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@karina_oliveiraq Distúrbios da memória • Conhecer o conceito memória, seus tipos e áreas do cérebro relacionadas a memória. ➤ A memória é um processo que o cérebro humano usa para armazenar e, depois, recuperar informações. Ela faz parte da cognição humana, pois permite que as pessoas possam relembrar algum evento que aconteceu no passado. Isso serve para auxiliar na compreensão de comportamentos no presente. ➨ Memórias – Papéis na facilitação sináptica e inibição sináptica ➥ Memorias são armazenadas no cérebro pela variação da sensibilidade básica da transmissão sináptica, entre neurônios, como resultado de atividade neural previa. As vias novas ou facilitadas são chamadas traços de memória. Eles são importantes, porque, uma vez que os traços são estabelecidos, eles podem ser seletivamente ativados pelos processos mentais para reproduzir as memórias. ➥ Experimentos em animais inferiores demonstraram que os traços de memória podem ocorrer em todos os níveis do sistema nervoso. Mesmo reflexos da medula espinal podem mudar pelo menos levemente em resposta à ativação repetida da medula espinal, e essas mudanças nos reflexos são partes do processo de memória. Além disso, memórias a longo prazo também podem resultar de condução sináptica alterada, em centros subcorticais. Entretanto, a maioria das memórias que associamos a processos intelectuais é baseada em traços mnemônicos estabelecidos no córtex cerebral. ➨ Memória positiva e negativa — “Sensibilização” ou “Habituação” da transmissão sináptica: ➥ Embora muitas vezes interpretemos as memórias como sendo recordações positivas de pensamentos ou de experiências passados, provavelmente a maior parte das nossas memórias é negativa, não positiva, isto é, nosso cérebro é inundado com informação sensorial de todos os nossos sentidos. Se as nossas mentes tentassem lembrar de toda essa informação, a capacidade de memória do nosso cérebro seria rapidamente excedida. Felizmente, o cérebro tem a capacidade de aprender a ignorar informação sem consequências. Essa capacidade resulta da inibição das vias sinápticas para esse tipo de informação; o efeito resultante chama-se habituação, que é um tipo de memória negativa. ➥ Por sua vez, para a informação que entra no cérebro e que causa consequências importantes, tais como dor ou prazer, o cérebro tem a capacidade automática diferente de realçar e armazenar os traços mnemo ̂nicos. Isso é a memória positiva. Ela resulta da facilitação das vias sinápticas e o processo se chama sensibilização da memória. Como discutiremos mais adiante, umas áreas especiais nas regiões límbicas basais do cérebro determinam se uma informação é importante ou não e tomam a decisão subconsciente de armazenar a informação, como traço de memória sensibilizada ou suprimi-la. ➤ Classificação das Memorias: ➨ Classificação de acordo com a duração: ➥ Sabemos que algumas memórias duram somente alguns segundos, enquanto outras duram por horas, dias, meses ou anos. Para poder discutir esses tipos de memória vamos usar a classificação comum das memórias que as divide em: Memória a curto prazo: que inclui memórias que duram por segundos ou, no máximo, minutos se não forem convertidas em memórias a longo prazo. Memória a curto prazo é ilustrada pela memória que se tem de 7 a 10 dígitos, no número de telefone (ou 7 a 10 outros fatos distintos), por alguns segundos, até́ alguns minutos de cada vez, mas que dura somente enquanto a pessoa continua a pensar nos números ou nos fatos.Muitos fisiologistas sugeriram que essa memória a curto prazo seja causada por atividade neural contínua, resultando de sinais neurais que se propagam em círculos em traço de memória temporária de circuito de neurônios reverberantes. Ainda não foi possível provar essa teoria. Outra explicação possível para a memória a curto prazo é a facilitação ou inibição pré- sináptica, o que ocorre em sinapses que ficam em fibras nervosas terminais, imediatamente antes que formem sinapses com o neurônio subsequente. As substa ̂ncias neurotransmissoras, liberadas em tais terminais frequentemente causam facilitação ou inibição, que duram segundos ou até vários minutos. Circuitos desse tipo poderiam levar à memória a curto prazo. @karina_oliveiraq Memórias de prazo intermediário: podem durar por muitos minutos ou até semanas. Serão por fim perdidas se os traços de memória não forem ativados o suficiente para se tornarem mais permanentes; então, são classificadas como memórias a longo prazo. Experimentos em animais primitivos mostraram que memórias do tipo de prazo intermediário podem resultar de alterações temporárias químicas ou físicas, ou ambas, tanto nos terminais pré- sinápticos quanto nas membranas pós-sinápticas, mudanças essas que podem persistir por alguns minutos a várias semanas. Esses mecanismos são