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Fundamentos da 
i~ uno~ ~el!latologia 
errtrocrtarra 
Ana Lúcia Girello 
Telma Ingrid B. de Bellis Kühn 
Bases 
in1uno-hen1atológicas 
Imuno-hematologia eritrocitária é uma disciplina complexa e está relacio-
nada a outras ciências biológicas, como imunologia, hematologia, genética, 
biologia molecular e bioquímica. 
Neste capítulo, traremos algumas noções de imunologia. importantes 
para a compreensão de aspectos práticos da rotina em imuno-hematologia 
eritrocitária. No capítulo 2, abordaremos princípios de genética básica e 
molecular. 
Introdução à imunologia 
Imunologia. É o estudo da imunidade, em seu sentido mais amplo, e dos 
eventos celulares e moleculares depois que um organismo encontra micró-
bios ou outras macromoléculas estranhas. 
Imunidade. Deriva da palavra latina immunitas, ou, literalmente, isen-
ção de vários deveres cívicos e de processos legais oferecida aos senadores 
romanos durante seu mandato. 
Significa, mais amplamente, proteção contra doenças. É a reação a subs-
tâncias estranhas, inclusive micróbios, bem como a macromoléculas, como 
proteínas e polissacarídeos, sem contudo implicar conseqüência fisiológica 
17 
ou patológica de tal reação. Os responsá ·ei- pela imunidade são células e 
moléculas que formam o sistema imune.: 
SISTEMA IMUNE 
A proteção do indivíduo contra sub tâ.:!c:ias consideradas estranhas a ele 
pode ser efetuada de duas maneiras: 
a) Imunidade natural ou inata: pode ser "éinida como uma limitada 
capacidade de distinguir um agente iJr·a5{)r de outro, e agindo quase 
do mesmo modo contra a maioria dos agen-es infecciosos. É caracte-._ 
rística dos animais inferiores e permanece nos animais superiores. 
Realizada por células fagocitárias (monócitos, macrófagos, neutrófilos), 
proteínas plasmáticas (principalrnen e as do sistema complemento) e 
as barreiras físicas e químicas, como o e!Jirélio e as substâncias anti-
microbianas produzidas nas superfioe- epireiiais. Essa ação não de-
pende do antígeno, e é imediata e . ãü-€speóiica, não ocorrendo 
surgimento de células de memória imuno · ·ca. 
b) Imunidade adquirida ou espeófica: exau : o. dos animais superiores, 
ocorre por estimulação do sistema imune por uma substância reco-
nhecida como não-própria (non-selt) ao organismo (denominada 
antígeno) , que consegue atravessar a5 barrerras de entrada. Por meio 
desta, o indivíduo imunizado passa a •er urn papel ativo na resposta 
ao antígeno. A ação é específica e ocorre o aparecimento das células 
de memória. Será descrita mais detalhaàamente no item "Resposta 
imune específica: breve relato ... deste capí lo. 
Os mecanismos das respostas imunes ina a e aàquirida constituem um 
sistema integrado de defesa do hospedeiro. no qual numerosas células e 
moléculas funcionam cooperativamente . .-\ imunidade inata proporciona 
defesa inicial contra micróbios e também induz à resposta específica. Como 
exemplo, a resposta inflamatória. muitas ·ezes associada a processos infec-
ciosos, é um "aviso" para que haja o desencadeamento de respostas imunes 
específicas. 
FUNÇÕES DO SISTEMA IMUNE 
a) Defesa e proteção: específica e inespecífica. Pode ser benéfica ao 
organismo. como, por exemplo, na proteção contra agentes invaso-
res; ou não. como no caso do desencadeamento de resposta auto-
imune, na qual a perda da autotolerância imunológica promove o 
aparecimento de patologias auto-imunes, caracterizadas por reações 
imunológicas anormais. 
b) Homeostasia: capacidade de distinguir o que é próprio (self) do que 
não é próprio (non-self). 
c) Vigilância: capacidade de detecção e destruição de células neoplásicas. 
DEFINIÇÕES IMPORTANTES 
a) Antígeno: substâncias reconhecidas pelo organismo como "não-pró-
prias" (non-self) . Ex.: Os antígenos eri trocitários poderão ser reco-
nhecidos como não-próprios pelo sistema imune do receptor de 
concentrado de hemácias. (Figura 1) 
a.l) Propriedades 
• Imunogenicidade: capacidade de estimular produção de 
anticorpos. Os antígenos que possuem essa característica são 
denominados imunógenos 
FrcuRA 1. REPREsENTAÇÃO 
ESQUEMÁTICA DOS ANTíGENOS 
ERITROOTÁRIOS. 
BME'o 1:\ !l "'\0-HE\ 1!1 TOLOGIC\S 19 
20 
• Antigenicidade: capacidade de imeragir especificamente com 
o produto da resposta imune seja ela humoral (que termina 
em produção de anticorpos específicos), seja celular (que cul-
mina com a ativação dos linfóc: o- T ). 
b) lmunógenos: geralmente macromoléculas maiores que 10 mil dáltons, 
capazes de estimular resposta imune. induzindo à formação de 
anticorpos e se combinando a ele . 
c) A habilidade em estimular a resposta imune depende da natureza da 
substância, de sua complexidade estrutural do modo da imunização 
(via, dose, presença de adjuvantes). e das características de cada indi-
víduo (genéticas, etárias etc.). 
c.1) Da natureza da substância: quase .:oda espécie de molécula bio-
lógica, incluindo simples metabóli-os intermediários, açúcares, 
lipídeos, autacóides e hormônios. e tarnbém macromoléculas, tais 
como carboidratos complexos. fosfo · pídeos. ácidos nucléicos e 
proteínas podem servir como anngenos. Entretanto, somente as 
macromoléculas podem iniciar a a-r.-ação linfocítica necessária à 
resposta imune. A maioria dos im wenos é de origem protéica 
(glico ou lipoprotéica). Poli- acandeo também são bons 
imunógenos. Já ácidos nucléicos e 'pídeos são pouco imuno-
gênicos. 
d) Tolerância imunológica: uma das pro_ rieàades mais importantes do 
sistema imune é a discriminação entre substâncias estranhas (não-
próprias) e comuns (próprias) ao organi mo . . -\ falta de resposta à 
estimulação antigênica é denominada olerância imunológica e ocor-
re por inativação funcional ou mor~e de linfócitos específicos 
induzidas pelo antígeno, culrnina.'1do na incapacidade de resposta 
àquele antígeno. Os antígenos que induzem tolerância são chamados 
tolerógenos. 
e) Autotolerância: a tolerância aos auto-antígenos é uma propriedade 
também fundamental do sistema imune. e sua falta induz a doenças 
auto-imunes. Normalmente, todos o auto-antígenos agem como 
tolerógenos (mais detalhes no capítulo 9, "Anemia hemolítica auto-
imune (AHAD"). 
f) Epítopo ou determinante antigênico: é o sítio (local) de ligação do 
antígeno com a imunoglobulina ou receptor de linfócito T. Cada 
antígeno pode ter um ou mais epítopos. 
g) Hapteno: moléculas de peso molecular abaixo de 10 mil dáltons, que 
possuem somente a capacidade de antigenicidade, mas não a 
imunogenicidade (não estimulam a produção de anticorpos). Algu-
mas drogas, como a penicilina, agem como hapteno. 
h) Anticorpos ou imunoglobulinas: são substâncias (proteínas 
globulares) produzidas a partir da ativação dos glóbulos brancos do 
sangue (linfócitos B), que se transformam em plasmócitos e secretam 
anticorpos, em resposta à introdução de um dado antígeno 
(imunógeno). Eletroforeticamente, as proteínas séricas são separadas 
em frações, como albumina e globulinas alfal, alfa2, beta e gama. 
Estas últimas, compostas pelos anticorpos (gamaglobulinas). Podem 
ser das classes ou isótipos: IgG, IgM, IgE, IgA, IgD. (Figura 2) 
i) Funções dos anticorpos: a função efetora dos anticorpos é 
desencadeada com a ligação deste com o antígeno. Vários efeitos 
biológicos são conhecidos, como, por exemplo, os mais importantes: 
i.l) neutralização do antígeno: muitos agentes, como toxinas, drogas, 
vírus, bactérias e parasitas, iniciam a lesão celular após a adesão 
à superfície da célula-alvo. Os anticorpos podem impedir essa 
fiGURA 2. MODELO ESPAOAL 
DE UMA MOLÉCu1.A DE 
lMUNOCLOBU!lNA. 
B .-\SES [\ [ '.:0-HJ:\L·\TOLOGLC-\5 21 
22 
ação ligando-se a determinantes antigênicos do agente, neutrali-
zando a ação tóxica ou infecciosa. 
i.2) opsonização: tanto os fagócitos mononucleares quanto os 
neutrófilos expressam receptores para as porções Fc das molé-
culas de IgG. A ligação dos anticorpos IgG às células facilita a 
ação dessas células fagocitárias. 
i.3) ativação dos fatores de complemento: essas proteínas séricas 
(complemento)são ativadas enzirnaticamente em cascata, podendo 
promover a lise osmótica da célula-alvo. Geralmente as IgG e 
IgM podem iniciar esse processo. 
i.4) anticorpos de membrana dos linfócitos B são receptores para 
antígenos: esta ligação inicia a proliferação celular e secreção de 
anticorpos espeóficos pelas células B, como veremos em res-
posta humoral mais adiante. ~ -a membrana dos linfócitos B po-
demos encontrar diferentes isótipos de cadeias pesadas das Ig. 
Por exemplo, células B imaturas expressam IgM, células B madu-
ras não estimuladas podem expressar IgM e D, células de me-
mória imunológica podem expressar qualquer isótipo. 
i.5) citotoxicidade mediada por células dependentes de anticorpos: 
várias populações de leucócitos além dos linfócitos T citotóxicos, 
entre eles os neutrófilos, eosinófilos e as células natural kmer 
(NK), são capazes de lisar células-alvo. Muitas vezes é necessá-
rio que essas células estejam recobertas por IgG. em processo 
denominado dependente de anticorpos antibody dependent cell 
mediated citotoxicity (ADCO. 
j) Estrutura básica de uma imunoglobulina: todas as moléculas de 
anticorpos são semelhantes estruturalmente. Apesar disso, podem 
ser separadas em classes e subclasses, tomando-se por base as pe-
quenas diferenças quanto às características físico-químicas, como 
tamanho, solubilidade e comportamento como antígenos. Na Tabe-
la 1, descrevemos as características básicas das imunoglobulinas. 
fL':-JDtl\ !E'ITOS DA I\1U!\O+!E\ LATOLOGLA ER!lll.OCIT.ARIA 
T.-\BEL ~ 1. ESTRL TL R~ B:\SIC-\ D.~S !).!L -:\OGLOBUJ:\.-'0 
Tipo de cadeias 
Pontes dissulfeto 
Regiões 
Fragmentos 
Classes 
Subclasses 
2leves (L) 
kappa (K) 
lambda (À) 
In tracadeia 
lntercadeia 
Variáveis (\}: Vl e \'H 
Constantes (C): Cl e CH 
2 pesadas (H) 
IgG: gama (y) 
Igl\1: mu (~) 
lgA: alfa (a ) 
IgD: delta (8) 
IgE: epsílon(f.) 
Fab (antigen binding): região de ligação c,'ag 
Fc: região cristalizá,·el 
IgG 
lgG 1, 2, 3 e -i 
lg/\ 
lgl\le2 
IgD IgE 
CLASSE DOS ANTICORPOS IMPORTANTES EM !MUNO-HEMATOLOGIA 
Para a imuno-hematologia, os mais importantes são os anticorpos clas-
ses IgM e IgG. 
a) IgM: molécula pentamérica, de peso molecular 900 mil dáltons, com 
capacidade de ativar o sistema complemento, mas que não atravessa 
barreira placentária . São geralmente "frios" (a fixação do anticorpo 
sobre o antígeno é máxima em baixa temperatura, por exemplo 4 ae, 
e mais fraca a 25 ac e freqüentemente nula a 37 °C). São produzidos 
nas respostas primárias, pela ativação dos linfócitos B, em primeira 
exposição a determinado antígeno. Têm a capacidade de ligar-se a 
receptores de frações Fc de células fagocitárias. É a imunoglobulina 
de superfície de células B. (Figura 3) 
b) IgG: principal imunoglobulina sérica (75°o de todas as lg); molécula 
monomérica, de peso molecular 160 mil dáltons, que tem a capacida-
de de atravessar barreira placentária, pela ligação a receptores Fc das 
células placentárias. Algumas subclasses têm maior capacidade de 
ativar o sistema complemento, como IgG 1 e 3, exceto IgG!. São 
produzidas em respostas secundárias (segunda exposição a determi-
nado antígeno). Provocam a opsonização da célula-alvo. Têm capa-
B.\Sb l:\IL"'-:0-HE\l\TOLOGIC.-1.< 23 
cidade de ligação a receptores Fc de monócitos, macrófagos, 
polimorfonucleares, que provoca uma aderência e melhor internalização 
do antígeno por essas células fagocitárias. (Figura 4) 
fiGURA 3 . MODELO ESPAOAl DE L~l-'1.. IOLECll..A 
DE IcM. 
fiGURA 4. MODELO ESPACIAL OE 
UMA MOLÉCULA DE !GG. 
Loc ais de 
união do 
antígeno 
CLASSIFICAÇÃO DOS ANTICORPOS 
a) De acordo com a origem 
Heteroanticorpos: anticorpos produzidos contra antígenos 
advindos de indivíduos de espécies diferentes. Ex.: produção de 
24 Fc-:\D.\.\iE\.T OS DA IMU\0-HC:\LATOLOGL'\ ERITROCIT.-\RI.'\ 
soro de antiglobulina humana (Coombs) por imunização de coe-
lhos por anticorpos humanos. 
Aloanticorpos: produzidos contra antígenos reconhecidos como 
"não-próprios" ao indivíduo, mas provenientes de indivíduos da 
mesma espécie. b.: imunização por transfusão sangüínea. 
Auto-anticorpos: produzidos contra antígenos do próprio indi-
víduo, em geral antígenos de alta incidência na população (e, P. I 
etc.). Ex.: doenças auto-imunes, como anemia hemolítica auto-
imune (AHAI) . 
b) De acordo com o estímulo 
Imunes: formam-se após ativação do sistema imune. Ex.: após 
transfusão ou gravidez, contra algum antígeno reconhecido como 
"não-próprio". 
Naturais: no sistema ABO, por exemplo, anticorpos formam-se 
contra antígenos não presentes no indivíduo, sem necessidade 
de contato prévio com o antígeno. Sabe-se que as bactérias que 
começam a colonizar o trato intestinal a partir do nascimento 
possuem açúcares similares aos antígenos A e B; conseqüente-
mente são essas bactérias que vão estimular a formação dos 
anticorpos anti-A e anti-B. Também ocorre imunização por meio 
da alimentação, exposição à poeira etc. 
Regulares: a ocorrência é esperada, como. por exemplo, no caso 
dos anticorpos ABO. 
Irregulares: a ocorrência não é esperada, como, por exemplo, 
anticorpos formados após aloimunização por transfusão. 
c) De acordo com o comportamento em testes imuno-hematológicos 
• Completos: promovem aglutinação de hemácias em meio salino. Ex.: 
anticorpos IgM. 
Incompletos: reagem com o antígeno, porém não produzem 
aglutinação das hemácias. Precisam de um meio artificial que pro-
mova a aglutinação para visualização da reação antígeno-anticorpo. 
Ex.: anticorpos IgG. 
A maioria dos anticorpos completos e naturais é da classe IgM, e os 
incompletos e imunes da classe IgG ou IgA. 
25 
Resposta imune específica: breve relato 
Resposta coletiva e coordenada das moléculas e células responsáveis 
pela imunidade à introdução de substâncias estranhas (antígenos). 
Estudaremos a seguir a resposta específica, na qual o organismo do 
indivíduo passa a ter papel ativo na produção da resposta. Existe, ainda, a 
resposta passiva, que não abordaremos neste trabalho, como, por exemplo, 
no caso da imunização com venenos de cobra (soro antiofídico) em indiví-
duos picados por esse animal. 
26 
a) Mecanismos: o sistema imune executa suas funções de defesa espe-
cífica mediante dois mecanismos. 
Resposta humoral, com produção de anticorpos (moléculas 
efetoras). 
Resposta celular, em que a própria célula vai de encontro ao 
antígeno (células efetoras). 
b) Órgãos linfóides: as células do sistema imune são produzidas nos 
órgãos linfóides primários e secundários. 
Primários: timo e medula óssea. 
Secundários: linfonodos (gàna ias linfáticos), baço, tonsilas 
(amígdalas), apêndice vermiforme. 
c) Linfócitos: o órgão linfóide é formado por tecido, sendo este consti-
tuído por células chamadas linfócitos. O sistema imunológico vai exe-
cutar funções por meio de suas células e seus produtos. 
c.l) Tipos de linfócitos: existem os linfócitos B e T. 
• Os linfócitos B são assim chamados pois demonstrou-se em 
aves que eles originavam-se da Bolsa de Fabricius. Nos ma-
míferos, nos quais não existe órgão equivalente, estes origi-
nam-se da medula óssea. São as únicas células capazes de 
produzir anticorpos. 
• Os linfócitos T, ou seus precursores, originam-se da medula 
óssea e migram para o tirno, onde amadurecem. Subdividem-
se em subpopulações diversas, como Lt citotóxico, auxiliares e 
supressores. ão produzem anticorpos, mas respondem a 
antígenos associados à superfície celular, e são não-solúveis; 
Fc"-1).'\.\IE:\"TOS DA llvlliKO·HEMATOLOGIA ERITROCIT.>\RIA 
em resposta à estimulação, vão secretar citocinas, que promo-
vem proliferação e diferenciação de outras células T. 
Os linfócitos T expressam diferentes proteínas na membra-
na, conhecidas por CD (Cluster of Differentiation); Lt auxilia-
res expressam CD4; citotóxicos expressam CD8. 
Os linfócitos têm a capacidade de se transformar em células de memória 
imunológica e em um segundo contato com o antígeno, amplificar a res-
posta imune. 
d) Resposta imune:cada resposta imune é uma intrincada e complexa 
seqüência de eventos envolvendo diversos tipos celulares. Na res-
posta humoral, os linfócitos B respondem aos antígenos produzindo 
células secretoras de anticorpos; na resposta celular, os linfócitos T 
agem diretamente contra o agente . 
e) Fases 
e.l) Reconhecimento: é iniciada pelo reconhecimento de antígenos 
estranhos (de parte deles, denominada epítopo ou determinante 
antigênico) , pelos linfócitos B. Podem ser proteínas, polissa-
carídeos, lipídeos ou outras substâncias químicas extracelulares, 
que se ligam às Ig de superfície. Esses linfócitos específicos de-
senvolveram-se sem necessidade de estimulação prévia. Existem 
clones de linfócitos capazes de reconhecer muitos antígenos. 
e.2) Ativação: proliferação dos linfócitos antígeno-específicos e am-
plificação da resposta imune. As células começam a se diferenciar 
e a se transformar em células efetoras, para eliminação do antíge-
no, ou ainda em células de memória imunológica. Os linfócitos 
B transformam-se em plasmócitos e secretam anticorpos. Os 
linfócitos T são ativados por pequenas seqüências peptídkas das 
proteínas estranhas e diferenciam-se em outros linfócitos, que 
podem atrair células fagocitárias ou eliminar diretamente as subs-
tâncias estranhas, como, por exemplo, proteínas virais. 
e.3) Efetora: nesta fase, as células efetoras originadas da ativação exe-
cutam sua função, muitas vezes com auxílio de outras células e 
substâncias. 
Em cada fase desse processo, os linfócitos e células apresentadoras 
de antígeno podem relacionar-se com outros sistemas conhecidos 
BIISES 1'.1l"\:0-HE\IATOLÓCIC·\S 27 
como sistema complemento (que culmina com a destruição do 
antígeno), sistema das cininas (que produzem substâncias 
farmacologicamente ativas) e sistema fibrinolítico (que inicia proces-
so inflamatório). 
O principal mecanismo de eliminação de agentes extracelulares, como, 
por exemplo, bactérias, é a resposta humoral. em que os anticorpos ligam-
se aos elementos e promovem sua inati\·ação e eliminação; enquanto para 
agentes intracelulares, como, por exemplo. \Írus. ocorre principalmente a 
resposta celular, pois os antígenos estão inacessíveis aos anticorpos. 
28 
• Resposta celular: as linfocinas ati\·am os linfócitos T citotóxicos (co-
nhecidos também por CD8). que secretam substâncias ci tolíticas que 
destruirão o antígeno, e proliferam-se em células de memória, ou 
ativam neutrófilos (células brancas do sangue), que migrarão para o 
foco infeccioso, travando batalha contra o antígeno, resultando qua-
se sempre em sua morte. o que ocasionará a formação do chamado 
pus. 
• Resposta humoral: as linfocinas ati\·am os linfócitos B, que poderão 
seguir duas vias: a diferenciação em plasmóci tos - que secretarão 
substâncias conhecidas como anticorpos. que se ligam especifica-
mente ao antígeno, inatiYando-o - ou proliferando-se em células de 
memória. 
f) As células de memória registrarão o primeiro contato com o antígeno. 
Em segunda exposição. amplificarão a resposta imune. São forma-
das a partir da resposta primária humoral ou celular. 
g) As substâncias produzidas pelos linfócitos T são responsáveis pela 
rejeição aos transplantes, e os produzidos pelos linfócitos B pelas 
reações transfusionais hemolíticas. 
h) Cinética dos anticorpos 
h.l) Resposta primária: determinada após o primeiro contato com o 
imunógeno. Suas principais caracteristicas são: 
• A necessidade de um tempo maior para a produção de 
anticorpos: a primeira exposição ao antígeno pode levar a uma 
aloimunização primária com produção de baL.xos níveis de 
anticorpos, geralmente da classe IgM, detectáveis dentro de 
três a quatro semanas após o estímulo. 
• A resposta primária é caracterizada pela detecção, no soro do 
indivíduo, de crescentes quantidades de anticorpos específi-
cos. A concentração de anticorpos logo atinge um ponto má-
ximo, declinando gradualmente para níveis basais. 
h.2) Resposta secundária: determinada após a segunda exposição ao 
mesmo antígeno. É caracterizada por um tempo menor para pro-
dução de altos níveis de anticorpos predominantemente IgG. 
detectáveis dentro de um a dois dias. 
A resposta secundária é dada por células de memória (células Te 
B), danadas durante a Tesposta primária ao antígeno. 
Os anticorpos resultantes de uma resposta secundária têm maior 
avidez pelo antígeno que os anticorpos resultantes da resposta 
primária e são produzidos contra doses significativamente infe-
riores do antígeno. 
Resposta imunológica em aloimunização eritrocitária 
As reações imunológicas à transfusão eritrocitária compreendem basi-
camente a aloimunização a antígenos eritrocitá.rios (formação de anticorpos) 
e a hemólise por incompatibilidade. 
Os antígenos das membranas celulares, como os antígenos de 
histocompatibilidade (sistema HLA) e os antígenos dos grupos sangüíneos 
eritrocitá.rios (em particular os dos sistemas Rh, Kell, Duffy e Kidd) são os 
antígenos mais imunogênicos de nossa espécie. 
• A formação de anticorpos contra antígenos eritrocitários é o primei-
ro efeito imunológico a ser reconhecido após transfusão de glóbulos 
vermelhos. 
• Quando um indivíduo é exposto aos antígenos eritrocitários que não 
lhes são próprios, seu organismo é capaz de rejeitá-los. A produção 
de anticorpos é parte do processo de rejeição. 
• Alguns estudos mostram que a probabilidade de um indivíduo pro-
duzir um ou mais anticorpos antieritrocitários é de aproximadamen-
te 1% por unidade de sangue transfundida. 
BASES 1:-!L:.:O-HE.\l~TOLÓGIC'\5 29 
• As diferentes incidências dos anticorpos são devidas à imunogenicidade 
dos antígenos e à freqüência de indivíduos antígeno-negativos e, por-
tanto, indivíduos imunologicamente suscetíveis em uma população.2 
Fundamentos dos testes imuno-hematológicos 
As reações in vivo entre antígenos e anticorpos produzem tmuno-
complexos que não são visíveis. A necessidade de se investigar as reações 
imunológicas in vitro levou ao desenvolvimento de uma variedade de méto-
dos, com objetivo de detectar e quantificar as reações antígeno-anticorpo3 
Em imuno-hematologia, procuramos pesquisar in vitro a interação entre 
antígenos e anticorpos, seja para pesquisa dos antígenos, como, por exem-
plo, na fenotipagem direta ABO, quanto para pesquisa de anticorpos re-
gulares (ex.: ABO) ou irregulares (ex.: anti-Q no soro dos indivíduos, por 
meio do método de aglutinação de hemácias ou hemaglutinação, que culmi-
na com a formação de aglutinatos de hemácias sensibilizadas por anticorpos. 
Para isso, devemos conhecer as duas etapas desse processo: a reação 
entre antígeno e anticorpo propriamente dita (etapa de sensibilização) e o 
fenômeno da hemaglutinação (etapa da visualização), para que possamos 
compreender e aplicar seus fundamentos na rotina do dia-a-dia. 
Podemos, ainda, alterar algumas condições, para incrementar a forma-
ção e visualização desses aglutinatos. 
CARACTERÍSTICAS BIOQUÍMICAS DA REAÇÃO ANTÍGENO X ANTICORPO 
30 
a) A principal característica da interação do antígeno (Ag) com o 
anticorpo (Ac) é a especificidade, definida pela reatividade comple-
mentar entre os sítios de ligação do anticorpo e os determinantes 
antigênicos que induziram à sua formação; ou ainda, como a capaci-
dade do sítio de ligação do anticorpo em reagir com um único 
L M. Castilho, 'Reações imunológicas à transfusão de eritróci tos e investigação laboratorial" , 
em lmunohematologia Eritrocitária: Si5tema de Treinamento a Oi5tância (STD), vol. 11, Belo 
Horizonte, 1996. 
L Melo & ]. A. Santos, 'A reação de aglutinação aplicada aos grupos sangüíneos', em STD, 
vol. 2, Belo Horizonte, 1996. 
fL '-DA\ !E'-'TOS DA IMJ I'JO-H E.\ 1A TOLOGL·I ER!TROOT,·\RIA 
determinante antigênico. Várias moléculas de anticorpos podem rea-
gir com um único antígeno composto de vários epítopos antigênicos. 
b) Reações cruzadas podem ocorrer por similaridade de epítopo(s) na 
estrutura de antígenos complexos, o que provocará a reação de deter-
minadoanticorpo com diferentes antígenos que apresentem a simi-
laridade de epítopo(s) mencionada. 
c) Ocorre por uma multiplicidade de reações químicas não covalentes, e, 
portanto, individualmente fracas. Mas o somatório das reações, como 
pontes de hidrogênio, forças eletrostáticas, Van der Waals e ligações 
hidrofóbicas, vão conferir à reação considerável força de coesão.4 
c.1) Forças eletrostáticas: atração entre grupamentos iônicos de car-
gas elétricas opostas situadas nas cadeias laterais das proteínas. 
c.2) Pontes de hidrogênio: entre grupos hidrofílicos (OH,NH
2
, 
COOH); são ligações fracas e reversíveis. 
c.3) Ligações hidrofóbicas: da mesma forma que as gotas de óleo em 
água se fundem para formar uma gota maior, os grupos 
hidrofóbicos não-polares, como cadeias laterais de valina, leucina 
e fenilalanina, tendem a associar-se em meio aquoso. Quando 
os grupos hidrofóbicos de duas proteínas se unem de modo a 
expelir moléculas de água entre eles, a superfície livre em conta-
to com a água fica reduzida, havendo então força de atração. 
Calcula-se que essas forças representem até 50% da força total 
de ligação antígeno x anticorpo.5 
c.4) Forças de Van der Waals: são forças intermoleculares que depen-
dem da interação entre as nuvens de elétrons externas. Compara-
da a uma perturbação temporária de elétrons em uma molécula, 
formando um dipolo que induz uma perturbação di polar na outra 
molécula, passando a haver uma força de atração entre os dipolos. 
d) As reações antígeno-anticorpo obedecem ao conceito de chave-fe-
chadura, em que os sítios de ligação são complementares e específi-
cos. As forças descritas anteriormente dependem da aproximação de 
ambas as moléculas (antígeno e anticorpo), assumindo, então, gran-
L Melo & J. A. Santos, "A reação antígeno-anticorpo e o complemento em imunologia 
eritrocitária" , em STD, Belo Horizonte, 1996. 
I. M. Roitt, Imunologia (5ª ed. São Paulo: Atheneu, 1998). 
BASESIM\.11\ü-HL'v!ATOLÓGICAS 31 
32 
de magnitude. Tendo formas complementares de nuvens de elétrons 
no sítio combinatório do anticorpo e no determinante de superfície 
do antígeno, as moléculas podem se encaixar perfeitamente como 
chave e fechadma. 
e) Essa reação apresenta também a propriedade de reversibilidade, po-
dendo dissociar-se prontamente, dependendo da força de ligação, de-
finida pela constante de equilíbrio da reação, e da quantidade de 
energia que fornecermos ao sistema. Os processos de eluição podem 
ocorrer principalmente se fornecermos calor ao sistema, modificar-
mos o pH e/ou força iônica, utilizarmos solventes orgânicos (como 
éter e clorofórmio). Esse é o princípio dos métodos de eluição, utiliza-
dos especialmente em casos de testes de antiglobulina humana posi-
tivos, conforme descreveremos no capítulo 3, "Teste da antiglobulina 
humana". 
f) A força da reação de um único determinante antigênico e um único 
sítio de ligação do anticorpo é denominada afinidade. É possível 
quantificar-se essa energia de fixação, utilizando-se o princípio de 
ação das massas e a conseqüente determinação das constantes de 
equilíbrio e afinidade. 
Sucintamente, representaremos a equação: 
Ag + Ac HAgAc 
(Ag) (A c) k' = (AgAc) k 
onde: 
(Ag) = concentração de antígenos (mol/L) 
(Ac) = concentração de anticorpos (mol/L) 
k e k' = constantes de associação de dissociação do complexo 
Ag-Ac 
g) Avidez é a força resultante da ligação entre um antígeno com muitos 
determinantes ou epítopos e anticorpos multivalentes. 
h) O que são anticorpos frios e quentes? 
Compreendendo a termodinâmica da reação AgxAc, é possível en-
tender por que os anticorpos são classificados em frios ou quentes. 
h.l) Toda reação AgxAc é exotérmica, ou seja, libera calor. Portanto, 
a entalpia da reação é negativa. 
f t:'ID -I:VlE'-CfC" D. -1 L\ IL-;\0-HE.\ LI TOLOGL-1 LR!TROCITARIA 
h.2) Anticorpos frios: uma variação da entalpia fortemente negativa 
indica uma reação com muita liberação de calor. Então, podemos 
concluir que na reação entre partes iguais de age ac, a fixação do 
anticorpo ao antígeno é máxima em baixas temperaturas, cerca 
de -1 oe, decrescendo com a elevação até 37 ac. Geralmente uma 
IgM tem maior afinidade pelo antígeno a 4 ac (temperatura óti-
ma), decrescendo com a elevação da temperatura, como já disse-
mos. Ex.: anti- I, -i, anticorpos ABO, entre outros. 
h.3) Anticorpos quentes: ao contrário, quando existe menor variação 
de entalpia, a reação libera menos calor e a afinidade do anticorpo 
por seu antígeno específico é baixa em qualquer temperatura de 
reação (-1 oc a 37 °C) . Os anticorpos IgG geralmente demons-
tram esse comportamento e são preferencialmente detectados a 
37 ac. Ex.: ant icorpos contra antígenos dos sistemas Rh, Kell. 
Kidd, entre outros. 
Alguns anticorpos IgM podem apresentar grande amplitude térmica, 
reagindo também a 37 oc. 
FENÔMENO DA AGLUTINAÇÃO DE HEMÁCIAS (HEMAGLUTINAÇÃO) 
As reações in vivo entre antígenos e anticorpos produzem imuno-
complexos que não são visíveis. A necessidade de se invest igar as reações 
imunológicas in vitro levou ao desenvolvimento de uma variedade de méto-
dos, com o objetivo de detectar e quantificar as reações antígeno-anticorpo. 
a) Aglutinação: é um fenômeno de mecanismo complexo. Em imuno-
hematologia, o método da hemaglutinação é muito utilizado para a 
visualização desse fenômeno , em que ocorre formação de grumos de 
células que, nesse caso. são as hemácias. Chamamos esses grumos de 
aglutinatos. (Figura 5) 
A aglutinação pode ser de dois tipos: específica ou não-específica. 
Específica: uma suspensão de hemácias em solução fisiológica 
(NaCl a 0,85 qo) constitui um sistema estável, ou seja, os glóbulos 
mantêm certa distância uns dos outros. Essa estabilidade é devi-
da ao equilíbrio entre as cargas elétricas das hemácias e a nu-
vem iônica que as circundam, e pode ser alterada pela introdução 
de anticorpos específicos, que se fixarão aos antígenos da mem-
B.-\5!:5 I~ It '\:0-HE~ l-1 TOLOGIC'\. S 33 
111 
fiGURA 5. Ri:PREsENrAÇÃO ESQUEMÁTICA DA AGLLTTINAÇÃO DE 
ERf!RÓ<TIOS. AOMA: ERflRÓ<TIOS NÃO SENS!BI11ZADOS EM SOWÇÃO 
ASIOLÓGICA (NAU 0,85%) SE REPELEM. No MEIO: ERflRÓ<TIOS 
SENS!BillZADOS POR ANTICORPOS lNCOMFU:rOS NAO AGUJTINAM, POIS O 
POTENOAL ZETA CRÍTICO (PZQ NÃO FOI ATINGIDO. A!wxO: ERflRÓ<TIOS 
SL'JSIBillZAOOS POR ANTICORPOS COMPiflOS (OU lNCOMPiflOS +SORO DE 
AN11GLOBL1JNA HUMAl\IA) AGLLTTINAM, POIS O PZC FOI ATINGIDO. 
brana eritrocitária, neutralizando cargas elétricas e provocando 
a aglutinação das hemácias. 
ão-espeófica ou pan-aglutinação: corresponde à aglutinação 
de hemácias normais, sem anticorpos específicos ligados aos 
antígenos, por interferência de substâncias presentes no meio, 
como macromoléculas (polibreno, fico!, dextran etc.) , íons metá-
licos (sílica coloidal) e compostos carregados ou neutros. Essas 
substâncias alteram o equilíbrio iônico e a constante dielétrica 
do meio, baixando o potencial zeta da suspensão globular até 
um ponto crítico, em que a aglutinação dos glóbulos ocorre. Ex.: 
aglutinação decorrente de reações realizadas em tubos de ensaio 
mal lavados, impregnados por detergentes. 
Atenção: o modelo das pontes entre anticorpos, que podemos encontrar 
descrito em alguns livros, preconiza que a reação específica provoca a for-
mação de uma malha, em que os anticorpos se ligam aos sítios antigênicos 
de outras células vizinhas. Esse modelo, porém, não é convincente, pois não 
consegue explicar a ocorrência de reações não-específicas, na ausência des-
ses anticorpos. Já o modelo físico-químico, que tentaremos descrever no 
item "Potencial zeta", leva em consideração a distância média que separa as 
hemácias em suspensão. Essa distância pode ser diminuída pela adição de 
anticorpos ou outras substâncias ao meio, até um ponto crítico em que a 
aglutinação ocorre. Observe o exemplo no esquema a seguir. 
34 FUNDAME:'-.'TOS DA L\U.':\:0-HE\-tATOLOGIA ERITROCITARIA 
[SQU~ 1." REPRESE:\T.\TI\ O 00 FE:\0\ IE.:\0 D.~ HD.I:\GLL T!:\.~Ç.~O 
Hemácias não-sensibilizadas 
em solução fisiológica 
Força de repulsão 
Hemácias sensibilizadas por anticorpos 
incompletos ou por poucos anticorpos 
:\ distância diminui. mas não existe a aglutinação 
Hemácias sensibilizadas por anticorpos completos, 
grande quantidade de anticorpos ou adição de 
substâncias potencializadoras 
Aglutinação 
Potencial zeta 
Em estudos de migração eletroforética, as hemácias comportam-se como 
partículas eletronegativas. Os grupos carboxílicos (COOH-) das 
sialoglicoproteínas integrantes da membrana eritrocitária são os maiores 
responsáveis por essa eletronegatividade. 
BASESL\IL-:\0-HEM~TOlóGIC~S 35 
Como cargas iguais se repelem, os eritrócitos em suspensão permane-
cem separados uns dos outros em meio salino. Os eletrólitos contidos no 
meio envolvem cada hemácia como uma nuvem de íons positivos que se 
torna menos densa à medida que se distancia do glóbulo. 
A diferença de potencial criada entre a nuvem de cátions atraídos pelas 
cargas elétricas negativas da membrana eritrocitária e meio é chamada 
potencial zeta. (Figura 6) 
Portanto, a força de repulsão entre as hemácias depende do potencial 
zeta. 
