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@karina_oliveiraq 
 
 
 Distúrbios da memória 
• Conhecer o conceito memória, seus tipos e áreas do 
cérebro relacionadas a memória. 
➤ A memória é um processo que o cérebro humano usa 
para armazenar e, depois, recuperar informações. Ela faz 
parte da cognição humana, pois permite que as pessoas 
possam relembrar algum evento que aconteceu no 
passado. Isso serve para auxiliar na compreensão de 
comportamentos no presente. 
➨ Memórias – Papéis na facilitação sináptica e 
inibição sináptica 
➥ Memorias são armazenadas no cérebro pela variação 
da sensibilidade básica da transmissão sináptica, entre 
neurônios, como resultado de atividade neural previa. As 
vias novas ou facilitadas são chamadas traços de 
memória. Eles são importantes, porque, uma vez que os 
traços são estabelecidos, eles podem ser seletivamente 
ativados pelos processos mentais para reproduzir as 
memórias. 
➥ Experimentos em animais inferiores demonstraram que 
os traços de memória podem ocorrer em todos os níveis 
do sistema nervoso. Mesmo reflexos da medula espinal 
podem mudar pelo menos levemente em resposta à 
ativação repetida da medula espinal, e essas mudanças 
nos reflexos são partes do processo de memória. Além 
disso, memórias a longo prazo também podem resultar de 
condução sináptica alterada, em centros subcorticais. 
Entretanto, a maioria das memórias que associamos a 
processos intelectuais é baseada em traços mnemônicos 
estabelecidos no córtex cerebral. 
➨ Memória positiva e negativa — “Sensibilização” ou 
“Habituação” da transmissão sináptica: 
➥ Embora muitas vezes interpretemos as memórias 
como sendo recordações positivas de pensamentos ou de 
experiências passados, provavelmente a maior parte das 
nossas memórias é negativa, não positiva, isto é, nosso 
cérebro é inundado com informação sensorial de todos os 
nossos sentidos. Se as nossas mentes tentassem lembrar 
de toda essa informação, a capacidade de memória do 
nosso cérebro seria rapidamente excedida. Felizmente, o 
cérebro tem a capacidade de aprender a ignorar 
informação sem consequências. Essa capacidade resulta 
da inibição das vias sinápticas para esse tipo de 
informação; o efeito resultante chama-se habituação, que 
é um tipo de memória negativa. 
➥ Por sua vez, para a informação que entra no cérebro e 
que causa consequências importantes, tais como dor ou 
prazer, o cérebro tem a capacidade automática diferente 
de realçar e armazenar os traços mnemo ̂nicos. Isso é a 
memória positiva. Ela resulta da facilitação das vias 
sinápticas e o processo se chama sensibilização da 
memória. Como discutiremos mais adiante, umas áreas 
especiais nas regiões límbicas basais do cérebro 
determinam se uma informação é importante ou não e 
tomam a decisão subconsciente de armazenar a 
informação, como traço de memória sensibilizada ou 
suprimi-la. 
➤ Classificação das Memorias: 
➨ Classificação de acordo com a duração: 
➥ Sabemos que algumas memórias duram somente 
alguns segundos, enquanto outras duram por horas, dias, 
meses ou anos. Para poder discutir esses tipos de 
memória vamos usar a classificação comum das 
memórias que as divide em: 
 Memória a curto prazo: que inclui memórias que duram por 
segundos ou, no máximo, minutos se não forem 
convertidas em memórias a longo prazo. Memória a curto 
prazo é ilustrada pela memória que se tem de 7 a 10 
dígitos, no número de telefone (ou 7 a 10 outros fatos 
distintos), por alguns segundos, até́ alguns minutos de 
cada vez, mas que dura somente enquanto a pessoa 
continua a pensar nos números ou nos fatos.Muitos 
fisiologistas sugeriram que essa memória a curto prazo 
seja causada por atividade neural contínua, resultando de 
sinais neurais que se propagam em círculos em traço de 
memória temporária de circuito de neurônios 
reverberantes. Ainda não foi possível provar essa teoria. 
Outra explicação possível para a memória a curto prazo é 
a facilitação ou inibição pré- sináptica, o que ocorre em 
sinapses que ficam em fibras nervosas terminais, 
imediatamente antes que formem sinapses com o 
neurônio subsequente. As substa ̂ncias 
neurotransmissoras, liberadas em tais terminais 
frequentemente causam facilitação ou inibição, que duram 
segundos ou até vários minutos. Circuitos desse tipo 
poderiam levar à memória a curto prazo. 
 
