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BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS AULA 5 Prof. Antonio Siemsen Munhoz Prof. Daniel Weigert Cavagnari 2 CONVERSA INICIAL Anteriormente estudamos os fundamentos legais e comerciais que tratam das criptomoedas e da tecnologia blockchain. As mais diversas facetas foram analisadas de formas isoladas. Essa abordagem visa facilitar a aquisição de conhecimentos em uma vertente altamente abstrativa. Agora é chegado o momento de colocar essas tecnologias no palco em que são utilizadas e em que ganham significância: o palco dos negócios eletrônicos. Esse mercado denominado e-business ainda é dominado pela economia e pelas formas tradicionais de desenvolvimento de negócios. Nesta aula, veremos, de modo geral, como as criptomoedas e o blockchain influenciam o mercado atual e suas tendências. CONTEXTUALIZANDO Crédito: Jemastock/Shutterstock. A utilização de criptomoedas e de tecnologia blockchain ainda engatinha, como vimos anteriormente, devido a uma grande insegurança presente no mercado com relação ao processo de descentralização proposto e a um otimismo considerado exagerado pelas empresas. Aliado a isso há também o desconhecimento do investidor comum, que nada ou pouco conhece sobre essas inovações tecnológicas. O problema maior é que questões como essa causam ansiedade e fazem com que as pessoas se tornem investidoras da noite para o dia achando que ganharão dinheiro rápido e fácil, mas o que ocorre na realidade é o oposto. Enfim, enquanto esse novo mercado não atingir um certo grau de maturidade, não há como investir 100%. Também não há como ignorá-lo, pois o futuro já tem seus primeiros registros, e, pelo que se sabe, já estão na blockchain. 3 TEMA 1 – BLOCKCHAIN E AS CRIPTOMOEDAS Crédito: Rawpixel.com/Shutterstock. 1.1 Blockchain Qual é a relação entre blockchain e criptomoedas? Anteriormente, classificamos o blockchain como um guarda-chuva, debaixo do qual são trabalhadas e ganham consistência diferentes moedas que foram nominadas e descritas de forma breve, apresentando a proposta com a qual elas foram criadas. De forma incorreta ou não, é importante sinalizar o fato de que a tecnologia blockchain está sendo considerada por um número considerável de pessoas como sendo a nova internet, além de invenção engenhosa de nerds, asserção tomada com o sentido jocoso como a palavra é tratada. Ao criar e circular informações que podem ser distribuídas, mas não copiadas, é possível considerar que a tecnologia blockchain, na realidade, criou a espinha dorsal de uma nova internet. Ela foi criada como solução para a construção de uma nova economia digital, mas, como um rastilho de pólvora, acabou por se espalhar e ser relacionada com outras atividades. Ela ainda trata de questões de bitcoin, considerada como o novo ouro digital, e vimos que as questões de preservação digital entram em questão. O curioso em toda a movimentação em torno desse assunto é que a grande maioria das pessoas que trabalha com ela (com exceção dos mineradores e dos gestores do processo) não necessita ter nenhum conhecimento sobre o que se esconde por trás da possibilidade de perdas e ganhos financeiros. A questão do livro-razão incorruptível que contém as transações econômicas da empresa, já tratada anteriormente, atrai a curiosidade de muitas pessoas, como abordam os estudos e colocações de Tapscott e Tapscott (2017). 4 Nada melhor que um exemplo simples de alguma atividade diária que possa ser beneficiada por essa tecnologia para que a compreensão da conceituação blockchain seja compreendida. Utilizaremos um exemplo comum e que trata do compartilhamento de documentos na grande rede. Veja o que acontece sem e com a utilização da tecnologia que estamos apresentando. Imagine diversas pessoas desenvolvendo um documento de forma colaborativa. O modo tradicional de compartilhamento é enviar o documento no formato Microsoft Word (ou de outro editor qualquer que possa ser alterado e reenviado) para uma localidade e pedir que as pessoas envolvidas façam as revisões. O problema nesse cenário é que as pessoas têm de esperar pela cópia de regresso antes de poder ver ou fazer outras modificações, devido ao fato de que as edições estão trancadas enquanto o retorno não chega. O mesmo acontece com diversos outros exemplos possíveis: duas pessoas trabalhando com registros de arquivos de grandes bases de dados não podem atualizar o mesmo registro ao mesmo tempo; o primeiro que entra, trava as demais alterações, que só serão destravadas quando ele sair. Se trabalharmos com algum repositório do tipo Google Docs, todos os participantes terão acesso ao mesmo documento e ao mesmo tempo, e uma versão única sempre estará visível para todos. Aqui, em vez de trabalharmos com um livro-razão compartilhado, trabalharemos com um documento compartilhado. Nesse exemplo está a essência do blockchain, e, ao imaginar essa situação com documentos legais que compõem um livro-razão, podemos então compreender a importância e a simplicidade dessa tecnologia, ainda que exista algum grau de dificuldade em sua abstração. O fato de o documento citado como exemplo ser transparente, público e não corrompível reforça ainda mais a força da tecnologia blockchain. O documento está replicado em múltiplos nós e cada nova pessoa que ingressa na rede blockchain cria um novo nó, de modo que se torna impossível a perda das informações por ação de hackers ou crackers. A partir dessa última consideração, é também possível compreender a descentralização que atrai novos adeptos. Assim, de vantagem em vantagem, a nova tecnologia ganha corpo e passa a ser mais visível. Compreendida a tecnologia blockchain, abordaremos da mesma forma as questões sobre moedas digitais, partindo da moeda denominada bitcoin e 5 considerando, dentro do possível, que tudo o que se diga sobre ela tenha validade, com algumas variações, para outras moedas já a partir do fato de terem sido criadas com diferentes objetivos. 