Pollack desenvolveu a seguinte fórmula para potencial zeta: 
y 
Z= - - -
D~ 
Onde: Z = potencial zeta 
y = eletronegatividade da hemácia 
O = constante dielétrica do meio 
p =força iônica do meio 
Diminuindo-se, lentamente, o potencial zeta do sistema, constata-se que a 
aglutinação ocorre em determinado valor. que é o potencial zeta crítico (PZC). 
fiGURA 6. REPRESENTAÇÃO 
ESQUEMÁTICA DE ERITRÓOTO E1v1 
SOLUÇÃO RSIOLÓGICA (NA(L 
0,85%) 
3 6 
Na + CJ-
Na+ 
Cl -
CJ-
tJ 
Na+ 
c•-
Cl-
CJ-
NH 
Cl-
CJ- CJ-
Na+ 
Na+ 
CJ-
y 
Potencial ze ta 
D~ 
f\.:'-JDA.\IE~TC1S DA CVIL-:\0-HL\1,\TOLOGL\ E.Rfl"ROOTIÍRL-1 
O potencial zeta de um sistema pode, então, ser modificado de duas 
maneiras: 
a) Redução da carga elétrica das hemácias (~): 
Por fixação de anticorpos: como os epítopos dos anticorpos são 
carregados positivamente, quando se fixam à membrana eritro-
citária, neutralizam as cargas negativas dos antígenos específi-
cos, reduzindo o potencial zeta. 
Por tratamento enzimático: pela adição de enzimas proteolíticas, 
como a bromelina, papaína, ficina, tripsina, que removem frag-
mentos de proteínas da membrana, clivando glicoproteínas da 
superfície celular. Trataremos melhor das enzimas no capítulo 4, 
"Pesquisa e identificação de anticorpos irregulares". 
As enzimas expõem alguns antígenos membranários, principalmente 
ABO e Rh, e outros como P, L Lewis e Kidd, mas destroem antígenos M S, 
Duffy e Xga 
b) Variação da composição do meio 
Por adição de substâncias macromoleculares, como albumina bo-
vina, polietilenoglicol (PEG), polibreno, que alteram a constante 
dielétrica do meio (0 ). 
Modificação da força iônica (8), utilizando-se, por exemplo, so-
lução de baixa força iônica (LISS). 
A aglutinabilidade de um sistema é tanto maior quanto mais baixo for o 
valor do potencial zeta. 
c) Outros fatores influenciam na indução à hemaglutinação, como: 
pH: a constante de equilíbrio é influenciada pelo pH. A ligação 
dos anticorpos aos antígenos eritroci tários é ótima em pH entre 
6,5 e 7,5. 
Temperatura: os anticorpos possuem características próprias, 
como, por exemplo, os anticorpos IgM, e as crioaglutininas rea-
gem melhor entre 4 oc e 22 oe, e os IgG a 37 ae, como já explica-
mos anteriormente. 
Concentração dos anti corpos : a estrutura básica de uma 
imunoglobulina é um monômero e possui dois sítios de ligação 
com o antígeno na porção variável. É importante que se mante-
B ASES 1.\,U _I):Q -!-!E.\t~TOLÓGIG\S 37 
38 
nha a relação ótima entre quantidade de anticorpos e antígenos 
nos testes imuno-hematológicos, para que não ocorram falsos 
resultados. Por exemplo, um excesso de anticorpos provocam o 
efeito prozona, e nenhuma aglutinação é observada. Da mesma 
maneira, o excesso de antígenos pode produzir sensibilização 
insuficiente para alterar o potencial zeta ao ponto crítico. Por-
tanto, recomendamos observar sempre a indicação dos manuais 
de procedimentos operacionais padronizados (POP) e/ou bulas 
dos reagentes utilizados na rotina, para que essas quantidades 
sejam respeitadas. 
Localização e número de sítios antigênicos: a localização do 
antígeno e sua quantidade na membrana do eritrócito são im-
portantes para propiciar melhor acesso dos anticorpos específi-
cos, e portanto uma reação de aglutinação mais intensa. Isso é 
observado principalmente quando: 
Os antígenos expressam-se fracamente, como no caso de 
subgrupos ABO ou ainda antígenos D fracos (ver capítulos 
5, "Sistema ABO (ABO 001) e Hh (H 018)", e 6, "Sistema Rh 
GSBT 004)"). 
- Hemácias de indivíduos homozigotos para determinados genes 
produtores de antígenos apresentam maior quantidade des-
tes, e portanto a reação AgxAc é mais forte; ao contrário, se 
as hemácias forem de indivíduos heterozigotos, a quantidade 
de antígenos expressa será menor, assim como a reação de 
aglutinação. 
- Antígenos pouco acessíveis na membrana eritrocitária tam-
bém provocam fraca reatividade nos testes. 
- Em ambos os casos anteriores, as reações resultantes são de 
menor intensidade, podendo até mesmo ser negativas. 
f U"DAMENfOS DA IMLNO-HE).<!ATOLOGIA ERITROCITÁR!A 
• A resposta primária é caracterizada pela detecção, no soro do 
individuo. de crescentes quantidades de anticorpos específi-
cos. A concentração de anticorpos logo atinge um ponto má-
ximo, declinando gradualmente para níveis basais. 
h .2) Resposta secundária: determinada após a segunda exposição ao 
mesmo antígeno. É caracterizada por um tempo menor para pro-
dução de altos níveis de anticorpos predominantemente IgG. 
detectáveis dentro de um a dois dias. 
A resposta secundária é dada por células de memória (células Te 
B) , danadas durante a Tesposta primária ao antígeno. 
Os anticorpos resultantes de uma resposta secundária têm maior 
avidez pelo antígeno que os anticorpos resultantes da resposta 
primária e são produzidos contra doses significativamente infe-
riores do antígeno. 
Resposta imunológica em aloimunização eritrocitária 
As reações imunológicas à transfusão eritrocitária compreendem basi-
camente a aloimunização a antígenos eritrocitários (formação de anticorpos) 
e a hemólise por incompatibilidade. 
Os antígenos das membranas celulares, como os antígenos de 
histocompatibilidade (sistema HlA) e os antígenos dos grupos sangüíneos 
eritrocitários (em particular os dos sistemas Rh, Kell, Duffy e Kidd) são os 
antígenos mais imunogênicos de nossa espécie. 
• A formação de anticorpos contra antígenos eritrocitários é o primei-
ro efeito imunológico a ser reconhecido após transfusão de glóbulos 
vermelhos. 
• Quando um indivíduo é exposto aos antígenos eritrocitários que não 
lhes são próprios, seu organismo é capaz de rejeitá-los. A produção 
de anticorpos é parte do processo de rejeição. 
• Alguns estudos mostram que a probabilidade de um individuo pro-
duzir um ou mais anticorpos antieritrocitários é de aproximadamen-
te 1% por unidade de sangue transfundida. 
BASES L\A\.~0-HE:O.!ATOLÓGJC."\5 29 
Fundrunentos de 
genética básica 
e n1olecular 
e Deus 2r:ou o 11mr e1r. 
à s_;a :::1age:n e semelhança " 
Com os avanços da ciência e a possibilidade da manipulação dos genes, 
o homem também será capaz de criar outros homens' 
Breve histórico 
A genética clássica iniciou-se com os estudos do monge austríaco Gregor 
Mendel, no período de 1866 a 1871, que realizou experimentos utilizando 
inicialmente ervilhas. A partir de suas experiências, ele formulou, então, as 
conhecidas leis de Mendel, que demonstram como a hereditariedade pode 
ser estudada experimentalmente. 
Seus estudos e publicações permaneceram no anonimato, até que em 
1900, um grupo liderado por De Vries, Correns e Tschermak retomou seus 
estudos. 
Em 1909, W. Johannsen apresenta a primeira definição de gene como a 
Lmidade básica da informação genética. partindo da teoria cromossômicade W. S. Sutton. proposta em 1903. 
41 
Estabelecidas as bases experimentais da hereditariedade, a partir de 1910 
outro grupo de pesquisa (T. H Morgan. C Bridges, A. Sturtevant e H 
Muller) descobriu o organismo ideal para desenvolvimento de suas pesqui-
sas, a mosca de fruta Drosophila melanogaster. Com esses estudos, com-
preendeu-se o modo pelo qual diferentes combinações de genes trabalham 
juntas no controle da herança de características individuais, e desenvolve-
ram-se técnicas e métodos-padrão de análise genética, incluindo os que 
mapeiam as posições dos genes nos cromossomos. 
A partir de 1930, reconhecendo-se os genes como entidades físicas 
moleculares, biólogos iniciaram novos estudos por métodos bioquímicas e 
biofísicos. Surgiu, então, um novo ramo da genética, a Biologia Molecular. 
O modelo atual da molécula de ácido desoxirribonucléico (DNA), em 
forma de dupla hélice, surgiu em 1953, a partir das observações de Watson 
e Crick e de estudos anteriores de Rosalind Franklin e outros cientistas 
sobre a molécula. A estrutura do polinucleotídeo já era conhecida, mas não 
bem compreendida. 
O processo da expressão gênica foi descrito por Francis Crick, em 1958, 
quando se postulou a transferência de informações do DNA para outra 
molécula - o ácido ribonucléico (R! '\TA). Essa teoria foi batizada de Dogma 
Central. 
PROJETO GENOMA HUMANo 
A partir da década de 1980. vários cientistas envolveram-se em grupos 
de pesquisa com o objetivo de mapear o genoma humano. Esse projeto 
envolve laboratórios dos Estados Unidos, Japão, Europa, entre outros, con-
gregando cientistas de várias nacionalidades. Os resultados apresentados já 
propiciaram subsídios para desenvolvimento de métodos de clonagem e 
outros experimentos de engenharia genética. 
O futuro promete uma reviravolta 
com os cientistas trabalhando para evitar a transmissão de 
caracteres maesejáveis, desenvolvendo projetos de terapias genéticas e muito 
mais. A data-limite para o término do projeto está estimada para 2005. 
Enquanto isso, o homem trava a mais dura das batalhas, entre a ética e 
a ciência, a fim de impor os limites dos avanços biotecnológicos. 
42 F r_ "-11.-\. \ IE'-T<)5 D. I L\ ll "-O· HE\ lA TOLOGL -1 ERJTRCXJT ARL-\ 
Introdução à genética mendeliana 
A transmissão de caracteres é controlada pelos genes. 
Os organismos vivos são estruturas complexas e completas, e suas ca-
racterísticas transmitidas de geração em geração. Ou seja, quando gera-
mos descendentes, todas as informações transmitidas são controladas pelos 
genes. Algumas características, como os grupos sangüíneos, são herdadas 
por genes únicos, mas as outras são controladas por diversos genes traba-
lhando conjuntamente. 
Genes são transmitidos seguindo modelos matematicamente estudados. 
São as unidades básicas de informação formadas por moléculas, e estão 
contidos no núcleo celular. Ao estudo dos genes e sua interação celular 
denominamos Genética ou Biologia Molecular. 
CoNCEITOS DE GENÉTICA CLÁssicA 
a) Genes: unidades básicas de informação, que carregam as instruções 
necessárias à formação de proteínas. Estão contidos nas moléculas de 
DNA, em lugares (locus) determinados. 
b) Locus: é a posição precisa que um gene ocupa no cromossomo. 
c) Cromossomos são estruturas responsáveis pela transmissão das ca-
racte rísticas hereditárias, pois ao longo deles existem os genes. 
Cromossomos podem ser visualizados espiralizados, quando a célula 
inicia seu processo de divisão. Ficam mais espessos e encurtados, 
com cada filamento visível individualmente. Nas células em interfase 
("repouso") , eles se encontram desespiralizados, então denominados 
de cromatina. Os cromossomos contêm todas as "dicas" para a cria-
ção e a manutenção da vida. São mais de três bilhões de bases no 
O A, das quais apenas 10°b a 15°o são partes de genes. 
Cada cromossomo contém milhares de genes. 
d) Centrômero é o ponto do cromossomo que deve aderir-se a um 
microtúbulo do fuso mitótico, para coordenar a migração desse 
cromossomo para um dos pólos da célula, durante o processo de di-
visão celular. 
FL:-:DA~IE"\'TOS DE GE"\tnC~ B.~SIC\ E ~IOLECL1.·\R 43 
FIGL"RA 1. REPRESE0."TAÇ.ÃO 
ESQL.iE.tvL-\ TICA DO CROMOSSOMO, 
GEMS E DNA. 
Cromossomo ONA 
44 
e) DNA ou ácido desoxirribonucléico (ADN): molécula polimérica com-
posta por milhões de átomos. Em forma de fita espiral, forma uma 
dupla hélice. Essa fita é formada pela unidade química básica, deno-
minada nucleotídeo (que será descrito adian.te). 
f) Genes alelos: as células possuem cromossomos em duplas, ou 
homólogos . Esses cromossomos carregam versões alternativas (dife-
rentes) dos mesmos genes, que são chamados de alelos. Estes estão 
sempre na mesma posição, ou locus, dos cromossomos homólogos. 
Controlam a mesma característica, mas geralmente somente um de-
les se expressa. Na espécie humana, freqüentemente, os genes pos-
suem dezenas de diferentes alelos, mas sempre encontraremos apenas 
dois alelos de cada gene por célula. Essas diferenças surgem de trocas 
em pares de bases, ou mesmo de deleções ou inversões (mutações) 
em h·echos dos cromossomos (ver "Mutação genética", mais adiante). 
Portanto: genes alelos não são necessariamente idênticos. 
fi_-'\Ll.-\\ \L'\ ~o-, _ 1-\ L\ !L-:\0· '-:L\ 1-\TOlOGl·\ ER!TROllT.-\lU-\ 
Quando, nas células de um indivíduo, os genes alelos para um deter-
minado caráter não são idênticos, o indivíduo é denominado hetero-
zigoto para esse caráter. Quando são idênticos, ele é denominado 
homozigoto para o caráter (itens "Homozigose" e "Heterozigose''). 
g) Genes ligados (linked): são aqueles que estão num mesmo cromossomo. 
h) Alelos dominantes e recessivos: quando dois alelos coexistem em 
uma mesma célula, muitas vezes somente um deles produz seus efei-
tos, gerando fenótipo (alelo dominante). O outro alelo não será ex-
presso (alelo recessivo). 
i) Alelos co-dominantes: como nos grupos sangüíneos, por exemplo, 
os dois genes são expressos igualmente, produzindo fenótipos. Ex.: 
genes A e B no mesmo cromossomo produzem o fenótipo AB na 
hemácia . 
j) Genótipo: coleção de genes alelos herdados dos progenitores. So-
mente alguns alelos são expressos, e outros permanecem "mascara-
dos"; mas, ambos são passíveis de serem transmitidos aos sucessores. 
k) Fenótipo: todas as caracteristicas morfológicas, bioquímicas e fisioló-
gicas em um indivíduo. Em parte, são determinadas pelos genes, mas 
outra parte corresponde à interação do indivíduo com o meio (influên-
cia de fatores externos). Ex.: exerdcio e dieta podem alterar a confor-
mação corpórea do indivíduo, alterando suas caracteristicas herdadas. 
l) Cariótipo: é o número, tamanho e forma dos cromossomos de células 
diplóides. É uma análise que se faz do conjunto de cromossomos de 
uma espécie. Normalmente, isolam-se os cromossomos dos linfócitos 
(glóbulos brancos do sangue), fotografam-se, ampliam-se e compa-
ram-se aos cromossomos normais. Uma alteração nesse padrão pode 
indicar anomalias genéticas. Ex.: a síndrome de Down corresponde a 
uma trissomia do cromossomo 21. 
m) Células diplóides: células que contêm um par de cada cromossomo, 
herdado dos dois progenitores. Nas células do corpo de quaisquer 
seres vivos, encontramos um número definido de cromossomos, que 
é característico para cada espécie. Uma célula humana possui 46 
cromossomos (diplóide = 2n) em seu genótipo (23 pares). Entre eles, 
22 homólogos autossômicos e 2 determinantes do sexo (X e Y). 
45 
46 
n) úmero de cromossomos em células diplóides (2n) de algumas espé-
cies. Este número 2n é encontrado em todas as células somáticas e 
germinativas. 
Espécie Número de cromossomos 
Cebola 16 
Mamão 18 
Cão 78 
Boi éO 
Sapo 22 
Café 44 
Drosófila 8 
o) Células haplóides: células que contêm apenas um dos cromossomos 
homólogos de cada par. As células germinativas dão origem aos 
gametas sexuais masculinos (espermatozóides) e femininos (óvulos), 
que apresentam número cromossômico haplóide (n). Para chegar a 
essenúmero reduzido, as células sofrem um processo de divisão de-
FL C\I[)N-IE:--<OS D.~ I~IL ":\:0 -HD.l\ TOLOGIA ERITROCr. ARIA 
nominado meiose, para que, depois da fecundação, o ovo mantenha 
o número diplóide (2n), caracteristico da espécie. O conjunto de genes 
que especificam todos os caracteres que podem ser expressos em um 
organismo recebe o nome de genoma da espécie. Assim, o genoma 
do homem é igual a 23 pares de cromossomos. 
p) Cromossomos sexuais: existe uma importante diferença entre as cé-
lulas masculinas e femininas. Nas mulheres, as células diplóides sem-
pre carregam um par de cromossomos denominados X. Em homens, 
temos um cromossomo X e um Y. A combinação destes determina o 
sexo do indivíduo. Portanto, mulheres terão genótipo XX e homens 
XY. Mas esses cromossomos sexuais não apenas determinam sexo: 
existem vários outros genes contidos neles. Algumas caracteristicas 
são exclusivas de cromossomos do tipo X e outras do tipo Y. Tere-
mos, portanto, alguns fenótipos herdados dos cromossomos sexuais 
(herança ligada a sexo). Ex.: daltonismo e hemofilia. 
q) Autossomos ou cromossomos autossômicos são aqueles que não de-
terminam sexo. 
r) Homozigose: célula que contém alelos idênticos para uma mesma 
caracteristica. Ambos podem ser dominantes ou recessivos, mas a carac-
teristica por eles determinada sempre será expressa, pois nenhum 
alelo está "mascarado" pelo outro. 
s) Heterozigose: uma célula contendo diferentes alelos para determina-
da caractetÍstica, geralmente um dominante e outro recessivo, em 
que o dominante expressará seus efeitos. Nas relações de co-domi-
nância temos também diferentes alelos, mas ambos expressando suas 
características. 
t) Mutação genética: durante o processo de divisão celular e a repro-
dução sexuada, os genes se rearranjam e combinam as caractetÍsti-
cas herdadas de várias maneiras. Os genes podem sofrer alterações 
por meio de mutações e alterar essas informações genéticas. Muta-
ções são acidentes químicos que afetam um pequeno pedaço do 
cromossomo ou todo ele, alterando a seqüência dos nucleotídeos na 
molécula de DNA. Podem ocorrer em qualquer tipo de célula, tanto 
da linhagem germinativa quanto somática. Essas mutações podem 
ou não provocar o aparecimento de um novo fenótipo. 
47 
Entre os tipos de mutação na seqüência de DNA podemos citar: 
Deleção: alteração da seqüência em uma molécula de D A. pela 
remoção de um ou mais nucleotídeos. 
Inserção: alteração da seqüência em uma molécula de DNA. pela 
adição de um ou mais nucleotídeos. 
Inversão: alteração da seqüência em uma molécula de D A. pela 
remoção de um segmento seguido de sua reinserção em orienta-
ção oposta. 
Crossing-over: recombinação entre as moléculas de DNA. com 
troca de nucleotídeos entre cromossomos durante a meiose. 
Mutação de ponto: substituição de um nucleotídeo por outro no 
DNA. Pode alterar o código de uma trinca de bases (códon) e 
levar à substituição de uma trinca de bases por outra. 
u) Desordens ou doenças genéticas: às vezes, as instruções contidas no 
livro (DNA) produzem características erradas, que vão promover o 
aparecimento de fenótipos indesejáveis, muitas vezes letais. Exs.: 
síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21), síndrome de 
Klinefelter (trissomia dos cromossomos sexuais -XXY); anemia 
falciforme, hemofilia, entre muitas outras. 
Estudo químico dos ácidos nucléicos 
Vale relembrar: 
• Uma célula normal pode conter em torno de 100 mil genes, arranja-
dos em pares de cromossomos. 
• São mais de três bilhões de bases no DNA, das quais apenas 10°o a 
15°6 são partes de genes. 
• Os cromossomos contêm todas as" dicas" para a criação e a manuten-
ção da vida . 
Então, a partir das informações contidas nos genes, a célula pode produ-
zir proteínas. 
48 
a) Ácidos nucléicos: compostos orgânicos, formados de unidades denomi-
nadas nucleotídeos. Temos dois tipos: DNA e RNA. O D A. confor-
me foi anteriormente descrito, é uma molécula contida no núcleo celular, 
em forma de dupla hélice. que carrega todas as informações genéticas 
(genes). O RNA. faz o transporte dessas informações para os ribossomos 
no citoplasma, para a síntese de proteínas. 
b) Aminoácidos: existem vinte diferentes tipos, que podem arranjar-se 
de várias formas. em seqüências, segundo informações genéticas. 
São constituídos de átomos de carbono, oxigênio e hidrogênio, com 
pelo menos um grupamento amina CNH). A ligação química entre 
os aminoácidos adjacentes denomina-se ligação peptídica, e a cadeia, 
polipeptídeo. O organismo não pode produzir aminoácidos, mas pode 
convertê-los em outros. Então, aminoácidos essenciais da dieta, em 
torno de dez diferentes tipos. e outros dez, que são convertidos por 
reações químicas, são utilizados na formação das proteínas. 
c) Proteínas: estão entre as substâncias mais complexas do organismo 
vivo e podem constituir mais da metade do peso seco de uma célula. 
São seqüências determinadas de aminoácidos. ou polímeros. Existem 
centenas de diferentes proteínas, com funções específicas, desde es-
truturais (Ex.: cabelos, unhas). enzimas que são catalisadoras de rea-
ções químicas, controladoras da permeabilidade das membranas, 
reguladoras da concentração de metabólitos, entre outras funções. 
d) Nucleotídeos: formados por bases nitrogenadas (púricas e pirimídicas, 
como adenina, citosina, guanina e timina- no D A- ou uracila - no 
RNA), açúcar (desoxirribose no DNA e ribose no R; A) e ácido 
fosfórico . As bases nitrogenadas funcionam como um alfabeto, e é a 
partir dela que montamos as informações ou código genético. 
e) Pareamento de bases: cada ácido nucléico (DNA ou RNA) contém 
quatro bases nitrogenadas. que possuem capacidade de pareamento 
específico. Ex.: A-T C-G. 
f) RNA: o RI\A é uma macromolécula de ácido nucléico muito seme-
lhante ao DNA. Difere quimicamente deste no açúcar (ribose) e nas 
bases pirimídicas (citosina e uracila). ORNA não é uma dupla hélice 
como o DNA, mas sim unifilamentar. Existe uma relação de 
complementariedade entre as bases contidas no D TA e no R.t"\JA; 
isso ocorre especialmente no momento da transcrição. 
g) Localização: DNA nos cromossomos, dentro do núcleo celular, e em 
organelas citoplasmáticas. como mitocôndrias e cloroplastos. RNA 
49 
nos cromossomos, no nucléolo e no citoplasma. O DNA e RNA são 
encontrados juntos em todas as células dos seres vivos, com exceção 
de partículas virais (acelulares), que geralmente possuem RNA ou 
DNA. Novos achados em 2000 indicaram a existência de vírus com 
ambos os materiais genéticos. 
h) Replicação do DNA: antes da divisão celular, a molécula de DNA 
copia a si mesma, em um processo denominado replicação. Ocorrem 
abertura da fita dupla e duplicação de cada uma das fitas. Assim, as 
informações serão passadas às novas células-filhas. 
Expressão gênica 
Como o DNA é transformado em proteínas? Como as informações nele 
contidas podem ser traduzidas em seqüência específica de aminoácidos? 
A ordem dos nucleotídeos no DNA COITesponde a receitas em um livro 
de instruções, e é denominada código genético: 
50 
• A célula transforma esse cóctigo em proteína, transcrevendo essas 
informações, por meio da cópia pelo RNA mensageiro (RNAm), uti-
lizando-se de palavras de três letras denominadas códons. 
• Estas palavras (códons) orientarão a seleção de determinado aminoácido. 
• O RJVA transportador carreará esses aminoácidos aos ribossomos, 
que, como em uma máquina de escreve1~ traduzirá em uma seqüência 
específica de aminoácidos. 
A proteína é, então, formada. (Figura 1) 
a) Transcrição: ou seja, a síntese do RNA a partir do O A ocorre a 
partir de um filamento molde do DNA, que orienta a formação de 
um filamento complementar de RNA. A síntese do RNA é catalisada 
por uma molécula de RNA-polimerase. A transcrição inicia-se em 
determinadas regiões do DNA que são chamadas de promotores. É 
uma pequena seqüência de nucleotídeos reconhecida por uma RNA-
polimerase como o ponto ao qual deve se ligar para iniciar a trans-crição. Os promotores ocorrem logo anteriormente aos genes e 
possuem seqüências muito similares para serem reconhecidos pela 
mesma enzima. A RNA-polimerase migra ao longo da molécula de 
FL C\Dc\.\IL:\ TOS D.\ I~ !L -:\O·HL\ L~TOLOGL \ ER!TRO<..TT.IRL-1 
FiGURA 3. REPRESENTAÇÃO 
ESQUEMÁTICA DA SÍJ\.'TESE PROTÉICA 
EM EUCARJONTES. 
5'(cap) 
ll 
\ 
3'(Poli-A) 
I Adenina ~ ~~"i:f I Guanina ~ Otosina • Aminoácido~ RNA! 
DNA, desenrolando a dupla hélice, enquanto liga seqüencialmente 
ribonucleotídeos à extremidade 3', dando início à síntese de RNA, 
que é sempre sintetizado no sentido 5' para 3'. O término da cadeia a 
ser sintetizada também é reconhecido pela RNA-polimerase. Tal re-
conhecimento pode ser feito de maneira direta ou com o auxílio de 
um fator protéico denominado p (rô), necessário ao reconhecimento 
do sinal de término. O término da transcrição resulta na dissociação 
da RNA-polimerase do DNA e na liberação do RNA transcrito, que 
agora está pronto a desempenhar seu papel como produto final da 
transcrição gênica, ou como mensageiro para síntese de polipeptídeos, 
mediante outro processo denominado tradução. 
FL '.DA\ JE:-. "TOS DE GE:-.TilC.'\ B!\51C.~ E \ IOLECl"L \R 51 
52 
Os genes são descontínuos, ou seja, os trechos que contêm informa-
ções biológicas (éxons) são intercalados por trechos que não as con-
têm (íntrons). 
Os genes encontram-se interrompidos, e não são uma seqüência li-
near contínua. Tal descoberta constituiu uma das mais importantes 
da genética molecular. 
:\ntes do advento das técnicas do DNA recombinante, a análise dos 
R..'\.,!A transcritos sugeriam uma falta de correspondência entre o mapa 
genético do DNA e a molécula transcrita do RNAm. Com o aprimo-
ramento dessas técnicas tornou-se evidente que os RL'\JA transcritos 
primários eram encurtados de alguma maneira, pela eliminação de 
segmentos internos, antes de serem enviados ao citoplasma para a 
síntese protéica. Estudos em eucariontes têm mostrado que os seg-
mentos de DNA codificadores de determinada proteína são inter-
rompidos por seqüências intercalares denominadas de íntrons, cuja 
função ainda é pouco conhecida. Durante o processo de formação do 
RI Am, este sofre uma série de reações de corte e reunião (splicing), 
onde determinados trechos são cortados e eliminados e o restante, 
reunido novamente. Nesse processo os íntrons são descartados do 
RI Am e as regiões codificadoras de proteínas, os éxons, são reuni-
das. Assim oRNAm está pronto para ser decodificado, formado agora 
por uma seqüência totalmente colinear para determinada proteína. 
b) L1trons: região da molécula de DNA que não corresponde à infor-
mação biológica. 
c) Éxon: regiões codificantes dos genes descontínuos. 
d) Splicing: a transcrição produz uma cópia fiel do filamento molde do 
gene. Isso significa que se o gene contiver íntrons, ou seja, trechos 
que não contêm informações biológicas, então o transcrito primário 
incluirá cópias desses íntrons. Entretanto, esses íntrons precisam ser 
removidos, e as regiões de éxons do transcrito ligadas umas às ou-
tras. antes da tradução. Este processo de remoção de íntrons é deno-
minado splicing, ou recomposição. 
Qual o mecanismo que faz o corte e a reunião da molécula de RNAm 
antes de esta ser enviada ao citoplasma? 
O modelo mais aceito hoje é o chamado modelo de alça, no qual a 
molécula é quebrada com a ajuda de determinadas proteínas, for-
mando-se uma alça intermediária no corte dos transcritos primários 
de RNAm. Essa alça corresponde ao íntron a ser eliminado, ela será 
clivada em determinado ponto. e, posteriormente, as duas pontas dos 
éxons serão unidas, sendo a alça descartada. 
To do esse processo de formação do Rl Am e do descarte dos íntrons 
é muito importante para a compreensão, por exemplo, das técnicas 
de mapeamento e seqüenciamento genômico. Sabemos que as técni-
cas mais utilizadas fazem o seqüenciamento do DNA, apenas sobre 
os éxons, as "regiões codificadoras de proteínas", descartando-se os 
íntrons. Isso não quer dizer que esses íntrons, equivocadamente de-
nominados de "DNA-lixo". não têm função alguma. A não-inclusão 
dos íntrons teve apenas a finalidade prática de acelerar o seqüen-
ciamento do DNA. A função dos íntrons ainda é pouco conhecida, 
mas talvez possa estar relacionada ao controle da expressão de deter-
minados genes. 
e) Tradução: com o término da transcrição, temos a formação de três 
tipos de RNA, os quais atuam em conjunto durante o processo da 
tradução. O Rl'\JAm é a cópia do DNA com todas as informações 
genéticas que serão agora traduzidas em proteínas. O RNAt é a 
molécula que transportará o aminoácido específico, durante a lei tura 
do RI'\Am. E o RNAr é uma das moléculas que compõem o 
ribossomo, organela celular responsável pela leitura do Rl'\JA mensa-
geiro. A tradução ou a síntese de proteínas pode ser vista como rea-
ções químicas que ocorrem entre os aminoácidos, moléculas de RNAt, 
oRNAm, os ribossomos, fatores protéicos adicionais, enzimas e íons 
inorgânicos. 
f) Códon e anticódon: sabemos que o RNAt apresenta sítios específi-
cos. O sítio que reconhece o códon do RNAm é chamado anticódon, 
pois suas bases são complementares à deste último. 
g) Start códon ou inicializador: em geral o códon 5 '-AUG-3' marca a 
posição em que a tradução deve começar em um Rl Am. 
h) Stop códon ou finalizador: um dos três códons (5' -UAA-3'; 5 ' - UAG-
3 '; 5' -UGA-3 ') no código genético que marcam a posição em que a 
tradução do RNAm deve ser interrompida. 
f; ">:[).~\ IE'-TOo DE GE.'-CTIC I B·b]L,.\ E \ luU:O 1. \R 53 
Quantas letras definem um aminoácido? 
Concluímos que três nucleotídeos (três letras) correspondem a um 
aminoácido. Sabemos que existem vinte aminoácidos normalmente encon-
trados em proteínas celulares. Se as palavras (aminoácidos) tiverem três 
letras (três nucleotídeos), aí teremos 64 palavras, mais do que o necessário 
para descrever os vinte aminoácidos. Assim, o código genético é dito dege-
nerado, pois pelo excesso de palavras possíveis, ou seja, 64 trincas de 
nucleotídeos, concluímos que alguns aminoácidos são especificados por duas 
ou mais trincas diferentes (dois ou mais códons). (Figura 4) 
i) Mutações por substituição de nucleotídeos: refere-se aos seus efeitos 
sobre a síntese de proteínas: 
Missense (mutação de sentido trocado) : uma troca (substituição) 
de bases na molécula de D -A provoca uma troca do aminoácido 
na proteína resultante . 
AUG 
6' U A C RNAm3' 
2" base no códon 
u c A G 
Pile Ser Tyr (.)1$ u u Phe Ser Tyr (.)1$ c leu Ser STOP STOP A 
leu Ser STOP Trp G 
leu Pro Hls Arg u 
c leu Pro His Arg c Leu Pro Gln Afg A 
Leu Pro Gln Afg G 
lia Thr ..... Ser ~ A lle Thr Asn Ser lle Thr lyt Arg A 
Uet Thr Lys Arg G 
Vai Ala Asp Gly u 
Vai Ala Asp Gly c 
fiGURA 4. Ü CÓDIGO GENÉTiCO: G Vai Ala Glu Gly A 
TRADUÇÃO. 
Vai Ala Glu Gly G 
54 
Silenciosa: a substituição (troca) de bases no D TA não altera a 
seqüência de aminoácidos na proteína resultante. 
onsense (mutação sem sentido): a troca de bases no D A pro-
voca o aparecimento de um stop códon (códon finalizador), que 
finaliza prematuramente o processo da síntese protéica, produ-
zindo proteínas não-funcionais. 
Mutações no processamento do RNAm: o mecanismo normal, 
pelo qual os íntrons são retirados do A não processado e os 
éxons unidos para formar um Rl'\JAm maduro, depende de deter-
minadas seqüências de nucleotídeos, localizadas no sítio aceptor 
(íntron/éxon) e no sítio doador (éxon/íntron) . As mutações po-
dem afetar as bases necessárias no sítio doador ou aceptor da 
emenda, interferindo na emenda normal do RNA naquele sítio 
ou podem envolver substituições de bases dos íntrons, podendo 
criar sítios doadores ou aceptores alternativos que competem com 
os normais durante o processamento do RNA (" splicing alterna-
tivo"). 
Alguns assuntos complementares indicados para melhor 
compreensão do texto: 
• citologia básica 
• leis de Mendel 
• herança genética e heredogramas 
• divisão celular(meiose e mitose) 
• Projeto Genoma Humano 
55 
Teste de 
antiglobulina 
hUlllana 
"Coomb~. Mourant n Hace. após alquns anos do descobrHTJ.enLo 
dos a!lLicorpos anti-Rll , cJ(~scJ.everarn u t e ste de anllglohulHra 
(TAG), q u e utiliL:avo o soro anLiglohulina hurnuna, prepGrado 
ern r.oelhos. para cietcctar Gnticorpos Rh "incornplctos" O 'I'AG 
foi, cntd.o, 11tüizado para clctecLar a seusrbiiiza(;fi.o i n v1vo das 
lrsrnácias, ajudando o dwl]nóstlco d a d oença lle rnolíLica cio re-
c é rn nascido e anernia lleJ.noliLico auLo-rmune. Atualrnente, o 
TAU provavdrnentc seja o teste mais universalrnnnte ap licado 
erc1 imuno-hcrnaLologia. 
Introdução 
Por definição, anticorpos incompletos, não aglutinantes, são aqueles que 
o-c ligam a hemácias que possuem antígenos específicos, ma s não as 
aglut inarn ern meio salino. Anticorpos IgM, ditos comple tos (ou aglu-
:i.nantes) , são capazes de aglutinar hemácias n essas condições. Os anticorpos 
mco nl.ple tos nece ssitam de um rnecanisrno artificial d e produção da 
aglutinação, já que, por serern peque nas rnoléculas, não conseguern supe-
;-ar as força s d e re pulsão entre as hemácias. 
G. (;arratty. "Editorial ", em Fran sfusion, junho de 2000. 
59 
Em 1945, Coombs, Mourant e Race demonstraram que, sensibilizando-
se animais (cabras ou coelhos) com injeções de imunoglobulinas humanas, 
haveria produção de anticorpos contra as frações Fc dessas imunoglobulínas. 
Portanto, o soro de Coombs contém anticorpos antianticorpos humanos 
(por isso são chamados antiglobulinas humanas). 
Como esses anticorpos podem reagir com qualquer imunoglobulina 
humana (não somente as antieritrocitárias). no teste de antiglobulina hu-
mana é necessário lavar as hemácias após a etapa de sensibilização e antes 
de acrescentar-se o soro de Coombs ou. melhor dizendo, o soro 
antiglobulinas humanas, a fim de se remover qualquer traço de soro ou 
plasma, deixando-as recobertas apenas com os anticorpos específicos. 
Princípio do teste 
Como já foi dito, a aglutinação das hemácias ocorre quando existe uma 
diminuição das forças de repulsão das hemácias, ou seja, diminuição da 
diferença de potencial elétrico (potencial zeta) até determinado valor, deno-
minado potencial zeta crítico. 
A maioria dos anticorpos de ela se lg\.1. quando ligados aos antígenos 
específicos, é capaz de diminuir essas forças de repulsão, a ponto de atingir 
o potencial zeta crítico e, assim. promo\·er a aglutinação das hemácias em 
meio salino. 