 
@karina_oliveiraq 
 
 Memórias de prazo intermediário: podem durar por muitos 
minutos ou até semanas. Serão por fim perdidas se os 
traços de memória não forem ativados o suficiente para se 
tornarem mais permanentes; então, são classificadas 
como memórias a longo prazo. Experimentos em animais 
primitivos mostraram que memórias do tipo de prazo 
intermediário podem resultar de alterações temporárias 
químicas ou físicas, ou ambas, tanto nos terminais pré- 
sinápticos quanto nas membranas pós-sinápticas, 
mudanças essas que podem persistir por alguns minutos 
a várias semanas. Esses mecanismos são tão importantes 
que merecem descrição especial. 
- Memória Baseada em Mudanças Químicas nos 
Terminais Pré-sinápticos ou nas Membranas Neuronais 
Pós-sinápticas: 
➥ Um terminal que vem de um neurônio sensorial e 
termina, diretamente, na superfície do neuro ̂nio que deve 
ser estimulado, é chamado terminal sensorial. O outro 
terminal, uma terminação pré-sináptica, que fica na 
superfície do terminal sensorial, é chamado terminal 
facilitador. Quando o terminal sensorial é estimulado 
repetidamente, mas sem estimulação do terminal 
facilitador, a transmissão do sinal inicialmente é grande, 
mas se torna cada vez menos intensa com a estimulação 
repetida, até a transmissão quase desaparecer. Esse 
feno ̂meno é a habituação como explicado antes. É o tipo 
de memória negativa que faz o circuito neuronal perder 
sua resposta a eventos repetidos, que são insignificantes. 
➥ Por sua vez, se um estímulo nocivo excitar o terminal 
facilitador no mesmo momento em que o terminal sensorial 
for estimulado, então, em vez de o sinal transmitido ao 
neurônio pós-sináptico se tornar cada vez mais fraco, a 
facilitac ̧ão da transmissão se tornará cada vez mais forte 
e permanecerá forte por minutos, horas, dias ou com treino 
mais intenso, até cerca de 3 semanas, mesmo sem 
estimulação adicional do terminal facilitador. Dessa forma, 
o estímulo nocivo faz com que as vias de memória pelo 
terminal sensorial fiquem facilitadas nos dias e semanas 
seguintes. É especialmente interessante que mesmo 
depois da habituação ocorrer essa via poderá ser 
reconvertida para via facilitada com apenas alguns 
estímulos nocivos. 
- Mecanismo Molecular da Memória Intermediária 
Mecanismo para a Habituação: 
➥ Em nível molecular, o efeito de habituação no terminal 
sensorial resulta do fechamento progressivo de canais de 
cálcio na membrana terminal, apesar da causa do 
fechamento dos canais de cálcio não ser completamente 
conhecida. De qualquer forma, quantidades muito 
menores que as normais de íons cálcio podem se difundir 
para o terminal habituado e, como conseque ̂ncia, muito 
menos neurotransmissor é liberado pelo terminal 
sensorial, já que a entrada de cálcio é o estímulo principal 
para a liberação do neurotransmissor. 
 Memória a longo prazo: Não existe uma demarcaçãoóbvia 
entre as formas mais prolongadas da memória de prazo 
intermediário e a verdadeira memória a longo prazo. 
Entretanto, em geral se acredita que a memória a longo 
prazo resulte de alterações estruturais reais, em vez de 
somente químicas nas sinapses, e que realcem ou 
suprimam a condução dos sinais. Mais uma vez vamos 
lembrar experimentos em animais primitivos (nos quais os 
sistemas nervosos são muito fáceis de estudar) e que 
ajudaram imensamente a compreensão de possíveis 
mecanismos da memória a longo prazo. 
- Mudanças Estruturais Ocorrem nas Sinapses Durante o 
Desenvolvimento da Memória a Longo Prazo: 
➥ O desenvolvimento dos traços de memória a longo 
prazo. As mudanças estruturais não ocorrerão se forem 
administrados fármacos. que bloqueiem a produção de 
proteína no neurônio pré-sináptico, nem se desenvolverá 
o traço de memória permanente. Portanto, parece que o 
desenvolvimento da verdadeira memória a longo prazo 
depende da reestruturação física das próprias sinapses de 
forma que mude sua sensibilidade para transmitir os sinais 
neurais. 
As mudanças estruturais mais importantes que ocorrem 
são as seguintes: 
1. Aumento dos locais onde vesículas liberam a substa ̂ncia 
neurotransmissora. 
2. Aumento do número de vesículas transmissoras. 
3. Aumento do número de terminais pré-sinápticos. 
4. Mudanças nas estruturas das espinhas dendríticas que 
permitem a 
transmissão de sinais mais fortes. 
➨ Classificação de acordo com o tipo de informação 
que é armazenada: 
 Memória declarativa significa basicamente memória dos 
vários detalhes de pensamento integrado como, por 
exemplo, memória de experiência importante que inclui (1) 
memória do ambiente; (2) memória das relações 
temporais; (3) memória de causas da experiência; (4) 
memória do significado da experiência; e (5) memória das 
deduções que ficaram na mente do indivíduo. 
 
