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PENSAMENTO SOCIAL E 
POLÍTICO LATINO-AMERICANO 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Everson Araujo Nauroski 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Ao longo desta aula teremos a oportunidade de refletir sobre a trajetória 
da América Latina (AL), passando pela conquista violenta e colonização forçada 
até as consequências da colonização e seu legado de sofrimento e extermínio 
dos povos nativos. 
Veremos também que os processos de independência política na AL não 
foram suficientes para garantir a soberania dos países insurgentes, pois mesmo 
na atualidade os povos dessas nações sofrem pela ingerência de potências 
estrangeiras em seus processos políticos e econômicos. Entre tentativas de 
controle e resistência, talvez um dos maiores escândalos humanitários seja o 
bloqueio econômico imposto pelos EUA a Cuba, que se arrasta por mais de 60 
anos e cujos efeitos deletérios chocam o mundo civilizado. 
TEMA 1 – CONQUISTA DA AMÉRICA ESPANHOLA 
Eles trouxeram a Bíblia numa mão e a espada na outra. 
A Espanha sempre se orgulhou de ser um país católico e fiel ao papa. 
Uma mistura de zelo e fundamentalismo corou o empreendimento da conquista 
das várias regiões da América Latina. Sobre a justificativa de espalhar a fé cristã, 
milhares de indígenas foram massacrados. Após mais de um século de domínio 
espanhol, estima-se que mais de setenta milhões de ameríndios tenham sido 
assassinados. Mais eficientes que espadas foram as doenças trazidas pelos 
conquistadores, principalmente a varíola e o sarampo, contra as quais os 
indígenas não tinham defesa natural. Segundo Todorov (1991), somente na 
região do México em torno de 24 milhões de nativos foram dizimados. 
A barbárie e carnificina também foram descritas pelo Frei Bartolomeu de 
Las Casas (2001, p. 31) ao registrar a fúria dos conquistadores sedentos por 
ouro e sangue. Com seus cavalos e armas praticaram crueldades hediondas 
contra um povo sem condições de se defender à altura. Os espanhóis, relata Las 
Casas (2001), 
entravam nas vilas, burgos e aldeias, não poupando nem as crianças 
e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes 
abriam o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem 
golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam apostas sobre 
quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem pela 
metade, ou quem, mais habilmente e mais destramente, de um só 
golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria as entranhas 
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de um homem de um só golpe. Arrancavam os filhos dos seios da mãe 
e lhes esfregavam a cabeça contra os rochedos [...] faziam certas 
forcas longas e baixas, de modo que os pés tocavam quase a terra, um 
para cada treze, em honra e reverência de Nosso Senhor e de seus 
doze Apóstolos (como diziam) e deitando-lhes fogo, queimavam vivos 
todos os que ali estavam presos. Outros, a quem quiseram deixar 
vivos, cortaram-lhes as duas mãos e assim os deixavam. 
Figura 1 – Representação da Batalha de Otumba 
 
Crédito: Juan Aunion/Shutterstock. 
Na batalha de Otumba, os espanhóis uniram forças com os tlaxcalano, um 
povo inimigo dos astecas, e apesar de estarem em menor número, tinham a 
vantagem de ter cavalaria e canhões. A condição absolutamente desigual de luta 
e armas impôs uma terrível derrota aos astecas, com milhares de mortos entre 
os nativos. 
Mesmo que seja no plano imaginativo, pensar sobre as cenas descritas 
acima nos causa horror e indignação De fato, ao longo da história, a 
ambivalência das crenças religiosas tem sido responsável por gestos de 
admirável fraternidade, mas também de violências indescritíveis. Como 
podemos compreender o que aconteceu durante o período de colonização com 
o extermínio sistemático dos povos indígenas das Américas? Parte da resposta 
podemos encontrar na sequência de nossos estudos. 
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TEMA 2 – INTERESSES E FRAGMENTAÇÕES COLONIAIS: PROCESSO DE 
COLONIZAÇÃO 
Em vinte anos, desde o desembarque de Colombo, a população dessa 
ilha densamente habitada havia sido quase varrida pela guerra, pelas 
doenças, pelos maus tratos e pelo trauma resultante dos esforços dos 
invasores para obrigá-la a aceitar modos de vida e comportamento 
totalmente desvinculados de sua experiência anterior. (Elliot, 1998, p. 
153) 
O ano de 1492 é o marco temporal de contato dos europeus com o novo 
mundo. Foi nesse ano que Cristóvão Colombo estabeleceu a primeira colônia 
permanente na ilha de Hispaniola, uma das maiores ilhas das Antilhas, localizada 
a sudoeste de Cuba. 
Estava o iniciado o processo que em pouco tempo iria se espalhar por 
diversas outras regiões em colônias no Caribe, na região da atual Flórida e Peru. 
A busca do velho mundo (Europa) por novas terras e riqueza faria com que os 
povos originários da América Latina, América Central e Caribe experimentassem 
um longo período de conflitos, escravidão e trabalhos forçados, uma condição 
de absoluta violência que levaria ao extermínio de milhões de ameríndios. Nas 
palavras de Eduardo Galeano (2010), 
Três anos depois do descobrimento, Cristóvão Colombo, 
pessoalmente, comandou uma campanha militar contra os indígenas 
da Dominicana. Um punhado de cavaleiros, 200 infantes e uns quantos 
cães especialmente adestrados para o ataque dizimaram os índios. 
Mais de 500, enviados para a Espanha, foram vendidos como escravos 
em Sevilha e morreram miseravelmente. No entanto, alguns teólogos 
protestaram, e a escravização dos índios foi formalmente proibida no 
século XVI. Na verdade, não foi proibida, foi abençoada: antes de cada 
ação militar, os capitães da conquista deviam ler para os índios, na 
presença de um tabelião, um extenso e retórico Requerimento que os 
exortava à conversão à santa fé católica: “Se não o fizerdes, ou se o 
fizerdes maliciosamente, com dilação, certifico-vos que, com a ajuda 
de Deus, agirei poderosamente contra vós e vos farei guerra da 
maneira que puder em todos os lugares, submetendo-vos ao jugo e à 
obediência da Igreja e de Sua Majestade, e tomarei vossas mulheres 
e vossos filhos e vos farei escravos e como tais sereis vendidos, 
dispondo de vós como Sua Majestade ordenar, e tomarei vossos bens 
e farei contra vós todos os males e danos que puder”. 
O choque cultural e a visão eurocêntrica contribuíram imensamente para 
agravar a situação dos nativos. Tidos como povos bárbaros, este eram 
subjugados e submetidos a conversão forçada. O resultado desse processo 
levou à hispanização de grande parte das Américas com a imposição violenta da 
língua, da religião e de vários elementos da cultura hispânica aos nativos. 
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Figura 2 – Representação do encontro entre Hernán Cortez e Montezuma, líder 
dos astecas 
 
Crédito: Javi Az/Shutterstock. 
 Frente à tentativa de aculturação, os indígenas resistiram, mas a 
disparidade de armas os fez vítimas fáceis de matar. Os espanhóis estavam 
acostumados à guerra, dispunham de canhões, espadas e cavalos. Além da 
superioridade em armas, os espanhóis foram ardilosos em explorar grupos rivais 
e fazer alianças com adversários, aumentando o número de seus combatentes. 
Os incas, que eram fortes e organizados e cobravam tributos de outros povos 
mais fracos, tinham outros grupos e tribos como seus inimigos. Embora 
existissem rivalidade e conflitos entre eles, não fazia parte de sua cultura o 
extermínio sistemático de seus adversários. Essa animosidade contra os incas 
foi explorada pelos espanhóis que organizaram e lideraram grupos de indígenas 
para lutar e derrotar os incas. A mesma tática foi utilizada para derrotar os 
astecas no México. 
O resultado econômico da colonização das Américas favoreceu 
grandemente o desenvolvimento da economiaeuropeia, uma situação bem 
descrita por Eduardo Galeano (2010, p. 8): 
a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já 
foi dito, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa 
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derrota esteve sempre implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza 
sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade alheia: os 
impérios e seus beleguins nativos. Na alquimia colonial e neocolonial 
o ouro se transfigura em sucata, os alimentos em veneno. 
Durante muito tempo, antes que irrompessem os primeiros levantes por 
independência entre os povos conquistados, o velho mundo sugou tudo que 
pôde de suas riquezas, relegando a esses povos, mesmo após os processos de 
independência uma trajetória amarga de sofrimento, miséria e 
subdesenvolvimento. 
TEMA 3 – INSURGÊNCIAS E INDEPEDÊNCIA NA AMÉRICA LATINA 
O que comumente se chamou de independência na América Latina 
tornou-se uma nova forma de subserviência às velhas potências. 
A partir do século XVIII, a conjuntura sócio-política da Europa passa por 
grandes transformações: expansão industrial e capitalista, proliferação das 
ideias iluministas, fortalecimento do liberalismo, crise do poder eclesial e o 
declínio das monarquias absolutistas forneceram elementos conjunturais que 
contribuíram na independência nas colônias do Novo Mundo. O poderio da 
Espanha já não era o mesmo. Afetada pelos impactos das guerras napoleônicas, 
enfraqueceu seu poder político tendo seu controle sobre as colônias 
desarticulado. 
Após séculos de presença e domínios violento dos estrangeiros, os ventos 
da liberdade começaram a soprar. Levantes de revolta e luta por independência 
se espalham por toda a AL. Além das questões externas, fatores internos 
também contribuíram com a independência em várias regiões. Ao que podemos 
destacar: 
• Revolta dos indígenas e mestiços contra as condições de vida precária e 
trabalho forçado; 
• Cobranças abusivas de tributos por parte das metrópoles; 
• Tratamento desigual em relação aos nascidos nas colônias, chamados de 
crioulos; 
• A elite e as lideranças crioulas de figuras como Simón Bolivar e José de 
San Martin, incentivaram a revolta e organizaram a luta contra o domínio 
espanhol. 
Outra figura emblemática nas diversas iniciativas revolucionárias foi o 
argentino Bernardo Monteagudo. De formação clássica, atuou como advogado, 
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escritor e jornalista. Ficou mundialmente conhecido por fazer circular ideias 
iluministas em toda a AL. Seu panfleto, intitulado Diálogos entre Atahualpa e 
Fernando VII nos Campos Elíseos, escrito em 1809, representava, segundo 
Prado (2003, p. 20), uma literatura popular amplamente divulgada naquela época 
com o objetivo de espalhar 
as ideias iluministas e contribuindo com seus argumentos para justificar 
a ação daqueles que começavam a lutar pela independência das 
colônias na América. Estes textos 'subversivos' produzidos pelos 
criollos nasceram do encontro entre as leituras vindas da Europa e a 
reflexão original pensada a partir da situação colonial. 
 As ideias de libertação fortaleceram as críticas às concepções 
eurocêntricas de mundo que ainda tentavam se manter e justificar a colonização. 
O avanço da cultura moderna marcada pela consolidação do capitalismo como 
modelo de sociedade também representou um importante fator de aceleramento 
dos processos de independência. Era necessário expandir e criar novos 
mercados. 
Podemos observar que o percurso cronológico dos principais fatos 
relacionados à colonização na AL e à sua independência reforça o argumento 
que a independência poderia ser muito favorável à economia das velhas 
potências. 
Vejamos: 
1697 – Finda a primeira guerra colonial entre a França e a Inglaterra. 
1726 – É fundada a cidade de Montevidéu. 
1744 – França e Inglaterra travam a segunda guerra colonial. 
1759 – Invasão do Canadá pelos ingleses. 
1763 – França perde o domínio do Canadá. 
1776 – Os Estados Unidos se declaram nação independente. 
1780 – Tupac-Amuru lidera a revolta inca contra o domínio espanhol. 
1789 – George Washington é o chefe de estado dos Estados Unidos da 
América. 
1799 – Morte de George Washington. 
1803 – O território do atual estado de Louisiana é comprado dos franceses 
pelos americanos. 
1806 – Buenos Aires é atacada pelos ingleses. 
1807 – Tomada de Montevidéu pelos ingleses, e novo ataque a Buenos 
Aires. 
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1810 – Paraguai declara-se independente. Bolívar lidera revolta na 
Venezuela e é derrotado. Hidalgo lidera a primeira tentativa de 
emancipação mexicana. 
1812 – Bolívar é novamente derrotado. 
1814 – Revolução vitoriosa na Venezuela, com Bolívar assumindo poderes 
ditatoriais – Revolução vitoriosa no Uruguai. 
1815 – Morelos lidera a segunda tentativa de emancipação do México. 
1816 – Mina lidera a terceira tentativa de emancipação do México. 
1818 – Libertação do Chile pelo General argentino San Martin. 
1820 – O general espanhol Iturbide passa para o lado dos revoltosos 
mexicanos. 
1821 – O Peru alcança sua independência. O regente português D. João VI 
conquista a Banda Oriental (Uruguai) e a anexa ao Brasil. 
1822 – Iturbide lidera a revolta vitoriosa e torna-se Imperador, sob o nome 
de Agostinho I. Bolívar liberta o Equador. 
1823 – Abdicação de Agostinho I. Doutrina Monroe nos Estados Unidos. 
Separação das Províncias Unidas da América Central do México. 
1824 – Vitória do General Sucre na Batalha de Ayacucho, acarretando na 
libertação definitiva do Peru. Iturbide, após viagem à Itália, volta ao 
México, onde é preso e fuzilado. 
1825 – Independência do Alto Peru (Bolívia). Revolta da Banda Oriental, que 
tende a separar-se do Império Brasileiro. 
1828 – Uruguai alcança sua independência. 
1830 – Expulsão e morte de Bolívar. 
1833 – Ilhas Malvinas (Falklands) ocupadas pela Inglaterra. 
1834 – Argentina sob a ditadura de Rosas. 
1839 – Desmembramento das Províncias da América Central em cinco 
repúblicas: Costa Rica, Guatemala, Honduras, São Salvador e Nicarágua. 
1845 – Guerra pela posse dos territórios do Texas (Estados Unidos e 
México). 
1848 – Por meio do Tratado de Guadalupe, os Estados Unidos anexam aos 
seus domínios os territórios do Texas, Califórnia, Arizona e Novo México, 
pagando uma irrisória indenização. 
1851 – Brasil e Urquiza em aliança. 
1852 – Ditadura de Rosas chega ao seu fim. 
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1861 – Guerra de Secessão nos Estados Unidos tem início. 
1863 – O general francês Forey entra vitorioso na capital mexicana. 
1864 – Maximiliano torna-se Imperador do México. Intervenção brasileira no 
Uruguai. Início da Guerra do Paraguai. 
1865 – Finda a Guerra de Secessão nos Estados Unidos. Vitória do Norte. 
O Presidente Lincoln é assassinado. 
1867 – Retirada das tropas francesas do México realizada por Napoleão III, 
sob as exigências dos Estados Unidos. Fuzilamento do Imperador 
Maximiliano, que carecia de recursos militares. Benito Juárez sobe 
novamente ao poder. A Rússia vende o território do Alaska aos Estados 
Unidos. Autonomia do Canadá em relação à Inglaterra. 
1870 – A Guerra do Paraguai termina, com a vitória dos aliados (Argentina, 
Brasil e Uruguai). 
1876 – Por causa da salitreira de Antofagasta, Chile declara guerra ao Peru 
e à Bolívia. 
1883 – Chile sai vitorioso da guerra contra Bolívia e Peru. A Bolívia, assim, 
perde a faixa litorânea do Pacífico. 
1885 – Inaugura-se a estrada de ferro transcontinental canadense de Halifax 
a Vancouver. 
1888 – Presidência do México é de Porfírio Díaz. 
1895 – Revolução separatistas em Cuba. 
1898 – Havaí passa para os domínios dos Estados Unidos: ocupação 
americana em Porto Rico, Cuba, Filipinas, Guam e Marianas. 
1903 – Revolta panamenhafomentada pelos Estados Unidos, que 
intencionava controlar o Canal de Panamá. Criação da República do 
Panamá (Cronologia..., [S.d.]) 
TEMA 4 – PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DOS PAÍSES LATINO-
AMERICANOS 
 Como dito anteriormente, os processos de independência da AL e o fim 
da escravidão, tornaram-se imperativos para a nova ordem mundial baseada na 
economia de mercado. A expansão da manufatura industrial demandava cada 
vez mais novos mercados. Contudo, as diversas iniciativas de independência 
que aconteceram na AL tiveram forte influência dos ingleses e EUA no sentido 
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de tentar controlar os processos políticos de modo a garantir que os novos 
governos fossem alinhados aos seus interesses. 
 Além da influência política estrangeira, o processo de formação dos 
países latino-americanos se deu em meio a uma grande instabilidade política e 
poucas mudanças estruturais na forma da organização econômica, marcada por 
uma economia agrária, com grandes latifúndios e mão de obra servil. 
Historicamente a AL representa um vasto território com uma enorme 
diversidade étnica. Há um pluralismo de culturas e tradições formados por 
mestiços, caboclos, negros, índios, livres e remanescentes de escravos, com 
potencial para produzir diversas formas de antagonismos e obstáculos a 
unificação. Entre as tentativas de organizar governos nacionais, predominou o 
modelo republicano, mas havia defensores da monarquia, como no caso do 
Brasil. 
Um projeto ambicioso que esteve muito presente nesse período histórico 
de unificação e surgimento dos países da AL foi o bolivarianismo, também 
conhecido como pan-americanismo, um projeto de unir e fortalecer os diversos 
países da AL em confederações, objetivando com isso fortalecer alianças 
comerciais e militares para fazer frente a ameaça espanhola de reocupação das 
antigas colônias e poder negociar com outras potencias com mais força e 
influência. Simon Bolivar, considerado uma figura central na libertação das 
colônias espanholas, defendeu durante muitos anos esse projeto. Em sua época 
foram concretizadas algumas iniciativas nessa direção como a criação 
Confederação da Grã-Colômbia criada em 1819 que reuniu Venezuela, 
Colômbia. Outras iniciativas parecidas surgiram e terminaram com brevidade 
(Nauroski; Rodrigues, 2018) 
 
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Figura 3 – Mapa da América Latina 
 
