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ISSN 2176-1396 
 
LEITURA E EAD: DIFERENTES SUPORTES, DIFERENTES MODOS 
DE LER 
 
Deisily de Quadros1 - UNINTER 
Flávia Brito Dias2 - PUCPR 
 
Eixo – Educação, Tecnologia e Comunicação 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
Os modos de ler vêm se transformando no decorrer da história nas diferentes sociedades. Isso 
porque há mudanças no contexto, nas necessidades do ser humano, nos objetivos da leitura, 
nos suportes, na sociedade. O fato é que, ainda que haja profundas transformações nos 
suportes de leitura e nos modos de ler, o ser humano sempre leu algo e, para tanto, necessitou 
de determinadas habilidades leitoras. Isso porque a leitura é uma necessidade. Frente ao 
universo digital, encontra-se a realidade do estudante do ensino a distância. E enquanto 
espaço de formação de leitores inserido na sociedade, a EAD também apresenta desafios nos 
modos de ler. O estudante dessa modalidade precisa ler textos, ícones, hipertextos, hiperlinks 
e demais itens que compõem o ambiente virtual de aprendizagem disponíveis no computador, 
tablet, celular, e estes são os suportes de leitura. Cabe destacar que os leitores dessa 
modalidade de ensino, também necessitam de habilidades leitoras para ser leitores eficientes. 
Frente a essa reflexão, o presente artigo tem como objetivo tecer olhares sobre o contexto 
atual da leitura e o modo de ler do estudante da modalidade ensino a distância, visto que, este 
tem acesso a um ambiente virtual de aprendizagem. O estudante da EaD tem, enquanto leitor, 
o desafio de ler em um suporte digital, que proporciona a navegação por hipertextos, 
hiperlinks e hipermídias, bem como uma experiência de leitura que traz o entrelace entre a 
palavra, a imagem e o som. Esse aluno, para ter acesso pleno à leitura em suporte virtual, 
deverá desenvolver certas habilidades leitoras, conforme afirmam teóricos como Manguel, 
Santaella, Murray, Coscarelli e Marcuschi. E é sobre o contexto da educação a distância, a 
relação entre leitura e os estudantes de EaD e habilidades leitoras que versará o presente 
artigo. 
 
Palavras-chave: Leitura. Educação a distância. Habilidades leitoras. 
 
1 Doutora em Estudos Literários pela UFPR. Professora do Centro Universitário Internacional UNINTER. E-
mail: deisily@uol.com.br. 
2 Mestre em Educação pela PUCPR. Professora da FAEL. E-mail: flabdias.7@hotmail.com 
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Introdução 
No decorrer do tempo, a humanidade deparou-se com muitas maneiras de ler. O 
homem sempre leu algo. Mesmo antes do surgimento do livro (seja em pedra, rolo ou códice), 
o homem já lia paisagens, estrelas e plantas. 
Mas como chegamos das estrelas ao computador e à peripécia de imaginar um 
holodeck, apresentado no filme Jornada nas estrelas: a nova geração, que “consiste num 
cubo negro e vazio (...) sobre o qual um computador pode projetar elaboradas simulações, 
combinando holografia com ‘campos de força’ magnéticos e conversão de energia em 
matéria?” (MURRAY, 2003, p. 30). A forma de leitura não mudou repentinamente, veio 
caminhando com a necessidade do ser humano. Enveredou-se pelo sendeiro do mundo 
contemporâneo, moderno, cosmopolita e fragmentado. 
O livro, a revista e o jornal dividem agora o espaço da leitura com a televisão, rádio, 
games, outdoors, cinema, teatro, placas de sinalização, computador, enfim, com uma 
infinidade de suportes que exigem diferentes modos de ler. Sob tal perspectiva, Santaella 
(2008, p. 24) considera que o “texto, imagem e som já não são o que costumavam ser”. A 
autora considera que as linguagens passaram a ser “líquidas” e que no contexto atual, 
apresentam-se instáveis e permeiam por tantos espaços e numa velocidade considerável que 
“competem com a luz” (grifos da autora) (2009, p. 25). A presença da linguagem simbólica se 
manifesta fortemente no contexto atual, por meio das imagens virtuais e publicitárias. 