1.2 Criptomoedas Nos tópicos anteriores, falamos sobre as criptomoedas, mas sem nos aprofundarmos no assunto. Antes de prosseguir com outras informações que podem sedimentar o conhecimento adquirido até o momento, entraremos em alguns detalhes complementares. À primeira vista pode parecer que o assunto diz respeito somente àquelas pessoas que trabalham com finanças, o que não está fora da realidade. As pessoas que se interessam pelo tema observam que as pessoas que tratam dele são afeitas ao mercado financeiro. A criptomoeda, que tratava de algo já existente, mas que era somente comentado em rodas de pessoas que tinham intenções financeiras, passou a ocupar um lugar de destaque na sociedade atual. Ela passou a ser objeto de estudos de uma linha de pesquisa colocada em todos os cursos de administração e finanças: a economia 2.0, já tratada anteriormente. Há duas perguntas convergentes que faremos neste momento e que passam a preocupar tanto as pessoas que veem com receio a sua ascensão quanto as pessoas que consideram investir pesado nessa nova moeda. A primeira pergunta é natural: o que é essa tal de criptomoeda? A segunda vai um pouco além da curiosidade: que tipo de proveito posso tirar desse recurso monetário? Reafirmamos o que já dissemos em outros momentos: saber o que é a criptomoeda vai além de saber que ela é apenas uma moeda digital. Pegue sua nota de R$ 20,00 e olhe para ela: ela é um meio físico, tem numeração, marca d’água e é garantida, sendo que sua guarda exige da pessoa cuidados para evitar sua degradação por alguma forma. Isso não ocorre no caso da criptomoeda, e, para além de também ter um valor que utiliza a moeda tradicional como padrão comparativo de valor, a grande diferença está no fato de que ela é apenas um código virtual que pode ser convertido de acordo com o padrão adotado.Sua negociação foge dos padrões e da regulação (nossa moeda, o Real, é regulada pelo Banco Central e por moedas de outros países, e também tem um órgão de regulação estatal). 6 Essa negociação acontece diretamente na grande rede, sem entraves burocráticos, sem intermediários, caracterizada pela ausência de sistemas monetários regulamentados. Quando essa caracterização é colocada, em vez de esclarecer as dúvidas ela parece colocar o receio na linha de frente, e novas perguntas surgem: mas ela é confiável? Como se processa uma negociação em criptomoeda? Lembramos aqui de uma reportagem de Versignassi (2017) para a revista Superinteressante com o seguinte título: Bitcoin: vale mesmo botar dinheiro nisso? O autor apresenta números mirabolantes (leia a matéria em sua íntegra) e finaliza o artigo caracterizando o bitcoin e, por extensão, todas as criptomoedas como uma experiência que ainda não tem uma liquidez que permita resgatar valores com a mesma agilidade com que é possível fazer com as moedas tradicionais. A colaboração do autor não se restringe a chamar a atenção para as criptomoedas, mas também se estende no sentido de recomendar cuidados a quem estiver pensando em iniciar investimentos na área. O autor considera que tal fato representa mais uma aposta do que um investimento seguro. Chegamos à pergunta que pode esclarecer de vez as dúvidas das pessoas: como funciona a tal da criptomoeda? Falaremos da posição adotada pela FinanceOne, uma empresa dedicada ao trabalho com as criptomoedas, mais notadamente o Bitcoin, a moeda de maior destaque nos dias atuais. Esse instituto considera que o funcionamento da criptomoeda está baseado nas características citadas no quadro a seguir. Quadro 1 – Funcionamento da criptomoeda de acordo com a FinaceOne Questionamento Resposta Como ocorrem a cotação, a compra e a venda das criptomoedas? Ocorrem de forma anônima, pela internet. Como é feito o armazenamento das criptomoedas? Elas são armazenadas em uma carteira. Quem administra o ambiente das criptomoedas? Um computador pessoal ou um dispositivo móvel. (continua) 7 (continuação Quadro 1) Qual tecnologia dá sustentação às criptomoedas? A tecnologia denominada blockchain, tratada anteriormente. Ela é considerada, como já destacamos, como um protocolo de confiança. Consiste em bases de registros e dados compartilhados, tendo como principal medida de segurança a descentralização. Como as transações com criptomoedas são reconhecidas? Por meio de um índice global para todas as transações dentro do mesmo mercado. Veja novamente o exemplo do livro-razão, público e compartilhado. Quem dá confiança ao ambiente? A ausência de mediação de terceiros, que cria a confiança desenvolvida via comunicação direta entre as partes da transação. As criptomoedas são estáveis? Seu crescimento justifica certo otimismo. Há considerações de que as criptomoedas chegaram para ficar, apesar de diversos focos de resistência que ela ainda terá que superar. E a confusão de nomes? As terminologias mais utilizadas são criptomoeda, moeda virtual e moeda digital, e elas podem ser consideradas como sinônimos. Para que servem as criptomoedas? Para desenvolver transações de compra e venda de bens e de serviços a ser utilizados. Como são feitas as transferências financeiras com criptomoedas? Diretamente pela internet. A ausência da cobrança de taxas é um tópico que atrai e deve atrair muitas empresas. Como fazer para comprar e vender criptomoedas? A venda e a compra ocorrem via internet, no mercado denominado ecoins. Outras opções são o Mercado Bitcoin e a Braziliex. A atividade exige criar gratuitamente uma conta e informar o valor da transação em reais ou a quantidade de moedas virtuais que se quer comprar ou vender. Como investir economias em criptomoedas? Devem-se evitar altas quantias, embora o mercado seja atraente. As melhores aplicações da bolsa rendem 25% em um período anual, enquanto no período de 2016 houve valorização de 276% do bitcoin. O que é uma ICO? Initial Coin Offer. É a oferta inicial pública de venda de uma moeda, como alternativa ao investimento em bitcoins. Como investir em ICO? Deve-se seguir o roteiro: escolher plataforma de negociação on-line; pesquisar formas de negociação; registrar o cadastro; transferir recursos. Fonte: Adaptado de FinanceOne, 2018b. Observe no infográfico montado pela FinanceOne as vantagens e desvantagens de efetivar investimentos no mercado das criptomoedas. Com as informações dadas por ele, o investidor pode ter mais segurança para realizar seus investimentos em criptomoeda. 