Os anticorpos de classe lgG. quando ligados aos antígenos específicos, 
na maioria das vezes. não diminui as forças de repulsão a ponto de atingir 
esse valor mínimo (potencial zeta crítico), não permitindo que as hemácias 
aglutinem, apesar da diminuição da diferença de potencial elétrico. Dessa 
forma, para podermos Yisualizar a reação antígeno-anticorpo utilizamos o 
soro antiglobulina humanas, que diminui ainda mais o potencial zeta até o 
ponto crítico, promm·endo assim a aglutinação. (Figura 1) 
É importante ressaltar que não é somente a classe do anticorpo que de-
termina se ele é aglutinante ou não. O número de sítios antigênicos nas 
hemácias pode também ser um ponto decisivo para que as hemácias 
aglutinem, conforme exposto no capítulo 1, no Esquema representativo do 
fenômeno da hemaglutinação, página 35. 
60 
HGURA 1. RI:PRISE.WAÇÃO 
ESQLHv!ÁTIC \ DA REAÇÃO DA 
'-'-llGLOBUUN.A HUMA:'\i.A. 
Tipos de reagentes antiglobulina 
Os soros antiglobulinas humanas (ou soro de Coombs) podem ser: 
• Poliespecíficos: podem ser de origem policlonal, monoclonal ou mis-
tos. Contêm anticorpos contra IgG humana e contra frações de com-
plemento C3 (C3b e/ou C3d). Podem conter pouca atividade contra 
IgM e IgA. Como a maioria dos anticorpos com significado clínico é 
da classe IgG, a maior função do reagente é detectar a presença des-
ses anticorpos. A detecção de frações de complemento faz-se impor-
tante em casos de testes de antiglobulina direto (ou Coombs direto) , 
principalmente em anemia hemolítica auto-imune. São utilizados nor-
malmente na rotina em testes de pesquisa e identificação de anticorpos, 
diretos ou indiretos, e em testes de compatibilidade. (Figura 2) 
• Monoespecíficos: podem ser de origem policlonal ou monoclonal. 
São preparados especificamente contra determinada classe de Ig ou 
fração do complemento, como IgG, IgA, IgM, C3 ou C4. (Figura 3) 
61 
FiGURA 2. TESTE DI A,'ffiGLOBUUNA 
HUMANA 1.JllllZANDO SORO 
POL!ESPEdJ:ICO, PELO MÉTODO DE 
GEL-TESIT CENTRJRJGAÇÃO (CARTÃO 
ID-USS/CooMBS, D IAMED Ac, 
SuíçA) 
FIGURA 3. T ESTE DE 1\,'\JllGLOBUUNA 
HUMANA lJTll.IZANDO SOROS 
MONOESPECÍHCOS, PELO MÉTOOO DE 
GEL-TESl1' CEN1RIFUGACÃ0 (CARTÃO 
ID-DC SCREENING I, DIAMW 
AG, SuíçA). 
Tipos de teste da antiglobulina humana 
62 
O teste da antiglobulina pode ser realizado de duas maneiras: 
• Teste da antiglobulina indireto (TAI, PAI ou Coombs indireto): pes-
quisa a presença de anticorpos no soro/plasma. Esse tes te é realizado 
para pesquisa e identificação de anticorpos irregulares e testes de 
compatibilidade pré-transfusional. A sensibilidade do teste pode ser 
aumentada por procedimentos que modificam a primeira etapa da 
FL"'IDMIE.'\TOS DA L\ll!:-.10-h'L\IATOLOC.IA ERITROCIT.-\R!A 
reação (sensibilização das hemácias), como adição de albumina ou 
outras macromoléculas ao meio, meios de baixa força iônica (LISS), 
ou tratamento enzimático (capítulo 4, "Pesquisa e identificação de 
anticorpos irregulares"). 
• Teste da antiglobulina direto (TAD ou Coombs direto): pesquisa a 
presença de hemácias sensibilizadas por anticorpos e/ou frações de 
complemento. Esse teste é utilizado para estudo da doença hemolítica 
do recém-nascido, anemia hemolítica auto-imune, na hemólise 
induzida por drogas e ainda nas reações hemolíticas pós-transfu-
sionais (capítulo 4) . 
Falsos resultados no teste de antiglobulina humana 
• A lavagem dos glóbulos vermelhos é um dos passos mais simples e 
mais importantes na realização dos testes de antiglobulina em méto-
do convencional (realizado em tubo). Se esta não for realizada de for-
ma criteriosa, podem "sobrar" outras globulinas que estavam presentes 
no plasma e neutralizar o soro antiglobulina reagente, provocando 
falsos resultados. No método de gel-centrifugação, não é necessária 
a realização da lavagem, constituindo uma vantagem importante, pois 
eliminando-se essa etapa, minimizam-se os erros técnicos e a perda 
dos anticorpos de baixa afinidade, que podem eluir durante o proces-
so. Além disso, confere maior rapidez na realização dos testes. 
• O anticorpo não-aglutinante ligado à hemácia, se exposto a condi-
ções diversas das ideais em que a reação Ag><Ac ocorreu, pode eluir-
se naturalmente. Por isso, não se recomenda a demora na execução 
das fases do teste de antiglobulina humana. 
• Durante a padronização do teste de antiglobulina humana, as melho-
res condições para a obtenção de resultados fidedignos foram 
estabelecidas. Portanto, alterações aleatórias da técnica não devem 
ser realizadas, por ser uma prática insegura e que pode produzir fal-
sos resultados positivos ou negativos. A leitura deste teste também 
deve ser realizada de forma criteriosa, pois, na maioria dos casos, 
temos resultados fracamente positivos que podem ser erroneamente 
interpretados como negativos. Nesse caso, o método de gel-
63 
FIGURA 4. REPRESE~TAÇÃO 
ESQUEtv1Á TIO\ DE TESTI DE 
Al\lllGLOBUilNA HUlviANA PELO 
MÉTODO DE AGLUTL'-'AÇAO Etvl 
COLUNA (GEL-TESTI 
CL'JTRIFUGAÇAO, DtAMrn AG, 
SuíçA) 
64 
centrifugação também constitui uma importante ferramenta, pois a 
interpretação da leitura é objetiva e estandardizada. (Figura 4) 
• Devemos nos assegurar sobre a qualidade dos reagentes emprega-
dos, uma vez que, se não estiverem adequados à preconização inter-
nacional, resultados falsos negativos podem ser produzidos. É 
importante a inspeção de qualidade de reagentes, inclusive cartelas 
para testes de gel-centrifugação. 
• Podemos obter resultados positivos em testede antiglobulina direto 
(fAD) realizado pelo método de gel-centrifugação e negativos em 
método convencional (tubo). Isso ocorre porque neste primeiro pode-
mos detectar uma quantidade menor de moléculas de anticorpos liga-
das aos glóbulos vermelhos (ver capítulo 4). Esse incremento na 
sensibilidade deve-se ao fato de, conforme exposto anteriormente, 
tratar-se de método perfeitamente estandardizado, com mínimas pos-
sibilidades de erros técnicos. Além disso, elimina-se a etapa de lava-
gem das hemácias, evitando a eluição de anticorpos; utiliza-se como 
meio diluente das hemácias-teste, potencializador de reação (LISS) , o 
que não ocorre em tubo. No momento da interpretação dos resulta-
dos, temos leitura objetiva, permitindo com facilidade a interpretação 
de pequenas aglutinações (pó). 
• Hemácias recobertas por complemento podem não aglutinar imedia-
tamente com o soro antiglobulina poliespecífico, sendo necessária 
Ft~'Il.-\.\ IL'\TOS D.-\ 1\!L\JO-HI:\1.\TOLOGIA [R!TROCITARI.\ 
em testes negativos, após a leitura imediata, a incubação por 5 a 10 
minutos em temperatura ambiente. 
• Não devemos utilizar hemácias provenientes de coágulos para a rea-
lização do teste de antiglobulina direto (TAD), uma vez que podemos 
ter resultados falsos positivos por ligação in vitro de frações de com-
plemento, pela presença de anticorpos frios IgM sem significado clí-
nico no soro. 
• A sub ou ultracentrifugação podem promover resultados falsos. 
TE:> TE DE ·"-'<TIGLOBL u:-.\ HL\L\.--:A 65 
Pesquisa e 
identificação de 
anticorpos 
irregulares 
Introdução 
Como já vimos no capítulo 1, existem muitas possibilidades de ativação 
da resposta imune em um indivíduo, como resultado à exposição a substân-
cias estranhas (imunógenos). 
Em hemoterapia, a administração de concentrado de hemácias ou outro 
hemocomponente que possua uma grande quantidade de eritrócitos pode 
ser responsável pela aloimunização contra antígenos eritrocitários após 
transfusão. 
A capacidade de estimular a resposta imune depende de muitos fatores, 
mas, uma vez produzidos os anticorpos, necessitamos de métodos ou testes 
que permitam sua detecção. 
O que são anticorpos irregulares? 
Quando o indivíduo é exposto a substâncias reconhecidas como não-
próprias ao seu organismo, como. por exemplo, antígenos eritrocitários, 
pode ocorrer ativação do sistema imune com formação de anticorpos. 
Como já vimos, anticorpos são proteínas (imunoglobulinas) produzidas 
pelo plasmócito após ativação do sistema imune. 
F'ESQLlS,\ E IDE.'\ llFICAÇAO LJE :1.'\"TICORroS IRRJ:Gll"-IRES 69 
Podem ocorrer por estímulos naturais, como no caso da imunização ABO, 
que também são denominados anticorpos regulares, pois sua ocorrência é 
esperada. Mas, geralmente em hemoterapia, ocorrem como resposta aos 
aloantígenos eritrocitários contidos em hemocomponentes transfundidos. 
Como sua ocorrência não é esperada, denominamos de anticorpos irregulares. 
Na rotina imuno-hematológica. geralmente procuramos detectar e iden-
tificar anticorpos antieritrocitários. 
O grande número de genes envolvidos na produção de proteínas leva à 
formação de um grande número de antígenos nas hemácias dos indivíduos 
(diversidade antigênica). E é essa diversidade um dos fatores responsáveis 
pela formação dos anticorpos irregulares. (Figura 1) 
FIGURA 1. REPREsE!'-T.AÇÃO 
ESQUEMÁTICA lXJS A..'-'TÍGENOS DE 
GRUPOS SA."GG'i:\"EOS 1'\.A 
1viE\4BRA.. 'IA ERI!RCXJT .ARIA. 
Já são conhecidos mais de 250 antígenos eritrocitários, classificados em 
25 sistemas, além de 5 coleções e 16 séries.' 
CLASSE DOS ;\LOANTICORPOS ERITROC'ITÁRIOS EM li\ll-:\0-HEiviATOLOCIA 
IgM · são naturais e regulares no sistema ABO e H; 
• são naturais e irregulares nos sistemas Lewis, P. Ml\'S (M. i'S) e ABO. 
IgG · são imunes e irregulares nos sistemas Rh, Kell. Kidd. Ouffy. 1\ 11\S (5. s). 
IgA • um pequeno percentual dos anticorpos ABO são de classe IgA. 
Os anticorpos irregulares ocorrem em aproximadamente 0,3ob a 2,0°o 
da população em geral. O risco de aloimunização é de aproximadamente 
Segundo dados da ISBT. 2000. 
70 
1% por unidade transfundida. Em determinadas populações, porém, esse 
risco é maior, sendo estimado em: 
• Politransfundidos: 9% 
• Falciformes: 36% 
• Talassêmicos: 10%2 
Podem ser encontrados no soro/plasma dos indivíduos ou ligados à mem-
brana eritrocitária. 
Ocorrem principalmente por sensibilização após transfusão, gestação, 
ou, ainda, podem ser de ocorrência natural. 
Lembrando: 
Aloanticorpos são anticorpos formados por sensibilização contra 
antígenos reconhecidos como "não-próprios" ao indivíduo. 
• Auto-anticorpos: formados contra antígenos próprios aos indivíduos 
(auto-imune). Podem ser frios, quentes ou induzidos por drogas. 
Alguns testes imuno-hematológicos permitem a detecção dos anticorpos 
irregulares. 
T ESTES PARA DETECÇÃO DE A:\TICORPOS IRREGULARES 
Séricos Ligados à membrana eritrocitária 
Pesquisa de anticorpos irregulares Tes te de antiglobulina direto 
Testes de compatibilidade Autocontrole 
Tipagem reversa Controle de Rh 
ANTICORPOS SÉRICOS 
Pesquisa de anticorpos irregulares 
Verifica a presença ou não de anticorpos irregulares no soro/plasma do 
indivíduo. É um dos testes pré-transfusionais obrigatórios, segundo porta-
ria 1.376/93 MS, e pode ser realizado também para detecção de anticorpos 
irregulares em doadores ou gestantes. Utiliza pelo menos dois frascos de 
reagentes comerciais, que são células do tipo O, e que possuem a maioria 
P D. Issit & D. J. Anstee. Applied Blood Group Serology (4ª ed., Durham: Montgomery 
Scientific, 1999) 
f'EsQUISA E !DEl'-'TIRCAÇAO DE A'-'TICORPOS IRREGULARES 71 
dos outros antígenos (que não ABO) de grupos sangüíneos. É realizado 
colocando-se essas hemácias em contato com o soro/plasma do indivíduo. 
A leitura da reação pode ser feita em diversas fases, dependendo da 
metodologia escolhida. 
~o caso do método convencional (em tubo) , realizamos geralmente três 
leituras da aglutinação: 
• Fase de temperatura ambiente. 
• 37 ''C 
• Fase da antiglobulina humana. 
Dependendo do potencializador de reação utilizado, podemos ter a su-
pressão de determinada fase: 
• Utilizando-se PEG não é realizada leitura a 37 oc. 
Pelo método de aglutinação em coluna, normalmente a leitura é reali-
zada diretamente na fase de antiglobulina humana. 
Interpretação dos resultados: resultado positivo em qualquer uma das 
fases indica presença de anticorpos irregulares, que podem ser identifica-
dos por meio de painel de hemácias . (Figura 2) 
FIGURA 2. PESQUISA E IDEI\fllHCA-
Ç'\0 DE A:'--llCORfDS IRREGUlARES 
1'8.0 \l!trooo DE GEL -TESTE 
CE."\ITRIRJGAÇÃO (DIAMED AG. 
SuíÇA). 
Prova cruzada maior 
""" <t J \r '-' '· ~ ' ~ .. - ~ . 
- - 3 - u 
É um teste pré-transfusional que verifica reação in vitro entre o soro/ 
plasma do receptor e as hemácias do doador. Deve ser realizado nas fases 
sugeridas para cada método (convencional ou gel-teste). Os anticorpos 
reativos em fase de antiglobulina humana são, potencialmente, de impor-
tância clínica. 
72 
Prova positiva indica provável presença de anticorpo no receptor rea-
gindo contra antígeno das hemácias do doador, fenotipagem ABO do doa-
dor incompatível com a do receptor, ou presença de anticorpo irregular 
adsorvido às hemácias do doador. (Figura 3) 
FIGLTR,\ 3. PRm:~ DE cot-·IP;\TJBlUD,\DE PELO 
MÉTODO DE GEL-TESTE CE:-.'1RJFJ.JG:\ÇÃO 
(DL'I.MED AG, SuíçA). 
Prova reversa da fenotipagem ABO 
Teste confirmatório da prova direta da fcnotipagem ABO, realizada 
adicionando-se soro/plasma do indivíduo a ser testado, com suspensão de 
hemácias comerciais de tipos sangüíneos 1\ e B. Podemos utilizar também 
hemácia de tipo A:, para detecção do anticorpo anti-A, 
Em algumas discrepâncias entre as provas direta e reversa, podemos 
suspeitar da presença de anticorpos irregulares, como, por exemplo. 
anticorpo anti-A
1
, freqüentemente encontrado no soro de alguns indiví-
duos de fenótipo A"'"!('"ro· (Figura -±) 
frGL'RA-±. DJSCREPÀ.\ICL<\ :01 DETERML'i,<\-
ÇÃO ABO PELO MÉTODO DE GEL-TESTE 
CE.'iTRJFLG.\ÇÃO (Dr.<\.\llED AG, SLiÇA). 
73 
Discrepâncias nas classificações ABO são geralmente causadas por: 
• anticorpos fracos ou ausentes; 
• anticorpos irregulares (conforme exemplo acima); 
• antígenos extras; 
• antígenos ABO fracos ou ausentes. 
ANTICORPOS LIGADOS ÀS HEMÁCIAS 
Autocontrole 
É um teste pré-transfusional obrigatório (Portaria nº 1.376/93 MS). É 
feito adicionando-se suspensão de hemácias de um indivíduo ao seu pró-
prio soro/plasma. As leituras são realizadas nas fases preconizadas para 
cada método. 
Interpretação dos resultados: quando positivo. pode indicar presença de 
auto-anticorpos frios ou quentes. reações transfusionais hemolíticas, ou 
ainda disproteinemias (rouleaux). 
Teste de antiglobulina direto (TAD) 
É realizado adicionando-se reagente antiglobulina humana à suspensão 
de hemácias-teste lavadas. É indicado na detecção de anticorpos não 
aglutinantes (classe IgG) ligados às hemácias. Pode ser realizado por méto-
do em tubo ou reação em coluna, com soros antiglobulinas humanas: 
monoespecífico UgG) ou poliespecífico. Muitos trabalhos mostram que esse 
teste tem sensibilidade limitada. sendo o método de aglutinação em coluna 
mais sensível que o método convencional (tubo) na detecção dos anticorpos3 
74 
A. Alvarez et ai., "A Relative Sensitivity of Direct Antiglobulin Test, Antibody's Elution and 
Flow Citometry in the Serologic Diagnosis of lmmunc Hemolytic Transfusion Reactions' , em 
Haematologica, 85(2). 2000; E. Biagi et ai., "J\ Persistent Sevcre Autoimmune Hemolytic Ane-
mia Despite Apparent Direct Antiglobulin Test 1\:egativization", em Haematologica, 84(11), 
1999; I. Bromilow, Gel Test and HDN Investigations (Liverpool: Mecsey Reg. Transfusion 
Center); F. Ghilardi et ai., "Análise clínica laboratorial na sensibilização eritrocitária perinatal 
com a realização de estudo i muno-hematológico pela gel-centrifugação" . em Boletim da Soci-
edade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia , 17(170), 1995; H. Hustinix ct ai. , 'Evolution o f 
Gel Test and Comparation With Other Antiglobulin Tcchniques' , em Simposio of New 
Techniques in Blood Grouping Serology, 1990; O . l\athalang, "Comparison between the 
Conventional Tube Technique and the Gel Technique in D 1rect Antiglobulin Tests' , em Vo..\ 
Sanguinis, n' 72, 1997; J. D. Tissot ct ai. , "The Direct Antiglobulin Test: Still a Place for the 
Tube Technique7" , em \lox Sanguinis. w 77, 1999. 
Interpretação dos resultados: quando positivo, pode indicar a presença 
de auto-anticorpos (anemia hemolítica auto-imune ou induzida por drogas) 
ou aloanticorpos do paciente fLxado..; nas hemácias da bolsa transfundida 
ou, ainda, anticorpo materno transferido a feto (0HR1\J). 
Sensibilidade T AO em tubo é estimada em: 
• 200-.500 moléculas de IgG hemácia 
• -±00-1.100 moléculas de C3d hemácia 
Fonte: American Association o f Blood Banks. Tcchnical .\!anual, Bethesda, l\ 1aryland: 
AABB, 2000. 
Controle de Rh 
Serve para "validar" a fenotipagem Rh(D). O soro controle de Rh é co-
mercialmente adquirido e é composto do mesmo meio diluente do soro anti-
D, exceto anticorpos. Portanto, na rotina devemos utilizar ambos de mesma 
procedência ou origem. 
Interpretação dos resultados: quando positivo. indica a provável presen-
ça de anticorpos ligados à hemácia. 
Algoritmo em caso de PAI positivo 
Quando detectamos a presença de anticorpos irregulares, o próximo 
passo é identificar a especificidade do(s) anticorpo(s), utilizando painel de 
hemácias contendo de 8 a 30 hemácias-teste de grupo O e fenótipos conhe-
cidos nos sistemas imunogênicos, em concentrações variando de 0,8% a 
5°o, de acordo com o método empregado. Recomenda-se, caso necessário, 
o uso de hemácia-teste de cordão umbilical ou hemácia-teste de adulto com 
fenót ipo I-negativo. As hemácias do painel são testadas contra o soro ou 
plasma do indivíduo, utilizando-se as mesmas técnicas que apresentaram 
PAI positivo. É necessário confirmar a especificidade do anticorpo suspeito 
com pelo menos três hemácias negativas e positivas para o antígeno cor-
respondente. Acrescentar ao painel um autocontrole (Ac), para detectar 
possíveis auto-anticorpos. O painel de hemácias vem acompanhado de um 
75 
diagrama com o fenótipo dos antígenos "mais importantes" em bancos de 
sangue. 
Identificado o anticorpo, determinar seu significado clínico. avaliando: 
• temperatura de reação; 
• potência (grau de reatividade); 
• classe da Imunoglobulina; 
• subclasse da IgG;4 
• capacidade de ativação do complemento. 
Geralmente. anticorpo clinicamente significativo é reativo a 37 ac e/ou 
fase de AGH. Portanto, são anticorpos de classe lgG ou IgM de grande 
amplitude térmica . 
L\•!PORT;"'!OA TRA!\'SFUS!O:\'AI. DOS ANTICORPOS IRREGULARES 
Clinicamente significantes: 
• geralmente reativos a 37 °C. causam reações transfusionais hemolíticas; 
• ABO, Rh, K. Fy, Jk. SsU. Di. 
Importantes se reativos a 37 oc 
• Le, M. N, Pt, Lu. 
Benignos 
• Chido, Rodgers, Bg, JMH. Kn', McC' , HTI.A. 
Variável 
• VeL Ge. Yl:", Xg'. Do, Se, Co. 
Realizar contraprova para o antígeno correspondente: fenotipar a 
hemácia do paciente para o antígeno correspondente ao anticorpo identifi-
cado. Ex.: se detectarmos a existência de aloanticorpo de especificidade anti-
K (Kl), a hemácia do indivíduo deve ser fenótipo K negativo. 
76 
Verificação de subclasse de IgG é indicada para avaliação do possível grau de hemólise, mas 
esse teste ainda é indisponível na rotina sorológica, sendo possível apenas por testes mais 
sofisticados. como. por e"emplo, ci tometria de fluxo. 
Quando o anticorpo for clinicamente significativo, e houver necessida-
de de transfusão: selecionar sangue fenótipo-compatível para o receptor 
(fenotipagem da bolsa para o antígeno em questão) . Ex.: no mesmo exem-
plo anteriormente apresentado, fenotipar a bolsa que apresentou prova de 
compatibilidade negativa para o antígeno K (K1). 
Para melhor caracterização, recomenda-se, ainda, observar informações 
como idade, sexo, raça, diagnóstico do paciente, histórico transfusional e 
registros anteriores em outros bancos de sangue já utilizados pelo paciente. 
Lembretes: 
• Provas de compatibilidade negativas nem sempre significam ausên-
cia de anticorpo irregular na amostra-teste, pois o título desse anticorpo 
pode ter decrescido até atingir níveis indetectáveis, por diminuição 
do estímulo antigênico, ou, ainda, pelo teste empregado não apre-
sentar sensibilidade suficiente para a detecção. Nesse caso, se hou-
ver novo estímulo antigênico , por meio de nova transfusão 
fenótipo-positiva, pode ocorrer resposta anamnéstica, com produ-
ção de altos títulos desses anticorpos em período de 48 a 72 horas, e 
estímulo de reação transfusional de caráter imunológico. Portanto, é 
importante pesquisar a história transfusional de pacientes, se possí-
vel recuperando as informações sobre anticorpos preexistentes, e/ou 
até mesmo fornecendo bolsas fenotipadas, especialmente levando-se 
em conta os antígenos mais imunogênicos, como os do sistema Rh 
(D, C, c, E, e) , Kell (Kl) , Kidd (Jka e Jkb) e Duffy (Fya e Fyi'). 
• É importante a interpretação correta da intensidade de aglutinação 
que, tanto na detecção como na identificação de anticorpos, direciona 
e fornece dados significativos para identificação. A seguir é apre-
sentada uma sugestão de padronização de leitura de intensidade de 
aglutinação, para testes realizados pelo método convencional (em 
tubo) . Para interpretação de intensidade de aglutinação em gel-teste. 
(Figura 5) 
f'EsQLlS.A E ITJE:-.cllllG\ÇAO DE A'\ll(OR!DS !RREGlfL-IRES 77 
FIGURA 5. GRADUAÇÃO DAS 
L'.'TI.'-ISIDADES DE AGLLTllNAÇÃO 
REPRESENT.-\DA NA FENOTIPAGEM 
PARA AN1ÍGENO RH(D) NO 
MÉTODO DE GEL-TESTE 
CEN1RIRJGAÇÃO (DIAMED AG, 
SuíÇA) 
TI BELA p,~"'~ 1:\TERPRETA(JiO DO GRAU DE 1:\TE:\SID.~DE IJ.~S R.EA(OES DE AGLUTINAÇÃO PELO 1\.IÉTODO E\ I TUBO 
Grau da intensidade Interpretaçaoda reação 
escore 
4+ 
3+ 
2+ 
1+ 
w 
botão sólido/nenhuma célula livre. fundo transparente 
alguns aglutinado,:' grandes mas separados; 
fundo límpido, transparente 
aglutinados maiores e menores; sobrenadante róseo 
aglutinados pequenos. mesmo tamanho; 
sobrenadante avermelhado 
vários aglutinados pequenos; sobrenadante 
muito avermelhado 
12 
10 
8 
5 
3 
Fonte: American Association of Blood Banks. Technical Il![anual, cit. 
Algoritmo em caso de TAD positivo 
78 
Inicialmente, determinar a classe do anticorpo adsorvido às hemácias, 
pela utilização de soros antiglobulinas humanas monoespecíficos e, 
se possível, anticomplemento. 
Se o anticorpo for classe IgG, removê-lo da membrana, por técnicas 
de eluição. Existem vários métodos para eluição dos anticorpos, como 
os que utilizam solventes orgânicos, como éter ou clorofórmio; os 
que utilizam soluções que alteram o pH como glicina ácida (princí-
pio dos principais kits comerciais de eluição); e os que promovem 
FL:\U..\.\IL'-<05 0.~ L\!l '>;0-Hl\l,TOLOGL, ERf!ROGL\Rl.~ 
hemólise por alteração da temperatura, como congelamento (LUI) ou 
ainda aquecimento. 
• Realizar a identificação dos anticorpos presentes no eluato, pela uti-
lização do painel de hemácias como descrito anteriormente para o 
soro e/ou plasma. 
• Se necessário. proceder a titulação dos anticorpos. 
E se. após a realização do painel, não for possível determinar a especi-
ficidade do(s) anticorpo(s)? 
Alguns procedimentos auxiliares em identificação de 
anticorpos irregulares 
A sensibilidade do teste de antiglobulina indireto pode ser melhorada 
por proceclimentos que modificam a primeira etapa da reação, ou seja, a 
fixação dos anticorpos durante a incubação. Podemos alterar os procecli-
mentos-padrão, ou mesmo adicionar substâncias potencializadoras ao meio. 
TÉCNICA ENZIMÁTICA 
AlgLms anticorpos têm suas reatividades aumentadas pelo tratamento 
enzimático das hemácias-teste. Alguns antígenos eritrocitários são 
destruidos ou tornam-se pouco reativos. As enzimas retiram da superfície 
da hemácia fragmentos polipeptídicos de glicoproteínas membranares, di-
minuindo o potencial zeta e aumentando a afinidade do anticorpo, por uma 
reestruturação na clistribuição dos antígenos. As enzimas proteolíticas mais 
utilizadas em testes sorológicos são: bromelina, papaína, ficina e tripsina. 
Especialmente indicado como método acessório de identificação, em ca-
sos de misturas de anticorpos. ou mesmo em caso de anticorpos importan-
tes clinicamente, mas em baixos títulos, e que podem ter sua afinidade 
aumentada pela utilização de hemácias tratadas por enzimas. Como desvan-
tagem. podemos citar a exacerbação da reatividade de anticorpos sem im-
portância clínica, pela exposição de determinantes antigênicos residuais. 
• Reatividade aumentada: anticorpos dirigidos contra antígenos dos sis-
temas Rh, Kidd, lewis, P. 
79 
• Reatividade diminuída ou suprimida: anticorpos dirigidos contra 
antígenos dos sistemas MNS. Duffy (Fy' e Fy'') e Xg, 
PREAQUECIMENTO 
Para se evitar reações indesejadas por anticorpos frios na fase de 
antiglobulina. pode-se preaquecer as hemácias, o soro e/ou plasma e mate-
riais utilizados para execução do teste (tubos, ponteiras, solução fisiológi-
ca, cartelas gel-teste etc.), A utilização de soro de antiglobulina humana 
monoespecífico anti-IgG em vez do poliespecífico, pode evitar a interfe-
rência de frações de complemento adsorvidas, 
REDUÇÃO DE TEMPERATURA 
Anticorpos frios, que reagem fracamente à temperatura ambiente. po-
derão ter sua reatividade aumentada se o teste for realizado a 4 oc Aconse-
lha-se inclusão de autocontrole ao painel de identificação para detecção de 
autocrioaglut ininas , 
Low IoNic SrRENGHT SoLUTION (LISS) 
O LISS age diminuindo a força iônica do meio, aumentando a acessibili-
dade do anticorpo à membrana eritrocitária, Outra grande vantagem é a 
diminuição do tempo de incubação, aliada ao aumento de sensibilidade do 
teste, Alguns autores relatam casos de anti-Kell (Kl) não identificados com 
a utilização de alguns desses reagentes, 
REAGENTES THIOL (2-MERCAPTOETANOL ou DTT) 
Clivam as pontes dissulfídicas de moléculas protéicas, É recomendado 
seu uso para: 
80 
• determinar a classe do anticorpo no soro; 
• dissociar anticorpos IgM adsorvidos às hemácias (Ex,: auto -
crioaglutinina potente); 
• identificar especificidades em caso de mistura de anticorpos IgM + 
IgG; 
• dissociar anticorpos IgG adsorvidos às hemácias, utilizando mistura 
de DTT e enzimas (ZZA P); 
• destruir alguns antígenos eritrocitários, como Ke!L Dombrock, 
Cartwright, quando assim for necessário, para identificação de 
anticorpos no soro. 
SUBSTÂNCIAS MACROMOLECULARES: ALBUMINA, DEXTRAN, FICOL, PEG 
Essas moléculas aumentam a constante dielétrica do meio, diminuindo o 
potencial zeta (pois se polarizam no campo elétrico da hemácia e diminuem a 
fo rça de repulsão entre elas), favorecendo a aglutinação. A albumina (20°o a 
30°o) e o PEG são os meios mais utilizados para testes em tubo, propiciando 
climinuição no tempo de incubação e aumento na sensibilidade do teste. Mas 
existe o inconveniente de reações falso-posit ivas (segundo trabalhos, cerca 
de 1°o dos casos), pelo excesso de polímeros, causando panaglutinação. Já 
existem reagentes comerciais que associam o PEG com o LISS. 
ADsoRçÃo 
Pode-se remover um anticorpo do soro pela adsorção com hemácias que 
possuam o antígeno correspondente. Posteriormente, podem-se realizar 
eluição e identificação do referido anticorpo. 
~uito út il na separação de anticorpos em caso de misturas, quando um 
deles já tenha sido identificado e esteja prejudicando a identificação dos 
demais. 
Também pode-se confirmar a presença de de terminado an tígeno na 
hemácia pela capacidade de remover um anticorpo específico do soro ou 
detectar antígenos ou anticorpos fracos. Podemos realizar adsorções a quente 
ou a frio; alo ou auto-adsorções, dependendo do objetivo do procedimento. 
ALTERAÇÃO DO p H 
Pequenas modificações de pH têm pouca ou nenhuma influência sobre a 
reatividade dos anticorpos. Algumas amostras de anti-::V[ mostraram-se 
melhor reagentes quando em pH 6,5. Essa diminuição pode ser obtida adi-
cionando-se HCJ. Modificações extremas de pH podem inibir a reação 
antígeno-anticorpo. 
81 
-
Sisten1as ABO 
(ABO 001) e 
Hh (H 018) 
Introdução 
O sistema ABO foi descoberto em 1900 por Landsteiner. Em 1902. Von 
de CasteUo e Sturli descobriram o grupo AB. Nesses experimentos. verifi-
cou-se que ocorria uma aglutinação dos glóbulos vermelhos devido à fixa-
ção de anticorpos aos antígenos específicos localizados na membrana. 
Classificado por um grupo de pesquisadores da ISBT1• o \Norking Party 
on Terminology for Red Cell Surface Antigens como sistema 001, e seus 
antígenos A (ABOI). B (AB02). AB (AB03). O locusABO encontra-se no 
braço longo do cromossomo 9 (9q3-!.1-q3-l.2). autossômico. 
Esse sistema deve ser estudado com seus associados Hh (H) e Lewis (LE). 
uma vez que os antígenos têm a mesma origem bioquimica: são moléculas 
complexas presentes nos glicolipídios e glicoproteínas membranares de 
diversos tecidos. além das hemácias. As células da mucosa salivar também 
fabricam substâncias ABO. H e Lewis solúveis. 
O sistema Hh (H) é classificado pela nomenclatura ISBT como 018. Pos-
sui um único antígeno H (Hl). O gene que codifica o antígeno (FUTl) está 
localizado no cromossomo 19q13. 
lnternational Society of Blood Transfusion ou Sociedade Internaciona l de Transfusão de 
Sangue (5!TS) 
SISTI\1.\' .-\BO L-\BOllUI) [ Hh (H L1]8) 85 
As características do sistema Lewis (LE) serão estudadas oportunamente, 
no capítulo 7, que trata de outros sistemas de grupos sangüíneos. este 
capítulo, abordaremos apenas a biossíntese dos antígenos desse sistema. O 
gene (FUT3) que codifica a glicosiltransferase está localizado no cromossomo 
19p13.3. 
Os antígenos do sistema ABO são produtos secundários dos genes ABO. 
Os produtos primários são enzimas (glicosiltransferases)capazes de adicio-
nar carboidratos sobre uma estrutura precursora da membrana da hemácia. 
O sistema ABO é o mais importante na prática transfusional: como 
primeira e mais importante regra, nunca se deve transfundir sangue conten-
do um antígeno ABO ao receptor que não o possua, devido à presença de 
anticorpos naturais e regulares em seu plasma. A reação hemolítica será 
intravascular, seguida de alterações imunológicas e bioquímicas, podendo 
ser fa tal. 
Fenótipos ABO 
A classificação dos fenótipos ABO eritrocitários correspondem a pre-
sença e/ou ausência dos antígenos A e/ou B na membrana da hemácia. Os 
indivíduos, por um mecanismo que será explicado mais adiante, formam 
naturalmente anticorpos contra os antígenos que não possuem . Esses 
anticorpos podem ser detectados no soro e/ou plasma. Portanto, para deter-
minação do fenótipo ABO, recomenda-se pesquisar os antígenos (prova 
direta) e os anticorpos (prova reversa). 
Pode-se concluir que a cada antígeno presente na hemácia corresponde 
um anticorpo no soro e/ou plasma, de especificidade contra o antígeno que 
o indivíduo não possui, conforme tabela a seguir: 
Grupo ABO Antigeno ABO Anticorpos Genótipos 
(hemácia) (soro e/ou plasma) possíveis 
o nenhum anti-A. -B e -AB 00 
A, A , anti-B A'A'; A 'A:; A'O 
B B anti-A BB; BO 
A,B A, eB nenhum A'B 
A, A, anti-B; eventual anti-A, kA:; A:O 
AB A.eB nenhum: eventual anti-A1 A:B -
86 F· "-De\.\ !E.'. I("- o' I\ r""' H -iE\ I\ Tt1LOCH ER!1Rc>crr -IRJ_ I 
Herança genética ABO 
Foi descrita pela primeira vez por Epstein e Ottenberg, em 1910, e pos-
teriormente por Bernstein, em 1924. 
Comprovou-se que cada indivíduo herda um gene ABO de cada proge-
nitor e que esses genes determinam quais antígenos ABO estarão presen-
tes sobre a membrana do eritrócito, segundo as leis de Mendel. 
• Uma posição (ou locus) em cada cromossomo novo é ocupada por 
um gene A, B ou O O locus ABO encontra-se no braço longo do 
cromossomo 9, autossômico. 
• Os genes A, B e O têm relação de codominância. Isso significa que 
os dois herdados se expressam igualmente. 
• O gene O é considerado silencioso, pois nenhum antígeno detectável 
é produzido em herança desse gene. A enzima produzida é não-fun-
cional, não adicionando carboidratos à estrutura H. 
