que conhecemos como efluente, esgoto ou água residuária. Logo, o produto da utilização da água, o efluente, precisa de tratamento e disposição final adequados para que não resulte em poluição das águas. Em nossa discussão até este momento, podemos observar que uma par- cela da água que utilizamos, seja para produzir itens do nosso cotidiano, seja para uso em nossas residências, é transformada em efluente. Um exemplo é a nossa conta de água. Veja, na sua conta de água, que ela apresenta informações sobre o consumo de água mensal, os valores dos serviços de abastecimento de água, o esgotamento sanitário e, também, informações sobre a qualidade da água distribuída. De acordo com os diagnósticos dos serviços de água e esgoto do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) (BRASIL, 2021), para o cálculo do índice de tratamento dos esgotos gerados, estima-se o volume de esgoto gerado em relação ao volume de água consumido. Entendemos, então, que, ao reduzir o uso da água, haverá a redução da retirada de água do meio ambiente, da geração de efluentes e de custos, tanto para os consumidores como para os responsáveis pelos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Logo, podemos fazer uma associação: quanto maior o consumo de água, maior será a geração de efluentes, não é mesmo? Tudo o que usamos e consumimos tem uma “pegada hídrica”, que é a quan- tidade de água que você consomeem sua vida diária. No entanto, o nosso uso de água não se limita à água que sai do chuveiro ou das torneiras, ou seja, ain- da existe a água que não vemos e que consumimos sem perceber. Trata-se da água utilizada nos processos produtivos e em diversas atividades, sendo esta responsável pela maior parte da água que usamos, incluindo a que é usada na agricultura, para produzir a energia e para todos os produtos utilizados diariamente. Dessa forma, podemos entender que, mesmo que indiretamente, afetamos os recursos hídricos em todo o mundo. UNIDADE 2 UNIDADE 2 58 Agora, é a sua vez! Pense em como você poderia reduzir o seu uso de água e a geração de efluentes, seja em sua casa, no trabalho ou nos locais em que frequenta. Proponho que você acesse o QR Code para avaliar qual é a sua pegada hídrica. Assim, você poderá avaliar a quantidade de água que consome diariamente e, em seguida, tomar medidas para reduzir a sua pegada hídrica ou, até mesmo, atuar em ações que ajudem outras pessoas ou, como futuro(a) Gestor(a) Ambiental em organizações, a tornar o uso da água mais sustentável e promover ações de prevenção da poluição, como a redução da geração de efluentes. Agora, convido-lhe a registrar, no Diário de Bordo, as suas reflexões e os seus questionamentos sobre a relação do ser humano com o uso da água, a geração de efluentes e a poluição das águas. Ficou surpreso(a) com o seu resul- tado na avaliação da sua “pegada hídrica”? Que perguntas vieram à sua mente? Como promover a conservação da água? Como evitar a poluição das águas? Para onde são destinados os efluentes gerados em sua residência, nas indústrias, nas áreas rurais e nos demais locais de geração de efluentes? Como tratar esses efluentes e devolvê-los ao meio ambiente atendendo às legislações aplicáveis? É possível reusar o efluente após o seu tratamento? Seu município é dotado de esgotamento sanitário? Quanto aos serviços de água e esgoto, 100% da popu- lação brasileira é atendida? Como você, futuro(a) Gestor(a) Ambiental, poderá atuar nessas questões? Pense nisso! 59 Iniciaremos a nossa discussão ao abordar alguns conceitos de forma a esclarecer melhor alguns itens que veremos adiante. O termo efluente é usado para “caracterizar os despejos líquidos provenientes de diversas atividades ou processos” (CONAMA, 2011, p. 2). Trata-se da água usa- da proveniente de habitações, comércio, cidades, indústrias e agricultura (MET- CALF; EDDY, 2016). Também, são utilizados, de maneira análoga, os termos efluente líquido, água residuária, esgoto, despejo, podendo ser diferenciadas por meio de sua composição, constituindo-se em efluente ou esgoto sanitário, industrial, hospitalar, agrícola, lixiviado de aterros sanitários, entre outros. Os termos água residuária bruta ou in natura e tratada compreendem o efluente que ainda não passou por tratamento e o efluente que recebeu trata- mento, respectivamente. Os despejos afluentes — ou carga afluente ou, simples- mente, afluente — referem-se ao efluente de entrada no sistema de tratamento de efluentes. E, ainda, o termo corpo d’água receptor se trata do “corpo hídrico superficial que recebe o lançamento de um efluente” (CONAMA, 2005, p. 2). O efluente ou esgoto sanitário, também conhecido como esgoto domés- tico, trata-se da “denominação genérica para despejos líquidos residenciais, co- merciais, águas de infiltração na rede coletora, os quais podem conter parcela de efluentes industriais e efluentes não domésticos” (CONAMA, 2011, p. 2). Os esgo- tos domésticos são compostos por, aproximadamente, 99,9% de água, enquanto a fração restante, ou seja, 0,1%, corresponde a uma associação de sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos ou dissolvidos e microrganismos. Logo, a característica dos esgotos domésticos é função dos usos aos quais a água foi submetida, sendo que esses usos e a forma com que são exercidos variam com o clima, a situação socioeconômica e os hábitos da população (SPERLING, 2014). Considerando a grande variedade de constituintes que podem ser encon- trados nos esgotos domésticos e demais tipos de efluentes, é prática comum caracterizar o esgoto segundo suas propriedades físicas, químicas e biológicas (METCALF; EDDY, 2016). Apresentaremos, então, as principais característi- cas das águas residuárias, que também podem ser considerados parâmetros de qualidade e controle dessas águas, ou seja, em termos de tratamento de águas residuárias e em termos de corpos d’água, pois muitos deles são apli- cáveis aos principais poluentes dos corpos d’água. Em relação às principais características físicas dos efluentes, destacamos os parâmetros tempera- tura, cor, odor e turbidez. UNIDADE 2 UNIDADE 2 60 O parâmetro temperatura se refere à medição da intensidade de calor — normalmente, expressa em graus Celsius (°C) — e está relacionada com a atividade microbiana, a solubilidade dos gases, e a velocidade de reações químicas. Em termos de tratamento de águas residuárias, a temperatura deve proporcionar condições para as reações bioquímicas de remoção de poluen- tes; já em corpos d’água, pode causar alterações nas espécies de peixes e deve ser analisada em conjunto com outros parâmetros, como oxigênio dissolvido (SPERLING, 2014). A solubilidade dos gases é inversamente proporcional à temperatura, ou seja, quanto maior a temperatura, menor a concentração de oxigênio na água (CLAAS; MAIA, 2003). O parâmetro cor é responsável pela coloração dos efluentes, em que o constituinte responsável são os sólidos dissolvidos, tal como é diretamente influenciada pela decomposição da matéria orgânica. Deve-se distinguir entre cor aparente e cor verdadeira, já que, no valor da cor aparente, pode estar incluída uma parcela devido à turbidez e, quando esta é removida por cen- trifugação, obtém-se a cor verdadeira (SPERLING, 2014). Logo, a coloração dos efluentes domésticos, por exemplo, quando o esgoto se encontra fresco, apresenta, usualmente, uma cor marrom acinzentado claro e, conforme o tem- po de passagem pelo sistema de coleta aumenta, a cor do esgoto se modifica, passando de cinza-claro para cinza-escuro ou preto, representando o esgoto séptico. Alguns efluentes industriais também podem adicionar cor ao esgoto doméstico (METCALF; EDDY, 2016). Você já deve ter ouvido falar em águas cinza e águas negras. Em nossas residências, as águas cinza-claro são o efluente gerado nos chuveiros, nas banheiras, nos lavatórios, nos tanques e nas máquinas de lavar roupa. Já a água proveniente das bacias sanitá- rias é o esgoto séptico, apresentando cor cinza escuro ou preto, por isso, denominam- -se águas negras. Fonte: adaptado de ABNT (2019). EXPLORANDO IDEIAS 61 O parâmetro odor é desagradável devido aos gases dissolvidos e aos gases libera- dos em função do processo de decomposição da matéria orgânica. Um exemplo é o gás sulfídrico ou sulfeto de hidrogênio (H2S). Já o parâmetro turbidez representa o grau de interferência na passagem da luz pela água, conferindo uma aparência turva, em que o constituinte responsável são os sólidos em suspensão, como areia, argila, material orgânico e inorgânico e microrganismos. Esgotos mais frescos ou mais concentrados, geralmente, apre- sentam maior turbidez. A importância ambiental desse parâmetro se associa aos compostos tóxicos e aos organismos patogênicos e, em corpos d’água, pode reduzir a penetração da luz, prejudicando a fotossíntese (SPERLING, 2014). Em relação às características químicas, estas são apresentadas no Quadro 1. De acordo com Sperling (2014), para os parâmetros que apresentaremos a seguir, os principais relativos aos esgotos domésticos são sólidos, indicadores de matéria orgânica, nitrogênio, fósforo e indicadores de contaminação fecal. No entanto, estes e outros também podem ser parâmetros importantes relacionados aos demais tipos de efluentes. Parâmetro Descrição Potencial hidrogeniônico (pH) Representa a concentração de íons hidrogê- nio (H+), sendo um indicador das condiçõesalcalinas, neutras ou ácidas de efluentes. A faixa de pH é de 0 a 14, de forma que pH menor do que 7 indica condições ácidas; pH igual a 7, neutralidade; e pH maior do que 7, condições básicas. Alcalinidade Indicador da capacidade tampão do meio, ou seja, capacidade de resistir às mudan- ças de pH. A alcalinidade dos efluentes se deve à presença de bicarbonatos (HCO3 -), carbonatos (CO3 2-) e hidróxidos (OH-), sendo a distribuição entre as três formas no meio em função do pH. UNIDADE 2 UNIDADE 2 62 Parâmetro Descrição Oxigênio dissolvido (OD) De essencial importância para os organis- mos aeróbios — que vivem na presença de oxigênio. Durante a estabilização da matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio nos seus processos respiratórios, podendo vir a causar a redução da sua concentração no meio. Caso o oxigênio seja totalmente consumido, têm-se condições anaeróbias — ausência de oxigênio —, causando mortan- dade de diversos organismos aquáticos. Sólidos totais Sólidos em suspensão Fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos que são retidos em filtros de papel com aberturas de dimensões padronizadas — 0,45 a 2,0 µm (micrômetros). • Fixos Componentes minerais, não incineráveis, inertes dos sólidos em suspensão. • Voláteis Componentes orgânicos dos sólidos em suspensão. Sólidos dissolvidos Fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos que não são retidos nos filtros de papel com aberturas de dimensões padronizadas — 0,45 a 2,0 µm. Englobam, também, os sólidos coloidais. • Fixos Componentes minerais dos sólidos dissolvidos. • Voláteis Componentes orgânicos dos sólidos dissol- vidos. Sólidos sedimentáveis Fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos que sedimenta em uma hora no cone Imhoff. 63 Parâmetro Descrição Matéria orgânica Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) Está associada à fração biodegradável dos componentes orgânicos carbonáceos, sendo a medida do oxigênio consumido após cinco dias pelos microrganismos na oxidação bio- química da matéria orgânica. Demanda Química de Oxigênio (DQO) Representa a quantidade de oxigênio reque- rida para estabilizar quimicamente a matéria orgânica carbonácea. Utiliza fortes agentes oxidantes — dicromato de potássio — em condições ácidas. Carbono Orgânico Total (COT) Presente em substâncias orgânicas, sendo determinado por meio da conversão do carbono orgânico a gás carbônico. Nitrogênio total Nitrogênio orgânico Nitrogênio na forma de proteínas, aminoáci- dos e ureia. Amônia Produzida no primeiro estágio da decompo- sição do nitrogênio orgânico. Nitrito Estágio intermediário da oxidação da amô- nia, praticamente ausente no esgoto bruto. Nitrato Produto final da oxidação da amônia, prati- camente ausente no esgoto bruto. Fósforo total Fósforo orgânico Combinado à matéria orgânica. Fósforo inorgânico Ortofosfato e polifosfatos. Quadro 1 - Principais características químicas dos efluentes Fonte: adaptado de Sperling (2014) e Metcalf e Eddy (2016). UNIDADE 2 UNIDADE 2 64 O parâmetro pH é utilizado para caracterização de águas residuárias brutas e de corpos d’água, bem como para controle da operação de estações de tra- tamento de efluentes. Em termos de tratamento de águas residuárias, valores de pH afastados da neutralidade tendem a afetar as taxas de crescimento dos microrganismos, bem como a variação do pH influencia o equilíbrio de compostos químicos. Em termos de corpos d’água, valores elevados de pH podem estar associados à proliferação de algas (SPERLING, 2014). Ainda, segundo Claas e Maia (2003), a maioria dos organismos não sobrevive a pH acima de 9 ou abaixo de 5. A alcalinidade e a capacidade de tamponamento tratam da capacida- de de uma solução evitar mudanças de pH, sendo que uma solução tampão consiste na mistura de um ácido fraco com seu sal correspondente, possibi- litando o agrupamento dos íons H+ e OH-, evitando tanto o aumento como a diminuição do pH. Esse parâmetro é utilizado para caracterização de águas residuárias brutas e também no tratamento de águas residuárias, pois a redu- ção do pH pode afetar os microrganismos responsáveis pela degradação da matéria orgânica. Trata-se de um parâmetro muito importante no tratamento biológico de efluentes em reatores anaeróbios, sendo necessário um valor mí- nimo aceitável de alcalinidade que pode ser gerada a partir do esgoto afluente — esgoto que entra na estação de tratamento — ou pode ser suplementada por meio de compostos químicos (SPERLING, 2014; CHERNICHARO, 2019). O parâmetro oxigênio dissolvido (OD) é necessário para os organis- mos aquáticos aeróbios — que sobrevivem na presença de oxigênio — e é o principal parâmetro de caracterização do efeito da poluição das águas por efluentes com alta carga orgânica. Dessa forma, em termos de tratamento de águas residuárias, é necessário um teor mínimo de oxigênio dissolvido em sistemas aeróbios do tratamento biológico de efluentes. Em termos dos corpos d’água, a solubilidade do OD varia com a altitude e temperatura, sendo que a concentração de OD na água limpa é de 9,2 mg/L (miligramas por litro), valores de OD inferiores a este são indicativos da presença de matéria orgâni- ca, provavelmente, esgotos. Com OD em torno de 4 a 5 mg/L, os peixes mais exigentes não sobrevivem; com OD igual a 2 mg/L, praticamente nenhum peixe sobrevive; e, com OD igual a zero, têm-se condições de anaerobiose ou anaeróbias — ausência de oxigênio (SPERLING, 2014). 65 Os sólidos totais presentes nos esgotos podem ser classificados, de acordo com as suas características físicas, em tamanho e estado, incluindo os sólidos em suspensão e dissolvidos; com as suas características químicas, em sóli- dos orgânicos e inorgânicos, incluindo os sólidos voláteis e fixos; e, com a sua sedimentabilidade, em sólidos em suspensão sedimentáveis e sólidos em suspensão não sedimentáveis. Na classificação pelas características físicas de tamanho e estado, as par- tículas de menores dimensões, capazes de passar por um papel de filtro de ta- manho especificado, correspondem aos sólidos dissolvidos ou filtráveis — por exemplo, sais e matéria orgânica —, enquanto as de maiores dimensões, retidas no papel de filtro, são consideradas sólidos em suspensão ou sólidos não fil- tráveis. E, em uma faixa intermediária, situam-se os sólidos coloidais — por exemplo, argilas —, sendo que a maior parte dos sólidos coloidais entra como sólidos dissolvidos, e o restante, como sólidos em suspensão (SPERLING, 2014). Na classificação pelas características químicas, ao submeter os sólidos a uma temperatura elevada (550 °C), a fração orgânica é oxidada (volatilizada), permanecendo, após a combustão, apenas a fração inorgânica (não oxidada). Assim, os sólidos voláteis representam uma estimativa da matéria orgânica nos sólidos, e os sólidos fixos ou inertes — sólidos não voláteis, também denomina- dos cinzas — representam a matéria inorgânica ou mineral (SPERLING, 2014). Por fim, na classificação pela sedimentabilidade, os sólidos capazes de sedimentar no período de uma hora, em um recipiente denominado cone Imhoff — expresso em mL/L (mililitros por litro) —, são os sólidos sedimentáveis (SPERLING, 2014). A Figura 1 ilustra o ensaio de uma amostra de efluentes para determinação dos sólidos sedimentáveis. Para determinação dos parâmetros físico-químicos, as análises realizadas em laboratório seguem conforme os métodos descritos pelo Standard Methods for The Examination of Water and Wastewater da American Public Health Association (APHA) — em português, Métodos Padronizados para Ensaios de Água e Esgoto da Associação Americana de Saúde Pública. Você pode acessar o documento ao pesquisar o título informado. Fonte: adaptado de APHA (1998). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 2 UNIDADE 2 66 Agora, discutiremos a respeito da matéria or- gânica, uma característi- ca de suma importância, podendo ser a principal causadora de poluição das águas. Seu principal efeito ecológico,em um curso d’água, é o decrésci- mo dos teores de oxigênio dissolvido, causado pela respiração dos micror- ganismos que se alimen- tam da matéria orgânica (SPERLING, 2014). Por isso, quando lançada em pequenas quantidades, é assimilada pelos orga- nismos vivos dos ecos- sistemas aquáticos, mas, em excesso, pode causar sérios danos, pois será consumida pelas bacté- rias, que terão condições de se multiplicar rapi- damente, consumindo grande quantidade de oxigênio. Logo, o consumo de oxigênio passa a ser maior do que a concentração disponível, podendo ocorrer a morte de organismos aquáticos aeróbios, como peixes e outros (CLAAS; MAIA, 2003). Portanto, quando falamos de matéria orgânica, referimo-nos às substâncias or- gânicas presentes no esgoto e nos efluentes em geral, sendo constituídas, principal- mente, por proteínas (40 a 60%), carboidratos (25 a 50%), gorduras e óleos (8 a 12%), além de ureia, fenóis, surfactantes, pesticidas, metais e outros, sendo esses em menor quantidade (METCALF; EDDY, 2016). Dessa forma, a oxidação da matéria orgânica presente nos efluentes pode ser representada pela seguinte reação: Descrição da Imagem: a figura é uma foto que mostra um en- saio representando a determinação da sedimentação natural dos sólidos em suspensão na amostra de um efluente. A figura apre- senta dois cones Imhoff, compreendendo recipientes de vidro no formato cônico graduado com volume de 1 litro dispostos em um suporte em acrílico com capacidade para 2 cones, usado para fa- cilitar o manuseio e a visualização do processo de sedimentação. Figura 1 - Cones Imhoff com amostra de efluente 67 Matéria orgânica COHNS bactérias CO H O NHO ( ) � � � � �2 2 2 33 � �outros produtos finais energia Matéria orgânica COHNS bactérias CO H O NHO ( ) � � � � �2 2 2 33 � �outros produtos finais energia Em que: Matéria orgânica em termos de COHNS = carbono (C), oxigênio (O), hidro- gênio (H), nitrogênio (N) e enxofre (S). O2 = oxigênio. CO2 = dióxido de carbono. H2O = água. NH3 = amônia. Veja que, na conversão aeróbia — presença de oxigênio da matéria orgâni- ca —, são formados produtos como o dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2) e água (H2O). No entanto, na conversão anaeróbia — ausência de oxigênio da matéria orgânica —, tem-se a formação de metano (CH4) e gás carbônico. Assim, a matéria orgânica pode ser classificada de duas formas, sendo determinada em laboratório por distintos métodos, conforme se mos- tra no Quadro 2. Classificação Determinação Quanto à forma e tamanho Em suspensão (particulada) Método direto (medição do carbono orgânico) Carbono Orgânico Total (COT)Dissolvida (solúvel) Quanto à biodegradabilidade Inerte Métodos indiretos (medição do consumo de oxigênio) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) Biodegradável Demanda Química de Oxigênio (DQO) Quadro 2 - Classificação e determinação da matéria orgânica presente nos efluentes Fonte: adaptado de Sperling (2014). UNIDADE 2 UNIDADE 2 68 Nesse momento, torna-se importante entender como surgiu o termo Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). “A ideia de se medir o potencial de poluição de um determinado despejo surgiu a partir do consumo de oxigênio que ele traria, ou seja, uma quantificação indireta da potencialidade da geração de um impacto, e não a medição direta do impacto em si” (SPERLING, 2014, p. 88). Assim, foi determinado um importante conceito, a DBO, a qual “retrata a quantidade de oxigênio requerida para estabilizar, por meio de processos bioquímicos, a matéria orgânica carbonácea” (SPERLING, 2014, p. 88). Em outras palavras, a concen- tração da matéria orgânica pode ser medida por meio do consumo de oxigênio pelas bactérias, sendo determinada pela DBO. A DBO padrão, expressa também por DBO5,20, refere-se ao teste realizado em laboratório, em que se convencionou proceder à análise no quinto dia e à temperatura de 20 °C. Esse tempo de análise foi padronizado para evitar que o teste em laboratório fosse sujeito a grande demora, já que a estabilização completa da matéria orgânica demora cerca de 20 dias ou mais para esgotos domésticos. O consumo do quinto dia pode ser correlaciona- do com o consumo total final em 20 dias, ou seja, com a Demanda Última de Oxigênio (DBOu). Quanto à temperatura, esta foi padronizada também, pois temperaturas diferen- tes interferem na velocidade do metabolismo bacteriano. Fonte: adaptado de Sperling (2014). EXPLORANDO IDEIAS Já a Demanda Química de Oxigênio (DQO) se trata de outro parâmetro de controle dos efluentes. Diferentemente da DBO, que indica somente a concentra- ção de matéria orgânica biodegradável, a DQO indica a concentração da matéria orgânica e inorgânica do efluente. Refere-se a um método indireto de determi- nação do teor de matéria orgânica, dessa forma, o teste da DQO mede o consu- mo de oxigênio ocorrido em função da oxidação química da matéria orgânica e inorgânica de uma amostra. Essa oxidação química é obtida por meio de um forte oxidante — dicromato de potássio — em meio ácido (SPERLING, 2014). Do ponto de vista operacional, uma das vantagens do teste de DQO é que este pode ser efetuado em, aproximadamente, três horas. Torna-se importante destacarmos que a DQO sempre será mais elevada do que a DBO, e algumas das razões dessa diferença são explicadas por Metcalf e Eddy (2016): certas 69 substâncias podem ser tóxicas aos microrganismos no teste de DBO; muitas substâncias são difíceis de serem oxidadas biologicamente, como a lignina, por exemplo, mas podem ser oxidadas quimicamente; e as substâncias or- gânicas que podem ser oxidadas pelo dicromato de potássio aumentam o conteúdo orgânico aparente da amostra. Os esgotos domésticos possuem uma DBO da ordem de 300 mg/L, ou seja, no pro- cesso de estabilização da matéria orgânica carbonácea, 1 litro de esgoto consome, aproximadamente, 300 miligramas de oxigênio, em cinco dias, à temperatura de 20 °C. (Marcos von Sperling). Nesse contexto, imagine um grande corpo d’água, como o Rio Tietê, por exemplo. Quanto deve ser consumido de oxigênio diariamente? PENSANDO JUNTOS Segundo Sperling (2014, p. 38), “a DBO e a DQO são os parâmetros de maior im- portância na caracterização do grau de poluição de um corpo d’água”. Entretanto, você já parou para pensar qual é o impacto de um efluente com altos teores de DBO e DQO no meio ambiente? Class e Maia (2003) explicam que a resposta para essa questão deve considerar os seguintes fatores: a DBO está relacionada à biodegradabilidade do efluente, representando uma parcela da DQO, o que significa que a DBO nunca será maior que a DQO, e a biodegradabilidade de um efluente líquido pode ser verificada por meio da relação entre os valores de DBO e DQO. Portanto, para avaliar o impacto ambiental de um efluente com altos teores de DQO, é importante conhecer, também, a concentração de DBO, já que a relação entre esses valores é o que permite calcular a biodegradabilidade do efluente (CLASS; MAIA, 2003). Assim, a biodegradabilidade de um efluente se refere à sua capacidade de ser degradado biologicamente, de forma que quanto maiores suas características orgânicas, mais facilmente ele será biodegradado (CLASS; MAIA, 2003). Esses dois parâmetros, quando comparados de forma conjunta, proporcionam infor- mações sobre a biodegradabilidade do efluente e auxiliam na escolha do método mais adequado para o seu tratamento. O Quadro 3 apresenta as informações sobre a relação DQO/DBO. UNIDADE 2 UNIDADE 2 70 Relação DQO/DBO Indicação de tratamento. Baixa, menor do que 2,5 A fração biodegradável do efluente é elevada. Indicação para tratamento biológico. Intermediária, entre 2,5 e 4,0 A fração biodegradável não é elevada. É necessário realizar estudos de tratabilidade para verificar a viabilidade do tratamento biológico. Elevada, maior do que 4,0 A fração inerte (não biodegradável) é elevada. Possível indicação para tratamento físico-químico. Quadro3 - Relação DBO/DQO em efluentes e indicação do método de tratamento a ser empregado Fonte: adaptado de Sperling (2014). Para esgotos domésticos brutos, a relação DQO/DBO varia em torno de 1,7 a 2,4; já para efluentes industriais, essa relação pode variar amplamente. Os valores da relação aumentam da condição de esgoto bruto para esgoto tra- tado. Logo, quanto maior a eficiência do tratamento na remoção da matéria orgânica biodegradável, maior o valor da relação, que pode chegar a 4,0 ou 5,0. Em tratamentos biológicos, o efluente final, normalmente, possui valores superiores a 2,5 (SPERLING, 2014). Por fim, sobre os parâmetros utilizados para determinação da matéria orgâ- nica por meio do carbono orgânico em uma amostra, utiliza-se o teste de Car- bono Orgânico Total (COT), efetuado por instrumento. Os métodos de testes para COT utilizam calor e oxigênio, radiação ultravioleta, oxidantes químicos ou algumas combinações desses métodos para converter carbono orgânico em dióxido de carbono, sendo medido por um analisador de raios infravermelhos ou por outros meios (METCALF; EDDY, 2016). Em relação ao nitrogênio e ao fósforo, a importância deles se associa a dife- rentes aspectos. Em termos de tratamento de efluentes, são nutrientes essenciais para o crescimento dos microrganismos responsáveis pela estabilização da maté- ria orgânica, ou seja, pelo tratamento biológico de efluentes. Contudo, em termos de poluição das águas, são elementos essenciais para o crescimento de algas, que, em certas condições, podem conduzir à eutrofização de lagos e represas — devido ao excesso desses nutrientes —, podendo causar interferências nos usos desejáveis do corpo d’água (THOMANN; MUELLER, 1987 apud SPERLING, 2014). 71 O nitrogênio, no meio aquático, pode ser encontrado na forma de nitrogênio molecular (N2), nitrogênio orgânico, amônia livre (NH3), íon amônio (NH4 +), íon nitrito (NO2 -) e íon nitrato (NO3 -). Nos esgotos domésticos brutos, as formas predo- minantes são o nitrogênio orgânico e a amônia, sendo determinados em laboratório pelo método Kjeldahl, compreendendo o denominado Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK), e, em menor proporção, nitrito e nitrato, sendo quase desprezível em esgo- tos domésticos. Em suma, o NTK é a soma do nitrogênio orgânico e da amônia, e o nitrogênio total é a soma do NTK, do nitrito e do nitrato (SPERLING, 2014). Em Estações de Tratamento de Efluentes (ETE) ou em cursos d’água, a amônia pode sofrer transformações por meio do processo de nitrificação, em que ocorre a conversão da amônia para nitrito, e deste para nitrato, ou o processo de desnitrifica- ção, havendo a conversão do nitrato para nitrogênio gasoso. No entanto, o processo de nitrificação implica o consumo de oxigênio dissolvido no corpo d’água receptor e, na ETE, o consumo de oxigênio e da alcalinidade, tal como o nitrogênio na forma de amônia livre (NH3) é tóxico aos peixes, mesmo em baixas concentrações (SPERLING, 2014). Assim, a distribuição entre as formas de amônia varia em função dos valores de pH e da temperatura do líquido, sendo que, na faixa de pH, próxima à neutralidade, a amônia se apresenta na forma ionizada (NH4 +), não sendo causadora de problemas ambientais, porém, já em pH fora dessa faixa, notamos a amônia na forma livre (SPER- LING, 2014). O fósforo ou fósforo total presente nos esgotos domésticos se apresenta na forma de fosfatos, podendo ser na forma inorgânica — polifosfatos e ortofosfatos —, originados devido ao uso de detergentes e outros produtos químicos domésticos, e na forma orgânica, de origem fisiológica. O fósforo dos detergentes pode representar até 50% da concentração de fósforo total nos esgotos domésticos (SPERLING, 2014). UNIDADE 2 UNIDADE 2 72 Sobre as características biológicas dos efluentes, sabemos que os micror- ganismos presentes nos esgotos desempenham diversas funções, como na degradação da matéria orgânica e atuação no tratamento biológico de efluen- tes. No entanto, alguns microrganismos presentes nos esgotos podem causar doenças no homem e nos animais, como as bactérias, os vírus, os protozoá- rios e os helmintos. A origem desses organismos patogênicos em esgotos é predominantemente humana, refletindo diretamente o nível de saúde da po- pulação e as condições de saneamento básico de cada região. Também, pode ser de procedência animal, cujos dejetos são lançados em redes coletoras, como fezes de cães e gatos, ou, então, pela presença de animais na rede de esgoto, como roedores. A quantidade de patógenos presentes no esgoto de uma determinada localidade é bastante variável e depende de alguns fatores, como: condições socioeconômicas da população, condições sanitárias, região geográfica, presença de indústrias e tipo de tratamento a que o esgoto foi submetido (SPERLING, 2014). Nesse contexto, para indicação de quanta contaminação por fezes humanas ou de animais uma água apresenta, tal como a sua potencialidade de transmitir doenças, são utilizados os chamados organismos indicadores de contaminação fecal, os quais incluem os coliformes totais, coliformes termotolerantes e Escherichia coli (E. coli) (SPERLING, 2014). O grupo dos coliformes totais se constitui por um grande grupo de bactérias que tem sido isolado de amostras de águas e solos poluídos e não poluídos, bem como de fezes de seres humanos e animais de sangue quente. Devido à incidência desses organismos em águas e solos não contaminados, representando organismos de vida livre e não intestinal, não devem ser utili- zados como indicadores de contaminação fecal em águas superficiais, porém, no caso específico de abastecimento de água potável, a água tratada não deve conter coliforme totais (SPERLING, 2014). Já o grupo de coliformes termo- tolerantes compreende as bactérias indicadoras de organismos originários, predominantemente, do trato intestinal humano e de outros animais. A E. coli é a principal bactéria desse grupo, sendo abundante nas fezes humanas e de animais. Diferentemente dos coliformes totais e termotolerantes, a E. coli é a única que dá a garantia de contaminação exclusivamente fecal, no entanto, a sua detecção não dá a garantia de que a contaminação seja humana, já que pode ser encontrada em fezes de animais (SPERLING, 2014). 73 Agora, prezado(a) aluno(a), abordaremos os efluentes industriais. Sabemos que eles são provenientes das atividades industriais e dos processos produtivos, assim as características tanto qualitativas quanto quantitativas dos efluentes industriais são inerentes à composição da matéria-prima e de insumos utilizados no proces- so, tal como à intensidade das operações realizadas e ao período de operação da indústria, ao consumo e ao reuso de água. Ainda, a geração de efluentes em cada etapa do processo pode variar em volume e características, como no caso de eta- pas do processo que geram mais efluentes e menor carga poluidora, por exemplo. Portanto, dependendo da tipologia da indústria, os efluentes industriais podem conter, em maior ou menor grau, os constituintes típicos dos esgotos domésticos. Os efluentes líquidos em uma indústria, além dos esgotos sanitários, oriundos dos refeitórios e das instalações sanitárias, podem ser compostos por efluentes do processo produtivo, água de refrigeração, água de condensação, água de lavagem de equipamentos e efluentes de equipamentos de controle de poluição do ar — lavador de gases de chaminé —, bem como pelos efluentes não pontuais, como as águas pluviais contaminadas, a lavagem de pisos externos e o derramamentos em áreas externas à área industrial (BRANDÃO et al., 2011). Os efluentes industriais, no entanto, constituem outros poluentes, os quais não são usualmente encontrados em esgotos domésticos, como micropoluentes inor- gânicos, em especial, os metais, e os micropoluentes orgânicos. As principais implicações dos metais são a toxicidade aos seres humanos, animais e vegetais, por meio da disposição de águas residuárias em corpos d’água ede lodo na agricultura, bem como pela inibição dos microrganismos responsáveis pelo tratamento bioló- gico dos efluentes (SPERLING, 2014), de forma que, em alguns casos, o tratamento biológico se torna impossível devido à alta toxidez (NUNES, 2012). UNIDADE 2 UNIDADE 2 74 Nesse momento, você deve estar pensando: “do que se tratam os metais pesados?”, não é mesmo? Sperling (2014) explica que, do ponto de vista am- biental, o metal pesado pode ser entendido como o metal que, em determi- nadas concentrações e tempo de exposição, oferece risco à saúde humana e ao ambiente, inclusive, prejudicando a atividade de organismos responsáveis pelo tratamento biológico dos efluentes. Os principais elementos químicos considerados metais pesados são: prata (Ag), arsênio (As), cádmio (Cd), co- balto (Co), cromo (Cr), cobre (Cu), mercúrio (Hg), níquel (Ni), chumbo (Pb), selênio (Se) e zinco (Zn). Logo, a presença de metais está associada, princi- palmente, aos efluentes das indústrias de galvanoplastias, indústrias metáli- cas (fundições) e indústrias químicas, como a farmacêutica, de curtumes, de petróleo, tal como de formulação de compostos orgânicos e inorgânicos e de corantes e pigmentos (SPERLING, 2014). A respeito dos micropoluentes orgânicos, estes, quando estão presentes nas águas residuárias que são dispostas em um corpo d’água sem tratamento adequado ou, então, pelo fato de não serem removidos nos tratamentos conven- cionais, podem provocar danos tanto à vida aquática quanto aos seres humanos. Isso porque as estações de tratamento de água e de efluentes, normalmente, não estão capacitadas para a remoção desses micropoluentes orgânicos. Isso ocorre pois alguns compostos orgânicos são resistentes à degradação biológica, não integrando os ciclos biogeoquímicos, assim como os metais pesados, acumulan- do-se em determinado ponto do ciclo. Podemos destacar os compostos presentes em agrotóxicos, alguns tipos de detergentes, hormônios, fármacos e uma grande variedade de produtos químicos. As principais fontes de compostos orgânicos são as lavanderias, as indústrias químicas, de plásticos, de produ- tos mecânicos, de processamento e refi- namento de petróleo, farmacêuticas, de madeira, de formulação de agrotóxicos, fer- ro e aço (SPER- LING, 2014). 75 Para que você tenha um pouco mais de contato com as características dos efluentes industriais, no Quadro 4, apresentamos as principais características dos efluentes gerados em alguns tipos de indústrias. Tipos de indústrias Principais características dos efluentes gerados Abatedouros e frigoríficos Alta carga orgânica devido à presença de sangue, gordura, esterco, conteúdo estomacal e intestinal; altos conteúdos de nitrogênio e fósforo; coloração avermelhada — presença de sangue — e verde — presença de conteúdo estomacal e intestinal —; variação de pH em função do uso de agentes de limpeza ácidos e básicos e variação de temperatura devido ao uso de água quente e fria; a DBO é variá- vel, dependendo do tipo de animal a ser abatido, sendo os valores encontrados: em bovinos, de 1.100 a 5.520 mg/L; em suínos, de 570 a 3.000 mg/L; e em aves, de 1.000 a 2.500 mg/L. Cervejarias Apresentam alta carga orgânica, teor de sólidos em suspensão e presença de fósforo e nitrogênio; DBO entre 1.000 e 2.000 mg/L; pH entre 6,4 e 7,5. Os contaminantes emergentes (CE) são definidos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos — do inglês, United States Environmental Protection Agency (USEPA) — como substâncias químicas de origem natural ou sintética que não possuem regu- lamentação. São considerados micropoluentes orgânicos, como os compostos biologi- camente ativos de produtos farmacêuticos e de cuidados pessoais, produtos químicos, desreguladores endócrinos (hormônios), aditivos e surfactantes — moléculas orgânicas levemente solúveis na água e que causam formação de espumas. Eles estão presentes em efluentes industriais e esgotos sanitários, consequentemente, em corpos hídricos, devido à não remoção em tratamentos convencionais de efluentes. Fonte: adaptado de Petrie, Barden e Kasprzyk-Hordern (2015), EPA ([2022]), Sophia e Lima (2018). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 2 UNIDADE 2 76 Laticínios Presença de gorduras; DBO entre 500 e 2.000 mg/L; pH entre 4,5 e 10; o soro deve ser segregado e recuperado. Curtumes DBO entre 1.000 e 1.500 mg/L, compostos tóxicos como sulfeto e cromo. Fecularias de mandioca DBO entre 1.500 e 3.000 mg/L, pH entre 4,5 e 6,5, sólidos sedimentáveis e presença de ácido cianídri- co (cianeto). Galvanoplastia Metais pesados — cromo hexavalente, cádmio, co- bre, zinco, níquel e outros —, cianetos e pH abaixo de 2 e acima de 10. Refinaria de petróleo Óleo emulsionado, fenóis, cianetos, DBO baixa entre 10 e 30 mg/L. Usinas de açúcar e álcool As águas de lavagem de cana contêm grande quan- tidade de sólidos em suspensão sedimentáveis; no processo de produção de açúcar, o efluente gerado apresenta DBO entre 250 e 5.000 mg/L; na destila- ria, o efluente, também conhecido como vinhaça ou vinhoto, apresenta DBO entre 7.000 e 20.000 mg/L, temperatura alta e pH baixo. Quadro 4 - Principais características dos efluentes gerados em alguns tipos de indústrias Fonte: adaptado de Claas e Maia (2003), Pacheco e Yamanaka (2006) e Nunes (2012). Destacamos que as informações apresentadas são apenas orientativas, pois gran- des variações podem ser encontradas nas características das águas residuárias do mesmo tipo de indústria, tanto em termos de características quantitativas quanto qualitativas. Mesmo apresentando a mesma atividade e processos produtivos si- milares, podem gerar mais ou menos efluentes dependendo do porte da indústria, dos insumos distintos, entre outros fatores. NOVAS DESCOBERTAS Acesse o QR Code e saiba mais sobre as características dos efluentes de diversos setores produtivos. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14809 77 Outro tipo de efluente que podemos destacar, são os provenientes dos sis- temas de disposição final de resíduos sólidos urbanos (RSU), o lixiviado ou chorume, líquido resultante do processo de decomposição de resíduos de um aterro sanitário ou o líquido resultante de sistemas de tratamento de resíduos orgânicos, incluindo a fração orgânica dos RSU, como, por exemplo, a compostagem, e, ainda, as formas de disposição final ambientalmente inade- quadas de RSU, como lixões e aterros controlados. Assim, o lixiviado se trata do líquido formado pela digestão anaeróbia de resíduos sólidos e pela água pluvial que infiltra por meio da massa de resíduos dentro do aterro, resultando em um líquido de coloração escura e forte odor, devido à presença de ácidos orgânicos (BIDONE; POVINELLI, 1999). A composição e o volume do lixiviado são muito variáveis e são atribuídos a diversos fatores, como volume de água pluvial infiltrada no aterro, processos naturais que ocorrem em seu interior, heterogeneidade e composição dos resíduos, disposição de resíduos industriais ou perigosos, fase de biodegra- dação em que se encontram os resíduos, teor de umidade, procedimentos operacionais, idade do aterro, tecnologia de aterramento dos resíduos, fatores hidrológicos e climáticos, sistema de drenagem local, entre outros (BIDO- NE; POVINELLI, 1999; KJELDSEN et al., 2002; KULIKOWSKA; KLIMIUK, 2008). Os resíduos orgânicos apresentam, naturalmente, um teor de umidade entre 40 e 60%, o que determinaria uma geração entre 400 e 600 m³/dia (me- tros cúbicos por dia) de lixiviado para a quantidade de 1.000 t/dia (toneladas por dia) de resíduos dispostos (BIDONE; POVINELLI, 1999). Os principais poluentes comumente encontrados no lixiviado são (KJELDSEN et al., 2002; BAUN et al., 2004; BAUN; CHRISTENSEN, 2004): matéria orgânica dissolvida, ácidos graxos voláteis e compostos refratários, como compostos húmicos e fúlvicos; macrocomponentes inorgânicos: ânions ou cátions de sais ou elementos específicos, como cálcio, magnésio, sódio, potássio, amônia, ferro,manganês, cloreto, sulfato e carbonato de hidrogênio; metais pesados: alumínio, arsênio, cádmio, cromo, cobre, chumbo, mercúrio, níquel, prata e zinco; e Compostos Orgânicos Xenobióticos (COX), origi- nários de produtos químicos de uso doméstico ou industrial, presentes em concentrações relativamente baixas, mas são altamente perigosos e incluem hidrocarbonetos aromáticos, compostos fenólicos, aldeídos, cetonas, alifáticos clorados, praguicidas, entre outros. UNIDADE 2 UNIDADE 2 78 Diante do conteúdo apresentado, podemos observar a variedade de poluentes presentes tanto nos esgotos sanitários quanto nos demais efluentes. Logo, você deve estar pensando: “mas como controlar esses poluentes para que não causem poluição das águas?”. Esse controle ocorre por meio do atendimento aos padrões de qualidade para efluentes e corpos d’água. No Brasil, os padrões nacionais são definidos pelas resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONA- MA), o qual estabelece as condições e os padrões de lançamento de efluentes e de qualidade do corpo d’água receptor. De maneira geral, a Resolução CONAMA nº 357/2005 dividiu as águas do território nacional em águas doces, salobras e salinas em função dos usos prepon- derantes, sendo divididas conforme a classe de qualidade, isto é, as condições e os padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos usos prepon- derantes, atuais ou futuros (CONAMA, 2005). Da mesma forma, a Resolução CONAMA nº 430/2011 dividiu as condições e os padrões de lançamento para efluentes oriundos de sistemas de tratamento de esgotos sanitários e efluentes de qualquer fonte poluidora, incluindo todos os tipos de efluentes, como os indus- triais, de atividades agrícolas, os efluentes oriundos de sistemas de disposição final de resíduos sólidos, entre outros (CONAMA, 2011). 79 Especificamente para os efluentes de serviços de saúde, estes podem ser lan- çados diretamente no corpo d’água receptor após tratamento, devendo atender às condições e aos padrões de lançamento para efluentes de sistemas de tratamento de esgotos sanitários e efluentes. Ainda, desde que atendidas as normas sanitárias espe- cíficas vigentes, podem ser lançados em rede coletora de esgotos sanitários conectada à estação de tratamento, atendendo às normas e às diretrizes da operadora do sistema de coleta e tratamento de esgoto sanitários. Ainda, quando não houver acesso ao sistema de coleta e tratamento de esgoto por empresa de saneamento, estes efluentes devem ser tratados em sistema ambientalmente licenciado antes do lançamento em corpo receptor (CONAMA, 2011; ANVISA, 2018). No caso de sistemas de tratamento de esgotos sanitários que recebam lixivia- dos de aterros sanitários, o órgão ambiental competente deverá indicar quais os padrões de lançamento de efluentes quanto aos parâmetros inorgânicos e orgânicos que deverão ser atendidos e monitorados (CONAMA, 2011). Na Tabela 1, encontram-se resumidos alguns parâmetros de qualidade do efluente, ou seja, as substâncias ou outros indicadores representativos dos contaminantes toxicologicamente e ambientalmente relevantes do efluente, tal como os padrões para efluentes de sistemas de tratamento de esgotos sa- nitários e os efluentes das demais fontes poluidoras. Apresentamos, também, alguns padrões de qualidade associados a diversas classes dos corpos de água doce, pois se trata da classe de maior interesse e potencialmente vinculada aos efluentes. Não estão incluídos dados sobre as águas doces de classe especial, pois, em corpos d’água pertencentes a esse tipo de classe, é vedado o lançamento de efluentes mesmo que tratados (BRASIL, 2005). Parâmetro (unidade) Padrão de lançamento (Resolução CONAMA nº 430/2011) (VMP) (*) Classe das águas doces (Resolução CONAMA nº 357/2005) (VMP) (*) Efluentes de qualquer fon- te poluidora Esgotos sanitá- rios 1 2 3 4 pH 5 a 9 5 a 9 6 a 9 6 a 9 6 a 9 6 a 9 Temperatura (°C) < 40 < 40 - - - - UNIDADE 2 UNIDADE 2 80 Turbidez (UNT) (*) - - ≤ 40 ≤ 100 ≤ 100 - Cor verdadeira (mg Pt/L) (*) - - Natu- ral ≤ 75 ≤ 75 - Sólidos se- dimentáveis (mL/L) ≤ 1 ≤ 1 - - - - Sólidos dissolvi- dos totais (mg/L) - - 500 500 500 - Materiais flutuantes Ausentes Ausen- tes VA (*) VA VA VA Óleos e graxas (mg/L) ≤ 20 / ≤ 50 (a) ≤ 100 VA VA VA (b) Oxigênio dissol- vido (mg/L) - - ≥ 6 ≥ 5 ≥ 4 > 2 Demanda bio- química de oxi- gênio (DBO5,20) (mg/L) - ≤ 120 ≤ 3 ≤ 5 ≤ 10 - Tabela 1 - Alguns padrões de lançamento de efluentes e de qualidade para corpos d’água doce Fonte: adaptado de Conama (2005, 2011). Legenda: (-): dado numérico não disponível; (*) VMP: valor máximo permitido; UNT: unidade nefelo- métrica de turbidez; mg Pt/L: miligramas de platina por litro; VA: virtualmente ausentes; (a): óleos minerais até 20 mg/L e óleos vegetais e gorduras animais até 50 mg/L; (b) toleram-se iridescências, ou seja, geram efeitos das cores do arco-íris. Podemos observar que os padrões para efluentes de qualquer fonte poluido- ra e esgotos sanitários são muito próximos. Entretanto, cabe destacar que, para ambos os efluentes, as legislações estaduais ou municipais podem apresentar variações em relação aos valores impostos pelo CONAMA, devendo ser atendi- da sempre aquela legislação que se apresentar mais restritiva. Adicionalmente, o órgão ambiental poderá autorizar outros valores para o lançamento, caso estudos ambientais demonstrem que o corpo receptor continuará enquadrado dentro de sua classe. Também, padrões mais restritivos podem ser estabelecidos pelo órgão ambiental competente no processo de licenciamento ambiental, sendo apresentados na licença ambiental do empreendimento. 81 Ainda, podemos observar que, a Resolução CONAMA nº 430/2011 não apre- senta um valor máximo permitido para o parâmetro DBO para efluentes de qualquer fonte poluidora, no entanto, determina que, para esses tipos de efluen- tes, a remoção de DBO deve ser maior ou igual a 60% (CONAMA, 2011). Nesse contexto, torna-se importante falarmos sobre a porcentagem ou efi- ciência de remoção de determinado poluente no tratamento ou em uma etapa dele. Portanto, para se determinar a eficiência de remoção da matéria orgânica, utiliza-se a seguinte fórmula (SPERLING, 2014): E Co Ce Co � � �100 Em que: E = eficiência de remoção (%). Co = concentração afluente do poluente, normalmente, expressa em mg/L. Ce = concentração efluente do poluente, normalmente, expressa em mg/L. Caso haja mais de uma etapa ou unidade em série ao longo do tratamento, as eficiências não são aditivas, sendo o cálculo da eficiência global de remoção feito de forma multiplicativa e dado por (SPERLING, 2014): E E E E En� � �� �� �� �� �� �� �� ��� ��1 1 1 1 11 2 3 ... Em que: E = eficiência de remoção global. E1, E2, E3, En = eficiência de remoção nas etapas 1, 2, 3, …, n. O parâmetro óleos e graxas inclui gorduras, óleos, ceras e outras substâncias, como, por exemplo, óleos minerais, abrangendo querosene e lubrificantes. Óleos e graxas são muito semelhantes e são compostos por álcool ou glicerol (glicerina) com ácidos graxos, sendo que os glicerídeos de ácidos graxos que são líquidos à temperatura ambiente são cha- mados de óleo, e aqueles que são sólidos são chamados de graxa ou gordura (METCALF; EDDY, 2016). Você pode consultar a redação oficial das resoluções e verificar a lista com- pleta dos parâmetros, incluindo os parâmetros orgânicos e inorgânicos, e seus respecti- vos valores máximos permitidos ao pesquisar por “atos normativos CONAMA”. Fonte: adaptado de Metcalf e Eddy (2016). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 2 UNIDADE 2 82 Para determinação da eficiência de remoção individual de cada poluente ou etapa de tratamento, utiliza-se a primeira fórmula; para a eficiência de remoção global, a segunda fórmula. Por exemplo, caso haja duas lagoas de estabilização em série, com eficiências de remoção de 80 e 90%, respectiva- mente, a eficiência global será (SPERLING, 2014): E � � � ��� ��� �� �� � �1 10 80 1 0 90 0 98 98, , , % Diante do contexto apresentado, podemos verificar que o inter-relacionamen- to entre os dois padrões se dá no sentido de que o atendimento aos padrões de lançamento de efluentes deve garantir simultaneamente o atendimento aos padrões do corpo receptor, sendo que o objetivo de ambos é a preservação da qualidade do corpo d’água (SPERLING, 2014). No entanto, e se o efluente atende aos padrões de lançamento, mas não atende aos padrões do corpo receptor? As características do lança- mento deverão ser mais restritivas do que as expressas pelo padrão de lança- mento usual, e essa situação pode ocorrer no caso de corpos receptores com baixa capacidade de assimilação e diluição. Logo, em relação à capacidade de assimilação e diluição dos corpos d’água, é de grande importância o conhecimento do fenômeno de autode- puração e da sua quantificação, que está vinculado ao restabelecimento do equilíbrio no meio aquático depois das alterações induzidas pelo lançamento de efluentes após tratamento (SPERLING, 2014). Os despejos afluentes ou a carga afluente se referem ao efluente que é lançado no corpo d’água após tratamento, tal como o efluente de entrada no sistema de tratamento de efluentes. A compreensão do fenômeno de au- todepuração tem por objetivos: utilizar a capacidade de assimilação dos rios sem apresentar problemas do ponto de vista ambiental e impedir o lançamento de efluentes acima do que possa suportar o corpo d’água. Assim, a capacidade de assimilação do corpo d’água pode ser utilizada até um ponto aceitável e não prejudicial, não sendo admitido o lançamento de cargas poluidoras acima desse limite (SPERLING, 2014). 83 A autodepuração em um corpo d’água ocorre ao longo do tempo e conside- rando a sua dimensão longitudinal, compreendendo zonas de autodepuração. À montante — antes do lançamento do efluente —, tem-se a zona de águas limpas, caracterizada pelo seu equilíbrio ecológico e elevada qualidade de águas; e, à jusante — após o lançamento de efluente —, tem-se as zonas de degrada- ção, decomposição ativa, recuperação e águas limpas novamente. Portanto, o ecossistema de um corpo d’água, antes do lançamento de efluentes, encontra-se em um estado de equilíbrio, no entanto, após a entrada da fonte de poluição, o equilíbrio entre as comunidades é afetado, ocorrendo uma desorganização inicial, seguida por uma tendência posterior à reorganização. Agora, prezado(a) aluno(a), exploraremos o tratamento de efluentes, o qual se refere à “remoção de constituintes de maneira que o efluente tratado possa retornar ao meio ambiente ou ser reutilizado com segurança” (METCALF; EDDY, 2016, p. 3). Assim, diante da contextualização acerca das características dos efluentes e das legislações aplicáveis, podemos compreender a necessidade do controle da poluição de constituintes presentes nos efluentes por meio dos sistemas de tratamento. UNIDADE 2 UNIDADE 2 84 Entretanto, antes de estudarmos sobre os níveis de tratamento de efluentes, torna-se importante discutirmos acerca dos sistemas de esgotamento sanitário, sendo este “constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sani- tários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente” (BRASIL, 2020, on-line). Os sistemas de esgotamento sanitário podem ocorrer de duas maneiras, compreendendo (SPERLING, 2014): ■ Sistema individual ou estático: trata-se de soluções locais para atendi- mento unifamiliar ou para poucas residências ou em áreas rurais, como a fossa séptica ou o tanque séptico com infiltração no solo. No entanto, podem conduzir à poluição do solo e da água superficial no caso de ex- travasamentos ou, até mesmo, da água subterrânea, sendo necessário que o solo apresente boas condições de infiltração e que o nível da água sub- terrânea se encontre a uma profundidade adequada de forma a evitar o risco de contaminação, principalmente, por microrganismos patogênicos. ■ Sistema coletivo ou dinâmico: pode ser de dois tipos, sistema unitário ou combinado e sistema separador, que consistem em canalizações que recebem o esgoto, transportando-o ao seu destino final de forma sanitariamente e ambientalmente adequada. São indicados para locais com elevada densidade populacional, como em áreas urbanas, industriais e outras. Em sistemas coletivos do tipo combinado, os efluentes e as águas pluviais (água das chuvas) são conduzidos ao seu destino final den- tro da mesma canalização. Em sistemas coletivos do tipo separador, amplamente aplicado no Brasil, os esgotos sanitários e as águas pluviais são conduzidos ao seu destino final por canalizações separadas. Sepa- ram-se as águas pluviais em linhas de drenagem independentes e que não contribuem à Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) ou Sistema de Tratamento de Águas Residuárias (STAR). Em sistemas separadores, a separação total dos esgotos e das águas pluviais, muitas ve- zes, é dificultada devido às conexões clandestinas de águas pluviais em sistemas de es- gotamento sanitário e de esgotos em sistemas de drenagem pluvial, constituindo-se um desafio para a adequada operação dos sistemas. (Marcos von Sperling) PENSANDO JUNTOS 85 Nesse contexto, tanto nas cidades quanto nas indústrias, os efluentes que contribuem à ETE são esgotos sanitários e efluentes industriais, tornando importante destacar algumas situações que podem ocorrer, como a integração dos efluentes industriais com os esgotos domésticos, em que as indústrias que não apresentam uma ETE podem ser autorizadas a lançar seus efluentes na rede pública de coleta, para posterior tratamento na ETE do município. Em indústrias que apresentam uma ETE, ambos os efluentes são tratados de forma separada ou conjuntamente na própria indústria. Ainda, há o armazenamento e transporte do efluente para posterior tratamento no caso de indústrias que não contemplam uma ETE, o tratamento pode ser tercei- rizado por empresas especializadas e licenciadas para tal serviço. Adicionalmente, sabemos que, em muitos Municípios, ocorre a integração dos esgotos domésticos com os efluentes industriais ou de diversas atividades, como de empreendimentos de lavagem de carros, salões de beleza, micro e pequenas empresas e outros, que são lançados na rede pública de coleta e tratados, poste- riormente, na ETE municipal. No entanto, essas organizações devem ser autoriza- das por meio do licenciamento ambiental para dispor seus efluentes dessa forma. Sperling (2014) explica que, nesse caso, os contaminantes dos efluentes indus- triais devem ser previamente removidos, pois podem causar diversos problemas, como a toxidez ao tratamento biológico de esgotos, do lodo à sua disposição final, assim como a presença do contaminante no efluente tratado, devido ao fato de não ser removido pelo tratamento biológico aplicado em esgotos domésticos. Nesse contexto, a companhia de saneamento, receptora dos efluentes industriais ou de outras atividades, deve ter normas específicas para o recebimento desses efluentes na rede pública de coleta. Caso algum poluente possa apresentar um dos problemas citados, o gerador deverá fazer um pré-tratamento, de forma a enquadrá-lo dentro das normas da companhia de saneamento, visto que esta é a responsável pelo atendimento aos padrões de qualidade estabelecidos nas legislações aplicáveis e pelo órgão ambiental. NOVAS DESCOBERTAS Acesse o QR Code e saiba mais sobre os níveis de atendimento do abastecimento de água e tratamento de esgotos em seu Município, região geográfica e no Brasil pelos diagnósticos dos serviços de água e esgoto do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). UNIDADE 2 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14810 UNIDADE 2 86 Veremos, a seguir, que existem vários níveis de tratamento de efluentes. As- sim, qual é o melhor processo ou a melhor tecnologia a ser aplicada para cada tipo de efluente?Alguns aspectos devem ser considerados para selecionar o processo de tratamento de efluentes a ser empregado, incluindo (SPERLING, 2014): impacto ambiental no corpo d’água receptor, principais constituintes a serem removidos, nível de tratamento e eficiências de remo- ção desejadas e atendimento dos padrões de lançamento de efluentes e de qualidade do corpo d’água receptor. Os métodos de tratamento de efluentes se dividem em processos unitários (METCALF; EDDY, 2016). Dessa forma, para a remoção de constituintes presentes nos efluentes, alguns processos unitários são agrupados para formar o que é conhecido como sistema de tratamento ou níveis do tratamento de efluentes, com- preendendo tratamento primário, tratamento secundário e tratamen- to terciário ou avançado. No tratamento preliminar, ocorre a aplicação de processos unitários físicos; no tratamento primário, de processos unitários físicos e químicos; no tratamento secundário, de processos unitários bioló- gicos; e, no tratamento terciário ou avançado, há a combinação dos demais níveis (SPERLING, 2014; METCALF; EDDY, 2016). Portanto, cada um dos níveis de tratamento é caracterizado por uma série de processos e contempla um objetivo específico, ou seja, a remoção de um ou mais poluentes, o que podemos observar de forma resumida no Quadro 5. NOVAS DESCOBERTAS O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) consiste no pla- nejamento integrado do saneamento básico, incluindo o esgotamento sanitário. Sua elaboração está prevista na lei de Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico, Lei nº 11.445/2017 e Lei nº 14.026/2020, devendo ser avaliado anualmente e revisado a cada quatro anos. Acesse os relatórios anuais do PLANSAB por meio do QR Code. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14811 87 Nível de tratamento Constituinte (poluente removido) Operação, processo ou sistema de tratamento Preliminar Remoção de sólidos em suspensão grosseiros, óleos, graxas e areia. Gradeamento, peneiramento, remoção de areia ou desarena- ção (sedimentação ou decanta- ção), retenção de óleo e graxas (flotação) e mistura (homoge- neização ou equalização). Primário Remoção de sólidos em suspensão sedimentáveis e matéria orgânica em suspensão (componente dos sólidos em suspensão sedimentáveis). Coagulação, floculação, flota- ção, sedimentação ou decanta- ção e filtração. Secundário Remoção de matéria orgâ- nica biodegradável (dissol- vida ou em suspensão) e sólidos suspensos. Lagoas de estabilização e variantes, lodos ativados e variantes, reatores aeróbios e anaeróbios, processos de disposição sobre o solo e siste- mas alagados construídos (em inglês, wetlands). Terciário Remoção de sólidos em suspensão remanescentes, remoção de nutrientes (como fósforo e nitrogênio), organismos patogênicos; compostos não biodegra- dáveis, metais pesados e sólidos inorgânicos dissol- vidos. Processos físico-químicos, oxidação química e avançada, troca iônica, separação por membranas, adsorção, remo- ção biológica de nutrientes, desinfecção, lagoas de matura- ção e outros. Quadro 5 - Visão geral dos níveis do tratamento de efluentes Fonte: adaptado de Sperling (2014) e Metcalf e Eddy (2016). UNIDADE 2 UNIDADE 2 88 Destacamos que, a depender das características do efluente e da ETE, os equipa- mentos para medição de vazão são instalados como primeira etapa do tratamento, como intermediária ou etapa final. Esses dispositivos não promovem tratamen- to, sendo apenas equipamentos de medida. Assim, a vazão se refere ao volume de efluente que escoa por meio de uma seção por unidade de tempo. Com a medida da vazão, é possível conhecer o volume de efluente gerado em um determinado tempo, o volume dependerá do tipo de atividade, porte e do nível tecnológico empregado. Para medição da vazão, são utilizados equipamentos do tipo calha Parshall, vertedor triangular, entre outros, sendo as unidades de medida mais utilizadas L/s (litros por segundo) e/ou m3/d (metros cúbicos por dia) (CLAAS; MAIA, 2003). O tratamento preliminar se destina à remoção de sólidos grosseiros, in- cluindo materiais flutuantes que, eventualmente, podem estar presentes como resíduos sólidos e outros, tal como a remoção de areia. As principais finalidades dessa remoção são: a proteção dos dispositivos de transporte dos efluentes, de forma a evitar o desgaste de bombas ou obstrução de tubulações; proteção das unidades de tratamento subsequentes e proteção dos corpos d’água receptores (CLAAS; MAIA, 2003; SPERLING, 2014). Os mecanismos de remoção são de ordem física, incluindo: gradeamento, peneiramento e desarenação. O gradeamento tem por objetivo separar do efluente, antes do tratamento propriamente dito, materiais grosseiros que, por sua natureza e seu tamanho, podem trazer problemas ao sistema de tratamento. As grades utilizadas (Figura 2), normalmente, fazem parte da primeira etapa e são colocadas ao longo das canaletas que conduzem os efluentes. De acordo com o tipo de efluente e as suas características, será escolhida a espessura das barras e o espaçamento entre elas, de forma que o material de dimensões maiores do que o espaçamento entre as barras fique retido, e a remoção desse material pode ser de forma manual ou mecanizada. O peneiramento tem como principal objetivo a remoção de sólidos grossei- ros suspensos com granulometria superior a 0,25 mm (milímetros). Nos casos em que a concentração de sólidos é muito considerável, poderá ser removida de 15 a 25% da DBO em suspensão grosseira. Podem ser instaladas recebendo o efluente por recalque ou por gravidade, situando-se antes ou depois do tanque de equalização (NUNES, 2012). 89 As peneiras estáticas e rotativas, com ou sem dispositivo de limpeza, são os dispositivos mecânicos utilizados para separação de sólido-líquido, atuando como filtros, peneirado o efluente por meio de uma tela metálica per- furada ou ranhurada, que permitem apenas a passagem de líquidos e sólidos muito finos. As peneiras estáticas, conforme apresentamos na Figura 2, são muito empregadas na indústria de papel e celulose, na têxtil, nos frigoríficos, nas fábricas de suco de frutas, em fecularias e, também, na remoção de sólidos grosseiros de esgotos sanitários (CLAAS; MAIA, 2003). Descrição da Imagem: temos duas fotografias, lado a lado, sendo a da esquerda identificada como “a” e a da direita como “b”. Na figura (a), podemos observar uma grade com material retido durante a passagem de esgoto sanitário, ela está instalada ao longo de uma canaleta que conduz o efluente. Na figura (b), temos uma peneira estática com o efluente fluindo na parte superior, descendo pela tela e caindo pelas malhas para dentro, onde é recolhido e direcionado para a unidade subsequente de tratamento, enquanto os sólidos grosseiros por gravidade se deslocam até o dispositivo coletor. Ambos são mecanismos de retenção de sólidos grosseiros sem dispositivos de limpeza. Figura 2 - Exemplos de mecanismos aplicados no tratamento preliminar de efluentes: (a) - grade; (b) - peneira estática / Fonte: Figura (a) - Abreu (2020, on-line) e Figura (b) - a autora. A desarenação tem por objetivo a retenção de areia e outros materiais iner- tes por meio de desarenadores (caixas de areia). Os mecanismos de remo- ção da areia são simplesmente o de sedimentação, em que os grãos de areia, devido às suas maiores dimensões e densidade, vão para o fundo do tanque, enquanto a matéria orgânica, sendo de sedimentação bem mais lenta, perma- nece em suspensão, seguindo para as unidades subsequentes de tratamento (SPERLING, 2014). UNIDADE 2 UNIDADE 2 90 A remoção de óleos e graxas (gordura) consiste em operações de sepa- ração por meio da flotação, pois o princípio da separação se dá pela diferença da densidade, ou seja, por serem menos densos do que a água, a remoção se baseia na tendência que essas substâncias têm de flotar. Assim, os dispositivos do tipo caixa de gordura são utilizados para esse fim,os quais permitem o repouso do efluente por um determinado tempo — tempo de retenção de 20 a 30 minutos —, que o material flotável migre para a superfície, naturalmente, podendo ser removido manual ou mecanicamente — raspadores de super- fície (CLAAS; MAIA, 2003). Esses dispositivos são, muitas vezes, utilizados no tratamento preliminar de indústrias de laticínios, de abate/frigoríficos, de curtumes, entre outras, sendo que, em muitos casos, a gordura recuperada pode ser aproveitada dentro da própria indústria ou destinada de forma am- bientalmente adequada (NUNES, 2012). Você sabia que o efluente da sua cozinha é ligado a uma caixa de gordura e que esta deve ter limpeza periódica? Essas unidades de tratamento nas residências ligam as instalações de efluentes da pia da cozinha, de forma que, assim como as unidades utilizadas em in- dústrias, seu sistema permite apenas que a fração líquida do efluente seja destinado para a rede pública de coleta de esgoto. PENSANDO JUNTOS Adicionalmente, segundo Nunes (2012), para a remoção de óleo dos efluen- tes provenientes de postos de lavagem e lubrificação de veículos, oficinas me- cânicas e outros, são utilizadas caixas retentoras de óleo ou caixas de sepa- ração de água e óleo (SAO), atuando como os dispositivos que discutimos anteriormente (NUNES, 2012). Por fim, em ETE de efluentes industriais, pode ser necessária a inclusão de um tanque de equalização com aplicação inin- terrupta de um mecanismo de agitação, com a finalidade de regular a vazão que deve ser constante nas unidades subsequentes, tal como homogeneizar o efluente quanto ao pH, temperatura e outros parâmetros (CLAAS; MAIA, 2003; NUNES, 2012; SPERLING, 2014). 91 Contudo, após o tratamento preliminar, o efluente ainda apresenta grande parte de sólidos em suspensão e elevada carga de matéria orgânica, assim, no trata- mento primário, ambos podem ser parcialmente removidos em unidades de sedimentação (SPERLING, 2014). Pode-se aplicar dispositivos que operam por meio da decantação natural ou com a adição de agentes coagulantes, por meio da coagulação química, compreendendo o tratamento primário avançado. Em unidades em que se utiliza a decantação natural — nenhum auxiliar de coagulação química é adicionado —, a eficiência de remoção de sólidos em sus- pensão é em torno de 50 a 70%, e a de DBO é em torno de 30 a 40%. No entanto, a eficiência do tratamento primário pode ser aumentada, de forma que possam ser removidos de 80 a 90% de sólidos suspensos, 40 a 70% da DBO, e 30 a 60% da massa bacteriana por precipitação química (METCALF; EDDY, 2016). Portanto, torna-se importante entendermos esses processos. A decantação baseia-se na velocidade de precipitação das partículas sólidas, as quais se dividem em: materiais decantáveis, que sedimentam livremente com ve- locidade de queda constante e diretamente proporcional ao seu peso específico, e UNIDADE 2 UNIDADE 2 92 partículas floculadas, produto da coagulação do material coloidal e sólidos suspensos formados naturalmente ou mediante a adição de produtos químicos. A coagulação química inclui todas as reações e mecanismos envolvidos na desestabilização química de partículas e na floculação, e ocorre a aglomeração das partículas desestabilizadas com o fim de produzir partículas maiores, passíveis de mais fácil remoção por sedimentação, flotação ou filtração (BERNARDO, 2003; RICHTER, 2009; METCALF; EDDY, 2016). As unidades de tratamento aplicadas nessa etapa do tratamento de efluentes são os tanques de decantação ou decantadores, os quais podem ser circulares ou retangulares. De maneira geral, o efluente flui vagarosamente por meio dos decan- tadores, permitindo que os sólidos em suspensão, que possuem densidade maior do que a do líquido circundante, sedimentem gradualmente no fundo, compreendendo o lodo primário bruto. Esse lodo é retirado por meio de uma tubulação única por raspadores mecânicos. Os materiais flutuantes, como óleos e graxas, tendo uma menor densidade que o líquido circundante, sobem para a superfície, sendo este material flotado removido por raspadores mecânicos de superfície. Esse lodo e o material flotado são dispostos em tanques ou em outra forma de armazenamento para posterior tratamento (SPERLING, 2014). Outro tratamento primário que se pode utilizar é a flotação, que consiste na in- jeção de ar comprimido na parte inferior do tanque, o que faz com que as impurezas sejam impulsionadas para a parte superior do tanque após a coagulação, possibili- tando a retirada mecânica por pás ou sistema automatizado. É importante mencionarmos que alguns fatores podem afetar a eficiência do processo de coagulação e floculação, como, por exemplo, tipo de coagulante e flocu- lante (produtos químicos) utilizado e dosagem necessária, pH e alcalinidade do meio (BERNARDO, 2003; LIBÂNIO, 2010). Os produtos químicos comumente emprega- dos como coagulantes são os sais metálicos, como: sulfato de alumínio, sulfato ferroso, cloreto férrico, sulfato férrico e policloreto de alumínio (PAC); e, como floculantes, são os polímeros orgânicos (CLAAS; MAIA, 2003; SPERLING, 2014). Ainda, nos processos de coagulação-floculação, ensaios em Jar-test (teste de jarros), conforme se apresenta na Figura 4, são amplamente utilizados, possibilitando a determinação do melhor pH do meio para receber o coagu- lante, o tipo e a dosagem ideal dele e a escolha do tempos e da velocidades de agitação. Assim, por meio desse ensaio, é possível reproduzir as condições de trabalho na ETE. 93 Por fim, embora a utilização de sais metálicos como coagulantes seja bem conso- lidada, novos coagulantes à base de matéria-prima natural e biodegradável, como tanino, quitosana e moringa, são pesquisados e têm ganhado espaço no mer- cado, tal como o uso de polímeros orgânicos como floculantes. Como vantagem de sua utilização, frente aos coagulantes inorgânicos e sintéticos, pode-se destacar o menor risco à saúde humana, uma vez que não possuem, em sua composição, alumínio e demais metais que são relacionados às doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson, entre outras encefalopatias. Além disso, sua utilização diminui a geração do lodo, o qual é biodegradável, em até cinco vezes em volume, facilitando sua disposição final (LIMA JÚNIOR; ABREU, 2018; PIANTÁ, 2008). Importante destacar que o tratamento preliminar deve existir em todas as estações de tratamento de efluentes, já as unidades de tratamento primário podem ou não estar incluídas em estação de nível secundário, isto é, o trata- mento secundário, biológico, pode ou não vir imediatamente após o trata- mento preliminar (SPERLING, 2014). Descrição da Imagem: a figura é constituída por quatro fotos, lado a lado. Em cada foto, temos um recipiente com um misturador ao centro. Da esquerda para a direita, temos, no primeiro, efluente bruto na cor marrom. No segundo, a coagulação, na qual, com a adição de coagulantes, inicia-se o processo de desestabilização das partículas coloidais. No terceiro recipiente, ocorre a floculação, formação dos flocos maiores. No quarto, na sedimentação ou decantação, os flocos são sedimentados no fundo do recipiente e o efluente se torna clarificado. Figura 3 - Ensaio em Jar-test com efluente bruto ilustrando os processos de coagulação, floculação e sedimentação / Fonte: a autora. NOVAS DESCOBERTAS Acesse o QR Code para conhecer o equipamento Jar-test e ampliar o seu conhecimento sobre os processos de coagulação, floculação e se- dimentação. UNIDADE 2 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14813 UNIDADE 2 94 Mesmo após o tratamento preliminar e primário, a matéria orgânica dissolvi- da (DBO solúvel ou filtrada) não é removida, como, por exemplo, por processos físicos, como o de sedimentação ou decantação natural, no tratamento primário. E a matéria orgânica em suspensão (DBO suspensa ou particulada) ainda está presente no efluente, mesmo que grande parte seja removida no tratamento pri- mário, pois sãode sedimentabilidade mais lenta. Dessa forma, no tratamento secundário ou tratamento biológico, o prin- cipal objetivo é a remoção da matéria orgânica dissolvida e em suspensão, ainda presente no efluente. Essa remoção é feita por reações bioquímicas, realizadas por microrganismos, como bactérias, protozoários e fungos, podendo ser mi- crorganismos aeróbios — sobrevivem na presença de oxigênio —, facultativos — podem sobreviver na presença ou ausência de oxigênio — e anaeróbios — sobrevivem na ausência de oxigênio. Como já vimos, os microrganismos convertem a matéria orgânica em gás car- bônico (CO2), água e material celular — crescimento e reprodução de microrga- nismos —; em condições anaeróbias, tem-se a produção de gás metano (CH4) e gás carbônico (CO2). Assim, destacamos que a decomposição biológica do material orgânico requer a manutenção de condições ambientais favoráveis, como tempe- ratura adequada, pH ótimo, oxigênio em condições aeróbias e ausência de oxigênio em anaeróbias, entre outros parâmetros e condições operacionais na ETE. Em sistemas de tratamento anaeróbio, os microrganismos, na ausência de oxigênio, fazem a conversão da matéria orgânica complexa presente nos efluentes em biogás, o qual é composto, principalmente, por metano (CH4) (55 a 70%), dióxido de carbono (CO2) (25 a 50%) e outros componentes em menor proporção, como água (H2O), nitrogênio (N2), oxigênio (O2) e traços de outros gases, como sulfeto de hidrogênio (H2S), amônia (NH3) e hidrogênio (H2). Fonte: adaptado de Deublein e Steinhauser (2008) e Sperling (2014). EXPLORANDO IDEIAS O tratamento secundário inclui unidades de tratamento preliminar, mas pode ou não incluir unidades de tratamento primário. Entre os processos de trata- mento em nível secundário, os mais comuns são: lagoas de estabilização e va- riantes, lodos ativados e variantes, reatores