8 Figura 1 – Vantagens e desvantagens do investimento em criptomoeda Vantagens e desvantagens Depois de comprada, é mais difícil de ser roubada. Regida por um mercado internacional. Não necessita de grandes aparatos de segurança, como uma caixa forte de banco. Risco potencializado em tempos de instabilidade econômica e política. Pode ser utilizada por qualquer cidadão com acesso à internet. Risco de acesso por hackers ou corrupção de dados por malwares. Há uma lista crescente de lugares onde podem ser utilizadas. Alta volatilidade, que pode comprometer a função de reserva de valores. Não sofre influência da inflação. Não se sabe exatamente qual é o seu futuro. Fonte: FinanceOne, 2018b. Com os dados e as informações deste tema é possível compreender melhor a conceituação das criptomoedas e tomar uma decisão apoiada em argumentos de autoridades na área. TEMA 2 – MINERAÇÃO DAS CRIPTOMOEDAS Crédito: Morrowind/Shutterstock. O colunista Rafael Massadar, em sua matéria para a FinanceOne (O que é criptomoeda, para que serve e como investir, 2018), oferece dados que transmitem um conhecimento mais completo sobre o tema. Criamos uma tabela a partir das recomendações institucionais destacadas por Massadar, de forma a tornar mais clara a compreensão sobre o tema. 9 Quadro 2 – Mineração de bitcoins Questionamento Resposta Em que consiste o processo de mineração de criptomoedas? Muitos podem considerar erroneamente que ele representa somente a descoberta ou a fabricação de novas moedas. Esse processo pode ser mais bem definido considerando-se que ele representa um conjunto de ações para validar e processar as transações de uma moeda digital localizada na cadeia de blocos (blockchain, localizada na internet). Em uma visão mais técnica, ela é também definida como a tarefa de encontrar a chave que criptografa os blocos, chamadas de hash. Sempre que um minerador encontra um desses hashs ele informa à rede e ganha (no caso dos bitcoins) uma recompensa de 12,5 bitcoins. Esse fato justifica o crescimento de profissionais que executam essa tarefa. O que são as cadeias de bloco? São conjuntos de localidades dos livros de registro, no qual todas as transações desenvolvidas são registradas de forma cronológica e linear. O que esse processo exige? Ele exige esforço e custo computacional que garantam a complexidade de escrita de novos blocos de transações. Essa atividade evita que um cibercriminoso gere um bloco falso e o adicione à rede, ou que modifique blocos já existentes. O que é mineração com CPU? É aquela feita com a ajuda de computadores pessoais para desenvolver a atividade de mineração, o que não é mais possível nos dias atuais. O que é mineração com GPU? É a opção mais rápida de mineração, via CPU própria, mas com uso de placas gráficas de alto desempenho. Tanto na atividade anterior quanto nessa, os tempos para localização de blocos tornam inviável a sua utilização.; O que é mineração profissional? É aquela realizada pelos data centers com trabalho profissional envolvido e cujo processamento permite obter tempos de localização de hashs mais realistas. O que é mineração em nuvem? É aquela efetuada por profissionaisnos provedores que representam plataformas de computação em nuvem. Há alguma restrição quanto ao desenvolvimento da mineração de criptomoedas? No Brasil não há regulação específica; quem tem interesse pode comercializar. Mas há um projeto de lei que visa submeter essa atividade ao Banco Central, o que poderia eliminar uma das vantagens anteriormente assinaladas com relação ao uso das criptomoedas: a sua independência em relação aos órgãos reguladores. O que é um pool de mineração? É um conjunto de provedores que desenvolve a atividade de mineração para a pessoa interessada. É algo similar a uma cooperativa. A recompensa pelos blocos localizados é rateada de forma proporcional à participação de cada membro. Fonte: Adaptado de Massadar, 2018. Com a conceituação apresentada anteriormente, você pode considerar como cumprida a tarefa de aprender sobre a mineração de cibermoedas. Para complementar esse conhecimento, veja quais são os melhores pools de mineração de acordo com Massadar (2018): Melhores pools de mineração 1 – AntPool 10 Originária da China, essa pool é mantida pela BitMain. Ela já minera cerca de 15% dos blocos em carteiras bitcoins. 2 – DiscusFish/F2Pool Também com sede na China, essa pool faz, hoje em dia, a mineração de aproximadamente 12% dos blocos existentes. 3 – BitFury Pool A mineração desse também é de 12% dos blocos espalhados por aí, com a diferença de que essa mineração acontece em três centros de processamento de dados espalhados pela República da Geórgia. Porém, trata-se de um pool privado, não tendo como se juntar a ele (pelo menos, por enquanto). 4 – BTCC Terceira maior casa de câmbio de bitcoins da China. Sua área de mineração alcança cerca de 7% do total de blocos. 5 – ViaBTC Essa pool é relativamente nova. No entanto, já mostra ótimos resultados de mineração. Ela lançou uma nova exchange, permitindo a comercialização de Bitcoin e Ethereum para usuários na China e mundo. Outra pergunta que você pode fazer se refere a quem são as pessoas mais ricas (bilionárias) do mundo que trabalham com transações de criptomoedas. Em seu site, a FinanceOne (2018a) destaca as dez maiores fortunas do setor: Quem são os 10 mais ricos do mundo em criptomoedas? 