Prévia do material em texto
SEMIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO INSPEÇÃO O tórax é observado tanto com o paciente sentado como deitado. INSPEÇÃO ESTÁTICA Examinam-se a forma do tórax e suas anomalias estruturais, congênitas ou adquiridas, localizadas ou difusas, simétricas ou não. O sistema muscular deve ser examinado de maneira comparativa, a fim de que se possa surpreender alterações tróficas de grupos musculares. O sinal de Lemos Torres, caracterizado pelo abaulamento dos espaços intercostais durante a expiração, é sinal de derrame pleural. O tórax normal é aquele sem qualquer anormalidade. Tórax chato/plano -> perde a convexidade normal da parede anterior, havendo redução no diâmetro anteroposterior. ❖ É próprio dos indivíduos longilíneos. ❖ Encontrado em alguns pacientes com doença pulmonar crônica. Tórax em tonel/globoso -> aumento exagerado do diâmetro anteroposterior, horizontalização dos arcos costais e abaulamento da coluna dorsal, tornando o tórax mais curto. ❖ É observado nos enfisematosos do tipo soprador rosado. Tórax infundibuliforme (pectus excavatum) -> há uma depressão na parte inferior do esterno e região epigástrica. É de natureza congênita. Tórax cariniforme (pectus carinatum) -> o esterno é proeminente e as costelas horizontalizadas, resultando em tórax que se assemelha ao das aves (tórax de pombo). Pode ser de origem congênita ou adquirida. Tórax cônico/em sino -> é aquele que tem a parte inferior exageradamente alargada, lembrando um tronco de cone ou um sino. ❖ Encontrado nas hepatoesplenomegalias e ascites volumosas. Tórax cifótico -> a principal característica é a curvatura da coluna dorsal, formando uma gibosidade. Pode ser de origem congênita ou resultar da má postura. ❖ TB óssea (mal de Pott), osteomielite ou neoplasias podem ser responsáveis por essa deformidade. Tórax cifoescoliótico -> apresenta, além da cifose, um desvio da coluna para o lado (escoliose). INSPEÇÃO DINÂMICA Observam-se os movimentos respiratórios, suas características e alterações. Como se apresenta o paciente? Está em ortopneia, preferindo, portanto, ser examinado sentado? Sua recusa em deitar-se é um dado que sugere IC. ❖ Taquipneia -> FR > ou igual a 25irm. ❖ Bradipneia -> FR < 8irm. ! Quando não houver sincronismo entre os movimentos respiratórios abdominais e torácicos, suspeitar de fadiga muscular diafragmática. ❖ Pleuropneumopatias -> no início, os movimentos respiratórios deixam de ser simétricos, podendo-se observar redução ou até imobilidade do hemitórax comprometido. ❖ DPOC grave -> a expiração, além de prolongada, é difícil, o que obriga a manter os lábios semicerrados durante a expiração. ❖ Espondilite anquilosante -> ambos os hemitórax pode estar totalmente paralisados. Quanto ao ritmo respiratório, normalmente, a inspiração dura quase o mesmo tempo que a expiração, intercalados por leve pausa. Quando alguma dessas características modifica-se, surgem os ritmos respiratórios anormais: Respiração de Cheyne-Stokes -> ciclo de ventilações que aumentam gradativamente de amplitude e em seguida reduzem também gradativamente de amplitude até um período de apneia. ❖ As causas mais frequentes desse ritmo respiratório são IC grave, AVC, traumatismos cranioencefálicos e síndromes respiratórias. HAM - Síndromes Pulmonares/Brônquicas e Pleurais Respiração de Biot -> respiração de amplitude e frequência variáveis e períodos de apneia. As causas desse ritmo são as mesmas da respiração de Cheyne-Stokes. É sempre patológica. Respiração de Kussmaul -> inspirações profundas seguidas de pausas. É indicativa de acidose metabólica. TIRAGEM Durante