@karina_oliveiraq 
 
 Memória de habilidades é, frequentemente, associada a 
atividades motoras do corpo da pessoa, tais como todas 
as habilidades desenvolvidas, para bater numa bola de 
te ̂nis, incluindo memórias automáticas para (1) avistar a 
bola; (2) calcular a relação e a velocidade da bola com a 
raquete; e (3) deduzir rapidamente os movimentos do 
corpo e dos braços e da raquete necessários para bater 
na bola como desejado — com todas essas capacidades 
ativadas instantaneamente, com base na aprendizagem 
anterior do jogo de tênis — então, continua-se para o 
próximo lance do jogo enquanto se esquecem os detalhes 
do lance prévio. 
➨ Classificação de acordo com a estrutura cerebral 
envolvida: 
➥ São quatro os principais tipos de memória que 
correspondem a estruturas cerebrais diversas. Esses 
quatro tipos são afetados de forma diferente nas doenças 
e condições que diminuem ou destroem a memória (p. ex., 
demências). São, nesse sentido, as principais formas de 
memória de interesse à semiologia neurológica, 
psicopatológica e neuropsicológica. São eles: 
 Memória de trabalho; 
 Memória episódica; 
 Memória semântica; 
 Memória de procedimentos; 
➤ Memória de trabalho (working memory): situa-se entre 
os processos e habilidades da atenção e os da memória 
imediata. São exemplos de memória de trabalho ouvir um 
número telefônico e retê-lo na mente para, em seguida, 
discá-lo, assim como, ao dirigir em uma cidade 
desconhecida, perguntar sobre um endereço, receber a 
informação e a sugestão do trajeto e, mentalmente, 
executar o itinerário de forma progressiva. A memória de 
trabalho é, de modo geral, uma memória explícita, 
consciente, que exige esforço. Para diferenciá-la da 
memória de curto prazo, deve-se realçar que a memória 
de trabalho é plenamente ativa, que realiza operações 
mentais de modo constante (por isso, “está trabalhando” 
constantemente). Ela representa um conjunto de 
habilidades que permite manter e manipular informações 
novas (acessando-as em face às antigas). Tais 
informações (verbais ou visuoespaciais) são mantidas 
ativas, em operação (on-line), geralmente por curto 
período (poucos segundos até, no máximo, alguns 
minutos), a fim de serem manipuladas, com o objetivo de 
selecionar um plano de ação e realizar determinada tarefa. 
O conteúdo mnêmico deve ser utilizado imediatamente 
sob alguma forma de resposta. A memória de trabalho 
também é vista como uma gerenciadora da memória. Seu 
papel não é tanto formar arquivos, mas, antes, o de 
analisar e selecionar as informações que chegam 
constantemente e compará-las com as existentes nas 
demais memórias, de curta e de longa duração. Esse 
processo requer mecanismos neurais adequados à 
seleção de informações pertinentes, mantendo-as on-line 
por breve período, até que a decisão e a resposta 
adequada sejam tomadas. Investigações têm indicado que 
a memória de trabalho é composta por três componentes: 
alça fonológica, esboço visuoespacial e sistema executivo. 
O esboço visuoespacial realiza armazenamento 
temporário e manipulação das imagens. A alça fonológica 
utiliza códigos articulatórios e depósitos fonológicos para 
sintetizar e operacionalizar as informações. O sistema 
executivo faz a mediação da atenção e das estratégias 
para coordenar os recursos cognitivos entre a alça 
fonológica e o esboço visuoespacial. As regiões corticais 
pré-frontais são importantes para a integridade da 
memória de trabalho. Nas tarefas verbais, há maior 
envolvimento das áreas pré-frontais esquerdas, assim 
como das áreas de Broca (frontal esquerda inferior) e de 
Wernicke (temporal esquerda superior). Nas tarefas 
visuoespaciais (seguir mapas mentalmente, sair de 
labirintos gráficos e montar quebra-cabeças), há maior 
implicação das áreas pré-frontais direitas, assim como de 
zonas visuais de associação do carrefour 
temporoparietoccipital direito. 
➥ Quando o córtex temporal é lesado, há prejuízo da 
memória de trabalho visual (mas a memória de trabaho 
espacial é preservada); quando há lesão dos lobos 
parietais, ocorre o oposto. Pacientes com lesões nas áreas 
cerebrais associadas aos conhecimentos semânticos 
(sentido das palavras), como o córtex dos lobos temporais 
laterais e temporoparietais, têm prejuízos nos 
desempenhos da memória de trabalho verbal. 
- Avaliação semiológica: 
➥ Observa-se inicialmente o grau de habilidade do 
paciente de prestar atenção e se concentrar. 
Particularmente importante é a dificuldade em realizar 
novas tarefas que incluam a execução de várias etapas 
distintas em uma sequência após instrução. Um teste 
simples é aquele incluído no Teste Minimental, quando se 
solicita ao paciente que realize a tarefa: “Veja esta folha 
de papel em minha mão; quero que pegue este papel com 
sua mão direita, que o dobre no meio e, depois, o coloque 
no chão”. Também são formas de testar a memória de 
trabalho solicitar que uma pessoa repita números em 
 