1º – Chris Larsen Ele é diretor executivo e ex-CEO da Ripple, que facilita pagamentos internacionais para bancos utilizando tecnologia de blockchain. Ele, pessoalmente, detém 5,2 bilhões de XRP, o token lançado pela Ripple, e a Ripple em si controla mais de 61 bilhões de XRP, um conjunto que vale US$ 95 bilhões. Fortuna: entre US$ 7,5 bilhões e US$ 8 bilhões Idade: 57 anos 2º – Joseph Lubin O ex-executivo do Goldman Sachs nativo de Toronto fundou a plataforma de blockchain Ethereum e a ConsenSys, um gigante de 600 funcionários em 28 países que ajudou a lançar cripto empresas novas ou criar empresas derivadas e tokens, além de ter prestado consultoria para a Microsoft. Fortuna: entre US$ 1 bilhão e US$ 5 bilhões Idade: 53 anos 3º – Changpeng Zhao Conhecido como “CZ”, criou a maior casa de câmbio de mundo, a Binance. Enquanto chegava ao marco de 6 milhões de usuários, CZ moveu suas operações para três países diferentes para ficar à frente de regulamentações que poderiam prejudicar seu negócio. Fortuna: entre US$ 1,1 bilhão e US$ 2 bilhões Idade: 41 anos 4º e 5º – Cameron e Tyler Winklevoss Os irmãos gêmeos, até então, um dos maiores retornos financeiros na história norte-americana. Eles compraram bitcoins quando poucas pessoas conheciam a moeda, em 2012, e se mantiveram firmes. Além disso, criaram uma casa de câmbio de criptomoedas em Nova York que, recentemente, processou US$ 300 milhões em transações diárias. Fortuna: entre US$ 900 milhões e US$ 1,1 bilhão Idade: 36 anos Idade média é de 42 anos 11 6º – Matthew Mellon (empate) Herdeiro de uma das maiores fortunas bancárias dos Estados Unidos, Mellon começou a explorar as criptomoedas há anos, apesar dos alertas de amigos e familiares. Ele foi um investidor inicial do XRP, o token lançado pela Ripple, que pretende criar tecnologia de blockchain para grandes bancos. Fortuna: entre US$ 900 milhões e US$ 1 bilhão Idade: 54 anos 7º – Brian Armstrong (empate) Nessa corrida pelo ouro digital, Armstrong é a pessoa que está ganhando muito dinheiro vendendo as ferramentas. Ele fundou a Coinbase, o centro nervoso e ponto de entrada mais popular para o comércio de criptomoedas nos Estados Unidos em 2012. Fortuna: entre US$ 900 milhões e US$ 1 bilhão Idade: 35 anos 8º – Matthew Roszak (empate) Ele prendeu sobre bitcoins em 2011 e participou das primeiras ofertas iniciais da moeda. Ele está sempre buscando novos adeptos – e diz que deu a Richard Branson e Bill Clinton seus primeiros bitcoins. Fortuna: entre US$ 900 milhões e US$ 1 bilhão Idade: 45 anos 9º – Anthony Di Iorio Ele colocou um pouco de dinheiro para fundar a plataforma de blockchain Ethereum e continuou a investir em múltiplos criptoativos. Sua estratégia: entrar cedo e, depois que os ativos crescerem e se nivelarem, colocar seus ganhos em outra moeda promissora. Fortuna: entre US$ 750 milhões e US$ 1 bilhão Idade: 43 anos 10º – Brock Pierce Ex-ator mirim, Pierce foi um pioneiro das moedas digitais, fundando dezenas de cripto empresas como a Mastercoin, a Coinbase e a Ethereum. Agora, ele diz que pretende doar US$ 1 bilhão para uma comunidade autônoma descentralizada operar em um blockchain. Fortuna: entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão Idade: 37 anos (FinanceOne, 2018a) Ao analisar a lista dada pela FinanceOne (2018a), notamos que não são poucas as pessoas que têm vontade de juntar suas economias e partir para a aplicação em criptomoedas. Contudo, é bom se lembrar do conselho de especialistas e tomar cuidado. Na atualidade, a coisa está mais para loteria do que para um investimento seguro e com retorno garantido. 12 TEMA 3 – CRIPTOMOEDAS NA ECONOMIA GLOBAL: MERCADO FINANCEIRO E PAGAMENTOS Crédito: Rawpixel.com/Shutterstock. As criptomoedas tiveram seu tempo de bolha na internet. A variação atingiu cifras não somente estratosféricas, mas também totalmente assustadoras para muitas pessoas. A primeira reação dos economistas que tinham o pé mais no chão foi se colocar como observadores de um fenômeno que, consideravam, logo passaria, deixando para trás dias de glória em que uns enriqueceriam e outros seriam deixados na bancarrota. Nenhuma dessas coisas aconteceu. Algumas pessoas perderam um bom investimento e muitas pessoas enriqueceram e se tornaram bilionárias, quase que da noite para o dia. Na atualidade, as criptomoedas assumiram um lugar mais crível, apresentando uma evolução mais lenta e desenvolvida em um crescente. Após a passagem do tsunami criptomoedas, que ocorreu em diversas partes do mundo globalizado, vivendo sob a desconfiança geral, ela atingiu um nível que deixa prever a sua autossustentabilidade. Parece que foi o aspecto financeiro, mais do que as notícias sobre a evolução tecnológica, que dominou essa evolução, sem que se tenha prestado muita atenção à tecnologia blockchain que estava por trás dela. A tecnologia blockchain se apoia, a exemplo da indústria 4.0, em um conjunto de novas tecnologias que devem apresentar uma funcionalidade conjunta para que possam agir de forma sinérgica. Não há uma que ganhe destaque e, se separarmos a computação em nuvem, que defina as localidades de residência das criptomoedas, tendo, por isso mesmo, um lugar diferenciado. 13 As demais operam de forma igualitária e dividem a sua importância de forma compartilhada. Não são poucos os economistas que creditam a essa tecnologia um status de tecnologia exponencial, altamente disruptiva e que deve alterar a economia que na atualidade é desenvolvida na internet em sua forma tradicional, mas para a qual já se apresentam candidatas, todas elas provenientes da área das criptomoedas. Ela deve criara economia 2.0, ou economia digital. Ela pode, também, ser considerada como uma disruptora por excelência, com influência no comércio global. Em sua evolução inicial, poucos obstáculos podem ser interpostos em sua caminhada rumo à autossustentabilidade. Na atualidade, parece não haver barreiras, e é possível observar um crescimento, lento e seguro, de instrumentos de software e hardware dispostos a colaborar em sua caminhada. Invariavelmente e em diversas situações, quando se analisam as criptomoedas, o bitcoin ganha destaque devido às histórias de retorno financeiro (veja a lista das dez pessoas mais ricas em criptomoedas dada pela FinanceOne, que citamos no tema anterior) obtido facilmente por muitas pessoas. Esses episódios devem rarear, e sucesso parecido somente poderá ser obtido a muito custo e em trabalhos cooperativos e colaborativos desenvolvidos na rede por cooperativas e consórcios. A inexistência de intermediários, apesar