tão importantes que merecem descrição especial. - Memória Baseada em Mudanças Químicas nos Terminais Pré-sinápticos ou nas Membranas Neuronais Pós-sinápticas: ➥ Um terminal que vem de um neurônio sensorial e termina, diretamente, na superfície do neuro ̂nio que deve ser estimulado, é chamado terminal sensorial. O outro terminal, uma terminação pré-sináptica, que fica na superfície do terminal sensorial, é chamado terminal facilitador. Quando o terminal sensorial é estimulado repetidamente, mas sem estimulação do terminal facilitador, a transmissão do sinal inicialmente é grande, mas se torna cada vez menos intensa com a estimulação repetida, até a transmissão quase desaparecer. Esse feno ̂meno é a habituação como explicado antes. É o tipo de memória negativa que faz o circuito neuronal perder sua resposta a eventos repetidos, que são insignificantes. ➥ Por sua vez, se um estímulo nocivo excitar o terminal facilitador no mesmo momento em que o terminal sensorial for estimulado, então, em vez de o sinal transmitido ao neurônio pós-sináptico se tornar cada vez mais fraco, a facilitac ̧ão da transmissão se tornará cada vez mais forte e permanecerá forte por minutos, horas, dias ou com treino mais intenso, até cerca de 3 semanas, mesmo sem estimulação adicional do terminal facilitador. Dessa forma, o estímulo nocivo faz com que as vias de memória pelo terminal sensorial fiquem facilitadas nos dias e semanas seguintes. É especialmente interessante que mesmo depois da habituação ocorrer essa via poderá ser reconvertida para via facilitada com apenas alguns estímulos nocivos. - Mecanismo Molecular da Memória Intermediária Mecanismo para a Habituação: ➥ Em nível molecular, o efeito de habituação no terminal sensorial resulta do fechamento progressivo de canais de cálcio na membrana terminal, apesar da causa do fechamento dos canais de cálcio não ser completamente conhecida. De qualquer forma, quantidades muito menores que as normais de íons cálcio podem se difundir para o terminal habituado e, como conseque ̂ncia, muito menos neurotransmissor é liberado pelo terminal sensorial, já que a entrada de cálcio é o estímulo principal para a liberação do neurotransmissor. Memória a longo prazo: Não existe uma demarcaçãoóbvia entre as formas mais prolongadas da memória de prazo intermediário e a verdadeira memória a longo prazo. Entretanto, em geral se acredita que a memória a longo prazo resulte de alterações estruturais reais, em vez de somente químicas nas sinapses, e que realcem ou suprimam a condução dos sinais. Mais uma vez vamos lembrar experimentos em animais primitivos (nos quais os sistemas nervosos são muito fáceis de estudar) e que ajudaram imensamente a compreensão de possíveis mecanismos da memória a longo prazo. - Mudanças Estruturais Ocorrem nas Sinapses Durante o Desenvolvimento da Memória a Longo Prazo: ➥ O desenvolvimento dos traços de memória a longo prazo. As mudanças estruturais não ocorrerão se forem administrados fármacos. que bloqueiem a produção de proteína no neurônio pré-sináptico, nem se desenvolverá o traço de memória permanente. Portanto, parece que o desenvolvimento da verdadeira memória a longo prazo depende da reestruturação física das próprias sinapses de forma que mude sua sensibilidade para transmitir os sinais neurais. As mudanças estruturais mais importantes que ocorrem são as seguintes: 1. Aumento dos locais onde vesículas liberam a substa ̂ncia neurotransmissora. 2. Aumento do número de vesículas transmissoras. 3. Aumento do número de terminais pré-sinápticos. 4. Mudanças nas estruturas das espinhas dendríticas que permitem a transmissão de sinais mais fortes. ➨ Classificação de acordo com o tipo de informação que é armazenada: Memória declarativa significa basicamente memória dos vários detalhes de pensamento integrado como, por exemplo, memória de experiência importante que inclui (1) memória do ambiente; (2) memória das relações temporais; (3) memória de causas da experiência; (4) memória do significado da experiência; e (5) memória das deduções que ficaram na mente do indivíduo. @karina_oliveiraq Memória de habilidades é, frequentemente, associada a atividades motoras do corpo da pessoa, tais como todas as habilidades desenvolvidas, para bater numa bola de te ̂nis, incluindo memórias automáticas para (1) avistar a bola; (2) calcular a relação e a velocidade da bola com a raquete; e (3) deduzir rapidamente os movimentos do corpo e dos braços e da raquete necessários para bater na bola como desejado — com todas essas capacidades ativadas instantaneamente, com base na aprendizagem anterior do jogo de tênis — então, continua-se para o próximo lance do jogo enquanto se esquecem os detalhes do lance prévio. ➨ Classificação de acordo com a estrutura cerebral envolvida: ➥ São quatro os principais tipos de memória que correspondem a estruturas