Biossíntese dos antígenos 
Os antígenos ABO, H e Levvis podem estar presentes em secreções e 
outros fluidos (saliva, lágrimas, urina, sucos digestivos, leite e líquido 
amniótico), tecidos epiteliais, órgãos como medula óssea e rins, linfócitos e 
plaquetas. Por isso, são considerados antígenos de histocompatibilidade. 
Os processos de síntese dos antígenos ABO, H e Lewis ocorrem de 
maneiras diferentes nos eritroblastos (precursores das hemácias) e em célu-
las de outros tecidos, devido a diferenças estruturais das substâncias pre-
cursoras. 
Os genes dos sistemas ABO, Hh eLE são correlatos, mas independen-
tes. ão codificam diretamente a produção dos antígenos, mas produzem 
enzimas (glicosil transferases) que acrescentam carboidratos a uma subs-
tância precursora básica. (Figura 1) 
BIOSSÍNTESE DOS ANTÍGENOS ABO E H NO ERITROBLASTO 
• A expressão dos genes ABO depende da ação de outro gene, o gene 
H (FUT1), localizado no cromossomo 19. Apesar disso, a herança ge-
nética não depende da herança ABO. 
SISTE\11> !\BO CABO 001) E Hh (H 0'18) 87 
FlcL'R;\ 1. EsTRUTURA sroouíl\IICA 
DOS /\ "-'TÍGENOS ABO. 
88 
• Este gene H apresenta-se em 99,99°o da população (isótipo) sob a 
forma homozigota HH ou heterozigota Hh. A forma hh é rara e dá 
origem ao fenótipo conhecido como Bombay. 
O fenótipo Bombay clássico é produzido pelos indivíduos hhjsese 
(não secretores). ão apresentam antígenos ABO e H nem nos 
eritrócitos, nem em substâncias solúveis. Nesses indivíduos, encon-
traremos no soro e/ou plasma anticorpos anti-H, reativos à 37 ac e 
hemolíticos, portanto, importantes transfusionalmente. 
• O gene Lewis (FUT3) não é ativo no eritroblasto. Portanto, os 
glicolipídios Lewis presentes na membrana eritrocitária, são sinteti-
zados fora dele e posteriormente adsorvidos à membrana. Como já 
dissemos, neste capítulo discutiremos apenas a biossíntese dos 
antígenos desse sistema, e em capítulo específico, as características 
dos antígenos e/ou anticorpos e importância clínica e transfusional. 
• O conceito atual da produção das substâncias A e B a partir de H 
baseia-se nas observações de Watkins, Morgan e Ceppelin. 
genes substância genes substância 
.4. ·1 ou . ..J O i \ - -- .. 
HH 
H h .. -J e B /\eB - - - - - H - __ ._ 
BBoo BO --- B substância 
precursora 
00 --- H 
/;/; _ _ ___ _ __. substância precursora 
(fenótipo Bombay) 
Vejamos a seguir, mais detalhadamente, como ocorre a biossíntese dos 
antígenos ABO e H nos eritroblastos. 
• Apenas um tipo de cadeia precursora é produzido nos eritroblastos, 
denominado tipo 2 (definida pela presença de ligações 1-~ entre a 
galactose (Cal ~) e 1 -acetil-glucosamina (Glc ac). 
Substância precursora _,. Gal P (1-4) Gkl'iac. .. 
Esquema da biossíntese nos eritroblastos 
FlGL'RA 2. BIOSSÍJ\'TI.SE DOS Al'<TÍGEXOS ABO E H :\OS 
ER!TROB!ASTOS. 
• A partir desta. o gene H através de sua enzima 2-alfa-fucosiltransferase. 
adiciona uma fucose à terminação do carbono 2 da galactose. 
S:;.TI\L\5 ,-\80 (:\80 001) E Hh (H L118) 89 
gene H ___. fucose ___. antigeno H ___. Gal ~ (1-4) GlcNac ... 
2 
O gene O produz uma enzima não-funcional, 
e nenhum açúcar é adicionado ao antígeno H. Te-
mos, portanto, nas hemácias dos indivíduos do gru-
po O , apenas a estrutura H. 
(Mn2+) 
I 
Fuc 
• E a partir do antígeno H com a expressão dos genes ABO, podemos 
ainda ter: 
gene A ___. N-acetil-galactosamina ___. antígeno A ___. Ga!Nac 1-3 Gal ~ (1-4) GlcNac ... · 
(Mn2+) 2 
(Mn2+) 
I 
1 
I 
Fuc 
gene B ___. galactose ___. antígeno B ___. Gal 1-3 Gal ~ (1-4) GlcNac ... 
Portanto: 
(Mn2+) 2 
(Mnl+) 
I 
1 
I 
Fuc 
Os antígenos dos sistemas ABO e H são carboidratos e, assim, não são 
produtos primários dos genes que controlam sua expressão. Estes produ-
zem glicosiltransferases (enzimas), que transportam açúcares, adicionan-
do-os a uma substância precursora da membrana da hemácia. 
90 
• Gene H --7 glicosiltransferase H --7 2-alfa-fucosiltransferase --7 adi-
ciona fucose à substância precursora --7 antígeno H 
• Gene A --7 glicosiltransferase A --7 N-acetil-galactosaminiltransfe-
rase --7 adiciona N-acetilgalactosamina ao antígeno H --7 antígeno A 
• Gene B --7 glicosiltransferase B --7 galactosiltransferase --7 adiciona 
galactose ao antígeno H --7 antígeno B 
FL~D.-\.\!E,Tc1S D. \ l~!l"O-HE\l·\TOLOGIA ER!ffiOGL\RL\ 
Considerações 
• O gene A 1 produz concentrações elevadas de enzima A
1
, convertendo 
grande quantidade de antígeno H em antígeno A
1 
(entre 810.000 e 
1.170.000 sítios). 
• O gene B converte, em média, 600 mil a 830 mil sítios de antígeno H 
em antígeno B. 
• O gene O é silencioso; produz enzima não-funcional e, portanto, 
não modifica o antígeno H, não acrescentando nenhum carboidrato. 
• O antígeno H pode apresentar-se na membrana eritrocitária, em ca-
deias de quatro tipos diferentes: H1 e H2 (lineares), H3 e H-1 
(ramificadas). 
• Recém-nascidos apresentam, principalmente, cadeias H tipo 1 e 2 (li-
neares) Além disso, apresentam o antígeno i. Adultos apresentam 
em geral cadeias tipo 3 e 4 (ramificadas), e antígeno I. Os antígenos 
i e I são precursores das cadeias H. 
• A quantidade de antígeno H nos eritrócitos varia de acordo com o 
grupo ABO. O grupo O é composto somente de antígeno H. A se-
guir, temos por ordem decrescente: O > A2 > B > A2B > A1 > A1B. 
• Os fenótipos eritrocitários Hnull são de indivíduos hh como já des-
crevemos anteriormente. Se forem, também, não secretores (sese) , 
teremos o fenótipo Bombay clássico. 
• A freqüência dos grupos ABO varia de acordo com raça e população 
estudada. Algumas explicações foram dadas a esse fenômeno, como 
migração populacionaL cruzamentos étnicos e doenças que confe-
rem vantagens ou desvantagens a certosgrupos sangüíneos. Exem-
plos: 
indígenas sul-americanos: 100°o 0; 
aborígenes australianos: 50°'o A
1
; 50°o O. 
Os antígenos ABO e H estão expressos nos precursores eritróides des-
de a 5ª ou 6ª semana de vida intra-uterina, embora ao nascer apresentem 
um menor número de sítios antigênicos que os adultos (aproximadamente 
SISTE\1,< .-\BO (ABO 001) E H h (H 018) 91 
1/3 dos sítios antigênicos totais de A/B). A expressão plena desses antígenos 
é alcançada entre 2 e 4 anos de idade. 2 
BrossíNTESE DOS ANTÍGENOS ABO, H E L Ewrs soLÚVEIS 
92 
• Relembrando: os antígenos ABO, H e Lewis podem estar presentes 
em secreções e outros fluidos (saliva, lágrimas, urina, sucos digesti-
vos, leite, líquido amniótico), tecidos epiteliais, órgãos como medula 
óssea e rins, linfócitos e plaquetas. Por isso, são considerados antí-
genos de histocompatibilidade. 
• As glicoproteínas dos líquidos biológicos, como saliva, por exemplo, 
constituem a melhor maneira de análise dessas substâncias. 
• Glicosiltransferases são produzidas a partir dos genes específicos 
ABO, H e Lewis. 
• A expressão dos genes é controlada por um outro par de genes ale los 
denominados secretores (Se/se). Esses genes não são ativos nos 
eritroblastos. 
• O gene secretor (RJT2) é responsável pela formação de uma enzima 
2-alfa-fucosiltransferase, que adicionará uma fucose à substância pre-
cursora, produzindo o antígeno H solúvel (que é imprescindível tam-
bém para a formação dos antígenos A e B nas células secretoras). 
Essa enzima é ativa sobre cadeias precursoras dos tipos 1 e 2. 
• Os indivíduos sese são chamados "não-secretores". O gene secretor 
não interfere na formação de antígenos ABO e H nos eritroblastos. 
Indivíduos não-secretores terão expressão normal dos antígenos ABO 
e H nos eritrócitos. 
• Cerca de 80°o da população caucasóide é constituída de indivíduos 
secretores. 
• O gene secretor é também importante na formação dos fenótipos 
Lewis. 
P. L Molisson et ai.. Blood Transfusion in Clinicai A1edicine (9" ed. Londres: Blackwell 
Scientific, 1993). 
Esquema da biossíntese das substâncias solúveis 
FiGURA 3. ESQUEMA DA 
BIOSSÍNTISE DOS AN1ÍGENOS ABO, 
H E ll\1S Etl-1 CÉLULAS DE 1\!LCOSA 
SA!JVAR. 
!substância Precursora 
Anlíqeno H 
Antígeno le" 
Antígeno Le' 
Anl͕Jcno A 
Antígeno B 
Gal (1 -3) GlcNAc .... 1 
Gal (1 -3) GlcHAc .... 
2 
I (Mool•> 
1 
Fuc 
Gal (1 -3) GlcNAc .... 
4 
I <ltW•> 
1 
Fuc 
Gat (1-31 GlcHAc .... 
2 • 
I (Mal•> I 
1 1 
h1r. Fuc 
(Mft%•) 
GaiNAc 1-3Gal (1 -3) GlcNAc .... 
2 4 
I (Mn%•> I 
I 1 
Fuc Fuc 
(MJI%•) 
Ga11-3Gal (1 -3) GlcNAc .... 
2 4 
I (MRZ•> I 
1 1 
fur Fuc 
Vejamos, a seguir, detalhadamente, como ocorre a biossíntese das subs-
tâncias solúveis: 
As células da mucosa salivar produzem substâncias precursoras dos 
tipos 1 e 2, e as do tipo 1 apresentam ligação do tipo 1-3 entre a Cal 
~ e a Glc Tac e, por isso, apresentam ligação livre no carbono .f da 
Glc lac. 
O gene Lewis (FUT3) produz uma enzima do tipo 4-alfa-fucosil-
transferase . Esta ligará uma fucose no carbono 4 livre, produzindo o 
antígeno Lewis a (Le") . 
SISTE\L-1, z\BO (ABO 001) E Hh (H OlB) 93 
• Pela atividade da enzima produzida pelo gene secretor (FUT2), 2-alfa-
fucosiltransferase , outra fucose é ligada ao carbono 2 da Cal ~, pro-
duzindo o antígeno H. 
• A especificidade conhecida como antígeno Lewis b (Leb) é, na verda-
de, a interação dessas duas especificidades (Le'+H), nos indivíduos 
LeSe. 
• As enzimas A e B produzirão, então, os fenótipos ABO da mesma 
maneira que nos eritroblastos. 
Genética molecular 
94 
• Vários genes interagem na formação dos antígenos do sistema ABO. 
Como já dissemos, os genes ABO (ABO), H (FUTI), Lewis (FUTJ) e 
secretor (FUT2) formam glicosiltransferases que adicionam açúcares 
à mesma substância precursora da hemácia. 
• Lembrando: os genes ABO estão no cromossomo autossômico 9. Os 
genes FUTl, FUT2 e FUJJ estão no cromossomo autossômico 19. 
• Os genes ABO possuem sete éxons, em DNA de 18 kb . 
• Os polimorfismos do sistema ABO são causados por mutações na 
seqüência de nucleotídeos no DNA. O gene A 1 é considerado o gene 
selvagem. 
• Gene B: mutações de ponto missense e silenciosas provocaram o apa-
recimento de gene B. Este difere do gene A em sete nucleotídeos no 
DNA, sendo quatro mutações missense (com troca de 4 aminoácidos 
na proteína resultante) e três silenciosas (sem troca de aminoácidos 
na proteína). Essas mutações estão localizadas nos éxons 6 (uma mu-
tação) e 7 (seis mutações). 
• Gene O originou-se de uma única mutação nonsense no éxon 6 (sem 
sentido, que gera um stop códon, a partir do qual a proteína não é 
mais formada), o que provocou a síntese de uma transferase afuncional, 
que não transporta açúcares à substância precursora. Essa mutação é 
uma deleção de um nucleotídeo no DNA (guanina) , na posição 261. 
O restante da seqüência é idêntica ao gene A. (Figura 4) 
Fl "DA\ !EC-TOS DA~ !l·;-.:o-HE\lATOLOCll ERITROGT ARI.A 
FIGURA 4. REPREsE;, TAÇÃO 
ESQUL\AÁ TICA DOS GEl\.'ES A BO 
(UNHA SUPERIOR) E AS PROTEL"\IAS 
(TRANSFERASES) COD!HCADAS IDR 
EI.E5 (lfl\;1iA L'H'ERIOR). 
Subgrupos ABO 
A 
8 
o 
~~·;;-_;-·~-~=- ~,!.! 
NH2 
NH2 
dcle-çâo 
NH2 
~~::~ .. -l-. \": 
COOH 
176 235 266 268 
COOH 
176 235 266 268 
COOH 
117 
Podemos encontrar na fenotipagem direta ABO diferentes expressões (va-
riações quantitativas) dos antígenos A ou B. Ou, mesmo, encontrar algumas 
discrepâncias entre a prova direta e reversa, por exemplo: indivíduos com 
prova direta indicando grupo A, mas apresentando em seu soro e/ou plasma 
anticorpos que aglutinam a hemácia-teste A, além da hemácia-teste B. 
COMO EXPLICAR ESSES ACHADOS? 
Subgrupos ABO 
• Recentemente foi demonstrado que os subgrupos de A e B resultam 
de alterações genéticas, mutações da estrutu ra do gene produtor da 
glicosiltransferase. 
• Subgrupos de A: os fenótipos apresentam diferenças quantitativas e 
qualitativas, embora sejam formados do mesmo açúcar. 
• O gene A 1 difere do gene A 2 por uma deleção de base na região C-
terminal, além de uma mutação de ponto missense na posição 467 
(C--7T), provocando uma substituição de aminoácidos (prolina por 
leucina) na glicosiltransferase resultante. (Figura 5) 
S!SlE\t.\5 ABO (.-\BO 001) E Hh (H 018) 95 
Frcuiv\ 5. REPREsE:, I AÇÃO 
ESQUEMÁTICADOSGE.'<ESA' EA0 
(U:--'HA SUPERIOR) E AS PROTEÜ\:AS 
(1RAN5r'ERASES) COD!RCADAS POR 
ELES (U.'\'HA L'\TER!OR). 
96 
• Em função da melhor eficácia da enzima A
1 
no transporte do açúcar 
A para seu substrato. o número de sítios para A
1 
está em torno de 
1 milhão por hemácia, enquanto A
2 
300 mil por hemácia. Isso explica 
as diferenças quantitativas entre os dois antígenos. 
• Bioquimicamente, a transferase A
2 
não consegue ligar carboidratos 
nas cadeias H ramificadas e sim nas lineares, conduzindo às diferen-
ças qualitativas entre os dois fenótipos. Esse fato também é demons-
trado pela ocorrência em aproximadamente 4°n dos indivíduos A
2 
de 
anticorpos naturais anti-A
1
. Cerca de 25°b dos indivíduos A
2
B produ-
zem anti-A
1 
natural. 
• Por isso, utilizamos a lectina anti-A
1 
(Dolichos biflorus) para definição 
de subgrupos A. Essa lectina reage especificamente com hemácias A
1
. 
• 1 os subgrupos mais raros. a quantidade de antígeno A decresce, 
continuamente, de A
1 
até Am. A reação antígeno-anticorpo somente 
é visível (hemaglutinação) quando o número de sítios antigênicos é 
superior a 2 mil. Portanto, em alguns subgrupos, nos quais os açúca-
res estão muito fracamente expressos, poderemos observar até mes-
mo reações negativas na prova direta, discrepantes dos resultados 
obtidos na prova reversa. Ex.: subgrupos A , A . 
m y 
• 1 o subgrupo A3' temos hemácias com mais e com menos de 2 mil 
sítios antigênicos, levando à ocorrência de "campo misto" ou "dupla 
população". (Figuras 6 e 7) 
• A identificação desses fenótipos pode ser feita, portanto, por meio 
da fenotipagem com lectinas anti-A
1 
e anti-H(Ulex europaeus), tes-
te de fixação-eluição e pesquisa de antígenos na saliva (de indivíduos 
secretores) . 
FIGI R-\ 6. REI'Rbt.."\ 1.-\( ~O 
bQL "E.\L~TIC-\ DC>S <..;E."\:ES •. ·-\1 .. '\3 E 
A\ (U. 'H.-\ SL'PERJOR) E .-\5 
PROTEJ:\;.-\5 ITRAXSFER.-\SES) 
CODmG\D.'\5 POR ElES (I.r\1-L-\ 
L'\JERI~ )R). 
FIGL:RA 7. DETER.\!L'\.-\Ç..\0 DE 
Sl'BGRlJPO J\ PF..LO t\IÉTODO DE 
GEL-TESTE GXIRIR.'G-\C-\0 
IDIAMm AG, SLí(.-\}. 
FiGLR-\ 8. REPREsE.'\. I AÇÃO 
ESQL"E.\t.i.TIC-\ DOS GE\'ES BE 83 
(LL"\1-IA SUPERIOR) E AS PR01'EÍXAS 
(1RA. '\SFERASES) CODmCJ\Dt\5 POR 
ELES (LC\1-iA 1:\FERIOR). 
S:"llo\1 '' .-\BO (.-\BO üOJJ r Hh (H L118) 97 
"' TABELA PARA ll!I:NTIIlCAÇÃO DE SLIB(;Rll['(lS ABO (X) 
Reaçoes das hemácias com anti-soros Reaçoes dos soros e/ou plasma com hemácias-teste 
Fenótipos Soro Soro Soro Lectina Lectina Hem Hem Hem Hem Saliva do 
anti-A anti-B anti-AB anti-H anti-~ AI A, B o secretor 
A, 4+ o 4-t o 4+ o o 41 o AeH 
A 
m t 
4~ o 41 3+ 2-1 o o 41 o AeH 
A, 41- o 4+ 2+ o j,* o 4+ o AcH 
A, 2+CM o 2+CM 3+ o ** o 41 o AcH 
Am 0/+- o 0/1- 4-t o o o 41 o AeH 
A 0/+- o ~/21 4+ o 21 /0 0/1 41 o H 
\ 
A,l o o o 4+ o 21/0 o 4-1 o H 
B o 41 4+ o 4+ 4+ o o BeH 
~ 
B, o +/CM 2+/CM 4+ 4+ 4-1 o o BeH 
/! 
~ B o o 0/+- 4+ 4+ 4+ o o BcH 
~ m 
8 
9 
B, o 0/1- 0/2+ 4+ 4+ 4-1 o o H 
~ Fonte: Amcrican Association or Blood Banks, Technical Manual, cil. 
? **A ocorrência de anti-Ai nC'stcs fenótipos é variável. p 
) 
1- = Inten sidade fraca de aglutinação. o 
~ CM = campo misto 
:; 
ô Obs.: para interpretação das intensidades de aglutinação, consu ltar tabela da pág. 78. 
ê 
! 
~ 
• Existem subgrupos de B. porém são muito raros. e têm mecanismos 
genéticos, moleculares e sorológicos semelhantes aos subgrupos de 
A. (Figura 8) 
• Lembrando: reatividade de anti-H varia com diferentes grupos 
sangüíneos: O> A1 > B > A2B >Al >AlB. 
O açúcar imunodominante nos subgrupos é idêntico aos ongmais. 
Transfusionalmente não é importante distinguir-se os subgrupos, mas 
detectá-los. 
Anticorpos ABO 
Relembrando: anticorpos ABO estão presentes nos soros e/ou plasmas 
de indivíduos, contra os antígenos que eles não possuem nas hemácias. 
Mas como se dá o aparecimento desses anticorpos? 
Foi comprovado que esses anticorpos se formam naturalmente contra 
antígenos que não estão presentes nas hemácias. Os estímulos são passi-
vos, principalmente das bactérias que começam a colonizar o trato intesti-
nal a partir do nascimento, pois possuem açúcares em suas membranas 
celulares semelhantes aos açúcares imunodominantes dos antígenos A e B. 
Essas bactérias, assim como outros estímulos externos, como poeira, ali-
mentos etc. , vão estimular a formação dos anticorpos anti-A e/ou anti-B, 
que passam a ser classificados, portanto, como naturais e regulares (ocor-
rência regular e estímulo natural) . Geralmente são misturas de IgM e IgG. 
• Anticorpos anti-A e/ou -B imunes, geralmente IgG, podem ocorrer 
principalmente por heteroimunização (infecções bacterianas intesti-
nais, soros antidiftéricos ou tetânicos de origem animaljbacteriano) e 
aloimunização por gestação ou transfusão ABO incompatível. 
• Entre 3 e 6 meses de idade já é possível encontrar pequenas quantida-
des de anticorpos, mas sua produção máxima se dá entre 5 e 10 anos. 
Após 65 anos o título desses anticorpos diminui, a ponto de se tornar 
difícil sua identificação por meio da prova reversa. Portanto, não é 
recomendada a realização da prova reversa nas fenotipagens ABO 
de recém-nascidos. 
SISTE.\L'\ó ABO (ABO 001) E Hh fH 0 18) 99 
• Os anticorpos naturais ABO reagem melhor a 4 ac podendo tam-
bém ter atividade a 37 oc. Os anticorpos anti-A
1 
são de baixa ampli-
tude térmica (pouco ou não ativos a 37 °C), não tendo importância 
clínica. 
• Tanto anticorpos ABO classe lgM como lgG são capazes de ativar 
complemento, provocando hemólise intravascular em caso de trans-
fusões incompatíveis. Podem ser fatais. 
• Doença hemolítica do recém-nascido por incompatibilidade ABO: 
ocorre entre mães O e filho A e/ou B, muito embora esses casos 
sejam menos graves que incompatibilidade por Rh (geralmente os 
sintomas e a evolução são menos acentuados). 
• Os anticorpos anti-A e anti-B dos indivíduos B e A, respectivamen-
te, são em sua maioria de classe IgM e pequena quantidade, IgG. Os 
anticorpos anti-AB de indivíduos de grupo O são de classe lgG e 
podem estar presentes em altos títulos. Recém-nascidos, filhos de 
mães O, têm, portanto, maior chance de desenvolver DHRN por in-
compatibilidade ABO. 
• Anticorpos anti-H e anti-HI geralmente não possuem grande ampli-
tude térmica, por isso sem importância clínica, exceto anti-H de indi-
víduos Bombay, conforme já citamos. Anti-H natural geralmente 
ocorre em indivíduos A
1 
e A
1
B não-secretores. Anti-HI em indivíduos 
A
1 
e A
1
B secretores. 
Devemos prestar atenção ao conceito de doador-receptor universal, pois 
devemos lembrar que um indivíduo de grupo O apresenta em seu soro/ 
plasma anticorpos anti-A, anti-B e anti-AB. Se doar sangue para outro 
indivíduo não-isogrupo, ainda que seja concentrado de hemácias, uma certa 
quantidade de plasma sempre estará presente. Se o título das aglutininas 
for elevado (superior a 1/100 no chamado doador O perigoso), poderá ocor-
rer reação transfusional. 
100 
Portanto, transfusionalmente, recomenda-se: 
1. Doador e receptor com mesmo grupo ABO (isogrupo) sempre que 
possível. 
2. Excepcionalmente, respeitar a regra transfusional: 
fl '>:D.-\\ !E'(TOo Ll,\ I:vll ~0-HE~L-\TOLOGIA ERITROCITJiRl.A 
Grupo:\ Grupo B 
/ 
Grupo .'\B 
ABO e associações com doenças 
Estudos sugerem que o sistema ABO está envolvido com mecanismo 
positivo de seleção em humanos e primatas. Isso confere certas vantagens 
e/ou desvantagens evolutivas. Algumas doenças parecem estar relaciona-
das com os grupos sangüíneos ABO: úlcera e gastrite duodenal, infecções, 
malignidade de tumores, tendências hemorrágicas e trombóticas, entre 
outras. 
ÚLCERA E GASTRITE DUODENAL 
Parecem afetar mais os indivíduos de grupo O, na proporção de 1.35 para 
cada indivíduo do grupo A. Parecem estar relacionadas com a maior 
patogenicidade da Helicobacter pylori à mucosa dos indivíduos O. Envolvem 
mecanismos auto-imunes de respostas, levando à gastrite e lesão celular. Estu-
dos mostraram que o antígeno Le~"> é o provável receptor para a bactéria no 
tecido gástrico. Isso explica por que somente uma parte dos indivíduos iden-
tificados como portadores da bactéria efetivamente desenvolve a doença 3 
ABO Blood Group System. http: www.bh.rmtt.edu.au mls subjects/abo/resources, 
dtrectory.htm; P. D. lssit & D. J. Anstee Applied Blood Group Serology (-i" ed. Durham: 
:\ lontgomery Scientific. 1999): -'\. P. :\ loran, • Pathogenesis o f Hclicobacter Py!ort, em Current 
Opinion in Gastroenterology. nc 1-l, Supplement I. 1998: J\ L Rios & C. Bianco, "The Role of 
Blood Groups :\ntigens in lnfectious Diseases", em Seminars in Hemato!ogy, 37 (2) , abril de 
2oo:J. 
5ISTIHIS :\BO (;\BO 001) E Hh (H 018) 101 
INFECÇÕES 
Algumas pandemias históricas estiveram relacionadas com a distribui-
ção dos genes ABO nas populações de diversas partes do mundo, como 
peste bubônica e infecções por Pox vírus. A peste bubônica é causada pela 
bactéria Yersinia pestis. Essas bactérias parecem expressar um antígeno H-
like em sua membrana celular. Como indivíduos O não formam anti-H 
estes seriam mais suscetíveis à infecção e morte que indivíduos A. B e AB.~ 
Indivíduos do grupo O infectados por Vibrio cholera desenvolvem qua-
dro de diarréia mais severa, podendo levar ao óbito. Estudos com a popula-
ção de Bangladesh sugerem que esta pressão seletiva conferiu desvantagens 
à população do grupo O, e vantagens à população do tipo B, hoje mais 
prevalente nesta região 5 
FUNGOS 
A incapacidade genética de secretar substâncias ABO (indivíduos sese) 
foi associada com o aumento da susceptibilidade à infecção superficial por 
Candida albicans. em indivíduos adultos. Essa associaçãotambém está cla-
ra em pacientes com diabetes não dependentes de insulina6 
Indivíduos do grupo B e AB secretores parecem ser mais susceptíveis à 
infecção por E. coli no trato urinário. As bactérias parecem ligar-se primei-
ramente ao carboidrato receptor de células epiteliais, antes da colonização 
das mucosas e infecção.-
MALIGNIDADE DE TUMORES 
Muitos trabalhos relatam a alta incidência de diversos tipos de câncer 
em pacientes de grupo sangüíneo A. Células tumorais freqüentemente ex-
pressam neo-antígenos como antígeno A-like. O sistema imune do indiví-
duo A não reconhece o A-like como não-próprio e, portanto, não combate 
102 
ABO Blood Group System. cit. 
R. L Glass et ai. . "Predisposition for Cholera of Individuais with O Blood Group: Possible 
Evolutionary Significance". em Am. f. Epidemia!.. 121 (6). 1985. 
M. Rios & C. Bianco. op. cit. 
Ibidem. 
precocemente as células tumorais, permitindo o crescimento de tumores e 
favorecendo metástases. Como indivíduos dos grupos O e B possuem natu-
ralmente anticorpos anti-A. estariam mais aptos a destruir essas células 
tumorais. O grau de malignidade parece também estar correlacionado à 
quantidade dos "antígenos-like" de grupos sangüíneos.8 
DESORDENS DE COAGULAÇÃO 
Indivíduos do grupo O tendem a ter menor nível plasmático de fatores 
V, Vill, LX e de VW que outros grupos e, portanto, estariam mais sujeitos a 
fenômenos hemorrágicos. Estudos mostraram alta incidência de úlceras 
gastrintestinais hemorrágicas neste grupo. Em contrapartida, indivíduos 
do grupo A apresentaram alta incidência de tromboses, em estudo de ásco 
estimado de trombose coronariana como causa de morte de mulheres. No 
grupo de mulheres do tipo O , o risco foi calculado em 211 em 1 milhão; no 
grupo do tipo A. 680 em 1 milhão. Isso provavelmente se deve ao fato de os 
indivíduos de grupo A apresentarem altos níveis de fatores V, Vill, IX e 
VW9 
Alguns assuntos indicados para melhor compreensão do texto: 
• genética básica e molecular 
• nomenclatura ISBT para antígenos eritrocitários 
• exerócios de herança genética dos grupos sangüíneos 
• bioquímica básica: carboidratos, lipídios e proteínas 
• sistema de grupo sangüíneo Lewis 
• doença hemolítica perinatal 
ABO Blood Group System, cit.: P. D. Issi t & D. J. A nstee, op. cit. ; M. Rios & C. Bianco, op. 
cit. 
ABO Blood Group System, cit. ; M. Rios & C. Bianco. op. cit. 
SISTI.\1.-\5 A BO (1\ BO 001) E Hh (H 018) 103 
Sisten1a Rh 
(ISBT 004) 
Histórico 
Em 1939, Levine e Stetson descobrem que a causa da eritroblastose fetal 
em um recém-nascido era a atividade de anticorpos maternos contra 
antígenos das hemácias fetais. Posteriormente, Levine e Katzin descreveram 
esse anticorpo como o mesmo que Landsteiner e Wierner produziram por 
meio da imunização de coelhos com hemácias de macacos Rhesus. O antígeno 
gerador da resposta imunitária foi. então, chamado de fator Rh. 
Os anticorpos específicos para os antígenos Rh estão normalmente en-
volvidos em reações transfusionais graves e em casos de doença hemolítica 
perinatal (DHPN), tornando esse sistema, do ponto de vista da prática 
transfusional, o segundo mais importante, após o sistema ABO. 
Até o presente momento, 45 antígenos foram relatados como pertencen-
tes a esse sistema, e cinco destes (D, E, e, C, c) são os responsáveis por 99°b 
dos problemas clínicos associados ao sistema Rh. 
Importância clínica 
A importância clínica deve-se ao fato de o antígeno O ser altamente 
imunogênico. Estima-se que, se uma quantidade de 1 ml a 10 ml de glóbulos 
S!STI\L' Rl1 OSBT 004) 107 
vermelhos D positivos forem administrados a indivíduo D negativo, a chance 
de esse indivíduo desenvolver anti-D está estimada em 80uo . 1 
Além disso, gravidez subseqüente com criança (feto) D positivo induz à 
imunização secundária da mãe, na qual o anticorpo IgG atravessará a bar-
reira placentária, produzindo quadro de icterícia neonatal ou DHPN. Com 
o advento da imunoglobulina anti-D (ex.: RhoGam), observou-se impor-
tante redução dos casos de DHPN por incompatibilidade Rh, mas o anti-D 
ainda é o aloanticorpo mais comumente encontrado em recém-nascidos. 
Bioquímica e genética 
Os antígenos Rh são exclusivamente eritrocitários, não sendo encontra-
dos em leucócitos ou plaquetas, e surgem precocemente já em torno da 10'-
semana de vida intra-uterina. 
Apesar de o sistema contar com mais de -15 antígenos conhecidos, os mais 
importantes transfusionalmente são os antígenos D. C c, E, e, responsáveis 
por quase 99°o dos problemas clínicos associados ao sistema. A genética 
molecular mostrou que apenas dois genes estruturais. no cromossomo 1p3-l-
p36, controlam a produção das proteínas não-glicosadas R.h: 
• gene RHD, que não possui alelos, codifica a produção da proteína 
RhD que carreia o antígeno D; 
• gene RHCE, que possui vários alelos (RHCe, RHcE. RHce, RHCE!, 
codifica a produção da proteína RhCE (ce). 
SL'\ TbE DOS f\)UPlPTIDEOo Rh 
Fonte: japdnesc journal o( Lcgd! .\ Iedicinc. n' 52. 1908, pp. 1-18. 
L '\le io & ]. ; \ .Santos. "Sistema Rh ". em STD. \ 'OI. 5. Belo H orizonte. 190o. 
108 
Estas lipoproteínas do sistema Rh são partes integrantes da membrana 
eritrocitária, atravessando-a 12 vezes (os segmentos amino-terminal e 
carboxil-terminal encontram-se intracelulannente). (Figuras 1 e 2) 
FIGURA 1. RfrRESE0.TAÇÃ0 
ESQLIE!vtÁ TICA D:\ PROTiiNA 
RHCE. 
F!GL"R.A 2. REPRfsE."\.T.\ÇJ\0 ESQLE.\L-\TIC>\ D.-\ PROTÚ"\:,-\ RHD. 
Temos, portanto. que o indivíduo considerado Rh positivo (D positivo) 
possui os dois genes Rh (RHDe RHCE). enquanto em indivíduos Rh nega-
tivos (D negativos) , quase em sua totalidade (ver item "Pseudogene"). o 
RHDestá deletado. Portanto, a notação "d". geralmente utilizada para repre-
sentar o genótipo negativo, significa ausência do gene RHD. e não 
recessividade do gene. Aproximadamente 85°o da população em geral é de 
indivíduos Rh positivos. 
Os genes são co-dominantes, de forma que, quando os genes Rh herda-
dos do pai são idênticos aos da mãe, chamamos o indivíduo de homozigoto. 
Se os genes herdados de pai e mãe forem diferentes. o indi\~duo será con-
siderado heterozigoto. 
St-IT\1' Rh !ISBT 0t.l.J) 109 
Pseudogene (D lfl) 
Normalmente, indivíduos Rh negativos caucasóides seguem a regra do 
gene RHD deletado. Mas estudos recentes demonstraram que, em algumas 
populações africanas. podemos encontrar até 2/3 dos indivíduos Rh negati-
vos com o gene RHD presente. Analisando-se molecularmente, esse gene 
apresenta-se mutado (inserção de 37 pares de bases, gerando um stop codon, 
ou seja, proteína que não será traduzida a partir desta seqüência). Portanto, 
fenotipicamente esses indivíduos são identificados como Rh negativos, 
mas genotipicamente possuem o gene RHD. Denominou-se, então, esse 
novo gene de pseudogene {Dlfl). 
A expressão dos antígenos Rh está relacionada à glicoproteína Rh50, 
produzida a partir da expressão do gene RH50, homólogo a RHD e RHCE, 
localizado no cromossomo 6pl1-21. Na ausência dessa proteína, os antígenos 
Rh não se expressam ou expressam-se fracamente, dando origem aos 
fenótipos Rhnull e Rhmod.Além das proteínas RhD, RhCE e Rh50 (ou RhAG), 
outras proteínas associadas, como GPB, LW, CD47, formam o chamado com-
plexo Rh na membrana eritrocitária. (Figura 3) 
FlGL'RA 3 . REPRESE'\. l AÇAO 
ESQL'Et-.1ÁTICA DOS GB.'ES, RNA 
ME.'-:SAGEROS, PROTEÍNJ\5 
REI.AOONADAS AO SIS1Hv1A Rh, E O 
COMP!L\0 FORMADO FQR ELAS NA 
MEMBRANA ERITROCITÁRIA. 
11 0 F ''\D.-\.\IES1\ ,, J:l·\ 1\ll'-O·HL\1.\TOLOC.I.\ ERflROCIT.<\Rl. \ 
DIFERENÇAS ESTRUTURAIS ( POLIMORFISMOS) 
ENTRE os ANTÍGENOS D, C, c, E, E 
Os genes RHD e RHCE apresentam uma estrutura similar. Se compa-
rarmos os polipeptídeos produzidos por ambos, constataremos homologia 
entre eles: 
T.'\BELA 1. D IFERENÇ;\5 ESTRUTl.Ri\15 E:'ITRE .A:--JTÍGE'-:05 D. c c. E. E 
Proteínas Rh 
Fenótipo Rh Proteínas presentes Peso molecular Nº de aminoácidos 
D positivo Proteína D 32KDa 417 
Proteína CcEe 34KDa 417 
D negativo ProteínaCcEe 34KDa 417 
Fonte: L Melo & J. A. Santos, "Sistema Rh". em STD, vol. 5, Belo Horizonte, 1996. 