aeróbios e anaeróbios, processos de 95 disposição sobre o solo e sistemas alagados construídos (wetlands). As lagoas de estabilização são unidades construídas em taludes e com solo compactado para disposição de efluentes por determinados períodos de tempo. Sua base é retangular e seção trapezoidal com inclinação do talude variável de acordo com as características do solo. A carga afluente (efluente bruto) entra em uma extremidade da lagoa e sai na extremidade oposta, e, ao longo do percurso, o efluente sofre uma série de reações bioquímicas por meio dos microrganismos. As paredes internas e o fundo devem ser impermeabilizadas por processos adequados de modo a impedir a infiltração do efluente no solo e, consequen- temente, a contaminação de águas subterrâneas (SABESP, 2009). Entre as variantes das lagoas de estabilização, discutiremos sobre as lagoas facul- tativas, os sistemas de lagoa anaeróbia-facultativa, as lagoas aeradas facultativas e as lagoas de maturação. Elas podem ser associadas e em série ou aplicada após outros sistemas de tratamento. Nas lagoas facultativas, o processo é essencialmente natu- ral, a estabilização da matéria orgânica se processa em taxas muito lentas, necessitan- do de um tempo superior a 20 dias, e elas apresentam profundidades típicas de 1,5 a 2,0 m (metros). A decomposição da matéria dissolvida e em suspensão de pequenas dimensões é realizada pelas bactérias facultativas. O oxigênio requerido pelas bac- térias aeróbias é fornecido pelas trocas gasosas com a atmosfera e pela fotossíntese realizada pelas algas presentes, sendo, portanto, necessária uma fonte luminosa, no caso, a energia solar. A matéria orgânica em suspensão tende a sedimentar, cons- tituindo o lodo de fundo, sofrendo decomposição por bactérias anaeróbias, sendo convertido em gás carbônico (CO2), metano (CH4) e outros (SPERLING, 2014). As lagoas anaeróbias-facultativas são sistemas adotados quando há a ne- cessidade de buscar mais de um tratamento para aumentar a eficiência. Nesse sistema, a primeira lagoa ou lagoa primária é denominada lagoa anaeróbia, pois a fotossíntese praticamente não ocorre e predominam condições anaeróbias. Essa lagoa recebe o efluente bruto e se apresenta em menores dimensões e mais profunda, em torno de 4,0 a 5,0 m de profundidade. Como as bactérias anaeró- bias têm uma taxa metabólica e de reprodução mais lentas se comparadas às das bactérias aeróbias para um período de permanência de dois a cinco dias na lagoa anaeróbia, a decomposição da matéria orgânica é parcial, sendo a eficiência de remoção de DBO na ordem de 50 a 70%. Apesar de insuficiente, alivia a carga para a lagoa facultativa, a qual recebe uma carga de 30 a 50% do efluente bruto, podendo ter dimensões menores em relação a uma única lagoa facultativa. UNIDADE 2 UNIDADE 2 96 Na lagoa aerada facultativa, os mecanismos de remoção de matéria or- gânica são similares aos de uma lagoa facultativa (Figura 4a), no entanto, o oxigênio é fornecido por aeradores mecânicos (Figura 4b), e não de forma natural por meio da fotossíntese de algas ou troca com a atmosfera, como vimos anteriormente. Os aeradores mecânicos são unidades de eixo vertical que, ao rodarem em alta velocidade, causam um grande turbilhonamento na água, essa ação faz com que haja penetração do oxigênio no efluente. Com isso, consegue-se uma maior introdução de oxigênio quando comparada ao sistema de lagoa facultativa convencional (SPERLING, 2014). Para maiores informações acerca das lagoas de estabilização, você pode pesquisar por “Nor- ma Técnica nº 230 SABESP”. Descrição da Imagem: temos duas fotografias lado a lado e, da esquerda para a direita, estão identifica- das como (a) e (b). Em (a), temos uma lagoa facultativa convencional com efluente e grama ao seu redor. Em (b), temos uma lagoa aerada facultativa com vários aeradores mecânicos, além de grama, há árvores ao seu redor. Ambas têm o formato retangular, impermeabilizadas com geomembrana. Figura 4 - Lagoas de estabilização: (a) - Lagoa facultativa; (b) - Lagoa aerada facultativa / Fonte: a autora. Em sistemas anaeróbios, destaca-se o reator anaeróbio de lagoa coberta, o reator anaeróbio de fluxo ascendente e de manta de lodo (RAFA) — do inglês, Upflow Anaerobic Sludge Blanket (UASB) — e o filtro anaeróbio. O reator de lagoa coberta, também conhecido como modelo “canadense” ou “biodigestor de lona”, opera como uma lagoa de estabilização anaeróbia, no entanto, é coberto com material geossintético, como policloreto de vinila (PVC) ou polietileno de alta densidade (PEAD). É amplamente empregado no meio rural no tratamento de efluentes da produção animal, mas também pode ser aplicado no tratamento de efluentes industriais, compreendendo o 97 primeiro dispositivo no tratamento secundário. É considerado de baixo ní- vel tecnológico, com facilidade de construção e operação. A falta do sistema de aquecimento, porém, implica na variação da temperatura em função da temperatura ambiente, e isso tem implicações diretas na capacidade de gera- ção de biogás e será bastante afetado em regiões com inverno mais rigoroso (KUNZ; STEINMETZ; AMARAL, 2019). O reator UASB tem como característica o fluxo ascendente do afluente por uma manta de lodo até o topo do reator, onde há um separador trifásico. Assim, a matéria orgânica é convertida anaerobiamente por bactérias dispersas no reator, sendo que a parte superior do reator é dividida nas zonas de sedimentação e de coleta de gás. A zona de sedimentação permite a saída do efluente clarificado e o retorno da biomas- sa microbiana ao sistema, aumentando a sua concentração no reator. Entre os gases formados, inclui-se o metano (CH4); o sistema dispensa decantação primária, a produção de lodo é baixa, e o lodo já sai adensado e estabilizado (SPERLING, 2014). O sistema tanques sépticos seguidos de filtros anaeróbios, também co- nhecido por sistema fossa – filtro, é amplamente utilizado no meio rural e em comunidades de pequeno porte. O tanque séptico, o qual pode ser de câmara única, câmaras sobrepostas — denominado tanque Imhoff — ou de câmaras emsérie, remove a maior parte dos sólidos em suspensão, os quais sedimentam e sofrem o processo de digestão anaeróbia no fundo do tanque, e o filtro anaeróbio efetua uma remoção complementar. Neste, a DBO é convertida anaerobiamente por bactérias aderidas a um meio suporte, usualmente, pedras, no reator, sendo que esse trabalha submerso e o fluxo é ascendente (SPERLING, 2014). NOVAS DESCOBERTAS Para maiores informações sobre as lagoas de estabilização, você pode acessar, no QR Code, a Norma Técnica nº 230 da Companhia de Sanea- mento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). Você também poderá obter maiores informações sobre o processo de digestão anaeróbia no tratamento de efluentes, incluindo dados sobre os reatores do tipo lagoa coberta e UASB no livro de Kunz, Steinmetz e Amaral (2019). Norma Técnica nº 230 Processo de digestão anaeróbia UNIDADE 2 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14814 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14815 UNIDADE 2 98 O sistema de lodos ativados convencional é um processo de tratamento biológico em que o esgoto afluente e o lodo ativo (bactérias) são misturados, agitados e aerados em um tanque de aeração. O sistema compreende duas unidades: o reator biológico ou tanque de aeração e, na sequência, um decantador secundário, de forma que os sólidos são recirculados do fundo da unidade de decantação, por meio de bombea- mento, para a unidade de aeração. A concentração de biomassa do reator é bastante elevada, devido à recirculação do lodo sedimentado no fundo do decantador secun- dário, sendo que essa permanência maior no sistema garante uma elevada eficiência na remoção da DBO. O fornecimento de oxigênio no tanque de aeração pode ser feito por aeradores mecânicos ou por ar difuso (SPERLING, 2014). Em relação à disposição de efluentes no solo, destaca-se a infiltração lenta ou o processo de fertirrigação. Assim, os efluentes são aplicados no solo, for- necendo água e nutrientes necessários para o crescimento das plantas. O efluente pode ser aplicado segundo métodos de aspersão, de alagamento e de crista e vala, de forma que parte do líquido evapora, parte percola no solo e a maior parte é absorvida pelas plantas (SPERLING, 2014). NOVAS DESCOBERTAS A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em sua norma ABNT NBR 13969:1997, estabelece procedimentos técnicos para o projeto, a construção e a operação de unidades de tratamento com- plementar e disposição final dos efluentes líquidos de tanque séptico (ABNT, 1997). Acesse o QR Code para conhecer um exemplo de tanque séptico aplicado em zonas rurais. NOVAS DESCOBERTAS O efluente gerado em usinas de açúcar e álcool, vinhaça ou vinhoto foi proibido de ser lançado, direta ou indiretamente, em qualquer coleção hídrica, por meio da Portaria do Ministério do Estado do Interior (MIN- TER) nº 323/1978 (BRASIL, 1978). E a Portaria do MINTER nº 158/1980 estabeleceu que o sistema de tratamento e/ou utilização da vinhaça de- verá obedecer à solução apresentada e aprovada pelo órgão estadual competente (BRASIL, 1980). Um exemplo se trata da Norma Técnica P 4.231 da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), a qual regulamenta critérios e procedimentos para a aplicação de vinhaça no solo agrícola do Estado de São Paulo. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14816 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14817 99 No Brasil, a Resolução CONAMA nº 503/2021 define critérios e procedi- mentos para o reuso em sistemas de fertirrigação de efluentes provenien- tes de indústrias de alimentos, bebidas, laticínios, frigoríficos e graxarias. Ela define o termo fertirrigação como a “técnica de adubação que utiliza a água de irrigação ou efluentes para levar nutrientes ao solo, que compreende em aplicar qualquer elemento químico de interesse agronômico, sendo estes de origem orgânica ou inorgânica via água de irrigação” (CONAMA, 2021, p. 1). De acordo com a resolução anteriormente citada, o reuso de efluentes em sis- temas de fertirrigação será realizado mediante autorização emitida pelo órgão ambiental competente e poderá constar na licença ambiental. Assim como a caracterização do efluente para reuso em sistemas de fertirrigação deve ser realizada antes da primeira aplicação e, após, anualmente, considerando- -se estabilizado caso atenda aos parâmetros e valores máximos apresentados na referida resolução. Você pode consultar a redação oficial dessa resolução e verificar a lista completa dos parâmetros e seus respectivos valores máximos permitidos ao pesquisar por “Resolução CONAMA nº 503/2021”. Os sistemas alagados construídos, também denominados terras úmidas construídas, banhados artificiais, alagados artificiais ou, no termo em inglês, wetlands, consistem em sistemas de lagoas ou canais rasos que abrigam plan- tas aquáticas flutuantes e/ou enraizadas em uma camada de solo no fundo. As lagoas podem ter área aberta dominada pelas plantas ou apresentar ilhas com funções de habitat, assim o efluente flui livremente entre as folhas e os caules das plantas (SPERLING, 2014). O tratamento terciário, também conhecido como tratamento avançado, tem como principal finalidade a remoção de poluentes dos efluentes — rema- nescentes de processos anteriores de tratamento — antes do lançamento no corpo d’água receptor. São vários os tipos de tratamento avançado de efluentes, conforme apresentamos no Quadro 5, no entanto, daremos ênfase à remoção de nutrientes e de organismos patogênicos. A remoção de nitrogênio (N) e fósforo (P) pode ser um dos objetivos no tratamento de efluentes, dependendo do impacto causado nos corpos recep- tores. Vimos, anteriormente, que esses nutrientes, em excesso, podem causar um fenômeno chamado de eutrofização. Podem ser removidos em lagoas de estabilização, nos sistemas de disposição controlada no solo, por lodos ativados e reatores com biofilmes e processos físico-químicos. UNIDADE 2 UNIDADE 2 100 Para a remoção de organismos patogênicos, podem ser empregadas lagoas de maturação, que se constituem como uma opção de desinfecção bastante eficien- te e econômica se comparada a outros métodos convencionais. Entre os organismos a serem removidos, incluem-se bactérias, vírus, cistos de protozoários e ovos de helmintos. Uma certa remoção ocorre nas lagoas anaeróbias e facultativas. As lagoas de maturação são mais rasas, possibilitando a alta penetração da radiação solar com efeito ultravioleta, que é um mecanismo esterilizador de microrganismos, o aumento do pH devido à elevada atividade fotossintética e a alta concentração de oxigênio dissolvido que favorece uma comunidade aeróbia, mais eficiente na eliminação de coliformes (SPERLING, 2014). A desinfecção também pode ocorrer em condições artificiais, como: a cloração, que consiste na aplicação de cloro para eliminar os microrganismos, ou em processos como ozonização (O3), radiação ultravioleta (UV) e processos oxidativos avançados (POA) — peróxido de hidrogênio (H2O2) + ozônio ou UV + O3 (SPERLING, 2014; METCALF; EDDY, 2016). Por fim, podemos verificar que, em algumas etapas do tratamento de efluen- tes, haverá a geração de resíduos sólidos, como no gradeamento, no peneiramen- to e na remoção de areia, tal como o lodo de esgoto. Cada um desses resíduos requer processamento adicional, ou seja, ter a destinação e/ou a disposição final ambientalmente adequada. Discutiremos esse assunto nas unidades seguintes. O lodo de esgoto é definido como o “resíduo sólido gerado no processo de tratamento de esgoto sanitário e demais efluentes, por processos de decantação primária, biológico ou químico, não incluindo resíduos sólidos removidos de desarenadores, de gradeamento e peneiramento” (CONAMA, 2020, p. 2). Assim, os processos que recebem o esgoto bruto em decantadores primário geram o lodo primário, composto por sólidos sedimentáveis do esgoto bruto. No tra- tamento secundário biológico, tem-se o lodo biológico ou lodo secundário, constituindo a própria biomassa microbiana,que cresceu por meio da degrada- ção da matéria orgânica presente no esgoto afluente (ANDREOLI; SPERLING; FERNANDES, 2014). Caso a biomassa não seja removida, ela tende a se acumular no sistema, podendo, eventualmente, sair com o efluente final, deteriorando sua qualidade em termos de sólidos em suspensão e matéria orgânica. Dependendo do tipo do sistema, o lodo primário pode ser enviado para o tratamento junto ao lodo secundário, denominado lodo misto. Ainda, em sis- temas de tratamento que incorporam uma etapa físico-química para melhorar o desempenho do decantador primário e para dar um polimento ao efluente 101 secundário, tem-se o lodo químico (ANDREOLI; SPERLING; FERNANDES, 2014). Em todos esses casos, torna-se necessário o descarte do lodo, ou seja, sua retirada da fase líquida, sendo este denominado lodo excedente. No entanto, nem todos os sistemas de tratamento de esgotos necessitam do descarte contínuo desta biomassa. Alguns sistemas de tratamento conseguem armazenar o lodo por muito tempo de operação da estação como, por exemplo, em algumas variantes de lagoas de estabilização, em que haverá uma tendência de acúmulo de lodo no fundo das lagoas. Outros permitem apenas um descarte eventual, como no caso de reatores anaeróbios, e outros requerem uma retirada contínua ou bastante fre- quente, como em lodos ativados (ANDREOLI; SPERLING; FERNANDES, 2014). Prezado(a) aluno(a), sabemos que o panorama em relação ao uso dos recursos hí- dricos no Brasil e no mundo sofrem diversas transformações, seja em relação à sua qualidade, seja em sua disponibilidade, requerendo, portanto, iniciativas de conser- vação, assim como de otimização da utilização desse recurso (ABNT, 2019). Nesse sentido, a redução de vazões de esgotos de fontes domésticas, industriais, agrícolas e outras resulta, diretamente, da redução do consumo de água. Logo, importantes estratégias para reduzir o consumo de água e as vazões de esgoto se tornam neces- sárias, como a utilização de equipamentos que proporcionam a redução de vazão e a conservação de água, como aeradores de torneiras, válvula redutora de pressão, válvulas de baixo fluxo, chuveiros com limitadores de vazão, lavadoras eficientes, detectores de vazamento e outros (METCALF; EDDY, 2016). UNIDADE 2 UNIDADE 2 102 O reuso de efluentes tratados também se mostra importante para a redução tanto da demanda de água potável para fins menos restritivos quanto da polui- ção dos corpos d’água pelo seu lançamento. O termo água de reuso se refere à “água residuária que se encontra dentro dos padrões exigidos para sua utilização” (ANA, 2005, p. 12), ou, simplesmente, reuso, que é definido como o “uso de esgoto tratado para fins benéficos, como irrigação agrícola ou ornamental, e para reuso potável direto ou indireto” (METCALF; EDDY, 2016, p. 3) ou a “tecnologia que consiste no conjunto de procedimentos e técnicas com a finalidade de promover a reutilização de efluente estabilizado” (CONAMA, 2021, p. 2). E se entende por efluente estabilizado o efluente que passa por processo de digestão anaeróbia, oxidação aeróbia ou redução fotossintética, proporcionando a eliminação ou redução de odores, de DBO, de organismos patogênicos e da capacidade de pu- trefação de matéria orgânica (CONAMA, 2021). Os usos não potáveis das águas de reuso são os mais variados, incluindo: descargas de bacias sanitárias, irrigação de áreas verdes, lavagem de roupas, veí- culos, calçadas, pátios e logradouros públicos, limpeza em geral, produção de concreto, compactação de solo, usos ornamentais, entre outros. Para cada fim a que se destina, a água de reuso deve atender a um nível de qualidade físico, químico e microbiológico específico, sendo mais restritivo para os usos em que exista contato direto com os usuários (ANA, 2005). No Brasil, a prática de reuso de águas para fins não potáveis não é mandatória. No entanto, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) incentiva a implemen- tação do reuso por meio das Resolução CNRH nº 54/2005 (CNRH, 2005) e Reso- lução CNRH nº 121/2010 (CNRH, 2011). A primeira estabelece as modalidades e critérios gerais do reuso direto não potável da água, enquanto a segunda determina critérios para o reuso direto não potável de água para fins agrícolas e florestais. O termo reuso direto de água se trata do uso planejado de água de reuso, conduzido ao local de utilização sem lançamento ou diluição prévia em corpos hídricos superficiais ou subterrâneos. Já o termo reuso indireto de água se refere ao uso de água residuária ou água de qualidade inferior, em sua forma diluída, após lançamento em corpos hídricos superficiais ou subterrâneos (ANA, 2005). No que se refere aos padrões de qualidade da água para reuso, poucos são os documentos existentes que sugerem parâmetros sanitariamente seguros a serem seguidos (ANA, 2005; ABNT, 2019; RIO GRANDE DO SUL, 2020; SÃO PAULO, 2020). Entre eles, destacam-se a norma ABNT NBR 16783:2019 (ABNT, 2019), 103 a qual aborda o uso de fontes alternativas de água não potável em edificações, e o guia de Conservação e Reuso da Água em Edificações (CRAE) (ANA, 2005), o qual dispõe de orientação para a implantação de programas de conservação de água em edificações comerciais, residenciais e industriais. A ABNT NBR 16783:2019 se aplica às seguintes fontes de produção de água não potável: água pluvial, água de rebaixamento de lençol freático, água clara, água cinza-claro e escuro, água negra e esgoto sanitário, sendo outras fontes alternativas não contempladas por essa norma. Genericamente, estabelece os valores de parâ- metros físico-químicos e microbiológico para o enquadramento da água de reuso para os usos em descarga de bacias sanitárias e mictórios, lavagem de logradouros, pátios, garagens e áreas externas, lavagem de veículos, irrigação para fins paisagís- ticos, uso ornamental — como fontes e chafarizes — e arrefecimento de telhados. O guia de CRAE, por sua vez, determina parâmetros para a água de reuso não potável de acordo com o fim desejado, ou seja, conforme a classe de água para reuso, sendo estas (ANA, 2005): ■ Classe 1: uso para descarga de bacias sanitárias, lavagem de roupas, veí- culos, pisos e fins ornamentais. ■ Classe 2: usos associados às fases de construção de edificações como lavagem de agregados, preparação de concreto, compactação de solo e controle de poeira. ■ Classe 3: uso para irrigação de áreas verdes e rega de jardins. ■ Classe 4: uso no resfriamento de equipamentos de ar-condicionado, como torres de resfriamento. Destaca-se que o padrão estabelecido no GCRAE (ANA, 2005) é mais abran- gente e, também, restritivo quando comparado com os parâmetros de qualidade abordados pela ABNT (2019), porém ambos são válidos e tornam a água apta e sanitariamente segura para o reuso desejado. NOVAS DESCOBERTAS Você poderá consultar, por meio do acesso ao QR Code, os parâme- tros e os valores máximos permitidos para as águas de reuso classe 1, 2, 3 e 4. UNIDADE 2 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14818 UNIDADE 2 104 Em nosso último tópico de discussão, apresentaremos informações sobre amos- tragem e diretrizes para a gestão de efluentes. Assim, inicialmente, torna- -se necessário o entendimento quanto à importância de se realizar análises dos efluentes líquidos. Essa importância se dá pela necessidade de avaliar o possível impacto de seu lançamento em cursos d’água e na rede pública coletora de esgo- tos, o que exige das fontes de poluição compilar e manter os registros e controle de todas as atividades de monitoramento para que possam ser implantadas medidas preventivas e/ou corretivas para controle de qualidade ambiental. Para definição dos locais de amostragem de efluentes e dos corpos d’água receptores, devem ser considerados os objetivos envolvidos na amostragem, tais como: avaliação do desempenho do sistema de tratamento, controle operacional, atendimento aos padrões da legislação, obtenção de informações paraelaboração de projeto de sistemas de tratamento de águas residuárias, implantação de medidas de preven- ção à poluição, entre outros (BRANDÃO et al., 2011). A avaliação de desempenho se refere ao monitoramento em ETE que mede concentrações afluentes (entrada do sistema) e efluentes (saída do sistema), que permitam a avaliação do processo e das eficiências de remoção dos poluentes. O controle operacional se refere ao monitoramento em ETE que levanta dados e informações de parâmetros que são úteis para as condições de funcionamento 105 dos sistemas e unidades que compõem o tratamento (SPERLING, 2014). A ava- liação do atendimento à legislação se trata da qualidade da água nos corpos d’água e nos efluentes lançados, em que os parâmetros que serão avaliados, con- forme frequência de monitoramento especificada, são os listados na legislação e estabelecidos na licença ambiental de operação da organização, visto que os responsáveis pelas fontes poluidoras dos recursos hídricos e os órgãos ambientais necessitam avaliar o atendimento à legislação (SPERLING, 2014). A Resolução CONAMA nº 430/2011 especifica algumas diretrizes para a gestão de efluentes para os responsáveis pelas fontes poluidoras dos recursos hídricos, incluindo a amostragem de efluentes, entre as quais destacamos: “ [...] realização do automonitoramento para controle e acompa-nhamento periódico dos efluentes lançados nos corpos recepto-res, com base em amostragem representativa dos mesmos; [...] as coletas de amostras e as análises de efluentes líquidos e em corpos hídricos devem ser realizadas de acordo com as normas específicas, sob responsabilidade de profissional legalmente ha- bilitado; [...] os ensaios deverão ser realizados por laboratórios acreditados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) ou por outro organismo signatário do mesmo acordo de cooperação mútua do qual o INMETRO faça parte ou em laboratórios aceitos pelo órgão ambiental compe- tente; [...] os laudos analíticos referentes a ensaios laboratoriais de efluentes e de corpos receptores devem ser assinados por pro- fissional legalmente habilitado (CONAMA, 2011, p. 7–8). NOVAS DESCOBERTAS Para maior compreensão dos procedimentos para a coleta de amos- tras de água superficial e efluentes industriais, baseados em meto- dologias padronizadas e de referência nacional e internacional, você pode, por meio do QR Code, acessar o Guia Nacional de Coleta e Pre- servação de Amostras elaborado pela Companhia Ambiental do Es- tado de São Paulo (CETESB) em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). UNIDADE 2 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14819 UNIDADE 2 106 Dessa forma, para avaliação ao longo do tempo do impacto do lançamento de efluente e do atendimento à legislação, devem ser efetuadas coletas de amostras, no mínimo, em alguns pontos específicos, conforme ilustrado na Figura 5. Descrição da Imagem: a figura é uma ilustração que representa os pontos de amostragem de efluentes. Inicialmente, verticalmente, temos uma seta indicando a carga afluente entrando na ETE, sendo esta re- presentada por um quadrado, e, entre as duas, um ponto indicando o primeiro ponto de coleta, o Ponto 1, o qual compreende o efluente bruto, ou seja, a carga afluente entrando na ETE. Após a ETE, outro ponto de coleta, o Ponto 2, corresponde ao efluente tratado na saída da ETE. Posteriormente, uma seta indica o lançamento de efluente no corpo d’água. Este é representado por duas linhas paralelas horizontais, com uma seta ilustrando o seu fluxo no sentido da direita para a esquerda. No corpo d’água, temos um ponto a montante (antes) do lançamento de efluente, o Ponto 3, e um ponto a jusante (após) o lançamento, o Ponto 4, tal como mais dois pontos posteriormente a jusante, os Pontos 5 e 6. Figura 5 - Pontos de amostragem da qualidade das águas e efluentes / Fonte: adaptada de Sperling (2014). O ponto de amostragem afluente à ETE tem por objetivo a verificação do atendimento ao padrão de lançamento, com relação ao quesito de eficiência mínima de remoção de poluentes, bem como para controle operacional da ETE. O ponto de amostragem efluente da ETE, ou seja, do efluente de saída da ETE e tratado, objetiva a verificação do atendimento ao padrão de lança- mento com relação aos limites de concentrações permitidos pela legislação e, também, para controle operacional da ETE. Já no corpo d’água, o ponto de 107 amostragem à montante do lançamento visa conhecer as características do corpo receptor sem o lançamento de efluente em questão e, ainda, para ava- liação da modificação induzida pelo lançamento de efluente. Por fim, o ponto à jusante do lançamento tem por objetivo a verificação do atendimento ao padrão de qualidade do corpo receptor segundo sua classe, conforme Reso- lução CONAMA nº 357/2005 (CONAMA, 2005), e, também, a avaliação da modificação induzida pelo lançamento de efluente. Muitas vezes, as concentrações dos constituintes não são homogêneas, nesse caso, são chamadas de “zonas de mistura”, onde o efluente ainda não está totalmente misturado com o corpo receptor (SPERLING, 2014). Por- tanto, deve-se sempre certificar que, no local escolhido à jusante, o efluente descartado esteja completamente misturado ao corpo receptor, de tal forma que somente esse lançamento seja o causador das possíveis alterações na sua qualidade (BRANDÃO et al., 2011). O responsável por fonte potencial ou efetivamente poluidora dos recursos hídricos deve apresentar ao órgão ambiental competente, até o dia 31 de março de cada ano, a Declaração de Carga Poluidora referente ao ano anterior, na qual deve conter a caracteriza- ção qualitativa e quantitativa dos efluentes baseada em amostragem repre- sentativa deles (CONAMA, 2011). Por fim, diante de todos os assuntos que abordamos ao longo desta unida- de, podemos concluir que as fontes potencial ou efetivamente poluidoras dos recursos hídricos deverão buscar práticas de gestão de efluentes com vistas ao uso eficiente da água, à aplicação de técnicas para redução da geração e melhoria da qualidade de efluentes gerados e, sempre que possível, proceder ao reuso dos efluentes tratados. REUSO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS As águas de qualidade inferior, como os efluentes, devem, sempre que possível, ser consideradas como fontes alterna- tivas para usos menos restritivos. Assim, convidamos você para uma breve discussão sobre o entendimento do reuso de efluentes para fins não potáveis e sua aplicação no solo. UNIDADE 2 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11108 UNIDADE 2 108 Prezado(a) aluno(a), diante dos conceitos, das legislações, dos métodos e dos dispositivos apresentados a respeito dos efluentes, você pode perceber a comple- xidade e a importância da aplicação de ações de prevenção e controle da poluição em termos da geração de efluentes e poluentes presentes neles. O estudo não para por aqui: uma abordagem mais aprofundada pode ocorrer por meio da leitura de literaturas especializadas sobre o tema ou de um problema específico com que você possa se deparar na sua atuação profissional. O conteúdo apresentado lhe possibilitará uma base sobre o assunto e oportu- nidades de atuação na área. Como na Gestão do Tratamento de Efluentes em in- dústrias ou nos municípios, tanto na gestão in loco na ETE quanto na elaboração de estudos ambientais e análise de dados requeridos pelos órgãos ambientais, por exemplo, na elaboração da declaração de carga poluidora exigida na legislação e na licença ambiental de operação, em planos de controle ambiental, em estudos de impactos ambientais e outros. Também, poderá atuar no estabelecimento de um plano de amostragem dos efluentes, que necessitará a contratação de laboratórios especializados e credenciados para tal atividade, e, também, na análise de laudos laborato- riais e seu confrontamento quanto ao atendimento da legislação aplicável e vigente e, ainda, na proposição de medidas a serem implementadasou melhoradas na fonte de geração, visando reduzir a geração de efluentes e sua toxicidade, tal como no tratamento de efluentes, por meio de dispositivos mais eficientes e, até mesmo, formas de reuso. NOVAS DESCOBERTAS Título: Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento de Esgotos Autor: Marcos von Sperling Editora: UFMG Sinopse: a obra apresenta uma visão integrada da qualidade das águas tanto no que se refere a corpos receptores quanto às características dos esgo- tos. Como subsídio para a seleção do sistema de tratamento, são descritos os estudos ambientais que devem ser executados para se avaliar o impacto dos lançamentos nos corpos receptores. Em caráter introdutório, são descritos os principais sistemas e suas variantes, bem como o tratamento e disposição final do lodo conjugado a critérios técnicos e econômicos para a seleção da alternativa mais adequada em cada situação. 109 1. As características dos esgotos sanitários se dão em função dos usos aos quais a água foi submetida. Sabendo que os parâmetros que definem a qualidade do esgoto são divididos em parâmetros físicos, químicos e biológicos, assinale a alternativa que representa apenas parâmetros físicos dos esgotos domésticos. a) Temperatura, turbidez e cor. b) Óleos e graxas, fósforo total e sólidos totais. c) Coliformes totais e coliformes termotolerantes. d) Carbono orgânico total, alcalinidade e temperatura. e) Demanda Química de Oxigênio e Demanda Bioquímica de Oxigênio. 2. O lançamento das águas residuárias de qualquer fonte poluidora em corpos d’água devem atender às condições e aos padrões de lançamento previstos na legislação aplicável vigente. Dessa forma, avalie as afirmativas a seguir sobre a importância do monitoramento dos parâmetros Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda Química de Oxigênio (DQO). I - Aferir o grau de eutrofização de um corpo d’água. II - Avaliar, de forma indireta, o teor de matéria orgânica nos efluentes ou no corpo d’água, indicando o potencial consumo do oxigênio dissolvido. III - Caracterização do grau de poluição de um corpo d’água. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 110 3. No Brasil, as condições e padrões de lançamento de efluentes e de qualidade do corpo d’água receptor são estabelecidos pelas resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Nesse contexto, assinale a alternativa que apresenta do que trata a Resolução CONAMA nº 430/2011. CONAMA. Resolução nº 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. 2011. Disponível em: http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo. download&id=627. Acesso em: 3 jun. 2022. a) Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lança- mento de efluentes. b) Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução CONAMA nº 357/2005. c) Institui as condições e padrões de lançamento de efluentes e qualidade dos corpos d’água. d) Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico, incluindo o esgo- tamento sanitário. e) Estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes apenas para sistemas de tratamento de esgotos sanitários. http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=627 http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=627 3Gerenciamento de Resíduos Sólidos Dra. Jéssica de Carvalho Lima Me. Paula Polastri Nesta Unidade 3, abordaremos resíduos sólidos, conceitos relaciona- dos, sua classificação, legislações e normas aplicáveis. Estudaremos, também, aspectos importantes e iniciais do gerenciamento de resí- duos sólidos, incluindo a geração, a segregação, o acondicionamen- to, o armazenamento, a coleta e o transporte, tal como importantes instrumentos relativos à gestão integrada e ao gerenciamento de re- síduos sólidos. UNIDADE 3 112 Prezado(a) aluno(a), você já parou para pensar de onde se originam os resíduos? Se existe diferença entre lixo, resíduo e rejeito? Que resíduos podem ser perigosos ou não? O que é a Política Nacional de Resíduos Sólidos? Qual é a finalidade de uma correta separação de resíduos? Você sabe que os resíduos, se gerenciados de forma inadequada, podem causar contaminação dos solos, água e ar? E que os responsáveis pela geração devem desenvolver ações relacionadas à gestão in- tegrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos? Nesse sentido, em uma discussão inicial, temos que, diariamente, milhares de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) são geradas em ambientes domés- ticos e em espaços públicos urbanos, bem como outros tipos de resíduos sólidos. Assim, a geração de RSU no Brasil tem registrado aumento nas quantidades totais e nos valores per capita (por indivíduo). Esse aumento se dá pelo crescimento populacional e pelos padrões de consumo e descarte da população, tal como pela variação do poder aquisitivo da sociedade, representado pelos índices de Produto Interno Bruto (PIB), sendo um fator que exerce influência na geração de resíduos sólidos urbanos. Outros fatores mais complexos também influenciam nesse aumento da geração, como a ainda ausente cobrança dos munícipes pelos serviços de coleta e manejo de resíduos sólidos e o crescente consumo de produ- tos descartáveis de uso único (BOSQUILIA; MARTIRANI, 2019). Considerando esse cenário e com base nos dados disponíveis, a Associação Bra- sileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2021) pro- jetou a geração de resíduos sólidos urbanos no país para as próximas décadas, resul- tando em uma curva crescente ao longo de 30 anos. Até 2050, o Brasil observará um aumento de quase 50% no montante de RSU em comparação ao ano base de 2019. Para o mesmo período, a projeção de crescimento populacional esperada é de 12%, o que evidencia a influência decisiva na componente de perspectiva econômica, ou seja, o avanço gradual do PIB e consequente aumento do poder aquisitivo da sociedade. Portanto, políticas públicas mais incisivas de estímulo à não geração e à reutili- zação de materiais, etapas iniciais e prioritárias na hierarquia da gestão de resíduos sólidos se tornam de extrema importância. Sabemos que a geração de resíduos sólidos acontece em todos os setores da sociedade e não pode ser eliminada por completo. Nesse contexto, os indicadores são ferramentas para monitorar e medir a eficiência e eficácia da gestão de resíduos dentro de uma organização, na gestão pública e outros. Assim, esses indicadores consistem em avaliar as condições do sistema de gestão de resíduos em busca da 113 sustentabilidade; avaliar condições do sistema em relação às metas e objetivos; prover informações de advertência, ou seja, identificar os riscos ou as falhas do sistema ineficiente; e antecipar futuras condições do sistema de gestão de resíduos (PEREIRA; CURL; CURL, 2018). Os indicadores mais utilizados no Brasil e no mundo estão relacionados ao tamanho da população — resíduos por habitante e tempo — e à capacidade de aproveitamento do resíduo gerado — reutilização, reciclagem e tratamento (UGALDE, 2010). Dessa forma, para que você tenha um contato inicial com os indicadores de re- síduos sólidos, convido-lhe a acessar este QR Code para conhecer as informações disponibilizadas no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), es- pecificamente, sobre o Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos. Nesse diagnóstico, no item “Tabelas”, baixe-as, de forma que, na planilha “Indicadores”, você poderá conhecer cada indicador sobre os re- síduos em seu município, como, por exemplo, saber qual é a taxa de cobertura da coleta de resíduo domiciliar, de coleta seletiva e outros indicadores, talcomo outras informações nas demais tabelas sobre a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos. Agora, convido-lhe a refletir e registrar, no Diário de Bordo, essas reflexões, suas ideias e seus questionamentos. Como, por exemplo: como não gerar ou reduzir a geração dos resíduos sólidos? Quais são os resíduos gerados em sua casa que po- deriam ser evitados ou reduzidos? Como segregar os resíduos de forma adequada, como os gerados em sua residência, nas indústrias, nas áreas rurais e demais locais de geração? Seu município é dotado de coleta seletiva? Pense em como você, cidadão(ã) e futuro(a) Gestor(a) Ambiental poderá atuar nessas questões. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14796 UNIDADE 3 114 Prezado(a) aluno(a), após refletirmos a respeito da geração de resíduos e sobre como esse tema está presente no nosso cotidiano, estabeleceremos relação com algumas Leis da Física. De acordo com a Primeira Lei da Termodinâmica, que aborda a conservação de energia, as energias podem se transformar de uma forma em outra, mas não podem ser criadas ou destruídas. Já a Segunda Lei da Termodinâmica diz que o processo de transformação de energia acontece a partir de uma mais nobre para outra menos nobre (BRAGA et al., 2005). A partir das duas leis físicas citadas ante- riormente, podemos fazer a seguinte reflexão: se nenhum tipo de energia é criada ou destruída, como ocorrem os processos na natureza? O fato é que, ao utilizar uma determinada energia em uma cadeia produtiva, essa energia se transforma. A energia mecânica, por exemplo, pode se transformar em energia cinética. Ademais, a conversão ideal não existe. Isso significa que, por mais que qual- quer processo seja altamente rentável, sempre haverá uma dissipação energética no meio, por exemplo, no formato de energia térmica. Essa perda energética é fonte de poluição. Uma abordagem similar pode ser realizada para a matéria de acordo com a Lei de Lavoisier, que afirma que, na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Lavoisier verificou que a massa total do sistema per- manecia inalterada quando a reação ocorria num sistema fechado, assim concluiu que a soma total das massas das espécies envolvidas na reação (reagentes) é igual à soma total das massas das substâncias produzidas pela reação (produtos), ou seja, num sistema fechado, a massa total permanece constante (BRAGA et al., 2005). 115 Mediante a constatação de Lavoisier, concluímos que a ideia de “jogar algo fora” é ilusória, pois traz a sensação de que limpar nossa casa e jogar o “lixo” para que o serviço de limpeza urbana o colete nos “livra de um problema”, quando, na verdade, esse resíduo está apenas sendo deslocado para outro espaço. Ademais, esse resíduo que é descartado pode ser considerado uma fonte de energia e matéria, que poderia ser utilizado para outra finalidade, com a reutilização ou reciclagem. Exploraremos alguns conceitos para que você possa compreender a nossa discussão ao longo desta unidade. Iniciaremos pela diferença entre os termos lixo, resíduo sólido e rejeito, pois são tecnicamente diferenciados na forma em que são usados pelas legislações vigentes e pelos profissionais do meio ambiente. Conforme o senso comum, o lixo é o resultado de tudo que não pode ser aproveitado pelos geradores depois de atender às suas necessidades de utili- zação, sendo descartado, em muitos casos, de qualquer forma no ambiente ou disposto em locais inadequados. Assim, o termo lixo é conhecido popularmente como os restos das atividades humanas consideradas como inúteis, descartáveis ou indesejáveis, ou seja, “resto”, “sobra” ou “detrito”, sendo, portanto, algo sem a possibilidade de reaproveitamento. Dessa forma, trata-se do uso incorreto dos termos oficiais, no entanto, a maioria da sociedade não está familiarizada com conceitos técnicos da temática ambiental, visto que a educação ambiental, em muitos casos, ainda é incipiente (BARBOSA; IBRAHIN, 2014). No Brasil, a Lei nº 12.305/2010 instituiu a Política Nacional de Resí- duos Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010a), regulamentada pelo Decreto nº 7.404/2010 (BRASIL, 2010b), o qual estabelece normas para execução da PNRS. A PNRS, considerada um marco em termos de resíduos sólidos, dispõe sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instru- mentos econômicos aplicáveis. Os resíduos sólidos passaram a ser definidos como “material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder [...]” (BRASIL, 2010a, on-line). Adicionalmente, conforme a lei anteriormente citada e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em sua norma NBR 10004:2004 — Resíduos sólidos: classificação, estabelece-se que os resíduos sólidos podem se apresentar nos estados sólido ou semissólido, gasoso, quando contidos em recipientes, e, UNICESUMAR UNIDADE 3 116 ainda, no estado líquido, “cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em relação à melhor tecnologia disponível” (ABNT, 2004a, p. 1; BRASIL, 2010a, on-line). Ainda, a PNRS define que os rejeitos são os “resíduos sólidos que, depois de esgo- tadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010a, on-line). Portanto, entendemos que os resíduos devem ser tratados o máximo possível, podendo ter o seu reaproveitamento em sua fonte de origem, em outro processo produtivo ou em alguma atividade econômica ou social, e que, depois de esgotadas todas as possibili- dades de beneficiamento, tal como os rejeitos provenientes dos tratamentos, deve-se dar a adequada disposição para os resíduos que serão descartados, isto é, os rejeitos. Veja que existe uma grande diferença entre os termos lixo, resíduos sólidos e rejeitos. Logo, o termo lixo, sendo este apontado como algo simplesmente inútil e descartável, não se torna mais usual ou aplicável tecnicamente, visto que, como um dos princípios da PNRS, passa a ter o “reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania” (BRASIL, 2010a, on-line). Os resíduos sólidos po- dem ser originados de diversas fontes e apre- sentam distintas caracte- rísticas físicas, químicas e biológicas, sendo que a classificação dos resí- duos sólidos ocorre de duas formas: quanto à origem e quanto à peri- culosidade (ABNT, 2004a; BRASIL, 2010a). Segundo a PNRS, os resíduos têm a seguinte classificação quanto à origem (BRA- SIL, 2010a, on-line): 117 ■ Resíduos domiciliares (RDO): os originários de atividades domés- ticas em residências urbanas, como restos de alimentos, embalagens, entre outros. ■ Resíduos de limpeza urbana (RLU): os produzidos em atividades públicas, como varrição, podas, capina, limpeza de logradouros e vias públicas, entre outros. ■ Resíduos sólidos urbanos (RSU): são os resíduos domiciliares e os resíduos de limpeza urbana. ■ Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de ser- viços (RECPS): os gerados nessas atividades e, se caracterizados como não perigosos, podem, em razão de sua natureza, composição ou volume, ser equiparados aos resíduos domiciliares pelo poder público municipal. ■ Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico (RSPSB): os gerados nessas atividades, exceto os RSU. São exemplos os resíduos só- lidos gerados no tratamento de água e de efluentes, como lodo e outros. ■ Resíduos industriais (RSI): os gerados nos processos produtivos e instalações industriais. ■ Resíduos de serviços de saúde (RSS): os geradosnos serviços de saúde, como os resíduos sólidos gerados em hospitais, ambulatórios, consultórios médicos e odontológicos, laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias, entre outros, sejam públicos ou privados. ■ Resíduos da construção civil (RCC): também denominados resíduos de construção e demolição (RCD), são os gerados nas construções, nas reformas, nos reparos e nas demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis. ■ Resíduos agrossilvopastoris (RAS): os gerados nas atividades agro- pecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utiliza- dos nessas atividades. ■ Resíduos de serviços de transportes (RST): os originários de por- tos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira. ■ Resíduos de mineração (RSM): os gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios. UNICESUMAR UNIDADE 3 118 No Brasil, a ABNT NBR 10004:2004 é a norma que classi- fica os resíduos sólidos quanto à periculosidade, isto é, a “ca- racterística apresentada por um resíduo que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas, pode apre- sentar risco à saúde pública, pro- vocando doenças, mortalidade, e riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada” (ABNT, 2004a, p. 2). Portanto, de acordo com a norma citada, a classificação de resíduos envolve a identificação do pro- cesso ou atividade que lhes deu origem e a seus constituintes e as características e a comparação desses constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo im- pacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido (ABNT, 2004a). Logo, em relação à periculosi- dade, eles são classificados em duas classes: Resíduos Classe I — Pe- rigosos e Resíduos Classe II — Não perigosos, ainda, este último é subdividido em Resíduos Classe II A — Não inertes e Resíduos Classe II B — Inertes, conforme apresentamos no Quadro 1. 119 Resíduos Classe I — Perigosos Resíduos Classe II — Não perigosos Resíduos Classe II A — Não inertes Resíduos Classe II B — Inertes São os resíduos que apresentam: • Periculosidade. • Ou uma ou mais das características como inflamabilida- de, corrosividade, reatividade, toxicida- de, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade. • Ou que constem nos Anexos A — Resíduos perigosos de fontes não específicas ou B — Resíduos perigo- sos de fontes espe- cíficas, da ABNT NBR 10004:2004. São os resíduos que: • Não se enquadram nas classificações de Resíduos Classe I — Perigosos ou de Resíduos Classe II B — Inertes. • Podem ter pro- priedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. São os resíduos que, submetidos a um con- tato dinâmico e estático com água destilada ou deionizada, à tempera- tura ambiente, conforme ABNT NBR 10006:2004: procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos, não tiverem nenhum de seus cons- tituintes solubilizados a concentrações supe- riores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor, conforme Anexo G — Padrões para o ensaio de solubilização da ABNT NBR 10004:2004. Exemplos: RSS (patogê- nico), óleo lubrificante usado ou contaminado e lâmpada com vapor de mercúrio após o uso (tóxico), acumuladores elétricos à base de chum- bo (tóxico e corrosivo), solventes (tóxico ou infla- mável), entre outros. Exemplos: resíduos or- gânicos, cinzas de pro- cessos de queima de derivados da madeira por terem propriedade de biodegradabilidade e solubilidade em água, entre outros. Exemplos: rochas, tijo- los, vidros, certos plásti- cos e borrachas que não são decompostos pron- tamente, entre outros. Quadro 1 - Classificação de resíduos sólidos quanto à periculosidade Fonte: adaptado de ABNT (1990; 2004a; 2004b) e Brasil (2010a). UNICESUMAR UNIDADE 3 120 Vejamos, agora, sobre as características de periculosidade apresentadas no Quadro 1 para melhor entendimento da classificação de resíduos perigosos (ABNT, 2004a). ■ Inflamabilidade: um resíduo sólido é caracterizado como inflamável se apresentar uma das seguintes propriedades: a) ser líquido e ter ponto de fulgor inferior a 60 °C (graus Celsius); b) não ser líquido e ser capaz de, sob condições de temperatura e pressão de 25 °C e 0,1 MPa (megapascal), produzir fogo por fricção, absorção de umidade ou por alterações quími- cas espontâneas; c) ser um oxidante definido como substância que pode liberar oxigênio e, como resultado, estimular a combustão e aumentar a intensidade do fogo em outro material; d) ser um gás comprimido infla- mável, conforme classificação de produtos perigosos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). ■ Corrosividade: um resíduo é caracterizado como corrosivo se apresentar uma das seguintes propriedades: a) ser aquoso e apresentar pH inferior ou igual a 2, ou superior ou igual a 12,5; b) ser líquido ou, quando misturado em peso equivalente de água, corroer o aço. ■ Reatividade: um resíduo é caracterizado como reativo se apresentar uma das seguintes propriedades: a) ser, normalmente, instável e reagir de forma violenta e imediata, sem detonar; ■ b) reagir violentamente com a água; c) formar misturas potencialmente explosivas com a água; d) gerar gases, vapores e fumos tóxicos em quan- tidades suficientes para provocar danos à saúde pública ou ao meio am- biente quando misturados com a água; entre outras. ■ Toxicidade: um resíduo é caracterizado como tóxico quando o extrato obtido, segundo a ABNT NBR 10005:2004: procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos (ABNT, 2004c), contiver qual- quer um dos contaminantes em concentrações superiores aos valores constantes no Anexo F — Limite máximo no extrato obtido no ensaio de lixiviação da ABNT NBR 10004:2004; b) possuir uma ou mais substâncias constantes no Anexo C e apresentar toxicidade. 121 ■ Patogenicidade: um resíduo é caracterizado como patogênico se apre- sentar microrganismos patogênicos, proteínas virais, ácido desoxirribo- nucleico (DNA) ou ácido ribonucleico (RNA) recombinantes, organismos geneticamente modificados, plasmídeos, cloroplastos, mitocôndrias ou toxinas capazes de produzir doenças em homens, animais ou vegetais. ■ Carcinogenicidade: um resíduo é caracterizado como carcinogênico se contiver qualquer substâncias, misturas, agentes físicos ou bioló- gicos cuja inalação, ingestão ou absorção cutânea possa desenvolver câncer ou aumentar sua frequência. ■ Teratogenicidade: um resíduo é caracterizado como teratogênico se con- tiver qualquer substância, mistura, organismo, agente físico ou estado de deficiência que, estando presente durante a vida embrionária ou fetal, produz uma alteração na estrutura ou função do indivíduo dela resultante. ■ Mutagenicidade: um resíduo é caracterizado como mutagênico se contiver qualquer substância, mistura, agente físico ou biológico cuja inalação, ingestão ou absorção cutânea possa elevar as taxas espontâ- neas de danos ao material genético e, ainda, provocar ou aumentar a frequência de defeitos genéticos. As mesmas razões que levaram à definição dessas classes têm aconselhado a organização dos serviços públicos para orientar e educar a população a fim de segregar, acondicionar, co- letar, transportar e destinar, de maneira diferenciada, os resíduos sólidos conforme a classe em que se enquadram. As dificuldades dessa implantação diferenciada provêm de recursos financeiros, administrativos e educacionais, superando hábitos e costumes tradicionais. (Benedito Braga et al.) PENSANDO JUNTOS A Figura 1 ilustra o processo de caracterização e classificação dos resíduos sólidos quanto à periculosidade. UNICESUMAR UNIDADE 3 122 Dessa forma, a caracterização de um resíduo se inicia a partir da obtenção de infor- mações suficientes do processo ou daatividade que possa permitir a caracterização correta do resíduo, além disso, é importante observar as características físicas do resíduo, volume produzido, bem como sua composição. Baseado nessas informações, pode-se definir se o resíduo é ou não conhecido e verificar se ele é encontrado no Anexo A ou B da ABNT NBR 10004:2004 (ABNT, 2004a). Caso seja encontrado o resíduo em uma dessas listagens, ele é automaticamente classificado como Resíduo perigoso — Classe I. Se não for encontrado, é importante verificar informações sobre esse resíduo com o intuito de verificar se ele possui ou não características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patoge- nicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade ou mutagenicidade. Caso não consiga verificar essas características, é recomendado que se faça coleta de amostras desse Descrição da Imagem: a figura ilustra um fluxograma com blocos ligados, sequencialmente, por meio de setas para classificação dos resíduos. O primeiro bloco, denominado “resíduo”, liga-se ao bloco em que consta um questionamento: “O resíduo tem origem conhecida?”. Se sim, liga-se ao bloco em que se tem outro questionamento: “Consta nos anexos A ou B da ABNT NBR 10004:2004?”. Se sim, liga-se ao bloco “Resíduo perigoso — Classe I”, mostrando que o resíduo é perigoso. Se não, liga-se ao bloco em que se tem outro questionamento: “Tem características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade?”. Se não apresenta nenhuma dessas características, uma seta se liga ao bloco “Resíduo não perigoso — Classe II”, mostrando que o resíduo não é perigoso e pertencente à Classe II. Esse bloco se liga a outro bloco em que se tem outro questionamento: “Possui constituintes que são solubilizados em concentrações superiores ao Anexo G da ABNT NBR 10004:2004?”. Se sim, os constituintes são solubilizados em concentrações superiores às constantes no Anexo G, considera-se “Resíduo não inerte — Classe II A”; se não, classifica-se como “Resíduo inerte — Classe II B”. Figura 1 - Caracterização e classificação de resíduos / Fonte: adaptada de ABNT (2004a). 123 resíduo, seguindo as especificações da ABNT NBR 10007:2004: amostragem de resíduos sólidos, que estabelece os requisitos exigíveis para amostragem (ABNT, 2004d), a qual é encaminhada para um laboratório especializado para que se façam testes que permitam verificar essas especificações. Assim, os processos de lixiviação e solubilização aplicados para a caracterização de resíduos sólidos ajudam a identificar a maneira de dissolução de determinado resíduo no meio ambiente ou na água, ou seja, o quanto desse material será transferido para o meio ambiente. A ABNT NBR 10005:2004: procedimento para obtenção de extrato lixivia- do de resíduos sólidos (ABNT, 2004c) fixa os requisitos exigíveis para a obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos, visando diferenciar os resíduos classificados pela ABNT NBR 10004:2004 como Classe I — Perigosos e Classe II — não perigo- sos. Assim, a lixiviação se trata de um processo para determinação da capacidade de transferência de substâncias orgânicas e inorgânicas presentes no resíduo sólido por meio de dissolução no meio extrator. Em outras palavras, é a remoção de uma fração solúvel — o soluto — de um material sólido por um solvente — líquido ou fluido. A ABNT NBR 10006:2004: procedimento para obtenção de extrato so- lubilizado de resíduos sólidos (ABNT, 2004b) fixa os requisitos exigíveis para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos, visando diferenciar os resíduos classificados na ABNT NBR 10004:2004 como Classe II A — Não inertes e Classe II B — Inertes. A solubilização se trata de um procedimento em que a substância ou o produto pode se dissolver em um líquido, como a água, por exemplo. Ao se obter os extratos lixiviado e solubilizado conforme as normas anteriormen- te citadas, deve-se preparar as amostras dos extratos de acordo com as metodologias descritas no Standard Methods for The Examination of Water and Wastewater pela APHA ou pela USEPA SW 846, no Test Methods for Evaluating Solid Waste: physical/chemical methods — em português, Métodos Padronizados para Ensaios de Água e Esgoto da Associação Americana de Saúde Pública (APHA) e Métodos de Teste para Avaliação de Resíduos Sólidos: métodos físico-químicos da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA) (ABNT, 2004b; 2004c). Posteriormente, as amostras podem ser analisadas em espectrofotômetros de emissão atômica em chama, de emissão atômica em plasma e outros. Os resul- tados obtidos na leitura das amostras nos equipamentos para a classificação de resíduos devem ser comparados com aqueles constantes nos Anexos F — Limite máximo no extrato obtido no ensaio de lixiviação e G — Padrões para o ensaio de solubilização da ABNT NBR 10004:2004. UNICESUMAR UNIDADE 3 124 Após apresentarmos a classificação geral dos resíduos sólidos, discutiremos, ago- ra, sobre alguns resíduos que, em virtude da aplicação de normas e legislações, apresentam classificação específica, visando ao seu adequado gerenciamento, como é o caso dos resíduos da construção civil (RCC), dos resíduos de serviço de saúde (RSS) e dos rejeitos radioativos. Para os RCC, a Resolução CONAMA nº 307/2002 define as diretrizes, os critérios e os procedimentos para a sua gestão, tal como estabelece a sua classifi- cação (CONAMA, 2002a), conforme se apresenta no Quadro 2. Classe Resíduos Exemplos A Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agrega- dos a) De construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraes- trutura, inclusive, solos provenientes de terrapla- nagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fa- bricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meio-fio etc.) produ- zidas nos canteiros de obras. B Resíduos re- cicláveis para outras desti- nações Plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madei- ras, embalagens vazias de tintas imobiliárias e gesso. 125 Classe Resíduos Exemplos C Resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economica- mente viáveis que permi- tam a sua reciclagem ou recuperação a) Plásticos (plásticos reforçados com fibras, forros em lã de vidro com revestimento em PVC); b) resíduos de colas e vedantes (selantes, massa plástica, epóxi, não contendo solventes orgânicos ou outras substâncias perigosas); c) embalagens de papel e cartão (com materiais cimentícios, gesso e cal); d) mistura de resíduos de constru- ção e demolição (não contendo mercúrio, PCBs ou outras substâncias perigosas), lixas (papel e areia), forros (argamassas + EPS + lãs de vidro), entre outros. D Resíduos perigosos oriundos do processo de construção Tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto (por exemplo, telhas, tubos etc.) ou outros produtos nocivos à saúde. Quadro 2 - Classificação dos resíduos da construção civil Fonte: adaptado de CONAMA (2002a) e SindusCon-SP (2015). Descrição da Imagem: PVC: policloreto de vinila; PCBs: bifenilas policloradas, sigla do inglês polychlori- nated biphenyls; EPS: poliestireno expandido, conhecido como isopor. Em relação aos RSS, estes são definidos como os “resíduos resultantes de ativi- dades exercidas em serviços de saúde que, por suas características, necessitam de processos diferenciados em seu gerenciamento” (ABNT, 2013a, p. 10). Esses resíduos são classificados quanto à sua natureza e riscos ao meio ambiente e à saúde pública, conforme a ABNT NBR 12808:2016, norma que estabelece a classificaçãodos RSS (ABNT, 2016), e a Resolução da Diretoria Cole- giada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) nº 222/2018, que regulamenta as boas práticas de gerenciamento dos RSS, incluindo a sua classificação (ANVISA, 2018). No Quadro 3, é apresentada a classificação dos RSS e as respectivas descrições. UNICESUMAR UNIDADE 3 126 Grupo e definição Subgrupo e resíduos Grupo A: resíduo biológico Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características, podem apresentar risco de infecção. Subgrupo A1 Culturas e estoques de microrganismos; resíduos de produtos biológicos; vaci- nas; meios de cultura e instrumentais utilizados para transferência, inoculação ou mistura de culturas; resíduos de laboratórios de manipulação genética; resíduos resultantes da atividade de ensino e pesquisa ou atenção à saúde de indivíduos ou animais; bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeita- das por contaminação ou por má conservação ou com prazo de validade vencido; e as sobras de amostras de laboratório e recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos. Subgrupo A2 Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais submetidos a processos de experimentação com inoculação de microrganismos, bem como suas forrações, e os cadáveres de animais suspeitos de serem portado- res de microrganismos de relevância epidemiológica e com risco de disseminação. Subgrupo A3 Peças anatômicas (membros) do ser humano; e produto de fecundação sem sinais vitais. Subgrupo A4 Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores; filtros de ar e gases aspirados de área contaminada; membrana filtrante de equipamento médico-hospitalar e de pesquisa; sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções; resíduos de tecido adiposo proveniente de cirurgia plás- tica; recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde que não contenham sangue ou líquidos corpóreos na forma livre; peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de procedimentos cirúrgicos ou de estudos anatomopatológicos; cadáveres, carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais não submetidos a processos de expe- rimentação com inoculação de microrganismos; e bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós-transfusão. Subgrupo A5 Órgãos, tecidos e fluidos orgânicos de alta infectividade para príons, de casos sus- peitos ou confirmados, bem como quaisquer materiais resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, suspeitos ou confirmados, e que tiveram contato com órgãos, tecidos e fluidos de alta infectividade para príons. 127 Grupo e definição Subgrupo e resíduos Grupo A: resíduo biológico Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características, podem apresentar risco de infecção. Subgrupo A1 Culturas e estoques de microrganismos; resíduos de produtos biológicos; vaci- nas; meios de cultura e instrumentais utilizados para transferência, inoculação ou mistura de culturas; resíduos de laboratórios de manipulação genética; resíduos resultantes da atividade de ensino e pesquisa ou atenção à saúde de indivíduos ou animais; bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeita- das por contaminação ou por má conservação ou com prazo de validade vencido; e as sobras de amostras de laboratório e recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos. Subgrupo A2 Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais submetidos a processos de experimentação com inoculação de microrganismos, bem como suas forrações, e os cadáveres de animais suspeitos de serem portado- res de microrganismos de relevância epidemiológica e com risco de disseminação. Subgrupo A3 Peças anatômicas (membros) do ser humano; e produto de fecundação sem sinais vitais. Subgrupo A4 Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores; filtros de ar e gases aspirados de área contaminada; membrana filtrante de equipamento médico-hospitalar e de pesquisa; sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções; resíduos de tecido adiposo proveniente de cirurgia plás- tica; recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde que não contenham sangue ou líquidos corpóreos na forma livre; peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de procedimentos cirúrgicos ou de estudos anatomopatológicos; cadáveres, carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais não submetidos a processos de expe- rimentação com inoculação de microrganismos; e bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós-transfusão. Subgrupo A5 Órgãos, tecidos e fluidos orgânicos de alta infectividade para príons, de casos sus- peitos ou confirmados, bem como quaisquer materiais resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, suspeitos ou confirmados, e que tiveram contato com órgãos, tecidos e fluidos de alta infectividade para príons. UNICESUMAR UNIDADE 3 128 Grupo e definição Subgrupo e resíduos Grupo B: resíduo químico Resíduos contendo produtos químicos que apresentam periculosidade, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade. Produtos farmacêuticos; resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; resíduos contendo metais pesados (como as chapas de raio-X contendo prata); reagentes para laboratório, inclusive, os recipientes contaminados por estes; e de- mais produtos considerados perigosos: tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos. Grupo C: rejeito radioativo Qualquer material que contenha radionuclídeo em quantidade superior aos níveis de dispensa especificados em norma da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista. Rejeito radioativo, proveniente de laboratório de pesquisa e ensino na área da saúde, laboratório de análise clínica, serviço de medicina nuclear e radioterapia. Grupo D: resíduo comum ou sem risco à saúde pública Resíduos que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Papel de uso sanitário e fralda, absorventes higiênicos, peças descartáveis de vestuário, gorros e máscaras descartáveis, resto alimentar de paciente, luvas de procedimentos que não entraram em contato com sangue ou líquidos corpóreos, equipo de soro, abaixadores de língua e outros similares não classificados como A1; sobras de alimentos e do preparo de alimentos; resto alimentar de refeitório; resíduos provenientes das áreas administrativas; resíduos de varrição, flores, podas e jardins; resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde; forrações de animais de biotérios sem risco biológico associado; resíduos recicláveis sem contaminação biológica, química e radiológica associada; e pelos de animais. Grupo E: resíduo perfurocortante ou escarificante Materiais utilizados na assistência à saúde, capazes de causar lesões na pele por corte, escarificação ou punctura. Materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como: lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diaman- tadas, lâminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; ponteiras de micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; e todos os utensílios de vidro quebrados no labo- ratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares. Quadro 3 - Classificação dos resíduos de serviços de saúde Fonte: adaptado de Anvisa (2018) e ABNT (2013a; 2016). 129 Grupo e definição Subgrupo e resíduos Grupo B: resíduo químico Resíduos contendo produtos químicos que apresentam periculosidade,dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade. Produtos farmacêuticos; resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; resíduos contendo metais pesados (como as chapas de raio-X contendo prata); reagentes para laboratório, inclusive, os recipientes contaminados por estes; e de- mais produtos considerados perigosos: tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos. Grupo C: rejeito radioativo Qualquer material que contenha radionuclídeo em quantidade superior aos níveis de dispensa especificados em norma da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista. Rejeito radioativo, proveniente de laboratório de pesquisa e ensino na área da saúde, laboratório de análise clínica, serviço de medicina nuclear e radioterapia. Grupo D: resíduo comum ou sem risco à saúde pública Resíduos que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Papel de uso sanitário e fralda, absorventes higiênicos, peças descartáveis de vestuário, gorros e máscaras descartáveis, resto alimentar de paciente, luvas de procedimentos que não entraram em contato com sangue ou líquidos corpóreos, equipo de soro, abaixadores de língua e outros similares não classificados como A1; sobras de alimentos e do preparo de alimentos; resto alimentar de refeitório; resíduos provenientes das áreas administrativas; resíduos de varrição, flores, podas e jardins; resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde; forrações de animais de biotérios sem risco biológico associado; resíduos recicláveis sem contaminação biológica, química e radiológica associada; e pelos de animais. Grupo E: resíduo perfurocortante ou escarificante Materiais utilizados na assistência à saúde, capazes de causar lesões na pele por corte, escarificação ou punctura. Materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como: lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diaman- tadas, lâminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; ponteiras de micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; e todos os utensílios de vidro quebrados no labo- ratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares. Quadro 3 - Classificação dos resíduos de serviços de saúde Fonte: adaptado de Anvisa (2018) e ABNT (2013a; 2016). UNICESUMAR UNIDADE 3 130 Por fim, destacamos que os rejeitos radioativos são de competência exclusiva da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), não sendo aplicável norma de outro órgão (ABNT, 2004a; BRASIL, 2010a). Esses resíduos são considerados rejeitos, pois a sua reutilização é imprópria ou não prevista, sendo considerados como qualquer material resultante de atividades humanas que contenham radio- nuclídeos em quantidade superior aos níveis de dispensa especificados em norma da CNEN. São classificados segundo seus níveis e natureza da radiação, bem como suas meias-vidas, conforme a Norma CNEN 8.01: gerência de rejeitos radioativos de baixo e médio níveis de radiação (CNEN, 2014). A maior parte dos rejeitos radioativos é proveniente da produção de armas nu- cleares, de combustíveis para usinas nucleares e sistemas de propulsão, de ope- ração das usinas nucleares, da atividade de pesquisa e de aplicações médicas. Por exemplo, temos os rejeitos radioativos gerados em serviços de saúde e classifica- dos como resíduos do Grupo C. NOVAS DESCOBERTAS Os rejeitos radioativos podem se apresentar nas formas sólida, lí- quida ou gasosa, e, como não é possível destruir a radioatividade, a estratégia utilizada para o seu gerenciamento é o confinamento em local seguro para redução do nível de atividade. Assim, por meio do acesso a este QR Code, você pode conhecer as normas da CNEN apli- cáveis aos rejeitos radioativos, incluindo a Norma CNEN 8.01. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14797 131 Prezado(a) aluno(a), após apresentarmos a classificação dos resíduos sólidos, tor- na-se importante o entendimento do que se trata e qual é a diferença entre gestão e gerenciamento de resíduos. A PNRS define gestão integrada de resíduos sólidos como o “conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável” (BRASIL, 2010a, on-line). O gerenciamento de resíduos sólidos é definido como o: “ [...] conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final am-bientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final am- bientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerencia- mento de resíduos sólidos [...] (BRASIL, 2010a, on-line). Dessa forma, a gestão são as estratégias e tomadas de decisão relacionadas aos resí- duos sólidos, a quais serão os princípios, as diretrizes e as metas, isto é, refere-se aos aspectos legais e filosóficos que busquem a minimização, o tratamento e a disposição dos resíduos. Já o gerenciamento se refere ao processo prático e operacional em que devem ser decididos quais as soluções adequadas em relação à realidade de deter- minado tipo de resíduo, buscando alternativas técnicas de acordo com a realidade e a operacionalização das ações propostas (MOTA; SILVA, 2016). O gerenciamento de resíduos, muitas vezes, de forma análoga, é denominado ma- nejo de resíduos sólidos. Podemos citar a definição dada pela Lei nº 11.445/2007, a qual estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico, alterada pela Lei nº 14.026/2020, que atualizou o marco legal do saneamento básico (BRASIL, 2020a). Essas leis federais se articulam com a PNRS e estabelecem como parte do saneamento básico a limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, que são: “ [...] constituídos pelas atividades e pela disponibilização e manu-tenção de infraestruturas e instalações operacionais de coleta, varri-ção manual e mecanizada, asseio e conservação urbana, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequa- da dos resíduos sólidos domiciliares e dos resíduos de limpeza ur- bana (BRASIL, 2020a, on-line). UNICESUMAR UNIDADE 3 132 Assim, de forma complementar à definição dada pela PNRS, as etapas que envolvem o gerenciamento de resíduos sólidos incluem: o diagnóstico dos resíduos sólidos gerados contendo a origem, o volume e a caracterização dos resíduos, ou seja, o quanto se gera e o que se gera, por meio da quantificação e da classificação, a qual segue a classificação dada pela ABNT NBR 10004:2004; e as formas de segregação, acondicionamento, armazenamento, coleta, trans- porte, destinação e/ou disposição final ambientalmente adequados. Ainda, como etapas de gerenciamento, deve-se ter a identificação das etapas necessá- rias, tal como pode existir o armazenamento interno, temporário e externo, a coleta e o transporte interno e, em alguns casos, uma etapa de gerenciamento externo de transbordo. Assim, as etapas podem ser ampliadas ou suprimidas a depender da classificação do resíduo sólido e do exigido nos planos de re- síduos sólidos, assunto que discutiremos mais adiante. A Figura 2 apresenta um fluxograma geral das etapas do gerenciamento de resíduos. Descrição da Imagem: a figura ilustra um fluxograma com blocos ligados sequencialmente por meio de setas para mostrar as etapas do gerenciamento de resíduos sólidos. A figura é composta por dois grandes blocos, as etapas do gerenciamento interno e as etapas do gerenciamento externo, em que a identificação faz parte de cada etapa. No primeiro, há seis blocos denominados geração e classificação; estes têm uma linha pontilhada ao seu entorno com a escrita caracterização quantitativa e qualitativa;posteriormente, os blocos segregação, acondicionamento, coleta e transporte interno e armazenamento. Já no segundo, contendo três blocos, denominados coleta e transporte externos, destinação e disposição final ambien- talmente adequada. Sai do bloco de coleta e transporte uma seta que se conecta, ao mesmo tempo, com os blocos destinação e disposição final ambientalmente adequada, ilustrando que os resíduos podem ser destinados ou dispostos de forma ambientalmente adequada. Ainda, uma seta pontilhada orienta o fluxo da destinação para a disposição final, ou seja, o encaminhamento dos possíveis rejeitos gerados na reciclagem e/ou tratamentos para serem dispostos em aterros. Figura 2 - Etapas do gerenciamento de resíduos sólidos Fonte: adaptada de Brasil (2010a), Anvisa (2018) e Monteiro et al. (2001). 