cerebrais diversas. Esses quatro tipos são afetados de forma diferente nas doenças e condições que diminuem ou destroem a memória (p. ex., demências). São, nesse sentido, as principais formas de memória de interesse à semiologia neurológica, psicopatológica e neuropsicológica. São eles: Memória de trabalho; Memória episódica; Memória semântica; Memória de procedimentos; ➤ Memória de trabalho (working memory): situa-se entre os processos e habilidades da atenção e os da memória imediata. São exemplos de memória de trabalho ouvir um número telefônico e retê-lo na mente para, em seguida, discá-lo, assim como, ao dirigir em uma cidade desconhecida, perguntar sobre um endereço, receber a informação e a sugestão do trajeto e, mentalmente, executar o itinerário de forma progressiva. A memória de trabalho é, de modo geral, uma memória explícita, consciente, que exige esforço. Para diferenciá-la da memória de curto prazo, deve-se realçar que a memória de trabalho é plenamente ativa, que realiza operações mentais de modo constante (por isso, “está trabalhando” constantemente). Ela representa um conjunto de habilidades que permite manter e manipular informações novas (acessando-as em face às antigas). Tais informações (verbais ou visuoespaciais) são mantidas ativas, em operação (on-line), geralmente por curto período (poucos segundos até, no máximo, alguns minutos), a fim de serem manipuladas, com o objetivo de selecionar um plano de ação e realizar determinada tarefa. O conteúdo mnêmico deve ser utilizado imediatamente sob alguma forma de resposta. A memória de trabalho também é vista como uma gerenciadora da memória. Seu papel não é tanto formar arquivos, mas, antes, o de analisar e selecionar as informações que chegam constantemente e compará-las com as existentes nas demais memórias, de curta e de longa duração. Esse processo requer mecanismos neurais adequados à seleção de informações pertinentes, mantendo-as on-line por breve período, até que a decisão e a resposta adequada sejam tomadas. Investigações têm indicado que a memória de trabalho é composta por três componentes: alça fonológica, esboço visuoespacial e sistema executivo. O esboço visuoespacial realiza armazenamento temporário e manipulação das imagens. A alça fonológica utiliza códigos articulatórios e depósitos fonológicos para sintetizar e operacionalizar as informações. O sistema executivo faz a mediação da atenção e das estratégias para coordenar os recursos cognitivos entre a alça fonológica e o esboço visuoespacial. As regiões corticais pré-frontais são importantes para a integridade da memória de trabalho. Nas tarefas verbais, há maior envolvimento das áreas pré-frontais esquerdas, assim como das áreas de Broca (frontal esquerda inferior) e de Wernicke (temporal esquerda superior). Nas tarefas visuoespaciais (seguir mapas mentalmente, sair de labirintos gráficos e montar quebra-cabeças), há maior implicação das áreas pré-frontais direitas, assim como de zonas visuais de associação do carrefour temporoparietoccipital direito. ➥ Quando o córtex temporal é lesado, há prejuízo da memória de trabalho visual (mas a memória de trabaho espacial é preservada); quando há lesão dos lobos parietais, ocorre o oposto. Pacientes com lesões nas áreas cerebrais associadas aos conhecimentos semânticos (sentido das palavras), como o córtex dos lobos temporais laterais e temporoparietais, têm prejuízos nos desempenhos da memória de trabalho verbal. - Avaliação semiológica: ➥ Observa-se inicialmente o grau de habilidade do paciente de prestar atenção e se concentrar. Particularmente importante é a dificuldade em realizar novas tarefas que incluam a execução de várias etapas distintas em uma sequência após instrução. Um teste simples é aquele incluído no Teste Minimental, quando se solicita ao paciente que realize a tarefa: “Veja esta folha de papel em minha mão; quero que pegue este papel com sua mão direita, que o dobre no meio e, depois, o coloque no chão”. Também são formas de testar a memória de trabalho solicitar que uma pessoa repita números em @karina_oliveiraq sequência direta (a pessoa sem alterações repete de 5 a 8 dígitos; 4 é resultado limítrofe; e 3 ou menos dígitos, resultado alterado) e sequência inversa (normal de 4 a 5 dígitos; 3, resultado limítrofe; e 2 ou menos dígitos, alterado). Pode-se igualmente testar a memória de trabalho de natureza visuoespacial, utilizando-se labirintos gráficos e quebra-cabeças.Valor diagnóstico das alterações da memória de trabalho. ➥ De modo geral, todas as condições que afetam as regiões pré-frontais causam alteração da memória de trabalho. Elas ocorrem em distintas condições clínicas, mas sobretudonas demências, como: Demência frontotemporal (DFT), sobretudo na variante frontal da DFT; Demência de Alzheimer (sobretudo na varitante frontal desta demência); Demências