Assim, a leitura, no final do século XX, ganhou as características da era digital. Passou 
a refletir não mais a sociedade calma e centrada de outrora, mas o mundo dinâmico e veloz 
que conhecemos tão bem. E como qualquer outra grande mudança no cenário humano, os 
novos modos de ler também provocam discussões, assombros e aclamações. Segundo Murray, 
o novo desperta o medo, a desconfiança. O surgimento da televisão, do rádio e da tela de 
cinema, por exemplo, provocou o receio de que os laços com o mundo real fossem rompidos. 
Isso porque “todas as artes de representação podem ser consideradas perigosamente 
ilusórias”. (MURRAY, 2003, p. 33). 
Esse receio pelo novo, pela ruptura de algo já conhecido, voltou a assombrar a 
humanidade com a era digital. O que era tido como ficção em filmes ou desenhos, como “Os 
Jetsons3” (grifos das autoras), tornou-se realidade. Já podemos conversar com uma pessoa 
 
3Série de desenho animada produzida pela Hanna-Barbera, exibida originalmente entre 1962 e 1963. 
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pelo telefone olhando para ela em aparatos bem menores do que os apresentados na casa da 
família Jetson. 
Hoje, é possível guardar informações não mais em um amontoado de papéis, mas em 
compactos pendrives ou ainda na chamada nuvem. As pesquisas não são mais realizadas em 
enciclopédias, tem-se as informações ao alcance de um clic, sem sair de casa. Consegue-se 
saber o que se passa no mundo em tempo real. Quer saber sobre um filme? Uma peça de 
teatro? Um novo CD? Um livro? Basta acessar o mundo dos internautas. O contato com as 
novas tecnologias é uma constante na vida da maioria dos sujeitos inseridos neste contexto e, 
por meio delas, acessam diversas informações, comunicam-se virtualmente com seus amigos, 
que também são virtuais e estabelecem suas relações diversas. 
Múltiplas linguagens, múltiplas leituras. Assim é o mundo atual. Talvez, ainda 
estejamos desenvolvendo um novo modo de ler, o que é necessário para dar conta das 
múltiplas linguagens e dos múltiplos suportes a que temos acesso nesta era digital. 
A era digital e as múltiplas linguagens estão presentes também na educação a 
distância. O aluno dessa modalidade de ensino necessita de determinadas habilidades leitoras 
para ser um leitor eficaz: precisa ler textos, ícones, hipertextos, hiperlinks e demais itens que 
compõem o ambiente virtual de aprendizagem disponível no computador, tablet, celular, que 
são os suportes de leitura. Diante desse contexto cabe analizar quais são as características dos 
textos pertencentes à cibercultura e que novas habilidades e competências de leitura esse 
contexto hipertextual e de novos gêneros virtuais exige do aluno da EaD. Frente a estes 
questionamentos, o presente artigo tem como objetivo tecer olhares sobre o contexto atual da 
leitura e o modo de ler do estudante da modalidade ensino a distância, visto que, este tem 
acesso a um ambiente virtual de aprendizagem. Assim, nesse artigo pretende-se analisar o 
contexto dos leitores, desafíos e habilidades necessárias para a compreensão dos recursos 
didáticos disponíveis nos ambientes virtuais da modalidade EaD. 
Desenvolvimento 
O contexto da Educação a Distância 
No início do século XX, a educação a distância apresentou características de 
ampliação e tornou-se a modalidade que possibilitou acesso a diversos níveis de ensino. Sobre 
a Educação a Distância, por um viés histórico, Mugnol (2009, p. 337) explica que “os avanços 
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tecnológicos tornaram mais visíveis as possibilidades de desenvolvimento da EaD, 
favorecendo, ainda no final do século XIX”. O autor complementa acrescentando que em 
meados do século XX, “[...]a multiplicação de iniciativas em muitos países da Europa, África 
e América. Países como Suécia, Inglaterra, França, bem como, Canadá e EUA e mais 
recentemente o Brasil, são considerados grandes propulsores da metodologia da educação a 
distância” (MUGNOL, 2009, p. 337).A EaD, segundo Taylor (2001), está hoje na sua quinta geração: é marcada pelo uso e 
conjugação de diversas mídias. Passamos já por diversos modelos de EaD: por 
correspondência, multimídia, teleaprendizagem e flexível. Atualmente, este formato de 
educação, ainda que se utilize das mais variadas mídias como apoio educacional, não 
descartou o uso de materiais e recursos didáticos. Ao contrário, transformou esses recursos, 
adaptando-os às exigências da EaD. 