Crédito: Vectorfair.com/Shutterstock. 
Havia temores internos de que a unificação das Américas numa 
confederação ou confederações de países, pudesse se tornar uma força muito 
poderosa. Algo que poderia inviabilizar interesses das oligarquias locais e 
também limitar a influência das potencias estradeiras. Em 1823, viu-se o fim das 
Províncias Unidas da América Central, que reunia Guatemala, Honduras, El 
Salvador, Nicarágua e Costa Rica, que acabaram se separando do México. 
O fracasso das diversas tentativas de união dos países das Américas tem 
relação com o posicionamento dos EUA e a doutrina Monroe do então presidente 
norte-americano James Monroe que governou entre 1817 a 1825. A ideia da 
América para os americanos defendia a independência e se opunha contra a 
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presença ou influência europeia nas Américas. Contudo essa doutrina contribuiu 
para minar as iniciativas de unificação. Não interessa aos EUA ver surgir uma 
nova potência política e bélica, que não fossem eles próprios. 
TEMA 5 – CONFLITOS INTERNACIONAIS NO CONTINENTE AMERICANO 
Em geral, os conflitos armados na América Latina tiveram como 
motivação principal disputas pontuais relacionadas a questões econômicas e 
territoriais. O processo histórico de independência deixou marcas profundas de 
insatisfação entre os diferentes povos e seus líderes. A seguir, podemos ver uma 
linha do tempo dos principais conflitos na AL entre 1830-2000: 
Figura 4 – Quadro dos conflitos na AL 
Guerras Países envolvidos no 
conflito 
Ano 
Guerra Espanha-México México, Espanha 1829 
Guerra Grande Argentina, Brasil, 
Uruguai, França, Grã-
Bretanha 
1836-51 
Confederação Peru-
boliviana 
Bolívia, Chile, Peru 1836-9 
Guerra dos Pastéis México, França 1838 
Guerra Peru-boliviana Peru, Bolívia 1841 
Guerra México-Estados 
Unidos 
México, Estados Unidos 1846-8 
Reocupação de São 
Domingos 
Espanha, República 
Dominicana 
1861-5 
Intervenção do México França, Grã-Bretanha, 
Espanha 
1861 
Guerra Franco-
mexicana 
México, França 1862-7 
Equador-Colômbia Equador, Colômbia 1863 
Guerra Peru-Espanha Espanha. Peru 1864-6 
Guerra da Tríplice 
Aliança 
Argentina, Brasil, 
Uruguai, Paraguai 
1864-70 
Invasão Espanhola Bolívia, Chile, Peru, 
Espanha 
1865-6 
Guerra do Pacífico Bolívia, Chile, Peru 1879-83 
Centro-americana Guatemala, El Salvador 1885 
Independência de Cuba Cuba, Espanha, 
Estados Unidos 
1895-8 
Guerra do Acre Bolívia, Brasil 1899-1904 
Centro-americana Guatemala, Honduras, 
El Salvador, Nicarágua 
1906-7 
Guerra do Chaco Bolívia, Paraguai 1932-5 
Letícia Peru, Colômbia 1932-3 
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Disputa de fronteiras Peru, Equador 1932-1995 
Guerra do Futebol El Salvador, Honduras 1969 
Guerra das Malvinas Argentina, Inglaterra 1982 
Fonte: Centeno, citado por Mitre, 2010, p. 5-6. 
Exceto pela Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, com 
consequências devastadoras reduzindo a população adulta em menos da 
metade, os demais conflitos listados foram bem menores, com alcance limitado 
em termos de mobilização, gastos e número de mortos. Em geral, os conflitos 
indicados tiveram como front regiões mais afastadas em seus países e menos 
populosas. As motivações não foram de fundo ideológico, mas por interesses 
pontuais em disputas comerciais e territórios fronteiriços. Em termos 
comparativos, os povos das Américas podem ser considerados bem menos 
belicosos que os europeus onde mais de 60% dos conflitos entre nações 
eclodiram em guerra, contra 5% na AL (Nauroski, 2017). 
Um caso sui generis que merece nossa atenção é a situação de Cuba, 
que sofre de um bloqueio econômico imposto pelos EUA há mais de 60 anos. 
Cuba se livrou do domínio espanhol em 1898, mas foi tratada como se fosse o 
quintal dos EUA durante os governos que antecederam a revolução. A influência 
norte-americana fez com o pequeno país fosse subserviente por décadas, até 
que em 1959 um levante revolucionário liderado por Fidel Castro conseguiu 
derrubar o ditador Fulgêncio Batista. 
Alguns fatores são importantes para compreendermos a deterioração das 
relações entre Cuba e EUA: 
• Implantação do socialismo; 
• Aproximação com a antiga União Soviética; 
• Nacionalização de empresas estrangeiras; 
• Execução de opositores ao novo regime; 
• Realização da profunda reforma agrária que, além de distribuir terras à 
população campesina, proibiu estrangeiros de comprar terras na Ilha; 
• Em 1960, o presidente Eisenhower declarou um embargo unilateral às 
exportações e logo em seguida houve rompimento de relações 
diplomáticas entre os dois países; 
• O embrago estreitou ainda mais o governo de Castro com a União 
Soviética; 
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• Nos anos seguintes, houve tentativas por parte da CIA de promover 
golpes ou assassinar Fidel Castro; 
• Mais recentemente o governo de Donald Trump impôs mais de 240 
medidas restritivas tornando o bloqueio ainda mais duro e cruel contra o 
governo e contra o povo cubano; 
• As medidas restritivas impedem que outros países estabeleçam relações 
comerciais com Cuba, temendo retaliações do EUA; 
• A situação de bloqueio cria escassez generalizada no país, afetando o 
abastecimento de alimentos, matérias-primas para remédios e produção 
industrial em geralafetando estruturalmente a capacidade produtiva e de 
exportação do país; 
• Toda uma gama de carência e de uma vida sacrificiosa em função do 
bloqueio tem gerado descontentamentos na população, principalmente 
entre os mais jovens, que não viveram a revolução. Essa situação tem 
sido explorada por opositores e adversários estrangeiros que querem 
desestabilizar o regime cubano. 
NA PRÁTICA 
 Com base nos estudos realizados, faça uma pesquisa sobre a situação 
mais recente de Cuba e das posições do governo Biden dos EUA. Após a 
pesquisa e leitura, construa uma reflexão se posicionando sobre o bloqueio dos 
EUA a Cuba, que já dura 60 anos. 
FINALIZANDO 
Em nossos estudos, foi possível construir uma reflexão sobre os seguintes 
temas: 
• A conquista da América espanhola significou violência, pobreza e morte 
para os nativos e riqueza para os conquistadores; 
• A colonização das Américas estabeleceu uma profunda desigualdade 
histórica em relação à participação dos povos latino-americanos na 
economia mundial; 
• Os processos de independência política na AL não foram suficientes para 
garantir a soberania dos países insurgentes que até a atualidade sofrem 
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ingerência de nações estrangeiras em seus processos políticos e 
econômicos; 
• Os conflitos armados na América Latina tiveram como motivação principal 
disputas pontuais relacionadas a questões econômicas e territoriais. 
No mais, fica a certeza de que conhecer melhor a nossa história é 
fundamental para entendermos nossa trajetória e a razão de o continente latino-
americano ainda se encontrar mergulhado em crises e em profundas 
desigualdades. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
CRONOLOGIA. Unicamp, S.d. Disponível em: 
<https://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Sapateiro/crono.htm>. Acesso 
em: 4 out. 2021. 
ELLIOT, J. H. A conquista Espanhola e a Colonização da América. In: BETHEL, 
L. (org). América Latina Colonial. São Paulo: Edusp, 1998. v. I e II. 
GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. São Paulo: L&PM, 2010 
LAS CASAS, F. B. de. O Paraíso destruído – A sangrenta história da Conquista 
da América. Porto Alegre: L&PM Pocket/Descobertas, 2001. 
MITRE, A. Ligações perigosas: Estado e guerra na América Latina. Plataforma 
Democrática, Working Paper n. 7, jul., 2010. Disponível em: 
<http://www.plataformademocratica.org/Arquivos/Ligacoes%20Perigosas.pdf> – 
Acesso em: 4 out. 2021 
NAUROSKI, E. A. Teorias sociológicas e problemas sociais 
contemporâneos. Curitiba: InterSaberes, 2017. 
NAUROSKI, E. A.; RODRIGUES, M. E. Pensamento social na América Latina. 
Curitiba: InterSaberes, 2018. 
PRADO, M. L. C. Esperança radical e desencanto conservador na 
Independência da América Espanhola. História, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 15-34, 
2003. 
TODOROV, T. A conquista da América – a questão do outro. Tradução de 
Beatriz Perrone Moisés. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 
 
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CONVERSA INICIAL 
Conhecer a história dos povos das américas, mesmo que de maneira 
introdutória, contribui para compreendermos nossa própria identidade enquanto 
povo. As lutas travadas e as conquistas de independência, assim como os 
elementos culturais que integram a pluralidade desse continente tornam um 
desafio pesquisar e analisar as marcas deixadas em nossa história. 
Ao longo desta aula, veremos que América Latina (AL) ainda precisará 
percorrer um longo caminho para conquistar, de fato, sua soberania e 
independência. Tendo em vista as sucessivas interferências de interesses 
estrangeiros, do passado e do presente, a assinalar uma dificuldade crônica das 
potências econômicas em lidar com o princípio da autodeterminação dos povos, 
principalmente quando essa autodeterminação contraria seus interesses. 
TEMA 1 – REVOLUÇÕES NA AMÉRICA LATINA 
Os processos revolucionários na AL tiveram figuras de destaque nas 
lideranças de levantes e de setores da política, economia e força militar. Essas 
figuras ficaram conhecidas como caudilhos. Sua liderança e força regional 
advém do legado de descendentes dos criollos das antigas colônias espanholas. 
Nas lutas por independência, formaram suas próprias milicias compostas por 
índios, negros e mestiços. O poder acumulado e as alianças políticas articuladas 
tornaram esses indivíduos capazes de grandes feitos, a exemplo de Simón 
Bolívar, o libertador, um verdadeiro representante do caudilhismo, cuja influência 
ecoa ainda hoje no continente americano. 
Figura 1 – Simón Bolívar 
 
Crédito: Prachaya Roekdeethaweesab/Shutterstock. 
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Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar (1783-1830), ou 
Simón Bolívar, como ficou conhecido, era de uma rica família de fazendeiros que 
possuíam muitos escravos, mas que o próprio Bolívar os teria libertos e 
integrados ao seu exército na Venezuela. Militar de formação espanhola, 
estudou na Europa e mesmo sendo da aristocracia, seu ideal de libertação e 
emancipação das américas recebeu grande apoio popular. 
A revolução mexicana foi considerada um grande movimento político e 
social do século XX, cujo estopim foi o acúmulo de insatisfações dos pobres e o 
descontentamento da burguesia com a ditadura de Porfirio Díaz, que durou 30 
anos. Apesar de o México ter alcançado considerável desenvolvimento 
econômico, durante a ditadura a desigualdade social se aprofundou e a 
corrupção tornou-se escandalosa. 
Entre as figuras históricas que fizeram acontecer a revolução no México 
se encontram Ignácio Madero González, opositor à ditadura, que ganhou apoio 
popular com sua promessa de realizar uma profunda reforma agrária e fez 
alianças com os revolucionários Emiliano Zapata e Pancho Villa. 
Em 1910, Madero é eleito e pouco depois trai as promessas de campanha, 
levando ao rompimento com os generais Zapata e Villa, que seguem com o ideal 
revolucionário de entregar 1/3 das terras aos camponeses, pois a terra devia a 
pertencer a quem nela trabalha e vive. Em 1914, Villa e Zapata tomam o poder 
e ajudam a eleger um novo presidente, Venustiano Carranza Garza, que em 
1917 lidera a promulgação de uma nova Constituição no México. Por fim, por 
articulações da burguesia mexicana e interesses estadunidenses, Zapata e Villa 
são mortos, e o controle do país volta às mãos da aristocracia. 
Em 1970, é eleito no Chile o socialista Salvador Allende. Uma situação 
preocupante para os EUA, que não queria ver as ideias socialistas se 
espalhando pela América Latina e ver se repetir o que havia ocorrido em Cuba. 
Assim, com a ajuda dos norte-americanos, o general Augusto Pinochet deu golpe 
de Estado e assumiu o governo do país em 11 de setembro de 1973. Como 
resultado dos confrontos, Allende foi morto e o Chile viveu uma das ditaduras 
mais violentas e sangrentas do continente. Somente em 1987, a pressão popular 
pela redemocratização Pinochet deixou o governo, e Patricio Aylwin foi eleito 
novo presidente. 
 
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TEMA 2 – GOVERNO E PODER MILITAR NA AMÉRICA LATINA 
É longa a história das interferências dos EUA na América Latina, 
patrocinando golpes antidemocráticos em diversos países. Após a Segunda 
Guerra Mundial, o governo e a elite norte-americana temiam a presença e a 
influência soviética nas Américas, e uma possível repetição do que havia 
ocorrido em Cuba e no Chile. 
Em 1954, um golpe de Estado era dado na Guatemala, um pequeno país 
da América Central. Segundo os registros históricos, o golpe teve apoio e ação 
direta da Central de Inteligência Americana (CIA) com o objetivo de derrubar o 
presidente eleito Jacobo Arbenz, classificado pelos EUA como umgoverno 
comunista ao realizar diversas reformas sociais e apropriação nacional de 
grandes extensões de terra de propriedade de empresas americanas usadas na 
reforma agrária em todo o país. 
A intervenção norte-americana resultou em décadas de instabilidade 
política, com sucessivos governos militares e a morte de mais 200 mil cidadãos. 
A democracia só retornaria em 1993, mas com um governo alinhado aos 
interesses de Washington. 
Em síntese, podemos listar cronologicamente alguns casos de governos 
autoritários nas Américas que tiveram apoio dos EUA: 
• Argentina (1962): militares depuseram o presidente Arturo Frondizi e 
vários outros golpes ocorreram até a eleição de Juan Domingo Perón, que 
assumiu o poder 1946. 
• Peru (1962): o líder popular Belaunde Terry é deposto por uma junta 
militar que coloca no poder Juan Velasco Alvarado, que, numa atitude 
estranha às expectativas dos EUA, acaba nacionalizando uma grande 
empresa multinacional de petróleo e faz a primeira reforma agrária do 
país. 
• Bolívia (1982): considerado um dos países com maior número de golpes 
ao longo do século XX. 
 
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Figura 2 – Ditadura no Brasil 
 
Crédito: Kan Sangtong/Shutterstock. 
No Brasil, está historicamente documentada a interferência dos EUA no 
governo de João Goulart, que mostrava uma gestão de cunho social e popular. 
A oposição conservadora recebeu apoio financeiro e logístico para desgastar o 
governo de Goulart, e em 1964 os militares brasileiros, aproveitando o clima de 
anticomunismo contra do governo eleito, dão um golpe e tomam o poder. O 
chamado golpe civil-militar que ocorreu no Brasil teve como base políticos 
conservadores ligados à União Democrática Nacional (UDN), representantes do 
governo dos EUA que atuavam diretamente no país e ainda setores 
ultraconservadores ligados à Igreja Católica, da imprensa golpista e do 
empresariado que ansiava por maior controle dos trabalhadores. 
Por suas dimensões continentais e posição estratégica na região, era 
preciso conter o avanço das pautas progressistas no Brasil e dessa forma barrar 
o avanço de políticas socialistas no continente latino-americano. A partir da 
década de 1960, diversas ditadoras inauguram os anos de chumbo nas Américas 
com governos autoritários e violentos, responsáveis por crimes de tortura e 
assassinato, muitos até hoje não esclarecidos. 
TEMA 3 – INTERFERÊNCIA ESTADUNIDENSE NO BRASIL 
O tamanho e a posição estratégica do Brasil na AL fizeram com que sua 
trajetória, a partir do processo de independência, recebesse especial atenção do 
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governo dos EUA em seus objetivos de consolidar sua influência na região. 
Numa primeira fase, a ação se deu pela implementação da doutrina Monroe, com 
a ideia da América para os americanos, o que na prática representava um 
conjunto de medidas comerciais e limitação da presença e influência europeia 
na região. 
A partir do governo de Theodore Roosevelt, além das medidas de 
comércio, houve iniciativas de intervenção militar no continente. Uma lógica que 
foi sendo substituída por uma política de boa vizinhança com o fortalecimento 
das relações exteriores, a ampliação de mercados e a construção de bases 
militares em diversos países da América Latina. 
Será no contexto da Guerra Fria, com a disputa geopolítica entre EUA e 
União Soviética, que os norte-americanos se viram compelidos a defender o 
capitalismo contra o avanço do socialismo nas Américas. Contando com o apoio 
das aristocracias nacionais, os EUA fomentaram diversos golpes e intervenções 
militares, patrocinando governos violentos, autoritários e antiprogressistas. 
No Brasil, o golpe militar de 1964 pôde contar com apoio financeiro e 
logístico do governo americano. A presença e a influência norte-americana se 
fizeram sentir também pela aproximação e dominação ideológico-cultural. A 
indústria cultural americana adentrou a vida social dos brasileiros, sobretudo por 
meio dos programas de TV e produção cinematográfica profundamente 
ideológica a favor de ideias, valores e crenças da cultura norte-americana. 
Figura 3 – Consumismo 
 
Crédito: Rawpixel.com/Shutterstock. 
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Não tardou para que os EUA firmassem posição como principais parceiros 
econômicos do Brasil. A presença da cultura americana foi bem além da TV e do 
cinema. Progressivamente, o modelo e o estilo de vida dos americanos alcançou 
o ideal de vida dos brasileiros, afetando drasticamente o padrão de consumo nas 
terras tupiniquins. Se a colonização em seus primórdios se deu pela presença 
dos europeus, portugueses, franceses, ingleses e holandeses, a colonização 
tardia ocorreu e ainda ocorre no plano cultural, com a assimilação de vários 
elementos da cultura e do modo de vida dos americanos. 
Nos últimos anos, vimos uma transformação substancial na relação do 
Brasil com os EUA. Para além da imitação nos padrões de moda e consumo, 
vem ocorrendo uma verdadeira subserviência aos interesses americanos. 
Diversos políticos e lideranças têm assumido publicamente posições 
humilhantes e comprometedoras da soberania nacional. Entre elas: 
• bater continência a bandeira norte-americana; 
• incentivar a venda de empresas estatais para corporações 
estadunidenses; 
• favorecer a compra de grandes extensões de áreas do território nacional; 
• facilitar a construção de bases militares em nossas fronteiras; 
• aceitar que ONGs com sedes nos EUA que estejam atuando no Brasil não 
permitam a fiscalização de suas atividades pelas autoridades brasileiras; 
• ceder o controle da Amazônia; 
• atuar como rivais em relação a países vizinhos não alinhados aos EUA, 
entre eles, Bolívia, Argentina e Venezuela; 
• favorecer a economia norte-americana em detrimento dos interesses 
nacionais, como a questão do refino de combustíveis. 
São diversas as condutas que poderiam ser enumeradas, muitas delas 
denunciadas por juristas e lideranças não entreguistas como crimes de lesa-
pátria. Tragicamente, na história recente de nosso país, a síndrome de vira-lata 
nunca esteve tão forte, a ponto de ser o sonho de muitos ver o Brasil se tornar 
de vez uma extensão do quintal dos EUA. 
 
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TEMA 4 – PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO E ASCENSÃO DA 
ESQUERDA NA AMÉRICA DO SUL 
Após os processos de independência da América Latina, houve 
sucessivas ações de interferências dos EUA em diversos países cujo ideário 
político e ideológico não estivesse alinhado aos interesses estadunidenses. A 
orientação geral do que deveria ser feito no plano político e econômico ficou 
materializado em um documento que ficou conhecido como Consenso de 
Washington, conforme Negrão (1989) citado por Nauroski (2014, p. 101-102). 
Em 1989, os governos de Reagan, nos EUA, e de Thatcher, na Inglaterra, 
tornaram-se a expressão máxima das proposições neoliberais. Algo que tomou 
forma na reunião que aconteceu em 
Washington, convocados pelo Institute for International Economics, 
entidade de caráter privado, diversos economistas latino-americanos 
de perfil liberal, funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), 
Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e 
do governo norte-americano. O tema do encontro, Latin Americ 
Adjustment: Howe Much has Happened?, visava avaliar as reformas 
econômicas em curso no âmbito da América Latina. John Willianson, 
economista inglês e diretor do instituto promotor do encontro, foi quem 
alinhavou os dez pontos tidos como consensuais entre os 
participantes. E quem cunhou a expressão "Consenso de Washington", 
através da qual ficaram conhecidas as conclusões daquele encontro. 
As regras ou preceitos estabelecidosforam: 
1. Disciplina fiscal, através da qual o Estado deve limitar seus gastos à 
arrecadação, eliminando o déficit público; 2. Focalização dos gastos 
públicos em educação, saúde e infraestrutura; 3. Reforma tributária 
que amplie a base sobre a qual incide a carga tributária, com maior 
peso nos impostos indiretos e menor progressividade nos impostos 
diretos Liberalização financeira, com o fim de restrições que impeçam 
instituições financeiras internacionais de atuar em igualdade com as 
nacionais e o afastamento do Estado do setor; 4. Taxa de câmbio 
competitiva; 5. Liberalização do comércio exterior, com redução de 
alíquotas de importação e estímulos à exportação, visando a 
impulsionar a globalização da economia; 6. Eliminação de restrições 
ao capital externo, permitindo investimento direto estrangeiro; 7. 
Privatização, com a venda de empresas estatais; 8. Desregulação, com 
redução da legislação de controle do processo econômico e das 
relações trabalhistas; 9. Propriedade intelectual 
Após um período de mais de duas décadas de ajustes neoliberais na AL, 
seguindo as medidas acima citadas, contribuíram para o acirramento da 
desigualdade social, aumento da pobreza e desemprego. Esses fatores 
combinados formaram uma conjuntura favorável a surgimento e fortalecimento 
de lideranças populares e progressistas, principalmente nos seguintes países: 
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Hugo Chávez (Venezuela), Lula da Silva (Brasil), Evo Morales (Bolívia), Néstor 
Kirchner (Argentina), Michelle Bachelet (Chile), Fernando Lugo (Paraguai), 
Ollanta Humala (Peru), Tabaré Vázquez (Uruguai) e Rafael Correa (Equador). 
Com diferenças entre esses líderes, entre os mais moderados e os mais 
radicais, o fio condutor comum foi a defesa da soberania e independência na 
condução de suas políticas nacionais, além dos temas comuns de combate à 
desigualdade, à inclusão social e à ampliação de direitos aos segmentos mais 
vulneráveis da sociedade. 
Figura 4 – Mercosul 
 