vasculares e demência com corpos de Lewy. ➤ Memória episódica: Trata-se de memória explícita, de médio e longo prazos, relacionada a eventos específicos da experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em determinado contexto. Relatar o que foi feito no último fim de semana é um típico exemplo de memória episódica. Ela corresponde a eventos específicos e concretos, comumente autobiográficos, bem circunscritos em determinado momento e local. Refere-se, assim, à recordação consciente de fatos reais. A perda da memória episódica, em geral, se evidencia para eventos autobiográficos recentes, mas, com o evoluir da doença (p. ex., doença de Alzheimer), pode incluir elementos mais antigos. Nesse sentido, a perda de memória episódica obedece à lei de Ribot (perdem-se primeiro os elementos recentemente adquiridos e, depois, os mais antigos). Esse tipo de memória depende, em essência, de mecanismos relacionados àsregiões da face medial dos lobos temporais, particularmente o hipocampo e os córtices entorrinal e perirrinal. ➥ Quando tais áreas se deterioram, por exemplo, com o avançar da demência de Alzheimer, o paciente perde totalmente a capacidade de fixar e lembrar eventos ocorridos há poucos minutos ou horas, inclusive situações marcantes e significativas para ele. Os pacientes com síndrome de Wernicke-Korsakoff têm déficits graves na memória episódica, uma condição relacionada a danos no diencéfalo, primariamente nos corpos mamilares, no trato mamilo-talâmico e no tálamo anterior. Respeitando a lei de Ribot, a memória remota de eventos antigos permanece mais tempo sem alterações. O hipocampo é um depósito transitório de memórias, uma estação de transferência de elementos recentemente registrados para um arquivo mais permanente de lembranças, localizado de modo difuso em amplas áreas do córtex dos distintos lobos cerebrais. A memória episódica interage constantemente com a memória semântica (de conhecimentos gerais e conceitos; ver adiante), contrastando ou se articulando com ela. - Avaliação semiologia: ➥ Suspeita-se de alteração da memória episódica quando se nota que o sujeito vai se tornando incapaz de reter e lembrar informações e experiências recentes de maneira correta e acurada. Um modo simples de fazer um primeiro rastreamento sobre a memória episódica de uma pessoa é contar uma pequena história para ela e, alguns minutos depois, pedir que a reconte. Deve-se entrevistar o paciente investigando a evolução temporal das falhas de memória. Nesse sentido, o relato de parentes próximos e cuidadores é essencial, pois o indivíduo geralmente não tem crítica de seu estado cognitivo e não costuma perceber suas perdas. Um modo prático de inquirir parentes e cuidadores é perguntar se, em comparação a alguns anos atrás, o paciente tem agora mais dificuldades em se lembrar de coisas que acontecem recentemente com ele. É importante, para avaliar o significado da alteração da memória episódica, que sejam investigadas outras áreas cognitivas além da memória (como linguagem, atenção, habilidades visuoespaciais e funções executivas). Por fim, devem ser examinados sinais neurológicos focais e alterações de possíveis doenças físicas sistêmicas. ➤ Memória semântica: esse tipo de memória se refere ao aprendizado, à conservação e à utilização do arquivo geral de conceitos e conhecimentos do indivíduo (os chamados conhecimentos gerais sobre o mundo). Assim, conhecimentos como a cor do céu (azul) ou de um papagaio (verde), ou quantos dias há na semana (sete), são de caráter geral e se cristalizam por meio da linguagem, ou seja, também são de caráter semântico. ➥ Assim como a episódica, a memória semântica é frequentemente explícita (mas pode ser, eventualmente, implícita). Ela é, enfim, a representação de longo prazo dos conhecimentos que temos sobre o mundo, entre eles o significado das palavras, dos objetos e das ações. Também, cabe assinalar, a memória semântica diz respeito ao registro e à retenção de conteúdos em função do significado que têm. Ela é um componente da memória de longo prazo que inclui os conhecimentos de objetos, fatos, operações matemáticas, assim como das palavras e seu uso. A memória semântica é, de modo geral, @karina_oliveiraq compartilhada socialmente, reaprendida de forma constante, não sendo temporalmente específica. A contraposição desses dois tipos de memória (episódica e semântica) exemplifica-se da seguinte forma: lembrar como foi um almoço com os avós, em Belo Horizonte, há três semanas, depende do sistema de memória episódica. Já o conhecimento do significado das palavras “almoço”, “Belo Horizonte”, “avós”, etc., depende da memória semântica. Embora esses dois tipos de memória tenham certa independência, eles constantemente interatuam. Memórias episódicas são convertidas, ao longo do tempo e por exposição repetida, em memórias semânticas. A memória