Frente a exposição de Castells (1999) o contexto em que a EaD está inserido 
atualmente é descrito pelo autor como uma sociedade globalizada e com foco central na 
informação e conhecimento. Sob este olhar, o autor alerta que "devemos localizar este 
processo de transformação tecnológica revolucionária no contexto social em que ele ocorre e 
pelo qual está sendo moldado" (CASTELLS, 1999, 24). 
Moore e Kearsley (2007, p. 2), ao explicar o conceito de EaD, destacam que o 
processo de aprendizagem planejado acontece num ambiente diferenciado de ensino, nesse 
sentido requer “técnicas especiais de criação do curso e de instrução, comunicação por meio 
de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais”. 
Como um processo de aprendizagem que já passou por duas gerações - os cursos por 
correspondência e os telecursos -, em sua terceira geração, a educação à distância está 
totalmente integrada à tecnologia e os alunos utilizam os mais diversos recursos de meio de 
comunicação por meio de computadores conectados à internet. 
Na atualidade, o ensino a distância é a modalidade de ensino que mais cresce no 
Brasil, impulsionado por programas de governo que visam facilitar o acesso de alunos ao 
ensino superior. Segundo o Censo (2015), a EaD está presente em todo o país, nas capitais e 
nas regiões interioranas, com instituições de todas as regiões e estados do país (observa -se 
uma concentração de 42% de instituições com sede no Sudeste, com destaque para São Paulo, 
com 22%) (ABED, 2015, p. 7). 
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Na EaD temos um contexto de diferenciação entre a cultura do papel e a cultura da 
tela, ou cibercultura. Desta forma, é preciso ir além do denominado letramento: como este 
aluno precisa decodificar e compreender textos que trazem características diferentes dos que 
estão impressos em papel e que estão inseridos em outros suportes. 
Frente aos novos suportes de leitura, é preciso pensar em letramento digital, como 
ressalta Magda Soares (2002, p. 143). Dessa forma, a EaD exige um estudante autônomo, que 
transite pelo meio digital para apropriar-se dos conteúdos disponíveis: vídeos, textos, 
imagens, ícones, rádio, chat, músicas. 
Cabe destacar dados significativos de pesquisas como Retratos de Leitura no Brasil 
(2011, 2016) do Instituto Pró-Livro apontam que 44% da população brasileira declarou-se não 
leitora. A pesquisa ainda aponta frente aos diferentes suportes de leituras que os estudantes 
têm acesso, além dos livros, na questão relacionada ao uso da internet, que entre os leitores, 
81% são usuários das tecnologias. E dentre estes 88% são usuários são estudantes 
(INSTITUTO PRÓ-LIVRO, 2016). 
Desse modo, cabe o questionamento: que habilidades de leitura um aluno da EaD 
precisa ter, considerando a interação entre o ato de ler e o uso das tecnologias? Segundo 
Vinicius Soares Pinto (2013), explorar um celular, games, computador ou tablet não faz do 
usuário um expert em tecnologia. O autor ressalta que 
[...] a percepção de que é um grande equívoco afirmar que a geração de agora tem 
muita habilidade com tecnologia veio a partir da observação das dificuldades 
apresentadas por jovens ao lidarem com tarefas simples em um simples computador, 
como gravar um CD, copiar um arquivo de uma pasta para a outra, anexar uma 
imagem no e-mail e formatar um texto, por exemplo (PINTO4, 2013, s/p). 
 
Esse estudante atual tem sim afinidade com as tecnologias atuais, pois “cada geração 
tem mais intimidade com aquilo que lhe é contemporâneo”, segundo Pinto (2013, s/p). No 
entanto, a EaD precisa mediar o acesso do aluno ao conhecimento por meio das tecnologias, 
modificando as estratégias metodológicas a fim de utilizar a tecnologia como parceira nas 
situações de ensino-aprendizagem. 
 
4 PINTO, Vinícius Soares. São apenas gerações diferentes. Gazeta do Povo, Curitiba, 26 jun. 2013, Educação e 
Mídia, s/p. Disponível em: <. http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-e-midia/sao-apenas-geracoes-
diferentes/ >. Acesso em: 02 jun. 2017. 