Crédito: Estudio Maia/Shutterstock. 
Além das políticas sociais internas, em face dos desafios da globalização 
e das relações assimétricas no plano geopolítico, muitos desses países 
buscaram se organizar em blocos econômicos, com o fim de unir forças e 
interesses, além de poder fazer frente à Europa e aos EUA. O resultado dessas 
movimentações fizeram surgir iniciativas como a Aliança Bolivariana para as 
Américas (Alba), com diversos acordos de cooperação entre Venezuela, Bolívia 
e Equador. São membros: Antígua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, 
Equador, Nicarágua, São Vicente e Granadinas. 
Outra grande iniciativa foi o Mercosul (Mercado Comum do Sul), criado 
em 1991, com a participação inicial do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e 
posteriormente com a participação de outros países. As tentativas de fortalecer 
os países integrantes das Américas dependeram dos governos à frente dos 
países participantes, enquanto os governos vigentes tiveram perfil progressistas 
essas iniciativas avançaram e se fortaleceram. 
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TEMA 5 – DO PAPEL DA CEPAL AOS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA 
Esse tópico será tratado a partir da contribuição dos autores Nauroski e 
Rodrigues (2018, p. 59-61). 
A Cepal integra a Organização das Nações Unidas (ONU), constituindo 
uma de suas comissões para assuntos econômicos. Teve o contexto de sua 
criação marcado pelo desenvolvimento da economia dos países capitalistas. 
Passados mais de um século, é somente em 1948, três anos após o fim 
da Segunda Guerra Mundial, que surge uma organização para pensar a 
realidade latino-americana frente às mudanças na economia mundial. Assim 
surgiu a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), formada 
por um conjunto de 44 países da AL e Caribe. Também fazem parte da Cepal o 
Japão, a França, o Canadá, a Espanha, os Estados Unidos, entre outros. 
Figura 5 – Presença da Cepal na AL 
 
Crédito: AlafStudio/Shutterstock. 
Embora não com a mesma velocidade e intensidade, as economias dos 
países latino-americanos experimentavam o avanço de sua industrialização e 
assistiam suas economias crescerem a uma taxa anual de quase 6%. Frente a 
esse movimento de expansão industrial e econômica, faltava um embasamento 
teórico que ajudasse a dar suporte técnico e ideológico, ideias que ajudassem 
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no direcionamento das jovens nações frente ao mundo capitalista da Europa e 
dos EUA. 
Durante mais de meio século, a Cepal atuou como a principal referência 
na produção de conhecimento e análises sobre a condição econômica na 
América Latina e no Caribe. A intervenção da Cepal no debate econômico 
mundial contribuiu para que fossem pensadas políticas de desenvolvimento 
direcionadas à realidade heterogênea da AL. 
Ao longo de sua existência, o pensamento cepalino foi modificando-se e 
incorporando outros elementos analíticos, de modo a responder aos desafios 
conjunturais das mudanças na econômica capitalista. 
Havia teorizações que estabeleciam um processo ascendente por fases e 
etapas de desenvolvimento, o que de certa forma servia para hierarquizar o 
desenvolvimento econômico mundial, em países amadurecidos e países ainda 
em fase de amadurecimento. A Cepal, com seus autores e teóricos, irá se 
posicionar contrariamente a essa concepção, defendendo a necessidade de se 
pensar o desenvolvimento da AL a partir de suas próprias realidades e potências, 
e não numa perspectiva de dependência dos países industrializados. 
A contraposição ao alinhamento subserviente da América Latina ao 
capitalismo dos países desenvolvidos partiu de uma análise histórico-estrutural 
e da teoria do subdesenvolvimento periférico. Nesse sentido, a Cepal 
elaborou toda uma análise sobre a especificidade da realidade 
socioeconômica dos países subdesenvolvidos, propondo um conjunto 
de políticas visando à superação do atraso pela via da industrialização. 
Sua denúncia da assimetria existente nas relações econômicas 
internacionais, apoiada na tendência secular à deterioração dos termos 
de troca, e suas propostas de caráter reformista encontrariam a 
resistência de setores conservadores das elites latino-americanas e de 
alguns membros da comunidade internacional. (Nery, 2004, p. 21) 
O pensamento cepalino nessa fase contribuiu para uma percepção crítica 
em relação ao atraso econômico da América Latina e do Caribe, mostrando os 
fatores internos e externos, que atuavam como obstáculos ao desenvolvimento 
da região. Entre eles, estava o conservadorismo das elites, ainda presas à 
mentalidade colonial e a uma relação desigual com países mais desenvolvidos, 
mais interessados em conseguir recursos, do que estabelecer parceria 
econômica em bases de mútuas vantagens. 
 
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NA PRÁTICA 
Libertador é um filme de drama venezuelano de 2013, dirigido e escrito 
por Alberto Arvelo. Foi selecionado como representante da Venezuela à edição 
do Oscar 2015. O filme conta a história de Simón Bolívar (1783-1830) e seu 
papel nos processos de independência da América Latina. 
Com base nos estudos e leituras realizadas na disciplina, após assistir ao 
filme, elabore uma breve reflexão (uma página), indicando qual era o projeto de 
Bolívar e as razões de seu sucesso ou de seu fracasso. 
Link de acesso: <https://youtu.be/Tg7Vq1jlEtI>. Acesso em: 22 set. 2021. 
FINALIZANDO 
Ao final desse percurso, merecem destaque os seguintes aspectos: 
• O processo de colonização deixou marcas profundas na cultura e no 
desenvolvimento dos diversos países das américas. 
• Os processos de independência com seus levantes revolucionários 
trouxeram uma nova fase histórico, social e econômico. 
• A interferêncianorte-americana na AL afetou a soberania de diversos 
países. Governos foram desestabilizados e golpes foram incentivados e 
apoiados, fazendo subir ao poder diversos ditadores. 
• Também foi possível compreender o papel importante desempenhado 
pela Cepal na construção de uma percepção crítica em relação ao atraso 
econômico da América Latina e do Caribe, mostrando os fatores internos 
e externos, que atuavam como obstáculos ao desenvolvimento da região. 
 
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REFERÊNCIAS 
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professores temporários (PSS) no Paraná. Tese (Doutorado em Sociologia) – 
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014 
NAUROSKI, E. A.; RODRIGUES, M. E. Pensamento social na América Latina. 
Curitiba: InterSaberes, 2018. 
NERY, T. A economia do desenvolvimento na América Latina: o pensamento 
da Cepal nos anos 1950 e 1990. 127 f. Dissertação (Mestrado em Relações 
Internacionais) – Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2004. 
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PENSAMENTO SOCIAL E 
POLÍTICO LATINO-AMERICANO 
AULA 3 
 
 
 
 
 
Prof. Everson Araujo Nauroski 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, teremos contato com reflexões que nos ajudarão a entender 
alguns fatores que afetaram o desenvolvimento econômico da América Latina. 
Veremos contribuições de pesquisadores que explicam diferentes modelos de 
análise na relação entre Estado, sociedade e economia. Teremos a oportunidade 
de compreender noções importantes como subdesenvolvimento, 
desenvolvimento, comércio exterior e substituição das importações. 
TEMA 1 – A ECONOMIA LATINO-AMERICANA APÓS A INDEPENDÊNCIA 
Na divisão internacional do trabalho os países da AL se mantiveram 
por longo tempo atrelados a uma função de produtores e exportadores 
de matérias-primas e alimentos para os centros industriais dos quais 
procediam as importações de bens manufaturados para o 
abastecimento dos mercados internos da região (Poletto, 2000, p. 10). 
O fim do período colonial e os processos de independência na América 
Latina fizeram surgir novas oportunidades de comércio fora do domínio da 
Espanha e Portugal, mas não sem a influência e a interferência de outras 
potências estrangeiras como Inglaterra e EUA. O fim da intermediação 
possibilitou o avanço e certo progresso no desenvolvimento econômico, contudo, 
a instabilidade política da região criou diversos obstáculos em pleno 
desenvolvimento nas américas. 
Sobre as ruínas do mundo colonial surgiram estados elitistas e 
excludentes, muitos deles alinhados aos interesses estrangeiros da região. Os 
arranjos sociopolíticos construídos no período pós-colonial pouco favoreceram 
para a maior participação do povo em geral. O controle dos campos e uma 
economia predominantemente rural restringiam o acesso à propriedade e 
concentrava a riqueza nas mãos das novas elites. Foi somente a partir da 
metade do século XIX que ocorreram fortes ondas migratórias de trabalhadores 
e avanços na estrutura de produção com maior industrialização e aumento do 
trabalho manufaturado, uma melhora que pouco afetou as condições de trabalho 
e a remuneração da classe trabalhadora. 
Apesar desses avanços, a característica dessa economia é de exportação 
de bens primários com pouco valor agregado. Isso significa exportar produtos 
não industrializados, sendo os mais comuns café, açúcar, algodão, ouro e prata. 
No movimento de retorno, produtos derivados eram importados como produtos 
manufaturados, em um ciclo de comércio muito mais favorável aos países 
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industrializados, que compravam mais barato a matéria-prima e vendiam muito 
mais caro os seus produtos, formando uma cadeia diversificada de produtos 
(Nauroski; Rodrigues, 2018). 
Figura 1 – Economia primária 
 
Créditos: T Photography/Shutterstock. 
Outro fator limitador do desenvolvimento industrial na AL e no Brasil foram 
as dificuldades internas para viabilizar investimentos na expansão da indústria 
nacional. Com a pouca oferta de capitais e empréstimos, boa parte dos recursos 
vinha da exportação, especialmente do mercado inglês, considerado o principal 
comprador das exportações. Desde seu início, o desenvolvimento da maioria dos 
países latino-americanos leva a marca da dependência em relação às 
economias centrais, uma situação de submissão e subalternidade ainda 
presente em muitos países da AL. 
O contexto descrito indica a persistência de uma conjuntura explicativa 
das razões de o processo de industrialização ser tardio na América Latina, uma 
relação que pode ser descrita entre: 
desenvolvimento e subdesenvolvimento constitui uma realidade 
histórica e estrutural que colocava a América Latina numa condição 
desigual frente ao resto do mundo capitalista. Não se tratava de 
escassez de recursos, mas de capacidade produtiva e potencial do 
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mercado interno. O subdesenvolvimento gerava um ciclo vicioso de 
dependência, retração e pobreza (Nauroski; Rodrigues, 2018, p. 45). 
Essa dinâmica de dependência e subalternidade constitui a base da 
economia colonial e se manteve com poucas alterações após os processos de 
independência. A continuidade dessa lógica é explicada pelos efeitos que 
provoca – favorecer as elites nacionais em sua riqueza e privilégios e limitar o 
fortalecimento da classe trabalhadora. O legado escravocrata na América Latina 
impossibilitou a criação de uma cultura industrial e a criação de um consistente 
mercado interno de consumo, semelhante ao que ocorreu na Inglaterra e EUA. 
 Seria necessária uma nova relação política e social com a classe 
trabalhadora, possibilitando maiores ganhos salarias, organização sindical e 
participação política. Esses fatores combinados ajudariam a formar e a ampliar 
não só o mercado interno, mas poderiam fortalecer a própria soberania nacional. 
No entanto, o risco de ter uma classe trabalhadora empoleirada não interessava 
nem às elites nacionais nem às estrangeiras. 
TEMA 2 – ECONOMIA E O MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES 
As economias periféricas obtiveram progresso técnico apenas em seus 
setores agroexportadores, e observam grande divergência nos outros 
setores produtivos de sua economia [...]. Assim, durante a evolução de 
longo prazo do sistema econômico mundial há uma tendência a 
aumentar as disparidades entre esses extremos (Bocchi; Gargiulo, 
2005, p. 3). 
Novos ventos sopram sobre as Américas e tem início uma mudança na 
visão econômica do continente com o modelo que ficou conhecido como 
substituição das importações. Entre os fatores que contribuíram para essa 
mudança importante, estão as consequências geopolíticas da Segunda Grande 
Guerra e a crise na economia provocada pela quebra da bolsa dos EUA em 1929 
e a necessidade crescente de depender menos do mercado estrangeiro. 
No campo político, ganha força ideias de soberania e maior 
independência na divisão internacional do trabalho da AL frente às potências 
estrangeiras. De certa forma, houve o resgate de ideias que motivaram a 
independência, só que agora, voltadas à proteção do Estado nacional, à 
necessidade de ampliar a industrialização e proteger a economia interna com 
tentativas protecionistas, que se fizeram necessárias na história do 
desenvolvimento econômico da América Latina (Nauroski; Rodrigues, 2018). 
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Na prática, o modelo de substituição das importações tentou aumentar a 
produção da indústria interna, dinamizando-ae diversificando-a de modo a criar 
e atender as demandas do mercado interno. Esse movimento é acompanhado 
da diminuição progressiva de importações, o que se faz com medidas restritivas, 
entre elas, o aumento de taxas de importação e controle cambiário no sentido de 
valorizar e fortalecer a moeda nacional. 
Figura 2 – Exportação/importação 
 
Créditos: Travel mania/Shutterstock. 
Essas medidas foram muito defendidas pela Comissão Econômica para a 
América Latina e o Caribe (Cepal). Com o avanço da globalização industrial era 
necessário aos países em desenvolvimento ou do terceiro mundo, expressão 
utilizada na época, reposicionar-se na balança comercial mundial. Ao substituir 
as importações por maiores investimentos na indústria nacional e nos mercados 
internos esses países conseguiriam aumentar seus capitais de maneira a 
alcançar maior desenvolvimento econômico. 
Essa mudança possibilitou o crescimento econômico e algumas melhorias 
na sociedade. Como o aumento da produção e do consumo, o Estado também 
aumentou sua arrecadação. Surgiram políticas que favoreceram a ampliação 
das políticas de Estados para investimentos em infraestrutura e melhorias em 
outras áreas, como saúde pública, saneamento, oferta de educação, inclusive 
para atender às demandas da indústria crescente. 
No Brasil, um dos erros desse processo foi a abertura econômica à 
presença de grandes empresas estrangeiras, sem que houvesse tempo para 
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fortalecer a capacidade produtiva e competitiva das empresas nacionais. Em 
face das pressões do próprio movimento da globalização econômica, a presença 
de grandes multinacionais alijou diversos ramos da indústria, sendo um deles o 
automotivo. 
No caso brasileiro, embora tenha ocorrido notório desenvolvimento 
econômico, a estrutura social desigual pouco se alterou. A herança escravocrata 
fortemente arraigada à cultura de trabalho contribuiu para um processo histórico 
de concentração de riqueza. Surge uma burguesia nacional ostentosa, mas a 
massa de trabalhadores e do povo pobre, em geral, não conseguiu galgar os 
degraus de mobilidade social ascendente, melhorando seus níveis de salário, 
direitos e melhor qualidade de vida. O modelo de sociedade nos parâmetros de 
países como Inglaterra, França e EUA permanece inalcançável. 
 O desenvolvimento econômico da América Latina experimentou 
movimentos de oscilação. A pressão das economias dos países centrais do 
capitalismo acabou por impor o retorno ao modelo das importações, por ser um 
modelo mais vantajoso para suas economias. No processo de tentar ampliar e 
diversificar seu parque industrial, muitos países, e com o Brasil não foi diferente, 
acabaram por contrair volumosa dívida externa. Organismos como o Fundo 
Monetário Internacional (FMI), fundado em 1944, tiveram atuação estratégica na 
imposição de medidas para disciplinar e controlar o desenvolvimento desses 
países, resultando na perda relativa de soberania e pagamento de altas taxas de 
juros, além dependência econômica (Nauroski; Rodrigues, 2018). 
TEMA 3 – A CONTRIBUIÇÃO DE CELSO FURTADO 
O Brasil enriqueceu, desenvolveu-se, mas mantém sua subordinação 
aos grandes centros, às decisões negociadas fora do país. (Celso 
Furtado, [S.d.]) 
O percurso histórico-econômico de análise e compreensão da América 
Latina foi e ainda é objeto de inúmeros estudos. Dentre diversos autores de 
reconhecida contribuição trazemos a figura de Celso Monteiro Furtado (1920-
2004). Economista com sólida formação histórica, Furtado contribuiu ativamente 
com as pesquisas e as produções no pensamento Cepalino. Segundo o autor, a 
compreensão da histórica econômica latino-americana pode ser explicada pela 
dinâmica centro-periferia, sendo o centro os países com avançada 
industrialização e a preferia os países subdesenvolvidos ou em 
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desenvolvimento. Essa lógica explica a relação predominante de dependência e 
a necessidade de superá-la com a implantação do nacional-
desenvolvimentismo, modelo defendido por Furtado. Medidas econômicas nessa 
direção foram adotadas no Brasil a partir da década de 1950, período de grande 
expansão da indústria nacional e melhorias no poder aquisitivo da classe 
trabalhadora. 
Apesar dos avanços identificados, é preciso ter em mente que o sistema 
capitalista para sobreviver tende a reproduzir suas relações em diferentes níveis 
de crescimento. Enquanto expande suas fronteiras e proporciona riqueza aos 
que controlam os meios de produção, ele não acontece com a massa de 
trabalhadores que só têm a força produtiva para oferecer. O subdesenvolvimento 
tem sido a marca desse sistema na periferia do mundo, naqueles países nos 
quais a participação na economia global tem sido oferecer mão de obra e 
matéria-prima. 
Figura 3 – Capitalismo e sociedade 
 
Créditos: nuvolanevicata/Shutterstock. 
No processo histórico, o subdesenvolvimento se tornou o resultado da 
expansão da Revolução Industrial no século XVIII. O capitalismo projeta na 
sociedade um reflexo de si mesmo, criando contradições, diferenças, tensões e 
conflitos. Para Furtado, as economias subdesenvolvidas se caracterizam por 
essa deformação estrutural, 
num dualismo entre o “arcaico” e o “moderno”, tendo como 
consequência desequilíbrios sociais, políticos e econômicos, além da 
dependência externa. Embora estas economias fossem capazes de se 
industrializar (como o Brasil, por exemplo), elas estavam sujeitas a 
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seguirem trajetórias distintas das dos países desenvolvidos, o 
processo não seria automático. Inclusive, o autor salienta que a 
industrialização nestes locais quando não bem direcionada e planejada 
gera disparidades microrregionais – como as diferenças entre os 
centros urbanos e o interior. O aumento de produtividade e a 
assimilação de novas técnicas elevam o nível de vida médio da 
população, mas por si só não conduzem à homogeneização social. Na 
teoria de Furtado, o desenvolvimento estaria atrelado ao incremento 
da eficácia do sistema social de produção, a da satisfação de 
necessidades elementares da população e a da consecução de 
objetivos a que almejam grupos dominantes de uma sociedade e que 
competem na utilização de recursos escassos. A terceira dimensão é, 
certamente, a mais ambígua, pois aquilo a que aspira um grupo social 
pode parecer para outros simples desperdício de recursos. Daí que 
essa terceira dimensão somente chegue a ser percebida como tal se 
incluída num discurso ideológico (Furtado, 2000, citado por Nauroski; 
Rodrigues, 2018, p. 59-60). 
Para Furtado, o capitalismo moderno não teria se desenvolvido sem a 
ajuda do Estado liberal. Ao considerar as profundas desigualdades da América 
Latina, Furtado assinala que o desenvolvimento econômico precisa ser traduzido 
em desenvolvimento social. O Estado precisa ser capaz de induzir o crescimento 
e desenvolvimento econômico, mas também estabelecer limites e normas ao 
capitalismo. O mercado livre, sem o Estado para mediar sua relação com a 
sociedade, tende a centrar-se sobre sua própria lógica de acumulação. O 
crescimento econômico precisa trazer benefícios não somente aos capitalistas, 
mas ao conjunto da sociedade, principalmente aos trabalhadores, sem os quais 
não é possível a extração da mais-valia e a obtenção do lucro (Nauroski; 
RodrigUES, 2018). 
TEMA 4 – A CONTRIBUIÇÃO DE FRANCISCO DE OLIVEIRA 
Os Estados Unidos, a meu ver, desempenham ativamente o papel de 
centro cíclico principal, não só no continente, mas em todo o mundo; e 
os países latino-americanos estão na periferia do sistema econômico 
[...] (Prebisch citado por Rodríguez,1981, p. 34-35). 
 