semântica previamente adquirida é muitas vezes preservada em pacientes que apresentam graves alterações no sistema de memória episódica. Indivíduos com síndrome de Wernicke-Korsakoff, por exemplo, têm grave déficit de memória episódica, mas podem ter a memória semântica preservada. ➥ A memória semântica, em acepção restrita, corresponde às capacidades de nomeação e categorização. Depende, de forma estreita, das regiões inferiores e laterais dos lobos temporais, sobretudo no hemisfério esquerdo (diferentemente da memória episódica, que depende das regiões mediais desses lobos, sobretudo dos hipocampos). - Avaliação semiológica: ➥ Pesquisam-se alterações de memória semântica verificando-se a dificuldade do paciente em tarefas como nomear itens cujos nomes ele previamente sabia (mostrar um relógio, uma caneta e uma régua e pedir que o indivíduo os nomeie). Deve-se diferenciar as dificuldades leves e benignas, como lembrar o nome de pessoas ou outros nomes próprios (muito comuns em adultos de meia idade e idosos), da verdadeira perda da capacidade de lidar com informação semântica. ➥ Pacientes com disfunções leves na memória semântica têm capacidade reduzida em testes de geração de palavras (p. ex., solicitar ao indivíduo que nomeie o maior número possível de animais em 1 minuto). Aqueles com alterações mais avançadas na memória semântica tipicamente revelam déficits de duas vias na nomeação, isto é, são incapazes de dizer o nome de um item quando este lhes é mostrado e de descrever um item cujo nome lhes é apresentado. Os pacientes com déficits de memória semântica mais avançada também apresentam empobrecimento marcante de conhecimentos gerais (não são capazes de citar algumas cidades do Brasil, dizer quem é o atual presidente do País, dizer a cor do papagaio etc.). ➤ Memória de procedimentos: trata-se de um tipo de memória automática, não consciente. Exemplos desse tipo de memória são habilidades motoras e perceptuais mais ou menos complexas (andar de bicicleta, digitar no computador, tocar um instrumento musical, bordar etc.), habilidades visuoespaciais (como a capacidade de aprender soluções de labirintos e quebra-cabeças) e habilidades automáticas relacionadas ao aprendizado de línguas (regras gramaticais incorporadas na fala automaticamente, decorar a conjugação de verbos de uma língua estrangeira etc.). ➥ A memória de procedimentos, de modo geral, é implícita e não declarativa, mas, durante a aquisição da habilidade, pode ser explícita na fase de aprendizado, como quando, por exemplo,se aprende a dirigir um carro seguindo orientações verbais. Na maioria das vezes, a memória de procedimentos é implícita, pois manifesta-se tipicamente por ações motoras e desempenho de atividades, e não pela expressão de palavras (tornando-se consciente apenas com esforço). Aqui, a memorização ocorre de forma lenta, por meio de repetições e múltiplas tentativas. A localização da memória de procedimentos está relacionada com o sistema motor e/ou sensorial específico envolvido na tarefa. As principais áreas envolvidas são a área motora suplementar (lobos frontais), osnúcleos da base (sobretudo o striatum)e ocerebelo. - Avaliação semiológica: ➥ Suspeita-se da presença de alterações da memória de procedimentos quando o indivíduo apresenta ou perda de habilidades motoras ou visuoespaciais previamente aprendidas, ou grande dificuldade em aprender novas habilidades. Por exemplo, o paciente pode perder a habilidade de escrever à mão ou de digitar em um teclado, de tocar um instrumento musical, de pregar um botão ou de chutar uma bola. Eventualmente, ele pode reaprender essas habilidades, mas, para isso, necessita de ordens explícitas (verbais, conscientes) para realizar cada etapa da habilidade. Em consequência, um paciente com lesão no sistema de memória de procedimentos pode nunca mais readquirir as habilidades motoras automáticas que pessoas saudáveis realizam sem perceber. Por fim, aqueles cuja memória episódica foi devastada (quadros graves de demência de Alzheimer ou síndrome de Wernicke-Korsakoff) podem ter ganhos relativos em um processo de reabilitação que lance mão do sistema de @karina_oliveiraq memória de procedimentos preservada e, assim, aprender novas habilidades. ➨ Consolidação da memória: ➥ Para a conversão da memória a curto prazo para a memória a longo prazo, que pode ser evocada semanas ou anos depois, ela precisa ser “consolidada”, isto é, a memória a curto prazo se ativada repetidamente promoverá mudanças químicas, físicas e anatômicas nas sinapses que são responsáveis pela memória a longo prazo. Esse processo requer 5 a 10 minutos, para consolidação mínima e 1 hora ou mais, para consolidação forte. Por exemplo, se forte impressão sensorial é feita no cérebro, mas é seguida dentro de mais ou menos 1 minuto por convulsão induzida eletricamente, a experiência