de ainda persistir, parece fadada a desaparecer, considerando o elevado interesse financeiro envolvido. Mas isso ainda deve demorar tempo suficiente para enriquecer um bom grupo de pessoas. Se você trabalha com transações financeiras tradicionais, deve utilizar o sistema bancário tradicional. Ao utilizar esse sistema você está sujeito a um grupo de taxas que pode ser mais ou menos escorchante, a depender das condições do mercado financeiro. Já com o bitcoin, a inexistência ou o valor ínfimo das taxas são o segundo grande atrativo, em fase de assumir a liderança quando a regulação externa chegar ao setor, exigindo compliance de empresas e pessoas. Em uma competição entre os bancos e as moedas digitais, a menos que aconteçam fatos relacionados com a proteção de mercado, o sistema bancário já entra em desvantagem, e uma grande desvantagem. Dessa forma, a máxima que diz “quando não se pode derrotar o inimigo, junte-se a ele” tem sua eficiência 14 mais uma vez comprovada. Os bancos também estão atuando como investidores nesse mercado, seja de forma aberta ou por intermediários. Qualquer levantamento de initial coin offer (ICO) (que citamos no item 1.2) que seja efetuado mostra uma popularização que preocupa o mercado em todos os níveis, não somente naquele que provoca resultados financeiros. Aqui a questão envolve governança, que é muito menos complexa no campo das moedas digitais. O poder da multidão entra em cena. Se já havia sido comprovada a força do crowdsourcing,1 com um aumento significativo de troca de informações e geração de conhecimentos, o crowdfunding2 toma assento junto às tecnologias participantes do aumento da força do blockchain. Aqui, o poder da multidão toma o lugar dos investidores e os pequenos reunidos são capazes de atitudes cooperativas e colaborativas, que ajudam pequenas empresas a decolar do pátio em que muitas aeronaves semelhantes estão estacionadas. Quando governo, bancos, capitalistas de risco e investidores são eliminados, consolida-se a moeda digital como um potente meio alternativo de obtenção de recursos. Um sonho de muitos, a substituição do dinheiro de papel parece atingir o seu nível máximo. Um dos subprodutos da utilização das moedas digitais é a total eliminação do dinheiro. Para a economia global e para o mercado financeiro, as criptomoedas e a tecnologia blockchain se apresentam como uma alternativa diferente. Ainda não se sabe se os bancos serão colocados de lado ou se eles apresentarão alguma forma de sobrevivência. Quando há alternativas mais interessantes para o dinheiro dos clientes, eles fogem, desde que estudos de condições de risco venham a ser desenvolvidas, de forma a garantir os investimentos, não importando o porte que apresentem. Para as pequenas empresas, os pagamentos em moedas digitais representam um novo horizonte. Solanki (S.d.) considera que esse fato começou a se manifestar de forma mais direta principalmente depois que grandes 1 Leia mais sobre crowdsourcing no artigo de Munhoz (2015b), disponível em: <https://br.blastingnews.com/tecnologia/2015/02/crowdsourcing-adote-essa-ideia- 00272515.html>. Acesso em: 6 mar. 2019. 2 Para saber um pouco mais sobre crowdfunding, leia o artigo de Munhoz (2015a), disponível em: <https://br.blastingnews.com/tecnologia/2015/04/ao-conhecer-o-crowdfunding-voce-nao- vai-mais-querer-bancar-sozinho-nenhum-novo-lancamento-00330683.html>. Acesso em: 6 mar. 2019. https://br.blastingnews.com/tecnologia/2015/02/crowdsourcing-adote-essa-ideia-00272515.html https://br.blastingnews.com/tecnologia/2015/02/crowdsourcing-adote-essa-ideia-00272515.html https://br.blastingnews.com/tecnologia/2015/04/ao-conhecer-o-crowdfunding-voce-nao-vai-mais-querer-bancar-sozinho-nenhum-novo-lancamento-00330683.html https://br.blastingnews.com/tecnologia/2015/04/ao-conhecer-o-crowdfunding-voce-nao-vai-mais-querer-bancar-sozinho-nenhum-novo-lancamento-00330683.html 15 empresas, tais como IBM, Microsoft, Amazon, Overstock, entre outras, passaram a aceitar pagamentos e também recebimentos dessa forma. Há quatro aspectos importantes nos pagamentos com bitcoins: 1. Ausência de taxas de processamento; 2. Alta velocidade nas transações; 3. Todas as transações efetuadas são finais; 4. Aumento das opções de pagamento para os clientes. Aos poucos, outras moedas, para além do bitcoin, passarão a ser aceitas, ainda que de forma condicional, quando se sair da zona de conforto que o bitcoin proporciona. A desconfiança é mais notável nas transações business-to-consumer (B2C), em que a empresa trabalha diretamente com os consumidores, pois há falta de credibilidade junto ao público que ainda não conhece bem as moedas digitais. Mas, espera-se que, com o aumento da oferta e da procura, os receios sejam deixados de lado. TEMA 4 – AS CRIPTOMOEDAS NO E-COMMERCE Crédito: VectorPouch/Shutterstock. O e-commerce já atravessou todas as dificuldades que lhe foram impostas e hoje se reafirma como uma atividade em crescente progresso, com praticamente todas as empresas envolvidas com o comércio e os negócios eletrônicos. Encontra-se em uma situação similar àquela que acontece nos dias atuais com as criptomoedas. Elas surgiram e caminham em direção à sua reafirmação cercadas de desconfianças sobre sua confiabilidade. Agora surgem notícias de que podem ser alvíssaras para o e-commerce, ao serem consideradas como o futuro do comércio e dos negócios eletrônicos. 