Intelectual, professor e militante político, Francisco Maria Cavalcanti de 
Oliveira, ou Chico deOliveira, como era mais conhecido, nasceu em 1933, na 
cidade de Recife e morreu em 2019, com 85 anos, em São Paulo. Ao analisar o 
desenvolvimento industrial brasileiro, Oliveira identifica a década de 1930 como 
um marco histórico de transformação econômica. Seus estudos sobre a história 
econômica brasileira e latino-americana o levaram a posicionar-se de maneira 
crítica em relação à tese da Cepal, a qual já apresentamos anteriormente, de 
que a saída do subdesenvolvimento da maioria dos países da AL só seria 
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alcançada com a mudança para a substituição das importações e o consequente 
investimento na indústria nacional e mercado interno. 
Na concepção de Oliveira, em função da crise de 1929 que levou a uma 
recessão global, os países subdesenvolvidos tiveram ainda mais dificuldades de 
investimento e acumulação de capital. Situação agravada ainda mais pelos 
efeitos da Segunda Guerra Mundial, que abalaram os mercados mundiais, 
fazendo com que os países mais afetados pela guerra buscassem medidas de 
proteção de suas economias, restringindo a importação e buscando retomar a 
indústria e o mercado interno. O resultado foi uma maior diminuição do comércio 
exterior e controle alfandegário, com a imposição de limitações e taxações para 
a entrada de produto estrangeiros. 
Oliveira busca analisar essa conjuntura histórica e seus desdobramentos 
propondo uma chave analítica denominada de razão dualista. O Brasil, por conta 
de sua trajetória colonial e escravocrata de longa duração, adentrou no 
capitalismo de maneira tardia e com características muito diferenciadas em 
relação ao capitalismo europeu e norte-americano, o que já explicamos ao falar 
das dificuldades de estabelecer uma classe trabalhadora com massa salarial em 
condições de alavancar o mercado interno. No Brasil, o consumo sempre teve 
um caráter elitista e restritivo. 
A ideia analítica da razão dualista proposta por Oliveira assinala que no 
Brasil persiste uma dinâmica complexa e perversa entre o atrasado e o moderno. 
Apesar da crescente industrialização e modernização da produção, com novas 
máquinas, novos processos, incremento e aceleração produtiva, por um lado, e 
por outro, o mundo do trabalho sendo mantido em condição deficitária e 
atrasada, com condições precárias de labor e baixos salários, conjuntura 
desfavorável ao surgimento de uma sociedade de consumo ampla e 
generalizada. Essa contradição entre o moderno e o atrasado favorece a 
exploração e a geração de pobreza na ponta, e acumulação na outra. 
 
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Figura 4 – Pobreza extrema 
 
Créditos: Tinnakorn jorruang/Shutterstock. 
A situação de desigualdade crônica cria obstáculos ao caminho do 
desenvolvimento. Não existe capitalismo moderno sem consumo massificado, e 
não existe consumo massificado sem poder de compra do mundo do trabalho. 
Eis a contradição ainda presente no desenvolvimento econômico brasileiro. As 
elites se valem do mundo político para influenciar na criação de leis vantajosas 
ao capital e prejudicial aos trabalhadores com o aumento da precarização das 
condições de trabalho, retirada de direitos e estagnação de ganhos salariais. 
Para Oliveira (2003, p. 49-50), nas relações concretas, o que existe, de fato, é 
uma importante massa urbana, força de trabalho industrial e de 
serviços, e se é importante manter baixo o custo de reprodução dessa 
força de trabalho a fim de não ameaçar a inversão, tornasse inevitável 
e necessário produzir bens internos que fazem parte do custo da 
reprodução da força de trabalho; o custo de oportunidade entre gastar 
divisas para manter a força de trabalho e produzir internamente 
favorece sempre a segunda alternativa e não a primeira. No Brasil, 
também foi assim: começou-se a produzir internamente em primeiro 
lugar os bens de consumo não duráveis destinados, primordialmente, 
ao consumo das chamadas classes populares (possibilidade 
respaldada, além de tudo, pelo elenco de recursos naturais do país) e 
não o inverso, como comumente se pensa. 
Em síntese, para Oliveira, na prática, o consumo interno das camadas 
mais populares não foi suficiente, ficou restrito a uma gama de produtos não 
duráveis, de baixo custo sem que esse mercado pudesse de fato alavancar o 
desenvolvimento da economia interna. No Brasil, parece nunca ter existido por 
parte das elites, leia-se, burguesia nacional, algum tipo de senso cívico e 
patriótico capaz de fazer com que os ricos tivessem, de fato, uma preocupação 
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com o melhoramento do povo e da sociedade em geral. A acumulação sempre 
esteve associada ao aumento dos mecanismos de exploração, obstaculizando 
sempre que possível a distribuição de renda via salário. 
TEMA 5 – A CONTRIBUIÇÃO DE MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES 
“Pode-se crescer indefinidamente, sem que sejam criadas condições 
de distribuição da riqueza produzida”. 
De nacionalidade portuguesa, Maria da Conceição Tavares, doravante 
representada pela sigla MCT, estudou em Lisboa e no período mais intenso da 
ditadura salazarista teve que fugir para o Brasil, no qual fez carreira intelectual, 
como docente e escritora. Sua formação política e econômica a aproximaram 
dos movimentos sociais e da militância política. 
A trajetória de MCT e seu legado como pesquisadora a colocaram como 
uma das mais respeitadas estudiosas do desenvolvimento econômico da 
América Latina. No período em que esteve na Cepal, sua análise procurou 
evidenciar o quanto as relações assimétricas de poder entre os países centrais 
e periféricos do capitalismo impactava no desenvolvimento desses últimos, 
principalmente nas limitações internas ligadas à trajetória histórica de cada país, 
mas sobretudo nas relações com a economia externa e na divisão internacional 
do trabalho, em que, no jogo geopolítico da economia global predominam os 
interesses e a influência dos países mais fortes. 
Esses fatores contribuíram para explicar que o processo de 
desenvolvimento econômico mundial segue ritmos e trajetórias diferenciadas, 
onde alguns países têm mais vantagens que outros, não somente por fatores 
internos, como industrialização e mercado, mas também por questões 
ideológicas em relação a estabelecer uma divisão internacional entre o centro e 
a periferia do mundo capitalista. 
 Para MCT, a posição estratégica que foi ocupada por Inglaterra, Japão e 
EUA contribuiu com a estruturação de uma dinâmica de poder muito mais 
favorável às economias centrais, mantendo uma relação de imposição e 
dependência no sistema periférico do capitalismo. MCT também chegou a 
sinalizar uma tendência mundial de aumento de concentração de capitais, 
aumento da economia especulativa e financeira e progressiva retração da 
economia produtiva. 
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Outro grande tema que ocupou seus estudos foi o processo de formação 
de oligopólios envolvendo empresas estrangeiras e enfraquecimento de 
empresas nacionais, ou seja, para MCT, a lógica de competição desigual que 
acontece no plano comércio exterior acaba refletindo nos mercados nacionais. 
O processo de globalização e abertura da economia impositiva que ocorreu na 
maioria dos países da América Latina tendeu a favorecer as empresas 
estrangeiras em detrimento das empresas nacionais. No Brasil, isso pode ser 
observado em segmentos como automotivo, mineração e tecnologia. 
Figura 5 – Poder bélico norte-americano 
 
Créditos: Yeongsik Im/Shutterstock. 
Outro tópico que recebeu muita atenção dessa autora foi pensar a relação 
entre economia e política. Sua atenção se voltou ao peso e influência dos EUA, 
que ela a chamou de nação do dinheiro e da guerra. Primeiro, pelo peso que o 
PIB americano temnas relações comerciais mundiais, imposição do dólar como 
moeda de troca hegemônica, e ainda por representarem um parceiro comercial 
estratégico importante, que ninguém quer perder, a ponto de o mundo ocidental 
aceitar mesmo sob protestos, o bloqueio econômico imposto à Cuba que já dura 
mais de 60 anos. Seria melhor deixar os cubanos à própria sorte que perder 
parcerias com os EUA, ou pior: ser objeto de suas retaliações. Além da questão 
econômica, o fato de os EUA ainda serem a maior potência bélica mundial os 
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coloca como fiéis da balança na maioria das relações internacionais, algo que 
na atualidade tem sido mitigado, haja vista o redesenho de um mundo multipolar 
com o crescimento de poder e influência mundial da Rússia e China. 
NA PRÁTICA 
Com base nos estudos realizados, pesquise sobre a Área de Livre 
Comércio das Américas (Alca). Após sua pesquisa, posicione-se trazendo 
argumentos sobre a criação da Alca, indicando suas vantagens e desvantagens 
para o desenvolvimento econômico do Brasil. Sugerimos que você assista ao 
debate disponibilizado a seguir: 
• ALCA - DEBATE - PARTE 1 - ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS 
AMÉRICAS. ARMANDO. Disponível em: 
<https://youtu.be/m9YA0K4OIrw^>. Acesso em: 14 out. 2021. 
• LCA - DEBATE - PARTE 2 - ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS 
AMÉRICAS. ARMANDO. Disponível em: <https://youtu.be/Zq-
AZQq9Eg8/>. Acesso em: 14 out. 2021. 
FINALIZANDO 
Em nossos estudos, foi possível construir uma reflexão sobre os seguintes 
temas: 
• Após os processos de independência na América Latina, teve fim o 
domínio direto de Espanha e Portugal, porém, surgem outras influências 
estrangeiras no continente; 
• Predominou um modelo econômico de exportação primária, baixa 
industrialização e dependência das exportações externas, 
• Com a mudança no modelo econômico, ocorreu uma progressiva 
substituição das importações com efeitos positivos na industrialização e 
criação de mercado interno, mesmo que ainda incipiente; 
• A contribuição de Celso Furtado busca explicar a continuidade do 
subdesenvolvimento na AL com base na relação centro-periferia 
explicando o peso e a influência dos países centrais do capitalismo; 
• Para Francisco de Oliveira, no Brasil persiste uma dinâmica complexa e 
perversa entre a modernidade do aumento da industrialização e atraso 
em relação à valorização do mundo do trabalho; 
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• Segundo Maria da Conceição Tavares, o processo de globalização e 
abertura da economia impositiva que ocorreu na maioria dos países da 
América Latina tendeu a favorecer as empresas estrangeiras em 
detrimento das empresas nacionais. 
 
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REFERÊNCIAS 
BOCCHI, J. I; GARGIULO, F. F. Desenvolvimentismo e a CEPAL: da 
industrialização por substituição de importações à transformação produtiva com 
equidade. Disponível em: 
<http://www.pucsp.br/iniciacaocientifica/21encontro/artigos-premiados-
20ed/FELIPE_FREITAS_GARGIULO.pdf>. Acesso em: 2 maio 2021. 
NAUROSKI, E. A.; RODRIGUES, M. E. Pensamento social na América Latina. 
Curitiba: InterSaberes, 2018. 
OLIVEIRA, F. M. C. Crítica à razão dualista. O Ornitorrinco. São Paulo: 
Boitempo Editorial, 2003, p. 49. 
POLETTO, D. Walmor. A Cepal e a América Latina. Porto Alegre: EDIPUCRS, 
2000. 
RODRÍGUEZ, O. Teoria do subdesenvolvimento da Cepal. Rio de Janeiro: 
Forense Universitária, 1981. 
 
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CONVERSA INICIAL 
A noção de desenvolvimento vai além do aspecto econômico, envolvendo 
outras dimensões da vida social e uma compreensão interdisciplinar do ser 
humano. O estudo dessa temática tem recebido a contribuição das ciências 
sociais e de diversas outras instituições de pesquisa, como o Cepal, que, ao 
longo de várias décadas, realiza estudos e debates para pensar o 
desenvolvimento no contexto histórico e econômico da América Latina. 
Além desses assuntos, ao longo dessa aula, estudaremos também a 
teoria da dependência e as hipóteses da conexão entre a expansão capitalista 
nas economias centrais e o subdesenvolvimento na periferia do capitalismo. Por 
fim, veremos que as questões que envolvem o desenvolvimento econômico e 
social perpassam diferentes modelos e perspectivas, entre elas a liberal, a 
social-democracia e a neoliberal. 
TEMA 1 – DESENVOLVIMENTO UMA CATEGORIA PLURAL 
Quando falamos em desenvolvimento, é comum associar essa palavra ao 
campo econômico, principalmente nos estudos socioeconômicos, relacionando 
esse termo a questões industriais, comerciais e diversos processos relacionados 
ao crescimento econômico. Vale ressaltar que a categoria de desenvolvimento 
possui relação direta com as questões culturais, sociais, psicológicas e 
educacionais, evidenciando o caráter multidimensional desse tema. 
Neste tópico, iremos abordar alguns aspectos do desenvolvimento para 
além das questões econômicas, trazendo a contribuição da sociologia, da 
filosofia e da história, num esforço de oferecer aos leitores uma reflexão de viés 
interdisciplinar, dada a complexidade do tema em relação à configuração das 
sociedades contemporâneas face ao acelerado processo de globalização, que: 
[...] evidencia as desigualdades que retratam as deficiências do 
ordenamento social, das concepções de justiça e as disparidades entre 
o progresso econômico, a opulência e a pobreza. De outra parte, 
oferece as condições para a maior e melhor integração entre os povos, 
culturas e a consequente expressão e respeito das diferenças. (Boff, 
2012, p. 108) 
No contexto de uma globalização cada vez mais competitiva envolver a 
América Latina, torna-se necessário relacionar as questões do desenvolvimento 
com assuntos nem sempre fáceis de serem tratados, por sua natureza polêmica 
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e controversa, como ética e sociabilidade, desigualdade social, assimetria de 
poder entre os países, conflitos de classes, concentração de renda e miséria, 
corrupção e guerras. Podemos nos indagar sobre como muitos países da 
América Latina poderão atingir um nível satisfatório de desenvolvimento, 
considerando as profundas contradições da vida social no plano nacional e 
internacional. 
Um país bem desenvolvido tende a manifestar altos índices de 
desenvolvimento humano e boas condições de infraestrutura, oferta de esgoto e 
água tratada a toda população, acesso a diretos sociais como saúde e educação 
de qualidade, garantia de assistência a doentes idosos, atenção ao especial as 
crianças, gestantes e estudantes. 
No plano econômico, nos países mais desenvolvidos, o desenvolvimento 
se traduz em proteção ao mundo do trabalho, espaço e valorização da atuação 
dos sindicatos, salários mais dignos e, consequentemente, uma economia mais 
dinâmica e menos desigual. 
Em diversos países, essa noção ampliada de desenvolvimento pode ser 
constatada, principalmente nos países onde predomina um modelo de social-
democracia em que o Estado é forte e atuante, garantindo boas condições de 
vida e bem-estar à sua população. Para citar alguns exemplos, temos a 
Dinamarca, Noruega, Islândia, Portugal e Alemanha, além de vários outros. Em 
comum entre essas nações, existe menos desigualdade e maior equidade fiscal 
e tributária conforme a proporção de ganhos e renda, um sistema altamente 
funcional em decorrência da escolarização e formação cultural da maioria dos 
cidadãos e sua participação mais efetiva na vida social e política. 
Cidadãos mais conscientes e participativos à própria classe política 
refletem o perfil dos eleitores. Da combinação desses fatores, decorrem índices 
mínimos de corrupção, com maior controle e transparência nas açõesdo poder 
público. Nesses países, existe um conjunto de características que se diferencia 
bastante do que conhecemos da realidade política brasileira, na qual a elite 
econômica e a classe política em geral têm seus próprios interesses, não 
fazendo parte de suas prioridades o bem-estar da população. 
Face ao exposto até aqui, fica evidente que tratar do tema do 
desenvolvimento envolve ampliar e tocar a fundo em certas questões, algumas 
já aventadas anteriormente, bem como pensar e propor em maneiras de 
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enfrentá-las, seja no campo das lutas sociais, seja no campo político e legislativo 
com a aprovação de leis em defesa do interesse público. 
Figura 1 – Amartya Sen 
 
Crédito: Dinodia Photos / Alamy / Fotoarena. 
Um dos autores de reconhecida contribuição sobre esse tema, o pensador 
indiano Amatya Sen (2000), busca articular, de maneira interdisciplinar, o 
desenvolvimento econômico, o bem-estar social e os direitos humanos. Para 
Sen, o crescimento econômico precisa ser visto com um meio em benefício da 
sustentabilidade geral, da ampliação das liberdades humanas, de maneira a 
garantir uma vida melhor para os seres humanos sem descuidar da base 
ecológica que dá sustentação à vida no planeta. Na abordagem de Sen (2000), 
está a contraposição da visão especista e antropocêntrica, fonte causadora da 
maioria dos problemas ambientais na atualidade. É preciso recolocar a questão 
do desenvolvimento no plano ético e social, subordinando a economia e o 
mercado ao bem-estar das pessoas e do planeta. 
A metodologia da chamada ‘economia positiva’ não apenas se 
esquivou da análise econômica normativa como também teve o efeito 
de deixar de lado uma variedade de considerações éticas complexas 
que afetam o comportamento humano real e que, do ponto de vista dos 
economistas que estudam esse comportamento, são primordialmente 
fatos e não juízos normativos. Examinando as proporções das ênfases 
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nas publicações da economia moderna, é difícil não notar a aversão às 
análises normativas profundas e o descaso pela influência das 
considerações éticas sobre a caracterização do comportamento 
humano real. (Sen, 2000, p. 27) 
Não é difícil entender esse descompasso existente entre crescimento 
ecônomo e desenvolvimento social e humano. Ora, a economia em geral é o 
reflexo do mundo corporativo, de grandes empresas nacionais e multinacionais, 
empresas controladas por tecnocratas na operatividade do lucro como meta 
principal. O que mais importa é o retorno aos acionistas que a satisfação geral 
da sociedade. 
TEMA 2 – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS DO PENSAMENTO CEPALINO 
A partir da década de 2000, o foco dos estudos e discussões da Cepal 
passaram trazer novos elementos, buscando pensar a relação entre produção, 
desenvolvimento e equidade. Os estudos da Cepal identificaram um acentuado 
crescimento econômico em relação a exportação de commodities, isto é, de 
produtos da economia primária como culturas agrícolas e minérios, conseguindo, 
além da obtenção de ganhos crescentes, ampliação do polo industrial e 
tecnológico. Mesmo diante desse crescimento econômico, a riqueza gerada 
permaneceu restrita aos segmentos elitizados, mantendo quase inalterada a 
situação de extrema desigualdade. 
Aos poucos, o enfoque da Cepal passou incorporar outros elementos que 
não os de ordem econômica, como a atuação do Estado e outras forças sociais 
na construção de uma maior equidade na distribuição dos recursos e riquezas 
produzidas na América Latina. 
As abordagens analíticas mais contemporâneas da Cepal, como as 
trazidas pelo documento de 2010 intitulado “A hora da igualdade, entre rechas 
por fechar e caminhos por abrir”, estabelecem uma série de fatores presentes 
em sociedades menos desiguais, sendo a democracia e as liberdades civis os 
mais impactantes na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A 
mudança de enfoque da instituição inaugura uma nova fase de pressupostos e 
posicionamentos, tendo, na noção de igualdade de direitos e na promoção de 
bem-estar, elementos culturais e de sociabilidade que promovem: 
maior sentido de pertencimento à sociedade e, com isso, maior coesão 
social [...]. Em segundo lugar, uma sociedade mais integrada é 
condição para uma sociedade mais produtiva e com maior 
convergência produtiva. [...] Em terceiro lugar, maior igualdade no 
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âmbito dos direitos sociais permite maior igualdade em termos de voz 
e visibilidade políticas. Dito de outro modo, uma maior integração ao 
trabalho digno, à educação de qualidade, à informação e ao 
conhecimento e às redes de proteção e interação sociais permite 
melhorar a capacidade dos cidadãos para participação em instituições 
políticas e sindicais, no diálogo público, no voto informado, no uso do 
conhecimento para fazer valer seus direitos no acesso a associações 
civis e no intercâmbio cultural. [...] Em quarto lugar, a experiência de 
crises anteriores na América Latina e no Caribe mostra que seu 
impacto na pobreza, no bem-estar e na inclusão social geralmente é 
mais profundo e duradouro que aquele encontrado na dinâmica da 
economia. (Cepal, 2010, p. 40-41) 
O posicionamento da Cepal eleva o tom contra os mecanismos estruturais 
que atuam de modo a reproduzir a desigualdade social e econômica, tornando o 
crescimento econômico um fator de desenvolvimento restritivo e elitista. A 
dinâmica sistêmica do capitalismo, sem freios e limites, tende a promover a 
exclusão de uma grande massa de pessoas. O tecido social acaba se 
esgarçando, comprometendo a coesão e a funcionalidade da vida social. No 
limite, associados à situação de pobreza e exclusão proliferam altas taxas de 
delinquência e criminalidade, o que fornece a justificativa para que governos 
pouco democráticos se tornem ainda mais punitivos. 
Em muitos países da América Latina, o poder econômico se apropria das 
estruturas do Estado para promover seus interesses. Seja por meio de 
financiamento de campanhas eleitorais ou atuação de lobbies, o poder do 
dinheiro tem condicionado as ações dos governos de plantão. 
Figura 2 – Pirâmide social 
 