A proteína C difere da proteína c, em quatro aminoácidos. Esse 
polimorfismo da proteína RhCE, produzido por mutações em seis 
nucleotídeos no gene RHCE (ce), apresenta um ponto importante de troca 
de aminoácidos na posição 103 da proteína (Ser103Pro). 
A proteína E difere da proteína e em apenas um aminoácido, mas em 
posição importante na proteína (Pro226Ala). Polimorfismo produzido por 
mutação missense em apenas um nucleotídeo do gene. 
A proteína D (presente em indivíduos Rh positivos) difere da proteína 
CcEe em 35 aminoácidos. Devido a essa grande diferença, o antígeno D é 
tão imunogênico para os indivíduos que não o possuem, ou seja, o indiví-
duo Rh negativo, quando recebe hemácias D positivas, é exposto a urna 
proteína que difere da sua em 35 aminoácidos (pelo menos dez em posições 
importantes da proteína). 
Considerações: Por meio da utilização de anticorpos monoclonais, já se 
distinguiram diferentes epítopos dos antígenos E e e, e indivíduos com 
mutações genéticas que levam a antígenos variantes, como o modelo pro-
posto para as variantes dos antígenos D. 
Sim\1 1 Rh CISBT OO.JI 111 
ANTíGENO cw 
O antígeno C é produzido por um gene variante de RHCE (alelos RHC·e 
ou RHC'E;.-' 1ão se trata de um antígeno C fraco. mas de um novo antígeno 
que pode estar presente independentemente dos fenótipos C/c É antígeno 
de bai.,xa freqüência. estimada em menos de 2°o em brancos. (Figura -!) 
T~BEL.·\ 2. D rFERD:Ç.-\$ ESTRlll"R.~TS E.'-:TRE os A:\TÍGENOS c c E C '" 
Antígenos 
C/c 
Fonte: L Melo & J. A. Santos, op. cit. 
FiGt:RJI. 4. FE.'-:OTIPAGB\ I PARA 
.~~IÍGE,'\!OS 00 SISTEvL~ Rh (C C, 
E. E. cw) E K (Kl). PELO ~1hooo 
DE GEL-TI5IT CE.'\. '1RIR."G.~Ç\O 
(DJA!V1ED AG, St:iÇ.\) 
Posição na proteína 
41 
41 
Aminoácidos 
Glicina 
Arginina 
Teorias genéticas e moleculares e nomenclaturas 
Várias nomenclaturas foram anteriormente desenvolvidas: Fischer-Race 
(COE), Wiener (Rh-hr), Rosenfield (numérico) , sendo as duas primeiras 
baseadas em modelos genéticos postulados para explicar a origem dos 
antígenos desse sistema. 
O modelo genético de Fischer c Race (COE) propõe que a produção dos 
antígenos é controlada por três pares de genes alelos (sendo os genes D, d, 
C c, E e), cujos loci estão estreitamente ligados. formando complexo gené-
112 
tico que é transmitido em bloco durante a meiose (haplótipo). Cada haplótipo 
forma, sobre a membrana da hemácia, uma combinação específica de três 
antígenos, e cada indivíduo herda dois haplótipos (um paterno, outro ma-
terno). Se os dois haplótipos são idênticos, o indivíduo é homozigoto; se 
são diferentes, heterozigoto. Na atualidade, sabe-se que essa teoria genéti-
ca não é verdadeira, porém sua nomenclatura para os antígenos Rh perma-
neceu, sendo muito utilizada em bancos de sangue. 
Já\ \'iener, com base em seu modelo genético, estabeleceu a nomenclatu-
ra Rh-Hr, que é de mais difícil compreensão. Pela sua teoria, existe apenas 
um par de genes alelos no locus Rh que produz um só antígeno (agluti-
nógeno) com múltiplas especificidades, chamadas de fatores do sistema Rh. 
Cada gene e cada aglutinógeno com suas especificidades (fatores) são re-
presentados conforme tabela a seguir: 
Gene 
RO 
Rl 
R2 
R' 
r" 
r v 
i\ glutinógeno 
R o 
Rl 
R2 
R z 
r 
v 
Especificidades (fato res) 
Rh0 • hr', h r" 
Rh
0
, rh', hr" 
R\. hr'. rh" 
Rh
0
, rh'. rh" 
hr·, hr" 
rh·. hr" 
hr', rh" 
t'h', rh" 
Como sabemos, herdamos um par de genes ale los dos nossos progenito-
res e, assim, o fenótipo de cada indi\íduo é representado, na terminologia 
Rh (\\'iener), de acordo com a combinação dos genes herdados dos pais: 
R1R1, R1K, R2t; rr etc. 
Atualmente, estudos comprovaram que ambas as teorias estão incorre-
tas, mas permaneceram as nomenclaturas. Sabe-se que na realidade dois 
genes, RHD e RHCE (e alelos) são os responsáveis pela formação das pro-
teínas RhD e RhCE (ce) , conforme sugerido na teoria desenvolvida por Pa-
tdcia Tippett em 1986. 
51' L'' L\ R h (ISBT 00-1) 113 
Variantes fenotípicas do antígeno D 
O antígeno O pode variar de expressão fenotípica, devido a alterações 
qualitativas/quantitativas, a saber: 
114 
• O normal: o antígeno O é um mosaico de subunidades (ou ep[topos). 
O indivfduo D normal possui todos os epítopos, previstos inicial-
mente como nove. Estudos atuais demonstram que esse número é 
superior a 30 epítopos diferentes. 
• O fraco: antigamente designado por Du, definia as hemácias que 
reagiam somente com o soro anti-O em fase de antiglobulina. Atual-
mente, a determinação sorológica do D fraco dependerá da qualida-
de do reagente e da técnica empregada. Trata-se de variação 
quantitativa produzida por variação qualitativa do antígeno O. A 
menor expressão da proteína RhD na membrana eritrocitária se deve 
a alterações qualitativas na sua porção intramembranar (não é reco-
nhecida pelos anticorpos) (Figura 5, capítulo 4, p. 78). Indivfduos com 
esse fenótipo não produzem anti-D caso recebam transfusão de 
hemácias O normal. Estima-se que a freqüência de D fraco na popu-
lação seja inferior a l a;o, sendo mais comum em negros. 
• O parciais: são caracterizados pela ausência de um ou mais epítopos do 
antígeno O, que foram substituídos por epítopos da proteína CcEe. 
Essas trocas foram promovidas por mutações de ponto missense ou 
rearranjos gênicos entre genes RHD e RHCE, alterando qualitativa-
mente a proteína RhD na porção extracelular. Também denominados 
D categon"a. Sorologicamente, nas práticas de rotina, são de difícil cüs-
tinção, podendo ser detectados por anti-soros monoclonais; algumas 
categorias são identificadas como D fraco ou, como no caso do om, 
apresentam-se sorologicamente normal; em alguns casos (indivfduos 
previamente transfundidos ou gestações e/ou abortos prévios), pode-
mos encontrar no soro anticorpo irregular anti-O. Algumas categorias 
já determinadas molecularmente: O I. u. w Jv \. \l vn, OtvlH, OHR, OFR, 
OCS, entre outros. Veja a tabela a seguir demonstrando a diferença 
dos O categorias de acordo com os nove epítopos mais imunogênicos: 
CArrcoRIAs DE .~'\TiGE!'<OS D (m · D P.~RCL~IS) 
Categorias Epftopos presentes 
epDl epD2 epD3 epD-± epDS epD6 epD7 epD8 epD9 
11 + + + + + + + 
m a + + + +- + ... + + + 
lllc + + ... + + + + + + 
IV a (Go' ) + + + + + 
!Vb + + + + 
V a (0") + + + + + + + 
VI + + + 
VII (far) + + + + + + + + 
DFR + + + 
Fonte: L. Melo & J. A. Santos. op. cit. 
Considerações 
O limite para diferenciação entre antígenos D fraco e parciaL depen-
dendo de sua categoria, é muito tênue, e existem autores que questionam se 
os indivíduos O fraco poderiam formar anti-O e se esses antígenos O fra-
cos poderiam realmente imunizar indivíduos O normais.2 
SIGNIFICADO CLÍNICO 
Os indivíduos que expressam o antígeno O fraco são fenotipicamente 
Rh positivos. 
Transfusionalmente. a conduta ainda é controversa, mas geralmente: 
• Doadores D fraco: devem ser considerados Rh positivos, pois podem 
sensibilizar receptor para anti-O, ou mesmo reagir com anti-O pre-
viamente formado. 
• Receptores D fraco: a regra para se evitar imunizações transfusionais 
ou feto-maternas de indivíduos o parciais fra cos (ex.: on) é: 
P. Y. Penncc. Re1·ista Brasileú-a de Hematologia Hemoterapia. n- 22. 2000. pp. 2-l.J-2-!5. 
115 
transfundir sangue D negativo em indivíduo D fraco e fazer preven-
ção de imunização de mãe O fraco com imunoglobujjnas anti-Rh (ex.: 
RhoGam). 
Anticorpos Rh 
Clinicamente significativos. reagem otimamente a 37 oc e fase de 
antiglobulina humana. Quase todos resultam de aloimunização por trans-
fusão ou gravidez, pertencendo geralmente à classe IgG. 
O antígeno D é altamente imunogênico. e uma vez formado o anti-D. 
este persiste por muitos anos. 
A maioria dos casos de DHPN é devida ao antígeno D. 
Auto-anticorpos também poderão ser formados, geralmente de 
especificidade anti-e, seguido de anti-c, anti-E. anti-Canti-D. 
A reatividade dos anticorpos pode ser exacerbada em testes de pesquisa 
e identificação de anticorpos irregulares, quando utilizamos hemácias tra-
tadas com enzimas proteolíticas. como papaína. ficina e bromelina. 
116 
Outros sisten1as 
de grupos 
.. , 
sangu1neos 
de in1portância 
transfusional 
Introdução 
Antígenos eritrocitários são estruturas membranares, herdados geneti-
camente e são definidos por seqüências de aminoácidos específicas (antígenos 
protéicos) ou por carboidratos ligados a essas proteínas ou lipídios. 
Como já vimos anteriormente, antígenos protéicos são produtos diretos 
dos genes que os codificaram. Ex. : antígenos do sistema Rh. 
Antígenos carboidratos são produtos secundários de genes produtores 
de glicosiltransferases, que transportam carboidratos para estruturas pre-
cursoras da membrana do glóbulo vermelho. Ex.: antígenos ABO. 
As proteínas carreadoras de antígenos de grupos sangüíneos desempe-
nham papéis importantes na morfologia (proteínas estruturais) e fisiologia 
do glóbulo vermelho, como recepção e transporte de substâncias através da 
membrana celular, entre outros. Além disso, já se conhecem características 
como susceptibilidade ou resistência a determinadas doenças, na presença 
e/ou ausência de certos antígenos de grupos sangüíneos. Ex. : antígenos Duffy 
e resistência à malária, como será explicado a seguir. 
Relembrando alguns conceitos fundamentais 
• Antígeno: estrutura presente na membrana eritrocitária capaz de pro-
duzir um anticorpo específico, quando apresentado ao sistema imuno-
Ü t ·m(1o SbTI.\l-\5 DL GRU'l1S 5A'\Gl 1'\EOS DL 1\lfORTi..'\Cl\ TR-1.'\'R "<10'\.\l 119 
lógico de indivíduos que não apresentem o mesmo antígeno. O anti-
corpo produzido é capaz de se ligar ao antígeno e ser detectado por 
testes imunológicos. 
• Fenótipo eritrocitário: descreve quais antígenos estão presentes na 
membrana eritrocitária estudada. a partir de anticorpos específicos 
(testes sorológicos). 
• Genótipo: descreve o conjunto de genes presentes em um indivíduo. 
• Lembre-se: o estudo sorológico dos eritrócitos permite unicamente a 
determinação do fenótipo e jamais do genótipo. que somente poderá 
ser determinado por investigação familiar ou análise do DNA. 
O que são os sistemas de grupos sangüíneos? 
Incluem os antígenos produzidos a partir de genes ale los de mesmo locus 
gênico, ou por um complexo de dois ou mais genes homólogos inhmamen-
te ligados sem que ocorra recombinação entre eles. 1 
Genes alternativos em mesmo locus são denominados ale los. Os antígenos 
produzidos por alelos são antitéticos, um ao outro. Portanto. os termos 
homozigose e heterozigose aplicam-se a genes e não a antígenos. 
Ex.: é incorreto di_zer: hemácia homozigota para antígeno l\1 (devido ao 
fenótipo ~I+N-). O correto é dizer: hemácia de indivíduo homozigoto para 
o gene .\ f. 
Terminologia 
Normalmente observamos o uso incorreto das terminologias utilizadas 
para indicar antígenos, anticorpos, genes e suas abreviações. 
Na tabela a seguir, damos alguns exemplos das designações corretas e 
incorretas: 
120 
P D. lssit & D. j. :\nstee . . -1pplicd Blood Group Serologv (-l ed. Durham: \lontgomcry 
Scientif. 1909). 
T~BELA 1 . T ER.\ I L'\OLOCI.~S CORRET.\5 E I'\CORRIT.-\5 
Designação dos termos Correta 
Fenó tipos ABO e Rh (D) ABRh +: BRh-
Fenótipos :vt::-\5 l\ 1-i\:-
Antígeno K 
/\n ti corpo Anti-K 
Fenótipo sistema Kell K-k-tKp(a-b+) 
Fenótipo Lewis Lc(a-) 
i\ ntígenos jk": jk" 
Incorreta 
AB+: B- (designa ausencia do antígeno B): 
ABposi tivo; Bnegatim 
i\ 1.'\'1 (supõe gmó tipo): Mf+) 
Kell (nome do sistema) 
z\ nti K: Anti -Kdl; kell (sem a designação 
para an ticorpo) 
K-b -Kpa-Kpb+: Kncgativo kpositivo; 
K(-)k(+J etc. 
Lea~: Lc' +: Leapositi\·o; Lewis a T; Lea(+) 
JKa: JKb: JK': )Kb 
Fonte: /\ daptado de P D. lssi t & D. J ;\n stee. op. cit .. p. 8. 
Nomenclatura ISBT 
Na tentativa de padronização da nomenclatura. a Sociedade Internacio-
nal de Transfusão Sangüínea (ISBT) criou. em 1980, um grupo de trabalho 
(Working Party on Terminology of Red Cells Surface Antigens), que estu-
dou uma forma numérica que pode ser expressa mais facilmente em meios 
eletrônicos. como computadores. 
Tentaremos. simplificadamente. esclarecer alguns pontos principais desse 
trabalho. 
T >JlEL-\ 2. N ,)I\.IL'\Q-\TI.R-\ DOS -"-''<TiCE'\05 ERITROOT.-\RJ05 
Sistema Antígenos Fenótipos 
i\BO ;\ A A' B A A. A_ B 
Rh D C E c e D C E c e D+ C+ E- c+ e+ 
Ml'\S lvl N s 5 ]\ 1 :-.: s 5 M + N+ S- s• 
p P' P, 
Lcwis Le !e Le' Le' Le(a+) Le(a- b+) 
Kcll K k Kp' js' K k Kp' Js' K- k+ Kp{a+) js(a-) 
Kcll K' K' K·; Kl K2 K3 K -1 , 2, -3 
Scianna Sc1 Se' Se Scl Sc2 Se: -1 . -2. -3 
Kidd Jk' Jk" Jk' )k' Jk" Jk3 Jk(a+) jk(a+b+) Jk: 3 
Fonte: M . G. Aravechia, 'Nomenclatu ra !SBT . Cu rso de aperfeiçoamento em imune-hematologia 
eritrocitária. Centro de Educação em Saúde do SENAC de São Pau lo, 2000. 
121 
Atualmente existem 250 antígenos, agrupados em 25 sistemas de grupos 
sangüíneos, além de cinco coleções e dezesseis séries. 2 
122 
• Sistema numérico que utiliza seis dígitos, sendo os três primeiros 
designados para o sistema , coleções ou séries, e os três últimos para 
a especificidade dos antígenos. 
Ex.: antígeno B (002) do sistema ABO (001). Portanto: 001002. 
Coleções: especificidades que até o momento não foram relacio-
nadas a qualquer sistema já estabelecido devido a dados insufi-
cientes. 
Séries: congregam antígenos de baixa (série 700) ou alta freqüên-
cia (série 900), que ainda não foram definidos ou excluídos dos 
sistemas já estabelecidos. 
• A ordem numérica foi estabelecida levando-se em conta a ordem cro-
nológica das identificações. 
No exemplo acima, os antígenos do sistema ABO foram os primei-
ros a ser descobertos. Portanto, sistema 001. 
• Designação dos genes ou loci gênicos: escritos em letras maiúsculas e 
itálicas, ou na inexistência desse recurso, sublinhados. Ex.: ABO ou ABO. 
• Os antígenos devem ser escritos em fonte regular. Os números ou 
letras adicionais deverão ser geralmente sobrescritas para genes e subs-
critas para antígenos. Ex.: antígeno A
1 
produzido pelo gene A 1. Existem 
exceções como Colton: genes Co" e Cob e antígenos Co• e Cob. 
• Designação de fenótipos: 
símbolo seguido por dois pontos; 
números de cada especificidade, com separação por vírgulas; 
sinal de menos precede o numeral, quando o antígeno não está 
expresso. 
Fenótipo Rh ISBT 
DCce RH: 1. 2, -3. 4, 5 
0-C -E-c---e~ ccee r r RH: -1 , -2. -3, -l, 5 
Segundo dados da ISBT. 2000. 
FL-:--.D.o\.\.IE.'.TOS D.-1 l~llr:-10-HE.\Lo\TOLOGIA ERITROCITARIA 
• Alelos ou haplótipos: 
símbolo do sistema em itálico: 
espaço ou asterisco; 
números separados por vírgulas ou especificidades; 
gene amorfo ou null representado por zero. 
C De R' RH I, 2, 5 
c de r RH4, 5 
• Restam ainda definir: 
a classificação de determinantes eritrocitários definidos por 
crioaglutininas; 
a numeração dos diversos epítopos do antígeno RHl (0), e ou-
tras especificidades antigênicas complexas, particularmente do 
sistema M S. 
Outros sistemas de grupos sangüíneos de 
importância transfusional 
Muita coisa poderia ser dita sobre os sistemas de grupos sangüíneos. Mas 
procuraremos aqui falar sobre os sistemas mais importantes na prática 
transfusional, e de suas características fundamentais, procurando nos ater 
somente aos antígenos e anticorpos de maior importância dentro de cada um. 
S ISTEMA KELL (006) 
• Símbolo do sistema: KEL 
• Nome do gene: KEL 
• Classificação ISBT 006 
• Número de antígenos associados: foram descritos até o momento 23 
antígenos associados a esse sistema.3 
G. Daniels et al., "ISBT Working Partv Oslo Repor(, em Vox Sanguinis, í 7 (1). 1999. 
Ü L TROS s= L-15 DE GRLPOS SA:\GliXEOS DE L\ !PORT ÀX(l\ TRAXSR 'SIOX,'\L 123 
• Sistema associado: XK 
• Símbolo: XK 
• Classificação ISBT: 019 (antigo KEL15) 
• Composto por um único antígeno Kx (XK1) 
• Localização cromossômica: 
O gene KELestá no cromossomo 7q33. Controla conjuntos de 
antígenos antitéticos, sendo os mais importantes K(Kl)/k(K2) . Kp• 
(K3)/Kp b (K.±)/Kp' (21) e Js•(K6)/Jsb(K7). 
O gene /'(K está no cromossomo Xp21.1-Xp21.2, e codifica proteí-
na XK, com único antígeno Kx(XKl). 
Histórico: primeiro a ser descoberto por meio do teste de antiglobulina 
humana, pela demonstração do anticorpo anti-K (K1), em caso de doença 
hemolítica perinatal (DHPN) . 
Bases moleculares: sistema polimórfico, onde existem variações impor-
tantes na expressão dos antígenos. Esses polimorfismos estão associados a 
mutações de ponto que levam à substituição de aminoácidos na proteína. 
T \BEL\3. B.-\SE5 \IOLEO.L\RES Dl" 1\.!Ll\IORRS\IOS KELL 
Pos. Kl K2 K3 K4 K21 K6 K7 
a.a. (K) (k.) (Kp' ) (Kpb) (Kp<) (Js' ) (J sb) 
193 Metionina Treonina 
281 Triptofano /\rginina Glutamina 
597 Prol i na Lcucina 
Os antígenos estão localizados em uma glicoproteína -glicosilada (tipo 
ID de 93 kDa, produtos de um único gene, KEL, que contém 19 éxons, e que 
interage com a proteína XK. A ausência de XK resulta na síndrome McLeod 
e numa fraca expressão dos antígenos Kell. (Figura 1) 
Funções fisiológicas: a glicoproteína Kell pertence à subfamíli a das 
endopeptidaes zinco-dependentes. cuja principal função é ativação de 
peptídeos bioativos por clivagem enzimática. A função de XK ainda não é 
conhecida, mas parece estar ligada a mecanismos de transporte na membra-
124 
fiGL'RA 1 . REffiEsE.'\T-\ÇÃO ESQL"E.\l-\TIC-\ D.-\ 
PROTEL--:.-\ Kru.. 
na. Semelhantes estruturalmente ao antígeno CALLA ou COlO (leucemia 
linfóide aguda) presente em leucócitos. 
D istribuição/freqüencia dos antígenos: antígenos Kell estão presentes 
nos eritrócitos em bai..xa densidade (aproximadamente 3 mil sítios). Estão 
bem desenvolvidos ao nascimento e parecem estar presentes em alguns 
tecidos como cérebro, órgãos linfóides. coração e músculos esqueléticos. 
T.ABEL-\: -!. FREQlí:\o . .-. oos FE:\:OTIPOS Km 
K-k+Kp(a-b+)js(a-b+) sx:Po 
K +k+Kp(a-b+)js(a-b+) 
K +k-Kp(a-b+)js(a-b+) 
K-k+Kp(a+b+)js(a-b+) 
Outros raros 
Fonte: J. A. Santos. Curso de atualização em imuno-hematologia eritrocitária. Centro de 
Educação em Saúde do SENAC de São Paulo/DiaMed, 1998. 
Imunogenicidade: antígeno K (Kl) é três vezes mais imunogênico que c e 
E; vinte vezes mais imunogênico que os demais antígenos; mas seis vezes 
menos imunogênico que D. 
125 
A probabilidade de sensibilização após transfusão de uma unidade de 
sangue K + é de aproximadamente 10%.4 
Fenótipos raros: Ko/Kell null, provável gene silencioso no focus KEL; 
indivíduos não apresentam nenhum antígeno do sistema Kell nos eritrócitos. 
Antígeno Ku: presente em todas as hemácias, exceto Ko. 
TABELA 5. Ü lfTROS ANlÍGE'\105 DO SISTIMA Kru. 
Ku UI a Kn 
K12 K13 K14 
K16 K17 K18 
K19 Km K22 
IW K24 VLAN 
TOU Kpc 
Associação a doenças: síndrome McLeod, por deleção do gene XK. He-
rança ligada ao sexo, ocorrendo somente em homens. A síndrome inclui 
depressão dos antígenos Kell, acantocitose, anemia hemolítica, anormalida-
de do sistema nemomuscular, cardiomiopatia, com elevação nos níveis da 
enzima creatina fosfoquinase, pode estar associado à doença granulomatosa 
crônica. 
Características sorológicas importantes: os antígenos do sistema Kell 
são inativados por tratamento com reagentes thiol, como DTl 2-ME, AET 
e ZZAP. 
Antícorpos do sístema Kell 
Significado clínico: clinicamente significativos, podendo ocasionar rea-
ções transfusionais e DHPN. 
Ao contrário do anti-O, a concentração dos anticorpos não se relacio-
nam com a severidade da DHPN, e portanto é importante a genotipagem 
do feto para se avaliar o risco gestacional.5 
126 
J. O. Bordin & G. J. Moreira. "Sistemas Kell e Kx". em STD. Belo Horizonte. 1996. 
L. M. Castilho, "Aspectos da biologia molecular aplicados à imuno-hematologia". Curso de 
aperfeiçoamento em biologia molecular. Centro de Educação em Saúde do SE:\P1.C de São 
Paulo, 2001. 
Caso seja identificado anticorpo contra antígenos do sistema KEL, deve-
se fenotipar bolsa para o antígeno. Recomenda-se, também, que indivíduos 
em regime de transfusão crônica recebam unidades negativas para K (Kl), 
para evitar sensibilização. 
Comportamento sorológico: o anti-K, como os demais anticorpos do 
sistema Kell, é geralmente de classe IgG, reativo em fase AGH, e pode ser 
potente e ocasionar reações hemolíticas graves imediatas ou tardias, assim 
como DHPN grave. 
O anti-K pode reagir salinicamente e não reagir bem em alguns meios 
de baixa força iônica (USS); 20% dos anti-K ativam complemento. Tratamento 
do soro com enzimas proteolíticas não altera padrão de reatividade dos 
anticorpos. 
Outros anticorpos: 
• anti-k, -Kpb, -Jsb são raramente encontrados, pois os antígenos são de 
alta freqüência. Todos os casos de anti-Jsb foram relatados em ne-
gros; 
• anti-Kpa, -Jsa também são raros, pois antígenos são de baixa freqüên-
cia. Estão comumente associados a outros anticorpos; 
• anti-Ku: encontrado nos raros indivíduos de fenótipo K
0
. Provocam 
reação hemolítica grave e DHPN; 
• anti-Kx: encontrados em indivíduos com o fenótipo McLeod. Reage 
fortemente com hemácias K
0
. 
SISTEMA DUFFY (008) 
• Símbolo do sistema: FY 
• Nome do gene: FY 
• Classificação ISBT: 008 
• Número de antígenos associados: o sistema Duffy é composto por 
seis antígenos: Fy", Fyh, Fy3, Fy4, Fy5 e Fy6. 
• Localização cromossômica: o locus Duffy está no cromossomo 1q22-23. 
Histórico: o primeiro caso de anti-Fy" foi descoberto em 1950 por Cutbush 
e colaboradores. 
ÜL TIOS SISTI\ IAS DE GRL1'05 SA 'CGÜ'CEOS DE I\1PORT.Â,CL-I TR·\.,SF\."SJO'.:AL 127 
fiGLRA 2. RI:PRESE.'-IAÇ:\0 
E.~Ql"E.\L~llC~ D:\ PROTIÍ:\:!1 DL:m. 
Bases moleculares: o gene FYpossui dois éxons e um íntron, e codifica 
uma proteína multipasso, com 336/338 aminoácidos, que atravessa a membra-
na eritrocitária sete vezes (Figura 2). Os polimorfismos entre os antígenos 
Fy" e Fyh resultam de uma única substituição de aminoácido (GJy-l-l-7Asp). 
A freqüência fenotípica dos antígenos varia conforme a população estudada. 
T ABELA 6. BriSES :V!OliCUUIRES DOS ,\ :-..'TÍGENOS DO SfSIE\ M D uFFY 
ISBT Nomenclatura Freqüência relativa Bases moleculares 
clássirn R Branca R Negra do polimorfismo 
FYl Fy• Polimórfico Polimórfico Glicina - pos. +1 
FY2 Fyb Polimórfico Polimórf ico Aspartato - pos. -l4 
FY3 Fy3 Alta Polimórfi co 
FY-i Fy4 Polimórfi co Alta 
FY5 FyS Alta Polimórfico 
FY6 F/ Alta Polimórfico 
Obs.: o polimorfismo Fy•/f yb resulta de uma simples substituição de nucleotídios no principal 
'éxon" do gene FY 
Fonte: J. A Sa ntos. curso de atualização em imuno-hematologia eritrocitária. cit. 
Funções fisiológicas : a glicoproteína Duffy é quimiorreceptora nas 
hemácias para diversas substâncias, como quimiocinas (IL-8, Melanoma 
Growth Stimulating Activity Gv!GSA)) e receptora para o Plasmodium vivax 
128 
e Plasmodium knowlesi, sendo essencial para a invasão desses parasitas. 
Portanto, indivíduos Fy (a-b-), fenótipo comumemente encontrado em indi-
víduos negros africanos, são naturalmente resistentes à malária pelos 
plasmódios citados, o que certamente representa uma vantagem evolutiva. 
Distribuição e/ou freqüência dos antígenos: os antígenos Fy" e Fyhsão 
os mais importantes do sistema. Estão presentes em fetos de 6 a 7 semanas. 
Expressam-se em células eritróides e não-eritróides, como células endoteliais, 
epiteliais em vários órgãos como cérebro, rins, baço, coração, pulmão, pân-
creas e placenta; não são detectados em linfócitos, monócitos e plaquetas. 
Ta população caucasiana três fenótipos correntes são definidos: 
Fy(a+b-), Fy(a-b-"-) e Fy(a+b+). 
Fenótipos raros: a presença simultânea das mutações 265(> Te 298G> A 
estão associadas ao surgimento de um fenótipo conhecido como Fyx, em 
caucasianos. 
O fenótipo Fy(a-b-) em caucasianos é produto de um gene alelo silen-
cioso FY em indivíduos dos genótipos Fy' Fy e Fy'Fy' . 
Em africanos, o mesmo fenótipo Fy(a-b-) é produto de uma mutaçãode 
ponto na região promotora GATA-1(-33T>C) do gene Duffy, que leva a uma 
ausência de expressão do antígeno nas hemácias, mas não em outros tecidos. 
Isso explica por que indivíduos com esse fenótipo não desenvolvem anticorpos 
anti-Fy3. Esse fenótipo é muito raro entre caucasianos, mas comum na popu-
lação negra. com freqüência girando em torno de 60°o a 100°o. 
O antígeno Fy6 foi definido por um anticorpo monoclonal murino, de 
classe IgGl. É semelhante ao Fy3, mas com a diferença de ser sensível ao 
tratamento enzimático. As evidências sugerem que o Fy6 é necessário para 
a penetração do merozoíta P vivax no eritrócito. 
T A BELA 7 . fREQ CE'\CI.AS FE'\OTiP!C\5 DO SISTI!\IA D UFFY 
Fenótipos Duffy na raça branca 
Raça branca Anti-Fy' Anti-Fy" Anti-Fy3 Anti-Fy5 Freqüência 
Fy (a+b-) + + + 19,5% 
Fy (a-b+) + + + 33,a=io 
Fy (a+b+) + + + + 47,5% 
Fy (a-b-) + Raro 
129 
Fenótipos Duffy na raça negra 
Raça negra Anti-Fy' Anti-Fyh A nti-Fy3 A nti-Fy5 Freqüência 
Fy (a+b-) + + + 20.0"-6 
Fy (a-b+) + + + 10,0% 
Fy (a+b+) + + + + 2,0";6 
Fy (a-b-) 68.0"!6 
Obs.: hemácias de fenó tipo Rhnun apresentam reaçoes negativas contra ant i-Fy5. mesmo não 
sendo Fy(a-b-). 
Fonte: J. A. Santos. Curso de atualização em imuno-hematologia eritrocitária. cit. 
Imunogenicidade: os antígenos Fy• e fy b são moderadamente 
imunogênicos. O antígeno Fy" é 40 vezes menos imunogênico que K (Kl). 
Associação a doenças: ainda não conhecida. 
Características sorológicas importantes: enzimas proteolíticas como 
ficina, papaína e bromelina destroem os antígenos Fy", Fyb e F f. A tripsina 
não destrói Fy" e Fyb e ainda intensifica a reatividade de Fyõ. 
Anticorpos Duffy 
Significado clínico: são geralmente classe IgG e clinicamente significa-
tivos, podendo fixar complemento. 
Comportamento sorológico: apresentam efeito de dose (reagem melhor 
quando testados com hemácias de indivíduos homozigotos para o gene em 
questão). Como alguns dos antígenos desse sistema (Fy". Fyb e Ff) geral-
mente são destruídos por ação de enzimas proteolíticas, os anticorpos não 
reagirão com hemácias de painel tratados enzimaticamente, podendo cons-
tituir um grande auxílio na identificação de anticorpos irregulares. 
130 
Freqüência: 
• O anti-Fy" é relativamente comum. Pode causar DHPN moderada e 
reações transfusionais agudas e tardias. É raro em negros. Anti- Fy• 
é três vezes menos freqüente que anti-K(Kl). Anti-Fyb é vinte vezes 
menos freqüente que anti-Fy". 
• O anti-Fyb é incomum e geralmente associado a outros anticorpos. 
Outros anticorpos: 
• Anti-Fy3 pode ser formado em indivíduos brancos, com fenótipo 
Fy(a-b-), geralmente politransfundidos. É raro em negros. Age como 
se fosse uma mistura de anti-Fy" e anti-Fyh, não sendo, porém, sepa-
rado por procedimentos de adsorção e eluição. É resistente ao trata-
mento enzimático, reage com todas as hemácias que possuam Fy 
e/ou Fyh e não reage com hemácias Fy(a-b-). 
• O anti-Fy4 reage com células Fy(a-b-). com algumas Fy(a+b-) e 
Fy(a-b+) de negros, mas nunca com células Fy(a+b+). 
• O anti-Fy5 é semelhante ao anti-Fy3, diferenciando-se deste pelo 
fato de apresentar reações negativas com células Rhnull e com as célu-
las Fy(a-b-) de caucasianos. 
SISTEMA KIDD (009) 
• Símbolo do sistema: JK 
Tome do gene: JK ou SLCI4AI 
• Classificação ISBT: 009 
• Número de antígenos associados: o sistema Kidd é composto por 
três antígenos: Jka. Jkb, Jkc. 
• Localização cromossômjca: o locus Kidd está no cromossomo 18q12-
q21. 
Histórico: os antígenos deste sistema foram descritos entre os anos de 
1951 e 1953. 
Bases moleculares: o gene JK ou SLC14Al é composto por 11 éxons e 30 
kb. Os éxons -l-11 codificam uma glicoproteína multipasso de 391 
aminoácidos, que atravessa dez vezes a membrana do eritrócito. (Figura 3) 
FiGURA 3. REPREsENTAÇÃO ESQUEtvtÁllCA DA PROTEÍNA KIDD. 
ÜL IROS SISTE\L-\.., DE CRLT\.15 5:\.:\(,l T\"EOS DE L\lF\)RT \.'\Q~ :R\.'\'::>f1.SI()~."\L 131 
T ABEL~ 8 . B:\ SES i'v!OLECUL~RES :-:o SISTElVL'\ KIDo 
ISBT Nomenclatura Freqüência Bases moleculares 
clássica relativa do polimorfismo 
JKl Jk' Polimórfico Aspartato - pos. 280 
JK2 Jk" Polimórfico Aspargina - pos. 280 
JK3 Jk3 A lta 
Fonte: J. A. Santos. Curso de atualização em imuno-hematologia eritrocitária , cit. 
Funções fisiológicas: a proteína é integral e tem função de transporte de 
uréia. preservando a establlidade osmótica e a deformabilidade do eritrócito. 
Distribuição e freqüência dos antígenos: os antígenos Jk• e Jkb estão bem 
desenvolvidos ao nascimento (são detectados em torno da 7ª a 11 ª semanas 
de gestação) , e podem ser encontrados, além de eritrócitos, em células 
endoteliais de rim. Não foram detectados em outros tecidos, linfócitos, 
monócitos ou plaquetas. Existem três alelos, sendo dois deles co-dominan-
tes, responsáveis pela produção dos antígenos Jk• e Jkh, e outro aparente-
mente silencioso (jK), que leva à formação do fenótipo nulo Jk(a-b-). Os 
principais fenótipos Kidd são Jk(a+b-), Jk(a-b+) e Jk(a+b+). 
T.'\BEL'\ 9. FREQUÉNO AS FEP:OTÍPICAS oo SISTEMA KIDo 
Fenótipos Reações com antisoros Genótipos Freqüência em 
Anti-Jk" Anti-Jk.b caucasianos 
Jk (a+b-) + Jk'Jk' (jk) 28,Cf'JJ 
Jk (a-b+) + JkbJkb(Jk) 22.Ci% 
Jk (a+b+) + + ]k')P SO,Cf'lá 
Jk (a-b-) JkJk Raro 
Fonte: J- A. Santos. Curso de atualização em imuno-hematologia eritrocitária, cit. 
Imunogenicidade: apesar da moderada imunogenicidade dos antígenos, 
os anticorpos Kidd (anti-Jk• e anti-Jkb) estão envolvidos em severas reações 
hemolíticas imediatas e tardias, em politransfundidos, e podem ocasionar 
DHP não-severas. 
Fenótipos raros: como já dissemos, Jk(a-b-) é raro, originado de gene 
silencioso JK em homozigose, ou de gene inibidor In(JK), não herdado no 
132 FL:-.-D.-\.\!E\T05 D.~ L\ll-:\0-fiDHTOLOG!A ER!lROOTARL'\ 
mesmo locus Kidd e transmitido de maneira dominante. Apesar de esse 
fenótipo ser raro, é mais comumente encontrado em orientais, e ocasiona 
formação de anticorpo anti -Jk3, que reage com hemácias Jk(a+) e/ou Jk(b+). 