@karina_oliveiraq 
 
sequência direta (a pessoa sem alterações repete de 5 a 
8 dígitos; 4 é resultado limítrofe; e 3 ou menos dígitos, 
resultado alterado) e sequência inversa (normal de 4 a 5 
dígitos; 3, resultado limítrofe; e 2 ou menos dígitos, 
alterado). Pode-se igualmente testar a memória de 
trabalho de natureza visuoespacial, utilizando-se labirintos 
gráficos e quebra-cabeças.Valor diagnóstico das 
alterações da memória de trabalho. 
➥ De modo geral, todas as condições que afetam as 
regiões pré-frontais causam alteração da memória de 
trabalho. Elas ocorrem em distintas condições clínicas, 
mas sobretudonas demências, como: 
 Demência frontotemporal (DFT), sobretudo na variante 
frontal da DFT; 
 Demência de Alzheimer (sobretudo na varitante frontal 
desta demência); 
 Demências vasculares e demência com corpos de Lewy. 
➤ Memória episódica: Trata-se de memória explícita, de 
médio e longo prazos, relacionada a eventos específicos 
da experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em 
determinado contexto. Relatar o que foi feito no último fim 
de semana é um típico exemplo de memória episódica. Ela 
corresponde a eventos específicos e concretos, 
comumente autobiográficos, bem circunscritos em 
determinado momento e local. Refere-se, assim, à 
recordação consciente de fatos reais. A perda da memória 
episódica, em geral, se evidencia para eventos 
autobiográficos recentes, mas, com o evoluir da doença (p. 
ex., doença de Alzheimer), pode incluir elementos mais 
antigos. Nesse sentido, a perda de memória episódica 
obedece à lei de Ribot (perdem-se primeiro os elementos 
recentemente adquiridos e, depois, os mais antigos). Esse 
tipo de memória depende, em essência, de mecanismos 
relacionados àsregiões da face medial dos lobos 
temporais, particularmente o hipocampo e os córtices 
entorrinal e perirrinal. 
➥ Quando tais áreas se deterioram, por exemplo, com o 
avançar da demência de Alzheimer, o paciente perde 
totalmente a capacidade de fixar e lembrar eventos 
ocorridos há poucos minutos ou horas, inclusive situações 
marcantes e significativas para ele. Os pacientes com 
síndrome de Wernicke-Korsakoff têm déficits graves na 
memória episódica, uma condição relacionada a danos no 
diencéfalo, primariamente nos corpos mamilares, no trato 
mamilo-talâmico e no tálamo anterior. Respeitando a lei de 
Ribot, a memória remota de eventos antigos permanece 
mais tempo sem alterações. O hipocampo é um depósito 
transitório de memórias, uma estação de transferência de 
elementos recentemente registrados para um arquivo mais 
permanente de lembranças, localizado de modo difuso em 
amplas áreas do córtex dos distintos lobos cerebrais. A 
memória episódica interage constantemente com a 
memória semântica (de conhecimentos gerais e conceitos; 
ver adiante), contrastando ou se articulando com ela. 
- Avaliação semiologia: 
➥ Suspeita-se de alteração da memória episódica 
quando se nota que o sujeito vai se tornando incapaz de 
reter e lembrar informações e experiências recentes de 
maneira correta e acurada. Um modo simples de fazer um 
primeiro rastreamento sobre a memória episódica de uma 
pessoa é contar uma pequena história para ela e, alguns 
minutos depois, pedir que a reconte. Deve-se entrevistar o 
paciente investigando a evolução temporal das falhas de 
memória. Nesse sentido, o relato de parentes próximos e 
cuidadores é essencial, pois o indivíduo geralmente não 
tem crítica de seu estado cognitivo e não costuma 
perceber suas perdas. Um modo prático de inquirir 
parentes e cuidadores é perguntar se, em comparação a 
alguns anos atrás, o paciente tem agora mais dificuldades 
em se lembrar de coisas que acontecem recentemente 
com ele. É importante, para avaliar o significado da 
alteração da memória episódica, que sejam investigadas 
outras áreas cognitivas além da memória (como 
linguagem, atenção, habilidades visuoespaciais e funções 
executivas). Por fim, devem ser examinados sinais 
neurológicos focais e alterações de possíveis doenças 
físicas sistêmicas. 
➤ Memória semântica: esse tipo de memória se refere ao 
aprendizado, à conservação e à utilização do arquivo geral 
de conceitos e conhecimentos do indivíduo (os chamados 
conhecimentos gerais sobre o mundo). Assim, 
conhecimentos como a cor do céu (azul) ou de um 
papagaio (verde), ou quantos dias há na semana (sete), 
são de caráter geral e se cristalizam por meio da 
linguagem, ou seja, também são de caráter semântico. 
➥ Assim como a episódica, a memória semântica é 
frequentemente explícita (mas pode ser, eventualmente, 
implícita). Ela é, enfim, a representação de longo prazo 
dos conhecimentos que temos sobre o mundo, entre eles 
o significado das palavras, dos objetos e das ações. 
Também, cabe assinalar, a memória semântica diz 
respeito ao registro e à retenção de conteúdos em função 
do significado que têm. Ela é um componente da memória 
de longo prazo que inclui os conhecimentos de objetos, 
fatos, operações matemáticas, assim como das palavras e 
seu uso. A memória semântica é, de modo geral, 
 