Crédito: Aha-Soft/Shutterstock. 
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Os argumentos da Cepal avançam para incorporar, além da equidade, 
condições estruturais para a promoção da igualdade como um amplo projeto 
político e social, visando, com isso, não apenas corrigir lacunas em termos de 
oportunidades, mas também: 
[...] contar com um claro compromisso do Estado para redistribuir os 
frutos do desenvolvimento, buscar um maior equilíbrio na distribuição 
dos fatores de produção e no aproveitamento dos ganhos de 
produtividade por esses fatores, definir um marco normativo explícito 
de direitos sociais que leve ao estabelecimento de pactos fiscais em 
torno da prestação de serviços universais e estar mais aberto a pensar 
não apenas em pisos e mínimos, mas também em tetos e máximos. 
(Cepal, 2012, p. 14) 
Trata-se de uma mudança de paradigma na abordagem cepalina ao 
postular que o aumento da produção e o incremento tecnológico não serão 
suficientes para transpor a contradição entre a existência de centros 
tecnológicos altamente produtivos e de áreas inteiras, nacionais e 
transnacionais, de setores de economia primária subdesenvolvidas. Esse 
cenário ilustra a condição de muitos países da América Latina, onde, de maneira 
perversa, coexistem desenvolvimento e subdesenvolvimento, centros urbanos 
ricos e periferias pobres com vida social precária. 
A ideia do crescimento econômico guiado pelo princípio da igualdade 
promove uma perspectiva integrada de desenvolvimento em diferentes áreas – 
social, cultural, ambiental e política. Um desenvolvimento voltadoao bem-estar 
humano acolhe e dialoga com diversas pautas da sociedade, como as questões 
identitárias. 
TEMA 3 – A PERSPECTIVA DA TEORIA DA DEPENDÊNCIA 
A partir da década de 1960, mudanças substanciais ocorreram em toda a 
América Latina, principalmente pelo impulso da ampliação da industrialização e 
maior presença do capitalismo nas economias e na sociedade. Uma nova cultura 
de consumo e sociabilidade vai sendo criada. Os processos de substituição das 
importações, o crescimento econômico da região e um aumento substancial no 
mercado interno fez com que novas teorias e abordagens da economia 
surgissem. Devido aos impactos da crise econômica de 1929 e da recessão 
trazida pela Segunda Guerra Mundial, o que se viu foi uma nova onda de 
globalização ganhar força no mundo ocidental. 
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Como líderes do mundo capitalista nas américas, os EUA despontam, 
expandido sua influência política e econômica, em uma agenda de ações 
estratégicas que ficou conhecida como acordo ou sistema Breton Woods. Entre 
as medidas a serem implementadas, foi construída uma forma de gerenciamento 
econômico internacional com a cooperação monetária entre as nações 
capitalistas mais desenvolvidas. 
Foi nesse contexto de expansão do capitalismo mundial e influência 
assimétrica por parte das nações mais industrializadas que surge a teoria da 
dependência. Para Theotônio dos Santos (1996): 
Se a teoria do desenvolvimento e do subdesenvolvimento eram o 
resultado da superação do domínio colonial e do aparecimento de 
burguesias locais desejosas de encontrar o seu caminho de 
participação na expansão do capitalismo mundial; a teoria da 
dependência, surgida na segunda metade da década de 1960, 
representou um esforço crítico para compreender a limitações de um 
desenvolvimento iniciado num período histórico em que a economia 
mundial estava já constituída sob a hegemonia de enormes grupos 
econômicos e poderosas forças imperialistas, mesmo quando uma 
parte delas entrava em crise e abria oportunidade para o processo de 
descolonização. 
A teoria da dependência nos ajuda a compreender a lógica operativa do 
capitalismo central em relação aos países de economias periféricas. Os países 
com maior poder político e econômico não têm interesse que os países em 
desenvolvimento consigam atingir níveis avançados de industrialização e 
soberania econômica. A própria inserção do Brasil na economia mundial se deu 
de maneira tardia e dependente. A burguesia nacional brasileira, herdeira do 
ranço escravocrata, nunca apostou no desenvolvimento nacional do país. De 
acordo com Nauroski e Rodrigues (2018, p. 69), “o resultado dessa dinâmica, 
segundo o autor, é que o capitalismo quase sempre se constrói numa dialética 
cruel, pois, enquanto produz o desenvolvimento em uma região, gera exploração 
e pobreza em outra, estando ambas relacionadas pela lógica de ganhar e 
perder.” 
Em resumo, na ótica da teoria da dependência, existe uma conexão 
necessária entre a expansão capitalista nas economias centrais e o 
subdesenvolvimento na periferia do capitalismo. No processo de expansão do 
capitalismo, processa-se uma dialética perversa entre desenvolvimento e 
subdesenvolvimento. Esse processo tende a ser explicado e justificado como 
sendo uma etapa necessária à evolução do desenvolvimento econômico 
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naqueles países cuja inserção na modernidade econômica-industrial se deu ou 
está se dando tardiamente. 
 Essa dialética externa, reproduzida na esfera macroeconômica e no plano 
geopolítico, também pode ser observada no plano interno das nações da 
periferia do capitalismo, algo perceptível na realidade brasileira, em que a 
dependência se coloca no plano social, com a dependência de grande parte da 
sociedade marginalizada das políticas de assistência. 
Acontece também, no plano ideológico, com o que, de maneira recorrente, 
tem sido caracterizada como Complexo de Vira-lata, o que significa o desprezo 
pelo povo, pela pátria, pelos elementos da vida nacional, e verdadeira idolatria 
daquilo que advém da cultura estrangeira, especialmente da cultura norte-
americana. Entretanto, a dependência estaria incompleta sem considerarmos a 
posição quase insignificante da maioria dos países latino-americanos no plano 
geopolítico mundial, uma condição que tentou ser mitigada com iniciativas como 
as do Mercosul e a boicotada tentativa de formar uma coalisão entre países de 
economia emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Essa 
iniciativa tinha como um de seus objetivos unir força e recursos de maneira 
contrabalançar o jogo econômico e político com os EUA e a União Europeia. 
A teoria da dependência não é uma construção monolítica, mas possui 
correntes divergentes, as quais poderiam, ainda que com alguma injustiça, 
serem da seguinte forma caracterizadas por Dos Santos (2000): 
No seu conjunto, o debate científico latino-americano revela sua 
integração numa forte perspectiva transdisciplinar. Não foi sem razão 
que a América Latina (que já revelara ao mundo um autor marxista tão 
original como Mariátegui, nos anos 20) produziu, nas décadas de 30, 
40 e 50, pensadores sociais tão originais como Gilberto Freire (que 
praticava uma sociologia de forte conteúdo antropológico, ecológico, 
psicanalítico e histórico que encantou grande parte do pensamento 
europeu), como Josué de Castro (que aliava uma excelente formação 
nas ciências da vida, na medicina, na ecologia e na geografia humana 
com um enfoque econômico, sociológico e antropológico 
extremamente moderno – inspirador de grande parte do debate 
mundial não só sobre a fome e sua geopolítica, mas sobre o 
subdesenvolvimento como fenômeno planetário e da relação entre 
ecologia e desenvolvimento), como Caio Prado Júnior (cujo marxismo 
– às vezes estreito metodologicamente – não o impediu de desenvolver 
uma obra histórica de grande profundidade sobre as raízes da 
sociedade colonial e sobre o caráter da revolução brasileira), como 
Guerreiro Ramos (cujas raízes existencialistas o permitiram pensar de 
maneira pioneira o nascimento do movimento negro contemporâneo 
além de iluminar o conteúdo civilizatório da luta do Terceiro Mundo), 
como Raul Prebisch (cuja visão econômica transcendia o 
economicismo tradicional e revelava fortes implicações sociais e 
políticas – iluminadas pelos brilhantes “insights” do sociólogo hispano-
latinoamericano Medina Echevarría); como um Sergio Bagú (que 
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descobre o caráter capitalista do projeto colonial ibérico, através de 
uma metodologia de análise marxista modernizada pelos avanços 
recentes das ciências históricas e sociais), como Florestan Fernandes 
(cujo esforço metodológico de integrar o funcionalismo de origem 
durkheimniano, o tipo-ideal weberiano e a dialética materialista 
marxista talvez não tenha tido os resultados esperados, mas 
impulsionou um projeto filosófico-metodológico que vai se desdobrar 
na evolução do pensamento latinoamericano como contribuição 
específica às Ciências Sociais Contemporâneas); ou como um Gino 
Germani (que logrou sistematizar o enfoque metodológico das ciências 
sociais norte-americanas com o seu liberalismo exacerbado na criação 
de um modelo de análise do desenvolvimento como processo de 
modernização). 
A pluralidade de posições em relação à perspectiva da dependência 
indica a potencialidade do debate na compreensão da posição da América Latina 
na economia internacional. Em resumo, fica evidenciado, numa contextualização 
histórica, desde a transição da economia colonial para a capitalista, que os 
processos de independência tiveram a marca da influência estrangeira e da 
imposição de relações assimétricas, fazendo com que a economia latino-
americana ficasse refém da expansãocapitalista dos países desenvolvidos de 
modo a atender as demandas da Europa e dos EUA. 
Mesmo após a mudança com a substituição das importações, o que 
implicou no aumento das taxas de industrialização e crescimento do mercado 
interno, a tendência de acumulação não só não possibilitou a superação da 
desigualdade, mas acabou por aumentar a exclusão social. O desenvolvimento 
dependente acontece tanto no plano externo quanto interno, formando-se uma 
dinâmica perversa de concentração e exclusão. 
Com a intensificação da globalização e a tendência a financeirização do 
e internacionalização do capital, a situação do desenvolvimento dependente da 
América Latina se tornou ainda mais problemática. A partir da década de 1990, 
com o avanço das políticas e os ajustes neoliberais, as economias nacionais da 
América Latina continuaram distantes do moderno capitalismo nos moldes 
europeus e norte-americano. A máxima concentração de riquezas, o 
desemprego, o aumento da pobreza e da miséria, o retraimento da presença e 
a atuação do Estado e a negação sistemática da universalização de direitos 
sociais ao conjunto da população explicita o paradoxo do capitalismo 
dependente. 
 
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TEMA 4 – DEPENDÊNCIA E DESENVOLVIMENTO 
Desde os anos 1990, o legado das reformas neoliberais na América Latina 
tem sido marcado pelas contradições, pela desigualdade crescente, pelo 
crescimento econômico sem distribuição de renda e pelas crises cíclicas na 
economia. Em relação ao posicionamento da Cepal, faltou uma crítica mais 
contundente ao ideal de que seria possível o desenvolvimento da América 
Latina, mesmo a partir das reformas neoliberais e da continuidade da lógica de 
dependência. 
A posição da Cepal sequer acenou uma ruptura com capitalismo ou uma 
necessária revolução social. Apesar dessa contradição, seus documentos mais 
recentes defendem uma reorientação das economias latino-americanas que em 
muito se aproximam da social-democracia e da construção efetiva de um Estado 
de bem-estar social, semelhante ao que se tem em muitos países europeus. O 
capitalismo latino-americano deveria se modernizar rumo à uma maior 
autonomia e independência de sua indústria e fomento de seu mercado interno, 
o que demandaria maior atuação do Estado, como agente indutor do crescimento 
e construção e promotor de políticas públicas de proteção e inserção social das 
massas de excluídos. 
A construção de um projeto de desenvolvimento para América Latina e 
Caribe com perfil de maior soberania poderia alavancar transformações na vida 
social com a progressiva diminuição dos contrates existentes. Para citar um dado 
da Cepal, quase 7% de todo o PIB latino-americano é sonegado na forma de 
impostos e tributos que poderiam ser utilizados no combate à desigualdade. Por 
isso, não se pode separar a discussão econômica da discussão política, sendo 
mais apropriado falar em economia política. Segundo uma perspectiva 
compartilhada pela Secretária Executiva da Cepal “Alicia Bárcena”: 
a economia política de sociedades altamente desiguais e a cultura do 
privilégio são obstáculos para avançar a um desenvolvimento com 
igualdade. A região herdou os vestígios coloniais de uma cultura do 
privilégio que naturaliza as hierarquias sociais e as enormes 
assimetrias de acesso aos frutos do progresso, a deliberação política 
e os ativos produtivos. Devemos consolidar uma cultura de igualdade 
de direitos que está na direção diametralmente oposta à cultura do 
privilégio. (Cepal, s/p. 2018) 
 Superar a cultura e as estruturas de dependência, tanto no plano externo 
quanto interno, requer um esforço conjunto da sociedade civil organizada, mas, 
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sobretudo, de ações de Estado como agente indutor de políticas no campo 
social, político e cultural. 
 Para Nauroski e Rodrigues (2018, p. 45-47): 
Na perspectiva da CEPAL, a dinâmica interna das economias da 
América Latina, por serem heterogêneas e ainda dependentes das 
economias centrais, não conseguem romper com essa condição de 
dependência, a ponto de alavancar um processo de desenvolvimento 
contínuo. 
A dificuldade de fortalecer o processo industrial nos países com 
aumento de produção industrial de produtos com maior valor agregado 
afeta seus mercados e não gera uma massa de trabalhadores com 
maior poder de compra. Essa dificuldade estrutural coloca as 
economias desses países na direção de seguir somente como 
exportadores de produtos primários. 
O argumento cepalino coloca que, além de ações de Estado na direção 
de fomentar políticas de desenvolvimento, seria necessária uma 
reorientação dos investimentos do capital externo, de modo a ajudar 
na capacidade de investimento industrial das empresas nacionais. 
Trata-se, porém, de algo que não acontecia, pois as empresas 
estrangeiras ao transnacionalizar suas atividades e indo se instalar nos 
países da América Latina, exigiam uma contrapartida na forma de 
isenções e investimentos em infraestrutura. Isso a curto e médio prazo 
fragilizava ainda mais a capacidade de investimentos na indústria 
nacional. 
A pouca poupança interna e uma cultura política “frouxa” em termos 
cívicos e nacionalistas forneciam ainda mais obstáculos para um 
projeto continental e nacional de independência econômica frente às 
potencias econômicas mundiais. Construir um processo de 
industrialização constante e progressivo permanecia como desafio, 
num sistema a partir do qual a periferia pudesse romper com a 
dependência. Tornava-se cada vez mais premente produzir bens com 
valor agregado, ampliar o mercado interno, elevar salários e consolidar 
seu mercado interno. Essa dinâmica, inclusive ajudaria a proteger as 
economias da AL frente às crises cíclicas do capitalismo, ao depender 
menos da exportação de produtos primários em vista do crescimento 
de seus mercados internos. 
 TEMA 5 – O DESENVOLVIMENTO E O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL 
O mundo não é governado do alto de forma que o interesse particular e o social 
sempre coincidam (Kynes, 1984, p. 120). 
Numa definição simplificada, Estado de Bem-Estar Social se traduz num 
modelo político e social, no qual o Estado assume o protagonismo do 
desenvolvimento social e econômico. Mesmo no contexto de uma economia de 
mercado, o Estado atua disciplinando as relações econômicas e protegendo o 
mundo do trabalho, um modelo que tomou forma a partir da década de 1930 
numa tentativa de evitar crises mais profundas do capitalismo e o surgimento de 
novas guerras. 
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Até o século XIX, predominou a doutrina liberal na qual o Estado existe 
para garantir os direitos fundamentais de liberdade, integridade e propriedade, 
dando maior liberdade ao mercado e suas dinâmicas próprias de funcionamento. 
Com a expansão industrial e o aumento da competição entre os países 
capitalistas, cresceram as disputas por recursos e mercados. As crescentes 
tensões culminaram na Primeira Guerra Mundial. Além da guerra, culminaram 
também na recessão econômica global provocada pela quebra da bolsa de Nova 
York em 1929, fenômeno que é explicado em parte pelo desequilíbrio entre oferta 
e procura, pois, com superprodução industrial, o mercado ficou saturado. Essa 
conjuntura resultou em dois posicionamentos: os que compreendiam que a crise 
decorreu da falta de intervenção do Estado na economia, e os que defendiam 
justamente o contrário. 
Figura 3 – Representação do pacto do Estado de Bem-Estar Social 
 
Crédito: TURBODESIGN/Shutterstock 
Outro fator importante a ser considerado foi o crescimento da influência 
comunista no mundo. Havia uma preocupação, por parte dos países capitalistas, 
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com o descontentamento da classe trabalhadoracom os baixos salários e as 
condições precárias de trabalho, que poderia aproximá-los da ideologia 
comunista. Assim, seria necessário a construção de um pacto entre capital, 
trabalho e sindicatos, um acordo garantido pelo Estado e capaz de promover as 
melhorias necessárias para a classe trabalhadora. O Estado de Bem-Estar 
Social foi a materialização desse pacto. 
Como protagonista, caberia ao Estado apoiar os sindicatos, intervir na 
economia e defender o bem-estar geral da sociedade na forma da oferta de 
serviços de qualidade em áreas sensíveis como saúde, previdência e educação. 
Esse modelo também ficou conhecido como social-democracia, um arranjo que 
ampliou as pautas populares, passando a incorporar uma série de conceitos 
inovadores no campo social, como cidadania e direitos sociais e humanos. 
A partir da década de 1980, esse modelo seria duramente criticado sob a 
justificativa da impossibilidade de o Estado manter o financiamento dos direitos 
sociais. Os primeiros países a abandoarem esse modelo foi os EUA, na era de 
Ronald Regan, e o Reio Unido, sob a liderança de Margareth Thatcher. As 
causas de fundo das críticas ao Estado de Bem-Estar Social estão relacionadas 
ao fim da União Soviética e da ameaça comunista entre os trabalhadores, à 
diminuição do setor produtivo, financeirização da economia, desregulamentação 
do mercado, menor proteção e direitos aos trabalhadores e mudança na 
legislação de modo a possibilitar maior concentração de renda entre os mais 
ricos. 
NA PRÁTICA 
 Com base nos estudos realizados, desenvolva uma pesquisa sobre 
Estado de Bem-Estar Social. Após finalizar a pesquisa, desenvolva uma 
reflexão, argumentando sobre as vantagens e desvantagens desse modelo. 
FINALIZANDO 
Em resumo, entre os assuntos estudados, é importante destacar: 
• A compreensão do desenvolvimento no contexto histórico da América 
Latina; 
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• A contribuição da Cepal para pensar o desenvolvimento, a igualdade e a 
desigualdade na dinâmica assimétrica das relações entre os países 
centrais do capitalismo e a América Latina; 
• A contribuição da teoria da dependência para explicar que o 
desenvolvimento dependente acontece tanto no plano externo quanto 
interno, como já apresentado anteriormente, criando uma dinâmica 
perversa de concentração e exclusão; 
• Por fim, algumas das características do Estado de Bem-Estar Social e os 
benefícios desse modelo. 
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REFERÊNCIAS 
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CEPAL. Comissão Econômica para a América Latina e Caribe. A hora da 
igualdade: brechas por fechar, caminhos por abrir. Santiago: CEPAL, 2010. 
 DOS SANTOS, T. A Teoria da Dependência – Balanço e Perspectivas. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 
_____. O desenvolvimento latino-americano: passado, presente e futuro (uma 
homenagem a André Gunder Frank). In: CHEW, S.; DENEMARK, R. (Orgs.). The 
underdevelopment of development: essays in honor of André Gunder Frank. 
Nova Déli: Sage, 1996. 
KEYNES, J. M. O Fim do Laissez-Faire, In: _____. John Maynard Keynes: 
Economia. Organização de Tamás Szmrecsny. 2. ed. São Paulo: Ática, 1984. 
NAUROSKI, E. A.; RODRIGUES, M. E. Pensamento social na América Latina. 
Curitiba: Intersaberes, 2018. 
SEN, A. A ideia de justiça. Tradução de Denise Bottmann e Ricardo Doninelli 
Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
A história da América Latina bem poderia ser definida como uma história 
de sangue, morte e destruição. Uma história marcada pela negação e reificação 
do outro: do ameríndio, do negro e do povo trabalhador. O legado da colonização 
formou uma elite cobiçosa, para quem o Estado sempre foi visto como sua 
propriedade e instrumento de ampliação e defesa de seus privilégios. Essa 
temática histórica é analisada por dois eixos teóricos: a abordagem crítico-
progressista e a visão liberal. Teremos a oportunidade de conhecer e ponderar 
sobre essas duas visões e alguns de seus autores, bem como os argumentos e 
explicações em relação à trajetória histórica da América Latina, em boa medida 
marcada por períodos de exploração e dependência. 
TEMA 1 – CONTRIBUIÇÃO DE JOSÉ CARLOS MARIÁTEGUI PARA O 
PENSAMENTO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA 
 Os direitos do homem são muitos, e raro o direito de gozar deles 
(Carlos Drummond de Andrade, 2007) 
Poderíamos complementar Drummond, dizendo que depende de a qual 
classe de pessoas ele se refere, pois está evidente que ter e gozar direitos leva 
a marca do lugar social que se ocupa. A questão dos direitos e do 
reconhecimento sempre integrou o conjunto de demandas da intelectualidade 
crítica, em relação ao desenvolvimento da América Latina. 
Feita essa consideração inicial, é preciso ter em mente que o pensamento 
social e político da América Latina teve dificuldades de ter reconhecida a sua 
contribuição na interlocução com a tradição do pensamento social europeu. Não 
porque não tivesse capacidade, mas por conta da visão eurocêntrica, ainda 
muito presente na cultura intelectual ocidental. 
Na construção do que ficou conhecido como diálogo norte-sul com 
iniciativas de estudos e pesquisas em colaboração entre intelectuais e 
instituições das Américas e da Europa, a figura de José Carlos Mariátegui teve 
posição de destaque. Espírito inquieto, Mariátegui nasceu em 14 de junho de 
1894 na pequena cidade de Moquegua, ao sul da conhecida Lima. Sua 
adolescência foi marcada pelo contato e apreço que tinha pelas populações 
indígenas e campesinas. Sua trajetória intelectual foi marcada pelo 
autodidatismo e criatividade literária. É considerado um dos primeiros e mais 
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influentes pensadores do marxismo na América Latina no século XX. Foi filósofo 
e sociólogo, jornalista, militante dos direitos humanos. Segundo Michael Löwy, 
trata-se de um autor de pensamento universal, no mesmo patamar de Antônio 
Gramsci e Walter Benjamin. 
Sua obra mais conhecida, Sete ensaios de interpretação da realidade 
peruana, trata do desenvolvimento socioeconômico do Peru baseado numa 
abordagem histórico-dialética. Além da relevância intelectual de suas obras, 
Mariátegui fez parte da APRA – programa de ação revolucionária que se 
estendeu por outros países. Entre suas bandeiras, lutava contra o imperialismo, 
e tinha como objetivo a construção da unidade política da América Latina. Fiel 
aos pressupostos do marxismo, acreditava que a desigualdade só seria 
superada pela estatização de riquezas e meios de produção bem como de ações 
revolucionárias integradas nos continentes. 
Não basta ser anti-imperialista; é preciso reconhecer e defender o valor e 
a riqueza das culturas ancestrais, evidenciar que mesmo antes da modernidade 
europeia já existiam sociedades complexas, culturas avançadas em termos de 
organização social e valores éticos. A modernidade eurocêntrica, ao 
desconsiderar esses aspectos, só conseguiu produzir atraso e barbárie na AL. 
O legado colonizador representou efeitos retardatários e deprimentes na vida 
dos povos originários 
Povos como o quíchua e o asteca retrocederam, sob o regime colonial, 
à condição de dispersas tribos agrícolas. O que, nas comunidades 
indígenas do Peru, subsiste de elementos de civilização é, 
principalmente, o que sobrevive da antiga organização autóctone. No 
campo feudalizado, a civilização branca não criou focos da vida 
urbana, nem significou sempre sequer industrialização e mecanização; 
no latifúndio serrano, com exceção de certas estâncias de gado, o 
domínio do branco não apresenta, nem mesmo tecnologicamente, 
progresso algum em face da cultura aborígene. (Mariátegui,1929, p. 
25) 
 Para Mariátegui (1929), a superação da herança colonial, bem como a 
construção da soberania na América Latina, vai além do resgate de utopias 
ufanistas em tono da figura do índio e de um suposto estado de vida idealizado, 
antes do colonizador, nem tampouco a negação ou rechaço do avanço 
tecnológico alcançado pela modernidade. Trata-se muito mais de reconhecer os 
valores das culturas dos povos originários e construir um caminho diferenciado 
em relação a poder se colocar no contexto da modernidade com um projeto 
socialista real e viável. O conflito não estaria no plano racial ou étnico, mas no 
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modelo de civilização a ser construído e na necessidade de rompimento com a 
lógica de dominação capitalista. 
Figura 1 – Mariátegui 
 