a inspiração, em condições de normalidade, os espaços intercostais deprimem-se ligeiramente. Se ocorrer obstrução brônquica, o parênquima correspondente àquele brônquio entra em colapso, provocando a retração dos espaços intercostais. A tiragem pode ser difusa/localizada, isto é, supraclavicular, infraclavicular, intercostal ou epigástrica. Essas áreas retráteis caracterizam a impossibilidade de o pulmão acompanhar o movimento expansivo da caixa torácica, devido à atelectasia subjacente. PALPAÇÃO Complementa a inspeção, avaliando a mobilidade da caixa torácica. Além disso, permite examinar lesões superficiais quanto a forma, volume e consistência. A sensibilidade superficial e profunda, a dor provocada e espontânea ou qualquer outra manifestação dolorosa podem ser avaliadas pela palpação. Além disso, podem ser avaliados temperatura, sudorese, enfisema, linfonodos e nódulos subcutâneos. EXPANSIBILIDADE Expansibilidade dos ápices pulmonares é pesquisada com ambas as mãos espalmadas, de modo que as bordas internas toquem a base do pescoço, os polegares apoiem-se na coluna vertebral e os demais dedos nas fossas supraclaviculares. Expansibilidade das bases pulmonares é pesquisada apoiando-se os polegares nas linhas paravertebrais, enquanto os outros dedos recobrem os últimos arcos costais. ! Em ambas as manobras, o médico fica atrás do paciente sentado. O paciente deve respirar profunda e pausadamente. FRÊMITO TORACOVOCAL (33) Corresponde às vibrações das cordas vocais transmitidas à parede torácica. O paciente deve pronunciar palavras ricas em consoantes (ex.: “trinta e três”). O examinador deve colocar a mão direita espalmada sobre a superfície do tórax, comparando-se a intensidade das vibrações em regiões homólogas. Afecções Pleurais -> são “antipáticas” ao FTV. Isso porque os derrames pleurais líquidos/gasosos, por afastarem o pulmão da parede, dificultam a transmissão das vibrações até a superfície, com redução ou até mesmo abolição do FTV. Condensações Pulmonares -> são “simpáticas” ao FTV. Desde que os brônquios estejam permeáveis, o FTV torna-se mais nítido, uma vez que a consolidação do parênquima facilita a transmissão da voz. ! Estando os brônquios obstruídos (atelectasias), embora haja condição de ressonância, o som não se propaga. Nesses casos, apesar de a afecção ser parenquimatosa, FTV está diminuído. PERCUSSÃO Deve-se iniciar a percussão do tórax pela sua face posterior, de cima para baixo. Percute-se separadamente cada hemitórax. Depois, percutir comparativa e simetricamente as várias regiões. 4 tonalidades de som são obtidas: ❖ Som claro pulmonar -> nas áreas de projeção dos pulmões. ❖ Som timpânico -> no espaço de Traube. ❖ Som maciço -> na região inferior do esterno (macicez hepática) e na região inframamária direita. ❖ Som submaciço -> na região precordial. AUSCULTA Possibilita analisar o funcionamento pulmonar. Para a sua realização, exige-se máximo silêncio. De início, o examinador coloca-se atrás do paciente, que não deve forçar a cabeça nem dobrar excessivamente o tronco. O paciente deve estar com o tórax despido e respirar pausada e profundamente, com a boca aberta, sem fazer ruído. A ausculta dos pulmões é realizada com auxílio do diafragma do estetoscópio, de maneira simétrica nas faces posterior, laterais e anterior do tórax. ! Deve-se ter em mente que os limites dos pulmões estão aproximadamente a 4 dedos transversos da ponta da escápula. Os sons pleuropulmonares podem ser classificados em: ❖ Sons normais -> som traqueal, brônquico, murmúrio vesicular e som broncovesicular. ❖ Sons anormais -> descontínuos (estertores finos e grossos), contínuos (roncos, sibilos e estridor), sopros e atrito pleural. ❖ Sons vocais -> broncofonia, egofonia, pectorilóquia fônica e afônica. SÍNDROMES BRONCOPULMONARES As síndromes pulmonares compreendem a síndrome brônquica, a síndrome parenquimatosa e a síndrome pleural. SÍNDROMES BRÔNQUICAS Decorre do acometimento brônquico por enfermidades que provoquem redução do calibre, dilatação e/ou hipersecreção brônquica. Essas alterações manifestam-se clinicamente por dispneiaacompanhadas de sensação de constrição ou aperto no tórax, dor torácica difusa, sibilância e tosse. ❖ A tosse pode ser seca ou produtiva, é decorrente da irritação brônquica e/ou aumento da produção de muco. Causas mais comuns: asma, DPOC, bronquiectasia e infecções traqueobrônquicas. Em todas essas doenças observa-se redução do calibre dos brônquios devido a edema de mucosa brônquica, aumento de produção de muco e aumento do tônus broncomotor. ❖ O principal achado no exame físico que caracteriza a síndrome brônquica é a presença de sibilos, roncos e estertores grossos. ASMA BRÔNQUICA Caracterizada por sibilos, roncos e/ou estertores grossos. A inspeção e palpação podem estar normais. No entanto, pode haver aumento da FR e redução bilateral da expansibilidade, se o paciente estiver hiperinsuflado (asma em crise). ❖ Nesse caso, haverá também hipersonoridade, redução do frêmito toracovocal e do murmúrio vesicular, bilateralmente. BRONQUITE CRÔNICA DA DPOC Caracterizada por excessiva secreção de muco na árvore brônquica. A principal manifestação clínica é tosse com expectoração mucopurulenta de pequeno volume, que persiste por meses, alternando períodos de melhora e piora. Ao exame físico, o principal achado são os estertores grossos disseminados em ambos os hemitórax. Roncos e sibilos são frequentes e pode-se encontrar redução bilateral da expansibilidade, hipersonoridade e redução de FTV e do murmúrio vesicular. SÍNDROMES PARENQUIMATOSAS SÍNDROME DE CONSOLIDAÇÃO PULMONAR As principais causas são as pneumonias, infarto pulmonar e TB. A condensação do parênquima pulmonar caracteriza-se pela ocupação dos espações alveolares por células e exsudato. As principais manifestações clínicas são dispneia e tosse, que pode ser seca/produtiva e os principais achados do exame físico são: ❖ Aumento do FTV. ❖ Submacicez ou macicez à percussão. ❖ Presença de estertoração fina. ATELECTASIA Tem como elemento principal o desaparecimento de ar dos alvéolos sem que o espaço alveolar seja ocupado por células ou exsudato. Os principais achados são redução do FTV e macicez. ENFISEMA PULMONAR A hiperareação que se observa no enfisema pulmonar resulta de alterações anatômicas caracterizadas pelo aumento anormal dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal, acompanhadas de modificações estruturais das paredes alveolares. A manifestação clínica mais importante é a dispneia, que se agrava lentamente -> no início, ocorre apenas aos grandes esforços, mas, nas fases avançadas, aparece até em repouso. Na fase final surgem as manifestações de insuficiência respiratória. Nas fases iniciais, ao exame físico encontram-se apenas redução do murmúrio vesicular e expiração prolongada, com a evolução da doença, somam-se tórax em tonel, FTV diminuído e hipersonoridade. CONGESTÃO PASSIVA DOS PULMÕES As principais causas são a insuficiência ventricular esquerda e a estenose mitral. O líquido se acumula no interstício, causando dispneia de esforço, dispneia de decúbito e dispneia paroxística noturna, além de tosse seca e estertores finos nas bases. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA - DPOC Caracteriza-se pela limitação persistente ao fluxo de ar. É uma resposta inflamatória crônica exagerada, pulmonar e das vias aéreas a partículas e gases nocivos. Exarcebações e comorbidades contribuem para a gravidade individual. ❖ É o resultado da interação entre fatores de risco moleculares e clinicoambientais, sendo o tabagismo o principal. EPIDEMIOLOGIA A prevalência de DPOC no Brasil é de 6-15,8%, desses, apenas 5,3% apresentam diagnóstico médico de DPOC. É mais prevalente em homens com idade > 40 anos, tabagistas ou ex tabagistas. Trata-se da principal causa de morte entre homens e da 5ª entre mulheres com idade > 40 anos. É a 6ª principal causa de gastos com internação hospitalar pelo SUS. ANAMNESE Dados da história clínica são considerados essenciais: ❖ Exposição a fatores de risco (tabagismo, ambiental, ocupacional). ❖ História familiar de doenças respiratórias. ❖ Antecedente pessoal de doença respiratória. ❖ Início e tempo de evolução dos sintomas. ❖ História de exacerbação e hospitalização prévia. ❖ Presença de comorbidades. QUADRO CLÍNICO A doença se manifesta com os seguintes sintomas: ❖ Dispneia. ❖ Tosse crônica, geralmente com expectoração. ❖ Sibilância. ❖ Possível variabilidade dos sintomas ao longo do dia ou entre as semanas, com piora geralmente no período matinal. EXAME FÍSICO Início da doença -> exame normal ou presença de sibilos e/ou tempo expiratório prolongado na manobra de expiração forçada. Doença mais avançada -> há sinais de hiperinsuflação pulmonar, diminuição dos murmúrios vesiculares, abafamento de bulhas cardíacas, sibilância, aumento do diâmetro anteroposterior do tórax e sinais de cor pulmonale. Exacerbação -> dispneia, uso de musculatura acessória, presença de movimento paradoxal, sinais de cor pulmonale, cianose, instabilidade hemodinâmica, insuficiência respiratória, rebaixamento do nível de consciência. EXAMES COMPLEMENTARES ESPIROMETRIA Fundamental na avaliação diagnóstica da DPOC. Determina a gravidade da limitação ao fluxo aéreo, além de avaliar a resposta a medicações. Pode ser utilizada também para o acompanhamento da progressão da doença. OXIMETRIA DE PULSO Deverá ser utilizada nos pacientes com doença estável e volume expiratório forçado no 1º segundo (VEF1) < 35%. Pode ser utilizada quando há sinais clínicos de insuficiência respiratória ou disfunção cardíaca das câmaras direitas. ❖ Auxilia na avaliação da necessidade de oxigenoterapia suplementar. GASOMETRIA ARTERIAL Deverá ser realizada nos pacientes com saturação de O2 medida pela oximetria de pulso < 92%. Deverá ser considerada na exacerbação pulmonar. RX DE TÓRAX Baixa sensibilidade para o diagnóstico da DPOC. É importante na avaliação de diagnósticos alternativos ou de complicações associadas (ex.: pneumonia). TC DE TÓRAX Não é utilizada de rotina na avaliação da DPOC. Boa sensibilidade e especificidade na avaliação do enfisema. Avaliação de complicações associadas à doença (ex.: TEP, pneumotórax). CLASSIFICAÇÃO A classificação da DPOC se dá com base na gravidade da limitação ao fluxo aéreo e é medida por meio do VEF1. Apresenta fraca correlação com os sintomas e com o prejuízo à qualidade de vida. Para avaliar o risco de exacerbações e guiar a terapêutica, GOLD propõe um sistema de classificação baseado em: ❖ Limitação ao fluxo aéreo. ❖ Gravidade dos sintomas. ❖ Frequência das exacerbações. SÍNDROMES PLEURAIS SÍNDROME PLEURÍTICA (PLEU RITE) A inflamação dos folhetos pleurais (pleurite), pode ocorrer em várias entidades clínicas, destacando-se a TB, pneumonias, doença reumática e outras colagenoses, viroses e as neoplasias da pleura e pulmão. É caracterizada pela presença do atrito