16 Essa notícia não surge do nada. Mark BrinKerhoff,2 um dos mais bem- sucedidos e atuantes empresários na área das criptomoedas e em trabalhos com comércio e negócios eletrônicos, considera que esse fato está prestes a se tornar realidade. Isso ocorrerá a partir de uma aliança recentemente criada, e que envolve a união de um dos principais mineradores e vendedores de criptomoedas, a CoinPayments,3 com uma das principais plataformas de comércio eletrônico, a Shopify,4 que é voltada para a montagem de outras plataformas para clientes desejosos de aceder ao comércio e aos negócios eletrônicos. Com essa aliança, os pagamentos de várias e diversas mercadorias poderão ser efetuados com criptomoedas, aumentando o número de empresas que aceitam essa forma de pagamento.5 Inicialmente ela representa uma proposta de pagamento alternativa para os comerciantes que trabalham com a Shopify. Analistas como Brinkerhoff consideram a iniciativa como um rastilho de pólvora, ao final da qual mais uma bolha deverá surgir, causando impressão até que atinja um determinado nível de sustentabilidade e confiabilidade. A abrangência de clientes agregados ao Shopify atinge um vasto espectro em termos de áreas de negócios. A Shopify é uma plataforma de comércio multi- channel composta por lojas on-line e marketplaces que podem ser acessados por meios de comunicação móveis, além de serem movimentados por redes sociais.A moeda de transação principal nessa fase inicial é o bitcoin, que tem ampla aceitação globalizada. É uma iniciativa que deve se expandir como uma nova opção de pagamento, e que caracteriza uma mudança significativa de como os negócios e comércio eletrônico podem ser efetivados. Outro exemplo de mudanças significativas no e-commerce, ensejado pela integração com as criptomoedas, é representada pela tecnologia CyberMiles.6 É uma proposta voltada exclusivamente para o trabalho de implantação do blockchain no e-commerce. 2 Veja o currículo de Mark Brinkerhoff em: <https://blockchain-conf.com/members/mark- brinkerhoff/>. Acesso em: 6 mar. 2019. 3 Veja detalhes da empresa em: <https://www.coinpayments.net/>. Acesso em: 6 mar. 2019. 4 Veja detalhes da empresa em: <https://pt.shopify.com/>. Acesso em: 6 mar. 2019. 5 Saiba mais sobre esse acordo em: https://blog.coinpayments.net/news- features/coinpayments-develops-integration-for-shopify>. Acesso em: 6 mar. 2019. 6 Saiba mais detalhes em: <https://www.cybermiles.io/en-us/>. Acesso em: 6 mar. 2019. https://blockchain-conf.com/members/mark-brinkerhoff/ https://blockchain-conf.com/members/mark-brinkerhoff/ https://www.coinpayments.net/ https://blog.coinpayments.net/news-features/coinpayments-develops-integration-for-shopify https://blog.coinpayments.net/news-features/coinpayments-develops-integration-for-shopify https://www.cybermiles.io/en-us/ 17 Com esse desenho, pode-se enxergar um futuro descentralizado de comércio e negócios eletrônicos concentrados no ajuste de padrões de contratos inteligentes, pactuados entre as plataformas e aqueles que vendem negócios e serviços na internet. As coisas se encaminham para um relacionamento direto entre as partes interessadas, com a eliminação de toda a intermediação, a não ser atividades de manutenção e garantia de segurança da plataforma colocada à disposição dos interessados. Os estudos desenvolvidos por Brock (2017) levam à apresentação de sete razões pelas quais é possível acreditar que essa proposta, já implantada e em fase de testes, com avaliação dos resultados esperados, garanta uma transação rápida e segura. São elas: 1. Taxas baixas de transações. Às vezes, os pagamentos são efetivados diretamente; outras vezes, de forma indireta com utilização de cartões de crédito, sujeitando o comprador a taxas mais ou menos elevadas. Isso não ocorre com o uso de criptomoedas, e as taxas aplicadas são inexistentes ou muito baixas; 2. Aceitação internacional. Não há preocupação com taxas acrescentadas, quando se deseja efetivar compras no mercado internacional, para providenciar a troca de moedas. Não importa a partir de qual lugar se entra no mundo bitcoin: ele sempre será um mundo bitcoin. É uma oportunidade de economia que não pode ser ignorada; 3. Registro imutável. Comerciantes inescrupulosos não podem negar pagamentos, pois o registro da transação é imutável no mundo das criptomoedas, o que representa uma segurança a mais no ambiente de negociações em criptomoedas; 4. Lugar seguro e sem riscos. O simples fato de não haver intervenção de reguladores torna o ambiente seguro e sem riscos de os investidores terem segredos revelados e terem divulgados os seus negócios com outras pessoas, a menos que isso seja divulgado pelo próprio negociante ou comprador; 5. Pseudoanonimato. Nada é anônimo no blockchain. É mais difícil encontrá-lo, mas o seu endereço de bitcoin pode ser rastreado. Contudo, ninguém vê imediatamente quem troca com quem. Essa camada de segurança é útil; 18 6. Nenhuma recusa de cartão de crédito. Se alguma vez você teve problemas com o uso de seu cartão de crédito – como recusas de pagamentos –, isso não acontecerá mais. A transação não se preocupa com a sua conta ou o seu limite de cartão de crédito. Se sua conta tiver o montante necessário e os direitos de acesso a negociações com criptomoedas, a transação é liberada; 7. Os dados pessoais não são expostos. Às vezes, uma pessoa faz uma compra e não quer que seu cônjuge fique sabendo, já que o gasto pode, por exemplo, envolver um presente de aniversário surpresa. Como dados pessoais não são revelados, as compras feitas também não o são (Fonte: Adaptado dos estudos de Brock, 2017. Tradução nossa). A partir do descritivo efetuado é possível acreditar que o e-commerce está às portas de uma nova transformação no mundo digital, mesmo em áreas que nasceram nesse mundo. O blockchain é uma dessas transformações. Ele nasceu no mundo digital e já começa a alterar outros elementos que também nasceram no mundo digital. Esse fenômeno pode ser comprovado como uma tecnologia exponencial pela forma como ele se utiliza de outras tecnologias que também vivenciam uma fase experimental. Juntos, eles podem compor uma nova forma de efetivar os negócios na grande rede. Sendo o e-commerce uma tecnologia em acelerado crescimento, ele não somente será beneficiado pelo blockchain, mas também poderá dar como resposta benefícios indiretos a essa tecnologia. A grande promessa é que o uso de criptomoedas poderá resolver um dos mais graves problemas do setor: fraudes em pagamentos. Há também promessas em termos de aumento da segurança no setor. Para os fornecedores, melhorias na cadeia de suprimentos (supply chain) também representam uma promessa interessante. Há casos de compras efetuadas que acabam sendo entregues no dia seguinte, e, dependendo da hora de fechamento do pedido, no mesmo dia. Enfim, para todos os desafios enfrentados hoje pelo e-commerce há possibilidades de resolução que podem se tornar aliadas de varejistas que operam nos mercados digitais. Todos os desafios podem se tornar oportunidades para profissionais de TI, que podem encontrar mais portas de entrada para carreiras muito bem remuneradas. 