Crédito: JOSÉ MALANCA/CC-PD. 
O pensamento heterodoxo de Mariátegui no campo marxista foi 
denominado de romantismo revolucionário, que foi uma concepção intelectual 
instigadora, na medida em que buscou resgatar elementos da cultura originária 
que pudessem confluir com uma moderna utopia revolucionária, uma síntese 
entre indigenismo e socialismo. O arcabouço de seu pensamento busca construir 
uma metodologia revolucionária, muito mais que um programa com conteúdo já 
estabelecido nos moldes do marxismo ortodoxo de viés europeu. Segundo Löwy, 
leitor de Mariátegui, sua concepção moderna de socialismo se aplica 
em especial nos países de estrutura agrária, deve se enraizar nas tradições 
vernáculas, na memória coletiva camponesa e popular, nas sobrevivências 
sociais e culturais da vida comunitária pré-capitalista, nas práticas de ajuda 
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mútua, solidariedade e propriedade coletiva da Gemeinschaft [comunidade] 
rural (Löwy, 1999). 
 Trata-se muito mais de reconstruir e reinventar a utopia socialista na 
aproximação entre os saberes e práticas dos povos originários com as 
formulações metodológicas de um socialismo científico, uma construção com 
potencial de se contrapor à barbárie do modelo capitalista de sociabilidade. 
Nessa perspectiva, não existe uma receita universal, mas o desafio para as 
novas gerações de articular o ancestral e o moderno, o arcaico e o científico, 
num socialismo indo-americano. 
TEMA 2 – CONTRIBUIÇÃO DE VICTOR RAÚL HAYA DE LA TORRE PARA O 
PENSAMENTO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA 
A oligarquia ou minoria, da classe 
ou dos grupos nacionais que relacionaram 
os seus interesses aos interesses estrangeiros 
e acima de tudo são dominantes até 
aos nossos dias e controlam o estado. 
(Víctor Raúl Haya de la Torre) 
Entre as figuras que representam a importância e a originalidade do 
pensamento social latino-americano, Víctor Raúl Haya de la Torre (1895-1979) 
ocupa posição de relevância. Considerado intelectual de profundidade, sua 
trajetória envolveu a militância política e liderança em projetos de defesa do Peru 
e da AL. Além da produção intelectual de impacto, também ajudou a construir 
um dos maiores partidos políticos do Peru. Desde o início de sua vida política no 
movimento estudantil, Haya de la Torre é reconhecido como um dos mais 
importantes idealizadores políticos para a América Latina. Como intelectual, 
buscou repensar marxismo com base na realidade da AL, tendo clareza de que 
nas Américas, diferente do que ocorreu na Inglaterra, faltava ainda chegar ao 
estágio de consciência de classe, condição para desenvolver uma revolução 
socialista, um fator associado ao desenvolvimento do proletariado no processo 
de trabalho industrial. Sua atuação política o coloca como figura de um estadista, 
ao defender que na AL as nações deveriam ser fortes, soberanas e claramente 
anti-imperialistas. 
 
 
 
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Figura 2 – Víctor Raúl Haya de la Torre 
 
Créditos: Peruvian Art/Shutterstock. 
Haya de la Torre foi próximo de Mariátegui, de quem compartilhou projetos 
e ideias sobre a questão indígena e a defesa da identidade étnica e histórica do 
Peru. Desenvolveu um projeto que visava desvincular os valores das elites 
ligadas ao capital externo. No entanto, divergia de Mariátegui em relação a 
superestimar o papel revolucionário do indígena. Para Torre, seria muito difícil 
alcançar um senso de coletividade e unidade de luta revolucionária entre as 
comunidades indígenas. Isso devido aos próprios elementos culturais 
formadores das identidades indígenas, muito distantes e diferentes do padrão 
cultural médio do trabalhador da indústria europeia. 
Para Torre (citado por Ramírez, 2006), o marxismo na AL necessitava de 
mediações e aproximações com a realidade singular do continente. Sua 
idealização política doutrinária resgata elementos do bolivarianismo, no sentido 
de uma unificação das Américas, um ideal comum de uma associação latino-
americana revolucionária, de atuação nacional e internacional. Atento ao 
contexto de globalização crescente, Torre defendia que, 
se vivemos dentro de um sistema económico internacional e a 
economia desempenha um papel decisivo na vida política dos povos, 
seria absurdo pensar que o Peru, que tem uma economia em parte 
dependente desse organismo económico internacional, pudesse viver 
isolado contra todos os preceitos científicos e contra todas as correntes 
de relação que são a garantia de progresso. (Ramírez, 2006, p. 11) 
 
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Um projeto socialista, para ser eficaz na AL, precisa atuar de maneira 
orgânica e integrada, atuando tanto em nível nacional quanto internacional. 
Nisso Torre comunga da premissa básica de Marx de que, se o capitalismo é um 
sistema global, da mesma forma a construção do socialismo precisa ser global. 
 Tema recorrente em seus escritos e análises, a questão do imperialismo 
foi vista por Torre como questão estratégica a ser compreendida. A dinâmica do 
imperialismo era resultante do máximo desenvolvimento do capitalismo industrial 
e comercial. Foi um fator que, no contexto histórico da AL, serviu para reforçar a 
lógica de dependência e subserviência do continente em relação às economias 
centrais do capitalismo, tornando difícil subverter essa lógica pela parte periférica 
do capitalismo, como é o caso da AL. 
Em face das contradições sociais econômicas provocadas pelo 
imperialismo capitalista, seria necessário que na AL fosse organizada a 
infraestrutura para o crescimento industrial, mas baseada numa lógica de 
desenvolvimento social. Ou seja, seria preciso que na AL e no Peru fossem 
implantadas as bases políticas e econômicas para um socialismo 
desenvolvimentista em que as riquezas produzidas fossem de fato distribuídas. 
Somente um projeto revolucionário poderia romper com o pacto de dependência 
entre elites nacionais que controlam o Estado e os interesses estrangeiros, tão 
nocivos ao ideal de igualdade e justiça para o povo peruano e latino-americano. 
A idealização política defendida por Torre se aproxima da construção 
hegemônica proposta por Antônio Gramsci, colocando como programa do 
partido político revolucionário os pontos comuns das demandas da classe 
camponesa, do proletariado e dos anseios da classe média. Para se viabilizar 
como governo com força e legitimidade, todos os segmentos excluídos e 
descontentes com as classes dominantes tinham que se identificar com o 
programa socialista de governo. Uma verdadeira democracia social precisa 
implementar o que o autor chamou de luta pela “peruanização do Estado e pela 
integração económica das maiorias nacionais que constituem a força vital da 
nação e que são também as que democraticamente, pelo seu número e 
qualidade, têm direito a intervir na direção dos destinos nacionais” (Ramírez, 
2006, p. 19). Trata-se de um programa político, social e econômico em queo 
Estado seja a representação do conjunto da sociedade com força para 
implementar medidas efetivas de geração de riqueza, igualdade e justiça. 
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TEMA 3 – A CONTRIBUIÇÃO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E ENZO 
FALETO PARA PENSAR A AMÉRICA LATINA 
Baseando-se no pensamento de Max Weber (1864-1920), o sociólogo 
Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto (1979) se posicionaram sobre a 
teoria da dependência, buscando articular elementos das duas vertentes. Numa 
síntese original, consideraram os conceitos de Marx, mas sobretudo da análise 
interpretativa multicausal de Weber, para elaborar uma proposta integrada que 
responderia melhor aos desafios de pensar a realidade econômica em função da 
dinâmica de dependência em relação aos países centrais do capitalismo global. 
Dessa forma, segundo esses autores, somente os fatores econômicos não são 
suficientes para explicar a sociedade, sendo necessário considerar também as 
dimensões axiológicas, composições ideológicas e aspectos culturais que 
mobilizam o processo “político bem como as tensões entre grupos de interesses 
sociais e políticos antagônicos como determinantes do desfecho econômico, 
como o ‘filtro pelo qual passarão os influxos meramente econômicos”’ (Cardoso; 
Faletto, 1979, p. 22). 
Figura 3 – Fernando Henrique Cardoso 
 
Crédito: JFDiorio/Shutterstock. 
Para Cardoso e Falleto (1979), era necessário romper a visão ortodoxa 
do marxismo e chamar a atenção para a busca de uma saída ao 
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subdesenvolvimento com uma visão de dentro do capitalismo e do liberalismo 
econômico. Essa saída da relação de dependência passaria necessariamente 
pelo fortalecimento da industrialização e pela atuação da classe empresarial na 
defesa dos interesses nacionais. 
No entendimento de Cardoso (1970), a economia moderna articulada 
globalmente favorece relações multilaterais de interdependência econômica 
entre as nações. Esses autores acreditam ser mais realista falar numa 
simultaneidade entre desenvolvimento e dependência. Nessa dinâmica do 
capitalismo global, 
os beneficiários desse ‘desenvolvimento dependente’ [...] passam a ser 
as empresas estatais, as corporações multinacionais e as empresas 
locais associadas a ambos. Estes agentes sociais constituem o que 
chamo de tripé do desenvolvimento dependente-associado. De que 
modo pode-se pensar que se mantém e se ampliam os liames da 
dependência quando existe, ao mesmo tempo, um processo interno de 
capitalização? (Cardoso, 1970, p. 36) 
Cardoso e Faletto (1979) acreditavam que o caminho de superação do 
subdesenvolvimento estava relacionado a reformas de ordem institucional pela 
via da democracia liberal, não sendo possível em tempos modernos imaginar 
uma transformação pela via da violência revolucionária. O Brasil, assim como a 
América Latina, poderiam trilhar um caminho dentro do capitalismo e atingir sua 
soberania em relação à dependência externa. Superar a dependência estrutural 
em relação aos investimentos externos e às relações econômicas centrais 
envolveria também a valorização de uma cultura econômica nacional e uma certa 
consciência cívica e patriótica por parte das elites nacionais, o que nos parece 
um projeto quase irrealizável. 
TEMA 4 – JUAN BAUTISTA ALBERDI: O PENSAMENTO ECONÔMICO DE UM 
LIBERAL LATINO-AMERICANO NO SÉCULO 
A figura de Juan Bautista Alberdi se destacou por sua atuação como 
jurista, escritor, jornalista e economista e como um pensador preocupado com 
seu país, Argentina, ainda num processo de construção de sua nacionalidade e 
independência em relação à influência externa, considerando as dinâmicas de 
expansão de capitalismo na América Latina. 
 
 
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Figura 4 – Juan Bautista Alberdi 
 
Crédito: Prachaya Roekdeethaweesab/Shutterstock. 
Sua trajetória intelectual procurou explicar seu país com base em uma 
perspectiva pela ótica liberal, considerando as peculiaridades de seu país em 
termos de estrutura e cultura. O contexto de sua obra e militância foi influenciado 
por uma época em que a Argentina estava fragmentada: 
ex-colônias espanholas buscavam, depois da independência, algum 
projeto político e econômico que significasse o progresso material ou 
pelo menos alguma estabilidade institucional em meio ao vazio deixado 
pelo fim da exploração colonial. No novo contexto, surgiram várias 
disputas em torno de questões como a divisão do poder político, a 
inclusão social e regional, o federalismo fiscal, as disputas por terra etc. 
Em algumas regiões, como no caso do Vice-Reinado do Rio da Prata, 
a criação do conceito de nacionalidade ainda tinha um longo caminho 
a percorrer. Nesse momento, Alberdi percebeu a situação e suas 
implicações econômicas e procurou construir um projeto de nação Em 
seu esforço intelectual, articulou, de forma lógica, conceitos 
econômicos, em parte lidos dos economistas clássicos, como a 
importância dos fatores produtivos, particularmente o trabalho, a 
importância do capital como forma de melhor aproveitamento da mão 
de obra, o direito de propriedade, a estabilidade institucional, o 
federalismo fiscal e a inclusão social na construção de um projeto 
nacional. Também percebeu a existência de uma condição de atraso 
na região e procurou explicar tal condição por um método de 
interpretação baseado na história. Considerou a situação de crise 
como um processo dinâmico causado por erros de conduta das 
políticas econômicas decididas em Buenos Aires. Foi um pensador 
autêntico ao buscar entender as causas para as crises econômicas sob 
uma perspectiva sul-americana. Enfim, desenvolveu um conjunto de 
ideias cujo registro pode ajudar na compreensão da nossa formação 
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econômica e política, além do nosso atraso frente ao centro do 
capitalismo. (Braga, 2014, p. 7) 
Alberdi tinha clara a necessidade de defender um amplo processo de 
inclusão social e regional como forma de fortalecer políticas nacionais de 
industrialização, crescimento e exportação. Acreditava que o foco regional 
fortaleceria o federalismo e o equilíbrio do poder entre as regiões. Para esse 
autor, a América Latina, especialmente seu país, não deveria se contentar em 
participar de maneira desigual na divisão internacional do trabalho, o que trazia 
contornos progressistas para sua visão liberal. 
Para Alberdi (citado por Braga, 2014), a contribuição de Adam Smith, 
economista inglês do século XVIII, é mais que atual para explicar a riqueza e a 
dinâmica econômica, sendo fundamental considerar o trabalho produtivo como 
fonte de criação de renda e riqueza, sem desconsiderar outros fatores 
convergentes, como a terra e o capital. Esses seriam fatores impulsionadores da 
economia em sua base real. 
Havendo expansão da economia e aumento do trabalho, tanto maior será 
a riqueza de uma nação. Mesmo com a expansão da indústria e as medidas de 
importação de mão de obra estrangeira para atender às demandas crescentes, 
seria possível, pela ótica liberal, garantir a acumulação de capital, sem a qual a 
economia ficaria estagnada e não se dissolveria 
Concordando com Smith, Alberdi (citado por Braga, 2014) entende que o 
capital nacional está na riqueza, mas também na poupança nacional como fator 
de investimento. Para que um país pudesse crescer e se desenvolver dentro do 
capitalismo, são necessários os fatores de produção, a eficiência no trabalho, 
além da estabilidade política e institucional. A economia capitalista depende da 
estabilidade econômica e do respeito básicos às regras do jogo econômico. A 
previsibilidade das relações comerciais, do respeito aos contratos, bem como da 
liberdade dos mercados são elementos sem os quaisnão se pode falar em 
desenvolvimento social e econômico. 
Para Alberdi, o novo sentido da emancipação seria o desenvolvimento 
econômico. Para tanto, considerava que a América Latina deveria 
elaborar leis de forma a estimular o comércio, a imigração, os 
investimentos, enfim, a implantação de atividades econômicas de 
forma que o dinamismo decorrente das forças de mercado atuasse e 
que a sociedade pudesse desfrutar do progresso material decorrente 
(Braga, 2014, p. 9). 
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Em resumo, para Alberdi, alguns princípios eram fundamentais para uma 
economia liberal florescer: 
• Estabilidade social; 
• Propriedade privada; 
• Liberdade de mercado; 
• Austeridade do Estado em seus gastos. 
TEMA 5 – PERSPECTIVA CRÍTICA EM RELAÇÃO À TEORIA DA DEPENDÊNCIA 
Após um longo período de defesa do modelo de substituição de 
importações e implantação do desenvolvimentismo na AL, instala-se uma crise 
teórica em relação ao potencial e limites dessas ideias. Mesmo após a inserção 
da AL na expansão industrial e de ter alcançado real ampliação de seu mercado 
interno, muitos autores, como Rui Mauro Marine e Theotônio Santos Marine, 
enxergaram um processo de estagnação crônica no desenvolvimento latino-
americano. Em síntese, esses e outros autores convergem em alguns pontos 
comuns: 
• A dependência da América Latina se dá no plano estrutural em relação ao 
capitalismo avançado da Europa e EUA; 
• Internamente a dependência manifesta-se no setor comercial, financeiro 
e tecnológico; 
• Evidencia-se a dinâmica perversa do capitalismo dependente, com a 
superexploração da força de trabalho; 
• Estagnação tecnológica; 
• Continuidade da exportação de commodities e importação de bens com 
valor agregado; 
• Imposição de relações assimétricas do imperialismo com os países em 
desenvolvimento nas Américas. 
Além desses aspectos, Marini (2000, p. 135) explica que na economia 
exportadora latino-americana, existe um capitalismo às avessas, pois a 
“circulação se separa da produção e se efetua basicamente no âmbito do 
mercado externo, o consumo individual do trabalhador não interfere na 
realização do produto, ainda que determine a taxa de mais-valia”. Dessa forma, 
os ganhos não advêm da generalização do consumo e aumento da produção, 
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mas da superexploração dos trabalhadores, o que faz com que, no modelo 
dependente do capitalismo que vigora na AL, a força produtiva do trabalho (os 
trabalhadores) não seja inserida na dinâmica de consumo interno. O foco da 
produção, ainda pouco industrializada, é destinada ao mercado externo. 
Para Nauroski e Rodrigues (2018, p. 130-131), 
O capitalismo no Brasil se manifestou tardiamente e se colocava de 
modo funcional em relação às forças produtivas internacionais do 
capitalismo central. O centro não sobreviveria em sua prosperidade 
sem a contribuição da periferia. As economias dependentes podem ser 
caracterizadas por: a. possuírem uma ordem capitalista interna, mas 
dinamizada a partir de fora e, portanto, subordinada a um crescimento 
econômico, político e sociocultural controlado pelas nações 
hegemônicas sempre associadas aos interesses dominantes internos. 
Assim, através da decisão política sobre o caráter da modernização, 
esses interesses associados filtram as imposições do mercado mundial 
e organizam a sociedade, copiando/transferindo instituições típicas das 
nações hegemônicas; e b. uma inserção muito específica no mercado 
mundial que lhe dá uma autonomia apenas relativa. São economias 
montadas para serem fontes de excedente para as nações 
hegemônicas, mas, ao mesmo tempo, dependentes das aplicações 
desse mesmo excedente para se reproduzirem. A dinâmica da 
dependência se estabelece de modo funcional, interna e externamente 
pelos interesses e forças que ganham na funcionalidade dessa lógica 
setorial. Vemos o favorecimento de alguns ao mesmo tempo em que 
ocorre a penalização de outros, no caso a massa de trabalhadores e 
do povo cujo trabalho, embora produza a riqueza o mantém pobre. A 
herança e as causas da dependência remontam aos processos de 
conquista e colonização. Um modelo de exploração centralizadora cuja 
lógica não permitia o florescimento do desenvolvimento material 
independente, fazendo surgir uma cultura distante dos ideais 
iluministas da democracia liberal. O Brasil, assim como muito dos 
países da AL, se formou numa estrutura de classe rígida, com 
fronteiras bem delimitadas, tornando o processo de mobilidade social 
um projeto quase inacessível a massa de pobres e trabalhadores. A 
economia nacional dependente, se concentrou na produção 
latifundiária, na mão de obra escrava e na divisão estrutural entre 
pobres e ricos, entre proprietários e despossuídos. Ideais de 
nacionalismo, povo, civismo e patriotismo não fizeram parte da 
formação da cultura social e econômica no Brasil e na AL, a não ser 
muitas vezes de forma demagógica e classista, quando ocorreram os 
processos de independência política. 
A fase atual da dependência dos países da AL leva a marca da 
globalização e da abertura forçada das economias com a vinda de grandes 
empresas transnacionais. Trata-se de uma presença motivada por diversos 
fatores, como isenção fiscal, investimento prévio em infraestrutura, flexibilização 
de leis trabalhistas e apoio de lideranças políticas com interesse em obter retorno 
eleitoral e outros, não muito transparentes. 
 