pleural. Na pleurite aguda, o principal sintoma é dor localizada em um dos hemitórax, com características de dor pleurítica. Além da dor, podem ocorrer tosse, dispneia, febre e outros sintomas relacionados com a causa da pleurite. SÍNDROME DE DERRA ME PLEURAL Nos derrames pleurais, observado nas pleurites, pneumonias, neoplasias, colagenases, síndrome nefrótica e na IC, pode haver dor sem as características da dor pleurítica, tosse seca e dispneia cuja intensidade depende do volume de líquido acumulado. ❖ Ao exame físico, os principais achados são FTV reduzido e macicez. SÍNDROME PLEURAL RESPIRATÓRIA/ PNEUMOTÓRAX No pneumotórax, o que se acumula no espaço pleural é ar, que penetra através de lesão traumática, ruptura de bolha subpleural, ou em algumas afecções pulmonares que põem em comunicação um ducto com o espaço pleural. As principais manifestações clínicas são a dor no hemitórax acometido, tosseseca e dispneia. Ao exame físico, chama atenção o FTV reduzido e hipersonoridade. DOENÇAS DA PLEURA DERRAME PLEURAL É o acúmulo anormal de líquido no espaço pleural (mais do que 100mL). É desencadeado por um desequilíbrio entre seus mecanismos de formação e reabsorção do líquido pleural. SINAIS E SINTOMAS Dor torácica, tosse seca e dispneia. Pode ter febre, astenia, inapetência e perda ponderal, a depender da doença de base. ❖ Dor torácica -> ventilatório-dependente, devido à estimulação da pleura parietal, quando inflamada/tracionada por aderências com a pleura visceral. ❖ Dispneia -> relacionada com o volume do derrame pleural. TRANSUDATO E EXSUDATO Critérios de Light: ❖ Relação da taxa de proteína no líquido pleural/proteína sérica > 0,5. ❖ Relação da taxa de LDH no líquido pleural/LDH sérica > 0,6. ❖ Taxa absoluta de LDH no líquido pleural > 2/3 do limite superior da taxa sérica normal. Se um dos critérios for preenchido, o derrame pleural será diagnosticado como um exsudato. A diferenciação entre os dois tipos de derrame pleural auxilia no diagnóstico etiológico: ❖ Transudatos -> IC, cirrose hepática e hipoproteinemia. ❖ Exsudatos -> pneumonia, TB pleural, TEP e neoplasias metastáticas. Quando tem derrame pleural, pode ser realizada a toracocentese afim de: ❖ Alívio -> quando o paciente apresenta dispneia devido a um derrame volumoso. ❖ Diagnóstico -> quando ainda não se sabe a etiologia e o derrame pleural está em investigação. ! Os derrames hemorrágicos são sugestivos de processos neoplásicos, sendo assim chamados quando possuem mais de 100.000 hemácias/mL. A maioria do líquido do derrame pleural é inodoro. O líquido pleural que evolui para empiema, por infecção bacteriana, possui odor pútrido, além de aspecto purulento. A análise do líquido pleural visa à avaliação bacteriológica com culturas para bactérias, fungos, pesquisa de BAAR e cultura para Mycobacterium tuberculosis. Como o líquido pleural é paucibacilar, a cultura para M. tuberculosis e a pesquisa de BAAR geralmente é negativa. Rotineiramente, a taxa de glicose no líquido pleural deve ser solicitada -> glicose baixa no derrame pleural pode sugerir derrame secundário a doença reumatóide, lúpus eritematoso disseminado e empiema. Deve ser avaliada a citologia total e diferencial, em especial as contagens de neutrófilos e linfócitos. ❖ Aumento acentuado de neutrófilos -> provável processo infeccioso. ❖ Predomínio de linfócitos -> no Brasil, a etiologia mais comum é a TB pleural. A adenosina-deaminase (ADA) é uma enzima encontrada nos tecidos e no sangue, a qual catalisa a adenosina em inosina e amônia. Se essa enzima estiver elevada, há forte correlação com derrames tuberculosos. ❖ Outras condições em que há