sensorial não será lembrada. Da mesma forma, a concussão cerebral, a aplicação repentina de anestesia geral profunda ou qualquer outro efeito que bloqueie temporariamente a função cerebral dinâmica pode impedir a consolidação da memória. A consolidação e o tempo necessário para ela aconteça podem provavelmente serem explicados pelo feno ̂meno de repetição da memória a curto prazo. ➨ A Repetic ̧ão Aumenta a Transfere ̂ncia da Memória a Curto Prazo para a Memória a Longo Prazo: ➥ Estudos mostraram que a repetição dela informação várias vezes na mente acelera e potencializa o grau de transferência da memória a curto prazo para a memória a longo prazo, e assim acelera e aumenta a consolidação. O cérebro tem tendência natural de repetir as informações novas, especialmente as que atraiam a atenção. Portanto, ao longo de certo período, as características importantes das experiências sensoriais ficam, progressivamente, cada vez mais fixadas nos bancos da memória. Esse feno ̂meno explica porque a pessoa pode lembrar pequenas quantidades de informação, estudadas profundamente, muito melhor do que grande quantidade de informação estudada superficialmente. Também explica porque a pessoa bem acordada pode consolidar memórias muito melhor do que a pessoa em estado de fadiga mental. ➥ Novas Memórias São Codificadas durante a Consolidação. Uma das características mais importantes da consolidação é que novas memórias são codificadas em diferentes classes de informação. Durante esse processo, tipos semelhantes de informação são retirados dos arquivos de armazenagem de memórias e usados para ajudar a processar a nova informação. O novo e o velho são comparados a respeito de semelhanças e diferenças, e parte do processo de armazenagem consiste em guardar a informação sobre essas semelhanças e diferenças, não em guardar a nova informação não processada. Assim, durante a consolidação, as novas memórias não são armazenadas aleatoriamente no cérebro, mas sim em associação direta com outras memórias do mesmo tipo. Esse processo é necessário para se poder “procurar” posteriormente a informação requerida na memória armazenada. ➨ O Papel de Regiões Específicas do Cérebro no Processo de Memorização: ➥ O Hipocampo Promove o Armazenamento das Memórias — Amnésia Anterógrada Ocorre após Lesões de Longa Duração do Hipocampo. O hipocampo é a porção mais medial do córtex do lobo temporal, onde ele primeiro se dobra medialmente, sob o hemisfério cerebral, e depois para cima em direção à superfície inferior e medial do ventrículo lateral. Em alguns pacientes, os dois hipocampos foram retirados para o tratamento de epilepsia. Esse procedimento não afetou seriamente a memória do indivíduo para a informação armazenada antes da retirada dos hipocampos. Entretanto, depois da retirada, essas pessoas praticamente não te ̂m mais capacidade de armazenar formas verbais e simbólicas de memórias (formas declarativas de memória) na memória a longo prazo, ou até na memória intermediária que dure mais do que alguns minutos. Por isso, essas pessoas ficam incapazes de estabelecer novas memórias a longo prazo dos tipos de informação que são a base da inteligência. Esse distúrbio se chama amnésia anterógrada. Mas por que os hipocampos são tão importantes para ajudar no processo de armazenamento de novas memórias? A resposta mais provável é que os hipocampos figuram, entre as vias de saída mais importantes, das áreas de “recompensa” e “punição” do sistema límbico, Estímulos sensoriais ou pensamentos que causem dor ou aversão excitam os centros límbicos de punição, e os estímulos que causem prazer, felicidade ou sensação de recompensa, excitam os centros límbicos de recompensa. Todos eles juntos fornecem o humor básico e as motivações da pessoa. Entre essas motivações, está a força motriz do cérebro para lembrar as experiências e pensamentos que são agradáveis ou desagradáveis. Especialmente, os hipocampos e, em menor grau, os núcleos mediodorsais do tálamo, outra estrutura límbica, mostraram-se especialmente importantes para tomar a @karina_oliveiraq decisão de quais dos nossos pensamentos são importantes o suficiente na base de recompensa ou punição para serem dignos da memória. ➨ Amnésia Retrógrada — Incapacidade de Recordar Memórias do Passado: ➥ Quando ocorre amnésia retrógrada, o grau de amnésia para eventos recentes tende a ser muito maior do que para eventos do passado distante. A razão dessa diferença é provavelmente porque as memórias distantes foram repetidas tantas vezes que os traços de memória ficaram profundamente entranhados e elementos dessas memórias estão armazenados em áreas muito disseminadas do cérebro. Em algumas pessoas que tiveram lesões hipocampais, algum grau de amnésia retrógrada ocorre junto com a amnésia anterógrada, o que sugere que esses dois tipos de amnésia sejam, pelo menos em parte,relacionados