19 Outro exemplo que pode ser apontado no tocante a aspectos relatados neste tema é a plataforma Request Network,8 que cria plataformas totalmente baseadas em blockchain e a um menor custo para os varejistas. É uma outra investida no mercado que promete ser uma solução para o futuro do e- commerce, modificando sensivelmente a forma como ele é visto nos dias atuais. TEMA 5 – BLOCKCHAIN E A REVOLUÇÃO LOGÍSTICA NAS EMPRESAS Crédito: VectorPouch/Shutterstock. Marr (2018) oferece uma importante contribuição para analistas cujo objetivo é estudar a revolução logística que a tecnologia blockchain pode provocar nas empresas. O autor considera, com a propriedade de ser uma autoridade no setor, que essa nova tecnologia chegou para transformar, e de forma decisiva, a cadeia de suprimentos e os aspectos logísticos diferenciados nas indústrias, principalmente aquelas que começam a operar na perspectiva da indústria 4.0. Os sistemas de provisão ocupam um lugar de destaque na forma como as empresas se relacionam com seus clientes e fornecedores. São criadas redes complexas que exigem que existam sistemas de redimensionamento e redirecionamento que sejam acionados constantemente. Na dependência do produto com o qual a empresa trabalha e as características dos clientes compradores, o processo pode se tornar muito complexo e exigir múltiplas etapas, faturas e pagamentos, além de muitos indivíduos ou órgãos reguladores intervindo na negociação e gerando uma lentidão no processo de fechamento da transação que pode levar a empresa à perda do cliente ou a uma negativa de fidelização. 8 Veja mais em: <https://request.network/#/>. Acesso em: 6 mar. 2019. https://request.network/#/ 20 Esse fato pode ser considerado responsável pelo grande interesse que os sistemas logísticos das empresas tem no blockchain como tecnologia de suporte para o desenvolvimento de transações financeiras e o controle da logística de distribuição. Todo esse interesseleva a uma resposta positiva ao questionamento: Como os sistemas de provisão e sistemas logísticos quebram? Eles quebram porque o comércio desenvolvido não é mais local (caso em que a logística de provisão é simples), mas globalizados. A globalização é que torna complexos os sistemas de provisão. Outros aspectos negativos que aumentam a complexidade das atividades logísticas das empresas são as práticas ilegais e antiéticas que envolvem o elemento humano. Eles podem ser considerados o elo mais fraco da cadeia, e, conforme recomendam as boas práticas, é o que mais precisa ser regulado. De nada adianta ajustar práticas para elos mais fortes. As questões levantadas podem ser obstáculos superados com o uso da tecnologia blockchain, que pode atuar como um auxiliar poderoso para as atividades que otimizam os sistemas de provisão e outros elementos relacionados à logística empresarial. Quem facilita isso? Dois aspectos se destacam: o uso de criptomoedas e o registro de todas as transações, criando um livro-razão que registra a distribuição digital e permite um acompanhamento mais próximo de compras, vendas, trocas, acordos, contratos, pagamentos e recebimentos. Isso se torna possível devido ao já destacado fato de que cada transação é registrada em um bloco e que, por meio de múltiplas cópias, esses blocos e o próprio livro-razão em sua totalidade são distribuídos por muitos nós (computadores dispostos em uma estrutura em grade). Com tal atividade, a plataforma se torna altamente transparente. Além da transparência, a falta de uma autoridade central no blockchain se torna facilmente eficiente e escalável. Dessa forma, os sistemas logísticos de provisão se apresentam comprimidos nesses blocos desde a atividade de armazenagem até a efetivação da entrega ao destinatário. Sob todos os aspectos, a velocidade obtida aumenta e, na mesma medida, aumenta o interesse pela utilização do blockchain nas atividades logísticas de provisão, quebrando a cadeia de registro seriado. Tudo o que é necessário para os sistemas de provisão é oferecido pelo blockchain. 21 Esses sistemas já começaram a ser utilizados em todo o mundo, que se aproveita da possibilidade de livre transferência de recursos a qualquer lugar. Por enquanto, as beneficiadas são as grandes indústrias, considerando-se os benefícios dos altos fundos trabalhados e movimentados em uma perspectiva global, sem o receio de variações de moedas locais. Para o pequeno investidor, essas vantagens ainda não são perceptíveis a ponto de justificar sua utilização. Helen Partz (2018), em um artigo para a Cointelegraph, registra um dos principais exemplos de uso da tecnologia blockchain em desenvolvimento na rede Walmart. Recentemente, a Walmart solicitou o registro de uma nova patente baseada na tecnologia blockchain, com atenção especial para sistemas seguros de administração de entregas para suprimento de suas unidades em uma escala global. De forma resumida, e aqui apresentada a título de exemplo, a solução adotada pela rede Walmart utiliza armários para armazenamento de mercadoria que são mantidos seguros, até que o respectivo consumidor esteja pronto para coletar seu produto. A técnica recebeu o nome Delivery Reservation Apparatus and Method.9 Aqui, o blockchain é utilizado para rastreamento de armários que estejam ocupados ou reservados para futuras entregas, em que cada estação de armazenamento atua como o nó de uma rede pública. O livro-razão do blockchain utilizado contém o registro de todo o histórico de ocupação dos centros de armazenamento, possibilitando que consultas sobre disponibilidade e reservas de armários sejam efetivadas de forma automática e com total eficiência. A funcionalidade do sistema depende de que, em cada