133 Veja que as etapas de gerenciamento de resíduos segue um fluxo: inicia pela geração e termina na destinação e/ou disposição final, sendo que uma etapa depende da outra para a sua adequada execução, ou seja, para o adequado gerenciamento, visto que cada etapa é associada a especificações técnicas ou requisitos legais aplicáveis. Note, no fluxograma, que uma seta pontilhada orienta o fluxo da destinação para a disposição final, isto é, ilustra o encami- nhamento dos possíveis rejeitos gerados na reciclagem e/ou tratamentos para serem dispostos em aterros, sendo estes adequados a normas operacionais específicas. Portanto, é o gerenciamento mais adequado, em que apenas os rejeitos da reciclagem e/ou tratamento são dispostos em aterros, e não os que são diretamente coletados e transportados. Antes de abordarmos cada etapa do gerenciamento de resíduos, discuti- remos sobre a destinação final desses resíduos, dando ênfase, neste momento, às etapas que envolvem o gerenciamento de resíduos sólidos. Assim, uma informação inicial é a principal diretriz da PNRS, a qual es- tabelece a hierarquia das ações no manejo dos resíduos sólidos, ou seja, a ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos, compreendendo a não geração, a redução, a reutilização, a reciclagem, o tra- tamento dos resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (BRASIL, 2010a). Cada etapa na ordem de prioridade pode ser entendida como (BRASIL, 2010a; CASTRO; SCHALCH, 2020): UNICESUMAR UNIDADE 3 134 Podemos observar que essa hierarquia se trata de uma inovação fundamental estabe- lecida pela PNRS, pois introduziu a não geração em primeiro lugar, antes da tradicio- nal política dos 3Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, e, na ponta oposta, a disposição final apenas para os rejeitos (JARDIM; YOSHIDA; MACHADO FILHO, 2012). Nesse momento, torna-se importante destacarmos o termo redução como a se- gunda ação ou etapa na ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resí- duos sólidos. Assim, a redução na fonte se refere à atividade que reduza a 135 “ [...] geração de resíduos na origem, no processo, ou que altere propriedades que lhe atribuam riscos, incluindo modificações no processo ou equipamentos, alteração de insumos, mudança de tecnologia ou procedimento, substituição de materiais, mu- danças na prática de gerenciamento, administração interna do suprimento e aumento na eficiência dos equipamentos e dos processos (CONAMA, 2005a, p. 2–3). Logo, para que se alcancem resultados na redução dos resíduos sólidos e no que é gerado a fim de que não haja a disposição inadequada, é de suma importância a participação da população nesse processo, procurando orientações nas instituições e nos órgãos competentes. É importante, também, que se dê por meio da educação ambiental no ensino formal, desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, e por meio da educação ambiental não formal, pelas ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade, com a partici- pação de empresas públicas e privadas, agricultores, populações tradicionais e de toda a sociedade em geral (BRASIL, 1999; BARBOSA; IBRAHIN, 2014). Prezado(a) aluno(a), agora, sim, abordaremos cada etapa do geren- ciamento de resíduos sólidos. Iniciaremos a nossa discussão sobre a geração de resíduos, que está diretamente vinculada aos hábitos de consumo da sociedade, bem como à forma como ocorrem os processos produtivos, como já dis- cutimos brevemente no início da unidade. Portanto, tanto a geração quanto às características dos resíduos sólidos podem variar em função de aspectos socioeconômicos, culturais, geo- gráficos e climáticos, ao se tratar de RSU, e dos processos produtivos ou demais atividades para os demais resíduos. Vejamos a influência desses fatores em relação aos RSU segundo Monteiro et al. (2001): UNICESUMAR UNIDADE 3 136 ■ Fatores demográficos: quanto maior a população urbana, maior a ge- ração per capita. ■ Fatores socioeconômicos: quanto maior o nível cultural, o nível educa- cional e o poder aquisitivo da população, maior a incidência de materiais recicláveis e menor a incidência da geração de resíduos orgânicos. ■ Fatores climáticos: época de chuvas aumenta o teor de umidade dos resíduos; no outono, o aumento de folhas; e, no verão aumento de emba- lagens, como de bebidas. Outros fatores estão associados ao desenvolvimento tecnológico, ao lançamento de novos produtos, às promoções de lojas comerciais e épocas especiais do ano, aumentando a geração de embalagens, por exemplo. Você deve pensar nesse momento: “por que é importante conhecer os resí- duos quanto à geração e às suas características?”. A resposta se refere ao devido planejamento e à implantação das etapas de gerenciamento. Assim, para saber o quanto e o que se gera, em termos de RSU, por exemplo, pode-se aplicar meto- dologias como a geração per capita e a composição gravimétrica. A geração per capita se refere à quantidade de RSU gerada diariamente em re- lação ao número de habitantes de determinada região. Para Braga et al. (2005), a faixa de variação média para o Brasil é de 0,4 a 0,7 kg/hab./dia (quilogramas por habitante por dia). No entanto, com base em dados mais atuais, a Abrelpe (2021) apresenta que a geração per capita de RSU, no Brasil, é de, aproximadamente, 1,0 kg/hab./dia, sendo este aumento associado aos padrões de consumo e descarte da população. A composição gravimétrica traduz o percentual de cada componente em relação ao peso total da amostra de resíduo analisada (MONTEIRO et al., 2001). Em outras palavras, “refere-se à categorização dos tipos de materiais descartados pela população” (ABRELPE, 2021, p. 38). Assim, o conhecimento da composição dos resíduos sólidos é um passo fundamental para o gerenciamento eficiente des- ses materiais, bem como permite o adequado planejamento do setor por meio de estratégias, políticas públicas e processos específicos que assegurem a destinação ambientalmente adequada preconizada pela PNRS, levando em consideração as melhores alternativas disponíveis e aplicáveis, de acordo com os tipos e as quan- tidades de resíduos existentes (ABRELPE, 2021). 137 Em relação à gravimetria nacional dos RSU, de acordo com a Abrelpe (2021), a fração orgânica — sobras e perdas de alimentos, cascas de frutas, resíduos de poda como folhas, grama, madeira e outros — ainda permanece como a prin- cipal componente dos RSU, correspondendo a 45,3%. Já os resíduos recicláveis secos somam 35%, sendo compostos, principalmente, pelos plásticos (16,8%), papel e papelão (10,4%), vidros (2,7%), metais (2,3%) e embalagens multicama- das (1,4%) — embalagens compostas por mais de um tipo de material, como as embalagens longa vida, compostas de plástico, papel e alumínio. Os rejeitos (1,4%), por sua vez, correspondem, principalmente, a resíduos sanitários, tal como outros materiais que não foram passíveis de identificação, bem como recicláveis contaminados que não permitiram a separação. Quanto às demais frações, temos os resíduos têxteis, couros e borrachas — inclui retalhos no geral, peçasde roupas, calçados, mochila, tênis, pedaços de couro e borracha — e outros resíduos, os quais contemplam diversos materiais, teoricamente, objetos de logística reversa, ou seja, os resíduos identificados e que não deveriam estar no fluxo de RSU, como RSS, RCC, eletroeletrônicos, pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes, pneus, óleos e graxas, embalagens de agro- tóxicos e outros resíduos perigosos, sobre os quais discutiremos mais adiante. NOVAS DESCOBERTAS Pereira, Curl e Curl (2018) abordaram a respeito de indicadores am- bientais relacionados à gestão de resíduos urbanos, como a quantida- de de RSU per capita e a quantidade de material coletado seletivamen- te per capita, sendo que esses indicadores podem ser utilizados em outras realidades. Leia mais no artigo disponível no QR Code. Para os resíduos sólidos que foram gerados, a próxima etapa do gerenciamen- to de resíduos trata da caracterização e classificação, a qual deve atender à ABNT NBR 10004:2004 e, de maneira adicional, as legislações e normas específicas, como no caso dos RCC, RSS, rejeitos radioativos e outros, assunto este que já discutimos anteriormente. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14798 UNIDADE 3 138 A segregação é definida como a operação de separação do resíduo no momento da geração, de acordo com as suas características e classificação (ABNT, 2013b). Por- tanto, segregar, assim como a própria palavra já diz, é separar os resíduos de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, bem como a sua periculo- sidade. Dessa forma, a segregação, separação ou triagem deverá ser realizada pelo gerador na origem, respeitada a classificação de resíduos. Em outras palavras, a segregação dos resíduos deve ser realizada no momento e local de sua geração, visto que todas as etapas posteriores dependem desse processo primário. Essa etapa pode ser considerada uma das mais importantes, pois caracteriza o início das ações relacionadas ao gerenciamento de resíduos, de forma que toda a classificação dos resíduos perde efeito se não for devidamente aplicada à segregação. Assim, a segregação na fonte nos permite otimizar os sistemas de tratamen- to e disposição final dos resíduos. Quando um resíduo perigoso é misturado a resíduos não perigosos, o resultado é que a massa total de resíduo acaba sendo classificada como perigosa, inviabilizando a sua reciclagem, sendo necessário des- tinar para o tratamento específico e/ou disposição final, resultando em maiores custos e onerando o gerenciamento de resíduos. Vejamos um exemplo para mostrar a importância da etapa de segregação: quando a segregação de RSS não é assegurada, o resíduo comum do Grupo D, que poderia ser reciclado ou tratado como resíduo domiciliar, é considerado resíduo biológico do Grupo A, merecendo o gerenciamento aplicado a este. Acontece da mesma maneira para os RCC e demais resíduos. 139 Para uma efetiva segregação dos resíduos, são utilizadas diversas formas de separação seletiva, como a separação seletiva múltipla, em duas frações (binária) ou em três frações. Na separação seletiva múltipla, utiliza-se a padronização internacional de cores dos coletores, ou seja, do recipiente utilizado para acon- dicionar os sacos com resíduos. No Brasil, conforme apresentado a seguir, essa padronização é dada pela Resolução CONAMA nº 275/2001, a qual estabelece o código de cores para os diferentes tipos de resíduos a ser adotado na identifi- cação de coletores e transportadores (CONAMA, 2001): Descrição da Imagem: na imagem, temos o padrão de cores para os diferentes tipos de resíduos. A cor é referente ao recipiente: coletor, saco plástico, entre outros. As cores são: azul — papel/papelão; vermelho — plástico; verde — vidro; amarelo — metal; preto — madeira; laranja — resíduos perigosos; branco — resíduos de serviços de saúde; roxo — resíduos radioativos; marrom — Resíduos orgânicos; cinza — rejeitos, resíduo geral não reciclável, misturado ou contaminado, não passível de separação. Figura 3 – Padrão de cores para os diferentes tipos de resíduos / Fonte: adaptada de CONAMA (2001). A separação em duas frações trata da segregação entre resíduos secos (recicláveis) e úmidos (orgânicos e rejeitos). Os resíduos recicláveis secos são compostos, prin- cipalmente, por metais — como aço e alumínio —, papel, papelão, embalagens longa vida, diferentes tipos de plásticos e vidro. Os resíduos úmidos compreendem os resíduos orgânicos e os rejeitos, que são os resíduos não recicláveis, compostos, principalmente, por resíduos de banheiros — papel higiênico usado, fraldas, absor- ventes, cotonetes etc. — e outros resíduos de limpeza (BRASIL, [2022]). UNICESUMAR UNIDADE 3 140 Os resíduos orgânicos são constituídos, basicamente, por restos vegetais descar- tados de atividades humanas e podem ter diversas origens, como doméstica ou urbana — restos de alimentos, cascas de frutas e resíduos de jardim, como galhos, folhas secas, grama etc. —, agrícola ou industrial — resíduos de agroindústria ali- mentícia, indústria madeireira, frigoríficos etc. —, de saneamento básico — lodos de estações de tratamento de esgotos —, entre outras. Assim, destiná-los para aterros sanitários não só é um desperdício econômico como está em desacordo com o que a PNRS prevê — que somente rejeitos devem seguir para disposição final. Portanto, um outro tipo de separação dos resíduos deve ser adotado, nesse caso, a separação em três frações (BRASIL, 2018). A separação em três frações se refere à separação de recicláveis secos, resíduos orgânicos e rejeitos. É importante que os resíduos orgânicos não se- jam misturados com outros tipos de resíduos para que possam ser tratados por meio de processos biológicos, bem como para que não prejudiquem a recicla- gem dos resíduos secos. Por esse motivo, alguns estabelecimentos e municípios têm adotado a separação dos resíduos em três frações (BRASIL, [2022]). Afinal, qual é a melhor forma de segregar os resíduos? A escolha dependerá do tipo de resíduo gerado, de sua classificação, da legislação aplicável, do investimento em infraestrutura, de pessoal para o manejo, do tipo de destinação final, entre outros. 141 O gerador pode começar pela segregação em duas frações e melhorar gradativamente, passando para a segregação em três frações e, por fim, a se- gregação múltipla. Por exemplo, para os RSU, a separação dos resíduos em três frações é um modelo que atende bem às necessidades atuais de destinação de resíduos; já para os RSI, o mais adequado seria a separação múltipla, mas se a organização for dotada de pessoal e estrutura para triagem dos resíduos recicláveis, a separação em três frações pode ser satisfatória. No entanto, o mais recomendado é que haja, pelo menos, a separação em três frações, primeiro, porque valoriza os resíduos orgânicos por meio da transformação em novos produtos. Segundo, porque diminui a contamina- ção dos resíduos recicláveis secos, geralmente, encaminhados para centrais de triagem de resíduos. Nessas centrais de triagem, catadores separam cada tipo de resíduo que pode ser encaminhado para as indústrias de reciclagem. Quanto menos resíduo orgânico chegar nas centrais de triagem, mais fácil e higiênico será a separação dos resíduos secos e melhores serão as condições de trabalho dos catadores. E um terceiro motivo: porque a separação em três frações permite enviar ao aterro apenas o que realmente não pode ser apro- veitado, ou seja, os rejeitos (ANVISA, 2018). NOVAS DESCOBERTAS A cidade de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, é considerada a capital com maior índice de recuperação de resíduos pela recicla- gem e compostagem. O Município realiza a coleta seletiva incluindo os resíduos orgânicos. Conheça esse exemplo de gestão e gerencia- mento de RSU, tal como as diversas ações e publicações por meio do acesso a este QR Code. Um assunto importante para apresentarmos nesse momento trata da sim- bologia técnica de identificação demateriais e de descarte seletivo, a qual foi criada para facilitar a identificação e separação dos resíduos sólidos, de forma que todas as embalagens devem conter essa identificação técnica, fortalecendo, assim, a cadeia de reciclagem (ABRE, 2012). UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14799 UNIDADE 3 142 A ABNT NBR 13230:2008 estabelece os símbolos para identificação das resinas termoplásticas utilizadas na fabricação de embalagens e acondiciona- mento plásticos, visando auxiliar na separação e posterior reciclagem dos mate- riais de acordo com a sua composição (ABNT, 2008). O símbolo adotado para o plástico é formado por três setas retorcidas que formam um triângulo, inspirado na fita de Möbius, que traz a ideia de infinito, significando que o material é reci- clável, sendo classificado em sete tipos, conforme apresentado na Figura 4. Descrição da Imagem: a imagem representa os símbolos para identificação das resinas termoplásticas. Os símbolos são similares a triângulos, sendo que as arestas são formadas por setas unidirecionais. Dentro de cada símbolo, há um número que vai de 1 a 7 e, embaixo de cada símbolo, a nomenclatura referente ao constituinte do material plástico, conforme legenda anterior. Figura 4 - Simbologia de identificação de materiais plásticos / Fonte: adaptada de ABNT (2008). Legenda: (1) PET: poli(tereftalato de etileno); (2) PEAD: polietileno de alta densidade; (3) PVC: poli(cloreto de vinila); (4) PEBD: polietileno de baixa densidade; (5) PP: polipropileno; (6) OS: poliestireno expandido (“iso- por”); (7) Outros: mistura de resinas ou com resinas sem códigos definidos, como policarbonato e poliamida. Descrição da Imagem: a imagem contém cinco ícones. O primeiro é composto por um triângulo formado por setas unilaterais, que, dentro, contém uma pessoa descartando um objeto em um recipiente; embaixo do ícone, lê-se a palavra “vidro”. O segundo ícone é um ímã atraindo um objeto, e, embaixo, há a palavra “aço”. O terceiro ícone são duas setas que, juntas, formam um círculo, e, dentro, há as letras “al” e, embaixo, há a palavra “alumí- nio”. O quarto ícone é formado por três setas formando um triângulo, e, embaixo, há a palavra “papel”. O quinto ícone é formado por uma pessoa jogando um objeto em uma lata com um símbolo de reciclagem, e há uma segunda lata ao lado desta sem nenhum símbolo desenhado, e, embaixo desse ícone, lê-se “descarte seletivo”. Figura 5 - Simbologia de identificação de material e de descarte seletivo / Fonte: adaptada de ABNT (2013b). Adicionalmente, a ABNT NBR 16182:2013 estabelece a simbologia de orien- tação de descarte seletivo e de identificação de materiais (ABNT, 2013b), visando contribuir para a comunicação com o consumidor na orientação sobre o descarte seletivo das embalagens, conforme podemos observar na Figura 5. 143 Os RCC e RSS devem ser segregados no momento de sua geração, conforme classificação apresentada nos Quadros 2 e 3, seguindo as diretrizes das Resoluções CONAMA nº 307/2002 e RDC/ANVISA nº 222/2018, respectivamente (CO- NAMA, 2002a; ANVISA, 2018). Ainda, para os RSS, a ABNT NBR 12809:2013 estabelece os procedimentos necessários para o gerenciamento intraestabeleci- mento, os quais, por seus riscos biológicos e químicos, exigem formas de manejo específicos, a fim de garantir condições de higiene, segurança e proteção à saúde e ao meio ambiente (ABNT, 2013); assim como os rejeitos radioativos, os quais devem ser segregados de quaisquer outros materiais, seguindo as diretrizes da norma CNEN NN 8.01/2014 (CNEN, 2014). Simbologia de identificação de material não é rotulagem ambiental. Convidamos você para uma breve discussão sobre a apli- cação da simbologia técnica de identificação de materiais para facilitar a identificação e separação dos materiais. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11109 UNIDADE 3 144 Após serem segregados, os resíduos devem ser acondicionados. O acondi- cionamento se refere ao “ato de embalar os resíduos segregados em sacos ou recipientes que evitem vazamentos, e quando couber, sejam resistentes às ações de punctura, ruptura e tombamento, e que sejam adequados física e quimica- mente ao conteúdo acondicionado” (ANVISA, 2018 [s.p.]). Em outras palavras, refere-se “ao conjunto de processos e procedimentos que visam à acomodação dos resíduos no interior de recipientes apropriados e estanques, em regulares condições de higiene, de forma a proteger e facilitar o manuseio da operação de transporte interno” (FORTALEZA, 2022, p. 20–21). A importância do acondicionamento adequado reside em otimizar a operação, prevenir acidentes, minimizar o impacto visual e olfativo, além de reduzir a hetero- geneidade dos resíduos e facilitar a realização da coleta. Isso significa que o resíduo deve ser disposto em recipientes que garantam segurança no transporte, pois resíduos acondicionados de forma incorreta podem prejudicar os trabalhadores envolvidos no transporte, bem como resultar em contaminação do meio ambiente (MONTEI- RO et al., 2001). O acondicionamento deve ser realizado após a etapa de segregação e colocado no interior de recipientes apropriados e estanques, em condições regulares de higiene, para sua posterior estocagem ou coleta. Para o armazenamento de Resí- duos perigosos — Classe I e Não perigosos — Classe II, este pode ser realizado em contêineres e/ou tambores, em tanques e a granel (ABNT, 1990; 1992). Logo, existem diversas formas de acondicionar resíduos, como em sacos, con- tainers, contentor de plástico, tambores, bombonas e caçambas. Os critérios para seleção são em relação à classificação do resíduo, ao volume ou à quantidade gerada (dimensão/tamanho) e à forma de destinação e/ou disposição final. No Quadro 4, apresentamos alguns dispositivos para acondicionamento de resíduos. Ilustração Descrição Caçambas estacionárias: recipiente confeccionado com chapas metálicas reforçadas e com capacidade para armazenagem entre 4 e 5 m3 (metros cúbicos) ou uma média de 5 toneladas. É necessário que a coleta seja feita por um caminhão poliguindaste. Utilizadas para acondicionar vários resíduos, como: RCC, metal, varrição, orgânicos, lodos sólidos, entre outros. 145 Ilustração Descrição Caçambas roll on/roll off: trata-se de um equipamento que ocupa um grande espaço e que não é utilizado para armazenar resíduos pesados, com capacidade variada (capacidade volumétrica comumente entre 25 e 40 m³), com portas metálicas para abertura e dispositivo para içamento por caminhão compatível. Geralmente, utiliza- das para armazenar resíduos recicláveis, madeira, lodo, poda, varrição e outros. Big Bag: recipiente com dimensões aproximadas de 0,90 x 0,90 x 1,20 metros, sem válvula de escape (fechado em sua parte inferior), dotado de saia e fita para fechamen- to, com quatro alças que permitam sua colocação em suporte para mantê-lo completamente aberto enquanto não estiver cheio. Enquanto estiver aberto para receber resíduos, deve permanecer apoiado em suporte metálico ou em madeira, com dimensões compatíveis e ganchos para sustentação das alças. Containers: utilizados para armazenar resíduos orgânicos e alguns tipos de recicláveis (papel, papelão, plásticos). Sua capacidade é de 16 a 18 sacos de 100 L, volume de 1,20 m³. Os containers são, geralmente, coletados por um cami- nhão compactador que bascula o resíduo internamente. Contentor de plástico: utilizado para armazenar resíduo orgânico e comum. A capacidade é de 3 a 4 sacos de lixo de 100 L. Sua coleta é feita com caminhão compactador ou adaptada como em um caminhão carroceria, levando o equipamento para o destino. Tambores e bombonas: utilizados especialmente para o acondicionamento de resíduos industriais. É importante destacar que as embalagens utilizadas para acondicionar esse tipo de resíduo devem ser, necessariamente, homo- logadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). Quadro 4 - Exemplos de dispositivospara acondicionamento diferenciado de resíduos Fonte: adaptado de SindusCon-SP (2015) e Tera (2015). UNICESUMAR UNIDADE 3 146 Da mesma maneira que na etapa de segregação, para os RCC e RSS, estes devem ser acondicionados conforme a sua classificação e seguindo as diretrizes das Resoluções CONAMA nº 307/2002 e RDC/ANVISA nº 222/2018, respectivamente (CONAMA, 2002a; ANVISA 2018). Os rejeitos radioativos submetidos à segregação devem ser acondicionados em embalagens que atendam aos requisitos constantes da norma CNEN NN 8.01/2014 e armazenados até que possam ser eliminados (CNEN, 2014). NOVAS DESCOBERTAS Para maiores informações sobre a segregação, o acondicionamento e a identificação dos RSS, você poderá consultar a redação oficial da Resolução RDC/ANVISA nº 222/2018 acessando este QR Code. Depois de acondicionar corretamente, os resíduos devem ser armazenados. O armazenamento consiste na guarda dos recipientes em local exclusivo, contendo os resíduos já acondicionados em abrigos, podendo ser internos ou externos, até a realização da coleta. Ele deve ser realizado temporariamente, após o correto acondicionamento em recipientes. Todos os resíduos devem estar devidamente identificados, controlados e segregados segundo suas carac- terísticas de inflamabilidade, reatividade e corrosividade, evitando a incompa- tibilidade entre eles. Ainda, na escolha do local para armazenamento, devem ser considerados critérios como a minimização do risco de contaminação ambiental e acesso facilitado para a coleta externa (FORTALEZA, 2022). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14800 147 Vejamos, agora, algumas especificações técnicas para o armazenamento de resí- duos. A ABNT NBR 11174:1990 estabelece as condições mínimas necessárias ao armazenamento de Resíduos não perigosos — Classe II e especifica que os resíduos devem ser armazenados de maneira a não possibilitar a alteração de sua classificação e de forma que sejam minimizados os riscos de danos ambientais, tal como não de- vem ser armazenados junto a Resíduos perigosos — Classe I, em face da possibilidade de a mistura resultante ser caracterizada como resíduo perigoso (ABNT, 1990). Para os Resíduos perigosos — Classe I, as diretrizes para o seu armazenamento seguem conforme a ABNT NBR 12235:1992, a qual apresenta algumas especificações: “ [...] acondicionados em contêineres e/ou tambores: estes de-vem ser armazenados, preferencialmente, em áreas cobertas, bem ventiladas, e os recipientes são colocados sobre base de concreto ou outro material que impeça a lixiviação e percolação de subs- tâncias para o solo e águas subterrâneas; armazenamento em tanques: podem ser utilizados para o armazena- mento de resíduos líquidos/fluidos, à espera do tratamento ou da recu- peração de determinados componentes do resíduo; armazenamento a granel: deve ser feito em construções fechadas e devidamente impermeabilizadas. Para resíduos corrosivos, o depó- sito deve ser construído de material e/ou revestimento adequados. O armazenamento de resíduos em montes pode ser feito dentro de edificações ou fora delas, com uma cobertura adequada, para con- trolar a possível dispersão pelo vento, e sobre uma base devidamente impermeabilizada (ABNT, 1992, p. 2). Torna-se importante destacarmos que a instalação de armazenamento de re- síduos perigosos deve estar provida de uma bacia de contenção de líquidos, seguindo as especificações da ABNT NBR 12235:1992, sendo esta a definida como: “região limitada por uma depressão no terreno ou por dique(s), desti- nada a conter os resíduos provenientes de eventuais vazamentos de tanques e suas tubulações” (ABNT, 1992, p. 1). Além disso, muitas organizações se preocupam com o volume e espaço destinados ao armazenamento de resíduos sólidos, tais como: isopor, papelão, embalagens plásti- cas, madeiras e outros. Para facilitar o armazenamento, alguns trituram ou prensam seus materiais para diminuir os volumes e organizar melhor seu armazenamento. UNICESUMAR UNIDADE 3 148 A remoção dos resíduos do abrigo ou local de armazenamento externo até a unidade de reciclagem, tratamento e/ou disposição final ambientalmente ade- quada se chama “coleta e transporte”, em que se utilizam técnicas que garantam a preservação das condições de acondicionamento (ANVISA, 2018). A coleta regular de RSU pode ser (SNIS, 2021): ■ Coleta seletiva ou diferenciada: acontece mediante a segregação pré- via dos resíduos recicláveis pelos geradores. O sistema de coleta seletiva deverá estabelecer, no mínimo, a separação de resíduos recicláveis secos e, progressivamente, a dos resíduos recicláveis orgânicos. ■ Convencional ou indiferenciada: é estabelecida para a coleta de rejeitos, no entanto, quando não há coleta seletiva estabelecida, os resíduos são coletados todos juntos nessa modalidade de coleta. A coleta seletiva se refere à “coleta de resíduos sólidos previamente segre- gados conforme sua constituição ou composição” (BRASIL, 2010a, on-line). Os modelos de coleta seletiva utilizados seguem conforme os apresentados na segregação de resíduos, podendo ser a coleta seletiva múltipla, coleta seletiva em duas ou três frações. 149 De acordo com o artigo 35 da PNRS, sempre que estabelecido sistema de coleta seletiva pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, os consumidores são obrigados a: acondicionar adequadamente e de forma dife- renciada os resíduos sólidos gerados e disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução. E o poder público mu- nicipal pode instituir incentivos econômicos aos consumidores que participam do sistema de coleta seletiva na forma de lei municipal (BRASIL, 2010a). Adicionalmente, destacamos que os programas de coleta seletiva, criados e mantidos no âmbito de órgãos da Administração Pública Federal, Estadual e Mu- nicipal, direta e indireta, e entidades paraestatais, devem seguir o padrão de cores estabelecido na Resolução CONAMA nº 275/2001. Essa resolução recomenda, ainda, a adoção dessas cores para programas de coleta seletiva estabelecidos pela iniciativa privada, cooperativas, escolas, igrejas, organizações não-governamen- tais e demais entidades interessadas (CONAMA, 2001). NOVAS DESCOBERTAS Por meio do acesso aos panoramas anuais da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), você pode obter diversas informações sobre os resíduos sólidos urbanos, como dados de geração, coleta convencional e seletiva, entre outros. As formas mais comuns de coleta seletiva, hoje, existentes no Brasil são a coleta porta a porta e a coleta por Pontos de Entrega Voluntária (PEV), conforme descrevemos a seguir (MONTEIRO et al., 2001; SILVEIRA, 2018; SNIS, 2021a; BRASIL, [2022]): ■ Coleta porta a porta: pode ser realizada tanto pelo prestador do serviço pú- blico de limpeza e manejo dos resíduos sólidos (público ou privado) quanto por associações ou cooperativas de catadores de materiais recicláveis. É o tipo de coleta em que um caminhão ou outro veículo passa em frente às residên- cias e comércios recolhendo os resíduos que foram separados pela população. ■ Coleta por Ponto de Entrega Voluntária (PEV): consistem em locais situados estrategicamente próximos de um conjunto de residências ou instituições para entrega dos resíduos segregados pela população e pos- terior coleta pelo poder público. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14801 UNIDADE 3 150 Existe, ainda, a coleta especial, específica para resíduos industriais, RCC, RSS, agrícolas e outros, incluindo os resíduos perigosos. Para alguns resíduos, aplicam-se os sistemas de logística reversa, que abordaremos mais adiante. NOVAS DESCOBERTAS Alguns dos resíduos gerados em nossas residências, como os resí- duos perigosos, incluindo lâmpadas fluorescentes, eletroeletrônicos, pilhas e baterias, medicamentos domiciliares vencidos ou em desuso e outros, não devem ser destinados para a coletaconvencional ou para a coleta seletiva porta a porta, esses resíduos devem ser entre- gue nos PEVs específicos para esses resíduos. Saiba onde descartar seus resíduos acessando este QR Code. A ABNT NBR 13221:2021 estabelece os requisitos para o transporte terrestre de resíduos classificados como perigosos, conforme a legislação vigente, incluindo re- síduos que possam ser reaproveitados, reciclados e/ou reprocessados, e os resíduos provenientes de acidentes, de modo a minimizar os danos ao meio ambiente e a proteger a saúde (ABNT, 2021). De acordo com essa norma, os materiais devem ser transportados com o uso de equipamentos adequados, em bom estado de conser- vação e obedecendo às regulamentações pertinentes à sua classificação. O acondi- cionamento deve ser realizado de forma a não permitir o vazamento e a queda de resíduos, tampouco contaminação do meio ambiente e das vias públicas. Para o transporte de resíduos, podem ser utilizados caminhões caçamba, tal como com caçamba basculante, equipados com caçamba inclinável, para despejar o material previamente carregado. Os veículos podem possuir carroceria com ou sem compacta- ção. Apesar de os compactadores apresentarem a vantagem de diminuição do volume do resíduo, é comum que a acidez do lixiviado provoque corrosão do material, per- mitindo vazamento do lixiviado (chorume) nas vias públicas, causando mal cheiro e poluição. A forma de contaminação pode ocorrer por meio da percolação desse líquido até o lençol freático ou por carreamento da chuva até um corpo hídrico (LEITE, 2021). Os resíduos, quando coletados, devem ser transportados até os pontos de des- tinação final, sejam eles as centrais de triagem em cooperativas, sejam a associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, as indústrias de reciclagem, as centrais de tratamento, sejam os aterros. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14802 151 Destacamos que, para os diversos geradores de resíduos como as indústrias e outros, para contratação e fornecimento dos serviços especializados de coleta e trans- porte de resíduos perigosos e não perigosos, incluindo os recicláveis e orgânicos, os prestadores de serviços devem ser devidamente licenciados para tal atividade pelo órgão ambiental competente. Vale salientar que a licença ambiental é concedida para o transporte de tipos específicos de resíduos. Isso porque as diferentes classes de resíduos não devem ser transportadas de forma mista. Uma empresa especializada em transporte de resíduos hospitalares, por exemplo, pode não ser habilitada para transporte de resíduos orgânicos ou vice-versa. O transporte deve ser realizado por equipamentos adequados, em bom estado de conservação; a descontaminação dos equipamentos deve ser realizada por empresas autorizadas; os resíduos perigosos devem ser acompanhados da ficha de emergência, que consiste em um documento em que estão disponíveis regras e procedimentos a serem efetivados diante de situações de emergência no que se refere aos acidentes na etapa de transporte, de acordo com a norma ABNT NBR 7503:2020. Essa norma tem por objetivo padronizar as informações contidas na Ficha de Emergência, que deve conter informações gerais da empresa transportadora e da classe do resíduo transportado, características do resíduo e se há incompatibilidade com algum agente químico, informações sobre equipamentos de proteção individual para manusear o resíduo, os riscos trazidos pelo resíduo ao ser humano e meio ambiente e as providên- cias que devem ser tomadas em caso de vazamento e contaminação (ABNT, 2020). UNICESUMAR UNIDADE 3 152 Prezado(a) aluno(a), discutiremos, agora, sobre alguns dos instrumentos da PNRS, os quais são importantes ferramentas que viabilizam a sua implementa- ção. Assim, os diversos planos de resíduos a serem elaborados e implementados pelas instâncias federativas são instrumentos fundamentais no cumprimento da PNRS, a qual estabelece o conteúdo mínimo de cada um. Como mecanismo indutor, a PNRS exige os planos de resíduos como condição para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos da União. O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), como parte integrante do processo de licenciamento ambiental do empreendimento ou ati- vidade, é exigido para os geradores de resíduos sólidos, como os RSPSB, RSI, RSS, RCC, RSM, RAS, RST, e os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços que gerem resíduos perigosos ou que gerem resíduos que, mesmo caracterizados como não perigosos, por sua natureza, sua composição ou seu volume, não sejam equiparados aos resíduos domiciliares. Adicionalmente, a RDC/ANVISA n° 222/2018 estabelece a obrigatoriedade, o conteúdo e os requisitos para a elaboração e implantação do Plano de Gerencia- mento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) (ANVISA, 2018); assim como a Resolução CONAMA nº 307/2002 apresenta o conteúdo mínimo e estabelece que os Planos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC) serão elaborados e implementados pelos grandes geradores (CONAMA, 2002a). NOVAS DESCOBERTAS O PGRS deve apresentar o conteúdo mínimo estabelecido na PNRS, entre os quais inclui o diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados, contendo a origem, o volume e a caracterização dos resíduos e a definição dos procedimentos operacionais relativos às etapas do gerenciamento de resíduos sólidos sob responsabilidade do gerador (BRASIL, 2010a). Por meio deste QR Code, você pode obter mais informações sobre o PGRS e demais planos, tal como conhecer, na íntegra, a redação da PNRS. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14803 153 Um outro instrumento da PNRS é o Inventário Nacional de Resíduos Sóli- dos Industriais (INRSI), que foi estabelecido em 2002 por meio da Resolução CONAMA nº 313/2002, sendo definido como “o conjunto de informações sobre a geração, características, armazenamento, transporte, tratamento, reuti- lização, reciclagem, recuperação e disposição final dos resíduos sólidos gerados pelas indústrias do país” (CONAMA, 2002b, p. 1). Assim, as indústrias especifi- cadas na referida resolução devem registrar, mensalmente, os dados de geração de resíduos para efeito de obtenção dos dados para o INRSI, os quais devem ser atualizados a cada 24 meses ou em menor prazo, dependendo do estabelecido pelo órgão estadual competente, sendo necessário, ainda, apresentá-los ao órgão estadual e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) a cada dois anos. Adicionalmente, a Portaria do Ministério do Meio Ambiente (MMA) nº 280/2020 instituiu o Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR) como ferramenta de gestão e documento de declaração nacional de implan- tação e operacionalização do PGRS, tal como institui o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos (INRS) — anterior INRSI —, conforme a PNRS e o seu decreto regulamentador, baseado na Resolução CONAMA nº 313/2002 e nas demais normas vigentes (BRASIL, 2020b). O MTR é definido como o documento numerado gerado por meio do Siste- ma Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (SINIR), emitido, exclusivamente, pelo gerador, que deverá acompanhar o transporte do resíduo até a destinação final ambientalmente adequada. A utilização do MTR é obrigatória em todo o território nacional para todos os geradores de resíduos sujeitos à elaboração de PGRS, conforme estabelecido na PNRS e discutido anteriormente, atuando como uma ferramenta on-line capaz de rastrear a massa de resíduos, controlando a geração, armazenamento temporário, transporte e destinação dos resíduos sólidos no Brasil (BRASIL, 2020b). NOVAS DESCOBERTAS A partir de 2021, até o dia 31 de março de cada ano, os geradores de resíduos sujeitos à elaboração do PGRS devem reportar informações complementares às já declaradas no MTR, referentes ao ano anterior, para elaboração e envio do INRS por meio do site do SINIR. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14804UNIDADE 3 154 A PNRS também estabeleceu a logística reversa como um dos instrumentos de implementação do princípio da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Diante disso, diversos setores devem encaminhar ações para a implementação de sistemas de logística reversa (SLR) de produtos e embalagens pós-consumo, no intuito de priorizar seu retorno para um novo ciclo de aproveitamento. Assim, entende-se por responsabilidade comparti- lhada pelo ciclo de vida dos produtos o: “ [...] conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos con-sumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental de- correntes do ciclo de vida dos produtos” (BRASIL, 2010a, on-line). Logo, o ciclo de vida do produto se refere à “série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final” (BRASIL, 2010a online). O conceito de logística reversa como um instrumento de desenvolvimento econômico e social também é dado pela PNRS como “um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resí- duos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010a, on-line). Ou seja, refere-se a um conjunto de produtos e em- balagens submetidos à regra de devolução após o uso pelo consumidor, com o objetivo de que os fabricantes ou importadores venham assegurar o reapro- veitamento ou outra destinação ambientalmente adequada para os resíduos. De acordo com a PNRS, são obrigados a estruturar e implementar siste- mas de logística reversa (SLR) mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribui- dores e comerciantes de (BRASIL, 2010a): a) agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; b) pilhas e baterias; c) pneus; d) óleos lubrificantes, seus resíduos 155 e embalagens; e) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; f ) produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Ainda, os siste- mas previstos serão estendidos a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro e aos demais produtos e embalagens e para os medicamentos domiciliares vencidos ou em desuso de uso humano (BRASIL, 2010a). Portanto, consumidores, importadores, fabricantes, distribuidores e co- merciantes devem agir de forma conjunta para que os resíduos sejam reapro- veitados, reciclados e/ou passem por tratamento, ou seja, que tenham uma destinação final ambientalmente adequada. Dessa forma, o cidadão, no papel de consumidor, é responsável por descartar os resíduos nas condições solici- tadas e nos locais estabelecidos pelos SLR. O setor privado fica responsável pelo gerenciamento dos resíduos sólidos, por sua reincorporação na cadeia produtiva, pela adoção de inovações que tragam benefícios socioambientais, bem como pelo uso racional dos materiais e pela prevenção da poluição am- biental. Por fim, cabe ao Poder Público a fiscalização do processo e, de forma compartilhada com os demais responsáveis pelo sistema, conscientizar e edu- car o cidadão (SINIR, [2022]). No momento do descarte, os resíduos passíveis de logística reversa não devem ser desti- nadas junto à coleta regular pública. O sucesso dos sistemas de logística reversa depende da adesão dos consumidores, por meio da participação ativa nos sistemas, ao entregar os resíduos nos estabelecimentos onde adquiriram o produto ou nos pontos de entrega voluntário cadastrados nas entidades gestoras. PENSANDO JUNTOS Os SLR são firmados entre o poder público e o setor empresarial, na forma de regulamento, acordos setoriais e termos de compromisso de abrangência nacional, regional, estadual ou municipal. O acordo setorial é definido como o “ato de natureza contratual firmado entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes” (BRASIL, 2010a, on-line). O Quadro 5 apresenta, de forma resumida, informações sobre os SLR que se encontram implantados. UNICESUMAR UNIDADE 3 156 Resíduo Regulamento, acordos setoriais e/ou termos de compromisso Entidade gestora e nome do programa de logística reversa (se aplicável) Agrotóxicos, seus resíduos e emba- lagens Lei Federal nº 9.974/2000 e Decreto Federal nº 4.074/2002 Instituto Nacional de Pro- cessamento de Embalagens Vazias (inpEV) / Programa Sistema Campo Limpo Pilhas e baterias portáteis inserví- veis Resolução CONAMA nº 401/2008 e Instrução Normativa IBAMA nº 8/2012 Gestora para Logística Reversa de Equipamentos Eletroeletrônicos (Green Eletron) / Programa Green Recicla Pilha Baterias chumbo- -ácido inservíveis Resolução CONAMA nº 401/2008, Instrução Normativa IBAMA nº 8/2012 e Acordo Seto- rial assinado em 2019 Instituto Brasileiro de Ener- gia Reciclável (IBER) Pneus inservíveis Resolução CONAMA nº 416/2009 e Instrução Normativa IBAMA n° 1/2010 Reciclanip / Programa Na- cional de Coleta e Destina- ção de Pneus Inservíveis Óleo lubrificante usado ou conta- minado (OLUC) Resolução CONAMA nº 362/2005 O setor não elegeu entida- de gestora Embalagens plásticas de óleo lubrificante usa- das (EPOLU) Resolução CONAMA nº 362/2005 Instituto Jogue Limpo / Pro- grama Jogue Limpo Lâmpadas fluo- rescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista inservíveis Acordo setorial assinado em 2014 Associação Brasileira para a Gestão da Logística Reversa de Produtos de Ilumina- ção (Reciclus) / Programa Reciclus https://sinir.gov.br/images/sinir/Acordos_Setoriais/Baterias_Chumbo_Acido/Acordo_Setorial___Baterias_Chumbo_Acido___assinado.pdf https://sinir.gov.br/images/sinir/Acordos_Setoriais/Baterias_Chumbo_Acido/Acordo_Setorial___Baterias_Chumbo_Acido___assinado.pdf 157 Resíduo Regulamento, acordos setoriais e/ou termos de compromisso Entidade gestora e nome do programa de logística reversa (se aplicável) Produtos eletroeletrônicos e seus componentes Acordo setorial assinado em 2019 e Decreto Federal nº 10.240/2020 Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE) Gestora para Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos Nacional (Green Eletron) Medicamentos domiciliares venci- dos ou em desuso de uso humano, industrializados e manipulados, e de suas embalagens Decreto Federal nº 10.388/2020 O setor não elegeu entidade gestora Embalagens em geral Acordo setorial assinado em 2014 Coalizão Embalagens Embalagens de aço Termo de Compromisso assinado em 2018 Prolata Reciclagem Latas de alumínio para bebidas Termo de Compromisso assinado em 2020 As associações signatárias do termo de compromisso são a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (ABRALATAS) e Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) Quadro 5 - Sistemas de logística reversa implantados / Fonte: adaptado de Brasil (2000; 2002; 2020c; 2020d), CONAMA (2005b; 2008; 2009), Ibama (2010; 2012) e SINIR ([2022]). Podemos observar que, no caso de resíduos como os agrotóxicos, os seus resíduos e as embalagens, as pilhas e baterias, os pneus, e os óleos lubrificantes, os seus resíduos e as embalagens, existe legislação anterior estabelecendo obrigações pós-consumo, portanto, já estavam em operação anteriormente à promulgação da PNRS. UNICESUMAR UNIDADE 3 158 Para os envolvidos na logística reversa de óleo lubrificante usado ou contaminado (OLUC), o setor não elegeu entidade gestora, no entanto, a resolução anterior- mente citada possibilita ao produtor e o importador de contratar empresa coletora regularmenteautorizada junto ao órgão regulador da indústria do petróleo, nesse caso, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ou se habilitar como empresa coletora, na forma da legislação da ANP (SINIR, [2022]). NOVAS DESCOBERTAS Por meio do acesso a este QR Code, você pode obter maiores informa- ções sobre os sistemas de logística reversa implantados, saber onde descartar os resíduos, seja nos PEVs indicados, seja nas cooperativas de catadores, bem como os dados da entidade gestora, os acordos setoriais e as demais regulamentações. NOVAS DESCOBERTAS A relação das empresas autorizadas a exercer a atividade de rerrefino e de coleta de OLUC se encontra disponibilizada pela ANP, a qual você pode acessar por meio deste QR Code. Em nosso último tópico de discussão, torna-se importante mencionarmos que a PNRS busca viabilizar e incentivar a implementação da gestão integrada e do gerenciamento de resíduos sólidos mediante a mobilização e participação direta e efetiva da sociedade por meio de seus múltiplos setores econômicos e segmentos sociais, instituindo a res- ponsabilidade compartilhada entre os elos da cadeia geradora dos produtos, serviços e respectivos resíduos (JARDIM; YOSHIDA; MACHADO FILHO, 2012). Assim, para que esse processo abrangente, integrativo e participativo se torne realidade e opere de forma eficaz, a PNRS se articula com a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), instituída pela Lei nº 9.795/1999 (BRASIL, 1999) e incorpora como um de seus instrumentos a educação ambiental, exigin- do que os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos contenham “programas e ações de educação ambiental e que promovam a não geração, a re- dução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos” (BRASIL, 2010a, on-line). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14805 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14806 159 Por fim, deixamos mais uma sugestão de leitura que lhe ajudará a compreen- der melhor a PNRS e os conceitos nela envolvidos. NOVAS DESCOBERTAS Título: Política Nacional, Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos Autores: Arnaldo Jardim, Consuelo Yoshida e José Valverde Machado Filho Editora: Manole Sinopse: este livro busca retratar o processo de formulação da Lei que institui a Política Na- cional de Resíduos Sólidos, bem como trazer a lume seus principais conceitos e os contornos estabelecidos por seu decreto regulamentador. Considerando, sobretudo, um contexto no qual são lançadas as bases para um novo parâmetro de construção legislativa que contem- ple a gestão ambiental, a participação e a organização social, o crescimento econômico e a articulação de políticas públicas calcadas no princípio do desenvolvimento sustentável. Prezado(a) aluno(a), vimos a importância da ordem e prioridade na gestão e no gerencia- mento de resíduos sólidos, sendo essa a prin- cipal diretriz da PNRS, tal como foi possível o entendimento e conhecimento de diversos conceitos, tipos e características dos resíduos, legislações e etapas de gerenciamento. Assim, como salientado na Unidade 2, novamente, enfatizamos que o estudo não para por aqui. Uma abordagem mais apro- fundada pode ocorrer por meio da leitura de literatura especializada. O conteúdo apresentado, porém, possibilita que você ob- tenha um conhecimento inicial sobre o assunto, assim como possibilita a atuação na área, como na Gestão e no Gerenciamento de Resíduos Sólidos gerados em seu Município, nas indústrias e demais geradores, na elaboração e execução dos planos de resíduos sólidos, principalmente, nos planos de gerenciamento de resíduos sóli- dos, no inventário de resíduos sólidos, com programas de educação ambiental, na proposição de medidas a serem implementadas ou melhoradas na fonte de geração, visando reduzir a geração de resíduos e a sua periculosidade, tal como nas demais etapas que envolvem o gerenciamento de resíduos sólidos. UNICESUMAR 160 1. A Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, define quais são os geradores passíveis de elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS). Esse documento deve demonstrar a capacidade de uma organização de gerir de forma ambientalmente adequada todos os resíduos gerados. Dessa forma, eles demonstram a sua capacidade de dar uma destinação final am- bientalmente adequada e de realizar o gerenciamento de resíduos adequadamente. BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resí- duos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providên- cias. 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/ lei/l12305.htm. Acesso em: 6 jun. 2022. De acordo com a lei anteriormente citada, analise as afirmações a seguir. I - Na coleta seletiva, os resíduos sólidos devem ser previamente segregados, con- forme sua constituição ou composição. II - A gestão integrada de resíduos sólidos é uma atividade realizada apenas para os resíduos do serviço de saúde e de construção civil. III - A reciclagem é o ato de reinserir materiais em etapas de processo, sem que esse material tenha passado por transformações físicas ou químicas. IV - Geradores de resíduos sólidos podem ser pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividades. É correto o que se afirma em: a) IV, apenas. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm 161 2. A ABNT NBR 10004:2004 aborda a respeito da classificação dos resíduos. Sabendo que os Resíduos perigosos — Classe I são os resíduos que apresentam periculosi- dade, analise as afirmações a seguir. ABNT. NBR 10004: resíduos sólidos: classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. I - Inflamabilidade é uma das características dos resíduos Classe I. II - Corrosividade é uma das características dos resíduos Classe II. III - Mutagenicidade é uma das características dos resíduos Classe I. IV - Os resíduos que apresentam patogenicidade podem ser considerados de Classe II. É correto o que se afirma em: a) I e III, apenas. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV. 3. Um município é considerado mais ou menos sustentável à medida em que é ca- paz de manter ou melhorar a saúde do seu sistema ambiental, minorar a degrada- ção e o impacto antrópico, reduzir a desigualdade social e prover os habitantes de condições básicas de vida, bem como construir um ambiente de forma saudável e segura e, ainda, pactos políticos que permitam enfrentar desafios presentes e futuros (BRAGA et al., 2005). BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 162 Nesse contexto, para avaliar se uma política de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos está resultando em aspectos positivos, é necessária a avaliação de indica- dores que possibilitará a tomada de decisões de forma assertiva. Assim, avalie as afirmações a seguir. I - Não é possível utilizar eficiência financeira como indicador de gerenciamento de resíduos sólidos, pois o objetivo não é o lucro. II - A recuperação de áreas degradadas com disposição incorreta de resíduos sóli- dos pode ser um indicador ambiental. III - A revenda de materiais reciclados é crime ambiental, pois deve ser doado a comunidades carentes. IV - Uma empresa licenciada pode transportar qualquer tipo de resíduo sólido. É correto o que se afirma em: a) II, apenas. b) I e III, apenas. c) I e IV, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV. 4Resíduos Sólidos: Destinação e Disposição Final Ambientalmente Adequadas Dra. Jéssica de Carvalho Lima Me. Paula Polastri Nesta Unidade 4, trataremos sobre as demais etapas do gerencia- mento de resíduos, incluindo a destinação final, compreendendo a reutilização, a reciclageme o tratamento, além da disposição final dos rejeitos em aterros, tal como aspectos sobre o aproveitamento energético de resíduos sólidos, legislações e normas aplicáveis. UNIDADE 4 164 Prezado(a) aluno(a), já parou para pensar para onde vão os resíduos sólidos após serem coletados e transportados? Será que todos os resíduos gerados, coletados e transportados têm a destinação final ambientalmente adequada? Qual é a dife- rença entre reutilização e reciclagem? Qual é a diferença entre destinação e dis- posição final ambientalmente adequada? O que fazer com os resíduos orgânicos? Quais são os métodos de tratamento de resíduos sólidos? Quais são as vantagens e desvantagens de cada método? O que são aterros sanitários? Em todo o mundo, estima-se que, a cada ano, mais de 25 milhões de tone- ladas de resíduos sólidos têm os oceanos como destino. Cerca de 80% desse total é oriundo de atividades humanas, seja no litoral, seja em regiões onde correm rios que desaguam em ambientes marinhos, o que é resultado de falhas que ocorrem nos sistemas de limpeza urbana e na gestão de resíduos das cidades. Tais constatações permitem afirmar que a melhor solução para o problema dos resíduos no mar reside justamente no aperfeiçoamento dos sistemas e das infraestruturas de limpeza urbana nas cidades, que deve acon- tecer junto a programas permanentes de educação ambiental implementados em todas as camadas da população (ABRELPE, 2022). Como um país de grande extensão costeira e de intensa ramificação hídri- ca, o Brasil, de acordo com estimativas da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2022), contribui com cerca de dois milhões de toneladas de resíduos sólidos que vazam para o mar anualmente, provenientes, diretamente, dos municípios litorâneos e das regiões interioranas, depois de percorrer grandes distâncias por meio de rios. 165 Adicionalmente, além dos resíduos que são descartados de forma inadequada seja pela população, seja pela falta de coleta e limpeza pública em áreas urbanas e rurais, seja, até mesmo, porque parte dos RSU coletados não são reutilizados, reci- clados, tratados, seja por não se aplicar algum aproveitamento energético. Assim, grande parte dos RSU coletados anualmente no Brasil tem a destinação adequada em aterros sanitários, mas, por outro lado, áreas de disposição inadequada, in- cluindo lixões e aterros controlados, ainda estão em operação (ABRELPE, 2022). A partir das informações que tivemos até aqui, é possível perceber que os resí- duos sólidos gerados pela sociedade demandam atenção, e, normalmente, isso é um assunto complexo para ser tratado, visto que os padrões de consumo da sociedade, geralmente, são voltados ao consumo e descarte, ou seja, “comprar, usar e jogar fora”. Contudo, onde jogar fora afinal? Qual é a maior dificuldade na destinação final ambientalmente adequada de resíduos? A resposta é simples: a maior dificuldade está na cidadania, na cons- cientização e na educação da sociedade e na política das empresas privadas, sejam pequenas ou grandes geradoras. Há, também, a dificuldade na questão política, pois podemos observar a falta de recursos para investir na adequada gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos. Várias medidas podem ser adotadas, como a aplicação de taxas ou tarifas arrecadadas pelo prestador de serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos diretamente do usuário; maiores orientações ao munícipe sobre como fazer corretamente a segregação seletiva, incentivos para aquele que faz corretamente e multa ao que não segregar seletivamente seus resí- duos, caso o município detenha de sistema de coleta seletiva. UNIDADE 4 UNIDADE 4 166 Podemos observar que o presente e o futuro da destinação final ambientalmente adequada de resíduos estão em práticas como coleta seletiva, logística reversa, reutilização, reciclagem, tratamento e aproveitamento dos resíduos, como novas matérias-primas, novos produtos, biocombustíveis, geração de energia e outros, contribuindo para a economia circular, melhorando a qualidade ambiental e social. Muito já foi feito, mas ainda temos muito o que fazer, não é mesmo? Nesse sentido, elabore uma “lista de ações para destinação adequada de resíduos só- lidos”, que, sob a sua perspectiva, possam reduzir e/ou solucionar o problema do âmbito nacional ao municipal e, até mesmo, domiciliar da destinação final inadequada de resíduos. No final de nossos estudos, compare a sua lista com o que foi discutido e veja o que pode ser acrescentado por meio do conhecimento adquirido em seus estudos. Prezado(a) aluno(a), convidamos você a refletir sobre o que discutimos até aqui. Como podemos contribuir para solucionar a problemática relacionada à destinação e disposição inadequada de resíduos? Como podemos pensar em soluções para “tratar a causa do problema” ao invés de apenas “remediar” questões relacionadas a descartes inadequados de resíduos? Registre, em seu Diário de Bordo, as reflexões a respeito do tema. 167 Prezado(a) aluno(a), conforme nossa discussão inicial, nesta unidade, daremos sequência aos conteúdos relacionados aos resíduos sólidos. Após termos uma visão geral dos fatores envolvidos na geração de resíduos e das etapas iniciais do gerenciamento, estudaremos, especificamente, as formas de destinação final de resíduos sólidos e de disposição final de rejeitos. Portanto, iniciamos nossos estudos compreendendo a diferença entre os termos destinação e disposição final, conforme as definições apresentadas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010 (BRASIL, 2010). A destinação final ambientalmente adequada é definida como a des- tinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes. Também, inclui a disposição final como uma forma de destinação final (BRASIL, 2010). A disposição final ambientalmente adequada se trata da “distribuição ordenada de rejeitos em aterros, obser- vando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos” (BRASIL, 2010, on-line). Para um melhor entendimento e uma visão geral sobre o conteúdo que estudaremos nesta unidade, na Figura 1, apresentamos as formas de destinação e disposição final. UNIDADE 4 UNIDADE 4 168 Descrição da Imagem: a figura ilustra um fluxograma com blocos ligados sequencialmente por meio de setas para mostrar as etapas da destinação de resíduos e da disposição de rejeitos dentro da ordem de prioridade da gestão e do gerenciamento de resíduos sólidos. O primeiro bloco é “não geração”, o segundo é “redução”, e estão ligados por uma seta da direita para a esquerda. O segundo bloco se liga ao terceiro bloco por uma seta de cima para baixo; e o terceiro, “resíduos sólidos gerados, coletados e entregues em pontos de entrega voluntária (PEV)”, liga-se por uma seta que se divide em duas, no sentido de cima para baixo, em dois grandes blocos. O primeiro grande bloco, “destinação final ambientalmente adequada para os resíduos sólidos”, liga-se por uma seta de cima para baixo à “reutilização”; esta se liga à “reciclagem”; e esta, ao “tratamento”, por setas no sentido da direita para a esquerda. O bloco “tratamento” se liga aos diferentes tipos de tratamento por uma seta que se divide em três no sentido de cima para baixo: o bloco “tratamento térmico”, e este ligado aos tipos de tratamento térmico, como “incineração”, “coprocessamen- to”, “pirólise”, “autoclavagem”, “micro-ondas” e “outros”; o bloco “tratamento físico-químico ou químico”, incluindo a “desinfecção química”, “estabilização/solidificação”; e o bloco “tratamento biológico”, incluindo a “compostagem”, a “vermicompostagem” e a “digestão anaeróbia”. O segundo grande bloco, “disposição final ambientalmente adequada para os rejeitos”, liga-se,por uma seta no sentido de cima para baixo, aos blocos “aterro sanitário para resíduos sólidos urbanos”, “aterro de resíduos perigosos (Classe I)” e “aterro de resíduos não perigosos (Classe II)”. Por fim, uma linha tracejada na cor vermelha representa um bloco maior, denominado “oportunidades de recuperação e aproveitamento energético”, e, dentro deste, estão as formas de destinação e disposição final, representando que, dentro da destinação e disposição final, existem possibilidades de aproveitamento energético dos resíduos e rejeitos. Figura 1 - Formas de destinação final de resíduos sólidos e de disposição final de rejeitos / Fonte: as autoras. 169 Veja que a figura dá prosseguimento à ordem de prioridade requerida na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos, sendo o principal objetivo a não geração e a redução da geração dos resíduos, conforme discutimos na Unidade 3. Depois, deve-se buscar alternativas para viabilizar as formas de destinação final, a qual é relacionada aos resíduos sólidos, incluindo a reutilização, a reciclagem e o tra- tamento — que pode ser térmico, físico-químico, químico ou biológico. Por fim, recorre-se à disposição final, a qual tem como foco os aterros, podendo ser aterro sanitário, exclusivo para os resíduos sólidos urbanos (RSU), e aterros de resíduos perigosos e não perigosos, os quais se relacionam, exclusivamente, aos rejeitos. Ainda, dentro das formas de destinação final e disposição final, pode-se ter a recuperação e o aproveitamento energético, como no caso de alguns tipos de tratamento térmico, como incineração, coprocessamento e pirólise, por meio da digestão anaeróbia, bem como o aproveitamento energético dos RSU dispostos em aterros sanitários ou, até mesmo, nos aterros para resíduos perigosos e não perigosos. Por fim, destacamos que apenas os rejeitos devem ser dispostos em aterros, sejam eles coletados e enviados diretamente para algum tipo de aterro, tal como os rejeitos originados na destinação final, na reciclagem ou nos tratamentos. UNIDADE 4 UNIDADE 4 170 Dessa forma, podemos enfatizar que existem quatro dimensões distintas na gestão e no gerenciamento de resíduos: a não geração de resíduos como um ideal utópico, mas possível de ser alcançado, como já estudamos; a redução da geração de resíduos, diretamente associada ao gerenciamento de processos; o uso de processos de reutilização, reciclagem e tratamento, enfocando os resíduos; e a disposição em aterros, enfocando os rejeitos (DEL BEL, 2012). Compreenderemos, agora, o que são a reutilização e a reciclagem e qual é a diferença entre esses dois termos. A reutilização se trata do “processo de apro- veitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica, física ou físi- co-química” (BRASIL, 2010, on-line). Já a reciclagem se refere ao “processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos” (BRASIL, 2010, on-line). Assim, a reutilização consiste no aproveitamento de um produto para uma função diferente do original, mas sem que ele perca suas características princi- pais. Ela é vantajosa do ponto de vista ambiental, visto que qualquer processo de transformação ou descaracterização de um resíduo depende de fatores como mão de obra, insumos, tecnologia e energia. Além disso, o processo de reciclagem tam- bém resulta em resíduos que devem ser tratados para descarte correto. Vejamos algumas ações que podem ser realizadas visando à reutilização: 171 UNIDADE 4 UNIDADE 4 172 Sobre a reciclagem, iniciamos a discussão com os seus diversos benefícios: a diminuição da exploração de recursos naturais, a melhoria da limpeza urbana e da qualidade da vida da população, o prolongamento da vida útil dos aterros sanitários, a geração de renda e emprego por meio da comercialização dos recicláveis, o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis e, consequentemente, a prevenção e o controle da poluição. Existem diversos processos de reciclagem, sendo que a maioria dos resí- duos pode passar por algum tipo de reciclagem. No entanto, há algumas situa- ções em que a reciclagem do resíduo não é economicamente viável, visto que o processo para reciclagem é mais oneroso do que o processo para obter o pro- duto a partir da matéria-prima (SILVEIRA, 2018). Logo, o reaproveitamento de resíduos pode ser feito por meio de reciclagem mecânica — primária ou secundária —, química — terciária — e energética — quaternária (FERREIRA; FONSECA; SARON, 2011; COLTRO; DUARTE, 2013; BRASKEM, 2019). Vejamos do que trata cada uma delas e, na sequência, algumas considerações acerca dos processos mais comuns de reciclagem. ■ Reciclagem mecânica: método mais usado para dar novos usos aos resíduos, quaisquer que eles sejam, consiste em transformar, mecanica- mente, os resíduos, sem alterar sua estrutura química, de forma que possa ser utilizado na produção de novos materiais. A reciclagem primária (pré-consumo) é a mais comum e consiste na recolocação de resíduos provenientes do processo produtivo dentro da própria produção. A utili- zação desse material resulta em produtos idênticos ao material de origem. A reciclagem secundária (pós-consumo) se refere ao processamento de resíduos do descarte doméstico, comercial e outros. ■ Reciclagem química (terciária): os resíduos são reprocessados, transformando sua estrutura química ou, ainda, por meio da adição de produtos químicos. Por exemplo, no caso dos resíduos plásticos, ocorre a transformação por meio de processos termoquímicos, como hidrogenação — cadeias de polímeros são quebradas por meio do tra- tamento com oxigênio e calor, gerando produtos capazes de serem processados em refinarias —; gaseificação — aquecidos com ar ou oxi- 173 gênio, gerando gás de síntese, mistura de gases que contenham monó- xido de carbono e hidrogênio —; e pirólise — quebra de moléculas pelo calor na ausência de oxigênio, que gera frações de hidrocarbonetos para serem processados em refinarias. ■ Reciclagem energética (quaternária): consiste em transformar os resíduos em energia térmica e elétrica, aproveitando, por meio da inci- neração, por exemplo, o poder calorífico armazenado nesses materiais como combustível. Existem diferentes tipos de resina utilizados na fabricação de diferentes tipos de plásticos. Dessa forma, a norma da Associação Brasileira de Normas Téc- nicas (ABNT) NBR 13230:2018, como já vimos na Unidade 3, apresenta a simbologia para a segregação seletiva e a reciclagem desses resíduos (ABNT, 2018). Os valores são diferenciados para cada tipo de plástico, que necessitam desse processo de triagem para a efetiva reciclagem. No Quadro 1, apresenta- mos os tipos de plásticos, as suas respectivas aplicações e os produtos obtidos após a sua reciclagem. Tipo de plástico Aplicação Reciclagem PET (Politereftalato de Etileno) Garrafas para refrigerante, óleo comestível, molho para salada, água. Fibra para carpete, teci- do, vassoura, embalagem de produtos de limpeza, acessórios diversos. PEAD (Polietileno de Alta Densidade) Garrafas para iogurte, suco, leite, produtos de limpeza, potes para sorvete. Frascos para produtos de limpeza, óleo para mo- tor, tubulação de esgoto, conduíte. PVC (Policloreto de Vinila) Filmes estiráveis, berços para biscoitos, frascos para antisséptico bucal, xampu, produtos de higiene pessoal. Mangueira para jardim, tu- bulação de esgoto, cones de tráfego, cabos. UNIDADE 4 UNIDADE 4 174 Tipo de plástico Aplicação Reciclagem PEBD (Polietileno de Baixa Densidade) Filme encolhível, embalagem flexível para leite, iogurte, saquinhos de compras. Envelopes, filmes, sacos para lixo, tubulação para irrigação. PP (Polipropileno) Potes para margarina, sor- vete, tampas, rótulos, copos descartáveis, embalagempara biscoitos. Caixas e cabos para ba- teria de carro, vassouras, escovas, funil para óleo, caixas, bandejas. OS (Outros) Copos descartáveis, pratos descartáveis, pote para io- gurte, bandejas, embalagem para ovos, acolchoamento. Placas para isolamento térmico, acessórios para escritório, bandejas. OUTROS (Outros plásticos diferentes dos anteriores) Embalagem multicamada para biscoitos e salgadinhos, mamadeiras, CDs, DVDs, utilidades domésticas. Madeira plástica, recicla- gem energética. Quadro 1 - Aplicação e reciclagem de alguns exemplos de resinas plásticas Fonte: adaptado de Silveira (2018). A maioria dos resíduos constituídos por papéis é reciclável, com exceção de papel higiênico, carbono, vegetal e impregnados com ceras. Para a reciclagem, são triturados e transformados em aparas, ocorre a peneiração para a retira- da de impurezas e a adição de compostos químicos para retirar as tintas — destintamento e alvejamento para alguns tipos de papel —, gerando a pasta celulósica (SILVEIRA, 2018). As embalagens longa vida ou multicamadas são compostas por camadas de papel, polietileno de baixa densidade (PEBD) e alumínio. O processo de reciclagem das embalagens longa vida se inicia nas fábricas de papel, onde é feita a separação das fibras de papel das camadas de plástico e alumínio — ocorre em um equipamento denominado hidrapulper. Após a separação, as fibras servirão para fabricação de papel reciclado e outros produtos, tal como o alumínio e o plástico (ABAL, 2017). 175 Na reciclagem de metais, estes são direcionados para usinas de fundição e, quando atingem o ponto de fusão, são moldados em placas metálicas e cortados na forma de chapa de aço. Dentre os diversos materiais metálicos, o alumínio é o que possui maior teor de reaproveitamento no Brasil, principalmente, devido à informação a respeito de reciclagem de latas ser amplamente difundida no país (SILVEIRA, 2018). O processo de reciclagem do alumínio consome apenas 5% de energia quan- do comparado ao processo de fabricação do alumínio primário (ABAL, 2017). Na reciclagem do vidro, como este se trata de um material formado por meio da fusão e do resfriamento de areia, barrilha, calcário e feldspato, é um material totalmente reciclável e pode ser totalmente reciclado várias vezes, sem perder a qualidade do produto. A reciclagem desse material é realizada pelo der- retimento de resíduos, sendo os vidros reciclados misturados com matéria-prima nova. Em média, as novas garrafas são compostas por cerca de 60% do material reciclado, e, dependendo da cor, esse percentual ainda pode chegar a 90%. NOVAS DESCOBERTAS Saiba mais sobre as formas de reciclagem dos diversos resíduos ao acessar a cartilha da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE). Uti- lize o QR Code. UNIDADE 4 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14824 UNIDADE 4 176 Por fim, torna-se importante apresentarmos um instrumento que está estreita- mente associado às ações que visam à reutilização e reciclagem de resíduos só- lidos. Conceitualmente, o “banco” ou a “bolsa de resíduos” é um instrumento que tem por objetivo principal favorecer as trocas e permitir a valorização de resíduos particulares, complementando os circuitos tradicionais existen- tes na recuperação de resíduos entre produtores e consumidores (BIDONE; POVINELLI, 1999). De maneira geral, trata-se de uma plataforma on-line, na qual, por meio de anúncios gratuitos, indústrias e empresas de todos os setores podem colaborar entre si por meio da doação ou venda de resíduos, de forma que o resíduo de uma indústria possa servir de insumo ou matéria-prima para outro processo produtivo (FIRJAN, [2022]). Em nível mundial, encontram-se em atividade diver- sas plataformas. No Brasil, a exemplo das Federações das Indústrias dos Estados, é possível a implementação desse instrumento. Um exemplo é a bolsa de resíduos da Federa- ção de Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), denominada “Conecta Recursos”. Saiba mais ao acessar este QR Code: Portanto, uma maior conservação de recursos em termos de matérias- -primas para usos futuros, a diminuição do volume de resíduos e dos custos crescentes de sua destinação ou disposição final ambientalmente adequada, a minimização de impactos ambientais e a economia de energia resultam da operacionalização da bolsa de resíduos (BIDONE; POVINELLI, 1999). Em outras palavras, proporciona a conexão entre diversas organizações, as quais, juntas, podem melhor utilizar recursos e colaborar para a economia circular e para o meio ambiente (FIRJAN, 2022). NOVAS DESCOBERTAS De acordo com Luz (2017), a economia circular consiste nos seguintes pensamentos: os resíduos devem ser tratados como recursos; a cole- ta, triagem e reciclagem devem ser atividades rotineiras; os produtos e materiais devem ser concebidos visando uma possível reutilização e transformação em novas matérias-primas ou em outros produtos. Saiba mais sobre a economia circular acessando este QR Code. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14833 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14834 177 Abordaremos, agora, os métodos de tratamento de resíduos sólidos. Em uma discussão inicial, devemos levar em consideração que, dada a diversidade de resíduos, não existe um processo de tratamento pré-estabelecido, havendo sempre a necessida- de de realizar pesquisas e desenvolver processos que sejam econômica e ambiental- mente viáveis. Além disso, o gerador deve classificar seus resíduos e tratá-los segundo as suas características, seguindo as legislações e normas técnicas vigentes. Assim, quando pensamos em um método de tratamento para resíduos sólidos, a alternativa a ser adotada deve abordar alguns aspectos como, por exemplo, as características e a classificação do resíduo sólido; os custo de implantação e operação; a disponibilidade financeira dos agentes envolvidos; a capacidade de atender às exigências legais; e a quantidade e capacitação técnica de recursos humanos. Logo, os tratamentos aplicados aos resíduos podem ser entendidos como pro- cessos que alteram as suas características, visando à minimização ou eliminação dos riscos à saúde pública e ao ambiente, à redução do volume e periculosidade, ao atendimento à legislação vigente e à recuperação energética quando possível. Nesse contexto, estudaremos alguns dos diversos métodos de tratamento aplica- dos aos resíduos sólidos, incluindo os tratamentos térmicos, físico-químicos e químicos e biológicos, incluindo os passíveis de aproveitamento energético. UNIDADE 4 UNIDADE 4 178 Iniciaremos a nossa discussão acerca dos tratamentos térmicos. Assim, de acordo com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONA- MA) nº 316/2002, a qual dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcio- namento de sistemas de tratamento térmico de resíduos, esse método de trata- mento se refere ao processo cuja operação seja realizada acima da temperatura mínima de 800 °C (oitocentos graus Celsius) (CONAMA, 2002a). Adicionalmente, Vilhena (2010) explica que os tratamentos térmicos po- dem ser classificados como de alta ou de baixa temperatura, sendo que os de alta temperatura objetivam, principalmente, a redução significativa da sua massa e de seu volume, bem como sua assepsia, promovendo eliminação de organismos patogênicos. A energia contida nesses resíduos pode ser parcial- mente aproveitada, podendo gerar energia elétrica ou térmica ou combustí- veis alternativos, auxiliando na redução do custo operacional do tratamento térmico. Os tratamentos de baixa temperatura visam à assepsia do resíduo sólido, razão pela qual são empregados somente para o tratamento de resíduos de serviços de saúde (RSS). Entre os processos de tratamento térmico em alta temperatura, a incineração é o mais difundido. Países com pequena disponibilidade para aterro apresentam um grande número de unidades em operação (VILHENA, 2010). A incineração é definida como o processo de redução de peso e volume dos resíduos sólidospor meio de combustão controlada (LIMA, 2004). A ABNT NBR 11175:1990, a qual a fixa as condições exigíveis de desempenho do equipamento para inci- neração de resíduos sólidos perigosos, exceto aqueles assim classificados apenas por patogenicidade ou inflamabilidade, define a incineração de resíduos sólidos como o “processo de oxidação à alta temperatura que destrói ou reduz o volume ou recupera materiais ou substâncias” (ABNT, 1990, p. 1). Na incineração, ocorre a redução significativa da massa ou do peso (70%) e do volume (90 a 98% do volume original) do resíduo sólido (VILHENA, 2010; OLIVEIRA, 2020). A combustão de resíduos ocorre em incineradores, que po- dem ser de diferentes tipos, que, geralmente, empregam o oxigênio como agente oxidante (LIMA, 2004). O processo de incineração, em geral, gera poluentes no estado sólido, líquido e gasoso, como cinzas de fundo, cinzas volantes ou ma- terial particulado — arrastadas junto com as cinzas de fundo, são compostas, principalmente, por materiais inorgânicos presentes nos resíduos, como metais e vidros fundidos, e de matéria orgânica não queimada. 179 As lamas são provenientes dos sistemas de tratamento de efluentes líquidos do sistema de limpeza dos gases de combustão, as quais podem conter matéria orgânica, me- tais pesados e outros. Assim, os resíduos sólidos gerados na unidades de incineração podem ser reaproveitados antes do envio à disposição final, reciclando-se parte dos compostos contidos neles, como, por exemplo, a recuperação e reutilização dos metais contidos nas cinzas ou nas lamas como matéria-prima para outros processos (VI- LHENA, 2010). No entanto, lembre-se de que, antes do seu reaproveitamento ou sua disposição final, esses resíduos devem ser caracterizados e classificados quanto à sua periculosidade, conforme estabelecido na ABNT NBR 10004:2004 (ABNT, 2004a). O procedimento de separação na fonte geradora, por meio da coleta seletiva e logística reversa, e na remoção antes de o incinerador ser alimentando com o resíduo deve ser adotado como primeira ação estratégia para controlar a geração ou formação de poluentes tóxicos (VILHENA, 2010). O processo enfrenta barreiras em muitos países devido a críticas relacionadas à geração de poluentes atmosféricos, visto que demanda monitoramento e investimento para controle e tratamento, é um método complexo, além de apresentar alto custo de implantação e manutenção, podendo custar até 50% a mais do que a disposição em aterros. Embora seja considerado um método oneroso, o encerramento de atividades de incineração é simples e barato quando comparado ao encerramento de um aterro sanitário (OLIVEIRA, 2020). Por fim, o avanço da tecnologia em sistemas de controle da poluição atmosférica permite que os incineradores alcancem e até ultrapassem metas estabelecidas pela legislação ambiental, tornando-se um método seguro para a destinação dos resí- duos e a geração de energia elétrica e térmica, podendo ser considerados uma fonte de energia renovável (OLIVEIRA, 2020). Assim, é possível investir na geração de energia por meio do processo, diminuindo a dependência de combustíveis fósseis, sendo necessária a manutenção periódica adequada dos equipamentos de controle da poluição para evitar poluição atmosférica, além de treinamento dos profissionais que operam os incineradores (SILVEIRA, 2018; OLIVEIRA, 2020). UNIDADE 4 UNIDADE 4 180 No processo de coprocessamento, a Resolução CONAMA nº 499/2020 dispõe sobre o licenciamento da atividade de coprocessamento de resíduos em fornos rotativos de produção de clínquer, definindo esse método de trata- mento de resíduos sólidos como a “destinação final ambientalmente adequada que envolve o processamento de resíduos sólidos como substituto parcial de matéria-prima e/ou de combustível no sistema forno de produção de clín- quer, na fabricação de cimento (CONAMA, 2020a, p. 1). Assim, esse tipo de tratamento ocorre em altas temperaturas em fornos de cimenteiras, sendo que as cinzas são incorporadas ao clínquer, sendo esse o componente básico do cimento, constituído, principalmente, por silicato tricálcico, silicato dicálcico, aluminato tricálcico e ferroaluminato tetracálcico (CONAMA, 2020a). Destacamos que os principais resíduos passíveis de tratamento por copro- cessamento são (SILVEIRA, 2018; CONAMA, 2020a): resíduos sólidos urbanos, resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços e os resíduos dos serviços públicos de saneamento básico, desde que sejam previamente submetidos à triagem, à classificação ou ao tratamento; resíduos de serviços de saúde, incluindo medicamentos, resíduos provenientes do processo de produção da indústria far- macêutica e os que tenham sido descaracterizados em razão de submissão a trata- mento que altere suas propriedades físicas, físico-químicas, químicas ou biológicas; serragem e madeira contaminada; borras oleosas de processos petroquímicos e de fundo de tanques de combustíveis e produtos inflamáveis; resíduo têxtil e Equi- pamentos de Proteção Individuais (EPIs) contaminados; elementos filtrantes de filtros de combustíveis e lubrificantes; solo contaminado; lodo de caixa separadora de óleo com mais de 5% de hidrocarbonetos derivados de petróleo ou até 70% de umidade; materiais contaminados com tintas solventes; papel, papelão e plásticos contaminados com óleos lubrificantes, solventes ou combustíveis. Você não acha que destinar resíduos orgânicos para incineração inviabiliza sua reciclagem e transformação em fertilizante orgânico ou biogás? Sabemos que uma das vantagens dessa tecnologia é a diminuição do volume e da periculosidade dos resíduos, no entanto, trata-se de uma tecnologia indicada para resíduos que não são passíveis de reciclagem ou tratamento biológico. Afinal, temos que seguir a ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos! Lembre-se disso! PENSANDO JUNTOS 181 A listagem dos resíduos sólidos não passíveis de coprocessamento é estabe- lecida no Anexo II da Resolução CONAMA nº 499/2020, incluindo resíduos radioativos e explosivos, tal como combustíveis e matérias-primas alternativos, resíduos passíveis de reciclagem, resíduos da construção civil, entre outros. Pes- quise por “Resolução CONAMA nº 499/2020” e fique por dentro. A pirólise se trata de um processo de decomposição química por calor na ausência de oxigênio. O processo ocorre em reator pirolítico; em geral, a tempe- ratura no reator varia de 300 a 1.600 °C, os resíduos são secos pela passagem dos gases oriundos da zona pirolítica, e, nesta, são submetidos aos processos de volati- lização, oxidação e fusão. Trata-se de um processo de reação endotérmica, assim o balanço energético do sistema é sempre positivo, pois produz mais energia do que consome. O material pirolisado resulta em subprodutos como gases, composto por hidrogênio, metano e monóxido de carbono; combustível líquido, composto por hidrocarbonetos, álcoois e ácidos orgânicos com baixo teor de enxofre; o char, um material sólido constituído por carbono quase puro; e, ainda, vidros, metais e outros materiais inertes (cinzas), os quais são considerados os resíduos do processo e podem ser segregados, obtendo-se, principalmente, vidros e metais (LIMA, 2004). NOVAS DESCOBERTAS Conheça uma usina de pirólise acessando este QR Code. Especificamente para os resíduos de serviços de saúde (RSS) biológicos do Grupo A, estes devem ser submetidos a tratamento, utilizando processos que vierem a ser validados para a obtenção de redução ou eliminação da carga microbiana. Após o tratamento, os rejeitos devem ser encaminhados para dis- posição final ambientalmente adequada, no caso, em aterros, que podem ser aterros sanitários caso sejam licenciados para o recebimento desses rejeitos. A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vi- gilância Sanitária (ANVISA) nº 222/2018 (ANVISA, 2018) e a Resolução CONAMA nº 358/2005 (CONAMA, 2005) estabelecem as diretrizes quanto ao tratamentoe à disposição final dos RSS. UNIDADE 4 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14835 UNIDADE 4 182 Assim, para os RSS biológicos do Grupo A, além da incineração, método mais utiliza- do no Brasil para tratamento desse tipo de resíduo, também são utilizados os tratamen- tos por esterilização a vapor em autoclave e micro-ondas (ABRELPE, 2022). Ressal- tamos que os poluentes gasosos gerados nos métodos de tratamento térmico aqui discutidos, incluindo as suas características e os métodos de controle, serão estudados em maiores detalhes na Unidade 5. O tratamento por micro-ondas ou este- rilização por radiação não-ionizante se tra- ta de um método fundamentado nas radiações eletromagnéticas de frequência igual ou inferior à ultravioleta. A eliminação dos microrganis- mos decorre de efeitos térmicos, como o aqueci- mento pela transformação da energia em calor — temperaturas entre 95 e 105 °C —, e não- -térmicos, devido à interação direta do campo eletromagnético da radiação e os próprios mi- crorganismos (BIDONE; POVINELLI, 1999). O processo de autoclavagem ou esterili- zação a vapor em autoclave consiste em um sistema de alimentação que conduz os resíduos até uma câmara estanque em que se faz vácuo e injeta vapor d›água sob determinadas condi- ções de pressão. Os períodos de exposição co- nhecidos para esterilização para RSS embalados são de 30 minutos a 121°C até 4 minutos a 132 °C em autoclave de exaustão a vácuo (BIDONE; POVINELLI, 1999). No Quadro 2, apresenta- mos algumas das vantagens e desvantagens re- lacionadas aos métodos de tratamento térmico de resíduos sólidos. 183 Tratamento térmico Vantagens Desvantagens Incineração - Redução de peso e volume, diminuindo a quantidade de resíduos encaminhados aos aterros. - Aproveitamento energético. - Esterilização dos resíduos, pois destrói vírus e bactérias presentes nos resíduos devi- do às altas temperaturas. - Destoxicação, destruição de resíduos orgânicos tóxicos. - Custo elevado de instalação e operação, porém se aproxima do custo de disposição de aterros sanitários em grandes cidades. - Exigência de mão de obra qualificada. - Geração de resíduos sólidos, efluentes líqui- dos e poluentes atmos- féricos. Coprocessamento - Aproveitamento energético. - Redução de emissão de substâncias poluentes, gases de efeito estufa, entre outros. - Eliminação ou redução da necessidade de disposição final de resíduos. - Geração de poluentes atmosféricos. - Volatilização de metais pesados. - Risco de acidentes durante o transporte de resíduos perigosos da fonte geradora até o local em que serão queimados. Pirólise - Aproveitamento energético. - Geração de subprodutos utilizados no processo ou em outros. - Sistema com instalações compactas. - Capacidade de operar com resíduos mais úmidos, permitindo fundir e vitrificar certos resíduos inorgânicos. - Custo elevado de ins- talação e operação. - Geração de resíduos sólidos e poluentes atmosféricos. UNIDADE 4 UNIDADE 4 184 Tratamento térmico Vantagens Desvantagens Esterilização por radiação não ionizante do tipo micro-ondas - Ausência de geração de efluentes líquidos, poluentes atmosféricos, e não emite odores ou ruídos. - Rigorosa desinfecção. - Não há adição de produtos químicos. - Manutenção de baixo custo. - Custo operacional relativamente alto. - Não reduz o volume dos resíduos, a não ser que haja trituração prévia. Esterilização a va- por em autoclave - Custo operacional relativa- mente baixo. - Manutenção relativamente fácil e barata. - Não emite poluentes atmosféricos, e o efluente líquido é estéril. - Não há garantia de que o vapor d›água atinja todos os pontos da massa de resíduos, salvo se houver uma adequada trituração prévia à fase de desin- fecção. - Não reduz o volume dos resíduos, a não ser que haja trituração prévia. - Processo em batela- da, não permitindo um serviço continuado de tratamento, não ade- quado para tratamento de grande volume de resíduos de uma vez só. Quadro 2 - Vantagens e desvantagens dos métodos de tratamento térmico de resíduos sólidos Fonte: adaptado de Monteiro et al. (2001), Lima (2004) e Vilhena (2010). Podemos observar que os diversos tipos de tratamento térmicos levam a van- tagens e desvantagens características do método empregado. É importante que se tenha conhecimento a respeito das possibilidades para que se decida pela metodologia mais adequada e compatível com as características do resíduo e a realidade do gerador, atendendo às legislações e normas técnicas relacionadas. 185 A respeito dos tratamentos físico-químicos e químicos, alguns métodos de tratamento químico são aplicados, especificamente, para os resíduos de ser- viços de saúde (RSS), como, por exemplo, a desinfecção com desinfetantes líquidos, em que os mais utilizados são o cloro e os seus compostos, o iodo, o mercúrio, o nitrato de prata, os compostos fenólicos, os álcoois e os compostos de amônia. Todavia, perdem sua eficácia na presença de grandes quantidades de material orgânico, não sendo aplicáveis na desinfeção de peças anatômicas (BIDONE; POVINELLI, 1999). Um exemplo de tratamento físico-químico se trata do processo de estabi- lização/solidificação (E/S) de resíduos sólidos ou encapsulamento. Bidone e Povinelli (1999) explicam que a estabilização induz trocas químicas no constituinte de um resíduo, transformando-o em formas menos solúveis e tóxicas por meio de reações químicas que fixam elementos ou compostos tó- xicos em polímeros impermeáveis ou em cristais estáveis, evitando a lixiviação de compostos perigosos no meio ambiente. Por outro lado, a solidificação produz uma massa sólida monolítica de um resíduo, melhorando a sua inte- gridade estrutural e as suas características físicas, permitindo que o material possa ser facilmente manuseado e transportado. UNIDADE 4 UNIDADE 4 186 Assim, o processo de E/S de resíduos sólidos se trata de uma técnica empre- gada para o tratamento e a disposição destes e consiste em imobilizar o resíduo dentro de uma matriz solidificada, com grande integridade estrutural, que garanta que o resíduo permaneça fixo mecanicamente em sua microestrutura, podendo ou não ocorrer uma interação química (PINTO, 2005). Nesse tipo de tratamen- to, comumente, emprega-se um fixador (aglomerante) como agente solidificante, sendo as principais técnicas baseadas na adição de cimento, cal, asfalto, polímero, cimento-polímero, cinza volante e escória de alto forno granulada, tal como outros materiais pozolânicos, como argila usada no processo de fabricação da cerâmica vermelha, inserção do resíduo em materiais plásticos ou termofixos, entre outros (BIDONE; POVINELLI, 1999; BREHM et al., 2013). Entre os aglomerantes citados, o mais empregado é o cimento, pois as reações químicas são ativadas somente pela água (reações de hidratação), ocorrendo à tempe- ratura ambiente, e o seu endurecimento, que leva à formação de uma microestrutura sólida, ocorre em algumas horas. A capacidade de fixação de uma matriz de cimento e a durabilidade do método de encapsulamento, assim como ocorre no concreto de cimento, depende da quantidade de água empregada, pois ela é um dos determinantes da estrutura de poros dessa matriz (BREHM et al., 2013). Outros fatores que influenciam na fixação podem ser a quantidade de re- síduo a ser adicionado ao cimento/concreto, o tipo de cimento empregado e as condições ambientais ao qual o material solidificado é exposto, entre outros fatores. Por exemplo, a E/S não é recomendável para resíduos com mais de 10 a 20% de constituintes orgânicos, uma vez que eles interferem nos processos físico-químicos importantes para manter agregados os resíduos (BIDONE; POVINELLI, 1999; BREHM et al., 2013). 187 Prezado(a) aluno(a), discutiremos, agora, sobre o tratamento biológico de resí- duos sólidos. Inicialmente, torna-se importante relembrarmos o que discutimos na Unidade 3 acerca dos resíduos orgânicos,os quais representam cerca de 50% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) gerados no Brasil, portanto são resíduos com a particularidade de poder ser tratados por diferentes métodos em qualquer escala, desde a doméstica até a industrial, que incluem a compostagem, a vermi- compostagem e a digestão anaeróbia. No entanto, os municípios brasileiros têm tido, de maneira geral, dificuldades para explorar esse potencial como política pública, visto que os resíduos orgânicos domésticos, por exemplo, em geral, são dispostos em aterros sanitários ou em locais inadequados (BRASIL, 2018). De acordo com a Resolução CONAMA nº 481/2017, a qual estabelece critérios e procedimentos para garantir o controle e a qualidade ambiental do processo de compostagem de resíduos orgânicos, entende-se por compostagem o processo de degradação biológica controlada dos resíduos orgânicos efetuado por uma população diversificada de organismos, em condições aeróbias — com a presença de oxigênio —, resultando em material estabilizado, com proprieda- des e características completamente diferentes daquelas que lhe deram origem (BIDONE; POVINELLI, 1999; CONAMA, 2017). Trata-se de método simples, seguro, que garante um produto uniforme, pronto para ser utilizado nos cultivos de plantas e que pode ser realizado tanto em pequena — doméstica —, média — comunitária, institucional — ou grande escala — municipal, industrial (BRA- SIL, 2018). São diversos os resíduos que podem ser tratados por esse processo, como resíduos orgânicos in natura ou após passarem por algum tratamento. No entanto, resíduos perigosos, lodo de estações de tratamento de efluentes de esta- belecimentos de serviços de saúde, de portos e aeroportos e lodos de estações de tratamento de esgoto sanitário, quando classificado como resíduo perigoso, não podem ser tratados por meio do processo de compostagem (CONAMA, 2017). É um processo no qual se procura reproduzir algumas condições ideais — de temperatura, umidade, oxigênio e de nutrientes, especialmente, carbono e nitro- gênio — para favorecer e acelerar a degradação dos resíduos de forma segura — evitando a atração de vetores de doenças e eliminando patógenos. A criação de tais condições ideais favorece que uma diversidade de microrganismos (bactérias e fungos) atuem, sucessiva ou simultaneamente, na degradação acelerada dos resí- duos, tendo como resultado final um material de cor e textura homogêneas, com características de solo e húmus, denominado composto orgânico (BRASIL, 2018). UNIDADE 4 UNIDADE 4 188 Em média e grande escalas, é, normalmente, realizada em pátios em que os resíduos são dispostos em montes de forma cônica, conhecidos como pi- lhas de compostagem, ou em monte de forma prismática com seção similar à triangular, denominados leiras de compostagem. Deve ser realizada nas faixas mesófilas (ou mesofílicas), de temperatura entre 45 e 55 °C, e termófilas (ou termofílicas), acima de 55 °C, sendo que temperaturas acima de 65 °C são desaconselháveis, uma vez que, se mantidas por longos períodos, eliminam os microrganismos bioestabilizadores responsáveis pela transformação do material bruto em húmus. O aquecimento das pilhas/leiras de compostagem ocorre naturalmente, pois o metabolismo dos microrganismos é exotérmico, assim o controle da faixa ideal de temperatura é realizado por meio do re- volvimento do material em processamento ou de sua irrigação ou de ambos (BIDONE; POVINELLI, 1999). Logo, o processo de compostagem pode ser classificado quanto ao processamento em (KIEHL, 1979 apud LIMA, 2004): ■ Estático ou natural: no qual se consegue a aeração necessária para o processo por revolvimentos periódicos, com auxílio de equipamento apropriado — manual com o uso de pás, por exemplo, ou mecânico, utilizando máquinas agrícolas, como trator com pá carregadeira ou, até mesmo, revolvedor de leiras, entre outros —, ou seja, as pilhas/leiras devem ser revolvidas para mistura dos materiais, homogeneização de temperatura e aeração. ■ Dinâmico ou acelerado: a aeração é contínua, controlada por sopra- dores, por tubulações perfuradas e outros. Destaca-se, ainda, no processo de compostagem estático ou natural, as leiras estáticas aeradas, sendo um dos tipos mais difundidos no Brasil (BIDONE; POVINELLI, 1999), tal como as leiras estáticas com aeração passiva, que não exigem revolvimentos ou tombamentos durante sua operação, e a aeração se dá por convecção natural, em que o ar quente escapa pelo topo da leira, e o ar frio é sugado pela base permeável da leira. Esse método se difere de outros pela ausência de equipamentos para a aeração forçada ou de revolvimentos do material para aeração da leira (BRASIL, 2018). Para entender o que acontece em uma leira termofílica de compostagem, pode-se dividir o processo de compostagem em: fase ativa e fase de matura- ção. Cada fase dura um determinado tempo, durante o qual há o predomínio de 189 diferentes microrganismos, em diferentes temperaturas e processos químicos específicos, conforme descrito a seguir (BRASIL, 2018). A fase ativa compreende as fases inicial, termofílica, até quase o final da mesofílica e apresenta uma duração média de 90 dias. Também chamada de fase de degradação, caracteriza-se pelas reações bioquímicas de oxirredu- ção e pela rápida decomposição dos polissacarídeos e das proteínas, que se transformam em açúcares simples e aminoácidos. Nessa fase, ocorre a maior redução do volume e peso da leira de compostagem pela liberação de calor, gás carbônico (CO2) e água. A fase inicial pode durar de 15 a 72 horas e se caracteriza pela liberação de calor e elevação rápida da temperatura até atingir 45 °C. Isso acontece pela expansão das colônias de microrganismos mesófilos e intensificação da ação de decomposição. A fase termofílica se inicia no momento em que a tem- peratura se eleva acima de 45°C, predominando a faixa de 50 a 65°C, quando se dá a plena ação de microrganismos termófilos, com intensa decomposição de material e liberação de calor e de vapor d’água. A aeração se intensifica, pois o ar quente — mais leve — se eleva, favorecendo a entrada de ar mais frio por baixo da leira — processo de convecção. Na fase mesofílica, acontece a diminuição da temperatura pela redução da atividade dos microrganismos, degradação de substâncias orgânicas mais resistentes e perda de umidade. Enquanto a fase termofílica é dominada por bactérias. Desta fase em diante, os fungos actinomicetos têm papel igualmente relevante. Na fase de maturação, ocorre a formação de húmus, quando a atividade dos microrganismos diminui, e o composto perde a capacidade de auto aque- cimento. A partir dessa fase, a decomposição se processa muito lentamente e prosseguirá até a aplicação do composto no solo, liberando nutrientes. Por- tanto, é nessa fase que ocorre a humificação da matéria orgânica — formação de húmus — e a decomposição dos ácidos orgânicos e de partículas maiores e mais resistentes, como celulose e lignina. Caracteriza-se pela neutralização do pH, pela redução da relação carbono/nitrogênio e pelo aumento da capaci- dade de troca catiônica (CTC), que indica a capacidade do solo ou composto orgânico de disponibilizar cátions para as plantas. Por fim, o composto ob- tido a partir da compostagem se trata de um produto estabilizado, podendo ser caracterizado como fertilizante orgânico, condicionador de solo e outros produtos de uso agrícola (CONAMA, 2017). UNIDADE 4 UNIDADE 4 190 A vermicompostagem é um tipo de compostagem em que se utilizam as mi- nhocas para digerir a matéria orgânica. As minhocas são vermes, assim, do termo em inglês vermicomposting, esse processo foi denominado vermicompostagem (BIDONE; POVINELLI, 1999). O resíduo orgânico que serve como alimento para minhocas, ao passar por seu trato digestivo, sofre transformações que favorecem a formação de matéria orgânica estabilizada, ou seja, de adubo orgânico conhecido como húmus de minhoca ou vermicomposto (AQUINO, 2009). Trata-sede um processo que ocorre em dois estágios: primeiro, a matéria orgânica é compostada por meio da contagem convencional, com redução de microrganismos patogênicos e retorno à condição de temperatura. Após a estabilização da temperatura, faz-se, então, a inoculação com as minhocas. As minhocas só podem ser introduzidas no material a ser vermicompostado quando a temperatura estiver entre 20 e 28 °C ou, ainda, atingir cerca de 30 °C — mor- na ao tato. Dessa forma, torna-se necessário preparar os resíduos antes de colocar as minhocas, pois, devido à alta temperatura, elas podem fugir ou morrer. Logo, além da temperatura, as condições ótimas para a vermicompostagem são estabelecidas ao se considerar diversos fatores: umidade, aeração — que estabelece o nível de oxigenação —, relação carbono/nitrogênio — concentração de nutrientes —, pH e tamanho das partículas (BIDONE; POVINELLI, 1999; LIMA, 2004; AQUINO, 2009). 191 Esse processo, geralmente, é feito em local fechado e coberto. Assim, o pro- cesso ocorre em canteiros, os quais facilitam em termos de organização, mas, a depender do objetivo da vermicompostagem, podem ser dispensados, e os resí- duos, colocados diretamente no solo, pois, se as condições de alimento (resíduos) e a umidade estiverem boas, as minhocas não fugirão. NOVAS DESCOBERTAS Obtenha maiores informações sobre a compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração passiva, sobre os tipos de canteiros e, também, sobre a vermicompos- tagem ao acessar os QR Codes: Compostagem termofílica Vermicompostagem As espécies mais adaptadas à e mais utilizadas para a vermicompostagem são as epigeicas, como as espécies Eisenia foetida, Eisenia andrei e Eudrilus eugeniae, por se alimentarem de resíduos orgânicos semicrus, terem alta capacidade de prolifera- ção e crescimento muito rápido. As duas primeiras espécies são conhecidas como vermelha-da-Califórnia e noturna africana (AQUINO, 2009). O tempo para que o vermicomposto fique pronto varia conforme a composição original dos resíduos, mas, em geral, os períodos de vermicompostagem são de 60 a 90 dias. Assim como o composto orgânico obtido na compostagem, o principal uso do vermicomposto é na agricultura, como corretivo e fertilizante de solos, podendo ser utilizado em qualquer tipo de cultura (BIDONE; POVINELLI, 1999; AQUINO, 2009). O uso de minhocários para tratar resíduos orgânicos é muito adotado em apartamentos ou outros locais com restrição de espaço pela sua praticidade e tamanho. Eles possuem algu- mas restrições quanto aos resíduos que, em grandes quantidades, podem ser prejudiciais às minhocas, como restos de carnes, cítricos, alimentos cozidos ou com alto teor de sal. Fonte: adaptado de Brasil (2018). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 4 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14836 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14837 UNIDADE 4 192 Por fim, alguns resíduos podem ser utilizados para obtenção de energia térmica, elétrica e, até mesmo, veicular por meio do aproveitamento energético, o qual pode ser direto ou indireto (CALIJURI; CUNHA, 2013): ■ Aproveitamento direto: os resíduos são usados diretamente como fonte de energia, podendo passar, antes, por alguns processos simples de tratamento, como secagem para remoção da umidade, compactação, moagem ou trituração, podendo ocorrer em separado ou conjuntamente. São exemplos: a queima de resíduos de madeira (cavaco) em caldeira, em termelétricas, briquetagem e a peletização, entre outros. ■ Aproveitamento indireto: os resíduos são convertidos por via química ou biológica em outros materiais, os quais são empregados como fonte de energia. São exemplos: os tratamentos térmicos de alta temperatura, como discutimos anteriormente, e a digestão anaeróbia. Nesse contexto, a necessidade de aproveitamento energético de resíduos tem dado especial destaque à aplicação na produção de biocombustíveis sólidos. Assim, as tec- nologias de briquetagem e de peletização são capazes de transformar a biomassa residual na sua forma moída em blocos compactos com diversas dimensões. O briquete e o pélete (ou pellet) (Figura 2), produtos da briquetagem e peletização, respectivamente, podem ser utilizados, normalmente, para gerar energia térmica, como queima em fornos, caldeiras, lareiras e fogões (EMBRAPA, 2012). 193 Descrição da Imagem: a imagem ilustra, do lado esquerdo, os briquetes, blocos compactos de biomassa residual em formato cilíndrico de diversos tamanhos, quanto ao diâmetro e ao comprimento, e, do lado direito, blocos menores representando os péletes. Figura 2 - Briquetes à esquerda e péletes à direita A energia da biomassa é considerada uma fonte de energia renovável, fazendo parte da matriz energética brasileira e mundial. Logo, considera-se biomassa toda matéria orgânica, de origem animal ou vegetal, pré-existente na natureza ou gerada como consequência de uma ação antrópica, que não se encontra em estado fossilizado. As principais fontes de biomassa utilizadas atualmente são bagaço da cana-de-açúcar, lenha, carvão vegetal, óleos vegetais e, ainda, resíduos agrossilvopastoris, principalmente, agrícolas, com os resíduos de culturas, resíduos sólidos urbanos, como de poda de gramas e árvores, entre outros. Fonte: adaptado de EPE ([2022]) e Mauad, Ferreira e Trindade (2017). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 4 UNIDADE 4 194 Os briquetes e péletes se diferenciam apenas por características como densida- de, diâmetro e comprimento. Podem ser produzidos a partir de todo o tipo de biomassa, como biomassa de origem florestal, nas formas de serragem ou pe- quenos cavacos originários de florestas plantadas, que é a mais largamente usada no Brasil e no mundo; resíduos agrossilvopastoris, industriais e urbanos — como as podas de árvores —; resíduos da produção de grãos como soja, milho, algodão; da indústria de beneficiamento de arroz; bagaço de cana-de-açúcar; entre outros (EMBRAPA, 2012). Ainda, um resíduo que pode ser transformado por meio de secagem térmica em péletes é o lodo de estações de tratamento de efluentes, podendo ser utilizado em caldeiras, aquecedores industriais, fornos de cimentos e outros, sendo que a concentração de sólidos dos péletes varia de 65 a 95% e umidade de 5 a 35% (ANDREOLI; SPERLING; FERNANDES, 2014). A digestão anaeróbia é uma tecnologia de tratamento aplicada a uma ampla variedade de substratos orgânicos. Trata-se de um processo em que diversos grupos de microrganismos que requerem condições específicas e, na ausência de oxigênio, trabalham interativamente na conversão da matéria orgânica complexa em biogás, água e novas células bacterianas (CHERNI- CHARO, 2016; KHALID et al., 2011; RAPOSO et al., 2011). Esses substratos são, em sua maioria, resíduos provenientes de processos pro- dutivos, tais como dejetos da produção de animais, resíduos sólidos das indústrias e da agricultura, fração orgânica de resíduos sólidos urbanos, entre outros. De- pendendo do contexto local e da legislação pertinente, podem, ainda, ser aprovei- tadas as culturas energéticas, que são espécies vegetais cultivadas especificamente para a geração de energia (EDWIGES; MULLER; MARTINEZ, 2020). 195 O termo substrato se refere a toda fonte de matéria orgânica aproveitada no processo de digestão anaeróbia. A principal fonte de substratos são os resíduos orgânicos. Nem todo substrato, porém, é um resíduo, como é o caso das culturas energéticas ou biomassa de- dicada, ou seja, plantas produzidas unicamente para a geração de energia. Fonte: adaptado de Edwiges, Muller e Martinez (2020). EXPLORANDO IDEIAS O biogás, principal produto da digestão anaeróbia, é definido como o “gás bruto obtido da decomposição biológica de resíduos orgânicos” (ANP, 2015, on-line). Ele é composto, principalmente, por metano (CH4) — 55 a 70% em volume — e dióxido de carbono (CO2) — 25 a 50% —; outros componentes em menor proporção como água (H2O) — 1 a 5% —, nitrogênio (N2) — 0 a 5% —, oxigênio (O2) — 1 a 5% —; e traços de outrosgases, como sulfeto de hidrogênio (H2S) — 0 a 0,5 ppm (parte por milhão) —, amônia (NH3) — 0 a 0,05% — e hidrogênio (H2) — menor do que 1% (DEUBLEIN; STEINHAU- SER, 2008; FRIEHE; WEILAND; SCHATTAUER, 2010). Assim, devido à presença majoritária de metano (CH4) em sua composi- ção, o biogás se caracteriza como um gás energético, configurando-se como um biocombustível com grande potencial de ampliar a participação das ener- gias renováveis na matriz energética brasileira. Destacamos que a composição do biogás é influenciada, principalmente, pelos substratos utilizados, pelas técnicas e tecnologias utilizadas no processo de digestão anaeróbia. Além do biogás, um subproduto líquido também é gerado durante a digestão anaeróbia, ou seja, o material digerido, denominado digestato, o qual contém uma série de nutrientes que estavam presentes nos substratos, como, por exemplo, nitrogênio, fósforo, potássio e uma série de outros mi- nerais que, a depender das suas condições — concentração dos nutrientes, temperatura e ausência de organismos patogênicos — podem ser aprovei- tados como biofertilizante na agricultura (EDWIGES; MULLER; MAR- TINEZ, 2020) ou, até mesmo, como combustível sólido para a geração de calor (FEAM, 2015). UNIDADE 4 UNIDADE 4 196 Entende-se que todo biofertilizante pode ser considerado um digestato, porém nem todo digestato pode ser considerado um biofertilizante. As le- gislações auxiliam na caracterização e no enquadramento do digestato como um insumo com propriedades fertilizantes, por exemplo, no Brasil, podemos citar o Decreto nº 4.954/2004 (BRASIL, 2004) e a Instrução Normativa nº 27/2006 da Secretaria de Defesa Agropecuária (BRASIL, 2006). Portanto, o digestato se refere a todo material orgânico, residual ou não, submetido à diges- tão anaeróbia, com o intuito de tratar, estabilizar ou aproveitar os subprodutos resultantes desse bioprocesso. Já o biofertilizante é considerado um digestato com características fertilizantes de interesse agronômico. Pode ser aplicado em cultivos agrícolas, uma vez que apresente concentrações convenientes de macro e micronutrientes, elementos-traço, metais e microrganismos que atuem em harmonia com os organismos já existentes no solo, bem como com a cultura vegetal (EDWIGES; MULLER; MARTINEZ, 2020; BRASIL, 2015). A digestão anaeróbia ocorre em quatro fases, em que microrganismos distintos participam do processo em cada fase e requerem condições es- pecíficas, compreendendo a hidrólise, a acidogênese, a acetogênese e a metanogênese. No entanto, na presença de sulfato, pode-se incluir a fase de redução de sulfato e de formação de sulfetos, denominada sulfetogênese. A Figura 3 apresenta as fases da digestão anaeróbia, ilustrando a degradação da matéria orgânica para a produção de biogás, incluindo as possibilidades de aproveitamento energético do biogás e biometano, tal como o aproveita- mento do digestato. Podemos observar que, para que a digestão anaeróbia ocorra de forma ade- quada, as reações bioquímicas são conduzidas em ambientes hermeticamente fe- chados, denominados reatores anaeróbios, biorreatores ou biodigestores. Es- ses compartimentos auxiliam no controle e monitoramento de algumas variáveis e se tornam fundamentais, influenciando diretamente o processo. Ressaltamos que é possível misturar mais de um substrato e/ou resíduos para alimentar um biodigestor. Esse procedimento de mistura é denominado codigestão anaeróbia. Quando possível, sugere-se a utilização de estratégias com o intuito de otimizar o processo, tais como realizar a mescla de substratos a fim de suprir com nutrien- tes ou balancear a concentração de algum componente no meio reacional que possa implicar em distúrbios no sistema ou em problemas operacionais futuros (EDWIGES; MULLER; MARTINEZ, 2020). 