e que lesões hipocampais possam causar ambos. Entretanto, danos em algumas áreas tala ̂micas podem levar especificamente à amnésia retrógrada, sem causar amnésia anterógrada significativa. Possível explicação para isso é que o tálamo pode ter papel em ajudar a pessoa a “procurar” nos armazéns da memória e assim “ler” as memórias. Isto é, o processo de memória não só necessita do armazenamento das memórias, mas também de capacidade de procurar e encontrar posteriormente a memória. A possível função do tálamo, nesse processo. ➨ Os Hipocampos não são importantes para o Aprendizado Reflexivo: ➥ Pessoas com lesões hipocâmpicas geralmente não te ̂m dificuldades de aprender habilidades motoras que não envolvam verbalização ou formas simbólicas de inteligência. Por exemplo, essas pessoas podem ainda aprender as habilidades de agilidade manual e física necessárias em muitos esportes. Esse tipo de aprendizado se chama aprendizado de habilidades ou aprendizado reflexivo; depende da repetição física, por muitas vezes das tarefas necessárias, e não da repetição simbólica na mente. • Entender os tipos de distúrbios da memória: ➤ Alterações patológicas da memória: ➭ Alterações quantitativas: ➨ Hipermnésias: em alguns pacientes em mania ou hipomania, representações (elementos mnêmicos) afluem rapidamente, uma tempestade de informações ou imagens, ganhando em número, perdendo, porém, em clareza e precisão. A hipermnésia, nesses casos, traduz mais a aceleração geral do ritmo psíquico que uma alteração propriamente da memória. Há outro tipo de hipermnésia, chamada hipermnésia para memória autobiográfica. Trata-se de um fenômeno raro, no qual o indivíduo tem uma memória autobiográfica quase perfeita. ➥ Foi estudado detalhadamente o caso de HK, um rapaz de 20 anos, cego de nascença, que apresentava hipermnésia autobiográfica. Sua memória para detalhes de vários eventos de sua vida passada era profunda e minuciosa, quase perfeita. Por meio de várias fontes, a memória de HK foi checada em relação ao diário de sua avó, entrevistas com vários familiares e registros de prontuários médicos do hospital onde ele era tratado, revelando-se altamente fidedigna. HK apresentava, em relação a controles, hipertrofia da amígdala direita (de cerca de 20%) e conectividade aumentada entre a amígdala e o hipocampo (10 vezes acima do desvio- padrão). A hipermnésia autobiográfica é considerada um fenômeno complexo, dependente de intricada interação entre memória episódica, memória semântica, habilidades visuoespaciais, memória para emoções, viagem mental no tempo, teoria da mente e funções executivas. Embora muito rara, ela fornece elementos valiosos para a compreensão da memória autobiográfica. ➨ Amnésias (ou hipomnésias): denomina-se amnésia, de forma genérica, a perda da memória, seja da capacidade de fixar, seja da capacidade de manter e evocar antigos conteúdos mnêmicos. Em relação às amnésias associadas à memória episódica autobiográfica, cabe citar a Lei da regressão mnêmica, de Théodule Ribot, formulada em seu livro Les Maladies de la Mémoire, de 1881. Apesar de ter sido formulada há mais de um século, ela pode ser ainda de utilidade. Segundo a lei de Ribot (atualmente denominada temporally graded amnesia), no indivíduo que sofre uma lesão ou doença cerebral, sempre que esse processo patológico atinja seus mecanismos mnêmicos de codificação, armazenamento e recordação, a perda dos elementos da memória (esquecimento) segue algumas regularidades: O sujeito perde as lembranças e seus conteúdos na ordem e no sentido inverso que os adquiriu; Consequência do item anterior, ele perde primeiro elementos recentemente adquiridos e, depois, os mais antigos; Perde primeiro elementos mais complexos e, depois, os mais simples; @karina_oliveiraq Perde primeiro os elementos mais estranhos, menos habituais e, só posteriormente, os mais familiares. Em relação aos processos fisiopatológicos, as amnésias podem ser divididas em dois grandes grupos: psicogênicas ou dissociativas e orgânicas. ➥ Nas amnésias dissociativas, ou psicogênicas, há perda de elementos mnêmicos seletivos, os quais podem ter valor psicológico específico (simbólico, afetivo). O indivíduo esquece, por exemplo, uma fase ou um evento de sua vida (que teve um significado especial para ele), mas consegue lembrar de tudo que ocorreu “ao seu redor”. É quase sempre uma amnésia retrógrada (ver adiante). A amnésia dissociativa pode surgir em sequência a um episódio de trauma emocional e/ou relacionada a fuga dissociativa (quando o indivíduo foge de sua casa, em estado dissociativo). Já nas amnésias orgânicas, a perda de memória é geralmente menos seletiva, em relação ao conteúdo emocional e/ou simbólico do material esquecido, do que na amnésia psicogênica. Em geral, perde-se primeiramente a capacidade de memorização de fatos e eventos recentes, e, em