estação, um armário seja configurado para receber o pedido de reserva de um ou vários outros armários da respectiva estação para futuras entregas, e então seja feita a distribuição da informação para os demais armários da estação. Além disso, ele deve executar um contrato com as especificações da reserva e atualizar a rede com as novas informações. Essa atividade coloca a rede Walmart como uma das pioneiras no uso mais extensivo da tecnologia blockchain, prevendo uma expansão no sentido de criação de técnicas diferenciadas a serem utilizadas nos sistemas internos que 9 Conheça mais sobre essa técnica em: <http://www.freepatentsonline.com/y2018/0189730.html>. Acesso em: 6 mar. 2019. http://www.freepatentsonline.com/y2018/0189730.html 22 tratam de sua logística estratégica, para uma adequação de processos e métodos à novas tecnologias em evolução no mercado. Outro exemplo que pode ser utilizado é o trabalho desenvolvido pela IBM Blockchain7 na forma de estudos de casos que focam cadeias de suprimentos que utilizam o blockchain. É possível observar uma movimentação significativa em torno do assunto que, ainda que experimental em muitos casos, deve desembocar na criação de novas profissões, principalmente aquelas que se baseiam no levantamento de dados para pesquisas preditivas sobre tópicos relacionados com o uso do blockchain para o desenvolvimento de atividades logísticas. Outro exemplo de sucesso é a proposta assumida pela maior empresa de mineração do mundo, a BHP Billington,8 que pretende utilizar a plataforma de blockchain ethereum (criptomoeda alternativa ao bitcoin) para a melhoria de seu processo de supply chain. A fornecedora da plataforma (CoinDesk)9 considera ser essa a sua primeira experiência de uso do blockchain em iniciativas não financeiras, como outras empresas pretendem adotar. O mote de divulgação da iniciativa da empresa é: onde a tecnologia vai é para onde a empresa deve ir”. A avaliação busca confirmar que a utilização dessa plataforma deverá proporcionar para a empresa um processo de comunicação mais eficaz com seus parceiros comerciais. A exemplo do que está sendo mostrado pela CoinDesk, outras empresas que trabalham com o desenvolvimento de plataformas blockchain devem ampliar o leque de suas opções, desviando do trabalho desenvolvido apenas na área de finanças, com destaque para as criptomoedas, conforme destacamos anteriormente. Na atualidade, o maior destaque assinalado por essas empresas está relacionado com a transparência apresentada pelo bitcoin, ponto considerado crucial para que os consumidores tenham maior confiança nas empresas que compartilham os mesmos serviços. Marr (2018b) oferece em seu artigo sobre os “diamantes de sangue” um estudo de caso interessante para quem se interessa pela tecnologia blockchain, 7 Acesse os estudos desenvolvidos no portal de entrada em: <https://www.bitcoinbrasil.com.br/noticias/walmart-patente-blockchain-delivery/>. Acesso em: 6 mar. 2019. 8 Leia o artigo de Rizzo (2016) em: <http://www.supplychain247.com/article/worlds_largest_mining_company_to_use_blockchain_f or_supply_chain> para conhecer mais sobre o assunto. Acesso em: 6 mar. 2019. 9 Conheça a plataforma em: <https://www.coindesk.com/>. Acesso em: 6 mar. 2019. https://www.bitcoinbrasil.com.br/noticias/walmart-patente-blockchain-delivery/ http://www.supplychain247.com/article/worlds_largest_mining_company_to_use_blockchain_for_supply_chain http://www.supplychain247.com/article/worlds_largest_mining_company_to_use_blockchain_for_supply_chain https://www.coindesk.com/ 23 em que é possível perceber como poderia ser feito o controle do processo com a total garantia para o cliente de que os diamantes que estão sendo comprados realmente representam o que foi anunciado. Mais uma vez, o registro de um livro-razão, que acompanha toda a caminhada desde a extração até o destino final, garantiria transparência total ao processo. TROCANDO IDEIAS Como vimos, há pelo menos duasformas de se investir em criptomoedas: da forma tradicional, comprando e vendendo moedas, e da forma profissional, minerando-as. Para nossa condição de especialistas financeiros digitais, o uso da moeda é uma das condições principais; pense em como seria o uso de criptomoedas em um comércio eletrônico. Lembre-se de que você teria que comprar a moeda e também usá-la como meio de pagamento. Mas, e o câmbio, como ficaria? Uma dica: se você participou da prática da aula anterior, pode responder facilmente a esse questionamento. NA PRÁTICA Escolha um processo qualquer dentro de uma empresa. Qualquer um que exija um mínimo de burocracia, dada a necessidade de controle e segurança na operação. Pode ser uma operação de produção, movimentações do RH, logística de compra ou de venda, ou até mesmo de armazenamento de documentos. Uma vez escolhido o processo: • Informe o tipo de empresa e o processo escolhidos; • Faça um breve relato acerca do funcionamento desse processo. Você pode usar fluxogramas, se achar pertinente; • Apresente as necessidades e os processos de controle. Depois, apresente o registro do processo de forma digital, usando a tecnologia blockchain. Não precisa justificar a forma como as chaves do blockchain são autenticadas, apenas demonstre o processo do registro com seus respectivos hashs. Por fim, faça uma breve conclusão. 24 FINALIZANDO Nesta aula, pudemos ver que há mais do que apenas um mercado monetário relativo a criptomoedas, e que elas próprias, bem como a tecnologia blockchain, podem parecer demasiado complexas no momento, embora assinalem uma mudança de simplificação dos processos no futuro. Sabemos que simplificações vêm de mudanças, e que uma mudança como essa é estrutural, ou seja, de um grau bem superior. Se as pequenas mudanças já nos causam desconforto no cotidiano, não há como imaginar como os mercados e as pessoas assimilarão esses novos, embora simplificados, conceitos. 25 REFERÊNCIAS BROCK, T. 7 benefits for consumers who use bitcoin and other cryptocurrencies. The Business Journals, 20 set. 2017. 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