Associação com doenças: indivíduos de fenótipos null Jk(a-b-) que não 
expressam a proteína nos eritrócitos apresentam resistência destes à lise 
em solução aquosa de uréia 2M e são incapazes de concentrar maximamen-
te a urina . 
Características sorológicas importantes: os antígenos Jka, Jkb e Jkc são 
resistentes ao tratamento enzimático (enzimas proteolíticas). Hemácias 
Jk(a-b-) são resistentes à lise celular por uréia 2M. 
Anticorpos Kidd 
Significado clínico: os anticorpos Kidd são geralmente IgG (eventual-
mente misturas de IgG e IgM) e fixam complemento. Os antígenos Kidd 
são de difícil acesso aos anticorpos, pois a alça da proteína que não contém 
o polimorfismo é que se expressa melhor (maislonga) .0 Anticorpos anti-Jk• 
e anti-Jkb estão implicados em reações pós-transfusionais graves e alguns 
casos de DHPN. O anti-Jk" é o mais perigoso dos anticorpos imunes, oca-
sionando muitas vezes reações fatais. O anti -Jkb é mais raro que o anti-Jka e 
tem sido usualmente encontrado em soro de pacientes que possuem outros 
anticorpos irregulares. Diversos casos foram relatados de anemias 
hemolíticas auto-imunes por anti-Jk", sendo alguns relacionados ao uso de 
metildopa. 
Comportamento sorológico: as reações entre os antígenos Kidd e os 
anticorpos são fracas, com efeito de dose, e de difícil detecção, sendo o 
teste de antiglobulina poliespecífica a melhor prova de rotina. O uso de 
enzimas e hemácias de indivíduos homozigotos para o gene em questão 
pode melhorar sua identificação. O título desses anticorpos decresce rapi-
damente, sendo indicado o uso de amostras recém-colhidas. 
0 Por serem de difícil detecção, os anticorpos Kidd muitas vezes podem passar despercebidos 
em testes pré-transfusionais, ocasionando resposta anamnéstica, com reação transfusional 
hemolítica do tipo tardia. Portanto, recomenda-se verificar os registros anteriores dos pacien-
tes. Fenotipar bolsa em caso de identificação positiva. 
133 
Sistema Lewis (007)• Símbolo do sistema: LE 
orne do gene: FUT3 
• Gene associado: FUT2 (secretor) 
• Classificação ISBT: 007 
• Número de antígenos associados: o sistema Lewis é composto por 
seis antígenos: Le, Leb, Leb, LebH, ALeb, BLeb. 
• Localização cromossômica: o locus Lewis (FUTJ) está no cromossomo 
19p-13.3, ligado ao locus C3 (complemento). 
A expressão fenotípica dos antígenos Lewis depende do gene Lev.,ris e do 
gene secretor (FUT2) , que são herdados independentemente. 
Aspectos bioquímicas e bases moleculares: os sistemas ABO, H e LE 
são considerados associados, uma vez que seus antígenos são partes de 
moléculas complexas que possuem as especificidades ABO, H e Lewis. Os 
antígenos que compõem esses sistemas estão presentes nos glicolipídeos e 
glicoproteínas membranares de diversos tecidos, além das hemácias, de-
vendo ser considerados antígenos de histocompatibilidade. 
Os genes FUT2 e FUT3 produzem duas enzimas (fucosiltransferases) 
que agem sobre a mesma substância de base, produzindo, respectivamente, 
os antígenos Le e H cuja interação produz a especificidade Leb. 
Distribuição e freqüência dos antígenos: os antígenos Lewis diferem dos 
demais por serem adsorvidos secundariamente às hemácias. São marcadores 
tissulares, formando um sistema de antígenos solúveis no plasma e na saliva. 
Esses antígenos são sintetizados pelas células epiteliais e mesodérmicas, sen-
do adsorvidos pelas hemácias a partir do plasma. Antígenos Lewis já foram 
identificados em linfócitos e plaquetas. Apesar de serem produzidos durante 
a vida fetal, ao nascimento a expressão dos antígenos nas hemácias é míni-
ma. e a maioria dos RN apresenta fenotipagem eritrocitária Le(a-b-). Por vol-
ta dos 2 meses de idade começa a produção do antígeno Le" e, aos 6 anos de 
idade, a expressão do antígeno Leb alcança os níveis encontrados em adultos. 
A enzima fucosiltransferase adiciona uma fucose ao antígeno H em secreções 
para produzir o antígeno Leb, ou se o antígeno H não estiver presente (em 
indivíduos não-secretores) , adiciona fucose ao precursor do antígeno H for-
mando antígeno Le". Portanto, a maioria dos indivíduos H secretores apresen-
134 FL'-.D.\.\!L'\~05 :H CI!L".;(>-J-'.L\L·\TOKlGL\ ERITRClOT.-\R!A 
ta o fenótipo Le(a-b+) e os não-secretores Le(a+b-). Além dos antígenos Le e 
Leb, temos Le"b, LebH, ALe0, BLe". 
Os indivíduos de fenótipo A
1 
possuem menor quantidade de antí-
genos Lewis que A
2
, que, por sua vez, possuem menor quantidade que os 
indivíduos O. Isso reflete a competitividade das enzimas ABO e Lewis pela 
substância precursora. 
Relembrando a biossíntese dos antígenos ABO, H e Lewis solúveis: 
• As glicoproteínas dos líquidos biológicos, como saliva, por exemplo, 
constituem a melhor maneira de análise dessas substâncias. 
• Glicosiltransferases específicas são produzidas a partir dos genes 
dos sistemas ABO, H e LE. 
• Genes alelos conhecidos como secretores (FUT2) não são ativos nos 
eritroblastos. Apesar disso, indivíduos não-secretores podem apre-
sentar os antígenos ABO e H nas hemácias. 
· O gene secretor (FUT2) é responsável pela formação de uma enzima 
2-alfa-fucosiltransferase, que adicionará uma fucose à substância pre-
cursora, produzindo o antígeno H solúvel (que é imprescindível tam-
bém para a formação dos antígenos A e B nas células secretoras). 
Essa enzima é ativa sobre cadeias precursoras dos tipos 1 e 2. 
• Os indivíduos sese são chamados ''não-secretores". O gene secretor 
não afeta a formação de antígenos ABO e H nos eritroblastos. Indi-
víduos não-secretores terão expressão normal dos antígenos ABO e 
H nos eritrócitos. 
• Cerca de 80% da população caucasóide é constituída de indivíduos 
secretores. 
• O gene secretor é também importante na formação dos fenótipos 
Lewis. 
Esquema da biossíntese das substâncias solúveis 
• As células da mucosa salivar produzem substâncias precursoras dos 
tipos 1 e 2, e as do tipo 1 apresentam ligação do tipo 1-3 entre a 
Cal p e a GlcNac, e, por isso, apresentam ligação livre no carbono 4 
da GlcNac. 
135 
O gene Lewis (RI JJ) produz uma enzima do tipo -1-alfa-fucosil-
transferase. Esta ligará uma fucose nesse carbono -1: livre, produzindo 
o antígeno Lea. 
• Pela atividade da enzima produzida pelo gene secretor (FUT2), 2-alfa-
fucosiltransferase, outra fucose é ligada ao carbono 2 da Cal ~ . pro-
duzindo o antígeno H. 
• A especificidade conhecida como antígeno Leb é, na verdade, a 
interação dessas duas especificidades (Le"+H), nos indivíduos LeSe. 
• As enzimas A e B produzirão, então, os fenótipos ABO da mesma 
maneira que nos eritroblastos. 
Características sorológicas: a melhor maneira de determinarmos a pre-
sença das glicoproteínas ABO, H e Lewis é a pesquisa em saliva. Os 
antígenos Lewis devem ser pesquisados em amostras recentes, já que esses 
podem eluir com o passar do tempo. 
T ABEL'\ 10. D ETERl\,IC\.AÇAO GE."\ÉTIC\ DOS"'" liGL'iOS ABO E 1..8 \~S 
Genes herdados Substâncias solúveis Fenótipo eritrocitário 
Le, Se, H, ABO ABO. Le(a-b+) 
!ele, Se, H, ABO A. B. H ABO, Le(a-b-) 
Le, sese, H. ABO le' ABO. Le(a+b-) 
!ele, sese. H. ABO ABO. Le(a-b-) 
Le. Se. hh, ABO Obombay. Le (a-b+) 
Le, sese, hh, ABO L e' Obombay, Le(a+b-) 
*presente em baixíssimas concentrações 
Fonte: L Melo & J. A Santos, "Sistemas ABO. Hh e Lewis", em STD, vol. 4, Belo Horizonte. 1996. 
Anticorpos Lewis 
Significado clínico: são geralmente IgM, que, não atravessando a bar-
reira placentária, não ocasionam DHPN. Além disso, as hemácias fetais 
não apresentam antígenos Lewis. 
Em geral fixam complemento. São normalmente de ocorrência naturaL 
encontrados sobretudo em indivíduos Le(a-b-) e sem atividade a 37 oc (sem 
significado clínico). Se reativos a 37 oc são capazes de fixar complemento e 
causar quadro hemolítico severo. 
136 
Importante: indivíduos com fenótipo Le(a-b-'-) não produzem anti-Le", já 
que alguma quantidade de antígeno Le• pode ser detectada, por não haver 
sido convertida em Leb. 
Comportamento sorológico: reatividade aumentada com hemácias trata-
das por enzimas proteolíticas. Reativos preferencialmente entre 4 oc e 
22 oe, podendo apresentar reatividade a 37 uc e fase de AGH, por efeito 
residual da reação à temperatura ambiente. Recomenda-se preaquecimento 
do teste para determinação de seu significado clínico, e eventualmente tra-
tamento do soro com reagentes thiol (2-ME ou DDT). 
SISTEMA MNS (002) 
• Símbolo do sistema: MNS 
• Nome dos genes: GYPA, GYPB, GYPE 
• Classificação ISBT 002 
• Número de antígenos associados: é o segundo sistema em diversida-
de antigênica, depois do Rh. Sistema complexo de 43 antígenos.7 O 
sistema possui muitos antígenos de baixa freqüência, associados a 
glicoforinas híbridas anormais. resultantes de glicosilações das GPA/B. 
• Localização cromossômica: os antígenos deste sistema são codifica-
dos por dois genes GYPA. e GYPB, altamente homólogos e pela re-
gião 3 'de um terceiro gene homólogo, GYPE, no cromossomo 
4q28-q31. Contêm aproximadamente 350 kb e formam clustergênico 
(5 ' -GYPA-GYPB-GYPE-3'). 
Histórico: os antígenos M e , foram descobertos por Landsteiner, em 
1927. Em 19-17, foi descrito o antígeno S e em 1951, seu antitético s. Em 
1953, foi relatada a existência de um antígeno de alta freqüência denomina-
do U. comum em 100°o da população branca e em 98,5% dos negros. 
Bases moleculares: os antígenos do sistema MNS estão associados às 
sialoglicoproteínas (SGP) da membrana eritrocitária, denominadas 
glicoforina A (GPA) e glicoforina B (GPB), transmembranárias. São 
glicoproteínas presentes em grande quantidade no eritrócito e contêm apro-
ximadamente 50qo de carboidratos. (Figura 4) 
7 G. Damels e/ ai .. "JSBT i \'orking Party Oslo Report" . cit. 
137 
FIGURA 4. RE!'REsE,wAÇÃO 
ESQUEMÁTICA DAS GUCOFORNAS A 
E B (SISTEMA MNS) 
A GPE não é expressa em condições normais; entretanto, o gene GYPE 
participa de rearranjos gênicos, fazendo surgir as formas alélicas variantes. 
A base molecular da formação da maioria dos antígenos dessesistema foi 
determinada devido à substituição de nucleotídeos, perda de éxons ou me-
canismos de recombinação gênica que dão origem a glicoforinas híbridas, 
GPAe GPB. 
• Os antígenos M e N estão localizados na GPA. seqüência de 131 
aminoácidos, e diferem entre si em apenas dois aminoácidos: 
M: serina (pos. 1) e glicina (pos. 5) ; 
: leucina (pos. 1) e ácido glutâmico (pos. 5). 
• Os antígenos S, s e U estão localizados na GPB, que é menor que a 
GPA (72 aminoácidos), e S e s diferem em simples substituição de 
aminoácido na posição 29: 
S: metionina I s: treonina 
Funções fisiológicas: a função das SGP parece ser a de manter as 
hemácias afastadas entre si , participando da cobertura de carboidratos 
(glicocálice) da membrana, e impedindo agregação espontânea dos 
eritrócitos; portanto, são importantes na manutenção do potencial zeta de 
repulsão interglobular. Alguns autores relatam que podem também ser 
138 
receptoras para complemento, citocinas, bactérias, vírus e Plasmodium 
falciparum. 
Distribuição e freqüência dos antígenos: a maioria dos antígenos do sis-
tema M S estão bem desenvolvidos ao nascimento, e parecem ser restritos 
à linhagem eritróide. Envolvidos, portanto, com casos de DHPN. Os 
antígenos podem estar em doses simples ou dupla: MM, T, M , SS, Ss, 
ss. Em negros podemos encontrar o fenótipo 5-s-. Também não apresenta-
rão o antígeno de alta freqüência U, ou sua expressão estará diminuída. 
Fenótipos raros: fenótipo En(a-): são GPA negativos (M-N-). São raros 
também os indivíduos null (Mk.), que não possuem GPA ou GPB. 
Associação com doenças: nenhuma conhecida, pois indivíduos de 
fenótipos En(a-) (GPA-) e Ml-(GPA e B-) apresentam eritrócitos com sobrevida 
normal. 
Características sorológicas: os antígenos M/N e S/s são antitéticos. Pos-
suem efeito de dose, reagindo melhor com hemácias de indivíduos 
homozigotos para o gene em questão. Os antígenos M, , S e s são geral-
mente destruídos com tratamento por enzimas proteolíticas, exceto S, s, N, 
pois são tripsina-resistentes. Às vezes o S não é totalmente destruído pelo 
tratamento com ficina ou papaína. 
T~BEI.A 11. I'RNCJJ'\'\15 GENÓTfPOS E FE:"ÓTfPOS DO SJSTF.vL\ MNS 
Reações com anti-soros Fenótipos Genótipos Freqüência 
caucasianos 
Anti-M Anti-N Anti-S Anti-s 
+ + MS MS/MS 7,3% 
+ + + MSs MS/Ms 16,2% 
+ + Ms Ms/Ms 9,Cf'lo 
+ + + MNS MS/NS 4,Cf'/o 
+ + + + MNSs MS/Ns 19,2% 
+ + + + MNSs Ms/NS 4,5% 
+ + + MNs Ms/Ns 21.3% 
+ + NS NS/NS 0,6% 
+ + + NSs NS/Ns 5,3% 
+ + Ns Ns/Ns 12,6% 
Fonte: J. A. Santos. Curso de atualização em imuno-hematologia eritroci tária, cit. 
139 
Outros antígenos: estão representados na tabela a seguir. 
TABELA 12. ÜLITROS ANTiGE:\05 DO S!STEMJ\ MNS 
Mg H e Mia Me 
MINY Vw Mur V r 
MUT Me Mta Sta 
SAT Ria Cla Nya 
ERIK Hut Hil Mv 
Os a F ar Sd Mit 
ENAV Dantu Hop Nob 
MARS ENKT O r DAI\.TE 
Anticorpos MNS 
Significado clínico: o anti-M é um anticorpo geralmente natural e irre-
gular, que reage melhor a 4 oe, mas podendo reagir fracamente a 37 oc. São 
quase sempre IgM, mas em grande parte apresentam associação IgG + 
IgM. ormalmente não fixam complemento, mas IgM potentes e reativas 
a 37 ac podem causar reações hemolíticas agudas e tardias. Raramente cau-
sam DHPN. De modo geraL o anti-M não é clinicamente significativo, 
tendo pouca importância na transfusão. Sua atividade pode ser potencializada 
pelo uso de albumina ou meio de pH reduzido. 
O anti- apresenta caractedsticas sorológicas semelhantes ao anti-M, 
embora seja mais raro. Geralmente são de ocorrência natural, apresentam 
efeito de dose, e inativos em temperaturas superiores a 25 oc. Uma 
especificidade anti-Nf (ou N-like) pode ser observada em pacientes subme-
tidos à hemodiálise, em aparelhos esterilizados por formaldeído. 
Os anticorpos anti-S, anti-s e anti-U. ao contrário, são clinicamente 
significativos e produzidos por aloimunizações. 
O anti-S pode ser eventualmente de ocorrência natural (IgM). O anti-s 
é um anticorpo mais raro e imune GgG). O anti-Ué extremamente raro, 
imune e capaz de causar hemólise pós-transfusional grave (todas as hemácias 
U negativas sãoS e s negativas). Devemos lembrar que esse fenótipo ocor-
re em indivíduos de raça negra, já transfundidos e/ ou com história 
gestacional, que desenvolvem anticorpo contra antígeno de alta freqüência. 
140 F· '.TI.-1..\ tE' .. T05 D.-\ L\ li" 1-!-if..' l-\TOLOGH ERITROCIT.-\RI.-\ 
Outros anticorpos: anticorpos contra antígenos de baixa freqüência são 
raramente identificados. mas podemos suspeitar quando encontramos DHP 
de leve intensidade ou provas incompatíveis inexplicáveis. 
SISTEMA DIEGO (o 1 o) 
• Símbolo do sistema: DI 
orne do gene: SLC-!A1 
• Classificação ISBT: 010 
• Número de antígenos associados: 21. sendo antígenos de baixa ou alta 
freqüência. 8 Os mais conhecidos são Di"/D( e Wt::/WrJ.'_ 
• Localização cromossômica: os antígenos desse sistema são codifica-
dos por um gene SLC4Al, localizado no cromossomo 17q21-q22, com 
15 éxons. 
Histórico: em 1955, Layrisse et ai. descreveram um caso de DHP cau-
sada por anticorpo contra antígeno de baixa freqüência (anti-Dia). Em 1953, 
Holman descreveu outro antígeno de baixa freqüência. \Vr'. 
Bases moleculares: a Banda 3 (AE1) é uma glicoproteína (N-glicosilada), 
mutipasso (14x) e possui -!03 aminoácidos no domínio N-terminal 
citoplasmático, 479 aa no domínio transmembranar e 29 aa no domínio 
C-terminal citoplasmático. Seu peso molecular é de 100 kDa e apresenta 
cerca de 10° cópias na membrana eritrocitária. (Figura 5) 
FIGURA 5. REFRESEi'ITAÇÃO 
ESQLThiÁT101. DA FROTEÍ~i\ BA.'ill:\3. 
G. Daniels. B/ood Group TcrminolofJ!o·. http: l 1\'Ww.iccbba.com \\·pant1gentables.htm. revisa-
do em setembro de 2CX.l0. 
141 
Os fenótipos Di•jDib resultam de uma mutação de ponto (2561 C>T), 
que provoca uma substituição de aa prolina (Dib) para leucina (Di•) na posi-
ção 854 da proteína. 
Estudos recentes demonstraram que o alelo Di• apresenta mutações, que 
causam novos pontos de polimorfismo na proteína Banda 3, com substitui-
ção de lisina por ácido glutâmico na posição 56, e que foram denominadas 
Memphis e Memphis II. Estudos recentes mostram que 76Do dos índios 
brasileiros apresentam o alelo Di"; 85% apresentavam essa mutação. 
Funções fisiológicas: já se comprovou a dupla função biológica da Ban-
da 3, estando ligada à troca de ânions (HC0
3
- e C!-) e à manutenção da 
integridade celular pela ligação do seu domínio -terminal citoplasmático 
ao citoesqueleto. 
Além disso, parece estar implicada na formação dos antígenos senes-
centes, ou seja, marcadores de hemácias velhas que devem ser retiradas da 
circulação pelos macrófagos do SMF. A exata estrutura desses antígenos 
ainda não está elucidada. 
Parecem também fazer parte do complexo de adesão do parasita da ma-
lária à superfície dos eritrócitos, e da adesão destes ao endotélio vascular. 
Distribuição e freqüência dos antígenos: a banda 3 (AE1) expressa 21 
antígenos, sendo os pares antitéticos Di"/Dib e Wrc.;'v"Jrb os mais conheci-
dos. (Tabela 13) 
• Di• e Wr": baixa freqüência; 
• Di" e Wrb: alta freqüência; 
• mais 17 antígenos de baixa freqüência: Wd•, Rb•, WARR, ELO, Wu, 
Bp•, Mo•, Hg•, Vg", Sw', BOW, NnD, Jn•, KREP, Tr', Ff', SW1. 
O antígeno Di• é predominante entre indivíduos de origem asiática. A 
frequência do antígeno Di• é maior em índios sul-americanos (36°o), e 5°o a 
15% dos japoneses e chineses. Estudos mostraram que a incidência deste 
antígeno é de 1:4.462 europeus; 1:827 negros americanos; 1:1.374 aboríge-
nes australianos; 4,6°o de japoneses; 6,1% de coreanos; 10,2°o de mexicanos 
(dos Estados Unidos) e 20,4°o de indígenas mexicanos. o Brasil, temos 
estudos que comprovam a incidência desse fenótipo nos indígenas, sendo 
54% em caingangues, 36.1°o em carajás.9 
P D. lssit & D. J Anstee. op. cit. 
142 FL "-'D:\.\ tE:--TOs D.-1 L\ tL -:-:o-HE.\ L -ITOLOGL·I ERITROCIT \RL-1 
T '\BElA 13. Ax1iGE:-.~os oo Sl5TE1vL'\ DIEGO 
ISBT Nomenclatura Freqüência Bases molecularesclássica relativa do polimorfismo 
Dll Di' Baixa Leucina - pos. 854 
0!2 Dib Alta Prolina - pos. 854 
013 Wr' Baixa Lisina - pos. 658 
014 Wrl> Alta Glutamato - pos. 658 
015 Wd' Bab:a 
0 !6 Rb' Baixa 
0 !7 WARR Baixa 
0!8 ELO Baixa 
0 !9 Wu Baixa 
0!10 Bp' Baixa 
0 111 Mo' BaLxa 
Dl12 Hg' Baixa 
0!13 Vg' BaLxa 
Associação a doenças: a deficiência de Banda 3 é responsável por uma 
grande parte dos casos de esferocitose hereditária, pois a porção N-termi-
nal da proteína associa-se com o citoesqueleto de actina-espectrina, para 
manutenção da morfologia celular. 
Anticorpos Diego 
Significado clínico: geralmente de origem imune, classe IgG, subclasses 
IgGl e 3, sendo bons fixadores de complemento. 
Anti-Dia pode ser de ocorrência natural. Podem estar envolvidos em rea-
ções transfusionais imediatas e tardias e DHP . 
Os primeiros casos de anti-Dib foram relatados em 1967. 
Devido à crescente freqüência de anti-Di• em nossa população receptora 
e aumento da freqüência do antígeno na população doadora, a triagem 
sorológica é indicada pelo uso de hemácias comerciais positivas para Di•.10 
'" Ibidem. 
Ü L!ROS SISTI.\L'ó DE GRL 1DS 5.\'\Gl iXEOS DE L\IIDRT.\'\Lll TRI'Nl 'i!0'\.'\1 143 
Comportamento sorológico: reagem melhor em fase de antiglobulina 
humana. Alguns exemplares de anti-Dia e anti-Dih reagem melhor com 
hemácias tratadas por proteases. 
144 
Doença 
hen1olítica 
perinatal 
Introdução 
Anemias hemolíticas são causadas por um aumento da destruição de 
glóbulos vermelhos e podem ser devidas a diversas causas, entre as quais 
podemos citar como exemplo hemoglobinopatias, enzimopatias eritrocitárias, 
alterações de membranas celulares das hemácias e anemias hemolíticas de 
origem imunológica, como as anemias hemolíticas auto-imunes (AHAD, 
que serão discutidas no capítulo 9, e a doença hemolítica neonatal por in-
compatibilidade sangüínea materno-fetal. 
Passando o enfoque para o recém-nato, de acordo com HumberV na 
atualidade o grupo de anemias neonatais mais comuns são as anemias 
hemolíticas, incluindo: 
• as incompatibilidades pelos antígenos de grupos sangüíneos ABO, 
que são mais freqüentes, e Rh (D) , que tendem a desaparecer com a 
administração da imunoglobulina anti-D como profilaxia; 
• esferocitose hereditária, 
• deficiência de G-6-PD. 
J. Humbert & P. \\'arck.er, "Common Anemias in 1'\eonatology", em Schtveiz Rundsd1 A.!cd 
Pra>\ , 88(5). 1990. 
147 
Por definição, na anemia hemolítica ocorre o encurtamento da sobrevida 
dos eritrócitos, que normalmente está estipulada em torno de 120 dias para 
o adulto, 60 a 80 dias para o neonato a termo e pode ser de somente 20 a 30 
dias para os prematuros, entre 30 e 32 semanas de gestação. Por isso, o 
diagnóstico da anemia hemolítica no período de recém-nascimento é com-
plexo, e, devido a uma destruição fisiológica intensa, é necessária a avalia-
ção conjunta de vários critérios. 
Doença hemolítica perinatal (DHPN) pode ocorrer por dois mecanismos 
imunológicos: aloimunização materna, por incompatibilidade com antí-
genos de grupos sangüíneos do feto, ou incompatibilidade ABO entre os 
antígenos ABO fetais e os anticorpos naturais e regulares maternos. 
Esses anticorpos são de classe IgG e, assim, podem atravessar a barreira 
placentária e recobrir os eritrócitos fetais, acelerando sua destruição, antes 
e depois do nascimento. Porém, a severidade clínica da doença pode variar, 
desde casos graves de morte intra-uterina até anormalidades hematológicas 
detectadas somente se o sangue de um recém-nato aparentemente saudável 
for sorologicamente testado. 
Fisiopatologia da doença hemolítica do 
recém-nascido ou perinatal 
POR ALOANTICORPOS MATERNOS 
Na aloimunização materna, a mãe produz um aloanticorpo contra um 
antígeno eritrocitário fetal herdado geneticamente do pai, que está ausente 
nos glóbulos vermelhos maternos, como se pode ver no esquema da próxi-
ma página. 
PoR ANTICORPos REGULARES ABO 
Já a sensibilização ABO decorre de estímulos inespecíficos por ocasião de 
vacinas, processos gastroentéricos e da absorção de substâncias grupo-espe-
cíficas do tipo A e/ou B existentes no líquido amniótico da gestante de feto 
incompatível e secretor.2 Os indivíduos produzem anticorpos em maior quan-
148 
F. Ghilardi et ai. '"Análise clínica laboratorial na sensibilização eritrocitária perinatal com a 
realização de estudo imunohematológico pela gel-centrifugação". em Boletim da Sociedade 
Brasileira de Hematologia e H emoterapia 17(170), 1995, pp. 39-63. 
MI:C'\1'\lSMO DE SEl'\OS!BlUZAÇÃO D,~ ~ LÃE POR GEST-\Ç.Íü 
Mãe 
antígeno-negati\a 
Primeira gestação: 
hemácias antígeno-positivas 
fetais passam para circulação 
Sensibilização materna 
Segunda gestação: 
passagem de anticorpos maternos 
para a circulação fetal 
Destruição das hemácias fetais 
(antígeno-positivas) 
tidade de classe lgM contra os antígenos do sistema ABO (ver capítulo 5, 
"Sistemas ABO e Hh"). 
Porém, indivíduos de fenótipo O produzem, em maior quantidade, 
anticorpos IgG da especificidade anti-AB. 
Esses anticorpos de classe IgG podem atravessar a barreira placentária c 
recobrir os eritrócitos fetais, acelerando sua destruição, antes e depois do 
nascimento. Entretanto, a severidade clínica da doença pode variar, desde 
casos graves de morte intra-uterina (raros) a anormalidades hematológicas 
detectadas somente se o sangue de um recém-nato aparentemente saudável 
for sorologicamente testado (freqüente). 
O aumento de destruição eritrocitária inicia-se já no pe1íodo intra-uterino, 
por isso, atualmente, prefere-se utilizar o termo doença hemolítica perinatal 
(OHP! ), ou seja, em torno do pedodo de nascimento. 
A destruição acelerada dos glóbulos vermelhos do feto ou recém-nasci-
do estimula um aumento da eritropoiese, podendo ser observada a presen-
ça de células nucleadas em sua circu lação (eritroblastos); por isso o termo 
também utilizado é eritroblastose fetal. 
149 
FISIOPATOLOGIA NO PERÍODO INTRA-ÚTERO 
Fetos severamente acometidos podem desenvolver hidropsia fetal, cuja 
patogênese não está claramente definida. Sabe-se que em DHP severa, a 
eritropoiese no fígado pode ser tão intensa que a circulação portal é inter-
rompida e a síntese de albumina é prejudicada, promovendo, assim, uma 
redução da pressão osmótica coloidal do plasma e desequilibrando a 
hemodinâmica, levando à anemia, falência cardíaca e hipóxia tissular.3 Sem 
tratamento, o feto pode morrer intra-útero. A transfusão intra-útero pode 
salvar sua vida nessas circunstâncias. Se sobreviver, a criança afetada seve-
ramente pode exibir anemia profunda e falência carcüaca. 
Antes do nascimento, devido à comunicação entre a circulação feto-ma-
terna, a bilirrubina é processada no fígado materno e, dessa forma, o aspecto 
mais deletério para o feto é a anemia, e secundariamente a hiperbilirru-
binemia. 
FISIOPATOLOGIA APÓS NASCIMENTO 
Após o nascimento, o fígado imaturo é incapaz de conjugar a quantidade 
aumentada de bilirrubina proveniente da destruição das células recobertas 
por anticorpos, e produto final do catabolismo do grupo HEME da 
hemoglobina; assim, seu excedente pode atravessar a barreira hema-
toencefálica e se depositar no SNC lesando-o. As conseqüências da 
hiperbilirrubinemia nesse peliodo apresentam maior perigo que a anemia. 
que pode ser mais facilmente controlada. Prematuridade, acidose, hipóxia, 
hipoalbuminemia aumentam o perigo para oS C nesses casos. 
Crianças afetadas menos severamente têm a destruição acelerada dos 
eritrócitos, o que geralmente aumenta a quantidade de bilirrubina. No san-
gue, a bilirrubina está ligada à albumina. l essa forma, a bilirrubina não 
pode cruzar a barreira hematocefálica, enquanto a forma não conjugada 
livre pode entrar no sistema nervoso central (SNC), causando lesões 
irreversíveis (kernicterus). Ao ser captada pelo hepatócito, ocorre ligação 
com proteínas (ligandina, proteína Z etc.) e, pela ação da glicuro-
niltransferase, dá-se sua conjugação com o ácido glicurônico.Esse com-
American .'\ssociation of Blood Banks. Technical [\/anual (12" ed. Bethesda: AABB. 1996). 
150 R "\,D.-\.\ IE'-TOS D.~ 1\ll ~0-HE\L-\TOLOGI-\ ERITROC\T:\RI.-1 
posto hidrossolúvel poderá agora ser excretado pela urina, e mais rapida-
mente pela bile. 
Em recém-nascidos normais, pode ocorrer icterícia fisiológica, causada 
por uma sobrecarga de bilirrubina nos hepatócitos, insuficientes ou ainda 
imaturos para a conjugação e excreção da bilirrubina. Essas causas são tran-
sitórias e consideradas normais, com exceção de prematuros extremos (me-
nos de 1.500 g) e em RN com doença hemolítica grave. 
A icterícia clínica é visível quando os níveis séricos de bilirrubina se 
aproximam de 5 a 7 mg0 o. A ictedcia é freqüentemente vista pela face, 
especialmente o nariz, prosseguindo caudalmente: 
• valores aproximados de até 10 mg0 o de bilirrubina indireta quando a 
ictedcia atinge toda a face; 
• entre 10 e 13 mg% quando a icterícia cobre face e tronco; 
• de 12 a 15 mg% quando atinge a face, tronco, abdômen e raiz dos 
membros; 
• e entre 15 e 20 mgüo quando todo o corpo está ictérico, cobrindo 
face, tronco, abdômen e membros, passando os joelhos e cotovelos. 4 
Os achados físicos são úteis para complementação dos achados 
laboratoriais e diagnóstico. 
Classificação da doença hemolítica perinatal (DHPN) 
Segundo o manual técnico, da Associação Americana de Bancos de San-
gue a doença hemolítica perinatal é freqüentemente classificada em três 
categorias, com base na especificidade do anticorpo IgG que a promoveu. 
São elas: 
1. Doença hemolítica por D, causada pelo anticorpo anti-D sozinho ou, 
em menor freqüência, quando combinado com anti-C ou anti-E (am-
bos do sistema Rh). 
F. Ghilardi et ai., op. cit. 
American Association of Blood Banks. Technical ,\!anual (Bcthesda: AABB, 1999). 
DoEx( ~ HL\K>únc' fffil'\.-\T.-IL 151 
2. Doença hemolítica por ABO, usualmente devido ao anti-AB, um 
anticorpo IgG presente no soro de mulheres do grupo O . Mais rara-
mente, pode ser devido a IgG anti-A ou anti-B. 
3. Doença hemolítica por ou tros anticorpos, causada por outros 
anticorpos do sistema Rh, que não o anti-O, ou anticorpos contra 
antígenos de outros sistemas. Anti-c e anti-K são mais freqüentemente 
implicados. 
Em todas, exceto na doença hemolítica por incompatibilidade ABO, os 
anticorpos maternos são decorrentes de aloimunização devida a gestação 
ou transfusão prévias. a doença hemolítica do recém-nascido por incom-
patibilidade ABO, essa condição não pode ser diagnosticada durante a 
gestação, e a criança é raramente sintomática no nascimento. 
Doença hemolítica do recém-nascido ou perinatal por 
presença de anticorpos anti-D maternos 
E TIOLOGIA 
Mulheres grávidas ou em idade fértil de fenótipo Rh(D) negativo, que 
receberão transfusão sangüínea, devem ser encaradas como indivíduos que 
potencialmente podem produzir anti-O. Como discutimos no capítulo de 
Rh, o antígeno D é altamente imunogênico, e pequenas quantidades de 
hemácias (alguns autores citam volumes de até 1 ml de sangue Lncompatí-
vel) podem desencadear a formação de anti-O. Uma vez produzido o 
anticorpo anti-O (que pode estar associado a outro anticorpo, sendo os 
mais freqüentes anti-C e/ou anti-E). e se essa mulher gerar posteriormente 
uma criança de fenótipo Rh(D) positivo, esse anticorpo atravessa a barrei-
ra placentária, ligando-se a hemácias fetais, aumentando o processo de des-
truição. Essa é a mais conhecida causa de DHPN, já que é a mais 
freqüentemente encontrada. 
Existem vários fatores que podem limitar a sensibilização materna. Va-
mos comentar sobre a profilaxia utilizando a imunoglobulina anti-O e a 
proteção por incompatibilidade materno-fetal ABO. 
152 
O que é proteção ABO e como ela limita a sensibilização 
materna? 
Quando ocorre a passagem de eritrócitos fetais para a corrente circula-
tória materna, o sistema imune pode reconhecer ou não estruturas da mem-
brana eritrocitária como não-próprias (non-sel[) e, dessa forma, desencadear 
a produção de resposta imune. Porém, essa fase de reconhecimento envolve 
algumas etapas. Se o eritrócito for retirado rapidamente de circulação, es-
sas estruturas podem não ser reconhecidas e, desse modo, não ocorrer a 
sensibilização materna. Assim, por exemplo, uma mulher de fenótipo O 
Rh(D) negativo gera uma criança A Rh(D) positiva: se hemácias fetais pas-
sarem para a circulação materna, serão rapidamente destruídas por 
anticorpos IgM anti-A fixadores de complemento, impossibilitando que o 
sistema imune reconheça o antígeno Rh(D). No entanto, se a mesma mãe 
gerar uma criança de fenótipo O Rh (0) positivo, eritrócitos fetais na cor-
rente circulatória materna podem promover sua sensibilização. 
O que é prevenção de imunização por imunoglobulina anti-D? 
Para evitar a produção de anticorpos anti-Rh(D) durante a gestação, 
quando a mulher é Rh(D) negativa e a criança que está sendo gerada ou 
recém-nascida é Rh(D) positiva, administra-se imunoglobulina anti-Rh(D). 
Essa profilaxia promove uma proteção de 98°o a 99°o, quando administra-
da uma dose adequada de imunoglobulina anti-Rh(D) até 72 horas após o 
parto. Molisson e colaboradores descreveram que doses de 20mg de anti-
Rh (D) em cada 1 ml de hemácias Rh(D) positivas presentes na circulação 
materna pode promover a proteção desta6 Para saber a dose adequada de 
anti-Rh (D) a ser administrada, sugere-se realizar o teste de quantificação 
da hemorragia materno-fetal pelo método de Kleihauer, também chamado 
de teste de resistência ácida da hemoglobina fetal-HbF, podendo ser calcula-
da, assim, a dose efetiva. Em alguns serviços esse teste não é realizado e, 
dessa forma, para evitar sensibilização, administram-se altas doses (geral-
mente 300 IJ.g) de anti-Rh(D). 