 
 
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NA PRÁTICA 
Saiba mais 
Tendo como referência os estudos realizados na disciplina, assista à 
seguinte conferência: 
THEOTÔNIO dos Santos – Origem e desenvolvimento da Teoria da 
Dependência. Lela UFSC, 25 abr. 2014. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=DjlEYXRxWBs>. Acesso em: 18 nov. 2021. 
Após assistir o conteúdo, elabore uma breve reflexão explicando o que é 
a teoria da dependência. 
FINALIZANDO 
Considerando o lugar de fala de nossa condição de um povo 
historicamente invadido, conquistado e explorado, faz todo sentido buscar 
autores que dedicaram a vida para pensar e problematizar essa história de 
sangue e lágrimas. Por isso o perfil crítico e social dos autores que trouxemos 
para nos ajudar em nossa reflexão. 
Assim, devemos destacar os seguintes pontos: 
• A tradição teórica do marxismo pensado com base na realidade latino-
americana possui grande potencial explicativo sobre a trajetória das 
Américas; 
• A contribuição de Mariátegui, para quem a modernidade eurocêntrica 
produziu um legado de espoliação e pobreza na AL e que somente 
poderia ser superado pela ação revolucionária; 
• A perspectiva cíclica de Víctor Raúl Haya de la Torre, para quem a lógica 
da colonização se mantém por meio do pacto entre elites nacionais e 
internacionais para exaurir os recursos naturais e manter a dominação da 
população; 
• Vimos também que a temática da dependência foi analisada por dois eixos 
teóricos: a abordagem crítico-progressista e a visão liberal. 
• Por fim, pudemos compreender algumas das premissas da teoria da 
dependência ao explicar que a dependência é externa, mas também 
interna, fazendo com que a ampliação do capital decorra não da 
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generalização do consumo, mas da superexploração da classe 
trabalhadora. 
 
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REFERÊNCIAS 
ANDRADE, C. D. de. O avesso das coisas: aforismos. Rio de Janeiro: Record, 
2007. 
BORDA, O. F. Por la práxis: el problema de cómo investigar la realidad para 
transformarla. Bogotá: Federación para el Análisis de la Realidad Colombiana 
(Fundarco), 1978. 
BRAGA, M. B. Juan Bautista Alberdi: o pensamento econômico de um liberallatino-americano no século XIX. Economia e Sociedade, v. 23, n. 1, abr. 2014. 
Disponível em: 
<https://www.scielo.br/j/ecos/a/pSnrQqkpLc6BzQwgLXCKbgq/?lang=pt>. 
Acesso em: 18 nov. 2021 
BRINGEL, B. Pensamento crítico latino-americano e pesquisa militante em 
Orlando Fals Borda: práxis, subversão e libertação. Direito & Práxis, Rio de 
Janeiro, v. 07, n. 13, p. 389-413, 2006. 
CARDOSO, F. H. “Teorias da dependência” ou análises concretas de 
situações de dependência? São Paulo: Cebrap, 1970. (Estudos I). 
CARDOSO, F. H.; FALETTO, E. Dependency and Development in Latin 
America. Trad. Marjory Mattingly Urquidi. Berkeley: University of California 
Press, 1979. 
RAMÍREZ, E. C. La vigencia del pensamiento económico de Víctor Raúl 
Haya de la Torre – Justicia social e integración económica. Sucre: Universidad 
Andina Simón Bolívar, 2006. 
LÖWY, M. Marxismo e romantismo em Mariátegui. Teoria e Debate, n. 41, 1 
maio 1999. 
MARIÁTEGUI, J. C. El problema de las razas em America Latina. In: 
VERSIONES de la Primera Conferencia Comunista Latinoamericana, Buenos 
Aires: Revista La Correspondencia Sudamericana; Secretariado Sudamericano 
de la Internacional Comunista, 1929, p. 263-291. 
MARINI, R. M. Dialética da dependência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 
NAUROSKI, E. A.; RODRIGUES, M. E. Pensamento social na América Latina. 
Curitiba: InterSaberes, 2018. 
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TAMAYO, J. Julio Antonio Mella y el marxismo en el movimiento obrero 
jalisciense. In: XI CONGRESO INTERAMERICANO DE FILOSOFIA. Facultad de 
Filosofía y Letras, Universidad de Guadalajara, 1985. 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Ao longo desta aula, iremos refletir sobre a América Latina e seus 
processos de integração, assinalando seus respectivos avanços e limitações. 
Trataremos, também, de questões envolvendo os valores democráticos e os 
direitos humanos, indicando os marcos legais e históricos das políticas de 
proteção a esses direitos. Veremos, ainda, que a questão indígena e os direitos 
dos povos originários encontram-se, atualmente, gravemente ameaçados na 
região. Por fim, teremos a oportunidade de pensar as contradições da 
modernização econômica na América Latina e no Brasil, bem como os 
problemas ocasionados por seus modelos não sustentáveis de desenvolvimento. 
TEMA 1 – INTEGRAÇÃO NA AMÉRICA LATINA 
A década de 2000 e as iniciativas políticas desse período indicam ações 
importantes na esfera da integração entre países da América Latina. O recorte 
delimitado diz respeito às medidas de plano econômico, inclusive considerando 
o impacto político e econômico da atuação ou ausência dos EUA nas Américas. 
A partir do início da década de 2000, a atenção dos EUA volta-se mais ao Oriente 
Médio, deixando maior espaço para que muitos países da região pudessem se 
movimentar na busca de maior independência e formalização de aproximações 
e parcerias com países como China e Índia. O aumento das exportações para 
esses países e a geração de balaços comerciais positivos com o mercado 
exterior fizeram com que fosse possível se implementar diferentes medidas de 
integração nos campos econômicos, cultural, educacional, de saúde e defesa. 
Uma aproximação mais efetiva, entre países da América Latina, se deu, 
principalmente, entre governos de orientação progressista, de centro-esquerda, 
com entendimento alinhado sobre os limites da visão neoliberal e suas 
consequências negativas. Em comum, muitos países envolvidos na integração 
das Américas compartilhavam, no período citado, da premissa de que o Estado 
precisa atuar como agente indutor de desenvolvimento e melhoramento das 
condições de vida da sociedade como um todo. 
De acordo com Barros (2018, p. 8), 
A crítica ao neoliberalismo trouxe duas tendências que definiram os 
rumos dos processos de integração dos anos 2000. O primeiro deles é 
concernente ao papel do Estado na economia. Mesmo que tenha sido 
de adoção parcial ou gradual, o período em que o neoliberalismo se 
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instaurou trouxe fortes consequências em muitos Estados latino-
americanos, como aumento do desemprego, manutenção do 
desequilíbrio das contas públicas e sucateamento dos serviços 
públicos [...]. Aliado a essa questão, a ineficiência administrativa 
resultou em crescente tensões entre cidadãos e governantes, no qual 
as concessões a empresas privadas não atendiam às demandas e 
pouco o Estado podia fazer, como se pode exemplificar pela 
privatização das plantações de milho no México ou da água na Bolívia 
Desse modo, a intervenção estatal significaria a volta do poder público 
para sanar os desequilíbrios gerados pelo mercado, uma readequação 
dos serviços públicos frente à crescente desigualdade na região [...]. 
O que ocorreu foi uma reorientação da agenda política e social nos países 
cujos governos tinham uma visão mais à esquerda e progressista, como nos 
casos do Brasil, durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), e da 
Venezuela de Chaves. Os dados e resultados das políticas adotadas nesses 
países indicam ter havido nesses períodos um maior crescimento econômico e 
desenvolvimento social, o que se traduziu em baixos índices de desemprego, 
ganhos salariais, ampliação do acesso a bens de consumo, à saúde e à 
educação. 
Além desses aspectos, o Estado, naqueles países, ajudou a financiar 
muitas empresas privadas, de modo a aumentar sua capacidade produtiva e 
competitiva, inclusive na disputa por mercados internacionais. No caso brasileiro, 
havia um claro projeto de alcançar a liderança regional e uma maior projeção 
internacional na Europa e na Ásia, anseios que, pelo menos em parte, foram 
compartilhados pelas elites nacionais, ao reconhecerem que as medidas de 
integração regional e projeção internacional do Brasil geraram então inúmeras 
oportunidades de investimentos e novos negócios. 
 
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Figura 1 – União de Nações Sul-Americanas (Unasul) 
 
Crédito: WindVector/Shutterstock. 
Raciocínio semelhante, em outros países, explica o surgimento de 
algumas iniciativas ousadas de integração, como a fundação da União de 
Nações Sul-Americanas (Unasul), em 2010. A organização, que já passou por 
crises e conflitos de gestão e liderança, manteve o foco original de somar forças 
na busca pelo desenvolvimento regional, inclusive com a criação de 
instrumentos de financiamento de infraestrutura e proteção econômica contra 
crises originadas na Europa e nos EUA. 
O posicionamento e surgimento da Unasul foi um importante 
instrumento de ação política durante o governo Lula e no início do 
período Dilma, onde se buscou a afirmação do país como protagonista 
da região no cenário internacional e fortalecendo o seu papel de 
emergente. Com o seu início vinculado à resolução de conflitos entre 
Venezuela e Colômbia, a Unasul acoplou e ampliou vários organismos 
regionais de consulta e cooperação em diversas áreas, bem como 
conformou o primeiro bloco político a unir todas os Estados sul-
americanos. Com uma função que vai desde a mediação de conflitos a 
investimentos em infraestrutura, tendo seus principais gabinetes o 
Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) e o Cosiplan (antigo projeto 
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da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-
Americana – IIRSA – acoplado ao organismo), dando autonomia de 
ação aos membros e mantendo afastado os Estados Unidos de suas 
decisões. (Barros, 2018, p. 23) 
Outra importante iniciativa de integração, o Mercado Comum do Sul – 
Mercosul foi criado em 1991 com a intenção de se construir um bloco econômico 
voltado ao desenvolvimento econômico e social, por meio da ampliação dosmercados e da livre circulação de bens e serviços na região. Além do 
crescimento econômico, visava também fortalecer políticas conjuntas em áreas 
sensíveis aos países-membros do bloco, como melhorar os serviços públicos em 
setores como cultura, saúde, educação e segurança. 
Uma nova configuração geopolítica era, então, desenhada, 
principalmente em função do crescimento da economia e da influência política 
da China e da Rússia. Essa mudança fez com que os EUA se reaproximassem 
da América Latina, de modo a garantir a continuidade de sua influência na região. 
Essa reaproximação tem sido apontada como a principal causa para o 
enfraquecimento de governos de esquerda. Identifica-se a atuação, nesse 
sentido, dos EUA como feita de modo indireto, pelo financiamento de diversas 
organizações e grupos de direita e extrema direita e pelo apoio a líderes políticos 
contrários a uma integração latino-americana pelo viés ideológico de esquerda 
oponente, por definição, dos interesses do governo e das empresas norte-
americanas de que a região mantenha diante desses interesses uma relação de 
submissão e dependência. 
TEMA 2 – DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS NA AMÉRICA LATINA 
Um grande marco temporal para fortalecer o ideal democrático e a 
dignidade humana foi o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU), 
criada oficialmente em 1945, com um conjunto de aspirações e esperanças de 
que os horrores da Segunda Guerra jamais pudessem acontecer novamente. Ao 
que se pode ler no preâmbulo de seu documento fundador: 
Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações 
vindouras do flagelo da guerra ,que por duas vezes, no espaço da 
nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar 
a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do 
ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres4 , 
assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer 
condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes 
de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser 
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mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de 
vida dentro de uma liberdade ampla. (ONU, 1945) 
Para a consecução desses fins, os países-membros da ONU devem 
[...] praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons 
vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança 
internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição 
dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no 
interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para 
promover o progresso econômico e social de todos os povos. (ONU, 
1945) 
A ONU irá estabelecer seu aparato institucional sobre os princípios da 
liberdade e da dignidade humana, substrato primeiro para se garantir a defesa e 
a promoção da autodeterminação dos povos, de sua organização política 
soberana sobre os demais Estados e nações. Integram a estrutura funcional de 
atuação da ONU a Assembleia Geral, seu órgão máximo de deliberação; o 
Conselho de Segurança, que trata de assuntos e conflitos militares; o Tribunal 
Internacional de Justiça; o Conselho Econômico e Social; o Conselho de Direitos 
Humanos; e subdivisões especializadas como a Agência Internacional de 
Energia Atômica, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a 
Agricultura (FAO), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a 
Ciência e a Cultura (Unesco), além de seu braço econômico-financeiro, o Banco 
Mundial, e sanitário, a prestigiada Organização Mundial da Saúde (OMS), além 
de secretarias especializadas como a Secretaria dos Direitos Humanos. 
Outra base sobre a qual se sustenta a legislação em defesa dos direitos 
humanos, seja no âmbito nacional, seja no internacional, é a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela ONU em 1948, em que 
textualmente podemos ler que: 
Artigo 1 
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São 
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com 
espírito de fraternidade. 
Artigo 2 
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de 
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem 
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, 
jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer 
se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer 
sujeito a qualquer outra limitação de soberania. 
Artigo 3 
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. 
Artigo 4 
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Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico 
de escravos serão proibidos em todas as suas formas. 
Artigo 5 
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, 
desumano ou degradante. (ONU, 1948) 
O conjunto dos 30 artigos do documento representa o esforço consciente 
de estender a toda a humanidade seus direitos e garantias mais fundamentais. 
A magnitude da iniciativa, que foi subscrita pelo conjunto dos países-membros 
da ONU, não foi suficiente para impedir que diversos crimes fossem cometidos 
por parte de governos autoritários no Brasil e no mundo – dentre os mais abjetos, 
o crime de tortura. Como já estudado, os processos de independência das 
Américas foram sabotados por influência estrangeira, sobretudo dos EUA, que 
não tinham interesse em ver crescer um projeto de integração e unificação das 
Américas. Como resultado dessa interferência, em diversos momentos históricos 
subiram ao poder, na região, ditadores sanguinários. Também não se pode 
isentar a própria ONU de, em muitas situações, ter restringido suas ações a 
moções de protesto, diante de crimes praticados ou ascensão de regimes 
ditatoriais. O fato de quase metade de seu orçamento de custeio vir dos EUA e 
de sua sede se localizar em Nova York ajuda a entender muita coisa. 
Apesar das omissões e críticas que podem ser feitas à ONU, sua 
existência e atuação são, seguramente, muito importantes na afirmação e defesa 
da democracia e dos direitos humanos. Em relação ao Brasil, fica evidente o 
reflexo dessa influência sobretudo na Constituição de 1988 (inspirada também 
pela Constituição norte-americana), o que se faz notar em diversos dispositivos 
ao longo do texto constitucional, como nos seguintes: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
[...] 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades 
sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, 
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
[...] 
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações 
internacionais pelos seguintes princípios: 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
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VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentesno País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade [...] (Brasil, 1988). 
Mas a questão da democracia e dos direitos humanos não se restringe ao 
tratamento legal. A garantia dos valores democráticos e a preservação dos 
direitos humanos demandam a atuação conjunta do Estado e da sociedade civil 
organizada, nacional e internacionalmente. É preciso uma atuação permanente 
em relação a isso, por meio de campanhas, ações e projetos cujos fundamento 
e estratégias reflitam em essência os ideais democráticos. 
O Brasil possui uma trajetória de reconhecida atuação em relação aos 
direitos humanos, materializada em ações, projetos e leis. 
1. O Brasil foi um dos poucos países que criou um Programa Nacional 
de Direitos Humanos, o PNDH em 1996, com objetivos, metas, 
propostas que foram reavaliados e atualizados em 2002; 
2. O ministério das Relações Exteriores do governo Fernando Henrique 
Cardoso, Celso Lafer incentivou o Congresso a aprovar e ratificar 
vários tratados internacionais de Direitos Humanos, criando novas 
responsabilidades públicas no plano global, regional e nacional. 
3. Para promover o direito à memória e à verdade foram criadas a 
Comissão de Mortos e Desparecidos Políticos, a Comissão de Anistia 
e a Comissão Nacional da Verdade, ainda que tardiamente. 
4. O Conselho Nacional de Educação introduziu o ensino e a formação 
em Direitos Humanos na Educação Básica e Superior como conteúdo 
obrigatório nas Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos 
Humanos; 
5. Como prevê o Manual das Nações Unidas, o ensino dos direitos 
humanos foi incorporado na formação das polícias militar e civil, 
guardas municipais e agentes penitenciários com a criação de Matrizes 
Orientadoras da Formação. 
Com os governos de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Vânia Rousseff 
as ações de políticas públicas no campo dos direitos humanos tiveram 
continuidade e fortalecimento: 
1. A Secretaria dos Direitos Humanos assumiu o status de Ministério; 
2. Foi criada a SECADI, Secretaria de Alfabetização, Diversidade e 
Inclusão no Ministério da Educação. 
3. Foi criado o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos 
que elaborou o Plano Nacional de Educação em Direitos Humano 
(2003), que promoveu entre outras coisas, a EDH como tema 
transversal e obrigatório em todos os níveis de ensino desde o ensino 
fundamental ao superior, medidas que foram sancionadas pelo 
Conselho Nacional de Educação, em 2012. 
6. Foram fortalecidos os Conselhos de Direitos Humanos em vários 
níveis e áreas; 
7. O Brasil se situou internacionalmente em total apoio à ONU e aos 
organismos internacionais numa visão multipolar e de respeito e 
promoção dos direitos humanos. 
9. Os Conselhos de Direitos e Políticas Públicas promoveram 
Conferências Nacionais em Direitos Humanos pautando ações para 
agenda pública. 
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10. No campo da Educação Superior, as universidades a partir dos 
anos 90 inseriram os direitos humanos no Plano Nacional de Extensão; 
articularam a inserção dos direitos humanos no ensino de graduação e 
pós-graduação, construindo uma Rede de Nacional Formação em 
Direitos Humanos, além da criação de Núcleos, Comissões e 
Observatórios em direitos humanos, violência contra a mulher, 
educação em direitos humanos (Barros, 2018, p. 39). 
Com efeito, o campo educacional se mostra o mais estratégico a ser 
atendido. É preciso semear, nas novas gerações, a disposição de espírito para 
o reconhecimento da liberdade e da dignidade de si e do outro, na sua singular 
diversidade. Trata-se essa de uma ação permanente, dentro e fora das 
instituições de ensino. 
TEMA 3 – A QUESTÃO INDÍGENA E O RECONHECIMENTO POLÍTICO 
Por muito tempo, predominou na cultura social brasileira a velha 
concepção de que o indígena e seu mundo são sinônimos de algo atrasado e 
primitivo, uma concepção tributária da teoria do evolucionismo social. Essa 
perspectiva produziu a colonização como um processo de assimilação cultural, 
cabendo aos indígenas aceitar e se integrar à sociedade dos homens brancos. 
O processo de realização da Constituinte, em 1988, conferiu novos 
olhares e perspectivas sobre o universo indígena, bem como a necessidade de 
reconhecimento de sua dignidade e diversidade. Os povos originários passam, 
assim, principalmente com a promulgação da Constituição de 1988, a gozar, 
enfim, de mais direitos. 
Capítulo VIII 
VIII - DOS ÍNDIOS (ARTS. 231 E 232) 
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, 
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre 
as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-
las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 
• Decreto nº 1141, 19.5.1994, que dispõe sobre as ações de proteção 
ambiental, saúde e apoio às atividades produtivas para as 
comunidades indígenas. 
• Lei nº 6001, de 19.12.1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio. 
• Decreto nº 564, de 8.6.1992, que aprova o Estatuto da Fundação 
Nacional do Índio (Funai) e dá outras providências. 
• Decreto nº 3156, de 27.8.1999, que dispõe sobre as condições para 
a prestação de assistência à saúde dos povos indígenas, no âmbito 
do Sistema Único de Saúde, pelo Ministério da Saúde, 
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes 
legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e 
interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do 
processo. (ALERJ, [S.d.], com base em Brasil, 1988) 
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Do conjunto da legislação vigente, bem como das lutas e mobilizações, 
tem-se que o indígena se assumiu como sujeito de direito, levando sua luta e 
suas pautas ao âmbito jurídico, litigando contra aqueles que atentem contra seus 
direitos, suas terras e seu modo de vida, o que significa lutar contra muitos 
inimigos, alguns bem poderosos, como madeireiras, mineradoras, empresas 
multinacionais e o próprio Estado, quando descumpre seu dever constitucional. 
Figura 2 – Indígenas Pataxós 
 