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Em relação ao processo ensino-aprendizagem, Mugnol (2009, p. 340) alerta sobre a 
necessidade das experiências que envolvem o processo de interação com conhecimento frente 
“[...] a criação de meios pelos quais elas poderão acontecer efetivamente”. 
O autor ainda destaca que no contexto da educação à distância, existem alguns 
protagonismos a serem considerados e estes envolvem, além do comprometimento e 
responsabilidade do aluno, a orientação e mediação docente e que envolvem“[...]o uso de 
metodologias e meios de transmissão das informações, o respeito às diferenças individuais 
com a utilização de métodos capazes de respeitar o ritmo da aprendizagem de cada estudante” 
(MUGNOL, 2009, p. 340). 
Nesta perspectiva, ao tecer relações sobre o processo didático-pedagógico de 
articulação de atividades, Mugnol (2009, p. 341) explica que “a educação a distância se 
desenvolve através da articulação de atividades pedagógicas capazes de desenvolver os 
aspectos afetivo, psicomotor e cognitivo dos estudantes”. 
É notório afirmar que a educação se inovou com o passar dos anos e o ensino à 
distância se fortaleceu. O grande salto da EaD se deve aos avanços da tecnologia, pois essa 
modalidade utiliza diversas ferramentas (materiais) tecnológicas para interagir com o aluno. 
No processo-ensino aprendizagem: o material didático 
Sob o olhar de Mugnol (2009, p. 340) “a existência de materiais didáticos de qualidade 
para a educação a distância, a mediação tecnológica dos meios de comunicação e informação, 
são atributos que se colaboram para o bom desempenho do papel do professor”. O autor ainda 
destaca que “aos alunos são atribuídas maiores responsabilidade sobre a própria formação, 
traduzida esta, em maturidade intelectual para estudos individuais e disciplina para o 
cumprimento das tarefas propostas pelos professores” (MUGNOL, 2009, p.340). 
Segundo Possari (2009), ao produzir um material didático para a EaD é preciso 
verificar vários cenários como o Projeto Político Pedagógico (PPP), a estrutura do curso 
(semestre, módulo), qual recurso eletrônico poderá utilizar (CD, DVD, etc.), como são os 
contatos entre professor/tutor/aluno e qual linguagem utilizará nessa produção. 
De acordo com os dados apresentado no Censo EaD, (ABED, 2015, p. 57) “as 
instituições apresentaram tendência a produzir seus conteúdos textuais de forma autônoma”. 
Ainda acrescentam que “[...] para todos os tipos de cursos, mais de 50% das instituições 
produziram seus próprios materiais. A terceirização de determinada etapa da produção foi 
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utilizada por 44% das instituições que ofertaram cursos regulamentados totalmente a 
distância”. 
Ao se tratar das diferentes linguagens, é importante salientar que os meios de 
comunicação ou mídias são suportes tecnológicos que mediam essa modalidade de ensino e 
algumas linguagens estão presentes nessas mídias como, por exemplo, a linguagem verbal, 
sonora, visual, audiovisual e digital (CORTELAZZO, 2013, p. 125). 
O professor que atua nessa modalidade deve considerar a autoaprendizagem do aluno. 
Para isso, deverá utilizar recursos que servirão de apoio numa perspectiva de relacionar 
sempre a teoria e a prática e, ao mesmo tempo, estes deverão ficar à disposição do aluno para 
que ele possa ser incitado a interessar-se pelos conteúdos e informações ali disponibilizadas 
sendo proativono processo ensino e aprendizagem. 
Os canais de comunicação utilizados na maioria das instituições EaD oferecem ao 
aluno ambientes que propiciam um ensino-aprendizagem colaborativo. Uma dessas mídias é o 
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), o qual se torna o principal recurso. Segundo 
Tanzi Neto (apud ROJO, 2013, p. 142) cabe destacar que os ambientes virtuais de 
aprendizagem “tiveram seu início na educação por meio das fichas de autoavaliação [...] ou 
com base no ensino programado, advindos dos estudos por correspondência”. 