Antes do advento da profilaxia com imunoglobulina anti-Rh(D), a fre-
qüência de mulheres grávidas que nunca receberam transfusão sangüínea, e 
P L. Mo!lison et ai., Blood Transfusion in Clinicai.\ !edicine {8- ed. Londres: Blackvvell Scientific 
Publications. 1987), pp. 676-68-1. 
153 
que produziam anti-Rh(D) durante a primeira gestação, era ao redor de 1°o, 
considerando o grupo de risco, isto é, de mães Rh(D) negativas que gera-
vam crianças Rh(D) positivas. 
Em mulheres Rh(D) negativas que geraram duas ou mais crianças Rh(D) 
positivas e que a imunoglobulina anti-Rh(D) não havia sido administrada, 
cerca de 15% a 20% produziram anti-Rh(D). Esse fato reforçou a idéia de 
que a produção de anti-Rh(D) se dá principalmente durante o parto, sendo 
um evento incomum durante a gestação. 
Quando uma mãe já se imunizou, esse tipo de tratamento não é mais 
necessário, já que sua única função é evitar a sensibilização prévia da mãe. 
Como os anticorpos atravessam a barreira placentária? 
A transferência placentária de anticorpos maternos para a corrente circu-
latória do feto é um evento essencialmente fisiológico. Como o sistema 
imunológico do recém-nascido está funcionalmente imaturo, a transferência 
de anticorpos da mãe serve para proteção da criança contra possíveis infec-
ções durante os primeiros meses de vida. Os anticorpos IgG atravessam a 
barreira placentária, o mesmo não ocorrendo para os anticorpos de classe 
IgM e IgA. Sabemos também que se trata de um processo de transporte ativo 
à custa de receptores contidos nas células placentárias. 
Quando o soro da mãe contém anticorpos IgG contra antígenos de gru-
po sangüíneo do feto, sabe-se que durante as primeiras doze semanas de 
gestação somente poucas quantidades de IgG entram na circulação fetal, 
mas, quando a mãe tem em seu soro um potente anti-Rh(D), o TAD dessa 
criança pode apresentar-se positivo precocemente já na 6ª à 10ª semana de 
gestação. 
AsPECTOSLABORATORUUS 
Geralmente podemos observar hiperbilirrubinemia (com bilirrubinas em 
torno de 18 a 20 mg0 6) e reticulocitose. Esses dados laboratoriais podem 
variar de acordo com a gravidade do caso. Como já citamos, no hemograma 
podemos observar a presença de células jovens da linhagem eritrocitária(eritroblastos). 
Teste de antiglobulina direto de amostras de recém-nascidos acometidos 
por DI-IPN por incompatibilidade Rh costumam apresentar-se positivos, e 
154 
métodos de eluição de anticorpos quentes são normalmente utilizados para 
confirmação da especificidade do anticorpo (técnicas de eluição por altera-
ção de pH e por solventes orgânicos são as mais utilizadas). 
O titulo do anticorpo anti-Rh(D) parece ser um importante dado 
laboratorial para essa incompatibilidade. muitas vezes diferindo de outros 
tipos de incompatibilidade materno-fetaL como, por exemplo, nos casos 
promovidos por anti-K. Como podemos observar, em casos em que verifi-
camos altos titulas de anti-Rh(D) materno. e esses anticorpos ligando-se 
exclusivamente aos eritrócitos fetais (já que os antigenos Rh são exclusiva-
mente eritrocitários), a fenotipagem ABO e Rh do recém-nato pode estar 
prejudicada pela interferência destes anticorpos, sendo necessária a utiliza-
ção de técnicas auxiliares como a solução de cloroquina (que dissocia 
anticorpos IgG interferentes e possibilita a fenotipagem eritrocitária). 
SEVERIDADE DA DOENÇA 
A doença hemolítica perinatal causada por anti-Rh(D) é severa, na maioria 
dos casos. Isso se deve à alta imunogenicidade do antigeno Rh(D) e à possi-
bilidade de produção de altos titulas do anticorpo, promovendo destruição 
acentuada de hemácias do feto, podendo ser evidenciadas. em muitos casos. 
hiperbilirrubinemia, anemia profunda e hidropsia fetaL que muitas vezes 
pode evoluir para o óbito. 
Doença hemolítica do recém-nascido ou perinatal por 
incompatibilidade materno-fetal ABO 
E TIOLOGIA 
Os primeiros relatos de doença hemolítica por incompatibilidade mater-
no-fetal ABO foram apresentados na década de 1960. Em fevereiro de 1960, 
uma criança foi a óbito (apesar de ter sido realizada exsangüíneo-transfu-
são) devido a doença hemolítica por anti-A materno. Em abril de 1961 e 
novembro de 1962 mais dois relatos foram documentados de doença hemolítica 
por incompatibilidade ABO, porém ambas as crianças evoluíram bem após 
exsangüíneo-transfusão. 1 esses dois últimos casos, os dados laboratoriais 
Doc\C.I HL'\!OLi1lc1 PERN.-IT'J. 155 
eram quase os mesmos e o titulo dos anticorpos maternos eram pratica-
mente iguais (4.096 e 8.192). 
Os anticorpos anti-A e anti-B, que ocorrem em indivíduos do grupo B e 
A respectivamente, são em geral de classe IgM; diferentemente, nos indiví-
duos do grupo O, uma grande quantidade de anticorpos da classe IgG é 
encontrada. Além disso, nesses indivíduos encontramos um anticorpo com-
plexo, inseparável, anti-AB, que reage tanto com hemácias A quanto B. 
Apesar de, em aproximadamente 15% de todas as gestações de mulheres 
caucasianas, a mãe ser do grupo O e seus filhos do grupo A ou do grupo B, 
a doença hemolítica por ABO grave é um evento relativamente raro. 
Existem duas razões para explicar o fato: 
• primeiramente, antígenos A e B não estão bem desenvolvidos ao nas-
cimento; 
• as substâncias A e B não são exclusivamente eritrocitárias. Sendo 
assim, apenas uma pequena quantidade de anticorpos IgG anti-A 
e/ou anti-B que atravessam a placenta combina-se com as hemácias 
da criança (pois se ligam primariamente aos anogenos tissulares e 
solúveis) . 
Como exemplo, observou-se que crianças prematuras parecem estar pro-
tegidas de doença hemolítica perinatal por ABO devido, presumidamente, 
à quantidade de sítios antigênicos eritrocitários A e/ou B ser menor que em 
células de recém-natos a termo. Essa pequena quantidade de anticorpos 
fixados às hemácias pode ser evidenciada somente por meio da utilização 
de métodos sensíveis de pesquisa de anticorpos (eluição, TAD em cartelas 
de gel-teste centrifugação) e quando ocorre doença hemolítica por anticorpos 
anti-A e/ou anti-B, a destruição celular costuma ocorrer em menor grau, 
com o surgimento de icterícia leve e diminuição moderada da concentração 
de hemoglobina. 
Em aproximadamente 50°o de famílias nas quais a doença hemolítica 
por ABO é diagnosticada, a primeira criança ABO incompatível é afetada. 
Em famílias nas quais essa doença é moderada, uma criança afetada pode 
ser seguida por uma criança clinicamente não-afetada. Por outro lado, quando 
a doença é severa, as crianças subseqüentes com o mesmo grupo sangüíneo 
são semelhantemente acometidas. 
156 
Por meio do critério de desenvolvimento de icterícia com menos de 24 
horas de nascimento, a incidência é de 1 para 180 nascimentos; essa incidên-
cia será de 1 para 70 nascimentos se considerarmos as 24 horas como critério. 
Existem diferenças de freqüência de doença hemolítica por 
incompatibilidade ABO de acordo com a origem étnica? 
Sim. Foi observado que a doença hemolítica perinatal por incompatibili-
dade ABO ocorre com uma freqüência diferente em crianças recém-nasci-
das negras e brancas. Essa diferença relativa fo i inicialmente descrita por 
Kirk.man, mas vários trabalhos posteriores confirmaram seus achados. Neste 
estudo estabeleceu-se que a freqüência relativa foi de 2 a 6 crianças negras 
para 1 criança branca. Essa variação da freqüência ocorre devido a critérios 
particulares escolhidos para o diagnóstico. 
Porém, Peevy e Wiserman observaram que, uma vez estabelecida a doença 
hemolítica perinatal por ABO, nenhuma diferença de evolução clínica ou 
necessidade de fototerapia fo i verificada em recém-nascidos negros ou 
brancos.-
Outros estudos apontam uma freqüência de ocorrência maior também 
em nigerianos, latino-americanos e árabes. Em nigerianos, a freqüência re-
lativa da doença hemolítica por ABO chega a ser 5°il. Já para crianças ára-
bes, sua ocorrência é tão comum quanto para crianças negras, sendo sua 
severidade mais marcante (1 a cada 500 crianças árabes recém-nascidas re-
cebiam exsangüíneo). Em latino-americanos, a freqüência dessa doença pa-
rece ser maior devido à miscigenação das raças. 
AsPECTOSLABORATORUUS 
A técnica de eleição para testes com as IgG anti-A anti-B e anti-AB das 
mães é tratar os seus soros com reagentes thiol (DTT ou 2-ME) e, assim, 
titular os mesmos na fase de antiglobulina indireta usando o soro anti-IgG. 
Em trabalhos que utilizaram essa técnica, títulos acima de 512 de anti-A e 
anti-B parecem ser sugestivos para desenvolvimento de doença hemolitica 
nos recém-nascidos por incompatibilidade ABO. Porém, a correlação entre 
K. J. Peevy & H. J. Wiseman. ·ABO Hemolytic Disease of the ~ewborn: Evaluation of\ lanagement 
and ldentification of Racial and Antigenic Factors". em Pediatrics, nº 61, 1978, p. 475. 
157 
o título e a reatividade desses anticorpos na fase de antiglobulina humana e 
a intensidade da doença hemolítica não pode ser estabelecida, pelo fato de 
que os anticorpos IgG anti-A e anti-B muitas vezes são da subclasse IgG2, 
que é biologicamente inativa, independentemente do seu título. 
Existe uma diferença significativa nos achados sorológicos entre uma 
criança acometida de doença hemolítica por incompatibilidade ABO e ou-
tra com doença hemolítica por incompatibilidade Rh. Nestas últimas, o tes-
te de antiglobulina direto (TAD) pode ser fortemente positivo, sem ser 
observado nenhum sinal clínico da doença; já quando se apresenta incom-
patibilidade ABO, esse mesmo teste pode ser fracamente positivo, ou até 
negativo para crianças clinicamente afetadas. Até mesmo em doença 
hemolítica por ABO severa, as hemácias do recém-nascido podem não 
aglutinar com o reagente monoespecífico anti-C3d, que é utilizado para a 
detecção de células recobertas por essa fração do sistema complemento, 
indicando sua ativação. Isso ocorre basicamente por dois fatores: a fraca 
expressão dos antígenos A e Bem hemácias de crianças recém-nascidas e o 
nível relativamente baixo de complemento no soro. 
Na análise de dados hematológicos, a concentração de hemoglobina (Hb) 
no sangue de cordão pode apresentar-se abaixo dos limites normais. Já após 
o nascimento, em função de um aumento dos limites dos valores normais de 
Hb, devido a uma diminuição fisiológica, pelatroca de produção da 
hemoglobina fetal pela hemoglobina A de adulto, é incomum encontrar uma 
criança definida como anêmica. Comparado com a doença hemolítica por 
incompatibilidade materno-fetal Rh, a doença por ABO é um incidente que 
encurta a vida das células, mas é incomum a anemia ser encontrada após 
duas semanas de vida. 
Na doença hemolítica perinatal por incompatibilidade materno-fetal por 
ABO, um aumento moderado de reticulócitos é comum. Apenas em casos 
muito graves (que, por sua vez, são raros na incompatibilidade ABO) pode-
se encontrar uma contagem de reticulócitos de até 15%. Nesses casos, o 
encontro de células da linhagem eritróide nucleadas também é bastante co-
mum (eritroblastose fetal). Também, observam-se microesferócitos e fra-
gilidade osmótica dessas hemácias, pelo menos em casos moderadamente 
graves. Considerando a doença hemolítica por Rh, até mesmo em casos 
graves, são achados apenas aumentos secundários na fragilidade osmótica 
e a esferocitose é incomum. 
158 
Em crianças com doença hemolítica por ABO relativamente severa, a 
quantidade de anticorpos por célula parece ser menor que 220 moléculas de 
anticorpo por célula em 10 de 15 casos. Dessa forma, o teste de antiglobulina 
direto pode estar negativo em uma criança moderadamente afetada pela 
doença hemolítica, já que esse teste possui a limitação de detectar hemácias 
recobertas por anticorpos que estejam em quantidade mínima de 100 a 150 
moléculas de anticorpo/célula. 
O teste de antiglobulina direto realizado pelo método em tubo possui 
uma sensibilidade menor que pelo método em reação em coluna. Desse 
modo, acentua a observação de casos de crianças com DHPN por incompa-
tibilidade ABO que possuem esse teste negativo. 
O teste de antiglobulina indireto realizado com eluato de hemácias de 
recém-natos e hemácias A/ B pode apresentar forte intensidade de reação, 
mesmo quando o teste de antiglobulina direto (TAD) dessas crianças apre-
sente resultados de aglutinação fracamente positivos ou até negativos As-
sim, acredita-se que os achados no TAD não indicam corretamente a 
quantidade de anticorpos ligados nas hemácias in vivo. Já na técnica de 
eluição, ocorre uma concentração de anticorpos que permite sua detecção. 
CONSIDERAÇÕES TRANSFUSIONAIS 
Embora o aumento da concentração de bilirrubina no soro da criança 
seja normalmente moderado, e podendo ser controlado por fototerapia, ini-
cialmente casos de kernicterus (por incompatibilidade ABO) foram descri-
tos. Atualmente, quando o caso é muito grave, a exsangüíneo-transfusão é 
imediatamente realizada aliada à fototerapia, evitando assim o dano ao sis-
tema nervoso central. Sempre que a exsangüíneo for realizada em recém-
nascido com DHPN por incompatibilidade ABO, hemácias O devem ser 
utilizadas. Na escolha do doador, excluir aqueles com anti-A e anti-B po-
tentes, que podem exarcebar o processo hemoUtico. A melhor solução nes-
ses casos é reconstituir uma bolsa de sangue total utilizando concentrado de 
plaquetas e de hemácias do grupo O e plasma do grupo AB, de preferência 
de indivíduos secretores. 
Em alguns casos, a utilização de hemácias de adultos do grupo A ou B, 
em uma transfusão simples em crianças com DHPN, pode ajudar a retirada 
rápida dos anticorpos anti-A e/ou anti-B da circulação da criança, já que 
159 
essas hemácias possuem uma quantidade maior de sítios antigênicos A e B. 
Porém, dependendo da potência dos anticorpos maternos, pode ocorrer 
hemoglobinúria e aumento de bilirrubina indireta, podendo levar até a uma 
lesão do 5:0JC. 
Falterman e Richardson 8 descreveram reações hemolíticas com 
hemoglobinúria e hiperbilirrubinemia em três casos de crianças prematuras 
do grupo A ou B de mães do grupo O e que receberam hemácias ABO 
compatíveis com seus grupos sangüíneos. Exames pré-transfusionais mos-
traram teste de antiglobulina direto negativo e pós-transfusionais positi-
vos. O anticorpo foi identificado como anti-A ou anti-B maternos, que 
estavam na circulação da criança, mas, devido à pequena expressão dos 
sítios antigênicos A ou B, estes não haviam se ligado aos eritrócitos. Rea-
giram, porém, com as hemácias de adulto transfundidas, que apresentam 
grande quantidade de sítios antigênicos. 
Doença hemolítica do recém-nascido ou perinatal por 
outros anticorpos além do anti-De contra os 
antígenos do sistema ABO 
ETIOLOGIA 
A etiologia da doença hemolítica perinatal por outros anticorpos é igual 
às causadas por incompatibilidade materno-fetal por anti-D. Costuma ser 
pouco freqüente. Porém, se a mãe é politransfundida ou em algum mo-
mento de sua vida recebeu transfusão sangüínea e se sensibilizou, existe 
maior probabilidade de ter produzido um anticorpo IgG que atravessa a 
barreira placentária, e, se o feto for antígeno-positivo, pode ser estabeleci-
do um aumento de destruição de hemácias e conseqüentemente doença 
hemolítica perinatal. 
8 
160 
C. G. Falterman & ). Richardson, "Transfusion Reaction Dueto l'nrecognized ABO Hemolytic 
Disease o f the :-:ewborn lnfant" , em). Pecliat. . n- 9;-. 1980. pp. 812-81-i. 
Podemos utilizar a RhoGan ou a imunoglobulina anti-D como 
medida profilática nesses casos? 
Não. A imunoglobulina anti-O só efetiva se a mãe é Rh- e o feto Rh+. 
Caso contrário, se a mãe é Rh+ e produz outro anticorpo contra outro 
antígeno Rh ou de outro sistema, a imunoglobulina anti-O não deve ser 
administrada: primeiro porque este anticorpo se ligaria às hemácias mater-
nas (que são Rh+) e depois porque não bloquearia os epítopos dos antígenos 
fetais no qual a mãe não possui, podendo assim ocorrer a fase de reconhe-
cimento da resposta imune e, assim, sensibilização materna. 
Não existem procedimentos de administração de imunoglobulinas 
profiláticas para evitar a sensibilização da mãe contra outros antígenos 
eritrocitários. Como na maioria dos casos, estes são oriundos de 
sensibilização por transfusão sangüínea. Vale a pena ressaltar a importân-
cia de selecionar sangue de hemocomponente fenoticamente semelhante (pelo 
menos para os antígenos mais imunogênicos, como outros antígenos do 
sistema Rh, K (K1), Kidd e Duffy) a crianças do sexo feminino ou mulheres 
em idade fértil que estão recebendo transfusão pela primeira vez. Essa ati-
tude é um meio profilático para essas doenças hemolíticas. 
Quais as freqüências e especifi cidades mais comuns de DHPN 
por outros anticorpos? 
Como a incidência é incomum, avaliações estatísticas tornam-se difíceis. 
Mas sabemos que, após o advento da profilaxia da DHPN por anti-O, 
aumentou a incidência da DHPN por outros anticorpos. As especificidades 
mais envolvidas, em ordem crescente, são: anti-c, anti-K, anti-E, anti-Fya e 
anti-Jka. Ainda, outros anticorpos de outras especificidades menos freqüentes 
podem estar envolvidos, isolada ou conjuntamente. 
Qual a severidade da DHPN por outros anticorpos? Como 
podemos quantificá-la/predizê-la? 
Dependendo da especificidade, podem apresentar graus diferentes de 
severidade e manifestações clínicas. Isso sugere que o título dos anticorpos 
não correspondem necessariamente à evolução dos sinais e sintomas. 
Isso se confirma especialmente no caso do anti-K (K1), em que vários 
estudos mostraram que a in tensidade do anticorpo não se correlaciona di-
retamente com a severidade da doença, sendo indicado que, nesses casos, 
D OE.'-:Ç' HEMOUllC\ PERI.'-:AT.I\1. 161 
seja feita a genotipagem do feto para predizer o valor clínico e para deter-
minação de feto de risco.9 
Testes laboratoriais para detecção de DHPN 
Após o nascimento da criança com suspeita de DHPN. deve-se colher 
sangue do cordão para realização dos seguintes exames: 
• fenotipagem ABO/Rh; 
• teste de antiglobulina direto (TAD) ou Coombs direto; 
• bilirrubinas; 
• hemograma. 
Podem-se, ainda, realizar hematócrito, dosagem de hemoglobina e con-
tagem de reticulócitos, que são exames complementares de grande impor-
tância na avaliação clínica. 
Como citado em outros capítulos, esses testes podem ser realizados por 
váriasmetodologias. O importante é que, quando utilizamos sangue de cor-
dão, as hemácias a ser utilizadas devem ser lavadas com solução fisiológica 
por no mínimo seis vezes. Esse processo visa a eliminar a interferência da 
grande quantidade de proteínas ali contidas (sobretudo pela presença da 
geléia de Wharton). 
Na impossibilidade da utilização de sangue de cordão, sangue venoso 
do recém-nato pode ser utilizado, e, principalmente nesse caso, recomenda-
se a utilização de metodologia que requeira pequena quantidade de amos-
tra, como, por exemplo, o gel-teste centrifugação. 
Tratamento de DHPN 
O tratamento da doença hemolítica perinatal por incompatibilidade ma-
terno-fetal fundamenta-se: 
162 
M. Rios & L tvl. Castilho, "Biologia molecular dos grupos sangüíneos e sua aplicação em 
medicina transfusiona l". Curso de aperfeiçoamento em biologia molecular. Centro de Educa-
ção em Saúde do SE1 TA( de São Paulo. 1998. 
F "\D.-\. \ JL'-TU' D.~ 1:\ li "\0· :-i:E.\ L~ TOLOGL \ ER!TROCTTc\RH 
a) Na correção da anemia nas formas predominantemente anêmicas: 
transfusões intra-uterinas são indicadas nos casos graves prevenin-
do morte ou hidropsia fetal. Esse procedimento visa a manter volume 
efetivo de eritrócitos no feto, até aumentar sua chance de sobrevivên-
cia na vida extra-uterina. 
b) Na detenção do aumento da bilirrubina indireta (Bl-não conjugada), 
por meio da fototerapia nas formas ictéricas leves, em que há a expo-
sição do recém-nascido à luz branca ou azuL que promove a fotoiso-
merização da bilirrubina, transformando-a em isômeros não-tóxicos. 
Essa transformação acontece no espaço extravascular. sendo esses 
fotoisômeros transportados pela albumina até o fígado, e excretados 
na bile sem necessidade de conjugação hepática. Uma vez no intesti-
no, esses isômeros podem ser transformados novamente em bilirrubina 
não-conjugada. Os produtos da fotoxidação, além de serem elimina-
dos nas fezes, são também eliminados na urina, em proporções bem 
menores. 
c) a detenção do aumento da bilirrubina indireta (BI-não conjugada). 
remoção dos anticorpos maternos e correção da anemia, por meio da 
exsangüíneo-transfusão. nos casos graves e muito graves. A decisão 
sobre a exsangüíneo depende da gravidade do caso e pode ser: par-
cial imediata, com papa de hemácias ao nascimento e posterior 
exsangüíneo-transfusão completa se o recém-nascido apresentar 
hidropsia, hepatoesplenomegalia considerável, icterícia, palidez; e 
exsangüíneo-transfusão total. baseada nos níveis de bilirrubina e, 
em menor grau, na severidade da anemia. 10 
10 E. \.1iura, .\'eonatologia: princípios e prática (Porto J\legre: Artes ).1édicas. 1991). pp. 131-1+!. 
163 
Anerrria 
hen1olítica 
auto-irn.une 
(ARAI): 
aspectos laboratoriais 
Introdução 
Como já vimos no capítulo 1, o sistema imune é vital, pois nos defende 
de agentes estranhos. Mas, se, por um lado, a imunodeficiência pode tor-
nar o indivíduo vítima de infecções e tumores, por outro, um sistema imune 
hiperativo pode causar doença fatal. como no caso da reação alérgica ao 
veneno de abelha. Ainda, em algum momento, esse sistema pode perder a 
capacidade de reconhecer o que é próprio do não-próprio, produzindo imu-
nidade contra os seus tecidos e células. 
A hemólise mediada por anticorpos representa uma anormalidade ad-
quirida e extrínseca aos glóbulos vermelhos, diferente das anormalidades 
genéticas. Pode ser mediada por aloanticorpos ou auto-anticorpos, ou ain-
da induzida por drogas. Em qualquer caso, as características principais são 
a diminuição da sobrevida das hemácias, com acúmulo de produtos do 
catabolismo da hemoglobina e o aumento da eritropoese na medula óssea, 
como forma de compensar as perdas. 
este capítulo, abordaremos as anemias hemolíticas de origem auto-
imune (AHAI). Além da importância clínica, as AHAI. são fatores 
complicantes da rotina laboratorial em imuno-hematologia, visto que os 
auto-anticorpos interferem nas fenotipagens, identificação de aloanticorpos 
e provas de compatibilidade pré-transfusionais. 
.-\ '\1:\iL\ HE.\IOUlK-\ -\LTO-L\1~ '\E (;\H.-\ [) 167 
Antes de entrarmos no mérito da resolução desses casos, é necessário 
que se conheça a fisiopatologia das AHAI, assim como a fisiologia da 
hemólise mediada pelo complemento. Portanto, neste capítulo falaremos 
também dos aspectos principais da ativação do sistema complemento. 
Aspectos imunológicos das doenças auto-imunes 
Ü QUE É A AUTO-IMUNIDADE? 
O sistema imune adaptativo evoluiu para permitir o reconhecimento e a 
captura de quaisquer substâncias estranhas ao organismo e assim promo-
ver sua remoção. Não é esperada a produção de linfócitos reativos contra 
os próprios componentes do organismo, pois existe um mecanismo inibidor 
que gera tolerância imunológica. A auto-imunidade surge provavelmente 
do desgaste ou falha desse mecanismo supressor. 
ToLERÂNCIA IMUNOLÓGICA 
No período perinatal, com a discriminação do que é próprio (sei{) ao 
organismo, cria-se uma não-reatividade permanente ou tolerância, de modo 
que, após alcançarmos a maturidade imunológica, exista uma incapacidade 
de reagir contra componentes próprios. Esse mecanismo pode falhar em 
determinado momento, por razões variadas, e promover o aparecimento de 
auto-anticorpos, provocando as doenças auto-imunes. Entre elas, destaca-
mos as anemias hemolíticas auto-imunes, lúpus eritematoso sistêmico (LES) , 
artrite reumatóide, diabetes mellitus dependentes de insulina, tireoidite de 
Hashimoto etc. 
A auto-imunidade é uma causa importante de doenças e estima-se que 
afete de l 0 b a 2°o da população. 1 Pode resultar de vários fatores, como anor-
malidades primárias dos linfócitos (falha na deleção de linfócitos auto-reativos); 
bases genéticas que predispõem à auto-imunidade (por exemplo, o diabetes 
mellitus insulinodependente); o sexo (como exemplo, o IES é mais comumente 
encontrado em mulheres); mecanismos que levam à lesão tecidual; e as infec-
ções microbianas, que causam uma ativação normal da resposta imune, mas 
A. K. Abbas et ai., Imunologia celular e molecular (3' ed. Rio de Janeiro: Revinter. 2000). 
168 
acabam por reconhecer indevidamente uma proteína própria do organismo-
reação cruzada, como, por exemplo, na febre reumática. 
Há uma crescente de evidência que células B e T auto-reativas estão 
presentes normalmente no organismo. Muitos autores sugerem que auto-
anticorpos tenham função de promover a marcação de células para a morte, 
com uma ação fisiológica. 
Mas a principal dificuldade na definição dos mecanismos auto-imunes 
está em estabelecer e identificar os antígenos que iniciam as respostas auto-
imunes e os linfócitos que medeiam essas reações. Em suma, as etiologias 
específicas dessas doenças não estão bem definidas. 
DOENÇAS CAUSADAS POR ANTICORPOS 
São de dois tipos: 
a) Produzidas por imunocomplexos (antígeno solúvel + anticorpo espe-
cífico), que se formam na circulação e podem se depositar na parede 
dos vasos e em outras partes do corpo, resultando em ativação 
linfocitária e dos fatores do complemento, com lesão tecidual. Os 
anticorpos são geralmente da classe IgM e das subclasses IgG t e 
IgG
3 
(pela facilidade de ativação do complemento, como veremos a 
seguir). Não são determinadas por antígenos específicos, mas sim 
pelo local da deposição desses imunocomplexos. 
Portanto, doenças mediadas por anticorpos tendem a ser sistêmicas, com 
pouca ou nenhuma especificidade contra um antígeno em particular. 
b) Produzidas por auto-anticorpos específicos contra determinado tipo 
de tecido e/ou célula, e não por imunocomplexos circulantes, tam-
bém provocando lesão tecidual. De qualquer modo, não são claros 
os mecanismos que induziram à formação desses auto-anticorpos. 
São exemplos, as AHAI e a trombocitopenia imune. Os anticorpos 
causam lise mediada por complemento e opsonizam células, marcan-
do-as para serem fagocitadas. Podem estar associadas a outras doen-
ças auto-imunes, como LES. 
Os anticorpos antieritrocitários desempenham papelna destruição das 
hemácias, causando anemia hemolítica de origem auto-imune. Anticorpos 
antiplaquetas são geralmente responsáveis pela púrpura trombocitopênica 
idiopática, que causa diminuição na contagem global de plaquetas. 
169 
Anemia hemolítica auto-imune (AHAI): a destruição 
dos eritrócitos 
Trata-se de sobrevida eritrocitária encurtada, devido à presença de auto-
anticorpos produzidos pelo próprio organismo. 
A diferenciação entre AHAI e outras anemias hemolíticas (por exem-
plo, hemoglobinopatias. enzimopatias etc.) consiste em demonstrar a pre-
sença de anticorpos antieritrocitários. 
O teste laboratorial da antiglobulina humana direta (TAD) é o mais 
utilizado para esse fim. 
A intensidade e/ou importância da hemólise depende do tipo de anticorpo 
envolvido (classe e subclasse) e de sua conseqüente capacidade de fixar 
complemento. 
MECANISMOS DE DESTRUIÇÃO DOS GLÓBULOS VERMELHOS 
Geralmente, aloanticorpos ou autoanticorpos atuam pelos mesmos me-
canismos para destruição das células-alvo: 
Intravascular 
AgxAc +complemento (C1 a C9): hemoglobina livre. 
O importante é determinar se os anticorpos são fixadores ou não de 
complemento. Isso depende essencialmente da classe e subclasse IgG (es-
pecialmente IgM e IgG
3 
e IgG
1
). Além disso, depende do número e proxi-
midade dos sítios antigênicos. 
As características laboratoriais mais importantes são hemoglobinemia, 
hemoglobinúria, aumento da metemoglobina, diminuição da haptoglobina, 
icterícia e hemossiderinúria. Explicando: com a destruição das hemácias, a 
hemoglobina livre no plasma liga-se à alfa2 globulina (haptoglobina). A 
diminuição nos níveis de haptoglobina deve-se à fagocitose do complexo 
pelas células do sistema monocítico fagocitário (SMF). Com isso, a 
hemoglobina livre é oxidada; a metemoglobina, excretada pelos rins, pro-
vocando o aparecimento da hemoglobinúria. A hemossiderose no epitélio 
tubular renal resulta da deposição da hemoglobina filtrada. A icterícia sur-
ge dos altos níveis de bilirrubina não-conjugada ou bilirrubina indireta. 
170 F ".Il'\.\IL'\TQ, D.~ L\IL'\:cl·HE.\L~TOLlX,l-\ ERf!RO('!T \RH 
Nas AH, a bilirrubina sérica aparece na forma não-conjugada, provo-
cando a hiperbilirrubinemia. 
Extra vascular 
Fagócitos SMF (baço e fígado): hiperbilirrubinemia. 
Neste mecanismo, a fagocitose ocorre: 
a) por opsonização das células-alvo por anticorpos IgG, sem ativa-
ção de complemento; 
b) IgG com ativação da cascata do complemento somente até C3b; 
c) somente por ligação de frações do complemento às células-alvo. 
• A ligação dos anticorpos e frações de complemento funciona 
como sinalização para macrófagos do sistema monocítico 
fagocitário (SMF), que possuem receptores para frações Fc, 
em torno de 1Xl0° por macrófago (Arend e Mannik). Haverá, 
então, perda de flexibilidade da membrana, provocando a 
esferocitose. Esses glóbulos serão assim capturados na 
microcirculação, preferencialmente esplênica, provocando 
esplenomegalia. 
• SMF pode remover até -100 ml de glóbulos por dia ligados a 
lgG.2 
• O baço é até cem vezes mais eficiente que o fígado nessa 
remoção. Ex.: comprovou-se em experiência, reunindo 
glóbulos vermelhos Rh(D) positivos e certa quantidade de anti-
Rh(D), observando os seguintes resultados: 
- 20 minutos: clearance pelo baço; 
- 5 h: clearance pelo fígado em esplenectomizados. 
Por isso, para alguns indivíduos com AHAI quente, a esplenectomia é 
indicada para diminuição do seqüestro de células opsonizadas e a 
corticoterapia, para diminuição da produção de auto-anticorpos. 
• CaractetÍsticas laboratoriais: do catabolismo das hemácias pelas 
células fagocitárias resultam anemia e icterícia. A Hb liberada 
P. L \ lollison et ai .. Blood Transfusion in ClinicJI .\ fedicinc ( 10 ed. Londres: Black\\·ell 
Science. 1007). 
171 
pelas células fagocitárias liga-se à haptoglobina, diminuindo 
seus níveis séricos. 
SISTEMA COMPLEMENTO E A DESTRUIÇÃO INTRAVASCULAR 
O sistema complemento consiste de uma série de 25 proteínas, sendo 
nove delas principais ou centrais, que estão no plasma sangüíneo e 
complementam a ação dos anticorpos. 
Representações gráficas 
• Proteínas do complemento: Cl (Clqrs), C4, C2, C3, CS, C6, C7, C8, 
C9. 
• Fragmentos após clivagem: designamos por letras a e b, por exem-
plo, C3a, Csb. 
• Componentes ativados: colocar barra horizontal sobre o componen-
te, por exemplo, C4b2a3b (CS convertase). 
Ativação do complemento 
Haverá uma interação de proteínas (componentes) , que serão seqüen-
cialmente ativadas por fragmentação enzimática, e promoverão a clivagem 
do componente central C3. 
As proteínas do C estão normalmente presentes na circulação, inativadas 
ou em baixa ativação. 
Portanto, quando dizemos que o complemento foi ativado, devemos en-
tender que, a partir de sua ativação, ocorrerão reações enzimáticas de di-
vagem, com funções biológicas importantes. 
172 
Funções biológicas do C (Figura 1) 
• Citólise: frações do complemento polimerizam-se na superfície celu-
lar, formando poros, que alteram a integridade da membrana, provo-
cando lise osmótica. 
• Opsonização: frações do complemento ligam-se à superfície de célu-
las e/ou partículas estranhas, em um processo conhecido como 
opsonização. Os fagócitos do SMF ligam-se por receptores e pro-
movem a fagocitose. 
Ft :-;O.-\.\ tL' "TOS D.~ Ildl -:\O· HE\ LATOLOGL\ ERrTROffi ÁRIA 
fiGURA 1. REPREsENTAÇÃO ESQUEMÁTICADO PAPEL BIOLÓGICO DO 
COtv!PliMEi'ITO. 
• Ativação da inflamação: fragmentos do complemento, denominados 
anafilotoxinas (C3a e C5a), promovem ativação de mastócitos, que 
liberam histamina, provocando reação semelhante à hipersensibilidade 
imediata. Outros alvos desses fragmentos peptídicos incluem endotélio 
vascular, músculos lisos e leucócitos inflamatórios. 
• Solubilização dos complexos imunes: diminui a sua formação e/ou 
desestabiliza os já existentes. 
Mecanismos de ativação 
Via clássica, com a ligação do anticorpo ao antígeno específico (Ag-
Ac), e via alternativa, por agentes extrínsecos. (Figura 2) 
a) Via clássica 
Fixação do componente Cl pelas imunoglobulinas ligadas aos 
antígenos específicos. Clq liga-se ao domínio CH2 das Ig. Esse 
fragmento possui seis sítios de ligação com a Ig e pelo menos 
dois devem estar ligados para haver a devida estabilização. (Fi-
gura 3) 
Portanto, para ativação do C deve haver pelo menos duas molé-
culas de IgG ligadas a seus antígenos, e próximas, para que pos-
sa haver compartilhamento dos domínios CH2 (Figura 4). As 
subclasses IgG que têm maior capacidade de ativação são, res-
pectivamente, IgG3 > 1 > 2. IgG4 não fixa complemento; ou uma 
molécula de IgM, já que os domínios CH2 estão adjacentes. A 
173 
• t ~ ~ .. :.: -
-.t .. 
FiGURA 2. REPRESEI\TAÇÃO 
ESQUE'\IATIC~ DA 0\SC.ATA DO 
COII.IH.L'vlL'\TO. 
174 
IgM, quando combinada com o antígeno, assume forma espacial 
adequada à fixação do C 
b) Via alternativa 
Ativada em ausência de anticorpos, por polissacarídeos (Zimosan, 
inulina) , endotoxinas bacterianas (Gram-) , veneno de cobra. 
Atuam sobre fator B (pró-ativador C3) , sem intervenção de C1, 
C2, C4. Gera tanto formas solúveis de C3 convertase, como liga-
das à membrana. 
Forma C3 convertase na superfície bacteriana: forma primitiva 
de defesa - cobertura da célula por C levando à fagocitose. Se 
C3b deposita-se em células autólogas, ocorre rápida inativação 
para não se provocar danos. 