Crédito: Joa Souza/Shutterstock. 
Atualmente, a versão mais recente da luta dos indígenas brasileiros é 
contra o chamado Marco Temporal, ao qual se opôs, recentemente, com 
diversos argumentos, em carta aberta, um grupo de juristas, intelectuais e 
personalidades públicas: 
Carta aberta aos ministros do Supremo Tribunal Federal – STF 
Assunto: Recurso Extraordinário (RE) nº. 1.017.365 
Excelentíssimos Ministros do Supremo Tribunal Federal 
[...] 
Os indígenas foram tratados pela lei brasileira como indivíduos 
relativamente incapazes até a Constituição de 1988. É verdade que 
esse tratamento poderia se justificar como uma proteção do Estado-
guardião contra práticas enganosas e fraudulentas a sujeitos sem a 
plena compreensão dos parâmetros sociais da sociedade dominante. 
Entretanto, a história de expulsão, transferência forçada e tomada de 
suas terras pelo Estado ou por particulares sob aquiescência ou 
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conivência do Estado evidenciam os efeitos deletérios de uma tutela 
estatal desviada de sua finalidade protetiva. 
Segundo o último Censo do IBGE (2010), 42,3% dos indígenas 
brasileiros vivem fora de terras indígenas [...]. 
Foi sobretudo com as políticas de expansão para o Oeste iniciadas sob 
Getúlio Vargas e aprofundadas na Ditadura Militar, com grandes obras 
de infraestrutura e abertura de frentes agropecuárias, que os indígenas 
sentiram com mais vigor e violência o significado do avanço da 
“civilização” sobre suas terras e seus recursos. 
[...] Considerados incapazes e tutelados, o Estado Brasileiro jamais 
negociou ou lhes deu possibilidade concreta de se opor às remoções. 
Ao contrário dos povos nativos norte-americanos com quem a Coroa 
Britânica e depois o governo dos EUA firmaram tratados e contra 
quem, desde os primórdiosda Suprema Corte dos EUA, os nativos 
litigam, no Brasil só muito recentemente os tribunais concederam aos 
povos indígenas o direito de serem ouvidos quando o assunto é direito 
à terra. [...] 
No entanto, a perda dos territórios jamais foi esquecida ou aceita pelos 
indígenas. A conquista a duras penas dos direitos elencados nos 
artigos 231 e 232 da Constituição foi a oportunidade para as 
comunidades indígenas finalmente reivindicarem junto ao Estado o 
reconhecimento e a demarcação das terras de onde haviam sido, há 
não muito tempo, expulsos e desapropriados. Como consequência, a 
partir dos anos 90 do século XX, inicia-se no Brasil um amplo processo 
de demarcação de terras. Conforme a Funai, há 435 terras indígenas 
definitivamente regularizadas no país, sendo que mais de 98% da área 
demarcada está na Amazônia. 
[...] 
Por conta desses fatos, é que esta Corte encontra-se nestes dias 
diante do principal caso indígena de sua história: o RE No 
1.017.365/SC, ao qual, acertadamente, reconheceu repercussão geral. 
Este processo trata justamente da espoliação de terras de 
comunidades indígenas que, em 1988, não estavam na posse diante 
do esbulho de não-índios e da impossibilidade de resistir. 
O tratamento que a Justiça Brasileira tem dispensado às comunidades 
indígenas, aplicando a chamada “tese do marco temporal” para anular 
demarcações de terras, é sem dúvida um dos exemplos mais 
cristalinos de injustiça que se pode oferecer a alunos de um curso de 
teoria da justiça. Não há ângulo sob o qual se olhe e se encontre 
alguma sombra de justiça e legalidade. 
Este Supremo Tribunal tem em suas mãos a oportunidade de corrigir 
esse erro histórico e, finalmente, garantir a justiça que a Constituição 
determinou que se fizesse aos povos originários. (Melo et al., 2021) 
Precisamos ter em mente que a presença dos povos indígenas nas matas 
significa a preservação da floresta e da sua biodiversidade. Em geral, nos grupos 
indígenas mais preservados, que são a maioria dos povos indígenas, 
predominam formas ancestrais de sociabilidade e de relação com a natureza que 
tornam efetivos os ideais de vida sustentável, o que na sociedade do homem 
branco soa muito mais como mera retórica. 
TEMA 4 – MODERNIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO 
No Brasil, a expressão modernização conservadora é “[...] assim chamada 
porque, diferentemente da reforma agrária, tem por objetivo o crescimento da 
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produção agropecuária mediante a renovação tecnológica, sem que seja tocada 
ou grandemente alterada a estrutura agrária” (Guimarães, 1977, p. 3). Em face 
de todo o exposto até aqui, o presente tópico busca refletir sobre o fenômeno da 
modernização e seus reflexos no desenvolvimento da América Latina. Para 
tanto, trazemos a contribuição de Nauroski e Rodrigues (2018, p. 85-87): 
Na América Latina, a noção de modernização se constituiu como 
adoção de padrões semelhantes aos dos países avançados, em 
termos tecnológicos, de consumo, de comportamento, nas instituições 
e ideias. Até a década de 1950, o eurocentrismo dominava os debates 
econômicos e políticos sobre a modernização da América Latina. 
Porém, as iniciativas modernizantes na região ocorreram apenas 
parcialmente, por uma série de fatores apontados pelos teóricos 
cepalinos e da dependência, como vimos anteriormente, dentre os 
quais: 
• os países latino-americanos eram fundamentalmente de estrutura 
agrária, com fraca industrialização; 
• a burguesia local nunca teve intenção de revolucionar as estruturas 
sociais, políticas e econômicas vigentes, tal como ocorreu na 
Europa; 
• os movimentos de independência não romperam com o padrão 
colonialista imposto na região; 
• tal padrão resultou em profundas desigualdades sociais e em 
economias periféricas e dependentes; 
• novamente, não houve interesse por parte das elites locais em 
diminuir as desigualdades e conquistar a soberania política e 
econômica. 
Desta forma, o processo modernizador da América Latina foi apenas 
parcial porque consistiu em adotar formas de governo republicanas, 
mas com fraca participação popular, e importar ou, por vezes, produzir 
produtos industrializados para serem consumidos por poucos estratos 
da população. No caso do Brasil, a própria mecanização do campo não 
resultou em uma completa modernização agrária, pois manteve intacto 
o latifúndio e a política de exportação de matérias-primas. 
A constatação destes fenômenos vistos como entraves à 
modernização vai resultar em novos debates a partir dos anos 1950, 
conforme já analisados nos capítulos anteriores. A percepção de que 
a maioria das economias latino-americanas são subdesenvolvidas e 
dependentes, e que sem um projeto de transformação política e 
econômica nunca irão superar essa condição, fez com que 
emergissem novas teorias sobre a modernização. 
TEMA 5 – ORDENAMENTO TERRITORIAL E SOCIEDADE 
Se desejamos preservar essa herança que recebemos ou se 
deixaremos que ela se degrade a ponto de atingir nossa própria vida, 
nossa própria casa. Ao chegar a uma situação dessas o ser humano 
percebe a degradação da qualidade de vida e percebe a importância 
de ter uma relação boa com a natureza, não agressiva e não 
destruidora com o meio ambiente. (Boff, [S.d.]) 
Desde que a humanidade inventou a agricultura, ou seja, o cultivo 
intencional de alimentos, as sociedades passaram por grandes mudanças. A 
principal delas foi a vida sedentária e a fixação de assentamentos próximos a 
rios e lagos. Não demorou para que as sociedades coletoras fossem 
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desaparecendo e houvesse um aumento exponencial do número de seres 
humanos em diversas regiões do planeta. Quanto mais gente, mais bocas para 
alimentar e maior a necessidade de expandir o cultivo agrícola. Tem início, 
assim, um processo de crescimento democrático e de expansão das cidades que 
continua até os dias de hoje. O avanço da presença humana em novas áreas 
tem causado diversos problemas de ordem ambiental. 
A partir de meados do século XIX tem-se intensificado o fluxo de 
imigração na direção das cidades, provocando um acelerado 
crescimento do consumo de energia. As cidades já respondem por 
75% do consumo mundial de energia e por 80% das emissões de 
gases causadores do efeito estufa. (Carvalho; Rovere, 2013, p. 189) 
Em todo o mundo, e especialmente no Brasil, tem ocorrido um 
crescimento desordenado das cidades, provocando o aumento de diversas 
demandas nas áreas de habitação, mobilidade, energia, alimentos, infraestrutura 
etc. A crescente intervenção humana causa vários prejuízos, principalmente em 
áreas de preservação, que deveriam ser permanentes, mas que sofrem pressão 
por sua ocupação diante de novos territórios que avançam sobre os limites 
dessas áreas. 
É notório que a inércia do Poder Público e a interferência de interesses 
privados e eleitorais têm feito com que a legislação de proteção ambiental seja 
flexibilizada e descumprida. Isso fica mais evidente com as inúmeras denúncias 
e estudos que apontam a diminuição dos recursos naturais, o crescente 
desmatamento, a diminuição diária da mancha verde na Amazônia, a 
generalização do uso de agrotóxicos, principalmente por parte do cultivo das 
monoculturas, a expansão da agropecuária e o uso indevido dos lençóis 
freáticos, além da contaminação do solo e dos rios. Tratam-se esses de 
problemas interconectados, que ameaçam seriamente a capacidade da natureza 
de sustentar a vida. 
Não podemos deixar ao acaso e atribuir à mera eventualidade as 
inversões climáticas e outras manifestações naturais, como a 
desertificação paulatina ou as estiagens prolongadas, cada vez mais, 
frequentes na Região Oeste dos três Estados da Região Sul. 
Inundações, avanço das dunas ou do mar sobre edificações, 
deslizamentos de terra, poluição hídrica ou do solo poderão ser 
evitados ou mitigados com planejamentourbano. Em se tratando da 
natureza, presenciamos que não há recompensa nem punições, 
somente consequências. Até o cético mais empedernido quanto ao 
destino de nosso planeta deve render-se à necessidade de preservá-
lo. Deve entender que é imperioso buscar-se um desenvolvimento 
sustentável da atividade humana. Conciliar o crescimento das cidades 
e econômico com a proteção dos recursos naturais. Que é impreterível 
a necessidade de aperfeiçoar-se a educação ambiental nas escolas. 
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Que o sistema capitalista deve curvar-se à iminente exigência de rever 
conceitos consumeristas (Santa Catarina, 2015, p. 16) 
O que está em jogo é a velha lógica de exploração ilimitada da natureza. 
Para Boff (2015), se os Estados e governos não tomarem medidas drásticas para 
corrigir o rumo do desenvolvimento predatório ainda em voga, em pouco tempo 
será difícil reverter os efeitos deletérios disso para todos os habitantes da Terra. 
A contaminação do solo e das águas, o desmatamento sistemático, a 
desertificação e o aquecimento global estão afetando os processos vitais da 
natureza para sustentar a biodiversidade e os diferentes biomas existentes no 
planeta. 
A legislação de proteção ao meio ambiente brasileira é considerada uma 
das mais completas e avançadas do mundo e visa principalmente proteger o 
meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável. A própria 
Constituição Federal buscou tutelar esse direito e garantir que a legislação que 
lhe fosse complementar contemplasse os diversos aspectos dessa questão. 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade 
de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de 
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder 
público: 
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o 
manejo ecológico das espécies e ecossistemas; 
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do 
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de 
material genético; 
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e 
seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a 
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada 
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que 
justifiquem sua proteção; 
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade 
potencialmente causadora de significativa degradação do meio 
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará 
publicidade; 
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, 
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade 
de vida e o meio ambiente; 
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a 
conscientização pública para a preservação do meio ambiente; 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas 
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção 
de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o 
meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo 
órgão público competente, na forma da lei. 
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente 
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais 
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os 
danos causados. 
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§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, 
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, 
e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que 
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso 
dos recursos naturais. 
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos 
Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos 
ecossistemas naturais. 
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua 
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser 
instaladas. 
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste 
artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem 
animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do 
art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza 
imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser 
regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos 
animais envolvidos. (Brasil, 1988) 
Além do diploma constitucional, existe um conjunto amplo de leis e 
instrumentos de proteção ao meio ambiente. Vejamos: 
• Novo Código Florestal Brasileiro – Lei n. 12.651/2012 (Brasil, 2012b); 
• Lei de Crimes Ambientais – Lei n. 9.605/1998 (Brasil, 1998); 
• Política Nacional do Meio Ambiente – Lei n. 6.938/1981 (Brasil, 1981b); 
• Lei da Fauna – Lei n. 5.197/1967 (Brasil, 1967); 
• Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei n. 9.433/1997 (Brasil, 1997); 
• Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – Lei n. 
9.985/2000 (Brasil, 2000); 
• Área de Proteção Ambiental – Lei n. 6.902/1981 (Brasil, 1981a); 
• Política agrícola – Lei n. 8.171/1991 (Brasil, 1991). 
O ordenamento jurídico brasileiro possui, assim, uma legislação bem 
elaborada, porém, em relação às leis ambientais, existem lacunas em sua 
aplicação, possibilitando a má-fé e os abusos. O próprio Instituto Brasileiro do 
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) dispõe de um vasto 
conjunto de dados que atestam o aumento da prática de crimes ambientais 
contra a fauna e a flora, que causam sério risco de extinção de várias espécies, 
uma situação que vem se agravando com a ampliação das fronteiras de cultivo 
(que provoca a perda de habitats), a caça esportiva ou para subsistência, feita 
de maneira irregular, ou ainda a prática de tráfico de animais silvestres. 
 
 
 
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NA PRÁTICA 
Face a todo o exposto, tendo em mente os conteúdos trabalhados, realize 
uma pesquisa sobre as vantagens da agroecologia. Após a realização da 
pesquisa, explique o que é a agroecologia e, se possível, indique áreas e locais 
onde essa prática é utilizada em pequena, média ou larga escala. 
Sugestão de fonte: assista ao vídeo Agroecologia, agrofloresta e Panc: 
Valdely Kinupp (2020), disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=1H4ySHAJyB4&ab_channel=MatonoPrato
>. 
FINALIZANDO 
Em nossos estudos, foi possível construir uma reflexão sobre os seguintes 
temas: 
• Os processos de integração das Américas Latina, do Sul e Caribe 
avançaram com a criação de iniciativas como a Unasul e o Mercosul, mas 
ainda falta muito para se alcançar uma verdadeira soberania na região. 
• A partir dos governos de esquerda e progressistas na região, a questão 
da democracia e dos direitos humanos foi se objetivando em projetos, 
ações e políticas públicas, que recrudesceram com a nova ofensiva de 
imposição da influência e dos interesses estadunidenses nas Américas. 
• A questão indígena, no Brasil, principalmente, que vinha avançando em 
relação ao reconhecimento de direitos, cidadania e território, pode passar 
por terrível revés se aprovado o chamado Marco Temporal. 
• O processo de modernização na América Latina, sobretudo no Brasil, leva 
a marca da contradição entre a geração e a concentração de riqueza, por 
um lado, e aumento da pobreza e da desigualdade, por outro. 
• Por fim, as questões da proteção ambiental e da ocupação dos territórios 
no campo e na cidade precisam de conscientização da sociedade, 
atuação dura do Estado para punir infratores e busca de alternativas 
sustentáveis de desenvolvimento.A
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REFERÊNCIAS 
AGROECOLOGIA, agrofloresta e Panc: Valdely Kinupp. Mato no Prato, 1 nov. 
2020. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=1H4ySHAJyB4&ab_channel=MatonoPrat>. 
Acesso em: 22 nov. 2021. 
ALERJ – Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Constituição Federal: 
Capítulo VIII. VIII – DOS ÍNDIOS (ARTS. 231 E 232). [S.d.]. Disponível em: 
<http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/constfed.nsf/16adba33b2e5149e032568f60071600
f/93b6718ed334dc14032565620070ecfc?OpenDocument#TOPO>. Acesso em: 
22 nov. 2021. 
BARROS, R. T. L. Percalços da integração latino-americana: análise comparada 
dos regionalismos das décadas de 1960, 1990 e 2000. Revista Conjuntura 
Global, v. 7, n. 1, p. 19-35, 2018. Disponível em: 
<https://revistas.ufpr.br/conjgloblal/article/download/56939/35438>. Acesso em: 
18 nov. 2021. 
BOFF, L. “A escola deve se articular com a natureza diretamente”, diz Leonardo 
Boff. DHnet, [S.d.]. Entrevista coletiva. Disponível em: 
<http://www.dhnet.org.br/direitos/cartadaterra/escola_articular_lboff.htm>. 
Acesso em: 22 nov. 2021. 
_____. Sustentabilidade: o que é, o que não é. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2015. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial 
da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso 
em: 22 nov. 2021. 
_____. Decreto n. 3.156, de 27 de agosto de 1999. Diário Oficial da União, 
Brasília, 28 ago. 1999. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3156.htm>. Acesso em: 22 nov. 
2021. 
_____. Decreto n. 7.747, de 5 de junho de 2012. Diário Oficial da União, 
Brasília, 6 jun. 2012a. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Decreto/D7747.htm>. Acesso em: 22 nov. 2021. 
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_____. Decreto n. 9.010, de 23 de março de 2017. Diário Oficial da União, 
Brasília, 24 mar. 2017. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2017/Decreto/D9010.htm>. Acesso em: 22 nov. 2021. 
BRASIL. Lei n. 5.197, de 3 de janeiro de 1967. Diário Oficial da União, Brasília, 
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2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso em: 22 nov. 2021. 
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