aumento da ADA -> doença reumatoide, linfoma e empiema. PNEUMOTÓRAX Presença de ar no espaço pleural, o qual normalmente é virtual e compreendido entre as pleuras parietal e visceral. Pode ser espontâneo, traumático ou iatrogênico. Pneumotórax espontâneo pode ser dividido em: ❖ Primário -> ocorre sem doença pulmonar prévia. ❖ Secundário -> decorrente de doença pulmonar em atividade, como DPOC, fibrose cística, infecção por Pneumocystis jirovecii, etc. RADIOGRAFIA DE TÓRAX PA e lateral mostra a presença de ar na cavidade pleural entre a linha da pleura visceral e a parede torácica. Para a identificação de pequenos pneumotórax, deve ser realizada uma radiografia em expiração forçada. PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO Em geral, é unilateral, sendo mais frequente do lado direito em fumantes. A incidência do pneumotórax secundário é similar; entretanto, predomina em pacientes acima de 60 anos. PNEUMOTÓRAX TRAUMÁTICO Ocorre após traumatismo torácico fechado ou aberto com laceração pulmonar, brônquica ou esofágica. É denominado aberto quando há lesão da parede torácica. PNEUMOTÓRAX IATROGÊNICO Inclui os produzidos durante um procedimento médico, diagnóstico ou terapêutico. Os procedimentos em que o pneumotórax é uma complicação frequente são: ❖ Punção transtorácica. ❖ Punção venosa central (subclávia). ❖ Toracocentese. DIAGNÓSTICO É feito com base nas manifestações clínicas, no exame físico e nas alterações radiológicas. A ocorrência de dor torácica de caráter súbito, bem localizada, em pontada, associada a dispneia e tosse seca, pode sugerir a ocorrência de pneumotórax. ❖ Em 15% dos casos o paciente pode ser assintomático. Ao exame físico: ❖ Diminuição da expansibilidade torácica. ❖ Sonoridade pulmonar aumentada ao percutir a parede torácica ou mesmo timpanismo. ❖ Murmúrio vesicular diminuído/abolido. ! Em casos mais graves, pode haver abaulamento do hemitórax afetado e FTV reduzido. Evolui com: taquicardia, hipotensão, cianose e dispneia profusa (pneumotórax hipertensivo -> instabilidade hemodinâmica). TC: Ajuda no diagnóstico do pneumotórax e pode mostrar também a presença ou não de bolhas apicais subpleurais (blebs). Fornece informações adicionais do restante do parênquima pulmonar, do mediastino e da parede torácica. Quando o pneumotórax é secundário a DPOC, a TC de tórax pode ser de grande ajuda para diferenciar o pneumotórax da doença pulmonar bolhosa. TOSSE NA INFÂNCIA ASMA Síndrome em que se pode verificar a repetição de dispneia, sibilância, tosse, falta de ar e sensação de aperto no tórax. Essas características/manifestações podem ocorrer em crises (exacerbações) leves, moderadas e graves e se manifestarem de maneira intermitente ou persistente (intercrise). A condução de uma criança com asma deve levar em conta a atualização, a praticidade e a análise crítica das diretrizes nacionais para o manejo da asma. ! Ênfase nas dificuldades de se fazer um diagnóstico seguro de asma em crianças menores de 5 anos, nas quais vários fenótipos de sibilância recorrente têm sido identificados. FATORES DE RISCO ❖ História de atopia pessoal/familiar. ❖ Sexo masculino. ❖ Obesidade. ❖ Poluição dentro e fora do domicílio. ❖ Exposição à fumaça de cigarro. ❖ Aparecimento de sibilância após os 2 anos de idade. ❖ Infecção grave por vírus sincicial respiratório no período de lactente. ❖ Frequência elevada de crises na 1ª infância. ❖ Função pulmonar alterada e hiper-responsividade das vias aéreas. DIAGNÓSTICO Em crianças, a espirometria, a medida de hiper-responsividade brônquica (HRB) e exames que medem a inflamação nas vias aéreas inferiores auxiliam o diagnóstico