@karina_oliveiraq 
 
compartilhada socialmente, reaprendida de forma 
constante, não sendo temporalmente específica. A 
contraposição desses dois tipos de memória (episódica e 
semântica) exemplifica-se da seguinte forma: lembrar 
como foi um almoço com os avós, em Belo Horizonte, há 
três semanas, depende do sistema de memória episódica. 
Já o conhecimento do significado das palavras “almoço”, 
“Belo Horizonte”, “avós”, etc., depende da memória 
semântica. Embora esses dois tipos de memória tenham 
certa independência, eles constantemente interatuam. 
Memórias episódicas são convertidas, ao longo do tempo 
e por exposição repetida, em memórias semânticas. A 
memória semântica previamente adquirida é muitas vezes 
preservada em pacientes que apresentam graves 
alterações no sistema de memória episódica. Indivíduos 
com síndrome de Wernicke-Korsakoff, por exemplo, têm 
grave déficit de memória episódica, mas podem ter a 
memória semântica preservada. 
➥ A memória semântica, em acepção restrita, 
corresponde às capacidades de nomeação e 
categorização. Depende, de forma estreita, das regiões 
inferiores e laterais dos lobos temporais, sobretudo no 
hemisfério esquerdo (diferentemente da memória 
episódica, que depende das regiões mediais desses lobos, 
sobretudo dos hipocampos). 
- Avaliação semiológica: 
➥ Pesquisam-se alterações de memória semântica 
verificando-se a dificuldade do paciente em tarefas como 
nomear itens cujos nomes ele previamente sabia (mostrar 
um relógio, uma caneta e uma régua e pedir que o 
indivíduo os nomeie). Deve-se diferenciar as dificuldades 
leves e benignas, como lembrar o nome de pessoas ou 
outros nomes próprios (muito comuns em adultos de 
meia idade e idosos), da verdadeira perda da capacidade 
de lidar com informação semântica. 
➥ Pacientes com disfunções leves na memória semântica 
têm capacidade reduzida em testes de geração de 
palavras (p. ex., solicitar ao indivíduo que nomeie o maior 
número possível de animais em 1 minuto). Aqueles com 
alterações mais avançadas na memória semântica 
tipicamente revelam déficits de duas vias na nomeação, 
isto é, são incapazes de dizer o nome de um item quando 
este lhes é mostrado e de descrever um item cujo nome 
lhes é apresentado. Os pacientes com déficits de memória 
semântica mais avançada também apresentam 
empobrecimento marcante de conhecimentos gerais (não 
são capazes de citar algumas cidades do Brasil, dizer 
quem é o atual presidente do País, dizer a cor do papagaio 
etc.). 
➤ Memória de procedimentos: trata-se de um tipo de 
memória automática, não consciente. Exemplos desse tipo 
de memória são habilidades motoras e perceptuais mais 
ou menos complexas (andar de bicicleta, digitar no 
computador, tocar um instrumento musical, bordar etc.), 
habilidades visuoespaciais (como a capacidade de 
aprender soluções de labirintos e quebra-cabeças) e 
habilidades automáticas relacionadas ao aprendizado de 
línguas (regras gramaticais incorporadas na fala 
automaticamente, decorar a conjugação de verbos de uma 
língua estrangeira etc.). 
➥ A memória de procedimentos, de modo geral, é 
implícita e não declarativa, mas, durante a aquisição da 
habilidade, pode ser explícita na fase de aprendizado, 
como quando, por exemplo,se aprende a dirigir um carro 
seguindo orientações verbais. Na maioria das vezes, a 
memória de procedimentos é implícita, pois manifesta-se 
tipicamente por ações motoras e desempenho de 
atividades, e não pela expressão de palavras (tornando-se 
consciente apenas com esforço). Aqui, a memorização 
ocorre de forma lenta, por meio de repetições e múltiplas 
tentativas. A localização da memória de procedimentos 
está relacionada com o sistema motor e/ou sensorial 
específico envolvido na tarefa. As principais áreas 
envolvidas são a área motora suplementar (lobos frontais), 
osnúcleos da base (sobretudo o striatum)e ocerebelo. 
- Avaliação semiológica: 
➥ Suspeita-se da presença de alterações da memória de 
procedimentos quando o indivíduo apresenta ou perda de 
habilidades motoras ou visuoespaciais previamente 
aprendidas, ou grande dificuldade em aprender novas 
habilidades. Por exemplo, o paciente pode perder a 
habilidade de escrever à mão ou de digitar em um teclado, 
de tocar um instrumento musical, de pregar um botão ou 
de chutar uma bola. Eventualmente, ele pode reaprender 
essas habilidades, mas, para isso, necessita de ordens 
explícitas (verbais, conscientes) para realizar cada etapa 
da habilidade. Em consequência, um paciente com lesão 
no sistema de memória de procedimentos pode nunca 
mais readquirir as habilidades motoras automáticas que 
pessoas saudáveis realizam sem perceber. Por fim, 
aqueles cuja memória episódica foi devastada (quadros 
graves de demência de Alzheimer ou síndrome de 
Wernicke-Korsakoff) podem ter ganhos relativos em um 
processo de reabilitação que lance mão do sistema de 
 