Com essa ferramenta de grande interesse econômico, o processo se torna mais 
dinâmico, pois os conteúdos educacionais são reutilizáveis, oferecendo um ensino-
aprendizagem mais atrativo para o aluno. Normalmente, esse ambiente virtual de 
aprendizagem é composto por textos teóricos sobre os temas abordados na disciplina, slides 
da aula, livro da disciplina, vídeo aula gravada, rádio web, avaliações, tutoria para tirar 
dúvidas com os tutores, fórum para discutir determinado assunto, chat para discutir ao vivo 
sobre um tema e avisos com relação a variadas situações. 
Desta forma, diferentes tipos de ambientes virtuais são apresentados aos alunos, que 
precisam de habilidades de leitura específicas para compreendê-los. Segundo Moran (2007, p. 
258), a forma de conquistar o aluno para que permaneça centrado na “Moodlesfera” de seu 
curso é através do uso integrado dos recursos que o professor dispõe: a modelagem do 
ambiente, sua mediação pedagógica constante e um planejamento de atividades que serão 
desenvolvidas dentro e fora dos ambientes. Essa estratégica representa a metodologia de uso 
do ambiente virtual. 
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Segundo Tanzi Neto (apud ROJO, 2013, p. 145), o design do AVA “contribui para o 
acesso às ferramentas e informações disponibilizadas no ambiente, sendo bastante intuitiva a 
navegabilidade”. Dessa forma, como aponta Santaella (2001), o ambiente virtual permite que 
diferentes tipos de usuários utilizem essa ferramenta: o navegador, usuário pouco letrado 
digitalmente, o internauta detetive, aquele que é orientado pela inferência intuitiva, e o 
internauta previdente, já bastante familiarizado com esse ambiente híbrido e tecnológico. 
Assim, o AVA “contribui para o letramento digital dos usuários em fase inicial na web”. 
Nesse contexto, percebe-se que o aluno de EaD, ao utilizar o AVA e participar dos 
recursos que lhe são disponibilizados, depara-se com um ensino-aprendizagem que atende as 
características específicas dessa modalidade de ensino, devendo, portanto, lançar mão de 
habilidades de leitura necessárias para a compreensão destes materiais didáticos. E quais 
seriam essas habilidades? A leitura, portanto, demanda um processamento individual, mas 
também social, na medida em que abrange mais do que a capacidade de decifrar o código 
escrito. São as capacidades relativas à compreensão e à produção de sentidos que habilitarão 
ao estudante a participar de forma ativa das práticas sociais do ambiente a que pertence. 
Magda Soares (2003) afirma que ler pressupõe fazer previsões sobre o texto e 
construir significados aliando o conhecimento prévio com a nova informação trazida pelo 
texto. Estratégia de previsão: leitura de pistas (título, gênero, suporte, data de publicação, 
autor) na tentativa de antecipar o que está por vir no texto. Neste sentido, algumas estratégias 
podem ser usadas pelo estudante a fim de desenvolver habilidades significativas para a 
leitura: Estratégia de inferência: deduzir o que não está explícito no texto. Estratégia de 
verificação: momento em que o leitor checa, com o avançar da leitura, a veracidade de suas 
antecipações e inferências. 
A organização das atividades desenvolvidas de forma não presencial deve 
complementar e promover a melhoria de qualidade do processo de ensino-aprendizagem em 
EaD, de forma diferenciada de recursos utilizados em cursos presenciais. Assim, acreditamos 
ser imprescindível que o aluno desenvolva as habilidades de leitura específicas para realizar 
as leituras necessárias, bem como os materiais didáticos disponíveis considerem as 
especificidades do leitor da EaD. 
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Neste universo, o papel da leitura 
A leitura cumpre uma importante função social e cultural e é determinante nos 
processos de pensamento. É de fundamental importância que o indivíduo entenda que a 
aprendizagem da leitura é um meio de ampliar as possibilidades de comunicação e um ato de 
compreensão do que se vê, do que se sente e da leitura que se faz do mundo. Sob o olhar de 
Orlandi (2001, p. 9) “a leitura, portanto, não é uma questão de tudo ou nada, é uma questão de 
natureza, de condições, de modos de relação, de trabalho, de produção de sentidos em uma 
palavra de historicidade”. 
Mas, o que é ler? Ler é construir significados e pressupõe o envolvimento de 
processos múltiplos sendo, para Jouve, “uma atividade de várias facetas” (JOUVE, 2002, p. 