estados avançados da doença (geralmente demência), o indivíduo passa gradualmente a perder conteúdos mais antigos. ➥ Amnésia anterógrada e retrógrada: na amnésia anterógrada, o indivíduo não consegue mais fixar elementos mnêmicos a partir do evento que lhe causou o dano cerebral. Por exemplo, ele não lembra o que ocorreu nas semanas (ou meses) seguintes a um trauma craniencefálico. A amnésia anterógrada é um distúrbio- chave e bastante frequente na maior parte dos distúrbios neurocognitivos, transtornos de base orgânica. Já na amnésia retrógrada (verificável na amnésia dissociativa), o indivíduo perde a memória para fatos ocorridos antes do início do transtorno (ou trauma). Sua ocorrência, sem amnésia anterógrada, é observada em quadros dissociativos (psicogênicos), como a amnésia dissociativa e a fuga dissociativa. De modo geral, é comum, após trauma craniencefálico, a ocorrência de amnésias retroanterógradas, ou seja, déficits de fixação para o que ocorreu dias, semanas ou meses antes e depois do evento patógeno. ➭ Alterações qualitativas (paramnésias): ➥ As alterações qualitativas da memória envolvem sobretudo a deformação do processo de evocação de conteúdos mnêmicos previamente fixados. O indivíduo apresenta lembrança deformada que não corresponde à sensopercepção original. Os principais tipos de paramnésias são: Ilusões mnêmicas. Nesse caso, há o acréscimo de elementos falsos a elementos da memória de fatos que realmente aconteceram. Por isso, a lembrança adquire caráter fictício. Muitos pacientes informam sobre seu passado indicando claramente deformações marcantes de lembranças reais: “Tive 20 filhos com minha mulher” (teve, de fato, 4 filhos com ela, mas não 20). Se não for uma deformação marcante, é difícil diferenciar a ilusão mnêmica do processo normal de recordação (pois a memória é um processo construtivo, que se refaz e modifica normalmente). As ilusões mnêmicas podem ocorrer na esquizofrenia, no transtorno delirante e, menos frequentemente, nos transtornos da personalidade (borderline, histriônica, esquizotípica etc.). Alucinações mnêmicas. São criações imaginativas, dotadas de sensorialidade, marcadamente com a aparência de lembranças ou reminiscências que não correspondem a qualquer elemento mnêmico, a qualquer lembrança verdadeira. Podem surgir de modo repentino, sem corresponder a qualquer acontecimento. Ocorrem principalmente na esquizofrenia e em outras psicoses. ➨ Confabulações (ou fabulações): são produções de relatos, narrativas e ações que são involuntariamente incongruentes com a história passada do indivíduo, com sua situação presente e futura. As confabulações são caracterizadaspor três aspectos básicos: Elas são memórias ou recordações falsas; a falsidade repousa ou no seu conteúdo, ou no seu contexto. A pessoa que confabula não sabe da falsidade de suas recordações. Confabulações são recordações plausíveis, ou seja, elas se parecem com o que poderia ter acontecido, mas que não aconteceu. ➥ As chamadas confabulações de embaraço são produzidas e estimuladas quando, na entrevista, se pergunta “se lembra de um encontro que tivemos há dois anos, em uma festa, em seu bairro?” ou “o que você fez no domingo anterior?”. A pessoa premida pela pergunta, sem perceber suas dificuldades de memória, passa a relatar fatos falsos relacionados às perguntas; plausíveis, mas falsos. Tradicionalmente, a psicopatologia considerou por muitas décadas que as confabulações eram formadas por elementos da imaginação do sujeito que completariam artificialmente lacunas de memória. Essas lacunas ou falhas seriam produzidas por déficit da memória de fixação, sobretudo da memória episódica. Além do déficit @karina_oliveiraq de fixação, a pessoa não seria capaz de reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia. ➥ As alterações anatômicas relacionadas às confabulações compreendem lesões nos corpos mamilares, no núcleo dorsomedial do tálamo, assim como no córtex orbitofrontal. Entretanto, cerca de outras 20 áreas lesadas já foram associadas às confabulações, indicando a complexidade de sua fisiopatologia. ➭ Referencias: - Quarmley M, Moberg PJ, Mechanic-Hamilton D, et ai. A triagem de identificação de odor melhora a classificação diagnóstica na doença de Alzheimer incipiente. J Alzheimers Dis 2017; 55:1497. - DO AMARAL, IVAN LUIZ MARTINS FRANCO et al. Pesquisa de iniciação científica no Centro de Memória e Arquivo. - DIMITROVA, Lora I. et al. A neurostructural biomarker of dissociative amnesia: a hippocampal study in dissociative identity disorder. Psychological Medicine, p. 1-9, 2021. - RADULOVIC, Jelena; LEE, Royce; ORTONY, Andrew. State-dependent memory: neurobiological advances and prospects for translation to dissociative amnesia. Frontiers in Behavioral Neuroscience, v. 12, p. 259, 2018. - GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro, Ed.