@karina_oliveiraq 
 
memória de procedimentos preservada e, assim, aprender 
novas habilidades. 
➨ Consolidação da memória: 
➥ Para a conversão da memória a curto prazo para a 
memória a longo prazo, que pode ser evocada semanas 
ou anos depois, ela precisa ser “consolidada”, isto é, a 
memória a curto prazo se ativada repetidamente 
promoverá mudanças químicas, físicas e anatômicas nas 
sinapses que são responsáveis pela memória a longo 
prazo. Esse processo requer 5 a 10 minutos, para 
consolidação mínima e 1 hora ou mais, para consolidação 
forte. Por exemplo, se forte impressão sensorial é feita no 
cérebro, mas é seguida dentro de mais ou menos 1 minuto 
por convulsão induzida eletricamente, a experiência 
sensorial não será lembrada. Da mesma forma, a 
concussão cerebral, a aplicação repentina de anestesia 
geral profunda ou qualquer outro efeito que bloqueie 
temporariamente a função cerebral dinâmica pode impedir 
a consolidação da memória. 
A consolidação e o tempo necessário para ela aconteça 
podem provavelmente serem explicados pelo feno ̂meno 
de repetição da memória a curto prazo. 
➨ A Repetic ̧ão Aumenta a Transfere ̂ncia da Memória 
a Curto Prazo para a Memória a Longo Prazo: 
➥ Estudos mostraram que a repetição dela informação 
várias vezes na mente acelera e potencializa o grau de 
transferência da memória a curto prazo para a memória a 
longo prazo, e assim acelera e aumenta a consolidação. O 
cérebro tem tendência natural de repetir as informações 
novas, especialmente as que atraiam a atenção. Portanto, 
ao longo de certo período, as características importantes 
das experiências sensoriais ficam, progressivamente, 
cada vez mais fixadas nos bancos da memória. Esse 
feno ̂meno explica porque a pessoa pode lembrar 
pequenas quantidades de informação, estudadas 
profundamente, muito melhor do que grande quantidade 
de informação estudada superficialmente. Também 
explica porque a pessoa bem acordada pode consolidar 
memórias muito melhor do que a pessoa em estado de 
fadiga mental. 
➥ Novas Memórias São Codificadas durante a 
Consolidação. Uma das características mais importantes 
da consolidação é que novas memórias são codificadas 
em diferentes classes de informação. Durante esse 
processo, tipos semelhantes de informação são retirados 
dos arquivos de armazenagem de memórias e usados 
para ajudar a processar a nova informação. O novo e o 
velho são comparados a respeito de semelhanças e 
diferenças, e parte do processo de armazenagem consiste 
em guardar a informação sobre essas semelhanças e 
diferenças, não em guardar a nova informação não 
processada. Assim, durante a consolidação, as novas 
memórias não são armazenadas aleatoriamente no 
cérebro, mas sim em associação direta com outras 
memórias do mesmo tipo. Esse processo é necessário 
para se poder “procurar” posteriormente a informação 
requerida na memória armazenada. 
➨ O Papel de Regiões Específicas do Cérebro no 
Processo de Memorização: 
➥ O Hipocampo Promove o Armazenamento das 
Memórias — Amnésia Anterógrada Ocorre após Lesões 
de Longa Duração do Hipocampo. O hipocampo é a 
porção mais medial do córtex do lobo temporal, onde ele 
primeiro se dobra medialmente, sob o hemisfério cerebral, 
e depois para cima em direção à superfície inferior e 
medial do ventrículo lateral. Em alguns pacientes, os dois 
hipocampos foram retirados para o tratamento de 
epilepsia. Esse procedimento não afetou seriamente a 
memória do indivíduo para a informação armazenada 
antes da retirada dos hipocampos. Entretanto, depois da 
retirada, essas pessoas praticamente não te ̂m mais 
capacidade de armazenar formas verbais e simbólicas de 
memórias (formas declarativas de memória) na memória a 
longo prazo, ou até na memória intermediária que dure 
mais do que alguns minutos. Por isso, essas pessoas 
ficam incapazes de estabelecer novas memórias a longo 
prazo dos tipos de informação que são a base da 
inteligência. Esse distúrbio se chama amnésia 
anterógrada. 
Mas por que os hipocampos são tão importantes para 
ajudar no processo de armazenamento de novas 
memórias? A resposta mais provável é que os hipocampos 
figuram, entre as vias de saída mais importantes, das 
áreas de “recompensa” e “punição” do sistema límbico, 
Estímulos sensoriais ou pensamentos que causem dor ou 
aversão excitam os centros límbicos de punição, e os 
estímulos que causem prazer, felicidade ou sensação de 
recompensa, excitam os centros límbicos de recompensa. 
Todos eles juntos fornecem o humor básico e as 
motivações da pessoa. Entre essas motivações, está a 
força motriz do cérebro para lembrar as experiências e 
pensamentos que são agradáveis ou desagradáveis. 
Especialmente, os hipocampos e, em menor grau, os 
núcleos mediodorsais do tálamo, outra estrutura límbica, 
mostraram-se especialmente importantes para tomar a 
 