17). Ou seja, o ato de ler, no qual o leitor é sujeito ativo, ativa as mais variadas faculdades 
como a identificação e memorização dos signos, a compreensão do que está escrito, a 
identificação afetiva com o texto, o confronto com outras leituras, dentre outras. 
Nesse sentido, ler é mais que decodificar o que está escrito: é compreender, refletir, 
estabelecer relações. O texto, assim, “pode apenas programar a leitura: é o leitor que deve 
concretizá-lo” (JOUVE, 2002, p. 74). E fará isso trazendo sua bagagem de leitura, acionando 
seus conhecimentos prévios, que serão responsáveis pela formulação de hipóteses – certeiras 
ou equivocadas – e atribuição de sentidos ao texto lido. Assim, para Leffa (1996, p. 14), 
[...] o que o leitor processa da página escrita é o mínimo necessário para confirmar 
ou rejeitar hipóteses. Os olhos não veem o que realmente está escrito na página, mas 
apenas determinadas informações pedidas pelo cérebro. A compreensão não começa 
pelo que está na frente dos olhos, mas pelo que está atrás deles. 
Sob esta óptica, o leitor interage ativamente com o texto, trazendo suas experiências 
de leitura. O ato de ler requer, portanto, a interação central entre a estrutura da obra e seu 
receptor (ISER, 1996) e não é atividade passiva, requerendo habilidades e estratégias de 
leitura. 
Ao ler, o indivíduo cria e recria a cada palavra o que permite que o texto adquira 
sentido, existência, valor para si. “Porque, ao ler um texto, o leitor faz dele parte de sua 
consciência e a ideia do autor passa a ser elemento de transformação, de ampliação de 
referências para o leitor” [...]. (GIROTTO; LIMA; CHAVES, 2012, p. 103). 
E pensando nestas habilidades e estratégias, questionamos: tais habilidades são as 
mesmas para todos os tipos e gêneros textuais? São as mesmas para todos os suportes: livros, 
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computador, celular? São as mesmas para os alunos de cursos presenciais e para alunos da 
educação à distância? 
É neste sentido que precisamos considerar o aluno da EaD um leitor contemporâneo, 
que usa com frequência ferramentas veiculadas por software de multimídia e pela internet 
(SENNA, 2001). É preciso pensar, portanto, no leitor e nos recursos didáticos no âmbito das 
tecnologias modernas e midiáticas. 
Qual é o leitor que temos nas plataformas utilizadas na modalidade de ensino a 
distância? A educação à distância é uma modalidade que se difere do ensino presencial, 
apresentando especificidades. Desta forma, o aluno da EaD também apresenta características 
e necessidades próprias. A partir dessas premissas, quais são as habilidades leitoras 
necessárias para que o aluno da EaD acesse os materiais didáticos desta modalidade de 
ensino? 
Em consonância a estes questionamentos, Pietri (2009, p. 28) enfatiza que 
[...] a leitura do texto eletrônico se caracteriza pela possibilidade da não linearidade 
e pela fragmentariedade, ou seja, pelas possibilidades que o texto eletrônico oferece 
para o leitor de, comum simples clique em um determinado lugar da página que está 
sendo observada na tela do computador, ou do próprio texto que está sendo lido na 
tela, acessar uma outra página, um outro texto, sem que a leitura do primeiro texto 
tivesse sido realizada na íntegra. 
Considerando as mudanças sociais e culturais advindas da era digital, que é uma forte 
característica da EaD, Santaella (2001) apresenta-nos três categorias de leitor: o primeiro, 
denominado por ela de contemplativo, caracteriza-se por ser o leitor de livros; o segundo, 
movente, é o leitor do jornal, da revista, do folhetim que lê na rua, no ônibus, no metrô; o 
terceiro, o leitor do nosso tempo, da sociedade da informação, a autora denomina imersivo, 
pois se caracteriza por seus profundos mergulhos no mar dos hipertextos e hipermídias 
presentes nas páginas da Web. 
Sobre o leitor imersivo, que seria o aluno da modalidade EaD, Santaella (2001, p. 35) 
considera: 
[...] é um leitor revolucionariamente novo (...) O internauta está num estado 
permanente de prontidão perceptiva e sua atividade mental deve estar em prefeita 
sintonia com as partes motora e cognitiva. A linguagem do mundo digital só existe 
quando o usuário atua e interfere na mensagem. 