197 Para que o biogás seja produzido dentro dos biorreatores, diversos microrganismos envolvidos no processo de digestão anaeróbia degradam os substratos (resíduos só- lidos) a partir de uma sequência metabólica, a qual ocorre de forma simultânea dentro do biorreator. Assim, na primeira fase, a hidrólise, os componentes quími- cos mais complexos (polímeros) presentes nos substratos são degradados em meio aquoso e convertidos em moléculas menores — monômeros, com poucos átomos de carbono em suas moléculas. Essa conversão ocorre por meio de enzimas excretadas pelas bactérias hidrolíticas, ocorrendo fora das células dos microrganismos. O tempo de duração da etapa de hidrólise varia de acordo com as características do substrato, Descrição da Imagem: a figura ilustra um fluxograma com blocos ligados sequencialmente por meio de setas para mostrar o processo de digestão anaeróbia. Inicialmente, o bloco “resíduos sólidos (substratos)” é ligado por uma seta no sentido da direita para a esquerda a um “reator anaeróbio”, local em que ocorre o processo de digestão anaeróbia, ilustrando a entrada do substrato no reator. Ligados e abaixo deste reator, encontram-se cinco blocos ligados sequencialmente por setas ilustrando as fases da digestão anaeróbia, a qual compreende a hidrólise, a acidogênese, a acetogênese, a metanogênese e a sulfetogênese. Os produ- tos da digestão anaeróbia que saem do reator ligados por setas no sentido da direita para a esquerda são “biogás (fração gasosa)” e “digestato (fração sólida e líquida)”. O bloco “biogás” se liga por setas, no sentido da direita para esquerda, em energia elétrica, ilustrada por uma chama, e em “energia elétrica”, ilustrada por uma lâmpada. No sentido de cima para baixo, o bloco “biogás” se liga por uma seta ao bloco “biometano (purificação)”, o qual representa o produto da purificação do biogás, o biometano, por sua vez, liga-se por setas no sentido da direita para a esquerda em “energia térmica”, “energia elétrica” e “energia veicular”, representada por uma bomba de combustível. O bloco “digestato” se liga por setas no sentido da direita para a esquerda ao composto orgânico, ilustrado por um saco para acondicionamento do produto com o desenho de uma folha ao centro, e ao “biofertilizante”, ilustrado por um recipiente como uma garrafa na cor amarela e uma folha ao lado, imagens que remetem à sua futura aplicação na agricultura. Figura 3 - Esquema simplificado do processo de digestão anaeróbia Fonte: adaptada de Edwiges, Muller e Martinez (2020). UNIDADE 4 UNIDADE 4 198 sendo de poucas horas para carboidratos e alguns dias para proteínas e lipídios. No entanto, substratos lignocelulósicos — formados, principalmente, por celulose, he- micelulose e lignina — são hidrolisados mais lentamente, muitas vezes, de maneira incompleta (CHERNICHARO, 2016; DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008). Na acidogênese, os monômeros formados na hidrólise são metabolizados no interior das células das bactérias fermentativas acidogênicas, sendo convertidos em ácidos orgânicos de cadeia curta, ou seja, ácidos graxos voláteis como ácidos acético, propiônico e butírico, bem como sulfeto de hidrogênio, hidrogênio, amônia e dióxido de carbono, além de novas células bacterianas (CHERNICHARO, 2016; DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008; KUNZ; STEINMETZ; AMARAL, 2019). Na acetogênese, as bactérias acetogênicas são responsáveis pela oxidação dos produtos gerados na acidogênese em substrato apropriado para as bactérias meta- nogênicas, que compreende hidrogênio, dióxido de carbono e acetato. Na metanogênese, as bactérias arqueas metanogênicas são divididas de acordo com suas vias metabólicas em acetoclásticas e hidrogenotróficas. As bactérias meta- nogênicas acetoclásticas — por exemplo, as do gênero Methanosarcina — convertem acetato em metano, e as metanogênicas hidrogênotróficas — por exemplo, as do gênero Methanobacterium e Methanospirillum — convertem hidrogênio e dióxido de carbono em metano (CHERNICHARO, 2016). Na fase final, na sulfetogênese, o sulfato, sulfito e outros compostos sulfurados são reduzidos a sulfeto, gerando sulfeto de hidrogênio por meio da ação das bacté- rias redutoras de sulfatoou bactérias sulforedutoras. Assim, a capacidade de utilizar acetato e hidrogênio transforma as bactérias sulforedutoras em agentes competidores por substratos comuns aos das metanogênicas. Podemos destacar que a concentração de sulfato no meio define o processo predominante na utilização do acetato e hidro- gênio. Portanto, essa fase pode ocorrer de forma significativa ou não dependendo da quantidade de sulfato no meio, ou, ainda, na ausência de sulfato, o processo de digestão anaeróbia ocorre sem a sulfetogênese (CHERNICHARO, 2016). Os principais fatores que afetam a digestão anaeróbia, ou seja, os requisitos am- bientais necessários são temperatura, pH, alcalinidade, ácidos orgânicos voláteis, umidade, nutrientes, relação carbono/nitrogênio (C/N), materiais tóxicos — sais e metais pesados —, natureza do inóculo — biomassa ativa de bactérias anaeróbias — e substrato, relação substrato/inóculo (S/I), configuração do reator, carga orgânica apli- cada e tempo de detenção hidráulica (TDH) (CHERNICHARO, 2016; DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008; KHALID et al., 2011). 199 NOVAS DESCOBERTAS A Coletânea de Publicações do Projeto Brasil-Alemanha de Fomento ao Aproveitamen- to Energético de Biogás no Brasil (PROBIOGÁS) é composta por cadernos técnicos que tratam do biogás como tema central. Para acompanhar o aproveitamento do biogás no território brasileiro, criou-se o Biogasmap, uma ferramenta on-line e interativa, alimen- tada de forma colaborativa por múltiplas instituições, que permite identificar, por Esta- do e tipo de substrato, as diferentes aplicações do biogás. Amplie o seu conhecimento ao acessar os QR Codes. PROBIOGÁS Biogasmap Existem distintas tecnologias disponíveis comercialmente para o processa- mento de resíduos sólidos, visando ao tratamento e à produção de biogás. Assim, os reatores anaeróbios são caracterizados pelo regime de alimentação — batelada ou contínua —, forma de alimentação — ascendente ou laminar —, concentração de sólidos no reator — digestão sólida maior do que 20%, semissólida igual a 10 a 15%, e úmida menor do que 10%, em termos de sólidos totais (ST) — e sistema de agitação — mistura completa, parcial ou sem mistura (KUNZ; STEINMETZ; AMARAL, 2019). Assim, especificamente para resíduos sólidos, as tecnologias usuais se diferenciam em reatores de digestão anaeróbia seca (ST > 20%) e úmida (ST < 15%), em que se empre- gam, usualmente, três processos: a digestão anaeróbia seca descontínua, a seca contínua e a úmida (BRASIL, 2015): ■ Digestão anaeróbia seca descontínua (batelada): ocorre em reatores do tipo garagem, sendo estanques e conectadas a um reservatório de bio- gás e contam com aspersão do percolado sobre o substrato. Por ser um processo descontínuo, com menor mistura do substrato e necessidade de abertura do contêiner após o ciclo da digestão, o processo apresenta uma menor eficiência na geração de biogás, obtendo-se um volume de biogás de 20 a 30% menor do que no processo contínuo. UNIDADE 4 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14838 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14839 UNIDADE 4 200 ■ Digestão anaeróbia seca contínua: processo em que a digestão não é interrompida, ou seja, os substratos são inseridos no reator ao mesmo tempo em que se retira o material digerido, resultando em um sistema com vazão e produção de biogás constantes, tendo como digestores mais comuns os que funcionam por pistão ou por fluxo horizontal. ■ Digestão anaeróbia úmida com CSTR: o reator contínuo de mistura completa, do inglês Continuous Stirred Tank Reactor (CSTR), é a confi- guração de reator mais utilizada em plantas de biogás, sobretudo quando se trata de codigestão — mistura de dois ou mais substratos — e com concentração de sólido mais elevada, sendo caracterizada por ter seu conteúdo em homogeneização devido à presença de sistema de agitação e apresenta sistema de aquecimento. NOVAS DESCOBERTAS Acesse este QR Code e obtenha maiores informações sobre esses ti- pos de biorreatores, suas principais vantagens e desvantagens. Em relação ao uso do biogás, este pode ser convertido em diferentes formas de energia, sendo que as aplicações energéticas mais difundidas são a utiliza- ção como combustível em caldeiras, fornos e estufas em substituição a outros combustíveis para produção de energia térmica — aquecer, secar, resfriar —; produção de energia elétrica; cogeração de eletricidade e calor — motor à combustão acoplado a um gerador elétrico, conhecido como Combined Heat and Power (CHP) —; e o uso como combustível alternativo na linha de gás ou em veículos (FEAM, 2015; BRASIL, 2015). No entanto, a depender das características do biogás e das exigências tecnológicas de aproveitamen- to energético, assim como da remoção de elementos que podem prejudicar os equipamentos, são determinados os tipos de tratamento necessários e as combinações entre eles (FEAM, 2015; BRASIL, 2015). O biometano, por sua vez, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), é definido como o “biocombustível gasoso constituído essencialmente de metano, derivado da purificação do biogás” (ANP, https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14840 201 2015, on-line). Assim, a Resolução da ANP nº 8/2015, a qual se aplica ao biome- tano oriundo de produtos e resíduos orgânicos agrossilvopastoris e comerciais destinado ao uso veicular e às instalações residenciais e comerciais, estabelece as especificações dele, incluindo o teor de CH4, no mínimo, de 90% mol (ANP, 2015). Portanto, devido a essa flexibilidade, o biogás pode se tornar um agente muito importante na ampliação da geração de energia elétrica distribuída no país, com base em fontes limpas e renováveis (FEAM, 2015). Um eBiogás e biometano Convidamos você para uma breve discussão sobre o biogás e o biometano e a importância quanto ao uso desses gas- es como fonte de energia renovável. Nos processos biológicos de tratamento, como no caso da digestão anaeróbia, e nas estações de tratamento de efluentes, como discutimos na Unidade 2, parte da matéria orgânica é absorvida e convertida, fazendo parte da biomassa micro- biana, denominada lodo biológico (ANDREOLLI; SPERLING; FERNANDES, 2014). Assim, para finalizarmos esse tópico de discussão, torna-se importante citarmos o tratamento do lodo e o seu uso benéfico como biossólido. A Resolução CONAMA nº 498/2020, a qual define critérios e procedi- mentos para produção e aplicação de lodo em solos, define este como biossó- lido, sendo o produto do tratamento do lodo de esgoto sanitário que atende aos critérios microbiológicos e químicos, estando apto a ser aplicado em solos (CONAMA, 2020b). NOVAS DESCOBERTAS Por meio do acesso a este QR Code, você pode conhecer, na prática, o uso benéfico do biossólido. UNIDADE 4 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11110 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14841 UNIDADE 4 202 Portanto, para que esse termo possa ser adotado, é necessário, ainda, que suas características químicas e biológicas sejam compatíveis com uma utilização pro- dutiva, como na agricultura. Assim, o termo biossólido é uma forma de ressaltar os seus aspectos benéficos, valorizando a utilização produtiva em comparação com a disposição final improdutiva em aterros, disposição superficial no solo ou incineração (ANDREOLLI; SPERLING; FERNANDES, 2014). Nesse contexto, deixamos mais uma sugestão de leitura que lhe ajudará a compreender melhor os processos de estabilização, remoção de umidade, hi- gienização — incluindo a compostagem, a caleação ou estabilização alcalina, entre outras — e disposição do lodo no solo, bem como os principais tipos de transformação e descarte do lodo, incluindo secagem térmica, oxidação úmida, incineração e disposição em aterro sanitário. NOVAS DESCOBERTAS Título: Lodo de Esgotos: tratamento e disposição final Autores: Cleverson V. Andreoli, Marcos von Sperling e Fernando Fernandes Editora: UFMG Sinopse: apresenta, de forma integrada, todasas etapas de geren- ciamento do lodo gerado nas estações de tratamento de esgotos. São apresentados conceitos, dados e informações relativos à teoria e à prática, cobrindo projetos e operações, além de diversos exemplos de aplicação. Os principais assuntos abordados são: caracterização do lodo; tratamento do lodo: estabilização, remoção de umidade e higienização; disposição final do lodo: ava- liação de alternativas, disposição no solo, transformação e descarte; impactos ambientais e monitoramento. 203 Prezado(a) aluno(a), discutiremos, agora, a disposição final de resíduos sólidos. Como vimos no início desta unidade, a disposição final é uma das alternativas de destinação final ambientalmente adequada prevista na PNRS, sendo que, no Brasil, a maior parte dos resíduos sólidos urbanos (RSU) co- letados seguem para a disposição em aterros sanitários. Por outro lado, áreas de disposição inadequada, incluindo lixões e aterros controlados, ainda estão em operação (ABRELPE, 2022). Quando a PNRS foi promulgada em 2010, em seu artigo 54, estabeleceu- -se que a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos deveria ser implantada em até quatro anos após a data de sua publicação, portanto, até o ano de 2014, mas isso não ocorreu em sua totalidade, de forma que nem todos os municípios se adequaram a essa obrigatoriedade. Assim, alterada, em 2020, pela Lei nº 14.026/2020, que atualizou o marco legal do saneamento básico (BRASIL, 2020), o prazo quanto à disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos na PNRS foi prorrogado. Diante desse contexto, torna-se importante o entendimento dos métodos de disposição final, tratando-se da disposição de rejeitos no solo. De acordo com Lima (2004), os aterros podem ser classificados conforme a técnica de operação ou pela forma de disposição, portanto, segundo a forma de disposi- ção final, podem ser aterro comum, aterro controlado e aterro sanitário. O aterro comum, também denominado lixão, vazadouro ou lançamen- to a céu aberto, trata-se do local em que ocorre o lançamento ou descarga de resíduos a céu aberto, é uma forma inadequada de disposição final de re- síduos sólidos urbanos (RSU), em que estes são simplesmente descarregados sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública (BIDONE; POVINELLI, 1999; LIMA, 2004; VILHENA, 2010). Assim, essa forma de disposição acarreta problemas à saúde pública e ao meio ambiente, devido à proliferação de vetores — como moscas, mosquitos, baratas, ratos etc. —; à geração de maus odores; e à poluição do solo, das águas superficiais e subterrâneas pelo lixiviado — efluente líquido produzido pela decomposição da matéria orgânica presente nos resíduos sólidos com a água da chuva, que percola o aterro —; à depreciação da paisagem; e não possibilita o controle dos resíduos recebidos (BIDONE; POVINELLI, 1999; VILHENA, 2010). UNIDADE 4 UNIDADE 4 204 O aterro controlado também é uma forma de disposição final de RSU no solo, em que precauções tecnológicas são adotadas durante o desenvolvimento do aterro, como o recobrimento dos resíduos com material inerte, comumente, solo ou argila, na maioria das vezes, sem compactação, na conclusão de cada jornada de trabalho. No entanto, essa forma de disposição não resolve os problemas de poluição gerados, pois, assim como o lixão, não é dotado de mecanismos para controle da poluição (BIDONE; POVINELLI, 1999; LIMA, 2004; VILHENA, 2010). Dentre os métodos de disposição final apresentados: qual seria o melhor mé- todo? O aterro controlado é preferível ao lixão? A resposta é: nenhum dos dois métodos, pois ambos são locais de disposição final inadequada de resíduos sólidos devido à ausência de sistemas de controle dos poluentes gerados, acarre- tando poluição das águas, do solo e do ar, tal como riscos à saúde pública. Nesse contexto, os aterros sanitários são projetados e implantados para disposição final ambientalmente adequada de RSU. A Resolução CONAMA e as normas ABNT aplicáveis aos aterros são: ■ Resolução CONAMA nº 404/2008: estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resí- duos sólidos urbanos (CONAMA, 2008). ■ ABNT NBR 8419:1992: apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos: procedimento (ABNT, 1992). ■ ABNT NBR 15849:2010: resíduos sólidos urbanos: aterros sanitários de pequeno porte: diretrizes para localização, projeto, implantação, operação e encerramento (ABNT, 2010). A norma ABNT NBR 8419:1992, a qual estabelece as condições mínimas exigí- veis para a apresentação de projetos de aterros sanitários de RSU, define aterro sanitário como a: “ técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem cau-sar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os im-pactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos me- nores, se necessário (ABNT, 1992, p. 1). 205 Portanto, os aterros sanitários são a única forma de disposição final de rejeitos admi- tida pela legislação brasileira e por normas técnicas da ABNT, compreendendo um local selecionado de acordo com critérios ambientais e equipado com dispositivos de controle de poluentes. Os princípios de Engenharia mencionados se materializam no projeto de sis- temas de drenagem periférica e superficial para afastamento de águas de chuva; de drenagem de fundo para coleta e tratamento do lixiviado; de drenagem, queima ou uso do biogás gerado; e de sistema de impermeabilização do solo (ABNT, 1992; BIDONE; POVINELLI, 1999). NOVAS DESCOBERTAS Entenda melhor os sistemas de controle aplicados em aterros sanitários. Ainda, de acordo com a ABNT NBR 8419:1992, deve ser apresentado um plano que indique como e quando o aterro sanitário será dado como encerrado, assim como os cuidados que serão mantidos após o encerramento das atividades, tais como mo- nitoramento e controle da poluição, tal como uso futuro da área do aterro sanitário (ABNT, 1992). Nesse contexto, para Bidone e Povinelli (1999), em relação à utilização e reutilização das áreas ocupadas pelos aterros, estas podem ser transformadas em jardins, parques, praças esportivas e áreas de lazer. No entanto, caso haja intenção de construção de edificações, precauções devem ser tomadas, pois o aterro sofre recalques diferenciais devido à compressão das camadas superiores e da decompo- sição dos resíduos. Para efeito de cálculo de fundação, a tendência é admitir que os resíduos compactados tenham a mesma taxa de suporte da turfa — material fóssil, organomineral, originado a partir da decomposição de restos vegetais. Ainda, deve-se considerar a drenagem dos gases; dado o poder combustível e explosivo do metano, recomenda-se esperar, pelo menos, cinco anos para a execução de obras. UNIDADE 4 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14842 UNIDADE 4 206 É muito importante destacarmos que, a partir do momento que os resíduos só- lidos são enterrados, independentemente de sua composição, as populações de microrganismos neles presentes começam, em condições ambientais favoráveis, a se multiplicar no ambiente do aterro, fazendo com que ele passe a atuar como um reator biológico, em que as principais entradas são os resíduos e a água, e as principais saídas são os gases e o chorume (BIDONE; POVINELLI, 1999). As- sim, os aterros sanitários têm como subprodutos: gases, como metano, dióxido de carbono e nitrogênio amoniacal, na forma de amônia livre ou gasosa (NH3) e íon amônio (NH4 +); líquidos, lixiviado com elevada concentração de matéria orgânica, decorrente da transformação de parte da matéria orgânica sólida em matéria orgânica “diluída” e elevada concentração de nitrogênio amoniacal, de- corrente da presença do NH4 +; e matéria sólida remanescente, sob a forma desubstâncias húmicas, refratárias ao processo de digestão anaeróbia. Os processos de degradação dos resíduos levam muitos anos para ser con- cluídos e variam em função de diversos fatores, como densidade e composição do resíduo, níveis de umidade, idade do aterro, entre outros. A decomposição da matéria orgânica passa a ocorrer, então, por dois processos, sendo o primeiro de decomposição aeróbia, que ocorre, normalmente, no início da degradação quando os resíduos são enterrados, e o segundo de decomposição anaeróbia, que passa a ocorrer devido à redução do O2 presente no ambiente. Assim, o processo de estabilização da matéria orgânica pode ser dividido em cinco fases, separadas de acordo com a concentração de O2, CO2, CH4, H2 e N2, como pode ser observado na Figura 4. 207 Logo, as fases de degradação de RSU e a produção de biogás em aterros sani- tários é resultado da digestão anaeróbia, conforme discutimos anteriormente, com exceção da Fase I, compreendendo a hidrólise em condição aeróbia, sendo muito rápida, com duração de dias ou semanas. Assim, destacamos que o início do processo de digestão em aterros se dá em um ambiente aeróbio, ou seja, na presença de oxigênio, em que pouco metano é produzido. Após pouco menos de um ano, as condições anaeróbias são estabelecidas e o processo de digestão continua (EPA, 2021). Descrição da Imagem: a figura ilustra um gráfico em que o eixo x compreende as fases de degradação de RSU e a produção de biogás, incluindo as fases I, II, III, IV e V, e o eixo y, a composição do gás em % de volume, sendo que cada gás é representado por uma linha, incluindo oxigênio, dióxido de carbono, metano e hidrogênio. Na fase I, o oxigênio está em 20%, e o nitrogênio, em 80%; na fase II, ocorre a diminuição desses gases, e eles voltam a ser formados, mas em baixo percentual na fase V. O hidrogênio aparece na fase II e tem seu pico em 20% entre a fase II e III, mas cai na fase III. O dióxido de carbono começa a ser formado na fase I e tem seu pico em 90% na fase III, mas começa a diminuir na fase IV, mantendo-se em torno de 50% na fase IV e V. Por fim, o metano começa a ser formado na fase III, mantém-se entre 50 e 60% na fase IV e começa a diminuir na fase V. Figura 4 - Processo de formação do gás de aterros sanitários Fonte: adaptada de Tchobanoglous e Kreith (2002). Você sabe quanto é a capacidade de um aterro para produzir biogás? Segundo Barlaz, Schaefer e Ham (1989), a geração de gás de aterro é de 0,05 a 0,40 m³ por quilograma de resíduo sólido depositado. Fonte: adaptado de Barlaz, Schaefer e Ham (1989). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 4 UNIDADE 4 208 É importante ressaltar que o tempo para o enchimento de um aterro é longo e as fases de decomposição dos resíduos ocorrem simultaneamente em diferentes pontos do aterro. Os resíduos recém-depositados e aqueles localizados próximo à superfície ainda estão submetidos aos processos aeróbios. As camadas mais antigas e profundas já se encontram na fase metanogênica (WILLIAMS, 2002). Podemos destacar que, no biogás de aterros sanitários, estão presentes os siloxa- nos. Esses compostos orgânicos siliconados, em aterros sanitários, são encontrados, primordialmente, em cosméticos, detergentes, material de construção, papéis re- vestidos e tecidos. Os problemas não são causados pelos siloxanos em si, mas pelos compostos resultantes de sua combustão, afetando os sistemas de queima — o flare é usado para controlar o excesso de gás — ou tratamento do biogás, pois os siloxanos se transformam em depósitos de dióxido de silício, com características físicas e químicas semelhantes ao vidro. Por causa de sua solidez, danificam os componentes dos mo- tores, além de contribuírem, por serem isolantes térmicos, para o superaquecimento de componentes sensíveis (TAVARES; SANTOS; CARVALHO, 2019). Destacamos que, no Brasil, a Resolução ANP nº 685/2017 estabelece as especifi- cações para a comercialização de biometano oriundo de aterros sanitários e estações de tratamento de esgoto para uso veicular, uso residencial e comercial, bem como sua mistura com o gás natural. Dentre as características do biometano estabelecidas, des- tacamos que o teor de metano deve ser de, no mínimo, 90% mol e o teor de siloxanos, no máximo, de 0,3 mgSi/m3 (miligramas de silício por metro cúbico) (ANP, 2017). 209 Adicionalmente, destacamos que, para os resíduos da construção civil (RCC), a Resolução CONAMA n° 307/2002 (CONAMA, 2002b) apresenta a defini- ção de aterro de resíduos Classe A de reservação de material para usos futuros, compreendendo a: “ área tecnicamente adequada onde serão empregadas técnicas de destinação de resíduos da construção civil classe A no solo, visando a reservação de materiais segregados de forma a pos- sibilitar seu uso futuro ou futura utilização da área, utilizando princípios de engenharia para confiná-los ao menor volume possível, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambien- te e devidamente licenciado pelo órgão ambiental competente (CONAMA, 2002b, p. 2). Assim, os RCC Classe A deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agre- gados ou encaminhados a aterro de resíduos Classe A de reservação de material para usos futuros (CONAMA, 2002b). A ABNT NBR 15113:2004 fixa os requisitos mínimos exigíveis para projeto, implantação e operação de aterros de resíduos sólidos da constru- ção civil Classe A e de resíduos inertes. Ela visa à reservação de materiais de forma segregada, possibilitando o uso futuro ou, ainda, a disposição desses materiais, com vistas à futura utilização da área (ABNT, 2004b). Os RCC Classe A e os Resíduos não perigosos e inertes — Classe II B seguem a classificação que apresentamos na Unidade 3, ou seja, conforme Resolução CONAMA n° 307/2002 e ABNT NBR 10004:2004, respectivamente (CO- NAMA, 2002b; ABNT, 2004a). Os aterros de resíduos perigosos e não perigosos, comumente conhecidos como aterros industriais, são projetados para disposição de resíduos Classe I e II, respectivamente, conforme classificação estabelecida pela norma da Associa- ção Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 10004:2004 (ABNT, 2004a). As normas da ABNT aplicáveis a esses aterros são: ■ ABNT NBR 10157:1987: aterros de resíduos perigosos: critérios para projeto, construção e operação: procedimento (ABNT, 1987). ■ ABNT NBR 13896:1997: aterros de resíduos não perigosos: critérios para projeto, implantação e operação (ABNT, 1997). UNIDADE 4 UNIDADE 4 210 Os aterros de resíduos perigosos estão aptos a receber resíduos industriais perigo- sos no estado sólido, não reativos e não inflamáveis. Só podem ser aceitos se, após tratamento prévio — neutralização, diluição, absorção etc. —, a mistura resultante não mais possuir as características de reatividade ou inflamabilidade (ABNT, 1987). De maneira geral, esses aterros se diferem em relação aos aterros sanitários pelos sistemas de impermeabilização e controles necessários. Os aterros de resíduos perigo- sos e não perigosos devem ser providos de sistema de impermeabilização do aterro, drenagem e tratamento do lixiviado, de monitoramento de águas subterrâneas, tal como devem ser projetados de maneira a minimizar as emissões gasosas e promover a captação e o tratamento adequado das eventuais emanações (ABNT, 1987; 1997). Em relação à impermeabilização do aterro, os aterros de resíduos perigosos devem ser providos de duplo sistema de impermeabilização, ou seja, dupla cama- da impermeabilizante com sistema de detecção de vazamento colocado entre elas, sendo que essas camadas podem ser tanto naturais como artificiais (ABNT, 1987). No entanto, comumente, utiliza-se manta plástica de polietileno de alta densidade (PEAD). Para os aterros de resíduos não perigosos, deve ser implantada uma camada impermeabilizante da superfície inferior (ABNT, 1997). Ambos os aterros devem ser monitorados durante a sua vida útil, incluindo o tempo de pós-fe- chamento. Entre as atividades após o encerramento do aterro, o moni- toramentodas águas subterrâneas deve ocorrer por um período de 20 anos após o fechamento da insta- lação, de forma que esse período pode ser reduzido, uma vez cons- tatado o término da geração de lí- quido percolado ou, então, estendido caso se acredite ser insuficiente. Há, também, a manutenção da cobertura, de modo a corrigir rachaduras ou erosão dos sistemas de drenagem, o tratamento do lixiviado e a coleta de gases (ABNT, 1987; 1997). Em nosso último tópico de discussão, torna-se importante apresentamos a con- textualização de Del Bel (2012), pois, segundo o autor, mesmo com o aprimoramento das práticas de gerenciamento de resíduos, seja no setor público ou privado, sempre chegarão aos aterros sanitários, resíduos potencialmente aproveitáveis em meio à 211 massa de rejeitos, ainda que em pequena proporção. As recorrentes afirmações de que “aterros somente podem receber rejeitos” não podem ser interpretadas literal- mente. Os aterros sanitários recebem a parcela rejeitada por diversos processos de gerenciamento, de diversos geradores públicos ou privados, que envolvem operações como segregação, triagem e tratamento, entre outras. Da eficiência desses processos, que devem atender às metas estabelecidas nos planos de gestão e nos planos de ge- renciamento, dependerá o maior ou o menor aproveitamento dos resíduos gerados e, portanto, a menor ou a maior parcela de rejeitos. Por fim, sabemos que a PNRS se articula com a Política Federal de Sanea- mento Básico, instituída pela Lei nº 11.445/2007 (BRASIL, 2007), atualizada pela Lei n° 14.026/2020, a qual prevê que os serviços públicos de saneamento básico terão a sustentabilidade econômico-financeira assegurada por meio de remuneração pela cobrança dos serviços (BRASIL, 2020). Assim, no caso dos serviços de limpe- za urbana e manejo de resíduos sólidos, incluindo a disposição final de rejeitos, há especificação para que tal cobrança seja implementada na forma de taxas, tarifas e outros preços públicos, sendo que as tarifas e preços públicos serão arrecadados pelo prestador diretamente do usuário, podendo ser realizada na fatura de consumo de outros serviços públicos, sendo esta uma importante medida a ser implementada, viabilizando maiores investimentos na destinação final de resíduos, como na reci- clagem, no tratamento e no aproveitamento dos resíduos sólidos. Prezado(a) aluno(a), o conteúdo apresentado lhe possibilita ter um conheci- mento prévio sobre as diversas formas de destinação e disposição final aplicáveis aos resíduos sólidos. Além dos métodos apresentados, existem diversos outros em que você pode se aprofundar tecnicamente por meio de literatura correlata. Além dos diversos conceitos abordados, como economia circular, transformação de resíduos em novos produtos, composto orgânico, aproveitamento energético e outros. Há diversas oportunidades de atuação profissional: na implantação de proje- tos que beneficiem a reciclagem, atuando diretamente em unidades de tratamento de resíduos sólidos, seja na gestão pública, seja na privada, ou, ainda, criando a sua própria recicladora ou unidade de tratamento. Ainda, há a atuação nas organizações geradoras de resíduos para a elaboração e implantação dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos, encaminhando os resíduos gerados para a adequada destinação final, conforme as suas características e classificação e seguindo a ordem de priori- dade no gerenciamento, resultando em diversos benefícios, tanto ambientais e eco- nômicos quanto sociais. UNIDADE 4 212 1. Dada a diversidade de resíduos, não existe um processo de tratamento pré-estabele- cido, havendo sempre a necessidade de realizar pesquisas e desenvolver processos que sejam econômica e ambientalmente viáveis. Em relação aos tipos de tratamento de resíduos, assinale a alternativa correta. a) Os tratamentos físicos consistem na desinfecção por adição de substâncias quí- micas. b) Os tratamentos químicos incluem a compostagem, vermicompostagem e a di- gestão anaeróbia. c) A incineração se trata de um processo que utiliza microrganismos para decom- posição da matéria orgânica. d) O método de tratamento térmico é definido como qualquer processo cuja ope- ração seja realizada acima da temperatura mínima de 800 °C. e) O tratamento de resíduos consiste na sua caracterização de acordo com a classe de resíduos. 2. O tratamento biológico de resíduos se refere aos processos que promovem a sua decomposição em substâncias mais simples. A respeito desse tipo de tratamento, analise as afirmativas a seguir. I - É o processo de decomposição biológica controlada dos resíduos orgânicos. II - A compostagem ocorre na ausência de oxigênio. III - A digestão anaeróbia ocorre na presença de oxigênio. IV - O biometano é tóxico e foi banido em diversos países. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) IV, apenas. c) I e III, apenas. d) III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 213 3. A digestão anaeróbia é um processo com ampla aplicabilidade para a conversão de resíduos orgânicos em biogás e biofertilizante, associando o tratamento adequado e a geração de energia renovável. Nesse contexto, analise as afirmativas seguintes. I - A digestão anaeróbia compreende apenas duas etapas: a hidrólise e a metano- gênese. II - O biogás é composto, principalmente, por gás metano (CH4). III - A digestão anaeróbia, além de promover o tratamento, possibilita o aproveita- mento energético dos resíduos sólidos orgânicos. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 5Gerenciamento de Poluentes Atmosféricos Dra. Jéssica de Carvalho Lima Me. Paula Polastri Nesta Unidade 5, abordaremos a respeito dos poluentes atmosfé- ricos, os seus tipos, a sua classificação, as suas fontes de emissão e as legislações relacionadas aos padrões de emissão e de qualidade do ar. Também, trataremos dos métodos aplicáveis no controle de emissão de gases e de material particulado e das informações sobre a amostragem em fontes de emissão fixas e móveis. UNIDADE 5 216 Prezado(a) aluno(a), agora que estamos na reta final de aprendizagem a respeito do gerenciamento de resíduos, podemos nos perguntar: para onde vão os resíduos que são lançados no ar? Quais são esses poluentes? Como podemos diminuir a polui- ção gerada pelos veículos automotores e pelas indústrias? De onde vêm as fumaças densas das grandes cidades? E de que forma essa fumaça pode representar um mau aproveitamento de insumos? Quais são os malefícios ao meio ambiente e à saúde humana provocados por esse tipo de poluição? O que podemos e devemos fazer para reduzir a poluição atmosférica? O desenvolvimento socioeconômico do país deve ocorrer de forma equilibrada, considerando a sustentabilidade ambiental. Para isso, torna-se importante o mo- nitoramento da emissão atmosférica, considerando as situações meteorológicas, a dispersão de poluentes e os problemas consequentes dessas emissões. A viabilidade dessa gestão depende fortemente da atuação dos órgãos governamentais, por meio de normatizações, padronizações e, também, por meio de ações práticas, como a fiscalização e o incentivo à participação da sociedade e de empreendimentos. Nesse sentido, algumas ações foram elaboradas. Em 2019, por exemplo, foi lançada a Agenda Nacional de Qualidade Ambiental Urbana. O objetivo dessa agenda é melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos. Para isso, foram propostas ações direcionadas a seis eixos: Combate ao Lixo no Mar, Resíduos Sólidos, Áreas Verdes Urbanas, Gestão de Áreas Contaminadas, Qualidade do Ar e Qualidade das Águas e Saneamento (BRASIL, [2022]). Ações como as elencadas nessa agenda revelam a importância do monitoramento da qualidade do ar e do teor de material particulado emitido, sempre enfocando a não geração de efluentes atmosféricos e, em um segundo momento, o controle e o trata- mento, evitando emissão de poluentes de forma indiscriminada. As ações de monito- ramento e regulamentação