@karina_oliveiraq 
 
decisão de quais dos nossos pensamentos são 
importantes o suficiente na base de recompensa ou 
punição para serem dignos da memória. 
➨ Amnésia Retrógrada — Incapacidade de Recordar 
Memórias do Passado: 
➥ Quando ocorre amnésia retrógrada, o grau de amnésia 
para eventos recentes tende a ser muito maior do que para 
eventos do passado distante. A razão dessa diferença é 
provavelmente porque as memórias distantes foram 
repetidas tantas vezes que os traços de memória ficaram 
profundamente entranhados e elementos dessas 
memórias estão armazenados em áreas muito 
disseminadas do cérebro. 
Em algumas pessoas que tiveram lesões hipocampais, 
algum grau de amnésia retrógrada ocorre junto com a 
amnésia anterógrada, o que sugere que esses dois tipos 
de amnésia sejam, pelo menos em parte,relacionados e 
que lesões hipocampais possam causar ambos. 
Entretanto, danos em algumas áreas tala ̂micas podem 
levar especificamente à amnésia retrógrada, sem causar 
amnésia anterógrada significativa. Possível explicação 
para isso é que o tálamo pode ter papel em ajudar a 
pessoa a “procurar” nos armazéns da memória e assim 
“ler” as memórias. Isto é, o processo de memória não só 
necessita do armazenamento das memórias, mas também 
de capacidade de procurar e encontrar posteriormente a 
memória. A possível função do tálamo, nesse processo. 
➨ Os Hipocampos não são importantes para o 
Aprendizado Reflexivo: 
➥ Pessoas com lesões hipocâmpicas geralmente não 
te ̂m dificuldades de aprender habilidades motoras que não 
envolvam verbalização ou formas simbólicas de 
inteligência. Por exemplo, essas pessoas podem ainda 
aprender as habilidades de agilidade manual e física 
necessárias em muitos esportes. Esse tipo de aprendizado 
se chama aprendizado de habilidades ou aprendizado 
reflexivo; depende da repetição física, por muitas vezes 
das tarefas necessárias, e não da repetição simbólica na 
mente. 
• Entender os tipos de distúrbios da memória: 
➤ Alterações patológicas da memória: 
➭ Alterações quantitativas: 
➨ Hipermnésias: em alguns pacientes em mania ou 
hipomania, representações (elementos mnêmicos) afluem 
rapidamente, uma tempestade de informações ou 
imagens, ganhando em número, perdendo, porém, em 
clareza e precisão. A hipermnésia, nesses casos, traduz 
mais a aceleração geral do ritmo psíquico que uma 
alteração propriamente da memória. Há outro tipo de 
hipermnésia, chamada hipermnésia para memória 
autobiográfica. Trata-se de um fenômeno raro, no qual o 
indivíduo tem uma memória autobiográfica quase perfeita. 
➥ Foi estudado detalhadamente o caso de HK, um rapaz 
de 20 anos, cego de nascença, que apresentava 
hipermnésia autobiográfica. Sua memória para detalhes 
de vários eventos de sua vida passada era profunda e 
minuciosa, quase perfeita. Por meio de várias fontes, a 
memória de HK foi checada em relação ao diário de sua 
avó, entrevistas com vários familiares e registros de 
prontuários médicos do hospital onde ele era tratado, 
revelando-se altamente fidedigna. HK apresentava, em 
relação a controles, hipertrofia da amígdala direita (de 
cerca de 20%) e conectividade aumentada entre a 
amígdala e o hipocampo (10 vezes acima do desvio-
padrão). A hipermnésia autobiográfica é considerada um 
fenômeno complexo, dependente de intricada interação 
entre memória episódica, memória semântica, habilidades 
visuoespaciais, memória para emoções, viagem mental no 
tempo, teoria da mente e funções executivas. Embora 
muito rara, ela fornece elementos valiosos para a 
compreensão da memória autobiográfica. 
➨ Amnésias (ou hipomnésias): denomina-se amnésia, de 
forma genérica, a perda da memória, seja da capacidade 
de fixar, seja da capacidade de manter e evocar antigos 
conteúdos mnêmicos. Em relação às amnésias 
associadas à memória episódica autobiográfica, cabe citar 
a Lei da regressão mnêmica, de Théodule Ribot, 
formulada em seu livro Les Maladies de la Mémoire, de 
1881. Apesar de ter sido formulada há mais de um século, 
ela pode ser ainda de utilidade. Segundo a lei de Ribot 
(atualmente denominada temporally graded amnesia), no 
indivíduo que sofre uma lesão ou doença cerebral, sempre 
que esse processo patológico atinja seus mecanismos 
mnêmicos de codificação, armazenamento e recordação, 
a perda dos elementos da memória (esquecimento) segue 
algumas regularidades: 
O sujeito perde as lembranças e seus conteúdos na ordem 
e no sentido inverso que os adquiriu; 
Consequência do item anterior, ele perde primeiro 
elementos recentemente adquiridos e, depois, os mais 
antigos; 
 Perde primeiro elementos mais complexos e, depois, os 
mais simples; 
 