Esses diferentes tipos de leitores conceituados por Santaella (2001) mostram que cada 
novo gênero exige um novo tipo de leitor, com habilidades diferentes. Portanto, um gênero 
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não invalida outro. O trabalho com vários gêneros textuais é de fundamental importância no 
contexto, pois permitirão a formação de leitores capazes de estabelecer diversas relações com 
a realidade, bem como formar leitores competentes. 
Diante do contexto atual, Kleiman e Morais (2002, p. 90) ressaltam que “as sociedades 
altamente tecnologizadas precisam de indivíduos que possam continuar o processo de 
aprendizagem independentemente, e, para isso, o cidadão precisa ler”. Por esse contexto é de 
fundamental importância que se compreenda a leitura como uma experiência, um diálogo, que 
oportunize meios de formar leitores, de ampliar suas possibilidades de comunicação e 
reconheça que o ato de ler possibilita maior autonomia, e a possibilidade de ação em qualquer 
contexto da sociedade e da transformação (FREIRE, 1989). 
Considerações Finais 
A leitura cumpre uma importante função social e cultural em diferentes contextos, 
sejam eles reais ou virtuais. E nesse sentido, Bourdieu (2011) em seu debate com Roger 
Chartier aponta que a leitura segue as mesmas regras que qualquer outra prática cultural, com 
o seguinte ponto divergente: “ela é mais diretamente ensinada pelo sistema escolar, isto é, de 
que o nível de instrução vai ser mais poderoso no sistema de fatores explicativos, sendo a 
origem social o segundo fator. No caso a leitura, hoje, o peso do nível de instrução é mais 
forte” (BOURDIEU, CHARTIER, 2011, p. 237). 
Certamente, a leitura é estabelecida a partir do próprio contexto pessoal. E faz-se 
necessário valorizá-lo para que possa ir além dele, ou seja, conectar-se a outros contextos. 
Britto (2011) tece em suas palavras a reflexão sobre a construção do conhecimento, a sua 
relação estabelecida entre a leitura, a informação, não desconsiderando o caráter político que 
está embebido dessas relações e outras condições necessárias para o manejo e assimilação 
destas informações. 
É neste sentido que quando temos no computador “um novo meio para contar 
histórias” (MURRAY, 2003, p. 27), isso não quer dizer que a máquina veio substituir os 
livros ou a figura da avó contando histórias. O computador, enquanto um suporte diferente do 
livro, exige um novo tipo de leitor que, ao acessá-lo, não pretenda ouvir a voz familiar da avó, 
ver os seus trejeitos ou ser alvo do seu carinho. Afinal, o “tátil” ainda não está presente no 
computador. 
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Com esclarece Tanzi Neto (apud ROJO, 2013, p. 146), o mesmo ocorre com o leitor 
da EaD: é um leitor diferente do leitor do ensino presencial: é um leitor que “emerge dos 
novos espaços incorpóreos da virtualidade”. 
Ao refletirmos sobre a formação do sujeito leitor no contexto da educação a distância 
na contemporaneidade, é possível perceber frente às características da era dos acessos, 
desafios e dificuldades frente a fragmentação das informações, dos textos, caracterizando uma 
fragilidade frente a formação de repertório de leitura. 
Algo é certo: novos suportes e novos modos de ler estarão sempre surgindo com o 
caminhar da humanidade. É o que a história revela. É o que a história que ainda será 
construída confirmará. 
REFERÊNCIAS 
ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância. Relatório Analítico da 
Aprendizagem a Distância no Brasil 2015, CENSO EAD.BR - 2015/2016. Disponível em: 
http://abed.org.br/arquivos/Censo_EAD_2015_POR.pdf. Acesso em: 30 mai. 2017. 
BOURDIEU, Pierre; CHARTIER, Roger. A Leitura: uma prática cultural. Debate entre Pierre 
Bourdieu e Roger Chartier. In: CHARTIER, Roger. Práticas de Leitura. São Paulo: Estação 
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BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura e Política. In: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins; 
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CORTELAZZO, Iolanda Bueno de Camargo. Prática Pedagógica, aprendizagem e 
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GIROTTO, C. G. G. S.; LIMA, Elieuza Aparecida de; CHAVES, Marta. Eventos de 
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