de asma. ! Resultados normais desses exames quando a criança está assintomática, não excluem o diagnóstico. Espirometria antes e após uso de broncodilatador (BD) deve ser realizada de rotina em todas as crianças com suspeita de asma -> elevação de mais de 12% nos valores de volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) após BD indica reversibilidade da obstrução e diagnóstico da asma. ❖ Esse fato também é altamente preditivo de resposta a corticosteroides inalatórios (CI) na intercrise. ❖ A não resposta ao BD não exclui o diagnóstico de asma. A medida da HRB, avaliada por meio de testes de provocação brônquica, não é necessária para o diagnóstico e acompanhamento de crianças asmáticas, mas pode ser muito útil para o diagnóstico diferencial. Existem 3 eixos para o diagnóstico de asma na infância com numerosas ferramentas disponíveis: ❖ (1) Eixo clínico -> história de SR com resposta a broncodilatadores nos serviços de emergência pediátrica e/ou em domicílio. ❖ (2) Eixo imunológico -> IgE, eosinófilos aumentados no escarro e no sangue. ❖ (3) Eixo pneumológico ou funcional -> espirometria, medida da HRB, medida da fração de óxido nítrico exalado (FeNO). Fazem diagnóstico de asma: 1+2+3, 1+2 e 1+3. Ainda não se pode distinguir com certeza se a evolução futura de um lactente com SR será asma persistente ou sibilância transitória.Asma na infância, muitas vezes, persiste na idade adulta -> a gravidade da asma na infância prediz a gravidade da asma na idade adulta. ❖ A maioria das crianças com asma e função pulmonar alterada na idade escolar tem antecedentes de SR no período de lactente. Avaliação de 1ª linha da criança com SR: ❖ Radiografia de tórax -> avaliar infiltrados, massas, anormalidades nos grandes vasos, corpos estranhos radiopacos e sinais de assimetria. Devem ser realizadas em anteroposterior e perfil. Devido às dificuldades e necessidade de um diagnóstico precoce de asma, foram desenvolvidos nos últimos anos vários instrumentos na tentativa de prever quais lactentes e pré-escolares teriam maior chance de desenvolver asma no futuro. ❖ Um dos mais utilizados é o Índice Preditivo de Asma (IPA), elaborado para crianças menores de 3 anos, com a finalidade de predizer o risco de asma a partir dos 6 anos. ❖ O Índice Preditivo de Asma modificado (IPAm), inclui crianças a partir de 2 anos, na tentativa de propor intervenções terapêuticas precoces em pacientes de alto risco para asma. A presença de SR com + 1 critério maior ou + 2 menores é altamente preditiva de SR de origem alérgica e de asma futura. MAUS TRATOS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA OMS: “O uso intencional de força física ou do poder, real ou em forma de ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte ou dano psicológico.” Na infância e na adolescência, violência abrange tudo que é feito ou que se deixa de fazer (por ação/omissão), de forma consciente ou não, e que provoque dano físico, sexual e/ou psicológico à criança ou ao adolescente. FORMAS DE VIOLÊNCIA Violência intrafamiliar -> é a forma mais frequente de violência contra menores de 15 anos no Brasil. Nesse tipo, a vítima e o provável autor têm grau de parentesco, lações consanguíneos ou vínculos afetivos fortes. Violência psicológica -> difícil de diagnosticar, e costuma estar associada a outras formas de violência. Violência sexual -> independente de ocorrer ou não contato físico, geralmente é carregada de consequências negativas para a saúde da criança/adolescente, de imediato/longo prazo. ❖ O medo de ser repreendido é muito comum, bem como o desejo de proteger o(a) agressor(a), devido ao vínculo