@karina_oliveiraq 
 
 Perde primeiro os elementos mais estranhos, menos 
habituais e, só posteriormente, os mais familiares. Em 
relação aos processos fisiopatológicos, as amnésias 
podem ser divididas em dois grandes grupos: 
psicogênicas ou dissociativas e orgânicas. 
➥ Nas amnésias dissociativas, ou psicogênicas, há perda 
de elementos mnêmicos seletivos, os quais podem ter 
valor psicológico específico (simbólico, afetivo). O 
indivíduo esquece, por exemplo, uma fase ou um evento 
de sua vida (que teve um significado especial para ele), 
mas consegue lembrar de tudo que ocorreu “ao seu redor”. 
É quase sempre uma amnésia retrógrada (ver adiante). A 
amnésia dissociativa pode surgir em sequência a um 
episódio de trauma emocional e/ou relacionada a fuga 
dissociativa (quando o indivíduo foge de sua casa, em 
estado dissociativo). Já nas amnésias orgânicas, a perda 
de memória é geralmente menos seletiva, em relação ao 
conteúdo emocional e/ou simbólico do material esquecido, 
do que na amnésia psicogênica. Em geral, perde-se 
primeiramente a capacidade de memorização de fatos e 
eventos recentes, e, em estados avançados da doença 
(geralmente demência), o indivíduo passa gradualmente a 
perder conteúdos mais antigos. 
➥ Amnésia anterógrada e retrógrada: na amnésia 
anterógrada, o indivíduo não consegue mais fixar 
elementos mnêmicos a partir do evento que lhe causou o 
dano cerebral. Por exemplo, ele não lembra o que ocorreu 
nas semanas (ou meses) seguintes a um trauma 
craniencefálico. A amnésia anterógrada é um distúrbio-
chave e bastante frequente na maior parte dos distúrbios 
neurocognitivos, transtornos de base orgânica. Já na 
amnésia retrógrada (verificável na amnésia dissociativa), 
o indivíduo perde a memória para fatos ocorridos antes do 
início do transtorno (ou trauma). Sua ocorrência, sem 
amnésia anterógrada, é observada em quadros 
dissociativos (psicogênicos), como a amnésia dissociativa 
e a fuga dissociativa. De modo geral, é comum, após 
trauma craniencefálico, a ocorrência de amnésias 
retroanterógradas, ou seja, déficits de fixação para o que 
ocorreu dias, semanas ou meses antes e depois do evento 
patógeno. 
➭ Alterações qualitativas (paramnésias): 
➥ As alterações qualitativas da memória envolvem 
sobretudo a deformação do processo de evocação de 
conteúdos mnêmicos previamente fixados. O indivíduo 
apresenta lembrança deformada que não corresponde à 
sensopercepção original. Os principais tipos de 
paramnésias são: 
 Ilusões mnêmicas. Nesse caso, há o acréscimo de 
elementos falsos a elementos da memória de fatos que 
realmente aconteceram. Por isso, a lembrança adquire 
caráter fictício. Muitos pacientes informam sobre seu 
passado indicando claramente deformações marcantes de 
lembranças reais: “Tive 20 filhos com minha mulher” (teve, 
de fato, 4 filhos com ela, mas não 20). Se não for uma 
deformação marcante, é difícil diferenciar a ilusão 
mnêmica do processo normal de recordação (pois a 
memória é um processo construtivo, que se refaz e 
modifica normalmente). As ilusões mnêmicas podem 
ocorrer na esquizofrenia, no transtorno delirante e, menos 
frequentemente, nos transtornos da personalidade 
(borderline, histriônica, esquizotípica etc.). 
 Alucinações mnêmicas. São criações imaginativas, 
dotadas de sensorialidade, marcadamente com a 
aparência de lembranças ou reminiscências que não 
correspondem a qualquer elemento mnêmico, a qualquer 
lembrança verdadeira. Podem surgir de modo repentino, 
sem corresponder a qualquer acontecimento. Ocorrem 
principalmente na esquizofrenia e em outras psicoses. 
➨ Confabulações (ou fabulações): são produções de 
relatos, narrativas e ações que são involuntariamente 
incongruentes com a história passada do indivíduo, com 
sua situação presente e futura. As confabulações são 
caracterizadaspor três aspectos básicos: 
 Elas são memórias ou recordações falsas; a falsidade 
repousa ou no seu conteúdo, ou no seu contexto. 
 A pessoa que confabula não sabe da falsidade de suas 
recordações. 
 Confabulações são recordações plausíveis, ou seja, elas 
se parecem com o que poderia ter acontecido, mas que 
não aconteceu. 
➥ As chamadas confabulações de embaraço são 
produzidas e estimuladas quando, na entrevista, se 
pergunta “se lembra de um encontro que tivemos há dois 
anos, em uma festa, em seu bairro?” ou “o que você fez 
no domingo anterior?”. A pessoa premida pela pergunta, 
sem perceber suas dificuldades de memória, passa a 
relatar fatos falsos relacionados às perguntas; plausíveis, 
mas falsos. Tradicionalmente, a psicopatologia considerou 
por muitas décadas que as confabulações eram formadas 
por elementos da imaginação do sujeito que completariam 
artificialmente lacunas de memória. Essas lacunas ou 
falhas seriam produzidas por déficit da memória de 
fixação, sobretudo da memória episódica. Além do déficit 
 
@karina_oliveiraq 
 
de fixação, a pessoa não seria capaz de reconhecer como 
falsas as imagens produzidas pela fantasia. 
➥ As alterações anatômicas relacionadas às 
confabulações compreendem lesões nos corpos 
mamilares, no núcleo dorsomedial do tálamo, assim como 
no córtex orbitofrontal. Entretanto, cerca de outras 20 
áreas lesadas já foram associadas às confabulações, 
indicando a complexidade de sua fisiopatologia. 
➭ Referencias: 
- Quarmley M, Moberg PJ, Mechanic-Hamilton D, et ai. A 
triagem de identificação de odor melhora a classificação 
diagnóstica na doença de Alzheimer incipiente. J 
Alzheimers Dis 2017; 55:1497. 
- DO AMARAL, IVAN LUIZ MARTINS FRANCO et al. 
Pesquisa de iniciação científica no Centro de Memória e 
Arquivo. 
- DIMITROVA, Lora I. et al. A neurostructural biomarker of 
dissociative amnesia: a hippocampal study in dissociative 
identity disorder. Psychological Medicine, p. 1-9, 2021. 
- RADULOVIC, Jelena; LEE, Royce; ORTONY, Andrew. 
State-dependent memory: neurobiological advances and 
prospects for translation to dissociative 
amnesia. Frontiers in Behavioral Neuroscience, v. 12, 
p. 259, 2018. 
- GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia 
Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro, Ed.