FIGURA 3. Rmu:s&rrAÇÃO 
ESQUEMÁTICA DA FRAÇÃO Cl DO 
CO:\!FI.EMENTO. 
FIGURA 4. REPRESE.'\! AÇÃO 
ESQUEMÁTICA DA ATIVAÇÃO DA 
FRAÇÃO Cl DO COtv!PI.EME!\lTO, FOR 
ANllCORFOs DE CASSE !GG 
FlXi\DOS A MEMBRANA 
ERITRCXJTÁRIA. 
r~C1s C1r 
C1 L C1q 
A cascata do complemento 
11nm 
--------
Alguns aspectos da cascata do complemento são fundamentais para com-
preendermos algumas situações da rotina laboratorial. 
Como já dissemos, a ativação da via clássica se dá pela reação antígeno 
e anticorpo com capacidade de fixar complemento. Portanto, essa forma de 
ativação é a maisimportante para a imuno-hematologia. (Figuras 5, 6, 7 e 8) 
Conseqüências da ativação 
• Hemólise intravascular, se a cascata for ativada de (1 até (9: forma-
se no final o complexo de ataque à membrana (CAM), constituindo 
poros que alteram a permeabilidade, provocando lise osmótica. Ex.: 
aloanticorpos Kidd; transfusões ABO incompatíveis. 
• Hemólise in vitro: pode ocorrer lise osmótica da hemácia somente 
nas condições do teste, especialmente se houver ligação Ag-Ac na 
temperatura ambiente (por anticorpos frios sem significado clínico) 
e isso não representar que este esteja ocorrendo in vivo. 
A '>:E\11.-1 HE\IOÜTIC-1 -ILTO·L\ILSE (AHAI) 175 
FIGURA 5. REPREsENTAÇÃO 
ESQUHvlÁTICA DA ATIVAÇÃO DAS 
FRAÇOES C4 E C2 00 
COMHEMENfO. 
fiGURA 6. REF'REsEl frAÇÃO 
ESQUHv!ÁllCA DA ATIVAÇÃO DA 
FRAÇÃO 0 00 COtv1P!EMENTO, 
CUVI A FORMAÇÃO 00 COl'v1P!EXO 
DENOlYUNAOO C5 CONVERTASE. 
[] 
• Hemólise extravascular: 
( ) C2 
C2b 
G 
r 
opsonização de hemácias por IgG com fixação C ocorrendo li-
gação aos receptores Fc (das lg) pelos macrófagos; 
fagocitose de hemácias opsonizadas somente por C 
Em ambos os casos. isso ocorrerá somente se a cascata for inibida no 
momento da fragmentação do C3, que sofre a ação das proteínas regulado-
ras. (Figura 9) 
Lembrar que nem sempre a ativação da cascata do complemento culmi-
na com a formação do CAM. e conseqüentemente com lise intravascular. 
A ativação apenas até C3 provocará destruição extravascular. 
Mecanismos reguladores 
A regulação é necessária para prevenir a destruição das próprias células 
pelo C 
176 F· ·~o \.\IE.,~o., D.\ JC\IL'O·HL\L\TOLOGL\ ERITROOTARL\ 
FIGURA 7. REl'RE.sL'-'TAÇÃO 
~TIC~DAA~~C~ODA 
FRAÇÃO C5 DO CQ:\ !PU:Mf:\.'TO. 
FiGURA 8. REPRESEi'\'TAÇÃO 
ESQUEMÁTICA DA ATIVAÇÃO DAS 
FRAÇOES C6, 7, 8 E 9 DO 
C011!1fiDv!E\.'TO, fORl!A.'\;0() o 
GiAMJ\00 COII.!P!IXO DE ATAQUE Á 
MD.IBRA'i"' (CAM). 
FiGURA 9. REPRESENf AÇÃO 
ESQUElvtÁTia DA!li.TJBIÇÀO DA 
CASCATA DO CO.'v!HEMENfO POR 
FRAG!viENTAÇÀO DO COMro:--.-a... 'TE 
Ob PEI.OS FATORES H E I, 
FORMAJ'\'00 OS FRAG!vlfN105 
OcEOd. 
C5 C5b ~ ~e>CW ' 9, 
1 C4b2a3b I on c~~ 
.. 
Fator H • Fator I Enzimas Trfpticas 
• proteínas reguladoras presentes na membrana celular ejou fase flui-
da interagem com frações C; 
• a extrema labilidade desses componentes a temperaturas elevadas 
também regulam a atividade da cascata; 
• necessidade de formação de complexos Ag-Ac para sua ativação é 
fator limitante. 
177 
Anticorpos geralmente fixadores de complemento 
• Anti-A, -B, -Vel, -Jka, -Le": causam hemólise in vivo e in vitro. 
• Anti-Le", -Leb, -P
1
: podem recobrir hemácias com complemento, sem 
lisá-las. 
Anti-K, -Fy", -Fyh, -S, -s, -L - 1, -HI: fixam complemento, mas não 
provocam hemólise. 
Então, como as hemácias acabam sendo revestidas pelas 
frações de complemento? 
Por dois mecanismos: 
• pela ativação da cascata, por meio da ligação de anticorpos fixadores 
de complemento e antígenos de superfície dos eritrócitos; os frag-
mentos resultantes da cascata ligam-se, portanto, à membrana; 
• imunocomplexos do plasma ativam a cascata do complemento, e frag-
mentos desta adsorvem-se inespecificamente às hemácias. Estas aca-
bam por fazer o papel de simples espectadoras. 
Em ambos os casos, as hemácias estão revestidas de frações de comple-
mento, que levarão ou não à hemólise, mas que poderão ser detectadas 
pelos soros de AGH poliespecíficos. 
Portanto, os componentes de complemento podem ser identificados pe-
los reagentes AGH, mas não significar hemólise in vivo. 
178 
O que representa a presença do complemento nos testes 
imune-hematológicos? 
• Teste da antiglobulina direta (fAD ou Coombs direto) positivo por 
complemento: o componente C3d (fragmento inativo) pode estar fi-
xado à hemácia, por aloanticorpos e/ou auto-anticorpos. Em 10% a 
20% dos pacientes com AHAI, o TAD pode estar positivo somente 
por causa de frações de complemento, especialmente em caso de bai-
xas quantidades de anticorpos IgG, abaixo do limiar de sensibilidade 
do teste (já comentamos no capítulo 3) . 
• O complemento pode estar revestindo as hemácias lavadas, sem a 
presença da Ig. Ex.: IgM dissociada durante lavagem. 
• Na síndrome das crioaglutininas: os anticorpos ligam-se às hemácias 
na circulação superficial (baixa temperatura) , fixam complemento e 
dissociam-se a 37 oc, podendo ser detectados pelos soros AGH 
poliespecíficos. 
• Complexos imunes solúveis (CD - complemento = ligação fraca na 
hemácia ---7 dissociação do CI. Ex.: Acs droga-induzidos. 
• Casos de septicemia por microorganismos geralmente Gram- ou in-
fecções localizadas podem causar ativação da cascata por via alterna-
tiva e promover a ligação de frações peptídicas do complemento às 
hemácias. 
Como já dissemos no capítulo 3: 
• TAD: para detecção de hemácias recobertas por complemento, o tes-
te deve ser incubado por cinco minutos antes da centrifugação, utili-
zando-se soro AGH poliespecífico. 
• Componentes do complemento ligam-se à hemácia de coágulo ---7 
realizar TAD com amostra colhida com anticoagulante (EDTA, ACD, 
CPD). 
Aspectos fisiopatológicos das ARAI 
AHAI quente 
AHAI frio (crioaglutinina) 
Mista 
Induzida por drogas 
Hemoglobinúria paroxística a frio (PCH) raro em adultos; 32oo em crianças 
Fonte: American Association of Blood Banks, Technical .\!anual (Bethesda: AABB, 2000). 
AHA! QUENTE 
Causa: anticorpos IgG, reativos a 37 oc 
a) ldiopática 
b) Secundária: 
Iúpu s eritematoso sistêmico 
leucemia linfodtica crànica 
linfoma maligno 
colite ulcerati\·a 
teratoma ovariano 
medicamentos 
AHA!FRJo 
Causa: anticorpos geralmente IgM* , 
reativos entre -l C e 22 C. 
a) ldiopática 
b) Secundária: 
pneumonia por mycoplasma 
mononucleose infecciosa 
linfoma maligno 
hemoglobinúria paroxística a frio 
(* anticorpos IgG bifásicos+ C) 
Fonte: American Association of Blood Banks. op. cit. 
A'nnA HE.\IOLmc.~ \~TO· L\1:_:--:E (AHA[) 179 
AHAIAFRIO 
180 
Síndrome da crioaglutinina (CAlHA) 
• Causada por anticorpos IgM, que se ligam avidamente a eritrócitos 
em baixas temperaturas. por isso são chamados de crioaglutininas. 
Ocorrem geralmente de forma aguda, durante recuperação de doen-
ças infecciosas. como pneumonia por micoplasma e mononucleose 
infecciosa. 
• Características: 
16°1o do total de casos de AHAI, e geralmente benignos; 
anticorpos IgM que reagem melhor a 4 ac 
patológicos somente se em alto título ou em grande amplitude 
térmica; 
especificidade do anticorpo: anti-I (-i , -P, -HI). 
• Mecanismo: 
Anticorpo se liga ao glóbulo vermelho (GV) na circulação peri-
férica (32 oC) à ativa Complemento ---7 retoma à circulação inter-
na, deixando somente o C3 na membrana ---7 fatores inibidores 
de C3 ---7 C3b ---7 C3c ---7 C3d ---7 interrompe a cascata ---7 hemólise 
extravascular. 
• Tipos: 
a) Crônica, sendo mais comum em adultos com mais de 50 anos: 
- hemólise branda; 
- hemoglobinúria; 
- síndrome Raynauld (cianose de extremidades quando da ex-
posição ao frio). 
b) Aguda, apresentando-se em todas as idades: 
- infecção viral recente (micoplasma =anti-I e mononucleose = 
anti-i); 
- síndrome mieloproliferativa. 
• Aspectos laboratoriais e procedimentos geralmente empregados: 
geralmente TAD positivo por complemento; 
reticulocitose; 
FL ":\U.-1..\IL'.TOS DA ~1l":\:O- HE.\1ATOLOGL\ ERITROCITÁRL\ 
usar soro AGH monoespecífico lgG; 
utilizar plasma, e não soro; 
realizar técnicas de preaquecimento; 
auto-adsorção a frio; 
reagentes Thiol; 
evitar potencializadores de reação (PEG, LISS). 
• Aspectos clínicos e procedimentos geralmente empregados: 
geralmente não necessitam de transfusão; 
evitar exposição ao frio; 
casos severos: plasmaférese; 
corticoterapia e esplenectomia ineficazes. 
Hemoglobinúria paroxística a frio (HPF) 
• Características: 
1 <to a 2°o adultos; 
32o,o crianças com histórico de infecção viral de vias aéreas supe-
riores; 
especificidade do anticorpo: IgG contra ag P (antígeno de alta 
freqüência,diferente de P1), também denominado anticorpo 
Donath-Landsteiner (hemolisina bifásica). 
• Aspectos laboratoriais e procedimentos geralmente empregados: 
TAD positivo por C3; 
diferenciar HPF de hemoglobinúria paroxística noturna (defeito 
de membrana do glóbulo vermelho); 
dosagem de hemoglobina entre 4 g e 5 gldl. 
• Aspectos clínicos e procedimentos geralmente empregados: 
hemoglobinúria; 
febre; 
icterícia; 
palidez; 
cólicas abdominais e dores nas costas; 
evitar frio; 
A'IE~ll!l HE~toünc.~ .~L T0-1\,!L-:-;E (AHAD 18 1 
recomendação eventual de transfusão; 
associada a Micoplasma, sarampo, caxumba, gripes; 
corticoterapia indicada. 
AHAI A QUENTE 
182 
ARAI quente induzida por drogas 
Mecanismos: 
1. Mecanismo não-imune- O mais comum. A droga ou o produto de 
sua biotransformação interferem no metabolismo essencial de sobre-
vivência da célula causando sua morte prematura, sem o envolvimento 
de anticorpos. 
a) Principais drogas envolvidas: 
• cefalosporinas (2ª e 3ª gerações); 
• outras cefalosporinas; 
• penicilina e derivados; 
• diglicoaldeido; 
• suramm; 
• cisplatin. 
b) Adsorção protéica não-imunológica: 
• mecanismo independente de anticorpos; 
• ocorrência rara; 
• TAD geralmente negativo. Quando positivo, poderemos iden-
tificar a presença de frações de complemento, por adsorção 
de proteínas aos eritrócitos (albumina, IgA, IgG. IgM, alfa e 
beta globulinas), de modo não-imunológico; 
• aspectos clínicos: novas gerações cefalosporinas podem estar 
associadas a hemólises severas. Cefalosporinas podem tam-
bém agir sob mecanismo de adsorção de drogas aos glóbulos 
vermelhos. Pode estar associada com deficiência de G6PD. 
2. Mecanismo imune- Pouco freqüente. A droga ou seu metabolismo 
induz, por diferentes mecanismos, à produção de anticorpos que cau-
sam a destruição jn vjvo de eritrócitos. Várias drogas podem induzir 
à produção de anticorpos auto-reativos, porém nem todos esses 
anticorpos são considerados auto-imunes. 
Devemos diferenciar anticorpos promotores da anemia hemolítica dro-
ga-induzida daqueles anticorpos produzidos contra auto-antígenos devido 
à perda de autotolerância e causadores das anemias hemolíticas auto-imunes 
crônicas. 
Embora a hemólise promovida por anticorpos droga-induzidos e por 
anticorpos da AHAI possam ser semelhantes laboratorialmente, a conduta 
clínica e a terapêutica para a solução da hemólise serão diferentes. Na 
anemia hemolítica droga-induzida, o problema se resolve com a retirada da 
droga indu tora (na maioria dos casos). 
Características: 
• Drogas normalmente possuem peso molecular inferior a 5-Kda, por 
isso são denominadas haptenos. Ligam-se a proteínas carreadoras 
para ser imunogênicas. 
• Auto-anticorpos droga-induzidos mostram extrema especificidade 
contra partes celulares comuns de glóbulos vermelhos ou plaquetas. 
• Anticorpos dependem da presença da droga (medicamentos e/ou 
produtos químicos) para ser visualizados e/ou produzir destruição 
dos glóbulos vermelhos. 
Novas teorias sugerem que as drogas promovem aparecimento de 
anticorpos baseado na capacidade de interagir com componentes celulares 
específicos, alterando-os e fazendo com que não sejam reconhecidos como 
próprios: portanto, um neo-antígeno é produzido. O anticorpo será, então, 
formado contra essa estrutura Hnova" e não contra o hapteno.3 
Descreveremos abaixo os seguintes mecanismos: 
• adsorção das drogas; 
• formação de complexo imune; 
• alteração do sistema imune. 
a) Adsorção das drogas. Ex.: penicilina. 
Principais drogas envolvidas: 
- penicilina C e derivados; 
A. K. Abbas et ai .. op. cit. 
183 
184 
- cefalosporinas (1 ª e 2!! gerações); 
- outras cefalosporinas. 
Anticorpos droga-dependentes. 
Anticorpos são dirigidos contra a droga -7 droga liga-se forte-
mente à membrana do glóbulo vermelho. 
TAD fortemente positivo (lgG). 
Eventual presença de complemento. 
PAI geralmente negativa. 
Anticorpo do eluato reage com glóbulos vermelhos recobertos 
pela droga, e não com normais (painel negativo). 
Aspectos clínicos: a hemólise ocorre somente quando grandes 
quantidades de droga são administradas. Aparecimento gradual, 
podendo ser fatal sem suspensão do medicamento. Com a sus-
pensão da droga: aumento da sobrevida das hemácias e hemólise 
leve e persistente. 
b) Formação de complexo imune. Ex.: quinidina, fenacetina. 
Principais drogas envolvidas: 
- quinina e quinidina; 
- fenacetina; 
- stibofen; 
- ácido paraminossalicílico; 
- algumas sulfamidas; 
- cefalosporinas (2ª e 3ª gerações); 
- penicilina e derivados; 
- diclofenac; 
- hidroclortiazina; 
- rifampicina; 
- nitrofurantoína; 
- dexacloro-feniramina; 
- clorpromazina. 
Menos freqüente. 
FL:\D.-\..\IL\.TO' D.~ 1\1\ :\0-HE\t~TOLOGL-1 ER!TRCXJT.-\RL-1 
Uma vez formado o anticorpo, pequenas quant idades de droga 
produzem hemólise grave. 
Eritrócitos podem estar revestidos apenas de complemento (utili-
zar soro de antiglobulina humana poliespecífico). 
Anticorpo IgG ou IgM. Geralmente não são detectados na PAI, 
pois esses anticorpos estão ligados à droga e a proteínas. Geral-
mente não são identificados após métodos de eluição, pois fo-
ram dissociados durante o procedimento de lavagem das hemácias. 
Por essa mesma razão, para realização do TAD recomenda-se o 
método de gel-teste centrifugação, que dispensa o procedimento 
de lavagem. 
Aspectos clínicos: hemólise severa, hemoglobinúria, hemoglobi-
nemia, insuficiência renal em 50qo dos casos. Podem ocorrer 
trombocitopenia e leucopenia, choque, CIVD. 
c) Alteração do sistema imune. Ex.: alfa-metildopa. 
Principais drogas envolvidas: 
- alfa-metildopa; 
- L-dopa; 
- procainamida; 
- ácido mefenâmico; 
- alfa-interferon; 
- gama-interferon; 
- IL-2. 
Anticorpos droga-independentes. As drogas modificam o siste-
ma imune, induzindo à formação de auto-anticorpos verdadeiros, 
especialmente contra antígenos do sistema Rh (freqüentemente 
antígeno e) . 
Auto-anticorpo classe IgG. 
Aspectos clínicos: a hemólise ocorre quando grandes quantida-
des de droga são administradas; 1.5°o a 20°o dos pacientes apre-
sentam TAD+ após 3-6 meses/dose-dependente, apenas O,S<+o a 
1% apresenta anemia hemolítica; suspensão da droga resulta em 
resolução do processo imune. 
.~li.~ HE~IOLÍllU .~l:T0 -1\Il:\E (A H AI) 185 
Conclusões importantes 
• Diante da positividade do teste de antiglobulina direto (TAD), o la-
boratório deverá investigar o envolvimento de drogas. Apesar de, 
muitas vezes, não podermos distinguir os mecanismos de droga-
indução envolvidos, devemos questionar se a droga suspeita poderá 
ser a responsável pela positividade do teste. 
• Se a suspeita for procedente, ela deverá ser retirada, antes que o 
anticorpo atinja um nível suficientemente alto para produzir hemólise. 
Usualmente, a retirada da droga envolvida na indução reverte a pro-
dução de anticorpos. 
• É possível que uma droga atue por mais de um mecanismo. 
AHAI a quente 
• É a forma mais comum das AHAI. 
• Em 50% dos casos é idiopática e em 50%, secundária a outras doenças. 
• Anticorpos são geralmente IgG, e às vezes IgA. 
• Na maioria das vezes o mecanismo de destruição dos GV não é 
intravascular, portanto os GV recobertos por anticorpos se ligam aos 
receptores Fc dos fagócitos esplênicos e sofrem transformação em 
esferócitos; fagocitose especialmente pelo baço, com conseqüente 
esplenomegalia. 
• Alguns dos anticorpos demonstram possuir certa especificidade con-
tra antígenos do sistema Rh. 
Rotina laboratorial para investigação de AHAI 
!MUNO-HEMATOLOGIA 
186 
a) Teste de antiglobulina direto: positivo com soro AGH poliespecífico 
---7 repetir utilizando soros monoespecíficos IgG e C 
b) Pesquisa e identificação de anticorpos no soro e/ou plasma e eluato: 
identificar anticorpos clinicamente significativos contra antígenos 
eritrocitários no soro e/ou plasma. 
identificar anticorpos no eluato. Lembre-se: somente complemen-
to ligado às hemácias ---7 eluato negativo.FL:-:u-\.\IE:--105 D;\ I:\,IL~O- HE:vl;\TOlOGI;\ ERITROCITI\RJ.A 
O resultado do TAD. isoladamente. não possui valor preditivo.4 
• Avaliar outros parâmetros de diagnóstico laboratorial: hematócrito 
(Ht) , dosagem de hemoglobina (Hb), haptoglobina. reticulócitos. 
• História clínica: gestação, hemólise inexplicada. medicamentos ad-
ministrados recentemente. transfusões. 
HEMATOLOGIA 
• Hematócrito. 
• Hemoglobina. 
• Plaquetas (geralmente normais). 
• -.1.- Níveis de haptoglobina. 
• 1' Atividade de HDL 
· 1' Urobilinogênio. 
CITOMETRIA DE FLUXO 
• Detecção do auto-anticorpo e outros aloanticorpos associados. 
• Determinação da subclasse IgG. 
Considerações sobre o 
teste de antiglobulina direto (TAD) 
1. Amostras: colher com anticoagulante, pois componentes do comple-
mento se ligam à hemácia de coágulo ---7 realizar TAD com amostra 
colhida com anticoagulante (EDTA. ACD, CPD) . 
2. Indicado para realizar teste em duplicata: 
soro AGH poliespecífico (leitura após 5' de incubação em tem-
peratura ambiente) 
se positivo, usar soros monoespecíficos: 
- anti-IgG (leitura imediata); 
- anti-complemento (segundo bula). 
American Association of Blood Bank.s. Technical !\!anual. cit. 
A 2':t\ll \ HE\IOLffiCA -11 TO·I\!L""\1: (i\HAIJ 187 
SIGNIFICADO DO TAD POSITIVO 
188 
• Limitações do teste: 
Sensibilidade do TAD em tubo é estimada em: 
- 200-500 moléculas de IgG/GV 
- 400-1.100 moléculas de C3d/GV 
• Indivíduos saudáveis possuem certa quantidade fisiológica de auto-
anticorpos IgG (5 -90 mol/GV) e complemento (5-97 mol/GV) , sendo 
eventualmente detectados em testes mais sensíveis, como gel-teste 
centrifugação, sem significado clínico. 
• i'vfas, em alguns casos de A HAI clinicamente significativos, pode 
haver número de moléculas IgG inferior à sensibilidade do teste. 
• Então, que metodologia eleger para testes de rotina? Tubo ou gel-
teste? 
Considerando que existem muitos trabalhos e estudos que mostram a 
visível diferença de sensibilidade entre os métodos, já abordados no 
capítulo 3, "Teste de antiglobulina humana", sugerimos avaliar a ne-
cessidade e o tipo de paciente que seu serviço atende. 
É importante uma avaliação diagnóstica ampla ou o que efetivamen-
te interessa é a resolução dos problemas de ordem transfusional? Para 
cada um dos casos, poderíamos pensar em uma resposta diversa. 
Assim como existem controvérsias em relação à conduta transfusional, 
pensamos ser mais adequado que o médico responsável e a equipe 
do laboratório decidam qual protocolo clínico e diagnóstico seguir. 
• Relato de caso em que hemólise grave persiste, apesar da negativação 
do TAD: 
indicação de testes mais sensíveis, com amostras recentes; 
resultado do TAD deve ser dissociado da importância/evolução 
clínica.3 
• Falsos negativos e positivos no TAD: 
2oo a 4oo e soa dos casos, respectivamente . ~ 
E. Biagi et ai .. "A Persistent Se\·ere Autoimmune Hemolytíc Anemia Despite Apparent Direct 
Antiglobulin Test l\:egatívízation", em Haematologica. 84 (11). novembro de 1999, pp. l.CJ.!3-1.045. 
B. i\ garwal. 'Autoimmune Hemolytíc Anemia". em Indian}. Pediatr .. 65 (5). 1998. pp. 663-668. 
TAD pré-transfusional: não há riscos em eliminá-lo da rotina. -
• TAD em AHAI quente: 
24°o a 63°·o são IgG e complemento positivo; 
20% a 66°éJ somente IgG; 
7% a 14°n somente complemento C3; 
raros lgA ou IgM associados; 
eluato: anticorpo IgG reativo com todas as células. Ocasional-
mente especificidade contra antígenos do sistema Rh. 
• TAD em AHAI frio: 
TAD positivo com AGH poliespecífico; 
TAD negativo com AGH anti-IgG; 
C3 quase sempre presente; 
especificidades mais comuns dos anticorpos: anti-I, -i; 
usualmente associado com mononucleose; 
eluato: não reativo com hemácias para identificação de anti-
corpos. 
AHAI e os testes pré-transfusionais 
• Aproximadamente 60°o dos casos de AHAI quente apresentam auto-
anticorpos no soro que reagem com todas as hemácias quando utili-
zamos potencializadores como geL PEG albumina, enzimas, cartões 
de gel-teste: portanto, evitar a adição desses reagentes na realização 
dos testes de pesquisa, identificação de anticorpos e provas de com-
patibilidade. 
• 40°6 apresentam aloanticorpos associados. Portanto, é de fundamen-
tal importância determinarmos se existem aloanticorpos associados 
aos auto-anticorpos, visto que: 
pacientes transfundidos com glóbulos vermelhos incompatíveis 
apenas com o auto-anticorpo raramente desenvolvem sinais e/ 
ou sintomas de reação hemolítica pós-transfusional; 
American Association of Blood Bank.s, op. cit. 
/\ '\[.\11,\ HE~IOLÍTIC\ \LI0-1~1':'\E U\HJ\[) 189 
esses eritrócitos transfundidos podem ou não ter sobrevida maior 
que os próprios eritrócitos do paciente; 
quando a transfusão é incompatível aos aloanticorpos associa-
dos, os eritrócitos transfundidos apresentarão sobrevida muitas 
vezes menor que os eritrócitos do paciente, com sinais e/ou sin-
tomas de reação hemolítica pós-transfusional8 
Por isso, é de suma importância detectar aloanticorpos mascarados pelos 
auto-anticorpos. 
• Métodos indicados na pesquisa dos aloanticorpos associados aos 
autoanticorpos: 
auto-adsorção quente após dissociação do auto-anticorpo com 
difosfato de cloroquina/ZZAP/eluição quente; 
adsorção com eritrócitos alogênicos tratados por enzimas ou 
ZZAP; 
adsorção com PEG (soro paciente + eritrócitos alogênicos + PEG); 
diluição do soro do paciente, apenas se o auto-anticorpo estiver 
em título menor que o suposto auto-anticorpo. 
Em geral, determinar se a especificidade do auto-anticorpo é pouco sig-
nificativo. O importante é conhecer sua capacidade hemolítica e a associa-
ção com aloanticorpos. 
Caso não haja tempo para realizar pesquisa dos aloanticorpos, reco-
menda-se fenotipagem do paciente e bolsa para antígenos do sistema Rh 
(D, C E. e, C c). Kl . Jk•." 
• Se o auto-anticorpo demonstrar alguma especificidade definida, e 
caso exista sangue compatível, então recomenda-se preparar sangue 
negativo para o respectivo antígeno. Talvez a sobrevida desses GV 
seja maior.w 
Vale lembrar: muitas vezes essa conduta pode levar a uma aloimu-
nização, como, por exemplo, no caso de o paciente apresentar auto-
' G. Garratty, Compatibility Testing Patients with A utoimmune Hemolytic Anemia A ssociated 
with ~\ 'ilrm A utoantibodies. www. cbbsweb.orglcbgarrattyaika.h tm l. 
" Ibidem. 
10 Ibidem. 
190 
anticorpo de especificidade anti-e e fenótipo eritrocitário E-e+, e re-
ceber transfusão E+e-. 
• Segundo Issit e colaboradores,11 em muitos casos, os aloanticorpos 
detectados após auto-adsorções são na verdade auto-anticorpos 
mimetizando aloanticorpos: 
69°o após auto-adsorção; 
19qo após aloadsorção. 12 
Apesar de ser importante a resolução desses problemas, atrasar a trans-
fusão pode levar o paciente a risco de vida. Recomendamos a ação conjunta 
com o médico hemoterapeuta e/ou médico responsável pelo paciente. 
Procedimentos geralmente empregados para 
transfusões em pacientes com AHAI 
• Transfusão apenas para pacientes sintomáticos. 
• Transfusão de pequenos volumes, a fim de diminuir sintomas. 
• Excluir presença de aloanticorpos (clinicamente significativos) asso-
ciados aos auto-anticorpos. e lembrar-se sempre de evitar novas 
aloimunizações. 
• Se possível. determinar especificidade do anticorpo quente. 
• Não expor o paciente a riscos, pela espera dos resultados dos testes 
adicionais. 
·· P. O. lssit & O. J. Anstu . . ~pplied Blood Group Serology (-l ed. Ourham: ~Iontgomery 
Scientific. 1999) 
·- ibidem. 
.'\ '>:E\11\ HE.\iOLITIC.I c\110-L\IL '>:E (A H AI) 191 
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197 
Sobre as autoras 
Ana Lúcia Girello 
Graduada em Biomedicina, pela Universidade Santo Amaro (Unisa), e 
em Publicidade, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), 
em São Paulo. Atuou como Assessora Científica da DiaMed Latino-Amé-
rica/Ph7 Comércio e Representação, por cinco anos, no atendimento técnico 
a serviços de hemo terapia do estado de São Paulo. É mestranda em Análises 
Clínicas pela Unisa, na disciplina de Hematologia e Hemoterapia. Trabalha 
como docente-coordenadora do Curso técnico em hemoterapia e programas 
de aperfeiçoamento do Centro de Educação em Saúde do SE AC de São 
Paulo, onde atua há quatro anos. Trabalha, ainda, como consultora de 
marketing científico na empresa Bioline Distribuidora e Assessoria, com 
sede em Vinhedo, interior de São Paulo, e é especializada em treinamento 
empresarial para serviços de hemoterapia e laboratórios de análises clíni-
cas, com clientes em todo o Brasil. 
Telma Ingrid Borges de Bellis Kühn 
Graduada em Farmácia e Bioquímica pelas Faculdades Osvaldo Cruz, 
em São Paulo. Atuou por onze anos como biologista na Fundação Pró-San-
gue/Hemocentro de São Paulo e no Serviço de Hemoterapia da Real Bene-
mérita Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Tem especialização em 
Hematologia Laboratorial pela Academia de Ciência e Tecnologia de São 
José do Rio Preto. É docente do Curso técnico em hemoterapia e programas 
de aperfeiçoamento do Centro de Educação em Saúde do SENAC de São 
Paulo. Trabalha também como consultora de maJ*eting científico na em-
presa Bioline Distribuidora e Assessoria, com sede em Vinhedo, interior de 
São Paulo, e é especializada em treinamento empresarial para serviços de 
hemoterapia e laboratórios de análises clínicas, com clientes em todo o 
Brasil. 
200 
	1 - Bases imuno-hematológicas
	Introdugao a imunologia
	sistema imune
	funções do sisteme imune
	definições importantes
	classe dos anticorpos importantes em imuno-hematologia
	Resposta imune especifica: breve relato
	Resposta imunológica em aloimunização eritrocitaria
	Fundamentos dos testes imuno-hematoló
gicos
	caracteristicas bioquimicas da reação antigeno x anticorpo
	fenomeno da aglutinação de hemácias (hemaglutinação)
	Potencial zeta
	Resposta imunológica em aloimunizagao eritrocitaria
	2 - Fundamentos de genetica basica e molecular
	Breve hist6rico
	projeto genoma humano
	conceitos de genetica clássica
	Estudo quimico dos acidos nucleicos
	Expressao genica
	3 - Teste de antiglobulina humana
	Introdugao
	Principia do teste
	Tipos de reagentes antiglobulina
	Tipos de teste da antiglobulina humana
	Falsos resultados no teste de antiglobulina humana
	4 - Pesquisa e identificação de anticorpos irregulares
	Introdução
	O que são anticorpos irregulares?
	anticorpos séricos 
	Pesquisa de anticorpos irregulares
	Prova cruzada maior
	Prova reversa da fenotipagem ABO
	anticorpos ligados às hemácias
	Autocontrole
	Teste de antiglobulina direto (TAD)
	Controle de Rh
	Algoritmo em caso de PAl positivo
	Alguns procedimentos auxiliares em identificação de anticorpos irregulares
	tecnica enzimática
	pre aquecimento
	redução da temperatura
	low ionic strenght solution (LISS)
	reagentes thiol (2-mercaptoeptanol ou DTT)
	substancias macromoleculares: albumina, dextran, ficol, PEG
	adsorção
	alteração do pH
	5 - Sistemas ABO(ABO 001) e Hh (H 018)
	Introduçã
o
	Fenótipos ABO
	Heranga genetica ABO
	Biossintese dos antigenos
	
biossintese dos antigenos ABO e H no eritroblasto
	Considerações
	biossintese dos antigenos ABO, H e Leweis soluveis
	Genetica molecular
	Subgrupos ABO
	Anticorpos ABO
	ABO e associações com doenças
	ucera e gastrite duodenal
	infecções
	fungos
	maignidade de tumores
	dessordens de coagulação
	6 - Sistema Rh (ISBT 004)
	Histórico
	Importancia clinica
	Bioquimica e genetica
	Pseudogene (DΨ)
	Diferenças estruturais (polimorfismos) entre os antígenos 
D, C, c, E, e 
	antigeno Cw
	Teorias geneticas e moleculares e nomenclaturas
	Variantes fenotipicas do antigeno D
	Considerações
	significado clinico
	Anticorpos Rh
	7 - Outros sistemas de grupos sanguíneos de importância transfusional
	Introdução
	Relembrando alguns conceitos fundamentais
	O que sao OS sistemas de grupos sanguineos?
	Terminologia
	Nomenclatura ISBT
	Outros sistemas de grupos sanguineos de importancia transfusional
	SISTEMA KELL (006)
	Anticorpos do sistema Kell
	SISTEMA DUFFY (008)
	Anticorpos Duffy
	SISTEMA KIDD (009)
	Anticorpos Kidd
	Sistema Lewis (007)
	Esquema da biossintese das substancias soluveis
	Anticorpos Lewis
	SISTEMA MNS (002)
	Anticorpos MNS
	SISTEMA DIEGO (010)
	Anticorpos Diego
	8 - Doença hemolitica perinatal
	Introdução
	Fisiopatologia da doenga hemolitica dorecem-nascido ou perinatal
	por aloanticorpos maternos
	por anticorpos regulares ABO
	fisiopatologia no periodo intra-uterino
	fisiopatologia após nascimento
	Classificac;ao da doenc;a hemolitica perinatal (DHPN)
	Doença hemolitica do recem-nascido ou perinatal por presença de anticorpos anti-D maternos
	etiologia
	O que é proteção ABO e como ela limita a sensibilização materna?
	O que é prevenção de imunização por imunoglobulina anti-D?
	Como os anticorpos atravessam a barreira placentaria?
	aspectos laboratoriais
	severidade da doença
	Doenga hernolitica do recern-nascido ou perinatal por incornpatibilidade materna-fetal ABO
	etiologia
	Existem diferenqas de freqiiencia de doenqa hemolitica por incompatibilidade ABO de acordo com a origem etnica?
	aspectos laboratoriais
	considerações laboratoriais
	Doenç;a hemolitica do recem-nascido ou perinatal por outros anticorpos alem do anti-D e contra os antigenos do sistema ABO
	etiologia
	Podemos utilizar a RhoGan ou a imunoglobulina anti-D como medida profilatica nesses casos?
	Quais as frequencias e especificidades mais comuns de DHPN por outros anticorpos?
	Qual a severidade da DHPN por outros anticorpos? Como podemos quantifica-la/predize-la?
	Testes laboratoriais para detecção de DHPN
	Tratamento de DHPN
	9 - Anemia hemolitica auto-imune (AHAI): aspectos laboratoriais
	Introdução
	Aspectos imunológicos das doenças auto-imunes
	O que é auto-imunidade?
	tolerancia imunologica
	doenças causadas por anticorpos
	Anemia hemolitica auto-imune (AHAI): a destruição dos eritrócitos
	mecanismos de destruição dos eritrócitos
	Intravascular
	Extra vascular
	sistema complemento e a destruição intravascular 
	Representações graticas
	Ativação do complemento
	Funções bio1ógicas do C (Figura 1)
	Mecanismos de ativação
	A cascata do complemento
	Consequencias da ativação
	Mecanismos reguladores
	Anticorpos geralmente fixadores de complemento
	Entao, como as hemacias acabam sendo revestidas pelas frações de complemento?
	O que representa a presenqa do complemento nos testes imuno-hemato1ógicos?
	Aspectos fisiopatológicos das AHAI
	AHAI a frio
	Sindrome da crioaglutinina (CAlHA)
	Hemoglobinuria paroxistica a frio (HPF)
	AHAI a quente
	AHAI quente induzida por drogas
	AHAI a quente
	Rotina laboratorial para investigação de AHAI
	imuno-hematologia
	hematologia
	citometria de fluxo
	Considerações sabre o teste de antiglobulina direto (TAD)
	significado do TAD positivo
	AHAI e os testes pre-transfusionais
	Procedimentos geralmente empregados paratransfusões em pacientes com AHAI
	Referencias bibliograficas

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