emocional entre ambos. ❖ Observações de alterações comportamentais e/ou sinais deve salientar a suspeita de violência. DIAGNÓSTICO DE VIOLÊNCIA A suspeita surge no momento em que se faz a anamnese ou no decorrer do exame físico. Como na maioria das vezes não se observa evidências físicas, a anamnese ocupa lugar relevante no esclarecimento dos casos. ❖ Os sinais de sofrimento emocional podem anteceder os físicos. ❖ É importante identificar quem é o acompanhante da criança ou adolescente e o vínculo entre eles -> é comum o agressor acompanhar a vítima. ASPECTOS ÉTICOS - NOTIFICAÇÃO Notificação de qualquer caso suspeito/confirmado de violência é de natureza compulsória e deve ser realizada pelos profissionais de saúde e demais responsáveis por estabelecimentos públicos e particulares das redes de saúde e ensino, em conformidade com o ECA. LESÕES DECORRENTES DE VIOLÊN CIA FÍSICA Pele e mucosas -> hematomas seguidos por lacerações e arranhões, hiperemia, escoriações, equimoses, hematomas, queimaduras de 3º grau, “arrancamentos” (dentes, cabelos), marcas de mordidas. Sistema Osteomuscular -> fraturas inexplicadas, localizadas mais comumente nas extremidades, em diferentes estágios de consolidação. SNC -> externas (fraturas dos ossos do crânio que podem ser lineares, deprimidas ou cominutivas) e internas (produzidas por “sacudidas” ou impactos que levam à hematoma subdural ou subaracnoide e hemorragia retiniana, presente em 78% dos casos de TCE por maus-tratos e 5% dos casos acidentais). ❖ Síndrome do bebê sacudido (menores de 1 ano) -> diminuição do nível de consciência, sonolência, irritabilidade, convulsões, coma, vômitos, alteração do ritmo respiratório, incluindo apneia, e postura em opistótono. Tórax e abdome -> compressão anteroposterior (síndrome do bebê sacudido) ou de tração violenta do braço. Lesões sentinelas de violência -> são exemplos dessas lesões as equimoses e as lesões intraorais, como ruptura do frênulo. EXAMES COMPLEMENTARES A indicação depende da natureza da suspeita e deve ser direcionada pelos dados clínicos: ❖ Estudo radiológico do esqueleto em crianças < 2 anos. Acima dessa idade, deve realizar radiografias de regiões conforme a área dolorosa. ❖ TC e RM em lesões intracranianas. ❖ Exames hematológicos -> coagulograma, hemograma completo com plaquetas. ❖ Exames bioquímicos -> intoxicação exógena, CPK, amilase, transaminases, gama-GT (trauma abdominal). ❖ Exame simples de urina, intoxicação exógena, pesquisa das doenças sexualmente transmissíveis nos caso de abuso sexual. ❖ Pesquisa de gravides nos casos de abuso sexual. ASPECTOS ÉTICOS A avaliação da extensão das lesões físicas de cada caso, bem como os tratamentos necessários, será determinada pelo(a) médico(a) que atente a vítima. Situações de violência sexual, ou mesmo de violência de qualquer natureza, com risco de vida ou de revitimização devem sempre ser consideradas graves. A presença do(a) agressor(a) no mesmo ambiente que a vítima ou possível convivência da família com ele(a) precisam ser levadas em conta na classificação de gravidade e nortear a tomada de decisão para possível retirada da criança/adolescente de sua residência. Todas as circunstâncias que indicam gravidade do caso requerem: ❖ Internação da criança em hospital/unidade de saúde por vezes; comunicação obrigatória ao Conselho Tutelar (CT). ❖ Acionamento concomitante da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), do Ministério Público e encaminhamento para a delegacia ou IML. ! Essas ações de proteção devem, preferencialmente, ser desencadeadas pelo CT ou, na sua impossibilidade, pelo profissional médico ou outro.